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MATEMÁTICA
Licenciatura em Matemática
Geometria Plana
Salvador
2009
ELABORAÇÃO
DIAGRAMAÇÃO
MATEMÁTICA
Nilton Rezende
CDD: 516.3
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luis Inácio Lula da Silva
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
MATEMÁTICA
DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Hélio Chaves Filho
VICE-GOVERNADOR
Edmundo Pereira Santos
SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
Osvaldo Barreto Filho
VICE-REITORA
Amélia Tereza Maraux
COORDENADOR UAB/UNEB
Silvar Ferreira Ribeiro
DIRETOR DO DEDC – I
Antônio Amorim
VICE-COORDENADOR
Silvar Ferreira Ribeiro
COORDENADOR ADMINISTRATIVO
Jader Cristiano Magalhães de Albuquerque
COORDENADORA PEDAGÓGICA
Sônia Maria da Conceição Pinto
Prezado estudante,
Este módulo é parte do material didático que dá suporte as suas atividades de auto-estudo e auto-formação no curso de
Licenciatura em Matemática na modalidade à distância.
MATEMÁTICA
Cada componente curricular dispõe de um material impresso correspondente, especialmente preparado para este curso, por
docentes - pesquisadores, selecionados por sua inserção e produção na área de conteúdo específica.
Além deste módulo, você também dispõe de material em mídia e do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
Procure conhecer e explorar o máximo possível todo o material disponibilizado para o seu curso.
É importante ter consciência que este é um material básico, especialmente preparado para lhe oferecer uma visão essencial
ao estudo do conteúdo de cada componente curricular. Portanto, ele não tem o objetivo de ser o único material para pesquisa
e estudo. Pelo contrário, durante o decorrer do texto, o próprio módulo sugerirá outras leituras, apontando onde você pode
encontrar fontes para aprofundar, verticalizar ou trazer outros olhares sobre a temática abordada.
Observe que, no decorrer deste módulo, os autores abrem caixas de diálogo para que você construa como interlocutor ativo,
a sua leitura do texto. Elas aparecem com os ícones e objetivos listados a seguir:
? Você sabia? – convida-o a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou infor-
VOCÊ SABIA?
mações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta;
Indicação de leituras – neste campo, você encontrará sugestão de livros, sites, vídeos.
INDICAÇÃO DE você
A partir deles, LEITURA
poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas
ou outros olhares e interpretações sobre aquele tema;
Então caro estudante, encare este material como um parceiro de estudo, dialogue com ele, procure as leituras que
ele indica, desenvolva as atividades sugeridas e, junto com seus colegas, busque o apoio dos tutores e a orienta-
ção do professor formador. Seja autor da sua aprendizagem.
Bom estudo!
CAROS ESTUDANTES!
Este texto tem como objetivo principal apresentar os axiomas da Geometria Euclidiana de uma forma organizada, seguindo
os passos iniciados por Euclides em 300 a.C., e posteriormente reformulados por D. Hilbert em 1900. A idéia básica é
reconstruir a Geometria a partir de suas bases teóricas, axiomatizando-a passo a passo, a fim de trazer maior compreensão
MATEMÁTICA
aos leitores de sua estrutura lógica, principalmente se estes são professores ou alunos de cursos de Matemática.
Para não nos tornarmos excessivamente formais, tivemos o cuidado de exemplificar os conceitos e ilustrar com vários
desenhos os axiomas e definições dadas, bem como acrescentamos ao texto diversas aplicações práticas. Neste sentido,
a utilização dos softwares Geogebra e Cabri-Géomètre foi fundamental.
Iniciamos nosso construção nos Capítulos 1, 2 e 3, onde são apresentados os axiomas de incidência, ordem, e de
medição de segmentos e ângulos. No Cap. 4 definimos a noção de igualdade em Geometria, chamada de “congruência”,
importante para relacionar objetos geométricos no plano e nele abordamos a congruência de triângulos.
Os capítulos 5 e 6 são o destaque de nossa apresentação axiomática, pois trazem a caracterização da Geometria Euclidiana
através do Axioma das Paralelas. Como é conhecido na história da Matemática, a falta da unicidade da paralela por um
ponto dado dá origem às chamadas “geometrias não euclidianas”, descobertas por Nikolai Lobachevsky e János Bolyai no
sec. XVIII, bem como o florescimento de muitas pesquisas matemáticas nesta área.
Os capítulos 7 e 8 são essencialmente de aplicações. Neles veremos tópicos como semelhança de triângulos, o Teorema
de Tales, o Teorema de Pitágoras, entre outros. Para finalizar, o Cap. 9 traz à tona o conceito geral de comprimento de
curvas e áreas de figuras planas, conceitos esses que estão relacionados com o Cálculo Diferencial e Integral.
A referência bibliográfica mais utilizada neste texto é a do Prof. J. L. Barbosa, “Geometria Euclidiana Plana”, da SBM, que
sua vez traz as idéias do texto “Geometry”, do matemático russo A. Pogorelov. Devemos mencionar também o nome da
Profa. S. R. Ferreira, por termos trabalhado conjuntamente com estes temas em outra ocasião.
Finalmente, esperamos que este texto possa contribuir para atingir seu objetivo maior, que é o de apresentar um
trabalho acessível, sem perder de vista o nível matemático desejado.
SUMÁRIO
MATEMÁTICA
3. Noções primitivas e axiomas 16
4. Proposições e teoremas 16
5. Sugestões de atividades 18
6. Indicações de leituras 19
Cap. 2 - Iniciando com os Axiomas da Geometria 20
1. Os grupos de axiomas da Geometria 20
2. Axiomas de pertinência 22
3. Axiomas de ordem 23
4. Sugestões de atividades 25
5. Indicações de leituras 26
Cap. 3 - Aprendendo a Medir 27
1. Notas Históricas 27
2. Axiomas de medição de segmentos 28
3. Axiomas de medição de ângulos 31
4. Tipos de ângulos e perpendicularidade 33
5. Sugestões de atividades 35
Cap. 4. - A Noção de Igualdade em Geometria 37
1. O que significa congruência? 37
2. E em Matemática, o que significa congruência? 38
3. Congruência de segmentos 39
4. Congruência de triângulos 40
5. Os casos de congruência de triângulos 40
6. Bissetriz, mediana e altura de um triângulo 42
7. Sugestões de atividades 44
8. Indicações de leituras 47
Cap. 5 - Preparando Para o Axioma das Paralelas 46
1. Ângulos de um triângulo 46
2. O teorema do ângulo externo 46
3. Conseqüências do teorema do ângulo externo 48
4. Aplicações 50
Capítulo 1 – A Evolução dos Con- subconscientes. A noção de distância entre dois corpos,
as noções de figuras geométricas mais simples, de retas
ceitos da Geometria Plana1*
MATEMÁTICA
paralelas, perpendiculares, e até as noções de áreas e
volumes foram obtidas dessa forma, ou seja, mediante
Vamos iniciar nossa disciplina Geometria Plana? observações dos nossos descendentes. Esse estágio
Ela se propõe a abordar vários tópicos importantes da Geometria, caracterizado pela intervenção do homem
e fundamentais para o seu crescimento matemático. nesse ambiente de forma primitiva, é chamado pelos
Neste capítulo apresentaremos alguns personagens re- textos históricos de “geometria subconsciente”.
levantes da História da Geometria, enfatizando algumas É claro que muitos séculos se passaram até que a
de suas contribuições. Aprenderemos também o que geometria fosse elevada à condição de ciência, veja
são “noções primitivas” e “axiomas” de uma teoria, a seguir:
e qual a diferença entre estes conceitos e os chamados
“teoremas”. Vamos começar?
1. Aspectos Históricos
Como começou a Geometria. Qual a sua opinião?
Que povos se destacaram nessa história?
http://commons.wikimedia.org/wiki
MATEMÁTICA
em um círculo, Arquimedes conseguiu um valor para π
compreendido entre 3 10 e 3 10 .
