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O Futuro Está Nos Ovos - Eugene Ionesco PDF
O Futuro Está Nos Ovos - Eugene Ionesco PDF
(Eugene Ionesco)
ROBERTA – Pfff... pfff... (Roberta e Jacques ronronam. Os quatro pais, a avó e Jacqueline não
estão contentes. Ouve-se o que falam)
JACQUES – Mas, papai, o senhor devia ver, nas ruas, no metrô, os jovens não dão mais bola...
JACQUES MÃE – (a Jacques Pai) Um pouco de paciência, Gastão; ora, vamos, papai...
JACQUES MÃE – (a Jacques Pai) Tu és muito vernevoso (sic); Lembra, conosco Te lembras? Os
resultados não vieram logo...
ROBERTA PAI – (à sua mulher) Essa mamãe-Jacques está sempre se esgoelando. Ninguém pediu
sua opinião.
ROBERTA PAI – Nada, nada... Ou melhor, estamos falando bem de você querida.
ROBERTA MÃE – Eu acho que eles são tão engraçadinhos! Todos os dois...
JACQUES PAI – É justamente o que eu reprovo neles, em nome da tradição... Eles são muito
engraçadinhos, eles são demasiadamente engraçadinhos...
JACQUES PAI – (a Roberta Pai) Senhor, há três anos que concluímos que as núpcias.
Desde esse tempo eles estão aí, ronronando sem parar, e nós a olha-los. Isso não dá em
nada.
JACQUES PAI – Isso não dá em nada. Isso não dá em nada. Estamos necessitando urgentemente
de resultados.
JACQUES PAI – (a Roberta Pai) Por acaso, seria culpa da minha? O que é que o senhor quer
insinuar?
JACQUES AVÓ– Para fazer muitas crianças é preciso boa sopa... Para fazer boa sopa é preciso
muita criança...
JACQUES PAI – É preciso tomar uma decisão... Jacqueline, vamos, uma iniciativa...
JACQUES – (a Jacques Pai) Sim, papai. Está bem, papai. Ás suas ordens, papai. Sempre sou eu...
Ah, La Li Lata, que coisa chata!
ROBERTA MÃE – (ao seu marido) E eles ainda vão se mostrar arrogantes com você!
JACQUES – (a Jacques Pai) Sim, papai. Está bem, papai. Ás suas ordens, papai.
ROBERTA PAI, ROBERTA MÃE, JACQUES PAI, JACQUES AVÓ – (Abrindo os braços
para Jacques, enquanto o retrato do avô continua imóvel e mudo) Menina formidável! Menina
formidável! Menina formidável!
JACQUES – vamos tentar primeiro separa-los... Para, em conseqüência reuni-los melhor... (os pais
se afastam ligeiramente. Todos , até o avô, seguem Jacques com os olhos)
JACQUES – (bate palmas, Jacques E Roberta não ouvem e continuam a ronronar ternamente
abraçados) Chega!...Eu disse: Chega!! (ela sacode vivamente os dois , Jacques e Roberta)
JACQUES – (á parte) Oh, e essa, com os narizes sempre escorrendo! (depois, com muito esforço,
golpeando seco, desfaz o abraço separa Jacques E Roberta) Aí... Assim... Se comporte m...
(murmúrio de satisfação entre os pais Jacques e os pais Roberta) Estou com fome.
ROBERTA– Estou com frio. Brrr... Estamos ensopados. (ambos tremendo de frio)
ROBERTA PAI – (a Roberta mãe) Também, não lhes dão de comer, nessa casa!
JACQUES – Vocês só pensam nas suas barrigas. Vocês negligenciam a dução. Por que não fazem
isso? E no entanto é o principal dever de vocês!
JACQUES PAI, JACQUES MÃE, JACQUES AVÓ, ROBERTA MÃE, ROBERTA PAI – É o
dever de vocês!
JACQUES MÃE– Oh, meus pintinhos (enternecida), eles estão com fome! Oh, nenenzinhos,
nenenzinhos, nenenzinhos... Amoresinhos... Coitadinhos...
ROBERTA PAI – (à sua mulher) Não faça concessões! Os Roberta também têm seu orgulho!
