Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PUC - SP
SÃO PAULO
2011
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC - SP
SÃO PAULO
2011
Banca Examinadora
__________________________
__________________________
__________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução
total ou parcial desta dissertação por processos fotocopiadores ou eletrônicos.
Ass.:_____________________________________________
Local e data:_______________________________________
luc_thomaz@hotmail.com
AGRADECIMENTOS
(CAPES) pela bolsa concedida que tornou possível a realização desta pesquisa.
dado a mim nesta jornada. Suas palavras de incentivo foram determinantes neste
período.
orientação aos meus passos durante todo o período desta pesquisa: desde seu
esboço mais precoce até a sua conclusão final. Muito obrigada hoje e sempre.
Introdução............................................................................................................... p.01
4. Bibliografia.......................................................................................................... p.72
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Autores de classificações biotipológicas ………………………………. p.19
Tabela 2: Correlação entre biotipos e folhetos embrionários……………………. p.48
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Frontispício de The Physiognomical System of Drs. Gall and Spurzheim, p.14
publicado em Londres, em 1815, por Spurzheim.
Figura 2. Exemplo de instrumento (crâniometro) usado por Paul Broca em seus p.15
estudos de craniologia.
Figura 6. Capa de La difesa della razza, publicação oficial do movimento fascista p.25
italiano.
1
Vide Capítulo 1 da presente obra.
2
Robbins et al., Patologia Estrutural e Funcional, 1.
3
Goodman, & Gilman, Pharmacological Basis of Therapeutics, 3.
1
de contextos – antropologia, criminologia, psicologia, medicina, pedagogia,
suas variantes, tendem a não dispensar o uso teórico e prático das tipologias
das concepções tipológicas nas primeiras décadas do século XX. Visto que
las com um recorte bem claro. Assim foram enfocadas as teorias que
embrionários.6
4
Vide Capítulo 1 desta obra.
5
Assim por exemplo, na Medicina Tradicional Chinesa/acupuntura, tem-se os tipos Yin e
Yang, primordialmente, vide Yamamura, Arte de inserir. Na homeopatia, são descritos
diversos sistemas de tipologia, vide por exemplo, Franco Constituição e Temperamento.
Essas três abordagens médicas foram classificadas, junto à medicina convencional, pela
Organização Mundial da Saúde como racionalidades médicas completas, vide Salles, “Perfil
do Médico Homeopata”.
6
Vale a pena lembrar a importância da embriologia, aliada à genética, nas primeiras décadas
do século XX; vide, por exemplo, Robert, Embryology, Epigenesis, and Evolution, 58.
2
Entre os estudiosos que afirmaram essa relação, inclui-se Marcel
humanas.7 Por outro lado, são virtualmente inexistentes os estudos sobre sua
obra.
alterações no país. A França foi então dividida em duas grandes áreas, uma
3
Philippe Pétain, também sob influência alemã. Esse período durou até 1944,
8
Berstein, & Milza, Histoire de la France, 325.
9
Black, Guerra contra os Fracos, 456.
4
craniana de africanos foi comparada a de caucasianos, como “demonstração”
10
Gould, Falsa Medida do Homem, 113.
11
Alfonso-Goldfarb, “Centenário Simão Mathias”, 5.
5
CAPÍTULO 1
DA COMPLEXIO À BIOTIPOLOGIA:
12
O Corpus Hippocraticum é composto por 53 escritos de origem desconhecida que
começaram a ser reunidos em Alexandria e foram editados pelo médico e helenista Émile
Littré em 1839, vide Laín Entralgo, Historia de la Medicina, 60. “Da Natureza do Homem”
(Peri physios anthropoy) é atribuído ao próprio Hipócrates ou ao seu genro, Pólibo.
13
Sobre as possíveis origens da noção de elemento e humor em Empédocles, vide Klibansky
et al., Saturn and Melancoly, 5-6; Barnes, Presocratic Philosophers, 242 et seq.
14
Para a elaboração desta breve resenha sobre a tradição da medicina humoral, utilizamos
Klibansky et al.; Barnes; Laín Entralgo, Historia de la Medicina, e Agustín Albarracín, “El
fármaco en el mundo antiguo”.
