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DIREITO PENAL I
SUMÁRIOS DO PROGRAMA
ANO 2002/2003
Bibliografia:
- Sebenta de DP do Mestre Augusto Silva Dias
- Fascículos de DP do Prof. Doutor Jorge Figueiredo Dias
PARTE I
FUNDAMENTO E LIMITES DO DIREITO PENAL
I. Noções básicas
1. O conceito de crime
1.1. O conceito formal de crime: seu significado e alcance.
O crime é todo o facto qualificado e punível na lei como tal
2. O conceito de pena.
Intimidação (negativa)
Prevenção Geral
Teorias Relativas: Integração (positiva)
Socialização (positiva)
Prevenção Especial
Inocuização (negativa)
Mas se toda a pena supõe a culpa, nem toda a culpa supõe a pena, mas só
aquela culpa que simultaneamente acarrete a necessidade ou carência de
pena, o que aliás se pode comprovar através do instituto da dispensa de
pena, consagrado no art.º74 relativo a casos de crimes onde, estando ainda
presente a culpa, todavia não se verifica a carência de pena, precisamente
porque neles não se fazem sentir quaisquer exigências preventivas,
podendo-se assim afirmar, que a culpa é requisito ou limite, mas não
fundamento da pena.
Uma pena retributiva esgota o seu sentido no mal que se faz sofrer ao
delinquente como compensação ou expiação do mal do crime, nesta medida
é uma doutrina puramente social –negativa, inimiga de qualquer tentativa de
socialização do delinquente e de restauração da paz jurídica da comunidade
afectada pelo crime.
mas pelos que deixaram assim de ser praticados. Embora seja um critério a
ponderar, mas desde que não ameace a dignidade do ser humano.
Porquê?: Porque é que o legislador ameaça na lei com uma pena?, para
protecção de bens jurídicos, ou seja porque o legislador valora o facto como
violador de bens jurídicos fundamentais, o legislador fixa a pena para
proteger o bem jurídico fundamental, atribuindo-lhe um valor, para que se
saiba quanto ele vale para a vida em comunidade, pelo que a teoria da
Prevenção Geral Positiva/Integrativa dá a resposta, pois não é um efeito
Intimidatório.
Porque através de um comportamento humano foi praticado um facto ilícito
(violação de um bem jurídico fundamental), culposo, com o empenho pessoal
do agente, cuja pena não deve ultrapassar o envolvimento pessoal que o
agente pôs na pratica de tal facto lesivo, mas por outro lado se não
houvesse condenação o juiz estaria a desdizer aquilo que o legislador disse,
mas ao contrário se a pena se aplicasse independente de culpa, a relação
tinha um efeito perverso, de insegurança e não preventivo, tendo assim um
efeito contrário sobre a comunidade.
Assim temos que a pena, quer na sua ameaça, quer na sua aplicação
concreta, quer ainda na sua execução efectiva, só pode prosseguir a
realização de finalidades de prevenção quer geral quer especial, prevenindo
assim a prática de futuros crimes.
Art.º 91 CP, refere que a medida de segurança sendo aplicada tendo por
base a perigosidade do indivíduo, é renovada de 2 em 2 anos e cessa logo
que cessar a perigosidade e manter-se-á até ao limite máximo de pena
fixado na lei (25 anos), mas o art.º 30 CRP não cobre tal situação, mas há
sempre recurso com suporte legal na Lei Geral de Saúde (processo de
tratamento psiquiátrico).
Acrescenta o N.º 2 do art.º 91 CP que quando “o facto cometido pelo
inimputável corresponder a crime contra a s pessoas ou a crime de perigo
comum puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, o internamento tem
a duração mínima de 3 anos, salvo se a libertação se revelar compatível com
a defesa da ordem jurídica e da paz social”. Um tal regime é sinal de que não
se trata aqui de uma mera presunção de duração de perigosidade, mas que
tendo-se cometido um crime grave há razões de tranquilidade social e tutela
da confiança comunitária nas normas violadas a que a política criminal tem
de responder mesmo estando-se perante inimputáveis, através da aplicação
de medidas de segurança. Mas tendo sempre em conta o princípio da
ponderação de bens conflituantes, segundo o qual liberdade da pessoa
(de qualquer pessoa, mesmo inimputável), só pode ser suprimida ou
limitada, como justamente nota Roxin “ quando o seu uso conduza, com alta
probabilidade, a prejuízo de outras pessoas que, na sua globalidade pesa
mais do que a limitações que o causador do perigo deve sofrer com a
medida de segurança”.
