Revista da
Escola da Magistratura
do TRF da 4ª Região
Quadrimestral.
Inicialmente semestral.
Repositório Oficial do TRF4 Região.
ISSN 2358-4602
1. Direito – Periódicos. I. Título. II. Brasil. Tribunal Regional Fede-
ral. 4. Região.
CDU 34(051)
E, finalmente, o
Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na-
tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro-
priedade, nos termos seguintes:
[omissis]
LXXIV – O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos.
II Considerações necessárias
1. Impende, de logo, afirmar que nenhuma das sete Constituições que
vigeram no país ofereceu maior elenco de direitos e garantias individuais do
que a atual. É bastante cotejar seu Título II, Capítulos I e II (arts. 5º e 6º a 11),
com as disposições correspondentes das Constituições anteriores para, sem
a menor dúvida, certificar-se dessa verdade.
A) Observações gerais
1. As considerações antes deduzidas visaram dar destaque a duas pre-
dominantes situações. A primeira, como já ficou referido, no que concerne
à amplitude dos direitos sociais e das garantias e dos direitos individuais,
explicitando que, como aos demais, eram extensivos aos necessitados, ou
seja, aos que não dispusessem de recursos para exigi-los; a segunda, com
igual valia e ainda instituindo como uma das funções essenciais à distribui-
ção de Justiça a Defensoria Pública, compreendendo a assistência jurídica e
judiciária aos referidos necessitados. A última, complementando a primeira,
para que ambas, em conjunto, pudessem tornar real, efetivo e eficaz o pleno
exercício dos direitos sociais e das garantias e dos direitos individuais, tal
como fez expresso, em seu preâmbulo, o estatuto em comentário.
15. Buscaram ambas, por meio de normas transitórias, dar solução ju-
rídica e justa a situações funcionais concretas, surpreendidas pela nova or-
dem constitucional instituída.
*1
Conferência proferida na Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho – 4ª Região, em
Porto Alegre, na data de 12.11.2015.
1
In Supremo Tribunal Federal. Posses presidenciais: 1962 – 2004. Brasília, 2004. p. 115.
2
NOGUEIRA, Adalício C., in Caminhos de um magistrado. Rio de Janeiro: José Olympo/MEC,
1978. p. 129.
3
RADBRUCH, Gustav, in Introduzione alla scienza del Diritto. Traduzido por Dino Pisani.
Torino: G. Giappichelli. p. 362-3.
4
SCHREIBER, Rupert, in Logic des Rechts. Berlin: Springer-Verlag, 1962. p. 92-5.
5
VIEHWEG, Theodor, in Topik und Jurisprudenz. München: Verlag C. H. Beck, 1953. p. 22-5 e
32-6.
6
MORIN, Gaston, in La Revolte du Droit contre le Code. Paris: Recueil Sirey, 1945. p. 114-5.
7
GARAPON, Antoine, in Les vertus du juge. Paris: Dalloz, 2008. p. 12.
9
In DJ de 03.11.1970, p. 5.294. Nesse sentido é a melhor doutrina: Y. Serra, in L’obligation de
non concurrence. Paris: Sirey, 1970. p. 159. n. 175.
In RTJ 57/46.
10
In RTJ 79/272-3.
11
In RTJ 96/431.
13
CARLYLE, Thomas, in Les héros. Traduzido por Jean Izoulet. 10. ed. Paris: Armand Colin,
14
1914. p. 23.
Resumo
O Estado pós-moderno compromete-se a efetivar os direitos funda-
mentais que a Constituição assegura aos cidadãos, sem exclusão, entre eles,
do direito à boa administração pública. É instrumento de conformação des-
ta, no direito público contemporâneo brasileiro, a Lei de Responsabilidade
Fiscal, cuja edição completa 15 anos e em face da qual se promovem ajus-
tes conciliadores das leis orçamentárias com a realidade socioeconômica em
permanente mutação. Ajustes que devem resultar do diálogo entre as ins-
tituições representativas da sociedade, de sorte a conduzir a escolhas que
serão tanto mais eficientes quanto pautadas na consensualidade.
Palavras-chave: Orçamento público. Ajuste fiscal. Administração pú-
blica dialógica. Lei de Responsabilidade Fiscal.
Abstract
The postmodern state is guided to achieve fundamental rights, including
the right to a good public administration. In such purpose, and to enable respect
for fiscal responsibility law, it is imperative to carry out fiscal adjustments that
allow the adequacy of budget laws to contemporary unstable socioeconomic
contexts. These adjustments ought to be based on dialogue among institutions,
in order to improve efficient choices grounded on consensualism.
Keywords: Public budget. Fiscal adjustment. Dialogic public adminis-
tration. Fiscal responsibility law.
Sumário: Introdução. 1 Orçamento público. 1.1 Conceito. 1.2 Despesa
pública: implementação de direitos fundamentais. 2 Lei de Responsabilidade
1
Dignidade da pessoa humana, segundo Ingo Wolfgang Sarlet, é a qualidade intrínseca e
distintiva reconhecida em cada ser humano, que o faz merecedor do mesmo respeito e da mesma
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de
direitos e deveres fundamentais que tanto protejam a pessoa contra todo e qualquer ato de
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas
para uma vida saudável. Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos
fundamentais na Constituição Federal de 1988. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2008. p. 62. Ana Paula de Barcellos ressalta, ainda, que “o efeito pretendido pela dignidade da
pessoa humana consiste, em termos gerais, em que as pessoas tenham uma vida digna. Como
é corriqueiro acontecer com os princípios, embora esse efeito seja indeterminado a partir de
um ponto (variando em função de opiniões políticas, filosóficas, religiosas etc.), há também
um conteúdo básico, sem o qual se poderá afirmar que o princípio foi violado, e que assume
caráter de regra, e não mais de princípio. Esse núcleo, no tocante aos elementos materiais da
dignidade, é composto pelo mínimo existencial, que consiste em um conjunto de prestações
materiais mínimas, sem as quais se poderá afirmar que o indivíduo encontra-se em situação de
indignidade”. Cf. BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o
princípio da dignidade da pessoa humana. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2011. p. 368.
2
A expressão “direitos fundamentais” é desenvolvida na cultura juspolítica alemã, que de-
monstra a intenção de conferir a tal categoria de direitos fundamentação transcendente. A
doutrina francesa denomina tais direitos como liberdades públicas, na busca de enaltecer o
caráter limitador da potestade estatal. A doutrina anglo-saxônica prefere direitos civis (civil
rights), com o fim de reforçar a sua vinculação com a temática da cidadania e de seu reconhe-
cimento no âmbito da esfera pública (civitas). Cf.: GOUVÊA, Marcos Maseli. O direito ao forne-
cimento estatal de medicamentos. In: GARCIA, Emerson (coord.). A efetividade dos direitos
sociais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 220.
3
PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres. Presença da administração consensual no direito positivo
brasileiro. In: FREITAS, Daniela Bandeira de; VALLE, Vanice Regina Lírio do (coords.). Direito
Administrativo e democracia econômica. Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 293.
1.1 Conceito
Nos estágios do Estado liberal (gendarme) e do Estado do bem-estar
(welfare), o orçamento público relacionava receitas4 e despesas, ou seja, es-
timativa das primeiras e fixação das segundas,5 a cada ano, constituindo o
marco delimitador da atividade financeira do Estado no período de sua res-
pectiva vigência.6
A concepção persiste como conceito básico, mas deve ser coadunada
com a noção de que se trata de instrumento utilizado pelo governo para
atingir metas traçadas em plano de gestão,7 inferido como instrumento de
controle político das atividades governamentais.8
Com o crescimento do Welfare State, no pós-guerra do século XX, a
preocupação estrita com o equilíbrio contábil anual das contas públicas dá
lugar a considerações mais amplas9 a respeito da função social do orçamen-
to público. Nasce o chamado “orçamento-programa”, por meio do qual se
expressa, se aprova, se executa e se avalia o nível de cumprimento do pro-
grama de governo para cada período orçamentário, levando-se em conta as
4
Para Eduardo Mendonça, “soa razoável que o Estado, em princípio, só arrecade coativa-
mente aquilo que for necessário” – Alguns pressupostos para um orçamento público confor-
me a Constituição. In: BARROSO, Luís Roberto (org.). A reconstrução democrática do direito
público no Brasil. Livro comemorativo dos 25 anos de magistério do professor Luís Roberto
Barroso. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 644.
5
GONÇALVES, Hermes Laranja. Uma visão crítica do orçamento participativo. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2005. p. 40.
6
NASCIMENTO, Carlos Valder do. O orçamento público na ótica de responsabilidade fiscal:
autorizativo ou impositivo. Revista Ibero-Americana de Direito Público, n. 6, p. 16, 2001.
7
GONÇALVES, op. cit., p. 34.
8
Ibidem, p. 41.
9
CORREIA NETO, Celso de Barros. Orçamento público: uma visão analítica. Disponível em:
<http://www.esaf.fazenda.gov.br/esafsite/premios/sof/sof_2010/monografias/tema_2_3%-
C2%BA _monografia_celso_de_barros.pdf>. Acesso em: 28 set. 2011. p. 12.
10
GIACOMONI, James. Orçamento público. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 33.
11
PINTO, Élida Graziane. Financiamento de direitos fundamentais. Belo Horizonte: O Lutador,
2010. p. 83-84.
12
O planejamento deve ser compreendido como uma aglomeração de múltiplas atividades,
incluindo análises socioeconômicas, definição de metas, apresentação de premissas, estudos,
seleção e escolha final de cursos de ação, orçamento, programação de trabalhos, instituição
de normas e métodos, medidas dos resultados, em quantidade e qualidade, e revisão contínua
dos planos. Cf. NASCIMENTO, João Alcides do. O papel do orçamento público no processo de
planejamento da ação política. Energia, entropia e informação, fatores a considerar. Revista da
ESG, v. IX, n. 25, p. 24, 1993.
13
NASCIMENTO, Carlos Valder do. Op. cit., p. 12.
14
Ao incorporar o sistema de planejamento, o orçamento deve definir a política econômica, e
não o contrário. Cf. SABBAG, César. Orçamento e desenvolvimento. Recurso público e dignidade
humana: o desafio das políticas desenvolvimentistas. São Paulo: Millennium, 2006. p. 264.
15
GONÇALVES, op. cit., p. 41.
16
SILVA, Guilherme Amorim Campos da; TAVARES, André Ramos. Extensão da ação popular
enquanto direito político de berço constitucional elencado no título dos direitos e garantias
fundamentais dentro de um sistema de democracia participativa. Cadernos de Direito
Constitucional e Ciência Política, Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, Rio de Janeiro,
n. 3, p. 119-120, 1995.
17
Adota-se o conceito de políticas públicas proposto por Maria Paula Dallari Bucci, de modo
a entendê-las como “programas de ação governamental que visam a coordenar os meios
à disposição do Estado e as atividades privadas, para realização de objetivos socialmente e
politicamente relevantes”. Cf. BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito Administrativo e políticas
públicas. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 241.
18
MENDONÇA, op. cit., p. 647.
19
Ibidem, p. 646.
24
PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres. Aspectos constitucionais da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Revista da Emerj, v. 4, n. 15, p. 63, 2001.
25
TORRES, Ricardo Lobo. Alguns problemas econômicos e políticos da Lei de Responsabilidade
Fiscal. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). Aspectos relevantes da Lei de Responsabilidade
Fiscal. São Paulo: Dialética, 2001. p. 281-283.
26
CONTI, José Maurício. Irresponsabilidade fiscal ainda persiste, 15 anos após a publicação da
lei. Revista Consultor Jurídico, 7 abr. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-
abr-07/contas-vista-irresponsabilidade-fiscal-persiste-15-anos-publicacao-lei>. Acesso em: 10
jun. 2015.
27
MARTINS, Ives Gandra. Os fundamentos constitucionais da Lei de Responsabilidade
Fiscal n. 101/2000. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). Aspectos relevantes da Lei de
Responsabilidade Fiscal. São Paulo: Dialética, 2001. p. 165.
28
CAMARGO, Guilherme Bueno de. Governança republicana e orçamento: as finanças
públicas a serviço da sociedade. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury (coords.).
Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 783.