6
Nesse contexto, concebeu-se a doença como o predomínio de alguma
Vale dizer, que o que originalmente havia sido considerado como sinais
15
Galeno de Pérgamo (131-200/203 d. C) exerceu a medicina, de início, junto aos
gladiadores no ginásio pergameno e aos 33 anos mudou-se para Roma, onde seu prestígio
profissional se consagraria. Foi médico da aristocracia e de vários imperadores; vide Laín
Entralgo, Historia de la Medicina, 65. Sobre a noção e a história do Galenismo, vide Temkin,
Galenism: Rise and Decline; García Ballester, Galen and Galenism.
16
Para a elaboração dos humores e temperamentos por Galeno, vide “On the Humors” (Peri
kymon) e “Mixtures” (Peri kraseyon).
17
Vide Jarcho, “Galen´s Six Non Naturals”.
7
18
disposições. O termo latino complexio foi utilizado para definir o
acordo com a índole de sua crase humoral e constituiu a espinha dorsal das
Galeno, atribuído a Hunain ibn Ishaq (809-873) e que foi fundamental para a
18
Klibansky et al., 12. Todos os negritos nesta obra são nossos, exceto quando
explicitamente indicado.
19
Laín Entralgo, História Clínica, 67-71. Os consilia (singular, consilium, conselho)
constituíram o gênero privilegiado, entre os séculos XIII a XVI, de relato da experiência
prática dos médicos clínicos.
20
“Isagoge Ioannitus”, traduzido em Withington, Medical History, apêndice IV, 387.
8
qualidades (apetite: quente e seco; digestão: quente e úmido; retenção: frio e
compostas.22
21
Ibid, 387-8.
22
Ibid, 391.
23
Maclean, Logic, Signs and Nature, 34.
24
Daniel Sennert, The Institutions.
25
Boerhaave, Academical Lectures. Observe-se que a edição aqui utilizada data de 1751.
26
Haller, Bibliotheca Anatomica, I: 756.
27
Em uma fase posterior, reinterpretará a crase humoral – propriae commixtio ou
temperamento – nos termos das partes sólidas e líquidas do organismo, que formam o
fundamento de sua fisiologia. Assim, cabe destacar o esforço que Boerhaave faz para
adaptar a noção de “temperamento” aos novos ventos que assopravam na medicina do
Setecentos; vide “Introduction à la pratique clínique”.
9
1.2 Surgimento da medicina moderna
partir dos séculos XVI e XVII. Entre os possíveis motivos aduzidos, incluem-se
os seguintes: 28
“iatromecânica”;
qualidades galênicas;
10
6) A introdução de fármacos trazidos às Américas, cuja ação desafiava
galênica.
como “medicina moderna”. Esse foi um processo tão gradual quanto a queda
orgânico.
11
Nesse ínterim, a clínica médica não mudou seu modus operandi básico,
orgânicos subjacentes.32
31
Laín Entralgo, Historia de la Medicina, 344.
32
Este tipo de desenvolvimentos é o que fez Michel Foucault concluir que foi então que
“nasceu a clínica”, vide Nascimento da Clínica.
12
mas, ao contrário, tirou-se proveito dos métodos estatísticos que estavam
33
sendo desenvolvidos. Em particular, o foco dirigiu-se a aspectos
33
Vide Murphy, “Medical Knowledge”.
34
Uma variante da recusa a reduzir o funcionamento neuropsíquico a processos orgânicos
físicos e químicos na virada do século XIX foi abordada, no contexto alemão, por Harrington
em Reenchanted Science.
35
Young, “Franz Joseph Gall”, 250.
13
Figura 1. Frontispício de The Physiognomical System of Drs. Gall and
Spurzheim, publicado em Londres, em 1815, por Spurzheim.36
36
John van Wyhe, The History of Phrenology on the Web,
http://www.historyofphrenology.org.uk/images.html Acesso em 02/06/11.
14
de obter maior precisão nas medidas, ajudando, inclusive, a padronizar
37
Clarke, “Paul Broca”, 478.
38
Alex Peck: Antique Scientifica
http://antiquescientifica.com/craniometer_Paul_Broca_Matthieu_illustration.jpg Acesso
18/07/11.
15
craniano reduzido e canhotismo que denotariam comportamentos como
sentimento), que por sua vez eram modificadas por dois tipos atitudinais
39
Gibson, Born to Crime, 641.
40
Roy Rozenzweig Center for History and New Media,
http://chnm.gmu.edu/courses/magic/police/policework.html Acesso em 03/06/11.
