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SENAI • PROGRAMA TECNOLOGIAS E GESTÃO AMBIENTAL • Prevenção da Poluição

Prevenção da

Asher Kiperstok
Arlinda Coelho
Ednildo Andrade Torres
Clarissa Campos Meira
Sean Patrick Bradley
Marc Rosen

BRASÍLIA
2002
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Confederação Nacional da Indústria • CNI e
Conselho Nacional do SENAI

Armando de Queiroz Monteiro Neto


Presidente

Comissão de Apoio Técnico e Administrativo


ao Presidente do Conselho Nacional do SENAI

Fernando Cirino Gurgel


Vice-Presidente da CNI

Dagoberto Lima Godoy


Diretor da CNI

Max Schrappe
Vice-Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

SENAI • Departamento Nacional

José Manuel de Aguiar Martins


Diretor-Geral

Mário Zanoni Adolfo Cintra


Diretor de Desenvolvimento

Eduardo de Oliveira Santos


Diretor de Operações

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©2002. SENAI • Departamento Nacional
Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

SENAI/DN
COTED • Unidade de Conhecimento Tecnologia da Educação

Projeto Estratégico Nacional "Desenvolvimento Integrado de


Cursos para Educação a Distância com Recursos Multimídia via Internet"

MÓDULOS DO PROGRAMA TGA

MÓDULO INTRODUTÓRIO
SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL
PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO
EFLUENTES LÍQUIDOS
EMISSÕES ATMOSFÉRICAS
RESÍDUOS SÓLIDOS
CONTAMINAÇÃO DOS SOLOS E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
FUNDAMENTOS LEGAIS E ECONÔMICOS
VISÃO INTEGRADA EM MEIO AMBIENTE

Cada módulo do Programa TGA inclui ambiente web e livro impresso, que são recursos didáticos complementares.

FICHA CATALOGRÁFICA

KIPERSTOK, Asher et al. Prevenção da poluição.


Brasília: SENAI/DN, 2002. 290 p.

ISBN 85-7519-071-7
MEIO AMBIENTE

CDU: 504.03

SENAI
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Departamento Nacional

SEDE • BRASÍLIA
Setor Bancário Norte
Quadra 1 - Bloco C
Edifício Roberto Simonsen
70040-903 • Brasília • DF
Tel (0xx 61) 317-9001
Fax (0xx 61) 317-9190
Homepage: www.dn.senai.br

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS, TABELAS E QUADROS


APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO 17

CAPÍTULO 1 MOTIVAÇÃO: DAS PRÁTICAS DE FIM-DE-TUBO PARA A 21


PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO
1.1 ESTAMOS CONSTRUINDO UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? 22
1.2 A NECESSIDADE DE MUDAR DE PARADIGMA: 31
DO FIM-DE-TUBO PARA A PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO

1.3 BARREIRAS A SUPERAR 35

CAPÍTULO 2 PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS 45


2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS: QUAIS SÃO? 46
Deposições Ácidas 47
Mudança Climática e Efeito Estufa 48
Degradação da Qualidade das Águas Subterrâneas 50
Degradação de Águas Superficiais 52
Degradação do Solo 53
Redução de Hábitat e Biodiversidade 55
Buraco da Camada de Ozônio 55
Névoas Fotoquímicas (Smog) 58
Degradação das Condições de Habitabilidade Urbana 59
Inserção de Substâncias Tóxicas Persistentes na Cadeia Alimentar 60
Outros Problemas Ambientais 62
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS 64
Classificação Espacial dos Impactos 65
Classificação Temporal dos Impactos 66
Classificação dos Impactos Ambientais pelo Tipo de Risco 67

CAPÍTULO 3 MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS 71


3.1 OS PROCESSOS INDUSTRIAIS E SEUS RESÍDUOS 73
Resíduos Gasosos 75
Efluentes Líquidos 77
Resíduos Sólidos 82

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3.2 COMO ABORDAR O PROBLEMA DOS RESÍDUOS, EMISSÕES E EFLUENTES NA INDÚSTRIA 84
Redução na Fonte, Pensando a Mudança do Produto 88
Mudança de Insumos 90
Mudanças na Tecnologia 91
Mudanças no Processo 92
Boas Práticas Operacionais (Good Housekeeping Practices) 100
Reciclagem Interna e Externa 105
Embalagens e Transporte 110

CAPÍTULO 4 METODOLOGIAS DE GESTÃO AMBIENTAL COM ENFOQUE EM 113


PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO E MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS
4.1 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO/PRODUÇÃO MAIS LIMPA – O QUE É? COMO SURGIU? 115
4.2 HISTÓRICO DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA NO BRASIL 118
4.3 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO/PRODUÇÃO MAIS LIMPA X TECNOLOGIAS FIM-DE-TUBO 120
4.4 METODOLOGIA DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA DESENVOLVIDA PELA UNIDO/UNEP 124
4.5 OUTRAS METODOLOGIAS 136
4.6 PRODUÇÃO MAIS LIMPA COMO INSTRUMENTO DE MARKETING 138
4.7 O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA) BASEADO NA NORMA INTERNACIONAL ISO 14001 141
E A PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L)
4.8 A ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES 148

ANEXOS
ANEXO 1 Folha de Trabalho Nº 1 – Principais produtos e/ou serviços 153
ANEXO 2 Folha de Trabalho Nº 2 – Principais resíduos gerados e/ou emissões 154
ANEXO 3 Folha de Trabalho Nº 3 – As principais matérias-primas e auxiliares 155
ANEXO 4 Folha de Trabalho Nº 4 – Prevenção e minimização de resíduos e emissões 156
ANEXO 5 Folha de Trabalho Nº 5 – Categoria de resíduos gerados e emissões 157
ANEXO 6 Tabela 4.3 – Categorias de resíduos 158

CAPÍTULO 5 ACV – ANÁLISE DE CICLO DE VIDA 159


5.1 O QUE É ACV? 160
5.2 ALGUNS EXEMPLOS ILUSTRATIVOS 162
5.3 FASES DA ACV 164
5.4 ACV PARA IDENTIFICAÇÃO DE QUESTÕES-CHAVE 174
5.5 ANÁLISES COMPARATIVAS 175
5.6 ALGUMAS APLICAÇÕES DE ANÁLISE DE CICLO DE VIDA 176

CAPÍTULO 6 ECOLOGIA INDUSTRIAL E PROJETO PARA O MEIO AMBIENTE (DfE) 183


6.1 ECOLOGIA INDUSTRIAL 186
Projetar 191
Mudando o Processo de Projetar 192
Projeto para o Meio Ambiente 196

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6.2 DESENVOLVIMENTO DE NOVOS CONCEITOS 199
Desmaterialização 200
A Mudança para Serviços 200
Partilhamento de Equipamentos 201
6.3 OTIMIZAÇÃO FÍSICA 201
Integração de Funções 202
Otimização das Funções 202
Aumento da Confiabilidade e Durabilidade 202
Facilidade de Manutenção e Reparo 203
Estrutura Modular do Produto 204
Fortes Relações com Quem Utiliza o Produto 204
6.4 OTIMIZAÇÃO DO USO DOS MATERIAIS 205
Considerações sobre o Uso de Materiais 205
Reduzir Uso de Materiais 205
Materiais mais Limpos 206
Materiais Renováveis e Abundantes 206
Materiais Energeticamente Eficientes 208
Materiais Reciclados 208
Materiais Potencialmente Recicláveis 209
6.5 OTIMIZAÇÃO DAS TÉCNICAS UTILIZADAS NA PRODUÇÃO 210
6.6 OTIMIZAÇÃO DE SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO 210
Embalagem 210
Transporte 211
Armazenamento 212
Logística Eficiente 212
6.7 REDUÇÃO DO IMPACTO DURANTE O USO 213
Redução no Consumo de Energia e Fontes de Energia mais Limpas 213
Reduzir Insumos e Utilizar Insumos mais Limpos 213
6.8 SISTEMAS PARA O FINAL DO CICLO DE VIDA 214
Reuso 215
Projeto para Desmontagem 216
Remanufatura de Produtos 216
Reciclagem 217
6.9 O FUTURO: PROJETO SUSTENTÁVEL 219

CAPÍTULO 7 ENERGIA 223


7.1 ENERGIA E MEIO AMBIENTE 225
7.2 CONSUMO DE ENERGIA NO CONTEXTO GLOBAL E NACIONAL 228
Consumo de Energia por Habitante no Mundo 228
Expectativa de Vida x Consumo de Energia 229

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7.3 CONSUMO DE ENERGIA NO BRASIL 231
Setor Industrial 231
Setor Residencial 233
Setor de Transporte 233
7.4 FONTES, FORMAS E CONVERSÃO DE ENERGIA 235
Energia Solar 236
Biomassa 239
Combustíveis Fósseis 242
Outras Fontes de Energia 243
7.5 MEDIDAS TÉCNICAS PARA MELHORIA DO DESEMPENHO ENERGÉTICO 244
Prevenção das Perdas e Dissipação de Energia 244
Co-Geração e Geração de Multiproduto 244
Sistemas de Energia Integrados 246
Entrosamento entre Demanda, Fornecimento e Armazenamento de Energia 246
Melhoria no Envoltório das Edificações 247
Uso de Aparelhos de Alta Eficiência 248
Iluminação mais Eficiente e Eficaz 248
Aquecimento e/ou Resfriamento por Região 250
Uso de Estratégias Passivas para Reduzir o Consumo de Energia 250
Oportunidades para Melhoria em Equipamentos Industriais 251
7.6 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ENERGIA 256
Suprimento Energético 257
Limitações Práticas na Eficiência de Energia 260
Limitações Teóricas na Eficiência de Energia 260
7.7 O FUTURO: ANÁLISE DE EXERGIA 262

CAPÍTULO 8 TENDÊNCIAS PARA O FUTURO 267


8.1 TENDÊNCIAS FUTURAS 268
Uso Multifuncional da Terra 270
Ambientes de Produção Fechados e Controlados 271
Uso Completo de Plantas e Biomassa através da Conversão Integral 272
Alimentos à Base de Novas Proteínas 273
Tecnologias de Sensores 274

REFERÊNCIAS 277

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LISTA DE FIGURAS,
TABELAS E QUADROS

FIGURAS

CAPÍTULO 1
FIGURA 1.1 Gráfico com projeções da população mundial 24
FIGURA 1.2 Nordestino retirante 32
FIGURA 1.3 Produção limpa e limpeza de processos 35
FIGURA 1.4 Sistema não interativo correspondente à lógica do projetista e do operador 36
FIGURA 1.5 Lógica do controle externo sobre os poluentes 37
FIGURA 1.6 A mudança de lógica para tecnologias limpas 38

CAPÍTULO 2
FIGURA 2.1 Caminho do poluente no corpo receptor 61

CAPÍTULO 3
FIGURA 3.1 Processo industrial 73
FIGURA 3.2 Do Fim-de-tubo à sustentabilidade ambiental 86
FIGURA 3.3 Organograma mestre das ações para prevenção e controle da poluição 87
FIGURA 3.4 Diagrama da cebola para síntese de processos 95
FIGURA 3.5 Fluxograma esquemático de procedimentos para fechar um processo químico 97
FIGURA 3.6 Dois modelos de tratamento de efluentes de processo 98
FIGURA 3.7 Concurso de idéias 102
FIGURA 3.8 Minimização de resíduos na indústria de tratamento de metais 103
FIGURA 3.9 Gaiola transportando peças metálicas para o tratamento de superfícies 104
FIGURA 3.10 Hierarquia de preferências para reciclagem 107

CAPÍTULO 4
FIGURA 4.1 Países “hospedeiros” dos Centros Nacionais de Tecnologias Limpas 127
FIGURA 4.2 Fluxograma de implantação de Produção mais Limpa - 128
Metodologia UNIDO/UNEP
FIGURA 4.3 Diagrama de bloco 129
FIGURA 4.4 Organograma de Produção mais Limpa 131
FIGURA 4.5 Por que fazer um programa de Produção mais Limpa? 140
FIGURA 4.6 Ciclo de implantação de um SGA 143

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CAPÍTULO 5
FIGURA 5.1 Fluxo de material, ciclo total 163
FIGURA 5.2 Fases da ACV 164
FIGURA 5.3 Definição dos limites do sistema 167
FIGURA 5.4 Dimensões de uma ACV 167
FIGURA 5.5 Ciclo de vida do polietileno 168

CAPÍTULO 6
FIGURA 6.1 Sistemas abertos e fechados 188
FIGURA 6.2 Tipos de fluxo de materiais 189
FIGURA 6.3 Rotas de projeto - Design wheels 196

CAPÍTULO 7
FIGURA 7.1 Consumo de energia per capita no mundo 228
FIGURA 7.2 Expectativa de vida x consumo de energia 230
FIGURA 7.3 Consumo de energia na indústria por fonte 232
FIGURA 7.4 Consumo de energia no setor residencial por fonte 233
FIGURA 7.5 Consumo de energia no setor de transporte por fonte 234
FIGURA 7.6 Energia total incidente na Terra 237
FIGURA 7.7 Sistema de co-geração em ciclo combinado 245

TABEL AS
CAPÍTULO 1
TABELA 1.1 Crescimento da renda per capita 24
TABELA 1.2 Padrões de consumo para mercadorias selecionadas 27
TABELA 1.3 Dados comparativos de aspectos ambientais – Automóvel 29
TABELA 1.4 Dados comparativos de aspectos ambientais – Infra-estrutura 30
TABELA 1.5 Resumo dos resultados 31

CAPÍTULO 2
TABELA 2.1 Classificação dos impactos ambientais em uma escala espacial 65

CAPÍTULO 3
TABELA 3.1 Compostos considerados no programa 81
TABELA 3.2 Procedimento de decisões hierárquicas para minimização de resíduos 94
TABELA 3.3 Resultado do concurso de idéias para conservação de energia na Dow/Louisiana 101

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CAPÍTULO 4
TABELA 4.1 Diferenças entre Tecnologias Fim-de-tubo e Produção mais Limpa 123
TABELA 4.2 Comparação entre SGA baseado na ISO 14001 e Produção mais Limpa – 149
Metodologia desenvolvida pela UNIDO/UNEP
TABELA 4.3 Categorias de resíduos 158

CAPÍTULO 6
TABELA 6.1 Limitações globais de recursos materiais 207

CAPÍTULO 7
TABELA 7.1 Eficiência energética para diferentes tipos de fontes de luz 249

QUADROS

CAPÍTULO 4
QUADRO 4.1 Participantes da Rede de Tecnologias Limpas do Brasil 119
QUADRO 4.2 Resumo da proposta de inserção dos conceitos de P+L 147
nos requisitos da ISO 14001

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APRESENTAÇÃO

As inovações tecnológicas exigem mudanças profundas


em diversos campos do conhecimento humano, sinalizando
com novas demandas para o sistema educacional do País. Os
profissionais buscam renovar e/ou adquirir conhecimentos
na expectativa de se manterem em atividade ou conquistarem
novas oportunidades no mercado de trabalho. Firma-se, assim,
a necessidade de educação permanente.
Ao mesmo tempo que se observa a relevância do
desenvolvimento tecnológico, evidencia-se na sociedade
a importância do meio ambiente para que se resguarde a
qualidade da sobrevivência humana.
Há necessidade de se harmonizarem as demandas da
população com o desenvolvimento industrial, buscando-se o
equilíbrio ecológico e reduzindo-se a intensidade de poluição
industrial por meio de uma produção mais limpa.
O mercado industrial proclama a perspectiva de absorção
de novos perfis profissionais na área ambiental. Torna-se
explícita a necessidade de desenvolvimento na performance
dos profissionais da área.
Associando as novas tecnologias à educação a distância,
com sólida proposta pedagógica, o SENAI apresenta o
Programa Tecnologias e Gestão Ambiental – TGA, que
objetiva desenvolver competências profissionais relacionadas
às questões de prevenção e controle da poluição, focalizando

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as tecnologias mais adequadas juntamente com os aspectos da
gestão ambiental.
O Programa TGA, sintonizado com os requisitos de
qualidade e da regulamentação brasileira sobre educação a
distância, é estruturado em módulos, que podem ser cursados
de forma independente e flexível, de acordo com a necessidade
do aluno.
Professores universitários brasileiros e canadenses,
associados ao Programa SENAI de Qualidade Ambiental
(PSQA), consultores externos e especialistas do SENAI
dedicaram-se à elaboração dos conteúdos didáticos de cada
módulo.
Diversos meios de comunicação encontram-se disponíveis
no processo de aprendizagem. Os recursos didáticos,
produzidos por profissionais do SENAI, estão formatados no
ambiente web, para oferta via Internet, e há, ainda, o livro
didático impresso como material de apoio.
O Programa TGA é mais uma contribuição do SENAI para
a capacitação de profissionais que, dentro de seu ambiente de
trabalho, poderão utilizar, de forma correta e eficaz, novas
metodologias e tecnologias necessárias para o equilíbrio
ecológico associado ao desenvolvimento industrial.

José Manuel de Aguiar Martins


Diretor-Geral

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PROGRAMA TECNOLOGIAS E GESTÃO AMBIENTAL • TGA

Módulo Introdutório
10h/aula
pré-requisito obrigatório

Sistemas de Prevenção da Poluição


Gestão Ambiental 45h/aula
45h/aula

Contaminação dos Solos


Visão Integrada em
e Recuperação de Áreas
Meio Ambiente
Degradadas
45h/aula
45h/aula

Fundamentos Legais
Emissões Atmosféricas
e Econômicos
45h/aula
45h/aula

Efluentes Líquidos Resíduos Sólidos


45h/aula 45h/aula

Os módulos poderão ser cursados de forma independente, como cursos


de curta duração, ou combinados, formando os percursos abaixo:

PERCURSO GESTÃO AMBIENTAL ESPECIALIZAÇÃO EM TECNOLOGIAS E


GESTÃO AMBIENTAL
PERCURSO TECNOLOGIAS (em estudo)
AMBIENTAIS

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17

INTRODUÇÃO

Tradicionalmente, a gestão ambiental no Brasil, no que se


refere aos processos produtivos, vem priorizando a abordagem
de Comando e Controle (C&C), que se baseia na criação de
dispositivos e exigências legais (comando) e de mecanismos
para garantir o cumprimento destas (controle). Esta abordagem
tem-se caracterizado pela não-integração de fatores ambientais
(ex.: água, ar, solo), fatores bióticos, sociais e a adoção de
medidas de forma isolada, visando essencialmente ao controle
da poluição.
Esta estratégia estimula uma postura reativa por parte das
empresas, no tratamento das questões ambientais, levando os
setores produtivos, o governo e outros agentes de interesse a
adotarem posições antagônicas e de confronto.
Algumas empresas, no entanto, vêm, a partir dos anos
90, adotando estratégias que refletem uma mudança de
comportamento diante dos impactos negativos decorrentes
de suas atividades produtivas. Esta mudança baseia-se numa
nova relação entre meio ambiente e negócios, que se configura
em demandas de mercado por produtos e processos mais
ambientalmente corretos, estimulando a adoção voluntária
de instrumentos de gestão ambiental como certificação de
produtos (selos-verde) e de processos (Norma ISO 14001);
programas de Prevenção da Poluição.
A adoção destes instrumentos voluntários, normalmente
pautados em princípios de auto-regulação, devidamente
complementados com os mecanismos clássicos de C&C,

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18

impostos pelos órgãos ambientais, tem-se mostrado uma


estratégia eficiente na melhoria do desempenho ambiental das
empresas.
Dentre os instrumentos de gestão ambiental, os programas
de Prevenção da Poluição / Produção Limpa, baseados no
princípio de “antecipar e prevenir” possíveis fontes geradoras
de problemas ambientais, apresentam resultados muito
interessantes para as empresas com benefícios tecnológicos,
financeiros, ambientais e outros, como a melhoria da imagem,
contribuindo para o aumento de competitividade destas no
mercado globalizado.
A Prevenção da Poluição tem como principal foco a
não geração de poluentes, e está relacionada com o uso de
matérias-primas, insumos e resíduos nos processos produtivos.
Este conceito está ligado ao de produção limpa, que considera o
uso de técnicas que possibilitam o menor consumo de recursos
naturais (água e energia) e a minimização dos resíduos, dos
riscos e dos impactos ambientais negativos em geral.
A Produção Limpa também está relacionada com valores
e comportamentos dos agentes econômicos e sociais. Esta
pressupõe a transparência e abertura das informações pelas
empresas, num estímulo à prática de benchmarking, assim
como também a publicação de relatórios que favorecem a
elevação de padrões ambientais.
O curso de Prevenção da Poluição visa promover, através
de processo educativo, uma mudança de mentalidade dos
profissionais da indústria, fazendo com que estes assumam,
cada vez mais, uma postura pró-ativa alinhada com as
tendências de gestão ambiental que compatibilizam o
desenvolvimento com a proteção do meio ambiente e a
melhoria da qualidade de vida.

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19

O conteúdo deste livro está dividido em 8 capítulos, onde


no Capítulo 1 procuramos dimensionar o desafio ambiental
que se coloca à nossa frente e questionamos se as práticas
atuais de controle da poluição são capazes de superá-lo. Já
no Capítulo 2 revisamos os principais problemas ambientais
e apresentamos uma classificação de impactos em termos de
amplitude espacial, comportamento ao longo do tempo e nível
de risco.
No Capítulo 3 identificamos os agentes poluidores
produzidos na indústria e discutimos as abordagens que podem
ser utilizadas visando minimizar a geração destes.
No Capítulo 4 apresentamos o processo de evolução das
práticas de Prevenção da Poluição no Brasil e a metodologia
de Produção mais Limpa desenvolvida pela UNIDO/UNEP,
divulgada no Brasil pelo CNTL – Centro Nacional de
Tecnologias Limpas, sediado no SENAI Rio Grande do Sul.
Nos Capítulos 5 e 6 ampliamos a discussão para fora do
processo produtivo e mostramos a necessidade de se considerar
os impactos ambientais associados a todo o ciclo de vida dos
produtos e processos. Apresentamos no Capítulo 5 a Análise de
Ciclo de Vida e no Capítulo 6 o Projeto para o Meio Ambiente
como mecanismos para atingir o objetivo proposto.
No Capítulo 7 consideramos o fato da questão energética
estar intimamente associada aos impactos ambientais provocados,
tanto em processos produtivos específicos como pela sociedade
como um todo, para apontar formas e tecnologias que contribuam
para a melhoria do desempenho energético e, conseqüentemente,
ambiental no processo produtivo.
No Capítulo 8, o último deste livro, em vez de tirarmos
alguma conclusão sobre a viabilidade das alternativas
apresentadas para reduzir a poluição, direcionamos o foco da

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20 Prevenção da Poluição

discussão para uma avaliação do futuro tecnológico associado


ao desenvolvimento sustentável. Para tanto, tomamos como
referência o Programa de Desenvolvimento de Tecnologias
Sustentáveis proposto no Plano Holandês de Políticas
Ambientais.
Promovemos ainda neste capítulo final uma reflexão sobre
o impacto da inovação tecnológica no processo produtivo,
tendo como elemento de provocação as posições dos autores
Weaver et al. (2000): “As práticas habituais de inovação
não oferecem qualquer perspectiva da tecnologia ter um
papel, senão periférico, para se atingir o desenvolvimento
sustentável”. Estes autores ainda complementam que há
necessidade de se inovar o atual processo de inovação
tecnológica para poder se pensar em legar um planeta
equilibrado para os nossos filhos.
Vale salientar que todo o conteúdo deste módulo foi
desenvolvido visando estimular a capacidade de inovar na
marcha em direção ao desenvolvimento sustentável, focando o
processo produtivo como objeto de melhoria, no que se refere à
redução dos impactos ambientais.
Esperamos que todos nós sejamos parceiros nesta jornada,
pois o desafio ambiental a ser vencido pode ser muito maior do
que parece ser!

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Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 21

CAPÍTULO 1
MOTIVAÇÃO: DAS PRÁTICAS
DE FIM-DE-TUBO PARA A
PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM


Mudar de controle da poluição para a
sua prevenção é um bom começo, mas as OBJETIVOS ESPECÍFICOS


empresas devem ir além.
Michael Porter, Claas van der Linde, 1995 • Discutir a questão da
velocidade que precisa ser
imprimida ao processo de
Início do século XXI. Será que você ainda pre- redução do impacto ambiental
cisa ser convencido de que o único caminho para das atividades produtivas para
alcançar o desenvolvimento
a humanidade sobreviver na face da Terra é tornar
sustentável.
seus processos produtivos não poluentes? Preve- • Esclarecer a necessidade de
nir a poluição? Talvez para você este capítulo seja uma mudança de paradigma
como chover no molhado. Talvez seja até novidade. no que se refere à relação
atividade produtiva e meio
Muito provavelmente você já deve ter intuído que ambiente. Da tecnologia
as atuais práticas de produção e de controle da Fim-de-tubo para a Preven-
poluição deixam alguma coisa a desejar e queira ção da Poluição.

compartilhar com seus colegas suas inquietações, e • Analisar os motivos que têm
levado a priorizar o controle
ouvir as deles. De certa forma, é o que nós estamos da poluição com base no uso
fazendo aqui. de tecnologia Fim-de-tubo.

O ritmo de expansão do processo de degradação


ambiental cresce dia a dia. Por outro lado, cresce a consciência ambiental da população e
das corporações. Está estabelecida uma corrida entre estes dois processos. Do resultado
dela depende o futuro de nossos descendentes. Como em toda corrida, ganha quem supera
os concorrentes. O corredor que corre tudo quanto pode poderá se sentir satisfeito com
seu desempenho e dormir tranqüilo depois. Mas não ganha necessariamente a corrida,
e esta é uma corrida que não podemos nos dar ao luxo de perder.

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22 Prevenção da Poluição

Muitas corporações procuram melhorar continuamente seu desempenho ambiental.


Mas isto é suficiente? Como podemos saber se a velocidade de melhoria do desempenho
ambiental da nossa sociedade é suficiente para que ganhemos a corrida?

Dúvidas?

Ótimo.

Ansiedade?

Relaxe, mas aja!

Neste capítulo discutiremos a questão da velocidade que precisa ser impressa ao


processo de redução de impacto ambiental das atividades produtivas. Aproveitaremos,
ainda, para rever as principais preocupações ambientais da sociedade moderna.

1.1 ESTAMOS CONSTRUINDO UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL?

Nos anos 70, ilustres homens públicos brilharam por demonstrar sua ignorância diante
das questões ambientais levantadas, em 1972, em Estocolmo, pela Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano. Atualmente, existe uma quase unanimidade
em torno da causa ambiental, seja por razões mercadológicas, ou de efetivo compromisso
social (ou ambas?); o fato é que cada vez mais pessoas e empresas adotam atitudes
ambientalistas. Convém, no entanto, analisar se os resultados que estão sendo atingidos
efetivamente apontam para uma reversão do processo de degradação ambiental, ou
sequer para uma redução da velocidade com que esse se dá.

Graedel e Allenby (1998), no trabalho intitulado “Ecologia Industrial e o Automóvel”,


apresentam um interessante raciocínio para ilustrar a evolução do impacto do
desenvolvimento sobre o meio ambiente nas últimas décadas e o que podemos esperar
para o futuro.

Estes pesquisadores dos Laboratórios Bell e da AT&T, respectivamente, utilizam a


conhecida Equação Mestra de impacto ambiental para pensar o futuro do planeta:

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Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 23

Weaver e colaboradores (2000) referem-se à equação acima como a Primeira


Expressão de Ehrlich, que difere, apenas formalmente, da anterior por colocar o segundo
fator do lado direito da equação como “Consumo per capita”. Na realidade, o padrão
de consumo está intimamente relacionado com a renda da pessoa.

Se aplicarmos a Equação Mestra para o momento atual e a projetarmos para um


futuro, digamos de 30 a 50 anos, poderemos ter uma idéia de como evoluirá o impacto
ambiental sobre o nosso planeta. Claro que não se pode esperar grande precisão de
projeções a tão longo prazo. Ao contrário, espera-se que, com base na reflexão que
tenhamos no momento, possamos influenciar o futuro de forma que as previsões mais
negativas não venham a acontecer.

Os números a seguir apresentados devem ser criticados. Espera-se que cada um de


nós componha seus próprios dados e os traga para discussão. Os próprios autores aqui
citados divergem entre si, e nós deles. Felizmente! Isso, contudo, não retira a validade
da linha de raciocínio apresentada.

Questão para reflexão:


• Pesquise dados que permitam projetar o impacto ambiental para 2050.
Qual é seu palpite?

De volta à análise do primeiro fator da equação, este nos remete para a sempre
acalorada discussão sobre o crescimento populacional.

Mitchell (1997), do Worldwatch Institute, citando dados do Escritório de Censos dos


Estados Unidos, aponta para um crescimento da população mundial entre 1950 e 1996
de 2,6 para 5,8 bilhões de pessoas. Isso representa uma taxa média de crescimento anual
de 1,8%. Segundo a fonte, esta taxa flutuou entre 1,3% e 2,2% a.a., com uma média
de 1,8% a.a. Se considerarmos uma taxa de crescimento anual de 1,3%, nos próximos
30 anos a população mundial será 1,47 vez a atual e, em 50 anos, 1,9 vez. Caso nosso
palpite seja 1,4% a.a., nestes horizontes a população cresceria 1,52 e 2,0 vezes.

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24 Prevenção da Poluição

Fonte: UN apud WWI (Mitchell,1997).

FIGURA 1.1 – GRÁFICO COM PROJEÇÕES DA POPULAÇÃO MUNDIAL

Prever a evolução da renda per capita para os próximos 50 anos é outro exercício de
arriscada futurologia. Graedel e Allenby (1998) ilustram, com dados do Banco Mundial,
as taxas de crescimento verificadas em diversos blocos geoeconômicos (Tabela 1.1).

TABELA 1.1 – CRESCIMENTO DA RENDA PER CAPITA, 1980-2000 (BANCO MUNDIAL 1992)
Grupo de países 1960-1970 1970-1980 1980-1990 1990-2000
Mais desenvolvidos 4,1 2,4 2,4 2,1
Subsaara 0,6 0,9 -0,9 0,3
Leste Asiático 3,6 4,6 6,3 5,7
América Latina 2,5 3,1 -0,5 2,2
Leste Europeu 5,2 5,4 0,9 1,6
Menos desenvolvidos 3,9 3,7 2,2 3,6
Fonte: Graedel e Allenby, 1998.

Os números representam taxas médias de crescimento anual em %.


Os números para a década 1990-2000 são uma estimativa do próprio Banco Mundial

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 24 5/2/2003, 15:13:26


Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 25

Mesmo podendo-se contestar os dados projetados na tabela acima, os autores citados


se permitem apontar para um crescimento da renda per capita mundial de três a cinco
vezes (o que equivale a 2,2% e 3,3% a.a., respectivamente) nos próximos 50 anos.
Consideremos aqui, muito conservadoramente, uma taxa de crescimento anual da renda
per capita mundial de 2%. Apesar de representar uma alternativa que, provavelmente,
confinaria os países subdesenvolvidos na sua pobreza, estes números implicam um
crescimento da renda mundial de 81% (1,81 vez) nos próximos 30 anos, e 169% (2,69
vezes) em 50 anos. Usando dados conservadores, crescimento populacional de 1,3%
a.a. e de renda per capita de 2% a.a., para todo o planeta, em 50 anos, os dois primeiros
fatores da Equação Mestra (lado direito), multiplicados, representam o valor de 5,11
(1,9 x 2,69). Chamemos este valor de FATOR 5.

Fator 5, então, representa quanto o terceiro fator da equação, impacto ambiental por
unidade de produto, teria que ser reduzido em 50 anos apenas para MANTER O ATUAL
NÍVEL DE IMPACTO AMBIENTAL NO PLANETA. Reduzir em cinco vezes o impacto
ambiental de cada produto e atividade, para poder manter as coisas como estão.

Dados menos conservadores, tais como os apresentados por Allenby e Graedel,


indicam valores até três vezes maiores!, para o crescimento da renda per capita mundial.
De fato, este crescimento acelerado da renda per capita se faz necessário para tirar uma
enorme parcela da população mundial do estado de pobreza absoluta em que se encontra.
Basta lembrar que países como a Índia, a China e boa parte dos países da África detêm
uma renda per capita quase 10 vezes inferior à brasileira. Isto é, se a renda média per
capita desses países crescer 10 vezes em 50 anos, estariam atingindo a renda média do
Brasil HOJE! Dificilmente poderia se considerar isso aceitável, muito menos se este
crescimento se der com a concentração de renda que nos caracteriza.

Continuando nossa análise, podemos ver que na Equação Mestra está implícita a
inferência de uma relação linear entre renda per capita e consumo per capita. Desta
forma caberia aqui discutir a validade desta relação, assim como também sua susten-
tabilidade no futuro.

Muitos são de opinião que nas sociedades mais desenvolvidas há uma tendência a
dissociar o padrão de consumo do de qualidade de vida, atribuindo-se a isto o crescimento
da consciência ambiental nas populações mais instruídas. Contudo, o mesmo argumento,

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 25 5/2/2003, 15:13:26


26 Prevenção da Poluição

caso não se mostre consistente, pode nos levar a questionar se realmente está ocorrendo
este crescimento da consciência ambiental da sociedade. A verificação, por exemplo,
da retomada da moda de usar carros cada vez maiores, possantes e desperdiçadores de
combustível, por parte das camadas mais opulentas da sociedade, é no mínimo preo-
cupante. Compram-se, hoje, carros com tração nas quatro rodas e motores que têm um
desempenho de cerca de 4.1 1itros/km para ir fazer compras em shopping centers.

Países do Primeiro Mundo têm defendido medidas de controle populacional nos


países mais pobres. Esta pressão tem sido exercida nas Conferências Internacionais
sobre a População, mas, também, tem-se dado através de financiamento a programas
que vão desde moderadas e equilibradas iniciativas de educação e planejamento familiar
até programas de esterilização em massa.

Por outro lado, diversos pesquisadores apontam para o desequilíbrio nos níveis de
consumo entre os países mais e menos desenvolvidos, como sendo o fator a ser atacado
prioritariamente, de forma a se permitir a elevação das condições de vida nos países
pobres, sem se degradar ainda mais o meio ambiente.

Parikh et al. (1994), do Instituto Indira Ghandi de Pesquisa para o Desenvolvimento,


comparam o consumo per capita de diversos produtos, em países desenvolvidos e em
desenvolvimento, no documento elaborado em 1991, com o objetivo de subsidiar as
discussões da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
RIO-92. Estes mostram, por exemplo, que a relação de consumo per capita entre os
países desenvolvidos e não desenvolvidos, respectivamente, é de 3/1 para cereais, 14/1
para papel, 20/1 para produtos químicos orgânicos e 24/1 para automóveis. A relação
entre a produção anual per capita de CO2 é de 8 para 1 (Tabela 1.2).

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 26 5/2/2003, 15:13:26


Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 27

TABELA 1.2 – PADRÕES DE CONSUMO PARA MERCADORIAS SELECIONADAS


INDIRA GHANDI INSTITUTE OF DEVELOPMENT RESEARCH PARA UNCED
Total Relação entre
Produtos Participação % Per Capita kg
Mundial Consumo Per Capita

países em desenv.
Países em desenv.

Países em desenv.

Países desenv./
Países desenv.
Países desenv.
106 Ton

India
EUA/
Cereais 1.801 48 52 717 247 3 6
Papel 224 81 19 148 11 14 115
Alum. 22 86 14 16 1 19 85
Qui. Inorg. 226 87 13 163 8 20 52
Qui. Org. 391 85 15 274 16 17 28
Autom. 370 92 8 0,283 0,012 24 320
CO2 anual 5.723 70 30 3,36 0,43 8 27

Fonte: adaptado de Parikh et al. (1991).

Voltemos para o denominado Fator 5. Caso esperemos um futuro mais digno para as
parcelas mais pobres da população, princípio básico do desenvolvimento sustentável,
teremos que considerar crescimentos da renda per capita da ordem de grandeza de 10
vezes, pelo menos para os 50% dos países mais pobres do mundo. Vejam só, se isto
acontecer, e se pudéssemos imaginar que 50% dos países mais ricos do mundo abririam
mão de qualquer crescimento da sua renda per capita, para um crescimento populacional
de 1,4% a.a, em 50 anos teríamos FATOR 10.

O Fator 10 também pode ser interiorizado se pensarmos em, mesmo com dados
conservadores de crescimento populacional e de renda, ter como objetivo reduzir o nível
de impacto ambiental, daqui a 50 anos, para metade do atual. Este raciocínio levou à
criação do Clube do Fator 10 em 1993 (Weaver et al., 2000).

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem


divulgado o conceito de Fator 10 no sentido de chamar a atenção da sociedade para a
necessidade de se aumentar o ritmo de melhoria da produtividade dos recursos naturais

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28 Prevenção da Poluição

(Cinq-Mars, 1997; Peneda & Frazao, 1997; Schmidt-Bleek, 1997; Carr-Harris, 1997).
Isto é, aumentar a ecoeficiência da produção e consumo 10 vezes em 50 anos.

Ecoeficiência:
É um conceito relativamente novo e vem sendo inserido aos poucos nas
discussões sobre meio ambiente e qualidade como um todo. Segundo
Henriques (1997), na União Européia, o conceito apareceu pela primeira
vez, em um texto oficial, no ano de 1997. O conceito de ecoeficiência aborda
não só a eficiência nas questões ambientais e econômicas, mas também nas
questões sociais.

Como consumidores e cidadãos conscientes e mobilizados para as causas sociais e


ambientais, podemos procurar interferir no sentido de controlar os impactos provocados
no meio ambiente pelos dois primeiros fatores da Equação Mestra: aumento populacional
e de renda per capita.

No entanto, quanto ao terceiro fator, impacto ambiental provocado por unidade


de produção, a responsabilidade maior está nos setores produtivos e de pesquisa e
desenvolvimento.

Questão para reflexão:


• Você acha possível reduzir o impacto ambiental dos nossos produtos e
atividades 10 vezes nos próximos 50 anos?

Vamos esclarecer melhor este questionamento. Vejamos o caso dos tecidos fabricados
com fibras sintéticas. Sua persistência no meio ambiente é muito superior àquela dos
tecidos fabricados com fibras naturais, tais como o algodão. Com a moda pressionando
para os consumidores substituírem o seu guarda-roupa uma ou mais vezes por ano, o
impacto ambiental desses produtos cresceu consideravelmente. Consideremos, ainda,
os pesticidas usados na agricultura intensiva e sua persistência no meio ambiente, o uso
cada vez maior de embalagens, e o que falar da imensa produção de resíduos associada

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 28 5/2/2003, 15:13:27


Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 29

a fraldas e outros produtos descartáveis que uma criança de família de classe média ou
alta gera nos três primeiros anos de vida?

Graedel e Allenby (1998) realizaram um interessante trabalho ao agregar e analisar,


comparativamente, informações referentes ao impacto ambiental do automóvel dos anos
50 e do automóvel dos anos 90. Os autores desenvolvem uma análise de ciclo de vida
para os veículos, ou seja, utilizam um instrumento que avalia um produto “do berço ao
túmulo”, desde a matéria-prima para sua fabricação até o descarte final. Eles avaliam
seu impacto ambiental do “berço ao túmulo” desde a geração dos insumos para a sua
fabricação até o descarte final do produto obsoleto, passando pelo seu uso. O estudo
inclui não apenas o produto em si, mas toda a infra-estrutura a ele relacionada. Observe
os dados, resultado dos estudos, nas Tabelas 1.3, 1.4 e 1.5.

TABELA 1.3 – DADOS COMPARATIVOS DE ASPECTOS AMBIENTAIS


AUTOMÓVEL, ANOS 50 E 90

Aspectos Ambientais
Estágio do Ciclo
Anos Escolha
de Vida Uso da Resíduos Efluentes Emissões
de
Energia Sólidos Líquidos Atmosf. Total
Materiais

Extração de matéria- 50 2 2 3 3 2 12/20


prima 90 3 3 3 3 3 15/20

50 0 1 2 2 1 6/20
Manufatura
90 3 2 3 3 3 14/20

50 3 2 3 4 2 14/20
Distribuição
90 3 3 3 4 3 16/20

50 1 0 1 1 0 3/20
Uso
90 1 2 2 3 2 10/20

Recondicionamento,
50 3 2 2 3 1 11/20
reciclagem,
90 3 2 3 3 2 13/20
disposição

50 9/20 7/20 11/20 13/20 6/20 46/100


Total
90 13/20 12/20 14/20 16/20 13/20 68/100

Fonte: Graedel e Allenby (1998).

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30 Prevenção da Poluição

TABELA 1.4 – DADOS COMPARATIVOS DE ASPECTOS AMBIENTAIS


INFRA-ESTRUTURA, ANOS 50 E 90

Aspectos Ambientais
Estágio do
Ciclo Anos
de Vida Biodiversidade/ Uso da Resíduos Efluentes Emissões
Materiais Energia Sólidos Líquidos Atmosf. Total

Seleção e
50 0 1 0 1 1 3/20
preparação do
90 1 1 1 2 2 7/20
local da obra
Manufatura da 50 3 2 2 2 2 11/20
infra-estrutura 90 2 1 2 2 3 10/20

Uso da 50 2 2 3 3 1 11/20
infra-estrutura 90 0 1 1 3 2 7/20

Sistemas 50 2 3 2 3 1 11/20
complement. 90 1 2 1 1 0 5/20
Recondicion.,
50 3 2 3 4 3 15/20
reciclagem,
90 2 2 2 4 3 13/20
disposição

50 10/20 10/20 10/20 13/20 8/20 51/100


Total
90 6/20 7/20 7/20 12/20 10/20 42/100

Fonte: Graedel e Allenby (1998).

Em ambas as tabelas os valores superiores se referem aos anos 50, e os valores


inferiores, aos anos 90. A pontuação máxima possível de ser alcançada por cada um
dos itens é de quatro pontos. Então, por exemplo, na primeira tabela, para o item de
extração de matéria-prima, nos anos 50, foram alcançados 12, do total de 20 pontos que
poderiam ser alcançados somando todos os aspectos ambientais envolvidos na extração
de matérias-primas; e para os anos 90, foram alcançados 15, do total de 20 pontos para
os mesmos aspectos ambientais.

Os valores totais que representam o impacto ambiental do automóvel e a infra-


estrutura necessária para o seu uso, tomando-se como referência os anos 50 e os anos
90, apontam para resultados um tanto decepcionantes.

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Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 31

TABELA 1.5 – RESUMO DOS RESULTADOS

Infra-estrutura, anos 50 e 90 Automóvel Infra-estrutura Média

Anos 50 46 51 49

Anos 90 68 42 55

Evidentemente que o trabalho acima apresentado contém limitações, por exemplo,


ao considerar os diversos aspectos ambientais com o mesmo peso ou importância. No
trabalho original dos autores citados são apresentadas comparações mais elaboradas.
Aqui se pretende apenas dar uma idéia da dimensão do avanço ambiental conseguido
no caso do automóvel nesse período. Sua qualificação ambiental passou de 49 para 55.
Basta lembrar de um modelo 50, como o Cadillac, por exemplo, e compará-lo com um
modelo 90 para perceber que do ponto de vista de conforto, manobra e segurança, os
avanços foram bem maiores. Se o automóvel em 40 anos, do ponto de vista ambiental,
só teve esta evolução, como podemos esperar Fator 10 nos próximos 50 anos? A mesma
pergunta caberia para qualquer outro bem de consumo.

Questão para reflexão:


• Aplique o raciocínio anterior a outro bem de consumo e tente perceber o que
seria um aumento da ecoeficiência em Fator 10 em 50 anos.

1.2 A NECESSIDADE DE MUDAR DE PARADIGMA: DO FIM-DE-TUBO PARA


A PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO

Vamos considerar que a resposta que você deu para a reflexão anteriormente proposta
foi igual à nossa: otimista! Sim, podemos, nos próximos 50 anos, reduzir em Fator 10
o impacto causado pelo tipo de produtos que hoje produzimos, a partir de melhorias
tecnológicas e modos de consumo. Isto é, a forma como consumimos e a tecnologia
poderiam suprir os avanços necessários para estancar o processo de degradação ambiental
provocado pelo crescimento econômico.

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 31 5/2/2003, 15:13:28


32 Prevenção da Poluição

Vimos que os avanços ambientais decorrentes da evolução tecnológica do automóvel


ficaram bem aquém deste patamar nos últimos 40 anos, mas a evolução tecnológica
pode surpreender.

Contudo, que tipo de tecnologia ou evolução tecnológica seria capaz de tanto? A nossa
velha tecnologia fim-de-tubo? Ou seja, mais e mais eficientes estações de tratamento
de efluentes? Mais e mais eficientes filtros para retenção de materiais particulados das
nossas chaminés? Maiores aterros sanitários e industriais? Mais incineradores?

Questão para reflexão:


• Para ilustrar o caminho que estaríamos trilhando se seguíssemos esta linha de
raciocínio, imaginemos um nordestino retirante que segue rigorosamente toda
a legislação ambiental e de segurança do trabalho a partir do uso de tecnolo-
gia fim-de-tubo. Como ele conseguiria fazer isto? Pense um pouco antes de
responder. Melhor ainda, tente representar graficamente nosso herói.
Agora veja se o nosso herói parece com o que você idealizou:
2 faróis traseiros
capacete protetor
óculos protetores buzina

protetores auditivos
espelho retrovisor
corda no caso dos sistemas falharem
repelente de mosquito
air-bag
cadeira protetora das
luvas protetoras
costas e da cabeça proteção ocular para Jegue
mapas, caso você se perca telefone para situações emergenciais

kit primeiros socorros 4 luzes alerta vermelhas


colete à prova de bala faróis dianteiros
rede de segurança
estação de tratamento
para atender padrões
do CONAMA 4 rodas da rede de segurança

cinto de segurança

licença da Sociedade
anti-derrapante para o jegue
Protetora dos Animais

FIGURA 1.2 – NORDESTINO RETIRANTE

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 32 16/7/2003, 11:48:59


Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 33

Claro que uma empresa engessada por inúmeras exigências pontuais de controle
de emissões dificilmente teria como operar satisfatoriamente. Mais ainda, imaginemos
o esforço que a mula do nosso nordestino terá que fazer apenas para deslocar os
equipamentos de segurança e proteção ambiental. De forma similar, uma indústria que
persistisse ou fosse obrigada a agir desta forma teria sérios encargos e custos adicionais.
Por outro lado, nada estaria sendo feito para reduzir a extração de recursos naturais.
Pelo contrário, mais matéria-prima e energia seriam demandadas para mover toda a
parafernália de controle de poluição.

Se quisermos, de fato, dar uma opção mais segura para o nosso peão, nordestino
retirante, teremos que pensar em uma outra rota para ele percorrer, que implique menos
riscos e, conseqüentemente, menos equipamentos de proteção, sem que isto represente,
é claro, menor proteção efetiva.

Para termos sucesso nesta busca da rota mais segura é preciso rever conceitos. O
que são resíduos, senão matéria-prima mal aproveitada? O que são esgotos, senão um
líquido composto de 99,95% de água (mal utilizada) e 0,05% de material sólido arrastado
por esta? Pelo menos 50% das nossas emissões decorrentes de queima de combustível
decorrem de perdas energéticas e desperdícios provocados pelas tecnologias utilizadas
ou inadequação de práticas operacionais.

Poluição não é, senão, o produto de uma baixa eficiência no aproveitamento dos


recursos naturais. Michel Porter, da Universidade de Harvard (EUA), e Claas van der
Linde, da Universidade de St Gallen, na Suíça, utilizam o conceito de produtividade
no uso de recursos naturais e humanos (resource productivity) para discutir a relação
entre o desempenho ambiental e a competitividade das corporações. Eles afirmam que
o crescimento desta produtividade faz as empresas mais competitivas e, neste sentido,
regulações ambientais mais intensas, mas adequadamente elaboradas, elevam o valor
das empresas (Porter e Class van der Linde, 1995).

Enfrentar o desafio de reduzir o impacto ambiental do processo produtivo, apenas


correndo atrás de corrigir os problemas que nós próprios criamos, não parece ser
muito racional. Claro que temos que corrigir todos os problemas que criamos, e para
tanto deveremos também usar tecnologias de fim-de-tubo. Mas esta não é a solução

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 33 5/2/2003, 15:13:34


34 Prevenção da Poluição

que estamos buscando. Precisamos nos conscientizar que o desafio agora não é criar
problemas ambientais para depois resolvê-los. O desafio é não gerar poluição! Não
gerar resíduos!

Os caminhos para a não geração de resíduos são vários: devemos repensar as matérias-
primas que utilizamos e rever os processos de fabricação, discutindo por que estes geram
perdas de material e energia, e considerando se algumas dessas perdas, devidamente
processadas, não seriam insumos para outros processos. Devemos, ainda, estudar o
transporte de insumos e produtos, as embalagens e a vida útil de produtos e o destino
desses pós-consumo. Todas essas ações resultam na Prevenção da Poluição.

Leo Baas, da Universidade de Lund, na Suécia, tem se dedicado a organizar esses


conceitos compilando definições que podem ser muito úteis. Vejamos a definição de
Tecnologia de Baixo ou Nenhum Resíduo (LNWT – Low or No Waste Technology),
proposta pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa em 1984 (Baas,
1996):

“(...) um método de manufatura (processo, planta industrial, complexo industrial) onde a


totalidade de matérias-primas e energia é utilizada da forma mais racional e integrada no ciclo
produtivo: matérias-primas-produção-consumo-recursos materiais secundários, de forma a
prevenir qualquer impacto negativo no ambiente que possa afetar seu funcionamento normal.
Num sentido mais amplo, a tecnologia de baixa poluição e sem resíduos se preocupa não apenas
com processos produtivos, mas também com o destino dos produtos num tempo de vida mais
longo, seu fácil conserto e o seu reciclo e transformação após uso, de forma a prevenir danos
ecológicos. O objetivo é atingir um ciclo tecnológico completo para o uso dos recursos naturais,
compatível ou similar aos ecossistemas naturais.”

Esta é uma definição interessante? Que seja, mas não vamos fechar os conceitos
agora (nem nunca!). Vamos usá-la como uma referência inicial que será aprofundada
ao longo deste capítulo.

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 34 5/2/2003, 15:13:34


Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 35

Questão para reflexão:


• Roland Clift, da Universidade de Surrey, ao sul de Londres, ilustra a evolução
de práticas de fim-de-tubo para tecnologias limpas com o seguinte gráfico
apresentado na Figura 1.3, abaixo. Como você usaria o conceito de inovação
nesta interpretação? Tente interpretá-lo e responda.

Fonte: CLIFT, 1993, em CHRISTIE; et al., 1995.


FIGURA 1.3 – PRODUÇÃO LIMPA E LIMPEZA DE PROCESSOS

1.3 BARREIRAS A SUPERAR

Mas, afinal de contas, se Prevenção da Poluição é a opção mais óbvia, por que
tanto esforço para implementá-la?

Boa pergunta! Você poderia ajudar a respondê-la?

Na realidade, nem sempre novas propostas nascem óbvias. Elas assim se tornam
depois de se mostrarem bem-sucedidas e, ainda assim, podem não ser implementadas na
medida do esperado. Um exemplo próximo ao nosso tema seria o de ações preventivas
e ações curativas da saúde. Alguém discordaria da prioridade sanitária ou econômica
da implantação de ações de saneamento básico? Mesmo assim, aproximadamente 50%
da população brasileira nos centros urbanos tem acesso a redes de esgotos (fonte:
OMS/UNICEF).

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 35 5/2/2003, 15:13:34


36 Prevenção da Poluição

Você já elaborou sua resposta à pergunta acima?

Vamos tentar dar a nossa. Primeiro, de um modo gráfico; depois, apresentando


algumas informações complementares.

Os profissionais que operam processos produtivos tendem a se enclausurar nos


seus próprios métodos e paradigmas. Eles se aprofundam nas peculiaridades inerentes
à tecnologia da produção e em torno dela circulam suas experiências. A Figura 1.4
representaria esta afirmação:

FIGURA 1.4 – SISTEMA NÃO INTERATIVO CORRESPONDENTE À LÓGICA DO PROJETISTA E DO


OPERADOR DO PROCESSO

O conhecimento circulando principalmente dentro da fábrica, ou dentro da lógica


do setor.

Por outro lado, as pressões ambientais foram geradas a partir da constatação da


degradação dos recursos naturais e dos impactos provocados na saúde da população.
Grandes acidentes ambientais contribuíram para o crescimento da demanda ambientalista
e para a organização da sociedade nesta direção.

Na busca por soluções para os problemas ambientais, os setores organizados e as


agências ambientais partem na direção dos empreendimentos geradores das cargas
poluidoras. O embate entre ambientalistas e setores produtivos ocorre nos limites das
fábricas. Ao lado do fim do tubo que lança o efluente no rio e em volta da chaminé

Prevenção da Poluição - Cap 1.indd 36 5/2/2003, 15:13:34


Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 37

que descarrega suas emissões na atmosfera, nada mais natural do que se acordar na
implantação das chamadas “soluções fim-de-tubo”.

Era o óbvio, e o que a sociedade exigia. Por outro lado, o pensamento produtivo
mantém sua autonomia e poder de decisão. Cria-se a indústria ambiental com o obje-
tivo de adequar a carga poluidora das emissões industriais à capacidade receptora dos
corpos ambientais e, portanto, com a necessidade de considerar os fatores externos
de interação e identificar alternativas tecnológicas para a melhoria do desempenho
ambiental. Ver Figura 1.5:

FIGURA 1.5 – LÓGICA DO CONTROLE EXTERNO SOBRE OS POLUENTES

As tecnologias fim-de-tubo se caracterizam pelo baixo valor dos seus subprodutos,


pelo alto custo da sua implementação e pelo fato de não eliminar os poluentes, mas
apenas transferi-los de um meio receptor para outro.

A prevenção da poluição representa um novo paradigma para equacionar o problema


da poluição, pois transfere o eixo da discussão dos limites da fábrica para o interior do
processo produtivo (Figura 1.6). Para tal, torna-se necessário identificar as causas da
geração de resíduos, que estão normalmente associadas às falhas no processo produtivo.
Gerar resíduos implica custos adicionais com: perdas de matéria-prima, custos para
tratamento e disposição final.

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38 Prevenção da Poluição

FIGURA 1.6 – A MUDANÇA DE LÓGICA PARA TECNOLOGIAS LIMPAS

As práticas ambientais adotadas na produção pelas empresas e sociedade, em geral,


determinam as políticas ambientais e vice-versa. O importante é perceber a necessidade
do alinhamento entre estas, para que o discurso seja coerente com a prática.

Questão para reflexão:


• Como você interpretaria a prioridade dada nos dias de hoje às medidas
“fim-de-tubo”?