71 70
um jogo ou uma teoria são chamados “noções pri- mas da Geometria Euclidiana. Observemos então que:
mitivas”. No caso da Geometria, ponto, reta, e plano as Noções Primitivas (peças) e os Axiomas (regras)
são as Noções Primitivas. Na Teoria dos Conjuntos, as formam a base de uma teoria (jogo).
noções primitivas são: conjunto e pertinência. Muitas vezes é necessário introduzirmos elementos
que necessitamos ou desejamos trabalhar e que em
geral damos algum nome. No jogo de baralho chamado
de “buraco” é introduzido o termo “canastra”, que nada
mais é que uma seqüência de 7 (sete) cartas diferentes,
todas do mesmo tipo (ouro, copas, espadas ou paus). A
descrição do que vem a ser uma “canastra” é chamada
de “definição”. No caso da Geometria aparecem os no-
Mas, veja o seguinte: mesmo dispondo das peças de
mes segmento, ângulo, triângulo, círculo, etc, que têm
um baralho, dominó, ou outro similar, só podemos dar
suas descrições dadas nas chamadas definições.
início ao jogo se conhecermos as suas regras. Estas
regras são aceitas sem justificativas, mas precisam ser
suficientes para o jogo acontecer e dar certo, isto é, 4. Proposições e Teoremas
elas devem estabelecer o que é permitido em qualquer
situação que possa vir a acontecer.
a b c
d e f
g h i
MATEMÁTICA
Chamamos de Proposições (ou Teoremas, a depen- sem utilizar, não é isso?
der de sua importância) as afirmações que podem ser Isto mostra que não pode haver repetição de núme-
deduzidas, ou seja, tiradas como conclusão, a partir dos ros no preenchimento.
conceitos primitivos e das regras do jogo. No caso do
quadrado 3x3 temos nove números 1, 2, 3, …, 7, 8,
A demonstração da propriedade P2: “A soma má-
9 e as regras R1, R2 e R3 .
gica tem que ser 15” não é assim tão simples, mas é
Com esses dados podemos concluir (deduzir, tirar possível compreender.
como verdadeiro), que:
a b c
2 6
d e f
5 g h i
4 8
Veja:
1) Pela regra R2, cada linha deve ter a mesma soma S
P1: Não se podem repetir números no quadrado mágico; (que não sabemos ainda que é 15).
P2: A soma “mágica” mencionada na regra R2 tem que
ser 15; 2) Somando estas 3 linhas teremos S+S+S
=a+b+c+ ...+g+h+i
P3: O número 5 deve ficar no centro do quadrado;
P4: Os números pares devem ficar nos cantos do 3) Como a+b+c+ ...+g+h+i é a soma de todos os
quadrado. números de 1 a 9 temos
?
3S = 1+2+...+9 = 45
VOCÊ SABIA? 4) De 3S=45, concluímos que S = 15, como quería-
mos provar.
Que Teorema é um termo introduzido por Euclides, em Elementos,
para significar “afirmação que pode ser provada” ?
Em grego, originalmente significava “espetáculo” ou “festa”. Deixamos como exercícios as argumentações das
Atualmente, é mais comum deixar o termo “teorema” para propriedades P3 e P4.
apenas certas afirmações que podem ser provadas e de grande
“importância matemática”, o que torna a definição um tanto
subjetiva.
Já um Corolário é uma conseqüência direta de outro teorema ?? SAIBA MAIS
ou de uma definição, muitas vezes tendo suas demonstrações ?
omitidas, por serem simples.
Fonte: Wikepedia
O objetivo da Geometria é determinar propriedades de
figuras planas e dos sólidos do espaço. De modo análogo
ao jogo do quadrado mágico, tais propriedades, chamadas
Como dissemos acima, estas afirmações podem ser de Proposições e Teoremas, devem ser deduzidas somente
deduzidas a partir das regras do jogo. A demonstração através de raciocínio lógico, a partir dos axiomas (regras do
da proposição P1 é bastante simples, veja: jogo), de outras propriedades já estabelecidas ou ainda, de
uma definição.
1) Um quadrado 3x3 tem nove posições para serem
Como exemplos de Proposições da Geometria, ci- inspirou homens das mais diversas áreas a organizarem
tamos: suas idéias da mesma forma.
“Em um triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa acompanhados de uma argumentação, para serem
é igual à soma dos quadrados dos catetos”. considerados verdadeiros.
Devemos ressaltar que tanto os axiomas como A estrutura axiomática da Geometria enunciada por
as proposições são afirmações da Geometria. Os Euclides continha alguns pequenos problemas de
axiomas, “primeiras verdades”, são aceitos sem de- ordem lógica. Por essa razão, por volta de 1900,
monstração. As proposições, como conseqüências David Hilbert em “Fundamentos da Geometria”
dos axiomas e definições, necessitam ser seguidas melhorou a apresentação da Geometria sistema-
de argumentos que mostrem que elas são realmente tizada por Euclides e relacionou os axiomas que
verdadeiras. Assim, utilizando as Noções Primitivas, hoje conhecemos como os Axiomas da Geometria
os Axiomas e as Definições, podemos demonstrar as Euclidiana Plana.
Proposições. São esses axiomas que veremos a partir do próximo
Essas proposições geram outros resultados, que capítulo. Até lá!
por sua vez geram mais outros e assim sucessiva-
mente, formando uma cadeia enorme de Fatos, ou
Verdades deste sistema, incorporando-se, pois, a ele.
Este tipo de sistema é o que chamamos de Sistema
Dedutivo ou de Método Axiomático.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
1) Consulte os livros de História da Matemática de C.
Boyer ou H. Eves e faça uma pesquisa mais completa
sobre os trabalhos de Euclides e suas contribuições
na Geometria e Aritmética. Pesquise também na
Internet usando, por exemplo, as palavras “Euclides
de Alexandria” e Geometria.
3) a) Mostre que no caso de um quadrado mágico 4x4 5) Este exercício usará um fato que será provado mais
formado com os números 1, 2, …14, 15, 16, a adiante no nosso curso:
soma mágica é sempre 34.
b) Dado o quadrado mágico 4x4 abaixo, calcule o “Na Geometria Euclidiana plana, a soma dos ângulos
valor de a+b+c+d. de um triângulo é sempre 180º ”
MATEMÁTICA
1 12 a 14
c 13 2 b
10 d 16 e
f 6 9 g
MATEMÁTICA
axiomático da aritmética evoluíram muito desde a épo-
ca de Euclides, porém o valor fundamental dos textos
euclidianos é difícil de ser superado.
As letras maiúsculas A, B, C, etc, serão utilizadas poderíamos ver se essas duas retas r, s que passam por
para designar pontos e as letras minúsculas r, s, t as A, podem passar também por B. Será possível isso?
retas. Lembramos que os desenhos são apenas instru-
mentos de ajuda para nossa intuição.
MATEMÁTICA
Este axioma quer nos dizer que um plano é “algo mais” que uma Ora, o axioma I2 nos diz que a reta que passa por
reta, ou seja, dada uma reta r, sempre existem pontos que dois pontos A e B é única. Logo, estas retas r, s são
pertencem a ela, mas também pontos fora dela.
coincidentes, o que contradiz que r ≠ s.
MATEMÁTICA
Os Axiomas de Ordem, que estudaremos a se-
guir, são importantes para definirmos segmento,
semirreta e consequentemente, polígonos. Definição 2: chamamos de segmento AB ao con-
junto formado por dois pontos A e B e por todos os
pontos que estão entre eles.
3. Axiomas de Ordem
No ambiente em que vivemos utilizamos de modo
natural a noção “estar entre”, ou “localiza-se entre”.
Veja os exemplos abaixo:
Observe que para definirmos um semiplano precisa- Os segmentos que definem o polígono são chama-
mos de uma reta r e um ponto A fora dela. Os pontos dos de lados e as extremidades dos lados são chama-
do semiplano são então aqueles pontos que ficam “do das de vértices do polígono.
mesmo lado” de A, em relação à reta r. O segmento que liga vértices não consecutivos de
Nosso próximo Axioma de Ordem diz que qualquer um polígono é chamado de diagonal.
reta divide o plano em dois semiplanos. Pense em A1A2A3A4A5A6: polígono de vértices A1, A2, A3, A4,
MATEMÁTICA
SÍNTESE
Neste capítulo vimos dois grupos de axiomas da
Geometria Plana: os 02 Axiomas de Pertinência (ou
incidência) e 03 Axiomas de Ordem. Para completar
nossos 13 axiomas faltam seis Axiomas de Medi-
ção, para segmentos e ângulos, o Axioma de Con-
gruência LAL e o famoso Axioma das Paralelas.
Vamos prosseguir com eles em nossos próximos
capítulos.
MATEMÁTICA
única reta.
C pertencem a uma mesma circunferência. Nesse
b) Por três pontos pode passar uma reta. caso, você pode dizer que o ponto C está entre A
c) De acordo com nossa definição, duas retas pa- e B? Ou que o ponto B está entre A e C? Faça um
ralelas não podem se intersectar. comentário sobre essa situação.
d) Duas retas concorrentes não podem ser paralelas.
b) E no caso de 5 pontos, quantas retas teríamos? 7) TTN/97- (Administração Tributária) Quatro amigos,
André, Beto, Caio e Dênis, obtiveram os quatro pri-
meiros lugares em um concurso de oratória julgado
3) a) Quantos triângulos podemos formar com quatro
por uma comissão de três juízes. Ao comunicarem a
pontos A,B,C,D não alinhados 3 a 3 ?
classificação final, cada juiz anunciou duas coloca-
INDICAÇÃO DE LEITURA
Capítulo 3 – Aprendendo a Medir2* Apolônio de Perga (Pérgamo, 262 a.C. - 190 a.C.)
foi um mateático e astrônomo grego da escola alexan-
drina (c. 261 a.C.), chamado de o Grande Geômetra.