16
caracterizava a consciência, enquanto que seu oposto era recalcado e
eugenia foi cunhado, em 1883, por Francis Galton (1822-1911) para nomear à
vantagem.
41
A este respeito, vide Sharp, Personality Types.
42
Em relação com o que é discutido mais adiante neste capítulo, vale a pena observar que
Kretschmer assinou o juramento dos professores universitários de fidelidade a Hitler e não
combateu a política eugênica nazista. Vide Klee, Personenlexikon zum Dritten Reich, 339.
43
Jaspers, Psicopatologia Geral, 324.
17
A preocupação fundamental de Galton era com a possibilidade de que
variação e hereditariedade.47
44
Kevles, In the Name of Eugenics, 4.
45
Ibid, 5.
46
Em 1925, Pearson fundou a revista Annals of Eugenics, hoje Annals of Human Genetics.
47
Castañeda, “Testando uma Teoria”, 204-7.
18
A relação entre biometria e biotipologia foi imediata e, sendo
elite da Ivy League dos Estados Unidos, entre as décadas de 1940 e 1960.49
48
Martiny, Essai de biotypologie, 24.
49
Vertinsky, “Physique as Destiny”, 294.
19
Os tipos físicos – baseados em medidas dos diâmetros e proporções
20
ainda mais conflituosa, visto que, os arquivos que foram descobertos na
endocrinológicos.
que chamava de “erros evolutivos” (por excesso ou por defeito), realizou uma
excesso ou por defeito) das diferentes partes do corpo e, para tanto, utiliza a
51
Sagrado, 14.
21
De acordo com Maria V. Sagrado, é esse uso da antropometria o que
52
A tradição constitucionalista francesa, seguindo Claude Sigaud (1862-1921), se baseava
em critérios anátomo-orgânicos e, assim, por exemplo, classificava os biótipos em
“respiratório”, “digestivo”, “muscular” e “cerebral”, Ibid, 15.
53
Martiny afirmará que di Giovanni e Viola foram os primeiros a apreciar os tipos humanos
com base nas disciplinas científicas da antropometria e da estatística; vide Essai de
biotypologie, 24.
54
Sagrado, 15.
55
Pende, Trattato de biotipologia, 1.
22
“Eu dei o nome de Biotipologia Humana à ciência que se
ocupa não somente da biologia humana [...] mas que se ocupa de
todo o complexo particular da manifestação vital, de ordem
anatômica, humoral, funcional, psicológica, de cuja síntese
diagnóstica podemos reconhecer o tipo estrutural-dinâmico
especial de cada indivíduo, que estabelece os caracteres
particulares que o diferenciam de outro e o afastam do tipo
humano abstrato [...] A biotipologia é, em outros termos, a ciência
da arquitetura e da engenharia do corpo humano individual. O
biótipo individual, sendo a resultante vital unitária de todos os
fatores somático-psíquicos hereditários e ambientais, não pode ser
conhecido na sua complexidade estrutural-dinâmica e no seu valor,
senão após realizada a síntese lógica de todos os seus elementos
morfológicos, teciduais, humorais, funcionais e psicológicos.“56
definidos como doentes, já que esta era uma das preocupações mais
importantes de Pende.58
23
dos desvios aos que está exposta a fábrica humana durante seu período
de Pende.
Embora sabe-se que houve tímidos protestos contra o Manifesto, estes não
razza (A Defesa da Raça), sua publicação oficial (Figura 6), protestou contra o
mas porque afirmava que a italiana é uma raça ária, o que era descabido: a
59
Pende, “Ortogenesi (scienza della)”, II: 607. O projeto incluía: medicina e higiene individual,
biologia da raça e eugenia, pedagogia, antropopsicologia criminal, orientação e seleção
profissional e política biológica – todas elas baseadas na biotipologia. Encontraremos
algumas destas aplicações também em Martiny.
60
Por esse motivo caiu em desgraça com Mussolini. Por isso, mais tarde publica um novo
artigo, onde justifica o motivo pelo qual deve ser proibido o casamento de negros, judeus e
árabes com membros da linhagem ítalo-romana. Reconcilia-se, assim, com Mussolini, que
então o nomeia reitor da Academia della gioventù italiana del littorio (Academia da juventude
italiana fascista), organização chave para o doutrinamento dos jovens. Vide Feinstein,
Civilization of the Holocaust, 24-7.
