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Livro Poluição
Livro Poluição
Prevenção da
Asher Kiperstok
Arlinda Coelho
Ednildo Andrade Torres
Clarissa Campos Meira
Sean Patrick Bradley
Marc Rosen
BRASÍLIA
2002
Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 1 5/2/2003, 15:12:59
Confederação Nacional da Indústria • CNI e
Conselho Nacional do SENAI
Max Schrappe
Vice-Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
SENAI/DN
COTED • Unidade de Conhecimento Tecnologia da Educação
MÓDULO INTRODUTÓRIO
SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL
PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO
EFLUENTES LÍQUIDOS
EMISSÕES ATMOSFÉRICAS
RESÍDUOS SÓLIDOS
CONTAMINAÇÃO DOS SOLOS E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
FUNDAMENTOS LEGAIS E ECONÔMICOS
VISÃO INTEGRADA EM MEIO AMBIENTE
Cada módulo do Programa TGA inclui ambiente web e livro impresso, que são recursos didáticos complementares.
FICHA CATALOGRÁFICA
ISBN 85-7519-071-7
MEIO AMBIENTE
CDU: 504.03
SENAI
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Departamento Nacional
SEDE • BRASÍLIA
Setor Bancário Norte
Quadra 1 - Bloco C
Edifício Roberto Simonsen
70040-903 • Brasília • DF
Tel (0xx 61) 317-9001
Fax (0xx 61) 317-9190
Homepage: www.dn.senai.br
ANEXOS
ANEXO 1 Folha de Trabalho Nº 1 – Principais produtos e/ou serviços 153
ANEXO 2 Folha de Trabalho Nº 2 – Principais resíduos gerados e/ou emissões 154
ANEXO 3 Folha de Trabalho Nº 3 – As principais matérias-primas e auxiliares 155
ANEXO 4 Folha de Trabalho Nº 4 – Prevenção e minimização de resíduos e emissões 156
ANEXO 5 Folha de Trabalho Nº 5 – Categoria de resíduos gerados e emissões 157
ANEXO 6 Tabela 4.3 – Categorias de resíduos 158
REFERÊNCIAS 277
FIGURAS
CAPÍTULO 1
FIGURA 1.1 Gráfico com projeções da população mundial 24
FIGURA 1.2 Nordestino retirante 32
FIGURA 1.3 Produção limpa e limpeza de processos 35
FIGURA 1.4 Sistema não interativo correspondente à lógica do projetista e do operador 36
FIGURA 1.5 Lógica do controle externo sobre os poluentes 37
FIGURA 1.6 A mudança de lógica para tecnologias limpas 38
CAPÍTULO 2
FIGURA 2.1 Caminho do poluente no corpo receptor 61
CAPÍTULO 3
FIGURA 3.1 Processo industrial 73
FIGURA 3.2 Do Fim-de-tubo à sustentabilidade ambiental 86
FIGURA 3.3 Organograma mestre das ações para prevenção e controle da poluição 87
FIGURA 3.4 Diagrama da cebola para síntese de processos 95
FIGURA 3.5 Fluxograma esquemático de procedimentos para fechar um processo químico 97
FIGURA 3.6 Dois modelos de tratamento de efluentes de processo 98
FIGURA 3.7 Concurso de idéias 102
FIGURA 3.8 Minimização de resíduos na indústria de tratamento de metais 103
FIGURA 3.9 Gaiola transportando peças metálicas para o tratamento de superfícies 104
FIGURA 3.10 Hierarquia de preferências para reciclagem 107
CAPÍTULO 4
FIGURA 4.1 Países “hospedeiros” dos Centros Nacionais de Tecnologias Limpas 127
FIGURA 4.2 Fluxograma de implantação de Produção mais Limpa - 128
Metodologia UNIDO/UNEP
FIGURA 4.3 Diagrama de bloco 129
FIGURA 4.4 Organograma de Produção mais Limpa 131
FIGURA 4.5 Por que fazer um programa de Produção mais Limpa? 140
FIGURA 4.6 Ciclo de implantação de um SGA 143
CAPÍTULO 6
FIGURA 6.1 Sistemas abertos e fechados 188
FIGURA 6.2 Tipos de fluxo de materiais 189
FIGURA 6.3 Rotas de projeto - Design wheels 196
CAPÍTULO 7
FIGURA 7.1 Consumo de energia per capita no mundo 228
FIGURA 7.2 Expectativa de vida x consumo de energia 230
FIGURA 7.3 Consumo de energia na indústria por fonte 232
FIGURA 7.4 Consumo de energia no setor residencial por fonte 233
FIGURA 7.5 Consumo de energia no setor de transporte por fonte 234
FIGURA 7.6 Energia total incidente na Terra 237
FIGURA 7.7 Sistema de co-geração em ciclo combinado 245
TABEL AS
CAPÍTULO 1
TABELA 1.1 Crescimento da renda per capita 24
TABELA 1.2 Padrões de consumo para mercadorias selecionadas 27
TABELA 1.3 Dados comparativos de aspectos ambientais – Automóvel 29
TABELA 1.4 Dados comparativos de aspectos ambientais – Infra-estrutura 30
TABELA 1.5 Resumo dos resultados 31
CAPÍTULO 2
TABELA 2.1 Classificação dos impactos ambientais em uma escala espacial 65
CAPÍTULO 3
TABELA 3.1 Compostos considerados no programa 81
TABELA 3.2 Procedimento de decisões hierárquicas para minimização de resíduos 94
TABELA 3.3 Resultado do concurso de idéias para conservação de energia na Dow/Louisiana 101
CAPÍTULO 6
TABELA 6.1 Limitações globais de recursos materiais 207
CAPÍTULO 7
TABELA 7.1 Eficiência energética para diferentes tipos de fontes de luz 249
QUADROS
CAPÍTULO 4
QUADRO 4.1 Participantes da Rede de Tecnologias Limpas do Brasil 119
QUADRO 4.2 Resumo da proposta de inserção dos conceitos de P+L 147
nos requisitos da ISO 14001
Módulo Introdutório
10h/aula
pré-requisito obrigatório
Fundamentos Legais
Emissões Atmosféricas
e Econômicos
45h/aula
45h/aula
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
MOTIVAÇÃO: DAS PRÁTICAS
DE FIM-DE-TUBO PARA A
PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM
“
Mudar de controle da poluição para a
sua prevenção é um bom começo, mas as OBJETIVOS ESPECÍFICOS
”
empresas devem ir além.
Michael Porter, Claas van der Linde, 1995 • Discutir a questão da
velocidade que precisa ser
imprimida ao processo de
Início do século XXI. Será que você ainda pre- redução do impacto ambiental
cisa ser convencido de que o único caminho para das atividades produtivas para
alcançar o desenvolvimento
a humanidade sobreviver na face da Terra é tornar
sustentável.
seus processos produtivos não poluentes? Preve- • Esclarecer a necessidade de
nir a poluição? Talvez para você este capítulo seja uma mudança de paradigma
como chover no molhado. Talvez seja até novidade. no que se refere à relação
atividade produtiva e meio
Muito provavelmente você já deve ter intuído que ambiente. Da tecnologia
as atuais práticas de produção e de controle da Fim-de-tubo para a Preven-
poluição deixam alguma coisa a desejar e queira ção da Poluição.
compartilhar com seus colegas suas inquietações, e • Analisar os motivos que têm
levado a priorizar o controle
ouvir as deles. De certa forma, é o que nós estamos da poluição com base no uso
fazendo aqui. de tecnologia Fim-de-tubo.
Dúvidas?
Ótimo.
Ansiedade?
Nos anos 70, ilustres homens públicos brilharam por demonstrar sua ignorância diante
das questões ambientais levantadas, em 1972, em Estocolmo, pela Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano. Atualmente, existe uma quase unanimidade
em torno da causa ambiental, seja por razões mercadológicas, ou de efetivo compromisso
social (ou ambas?); o fato é que cada vez mais pessoas e empresas adotam atitudes
ambientalistas. Convém, no entanto, analisar se os resultados que estão sendo atingidos
efetivamente apontam para uma reversão do processo de degradação ambiental, ou
sequer para uma redução da velocidade com que esse se dá.
De volta à análise do primeiro fator da equação, este nos remete para a sempre
acalorada discussão sobre o crescimento populacional.
Prever a evolução da renda per capita para os próximos 50 anos é outro exercício de
arriscada futurologia. Graedel e Allenby (1998) ilustram, com dados do Banco Mundial,
as taxas de crescimento verificadas em diversos blocos geoeconômicos (Tabela 1.1).
TABELA 1.1 – CRESCIMENTO DA RENDA PER CAPITA, 1980-2000 (BANCO MUNDIAL 1992)
Grupo de países 1960-1970 1970-1980 1980-1990 1990-2000
Mais desenvolvidos 4,1 2,4 2,4 2,1
Subsaara 0,6 0,9 -0,9 0,3
Leste Asiático 3,6 4,6 6,3 5,7
América Latina 2,5 3,1 -0,5 2,2
Leste Europeu 5,2 5,4 0,9 1,6
Menos desenvolvidos 3,9 3,7 2,2 3,6
Fonte: Graedel e Allenby, 1998.
Fator 5, então, representa quanto o terceiro fator da equação, impacto ambiental por
unidade de produto, teria que ser reduzido em 50 anos apenas para MANTER O ATUAL
NÍVEL DE IMPACTO AMBIENTAL NO PLANETA. Reduzir em cinco vezes o impacto
ambiental de cada produto e atividade, para poder manter as coisas como estão.
Continuando nossa análise, podemos ver que na Equação Mestra está implícita a
inferência de uma relação linear entre renda per capita e consumo per capita. Desta
forma caberia aqui discutir a validade desta relação, assim como também sua susten-
tabilidade no futuro.
Muitos são de opinião que nas sociedades mais desenvolvidas há uma tendência a
dissociar o padrão de consumo do de qualidade de vida, atribuindo-se a isto o crescimento
da consciência ambiental nas populações mais instruídas. Contudo, o mesmo argumento,
caso não se mostre consistente, pode nos levar a questionar se realmente está ocorrendo
este crescimento da consciência ambiental da sociedade. A verificação, por exemplo,
da retomada da moda de usar carros cada vez maiores, possantes e desperdiçadores de
combustível, por parte das camadas mais opulentas da sociedade, é no mínimo preo-
cupante. Compram-se, hoje, carros com tração nas quatro rodas e motores que têm um
desempenho de cerca de 4.1 1itros/km para ir fazer compras em shopping centers.
Por outro lado, diversos pesquisadores apontam para o desequilíbrio nos níveis de
consumo entre os países mais e menos desenvolvidos, como sendo o fator a ser atacado
prioritariamente, de forma a se permitir a elevação das condições de vida nos países
pobres, sem se degradar ainda mais o meio ambiente.
países em desenv.
Países em desenv.
Países em desenv.
Países desenv./
Países desenv.
Países desenv.
106 Ton
India
EUA/
Cereais 1.801 48 52 717 247 3 6
Papel 224 81 19 148 11 14 115
Alum. 22 86 14 16 1 19 85
Qui. Inorg. 226 87 13 163 8 20 52
Qui. Org. 391 85 15 274 16 17 28
Autom. 370 92 8 0,283 0,012 24 320
CO2 anual 5.723 70 30 3,36 0,43 8 27
Voltemos para o denominado Fator 5. Caso esperemos um futuro mais digno para as
parcelas mais pobres da população, princípio básico do desenvolvimento sustentável,
teremos que considerar crescimentos da renda per capita da ordem de grandeza de 10
vezes, pelo menos para os 50% dos países mais pobres do mundo. Vejam só, se isto
acontecer, e se pudéssemos imaginar que 50% dos países mais ricos do mundo abririam
mão de qualquer crescimento da sua renda per capita, para um crescimento populacional
de 1,4% a.a, em 50 anos teríamos FATOR 10.
O Fator 10 também pode ser interiorizado se pensarmos em, mesmo com dados
conservadores de crescimento populacional e de renda, ter como objetivo reduzir o nível
de impacto ambiental, daqui a 50 anos, para metade do atual. Este raciocínio levou à
criação do Clube do Fator 10 em 1993 (Weaver et al., 2000).
(Cinq-Mars, 1997; Peneda & Frazao, 1997; Schmidt-Bleek, 1997; Carr-Harris, 1997).
Isto é, aumentar a ecoeficiência da produção e consumo 10 vezes em 50 anos.
Ecoeficiência:
É um conceito relativamente novo e vem sendo inserido aos poucos nas
discussões sobre meio ambiente e qualidade como um todo. Segundo
Henriques (1997), na União Européia, o conceito apareceu pela primeira
vez, em um texto oficial, no ano de 1997. O conceito de ecoeficiência aborda
não só a eficiência nas questões ambientais e econômicas, mas também nas
questões sociais.
Vamos esclarecer melhor este questionamento. Vejamos o caso dos tecidos fabricados
com fibras sintéticas. Sua persistência no meio ambiente é muito superior àquela dos
tecidos fabricados com fibras naturais, tais como o algodão. Com a moda pressionando
para os consumidores substituírem o seu guarda-roupa uma ou mais vezes por ano, o
impacto ambiental desses produtos cresceu consideravelmente. Consideremos, ainda,
os pesticidas usados na agricultura intensiva e sua persistência no meio ambiente, o uso
cada vez maior de embalagens, e o que falar da imensa produção de resíduos associada
a fraldas e outros produtos descartáveis que uma criança de família de classe média ou
alta gera nos três primeiros anos de vida?
Aspectos Ambientais
Estágio do Ciclo
Anos Escolha
de Vida Uso da Resíduos Efluentes Emissões
de
Energia Sólidos Líquidos Atmosf. Total
Materiais
50 0 1 2 2 1 6/20
Manufatura
90 3 2 3 3 3 14/20
50 3 2 3 4 2 14/20
Distribuição
90 3 3 3 4 3 16/20
50 1 0 1 1 0 3/20
Uso
90 1 2 2 3 2 10/20
Recondicionamento,
50 3 2 2 3 1 11/20
reciclagem,
90 3 2 3 3 2 13/20
disposição
Aspectos Ambientais
Estágio do
Ciclo Anos
de Vida Biodiversidade/ Uso da Resíduos Efluentes Emissões
Materiais Energia Sólidos Líquidos Atmosf. Total
Seleção e
50 0 1 0 1 1 3/20
preparação do
90 1 1 1 2 2 7/20
local da obra
Manufatura da 50 3 2 2 2 2 11/20
infra-estrutura 90 2 1 2 2 3 10/20
Uso da 50 2 2 3 3 1 11/20
infra-estrutura 90 0 1 1 3 2 7/20
Sistemas 50 2 3 2 3 1 11/20
complement. 90 1 2 1 1 0 5/20
Recondicion.,
50 3 2 3 4 3 15/20
reciclagem,
90 2 2 2 4 3 13/20
disposição
Anos 50 46 51 49
Anos 90 68 42 55
Vamos considerar que a resposta que você deu para a reflexão anteriormente proposta
foi igual à nossa: otimista! Sim, podemos, nos próximos 50 anos, reduzir em Fator 10
o impacto causado pelo tipo de produtos que hoje produzimos, a partir de melhorias
tecnológicas e modos de consumo. Isto é, a forma como consumimos e a tecnologia
poderiam suprir os avanços necessários para estancar o processo de degradação ambiental
provocado pelo crescimento econômico.
