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Capítulo 3

O Amplificador Operacional – Parte I


Montagens Básicas e Principais Limitações

3.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, iniciaremos o estudo dos amplificadores operacionais (conhecidos pela


abreviatura de AmpOps). Trata-se de circuitos integrados monolíticos, geralmente designados
por circuitos integrados lineares (apesar da designação mais apropriada ser a de circuitos
integrados analógicos), que apresentam um ganho em malha aberta muito elevado desde
corrente contínua até frequências mais ou menos altas.
São dos dispositivos mais utilizados na construção do mais variado tipo de
instrumentação electrónica, dada a sua grande versatilidade, dimensões reduzidas, fiabilidade
e baixo custo.
Começaremos por estudar as montagens básicas com amplificadores operacionais. De
seguida, estudaremos as principais limitações dos amplificadores operacionais reais. No
próximo capítulo, serão consideradas algumas aplicações mais avançadas, nomeadamente
algumas das que permitem a realização de funções de transferência não lineares.

3.2 AMPLIFICADOR OPERACIONAL IDEAL

A figura 3.1 representa um amplificador operacional e o seu circuito equivalente


simplificado. Temos duas entradas, não inversora (+) e inversora (-), às quais estão aplicadas
na figura, respectivamente as tensões v1 e v2. À diferença das duas tensões, vd=v1-v2,
chamamos tensão diferencial de entrada. A tensão de saída, vo, será igual ao ganho do
AmpOp, A, vezes a tensão diferencial de entrada.
v o = A ´ v d = A ´ ( v1 - v 2 ) (3.1)

49
+ R0
+ +
vd A vd A vd
Ri RL v0
v1 - v1 -
RL vo= A vd
v2 -
v2

a) b)

Fig. 3.1 – Amplificador operacional básico e o seu circuito equivalente simplificado.

Um amplificador operacional ideal deveria ter as seguintes características:


• Ganho infinito, A = ¥.
• Resistência de entrada infinita, Ri = ¥.
• Resistência de saída nula, Ro = 0.
• Largura de banda infinita, L.B. = ¥.
• Tensão de saída nula, quando for nula a tensão diferencial de entrada.
• Insensibilidade das características à variação da temperatura.
Como é óbvio, tais especificações são irrealizáveis. No entanto, por serem muito
aproximadamente conseguidas nos AmpOps reais, podemos considerar para uma análise
expedita dos circuitos as seguintes características:
Ø Impedância de entrada muito elevada, como tal podemos considerar que
qualquer corrente que chegue a um dos terminais, deve continuar inalterada por
uma ramo ou malha exterior.
Ø Amplificação muito elevada, logo, desde que o amplificador não esteja saturado,
podemos considerar que a tensão diferencial de entrada é nula, já que sendo v0
finita e A = ¥, atendendo a (3.1) vd só pode ser infinitesimal.
Ø Impedância de saída muito baixa, pelo que se pode ignorar o efeito da carga
sobre a saída. Esta aproximação é especialmente boa nas montagens com
realimentação negativa, como vimos no capítulo anterior.

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3.3 MONTAGENS BÁSICAS COM AMPLIFICADORES OPERACIONAIS

3.3.1 MONTAGEM NÃO INVERSORA

A figura 3.2 representa o amplificador operacional em montagem não inversora.


Apliquemos as regras que acabamos de enunciar, para determinar o ganho da montagem.

+
A
-

vi R2 vo
v1 R1

Fig. 3.2 – Amplificador operacional em montagem não inversora.

Como a tensão diferencial de entrada se pode considerar aproximadamente nula, então a


tensão da entrada inversora será igual à tensão de entrada, v1 = vi. Como a corrente que entra
no amplificador se pode considerar nula, então a tensão v1 pode ser obtida a partir da tensão
R1
de saída pela divisão resistiva desta por R1 e R2. Ou seja, v1 = v 0 . Substituindo v1 por
R1 + R 2
vi, obtemos:
R1 + R 2
v0 = vi (3.2)
R1

Como podemos verificar, o circuito representa um amplificador realimentado com


amostragem de tensão e comparação série. Podemos tratá-lo, como fizemos na secção 2.6 do
capítulo anterior. É fácil concluir que neste caso R 1 e R 2 constituem o bloco de

R1
realimentação. Sendo b = - . A figura 3.3 apresenta o seu circuito equivalente.
R1 + R 2

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R1//R2
+
bV0 R1+R2
-

Fig. 3.3 – Esquema equivalente do bloco de realimentação da montagem não inversora da fig.3.2.

Considerando o circuito equivalente simplificado do amplificador operacional,


representado na fig.3.1.b) e o esquema equivalente do bloco de realimentação, obtemos o
circuito que se representa na fig. 3.4, onde Ri e R0 representam respectivamente as
resistências de entrada e de saída do amplificador operacional básico.

Ri R1//R2 R0
+ +
vi vd bV0 R1+R2 RL v0
- - A vd

Fig. 3.4 – Esquema equivalente do circuito da fig.3.2.

Considerando o circuito equivalente da figura 3.4 e aplicando a técnica usada no


capítulo anterior, podemos determinar o ganho da montagem e as suas resistências de entrada
e de saída.
Para o ganho em malha aberta teremos:

æ Ri ö é R L // ( R1 + R 2 ) ù
A ´ vi ´ ç ÷´ ê ú
V0 è R i + R1 // R 2 ø ë R 0 + R L // ( R 1 + R 2 ) û
A ma = = (3.3)
Vi b= 0
vi

Considerando, de acordo com as aproximações indicadas em 3.2, Ri muito maior do que


R1//R2 e R0 muito menor que o paralelo de RL com a soma de R1 com R2, temos Ama=A, como
aliás era óbvio. No caso de alguma destas aproximações não se poder realizar, então a
expressão a considerar é (3.3). De salientar ainda que desde que R0 seja muito menor que o
paralelo de RL com a soma de R1 com R2, podemos desprezar o efeito da carga sobre a
montagem. Do mesmo modo, se tivéssemos considerado que a tensão de entrada era fornecida
por uma fonte não ideal com uma dada resistência de saída diferente de zero, o efeito desta
resistência poderia ser desprezado, já que estaria em série com Ri.

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Como o ganho em malha fechada é dado por:
A ma
A mf = (3.4)
1 - A ma b
Substituindo o ganho em malha aberta e o factor de realimentação, obteremos o ganho
em malha fechada. No caso de o ganho em malha aberta ser muito maior que 1/b, como
acontecerá geralmente, virá:
1 R1 + R 2
A mf = - = (3.5)
b R1
Quanto à resistência de entrada do circuito realimentado, teremos, como vimos na
secção 2.4.4 do capítulo anterior:
æ R1 ö
R if = R i (1 - A b) @ R i ´ çç A ÷÷ (3.6)
è R1 + R 2 ø
No caso de estarmos perante um amplificador operacional com Ri=2MW e A=100000,
valores típicos do Amp. Op. mais popular, o 741, e considerando uma ganho de 10 para a
montagem, teremos uma resistência de entrada em malha fechada igual a
2 ´106 ´105 /10 = 2 ´1010 W , ou seja, virtualmente infinita.
No que diz respeito à resistência de saída teremos:
R0 R R + R2
R 0f = @ 0´ 1 (3.7)
1 - Ab A R1
Para uma resistência de saída de 75W como no 741, e nas mesmas circunstâncias do
exemplo anterior, teríamos uma resistência de saída em malha fechada igual a
75
´10 = 7,5mW , ou seja, seguramente menos do que a dos fios de ligação da saída do
100000
amplificador à carga.