24
Figura 5. Pende em uniforme fascista ao lado de Mussolini.61
61
Programa La Storia Siamo Noi: Il Caso Pende, RAI Educational,
www.lastoriasiamonoi.rai.it/puntata.aspx?id=285 Acesso em abril de 2011
62
http://simonamaggiorelli.wordpress.com/2010/05/30/il-velenoso-mito-della-razza Acesso em
28/07/11.
25
Pende esquematizou seu método através de uma “pirâmide
infantis, com uma discrepância entre membros e tronco a favor deste último.
porém com uma menor tendência à obesidade que é, contudo, de tipo tônico
e não flácido. Musculatura robusta, com tórax largo e curto. A pressão arterial
63
Turinese, Modelli psicossomatici, 115.
26
Equilíbrio nas linhas da face. Há uma abundante secreção biliar, lembrando
tendência paranoica.
longo tempo, fez com que esta aparecesse como um fenômeno tipicamente
a fortes preconceitos de raça ou de classe. Por isso, esse autor propos uma
64
Turinese, Modelli psicossomatici, 114.
27
estava num estado de declínio e degeneração, para cuja solução foram
período em questão.
65
Schneider, “Eugenics Movement in France”, 69.
66
Um estudo conduzido por Brocca entre 1866 e 1867 evidenciou diminuição de
características mensuráveis, como a estatura, na população de soldados e escolares
franceses. Por outro lado, a França havia perdido sua reputação como potência militar no
Continente na Guerra Franco-Prussiana de 1870-1; Ibid, 70.
67
Ibid, 72. Sobre Pinard, vide também Bashford, & Levine, Oxford Handbook of the History of
Eugenics, 336.
28
venéreas, ao invés das supressivas, como o controle pré-matrimonial e a
esterilização.68
não exclusiva a ele, pelo fato de ter sido criado em um ambiente católico,
curas milagrosas, o que era bastante comum no fim do século XIX na França.
68
Schneider, 76. No entanto, a eugenia negativa voltaria ao centro do palco na década de ’20,
em virtude de fatores como a depressão econômica, a influência da Igreja católica e dos
movimentos eugênicos nos EUA e na Alemanha nazista; Ibid, 84.
69
Os dados nesta secção foram tomados da obra God’s Eugenicist: Alexis Carrel and the
Sociobiology of Decline, de Andrés H. Reggiani. Esta biografia mostra a carreira de Alexis
Carrel como médico cirurgião além de seu envolvimento com movimentos políticos na França
e nos EUA relacionados à eugenia.
29
Lourdes era na época, não somente o local onde aparecera a uma
de uma jovem chamada Marie Bailly, com tuberculose, cujo quadro clínico
registrou antes da visita. Após os banhos nas águas quentes, Carrel pode
30
qualificaram como impostor. Isso marcou o fim de toda possibilidade
mesmos interesses políticos. Em 1935, Carrel lançou sua obra literária mais
cientistas dos EUA em sua época. Dizia que estes ideais democráticos eram
31
visão fascista, chegando mesmo a glorificar Hitler no prefácio de L’homme,
foi o centro onde Carrel pode colocar em prática seus planos para a medicina
32
Figura 7: Alexis Carrel e Charles Lindbergh no Rockefeller Institute, 1935.70
deste mesmo ano, enquanto o governo liberal o denunciava por seus atos
33
que apontam, diretamente, para o surgimento e a ampla difusão das
no contexto francês.
popularizou até a década de 1960, e até então, eram utilizados termos afins,
71
Martiny, Essai de biotypologie, 13-4.
72
O termo “holismo” foi cunhado pelo então presidente da África do Sul, Jan Smuts em sua
obra Holism and Evolution, de 1926, na qual discorria sobre a tendência integralizadora do
universo. Apesar disto, Smuts foi um grande defensor da separação das raças num
movimento conhecido mundialmente chamado Apartheid. Vide Otto, & Bubandt, Experiments
in Holism, 252 - 4.
73
Vide Harrintgon, Reenchanted Science; Fortes, “Homeopathy and National Socialism”.
74
Weisz, “Moment of Synthesis”, 68.
34
De acordo com Fritz Stern, no contexto do pessimismo do período de
com filosofia, surgindo então, um panorama mais amplo que foi denominado
que mantinha contato com holistas franceses de Lyon, como René Allendy
médico francês que nos ajudam a enquadrar o nosso objeto de estudo. Por
75
Reggiani, 61.