29
SLOMSKI, Valmor; PERES, Úrsula Dias. As despesas públicas no orçamento: gasto público
eficiente e a modernização da gestão pública. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando
Facury (coords.). Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2011. p. 930.
30
SLOMSKI, Valmor; PERES, Úrsula Dias. As despesas públicas no orçamento: gasto público
eficiente e a modernização da gestão pública. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando
Facury (coords.). Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2011. p. 930.
31
CAMARGO, Guilherme Bueno de. Governança republicana e orçamento: as finanças
públicas a serviço da sociedade. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury (coords.).
Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 769.
32
Ibidem, p. 770.
33
Ibidem, p. 773.
34
NASCIMENTO, Carlos Valder do. Arts. 1º a 17 da Lei Complementar n. 101. In: MARTINS,
Ives Gandra; NASCIMENTO, Carlos Valder do. Comentários à Lei de Responsabilidade Fiscal.
5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 51.
35
SILVA, Moacir Marques da. A lógica do planejamento público à luz da Lei de Responsabilidade
Fiscal. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury (coords.). Orçamentos públicos e
Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 764.
36
Nas palavras de Osvaldo Maldonado Sanches, planejamento estratégico significa “aquilo
que é relativo à estratégia, ou seja, à criação de condições favoráveis para realização dos
grandes objetivos da instituição”. Cf. SANCHES, Oswaldo Maldonado. Dicionário de orçamento,
planejamento e áreas afins. Brasília: Prisma, 1997. p. 190.
37
Significa o “processo de detalhamento das ações e dos meios necessários para a
implementação das ações que levem ao atingimento das metas atribuídas às unidades
funcionais de um órgão ou instituição, dentro de um prazo determinado”. Cf. SANCHES, op.
cit., p. 190.
38
Traduz-se na “modalidade de planejamento voltada para assegurar a viabilização dos
objetivos e das metas dos planos a longo prazo e para a otimização do emprego de recursos
em um período determinado de tempo”. Cf. SANCHES, op. cit., p. 190.
39
Tal realidade não pode ser imputada tão somente ao Brasil, constituindo tendência
internacional, conforme se pode depreender da leitura do seguinte pensamento de Zygmunt
Bauman: “Vivemos a crédito: nenhuma geração passada foi tão endividada quanto a nossa –
individual e coletivamente (a tarefa dos orçamentos públicos era o equilíbrio entre receita e
despesa; hoje em dia, os ‘bons orçamentos’ são os que mantêm o excesso de despesas em
relação a receitas no nível do ano anterior)”. Cf. BAUMAN, Zygmunt. Medo líquido. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 16.
40
Não se desconhece a incidência de outros fatores, tais como crises internacionais, juros dos
empréstimos internacionais, corrupção, desvios, entre outros.
41
Faz-se menção ao item deste estudo dedicado ao aumento das funções estatais.
42
MOREIRA, Egon Bockmann. O princípio da transparência e a responsabilidade fiscal. In:
ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). Aspectos relevantes da Lei de Responsabilidade Fiscal.
São Paulo: Dialética, 2001. p. 137.
43
CATARINO, João Ricardo. Processo orçamental e sustentabilidade das finanças públicas:
o caso europeu. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury (coords.). Orçamentos
públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 787.
44
FIGUEIRÊDO, Carlos Maurício C. Lei de Responsabilidade Fiscal: o resgate do planejamento
governamental. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). Aspectos relevantes da Lei de
Responsabilidade Fiscal. São Paulo: Dialética, 2001. p. 40.
45
MENDONÇA, op. cit., p. 640-641.
46
TIMM, op. cit., p. 59.
47
MACEDO, Marco Antônio Ferreira. A reconstrução republicana do orçamento: uma análise
crítico-deliberativa das instituições democráticas no processo orçamentário. Tese (Doutorado
em Direito Público), Faculdade de Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro, 2007. p. 56-57.
48
Acerca do tema “orçamento-programa”, confira-se o item 1.1 deste estudo.
49
DIAS, Francisco Mauro. Visão global da Lei de Responsabilidade Fiscal. Revista da Emerj, v.
5, a. 17, p. 112, 2002.
50
DOMINGUES, José Marcos. Ajuste fiscal deve se adequar às prioridades previstas na
Constituição. Revista Consultor Jurídico, 20 maio 2015.
51
DRUCKER, Peter. Desafios gerenciais para o século XXI. Traduzido por Nivaldo Montingelli
Jr. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. p. 41.
52
A esse respeito, vale menção à teoria da moralidade incompleta, que destaca a eficiência
estatal quando se trata de arrecadação tributária, sem a necessária parcimônia na realização
das despesas públicas. Cf. FIGUEIRÊDO, Carlos Maurício C. Lei de Responsabilidade Fiscal: o
resgate do planejamento governamental. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). Aspectos
relevantes da Lei de Responsabilidade Fiscal. São Paulo: Dialética, 2001. p. 27.
53
ALMEIDA, Carlos Otávio Ferreira de. O planejamento financeiro responsável: boa
governança e desenvolvimento no Estado contemporâneo. In: CONTI, José Maurício; SCAFF,
Fernando Facury (coords.). Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011. p. 597.
54
DIAS, Maria Tereza Fonseca. Reforma administrativa brasileira sob o impacto da
globalização: uma (re)construção da distinção entre o público e o privado no âmbito da
reforma administrativa gerencial. In: TELLES, Vera da Silva; HENRY, Etienne (orgs.). Serviços
urbanos, cidade e cidadania. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 282.
55
Por imperatividade entende-se “que os atos administrativos são cogentes, obrigando a
todos quantos se encontrem em seu círculo de incidência”. Cf. CARVALHO FILHO, José dos
Santos. Manual de Direito Administrativo. 20. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 116.
56
PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres; DOTTI, Marinês Restolatti. Convênios e outros instrumentos
de “administração consensual” na gestão pública do século XXI: restrições em ano eleitoral.
3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2015. p. 259. Nesse sentido, confira-se ainda: PEREIRA JUNIOR,
Jessé Torres. Presença da administração consensual no direito positivo brasileiro. In: FREITAS,
Daniela Bandeira de; VALLE, Vanice Regina Lírio do (coords.). Direito Administrativo e
democracia econômica. Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 293-317.
57
SOUZA NETO, Cláudio Pereira. Teoria constitucional e democracia deliberativa: um
estudo sobre o papel do Direito na garantia das condições para cooperação na deliberação
democrática. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 302-303.
58
BRANDÃO, Rodrigo. Supremacia judicial versus diálogos constitucionais: a quem cabe a
última palavra sobre o sentido da Constituição? Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. p. 221.
59
SAGER, Laurence G. Justice in plainclothes: a theory of American constitutional practice.
New Haven: Yale University Press, 2004.
60
BATEUP, Christine. The dialogical promise: assessing normative potential of theories of
constitutional dialogue. Brooklyn Law Review, v. 71, 2006.
61
TUSHNET, Mark. Weak Courts, strong rights: judicial review and social welfare right in
comparative constitutional law. Princeton: University Press, 2008.
62
MILLER, Mark C.; BARNES, Jeb (eds.). Making police, making law: an interbranch
perspective. Washington D.C.: Georgetown University Press, 2004.
70
AQUINO, Yara. Governo quer diálogo com Congresso para aprovar ajuste fiscal. Agência
Brasil, Brasília, 4 maio 2015. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/politica/2015/05/
governo-quer-dialogo-com-congresso-para-aprovar-ajuste-fiscal>. Acesso em: 1 4 jun. 2015.
71
Acerca do tema capacidades institucionais, confira-se: SARMENTO, Daniel. Interpretação
constitucional, pré-compreensão e capacidades do intérprete. In: ______. Por um
constitucionalismo inclusivo: história constitucional brasileira, teoria da constituição e
direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 217-232.
72
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. Deliberação pública, constitucionalismo e cooperação
democrática. In: ______. Constitucionalismo democrático e governo das razões. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 3-32.
73
Sobre presidencialismo de coalizão, merecem destaque os estudos desenvolvidos por
Paulo Ricardo Schier, principalmente: SCHIER, Paulo Ricardo. Vice-presidente da República
no contexto do presidencialismo de coalizão. In: CLÈVE, Clèmerson Merlin (org.). Direito
Constitucional brasileiro. v. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 519-522.
74
ROCHA, Francisco Sérgio Silva. Orçamento e planejamento: a relação de necessidade
entre as normas do sistema orçamentário. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury
(coords.). Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
p. 741.
75
ROCHA, Francisco Sérgio Silva. Orçamento e planejamento: a relação de necessidade
entre as normas do sistema orçamentário. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury
(coords.). Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
p. 730.
76
CONTI, José Maurício. Aprovação do orçamento impositivo não dá credibilidade à lei
orçamentária. Revista Consultor Jurídico, 10 mar. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.
com.br/2015-mar-10/paradoxo-corte-aprovacao-orcamento-impositivo-nao-credibilidade-
lei-orcamentaria>. Acesso em: 10 jun. 2015.
77
SILVA, Francis Waleska Esteves da. A Lei de Responsabilidade Fiscal e os seus princípios
informadores. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 45.
78
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Considerações sobre a Lei de Responsabilidade
Fiscal. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 105.
79
SOUTO, Marco Juruena Villela. Aspectos jurídicos do planejamento econômico. 2. ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, passim.
80
OLIVEIRA, Weder de. Curso de Responsabilidade Fiscal: Direito, orçamento e finanças
públicas. v. 1. Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 55.
81
MOREIRA, Egon Bockmann. O princípio da transparência e a responsabilidade fiscal. In:
ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). Aspectos relevantes da Lei de Responsabilidade Fiscal.
São Paulo: Dialética, 2001. p. 142.
82
SANTOS, Ricart César Coelho dos. Debutante, Lei de Responsabilidade Fiscal tem novos
desafios. Revista Consultor Jurídico, 24 maio 2015.
83
ROCHA, Francisco Sérgio Silva. Orçamento e planejamento: a relação de necessidade
entre as normas do sistema orçamentário. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury
(coords.). Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
p. 742.
84
CABRAL, Nazaré. Orçamentação pública e programação: tendências internacionais e
implicações sobre o caso português. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury
(coords.). Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
p. 653.
85
NÓBREGA, Marcos. Orçamento, eficiência e performance budget. In: CONTI, José Maurício;
SCAFF, Fernando Facury (coords.). Orçamentos públicos e Direito Financeiro. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011. p. 717.
Ibidem, p. 719.
86
1
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Moralidade administrativa: do conceito à efetivação.
Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 190, p. 1-44, out./dez. 1992.
2
HAURIOU, Maurice. Précis élementaire de droit administratif. 4. ed. Paris: Sirley, 1938. p.
232 e ss.
3
OSÓRIO, Fábio Medina. Teoria da improbidade administrativa: má gestão pública,
corrupção e eficiência. 3. ed. Revista dos Tribunais, 2013. p. 77-78.
4
OSÓRIO, Fábio Medina. Op. cit., p. 80-81.
5
OSÓRIO, Fábio Medina. Op. cit., p. 126.
6
OSÓRIO, Fábio Medina. Op. cit., p. 126.
7
OSÓRIO, Fábio Medina. Op. cit., p. 126.
8
BAUMAN, Zygmunt. A vida fragmentada: ensaios sobre a moral pós-moderna. Lisboa:
Relógio D’Água, 2007.
9
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Zahar, 1999.
10
A respeito do caráter ético-normativo da moralidade administrativa, vale conferir ANTUNES
ROCHA, Cármen Lúcia. Princípios constitucionais do processo administrativo no Direito
brasileiro. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 209, p. 189-222, jul./set. 1997.
11
Acerca das origens históricas da moralidade administrativa no Brasil, vale ler, por todos:
TÁCITO, Caio. Moralidade administrativa. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n.
218, p. 1-10, out./dez. 1999 e BRANDÃO, Antônio José. Moralidade administrativa. Boletim do
Ministério da Justiça, Lisboa, v. I, p. 50 e ss.
12
Nesse mesmo sentido, Cármen Lúcia Antunes Rocha em voto proferido no RE nº 598.099,
em julgamento de 10 de agosto de 2011 no STF: “A administração tem que ser moral, ética em
todos os seus comportamentos, e não acredito em uma democracia que não viva do princípio
da confiança do cidadão na administração”.