Contudo, que tipo de tecnologia ou evolução tecnológica seria capaz de tanto? A nossa
velha tecnologia fim-de-tubo? Ou seja, mais e mais eficientes estações de tratamento
de efluentes? Mais e mais eficientes filtros para retenção de materiais particulados das
nossas chaminés? Maiores aterros sanitários e industriais? Mais incineradores?
protetores auditivos
espelho retrovisor
corda no caso dos sistemas falharem
repelente de mosquito
air-bag
cadeira protetora das
luvas protetoras
costas e da cabeça proteção ocular para Jegue
mapas, caso você se perca telefone para situações emergenciais
cinto de segurança
licença da Sociedade
anti-derrapante para o jegue
Protetora dos Animais
Claro que uma empresa engessada por inúmeras exigências pontuais de controle
de emissões dificilmente teria como operar satisfatoriamente. Mais ainda, imaginemos
o esforço que a mula do nosso nordestino terá que fazer apenas para deslocar os
equipamentos de segurança e proteção ambiental. De forma similar, uma indústria que
persistisse ou fosse obrigada a agir desta forma teria sérios encargos e custos adicionais.
Por outro lado, nada estaria sendo feito para reduzir a extração de recursos naturais.
Pelo contrário, mais matéria-prima e energia seriam demandadas para mover toda a
parafernália de controle de poluição.
Se quisermos, de fato, dar uma opção mais segura para o nosso peão, nordestino
retirante, teremos que pensar em uma outra rota para ele percorrer, que implique menos
riscos e, conseqüentemente, menos equipamentos de proteção, sem que isto represente,
é claro, menor proteção efetiva.
Para termos sucesso nesta busca da rota mais segura é preciso rever conceitos. O
que são resíduos, senão matéria-prima mal aproveitada? O que são esgotos, senão um
líquido composto de 99,95% de água (mal utilizada) e 0,05% de material sólido arrastado
por esta? Pelo menos 50% das nossas emissões decorrentes de queima de combustível
decorrem de perdas energéticas e desperdícios provocados pelas tecnologias utilizadas
ou inadequação de práticas operacionais.
que estamos buscando. Precisamos nos conscientizar que o desafio agora não é criar
problemas ambientais para depois resolvê-los. O desafio é não gerar poluição! Não
gerar resíduos!
Os caminhos para a não geração de resíduos são vários: devemos repensar as matérias-
primas que utilizamos e rever os processos de fabricação, discutindo por que estes geram
perdas de material e energia, e considerando se algumas dessas perdas, devidamente
processadas, não seriam insumos para outros processos. Devemos, ainda, estudar o
transporte de insumos e produtos, as embalagens e a vida útil de produtos e o destino
desses pós-consumo. Todas essas ações resultam na Prevenção da Poluição.
Esta é uma definição interessante? Que seja, mas não vamos fechar os conceitos
agora (nem nunca!). Vamos usá-la como uma referência inicial que será aprofundada
ao longo deste capítulo.
Mas, afinal de contas, se Prevenção da Poluição é a opção mais óbvia, por que
tanto esforço para implementá-la?
Na realidade, nem sempre novas propostas nascem óbvias. Elas assim se tornam
depois de se mostrarem bem-sucedidas e, ainda assim, podem não ser implementadas na
medida do esperado. Um exemplo próximo ao nosso tema seria o de ações preventivas
e ações curativas da saúde. Alguém discordaria da prioridade sanitária ou econômica
da implantação de ações de saneamento básico? Mesmo assim, aproximadamente 50%
da população brasileira nos centros urbanos tem acesso a redes de esgotos (fonte:
OMS/UNICEF).
que descarrega suas emissões na atmosfera, nada mais natural do que se acordar na
implantação das chamadas “soluções fim-de-tubo”.
Era o óbvio, e o que a sociedade exigia. Por outro lado, o pensamento produtivo
mantém sua autonomia e poder de decisão. Cria-se a indústria ambiental com o obje-
tivo de adequar a carga poluidora das emissões industriais à capacidade receptora dos
corpos ambientais e, portanto, com a necessidade de considerar os fatores externos
de interação e identificar alternativas tecnológicas para a melhoria do desempenho
ambiental. Ver Figura 1.5:
Uma coisa é certa: o Princípio Poluidor Pagador trata de uma visão na qual a relação
com o meio ambiente só faz agregar custos ao processo produtivo. Neste sentido, a
tecnologia ambiental representa a interface que tem por objetivo adequar os lançamentos
à capacidade do corpo receptor.
natureza tornou-se um valor em si mesmo. Além disso, novas funções são reconheci-
das: a natureza como fornecedora de recursos, renováveis ou não, cuja preservação se
constitui em pré-requisito para a continuidade da atividade produtiva; a natureza como
fornecedora de informações fundamentais para o desenvolvimento tecnológico.
Isto, de certa forma, quebrou uma barreira na relação entre as agências reguladoras
e os agentes produtivos. Os fiscais passaram de meros controladores de descargas para
avaliadores das tecnologias utilizadas para tratar as emissões. Mesmo que inicialmente
utilizada para exigir melhores tratamentos fim-de-tubo (Baas, 1996), o uso desta exi-
gência começou a transferir a discussão ambiental para o interior das fábricas.
Tendo a discussão das medidas de controle ambiental atingido o interior das fábricas,
trazendo, inclusive, critérios econômicos para a decisão das técnicas a serem adotadas,
não tardaria para o conceito de prevenção vir a ser considerado.
Este princípio também determina que ações contundentes devem ser tomadas, mesmo
antes de existirem provas científicas de causa-efeito. O ônus da prova passa da vítima
para o empreendedor (O’Riordan, 1995), e, nesse sentido, o cuidado com a gestão do
processo de produção passa a ganhar nova importância.
Mesmo assim, o conceito das melhores tecnologias não consegue se desvincular das
práticas de fim-de-tubo com as quais estiveram inicialmente associadas.
FECHAMENTO
CAPÍTULO 2
PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM
Marc Rosen University of Ontario Institute of Technology*
“
(...) o medo ecológico é um medo planetário.
“A Terra ameaçada”, “A Terra com a corda OBJETIVOS ESPECÍFICOS
no pescoço”, “A Terra em perigo de morte”, • Descrever os impactos am-
“A natureza na U.T.I.”, “Nós só temos um bientais mais significantes,
planeta”, dizem as manchetes dos jornais, as suas causas e abrangências.
capas de revistas, os programas de televisão,
construindo a ecologia-espetáculo que, • Analisar as categorias de
incrédulos ou persuadidos, habituamo-nos impacto.
” •
agora a contemplar. Enquadrar as questões
Alphandéry, Bitoun e Dupont ambientais por categoria.
• Avaliar a redução dos
No capítulo anterior discutimos, entre outras impactos com a visão da
coisas, a evolução de alguns princípios ambientais.
Esta evolução se deu em razão do avanço dos impactos causados pelo homem sobre o
meio ambiente. De forma geral, o agravamento das condições ambientais foi exigindo um
aprimoramento dos meios necessários para a reversão dos problemas gerados. Soluções
do tipo fim-de-tubo não são mais suficientes para enfrentar os problemas.
Mas de que problemas estamos falando? Claro que todos nós temos uma resposta
para esta pergunta. Vamos neste capítulo nos pôr de acordo ou estabelecer uma base
comum sobre os problemas ambientais mais relevantes, suas causas e abrangências.
Não esperemos chegar a uma visão única quanto à gravidade destes ou com relação
à prioridade que deve ser dada na sua reversão. Nossas visões dependem da nossa
realidade, assim como das informações que detemos e das experiências que vivemos.
Uma visão abrangente desses problemas é importante para que possamos esclarecer o que
esperamos ao implementar programas de P2.
* A contribuição de Marc Rosen foi traduzida do inglês e incorporada ao texto pelos autores brasileiros.
Para conseguir uma razoável cobertura dos problemas ambientais, vamos seguir dois
caminhos: primeiro, vamos propor a construção de uma listagem com a contribuição
de todos e de cada um de nós; num segundo momento, vamos discutir as principais
categorias para enquadramento dos problemas ambientais e procurar alocar os problemas
listados nas categorias indicadas.
Aos alunos:
Quais são, afinal, esses tão falados impactos ambientais? Você pode imaginar
pelo menos cinco impactos causados pelo homem que podem ser prejudiciais
ao meio ambiente ou à saúde humana? Ou, ainda, algumas causas para esses
problemas? Tente listar alguns desses impactos.
Vamos agora fazer um breve resumo dos impactos citados considerados mais
importantes e suas implicações.
DEPOSIÇÕES ÁCIDAS
As nuvens, chuva, orvalho e névoa já são naturalmente um pouco ácidas, em função
da dissolução do gás carbônico e a conseqüente formação de ácido carbônico. O pH
da chuva normalmente se situa em torno de 5,6. Emissões atmosféricas de dióxido de
enxofre (SOx), óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (VOCs),
decorrentes das atividades humanas, conduzem à formação de ácido sulfúrico, ácido
nítrico, ozônio e peróxido de hidrogênio, e, por conseguinte, causam aumento na acidez
da precipitação. Em alguns lugares da Europa e dos Estados Unidos chegam a se verificar
chuvas com pH na faixa de 3,0 (Davis e Cornwell, 1998). O exemplo da acidificação das
encostas da Serra do Mar em torno de Cubatão, São Paulo, o ataque à cobertura vegetal
e a conseqüente desestabilização de alguns locais da encosta ilustram este problema.
• CH4 (metano);
O resultado desta equação é o aumento dos níveis de energia (na forma de calor) da
Terra e de sua atmosfera.
Algumas implicações básicas deste balanço energético global são descritas a seguir:
• atividades agrícolas;
• esgoto doméstico;
A rigor, a alteração da
qualidade da água pode ser USO DE HERBICIDAS E PESTICIDAS
decorrente também de causas É interessante refletir sobre as atividades agrícolas,
o uso de pesticidas, herbicidas e o impacto destes
na turais, mas normalmente
não só para as águas subterrâneas, como também
esta não é a forma que para o solo, para as águas superficiais e o meio
mais preocupa. A poluição ambiente como um todo.
Os herbicidas são substâncias empregadas na
decorrente das atividades
destruição de ervas daninhas, e os pesticidas são
desenvolvidas pelo homem substâncias empregadas no combate às pragas.
é a que deve merecer os Eles foram concebidos como elementos causadores
de danos a alguns sistemas biológicos, sendo,
cuidados especiais.
portanto, diretamente, motivo de preocupação
ambiental.
A divulgação dos grandes
O indesejável dano ambiental e biológico causado
acidentes ambientais, como os por herbicidas e pesticidas ocorre por:
derramamentos de óleo, desvia • toxicidade das combinações usadas;
um pouco a atenção para o • longo tempo de degradação das combinações
problema da contaminação no ambiente;
os mananciais de água,
• métodos de aplicação utilizados.
Pressões para o aumento de produção de
tanto subterrâneos como alimentos tendem a aumentar o uso de herbicidas
superficiais, principalmente e pesticidas. Estudos indicam que o uso deles pode
ser reduzido por:
por substâncias tóxicas e
persistentes. Vazamentos de
• otimização cuidadosa do uso, para que a
aplicação só atinja a parte da planta que deve
tanques de combustíveis nos de fato ser tratada, para que ocorra o mínimo
postos de gasolina, lançamento impacto ambiental;
SITES INTERNET
Vale a pena dar uma olhada! A seguir sugerimos alguns sites interessantes
sobre a água, onde você pode encontrar informações a respeito do ciclo da
água, das previsões futuras de sua escassez, da importância da evaporação no
déficit hídrico, etc.
http://www.proagua.gov.br
http://www.cnrh-srh.gov.br
http://www.hidricos.mg.gov.br
DEGRADAÇÃO DO SOLO
Práticas agrícolas inadequadas e a disposição de resíduos tóxicos são as principais
causas deste problema.
O solo tem sido um dos destinos mais utilizados para a disposição de resíduos
tóxicos de origem industrial. Mais do que a implantação de soluções para a disposição
final “adequada” deve-se procurar a minimização da geração desses resíduos e,
principalmente, a redução, e até a eliminação, do uso de compostos tóxicos.
Atenção!
Na verdade, os diversos meios físicos aqui discutidos separadamente não
são isolados uns dos outros. Eles se encontram interligados, de modo que
uma contaminação do solo geralmente leva a problemas de contaminação do
lençol freático, assim também como há uma troca intensa entre a superfície
marinha e o ar.
Isso pode limitar, por exemplo, o potencial para a criação de novos medicamentos
e novas formas de energia, de biomassa.
O uso racional e eficiente dos recursos naturais se apresenta como uma necessidade
premente para a reversão deste quadro negativo.
Dica!
O texto acima foi retirado de um artigo da revista TECBAHIA, dos meses
de maio/ago. 1999, e pode ser lido na íntegra no site da Rede de Tecnologias
Limpas da Bahia – TECLIM: http://www.teclim.ufba.br
A camada de ozônio é uma camada natural da estratosfera (faixa que se estende entre
15 e 50km de altitude) que funciona como um filtro, impedindo a passagem de raios
ultravioleta provenientes do sol. Com a diminuição da concentração de ozônio (O3) na
estratosfera, diminui a absorção destas radiações, aumentando sua incidência sobre os
sistemas biológicos a ela sensíveis. Algumas das conseqüências da destruição da camada
de ozônio são: danos ao homem – catarata, câncer de pele, queimaduras, problemas
no sistema imunológico e danos à natureza – à vegetação e agricultura, diminuindo a
capacidade de fotossíntese e o crescimento das plantas.
Foi observado que a quantidade total de ozônio em algumas regiões polares foi
reduzida em mais de 50% ao longo dos últimos 40 anos (Graedel e Allenby, 1995).
*NMHC denota hidrocarbonetos, como, por exemplo, etileno, butano (exceto metano).
A formação de ozônio nas camadas superficiais da Terra pode ser controlada através
da limitação das emissões de NMHC e dos óxidos de nitrogênio (NOx) (principalmente
NO e NO2). Essas emissões provêm das múltiplas aplicações de combustíveis fósseis
(carvão, petróleo, gás natural e xisto) na geração de energia, uso de automóveis e outros
meios de transporte, na indústria e no setor doméstico. A minimização das emissões de
hidrocarbonetos na fonte, além de prevenir este problema, traz benefícios à saúde das
pessoas em contato com essas emissões, e representa economia de matérias-primas. Já
as emissões dos NOx tendem a ser reduzidas a partir de modificações nos processos de
combustão.
Canais de esgotos a céu aberto, no lugar dos rios, depósitos de lixo espalhados por
todo lado, provocando a proliferação de vetores causadores de variadas doenças, e índices
inaceitáveis de qualidade do ar, trazendo doenças que afetam o aparelho respiratório
são aspectos corriqueiros da vida das nossas cidades.
Além de devolver ao meio ambiente a água na forma de esgotos, mais da metade da água
extraída dos mananciais sequer nos traz qualquer benefício. Ela se perde ao longo do seu
transporte ou é desperdiçada nos domicílios. Isto é, exerce-se uma pressão enorme sobre
o meio ambiente e sequer tiramos o devido proveito. Enquanto uma parcela importante
da população passa fome, outra desperdiça alimentos sem o menor cuidado.