76
Paul Desfosses era médico, cirurgião e editor de La Presse Médicale; vide Freire,
“Mulheres, Mães e Médicos”, 122.
35
um lado, havia a chamada linha “pragmática”, constituída por cientistas que
ser humano. Esse viés se viu reforçado pelo fato de que alguns dos campos
77
O conceito de “terreno” também ocupou um lugar proeminente na bacteriologia francesa da
época. Assim, se debate a importância relativa dos microrganismos e da suscetibilidade
individual e populacional ao contagio. Weisz, em 78, destaca que a noção de “terreno” foi
incorporada, inclusiva, pela abordagem pasteuriana.
78
Na opinião de Weisz, 81-2, 85; embora também houvesse elementos eugênicos, com a
grande exceção de Carrel, não tiveram grande representação no holismo francês. No entanto,
a associação de Martiny com Pende é suficiente para lançar sombras de dúvida sobre essa
afirmação.
36
A conjunção de ambas as linhas teve como um dos seus resultados
(Tabela 1).
doença.80
79
Nesse retorno ao passado, adquirem posição de destaque os historiadores da medicina;
assim, Maxime Laignel-Lavastine e Arturo Castiglioni passam a lecionar na Academia de
Medicina; Weisz, 82.
80
Weisz, 82-3.
37
CAPÍTULO 2
1982.81 Iniciou seus estudos médicos em Paris, onde exerceria sua profissão
Honra.
acupunturistas da França.
81
Os dados sobre a biografia de Martiny foram extraídos do artigo “Le Docteur Marcel
Martiny” de Denise Ferembach.
38
Como homeopata teve seu nome ligado à Liga Homeopática
Internacional, além de sua classificação de biótipos ser até hoje citada como
de Medicina Neo-Hipocrática.
como um dos seus principais criadores Paul Broca. Atuou como conselheiro
tipos constitucionais.
82
Doravante mencionado como Essai.
39
Não se pode insistir o bastante, devido às circunstâncias contextuais,
humana, sua fisiologia e seu psiquismo e que visa estudar o homem no seu
Desse modo, naturalmente, suas reflexões iniciam pela teoria tradicional das
os tempos modernos.85
83
Martiny, Essai, 13.
84
Deve-se enfatizar que, embora Martiny seja considerado como um dos representantes
principais do chamado “neo-hipocratismo”, ao longo do Essai refere-se, indistintamente, a
este, ao humanismo médico e à “síntese”.
85
Isso leva Martiny a descrever uma longa série de analogias baseadas no número 4 que
inclui os órgãos privilegiados pelos embalsamadores egípcios antigos, com suas
correspondências com 4 “gênios”, representados, respectivamente, como cinocéfalo, águia,
cão e ser humano, as 4 figuras na visão de Ezequiel (1:4-26), os 4 pontos cardinais, os 4
rostos de Brahma nas 4 posições, os 4 Vedas, as 4 condições que subjaziam os 4 períodos
da vida que organizam as leis de Manu e seus símbolos correspondentes, uma dupla
estequiologia humoral chinesa, e assim por diante. Certamente, privilegia a teoria humoral
greco-galênica. Vide Essai, 17-25.
40
O motivo para tanto entusiasmo foi, imediatamente, explicitado. Martiny
conhecimentos pelo médico clínico, sob o célebre lema “não existem doenças,
biotipologia”87.
psicólogos Henri Piéron e Henri Laugier. Este último - que também participou
86
Ibid, 14.
87
Ibid, 15.
88
No entanto, observe-se o título dado à obra que antecedeu o Essai: La biotypologie
humaine et orthogénesique, publicada em 1930.
41
da fundação do Centre Nationale de la Recherche Scientifique, em 1939, foi
realizados e por outro lado ainda não são deformados pelo acúmulo de
influências exógenas”91.
42
constituições biotiopológicas; 5) Os biótipos globais, resultantes da
aplicações da biotipologia.
43
estimula a tonicidade e a contratilidade dos músculos lisos e
estriados, mas torna mais lentos o coração e os processos
neuropsíquicos.”92
argumentação:
92
Martiny, Essai, 68.
93
Ibid, 69.
94
Ibid.