+
A
-

vi vo

Fig. 3.5 – Amplificador operacional em montagem seguidora

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A figura 3.5, apresenta um caso particular da montagem não inversora, em que R2=0 e
R1= ¥. Como a tensão diferencial de entrada se pode considerar nula então v0=vi e portanto o
ganho da montagem é igual a 1. Como b=1, a resistência de entrada dada por (3.6) será a
maior que se consegue realizar com um dado amplificador básico. Pela mesma razão, a
resistência de saída dada por (3.7) será a mais baixa possível. Esta montagem conhecida por
montagem seguidora é geralmente utilizada, pelas propriedades descritas, para isolar uma
fonte da respectiva carga, nas situações em que é necessário providenciar a adaptação de um
circuito gerador a uma carga. É o caso, por exemplo, de situações em que uma carga de baixo
valor é ligada a um gerador com impedância de saída média ou alta. Na literatura anglo-
saxónica este circuito é designado por “Buffer” (circuito tampão).

3.3.2 MONTAGEM INVERSORA

A figura 3.6 representa o amplificador operacional em montagem inversora.


Apliquemos as regras enunciadas na secção 3.2, para determinar o ganho da montagem.
R2

i1 R1 i2
-
A
vi +
vo

Fig. 3.6 – Amplificador operacional em montagem inversora.

Como a tensão diferencial de entrada se pode considerar aproximadamente nula, então a


tensão da entrada inversora será igual ao potencial da massa (terra virtual). Sendo assim,
podemos dizer que a tensão de entrada, vi, está aplicada aos terminais de R1, pelo que a
vi
corrente de entrada será i1 = . Como a corrente que entra no amplificador se pode
R1
considerar nula, então i2 = i1. Como temos o potencial da massa na entrada inversora, então a
tensão de saída está aos terminais de R2, pelo que v 0 = -i 2 R 2 . Substituindo i2 = i1, obtemos:

R2
v0 = - vi (3.8)
R1

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Neste circuito, dizemos que temos uma terra virtual na entrada negativa do amplificador
operacional, pelo facto de o potencial desta ser igual ao da massa, mas a impedância entre
estes dois pontos ser muito elevada (igual à resistência de entrada do amplificador
operacional).
A montagem diz-se inversora, por a saída estar sempre em oposição de fase em relação
à entrada.
A impedância de entrada deste circuito é aproximadamente igual a R1, podendo
portanto, nos casos em que o valor desta resistência seja baixo, carregar o gerador. Quanto à
resistência de saída, continua a ser dada por (3.7), apresentando portanto o comportamento
ideal dum amplificador de tensão realimentado.

3.3.3 MONTAGEM SOMADORA INVERSORA

A figura 3.7 representa o amplificador operacional em montagem somadora inversora.

R3

i1 R1 i3
-
i2 A
v1 R2 +
v2 v0

Fig. 3.7 – Amplificador operacional em montagem somadora.

Como a tensão da entrada inversora é igual ao potencial da massa, as correntes serão:


v1 v
i1 = e i 2 = 2 . Como a corrente que entra no amplificador se pode considerar nula, então
R1 R2
i3 = i1+ i2. Como v 0 = -i3R 3 , temos que

æR R ö
v 0 = - ç 3 v1 + 3 v 2 ÷ (3.9)
è R1 R2 ø

As impedâncias de entrada serão neste caso R1 e R2 para cada uma das entradas e a de
saída continua a ser dada por (3.7)

55
3.3.4 MONTAGEM SOMADORA NÃO INVERSORA

A figura 3.8 representa o amplificador operacional em montagem somadora não


R4
inversora. Neste caso a tensão da entrada não inversora é igual v + = v 0 e como
R4 + R5
v1 - v + v - v+
i1 = e i2 = 2 , teremos que
R1 R2

æ R4 R4 ö
ç v1 - R + R v 0 v 2 - R + R v 0 ÷ R4
v 0 = -i3R 3 + v + = -R 3 ç 4 5
+ 4 5
÷+ v0 (3.10)
ç R1 R2 ÷ R4 + R5
ç ÷
è ø

R4 R R
Sendo k 0 = , k1 = 3 e k 2 = 3 , teremos que
R4 + R5 R1 R2

v 0 = - éë k1 ( v1 - k 0 v 0 ) + k 2 ( v 2 - k 0 v 0 ) ùû + k 0 v 0 (3.11)

Ou seja,
k1v1 + k 2 v 2
v0 = (3.12)
k 0 ( k1 + k 2 + 1) - 1

No caso particular em que R4=R5 (k0=1/2) e R1=R2= R3, teremos v 0 = 2 ( v1 + v 2 ) .

R3

i1 R1 i3
+
i2 A
R2 -

v1
v2 R5
v+ v0
R4

Fig. 3.8 – Amplificador operacional em montagem somadora não inversora.

56
3.3.5 MONTAGEM SUBTRACTORA

A figura 3.9 representa o amplificador operacional em montagem subtractora. Tal como


na montagem anterior, não temos uma terra virtual na entrada inversora. A tensão, nesta
R4
entrada será aproximadamente igual à da entrada não inversora, que é v + = v 2 . Por
R3 + R4
v1 - v +
seu lado a corrente em R1, será i = . Como tal, a tensão de saída será:
R1

æ R4 ö
ç v1 - R + R v 2 ÷ R4
v 0 = -iR 2 + v + = -R 2 ç 3 4
÷+ v2 (3.13)
ç R1 ÷ R3 + R4
ç ÷
è ø
Pelo que
R1 + R 2 R4 R
v0 = ´ v 2 - 2 v1 (3.14)
R1 R3 + R4 R1

Quando R2/R1=R4/R3, teremos


R2
v0 = ( v2 - v1 ) (3.15)
R1
se as resistências forem iguais duas a duas (R2=R1 e R4=R3) teremos v 0 = v 2 - v1 .

R2

i R1 i
-
A
+
R3
v1 R4 v0
v2
v+

Fig. 3.9 – Amplificador operacional em montagem subtractora.

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3.3.6 MONTAGEM INTEGRADORA

Analisemos agora a montagem da figura 3.10.


C

i R
i
-
A
vi +
vo

Fig. 3.10 – Amplificador operacional em montagem integradora.


vi
A corrente de entrada será i = . Esta é a corrente que atravessa o condensador. A
R
du c
relação entre a corrente e a tensão aos terminais dum condensador é dada por i c = C , pelo
dt
d ( - vo )
que i = C . Substituindo a corrente e resolvendo a ordem a v0, obtemos:
dt
1
RC ò
v0 = - vi dt + v 0i (3.16)

A constante v0i depende da carga inicial do condensador, sendo nula se ela o for.

3.3.7 MONTAGEM DIFERENCIADORA

A figura 3.11 representa o amplificador operacional em montagem diferenciadora.


R

i C i
-
A
vi +
vo

Fig. 3.11 – Amplificador operacional em montagem diferenciadora.

d ( vi )
Neste caso, a corrente de entrada será i = C . Como v 0 = -Ri , teremos:
dt
d ( vi )
v 0 = -RC (3.17)
dt

58
3.3.8 COMPARADOR

As montagens anteriores apresentam todas realimentação negativa. Agora vamos


considerar o amplificador em malha aberta.
A figura 3.12.a) representa uma montagem comparadora, em que à entrada não
inversora se aplicou uma tensão triangular, representada em 3.12.b) e à entrada inversora se
aplicou uma tensão constante E.

vi E
+
A vi t
-
vi v0
v0
E
t

a) b)

Fig. 3.12 – a) Amplificador operacional em montagem comparadora. b) Formas de onda à entrada e


saída, nas condições do texto.

Como o amplificador apresenta idealmente um ganho infinito, sempre que a tensão


diferencial de entrada, vd, for positiva, o amplificador saturará positivamente, quando vd for
negativa, saturará negativamente. É o que se representa na fig. 3.12.b).
A grande diferença, relativamente às montagens anteriores é a ausência do mecanismo
de realimentação negativa, que nos outros casos promovia o anulamento da tensão diferencial
de entrada. Agora esta tensão é imposta pelas condições definidas para as duas entradas,
sendo dada por v d = v + - v - , igual a vi - E no presente caso.