A noção de “medida” é bastante intuitiva e, por essa razão, foi
utilizada pelo homem primitivo há séculos. Essas medidas de
comprimentos (como também as medidas de ângulos) fazem
parte do nosso cotidiano, como podemos citar: a distância en-
MATEMÁTICA
tre duas cidades ou a distância entre Terra e a Lua, o ângulo for-
mado por uma bola arremessada por um jogador, a inclinação
do eixo da Terra, entre outros, são exemplos que mostram que o
conceito de “medida” é fundamental para o homem.
Neste capítulo ressaltaremos os aspectos um pouco mais te-
óricos sobre “medida” e explicaremos de que forma Euclides
e seus sucessores formalizaram esta noção. Procuraremos
exemplificar os passos dessa formalização, inserindo figuras
que ajudarão no seu aprendizado, facilitando sua leitura.
Será uma viagem no tempo, começando pelos povos antigos.
Vejamos...
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre
http://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Apollonios_of_Perga.jpeg
?? SAIBA MAIS
?
Ppintura de Domenico Fetti (1620)
MATEMÁTICA
http://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Eratosthenes.jpg
MATEMÁTICA
É importante ter em mente que para fazer a correspondência
entre os pontos de uma reta e os números reais é necessário
escolher um ponto O desta reta, que chamamos origem, e outro
ponto P para fixar nossa “unidade de medida”. Neste caso,
temos que OP=1 e nossa escala está pronta. Se mudarmos
a posição do ponto P teremos uma “mudança de escala”.
Definição 3: consideremos um ponto O e um número Definição 4: um ângulo é uma figura plana formada por
real positivo r. O conjunto de todos os pontos do plano duas semirretas de mesma origem. As semirretas são os
que distam igualmente do ponto O é chamado de cir- lados do ângulo e a origem comum é o seu vértice.
cunferência de centro O e raio r. Na figura ao lado, temos o ângulo , formado
Pela definição dada, se P é um ponto qualquer dessa pelas semirretas . O vértice desse ângulo é
circunferência, temos d(O,P)=r.
o ponto A.
MATEMÁTICA
Os pontos cujas distâncias são menores que r são Neste texto utilizaremos três letras para representar
chamados pontos interiores da circunferência. um ângulo: duas delas representam pontos das se-
Na figura, A, B, C são pontos interiores da circunfe- mirretas que formam o ângulo e a terceira representa
rência de centro O e raio r. o vértice, que deve aparecer entre as outras duas,
acompanhada do acento circunflexo.
?
cuja medida é 30º”. Seguindo esta maneira informal
VOCÊ SABIA? de nos comunicar, é comum indicar um ângulo e a
sua medida
∧ por um mesmo símbolo. Assim, escre-
vemos A O B =| b − a | , tanto para ângulo como para
O grau é uma invenção dos babilônios que viveram na antiga sua medida.
Mesopotâmia no segundo e primeiro milênios antes de Cristo.
Os babilônios utilizavam um sistema de numeração sexagesimal
(base 60), e talvez por essa razão tenham dividido o círculo em Exemplo 9: utilizando um transferidor, determina-
360 partes iguais, chamando de grau a uma destas partes.
mos as medidas de alguns ângulos da figura acima:
Os três axiomas a seguir referem-se à possibilidade de medição
de (qualquer) ângulo e são análogos aos axiomas de medição e
de segmentos definidos anteriormente.
MATEMÁTICA
C
∧ ∧ ∧ ∧
gulo A O B então A O B = A O C + C O B . ∧ ∧
Exemplo 12: os ângulos E F G e C A B ao lado NÃO
∧
são adjacentes,
∧
mas são suplementares, pois E F G
+ C A B = 35º + 145º = 180º.
∧ ∧
Exemplo 11: dados os ângulos A O B =45º e B O D
=90º da figura acima, podemos determinar facilmen-
∧ ∧
te os ângulos A O D e C O A .
A semirreta divide o ângulo . Logo, pelo Observemos que um ângulo e o seu suplemento são
Axioma M6 temos que exemplos de ângulos suplementares, pois a soma de
suas medidas é igual a .
∧
Como o ângulo C O D é um ângulo raso, ele mede Definição 11: dizemos que dois ângulos são opostos
pelos vértices se os lados de um são semirretas opos-
180º (Axioma M4). Logo, pelo Axioma M6 temos tas aos lados do outro.
∧ ∧
C O A + A O D = 180 o . ∧ ∧
∧ Na figura abaixo os ângulos A O D e B O C são
Como já calculamos A O D =135º, segue-se que opostos pelo vértice.
∧
C O A =45º .
∧ ∧
Prova: consideremos os ângulos A O D e B O C da
figura anterior. Observemos que o é suplemento des- Em particular, existe e é única a semirreta que faz ân-
ses dois ângulos. Daí temos que: gulo de 90o com a reta r.
Assim, a reta s que contém essa semirreta é uma reta
∧ ∧ perpendicular a r e passa pelo ponto P.
A O B + BO C = 180°
MATEMÁTICA
ao ponto P?
2) Quantos triângulos existem cujos lados a, b, c são 5) Use o exercício anterior para dar uma maneira de
números inteiros e o perímetro é 12? Será que com construir triângulos isósceles de base AB.
c=7, a=3, b=2 você forma um triângulo?
Axiomas de Medição de Ângulos
Todos sabemos sobre as subdivisões da hora em mi-
nutos e segundos: uma hora tem 60 minutos e um
minuto tem 60 segundos. Logo, uma hora tem 3.600
segundos. A conversão de uma certa hora em minu-
tos e segundos se faz usando essas definições. Por
exemplo, duas aulas de Matemática, cada uma de 50
minutos, totalizam 100 minutos. Logo, duas aulas du-
Dica: um lado de um triângulo é sempre menor que ram 100min = 60 min+40min = 1h:40min . Outro
a soma dos outros dois. Logo, você pode supor que exemplo: 12,5 h = 12h:30min
c < a + b.
6) De modo análogo para o que se faz com as horas,
E aí pessoal, como vamos? Neste capítulo vimos para medição de ângulos é necessário subdividir o
mais um grupo de axiomas da Geometria Plana, que grau. Essas subdivisões também são chamadas de
são os seis Axiomas de Medição, para segmentos e “minutos” e “segundos”. Um grau tem 60 minutos e
ângulos. Não deixe de reler com atenção os pontos um minuto tem 60 segundos. O ângulo 35º 20´45´´
que você teve dúvidas e contactar seu Tutor para é um exemplo dessa representação. Com essas
compartilhar seus questionamentos, ok? informações, dê o correspondente em graus de:
Para completar nossos treze Axiomas faltam ape- a) 18º 30´ b) 45º 120´ c) 60º 15´ d) 24º 40´30´´
nas dois: o Axioma de Congruência LAL (lado ân-
gulo lado) e o famoso Axioma das Paralelas. Vamos
7) Dê o correspondente em graus, minutos e segundos
até eles?
dos seguintes ângulos:
a) 120,5º b)25,4º c) 30,25º d)35,75º
3) Arquimedes comprou um queijo tipo “brie”, cuja
face tem forma de um triângulo eqüilátero, e quer 8) Quando os ponteiros de um relógio marcam 3 horas,
dividi-lo igualmente entre ele e seus dois amigos. o ângulo formado por eles é de 90º . Às 3h:30´ o
Faça um desenho indicando como ele deve fazer ângulo não é mais 90º , por quê? Qual será esse
essa divisão. ângulo?
∧
12) Dado um ângulo B A C como na ∧
figura abaixo,
definimos a bissetriz do ângulo B A C como sendo
a reta que passa pelo ponto A e divide este ângulo
em duas partes iguais. Faça uma pesquisa sobre
a “construção da bissetriz” de um ângulo.
MATEMÁTICA
com o conceito de “congruência”. Este conceito
é análogo ao conceito de “igualdade” entre núme-
ros reais e também ao conceito de “equivalência”
entre proposições, em Lógica. Logo em seguida
estabeleceremos os três casos de congruência de
triângulos, e daremos algumas aplicações. Leia
com atenção, como sempre, com papel e lápis
para fazer cálculos e desenhos. Quando tiver algu-
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:CottageLandscape1.JPG
ma dúvida, anote, e não hesite em perguntar a um
colega, seu tutor, ou professor.
?? SAIBA MAIS
?
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:200606081025.jpg
Congruência (do latim, congruentia):
1 Ato ou efeito de concordar, de coincidir.
2 Relação direta de uma coisa ou fato com o fim que se destina. Na área do Direito encontramos a expressão “prin-
cípio da congruência no Direito Processual Civil”, que
Congruente: tem a intenção de ajudar os profissionais a encaminhar
1 Que está harmoniosamente unido ou relacionado com. os pedidos judiciais de forma criteriosa e harmonizada
2 Concordante, correspondente.
3 Diz-se de duas figuras que podem coincidir por super-
com os fatos ocorridos, evitando assim as chamadas
posição. incongruências das sentenças.
Até nas relações familiares encontramos a palavra rente, mas mesmo assim dizemos que são A e B iguais,
congruência, veja: escrevendo portanto A=B.
