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EAD 2009

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL


UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

MATEMÁTICA
Licenciatura em Matemática

Geometria Plana

Salvador
2009

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

ELABORAÇÃO

Adelmo Ribeiro Jesus

DIAGRAMAÇÃO
MATEMÁTICA

Nilton Rezende

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).


Catalogação na Fonte
BIBLIOTECA DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – UNEB

JESUS, Adelmo Ribeiro.


J58 Geometria plana. – Curso de licenciatura em matemática/ Adelmo Ribeiro Jesus.
Salvador: UNEB/ EAD, 2009. (Educação e Tecnologias da Informação e Comunicação).
86p.

1. Geometria plana 2. Matemática I. Título II. Curso de licenciatura em matemática II.


Universidade aberta do Brasil IV. UNEB /NEAD

CDD: 516.3

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luis Inácio Lula da Silva

MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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MATEMÁTICA
DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL


DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES
Celso Costa

COORD. GERAL DE ARTICULAÇÃO ACADÊMICA DA CAPES


Nara Maria Pimentel

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA


GOVERNADOR
Jaques Wagner

VICE-GOVERNADOR
Edmundo Pereira Santos

SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
Osvaldo Barreto Filho

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB


REITOR
Lourisvaldo Valentim da Silva

VICE-REITORA
Amélia Tereza Maraux

PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO


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COORDENADOR UAB/UNEB
Silvar Ferreira Ribeiro

COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO


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DIRETOR DO DEDC – I
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NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD


COORDENADOR
Arnaud Soares de Lima Junior

VICE-COORDENADOR
Silvar Ferreira Ribeiro

COORDENADOR ADMINISTRATIVO
Jader Cristiano Magalhães de Albuquerque

COORDENADORA PEDAGÓGICA
Sônia Maria da Conceição Pinto

COORDENADORA DE MATERIAL DIDÁTICO


Kathia Marise Borges Sales

COORDENADOR DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO


Marcus Túlio Freitas Pinheiro

COORDENADOR DE ARTICULAÇÃO ACADÊMICA


Emanuel do Rosário Santos Nonato

COORDENADOR DO CURSO DE MATEMÁTICA


Daniel Cerqueira Góes

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Prezado estudante,

Este módulo é parte do material didático que dá suporte as suas atividades de auto-estudo e auto-formação no curso de
Licenciatura em Matemática na modalidade à distância.

MATEMÁTICA
Cada componente curricular dispõe de um material impresso correspondente, especialmente preparado para este curso, por
docentes - pesquisadores, selecionados por sua inserção e produção na área de conteúdo específica.
Além deste módulo, você também dispõe de material em mídia e do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).

Procure conhecer e explorar o máximo possível todo o material disponibilizado para o seu curso.

É importante ter consciência que este é um material básico, especialmente preparado para lhe oferecer uma visão essencial
ao estudo do conteúdo de cada componente curricular. Portanto, ele não tem o objetivo de ser o único material para pesquisa
e estudo. Pelo contrário, durante o decorrer do texto, o próprio módulo sugerirá outras leituras, apontando onde você pode
encontrar fontes para aprofundar, verticalizar ou trazer outros olhares sobre a temática abordada.

Observe que, no decorrer deste módulo, os autores abrem caixas de diálogo para que você construa como interlocutor ativo,
a sua leitura do texto. Elas aparecem com os ícones e objetivos listados a seguir:

? Você sabia? – convida-o a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou infor-
VOCÊ SABIA?
mações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta;

Saiba mais – apresenta notas ou aprofundamento da argumentação em desenvolvimento no texto, tra-


?? SAIBA MAIS
zendo conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliem a compreender melhor o conteúdo
?
abordado;

Indicação de leituras – neste campo, você encontrará sugestão de livros, sites, vídeos.
INDICAÇÃO DE você
A partir deles, LEITURA
poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas
ou outros olhares e interpretações sobre aquele tema;

Sugestões de atividades – consistem em indicações de atividades para você realizar autonomamente


em seu processo de auto-estudo. Estas atividades podem (ou não) vir a ser aproveitadas pelo professor-
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
formador como instrumentos de avaliação, mas o objetivo primeiro delas é provocá-lo, desafiá-lo em seu
processo de auto-aprendizagem.

Então caro estudante, encare este material como um parceiro de estudo, dialogue com ele, procure as leituras que
ele indica, desenvolva as atividades sugeridas e, junto com seus colegas, busque o apoio dos tutores e a orienta-
ção do professor formador. Seja autor da sua aprendizagem.

Bom estudo!

Coordenação de Material Didático


Núcleo de Educação a Distância - NEAD

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CAROS ESTUDANTES!

Este texto tem como objetivo principal apresentar os axiomas da Geometria Euclidiana de uma forma organizada, seguindo
os passos iniciados por Euclides em 300 a.C., e posteriormente reformulados por D. Hilbert em 1900. A idéia básica é
reconstruir a Geometria a partir de suas bases teóricas, axiomatizando-a passo a passo, a fim de trazer maior compreensão

MATEMÁTICA
aos leitores de sua estrutura lógica, principalmente se estes são professores ou alunos de cursos de Matemática.

Para não nos tornarmos excessivamente formais, tivemos o cuidado de exemplificar os conceitos e ilustrar com vários
desenhos os axiomas e definições dadas, bem como acrescentamos ao texto diversas aplicações práticas. Neste sentido,
a utilização dos softwares Geogebra e Cabri-Géomètre foi fundamental.

Iniciamos nosso construção nos Capítulos 1, 2 e 3, onde são apresentados os axiomas de incidência, ordem, e de
medição de segmentos e ângulos. No Cap. 4 definimos a noção de igualdade em Geometria, chamada de “congruência”,
importante para relacionar objetos geométricos no plano e nele abordamos a congruência de triângulos.

Os capítulos 5 e 6 são o destaque de nossa apresentação axiomática, pois trazem a caracterização da Geometria Euclidiana
através do Axioma das Paralelas. Como é conhecido na história da Matemática, a falta da unicidade da paralela por um
ponto dado dá origem às chamadas “geometrias não euclidianas”, descobertas por Nikolai Lobachevsky e János Bolyai no
sec. XVIII, bem como o florescimento de muitas pesquisas matemáticas nesta área.

Os capítulos 7 e 8 são essencialmente de aplicações. Neles veremos tópicos como semelhança de triângulos, o Teorema
de Tales, o Teorema de Pitágoras, entre outros. Para finalizar, o Cap. 9 traz à tona o conceito geral de comprimento de
curvas e áreas de figuras planas, conceitos esses que estão relacionados com o Cálculo Diferencial e Integral.
A referência bibliográfica mais utilizada neste texto é a do Prof. J. L. Barbosa, “Geometria Euclidiana Plana”, da SBM, que
sua vez traz as idéias do texto “Geometry”, do matemático russo A. Pogorelov. Devemos mencionar também o nome da
Profa. S. R. Ferreira, por termos trabalhado conjuntamente com estes temas em outra ocasião.

Finalmente, esperamos que este texto possa contribuir para atingir seu objetivo maior, que é o de apresentar um
trabalho acessível, sem perder de vista o nível matemático desejado.

Salvador, Bahia, setembro de 2009


Adelmo Ribeiro de Jesus

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SUMÁRIO

Cap. 1 - A Evolução dos Conceitos da Geometria Plana 13


1. Aspectos históricos 13
2. Personagens da Geometria 14

MATEMÁTICA
3. Noções primitivas e axiomas 16
4. Proposições e teoremas 16
5. Sugestões de atividades 18
6. Indicações de leituras 19
Cap. 2 - Iniciando com os Axiomas da Geometria 20
1. Os grupos de axiomas da Geometria 20
2. Axiomas de pertinência 22
3. Axiomas de ordem 23
4. Sugestões de atividades 25
5. Indicações de leituras 26
Cap. 3 - Aprendendo a Medir 27
1. Notas Históricas 27
2. Axiomas de medição de segmentos 28
3. Axiomas de medição de ângulos 31
4. Tipos de ângulos e perpendicularidade 33
5. Sugestões de atividades 35
Cap. 4. - A Noção de Igualdade em Geometria 37
1. O que significa congruência? 37
2. E em Matemática, o que significa congruência? 38
3. Congruência de segmentos 39
4. Congruência de triângulos 40
5. Os casos de congruência de triângulos 40
6. Bissetriz, mediana e altura de um triângulo 42
7. Sugestões de atividades 44
8. Indicações de leituras 47
Cap. 5 - Preparando Para o Axioma das Paralelas 46
1. Ângulos de um triângulo 46
2. O teorema do ângulo externo 46
3. Conseqüências do teorema do ângulo externo 48
4. Aplicações 50

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5. Sugestões de atividades 52
6. Indicações de leituras 52
Cap. 6 - Euclides de Alexandria e o Postulado das Paralelas 53
1. Introdução 53
2. Revisitando a história; A Geometria segundo Euclides 54
3. Observações sobre o 5º Postulado 55
4. Consequências do Axioma das Paralelas 56
5. A soma dos ângulos de um triângulo 58
6. Novos paradigmas; Geometrias não euclidianas 59
7. Indicações de leituras 60
8. Sugestões de atividades 60
Cap. 7. - Aplicações do 5o Postulado de Euclides 61
1. A Soma dos ângulos de um polígono 62
2. O paralelogramo e suas propriedades 63
3. O teorema de Tales 64
4. Sugestões de atividades 66
5. Indicações de leituras 67
Cap. 8 - Semelhança de Triângulos e Aplicações 68
1. Relembrando o Teorema de Tales... 68
2. Semelhança e aparência 68
3. Semelhança de triângulos 69
4. Os três casos de semelhança de triângulos 70
5. O Teorema de Pitágoras 71
6. Ângulos inscritos e ângulos centrais em um círculo 72
7. Indicações de leituras 74
Cap. 9 - Comprimento de Curvas e Áreas de Figuras 74
1. Comprimento de uma curva 74
2. Área de uma figura plana 79
3. A área de um círculo 81
4. Outras áreas entre curvas 84
5. Sugestões de atividades 86
Referências 86
MATEMÁTICA

Capítulo 1 – A Evolução dos Con- subconscientes. A noção de distância entre dois corpos,
as noções de figuras geométricas mais simples, de retas
ceitos da Geometria Plana1*

MATEMÁTICA
paralelas, perpendiculares, e até as noções de áreas e
volumes foram obtidas dessa forma, ou seja, mediante
Vamos iniciar nossa disciplina Geometria Plana? observações dos nossos descendentes. Esse estágio
Ela se propõe a abordar vários tópicos importantes da Geometria, caracterizado pela intervenção do homem
e fundamentais para o seu crescimento matemático. nesse ambiente de forma primitiva, é chamado pelos
Neste capítulo apresentaremos alguns personagens re- textos históricos de “geometria subconsciente”.
levantes da História da Geometria, enfatizando algumas É claro que muitos séculos se passaram até que a
de suas contribuições. Aprenderemos também o que geometria fosse elevada à condição de ciência, veja
são “noções primitivas” e “axiomas” de uma teoria, a seguir:
e qual a diferença entre estes conceitos e os chamados
“teoremas”. Vamos começar?

1. Aspectos Históricos
Como começou a Geometria. Qual a sua opinião?
Que povos se destacaram nessa história?

http://commons.wikimedia.org/wiki

Segundo Heródoto, historiador grego do século V a.C.,


os egípcios foram os responsáveis pela mudança da
geometria subconsciente para uma geometria mais
próxima de uma ciência, ainda que de forma empíri-
ca.
Esta atitude foi motivada pela necessidade de se
medirem terras, com a finalidade de cobrança de im-
http://commons.wikimedia.org/wiki postos. Quando as cheias do rio Nilo modificavam as
terras das suas margens, o rei ordenava aos cobradores
Veja, não é difícil aceitar a argumentação de que as de impostos que fossem recalculadas as áreas das
observações das formas multivariadas encontradas na mesmas, para que a cobrança fosse ajustada. Daí a
natureza como árvores, pedras com seus diferentes justificativa da palavra “geometria”: medida da terra
tamanhos, os contornos do sol e da lua e ainda as (geo - terra, metria - medida). No Egito também havia
próprias diferenças de forma e tamanho entre homens, longos períodos de estiagem, o que obrigava aos egíp-
mulheres e crianças, devem ter levado o homem primi- cios a estocarem grãos na época das colheitas. Assim,
tivo a reproduzir essas formas no seu cotidiano. era preciso calcular volumes dos depósitos que serviam
Nesse sentido, seguindo esse raciocínio, a geometria como reservatórios de grãos.
dos nossos antepassados pré-históricos veio de obser- Mas, veja outra questão interessante, e que revela
vações intuitivas do seu mundo, e trazidas dos seus outra passagem da Geometria!
Embora Heródoto atribuísse a origem da Geome-
tria aos egípcios, descobertas científicas recentes
1 * Adelmo Ribeiro de Jesus: adelmo@ufba.br

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revelaram que os babilônios, povos que ocuparam a


Mesopotâmia por volta de 2.000 a.C., tinham conhe-
cimento matemático mais extenso e avançado que o
dos egípcios. Os babilônios sabiam calcular áreas de
figuras mais simples (triângulos, trapézios, etc), conhe-
ciam a relação pitagórica (hoje chamada de Teorema
de Pitágoras) e chegaram a utilizar o número 3 como
MATEMÁTICA

aproximação para o número π.


A Geometria dos babilônios ainda não era a que
conhecemos hoje. Ela era constituída por enunciados
de problemas, cujas soluções se apresentavam sob a Tales de Mileto viveu algum tempo no Egito e é con-
forma de receitas ou regras, sem maiores pretensões siderado um dos sete sábios da Antiguidade. Também
em demonstrá-las. Esse período da geometria, com é considerado, como dissemos acima, o fundador da
exemplos no Egito, Babilônia (e também na Índia e geometria demonstrativa.
China), caracterizado pelo desenvolvimento do controle São creditados a ele alguns resultados da geometria,
da natureza, através de procedimentos empíricos, é como o conhecido Teorema de Tales, que relaciona as
chamado de geometria empírica. razões de segmentos de duas retas transversais cor-
tadas por paralelas.
Afinal, qual a Geometria de hoje, como classificá-la?
Veja:
Com o declínio das civilizações babilônicas e egíp-
cias, novos povos ocuparam o sistema econômico.
Entre estes, os gregos, que recebendo as contribuições
científicas dos seus antecessores, promoveram outro
tipo de desenvolvimento bastante significativo, a saber:
que os fatos geométricos fossem estabelecidos não
por processos empíricos, mas por raciocínios dedu-
tivos. Em outras palavras, os gregos transformaram a
geometria empírica, dos babilônios e egípcios, em uma
geometria chamada “geometria demonstrativa.”
Dentre os matemáticos gregos destacamos: Tales de
Mileto (≅600 a.C.), Pitágoras de Samos (≅550 a.C.),
Euclides de Alexandria (≅300 a.C.) e Arquimedes
(≅250 a.C.). Acredita-se que as primeiras demonstra- http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Sanzio_01_Pythagoras.jpg
ções matemáticas são de autoria de Tales, o que dá
à Geometria o privilégio de ter sido a primeira área a Pitágoras nasceu em 572 a.C., na ilha de Samos,
utilizar o raciocínio dedutivo ou método dedutivo, nas próxima da cidade de Mileto, cidade onde nasceu
suas considerações. Tales. É possível que Pitágoras tenha estudado com
ele. Mais tarde, após sua volta do Egito, constituiu um
grupo de matemáticos, chamada de Escola Pitagórica,
2. Personagens da Geometria que se interessava pela ciência de um modo geral, e
Abaixo estão relacionados quatro personagens em particular, pela Filosofia e pela Matemática. Sua
centrais no desenvolvimento da Geometria. É claro que maior contribuição foi no desenvolvimento da Teoria
existem muitos outros, que podem ser encontrados nos dos Números. Os Pitagóricos foram os primeiros a
textos de História da Matemática. demonstrar que a diagonal de um quadrado e o seu
lado são grandezas incomensuráveis. Em termos mais
atuais, os pitagóricos descobriram que o número 2
não é um número racional.

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No livro “A Medida do Círculo”, por exemplo, ele


demonstra que a razão da área de um círculo pelo qua-
drado de seu raio é igual à razão do seu comprimento
por seu diâmetro. Esta razão comum é o que chamamos
hoje de π . Através do cálculo dos perímetros dos po-
lígonos regulares, até 96 lados, inscritos e circunscritos

MATEMÁTICA
em um círculo, Arquimedes conseguiu um valor para π
compreendido entre 3 10 e 3 10 .
71 70

Sua estimativa de π é a aproximação usada nos dias


Euclides de Alexandria (330-275 A.C.) tornou-se de hoje, ou seja, π =3,14. Essa descoberta tornou
destacado na História da Matemática pelo seu famoso possível a resolução de muitos problemas que envolvem
“Os Elementos”. As contribuições de muitos séculos a área de círculos e o volume de cilindros.
foram resumidas e sistematizadas nesta sua coleção Os fatos históricos relatados acima evidenciam que
de 13 livros que, pela primeira vez na história, introdu- os conhecimentos geométricos, estudados nas nossas
ziu um sistema de idéias no qual poucas afirmações escolas de Ensino Fundamental e Médio, são milena-
simples são admitidas como verdadeiras e usadas para res e de importância relevante desde os tempos mais
demonstrar outras mais complexas (Sistema Dedutivo). remotos até os dias de hoje.
Seu trabalho foi tão respeitado e considerado importante
para sua época que durante 2.000 anos “Os Elementos”
foram basicamente os únicos manuais para Geometria ?? SAIBA MAIS
utilizados. Os livros I a IV, VI e XIII são dedicados à ge- ?
ometria propriamente dita. Os outros sete livros contêm
tópicos de aritmética sob ponto de vista geométrico e Quando em 332 a.C. o Egito foi conquistado por
geometria dos sólidos. Alexandre, o Grande, passou a fazer parte do mundo
grego e em 30 a.C. passou a ser uma província romana.
Tanto no período Ptolemaico (332 a.C. a 30 a.C.) e como no
Romano (30 a.C. a 395), encontram-se papiros escritos em
demótico.
Note-se que neste período os faraós egípcios, a partir de
Ptolomeu I, eram gregos, e embora tenham adotado alguns
costumes egípcios, falavam grego e pensavam que a cultura
grega era melhor que a egípcia. Não podemos esquecer
que os matemáticos gregos, como Euclides, trabalharam
em Alexandria, e que maior parte da produção matemática
realizada no Egito foi escrita em grego e considerada, por
isso, matemática grega.

Adaptado de: www.malhatlantica.pt/mathis/Egipto/egipto.htm

A partir desse momento vamos estudar a Geometria


Euclidiana Plana de uma forma sistemática, objetivando
Arquimedes é considerado um dos maiores gênios uma melhor compreensão de sua estrutura, do seu
de toda a Matemática. Os trabalhos de Arquimedes se funcionamento e das suas aplicações. Utilizaremos o
destacam entre os tratados clássicos de matemática chamado “método axiomático” ou “sistema dedutivo”.
pela importância dos assuntos e elegância de estilo. Para entendermos melhor como funciona este sistema
A maior parte dos livros de Arquimedes está devotada podemos compará-lo a um jogo, como de baralho,
à matemática pura. Os problemas que ele destaca são damas, xadrez, ou mesmo as brincadeiras utilizadas
quase todos do tipo que hoje exigem um tratamento por crianças e adultos, como a do “amigo secreto”,
envolvendo o cálculo diferencial e integral. em suas diversas formas.

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3. Noções Primitivas e Axiomas Geometria. De fato, existem várias “geometrias”, como


a “Geometria Hiperbólica” e “Geometria Riemaniana”.
Observemos inicialmente que para iniciarmos um
Estamos interessados, nesse momento, na Geometria
jogo é necessário que tenhamos as peças do mesmo.
Euclidiana Plana.
Ou seja, estas peças constituem o “ponto de partida”
para o começo do jogo. Da mesma forma, os elementos A sentença “Dados dois pontos distintos existe uma
que servem de ponto de partida para desenvolvermos única reta que contém estes pontos” é um dos axio-
MATEMÁTICA

um jogo ou uma teoria são chamados “noções pri- mas da Geometria Euclidiana. Observemos então que:
mitivas”. No caso da Geometria, ponto, reta, e plano as Noções Primitivas (peças) e os Axiomas (regras)
são as Noções Primitivas. Na Teoria dos Conjuntos, as formam a base de uma teoria (jogo).
noções primitivas são: conjunto e pertinência. Muitas vezes é necessário introduzirmos elementos
que necessitamos ou desejamos trabalhar e que em
geral damos algum nome. No jogo de baralho chamado
de “buraco” é introduzido o termo “canastra”, que nada
mais é que uma seqüência de 7 (sete) cartas diferentes,
todas do mesmo tipo (ouro, copas, espadas ou paus). A
descrição do que vem a ser uma “canastra” é chamada
de “definição”. No caso da Geometria aparecem os no-
Mas, veja o seguinte: mesmo dispondo das peças de
mes segmento, ângulo, triângulo, círculo, etc, que têm
um baralho, dominó, ou outro similar, só podemos dar
suas descrições dadas nas chamadas definições.
início ao jogo se conhecermos as suas regras. Estas
regras são aceitas sem justificativas, mas precisam ser
suficientes para o jogo acontecer e dar certo, isto é, 4. Proposições e Teoremas
elas devem estabelecer o que é permitido em qualquer
situação que possa vir a acontecer.
a b c

d e f

g h i

Além disso, essas regras devem ser consistentes, ou


seja, a aplicação delas não pode conduzir a situações O que é Teorema? Já ouviu falar em Corolário? Veja
contraditórias. Já pensou em uma regra de jogo de o seguinte, existe um antigo divertimento matemático
dominó ou damas, em que vários jogadores ganham a chamado “Quadrados Mágicos”, que consiste em
partida, ao mesmo tempo? preencher quadrados 3x3, 4x4, etc com números 1, 2,
3,…, de tal forma que esta arrumação dos números
Depois de estabelecidas, as regras de um jogo não satisfaça certas propriedades. Esse “preenchimento”
podem ser alteradas, pois se isso ocorrer o jogo não deve ser feito utilizando raciocínio lógico, a partir das
será mais o mesmo (embora isso possa ser também regras fixadas ou a partir de uma construção já esta-
interessante). belecida.
As regras da Geometria, conhecidas como “primei- Por exemplo, na construção de um quadrado má-
ras verdades”, são chamadas de Axiomas ou Postu- gico 3x3 utilizamos os números 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8,
lados. Estes são escolhidos pelo homem de tal forma 9, e as regras são as seguintes:
que sejam aceitáveis ou razoáveis de serem aceitos
como verdades, pois sendo regras, não precisam ser R1) Todos os números 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 devem
justificadas. Além disso, os axiomas devem ser sufi- ser utilizados para preencher o quadrado;
cientes e consistentes e, de modo análogo ao jogo, R2) A soma dos números de qualquer linha, ou qual-
se alterarmos o conjunto dos axiomas mudamos a quer coluna, deve ser a mesma;

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R3) A soma dos números das diagonais também deve preenchidas.


ser igual à soma dos números das linhas ou co- 2) Pela regra R1, todos os nove números 1, 2, 3,…,
lunas. 9 devem ser utilizados.
Para a construção do quadrado mágico 4x4 preci- Qual a conclusão? Nove posições no quadrado,
samos de 16 números: 1, 2, 3, 4, 5, …, 14, 15, 16 , e nove números que devem ser utilizados…
de argumentos da construção do quadrado 3x3. Logo, se repetirmos algum número, vai ficar algum

MATEMÁTICA
Chamamos de Proposições (ou Teoremas, a depen- sem utilizar, não é isso?
der de sua importância) as afirmações que podem ser Isto mostra que não pode haver repetição de núme-
deduzidas, ou seja, tiradas como conclusão, a partir dos ros no preenchimento.
conceitos primitivos e das regras do jogo. No caso do
quadrado 3x3 temos nove números 1, 2, 3, …, 7, 8,
A demonstração da propriedade P2: “A soma má-
9 e as regras R1, R2 e R3 .
gica tem que ser 15” não é assim tão simples, mas é
Com esses dados podemos concluir (deduzir, tirar possível compreender.
como verdadeiro), que:

a b c
2 6
d e f
5 g h i
4 8
Veja:
1) Pela regra R2, cada linha deve ter a mesma soma S
P1: Não se podem repetir números no quadrado mágico; (que não sabemos ainda que é 15).
P2: A soma “mágica” mencionada na regra R2 tem que
ser 15; 2) Somando estas 3 linhas teremos S+S+S
=a+b+c+ ...+g+h+i
P3: O número 5 deve ficar no centro do quadrado;
P4: Os números pares devem ficar nos cantos do 3) Como a+b+c+ ...+g+h+i é a soma de todos os
quadrado. números de 1 a 9 temos

?
3S = 1+2+...+9 = 45
VOCÊ SABIA? 4) De 3S=45, concluímos que S = 15, como quería-
mos provar.
Que Teorema é um termo introduzido por Euclides, em Elementos,
para significar “afirmação que pode ser provada” ?
Em grego, originalmente significava “espetáculo” ou “festa”. Deixamos como exercícios as argumentações das
Atualmente, é mais comum deixar o termo “teorema” para propriedades P3 e P4.
apenas certas afirmações que podem ser provadas e de grande
“importância matemática”, o que torna a definição um tanto
subjetiva.
Já um Corolário é uma conseqüência direta de outro teorema ?? SAIBA MAIS
ou de uma definição, muitas vezes tendo suas demonstrações ?
omitidas, por serem simples.
Fonte: Wikepedia
O objetivo da Geometria é determinar propriedades de
figuras planas e dos sólidos do espaço. De modo análogo
ao jogo do quadrado mágico, tais propriedades, chamadas
Como dissemos acima, estas afirmações podem ser de Proposições e Teoremas, devem ser deduzidas somente
deduzidas a partir das regras do jogo. A demonstração através de raciocínio lógico, a partir dos axiomas (regras do
da proposição P1 é bastante simples, veja: jogo), de outras propriedades já estabelecidas ou ainda, de
uma definição.
1) Um quadrado 3x3 tem nove posições para serem

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Como exemplos de Proposições da Geometria, ci- inspirou homens das mais diversas áreas a organizarem
tamos: suas idéias da mesma forma.

