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Capítulo 2

Amplificadores com Realimentação

2.1 INTRODUÇÃO

Um amplificador ideal produz um sinal de saída que é uma réplica exacta do sinal de
entrada, afectado dum factor de escala que é o ganho do amplificador e dum certo
desfasamento. Na prática, os circuitos estudados até agora para implementar o amplificador,
apresentam um afastamento das características ideais por diversas razões. Entre as limitações
destes circuitos são de destacar: uma forte sensibilidade do ganho à variação dos parâmetros
do circuito (βF por exemplo); da tensão de alimentação e da temperatura; características de
transferência não lineares, o que origina distorção do sinal amplificado, tanto mais importante
quanto variar a amplitude do sinal, como se viu no capítulo anterior.
A utilização da realimentação, permite obter uma melhoria apreciável dos circuitos
relativamente às limitações referidas e ainda adaptar as impedâncias de entrada e de saída e
melhorar a relação sinal/ruído.
Realimentar um circuito, consiste em fazer somar (ou subtrair) ao sinal de entrada uma
amostra do sinal de saída de modo a que o amplificador corrija automaticamente os desvios
do comportamento ideal.

2.2 ESTRUTURA DO AMPLIFICADOR REALIMENTADO

A figura 2.1 apresenta a estrutura dum amplificador realimentado.


A amostragem diz-se de tensão ou de corrente conforme a maneira como é ligado à
saída do circuito o bloco de realimentação. Ver figura 2.2.

__________________________________________________________________________
21
I0
Fonte Amplificador
de Comparação Básico Amostragem V0 Carga
sinal (ganho A)

Bloco de
Realimentação
(factor de
transmissão β)
Amplificador realimentado
Fig. 2.1 – Estrutura do amplificador realimentado.

A forma como se liga a saída do bloco de realimentação à fonte de sinal e à entrada do


amplificador básico, define o tipo de comparação utilizada. No exemplo da figura 2.3 (a)
estamos perante uma comparação do tipo série. Neste caso, a tensão de entrada no
amplificador básico (vi) será igual à diferença de tensão da fonte (vs) e da tensão de saída do
bloco de realimentação (vf). Quanto ao circuito da figura 2.3 (b) a comparação é do tipo
paralelo e agora é a corrente de entrada no amplificador que é igual à diferença das correntes
da fonte de sinal e da do bloco de realimentação.
É usual caracterizar a realimentação efectuada indicando os tipos de amostragem e
comparação utilizados. Sendo assim, temos quatro estruturas possíveis:
• tensão-série.
• tensão-paralelo
• corrente-série.
• corrente-paralelo.

I0 I0
Amplificador Amplificador
V0 Carga V0 Carga
Básico Básico

Bloco de Bloco de
Realimentação Realimentação

(a) (b)

Fig. 2.2 – (a) Amostragem de tensão. (b) Amostragem de corrente.


___________________________________________________________________________
22
Is Ii
Fonte de Amplificador Fonte de
Vs vi Amplificador
Sinal Básico Sinal Básico

Vf Bloco de Bloco de
If
Realimentação Realimentação

(a) (b)

Fig. 2.3 – (a) Comparação série. (b) Comparação paralelo.

O bloco de realimentação é habitualmente constituído por elementos passivos,


resistências, condensadores e bobinas, sendo a maior parte das vezes puramente resistivo.

2.3 ANÁLISE DUM AMPLIFICADOR COM REALIMENTAÇÃO


Consideremos a figura 2.4. Nela está representado o amplificador com realimentação
ideal. O bloco de realimentação pode ser qualquer uma das quatro topologias que acabaram de
ser descritas.

Xs + Xi X0 = AXi
Σ A

+ Carga
RL

β
Xf = βX0

Fig. 2.4 – Modelo do amplificador com realimentação ideal.

Xs representa o sinal de entrada, Xi a entrada do amplificador básico, X0 o sinal de saída


e Xf o sinal de realimentação. Qualquer um deles representa uma tensão ou uma corrente. A é
o ganho do amplificador básico, sendo normalmente designado por ganho em malha aberta.
A = X 0 X i pode ser adimensional (no caso dos amplificadores de tensão e de corrente) ou

ter dimensões de resistência (amplificador de transresistência, A = V0 I i ) ou de condutância

(amplificador de transcondutância, A = I 0 Vi ).
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β é o factor de transmissão através da malha de realimentação, sendo igual a X f X 0 .