Mais dois exemplos, agora em Lógica:
“Em família, a congruência pressupõe que os cônju- Em Geometria a situação é inteiramente análoga.
ges, em cada um de seus atos, têm em conta a pre- Por exemplo: um engenheiro deseja construir um
servação dos valores fundamentais do matrimônio. A apartamento com uma sala que possua duas paredes
sinceridade é um dos alicerces da congruência, mas de mesmo comprimento. O desenhista representa es-
não é o único”. tas paredes, na planta baixa do apartamento, através
de dois segmentos que possuem a mesma medida. É
muito comum ouvirmos dizer que “as paredes AB e CD
2. E em Matemática, o Que Significa Congru- são iguais”, embora elas ocupem posições diferentes
ência? na casa.
3. Congruência de Segmentos
MATEMÁTICA
Os triângulos isósceles possuem propriedades
Usaremos o símbolo “ ≡ ” para significar “congruen-
interessantes, e que são comumente utilizadas na
te”. Assim, se AB é congruente a CD, escrevemos:
resolução de problemas geométricos. Veremos mais
.
tarde essas aplicações.
MATEMÁTICA
Nosso axioma LAL nos diz que os triângulos ABC
e EFG podem ser superpostos, ou seja, são triângulos
congruentes.
Como dissemos, os triângulos ABC e EFG são Quando construímos dois segmentos AB e
congruentes. Veja por exemplo os lados BC e FG, que EF congruentes e ângulos α = δ , β = γ em cada um
possuem a mesma medida. desses segmentos, ficamos com a situação abaixo:
?? SAIBA MAIS
?
Gostaríamos de deixar claro que a regra LAL não pode
ser demonstrada com o uso dos axiomas anteriores e
por isso deve ser listada como um novo Axioma. Como
já dissemos anteriormente, isto se constitui em um bom
exemplo de “frutificação” da teoria, com propriedades
novas surgindo a partir dos dados iniciais
Daí, com a situação ÂNGULO, LADO, ÂNGULO sa-
tisfeita, temos que os triângulos ABC e EFG formados
pelos prolongamentos dos lados desses ângulos ocu-
pam apenas lugares diferentes no plano, mas podem
A partir do Axioma C de congruência podemos ser “superpostos” um no outro. Em outras palavras,
demonstrar várias outras propriedades geométricas. esses triângulos são congruentes.
Enunciaremos a seguir algumas dessas propriedades,
sob a forma de Teoremas e Proposições. Demonstração: sejam ABC e EFG dois triângulos que
satisfaçam as hipóteses , ABEF e. Vamos mostrar que
Teorema 1 (Caso ALA de congruência): Sejam ABC AC EG. Dessa forma caímos no caso LAL de congru-
e EFG dois triângulos. Se , ABEF e , então estes triân- ência e assim podemos concluir que ∆ABC ∆EFG
gulos são congruentes.
Consideremos um ponto D (chamado ponto auxiliar)
pertencente à semirreta tal que EDAC.
Comparando os triângulos ABC e EFD temos: modo análogo a demonstração anterior, comparemos
o triângulo ABC com ele próprio, através da corres-
pondência:
Assim,
MATEMÁTICA
Será somente por estética?
Mas como o triângulo ABD foi construído congruente Os triângulos PMA e PMB da 2ª figura são congruen-
com o triângulo EFG, podemos concluir que ∆ ABC∆ tes, pelo caso LAL (PM é um lado comum, os ângulos
EFG. formados pela mediatriz e o lado AB medem 90º e MA
Vamos agora explicar o porquê da cancela das fa- =MB). Logo, AP=BP.
zendas terem uma travessa de madeira na sua diagonal, Observe que o exercício acima dá uma maneira de
para sua estabilidade. construirmos triângulos isósceles de base AB. Basta
tomar a reta mediatriz de AB e um ponto qualquer C
dessa mediatriz. Pelo que vimos, o triangulo ABC é
isósceles de base AB.
MATEMÁTICA
Solução: Coloque os 3 pontos A, B, C na figura e pense
primeiro que o ponto D deve estar equidistante de A e B.
Logo deve pertencer à mediatriz do segmento AB. Pela
Solução: trace a reta EG e os segmentos AE, BE, AF, e mesma razão, o ponto D deve estar equidistante de A e
BF. Vamos demonstrar que o ponto G é ponto médio C, logo, deve pertencer à mediatriz do segmento AC.
do segmento AB e ainda que a reta EG é perpendicular Conclusão: a antena deve ser colocada na interseção
a esse segmento. das mediatrizes dos segmentos AB e AC, como na fi-
gura abaixo.
Pela nossa construção, AEBEAFBFAB. Logo os triân-
gulos ABE e ABF são congruentes, pelo caso LLL.
Definição 1: dado
∧
um triângulo
∧
ABC como da figura, os
∧
ângulos α = C A B , β = A B C , γ = B C A são chamados
de ângulos internos. Os suplementares destes ângu-
los são chamados de ângulos externos do triângulo.
∧
Na figura a seguir, θ = C BD é um dos ângulos ex- Na 2ª figura, movemos o ponto C e reduzimos o valor
ternos do triângulo ABC, pois é suplementar adjacente do ângulo externo, no caso para 70º. Mas os ângulos
∧
do ângulo β = A BC . internos não adjacentes também ficam reduzidos para
19.3º e 50.7º, sendo menores que a medida do ângulo
externo.
Demonstração do Teorema:
∧
Hipótese: C B D é um ângulo externo do ∆ ABC
∧ ∧ ∧ ∧
Note que para obter um ângulo externo de um dado Tese: C B D > A e C B D > C
→
ângulo, devemos prolongar um dos seus lados e con- Seja ∆ ABC um triângulo. Na semirreta A BB , mar-
siderar o suplementar dele. quemos um ponto D tal que B esteja entre A e∧D, como
∧
No exemplo abaixo, fizemos o prolongamento do na figura a seguir. Devemos mostrar que C B D > A
lado AC e obtivemos o ângulo externo δ, suplementar ∧ ∧
e CBD > C .
adjacente do ângulo γ.
∧ ∧
Começaremos mostrando que C B D > C .
∧ ∧ ∧ ∧ ∧ ∧
B+ A< B+ θ e B+ C < B+ θ
∧
Como B +θ =, podemos concluir que:
∧ ∧ ∧ ∧
A + B < 180o e C + B < 180o , como queríamos
demonstrar.
MATEMÁTICA
→
BE marquemos um ponto F tal
Na semirreta A
que AE EF. ?? SAIBA MAIS
Comparando os triângulos ∆ ACE e ∆ BEF abaixo,
?
temos:
Nas chamadas “geometrias não euclidianas” os
triângulos têm propriedades diferentes. Por exem-
plo, na Geometria Hiperbólica a soma dos três ân-
gulos de um triângulo é sempre menor que 180º .
MATEMÁTICA
nhecida dos triângulos, e que é também consequência
do Teorema do Ângulo Externo:
Comparando os triângulos ABC e EFD, temos:
Proposição 6: (desigualdade triangular) Em todo
triângulo, a soma dos comprimentos de dois la-
dos quaisquer é maior do que o comprimento do
terceiro lado.
∧ ∧
Agora, vejamos o triângulo ACD. Como A C D > A D C
e tendo em vista a Proposição 4,
concluímos que .
MATEMÁTICA
to BC de modo que AD ≡ AB. Com isso, mostre
que o ângulo α é maior que o ângulo β.
Solução:
Note que o ângulo γ é oposto pelo vértice do ângulo
β, logo, β=γ.
Solução:
1º erro: veja o ponto A. Os ângulos opostos pelo vértice em
A não possuem a mesma medida.
2º erro: no ponto F temos dois ângulos, um de 100º e outro
de 110º . Como eles são suplementares, a soma deveria
dar 180º , o que não é verdade.
3º erro: o triângulo I J L é isósceles, pois possui 2 ângulos de
30º , mas as medidas dos lados não são iguais, o que não
está certo.
Descubra os demais erros!
INDICAÇÃO DE LEITURA
Temas do capítulo.
http://www.somatematica.com.br/
Ângulos de triângulos.
h ttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tri%C3%A2ngulo
http://www.geogebra.org/cms/
Capítulo 6 - Euclides de Alexan- é igual à soma dos ângulos internos não adjacentes,
ou seja, θ = α + γ.
dria e o Postulado das Paralelas
2) Já ouvimos (e lemos também) que a soma dos ângulos
Você já imaginou um triângulo ABC, com soma de internos de um triângulo ABC é igual a 180º.