13
BRANDÃO, Antônio José. Moralidade administrativa. Boletim do Ministério da Justiça,
Lisboa, v. I, p. 50 e ss.
14
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). AI 790.148/DF. Relator(a): Min. Dias Toffoli.
Julgamento: 22.04.2015.
15
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Recurso Extraordinário (RE) 405.386/RJ, Min. Teori
Zavascki, julgamento 26.02.2013.
16
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). MANDADO DE SEGURANÇA 34.069 MC, Min. Gilmar
Mendes, julgado em 21.03.2016.
17
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Mandado de Segurança – MS 34.609 MC, Min. Celso
de Mello, julgado em 14.02.2017.
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 16. ed. Forense,
18
2014. p. 102.
Resumo
O propósito deste artigo é investigar a responsabilidade da adminis-
tração tributária no Direito brasileiro a partir da interpretação do conjunto
de enunciados prescritivos que versam sobre o exercício da função fiscal e o
dever de reparar danos estabelecidos na CF/88, no CTN e no CC. Pretende-se
responder à pergunta: as normas jurídicas brasileiras atualmente vigentes
permitem imputar ao Estado o dever de reparar danos causados ao sujeito
passivo da obrigação tributária em decorrência da conduta do agente públi-
co no exercício da função fiscal? Este estudo permite compreender algumas
particularidades do Direito Tributário brasileiro, que, em sua origem e em
seu processo de consolidação, foi fortemente influenciado por doutrinado-
res italianos.
Palavras-chave: Norma jurídica. Sanção. Responsabilidade do Estado.
Dano. Função fiscal.
Abstract
This paper aims to verify State civil liability regarding law relationship in
the context of tax matters. Such liability raises from the taxpayer’s obligation of
paying taxes based upon the understanding of some Brazilian Law prescriptive
statements related to tax administrative activity and also to the duty to pay
damages stated in CF/88, CTN and CC. The target is to answer the following
question: concerning government tax activity and based upon Brazilian Law,
may the State be liable to pay moral and material damages to taxpayers? This
study reveals some Brazilian Tax Law details heavily affected by Italian legal
scholars regarding its source and following consolidation process.
Keywords: Rule of law. Sanction. Government liability. Damage. Tax
power.
5
Essa declaração foi publicada por Osvaldo de Moraes na Revista de Direito Administrativo,
v. 66, p. 425. Apud COSTA, Alcides Jorge. Op. cit., p. 28.
6
TORRES, Heleno Taveira. Contribuições da doutrina italiana para a formação do Direito
Tributário brasileiro. Diritto e pratica tributaria, fasc. 4, 2002. p. 390.
7
Ibidem, p. 24.
8
TORRES, Ricardo Lobo. As influências italianas no Direito Tributário brasileiro. Revista de
Direito Tributário, São Paulo, v. 84, p. 70-82, 2002.
12
Victor Uckmar presta um decisivo apoio à intensificação das relações culturais entre Brasil
e Itália no campo do Direito Tributário, intermediando a concessão de bolsa de estudos a
estudantes e professores, apresentando outros autores ao Brasil, difundindo publicações e
apoiando projetos de congressos internacionais, obras coletivas e outras iniciativas. TORRES,
Heleno Taveira. Op. cit., p. 397.
17
ITÁLIA. Corte de Cassação. Acórdão n. 500, de 22 de julho de 1999. Relator: Preden Pm
Dettori.
20
SILVA, Roberto de Abreu. Hermenêutica constitucional da responsabilidade civil. Revista da
Emerj – Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, v. 6, n. 23, 2003. Disponível em:
<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista23/revista23_217.pdf>.
Acesso em: 19 maio 2016.
21
ÁVILA, Humberto. Op. cit., p. 42.
22
DONNINI, Rogério. Op.cit., p. 492.
KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 26.
23
Ibidem, p. 27.
24
29
O legislador italiano adota a terminologia “dano injusto” no art. 2.043 do CC para qualificar
o dano passível de ressarcimento. Optou-se pelo termo ilícito em vez de injusto em relação
ao Direito brasileiro, não por acreditar-se na sua inadequação, mas para seguir o padrão que
começou a ser defendido, sobretudo, por Fernando Dias Menezes de Almeida, apesar de ser
algo incipiente, porém com o mesmo significado, ou seja, para se referir ao denominado “dano
evento”, que corresponde à lesão de direitos subjetivos e de interesses juridicamente relevantes.
31
Art. 2.043 do CC: “qualunque fatto doloso o colposo, che cagiona ad altri un danno ingiusto,
obbliga colui che ha commesso il fatto a risarcire il danno”.
32
CHIEPPA, Roberto; GIOVAGNOLI, Roberto. Manuale di diritto amministrativo. 2. ed. Milano:
Giuffrè, 2012. p. 890.
33
“L´imputazione non potrà quindi avvenire sulla base del mero dato obbiettivo dell´illegittimità
dell´azione amministrativa, ma il giudice ordinario dovrà svolgere una più penetrante indagine,
non limitata al solo accertamento dell´illegittimità del provvedimento in relazione alla normativa
ad esso applicabile, bensì estesa anche alla valutazione della colpa, non del funzionario agente
(da riferire ai parametri nella negligenza o imperizia), ma della Pubblica Amministrazione intesa
come apparato che sarà configurabile nel caso in cui l´adozione e l´esecuzione dell´atto illegittimo
(lesivo dell´interesse del danneggiato) sia avvenuta in violazione delle regole di imparzialità, di
correttezza e di buona amministrazione alle quali l´esercizio della funzione amministrativa deve
ispirarsi e che il giudice ordinario può valutare in quanto si pongono come limiti esterni alla
discrezionalità.” (Cass. SS.UU, 22 luglio 1999, n. 500 – negritei)
34
CORRADINO, Michele. Diritto amministrativo. 2. ed. Padova: Cedam, 2009. p. 1001.
35
CHINDEMI, Domenico. Comportamento illecito dei dipendenti degli uffici finanziari e
risarcimento del danno a favore del contribuente. Rivista Responsabilità Civile e Previdenza,
n. 9, 2011. p. 1763.
1
“Revolução Constitucionalista de 1932, também conhecida como Revolução de 1932 ou
Guerra Paulista, foi o movimento armado ocorrido no estado de São Paulo, entre julho e
outubro de 1932, que tinha por objetivo derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas e
convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. O levante começou de fato em 9 de julho
de 1932 e foi precipitado após a morte de quatro jovens por tropas getulistas em 23 de maio
de 1932 durante um protesto contra o Governo Federal. Após a morte desses jovens, foi
organizado um movimento clandestino denominado MMDC (iniciais dos nomes dos quatro
jovens mortos: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo), que começou a conspirar contra o
governo provisório de Getúlio Vargas, articulando junto com outros movimentos políticos uma
revolta substancial. Houve também uma quinta vítima, Orlando de Oliveira Alvarenga, que
também foi baleado naquele dia no mesmo local, mas veio a falecer meses depois. Nos meses
precedentes ao movimento, o ressentimento contra o presidente Getúlio Vargas ganhava
força, indicando uma possível revolta armada, e o governo provisório passou a especular a
hipótese de o objetivo dos revoltosos ser a secessão de São Paulo do Brasil. No entanto, o
argumento separatista jamais foi comprovado fidedigno, porém, ainda assim esse argumento
foi utilizado na propaganda do governo provisório ao longo do conflito para instigar a opinião
pública do restante do país contra os paulistas, obter voluntários na ofensiva contra as tropas
constitucionalistas e ganhar aliados políticos nos demais estados contra o movimento de São
Paulo.” (<https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolução_Constitucionalista_de_1932>)
Conferência proferida pelo autor em língua espanhola (o texto das notas está traduzido
*1
1
Ver: HARDIN, Garret. The tragedy of the commons. Science, v. 162, p. 1243-1248, 1968.
2
SUSTAINABLE DEVELOPMENT SOLUTIONS NETWORK THEMATIC GROUP ON CHALLENGES
OF SOCIAL INCLUSION. Achieving gender equality, social inclusion, and human rights for
all: challenges and priorities for the sustainable development agenda. New York: Sustainable
Development Solutions Network, 2013.
3
SACHS, Jeffrey. The age of sustainable development. New York: Columbia University Press,
2015. p. 1-2.
4
SUSTAINABLE DEVELOPMENT SOLUTIONS NETWORK THEMATIC GROUP ON CHALLENGES
OF SOCIAL INCLUSION. Achieving gender equality, social inclusion, and human rights for
all: challenges and priorities for the sustainable development agenda. New York: Sustainable
Development Solutions Network, 2013.
5
SACHS, Jeffrey. The age of sustainable development. New York: Columbia University Press,
2015. p. 2.
6
INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database. April 2014.
Disponível em: <www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2014/01/weodata/index.aspx>. Acesso
em: 10 out. 2015.
7
SHILLER, Robert J. Irrational exuberance. Princeton: Princeton University Press, 2010.
8
GERRARD, Michael. Introduction and overview. In: ______; FREEMAN, Jody (ed.). Global
climate change and U.S. law. New York: American Bar Association, 2014. p. 7.
9
UNITED STATES. U.S. Global Change Research Program. Nat’l Climate Assessment Dev.
Advisory. Comm., Third National Climate Assessment Report (Jan. 2013 draft).
10
INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database. 2016. Disponível
em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2016/01/weodata/weorept.aspx>. Acesso
em: 20 abr. 2016.
11
UNITED NATIONS. Human Development Report. Disponível em: <http://www.hdr.undp.
org>. Acesso em: 20 nov. 2015.
12
ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Disponível em:
<http://www.oecd.org>. Acesso em: 20 set. 2015.
13
UNITED NATIONS. Human Development Report. Disponível em: <http://www.hdr.undp.
org>. Acesso em: 20 nov. 2015.
14
THE WORLD BANK. Disponível em: <http://www.data.worldbank.org>. Acesso em: 20 set.
2015.
15
YALE CENTER FOR ENVIRONMENTAL LAW AND POLICY, YALE UNIVERSITY. Full report and
analysis. 2014. Disponível em: <http://issuu.com/yaleepi/docs/2014_epi_report>. Acesso
em: 01 jul. 2015.
SEN, Amartya. Development as freedom. New York: Random House, 1999. p. 236.
16
Resumo
O artigo tem por objeto temas que serão apontados futuramente na
judicialização da saúde. Destacam-se a influência da inteligência artificial e
seus impactos; o fenômeno dos médicos sem marcas, que se declaram ex-
pressamente desvinculados de qualquer interesse, especialmente da indús-
tria farmacêutica; e o autocuidado, que se apresenta como outro ponto de
importância que também deverá ser objeto de reflexão no porvir do direito
à saúde e da sua judicialização.
Palavras-chave: Direito à saúde. Judicialização da saúde. Futuro.
1
SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Traduzido por Daniel Moreira Miranda. São
Paulo: Edipro, 2016. Tradução de: The fourth industrial revolution. p. 151.
2
GRUSH, Loren. Boy given a 3-D printed spine implant. Popular Science, 26 ago. 2014.
Disponível em: <www.popsci.com/article/science/boy-given-3-dprinted-spine-implant>.
3
Os exemplos foram extraídos de SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Traduzido
por Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016. Tradução de: The fourth industrial
revolution. p. 151-152.
4
Os exemplos foram extraídos de SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Traduzido
por Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016. Tradução de: The fourth industrial
revolution. p. 152.
5
Disponível em: <http://news-explorer.mybluemix.net/>. Acesso em: 02 jul. 2017.
6
Computador vai recomendar melhor tratamento para pacientes com câncer. Estado de São
Paulo, 08 jun. 2017. Disponível em: <http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,computador-
vai-recomendar-melhor-tratamento-para-pacientes-com-cancer,70001830660>. Acesso em:
31 jul. 2017.
7
“MÉDICOS SIN MARCA es una agrupación chilena de médicos que busca promover un
ejercicio clínico responsable, basado en evidencia y libre de las influencias de la propaganda y
los incentivos provenientes de la industria farmacéutica y de dispositivos médicos. Buscamos
fomentar un distanciamiento de la profesión médica respecto de las estrategias de promoción
de las compañías productoras de tratamientos, con miras a proteger la imparcialidad e
independencia del juicio clínico de los efectos distorsionadores del marketing y los conflictos
de interés. Te invitamos a conocer nuestra iniciativa y las diversas aristas de este urgente
problema. Revisa nuestra propuesta, y si estás de acuerdo con sus contenidos firma aquí para
sumarte a nuestro listado de adherentes.” Disponível em: <http://www.medicossinmarca.cl/>.