Dessa forma, não dá para acreditar que a solução para os problemas anteriormente
listados seja apenas tratar adequadamente os esgotos, dispor o lixo em aterros sanitários
ou aproveitar restos de comida para gerar compostos orgânicos. É necessário encontrar
respostas mais eficientes para aumentar a produtividade dos recursos naturais. A busca
por níveis mais altos de ecoeficiência é uma necessidade ambiental premente, mas,
além disso, é um pré-requisito para a construção de economias competitivas e cidades
sustentáveis.
Fonte: NASCIMENTO, Iracema A. Inserção de substâncias tóxicas na cadeia alimentar: as substâncias tóxicas per-
sistentes, Especialização em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais na Indústria. UFBa. Módulo: Comportamento
de Poluentes no Segmento Biótico.
intoxicação estão a paralisia, a dormência dos lábios, mãos e pés, distúrbios emocionais,
fadiga, perda de memória, cefaléia, gengivite e estomatite. Em casos de intoxicação
severa, os danos são irreversíveis. (Nascimento,2000)
Aos alunos:
Vocês já ouviram falar no caso da contaminação por mercúrio da Baía de
Minamata? Vamos pesquisar e fazer um resumo do que foi Minamata e quais
foram as soluções encontradas.
Vamos citar, de modo geral, outros impactos que podem ser considerados de menor peso:
Conforme discutido no início deste módulo, após listarmos uma série de problemas
ambientais contemporâneos, vamos tentar organizá-los de forma a melhor entendê-
los. Para tanto vamos separá-los em categorias, com base em suas diferentes
características.
Redução de hábitat e
Uso de pesticidas Derramamento de óleo
biodiversidade
*Um mesmo impacto pode ser classificado em mais de um nível como, por exemplo, a inserção de substâncias
tóxicas na cadeia alimentar, que pode tanto ter uma abrangência global quanto regional.
Dê a sua opinião!
Você concorda com a forma como foram classificados os problemas na Tabela
2.1? Que mudanças você sugeriria?
Alguns autores consideram que o impacto ambiental local deve ter um peso
maior do que o global, porque acreditam que a indústria, o comércio, etc.
só se mobilizam para resolver os danos mais imediatos, que os atingem
diretamente, e que não há interesse em investir em um Sistema de Gestão
Ambiental se não for dessa forma. E você, o que pensa sobre isso? Pense,
por exemplo, na questão da habitabilidade urbana, que tem uma expressão
local, mas se reproduz pelo mundo afora, assim como outros problemas
classificados como locais! Não conviria repensar esta forma de classificar os
impactos ambientais?
Efeitos que duram apenas um curto período de tempo podem se comportar desta
forma, por serem eliminados através de processos naturais, ou porque ações podem ser
tomadas para reduzir o tempo de duração do impacto. São os impactos reversíveis.
• Riscos de danos para sistemas planetários. Isso inclui riscos para entidades
biológicas e seus sistemas de suporte (por exemplo, cadeias alimentares), e
padrões e composições de circulação atmosférica e oceânica.
Irreversível
Reversível
Regional
Global
Médio
Baixo
Local
Alto
Deposições ácidas ++ +++ +++ + +++
+ Peso baixo ++ Peso médio +++ Peso alto * depende dos contaminantes considerados.
FECHAMENTO
CAPÍTULO 3
MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM
”
temporariamente. luição;
Siddhartha Gautama – BUDA
• Detalhar medidas de P2 e
exemplificar;
Neste capítulo vamos discutir sobre • Permitir a percepção da di-
“Resíduos”, mais especificamente sobre a sua ferença entre os enfoques
Fim-de-tubo e P2.
“Minimização” e, se possível, sobre o banimento
deles das nossas vidas.
Resíduos são matérias-primas (na maioria das vezes adquiridas a alto preço) que
não foram transformadas em produtos comercializáveis ou em matérias-primas a serem
usadas como insumos em outro processo de produção. Eles incluem todos os materiais
sólidos, líquidos e gasosos que são emitidos no ar, na água ou no solo, bem como o
ruído e a emissão de calor.
Assim, para a empresa, a minimização de resíduos não é somente uma meta ambiental,
mas, principalmente, um programa orientado para aumentar o grau de utilização dos materiais
e, conseqüentemente, sua produtividade.
Esta situação pode ser também ilustrada pelo fato de que, tanto o tratamento e a
disposição de resíduos e emissões são onerosos, quanto os custos decorrentes da perda
de matérias-primas (que se tornam resíduos no próprio sentido da palavra) também são
normalmente altos.
vezes dois), para se dar a eles um tratamento que os torne menos impactantes ao corpo
receptor. A questão ambiental passa a ser considerada neste momento. O que fazer com
esta água contaminada? Como destruir os compostos indesejáveis para poder descartá-la
cumprindo a legislação, ou, pelo menos, tentando cumpri-la.
Esta situação, no entanto, poderia ser diferente. Uma otimização do processo, por
exemplo, reduziria a quantidade utilizada e outras medidas poderiam reduzir o conteúdo
de hidrocarbonetos, que são nada menos que o produto principal da refinaria. Por outro
lado, será que esta corrente não tem utilidade para outro processo? Se ela é tachada de
“efluente”, provavelmente não. Mas, se ela for vista como um possível insumo, a questão
será outra. Que processo ou processos precisam dela? O que tem que ser feito para que ela
possa ser considerada insumo para outros processos?
O pensamento corriqueiro tem sido tratar dos resíduos a partir da sua segregação
como matéria indesejável. Com base neste raciocínio, só resta sua coleta, tratamento
e disposição no ambiente. É a lógica da rede de coleta de resíduos, também chamada de
FIM-DE-TUBO.
No caso das emissões geradas pelos processos de combustão, a sua minimização não
depende apenas da eficiência das caldeiras e fornalhas, ou do combustível utilizado. A
eficiência energética da planta toda é que tem que ser analisada. Nesse caso, a “rede de
efluentes” é menos perceptível, pois se trata de uma rede invisível de incompetências
ou perdas energéticas que inclui, desde a eficiência energética de cada processo e
equipamento, até a qualidade da integração energética de toda a planta.
RESÍDUOS GASOSOS
Emissões de resíduos gasosos são freqüentemente maiores em quantidade do que
emissões de resíduos sólidos e líquidos, no ar e nas águas. As fontes principais de
resíduos gasosos são:
• lançamento de vapores e gases da queima de combustíveis fósseis, seja de
fontes fixas ou móveis;
Diversos compostos são emitidos das fontes citadas. A seguir revisaremos alguns deles:
• Gás carbônico – Esta emissão ocorre principalmente devido a processos de
transformação de energia. É um produto da queima de combustíveis fósseis.
Não obstante, emissões de CO2 podem ser reduzidas, aumentando-se a
qualidade dos sistemas de combustão intensiva, aumentando-se a eficiência de
equipamentos, processos e sistemas, usando formas de energia não baseadas
no carbono (isto será discutido mais extensivamente no Capítulo 7).
EFLUENTES LÍQUIDOS
Nutrientes
Efluentes ricos em compostos de fósforo e nitrogênio, tais como os produzidos pelo
uso excessivo de fertilizantes sintéticos e os provenientes de detergentes, provocam
a eutrofização de corpos líquidos. A concentração de nutrientes em resíduos líquidos
pode ser reduzida, otimizando-se ou evitando-se seu uso, e recuperando os materiais
descarregados.
Ácidos
Provenientes de uma série de processos industriais, estes resíduos líquidos podem
ser tratados minimizando seu uso e, às vezes, combinando-os com resíduos básicos. A
drenagem ácida na mineração é uma preocupação de alta prioridade, e pode ser contida
se for isolada da água e do ar, para então ser tratada.
Sólidos em Suspensão
Podem diminuir a claridade de água, degradar hábitats aquáticos e afetar a composição
da água, absorvendo substâncias químicas. Medidas como redução da entrada de sólidos
inertes nos efluentes industriais e remoção de sólidos de resíduos líquidos industriais
(por exemplo, por filtração, sedimentação, precipitação) podem ser utilizadas para evitar
os problemas associados à presença de sólidos suspensos na água.
”
Se vivemos como se não importasse e importa, então importa.
Conferência Internacional sobre a Agenda da Ciência para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento para o Século 21, Viena, 1991
Metais Pesados
Diferentemente das substâncias tóxicas orgânicas, criadas pelo homem, os metais
possuem concentrações de fundo, background, na natureza, provenientes da dissolução de
rochas e minerais (Schnoor, 1996). As quantidades totais de metais na natureza mantêm-
se constantes. Porém, a forma como eles se apresentam muda. Metais originalmente
confinados nas suas jazidas naturais são extraídos e inseridos no processo produtivo.
Eles acabam sendo colocados à disposição da cadeia alimentar, onde se bioconcentram,
acumulam e magnificam, ultrapassando as concentrações naturais e colocando em risco
as espécies vivas e o homem. O reconfinamento, após passar pelo processo produtivo,
tem sido uma das formas de reduzir o impacto desses elementos.
Orgânicos Tóxicos
A nomenclatura da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) inclui
mais de quatro milhões de produtos químicos orgânicos. A cada ano esta lista cresce
com aproximadamente mil novos produtos químicos orgânicos sintetizados e produzidos
comercialmente. Somente pequena parte desses são tóxicos ou carcinogênicos, sendo
que a maior parte deles é destruída no meio ambiente.
Os que, além de tóxicos, são persistentes, representam sérios riscos para os seres
vivos, por se bioconcentrarem e biomagnificarem na cadeia alimentar, conforme
discutido no capítulo anterior.
RESÍDUOS SÓLIDOS
Existem várias fontes de resíduos sólidos. Algumas delas são discutidas abaixo, ao
lado de métodos de como minimizá-los:
• resíduos de escritório;
• Plásticos;
• Papel;
Você já deve ter notado que para revisar os tipos de resíduos gerados na indústria
optamos por classificá-los pela forma como eles são produzidos e o corpo receptor onde
serão lançados. Esta é a forma tradicional de abordar o assunto. É parte da visão fim-de-
tubo que discutimos no primeiro capítulo deste módulo. Provavelmente, se seguirmos
esta lógica, no passo seguinte nos veríamos procurando tecnologias para abater, destruir,
tratar ou dar uma destinação adequada a esses resíduos. Isto é, estaríamos, desde já,
assumindo que os resíduos são inevitáveis, inerentes aos processos produtivos. Nessa
altura da discussão estaríamos identificando novos apetrechos para colocar no nosso
amigo retirante citado no Capítulo 1.
Vamos inverter o enfoque e questionar: Por que geramos esses resíduos? Onde
erramos? O que fizemos para transformar matéria-prima em produto sem valor ou com
valor negativo porque, além do mais, ainda vai provocar um efeito nefasto nas nossas
vidas?
A Figura 3.2 mostra que o problema pode ser enfocado de várias maneiras, sugerindo
uma evolução destas, de forma a se procurar maior ecoeficiência. Na medida em que
se sobe a escada, aumenta-se a racionalidade e a produtividade no uso dos recursos
naturais, aliando-se ganhos ambientais e econômicos.
Nos degraus mais altos incluem-se medidas para as quais há necessidade de maior
articulação, tanto com o mercado consumidor como com outros setores produtivos.
Procura-se otimizar todo o mecanismo econômico-social para que este funcione
articulado, respeitando a capacidade de suporte do nosso planeta.
Para orientar este novo enfoque, consideremos o organograma a seguir que detalha
alguns aspectos da Figura 3.3. Ele é muito utilizado por diversos autores, com algumas
variações.
FIGURA 3.3 – ORGANOGRAMA MESTRE DAS AÇÕES PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DA POLUIÇÃO,
Não interessa pensar agora se a perda vai ser para o ar, o solo ou um rio. Vamos
focar nossa atenção em como não gerar resíduos.
Se uma mudança no produto não pode ser implementada de imediato, pode-se, pelo
menos, voltar a atenção para o processo produtivo existente e considerar alterações nos
insumos, nas tecnologias de produção ou práticas de gestão que minimizem a geração
de perdas para o meio ambiente. É o denominado Controle na Fonte.
MUDANÇA DE INSUMOS
O lançamento de óxidos de enxofre na atmosfera, oriundos de processos de
combustão, pode ser reduzido ou minimizado pelo uso de óleos combustíveis com
baixo teor de enxofre (BTE). O Programa e Plano Nacional do Reino Unido para a
Redução de Emissões de SOx e NOx de Plantas de Combustão de Grande Porte, lançado
em 1990 (DOE, 1990), para atender à Diretiva Européia 88/609/EEC, favoreceu uma
migração para o uso, quase que exclusivo, de petróleo e gás natural do Mar do Norte,
com baixo teor de enxofre, no lugar do carvão na alimentação do sistema termoelétrico.
É um exemplo, em nível nacional, de controle da poluição na fonte através da mudança
no uso de insumos.
Outros exemplos:
• Substituição do DDT e outros pesticidas organoclorados por produtos menos
tóxicos e persistentes, tais como os organofosforados e piretróides no controle
de pragas na lavoura;
MUDANÇAS NA TECNOLOGIA
Uma série de medidas consideradas de cunho tecnológico podem ser aplicadas
visando evitar perdas, reduzir consumo de energia e quantidade de resíduos gerados
num processo de produção. Estas medidas podem consistir em alterações do próprio
processo, reconstruções relativamente simples ou instalação de equipamentos mais
sofisticados que podem até mesmo mudar as condições operacionais. Vale salientar que
freqüentemente estas medidas precisam ser combinadas com Boas Práticas Operacionais,
MUDANÇAS NO PROCESSO
Na indústria de processos é comum se usar vapor de água para controlar reações
químicas. A água é posteriormente retirada do produto, através de diferentes processos
de separação, como a destilação, por exemplo. Em muitos casos esta água, contaminada
com hidrocarbonetos e outros compostos do produto, é descartada como efluente de
processo, indo para posterior tratamento. As empresas investem em caros sistemas de
tratamento para remover esses compostos.
Esses tratamentos não fazem senão retirar os contaminantes da fase líquida para
convertê-los em borras, ou lodos, sem valor econômico e que ainda deverão ter um
tratamento posterior e/ou uma disposição adequada dispendiosa. Modificações no
próprio processo podem permitir não apenas que a água contaminada retorne para o
processo, como, ainda, que se aproveite esses contaminantes como matérias-primas,
transformando perdas em ganhos econômicos e ambientais.
As questões ambientais devem ser consideradas desde o nível inicial, porém são mais
freqüentemente consideradas em etapas, como na definição de reciclagens de correntes,
eficiência de separação, recuperação de materiais e, evidentemente, integração energética.
Outros autores, como Linnhoff, Smith e Petela (1992), também pensaram na inserção
de aspectos ambientais no processo de síntese, propondo, para tal, o método da “cebola”,
que consiste numa análise de resíduos gerados através de uma auditoria nas etapas de
síntese de processo, de acordo com a seguinte ordem de prioridades: reator, sistemas
de separação, redes de transferência de calor e sistemas de utilidades.
