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ELETRÔNICA II

Felipe de Oliveira Baldner


Amplificadores
não inversores
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar circuitos amplificadores na configuração não inversora.


„„ Analisar circuitos amplificadores na configuração não inversora.
„„ Descrever aplicações de amplificadores não inversores.

Introdução
Neste capítulo, você vai conhecer o amplificador operacional, um com-
ponente de grande importância em diversos equipamentos eletrônicos.
Ele é composto por um estágio inicial composto por um amplificador
diferencial e diversos outros estágios de amplificação, apresentando
características importantes nos projetos eletrônicos.
A utilização de amplificadores operacionais varia de acordo com as
entradas utilizadas, sendo esperado comportamento distinto no sinal
de saída. Utilizando a entrada não inversora, serão descritas diversas
propriedades capazes de simplificar projetos, não sendo necessário utilizar
complexos modelos de corrente alternada (CA).
Por fim, serão apresentadas algumas aplicações desse tipo de am-
plificador e analisadas suas relações de amplificação, entrada e saída.

Características dos amplificadores não


inversores
O amplificador diferencial é um circuito básico com a função de amplificar
um sinal de entrada (simples ou diferencial), sendo basicamente composto por
dois transistores e alguns resistores de polarização, como mostra a Figura 1.
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Figura 1. Circuito básico de um amplificador


diferencial.
Fonte: Boylestad,e Nashelsky (2013, p. 507).

Definindo o ganho como a razão entre a tensão de saída e a de entrada,


é possível determiná-lo, inicialmente, em função de cada uma das entradas
separadamente, como pode ser observado nas equações 1 e 2.

(1)

(2)

Pode-se assim perceber que se utilizada a entrada 1, o sinal de saída terá


mesmo sinal, ou seja, a mesma fase que o sinal de entrada, recebendo o nome
de entrada não inversora. Utilizando a entrada 2, nota-se um sinal negativo na
equação 2, representando uma mudança de fase de 180° no sinal de saída em
relação ao sinal da entrada, fazendo com que essa entrada receba o nome de
entrada inversora. Essas defasagens podem ser observadas nos esquemas da
Figura 2, que mostram, respectivamente, a saída para um sinal ligado à entrada
não inversora e para um sinal ligado à entrada inversora (FRANCO, 2016).
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Figura 2. Sinal de saída para (a) um sinal na entrada não inversora e (b) um sinal na entrada
inversora.
Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 634 e 636).

A partir deste e de outros blocos-base, como espelhos de corrente e cargas


ativas, são construídos circuitos integrados (CIs) amplificadores mais robustos,
com funções que seriam impossíveis de serem implementadas utilizando
componentes discretos (MALVINO; BATES, 2016). Esses CIs, chamados
amplificadores operacionais, têm a função básica de amplificar um sinal
diferencial, ao mesmo tempo garantindo rejeição de modo comum, alta im-
pedância de entrada, alto ganho e baixa impedância de saída (BOYLESTAD;
NASHELSKY, 2013). Com essas características, é possível fornecer um si-
nal de saída com baixa distorção, para cargas de qualquer impedância, sem
solicitar corrente adicional ao sinal sendo amplificado (SCHULER, 2016).
A Figura 3a mostra o símbolo que representa o amplificador operacional, com
suas entradas (não inversora e inversora) e sua saída, cujo sinal referencia ao
terra, como pode ser visto na Figura 3b (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2013;
FRANCO, 2016).
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(a)

(b)

Figura 3. (a) Símbolo e (b) circuito equivalente de um amplificador operacional.


Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 515−516).

Dessa forma, pode-se perceber que qualquer sinal de tensão diferencial Vd


que for aplicado à entrada será amplificado por um ganho Ad na saída. Nesse
ganho, geralmente na faixa de 200.000, é instável sua operação em malha
aberta, ou seja, nenhuma conexão entre entrada e saída tem aplicações limi-
tadas. Quando se deseja uma reprodução amplificada do sinal de entrada na
saída, é necessário utilizar um circuito em malha fechada, com realimentação
entre entrada e saída de modo a estabilizar o ganho e manter a saída sem
deformações. Em amplificadores operacionais reais, sua região de operação
é limitada pela tensão de alimentação (entre +VCC e −VEE), sofrendo saturação
quando ultrapassa esses limites (MALVINO; BATES, 2016; PERTENCE
JR., 2015).
O circuito da Figura 4 mostra um amplificador operacional conectado
de forma a gerar uma amplificação sem inverter o sinal de entrada, cuja
realimentação é feita por um par de resistores. Como essa realimentação é
feita utilizando a entrada inversora, recebe o nome de realimentação negativa
(SCHULER, 2016).
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Figura 4. Circuito amplificador não inversor.


Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 686).

Em razão da alta impedância de entrada e ao alto ganho em malha aberta,


os amplificadores operacionais apresentam uma característica que torna o
projeto de circuitos utilizando amplificadores operacionais mais simples, não
havendo necessidade de considerar circuitos equivalentes internos ao mesmo:
o curto-circuito virtual. Essa alta impedância faz com que não circule corrente
nas entradas do amplificador operacional, entretanto, como há efetivamente
uma ligação física, o potencial elétrico é igual em ambas as entradas. Essa
característica é chamada de virtual porque, em relação ao curto-circuito
tradicional, em que haveria o mesmo potencial entre dois pontos, apresentaria
máxima circulação de corrente entre esses pontos (MALVINO; BATES, 2016).
Ou seja, em termos gerais, o curto-circuito virtual apresenta duas
características:

1. potencial elétrico na entrada não inversora igual ao potencial elétrico


na entrada inversora, ou seja, é um curto-circuito para tensão;
2. não há circulação de corrente para o amplificador operacional, ou seja,
é um circuito aberto para corrente.
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Circuitos com amplificadores não inversores


Utilizando o conceito do curto-circuito virtual no circuito da Figura 4, é
possível então determinar as tensões das entradas não inversora e inversora,
respectivamente, pelas equações 3 e 4.

v1 = vin (3)

v2 = v1 = vin (4)

Como não há corrente circulando para o amplificador operacional, a cor-


rente flui apenas da saída (vout) para o terra, onde os dois resistores podem
ser caracterizados por um divisor de tensão, como mostra a equação 5. Por
definição o ganho é dado pela razão entre a tensão de saída pela de entrada,
resultando na equação 6, que representa o ganho em malha fechada.

(5)

(6)

Considere o circuito da Figura 4, no qual o amplificador operacional é alimentado


com VCC = +15 V e VEE = −15 V. Agora considere um sinal de entrada cujo maior valor
de tensão é de 100 mV e R1 = 1 kΩ. Considere Rf composto por uma resistência fixa
(Rf1) de 99 kΩ em série com um potenciômetro (Rf2) de 100 kΩ, ou seja, Rf = Rf1 + Rf2.
Determine:
a) o menor ganho em malha fechada;
b) a tensão de saída máxima;
c) o maior ganho em malha fechada;
d) a tensão de saída máxima.

a) O menor ganho em malha fechada ocorre quando o potenciômetro está no seu


mínimo, ou seja, Rf2 = 0. Dessa forma, Rf = 99 kΩ. Utilizando a equação 6, o ganho
em malha fechada pode ser calculado:
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b) Utilizando a equação 6 para determinar a maior tensão de saída:

c) O maior ganho em malha fechada ocorre quando o potenciômetro está no seu


máximo, ou seja, Rf2 = 100 kΩ. Dessa forma, Rf = 99 kΩ + 100 kΩ = 199 kΩ. Utilizando
a equação 6, o ganho em malha fechada pode ser calculado:

d) Utilizando a equação 6 para determinar a maior tensão de saída:

Entretanto, esse valor nunca será alcançado, pois a tensão de saída é limitada
pela tensão de alimentação do amplificador operacional, ou seja, 15 V. Dessa
forma, a maior tensão de entrada permitida para esse ganho em malha fechada é:

Isso significa que para qualquer valor de tensão de entrada maior ou igual a
75 mV, a tensão de saída será 15 V.

Na prática, em razão das características internas dos amplificadores ope-


racionais, o ganho de malha aberta diminui conforme a frequência do sinal
de entrada aumenta. Ele se mantém dentro da especificação quando o sinal se
encontra em corrente contínua (CC) até a frequência de corte ( fC), na qual o
ganho é de 70,7% do valor máximo de malha aberta (cai 3 dB). A frequência
cai até chegar a um valor tal que o ganho é unitário ( funitário), e esta faixa se
chama largura de banda (do inglês bandwidth) do amplificador operacional.
O amplificador operacional real 741C apresenta a curva do ganho em malha
aberta em relação à frequência mostrada na Figura 5. Matematicamente, a
largura de banda (também chamada de frequência em malha fechada) pode
ser determinada pela equação 7 (BOYLESTAD, NASHELSKY, 2013; MAL-
VINO, BATES, 2016).
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(7)

Figura 5. O ganho em malha aberta em função da frequência


de operação do amplificador operacional 741C.
Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 674).