Acesso em: 08 jul. 2017.
8
“Te invitamos a conocer nuestra iniciativa y las diversas aristas de este urgente problema.
Revisa nuestra propuesta, y si estás de acuerdo con sus contenidos firma aquí para sumarte
a nuestro listado de adherentes.” Disponível em: <http://www.medicossinmarca.cl/>. Acesso
em: 08 jul. 2017.
9
Nomes disponíveis em <http://www.medicossinmarca.cl/quienes-somos/>. Acesso em: 08
jul. 2017.
10
VARELLA, Dráuzio. A inatividade física custou para o mundo US$ 67,5 bilhões. Folha de São
Paulo, 01 out. 2016, Caderno Ilustrada, C6.
11
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: [...] III – a dignidade da pessoa humana.”
12
BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional
contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo
Horizonte: Fórum, 2016. p. 87.
13
BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional
contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo
Horizonte: Fórum, 2016. p. 95-96.
14
BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional
contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo
Horizonte: Fórum, 2016. p. 88.
15
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Pedido de vista adia julgamento sobre acesso a
medicamentos de alto custo por via judicial. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/
cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=326275>. Acesso em: 29 jan. 2017.
16
SANTA CATARINA. TJSC. IRDR n. 0302355-11.2014.8.24.0054, rel. Des. Ronei Danielli, Grupo
de Câmaras de Direito Público, julgado em 09.11.2016.
1
BARTON, Stephan. Das Tatobjekt der Geldwäsche: Wann rührt ein Gegenstand aus einer
der im Katalog des § 261 Nr. 1-3 StGB bezeichneten Straftaten her?; CORDERO, Blanco. El delito
de blanqueo de capitales. 4. ed. Thomson Reuters Aranzadi, 2015. p. 340. Na jurisprudência
americana, esp. US v. Mankarious, 151 F. 3d. 694, 705 (7th Cir. 1998) e US v. Blackman, 904 F.
2d 1250 (8th Circ. 1990), que serão examinados no curso deste trabalho.
2
US v. Edgmon, 952 F. 2d 1206 (10th Cir. 1991) examinou a temporalidade entre o crime
antecedente e a lavagem, entendendo que, havendo simultaneidade entre ambos, a lavagem
não ocorreria, exatamente por faltar o elemento anterioridade. Segundo o acórdão, “o
Parlamento mirou com o crime de lavagem de dinheiro uma conduta que se segue no tempo ao
crime subjacente, não a criação de uma forma alternativa de punição do crime antecedente”.
Essa é uma perspectiva importante quando se tem de examinar casos em que a consumação
do delito acaba se confundindo com uma operação financeira.
3
Art. 7º, inc. I, da Lei nº 9.613/98. A questão longe está da facilidade: o prêmio de loteria
recebido pelo traficante que adquirira o bilhete com produto da venda de cocaína pode ser
objeto do delito de lavagem? E os lucros distribuídos por uma sociedade, cuja participação
social tenha sido adquirida com dinheiro obtido da corrupção? E o que dizer do saldo bancário
utilizado por um corruptor para vencer uma licitação? Os exemplos poderiam ser multiplicados.
Barton, em seu seminal artigo, Das Tatobjekt der Geldwäsche (...), p. 163, procura resolver
essas questões a partir da teoria da adequação, por oposição à teoria do equivalente dos
antecedentes. Diz ele: “um traficante compra um bilhete de loteria e ganha $ 100.000. Aqui,
não se poderá dizer que esse ganho resulta de uma violação do BtMG (...). Nem o dinheiro vem
das drogas, nem o acaso – fator ‘sorte’ – delas decorre. O ganho de loteria, portanto, não é
proveniente de um dos crimes do catálogo legal”.
4
V. item 4, infra, sobre processos de descontaminação.
5
A perspectiva deste trabalho é, declaradamente, de direito comparado, na linha
metodológica assentada por CRUZ, Rogério Schietti. A proibição de dupla persecução penal.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 226.
6
O navio Palmyra ou Panchita navegava sob comissão do rei da Espanha, sendo capturado
pelo navio americano Grampus em 15 de agosto de 1822, após ter praticado atos de pirataria,
sendo levado para o porto de Charleston, na Carolina do Norte. Em primeiro grau, o navio foi
liberado e restituído à Espanha, subindo a causa à Suprema Corte em 1825, que manteve o
decisum, acrescentando, porém, que “encontra-se solidificado na common law que, em casos
de crimes, a parte é confiscada em seus bens e imóveis para a coroa. O confisco, estritamente
falando, não se prende na coisa, mas é uma parte ou uma consequência do julgamento
condenatório. (...) Mas essa doutrina nunca foi aplicada a confiscos criados pela lei, in rem
(...). A coisa é considerada primariamente como a ofensora, ou melhor, a ofensa se prende
primariamente à coisa; e isto [ocorre] seja o ilícito um malum prohibitum ou malum in se. O
mesmo princípio se aplica a procedimentos im rem ou em apreensões do direito marítimo.
Muitos casos existem nos quais o confisco por atos cometidos se pretende apenas na coisa,
e não existe qualquer penalidade in personam. Muitos casos existem nos quais há tanto
o confisco da coisa quanto uma penalidade pessoal. Mas em nenhuma classe de casos foi
alguma vez decidido que os processos dependeriam uns dos outros. A prática tem sido, e
assim esta corte entende que é o direito, de que os procedimentos im rem são independentes
e totalmente alheios a qualquer procedimento criminal in personam (...). Tanto na Inglaterra
quanto na América, a jurisdição in rem é usualmente competência de cortes diversas daquelas
que exercem jurisdição criminal”.
9
Harmony, 43 US 210 (1844).
10
JW Goldsmith Jr.-Grant Co. v. US. 254 US 505 (1921).
11
A lei brasileira determina, no art. 7º, “a perda (...) de todos os bens, direitos e valores
relacionados, direta ou indiretamente, à prática dos crimes previstos nesta lei (...) ressalvado
o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé”.
12
FINE, Alan S. Of forfeiture, facilitation and foreign innocent owner: is a bank account
containing parallel market funds fair game? Nova Law Review, v. 16, p. 1125, 1991-1992.
13
GORDON, Jon E. Prosecutors who seize too much and the theories they love; money
laundering, facilitation and forfeiture. Duke Law Journal, v. 44, p. 744, 1994-95.
14
Austin v. US. 509 U.S. 602 (1993).
15
FINE, Allan. Of forfeiture, facilitation and foreign innocent owner, p. 1125.
16
STRAFFER, Richard. Protecting the innocent owner. University of Florida Law Review, v. 37,
p. 842-3, 1985.
17
BROOK, Davis. Bennis v. Michigan: does the innocent owner have a defense to civil
forfeiture? Nova Law Review, v. 21, p. 695, 1996-1997.
18
Em US v. One Tintoreto Painting entitled The Holy Family with saint Catherine and honored
donor, 691 F. 2d 603 (2nd Circ. 1982), um cidadão israelense, Silberberg, impugnou o confisco
de um valioso quadro contrabandeado para os EUA por Vinokur, pessoa dedicada ao mercado
de artes que gozava de excelente reputação na comunidade israelense, a quem confiara a
venda do quadro. Concluiu o Tribunal que “um proprietário de um bem que não suspeita que
a sua propriedade esteja sendo indevidamente utilizada não tem dever de prevenir o uso
indevido (...), devendo ser-lhe devolvida a propriedade”. A decisão assentou que “o mesmo
deve ser dito com relação ao proprietário que provou não apenas que não estar envolvido e
não ter ciência da atividade ilícita, mas, também, ter tomado todas as cautelas que dele se
esperaria, para prevenir um uso proscrito de sua propriedade; pois, em tal circunstância, seria
difícil concluir que o confisco serviria a propósitos legítimos sem ser arbitrário”.
19
Certain Accounts, 795 F. Supp. 391 (S.D. Fla. 1992).
20
Id., p. 398.
21
Marko Voß, Die Tatobjekte (...), p. 31.
22
A rigor, a mistura de bens inocentes e “culpados”, sem dúvida, é uma das principais
maneiras de ocultar a origem ilícita destes, conforme já destacou a jurisprudência brasileira:
“um dos expedientes utilizados pelos autores do crime de lavagem de dinheiro é a mescla de
atividades lícitas com as ilícitas (fusão de técnicas) a fim de dificultar a investigação” (TRF3,
ACR 00012769820054036005, relator Des. Federal Henrique Herkenhoff, 2ª Turma, DJU
11.09.2008).
23
Marko Voß, Die Tatobjekte (...), p. 30.
24
Cuida-se de previsão idêntica à da Convenção de Viena (art. 5º, VII).
25
Assim consta da Exposição de Motivos da Lei de Lavagem de Dinheiro: “§ 66. Na orientação
do projeto, tais medidas cautelares se justificam para muito além das hipóteses rotineiras já
previstas pelo sistema processual em vigor. Sendo assim, além de ampliar o prazo para o início da
ação penal, o projeto inverte o ônus da prova relativamente à licitude de bens, direitos ou valores
que tenham sido objeto da busca e apreensão ou do sequestro (art. 4º). Essa inversão encontra-
se prevista na Convenção de Viena (art. 5º, nº 7) e foi objeto de previsão no direito argentino
(art. 25, Lei 23.737/89). § 67. Observe-se que essa inversão do ônus da prova circunscreve-se
à apreensão ou ao sequestro de bens, direitos ou valores. Não se estende ela ao perdimento
destes, que somente se dará com a condenação (art. 7º, I). Na medida em que fosse exigida, para
só a apreensão ou o sequestro, a prova da origem ilícita de bens, direitos ou valores, estariam
inviabilizadas as providências, em face da virtual impossibilidade, nessa fase, de tal prova”.
26
R. v. Loizou [2005] EWCA Crim 1579, [2005] 2 Cr. App. R. 37. Cuidava-se da entrega de
dinheiro em cash por um passageiro de um veículo a passageiros de outro veículo, ambos
estacionados. A acusação fora de lavagem do respectivo valor, mas a promotoria não
conseguiu identificar a natureza do crime antecedente. Segundo afirmou a Corte, “é lei clara
que o dinheiro deve ser propriedade criminosa no momento em que é transferido, não sendo
suficiente que se torne uma propriedade criminosa como resultado da transação envolvendo
a transferência”. O acórdão reproduz a instrução do juiz aos jurados: “primeiramente, deve
existir uma propriedade criminosa, e isso significa uma propriedade obtida como resultado
de uma conduta criminosa. Eu faço um simples exemplo. É o fruto do roubo de um banco;
outro exemplo, os frutos de uma fraude. (...) O segundo ingrediente é que deve existir uma
transferência; isso simplesmente significa que a propriedade criminosa tem que passar de uma
pessoa a outra. Em terceiro lugar, o réu que está sendo julgado tinha que ter conhecimento da
transferência, desejando dela participar. Se a pessoa não sabe o que está acontecendo, então
ela não pode ser culpada de nada, de modo que eles têm que saber o que estava acontecendo;
e, em segundo lugar, essa pessoa deve saber ou ter a suspeita de que era uma transferência de
propriedade criminosa. Esses são os três ingredientes que a acusação deve provar”.
30
US v. La Brunerie, 914 F. Supp. 340 (W.D. Mo. 1995). Em síntese, os acusados haviam
pago propina a um servidor municipal sob promessa de que este apoiaria uma proposição
legislativo-administrativa que geraria grandes vantagens em operações imobiliárias naquela
municipalidade. Em sua defesa, alegaram os réus que “o dinheiro [objeto da transferência
bancária] teria de ser derivado de uma atividade ilegal, à luz da legislação de lavagem de
dinheiro. O fato de que um esquema de propina tenha sido estabelecido, antes que os cheques
fossem emitidos, não estabelece que os fundos tenham fonte imprópria. O principal foco do
legislador, ao editar a lei, era a lavagem de dinheiro sujo e sua transformação em dinheiro
limpo. (...) Os alegados atos, neste caso, são exatamente o oposto: tomar dinheiro limpo e
fazê-lo sujo. Uma vez que a denúncia neste caso é silente quanto à fonte de onde provém
o dinheiro, tanto quanto a respeito de se tratar de uma fonte ilícita ou originária de uma
atividade ilegal, a denúncia não descreve propriamente um crime de lavagem de dinheiro”.