ROBERTA – (a Jacques) Pfff ... Sim ... Pfff ... Como eu!
JACQUES PAI – (a Jacques Mãe) Como ele é voraz! (Jacques Avó dá batatas com toucinho à
Roberta)
JACQUES PAI – (a Jacques Avó) Dê mais! O toucinho faz bem à espécie. (Jacques Avó dá
toucinho a Jacques)
JACQUES PAI – Tenho dito! (Jacques Pai pega a vasilha e põe-na em qualquer lugar, no palco)
ROBERTA PAI – (à sua mulher) É mais por avareza que por princípio!
ROBERTA MÃE – (ao seu marido) Talvez seja também por princípio!
JACQUES PAI – Eu acho que, agora, é preciso impor, absolutamente, toda minha autoridade.
JACQUES MÃE – Vai, meu esposo... Se quiseres, lógico!... Com prudência doçura, eu te peço! ...
ROBERTA MÃE – Nós também temos o direito de impor um pouco de nossa autoridade.
ROBERTA PAI – Se isso não anda, não é por culpa de nossa filha, não é por ser filha única, que
seja estéril.
JACQUES PAI – Que cada um, portanto, imponha sua autoridade onde lhe couber.
JACQUES PAI – (ao seu filho) Jacques... Temos de fazer as mais solenes declarações! (dois
grupos se formam. Os Jacques Pais, a avó, e Jacqueline circundam Jacques; os Roberta Pais
circundam Roberta, que afastaram-se um pouco para o lado. Roberta Pai e Roberta Mãe falam à
sua filha; ouve-se Roberta dizer, de vez em quando, dócilmente: “sim papai, sim, mamãe, sim,
papai, sim, mamãe, sim papai, etc ...”)
JACQUES PAI – (ao seu filho) Jacques! Tenho de te anunciar uma cruel novidade!
JACQUES PAI – Olha ... Vê tua avó (Jacques coloca sobre a cabeça da avó, um véu negro), não
notas nada?
JACQUES MÃE – Meu filho... Tu não compreendes. (ao seu marido) É a idade feliz! (ela chora
no ombro do seu filho)
JACQUES – O que é que quer dizer? (De seu lado, entre os pais, Roberta repete sempre, de vez em
quando: “sim, papai, sim, mamãe...”)
JACQUES PAI – Um filho como tu, que, desde um certo tempo, reparando, suas flautas (sic) da
juventude me dá um pouco de satisfação, deveria compreender assim mesmo.
JACQUES – Entendes?
JACQUES PAI – Eis, portanto, em poucas palavras, a terrível verdade!... Nunca te perguntas-te
porque não ouves mais teu avô cantar?
JACQUES MÃE – Teu avô, que gostava tanto de ti, e que tu adoravas?
JACQUES – (mostrando a moldura) Nem porque ele está ali, em vez de estar aqui, ao nosso lado?
(na sua moldura, o avô faz sinais com a cabeça. Amigavelmente sorri)
JACQUES PAI – (ao seu filho) Se nunca te perguntaste, é o momento de fazê-lo: Pergunta-te!
JACQUES PAI – (ao seu filho) Não te perguntaste o suficiente. Pergunta para mim.
JACQUES – O quê?
JACQUES PAI – Por que não ouves mais teu avô cantar?
JACQUES – Por que é que eu não ouço mais meu avô cantar? Por que é?
JACQUES AVÓ – É porque teu avô morreu. (Jacques não tem reação alguma)
JACQUES MÃE – Teu avô morreu. (cotovelada, da mesma maneira. Jacques não reage. No canto
dos Roberta, ouve-se)
JACQUES PAI – (ao seu filho) Não entendes então que teu avô morreu?
JACQUES MÃE – (Choraminga) Meu filhinho, tua corda sensível então não vibra? Meu
queridinho, vamos faze-la vibrar. (Jacques cai nos braços de Jacques que o recoloca em pé. Fica
alguns instantes de rosto imóvel. Os pais, a avó, a irmã, procuram um sinal no rosto de Jacques.
Parecem muito inquietos. Jacques Mãe diz)
JACQUES MÃE – (ao seu filho) Chora! Vamos, Jacquinho, vamos, chora! (silêncio) Chora,
vamos, Jacquinho! (Silêncio. Subitamente, Jacques explode em soluços fortes)
JACQUES MÃE – (beija seu filho que chora) Meu filhinho!... Como sofre.