“A soma dos ângulos internos de um triângulo qualquer


RESUMO: Neste capítulo vimos o que são No-
é 180º”.
ções Primitivas e Axiomas. Vimos também que
as Proposições e os Teoremas necessitam ser
MATEMÁTICA

“Em um triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa acompanhados de uma argumentação, para serem
é igual à soma dos quadrados dos catetos”. considerados verdadeiros.
Devemos ressaltar que tanto os axiomas como A estrutura axiomática da Geometria enunciada por
as proposições são afirmações da Geometria. Os Euclides continha alguns pequenos problemas de
axiomas, “primeiras verdades”, são aceitos sem de- ordem lógica. Por essa razão, por volta de 1900,
monstração. As proposições, como conseqüências David Hilbert em “Fundamentos da Geometria”
dos axiomas e definições, necessitam ser seguidas melhorou a apresentação da Geometria sistema-
de argumentos que mostrem que elas são realmente tizada por Euclides e relacionou os axiomas que
verdadeiras. Assim, utilizando as Noções Primitivas, hoje conhecemos como os Axiomas da Geometria
os Axiomas e as Definições, podemos demonstrar as Euclidiana Plana.
Proposições. São esses axiomas que veremos a partir do próximo
Essas proposições geram outros resultados, que capítulo. Até lá!
por sua vez geram mais outros e assim sucessiva-
mente, formando uma cadeia enorme de Fatos, ou
Verdades deste sistema, incorporando-se, pois, a ele.
Este tipo de sistema é o que chamamos de Sistema
Dedutivo ou de Método Axiomático.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
1) Consulte os livros de História da Matemática de C.
Boyer ou H. Eves e faça uma pesquisa mais completa
sobre os trabalhos de Euclides e suas contribuições
na Geometria e Aritmética. Pesquise também na
Internet usando, por exemplo, as palavras “Euclides
de Alexandria” e Geometria.

2) Seja Q um quadrado mágico 3x3, formado com os


números 1, 2,3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 . Demonstre que:
Podemos comparar este sistema com uma grande a) O número 5 deve ficar no centro do quadrado;
árvore, que é sustentada pelas suas raízes, Noções b) Os números pares devem ficar nos cantos do
Primitivas e Axiomas. Seus vários ramos são Proposi- quadrado;
ções, com outros e outros ramos, conseqüências das
proposições e Definições, e assim sucessivamente, 2
formando uma cadeia infinita de sub-ramos.
O grande pensador Euclides, nos seus “Elementos”, 5
apresenta pela primeira vez na história a Geometria
como um sistema dedutivo. A beleza de tal sistema

18 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

3) a) Mostre que no caso de um quadrado mágico 4x4 5) Este exercício usará um fato que será provado mais
formado com os números 1, 2, …14, 15, 16, a adiante no nosso curso:
soma mágica é sempre 34.
b) Dado o quadrado mágico 4x4 abaixo, calcule o “Na Geometria Euclidiana plana, a soma dos ângulos
valor de a+b+c+d. de um triângulo é sempre 180º ”

MATEMÁTICA
1 12 a 14
c 13 2 b
10 d 16 e
f 6 9 g

4) a) Você já notou que 1+3=22 ? Já notou que


1+3+5 = 32? Será que 1+3+5+7= 42?
b) Vamos experimentar agora a propriedade da soma
Mais geralmente: dos ângulos, para polígonos de 4 lados:
Será verdade que a soma dos n primeiros números Calcule a soma dos ângulos do polígono ABCD.
ímpares é igual a n2 ? Quanto você obteve?
Ou melhor, será que 1+3+5+...+(2n-1) = n2 ? Resp: ...................

b) Esta propriedade pode ser demonstrada a partir


da veracidade da regra anterior, vejamos:
Suponhamos que já verificamos que 1+3+5=32
e queremos ver se 1+3+5 + 7 = 42. Observe:
1+3+5 + 7 = (1+3+5) + 7 = (1+3+5) + 6
+1
Como (1+3+5) = 32 e 6 = 2.3.1 temos:
c) Usando que a soma dos ângulos de um triângulo
(1+3+5) + 6 + 1 = 3 + 2.3.1 + 1 = (3+1)
2 2
é sempre 180º, prove que a soma dos ângulos
= 42. de um polígono de quatro lados é sempre 360º
d) Usando que a soma dos ângulos de um
Logo, deduzimos que 1+3+5 + 7 = 42.
triângulo é 180º, prove que a soma dos
c) Usando que 1+3+5 + 7 = 42 mostre (sem fazer ângulos de um polígono de cinco lados é 540º.
os cálculos) que 1+3+5 +7+ 9 = 52.
d) Usando que 1+3+5+7+9+11+13=72 mostre
que 1+3+5 + 7 + 9 +11 +13 + 15= 82.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Obs: É possível mostrar, em geral, que a soma
1+3+5+…+ (2n-1) = n2. 1. BARBOSA, João Lucas. Geometria Euclidiana Plana. Col.
Prof. de Matemática. Rio de Janeiro: SBM, 2006
2. BOYER, Carl. História da Matemática, 2ª Ed. São Paulo: Ed.
Edgar Blucher, 1996
3. EVES, Howard. Tópicos de História da Matemática para uso
em sala de aula. São Paulo: Atual Editora, 1992
4. EVES, Howard. Introdução à História da Matemática, 2ª Ed.
Campinas, SP: Ed. da Unicamp, 2002
5. POGORELOV, A. Geometry. English Translation. Mir
Publishers, 1987

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EAD 2009

CAPÍTULO 2 – INICIANDO COM OS primitivas, intuitivas e não se definem precisamente.


Por outro lado, é interessante que tenhamos uma visão
AXIOMAS DA GEOMETRIA geométrica desses conceitos primitivos e até uma breve
descrição do seu significado. Como dizia Euclides em
seu livro “Os Elementos”: “ponto é aquilo que não
Vamos prosseguir com nossos estudos de Geo- possui partes”, “linha é o que possui comprimento,
mas não largura”, “reta é uma linha que jaz igual-
MATEMÁTICA

metria Plana? Vimos no 1º capítulo o que enten-


demos por “noções primitivas” e “axiomas” de mente com respeito a todos os seus pontos”, (isto é,
uma teoria, e vimos qual a diferença entre esses reta é uma linha que não possui pontos “especiais”,
conceitos e os chamados “teoremas”. Resumida- como as curvas).
mente, sabemos agora que as “proposições” e os
“teoremas” são afirmações que não fazem parte
do conjunto de axiomas, ou regras da teoria, e por ?? SAIBA MAIS
isso precisam ser justificadas de uma forma lógica ?
e coerente.
Neste capítulo vamos ver quais são os tipos Quem foi Euclides, em que época viveu?
de axiomas da Geometria, apresentando detalha- Leia um pouco sobre sua história...
damente os axiomas de incidência e ordem. É
importante lembrar que estudar Matemática não
é como ler um jornal ou uma revista, pois exige
mais reflexão. É necessário ter lápis e papel nas
mãos, efetuar alguns cálculos e revisar os pontos
que tiver dúvidas.

1. Os Grupos de Axiomas da Geometria


Os axiomas da Geometria Euclidiana Plana como
hoje conhecemos são treze, e foram formulados ini-
cialmente por Euclides. Mais tarde foram aprimorados
no Sec. XIX por David Hilbert, em seu Grundlagen der
Geometrie. Por uma questão de organização, eles são
divididos em cinco grupos: Pertinência (dois), Ordem
(três), Medição (total de 6, sendo 3 para segmentos e 3
para ângulos), Congruência (um), e finalmente o Axioma
das Paralelas (um). Veja abaixo uma ilustração:

Euclides de Alexandria (360 a.C.-295 a.C.) foi um professor,


matemático platônico e escritor de origem desconhecida,
criador da famosa geometria euclidiana: o espaço euclidiano,
imutável, simétrico e geométrico, metáfora do saber na
antiguidade clássica, que se manteve incólume no pensamento
matemático medieval e renascentista, pois somente nos tempos
modernos puderam ser construídos modelos de geometrias
não-euclidianas.
Teria sido educado em Atenas e frequentado a Academia de
Platão, em pleno florescimento da cultura helenística.
h ttp://pt.wikipedia.org/wiki/Euclides
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Euclides&oldid=976
Como já dissemos anteriormente, convém lembrar 8150
que as noções de “ponto”, “reta” e “plano” são noções

20 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Os Elementos de Euclides são os livros mais difun-


didos da história. Mais de mil edições foram impressas ?? SAIBA MAIS
desde a primeira versão, impressa de 1482 e, mesmo ?
antes desta data, foram o texto básico da matemática
padrão do ocidente. E sobre David Hilbert, o que você sabe?
A qualidade das definições e o desenvolvimento

MATEMÁTICA
axiomático da aritmética evoluíram muito desde a épo-
ca de Euclides, porém o valor fundamental dos textos
euclidianos é difícil de ser superado.

David Hilbert nasceu em Königsberg em 1862, e na


faculdade de lá fez seus estudos. Em 1895 foi nomeado
para Göttingen, onde ensinou até se aposentar, em 1930.
Hilbert é frequentemente considerado como um dos maiores
matemáticos do século XX, no mesmo nível de Henri Poincaré.
Devemos a ele principalmente a lista de 23 problemas, alguns
dos quais não foram resolvidos até hoje, que ele apresentou
em 1900 no Congresso Internacional de Matemática em
Paris.
Suas contribuições à Matemática são diversas :
• Consolidação da teoria dos invariantes, que foi o objeto de
sua tese;
• Transformação da geometria euclidiana em axiomas,
com uma visão mais formal que Euclides, para torná-la
consistente, publicada no seu Grundlagen der Geometrie
(Bases de geometria);
• Trabalhos sobre a teoria dos números algébricos,
retomando e simplificando, com a ajuda de seu amigo
Minkowski, os trabalhos de Kummer, Kronecker, Dirichlet e
Dedekind, e publicando-os no seu Zahlbericht.
Infelizmente Hilbert viveu o suficiente para assistir ao fim da
grande dinastia matemática da Universidade de Göttingen,
que se deu a partir de 1933 (ano da chegada de Adolf
Hitler ao poder), quando os nazistas afastaram muitos dos
proeminentes membros da faculdade.
Quando Hilbert faleceu em 1943, os nazistas tinham
praticamente acabado com a universidade, uma vez que
muitos dos melhores membros eram judeus ou casados
com judeus. Seu funeral foi presenciado por menos de uma
dúzia de pessoas, das quais apenas duas eram colegas da
universidade.
http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Hilbert

Para estabelecermos os axiomas da Geometria, bem


como algumas definições de entes que nos interessam
trabalhar, utilizaremos a linguagem da teoria dos con-
juntos. Usaremos também a imagem geométrica do
plano, no qual os pontos e as retas são desenhados.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 21


EAD 2009

As letras maiúsculas A, B, C, etc, serão utilizadas poderíamos ver se essas duas retas r, s que passam por
para designar pontos e as letras minúsculas r, s, t as A, podem passar também por B. Será possível isso?
retas. Lembramos que os desenhos são apenas instru-
mentos de ajuda para nossa intuição.
MATEMÁTICA

A Proposição enunciada a seguir é uma conseqü-


ência do Axioma I2 e nos diz que a resposta da questão
Iniciaremos o nosso estudo introduzindo os Axiomas acima é NÃO.
de Pertinência, também chamados de “axiomas de
incidência”.
Proposição 1: duas retas distintas não podem ter
mais que um ponto em comum. Melhor dizendo, duas
2. Axiomas de Pertinência retas diferentes só podem se intersectar em apenas
um ponto.
Axioma I1: dada uma reta do plano, existem pontos
que pertencem a esta reta, bem como pontos que não
pertencem a ela. Prova: Devemos provar que se r ≠ s então r ∩ s
tem no máximo um ponto.

Suponha que r e s tenham dois pontos em comum, A


e B, ou seja, pelos pontos A e B passa a reta r, e pelos
mesmos pontos A e B passa a reta s.

Este axioma quer nos dizer que um plano é “algo mais” que uma Ora, o axioma I2 nos diz que a reta que passa por
reta, ou seja, dada uma reta r, sempre existem pontos que dois pontos A e B é única. Logo, estas retas r, s são
pertencem a ela, mas também pontos fora dela.
coincidentes, o que contradiz que r ≠ s.

Axioma I2: por dois pontos distintos A e B existe uma


única reta que os contém.

O método de demonstração utilizado acima é chamado


de “método indireto”, ou “redução ao absurdo”, e usa a
contrapositiva da afirmação p → q, que é ~q →~p .
O Axioma I2 nos diz que “dois pontos distintos A e B
determinam uma única reta”.

Definição 1: duas retas que não se intersectam


Considere agora o seguinte problema: duas retas
ou que são coincidentes são chamadas de retas
que passam por um ponto A podem se encontrar, tam-
paralelas. Duas retas que se intersectam em um
bém, em outro ponto B?
só ponto são chamadas retas concorrentes.
Note que o ponto B pode estar situado a milhares e
milhares de quilômetros do ponto A e, sendo assim, não

22 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Observe que alguns textos de Matemática definem


retas paralelas quando r ∩ s = ∅; para eles, retas
coincidentes não são paralelas. Na nossa definição,
retas coincidentes são também paralelas.
A noção “estar entre” é importante para que possa-
mos definir dois entes geométricos fundamentais, que
são os “segmentos” e as “semirretas”.

MATEMÁTICA
Os Axiomas de Ordem, que estudaremos a se-
guir, são importantes para definirmos segmento,
semirreta e consequentemente, polígonos. Definição 2: chamamos de segmento AB ao con-
junto formado por dois pontos A e B e por todos os
pontos que estão entre eles.
3. Axiomas de Ordem
No ambiente em que vivemos utilizamos de modo
natural a noção “estar entre”, ou “localiza-se entre”.
Veja os exemplos abaixo:

Os pontos A e B são chamados de extremidades


“A Farmácia Boa Saúde localiza-se entre a Padaria
do segmento AB.
Bom Pão e o Supermercado Compre Bem”.

Definição 3: chamamos de semirreta de origem


“A Sobre Loja do Ed. Pitágoras está entre o térreo
A, contendo o ponto B, ao conjunto formado pelo seg-
e o primeiro andar”.
mento AB e pelos pontos C que estão do mesmo lado
que B em relação ao ponto A.
A Geometria utiliza esta noção “estar entre” para
localizar os pontos de uma reta. Na ilustração a seguir,
o ponto F está entre os pontos E e G. Dizemos também A
BB é a semirreta de origem no ponto A, contendo B
A
que o ponto G está do mesmo lado que o ponto F, com
relação ao ponto E.

Observe que uma semirreta é definida por 2 pontos. O ponto A


é a origem da semirreta e o ponto B dá a direção da semirreta.
A noção de que um ponto de uma reta “localiza-se
entre” outros dois satisfaz os axiomas que anunciamos Definição 4: seja r uma reta e A um ponto que não
a seguir. pertence a r. O conjunto formado pela reta r e por to-
dos pontos B tais que o segmento AB não intercepta r
é chamado de semiplano determinado por r, que con-
Axioma O1: dados três pontos de uma reta, um e tém o ponto A.
apenas um deles está entre os outros dois.

Axioma O2: dados dois pontos distintos A e B em


uma reta, existe sempre um ponto C entre A e B, bem
como um ponto D tal que B está entre A e D.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 23


EAD 2009

Observe que para definirmos um semiplano precisa- Os segmentos que definem o polígono são chama-
mos de uma reta r e um ponto A fora dela. Os pontos dos de lados e as extremidades dos lados são chama-
do semiplano são então aqueles pontos que ficam “do das de vértices do polígono.
mesmo lado” de A, em relação à reta r. O segmento que liga vértices não consecutivos de
Nosso próximo Axioma de Ordem diz que qualquer um polígono é chamado de diagonal.
reta divide o plano em dois semiplanos. Pense em A1A2A3A4A5A6: polígono de vértices A1, A2, A3, A4,
MATEMÁTICA

uma linha reta desenhada em uma folha de papel e A5 e A6.


recorte-a.
Veja a figura:. Não se deve confundir “linha poligonal” com “polígo-
no”. Uma linha poligonal pode ser “aberta”, enquanto
que polígono é uma linha poligonal fechada.

Axioma O3: uma reta r do plano determina dois


semiplanos distintos cuja interseção é a reta r.

Casos Particulares de Polígonos


Os nomes dos polígonos de 3, 4, 5… lados são, em
geral, atribuídos de acordo com o número de ângu-
Definição 5: um polígono é uma figura formada por
los. Veja a seguir:
uma sequência de segmentos A1A2 , A2A3 , A3A4 , ... , An-
A , AnA1 , que satisfazem as seguintes propriedades: a) Um polígono de 3 lados se chama triângulo (ou
1 n
trilátero);
b) De 4 lados, se chama quadrilátero;
(i) Dois segmentos com uma extremidade comum estão
contidos em retas distintas; c) De 5 lados se chama pentágono, de 6 lados, hexá-
gono, e assim por diante.
(ii) Se dois destes se interceptam, o fazem somente em
uma de suas extremidades.

SÍNTESE
Neste capítulo vimos dois grupos de axiomas da
Geometria Plana: os 02 Axiomas de Pertinência (ou
incidência) e 03 Axiomas de Ordem. Para completar
nossos 13 axiomas faltam seis Axiomas de Medi-
ção, para segmentos e ângulos, o Axioma de Con-
gruência LAL e o famoso Axioma das Paralelas.
Vamos prosseguir com eles em nossos próximos
capítulos.

24 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

SUGESTOES DE ATIVIDADES b) Quantos triângulos podemos formar com 5 pontos


não alinhados 3 a 3?
Axiomas de Incidência
1) Classifique em Verdadeiro ou Falso, justificando suas Axiomas de Ordem
respostas:
4) A noção “estar entre” é aplicada para três pontos de
a) Dois pontos quaisquer sempre determinam uma
uma mesma reta. Na figura ao lado os pontos A, B,

MATEMÁTICA
única reta.
C pertencem a uma mesma circunferência. Nesse
b) Por três pontos pode passar uma reta. caso, você pode dizer que o ponto C está entre A
c) De acordo com nossa definição, duas retas pa- e B? Ou que o ponto B está entre A e C? Faça um
ralelas não podem se intersectar. comentário sobre essa situação.
d) Duas retas concorrentes não podem ser paralelas.

2) Leia a argumentação a seguir:

5) Em uma fila para receber salários estão Silvia, Mary,


Khatia, Gerusa e Patricia. Descreva um processo
para obter a posição de cada uma delas na fila,
Três pontos A, B, C não colineares determinam sabendo que:
apenas 3 retas no plano. a) Khatia está logo entre Silvia e Patrícia;
De fato, fixando o ponto A temos as retas AB e AC. b) Patrícia não é a última;
Fixando o ponto B temos somente a reta BC (pois a reta c) Gerusa está logo entre Mary e Silvia;
BA já foi contada). Fixando o ponto C não temos mais
d) Slivia é a 3ª da fila.
nenhuma. Logo, são apenas 3 as retas que passam por
3 pontos não colineares.
6) MPU – Técnico: Em torno de uma mesa quadrada,
encontram-se sentados quatro sindicalistas. Oliveira,
a) Se tivermos 4 pontos A, B, C, D, não colineares
o mais antigo entre eles, é mineiro. Há também um
3 a 3, quantas retas eles determinam?
paulista, um carioca e um baiano. Paulo está sentado
à direita de Oliveira. Norton, à direita do paulista. Por
sua vez, Vasconcelos, que não é carioca, encontra-
se à frente de Paulo. Assim,
a) Paulo é paulista e Vasconcelos é baiano.
b) Paulo é carioca e Vasconcelos é baiano.
c) Norton é baiano e Vasconcelos é paulista.
d) Norton é carioca e Vasconcelos é paulista.
e) Paulo é baiano e Vasconcelos é paulista.

b) E no caso de 5 pontos, quantas retas teríamos? 7) TTN/97- (Administração Tributária) Quatro amigos,
André, Beto, Caio e Dênis, obtiveram os quatro pri-
meiros lugares em um concurso de oratória julgado
3) a) Quantos triângulos podemos formar com quatro
por uma comissão de três juízes. Ao comunicarem a
pontos A,B,C,D não alinhados 3 a 3 ?
classificação final, cada juiz anunciou duas coloca-

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 25


EAD 2009

ções, sendo uma delas verdadeira e a outra falsa:

Juiz 1: “André foi o primeiro; Beto foi o segundo”


Juiz 2: “André foi o segundo; Dênis foi o terceiro”
Juiz 3: “Caio foi o segundo; Dênis foi o quarto”
MATEMÁTICA

Sabendo que não houve empates, o primeiro, o


segundo, o terceiro e o quarto colocados foram, res-
pectivamente:
a) André, Caio, Beto, Dênis b) André, Caio, Dênis, Beto
c) Beto, André, Dênis, Caio d) Beto, André, Caio, Dênis
e) Caio, Beto, Dênis, André.