95
Nas próprias origens da ciência moderna, ninguém menos que Robert Boyle seria criticado
por seus contemporâneos, entre outros motivos, por não ter conseguido correlacionar
44
apontava para o estudo da matéria e das partículas até se chegar ao que, já
organismos e das formas vivas, ainda que declarasse não querer associar a
quase 500 páginas da obra. Por isso, convém ter em mente, na leitura e
análise, que o objetivo explícito de Martiny foi uma síntese dos dados
experimentos e conclusões teóricas. Vide Alfonso-Goldfarb, Da Alquimia à Química, 194 et
seq.
96
Ibid, 97.
45
díspares fornecidos pelas diversas ciências e que, a ferramenta lógica de que
conotações eugênicas não poderiam ser mais claras e, assim, Martiny pode
eugenia racional”99.
pesquisa. Por sua vez, Martiny colocou a questão que despertava seus
97
Ibid, 63.
98
Ibid, 62.
99
Ibid, 37.
46
desvelos no início do capítulo dedicado à biotipogênese: “Através de qual
com outro?”100
embriões, como seria esperável, já que sua afirmação era taxativa: “as formas
Essa afirmação foi reforçada pela seguinte: “Não se trata aqui de hipóteses
relativo em cada biótipo de algum dos “tecidos primordiais”, aos quais deve
100
Ibid, 91.
101
Ibid, 91-2.
102
Ibid, 92. Note-se aqui a estrutura da argumentação típica de Martiny: afirma um “fato” cuja
fundamentação será estabelecida “no futuro”.
47
ser acrescentado um quarto tipo, o normal.103 A distribuição se daria como
103
Ibid, 93.
104
Ibid, 107-108.
48
Não é supérfluo insistir, mais uma vez, em que Martiny não apresentou
105
Ibid, 106.
49
classificação embriológica que nós adotamos hoje nunca havia sido
circulação distal que, desse modo, passavam a circular pelos vasos linfáticos
constitucional.
Mais uma vez, deve-se ressaltar o fato de que essas afirmações não
50
hipotéticas entre uma série de tipos biométricos e dados fornecidos pela
valor teórico e prático [...] nas questões do trabalho feminino e das relações
108
Ibid, 113.
109
Ibid, 115.
110
Ibid, 137.
51
sexuais”. 111 Assim, devotou intensa atenção à descrição biotipológica das
“ectoblastizante”.114
111
Ibid, 138.
112
Ibid, 183.
113
Ibid, 184.
114
Ibid, 194 et seq.
52
Neste ponto, Martiny oferece um resumo da ideia toda:
2.3.1 Na patologia
115
Ibid, 207-8.
53
às descobertas feitas até aquele momento no campo da psicossomática,
• Incubação: entoblástica.
• Invasão: mesoblástica.
• Convalescença: ectoblástica.
entoblástico, quando acometido por uma infecção aguda, qualquer que fosse
54
Martiny chegou a arriscar uma etiologia infecciosa mais frequente para
cada tipo, bem como apontou as células mais encontradas nestes estados.
embriológica. E mais uma vez afirma que, futuramente, isto seria comprovado,
e queimação na alma”.120
certas doenças, o que Martiny, chamava de “diáteses”, atribuiu, mais uma vez
118
Ibid, 279.
119
Ibid, 280.
120
Ibid, 281.
121
Ibid, 283.
55
Segundo Martiny, seria através do conhecimento da biotipologia que
estômago e intestino.
Mais uma vez, Martiny tentou correlacionar suas teses com as ideias
122
Ibid, 280.
123
Ibid, 281.
56
2.3.2 Na psiquiatria
que os problemas mentais não eram configurados nos tipos puros, mas nos
mental.125
124
Ibid, 328.
125
Ibid, 330.
126
Ibid, 328.
57
Em sequência, Martiny se propôs a discorrer sobre o “idiotismo”,
58
Martiny recomendou o uso das “microdoses”, que atuariam na
instância, a uma hemorragia cerebral.131 Vale a pena observar que esta tese é
129
Ibid, 365.
130
Ibid, 366.
131
Ibid, 367.
132
Henri Dominique Lacordaire foi um célebre religioso da ordem dos dominicanos, conhecido
por seus sermões na catedral de Notre-Dame; vide Greenwell, Lacordaire.
133
Essai, 395.