Resumo:
Defesa das Teorias de Prevenção1
1 – Toda a pene serve finalidade exclusivas de prevenção geral e especial
2 – A pena concreta é limitada no seu máximo inultrapassável pela medida
da culpa
3 – Dentro deste limite máximo ela é determinada no interior de uma
moldura de prevenção geral de integração, cujo limite superior é oferecido
pelo ponto óptimo de tutela dos bens jurídicos e cujo limite inferior é
constituído pelas exigências mínimas de defesa do ordenamento jurídico.
4 – Dentro desta moldura de prevenção geral de integração a medida da
pena é encontrada em função das exigências de prevenção especial, em
regra positiva ou de socialização, excepcionalmente negativa de intimidação
ou segurança individual.
Este PS, tem um fundo católico, encíclicas papais que exigiam a adopção de
determinadas medidas para erradicar comportamentos, e só se tais
comportamentos persistissem, é que se recorria ao DP, como forma de os
resolver.
2. O princípio da culpa.
Decorre este P. da Culpa (PC), do princípio da dignidade da pessoa humana,
ou seja, quando se pune alguém sem se ter em conta a sua culpa, está-se a
instrumentalizar a pessoa para finalidades que lhe são estranhas, pois não
pode haver pena sem culpa e a pena não deve ultrapassar a medida da
culpa, o que violaria assim este princípio. A pena deve ser adequada à culpa,
segundo o demérito pessoal do agente revelado na prática do facto ilícito.
3. O princípio da proporcionalidade.
Pretende-se com o princípio da Proporcionalidade (PP), que os meios têm de
ser proporcionais aos bens que se pretendem proteger, proporcionalidade
em sentido restrito, não podendo o DP proteger bagatelas (art.º 18 CRP).
Está inserido no espirito deste princípio o P. da Ofensividade (PO), onde não
haja bem jurídico ameaçado pela conduta que não tenha qualquer
perigosidade, não há relação lesiva entre a conduta e o bem, significa que
não tem dignidade penal, não sendo merecedora de pena (crime em sentido
abstracto).
4. O princípio do «facto».
O P. do Facto (PF), que se contrapõe ao DP do agente, sendo a resposta dada
pelo modelo político de Estado, ou seja se o Estado é totalitário temos o DP
do agente, o DP do inimigo interno, em que o ilícito é construído sob forma
de desobediência ou traição, leis contra os parasitas do povo, tipos
normativos do agente por detrás dos tipos legais, p. ex. homicídio, furto...
por detrás do homicida está o homem que a comunidade modela como
homicida, o que interessa saber é quem é quem é que praticou o furto, quem
está por trás, ou seja se esse tipo não corresponde à imagem do tipo, não é
condenado, selecção do criminoso capacitário, o que se pune é o agente
sendo o facto o pretexto (tal como a figura da culpa na formação da
personalidade, o que se está a pretender punir não é o facto, o que se
censura é o modo como o agente se conduz na vida), aqui parte-se do
agente e não do facto para se punir, porque o que está em jogo é o
empenhamento pessoal do agente naquilo que ele fez, que é o corolário
deste PF
6. O princípio da legalidade.
PARTE II
TEORIA DA LEI PENAL
1.1. Os forais.
1.2. A lei das «Sete Partidas».
1.3. Das Ordenações de D. Duarte às Ordenações Filipinas.
2. O período do Direito Penal iluminista (do último quartel do Sec. XVIII até
meados do Sec. XIX).
Para haver Costume terá de existir uma prática reiterada dos actos e quem
os pratica terá de agir com a convicção que está a actuar de acordo com
aquilo que a norma prescreve.
Ora como já vimos o costume não pode criar leis penais Art.º 29 CRP, pela
que a única fonte é a Lei, com uma única excepção Art.º 29.2 CRP, que são
Em qualquer dos casos há autores que defendem que se pode fazer uma
interpretação Declarativa lata, ou seja interpretar no sentido mais amplo que
as palavras têm, o P. da Legalidade proíbe é a interpretação que ao
subsumir-se ao facto ele não existe.
È também permitida a interpretação de casos técnicos, mas só de forma a
que tal não surpreenda os destinatários.