3.4 O AMPLIFICADOR OPERACIONAL REAL

Como é natural, o amplificador operacional real, não apresenta as características ideais


enunciadas na secção 3.2. Esse afastamento resulta da sua constituição por dispositivos
electrónicos reais. A figura 3.13 representa o esquema eléctrico simplificado de um dos
amplificadores operacionais de uso industrial mais generalizado, o µA741.

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+VCC

T8 T9 T12 T13

I0 I5 T14

I4
v+ T1 T2 v- R1

39kW C T15
25W
T3 R2
T4 v0
I1 Id I3
I2
T7 25W
I
T16
T5 T6 T10 T11
T17
T18
1kW 50kW 1kW 5kW 50kW 50W

-VEE

Amplificador diferencial Andar de ganho Andar de saída

Fig. 3.13 – Esquema simplificado do amplificador operacional µA741.

Como se verifica, o amplificador operacional é constituído por um andar diferencial de


entrada, seguido por um andar intermédio de ganho e um andar de saída, que neste caso é uma
montagem de simetria complementar de classe AB.
O amplificador diferencial é neste caso constituído por: um par diferencial em cascata
(T1, T2, T3 e T4), com uma carga activa constituída por T5, T6 e T7 (que garante a igualdade
ente I1 e I, visto tratar-se dum circuito repetidor de corrente, também designado “espelho de
corrente”) de modo a garantir um ganho muito elevado para o amplificador diferencial; por
outro circuito repetidor de corrente que inclui T8 e T9 e que fornece a corrente constante I0»I3
imprescindível para garantir um elevado factor de rejeição de modo comum ao amplificador
diferencial. T10 e T11 constituem outro circuito repetidor de corrente que devido à existência
da resistência de 5kW no emissor de T10 fazem com que I3<<I4. Deste modo, garantimos que
I0 é muito pequena (da ordem dos µA) donde resulta uma elevada resistência de entrada para
o par diferencial. Como já foi referido, este amplificador operacional apresenta uma
resistência de entrada da ordem de 2MW. Outras configurações, nomeadamente as que em vez

60
de transístores bipolares de junção utilizam transístores de efeito de campo, permitem a
construção de AmpOps com resistências de entrada que chegam a atingir valores da ordem
1012W.
Quando a tensão diferencial de entrada é nula (v+=v-), I1=I2=I0/2. Devido à acção do
repetidor de corrente I=I1 pelo que Id=I2 -I=I2 -I1=0. Consideremos que v+ aumenta e v-
diminui, nestas circunstâncias I1 e portanto I aumentam, diminuindo I2. Nestas circunstâncias
Id deixa de ser zero passando a ter um valor negativo proporcional a v+ -v-, Id=gm(v+ -v-),
comportando-se portanto como um amplificador de transcondutância, como foi visto quando
se estudou esta montagem em Electrónica I.
O andar intermédio de ganho é constituído pelo par Darlington constituído por T16 e T17.
Apresenta uma elevada resistência de entrada que não carrega o amplificador diferencial e um
ganho igual a b2, que em conjunto com o ganho do andar diferencial de entrada permite
atingir ganhos da ordem de 100.000 a 200.000 para este amplificador operacional.
Como já foi referido, o andar de saída deste amplificador, é um circuito push-pull, já
estudado no capítulo 1. Como se sabe é necessário eliminar a distorção de travessia
(“crossover”), o que se consegue aplicando entre a base de T14 e T18 uma tensão de
polarização igual a duas vezes o VBE de condução destes transístores complementares. No
circuito da fig. 3.13, tal objectivo é conseguido pela utilização de T15 em conjunto com R1 e
R2, que actuam como um “multiplicador de VBE”, já que desprezando a corrente de base de
R1 + R 2
T15 em relação à corrente que percorre R1 e R2, podemos dizer que VCE ( T15 ) = VBE .
R2
No presente caso R1 e R2 têm valores tais que VCE(T15) »1,1V.

3.5 TENSÕES E CORRENTES DE DESVIO NA ENTRADA

Uma das aproximações que geralmente utilizamos na análise dos circuitos com
amplificadores operacionais, é a de considerar nula a corrente de entrada. Esta aproximação,
facilita extraordinariamente a análise dos circuitos e conduz geralmente a bons resultados,
como vimos. Existem no entanto situações, em que temos que nos preocupar com as correntes
de entrada. É por exemplo o caso das montagens com um ganho dc muito elevado, ou as
montagens integradoras.
Consideremos o circuito da Fig. 3.14, correspondente a uma versão simplificada do

61
andar diferencial de entrada do 741. Para o andar diferencial funcionar convenientemente, é
necessário colocar os transístores T1 e T2 na zona activa directa, pelo que as respectivas
correntes de base (Ip e In) terão de ser positivas e portanto diferentes de zero. Idealmente Ip e
In deveriam ser iguais. No entanto, na prática isso não acontece, por não ser possível garantir
que os b dos dois transístores sejam exactamente iguais. A corrente de polarização da entrada,
IB, designada na literatura de língua inglesa por “input bias current”, é definida como sendo a
semi-soma das duas correntes de entrada. Isto é,

Ip + In
IB = (3.18)
2
À diferença entre Ip e In, chamamos corrente de “offset” à entrada, Ii0.

I i0 = I p - I n (3.19)

+VCC

T8

I0
Ip In
vp T1 T2 vn

T3
T4

T7 Saída para o
andar seguinte

T5 T6
Terminal para Terminal para
compensação de compensação de
offset offset

1kW 50kW 1kW

-VEE

Fig. 3.14 – Esquema eléctrico simplificado do andar diferencial de entrada do 741, incluindo o
potenciómetro de compensação de offset.

62
Normalmente Ii0 é cerca de uma ordem de grandeza menor que IB. No caso do 741 os
valores típicos são: I B = 80 nA e I i 0 = 20 nA . De notar que estes valores correspondem à
temperatura ambiente, já que IB e Ii0 variam com a temperatura.
Consideremos os circuitos da Fig. 3.15, correspondentes às montagens inversora e não
inversora. Ambos os circuitos apresentam uma resistência, Rp, adicional em relação às
configurações que estudámos até aqui. A sua função será clarificada mais adiante.
R2 Rp
+
R1 A
- -
A
+ vi R2 vo
vi
Rp
vo
R1

(a) (b)

Fig. 3.15 – Amplificador Operacional em montagem inversora (a) e não inversora (b).

Uma análise do efeito das correntes IB e Ii0, passa pela determinação da tensão de saída,
quando a entrada é curto-circuitada. A Fig. 3.16 apresenta o circuito que se obtém, nos dois
casos da Fig. 3.15, quando curto-circuitamos a entrada.
R2

R1 In
Vn -
A
Vp +

Ip Rp
vo

Fig. 3.16 – Circuito correspondente às montagens inversora e não inversora com as entradas curto-
circuitadas.

É óbvio que
Vp = -R p I p (3.20)
e que

V0 - Vn - Vn
In = + (3.21)
R2 R1

63
explicitando Vn:

R 1V0 - R 1Vn - R 2 Vn = R 1R 2 I n (3.22)

Vn (R 1 + R 2 ) = R 1V 0 -R 1R 2 I n (3.23)

æ R1 ö
Vn = çç ÷÷V0 - (R 1 // R 2 ) I n (3.24)
è R1 + R 2 ø
como Vn é aproximadamente igual a Vp podemos igualar (3.20) e (3.24) donde resulta

æ R ö
[
V0 = çç1 + 2 ÷÷ ´ (R1 // R 2 ) I n - R p I p ] (3.25)
è R1 ø

claro que num amplificador operacional ideal, o valor de V0 em (3.25) seria zero, pois, quer In
quer Ip seriam nulos. Num amplificador operacional real, em que se conseguisse ter
I n = I p , V0 também seria nulo, desde que R p = R 1 // R 2 . Na prática tal não acontece e

temos uma tensão de saída diferente de zero. O circuito amplifica a diferença entre duas
tensões de entrada, uma devida a I n passar no paralelo de R 1 com R 2 e outra, I p , atravessar

R p . O ganho é æç1 + 2 ö÷ .
R
è R1 ø

Se aplicarmos uma tensão Vi à montagem inversora da Fig. 3.15.a) obteremos,


aplicando o princípio da sobreposição, uma tensão de saída igual a

R2
V0 = - Vi + e 0 (3.26)
R1

em que e 0 é a tensão de erro devida às correntes à entrada, dada por (3.25).