Pode ser adimensional (topologias tensão-série e corrente-paralelo) ou ter dimensões de


resistência (corrente-série) ou de condutância (tensão-paralelo). β pode ser positivo ou
negativo, sendo geralmente função de frequência.
Calculemos o ganho do amplificador com realimentação, AF, dado por

X0
AF = (2.1)
Xs

Como se viu

X0 = A Xi (2.2)

por outro lado

Xi = Xs + Xf = Xs + β X0 (2.3)

então substituindo (2.3) em (2.2)

X 0 = A(X s + β X 0 ) (2.4)

e portanto

X 0 (1 − βA )
Xs = (2.5)
A

substituindo em (2.1), temos

X0
AF = X 0 (1−β A )
(2.6)
A

ou seja

A
AF = (2.7)
1 − βA

De notar que quando β = 0, ou seja, quando não temos transmissão do sinal da saída
para a entrada, o ganho vem A F = A. Daí a designação de ganho em malha aberta para A.

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O produto –βA costuma ser designado por ganho em anel. Esta designação advém do
facto de que quando damos uma volta completa à malha, obtemos um ganho igual a βA. De
facto se começamos com o sinal de entrada do amplificador básico Xi, à saída desta temos
Axi, que está aplicada à entrada do bloco de realimentação que como tem um factor de
transmissão β faz aparecer um sinal igual a AβXi à sua saída, tendo terminado o percurso à
volta da malha.
Quando Aβ < 0 a realimentação diz-se negativa ou degenerativa. Nesta situação,
1 − Aβ > 1 e portanto A F < A . É neste tipo de realimentação que estamos particularmente

interessados neste capítulo, devido às propriedades notáveis que a sua utilização confere aos
amplificadores.
A realimentação é positiva, ou regenerativa, quando Aβ > 0. Apesar da instabilidade
que lhe está associada é particularmente interessante na construção de osciladores, como
veremos mais adiante. De notar, que no caso particular de βA = 1 vem 1 – βA = 0 e portanto
A F = ∞, ver (2.7). Sendo assim, o circuito consegue apresentar sinal à saída mesmo sem
sinal de entrada. Se esta condição se verificar somente para uma única frequência, estamos em
condições de construir um oscilador capaz de gerar uma tensão alternada sinusoidal.
Há três condições que estão implícitas no modelo do amplificador com realimentação
ideal, representado na figura 2.4 e que conduziu à expressão (2.7). São elas:
1) O sinal de entrada é transmitido para a saída através do amplificador básico e não
através do bloco de realimentação.
2) O sinal de realimentação é transmitido da saída para a entrada através do bloco de
realimentação e não através do amplificador básico.

Estas duas condições correspondem a afirmar que quer o bloco de realimentação,


quer o amplificador básico, são circuitos unilaterais.

3) O factor de realimentação β e o ganho do amplificador básico A, são independentes


das resistências de saída da fonte (Rs) e da carga (RL).
Na prática estas condições só podem ser aproximadas. De facto, o bloco de
realimentação, por exemplo, é normalmente constituído por elementos passivos (R, C e L) e
portanto transmitem sempre algum sinal da entrada para a saída. Quanto a A e β serão sempre
afectadas em maior ou menor grau por Rs e RL.

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2.4 PROPRIEDADES DO AMPLIFICADOR COM REALIMENTAÇÃO NEGATIVA

Já vimos que com realimentação negativa A F < A . Esta redução do ganho é o preço a

pagar pelos benefícios da realimentação negativa e que passaremos a analisar.

2.4.1 Insensibilização do Ganho à Variação dos Parâmetros

Como sabemos o ganho dum amplificador é dependente de factores como a temperatura


e o envelhecimento das componentes, variando ainda geralmente aquando da substituição dos
mesmos. São particularmente importantes, as influências dos parâmetros característicos dos
dispositivos activos utilizados.
Define-se sensibilidade do ganho em malha fechada Af em relação à variação da
grandeza x, como sendo
ΔA f
Af
x =
SA (2.8)
f
Δx
x

x << 1 indica que Af é praticamente insensível às variações de x.


Um valor de S A f

x = 1 , então Af é directamente proporcional a x. De facto se A f = K1 x, a equação


Se S A f

(2.8) virá:
K1Δx
K1x
SA
x
f = Δx
=1 (2.9)
x

x >> 1 estamos perante uma situação em que o ganho é fortemente


Quando S A f

dependente das variações da grandeza x.


Vamos agora calcular a influência do ganho em anel, T = − Aβ, sobre o ganho em
malha fechada. Reescrevamos (2.7), multiplicando o numerador e o denominador por –β.