Analisando a evolução do comportamento das empresas em relação ao meio ambiente


observamos que, ao longo dos anos, o meio ambiente foi considerado um aspecto
de segunda ordem ou de menor importância, para o setor produtivo, tanto no campo
econômico como no técnico. No campo econômico, ele tem sido tratado como uma
externalidade. No campo técnico, medidas de controle da poluição têm sido tomadas (no
melhor dos casos) para adequar as emissões aos padrões exigidos, sejam esses padrões
de lançamento ou de concentração máxima no corpo receptor.

Historicamente, a regulamentação ambiental tem ocorrido em função da ocorrência


de grandes acidentes. A crise do smog londrino de 1952 provocou o Ato do Ar Limpo
(Clean Air Act) de 1956, no Reino Unido. O acidente de Sevesso, na Itália, desencadeou
a publicação de uma diretriz sobre Riscos de Acidentes Industriais por parte da
Comunidade Européia.

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Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 39

Questão para reflexão:


• Pesquise os acidentes citados, resuma-os utilizando meia página para cada.
Apresente dois outros acidentes ambientais de importância, sendo um de
abrangência internacional e outro de abrangência nacional. Aponte os seus
desdobramentos em termos de medidas legais adotadas após sua ocorrência.

As medidas de controle ambiental têm se fundamentado na aplicação de padrões


de lançamento de emissões, expressas na forma de concentrações de poluentes ou de
cargas, e/ou na fixação de concentrações máximas admitidas nos corpos receptores. Um
exemplo claro disto é a Resolução CONAMA 20, de 1986.

Um dos princípios aprovados em Estocolmo, em 1972, estabelece que deve ser


controlado o lançamento de substâncias tóxicas, ou outros compostos, no meio ambiente,
se as quantidades ou concentrações destes excederem sua capacidade de absorção. Em
1975, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)
popularizou o Princípio do Poluidor Pagador. Este princípio estabelece que o produtor
deve se responsabilizar pelos custos ambientais, assim como os provocados a pessoas
e propriedades. A ótica que prevaleceu nos anos 70 foi de aceitação do inevitável
lançamento de poluentes no meio ambiente, estabelecendo-se medidas para seu controle.
Procurou-se transferir os custos ambientais para os produtores, de forma que estes
assumissem as medidas cabíveis para minimizar seu impacto.

Questão para reflexão:


• Analise o Princípio do Poluidor Pagador e o impacto deste no setor produtivo.

Uma coisa é certa: o Princípio Poluidor Pagador trata de uma visão na qual a relação
com o meio ambiente só faz agregar custos ao processo produtivo. Neste sentido, a
tecnologia ambiental representa a interface que tem por objetivo adequar os lançamentos
à capacidade do corpo receptor.

A rápida expansão da produção industrial e dos seus impactos obrigou o aprimora-


mento da compreensão da relação produção–meio ambiente. O meio ambiente passou
a ser visto não apenas como um conglomerado de corpos receptores. A preservação da

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40 Prevenção da Poluição

natureza tornou-se um valor em si mesmo. Além disso, novas funções são reconheci-
das: a natureza como fornecedora de recursos, renováveis ou não, cuja preservação se
constitui em pré-requisito para a continuidade da atividade produtiva; a natureza como
fornecedora de informações fundamentais para o desenvolvimento tecnológico.

A sociedade, em geral, e os órgãos ambientais, em particular, passaram a exigir da


indústria a adoção das “melhores técnicas” para os tratamentos fim-de-tubo, não bastando
atender a determinados padrões ambientais, exigindo do setor produtivo a utilização
das melhores opções tecnológicas existentes.

Isto, de certa forma, quebrou uma barreira na relação entre as agências reguladoras
e os agentes produtivos. Os fiscais passaram de meros controladores de descargas para
avaliadores das tecnologias utilizadas para tratar as emissões. Mesmo que inicialmente
utilizada para exigir melhores tratamentos fim-de-tubo (Baas, 1996), o uso desta exi-
gência começou a transferir a discussão ambiental para o interior das fábricas.

Nem sempre, contudo, a melhor técnica disponível está ao alcance da empresa


avaliada. Surge a necessidade de se encontrar critérios que levem em consideração a
capacidade do produtor de pagar pela melhor técnica disponível no mercado para abater
determinados poluentes. Às exigências de aplicação da melhor tecnologia disponível
(BAT – Best Available Technology) agregam-se considerações econômicas e surgem
as melhores técnicas economicamente disponíveis.

Tendo a discussão das medidas de controle ambiental atingido o interior das fábricas,
trazendo, inclusive, critérios econômicos para a decisão das técnicas a serem adotadas,
não tardaria para o conceito de prevenção vir a ser considerado.

Nesta última década, avanços importantes aconteceram. A partir do Tratado de


Maastricht (1992), a Comunidade Européia adotou o Princípio da Precaução, o qual
estabelece que a possibilidade de um impacto ser causado por determinados processos
ou produtos deve ser considerada como um fato, mesmo não existindo informações
suficientes que o comprovem. Com dezenas de milhares de novos compostos sendo
sintetizados anualmente, este princípio, que uma década antes pareceria impensável,
desponta como indispensável.

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Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 41

Este princípio também determina que ações contundentes devem ser tomadas, mesmo
antes de existirem provas científicas de causa-efeito. O ônus da prova passa da vítima
para o empreendedor (O’Riordan, 1995), e, nesse sentido, o cuidado com a gestão do
processo de produção passa a ganhar nova importância.

Questão para reflexão:


• Discuta o Princípio da Precaução e o impacto deste no setor produtivo.

Ainda na década de 90, o princípio do Desenvolvimento Sustentável ganhou espaço


em nível mundial, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, RIO-92. Inicialmente definido pela Comissão Brundtland (1983), este
princípio estabelece que o desenvolvimento atual não deve comprometer a capacidade
de gerações futuras de também atenderem às suas necessidades.

Em 1990, o Parlamento britânico aprovou o Ato de Proteção Ambiental, EPA 90,


que estabelece a política do Controle da Poluição Integrado (IPC). Este documento
aponta para dois instrumentos, que devem ser utilizados pelas empresas potencialmente
poluidoras:
• a melhor tecnologia disponível que não implique custos excessivos,
BATNEEC (Best Available Technique Not Entailing Excessive Cost), e

• a melhor opção ambiental praticável, BPEO (Best Practicable Environmental


Option), (DOE, HMIP, 1991).

O documento acima define BATNEEC como técnicas que permitem prevenir a


emissão de substâncias prescritas, exige que, caso a prevenção não seja possível, as
emissões devem ser minimizadas e tornadas inofensivas e introduz uma gradação de
prioridades com ênfase para a prevenção. Esta visão foi também adotada na Comunidade
Européia no Ato de Prevenção e Controle Integrados da Poluição (IPPC/95).

Um outro aspecto a ser observado na legislação britânica e européia recente diz


respeito à ampliação do conceito de tecnologia utilizado. O termo technique é utilizado
para abranger não apenas a tecnologia propriamente dita, mas os aspectos gerenciais e
operacionais a ela relacionados.

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42 Prevenção da Poluição

Mesmo assim, o conceito das melhores tecnologias não consegue se desvincular das
práticas de fim-de-tubo com as quais estiveram inicialmente associadas.

Instrumentos econômicos também têm sido intensamente utilizados para controlar


a poluição, permitindo grande flexibilidade na aplicação, podendo promover também
a adoção de medidas inovadoras nos processos produtivos.

Entre estes citamos:


• Inserção de custos na produção a partir da cobrança de multas pela emissão de
poluentes ou cobrança de taxas pelo uso de equipamentos para o descarte final
de resíduos.

• Oferta de subsídios e/ou incentivos fiscais na adoção de formas mais limpas de


produção.

• Autorizações de emissão (TEPs – Tradeable Emission Permits).

Dentre os instrumentos apresentados, as TEPs representam a forma mais nova


de encarar os problemas ambientais. A idéia baseia-se na criação de um mercado de
quotas ambientais sujeito a normas predefinidas. Isso oferece aos empreendedores maior
liberdade para achar soluções de menor custo e menor impacto ambiental. Empresas
poluidoras podem se articular para definir o elenco de medidas que cada uma deverá
tomar para atender aos padrões ambientais fixados pelos organismos reguladores. De
outro lado, nenhum impacto adicional é gerado porque os níveis gerais de emissões são
controlados (Turner, 1995).

Questão para reflexão:


• Apresente duas situações nas quais têm sido utilizadas as permissões de emis-
são negociáveis, ou nas quais seria interessante utilizá-las. Comente as vanta-
gens e desvantagens da sua aplicação.

As idéias mais recentes de Prevenção da Poluição (P2) ampliam as opções a serem


consideradas para o equacionamento da relação produção e meio ambiente.

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Motivação: das Práticas de Fim-de-Tubo para Prevenção da Poluição 43

Segundo Joseph Ling, ex-vice-presidente da empresa 3M, em 1975 esta empresa


lançou seu programa P3, Prevenção da Poluição se Paga (Shen, 1995), o qual sustentava
que a redução ou eliminação da poluição na fonte permitiria eliminar ou reduzir os
custos de tratamento e limpeza e, ao mesmo tempo, a conservação de matérias-primas,
tornando o processo produtivo mais eficiente e menos custoso. A Comissão Econômica
das Nações Unidas para a Europa convidou a empresa a apresentar esta proposta em
Paris, no ano de 1976, no seminário Princípios e Criação de Tecnologia sem Resíduos,
propondo sua divulgação.

Apesar de a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) promover no fim da


década de 70 discussões sobre prevenção da poluição, o Congresso americano só deu o
devido valor ao enfoque preventivo quando o assunto dos resíduos perigosos tornou-se
público. Em 1989 a EPA montou seu Escritório de Prevenção da Poluição, e um ano
depois o Congresso do Estados Unidos aprovou o Ato de Prevenção da Poluição (Ling,
em Shen, 1995).

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44 Prevenção da Poluição

FECHAMENTO

Neste capítulo procuramos chamar a atenção para


a necessidade de imprimir um ritmo mais acelerado
à redução do impacto ambiental das atividades
produtivas e dos produtos em si. Vimos que os avanços
tecnológicos não se mostram suficientes para garantir um
desenvolvimento sustentável, se for mantida a postura,
hoje predominante, de tentar controlar a poluição com
base em medidas do tipo Fim-de-tubo. O Fator 10 tem
que ser atingido em um prazo inferior a 50 anos.

Discutimos possíveis razões para entender por que essas


medidas acabaram sendo priorizadas em detrimento da
Prevenção da Poluição. Ampliamos a visão conciliando
interesses econômicos e ambientais com base na
compreensão de que poluição é um indicador de
ineficiência no uso dos recursos naturais e financeiros.
Entendemos que para as corporações se tornarem mais
competitivas, elas devem enfrentar o desafio ambiental
como uma oportunidade para inovar.

Constatamos, também, que a prática de Prevenção da


Poluição vem crescendo cada vez mais no mundo e hoje
muitas empresas já apresentam excelentes resultados.

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Preocupações Ambientais 45

CAPÍTULO 2
PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM
Marc Rosen University of Ontario Institute of Technology*


(...) o medo ecológico é um medo planetário.
“A Terra ameaçada”, “A Terra com a corda OBJETIVOS ESPECÍFICOS
no pescoço”, “A Terra em perigo de morte”, • Descrever os impactos am-
“A natureza na U.T.I.”, “Nós só temos um bientais mais significantes,
planeta”, dizem as manchetes dos jornais, as suas causas e abrangências.
capas de revistas, os programas de televisão,
construindo a ecologia-espetáculo que, • Analisar as categorias de
incrédulos ou persuadidos, habituamo-nos impacto.

” •
agora a contemplar. Enquadrar as questões
Alphandéry, Bitoun e Dupont ambientais por categoria.
• Avaliar a redução dos
No capítulo anterior discutimos, entre outras impactos com a visão da
coisas, a evolução de alguns princípios ambientais.
Esta evolução se deu em razão do avanço dos impactos causados pelo homem sobre o
meio ambiente. De forma geral, o agravamento das condições ambientais foi exigindo um
aprimoramento dos meios necessários para a reversão dos problemas gerados. Soluções
do tipo fim-de-tubo não são mais suficientes para enfrentar os problemas.

Mas de que problemas estamos falando? Claro que todos nós temos uma resposta
para esta pergunta. Vamos neste capítulo nos pôr de acordo ou estabelecer uma base
comum sobre os problemas ambientais mais relevantes, suas causas e abrangências.

Não esperemos chegar a uma visão única quanto à gravidade destes ou com relação
à prioridade que deve ser dada na sua reversão. Nossas visões dependem da nossa
realidade, assim como das informações que detemos e das experiências que vivemos.
Uma visão abrangente desses problemas é importante para que possamos esclarecer o que
esperamos ao implementar programas de P2.

* A contribuição de Marc Rosen foi traduzida do inglês e incorporada ao texto pelos autores brasileiros.

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46 Prevenção da Poluição

Para conseguir uma razoável cobertura dos problemas ambientais, vamos seguir dois
caminhos: primeiro, vamos propor a construção de uma listagem com a contribuição
de todos e de cada um de nós; num segundo momento, vamos discutir as principais
categorias para enquadramento dos problemas ambientais e procurar alocar os problemas
listados nas categorias indicadas.

Por último, discutiremos as medidas cabíveis para reverter os problemas relacionados


e o papel da P2 nesta tarefa.

2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS: QUAIS SÃO?

Aos alunos:
Quais são, afinal, esses tão falados impactos ambientais? Você pode imaginar
pelo menos cinco impactos causados pelo homem que podem ser prejudiciais
ao meio ambiente ou à saúde humana? Ou, ainda, algumas causas para esses
problemas? Tente listar alguns desses impactos.

Vamos conferir alguns?


• Deposições ácidas.
• Mudança climática e efeito estufa.
• Degradação da qualidade das águas subterrâneas.
• Degradação de águas superficiais.
• Degradação do solo.
• Redução de hábitat e biodiversidade.
• Buraco da camada de ozônio.
• Névoas fotoquímicas (smog).
• Degradação das condições de habitabilidade urbana.
• Inserção de substâncias tóxicas na cadeia alimentar.
• Outros problemas ambientais.

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Preocupações Ambientais 47

Vamos agora fazer um breve resumo dos impactos citados considerados mais
importantes e suas implicações.

DEPOSIÇÕES ÁCIDAS
As nuvens, chuva, orvalho e névoa já são naturalmente um pouco ácidas, em função
da dissolução do gás carbônico e a conseqüente formação de ácido carbônico. O pH
da chuva normalmente se situa em torno de 5,6. Emissões atmosféricas de dióxido de
enxofre (SOx), óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (VOCs),
decorrentes das atividades humanas, conduzem à formação de ácido sulfúrico, ácido
nítrico, ozônio e peróxido de hidrogênio, e, por conseguinte, causam aumento na acidez
da precipitação. Em alguns lugares da Europa e dos Estados Unidos chegam a se verificar
chuvas com pH na faixa de 3,0 (Davis e Cornwell, 1998). O exemplo da acidificação das
encostas da Serra do Mar em torno de Cubatão, São Paulo, o ataque à cobertura vegetal
e a conseqüente desestabilização de alguns locais da encosta ilustram este problema.

Um dos maiores responsáveis por esse processo é a queima de combustíveis fósseis.


Emissões provenientes de perdas de combustíveis e outros compostos para a atmosfera
contribuem também com este problema. Enquanto que os compostos de enxofre decorrem
da presença deste elemento no óleo cru, os NOx são formados principalmente pela
oxidação do nitrogênio atmosférico em condições de combustão que podem ser evitadas.
O uso de petróleo de baixo teor de enxofre reduz este problema. Alternativamente, o
enxofre pode ser removido da linha de produção de combustíveis nas refinarias de
formas variadas, inclusive na forma de enxofre elementar.

Emissões de VOCs são, antes de tudo, perdas indesejáveis de produtos para a


atmosfera, decorrentes de condições inadequadas de transporte, armazenamento, carga e
descarga. Em países como os Estados Unidos e Reino Unido, cuja matriz energética se
baseia fundamentalmente na queima de combustíveis fósseis, as centrais termoelétricas se
constituem em fator central na geração de SOx. Neste sentido, a substituição do carvão mineral
pelo gás natural, a partir da exploração intensiva deste combustível no Mar do Norte, representou
uma redução substancial do problema no Reino Unido. No Brasil, a queima de combustível
no transporte rodoviário se destaca entre as fontes deste problema, associado com as fontes de
poluição industrial. Medidas de aumento da eficiência energética dos processos produtivos, a
racionalização do transporte e melhoria de transporte coletivo estão entre as principais medidas
a serem consideradas.

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48 Prevenção da Poluição

Uma das maiores conseqüências decorrentes das deposições ácidas é a acidificação


do solo e dos sistemas aquáticos, ocasionando perda de fertilidade. Além disso,
provoca sérias perdas econômicas e culturais ao corroer edificações, equipamentos
e obras-de-arte.

MUDANÇA CLIMÁTICA E EFEITO ESTUFA


Mudanças no clima acontecem naturalmente, mas há uma tendência a acreditar que
essas mudanças vêm sendo mais pronunciadas devido às atividades humanas durante
o último século.

A temperatura global média aumentou 0,5 oC desde a Revolução Industrial


(Houghton et al., 1990). Neste mesmo período ocorreu um marcante aumento
no lançamento de gases que conduzem ao aquecimento, especialmente dióxido
de carbono oriundo da queima de combustíveis fósseis (Boden et al.,1990), e foi
observado que houve um aumento significativo na concentração de gás carbônico
na atmosfera (de aproximadamente 280 ppm em uma base de volume, em 1800, para
aproximadamente 350 ppm, em 1990) (Houghton et al., 1990), gerando o conhecido
efeito estufa. O acúmulo de CO2 na atmosfera cria uma camada que aumenta a reflexão
de ondas de calor de volta à Terra.

Alguns pesquisadores prevêem, para as próximas décadas, um aumento na temperatura


global da ordem de 0,5oC a 5oC, juntamente com numerosos efeitos correspondentes,
como, por exemplo, uma elevação do nível do mar de 20-40cm, o que levaria à inundação
de muitas cidades litorâneas. A avaliação dessas medidas meteorológicas ocorre em
períodos de 25 anos.

A causa principal do aquecimento global é o aumento de lançamento dos


gases associados ao efeito estufa. Estes gases absorvem radiação na faixa de 8-20
micrômetros (Graedel e Allenby, 1995), e assim interferem no balanço energético
da Terra.

Alguns exemplos dos gases associados ao efeito estufa são:


• CO2 (gás carbônico);
• CFCs, como R-11 (CFC-l3) e R-12 (CF2Cl2)
(compostos de cloro, flúor, carbono);

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Preocupações Ambientais 49

• CH4 (metano);

• NOx (óxidos de nitrogênio).


Um balanço energético da Terra pode ser descrito da seguinte forma:

A energia de entrada absorvida pela Terra é de radiação solar de onda pequena; já a


saída de energia emitida para o espaço é de radiação solar de onda longa.

O resultado desta equação é o aumento dos níveis de energia (na forma de calor) da
Terra e de sua atmosfera.

Algumas implicações básicas deste balanço energético global são descritas a seguir:

• O resultado da equação é zero quando não há ocorrência de aquecimento


global, o que implica que a entrada e a saída de energia são iguais.

• Quando as concentrações dos gases associados ao efeito estufa aumentam


na atmosfera, a saída de energia é reduzida, enquanto que a entrada de
energia permanece constante. Dessa forma, ocorre acumulação de energia,
aumentando a temperatura da Terra.

• Eventualmente, se as concentrações desses gases se estabilizam em outro


patamar, um equilíbrio de energia é restabelecido numa temperatura planetária
média, maior.
A redução do ritmo de produção dos chamados gases estufa é a principal medida
a ser tomada para combater este problema. Mais recentemente, contudo, têm sido
introduzidos incentivos para a retirada ou seqüestro do CO2 da atmosfera. Entre os
mecanismos para promover esta retirada incluem-se o plantio de florestas novas e a
captação de CO2 para injeção em reservatórios de petróleo. Contudo, as medidas de
maior impacto são aquelas que levam a uma redução das emissões. Entre estas, podem
ser citadas a otimização do uso da energia e a substituição de fontes tradicionais pelas
chamadas fontes alternativas de energia.

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50 Prevenção da Poluição

Alguns autores apontam para a necessidade de “descarbonização” da economia


mundial. Isto é, reduzir a relação entre riquezas produzidas e a quantidade de CO2
gerada. Na implementação de programas de P2 deve-se identificar oportunidades para
a eliminação de ineficiências energéticas, que geralmente são muito altas.

DEGRADAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


Só para termos uma idéia da quantidade total de água existente no planeta,
97,13% se encontram nos mares e oceanos. Dos 2,87% de água doce restantes,
77,2% estão concentrados nas geleiras e calotas polares; 22,4%, no subsolo; 0,35%,
nos lagos e pântanos; 0,04%, na atmosfera; e apenas 0,01%, nos rios. Portanto, as
águas subterrâneas são fundamentais em muitas partes do mundo, até mesmo como
a principal fonte para o consumo humano.

Há dois tipos de preocupações principais com relação à degradação de águas


subterrâneas:
• Quantidade, porque a extração de águas subterrâneas reduz o atual potencial
hídrico;

• Qualidade, porque a pureza da água está sendo degradada pela poluição.

Entre as principais causas da degradação da qualidade das águas subterrâneas


incluem-se:
• efluentes líquidos, principalmente provenientes de processos industriais;

• atividades agrícolas;

• aterros sanitários, mal projetados ou operados;

• disposição de efluentes líquidos em poços;

• vazamentos de petróleo e seus derivados;

• lançamento de outras substâncias químicas;

• esgoto doméstico;

• aplicação de pesticidas e herbicidas;

• percolação do chorume de aterros, principalmente os industriais.

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Preocupações Ambientais 51

A rigor, a alteração da
qualidade da água pode ser USO DE HERBICIDAS E PESTICIDAS
decorrente também de causas É interessante refletir sobre as atividades agrícolas,
o uso de pesticidas, herbicidas e o impacto destes
na turais, mas normalmente
não só para as águas subterrâneas, como também
esta não é a forma que para o solo, para as águas superficiais e o meio
mais preocupa. A poluição ambiente como um todo.
Os herbicidas são substâncias empregadas na
decorrente das atividades
destruição de ervas daninhas, e os pesticidas são
desenvolvidas pelo homem substâncias empregadas no combate às pragas.
é a que deve merecer os Eles foram concebidos como elementos causadores
de danos a alguns sistemas biológicos, sendo,
cuidados especiais.
portanto, diretamente, motivo de preocupação
ambiental.
A divulgação dos grandes
O indesejável dano ambiental e biológico causado
acidentes ambientais, como os por herbicidas e pesticidas ocorre por:
derramamentos de óleo, desvia • toxicidade das combinações usadas;
um pouco a atenção para o • longo tempo de degradação das combinações
problema da contaminação no ambiente;

contínua a que estão sujeitos


• intensidade de aplicação;

os mananciais de água,
• métodos de aplicação utilizados.
Pressões para o aumento de produção de
tanto subterrâneos como alimentos tendem a aumentar o uso de herbicidas
superficiais, principalmente e pesticidas. Estudos indicam que o uso deles pode
ser reduzido por:
por substâncias tóxicas e
persistentes. Vazamentos de
• otimização cuidadosa do uso, para que a
aplicação só atinja a parte da planta que deve
tanques de combustíveis nos de fato ser tratada, para que ocorra o mínimo
postos de gasolina, lançamento impacto ambiental;

de óleo lubrificante no solo, • uso de métodos de controle alternativos


para ervas daninhas e outros tipos de pestes
penetração de efluentes prejudiciais às plantas.
industriais no solo pela
falta de estanqueidade das
canalizações que os transportam. Boa parte destes impactos se deve a perdas de
matérias-primas para o solo. Sua redução implicaria, então, não apenas numa efetiva
redução do impacto ambiental causado, como, também, em ganhos econômicos para
os nossos negócios.

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52 Prevenção da Poluição

SITES INTERNET
Vale a pena dar uma olhada! A seguir sugerimos alguns sites interessantes
sobre a água, onde você pode encontrar informações a respeito do ciclo da
água, das previsões futuras de sua escassez, da importância da evaporação no
déficit hídrico, etc.

http://www.proagua.gov.br

http://www.cnrh-srh.gov.br

http://www.hidricos.mg.gov.br

DEGRADAÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS


A qualidade e a composição química das águas superficiais são afetadas pelo próprio
ambiente natural (configuração, tipo de ambiente circundante, etc.), mas os impactos
causados pela atividade humana merecem especial destaque.

As mudanças na composição química das águas superficiais, associadas às atividades


humanas, são geralmente causadas por:
• emissões diretas (por exemplo: esgotos sanitários, excedentes de fertilizantes,
efluentes industriais e derramamentos de óleo);

• emissões indiretas (por exemplo: incidência de contaminantes atmosféricos


nas águas, chuvas ácidas).

Entre as principais preocupações com a qualidade das águas de superfície estão:


• concentração de organismos, tais como vírus e bactérias patogênicos e
redução dos níveis de oxigênio dissolvido na água em razão do lançamento
descontrolado de esgotos sanitários. É comum encontrarmos nas nossas
cidades cursos d’água em condições anaeróbias, com o característico mau
cheiro destes processos;

• lançamento de efluentes contendo substâncias tóxicas que irão se


bioconcentrar ao longo da cadeia alimentar. Freqüentemente, o lançamento
deste tipo de compostos se dá associado ao descarte de compostos orgânicos

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Preocupações Ambientais 53

biodegradáveis consumidos como alimentos pelas espécies aquáticas,


agravando o quadro de inserção de tóxicos na cadeia alimentar;

• acidificação de lagos e rios (ocorre freqüentemente devido à precipitação


ácida). O nível em que isso ocorre varia para cada corpo de água, porque
alguns corpos podem retardar os efeitos melhor do que outros, dependendo das
características do solo e da rocha adjacente ao corpo d’água;

• assoreamento provocado pelo arraste de substâncias que se depositam no


fundo dos rios, diminuindo a profundidade do leito;

• eutrofização, fenômeno causado por processos de erosão, arraste e


decomposição de restos de material orgânico, que fazem aumentar a
concentração de nutrientes como N-nitrogênio e P-fósforo no meio aquoso,
provocando a proliferação de algas, o que torna a água turva, dificultando
a fotossíntese e, conseqüentemente, reduzindo a concentração de oxigênio
dissolvido, aumentando a toxidez do meio e matando os organismos que
nele vivem.

A degradação e exaustão dos recursos hídricos vêm-se agravando de forma acentuada,


colocando o assunto no centro das atenções ambientalistas do mundo inteiro. Um dos
principais fatores que tem contribuído para gerar esta situação e dificultar sua solução
tem sido o uso irracional dado à água. Consumos desnecessários, perdas e desperdícios
permeiam a realidade do trato dos recursos hídricos. A minimização das perdas, a
otimização do uso, o reuso e o reciclo entram cada vez mais na pauta da gestão dos
processos produtivos.

Questão para reflexão:


• Levante exemplos de duas áreas ou locais severamente atingidos por algum
dos problemas acima citados e comente.

DEGRADAÇÃO DO SOLO
Práticas agrícolas inadequadas e a disposição de resíduos tóxicos são as principais
causas deste problema.

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54 Prevenção da Poluição

A produção agrícola tem-se fundamentado no uso intensivo do solo com técnicas


baseadas numa mecanização pesada e no uso de fertilizantes e praguicidas sintéticos.
Isto tem conduzido a uma exaustão precoce e à perda de áreas agricultáveis devido
ao problema da erosão. A introdução de práticas menos agressivas de manejo do solo
agrícola, que leve em consideração a lógica natural dos ecossistemas, vem crescendo.

A denominada agricultura orgânica procura seu lugar no mercado, alicerçada na


oferta de produtos livres de compostos tóxicos, nocivos à saúde humana. Sua evolução
poderá oferecer as alternativas necessárias para atender às necessidades humanas com
menor impacto ambiental. Mesmo dentro da chamada agricultura tradicional existe
grande espaço para se reduzir seu impacto ambiental, a partir do uso mais racional dos
insumos agrícolas.

O solo tem sido um dos destinos mais utilizados para a disposição de resíduos
tóxicos de origem industrial. Mais do que a implantação de soluções para a disposição
final “adequada” deve-se procurar a minimização da geração desses resíduos e,
principalmente, a redução, e até a eliminação, do uso de compostos tóxicos.

O solo pode ser um importante aliado na prevenção da degradação das águas


subsuperficiais, pois tem a capacidade de filtrar, acomodar e diluir contaminantes,
enquanto eles se movem em direção às águas subterrâneas.

As principais propriedades físicas e químicas do solo que definem suas “características”


e que, conseqüentemente, influenciam o destino dos compostos tóxicos são: classe do
solo, porosidade, permeabilidade e área superficial, conteúdo de matéria orgânica e
capacidade de troca de cátions.

Atenção!
Na verdade, os diversos meios físicos aqui discutidos separadamente não
são isolados uns dos outros. Eles se encontram interligados, de modo que
uma contaminação do solo geralmente leva a problemas de contaminação do
lençol freático, assim também como há uma troca intensa entre a superfície
marinha e o ar.

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Preocupações Ambientais 55

REDUÇÃO DE HÁBITAT E BIODIVERSIDADE


Ecossistema pode ser definido como um conjunto estrutural e funcional onde
organismos vivos interagem com o ambiente físico-químico, de modo a haver
interdependência entre estes segmentos naturais. Dessa forma, qualquer alteração em
qualquer um dos elos da cadeia (componentes bióticos e abióticos) altera o ecossistema
como um todo.

A extinção da fauna e da flora está ocorrendo, na maioria dos casos, devido às


atividades antrópicas, conduzindo a uma série de impactos, tais como:
• quebra de cadeias alimentares; e

• redução na diversidade genética.

Isso pode limitar, por exemplo, o potencial para a criação de novos medicamentos
e novas formas de energia, de biomassa.

Redução na biodiversidade é causada, em grande parte, pelas perdas e/ou


fragmentação de hábitats naturais, decorrentes da expansão urbana, aumento de áreas
dedicadas a usos agrícolas, desmatamento associado a uma série de usos, exploração
acentuada dos recursos naturais e inserção de compostos tóxicos, estranhos aos ambientes
naturais, entre outros.

Estão sendo particularmente ameaçadas grandes áreas contínuas de terra necessárias


para a sobrevivência de algumas espécies.

O uso racional e eficiente dos recursos naturais se apresenta como uma necessidade
premente para a reversão deste quadro negativo.

BURACO DA CAMADA DE OZÔNIO


“A história de um dos maiores problemas ambientais da atualidade a nível global, a
destruição da camada de ozônio (...), teve início em 1930, quando o químico Thomas
Midgley Jr., dos Laboratórios de Pesquisa da General Motors, nos Estados Unidos,
foi solicitado a desenvolver novo composto de refrigeração que não fosse tóxico,
nem inflamável, e apresentasse estabilidade química. (...) O resultado do trabalho
levou à produção, já a partir de 1931, de um produto conhecido atualmente como

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56 Prevenção da Poluição

CFC-12 (diclorodifluormetano), e a partir de 1934 teve início a produção de CFC-11


(triclorofluormetano). Nos anos seguintes, os CFCs provaram ser os compostos ideais para
muitas aplicações, e não seria exagero afirmar que muito do moderno estilo de vida do século
XX só foi possível devido à utilização, em larga escala, desses produtos. Em 1974 foi publicado
o primeiro artigo alertando que os CFCs presentes na atmosfera poderiam destruir a camada
protetora de ozônio.” (Tanimoto et al., 1999)

Dica!
O texto acima foi retirado de um artigo da revista TECBAHIA, dos meses
de maio/ago. 1999, e pode ser lido na íntegra no site da Rede de Tecnologias
Limpas da Bahia – TECLIM: http://www.teclim.ufba.br

A camada de ozônio é uma camada natural da estratosfera (faixa que se estende entre
15 e 50km de altitude) que funciona como um filtro, impedindo a passagem de raios
ultravioleta provenientes do sol. Com a diminuição da concentração de ozônio (O3) na
estratosfera, diminui a absorção destas radiações, aumentando sua incidência sobre os
sistemas biológicos a ela sensíveis. Algumas das conseqüências da destruição da camada
de ozônio são: danos ao homem – catarata, câncer de pele, queimaduras, problemas
no sistema imunológico e danos à natureza – à vegetação e agricultura, diminuindo a
capacidade de fotossíntese e o crescimento das plantas.

Foi observado que a quantidade total de ozônio em algumas regiões polares foi
reduzida em mais de 50% ao longo dos últimos 40 anos (Graedel e Allenby, 1995).

“A primeira ação efetiva visando à eliminação do consumo dos CFCs surgiu em


1978, quando esses produtos foram proibidos como propelentes em latas de spray nos
Estados Unidos, Canadá, Noruega e Suécia. Nos anos seguintes, desenvolveu-se um forte
consenso entre governos e na comunidade científica internacional sobre a necessidade
de proteger a camada de ozônio. O primeiro passo para transformar consenso em ação
global foi dado em março de 1985, quando foi adotada a convenção de Viena para a
proteção da camada de Ozônio.” (Tanimoto et al., 1999)

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Preocupações Ambientais 57

Entre as substâncias químicas que causam a depreciação da camada de ozônio


encontram-se :

• Clorofluorcarbonos (CFCs). Estes compostos de cloro, flúor e carbono


são os principais responsáveis pela destruição da camada de ozônio.
Emissões superficiais de CFCs podem permanecer na atmosfera por
décadas, podendo ser transportados para a estratosfera por processos
atmosféricos. Exemplo: uma molécula de CFC-12 é quebrada por ação
ultravioleta, liberando cloro (Cl):

O mecanismo de destruição da camada de ozônio então seria:

O mesmo mecanismo é válido também para o Br (Bromo), o OH (óxido de hidrogênio)


e NO (óxido nítrico), que têm a capacidade de remover o ozônio da estratosfera através
de reações catalíticas.
• Óxido nítrico (NO). Emissões de NO, oriundas de jatos, diretamente nas
camadas superiores da atmosfera também reduzem a concentração de ozônio
estratosférico, como demonstrado na reação seguinte:

• Hidrocarbonetos halogenados. As substâncias que contêm bromo e que são


usadas em extintores de incêndio e como fumigantes são objeto de grande
preocupação, pois o bromo tem um efeito maior de degradação do ozônio e
também maior tempo de vida do que o cloro.

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58 Prevenção da Poluição

A eliminação do uso de algumas dessas substâncias e sua substituição por outras,


menos agressivas, são os principais meios para se enfrentar este problema.

NÉVOAS FOTOQUÍMICAS (SMOG)


O smog é um termo que combina as palavras inglesas smoke e fog. No Brasil usamos,
analogamente, o termo Fublina, que é uma junção das palavras “fumaça” e “neblina”. A
Fublina é causada por uma reação fotoquímica entre os poluentes, a qual é deflagrada
pela luz do sol sobre ar estagnado, podendo causar danos à saúde humana e aos cultivos
de terra e reduzir a visibilidade.

O ozônio (O3) é o principal componente do denominado smog fotoquímico, produzido


próximo à superfície da Terra e nas camadas atmosféricas mais baixas.

A Fublina é produzida a partir das seguintes reações químicas:

*NMHC denota hidrocarbonetos, como, por exemplo, etileno, butano (exceto metano).

A formação de ozônio nas camadas superficiais da Terra pode ser controlada através
da limitação das emissões de NMHC e dos óxidos de nitrogênio (NOx) (principalmente
NO e NO2). Essas emissões provêm das múltiplas aplicações de combustíveis fósseis
(carvão, petróleo, gás natural e xisto) na geração de energia, uso de automóveis e outros
meios de transporte, na indústria e no setor doméstico. A minimização das emissões de
hidrocarbonetos na fonte, além de prevenir este problema, traz benefícios à saúde das
pessoas em contato com essas emissões, e representa economia de matérias-primas. Já
as emissões dos NOx tendem a ser reduzidas a partir de modificações nos processos de
combustão.

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Preocupações Ambientais 59

DEGRADAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE URBANA


O desordenado crescimento das cidades, devido tanto a problemas estruturais da
sociedade como à baixa qualidade de muitas administrações municipais, tem provocado
diversos problemas que concorrem para a degradação da qualidade de vida e saúde da
população.

Uma parcela importante da população urbana dos países subdesenvolvidos, por


ficar excluída do mercado imobiliário, se vê obrigada a equacionar sua necessidade de
moradia a partir de ocupações ilegais, desordenadas e que permanecem desprovidas
de uma infra-estrutura adequada. Apesar dos serviços de abastecimento d’água e
energia atingirem quase a totalidade dos moradores das grandes cidades, estes deixam
muito a desejar em termos de qualidade. Já o esgotamento sanitário não alcança uma
grande parcela da população urbana pobre, obrigando-a a conviver em contato com
diversos agentes causadores de doenças. Os freqüentes episódios de enchentes são o
resultado de desequilíbrios ambientais provocados pelo adensamento e a conseqüente
impermeabilização descontrolada do solo urbano.

Canais de esgotos a céu aberto, no lugar dos rios, depósitos de lixo espalhados por
todo lado, provocando a proliferação de vetores causadores de variadas doenças, e índices
inaceitáveis de qualidade do ar, trazendo doenças que afetam o aparelho respiratório
são aspectos corriqueiros da vida das nossas cidades.

Além de devolver ao meio ambiente a água na forma de esgotos, mais da metade da água
extraída dos mananciais sequer nos traz qualquer benefício. Ela se perde ao longo do seu
transporte ou é desperdiçada nos domicílios. Isto é, exerce-se uma pressão enorme sobre
o meio ambiente e sequer tiramos o devido proveito. Enquanto uma parcela importante
da população passa fome, outra desperdiça alimentos sem o menor cuidado.

Dessa forma, não dá para acreditar que a solução para os problemas anteriormente
listados seja apenas tratar adequadamente os esgotos, dispor o lixo em aterros sanitários
ou aproveitar restos de comida para gerar compostos orgânicos. É necessário encontrar
respostas mais eficientes para aumentar a produtividade dos recursos naturais. A busca
por níveis mais altos de ecoeficiência é uma necessidade ambiental premente, mas,
além disso, é um pré-requisito para a construção de economias competitivas e cidades
sustentáveis.

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60 Prevenção da Poluição

INSERÇÃO DE SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES NA CADEIA ALIMENTAR


A inserção de substâncias tóxicas na cadeia alimentar representa ameaça de
desequilíbrio a todo o ecossistema. A origem dos contaminantes pode ser: lixiviados
de solos agrícolas, água subterrânea contaminada, água de sedimentos contaminados,
córregos urbanos, descargas atmosféricas, deposição de sedimentos, indústria, esgoto
doméstico, depósitos de lixo.

O caminho que as substâncias químicas percorrem no ambiente aquático pode ser


descrito da seguinte forma: dissolução das substâncias na água; adsorção em partículas
orgânicas ou inorgânicas; incorporação pelos organismos gerando biotransformação
(metabolismo); bioacumulação e biomagnificação.

A biotransformação é o processo através do qual as substâncias são metabolicamente


tornadas mais solúveis em água e, portanto, mais facilmente eliminadas; é a conversão
biologicamente catalisada de uma substância química em outra. Este novo composto
se comporta diferentemente no organismo, com respeito à distribuição nos tecidos,
bioacumulação, persistência e rota de excreção, além de suas propriedades farmacológicas
e toxicológicas.

A bioacumulação ou bioconcentração ocorre quando a taxa de assimilação de


uma substância química pelo organismo excede sua taxa de eliminação, criando um
“reservatório” dentro do organismo. À medida que um organismo de um nível trófico
superior se alimenta das espécies que sofreram processos de bioacumulação, a concentração
fica ainda maior, ocorrendo dessa forma o processo de biomagnificação.

Vamos tentar esquematizar o caminho do poluente em um corpo receptor:

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Preocupações Ambientais 61

Fonte: NASCIMENTO, Iracema A. Inserção de substâncias tóxicas na cadeia alimentar: as substâncias tóxicas per-
sistentes, Especialização em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais na Indústria. UFBa. Módulo: Comportamento
de Poluentes no Segmento Biótico.

FIGURA 2.1 – CAMINHO DO POLUENTE NO CORPO RECEPTOR

O mercúrio, por exemplo, provoca um dos mais graves problemas de contaminação


do homem e do meio ambiente, pois através da terra ou da água entra na cadeia
alimentar, colocando em perigo o homem, que se alimenta dos peixes e das aves de
áreas contaminadas. A ação tóxica do mercúrio afeta o sistema nervoso central, órgãos
do sistema cardiovascular, urogenital e endócrino. Dentre os principais sintomas de

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62 Prevenção da Poluição

intoxicação estão a paralisia, a dormência dos lábios, mãos e pés, distúrbios emocionais,
fadiga, perda de memória, cefaléia, gengivite e estomatite. Em casos de intoxicação
severa, os danos são irreversíveis. (Nascimento,2000)

Aos alunos:
Vocês já ouviram falar no caso da contaminação por mercúrio da Baía de
Minamata? Vamos pesquisar e fazer um resumo do que foi Minamata e quais
foram as soluções encontradas.

OUTROS PROBLEMAS AMBIENTAIS


A lista de impactos ambientais, preocupações e discussões apresentada nesta seção
não foi exaustiva, mas incluiu o que é freqüentemente percebido e considerado como
mais significante.

Vamos citar, de modo geral, outros impactos que podem ser considerados de menor peso:

• Radiação e radionuclídeos. Muitas fontes de radiação existem naturalmente,


mas a atividade humana pode aumentar o grau de exposição dos sistemas
biológicos através do estabelecimento de novos níveis de radiação, resultando
em problemas à saúde. Radônio do solo e de materiais de construção podem,
por exemplo, expor as pessoas à radioatividade em suas casas, onde o radônio
tende a se acumular no ar.

• Poluição térmica. A poluição térmica é causada pelo lançamento de águas


de resfriamento das usinas e outras instalações industriais em corpos de água,
onde ele se concentra, causando elevações súbitas da temperatura local e
reduzindo a concentração de oxigênio dissolvido no meio, tendo como causa a
mortandade das espécies.

• Qualidade do ar interior. A qualidade do ar interior é freqüentemente uma


preocupação, especialmente para edifícios que têm baixo nível de reciclo de
ar, porque a má qualidade do ar pode conduzir a problemas de saúde. Também
alguns materiais de construção, como o amianto, podem causar danos à saúde
humana.

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Preocupações Ambientais 63

• Poluição sonora. Um som desagradável é chamado de RUÍDO. Os danos


causados pelo ruído dependem da intensidade, freqüência, tempo de
exposição, intermitência ou continuidade, e das características de cada
indivíduo. A intensidade do ruído é medido em decibel (dB), unidade de
pressão sonora.
As principais conseqüências da poluição sonora são: perda gradativa da audição;
incômodo; irritação; exaustão física; perturbação do sono; insônia; fadiga; problemas
cardiovasculares; estresse; aumento da adrenalina no sangue; aumento da produção
de hormônio da tireóide; redução da eficiência e ocorrência de acidentes nos locais de
trabalho. (Mota, 1997)

Controles na emissão de ruídos de maior abrangência e efetividade são aqueles


aplicados na fonte, tais como:
• aperfeiçoamento dos equipamentos, de forma a reduzir o barulho produzido
por estes;

• manutenção dos equipamentos: lubrificação, alinhamento de rolamentos e eixos,


suportes antivibratórios;

• isolamento das fontes de ruídos (exemplo: paredes com materiais que


impeçam a propagação do som – isolante acústico);

• regulagem das descargas dos veículos;

• disciplinamento dos horários de funcionamento de equipamentos barulhentos.

Entre as medidas de controle nos receptores podemos citar:


• isolamento de ambientes internos;

• redução do período de exposição ao ruído;

• diminuição da jornada de trabalho;


• uso de equipamentos de proteção auricular.

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64 Prevenção da Poluição

• Assuntos relacionados à Higiene Industrial e à Segurança e Saúde no


Trabalho. Estes também são importantes aspectos ambientais que devem ser
levados em consideração. Eles podem incluir ar contaminado em ambientes de
trabalho e a exposição a material de isolamento de amianto.

2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

Conforme discutido no início deste módulo, após listarmos uma série de problemas
ambientais contemporâneos, vamos tentar organizá-los de forma a melhor entendê-
los. Para tanto vamos separá-los em categorias, com base em suas diferentes
características.

Consideremos as seguintes categorias para orientar nossa discussão:


• Espaço
• Tempo
• Risco

Essas classificações freqüentemente fornecem uma lista de prioridades, baseada


em sua “importância”, já que os impactos ambientais que têm maior extensão e
maior duração, e que apresentam riscos para os sistemas planetários e humanos, são
normalmente vistos como mais importantes do que outros. Outras classificações,
baseadas no nível de importância do impacto ambiental, podem ser desenvolvidas.

As determinações de quais impactos ambientais são significantes, e quais as suas


características definidoras, podem incluir certa dose de subjetividade, tornando difícil
o desenvolvimento de uma classificação simples dos impactos ambientais, segundo seu
grau de importância.

É comum, na literatura internacional gerada nos países desenvolvidos, se deixar de


lado o impacto ambiental e social do lançamento indiscriminado de esgotos sanitários
e seu contato direto com a população em áreas socialmente degradadas.

No entanto, nossa realidade é diferente e exige um foco maior neste problema, no


momento em que se discute, de forma abrangente, os problemas ambientais. Neste

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Preocupações Ambientais 65

curso, porém, por priorizar os problemas ambientais dos processos de produção, a


questão da habitabilidade e dos esgotos domiciliares, apesar de ser lembrada, não será
aprofundada.

CLASSIFICAÇÃO ESPACIAL DOS IMPACTOS


Uma forma de classificar os impactos ambientais é por sua extensão espacial, ou
geográfica. Alguns autores entendem que os impactos ambientais que se estendem por
grandes áreas, ou por todo o planeta, são geralmente de maior importância do que os que
são limitados a regiões menores. Efeitos ambientais locais, no entanto, são de grande
importância para a região sob impacto.

Uma classificação aproximada por extensão espacial é apresentada na Tabela 2.1,


usando as seguintes categorias:
• Global
• Regional
• Local

TABELA 2.1 – CLASSIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS EM UMA ESCALA ESPACIAL


Global Regional Local

Mudança climática Deposições ácidas Degradação do lençol freático

Buraco da camada de ozônio Uso de herbicidas Disposição inadequada do lixo

Redução de hábitat e
Uso de pesticidas Derramamento de óleo
biodiversidade

Degradação da qualidade das


Degradação do solo Névoas fotoquímicas (smog)
águas subterrâneas

Degradação da qualidade das Inserção de substâncias Degradação das condições de


águas superficiais tóxicas na cadeia alimentar* habitabilidade urbana

Inserção de substâncias tóxicas


Radionuclídeos Poluição térmica
na cadeia alimentar

*Um mesmo impacto pode ser classificado em mais de um nível como, por exemplo, a inserção de substâncias
tóxicas na cadeia alimentar, que pode tanto ter uma abrangência global quanto regional.

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66 Prevenção da Poluição

Dê a sua opinião!
Você concorda com a forma como foram classificados os problemas na Tabela
2.1? Que mudanças você sugeriria?

Alguns autores consideram que o impacto ambiental local deve ter um peso
maior do que o global, porque acreditam que a indústria, o comércio, etc.
só se mobilizam para resolver os danos mais imediatos, que os atingem
diretamente, e que não há interesse em investir em um Sistema de Gestão
Ambiental se não for dessa forma. E você, o que pensa sobre isso? Pense,
por exemplo, na questão da habitabilidade urbana, que tem uma expressão
local, mas se reproduz pelo mundo afora, assim como outros problemas
classificados como locais! Não conviria repensar esta forma de classificar os
impactos ambientais?

CLASSIFICAÇÃO TEMPORAL DOS IMPACTOS


Impactos ambientais podem ser classificados com base em sua extensão temporal,
como, por exemplo, pelo tempo que o impacto e seus efeitos persistem no ambiente. A
duração pode variar de dias a anos, ou até mesmo séculos.

Efeitos que duram apenas um curto período de tempo podem se comportar desta
forma, por serem eliminados através de processos naturais, ou porque ações podem ser
tomadas para reduzir o tempo de duração do impacto. São os impactos reversíveis.

Uma classificação temporal é importante, pois impactos ambientais que persistem


durante longo tempo são geralmente de maior importância do que os que possuem
duração limitada.

Classificação dos impactos ambientais, discussões e questões levantadas em escala


temporal interagem com as classificações espaciais. Poluentes que são resistentes a
longo prazo podem atingir áreas maiores. Claro que isso depende do meio onde eles
são lançados.

A classificação espacial de impactos ambientais da Tabela 2.1 pode, conseqüentemente,


servir de base para uma classificação espaço-temporal, em que as categorias global,

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Preocupações Ambientais 67

regional e local correspondem a


escalas de longo, médio e curto LOVE CANAL
Love Canal está localizado na vizinhança das
prazo. Contudo, alguns erros
Cataratas do Niágara, no estado de Nova York.
podem estar sendo introduzidos O nome “Love Canal” provém do último nome
ao se praticar esta simplificação. de William Love, que em 1896 começou a obra
Considere, por exemplo, a questão de escavação de um canal com o propósito de
interligar os lagos Ontário e Erie. A obra, porém,
da disposição de compostos tóxicos
nunca foi concluída.
em locais confinados e com pouca Em 1942 a companhia Química Hooker, que
possibilidade de se movimentar. se localizava no lado oeste do canal, teve a
idéia “engenhosa” de transformar o canal em
O famoso caso de Love um depósito para os resíduos químicos de seu
Canal que descrevemos a seguir processo produtivo, até completá-lo. Uma vez
ilustra esta questão e propõe uma que o canal/aterro estava completamente cheio
com os resíduos da indústria, no ano de 1952,
interessante discussão sobre a este foi coberto com grama, sem dar indícios do
disposição de resíduos tóxicos em problema enterrado, e vendido para a escola
aterros industriais. da cidade de Niagara Falls pelo valor de US$
1.00 (um dólar). A escola e algumas casas
foram construídas exatamente em cima do lixo
CLASSIFICAÇÃO DOS IMPACTOS químico.
AMBIENTAIS PELO TIPO DE RISCO Em 1977 foi detectada a extravasão de
componentes químicos, e uma série de
Impactos ambientais podem problemas de saúde foi identificada. Dentre o
lixo químico podiam ser encontrados: benzeno,
ser classificados pelo tipo de
um produto químico conhecido por causar
risco que eles apresentam. anemia e leucemia; clorofórmio, um cancerígeno
Classificações baseadas em que afeta o sistema nervoso, respiratório e
gastrointestinal; lindano, que causa convulsões e
riscos são freqüentemente muito
a multiplicação de células brancas; tricloretileno,
subjetivas, já que riscos sociais um cancerígeno que ataca o sistema nervoso,
são usualmente percebidos como o genes e o fígado; cloro de metileno, cujos
efeitos incluem aflição respiratória crônica e
de diferentes importâncias, por
morte (Mokhiber, 1988).
diferentes pessoas, e a percepção de Centenas de moradores processaram a Hooker,
risco é afetada por muitos fatores. a cidade e o governo estadual, exigindo mais de
US$ 9 milhões para compensar os danos sofridos
No entanto, muitas categorias no canal. A área foi evacuada e permanece
deserta e degradada até hoje. Quem passa por
de riscos ambientais podem ser
lá tem a dimensão de quais danos os resíduos
consideradas, inclusive as que se químicos podem trazer à nossa moderna
seguem: sociedade.

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68 Prevenção da Poluição

• Riscos de danos para sistemas planetários. Isso inclui riscos para entidades
biológicas e seus sistemas de suporte (por exemplo, cadeias alimentares), e
padrões e composições de circulação atmosférica e oceânica.

• Riscos de danos para sistemas biológicos (incluindo sistemas humanos,


animais e vegetais). Estes riscos incluem danos causados por toxinas e outros
resíduos tóxicos.

• Riscos de perdas financeiras. Estes riscos incluem perdas financeiras diretas e


seus efeitos indiretos, como redução de produtividade.
• Riscos da qualidade de vida e estéticos. Estes riscos incluem a perda de
satisfação associada com um ambiente limpo e agradável.

Questão para reflexão:


• Classifique e estabeleça a magnitude dos problemas ambientais aqui discutidos
usando a matriz a seguir. Insira dois outros problemas e justifique suas
escolhas.

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Preocupações Ambientais 69

MATRIZ PARA CLASSIFICAÇÃO DA MAGNITUDE DO IMPACTO DE PROBLEMAS AMBIENTAIS

Problema Abrangência Abrangência


Risco
Espacial Temporal

Irreversível
Reversível
Regional
Global

Médio

Baixo
Local

Alto
Deposições ácidas ++ +++ +++ + +++

Mudança do clima e das condições


meteorológicas

*Degradação da qualidade das águas


subterrâneas

Degradação de águas superficiais

Reduções de hábitat e biodiversidade

Buraco da camada de ozônio

Degradação do solo rural

Névoas fotoquímicas (smog)

Degradação das condições de


habitabilidade nas cidades: solo, ar e
águas

Inserção de substâncias tóxicas na


cadeia alimentar: as substâncias
tóxicas

Para classificar, utilize a seguinte simbologia:

+ Peso baixo ++ Peso médio +++ Peso alto * depende dos contaminantes considerados.

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70 Prevenção da Poluição

FECHAMENTO

A idéia é que neste capítulo você tenha podido ter uma


visão geral do que é importante ser considerado quando
se fala em impactos ambientais e suas conseqüências.
Também é interessante chamar a atenção de que muitos
aspectos são difíceis de medir e que, portanto, são
avaliados através de uma estimativa.

Analisar e entender quais são as conseqüências das


nossas ações sobre o ambiente em que vivemos tem como
objetivo final pensar em propostas de desenvolvimento
menos agressivas ao meio ambiente. Ao invés de
corrigirmos o problema, pode ser mais viável, inclusive
economicamente, evitar a poluição.

É bom lembrar: a poluição é um indicador de ineficiência


no uso dos recursos naturais e financeiros.

Prevenção da Poluição - Cap 2.indd 70 26/3/2003, 16:21:17


Minimização de Resíduos 71

CAPÍTULO 3
MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM

“ O que farão com as velhas roupas?