59
aconselhamento profissional como um dos principais palcos para a atuação
intelectuais”.134
que não aquela para a qual foi projetado, após vários anos, ele colapsará
para testes mentais a serem aplicados em crianças, com o fim de avaliar sua
“idade mental”. No entanto, Martiny lamenta que, na época, tais testes não
60
evitando locais que pudessem predispor aos adoecimentos. Por exemplo, os
ocupacionais.
Não seria supérfluo lembrar que, dada a situação política do século XX,
um texto sobre a biotipologia nos esportes que foi publicado em 1968 sob o
61
Morfológica” (École Morphologique), com uma tendência à hiperclassificação
esportistas.140
velocidade.141
particular nas ideias comuns a esse grupo, assim como nos seus interesses
diferenciais.
140
Keel, Avènement de la médecine, 414.
141
Essai, 422.
142
Carrel, org. Médecine officielle et médecines hérétiques; doravante referido como
Hérétiques.
62
No capítulo introdutório, redigido pelo próprio Carrel, há uma
pessimista, visto que, segundo ele, a eliminação das doenças infecciosas não
Concluia, por fim, “nossa raça perde a coragem de viver”. 143 Perguntou-se,
moderna.
Além disso, propôs estudos sobre a moral e o caráter, bem como sobre a
143
Carrel, “Role future de la médecine”.
144
Ibid, 4.
63
modelagem do homem pelos fatores físicos, morais, intelectuais,
estéticos e religiosos do meio. Enfim, ao estudo da deterioração
mental e da criminalidade.”
com que cada indivíduo se tornasse “um bom elemento” dentro da raça e da
64
prodigiosa. Ele é expresso por César, por Carlo Magno e por
Napoleão. Mas, também, por Dante, Ruysbroeck, o admirável,
Newton, Pasteur. A gênese dos grandes homens é ainda
desconhecida. Não seria preciso procurá-la, desde já, para a
construção de indivíduos de uma estatura intelectual e espiritual
mais alta?”.146
humoral no século XX. 150 O médico homeopata Léon Vannier, 151 em “La
146
Ibid.
147
Ibid, 9.
148
Rémy Colin (1880-1957), médico que praticava o que poderíamos qualificar como uma
“medicina psicológica”, era professor de histologia na Faculdade de Medicina de Nancy; suas
obras incluem textos sobre a “metafísica da vida”; vide http://www.professeurs-medecine-
nancy.fr/Collin_R.htm Acesso em 11/08/11.
149
Auguste (1862-1954) e seu irmão Louis Lumière são universalmente conhecidos pelo
desenvolvimento do cinematógrafo. Além disso, Auguste montou um laboratório de pesquisas
fisiológicas e farmacológicas, em Lyon, visando a fabricação de novos medicamentos;
publicou, também, textos nas áreas de biologia e de medicina; vide Sapp, Evolution by
Association, 104.
150
Lumière, “La Médecine humorale et ses résultats”.
151
Léon Vannier, (1880-1963), foi uma das maiores autoridades da homeopatia francesa
moderna; suas ideias são aplicadas até a atualidade. Vide Weisz, 84.
65
A defesa das teses da medicina naturalista, acerca de que o ser
152
Joseph Poucel 1881-1971), grande representante do movimento naturista na França,
nesse capítulo discorre sobre sua experiência na prática da medicina, baseada na prevenção
de intoxicações com álcool e tabaco, a exposição do corpo nu ao ambiente (“o ar”) e à água
(hidroterapia), alimentação vegetariana etc.
153
George Soulié de Morant (1878-1955) é reconhecido como o introdutor da Medicina
Tradicional Chinesa na França e, consequentemente, a acupuntura no Ocidente; vide Lutaif,
“George Soulié de Morant”
154
“Acuponcture, énergie vitale et électricité cosmique”.
155
Vide Weisz, 73.
156
“Nouvel Hippocratisme”, 141.
66
que considerou ser a necessidade de retornar “ao plátano de Cós” 157 .
médico holista francês, a eugenia e as teorias racistas, vale a pena citar por
extenso:
157
Hérétiques, 143.
67
3o O blastodérmico, no qual os membros se alongam, o
ângulo facial se redesenha, e a testa se torna irregular, pode sem
dúvida estar ligado aos primeiros organizadores de uma vida de
relação, em um momento coletivo e social.