−β A 1 T T
AF = =− =k (2.10)
− β 1 − βA β 1+ T 1+ T
1
onde k = − .
β
Um incremento ΔT em T provoca uma variação em AF, ΔAF , dada por:

k (T + ΔT ) kT kΔT
ΔA F = − = (2.11)
1 + T + ΔT 1 + T (1 + T + ΔT )(1 + T )
___________________________________________________________________________
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pelo que

ΔA F
=
kΔT
×
(1 + T ) = ΔT
(2.12)
AF (1 + T + ΔT )(1 + T ) kT (1 + T + ΔT ) T
e atendendo a (2.8)

ΔT
A (1+T + ΔT )T 1
ST F = ΔT
= (2.13)
T
1 + T + ΔT

Sendo assim, se tivermos um ganho em anel T=100 e este sofrer uma variação ΔT = 50,
1
teremos S TA F = , ou seja
151

ΔA F ΔT A F 1
= ST = 0,5 × = 0,0033 (2.14)
AF T 151

Pelo que, uma variação de 50% no ganho em anel, provoca uma variação de 0,33% no
1
ganho do amplificador com realimentação. De notar que se ΔT fosse –50, STA F = e a
51
variação no ganho AF seria de 0,98%.
Quanto maior for o valor do ganho em malha aberta, maior será a insensibilidade do
ganho do amplificador com realimentação em relação às variações do ganho do amplificador
básico.
Particularmente se βA >> 1 , (2.7) virá igual a:

A 1
AF ≅ =− (2.15)
− βA β

pelo que o ganho só depende de β. Como a malha de realimentação é geralmente constituída


por elementos passivos, o ganho com realimentação é muito estável.

2.4.2 Redução do Ruído

Chama-se ruído a qualquer sinal indesejável dum determinado circuito. No caso dos
amplificadores, é frequente o aparecimento de ruído de baixa frequência introduzido pelas
fontes de alimentação (50Hz e múltiplos), de sinais de frequências mais elevadas,
provenientes de circuitos adjacentes (diafonia, cross-talk em inglês) e de ruído térmico.
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Quando o ruído se apresenta à entrada, misturado com o sinal a amplificar, a separação
entre o sinal e o ruído é impossível, a menos que seja possível recorrer à filtragem ou a outras
técnicas caso se trate dum sinal digital.
Quando o ruído é introduzindo pelo próprio amplificador, é possível reduzi-lo
apreciavelmente utilizando a realimentação negativa.
Podemos descrever um amplificador do ponto de vista do ruído, como sendo um
amplificador ideal a que adicionamos à saída um sinal que representa o ruído, figura 2.5.

Vi +
A V0

+
Vn
Fig. 2.5 – Representação dum amplificador com ruído.

Deste modo a tensão de saída virá:

V0 = Av i + Vn (2.16)

Consideremos agora o circuito da figura 2.6 em que se realimenta o amplificador.

Vn
Vi + Vx +
A V0
− +

Fig. 2.6 – Realimentação no amplificador com ruído.

À entrada do amplificador básico teremos:

Vx = Vi − β V0 (2.17)

À saída teremos:

V0 = AVx + Vn (2.18)

Substituindo (2.17) em (2.18):

___________________________________________________________________________
28
V0 = AVi − Aβ V0 + Vn (2.19)

ou seja,

A 1
V0 = Vi + Vn (2.20)
1 + Aβ 1 + Aβ

e portanto

1
V0 = A F Vi + Vn (2.21)
1 + Aβ

Deste modo o ruído à saída vem dividido por 1 + Aβ . Sendo a redução do ruído tanto
maior, quanto maior for o ganho em anel. Claro está, que esta conclusão poderá deixar de ser
válida se o aumento do ganho em anel implicar o aumento do ruído à saída do amplificador
básico.
A figura 2.7 ilustra uma situação em que a tentativa de aumentar o ganho em anel, pela
introdução de um pré-amplificador faz aumentar o ruído à saída.

Vn1 Vn2
Vi + + +
A1 A2 V0
− + +

β’

Fig. 2.7 – Realimentação no amplificador com ruído.

Admitindo que o ruído não depende do nível do sinal à entrada dum dado amplificador,
o ruído introduzido pelo pré-amplificador será praticamente igual ao introduzido pelo
amplificador do andar seguinte. Na saída, temos pois um termo de ruído adicional, devido à
amplificação pelo segundo amplificador do ruído com origem no pré-amplificador.
O caminho a seguir para melhorar o desempenho do circuito, deverá ser o de elevar o
ganho do amplificador básico modificando a sua configuração. Claro que este procedimento
pode não ser inofensivo relativamente ao ruído. Basta lembrar que para aumentar o ganho um
amplificador de emissor comum podemos aumentar a resistência de colector. Como o ruído

__________________________________________________________________________
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térmico aumenta com o valor da resistência, teremos um aumento do ruído. No entanto, neste
caso o ruído devido à fonte de alimentação não virá modificado e no final, o ruído à saída do
nosso amplificador, poderá ter sido aumentado duma forma ligeira.

