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Amplificadores de Potência
1.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo, serão tratados alguns dos problemas mais importantes relativos aos
amplificadores capazes de fornecer potências elevadas. Prestar-se-à especial atenção, à
eficiência na conversão de energia das fontes de tensão DC para o sinal na carga e ao
problema da distorção harmónica.
Os amplificadores de potência são classificados de acordo com o intervalo do período
da onda sinusoidal à entrada, durante o qual circula corrente na carga.
Um amplificador diz-se de classe A quando a corrente circula no circuito de saída
durante um período completo (360º), figura 1.1.
iC
IC
0 t
Num amplificador de classe B a corrente só circula durante meio período (180º), figura
1.2. Neste caso, o ponto de funcionamento em repouso está situado num extremo das
características de saída, pelo que a potência correspondente é muito pequena.
No caso dum amplificador de classe AB, a corrente circula durante mais de meio
período, mas sem chegar a um período completo, figura 1.3.
1
iC
IC
t
iC
IC
0
t
iC
t
0
À primeira vista, pode parecer que só com um amplificador de classe A se poderá obter
uma amplificação sem distorção do sinal de entrada. Veremos porém, que utilizando
montagens do tipo “push-pull” o mesmo se passa com os amplificadores das classes B e AB.
Os amplificadores de classe C, são utilizados em situações nas quais o uso de circuitos
sintonizados permite eliminar a distorção resultante do funcionamento não linear do circuito.
2
1.2 DISTORÇÃO HARMÓNICA
Nos circuitos tratados até ao presente, considerou-se sempre que o funcionamento era
de pequenos sinais e em classe A. Nessas situações, o problema da linearidade não se
colocava. Por outro lado, dadas as baixas potências em jogo, o balanço energético não era
importante. No presente caso, por termos grandes excursões ao longo das rectas de carga e
elevadas potências em jogo, torna-se obrigatório considerar estes dois problemas.
Comecemos por considerar o circuito da Fig. 1.5. Trata-se duma montagem de emissor
comum em que a carga é RL.
VCC
RL VL
C iB IC
VCE
+ RB
Vi
-
VBB
t
Fig. 1.6 – Características de saída e formas de onda de corrente e da tensão do circuito da Fig. 1.5.
3
Sendo assim, a potência activa na carga devida ao sinal, PL, igual ao valor médio da
potência instantânea (excluindo o termo devido à polarização) virá:
T
1
PL = (v L i C )av = ò v L (t )i C (t )dt = VL ef I C ef cos j (1.1)
T
0
PL = I C ef VL ef (1.2)
Sendo i C = I C
max
cos wt e v L = VL max cos wt , como ICmax = 2 ICef e VLmax = 2 VLef
Admitamos agora, que as características de saída iC(vCE) não são equidistantes para
iguais incrementos da corrente de base ib. Esta, será a situação que geralmente se verifica e
não a poderemos ignorar quando se tratar de sinais com grandes excursões ao longo da recta
de carga.
Neste caso, em vez duma relação linear entre iC e ib (iC = k ib), teremos, considerando
uma aproximação polinomial para a relação de transferência,
i C = k1i b + k 2 i 2b + k 3i 3b + k 4 i 4b + ! (1.4)
a corrente iC virá:
4
Considerando que 2 cos a cos b = cos(a + b ) + cos(a - b ) , é fácil de demonstrar que a
expressão da corrente instantânea total iCt é
calculadas a partir de k1 ! k n e I b .
max
Temos então, uma distorção do sinal de saída que deixou de ser sinusoidal como a
entrada, para passar a apresentar além dum termo da mesma frequência do sinal de entrada,
um número infinito de harmónicas e ainda um termo constante A0 a somar ao termo de
polarização.