INDICAÇÃO DE LEITURA

1. BARBOSA, João Lucas. Geometria Euclidiana Plana. Col.


Prof. de Matemática. Rio de Janeiro: SBM, 2006
2. BOYER, Carl. História da Matemática, 2ª Ed. São Paulo: Ed.
Edgar Blucher, 1996

26 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Capítulo 3 – Aprendendo a Medir2* Apolônio de Perga (Pérgamo, 262 a.C. - 190 a.C.)
foi um mateático e astrônomo grego da escola alexan-
drina (c. 261 a.C.), chamado de o Grande Geômetra.
A noção de “medida” é bastante intuitiva e, por essa razão, foi
utilizada pelo homem primitivo há séculos. Essas medidas de
comprimentos (como também as medidas de ângulos) fazem
parte do nosso cotidiano, como podemos citar: a distância en-

MATEMÁTICA
tre duas cidades ou a distância entre Terra e a Lua, o ângulo for-
mado por uma bola arremessada por um jogador, a inclinação
do eixo da Terra, entre outros, são exemplos que mostram que o
conceito de “medida” é fundamental para o homem.
Neste capítulo ressaltaremos os aspectos um pouco mais te-
óricos sobre “medida” e explicaremos de que forma Euclides
e seus sucessores formalizaram esta noção. Procuraremos
exemplificar os passos dessa formalização, inserindo figuras
que ajudarão no seu aprendizado, facilitando sua leitura.
Será uma viagem no tempo, começando pelos povos antigos.
Vejamos...
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

1. Notas Históricas Astronomia:


A geometria se ocupou durante longo tempo, ex- Nessa área Apolônio destacou-se como o autor de
clusivamente, das medidas dos vários elementos da um modelo matemático muito aceito na antiguidade para
natureza. A medida de áreas de terras, medidas da a representação do movimento dos planetas. Eudoxo
altura e dos ângulos de objetos para construção de havia usado esferas concêntricas mas Apolônio propôs
casas, volumes de recipientes, entre outros, sempre dois sistemas alternativos baseados em movimentos
foram necessidades do homem. epicíclicos e movimentos excêntricos.
Um ramo bastante antigo da ciência matemática Já Eratóstenes era bibliotecário de um museu de
é a astronomia. Os babilônios em 300 A.C. já davam Alexandria e deu uma estimativa para o raio da Terra
predições de fenômenos astronômicos. No caso dos através de observações dos ângulos dos raios solares
gregos, Eudoxo, Apolônio e mais posteriormente Pto- em duas cidades, Siena e Alexandria.
lomeu dedicaram esforços em temas da astronomia,
Segundo o relato do livro Introdução à História da
como por exemplo, o desenvolvimento dos modelos
Matemática , de H. Eves, pg. 214, temos:
geométricos para os movimentos do sol e da lua.
“Erastóstenes, em 240 a.C., efetuou uma medição
famosa da circunferência máxima da terra. Ele observou
que em Siena, ao meio dia do solstício de verão, uma
vara na vertical não projetava nenhuma sombra, ao
passo que em Alexandria (que ele acreditava estar no
mesmo meridiano que Siena) os raios do Sol inclina-
vam-se de 1/50 de um círculo completo em relação à
vertical. Com a distância conhecida de 5.000 estádios
entre Alexandria e Siena, ele então pode calcular a
circunferência da Terra.”

http://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Apollonios_of_Perga.jpeg

2* Adelmo R. de Jesus; adelmo@ufba.br

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 27


EAD 2009

?? SAIBA MAIS
?
Ppintura de Domenico Fetti (1620)
MATEMÁTICA

http://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Eratosthenes.jpg

Arquimedes (em grego ‘Aρχιμήδης) foi um matemático, físico


e inventor grego.
Foi um dos mais importantes cientistas e matemáticos da
Antiguidade e um dos maiores de todos os tempos. Ele fez
descobertas importantes em geometria e matemática, como
por exemplo um método para calcular o número π (razão entre
o perímetro de uma circunferência e seu diâmetro) utilizando
série. Este resultado constitui também o primeiro caso
Eratosthenes & measurement of the Earth conhecido do cálculo da soma de uma série infinita.
http://commons.wikimedia.org/wiki/ Ele inventou ainda vários tipos de máquinas, quer para uso
File:Eratosthenes_%26_measurement_of_the_Earth.png militar, quer para uso civil. No campo da Física, contribuiu para a
fundação da Hidrostática, tendo feito, entre outras descobertas,
o famoso princípio que leva o seu nome.
Descobriu ainda o príncipio da alavanca e a ele é atribuída a
Não podemos também esquecer o grande cientista citação: “Dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu
e astrônomo Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C), moverei o mundo”.
que figura entre os maiores matemáticos de todos http://pt.wikipedia.org/wiki/Archimedes
os tempos. Ele fez inúmeras contribuições para a
Geometria e deixou, segundo H.Eves, “verdadeiras
obras primas de exposição matemática e lembram, 2. Axiomas de Medição de Segmentos
consideravelmente, artigos de revistas especializadas Nesta seção introduziremos axiomas que nos per-
modernas”. Os tratados “A Medida de um Círculo”, “A mitirão estabelecer as medidas de segmentos e de
Quadratura da Parábola”, e “Sobre as Espirais” são ângulos. Como já foi dito, serão três os axiomas para
dedicados à geometria plana, enquanto que “Sobre a segmentos e três axiomas para ângulos. A partir des-
Esfera e o Cilindro” e “Sobre os Cones e os Esferóides” ses novos axiomas surgirão definições e propriedades
tratam de geometria espacial. dos entes geométricos definidos, fazendo crescer mais
Veja no Cap. 1 outra referência histórica a Arqui- ainda nossa “árvore da Geometria”, como vimos no
medes. Capítulo 1.

28 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Assim, se a e b são os números reais correspon-


dentes aos pontos A e B, respectivamente, temos
B =|b-a| Os números a, b são chamados também
AB
A
de coordenadas dos pontos A, B.

MATEMÁTICA
É importante ter em mente que para fazer a correspondência
entre os pontos de uma reta e os números reais é necessário
escolher um ponto O desta reta, que chamamos origem, e outro
ponto P para fixar nossa “unidade de medida”. Neste caso,
temos que OP=1 e nossa escala está pronta. Se mudarmos
a posição do ponto P teremos uma “mudança de escala”.

O 1º axioma nos dirá que é possível medir a distância


entre quaisquer dois pontos A e B do plano, mesmo que
estes pontos estejam muito afastados. Quando A=B,
logicamente a distância será zero. Exemplo 1: sejam A, B dois pontos da figura abaixo. Es-
ses pontos têm coordenadas a=0,5 e b=2,25. Logo,
a distância entre os pontos A e B é d(A,B)=|2,25-0-
Axioma M1: a todo par de pontos A, B do plano corresponde ,5|=1,75. O comprimento do segmento AB também é
um número real maior ou igual a zero, chamado comprimento
do segmento AB, ou distância entre estes pontos. Este número
é zero se e somente se A=B.

Indicamos por AB o comprimento do segmento AB.


AB
Exemplo 2: no caso dos pontos A, B corresponden-
Esse comprimento é referido também como distância
tes aos números reais
entre A e B, neste caso utilizaremos a notação d(A,B).
a=-0,5 e b=1,5, temos que a distância entre os pon-
tos A e B é AB= 1,5-(-0,5) =2

Exemplo 3: um motorista saiu de Salvador e, após di-


O 2º axioma define as “coordenadas” de pontos de rigir 48 km, encheu o tanque de combustível no posto
uma reta, através da associação dos seus pontos com A, zerando o odômetro. Parando no posto B, encheu
o conjunto dos números reais. Veja: novamente o tanque e observou que seu automóvel
consumiu exatos 15 litros. Qual é o consumo desse
Axioma M2: os pontos de uma mesma reta podem ser colocados automóvel, em km/litro?
em correspondência biunívoca com o conjunto dos números
reais. A diferença entre estes números mede a distância entre
os pontos correspondentes.

Solução: tomando a cidade de Salvador como origem,


temos que a coordenada do posto A é 48 e a coorde-
nada do posto B é 162. Logo, d(A, B) = 162-48 =
114, ou seja, o motorista percorreu 114 km.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 29


EAD 2009

Como o tanque estava cheio no posto A e foi comple-


tado com 15 litros no posto B, o gasto de combustível Exemplo 6: considere A, B de coordenadas a=1 e
do posto A até o posto B foi de 15 litros. b=6, e M o ponto médio de AB. Qual a coordenada do
Logo, o consumo do automóvel foi . ponto médio de MB?

O axioma 3 que vem logo a seguir é simples e intui-


MATEMÁTICA

tivo. Ele nos diz que se três pontos A, B, C pertencem


a uma mesma reta e o ponto C está entre A e B, então
d(A,B)= d(A,C)+d(C,B). Solução: como as coordenadas de A e B são a=7 e
b=29 temos que o ponto médio M de AB tem coorde-
nada .
Axioma M3: dados três pontos alinhados A, B, C, se o ponto C
está entre A e B então AB
A
B = AC
A
B + CB
A
B .
Logo, o ponto médio N de MB tem coordenada
.

De modo inteiramente análogo, a partir da noção de


medida podemos definir vários outros elementos,
como: triângulo isósceles, triângulo eqüilátero, circun-
O exemplo a seguir ilustra a situação do Axioma 3. ferência, entre outros.
Exemplo 4: verifique a fórmula para os pontos A, C, B
de coordenadas a=-1, c=0,5 e b=1,5. Exemplo 7: considere os pontos A, B, C colineares tais
que AB BC
AB é o triplo de A
B . Sabendo que A B =32cm,
AC
AB
B e A
determine A BC
B .

Temos que d(A, B) =| a - b| = 1,5-(-1) = 2,5 


Também, d(A,C) + d(C,B) = |0,5-(-1)| + |1,5 – 0,5
| = 1,5 + 1 = 2,5 
De  e  temos que A
AB
B = AC
A
B + CB
A
B AC
B = A
Solução: como A AB
B + ABC AB
B e A BC
B =3 A
B
AC
temos A
B =3 ABC
B +A BC
B = 4ABC
B .
Com a noção de “medida” em Geometria, podemos BC
Logo, 4 A BC AB
B =8 cm. De A
B =32, ou seja, 4 A B =3
definir o conceito de ponto médio de um segmento AB.
BC AB
B temos que A
A B =3.8=24cm.
É um conceito simples mas que tem aplicações úteis.

Definição 2: um triângulo ABC é chamado isósceles


Definição 1: chamamos ponto médio de AB o ponto
de base AB se possui os outros lados iguais, ou seja,
C que pertence ao segmento AB tal que AC = CB . Se
a e b são as coordenadas dos pontos A e B, então a AC = BC . Um triângulo ABC é dito equilátero se pos-
coordenada do ponto C é obtida por c = a + b . sui os três lados iguais.
2

Exemplo 5: considere os pontos A, B de coordenadas


a= -1 e b=2. O ponto médio de AB é o ponto C de
coordenada c = − 1 + 2 = 1 = 0,5 .
2 2

30 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Definição 3: consideremos um ponto O e um número Definição 4: um ângulo é uma figura plana formada por
real positivo r. O conjunto de todos os pontos do plano duas semirretas de mesma origem. As semirretas são os
que distam igualmente do ponto O é chamado de cir- lados do ângulo e a origem comum é o seu vértice.
cunferência de centro O e raio r. Na figura ao lado, temos o ângulo , formado
Pela definição dada, se P é um ponto qualquer dessa pelas semirretas . O vértice desse ângulo é
circunferência, temos d(O,P)=r.
o ponto A.

MATEMÁTICA
Os pontos cujas distâncias são menores que r são Neste texto utilizaremos três letras para representar
chamados pontos interiores da circunferência. um ângulo: duas delas representam pontos das se-
Na figura, A, B, C são pontos interiores da circunfe- mirretas que formam o ângulo e a terceira representa
rência de centro O e raio r. o vértice, que deve aparecer entre as outras duas,
acompanhada do acento circunflexo.

Exemplo 8: dados dois pontos A, B interiores a uma


circunferência de raio r, mostre que d(A, B) < 2r. Quando nenhum outro ângulo exibido tem o mesmo
vértice, pode-se utilizar apenas a letra designativa do
Solução: se A e B são pontos interiores a circunferên- vértice, acompanhada do acento circunflexo, para re-
cia de raio r então d(O, A) < r e d(O, B) < r. presentar o ângulo. Por exemplo, podemos escrever:
Como d(A, B) ≤ d(O, A) + d(O, B) temos ^ ^
d(A, B) ≤ d(O, A) + d(O, B) < r + r = 2r. CAB = A .
Definição 5: um ângulo formado por duas semirretas
distintas de uma mesma reta é chamado de ângulo
raso. Na figura abaixo, o ângulo é um ângulo raso.

Para a medida de ângulos usaremos o grau.


O instrumento adequado para medir ângulos é chamado de
3. Axiomas de Medição de Ângulos transferidor.
A seguir daremos uma definição de um novo ente Como ele é dividido em 180 partes, cada uma delas
geométrico, chamado ÂNGULO. Esse conceito, tanto corresponde a 1 grau.
quanto o de segmento, assume papel importante no Ângulos muito pequenos, ou ângulos de medida irracional,
cálculo de distâncias. não podem ser medidos concretamente com precisão. Por
isso, são aproximados por números fracionários.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 31


EAD 2009
MATEMÁTICA

http://pt.wikipedia.org/wiki/Transferidor Observação: por abuso de linguagem escrevemos


“um ângulo de 30º” ao invés de escrever “um ângulo

?
cuja medida é 30º”. Seguindo esta maneira informal
VOCÊ SABIA? de nos comunicar, é comum indicar um ângulo e a
sua medida
∧ por um mesmo símbolo. Assim, escre-
vemos A O B =| b − a | , tanto para ângulo como para
O grau é uma invenção dos babilônios que viveram na antiga sua medida.
Mesopotâmia no segundo e primeiro milênios antes de Cristo.
Os babilônios utilizavam um sistema de numeração sexagesimal
(base 60), e talvez por essa razão tenham dividido o círculo em Exemplo 9: utilizando um transferidor, determina-
360 partes iguais, chamando de grau a uma destas partes.
mos as medidas de alguns ângulos da figura acima:
Os três axiomas a seguir referem-se à possibilidade de medição
de (qualquer) ângulo e são análogos aos axiomas de medição e
de segmentos definidos anteriormente.

Axioma M4: todo ângulo tem uma medida maior ou


igual a zero. A medida de um ângulo é zero grau (0o)
quando ele é formado por duas semirretas coinciden-
tes. A medida de um ângulo raso é de 180 graus.

Definição 6: quando a medida de um ângulo é 90º,


dizemos que ele é um ângulo reto. Um ângulo cuja
medida é menor que 90º é chamado de ângulo agudo.
Se sua medida for maior que 90º ele é dito obtuso.

Exemplo 10: o ângulo B O D do exemplo anterior

Axioma M5: é possível colocar em correspondência mede 90º, logo, é um ângulo reto. O ângulo A O B
biunívoca os números reais entre 0 e 180 e as semir- é agudo, pois sua medida é menor que 90º .
retas de mesma origem que dividem um semi-plano. → → →
A diferença entre estes números será a medida do ân- Definição 7: sejam as semirretas OA , OB e OC de
gulo formado pelas semirretas correspondentes. mesma origem. Dizemos que divide o ângulo , se o
segmento AB interceptar.
De modo análogo ao que foi feito para medirmos
segmentos, se a e b são os números reais corres-
pondentes
∧ às semirretas , respectivamente, temos:
A O B =| b − a | .

32 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Definição 8: quando uma semirreta divide um ângulo 4. Tipos de Ângulos e Perpendicularidade


, os ângulos são chamados adjacentes. Ou seja, ân-
gulos adjacentes sempre têm uma semirreta em co-
mum, que no caso é a semirreta . Definição 9: dois ângulos são chamados complemen-
tares quando a soma de suas medidas é 90º. Quando
a soma de suas medidas é igual a eles são chamados

Axioma M6: Se uma semirreta O divide um ân- suplementares.

MATEMÁTICA
C
∧ ∧ ∧ ∧
gulo A O B então A O B = A O C + C O B . ∧ ∧
Exemplo 12: os ângulos E F G e C A B ao lado NÃO

são adjacentes,

mas são suplementares, pois E F G
+ C A B = 35º + 145º = 180º.

Definição 10: chamamos suplemento de um ângulo



A O B a um ângulo adjacente a ele e obtido pelo pro-
O axioma acima é análogo ao axioma M3, para me-
longamento de um dos seus lados.
dida de segmentos. Ele nos diz que se C é um ponto ∧ ∧
que fica no “interior do ângulo” então a medida desse Na figura abaixo, os ângulos BO C e D O A são
∧ ∧
ângulo é igual à soma das medidas dos ângulos A O C suplementos do ângulo A O B .

e C OB .

∧ ∧
Exemplo 11: dados os ângulos A O B =45º e B O D
=90º da figura acima, podemos determinar facilmen-
∧ ∧
te os ângulos A O D e C O A .

A semirreta divide o ângulo . Logo, pelo Observemos que um ângulo e o seu suplemento são
Axioma M6 temos que exemplos de ângulos suplementares, pois a soma de
suas medidas é igual a .


Como o ângulo C O D é um ângulo raso, ele mede Definição 11: dizemos que dois ângulos são opostos
pelos vértices se os lados de um são semirretas opos-
180º (Axioma M4). Logo, pelo Axioma M6 temos tas aos lados do outro.
∧ ∧
C O A + A O D = 180 o . ∧ ∧
∧ Na figura abaixo os ângulos A O D e B O C são
Como já calculamos A O D =135º, segue-se que opostos pelo vértice.

C O A =45º .

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 33


EAD 2009

A proposição a seguir nos dá a chamada existência


e unicidade da perpendicular, traçada por um ponto
desta reta.

Proposição 3: por um ponto qualquer de uma reta


passa uma única perpendicular a esta reta.
MATEMÁTICA

Prova: considere um ponto P situado na reta r. O Axio-


ma M5 garante uma correspondência biunívoca entre
Proposição 2: dois ângulos opostos pelo vértice têm as semirretas que passam pelo ponto P e os números
a mesma medida. reais entre 0 e 180.

∧ ∧
Prova: consideremos os ângulos A O D e B O C da
figura anterior. Observemos que o é suplemento des- Em particular, existe e é única a semirreta que faz ân-
ses dois ângulos. Daí temos que: gulo de 90o com a reta r.
Assim, a reta s que contém essa semirreta é uma reta
∧ ∧ perpendicular a r e passa pelo ponto P.
A O B + BO C = 180° 

∧ ∧ E aí pessoal, como vamos? Neste capítulo vimos


A O B + A O D = 180° 
mais um grupo de axiomas da Geometria Plana,
que são os seis Axiomas de Medição, para seg-
Comparando as duas equações  e  mentos e ângulos. Não deixe de reler com atenção
temos: os pontos que você teve dúvidas e contactar seu
∧ ∧ ∧ ∧
A O B + BO C = A O B + A O D , ou seja, Tutor para compartilhar seus questionamentos,
ok?
∧ ∧ Para completar nossos treze Axiomas faltam ape-
A O D = BO C . nas dois: o Axioma de Congruência LAL (lado ân-
gulo lado) e o famoso Axioma das Paralelas. Va-
Definição 12: duas retas são chamadas perpendicula- mos até eles?
res quando se interceptam formando um ângulo reto.

34 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

SUGESTOES DE ATIVIDADES 4) Se P é um ponto de interseção entre duas circunfe-


rências de mesmo raio r, mostre que PA = P B

Axiomas de Medição de Segmentos


1) Localizando pontos: Os pontos A e B estão locali-
zados na escala abaixo. Qual número corresponde

MATEMÁTICA
ao ponto P?

2) Quantos triângulos existem cujos lados a, b, c são 5) Use o exercício anterior para dar uma maneira de
números inteiros e o perímetro é 12? Será que com construir triângulos isósceles de base AB.
c=7, a=3, b=2 você forma um triângulo?
Axiomas de Medição de Ângulos
Todos sabemos sobre as subdivisões da hora em mi-
nutos e segundos: uma hora tem 60 minutos e um
minuto tem 60 segundos. Logo, uma hora tem 3.600
segundos. A conversão de uma certa hora em minu-
tos e segundos se faz usando essas definições. Por
exemplo, duas aulas de Matemática, cada uma de 50
minutos, totalizam 100 minutos. Logo, duas aulas du-
Dica: um lado de um triângulo é sempre menor que ram 100min = 60 min+40min = 1h:40min . Outro
a soma dos outros dois. Logo, você pode supor que exemplo: 12,5 h = 12h:30min
c < a + b.
6) De modo análogo para o que se faz com as horas,
E aí pessoal, como vamos? Neste capítulo vimos para medição de ângulos é necessário subdividir o
mais um grupo de axiomas da Geometria Plana, que grau. Essas subdivisões também são chamadas de
são os seis Axiomas de Medição, para segmentos e “minutos” e “segundos”. Um grau tem 60 minutos e
ângulos. Não deixe de reler com atenção os pontos um minuto tem 60 segundos. O ângulo 35º 20´45´´
que você teve dúvidas e contactar seu Tutor para é um exemplo dessa representação. Com essas
compartilhar seus questionamentos, ok? informações, dê o correspondente em graus de:
Para completar nossos treze Axiomas faltam ape- a) 18º 30´ b) 45º 120´ c) 60º 15´ d) 24º 40´30´´
nas dois: o Axioma de Congruência LAL (lado ân-
gulo lado) e o famoso Axioma das Paralelas. Vamos
7) Dê o correspondente em graus, minutos e segundos
até eles?
dos seguintes ângulos:
a) 120,5º b)25,4º c) 30,25º d)35,75º
3) Arquimedes comprou um queijo tipo “brie”, cuja
face tem forma de um triângulo eqüilátero, e quer 8) Quando os ponteiros de um relógio marcam 3 horas,
dividi-lo igualmente entre ele e seus dois amigos. o ângulo formado por eles é de 90º . Às 3h:30´ o
Faça um desenho indicando como ele deve fazer ângulo não é mais 90º , por quê? Qual será esse
essa divisão. ângulo?

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 35


EAD 2009

9) Determine o (menor) ângulo entre os ponteiros de


um relógio, nas seguintes horas. Justifique sua
resposta.
a) 8 h b) 1 h c)1h:20min d) 6h:45min

10) Dê exemplo, se possível, de dois ângulos:


MATEMÁTICA

a) consecutivos que não são adjacentes;


b) adjacentes que não são consecutivos;
c) complementares, mas não adjacentes;
d) adjacentes e também complementares;
e) suplementares de mesma medida;
f) opostos pelo vértice com medidas diferentes.