2.4.3 Redução da Distorção Não Linear

Como vimos no Capítulo 1, quando o sinal de entrada ultrapassa um determinado valor


de amplitude o amplificador deixa de ter um comportamento linear. Nestas condições o sinal
de saída deixa de ser uma réplica fiel do sinal de entrada, pelo que o seu desenvolvimento em
série de Fourier apresentará componente de frequências múltiplas das existentes no sinal de
entrada e que não estavam presentes nestes. Estamos perante a existência de distorção não
linear.
Para estudar o efeito de realimentação negativa sobre a distorção não linear, vamos
admitir algumas hipóteses simplificativas. Admitamos em primeiro lugar que o sinal de
entrada é sinusoidal e que a distorção não linear consiste no aparecimento duma componente
de frequência dupla da do sinal de entrada à saída do amplificador. Vamos admitir ainda que
estamos a estudar uma pequena distorção, isto é, que a amplitude da 2ª harmónica é muito
menor que a do sinal de entrada. Desta forma, poderemos desprezar o efeito da distorção
sobre a 2ª harmónica, quando, como resultado da realimentação, esta for colocada à entrada
do amplificador, de que resultaria o aparecimento de uma harmónica de 4ª ordem à saída.
Com estas aproximações, estamos a considerar que embora não linear, o funcionamento
do amplificador é aproximadamente linear e podemos aplicar o princípio da sobreposição.
Sendo assim, o amplificador básico pode ser representado por um amplificador ideal, com
funcionamento linear, à saída do qual é somado o sinal correspondente à 2ª harmónica.

X2
X1 +
Xi A X0
+

Fig. 2.8 – Modelo simplificado do amplificador não linear.

Nesta situação o sinal à saída virá:

X 0 = X1 + X 2 = AX i + X 2 (2.22)

___________________________________________________________________________
30
Quando utilizamos a realimentação negativa, como no circuito da Fig. 2.9, obtemos:

A 1
X0 = Xi + X2 (2.23)
1 + βA 1 + βA

X2
+ X1 +
Xi A X0
_ +

Fig. 2.9 – Amplificador não linear com realimentação.

ou seja,

1
X0 = AF Xi + X2 (2.24)
1 + βA

pelo que

1
X 0 = X1 + X2 (2.25)
1 + βA

donde se conclui que tal como no caso do ruído a realimentação negativa reduzimos a não
linearidade dum factor 1 + β A. Tal como anteriormente, não podemos aumentar o ganho em
anel introduzindo um novo amplificador na malha que introduza distorção. Deste modo,
estaríamos a amplificar o sinal já com distorção e a aumentar a distorção na saída.

2.4.4 Resistência de Entrada

A resistência de entrada dum amplificador é modificada quando se utiliza a


realimentação negativa. Como veremos, quando se usa a comparação série a resistência de
entrada aumenta, no caso da comparação paralelo a resistência de entrada diminui.
Começamos pelo caso de comparação série, Fig. 2.10.

__________________________________________________________________________
31
Ii
B B

+
VS Vi R i' A

Vf

Vf = β X 0 R i' β
β

V’f
+

Fig. 2.10 – Comparação série.

O circuito equivalente para a malha de entrada está representada na Fig. 2.11.

VS
R if = Ii
Ii

+
VS Vi Ri

+ −

Vf = β X 0

Fig. 2.11 – Circuito equivalente da malha de entrada com a comparação série.

O sinal de entrada está representado pela fonte da tensão ideal VS , R i representa a soma

da resistência de entrada do amplificador básico, R i' , com a resistência do bloco de

realimentação, R i' β.
Pretende-se determinar a resistência de entrada do circuito com realimentação
VS
R if = Ii
. Consideremos então o circuito da Fig. 2.11.