Ao quociente entre os módulos das amplitudes das harmónicas de ordem i e de ordem 1,
chamamos distorção da harmónica de ordem i. Usualmente expressa-se em percentagem:
Ai
di = ´ 100% (1.8)
A1
A potência activa total na carga, excluindo o termo devido à componente contínua virá:
(
PL = A12 + A 22 + A 32 + ! )R2L (1.9)
A12 R L
PL1 = (1.10)
2
Substituindo (1.10) em (1.9) obtemos
(
PL = 1 + d 22 + d 32 + ! PL1 ) (1.11)
d = d 22 + d 32 ! (1.12)
a equação (1.11) vem então:
(
PL = 1 + d 2 PL1 ) (1.13)
5
No caso de termos uma distorção harmónica total de 20%, a potência activa na carga
devida às componentes alternadas virá:
PL = é1 + ( 0, 2 ) ù PL1 = 1, 04PL1
2
(1.14)
ë û
ou seja, apesar de existir uma distorção harmónica total de 20%, temos somente um aumento
de 4% na potência em jogo na carga, relativamente ao valor correspondente ao termo
fundamental.
VCE de saturação).
Sendo VL
max
= VCC 2 , e a potência activa máxima na carga será (1.3):
2
æ VCC ö
ç ÷
VL2max è 2 ø 2
VCC
PL = = = (1.15)
2RL 2RL 8RL
A potência activa fornecida pela fonte de alimentação será:
T T
1 1
PCC =
T0ò VCC iCt dt =
T ò VCC [ IC + iC (t)] dt = VCC IC (1.16)
0
Como IC foi escolhido a meio da recta de carga para que a potência activa na carga seja
máxima, teremos
VCC
IC = (1.17)
2RL
6
pelo que
2
VCC
PCC = (1.18)
2RL
A potência activa posta em jogo no transistor será igual à diferença entre a fornecida
pela fonte e a que é posta em jogo na carga, sendo necessário incluir nesta o termo devido à
componente contínua de corrente. Virá então:
A Figura 1.7 representa as variações das potências activas nos elementos do circuito da
Fig. 1.5, em função do valor máximo da tensão sinusoidal na carga.
P
1
PCC
0,75
PL
0,5
PLdc
PT
0,25
PLac
0
0 0,125 0,25 0,375 0,5
Fig. 1.7 –Potência fornecida pela fonte, PCC, posta em jogo no transistor, PT, na carga em a.c., PLac,
na carga em d.c., PLdc, (a tracejado) e total na carga PL, no amplificador da Fig. 1.5.
VL2max
2RL VL2max
h= 2
´ 100% = 2
´ 100% (1.20)
VCC VCC
2RL
7
Como já foi dito, o rendimento máximo no presente caso, será conseguido quando
VLmax = VCC 2 e será portanto
h=
( ) VCC 2
2
´ 100% = 25% (1.21)
2
VCC
VCC
IC iL
CC
RB RL VL
ii RE CE
VB
8
estabilidade do PFR, o que se consegue desde que R e >> (1 - a ) R B .
Reescrevendo (1.23), decompondo VCE e iCT nas suas componentes contínuas (VCE e IC)
e alternadas (vCE e iC):
v CE + VCE
iC + IC = - (1.24)
RL
VCE
IC = (1.25)
RL
com a recta da carga da corrente contínua (1.22), no entanto, como já dissemos o valor da
resistência RE é pequeno, pelo que, a inclinação da recta de carga de c.c. é praticamente
infinita e portanto VCE @ VCC . Sendo assim de (1.25) tiramos que
VCC
IC = (1.26)
RL
iC
vCE
0 VCC @2VCC
Para termos a máxima excursão simétrica, este PFR deve situar-se a meio da recta de
carga de c.a.. Nesta situação, como se pode ver na Fig. 1.9, a excursão da corrente do colector
vai de 0 a 2IC quando VCE varia de 2VCC a 0. Isto desprezando a tensão de saturação VCE,sat.
9
É de salientar, que neste caso a tensão entre colector e emissor pode ser o dobro da
tensão de alimentação.