Outra limitação dos amplificadores operacionais reais se encontra na


velocidade na qual este pode variar sua tensão de saída. Variações bruscas
no sinal de entrada podem não causar a mesma variação no sinal de saída.
Idealmente, aplicando um degrau como sinal de entrada, espera-se um degrau
como sinal de saída. A capacitância presente na saída dos amplificadores faz
com que este comportamento não tenha uma transição tão rápida (BOYLES-
TAD; NASHELSKY, 2013; MALVINO; BATES, 2016; FRANCO, 2016). Essa
taxa de inclinação (do inglês slew rate) é ilustrada na Figura 6 a e b, sendo
calculada pela equação 8. A Figura 6c exemplifica um sinal senoidal cuja
inclinação é menor que a taxa de inclinação e a distorção provocada por um
sinal senoidal de inclinação maior.

(8)
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(b)

(a)

(c)

Figura 6. (a) Resposta ideal e resposta real de saída de um amplificador operacional na


aplicação de um degrau. (b) Determinação gráfica da taxa de inclinação. (c) Sinal senoidal
com diferentes inclinações e a distorção provocada.
Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 686).

Considere um circuito amplificador não inversor, como o da Figura 4 anterior, alimentado


com VCC = +15 V e VEE =−15 V, utilizando o amplificador operacional 741C, onde R1 = 1
kΩ e Rf = 1 MΩ. Determine:
a) a largura de banda;
b) o tempo necessário para uma rampa de tensão chegar de 0 V a 10 V na saída.

Considere que o amplificador operacional 741C apresenta frequência de ganho


unitário de 1 MHz e slew rate de 0,5 V/μs.
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a) A largura de banda do circuito é determinada pela equação 7:

Utilizando a aproximação:

Neste caso, o resultado aproximado é apenas 0,1% diferente, provando que a apro-
ximação é válida para ganhos altos.

b) Pela definição de slew rate da equação 8, a rampa de tensão deve subir de 0 V a


10 V em:

Aplicações de amplificadores não inversores


O circuito da Figura 7 mostra a aplicação mais simples de um amplificador
não inversor, o seguidor de tensão. Também conhecido como buffer, essa
topologia é capaz de isolar dois trechos de circuito distintos, mas propagando
o sinal da entrada não inversora para a saída por ser um circuito de ganho
unitário (SCHULER, 2016). Isso pode ser demonstrado utilizando o conceito
do curto-circuito virtual, no qual a tensão na entrada inversora será igual à da
entrada não inversora (vin) e, em razão de realimentação negativa, a tensão de
saída obedecerá a equação 9. A isolação que esse circuito fornece vem da alta
impedância de entrada, impedindo que qualquer corrente circule do sinal de
entrada. Sua principal aplicação consiste em prover uma interface entre uma
fonte de alta impedância para uma carga de baixa impedância (BOYLESTAD,
NASHELSKY, 2013; MALVINO, BATES, 2016).
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Figura 7. Circuito seguidor de tensão.


Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 693).

vout = v– = v+ = vin (9)

Utilizando um capacitor na entrada de um amplificador não inversor, faz


com que o sinal que passe por ele tenha qualquer componente CC bloqueada,
deixando apenas as componentes CA do sinal passarem para o amplificador
operacional. A distribuição de sinais de áudio utiliza esse conceito, bem
como diversos seguidores de tensão para que uma única fonte de áudio possa
ser reproduzida em vários locais diferentes sem distorções ou perdas, como
mostra o circuito da Figura 8 (MALVINO; BATES, 2016). O sinal de áudio
pode, ainda, ser amplificado, com ganho mostrado na equação 10 e com a
largura de banda determinada pela Equação (11).
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Figura 8. Circuito de distribuição de áudio.


Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 746).

(10)

(11)

Muitas vezes em circuitos eletrônicos, como fontes, é necessário que uma


tensão seja muito estável para ser utilizada de referência. Para isso, existem
CIs dedicados. Entretanto, muitas vezes o nível de tensão que esses CIs for-
necem não é adequado com o projeto. Um amplificador não inversor pode ser
utilizado para se alcançar o nível de tensão necessário da referência, mantendo
sua estabilidade. O circuito da Figura 9 utiliza o CI MC1403, que fornece
uma tensão de referência de 2,5 V, que será amplificada pelo amplificador
operacional (MALVINO; BATES, 2016). A equação 12 representa a tensão
de saída em função da tensão de referência na entrada não inversora.
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Figura 9. Circuito amplificador de tensão de referência.


Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 748).

(12)

BOYLESTAD, R.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São
Paulo: Pearson, 2013.
FRANCO, S. Projetos de circuitos analógicos: discretos e integrados. Porto Alegre: AMGH,
2016.
MALVINO, A. P.; BATES, D. J. Eletrônica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. v. 2.
PERTENCE JR, A. Amplificadores operacionais e filtros ativos. 8. ed. Porto Alegre: Bookman,
2015. (Série Tekne).
SCHULER, C. A. Eletrônica II. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. (Série Tekne).

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