FIGURA 3.4 – DIAGRAMA DA CEBOLA PARA SÍNTESE DE PROCESSOS, SEGUNDO LINNHOFF (SMITH E PETELA, 1992)
5/2/2003, 15:16:32
Minimização de Resíduos 99
– reciclabilidade;
• Extração supercrítica;
É o caso de efluentes que sempre foram descartados para a canaleta e que podem
ser aproveitados para make-up de uma torre de refrigeração. É o caso de retornar
condensados para uso como água desmineralizada em outros processos, é o caso
de checar se os equipamentos estão sendo utilizados conforme recomendado pelo
fabricante!
– Tá veeendo?
Projetos
27 38 60 94 115 109
ganhadores
Retorno médio do
173 208 106 182 122 305
investimento (%)
estações de separação de óleo; varrição antes da lavagem de pisos. Estas são algumas
considerações que podem ser feitas com relação ao gasto de água com lavagem de áreas
e equipamentos.
Fonte: UFBA/TECLIM.
No controle na fonte deve se dar principal atenção à redução de toxicidade dos resídu-
os. O Instituto para a Redução do Uso de Compostos Tóxicos (TURI), da Universidade
de Massachusetts, em Lowell (http://turi.uml.edu), vem desenvolvendo estudos nas
áreas de solventes alternativos, novos métodos para limpeza de superfícies e métodos
alternativos para tratamento de metais, entre outras atividades. Esse estado americano
instituiu umas das mais avançadas legislações de combate ao uso de substâncias tóxicas,
incluindo a criação do próprio TURI. A minimização do uso dessas substâncias é um
conceito considerado sinônimo de Prevenção da Poluição.
a totalidade dos componentes de um produto final após sua utilização pelo consumidor.
Graedel e Allenby (1995) apresentam, na Figura 3.10, uma forma interessante de
hierarquizar alternativas de reciclagem.
Alguns indícios, que podem apontar para a quebra desta lógica, começam a surgir.
A Resolução CONAMA 258, de 1999, regulamenta a reciclagem de pneus e coloca sob
responsabilidade dos fabricantes, a partir de 2005, a retirada do mercado de cinco pneus
usados para cada quatro produzidos.
Shen (1995) sugere algumas medidas práticas para a minimização dos resíduos nos
processos produtivos:
• reuso d’água;
• segregar correntes de emissões.
Lembre-se que:
Uma gota de poluente numa solução pura cria um recipiente inteiro
de poluição.
Graedel e Allenby (1995) apontam para algumas práticas interessantes para minimizar
perdas materiais e energéticas e facilitar a reciclagem de materiais. Este assunto é também
lembrado no Capítulo 6 – Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente:
• minimizar o número de componentes e materiais diferentes nos produtos a
serem reciclados;
• evitar usar compostos tóxicos e, quando isso não é possível, facilitar sua
identificação e remoção;
• evitar montar peças de materiais diferentes de forma que sua separação seja
difícil.
A recuperação de solventes para reuso é uma prática comum na indústria que deve ser
estendida. O uso de solventes em cascata reduz a quantidade de solvente utilizada.
Óleos contaminados podem ser usados em funções menos exigentes ou ser regenerados
e reusados, ou reciclados. Em determinadas circunstâncias, óleos contaminados podem
ser misturados com óleo combustível para queima em caldeiras. Isso requer um cuidado
especial, para evitar o lançamento de compostos tóxicos na atmosfera. A depender da
técnica utilizada para a remoção de óleo de efluentes aquosos pode-se conseguir maiores
reaproveitamentos. LaGrega et al., 1995, cita um caso em que o uso de ultrafiltração
levou a um acréscimo de 40% na recuperação de óleo com relação à remoção por flotação
com ar dissolvido, anteriormente utilizada.
EMBALAGENS E TRANSPORTE
Um outro aspecto que podemos chamar atenção para a necessidade de considerar
de maneira transversal, na aplicação de técnicas de redução da poluição num processo
produtivo, é o relacionado com embalagens e transporte. Avaliações recentes mostram
que atualmente mais de 30% do material coletado pelos serviços de limpeza nos países
desenvolvidos são resíduos de embalagens (Graedel e Allenby, 1995).
Quarenta por cento das embalagens utilizadas nos EUA são utilizadas para transferir
produtos entre corporações. Este dado permite racionalizar as negociações, visando à
redução do impacto das embalagens.
FECHAMENTO
CAPÍTULO 4
METODOLOGIAS DE GESTÃO
AMBIENTAL COM ENFOQUE EM
PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO E
MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS
Arlinda Coelho SENAI • CETIND • Centro de Tecnologia Industrial Pedro Ribeiro
”
mente desenvolvida.
Limpa X Fim-de-tubo.
Albert Einstein
• Apresentar a metodologia
desenvolvida por UNIDO-
Vimos nos capítulos anteriores que a intensifi- UNEP para dar suporte ao
processo de implantação de
cação dos processos produtivos, principal-mente
Produção mais Limpa nas
após a Segunda Guerra Mundial, teve como con- empresas.
seqüência uma série de problemas ambientais que • Analisar a Produção mais
afetaram a qualidade de vida na Terra. Limpa como instrumento de
marketing.
Verificamos, ainda, que o momento atual exige • Fazer um estudo comparativo
um repensar na reestruturação de nações, na criação entre SGA, baseado na
norma ISO 14001, e
de blocos regionais, na organização de mercados e na Produção mais Limpa.
criação de requisitos ambientais que sejam cumpridos
por todos e em favor de todos para que possamos
garantir a sobrevivência das gerações futuras.
Segundo o Worldwatch Institute (2000), “As economias não serão suportáveis por
muito tempo a menos que o ambiente natural que as sustenta o seja”. No entanto, para
que o ambiente se suporte, é preciso promover uma relação mútua entre ambientalismo
e crescimento econômico, propiciando o desenvolvimento sustentável, obtido a partir
de uma redução dos impactos ambientais decorrentes principalmente de atividades
produtivas (Capra, 2000).
• P+L – Produção mais Limpa, desenvolvida pela UNIDO – United Nations for
Industrial Development e UNEP – United Nations Environmental Program
(UNEP, 1994);
Segundo Furtado (2000), tanto Produção Limpa como Produção mais Limpa são
programas baseados no princípio da Prevenção da Poluição, defendendo a exploração
sustentável de fontes de matérias-primas, a redução no consumo de água e energia e a
Vale salientar, no entanto, que este caráter mais abrangente das metodologias de P+L
atualmente propostas, contemplando até mesmo técnicas gerenciais, pode contribuir para
que as empresas tendam a dar mais ênfase a estas últimas, pois normalmente representam
menor custo, fazendo com que seja mais freqüente o uso de alguma engenharia adaptativa,
preservando os projetos e as patentes originais, sem promover uma mudança mais efetiva
no processo produtivo.
Faz parte da estratégia utilizada pela Rede promover a internalização de conceitos e práticas
de P+L a partir da realização de cursos de capacitação, consultorias às empresas, fóruns, seminários
e outras atividades.
Para processos produtivos, a Produção mais Limpa inclui o uso mais eficiente das
matérias-primas, insumos e energia, a redução dos materiais tóxicos e perigosos e a
minimização na fonte de resíduos sólidos, efluentes e emissões.
Para produtos, a busca é pela redução dos impactos ambientais associados a estes,
e a estratégia adotada é baseada em dois instrumentos:
• ACV – Análise de Ciclo de Vida, instrumento de gestão que avalia o ciclo
de vida completo de um produto, processo ou atividade desde a extração e
processamento de matérias-primas, fabricação, transporte e distribuição, uso e
reuso, manutenção, reciclagem e disposição final.
Estes dois instrumentos de gestão serão vistos com mais detalhes nos Capítulos 5
e 6, respectivamente, deste módulo.
Segundo o CNTL*1 (2000), numa análise mais direta pode-se assumir que a gestão
convencional de resíduos questiona: O que se pode fazer com os resíduos sólidos,
efluentes e as emissões existentes? Enquanto que a Produção mais Limpa, proteção
ambiental integrada à produção, pergunta: De onde vêm nossos resíduos sólidos,
efluentes e emissões e por que, afinal, se transformaram em resíduos?
Uma característica adicional que pode ser salientada é que P+L propõe uma visão
integrada da empresa. Isso significa considerar que matérias-primas, energia, produtos,
resíduos sólidos e emissões estão intimamente interligados com água, ar, solo, via
processo de produção, não obstante o fato de estes fatores serem tratados de forma
separada na legislação.
... geralmente leva a custos adicionais. ... pode ajudar a reduzir custos.
Proteção ambiental entra depois do Proteção ambiental entra como parte integral do design
desenvolvimento de produtos e processos. do produto e da engenharia de processo.
O conceito de Produção mais Limpa, adotado pela UNIDO/UNEP, tem como base
o programa Ecoprofit – Ecological Project For Integrated Environmental Technologies
(Projeto Ecológico para Tecnologias Ambientais Integradas), que visa fortalecer
economicamente a indústria através da Prevenção da Poluição, inspirado no desejo de
contribuir com a melhoria da situação ambiental de uma região.
• benefício econômico;
Construir capacidades/capacitações:
• identificação das fontes geradoras de resíduos que possam ser tratadas como
oportunidades de Produção mais Limpa;
• levantamento quali-quantitativo dos resíduos para identificação;
• identificação das técnicas aplicáveis e das barreiras que se apresentam à
implantação destas;
• definição de indicadores de maneira a possibilitar uma avaliação do desempenho
ambiental da empresa. Esses indicadores devem ser criados com base nas metas
de redução a serem atingidas. Exemplos:
- consumo de água/tonelada de produto produzido/ano;
- consumo de energia – kWh/tonelada de produto produzido/ano;
- tonelada de um resíduo X gerada/tonelada de produto produzido/ano;
Aos alunos:
Resíduos: uma vez localizadas as fontes geradoras e levantados
qualitativamente e quantitativamente, o que fazer?
Há uma infinidade de campos que devem ser levados em conta. Os principais aspectos
que podem indicar a origem dos resíduos e emissões são os seguintes:
• pessoal (falta de pessoal qualificado);
Aos alunos:
Como norma, você pode ter em mente que, quanto mais próximo à raiz do
problema e quanto mais otimizados os ciclos, mais eficientes serão as medidas.
Vale nesse momento ressaltar que a coleta de dados é a base para Produção mais
Limpa. Portanto, para assegurar informações que possam fundamentar o processo de
implantação do programa P+L, é preciso:
• estabelecer uma visão geral dos principais fluxos de materiais dentro da
empresa;
As opções que se apresentam para solução dos problemas devem ser analisadas e
selecionadas enfocando a minimização de resíduos e emissões, reuso de resíduos e
emissões. Estas opções de soluções denominadas de Técnicas de Produção mais Limpa
podem consistir em:
• Mudança de Produto;
• Mudança de Processo;
• Substituição de Matérias-Primas/Insumos;
• Modificação Tecnológica;
Aos alunos:
Tente analisar os resíduos de um processo produtivo e identifique as técnicas
de P+L mais adequadas para evitar ou minimizar a geração destes. Não
esqueça de considerar os níveis de aplicação de P+L apresentados na Figura
4.4. Uma revisão do Capítulo 3 deste módulo poderá ajudar nessa tarefa.
Folha de trabalho 5: Registro dos resíduos por categoria. Resíduos e emissões podem
ter origem em diferentes matérias-primas por diferentes razões. Se for estabelecida
uma lista de origens possíveis, os resíduos e as emissões poderão ser classificados de
acordo com estas.
Nesse sentido, a metodologia orienta para que seja formado um grupo de trabalho
Ecotime para coordenar as ações de implementação envolvendo trabalhadores da empresa
com as seguintes características:
• liderança;
• motivação;
• representatividade;
• responsabilidade;
• autoridade.
Aos alunos:
Organize um treinamento de P+L para o Ecotime, antes de iniciar a
implementação do programa numa empresa.
É interessante também colocar que existem propostas que têm a mesma configuração
do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), baseado na norma internacional ISO 14001
– Diretrizes para Implantação de SGA.
todos os itens exigidos pela norma foram cumpridos e, assim sendo, obter a certificação
ambiental da empresa.
Podemos dizer que a Produção mais Limpa provoca uma mudança de cultura
organizacional, de forma a atender aos requisitos ambientais e de mercado no sentido
da minimização de resíduos. Trata-se, portanto, de um programa que contempla os
aspectos qualitativos e quantitativos de melhoria dos produtos, serviços e seus efeitos
ao meio ambiente e à qualidade de vida das pessoas.
A implantação do programa P+L pode ser também uma opção bastante interessante
para as micro, pequenas e médias empresas, que normalmente dispõem de poucos
recursos, principalmente financeiros e humanos.
Aos alunos:
Tente preparar um material para ser utilizado num processo de sensibilização
de uma empresa para adoção de P+L. Não esqueça de analisar as barreiras
primeiro!
Para que uma empresa tenha um SGA, segundo a norma ISO 14001, que é a norma
da série ISO 14000 que orienta especificamente como implantar um SGA, esta precisa
ter realizado as seguintes etapas:
Ao realizar todas essas etapas, a empresa pode solicitar de uma instituição credenciada
uma auditoria para verificar se todos os itens exigidos pela norma foram cumpridos e,
assim sendo, obter a certificação ambiental da empresa.
É interessante salientar mais uma vez que os certificados ambientais apenas significam
que estas empresas têm um sistema que possibilita sistematizar informações sobre os
impactos ambientais provocados pela atividade produtiva e que há uma gestão sobre
estes. Assim, podemos concluir que o fato de uma empresa ter um sistema de gestão
formal não quer dizer que ela é ambientalmente mais correta que outra que não tem o
certificado.
Existem alguns pontos, no entanto, que podem gerar interpretações errôneas quanto
ao objeto de certificação e ao significado do certificado propriamente dito:
• princípios norteadores mal definidos e que podem orientar a empresa a adotar
uma postura de fim-de-tubo não ambientalmente correta;
Segundo Prestrelo et al. (2000), a ISO 14001 no seu item 3.13 define a Prevenção
da Poluição como:
NOTA
“Os benefícios potenciais da Prevenção da Poluição incluem a redução de
impactos ambientais adversos, a melhoria da eficiência e a redução de custos.”
(ISO 14001:1996)
Quanto a este último ponto, segundo a ABNT (1996), é possível que duas empresas
que desenvolvem atividades similares obtenham o certificado de conformidade emitido
pelo mesmo organismo certificador, tendo, no entanto, níveis de adequação e/ou
desempenho ambiental bastante diferentes. (Magnani, UFRJ, 1999)
Para entender melhor esta questão, é preciso perceber como a dimensão ambiental é
vista pelas empresas e qual a estratégia de gestão adotada. A proposta de minimização
de resíduos em processos produtivos, por exemplo, está diretamente associada à
tecnologia do processo e à forma como as operações são executadas. Espera-se que
estes condicionantes evoluam continuamente para opções cada vez mais adequadas em
termos ambientais, as chamadas técnicas de redução da poluição, também conhecidas
como Tecnologias Limpas.
Voltando à norma ISO 14001 de implantação de SGA, podemos dizer que o seu
aspecto crítico é exatamente o processo de padronização de procedimentos. Muitas
vezes a ânsia de estruturar o sistema impede a análise preliminar destes com a finalidade
de verificar a coerência com a estratégia de gestão adotada pela empresa, para a
partir daí então decidir se há necessidade ou não de adequação dos mesmos antes da
padronização.