Vi = VS + Vf (2.26)

Como Vf = β X 0 e X 0 = A Vi , temos

Vi = VS + A β Vi (2.27)

e portanto

___________________________________________________________________________
32
VS
Vi = (2.28)
1− Aβ

como

Vi = I i R i (2.29)

VS VS
R if = = V (2.30)
Ii i
Ri

Substituindo (2.28) em (2.30), vem:

VS R i
R if = VS
= R i (1 − A β ) (2.31)
1−Aβ

Temos então uma resistência de entrada maior que a que teríamos no amplificador sem

realimentação. Geralmente muito maior. Recordemos que R i = R i' + R i' β é maior que a

resistência de entrada do amplificador básico, R i' , e estamos a multiplicar esse valor por 1
mais o ganho em anel, sempre muito elevado.
Analisemos agora o caso de comparação paralelo, Fig. 2.12.

I’i

IS Vi R i' A

If β
R i' β

Fig. 2.12 – Comparação paralelo.

__________________________________________________________________________
33
O circuito equivalente para a malha de entrada está representado na Fig. 2.13. Ri
Vi
representa o paralelo de R i' com R iβ
'
. A resistência de entrada é neste caso R if = IS
.

Ii

IS Vi Ri
If

Fig. 2.13 – Malha de entrada na comparação paralelo.

Neste caso

I i = IS + I f (2.32)

como

If = β X0 (2.33)

X 0 = A Ii (2.34)

então

I S = I i (1 − Aβ ) (2.35)

temos que

Vi R i Ii Ri
R if = = = (2.36)
I S I i (1 − Aβ) 1 − Aβ

pelo que a resistência do amplificador com realimentação negativa e comparação paralelo é


muito menor que a do amplificador básico.

2.4.5 Resistência de Saída

No que respeita à resistência de saída, vamos verificar que a resistência de saída diminui
no caso da amostragem de tensão e aumenta no caso da amostragem de corrente.
Consideremos o circuito da Fig. 2.14. R0 representa a resistência de saída do
amplificador básico.
___________________________________________________________________________
34
R0
+
A Xi V0

R0f

Fig. 2.14 – Cálculo da resistência de saída com amostragem de tensão.

Podemos calcular a resistência de saída do amplificador com realimentação, R0f,


recorrendo ao teorema de Thévenin, que nos diz ser igual ao quociente entre a tensão de saída
em circuito aberto e a corrente de saída em curto-circuito.
Como já vimos a tensão em circuito aberto é

A
V0 = XS (2.37)
1 − Aβ

Curto circuitando a saída, temos que a corrente vem

A Xi
I CC = (2.38)
R0

como na situação de curto-circuito V0 = 0, então X f = 0 e portanto X i = X S , pelo que

A XS
I CC = (2.39)
R0

e
A X
V 1−Aβ S R0
R 0f = 0 = = (2.40)
I CC A XS 1 − Aβ
R0

__________________________________________________________________________
35
a resistência de saída do amplificador com realimentação e amostragem de tensão é portanto
muito menor que a do amplificador básico.
Consideremos agora o circuito da Fig. 2.15, que representa uma situação com
amostragem de corrente.

I0

A Xi R0

V0

R0f

Fig. 2.15 – Cálculo da resistência de saída com amostragem de corrente.

Neste caso, a corrente de curto-circuito, vem

A
− I CC = I 0 = XS (2.41)
1 − Aβ

A tensão de saída em circuito aberto será:

V0 = −A X i R 0 (2.42)

e tal como no caso anterior, nesta situação X f = 0 e portanto X i = X S , pelo que

V0 AX R
R 0f = = A i 0 = R 0 (1 − Aβ ) (2.43)
I CC X
1− Aβ i

e portanto a resistência de saída neste caso é maior que a resistência de saída no caso dos
amplificadores sem realimentação.
Note-se que os resultados obtidos para todos os casos, permitem concluir que quer no
que respeita à resistência de entrada, quer à de saída, o amplificador com realimentação
negativa se aproxima do conceito do amplificador ideal.
___________________________________________________________________________
36
2.5 ANÁLISE DE CIRCUITOS COM REALIMENTAÇÃO

A identificação do tipo de topologia, isto é, qual os tipos de comparação e amostragem,


deverá ser o primeiro objectivo na análise dos circuitos com realimentação.
Temos uma comparação série quando na malha de entrada, que inclui a fonte de sinal e
os terminais de entrada do amplificador básico (por exemplo, a base e o emissor no caso de
um transistor bipolar), encontrarmos uma tensão ligada à saída que esteja em série com a
tensão da fonte e com a tensão de entrada do amplificador básico. É o caso da tensão V f no
circuito da Fig. 2.16.

RS

Vi
VS +− Vf RL

Fig. 2.16 – Comparação série.

Quando a condição anterior não se verificar e existir ligação entre a saída e a entrada,
temos uma comparação paralelo. É o caso do circuito da Fig. 2.17 em que a corrente If
corresponde ao sinal de realimentação.