Faremos lençóis com elas.
O que farão com os velhos lençóis?
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Discutir os tipos de resíduos
Faremos fronhas. industriais: gasosos, líquidos
O que farão com as velhas fronhas? e sólidos nos processos;
Faremos tapetes com elas.
O que farão com os velhos tapetes?
• Identificar as causas e fontes
geradoras de resíduos;
Usá-los-emos como toalhas de pés.
O que farão com as velhas toalhas de pés? • Caracterizar os diferentes
Usá-las-emos como panos de chão. tipos de resíduos quanto ao
O que farão com os velhos panos de chão? grau de toxicidade;
Sua alteza, nós os cortaremos em pedaços, • Apresentar técnicas / medi-
misturá-los-emos com o barro e usaremos das de minimização de resí-
esta massa para rebocar as paredes das casas. duos nos processos;
Devemos usar com cuidado e proveitosamente, • Discutir o Organograma
todo o artigo que a nós foi confiado, Mestre das Ações para Pre-
pois não é “nosso” e nos foi confiado apenas venção e Controle da Po-


temporariamente. luição;
Siddhartha Gautama – BUDA
• Detalhar medidas de P2 e
exemplificar;
Neste capítulo vamos discutir sobre • Permitir a percepção da di-
“Resíduos”, mais especificamente sobre a sua ferença entre os enfoques
Fim-de-tubo e P2.
“Minimização” e, se possível, sobre o banimento
deles das nossas vidas.

Vale salientar que minimizar resíduos significa:


• aumentar a eficiência ecológica da empresa – transformando toda a matéria-
prima em produto;
• beneficiar-se das vantagens comerciais – aumentando a competitividade;
• minimizar custos de retrabalho;
• reduzir o impacto ambiental do processo produtivo.

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72 Prevenção da Poluição

Deu para sentir a importância de torná-los insignificantes e até mesmo inexistentes?


Afinal, o que não é útil não justifica a existência. Concorda?

Resíduos são matérias-primas (na maioria das vezes adquiridas a alto preço) que
não foram transformadas em produtos comercializáveis ou em matérias-primas a serem
usadas como insumos em outro processo de produção. Eles incluem todos os materiais
sólidos, líquidos e gasosos que são emitidos no ar, na água ou no solo, bem como o
ruído e a emissão de calor.

O processo de produção também compreende atividades que, freqüentemente, se


tende a esquecer, tais como manutenção, serviços, limpeza e a área administrativa.

Minimizar resíduos e emissões, portanto, também significa aumentar o grau de


utilização dos materiais e da energia usados para a produção (aumentando a eficiência
ecológica) até que sua utilização garanta um procedimento livre de resíduos e emissões
(este é o caso ideal!).

Assim, para a empresa, a minimização de resíduos não é somente uma meta ambiental,
mas, principalmente, um programa orientado para aumentar o grau de utilização dos materiais
e, conseqüentemente, sua produtividade.

Esta situação pode ser também ilustrada pelo fato de que, tanto o tratamento e a
disposição de resíduos e emissões são onerosos, quanto os custos decorrentes da perda
de matérias-primas (que se tornam resíduos no próprio sentido da palavra) também são
normalmente altos.

A fim de trabalhar sistematicamente na minimização e evitar a geração de resíduos


e emissões, você deve conhecer os fluxos de massa mais importantes em sua empresa,
identificar e quantificar os resíduos gerados nas etapas do fluxo. Além disso, você deve,
principalmente, conhecer as características e a importância em termos de toxicidade e
efeitos ecológicos dos resíduos. Dessa forma, neste capítulo você vai obter informações
sobre os vários tipos de técnicas e medidas aplicáveis em programas de Prevenção da
Poluição, visando minimizar resíduos.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 72 5/2/2003, 15:16:23


Minimização de Resíduos 73

3.1 OS PROCESSOS INDUSTRIAIS E SEUS RESÍDUOS

Os processos industriais transformam insumos em produtos finais e resíduos,


conforme representado de forma simplificada na Figura 3.1. Contudo, enquanto os
insumos e produtos são considerados nas suas devidas especificidades, os resíduos são
tradicionalmente agrupados de acordo com os corpos receptores: água, ar e solo. Usa-
se a lógica, um tanto perversa, de que os resíduos são parte inerente ao processo e que,
conseqüentemente, só nos resta pensar em como e onde dispô-los.

Fonte: Construção própria

FIGURA 3.1 – PROCESSO INDUSTRIAL

Consideremos o exemplo de uma refinaria. Um complexo arranjo de processos


transforma o óleo cru em combustíveis, insumos petroquímicos, lubrificantes e asfalto.
Parte do óleo é consumido como fonte energética para o processo de refino.

Um dos problemas que mais preocupa os operadores e autoridades ambientais é


o dos efluentes líquidos. Estes são considerados inerentes e indesejáveis a cada uma
das etapas do processo. Portanto, são afastados e concentrados num ponto único (às

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 73 5/2/2003, 15:16:24


74 Prevenção da Poluição

vezes dois), para se dar a eles um tratamento que os torne menos impactantes ao corpo
receptor. A questão ambiental passa a ser considerada neste momento. O que fazer com
esta água contaminada? Como destruir os compostos indesejáveis para poder descartá-la
cumprindo a legislação, ou, pelo menos, tentando cumpri-la.

Raciocínio semelhante é praticado com as emissões oriundas da queima de


combustíveis nas caldeiras. Estas são vistas como inerentes a estes equipamentos e ao
tipo de combustível utilizado.

Mas, na realidade, tanto os efluentes líquidos quanto as emissões atmosféricas (o


mesmo se aplica para outros resíduos) têm sua origem num determinado ponto do
processo. Suas causas podem ser várias e relacionadas a outros pontos que não apenas
aqueles onde eles são visualizados. O vapor inserido numa coluna de destilação, por
exemplo, sai no seu topo, é condensado e se transforma num efluente que é lançado
numa canaleta.

Esta situação, no entanto, poderia ser diferente. Uma otimização do processo, por
exemplo, reduziria a quantidade utilizada e outras medidas poderiam reduzir o conteúdo
de hidrocarbonetos, que são nada menos que o produto principal da refinaria. Por outro
lado, será que esta corrente não tem utilidade para outro processo? Se ela é tachada de
“efluente”, provavelmente não. Mas, se ela for vista como um possível insumo, a questão
será outra. Que processo ou processos precisam dela? O que tem que ser feito para que ela
possa ser considerada insumo para outros processos?

O pensamento corriqueiro tem sido tratar dos resíduos a partir da sua segregação
como matéria indesejável. Com base neste raciocínio, só resta sua coleta, tratamento
e disposição no ambiente. É a lógica da rede de coleta de resíduos, também chamada de
FIM-DE-TUBO.

No caso das emissões geradas pelos processos de combustão, a sua minimização não
depende apenas da eficiência das caldeiras e fornalhas, ou do combustível utilizado. A
eficiência energética da planta toda é que tem que ser analisada. Nesse caso, a “rede de
efluentes” é menos perceptível, pois se trata de uma rede invisível de incompetências
ou perdas energéticas que inclui, desde a eficiência energética de cada processo e
equipamento, até a qualidade da integração energética de toda a planta.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 74 5/2/2003, 15:16:24


Minimização de Resíduos 75

Consideremos, a seguir, algumas das principais fontes de emissões atmosféricas,


efluentes líquidos e resíduos sólidos geradas nos processos industriais.

RESÍDUOS GASOSOS
Emissões de resíduos gasosos são freqüentemente maiores em quantidade do que
emissões de resíduos sólidos e líquidos, no ar e nas águas. As fontes principais de
resíduos gasosos são:
• lançamento de vapores e gases da queima de combustíveis fósseis, seja de
fontes fixas ou móveis;

• perdas de produtos voláteis em tanques de armazenamento, pontos de carga e


descarga, pontos de alívio de pressão, vazamentos de equipamentos e outras
denominadas emissões fugitivas;

• perda de solventes de tintas e processos de limpeza de superfícies e


equipamentos;

• perdas de gases refrigerantes;

• uso de gases propelentes de produtos aplicados na forma de aerossóis.

Diversos compostos são emitidos das fontes citadas. A seguir revisaremos alguns deles:
• Gás carbônico – Esta emissão ocorre principalmente devido a processos de
transformação de energia. É um produto da queima de combustíveis fósseis.
Não obstante, emissões de CO2 podem ser reduzidas, aumentando-se a
qualidade dos sistemas de combustão intensiva, aumentando-se a eficiência de
equipamentos, processos e sistemas, usando formas de energia não baseadas
no carbono (isto será discutido mais extensivamente no Capítulo 7).

• Metano – As fontes de emissão de metano incluem vazamentos de gás natural


(já que o metano é seu componente principal) e redução anaeróbia, que ocorre
naturalmente, e também devido à atividade humana (por exemplo, agricultura,
carvão, minas e refinamento de petróleo).

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76 Prevenção da Poluição

• Óxidos de nitrogênio – Incluindo dióxido de nitrogênio (NO2) e óxido de


nitrogênio (NO), a combinação que normalmente é chamada de NOx é
gerada durante uma combustão de alta temperatura no ar, e de alguns outros
processos. Estas emissões podem ser reduzidas a partir de um controle mais
cuidadoso do processo de combustão e utilizando-se queimadores especiais.

• Dióxido de enxofre (SO2) – Suas fontes incluem combustíveis fósseis, fabricação


de substâncias que contenha enxofre, metalurgia de cobre e processos de papel
e celulose. A presença de compostos de enxofre no petróleo torna necessária sua
remoção nos processos de refino. Isso é feito em diversos estágios, tanto em fase
líquida como gasosa. O uso de petróleos de baixo teor de enxofre simplifica e até
elimina a necessidade destes processos de remoção. As emissões de SO2 podem
também ser reduzidas com medidas fim-de-tubo, como lavadores de SO2. As medidas
preventivas indicadas para reduzir emissões de CO2 também se aplicam aqui.

• Compostos orgânicos voláteis (VOCs) – Fontes de VOCs incluem uma série


de processos industriais. O lançamento de VOCs no meio ambiente pode ser
reduzido projetando-se mecanismos para sua reutilização, minimizando seus
usos e as emissões dos processos, e através de sua substituição por outras
substâncias que sejam o menos prejudicial possível. Uma das principais
fontes de VOCs em plantas químicas e petroquímicas é o próprio sistema de
afastamento e tratamento de efluentes líquidos. Compostos orgânicos voláteis,
presentes em altas concentrações nesses efluentes, se desprendem para a
atmosfera, gerando problemas de salubridade para o pessoal da fábrica e
vizinhanças.

• Clorofluorcarbonos (CFC) e Hidroclorofluorcarbonos (HCFC) – Estas


substâncias são usadas em refrigeração e ar condicionado, limpadores de
metais e, às vezes, como agentes propulsores e espumantes. O uso de CFC
e HCFC foi bastante restringido em muitos países. Sistemas que usam esses
materiais estão sendo modificados para usarem materiais alternativos menos
agressivos à camada de ozônio. A longo prazo, prevê-se o redesenho completo
desses processos.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 76 5/2/2003, 15:16:24


Minimização de Resíduos 77

• Halons – Usados em extintores de incêndio. Emissões de halon contêm bromo,


o que pode conduzir à diminuição de ozônio. Esforços para reduzir emissões
de halon estão focados na minimização ou eliminação de seus usos, na
preferência de materiais alternativos.

• Traços de metais – Por exemplo, alumínio, arsênico, cádmio, cromo, cobre,


mercúrio, níquel, chumbo, antimônio, selênio, prata, incluindo metais pesados.
Emissões gasosas contendo metais, mesmo que em pequena concentração,
são associadas principalmente com as atividades de mineração, indústrias
de produção de metais, tintas, pesticidas, eletrônica, cimento, tratamento de
superfícies, química, de baterias e couro, entre as principais.

• Compostos odoríficos – Por exemplo: aminas, sulfetos e mercaptanas. As


fontes desses resíduos incluem indústrias que usam essas substâncias em
processamento de alimentos, tratamento de couro, celulose e papel. Às vezes
compostos odoríficos são intencionalmente adicionados a gases tóxicos para
permitir a identificação de vazamentos (por exemplo, gás natural), enquanto
que em outras situações eles não são desejáveis. Em último caso, seu uso
deve ser minimizado ou cuidadosamente controlado através da sua captura e
neutralização.

EFLUENTES LÍQUIDOS

Entre as principais fontes de efluentes líquidos na indústria, incluem-se:


• Processos industriais – Alguns processos usam água como diluente, como
meio de transferir energia (na forma de vapor) ou para absorver outros
compostos. Nesses casos a água entra em contato com correntes de outras
matérias-primas e, quando descarregadas, arrastam compostos indesejáveis,
tornando-se efluentes residuais.

• Efluentes de processo também utilizados para carregar outras perdas, como,


por exemplo, descartes de amostragens, perdas em válvulas, conexões e
gaxetas.
• Águas de lavagem e águas de chuva contaminadas de áreas de processo, pátios
de carga e descarga, tancagem.

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78 Prevenção da Poluição

• Drenagem de águas ácidas de minas (normalmente atribuível aos enxofres


metálicos presentes em minérios que podem reagir para formar ácido
sulfúrico).

• Atividade agrícola envolve grandes quantidades de terra e o escoamento é de


difícil controle. Além disso, o processo de irrigação arrasta muitos resíduos de
animais, fertilizantes, pesticidas e herbicidas.
Os contaminantes presentes nos efluentes líquidos geram grande preocupação
pela facilidade de atingir cursos d’água, sejam superficiais ou subterrâneos, e desta
forma atingir a cadeia alimentar, cujo elo final é o próprio homem. A depender das
suas características, os impactos podem ser muito variados. Podemos citar alguns dos
principais contaminantes:

Compostos Orgânicos Biodegradáveis


Alteram as condições ambientais por consumir o oxigênio dissolvido na água dos
corpos receptores. A matéria orgânica é atacada por microorganismos que utilizam o
oxigênio da água no processo de digestão, reduzindo sua concentração a níveis que
podem afetar a vida de outras espécies. Caso sejam atingidas condições anaeróbias, com
concentrações muito baixas de O2, a decomposição da matéria orgânica gera problemas
adicionais de mau cheiro, provocados, entre outros, pelo desprendimento de compostos
reduzidos de enxofre. Entre outras fontes de compostos orgânicos biodegradáveis, podem
ser considerados os esgotos sanitários e os efluentes das indústrias de alimentos, bebidas,
papel e celulose.

A depender do corpo receptor, a disposição de efluentes com as características


acima, pode ser feita apenas se administrando a relação entre a carga orgânica a ser
disposta e a capacidade do meio de degradá-la em condições controladas e adequadas.
Se o corpo receptor não comporta a carga de um determinado efluente, este pode ser
tratado biologicamente. O lodo digerido resultante destes processos pode ser usado
como condicionador de solos para uso agrícola.

Um aspecto fundamental para a adequada disposição desses resíduos é estes não


estarem contaminados por compostos biorresistentes e tóxicos.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 78 5/2/2003, 15:16:25


Minimização de Resíduos 79

No caso de efluentes sanitários, as medidas de prevenção apontam para a minimização


do uso de água, seja a partir da redução do seu consumo nos aparelhos hidrossanitários,
seja pelo reuso de águas servidas para alimentar as descargas dos vasos sanitários. Além
de reduzir a demanda de recursos hídricos, estas medidas diminuem significativamente
os custos de tratamento, reciclagem e disposição final dos efluentes líquidos.

No caso de efluentes de indústrias de alimentos e bebidas, inicialmente convém


verificar a origem da matéria orgânica, de forma a se reduzir as perdas de matéria-prima.
A indústria de papel e celulose tem otimizado gradativamente o uso de água, em razão
do enorme consumo envolvido. O uso de cloro e seus derivados, como agentes oxidantes
para o branqueamento da celulose, tem sido motivo permanente de preocupação pela
possibilidade da geração de compostos orgânicos clorados. Os processos mais modernos,
porém, são totalmente livres de cloro, usando ozônio como oxidante. Isso abre novas
oportunidades de reciclo.

Nutrientes
Efluentes ricos em compostos de fósforo e nitrogênio, tais como os produzidos pelo
uso excessivo de fertilizantes sintéticos e os provenientes de detergentes, provocam
a eutrofização de corpos líquidos. A concentração de nutrientes em resíduos líquidos
pode ser reduzida, otimizando-se ou evitando-se seu uso, e recuperando os materiais
descarregados.

Ácidos
Provenientes de uma série de processos industriais, estes resíduos líquidos podem
ser tratados minimizando seu uso e, às vezes, combinando-os com resíduos básicos. A
drenagem ácida na mineração é uma preocupação de alta prioridade, e pode ser contida
se for isolada da água e do ar, para então ser tratada.

Sólidos em Suspensão
Podem diminuir a claridade de água, degradar hábitats aquáticos e afetar a composição
da água, absorvendo substâncias químicas. Medidas como redução da entrada de sólidos
inertes nos efluentes industriais e remoção de sólidos de resíduos líquidos industriais
(por exemplo, por filtração, sedimentação, precipitação) podem ser utilizadas para evitar
os problemas associados à presença de sólidos suspensos na água.

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80 Prevenção da Poluição

Substâncias Tóxicas Persistentes (PTS)


São elementos ou compostos que pelas suas características se degradam muito
lentamente no meio ambiente. Fenômenos físicos e biológicos contribuem para sua
dispersão no meio físico e sua concentração no meio biótico. Neste grupo incluem-se
os metais pesados e os compostos orgânicos tóxicos.

Nos seres vivos, provocam mutações genéticas (mutagenicidade), câncer


(carcinogenicidade) e alterações fetais (teratogenicidade). A presença dessas
substâncias no meio ambiente é mais difícil de ser monitorada em razão das baixas
concentrações em que podem se apresentar, diferentemente do que ocorre com os
chamados poluentes convencionais, anteriormente citados (material biodegradável,
por exemplo). No entanto, a presença dos compostos tóxicos persistentes é de
extrema relevância, mesmo em concentrações não detectáveis, pela sua persistência
e capacidade de se concentrar na cadeia alimentar.

Para esses compostos aplica-se o Princípio da Precaução, popularizado na


conferência de Maastrich. Este princípio propõe que seja dado o devido espaço à
ignorância científica com relação às substâncias cujo comportamento nos ecossistemas
não é, ainda, devidamente compreendido. Nestes casos caberia ao poluidor provar
que estes são inócuos antes de serem despejados no meio ambiente.

“ Se vivemos como se importasse e não importa, então não importa.


Se vivemos como se não importasse e importa, então importa.
Conferência Internacional sobre a Agenda da Ciência para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento para o Século 21, Viena, 1991

Observe na Tabela 3.1 os compostos considerados no programa voluntário de redução


de tóxicos dos Estados Unidos (USEPA TRI 33/50).

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Minimização de Resíduos 81

TABELA 3.1 – COMPOSTOS CONSIDERADOS NO PROGRAMA


Benzeno Metil etil cetona
Cádmio e compostos Metil isobutil cetona
Tetracloreto de carbono Níquel e compostos
Clorofórmio Tetracloroetileno
Cromo e compostos Tolueno
Cianeto e compostos 1,1,1-Tricloroetano
Diclorometano Tricloroetileno
Chumbo e compostos Xylenos
Mercúrio e compostos

Fonte: USEPA TRI 33/50.

Metais Pesados
Diferentemente das substâncias tóxicas orgânicas, criadas pelo homem, os metais
possuem concentrações de fundo, background, na natureza, provenientes da dissolução de
rochas e minerais (Schnoor, 1996). As quantidades totais de metais na natureza mantêm-
se constantes. Porém, a forma como eles se apresentam muda. Metais originalmente
confinados nas suas jazidas naturais são extraídos e inseridos no processo produtivo.
Eles acabam sendo colocados à disposição da cadeia alimentar, onde se bioconcentram,
acumulam e magnificam, ultrapassando as concentrações naturais e colocando em risco
as espécies vivas e o homem. O reconfinamento, após passar pelo processo produtivo,
tem sido uma das formas de reduzir o impacto desses elementos.

Os metais formam complexos com outros compostos, modificando sua toxicidade e


comportamento no meio ambiente. Geralmente, mas nem sempre, o metal livre é mais
tóxico que os complexos que ele forma (Sawyer et al., 1994).

Muitos metais são micronutrientes indispensáveis à vida aquática, mas tornam-se


tóxicos quando em concentrações que excedem os níveis necessários à alimentação. É o
caso do zinco, cobre, ferro, manganês, cobalto e selênio. Outros metais como mercúrio,
chumbo e cádmio não são importantes à manutenção da biota, mas provocam efeitos
adversos em concentrações tóxicas (LaGrega, 1994).

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82 Prevenção da Poluição

É interessante observar que a evolução dos métodos de detecção tem permitido


correlacionar efeitos adversos decorrentes da presença de metais em concentrações cada
vez menores. Dos anos 60 até o momento, os níveis de detecção de chumbo evoluíram
de dezenas de miligramas por litro (10-2 g/l), para nanogramas por litro (10-9 g/l) isto
é, sete ordens de grandeza em 35 anos! Os limites aceitáveis pela legislação atual
variam ao redor de 10-5 g/l em água salobras (CONAMA 20/86) e 0,3 x 10-3 g/l para os
efluentes lançados no sistema inorgânico do Complexo Petroquímico de Camaçari-BA
(Cepram 300/90).

Metais são emitidos, por exemplo, de processos de eletrodeposição para proteção


de superfícies contra corrosão (cromagem, galvanoplastia), mineração, fundição,
fabricação de substâncias químicas, tingimento de couro e produção de baterias.
Emissões atmosféricas de traços de metais são, em muitos casos, uma rota importante
de contaminação de águas superficiais.

Orgânicos Tóxicos
A nomenclatura da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) inclui
mais de quatro milhões de produtos químicos orgânicos. A cada ano esta lista cresce
com aproximadamente mil novos produtos químicos orgânicos sintetizados e produzidos
comercialmente. Somente pequena parte desses são tóxicos ou carcinogênicos, sendo
que a maior parte deles é destruída no meio ambiente.

Os que, além de tóxicos, são persistentes, representam sérios riscos para os seres
vivos, por se bioconcentrarem e biomagnificarem na cadeia alimentar, conforme
discutido no capítulo anterior.

As principais atitudes perante esses compostos são: evitar ou minimizar sua


manipulação. Podemos ainda destruí-los criteriosamente, reduzir sua toxicidade e
persistência ou confiná-los (retirá-los da biota de forma a impedir sua inserção na
cadeia alimentar).

RESÍDUOS SÓLIDOS
Existem várias fontes de resíduos sólidos. Algumas delas são discutidas abaixo, ao
lado de métodos de como minimizá-los:

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Minimização de Resíduos 83

• resíduos de processo como, por exemplo, cinzas de combustão, resíduos


sólidos extraídos de soluções líquidas;

• resíduos de produto como, por exemplo, excesso de material, produtos fora de


especificação;

• resíduos de embalagens como, por exemplo, o empacotamento e a cobertura


protetora de materiais que geram uma quantidade muito grande de resíduos;

• resíduos de escritório;

• outros resíduos sólidos misturados.

Os produtos normalmente encontrados como resíduos sólidos são:

• Traços de metais – Algumas das formas principais de assentamento de metais


são cinzas de processos de combustão, processos siderúrgicos, metalúrgicos
e metal-mecânicos. Escórias e resíduos de catalizadores normalmente
apresentam concentrações altas de diversos metais, incluindo alguns
preciosos. Peças metálicas de grande porte, incluindo latas de bebidas, são
cada vez menos considerados resíduos, devido a seu alto valor e conseqüente
aproveitamento como matéria-prima na siderurgia;

• Plásticos;

• Papel;

• Biológicos – Por exemplo, organismos fabricados, vacinas, remédios. Este tipo


de resíduo normalmente requer um cuidado especial no seu manuseio.

• Radioativos – Por exemplo, radionuclídeos para equipamento médico e


detetores de fumaça. Estes resíduos normalmente requerem cuidado especial
na sua disposição. Pode-se evitar ou minimizar seu uso, particularmente
quando existem outros materiais não-radioativos que os substituem.

• Borras – Pode-se tratar este resíduo minimizando sua quantidade ou


encontrando um outro uso para ele (mesmo que para isso seja necessário um
tratamento adicional).

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84 Prevenção da Poluição

• Resíduos heterogêneos – Como é muito mais difícil a reciclagem ou reuso de


resíduos heterogêneos do que dos homogêneos, sua mistura deve ser evitada.
Resíduos heterogêneos são particularmente problemáticos quando um deles é
tóxico, pois desta forma todo fluxo tem que ser tratado cuidadosamente.

3.2 COMO ABORDAR O PROBLEMA DOS RESÍDUOS, EMISSÕES E


EFLUENTES NA INDÚSTRIA

Você já deve ter notado que para revisar os tipos de resíduos gerados na indústria
optamos por classificá-los pela forma como eles são produzidos e o corpo receptor onde
serão lançados. Esta é a forma tradicional de abordar o assunto. É parte da visão fim-de-
tubo que discutimos no primeiro capítulo deste módulo. Provavelmente, se seguirmos
esta lógica, no passo seguinte nos veríamos procurando tecnologias para abater, destruir,
tratar ou dar uma destinação adequada a esses resíduos. Isto é, estaríamos, desde já,
assumindo que os resíduos são inevitáveis, inerentes aos processos produtivos. Nessa
altura da discussão estaríamos identificando novos apetrechos para colocar no nosso
amigo retirante citado no Capítulo 1.

Vamos inverter o enfoque e questionar: Por que geramos esses resíduos? Onde
erramos? O que fizemos para transformar matéria-prima em produto sem valor ou com
valor negativo porque, além do mais, ainda vai provocar um efeito nefasto nas nossas
vidas?

A Figura 3.2 mostra que o problema pode ser enfocado de várias maneiras, sugerindo
uma evolução destas, de forma a se procurar maior ecoeficiência. Na medida em que
se sobe a escada, aumenta-se a racionalidade e a produtividade no uso dos recursos
naturais, aliando-se ganhos ambientais e econômicos.

Nos degraus mais baixos da escada encontram-se as denominadas medidas fim-de-


tubo (end of pipe). Neles assume-se que os resíduos são inevitáveis e procura-se apenas
reduzir o impacto do seu lançamento no meio ambiente. Para isso gasta-se energia e
outros insumos.

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Minimização de Resíduos 85

Nos degraus intermediários estão representadas medidas que procuram modificar


o próprio processo produtivo dentro de uma fábrica ou cadeia produtiva. Procura-
se aqui identificar perdas e ineficiências que acabam se transformando em impactos
ambientais, de forma a corrigi-las na fonte. Isto é, corrigir o próprio processo que as
originou, para lhe agregar valor. Esse tipo de enfoque visa prevenir a geração de resíduos
aproveitando melhor as matérias-primas e a energia. Além de reduzir o impacto nos
pontos de lançamento, reduz-se o impacto causado na extração das matérias-primas. Se
o nosso objetivo, porém, é atingir níveis de ecoeficiência que impliquem melhorias da
ordem de grandeza de 10 vezes em 50 anos (o Fator 10 discutido no capítulo inicial),
enfocar apenas melhorias de processos internos à unidade produtiva ou sua cadeia
imediata não será suficiente.

Nos degraus mais altos incluem-se medidas para as quais há necessidade de maior
articulação, tanto com o mercado consumidor como com outros setores produtivos.
Procura-se otimizar todo o mecanismo econômico-social para que este funcione
articulado, respeitando a capacidade de suporte do nosso planeta.

Neste capítulo e no seguinte discutiremos aspectos relativos ao estágio intermediário.


Nos Capítulos 6 e 8 a abordagem se dará nos degraus seguintes:

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86 Prevenção da Poluição

Fonte: Construção própria.

FIGURA 3.2 – DO FIM-DE-TUBO À SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Para orientar este novo enfoque, consideremos o organograma a seguir que detalha
alguns aspectos da Figura 3.3. Ele é muito utilizado por diversos autores, com algumas
variações.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 86 5/2/2003, 15:16:27


Minimização de Resíduos 87

baseado em LaGrega (1994)

FIGURA 3.3 – ORGANOGRAMA MESTRE DAS AÇÕES PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DA POLUIÇÃO,

Não interessa pensar agora se a perda vai ser para o ar, o solo ou um rio. Vamos
focar nossa atenção em como não gerar resíduos.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 87 5/2/2003, 15:16:27


88 Prevenção da Poluição

Na Figura 3.3, as possíveis tecnologias e/ou atitudes, gerenciais e técnicas, organizam-


se, da esquerda para a direita, e de cima para baixo, segundo sua importância ou prioridade
de aplicação. Em outras palavras, quanto mais à esquerda, ou mais no alto, mais desejável
é a atitude, ou a tecnologia. Esta ordem representa um indicativo para o levantamento de
alternativas de intervenção. Na prática, ao se definir uma intervenção, deve-se procurar
conciliar outros aspectos, tais como as características da planta considerada, custos de
implementação das propostas, o retorno financeiro e o impacto ambiental. Mais adiante
vamos aplicar este organograma a processos do nosso conhecimento para procurar
identificar ações que nos levem, cada vez mais, para os estágios mais desejáveis. Primeiro
convém revisar, e ilustrar com exemplos, cada uma das caixas do organograma.

REDUÇÃO NA FONTE, PENSANDO A


MUDANÇA DO PRODUTO PORQUE SEMPRE FOI ASSIM
É a primeira consideração a se O argumento “sempre foi assim” se repete
fazer. Aqui, antes de tudo, convém se em todos os ambientes e se faz presente
nos diversos momentos de um projeto
pensar se, afinal de contas, precisamos de Produção mais Limpa. Representa
de um determinado produto ou o a dificuldade de pessoas e grupos de
compramos e usamos “porque sempre ousarem tentar novos paradigmas. Trata-
se de assunto de tamanha importância que
foi assim” (ver o texto ao lado). merece ser abordado aqui, em destaque,
Uma empresa pode se antecipar com uma piada. Caso já a conheça, não
conte à turma...
à sua época mudando o produto que Um grupo de pesquisa desenvolvia
produz para eliminar seu impacto no um estudo sobre o comportamento de
meio ambiente e com isso reforçar pequenas comunidades de macacos. Sete
símios conviviam numa confortável gaiola.
sua posição no mercado. Pode-se O alimento, na forma de um cacho de
citar o caso da empresa Interface, bananas, era colocado pendurado com
maior fabricante mundial de carpetes, uma corda no meio da gaiola, a uma
altura ao alcance da turma. Ao longo de
que optou por substituir a venda de um extenso período, a altura do cacho foi
carpetes pelo fornecimento de serviços sendo aumentada, até exigir, primeiro,
de cobertura de piso, retornando para saltos acrobáticos individuais, e acrobacias
coletivas, depois. Quando o esforço para
a empresa o material após o uso. Com se alcançar as bananas começou a ser tal
isso, eliminou um resíduo pós-uso, que provocava um alto nível de estresse,
reincorporando o carpete usado a seu introduziu-se na gaiola, num cantinho, uma
escada...
ciclo produtivo, como insumo.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 88 5/2/2003, 15:16:29


Minimização de Resíduos 89

Questão para reflexão:


Óbvio, todos já perceberam que os macacos
logo entenderam a utilidade deste feliz • Pesquise outros exemplos e
instrumento. A vida voltou à normalidade avalie criticamente esta opção de
e a felicidade voltou a reinar entre a
substituir produtos por serviços.
macacada.
Mas como cientista que se preza não pode
deixar os outros em paz por muito tempo, A modificação de um produto para
logo começaram a jogar um jato de água
gelada nas costas dos macacos que ficavam
evitar a geração de resíduos depende
no chão, olhando para o colega que subia de uma avaliação de mercado e requer
na escada para pegar as bananas. uma visão de longo prazo por parte do
Incomodados com este tratamento, os
macacos passaram a bater no infeliz que
produtor. Contudo, oportunidades de
ousasse usar a escada para pegar o cacho, menor complexidade podem surgir se
e voltaram à prática milenar de pegar o esta opção for considerada.
alimento com estressantes acrobacias.
Aos poucos os macacos condicionados Shen (1995) sugere os seguintes
com jato de água gelada foram sendo
substituídos por outros que não tinham
critérios para o projeto de novos
passado por esta experiência. Após sete produtos:
semanas, não restava um único macaco que
tivesse passado pelo desprazer de levar um
• usar recursos naturais
jato de água gelada nas costas cada vez que renováveis;
um colega usava a escada para alcançar as
bananas. Mas, mesmo assim, cada vez que • usar material reciclado;
um novo macaco era introduzido e ousava
usar o maldito instrumento, apanhava
• usar menos solventes tóxicos ou
horrores... substituí-los por produtos menos
O grupo de cientistas continuou seus afazeres tóxicos;
em outras experiências, deixando em paz os
macacos por um bom tempo. Meses depois • reutilizar sucatas e materiais em
um inquieto estudante, na hora do almoço, excesso;
ficou observando nossos amigos e achou
muito estranho eles ficarem se matando de • usar tintas com base de água em
esforço para alcançar o cacho ao invés de
vez de solventes orgânicos;
usar a escada. Armou-se de coragem para
fazer a pergunta, mesmo correndo o risco • reduzir o uso de embalagem;
de fazer um papelão.
– Professor, mas por que os macacos não • produzir produtos com mais
usam a escada???? partes substituíveis ou que
Ao que o professor respondeu:
– Sei lá, sempre foi assim... possam ser consertadas;

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 89 5/2/2003, 15:16:29


90 Prevenção da Poluição

• produzir bens mais duráveis;

• produzir bens e embalagens que possam ser reutilizados pelos consumidores;

• fabricar produtos recicláveis.


Esta é uma tendência futura, considerada pelos ecologistas industriais, que exige uma
mudança profunda na forma como se produz atualmente. Esta tendência será analisada
com mais detalhe num momento posterior, quando discutiremos a Ecologia Industrial
e o Projeto para o Meio Ambiente.

Questão para reflexão:


• Apresente um exemplo que ilustre a mudança de produto com sensíveis
ganhos ambientais.

Se uma mudança no produto não pode ser implementada de imediato, pode-se, pelo
menos, voltar a atenção para o processo produtivo existente e considerar alterações nos
insumos, nas tecnologias de produção ou práticas de gestão que minimizem a geração
de perdas para o meio ambiente. É o denominado Controle na Fonte.

MUDANÇA DE INSUMOS
O lançamento de óxidos de enxofre na atmosfera, oriundos de processos de
combustão, pode ser reduzido ou minimizado pelo uso de óleos combustíveis com
baixo teor de enxofre (BTE). O Programa e Plano Nacional do Reino Unido para a
Redução de Emissões de SOx e NOx de Plantas de Combustão de Grande Porte, lançado
em 1990 (DOE, 1990), para atender à Diretiva Européia 88/609/EEC, favoreceu uma
migração para o uso, quase que exclusivo, de petróleo e gás natural do Mar do Norte,
com baixo teor de enxofre, no lugar do carvão na alimentação do sistema termoelétrico.
É um exemplo, em nível nacional, de controle da poluição na fonte através da mudança
no uso de insumos.

Questão para reflexão:


• Apresente um exemplo que ilustre a mudança de insumos.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 90 5/2/2003, 15:16:29


Minimização de Resíduos 91

A substituição de insumos e produtos em geral, mas não sempre, envolve processos de


decisão que podem ser complexos e extremamente dependentes de cada processo e das
condições externas. A utilização de Análise de Ciclo de Vida auxilia na identificação de
oportunidades e na escolha das alternativas de menor impacto. Este instrumento será visto
com mais detalhe no capítulo seguinte.

Outros exemplos:
• Substituição do DDT e outros pesticidas organoclorados por produtos menos
tóxicos e persistentes, tais como os organofosforados e piretróides no controle
de pragas na lavoura;

• Utilização de produtos químicos em pellets em vez de pó, para reduzir


emissões e perdas na embalagem e transporte;

• Uso de papel não branqueado no lugar de papel branqueado na indústria


gráfica;

• Um exemplo no sentido inverso é o crescimento, na matriz energética


brasileira, do uso de combustíveis fósseis a partir do programa de incentivo à
implantação de usinas termoelétricas.

O setor de revestimentos e tintas, por exemplo, vem reduzindo o uso de compostos


orgânicos voláteis a partir da substituição de tintas à base de óleo por tintas à base
de água.

Um exemplo, quase pitoresco, citado por Graedel e Allenby (1995): substituição de


munição de caça feita de chumbo por munição feita de bismuto, para reduzir a inserção
de chumbo, metal muito tóxico, na cadeia alimentar.

MUDANÇAS NA TECNOLOGIA
Uma série de medidas consideradas de cunho tecnológico podem ser aplicadas
visando evitar perdas, reduzir consumo de energia e quantidade de resíduos gerados
num processo de produção. Estas medidas podem consistir em alterações do próprio
processo, reconstruções relativamente simples ou instalação de equipamentos mais
sofisticados que podem até mesmo mudar as condições operacionais. Vale salientar que
freqüentemente estas medidas precisam ser combinadas com Boas Práticas Operacionais,

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 91 5/2/2003, 15:16:30


92 Prevenção da Poluição

também conhecidas como “housekeeping “ – melhoria na manutenção da casa – e/ou


com o uso de matérias-primas/insumos modificadas. (CNTL, 2000)

A seguir alguns exemplos:

• Redução de consumo de energia

Exemplo: instalação de detectores de movimento para ligar/desligar sistema de


iluminação e aquecimento no local de trabalho.

• Uso eficiente da energia

Exemplo: uso de maquinário com controle de velocidade: bombas


alimentadoras, ventilação, exaustores de gás combustível, etc.

• Aumento da vida útil dos produtos químicos/materiais

Exemplo: tratamento de emulsões lubrificantes refrigerantes através de


ultrafiltração.

• Redução da entrada de impurezas

Exemplo: mudança de teto fixo de tanques de gasolina para teto flutuante.

MUDANÇAS NO PROCESSO
Na indústria de processos é comum se usar vapor de água para controlar reações
químicas. A água é posteriormente retirada do produto, através de diferentes processos
de separação, como a destilação, por exemplo. Em muitos casos esta água, contaminada
com hidrocarbonetos e outros compostos do produto, é descartada como efluente de
processo, indo para posterior tratamento. As empresas investem em caros sistemas de
tratamento para remover esses compostos.

Esses tratamentos não fazem senão retirar os contaminantes da fase líquida para
convertê-los em borras, ou lodos, sem valor econômico e que ainda deverão ter um
tratamento posterior e/ou uma disposição adequada dispendiosa. Modificações no
próprio processo podem permitir não apenas que a água contaminada retorne para o
processo, como, ainda, que se aproveite esses contaminantes como matérias-primas,
transformando perdas em ganhos econômicos e ambientais.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 92 5/2/2003, 15:16:30


Minimização de Resíduos 93

Na modificação dos processos de produção incluem-se desde aprimoramentos


localizados em algumas etapas/equipamentos até a otimização da configuração de parte
ou de todo o processo. Recentemente, pesquisadores dedicados ao desenvolvimento
de metodologias para a síntese de processos começaram a introduzir a variável
ambiental no âmago de suas propostas. Até o fim dos anos 80, no desenvolvimento
desses métodos, as questões ambientais eram tratadas no final da elaboração do
projeto conceitual.

O projeto preocupava-se apenas com a viabilidade econômica do processo, e as


correntes residuais eram encaminhadas para tratamento e descarte, agregando custos
ao projeto como um todo. O crescimento dos custos industriais relacionados a impactos
sobre o meio ambiente e a consolidação do Princípio da Prevenção pressionaram por
mudanças neste campo.

Nos métodos mais recentes, a geração de emissões, e o seu possível impacto


ambiental, passa a fazer parte interna do processo de síntese. Os métodos hierárquicos
propostos com este objetivo consistem no estabelecimento de prioridades para fazer
uma síntese de processos e assim identificar fontes geradoras de resíduos. A síntese de
processos é dividida em uma seqüência de etapas. Cada etapa corresponde a um nível
de detalhamento do processo, e para que a etapa seguinte seja avaliada, o processo tem
que se mostrar econômica e ambientalmente viável.

A evolução do método de decisões hierárquicas (Douglas, 1988 e 1992) ilustra esta


tendência. As principais etapas deste método encontram-se na Tabela 3.2.

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94 Prevenção da Poluição

TABELA 3.2 – PROCEDIMENTO DE DECISÕES HIERÁRQUICAS PARA


MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS
NÍVEL 1 Informações de entrada, tipo de problema
NÍVEL 2 Estrutura de entrada e saída do fluxograma
NÍVEL 3 Estrutura de reciclagem do fluxograma
NÍVEL 4 Especificações do sistema de separações
NÍVEL 4A Estrutura geral: separação de fases
NÍVEL 4B Sistemas de recuperação de vapores
NÍVEL 4C Sistemas de recuperação de líquidos
NÍVEL 4D Sistemas de recuperação de sólidos
NÍVEL 5 Integração energética
NÍVEL 6 Avaliação de alternativas
NÍVEL 7 Flexibilidade e controle
NÍVEL 8 Segurança

Fonte: Douglas, JM, 1992.

As questões ambientais devem ser consideradas desde o nível inicial, porém são mais
freqüentemente consideradas em etapas, como na definição de reciclagens de correntes,
eficiência de separação, recuperação de materiais e, evidentemente, integração energética.

Outros autores, como Linnhoff, Smith e Petela (1992), também pensaram na inserção
de aspectos ambientais no processo de síntese, propondo, para tal, o método da “cebola”,
que consiste numa análise de resíduos gerados através de uma auditoria nas etapas de
síntese de processo, de acordo com a seguinte ordem de prioridades: reator, sistemas
de separação, redes de transferência de calor e sistemas de utilidades.

A hierarquização por eles proposta se dá a partir das partes componentes do processo


em si e não da organização do próprio trabalho de síntese, como no enfoque de Douglas
(Figura 3.4).

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Minimização de Resíduos 95

FIGURA 3.4 – DIAGRAMA DA CEBOLA PARA SÍNTESE DE PROCESSOS, SEGUNDO LINNHOFF (SMITH E PETELA, 1992)

O trabalho de Smith e Petela (1992) atesta que a minimização de resíduos começa a


ser pensada ao se projetar as reações químicas. Nesse momento, procuram-se maiores
taxas de conversão das matérias-primas no produto final assim como na especificação
de subprodutos de forma a poder ser, na seqüência, transformados em produtos de maior
valor. Deve-se, também, discutir a eficiência energética do processo e as alternativas
para um melhor desempenho.

Depois de ocorrida a reação que gera os novos produtos e subprodutos, estes


devem ser separados de outros compostos indesejáveis. É comum se pensar apenas na
especificação dos produtos principais, assumindo-se como inerente ao processo a geração
de correntes residuais a serem tratadas ou descartadas. Cabe se verificar processos de
separação mais eficientes que permitam maiores níveis de reuso e reciclo, transformando
possíveis resíduos em insumos do próprio processo ou de outros.

A crise do petróleo dos anos 70 obrigou a indústria e os centros de pesquisa a


desenvolver metodologias de otimização energética. Entre os métodos que mais se
destacaram estão a Tecnologia Pinch e os métodos baseados em programação matemática.

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96 Prevenção da Poluição

Esses métodos, inicialmente, procuraram resolver o problema da otimização de redes de


transferência de calor (HEN). Isto é, como se conseguir o melhor aproveitamento do calor
contido em correntes (quentes) que requereriam resfriamento, para aquecer outras que
requereriam aquecimento (frias). Esta otimização leva a reduções substanciais nos custos
de capital, operacionais e ambientais relacionados com os sistemas de aquecimento e
águas de refrigeração.

Os avanços conseguidos na otimização de redes de transferência de calor foram


aproveitados para a síntese de redes de transferência de massa (MEN). Em 1989, El-
Halwagi e Manousiouthakis definiram a síntese de redes de transferência de massa como
um processo em que, dado um conjunto de correntes ricas e um conjunto de correntes
pobres, sintetiza-se uma rede de trocadores de massa que possa transferir algumas
substâncias das correntes ricas para as pobres com o mínimo custo.

Como trocadores de massa os autores consideraram qualquer operação de transferência de


massa contracorrente, tais como extração líquido-líquido, adsorção, absorção, desorção, etc.

O conceito de otimização de redes de transferência de massa tem permitido, entre


outras coisas, encontrar formas mais econômicas de reduzir os custos e os impactos
relacionados ao uso da água, tratamento e disposição de efluentes.

Akehata (1991), citando o livro O sistema de processos químicos fechados (ainda


não traduzido para o português), de Yasuharu Saeki, 1979, discute a idéia de fechamento
dos processos químicos de forma a se reutilizar ao máximo os resíduos através da sua
reincorporação no próprio processo. Para tanto, propõe-se a seqüência apresentada na
Figura 3.5.

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Minimização de Resíduos 97

FIGURA 3.5 – FLUXOGRAMA ESQUEMÁTICO DE PROCEDIMENTOS PARA FECHAR UM PROCESSO QUÍMICO


(AKEHATA, 1991)

O autor ilustra a idéia de fechamento do processo com o sistema de efluentes de uma


indústria, como pode ser observado na Figura 3.6.

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98

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 98


Prevenção da Poluição

FIGURA 3.6 – DOIS MODELOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES DE PROCESSO (AKEHATA, 1991)

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Minimização de Resíduos 99

Observe que no exemplo de Akehata os tratamentos descentralizados são inseridos


de forma a permitir o reciclo da água para o mesmo processo que gerou o efluente.
Mas será que esta é a única alternativa? Por que não pensar em encaminhar o efluente
de um processo diretamente a outro se este não exigir uma melhoria da sua qualidade?
Bagajewicz (2000) apresenta uma interessante revisão de metodologias utilizadas para
o projeto de redes de água e efluentes industriais, visando a soluções de máximo reuso
e mínimo custo. Métodos de otimização, usando programação matemática, também já
foram pesquisados para se sintetizar sistemas de reuso, tratamento final e descarte de
efluentes líquidos de forma integrada, levando em consideração até mesmo a capacidade
dos corpos receptores (Kiperstok & Sharratt, 1997; 1997a; 1997b).

Outros aspectos a serem considerados no que se refere à modificação de processo


ou da sua tecnologia, para prevenir a geração de poluição:
• Melhoria dos sistemas de controle e melhoria do processo de produção:

– melhor especificação final dos produtos;

– redução na produção de produtos secundários de menor valor e resíduos;

• Desenvolvimento/substituição de catalisadores visando a:

– maior recuperação, maior tempo de vida;

– reciclabilidade;

– menor impacto no seu descarte;

• Utilização de novas técnicas de extração e separação, visando à eliminação


do uso de solventes orgânicos e maior eficiência no retorno de subprodutos a
processo;

• Extração supercrítica;

• Membranas, osmose reversa, ultrafiltração, eletrodiálise.

Mas, ATENÇÃO, muitas modificações de processo podem ser introduzidas de


forma simples e com base no bom senso, quando se observa o processo no qual temos
trabalhado durante anos, com novos olhos.

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100 Prevenção da Poluição

É o caso de efluentes que sempre foram descartados para a canaleta e que podem
ser aproveitados para make-up de uma torre de refrigeração. É o caso de retornar
condensados para uso como água desmineralizada em outros processos, é o caso
de checar se os equipamentos estão sendo utilizados conforme recomendado pelo
fabricante!

Um exemplo divulgado por consultores do CNTL (Centro Nacional de Tecnologias


Limpas), do SENAI/RS, é bastante ilustrativo de mudanças de processo na indústria
metal-mecânica.

O setor de pintura de uma fábrica de implementos agrícolas gastava muita tinta


pintando com pistola sobre pressão. Verificou-se que a substituição do processo de
pintura pelo método eletrostático não seria viável economicamente a curto prazo e se
decidiu investir um pouco de esforço para reduzir as perdas no processo vigente. Num
primeiro momento, ao se checar a pistola utilizada, verificou-se que o orifício ejetor
não correspondia ao especificado pelo fabricante. Sugeriu-se então o uso de um orifício
menor. Ao se colocar esta alternativa para os operadores, a resposta foi rápida:

– Não vai dar certo, o bico entope!

Dito e feito, o bico entupiu.

– Tá veeendo?

Ao invés de desistir ante a resistência ao processo de mudança, o consultor de P+L


foi a montante do processo e verificou o grau de diluição utilizado para a tinta. Não era
o especificado pelos fabricantes da pistola.

Moral da história: especificou-se a tinta, reduziu-se o bico ejetor e, conseqüentemente,


reduziram-se as perdas de tinta para a cortina de água e o sistema de tratamento.

BOAS PRÁTICAS OPERACIONAIS (GOOD HOUSEKEEPING PRACTICES)


A implementação de pequenas melhorias pode levar a grandes reduções na geração de
resíduos e à descontaminação de um número significativo desses. A literatura apresenta uma
extensa lista de experiências nesse sentido. Vale destacar o programa 33/50 da EPA, agência
ambiental dos EUA.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 100 5/2/2003, 15:16:33


Minimização de Resíduos 101

A implementação de boas práticas operacionais depende, por um lado, de uma gestão


que priorize a minimização de resíduos e, por outro, do desenvolvimento de um olhar
crítico perante o próprio processo produtivo, no âmbito da organização. O exemplo do
concurso de projetos para conservação de energia da Dow Química, Louisiana, EUA
(em Graedel e Allenby, 1995) ilustra o potencial de desenvolvimento de um programa
de minimização de resíduos (Tabela 3.3 e Figura 3.7).

TABELA 3.3 – RESULTADO DO CONCURSO DE IDÉIAS PARA CONSERVAÇÃO DE


ENERGIA NA DOW/LOUISIANA
1982 1984 1986 1988 1990 1992

Projetos
27 38 60 94 115 109
ganhadores

Retorno médio do
173 208 106 182 122 305
investimento (%)

(em Graedel e Allenby, 1995)

Entre as ganhadoras incluem-se idéias aplicáveis a qualquer indústria, tais como:


isolamentos de tubulações condutoras de fluidos quentes, limpeza e manutenção de
trocadores de calor, uso de pontos de aquecimentos ao longo de tubulações longas e
áreas de estocagem.

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102 Prevenção da Poluição

FIGURA 3.7 – CONCURSO DE IDÉIAS, DOW (GRAEDEL E ALLENBY, 1995)

Interessante notar no exemplo que o número de projetos contemplados teve uma


clara tendência ascendente com o tempo. Os ganhos financeiros também mostraram uma
evolução positiva. Fazemos esta observação porque é comum ouvir que num programa
de minimização de perdas apenas nos momentos iniciais existem ganhos financeiros
substanciais. Na realidade isso depende da forma como se implementa o programa.
Quando o programa é interiorizado na empresa ou instituição, o surgimento de uma
nova mentalidade entre os funcionários pode levar a ganhos adicionais ano a ano. A
tendência ascendente das curvas também poderia ser explicada pela incorporação de
novas tecnologias.

Nelson K. E. (1990), da Dow Química, Louisiana, apresenta algumas sugestivas idéias


para se evitar resíduos: uso de esguichos para se reduzir as perdas de água na lavagem
de equipamentos; verificação da própria necessidade de lavagem, e sua freqüência;
aumento da pressão e redução da vazão; varrição de material inerte depositado em
pátios de estacionamento, para se reduzir a geração de lodos contaminados em

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Minimização de Resíduos 103

estações de separação de óleo; varrição antes da lavagem de pisos. Estas são algumas
considerações que podem ser feitas com relação ao gasto de água com lavagem de áreas
e equipamentos.

Na indústria metal-mecânica, o tratamento das superfícies antes da pintura é um dos


pontos mais importantes da geração de efluentes líquidos. Uma das fontes identificadas
é a perda de compostos na seqüência de banhos (ver Figura 3.8).

FIGURA 3.8 – MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS NA INDÚSTRIA DE TRATAMENTO DE METAIS (LAGREGA, 1994)

Observe a imagem seguinte. Temos aqui um exemplo de processo ineficiente, em


que uma solução simples como a apresentada anteriormente evitaria perdas.

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104 Prevenção da Poluição

Fonte: UFBA/TECLIM.

FIGURA 3.9 – GAIOLA TRANSPORTANDO PEÇAS METÁLICAS PARA O TRATAMENTO DE SUPERFÍCIES

Em vez de, apenas, se tratar o efluente gerado, a colocação de canaletas invertidas


entre os tanques de produtos evita perdas dos compostos de tratamento e reduz a carga
para o tratamento.

No controle na fonte deve se dar principal atenção à redução de toxicidade dos resídu-
os. O Instituto para a Redução do Uso de Compostos Tóxicos (TURI), da Universidade
de Massachusetts, em Lowell (http://turi.uml.edu), vem desenvolvendo estudos nas
áreas de solventes alternativos, novos métodos para limpeza de superfícies e métodos
alternativos para tratamento de metais, entre outras atividades. Esse estado americano
instituiu umas das mais avançadas legislações de combate ao uso de substâncias tóxicas,
incluindo a criação do próprio TURI. A minimização do uso dessas substâncias é um
conceito considerado sinônimo de Prevenção da Poluição.

Questão para reflexão:


• Visite a página do TURI e identifique idéias interessantes para seu negócio.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 104 5/2/2003, 15:16:34


Minimização de Resíduos 105

Convém também conhecer o inventário de lançamentos tóxicos, TRI (Toxic Release


Inventory), do governo federal americano. Trata-se de um extenso banco de dados,
regularmente atualizado, sobre o uso e emissão de substâncias tóxicas nos EUA. As
informações estão à disposição do público em geral através da Internet e de bibliote-
cas públicas (http://www.epa.gov/opptintr/tri/index.html). Criado com base no Ato
sobre Planejamento de Emergências e o Direito a Saber da Comunidade, de 1986, o
TRI concentra as informações sobre substâncias tóxicas manipuladas por todas as em-
presas e organizações do país, com mais de 10 empregados, que produzem mais de 11
toneladas dos aproximadamente 600 produtos químicos designados, ou usam mais de
4,5 toneladas desses produtos.

O mapeamento da toxicidade dos efluentes líquidos de uma indústria permite


a identificação de prioridades para a minimização desta na fonte. Técnicas de
biomonitoramento das correntes de efluentes podem ser utilizadas para tanto. A idéia
consiste em se identificar em que pontos do processo são liberadas substâncias que
conferem toxicidade significativa ao efluente da indústria, para que essas fontes sejam
atacadas prioritariamente.

RECICLAGEM INTERNA E EXTERNA


Esgotadas as idéias para redução na fonte, passa-se a pensar no reuso e reciclagem
de resíduos gerados. Normalmente, se define reuso como sendo o aproveitamento de
um resíduo ou efluente diretamente em um outro processo, sem que para isso haja
necessidade de promover qualquer adequação das suas características. Já reciclagem
seria o aproveitamento do resíduo a partir de uma modificação das suas características
para atender aos requisitos de um outro processo.

A ênfase aqui é para o reuso e reciclagem de forma a se aproveitar o maior


valor agregado a uma corrente residual. Normalmente é mais proveitoso se esgotar
as alternativas de reuso-reciclagem internas ao processo antes de se pensar em
alternativas externas.