ângulos internos menor que 180º? Já ouviu falar Será que esses resultados são Axiomas? Ou são
MATEMÁTICA
em uma Geometria Não Euclidiana? Pois é, até Teoremas? Se forem teoremas, como argumentar,
agora nossa teoria estudada não nos deixa concluir comprovar, para nossos alunos? Serão fáceis suas
que a soma dos ângulos de um triângulo é igual demonstrações?
a 180º. Isso porque, como observou Euclides no
passado, falta um elemento chave, uma pequena Pois é, a resposta é a seguinte: com os axiomas
peça matemática que resolverá esse problema. que temos até agora, NÃO É POSSÍVEL provar que a
Este nosso capítulo é dedicado a este grande feito soma dos ângulos de um triângulo é 180º! Nem é
de Euclides, na forma de um postulado, que hoje é possível provar que (a medida de) um ângulo externo é
chamado de Postulado das Paralelas. Sugerimos igual à soma (das medidas) dos ângulos internos não
que você faça uma leitura com paciência, com vá- adjacentes. Euclides já sabia disso e vislumbrou que
rios momentos de reflexão e, além disso, esteja era necessário enunciar mais um axioma para esta Ge-
com lápis e papel ao lado para fazer anotações, ometria. Este axioma (ou postulado) nos dá a “chave”
figuras e apontar suas dúvidas. Vamos começar? para nosso sucesso, ou seja, é o 13º axioma que faltava
para completar nossa teoria. Com ele fica caracterizada
a Geometria Euclidiana Plana, que conhecemos desde
1. Introdução o Ensino Fundamental.
Nos capítulos anteriores vimos dois Axiomas de Per-
tinência, três de Ordem, seis de Medição e um de Con- Seu enunciado atual é muito simples, com veremos
gruência, totalizando 12 axiomas. Com eles pudemos a seguir:
definir vários entes geométricos: segmento, ângulo,
triângulo, polígono, círculo e provar várias proprieda-
des relativas a eles. Por exemplo, no capítulo anterior AXIOMA 13 (Axioma das Paralelas): Por um ponto
vimos o Teorema do Ângulo Externo, cujo enunciado P não pertencente a uma reta r é possível traçar
é “a medida de um ângulo externo de um triângulo é uma única paralela a esta reta.
sempre maior que a medida de qualquer outro ângulo
interno, não adjacente desse triângulo”.
Considerando a figura ao lado, o Teorema do Ângulo
Externo afirma que θ > α e também que θ > γ.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:AlexandriaMap1.jpg
Euclides baseou a construção da sua geometria em O MAIOR problema encontrado pelos matemáticos,
dez afirmações, separadas em dois grupos de cinco. As ao longo de todos os tempos, foi com relação a inde-
cinco primeiras são chamadas de “noções comuns”, pendência dos seus axiomas. O 5o Postulado, como
ou “axiomas”, que tratam de afirmações gerais, e que enunciado acima, foi alvo de críticas, primeiro porque
valem para todas as ciências. As cinco outras afirma- não era tão evidente e natural quanto os demais, pois
ções foram chamadas de “postulados”. tratava da existência de um ponto de interseção que
Hoje, os matemáticos não fazem distinção entre as pode ser inacessível. Segundo, seu enunciado era longo
MATEMÁTICA
palavras axioma e postulado. São eles, em tradução e mais parecia com o enunciado de um teorema.
contemporânea: Por essas e outras razões foram feitas, ao longo dos
tempos, várias tentativas de “demonstrar” o 5o Postu-
Noções Comuns: lado, como consequência dos demais. Homens como
1. Grandezas iguais a uma mesma grandeza são iguais Ptolomeu, Proclus, Nasir Eddin, John Wallis, Girolamo
entre si; Saccheri, Lambert, Legendre, Gauss, tentaram de-
2. Se a grandezas iguais forem adicionadas grandezas monstrar este resultado, mas na realidade conseguiram
iguais, as somas serão iguais; apenas, como consequência dessas tentativas, achar
formulações equivalentes. Uma delas foi o enunciado
3. Se grandezas iguais forem subtraídas de grandezas
do matemático Playfair, que dizia que “por um ponto
iguais, os resultados serão iguais;
dado fora de uma reta passa uma única paralela a
4. Grandezas que coincidem entre si são iguais; esta reta”.
5. O todo é maior do que suas partes. Por esse motivo, da formulação de Playfair, chama-
mos também o 5o Postulado de Euclides de “Axioma
Postulados: das Paralelas”. Os livros didáticos, em sua maioria,
1. É possível traçar uma linha reta de um ponto qualquer substituem o 5º Postulado por esta nova versão 5’, de
a um ponto qualquer; enunciado mais simples e natural.
2. É possível prolongar arbitrariamente um segmento
de reta; 3. Observações Sobre o 5o Postulado
3. É possível traçar um círculo com qualquer centro e • O enunciado do Axioma das Paralelas afirma que
raio; existe uma paralela à reta r passando pelo ponto P, e,
4. Dois ângulos retos quaisquer são iguais entre si; além disso, esta reta é única. Mas, na realidade, este
5. (5º Postulado original, de Euclides) Se uma reta corta duas axioma se refere à unicidade da paralela. Como já
outras retas, formando com elas ângulos internos do dissemos anteriormente, a existência da reta paralela
mesmo lado cuja soma é menor do que dois ângulos à r, pelo ponto P pode ser demonstrada anteriormente
retos, então as duas retas, se prolongadas, se intersec- no estudo das perpendiculares;
tam do mesmo lado em que estão esses ângulos. • Nem tudo em Matemática existe e nem tudo que
existe precisa ser único, ou seja, é possível dar
A figura abaixo exibe uma reta cortando duas outras exemplos de sentenças matemáticas vazias de
retas m e n, fazendo ângulos α e β, α + β < 180º. exemplos e outras com inúmeros exemplos. Veja:
a sentença aberta x2 + 1 = 0 não admite solução
A afirmação do 5º Postulado é que as retas m e n
no conjunto dos números reais, assim como não
devem necessariamente se intersectar.
existe triângulo com dois ângulos retos. Por outro
lado, a equação x2 - 1 = 0 tem duas soluções reais,
assim como existem (infinitos) triângulos isósceles
de perímetro 10 cm;
• Os axiomas de incidência, ordem, medição de seg-
mentos e ângulos, congruência, juntamente com o
axioma das paralelas, constituem o que chamamos de
Geometria Euclidiana Plana. Outros sistemas axio-
máticos de Geometria, que não usam o Axioma das
Paralelas, foram descobertos no Séc. XIX por J. Bolyai Demonstração: usaremos o método indireto de de-
e N. Lobachewsky e aprofundados por B. Riemann. monstração, ou seja, suporemos que as retas m e n
Nestas geometrias, chamadas Não Euclidianas, a (em um certo momento) se intersectam e chegaremos a
paralela que passa em P ou não existe, ou quando uma contradição.
existe, não é única. Nestas geometrias, a soma dos A figura abaixo mostra duas retas m e n, diferentes,
ângulos de um triângulo não é igual a 180º. com m || r e n || r .
MATEMÁTICA
?? SAIBA MAIS
?
SISTEMAS AXIOMÁTICOS
Os axiomas de uma teoria devem ser “completos”, “consis-
tentes” e “independentes”. Melhor dizendo, um sistema axi-
omático deve ser:
a) Completo: propriedade de um sistema em que tudo que será
usado na teoria está relacionado no conjunto de axiomas.
Dizemos neste caso que “não há hipóteses tácitas” nesta Suponhamos (por absurdo) que as retas m e n não
teoria; sejam paralelas. Logo, essas retas têm um ponto de
b) Consistente: propriedade de não haver contradições na teoria, interseção P.
ou seja, é impossível provar dois resultados contraditórios
nesta teoria; Agora, veja a situação em que nos encontramos: por
c) Independente: propriedade que o sistema tem de não ser esse ponto P temos duas retas distintas m e n, paralelas
redundante, ou seja, qualquer axioma é, de fato, uma peça à reta r. Esse fato contraria frontalmente a unicidade
importante neste sistema. Dizemos neste caso que cada
do 5o Postulado de Euclides, que nos diz que a paralela
axioma é independente dos demais, ou, que um axioma
qualquer não pode ser deduzido a partir dos outros. por um ponto dado é única.
A Proposição abaixo responde esta questão: Recordemos um resultado anterior, que é consequ-
ência do Teorema do Ângulo Externo. Ele nos dá um
critério para verificar se duas retas são paralelas.
MATEMÁTICA
Proposição 2: se uma reta intersecta uma de duas
retas paralelas então intersectará também a outra.
Em símbolos, se r || s e t ∩ r ≠ ∅ então t ∩
s ≠ ∅.
“Se duas retas m e n formam com uma transversal
t ângulos correspondentes (ou os alternos inter-
Demonstração: Por hipótese, r || s, e t ∩ r = {P}. nos) iguais, então essas retas são paralelas“.
Queremos concluir que t também intersectará a reta s.
(veja a figura acima!)
Simbolicamente: se α = β então m || n.
Simbolicamente: se m || n, então α = β
Demonstração: seja P a interseção de t com a reta
m. Supondo (por absurdo) que o ângulo β seja maior
(ou menor) do que o ângulo α, podemos traçar, pelo
ponto P, uma outra reta m’, fazendo com t um ângulo
igual a α.
Na figura, estamos supondo que β > α, ou seja, que Observemos primeiro que α + β + Ĉ = 180 o.
a reta m faça ângulo β > α com a transversal t. Por outro lado, em virtude do paralelismo da reta r com
A ideia é chegar em uma contradição. AB e da Proposição 3, temos α= Â e β=B̂ .