JACQUES PAI – Consolai-vos uns aos outros! (Os Jacques choram todos. O pai enxuga
dignamente as lágrimas. Do lado dos Roberta se ouve)
ROBERTA PAI – Vamos, nós também, já que agora nós somos da família.
ROBERTA – Sim, papai; sim mamãe. (Roberta chega perto de Jacques e berra) Calorosas
cordolências!
TODOS OS JACQUES, SALVO AVÔ, EM CÔRO – Encantados! (Roberta Pai, Roberta Mãe à
Roberta que se vira para eles)
ROBERTA – Muito obrigada. Encantada. (os três Roberta viram-se agora para Jacques Pai)
JACQUES PAI – Infinitamente obrigado, meus amigos, eu as aceito com muita alegria.
OS TRÊS ROBERTA E JACQUES PAI – (Viram-se para Jacques Mãe, em coro) Nós lhe
apresentamos nossas calorosas cordolências, cordolências, cordolências.
JACQUES AVÓ – Mil vezes obrigada! Obrigada! Obrigada! Não deixarei de ir, obrigada!
Encantada, obrigada.
JACQUES – Obrigada! Obrigada! Obrigada! Obrigada! Para vocês também. (Depois, todos –
menos o avô – cercam Jacques que é, de todos, o mais emocionado) “Cordolências! Calorosas
cordolências! Cordolências! Calorosas cordolências!” (Chora) Hiii! Hiii! Hiii! Hiii! Obri --- ga ---
do! (Depois, quando Jacques Pai diz: “Não esqueçamos o finado”. Todos entoam, em coro,
voltados de costas para o público, de frente para o retrato do avô: Cordolências! Cordolências!
Cordolências! Nossas calorosas, nossas sinceras cordolências! Cordolências! Cordolências! Deve-
se distinguir a voz de Jacques que chora)
JACQUES – (Berra) Hiiii! Hiiii! Hiiii! Condo --- lên --- cias! Hiii!
JACQUES PAI – (Tapando os ouvidos, a Jacques Mãe, grita, mais alto que Jacques) Tu fizeste a
corda dele vibrar demais! Agora desvibra.
ROBERTA MÃE – (Gritando) Como ele é exagerado! (Jacques Mãe dá uma imensa bofetada em
Jacques.Ele para imediatamente de chorar. Movimento para Jacques Mãe, exceto Jacques Pai,
Jacques, Roberta Mãe, Roberta Pai, Roberta, entoam todos)
JACQUES PAI – Chega! (Interrupção imediata do movimento. Silêncio. Todos olham Jacques)
JACQUES PAI – (a Jacques) Tu tens o direito e o dever de conhecer as circunstâncias pelas quais
teu antepassado desapareceu! (o avô, em sua moldura, faz sinais)
JACQUES – Vovô quer dizer alguma coisa! (o avô – Jacques deixa sua moldura e aproxima-se
dos outros) Desde que morreu, ele fala muito melhor.
JACQUES PAI – (a Jacques) Eis teu avô em carne e osso que vai nos contar, ele próprio, as
circunstâncias de seu passamento. (Silêncio respeitoso. A aproximação do avô, os personagens
tapam o nariz)
JACQUES AVÔ – (Orgulhoso em ser ouvido) Heuh! Heuh! Correu tudo bem, isto é, morreu... Eu
estava justamente cantando ... (Quer cantar)
JACQUES AVÓ – Não vais te por novamente a cantar ... Estás morto. Estás de luto! Não... Não...
Não... Não tem importância. Eu quero cantar.
JACQUES PAI – (a Jacques Avô) Se não respeitas teu próprio luto, quem o respeitará... Conta
logo, rápido!
JACQUES AVÔ – Então não vou contar nada. Mais nada. Mais nada. Vocês nunca mais vão me
ver, em toda a minha vida. Pronto! (Jacques Avô volta a se integrar na sua moldura)
JACQUES PAI – (a Jacques) Meu filho, como vês, todos se vão ... Tu és nossa única e grande
esperança! É preciso, é preciso substituir àqueles que se vão. O avô morreu, viva o avô.