Ao se abordar a questão da reciclagem externa cria-se uma ponte com os conceitos


de projeto para o meio ambiente e projeto para reciclagem, que serão abordados
posteriormente neste módulo. Discute-se aqui a questão do aproveitamento de parte ou

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106 Prevenção da Poluição

a totalidade dos componentes de um produto final após sua utilização pelo consumidor.
Graedel e Allenby (1995) apresentam, na Figura 3.10, uma forma interessante de
hierarquizar alternativas de reciclagem.

Observe que se propõe o aproveitamento de conjuntos de partes agregadas de forma


a se recuperar o maior valor possível. Quanto maior o valor do conjunto reaproveitado,
maior a recuperação de recursos naturais. Na reinserção, por exemplo, da estrutura de
um banco de automóvel completo, num automóvel novo, está implícita uma recuperação
de energia e materiais muito maior do que a simples reciclagem dos metais e plásticos
que compõem esta peça.

No topo desse esforço situa-se a própria extensão do tempo de vida do produto em


si. A simples consideração dessa possibilidade provoca no leitor uma reação:

Mas isto não é contrário aos próprios interesses do fabricante???

Alguns indícios, que podem apontar para a quebra desta lógica, começam a surgir.
A Resolução CONAMA 258, de 1999, regulamenta a reciclagem de pneus e coloca sob
responsabilidade dos fabricantes, a partir de 2005, a retirada do mercado de cinco pneus
usados para cada quatro produzidos.

Esse tipo de legislação, enquadrada entre as denominadas de “Responsabilidade


Estendida aos Produtos”, poderá tornar interessante o aumento da vida útil dos pneus,
como medida de economia para o setor como um todo. Claro que para se obter esses
resultados, é preciso um esforço muito maior do que apenas o realizado na fabricação dos
pneus, na pesquisa e desenvolvimento do produto. Isso também implica num processo
de educação do consumidor para o uso do produto (não rodar com pneus fora da pressão
ideal...), e no compromisso do estado em manter as vias em boas condições de trânsito.
Longe da realidade atual, sem dúvida, mas vale a pena começar a se “antenar” com a
proposta de um futuro melhor.

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Minimização de Resíduos 107

FIGURA 3.10 – HIERARQUIA DE PREFERÊNCIAS PARA RECICLAGEM (GRAEDEL E ALLENBY, 1995)

É bom salientar que vários autores apresentam de maneiras diferentes os assuntos


discutidos neste capítulo.

Shen (1995) sugere algumas medidas práticas para a minimização dos resíduos nos
processos produtivos:

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 107 5/2/2003, 15:16:39


108 Prevenção da Poluição

• identificar melhorias nos sistemas de limpeza, considerando:

• uso de água em vez de solventes orgânicos;

• utilização de revestimentos mais resistentes que permitam o uso de maior


pressão de lavagem e conseqüentemente menores vazões de água;

• uso de revestimentos não aderentes;

• separação e recirculação d’água;

• reuso d’água;
• segregar correntes de emissões.

Lembre-se que:
Uma gota de poluente numa solução pura cria um recipiente inteiro
de poluição.

A separação de resíduos de não-resíduos reduz a quantidade de resíduos a ser


manipulada. Ao se misturar emissões de processos diferentes reduz-se a possibilidade
para o seu reaproveitamento, pela geração de novas misturas e até pela criação de
novos compostos, diferentes das matérias-primas utilizadas e produtos gerados.

As diferenças entre as propriedades físicas e químicas dos diversos materiais originais


devem ser aproveitadas para facilitar os processos de separação e retorno à produção.
Essas diferenças se perdem ao misturá-los nas correntes de resíduos.

É muito comum, na indústria, a existência de redes de drenagem únicas e sem


cadastro ou cadastros inexatos. É comum, ainda mesmo que após o cadastramento, que as
informações estejam incorretas. Isso dificulta a segregação das correntes de efluentes.

Cabe também se considerar a segregação de coletores de poeiras provenientes dos


filtros de sistemas de remoção de material particulado instalados para reduzir a poluição
atmosférica.

Um exemplo clássico de efeitos negativos, ambientais e econômicos, da não


segregação de resíduos é a do lixo dos serviços de saúde. A não-segregação dos resíduos

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Minimização de Resíduos 109

infecciosos e perfurocortantes dos resíduos convencionais (administrativo, refeitórios,


etc.) obriga a manipulação de todos os resíduos, na coleta e transporte, com medidas e
custos relacionados aos de resíduos perigosos para preservar a saúde dos trabalhadores
envolvidos nessas atividades.

Graedel e Allenby (1995) apontam para algumas práticas interessantes para minimizar
perdas materiais e energéticas e facilitar a reciclagem de materiais. Este assunto é também
lembrado no Capítulo 6 – Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente:
• minimizar o número de componentes e materiais diferentes nos produtos a
serem reciclados;

• evitar usar compostos tóxicos e, quando isso não é possível, facilitar sua
identificação e remoção;

• evitar montar peças de materiais diferentes de forma que sua separação seja
difícil.

Outras práticas a serem consideradas:

• para a reciclagem de alguns materiais: quando não é possível reduzir


o volume ou a toxicidade de um resíduo pode-se procurar seu
reaproveitamento. Em geral, quanto mais próximo do processo que o gerou,
maior o valor do resíduo. No caso de resíduos perigosos, esta regra também
reduz riscos de acidentes;

• para o reuso d’água: a água, saindo como efluente de um determinado processo


pode ser diretamente usada em outros processos que requeiram menor nível de
qualidade da água, desde que os contaminantes não interfiram no processo ou,
até mesmo, possam se incorporar ao produto. Isso reduz tanto a quantidade de
água utilizada como a vazão de efluentes líquidos, podendo ou não alterar a
carga final do poluente na saída para tratamento final;

• para regeneração e reuso: o efluente de um processo pode ser tratado


parcialmente para atender às exigências de um outro processo. Esta
regeneração pode ser específica para a remoção daqueles poluentes que
impedem seu reuso. Nesse caso, pode-se conseguir melhores relações
custo-benefício do que se tratando todos os efluentes ou removendo todos

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 109 5/2/2003, 15:16:40


110 Prevenção da Poluição

os contaminantes neles inseridos. Em alguns casos, efluentes podem ser


tratados de forma que possam ser reaproveitados no mesmo processo
(regeneração e reciclagem).

A recuperação de solventes para reuso é uma prática comum na indústria que deve ser
estendida. O uso de solventes em cascata reduz a quantidade de solvente utilizada.

Óleos contaminados podem ser usados em funções menos exigentes ou ser regenerados
e reusados, ou reciclados. Em determinadas circunstâncias, óleos contaminados podem
ser misturados com óleo combustível para queima em caldeiras. Isso requer um cuidado
especial, para evitar o lançamento de compostos tóxicos na atmosfera. A depender da
técnica utilizada para a remoção de óleo de efluentes aquosos pode-se conseguir maiores
reaproveitamentos. LaGrega et al., 1995, cita um caso em que o uso de ultrafiltração
levou a um acréscimo de 40% na recuperação de óleo com relação à remoção por flotação
com ar dissolvido, anteriormente utilizada.

As bolsas de resíduos também promovem grandes oportunidades. Elas visam colocar


à disposição de terceiros resíduos da indústria. Entre as informações necessárias para
a comercialização de resíduos deve-se incluir: identificação da companhia (nome ou
código), tipo de resíduo (ácido inorgânico, solvente orgânico, etc.), compostos principais,
contaminantes, estado físico, quantidade, área geográfica, embalagem, etc.

O site do CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) merece uma con-


sulta: (http://www.cempre.org.br/index2.htm). Nele se encontram casos interessantes,
como o do papel de escritório e o óleo lubrificante usado, entre outros.

EMBALAGENS E TRANSPORTE
Um outro aspecto que podemos chamar atenção para a necessidade de considerar
de maneira transversal, na aplicação de técnicas de redução da poluição num processo
produtivo, é o relacionado com embalagens e transporte. Avaliações recentes mostram
que atualmente mais de 30% do material coletado pelos serviços de limpeza nos países
desenvolvidos são resíduos de embalagens (Graedel e Allenby, 1995).

Quarenta por cento das embalagens utilizadas nos EUA são utilizadas para transferir
produtos entre corporações. Este dado permite racionalizar as negociações, visando à
redução do impacto das embalagens.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 110 5/2/2003, 15:16:40


Minimização de Resíduos 111

O programa “Anjo Azul” da Alemanha requer que as embalagens sejam totalmente


recicláveis, tenham o máximo de componentes reciclados, não contenham compostos
tóxicos (ex.: metais nas tintas) e não sejam branqueadas, no caso do papel.

Algumas sugestões de prioridades no que se refere às embalagens (Graedel e Allenby,


1995):
1. Não usar embalagens;

2. Usar o mínimo de embalagens;

3. Usar embalagens consumíveis, retornáveis, que possam ser


reenchidas ou reutilizadas;

4. Usar embalagens recicláveis.

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112 Prevenção da Poluição

FECHAMENTO

As técnicas propostas neste capítulo de redução da


poluição são utilizadas nos diversos programas, cujo
princípio é o de prevenir.
É bom lembrar, nesse momento, o que não é Prevenção
da Poluição:
• tratamento de resíduos;
• concentração de componentes nocivos ou tóxicos
para diminuir volume;
• diluição de componentes para reduzir nocividade
ou toxicidade;
• transferência de componentes nocivos ou tóxicos de
um ambiente para outro.
Discutimos com você diversas técnicas e apresentamos
exemplos de cada uma delas, com a finalidade de
fazer com que você perceba a necessidade de parar
para repensar produtos e processos, enxergando
oportunidades de melhoria. Tente priorizar as medidas
que visem à redução na fonte geradora de problema,
pois estas, com certeza, vão contribuir de maneira mais
eficaz para uma produção mais limpa.
Temos a certeza de que com o seu conhecimento do
processo produtivo, e das técnicas de Prevenção da Po-
luição que você deve ter absorvido neste capítulo, aliado
aos de seus colegas de trabalho, você terá condições de
assumir o papel de agente de transformação, propondo
e implementando muitas ações que irão se constituir em
experiências bem-sucedidas de Prevenção da Poluição e
que poderão ser compartilhadas com outras empresas.
Sua motivação e seu comprometimento com a melhoria
da qualidade ambiental vão fazer diferença onde quer
que você esteja!
No próximo capítulo, apresentaremos uma metodologia
de gestão ambiental amplamente usada e de eficácia
comprovada para implantar um programa de Prevenção
da Poluição num processo produtivo.

Prevenção da Poluição - Cap 3.indd 112 5/2/2003, 15:16:41


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 113
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

CAPÍTULO 4
METODOLOGIAS DE GESTÃO
AMBIENTAL COM ENFOQUE EM
PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO E
MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS
Arlinda Coelho SENAI • CETIND • Centro de Tecnologia Industrial Pedro Ribeiro

“ Não basta ensinar ao homem uma especiali-


dade, porque se tornará assim uma máquina
utilizável, mas não uma per-sonalidade. É •
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Definir Prevenção da Polui-
necessário que adquira um sentimento, um ção / Produção mais Limpa
senso prático daquilo que vale a pena ser e discutir como surgiu.
empreendido, daquilo que é belo, do que é • Apresentar o histórico da P+L
moralmente correto. no Brasil.
A não ser assim, ele se assemelhará, com seus
conhecimentos profissionais, mais a um cão
• Comparar os modelos de
gestão ambiental: Prevenção
ensinado do que a uma criatura harmoniosa-
da Poluição/Produção mais


mente desenvolvida.
Limpa X Fim-de-tubo.
Albert Einstein
• Apresentar a metodologia
desenvolvida por UNIDO-
Vimos nos capítulos anteriores que a intensifi- UNEP para dar suporte ao
processo de implantação de
cação dos processos produtivos, principal-mente
Produção mais Limpa nas
após a Segunda Guerra Mundial, teve como con- empresas.
seqüência uma série de problemas ambientais que • Analisar a Produção mais
afetaram a qualidade de vida na Terra. Limpa como instrumento de
marketing.
Verificamos, ainda, que o momento atual exige • Fazer um estudo comparativo
um repensar na reestruturação de nações, na criação entre SGA, baseado na
norma ISO 14001, e
de blocos regionais, na organização de mercados e na Produção mais Limpa.
criação de requisitos ambientais que sejam cumpridos
por todos e em favor de todos para que possamos
garantir a sobrevivência das gerações futuras.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 113 5/2/2003, 15:20:13


114 Prevenção da Poluição

Segundo o Worldwatch Institute (2000), “As economias não serão suportáveis por
muito tempo a menos que o ambiente natural que as sustenta o seja”. No entanto, para
que o ambiente se suporte, é preciso promover uma relação mútua entre ambientalismo
e crescimento econômico, propiciando o desenvolvimento sustentável, obtido a partir
de uma redução dos impactos ambientais decorrentes principalmente de atividades
produtivas (Capra, 2000).

Quando analisamos as inter-relações entre o conceito de desenvolvimento sustentável,


baseado no crescimento sem comprometimento das necessidades das futuras gerações,
e o processo de gestão ambiental, envolvendo um conjunto de ações visando à melhoria
do desempenho ambiental, verificamos que a transformação dos bens comuns globais
(global commons) constitui a manifestação mais recente e talvez mais incontornável
das questões contemporâneas dos “limites do crescimento”.

As alterações verificadas na atmosfera e biosfera são o resultado cumulativo de


padrões globais de industrialização impostos por modelos ultrapassados de gestão
ambiental (Sadler, 1994).

Essas tendências têm reflexos em termos da liderança ambiental, em nível nacional


e local, podendo ser encaradas como uma condenação das abordagens convencionais de
gestão ambiental. Dessa forma, a primeira abordagem reativa de “fim-de-tubo” adotada
no controle da poluição, que apoiou os instrumentos de gestão, Avaliações de Impacto
Ambiental (AIA) e a Avaliação dos Projetos de Grande Investimento de Capital, tornou-
se impotente para lidar com problemas globais e regionais de segunda e terceira geração,
resultantes de alterações cumulativas.

A mudança para uma visão de sustentabilidade baseada nos três pilares da


ECOEFICIÊNCIA: ambiental, econômica e social, para que uma empresa ou um
processo seja válido, ou seja, ambientalmente compatível, economicamente rentável e
socialmente justo, implica a adoção de modelos de gestão que identifiquem as causas
dos problemas ambientais para evitar a necessidade de medidas de caráter corretivas,
reduzindo os impactos provocados por estes no meio ambiente, possibilitando a definição
de alternativas que sejam viáveis economicamente e que contribuam efetivamente para
a melhoria da qualidade de vida na Terra (Sadler, 1994).

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 114 5/2/2003, 15:20:21


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 115
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

Os modelos de gestão ambiental propostos atualmente pelos países desenvolvidos


como estratégia para substituir a abordagem de gestão ambiental de fim-de-tubo
que utilizam as tecnologias de tratamento/disposição de resíduos, baseiam-se
fundamentalmente no princípio de Prevenção da Poluição – PP ou P2.

Conforme visto no capítulo anterior, a gestão ambiental baseada na Prevenção da


Poluição derruba o velho paradigma de que resíduos são subprodutos inevitáveis da
produção, sendo, portanto, inerentes a todo processo produtivo para assumir o novo
paradigma de que gerar resíduos representa uma ineficiência do processo produtivo, pois
isto significa a transformação de matérias-primas/insumos, com alto valor agregado, em
produtos de baixo ou nenhum valor que podem, ainda, adicionar mais custos ao processo
produtivo, quando são tratados/dispostos devidamente (Gardner, 2001).

Os modelos de gestão referidos anteriormente pressupõem ainda transparência e


abertura das informações pelas empresas e organizações do setor público, num estímulo
à pratica de benchmarking e à publicação de relatórios com o objetivo de contribuir para
a elevação dos padrões ambientais (Andrade, Marinho, Kiperstok, 2001).

Neste capítulo, portanto, apresentamos os modelos de gestão ambiental baseados


nos princípios de Prevenção da Poluição, adotados como estratégia para promover o
desenvolvimento sustentável, através do estímulo às empresas da prática de identificação
das causas dos problemas ambientais decorrentes de atividades produtivas, a fim de
eliminá-las na fonte. Evita-se, assim, ações corretivas para os impactos ambientais,
trazendo inúmeros benefícios para as empresas e o meio ambiente em geral.

4.1 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO/PRODUÇÃO MAIS LIMPA – O QUE É? COMO SURGIU?

A adoção de metodologias de Prevenção da Poluição vem sendo proposta como


estratégia eficaz para evitar os desperdícios de matérias-primas e energia, convertidos
em resíduos sólidos, líquidos e gasosos, responsáveis por adicionar custos aos processos
produtivos e gerar problemas ambientais.

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116 Prevenção da Poluição

Atualmente é possível encontrar várias abordagens concorrentes promovidas no


mundo por entidades nacionais e internacionais:

• PP ou P2 – Prevention Pollution, divulgada pela EPA – Environmental


Protection Agency (EPA, 1990);

• P+L – Produção mais Limpa, desenvolvida pela UNIDO – United Nations for
Industrial Development e UNEP – United Nations Environmental Program
(UNEP, 1994);

• PL – Produção Limpa, defendida por organizações ambientalistas e vários


centros de P&D – Pesquisa e Desenvolvimento;

• Ecoeficiência, desenvolvida pelo WBCSD – World Business Council for


Sustainable Development (Signals of Change, 1995).
A publicação do WBCSD intitulada Eco-efficiency and cleaner production (WBCSD,
1996), estabelece a perfeita complementaridade entre os conceitos de ecoeficiência,
definida como uma orientação gerencial estratégica, cientificamente embasada, e
Produção Limpa, definida como conjunto de procedimentos de chão-de-fábrica, muito
mais integrado ao processo.

Na literatura, é freqüente encontrar referências em relação à Produção Limpa (PL)


como: “Tecnologias Limpas”, “Tecnologias mais Limpas”, “Produção mais Limpa”,
“Tecnologias de Baixos Desperdícios”, entre outras. Também se encontra a PL relacionada
a conceitos e metodologias da qualidade, como Total Quality Environmental Management
– TQEM, terminologia introduzida pela Global Environmental Management Initiative
– GEMI, em 1991 (Pio, 2000).

Dessa forma, é importante apresentar as características mais importantes,


principalmente de Produção Limpa e Produção mais Limpa, para facilitar o entendimento
do nível de comprometimento relacionado a cada um desses programas, que podem ser
adotados por uma empresa visando a uma melhor gestão ambiental.

Segundo Furtado (2000), tanto Produção Limpa como Produção mais Limpa são
programas baseados no princípio da Prevenção da Poluição, defendendo a exploração
sustentável de fontes de matérias-primas, a redução no consumo de água e energia e a

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 116 5/2/2003, 15:20:21


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 117
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

utilização de indicadores de desempenho ambiental. No entanto, vale salientar que a


proposta de Produção Limpa é mais audaciosa, pois:

• baseia-se no princípio da precaução, o qual determina o não-uso de matérias-


primas e não-geração de produtos com indícios ou suspeitas de provocar
problemas ambientais;

• avalia o ciclo de vida do produto/processo considerando a visão holística;

• disponibiliza ao público em geral informações sobre riscos ambientais de


processo e produtos;

• estabelece critérios para tecnologia limpa, reciclagem atóxica, marketing e


comunicação ambiental;

• limita o uso de aterros sanitários e tem restrições à incineração como


alternativa de tratamento de resíduos.
No que se refere à Produção mais Limpa (P+L), este programa representa um processo
de melhoria contínua visando tornar a atividade produtiva cada vez menos danosa ao
meio ambiente. Um outro aspecto a considerar ainda é que as metodologias propostas
com este objetivo não se baseiam apenas em tecnologia, englobando também a forma
de gestão das empresas.

As alternativas apresentadas normalmente, no âmbito de um programa P+L,


para atingir os objetivos propostos, são conhecidas como “Técnicas de Produção
mais Limpa”.

As Técnicas de Produção mais Limpa consistem em uma série de medidas que


podem ser implementadas na empresa, compreendendo desde uma simples mudança
de procedimento operacional até uma mudança de processo ou tecnologia.

Vale salientar, no entanto, que este caráter mais abrangente das metodologias de P+L
atualmente propostas, contemplando até mesmo técnicas gerenciais, pode contribuir para
que as empresas tendam a dar mais ênfase a estas últimas, pois normalmente representam
menor custo, fazendo com que seja mais freqüente o uso de alguma engenharia adaptativa,
preservando os projetos e as patentes originais, sem promover uma mudança mais efetiva
no processo produtivo.

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118 Prevenção da Poluição

4.2 HISTÓRICO DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA NO BRASIL

Resgatando um pouco do histórico da Produção mais Limpa no Brasil, em 1992


ocorreu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – RIO-92,
em que o foco, segundo o Greenpeace, foi erroneamente voltado para a discussão sobre
Tecnologias Limpas, apresentando estas como solução para os problemas ambientais,
estimulando muito mais o aspecto mercadológico do que o de discussão propriamente
dita dos danos ambientais e sociais causados por tecnologias e práticas inadequadas
adotadas em todo o mundo (Pio, 2000).

Em 1995, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)/Departamento


Regional do Rio Grande do Sul foi escolhido pela UNIDO e UNEP para sediar
um Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL), visando atuar como agente
disseminador das técnicas de Produção mais Limpa no seio da Confederação Nacional
da Indústria (CNI).

Em 1997, realizou-se a Conferência Latino-Americana para o Desenvolvimento


Sustentável e Competitividade, na qual o presidente do Brasil, Fernando Henrique
Cardoso, deu um depoimento estimulando as empresas a aderirem a programas
de Produção mais Limpa como alternativa de aumento de competitividade e
sustentabilidade.

A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo


(CETESB) vem atuando também como um agente disseminador do programa Pollution
Prevention (P2) da Environmental Protection Agency (EPA), reestruturando em 1997
o programa Controle da Poluição Industrial de São Paulo (PROCOP) com base nos
conceitos de Prevenção da Poluição/Produção mais Limpa. Em outubro de 1998, a
CETESB promoveu a Conferência das Américas sobre Produção Limpa, na qual foi
assinada a Carta de São Paulo pelos governos dos EUA, Chile, Brasil, Costa Rica
e Jamaica.

Esta conferência instituiu como primeira recomendação considerar Produção mais


Limpa (P+L) e Prevenção da Poluição (P2) como elementos norteadores para a política
e legislação ambiental em nível dos governos federal, estadual e municipal, bem como para
o planejamento estratégico das empresas e organizações não-governamentais (Pio, 2000).

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 118 5/2/2003, 15:20:21


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 119
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

A partir de 1998, o CNTL-SENAI/RS e o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro


para o Desenvolvimento Sustentável), numa ação conjunta com o SEBRAE-Nacional e
outras instituições, começaram a desenvolver a Rede Brasileira de Produção mais Limpa
com o objetivo de repensar a relação entre o processo produtivo e o meio ambiente,
dentro da ótica do aumento da ecoeficiência e da produtividade.

Faz parte da estratégia utilizada pela Rede promover a internalização de conceitos e práticas
de P+L a partir da realização de cursos de capacitação, consultorias às empresas, fóruns, seminários
e outras atividades.

Atualmente esta Rede envolve vários órgãos de governo, centros de pesquisa,


instituições de ensino, etc., que se encontram relacionados no Quadro 4.1 a seguir:

• CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.


• SEBRAE-Nacional – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
• CNI – Confederação Nacional da Indústria.
• CNTL-SENAI/RS – Centro Nacional de Tecnologias Limpas.
• Centro Tecnologias Limpas do DR/SP.
• BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
• FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos.
• MMA – Ministério de Meio Ambiente.
• NPLs – Núcleos de Produção mais Limpa (BA, MG e SC).
• SENAI/SP.
• CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do
Estado de São Paulo.
• UFBA – Universidade Federal da Bahia/TECLIM.
QUADRO 4.1 – PARTICIPANTES DA REDE DE TECNOLOGIAS LIMPAS DO BRASIL

Em nível estadual, podemos destacar a formalização na Bahia, em 1999, da Rede


TECLIM, de Tecnologias Limpas, coordenada pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA), com o apoio da Redes Cooperativas de Pesquisa (RECOPE), FINEP, Centro
de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CADCT) da Secretaria de Pla-
nejamento do Governo do Estado da Bahia e do Centro Nacional de Pesquisa (CNPq)
do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT).

Com a finalidade de fortalecer a Rede TECLIM, a Federação da Indústria do


Estado da Bahia/Instituto Euvaldo Lodi (FIEB/IEL) também instituiu o Programa de
Tecnologias Limpas na Bahia (PTL/BA), com adesão de várias empresas e instituições
de ensino e pesquisa locais.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 119 5/2/2003, 15:20:22


120 Prevenção da Poluição

4.3 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO/PRODUÇÃO MAIS LIMPA X TECNOLOGIAS FIM-DE-TUBO

O Ministério do Meio Ambiente e de Energia da Província de Ontário, Canadá,


definiu a Prevenção da Poluição como:

“Qualquer ação que reduza ou elimine a geração de poluentes ou resíduos na


fonte, realizada através de atividades que comprovem, encorajem ou exijam mudanças
nos padrões de comportamento industrial, comercial e geradores institucionais ou
individuais.” (SENAI, 1998)

Segundo Prestrelo et al. (2000), a lei americana de Prevenção da Poluição de 1990


(Pollution Prevention Act 1990) define a Prevenção da Poluição (P2) como:

“quaisquer práticas, uso de materiais, processos que eliminem ou reduzam a


quantidade e/ou toxicidade de poluentes, substâncias perigosas ou contaminantes em sua
fonte de geração, prioritariamente à reciclagem, tratamento ou disposição final (...)”.

Segundo o CNTL*1 (2000), a Prevenção da Poluição inclui práticas que eliminem ou


reduzam o uso de materiais (nocivos ou inofensivos), energia, água ou outros recursos, bem como
privilegiem aqueles procedimentos que protegem os recursos naturais através da conservação
e do uso mais eficiente.

Um programa de Prevenção da Poluição industrial é dirigido a todos os tipos de


resíduos e representa uma revisão abrangente e contínua das operações numa instalação,
visando à minimização dos resíduos.

Para que a implementação de um programa de Prevenção da Poluição numa empresa


seja eficaz, este deve:
• proteger o funcionário, a saúde pública e o meio ambiente;
• melhorar o moral e a participação dos funcionários;

• reduzir os custos operacionais;

• melhorar a imagem da empresa;

• reduzir o risco de responsabilidade criminosa ou civil.

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Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 121
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

A definição oficial da Produção mais Limpa dada pela UNIDO é:

“Produção mais Limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia preventiva,


econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de
aumentar a eficiência no uso das matérias-primas, água e energia, através da não geração,
minimização ou reciclagem de resíduos gerados em todos os setores produtivos.”
(CNTL*1, 2000)

Para processos produtivos, a Produção mais Limpa inclui o uso mais eficiente das
matérias-primas, insumos e energia, a redução dos materiais tóxicos e perigosos e a
minimização na fonte de resíduos sólidos, efluentes e emissões.

Para produtos, a busca é pela redução dos impactos ambientais associados a estes,
e a estratégia adotada é baseada em dois instrumentos:
• ACV – Análise de Ciclo de Vida, instrumento de gestão que avalia o ciclo
de vida completo de um produto, processo ou atividade desde a extração e
processamento de matérias-primas, fabricação, transporte e distribuição, uso e
reuso, manutenção, reciclagem e disposição final.

• Projeto para o meio Ambiente, ou Ecodesign, que consiste no processo de


desenhar, projetar um produto ou processo de maneira que este seja menos
danoso ao meio ambiente. Pode ser considerado a parte da ACV que objetiva a
melhoria do produto.

Estes dois instrumentos de gestão serão vistos com mais detalhes nos Capítulos 5
e 6, respectivamente, deste módulo.

No nível da gestão, P+L implica em mudança de atitudes e comportamentos, de


todos os envolvidos no processo, propiciando uma nova cultura empresarial, impactando
diretamente na melhoria do desempenho ambiental.

Podemos entender, a partir das definições anteriores, que tanto a Prevenção da


Poluição como a Produção mais Limpa pretendem integrar os objetivos ambientais ao
processo de produção, a fim de reduzir os resíduos e as emissões em termos de quantidade
e toxicidade e, dessa maneira, reduzir custos num processo de melhoria contínua.

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122 Prevenção da Poluição

Segundo o CNTL*1 (2000), numa análise mais direta pode-se assumir que a gestão
convencional de resíduos questiona: O que se pode fazer com os resíduos sólidos,
efluentes e as emissões existentes? Enquanto que a Produção mais Limpa, proteção
ambiental integrada à produção, pergunta: De onde vêm nossos resíduos sólidos,
efluentes e emissões e por que, afinal, se transformaram em resíduos?

Portanto, podemos concluir que a diferença essencial entre a gestão convencional


de resíduos focada em Fim-de-tubo e a Produção mais Limpa (P+L) está no fato de que
esta não trata simplesmente dos sintomas tentando atingir a raiz do problema.

Uma característica adicional que pode ser salientada é que P+L propõe uma visão
integrada da empresa. Isso significa considerar que matérias-primas, energia, produtos,
resíduos sólidos e emissões estão intimamente interligados com água, ar, solo, via
processo de produção, não obstante o fato de estes fatores serem tratados de forma
separada na legislação.

A Tabela 4.1 a seguir relaciona diferenças entre Tecnologias Fim-de-tubo e Produção


mais Limpa.

TECNOLOGIAS FIM-DE-TUBO PRODUÇÃO MAIS LIMPA

Como se pode tratar os resíduos e as


De onde vêm os resíduos e as emissões?
emissões existentes?

... pretende reação. ... pretende ação.

... geralmente leva a custos adicionais. ... pode ajudar a reduzir custos.

Os resíduos e emissões limitados através de


filtros e capítulos de tratamento; Soluções Prevenção de resíduos e emissões na fonte;
de Fim-de-tubo; Tecnologia de reparo; Evita processos e materiais potencialmente tóxicos.
Estocagem de resíduos.

Proteção ambiental entra depois do Proteção ambiental entra como parte integral do design
desenvolvimento de produtos e processos. do produto e da engenharia de processo.

Problemas ambientais resolvidos a partir de Tenta-se resolver os problemas ambientais em todos


um ponto de vista tecnológico. os níveis/em todos os campos.

Proteção ambiental é um assunto para


Proteção ambiental é tarefa de todos.
especialistas competentes.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 122 5/2/2003, 15:20:22


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 123
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

... é trazida de fora. ... é uma inovação desenvolvida na empresa.

... aumenta o consumo de material e


... reduz o consumo de material e energia.
energia.

Complexidade e riscos aumentados. Riscos reduzidos e transparência aumentada.

Proteção ambiental desce para


Riscos reduzidos e transparência aumentada.
preenchimento de prescrições legais.

... resultado de um paradigma de produção


... abordagem que pretende criar técnicas de produção
do tempo em que os problemas ambientais
para um desenvolvimento sustentável.
não eram conhecidos.

Fonte: CNTL*5, 2000.


TABELA 4.1 – DIFERENÇAS ENTRE TECNOLOGIAS FIM-DE-TUBO E PRODUÇÃO MAIS LIMPA

Podemos considerar ainda que a Prevenção da Poluição/Produção mais Limpa,


quando comparada às Tecnologias Fim-de-tubo (focadas no tratamento e/ou disposição
de resíduos) apresenta várias vantagens:
• potencial para soluções econômicas na redução da quantidade de materiais e energia
usados;

• indução a um processo de inovação dentro da empresa, devido a uma intensa


avaliação do processo de produção, à minimização de resíduos, efluentes e
emissões;

• redução dos riscos no campo das obrigações ambientais e da disposição de


resíduos devido ao fato de que a responsabilidade pode ser assumida para o
processo de produção como um todo;
• facilitação do caminho em direção a um desenvolvimento econômico mais
sustentado.

O conceito de Produção mais Limpa, adotado pela UNIDO/UNEP, tem como base
o programa Ecoprofit – Ecological Project For Integrated Environmental Technologies
(Projeto Ecológico para Tecnologias Ambientais Integradas), que visa fortalecer
economicamente a indústria através da Prevenção da Poluição, inspirado no desejo de
contribuir com a melhoria da situação ambiental de uma região.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 123 5/2/2003, 15:20:23


124 Prevenção da Poluição

Baseado em problemas ambientais conhecidos, o Ecoprofit investiga o processo


de produção e as demais atividades de uma empresa, e os estuda do ponto de vista da
utilização de materiais e energia. Essa abordagem ajuda a induzir inovação dentro das
próprias empresas, a fim de trazer a estas, e a toda a região, um passo em direção a um
desenvolvimento econômico sustentado.

A partir disso, são criteriosamente estudados os produtos, as tecnologias e os materiais,


a fim de minimizar as emissões e os resíduos e encontrar modos de reutilizar os resíduos
inevitáveis. Nesse sentido, o Ecoprofit não representa uma solução para um problema
isolado, mas uma ferramenta lucrativa para estabelecer um conceito holístico.

O prefixo “eco” da palavra Ecoprofit tem um significado triplo, nomeadamente:


• benefício ecológico;

• benefício econômico;

• em alusão ao significado etimológico da palavra grega oîkos – casa, evoca a


proposta de encontrar soluções para a manutenção da casa – housekeeping.

Nesse contexto, o sucesso da implantação de um programa baseado no Ecoprofit


depende do nível de comprometimento dos empregados, tendo em vista que o know-how,
ou seja, o conhecimento que estes detêm sobre o processo produtivo, é essencial para
identificar as situações-problema e propor alternativas que resultem numa melhoria do
desempenho ambiental da empresa. Desse ponto de vista, o Ecoprofit tem, acima de
tudo, o propósito de ser um auxílio em direção à auto-ajuda.

4.4 METODOLOGIA DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA DESENVOLVIDA PELA UNIDO/UNEP

“Em 1998 a UNEP lançou, em solenidade realizada na Coréia, a Declaração


Internacional Sobre Produção Mais Limpa, que é um comprometimento público para
a estratégia e prática da Produção mais Limpa. A declaração é um conjunto de princípios
que, quando implementados, leva ao aumento da conscientização, compreensão e
finalmente a uma maior demanda por Produção mais Limpa. Para os que advogam
a Produção mais Limpa é uma ferramenta para encorajar os governos, empresas e
organizações a adotar e promover aquela estratégia.” (Prestrelo et al., 2000)

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 124 5/2/2003, 15:20:23


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 125
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

DECLARAÇÃO INTERNACIONAL SOBRE


PRODUÇÃO MAIS LIMPA

Nós reconhecemos que obter o desenvolvimento sustentável


é uma responsabilidade coletiva. Ações para proteger o
meio ambiente global devem incluir a adoção de práticas de
consumo e de produção sustentáveis melhoradas.
Nós acreditamos que a Produção mais Limpa e outras
estratégias preventivas como Eco-eficiência, produtividade
verde e Prevenção da Poluição são as opções preferidas. Elas
requerem desenvolvimento de apoio e medidas apropriadas:
Com esta finalidade, nós estamos comprometidos a:

Usar nossa influência:

LIDERANÇA • Para encorajar a adoção de práticas de produção e consumo


sustentáveis através do nosso relacionamento com as partes
interessadas.

Construir capacidades/capacitações:

CONSCIENTIZAÇÃO • Pelo desenvolvimento e condução de programas de conscientização,


EDUCAÇÃO E educação e treinamento dentro da nossa organização.
TREINAMENTO
• Pelo encorajamento da inclusão dos conceitos e princípios nos
currículos educacionais em todos os níveis.

Encorajar a integração de estratégias preventivas:

• Em todos os níveis da organização.


INTEGRAÇÃO • Dentro dos sistemas de gestão ambiental.
• Pelo uso de ferramentas, tais como avaliação de desempenho
ambiental, contabilidade ambiental, impacto ambiental, ciclo de vida
e avaliações de produção mais limpa.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 125 5/2/2003, 15:20:23


126 Prevenção da Poluição

Criar soluções inovadoras:

• Pela promoção de uma mudança de prioridade da estratégia de


PESQUISA E Fim-de-tubo para preventiva, em nossas políticas e atividades de
DESENVOLVIMENTO pesquisa e desenvolvimento.
• Pelo apoio ao desenvolvimento de produtos e serviços que são
ambientalmente eficientes e atendimento às necessidades dos
consumidores.

Compartilhar nossas experiências:

COMUNICAÇÃO • Pelo reforço ao diálogo sobre a implementação de estratégias


preventivas e informação às partes interessadas externas sobre os
seus benefícios.

Tomar ações para adotar a Produção mais Limpa:

• Pelo estabelecimento de metas desafiadoras e o relato regular do


progresso através de sistemas de gestão existentes.
• Pelo encorajamento de novos e adicionais financiamentos e
IMPLEMENTAÇÃO investimentos em opções por tecnologias preventivas, e promoção
de cooperação e transferência de tecnologias ambientalmente
adequadas entre países.
• Através da cooperação com a UNEP e outros parceiros e partes
interessadas no apoio a esta declaração e na análise crítica do
sucesso de sua implementação.

Fonte: Prestrelo et al. (2000), traduzido do site da UNEP (2001).

A metodologia de Produção mais Limpa é o resultado de um esforço conjunto da


UNIDO (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial) e da UNEP
(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), tendo sido desenvolvida com
base no estado-da-arte do conhecimento europeu sobre gestão de resíduos e desperdícios
energéticos e materiais.

A estratégia adotada para disseminar a metodologia no mundo foi implantar Centros


Nacionais de Tecnologias Limpas – CNTLs, envolvendo como parceiros um país
chamado “donante” (Holanda, Alemanha, Suíça e Áustria), responsável pelo suporte
técnico/financeiro, e um “hospedeiro” (países sub e semidesenvolvidos no mundo) a
serem beneficiados pelo programa. (Ver Figura 4.1)

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 126 5/2/2003, 15:20:23


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 127
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

Fonte: CNTL*1, 2000.


FIGURA 4.1 – PAÍSES “HOSPEDEIROS” DOS CENTROS NACIONAIS DE TECNOLOGIAS LIMPAS

A instalação de um CNTL no Brasil, no entanto, não contou com a parceria de


um país “donante”, tendo esta iniciativa contado com o suporte técnico/financeiro do
SENAI, com o compromisso de atuar como agente disseminador da metodologia junto
ao parque industrial brasileiro. Atualmente, o CNTL-SENAI/RS desenvolve programas
de P+L também em instituições e empresas de outros países, como Paraguai, Equador
e Moçambique.

A implantação do Programa de Produção mais Limpa (P+L) numa empresa, com


base na metodologia desenvolvida pela UNIDO, consiste na avaliação do processo
produtivo, seja qual for a natureza, e na aplicação de técnicas que possam envolver
desde a mudança de matéria-prima/insumo, consumo de água e de energia, tecnologia/
processo, procedimento operacional, até mesmo a mudança do próprio produto, que
pode ser considerado ambientalmente incorreto nos moldes do apresentado no item 3.2
do capítulo anterior.

O processo de implantação de P+L, segundo a metodologia da UNIDO, segue o


fluxo apresentado na Figura 4.2:

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 127 5/2/2003, 15:20:23


128 Prevenção da Poluição

Fonte: CNTL*1, 2000.

FIGURA 4.2 – FLUXOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA – METODOLOGIA UNIDO/UNEP

Analisando o fluxograma de implantação de P+L representado na Figura 4.2,


podemos dizer que a primeira etapa, a implantação de um programa de Produção
mais Limpa, envolve:

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 128 5/2/2003, 15:20:24


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 129
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

• realização de processo de sensibilização dos funcionários, através da


apresentação das vantagens de se implantar P+L na empresa;

• elaboração de diagnóstico ambiental que funciona como um raio-X da empresa


apresentando os principais problemas;

• construção de um diagrama de bloco do fluxo do processo produtivo (Figura


4.3) e análise dos inputs (entradas: matérias-primas/insumos) e outputs
(saídas: produtos, resíduos sólidos, líquidos e emissões atmosféricas).

FIGURA 4.3 – DIAGRAMA DE BLOCO

Numa segunda etapa, o processo de implantação de P+L na empresa envolve:

• identificação das fontes geradoras de resíduos que possam ser tratadas como
oportunidades de Produção mais Limpa;
• levantamento quali-quantitativo dos resíduos para identificação;
• identificação das técnicas aplicáveis e das barreiras que se apresentam à
implantação destas;
• definição de indicadores de maneira a possibilitar uma avaliação do desempenho
ambiental da empresa. Esses indicadores devem ser criados com base nas metas
de redução a serem atingidas. Exemplos:
- consumo de água/tonelada de produto produzido/ano;
- consumo de energia – kWh/tonelada de produto produzido/ano;
- tonelada de um resíduo X gerada/tonelada de produto produzido/ano;

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 129 5/2/2003, 15:20:25


130 Prevenção da Poluição

• estruturação de um plano de monitoramento para facilitar a implementação de


ações corretivas. No caso, por exemplo, de uma ação que consista em realizar
medições, este plano deve conter informações do tipo: objetivo da medida,
responsável pela medição, intervalos, periodicidade, estratégia de medição;

• realização de estudo de viabilidade econômica das alternativas de técnicas de


Produção mais Limpa que é feito visando balizar o processo de decisão.
É importante colocar que o processo de sensibilização em conjunto com os resultados
gerados deve fazer com que a empresa que adota o programa P+L perceba claramente
que este torna o processo produtivo mais eficiente no emprego de matérias-primas e
insumos, gerando mais produtos e menos resíduos, trazendo benefícios tecnológicos,
ambientais, econômicos e outros, e contribuindo para a sustentabilidade e o aumento
de competitividade.

Aos alunos:
Resíduos: uma vez localizadas as fontes geradoras e levantados
qualitativamente e quantitativamente, o que fazer?

Quando perguntado sobre os fatores que influenciam na geração de resíduos e


emissões, pode-se pensar primeiro na tecnologia usada na empresa. Certamente esta
desempenha um papel importante neste contexto. Mas isso não deve levar à conclusão
de que somente as medidas tecnológicas podem ajudar a realizar produção eficiente
e limpa.

Há uma infinidade de campos que devem ser levados em conta. Os principais aspectos
que podem indicar a origem dos resíduos e emissões são os seguintes:
• pessoal (falta de pessoal qualificado);

• tecnologias (uso de tecnologias ultrapassadas);

• matérias-primas (uso de recursos não renováveis e compostos tóxicos);

• produtos (de difícil degradabilidade – pós-uso);


• capital (escassez de recursos financeiros);

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 130 5/2/2003, 15:20:25


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 131
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

• know-how do processo (resistência à mudança);


• fornecedores/parceiros comerciais (falta de alinhamento com os princípios de
gestão ambiental adotados).
Com base nesses aspectos, é possível utilizar técnicas ou medidas entendidas como
de Produção mais Limpa visando à minimização de resíduos. Estas estão agrupadas
representando níveis diferenciados de eficiência de aplicação de P+L.

A Figura 4.4 a seguir apresenta estes níveis e constitui um organograma de Produção


mais Limpa.

Fonte: CNTL*5, 2000.

FIGURA 4.4 – ORGANOGRAMA DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA

• Nível 1 – quando são priorizadas medidas para resolver o problema na fonte


que consideram para tal, modificações tanto no próprio produto (projeto
ecológico, ou ecodesign) como no processo de produção (uso cuidadoso de
matérias-primas e com o processo, incluindo mudanças organizacionais,
substituição de matérias-primas/insumos tóxicas por outras menos agressivas e
modificações tecnológicas com adoção de tecnologias limpas).

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 131 5/2/2003, 15:20:25


132 Prevenção da Poluição

• Nível 2 (reciclagem interna) – quando não é possível evitar os resíduos com a


ajuda das medidas classificadas como de nível 1, estes podem ser reintegrados
ao processo de produção da empresa: dentro do próprio processo original
de produção, em outro processo, ou através da recuperação parcial de uma
substância residual.

• Nível 3 (reciclagem de resíduos e emissões fora da empresa) – através de


reciclagem externa ou de uma reintegração ao ciclo biogênico (por exemplo,
compostagem).

Aos alunos:
Como norma, você pode ter em mente que, quanto mais próximo à raiz do
problema e quanto mais otimizados os ciclos, mais eficientes serão as medidas.

Vale nesse momento ressaltar que a coleta de dados é a base para Produção mais
Limpa. Portanto, para assegurar informações que possam fundamentar o processo de
implantação do programa P+L, é preciso:
• estabelecer uma visão geral dos principais fluxos de materiais dentro da
empresa;

• determinar onde serão coletados os dados (o ideal é considerar a empresa


como todo);

• usar uma base de dados atualizada;

• determinar os limites do balanço de massa e energia (o princípio de


conservação de massa e energia estabelece que tudo que entra em um processo
deve deixá-lo: ou é estocado, ou é transformado em outro material);

• observar os pontos de monitoramento dos recursos materiais (na entrada, ou


seja, no momento em que foram adquiridos; no ponto de uso – na máquina, na
unidade de produção e no ponto de saída – isto é, no momento em que deixam
o processo).

Os dados coletados devem responder às seguintes questões:

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 132 5/2/2003, 15:20:26


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 133
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

• Quanta matéria-prima e auxiliares de processo e quanta energia usamos?

• Quantos resíduos e emissões são produzidos?

• De qual/quais parte(s) do processo eles vêm?

• Que resíduos são prejudiciais/precisam ser controlados e por quê?

• Que porção das matérias-primas e auxiliares de processo se torna resíduo?

• Que porção das matérias-primas e auxiliares de processo se perde na forma de


emissões voláteis?

• Quais são os custos incorridos devido à disposição de resíduos e à perda de


matérias-primas?

Para facilitar a tarefa de sistematização de informações, são apresentados no anexo


deste capítulo exemplos de folhas de trabalho que compõem o Relatório de Implantação
de Produção mais Limpa:

Folha de trabalho 1: Registro quali-quantitativo dos principais produtos/serviços


produzidos. É interessante trabalhar sempre com uma única unidade de medida.

Folha de trabalho 2: Registro dos resíduos e emissões mais importantes, incluindo-se


resíduos de água e de ar. Além das quantidades produzidas, há também perguntas sobre
custos unitários com compra e disposição, os quais devem ser indicados em unidade
monetária por unidade quantitativa. O custo total em unidades monetárias é calculado
multiplicando-se o custo unitário pela quantidade.

Folha de trabalho 3: Registro das quantidades de matérias-primas e auxiliares mais


importantes do processo. Os custos unitários e totais são de grande interesse, assim
como também o objetivo de uso. Recomenda-se determinar o percentual de qualquer
matéria-prima usada para a produção. Se não houver dados de medidas disponíveis,
deve-se estimar da melhor maneira possível. A matéria-prima/auxiliar considerada como
tóxica deve ser identificada.

Folha de trabalho 4: Registro das técnicas de P+L utilizadas para minimizar ou


prevenir cada resíduo do processo produtivo. Pode-se gerar folhas separadas para
diferentes tipos de resíduos e emissões.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 133 5/2/2003, 15:20:26


134 Prevenção da Poluição

As opções que se apresentam para solução dos problemas devem ser analisadas e
selecionadas enfocando a minimização de resíduos e emissões, reuso de resíduos e
emissões. Estas opções de soluções denominadas de Técnicas de Produção mais Limpa
podem consistir em:
• Mudança de Produto;

• Mudança de Processo;

• Substituição de Matérias-Primas/Insumos;

• Modificação Tecnológica;

• Aplicação de Boas Práticas Operacionais (Good Housekeeping Practices);

• Reciclagem Interna e Externa.

Aos alunos:
Tente analisar os resíduos de um processo produtivo e identifique as técnicas
de P+L mais adequadas para evitar ou minimizar a geração destes. Não
esqueça de considerar os níveis de aplicação de P+L apresentados na Figura
4.4. Uma revisão do Capítulo 3 deste módulo poderá ajudar nessa tarefa.

Folha de trabalho 5: Registro dos resíduos por categoria. Resíduos e emissões podem
ter origem em diferentes matérias-primas por diferentes razões. Se for estabelecida
uma lista de origens possíveis, os resíduos e as emissões poderão ser classificados de
acordo com estas.

A Tabela 4.3, incluída no anexo deste capítulo, contém 11 categorias, para as


quais podem ser aplicadas várias estratégias com o objetivo de evitar ou minimizar
resíduos e emissões. Essa tabela pode ser usada para ajudar no preenchimento da
folha de trabalho 5.

Registrados os dados requeridos nas folhas de trabalho é feito um estudo de


viabilidade econômica das ações propostas para minimizar resíduos, a fim de se balizar
o processo de decisão em relação à medida a ser adotada.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 134 5/2/2003, 15:20:26


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 135
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

No fechamento do Relatório de Implantação de Produção mais Limpa é fundamental


também fazer a análise quali-quantitativa dos benefícios obtidos com o programa. A
exemplo de:
• Benefícios ambientais – % de redução de: resíduos sólidos, emissões
atmosféricas e efluentes líquidos.

• Benefícios econômicos – % de redução de custos com tratamento de: resíduos


sólidos, efluentes líquidos; emissões atmosféricas, consumo de energia elétrica
e água.

• Benefícios tecnológicos – adoção de tecnologias limpas, upgrade de


equipamentos diversos.

• Benefícios na saúde ocupacional – % de redução no índice de doenças


ocupacionais.

• Benefícios sociais – melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e de


comunidades circunvizinhas.

Vale ressaltar a importância de se manter um registro fotográfico de situações na empresa


antes e depois da Produção mais Limpa, para efeitos comparativos e estimuladores no
processo de implantação de P+L.

Todas as fases da implantação do programa só podem ser realizadas com o total


envolvimento e comprometimento principalmente da alta gestão, a fim de garantir a
introdução e internalização do conceito e prática de Produção mais Limpa na cultura
da empresa, impactando diretamente no gerenciamento ambiental.

Nesse sentido, a metodologia orienta para que seja formado um grupo de trabalho
Ecotime para coordenar as ações de implementação envolvendo trabalhadores da empresa
com as seguintes características:
• liderança;

• motivação;

• representatividade;

• envolvimento com a equipe de trabalho;

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 135 5/2/2003, 15:20:27


136 Prevenção da Poluição

• responsabilidade;

• autoridade.

O papel do Ecotime deve ser:


• coletar e analisar as informações de consumo e geração de resíduos;

• levantar as atuais práticas e procedimentos da planta industrial;

• estabelecer e avaliar novas oportunidades;

• implementar e dar continuidade às ações;

• multiplicar os conhecimentos adquiridos.

Aos alunos:
Organize um treinamento de P+L para o Ecotime, antes de iniciar a
implementação do programa numa empresa.

4.5 OUTRAS METODOLOGIAS

Além da metodologia da UNIDO/UNEP, outras foram desenvolvidas com foco na


minimização de resíduos e na Prevenção da Poluição visando dar suporte no processo
de melhoria de desempenho ambiental nas empresas.

É interessante também colocar que existem propostas que têm a mesma configuração
do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), baseado na norma internacional ISO 14001
– Diretrizes para Implantação de SGA.

A norma ISO 14001, uma vez implantada na empresa, possibilita a sistematização


de informações sobre os impactos ambientais provocados pela atividade produtiva,
assim como também a ação de gestão sobre estes. Consiste num processo de melhoria
contínua desenvolvido em cinco etapas: Definição de Política Ambiental, Planejamento
de Atividades, Implementação e Operação, Verificação e Ação Corretiva, Análise Crítica
pela Administração.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 136 5/2/2003, 15:20:27


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 137
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

Como exemplo de outras metodologias de P+L que têm a mesma configuração do


SGA, podemos citar o programa de Prevenção da Poluição (PP) do Ministério do Meio
Ambiente e de Energia da Província de Ontário, Canadá, cujo escopo consiste em:
• Definição de Política Ambiental baseada no princípio de Prevenção da
Poluição.

• Elaboração de Plano de Ação adequado com os objetivos propostos na Política


Ambiental.

• Formação de EQA – Equipe de Qualidade Ambiental.

• Avaliação preliminar para coleta de informações: regulamentação, processos,


matérias-primas/insumos, problemas ambientais, etc.

• Levantamento quali-quantitativo dos problemas ambientais e priorização. Os


métodos propostos para realização desta etapa do programa são:

- Descrição semiquantitativa do processo: avaliação focada em dados


qualitativos, não indicando quantidade de resíduo gerado e matéria-prima/
insumo.

- Análise de um processo: exame do processo de produção antes da PP e


comparação com as mudanças ocorridas depois da PP.

- Análise de projeto: foco nos resultados obtidos de cada atividade proposta no


Programa PP: mudança de quantidades de compostos tóxicos, na toxicidade
das substâncias, resultados econômicos, etc.

• Estabelecimento de procedimentos de comunicação com as partes interessadas.

• Identificação de barreiras potenciais técnicas, econômicas, regulamentares e


institucionais.
• Desenvolvimento de Plano de Emergência.

Comparando o instrumento SGA, baseado na norma ISO 14001, com as metodologias


desenvolvidas pela UNIDO/UNEP e pelo Ministério do Meio Ambiente e de Energia
da Província de Ontário, podemos dizer que a empresa que opta pela implantação do
SGA baseado na norma internacional ISO 14001, após a implementação de todas estas
etapas, pode solicitar de uma instituição credenciada uma auditoria para verificar se

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 137 5/2/2003, 15:20:27


138 Prevenção da Poluição

todos os itens exigidos pela norma foram cumpridos e, assim sendo, obter a certificação
ambiental da empresa.

As metodologias da UNIDO/UNEP e do Programa de Prevenção da Poluição do


Ministério do Meio Ambiente e de Energia da Província de Ontário, não visam à
certificação ambiental.

4.6 PRODUÇÃO MAIS LIMPA COMO INSTRUMENTO DE MARKETING

Podemos dizer que a Produção mais Limpa provoca uma mudança de cultura
organizacional, de forma a atender aos requisitos ambientais e de mercado no sentido
da minimização de resíduos. Trata-se, portanto, de um programa que contempla os
aspectos qualitativos e quantitativos de melhoria dos produtos, serviços e seus efeitos
ao meio ambiente e à qualidade de vida das pessoas.

Como vimos anteriormente, a implantação de um programa de Produção mais Limpa


numa empresa é reconhecida como uma prática de gestão ambiental de grande eficácia;
no entanto, não visa à certificação. O grande diferencial desse programa está no fato de
que este tem foco na melhoria do desempenho ambiental e normalmente requer menos
investimentos que outros instrumentos de gestão ambiental.

Os resultados obtidos pelo CNTL-SENAI/RS na implantação de P+L em várias


empresas no Brasil encontram-se disponíveis no site http://www.rs.senai.br/cntl.

A implantação do programa P+L pode ser também uma opção bastante interessante
para as micro, pequenas e médias empresas, que normalmente dispõem de poucos
recursos, principalmente financeiros e humanos.