Ii

IS RS If
RL

Fig. 2.17 – Comparação paralelo.

Relativamente ao tipo de amostragem, utilizamos as seguintes regras:


1) A amostragem é de tensão se o sinal de realimentação, Xf, se torna nulo quando
fazemos a resistência de carga tender para zero, R L = 0. Ou seja, V0 = 0.
2) Estamos perante uma amostragem de corrente se Xf se torna nulo quando a
resistência de carga tender para o circuito aberto, R L → ∞. Ou seja I 0 = 0.
__________________________________________________________________________
37
Em ambos os casos devemos considerar o esquema equivalente para sinais.
Exemplo das dificuldades geralmente encontrados na identificação da amostragem, são
ilustradas nos dois exemplos seguintes.
Consideremos o circuito da Fig. 2.18(a). Uma análise precipitada pode fazer identificar
R1 e R 2 com a resistência de carga do amplificador. No entanto, quando considerarmos o
circuito equivalente para sinais, Fig. 2.18(b) verificamos que R L é a resistência de carga,

sendo R1 e R 2 o bloco de realimentação.

VCC
RL
R1 RL V0

R1
Xf
V0
R2 R2
Xf

(a) (b)

Fig. 2.18 – (a) Circuito com amostragem de tensão. (b) Esquema equivalente para sinais.

Temos então, uma amostragem de tensão. De facto, fazendo V0 = 0, X f vem igual a

zero. Pelo contrário, se fizermos I 0 = 0, X f vem diferente de zero.


Consideremos agora o circuito da Fig. 2.19.
VCC I0
RC

CL RC RL V0
Xf Rf
RL V0 Re
Xf Rf
Re

(a) (b)

Fig. 2.19 – (a) Circuito com amostragem de corrente. (b) Esquema equivalente para sinais.

Imaginemos que, por análise do circuito da Fig. 2.19(a) identificávamos erradamente a


carga como sendo unicamente a resistência R L . Fazendo tender R L para zero, Xf não se
___________________________________________________________________________
38
anula, pelo que concluíamos que a amostragem não é de tensão, o que está certo. Por outro
lado, fazendo tender RL para infinito concluíamos que Xf também não se anula (há corrente
em RC), pelo que concluiríamos que a amostragem também não é de corrente, o que está
errado.
Considerando o esquema equivalente para sinais, Fig. 2.19(b), facilmente se verifica
que a carga é constituída pelo paralelo de RC com RL e que a amostragem é de corrente, pois,
fazendo R L // R C → ∞, I 0 = 0 e portanto não há corrente em RC e portanto X f = 0.
Uma vez identificada a topologia do circuito, devemos escolher as configurações mais
adequadas para os esquemas equivalentes do amplificador básico e da fonte de sinal. Desse
modo simplificaremos o cálculo do ganho do amplificador básico (considerando o efeito de
RL, de RS e do bloco de realimentação) e o factor de transmissão do bloco de realimentação.
É fácil concluir que as configurações adequadas para representar o amplificador básico
são as seguintes:

Comparação Amostragem Configuração

série tensão amplificador de tensão

paralelo corrente amplificador de corrente

série corrente amplificador de transcondutância

paralelo tensão amplificador de transresistência

Relativamente ao bloco de realimentação, o quadripolo que o representa deve incluir na


saída (terminal ligado à entrada do amplificador básico) uma configuração de Thévenin no
caso da comparação série e uma configuração de Norton no caso da comparação em paralelo.
Exemplifiquemos para a configuração da Fig. 2.20.

IS RS RL V0

Fig. 2.20 – Realimentação tensão-paralelo.


__________________________________________________________________________
39
Como se trata duma realimentação tensão-paralelo, o amplificador básico deve ser
representado como um amplificador de transresistência, Fig. 2.21.

I i' R '0

+
Vi R i' R 'm Ii' V0

Fig. 2.21 – Esquema equivalente do amplificador básico do circuito da Fig. 2.20.

Relativamente ao bloco de realimentação, utilizaremos o circuito da Fig. 2.22. De notar,


que rigorosamente deveríamos incluir o efeito de V ' na saída, pelo facto do bloco não ser
unidirecional. Nessas condições devia de ser incluída em série com R 0β uma fonte de tensão

igual a k1V'.

I'

V' R iβ kV0 R 0β V0

Fig. 2.22 – Esquema equivalente do bloco de realimentação do circuito da Fig. 2.20.

O esquema equivalente completo do amplificador realimentado será então o que se


apresenta na Fig. 2.23.