No caso da montagem não inversora

æ R ö
V0 = çç1 + 2 ÷÷ Vi + e 0 (3.27)
è R1 ø

Dependendo da aplicação em questão, a tensão de erro e 0 , pode ser demasiado elevado


e nesses casos é necessário minimizá-la. Fazendo

64
æI ö
R p = (R 1 // R 2 )ç n ÷ (3.28)
ç Ip ÷
è ø
poderíamos tornar V0 nulo em (3.25). No entanto, I n e I p variam com o amplificador

operacional, pelo que R p deverá ser ajustada em cada caso. Usando uma resistência variável

e fazendo R p = R 1 // R 2 , V0 em (3.25) virá:

æ R ö
V0 = çç1 + 2 ÷÷[- (R 1 // R 2 ) I i 0 ] (3.29)
è R1 ø

ou seja, o erro é agora proporcional a I i 0 que é uma ordem de grandeza mais pequena que I n

e Ip .

Exemplifiquemos: para um 741 com I i 0 típico de 20 nA com R 1 // R 2 = 1 kW e

( )
R 2 = R 1 teremos V0 = (1 + 1) - 10 3 ´ 20 ´ 10 -9 = -40 µV. No entanto, se o 741 tiver o I i 0
máximo que é de 200 nA, teremos nas mesmas condições V0 = -0,4 mV. Quando o ganho

ou o paralelo de R 1 e R 2 aumentam, a situação piora. Por exemplo, se R 2 / R 1 = 1000 e no


caso de termos I i 0 máximo, V0 @ 0,2 V o que será normalmente um erro demasiado

importante, pelo que se tornará necessário em muitos casos promover a compensação de


offset.

3.5.1 TENSÃO DE DESVIO À ENTRADA

Num amplificador operacional ideal, curto-circuitando as duas entradas deveríamos


( )
obter uma tensão nula à saída. Isto é, V0 = A Vp - Vn = A ´ 0 = 0. No entanto, nos

amplificadores operacionais reais a desigualdade dos circuitos que tratam Vp e Vn , originam

o aparecimento duma tensão de saída diferente de zero. Esta tensão à saída pode ser forçada a
ser zero, se aplicarmos entre as duas entradas do amplificador operacional uma tensão
adequada. A esta tensão chamamos tensão de offset à entrada, Vi0 .

O valor típico de Vi 0 para o 741 é de 2 mV.

Desprezando por enquanto I B e I i 0 , a tensão de offset à entrada origina o aparecimento

65
duma tensão de erro à saída

æ R ö
V0 = çç1 + 2 ÷÷ Vi 0 (3.30)
è R1 ø

nas montagens inversora ou não-inversora (ver Fig. 3.17).


R1 R2

-
A
+

Vi0 vo

Fig. 3.17 – Circuito correspondente às montagens inversora e não inversora com a entrada curto-
circuitadas e considerando a tensão de offset à entrada.

Mais uma vez, a influência de Vi 0 na saída depende da aplicação em questão. Para o

valor típico de Vi 0 = 2 mV e R 1 = R 2 teremos V0 = (1 + 1) ´ 2 ´ 10 -3 , ou seja, V0 = 4 mV.

Para uma configuração com ganho 1000 teremos V0 @ 2 V, o que será certamente um erro

importante.

3.5.2 COMPENSAÇÃO DOS ERROS DE DESVIO

Para simplificar a análise, os erros devidos a I i 0 e Vi 0 foram tratados separadamente. A

tensão de erro total pode no entanto ser obtida aplicando o princípio da sobreposição. Sendo
assim teremos de (3.29) e (3.30):

æ R ö
V0 = çç1 + 2 ÷÷ ´ [Vi0 - (R1 // R 2 ) I i0 ] (3.31)
è R1 ø

De notar que Vi 0 e I i 0 podem ter qualquer polaridade, pelo que não devemos tirar
conclusões precipitadas relativamente à compensação dos dois erros devido ao sinal “–“ na
expressão (3.31).

66
Nas aplicações de precisão, ou duma forma geral quando os erros devido ao offset à
entrada são demasiado grandes é necessário proceder à compensação de offset. Há duas
técnicas de compensação, as internas e as externas.
A compensação interna pode ser efectuada quando o fabricante providencia dois
terminais para colocação dum potenciómetro, como é o caso do 741. Trata-se de compensar a
assimetria dos dois circuitos de entrada, colocando em paralelo com cada um deles uma
resistência diferente, ver Fig. 3.14. Ajustando o potenciómetro, podemos compensar a
desigualdade dos circuitos, dando uma aparência de inexistência de offset.
A Fig. 3.18 apresenta o circuito para a compensação interna de offset no caso das
montagens inversora ou não-inversora.

R1 R2

2
- 6
3 5
+
1 V0
R1//R2
10 kW

-15 V

Fig. 3.18 – Compensação interna de offset no 741.

O procedimento para compensação de offset consta simplesmente de curto-circuitar a


entrada e ajustar o potenciómetro, cujo ponto médio se encontra ligado à tensão de
alimentação negativa, até a tensão de saída, V0 , ser o mais próxima possível de zero.

Quando num circuito com vários amplificadores operacionais for necessário ajustar o
offset, basta ajustar o offset num dos amplificadores operacionais, medindo a tensão de saída
final do circuito.
Alguns amplificadores operacionais não permitem realizar a compensação interna. É o
caso das embalagens de 8 pinos com dois amplificadores operacionais, nestas situações não
há pinos disponíveis para efectuar a compensação. Torna-se então necessário realizar uma
compensação externa.
A ideia de base da compensação externa é a de aplicar uma tensão dc ajustável no
circuito de entrada, de modo a compensar o erro de offset existente.

67
A Fig. 3.19, apresenta uma montagem que permite efectuar a compensação externa do
offset à entrada na montagem inversora. Em vez de ligar R p à massa, liga-se a um ponto

onde se promove o aparecimento duma tensão igual e de sinal contrário à tensão de erro à
entrada. A tensão de compensação é obtida a partir dum potenciómetro cujos terminais são
ligados às tensões de alimentação do amplificador operacional.

R2

R1
-

+VCC +
Vi V0
RB Rp
RC
RA

-VEE
Fig. 3.19 – Montagem inversora com compensação externa do offset.

O ponto médio do potenciómetro é aplicado a um divisor resistivo constituído por RB e


RA. Para não alterar o circuito de partida faz-se R A << R p . Geralmente R B ³ R C e muito

maior que RA, pois, o objectivo é passar a tensão do ponto médio do potenciómetro que é a
ordem dos volt para uma tensão da ordem dos mV no divisor resistivo formado por RB e RA.

+VCC
RC1 RB R1 R2
RC
RC2
RA
-VEE -

V1 Rp V0

Fig. 3.20 – Montagem não inversora com compensação externa do offset.

68
A Fig. 3.20 apresenta a montagem destinada a promover a compensação externa do
offset na montagem não inversora. Neste caso, é necessário manter R A << R 1 para não
alterar o ganho de montagem. De notar que o ganho passa a ser dado por

R2
A = 1+ (3.32)
R 1 + R A //[R B + (R C1 // R C2 )]

3.5.3 MEDIDAS DAS TENSÕES E CORRENTES DE DESVIO À ENTRADA

A Fig. 3.21 apresenta um circuito que permite a medida da tensão de desvio à entrada.

10 kW

A - I1 100 kW VB -
Vi0 10 W A1
+
A2
B +
V" V0
100 kW

Fig. 3.21 – Montagem para medirVi0.