Esta situação pode ser amenizada quando consideramos que o processo pressupõe
uma melhoria contínua. Entretanto, quanto mais lento este ocorrer, pior será o problema,
pois estes procedimentos inadequados, uma vez padronizados, continuarão a ser adotados
porque foram atestados como certos, no sistema. (Fernandes et al., 2001)
Quando fazemos uma análise comparativa do SGA baseado na norma ISO 14001
com a Produção mais Limpa (P+L), podemos salientar nesse momento que esta última
estabelece o princípio de Prevenção da Poluição claramente e, além disso, concentra
esforços na identificação das causas geradoras dos problemas ambientais, priorizando
a identificação de medidas que efetivamente resultem na minimização de resíduos e,
conseqüentemente, na melhoria do desempenho ambiental.
Vale salientar, no entanto, que, segundo Prestrelo et al. (2000), alguns aspectos da
Produção mais Limpa podem ser entendidos como pontos fracos, como por exemplo
a falta de uma diretriz para definição da estrutura organizacional com as devidas
responsabilidades; a estratégia adotada de formação de Ecotime para implantar P+L que
pode não estimular o envolvimento de toda a empresa; a não-contemplação do plano de
atendimento a emergências/contingências, para os casos de derramamentos/vazamentos,
incêndios/explosões, etc.; a falta de mecanismo que divulgue os compromissos do
programa P+L; e a não-avaliação periódica dos resultados do programa por instituições
auditoras, para manter o estímulo à continuidade e melhoria.
Outro ponto que podemos enfatizar neste capítulo está relacionado à ética
organizacional. Neste processo das empresas, de definir qual o caminho a seguir, para
atingir o objetivo de tornar o desenvolvimento compatível com o meio ambiente, este
pode ser um fator crítico para assegurar a credibilidade da prática adotada.
Aos alunos:
Analise as informações apresentadas e tente enriquecer o estudo comparativo,
acrescentando outras diferenças entre os instrumentos de gestão apresentados.
FECHAMENTO
ANEXOS
N O
Objetivo do produto / serviço Quantidade por ano Unidade
das quais:
• 85% Märzen
• 100% Cerveja especial
• 5% Bockbier
9
Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS
Resíduos de manutenção,
11 200 kg ? 11 2.200
graxas
Conteúdos do separador
12 3.200 kg ? 2,8 8.960
de óleo
RESÍDUOS E/OU
Vidro-vidro quebrado
EMISSÕES
E/OU PROBLEMAS
Óleo recuperado
Grãos utilizados
Filme plástico
Sedimentos
Resíduos
MÉTODO ADOTADO
Efluente
Papelão
(Úmido)
Energia
Rótulos
Papel
PARA PREVENÇÃO
Óleo
1 Modificação do produto X
Substituição / troca de
2 X X X X X X
matérias-primas
Modificação da
3 X X X X X X X
tecnologia
Otimização de
parâmetros
4 (dosagem controlada, X X
concentração de
materiais,...)
5 Logística de resíduos X X
Padronização /
7 X
Automação
8 Compras melhoradas X
Reuso, ciclo interno
9 X
melhorado
10 Reciclagem externa X X X
Compostagem, ciclos
11 X X
biogênicos
Alterações na seqüência
12 X X
de processo
Material de embalagem
13 X X
retornável
14
Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS
RESÍDUOS/EMISSÕES
Óleo recuperado
Grãos utilizados
Filme plástico
Sedimentos
Vidro-vidro
quebrado
Resíduos
Efluente
Papelão
(Úmido)
Energia
Rótulos
CATEGORIA
Papel
Óleo
A MP não empregada X X X
B Impurezas na MP X X
Subprodutos não
C X
desejados
Materiais auxiliares
D X X X X X X
utilizados
F MP mal-utilizada/refugo X
Resíduos/materiais de
G X X X
manutenção
Materiais de manuseio,
H estocagem, amostragem, X X
análise, transporte
Perdas devido a
I
evaporações
Materiais de falhas de
J X X
processo e vazamentos
K Material de embalagem X X X X
L
Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS
5/2/2003, 15:20:37
Análise de Ciclo de Vida 159
CAPÍTULO 5
ACV – ANÁLISE DE CICLO DE VIDA
Clarissa Campos Meira Universidade Federal da Bahia • UFBA • MEAU
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM
”
orientam seus olhares em novas direções. • Apresentar ao aluno a fe-
T. S. Kuhn rramenta Análise de Ciclo
de Vida.
• Avaliar os benefícios as-
No contexto da Prevenção da Poluição surge a sociados ao uso da fer-
necessidade de instrumentos novos para avaliação ramenta.
do impacto ambiental de produtos que permitam • Descrever e discutir a meto-
a indicação de medidas que possam agregar dologia utilizada na aplica-
ção de ACV.
valor econômico aos setores produtivos. Deve-
se considerar que os instrumentos atualmente
utilizados para avaliação de impacto ambiental tendem a induzir a adoção de medidas
chamadas de fim-de-tubo que, normalmente, acrescentam custos à produção.
Segundo Chehebe (1998), a Análise de Ciclo de Vida surgiu em 1965, num estudo
custeado pela Coca-Cola, para avaliar de forma comparativa os diferentes tipos de
embalagens de refrigerantes. O objetivo final do estudo era concluir qual das embalagens
tinha a menor carga ambiental associada. O processo de quantificação da utilização
de recursos naturais e dos índices de emissão utilizados pela Coca-Cola nesse estudo,
inicialmente, tornou-se conhecido como REPA (Resource and Environmental Profile
Analysis), e depois evoluiu para o que hoje conhecemos como ACV.
Desde 1989 diversos seminários internacionais têm sido promovidos para consolidar os
avanços deste instrumento. Rydberg (1996) faz uma revisão de autores e momentos da evolução
da ACV.
Normalmente quando se quer falar sobre Análise de Ciclo de Vida utiliza-se a sigla
ACV. Mas você também pode ouvir por aí:
“Através de uma LCA a empresa Z constatou que seu produto gera maior impacto
ambiental na fase em que ele está sendo utilizado pelo consumidor e não no seu
processamento, como se esperava (...)”, ou:
“(...) Fizeram uma LCA comparativa de dois produtos e concluíram que, apesar de o
produto X consumir mais matéria-prima na sua fabricação, a disposição final do produto
Y contamina o lençol freático com uma substância de difícil tratamento (...).”
Como quase toda a literatura sobre Análise de Ciclo de Vida ainda é em inglês, vocês podem
ouvir pessoas se referirem à ACV como LCA, isto é, Life Cycle Analysis.
Uma ACV aborda os impactos ambientais relativos à saúde humana (ela não envolve análise
sobre os recursos humanos, apenas avalia os impactos sobre o homem), aos sistemas ecológicos
e depreciação de recursos. A ACV não tem como propósito avaliar os efeitos econômicos ou
sociais (Lindfors, 1995).
Dessa forma, saímos dos limites da indústria e fazemos uma análise mais ampla,
completa, que nos permitirá identificar onde e em que momento determinado produto
representa maior risco ambiental, e desse modo identificamos oportunidades de mudanças
que levem a melhorias ambientais. A ACV foi concebida, principalmente, como um
instrumento de mudança e não apenas de avaliação.
A frase clássica sobre ACV, que de fato é uma ótima definição do conceito, é: analisar a
vida do produto “do berço ao túmulo”, ou, melhor ainda, “do berço à reencarnação”.
Lembrando!
Aliás, os “túmulos” estão ficando realmente saturados!
Através da ACV foi possível identificar que o estágio mais impactante, e, portanto,
onde devem ser concentrados os projetos de melhorias, é o do processamento do produto
(Lindfors, 1995).
Mesmo tendo sido idealizado para subsidiar mudanças que levem a melhorias
ambientais, a ACV pode ser usada para avaliar impactos que gerem reclamações usuais,
para a definição de critérios para outorga de selos verdes, para identificar informações
necessárias para cobrir lacunas do conhecimento ou projetar um novo produto, com
menores encargos ambientais.
As setas no diagrama indicam que uma fase pode influenciar na outra, de modo que
o que ficou inicialmente estabelecido pode ser modificado ao longo do estudo. Portanto,
limitações para
as definições iniciais têm caráter preliminar, podendo se cumprir ou não. realizar ACV
OBJETIVO E ESCOPO
Uma Análise de Ciclo de Vida deve ser abrangente, mas não pode ser superficial.
Isto é, deve considerar todas as etapas da vida do produto, processo ou atividade, mas
não pode deixar de se aprofundar no que se refere às informações mais importantes.
De modo geral, podemos dizer que as maiores limitações para a realização de uma
ACV são: dificuldades práticas como coleta de dados em campo, tempo, acesso aos
dados, custos, entre outras. Quanto mais ampla e mais detalhada a ACV, mais complexa,
cara e demorada ela se torna. Por isso devem ser estabelecidos os objetivos do estudo, os
limites da abordagem e a unidade funcional que servirá de referência para o trabalho.
Objetivos
Para podermos delimitar a ACV e torná-la exeqüível, e ao mesmo tempo proveitosa,
é fundamental ter o objetivo do estudo muito claro ao longo de todo o processo. Isso
permitirá delimitar os esforços necessários.
Muitas vezes o estudo é feito apenas para identificar as etapas que correspondem a um
maior impacto ambiental ou, ainda, poder fazer-se uma análise somente qualitativa, em
função da dificuldade de se obter os dados necessários para uma análise quantitativa.
Um objetivo muito comum de uma Análise de Ciclo de Vida é o de, ao final do estudo,
ter reunido uma série de informações e parâmetros que irão auxiliar no projeto de um
novo produto. A idéia é que no projeto sejam tomadas medidas que minorem os encargos
ambientais identificados no produto estudado. É o que se chama D f E – Design for
Environment (Projeto para o Ambiente), que utiliza a ACV como ferramenta básica.
Outras metas comuns num estudo de Análise de Ciclo de Vida são: melhoria dos
produtos para obtenção de selo verde, minimização de impactos ambientais conhecidos,
identificação de pontos que devem ser pesquisados com maior profundidade, identificação
das atividades causadoras dos maiores impactos, entre outras.
Limites
Estabelecido o objetivo, deve-se identificar qual o limite do sistema, ou seja, quais
processos serão analisados e, dentro dos processos, quais insumos, matérias-primas,
formas de energia e de resíduos serão levados em consideração. O critério é que na
definição dos limites sejam levados em consideração os itens mais importantes, os que
representam maior custo ambiental. Podem ser selecionados, também, os de maior
presença na composição do custo final.
Lembrando!
Os limites e objetivos estabelecidos inicialmente não são rígidos, podendo ser
modificados ao longo do estudo, em função das dificuldades ou facilidades
encontradas.
• as hipóteses realizadas;
• a audiência pretendida.
Para o estabelecimento dos limites, os critérios devem ser identificados e claramente
justificados no escopo, de forma a se estabelecer a própria validade do estudo.
Atenção!
Toda ACV deve ser feita com completa transparência. Qualquer decisão de
omitir um determinado estágio, processo ou corrente de entrada ou saída
deve ser citada, e o motivo da omissão devidamente explicado para garantir
credibilidade ao processo e orientar as decisões que possam ser tomadas a
partir dele.
Algumas etapas que dificilmente são descartadas na definição dos limites são:
• uso de combustíveis, eletricidade e calor;
• transporte e embalagens.
Atenção!
Você deve concentrar-se nos processos que reconhecidamente geram maiores impactos
ambientais. Substâncias tóxicas são um prato cheio.
Nas bordas dos limites serão indicadas as entradas e saídas de materiais, insumos
e energia.
Esses aspectos devem ser devidamente tratados, de forma a se ter uma resultante
equilibrada, exeqüível e que atenda ao objetivo do estudo.
Dica!
Da série ISO 14000 – Norma Internacional de Sistema de Gestão Ambiental –,
as que tratam de ACV são:
• ISO 14040 – Gestão Ambiental – Análise de Ciclo de Vida – Princípios e
estrutura.
Ainda na fase de objetivo e escopo, até mesmo antes do estabelecimento dos limites,
é importante fazer um fluxograma do processo para se ter uma idéia geral de todas as
fases do ciclo de vida.
Por fim, uma vez que o objetivo do estudo esteja claro, é fundamental definir nesta
fase da análise a unidade funcional. Para tanto, vale fazer algumas considerações para
facilitar o entendimento da importância deste parâmetro numa ACV.
ANÁLISE DO INVENTÁRIO
Esta talvez seja a fase mais trabalhosa. Aqui devem ser levantados os dados
necessários ao estudo. Todos os materiais e energia que entram e saem do sistema são
levantados na forma de balanços de massa e energia. O que sai do sistema, ou de cada
subsistema, um produto secundário comercializado, uma perda de energia, um resíduo
gasoso, líquido ou sólido, disposto em aterro, reciclado, etc., deve ser aqui levantado.
O mesmo vale para os insumos materiais e energéticos. É importante que os dados
venham de fontes seguras. A qualidade das fontes utilizadas deve ser devidamente
esclarecida.
Como já foi ressaltado, a obtenção dos dados não é tão simples assim. A dificuldade
de se obter dados é um dos principais responsáveis pela redefinição de objetivos e
do escopo. Se a qualidade dos dados obtidos não for satisfatória para o cumprimento
da meta inicialmente estabelecida, deve-se coletar dados adicionais, para melhorar a
qualidade ou redefinir a meta e o escopo do estudo. Dados de menor qualidade levam
a resultados que mesmo que possam ser utilizados para subsidiar decisões, seu alcance
necessariamente será mais restrito.
• Normas técnicas;
• Fatores de emissão;
• Literatura técnica;
• Fornecedores;
• Software de ACV.
Observe que os dados levantados devem ser normalizados com relação ao critério
de funcionalidade, por exemplo: km/h por quilômetro rodado pelo pneu ou m3 de água
por tonelada de polipropileno produzido.
Uma importante verificação ao final desta fase é que o inventário de cada um dos
subsistemas somados deve se igualar ao inventário total do sistema. Tudo o que entra
sai. Qualquer desvio deste princípio deve ser ressaltado e justificado.
Segundo Lindfors (1995), se a qualidade dos dados obtidos não for satisfatória para
o cumprimento da meta inicialmente estabelecida, então pode-se:
AVALIAÇÃO DO IMPACTO
Neste ponto do estudo, já temos um levantamento de todos os dados: matérias-primas,
insumos e energia, que entram e saem em cada uma das etapas, que fazem parte dos
limites que estabelecemos para nosso sistema. Em alguns casos, essas informações
serão quantitativas; e em outros, qualitativas.
Na fase anterior, os dados obtidos certamente permitiram observar que algumas fases
do ciclo de vida contribuem de forma mais significativa do que outras na exaustão dos
recursos naturais, nos impactos sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente. Na fase
de avaliação do impacto isso deve ser validado através de um estudo mais profundo.
INTERPRETAÇÃO E PROPOSTAS
Nesta etapa, segundo Chehebe (1998), deve-se:
• analisar os resultados obtidos nas duas fases anteriores;
Aqui também pode ser indicada a forma como o estudo pode ser aperfeiçoado, com
indicação do uso de outras ferramentas, ou pesquisa relativa a determinado tema, enfim, é
feita uma avaliação crítica do próprio estudo, indicando caminhos para aperfeiçoá-lo.