I i' R '0

+
IS RS Riβ R 'm I i' R0β RL V0
R i' (a)
kV0 −

Ii R0

+
V0 (b)
IS Ri RmIi RL
kV0 −

Fig. 2.23 – (a) Esquema equivalente do amplificador da Fig. 2.20. (b) Esquema simplificado.

___________________________________________________________________________
40
A relação entre as grandezas do esquema simplificado e do esquema completo, é o
seguinte:

R i = R i' // R S // R iβ (2.44)

R 0 = R '0 // R 0β (2.45)

⎛ R i' ⎞
I i = I i' ⎜1 + ⎟ (2.46)
⎜ R S // R iβ ⎟
⎝ ⎠

V0 R S // R iβ R 0β
Rm = = R 'm × (2.47)
Ii R L →∞ R S // R iβ + R i' R '0 + R 0β

Estamos agora em condições de calcular o ganho em malha aberta

V0
A= (2.48)
IS β =0

Como, com β = 0, temos I S = I i , então

RL
A =R m × (2.49)
R0 + RL

Quanto ao factor de realimentação, β, é fácil verificar que β = k , pois, I f = k V0 .

Calculados A e β, podemos calcular o ganho em malha fechada e as resistências de


entrada e de saída do amplificador com realimentação, como vimos nas secções 2.3 e 2.4.

2.6 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Comecemos por considerar o circuito da Fig. 2.24. Trata-se duma montagem de emissor
comum com resistência de emissor.
Aplicando as regras apresentadas na secção 2.5, facilmente concluímos estar perante um
caso de realimentação corrente-série.

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41
+VCC
I0 RL I0
RS
RS
+ V0
VS Re RL
+
VS Re
V0 −

(a) (b)

Fig. 2.24 – (a) Montagem de emissor comum com resistência de emissor. (b) Circuito equivalente
para sinais.

Substituindo o transistor pelo seu modelo simplificado, obtém-se o esquema da Fig.


2.25, onde o bloco de realimentação está delimitado a tracejado.
RS I0

Ib hie hfeIb
+ V0
VS RL
− Re

Fig. 2.25 – Esquema equivalente do circuito de emissor comum com resistência de emissor.
O bloco de realimentação está delimitado a tracejado.

Na Fig. 2.26 apresentam-se as sucessivas fases de obtenção do esquema equivalente do


bloco de realimentação. Examinando 2.26(c) conclui-se que β = −R e .

Ib I0 Ib I0

Re (a) Re I0 Re (b)

Ib Re I0
+
Re (c)
− −ReI0

Fig. 2.26 – Fases para obtenção do esquema equivalente do bloco de realimentação.


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42
Finalmente obtém-se o circuito da Fig. 2.27, que resulta da substituição do esquema
equivalente da Fig. 2.26(c) no circuito da Fig. 2.25. Estamos agora em condições de
determinar o ganho em malha aberta. Assim

I0 − h fe I b
A= = (2.50)
VS β=0
VS

como

VS
Ib β=0
= (2.51)
R S + h ie + R e

temos que

I0 h fe
A= =− (2.52)
VS R S + h ie + R e

hfe Ib
RS hie Re I0

+ +
Ib
VS βI0 Re RL V0
− −

Fig. 2.27 – Esquema equivalente do amplificador realimentado da Fig. 2.24.

Conhecido o ganho em malha aberta e o factor de transmissão do bloco de


realimentação podemos escrever o ganho em malha fechada:

A −h fe −h fe
A MF = = = (2.53)
1 − Aβ R S + h ie + R e − h fe R e R S + h ie + (1 − h fe ) R e

Consideremos agora o circuito da Fig. 2.28. Trata-se dum circuito em que Rf assegura
uma realimentação tensão-paralelo entre a entrada e a saída dum amplificador com três
andares de emissor comum com T1, T2 e T3 supostos iguais. Para simplificar o esquema
eléctrico, omitiu-se a malha de polarização de cada andar, representada na Fig. 2.28.b).

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43
Rf

T1 T2 T3

RS V0
+ RC RC RC RL
VS
− T

(a)
VCC

R1 RC C

Vi V0
R2
Re C

(b)
Fig. 2.28 – (a) Amplificador de três andares com realimentação, omitindo as malhas de polarização.
(b) Malha de polarização para cada andar.

Substituindo todos os transístores pelo respectivo modelo simplificado, obtemos o


esquema da Fig. 2.29.

Rf
RS
Ib2 Ib3
+ Ib1 Rc Rc Rc
VS RL V0
− hie hfe Ib1 hie hfe Ib2 hie hfe Ib3

Fig. 2.29 – Esquema equivalente do circuito da Fig. 2.28, com o bloco de realimentação delimitado a
tracejado.