A potência activa fornecida à carga, será máxima na situação de máxima excursão
VCC
simétrica, em que como vimos I L = IC = × A potência activa virá então
max
RL
PL = I 2Lef
æ IL
R L = çç max
ö
2
÷ RL =
( )
VCC 2
RL
RL =
2
VCC
(1.27)
÷ 2 2RL
è 2 ø
Como a potência fornecida pela fonte de alimentação é:
2
VCC
PCC = VCC I C = (1.28)
RL
2
VCC
PC 2RL
h= ´ 100% = 2
´ 100% = 50% (1.29)
PCC VCC
RL
P
PCC
0,5
PT
0,25
PL
0
0 0,125 0,25 0,375
V0,5
CC
0,625
Fig.1.10 – Variações das potências com a tensão de carga no circuito da Fig. 1.8.
10
frequência sobe, o circuito equivalente da bobina deve incluir um condensador em paralelo
para dar conta dos efeitos capacitivos entre espiras, cada vez mais importantes. Nas aplicações
em que as frequências de interesse façam surgir estes problemas, estaremos limitados a
rendimentos máximos de 25% no caso dos amplificadores de classe A.
Veremos em seguida que a utilização de amplificadores de classe B, em que o PFR está
situado num extremo das características, faz aumentar o rendimento até ao valor máximo de
78,5%, correspondendo portanto a uma muito maior eficiência na conversão da energia do
que os amplificadores de classe A.
Como foi dito na introdução, num amplificador de classe B a corrente só circula durante
meio período. Estando interessados em aplicações que requerem a condução durante todo o
período, torna-se necessário utilizar dois amplificadores de classe B, um que conduz durante o
meio período positivo e o outro durante o negativo. A Fig. 1.11 apresenta um diagrama de
blocos que ilustra a ideia exposta. Cada um dos amplificadores, Ap e An, amplifica somente
meio ciclo de onda. As saídas dos dois amplificadores são somadas para obter a tensão de
saída, uma sinusóide completa. Para evitar a distorção, os dois amplificadores devem ter
exactamente o mesmo ganho. Caso contrário, as amplitudes das metades positiva e negativa
serão diferentes.
VL
AP
+
Vi
AN VL RL
11
Neste intervalo de tempo T2, o transistor pnp, está no corte. Quando a corrente da entrada é
negativa, é T2 quem conduz, estando T1 ao corte. A corrente total na carga é
IB1 ic1
t
t +VCC
Vi IC1
Cc1 IB1
T1 (npn) i LiL@=iiC1
c1+i
+c2iC2
t R IE1
t
iL
R IE2
Cc2 RL
Vi ~ T2 (pnp)
ic2
IB2 IB2 IC2
t t+T/2 -VCC t t+T/2
IC1
conduz IC1 = 0 e portanto vCE1=2VCC-vCE2, variando portanto de 2VCC (quando vCE2 = 0) até
VCC (quando vCE2 = VCC). Ou seja, enquanto T1 não conduz, a recta de carga é horizontal com
iC1 = 0.
12
O valor máximo da corrente na carga é portanto
VCC
I Lmax = (1.31)
RL
2
æ IL ö V2
PL = çç max ÷ R L = CC
÷
(1.32)
è 2 ø 2R L
vi
t
iC1
vCE1
VCC t
t
vCE2 iC2
-ILmax
Quanto à potência posta em jogo nos dois transistores será o dobro da potência em cada
transistor. Assim
T
1
T ò0
PT @ 2 ´ vCE1iC1dt (1.33)
13
ì T
ïïI Lmax sen ( wt ) 0 £ t £ 2
i C1 = í (1.34)
ï0 T
<t<T
ïî 2
T
12
PT = 2 ´ ò éë VCC - VLmax sen ( wt ) ùû I Lmax sen ( wt ) dt (1.36)
T0
VLmax
resolvendo o integral e substituindo I L = , temos que
max
RL
2
VCC 2 VLmax VCC VL2max
PCC = PL + PT = + - (1.38)
2 RL p RL 2 RL
como VL = VCC
max
2
2 VCC
PCC = (1.39)
pRL
2
VCC
PL 2RL p
h= = 2
´ 100% = ´ 100% = 78,5% (1.40)
PCC 2 VCC 4
pRL
A Fig. 1.15 apresenta a variação das potências postas em jogo na carga, nos transistores
e a fornecida pela fonte.