Segundo a acusação, os réus haviam enviado pelo correio as falsas faturas que geraram as
transações financeiras de resgate dos cheques junto a um estabelecimento comercial, bem
como entre as companhias envolvidas. Os réus arguiram que a acusação não havia conseguido
vincular fraudes postais específicas com as operações financeiras discutidas. Porém, o tribunal
rejeitou a arguição, consignando que “fraude bancária gera frutos apenas após sua execução;
fraude em transferências bancárias só gera frutos depois da transferência. A fraude postal,
todavia, pode criar frutos muito antes de as cartas serem enviadas. Mankarious e Murphy
desejam que o Tribunal suspenda a ocorrência da lavagem de dinheiro entre o momento
do esquema fraudulento e o momento em que esse mesmo esquema utilizou o correio (...).
Christo, Johnson e todos os outros casos exigem-nos manter separados o crime antecedente
e a lavagem. (...) O crime antecedente tem de ter produzido frutos em atos distintos da
conduta que constitui lavagem de dinheiro”.
33
US v. L. Johnson, 971 F2d 562 (10th Circ., 1992).
34
US v. Christo, 129 F. 3d 578 (11th Circ., 1997). Christo era o presidente da instituição
financeira, sendo que Maulden era membro do conselho de administração. O último emitia os
cheques sem provisão, sendo que o primeiro autorizava o pagamento sem cobrança de juros.
seja um crime distinto do crime antecedente gerador do dinheiro. Id., p. 1234, citando US
v. LeBlanc, 24 F. 3d 340, 346 (1st Cir. 1994), cert. negado, ___ U.S. ___, 115 S. Ct. 250, 130
L. Ed. 2d 172 (1994). Assim também em US v. Edgmon, 952 F. 2d 1206 (10th Cir. 1991), cert.
negado, 505 U.S. 1223, 112 S. Ct. 3037, 120 L. Ed. 2d 906 (1992), a Corte entendeu que o
legislador concebeu a lavagem de dinheiro como crime distinto da conduta ilegal, que vem a
ser a ofensa predicada (...)”.
36
TRF4, ACR 5037102-80.2014.404.7000, 7ª Turma, relatora Desa. Federal Claudia Cristofani,
j. 18.11.2015.
37
US v. Mankarious, 151 F. 3d. 694, 705 (7th Cir. 1998).
38
No caso, o Ministério Público Federal sustentava que o crime de evasão de divisas e de
manutenção de depósitos não declarados à repartição competente poderia ser o próprio
antecedente do delito de lavagem de dinheiro por conta do respectivo crédito na conta corrente,
sendo que os valores indiretamente provenientes dessa prática bastariam à consumação do
crime, situação muito assemelhada à dos casos Mankarious, Christo e Johnson, já examinados.
39
É didática, nesse sentido, a sentença proferida nos autos nº 5037102-80.2014.4.04.7000
pelo juiz federal Sérgio Moro, in verbis: “A prova em relação à natureza e à origem dos recursos
movimentados por uma das contas é, no contexto, relevante para determinar a natureza e a
origem dos recursos movimentados por outra conta. (...) 126. Para a caracterização do crime
de lavagem de dinheiro, é necessário, porém, não só condutas de ocultação e dissimulação,
mas também que os valores envolvidos tenham procedência criminosa. (...) 128. Quanto à
procedência criminosa dos valores, embora seja provável que todos os créditos havidos nas
contas do [...] sejam de valores previamente evadidos e, portanto, de origem criminosa,
considerarei provada a origem e a natureza criminosa dos valores apenas quando os créditos
sejam provenientes de outras contas de operadores do mercado de câmbio negro mantidas
no próprio [...] ou já identificadas no Caso Banestado. 129. Assim, por exemplo, o recebimento
pela conta [...] de créditos da conta [...], ambas controladas por operadores do mercado negro
de câmbio, caracteriza crime de lavagem de dinheiro, já que os valores que eram mantidos
na conta [...] tinham natureza criminosa, uma vez que produto de prévia evasão de divisas, e
foram transferidos para conta secreta em nome de offshore, visando à sua disponibilização,
em transferência fraudulenta, em reais para cliente do controlador da conta [...]”.
40
HC nº 0014358-23.2015.4.03.0000/SP, 1ª Turma, rel. Des. Federal José Lunardelli, j.
30.05.2017.
45
Com relação ao exame probatório, é valiosa a perspectiva de DALLAGNOL, Deltan. As
lógicas das provas no processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, com relevo para a
abordagem da inferência para melhor explicação. O autor explica a inexistência de diferença
ontológica entre prova direta e prova indiciária, perspectiva com a qual estamos inteiramente
de acordo e que também defendemos em A prova nos juízos cível, penal e tributário. Rio de
Janeiro: Forense, 2007.
46
US v. Blackman, 904 F. 2d 1250 (8th Circ. 1990) debateu “se a prova apresentada pela
acusação era suficiente para sustentar a condenação por lavagem de dinheiro”, formada, in
casu, pelos seguintes elementos: (i) livro-razão contabilizando a venda de drogas; (ii) posse de
significativas quantidades de cocaína; (iii) uso de sistema de pagamentos usualmente adotado
por traficantes; (iv) perícia correlacionando quantidade de drogas e atividade comercial de
larga escala. Já as operações financeiras consistiam em quatro remessas bancárias, no valor
total de US$ 11.000,00, e uma transferência simulada da propriedade de veículo mediante
pagamento de US$ 4.000,00. Sustentava-se que a acusação não havia rastreado os recursos
utilizados nessas transferências até uma operação específica de venda de drogas, afirmando-
se insuficiente o argumento de que o réu não dispunha de fontes legítimas de renda. O 8º
Circuito, no ponto, reafirmou a premissa de que a falta de fontes legítimas de renda não
suporta uma condenação por lavagem: “concordamos com a alegação de que a acusação não
pode basear-se exclusivamente na prova de que o réu, acusado de usar produtos de um crime,
carece de uma fonte legítima de renda” – perspectiva, entre nós, constante de acórdão de
relatoria do Des. Federal João Pedro Gebran Neto (TRF4, ACR 0042105-10.2005.404.7100,
8ª Turma, D.E. 22.01.2015). Ainda assim, a acusação não teria propriamente o ônus de
comprovar, em casos tais, a vinculação entre as transferências realizadas por Blackman e “uma
venda [de drogas] pontual”, sendo o requisito probatório satisfeito à luz da “totalidade das
circunstâncias”, mediante prova indiciária, cuidando-se de réu sem fontes lícitas de renda.
A decisão invoca US v. Matra, 841 F. 2d 837 (8th Circ. 1988), segundo o qual “largas somas
de dinheiro sem explicação” podem ser utilizadas como prova indiciária no conjunto das
circunstâncias. Matra, a rigor, não discutiu propriamente a prova da origem de fundos, mas
da intenção de traficar, a partir de um conjunto muito robusto de provas indiciárias (o réu
era o proprietário de uma casa dedicada à mercancia de narcóticos, em lugar de um simples
visitante). Consta em Matra: “a intenção de comercializar drogas pode ser inferida a partir da
posse de uma grande quantidade de substâncias controladas, de seu elevado teor de pureza,
da presença de parafernália usada para distribuir drogas, das largas somas de dinheiro não
explicadas e da presença de armas de fogo”. US v. Massac, 867 F. 2d 174 (3rd Circ. 1989),
também invocado, percorreu o mesmo iter decisório, destacando várias circunstâncias
objetivas, todas igualmente eloquentes, para a seguir dispensar a acusação de estabelecer
uma relação direta entre operação de venda de drogas e recursos utilizados em certas
transferências: “(...) O acusado afirma que não havia prova de que ele utilizou os serviços
de Haitelex Transfer Data Exchange com o propósito de disfarçar a natureza, a localização,
a propriedade e o controle do dinheiro que ele havia ganho por meio da venda de crack. O
uso do Haitelex pelo réu para transferir $ 22.000 em dinheiro para o Haiti, por um período de
cinco meses, por meio dos serviços de seu conterrâneo Deslaurier, em lugar de usar um banco,
associado à prova de seu envolvimento com a venda de narcóticos, era suficiente, sem mais,
para que o júri razoavelmente inferisse que ele possuía o requisito da ciência, justificando sua
condenação”. Todos são casos em que o acusado não tinha ocupação lícita, fora surpreendido
com somas elevadas de dinheiro sem explicação e comprovadamente estavam engajados
na comercialização de narcóticos de significativa escala. Entre nós, raciocínio semelhante já
foi aplicado, firmando-se a convicção de que a “grande quantidade da droga apreendida, a
estrutura ostentada pela organização criminosa, tal como o arrendamento de fazendas no
Brasil e a propriedade de fazendas no Paraguai utilizadas para o preparo e a distribuição da
droga, as declarações das testemunhas no sentido de que os apelantes adquiriram veículos
que também utilizavam no tráfico, bem como uma aeronave e implementos agrícolas,
e, principalmente, a ausência de provas quanto à origem lícita de recursos para adquirir
tais bens e a utilização de ‘laranjas’ para figurarem como seus proprietários e as tentativas
infrutíferas das testemunhas arroladas pela defesa no sentido de comprovar a origem lícita
do dinheiro para a aquisição desses bens demonstram claramente que os valores eram
provenientes do crime de tráfico” (TRF3, ACR 00012769820054036005, relator Des. Federal
Henrique Herkenhoff, 2ª Turma, DJU 11.09.2008).
47
Anderson v. Smithfield Foods, Inc., 209 F. Supp. 2d 1270 (M.D. Fla. 2002).
48
Ementa do julgado: “Embargos infringentes na AP 470. Lavagem de dinheiro. 1. Lavagem
de valores oriundos de corrupção passiva praticada pelo próprio agente: 1.1. O recebimento
de propina constitui o marco consumativo do delito de corrupção passiva, na forma objetiva
‘receber’, sendo indiferente que seja praticada com elemento de dissimulação. 1.2. A
autolavagem pressupõe a prática de atos de ocultação autônomos do produto do crime
antecedente (já consumado), não verificados na hipótese. 1.3. Absolvição por atipicidade da
conduta. 2. Lavagem de dinheiro oriundo de crimes contra a Administração Pública e o Sistema
Financeiro Nacional. 2.1. A condenação pelo delito de lavagem de dinheiro depende da
comprovação de que o acusado tinha ciência da origem ilícita dos valores. 2.2. Absolvição por
falta de provas. 3. Embargos acolhidos para absolver o embargante da imputação de lavagem
de dinheiro” (AP 470 EI-décimos sextos, relator(a) p/ acórdão: Min. Roberto Barroso, Tribunal
Pleno, julgado em 13.03.2014).
49
US v. Mankarious, 151 F. 3d. 694, 705 (7th Cir. 1998).
50
US v. L. Johnson, 971 F2d 562 (10th Circ. 1992).
51
US v. Christo, 129 F. 3d 578 (11th Circ. 1997).
52
Voto proferido nos Sextos Emb. Infr. na AP 470/MG, Plenário do STF, j. 13.03.2014. O
eminente Ministro Teori Zavascki ainda invoca manifestação do Ministro Ricardo Lewandowski,
no sentido de que “o fato de alguém ter recebido vantagem indevida, sob a forma de dinheiro,
por interposta pessoa, dissimuladamente, pode, sim, caracterizar o crime de corrupção
passiva. Mas este único fato, qual seja, o recebimento de propina de maneira camuflada,
não pode gerar duas punições distintas, a saber, uma a título de corrupção passiva e ainda
outra de lavagem de dinheiro, sob pena de ferir-se de morte o princípio do ne bis in idem”.
Essa perspectiva, aliás, está à base da punição da lavagem de dinheiro, na medida em que
depende de uma cadeia causal nova, não se destinando a incrementar a punibilidade do delito
antecedente.
53
Não se deve confundir o implemento desse requisito objetivo com as características da
relação entre os produtos do crime antecedente e a operação financeira subsequente.
