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Aula teórica de 26/10/2004

Transcrita por Rute Costa Batalha Pedro


Editada por José Augusto
Versão 1.0

Amplificadores Operacionais (AMPOPs) em funcionamento linear


com realimentação negativa: os amplificadores inversor e não-inversor
e o amplificador diferença

O AMPOP permite realizar uma miríade de circuitos de grande utilidade prática.


Vai-se analisar alguns deles, usando o modelo do AMPOP ideal. Neste modelo
verifica-se que (V+ e V- são as tensões nodais nas entradas):

-- como o ganho de tensão diferencial é infinito, Av = ∞, e a tensão de saída


Vo é finita, neste modelo assume-se que a tensão diferencial de entrada é
nula, i.e., Vd = V+ - V- = 0
-- as correntes nos terminais de entrada V+ e V- são nulas, i.e., i+ = i- = 0

Para além das duas entradas, V+ e V-, e da saída Vo, o AMPOP vulgar tem dois
terminais de alimentação. Na figura que se segue eles estão representados: a tensão de
alimentação positiva normalmente é denominada VCC e a negativa é denominada VEE ou
-VEE. Quando se está somente a desenhar o circuito para fazer análise linear,
normalmente estes terminais de alimentação são omitidos. Obviamente no laboratório
terão que ser ligados a fontes DC.

Também, na prática, a tensão Vo na saída nunca pode passar dos limites


estabelecidos pelas alimentações, dizendo-se que o amplificador está saturado
(positivamente ou negativamente) quando Vo atinge um desses limites.

Vai-se começar pelos 2 circuitos de amplificação baseados em AMPOPs mais


básicos e, também, mais utilizados.

Amplificador inversor:

v0 Z
=− 2
vg Z1
O amplificador inversor tem retroacção em tensão e erro em corrente
(RTEC). Como a tensão de saída não depende da corrente na saída, o amplificador tem
resistência de saída nula ( R0 = 0 ). A impedância de entrada vista por Vg é Z1. Como a
tensão diferencial é nula, a corrente que sai do gerador e se dirige para o terminal (+) do
AMPOP é Vg/Z1. Então, a resistência de entrada vista no terminal (+) de entrada do
amplificador é Ri=0. Assim, a montagem não-inversora comporta-se como um gerador
de tensão comandado por corrente, ou seja, é uma amplificador de trans-resistência.
Para esta propriedade ser apreciada há que remover Vg e Z1 do circuito e ligar ao
terminal (+), em vez destes elementos, um gerador de corrente Ig.

Note, porém, que externamente o amplificador é de tensão pois a equação do


ganho relaciona Vo com Vg (consulte as folhas do Prof. Sousa Lopes para saber mais
detalhes). A equação do ganho Vo/Vg é obtida a partir das três equações seguintes:

V+ = V- = 0 (V+ é uma ‘massa virtual’)


Ig = Vg/Z1
Ig = (0-Vo)/Z2

Z1(jω) e Z2(jω) podem ser quaisquer impedâncias complexas. Repare que no


desenho anterior se usou o símbolo da resistência para representar um dispositivo mais
genérico: a impedância em regime alternado sinusoidal.

Amplificador não-inversor

v0 Z
= 1+ 2
vg Z1

Como as correntes nas entradas do AMPOP são nulas, a montagem não


inversora tem resistência de entrada infinita ( Ri = ∞ ). Como a tensão de saída não
depende da corrente na saída, o amplificador tem resistência de saída nula ( R0 = 0 ).

A retroacção utilizada neste amplificador é do tipo RTET (Retroacção em


Tensão, Erro em Tensão). Assim, a montagem não-inversora comporta-se como um
gerador de tensão comandado por tensão, ou seja, um amplificador de tensão. A
equação do ganho Vo/Vg é obtida a partir das três equações seguintes, válidas para o
anterior circuito:

V+ = Vg
V- = Z1/(Z1+Z2) Vo
V+ = V-

Mais uma vez, Z1(jω) e Z2(jω) podem ser quaisquer impedâncias complexas.
Exemplo:

Este circuito exemplifica uma montagem não inversora. Obtém-se a função de


transferência do circuito, Vo/Vg, rapidamente aplicando a equação geral atrás exposta.

1
Z1 = R1 +
jwC
Z 2 = R2

v0 R2 jwCR2 wCR2
=− =− = e j ( ±180+ 90− arctan wCR1 )
vg 1 1 + jwCR1 1 + ( wCR1 ) 2
R1 +
jwC
wc CR2 R2 1 1
wc : = ⇒ wc =
1 + ( wc CR1 ) 2 R1 2 R1 C

ωc é a frequência de corte do circuito, que é do tipo ‘filtro passa-alto’. Com


efeito, C bloqueia os sinais (correntes) de baixa frequência e deixa passar os de alta
frequência. C é um curto-circuito em altas frequências, sendo o ganho do circuito nestas
condições –R2/R1. A frequência em que o módulo da função de transferência é 1/√2 do
valor máximo é denominada de frequência de corte ωc, ou frequência de ‘meia
potência’ (a potência é proporcional ao quadrado da tensão ou da corrente).

Amplificador diferença

Utilizando uma ‘combinação’ das montagens inversora e não inversora pode-se


fazer um amplificador diferencial ou ‘amplificador de diferença’. Este amplificador
tem uma saída que é proporcional à diferença de dois sinais de entrada. Um verdadeiro
amplificador diferencial tem também uma saída diferencial, i.e., tem dois terminais de
saída assim como dois terminais de entrada. Os amplificadores diferenciais são muito
utilizados em instrumentação, nomedamente quando os sinais amplificados são muito
fracos (na ordem dos mVolt ou inferiores), pois possuem uma imunidade à interferência
electromagnética muito maior que os amplificadores não diferenciais (também
denominados ‘single-ended’).
Aplicando o método da sobreposição calcula-se Vo:

R2
v 2 = 0 : v0a = − v1
R1
R2
1+
R4  R   R  1 R1
v1 = 0 : v + = v 2 v0b = 1 + 2  v + =  1 + 2  v2 = v
R 3 + R4  R1   R1  R3 R3 2
1+ 1+
R4 R4

R2
1+
R1 R
Então, v 0 = v 0 + v 0 = v2 − 2 v1 .
a b
R R1
1+ 3
R4
R2 R3
Se, finalmente, = fica-se com
R1 R4

O Amplificador diferença, ou diferencial, é um circuito que permite obter uma


tensão de saída vo proporcional à diferença das tensões de entrada v1-v2, daí a sua
designação. A única desvantagem deste amplificador é que tem uma resistência de
entrada finita em ambas as entradas, e diferente em cada uma delas, o que pode ser
crítico quando em v1 e v2 são ligados geradores com resistência interna longe do ideal
(i.e., substancialmente maior que 0 Ω).

Por esta razão, é muito utilizado na prática um circuito de amplificação


denominado amplificador de instrumentação, que usa 3 amplificadores e em que, à
semelhança do que se passa com o amplificador não inversor, Ri é muito elevada. Se os
dois amplificadores de entrada nesse amplificador de instrumentação utilizarem FETs
no andar de entrada essa resistência pode atingir 1012 Ω.

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