Lei penal em branco, é a lei que prevê uma pena cujo preenchimento
(espaço em branco) dos pressupostos típicos, são remetidos para outra lei
por razões de economia legislativa, ex. Lei 28/94 art.º 32.º .
Leis penais em sentido impróprio – Art.º 2.2 CP: São as situações em que o
facto deixou de ser considerado crime, p. ex. cheques sem provisão,
drogas,... a execução da pena cessa no dia de entrada em vigor da nova lei,
o que significa que o detido por tal crime, é devolvido imediatamente à
liberdade.
O que se passa na sucessão de leis penais em sentido impróprio, é a
alteração dos elementos constitutivos do tipo incriminado, no entanto temos
de verificar se há continuidade da lei nova em relação à antiga, ou se pelo
contrário existe uma rotura entre a lei antiga e a lei nova, para se verificar
tal situação, existem 2 teorias:
O Direito Penal Internacional, ramo de direito público, que delimita até onde
vai o poder punitivo de cada Estado (elemento de conexão), soberania do
Estado em matéria penal, nas relações com os outros Estados, que é o
conjunto de normas nacionais que visam regular os termos e condições da
aplicação da lei penal no espaço, princípio da territorialidade, mas que
também leva à punição de factos cometidos no estrangeiro, princípio da
Universalidade
Al. d) - Requisitos:
o Tanto o autor como a vitima serem portugueses
o Que o autor viva habitualmente em Portugal
o Que o facto não seja considerado crime no local onde foi
praticado, para prevenir situações de fraude à lei penal (ex.
ajuda de suicídio; Eutanásia, ...) a bigamia fica de fora pois não é
contra portugueses.
O RNCT, estes crimes não têm resultado típico, são para protecção
antecipada, evitando assim determinados resultados nocivos, o resultado
não faz parte destes tipos de crime, são situações decorrentes p. ex. dos
crimes de mera actividade, mas caso se venha a verificar um resultado com
um enquadramento típico de outro crime, será aplicada a pena a que
corresponda a moldura penal mais elevada. P. ex. o crime de participação em
rixa (art.º 151), se tiver como resultado uma morte ou ofensa corporal grave
(não tendo havido dolo, o qual é no entanto necessário para o resultado
típico do crime) houve aqui um RNCT.
5. Aplicação da lei penal estrangeira mais favorável pelo juiz nacional (artº6
do CP).
N.º 1: A lei penal portuguesa é subsidiária da lei penal do país da prática do
facto, ou da lei do país em que o agente é condenado, mas condiciona-se tal
aplicação quando o agente aí não tiver sido julgado ou se houver subtraído
N.º3: Aqui a lei penal portuguesa já não cede perante a lei estrangeira, na
defesa do princípio da defesa dos interesses nacionais.
2 – Subsidiariedade: T
Tipos de crime diferentes
Elementos comuns
Ex. Coacção, art.º 154 CP, é elemento constitutivo de vários tipos de crime
(extorsão, roubo, violação etc.), pois quando são utilizados meios coercivos
(medo), realiza vários tipos de crime consoante o caso, o tipo de coacção é
subsidiário quer da violação, quer da extorsão ou do roubo, só sendo
aplicado se estes não o forem, pelo que punir em sentido efectivo seria uma
vez mais violar o princípio “ne bis in idem”, pode-se dar também como
exemplo a violência usada como elemento constitutivo de outros tipos de
crime, mas a qual é instrumental para a prática do crime. A relação de
subsidiariedade (violência), pode até gerar uma subsidiariedade de crimes,
entre um roubo com sequestro (o ladrão fecha a vitima dentro de casa), que
no caso de se esquecer de libertar a vitima, teríamos um concurso efectivo
que em princípio era subsidiariamente aparente (se depois do roubo
libertasse a vitima), mas porque se tornou um meio excessivo para o roubo,
deixou de ser instrumental, ultrapassando em larga medida o meio típico,
tendo em conta o fim típico.
Assim, tudo o que seja excesso de lesão, deverá ser considerado concurso
efectivo, punido-se pelo mais grave dos crimes.
PARTE III
TEORIA GERAL DO CRIME
I. Introdução
1. A dogmática jurídico-penal no contexto de uma «ciência global do Direito
Penal».
Dogma (grego: opinião, doutrina), conceitos e regras de opinião.
Sistema de conceitos e regras de imputação ou atribuição de
responsabilidade, com a particularidade de cada incriminação ser concebida
como um sistema aberto.