Obs: ângulos consecutivos são aqueles que possuem


um lado comum.

11) Dado um segmento AB, definimos a mediatriz do


segmento AB como sendo a reta que passa pelo
ponto médio desse segmento e é perpendicular a
este segmento. Faça uma pesquisa sobre a “cons-
trução da mediatriz” de um segmento.


12) Dado um ângulo B A C como na ∧
figura abaixo,
definimos a bissetriz do ângulo B A C como sendo
a reta que passa pelo ponto A e divide este ângulo
em duas partes iguais. Faça uma pesquisa sobre
a “construção da bissetriz” de um ângulo.

36 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Capítulo 4. A Noção de Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-294-


X2003000200016&script=sci_arttext
Igualdade em Geometria

Olá pessoal, vamos viajar por mais um capítulo do


nosso curso de Geometria. Nele vamos trabalhar

MATEMÁTICA
com o conceito de “congruência”. Este conceito
é análogo ao conceito de “igualdade” entre núme-
ros reais e também ao conceito de “equivalência”
entre proposições, em Lógica. Logo em seguida
estabeleceremos os três casos de congruência de
triângulos, e daremos algumas aplicações. Leia
com atenção, como sempre, com papel e lápis
para fazer cálculos e desenhos. Quando tiver algu-
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:CottageLandscape1.JPG
ma dúvida, anote, e não hesite em perguntar a um
colega, seu tutor, ou professor.

1. Qual o Significado da Palavra Congruência?


Quando buscamos em um dicionário a palavra
“congruência” e “congruente” encontramos seus sig-
nificados, veja a seguir:

?? SAIBA MAIS
?
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:200606081025.jpg
Congruência (do latim, congruentia):
1 Ato ou efeito de concordar, de coincidir.
2 Relação direta de uma coisa ou fato com o fim que se destina. Na área do Direito encontramos a expressão “prin-
cípio da congruência no Direito Processual Civil”, que
Congruente: tem a intenção de ajudar os profissionais a encaminhar
1 Que está harmoniosamente unido ou relacionado com. os pedidos judiciais de forma criteriosa e harmonizada
2 Concordante, correspondente.
3 Diz-se de duas figuras que podem coincidir por super-
com os fatos ocorridos, evitando assim as chamadas
posição. incongruências das sentenças.

O interessante é que este termo aparece em várias


áreas. Em Psicologia encontramos a palavra congru-
ência associada com integração ao meio ambiente.
Por exemplo, Gabriel Moser, da Université René
Descartes-Paris V, França no seu artigo “Examinando
a congruência pessoa-ambiente: o principal desafio
para a Psicologia Ambiental”, afirma:
“Buscar as condições de congruência entre indiví-
duo e ambiente é uma tarefa integrada para a Psicologia
Ambiental. A congruência pessoa-ambiente significa
bem-estar e qualidade de vida, que são cada vez mais http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tribunal_de_la_
desafiados pelos processos de globalização”. Inquisici%C3%B3n.jpg

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 37


EAD 2009

Até nas relações familiares encontramos a palavra rente, mas mesmo assim dizemos que são A e B iguais,
congruência, veja: escrevendo portanto A=B.
Mais dois exemplos, agora em Lógica:

1) As sentenças declarativas P: “se um triângulo é eqüi-


látero então ele é isósceles” e Q: “se um triângulo
MATEMÁTICA

não é isósceles então ele não é eqüilátero” não estão


escritas com as mesmas palavras, mas são ditas
equivalentes, simbolizado por P ⇔ Q.
2) As sentenças “x não é um no par” e “x é um no
ímpar” não são iguais, mas são ditas equivalentes,
e escrevemos “x não é um no par” ⇔ x é um no
Foto em julho 2007 - Dijon ímpar”
Fonte: w ww.portaldafamilia.org.br/artigos/artigo589.shtml

“Em família, a congruência pressupõe que os cônju- Em Geometria a situação é inteiramente análoga.
ges, em cada um de seus atos, têm em conta a pre- Por exemplo: um engenheiro deseja construir um
servação dos valores fundamentais do matrimônio. A apartamento com uma sala que possua duas paredes
sinceridade é um dos alicerces da congruência, mas de mesmo comprimento. O desenhista representa es-
não é o único”. tas paredes, na planta baixa do apartamento, através
de dois segmentos que possuem a mesma medida. É
muito comum ouvirmos dizer que “as paredes AB e CD
2. E em Matemática, o Que Significa Congru- são iguais”, embora elas ocupem posições diferentes
ência? na casa.

Observe inicialmente os seguintes exemplos sobre


a noção de “igualdade”, que já são conhecidos am-
plamente:
• No estudo dos Números temos que 5 = 6 − 1 ;
6−2
1=
1+3
; , etc.
• Em Conjuntos sabemos que A = {1, 2, 4, 5, 6} e
B= {4, 5, 2, 1, 6} são iguais, pois eles possuem Como estas linhas, que representam as paredes,
os mesmos elementos. não são de fato iguais, diremos com mais precisão
• Já em Lógica é um fato que “p → q” ⇔ “~q → que estas paredes são “congruentes”, por terem o
~p”, ou seja, a condicional p → q é equivalente mesmo comprimento.
a sua contrapositiva “~q → ~p ” . Por exemplo,
dizer que “se ele é baiano então ele é brasileiro” é Resumindo: em geometria, a palavra congruência
equivalente a dizer que “se ele não é brasileiro então quer exprimir uma certa noção de igualdade, embora
ele não é baiano”. os objetos que estejam sendo comparados não sejam
iguais. Eles são semelhantes, parecidos, e como se
Em todas essas situações vemos uma noção de diz comumente, esses objetos “podem coincidir por
“igualdade”, ou “equivalência” entre objetos em estudo. superposição”. Como foi visto acima, duas paredes
No caso dos conjuntos, temos que os números 5 e 6-1 AB e BC, ambas com 3 metros de comprimento não
não estão escritos da mesma forma, mas dizemos que são iguais, mas “podem coincidir por superposição”.
estas representações são iguais, escrevendo 2=3-1.
Os conjuntos A = {1, 2, 4, 5, 6} e B= {4, 5, 2, 1,6}, Vejamos então a definição matemática de “congru-
acima referidos, estão também escritos de forma dife- ência” para segmentos.

38 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

3. Congruência de Segmentos

Definição 1. Dizemos que dois segmentos AB


e CD são congruentes se possuem a mesma
∧ ∧
medida. De modo análogo, dois ângulos A e B
são congruentes se suas medidas são iguais.

MATEMÁTICA
Os triângulos isósceles possuem propriedades
Usaremos o símbolo “ ≡ ” para significar “congruen-
interessantes, e que são comumente utilizadas na
te”. Assim, se AB é congruente a CD, escrevemos:
resolução de problemas geométricos. Veremos mais
.
tarde essas aplicações.

Exemplo 2: nas figuras abaixo, vemos um observador


AD olhando outra pessoa que sobe em um elevador
BC, na posição E. Enquanto essa pessoa está subin-
do, o ângulo de observação aumenta. Quando E=C
temos um ângulo de 30º.
Nesta figura, vemos 3 segmentos congruentes, ∧
pois possuem a mesma medida. Quando o ponto E varia, todos esses ângulos E D F não
são congruentes, pois possuem medidas diferentes.

Nesta figura, vemos 2 ângulos congruentes,


pois possuem a mesma medida.
ângulo de observação 18º
Com a noção de congruência de segmentos pode-
mos classificar os tipos de triângulos, de acordo com
as medidas dos seus lados.

Definição 2: considere ABC um triângulo do plano.


Temos que:
• ABC é isósceles se possui dois lados congruentes;
• ABC é equilátero se possui os três lados con- ângulo de observação 30º
gruentes;
• ABC é escaleno se possui todos os lados não
?? SAIBA MAIS
congruentes. ?
Exemplo 1: pela nossa definição, todo triângulo equi- Alguns textos de Geometria simplificam a notação “ ” de
látero é também isósceles. Na figura abaixo, vemos congruência, e escrevem “=”, dizendo, por exemplo, que os
um triângulo ABC isósceles, mas não equilátero. O lados de um triângulo equilátero são “iguais” ou também que
lado AB é chamado de base do triângulo e AC e BC “um triângulo é isósceles quando tem dois lados iguais”. Isto é
o que chamamos de “abuso de linguagem”, e apesar de não ser
são as laterais. a linguagem mais apropriada, não há grande erro nisso, desde
que o contexto esteja esclarecido.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 39


EAD 2009

4. Congruência de Triângulos congruentes, pois devemos verificar 06 congruências:


três para os lados e mais três para os ângulos.
Definição 3. Dois triângulos são chamados congruen-
tes se for possível estabelecer uma correspondência Para simplificar este trabalho, os matemáticos enun-
biunívoca entre seus vértices de modo que lados e ân- ciaram os chamados “casos de congruência”, que
gulos correspondentes sejam congruentes. reduz para três as congruências a serem verificadas.
Apenas um deles é dado na forma de axioma, ou seja,
Na figura abaixo, a correspondência
MATEMÁTICA

não pode ser demonstrado. É uma regra intuitiva da


A ↔ D , B ↔ E e C ↔ F é tal que: nossa Geometria Plana.
(i)
( ii ) Axioma C (Caso LAL de congruência): ∧ ∧ considere
dois triângulos ABC e EFG. Se ABEF, A ≡ E , e ACEG
então ∆ ABC ≡ ∆ DEF .

Escreveremos para significar que os triângulos ABC e


DEF são congruentes.

 Não há nenhum problema aceitarmos mais


Exemplo 3: os triângulos ABC e DEF da figura são esta “regra da Geometria”, ou seja, o Axioma LAL
congruentes. No caso, a correspondência entre eles é (lado, ângulo, lado). Ele é bastante natural e nos
dada por uma translação de vetor v. diz que se quisermos construir dos triângulos ABC
e EFG com 2 lados iguais e ângulos corresponden-
tes a esses lados também iguais, então os triân-
gulos formados são congruentes. Veja o exemplo
a seguir:

Exemplo 4: consideremos dois segmentos AB e AC,


fazendo um ângulo α entre si. Reproduzimos esta si-
tuação, criando novos segmentos EF ≡ AB EG ≡ AC e
• Ao vértice A, fazemos corresponder o vértice D; fazendo um ângulo β ≡ α.
• Ao vértice B, fazemos corresponder o vértice E;
• Ao vértice C, fazemos corresponder o vértice F;
Daí, .
O mesmo ocorre com os ângulos, ou seja:
∧ ∧ ∧ ∧ ∧ ∧
A ≡ D,B ≡ E e C ≡ F

5. Os Casos de Congruência de Triângulos


Pelo que vimos na definição de congruência de triân-
gulos, fica trabalhoso verificar que dois triângulos são

40 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Veja na figura as construções dos segmentos AB,


AC, EF e EG e os ângulos congruentes α e β.
Quando ligarmos o ponto B ao ponto C, teremos um
triângulo ABC.
Quando ligarmos o ponto F ao ponto G, teremos um
triângulo EFG.

MATEMÁTICA
Nosso axioma LAL nos diz que os triângulos ABC
e EFG podem ser superpostos, ou seja, são triângulos
congruentes.

O lado AB é congruente ao lado EF

Mais uma vez temos um resultado intuitivo, ou seja,


de fácil compreensão.

Como dissemos, os triângulos ABC e EFG são Quando construímos dois segmentos AB e
congruentes. Veja por exemplo os lados BC e FG, que EF congruentes e ângulos α = δ , β = γ em cada um
possuem a mesma medida. desses segmentos, ficamos com a situação abaixo:

?? SAIBA MAIS
?
Gostaríamos de deixar claro que a regra LAL não pode
ser demonstrada com o uso dos axiomas anteriores e
por isso deve ser listada como um novo Axioma. Como
já dissemos anteriormente, isto se constitui em um bom
exemplo de “frutificação” da teoria, com propriedades
novas surgindo a partir dos dados iniciais
Daí, com a situação ÂNGULO, LADO, ÂNGULO sa-
tisfeita, temos que os triângulos ABC e EFG formados
pelos prolongamentos dos lados desses ângulos ocu-
pam apenas lugares diferentes no plano, mas podem
A partir do Axioma C de congruência podemos ser “superpostos” um no outro. Em outras palavras,
demonstrar várias outras propriedades geométricas. esses triângulos são congruentes.
Enunciaremos a seguir algumas dessas propriedades,
sob a forma de Teoremas e Proposições. Demonstração: sejam ABC e EFG dois triângulos que
satisfaçam as hipóteses , ABEF e. Vamos mostrar que
Teorema 1 (Caso ALA de congruência): Sejam ABC AC EG. Dessa forma caímos no caso LAL de congru-
e EFG dois triângulos. Se , ABEF e , então estes triân- ência e assim podemos concluir que ∆ABC ∆EFG
gulos são congruentes.
Consideremos um ponto D (chamado ponto auxiliar)
pertencente à semirreta tal que EDAC.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 41


EAD 2009

A recíproca da Proposição1 também é verdadeira e


será enunciada na proposição seguinte.

Proposição 2: se um triângulo possui dois ângulos


congruentes então ele é isósceles.
Demonstração: seja ABC um triângulo tal que . De
MATEMÁTICA

Comparando os triângulos ABC e EFD temos: modo análogo a demonstração anterior, comparemos
o triângulo ABC com ele próprio, através da corres-
pondência:

Daí, temos que: (olhe a figura!)

Como, por hipótese, , podemos concluir que.


Assim,

Assim, os segmentos FD e FG coincidem e, conse-


qüentemente, temos D = G.
Finalmente, como AC = EG, e BC=FG, o Axioma
LAL nos diz que ∆ABC ∆ EFG.

Proposição 1: se um triângulo é isósceles então os Daí, ACAB e portanto ∆ ABC é isósceles.


ângulos da base são congruentes. Resumindo: as Proposições 1 e 2 nos permitem afir-
mar que…

“Um triângulo é isósceles se e somente se possui


dois ângulos congruentes”.

6. Bissetriz, Mediana e Altura de um Triângulo


Definição 4: seja um triângulo ABC e D um ponto da
reta BC. O segmento AD é chamado de:
Demonstração: seja ABC um triângulo isósceles de (i) bissetriz do triângulo ABC, relativa ao vértice A, se
base BC, e comparemos o triângulo ABC com ele pró- ∧ ∧
prio, através da correspondência . C A D ≡ B A D.

Assim,

Podemos concluir então que .

42 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

(ii) mediana do triângulo ABC, relativa ao lado


BC, se D é ponto médio de BC.
? VOCÊ SABIA?

Vocês já notaram que a maioria dos portões


retangulares, de sítios e fazendas, possui um travessão
na diagonal? Qual será a função desse travessão?

MATEMÁTICA
Será somente por estética?

(iii) altura do triângulo ABC,relativa ao lado BC, se AD é


perpendicular à reta definida pelos pontos B e C.

Esta explicação você encontrará após o Teorema 2,


abaixo.

Teorema 2: (Caso LLL de congruência) Se dois tri-


Proposição 3: em um triângulo isósceles a mediana ângulos têm três lados correspondentes congruentes
relativa à base é também bissetriz e altura. então eles são congruentes.

Demonstração: considere um ∆ABC isósceles de


base AB. Seja CD a mediana relativa ao lado AB. Va-
mos mostrar que CD também é a bissetriz e a altura
desse triângulo.

De fato, como α=β e AD=BD, vemos na 1ª figura


abaixo que ∆ADC∆BDC, pelo caso LAL.
Por essa congruência temos que δ = γ, ou seja, CD é
Demonstração:
bissetriz do ângulo C.
Sejam ABC e EFG dois triângulos tais que: ABEF, ACEG
Falta mostrar que CD é também altura. Não é uma ta- e BCFG.
refa difícil, veja:
^ ^
No semiplano determinado por reta AB e que não con-
Temos da congruência acima que ADC = BDC (veja a tém o ponto C, consideremos a semirreta , tal que e
2ª figura). ADEG. Nestas condições temos que ∆ EFG ∆ ABD(
^ ^ ^ axioma IV ). Daí, ADEG e BDFG.
Como A D C + B D C = 180O temos 2 A D C = 180O , ou
seja, A D^ C = 9090º,
O como queríamos demonstrar.

Conseqüentemente ADAC e BDBC e assim, os triângu-


los CAD e CBD são isósceles de base CD.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 43


EAD 2009

Aplicando a Proposição 1 para os triângulos CAD e 7. SUGESTÕES DE ATIVIDADES


CBD, obtemos: .
1) Tome um segmento AB e trace a mediatriz desse
Então: segmento, (ou seja, a reta perpendicular a este
segmento e que passa pelo seu ponto médio M).
.
Tomando qualquer ponto P nessa mediatriz, mostre
MATEMÁTICA

Observemos agora os triângulos ABC e ABD: que os segmentos AP e BP são congruentes.

Solução: a 1ª figura mostra exemplos do que afirmamos


acima. Precisamos fazer o caso geral. Veja abaixo:

Mas como o triângulo ABD foi construído congruente Os triângulos PMA e PMB da 2ª figura são congruen-
com o triângulo EFG, podemos concluir que ∆ ABC∆ tes, pelo caso LAL (PM é um lado comum, os ângulos
EFG. formados pela mediatriz e o lado AB medem 90º e MA
Vamos agora explicar o porquê da cancela das fa- =MB). Logo, AP=BP.
zendas terem uma travessa de madeira na sua diagonal, Observe que o exercício acima dá uma maneira de
para sua estabilidade. construirmos triângulos isósceles de base AB. Basta
tomar a reta mediatriz de AB e um ponto qualquer C
dessa mediatriz. Pelo que vimos, o triangulo ABC é
isósceles de base AB.

O exercício abaixo dá uma maneira de construir-


mos a mediatriz de um segmento AB e, conse-
quentemente, de obtermos triângulos isósceles a
partir desse segmento.
Se você tem uma figura triangular, feita com 3 peda-
ços de madeira e três pregos, ela não se deforma (tente
construí-la com pauzinhos de picolé, por exemplo). 2) Tome um segmento AB e trace dois arcos de cir-
Isto é conseqüência do nosso caso de congruência cunferências: um de centro no ponto A e raio AB e
LLL, que nos diz que dois triângulos com lados res- outro de centro em B e mesmo raio BA.
pectivamente iguais são congruentes, ou seja, se os Essas duas circunferências se intersectam em dois
lados são iguais, os ângulos respectivos serão também pontos E, F.
os mesmos.
Demonstre que a reta que passa por E e F é a me-
Conseqüentemente, não é possível uma deformação diatriz desse segmento.
do triângulo original, pois isso alteraria os ângulos da
figura. Por isso, o travessão na diagonal é que vem dar
a rigidez da cancela das fazendas e sítios!

44 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

MATEMÁTICA
Solução: Coloque os 3 pontos A, B, C na figura e pense
primeiro que o ponto D deve estar equidistante de A e B.
Logo deve pertencer à mediatriz do segmento AB. Pela
Solução: trace a reta EG e os segmentos AE, BE, AF, e mesma razão, o ponto D deve estar equidistante de A e
BF. Vamos demonstrar que o ponto G é ponto médio C, logo, deve pertencer à mediatriz do segmento AC.
do segmento AB e ainda que a reta EG é perpendicular Conclusão: a antena deve ser colocada na interseção
a esse segmento. das mediatrizes dos segmentos AB e AC, como na fi-
gura abaixo.
Pela nossa construção, AEBEAFBFAB. Logo os triân-
gulos ABE e ABF são congruentes, pelo caso LLL.

Analogamente, os triângulos AEF e BEF são con-


gruentes, pelo caso LAL.

E aí, viram que capítulo cheio de novidades? Nele estudamos o


significado da palavra “congruência” e o conceito de congruência
em Geometria, tanto para segmentos, quanto para ângulos e
triângulos. Vimos que o caso LAL de congruência é um Axioma,
mas os casos ALA e LLL são demonstrados a partir dele.
Vimos os conceitos de altura, mediatriz e mediana de um
triângulo, e aplicações do conceito de congruência até no
nosso dia a dia.
Segue daí que os ângulos AEG e BEG são iguais. Isto Não esqueça: é importante ler e reler os trechos que você achar
significa que a linha EG é a bissetriz do triângulo ABE. mais difíceis, e não hesite em perguntar aos seus colegas,
tutores ou professores.
Como ABE é triângulo isósceles, pela Proposição 3,
essa bissetriz também é a altura desse triângulo.
Sobre triângulos:
Isso mostra que G é o ponto médio de AB e também
http://www.youtube.com/watch?v=EbcE1Av3XJU
que a reta EF é perpendicular a este segmento.
http://www.youtube.com/watch?v=y_7YTI0agi4
3) Três cidades A, B e C desejam compartilhar a insta- http://www.youtube.com/watch?v=LwmybBPYOnI
lação de uma antena de transmissão para aparelhos http://www.youtube.com/watch?v=gv4y80dJQuw
celulares. Pelo acordo firmado, esta antena deverá
estar a uma mesma distância de cada uma das Sobre congruência:
cidades. Como fazer para achar o ponto adequado
http://www.youtube.com/watch?v=y_PGAjna10I
para a instalação?
http://www.youtube.com/watch?v=7SIfXEqB2Xk
http://www.youtube.com/watch?v=U1cf5XMTZ_M

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 45


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Capítulo 5 - Preparando para o 2. O Teorema do Ângulo Externo


Axioma das Paralelas E aí, estamos prontos para ver o Teorema do Ângulo
Externo? A sua conclusão é muito simples e intuitiva,
inclusive muitos utilizam este fato sem saberem que se
Olá pessoal, tudo bem? Neste capítulo daremos trata de um teorema relevante para a Geometria Plana.
destaque a um teorema que ocupa um lugar de Vamos lá!
MATEMÁTICA

relevo na Geometria de Euclides e é conhecido


como Teorema do Ângulo Externo. Ele nos dará
um grande leque de conseqUências importantes,
Teorema 1 (do Ângulo Externo): todo ângulo ex-
como o que garante a existência de uma reta
terno de um triângulo mede mais do que qualquer
paralela por um ponto dado, que não pertence a
dos ângulos internos a ele não adjacentes.
essa reta. Outra grande importância do Teorema
do Ângulo Externo é que servirá para preparar as
bases para o célebre Axioma das Paralelas, como
veremos no capítulo seguinte. Antes de ler a demonstração, veja a 1ª figura abaixo.
Ela mostra um triângulo ABC e um ângulo externo de
151º. Note que a medida desse ângulo é maior do que
1. Ângulos de um Triângulo as medidas dos ângulos internos, de 53.4º e 97.6º ,
Iniciaremos com uma definição, de ângulo externo como diz o nosso teorema.
de um triângulo:

Definição 1: dado

um triângulo

ABC como da figura, os

ângulos α = C A B , β = A B C , γ = B C A são chamados
de ângulos internos. Os suplementares destes ângu-
los são chamados de ângulos externos do triângulo.

Na figura a seguir, θ = C BD é um dos ângulos ex- Na 2ª figura, movemos o ponto C e reduzimos o valor
ternos do triângulo ABC, pois é suplementar adjacente do ângulo externo, no caso para 70º. Mas os ângulos

do ângulo β = A BC . internos não adjacentes também ficam reduzidos para
19.3º e 50.7º, sendo menores que a medida do ângulo
externo.