São essas, enfim, as quatro fases de estudo de uma ACV. Essa divisão pode variar
um pouco de autor para autor, mas os conteúdos são similares.
Uma ACV como essa pode ser extremamente útil para identificar questões como:
Atenção!
Neste caso, os produtos têm que atender ao mesmo propósito. Têm que ter a
mesma funcionalidade, a mesma utilidade. Não importa se um deles é feito de
metal e o outro de plástico, por exemplo. Portanto, não estará se comparando
bananas com laranjas, pois o importante é comparar o impacto ambiental final
que cada um deles causa, por unidade funcional.
Como já foi dito, uma Análise de Ciclo de Vida pode ser muito trabalhosa se não
forem excluídas as partes menos importantes. No caso de uma análise comparativa,
pode-se imediatamente descartar do estudo os impactos equivalentes entre os dois
produtos. Só tem sentido comparar efeitos ambientais se pudermos optar pelos menos
impactantes.
Descrição do projeto
Unidade Funcional
Para o estudo adotou-se como unidade funcional 100kg de café tostado e moído,
disposto em um supermercado de Bogotá, em unidades de 500g, empacotado em sacos de
polipropileno metalizado. No estudo foram analisadas as etapas de cultivo, beneficiamento
tradicional e também ecológico, processamento industrial e distribuição.
Resultados
Foi estudada a produção de dois tipos de café: o café tradicional e o café orgânico
com beneficiamento ambiental. Ambos os produtos têm como processos similares a parte
industrial e de transporte, e determinando um impacto comparativo temos que o café do
processo tradicional tem maior impacto sobre o meio ambiente que o orgânico.
Estudando essas duas fases percebemos que na fase de cultivo a utilização de pesticidas,
fungicidas e herbicidas é o fator que determina a alta pontuação desta etapa. Essas substâncias
apresentam um impacto considerável devido à periculosidade para a saúde humana e de
algumas espécies. O segundo problema encontra-se na eutrofização da água, que é causada
pela grande quantidade de nutrientes e sólidos em suspensão gerada no processo e lançada
normalmente em corpos d’água.
Através do estudo fica claro que o maior impacto é o causado pelo uso de pesticidas
na etapa de produção do cultivo. Para o estudo, foi considerado um período de cinco
anos. Nessa análise deve-se destacar que a terra foi identificada como insumo, não tendo
sido considerado como prioritário, pois não representa maior impacto.
Conclusões
Da Análise de Ciclo de Vida (ACV) realizada chegou-se às seguintes conclusões:
• As tendências de mercado para o consumo de café orgânico não só são
benéficas do ponto de vista econômico, mas também do ponto de vista
ecológico, tal como mostram os resultados.
Descrição do projeto
Unidade de análise
Foi definida, em conjunto com os empregados da empresa, a unidade funcional de
100 litros de cerveja, engarrafados e empacotados, e postos no supermercado, para cada
um dos seguintes produtos:
• Garrafa retornável de 300cm3 para cerveja, de cor âmbar (210g).
Resultados
De acordo com a “ecopontuação” obtida para os ciclos de vida de cada uma das
garrafas, a garrafa não retornável contribui consideravelmente mais para os problemas
ambientais do que a garrafa retornável. A razão principal é a economia de recursos
em matérias-primas na produção da garrafa retornável, por causa do uso repetitivo ao
longo de sua vida útil.
Segundo as “ ecopontuações” obtidas para cada fase do ciclo de vida das garrafas,
a fase de matérias-primas da garrafa não retornável contribui consideravelmente mais
para os problemas ambientais do que as outras fases da mesma garrafa; e seguem nessa
ordem as fases de produção, transporte, uso e reciclagem. Para a garrafa retornável, a
ordem de contribuição é transporte e uso, matérias-primas, produção e reciclagem. Os
resultados indicam que as fases de matéria-prima e produção da garrafa não retornável
aportam consideravelmente mais aos problemas ambientais do que as mesmas fases da
garrafa retornável, e ocorre o contrário para as fases de transporte, uso e reciclagem.
FECHAMENTO
CAPÍTULO 6
ECOLOGIA INDUSTRIAL E PROJETO
PARA O MEIO AMBIENTE (DfE)
Sean Patrick Bradley Universidade Federal da Bahia • UFBA • MEAU
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM
”
ambientais globais. Ambiente.
T. C. McAloone & Dr. S. Evans, 1996
• Discutir a forma de organizar
variáveis de decisão am-
biental em contextos mais
Antes de iniciarmos o conteúdo deste capítulo, amplos do que um processo
produtivo restrito.
vamos revisar um pouco o conhecimento até agora
• Apresentar fatores ambien-
trabalhado de processo de aprendizagem. Isto tais relevantes como es-
certamente vai ajudá-lo a compreender melhor o colha de materiais, me-
contexto em que Projeto para o Meio Ambiente lhorias no processo, trans-
porte, armazenamento,
(DfE) poderá ser inserido. embalagens.
Como não podia deixar de ser, apresentamos medidas e enfoques que podem ser
aplicados visando minimizar os resíduos gerados principalmente em processos produtivos
já existentes. Passamos aí a tentar fazer você perceber a necessidade de adequar produtos
e processos de maneira a atender às demandas ambientais de mercado.
Outra ferramenta que achamos interessante discutir um pouco mais com você foi a ACV
(Análise de Ciclo de Vida), que pode ser utilizada para avaliar o impacto de produtos e serviços
em todas as suas fases, desde a extração da matéria-prima até disposição final do produto
pós-uso. É bom lembrar que através da ACV podemos identificar os aspectos críticos a serem
trabalhados e definir diretrizes a serem adotadas no processo de concepção de um novo produto
ou processo considerado mais ecologicamente correto.
Vale salientar que até este momento do aprendizado estávamos concentrados nos
limites físicos da fábrica. No entanto, neste capítulo vamos procurar abrir um pouco
mais a discussão. Vamos pensar, aqui, na necessidade de uma maior articulação entre
os setores produtivos e a sociedade. Vamos, ainda, entender que o impacto ambiental da
produção deve ser discutido bem antes de se construir a fábrica. Deve começar até mesmo
na própria fase de concepção dos produtos a serem manufaturados. Estaremos conversando
a partir de agora sobre Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente.
Atingir o Fator 10 vai exigir isto, e muito mais! Por exemplo, mudanças nos padrões
de consumo, principalmente nas sociedades opulentas. Contudo, esta discussão, mesmo
sendo apaixonante, foge ao escopo deste módulo.
De fato, os autores mais relacionados com a P2 têm focado mais o processo interno
à fábrica. Já os autores relacionados à EI têm-se preocupado mais com as relações
interfabris e sua inserção nos ciclos naturais. Instrumentos como a Análise de Ciclo de
Vida e metodologias de Projeto para o Meio Ambiente tentam operacionalizar esses
esforços. Eles tentam responder a perguntas do tipo: Quais são os fatores que você deve
levar em conta quando está projetando produtos ou processos industriais? Quais são
realmente suas prerrogativas, e o que se encontra previamente definido pelas restrições
do mercado, e pela legislação e regulamentação?
O Projeto para o Meio Ambiente (Design for Environment – DfE) representa uma
linha de pensamento que a cada dia que passa se consolida como uma alternativa para
casar interesses corporativos com preservação ambiental.
Tomar decisões nunca foi fácil, mas hoje as complexidades envolvidas são
significantes, e erros de projeto podem condenar o produto a impactar o ambiente por
anos, comprometendo o nome da empresa. Portanto, não é suficiente identificar fatores
ambientais importantes no projeto de produtos, mas sim estruturá-los de forma que
projetistas possam incluí-los apropriadamente.
Graedel e Allenby (1995) definem a Ecologia Industrial como “o meio através do qual
a humanidade pode, deliberada e racionalmente, aproximar e manter uma capacidade
de carga apropriada, com uma contínua evolução econômica, cultural e tecnológica.
Assim, Ecologia Industrial precisa apoiar a estrutura e função dos ecossistemas, porque
os seres humanos são apenas uma componente nas interações ecológicas e não podem
ser separados deste todo”. Simplesmente, nossa saúde é dependente da saúde dos outros
componentes do ecossistema. O todo é integrado.
Para ilustrar a evolução de sistemas abertos para sistemas fechados sob o enfoque
dos materiais, Graedel utiliza as Figuras 6.1 e 6.2:
FIGURA 6.2 – TIPOS DE FLUXOS DE MATERIAIS (GRAEDEL, T. APUD SOCOLOW ET AL., 1994)
Com isso a Ecologia Industrial busca ciclos e processos ótimos para todos os recursos
materiais e energéticos, enquanto enquadrados nos limites ambientais e financeiros
atuais. Soluções ótimas são buscadas e determinadas através do estabelecimento de um
equilíbrio entre os fatores e os limites em conflito. Dessa forma a Ecologia Industrial
ajuda na obtenção de soluções racionais, amplas e sustentáveis.
Por fim, pode-se dizer que a Ecologia Industrial busca uma economia sustentável
ligada ao desenvolvimento cultural, levando em conta um moderado crescimento
populacional. No entanto, as ações da Ecologia Industrial são, em grande parte, avanços
tecnológicos e soluções técnicas em vez de soluções sociais.
Com esta visão, passemos agora a discutir como introduzir esses conceitos no projeto
e fabricação de novos produtos e processos.
PROJETAR
Numa escala conceitual mais detalhada, o Projeto para o Meio Ambiente (Design
for Environment – DfE) é normalmente inserido no contexto da Análise de Ciclo de
Vida (ACV). Considerado assim, o DfE compõe a parte da ACV em que objetivamos a
melhoria do produto. Outras perspectivas consideram o Projeto para o Meio Ambiente
um tipo de projeto com abordagem holística que leva em conta todo o ciclo de vida.
Nesse caso, é freqüentemente equacionado com ecodesign, mas tem-se uma série de
outros nomes, mais ou menos equivalentes, como: “Life Cycle Design”, “EcoRedesign”
e “Green Design”.
• uma nova abordagem que vai além do simples objeto, em que se incluam todas
as etapas da vida, é hoje considerada fundamental;
Alguns autores citam que 70% dos custos de manufatura e os atributos dos produtos
são decididos relativamente cedo no processo de projeto (Andreasen, M.; Khiler, S.
& Lund, T. Design for Assembly, London: IFS Publications, 1983). Graedel e Allenby
(1995) também destacam o fato que estratégias de Projeto para o Meio Ambiente são
mais efetivas durante as fases iniciais do projeto. Nas fases iniciais, normalmente é
mais fácil alterar o projeto para adequar-se aos fatores ambientais do que nas fases
subseqüentes. Por exemplo, é mais simples e menos caro reduzir emissões de gases
ácidos removendo compostos de enxofre da matéria-prima do que capturá-los e tratá-
los nos estágios finais do processo.
Sem dúvida, os projetistas são a força principal atrás da forma do produto pronto e
do seu posterior uso. As decisões tomadas nesse estágio de desenvolvimento afetarão
a quantidade e a qualidade dos materiais utilizados, os gastos energéticos, os resíduos
gerados, além dos fatores tradicionais de função, custo, etc.
• comunicação do projeto.
Entretanto, o projeto, hoje, precisa analisar e sintetizar muito mais do que jamais visto
antes. Para poder projetar algo, custos e função não são suficientes, e precisamos saber
o máximo possível sobre o comportamento previsto do produto e dos usuários durante
todo seu ciclo de vida. Em face desta realidade, é fundamental utilizar os processos de
análise para simplificar o mundo real através de modelos e de síntese para poder juntar
elementos num todo (Dieter, G. E. Engineering Design, First Edition, 1986). Análise e
síntese permitem tomar decisões num contexto em que há relações complexas e decisões
interligadas, de tal forma, que muitas entram em conflito e somente se resolvem através
de trocas de vantagens e desvantagens (trade-offs).
o cliente, mas podem ser elementos orientados para destacar o produto no mercado.
A luta por ser único é forte no mercado mundial. O que vale dizer que custo baixo é
essencial para competir no mercado. Mais adiante veremos, repetidamente, que custo
baixo é também uma importante variável de projeto ambiental.
• fatores de segurança;
• facilidade da manufatura;
• facilidade de manutenção;
• confiabilidade;
• vida útil;
• responsabilidade legal;
• impactos ambientais.
Mais recentemente a questão ambiental passou a ter uma inserção mais sistêmica
no projeto, e novas variáveis são consideradas e agrupadas em:
• DfE: (Environment) – Projeto para o Meio Ambiente;
• eficiência energética;
• transportes utilizados;
• armazenamento e embalagens.
Com base, em parte, nas críticas de uma abordagem bastante incremental, essas
mesmas variáveis, e outras, podem ser consideradas dentro de um macrocontexto de
projeto. Assim, cria-se uma hierarquia de estratégias de projeto que especifica quando
aplicar conceitos e modificar o resultado final. Portanto, diferentes rotas “design wheels”
foram desenvolvidas com a finalidade de ajudar o processo de síntese.
Com base na estruturação da Figura 6.3, fica claro que o Projeto para o Meio Ambiente
inicia-se com o Desenvolvimento de Novos Conceitos (1), para resolver o problema em
questão. Nesse estágio, qualidades essenciais são a criatividade e a capacidade de ver
antigos problemas de um outro modo.
• partilhamento de equipamentos.
A segunda consideração do projeto é a Otimização Física (2), que tem como primeira
prioridade o aumento da vida útil do produto, incluindo também os seguintes fatores:
• a integração das funções;
• materiais reciclados;
• materiais recicláveis.
• menos resíduos;
• menos insumos.
Uma importante consideração, que não é independente das outras aqui apresentadas,
é a Otimização dos Meios de Distribuição (5), que precisam ser sistematizados e
otimizados. Entre os fatores a serem considerados incluem-se:
• embalagem;
• modo de transporte;
• logística.
Reforçando o fato de que o DfE é uma abordagem associada a todo o ciclo de vida
de um produto, precisamos incluir fatores de projeto que antecipem o que acontece
fora do espaço físico da fábrica. Portanto, devemos considerar algumas das seguintes
alternativas para se obter Redução do Impacto Durante o Uso do Produto (6):
• redução no consumo de energia;
• redução de insumos;
• reuso do produto;
• remanufatura de produtos;
• reciclagem;
• descarte final.
São essas novas soluções que às vezes trazem “revoluções” na forma de atender a
uma necessidade da sociedade. Um exemplo freqüentemente citado é o uso de e-mail em
vez da carta de papel. No caso, a necessidade de comunicação é resolvida sem os gastos
materiais. Para a área industrial, a principal mudança de conceito necessário é o desvio
de atenção do produto como objeto para o produto como um sistema, com um ciclo de
vida que deve satisfazer os requisitos de todos os “clientes” atuais e subseqüentes.
Ao aluno:
Você conhece a famosa pegadinha abaixo?
Tente unir todos os pontos com 4 linhas retas sem levantar a caneta do papel.
E aí, quantas soluções você encontrou?