Funções: Hermenêutica de obtenção e aplicação do direito aos casos
concretos.
Segurança: Utilizando a dogmática, introduziu-se uma maior harmonização
na resolução dos casos, como função estabilizadora na aplicação do direito
penal.
Descarga: Dispensa o aplicador (juiz), do recurso permanente a valorações,
não se interrogando se é válido o modo como aplica o direito.
Não impede no entanto uma função critica, sempre que seja necessário
recorrer a argumentos de validade, de determinadas soluções ou leis, pois
como se disse é um sistema aberto.
Ordenada teleologicamente, a dogmática do crime é composta por
elementos que do ponto de vista normativo deva ser considerado crime,
servindo para determinar responsabilidade criminal, baseada em valorações
do ordenamento jurídico, e assim atribuir responsabilidade criminal, a quem
praticar factos correspondentes a essas definições.
1. O facto típico.
Toda a acção é uma acção final, tendo como consequência que o dolo
(ideia finalista), é um elemento do tipo, passa da culpa para o tipo.
Todo o comportamento típico há-se ser um comportamento doloso, a
orientação finalista, vai no sentido em que mesmo sem aceitarem o
ponto de partida de Welzel, de que toda a acção humana é uma acção
finalista, acabam por considerarem que o dolo e a negligência são
elementos do tipo.
- Resultado Típico
- Nexo de causalidade entre o comportamento e o resultado, que
é feito através da imputação objectiva (teoria da adequação,
corrigida pela teoria do risco).
Elementos objectivos do tipo por Omissão:
- Os 4 anteriores: Autor; Acção; Resultado e Nexo de imputação
- Posição de garante
É assim em função destes elementos objectivos comuns, que surge a
classificação dos tipos legais de crime, que são:
b) O dolo.
I) Noção e os 2 elementos do dolo.
O dolo é o conhecimento e a vontade ou o querer de
realizar os elementos objectivo de ilícito.
a) – O elemento cognitivo o “conhecer”, que implica:
conhecer a factualidade tipicamente relevante,
incluindo o processo causal, que represente
correctamente e que o meio é idóneo para o efeito;
conhecimento actual (sem reflexão) e co-consciência;
diferenciação entre conhecimento intelectual e
consciência da ilicitude (valoração social);
conhecimento dos elementos típicos sem a valoração
jurídica, a chamada valoração paralela na esfera do
leigo (o juiz põe-se na posição do leigo)
b) – O elemento volitivo a “vontade” (art.º14 CP), é o que
verdadeiramente serve para indiciar uma posição ou
atitude do agente contrária à norma de
comportamento, ou seja, uma culpa dolosa.
3. O facto culposo.
Pressupostos:
- O bem jurídico a salvaguardar, não seja superior ao
bem jurídico sacrificado
- Situação de necessidade, perigo
- Não existir outro modo de remover o perigo
- Conflito de interesses
1. O crime tentado
1.4. A tentativa nos crime de comissão por omissão (art.º 10): início e
termo da execução.
Critério normativista:
A: É aquele que realiza total ou parcialmente a conduta tipificada na lei
P: É aquele cuja conduta, não corresponde a nenhum comportamento
típico
Critério Subjectivista:
A: É aquele que se sente como autor
P: É aquele que perante o facto exprime um animus acessório
Autor Singular - Art.º 26.1: Quem executa o facto por si mesmo, que
tem o domínio da execução.
2.3. A participação.
2.3.1. Fundamento da punibilidade do participante: teorias da
acessoriedade, limitada e extrema (art. 28 e 29 do CP).
ex. o agente que convence um pai a não agir para salvar o filho de
morrer afogado, dizendo que é um golfinho que está a brincar, também
não haveria punibilidade se não fosse a ficção jurídica do art.º 28, pois
o pai estava em erro e o AM não tem posição de garante.
PARTE IV
(parte do programa que não foi dada)
3. As penas acessórias
II. A medida da pena
1. As fases de determinação da pena
1.1. Escolha da espécie de pena (art°70 do CP).
1.2. Determinação da medida abstracta da pena: estrutura
essencial e estrutura acidental do crime; as circunstâncias
modificativas.
1.3. Determinação da medida concreta da pena (o art° 71 do CP).
2. As regras específicas da reincidência (artº 75 e s. do CP) e da punição dos
delinquentes por tendência (art°83 e ss. do CP) e alcoólicos e equiparados
(art°86 e ss. do CP).