Logo, podemos escrever que:
 + B̂ + Ĉ = α + β + Ĉ = 180 o, como
MATEMÁTICA
queríamos demonstrar.
Demonstração: Considere um triângulo ABC, equiláte- particular, que tem a propriedade fundamental de mini-
ro, que já sabemos que é equiângulo. mizar distâncias, ou seja, dados dois pontos P e Q do
Como Â+B̂ + Ĉ =180o e Â=B̂ = Ĉ temos plano, a curva que dá a menor distância entre eles é
um segmento de reta PQ.
Â+B̂ + Ĉ = 3Â = 180º, ou seja, Â=60º .
Agora, se pensarmos que nosso planeta Terra não é
um plano, e sim algo semelhante a uma esfera, a curva
Demonstração: considere um triângulo retângulo
MATEMÁTICA
que minimiza a distância entre dois pontos P e Q não
ABC, onde Â=90º. é mais um segmento de reta, e sim um arco de círculo,
Pelo Teorema 1, temos Â+B̂ + Ĉ =180o. como na figura abaixo. Esses arcos de grandes círculos
são chamados em Matemática de “geodésicas”.
Substituindo o valor do ângulo Â, temos
90º+B̂ + Ĉ =180o. Logo, B̂ + Ĉ =180o - 90º =
90º, c.q.d.
? VOCÊ SABIA?
Programas de Geometria
MATEMÁTICA
1. Geogebra. www.geogebra.at
3. Wingeom. http://mat.exeter.edu/rparris
Sobre Euclides
Geometria não euclidiana
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. http://www.youtube.com/watch?v=Iz5IrdY_Ak0
http://www.youtube.com/watch?v=QT5LFeej5gI
Geometria Hiperbólica
http://www.youtube.com/watch?v=Yn9MR4oyifE
Einstein e a Relatividade
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=1xW90NFcm30
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=Ro4RX2E1nfg
Em matemática, uma geometria não euclidiana é
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=1wFsQdj9ChM
uma geometria baseada num sistema axiomático
distinto do da geometria euclidiana. Modificando o
axioma das paralelas, que postula que por um pon-
to exterior a uma reta passa exatamente uma reta
paralela à inicial, obtêm-se as geometrias elíptica e
hiperbólica. Na geometria elíptica não há nenhuma
reta paralela à inicial, enquanto que na geometria
hiperbólica existe uma infinidade de retas paralelas
à inicial, que passam no mesmo ponto.
Capítulo 7. Aplicações do 5o
SUGESTÃO DE ATIVIDADE Postulado de Euclides
1) Agora que você sabe que a soma dos ângulos de um triângulo
é 180º, determine a soma dos ângulos α e β, da figura ao lado.
O 5o Postulado de Euclides (ou Axioma das Para-
Resposta: α + β = .......... lelas) trouxe como consequência que a soma dos
ângulos internos de um triângulo é igual a 180º.
MATEMÁTICA
Vamos agora, neste capítulo, dar algumas aplica-
ções da Geometria Euclidiana. Uma delas é a fór-
mula geral da soma dos ângulos internos de um
polígono de n lados; uma outra aplicação se refe-
re ao paralelogramo e suas propriedades. Existe
também uma famosa aplicação, que é conhecida
como Teorema de Tales, fala sobre a proporciona-
2) Dado um polígono de 5 lados, qual a soma dos seus lidade entre os segmentos determinados por para-
ângulos internos? Por quê?
lelas, quando cortadas por retas transversais.
E se o polígono tiver 6 lados, quanto vale a soma dos seus
ângulos? Sugerimos uma leitura com atenção e cuidado, e
como sempre, recorrendo aos seus professores
para orientações.
1. A Soma dos Ângulos de Um Polígono Logo, a soma S5 dos ângulos Â, B, C, D, E pode ser
escrita como:
No Capítulo 01 trabalhamos com soma de ângulos
internos de polígonos convexos de 4 e 5 lados, voce S5 = Â + B+ C+ D+ E = (a1+ a2+ a3) + B +
pode recordar? (c1+ c2) + (d1+ d2) + E.
Neste polígono ABCD, a soma dos ângulos α, β, γ, δ
é igual a 360º. Isso vale sempre, pois podemos dividir Rearranjando essas 9 parcelas de modo convenien-
MATEMÁTICA
A aplicação abaixo dá a fórmula geral da soma dos ân- Como cada triângulo tem soma de ângulos igual a 180º,
gulos de um polígono qualquer, ou seja, com n lados. concluímos que a soma procurada é Sn = (n-2)x180º.
MATEMÁTICA
^
região limitada por esse conjunto. transversal, os ângulos α1 = B A D e α 2 = A D C são
iguais (por serem alternos internos).
^
O mesmo ocorre com os ângulos β1 = C A D
^
e β2 = A D B , ou seja, são congruentes.
2. O Paralelogramo e suas Propriedades
?? SAIBA MAIS
?
Demonstração:
Tracemos as diagonais AD e BC, como na figura.
Pelo visto anteriormente na Propriedade 1, AC=BD.
Como AD e BC são transversais às paralelas AB e As três pirâmides de Gizé, Keóps, Quéfren e Miquerinos, foram
CD, temos as igualdades entre os seguintes ângulos: construídas como tumbas reais para os reis Khufu (Keóps), Quéfren,
e Menkaure (pai, filho e neto), que dão nome às pirâmides. A
β1 = β2 e θ1 = θ2 . primeira delas, Queóps, foi construída há mais de 4.500 anos, por
Logo, pelo caso ALA, os triângulos ACM e BDM são volta do ano 2550 a.C., chamada de Grande Pirâmide. A majestosa
congruentes. construção de 147 metros de altura foi a maior construção feita
pelo homem durante mais de quatro mil anos, sendo superada
Conclusão: AM=DM, CM=BM, ou seja, M é o ponto apenas no final do século XIX (precisamente em 1889), com a
médio das diagonais. construção da Torre Eiffel. O curioso é que as pirâmides de Gizé já
eram as mais antigas dentre todas as maravilhas do mundo antigo
(afinal, na época já fazia mais de dois mil anos que haviam sido
3. O Teorema de Tales construídas) e são justamente as únicas que se mantém até hoje.
fonte: wikipedia.org
Como já dissemos no Cap. 1, Tales (de Mileto) foi um
dos primeiros matemáticos da história da Matemática.
Segundo os textos históricos, Tales começou sua vida
como comerciante, viajando por todos os domínios E então, vamos ver o que diz o Teorema de Tales?
gregos e pelo Norte da África e Oriente. Foi através
dessas viagens que teve contato com o conhecimento
geométrico dos egípcios e babilônios. De certa maneira, Quando três (ou mais) retas paralelas m, n e p,
esses povos já conheciam as proposições geométricas, são cortadas por retas transversais t e s, são
mas foi pelas contribuições de Tales que a geometria determinados vários segmentos, como na figura:
tornou-se “demonstrativa” e passou a ser conhecida
pelas suas aplicações práticas. Conta-se que uma das
MATEMÁTICA
Não esqueça que nossa hipótese é que AB=BC. Logo,
temos DB’ = B’E.
A título de curiosidade, vamos provar o caso par- Será que esta reta intersectará o lado BC também no seu ponto
ticular em que as retas m, n, p estão igualmente médio?
afastadas, isto é, que AB=BC.
Neste caso, devemos mostrar que A’B’ = B’C’ .
4. SUGESTÕES DE ATIVIDADES
MATEMÁTICA
INDICAÇÃO DE LEITURA
Pirâmides
http://www.youtube.com/watch?v=3dqntIbqC38
http://www.youtube.com/watch?v=UrJs8vw3U1U
Tales de Mileto
http://www.youtube.com/watch?v=HXrw_3sjtOs
http://www.youtube.com/watch?v=iMOeibwr7Zs
Teorema de Tales
Aula 1, Telecurso:
http://www.youtube.com/watch?v=BA1QwZxP2ao
Aula 2, Telecurso:
http://www.youtube.com/watch?v=aTS_J_7f3AI
clidiana Plana? Continuaremos nosso estudo com b) Com um compasso de abertura igual a 2 cm, trace
a importante noção de semelhança de triângulos, uma circunferência nessa semirreta, com centro
seguida de alguns exemplos aplicados. Logo após no ponto A. Isso determina um novo ponto A1, na
vamos fazer algumas conseqUências da noção de semirreta;
semelhança, entre elas a demonstração do Teore- c) Repita o passo anterior, agora com centro no ponto
ma de Pitágoras e Lei dos Senos para triângulos, A1, determinando um 2º ponto A2. Faça o mesmo
assunto esse também visto em cursos de Trigo- até o final, A3, A4, A5;
nometria.
d) Ligue o ponto A5 com o ponto B. Trace agora
segmentos paralelos ao segmento A5B, passando
pelos pontos A1, A2, A3, A4;
1. Relembrando o Teorema de Tales...
e) Pronto, seu segmento AB está dividido em 5 partes
iguais!