Demonstração do Teorema:

Hipótese: C B D é um ângulo externo do ∆ ABC
∧ ∧ ∧ ∧
Note que para obter um ângulo externo de um dado Tese: C B D > A e C B D > C

ângulo, devemos prolongar um dos seus lados e con- Seja ∆ ABC um triângulo. Na semirreta A BB , mar-
siderar o suplementar dele. quemos um ponto D tal que B esteja entre A e∧D, como

No exemplo abaixo, fizemos o prolongamento do na figura a seguir. Devemos mostrar que C B D > A
lado AC e obtivemos o ângulo externo δ, suplementar ∧ ∧
e CBD > C .
adjacente do ângulo γ.

∧ ∧
Começaremos mostrando que C B D > C .

Para isso, consideremos o ponto médio E do seg-


mento BC. Dessa forma, CE = EB.

46 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

∧ ∧ ∧ ∧ ∧ ∧
B+ A< B+ θ e B+ C < B+ θ

Como B +θ =, podemos concluir que:
∧ ∧ ∧ ∧
A + B < 180o e C + B < 180o , como queríamos
demonstrar.

MATEMÁTICA

BE marquemos um ponto F tal
Na semirreta A
que AE EF. ?? SAIBA MAIS
Comparando os triângulos ∆ ACE e ∆ BEF abaixo,
?
temos:
Nas chamadas “geometrias não euclidianas” os
triângulos têm propriedades diferentes. Por exem-
plo, na Geometria Hiperbólica a soma dos três ân-
gulos de um triângulo é sempre menor que 180º .

Continuando nossa demonstração: usando


o ângulo externo do vértice C, provamos de
maneira análoga que α+ γ <180o.

Veja abaixo a demonstração:


∧ ∧
Consequentemente C = E BF ∧
. Como

a semirreta Pelo Teorema do Ângulo Externo, temos α < δ. Logo,

divide o ângulo C BD , então C B D > E B F . Portanto somando γ a ambos os membros temos α < δ ⇒
∧ ∧
C BD > C . α+γ<δ+γ.
∧ ∧
De maneira análoga, podemos mostrar que C BD > A .
Como δ + γ = 180º temos α + γ < 180º, c.q.d.

Proposição 1: a soma das medidas de quaisquer


dois ângulos internos de um triângulo é menor
que 180º.

Prova: pelo Teorema do Ângulo Externo temos:


? VOCÊ SABIA?
∧ ∧
A < θ e C < θ. Voce sabia que não é possível construir um
∧ triângulo um ângulo interno de 95º e outro de
Somando B nas desigualdades acima, obtemos: 98º? Veja a seguir.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 47


EAD 2009

Pela Proposição 1 acima, a soma dois ângulos


internos de um triângulo qualquer não pode ser maior
que 180º, e neste caso temos 95º + 98º = 193º, que
é uma contradição.
MATEMÁTICA

Suponhamos que m e n não sejam paralelas. Logo,


prolongando estas retas, devemos encontrar um ponto
Este exercício pode ser generalizado no seguinte de interseção, que chamamos de C.
corolário.
Ora, o triângulo ABC assim formado
∧ ∧
tem ângulos
∧ ∧
0 ° Consequentemente A + B = 180° , o que
A = B = 90º.
9
Corolário: todo triângulo possui pelo menos dois
ângulos internos agudos. Ou seja, um triângulo contraria nossa Proposição 1. Logo as retas m e n têm
possui no máximo um ângulo obtuso. que ser paralelas.

3. Conseqüências do Teorema do Ângulo Ex-


Prova: suponhamos que dois ângulos α e β do triân-
terno
gulo ABC são obtusos, ou seja, α ≥ 9 0 °eβ≥9 0 °.
Daí, α + β ≥ 180° , o que contradiz a Proposição 1. A Proposição que enunciamos a seguir é conhecida
A Proposição 1 acima é na realidade uma conse- como o 4º caso de congruência: Ângulo, Lado, Ângulo
quência do Teorema 1, e poderíamos chamá-la de oposto (A L Ao).
“corolário”.
Proposição 3 (Caso ALAo de congruên-
O resultado enunciado a seguir é também corolário cia): Sejam ∆ABC e ∆EFG dois triângulos. Se
da Proposição 1, e consequentemente do Teorema do então esses triân-
Ângulo Externo. gulos são congruentes.

Proposição 2: Se duas retas distintas m e n são


perpendiculares a uma reta r, então elas são pa-
ralelas.

Prova: veja na figura a seguir duas retas m, n perpen-


diculares a uma outra reta.
Chame de A e B as interseções dessas retas com
a reta r.
Prova: sejam ∆ABC e ∆EFG dois triângulos que satis-
Só existem duas possibilidades excludentes, isto é, façam as hipóteses. Consideremos um ponto D per-
apenas uma delas é verdadeira: tencente à semirreta , tal que ED e EG não são con-
• As retas m e n são paralelas gruentes e EDAC.
• As retas m e n não são paralelas.

48 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Proposição 5: se dois ângulos de um triângulo


não são congruentes, então os lados opostos têm
medidas diferentes. Além disso, o maior lado é
(aquele que) se opõe ao maior ângulo.

Enunciaremos a seguir uma propriedade muito co-

MATEMÁTICA
nhecida dos triângulos, e que é também consequência
do Teorema do Ângulo Externo:
Comparando os triângulos ABC e EFD, temos:
Proposição 6: (desigualdade triangular) Em todo
triângulo, a soma dos comprimentos de dois la-
dos quaisquer é maior do que o comprimento do
terceiro lado.

A figura abaixo ilustra o nosso resultado: se ca-


Assim, . Como por hipótese ,
minharmos diretamente de A até B percorremos uma
temos que . distância menor do que indo do ponto A até C e depois
Mas este fato contradiz o teorema do ângulo externo, de C até o ponto B. No exemplo, temos 6,6 + 2,8 =

pois E D F é um ângulo externo do triângulo ∆ DFG não 9,4 > 7,5
adjacente ao ângulo interno .

Daí, e logo os pontos D e G coincidem.


Podemos concluir então que .

As Proposições 4 e 5 a seguir nos dizem que em um


triângulo ABC, o maior lado opõe-se ao maior ângulo
e reciprocamente, ou seja, o maior ângulo opõe-se ao
maior lado.
Demonstração: vamos mostrar inicialmente que
Proposição 4: se dois lados de um triângulo não AB + BC > AC .
são congruentes, então seus ângulos opostos não
são congruentes. Além disso, o maior ângulo é Consideremos um triângulo ABC como na figura abai-
oposto ao maior lado. xo. Marque na semirreta um ponto D tal que e B esteja
entre A e D.
Não apresentaremos as demonstrações desses resulta-
dos, que podem ser encontradas em outros textos de Geo- Assim, o triângulo BCD é isósceles, de base DC. Logo,
metria, como o do Prof. João Lucas Barbosa, da SBM. temos:
∧ ∧ ∧ ∧
A CD > B CD ≡ BD C ≡ A D C

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EAD 2009

α é ângulo externo e o ângulo β é um ângulo interno


não adjacente ao ângulo α.

Assim, pelo Teorema do Angulo externo teríamos α ≠


β, o que contradiz nossa hipótese. Portanto m e n são
paralelas.
MATEMÁTICA

∧ ∧
Agora, vejamos o triângulo ACD. Como A C D > A D C
e tendo em vista a Proposição 4,
concluímos que .

Por outro lado, .


Substituindo na desigualdade anterior por ,
temos finalmente que .
4. Aplicações
De maneira análoga podemos mostrar que 1) João construiu em sua escola um triângulo ABC e
. fez algumas medições, mas sua professora disse
que havia algo errado. Qual foi o engano de João?
A seguinte proposição (e última desse capítulo) se re-
fere aos chamados “ângulos correspondentes”. Eles
são determinados por duas retas paralelas, quando
cortadas por uma reta transversal.

Proposição 7: sejam m e n duas retas cortadas


por uma transversal t . Sejam α e β os ângulos
correspondentes como os da figura a seguir. Se α
Solução: a professora comentou: “Caro João, leia o
= β então as retas m e n são paralelas.
enunciado do Teorema do Ângulo Externo que você
verá facilmente seu engano”. Como pode o ângulo
externo do vértice B medir 62.7º , menos do que o

ângulo C =63.1º ??

2) De outra vez, outro aluno construiu outro triângulo.


Mediu os lados, os ângulos, mas cometeu outro
engano. Qual terá sido?

Dado inicial: m, n são retas cortadas por transversal t.


Hipótese: α = β.
Tese: m é paralela a n.

Prova: Suponhamos que as retas m e n não sejam pa-


ralelas. Então elas se intersectariam em um ponto P.
Neste caso formaríamos um triângulo onde o ângulo

50 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Solução: leia as Proposições 4 e 5 do texto e veja que


há problemas com o “maior lado” e o “maior ângulo”.
Por exemplo, o lado maior AC mede 10 cm, mas o
ângulo oposto β não é o maior ângulo!

3) Na figura abaixo o ponto D foi escolhido no segmen-

MATEMÁTICA
to BC de modo que AD ≡ AB. Com isso, mostre
que o ângulo α é maior que o ângulo β.

Solução:
Note que o ângulo γ é oposto pelo vértice do ângulo
β, logo, β=γ. 

Como α e β são correspondentes, temos α = β 


Conclusão: De  e  temos α = γ.

Solução: como AD ≡ AB, o triângulo ABD é isósceles


de base BD. Logo, os ângulos β e γ são iguais.

Pelo Teorema do Ângulo Externo, temos que α > γ .


Como γ = β temos α > β.

4) Ângulos alternos internos:


Na figura temos dois ângulos α e γ entre duas retas
paralelas m, n, chamados de alternos internos.
Mostre que nessas condições, os ângulos α e γ são
congruentes.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 51


EAD 2009

E então, aprendemos mais um pouco neste capítu-


SUGESTÃO DE ATIVIDADE lo? Nele estudamos o Teorema do Ângulo Externo
e suas várias consequências.
No final apresentamos a Proposição 7, que diz que
se os ângulos correspondentes de duas retas são
Descobrindo os enganos: na figura abaixo, foram marcadas
congruentes, então essas retas são paralelas.
MATEMÁTICA

várias medidas de segmentos e de ângulos, mas o desenhista


cometeu 7 erros. Vamos ajudar a descobri-los? A recíproca dessa proposição vai depender do
estabelecimento do Axioma das Paralelas, que é
assunto de nossa próxima viagem. Até lá!

Solução:
1º erro: veja o ponto A. Os ângulos opostos pelo vértice em
A não possuem a mesma medida.
2º erro: no ponto F temos dois ângulos, um de 100º e outro
de 110º . Como eles são suplementares, a soma deveria
dar 180º , o que não é verdade.
3º erro: o triângulo I J L é isósceles, pois possui 2 ângulos de
30º , mas as medidas dos lados não são iguais, o que não
está certo.
Descubra os demais erros!

INDICAÇÃO DE LEITURA

Temas do capítulo.
http://www.somatematica.com.br/

Ângulos de triângulos.
h ttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tri%C3%A2ngulo
http://www.geogebra.org/cms/

Teorema do ângulo externo.


http://cinderella.lmc.fc.ul.pt/forum/msg/38/ h

52 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Capítulo 6 - Euclides de Alexan- é igual à soma dos ângulos internos não adjacentes,
ou seja, θ = α + γ.
dria e o Postulado das Paralelas
2) Já ouvimos (e lemos também) que a soma dos ângulos
Você já imaginou um triângulo ABC, com soma de internos de um triângulo ABC é igual a 180º.
ângulos internos menor que 180º? Já ouviu falar Será que esses resultados são Axiomas? Ou são

MATEMÁTICA
em uma Geometria Não Euclidiana? Pois é, até Teoremas? Se forem teoremas, como argumentar,
agora nossa teoria estudada não nos deixa concluir comprovar, para nossos alunos? Serão fáceis suas
que a soma dos ângulos de um triângulo é igual demonstrações?
a 180º. Isso porque, como observou Euclides no
passado, falta um elemento chave, uma pequena Pois é, a resposta é a seguinte: com os axiomas
peça matemática que resolverá esse problema. que temos até agora, NÃO É POSSÍVEL provar que a
Este nosso capítulo é dedicado a este grande feito soma dos ângulos de um triângulo é 180º! Nem é
de Euclides, na forma de um postulado, que hoje é possível provar que (a medida de) um ângulo externo é
chamado de Postulado das Paralelas. Sugerimos igual à soma (das medidas) dos ângulos internos não
que você faça uma leitura com paciência, com vá- adjacentes. Euclides já sabia disso e vislumbrou que
rios momentos de reflexão e, além disso, esteja era necessário enunciar mais um axioma para esta Ge-
com lápis e papel ao lado para fazer anotações, ometria. Este axioma (ou postulado) nos dá a “chave”
figuras e apontar suas dúvidas. Vamos começar? para nosso sucesso, ou seja, é o 13º axioma que faltava
para completar nossa teoria. Com ele fica caracterizada
a Geometria Euclidiana Plana, que conhecemos desde
1. Introdução o Ensino Fundamental.
Nos capítulos anteriores vimos dois Axiomas de Per-
tinência, três de Ordem, seis de Medição e um de Con- Seu enunciado atual é muito simples, com veremos
gruência, totalizando 12 axiomas. Com eles pudemos a seguir:
definir vários entes geométricos: segmento, ângulo,
triângulo, polígono, círculo e provar várias proprieda-
des relativas a eles. Por exemplo, no capítulo anterior AXIOMA 13 (Axioma das Paralelas): Por um ponto
vimos o Teorema do Ângulo Externo, cujo enunciado P não pertencente a uma reta r é possível traçar
é “a medida de um ângulo externo de um triângulo é uma única paralela a esta reta.
sempre maior que a medida de qualquer outro ângulo
interno, não adjacente desse triângulo”.

Considerando a figura ao lado, o Teorema do Ângulo
Externo afirma que θ > α e também que θ > γ.

Embora o Postulado das Paralelas se refira à exis-


tência (passa uma reta) e à unicidade da reta paralela,
essa existência da paralela já estava garantida como
consequência de postulados anteriores, como vimos
no capítulo passado.

Para melhor compreensão e, inclusive, para recor-


Porém, ainda temos dois problemas, veja: darmos esse importante ponto de nossa geometria,
enunciaremos novamente a Proposição 2 do Capítulo
1) Sempre ouvimos falar (e é encontrado nos livros didáticos) 5, que tem como corolário a existência de uma paralela
que a medida de um ângulo externo θ de um triângulo por um ponto dado:

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 53


EAD 2009

2. Revisitando a História; A Geometria se-


Proposição 2 (Capítulo 5): Se duas retas distintas m gundo Euclides
e n são perpendiculares a uma reta r, então elas
são paralelas.

Consequentemente, se traçamos pelo ponto P uma


? VOCÊ SABIA?
MATEMÁTICA

“perpendicular 1” à reta r, e depois outra “perpendicular


2” à essa perpendicular 1, então essa última é paralela
à reta r.
Resumindo “a perpendicular da perpendicular
é uma paralela a reta r”. Isso mostra a existência
da paralela por um ponto P dado. Só fica faltando a
UNICIDADE!

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:AlexandriaMap1.jpg

Que a província de Alexandria é uma das províncias do Egito,


localizada no norte do país. Banhada pelo mar Mediterrâneo,
é um dos portos mais importantes do Egito. Sua capital é a
cidade de Alexandria.
A província conta com uma área de 2 900 km² e uma população
Vamos dar uma pausa e resumir nossas considera- de 3,5 a 5 milhões de habitantes.
ções até aqui, ok? http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria

Sua proximidade com a Grécia, por navegação, propiciou a


chegada dos Gregos a este país.
RESUMO:
• Os primeiros 12 axiomas da Geometria de Euclides Segundo os compêndios de História da Matemática,
foram enunciados e com eles demonstramos muitas os gregos organizaram a Geometria como uma ciência,
propriedades interessantes; inaugurando o que chamamos “geometria demonstra-
• Estes 12 axiomas são ainda insuficientes para de- tiva”. Vários resultados foram demonstrados por Tales,
monstrar, por exemplo, que “um ângulo externo de pelos pitagóricos, e outros filósofos.
um triângulo é a soma dos ângulos internos não Devido a este acúmulo de resultados, a sistemati-
adjacentes” ou que “a soma dos ângulos internos zação da geometria começou a se fazer necessária;
de um triângulo é igual a 180º”; cadeias de proposições em “forma de árvore”, onde
• Foi apresentado o 13º axioma, das paralelas, que uma delas é consequência de proposições anteriores,
garante a existência e unicidade da paralela por um começaram a surgir. Segundo os relatos da história,
ponto P fora de uma reta r; o pitagórico Hipócrates de Quio foi o primeiro a tentar
uma apresentação lógica da geometria e alguns outros
• Na realidade já se podia concluir sobre a existência melhoraram esta apresentação.
da paralela por um ponto P dado. Logo, o Axioma das
Em ≅ 300 a.C., Euclides escreveu o trabalho defi-
Paralelas é realmente importante para nos garantir
nitivo sobre o assunto, que superou rapidamente os
que a reta paralela por um ponto dado é ÚNICA.
esforços anteriores. Euclides reuniu os conhecimentos
existentes até sua época, numa das obras mais impor-
Faremos a seguir uma pequena viagem pela His- tantes da Matemática, intitulada os “Elementos”. Essa
tória da Geometria, cujo objetivo é explicar melhor a obra era composta de 13 livros, abordando em suas
importância do Postulado das Paralelas, no contexto 465 proposições os temas geometria plana e espacial,
da Matemática. Vamos lá? teoria dos números e álgebra geométrica grega.

54 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Euclides baseou a construção da sua geometria em O MAIOR problema encontrado pelos matemáticos,
dez afirmações, separadas em dois grupos de cinco. As ao longo de todos os tempos, foi com relação a inde-
cinco primeiras são chamadas de “noções comuns”, pendência dos seus axiomas. O 5o Postulado, como
ou “axiomas”, que tratam de afirmações gerais, e que enunciado acima, foi alvo de críticas, primeiro porque
valem para todas as ciências. As cinco outras afirma- não era tão evidente e natural quanto os demais, pois
ções foram chamadas de “postulados”. tratava da existência de um ponto de interseção que
Hoje, os matemáticos não fazem distinção entre as pode ser inacessível. Segundo, seu enunciado era longo

MATEMÁTICA
palavras axioma e postulado. São eles, em tradução e mais parecia com o enunciado de um teorema.
contemporânea: Por essas e outras razões foram feitas, ao longo dos
tempos, várias tentativas de “demonstrar” o 5o Postu-
Noções Comuns: lado, como consequência dos demais. Homens como
1. Grandezas iguais a uma mesma grandeza são iguais Ptolomeu, Proclus, Nasir Eddin, John Wallis, Girolamo
entre si; Saccheri, Lambert, Legendre, Gauss, tentaram de-
2. Se a grandezas iguais forem adicionadas grandezas monstrar este resultado, mas na realidade conseguiram
iguais, as somas serão iguais; apenas, como consequência dessas tentativas, achar
formulações equivalentes. Uma delas foi o enunciado
3. Se grandezas iguais forem subtraídas de grandezas
do matemático Playfair, que dizia que “por um ponto
iguais, os resultados serão iguais;
dado fora de uma reta passa uma única paralela a
4. Grandezas que coincidem entre si são iguais; esta reta”.
5. O todo é maior do que suas partes. Por esse motivo, da formulação de Playfair, chama-
mos também o 5o Postulado de Euclides de “Axioma
Postulados: das Paralelas”. Os livros didáticos, em sua maioria,
1. É possível traçar uma linha reta de um ponto qualquer substituem o 5º Postulado por esta nova versão 5’, de
a um ponto qualquer; enunciado mais simples e natural.
2. É possível prolongar arbitrariamente um segmento
de reta; 3. Observações Sobre o 5o Postulado
3. É possível traçar um círculo com qualquer centro e • O enunciado do Axioma das Paralelas afirma que
raio; existe uma paralela à reta r passando pelo ponto P, e,
4. Dois ângulos retos quaisquer são iguais entre si; além disso, esta reta é única. Mas, na realidade, este
5. (5º Postulado original, de Euclides) Se uma reta corta duas axioma se refere à unicidade da paralela. Como já
outras retas, formando com elas ângulos internos do dissemos anteriormente, a existência da reta paralela
mesmo lado cuja soma é menor do que dois ângulos à r, pelo ponto P pode ser demonstrada anteriormente
retos, então as duas retas, se prolongadas, se intersec- no estudo das perpendiculares;
tam do mesmo lado em que estão esses ângulos. • Nem tudo em Matemática existe e nem tudo que
existe precisa ser único, ou seja, é possível dar
A figura abaixo exibe uma reta cortando duas outras exemplos de sentenças matemáticas vazias de
retas m e n, fazendo ângulos α e β, α + β < 180º. exemplos e outras com inúmeros exemplos. Veja:
a sentença aberta x2 + 1 = 0 não admite solução
A afirmação do 5º Postulado é que as retas m e n
no conjunto dos números reais, assim como não
devem necessariamente se intersectar.
existe triângulo com dois ângulos retos. Por outro
lado, a equação x2 - 1 = 0 tem duas soluções reais,
assim como existem (infinitos) triângulos isósceles
de perímetro 10 cm;
• Os axiomas de incidência, ordem, medição de seg-
mentos e ângulos, congruência, juntamente com o
axioma das paralelas, constituem o que chamamos de
Geometria Euclidiana Plana. Outros sistemas axio-
máticos de Geometria, que não usam o Axioma das

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 55


EAD 2009

Paralelas, foram descobertos no Séc. XIX por J. Bolyai Demonstração: usaremos o método indireto de de-
e N. Lobachewsky e aprofundados por B. Riemann. monstração, ou seja, suporemos que as retas m e n
Nestas geometrias, chamadas Não Euclidianas, a (em um certo momento) se intersectam e chegaremos a
paralela que passa em P ou não existe, ou quando uma contradição.
existe, não é única. Nestas geometrias, a soma dos A figura abaixo mostra duas retas m e n, diferentes,
ângulos de um triângulo não é igual a 180º. com m || r e n || r .
MATEMÁTICA

Será que elas podem se intersectar?

?? SAIBA MAIS
?
SISTEMAS AXIOMÁTICOS
Os axiomas de uma teoria devem ser “completos”, “consis-
tentes” e “independentes”. Melhor dizendo, um sistema axi-
omático deve ser:
a) Completo: propriedade de um sistema em que tudo que será
usado na teoria está relacionado no conjunto de axiomas.
Dizemos neste caso que “não há hipóteses tácitas” nesta Suponhamos (por absurdo) que as retas m e n não
teoria; sejam paralelas. Logo, essas retas têm um ponto de
b) Consistente: propriedade de não haver contradições na teoria, interseção P.
ou seja, é impossível provar dois resultados contraditórios
nesta teoria; Agora, veja a situação em que nos encontramos: por
c) Independente: propriedade que o sistema tem de não ser esse ponto P temos duas retas distintas m e n, paralelas
redundante, ou seja, qualquer axioma é, de fato, uma peça à reta r. Esse fato contraria frontalmente a unicidade
importante neste sistema. Dizemos neste caso que cada
do 5o Postulado de Euclides, que nos diz que a paralela
axioma é independente dos demais, ou, que um axioma
qualquer não pode ser deduzido a partir dos outros. por um ponto dado é única.