DESMATERIALIZAÇÃO
O conceito de desmaterialização leva a projetos que reduzem o tamanho do produto
ao mínimo necessário, sem que sua aplicação seja comprometida. Outra possibilidade
é identificar ou criar substitutos para produtos que resolvam uma necessidade sem o
uso de materiais. Igualmente importante é a substituição de sistemas baseados no uso
intensivo de energia, ou infra-estrutura.
a empresa vende somente o serviço e não o objeto que fornece. O nível de controle
envolvido nesse tipo de relacionamento permite que a empresa desenvolva sistemas
muito mais eficientes.
• possibilidade de ter retornos não somente no uso do produto, mas também nas
fases seguintes.
PARTILHAMENTO DE EQUIPAMENTOS
O uso de um produto por um conjunto de pessoas ou empresas tende a ser mais
eficiente. Como foi visto anteriormente, os usuários pagarão por uma unidade de serviço
utilizado, em vez de pagar para ser o dono do mesmo.
INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES
Combinando serviços e funções num único produto, podemos reduzir espaço e
aumentar o uso de materiais.
• fazer com que os componentes mais frágeis possam ser desmontados com
facilidade para conserto ou troca.
Programas como o Total Production Management (TPM) têm entre os seus pilares
de implementação a Manutenção Autônoma. Este pilar foca a responsabilidade da
manutenção corriqueira nas próprias equipes de operação, desenvolvendo uma relação
salutar entre equipes de operação e os seus equipamentos.
• fácil manutenção.
• não-tóxicos;
Vista a questão estrutural, tentamos otimizar o volume e o peso dos materiais para
utilizar menos energia durante a produção, transporte e armazenamento. Além de reduzir
impactos, reduz-se consumo e aumenta-se a produtividade.
Redução de peso: esta é uma forma direta e simples de limitar o impacto ambiental
– quando menos recursos são extraídos, menos resíduos são produzidos e menos impactos
associados ao peso durante o transporte são causados.
Autores como Graedel e Allenby (1995) sugerem, no caso de recursos não renováveis,
a consideração da sua disponibilidade em escala mundial e os impactos referentes aos
processos de extração. Na Tabela 6.1 eles apresentam uma visão geral da disponibilidade
de alguns elementos no planeta.
MATERIAIS RECICLADOS
Sempre que possível, devemos usar material reciclado em lugar de extrair material
virgem, deixando-o em forma reciclável após o seu uso. Materiais reciclados são
utilizados quando estão disponíveis e na forma apropriada, porque são menos impactantes
e menos caros do que materiais novos. O potencial de reciclagem dos materiais varia.
Por exemplo:
• metais são freqüentemente recicláveis;
• deve-se trabalhar com materiais compatíveis, se não for possível trabalhar com
um determinado material;
Projetos podem assegurar que os produtos sejam transportados da forma mais eficiente
possível quando consideram o ciclo de movimento do produtor ao distribuidor, ao
varejista e ao usuário final. Essas redes de movimento envolvem:
• embalagem;
• transporte;
• armazenamento;
• logísticas.
EMBALAGEM
As embalagens são usadas, principalmente, para proteger os produtos e para torná-
los atraentes. Entretanto, as embalagens podem contribuir significativamente para o
impacto ambiental. Elas compõem, por exemplo, 30% dos resíduos sólidos em algumas
localidades (Graedel e Allenby, 1995).
Alguns objetivos do Projeto para o Meio Ambiente para embalagens (em ordem
decrescente de redução de impacto ambiental) são:
• nenhuma ou uma quantidade mínima de embalagem. Esta opção envolve a
redução ou eliminação do excesso de proteção, decoração, etc.;
• redução de volume;
TRANSPORTE
Transporte por terra, água e ar pode causar, cada um deles, significantes impactos
ambientais. Estes podem ser classificados em duas categorias:
• Operações normais. Por exemplo, o gasto de energia no uso de veículos e
equipamentos e suas emissões correspondentes.
ARMAZENAMENTO
A depender da indústria e dos produtos armazenados, as operações de armazenamento
podem se constituir em um dos focos de impacto ambiental mais relevantes. É o caso,
por exemplo, do armazenamento de compostos voláteis na indústria de petróleo e
petroquímica. Nesta indústria, mesmo nas operações de rotina, as principais emissões de
VOCs estão relacionadas a carga, descarga e armazenamento. Esse aspecto assume uma
dimensão muito maior quando se trata de substâncias de alta toxicidade e periculosidade.
Nesses casos, devem ser realizados esforços especiais na logística de fornecimento e
movimentação, de forma a se reduzir ao máximo a necessidade de armazenamento.
LOGÍSTICA EFICIENTE
O estudo cuidadoso de rotas de entrega para otimizar o tempo gasto e as distâncias
percorridas pode reduzir significativamente os impactos do sistema de distribuição.
Poderíamos considerar:
• motivação do pessoal que lida com os fornecedores para que estes incentivem
os fornecedores a reduzir distâncias;
Na indústria de processo, por exemplo, as plantas são projetadas para transportar dois
ou três tipos de água (clarificada, desmineralizada, potável) e um único, ou no máximo
dois, tipos de efluentes. Isso dificulta a implantação de sistemas de reuso e reciclagem
da água, encarecendo os esforços para minimizar o uso deste importante insumo.
Freqüentemente, existe diferença entre o uso indicado pelo fabricante e o uso dado
pelo operador. Alguns cuidados podem facilitar um uso mais eficiente do produto:
• projetar de forma que o uso seja fácil, incluindo instruções claras;
Mesmo assim, convém considerar esta etapa não apenas no sentido de minimizar o
impacto sobre um determinado corpo receptor, mas visando ao maior aproveitamento
possível, seja ele imediato ou no futuro. A lógica de aumentar a eficiência do uso dos
recursos naturais se mantém, mesmo que envolvendo interações de prazos maiores.
A reinserção de efluentes líquidos no ciclo natural das águas deve ser procurada
considerando os aspectos tanto econômicos como de segurança. Se o projeto do processo
ou produto leva em consideração a inserção final de algumas de suas partes nos ciclos
naturais, haverá condições de se fazer isso com maior segurança.
Aos alunos:
O próprio conceito de aterro final merece uma revisão. Os aterros não devem
ser considerados como um espaço de confinamento final, mas como um
local de armazenamento provisório, enquanto as tecnologias ou a demanda
pelos materiais estocados não permitam ou justifiquem economicamente
seu aproveitamento. Isso obriga a se pensar em mecanismos para se passar
informações para o futuro, no sentido de tornar viável, em prazos mais curtos,
o reaproveitamento dos compostos depositados.
REUSO
O melhor projeto permite que o produto seja reutilizado quase por completo, para
a mesma aplicação ou para uma outra diferente. Quanto mais o produto mantiver sua
forma original melhor, do ponto de vista ambiental. Esse conceito, obviamente, depende
da existência de programas de devolução e reciclagem.
• usar juntas padronizadas para que o produto possa ser desmontado com poucas
ou uma única ferramenta comum;
REMANUFATURA DE PRODUTOS
Muitos produtos ainda acabam no aterro sanitário, apesar de conterem componentes
úteis. Freqüentemente, esses componentes podem ser reutilizados, seja para os fins
originais ou para outros. Portanto, o processo de remanufatura é importante para
recuperar materiais e energia nas peças e estabelecer uma fonte confiável de peças ou
componentes para novos produtos ou para reparo.
RECICLAGEM
A reciclagem, neste contexto, é uma das últimas considerações de DfE. No geral, a
reciclagem é empreendida apenas se for menos danosa ao ambiente e mais econômica,
quando comparada ao uso de outras fontes de materiais. Por isso, tanto na reciclagem
quanto no reuso de materiais é importante considerar todos os impactos, particularmente
de fatores que possam exceder o impacto causado pela utilização de materiais novos,
como acontece com gastos no transporte para reciclagem.
• substâncias químicas – Às vezes são recicláveis, tendo que passar, porém, por
processo de tratamento ou purificação.
• considerando que materiais não similares não devem ser unidos de uma
forma que dificulte sua separação. Por exemplo: parafusos são retirados mais
facilmente do que soldas ou rebites;
• considerando que se materiais tóxicos têm que ser parte do produto, estes
devem ser concentrados numa área do produto para que possam ser retirados
com facilidade.
Vimos até agora que os parâmetros básicos e mais citados de Projeto para o Meio
Ambiente se baseiam nos resíduos – sejam eles sólidos, líquidos ou gasosos – gerados
nos processos produtivos ou no pós-consumo, tendo como desafio que estes sejam:
• eliminados;
• reduzidos em quantidade;
• reciclados;
Dessa forma, apontamos outro caminho a ser adotado, que corresponde à classificação
do “processo de melhoria de Brezet”, o qual descreve a “melhoria incremental”
como sendo o primeiro estágio de uma escala de melhorias com tempos de atuação
diferentes.
FECHAMENTO
CAPÍTULO 7
ENERGIA
Ednildo Andrade Torres Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM
”
Nós mesmos.
medidas técnicas para
TAO
melhoria do desempenho
energético-ambiental;
• Avaliar o uso da energia
A proposta de adotar Prevenção da Poluição do ponto de vista do desen-
volvimento sustentável;
como princípio, implica considerar todos os aspec-
• Apresentar ao aluno a
tos que podem reduzir o impacto ao meio ambiente. Exergia.
Energia é um destes aspectos, pois está associada
diretamente ao uso racional dos recursos naturais
utilizados como fonte energética e aos impactos ambientais decorrentes do processo
de produção e da forma de consumo adotada, tanto em setores industriais específicos
como pela sociedade como um todo.
Assim sendo, neste capítulo abordaremos alguns pontos sobre a questão energética
para que você possa fazer uma análise da situação atual no cenário mundial. Além disso,
vamos apresentar alternativas de medidas e tecnologias que podem ser adotadas visando
ao uso mais eficiente de energia no trabalho, na sua casa ou em qualquer outro local.
Vale salientar nesse momento que a energia, desde os seus primórdios, vem sendo
fator de disputa entre as mais diversas nações, onde as guerras e, conseqüentemente, as
conquistas têm trazido situações peculiares. A condição prévia de qualquer civilização é a
energia. Por isso, tanto no passado, em que se utilizava a força animal e humana, quanto
mais adiante, após o avanço das técnicas, quando se passou a utilizar os recursos naturais
como o sol, o vento, as águas e as florestas, a energia sempre teve um papel destacado.
Porém, com o crescimento da população, as necessidades energéticas passaram a ser
cada vez mais concentradas e o modelo de desenvolvimento industrial adotado baseado
na centralização da geração.
Esse modelo teve como base a transformação das fontes primárias, inicialmente a de
carvão mineral e em seguida a do petróleo e seus derivados. Essa civilização foi forjada
tendo como base, inicialmente, a máquina a vapor e depois os motores de combustão
interna. Com o surgimento e o fortalecimento da indústria, houve a geração de empregos,
paralelamente ao desenvolvimento da demanda de energia.
O conceito atual de energia foi proposto pelo físico inglês Young, no início do
século XIX. Muitos séculos antes, o Homem já observava e utilizava as diferentes
formas de energia existentes na Natureza: a radiação solar, o fogo, os ventos, a lenha,
posteriormente as quedas d’água e o movimento dos astros celestes. Há longo tempo, as
pessoas e grupos familiares começaram a aprender como aproveitar a energia primária
para facilitar a vida, utilizando a natureza como fonte de suprimento, nas diversas
formas apropriadas a satisfazer suas necessidades básicas: calor, cocção, movimento,
iluminação, etc.
Além dos impactos ambientais que acompanham a operação normal das instalações
de produção e utilização da energia, as tecnologias energéticas podem provocar riscos
de acidentes, catástrofes e desvios de seu uso para outros fins. O caso da energia nuclear
é sem dúvida o mais importante nesse campo devido aos problemas a ela associados:
disposição de resíduos, desativação dos equipamentos (após o tempo de vida útil),
contaminação e vazamentos.
Embora nenhuma emissão para o meio ambiente esteja associada com a operação
de usinas de geração de eletricidade nuclear, os resíduos de combustível nuclear
permanecem radioativos por milhares de anos, e, apesar de pequenos em quantidade,
devem ser dispostos e gerenciados cuidadosamente, pois representam uma grande ameaça
para o meio ambiente e para a humanidade.
Aos alunos:
Outras tecnologias energéticas que envolvem grandes riscos são: minas de
carvão, campos de petróleo, refinarias, transporte de petróleo, etc. Pesquise os
impactos provocados por estas tecnologias alternativas energéticas.
Na Figura 7.1 são apresentados os valores do consumo de energia per capita para
os diversos países ou regiões do mundo.
Nela foram lançados os dados referentes aos anos de 1971, 1990 e 2000, assim como
um cenário para 2010. Os valores representam toda a energia consumida no período,
dividida pela população do país. A unidade de medida em que foram expressos os
índices é a tep (tonelada equivalente de petróleo), ou seja, transformam-se todas as
fontes de energia consumida em uma única, que equivale à energia produzida que pode
ser extraída a partir de uma tonelada de petróleo.
Nos EUA e no Canadá, para o ano de 1990, o consumo per capita foi de cerca de
7,5 tep/habitante; enquanto para o ano de 2000, um consumo por habitante de 8,2 tep.
O que representou um crescimento de 9,3% em uma década.
Portanto, podemos afirmar que quanto maior a renda per capita, maior é a vida média
e o nível de vida da população, e maior seu consumo de energia.
SETOR INDUSTRIAL
A indústria tem um grande peso no consumo de energia tanto no Brasil como no
exterior. O setor industrial consome diversas formas de energia, dentre elas cita-se: gás
natural, carvão mineral e vegetal, óleo combustível, eletricidade, etc.
SETOR RESIDENCIAL
SETOR DE TRANSPORTE
O setor de transporte é o segundo maior consumidor, perdendo apenas para o setor
industrial. Os energéticos mais consumidos são o óleo diesel e a gasolina. Na Figura
7.5 observa-se que a gasolina em 1981 participava com 32,5% no consumo de energia,
o óleo diesel com 48,4% e o álcool com 5,1%, e os demais com 14%. Já em 1996 a
participação foi de 29,1%, 46,7% e 16%, respectivamente. A grande mudança foi com a
introdução do álcool etílico na matriz energética após o ano de 1981. Evidencia-se, ainda,
a importância do setor de transporte coletivo de passageiros e de carga, consumidores
de óleo diesel.
Aos alunos:
Tente dar sugestões para a redução do consumo de energia nos setores
apresentados. Pense nas causas primeiro, é claro!
Apesar de suas múltiplas formas, a energia se origina de apenas três tipos de interações
fundamentais da natureza: gravitacional, eletromagnética e nuclear. Apenas três!
ENERGIA SOLAR
A energia solar, por exemplo, é a mais importante para o homem. É vital para a
vida na Terra, e dessa fonte energética derivam, indiretamente, várias outras formas de
energia utilizáveis no nosso planeta.
Bom, vamos ver o que o Sol faz? Os vegetais crescem e se desenvolvem graças
à fotossíntese, que é a assimilação da energia solar pela clorofila de suas folhas,
transformando-a em matéria orgânica – a biomassa. A lenha e o carvão vegetal de
florestas plantadas, o álcool e o bagaço da cana-de-açúcar, por exemplo, são combustíveis
produzidos de forma renovável, graças ao fluxo de energia que recebemos do Sol.