O amplificador objecto da medida é A1, A2 é um segundo amplificador operacional com


compensação de “offset” efectuada e que serve de “buffer”.
Como a tensão em V" é nula já que VB = 0 (entradas + e - de A2 ao mesmo potencial)
e a corrente à saída de A1, I1, passa pelas resistências de 100 kW (corrente de entrada nula em
A2), então a tensão aos terminais da resistência de 10 W terá que ser Vi0. A tensão de saída de
A2 será

V
( )
V0 = i0 10 ´103 + 10 = 1001Vi0
10
(3.33)

Temos então que medindo a tensão V0 em volt, obtemos um número aproximadamente


igual Vi0 em mV.

69
Se alterarmos o circuito da fig. 3.21, colocando uma resistência de 10kW entre o ponto
B e a entrada não inversora, podemos medir a corrente de polarização Ip. De facto, a tensão

entre os pontos A e B passa a ser Vi0 - 10 ´103 Ip , já que Vi0 continuará a estar entre as
entradas inversora e não inversora. Sendo assim,

V0 =
Vi0 - 10 ´ 10 3 I p
10
(10 ´ 103 + 10) (3.34)

deste modo, medindo V0 e tendo medido anteriormente Vi0 recorrendo a (3.33) podemos obter
Ip. Utilizando um processo análogo, colocando a resistência de 10 kW entre o ponto A e a
entrada menos obteríamos In, utilizando (3.18) e (3.19) poderíamos obter IB e Ii0.

3.6 RESPOSTA EM FREQUÊNCIA

Algumas das limitações mais críticas dum amplificador operacional real são as que
resultam da sua resposta em frequência. Como era de esperar, em vez da desejada “largura de
banda infinita”, característica dum amplificador operacional ideal, teremos sempre uma
resposta em frequência que se caracterizará por apresentar um ganho finito que diminui com o
aumento de frequência. Comecemos por considerar que o amplificador apresenta uma função
de transferência com um só pólo, dada por:

A0
A (s) = (3.35)
æ s ö
1+ ç ÷
ç w1 ÷
è ø

Em que A0 é o ganho em dc, w1=2pf1 é a frequência angular do pólo e s = jw. Na fig.


3.22 representa-se o módulo desta resposta em frequência, dado por

A0
A = (3.36)
2
æ wö
1+ ç ÷
ç w1 ÷
è ø

para o caso em que A0=100.000 e f1=5Hz, valores característicos do 741.

70
106

Ganho de Tensão
104

100
ft

1 10 100 103 104 105 106

Frequência (Hz)

Fig. 3.22 – Módulo da resposta em frequência dum amplificador operacional em que a função de
transferência apresenta um pólo em 5Hz, e o ganho em dc é igual a 100000.

Esta característica é bem aproximada pela resposta assimptótica para valores de


frequência afastados da frequência do pólo.
Quando w<<w1, temos A @ A 0 . Para w>>w1, vem A @ 0 .

w
w1
Quanto à fase, dada por f = -artg e que se representa na fig. 3.23, teremos para
1
w<<w1, f @ 0 . Para w>>w1, f @ -90º .
20

-20
Fase(º)
Fase

-40

-60

-80

-100
-2 0 2 4 6
10 10 10 10 10
Frequência (Hz)

Fig. 3.23 – Fase da resposta em frequência dum amplificador operacional em que a função de
transferência apresenta um pólo em 5Hz, e o ganho em dc é igual a 100000.

71
A0
Para w = w1, temos A = = 0,707 A 0 e f = -arctg 1 = -45º .
2
Dada a grande gama de variação dos valores de A0, a amplitude expressa-se geralmente
æ 2 ö
æ ö
em decibéis. Isto é, em vez de |A|, utilizamos. 20log A = 20log A0 - 20log ç 1 + çç w ÷÷ ÷
ç ÷
ç è w1 ø ÷
è ø
No presente caso, quando w = 10w1 teremos
20 log A = 20 log A 0 - 20 logæç 1 + 10 2 ö÷ @ 20 log A 0 - 20 log10 ,
è ø
para, w = 100w1 vem

20 log A = 20 log A 0 - 20 logæç 1 + 100 2 ö÷ .


è ø
Ou seja, a amplitude está respectivamente 20 e 40 dB abaixo do valor dc, caindo a resposta
em frequência a um ritmo aproximadamente igual a 20 dB por década, a partir da frequência
do pólo. Um pouco antes de 1MHz, no exemplo da figura, o ganho atinge o valor unitário. O
valor de frequência a que isso acontece é designado por frequência de ganho unitário, ft. A
partir dessa frequência o amplificador comporta-se como um atenuador.
Uma propriedade interessante da curva da fig. 3.22, na região onde a resposta diminui
a 20db/década é que o produto de qualquer valor das abcissas pelo correspondente valor das
ordenadas é constante. Admitamos que temos um amplificador com ft=1MHz. Nesta caso, o
ganho a 100kHz é igual a 10 (10 ´ 105Hz = 1 ´ 106Hz). A 100Hz o ganho seria portanto
10000. Diz-se que este amplificadores têm um produto ganho ´ largura de banda constante
igual a ft. A maior parte dos amplificadores operacionais apresentam valores de ft entre
500kHz e 10MHz. Existem no entanto alguns amplificadores de banda larga com larguras de
banda de centenas de MHz.
Nas montagens básicas apresentadas nas secções anteriores, considerou-se sempre que
os amplificadores tinham um ganho constante igual a A. Vejamos o que acontece no caso da
montagem não inversora, por exemplo, quando se substitui Ama em (3.4) pelo ganho dado por
(3.35). Neste caso, é fácil concluir que o ganho em malha fechada passa a se dado por:

A0
1 + A 0b
A (s) = (3.37)
s
1+
w1 (1 + A 0b )

Ou seja, temos um comportamento semelhante ao representado na fig. 3.22, mas com

72
A0 1
uma resposta em dc dada por @ , que se manterá aproximadamente constante até
1 + A 0b b

uma frequência próxima da frequência de corte, igual a w1 (1 + A 0b ) . A fig. 3.24, representa a

resposta em frequência duma montagem não inversora com b=0,1 (ganho 10 em dc), em que
as características do amplificador operacional são as da fig. 3.22. Neste caso, f1=5Hz, pelo
que a frequência de corte desta montagem será f c = f 1 (1 + A 0b ) @ 5 ´105 ´ 0,1 = 50kHz . Outra

forma de chegar ao mesmo resultado seria utilizar a propriedade de o produto ganho largura
de banda ser constante. Como neste caso ft=500kHz e o ganho é 10 vem fc=50kHz.
6
10

100000

4
10
Ganho de Tensão

(1)

2
10

10

0
10 (2)

-2
10 10
0
f1 10
2
10
4 fc 6
10

Fig. 3.24 –Módulo da resposta em frequência (1) dum amplificador operacional igual ao de 3.22,
(2) duma montagem não inversora com b=0,1 utilizando aquele amplificador operacional.
A traço ponto representam-se as correspondentes respostas assimptóticas.

3.7 TAXA DE CRESCIMENTO MÁXIMA

A taxa de crescimento máxima (“slew rate limit” na designação anglo-saxónica) é o


ritmo máximo a que pode variar a tensão de saída dum amplificador operacional. Este
parâmetro e a frequência de ganho unitário, são os parâmetros chave para caracterizar o
comportamento dinâmico dos amplificadores. Esta limitação ao ritmo máximo de variação da
tensão de saída, resulta do tempo necessário para carregar (ou descarregar) as cargas
capacitivas internas do amplificador operacional. De facto, sendo a relação entre a corrente

73
du
que atravessa um condensador e a tensão aos seus terminais dada por i = C , para uma dada
dt
corrente máxima, imax (limitada por construção do circuito integrado) que passar num dado

condensador C, teremos um ritmo máximo de variação da tensão æç ö÷ . É a esta derivada


du
è dt ømax
máxima da tensão de saída do amplificador, us, que chamamos taxa de crescimento máxima,
SR.