Logo, nossa conclusão é que as retas m e n são,


4. Consequências do Axioma das Paralelas de fato, paralelas.
Nesta seção faremos uso do Axioma das Paralelas
para continuar nossa pesquisa em geometria e descobrir Considere duas retas paralelas distintas, digamos, r
novos resultados. e s. Se outra reta t intersectar a reta r, ela intersectará
A Proposição a seguir é consequência imediata do também a reta s?
5º Postulado de Euclides.

Proposição 1: se duas retas distintas m e n são


paralelas a uma terceira reta r, então estas retas
são paralelas. Ou seja, duas retas paralelas a uma
terceira são paralelas entre si.
Note que as retas r, s podem estar muito distantes
uma da outra, a milhares e milhares de quilômetros...
Nossas hipóteses são: m || r , n || r e m ≠ . Por isso, quando a transversal t corta a reta r, qual a
Queremos demonstrar que m || n. garantia que teremos sobre sua interseção com a outra
reta s?

56 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

A Proposição abaixo responde esta questão: Recordemos um resultado anterior, que é consequ-
ência do Teorema do Ângulo Externo. Ele nos dá um
critério para verificar se duas retas são paralelas.

MATEMÁTICA
Proposição 2: se uma reta intersecta uma de duas
retas paralelas então intersectará também a outra.
Em símbolos, se r || s e t ∩ r ≠ ∅ então t ∩
s ≠ ∅.
“Se duas retas m e n formam com uma transversal
t ângulos correspondentes (ou os alternos inter-
Demonstração: Por hipótese, r || s, e t ∩ r = {P}. nos) iguais, então essas retas são paralelas“.
Queremos concluir que t também intersectará a reta s.
(veja a figura acima!)
Simbolicamente: se α = β então m || n.

Ora, se t não intersectar a reta s, teríamos que t é


outra paralela à reta s. Daí teríamos duas retas paralelas A figura mostra duas retas m e n cortadas por uma
à reta s, passando pelo ponto P, o que é uma contradição transversal t. O enunciado acima garante que SE os
com o 5º Postulado. ângulos correspondentes α e β
são iguais, ENTÃO as retas m e n são paralelas.

Definição 1: quando uma reta t corta duas retas
m e n, são formados oito ângulos (4 ângulos de
t com a reta m e mais 4 ângulos de t com a reta n). Os
ângulos α1, β1, são chamados correspondentes
e α1 , β2 são chamados alternos internos, por
estarem situados em lados alternados com rela-
ção à transversal t.

Com o Axioma das Paralelas, é possível demonstrar


Ângulos correspondentes: α1 e β1 a recíproca da afirmação acima. Em outras palavras,
Ângulos alternos internos: α1 e β2 vale o seguinte resultado:
Observe que β1 = β2 pois eles são opostos pelo
vértice.
Proposição 3: se duas retas paralelas m e
n são cortadas por uma transversal t, então
os seus ângulos correspondentes (e também os
alternos internos) são iguais.

Simbolicamente: se m || n, então α = β
Demonstração: seja P a interseção de t com a reta
m. Supondo (por absurdo) que o ângulo β seja maior
(ou menor) do que o ângulo α, podemos traçar, pelo
ponto P, uma outra reta m’, fazendo com t um ângulo
igual a α.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 57


EAD 2009

Na figura, estamos supondo que β > α, ou seja, que Observemos primeiro que α + β + Ĉ = 180 o.
a reta m faça ângulo β > α com a transversal t. Por outro lado, em virtude do paralelismo da reta r com
A ideia é chegar em uma contradição. AB e da Proposição 3, temos α= Â e β=B̂ .
Logo, podemos escrever que:

 + B̂ + Ĉ = α + β + Ĉ = 180 o, como
MATEMÁTICA

queríamos demonstrar.

Teorema 2: a medida de um ângulo externo de um


triângulo é igual à soma das medidas dos ângulos
internos não adjacentes.
Pelo resultado enunciado acima, temos que as retas
m’ e n são paralelas. A hipótese no diz que m e n são
também paralelas. Portanto, temos duas retas paralelas Na figura abaixo estão mostrados um ângulo externo
à reta n, passando pelo ponto P, o que é impossível. θ e dois ângulos internos α e γ do triângulo ABC.
O objetivo é mostrar que θ = α + γ.
Conclusão: o ângulo β tem que ser igual ao ângulo α.

A Proposição 3, juntamente com a sua recíproca,
nos diz que duas retas m e n, cortadas por uma
transversal, são paralelas se e somente se os seus
ângulos correspondentes forem iguais.

Simbolicamente: m || n ⇔ α = β Demonstração: seja θ o ângulo externo relativo ao


vértice B, por exemplo. Temos θ + B̂ = 180o.
Pelo Teorema 1, temos  +B̂ + Ĉ =180o.
5. A Soma dos Ângulos de um Triângulo Comparando essas relações, ficamos com θ+B̂ =Â+
Estamos agora em condições de demonstrar o resul- B̂ + Ĉ .
tado mais esperado de nosso capítulo e um dos mais Logo, θ=Â + Ĉ , como queríamos demonstrar.
importantes da Geometria Euclidiana Plana.

Corolário 1: a soma dos ângulos agudos de um


Teorema 1: a soma dos ângulos internos de um triângulo retângulo é 90o.
triângulo é igual a 180 graus.

Na figura vemos uma ilustração do Corolário 1.


Demonstração: consideremos um triângulo ABC como A soma dos ângulos agudos é 32º +58º =90º.
na figura abaixo. Pelo ponto C, tomemos a paralela à
reta que contém o lado AB.

58 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Demonstração: Considere um triângulo ABC, equiláte- particular, que tem a propriedade fundamental de mini-
ro, que já sabemos que é equiângulo. mizar distâncias, ou seja, dados dois pontos P e Q do
Como Â+B̂ + Ĉ =180o e Â=B̂ = Ĉ temos plano, a curva que dá a menor distância entre eles é
um segmento de reta PQ.
Â+B̂ + Ĉ = 3Â = 180º, ou seja, Â=60º .
Agora, se pensarmos que nosso planeta Terra não é
um plano, e sim algo semelhante a uma esfera, a curva
Demonstração: considere um triângulo retângulo

MATEMÁTICA
que minimiza a distância entre dois pontos P e Q não
ABC, onde Â=90º. é mais um segmento de reta, e sim um arco de círculo,
Pelo Teorema 1, temos Â+B̂ + Ĉ =180o. como na figura abaixo. Esses arcos de grandes círculos
são chamados em Matemática de “geodésicas”.
Substituindo o valor do ângulo Â, temos
90º+B̂ + Ĉ =180o. Logo, B̂ + Ĉ =180o - 90º =
90º, c.q.d.

Corolário 2: os ângulos de um triângulo eqüilátero


medem 60o.

Como um triângulo do plano é um polígono formado


pela união de 3 segmentos consecutivos de reta, de
modo análogo, na esfera, um “triângulo” será a figura
formada por 3 arcos de grandes círculos. Dessa forma,
os triângulos na esfera serão curvos, fazendo com que
a soma dos seus ângulos seja maior que 180o.

? VOCÊ SABIA?

VOCE SABIA que os três problemas clássicos da antiguidade


são geométricos, ou melhor, são problemas de construções
geométricas? As construções geométricas “permitidas” por
Euclides são aquelas onde se usa “régua e compasso”, sem
escalas. Os problemas de construção eram: a duplicação
do cubo, a trissecção de um ângulo, e a quadratura de um
círculo
É possível também dar exemplo de outra geometria,
6. Novos Paradigmas. Geometrias Não Eu- onde a soma dos ângulos de um triângulo é menor que
180o. Esta geometria hoje é chamada de Geometria
clidianas Hiperbólica, e foi desenvolvida no Sec. XIX por Janos
É possível imaginar um “triângulo” com a soma dos Bolyai e Nocolai Lobachevsky. Essas geometrias são
seus ângulos internos maior que 180o? Ou com a chamadas de Geometrias não Euclidianas, porque o 5o
soma menor do que 180o? Nossos paradigmas sobre Postulado de Euclides não é admitido como verdadeiro.
o que é uma reta, ou sobre o que é um triângulo, im- Com isso, a Proposição 3 também não é válida.
pedem que vejamos outras realidades, no caso, novas Na figura a seguir desenhamos um “triângulo” em
geometrias. um hiperbolóide, cuja soma dos ângulos é menor
Veja o seguinte: uma reta do plano é uma curva que 180o.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 59


EAD 2009

INDICAÇÃO DE LEITURA INDICAÇÃO DE LEITURA

Programas de Geometria
MATEMÁTICA

1. Geogebra. www.geogebra.at

2. Cabri Géomètre. www.cabri.com.br

3. Wingeom. http://mat.exeter.edu/rparris

Sobre Euclides
Geometria não euclidiana
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. http://www.youtube.com/watch?v=Iz5IrdY_Ak0

Video sobre Matemática

http://www.youtube.com/watch?v=QT5LFeej5gI

Geometria Hiperbólica

http://www.youtube.com/watch?v=Yn9MR4oyifE

Einstein e a Relatividade

Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=1xW90NFcm30

Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=Ro4RX2E1nfg
Em matemática, uma geometria não euclidiana é
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=1wFsQdj9ChM
uma geometria baseada num sistema axiomático
distinto do da geometria euclidiana. Modificando o
axioma das paralelas, que postula que por um pon-
to exterior a uma reta passa exatamente uma reta
paralela à inicial, obtêm-se as geometrias elíptica e
hiperbólica. Na geometria elíptica não há nenhuma
reta paralela à inicial, enquanto que na geometria
hiperbólica existe uma infinidade de retas paralelas
à inicial, que passam no mesmo ponto.

Estamos mais uma vez nos despedindo. Neste


capítulo vimos o 13º e último axioma de nossa
teoria, o famoso Postulado das Paralelas. Como
consequências, vimos que a medida de um ângulo
externo de um triângulo é igual à soma das medi-
das dos ângulos internos não adjacentes. Vimos
também, e principalmente, que nesta geometria a
soma dos ângulos de um triângulo é igual a 180
graus.
Na próxima sessão faremos mais algumas aplica-
ções do 5o Postulado. Até mais!

60 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Capítulo 7. Aplicações do 5o
SUGESTÃO DE ATIVIDADE Postulado de Euclides
1) Agora que você sabe que a soma dos ângulos de um triângulo
é 180º, determine a soma dos ângulos α e β, da figura ao lado.
O 5o Postulado de Euclides (ou Axioma das Para-
Resposta: α + β = .......... lelas) trouxe como consequência que a soma dos
ângulos internos de um triângulo é igual a 180º.

MATEMÁTICA
Vamos agora, neste capítulo, dar algumas aplica-
ções da Geometria Euclidiana. Uma delas é a fór-
mula geral da soma dos ângulos internos de um
polígono de n lados; uma outra aplicação se refe-
re ao paralelogramo e suas propriedades. Existe
também uma famosa aplicação, que é conhecida
como Teorema de Tales, fala sobre a proporciona-
2) Dado um polígono de 5 lados, qual a soma dos seus lidade entre os segmentos determinados por para-
ângulos internos? Por quê?
lelas, quando cortadas por retas transversais.
E se o polígono tiver 6 lados, quanto vale a soma dos seus
ângulos? Sugerimos uma leitura com atenção e cuidado, e
como sempre, recorrendo aos seus professores
para orientações.

Iniciaremos com um exercício simples e aplicado na


construção de residências:

3) Considere um triângulo ABC, de base AB. Demonstre que a


Exercício: A Segurança de um Telhado
reta bissetriz do ângulo externo relativo ao vértice C é paralela A “tesoura” de um telhado é uma estrutura de madei-
ao lado AB. ra que sustenta o telhado de uma casa. Se um telhado
faz ângulo de 50o com a madeira da vertical e a estaca
suporte faz ângulo 35o com a horizontal, qual é a medida
do ângulo α, do suporte com o telhado?

4) Considere o ângulo β=CÂB da figura abaixo, onde AB é um


diâmetro da circunferência. Mostre que o ângulo α é o dobro
do ângulo β.

Solução: chame de E o vértice do ângulo α. Como


o ângulo ADC é reto temos que o ângulo CDE mede
90º-35º =55º . Como a soma dos ângulos do ∆CDE
é 180º , temos que α +50º +55º = 180º . Logo, α
= 180º -105º =75º.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 61


EAD 2009

1. A Soma dos Ângulos de Um Polígono Logo, a soma S5 dos ângulos Â, B, C, D, E pode ser
escrita como:
No Capítulo 01 trabalhamos com soma de ângulos
internos de polígonos convexos de 4 e 5 lados, voce S5 = Â + B+ C+ D+ E = (a1+ a2+ a3) + B +
pode recordar? (c1+ c2) + (d1+ d2) + E.
Neste polígono ABCD, a soma dos ângulos α, β, γ, δ
é igual a 360º. Isso vale sempre, pois podemos dividir Rearranjando essas 9 parcelas de modo convenien-
MATEMÁTICA

um polígono de 4 lados em dois triângulos e assim te, temos:


usar a fórmula da soma dos ângulos internos de cada S5 = (a1+ B +c1) + (a2+ c2 + d1) + (a3+d2+ E).
triângulo como sendo 180º.
Dessa forma, ficamos com 180º+180º =360º. Como (a1+ B +c1)= (a2+ c2 + d1) = (a3+d2+ E)
= 180º, temos finalmente que
S5 = 180º +180º +180º = 3x180º = 540º.

No caso geral de um polígono convexo* de n lados,


temos n vértices que denominamos 1, 2, 3, 4,..., n-1, n.
Traçando pelo vértice 1 as diagonais 1-3, 1-4,
1-5,...,1-(n-1) dividimos o polígono em n-2 triângulos.

A aplicação abaixo dá a fórmula geral da soma dos ân- Como cada triângulo tem soma de ângulos igual a 180º,
gulos de um polígono qualquer, ou seja, com n lados. concluímos que a soma procurada é Sn = (n-2)x180º.

Dado um polígono de 5 lados, qual é a soma dos


seus ângulos internos? E se o polígono tiver 6 ou mais Conclusão:
lados? Generalize.
A soma dos ângulos internos de um polígono
Solução: consideremos um polígono convexo de 5
de n lados é Sn= (n-2)x180º.
lados e vértices A, B, C, D, E. Do vértice A trace as duas
diagonais AC e AD. Com isso o polígono fica dividido
em três triângulos: ∆ABC, ∆ACD, e ∆ADE, como na Veja a seguir alguns casos particulares:
figura ao lado.
Polígono Número de lados Sn= (n-2)x180º
Temos então que: Triângulo 3 180º
• O ângulo  fica dividido em três ângulos a1, a2, a3. Quadrilátero 4 360º
 = a1+ a2+ a3 Heptágono 5 540º
• O ângulo C fica dividido em dois ângulos, c1 e c2.
Hexágono 6 720º
C= c1+ c2
Heptágono 7 900º
• O ângulo D dividido em dois ângulos d1 e d2.
D=d1+ d2 Octógono 8 1080º

62 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

?? SAIBA MAIS Vamos demonstrar que AC = BD e B̂ = Ĉ , ok?


?
Para isso, considere a diagonal AD, como na figura
(*) Um conjunto X do plano é chamado convexo abaixo:
quando dados quaisquer dois pontos x, y ∈ X, o
segmento que liga esses pontos está no interior da
Como os lados AB e CD são paralelos e AD é uma
^

MATEMÁTICA
^
região limitada por esse conjunto. transversal, os ângulos α1 = B A D e α 2 = A D C são
iguais (por serem alternos internos).

O conjunto X da 1ª figura representa um conjunto convexo. Já


o conjunto da 2ª figura não é convexo, pois existem dois pontos
x, y onde o segmento que liga esses pontos não está inteiramente
contido na região limitada por esse conjunto.

^
O mesmo ocorre com os ângulos β1 = C A D
^
e β2 = A D B , ou seja, são congruentes.
2. O Paralelogramo e suas Propriedades

Definição 1: um paralelogramo é um quadrilátero


cujos lados são paralelos dois a dois. A figura abaixo
mostra um paralelogramo ABCD. Os lados AB e CD
são paralelos, bem como os lados AC e BD.

Com isso, os triângulos ABD e ACD são congruen-


tes, pelo Axioma ALA (o lado AD é comum aos dois
triângulos).

Conseqüentemente, temos AB=CD, AC=BD e


também B̂ = Ĉ .
^ ^ ^
Daremos a seguir duas propriedades importantes Para mostrar que A = D , use que A = α1 + β2
dos paralelogramos, cujas demonstrações são conse- ^
quências do Axioma das Paralelas. e B = α 2 + β1 .

Propriedade 1: os lados opostos de um paralelo- Como α 2 = α1 e β1 = β2 temos finalmente


gramo são congruentes. Os ângulos opostos tam- ^ ^
bém são congruentes. que B = α 2 + β1 = α1 + β2 = A .

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 63


EAD 2009

proezas de Tales foi a previsão de um eclipse solar,


ocorrida em 585 a.C., mas pesquisas recentes indicam
que não há evidência que sustente esta história.
Outra proeza atribuída a Tales foi a medição da altura
de uma pirâmide, possivelmente de Quéops. Para isso,
Tales tomou como base à sombra da pirâmide provoca-
MATEMÁTICA

da pelos raios de sol. Tales sabia que a razão entre os


lados correspondentes de dois triângulos semelhantes
era a mesma.
Estas razões tornaram-se fundamentais na resolução
Propriedade 2: as diagonais de um paralelogra-
de problemas de Astronomia e da Física.
mo se cortam em um ponto que é ponto médio de
qualquer uma delas.

?? SAIBA MAIS
?

Demonstração:
Tracemos as diagonais AD e BC, como na figura.
Pelo visto anteriormente na Propriedade 1, AC=BD.
Como AD e BC são transversais às paralelas AB e As três pirâmides de Gizé, Keóps, Quéfren e Miquerinos, foram
CD, temos as igualdades entre os seguintes ângulos: construídas como tumbas reais para os reis Khufu (Keóps), Quéfren,
e Menkaure (pai, filho e neto), que dão nome às pirâmides. A
β1 = β2 e θ1 = θ2 . primeira delas, Queóps, foi construída há mais de 4.500 anos, por
Logo, pelo caso ALA, os triângulos ACM e BDM são volta do ano 2550 a.C., chamada de Grande Pirâmide. A majestosa
congruentes. construção de 147 metros de altura foi a maior construção feita
pelo homem durante mais de quatro mil anos, sendo superada
Conclusão: AM=DM, CM=BM, ou seja, M é o ponto apenas no final do século XIX (precisamente em 1889), com a
médio das diagonais. construção da Torre Eiffel. O curioso é que as pirâmides de Gizé já
eram as mais antigas dentre todas as maravilhas do mundo antigo
(afinal, na época já fazia mais de dois mil anos que haviam sido
3. O Teorema de Tales construídas) e são justamente as únicas que se mantém até hoje.
fonte: wikipedia.org
Como já dissemos no Cap. 1, Tales (de Mileto) foi um
dos primeiros matemáticos da história da Matemática.
Segundo os textos históricos, Tales começou sua vida
como comerciante, viajando por todos os domínios E então, vamos ver o que diz o Teorema de Tales?
gregos e pelo Norte da África e Oriente. Foi através
dessas viagens que teve contato com o conhecimento
geométrico dos egípcios e babilônios. De certa maneira, Quando três (ou mais) retas paralelas m, n e p,
esses povos já conheciam as proposições geométricas, são cortadas por retas transversais t e s, são
mas foi pelas contribuições de Tales que a geometria determinados vários segmentos, como na figura:
tornou-se “demonstrativa” e passou a ser conhecida
pelas suas aplicações práticas. Conta-se que uma das

64 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

De fato, tomando pelo ponto B’ uma paralela à


primeira transversal, vemos formados dois paralelo-
gramos ABB’D e BCEB’.

Logo, AB = DB´ e BC=B´E .

MATEMÁTICA
Não esqueça que nossa hipótese é que AB=BC. Logo,
temos DB’ = B’E.

Por outro lado, temos as igualdades dos ângulos:

A’B’ D = EB’ C’ (opostos pelo vértice);


A reta t determina os pontos A, B e C e a reta s
determina os pontos A’, B’ e C’.
A’ D B’ = B’ E C’ (alternos internos, pois as retas m e
O teorema a seguir é atribuído a Tales. Entretanto, sua
p são paralelas).
demonstração é devida ao matemático grego Eudoxo
de Cnido, anterior a Euclides, que desenvolveu a “teo-
ria das proporções” em bases mais sólidas. Pelo caso ALA de congruência, deduzimos que os
triângulos A’B’D e EB’C’ são congruentes. Daí, A’B’
= B’C’, como queríamos provar.
Teorema (Tales): se três retas m, n, p são corta-
das por duas transversais t e s, então os segmen-
tos correspondentes que elas determinam são
proporcionais. Em outras palavras, AB / BC = A’B’
?? SAIBA MAIS
/ B’C’. ?
A demonstração desse teorema é um pouco delicada Em um triângulo ABC, chamemos M o ponto médio do
e não a apresentaremos aqui. Daremos, entretanto, segmento AC. Passe por M uma reta paralela ao lado AB,
algumas aplicações práticas do mesmo. como na figura abaixo.

A título de curiosidade, vamos provar o caso par- Será que esta reta intersectará o lado BC também no seu ponto
ticular em que as retas m, n, p estão igualmente médio?
afastadas, isto é, que AB=BC.
Neste caso, devemos mostrar que A’B’ = B’C’ .

Resposta: sim, esta reta vai intersectar o lado BC no


seu ponto médio, N. Isto é uma conseqüência do que
acabamos de provar.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 65


EAD 2009

Resposta: sim, o segmento MN é paralelo a AB e, além


disso, MN = AB/2.

Neste capítulo vimos várias aplicações interessan-


tes dos Axiomas da Geometria, principalmente do
5º Postulado. Muitos outros resultados existem e
MATEMÁTICA

podem ser encontrados na maior parte dos tex-


tos didáticos de Matemática. No próximo capítulo
continuaremos nossa viagem pela Geometria, es-
Repetindo a construção anterior: neste caso, a con- tudando semelhança de triângulos, e outras apli-
gruência dos triângulos MNC e BND está mostrada na cações. Até mais!
figura abaixo. Logo, CN=BN

4. SUGESTÕES DE ATIVIDADES

1) Na figura abaixo, temos que as retas r e s são


paralelas. Determine os valores dos ângulos z e w,
justificando sua resposta.

Fazendo a demonstração como consequência do


Teorema de Tales:

Como M é o ponto médio de AC, temos CM/AM = 1.

Chamando de N a interseção da reta paralela com o


lado BC temos pelo Teorema de Tales que CN/ BN= 2) Na figura abaixo, temos um trapézio ABCD de bases
CM/AM = 1. AB e CD . Sabendo que DP é bissetriz do ângulo AD̂C
e que CP é bissetriz do ângulo BĈD , determine a me-
Logo, CN = BN, ou seja, N é ponto médio de BC. dida do ângulo x e do ângulo BĈD .

