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Neste artigo, vamos explicar o funcionamento dos seguidores de tensão.

Também vamos apresentar


os esquemas mais conhecidos e dar exemplos práticos.

Introdução
A ideia de um buffer, ou seguidor de tensão, é a de um circuito que apresente na saída exatamente a
entrada aplicada. Se pensarmos no sistema como uma "caixa preta", teremos a entrada exatamente
igual à saída.

Caixa preta onde a saída é a própria entrada.


No entanto, qual seria a vantagem de um circuito onde a saída é exatamente a entrada? Precisamos
pensar que, quando dizemos exatamente "igual", queremos dizer que respeita os mesmos valores de
tensão à medida do tempo, que os valores de tensão se comportam da mesma forma. No entanto, o
circuito pode apresentar outras características interessantes, como uma alta impedância de entrada,
ou uma saída de potência elevada, ou mesmo uma proteção elétrica e/ou isolada.

Amplificadores Operacionais
A base do nosso sistema é o amplificador operacional. Tratado como componente individual, ele
possui duas entrada de sinais e uma saída, sendo esta composta do ganho pela diferença entre as
entradas.

Ganho

Amplificador Operacional.

Como nosso objetivo é que os sinais de saída sejam exatamente os mesmos da entrada, podemos
imaginar um circuito que apresente ganho 1. Para que isso sejam idênticas a saída da entrada, nosso
circuito deve ser um não-inversor. Sendo assim, o diagrama clássico do amplificador não-inversor é
nosso ponto de partida.
Para nossa situação, o ganho é dado pelos resistores
R1 e R2. Assim, partimos do ganho do circuito não-
inversor, que é dada da seguinte forma:

Ganho do circuito não-inversor.

Para conseguir nosso ganho unitário, tendo em vista


que este esquema já possui um elemento unitário no
Amplificador não-inversor. ganho, bastaria zerar o elemento (R2/R1) em nosso
cálculo. Isso é feito colocando um curto-circuito em
R2 (R2=0) e deixando R1 em aberto (R1=∝).

Nessa situação, o ganho que restaria seria apenas o parâmetro unitário presente neste circuito. Dessa
forma, teremos o nosso esperado, Saída=Entrada. A sequência de fórmulas, assim como o circuito,
se dá conforme abaixo.

Esquema do circuito calculado.

Fórmulas para ganho unitário.


Esse circuito faz exatamente o que esperamos dele. De maneira teórica, todo o sinal de entrada é
colocado diretamente na saída, respeitando todos os níveis e funcionando de maneira transparente.
Outra característica desse nosso circuito teórico, é que ele respeita toda e qualquer faixa de
frequência, sem atenuações nem atrasos.

Análise de um Circuito Real


Na prática, as coisas não são tão coloridas, embora a aplicação usual desse tipo de circuito permita
um grande número de possibilidades sem maiores problemas. É importante entender e analisar
algumas características dos amplificadores operacionais para entender quais seriam nossas possíveis
limitações. Para isso, vamos escolher três amplificadores bem comuns, o LM741 (por motivos
históricos), o LM324 (por seu uso frequente) e o CA3140 (por algumas características técnicas).

• Input Offset Voltage e Input Offset Current


Essas características determinam qual a tensão e corrente mínima entre as entrada necessária para o
funcionamento do amplificador. Abaixo da tensão mínima, não há garantias de funcionamento do
processo de amplificação. Para os amplificadores que vamos analisar, as tensões e correntes são
dadas conforme abaixo.

LM741 LM324

5.0mV 3.0mV

200nA 30nA

• Slew Rate
Outra característica fundamental para nosso sistema é o Slew Rate. Trata-se da velocidade com que
a resposta é dada na saída de acordo com o sinal de entrada. Essa característica não apenas aplica
um atraso entre a entrada e a saída do sinal, como também interfere na frequência máxima do
dispositivo. As características de nossos amplificadores operacionais são:

LM741 LM324

0.5V/µS 0.4V/µS
• Output Voltage
A informação de Output Voltage (ou Output Voltagem Swing) é a máxima e mínima tensão de saída
(para VSupply+ e VSupply- respectivamente). Para entender melhor, vamos raciocinar um pouco
sobre o dispositivo: sabemos que o amplificador não poderá fornecer uma tensão de saída igual à
tensão de alimentação, pois é esperado uma queda de tensão interna no circuito. Logo, a diferença
entra a tensão de alimentação positiva (VSupply+) e a tensão máxima de saída (VO+), e a tensão de
alimentação negativa (VSupply-) e a tensão mínima de saída (VO-), devem ser conhecidas.