Existem, no entanto, algumas barreiras para a implantação de P+L que precisam


ser vencidas:
• Parâmetros legais: a empresa pode limitar o seu desempenho ambiental em
função do atendimento ao requisito legal, consolidando uma ação reativa,
impedindo, assim, o processo de melhoria contínua.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 138 5/2/2003, 15:20:27


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 139
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

• Barreiras econômicas: algumas medidas para solucionar problemas ambientais


podem requerer investimentos financeiros, e a empresa pode não dispor destes.

• Falta de informações sobre as vantagens da Produção mais Limpa: as empresas


não têm a cultura de quantificar os custos ambientais associados ao processo
produtivo para determinar quanto isso representa no preço do produto.

• Barreiras comportamentais: a metodologia P+L, desenvolvida pela UNIDO,


é baseada na coleta de dados através de medições, e há muita resistência na
realização desta tarefa.

• Falta de integração entre os diversos setores de uma empresa, em relação


aos seus problemas ambientais e de produção: os setores das empresas
atuam normalmente de forma dissociada, o que dificulta a visão integrada do
processo produtivo.

• Busca de qualidade sem passar pela Produção mais Limpa: as empresas


ainda não têm a cultura nem a prática de associar o conceito de qualidade do
produto/processo ao impacto causado no meio ambiente.

• Busca da tecnologia limpa diretamente, sem passar pela Produção mais


Limpa: a Tecnologia Limpa é uma alternativa de Produção mais Limpa que
exige normalmente investimentos financeiros maiores. Quando temos a
oportunidade de avaliar melhor o processo produtivo, sob a ótica de P+L,
podemos identificar outras alternativas que podem contribuir para a melhoria
do desempenho ambiental com menores investimentos, ou até mesmo nenhum.

As vantagens de se implantar o programa de Produção mais Limpa numa empresa


utilizando esta metodologia, por sua vez, são inúmeras:
• Disponibiliza uma metodologia que representa o passo a passo para a
implementação de P+L.

• Não requer custos adicionais com certificações e desenvolvimento de modelos


mais sofisticados de sistematização de informações.

• Aumenta a eficiência do processo produtivo.


• Minimiza o impacto ambiental decorrente da atividade produtiva.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 139 5/2/2003, 15:20:28


140 Prevenção da Poluição

• Orienta na adoção de medidas que, mesmo quando envolvem custos, podem


apresentar o período de retorno baixo. Vale salientar que normalmente não
existe período de retorno em investimentos de fim-de-tubo.

• Facilita o processo de decisão em relação a quanto a empresa deseja investir


na gestão ambiental, pois fornece dados para avaliação.

• Proporciona melhoria de imagem da empresa diante da sociedade e aumento


da competitividade no mercado globalizado.

• Evita custos crescentes devido ao tratamento de resíduos.

• Apresenta menor suscetibilidade às condições que impactam no desempenho


da empresa: necessidade crescente de espaço para disposição de resíduos,
dificuldades na obtenção de licenças para exportação, passivos ambientais,
produtos/processos considerados ambientalmente incorretos, etc.

Enfim, um argumento muito forte que sensibiliza o empresário para implantar um


programa de Produção mais Limpa está representado pela Figura 4.5. É preciso deixar
claro que a geração de resíduos impacta diretamente tanto o desempenho ambiental da
empresa como o financeiro, diminuindo a sua competitividade.

FIGURA 4.5 – POR QUE FAZER UM PROGRAMA DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA?

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 140 5/2/2003, 15:20:28


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 141
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

Aos alunos:
Tente preparar um material para ser utilizado num processo de sensibilização
de uma empresa para adoção de P+L. Não esqueça de analisar as barreiras
primeiro!

4.7 O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA) BASEADO NA


NORMA INTERNACIONAL ISO 14001 E A PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L)

Atualmente, as empresas estão sendo mobilizadas para uma corrida em busca da


certificação de Sistema de Gestão Ambiental (SGA), com o objetivo de demonstrar que
seus processos, produtos e serviços estão em conformidade com as normas ambientais
internacionalmente aceitas.

A adoção desses instrumentos é voluntária, mas talvez o grande elemento motivador


da busca pela certificação seja a existência de barreiras mercadológicas não tarifárias,
impostas por países desenvolvidos, à aceitação de produtos/processos considerados
ambientalmente inadequados.

A série ISO 14000, da Organização Internacional de Padronização, é uma resposta a


esta demanda e consiste num conjunto de normas técnicas que orienta como implantar
um SGA numa empresa, de maneira a se obter um certificado que ateste a conformidade
do sistema à norma.

O importante, no entanto, é considerar este momento, como uma oportunidade para


melhorar efetivamente o desempenho ambiental das empresas.

Que tal conhecer um pouco mais sobre o SGA?

Para que uma empresa tenha um SGA, segundo a norma ISO 14001, que é a norma
da série ISO 14000 que orienta especificamente como implantar um SGA, esta precisa
ter realizado as seguintes etapas:

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 141 5/2/2003, 15:20:29


142 Prevenção da Poluição

1. Definição da Política Ambiental, em que a alta direção da empresa expressa e


formaliza o pensamento, a visão e o comprometimento da empresa com o meio
ambiente. Segundo a norma, a política ambiental constitui “declaração dos
princípios e intenções da empresa em relação ao seu desempenho ambiental
e que devem nortear o planejamento de ações e o estabelecimento de seus
objetivos e metas ambientais”.

2. Planejamento, constando os procedimentos de identificação dos principais


impactos ambientais causados pela atividade produtiva da empresa e o
estabelecimento de objetivos e metas a serem alcançados, de maneira a
solucionar os problemas ambientais levantados.

3. Implementação e Operação, consistindo na definição de toda a estrutura


básica necessária para alcançar os objetivos e as metas ambientais, tais
como: recursos físicos, materiais e humanos, levantamentos de necessidades
de treinamentos, estabelecimento de responsabilidades, procedimentos
de documentação e comunicação, controle e operação para situações de
emergências.

4. Verificação e Ações Corretivas do Sistema, com a finalidade de checar e


adequar o SGA implantado à política ambiental da empresa e também aos
objetivos e metas ambientais definidos. O mecanismo empregado é a auditoria
interna, a qual consiste na avaliação sistemática documentada, periódica e
objetiva do desempenho ambiental da empresa através do seu SGA. Esta é
realizada pelos próprios empregados, devidamente treinados.

5. Análise Crítica pela Alta Administração, com a finalidade de identificar


novos objetivos e metas ambientais a serem alcançados, visando à melhoria
contínua do sistema.
Apresentamos as etapas de implantação da norma ISO 14001 de forma sucinta, pois
não é objeto deste capítulo detalhar o SGA, mas, sim, exercitar a capacidade crítica dos
instrumentos de gestão ambiental disponíveis.

Se você tiver interesse em conhecer mais sobre o SGA, consulte o módulo de


Sistemas de Gestão Ambiental produzido pelo SENAI, para atender ao Programa TGA
– Tecnologias e Gestão Ambiental do SENAI/DN.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 142 5/2/2003, 15:20:29


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 143
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

Aí está o ciclo de implantação de um SGA, baseado na norma ISO 14001!

FIGURA 4.6 – CICLO DE IMPLANTAÇÃO DE UM SGA

Ao realizar todas essas etapas, a empresa pode solicitar de uma instituição credenciada
uma auditoria para verificar se todos os itens exigidos pela norma foram cumpridos e,
assim sendo, obter a certificação ambiental da empresa.

É interessante salientar mais uma vez que os certificados ambientais apenas significam
que estas empresas têm um sistema que possibilita sistematizar informações sobre os
impactos ambientais provocados pela atividade produtiva e que há uma gestão sobre
estes. Assim, podemos concluir que o fato de uma empresa ter um sistema de gestão
formal não quer dizer que ela é ambientalmente mais correta que outra que não tem o
certificado.

Existem alguns pontos, no entanto, que podem gerar interpretações errôneas quanto
ao objeto de certificação e ao significado do certificado propriamente dito:
• princípios norteadores mal definidos e que podem orientar a empresa a adotar
uma postura de fim-de-tubo não ambientalmente correta;

Segundo Prestrelo et al. (2000), a ISO 14001 no seu item 3.13 define a Prevenção
da Poluição como:

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 143 5/2/2003, 15:20:30


144 Prevenção da Poluição

“3.13 Prevenção da Poluição: uso de processos, práticas, materiais ou produtos


que evitem, reduzam ou controlem a poluição, os quais podem incluir reciclagem,
tratamento, mudanças no processo, mecanismos de controle, uso eficiente de recursos
e substituição de materiais.”

NOTA
“Os benefícios potenciais da Prevenção da Poluição incluem a redução de
impactos ambientais adversos, a melhoria da eficiência e a redução de custos.”
(ISO 14001:1996)

Os autores ainda colocam que este conceito de Prevenção da Poluição definido


pela ISO não incentiva a inovação pela promoção de uma mudança de prioridade da
estratégia de tratamento e controle (fim-de-tubo) para uma estratégia preventiva (atuação
na fonte de geração).
• escopo do sistema pode ser limitado apenas a uma unidade do processo
produtivo, ou ainda a um setor da organização (na divulgação da certificação
esta informação pode não ficar clara);

• desempenho ambiental das empresas não ser o foco da certificação.

Quanto a este último ponto, segundo a ABNT (1996), é possível que duas empresas
que desenvolvem atividades similares obtenham o certificado de conformidade emitido
pelo mesmo organismo certificador, tendo, no entanto, níveis de adequação e/ou
desempenho ambiental bastante diferentes. (Magnani, UFRJ, 1999)

Para entender melhor esta questão, é preciso perceber como a dimensão ambiental é
vista pelas empresas e qual a estratégia de gestão adotada. A proposta de minimização
de resíduos em processos produtivos, por exemplo, está diretamente associada à
tecnologia do processo e à forma como as operações são executadas. Espera-se que
estes condicionantes evoluam continuamente para opções cada vez mais adequadas em
termos ambientais, as chamadas técnicas de redução da poluição, também conhecidas
como Tecnologias Limpas.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 144 5/2/2003, 15:20:30


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 145
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

As técnicas de redução da poluição utilizadas num processo produtivo, vistas no


Capítulo 3 deste módulo, podem, por sua vez, traduzir o tipo de estratégia ambiental
adotada (reativa, ofensiva ou inovativa).

A evolução progressiva de uma organização, através da adoção das estratégias


ambientais referidas acima, exige em nível operacional que estas sejam traduzidas em
procedimentos compatíveis com os princípios básicos de cada estratégia. (Fernandes
et al., 2001)

Voltando à norma ISO 14001 de implantação de SGA, podemos dizer que o seu
aspecto crítico é exatamente o processo de padronização de procedimentos. Muitas
vezes a ânsia de estruturar o sistema impede a análise preliminar destes com a finalidade
de verificar a coerência com a estratégia de gestão adotada pela empresa, para a
partir daí então decidir se há necessidade ou não de adequação dos mesmos antes da
padronização.

O enfoque normalmente dado no processo de implantação da norma, visando à


certificação, é priorizar tecnologias de fim-de-tubo já dominadas, assim como também
atender à legislação, o que caracteriza o sistema como reativo, mesmo que a atitude de
implantar a norma de SGA seja considerada pró-ativa. (Fernandes et al., 2001)

Esta situação pode ser amenizada quando consideramos que o processo pressupõe
uma melhoria contínua. Entretanto, quanto mais lento este ocorrer, pior será o problema,
pois estes procedimentos inadequados, uma vez padronizados, continuarão a ser adotados
porque foram atestados como certos, no sistema. (Fernandes et al., 2001)

O papel dos consultores e de auditores de sistema de gestão ambiental é muito


importante para contornar esta situação, pois quando estes têm entendimento das
práticas de gestão e tecnologias baseadas no princípio da Prevenção da Poluição, podem
contribuir para orientar a empresa a contemplá-las no sistema de gestão ambiental.

Além disso, Prestrelo et al. (2000) reforçam a importância de se estimular as


empresas que adotam a estratégia de certificação a incorporar outros compromissos,
a exemplo de Atuação Responsável (ABIQUIM) e Declaração Internacional sobre
P+L (UNEP), que, uma vez assinados, tornam-se objeto de avaliação/verificação do
seu cumprimento nas auditorias, pois torna-se “outros requisitos legais” (itens 4.3.2
e 4.5.1 da norma).

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 145 5/2/2003, 15:20:31


146 Prevenção da Poluição

Quando fazemos uma análise comparativa do SGA baseado na norma ISO 14001
com a Produção mais Limpa (P+L), podemos salientar nesse momento que esta última
estabelece o princípio de Prevenção da Poluição claramente e, além disso, concentra
esforços na identificação das causas geradoras dos problemas ambientais, priorizando
a identificação de medidas que efetivamente resultem na minimização de resíduos e,
conseqüentemente, na melhoria do desempenho ambiental.

Dessa forma, P+L é um instrumento de gestão aplicável tanto em empresas


certificadas que têm a intenção de focar mais na direção da minimização de resíduos como
nas que não têm interesse pela certificação, mas que desejam melhorar o desempenho
ambiental.

Vale salientar, no entanto, que, segundo Prestrelo et al. (2000), alguns aspectos da
Produção mais Limpa podem ser entendidos como pontos fracos, como por exemplo
a falta de uma diretriz para definição da estrutura organizacional com as devidas
responsabilidades; a estratégia adotada de formação de Ecotime para implantar P+L que
pode não estimular o envolvimento de toda a empresa; a não-contemplação do plano de
atendimento a emergências/contingências, para os casos de derramamentos/vazamentos,
incêndios/explosões, etc.; a falta de mecanismo que divulgue os compromissos do
programa P+L; e a não-avaliação periódica dos resultados do programa por instituições
auditoras, para manter o estímulo à continuidade e melhoria.

Podemos dizer que o importante nesse processo de avaliação de instrumentos de


gestão é entender as limitações de cada um e identificar alternativas para cobrir a lacuna
existente, de maneira a se atingir o objetivo maior de um programa de gestão ambiental,
que deve ser o de melhoria do desempenho ambiental com enfoque em ações integradas
de Prevenção da Poluição, visando a uma Produção mais Limpa. Isso quer dizer que na
verdade podemos adotar vários instrumentos de forma complementar num sistema de
Gestão Ambiental, desde que estes não sejam conflitantes.

Tendo em vista as considerações feitas anteriormente, acreditamos que a utilização


de instrumentos de gestão, de maneira geral, traz benefícios para os processos
produtivos, pois normalmente estes estão embasados em metodologias conhecidas
internacionalmente que sistematizam as informações e facilitam o levantamento, a
leitura e a interpretação de dados, subsidiando a tomada de decisão quanto à postura a
ser adotada diante das questões ambientais.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 146 5/2/2003, 15:20:32


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 147
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

O quadro a seguir pode contribuir para orientar o processo de inserção de P+L em


Sistema de Gestão Ambiental (SGA) baseado na norma ISO 14001.

REQUISITO DA NORMA ISO 14001 ÊNFASE/ABORDAGEM PRINCIPAL

Compromisso com a P+L na forma de Prevenção da


4.2 Política ambiental
Poluição

Levantamento de aspectos e avaliação de impactos


4.3.1 Aspectos ambientais usando a oportunidade de P+L como um filtro de
significância

4.3.3 Objetivos e metas


Objetivos e metas viabilizados com projetos que tenham
4.3.4 Programas de gestão
enfoque em P+L
ambiental

4.4.1 Estrutura e responsabilidade Recursos para implantação de tais projetos

4.4.2 Treinamento, conscientização Conscientização, capacitação em metodologias, conceito


e competência e tecnologia para levar a cabo projetos de P+L

Atividades envolvidas identificadas como oportunidades


4.4.6 Controle operacional de P+L e planejadas e procedimentadas para dar
sustentação às atividades dos projetos implantados

Criação de indicadores e monitoramento dos resultados e


4.5.1 Monitoramento e medição parâmetros relativos aos projetos e como conseqüência
dos objetivos e metas a serem atingidos

Verificação independente sobre o andamento das


4.5.4 Auditorias internas do SGA
providências de P+L

Balanço semestral/anual com a inclusão dos resultados


4.6 Análise crítica pela
e proposição de melhorias, tendo os projetos de P+L
administração
como importante input
Fonte: Prestrelo et al. (2000).
QUADRO 4.2 – RESUMO DA PROPOSTA DE INSERÇÃO DOS CONCEITOS DE P+L NOS REQUISITOS DA ISO 14001

Atualmente as empresas estão caminhando na direção da adoção de um Sistema de


Gestão Integrado que possibilite tratar a gestão de forma mais abrangente, envolvendo as
questões ambientais, de segurança dos processos e da saúde e bem estar dos trabalhadores
e utilizando conceitos/estratégias, técnicas da Produção Mais Limpa ou Prevenção da
Poluição e ferramentas como avaliação de desempenho ambiental (prevista nas normas
de diretrizes ISO 14031/32 de 1999) e Análise de Ciclo de Vida (prevista nas normas
de diretrizes ISO 14040/41/42/43) (Prestrelo et al., 2000).

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 147 5/2/2003, 15:20:32


148 Prevenção da Poluição

4.8 A ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES

Outro ponto que podemos enfatizar neste capítulo está relacionado à ética
organizacional. Neste processo das empresas, de definir qual o caminho a seguir, para
atingir o objetivo de tornar o desenvolvimento compatível com o meio ambiente, este
pode ser um fator crítico para assegurar a credibilidade da prática adotada.

Utilizar ferramentas de gestão como instrumentos de marketing faz parte da regra


do jogo no mundo da competitividade e da busca da sustentabilidade. O importante,
entretanto, é fazer isso de forma ética, sem manipular e divulgar informações enganosas,
mesmo porque, principalmente em questão de meio ambiente, ninguém tem como fugir
por muito tempo do impacto de uma postura que não seja em prol do meio ambiente, pois
isso está diretamente relacionado com a garantia da nossa sobrevivência na Terra.

Questão para reflexão:


• Você acredita que a ética organizacional é exercida da mesma forma, tanto em
países desenvolvidos como em países sub ou em desenvolvimento?

Em Souza (1999), tem-se que é pertinente que em países socialmente mais


equilibrados e democráticos o grau de conscientização, a mobilização e a participação
popular nas discussões sobre as questões ambientais são incomparáveis com a realidade
enfrentada pelos países subdesenvolvidos, predominando nestes últimos um estado
crônico de ignorância da população em geral que se reflete em uma postura apática e
facilmente manejável pelas mídias de comunicação. Isso nos leva a concluir que nos
países desenvolvidos, em razão da pressão da própria sociedade junto às empresas, estas
sejam levadas a dar mais atenção à questão da ética.

Vale a pena, no entanto, frisar que, apesar de reconhecermos as dificuldades associadas


a fatores históricos e estruturais vivenciadas nos países subdesenvolvidos (incluindo-se
neste contexto o Brasil), é preciso entender que todo esforço deve ser empreendido por
instituições de ensino, governamentais, entre outras, na divulgação de informações que
possam fundamentar o poder de crítica da sociedade, para que o exercício da cidadania
ambiental ocorra de maneira mais efetiva, contribuindo dessa maneira como elemento de
pressão na defesa do meio ambiente.

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 148 5/2/2003, 15:20:33


Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 149
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

A Tabela 4.2 a seguir representa um estudo comparativo entre o SGA baseado na


norma ISO 14001 e a Produção mais Limpa – metodologia UNIDO/UNEP.

Aos alunos:
Analise as informações apresentadas e tente enriquecer o estudo comparativo,
acrescentando outras diferenças entre os instrumentos de gestão apresentados.

TABELA 4.2 – COMPARAÇÃO ENTRE SGA BASEADO NA ISO 14001 E


PRODUÇÃO MAIS LIMPA – METODOLOGIA DESENVOLVIDA PELA UNIDO/UNEP
Parâmetros / SGA baseado na norma ISO 14001 Produção mais Limpa
Instrumento de
Gestão

Princípio Não definido. Prevenção da Poluição.

Sistematização de informações Identificação da fonte geradora


referentes aos aspectos do processo e aplicação de técnicas para a
produtivo: uso de técnicas em geral minimização de resíduos. Pode-se
Enfoque
que podem minimizar/tratar resíduos. fazer uso de técnicas de Fim-de-tubo,
tratamento/disposição, mas não é
prioridade.

Sistema de Gestão Ambiental e não o Não é ainda certificável.


Objeto de Certificação
desempenho ambiental.

Associados principalmente à: Associados à aplicação de medidas


- elaboração de procedimentos e de minimização de resíduos.
Custos geração de toda a documentação
exigida pela norma ISO 14001;
- aplicação de técnicas de
minimização/tratamento de resíduos.

Instrumento de Reconhecido. Em reconhecimento.


Marketing

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150 Prevenção da Poluição

Medidas de caráter sistêmico Medidas de redução do consumo de


referentes a: energia, matérias-primas/insumos e
Política ambiental, Comunicação minimização da geração de resíduos
com as partes interessadas, Planos sólidos, efluentes líquidos e emissões
Abrangência de emergências ambientais, etc. atmosféricas.
Obs.: O levantamento dos aspectos
e impactos ambientais foca os
resíduos, mas com uma abrangência
menor do que P+L.

Integrada e de melhoria contínua. Integrada e de melhoria incremental e


Visão
contínua.

Através de controles operacionais, Através do acompanhamento dos


Mecanismo de auditorias e análise crítica, utilizando indicadores ambientais.
Revisão indicadores na maior parte de caráter
administrativo.

Empresas de médio e grande porte. Todas as empresas, incluindo as


Aplicabilidade
micros e pequenas.

Fonte: Construção própria.

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Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 151
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

FECHAMENTO

Podemos nesse momento tirar algumas conclusões


bastante significativas com relação às metodologias
de gestão ambiental com enfoque em minimização
de resíduos e prevenção da poluição discutidas neste
capítulo:
• Os instrumentos de gestão devem está alicerçados nos
três pilares da Ecoeficiência: econômico, ambiental e
social.
• Tanto a Prevenção da Poluição como a Produção
mais Limpa obedecem ao mesmo princípio norteador
de prevenir, a partir da aplicação de técnicas de
minimização de resíduos, num processo contínuo que
visa prioritariamente identificar as fontes geradoras
de resíduos.
• As questões ambientais são objeto de conflitos
mercadológicos internacionais, resultando muitas
vezes no desenvolvimento de instrumentos que,
apesar de contribuírem para a melhoria das condições
de vida no mundo, podem constituir barreiras não
tarifárias.
• Podemos assumir, como regra geral, que um programa
é eficiente quanto à melhoria ambiental se:
- a quantidade de poluentes é reduzida;
- os resíduos que não foram eliminados tiveram pelo
menos sua carga tóxica reduzida;
- ocorreu uma redução na utilização de
recursos naturais.
• A ética organizacional deve ser trabalhada para que
as empresas não utilizem os instrumentos de gestão
ambiental como marketing enganoso.
• Acrescente aqui as suas conclusões...

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152 Prevenção da Poluição

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Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 153
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

ANEXOS

ANEXO 1 – FOLHA DE TRABALHO 1

FOLHA DE TRABALHO Nº 1 – PRINCIPAIS PRODUTOS E/OU SERVIÇOS


Empresa: Redator: Página:

N O
Objetivo do produto / serviço Quantidade por ano Unidade

1 Cerveja em garrafas, total (64%) 160.000 Hl

das quais:
• 85% Märzen
• 100% Cerveja especial
• 5% Bockbier

Remoção direta do barril, total


2 65.000
(26%)

3 Enlatada, total (10%) 25.000 Hl

9
Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS

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154 Prevenção da Poluição

ANEXO 2 – FOLHA DE TRABALHO 2

FOLHA DE TRABALHO Nº 2 – OS PRINCIPAIS RESÍDUOS GERADOS E/OU EMISSÕES


Empresa: Redator: Página:
Resíduos/emissões Custo de
Quantidade Custo de Custo
Nº sólidos, líquidos, Unidade disposição
por ano compra (R$) total (R$)
atmosféricos (R$)
1 Água residual 180.000 m3 6 10 2.880.000

2 Pó de malte 447 t 4.000 ? 1.788.000

3 Resíduo de cevada 220 t 4.000 ? 880.000

4 Sedimentos 30 t 250 7.500

5 Vidro/vidro quebrado 92 t 2.400 350 253.000

6 Recipientes plásticos 18 t 10.000 2.000 216.000

7 Papelão/papel 35 t 5.000 - 175.000

8 Pallets de madeira 24 t 6.000 40 144.960

9 Filmes plásticos 1,5 t 22.000 4.500 39.750

10 Resíduos industriais 104 t ? 800 83.200

Resíduos de manutenção,
11 200 kg ? 11 2.200
graxas

Conteúdos do separador
12 3.200 kg ? 2,8 8.960
de óleo

13 Óleo residual recolhido 1.000 kg 50 2 52.000

14 Vernizes residuais recolhidos 50 kg 100 15 5.750

15 Lâmpadas fluorescentes 20 kg 120 12 2.640

16 Acumuladores 25 kg 70 2,8 1.820

Gás residual, caldeira a


17 1.000.000 m3 - - -
vapor
Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS

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Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 155
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

ANEXO 3 – FOLHA DE TRABALHO 3

FOLHA DE TRABALHO Nº 3 – AS PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS E AUXILIARES


Empresa: Redator: Página:
Custo % que
Quantidade Custo
Nº Material Unidade unitário Objetivo participa do
por ano total (R$)
(R$) produto
material
1 Cevada crua 4.700 t 3.000 14.100 60%
básico
2 Rótulos 120.000 Unidade 0,5 60 embalagem 99%
3 Tampas 30.000 Unidade 1 30.000 embalagem 99%
Recipientes
4 20.000 Unidade 20 40.000 embalagem 99%
plásticos
5 Garrafas 50.000 Unidade 0,5 5 embalagem 99%
6 Latas 5.000 Unidade 0,2 1 embalagem 99%
água para
fabricação
Água de
7 120.000 m3 4 480 da cerveja 21%
captação
e água
industrial
Água de
8 40.000 m3 4 160.000 resfriamento -
resfriamento
total da
9 Eletricidade 5.000 MWh 2.150 10.750 -
companhia
frota de
10 Gasolina 40.000 1 5 200.000 -
veículos
Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS

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156 Prevenção da Poluição

ANEXO 4 – FOLHA DE TRABALHO 4

FOLHA DE TRABALHO Nº 4 – PREVENÇÃO E MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS E EMISSÕES


Empresa: Redator: Página:

RESÍDUOS E/OU

Vidro-vidro quebrado
EMISSÕES
E/OU PROBLEMAS

Óleo recuperado
Grãos utilizados

Filme plástico
Sedimentos

Resíduos
MÉTODO ADOTADO
Efluente

Papelão
(Úmido)

Energia
Rótulos

Papel
PARA PREVENÇÃO

Óleo
1 Modificação do produto X
Substituição / troca de
2 X X X X X X
matérias-primas
Modificação da
3 X X X X X X X
tecnologia
Otimização de
parâmetros
4 (dosagem controlada, X X
concentração de
materiais,...)
5 Logística de resíduos X X
Padronização /
7 X
Automação
8 Compras melhoradas X
Reuso, ciclo interno
9 X
melhorado
10 Reciclagem externa X X X
Compostagem, ciclos
11 X X
biogênicos
Alterações na seqüência
12 X X
de processo
Material de embalagem
13 X X
retornável
14
Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS

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Metodologias de Gestão Ambiental com Enfoque em 157
Prevenção da Poluição e Minimização de Resíduos

ANEXO 5 – FOLHA DE TRABALHO 5

FOLHA DE TRABALHO Nº 5 – CATEGORIA DE RESÍDUOS GERADOS E EMISSÕES


(sólidos, líquidos e atmosféricos)

Empresa: Redator: Página:

RESÍDUOS/EMISSÕES

Óleo recuperado
Grãos utilizados

Filme plástico
Sedimentos

Vidro-vidro
quebrado

Resíduos
Efluente

Papelão
(Úmido)

Energia
Rótulos
CATEGORIA

Papel

Óleo
A MP não empregada X X X

B Impurezas na MP X X

Subprodutos não
C X
desejados

Materiais auxiliares
D X X X X X X
utilizados

Materiais dos processos


E X X
de partida e parada

F MP mal-utilizada/refugo X

Resíduos/materiais de
G X X X
manutenção

Materiais de manuseio,
H estocagem, amostragem, X X
análise, transporte

Perdas devido a
I
evaporações

Materiais de falhas de
J X X
processo e vazamentos

K Material de embalagem X X X X

L
Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS

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158
ANEXO 6 – TABELA 4.3 – CATEGORIA DE RESÍDUOS

TABELA 4.3 – CATEGORIAS DE RESÍDUOS


CATEGORIA DE
EXEMPLOS SOLUÇÕES TÍPICAS
RESÍDUOS
Aparas de metal, papéis em branco, resíduos de verniz, agentes de

Prevenção da Poluição - Cap 4.indd 158


Mudanças tecnológicas, automação, melhor controle operacional,
tingimento de produtos têxteis, raspa de couro, cavacos e serragem
Prevenção da Poluição

A Matérias-primas não utilizadas treinamento do pessoal, uso de diferentes matérias-primas, realização de


de madeira, finos de minério, perdas nas operações florestais e
macro e micro medição, melhoria na estocagem, melhoramento na logística
perdas em geral de matérias primas
Impurezas, substâncias Cinzas de combustíveis, óleos e graxas de lâminas de metal, cascas Uso de diferentes matérias-primas quanto a fonte e procedência , buscar
B secundárias nas matérias-primas e sementes de frutas, cascas de cereais, areia, enxofre no petróleo, alternativas de aproveitamento, substituição de fornecedores, buscar
ou subprodutos inevitáveis acetileno no propeno, sangue de animais, ossos redução e segregação na fonte
Resíduos e subprodutos não Lodo de ETA e de ETE, gases de combustão, resíduos asfálticos, Reutilização como um nova matéria-prima, melhoria tecnológica, mudanças
C desejados borras de fundo de tanque no processo, mudanças de insumos
Reciclagem interna e externa, limpeza e manutenção, checagem de
D Materiais auxiliares usados Produtos químicos em geral, óleos, solventes, catalisadores
dosagens, modificação do processo
Substâncias produzidas Produtos não comerciais, produtos fora de especificação,
Programação das operações melhorada, treinamento de pessoal, mudança
E na partida ou parada de recipientes apenas parcialmente enchidos, misturas de produtos
de tecnologia, lotes de produção maiores, reciclagem interna
equipamentos e sistemas sem qualidade definida e não uniformes
Tecnologia melhorada, treinamento de pessoal, automação, melhoria no
F Lotes mal produzidos e refugos Produtos não comerciais e fora de especificação
sistema de qualidade
Elementos filtrantes, óleos lubrificantes, estopas de limpeza,
Resíduos e materiais da Programação de manutenção, substituição de agentes de limpeza,
G solventes, produtos de limpeza, isolantes de tubulação, material
manutenção modificação dos sistemas de lubrificação, reciclagem interna e externa
refratário
Materiais de manuseio,
Resíduos da limpeza de laboratório ou dos recipientes, frascos de Logísticas de controle, controle de fontes externas, melhoria de sistema s
H estocagem, amostragem,
amostragem, mercadorias danificadas de amostragem
análise, transporte
Perda de solventes devido a tanques e recipientes abertos, Treinamento de pessoal, uso cuidadoso, busca de diferentes matérias-
I Perdas devido à evaporação evaporação durante o envernizamento, perdas por arraste eólico, primas, modificação de tanques e sistemas, modificação da forma de
perdas de agentes de limpeza recepção
Agentes de fixação de óleo, impurezas em matérias-primas ou
Materiais de distúrbios e Garantia de qualidade, manutenção melhorada, automação, treinamento
J produtos devido a problemas de manuseio, perdas de calor,
vazamentos de pessoal
vazamentos de modo geral

Orientações de compra, redução do número de embalagens e de


Papelão, filmes plásticos, lâminas, caixas, madeiras, pallets,
K Material de embalagem componentes em embalagens, embalagens retornáveis, reciclagem,
bombonas, tambores, peças de isopor
reutilização

Fonte: Manual P+L do CNTL-SENAI/RS

5/2/2003, 15:20:37
Análise de Ciclo de Vida 159

CAPÍTULO 5
ACV – ANÁLISE DE CICLO DE VIDA
Clarissa Campos Meira Universidade Federal da Bahia • UFBA • MEAU
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM

“ Guiados por um novo paradigma, os homens


de ciência adotam novos instrumentos e OBJETIVOS ESPECÍFICOS


orientam seus olhares em novas direções. • Apresentar ao aluno a fe-
T. S. Kuhn rramenta Análise de Ciclo
de Vida.
• Avaliar os benefícios as-
No contexto da Prevenção da Poluição surge a sociados ao uso da fer-
necessidade de instrumentos novos para avaliação ramenta.
do impacto ambiental de produtos que permitam • Descrever e discutir a meto-
a indicação de medidas que possam agregar dologia utilizada na aplica-
ção de ACV.
valor econômico aos setores produtivos. Deve-
se considerar que os instrumentos atualmente
utilizados para avaliação de impacto ambiental tendem a induzir a adoção de medidas
chamadas de fim-de-tubo que, normalmente, acrescentam custos à produção.

A Análise de Ciclo de Vida (ACV) é um dos instrumentos que desponta como


indispensável para apoiar a implementação de propostas de ecoeficiência. Sua efetiva
implementação no futuro dependerá da existência de bancos de dados devidamente
aparelhados.

Segundo Chehebe (1998), a Análise de Ciclo de Vida surgiu em 1965, num estudo
custeado pela Coca-Cola, para avaliar de forma comparativa os diferentes tipos de
embalagens de refrigerantes. O objetivo final do estudo era concluir qual das embalagens
tinha a menor carga ambiental associada. O processo de quantificação da utilização
de recursos naturais e dos índices de emissão utilizados pela Coca-Cola nesse estudo,
inicialmente, tornou-se conhecido como REPA (Resource and Environmental Profile
Analysis), e depois evoluiu para o que hoje conhecemos como ACV.

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No entanto, muitos autores apontam para a SETAC (Sociedade para Toxicologia e


Química Ambiental) como a instituição onde se desenvolveu a metodologia de Análise de
Ciclo de Vida. “A definição e descrição de como deve ser feita a Análise de Ciclo de Vida
de um produto foi desenvolvida internacionalmente pela Sociedade para Toxicologia e
Química Ambiental (...).” (Shen, 1995)

Desde 1989 diversos seminários internacionais têm sido promovidos para consolidar os
avanços deste instrumento. Rydberg (1996) faz uma revisão de autores e momentos da evolução
da ACV.

A ACV é um instrumento recente e vem melhorando continuamente. Cada vez mais


análises com grau de complexidade maior são efetuadas. Segundo comentário dos
autores Graedel e Allenby (1995), naquela época as Análises de Ciclo de Vida estavam
em sua infância, tendo muita coisa mudado de lá para cá. A perspectiva é que pela sua
própria essência e pelas tendências econômicas e ambientais do mundo atual os estudos
de ACV deverão ter um caráter global.

5.1 O QUE É ACV?

Normalmente quando se quer falar sobre Análise de Ciclo de Vida utiliza-se a sigla
ACV. Mas você também pode ouvir por aí:

“Através de uma LCA a empresa Z constatou que seu produto gera maior impacto
ambiental na fase em que ele está sendo utilizado pelo consumidor e não no seu
processamento, como se esperava (...)”, ou:

“(...) Fizeram uma LCA comparativa de dois produtos e concluíram que, apesar de o
produto X consumir mais matéria-prima na sua fabricação, a disposição final do produto
Y contamina o lençol freático com uma substância de difícil tratamento (...).”

Como quase toda a literatura sobre Análise de Ciclo de Vida ainda é em inglês, vocês podem
ouvir pessoas se referirem à ACV como LCA, isto é, Life Cycle Analysis.

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Análise de Ciclo de Vida 161

Segundo a SETAC (Sociedade para Toxicologia e Química Ambiental): “Avaliação


de Ciclo de Vida (ACV) é um processo objetivo para avaliar os encargos ambientais
associados com um produto, processo ou atividade com base na identificação e
quantificação da energia e materiais usados e dos resíduos emitidos para o meio
ambiente, de forma a avaliar o impacto do uso desta energia e materiais e as emissões
para o meio ambiente, assim como avaliar e implementar oportunidades que redundem
em melhorias ambientais. A avaliação inclui o ciclo de vida completo do produto,
processo ou atividade, englobando a extração e processamento de matérias-primas,
fabricação, transporte e distribuição, uso e reuso, manutenção, reciclagem e disposição
final.” (Shen, 1995)

Uma ACV aborda os impactos ambientais relativos à saúde humana (ela não envolve análise
sobre os recursos humanos, apenas avalia os impactos sobre o homem), aos sistemas ecológicos
e depreciação de recursos. A ACV não tem como propósito avaliar os efeitos econômicos ou
sociais (Lindfors, 1995).

Dessa forma, saímos dos limites da indústria e fazemos uma análise mais ampla,
completa, que nos permitirá identificar onde e em que momento determinado produto
representa maior risco ambiental, e desse modo identificamos oportunidades de mudanças
que levem a melhorias ambientais. A ACV foi concebida, principalmente, como um
instrumento de mudança e não apenas de avaliação.

A frase clássica sobre ACV, que de fato é uma ótima definição do conceito, é: analisar a
vida do produto “do berço ao túmulo”, ou, melhor ainda, “do berço à reencarnação”.

Lembrando!
Aliás, os “túmulos” estão ficando realmente saturados!

Há um limite na capacidade de absorção do solo, do ar e da água.

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5.2 ALGUNS EXEMPLOS ILUSTRATIVOS

Para esclarecer melhor o conceito, observe os seguintes exemplos:


• Imagine um proprietário de uma rede de shopping centers que decida avaliar
que contribuições sua empresa pode dar para a preservação do meio ambiente.
Após visitar vários de seus shoppings, ele percebe que o consumo total de
toalhas de papel em todos os banheiros gera um volume considerável de
resíduos e decide, então, reduzir esse impacto ambiental.
A solução lhe parece óbvia: retornar ao método convencional e substituir as toalhas de
papel por toalhas de pano. Analisando, no entanto, um pouco mais o assunto, ele percebe
que ao tomar tal decisão estará, na realidade, simplesmente realizando uma transferência
de problema. Reduzirá, sem dúvida, o desperdício de papel nos banheiros, mas fará ao
mesmo tempo crescer, através das repetidas lavagens das toalhas de pano, um outro
tipo de contaminação: aumentará o consumo de detergentes, de água (O DOBRO!), de
energia (30%), a poluição das águas (86%), as emissões atmosféricas (40%) e outros
tipos de poluição. Em outras palavras, ele estará transferindo a contaminação de um
processo para outro (Chehebe, 1998).

• Um outro estudo de ACV sobre a contribuição de determinado produto para a


destruição da camada de ozônio apresentou os seguintes resultados:

Através da ACV foi possível identificar que o estágio mais impactante, e, portanto,
onde devem ser concentrados os projetos de melhorias, é o do processamento do produto
(Lindfors, 1995).

Mesmo tendo sido idealizado para subsidiar mudanças que levem a melhorias
ambientais, a ACV pode ser usada para avaliar impactos que gerem reclamações usuais,
para a definição de critérios para outorga de selos verdes, para identificar informações
necessárias para cobrir lacunas do conhecimento ou projetar um novo produto, com
menores encargos ambientais.

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Análise de Ciclo de Vida 163

Uma forma esquemática de representar o fluxo de materiais de um produto qualquer


encontra-se na Figura 5.1:

Fonte: Graedel e Allenby, 1995.


FIGURA 5.1 – FLUXO DE MATERIAL, CICLO TOTAL

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5.3 FASES DA ACV

De modo geral, a literatura a respeito de ACV subdivide a análise nas seguintes


fases:

FIGURA 5.2 – FASES DA ACV

As setas no diagrama indicam que uma fase pode influenciar na outra, de modo que
o que ficou inicialmente estabelecido pode ser modificado ao longo do estudo. Portanto,
limitações para
as definições iniciais têm caráter preliminar, podendo se cumprir ou não. realizar ACV

OBJETIVO E ESCOPO
Uma Análise de Ciclo de Vida deve ser abrangente, mas não pode ser superficial.
Isto é, deve considerar todas as etapas da vida do produto, processo ou atividade, mas
não pode deixar de se aprofundar no que se refere às informações mais importantes.

De modo geral, podemos dizer que as maiores limitações para a realização de uma
ACV são: dificuldades práticas como coleta de dados em campo, tempo, acesso aos
dados, custos, entre outras. Quanto mais ampla e mais detalhada a ACV, mais complexa,
cara e demorada ela se torna. Por isso devem ser estabelecidos os objetivos do estudo, os
limites da abordagem e a unidade funcional que servirá de referência para o trabalho.

Objetivos
Para podermos delimitar a ACV e torná-la exeqüível, e ao mesmo tempo proveitosa,
é fundamental ter o objetivo do estudo muito claro ao longo de todo o processo. Isso
permitirá delimitar os esforços necessários.

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Análise de Ciclo de Vida 165

Muitas vezes o estudo é feito apenas para identificar as etapas que correspondem a um
maior impacto ambiental ou, ainda, poder fazer-se uma análise somente qualitativa, em
função da dificuldade de se obter os dados necessários para uma análise quantitativa.

Um objetivo muito comum de uma Análise de Ciclo de Vida é o de, ao final do estudo,
ter reunido uma série de informações e parâmetros que irão auxiliar no projeto de um
novo produto. A idéia é que no projeto sejam tomadas medidas que minorem os encargos
ambientais identificados no produto estudado. É o que se chama D f E – Design for
Environment (Projeto para o Ambiente), que utiliza a ACV como ferramenta básica.

Outras metas comuns num estudo de Análise de Ciclo de Vida são: melhoria dos
produtos para obtenção de selo verde, minimização de impactos ambientais conhecidos,
identificação de pontos que devem ser pesquisados com maior profundidade, identificação
das atividades causadoras dos maiores impactos, entre outras.

Limites
Estabelecido o objetivo, deve-se identificar qual o limite do sistema, ou seja, quais
processos serão analisados e, dentro dos processos, quais insumos, matérias-primas,
formas de energia e de resíduos serão levados em consideração. O critério é que na
definição dos limites sejam levados em consideração os itens mais importantes, os que
representam maior custo ambiental. Podem ser selecionados, também, os de maior
presença na composição do custo final.

Lembrando!
Os limites e objetivos estabelecidos inicialmente não são rígidos, podendo ser
modificados ao longo do estudo, em função das dificuldades ou facilidades
encontradas.

Para se definir os limites do sistema, aí vão algumas dicas!

Segundo Chehebe (1998), deve-se observar:

• as aplicações pretendidas do estudo;

• as hipóteses realizadas;

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• a definição dos critérios de corte;

• as restrições quanto aos dados, às despesas e ao tempo disponível;

• a audiência pretendida.
Para o estabelecimento dos limites, os critérios devem ser identificados e claramente
justificados no escopo, de forma a se estabelecer a própria validade do estudo.

Atenção!
Toda ACV deve ser feita com completa transparência. Qualquer decisão de
omitir um determinado estágio, processo ou corrente de entrada ou saída
deve ser citada, e o motivo da omissão devidamente explicado para garantir
credibilidade ao processo e orientar as decisões que possam ser tomadas a
partir dele.

Algumas etapas que dificilmente são descartadas na definição dos limites são:
• uso de combustíveis, eletricidade e calor;

• aquisição primária de energia e o processamento do combustível para uma


forma utilizável;

• etapa de uso dos produtos;

• disposição final dos resíduos do processo ou produto;

• reuso, reciclagem e recuperação de energia;

• transporte e embalagens.

Atenção!
Você deve concentrar-se nos processos que reconhecidamente geram maiores impactos
ambientais. Substâncias tóxicas são um prato cheio.

A Figura 5.3 representa esquematicamente os limites de uma ACV:

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Análise de Ciclo de Vida 167

FIGURA 5.3 – DEFINIÇÃO DOS LIMITES DO SISTEMA (SHEN, 1995)

Nas bordas dos limites serão indicadas as entradas e saídas de materiais, insumos
e energia.

De forma simplificada, a norma internacional ISO 14040 – Gestão Ambiental


– Análise de Ciclo de Vida – princípios e estruturas, estabelece que o conteúdo mínimo
do escopo de um estudo de ACV deve referir-se às suas três dimensões: onde iniciar e
parar o estudo do ciclo de vida (a extensão da ACV), quantos e quais subsistemas incluir
(a largura da ACV) e o nível de detalhes do estudo (a profundidade da ACV).

A Figura 5.4 mostra essas dimensões (Chehebe, 1998):

FIGURA 5.4 – DIMENSÕES DE UMA ACV (CHEHEBE, 1998)

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Esses aspectos devem ser devidamente tratados, de forma a se ter uma resultante
equilibrada, exeqüível e que atenda ao objetivo do estudo.

Observe o fluxo do polietileno e a definição das três dimensões na Figura 5.5:

FIGURA 5.5 – CICLO DE VIDA DO POLIETILENO (RYDBERG, 1996)

No exemplo do polietileno da Figura 5.5 temos:


• A extensão do estudo vai desde a extração do petróleo até a disposição final no aterro.
É o início e o fim.

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Análise de Ciclo de Vida 169

• A largura representa os subsistemas, que vão ser analisados entre o início e


o fim do estudo: fabricação de torres de exploração de petróleo, insumos para
perfuração, combustíveis, pneus e lubrificantes para o transporte, etc.

• A profundidade se refere ao nível de detalhamento e precisão das


informações a serem levantadas.

Dica!
Da série ISO 14000 – Norma Internacional de Sistema de Gestão Ambiental –,
as que tratam de ACV são:
• ISO 14040 – Gestão Ambiental – Análise de Ciclo de Vida – Princípios e
estrutura.

• ISO 14041 – Gestão Ambiental – Análise de Ciclo de Vida – Definição e escopo e


análise do inventário.

• ISO 14042 – Gestão Ambiental – Análise de Ciclo de Vida – Avaliação do


impacto do ciclo de vida.

• ISO 14043 – Gestão Ambiental – Análise de Ciclo de Vida – Interpretação


do ciclo de vida.

• ISO-TR-14047 – Gestão Ambiental – Avaliação de Ciclo de Vida –


Exemplos para interpretação da ISO 14042.

• ISO 14048 – Gestão Ambiental – Análise de Ciclo de Vida – Formato da


apresentação dos dados.

• ISO-TR-14049 – Gestão Ambiental – Análise de Ciclo de Vida – Exemplos para


a aplicação da ISO 14041.

Ainda na fase de objetivo e escopo, até mesmo antes do estabelecimento dos limites,
é importante fazer um fluxograma do processo para se ter uma idéia geral de todas as
fases do ciclo de vida.

Por fim, uma vez que o objetivo do estudo esteja claro, é fundamental definir nesta
fase da análise a unidade funcional. Para tanto, vale fazer algumas considerações para
facilitar o entendimento da importância deste parâmetro numa ACV.

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Tanto o impacto ambiental de um produto ou processo como os benefícios econômicos


dele dependem do porte da produção e do seu desempenho produtivo, considerando-
se também no nível do consumidor ou usuário. Por exemplo, se fizermos uma análise
de ciclo de vida comparativa entre dois detergentes e concluirmos que o detergente A
tem maior carga ambiental do que o detergente B, mas que no entanto o detergente A
permite lavar 1,5 vez o número de pratos que o detergente B lava, isso pode reverter o
critério de maior impacto ambiental.

Portanto, é indispensável identificar um parâmetro que permita correlacionar esses


aspectos. Este parâmetro funcional ou funcionalidade serve para referenciar cada um
dos aspectos estudados com a finalidade ou função do processo ou produto analisado.
No caso de análises comparativas, a definição da funcionalidade é essencial, pois
permite que sejam comparados produtos diferentes mas que se igualam na função que
desempenham no caso de estudos comparativos.

Exemplos de unidades funcionais de alguns produtos ou processos:

Pneu ¨ Quilômetros rodados

Refino de petróleo ¨ Toneladas/ano de gasolina ou mistura de produtos

Garrafas PET ¨ Litros de bebida engarrafados

Detergente ¨ Número de pratos lavados por litro

A definição da funcionalidade permitirá que os parâmetros de impacto possam ser


referidos a uma base única.

ANÁLISE DO INVENTÁRIO
Esta talvez seja a fase mais trabalhosa. Aqui devem ser levantados os dados
necessários ao estudo. Todos os materiais e energia que entram e saem do sistema são
levantados na forma de balanços de massa e energia. O que sai do sistema, ou de cada
subsistema, um produto secundário comercializado, uma perda de energia, um resíduo
gasoso, líquido ou sólido, disposto em aterro, reciclado, etc., deve ser aqui levantado.
O mesmo vale para os insumos materiais e energéticos. É importante que os dados
venham de fontes seguras. A qualidade das fontes utilizadas deve ser devidamente
esclarecida.

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Análise de Ciclo de Vida 171

Outra observação importante é que na fase de coleta deve-se observar se os dados


obtidos provêm da região onde está sendo feito o estudo ou são compatíveis com as
condições da região. Por exemplo, suponha que estivéssemos fazendo uma ACV de um
refrigerador e quiséssemos obter dados relativos ao total de energia consumido durante
sua fabricação. Ora, sabemos que há diversas fontes de energia – nuclear, hidroelétrica,
etc. –, de modo que se os dados obtidos para uso de energia forem relativos a uma fonte
energética diferente da que irá ser usada no processo, de que vão valer as informações?
Os dados devem refletir, da melhor forma possível, as condições que irão ser encontradas
no processo.

Como já foi ressaltado, a obtenção dos dados não é tão simples assim. A dificuldade
de se obter dados é um dos principais responsáveis pela redefinição de objetivos e
do escopo. Se a qualidade dos dados obtidos não for satisfatória para o cumprimento
da meta inicialmente estabelecida, deve-se coletar dados adicionais, para melhorar a
qualidade ou redefinir a meta e o escopo do estudo. Dados de menor qualidade levam
a resultados que mesmo que possam ser utilizados para subsidiar decisões, seu alcance
necessariamente será mais restrito.

Lindfors (1995) inclui entre as fontes de dados:


• Entrevistas com profissionais que tenham reconhecido conhecimento
sobre o assunto;

• Companhias, indústrias que tenham em seus processos os elementos


estudados;

• Normas técnicas;

• Fatores de emissão;

• Literatura técnica;

• Informações dentro das companhias, indústrias;

• Fornecedores;

• Bancos de dados prontos de Análise de Ciclo de Vida;

• Software de ACV.

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172 Prevenção da Poluição

Observe que os dados levantados devem ser normalizados com relação ao critério
de funcionalidade, por exemplo: km/h por quilômetro rodado pelo pneu ou m3 de água
por tonelada de polipropileno produzido.

Uma importante verificação ao final desta fase é que o inventário de cada um dos
subsistemas somados deve se igualar ao inventário total do sistema. Tudo o que entra
sai. Qualquer desvio deste princípio deve ser ressaltado e justificado.

Segundo Lindfors (1995), se a qualidade dos dados obtidos não for satisfatória para
o cumprimento da meta inicialmente estabelecida, então pode-se:

1. Coletar dados adicionais para melhorar a qualidade. Se não for possível...

2. Redefinir a meta e o escopo do estudo. Se não for possível...

3. Abandonar o estudo. Largar tudo. Desistir!

AVALIAÇÃO DO IMPACTO
Neste ponto do estudo, já temos um levantamento de todos os dados: matérias-primas,
insumos e energia, que entram e saem em cada uma das etapas, que fazem parte dos
limites que estabelecemos para nosso sistema. Em alguns casos, essas informações
serão quantitativas; e em outros, qualitativas.

Na fase anterior, os dados obtidos certamente permitiram observar que algumas fases
do ciclo de vida contribuem de forma mais significativa do que outras na exaustão dos
recursos naturais, nos impactos sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente. Na fase
de avaliação do impacto isso deve ser validado através de um estudo mais profundo.

Há muitas metodologias disponíveis para fazer a análise quantitativa/qualitativa que


essa fase do estudo requer, como, por exemplo, metodologias de AIA, análises de risco,
análises de melhorias técnicas e econômicas, entre outras.

As metodologias são geralmente muito detalhadas e complexas. A escolha vai


depender dos objetivos estabelecidos na primeira fase do estudo. Esta norma recomenda
que, seja qual for a metodologia escolhida, as seguintes etapas não podem deixar de
ser consideradas:

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Análise de Ciclo de Vida 173

Seleção e Definição das Categorias: Onde são identificados os grandes focos de


preocupação ambiental, as categorias e os indicadores que o estudo utilizará (estes se
relacionam a efeitos ou impactos ambientais conhecidos, efeitos tóxicos, aquecimento
global, acidificação, saúde humana, exaustão dos recursos naturais, etc.). As categorias
devem ser estabelecidas com base no conhecimento científico dos processos e
mecanismos ambientais. Como isso nem sempre é possível, admite-se que, em alguns casos
muito específicos, o julgamento de valores possa substituir parte do conhecimento científico.

Classificação: Onde os dados do inventário são classificados e agrupados nas diversas


categorias, anteriormente identificadas. A atribuição adequada é crucial nesses casos
para a relevância e validade da avaliação do impacto.

Caracterização: Onde os dados do inventário atribuídos a uma determinada categoria


são modelados, para que os resultados possam ser expressos na forma de um indicador
numérico para aquela categoria. Pontos a serem observados:

• o indicador de categoria representa a carga total ambiental ou a significância do uso


dos recursos naturais especificada para a categoria, após a conversão e a agregação
dos dados do inventário atribuídos à mesma;

• para a conversão dos dados do inventário deve-se dar preferência à utilização


de fatores de equivalência baseados em conhecimentos científicos e
universalmente aplicáveis. Os fatores de equivalência são também chamados
de fatores de caracterização. Os fatores científicos de caracterização nem
sempre podem ser obtidos. Se o julgamento de valores for utilizado em
substituição aos fatores de caracterização em estudos dentro das organizações,
os resultados dos indicadores devem ser identificados na forma de uma escala
de valores;

• juntos, os resultados dos indicadores representam um perfil de emissão


e utilização de recursos naturais para o sistema. (ISO 14042, 1997, apud
Chehebe, 1998)

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174 Prevenção da Poluição

INTERPRETAÇÃO E PROPOSTAS
Nesta etapa, segundo Chehebe (1998), deve-se:
• analisar os resultados obtidos nas duas fases anteriores;

• tirar conclusões compatíveis com os objetivos estabelecidos;

• explicar as limitações do estudo;

• identificar oportunidades de melhoria de acordo com o objetivo.

As melhorias podem se dar através de mudanças no processo de manufatura, em


um novo design para o produto, em mudanças de matérias-primas, na forma de uso e
descarte do produto, enfim, podem ser identificadas melhorias ao longo de todo o ciclo
analisado.