2) E a recíproca do resolvido em 1), é também verda-


deira? Ou seja, se agora tomarmos um segmento
que une os pontos médios dos lados de um triângulo
ABC, este segmento é paralelo ao terceiro lado?
E sua medida, também igual à metade deste lado?
3) Com base na figura a seguir, e considerando que o
ângulo Φ é igual a 26º 30’, determine os ângulos
X, Y, Z e W:

66 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

4) Determine os ângulos α e β nos polígonos regulares


a seguir:

MATEMÁTICA
INDICAÇÃO DE LEITURA

Pirâmides
http://www.youtube.com/watch?v=3dqntIbqC38
http://www.youtube.com/watch?v=UrJs8vw3U1U

Tales de Mileto
http://www.youtube.com/watch?v=HXrw_3sjtOs
http://www.youtube.com/watch?v=iMOeibwr7Zs

Teorema de Tales

Aula 1, Telecurso:
http://www.youtube.com/watch?v=BA1QwZxP2ao
Aula 2, Telecurso:
http://www.youtube.com/watch?v=aTS_J_7f3AI

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 67


EAD 2009

Capítulo 8. Semelhança de Tri- Dado um segmento AB de comprimento qualquer,


siga os seguintes passos:
ângulos e Aplicações
a) Pelo ponto A trace uma semirreta com inclinação
qualquer e nela marque um segmento cujo compri-
Vamos continuar nossa viagem pela Geometria Eu- mento seja divisível por 5, por exemplo, 10 cm;
MATEMÁTICA

clidiana Plana? Continuaremos nosso estudo com b) Com um compasso de abertura igual a 2 cm, trace
a importante noção de semelhança de triângulos, uma circunferência nessa semirreta, com centro
seguida de alguns exemplos aplicados. Logo após no ponto A. Isso determina um novo ponto A1, na
vamos fazer algumas conseqUências da noção de semirreta;
semelhança, entre elas a demonstração do Teore- c) Repita o passo anterior, agora com centro no ponto
ma de Pitágoras e Lei dos Senos para triângulos, A1, determinando um 2º ponto A2. Faça o mesmo
assunto esse também visto em cursos de Trigo- até o final, A3, A4, A5;
nometria.
d) Ligue o ponto A5 com o ponto B. Trace agora
segmentos paralelos ao segmento A5B, passando
pelos pontos A1, A2, A3, A4;
1. Relembrando o Teorema de Tales...
e) Pronto, seu segmento AB está dividido em 5 partes
iguais!
Pois é, caro leitor, é sempre bom recordar algum as-
sunto a fim de fixar melhor as ideias, e até de compará-

?
las com as ideias que aparecerão depois. Neste sentido,
gostaríamos de fazer mais um exemplo, que mostra a VOCÊ SABIA?
importância do Teorema de Tales

Que o processo de divisão de um segmento em n partes


Exemplo 1: dado um segmento AB de tamanho qual- iguais, entre outros, eram estudados na disciplina Desenho?
quer, como fazemos para dividi-lo em três, quatro, ou Eles eram vistos no Ensino Fundamental, (antigo Curso
cinco partes iguais? A figura abaixo mostra um seg- Ginasial), mas sem a devida justificativa matemática. Mais
mento AB de comprimento 8,5 cm, dividido em 5 par- recentemente estes tópicos foram resgatados na disciplina
Construções Geométricas, que fazem parte de alguns
tes EXATAMENTE iguais! currículos.

2. Aparência não é o mesmo que Semelhança


A noção de semelhança é muito comum no nosso
dia a dia e costumamos confundi-la com “aparência”. É
usual ouvirmos dizer “você é muito parecida com aquela
pessoa ali...”, ou que “esta minha camisa é bastante
semelhante a sua”.
Em Matemática a noção de semelhança é um pouco
mais rígida, exatamente para permitir que os cálculos
efetuados sejam confiáveis. Diremos que duas figuras
são “semelhantes” quando há uma proporcionalidade
entre pontos correspondentes das figuras e, além disso,
O procedimento é simples e usa o princípio das retas quando os ângulos entre essas partes correspondentes
paralelas, quando cortadas por duas transversais. são iguais. Por exemplo, se olharmos um mapa do Brasil
produzido profissionalmente veremos que ele reproduz
com confiança as informações reais que existem entre
os objetos. A diferença que existe entre o mapa e o

68 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

nosso país é a “escala”, que tem como objetivo fazer


com que o “Brasil” caiba numa folha de papel. É o caso ?? SAIBA MAIS
da chamada “escala 1/25.000.000”. Ela faz com que a ?
medida de 1 cm no mapa corresponda a uma distância
de 25 km na realidade. As figuras abaixo mostram duas reduções do retrato de
Arquimedes na Medalha Fields, prêmio concedido em cada
Tendo em vista estes aspectos, devemos ter cuidado 4 anos a (no máximo) 4 matemáticos que se destacam

MATEMÁTICA
em distinguir os termos “parecido” e “semelhante” em mundialmente em suas pesquisas.
nosso curso. Parecidas são figuras que têm o mesmo
aspecto, mas que não respeitam necessariamente as
proporções entre os pontos correspondentes, ou que
não preservam os ângulos. Já a palavra semelhante
significará mais um pouco, compreendeu?

Exemplo 1: dois triângulos retângulos são “pareci-


dos”, pois têm um ângulo reto, mas nem sempre eles
são semelhantes. Da mesma forma, dois retângulos
Essas figuras são semelhantes, pois guardam as mesmas
(como os da figura abaixo) têm a mesma aparência, proporções
mas não são semelhantes.

3. Semelhança de Triângulos
Como vimos, a noção de semelhança em Geometria
se aplica para figuras geométricas quaisquer. Detalha-
remos agora um caso particular importante, que é o da
semelhança de triângulos.

Triângulos retângulos não semelhantes, pois as bases têm a


Definição 1: dizemos que dois triângulos ABC
mesma medida mas as alturas são diferentes e A1B1C1 são semelhantes quando existe uma
correspondência entres seus vértices A↔A1,
B↔B1, C↔C1 de tal forma que seus ângulos
correspondentes são congruentes e, além disso,
os lados AB, AC e BC são proporcionais aos la-
dos A1B1, A1C1 e B1C1, respectivamente, ou seja,
. A constante é chama-
da de razão de semelhança.

A notação utilizada para semelhança de triângulos


Retângulos não semelhantes, pois as bases têm a mesma é ∆ABC ≅ ∆ A1B1C1
medida mas as alturas são diferentes

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 69


EAD 2009

aqui. Faremos apenas aplicações desses casos de


semelhança.

1o Caso: se dois triângulos possuem os três ân-


gulos congruentes então esses triângulos são se-
melhantes;
MATEMÁTICA

Exemplo 2: o triângulo ABC da figura abaixo é retângu- 2o Caso: se dois lados de um triângulo são propor-
lo, e tem lados 3, 4 e 5. Para outro triângulo retângulo cionais aos lados correspondentes de outro e os
A1B1C1 ser semelhante a esse é necessário que haja ângulos compreendidos entre eles são congruen-
uma proporcionalidade entre os lados corresponden- tes então esses triângulos são semelhantes;
tes e também que os ângulos correspondentes desses 3o Caso: se dois triângulos têm lados correspon-
triângulos sejam iguais. dentes proporcionais então esses triângulos são
semelhantes.

?? SAIBA MAIS
?
Observe que o 1o caso de semelhança pode ser reduzido
para os triângulos possuírem apenas dois ângulos
congruentes. Isso decorre do fato de que se dois ângulos
do triângulo ABC são congruentes aos ângulos de A´B´C´
Exemplo 3: a figura abaixo mostra vários triângulos então os três também serão, pois a soma dos ângulos de
semelhantes: um triângulo é 180º

∆ABC ≅ ∆CDG ≅ ≅ ∆CEG≅ ∆CFI

Exemplo 4: Este é um exemplo simples. Veja: conside-


re dois triângulos semelhantes, ABC e A1B1C1. Saben-
do que AC=3, BC=5, AB=7 e A1C1=6, determine os
lados A1C1 e B1C1.

AC=3, BC=5, AB=7


A1C1=6

4. Os Três Casos de Semelhança de Triângulos


De acordo com a definição dada para semelhança,
para verificarmos que dois triângulos são semelhantes,
precisamos testar SEIS condições, três para ângulos e
três para lados. Mas, assim como foi visto em congru- Solução: Temos que e
ência de triângulos, em que tivemos os famosos “casos
.
de congruência” de triângulos, temos também na se-
melhança os “casos de semelhança”. Eles reduzem
para TRÊS as nossas verificações, não é bom? Logo, (razão de semelhança).
Todas as demonstrações podem ser feitas com
Como AB=7 temos . Logo, A1B1=14.
uso do Teorema de Tales, mas não as apresentaremos

70 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

No caso de nossa figura, temos que ∆ABC ≈ ∆DCE.


BC BC Supondo CD=1m e também calculados EC=3m e
Como BC=5 temos 1 1 = 1 1 = 2 . Logo,
B1C1=10. B
C 5 CB=450m temos , ou seja, .
Logo, AB=150 m
Exemplo 5: A altura da Pirâmide de Quéops

MATEMÁTICA
5. O Teorema de Pitágoras
Vamos aplicar nossos conhecimentos de semelhan-
ça de triângulos para provar o Teorema de Pitágoras,
que nos diz o seguinte:

Proposição 1: Considere um triângulo ABC como na


figura abaixo, retângulo em A. Os catetos são b, c, e
a hipotenusa mede a. Então, a2= b2 + c2, ou seja, o
quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados
A Pirâmide de Quéops foi construída para ser a dos catetos.
tumba do Faraó Quéops da quarta dinastia, cujo
reinado se estendeu de 2551 a 2528 a.C. É a maior
das três pirâmides de Gizé. Sua altura original era
de 146,60 metros, mas atualmente é de 137,16 m,
pois falta parte do seu topo e o revestimento.
Entre as pirâmides, a de Quéops se sobressai
como uma das criações mais espetaculares e ge-
niais da história da arquitetura.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
Demonstração: tracemos a altura AD do triângulo
ABC. Essa altura, por sua vez, divide a hipotenusa em
Dizem os historiadores que Tales assombrou o faraó dois segmentos, de medidas m e n.
e toda a corte egípcia, medindo a sombra da pirâmide Na figura abaixo mostramos o mesmo triângulo ABC,
de Quéops, utilizando a sombra de uma estaca que agora com vários ângulos marcados. Alguns estão com
trazia. Para calcular a altura dessa pirâmide, Tales fincou suas medidas, a título de ilustração.
verticalmente no solo uma espécie de estaca com altura
de 1 metro acima do solo. Levando em conta que os
raios do sol são paralelos, Tales sabia que os triângulos
formados tinham lados proporcionais. Medindo então as
os comprimentos da sombra da pirâmide e da sombra
da estaca, ele chegou ao cálculo da altura.

Vamos provar que os triângulos ABC e ABD e ACD


são semelhantes.
De fato, esses três triângulos são retângulos, certo?
No triângulo retângulo ABC, temos A+B+C = 180º.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 71


EAD 2009

Como o ângulo A é reto, temos B+C = 90º . 6. Ângulos Inscritos e Ângulos Centrais em
No triângulo ABD, temos o mesmo, ou seja, B+β = um Círculo
90º . O resultado abaixo é relativamente fácil de provar,
No triângulo ADC, temos o mesmo, ou seja, C+CAD mas nos limitaremos a enunciá-lo e fazer algumas
= 90º . aplicações do mesmo.
MATEMÁTICA

Conclusões: de  e  tiramos que β=C De  e  Na figura abaixo, o ângulo ACB é chamado de ângulo
tiramos que B=CAD (veja a figura). inscrito na circunferência. O ângulo AOB é chamado de
ângulo central.
Da semelhança de ∆ABC com ∆ABD temos:
Proposição 2: um ângulo inscrito em um círculo
hipotenusa ∆ABC cateto maior ∆ABC
= , ou mede sempre a metade do ângulo central corres-
hipotenusa ∆ABD cateto maior ∆ABD
pondente, ou seja, ACB = ½ AOB.
a c
seja, = . Logo, c2 = an .
c n

Da semelhança de ∆ABC com ∆ACD temos:

hipotenusa
hipotenusa ∆ABC cateto
∆ABC cateto
menor ∆ACBC
menor∆ACBC
== , ou
hipotenusa
hipotenusa ∆ACD cateto
∆ACD cateto
menor ∆ACD
menor∆ACD
a b
seja, = .
b m
Logo, b2 = am .

Os ângulos AOB e ACB estão determinados pelo arco AB.


Somando  e  e levando em consideração que
É possível provar que o ângulo ACB é metade do ângulo
m+n=a temos finalmente que
AOB, como mostra a figura.

b2 + c2 = am + an = a(m+n) = a.a = a2 , ou seja,


a2 = b2 + c2 , c.q.d. Exemplo 6: considere o ângulo inscrito β=CÂB da fi-
gura abaixo, onde AB é um diâmetro da circunferência.
Sem usar a Proposição acima, vamos mostrar que o
Outros belos exemplos são encontrados quando es-
ângulo central α é o dobro do ângulo inscrito β.
tudamos a circunferência e suas propriedades. Como
exemplos, citaremos três delas, para finalizar nosso
estudo. Solução: na figura abaixo, o triângulo ∆ AOC tem vérti-
ce no centro do círculo. Logo, OA = OC = r, e portan-
to este triângulo é isósceles, de base AC.

? VOCÊ SABIA? Pelo Teorema do Ângulo Externo, temos que α=β+β


=2β·, como queríamos.
Você sabia que os babilonios, antes de Pitágoras, já
utilizavam que o quadrado da hipotenusa era igual à soma
dos quadrados dos catetos? Pois é, o nome Teorema de
Pitagoras vem do fato de que foram os pitagoricos que
demonstraram essa propriedade.

72 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Exemplo 7: todo triângulo inscrito em uma semicir-


cunferência é retângulo. Analogamente, ligamos os pontos A até O e o pro-
longamos até determinar um diâmetro AE.
A figura abaixo mostra três triângulos inscritos em
uma semicircunferência e todos são retângulos! Vamos Dessa forma, ficamos com 2 triângulos, com ân-
mostrar que isso sempre é verdadeiro! gulos B̂ e Ê congruentes, pois subtendem o mesmo

MATEMÁTICA
arco AC (veja a figura abaixo).

Para provar isso, observe que neste caso o ângulo


central AOB mede 180º.
Como o ângulo inscrito é metade do ângulo central
correspondente, temos que o ângulo ACB é de 90º,
c.q.d.

Exemplo 8: A Lei dos Senos Como AE é um diâmetro, o triângulo ∆AEC está


Existe na Trigonometria uma conhecida fórmula, cha- inscrito em uma semicircunferência e portanto é re-
mada “lei dos senos”. Ela diz que em um triângulo tângulo em C.

a b c
ABC tem-se = = . Vamos demons- Daí, temos que
sen  sen B̂ sen Ĉ
trar isso?
.

Logo, .

a b
Comparando  e  temos = , como
sen  senB̂
queríamos demonstrar.

a c
Demonstração: Para mostrar que = procedemos de
modo análogo. sen  senĈ
Considere um triângulo ABC. Na primeira figura, ins-
crevemos o triângulo ABC em uma circunferência. Na
2ª figura, ligamos o ponto C ao centro O, prolongan-
Neste capítulo vimos o importante conceito de
do-o até determinar um diâmetro CD.
semelhança e, em particular, o de semelhança de
Ora, os ângulos  e D̂ são congruentes, pois sub- triângulos. Vimos várias aplicações desse tema,
tendem o mesmo arco BC (veja a figura!). Como CD é como o Teorema de Tales, o Teorema de Pitágoras e
um diâmetro, o triângulo ∆CBD está inscrito em uma a Lei dos Senos. Muitos outros resultados existem
semicircunferência. Logo, este triângulo é retângulo, e podem ser encontrados na maior parte dos textos
com ângulo reto em B. didáticos de Matemática. Esperamos que você con-
tinue esses estudos e, sempre que precisar, recorra
Daí, temos que . Logo, a esse texto e aos demais da literatura.
.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 73


EAD 2009

Capítulo 9. Comprimento de
INDICAÇÃO DE LEITURA Curvas e Áreas de Figuras
Sobre o teorema de Pitágoras
1. Lima, Elon. Temas e problemas elementares. Rio de Janeiro:
SBM, 2008. Este capítulo tem por objetivo inicial apresentar o
MATEMÁTICA

2. Lima, Elon. Meu professor de Matemática e outras histórias. conceito de comprimento de uma curva e também
Rio de Janeiro: SBM, 2005. o conceito de área de uma figura plana. Nos de-
teremos mais no cálculo de áreas, cujo objetivo
Você já ouviu falar em “potência de um ponto” em relação a principal é obter a área de um círculo de raio r.
uma circunferência? Que tal pesquisar um pouco mais sobre Será também mostrado como surgiu o número ir­
isso?
racional π, o que ele representa e sua participação
na área do círculo.

1. Comprimento de uma curva


Neste texto já foram apresentados (veja o Cap. 3) os
axiomas de medição de segmentos. Com eles tornou-
se possível medir os comprimentos de objetos mais
simples, como é o caso do perímetro de um triângulo,
de um quadrado e, em geral, medir o comprimento de
uma poligonal qualquer, como a soma das medidas dos
Veja por exemplo em:
segmentos que a compõe.
http://www.obm.org.br/export/sites/default/semana_olimpica/
docs/2004/eixos.pdf Exemplo 1: na figura ao lado, temos dois pontos A, B
http://cinderella.lmc.fc.ul.pt/forum/msg/818/. sendo ligados por uma poligonal ACDEB.

3. Videos
O comprimento dessa poligonal é então dado como a
http://www.ime.usp.br/~leo/imatica/historia/teopitagoras.html
soma dos comprimentos dos segmentos AC, CD, DE,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_de_Pit%C3%A1goras
e EB.

Nesse caso particular, temos


comprimento (ACDEB)=1,2+1,5+2,1+2,2 = 7.

74 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Exemplo 2: a fim de melhorar sua forma física, Eudo- O “comprimento” de uma dessas curvas é calcu-
xo começou a fazer caminhadas de sua casa até certo lado, por aproximação, tomando-se pontos P=Po , P1,
ponto de uma pista retilínea, ida e volta. Começando P2, P3,.., Pn-1, Pn=P sobre a curva e somando-se os
com uma distância de 1km, de sua casa até o ponto comprimentos dos pequenos segmentos PoP1, P1P2,
final, e aumentando essa distância em 1 km em cada P2P3,..,Pn-1Pn . É claro que quanto maior for o número
dia, qual o total de quilômetros que ele percorrerá, ao de pontos considerados, melhor será a aproximação
longo de 15 dias? obtida.

MATEMÁTICA
O comprimento (exato) C dessa curva é definido
Solução: no 1º dia Eudoxo percorreu 1km como o “limite” dessa soma, quando o número de
+ 1km = 2km, indo e voltando até sua casa. pontos aumenta indefinidamente.
No 2º dia percorreu 2km+2km=4km, no 3º dia
3km+3km=6km, e assim por diante. Logo, no Simbolicamente, escrevemos:
final de 15 dias ele percorrerá 2+4+6+...+30=2
⋅(1+2+...+15)=240 km. C = l i m ( POP1 + P1P2 + P2P3 + ... + Pn − 1Pn ) = l i m
n
∑ Pi − 1 Pi .
n→∞ n→ ∞ i =1

Curva que liga dois pontos P e Q. Seu comprimento C


é aproximado pela soma dos comprimentos dos seg-
mentos PoP1, P1P2, P2P3,..,Pn-1Pn, ou seja,
C ≅ POP1 + P1P2 + P2P3 + ... + Pn −1Pn .

Exemplo 3: no 1º dia de uma caminhada, Arquimedes


saiu de um ponto A até o ponto B, percorrendo uma
distância de d metros. No 2º dia, andou de A até C,
aumentando em mais 3 metros o percurso de A até
B. No 3º dia, andou de A até D, aumentando em mais
3 metros o percurso de A até C. Prosseguindo dessa
maneira, no 10º dia andou de A até K, andando mais 3
metros com relação ao ponto J. Sua calculadora deu
um percurso acumulado ao longo desses dias, de 355
metros. Qual foi a distância inicial percorrida?

n
Sugestão: Use que AB=d, AC=d+3, AD=d+6, Daí, temos que C = l i m ∑ Pi − 1 Pi .
AE=d+9, etc. Além disso, tem-se que n→ ∞ i =1
AB+AC+AD+...+AK=355.

Exemplo 4: várias curvas já tinham sido estudadas


Os Exemplos 1 e 2 foram resolvidos facilmente, na antiguidade. O caso mais famoso de estimativa de
pois tratávamos de medidas de segmentos de comprimento de uma curva foi realizado por Arquime-
reta. Mas, como sabemos, no plano não só exis- des (287-212 a.C.) para obter o comprimento de uma
tem poligonais. Na verdade, dados dois pontos P circunferência de raio R.
e Q do plano existem infinitas curvas que ligam
esses pontos.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 75


EAD 2009

Hoje sabemos que o comprimento de uma cir-


cunferência de raio R é exatamente A=2πR, onde
π=3,14,159.... é um número irracional.
MATEMÁTICA

Aproximação do círculo por um quadrado Exemplo 5: na figura abaixo, vemos uma circunferên-
cia de raio R=1,6. Usando a fórmula C=2πR, temos
que C=2πR ≅ 2 ⋅ 3,1415 ⋅ 1,6 = 10,0528. Em um
programa computacional (Geogebra) este valor é dado
por AB =10,0523.

? VOCÊ SABIA?

Aproximação do círculo por um octógono

A idéia é considerar primeiramente um quadrado


inscrito numa circunferência e calcular seu perímetro.
Duplicando o número de lados, obtém-se polígonos
inscritos cujos perímetros estão cada vez mais próximos
do comprimento da circunferência.
Segundo relatos, Arquimedes utilizou polígonos de
até 96 lados, chegando que a razão C/D, entre o com- http://commons.wikimedia.org/wiki/
primento da circunferência e seu diâmetro, obedecia às Archimedes_naples_statue.jpg
desigualdades 3,1408 < C/D < 3,1428. Como D=2R, ARQUIMEDES foi um matemático grego, filósofo e inventor
temos C ≅ 2⋅3,1408 R, que nos dá um valor muito bem que escreveu importantes obras sobre geometria, aritmética e
mecânica. Nasceu aproximadamente em 287 aC, em Siracusa,
aproximado para o número π. na costa oriental da Sicília e foi educado em Alexandria, no
Egito.
Foi morto por um soldado romano que não sabia quem ele era,
em 212 aC, em Siracusa.
Ele é famoso por ter descoberto a lei da hidrostática, também
conhecido como “princípio de Arquimedes”, afirmando que
um corpo imerso num fluido perde peso igual ao peso da
quantidade de líquido que ele desloca.
Durante a conquista romana da Sicília em 214 aC, Arquimedes
trabalhou para o Estado e vários de seus dispositivos
mecânicos foram utilizados na defesa de Siracusa. É geralmente
considerado como o maior matemático e cientista da
antiguidade e um dos três maiores matemáticos de todos os
tempos (junto com Isaac Newton (1643-1727) e Carl Friedrich
Gauss (1777-1855)).
Aproximação do círculo de raio R por um polígono regular de 16 lados

76 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Exemplo 6: na figura ao lado está exibido um arco de Note que o comprimento da circunferência exterior é ≅
circunferência de raio R=1, que divide o arco do 2º 6,28R, muito próximo do comprimento da astróide.
quadrante ao meio.
Como o comprimento da circunferência neste caso é
C=2π⋅1=2π, temos que o comprimento desse arco
π
é C= .