14
P
1, 4
1, 2
PCC
1
0, 8
PL
0, 6
0, 4
PT
0, 2
0
0 0, 1 0, 2 0, 3 0, 4 0, 5
20, 6VCC0, 7 0, 8
VCC
0, 9 1 1, 1
Vi
+0,7
-0,7
V t
iL
15
Para eliminar esta distorção, polariza-se cada um dos transistores aproximadamente a
0,7V. Neste caso, o funcionamento em rigor é de classe AB, mas encontra-se tão próximo da
classe B que geralmente é referido como de classe B. Dois dos circuitos possíveis para
eliminar a distorção são apresentados na Fig. 1.17 e 1.18.
+VCC
C1 R1
T1
VBE1 VL
1,4 V R2 VBE2
RL
Vi ~ C2
T2
R3
-VCC
+VCC
R1
T1
D1
1,4 V
VL
C D2
Vi ~ T2 RL
-VCC
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1.5 – MODELO TÉRMICO DO TRANSISTOR
T j = Tc = Ta (1.41)
produzido no interior do dispositivo, é perdido por condução da sua fonte (a junção colectora)
para a cápsula do transístor e desta para o exterior. O ritmo a que essa perda se dá será função
apenas da diferença de temperaturas entre a junção e o ambiente e é proporcional a essa
diferença. Temos então, para o ritmo de dissipação de calor a potência
T j - Ta
Pd = (1.42)
q ja
onde qja é uma constante característica dos materiais utilizados e da sua geometria, que tem
por dimensões ºC/W e que se designa por resistência térmica.
A temperatura de equilíbrio, será condicionada pelo ritmo de libertação do calor por
efeito de Joule (PT) e o ritmo de dissipação desse calor para o ambiente (Pd). Ou seja,
Tj - Ta
VCEef ICef = (1.43)
q ja
17
cápsula é q jc = 7 º C / W. Se a potência posta em jogo no transistor for 5W, a temperatura de
junção estará 7´5 = 35ºC acima da da cápsula. Se considerarmos que a resistência térmica
entre a cápsula e o ambiente é qCA = 5ºC/W, a diferença de temperatura entre a cápsula e o
ambiente será 5´5 = 25ºC. Ou seja, a temperatura da junção está 35+25=60ºC acima da
temperatura ambiente.
Se a temperatura máxima admitida na junção for Tj = 200º C e a temperatura
max
T jmax - Ta 200 - 25
P jmax = = = 14,5 W (1.44)
q jc + q CA 7+5
Pj
Tc0 Tc
Estas curvas servem para determinar a máxima potência permitida para uma dada
temperatura de cápsula (TC). T j é a temperatura máxima na junção, para essa temperatura a
max
25ºC), o transistor pode estar sujeito à sua potência máxima admissível. Para temperaturas
superiores a TC0 , a potência máxima vai diminuindo até se anular para T j .
max
18
potência, a resistência térmica entre a cápsula e o ambiente é por vezes demasiado elevada.
Nestas situações, é necessário aumentar a capacidade de transferir calor para o exterior. Para
tal, monta-se o transístor sobre uma base boa condutora de calor, habitualmente provida de
aletas para aumentar a superfície de contacto com o ar, que se designa por dissipador de calor,
e que apresenta uma baixa resistência térmica.
No caso do exemplo anteriormente apresentado, se a resistência cápsula ambiente for
substituída pela soma da resistência térmica entre a cápsula e o dissipador com a da
resistência térmica do dissipador para o ambiente. Ou seja,
q CA = q CD + q DA (1.45)
19