A esse propósito, v. BARTON, Stephan. Das Tatobjekt der Geldwäsche (…) e CORDERO,
Blanco. El delito de blanqueo de capitales, p. 340. Este último, aliás, desenvolve hipóteses
esclarecedoras sobre tal relação: se o delinquente adquire com o dinheiro ilegalmente obtido
participação acionária de uma empresa, os bens produzidos pela empresa não procedem do
delito prévio, assim como também não procede o prêmio auferido por um traficante com o
bilhete de loteria (op. cit., p. 345-6). Na jurisprudência americana, v., especialmente, os já
citados US v. Mankarious, 151 F. 3d. 694, 705 (7th Cir. 1998) e US v. Blackman, 904 F. 2d 1250
(8th Circ. 1990). De outra parte, Sedemund, em Der Verfall von Unternehmensvermögen bei
Schmiergeldzahlungen durch die Geschäftsleitung von Organgesellschaften, DB 2003, p. 323-
329, no contexto de um caso julgado pelo BGH em 02.02.2015 envolvendo pagamento de
propina em licitação conduzida pelo Estado de Köln, sustentou que seria exigível uma relação
de “unmittelbarkeitbeziehung” entre o fato criminoso e o resultado, ou seja, uma relação sem
intermediações, de absoluta imediatidade e causalidade. Restaria saber, então, se, havendo
interferência de novos fatores causais, como, v.g., o trabalho humano lícito, poderia quebrar-
se a cadeia delitiva, mas essa questão não constitui objeto do presente trabalho.
confisco de outras 27 contas, indiretamente favorecidas com depósitos oriundos das primeiras.
Em sua decisão, consignou o juiz que “o governo pretende o confisco dos fundos em contas nas
quais fundos ilícitos foram negociados sem nada dizer com relação aos saldos dessas contas”.
Ao fundamentar o indeferimento, o tribunal também registrou que “existe uma possibilidade
real de que correntistas inocentes, que tenham recebido depósitos maculados, sejam privados
do uso desses fundos até que possam demonstrar a inocência dos recursos”. O pedido foi
rejeitado “quanto à totalidade dos saldos de todas as contas indiretas; o governo terá o direito
de emendar o pedido (...) para alegar fatos adicionais contra os fundos requeridos, capazes de
dar lugar a uma suspeita razoável de que sejam passíveis de confisco”.
66
US v. Banco Cafetero Panama 797, F. 2d 1154 (2nd Cir. 1986). Sinteticamente, um banco
panamenho, cujos controladores estavam envolvidos no tráfico de drogas, transferiu, pouco
antes de ser dissolvido pela autoridade local, US$ 46.000.000,00 para contas mantidas pelo
Banco Cafetero Panama em uma instituição de Nova Iorque, por meio de cinco outras contas.
O governo pretendia confiscar a íntegra dos respectivos saldos misturados com outros valores.
67
JOHNSON, D. Randall. The criminally derived property statute: constitutional and
interpretive issues raised by 18 U.S.C. § 1957. 34 Wm. & Mary L. Rev. 1291 (1993), p. 1330.
68
Id., p. 1330.
69
Para uma maior explicitação, US v. Banco Cafetero Panama 797, F. 2d 1154 (2nd Cir.
1986), que permitiu ao governo adotar, prima facie, o primeiro método. Em artigo ainda em
fase de publicação, examinaremos cada um desses métodos, além de outras construções
assemelhadas, mediante exercícios de aplicação a extratos bancários e movimentações
bancárias hipotéticas.
70
Nesse sentido, em US v. Cosme, 13 Cr. 43 (HB) (S.D.N.Y. Apr. 21, 2014), o réu suscitou
justamente a questão de saber se fundos precedentes às acusações criminais poderiam ser
derivados de atividade criminal. A Corte Distrital valeu-se da abertura concedida em Cafetero:
“Quando alguns fundos em uma conta bancária são ligados à atividade criminosa e outros
não, consultamos Banco Cafetero (...). Todos os fundos reivindicados pelo réu antecedentes à
atividade criminosa foram posteriormente misturados com fundos supostamente derivados
de atividade criminosa e transferidos para outras contas em valores mais baixos do que os
frutos criminalmente derivados. Assim, esses fundos são considerados rastreáveis à suposta
atividade criminosa”. Também em US v. Walsh, 712 F. 3d 119 (2nd Cir. 2013), afirmou-se que
“relevante, aqui, é o critério drugs-in, first-out, que considera como um fruto procedente do
crime qualquer saque, ou qualquer ativo adquirido com esse saque, até o limite do total de
fundos ilícitos depositados”.
71
A rigor, existem diferenças conceituais entre o LIFO e o menor saldo intermediário ou LIBR,
que excedem o objeto deste trabalho.
72
US v. Prevezon Holdings Ltd. 122 F. Supp. 3d 57.
73
A propósito, versando sobre o delito de utilizar recursos derivados de crime, tipificado
na seção 1957 da lei americana, D. Randhall Johnson, The criminally derived (...), p. 1291,
destaca o quão pernicioso pode ser aplicar tais dispositivos incriminadores de uma forma
excessivamente ampla – note-se, quando o acusado não seja o mesmo agente da atividade
criminosa precedente –, citando a primeira condenação a esse título, revertida pelos tribunais
superiores, porquanto baseada na aparência de que se tratava de um criminoso.
74
CORDERO, Blanco. El delito de blanqueo de capitales (...), p. 449.
75
Suponha-se que R$ 1.000,00 sejam depositados em uma conta corrente, agregando-
se a um saldo de R$ 100.000,00. Não sendo a lavagem de dinheiro um mecanismo de
reforço à punibilidade do crime antecedente, ressalvada a hipótese de smurfing, ofenderia
a proporcionalidade qualquer tentativa de sustentar a contaminação, ainda que parcial, da
conta receptora e, portanto, do respectivo saldo formado.
76
Marko Voß, Die Tatobjekte der Geldwäsche (...), p. 37.
77
BARTON, Stephan. Das Tatobjekt der Geldwäsche (...), p. 164, afirma: “sempre que o valor
da parte ilícita de um objeto (...) diminui substancialmente, como resultado do valor de seu
processamento, segue-se que o objeto processado não mais pode manter sua significação
como sendo proveniente do crime”. Como exemplo, Barton cita o caso do metal comprado
com produto de crime, empregado na confecção de relógios, em cujo contexto acaba por se
perder.
78
O presente trabalho não cuida do que chamamos de descontaminação qualitativa. Cfr.
BARTON, Stephan. Das Tatobjekt der Geldwäsche (...), p. 160, problematizando a terminologia
da lei penal alemã – “herrürhen”: “surge especialmente a pergunta, quais mecanismos fazem
com que um objeto não mais seja considerado como proveniente de um crime”, impondo-se
definir os limites desse critério de proveniência. Em outras palavras, ainda segundo Barton,
tem-se de perguntar quais transformações sucessivas podem eventualmente depurar esse
caráter criminoso, do contrário a contaminação sempre se propagaria. Tem lugar, neste ponto,
a diferenciação entre precedência e proveniência, sendo a primeira um juízo meramente
cronológico, enquanto a segunda é um juízo essencialmente jurídico, dos quais, todavia, este
trabalho não cuida, concentrando-se mais propriamente na descontaminação quantitativa ou
simplesmente diluição.
79
Id., p. 164, ainda acrescenta a hipótese de perda de significância jurídica do próprio crime
antecedente que gerou a propriedade criminosa.
80
Vale registrar que, nesta sede, nos ocupamos, exclusivamente, da descontaminação
qualitativa por diluição.
81
Eis a dicção das citadas convenções: Convenção de Palermo: “Art. 12.4. Se o produto do
crime tiver sido misturado com bens adquiridos legalmente, estes bens poderão, sem prejuízo
das competências de embargo ou apreensão, ser confiscados até o valor calculado do produto
com que foram misturados”; Convenção de Mérida: “Art. 31.5. Quando esse produto de delito
se houver mesclado com bens adquiridos de fontes lícitas, esses bens serão objeto de confisco
até o valor estimado do produto mesclado, sem menosprezo de qualquer outra faculdade
de embargo preventivo ou apreensão”; Convenção de Viena: “Art. 5.6 (b) Quando o produto
houver sido misturado com bens adquiridos de fontes lícitas, sem prejuízo de qualquer outra
medida de apreensão ou confisco preventivo aplicável, esses bens poderão ser confiscados até
o valor estimativo do produto misturado”.
82
“Art. 4º (...). § 2º O juiz determinará a liberação dos bens, direitos e valores apreendidos ou
sequestrados quando comprovada a licitude de sua origem”.
83
Reza a Exposição de Motivos da Lei de Lavagem: “66. Na orientação do projeto, tais medidas
cautelares se justificam para muito além das hipóteses rotineiras já previstas pelo sistema
processual em vigor. Sendo assim, além de ampliar o prazo para o início da ação penal, o
projeto inverte o ônus da prova relativamente à licitude de bens, direitos ou valores que
tenham sido objeto da busca e apreensão ou do sequestro (art. 40). Essa inversão encontra-
se prevista na Convenção de Viena (art. 5º, nº 7) e foi objeto de previsão no direito argentino
(art. 25, Lei 23.737/89). 67. Observe-se que essa inversão do ônus da prova circunscreve-se
à apreensão ou ao sequestro de bens, direitos ou valores. Não se estende ela ao perdimento
destes, que somente se dará com a condenação (art. 7º, I). Na medida em que fosse exigida,
para só a apreensão ou o sequestro, a prova da origem ilícita de bens, direitos ou valores,
estariam inviabilizadas as providências, em face da virtual impossibilidade, nessa fase, de tal
prova”.
84
A propósito, conforme se trate de analisar a conta ou os bens em que o saldo se tenha
transposto, um método e outro levarão a consequências muito diferentes. Se os recursos
permanecem mesclados no saldo da conta, o primeiro método potencializa o quantum
contaminado. O último, diferentemente, considera que a parcela criminosa imediatamente
deixou a conta para transformar-se no bem adquirido com o redutor do saldo, descontaminando
a conta, mas contaminando o bem.
89
TRF4, ACR 1999.70.00.013518-3, 7ª Turma, D.E. 04.07.2007.
90
In verbis: “A aquisição de bens duráveis e de fácil liquidez, como relógios, obras de arte e
veículos automotores, em que pese poder caracterizar o crime de lavagem de ativos, exige
elementos outros complementares, como a clara intenção de dissimular a origem dos recursos
ou a aquisição de bens em nome de terceiros ou nome falso. Hipótese em que o conjunto
probatório não atesta cabalmente o cometimento do delito. (...)” (TRF4, ACR 0011147-
95.2006.404.7200, 8ª Turma, relator João Pedro Gebran Neto, D.E. 22.01.2015). Ainda,
afastando a lavagem, à míngua da ocultação: “Apelação. Lavagem de capitais. Provas suficientes
da origem ilícita do dinheiro apreendido. Ausência de elementos a demonstrar a finalidade
de ocultar ou dissimular o emprego do dinheiro. Mera posse do valor que não caracteriza o
crime de branqueamento ou ocultação de dinheiro. Apelo provido” (TJSP, Ap. Cr. nº 0006785-
79.2008.8.26.020, relator Guilherme de Souza Nucci, 16ª Câmara de Direito Criminal, j.
14.10.2014); “Apelação. Lavagem de dinheiro. Compras realizadas de forma aparentemente
normal, que, ao que tudo indica, nem sequer procuraram dissimular a origem espúria do
dinheiro utilizado. Inexistência de comprovação do dolo necessário à caracterização do delito.
Absolvição. Recurso provido” (TJSP, Ap. Cr. nº 0016112-87.2008.8.26.0576, relator Francisco
Bruno, 10ª Câmara de Direito Criminal, j. 13.09.2012); “(...) 5. A simples prática de negócios
jurídicos que envolvam a disposição de bens e valores do patrimônio do agente, ainda que
parcialmente constituído por proveito da prática de infrações penais, ou o seu investimento
em outras atividades com o intuito exclusivo de gerar mais lucros, não caracteriza o crime do
art. 1º da Lei 9.613/98, sendo imprescindível à configuração da infração penal a demonstração
do elemento subjetivo do tipo de ocultar, dissimular a origem do dinheiro, o que não ocorre
na hipótese dos autos (...)” (TRF3, ACR 00048423120004036102, rel. Des. Federal Cotrim
Guimarães, 2ª Turma, e-DJF3 07.08.2014).