MATEMÁTICA
4

Exemplo 9: você sabe o que é radiano? Qual a relação


entre o grau e o radiano?
Como vimos no Capítulo 3, o grau é uma invenção
dos babilônios. Eles utilizavam um sistema de nume-
ração sexagesimal (base 60) e talvez por essa razão
tenham dividido a circunferência em 360 partes iguais,
chamando de grau a uma destas partes.

Exemplo 7: a curva ciclóide é descrita pelo movimen-


O instrumento adequado para medir ângulos é cha-
to de um ponto P de uma circunferência de raio R,
mado de transferidor.
no solo, enquanto esta circunferência rola ao longo
de uma reta. Enquanto o comprimento (na horizontal) Como ele é dividido em 180 partes, cada uma delas
percorrido pela circunferência é 2πR, é possível mos- corresponde a 1 grau.
trar que a ciclóide tem comprimento do arco igual a
8R, ou seja, o comprimento do seu primeiro percurso
é C=8R.

O comprimento da ciclóide é 8 vezes o raio da


circunferência, isto é, C=8R. http://pt.wikipedia.org/wiki/Transferidor

Definição 1: considere uma circunferência de centro O


Exemplo 8: outra curva famosa, da mesma família, é e raio R e dois pontos A, B a ela pertencentes. Dizemos
chamada astróide. Ela é descrita por ponto de uma que um arco tem medida 1 radiano (escrevemos
circunferência de raio R/4, que gira no interior de um 1 rad) quando seu comprimento é igual ao raio dessa
círculo de raio R. É possível calcular o comprimento circunferência. Como o arco está associado ao
do arco da astróide que está situado no 1º quadrante, ângulo central , dizemos também que 1 rad é a
3R
obtendo-se 2 . Logo, o comprimento total da astróide medida desse ângulo central, que determina na circun-
é C = 4 ⋅ 3R = 6R .. ferência um arco de comprimento igual ao raio.
2

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 77


EAD 2009
MATEMÁTICA

Arcos / ângulos de 2 e 3 radianos em uma circunferência de raio R.

Simbolicamente, temos:

Observações:
i) Apesar do grau ser uma unidade bastante utilizada
para medir ângulos, ele não está relacionado com Arcos / ângulos de 5 e 6 radianos em uma
as propriedades métricas do plano e também é circunferência de raio R.
pouco usado nas disciplinas de Cálculo Diferencial.
Neste caso, utilizamos o radiano. iv) Em Trigonometria é usual (e cômodo) considerar
arcos em uma circunferência de raio unitário, ou seja,
ii) Note que quando o raio da circunferência aumenta
de raio R=1. Com isso, os segmentos que definem
(ou diminui), o comprimento do arco muda, mas
o seno e o cosseno de um ângulo α são visualizados
o ângulo de 1 rad é o mesmo.
melhor, no chamado “círculo trigonométrico”.

Como R=1 temos

iii) Como o comprimento de uma circunferência é C=2


π R e o arco de 1 rad equivale à medida de 1 R,
temos que C=2 π R = 2 π 1R = 2π rad.

Ou seja, em uma circunferência de raio R cabem 2π ≅


6,28 arcos de 1 rad cada.

78 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

2. Área de Uma Figura Plana Neste capítulo, estaremos interessados em calcular


algumas áreas de figuras planas já conhecidas, e outras
Historicamente, o cálculo de comprimentos e áreas
não. Por essa razão, assumiremos alguns resultados,
teve grande desenvolvimento na Mesopotâmia e no
que decorrem de axiomas sobre áreas.
Egito. É por demais conhecido que os egípcios neces-
sitavam demarcar suas terras mais de uma vez, devido
às enchentes do rio Nilo, levando-os portanto a calcular Definição 2: a área de um quadrado de lado =1u é

MATEMÁTICA
comprimentos e áreas mais simples, como áreas de A=1u2.
quadrados, retângulos e outras figuras. Na Mesopotâ-
mia, as tábuas de argila babilônica do período 2.000
a.C a 1.600 a.C. já continham problemas concretos de
cálculo de áreas do retângulo, do triângulo retângulo, do
triângulo isósceles e do trapézio retângulo. Eram dadas
também aproximações grosseiras do comprimento e da
área de um círculo. Como consequência dessa definição podemos
Segundo os historiadores, os primeiros sucessos mostrar que a área de um quadrado de lado  é igual
para cálculos de áreas de figuras com fronteiras curvas a 2. Essa demonstração é feita, por decomposição,
(segmentos de parábolas, círculo, etc.) foram feitos para quadrados de lados inteiros, e posteriormente
por Hipócrates de Quio, que calculou áreas de figuras para quadrados de lados racionais e reais. Os detalhes
chamadas “lúnulas”, na tentativa de resolver o problema podem ser encontrados na bibliografia recomendada.
da quadratura do círculo. Arquimedes, considerado o
mais eminente matemático da Antiguidade, trabalhou
bastante no sentido de calcular áreas e volumes de
várias figuras, assim como o círculo e a esfera.

?? SAIBA MAIS
?

Proposição 1: a área de um retângulo de base b e al-


tura h é A= bh.

Demonstração: seja ABCD um retângulo, de base b e


altura h. Seja A a área desse retângulo, que queremos
determinar.

No caso da área do arco ACB de uma parábola, determinado


pela corda AB, Arquimedes tomou como primeira aproximação
o triângulo ABC, onde C é um ponto da parábola e a reta
tangente é paralela ao lado AB. Depois, considerou dois outros
pontos, D e E, um em cada lado da parábola, formando dois
novos triângulos ACD e BCE.
A soma da área de ABC com as áreas de ACD e BCE já nos
dão uma melhor aproximação da área do arco da parábola.
Prosseguindo dessa forma, tomando mais e mais triângulos Definição 3: um paralelogramo é um quadrilátero de
inscritos, Arquimedes conseguiu provar que a área desse arco lados opostos paralelos dois a dois. Na figura abaixo
de parábola é igual a 4/3 da área do ∆ABC.
temos um paralelogramo ABCD, de base AB e altura h.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 79


EAD 2009

De fato, se ABC é um triângulo retângulo, como na figura,


então a altura relativa à base AB é igual a medida do cateto.
Logo, A = base x altura = b c .
2 2
MATEMÁTICA

Proposição 3: a área de um paralelogramo de base b


e altura h é A= BH.

Demonstração: seja ABCD um paralelogramo de ii) A área de um triângulo equilátero de lado  é


base igual a b e altura h, como na figura anterior. Cons- 2 3 .
truímos abaixo um retângulo ABFG na figura abaixo de A=
4
base b, e altura h. Pela Proposição 2, temos que área
(ABFG)=bh Dado um triângulo eqüilátero ABC, tracemos a altura
Como área(triângulo BDG)=área(triângulo ACF) em relação à base AB. Como sabemos, essa altura é
concluímos que área(ABCD)=área(ABFG)=bh, como
também mediana do triângulo. Logo, pelo T. de Pitágo-
queríamos demonstrar.  2 2
ras,  2 = h2 + ( )2 , ou seja, h2 =  2 −  = 3 . Logo,
2 4 4
 3  3
 ⋅h  ⋅ 2
h= . Finalmente, A= = =
2 3 .
2 2 2 4

Proposição 4: a área de um triângulo de base b e


altura h é A= b⋅h/2 De posse da área de um triângulo, podemos de-
terminar áreas de polígonos convexos, triangulando-o
convenientemente, como mostra o exemplo a seguir.

Exemplo 11: a área de um hexágono regular de lado


2
 é A = 6⋅  3.
4

A demonstração é simples, pois a área do triângulo


ABC é a metade da área do paralelogramo construído
na figura acima. Logo, área(triângulo ABC)=bh/2.

Exemplo 10: casos Particulares de Áreas de Triângulos


i) A área de um triângulo retângulo de catetos b e c
é igual à metade do produto das medidas desses
catetos, ou seja, A = b c . Solução: Considere um hexágono ABCDEF. Ligando
2
seu centro O (do círculo circunscrito) aos vértices, ob-
temos 6 triângulos equiláteros.

80 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Dessa forma, a área do hexágono é 6 vezes a área 3. A Área de um Círculo


do triângulo ABC, como queríamos demonstrar.
Utilizaremos nossas idéias anteriores para determi-
nar a fórmula para a área de um círculo de raio R. Inicia-
Exemplo 12: o pentágono regular tem área igual à soma remos enunciando duas propriedades sobre polígonos
das áreas dos 3 triângulos AED, ADC e ACB, construí- inscritos e circunscritos em um círculo.
dos a partir do vértice A. Esse procedimento é utilizado
P1: se P é um polígono convexo inscrito em um

MATEMÁTICA
em Topografia, ramo da engenharia que trata de medi-
círculo C, então o polígono Q convexo inscrito em C,
ção de comprimentos e áreas, entre outros tópicos.
cujos vértices são todos os de P acrescidos de outro
ponto do círculo, possuirá área maior que a área do
polígono P.

A figura abaixo mostra um polígono ABCDE inscrito


em um círculo.
Ao acrescentarmos um novo ponto F no círculo,
obtemos um novo polígono ABCDEF, cuja área é evi-
dentemente maior que a área do polígono anterior.

Exemplo 13: utilizando o recurso anterior, podemos


calcular áreas aproximadas de uma região plana (de
um terreno, por exemplo) inscrevendo nessa região
um polígono e depois subdividi-lo em triângulos.

P2: se P é um polígono convexo, circunscrito ao


círculo C, então o polígono Q convexo circunscrito a
C, cujos pontos de tangência com C são todos os de
P, acrescidos de outro ponto do círculo, possuirá área
menor que a área do polígono P.
Exemplo 14: a figura ao lado mostra uma região plana
aproximada por várias regiões retangulares adjacen- A figura abaixo mostra 5 pontos de tangência A, B,
tes, ou seja, que se intersectam apenas ao longo de C, D, E a um círculo. Traçando segmentos tangentes,
suas fronteiras. temos um polígono circunscrito FGHIJ.

A área dessa região é aproximada igual à soma das


áreas desses retângulos. Quanto maior for o número
de retângulos, melhor a aproximação.
Ao acrescentarmos outro ponto L de tangência, ob-
O cálculo de áreas de figuras é estudado com mais temos um novo polígono cuja área é claramente menor
profundidade na disciplina Cálculo Integral. que a área do polígono anterior.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 81


EAD 2009

O resultado a seguir nos sugere um modo de cal­ Utili­zando, então as propriedades 1 e 2 enunciadas
cularmos a área de um círculo. anterior­mente, verificamos que a área de Pn+1 é maior
que a área de Pn e a área de Qn+1 é menor que a área
de Qn. Como Pn+1 e Qn+1 são polígonos inscritos e cir-
Teorema 1: a área de um círculo é o número real cunscritos ao círculo em questão, temos que:
A(C) cujas apro­ximações por falta são as áreas A(Pn )< A( C ) < A(Qn ) e A(Pn+1 )< A( C ) < A(Qn+1 )
MATEMÁTICA

dos polígonos convexos nele inscritos e cujas Além disso, A(Pn )< A(Pn+1 ) e A(Qn+1 )< A(Qn )
aproximações por excesso são as áreas dos po-
lígonos a ele circunscritos.
Daí podemos concluir que: A(Pn ) < A(Pn+1 ) < A( C )
< A(Qn+1 ) < A(Qn ).
Ilustraremos a seguir as sequências de polígonos
utili­zadas na demonstração deste teorema. Indicaremos É natural pensar que ao aumentarmos o número de
por Pn os polígonos de n lados inscritos no círculo. la­dos dos polígonos inscritos e circunscritos de um
Analogamente, Qn serão os polígonos circunscritos círculo C, as áreas dos novos polígonos se aproximarão
ao círculo. cada vez mais da área do círculo. De fato, demonstra-se
que se forem dados dois números reais positivos a e
b, tais que a < A(P) < A(C) < b, sempre é possível
achar um número n tal que:
a < A(Pn) < A(P) < A( C ) <A(Qn) < b

Assim, a área do círculo C poderá ser obtida como


uma aproximação (por falta), das áreas dos polígonos
nele inscritos e (por excesso) pelas áreas dos polígonos
a ele circunscritos.
Usando o Teorema 1, procuraremos encontrar para
Passagem de um polígono inscrito Pn para o polígono Pn+1 qual nú­mero real positivo A(C) se aproximam as áreas
dos polígo­nos inscritos Pn e circunscritos Qn num círculo
de raio R, quando fazemos o número n de lados de tais
polígonos aumentar.
Para isto calculamos a área de vários polígonos
inscritos e circunscritos neste círculo. Por questão de
simplicidade, utilizamos nos cálculos apenas as áreas
de polígonos regulares.

Consideremos, inicialmente, o polígono Pn inscrito


em C, ilustrado na figura a seguir:
Passagem de um polígono circunscrito Qn para o polígono Qn+1

Podemos observar que: A(Pn )< A( C )< A(Qn ).


Quando acrescentamos outro ponto P do círculo
para formar os polígonos Pn+1 e Qn+1 , cujos vértices
ou pontos de tangência são todos os dos polígonos Pn
e Qn acrescidos do ponto P, vemos que os polígonos
Pn+1 e Qn+1 apresentam n+1 lados, conforme pode ser
visto na figura acima.

82 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

No triângulo OAB temos que:


n A( Pn ) A( Pn )/R2 A(Qn) A( Qn)/ R2
 180°    180° 
a = cos  ⋅R e = sen  ⋅R , 16 3,061467.R2 3,061467 3,182598.R2 3,182598
 n  2  n 
onde n é o número de lados do polígono Pn e R é o raio 32 3,121445.R2 3,121445 3,151725.R2 3,151725
do círculo que circunscreve Pn.
64 3,136548.R2 3,136548 3,144118.R2 3,144118

MATEMÁTICA
A área do triângulo ∆ OAB pode ser calculada como, 128 3,140331.R2 3,140331 3,142224.R2 3,142224

a  180°  2  180°  256 3,141277.R2 3,141277 3,141750.R2 3,141750


A
( Ä ABC ) = = sen  R cos 
2  n   n 
512 3,141514.R2 3,141514 3,141632.R2 3,141632
Assim, a área de Pn será:
1.024 3,141573.R2 3,141573 3,141603.R2 3,141603
 180°   180°  2
A( Pn ) = n ⋅ sen  ⋅ cos  ⋅R (I)
2.048 3,141588.R2 3,141588 3,141595.R2 3,141595
 n   n 
4.096 3,141591.R2 3,141591 3,141593.R2 3,141593
Consideremos agora o polígono Qn, circunscrito no
círculo C.
Analisando a tabela, notamos que quando aumenta-
A( P )
mos o nú­mero de lados n as razões 2n aumentam
A( Q ) R
enquanto, as razões 2n diminuem. Parece que essas
R
razões se apro­ximam de um número, mas qual seria
esse número?
Esta pergunta não é recente. Pelo contrário, os
babilô­nios a cerca de 2.000 A.C. já se preocupavam
com ela.
Na Grécia, o célebre Arquimedes inscreveu polígonos
regulares, dobrando em cada etapa o número de lados.
No triângulo ∆ OAB temos que: Dessa forma, as áreas desses polígonos são cada
vez mais aproximações (por falta) da área do círculo
 procurada.
180°  180°
tg = 2 . Logo, = R tg Analogamente, tomando polígonos circunscritos,
n R 2 n
Arquimedes obteve aproximações (por excesso) da
A área do triângulo ∆ OAB pode ser calculada como área do círculo.
Esse processo é chamado de “método de exaus-
R 180° tão”, que é devido a Eudoxo, matemático anterior a
A( ∆ OAB) = = R 2 tg
2 n Arquimedes.
Assim, a área de Qn será: No caso de um polígono inscrito e circunscrito
com 96 lados, Arquimedes obteve que a razão da área
180° do círculo pelo quadrado do seu raio estava com-
A(Q n ) = n( ∆ ABC ) = nR 2 tg (II).
n preendida entre , ou seja, foi obtido que

As expressões (I) e (II) foram utilizadas para compor A


3,140845 < < 3,142857 .
a tabela dada a seguir. Nela encontram-se a área de R2
polígonos regulares Pn e Qn inscritos e circunscritos
Daí se conclui que A ≅ 3,142857 R 2 .
num círculo de raio R e as razões entre estas áreas e o
quadrado do raio R do cír­culo.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 83


EAD 2009

Hoje sabemos que a área do círculo é exatamente 4. Outras Áreas entre Curvas
A=πr2, em que π=3,14,159.... é um número irracional.
Exemplo 15: cálculo da área limitada por uma parábo-
la e o eixo Ox.
Em 1737, Euler passou a usar a letra grega π para Como já foi dito inicialmente, além de estudos sobre
representar esse número. Sabe-se, porém, que alguns a área do círculo, Arquimedes também obteve uma
anos an­tes o matemático William Jones já havia proposto relação entre a área de um arco de parábola determi-
MATEMÁTICA

a mesma notação, sem muito êxito. nado por dois pontos A e B e o triângulo formado por
esses pontos.
Com o advento do Cálculo Diferencial muitas outras
áreas foram obtidas, usando basicamente o método de
exaustão de Eudoxo.
Para ilustrar, vamos apresentar o método para deter-
minar o valor EXATO da área do “triângulo parabólico”,
ou seja, a área limitada pela parábola y=x2 e o eixo Ox,
de x=0 até x=1.
Em 1761, o matemático Lambert provou que π é
um número irracional. Portanto, não importa quantos
algarismos decimais tomemos para representá-lo,
jamais obteremos o valor exato para π.
A fórmula A=πR2 nos leva a interpretar (e também
visualizar) o número π como sendo a área de um círculo
de raio igual a 1.
De fato, se R=1 temos A(C) = π⋅12 = π.

Vamos precisar da seguinte fórmula da álgebra de nú-


meros naturais:

k(k + 1) n(2k − 1)
12 + 2 2 + 3 2 + ... + k 2 =
6
Outra forma de visualizar o número π é considerar
uma circunferência de raio R=1 e tomar metade do Solução: dividimos inicialmente o intervalo [0,1] em n
seu perímetro. partes, cada uma delas com comprimento 1 , isto é,
C 2π ⋅ 1 n
De fato, temos = = π. t o = 0 , t 1 = 1 , t 2 = 2 , ... t n = n = 1.
2 2 n n n

C o m o y = x 2, a s a l t u r a s m í n i m a s e m
cada inter valo [t o ,t 1 ], [t 1 ,t 2 ], [t 2 ,t 3 ], etc. são

1 2 n−1 2
h1 = 0 , h2 = ( )2 , h3 = ( )2,..., hn = ( ) .
n n n

84 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2009

Exemplo 16: no quadrado unitário (lado 1) abaixo,


1 temos dois arcos de parábola, y=x2 e x=y2. Mos-
Daí, a soma das áreas dos retângulos de base e
alturas h , h , ..., h é igual a n tre que a área da folha formada por esses arcos é
1 2 n 1
2 1 1 1 2 1 n−1 2 1 Af = .
A n = 0 ⋅ + ( )2 ⋅ + ( )2 ⋅ + ... + ( ) ⋅ 3
n n n n n n n
, ou seja,

MATEMÁTICA
1 2 1 2 n−1 2
An = [ (0 + ( )2 + ( )2 + ... + ( ) ].
n n n n

1 1 2
An = [ (1 + 2 2 + 3 2 + ... + (n − 1)2 ) ] .
n n 2

Pela nossa fórmula acima, temos que Solução: o quadrado unitário ao lado está dividido em
três partes.
1 1 (n − 1) n (2n − 1) (n − 1) (2n − 1) 2 n2 − 3 n + 1
An = [
n n2
)]= = A 1ª delas, sob a parábola e o eixo Ox tem área 1/3,
6 6n2 6n2
como vimos no Exemplo anterior.
Resumindo, temos que a soma das áreas é A 2ª delas, acima de x=y2, tem a mesma área 1/3.
Como a área do quadrado é igual a 1, temos que a área
2 n2 − 3 n + 1 .
An =
6n2 1 1
da folha é 1 = +Af + .
Não é difícil ver (utilizando o Excel, por exemplo) que 3 3
para valores cada vez maiores de n, a soma dessas áre- 1
1 Logo, A f = .
as An se aproxima de . Veja o argumento abaixo: 3
3
2 n2 − 3 n + 1
Simbolicamente, escrevemos A = lim A n = lim
6n 2
. Pois é, terminamos aqui nosso curso de Geometria
Plana. Neste capítulo vimos o conceito de compri-
1 mento de uma curva, bem como o que significa
Como → 0 , temos
n área de uma figura, além de saber como calcular
3 1 3 1 algumas áreas simples. Vimos também um histó-
n 2 (2 − + ) (2 − + )
n n2 n n2 2 1 rico sobre o cálculo do comprimento da circunfe-
lim A n = lim = lim = =
6n 2 6 6 3 rência de raio R, da área de um círculo e de como
surgiu o número ir­racional π. Para finalizar, mos-
tramos o raciocínio empregado por Arquimedes
para determinar a área de um triângulo parabólico
?? SAIBA MAIS e que hoje é utilizado no Cálculo Integral.
?
A área do triângulo parabólico hoje é calculada com o uso do
Teorema Fundamental do Cálculo. Este teorema é apresentado
nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, e é devido a I.
Newton e G. Leibniz.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 85


EAD 2009

5. SUGESTÕES DE ATIVIDADES watch?v=HXUhJIOjqc0


2a parte: http://www.youtube.com/
watch?v=l62nVVrlt54
1) Calcule a área sombreada abaixo:

Comprimento e Área do Círculo:


1a parte: http://www.youtube.com/
MATEMÁTICA

watch?v=EB6-j_ffLwg
2a parte: http://www.youtube.com/
watch?v=JOLg7OOMCKo

Referências

AABOE, A. Episódios da História Antiga da Matemática. Col. Fund.


da Matemática Elementar. Rio de Janeiro: Soc. Bras. de Matemática,
SBM, 2002.

2) Calcule a área sombreada abaixo: BARBOSA, J. Geometria Euclidiana Plana. Col. do Prof. de
Matemática. Rio de Janeiro: Soc. Brasileira de Matemática, SBM,
2006.

BOYER, C. História da Matermática. São Paulo: Ed. Edgar Blucher,


1991.

EVES, H. Introdução à História da Matemática. Campinas, SP: Ed.


Unicamp, 2002.

POGORELOV, A. Geometry. English Translation, Mir Publishers,


Moscow, 1987.

Referências da Internet:
1. Geogebra: http://www.geogebra.org/cms/
2. Cabri Géomètre: www.cabri.com.br
3. Winplot: http://math.exeter.edu/rparris

Videos
Usando Padrões para Medir:
1a parte: http://www.youtube.com/
watch?v=GDZHaM73R9I
2a parte: http://www.youtube.com/
watch?v=q0XgRzg0JcY

Áreas de Polígonos:
1a parte: http://www.youtube.com/

86 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

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