4o O ectodérmico, que cai ligeiramente sobre sua atitude
ereta, que eleva sua fronte e torna côncava a sua nuca,
completando assim o desenvolvimento da cabeça, pode estar
ligado aos primeiros homens civilizados enfraquecidos, os quais, já
com a posse do mundo, tornam-se passivos e com puro
pensamento.”158
158
Martiny, “Nouvel Hippocratisme”, 149. No entanto, admite que cabe a possibilidade de um
entoblástico vir a ser um homem de “muito grande valor, um super-homem mesmo, como
parece ter sido São Tomás de Aquino”, enquanto que o entoblástico, um indivíduo de
intelecto obtuso.
68
3. CONCLUSÕES:
BIOTIPOLOGIA E CIÊNCIA
por Martiny são antropométricos que, per se, não permitem levar a quaisquer
159
Vide Waisse, & Alfonso-Goldfarb, “Mathematics ab ovo”.
69
Dada esta situação combinando pistas de elementos eugênicos e
70
teriam realizado seus estudos baseados em um padrão ditado por Galeno e
160
Martiny, “Quelques refléxions critiques”, 267.
71
4. BIBLIOGRAFIA
Routledge, 1982.
Bashford, Alison, & Phillippa Levine. The Oxford Handbook of the History of
Bernstein, Serge, & Pierre Milza. Histoire de la France au XXe siécle. Paris:
Hatier, 2005.
51.
2004.
72
Cairus, Henrique. “Da Natureza do Homem: Corpus Hippocraticum”. História,
Arte de Fazer o Artificial. Org. Ana Maria Alfonso-Goldfarb & Maria Helena
Roxo Beltran, p. 201 - 226. São Paulo: Educ; Fapesp; Comped; Inep, 2002.
Clarke, Edwin. ”Paul Broca”. In: Dictionary of Scientific Biography. Org. C.C.
Coghlan, Brian L.D., Rudolf L.K. Virchow, & Leon P. Bignold. Virchow’s
Birhausen, 2008.
Tricastela, 1998.
Universitária, 2008.
73
Fortes, Lore. “Homeopathy and National Socialism”. Circumscribere 8 (2010):
12-27.
http://www.triplov.org/hist_fil_ciencia/galera/pende/biotipo.htm Acesso em
01/08/2011
Gibson, Mary. Born to Crime: Cesare Lombroso and the Origins of Biological
Gould, Stephen Jay. A Falsa Medida do Homem. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
74
Hall, Thomas S. Ideas of Life and Matter: Studies in the History of General
1969.
Fuessli, 1774.
Press, 1985.
Klee, Ernst. Das Personenlexikon zum Dritten Reich: Wer war Was vor und
Klibanski, Robert, Raymond Panofski, Erwin Panofski, & Fritz Saxl. Saturn
and the Melancholy: Studies in the Natural Philosophy, Religion and Art.
1984.
Lawrence, Christopher, & George Weisz. Greater than the Parts: Holism in
75
Lombroso, Cesare. Crime, Its Causes and Remedies. Boston: Horton, 1911.
Maclean, Ian. Logic, Signs and Nature in the Renaissance: The Case of
Mohr, G.J., & Gundlach, R.H. “The Relation Between Physique and
Otto, Ton & Nils Bubandt. Experiments in Holism: Theory and Practice in
Paterson, D.G. Physique and Intelect: Century Psychology Series. New York:
Century, 1930.
76
Pearson, Karl. “Relationship of Intelligence to Size and Shape of the Head
applicazioni alla medicina preventiva, alla clinica, alla politica biologica, alla
grafiche, 1939.
283-308.
Robbins, Stanley L., Ramzi S. Cotran, & Vinay Kumar. Patologia Estrutural e
Roe, Shirley A. The Natural Philosophy of Albrecht von Haller. New York:
77
Rothschuh, Karl. E. History of Phisiology. Trad. Gunther B. Risse. Huntington:
UNAM, 1991.
78
Stockard, C. R. The Physical Basis of Personality. New York: Norton, 1931.
Taton, René. ”Francis Galton”. In: Dictionary of Scientific Biography. Org. C.C.
Temkin, Owsei. Galenism: Rise and Decline. Ithaca: Cornell University Press,
1973.
Vannier, Léon, & Jean Poirer. Tratado de Matéria Médica Homeopática. São
(2009): 35-54.
Press, 1998.
79
Withington, Edward. Medical History from the Earliest Times. London:
80