æ du ö
SR = ç s ÷ (3.38)
è dt ømax

No caso do 741, a taxa de crescimento típica é de 0,5V/µs. Isto significa que o tempo
mínimo para ter uma variação de 10V na saída é de 20µs.
Imaginemos uma aplicação dum amplificador operacional, em que a tensão de saída
fosse alternada sinusoidal dada por u s ( t ) = U max cos ( wt + j ) . Para um dado valor da taxa de

crescimento teremos

æ du ö
SR = ç s ÷ = wU max (3.39)
è dt ømax

pelo que a frequência máxima a que se pode operar sem distorção, neste caso, será

SR
f max = (3.40)
2pU max

No caso de termos Umax=10V, teremos no caso do 741, uma frequência máxima de

0,5 ´106
operação igual a = 7,96kHz .
2p´10

3.8 FACTOR DE REJEIÇÃO DE MODO COMUM E


O AMPLIFICADOR DE INSTRUMENTAÇÃO

Até agora temos considerado que a saída dum amplificador era igual ao ganho vezes a
tensão diferencial de entrada. Em qualquer amplificador operacional real, não será assim e
teremos sempre um factor de modo comum, pelo que a tensão de saída será dada por

74
æv +v ö
v o = A d ´ v d + A mc ´ v mc = A d ´ ( v1 - v 2 ) + A mc ´ ç 1 2 ÷ (3.41)
è 2 ø
Onde Ad é o ganho diferencial, Amc o ganho de modo comum, v1 e v2 são
respectivamente às tensões da entrada não inversora e inversora do amplificador.
Idealmente Ad deveria ser infinito e Amc nulo. O quociente Ad / Amc é o factor de mérito
do amplificador, relativamente a este aspecto. Normalmente expressa-se em dB e é designado
por factor de rejeição de modo comum, CMRR (do inglês, Commom-mode rejection ratio)

Ad
CMRR = 20 log10 (3.42)
A mc

Em vez do valor ideal de CMRR=¥ é vulgar os AmpOps apresentarem valores entre 60


e 100dB. No caso dos amplificadores de instrumentação é possível atingir valores superiores
a 120dB. A fig. 3.25 apresenta um amplificador de instrumentação.

+ v3 R1 R2
A1
v1 - Ra
-
v1 A3
i Rb +
v2
v0
v2 Ra
-
A2
+ v4 R1 R2

Fig. 3.25 –Amplificador de Instrumentação.

Consideremos que as tensões de entrada do amplificador de instrumentação são dadas


por
vd vd
v1 = v mc + e v 2 = v mc - (3.43)
2 2
onde vmc=(v1+v2)/2 é a tensão de modo comum e vd=(v1-v2) é a tensão diferencial de entrada.
Como as tensões nas entradas de A1 e A2 se podem considerar iguais, podemos determinar o
valor da corrente aos terminais de Rb.
v1 - v 2 v d
i= = (3.44)
Rb Rb
Como a corrente i passa também pelas duas resistências Ra, já que as correntes de

75
entrada nos amplificadores são nulas, podemos determinar v3 e v4.
vd v v
v3 = v1 + R a ´ = v mc + d + R a ´ d (3.45)
Rb 2 Rb
e
vd v v
v4 = v2 - R a ´ = v mc - d - R a ´ d (3.46)
Rb 2 Rb

A relação entre v0, v3 e v4 é conhecida, já que foi deduzida na secção 3.3.5. Estamos
perante um subtractor, pelo que
R2
v0 = ( v 4 - v3 ) (3.47)
R1
substituindo (3.45) e (3.46) em (3.47) obtemos:

R2 æ Ra ö
v0 = - ç1 + 2 ÷ vd (3.48)
R1 è Rb ø

Como se verifica, a tensão de saída é independente da tensão de modo comum,


dependendo somente da tensão diferencial de entrada. No caso dos amplificadores de
instrumentação integrados, o ganho é geralmente regulado actuando em Rb, que pode ser
colocada exteriormente.
Claro que um amplificador que tivesse uma relação entre a entrada e a saída dada por
(3.38), teria um CMRR infinito. Na prática tal não se verificará, dada a impossibilidade de
fabricar as quatro resistências designadas no esquema por R1 e R2, iguais duas as duas. Nesse
caso, deveríamos utilizar (3.11), em vez de (3.47), para determinar a tensão de saída e
teríamos algum ganho de modo comum. A igualdade entre as 2 resistências designadas por
Ra, não é critica para o desempenho do amplificador operacional. Se fossem diferentes,

R 2 æ R a1 + R a 2 ö
designadas por Ra1 e Ra2 a tensão de saída viria igual a v 0 = - ç1 + ÷ vd .
R1 è Rb ø
Além do elevadíssimo factor de rejeição de modo comum que se consegue nos
amplificadores operacionais, este apresentam também uma resistência de entrada muitíssimo
elevada, como resultado das duas montagens do tipo não inversor de A1 e A2.
Como exemplo de aplicação consideremos o seguinte problema: temos um transdutor de
deformação que apresenta uma resistência eléctrica que varia do valor em repouso igual a
100W, para 100,3W quando a deformação é a máxima admissível pelo transdutor. Imaginemos

76
que para medir esta variação de resistência, se colocou o transdutor num dos ramos duma
ponte de Wheatstone de corrente contínua, alimentada a 5V e com resistências todas iguais a
100W nos restantes 3 ramos da ponte. A tensão de desequilíbrio da ponte apresentaria no caso
de deformação igual a um décimo da máxima (R=100,03W) uma tensão diferencial de
0,37mV e uma tensão de modo comum aproximadamente igual a 2,5V, fig. 3.26. Ou seja, a
tensão de modo comum é 6667 vezes superior à tensão diferencial, pelo que necessitamos
utilizar um amplificador com um elevadíssimo CMRR de modo a amplificar a tensão
diferencial de entrada (que é a que contém a informação relativa à deformação) sem termos à
saída do amplificador uma parcela importante devida ao modo comum. Se utilizássemos um
Ad
amplificador com um CMRR de 80, teríamos 80 = 20 log , logo Ad=10000Amc, pelo que a
A mc

tensão de saída seria dada por v 0 = A d æç 0,37 ´10-3 +


2,5 ö
÷ , ou seja, as contribuições para a
è 10000 ø
tensão de saída da tensão diferencial e de modo comum seria praticamente igual. Se em vez
do amplificador anterior, utilizássemos um com CMRR=120dB, teríamos uma tensão de saida

dada por v 0 = A d æç 0,37 ´10-3 +


2,5 ö
÷ , pelo que a contribuição da tensão de modo comum
è 1000000 ø
na saída teria diminuído 100 vezes, sendo portanto desprezável em relação ao termo devido ao
modo diferencial.

100,03W 100W

+
5V A
-
0,37mV v0
100W 100W

Fig. 3.26 – Ponte de Wheatstone incluindo um extensómetro no ramo 1, seguida dum amplificador de
instrumentação.

77
3.9 ESTABILIDADE E COMPENSAÇÃO

Se em vez de (3.35) o amplificador tiver uma função de transferência com 2 pólos:


A0
A(s ) = (3.49)
æç1 + s ö÷ æç1 + s ö÷
è w1 ø è w 2 ø

a amplitude em dB é dada por:

s s
20 log A(s ) = 20 log A 0 - 20 log 1 + - 20 log 1 + (3.50.a)
w1 w2

Considerando w2 > w1, a amplitude diminui a um ritmo de 20dB/década entre w1 e w2.