91
Harmony, 43 US at 233-34 (1844); Palmyra, 12 Wheat. 1 (1827).
92
A rigor, entendemos que se trata de uma questão de direito ou, dependendo das
circunstâncias, de uma questão mista. Sobre as questões mistas, discorremos em KNIJNIK,
Danilo. O recurso especial e a revisão da questão de fato pelo Superior Tribunal de Justiça.
Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 151.
93
R. v. Loizou [2005] EWCA Crim 1579, [2005] 2 Cr. App. R. 37.
94
Kensington Intl Ltd. v. Republic of Congo [2008] 1 WLR 1144.
95
Geary, R. v. Regina [2010] EWCA Crim 1925.
96
Regina v. Amir e Akhtar [2011] EWCA Crim 146.
97
US v. LaBrunerie, 914 F. Supp. 340 (W.D. Mo. 1995).
98
Anderson v. Smithfield Foods, Inc., 209 F. Supp. 2d 1270 (M.D. Fla. 2002).
99
AP 470 EI-décimos sextos, relator p/ acórdão Min. Roberto Barroso, Pleno, j. 13.03.2014.
100
US v. Olaniyi-Oke, 199 F. 3d 767 (5th Cir. 1999).
101
US v. Scialabba, 282 F. 3d 475 (7th Circ. 2002).
102
US v. Rockelman, 49 F. 3d 418 (8th Cir. 1995).
103
STJ, APn 458/SP, rel. p/ acórdão Ministro Gilson Dipp, Corte Especial, DJE 18.12.2009.
104
TRF4, ACR 1999.70.00.013518-3, 7ª Turma, relator Ministro Néfi Cordeiro, D.E. 04.07.2007.
105
TJSP, ACR nº 0006785-79.2008.8.26.0201, relator Guilherme de Souza Nucci, 16ª Câmara de
Direito Criminal, j. 14.10.2014.
106
TJSP, ACR nº 0016112-87.2008.8.26.0576, relator Francisco Bruno, 10ª Câmara de Direito
Criminal, j. 13.09.2012.
107
TRF3, ACR 00048423120004036102, rel. Des. Federal Cotrim Guimaraes, 2ª Turma, e-DJF3
07.08.2014.
108
US v. Mankarious, 151 F. 3d. 694, 705 (7th Cir. 1998).
109
US v. L. Johnson, 971 F. 2d 562 (10th Circ. 1992).
110
US v. Christo, 129 F. 3d 578 (11th Circ. 1997).
111
HC nº 0014358-23.2015.4.03.0000/SP, 1ª Turma, rel. Des. Federal José Lunardelli, j.
30.05.2017.
112
TRF4, ACR 0042105-10.2005.404.7100, Oitava Turma, relator João Pedro Gebran Neto, D.E.
22.01.2015.
113
US v. Blackman, 904 F. 2d 1250 (8th Circ. 1990); United States v. Massac, 867 F. 2d 174 (3rd
Cir. 1989); US v. Matra, 841 F. 2d 837, 841 (8th Cir. 1988).
114
US v. Massac, 867 F. 2d 174 (3rd Cir. 1989).
115
US v. Blackman, 904 F. 2d 1250 (8th Circ. 1990); US v. Massac, 867 F. 2d 174 (3rd Cir.
1989); US v. Matra, 841 F. 2d 837, 841 (8th Cir. 1988). Para maiores detalhes, v. supra, com
associações entre falta de justificativa para detenção de valores e apreensão de volume de
drogas compatível com mercancia ou apreensão de livro-razão contabilizando venda de
drogas. Em qualquer caso, entendemos que o apelo à totalidade das circunstâncias deve partir
de bases bastante sólidas a demonstrar que o crime antecedente tem caráter tal que compila
à inferência de que os fundos se originaram de sua prática. A prova, nesse sentido, deve impor
uma tal conclusão.
116
US v. Matra, 841 F. 2d 837 (8th Circ. 1988).
117
US v. Massac, 867 F. 2d 174 (3rd Cir. 1989).
118
TRF4, ACR 5037102-80.2014.404.7000, 7ª Turma, relatora Claudia Cristina Cristofani, j.
18.11.2015.
119
TRF3, ACR 00012769820054036005, 2ª Turma, relator Des. Federal Henrique Herkenhoff,
DJU 11.09.2008.
120
US v. Banco Cafetero Panama 797, F. 2d 1154 (2nd Cir. 1986).
121
US v. Johnson, 971 F2d 562 (10th Circ. 1992).
122
US v. Certain Accounts, 795 F. Supp. 391 (1992).
123
804 F. Supp. 444 (E.D.N.Y. 1992).
124
Neste artigo, cuidamos apenas da descontaminação quantitativa ou diluição.
125
BARTON, Stephan. Das Tatobjekt der Geldwäsche (...), p. 164, alude à diluição nos casos
de baixa relação entre os fundos limpos e aqueles maculados, pois nesse caso os objetivos
da legislação não seriam atingidos. Empregando o conceito de nível de significância, sustenta
que 5% seria o limite abaixo do qual a diluição ocorre: “então, se um objeto não ultrapassa
esse nível”, careceria de significância e já não se poderia aludir a uma propriedade criminosa.
Porém, ao fazer aplicação da tese, verifica-se que na verdade Barton inclui uma espécie de
juízo de valor: supondo-se a aquisição de um veículo familiar por $ 30.000, em cujo pagamento
o produto da droga representa $ 500, ou seja, 1,66%, esse bem não seria uma propriedade
criminosa. Porém, supondo-se a aquisição de um carro esportivo de luxo, a $ 300.000, em cujo
pagamento o produto da droga representa $ 5.000, a despeito de ambos significarem 1,66%
do preço, afirma Barton que, neste último caso, “apesar de em ambos os casos a relação entre
dinheiro limpo e sujo ser igual”, o bem seria uma propriedade criminosa.
126
US v. Banco Cafetero Panama 797, F. 2d 1154 (2nd Cir. 1986).
127
US v. Cosme, 13 Cr. 43 (HB) (S.D.N.Y. Apr. 21, 2014).
128
US v. Prevezon Holdings Ltd. 122 F. Supp. 3d 57.
129
US v. Edgmon, 952 F. 2d 1206 (10th Cir. 1991).
Resumo
O artigo aborda os aspectos mais relevantes do direito de superfície
na Alemanha, dando enfoque à sua função social. Inicia as investigações com
um breve estudo histórico, no qual são destacadas as particularidades do seu
desenvolvimento. Realiza um exame da matéria na Alemanha, com destaque
para alguns pontos, como natureza jurídica, utilidade prática, áreas de utili-
zação, caráter social, constituição, transferência e extinção desse direito. Por
fim, o trabalho questiona a não utilização do instituto no Brasil, o que pode
ser repensado se considerarmos o exemplo alemão, em especial no que toca
ao seu possível aspecto social.
Palavras-chave: Direito de superfície. Direitos reais. Direito alemão.
Função social.
Abstract
The article discusses the most important aspects of the above-ground ri-
ghts in Germany by focusing its social function. It initiates the investigations with
a brief historical study, in which are highlighted the peculiarities of its develop-
ment. The work conducts an examination of the matter in Germany, highlighting
some points such as: legal nature, practical use, areas of use, social character,
establishment, transfer and extinction of that right. Finally, the work questions
the non-use of the institute in Brazil, which can be rethought if we consider the
German example, especially with regard to its possible social aspect.
Keywords: Above-ground rights. Real rights. German law. Social func-
tion.
*1
O presente trabalho foi elaborado durante pesquisa de pós-doutorado no Max-Planck-
Institut für ausländisches und internationales Privatrecht e revisado pelos Drs. Jan Peter
Schmidt e Anton Geier.
1
BALLIF, Alban. Le droit de superfície: eléments réels, obligations propter rem et droits
personnels annotés. Zürich: Schulthess, 2004. p. 1.
2
INGENSTAU, Heinz; INGENSTAU, Jürgen; HUSTED, Volker. Kommentar zum Erbbaurecht. 8.
ed. Düsseldorf: Werner, 2001. p. XXI.
3
OEFELE, Helmut Freiherr von; WINKLER, Karl. Handbuch des Erbbaurechts. p. 13.
4
BALLIF, Alban. Le droit de superfície. p. 2.
5
INGENSTAU, Heinz; INGENSTAU, Jürgen; HUSTED, Volker. Kommentar zum Erbbaurecht. 8.
ed. Düsseldorf: Werner, 2001. p. XXI.
6
DAUNER-LIEB, Barbara; HEIDEL, Thomas; RING, Gerhard. Anwaltkommentar BGB:
Sachenrecht. Bonn: Deutscher Anwaltverlag, 2004. v. 3. p. 1.394.
7
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 4.
8
Vale notar que, no âmbito dos países de língua alemã, o instituto da superfície não tem
denominação uniforme, diferentemente do que ocorre nos países de língua neolatina. Na
Áustria, por exemplo, o instituto é denominado Baurecht (IRO, Gert. Bürgerliches Recht.
Sachenrecht. Wien: Springer, 2000. v. IV. p. 173).
9
OEFELE, Helmut Freiherr von; WINKLER, Karl. Handbuch des Erbbaurechts. p. 14.
10
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 4.
11
O mesmo não ocorreu, por exemplo, na Inglaterra, onde houve a expansão de instituto com
raízes semelhantes, a chamada “building lease” (OEFELE, Helmut Freiherr von. Gesetz über
das Erbbaurecht. In: Münchener Kommentar zum Bürgerlichen Gesetzbuch. 5. ed. München:
C.H. Beck, 2009. v. 6. p. 1.505).
12
OEFELE, Helmut Freiherr von. Gesetz über das Erbbaurecht. In: Münchener Kommentar
zum Bürgerlichen Gesetzbuch. 5. ed. München: C.H. Beck, 2009. v. 6. p. 1.505.
13
OEFELE, Helmut Freiherr von; WINKLER, Karl. Handbuch des Erbbaurechts. p. 14.
14
VIEWEG, Klaus; WERNER, Almuth. Sachenrecht. 7. ed. München: Vahlen, 2015. p. 599.
15
BREHM, Wolfgang; BERGER, Christian. Sachenrecht. p. 382.
16
OEFELE, Helmut Freiherr von; WINKLER, Karl. Handbuch des Erbbaurechts. p. 15.
17
BREHM, Wolfgang; BERGER, Christian. Sachenrecht. p. 382.
18
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 379.
19
VIEWEG, Klaus; WERNER, Almuth. Sachenrecht. 7. ed. München: Vahlen, 2015. p. 599.
20
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 379.
21
OEFELE, Helmut Freiherr von; WINKLER, Karl. Handbuch des Erbbaurechts. p. 15.
22
DAUNER-LIEB, Barbara; HEIDEL, Thomas; RING, Gerhard. Anwaltkommentar BGB:
Sachenrecht. Bonn: Deutscher Anwaltverlag, 2004. v. 3. p. 1.394.
23
VIEWEG, Klaus; WERNER, Almuth. Sachenrecht. 7. ed. München: Vahlen, 2015. p. 599.
24
BREHM, Wolfgang; BERGER, Christian. Sachenrecht. p. 383.
25
Nesse ponto, podemos citar, por exemplo, o caso do Max-Planck-Institut für ausländisches
und internationales Privatrecht, que recebeu o direito de superfície sobre um terreno da
municipalidade de Hamburgo para a edificação de sua sede.
26
BAUR, Fritz; STÜRNER, Rolf. Sachenrecht. 18. ed. München: C.H. Beck, 2015. p. 387.
27
OEFELE, Helmut Freiherr von. Gesetz über das Erbbaurecht. In: Münchener Kommentar
zum Bürgerlichen Gesetzbuch. 5. ed. München: C.H. Beck, 2009. v. 6. p. 1.506.
28
OEFELE, Helmut Freiherr von; WINKLER, Karl. Handbuch des Erbbaurechts. p. 18.
29
OEFELE, Helmut Freiherr von; WINKLER, Karl. Handbuch des Erbbaurechts. p. 19.