Pois é, caro leitor, é sempre bom recordar algum as-
sunto a fim de fixar melhor as ideias, e até de compará-
?
las com as ideias que aparecerão depois. Neste sentido,
gostaríamos de fazer mais um exemplo, que mostra a VOCÊ SABIA?
importância do Teorema de Tales
MATEMÁTICA
em distinguir os termos “parecido” e “semelhante” em mundialmente em suas pesquisas.
nosso curso. Parecidas são figuras que têm o mesmo
aspecto, mas que não respeitam necessariamente as
proporções entre os pontos correspondentes, ou que
não preservam os ângulos. Já a palavra semelhante
significará mais um pouco, compreendeu?
3. Semelhança de Triângulos
Como vimos, a noção de semelhança em Geometria
se aplica para figuras geométricas quaisquer. Detalha-
remos agora um caso particular importante, que é o da
semelhança de triângulos.
Exemplo 2: o triângulo ABC da figura abaixo é retângu- 2o Caso: se dois lados de um triângulo são propor-
lo, e tem lados 3, 4 e 5. Para outro triângulo retângulo cionais aos lados correspondentes de outro e os
A1B1C1 ser semelhante a esse é necessário que haja ângulos compreendidos entre eles são congruen-
uma proporcionalidade entre os lados corresponden- tes então esses triângulos são semelhantes;
tes e também que os ângulos correspondentes desses 3o Caso: se dois triângulos têm lados correspon-
triângulos sejam iguais. dentes proporcionais então esses triângulos são
semelhantes.
?? SAIBA MAIS
?
Observe que o 1o caso de semelhança pode ser reduzido
para os triângulos possuírem apenas dois ângulos
congruentes. Isso decorre do fato de que se dois ângulos
do triângulo ABC são congruentes aos ângulos de A´B´C´
Exemplo 3: a figura abaixo mostra vários triângulos então os três também serão, pois a soma dos ângulos de
semelhantes: um triângulo é 180º
MATEMÁTICA
5. O Teorema de Pitágoras
Vamos aplicar nossos conhecimentos de semelhan-
ça de triângulos para provar o Teorema de Pitágoras,
que nos diz o seguinte:
Como o ângulo A é reto, temos B+C = 90º . 6. Ângulos Inscritos e Ângulos Centrais em
No triângulo ABD, temos o mesmo, ou seja, B+β = um Círculo
90º . O resultado abaixo é relativamente fácil de provar,
No triângulo ADC, temos o mesmo, ou seja, C+CAD mas nos limitaremos a enunciá-lo e fazer algumas
= 90º . aplicações do mesmo.
MATEMÁTICA
Conclusões: de e tiramos que β=C De e Na figura abaixo, o ângulo ACB é chamado de ângulo
tiramos que B=CAD (veja a figura). inscrito na circunferência. O ângulo AOB é chamado de
ângulo central.
Da semelhança de ∆ABC com ∆ABD temos:
Proposição 2: um ângulo inscrito em um círculo
hipotenusa ∆ABC cateto maior ∆ABC
= , ou mede sempre a metade do ângulo central corres-
hipotenusa ∆ABD cateto maior ∆ABD
pondente, ou seja, ACB = ½ AOB.
a c
seja, = . Logo, c2 = an .
c n
hipotenusa
hipotenusa ∆ABC cateto
∆ABC cateto
menor ∆ACBC
menor∆ACBC
== , ou
hipotenusa
hipotenusa ∆ACD cateto
∆ACD cateto
menor ∆ACD
menor∆ACD
a b
seja, = .
b m
Logo, b2 = am .
MATEMÁTICA
arco AC (veja a figura abaixo).
a b c
ABC tem-se = = . Vamos demons- Daí, temos que
sen  sen B̂ sen Ĉ
trar isso?
.
Logo, .
a b
Comparando e temos = , como
sen  senB̂
queríamos demonstrar.
a c
Demonstração: Para mostrar que = procedemos de
modo análogo. sen  senĈ
Considere um triângulo ABC. Na primeira figura, ins-
crevemos o triângulo ABC em uma circunferência. Na
2ª figura, ligamos o ponto C ao centro O, prolongan-
Neste capítulo vimos o importante conceito de
do-o até determinar um diâmetro CD.
semelhança e, em particular, o de semelhança de
Ora, os ângulos  e D̂ são congruentes, pois sub- triângulos. Vimos várias aplicações desse tema,
tendem o mesmo arco BC (veja a figura!). Como CD é como o Teorema de Tales, o Teorema de Pitágoras e
um diâmetro, o triângulo ∆CBD está inscrito em uma a Lei dos Senos. Muitos outros resultados existem
semicircunferência. Logo, este triângulo é retângulo, e podem ser encontrados na maior parte dos textos
com ângulo reto em B. didáticos de Matemática. Esperamos que você con-
tinue esses estudos e, sempre que precisar, recorra
Daí, temos que . Logo, a esse texto e aos demais da literatura.
.
Capítulo 9. Comprimento de
INDICAÇÃO DE LEITURA Curvas e Áreas de Figuras
Sobre o teorema de Pitágoras
1. Lima, Elon. Temas e problemas elementares. Rio de Janeiro:
SBM, 2008. Este capítulo tem por objetivo inicial apresentar o
MATEMÁTICA
2. Lima, Elon. Meu professor de Matemática e outras histórias. conceito de comprimento de uma curva e também
Rio de Janeiro: SBM, 2005. o conceito de área de uma figura plana. Nos de-
teremos mais no cálculo de áreas, cujo objetivo
Você já ouviu falar em “potência de um ponto” em relação a principal é obter a área de um círculo de raio r.
uma circunferência? Que tal pesquisar um pouco mais sobre Será também mostrado como surgiu o número ir
isso?
racional π, o que ele representa e sua participação
na área do círculo.
3. Videos
O comprimento dessa poligonal é então dado como a
http://www.ime.usp.br/~leo/imatica/historia/teopitagoras.html
soma dos comprimentos dos segmentos AC, CD, DE,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_de_Pit%C3%A1goras
e EB.
Exemplo 2: a fim de melhorar sua forma física, Eudo- O “comprimento” de uma dessas curvas é calcu-
xo começou a fazer caminhadas de sua casa até certo lado, por aproximação, tomando-se pontos P=Po , P1,
ponto de uma pista retilínea, ida e volta. Começando P2, P3,.., Pn-1, Pn=P sobre a curva e somando-se os
com uma distância de 1km, de sua casa até o ponto comprimentos dos pequenos segmentos PoP1, P1P2,
final, e aumentando essa distância em 1 km em cada P2P3,..,Pn-1Pn . É claro que quanto maior for o número
dia, qual o total de quilômetros que ele percorrerá, ao de pontos considerados, melhor será a aproximação
longo de 15 dias? obtida.
MATEMÁTICA
O comprimento (exato) C dessa curva é definido
Solução: no 1º dia Eudoxo percorreu 1km como o “limite” dessa soma, quando o número de
+ 1km = 2km, indo e voltando até sua casa. pontos aumenta indefinidamente.
No 2º dia percorreu 2km+2km=4km, no 3º dia
3km+3km=6km, e assim por diante. Logo, no Simbolicamente, escrevemos:
final de 15 dias ele percorrerá 2+4+6+...+30=2
⋅(1+2+...+15)=240 km. C = l i m ( POP1 + P1P2 + P2P3 + ... + Pn − 1Pn ) = l i m
n
∑ Pi − 1 Pi .
n→∞ n→ ∞ i =1
n
Sugestão: Use que AB=d, AC=d+3, AD=d+6, Daí, temos que C = l i m ∑ Pi − 1 Pi .
AE=d+9, etc. Além disso, tem-se que n→ ∞ i =1
AB+AC+AD+...+AK=355.
Aproximação do círculo por um quadrado Exemplo 5: na figura abaixo, vemos uma circunferên-
cia de raio R=1,6. Usando a fórmula C=2πR, temos
que C=2πR ≅ 2 ⋅ 3,1415 ⋅ 1,6 = 10,0528. Em um
programa computacional (Geogebra) este valor é dado
por AB =10,0523.
? VOCÊ SABIA?
Exemplo 6: na figura ao lado está exibido um arco de Note que o comprimento da circunferência exterior é ≅
circunferência de raio R=1, que divide o arco do 2º 6,28R, muito próximo do comprimento da astróide.
quadrante ao meio.
Como o comprimento da circunferência neste caso é
C=2π⋅1=2π, temos que o comprimento desse arco
π
é C= .
MATEMÁTICA
4
Simbolicamente, temos:
Observações:
i) Apesar do grau ser uma unidade bastante utilizada
para medir ângulos, ele não está relacionado com Arcos / ângulos de 5 e 6 radianos em uma
as propriedades métricas do plano e também é circunferência de raio R.
pouco usado nas disciplinas de Cálculo Diferencial.