Aqui também pode ser indicada a forma como o estudo pode ser aperfeiçoado, com
indicação do uso de outras ferramentas, ou pesquisa relativa a determinado tema, enfim, é
feita uma avaliação crítica do próprio estudo, indicando caminhos para aperfeiçoá-lo.

São essas, enfim, as quatro fases de estudo de uma ACV. Essa divisão pode variar
um pouco de autor para autor, mas os conteúdos são similares.

5.4 ACV PARA IDENTIFICAÇÃO DE QUESTÕES-CHAVE

Nem todas as Análises de Ciclo de Vida cumprem necessariamente as quatro fases


anteriormente descritas. Muitas análises são efetivadas apenas para se identificar as
questões ambientais principais, ou questões-chave.

Uma ACV como essa pode ser extremamente útil para identificar questões como:

• Uma categoria de impactos dominante;

• Um estágio dominante no ciclo de vida;

• Uma lacuna nos dados ou no conhecimento.


(Lindfors, 1995)

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Análise de Ciclo de Vida 175

Neste caso, trabalha-se basicamente com informações qualitativas. Informações


quantitativas são utilizadas para comparar a importância de processos, correntes de
insumos e resíduos e impactos ambientais.

5.5 ANÁLISES COMPARATIVAS

Além da Análise do Ciclo de Vida de um único produto, processo ou serviço, há


uma outra forma típica de ACV. É a ACV comparativa.

Através de uma análise comparativa entre dois produtos é possível identificar as


maiores diferenças nos impactos ambientais potenciais das duas alternativas, para ver
qual delas é menos agressiva ao ambiente.

Atenção!
Neste caso, os produtos têm que atender ao mesmo propósito. Têm que ter a
mesma funcionalidade, a mesma utilidade. Não importa se um deles é feito de
metal e o outro de plástico, por exemplo. Portanto, não estará se comparando
bananas com laranjas, pois o importante é comparar o impacto ambiental final
que cada um deles causa, por unidade funcional.

Os resultados de um estudo como esse podem ser:

• Comparar as maiores diferenças dos impactos ambientais potenciais entre os


sistemas;
• Selecionar os tipos de impactos causados por um sistema, que são candidatos
em potencial a melhorias, quando comparados com um sistema de referência;
• Avaliar as opções ambientais potenciais dadas pela escolha entre as diferentes
alternativas, isto é, identificando os benefícios ambientais de determinada
alternativa;
• Identificar as categorias de impactos que não são significativamente afetadas
pela escolha entre as alternativas.

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176 Prevenção da Poluição

Como já foi dito, uma Análise de Ciclo de Vida pode ser muito trabalhosa se não
forem excluídas as partes menos importantes. No caso de uma análise comparativa,
pode-se imediatamente descartar do estudo os impactos equivalentes entre os dois
produtos. Só tem sentido comparar efeitos ambientais se pudermos optar pelos menos
impactantes.

5.6 ALGUMAS APLICAÇÕES DE ANÁLISE DE CICLO DE VIDA

A seguir são apresentados dois estudos de Análise de Ciclo de Vida, do Café e do


Vidro, ambos realizados pela Universidade dos Andes, Colômbia. Para sua realização
foi utilizado um software especializado em ACV, o SimaPro. Segundo Hoof, autor do
documento que relata os dois exemplos, “o SimaPro é o software mais utilizado no
mundo, principalmente na Colômbia”, onde se realizaram os estudos.

Estudo 1 - Análise de Ciclo de Vida: Café


Referência: Bart van Hoof – Análisis de Ciclo de Vida (ACV) y su aplicación en
Colombia. Santa Fé de Bogotá, maio de 2000.

Descrição do projeto

• Empresa: uma região de cafeicultura na Colômbia.

• Produto: café tradicional, tostado e moído.

• Pesquisador: Universidade dos Andes. Carlos Francisco Pareja.

Objetivo da empresa com o estudo

A associação dos cafeicultores tem entre os seus objetivos, incentivar a investigação


científica em áreas que possam contribuir para melhorar a qualidade do café, que
permitam também um aumento de produtividade e receita aos seus associados, levando
sempre em consideração o fator ambiental. Adicionalmente, o estudo de Análise de
Ciclo de Vida ajuda a comparar os cafés orgânicos com relação aos tradicionais, dando
diretrizes para melhorias de mercado e direcionamento de produtos.

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Análise de Ciclo de Vida 177

Unidade Funcional
Para o estudo adotou-se como unidade funcional 100kg de café tostado e moído,
disposto em um supermercado de Bogotá, em unidades de 500g, empacotado em sacos de
polipropileno metalizado. No estudo foram analisadas as etapas de cultivo, beneficiamento
tradicional e também ecológico, processamento industrial e distribuição.

Resultados
Foi estudada a produção de dois tipos de café: o café tradicional e o café orgânico
com beneficiamento ambiental. Ambos os produtos têm como processos similares a parte
industrial e de transporte, e determinando um impacto comparativo temos que o café do
processo tradicional tem maior impacto sobre o meio ambiente que o orgânico.

A diferença da “ecopontuação” do orgânico em relação ao tradicional chega a ser


maior em 600%. Uma vez que o café orgânico tem um público bastante reduzido devido
aos altos custos envolvidos, decidiu-se analisar em que ponto do ciclo de vida do café
tradicional era prioritário trabalhar.

Segundo o estudo, as prioridades citadas anteriormente encontram-se nas fases de


cultivo e beneficiamento. Isso nos ajuda a determinar de maneira preliminar que fatores
ou que fases são prioritárias para melhorar o perfil ambiental do produto.

Estudando essas duas fases percebemos que na fase de cultivo a utilização de pesticidas,
fungicidas e herbicidas é o fator que determina a alta pontuação desta etapa. Essas substâncias
apresentam um impacto considerável devido à periculosidade para a saúde humana e de
algumas espécies. O segundo problema encontra-se na eutrofização da água, que é causada
pela grande quantidade de nutrientes e sólidos em suspensão gerada no processo e lançada
normalmente em corpos d’água.

No processo industrial, a etapa de tostar é responsável pela principal causa do problema


de acidificação nas diferentes emissões atmosféricas decorrentes da combustão. Dado o
grande volume de produção nesta fase, a carga por unidade funcional é mínima.

Através do estudo fica claro que o maior impacto é o causado pelo uso de pesticidas
na etapa de produção do cultivo. Para o estudo, foi considerado um período de cinco
anos. Nessa análise deve-se destacar que a terra foi identificada como insumo, não tendo
sido considerado como prioritário, pois não representa maior impacto.

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178 Prevenção da Poluição

No detalhamento da fase de beneficiamento úmido, segundo os dados do inventário,


a maior contribuição para eutrofização encontra-se na fase de remoção da polpa. Nessa
fase, a quantidade de nutrientes emitida para a água é considerável.

Conclusões
Da Análise de Ciclo de Vida (ACV) realizada chegou-se às seguintes conclusões:
• As tendências de mercado para o consumo de café orgânico não só são
benéficas do ponto de vista econômico, mas também do ponto de vista
ecológico, tal como mostram os resultados.

• No ciclo de vida do café tradicional, as fases de cultivo e beneficiamento são


aquelas em que se devem concentrar as melhorias.

• Os esforços que se realizam atualmente para alcançar menor consumo de água


no beneficiamento do café são apropriados.

• Não são prioritários os efeitos derivados do transporte e do empacotamento,


em que pese este ser é um resíduo sólido.

• A médio prazo poderia se pensar na utilização de combustíveis alternativos


para a fase de tostar o café, e dessa maneira buscar diminuir as emissões
atmosféricas devido à combustão.

Estudo 2 - Análise de Ciclo de Vida: Vidro


Referência: Bart van Hoof – Análisis de Ciclo de Vida (ACV) y su aplicación en
Colombia. Santa Fé de Bogotá, maio de 2000.

Descrição do projeto

• Empresa: uma empresa de produção de vidro.

• Produto: garrafas de vidro.

• Pesquisadores: Universidade dos Andes. Mauricio Aponte, Magola Torres,


Medardo Barrios e Guillermo Zarco.

Prevenção da Poluição - Cap 5.indd 178 5/2/2003, 15:22:32


Análise de Ciclo de Vida 179

Objetivo da empresa com o estudo


A empresa busca, mediante este projeto, adquirir argumentos válidos em relação aos
impactos ambientais da garrafa de vidro retornável e a não retornável, permitindo, assim,
uma orientação nas suas estratégias de mercado e produção, tendo como base o suporte
técnico dos resultados analisados através do ciclo de vida dos produtos em questão.

Unidade de análise
Foi definida, em conjunto com os empregados da empresa, a unidade funcional de
100 litros de cerveja, engarrafados e empacotados, e postos no supermercado, para cada
um dos seguintes produtos:
• Garrafa retornável de 300cm3 para cerveja, de cor âmbar (210g).

• Garrafa não retornável de 300cm3 para cerveja, cor âmbar (190g).

Resultados
De acordo com a “ecopontuação” obtida para os ciclos de vida de cada uma das
garrafas, a garrafa não retornável contribui consideravelmente mais para os problemas
ambientais do que a garrafa retornável. A razão principal é a economia de recursos
em matérias-primas na produção da garrafa retornável, por causa do uso repetitivo ao
longo de sua vida útil.

Segundo as “ ecopontuações” obtidas para cada fase do ciclo de vida das garrafas,
a fase de matérias-primas da garrafa não retornável contribui consideravelmente mais
para os problemas ambientais do que as outras fases da mesma garrafa; e seguem nessa
ordem as fases de produção, transporte, uso e reciclagem. Para a garrafa retornável, a
ordem de contribuição é transporte e uso, matérias-primas, produção e reciclagem. Os
resultados indicam que as fases de matéria-prima e produção da garrafa não retornável
aportam consideravelmente mais aos problemas ambientais do que as mesmas fases da
garrafa retornável, e ocorre o contrário para as fases de transporte, uso e reciclagem.

O estudo indica que o maior problema ambiental ocasionado no ciclo de vida da


garrafa não retornável é a acidificação. Este problema surge, principalmente, no processo
do segundo forno, na fase de produção; as principais emissões geradas no ciclo de
vida que conduzem a este problema são NOx e SO2, pela utilização de combustíveis
fósseis.

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180 Prevenção da Poluição

O maior problema ambiental ocasionado pelo ciclo de vida da garrafa retornável


são os compostos cancerígenos. Este problema surge, principalmente, no processo de
lavagem e enchimento, nas fases de transporte e uso; o principal componente no ciclo
de vida que conduz a este problema é o níquel no ar.

O maior problema ocasionado pela fase de matérias-primas do ciclo de vida de ambas


as garrafas são os metais pesados. Este problema surge, principalmente, no processo
de obtenção do casco, e o principal componente no ciclo de vida que conduz a este
problema é o nível de chumbo dissolvido na água que é utilizada na lavagem.

Conclusões a que se chegou neste estudo:


• O melhor produto em nível ambiental é a garrafa retornável.

• Não se pode concluir sobre a vantagem ou prejuízo de uma troca na


composição das matérias-primas do casco, porque não foi levado em conta
o possível benefício ou prejuízo que traria um aumento ou diminuição
da reciclagem do vidro como resposta ao aumento ou diminuição de sua
demanda. Dessa forma, se faz necessária uma análise mais profunda deste
aspecto para que seja superado este aspecto limitante do estudo.

• Recomenda-se seguir adiante com o processo de substituir o óleo combustível


utilizado no segundo forno por gás natural.

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Análise de Ciclo de Vida 181

FECHAMENTO

Apresentamos neste capítulo a Análise de Ciclo de Vida


de produtos e processos como uma nova estratégia
ambiental para fazer frente à crescente exaustão dos
recursos naturais e aos impactos ambientais. Esta
ferramenta é considerada como uma alternativa pró-ativa
na defesa do meio ambiente, podendo contribuir para
aumentar a competitividade da empresa que a adota.

Fizemos, ao longo desta etapa de aprendizado, uma


abordagem conceitual da ferramenta e tentamos passar
uma idéia de como aplicar o conhecimento de ACV na
prática. Apontamos também as dificuldades normalmente
encontradas na realização de uma ACV e algumas
possíveis formas de superá-las. Procuramos demonstrar
que esta ferramenta permite, através de sua estrutura,
calcular quantitativamente o perfil ambiental de um
produto, processo ou serviço.

Vimos ainda neste capítulo que a ferramenta Análise de


Ciclo de Vida é relativamente nova. Portanto, podemos
concluir que muitos aspectos aqui abordados tendem a
ser aprimorados e desenvolvidos mais detalhadamente
numa velocidade muito rápida num futuro próximo,
uma vez que as exigências ambientais também vêm se
solidificando em ritmo acelerado.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 183

CAPÍTULO 6
ECOLOGIA INDUSTRIAL E PROJETO
PARA O MEIO AMBIENTE (DfE)
Sean Patrick Bradley Universidade Federal da Bahia • UFBA • MEAU
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM

“ As empresas precisam formular estratégias


próprias de projeto/manufatura que sejam
específicas o suficiente para atender às suas
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Introduzir a Ecologia Indus-
necessidades como criadores de produtos trial e os conceitos e medidas
únicos, mas que se relacionem e atendam a a ela relacionados.
demandas mais altas, tais como as • Apresentar metodologias
políticas e os desafios das estratégias de Projeto para o Meio


ambientais globais. Ambiente.
T. C. McAloone & Dr. S. Evans, 1996
• Discutir a forma de organizar
variáveis de decisão am-
biental em contextos mais
Antes de iniciarmos o conteúdo deste capítulo, amplos do que um processo
produtivo restrito.
vamos revisar um pouco o conhecimento até agora
• Apresentar fatores ambien-
trabalhado de processo de aprendizagem. Isto tais relevantes como es-
certamente vai ajudá-lo a compreender melhor o colha de materiais, me-
contexto em que Projeto para o Meio Ambiente lhorias no processo, trans-
porte, armazenamento,
(DfE) poderá ser inserido. embalagens.

No primeiro momento de interação com você


• Contextualizar o Projeto para
o Meio Ambiente em relação
discutimos, em termos de ordem de grandeza, à ACV.
a redução do impacto ambiental necessária • Trazer informações gerais
por unidade de produto, para se contrapor aos sobre o processo de projetar
produtos e processos.
impactos decorrentes do crescimento da atividade
econômica. Na ocasião falamos sobre o Fator 10,
um conceito que autores institucionais e individuais têm usado para expressar o nível
de redução do impacto ambiental por unidade de produto, que deve ser atingido nos

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184 Prevenção da Poluição

próximos 50 anos. Longe de ser um número preciso, ou de se pretender qualquer exatidão


no sentido dos prazos para isto ser atingido, o Fator 10 alerta para a necessidade de se pensar
além das medidas convencionais, hoje predominantes, de gerar resíduos para depois destruí-
los. “Pensar fora da caixa”

Num segundo momento, com o objetivo de compreender melhor o motivo das


preocupações ambientais, compartilhadas por vários segmentos da sociedade como um
todo, relacionamos os principais problemas associados a produtos e processos projetados
sob a ótica de um paradigma de que resíduo é inerente ao processo produtivo.

Como não podia deixar de ser, apresentamos medidas e enfoques que podem ser
aplicados visando minimizar os resíduos gerados principalmente em processos produtivos
já existentes. Passamos aí a tentar fazer você perceber a necessidade de adequar produtos
e processos de maneira a atender às demandas ambientais de mercado.

Consideramos importante também apresentar a metodologia desenvolvida pela UNIDO/


UNEP para implementar um programa de Prevenção da Poluição/Produção mais Limpa, de
forma prática, em processos produtivos.

Outra ferramenta que achamos interessante discutir um pouco mais com você foi a ACV
(Análise de Ciclo de Vida), que pode ser utilizada para avaliar o impacto de produtos e serviços
em todas as suas fases, desde a extração da matéria-prima até disposição final do produto
pós-uso. É bom lembrar que através da ACV podemos identificar os aspectos críticos a serem
trabalhados e definir diretrizes a serem adotadas no processo de concepção de um novo produto
ou processo considerado mais ecologicamente correto.

Vale salientar que até este momento do aprendizado estávamos concentrados nos
limites físicos da fábrica. No entanto, neste capítulo vamos procurar abrir um pouco
mais a discussão. Vamos pensar, aqui, na necessidade de uma maior articulação entre
os setores produtivos e a sociedade. Vamos, ainda, entender que o impacto ambiental da
produção deve ser discutido bem antes de se construir a fábrica. Deve começar até mesmo
na própria fase de concepção dos produtos a serem manufaturados. Estaremos conversando
a partir de agora sobre Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente.

Atingir o Fator 10 vai exigir isto, e muito mais! Por exemplo, mudanças nos padrões
de consumo, principalmente nas sociedades opulentas. Contudo, esta discussão, mesmo
sendo apaixonante, foge ao escopo deste módulo.

Prevenção da Poluição - Cap 6.indd 184 5/2/2003, 16:00:57


Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 185

O desenvolvimento de conceitos abrangentes para orientar a relação entre os modos


de produzir e consumir, como não podia deixar de ser, tem gerado diferentes pontos
de vista. Alguns deles colocam de forma conflitante as propostas da Prevenção da
Poluição/Produção mais Limpa com as da Ecologia Industrial (EI). Outros autores
interpretam estas diferenças como enfoques complementares e não antagônicos. O
trabalho de Marinho e Kiperstok (2000), Ecologia Industrial e Prevenção da Poluição:
uma contribuição ao debate regional, aborda estas diferenças e as aplica ao caso do
Pólo Petroquímico de Camaçari - www.teclim.ufba.br. O periódico Journal of Cleaner
Production dedicou uma edição inteira à discussão das divergências e convergências
entre esses conceitos.

De fato, os autores mais relacionados com a P2 têm focado mais o processo interno
à fábrica. Já os autores relacionados à EI têm-se preocupado mais com as relações
interfabris e sua inserção nos ciclos naturais. Instrumentos como a Análise de Ciclo de
Vida e metodologias de Projeto para o Meio Ambiente tentam operacionalizar esses
esforços. Eles tentam responder a perguntas do tipo: Quais são os fatores que você deve
levar em conta quando está projetando produtos ou processos industriais? Quais são
realmente suas prerrogativas, e o que se encontra previamente definido pelas restrições
do mercado, e pela legislação e regulamentação?

O Projeto para o Meio Ambiente (Design for Environment – DfE) representa uma
linha de pensamento que a cada dia que passa se consolida como uma alternativa para
casar interesses corporativos com preservação ambiental.

Tomar decisões nunca foi fácil, mas hoje as complexidades envolvidas são
significantes, e erros de projeto podem condenar o produto a impactar o ambiente por
anos, comprometendo o nome da empresa. Portanto, não é suficiente identificar fatores
ambientais importantes no projeto de produtos, mas sim estruturá-los de forma que
projetistas possam incluí-los apropriadamente.

A meta do DfE, assim como da Ecologia Industrial, precisa ser esclarecida, e o


processo de projetar, avaliado diante desta meta. Nossas decisões de projeto precisam
caminhar nesta direção, de forma a contribuir efetivamente para a sustentabilidade dos
sistemas de produção.

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186 Prevenção da Poluição

6.1 ECOLOGIA INDUSTRIAL – EI

A discussão sobre a sustentabilidade do planeta, à luz do crescimento do poder


de impacto do binômio produção-consumo, obrigou a aproximação de cientistas e
pensadores das ciências naturais, sociais e de tecnologia do processo produtivo. Um
importante encontro desse tipo ocorreu em julho de 1992, em Snowmass, Colorado,
EUA, reunindo 50 participantes de diferentes países para discutir o tema Ecologia
Industrial e Câmbio Global. Os resultados desse encontro foram publicados por Socolow
et al. (1994).
Os conceitos de “Metabolismo Industrial” e “Ecologia Industrial” têm-se
manifestado ao longo das últimas três décadas, ainda que de forma dispersa.
A idéia de descrever os fluxos de material e energia, dos processos industriais,
como um sistema metabólico foi introduzida por Robert U. Ayres, que cunhou o termo
“Metabolismo Industrial” (Ehrenfeld, 1997). O conceito se fundamenta, basicamente,
na aplicação do princípio de equilíbrio de massas à circulação de materiais e energia
ao longo dos processos produtivos.
O conceito de Ecologia Industrial, entretanto, deveria ir além. Erkman (1997) entende
que, a partir do conhecimento de como os sistemas industriais funcionam e são regulados,
de suas interações com a biosfera e do conhecimento disponível sobre meio ambiente,
estes sistemas seriam reestruturados para compatibilização com os ecossistemas naturais
(Marinho e Kiperstok, 2000).
Na sua origem, a palavra “industrial” no termo “Metabolismo Industrial” tinha
um significado mais amplo do que o utilizado em “Ecologia Industrial”. No primeiro,
abrangia toda a civilização; no segundo, abordava processos produtivos específicos.
No primeiro, se discutia o assunto transporte, por exemplo; enquanto que o segundo
se discutia o automóvel, os pneus, etc. Com o passar do tempo, o termo “Ecologia
Industrial” passou a ter uma abrangência ampliada, sendo mais divulgado (Socolow
et al., 1994).
Ambos os termos surgem da comparação entre os processos naturais com os processos
produtivos. Esta comparação apontou para uma diferença fundamental: enquanto os processos
produtivos se dão em ciclos abertos, os naturais são fechados. Ciclos abertos implicam em
geração de produtos e resíduos. Nos ciclos fechados não cabe o conceito de resíduo.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 187

Questão para reflexão:


• O que poderia ser considerado resíduo numa floresta natural, por exemplo?

Retire qualquer componente da floresta. As folhas caídas no chão? Os troncos


podres? E condenaremos a floresta ao desaparecimento. Ou teremos que importar
insumos externos para sua manutenção. Porque esses elementos, que alguns ainda
enxergam como restos, são um elo fundamental na estrutura e funcionamento de todo
o ecossistema da floresta, e sem esse elo/”resíduo” a floresta morreria.

Graedel e Allenby (1995) definem a Ecologia Industrial como “o meio através do qual
a humanidade pode, deliberada e racionalmente, aproximar e manter uma capacidade
de carga apropriada, com uma contínua evolução econômica, cultural e tecnológica.
Assim, Ecologia Industrial precisa apoiar a estrutura e função dos ecossistemas, porque
os seres humanos são apenas uma componente nas interações ecológicas e não podem
ser separados deste todo”. Simplesmente, nossa saúde é dependente da saúde dos outros
componentes do ecossistema. O todo é integrado.

O termo “Ecologia Industrial”, ao se fundamentar numa analogia com a ciência


da ecologia, prioriza as funções e relações das partes diversas que conformam um
ecossistema. “A EI procura otimizar os ciclos de materiais, da matéria virgem aos
produtos finais, de forma a eliminar a disposição de resíduos.” (Graedel, T. apud
Socolow, 1994)

Para ilustrar a evolução de sistemas abertos para sistemas fechados sob o enfoque
dos materiais, Graedel utiliza as Figuras 6.1 e 6.2:

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188 Prevenção da Poluição

Fonte: Graedel, T. apud Socolow et al., 1994.

FIGURA 6.1 – SISTEMAS ABERTOS E FECHADOS

Prevenção da Poluição - Cap 6.indd 188 5/2/2003, 16:00:58


Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 189

FIGURA 6.2 – TIPOS DE FLUXOS DE MATERIAIS (GRAEDEL, T. APUD SOCOLOW ET AL., 1994)

O sistema Tipo I caracteriza uma situação de abundância de recursos naturais, em


que não existem pressões no sentido de se preocupar com qualquer eficiência no seu
uso. Usam-se insumos ilimitados e geram-se resíduos ilimitados. Na medida em que o
processo de transformação é insignificante, em relação ao ecossistema onde se localiza,
os impactos gerados são imperceptíveis.

Com o crescimento da produção e do consumo começa a ser sentida uma pressão


sobre os ecossistemas, sejam locais, regionais ou planetários. Os limites do meio
ambiente passam a ter presença real. Surgem restrições ao uso ilimitado dos recursos
naturais e, conseqüentemente, a produtividade no seu uso aumenta. Isso leva à redução
da relação resíduo produzido por unidade de produto gerado. Esta situação encontra-se
representada no sistema Tipo II, da Figura 6.1.

O crescimento do consumo nos coloca a necessidade de pensar caminhos para poder


atingir o sistema Tipo III. O surgimento do conceito de Fator 10 aponta para os esforços
que estão sendo realizados nesse sentido.

Prevenção da Poluição - Cap 6.indd 189 5/2/2003, 16:00:58


190 Prevenção da Poluição

Resumindo, a abordagem da Ecologia Industrial pretende:

• perceber sistemas e atividades em conjunto com o meio ambiente, em vez de


considerá-los de forma isolada;

• fornecer uma perspectiva global e sistêmica;

• identificar e seguir fluxos e transformações de materiais e energia através dos


sistemas;

• estabelecer uma abordagem transdisciplinar;

• mudar de processos abertos para processos cíclicos e fechados;

• reduzir impactos ambientais;

• integrar os sistemas industriais entre si e com a comunidade;

• estimular os sistemas naturais, que são mais sustentáveis e eficientes;

• promover o uso sustentável de recursos naturais.

Com isso a Ecologia Industrial busca ciclos e processos ótimos para todos os recursos
materiais e energéticos, enquanto enquadrados nos limites ambientais e financeiros
atuais. Soluções ótimas são buscadas e determinadas através do estabelecimento de um
equilíbrio entre os fatores e os limites em conflito. Dessa forma a Ecologia Industrial
ajuda na obtenção de soluções racionais, amplas e sustentáveis.

Por fim, pode-se dizer que a Ecologia Industrial busca uma economia sustentável
ligada ao desenvolvimento cultural, levando em conta um moderado crescimento
populacional. No entanto, as ações da Ecologia Industrial são, em grande parte, avanços
tecnológicos e soluções técnicas em vez de soluções sociais.

Para complementar o aqui exposto, sugere-se a leitura dos trabalhos:

AUSUBEL, J. H. Liberação do meio ambiente. Tecbahia, Bahia, v. 12, n. 2, p. 29-41, 1997.


FROSCH, R.A. No caminho para o fim dos resíduos, as reflexões sobre uma nova ecologia
das empresas. Tecbahia, Bahia, v. 12, n. 2, p. 42-53, 1997.
LOVINS, A.B.; LOVINS, L.H.; HAWKEN, P. A road map for natural capitalism. Harvard
Business Review, p. 145-158, may/jun.1999.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 191

Questão para reflexão:


• Compare os textos citados e aponte suas convergências e divergências.

Com esta visão, passemos agora a discutir como introduzir esses conceitos no projeto
e fabricação de novos produtos e processos.

PROJETAR
Numa escala conceitual mais detalhada, o Projeto para o Meio Ambiente (Design
for Environment – DfE) é normalmente inserido no contexto da Análise de Ciclo de
Vida (ACV). Considerado assim, o DfE compõe a parte da ACV em que objetivamos a
melhoria do produto. Outras perspectivas consideram o Projeto para o Meio Ambiente
um tipo de projeto com abordagem holística que leva em conta todo o ciclo de vida.
Nesse caso, é freqüentemente equacionado com ecodesign, mas tem-se uma série de
outros nomes, mais ou menos equivalentes, como: “Life Cycle Design”, “EcoRedesign”
e “Green Design”.

De qualquer modo, pode-se identificar três elementos-chave na questão:


• processo de projeto envolve a tomada de decisões a respeito da forma, função
e uma série de outras qualidades do produto;

• uma nova abordagem que vai além do simples objeto, em que se incluam todas
as etapas da vida, é hoje considerada fundamental;

• considerações ambientais têm que ser levantadas cedo no processo de


produção.

Apesar de abordar conceitos novos, já existem críticas direcionadas ao DfE, por


focalizar demasiadamente melhoramentos incrementais no produto em vez de concentrar-
se em novas maneiras de satisfazer as necessidades dos clientes e assim conseguir
resultados ambientais além dos previstos para atingir o Fator 10.

Por enquanto, podemos enquadrar o Projeto para o Meio Ambiente no âmbito de


uma série de conceitos ambientais emergentes. A raiz do DfE é o processo de projetar.
Projeto é fundamentalmente um processo de inovação. Porém, os métodos de projeto,
tanto associados ao desenho industrial como em outras áreas, não têm sido inseridos em

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192 Prevenção da Poluição

seus respectivos contextos sociais e ambientais. Tradicionalmente, os fatores de função,


aparência e custos têm dominado quase por completo os processos de projeto.

A importância do projeto não é sempre reconhecida. Muitas vezes os administradores


de fábricas são culpados por problemas de poluição, quando na verdade são problemas
resultantes de decisões feitas por projetistas de produtos e processos em conjunto com o
próprio mercado. Então, existe uma grande responsabilidade por parte do projetista em
aplicar todos os métodos possíveis de reduzir os impactos ambientais que possam advir
dos processos e produtos por ele projetados. A extensa vida útil de muitos produtos e
processos, que freqüentemente vai de alguns anos a várias décadas, torna as decisões do
Projeto para o Meio Ambiente essenciais, já que os impactos de tais decisões persistem
ao longo desse mesmo período.

Alguns autores citam que 70% dos custos de manufatura e os atributos dos produtos
são decididos relativamente cedo no processo de projeto (Andreasen, M.; Khiler, S.
& Lund, T. Design for Assembly, London: IFS Publications, 1983). Graedel e Allenby
(1995) também destacam o fato que estratégias de Projeto para o Meio Ambiente são
mais efetivas durante as fases iniciais do projeto. Nas fases iniciais, normalmente é
mais fácil alterar o projeto para adequar-se aos fatores ambientais do que nas fases
subseqüentes. Por exemplo, é mais simples e menos caro reduzir emissões de gases
ácidos removendo compostos de enxofre da matéria-prima do que capturá-los e tratá-
los nos estágios finais do processo.

Sem dúvida, os projetistas são a força principal atrás da forma do produto pronto e
do seu posterior uso. As decisões tomadas nesse estágio de desenvolvimento afetarão
a quantidade e a qualidade dos materiais utilizados, os gastos energéticos, os resíduos
gerados, além dos fatores tradicionais de função, custo, etc.

MUDANDO O PROCESSO DE PROJETAR


O processo de projeto é responsável por muitas mudanças que atingem a sociedade.
Projeto no sentido do design, em inglês, é algo que define soluções para problemas
novos, ou, então, cria um produto ou um processo que satisfaça a demanda da sociedade.
Por exemplo, se uma área fechada demonstra claridade inadequada, então é projetado
um sistema de iluminação artificial, ou meios para proporcionar o uso da iluminação
natural para suprir as necessidades de luz.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 193

Qualquer processo de projetar precisa contemplar os seguintes passos:


• reconhecimento de necessidades, a identificação do serviço a ser prestado e as
limitações e restrições para tanto;

• seleção e definição do produto ou processo a ser desenvolvido, para atender ao


serviço a ser prestado;

• desenvolvimento de um projeto conceitual;

• avaliação de vários modelos desenvolvidos, considerando as interações entre


fabricantes, fornecedores e usuários, além do marketing e aceitabilidade do
produto ou processo;

• desenvolvimento de um projeto detalhado, considerando todos os fatores


pertinentes;

• comunicação do projeto.

Entretanto, o projeto, hoje, precisa analisar e sintetizar muito mais do que jamais visto
antes. Para poder projetar algo, custos e função não são suficientes, e precisamos saber
o máximo possível sobre o comportamento previsto do produto e dos usuários durante
todo seu ciclo de vida. Em face desta realidade, é fundamental utilizar os processos de
análise para simplificar o mundo real através de modelos e de síntese para poder juntar
elementos num todo (Dieter, G. E. Engineering Design, First Edition, 1986). Análise e
síntese permitem tomar decisões num contexto em que há relações complexas e decisões
interligadas, de tal forma, que muitas entram em conflito e somente se resolvem através
de trocas de vantagens e desvantagens (trade-offs).

Portanto, é preciso agrupar o número crescente de variáveis de projeto que deveriam


ser consideradas. As variáveis genéricas básicas são:
• função;
• aparência/estilo;
• custo.

Por função podemos identificar a satisfação da necessidade básica do usuário ou da


sociedade. Função pode ser associada também o conforto e conveniência. A questão de
aparência e estilo não é somente o caso de se criar formas que satisfaçam esteticamente

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194 Prevenção da Poluição

o cliente, mas podem ser elementos orientados para destacar o produto no mercado.
A luta por ser único é forte no mercado mundial. O que vale dizer que custo baixo é
essencial para competir no mercado. Mais adiante veremos, repetidamente, que custo
baixo é também uma importante variável de projeto ambiental.

Outras variáveis, geralmente consideradas no projeto de produtos, são:


• qualidade e durabilidade;

• fatores de segurança;

• facilidade da manufatura;

• processos de montagem e desmontagem;

• disponibilidade de materiais, equipamentos e componentes;

• facilidade de manutenção;

• confiabilidade;

• vida útil;

• conformidade com os regimentos legais;

• responsabilidade legal;

• impactos ambientais.

Tradicionalmente, a variável impacto ambiental inclui apenas os resíduos gerados


no processo produtivo e, mais recentemente, no descarte do produto após uso. A lista
citada destaca a abrangência de considerações importantes para o projeto de produtos
e processos, porém é necessário agrupá-los e organizá-los. Estas considerações foram
organizadas através da classificação em grupos de uso sistemático como variáveis.
Autores como Graedel e Allenby (1995) utilizam uma forma simplificada chamada de
Projeto para X (ou Design for X-DfX), onde X pode ser substituído por uma série de
“variáveis”.

Assim, além das variáveis clássicas mencionadas, juntou-se a busca de qualidade


de serviço e de produção, que incluem:

Prevenção da Poluição - Cap 6.indd 194 5/2/2003, 16:00:59


Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 195

• DfA: (Assembly) – Facilidade de montagem, uso de peças padronizadas, etc.

• DfM: (Manufacturability) – Como o projeto pode facilitar a própria


manufatura do produto.

• DfT: (Testability) – Projeto que leva em conta a fase de testes e a integração


de componentes complexos.

• DfS: (Serviceability) – Projeto que facilita a instalação. Além de manutenção,


reparo e modificação futura.

• DfR: (Reliability) – A consideração da confiabilidade do produto perante os


problemas de cargas eletrostáticas, corrosão, resistência a ambientes variáveis,
etc.

• DfSL: (Safety and Liability Prevention) – Projeto dentro dos padrões de


segurança para prevenir acidentes e questões de responsabilidade legal.
(Graedel e Allenby, 1995)

Mais recentemente a questão ambiental passou a ter uma inserção mais sistêmica
no projeto, e novas variáveis são consideradas e agrupadas em:
• DfE: (Environment) – Projeto para o Meio Ambiente;

• DfR: (Recycling) – Projeto para reciclagem;

• eficiência energética;

• seleção e uso de materiais;

• transportes utilizados;

• armazenamento e embalagens.

Com base, em parte, nas críticas de uma abordagem bastante incremental, essas
mesmas variáveis, e outras, podem ser consideradas dentro de um macrocontexto de
projeto. Assim, cria-se uma hierarquia de estratégias de projeto que especifica quando
aplicar conceitos e modificar o resultado final. Portanto, diferentes rotas “design wheels”
foram desenvolvidas com a finalidade de ajudar o processo de síntese.

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196 Prevenção da Poluição

PROJETO PARA O MEIO AMBIENTE


Projeto para o Meio Ambiente pode ser considerado, então, a aplicação de diferen-
tes fatores de projeto, de forma hierarquizada, visando reduzir impactos ambientais
e custos, fomentando a eficiência. A estrutura apresentada do DfE, ou ecodesign,
segue mais ou menos o esquema apresentado e utilizado por Five Winds Internatio-
nal and Associates (http://www.fivewinds.com) e Ralf Nielsen, de Nielsen Design
Consulting (ver Figura 6.3).

FIGURA 6.3 – ROTAS DE PROJETO – DESIGN WHEELS

Com base na estruturação da Figura 6.3, fica claro que o Projeto para o Meio Ambiente
inicia-se com o Desenvolvimento de Novos Conceitos (1), para resolver o problema em
questão. Nesse estágio, qualidades essenciais são a criatividade e a capacidade de ver
antigos problemas de um outro modo.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 197

Considera-se, nesta etapa:


• desmaterialização;

• mudança para serviços;

• partilhamento de equipamentos.

A segunda consideração do projeto é a Otimização Física (2), que tem como primeira
prioridade o aumento da vida útil do produto, incluindo também os seguintes fatores:
• a integração das funções;

• a otimização das funções do produto;

• o aumento de confiabilidade e durabilidade;

• a facilidade de manutenção e reparo;

• a estrutura modular do produto;

• as fortes relações com quem utiliza o produto.

Em seguida vêm as tentativas de Otimização do Uso de Materiais (3):


• redução de materiais;

• materiais mais limpos;

• materiais renováveis e abundantes;

• materiais energeticamente eficientes;

• materiais reciclados;

• materiais recicláveis.

Ao mesmo tempo, é importante considerar a Otimização das Técnicas Utilizadas


na Produção (4). O projeto do produto pode afetar o tipo de processo utilizado e assim
gerar impactos ambientais. No geral, a produção deve minimizar o uso de materiais,
evitar os compostos perigosos, fornecer alta eficiência com poucas perdas e gerar poucos
resíduos. Os processos produtivos devem ser cada vez mais eficientes, minimizando
paradas e evitando taxas e multas associadas à conformidade regulatória. Para tanto,
deve-se considerar:

Prevenção da Poluição - Cap 6.indd 197 5/2/2003, 16:01:00


198 Prevenção da Poluição

• técnicas alternativas de produção;

• menos etapas na linha de produção;

• menos consumo de energia (ver Capítulo 7);

• fontes energéticas mais limpas;

• menos resíduos;

• menos insumos.

Uma importante consideração, que não é independente das outras aqui apresentadas,
é a Otimização dos Meios de Distribuição (5), que precisam ser sistematizados e
otimizados. Entre os fatores a serem considerados incluem-se:
• embalagem;

• modo de transporte;

• modo de armazenamento e manuseio;

• logística.

Reforçando o fato de que o DfE é uma abordagem associada a todo o ciclo de vida
de um produto, precisamos incluir fatores de projeto que antecipem o que acontece
fora do espaço físico da fábrica. Portanto, devemos considerar algumas das seguintes
alternativas para se obter Redução do Impacto Durante o Uso do Produto (6):
• redução no consumo de energia;

• fontes de energia mais limpas;

• redução de insumos;

• insumos mais limpos.

Depois de considerar estes outros aspectos envolvidos no processo de projetar nossos


produtos, devemos considerar alternativas de Otimização de Produtos no Final de sua
Vida Útil (7). Como sempre, soluções para o fim do ciclo não são todas iguais, e assim
são consideradas de forma hierárquica:

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 199

• reuso do produto;

• projeto para desmontagem;

• remanufatura de produtos;

• reciclagem;

• descarte final.

Então, considerações conceituais de projeto, hierarquizadas sob a ótica ambiental,


podem levar a novas formas de resolver problemas. Portanto, precisamos revê-los mais
detalhadamente para entender como trabalhar com variáveis ambientais no projeto.

6.2 DESENVOLVIMENTO DE NOVOS CONCEITOS

Uma parte fundamental de qualquer projeto está associada ao processo de “pensar


lateralmente”, ou pensar “fora da caixa”. Isso quer dizer: abordar um problema antigo
de forma totalmente inovadora e, às vezes, requerendo mudanças até no contexto do
problema, tanto quanto no problema em si. Tipicamente, no desenvolvimento do produto,
este tipo de solução envolverá muitos atores na hierarquia da empresa, e fora dela.

São essas novas soluções que às vezes trazem “revoluções” na forma de atender a
uma necessidade da sociedade. Um exemplo freqüentemente citado é o uso de e-mail em
vez da carta de papel. No caso, a necessidade de comunicação é resolvida sem os gastos
materiais. Para a área industrial, a principal mudança de conceito necessário é o desvio
de atenção do produto como objeto para o produto como um sistema, com um ciclo de
vida que deve satisfazer os requisitos de todos os “clientes” atuais e subseqüentes.

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200 Prevenção da Poluição

Ao aluno:
Você conhece a famosa pegadinha abaixo?

Tente unir todos os pontos com 4 linhas retas sem levantar a caneta do papel.
E aí, quantas soluções você encontrou?

DESMATERIALIZAÇÃO
O conceito de desmaterialização leva a projetos que reduzem o tamanho do produto
ao mínimo necessário, sem que sua aplicação seja comprometida. Outra possibilidade
é identificar ou criar substitutos para produtos que resolvam uma necessidade sem o
uso de materiais. Igualmente importante é a substituição de sistemas baseados no uso
intensivo de energia, ou infra-estrutura.

É essencial, então, que os projetistas levantem em detalhe as necessidades dos


possíveis usuários para realmente definir o produto ou serviço a ser oferecido. A
partir disso, procura-se novas soluções. Atualmente, as tecnologias de informação e
comunicação permitem novas perspectivas em problemas tradicionais.

A MUDANÇA PARA SERVIÇOS


Isto representa uma mudança radical na forma de uma empresa negociar os recursos
oferecidos ao mercado. Num contexto novo, quando uma empresa fornece um serviço que
um determinado produto presta, em vez do produto em si, ela assume a responsabilidade
pela manutenção, reparo, reciclagem e qualquer disposição que seja necessária. Assim,

Prevenção da Poluição - Cap 6.indd 200 5/2/2003, 16:01:01


Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 201

a empresa vende somente o serviço e não o objeto que fornece. O nível de controle
envolvido nesse tipo de relacionamento permite que a empresa desenvolva sistemas
muito mais eficientes.

Os tipos de benefícios promovidos são:


• informações atualizadas sobre as necessidades dos usuários;

• possibilidade de responder rapidamente às mudanças no mercado;

• mais controle sobre todo o ciclo de vida do produto;

• possibilidade de ter retornos não somente no uso do produto, mas também nas
fases seguintes.

PARTILHAMENTO DE EQUIPAMENTOS
O uso de um produto por um conjunto de pessoas ou empresas tende a ser mais
eficiente. Como foi visto anteriormente, os usuários pagarão por uma unidade de serviço
utilizado, em vez de pagar para ser o dono do mesmo.

Isso permite ao projetista criar sistemas que:


• reduzam materiais e gastos energéticos;

• baixem custos de transporte;

• facilitem a reutilização e reciclagem do produto.

6.3 OTIMIZAÇÃO FÍSICA

Além dos aspectos relacionados à função, à estética, ao custo e a outros, tradicionalmente


considerados pelos projetistas, no DfE devem ser incluídas considerações associadas à
ampliação das funções do produto e de sua vida útil. Para esta finalidade, o projetista
deve projetar as características físicas, as feições e os componentes, com o objetivo de
agregar valor ao produto para o usuário.

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202 Prevenção da Poluição

Isso envolve não somente o estabelecimento de funções eficientemente adaptadas


às necessidades do usuário, mas também um aumento na sua vida útil técnica, isto é,
o tempo em que o produto funciona bem, e na sua vida estética, ou seja, o tempo em
que o usuário considera o produto atrativo. É preciso, contudo, encontrar um equilíbrio
entre essas considerações.

INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES
Combinando serviços e funções num único produto, podemos reduzir espaço e
aumentar o uso de materiais.

Precisamos considerar, nesse caso, que pode haver um aumento também na


complexidade do produto não somente para o usuário, mas também para o projetista.

No entanto, a integração de funções traz possíveis benefícios, como:


• uso mais eficiente de espaço;

• redução de materiais (desmaterialização) e redução em gastos energéticos;

• mais unidades de “serviço” por unidade de transporte.

OTIMIZAÇÃO DAS FUNÇÕES


Pode ser importante reunir funções num único produto, mas é igualmente importante
identificar funções supérfluas e eliminá-las. É preciso descobrir quais são as funções
primárias e as secundárias, e saber se são de natureza utilitárias ou estéticas.

AUMENTO DA CONFIABILIDADE E DURABILIDADE


São considerações até de certa forma tradicionais, mas que têm sua importância
redobrada quando consideradas sob o enfoque ambiental. O objetivo é, por um lado,
considerar todos os meios para aumentar a vida útil de produtos e, conseqüentemente,
reduzir o uso de recursos naturais. Por outro lado, procura-se minimizar a ocorrência de
acidentes ambientais provocados pela prematura falência de equipamentos, tais como
tubulações transportando produtos químicos e veículos terrestres e marítimos despejando
seus conteúdos no meio ambiente. Um dos maiores programas ambientais da história
recente da indústria do petróleo no Brasil foca este assunto.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 203

A questão da confiabilidade começa com a análise dos componentes funcionais para


combater o desgaste que os produtos sofrem. A durabilidade refere-se à capacidade de
um produto resistir aos danos causados pelo uso.

FACILIDADE DE MANUTENÇÃO E REPARO


Trata-se, também, de técnicas utilizadas para aumentar a vida útil de um produto
e assegurar que a limpeza, a manutenção e o reparo sejam feitos no tempo certo e de
modo apropriado.

A manutenção depende, freqüentemente, apenas de instruções claras e simples.


Quando o produto é por natureza complexo, precisa de assistência especializada, que
deve considerar:
• como o produto chega ao local do reparo;

• o perfil do profissional que fará o serviço de manutenção ou reparo;

• a facilidade de desmonte do produto;

• o desenvolvimento de uma estrutura modular.

Algumas estratégias para facilitar o reparo e a manutenção são:


• indicar de forma clara e simples, com etiqueta ou selo, como o produto deve
ser aberto para limpeza ou reparo;

• indicar quais as peças que devem ser limpas ou submetidas à manutenção,


usando para isso, por exemplo, diferentes cores;

• indicar as peças que devem ser freqüentemente inspecionadas;

• o projeto do produto deve deixar visível os efeitos de desgaste para que os


reparos sejam feitos na hora certa;

• agrupar peças que têm desgaste relativamente rápido e deixá-las acessíveis


para facilitar o reparo ou a troca;

• fazer com que os componentes mais frágeis possam ser desmontados com
facilidade para conserto ou troca.

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204 Prevenção da Poluição

Programas como o Total Production Management (TPM) têm entre os seus pilares
de implementação a Manutenção Autônoma. Este pilar foca a responsabilidade da
manutenção corriqueira nas próprias equipes de operação, desenvolvendo uma relação
salutar entre equipes de operação e os seus equipamentos.

ESTRUTURA MODULAR DO PRODUTO


Uma estrutura modular facilita a reformulação técnica e estética de um produto,
evitando sua falência prematura. Permite sua atualização através da incorporação de
novos componentes durante o seu uso, reduzindo a freqüência de descarte e a necessidade
de sua substituição.

Portanto, projetistas devem fazer produtos que permitam:


• atualizações;

• renovação de elementos tecnica ou esteticamente obsoletos;

• fácil manutenção.

FORTES RELAÇÕES COM QUEM UTILIZA O PRODUTO


Os usuários precisam considerar o projeto atrativo, não só inicialmente, mas no seu
uso e manutenção. Deve-se evitar que a vida útil psicológica do produto seja curta,
para evitar seu desuso com mudanças de modos temporários. Portanto, o produto deve
envelhecer de forma digna, aumentando-se o tempo em que os usuários o percebem
como um produto de valor.

Pode-se fortalecer a relação entre produto e usuário das seguintes maneiras:


• criando um produto que faça mais do que o esperado pelo usuário;
• projetando uma superfície que envelheça bem;
• assegurando que a manutenção e o reparo serão processos fáceis e até
agradáveis;
• assegurando que a manutenção possa ser feita com segurança e com um
mínimo de ferramentas hiperespecializadas;
• agregando valor em termos de projeto e funcionalidade para que o usuário
tenha receio em trocar o produto.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 205

6.4 OTIMIZAÇÃO DO USO DOS MATERIAIS

CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE MATERIAIS


Os materiais devem ser utilizados de forma eficaz, dadas as suas limitações. Os tipos
de limitações freqüentes são:
• quantidades finitas – alguns metais existentes na Terra têm quantidades
limitadas;

• combustíveis fósseis – são essencialmente não-renováveis, porque demandam


um longo tempo de formação;

• taxas de renovação e uso – a madeira, por exemplo, pode ser um recurso


renovável se administrada de forma correta.

A extração de materiais deve ser feita cuidadosamente porque os processos de


extração freqüentemente causam grandes impactos ambientais. No geral, os materiais
selecionados devem possuir as seguintes características:
• ser abundantes;

• não-tóxicos;

• não estar sob nenhuma restrição de uso.

REDUZIR USO DE MATERIAIS


Primeiramente, precisa-se projetar produtos e processos com uso mínimo de
materiais. A melhoria de projetos de reforços e estruturas internas de produtos pode
ser feita para resultar num produto mais eficiente.

Vista a questão estrutural, tentamos otimizar o volume e o peso dos materiais para
utilizar menos energia durante a produção, transporte e armazenamento. Além de reduzir
impactos, reduz-se consumo e aumenta-se a produtividade.

Redução de peso: esta é uma forma direta e simples de limitar o impacto ambiental
– quando menos recursos são extraídos, menos resíduos são produzidos e menos impactos
associados ao peso durante o transporte são causados.

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206 Prevenção da Poluição

Redução de volume (transporte): quando um produto e sua embalagem são reduzidos


em tamanho e volume, mais produtos podem ser transportados mais eficientemente num
determinado modo de transporte. Deve-se considerar, nos projetos, produtos e embalagens
dobráveis que possam ser empilhados e desmontados para serem reusadas.

MATERIAIS MAIS LIMPOS


Materiais tóxicos como metais pesados e solventes orgânicos e radioativos devem
ser evitados, porque eles introduzem sérios riscos em todas as fases de um processo ou
produto: produção, transporte, armazenamento, uso e disposição.

Materiais tóxicos: além de substâncias proibidas localmente e em acordos


internacionais como os Poluentes Orgânicos Prioritários (POP), halons, CFC e HCFC,
devem ser incluídos em listas de substâncias a serem evitadas dentro da fábrica e pelos
fornecedores o mercúrio, o chumbo, os VOCs e o PVC (cloreto de polivinil).

Convém conhecer os avanços conseguidos por programas governamentais desen-


volvidos com este propósito. Sejam voluntários, como o programa 33/50 da USEPA -
(http://www.epa.gov), ou compulsórios, como o Toxics Release Inventory (TRI), da
mesma agência. Destaque-se, ainda, o Programa de Redução do Uso de Substâncias
Tóxicas (TURI), do estado de Massachusetts, nos EUA (http://www.turi.org).

MATERIAIS RENOVÁVEIS E ABUNDANTES


Materiais renováveis são substâncias originadas de uma planta, animal ou ecossistema
que têm a capacidade de se regenerar.

Portanto, os materiais renováveis:


• não serão exauridos se forem gerenciados corretamente;

• podem reduzir emissões de CO2 se comparados com combustíveis fósseis;

• geram resíduos biodegradáveis;

• geram emprego local através de plantações locais.


No entanto, é necessário se comparar o ciclo de vida inteiro, porque em certos casos
fatores como consumo energético podem contra-indicar seu uso. Materiais plásticos
podem ser menos impactantes do que papel em certas funções.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 207

Questão para reflexão:


• O que você acha do uso de sacos plásticos x sacos de papel, nas compras em
supermercados?

Autores como Graedel e Allenby (1995) sugerem, no caso de recursos não renováveis,
a consideração da sua disponibilidade em escala mundial e os impactos referentes aos
processos de extração. Na Tabela 6.1 eles apresentam uma visão geral da disponibilidade
de alguns elementos no planeta.

TABELA 6.1 – LIMITAÇÕES GLOBAIS DE RECURSOS MATERIAIS


Abundância de elementos na crosta terrestre superior
Abundante >0.1 % Al, Ca, Fe, K, Mg, Na, Si, Ti
Comum >100 ppm Ba, Mn, P, Rb, Sr, Zr
Relativamente comum 10-99 ppm Cr, Cu, Ga, Li, Ni, Pb, Sc, V, Y Zn
Não comum 1-9 ppm B, Be, Co, Cr, Th, U
Raro <1 ppm Ag, Au, Hg, Pt, Sb
Traços de metais recuperados como subprodutos
Reservatório Traços metálicos
Al Ga
Cu As, Se, Te
Pb As, Bi
Pt Ir, Os, Pa, Rh, Ru
Zn Cd, Ge, In, Th
Zr Hf
Classes de suprimento de elementos
Suprimento infinito Br, Ca, Cl, Kr, Mg, N, Na, Ne, O, Rn, Si, Xe
Suprimento amplo Al, (Ga), C, Fe, H,K, S, Ti
Suprimento adequado I, Li, P, Rb, Sr
Suprimento potencialmente limitado Co**, Cr*, Mo (Rh), Ni**, Pb (As, Bi), Pt (Ir, Os, Pa, Rh, Rn)*, Zr (Hf)
Suprimento altamente limitado Ag, Au, Cu (As, Se, Te), He, Hg, Sn, Zn (Cd, Ge, In,Th)
Fonte: Graedel e Allenby, 1995.
* Sujeito a controle cartorial por se encontrar quase que exclusivamente na Africa do Sul e no Zimbábue.
**A manutenção do suprimento exige exploração do fundo marinho.

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208 Prevenção da Poluição

MATERIAIS ENERGETICAMENTE EFICIENTES


Materiais provenientes de processos eficientes de extração, processamento e
refinamento devem ser preferidos. Normalmente, a redução do número de passos ou
etapas no processo produtivo limita os gastos energéticos.

Às vezes é necessário maior gasto de energia no processo de fabricação para criar


produtos tecnicamente mais apropriados e que, portanto, possam reduzir outros gastos
na fase de uso. Precisa-se comparar a demanda de energia com as qualidades finais de
durabilidade, firmeza, resistência a calor ou desgaste. Tendo-se estas qualidades em
mente, procura-se escolher os materiais com a menor energia embutida possível.

MATERIAIS RECICLADOS
Sempre que possível, devemos usar material reciclado em lugar de extrair material
virgem, deixando-o em forma reciclável após o seu uso. Materiais reciclados são
utilizados quando estão disponíveis e na forma apropriada, porque são menos impactantes
e menos caros do que materiais novos. O potencial de reciclagem dos materiais varia.
Por exemplo:
• metais são freqüentemente recicláveis;

• madeira e produtos de papel são, às vezes, recicláveis, mas a qualidade decai a


cada nova reciclagem (porque o comprimento da fibra diminui);

• alguns plásticos são recicláveis, outros não;

• materiais heterogêneos geralmente não são recicláveis.

Também deve-se considerar os benefícios de uso de materiais reciclados disponíveis,


notando alguns pontos relevantes:
• a implementação de um programa de coleta nas empresas gera materiais de
custo reduzido;

• o uso de materiais reciclados geralmente reduzirá a energia gasta no produto


em seu ciclo de vida;

• normalmente, a fase de extração é responsável por grande parte dos gastos


energéticos;

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 209

• podemos aproveitar as qualidades inerentes dos materiais reciclados, como a variação


de cor e a textura.