30
INGENSTAU, Heinz; INGENSTAU, Jürgen; HUSTED, Volker. Kommentar zum Erbbaurecht. 8.
ed. Düsseldorf: Werner, 2001. p. XXI.
31
VIEWEG, Klaus; WERNER, Almuth. Sachenrecht. 7. ed. München: Vahlen, 2015. p. 600.
32
STÜRNER, Rolf. Verordnung über das Erbbaurecht. In: Soergel Kommentar zum Bürgerlichen
Gesetzbuch. 13. ed. Stuttgart: Kohlhammer, 2007. v. 15-1. p. 302.
33
OEFELE, Helmut Freiherr von; WINKLER, Karl. Handbuch des Erbbaurechts. p. 23.
40
DAUNER-LIEB, Barbara; HEIDEL, Thomas; RING, Gerhard. Anwaltkommentar BGB:
Sachenrecht. Bonn: Deutscher Anwaltverlag, 2004. v. 3. p. 1.398.
41
Transcrevemos a definição no original: “eine unbewegliche, durch Verwendung von Arbeit
und Material in Verbindung mit dem Erdboden hergestellte Sache” (DAUNER-LIEB, Barbara;
HEIDEL, Thomas; RING, Gerhard. Anwaltkommentar BGB: Sachenrecht. Bonn: Deutscher
Anwaltverlag, 2004. v. 3. p. 1.398).
42
O BGH é um tribunal alemão que corresponderia, no Brasil, ao STJ.
43
Transcrevemos a definição no original: “eine unbewegliche, durch Verwendung von Arbeit
und Material in Verbindung mit dem Erdboden hergestellte Sache” (DAUNER-LIEB, Barbara;
HEIDEL, Thomas; RING, Gerhard. Anwaltkommentar BGB: Sachenrecht. Bonn: Deutscher
Anwaltverlag, 2004. v. 3. p. 1.398).
44
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 23.
45
WEBER, Ralph. Sachenrecht. Grundstücksrecht. 4. ed. Baden-Baden: Nomos, 2015. p. 35.
56
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 373.
57
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 373.
58
§ 2 da ErbbauRG: “Zum Inhalt des Erbbaurechts gehören auch Vereinbarungen des
Grundstückseigentümers und des Erbbauberechtigten über: 1. die Errichtung, die Instandhaltung
und die Verwendung des Bauwerks; 2. die Versicherung des Bauwerks und seinen Wiederaufbau
im Falle der Zerstörung; 3. die Tragung der öffentlichen und privatrechtlichen Lasten und
Abgaben; 4. eine Verpflichtung des Erbbauberechtigten, das Erbbaurecht beim Eintreten
bestimmter Voraussetzungen auf den Grundstückseigentümer zu übertragen (Heimfall); 5.
eine Verpflichtung des Erbbauberechtigten zur Zahlung von Vertragsstrafen; 6. die Einräumung
eines Vorrechts für den Erbbauberechtigten auf Erneuerung des Erbbaurechts nach dessen
Ablauf; 7. eine Verpflichtung des Grundstückseigentümers, das Grundstück an den jeweiligen
Erbbauberechtigten zu verkaufen”.
59
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 41.
60
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 374.
61
No Direito brasileiro, não há um tipo de negócio jurídico como a Auflassung. Ela constitui
um acordo de transferência da propriedade relativa a um imóvel, que segue a forma prevista
no § 925 do BGB (JAYME, Erik; NEUSS, Jobst-Joachim. Wörterbuch Recht und Wirtschaft.
Deutsch-Portugiesisch. 2. ed. München: C.H. Beck, 2013. Tomo 2. p. 20).
62
INGENSTAU, Heinz; INGENSTAU, Jürgen; HUSTED, Volker. Kommentar zum Erbbaurecht. 8.
ed. Düsseldorf: Werner, 2001. p. 231.
63
DAUNER-LIEB, Barbara; HEIDEL, Thomas; RING, Gerhard. Anwaltkommentar BGB:
Sachenrecht. Bonn: Deutscher Anwaltverlag, 2004. v. 3. p. 1.401.
64
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 42.
65
STÜRNER, Rolf. Verordnung über das Erbbaurecht. In: Soergel Kommentar zum Bürgerlichen
Gesetzbuch. 13. ed. Stuttgart: Kohlhammer, 2007. v. 15-1. p. 345.
66
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 375.
67
VIEWEG, Klaus; WERNER, Almuth. Sachenrecht. 7. ed. München: Vahlen, 2015. p. 600.
68
VIEWEG, Klaus; WERNER, Almuth. Sachenrecht. 7. ed. München: Vahlen, 2015. p. 600.
69
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 18.
70
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 375.
71
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 376.
72
VIEWEG, Klaus; WERNER, Almuth. Sachenrecht. 7. ed. München: Vahlen, 2015. p. 601.
73
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 373.
74
OEFELE, Helmut Freiherr von. Gesetz über das Erbbaurecht. In: Münchener Kommentar
zum Bürgerlichen Gesetzbuch. 5. ed. München: C.H. Beck, 2009. v. 6. p. 1.506.
75
VIEWEG, Klaus; WERNER, Almuth. Sachenrecht. 7. ed. München: Vahlen, 2015. p. 601.
76
WEBER, Ralph. Sachenrecht. Grundstücksrecht. 4. ed. Baden-Baden: Nomos, 2015. p. 42.
77
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 171-172.
78
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 171-172.
79
RAPP, Manfred. Gesetz über das Erbbaurecht. In: J. Von Staudingers Kommentar zum
Bürgerlichen Gesetzbuch mit Einführungsgesetz und Nebengesetzen. Buch 3. Sachenrecht.
Berlin: Sellier, 2009. p. 171-172.
80
WEBER, Ralph. Sachenrecht. Grundstücksrecht. 4. ed. Baden-Baden: Nomos, 2015. p. 42.
81
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 377.
82
No Brasil, o direito de superfície, regulado pelo Código Civil, deve ser concedido por prazo
determinado (art. 1.369 do CC). No Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), por outro lado, a
concessão do direito de superfície poderá ser por tempo determinado ou indeterminado (art. 21).
83
DAUNER-LIEB, Barbara; HEIDEL, Thomas; RING, Gerhard. Anwaltkommentar BGB:
Sachenrecht. Bonn: Deutscher Anwaltverlag, 2004. v. 3. p. 1.400.
84
INGENSTAU, Heinz; INGENSTAU, Jürgen; HUSTED, Volker. Kommentar zum Erbbaurecht. 8.
ed. Düsseldorf: Werner, 2001. p. 309.
85
INGENSTAU, Heinz; INGENSTAU, Jürgen; HUSTED, Volker. Kommentar zum Erbbaurecht. 8.
ed. Düsseldorf: Werner, 2001. p. 309.
86
WIELING, Hans Josef. Sachenrecht. 5. ed. Berlin: Springer, 2007. p. 383.
87
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 377.
88
WIELING, Hans Josef. Sachenrecht. 5. ed. Berlin: Springer, 2007. p. 383.
89
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 377.
90
WIELING, Hans Josef. Sachenrecht. 5. ed. Berlin: Springer, 2007. p. 384.
91
WEBER, Ralph. Sachenrecht. Grundstücksrecht. 4. ed. Baden-Baden: Nomos, 2015. p. 43.
92
PRÜTTING, Hanns. Sachenrecht. 35. ed. München: C.H. Beck, 2014. p. 378.
93
WIELING, Hans Josef. Sachenrecht. 5. ed. Berlin: Springer, 2007. p. 384.
O autor proferiu este discurso de saudação no dia em que o Juiz Eliézer Rosa foi conferencista
*1
na sede do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul (Iargs), em Porto Alegre, em
setembro de 1974. A conferência do magistrado também é reproduzida na presente edição,
na sequência deste texto.
Do juiz
1
Apud BECKAUSEN, Marcelo Veiga; LEIVAS, Paulo Gilberto Congo. Eficácia dos direitos
fundamentais – direito à igualdade: ação civil pública proposta com objetivo de equiparar, para
fins previdenciários, as relações heterossexuais às homossexuais. Boletim dos Procuradores
da República, Brasília, p. 17, maio 2000.
2
Seabra Fagundes, citado por SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional positivo.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990.
3
Cfr. a obra Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1999.
p. 38.
Idem, p. 25.
4
DESPACHO/DECISÃO
O Exmo. Sr. Des. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz: Tra-
ta-se de pedido de suspensão de tutela de urgência formulado pela União
em face da decisão do MM. Juízo da 5ª Vara Federal de Porto Alegre/RS,
proferida nos autos nº 5007957-62.2017.4.04.7100/RS, que determinou “o
sequestro do montante de R$ 15.244,88 da verba da União constante do
processo administrativo mensal de estorno de precatórios e RPVs, a ser efe-
tuado por meio de requisição ao presidente do TRF da 4ª Região”.
A decisão hostilizada deu-se em substituição à tutela de urgência pre-
cedentemente deferida na origem, que determinara o fornecimento à parte
-autora, “no prazo de quinze dias, do medicamento CLADRIBINA (Leustatin)
8 mg, devendo ser injetados 10 mg/dia do fármaco durante 5 dias, repe-
tindo-se o ciclo a cada mês pelo período de 8 meses”, ou, “em caso do não
fornecimento do medicamento, que deverá ser entregue no hospital onde o
autor realiza o tratamento, deverá ser efetuado o depósito dos valores para
que essa aquisição seja feita pelo próprio hospital”, sendo que “o eventual
depósito dos valores, no lugar do fornecimento da medicação, é de respon-
sabilidade solidária de ambos os réus”.
Em síntese, a União afirma a conjugação dos pressupostos legais à aco-
lhida do pleito.
Assevera que a decisão guerreada “subverte a ordem pública, nela
compreendida a ordem administrativa, na medida em que espelha interfe-
rência na gestão, atribuída à Presidência desse Tribunal, da sistemática de pa-
gamento de precatórios e RPVs, bem como nas providências que passaram a
ser impostas em decorrência da promulgação da Lei 13.463, de 06.07.2017”,
e mostra-se tendente “a provocar sensível efeito multiplicador em deman-
das de saúde e em quaisquer outras demandas nas quais porventura não se
DESPACHO/DECISÃO
O Exmo. Sr. Des. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz: Tra-
ta-se de pedido de suspensão de liminar formulado pela Empresa Brasilei-
ra de Correios e Telégrafos – ECT em face da decisão do MM. Juízo da 4ª
Vara Federal de Florianópolis/SC que, nos autos do processo nº 5026404-
60.2015.4.04.7200/SC, deferiu a medida de urgência antecipada
para determinar à ECT que mantenha em plena execução o Contrato
Múltiplo de Prestação de Serviços e Venda de Produtos nº 9912346734
e seu aditivo, nos termos em que pactuados, suspendendo os efeitos
da notificação datada de 30.10.2015, até a prolação da sentença, sob
pena de fixação de multa diária pelo descumprimento da presente
medida antecipatória.
Em síntese, a ECT afirma a conjugação dos pressupostos legais à aco-
lhida do pleito. Em preliminar, afirma a sua legitimidade ao manejo deste
incidente de suspensão de liminar.
No mérito, noticia que a “A ON TIME celebrou, em 01.04.2014, o Con-
trato Múltiplo de Prestação de Serviços e Venda de Produtos nº 9912346734
(fls. 231-240 do processo nº 5026404-60.2015.4.04.7200), com vigência de
um ano, podendo ser prorrogado por interesse mútuo das partes por mais
120 meses, ou seja, 10 anos”; que o “contrato múltiplo é uma modalidade
de contrato ofertado pela ECT, na qual se oportuniza a contratação por clien-
tes desta empresa pública de uma vasta variedade de serviços atrelados ao
serviço postal público”; que as partes “celebraram contrato dessa espécie,
contrato múltiplo, no qual consta como objeto da contratação, nos termos
da Cláusula Primeira – Do Objeto, ‘a prestação, pela ECT, de serviços e ven-
da de produtos que atendam às necessidades da CONTRATANTE, mediante
adesão ao(s) ANEXOS(S) deste instrumento contratual que, individualmente,
caracteriza(m) cada modalidade envolvida’; que, por ocasião da assinatura
do contrato, “não se verificou que a ON TIME estaria apta a fazer uso do
serviço de ‘repostagem’, o que lhe possibilitou uma tabela de descontos dos