Embora a tensão de alimentação máxima dos amplificadores que estamos analisando seja diferente,
todos fazem uma análise para a mesma carga de saída (2KΩ).

Para entender a informação seguinte, considere VS+ como a tensão de alimentação positiva, e VS-
como tensão de alimentação negativa. Na tabela, é mostrado a saída como um valor de tensão
subtraído (ou somado) da tensão positiva (ou negativa). V O é a tensão de saída. Logo VO+ é a
tensão de saída para valores positivos e V O- é a tensão de saída para valores negativos. Após tudo
isso, a tabela é conforme abaixo:

LM741 LM324
(VS+)-5 (VS+)-4
(VS-)+5 (VS-)+4

Não vamos esquecer que nossa aplicação considera sempre que as entradas e saídas serão idênticas.
Dessa forma, é possível fazer um paralelo com as tensões de entrada. As tensões máximas de
entrada vão ser as mesmas que as conseguidas na saída.

• Largura de Banda
A largura de banda (ou Bandwidth) é a faixa de frequência que o amplificador trabalha sem gerar
distorções. Embora esteja intrinsecamente ligada ao Slew Rate, possui valores definidos para cada
componente.

Essa faixa varia muito com o ganho da amplificação, chegando a valores sensivelmente menores
para grandes amplificações. Normalmente, a largura de banda é apresentada para ganhos unitários,
onde apresentam seu maior valor. Dessa forma, para os componentes que estamos analisando, temos
os seguintes ganhos:
LM741 LM324
1,5MHz 1,0MHz

• Circuito Real
Percebemos, então, que nosso circuito seguidor de tensão possui seus limites. A tensão de saída não
conseguirá atingir a tensão de alimentação e a banda de saída não responderá bem para altas
frequências. Apesar disso, esse circuito não apresenta maiores dificuldades, podendo ser aplicado de
maneira quase transparente.

Apenas um Buffer
O primeiro circuito real que vamos analisar é o próprio seguidor de tensão em uma aplicação
bastante típica. Vamos imaginar que precisamos fazer a leitura da tensão de uma bateria através de
um divisor resistivo. Para que esse divisor não descarregue a bateria, o valor de suas resistências
precisam ser bastante altas, nesse caso R1=1MΩ e R2=2M2Ω. Vamos também imaginar que
estamos trabalhando com um Arduino Duemilanove, que possui um ATmega328P como núcleo.

Diagrama de leitura de tensão de bateria.

Nessa situação, a tensão do divisor resistivo poderia ser aplicada diretamente na entrada do canal
analógico do microcontrolador. No entanto, este consome uma corrente de até 1μA. Isso significa
que, para o divisor resistivo apresentado, seria equivalente a uma resistência de cerca de 3M125Ω.
Essa impedância de entrada é extremamente alta, mas para este circuito em específico já possui um
valor que interfere na medida.

Para resolver isso, aplicamos o amplificador CAA3140 como seguidor de tensão. Ele possui
entradas do tipo FET, o que lhe garante uma impedância de entrada muito muito maior que a do
Arduino. Como vimos, ele vai consumir uma corrente máxima de 30pA, o que lhe garante uma
impedância de entrada de cerca de mais de 100.000MΩ. Dessa forma, temos a segurança de que não
haverá interferência no circuito.

Buffer Push-Pull
Quando desejamos aplicar um nível de tensão analógico em um dispositivo, podemos fazer uso de
um conversor Digital/Analógico. No entanto, estes não costumam fornecer correntes maiores do
que umas dezenas de miliamperes. Podemos fazer uso de um amplificador seguidor de tensão, mas
este também não fornecerá corrente muito superior ao do DAC.

No entanto, se fizermos uma adaptação utilizando transistores, podemos conseguir correntes


maiores. O amplificador poderia garantir que a tensão de saída seja sempre a mesma aplicada na
entrada, e os transistores poderiam garantir uma corrente adequada à carga aplicada.