Neste caso, utilizamos o radiano. iv) Em Trigonometria é usual (e cômodo) considerar
arcos em uma circunferência de raio unitário, ou seja,
ii) Note que quando o raio da circunferência aumenta
de raio R=1. Com isso, os segmentos que definem
(ou diminui), o comprimento do arco muda, mas
o seno e o cosseno de um ângulo α são visualizados
o ângulo de 1 rad é o mesmo.
melhor, no chamado “círculo trigonométrico”.
MATEMÁTICA
comprimentos e áreas mais simples, como áreas de A=1u2.
quadrados, retângulos e outras figuras. Na Mesopotâ-
mia, as tábuas de argila babilônica do período 2.000
a.C a 1.600 a.C. já continham problemas concretos de
cálculo de áreas do retângulo, do triângulo retângulo, do
triângulo isósceles e do trapézio retângulo. Eram dadas
também aproximações grosseiras do comprimento e da
área de um círculo. Como consequência dessa definição podemos
Segundo os historiadores, os primeiros sucessos mostrar que a área de um quadrado de lado é igual
para cálculos de áreas de figuras com fronteiras curvas a 2. Essa demonstração é feita, por decomposição,
(segmentos de parábolas, círculo, etc.) foram feitos para quadrados de lados inteiros, e posteriormente
por Hipócrates de Quio, que calculou áreas de figuras para quadrados de lados racionais e reais. Os detalhes
chamadas “lúnulas”, na tentativa de resolver o problema podem ser encontrados na bibliografia recomendada.
da quadratura do círculo. Arquimedes, considerado o
mais eminente matemático da Antiguidade, trabalhou
bastante no sentido de calcular áreas e volumes de
várias figuras, assim como o círculo e a esfera.
?? SAIBA MAIS
?
MATEMÁTICA
em Topografia, ramo da engenharia que trata de medi-
círculo C, então o polígono Q convexo inscrito em C,
ção de comprimentos e áreas, entre outros tópicos.
cujos vértices são todos os de P acrescidos de outro
ponto do círculo, possuirá área maior que a área do
polígono P.
O resultado a seguir nos sugere um modo de cal Utilizando, então as propriedades 1 e 2 enunciadas
cularmos a área de um círculo. anteriormente, verificamos que a área de Pn+1 é maior
que a área de Pn e a área de Qn+1 é menor que a área
de Qn. Como Pn+1 e Qn+1 são polígonos inscritos e cir-
Teorema 1: a área de um círculo é o número real cunscritos ao círculo em questão, temos que:
A(C) cujas aproximações por falta são as áreas A(Pn )< A( C ) < A(Qn ) e A(Pn+1 )< A( C ) < A(Qn+1 )
MATEMÁTICA
dos polígonos convexos nele inscritos e cujas Além disso, A(Pn )< A(Pn+1 ) e A(Qn+1 )< A(Qn )
aproximações por excesso são as áreas dos po-
lígonos a ele circunscritos.
Daí podemos concluir que: A(Pn ) < A(Pn+1 ) < A( C )
< A(Qn+1 ) < A(Qn ).
Ilustraremos a seguir as sequências de polígonos
utilizadas na demonstração deste teorema. Indicaremos É natural pensar que ao aumentarmos o número de
por Pn os polígonos de n lados inscritos no círculo. lados dos polígonos inscritos e circunscritos de um
Analogamente, Qn serão os polígonos circunscritos círculo C, as áreas dos novos polígonos se aproximarão
ao círculo. cada vez mais da área do círculo. De fato, demonstra-se
que se forem dados dois números reais positivos a e
b, tais que a < A(P) < A(C) < b, sempre é possível
achar um número n tal que:
a < A(Pn) < A(P) < A( C ) <A(Qn) < b
MATEMÁTICA
A área do triângulo ∆ OAB pode ser calculada como, 128 3,140331.R2 3,140331 3,142224.R2 3,142224
Hoje sabemos que a área do círculo é exatamente 4. Outras Áreas entre Curvas
A=πr2, em que π=3,14,159.... é um número irracional.
Exemplo 15: cálculo da área limitada por uma parábo-
la e o eixo Ox.
Em 1737, Euler passou a usar a letra grega π para Como já foi dito inicialmente, além de estudos sobre
representar esse número. Sabe-se, porém, que alguns a área do círculo, Arquimedes também obteve uma
anos antes o matemático William Jones já havia proposto relação entre a área de um arco de parábola determi-
MATEMÁTICA
a mesma notação, sem muito êxito. nado por dois pontos A e B e o triângulo formado por
esses pontos.
Com o advento do Cálculo Diferencial muitas outras
áreas foram obtidas, usando basicamente o método de
exaustão de Eudoxo.
Para ilustrar, vamos apresentar o método para deter-
minar o valor EXATO da área do “triângulo parabólico”,
ou seja, a área limitada pela parábola y=x2 e o eixo Ox,
de x=0 até x=1.
Em 1761, o matemático Lambert provou que π é
um número irracional. Portanto, não importa quantos
algarismos decimais tomemos para representá-lo,
jamais obteremos o valor exato para π.
A fórmula A=πR2 nos leva a interpretar (e também
visualizar) o número π como sendo a área de um círculo
de raio igual a 1.
De fato, se R=1 temos A(C) = π⋅12 = π.
k(k + 1) n(2k − 1)
12 + 2 2 + 3 2 + ... + k 2 =
6
Outra forma de visualizar o número π é considerar
uma circunferência de raio R=1 e tomar metade do Solução: dividimos inicialmente o intervalo [0,1] em n
seu perímetro. partes, cada uma delas com comprimento 1 , isto é,
C 2π ⋅ 1 n
De fato, temos = = π. t o = 0 , t 1 = 1 , t 2 = 2 , ... t n = n = 1.
2 2 n n n
C o m o y = x 2, a s a l t u r a s m í n i m a s e m
cada inter valo [t o ,t 1 ], [t 1 ,t 2 ], [t 2 ,t 3 ], etc. são
1 2 n−1 2
h1 = 0 , h2 = ( )2 , h3 = ( )2,..., hn = ( ) .
n n n
MATEMÁTICA
1 2 1 2 n−1 2
An = [ (0 + ( )2 + ( )2 + ... + ( ) ].
n n n n
1 1 2
An = [ (1 + 2 2 + 3 2 + ... + (n − 1)2 ) ] .
n n 2
Pela nossa fórmula acima, temos que Solução: o quadrado unitário ao lado está dividido em
três partes.
1 1 (n − 1) n (2n − 1) (n − 1) (2n − 1) 2 n2 − 3 n + 1
An = [
n n2
)]= = A 1ª delas, sob a parábola e o eixo Ox tem área 1/3,
6 6n2 6n2
como vimos no Exemplo anterior.
Resumindo, temos que a soma das áreas é A 2ª delas, acima de x=y2, tem a mesma área 1/3.
Como a área do quadrado é igual a 1, temos que a área
2 n2 − 3 n + 1 .
An =
6n2 1 1
da folha é 1 = +Af + .
Não é difícil ver (utilizando o Excel, por exemplo) que 3 3
para valores cada vez maiores de n, a soma dessas áre- 1
1 Logo, A f = .
as An se aproxima de . Veja o argumento abaixo: 3
3
2 n2 − 3 n + 1
Simbolicamente, escrevemos A = lim A n = lim
6n 2
. Pois é, terminamos aqui nosso curso de Geometria
Plana. Neste capítulo vimos o conceito de compri-
1 mento de uma curva, bem como o que significa
Como → 0 , temos
n área de uma figura, além de saber como calcular
3 1 3 1 algumas áreas simples. Vimos também um histó-
n 2 (2 − + ) (2 − + )
n n2 n n2 2 1 rico sobre o cálculo do comprimento da circunfe-
lim A n = lim = lim = =
6n 2 6 6 3 rência de raio R, da área de um círculo e de como
surgiu o número irracional π. Para finalizar, mos-
tramos o raciocínio empregado por Arquimedes
para determinar a área de um triângulo parabólico
?? SAIBA MAIS e que hoje é utilizado no Cálculo Integral.
?
A área do triângulo parabólico hoje é calculada com o uso do
Teorema Fundamental do Cálculo. Este teorema é apresentado
nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, e é devido a I.
Newton e G. Leibniz.
watch?v=EB6-j_ffLwg
2a parte: http://www.youtube.com/
watch?v=JOLg7OOMCKo
Referências
2) Calcule a área sombreada abaixo: BARBOSA, J. Geometria Euclidiana Plana. Col. do Prof. de
Matemática. Rio de Janeiro: Soc. Brasileira de Matemática, SBM,
2006.
Referências da Internet:
1. Geogebra: http://www.geogebra.org/cms/
2. Cabri Géomètre: www.cabri.com.br
3. Winplot: http://math.exeter.edu/rparris
Videos
Usando Padrões para Medir:
1a parte: http://www.youtube.com/
watch?v=GDZHaM73R9I
2a parte: http://www.youtube.com/
watch?v=q0XgRzg0JcY
Áreas de Polígonos:
1a parte: http://www.youtube.com/