Também a partir dessas duas fontes os oceanos poderão (no futuro, pois hoje só
temos projetos piloto para desenvolvimento das tecnologias necessárias, que de modo
geral ainda são muito caras) fornecer energia de três tipos:
• das marés, provocada pelo movimento de rotação da Lua em torno da Terra,
arrastando pela atração gravitacional a massa de água dos oceanos, fazendo
variar a altura da superfície do mar, que pode ser usada próximo às costas;
Pode-se, enfim, usar diretamente a energia solar como fonte energética, através de
equipamentos especialmente construídos para captá-la, destacando-se:
Coletores planos. Capazes de aproveitar não só a radiação direta do Sol mas também
a radiação difusa (única disponível em dias nublados) para aquecimento de água e do
ar (na secagem de grãos, por exemplo).
Aos alunos:
Tente levantar os custos das opções apresentadas e fazer um estudo da relação
custo x beneficio.
BIOMASSA
A biomassa é matéria orgânica de origem tanto animal como vegetal, obtida de
florestas nativas e plantadas, culturas energéticas, plantas aquáticas e resíduos orgânicos
– domésticos, industriais e agropecuários. Exemplos típicos são: cana-de-açúcar, lenhas
e madeiras de diversas origens, óleos vegetais, como de mamona e dendê, esterco
animal, esgoto, etc.
No meio rural e periferias dos países do Terceiro Mundo, ainda hoje, a combustão
direta da lenha, de resíduos agrícolas e de esterco constitui-se na principal fonte de
energia para o cozimento de alimentos e aquecimento. Nesses países, a lenha para fins
energéticos chega a representar 80% do consumo total. Em nível mundial, a lenha ainda
representa 47% deste consumo energético (Torres, 1999).
Este consumo tem acarretado sérios prejuízos ambientais pela forma indiscriminada
como a lenha é coletada, provocando degradação do solo, erosão e, finalmente,
desertificação. Milhões de hectares de áreas de florestas são destruídos por ano no
Terceiro Mundo.
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
Pela importância do impacto causado pela queima de combustíveis fósseis, faremos
uma análise mais detalhada desta.
Aqui, m e n são variáveis que podem possuir diferentes valores numéricos para
diferentes hidrocarbonetos (ex.: em termos aproximados, m=1 e n=4 para o gás natural,
principalmente o metano; m=1 e n=2 para o óleo; e m=1 e n=1 para o carvão).
o urânio relativamente escasso. Já a fusão de núcleos leves, mais abundante, ainda não
é controlada pelo homem, que até agora só conseguiu utilizá-la para gerar explosões,
com fins bélicos, como no caso da bomba de hidrogênio.
Aos alunos:
Identifique as vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de energia apresentados
anteriormente e estabeleça um critério para expressar o grau de impacto ambiental
associado ao uso de cada um deles.
Também existem outros processos que geram produtos múltiplos, que resultam em
ganho de eficiência, como, por exemplo, a eletrólise de água para produzir hidrogênio
gera uma mercadoria secundária, o oxigênio, normalmente de alto grau de pureza e,
dessa forma, pode ser considerado como um co-produto ou um produto co-gerado.
Observe na Figura 7.7 um sistema de co-geração de ciclo combinado:
• vedação nas fendas, portas, janelas e pequenas frestas, para reduzir trocas de
ar do meio externo com o meio interno;
Aos alunos:
Quando você for comprar um aparelho verifique os dados relacionados ao
consumo de energia. Compre esta briga!!
Aos alunos:
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA DIFERENTES TIPOS DE FONTE DE LUZ
restante do quarto;
40
outras;
10
TABELA 7.1
5
Aos alunos:
Que tal implementar alguma dessas ações em casa ou no trabalho e avaliar
os resultados?
a temperatura para água quente doméstica pode ser diminuída para mais ou
menos 38ºC;
• usar relógios para controle das horas de operação. Por exemplo, o tempo do
termostato leva temperaturas internas a serem religadas nas noites de inverno;
• utilizar e armazenar a luz do dia para diminuir a necessidade de luz não natural
durante o período da noite;
• utilizar correntes frias externas para resfriar o calor interno, em vez de ligar
o ar-condicionado. Também há a possibilidade de uso de águas geladas
profundas dos rios e lagos para resfriar o espaço via um resfriamento circular
(e ainda, algumas vezes, pode ser fonte de água potável);
• utilizar radiação solar para aquecer edificações através da exploração da
capacidade de armazenagem da energia térmica em edificações, posicionando
árvores, janelas e brises, de modo a manter as edificações frias durante o verão
e quentes no inverno.
Aos alunos:
Cheque quais desses métodos você já utiliza no seu dia-a-dia e analise sua
postura em relação ao comprometimento com a redução no consumo de energia.
Geradores de Vapor
Distribuição de Vapor
Fornos
Incineradores
Condicionamento de Ar
• projeto arquitetônico favorável (clima quente ou clima frio) pode requerer
cargas de resfriamento ou aquecimento muito menores;
Ar Comprimido
Torres de Resfriamento
• evitar o uso de torres de resfriamento. Sempre que for possível resfriar a água
por meio de um trocador de calor para recuperação de energia;
• controlar as vazões de ar e de água de forma a buscar minimizar o consumo de
energia elétrica em bombas e ventiladores.
Secadores em Geral
• sempre que possível empregar energia secundária, isto é, energia que seria descartada
como perda;
• não secar demasiadamente o produto – que depois irá, na estocagem,
reabsorver umidade.
Alguns equipamentos acionados por motores elétricos podem trabalhar com rotações
variáveis para controle de carga. Nesse caso, controladores de freqüência podem ser mais
interessantes do que válvulas ou outros dispositivos de controle dissipativos (by-pass ou
recirculação).
Aos alunos:
Verifique quais equipamentos da sua empresa constam na relação apresentada
anteriormente e selecione as sugestões de medidas que você pode adotar
visando à melhoria da eficiência energética.
Quando lembramos que o Projeto para o Meio Ambiente tem sempre como maior
meta fazer parte de sistemas sustentáveis, fica claro que precisamos analisar o uso de
energia à luz do desenvolvimento sustentável. Por exemplo, nas atividades de seleção
de energia é fundamental escolher a forma mais apropriada e menos impactante de
energia. Tanto as fontes quanto os meios de transferência merecem avaliação numa
escala macro. No geral, o conceito de eficiência tem que ser ampliado para incluir a
matriz energética geral.
SUPRIMENTO ENERGÉTICO
Primeiramente, precisamos lembrar que nas atividades de seleção de energia dois
aspectos prioritários devem ser levados em consideração:
• a seleção das fontes de energia;
Tecnicamente, deve ser considerado que alguns energéticos são mais bem-adaptados
para determinados fins. Fornos e secadores para tratamento especial, por exemplo, devem
utilizar, necessariamente, combustíveis líquidos ou gasosos (isentos de contaminantes
como enxofre e alcatrão), ou ainda eletricidade. Já os geradores de vapor, por sua vez,
dada a natureza do processo de conversão de energia e sua localização nas indústrias,
podem empregar combustíveis como biomassa, carvão e óleos pesados.
Outro fator importante é que alguns energéticos são algumas vezes proibidos em
determinados usos, como é o caso do óleo diesel e do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo),
em certos usos térmicos industriais, por causa dos impactos gerados e subsídios
governamentais. Em adição, existem regulamentações específicas ao consumo de
eletricidade e derivados de petróleo que precisam ser conhecidas por todos aqueles
que participam dos trabalhos de gestão do uso de energia.
Além disso, a seleção da fonte de energia e dos meios de transferência está também
vinculada com a tecnologia de conversão de energia disponível. Algumas das seleções de
energia envolvem também substituição de energia ou combustíveis, como, por exemplo,
o uso preferencial de aquecedores a gás natural em lugar do uso da eletricidade. É
também fundamental que sejam conhecidas as especificações dos combustíveis quanto
à sua composição elementar e propriedades, como poder calorífico, viscosidade, ponto
de fulgor, etc.
• usar fontes de energia e meios de transferência que podem ser utilizados com
maior ecoeficiência com boas tecnologias de conversão de energia (sistemas
de co-geração, caldeiras com baixas emissões de NOx).
• sustentabilidade;
• impactos ambientais;
• segurança;
A análise de energia é baseada na primeira lei da termodinâmica, uma lei que trata da
conservação de energia. A análise de exergia é baseada na segunda lei da termodinâmica
e tem algumas vantagens sobre a análise de energia. Elas não são concorrentes e sim
complementares.
A energia não pode ser criada nem destruída, apenas é transformada, e sempre se
conserva. A cada transformação haverá sempre um parte perdida. Rant, o mesmo que
sugeriu a palavra Exergia, também propôs a palavra Anergia para denominar a parte da
energia que não pode ser aproveitada, isto é:
Portanto, energia é a soma de tudo aquilo que pode ser aproveitado (exergia) com
a parte que não se utiliza (anergia).
Podemos dizer também que exergia é a parte nobre da energia. Em outras palavras,
é a parcela que pode ser convertida em calor e/ou trabalho. Porém, apesar desse
conhecimento, podemos ainda observar do ponto de vista microcósmico, e notaremos
que existem subparcelas dentro desse fluxo exergético.
Para calcular a exergia é necessário que se defina qual é o estado de referência, para
que se possa ter base sobre quais são os valores adotados.
Segundo Szargut (1988) e Kotas (1985), a exergia pode ser dividida em quatro partes:
cinética, potencial, termomecânica e química.
FECHAMENTO
CAPÍTULO 8
TENDÊNCIAS PARA O FUTURO
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM
A proposta deste módulo foi a de “retrojetar” um desafio futuro para que as devidas
providências possam ser tomadas, de forma a atingir o estado desejado. Esta mesma
proposta foi utilizada pelo governo holandês em 1989, para elaborar o Plano Nacional
de Políticas Ambientais. O compromisso desse país com o desenvolvimento sustentável
proposto pela Comissão Brundtland exigiu a definição de objetivos extremamente
ousados. Esse trabalho encontra-se publicado no livro Desenvolvimento de Tecnologias
Sustentáveis (Weaver, 2000). A discussão neste capítulo está embasada no referido livro,
com o objetivo de ilustrar uma forma de vislumbrar o futuro a partir da ótica de um
país que de certa forma já o vive.
Uma outra certeza que temos é que todo o esforço deve ser empreendido para
atingir o Fator 10. Acreditamos, no entanto, que mesmo propondo uma visão bem
mais avançada da predominante “Tecnologia Fim-de-tubo”, teremos muitas difi-
culdades para atingir esta meta.
A Comissão Holandesa para Políticas Ambientais de Longo Prazo ainda coloca: “As
práticas habituais de inovação não oferecem qualquer perspectiva da tecnologia ter um
papel, senão periférico, para se atingir o desenvolvimento sustentável.” (Weaver, 2000)
Aos alunos:
Retrojetar (neologismo da língua portuguesa) significa estabelecer objetivos
desafiadores, considerados até mesmo impossíveis nas condições atuais, a
serem atingidos a longo prazo, que impliquem uma melhoria dos padrões de
ecoeficiência. A partir daí então, volta-se à realidade atual, identificando os
avanços necessários para o atingimento da meta estabelecida.
• melhor uso da biomassa, de forma que uma maior parcela da planta seja
comestível;
• Tecnologia de sensores.
Para poder se fazer uso multifuncional da terra, a visão de produção tem que mudar
da atual exploração especializada para empreendimentos multifuncionais. A depender
da vocação local, eles podem ter ênfases específicas, sem contudo perder o caráter
multifuncional.
Nesse sentido, alguns gargalos tecnológicos devem ser superados através da pesquisa:
fechamento de ciclos de nutrientes; retorno de restos domiciliares na forma de nutrientes
para a terra; sistemas avançados de rotação de culturas; captação e transformação de
energia solar, eólica, hídrica.
Dessa forma, se for possível produzir substitutos para a carne e derivados, a partir
da parcela de biomassa não aproveitada, ou melhor, desperdiçada hoje, um duplo ganho
ambiental poderia ser atingido.
Evidentemente que esta proposta tem um forte viés a ser considerado, além do
tecnológico: o comportamento do consumidor, que ora busca alimentos mais saudáveis
e ora mantém a opção tradicional por carne e derivados do leite. É certo, no entanto,
que só serão realizados investimentos consideráveis nesta direção se as mudanças forem
aceitas pelo mercado. Isso aponta, portanto, para uma linha de esforços adicionais aos
meramente tecnológicos.
Duas linhas de discussão parecem surgir a partir deste ponto. Uma, na direção da
alimentação natural e vegetariana; outra, na direção da alimentação com substitutos da
carne, desde que tenham gosto similar. Apesar de estar crescendo bastante, a alimentação
sem carne ainda ocupa um tímido espaço na nossa sociedade e precisaria de fortes
estímulos para se expandir. Por outro lado, a demanda de carne pelo seu gosto tem
que ser considerada, e nesse sentido o altíssimo consumo da linha de hambúrgueres e
salsichas, isto é, produtos de carne mecanicamente alterada, oferece a oportunidade de
uma gradual introdução de alimentos à base de novas proteínas.
TECNOLOGIAS DE SENSORES
Para se atingir os níveis de eficiência de conversão de recursos naturais em alimentos,
discutidos até o momento, é necessário contar com mecanismos de transferência de
informação bem mais avançados do que os que dispomos atualmente. O comportamento
dos recursos naturais – CO2, luz solar, água, solo, plantas, nutrientes e doenças – tem que
ser minuciosamente controlado. Para seu monitoramento é necessário o desenvolvimento
FECHAMENTO
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http://www.epa.gov/opptintr/library/ppicdist.htm.
Acessado em 15/02/2002.
http://www.tappi.org/public/divisions/environmental.asp.
Acessado em 24/04/2002.
http://www.vanzolini.org.br/areas/desenvolvimento/producaolimpa.
Acessado em 24/04/2002.
Arlinda Coelho
Química industrial, especialista em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais na
Indústria, mestranda em Gerenciamento Tecnologias Ambientais no Processo
Produtivo e coordenadora Técnica do Núcleo de Produção mais Limpa – NPL/
BA, sediado no SENAI da Bahia. (arlinda@cetind.fieb.org.br)
Marc Rosen
Engenheiro mecânico, mestre em Engenharia Mecânica, PhD em Engenharia
Mecânica e professor da Ryerson Polytechnic University, Canadá, e, atualmente,
diretor da School of Manufacturing Engineering, University of Ontario Institute
of Technology. (marc.rosen@uoit.ca)
Fernando Ouriques
Normalização Bibliográfica
Elaboração
Asher Kiperstok
Consultor
Ednildo Andrade Torres
Consultor
Clarissa Campos Meira
Bolsista do PROCES (Programa de Capacitação para Ensino Superior da
Universidade Federal da Bahia – UFBA/CAPES/CADCT)
Sean Patrick Bradley
Bolsista do PROCES (Programa de Capacitação para Ensino Superior da
Universidade Federal da Bahia – UFBA/CAPES/CADCT)
Marc Rosen
Consultor
Ilustração
Lídia Pitta
Figura 1.2 - Nordestino retirante
Colaboração
Syomara Barreto Santiago
Consultora
Roberto Azul
Revisão Gramatical
Giselle Maria Paula, Silvia Soffiatti e Maria Edvirgem Zeny
Tradução inglês-português
Ana Monteleone/Sylvio Nogueira • Prisma
Projeto Gráfico e Editoração