O circuito que aplica esse tipo solução é o buffer push-pull. Dotado de dois transistores, um NPN e
outro PNP, ele garante que a saída será a mesma que a entrada, mas com um fornecimento
excelente, apenas limitado aos transistores. O esquema desse circuito é dado conforme se segue:

Buffer Push-Pull.

Este circuito é bastante utilizado como etapa de saída de amplificadores de áudio ou controle de
motor. A tensão de entrada VIN é passada ao amplificador, que irá aplicar uma tensão adequada na
base dos transistores. Essa tensão irá polarizar o transistor de acordo a polaridade correta, que aplica
uma tensão na saída VOUT, realimentando o circuito.
Os resistores R1 e R2 têm função de proteção. Uma vez que as potências são mais elevadas, é
interessante proteger o amplificador operacional. Dessa forma, caso algum componente venha a
queimar e possivelmente entrar em curto-circuito, o amplificador terá uma proteção extra no caso
de um possível retorno de corrente. Vamos, então, analisar uma situação real:

Vamos supor que a tensão de alimentação VCC e -VCC sejam respectivamente +15V e -15V, e que
o amplificador LM324 esteja excursionando sua entrada entre +9 e -9V. Sabemos que a tensão
máxima de saída desse amplificador é de +11V (+VCC-4V) e -11V (-VCC+4V). Dessa forma,
sabemos que a tensão de saída vai responder corretamente.

O LM324 pode fornecer uma corrente típica de 40mA e drenar 20mA. Dessa forma, vamos realizar
os cálculos considerando os 20mA limites. Vamos supor que estamos trabalhando com o BC337
(NPN) e BC327(PNP) que fornecem/drenar até 800mA no coletor.

Cálculos no buffer push-pull.

Nessas condições, sabemos que VBE será 0,7V e hFE varia entre 100 e 630. Queremos IB menor que
nossos 20mA limites, logo vamos calcular qual seria o I B para o menor hFE possível e verificar se
fica dentro de nosso limite:
Verificamos que a corrente de base máxima é de 8mA, dentro do limite de 20mA que desejamos.
Sabemos que a tensão de saída máxima desse circuito é de 11V. Vamos adotar, então, que a saída
que vamos aplicar para essa situação limite é de 10,5V, dentro do nosso limite. Dessa forma, o
cálculo se dá conforme abaixo:

Assim, temos que o resistor R1 deve ser de, no máximo, 100Ω. E, uma vez que as tensões, h FE, etc,
são os mesmos para Q2, é possível adotar o mesmo valor para R2.
Buffer de Meia-Onda
Uma montagem mais simplificada do nosso Buffer Push-Pull é a versão apenas para sinais
positivos. Essa versão mais simplificada possui as mesmas características da montagem indicada
acima, mas apenas para tensões superiores a GND. Se o circuito for alimentado com tensões
inferiores a esse limite, o transistor estará cortado, e como não há o par PNP para transmitir as
correntes necessárias, VOUT estará flutuando.

Buffer base do LDO.

Esse circuito é fundamental, pois trata-se da base dos reguladores de tensão LDO. Com essa
montagem, é possível grampear a tensão VIN com um zener e ter sua tensão regulada na saída. Um
exemplo disso é o LT3080, da Linear Technology.

LT3080, da Linear Technology.

Este componente possui uma fonte de corrente constante aplicada sobre um resistor externo. De
acordo com o valor do resistor, teremos uma tensão fixa que servirá de referência para nosso buffer.
Esse componente é capaz de fornecer até 1,1A de corrente.
Diodo Ideal
Outra aplicação para o nosso seguidor de tensão é o diodo ideal. Trata-se de uma montagem com
diodo que garante que apenas o sinal de uma polaridade seja transferido, mantendo 0V na saída
quando a polaridade é invertida. É importante notar que essa montagem apenas regula o sinal, mas
tem o limite de corrente do amplificador. Dessa forma, não conseguiremos mais que algumas
dezenas de miliamperes na saída.

Esquema do diodo ideal.

No esquema apresentado, temos na saída VOUT apenas as o lado positivo de VIN, mantendo 0V
quando a tensão é abaixo de zero. No entanto, para conseguir o sinal justamente oposto (tensão
negativa em VOUT) basta inverter o diodo.

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