As principais fontes de materiais reciclados são:


• materiais industriais fora de especificação, provenientes do próprio processo
industrial e não utilizados;

• materiais pós-consumidos, recuperados depois do uso, num contexto industrial


ou residencial.

MATERIAIS POTENCIALMENTE RECICLÁVEIS


Na falta de fontes de materiais disponíveis para reciclagem é interessante especificar
aqueles que podem ser facilmente reciclados, a partir da existência de uma infra-estrutura
de reciclagem funcionando ou prestes a funcionar.

Para tanto, é necessário:


• identificar quais são os materiais que são recicláveis;

• descobrir o estágio atual do sistema de coleta e reciclagem;

• garantir que o material, quando reciclado, terá uma qualidade apropriada.

O projeto do produto pode auxiliar no processo de reciclagem, portanto:


• selecione somente um tipo de material para o produto;

• deve-se trabalhar com materiais compatíveis, se não for possível trabalhar com
um determinado material;

• evite contaminar metais com outros metais;

• evite materiais compostos que são difíceis de separar, como laminados;

• escolha materiais recicláveis que existam no mercado;

• evite elementos que atrapalham o processo de reciclagem, como adesivos,


colas e componentes de difícil separação.

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210 Prevenção da Poluição

6.5 OTIMIZAÇÃO DAS TÉCNICAS UTILIZADAS NA PRODUÇÃO

O Capítulo 3 deste módulo aborda bem as alternativas de técnicas para redução de


poluição que podem ser utilizadas em processos produtivos.

6.6 OTIMIZAÇÃO DE SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO

Projetos podem assegurar que os produtos sejam transportados da forma mais eficiente
possível quando consideram o ciclo de movimento do produtor ao distribuidor, ao
varejista e ao usuário final. Essas redes de movimento envolvem:
• embalagem;
• transporte;
• armazenamento;
• logísticas.

No geral, devemos utilizar a menor quantidade de embalagem possível, escolhendo


também a mais limpa e reutilizável. O sistema de transporte também deve ser programado
de forma eficiente, para evitar gastos energéticos.

EMBALAGEM
As embalagens são usadas, principalmente, para proteger os produtos e para torná-
los atraentes. Entretanto, as embalagens podem contribuir significativamente para o
impacto ambiental. Elas compõem, por exemplo, 30% dos resíduos sólidos em algumas
localidades (Graedel e Allenby, 1995).

Devido à sua função de proteger o produto, a seleção ou projeto da embalagem


deve ser dependente das condições de transporte a que o produto será submetido.
Freqüentemente a questão de proteção do produto é superestimada e as embalagens são
feitas com excesso de material, que pode ser reduzido sem comprometer esta função.

Algumas soluções podem ser tratadas somente pelos fornecedores de embalagens;


outras requerem uma cooperação entre fornecedores e distribuidores.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 211

Alguns objetivos do Projeto para o Meio Ambiente para embalagens (em ordem
decrescente de redução de impacto ambiental) são:
• nenhuma ou uma quantidade mínima de embalagem. Esta opção envolve a
redução ou eliminação do excesso de proteção, decoração, etc.;

• embalagens retornáveis e/ou reutilizáveis com um sistema de devolução entre


as partes envolvidas;

• embalagens recicláveis e/ou produzidas com material reciclado;

• redução de volume;

• se a embalagem tem função principalmente estética, tente usar um estilo


simples;

• para facilitar o processo de reciclagem os materiais não devem conter


substâncias tóxicas, pigmentos e materiais inseparáveis.

TRANSPORTE
Transporte por terra, água e ar pode causar, cada um deles, significantes impactos
ambientais. Estes podem ser classificados em duas categorias:
• Operações normais. Por exemplo, o gasto de energia no uso de veículos e
equipamentos e suas emissões correspondentes.

• Operações irregulares. Por exemplo, lançamento acidental de substâncias


tóxicas ou perigosas durante eventos, como descarrilhamento de trem e
derramamentos de óleo de navios.

As preocupações ambientais, quanto à questão do transporte, estão relacionadas:


• à distância percorrida;

• ao tempo de duração da viagem.

Nos processos em que são utilizadas substâncias tóxicas ou perigosas os riscos


de lançamentos acidentais podem ser bastante reduzidos se estas substâncias forem
produzidas o mais próximo possível do local onde serão utilizadas, em vez de num
local distante, que exija transporte.

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212 Prevenção da Poluição

Geralmente pode-se atingir maiores reduções de impactos através de um programa


de redução de gastos energéticos no transporte. Na escolha do meio de transporte,
considera-se preço, volume, confiabilidade, tempo de entrega e distância.

Definidas estas variáveis, compara-se as várias modalidades de transporte e se avalia


os seus respectivos impactos ambientais. Processo semelhante deve ser exigido dos
fornecedores para todos os estágios do processo produtivo.

ARMAZENAMENTO
A depender da indústria e dos produtos armazenados, as operações de armazenamento
podem se constituir em um dos focos de impacto ambiental mais relevantes. É o caso,
por exemplo, do armazenamento de compostos voláteis na indústria de petróleo e
petroquímica. Nesta indústria, mesmo nas operações de rotina, as principais emissões de
VOCs estão relacionadas a carga, descarga e armazenamento. Esse aspecto assume uma
dimensão muito maior quando se trata de substâncias de alta toxicidade e periculosidade.
Nesses casos, devem ser realizados esforços especiais na logística de fornecimento e
movimentação, de forma a se reduzir ao máximo a necessidade de armazenamento.

As formas de armazenagem também podem levar a outras preocupações ambientais.


Por exemplo, alguns produtos devem ser mantidos em condições especiais – ambiente
quente ou frio, pressurizado ou a vácuo –, e recursos de energia são usados para manter
tais condições. Portanto, deve-se adequar às condições de armazenamento para reduzir
gastos desnecessários. Por exemplo, sistemas de armazenamento de calor podem ser
usados acoplados a coletores de energia solar, para que o recurso solar continue provendo
calor, mesmo sem a presença do sol.

LOGÍSTICA EFICIENTE
O estudo cuidadoso de rotas de entrega para otimizar o tempo gasto e as distâncias
percorridas pode reduzir significativamente os impactos do sistema de distribuição.
Poderíamos considerar:
• motivação do pessoal que lida com os fornecedores para que estes incentivem
os fornecedores a reduzir distâncias;

• introdução de formas eficientes de distribuição, como entrega simultânea de


maiores quantidades de produtos;

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 213

• utilização de embalagens padronizadas;

• utilização de programas computadorizados de otimização de rotas;

• uso de fornecimento just-in-time (produção sem estoque) com recipientes


reutilizáveis e retornáveis;

• redução da distância entre os depósitos e a linha de produção; e, melhor ainda,


entre os fornecedores e a fábrica.

6.7 REDUÇÃO DO IMPACTO DURANTE O USO

Muitos produtos consomem quantidades consideráveis de energia, água e outros


insumos durante sua vida útil. Além disso, recursos utilizados para manutenção e reparo
podem magnificar os impactos ambientais. Portanto, deve-se dar a devida atenção aos
impactos ambientais associados com o uso dos produtos.

REDUÇÃO NO CONSUMO DE ENERGIA E FONTES DE ENERGIA MAIS LIMPAS


A importância do consumo de energia na composição do impacto ambiental de
produtos e processos impõe mais detalhes para sua abordagem. Isso será feito no
Capítulo 7 deste módulo.

REDUZIR INSUMOS E UTILIZAR INSUMOS MAIS LIMPOS


No projeto de produtos deve-se procurar alternativas que conduzam a um menor
consumo de insumos durante a sua vida útil, tais como: água, óleo, filtros, detergentes,
etc. Isso foi analisado na unidade de Minimização de Resíduos, mas convém aqui lembrar
que projetos inadequados são muitas vezes responsáveis por dificuldades encontradas
para reduzir o uso de insumos durante a operação.

Na indústria de processo, por exemplo, as plantas são projetadas para transportar dois
ou três tipos de água (clarificada, desmineralizada, potável) e um único, ou no máximo
dois, tipos de efluentes. Isso dificulta a implantação de sistemas de reuso e reciclagem
da água, encarecendo os esforços para minimizar o uso deste importante insumo.

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214 Prevenção da Poluição

Projetistas e fornecedores devem coletar informações para reduzir o impacto de


insumos e produtos auxiliares.

Freqüentemente, existe diferença entre o uso indicado pelo fabricante e o uso dado
pelo operador. Alguns cuidados podem facilitar um uso mais eficiente do produto:
• projetar de forma que o uso seja fácil, incluindo instruções claras;

• projetar de forma a dificultar o desperdício de insumos ou energia por parte


dos usuários;

• inserir mecanismos de medição e calibragem que permitam monitorar e


racionalizar o consumo dos diversos insumos utilizados no processo produtivo.

6.8 SISTEMAS PARA O FINAL DO CICLO DE VIDA

Esgotadas as possibilidades até aqui consideradas no projeto, é muito provável que


o nível de desenvolvimento atual da tecnologia e dos padrões de consumo nos obrigue
a pensar em um destino “final” para algumas partes ou componentes do produto.

Mesmo assim, convém considerar esta etapa não apenas no sentido de minimizar o
impacto sobre um determinado corpo receptor, mas visando ao maior aproveitamento
possível, seja ele imediato ou no futuro. A lógica de aumentar a eficiência do uso dos
recursos naturais se mantém, mesmo que envolvendo interações de prazos maiores.

A reinserção de efluentes líquidos no ciclo natural das águas deve ser procurada
considerando os aspectos tanto econômicos como de segurança. Se o projeto do processo
ou produto leva em consideração a inserção final de algumas de suas partes nos ciclos
naturais, haverá condições de se fazer isso com maior segurança.

A exclusão de compostos biorresistentes e tóxicos permite o aproveitamento de outros


compostos orgânicos como insumos na lavoura ou no reflorestamento. As pressões de
grupos ambientalistas no sentido da exclusão de plásticos contendo cloro, como o PVC,
apontam para a possibilidade de um aproveitamento térmico sem o risco da emissão
de dioxinas e furanos.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 215

Os avanços esperados com o crescimento da prestação de serviços, em vez da venda


de produtos, têm sentido na medida em que isto obrigue as empresas a pensar sua
produção na forma de ciclos fechados.

Assim, o projetista deve considerar vários possíveis cenários no final da vida do


produto. Entre eles:
• é possível reutilizar o produto/os componentes/as peças?
• pode-se remanufaturar as peças/componentes e depois reutilizá-los?
• é possível reusar as peças para reciclagem de material?
• as peças podem ser incineradas seguramente?
• algumas peças devem ir para aterros sanitários ou industriais?

Aos alunos:
O próprio conceito de aterro final merece uma revisão. Os aterros não devem
ser considerados como um espaço de confinamento final, mas como um
local de armazenamento provisório, enquanto as tecnologias ou a demanda
pelos materiais estocados não permitam ou justifiquem economicamente
seu aproveitamento. Isso obriga a se pensar em mecanismos para se passar
informações para o futuro, no sentido de tornar viável, em prazos mais curtos,
o reaproveitamento dos compostos depositados.

REUSO
O melhor projeto permite que o produto seja reutilizado quase por completo, para
a mesma aplicação ou para uma outra diferente. Quanto mais o produto mantiver sua
forma original melhor, do ponto de vista ambiental. Esse conceito, obviamente, depende
da existência de programas de devolução e reciclagem.

O reuso depende da:


• vida útil técnica, estética e psicológica;
• existência de mercado secundário para produtos usados;
• infra-estrutura de manutenção e reparo.

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216 Prevenção da Poluição

O projeto de produtos deve, ainda:


• prolongar a vida útil;

• ser o mais útil/agradável para usuários sucessivos;

• usar tecnologia confiável e componentes de qualidade para manter o valor do


produto;

• prever limpeza, manutenção e atualização.

PROJETO PARA DESMONTAGEM


Para otimizar o final do ciclo de vida de um produto é importante considerar a previsão
do desmonte, levando em consideração fatores como a vida útil das peças/componentes,
sua padronização, requisitos de manutenção e instruções para manutenção e remontagem.
No geral, os projetistas devem tentar:

• usar juntas destacáveis em vez de soldadas ou coladas;

• usar juntas padronizadas para que o produto possa ser desmontado com poucas
ou uma única ferramenta comum;

• posicionar as juntas para que não seja necessário virar ou movimentar o


produto para desmonte;

• indicar no produto como abri-lo sem danos;

• posicionar as peças com desgaste parecido o mais próximo possível, para


poder trocá-las simultaneamente;

• indicar no produto quais as peças que precisam de manutenção ou limpeza


específica.

REMANUFATURA DE PRODUTOS
Muitos produtos ainda acabam no aterro sanitário, apesar de conterem componentes
úteis. Freqüentemente, esses componentes podem ser reutilizados, seja para os fins
originais ou para outros. Portanto, o processo de remanufatura é importante para
recuperar materiais e energia nas peças e estabelecer uma fonte confiável de peças ou
componentes para novos produtos ou para reparo.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 217

O que é importante nesse processo é:


• considerar o projeto de desmontagem;

• projetar de forma modular;

• projetar peças/componentes de fácil limpeza e reparo;

• indicar a composição das peças e seus devidos cuidados;

• considerar o processo de remanufatura no projeto original;

• considerar os requerimentos de transporte e embalagem para peças/


componentes remanufaturados.

RECICLAGEM
A reciclagem, neste contexto, é uma das últimas considerações de DfE. No geral, a
reciclagem é empreendida apenas se for menos danosa ao ambiente e mais econômica,
quando comparada ao uso de outras fontes de materiais. Por isso, tanto na reciclagem
quanto no reuso de materiais é importante considerar todos os impactos, particularmente
de fatores que possam exceder o impacto causado pela utilização de materiais novos,
como acontece com gastos no transporte para reciclagem.

No entanto, os processos de reciclagem são um componente muito importante


do Projeto para o Meio Ambiente. Substâncias e equipamentos reciclados podem
ser usados:
• em reciclagem primária – com a mesma finalidade com que foi usado
originalmente (por exemplo, garrafas de vidro recicladas);

• em reciclagem secundária – aplicação menos nobre, como, por exemplo: pneus


velhos podem ser desfeitos e reutilizados na fabricação de outros produtos de
borracha;

• em reciclagem terciária – decomposição em material básico.

A reciclagem normalmente é mais efetiva quando implementada o mais cedo possível


nos elos da cadeia industrial (i.e., considerado na ordem decrescente de vantagens, é
melhor reciclar ou reutilizar primeiramente o produto inteiro, depois cada uma de suas
partes e, finalmente, seu material).

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218 Prevenção da Poluição

Vamos destacar algumas categorias importantes de materiais recicláveis:


• metais – São normalmente recicláveis, embora esta reciclagem seja dificultada
se os metais forem impuros ou misturados com outros materiais;

• produtos florestais – São normalmente recicláveis, mas a qualidade do material


reciclado é inferior a cada reciclagem (por exemplo, papelão reciclado produz
papéis de baixa qualidade);

• plásticos – Alguns tipos, como os termoplásticos, são mais facilmente


recicláveis, enquanto outros são mais difíceis ou perdem muito valor a cada
reciclo;

• substâncias químicas – Às vezes são recicláveis, tendo que passar, porém, por
processo de tratamento ou purificação.

Portanto, no projeto deve-se tentar facilitar o processo de reciclagem das seguintes


maneiras:
• especificando materiais com mercado de recuperação existente ou emergente;

• integrando várias funções em um componente;

• reduzindo o número de materiais que compõem um produto, ou pelo menos


considerando a compatibilidade dos materiais. Por exemplo: vidro/cerâmicas,
plásticos, metais variados;

• considerando que materiais não similares não devem ser unidos de uma
forma que dificulte sua separação. Por exemplo: parafusos são retirados mais
facilmente do que soldas ou rebites;

• evitando o uso de elementos que interferem com o processo como adesivos;

• identificando materiais sintéticos com codificação padronizada;

• evitando o uso de materiais tóxicos e perigosos, porque a presença de tais


materiais, até mesmo em quantidades reduzidas, dificulta a desmontagem, o
reuso, a incineração e a recuperação de energia;

• considerando que se materiais tóxicos têm que ser parte do produto, estes
devem ser concentrados numa área do produto para que possam ser retirados
com facilidade.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 219

6.9 O FUTURO: PROJETO SUSTENTÁVEL

Vimos até agora que os parâmetros básicos e mais citados de Projeto para o Meio
Ambiente se baseiam nos resíduos – sejam eles sólidos, líquidos ou gasosos – gerados
nos processos produtivos ou no pós-consumo, tendo como desafio que estes sejam:
• eliminados;

• reduzidos em quantidade;

• reciclados;

• modificados através da substituição de alguns materiais e outras ações de


modo a causar menos impacto ao meio ambiente.

Entretanto, a adoção de uma abordagem simples, do tipo DfE-Projeto para o Meio


Ambiente, pode não ser o suficiente para se ter um “Projeto Sustentável”, ou seja, aquele
que considere aspectos sociais, econômicos e ambientais. Podemos dizer também que
as decisões sobre projetos de produtos têm que ser não só integradas, mas também
abranger os vários estágios da vida do produto e do processo de projetar.

Voltando agora um pouco ao Fator 10 para redução de consumo, o que corresponde a


diminuir em cerca de 90-95% o impacto ambiental decorrente das atividades humanas,
podemos afirmar que não é provável se atingir esta meta através unicamente de melhorias
incrementais no produto, sem contar, ainda, com a hipótese de que este fator de redução
pode não ser suficiente para reverter o processo de degradação ambiental atual.

Dessa forma, apontamos outro caminho a ser adotado, que corresponde à classificação
do “processo de melhoria de Brezet”, o qual descreve a “melhoria incremental”
como sendo o primeiro estágio de uma escala de melhorias com tempos de atuação
diferentes.

Depois da “melhoria incremental”, e numa escala de tempo mais prolongada, há


o que Brezet chama de “reprojeto do produto”. Este seria um estágio que realmente
incorpora um grande número de considerações ambientais de vez, num produto
amplamente modificado.

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220 Prevenção da Poluição

Segue então o terceiro estágio, onde volta a se considerar a essência da função em


questão, desencadeando-se o processo propriamente dito de “inovação na função”.
O último estágio pode implicar na “inovação do sistema” e nos levar ao Fator 10, se
neste processo for abordado não só a função do produto, mas também o contexto dela,
incluindo a infra-estrutura e sistemas de organização.

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Ecologia Industrial e Projeto para o Meio Ambiente 221

FECHAMENTO

Ao relembrar o modelo apresentado “design wheels”


– Rotas Tecnológicas discutido neste capítulo, verificamos
que este apresenta uma estrutura de projeto que leva
a atingir diferentes estágios de melhoria. Quando
tomamos o exemplo do processo de desmaterialização,
podemos verificar que este se baseia na análise da
função do produto. No entanto, podemos concluir que
é preciso considerar a questão do estabelecimento de
um processo de inovação sistêmica, ou seja, a inovação
que considere fatores de sustentabilidade, em vez de se
limitar a implementar melhorias incrementais focadas
exclusivamente no produto.

Dito isso, deixamos a discussão com as perguntas:

• A melhoria incremental e o Fator 10 são


suficientes?

• Se forem, como vamos além do Fator 10?

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Energia 223

CAPÍTULO 7
ENERGIA
Ednildo Andrade Torres Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM

“ Aqueles que dominam a natureza


E buscam possuí-la
Jamais conseguirão,
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Discutir a importância
Porque a natureza é um sistema da energia nos diversos
vivo, tão sagrado setores;
Que, quem a usar de forma profana, •Analisar as diferentes fontes,
Certamente a perderá; formas e possibilidades de
E perder a natureza conversão de energia;
É perder a
• Discutir a viabilidade de


Nós mesmos.
medidas técnicas para
TAO
melhoria do desempenho
energético-ambiental;
• Avaliar o uso da energia
A proposta de adotar Prevenção da Poluição do ponto de vista do desen-
volvimento sustentável;
como princípio, implica considerar todos os aspec-
• Apresentar ao aluno a
tos que podem reduzir o impacto ao meio ambiente. Exergia.
Energia é um destes aspectos, pois está associada
diretamente ao uso racional dos recursos naturais
utilizados como fonte energética e aos impactos ambientais decorrentes do processo
de produção e da forma de consumo adotada, tanto em setores industriais específicos
como pela sociedade como um todo.

Assim sendo, neste capítulo abordaremos alguns pontos sobre a questão energética
para que você possa fazer uma análise da situação atual no cenário mundial. Além disso,
vamos apresentar alternativas de medidas e tecnologias que podem ser adotadas visando
ao uso mais eficiente de energia no trabalho, na sua casa ou em qualquer outro local.

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224 Prevenção da Poluição

Vale salientar nesse momento que a energia, desde os seus primórdios, vem sendo
fator de disputa entre as mais diversas nações, onde as guerras e, conseqüentemente, as
conquistas têm trazido situações peculiares. A condição prévia de qualquer civilização é a
energia. Por isso, tanto no passado, em que se utilizava a força animal e humana, quanto
mais adiante, após o avanço das técnicas, quando se passou a utilizar os recursos naturais
como o sol, o vento, as águas e as florestas, a energia sempre teve um papel destacado.
Porém, com o crescimento da população, as necessidades energéticas passaram a ser
cada vez mais concentradas e o modelo de desenvolvimento industrial adotado baseado
na centralização da geração.

Esse modelo teve como base a transformação das fontes primárias, inicialmente a de
carvão mineral e em seguida a do petróleo e seus derivados. Essa civilização foi forjada
tendo como base, inicialmente, a máquina a vapor e depois os motores de combustão
interna. Com o surgimento e o fortalecimento da indústria, houve a geração de empregos,
paralelamente ao desenvolvimento da demanda de energia.

Atualmente, a população da Terra é superior a 5 bilhões de habitantes, sendo que cerca


de 70% vivem nas cidades. Para exemplificar a escalada urbana, e conseqüentemente
a concentração populacional, vejamos: no ano de 1900, apenas 11 cidades do mundo
tinham população superior a 1 milhão de habitantes; em 1950, eram 75; em 1978, já eram
191; em 1985 o número passou para 273; e atualmente são mais de 350 cidades, sendo a
maioria localizada em países do Terceiro Mundo.

Estamos vivendo uma fase de transição, em que a base ainda é a centralização


da geração. Entretanto, já é uma realidade a participação da iniciativa privada na
geração de energia, a contribuição dos autoprodutores, a introdução das alternativas e
a conscientização do uso racional da energia.

O Brasil não diverge das grandes questões mundiais, tampouco as soluções


empregadas seguem uma linha diferente. O nosso processo de industrialização também
desencadeou uma crescente incorporação da energia como fator de crescimento, e, por
outro lado, como fator limitante. Nas fábricas, possibilitou a produção em larga escala,
gerando empregos, estimulando investimentos, proporcionando o desenvolvimento e
o bem-estar da população.

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Energia 225

O comércio acompanhou o processo industrial, o que acarretou a criação de novos


empregos. Nas residências, esse vetor foi sentido com a introdução de eletrodomésticos,
a popularização do uso do gás de cozinha, equipamentos de lazer, mudando os hábitos
dos povos. Nos transportes, a utilização dos veículos automotivos, com a implantação das
grandes montadoras, além das várias modalidades de transporte coletivo. Na agricultura,
o processo de industrialização proporcionou maior produtividade, a mecanização
agrícola, e em certos lugares contribuiu para a fixação do homem ao campo.

Na verdade, no ciclo que estamos vivendo, verifica-se a transição de uma


ordem superada para a busca de um novo paradigma, e nele a energia deixa de
ser só valorizada nos seus aspectos quantitativos para também ser enfocada numa
perspectiva qualitativa, onde o que é fundamental não são só os grandes mananciais ou
os fluxos energéticos, mas também a forma como a energia incorpora-se à economia,
agregando qualidade aos produtos, reduzindo custos e, sobretudo, minimizando os
impactos sobre o meio ambiente.

7.1 ENERGIA E MEIO AMBIENTE

A ciência define energia como a capacidade de realizar trabalho. Etimologicamente,


a palavra “energia”, de origem grega, é similar ao termo. O trabalho é uma grandeza
escalar conceituada na física como sendo o produto de uma força pelo deslocamento
que ela provoca no sentido em que é aplicada. É oportuno lembrar que a ciência
física utilizou nessa definição o mesmo termo “trabalho”, contudo este conceito
já era existente, e de origem socioeconômica, portanto, atribuindo um significado
particular (Bôa Nova, 1985).

O conceito atual de energia foi proposto pelo físico inglês Young, no início do
século XIX. Muitos séculos antes, o Homem já observava e utilizava as diferentes
formas de energia existentes na Natureza: a radiação solar, o fogo, os ventos, a lenha,
posteriormente as quedas d’água e o movimento dos astros celestes. Há longo tempo, as
pessoas e grupos familiares começaram a aprender como aproveitar a energia primária

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226 Prevenção da Poluição

para facilitar a vida, utilizando a natureza como fonte de suprimento, nas diversas
formas apropriadas a satisfazer suas necessidades básicas: calor, cocção, movimento,
iluminação, etc.

Para se entender a relação entre a utilização da energia e os impactos provocados


sobre o meio ambiente é importante observar que o homem a transforma, a organiza
para poder utilizá-la. Isto é, disponibiliza a energia de uma forma mais facilmente
manuseável, podendo ser mais concentrada e mais disponível para uso imediato. Como
exemplos citamos a transformação do petróleo e seus derivados, da lenha em carvão
vegetal, do potencial hidráulico em hidroeletricidade. Mas para isso se paga um preço,
as irreverssibilidades, que têm tanto um componente ambiental como energético.

Nessa luta contra a “desordem” dissipa-se uma determinada quantidade de energia,


que se perde para fora das fronteiras do sistema. Isso implica que se necessita de
mais energia para ordená-la. De forma simplificada, as atividades econômicas não
fazem nada mais que estruturar a matéria de modo a propiciar sua utilização pelo
homem, e para isso exigem a incorporação de um aporte de energia externa. O grande
problema é que existe uma contrapartida. As irreversibilidades ou perdas, que são
transferidas sob a forma de energia degradada, são rejeitadas para o meio ambiente.
Assim, a incorporação pelo homem da energia fóssil (petróleo, carvão mineral, gás)
à produção de bens e serviços será acompanhada de perdas de matéria e energia para
o meio externo, causando uma série de impactos ambientais (Odum, 1988).

Outrossim, além da emissão de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, o


aproveitamento das fontes energéticas provoca impactos ambientais associados ao
custo (econômico, social e ecológico) de oportunidade da utilização de recursos
naturais. Estes impactos podem ser significativos, mesmo no caso do emprego de
fontes renováveis de energia como a hidroeletricidade, a biomassa energética, a
energia solar e eólica, pelas grandes áreas utilizadas para a produção energética
em grande escala (na construção e na área de influência de grandes barragens, em
florestas e plantações energéticas, na superfície ocupada por coletores solares e
aerogerados).

Além dos impactos ambientais que acompanham a operação normal das instalações
de produção e utilização da energia, as tecnologias energéticas podem provocar riscos

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Energia 227

de acidentes, catástrofes e desvios de seu uso para outros fins. O caso da energia nuclear
é sem dúvida o mais importante nesse campo devido aos problemas a ela associados:
disposição de resíduos, desativação dos equipamentos (após o tempo de vida útil),
contaminação e vazamentos.

Embora nenhuma emissão para o meio ambiente esteja associada com a operação
de usinas de geração de eletricidade nuclear, os resíduos de combustível nuclear
permanecem radioativos por milhares de anos, e, apesar de pequenos em quantidade,
devem ser dispostos e gerenciados cuidadosamente, pois representam uma grande ameaça
para o meio ambiente e para a humanidade.

No caso da hidroeletricidade, esta modifica a operacionalidade dos rios, inunda


terras anteriormente agricultáveis ou utilizadas para outros fins, altera os ecossistemas
e muda o microclima. E durante a construção das barragens são empregadas grandes
quantidades de materiais, o que provoca impactos, desde a sua extração até a sua
aplicação nas usinas.

Aos alunos:
Outras tecnologias energéticas que envolvem grandes riscos são: minas de
carvão, campos de petróleo, refinarias, transporte de petróleo, etc. Pesquise os
impactos provocados por estas tecnologias alternativas energéticas.

No primeiro capítulo deste módulo, para analisarmos as conseqüências dos problemas


decorrentes de algumas atividades criativas, apresentamos a Equação Mestra do Impacto
Ambiental. No caso específico do impacto ambiental provocado pelo uso da energia,
convém fazer uma análise do consumo de energia no mundo.

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228 Prevenção da Poluição

7.2 CONSUMO DE ENERGIA NO CONTEXTO GLOBAL E NACIONAL

CONSUMO DE ENERGIA POR HABITANTE NO MUNDO


O consumo per capita de energia tem sido um dos indicadores que medem o
desenvolvimento de um país. Quanto maior o consumo, maior o desenvolvimento
da nação. Após sucessivas crises do petróleo e o conseqüente aumento dos preços,
ocorreu uma retração do consumo. Já na década de 90, com as pressões dos movimentos
ecológicos, houve um crescimento da conscientização ambiental. Nesse sentido, a
preocupação com o consumo de energia passou a ser exercida pelos governos e em
seguida pela sociedade organizada. Medidas de redução do consumo e campanhas
educacionais fizeram com que o consumo de energia per capita deixasse de crescer
nas mesmas taxas do passado.

Na Figura 7.1 são apresentados os valores do consumo de energia per capita para
os diversos países ou regiões do mundo.

Fonte: Torres, 1999


FIGURA 7.1 – CONSUMO DE ENERGIA PER CAPITA NO MUNDO

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Energia 229

Nela foram lançados os dados referentes aos anos de 1971, 1990 e 2000, assim como
um cenário para 2010. Os valores representam toda a energia consumida no período,
dividida pela população do país. A unidade de medida em que foram expressos os
índices é a tep (tonelada equivalente de petróleo), ou seja, transformam-se todas as
fontes de energia consumida em uma única, que equivale à energia produzida que pode
ser extraída a partir de uma tonelada de petróleo.

Nos EUA e no Canadá, para o ano de 1990, o consumo per capita foi de cerca de
7,5 tep/habitante; enquanto para o ano de 2000, um consumo por habitante de 8,2 tep.
O que representou um crescimento de 9,3% em uma década.

Para a América Latina, o consumo específico em 1990 foi de aproximadamente


0,9 tep/habitante; enquanto para o ano de 2000, cerca de 1,2 tep/habitante. Quando
comparado com a média mundial, a América Latina não se encontra muito distante
com relação ao consumo per capita. Porém, com relação aos EUA, a relação é de um
para aproximadamente sete.

Com esses números podemos afirmar que o processo de desenvolvimento na América


Latina está muito aquém dos países desenvolvidos. No entanto, o objetivo não é aumentar
o consumo per capita de qualquer maneira, e sim buscar um desenvolvimento sustentável
e equilibrado.

Particularizando, podemos estabelecer os índices para o Brasil, desagregando-os


do que foi mostrado. Para isso utilizaremos os dados fornecidos pelo BEN (Balanço
Energético Nacional). Para o ano de 1990, o consumo per capita foi de 1,18 tep/habitante
e em 1995 foi de 1,28 tep/habitante. Sendo que em 1997 esse número cresceu para 1,317
tep/habitante e pelo BEM (2000) o valor aumentou para 1,55 tep/habitante. Portanto,
quando comparado com a América Latina, o Brasil tem um consumo por habitante
maior, condizente com o processo de desenvolvimento no país em relação aos demais
da América Latina.

EXPECTATIVA DE VIDA X CONSUMO DE ENERGIA


Iniciaremos a discussão deste item apresentando a Figura 7.2, que mostra a correlação
entre o consumo de energia e a expectativa de vida da população de alguns países.

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230 Prevenção da Poluição

FIGURA 7.2 – EXPECTATIVA DE VIDA X CONSUMO DE ENERGIA (FONTE: TORRES, 1999)

O consumo de energia no eixo x é expresso em tep/ano e no eixo y é mostrada a


expectativa de vida ou vida média dos diversos países, em anos. Observa-se que os EUA
têm o maior consumo de energia per capita, com cerca de 7,5 tep/ano e uma expectativa
de vida de cerca de 79 anos. Por outro lado, na Etiópia, o consumo per capita é inferior
a 0,22 tep/ano e a expectativa de vida é menor do que 50 anos. Já no Brasil, onde o
consumo per capita é pouco maior do que 1,3 tep/ano, a esperança média de vida de um
brasileiro é de cerca de 70 anos. Maior consumo de energia indica a existência de mais
indústrias, mais saúde, mais habitação, mais educação, mais empregos, e a condição
social da população é refletida sob a forma de uma vida mais longa.

Portanto, podemos afirmar que quanto maior a renda per capita, maior é a vida média
e o nível de vida da população, e maior seu consumo de energia.

Questão para reflexão:


• Que outras implicações você vê nisso?

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Energia 231

7.3 CONSUMO DE ENERGIA NO BRASIL

Segundo o Balanço Energético Nacional (2000), o setor industrial foi responsável


por 37,4% do consumo nacional em 1999, seguido pelo setor de transporte, com 20,6%,
e pelo setor residencial, com 15,9%. Esses números apontam para a importância
da racionalização do uso da energia na indústria, assim como nos demais setores
consumidores.

SETOR INDUSTRIAL
A indústria tem um grande peso no consumo de energia tanto no Brasil como no
exterior. O setor industrial consome diversas formas de energia, dentre elas cita-se: gás
natural, carvão mineral e vegetal, óleo combustível, eletricidade, etc.

Na Figura 7.3 pode-se verificar a participação das diversas fontes da energia


consumida pelo setor industrial. Verifica-se que a eletricidade e o óleo combustível,
juntos, têm atendido mais de 50% do consumo dos energéticos, sendo que em 1996 a
parcela da eletricidade foi 47,7% e do óleo combustível de 10,6%.

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232 Prevenção da Poluição

Fonte: Balanço Energético Nacional, 1997.


FIGURA 7.3 – CONSUMO DE ENERGIA NA INDÚSTRIA POR FONTE, BRASIL 1981–1996

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Energia 233

SETOR RESIDENCIAL

Fonte: Balanço energético nacional, 1997.


FIGURA 7.4 – CONSUMO DE ENERGIA NO SETOR RESIDENCIAL POR FONTE, BRASIL 1981–1996

O setor residencial no Brasil tem uma participação importante no contexto da


matriz energética brasileira. A lenha (biomassa) teve no passado uma importância
fundamental.

No ano de 1981, no Brasil, a lenha participava com 55,5% do consumo de energia


no setor residencial, enquanto a eletricidade contribuía com 28,4% e o GLP com 11,3%.
Mas em 1996 a participação da lenha caiu para 17,9%, sendo substituída pelo GLP, que
figurou com 18,5%, e pela eletricidade, com 61,8%. A Figura 7.4 mostra a evolução
dos energéticos no setor residencial no Brasil.

SETOR DE TRANSPORTE
O setor de transporte é o segundo maior consumidor, perdendo apenas para o setor
industrial. Os energéticos mais consumidos são o óleo diesel e a gasolina. Na Figura
7.5 observa-se que a gasolina em 1981 participava com 32,5% no consumo de energia,

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234 Prevenção da Poluição

o óleo diesel com 48,4% e o álcool com 5,1%, e os demais com 14%. Já em 1996 a
participação foi de 29,1%, 46,7% e 16%, respectivamente. A grande mudança foi com a
introdução do álcool etílico na matriz energética após o ano de 1981. Evidencia-se, ainda,
a importância do setor de transporte coletivo de passageiros e de carga, consumidores
de óleo diesel.

Fonte: Balanço Energético Nacional, 1997.


FIGURA 7.5 – CONSUMO DE ENERGIA NO SETOR TRANSPORTE POR FONTE, BRASIL 1981–1996

Além desse contexto geral, outras especificidades caracterizam a realidade brasileira


no que se refere ao seu consumo energético, como, por exemplo:
• a forte preponderância da geração de origem hidráulica no suprimento de
eletricidade, com a maior parte do potencial hidroelétrico remanescente
localizado em região de ecossistemas particularmente frágeis e de elevada
biodiversidade, a Amazônia;

• a existência de importante segmento da indústria siderúrgica, em particular a


produção de ferro-gusa e ferroligas, baseada no uso de carvão vegetal (como
redutor e combustível), oriundo em sua maior parte de desmatamentos;

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Energia 235

• a importância do álcool de cana-de-açúcar como combustível de automóveis,


graças ao maior programa de biomassa renovável em todo o mundo;

• a má qualidade do carvão mineral brasileiro, com seus altos teores de cinzas e


enxofre.
Estas especificidades e outros exemplos demonstram a necessidade de nossa política
ambiental estar particularmente atenta às características da produção e uso da energia
no país, assim como a importância crescente de uma adequada inserção da dimensão
ambiental no planejamento energético brasileiro.

Aos alunos:
Tente dar sugestões para a redução do consumo de energia nos setores
apresentados. Pense nas causas primeiro, é claro!

7.4 FONTES, FORMAS E CONVERSÃO DE ENERGIA

Agora que foi apresentado o contexto em que a questão energética se insere, é


preciso considerar de que maneira se encontram os recursos energéticos para nosso
uso. O objetivo disso é identificar a melhor forma de aproveitar energia para os fins
que temos em mente.
Genericamente podemos dizer que o uso de energia envolve:
• produção das formas de energia utilizáveis através de processos de conversão
de energia; transporte, distribuição e armazenamento de energia;

• utilização de recursos de energia e formas processadas de energia para


produzir serviços e processar tarefas.

O conhecimento da finalidade a ser dada à energia deve ser conjugado com o


conhecimento das suas fontes, formas e meios de conversão, para identificar a maneira
mais eficiente e menos impactante para o seu aproveitamento. Deve-se lembrar,
contudo, que transformações para se obter uma forma de energia apropriada ao uso
final implica perdas.

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236 Prevenção da Poluição

Apesar de suas múltiplas formas, a energia se origina de apenas três tipos de interações
fundamentais da natureza: gravitacional, eletromagnética e nuclear. Apenas três!

As fontes de energia, ou energia primária, provêm das interações anteriormente


mencionadas, que são encontradas na natureza. Consideram-se formas de energia
primária a energia solar, o potencial hidroelétrico, a biomassa, os combustíveis
fósseis, a energia eólica e a geotérmica. Estas formas de energia possuem algumas
interdependências.

ENERGIA SOLAR
A energia solar, por exemplo, é a mais importante para o homem. É vital para a
vida na Terra, e dessa fonte energética derivam, indiretamente, várias outras formas de
energia utilizáveis no nosso planeta.

A energia solar provém da fusão termonuclear, na superfície do Sol, de elementos


leves, especialmente do hidrogênio, produzindo deutério e hélio. Como a massa total
resultante é ligeiramente menor que a inicial, há nesse processo uma transformação
dessa pequena diferença de massa em uma enorme energia, liberada sob a forma de
calor, segundo a fórmula da teoria da relatividade restrita de Einstein: E = m.c2 (energia
igual ao produto da massa relativística pelo quadrado da velocidade da luz).

Parte da energia produzida atinge a Terra sob a forma de radiação eletromagnética,


especialmente à luz visível. Cerca de 30% dessa energia são refletidos de volta ao espaço
pelas nuvens, por partículas na atmosfera e pela superfície terrestre. O resto é absorvido
pela atmosfera e, principalmente, pela Terra, que uma vez aquecida reemite esse calor
de volta ao espaço através dos ciclos hídricos, biológicos e dos ventos, conforme indica
a Figura 7.6.

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Energia 237

FIGURA 7.6 – ENERGIA TOTAL INCIDENTE NA TERRA

Como a temperatura da Terra é bem menor do que a do Sol, a freqüência dessa


radiação é também muito menor, possibilitando a absorção de parte desse calor por
alguns gases que estão na atmosfera (o dióxido de carbono e o metano, por exemplo).
Este fenômeno é na realidade o chamado “efeito estufa” – que nós já vimos no Capítulo
2. Graças ao efeito estufa a temperatura do nosso planeta subiu até atingir um nível
equilibrado, o que permitiu o aparecimento e o desenvolvimento de formas cada vez
mais complexas de vida. Recentemente, o excesso de emissões dos chamados gases
estufa é que está produzindo indesejáveis mudanças climáticas.

Bom, vamos ver o que o Sol faz? Os vegetais crescem e se desenvolvem graças
à fotossíntese, que é a assimilação da energia solar pela clorofila de suas folhas,
transformando-a em matéria orgânica – a biomassa. A lenha e o carvão vegetal de
florestas plantadas, o álcool e o bagaço da cana-de-açúcar, por exemplo, são combustíveis
produzidos de forma renovável, graças ao fluxo de energia que recebemos do Sol.

Além disso, os chamados combustíveis fósseis – petróleo, gás natural e carvão


mineral – são oriundos da decomposição da biomassa, ao longo de milhões de anos, pela
ação de bactérias. Essa reação conduz a uma perda do oxigênio presente nos vegetais,

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238 Prevenção da Poluição

dando origem, de acordo com o tempo de decomposição, à formação de diversos


tipos de carvões, como a hulha, o linhito e a turfa, por ordem de idade decrescente.
O petróleo e o gás natural resultam da reação bacteriana de matéria orgânica sob
condições especiais, transformando os hidratos de carbono em hidrocarbonetos, que
em estado líquido ou gasoso se deslocam facilmente na crosta terrestre até serem
aprisionados por rochas porosas.

É importante notar que os combustíveis fósseis constituem um estoque não renovável,


pois o tempo de sua formação na Terra, da ordem de milhões de anos, é muito maior
que a escala de tempo das atividades humanas. Outras fontes de energia que estão
disponíveis na Terra de forma finita são: matéria orgânica parcialmente decomposta
como turfa; urânio, etc.

A energia solar também é responsável pela evaporação da água na superfície de


oceanos, lagos e rios. Conforme indica a Figura 7.6, 23% da energia incidente sobre a
Terra são absorvidos no ciclo hidrológico. O vapor d’água resultante sobe à atmosfera
e após certo tempo, tendo percorrido alguma distância, se condensa em gotas d’água,
retornando à Terra como chuva e liberando calor no processo de condensação. Assim,
a energia do Sol realimenta a energia hidráulica das quedas d’água, originada pela
força de gravidade. Por se tratar de ciclos anuais, esta forma de energia é considerada
renovável.

A diferença entre as quantidades de energia solar recebidas nas várias partes da


superfície terrestre causa diferenças de temperatura e pressão, provocando ventos na
atmosfera. Também contribuem para sua formação a energia cinética, o movimento de
rotação da Terra e a atração gravitacional da Terra sobre a massa da atmosfera que a
envolve. Portanto, a energia eólica resulta da energia solar e da energia gravitacional.

Também a partir dessas duas fontes os oceanos poderão (no futuro, pois hoje só
temos projetos piloto para desenvolvimento das tecnologias necessárias, que de modo
geral ainda são muito caras) fornecer energia de três tipos:
• das marés, provocada pelo movimento de rotação da Lua em torno da Terra,
arrastando pela atração gravitacional a massa de água dos oceanos, fazendo
variar a altura da superfície do mar, que pode ser usada próximo às costas;

Prevenção da Poluição - Cap 7.indd 238 26/3/2003, 16:26:54


Energia 239

• das ondas, provocada por efeitos combinados de movimentos do mar e dos


ventos, que se atritam com a superfície dos oceanos;

• da diferença de temperatura entre a água da superfície, aquecida pela energia


solar, e as águas mais profundas dos oceanos.

Pode-se, enfim, usar diretamente a energia solar como fonte energética, através de
equipamentos especialmente construídos para captá-la, destacando-se:

Coletores planos. Capazes de aproveitar não só a radiação direta do Sol mas também
a radiação difusa (única disponível em dias nublados) para aquecimento de água e do
ar (na secagem de grãos, por exemplo).

Células fotovoltáicas. Para geração direta de energia elétrica, aproveitando o efeito


fotovoltáico: a radiação solar direta desprende elétrons de materiais semicondutores
(como o silício metálico, por exemplo), dando origem a uma corrente elétrica.

Coletores concentradores (cilíndrico-parabólicos, por exemplo). Estes são


concentradores da radiação solar direta num único ponto, de forma a produzir calor em
alta temperatura para vaporizar a água e gerar eletricidade numa turbina.

Aos alunos:
Tente levantar os custos das opções apresentadas e fazer um estudo da relação
custo x beneficio.

BIOMASSA
A biomassa é matéria orgânica de origem tanto animal como vegetal, obtida de
florestas nativas e plantadas, culturas energéticas, plantas aquáticas e resíduos orgânicos
– domésticos, industriais e agropecuários. Exemplos típicos são: cana-de-açúcar, lenhas
e madeiras de diversas origens, óleos vegetais, como de mamona e dendê, esterco
animal, esgoto, etc.

Esses materiais são transformados em energia pelas vias termoquímica ou bioquímica,


normalmente para gerar calor direto, gás metano ou eletricidade.

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240 Prevenção da Poluição

Os processos termoquímicos são a combustão, a pirólise (aquecimento na ausência


de oxigênio, utilizada, por exemplo, na fabricação de carvão vegetal), a gaseificação
e a liquefação. A conversão bioquímica inclui a digestão anaeróbia e a fermentação
alcoólica.

No meio rural e periferias dos países do Terceiro Mundo, ainda hoje, a combustão
direta da lenha, de resíduos agrícolas e de esterco constitui-se na principal fonte de
energia para o cozimento de alimentos e aquecimento. Nesses países, a lenha para fins
energéticos chega a representar 80% do consumo total. Em nível mundial, a lenha ainda
representa 47% deste consumo energético (Torres, 1999).

Este consumo tem acarretado sérios prejuízos ambientais pela forma indiscriminada
como a lenha é coletada, provocando degradação do solo, erosão e, finalmente,
desertificação. Milhões de hectares de áreas de florestas são destruídos por ano no
Terceiro Mundo.

No início da década de 40 a biomassa era responsável por cerca de 76% do consumo


de energia do Brasil, a energia elétrica por 7,0%, o petróleo por 9,0%, o carvão mineral
por 7,0%e a cana-de-açúcar por 1,0%. Com o uso crescente dos derivados de petróleo,
logo acompanhados da grande expansão da hidroeletricidade, a biomassa passa a
diminuir de participação década após década. Mas a tendência é que esse quadro volte
a se inverter, e para um futuro próximo a biomassa volte a ser responsável por suprir
grande parte da energia necessária.

O Proálcool é o maior programa de produção de álcool em nível mundial. Na verdade,


pode-se produzir álcool a partir da fermentação de cana-de-açúcar, mandioca, milho,
sorgo sacarino, entre outras matérias-primas. Porém, a maior produtividade energética
por hectare é fornecida pela cana-de-açúcar, que assim é a base para o programa.

Atualmente, estima-se em cerca de 12 bilhões o número de litros anuais produzidos


no país, movimentando 4 milhões de carros a álcool, além de participar com
aproximadamente 2% na mistura álcool/gasolina, que abastecem os demais 8 milhões
de automóveis.

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Energia 241

Apesar de seu sucesso tecnológico, o Proálcool também representa importantes


custos sociais e ecológicos (La Rovere, 1988):

• os incentivos dados à expansão da cultura da cana-de-açúcar – não estendidos


às culturas alimentares para abastecimento do mercado interno – chegaram,
ao longo da implementação do Proálcool, a causar, em algumas regiões, a
substituição dos cultivos alimentícios pela cana-de-açúcar;

• sua produção, à base de monocultura, com a prática da queimada para facilitar


o corte, exige muito do solo, além de um elevado uso de insumos como:
fertilizantes, água, pesticidas, entre outros;

• a transformação da cana em álcool nas destilarias gera efluentes líquidos


altamente poluentes, como as águas de lavagem e principalmente o vinhoto,
emitido em grande quantidade (10 a 17 litros para cada litro de álcool).

• o tratamento do vinhoto em lagoas de decantação e/ou estabilização deu


margem a diversos acidentes de rompimento ou transbordo das represas, e o
conseqüente despejo do vinhoto em rios causa mortandade de peixes em decorrência
da demanda de oxigênio dessa enorme carga orgânica.

Um uso mais efi ciente da biomassa é fundamental para reduzir os impactos


ambientais decorrentes do seu uso. A conversão em carvão vegetal, o desenvolvimento
de fornos aperfeiçoados, de maior rendimento e capazes de permitir a recuperação
do alcatrão, poderá contribuir para atenuar os impactos ambientais negativos do uso
de carvão vegetal.

A biodigestão anaeróbia propicia um tratamento conveniente de resíduos poluentes


como esgoto, vinhoto (de destilarias de álcool e açúcar) e diversos efluentes industriais,
fornecendo ainda o biogás como subproduto. Além disso, esta tecnologia também permite
eliminar os germes patogênicos do esterco, através do uso de biodigestores rurais, que
ainda produzem um biofertilizante bem mais eficaz que o esterco in natura, e biogás
para cocção, iluminação e geração de energia elétrica.

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242 Prevenção da Poluição

COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
Pela importância do impacto causado pela queima de combustíveis fósseis, faremos
uma análise mais detalhada desta.

A combustão é utilizada para muitos fins, como, por exemplo, em máquinas,


transporte, etc. Qualitativamente, a combustão dos hidrocarbonetos pode ser expressa
como a seguir:

Estequiometricamente, a combustão de um hidrocarboneto genérico (CmHn) no ar


(tratado como apenas nitrogênio e oxigênio) pode ser descrita pela seguinte reação:

Aqui, m e n são variáveis que podem possuir diferentes valores numéricos para
diferentes hidrocarbonetos (ex.: em termos aproximados, m=1 e n=4 para o gás natural,
principalmente o metano; m=1 e n=2 para o óleo; e m=1 e n=1 para o carvão).

Alguns pontos são importantes para as duas expressões da reação anterior:


• o dióxido de carbono é claramente um produto inerente da combustão de
qualquer combustível que contenha carvão. De modo geral, a única maneira
de evitar a emissão de dióxido de carbono é eliminar o uso de combustíveis
baseados no carbono (ex.: utilizando o hidrogênio como combustível);

• se o oxigênio disponível for insuficiente (ou se os gases não se misturarem, ou


o tempo de reação for curto), o carbono irá geralmente fazer uma combustão
apenas parcial, produzindo CO;

• o nitrogênio não deveria reagir no ar, mas preferivelmente passar diretamente


para um combustível imutável. Entretanto, oxidação do nitrogênio pode ser
produzida sob certas condições de combustão, como a alta temperatura (ex.:
máquinas de automóvel);

Prevenção da Poluição - Cap 7.indd 242 26/3/2003, 16:26:56


Energia 243

• usualmente, ar em excesso, além do total requerido pela combustão


estequiométrica, é utilizado para melhorar a queima do combustível. Porém,
a temperatura dos gases de exaustão é diminuída quando é utilizado ar em
excesso, assim como alguma energia de combustível pode ir diretamente
aquecer o ar em excesso, e esse efeito pode resultar em diminuição da
eficiência;
• geralmente o combustível não é um hidrocarboneto puro e contém outras
substâncias, como o enxofre. Quando o enxofre está presente, ele entra em
combustão (produzindo energia) e reage transformando-se em dióxido de
enxofre.

Nos aspectos mais diretamente ligados ao processo de combustão, as seguintes


medidas podem ser utilizadas para reduzir emissões:
• limpar primeiramente o combustível, antes de executar a combustão (ex.: a
retirada do enxofre do petróleo, carvão mineral e gás natural);
• modificação do processo de combustão (ex.: usar um sistema de combustão
duplo, o qual fornece ar insuficiente em uma seção e ar em excesso em outra,
para reduzir a produção de poluentes como óxido de nitrogênio);
• tratar os gases de exaustão após a combustão (ex.: uso de precipitadores
eletrostáticos, ciclones, filtros de fábrica, esfregadores de partículas para
remover o material particulado).

OUTRAS FONTES DE ENERGIA


Outra fonte energética renovável, mas que não é originada pela energia solar, é a
formada pela alta temperatura do núcleo da Terra, e alimentada pela desintegração
radioativa de núcleos atômicos instáveis, presentes no seu interior.

Finalmente, quando se sabe controlar a reação nuclear que se desenvolve


exponencialmente, em cadeia, sua energia pode ser usada como uma fonte energética.
É o caso da fissão de núcleos pesados como o urânio, usado nos reatores nucleares,
onde são submetidos a um bombardeio de nêutrons. O calor liberado serve para produzir
vapor, movimentando uma turbina que aciona um gerador elétrico. Entretanto, esta fonte
é não renovável, pois o estoque de materiais fósseis na crosta terrestre é finito, sendo

Prevenção da Poluição - Cap 7.indd 243 26/3/2003, 16:26:57


244 Prevenção da Poluição

o urânio relativamente escasso. Já a fusão de núcleos leves, mais abundante, ainda não
é controlada pelo homem, que até agora só conseguiu utilizá-la para gerar explosões,
com fins bélicos, como no caso da bomba de hidrogênio.

Aos alunos:
Identifique as vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de energia apresentados
anteriormente e estabeleça um critério para expressar o grau de impacto ambiental
associado ao uso de cada um deles.

7.5 MEDIDAS TÉCNICAS PARA MELHORIA DO DESEMPENHO ENERGÉTICO

PREVENÇÃO DAS PERDAS E DISSIPAÇÃO DE ENERGIA


As perdas de energia estão associadas a vazamentos que ocorrem dentro dos sistemas
(ex.: fluxo quente dentro de um espaço frio) ou para fora do sistema (ex.: vazamento de
combustível de um tanque de armazenagem, vazamento de vapor).

A eficiência pode ser melhorada através da prevenção desses vazamentos de energia


por intermédio das duas principais abordagens:
• aplicação de tecnologias e métodos de prevenção de vazamento como, por
exemplo, o uso de selos em tanques e dutovias e aplicação de isolamento;

• inspeção periódica para detectar perdas e vazamentos e para levar às ações


apropriadas a serem formuladas e implementadas.

CO-GERAÇÃO E GERAÇÃO DE MULTIPRODUTO


A geração de dois ou mais produtos simultaneamente às vezes resulta no aumento
de eficiência quando comparado à soma da produção individual de cada um dos
produtos.

Prevenção da Poluição - Cap 7.indd 244 26/3/2003, 16:26:57


Energia 245

Co-geração, ou combinação de aquecimento e potência (CHP), geralmente se refere


à geração simultânea de energia (trabalho) e calor (ou uma forma aquecida como água
quente ou vapor). Muitas indústrias utilizam a co-geração internamente, com algumas
sendo capazes de até vender parte da energia co-gerada!

Uma geração tripla pode ser resultante de um processo de co-geração, em que se


pode produzir um refrigeramento em adição ao aquecimento e eletricidade.