Para amplitudes superiores a w2, a amplitude decresce a 40dB/década.
Neste caso a fase é dada por:
æ s ö æ s ö
f = f (numerador ) - f çç1 + ÷÷ - f çç1 + ÷÷ (3.50.b)
è w1ø è w 2ø

para cada pólo podemos tomar como boa a aproximação assimptótica, em que se considera
que a fase é igual a zero para uma frequência igual a 1/10 da frequência do pólo, cai a
45º/década até ser –90º para uma frequência igual a 10 vezes a frequência do pólo. No
exemplo que estamos a considerar, se w2 > w1,mas (w2 10 ) < 10 w1 , a fase começa por ser

zero desde a frequência zero até w1/10, a partir daí decresce a um ritmo igual a 45º/década até
w2/10, diminuindo depois a 90º/década até 10w1 , voltando a decrescer a 45º/década até

10 w 2 onde é igual –180º, valor que se mantém para frequências superiores.


Na figura 3.27, apresentam-se a amplitude (em 3.28, noutra escala) e a fase da resposta
em frequência dum amplificador com uma função de transferência com 3 pólos:
A0
A(s ) = (3.51)
æç1 + s ö÷ æç1 + s ö÷ æ1 + s ö
ç ÷
è w1 ø è w 2 ø è w3 ø

em que as frequências dos pólos são respectivamente 100kHz, 1MHz e 10Mz. Esta situação
hipotética, poderia facilmente corresponder ao que se obteria após a construção dum dado
amplificador operacional. As montagens a efectuar com um amplificador com estas
características, são, como veremos, potencialmente instáveis.

78
120

100 -20dB/década

80
(dB)
-40dB/década
Amplitude (dB)
60
Amplitude

40
-60dB/década
Margem de ganho
20

0
a)
-20
0 2 4 6 8
10 10 10 10 10

0
-45º/década

-50

-90º/década
-100
(º)
Fase(º)
Fase

-150

-180
-200
Margem de fase
-250
-45º/década b)
-300
0 2 4 6 8
10 10 10 10 10

Frequência (Hz)

Fig. 3.27 – Amplitude a) e fase b) da resposta em frequência dum amplificador com 3 pólos em:
100kHz, 1MHz e 10MHz.

Como vimos no capítulo anterior, o produto –Ab da equação 2.7 é designado por ganho
em anel. Quando Ab < 0 a realimentação diz-se negativa ou degenerativa. Nesta situação,
1 - Ab > 1 e portanto A F < A . Apresentando o amplificador uma resposta em frequência

com mais de dois pólos, como a da figura 3.27, existe uma frequência para a qual um sinal
que se propague ao longo da malha de realimentação sofre um desfasamento de 180º, ou seja,
uma inversão. Nestas circunstâncias estão criadas as condições para que o produto Ab se
torne maior do que zero e portanto a realimentação passe a ser positiva, tornando as

79
montagens instáveis. Em particular quando Ab = 1, resulta que 1 -Ab = 0 e portanto o ganho
do amplificador realimentado vem igual a infinito, ou seja, poremos ter sinal de saída, mesmo
na ausência de sinal à entrada do amplificador realimentado.
120

-20dB/década
100

80
(dB)

-40dB/década
Amplitude (dB)

60
Amplitude

40 -60dB/década

20

-20
4 5 6 7 8
10 10 10 10 10
Frequência (Hz)

Fig. 3.28 – Amplitude da resposta em frequência igual à de 3.27, mas noutra escala de frequências, de
modo a evidenciar o ritmo de descida da aproximação assimptótica.

O critério utilizado para determinar a estabilidade dum amplificador é a margem de fase


(ver fig. 3.27), definida como
fm = 180º +f ( f t ) (3.52)

onde f(ft) representa a fase para a frequência de ganho unitário, ser positiva. Ou seja, é
necessário que para a frequência de ganho unitário a fase não exceda os –180º. Se assim não
fosse, teríamos criado condições de oscilação.
Podemos usar também como critério de estabilidade a margem de ganho ser menor do
que zero. A margem de ganho, ver fig. 3.27, é igual ao valor da amplitude da resposta em
frequência em dB para a frequência em que a fase é igual a -180º.
Para evitar estas situações é frequente os fabricantes de AmpOps efectuarem a
compensação interna dos amplificadores operacionais, ou indicarem uma forma de fazer a
compensação externa, de modo a evitar a possibilidade de realizar com eles montagens
instáveis, pelo menos para as situações mais vulgares de amplificadores com malhas de
realimentação resistivas, ou circuitos integradores.

80
Um exemplo da compensação interna é a inclusão do condensador C no circuito da fig.
3.13, que representa o esquema eléctrico do 741, entre a saída do andar diferencial e a base de
T14 no andar de saída de simetria complementar. Esta compensação é a mais frequente, sendo
designada por compensação por pólo dominante. A ideia é modificar o amplificador,
introduzindo um pólo a uma frequência muito menor que a de todos os outros pólos, de modo
a ser o efeito resultante deste pólo que domina a função de transferência. A compensação é
geralmente efectuada de tal modo, que o 2º pólo vai ocorrer para frequências onde a
amplitude da resposta em frequência é inferior a 0dB.
Um circuito como o 741 cuja resposta em frequência cai a 20 dB/década até ft, como
resultado da compensação por pólo dominante, diz-se incondicionalmente estável e o preço
que se pagou por isso foi a redução da largura de banda em malha aberta para 5 Hz.
Consideremos agora, de novo, o exemplo da fig. 3.27 e 3.28, correspondente à função
de transferência dada por (3.49). Imaginemos que se efectuava a compensação por pólo
dominante, de modo a introduzir um novo pólo em 5Hz, como no 741. A figura 3.29
representa a amplitude e a fase da resposta em frequência do amplificador. A função de
transferência passa a ser:
A0
A(s ) = (3.53)
æ1 + s öæ1 + s ö æ1 + s ö æ1 + s ö
ç w ÷ç w ÷ ç w ÷ ç w ÷
è 0 øè 1øè 2 øè 3ø

com f0=5Hz e em que as frequências dos outros pólos continuam a ser respectivamente
100kHz, 1MHz e 10Mz.
Como se pode verificar, após compensação, a margem de fase passou a ser positiva e a
margem de ganho negativa, o que significa que o amplificador após compensação se tornou
estável. As linhas a tracejado indicam as frequências (respectivamente 210kHz e 300kHz)
onde o ganho é igual a 0dB, a que corresponde uma fase de 168º (margem de fase +12º) e
também onde a fase é igual a 180º, a que corresponde uma margem de ganho de –14dB.
No exemplo que apresentamos, as condições de estabilidade são obtidas com uma
pequena margem. Em geral, como acontece no 741, a compensação por pólo dominante
permite obter uma resposta em frequência com valores superiores para a margem de fase. No
741, o 2º pólo que se segue ao dominante, aparece para uma frequência superior a 1,5MHz, o
que faz com que a amplitude da resposta em frequência passa por 0dB antes de atingir a
frequência do pólo, pelo que a margem de fase será sempre superior a 45º.

81
120

100
(Não compensado)
80
Amplitude(dB)

60
Amplitude

(Compensado)
40

20

0 a)

-20
0 2 4 6 8
10 10 10 10 10

0
(Não compensado)
-50
(Compensado)
-100

-150
Fase(º)
Fase

-180
-200

-250

-300

-350 b)

-400
0 2 4 6 8
10 10 10 10 10

Frequência (Hz)

Fig. 3.29 – Amplitude a) e fase b) da resposta em frequência do amplificador da fig. 3.27,


compensado por introdução dum pólo em 5Hz.

A fig. 3.30, apresenta um circuito utilizado para efectuar a compensação externa por
pólo dominante. Neste caso, a resposta em frequência do amplificador é multiplicada por
1 1
, com w0 = . De notar que para incluir um pólo dominante a uma frequência
æ s ö RC
ç1 + ÷
è w0 ø
muito baixa, teremos geralmente de utilizar valores elevados de R e C.

82
R
-
A
+

Fig. 3.30 – Compensação externa por pólo dominante.