Na Fig. 2.30 apresenta-se o circuito equivalente para o bloco de realimentação. Conclui-


se que β = − R1 .
f

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44
Rf V
− R0
f
VbeT1 Rf Rf V0
VbeT1 V0

Fig. 2.30 – Esquema equivalente do bloco de realimentação.

Na Fig. 2.31 apresenta-se o esquema equivalente do circuito da Fig. 2.28, incluindo o


bloco de realimentação.

RS
Ib2 Ib3
+ Rf Ib1 Rc Rc Rc Rf RL
VS V0
− βV0 hie hfe Ib1 hie hfeIb2 hie hfeIb3

Fig. 2.31 – Esquema equivalente do circuito da Fig. 2.28.

Podemos agora calcular o ganho em malha aberta:

V0 I b1 I b 2 I b3 V0
A= = (2.54)
VS β=0
VS I b1 I b 2 I b3

ou seja

Rf − RC − RC
h fe × (− h fe R L // R C // R f ) (2.55)
1
A= × × h fe ×
R S + h ie // R f R f + h ie R C + h ie R C + h ie

1
e como β = − , teríamos
Rf

A
A MF = (2.56)
1 − Aβ

Na Fig. 2.32 apresenta-se o esquema de princípio dum circuito bem conhecido, trata-se
duma fonte de tensão regulada. O objectivo do circuito é fornecer uma tensão de saída, V0, de
valor constante independente das variações da carga, RL, das variações da tensão da rede, VS,
e das variações da temperatura.

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45
Fonte de tensão
não regulada Vi T1 V0

+A V0' R1
C − RL V0
VS
R2
VR

Fonte de tensão regulada

Fig. 2.32 – Fonte de tensão regulada.

Desprezando a tensão base emissor do transistor de passagem T1, face à tensão V0' ,

podemos considerar V0' ≅ V0 . Então

V0 = A(VR − β V0 ) (2.57)

com

R2
β= (2.58)
R1 + R 2

pelo que

A
V0 = VR (2.59)
1 + Aβ

Fazendo Aβ >> 1 , temos que

VR
V0 ≅ (2.60)
β

e portanto a tensão de saída é independente da tensão da fonte não regulada e da carga, só


dependendo do valor da tensão de referência e o divisor resistivo constituído por R1 e R2.
Na Fig. 2.33 apresenta-se uma implementação possível para a fonte de tensão regulada.
A tensão de referência é obtida a partir do díodo de Zener. R1 serve para polarizar o díodo de
Zener e R2 o transistor T2.
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46
T1
R2 IL
R3
R1
Vi T2
RL V0
R4
VZ

Fig. 2.33 – Fonte de tensão regulada.


A tensão de saída é neste caso:

V0 =
R3 + R4
R4
(
VZ + VBE T
2
) (2.61)

De notar que a tensão do díodo Zener (desde que polarizado na região de Zener) mais a
tensão base emissor de condução do transistor T2 (desde que em condução franca) constituem
uma boa tensão de referência.
O funcionamento do circuito pode ser entendido com base na seguinte análise:
suponhamos que o valor de V0 tende a descer em relação ao valor desejado, então, a tensão
em R4 diminui e o transístor T2 passa a conduzir menos, sendo assim, a corrente em R2
diminui, diminuindo portanto a queda de tensão aos terminais de R2, desse modo a tensão na
base de T1 aumenta (já que Vi se mantém constante) e consequentemente aumenta o valor de
V0 opondo-se portanto à tendência inicial de diminuição da tensão de saída.
De notar que a tensão de entrada Vi tem que ser sempre superior (em 2 ou 3 Volt) à
tensão regulada, V0, de modo a manter o transistor de passagem T1, montado como seguidor
de emissor, na zona activa directa.
Para finalizar, é de referir que a fonte de tensão regulada é um circuito realimentado
com amostragem de tensão e comparação série. De notar que a tensão de entrada, tal como foi
entendida no estudo que fizemos dos amplificadores realimentados, é a tensão de referência
VR, ou VZ + VBET2 no segundo caso, e não a tensão Vi da fonte de tensão não regulada. Esta

serve somente para polarizar o transistor de passagem e os outros elementos do circuito.


A potência posta em jogo no transistor T1 é aproximadamente igual a

PT1 ≅ (Vi − V0 ) I L (2.62)

podendo ser elevada, exige um dimensionamento cuidado do transistor T1, recorrendo-se


geralmente ao uso de dissipadores.
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