Também existem outros processos que geram produtos múltiplos, que resultam em
ganho de eficiência, como, por exemplo, a eletrólise de água para produzir hidrogênio
gera uma mercadoria secundária, o oxigênio, normalmente de alto grau de pureza e,
dessa forma, pode ser considerado como um co-produto ou um produto co-gerado.
Observe na Figura 7.7 um sistema de co-geração de ciclo combinado:

FIGURA 7.7 – SISTEMA DE CO-GERAÇÃO EM CICLO COMBINADO

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246 Prevenção da Poluição

SISTEMAS DE ENERGIA INTEGRADOS


A eficiência pode ser melhorada unindo sistemas separados e criando sistemas de
energia integrados. As integrações de sistemas são benéficas em situações em que as
saídas dos processos, as perdas ou os resíduos não podem ser reusados naquele mesmo
processo, mas sim como entrada de outros processos.

Por exemplo, o dióxido de carbono emitido como combustão de resíduos sólidos


pode, com uma variedade de níveis de tratamento, tanto ser utilizado em outros processos
em que ele é requerido como também ser injetado dentro de reservatórios de óleo, na
intensificação das operações de recuperação de óleo ou na carbonatação de bebidas.
A integração de sistemas de energia pode ser muito ampla e complexa, especialmente
nos parques industriais, onde muitos recursos são utilizados e uma grande variedade
de resíduos é gerada.

Na indústria de processos, muitas correntes de saída possuem cargas térmicas


elevadas para o seu destino e, portanto, têm que ser submetidas a trocas térmicas com
água de refrigeração. Por outro lado, outros processos exigem que as suas correntes de
entrada sejam aquecidas. Para tanto, usam-se fornalhas, ou vapor. Dessa forma, tanto para
o aquecimento como para o resfriamento, consome-se energia. Se o calor a ser retirado
de uma corrente puder ser aproveitado para aquecer uma outra, que precisa ter sua carga
térmica aumentada, estaríamos conseguindo um duplo ganho, tanto econômico como
ambiental. A instalação criteriosa de trocadores de calor permite essas transferências.

De acordo com o que vimos no Capítulo 3 – Minimização de Resíduos, o


método PINCH possibilita uma integração mais ampla, incluindo calor e potência, e
posteriormente serve de base para a integração mássica, onde o objetivo é minimizar
perdas materiais procurando-se os arranjos mais econômicos para transferir compostos
de efluentes líquidos para correntes de processo.

ENTROSAMENTO ENTRE DEMANDA, FORNECIMENTO E ARMAZENAMENTO DE ENERGIA


Algumas formas de fornecimento de energia dificultam seu controle, provocando
perdas. Isso faz com que a energia seja oferecida num nível que excede o requerido
para uma demanda específica. Portanto, é mais eficiente fornecer uma forma de energia
em um nível mais próximo do necessário. Isso pode ser realizado de diversas maneiras,
tais como:

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Energia 247

• adequar a temperatura do fluxo de transferência de calor para o fim


determinado. Para um aquecimento interno em torno de 22oC, por exemplo, o
fornecimento de calor de 40oC seria suficiente e muito melhor do que o uso de
calor vindo de uma caldeira de combustão que gera calor a centenas de graus.
Dessa forma se torna viável o uso de calor residual de indústrias;

• armazenar a energia excedente, das fontes que estão disponíveis em


quantidades superiores à demanda, em determinados momentos.

MELHORIA NO ENVOLTÓRIO DAS EDIFICAÇÕES


A eficiência de energia em uma edificação pode ser melhorada utilizando-se uma
variedade de medidas, tais como:
• aumento no isolamento de paredes e telhados, para reduzir a infiltração de
calor no verão e a perda no inverno;

• vedação nas fendas, portas, janelas e pequenas frestas, para reduzir trocas de
ar do meio externo com o meio interno;

• janelas modernas, de alta eficiência, que devem ter as seguintes características:

- camadas duplas (ou mais) de esmalte, que reduzem as perdas de calor;

- janelas eletrônicas ou com fotossensores, que automaticamente reflitam ou


absorvam luz;

- aplicação de camadas de baixas taxas de emissão, que aumentam a


resistência da janela às perdas de calor;

• persianas e brises, equipadas com sensores fotossensíveis que são auto-ajustáveis, em


função da projeção da luz do sol, de forma a impedir ou liberar a absorção da luz, de
acordo com a estação.

Questão para reflexão:


• Se você fosse construir uma casa hoje, consideraria as medidas propostas
acima no projeto?

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248 Prevenção da Poluição

USO DE APARELHOS DE ALTA EFICIÊNCIA


Cada vez é mais fácil encontrar equipamentos e aparelhos de alta eficiência,
como por exemplo:
• aparelhos domésticos de alta eficiência (ex.: refrigerador, fogão, lava-prato,
lava-roupa, secadora, etc.);

• aquecedores e ares-condicionados de alta eficiência;

• motores e caldeiras de alta eficiência;

• motores de velocidade variável, utilizados em bombas, ventiladores,


compressores, bombas quentes e linhas de processos na indústria e que
possam se adequar melhor ao serviço requerido do que os que têm uma única
velocidade.

Aos alunos:
Quando você for comprar um aparelho verifique os dados relacionados ao
consumo de energia. Compre esta briga!!

ILUMINAÇÃO MAIS EFICIENTE E EFICAZ


A iluminação representa um consumo de energia significativo, somando um valor em
torno de 20% do uso total de energia nos Estados Unidos. Novas instalações elétricas
(incluindo lâmpadas elétricas, refletores e difusores) trazem maior eficiência e maior
vida útil. Por exemplo, eficiência de energia para alguns tipos de fonte de luz (em lumens
de iluminação por watt de eletricidade consumido, são:

Prevenção da Poluição - Cap 7.indd 248 26/3/2003, 16:26:59


Energia 249

Dessa forma a mesma quantidade de luz pode


95 100 105 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155

ser gerada com iluminação de alta eficiência com


menos de 10% da eletricidade requerida para uma
lâmpada incandescente.

Aos alunos:
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA DIFERENTES TIPOS DE FONTE DE LUZ

Faça um levantamento de custos dos


diferentes tipos de lâmpadas apresentados
na Tabela 7.1 e avalie a relação custo x
benefício.
90
85

Também pode ser conseguida eficiência através


80

da adequação da iluminação ao espaço e função,


75

através de algumas outras medidas, como:


70
65

• utilizar iluminação direcionada para onde


60

for mais necessário. Por exemplo: uma


55

mesa deve estar mais iluminada do que o


50
45

restante do quarto;
40

• ajustar os níveis de iluminação para


35
30

que se adaptem às necessidades do olho


25

humano, sem deixá-los excessivamente


20

altos, por razões estéticas ou quaisquer


15

outras;
10
TABELA 7.1
5

• utilizar sensores que levem as luzes a


Sódio de baixa pressão (80 a 155)
Tipo de lâmpada/ lumens por watt

serem apagadas quando os ambientes


Sódio de alta pressão (50 a 130)

não estiverem ocupados e se ajustem


Incandescente (10 a 30)

para intensidades mais baixas quando as


Fluorescente (20 a 60)

atividades assim o permitirem;


Mercúrio (20 a 55)

• no próprio projeto arquitetônico, sempre


que possível, buscar a utilização de
iluminação natural ao invés de artificial;

Prevenção da Poluição - Cap 7.indd 249 26/3/2003, 16:26:59


250 Prevenção da Poluição

• empregar os tipos de luminárias que consomem menos energia por lumens.


Evitar particularmente o uso de iluminação incandescente.

Aos alunos:
Que tal implementar alguma dessas ações em casa ou no trabalho e avaliar
os resultados?

AQUECIMENTO E/OU RESFRIAMENTO POR REGIÃO


Sistemas de aquecimento por área podem usar estruturas de aquecimento centralizadas
para produzir uma média de aquecimento, a qual é transportada para vários usuários
conectados ao longo da rede de aquecimento da região. Por exemplo: construções no
centro de muitas cidades são geralmente conectadas por tubos ao longo dos quais água
quente ou vapor fluem para fornecer o aquecimento do espaço ou da água.

Similarmente, o resfriamento de uma região envolve uma produção central de um


resfriamento médio, o qual é transportado para os usuários por uma rede de tubulação
para fornecer o resfriamento do espaço.

Comparada com a alternativa de aquecimento e resfriamento individuais, os sistemas


de aquecimento e resfriamento por distrito têm melhorado a eficiência e reduzido os
impactos ambientais, porque na forma centralizada, com a geração de energia em larga
escala, há facilidade de implementar melhorias de eficiência, e, além disso, medidas de
controle ambiental se tornam possíveis. Aquecimento por região é geralmente associado
de forma vantajosa com co-geração.

USO DE ESTRATÉGIAS PASSIVAS PARA REDUZIR O CONSUMO DE ENERGIA


Alguns métodos passivos podem ser utilizados para reduzir o consumo de energia.
Por exemplo:
• regular as temperaturas utilizadas em projetos. A temperatura especificada
para o aquecimento do ar no inverno pode ser mantida no mais baixo valor
confortável (próximo de 20-21°C), e para o resfriamento do ar no verão pode
ser mantida próximo do mais alto nível (aproximadamente 22-24°C). Também,

Prevenção da Poluição - Cap 7.indd 250 26/3/2003, 16:27:00


Energia 251

a temperatura para água quente doméstica pode ser diminuída para mais ou
menos 38ºC;

• desligar as luzes, aparelhos domésticos e outros equipamentos durante os


períodos em que não estejam sendo utilizados;

• usar relógios para controle das horas de operação. Por exemplo, o tempo do
termostato leva temperaturas internas a serem religadas nas noites de inverno;

• utilizar e armazenar a luz do dia para diminuir a necessidade de luz não natural
durante o período da noite;

• utilizar correntes frias externas para resfriar o calor interno, em vez de ligar
o ar-condicionado. Também há a possibilidade de uso de águas geladas
profundas dos rios e lagos para resfriar o espaço via um resfriamento circular
(e ainda, algumas vezes, pode ser fonte de água potável);
• utilizar radiação solar para aquecer edificações através da exploração da
capacidade de armazenagem da energia térmica em edificações, posicionando
árvores, janelas e brises, de modo a manter as edificações frias durante o verão
e quentes no inverno.

Aos alunos:
Cheque quais desses métodos você já utiliza no seu dia-a-dia e analise sua
postura em relação ao comprometimento com a redução no consumo de energia.

OPORTUNIDADES PARA MELHORIA EM EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS


Cada tipo de indústria possui equipamentos, processos e características que lhe são
próprios. Uma visão pormenorizada de várias estratégias para a redução no consumo
de energia para cada tipo de indústria foge ao escopo deste trabalho. Há uma série de
referências bibliográficas que possuem tal finalidade, sendo algumas de caráter geral e
outras específicas para cada ramo de atividade (Manuais de Conservação de Energia,
do IPT, por exemplo). Nesse texto são apresentadas apenas algumas sugestões de caráter
geral sobre medidas de conservação em equipamentos ou sistemas que independem do
tipo de atividade da indústria.

Prevenção da Poluição - Cap 7.indd 251 26/3/2003, 16:27:00


252 Prevenção da Poluição

Deve-se frisar que as metas de conservação de energia estabelecidas por um dado


grupo técnico, em uma dada planta industrial, devem ser bem ponderadas: metas por
demais ambiciosas podem causar frustração e descrédito se não forem alcançadas,
prejudicando a credibilidade do grupo técnico responsável; por outro lado, metas muito
acanhadas podem comprometer a motivação da indústria em efetivá-las, dado o pequeno
retorno esperado.

Geradores de Vapor

Manipulação de combustíveis e perdas na combustão:


• para combustíveis líquidos, garantir uma boa nebulização:

- controle da pressão de combustível;

- controle da viscosidade (temperatura do óleo);

- controle de depósitos indesejáveis (filtragem);

- controle da relação ar/combustível;.

• para combustíveis sólidos, evitar perdas pelas cinzas ou formação de fuligem:

- uso da granulometria adequada;

- velocidade de alimentação da fornalha;

- controle do teor de umidade do combustível;

- controle das vazões de ar primário e secundário;.

• para combustíveis gasosos:

- controle da pressão de alimentação;

- filtragem adequada de particulados ou licores.

Tratamento da água de alimentação:

• análise periódica da qualidade da água de make-up;

• avaliação da adequação dos reagentes adicionados;

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Energia 253

• eliminação de purgas desnecessárias;

• reaproveitamento sempre que possível do condensado.

Perdas pela chaminé – gases de exaustão:


• redução do excesso de ar – desde que não haja um aumento de emissões de
particulados e de perdas por combustão incompleta;

• redução máxima da temperatura na chaminé, aproveitando gases quentes para


pré-aquecimento de água ou de ar;

• eliminação das incrustações e fuligem excessivas das áreas de troca de calor,


através de limpeza periódica.

Perdas por radiação e convecção para o ambiente:


• verificar periodicamente o estado do material isolante;
• isolar termicamente as válvulas, se possível;

• isolar termicamente o tanque de condensado;

• isolar termicamente o tanque de combustível, se este for aquecido.

Distribuição de Vapor

• dimensionamento de tubulações adequado: superdimensionamento aumenta


perdas por troca térmica com o meio e subdimensionamento aumenta perda
de carga;

• medidas de instalação correta: inclinação da tubulação, drenagem de


condensado em linhas muito longas, posição dos tubos em ramificações, etc.;

• verificação de vazamentos de vapor em flanges, uniões e válvulas;

• conservação e manutenção adequada de purgadores de vapor;

• eliminação de perdas térmicas desnecessárias em linhas desativadas;

• isolamento térmico em mau estado ou inexistente, etc.;

• evitar mudanças de regime de operação que se traduzam em perdas térmicas


por inércia térmica das tubulações ou equipamentos.

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254 Prevenção da Poluição

Fornos

• empregar os gases de exaustão como fonte secundária de energia. A


recuperação de boa parte da energia dos gases de escape de fornos é quase
sempre viável;

• empregar isolante térmico adequado;

• verificar o forno quanto a trincas e quebras de material refratário;

• manejar as portas de alimentação de forma a evitar fuga de gases do forno e


perdas por radiação;

• em fornos contínuos, alimentar o produto em contracorrente aos gases pode


ser muito interessante. As correias transportadoras devem retornar por dentro
do forno, se possível.

Incineradores

• usar processo contínuo em um incinerador pode viabilizar a recuperação da


energia dos gases de escape – seja para preaquecer o ar do incinerador, seja
para produzir vapor ou água quente.

Condicionamento de Ar
• projeto arquitetônico favorável (clima quente ou clima frio) pode requerer
cargas de resfriamento ou aquecimento muito menores;

• controle adequado da instalação, evitando sobreaquecimento ou sub-


resfriamento de ambientes. Deve-se controlar não apenas a temperatura, mas
também a umidade relativa do ar;

• manutenção adequada de filtros de ar e de superfícies aletadas de troca


térmica.

Ar Comprimido

• manutenção adequada: reparar vazamentos, filtros, etc.;

• usar a água quente proveniente dos resfriadores da estação de compressão;

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Energia 255

• empregar um nível de pressão adequado e não superior ao necessário;

• lembrar que os compressores em geral consomem energia elétrica.

Torres de Resfriamento
• evitar o uso de torres de resfriamento. Sempre que for possível resfriar a água
por meio de um trocador de calor para recuperação de energia;
• controlar as vazões de ar e de água de forma a buscar minimizar o consumo de
energia elétrica em bombas e ventiladores.

Secadores em Geral

• sempre que possível empregar energia secundária, isto é, energia que seria descartada
como perda;
• não secar demasiadamente o produto – que depois irá, na estocagem,
reabsorver umidade.

Motores Elétricos de Acionamento

• não utilizar motores superdimensionados para as máquinas acionadas. A


eficiência de um motor subutilizado é bem menor do que a de catálogo;
• onde não se dispõe de um motor elétrico adequado, pode ser interessante
adotar inversores e controladores de freqüência, para melhor adequação entre
o motor e a carga.

Alguns equipamentos acionados por motores elétricos podem trabalhar com rotações
variáveis para controle de carga. Nesse caso, controladores de freqüência podem ser mais
interessantes do que válvulas ou outros dispositivos de controle dissipativos (by-pass ou
recirculação).

Aos alunos:
Verifique quais equipamentos da sua empresa constam na relação apresentada
anteriormente e selecione as sugestões de medidas que você pode adotar
visando à melhoria da eficiência energética.

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256 Prevenção da Poluição

7.6 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ENERGIA

Quando lembramos que o Projeto para o Meio Ambiente tem sempre como maior
meta fazer parte de sistemas sustentáveis, fica claro que precisamos analisar o uso de
energia à luz do desenvolvimento sustentável. Por exemplo, nas atividades de seleção
de energia é fundamental escolher a forma mais apropriada e menos impactante de
energia. Tanto as fontes quanto os meios de transferência merecem avaliação numa
escala macro. No geral, o conceito de eficiência tem que ser ampliado para incluir a
matriz energética geral.

A discussão acerca dos impactos de energia transcende a simples questão de compra


de um insumo ao menor custo. Variações no suprimento de energia e na eficiência de
energia claramente vão impactar mais, ou menos. Portanto, assim como todos os itens
importantes para a produção em uma indústria, é fundamental que a energia seja analisada
quanto aos aspectos da qualidade, da confiabilidade de abastecimento e dos vários
aspectos relacionados ao meio ambiente, tanto na utilização como no armazenamento,
no transporte, etc.

As decisões associadas ao uso de um insumo energético têm um período de maturação,


determinado pela criação da infra-estrutura de aprovisionamento e pela adaptação do
próprio sistema de consumo. Há também um prazo de amortização e vida útil não
desprezíveis. Dessa forma todos os fatores considerados pertinentes não podem ser
analisados de forma estática, sendo fundamental a compreensão da evolução verificada
no passado e a realização de um exercício prospectivo dentro de um cenário de, no
mínimo, médio prazo.

Aliado a isso, é importante manter-se ciente da evolução do cenário energético a


longo prazo e, no caso, considerar como a demanda energética vai afetar a sociedade
como um todo. Isto é, recursos de energia devem ser utilizados de forma que, ao longo
do tempo, permaneçam disponíveis continuamente com um custo acessível e que possam
ser utilizados para todos os tipos de tarefas sem causar impactos socioambientais
negativos.

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Energia 257

SUPRIMENTO ENERGÉTICO
Primeiramente, precisamos lembrar que nas atividades de seleção de energia dois
aspectos prioritários devem ser levados em consideração:
• a seleção das fontes de energia;

• a seleção dos meios de transferência de energia.

Sempre, para ambos os itens, existe mais de uma possibilidade de escolha, e


normalmente as escolhas disponíveis podem ser melhoradas (por exemplo, em alguns
países é possível que os consumidores selecionem a fonte de sua eletricidade).

Para a escolha da fonte e do meio de transferência, primeiro é necessário saber qual


o serviço de energia que irá ser necessário. Esta escolha deve permitir que o tipo de
serviço requerido possa de fato ser implementado sem interferir em outros aspectos do
Projeto para o Meio Ambiente.

Tecnicamente, deve ser considerado que alguns energéticos são mais bem-adaptados
para determinados fins. Fornos e secadores para tratamento especial, por exemplo, devem
utilizar, necessariamente, combustíveis líquidos ou gasosos (isentos de contaminantes
como enxofre e alcatrão), ou ainda eletricidade. Já os geradores de vapor, por sua vez,
dada a natureza do processo de conversão de energia e sua localização nas indústrias,
podem empregar combustíveis como biomassa, carvão e óleos pesados.

Dentro de um programa de gestão do uso de energia é preciso que exista a clareza


de que alguns energéticos são armazenáveis e, portanto, podem ser tratados, do ponto
de vista da formação e do gerenciamento dos estoques, como outros itens da produção.
Outros energéticos, como eletricidade, gás natural, vapor e combustíveis, que são
provenientes de recuperação, não são armazenáveis. O que é importante notar é que
o consumo desses energéticos tem muitas vezes que ser quase totalmente adaptado à
dinâmica da oferta.

Outro fator importante é que alguns energéticos são algumas vezes proibidos em
determinados usos, como é o caso do óleo diesel e do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo),
em certos usos térmicos industriais, por causa dos impactos gerados e subsídios
governamentais. Em adição, existem regulamentações específicas ao consumo de
eletricidade e derivados de petróleo que precisam ser conhecidas por todos aqueles
que participam dos trabalhos de gestão do uso de energia.

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258 Prevenção da Poluição

Além disso, a seleção da fonte de energia e dos meios de transferência está também
vinculada com a tecnologia de conversão de energia disponível. Algumas das seleções de
energia envolvem também substituição de energia ou combustíveis, como, por exemplo,
o uso preferencial de aquecedores a gás natural em lugar do uso da eletricidade. É
também fundamental que sejam conhecidas as especificações dos combustíveis quanto
à sua composição elementar e propriedades, como poder calorífico, viscosidade, ponto
de fulgor, etc.

Estes dados são essenciais no acompanhamento do consumo da indústria e das


medidas de controle de emissões, às quais a empresa pode estar sujeita. Enfim,
somente com todos estes dados podemos chegar a utilizar a fonte mais adequada,
levando em conta as necessidades do sistema produtivo e os possíveis impactos
gerados.

Dentro desse contexto de requisitos para os processos industriais a idéia básica


é simplesmente escolher fontes e meios de transferência que sejam econômicos,
seguros, transportáveis e, cada vez mais, de tipos “renováveis”. Nesse sentido, as
fontes de energia são usualmente categorizadas em dois grupos:
• as que são geralmente reconhecidas por serem finitas e não renováveis, e,
portanto, não sustentáveis ao longo do tempo (por exemplo: combustíveis
fósseis, como carvão, óleo, gás natural, além de turfa e urânio);

• as que são geralmente reconhecidas como renováveis e sustentáveis por


tempos bem mais longos (por exemplo: solar, eólica, gravitacional).

Resíduos conversíveis para formas de energia utilizáveis, como o uso da energia


proveniente da incineração de resíduos e combustíveis de biomassa, são também
muitas vezes vistos como fontes de energia sustentáveis.

Então, dentre os esforços para prevenção da poluição e minimização dos impactos


ambientais na escolha de energia, deve-se geralmente seguir os seguintes passos:
• usar fontes renováveis de energia em lugar das não renováveis. A maior
barreira para o uso de energia renovável se deve ao fato de que o seu custo
é freqüentemente maior do que o de fontes não renováveis, por causa das
propensões do mercado de externalizar custos de combustíveis fósseis,

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Energia 259

etc. Apesar disso, em algumas aplicações bastante específicas, como,


por exemplo, uso de energia solar fotovoltáica para produzir energia em
locações remotas ou distantes, podem ter um custo menor do que a opção
de instalar e manter cabos de transmissão elétrica ao longo de grandes
distâncias, ou mesmo o uso de geradores a diesel com o transporte regular
do combustível;

• usar fontes de energia que causem um impacto ambiental relativamente


baixo. O uso de todos os combustíveis fósseis leva à emissão de gases de
combustão, mesmo sendo os poluentes problemáticos geralmente menores
para combustíveis que têm maior relação atômica de hidrogênio carbono.
Seguindo essa linha de raciocínio, temos que o gás natural é mais benigno
do que o óleo, o qual, por sua vez, é mais benigno do que o carvão.

Não há emissões durante as operações normais de uma usina nuclear, exceto o


consumo de combustível, que deixa radioatividade por muitos anos. Até a energia
hidroelétrica proveniente das quedas-d’água (fonte indireta da energia solar) também
gera impactos negativos, quando da construção da barragem, alterando todo ciclo
natural existente no local.

As fontes de energia renováveis são geralmente derivadas da energia do Sol, ou


de fontes derivadas do Sol (ventos, ondas, correnteza). O uso de energia renovável
é relativamente benigno, embora sejam necessários recursos para construir as
tecnologias de conversão de energia, além de uma grande extensão de área (por
exemplo, para coletores solares e geradores eólicos):
• integrar energeticamente sua produção, evitando desperdícios que poderiam
ser aproveitados, como o esfriamento de correntes com água de refrigeração ao
invés de transferir este calor para correntes que precisam de aquecimento;

• usar fontes de energia e meios de transferência que podem ser utilizados com
maior ecoeficiência com boas tecnologias de conversão de energia (sistemas
de co-geração, caldeiras com baixas emissões de NOx).

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260 Prevenção da Poluição

LIMITAÇÕES PRÁTICAS NA EFICIÊNCIA DE ENERGIA


Devido às considerações de ordem prática, a meta, quando se seleciona as fontes
de energia e a utilização dos processos, não é apenas encontrar a eficiência máxima,
mas também encontrar o ponto ótimo de equilíbrio entre eficiência energética e outros
fatores, como:
• economia;

• sustentabilidade;

• impactos ambientais;
• segurança;

• aceitabilidade social e política.

Ao levar em consideração todos esses fatores, inevitavelmente ocorrem algumas


limitações de ordem prática quanto ao uso eficiente de energia.

Para que o incremento na eficiência de energia leve ao desenvolvimento sustentável,


ponto ótimo no meio de todos esses fatores, deve-se deslocar na direção de melhor
utilização de eficiência de energia (ao mesmo tempo em que se reconhece e se leva em
consideração as limitações teóricas no incremento da eficiência de energia). Esse ponto
ótimo é dependente de muitos fatores, que são controlados pela sociedade e, portanto,
podem ser alterados. Governos podem, por exemplo:
• oferecer incentivos financeiros que retribuam com tecnologias de alta
eficiência que sejam economicamente atrativos;

• aplicar taxas e regulamentações de modo a não incentivar o uso de tecnologia de


baixa eficiência.

LIMITAÇÕES TEÓRICAS NA EFICIÊNCIA DE ENERGIA


Para avaliar o potencial de incremento na eficiência de energia como medida para
promover o desenvolvimento sustentável, os limites impostos pela existência de uma
eficiência de energia teórica máxima devem ser claramente entendidos. A falta de
transparência neste tópico, no passado, geralmente levava à falta de entendimento.
Parte da razão desse problema é que a análise de energia convencional geralmente não

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Energia 261

mede eficiência como uma medida do quão próximo a performance de um processo


está do ideal, ou do máximo possível.

As conseqüências dessa falta de entendimento podem ser significantes:


• no passado, grandes esforços e recursos foram direcionados, por intermédio
de pesquisas e outras medidas, para a melhoria de eficiência de energia, até
mesmo em processos e aparelhos já razoavelmente eficientes, ainda que
o potencial de melhoramento na eficiência de energia fosse relativamente
pequeno (mesmo atrelado a um limite máximo);
• processos intensivos de energia, em outras situações, não foram objetivados
com o intuito de melhoramento da eficiência. Isto em parte porque as medidas
de eficiência de energia eram feitas com métodos que permitiam enganos,
apesar da grande diferença entre eficiências máximas e reais. Por serem
grandes as diferenças, da mesma forma o potencial de melhoramento é
também grande.

As dificuldades inerentes às análises de energia são em parte atribuídas ao fato


de que:
• considera-se apenas quantidades;

• ignora-se a qualidade da energia e o fato de que a qualidade de energia é


continuamente degradada durante o processo real.

A análise de exergia, um conceito relativamente novo, será discutida em seguida. O


método representa a proposta de uma técnica que resolve, se não todos, a maioria dos
problemas associados à análise de energia.

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262 Prevenção da Poluição

7.7 O FUTURO: ANÁLISE DE EXERGIA

Existem muitas definições para Exergia, dentre elas citamos:

Exergia é a parte da energia que pode ser completamente convertida em qualquer


outra forma de energia.

A análise de energia é baseada na primeira lei da termodinâmica, uma lei que trata da
conservação de energia. A análise de exergia é baseada na segunda lei da termodinâmica
e tem algumas vantagens sobre a análise de energia. Elas não são concorrentes e sim
complementares.

A energia não pode ser criada nem destruída, apenas é transformada, e sempre se
conserva. A cada transformação haverá sempre um parte perdida. Rant, o mesmo que
sugeriu a palavra Exergia, também propôs a palavra Anergia para denominar a parte da
energia que não pode ser aproveitada, isto é:

Portanto, energia é a soma de tudo aquilo que pode ser aproveitado (exergia) com
a parte que não se utiliza (anergia).

Podemos dizer também que exergia é a parte nobre da energia. Em outras palavras,
é a parcela que pode ser convertida em calor e/ou trabalho. Porém, apesar desse
conhecimento, podemos ainda observar do ponto de vista microcósmico, e notaremos
que existem subparcelas dentro desse fluxo exergético.

Para calcular a exergia é necessário que se defina qual é o estado de referência, para
que se possa ter base sobre quais são os valores adotados.

Segundo Szargut (1988) e Kotas (1985), a exergia pode ser dividida em quatro partes:
cinética, potencial, termomecânica e química.

As ineficiências de um processo são mais bem verificadas numa análise de exergia


do que numa análise de energia. Nela, os tipos, as causas e a localização das perdas são
identificados e quantificados.

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Energia 263

Muitos engenheiros e cientistas sugerem que a termodinâmica de um processo


é mais bem avaliada executando-se uma análise exergética adicional à análise de
energia, ou mesmo substituindo-a, porque a análise de exergia dá a impressão de
permitir a identificação de mais oportunidades de melhoria e ser mais útil no esforço
para melhoria da eficiência do que a análise de energia (Moran, 1989; Szargut et al.,
1988; Kotas, 1995).

A exergia, também chamada de disponibilidade ou energia disponível, pode ser ainda


definida como a quantidade máxima de trabalho que pode ser produzido por um fluxo
ou sistema, quando ele entra em equilíbrio com um ambiente de referência e pode ser
considerado como uma medida da utilidade ou qualidade da energia.

A exergia é consumida durante o processo real e conservada durante o processo


ideal. O consumo de exergia durante um processo é proporcional à entropia criada pela
irreversibilidade associada ao processo.

Existem outras metodologias de análise baseadas na segunda lei da termodinâmica


e, portanto, são geralmente referidas como análise da segunda lei, incluindo análise de
perda de trabalho, análise de entropia e análise “pinch”. Numerosas investigações e
aplicações de análise de exergia vêm sendo relatadas nos últimos anos.

Um exemplo deste tipo é a análise de diferentes tipos de aquecimento, como


chuveiros elétricos. A eficiência energética de aquecimento (chuveiro elétrico) pode
ser estimada em 99%. A implicação clara é que a máxima eficiência de energia
possível para resistência elétrica é 100% e que esse valor corresponde ao sistema
mais eficiente possível.

Esse entendimento é incorreto, pois as análises de energia ignoram o fato de que


neste processo uma entrada de energia de alta qualidade (eletricidade) é usada para
produzir um produto de relativamente baixa qualidade (água quente). A análise de
exergia reconhece essa diferença na qualidade de energia e indica eficiência baseada
na exergia, do aquecimento, como sendo em torno de 5%.

Claramente, a análise de energia pode levar a um engano de otimização na análise


do desempenho e não identifica as limitações práticas e teóricas no melhoramento da
eficiência. A análise da exergia não tem essas deficiências e, portanto, clara e diretamente,
identifica todas as limitações no melhoramento da eficiência com relação a um verdadeiro
ideal termodinâmico.

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264 Prevenção da Poluição

FECHAMENTO

Certamente, o desenvolvimento sustentável requer que


os recursos de energia sejam utilizados eficientemente.
A sociedade pode maximizar os benefícios derivados
dos recursos de energia diretamente com a utilização
eficiente da energia, enquanto minimiza os impactos
negativos associados a seu uso.

Sempre procuramos maximizar eficiências energéticas


para reduzir os seguintes fatores:

• os impactos ambientais associados;

• requerimento de recursos (energia, material, etc.)


para criar e manter sistemas para extrair energia.

Idealmente, uma sociedade que procura o


desenvolvimento sustentável utilizará apenas recursos
de energia que não causem nenhum impacto ambiental.
Como condição, pode-se ater, ou estar próximo de se
ater, ao uso dos recursos energéticos das seguintes
formas:

• emitir pouco ou nenhum resíduo para o ambiente;

• causar apenas emissões de resíduos que tenham um


mínimo ou nenhum impacto negativo no ambiente.

Esta última condição é usualmente encontrada quando


emissões são relativamente inertes e não reagem
no ambiente, ou quando a emissão de resíduos está
dentro, ou perto, do equilíbrio com o ambiente, isto é,
ao “material” do ambiente em todos os aspectos, como
temperatura, pressão, composição química, etc.

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Energia 265

Na realidade, entretanto, todos os recursos de energia


utilizados levam, em algum grau, a um impacto
ambiental, e existe uma relação direta entre eficiência
de energia e impacto ambiental, de forma que se
otimizarmos sua eficiência, certo nível fixo de serviços
de energia pode ser cumprido, satisfeito, com menos
recursos de energia, e, na maioria dos casos, ocorrerá
redução dos níveis de emissão de resíduos provenientes
dos recursos de energia.

Dessa forma, podemos entender que as imposições do


desenvolvimento sustentável para as emissões e seus
impactos negativos ao meio ambiente podem ser, em
parte, sanadas pela eficiência no uso de energia.

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Tendências para o Futuro 267

CAPÍTULO 8
TENDÊNCIAS PARA O FUTURO
Asher Kiperstok Universidade Federal da Bahia • UFBA • TECLIM

“ Seja você a mudança que espera


ver no mundo.
Mahatma Gandhi ”
OBJETIVO ESPECÍFICO
• Conduzir a uma reflexão
sobre as tendências futurís-
ticas da ciência.
Você deve ter notado que todo o nosso
movimento até agora tem sido no sentido de tentar
responder à pergunta de como se pode atender à demanda do Fator 10 num horizonte
temporal de 50 anos. Caberia perguntar, então, se a pergunta foi respondida. É possível,
a partir das abordagens apresentadas de gestão e tecnologias, aumentar a ecoeficiência
dos nossos processos produtivos em 10 vezes nesse período?

A proposta deste módulo foi a de “retrojetar” um desafio futuro para que as devidas
providências possam ser tomadas, de forma a atingir o estado desejado. Esta mesma
proposta foi utilizada pelo governo holandês em 1989, para elaborar o Plano Nacional
de Políticas Ambientais. O compromisso desse país com o desenvolvimento sustentável
proposto pela Comissão Brundtland exigiu a definição de objetivos extremamente
ousados. Esse trabalho encontra-se publicado no livro Desenvolvimento de Tecnologias
Sustentáveis (Weaver, 2000). A discussão neste capítulo está embasada no referido livro,
com o objetivo de ilustrar uma forma de vislumbrar o futuro a partir da ótica de um
país que de certa forma já o vive.

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268 Prevenção da Poluição

8.1 TENDÊNCIAS FUTURAS

Talvez algumas propostas apresentadas a você visando atingir o Fator 10 pareçam


para alguns ousadias futurísticas, ou até mesmo utopias. Para outros, no entanto, que
já as conheciam, talvez não tenha havido muitas novidades. Infelizmente, porém, o que
podemos perceber é que poucos realmente colocam essas propostas em prática. O fato é
que nosso país é de contrastes. Convivemos com realidades futurísticas e medievais em
espaços contíguos, portanto, como não poderia deixar de ser, existem muitas diferenças
também no modo de pensar e agir das pessoas.

Uma outra certeza que temos é que todo o esforço deve ser empreendido para
atingir o Fator 10. Acreditamos, no entanto, que mesmo propondo uma visão bem
mais avançada da predominante “Tecnologia Fim-de-tubo”, teremos muitas difi-
culdades para atingir esta meta.

De qualquer maneira, aprofundaremos um pouco mais esta discussão, tomando como


referência as experiências obtidas em países desenvolvidos, a exemplo da Holanda.

O Programa de Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis (DTS), proposto no


Plano Holandês de Políticas Ambientais, apresentou como uma de suas conclusões mais
marcantes o fato de o atual padrão de inovação ser incapaz de modificar o processo
produtivo de forma a gerar Fator 10, sendo necessário para tal:
• inovar o próprio processo de inovação tecnológica;

• reconhecer que inovações seqüenciais/incrementais não são suficientes;

• promover grandes quebras de paradigmas.

A Comissão Holandesa para Políticas Ambientais de Longo Prazo ainda coloca: “As
práticas habituais de inovação não oferecem qualquer perspectiva da tecnologia ter um
papel, senão periférico, para se atingir o desenvolvimento sustentável.” (Weaver, 2000)

No livro Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis (Weaver, 2000) são


apresentados alguns estudos desenvolvidos na Holanda para identificar o nível do
desafio tecnológico a ser enfrentado com o objetivo de atingir o Fator 10. Na verdade,
a Holanda, um país opulento e com altíssimo padrão de renda e consumo, para manter

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Tendências para o Futuro 269

a taxa de crescimento atual e garantir um desenvolvimento sustentável a longo prazo,


precisaria atingir o Fator 20, ou até mesmo 40, o que representaria um desafio muito
maior de inovar o processo de inovação relacionado com o Fator 10.

Vamos analisar, nesse momento, um dos objetos de estudo referidos acima, a


função social: nutrição, num horizonte de 50 anos. Em seminários com participantes
apresentando diferentes perfis profissionais, procurou-se identificar a visão + 50 anos,
dando início ao processo de “retrojetar”.

Aos alunos:
Retrojetar (neologismo da língua portuguesa) significa estabelecer objetivos
desafiadores, considerados até mesmo impossíveis nas condições atuais, a
serem atingidos a longo prazo, que impliquem uma melhoria dos padrões de
ecoeficiência. A partir daí então, volta-se à realidade atual, identificando os
avanços necessários para o atingimento da meta estabelecida.

A seguir relacionamos os objetivos e os avanços propostos no processo de


retrojetar referido:
• melhoria na gestão e uso da energia solar, obtido a partir de: aumento da
quantidade de energia solar fixada na forma de biomassa, uso de estufas
solares (casas de vidro) e mecanismos para distribuir de forma mais
balanceada a energia solar;

• adoção de sistemas de produção baseados em ciclos fechados. No caso de


culturas a céu aberto, uso de resíduos de uma parte do ciclo, como, por
exemplo, resíduos animais, servindo de nutrientes para plantas. No caso
de culturas fechadas, uso de pesticidas e nutrientes em ciclos fechados
(hidroponia);

• melhor integração das culturas com os sistemas naturais;

• redução do uso de insumos, desde nutrientes e pesticidas até energia solar, a


partir da modificação genética das plantas;

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270 Prevenção da Poluição

• melhor uso da biomassa, de forma que uma maior parcela da planta seja
comestível;

• redução de perdas com armazenamento, transporte e com a conversão animal;

• maior integração entre oferta e demanda, assegurando que a produção ocorra


mais próxima do mercado e mais alinhada com este;

• desenvolvimento de alimentos alternativos que possam, pelo menos


parcialmente, substituir as tão ecoineficientes proteínas animais.

Questão para reflexão:


• Você teria algum outro tema a ser considerado? Você acha que a modificação
genética oferece segurança suficiente para ser considerada?

Com base nas propostas que foram identificadas anteriormente, discutiu-se a


viabilidade dos avanços, científicos e tecnológicos, bem como do processo evolutivo
da cultura de consumo, à luz da necessidade de redução dos encargos ambientais
decorrentes do sistema nutricional.

As principais rotas de inovação sistematizadas foram:


• Uso multifuncional sustentável da terra;

• Ambientes de produção fechados e controlados;

• Uso completo de plantas e biomassa através da conversão integral;

• Alimentos à base de novas proteínas;

• Tecnologia de sensores.

USO MULTIFUNCIONAL DA TERRA


O uso atual da terra, hiperespecializado, exige uma série de cuidados que seriam naturalmente
providos em sistemas mais equilibrados. Entre esses cuidados estão a inserção de insumos, a
recuperação da qualidade das águas e a reserva de áreas de proteção ambiental.

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Tendências para o Futuro 271

O uso multifuncional considera a terra como provedora não apenas de produtos


como hortaliças, legumes, cereais, madeiras e pecuária, mas também de serviços como
gestão de recursos hídricos, captação de energia, regulação climática, lazer e recreação
e proteção à biodiversidade.

Para poder se fazer uso multifuncional da terra, a visão de produção tem que mudar
da atual exploração especializada para empreendimentos multifuncionais. A depender
da vocação local, eles podem ter ênfases específicas, sem contudo perder o caráter
multifuncional.

Nesse sentido, alguns gargalos tecnológicos devem ser superados através da pesquisa:
fechamento de ciclos de nutrientes; retorno de restos domiciliares na forma de nutrientes
para a terra; sistemas avançados de rotação de culturas; captação e transformação de
energia solar, eólica, hídrica.

O estudo dessa rota identificou possibilidades de aumento da ecoeficiência, num fator


na ordem de grandeza de 20 vezes, com as medidas anteriormente consideradas.

AMBIENTES DE PRODUÇÃO FECHADOS E CONTROLADOS


Levou-se em consideração a produção de frutas, flores e vegetais para saladas, em
estufas de vidro. Entre as ineficiências discutidas estão: elevado consumo de gás natural
necessário para aquecimento e geração de ambientes internos com alto teor de CO2 (este
uso representa hoje 10% do gás natural consumido na Holanda) e perdas para o ambiente
externo de energia solar, água e nutrientes nos modelos atuais de estufas.

Um dos maiores entraves para o aumento da ecoeficiência neste setor é a distribuição


irregular da energia solar, tanto em termos diários como sazonais. A este “problema”
agrega-se a baixa transformação da energia solar em biomassa. Em outras palavras,
os holandeses estão questionando o dia e a noite, o verão e o inverno e a fotossíntese.
Argumentam que mais da metade da radiação ocorre na forma de ondas, cujo comprimento
não permite seu aproveitamento pelas plantas. O que fazer? Simples, instalar captadores
solares semitransparentes que aproveitem, para a geração de energia elétrica, as ondas
de radiação que as plantas ignoram. As plantas também podem ser educadas, através
da biotecnologia, para não serem tão desperdiçadoras de energia!

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272 Prevenção da Poluição

Mas para poder distribuir a energia de forma mais homogênea é necessário


desenvolver mecanismos de armazenamento da energia captada. Para isso considera-
se o armazenamento da energia nas águas subterrâneas e sua recuperação através de
bombas de calor. O uso de fibras óticas para o transporte de radiação solar também
representa uma possibilidade.

É interessante observar ainda que com as tecnologias apresentadas a questão do


espaço para o plantio passa a ter importância marginal, abrindo-se espaço para considerar
a relocação de algumas atividades agrícolas para os centros urbanos, não estão sendo
cogitadas as periferias, mas sim os próprios centros urbanos!

Entre os desenvolvimentos tecnológicos apontados para enfrentar essas deficiências,


considerou-se necessário avanços na área de sensores e de recuperação e disponibilização
eficiente dos nutrientes originários de resíduos domésticos. São também indispensáveis
avanços no que se refere à gestão de nutrientes e água em ciclo fechado, assim como
no transporte de luz solar.

USO COMPLETO DE PLANTAS E BIOMASSA ATRAVÉS DA CONVERSÃO INTEGRAL


“O conceito de conversão integral de plantas e biomassa refere-se à completa extração
de todos os ingredientes úteis contidos nas estruturas moleculares das plantas, formados
durante a fotossíntese.”

Duas grandes ineficiências da cadeia nutricional são apontadas quando consideramos


esta opção:
• grande parcela da biomassa, apesar de conter grandes quantidades de
proteínas, gorduras, vitaminas, saborizantes e corantes, não é aproveitada;

• a produção de carne e leite da pecuária convencional é uma forma ineficiente


de atender às demandas nutricionais e produz elevadas demandas ambientais.

Dessa forma, se for possível produzir substitutos para a carne e derivados, a partir
da parcela de biomassa não aproveitada, ou melhor, desperdiçada hoje, um duplo ganho
ambiental poderia ser atingido.

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Tendências para o Futuro 273

Evidentemente que esta proposta tem um forte viés a ser considerado, além do
tecnológico: o comportamento do consumidor, que ora busca alimentos mais saudáveis
e ora mantém a opção tradicional por carne e derivados do leite. É certo, no entanto,
que só serão realizados investimentos consideráveis nesta direção se as mudanças forem
aceitas pelo mercado. Isso aponta, portanto, para uma linha de esforços adicionais aos
meramente tecnológicos.

As mudanças necessárias nesta área indicam a necessidade de reestruturação da forma


de se pensar o plantio, que atualmente é dirigida para a produção de um único produto
e variados resíduos. Na verdade, o foco deveria ser na produção de vários produtos e
nenhum resíduo. Para tal é preciso assumir algumas diretrizes:
• geração de tecnologia compacta que permita a extração de compostos valiosos
dos resíduos, nos próprios locais de produção;

• minimização do transporte de imensas quantidades de biomassa, que só geram


resíduo em nível do consumidor;

• maior ênfase em “economias de enfoque” do que em economias de escala,


como é tradicionalmente considerado no processo de inovação;

• adoção de linhas de pesquisa que permitam transformações in situ,


considerando equipamentos (“biorrefinarias”), materiais de suporte
(catalisadores) e uma logística para o transporte dos produtos para os centros
de processamento.

ALIMENTOS À BASE DE NOVAS PROTEÍNAS


Este aspecto envolve uma polêmica muito grande e pode servir para exemplificar
algumas das principais dificuldades para se atingir o Fator 10. Como sempre, enquanto
estamos mexendo com os outros, qualquer inovação é aceitável. Esta proposta, porém,
considera a necessidade de mudança de hábitos alimentares, e isto atinge a todos nós,
portanto a situação pode ser muito mais difícil do que parece.

Uma das maiores ineficiências da cadeia nutricional está na transformação de proteínas


vegetais em animais. Para atingir níveis sensivelmente maiores de ecoeficiência, o
consumo de proteínas de origem animal tem que ser reduzido. Pode-se apontar algumas

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274 Prevenção da Poluição

alternativas, como o uso de substitutos: atualmente, verifica-se a existência de mais de


50 fontes de proteínas, a serem obtidas de plantas e bactérias, desde feijões e ervilhas
geneticamente modificados até bactérias, como a Spirulina e a Fusarium, e combinações
desses, que se agregariam aos já bastante utilizados soja e glúten.

A produção de muitas dessas proteínas pode representar uma melhoria no uso de


recursos naturais da ordem de grandeza de Fator 20 a 40, além de grandes reduções de
custo. Mas o público aceitaria esses substitutos?

Duas linhas de discussão parecem surgir a partir deste ponto. Uma, na direção da
alimentação natural e vegetariana; outra, na direção da alimentação com substitutos da
carne, desde que tenham gosto similar. Apesar de estar crescendo bastante, a alimentação
sem carne ainda ocupa um tímido espaço na nossa sociedade e precisaria de fortes
estímulos para se expandir. Por outro lado, a demanda de carne pelo seu gosto tem
que ser considerada, e nesse sentido o altíssimo consumo da linha de hambúrgueres e
salsichas, isto é, produtos de carne mecanicamente alterada, oferece a oportunidade de
uma gradual introdução de alimentos à base de novas proteínas.

Os principais gargalos neste aspecto são socioculturais e econômicos, a exemplo


de mudanças radicais que afetam um setor produtivo inteiro e que envolvem recursos
humanos, empregos e capitais, além da questão dos hábitos alimentares, antes citada.
Assim sendo, é requerida uma intensa discussão com todos os parceiros desta cadeia
produtiva e uma superação da desconfiança que hoje é sentida na nossa sociedade
com relação a alimentos com compostos geneticamente modificados, que por sua
vez dependem de mudanças radicais nas atitudes de ambas as partes (consumidor e
produtor).

TECNOLOGIAS DE SENSORES
Para se atingir os níveis de eficiência de conversão de recursos naturais em alimentos,
discutidos até o momento, é necessário contar com mecanismos de transferência de
informação bem mais avançados do que os que dispomos atualmente. O comportamento
dos recursos naturais – CO2, luz solar, água, solo, plantas, nutrientes e doenças – tem que
ser minuciosamente controlado. Para seu monitoramento é necessário o desenvolvimento

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Tendências para o Futuro 275

de novos e mais eficientes sensores, que permitam a captação da informação necessária


de forma a ser processada em tempo real para gerar as devidas respostas.

Abre-se, então, um leque de novas oportunidades de desenvolvimento tecnológico


em áreas diferentes das até aqui discutidas. Weaver e colaboradores apresentam uma
lista de necessidades de informação e de tecnologias de sensores a ser considerada:

• Biossensores, sensores elétricos e óptico-químicos, e sistemas de microanálise,


para informar a composição química de meios complexos como solos, água,
compostos orgânicos e biomassa;

• Tecnologia nuclear e de alta energia, espectroscopia, radar e ultra-som, para


obter informações sobre as condições e necessidades das plantas e animais;

• Sensores físicos como de luz, ópticos, sensores eletrônicos de gases, para


aquisição de informações ambientais e microclimáticas, tais como teor de CO2
e luz;

• Sensoramento remoto para localização e definição da forma e estrutura das


plantas em relação ao seu meio.

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276 Prevenção da Poluição

FECHAMENTO

A discussão sobre a experiência do governo holandês na


definição de estratégias para alcançar o desafio do Fator
10 teve como objetivo dar uma idéia do nível de esforço
e do grau de inovação que precisam ser atingidos.

Se temos plena convicção que a humanidade encontrará


o caminho para um crescimento sustentável, é importante
também reconhecer que para tal faz-se necessário
promover uma mudança de mentalidade. A diretriz a
ser adotada é a quebra de paradigmas e a adoção de
práticas inovadoras de inovação.

Assumir desafios com base numa projeção do futuro,


retrojetando os avanços necessários para se atingir
objetivos, num horizonte cada vez maior, é a chave para
o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.

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SOBRE OS AUTORES
Asher Kiperstok
Engenheiro civil, mestre em Tecnologias Ambientais, PhD em Tecnologias Am-
bientais, professor adjunto do Departamento de Hidráulica e Saneamento da
Universidade Federal da Bahia – UFBA, coordenador da Rede de Tecnologias
Limpas – TECLIM/UFBA e do Programa de Pós-graduação em Produção Limpa
– UFBA. (asher@ufba.br)

Arlinda Coelho
Química industrial, especialista em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais na
Indústria, mestranda em Gerenciamento Tecnologias Ambientais no Processo
Produtivo e coordenadora Técnica do Núcleo de Produção mais Limpa – NPL/
BA, sediado no SENAI da Bahia. (arlinda@cetind.fieb.org.br)

Ednildo Andrade Torres


Engenheiro mecânico, mestre em Engenharia Mecânica/Térmica, doutor em En-
genharia Mecânica/Energia, professor adjunto do Departamento de Engenharia
Química da Universidade Federal da Bahia – UFBA. (ednildo@ufba.br)

Clarissa Campos Meira


Engenheira civil, especialista em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais na
Indústria e mestranda em Engenharia Ambiental Urbana.
(clarissacampos@ig.com.br)

Sean Patrick Bradley


Arquiteto paisagístico, especialista em Gerenciamento e Tecnologias
Ambientais na Indústria e mestrando em Engenharia Ambiental Urbana.
(spbradley@ig.com.br)

Marc Rosen
Engenheiro mecânico, mestre em Engenharia Mecânica, PhD em Engenharia
Mecânica e professor da Ryerson Polytechnic University, Canadá, e, atualmente,
diretor da School of Manufacturing Engineering, University of Ontario Institute
of Technology. (marc.rosen@uoit.ca)

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SENAI/DN
COTED – Unidade de Conhecimento Tecnologia da Educação

Alberto Borges de Araújo


Coordenador
Elaboração
Arlinda Coelho SENAI/BA
Orientação Pedagógica
Valquíria de Aleluia Nunes SENAI/BA
Dulcinéia Maria Sabino Silva SENAI/BA
Lilian Soares Delfino SENAI/BA
Revisão Técnica da Área Ambiental
Rosângela Mitiyo Handa SENAI/PR
Tadeu Pabis Jr. SENAI/PR
Acompanhamento Editorial
Luis Fernando de Meira Fontes SENAI/DN
Paula Martini SENAI/DN

COTIN – Unidade de Conhecimento Tecnologia Industrial

Marcus Carvalho Fonseca


Coordenador

COINF – Unidade de Conhecimento Informação Tecnológica

Fernando Ouriques
Normalização Bibliográfica

Elaboração
Asher Kiperstok
Consultor
Ednildo Andrade Torres
Consultor
Clarissa Campos Meira
Bolsista do PROCES (Programa de Capacitação para Ensino Superior da
Universidade Federal da Bahia – UFBA/CAPES/CADCT)
Sean Patrick Bradley
Bolsista do PROCES (Programa de Capacitação para Ensino Superior da
Universidade Federal da Bahia – UFBA/CAPES/CADCT)
Marc Rosen
Consultor

Ilustração
Lídia Pitta
Figura 1.2 - Nordestino retirante

Colaboração
Syomara Barreto Santiago
Consultora
Roberto Azul
Revisão Gramatical
Giselle Maria Paula, Silvia Soffiatti e Maria Edvirgem Zeny
Tradução inglês-português
Ana Monteleone/Sylvio Nogueira • Prisma
Projeto Gráfico e Editoração

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SENAI/DN
PROJETO ESTRATÉGICO NACIONAL
Desenvolvimento Integrado de Cursos para Educação a Distância
com Recursos Multimídia via Internet

COTED – Unidade de Conhecimento Tecnologia da Educação

Alberto Borges de Araújo


Coordenador

Grupo Gestor do Projeto


Alexandre Magno Leão dos Santos SENAI/MG
Carlos Roberto Oliveira de Souza SENAI/BA
Paulo Fernando Presser SENAI/RS
Marco Antonio Areias Secco SENAI/PR
Mônica Machado Cavalcanti SENAI/CE
Walter Vicioni Gonçalves SENAI/SP

Equipe Técnica do Projeto


Cibele Reis Bittencourt SENAI/BA
Clóvis Leopoldo Reichert SENAI/RS
Consuelo Fernandez SENAI/SP
Eduardo Gonçalves Filho SENAI/SC
Fernando Schirmbeck SENAI/RS
Genilson Alves de Araújo SENAI/CE
Hiure Robson Betônico Araújo SENAI/MG
Ivete Palange SENAI/SP
Leury Giacomeli SENAI/SP
Liliam Maria Orquiza SENAI/PR
Luis Fernando de Meira Fontes SENAI/DN
Márcia Donegá Ferreira SENAI/PR
Marcos Antônio Santos SENAI/SC
Margarete Kleis Pereira SENAI/SC
Maria das Graças Barreto SENAI/BA
Maria de Fátima Neves SENAI/CE
Maria Eliane Monteiro SENAI/DN
Maria Elisa Moreno SENAI/RJ
Marina Vergílio Moreira SENAI/RS
Paula Martini SENAI/DN
Rosane Celi Ferreira SENAI/RJ
Tânia Regina R. Virmond SENAI/PR
Valquíria Nunes SENAI/BA
Vera Regina Costa Abreu SENAI/RJ
Xênia Ferreira da Silva SENAI/MG

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