Por vezes os fabricantes incluem um pino do circuito integrado com acesso directo à
entrada do segundo andar (de ganho) do amplificador operacional, de modo a que o utilizador
possa efectuar a compensação externa por inclusão dum condensador entre esse pino e a
massa. Nestas condições, deve ser indicado o valor da resistência equivalente nesse ponto. No
caso do 741, se a entrada do par Darlington estivesse disponível, a resistência equivalente
seria da ordem dos 2MW, pelo que o valor da capacidade a incluir para que o pólo dominante
estivesse nos 5Hz, seria de 16nF. Este valor seria demasiado elevado para incluir no interior
do circuito integrado, onde é difícil incluir capacidades de valor superior a 100pF. Em vez
desta solução, a compensação efectuada no caso do 741 é conseguida explorando o efeito de
Miller, por inclusão dum condensador na malha de realimentação do par Darlington. O ganho
deste andar, AD, é igual ao valor da transconductância do par multiplicado pela resistência de
saída, AD= - GD ´ R0D. Visto da entrada do par Darlington, o condensador comporta-se como
uma capacidade de valor dado por C´(1+ AD). Os valores típicos no 741 são: GD=6.4mA/V,
R0D=86kW, C=30pF, pelo que AD=550 e portanto a frequência do pólo vem dada por
f0=1/(2p´2´106´551´30´10-12) @5Hz.
A maior parte dos amplificadores estão disponíveis em versões compensadas e não
compensadas. Por exemplo o 748 é a versão não compensada do 741, o 301 do 307, etc..
Outra variante é a existência de amplificadores subcompensados, em que conseguiremos obter
circuitos estáveis desde que os ganhos das montagens sejam elevados, mas que o não serão
para ganhos inferiores a um dado valor. Por exemplo, o 356 é um circuito incondicionalmente
estável, por inclusão duma capacidade interna de compensação igual a 10pF. Existe porém
uma versão subcompensada do circuito, o 357, que inclui uma capacidade de 2pF para
efectuar a compensação. O 357 só pode ser utilizado para montagens em que o factor de
realimentação seja (1/b)>5, no entanto, a diferença dos valores das capacidades de

83
compensação tem outras consequências. O 357 tem uma frequência de ganho unitário de
20MHz e uma taxa de crescimento máxima (Slew rate) de 50V/µs, enquanto que no 356 a
frequência de ganho unitário é de 5MHz e a taxa de crescimento máxima se reduz a 12V/µs.
Outra possibilidade de efectuar a compensação dos amplificadores operacionais, é
forçar o aparecimento no circuito de um zero de frequência igual à de um dos pólos (por
exemplo o 1º ou o 2º). Chama-se compensação pólo-zero. A fig. 3.31 apresenta um circuito
para efectuar esta compensação. Em vez de efectuar a compensação à saída, podemos também
efectuá-la à entrada do 2º andar do Amp Op se esse ponto estiver acessível.

R
-
A
+
RC

Fig. 3.31 – Compensação pólo-zero.

Neste caso a função de transferência passa a ser dada por


1
RC +
j wC
A ' (s ) = A(s ) (3.54)
1
R + RC +
j wC
que pode ser escrita na forma:
æç1 + s ö÷
wz ø
A (s ) = A(s ) è
' (3.55)
æ ö
ç1 + ws ÷
è p ø

1 RC
onde wz = e wp = wz . Ou seja, introduzimos um zero em wz e um pólo em wp.
R CC RC + R
Claro que a frequência do pólo é inferior à frequência do zero. No entanto, podemos
conseguir um ganho significativo da largura de banda em relação à compensação por pólo
dominante, se fizermos a frequência do zero igual à frequência do primeiro pólo antes da
compensação e a frequência do pólo agora introduzido tal que faça com que a margem de fase
do novo amplificador seja positiva.

84
120

100
(Não compensado)

Amplitude(dB) 80 (Compensacão
pólo-zero)
60 (Compensacão
Amplitude

por pólo dominante)


40

20

0 a)

-20
0 2 4 6 8
10 10 10 10 10

0
(Compensacão (Não compensado)
-50 pólo-zero)

-100

-150
Fase(º)
Fase

-180
-200

-250
(Compensacão
-300 por pólo dominante) b)
-350

-400
0 2 4 6 8
10 10 10 10 10

Frequência (Hz)

Fig. 3.32 – Amplitude a) e fase b) da resposta em frequência do amplificador da fig. 3.27, após
compensação pólo-zero, por introdução dum zero na frequência do primeiro pólo (100kHz) e um novo
pólo em 100Hz de modo a manter a mesma margem de fase da compensação apresentada em 3.29.

Na figura 3.32 apresentamos os resultados duma compensação pólo-zero, por


introdução dum zero na frequência do primeiro pólo (100kHz) antes da compensação e dum
novo pólo em 100Hz de modo a manter a mesma margem de fase da compensação por pólo
dominante apresentada em 3.29. Como se verifica, temos um grande ganho de largura de
banda em relação à compensação por pólo dominante.
Uma variante muito popular da compensação pólo-zero, é a que representa na fig. 3.33,
para as montagens inversora e não-inversora e que se designa por compensação por atraso

85
1
na entrada (“input lag compensation”). Neste caso, a frequência do zero é wz = e a do
R CC
RC
pólo wp = wz . A vantagem desta compensação é que melhora a taxa de
R C + R1 // R 2
crescimento do amplificador, já que o condensador de compensação foi incluído entre dois
pontos onde a tensão é aproximadamente nula, pelo que a corrente necessária para carregar o
condensador de compensação é muito pequena, muito menor do que nos casos em que a
malha de compensação é incluída entre pontos onde a variação do sinal seja elevada.
R2
+
RC A
R1
-
C -
RC A
vi R2 vo vi +
vo
C
R1

a) b)
Fig. 3.33 – Compensação por atraso na entrada para as montagens não inversora (a) e inversora (b).

Para terminar referiremos uma técnica de compensação, que ao contrário das anteriores
não actua sobre a função de transferência do amplificador básico, mas antes sobre a malha de
realimentação. É geralmente designada por compensação por avanço (“lead compensation”),
pode ser utilizada em montagens inversoras ou não-inversoras. Consiste em modificar a malha
de realimentação de modo a adicionar um termo positivo à resposta de fase do amplificador
na proximidade da frequência de ganho unitário, de modo a fazer aumentar a margem de fase.
A fig. 3.34 representa a aplicação desta técnica a uma montagem inversora.
C

R2

R1

-
A
vi
+ vo

86
Fig. 3.34 – Compensação por avanço na montagem inversora.
120

100

80
(1)
60
(dB)
Amplitude

40
Amplitude

(2)
20

0 (3)
-20

-40 a)

-60
0 2 4 6 8
10 10 10 10 10

0
(1)
-50
(3)
-100
Fase(º)
Fase

-150

-180
-200 (2)

-250 b)

-300
0 2 4 6 8
10 10 10 10 10

Frequência (Hz)

Fig. 3.35 – Amplitude a) e fase b) da resposta em frequência do amplificador da fig. 3.27 (1), duma
montagem inversora com ganho 10 sem compensação (2) e com compensação por avanço (3) por
introdução dum pólo em 1MHz e dum zero em 11MHz.

1 R + R2
Neste caso, a frequência do pólo é wp = e a do zero wz = 1 wp .
R 2C R1
Na figura 3.35, representam-se as respostas de amplitude e fase duma montagem
inversora com ganho 10, realizada com o amplificador com que temos vindo a ilustrar o texto
desde a figura 3.27. Na montagem não compensada, representada pelas curvas assinaladas
com (2) na figura, temos uma margem de fase de cerca de –70º (fase igual a –250º para a

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frequência de ganho unitário). Após inclusão do condensador em paralelo com a resistência
R2 na montagem da fig. 3.34, obtemos as curvas assinaladas com (3). Como se pode verificar
a fase subiu acima dos –100º, pelo que a margem de fase passou a ser positiva em mais de
80º, tornando a montagem estável. Os valores das frequências do novo pólo e do zero
introduzidos foram respectivamente de 1MHz e 11MHz.

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