JACQUES PAI – A continuidade de nossa raça ... a branca. Viva a raça branca!
TODOS – (Menos Jacques, aplaudem e dizem, juntos) Viva a raça branca! Viva a raça branca!
JACQUES PAI – (Ao seu filho) O futuro da raça branca está nas tuas mãos. É preciso que ela
continue, que ela continue, que ela estenda cada vez mais sua força!...
JACQUES – Como fazer isso? Para sua extensão, é preciso impedir a sua extinção! Que meio
utilizar?
JACQUES PAI – (Ao seu filho) Pela produção. Tudo o que desaparece deve ser substituído por
novos produtos, mais numerosos, mais variados ainda. Cabe a ti provocar a produção ...
JACQUES MÃE – (Ao seu filho) Meu filho, para que eu sinta orgulho de ti, provoca, provoca a
produção. (Roberta toma um ar preocupado)
ROBERTA PAI – Minha filha é perfeitamente capaz disso, com já declarei oficialmente! (Roberta
toma um ar cada vez mais preocupado)
JACQUES PAI – Logo veremos se os resultados desses três anos são famosos! Até agora não me
parece. (Roberta, cada vez mais preocupada, toma entretanto poses extravagantes)
ROBERTA MÃE – (a Roberta) Minha filha, vejamos, isso não é bonito na frente de todo mundo.
Vem com tua mamãe, eu vou te ensinar. Basta um pouco de experiência no negócio. Um
pouquinho!
JACQUES MÃE – (a Roberta Mãe) Se a minha experiência puder servir ... Estou a disposição.
JACQUES AVÓ – (a Roberta Mãe) Eu vou também. Canto prá ela uma canção de ninar ...
ROBERTA MÃE – (a Roberta Pai) Fica aqui, com teu genro. Se tivermos necessidade de ti, para
ajudar, chamamos. (A Jacques Pai) O senhor também, chamaremos se for necessário.
JACQUES – (Vendo Roberta e sua corte saírem) Ela se mostra tão maternal! Ela tem instinto!
(Jacques cai numa poltrona)
JACQUES – (ao mesmo) Avante! Força! (Jacques faz uma careta. Acomoda-se na sua poltrona.
Ao mesmo tempo) Vamos... Vamos...
ROBERTA PAI – (ao mesmo tempo) Vamos, vamos, sê homem! Todos nós já passamos por isto!
JACQUES PAI – (ao seu filho; voz grossa) Despacha-te ou vais ter de entender comigo.
JACQUES – (fazendo careta) Também não é assim... Agente não pode fazer isso sob controle... Eu
não estou inspirado.
VOZ DE ROBERTA MÃE – Agora vocês não podem mais dizer que é por culpa de minha filha.
JACQUES – (grita para que a ouçam do outro lado) Um minutinho, um minutinho. Paciência! (em
sua poltrona) Já vem... Eu sinto que já vem...
VOZ DE JACQUES AVÓ – Jacques, filhinho, apressa-te, olha, eu te suplico!... Roberta já está
pronta há muito tempo. Ela não pode mais esperar.
ROBERTA PAI – (a Jacques Pai) Seu filho, senhor, não vale a minha filha.
JACQUES AVÔ – (sem sair de lá, sardônico) Ah... Ah... Ah... Nem dou bola... Não sou mais
desse mundo... E, depois vocês me proibiram de cantar... Agora, aprendam... Bem feito!
JACQUES AVÔ – (Rapidamente, furioso) Eu me calo se eu quiser, se eu não quiser não me calo; e
o culto dos mortos, não vale mais nada?
JACQUES – (Mãos sobre o ventre) Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! (Gritos cada vez mais agudos. Alto, para
que ouçam do outro lado) Mamãe, mamãe, ele já está com as dores de parto!
ROBERTA PAI – (grita) Roberta... Roberta... Podes relaxar (sai para a direita)
JACQUES – Ai! Ai! Ai! Ai! (Roberta Mãe, Jacques Mãe, Jacques Avó aparecem pela direita)
JACQUES MÃE – Minha querida Roberta- mãe... Nossas crianças! (choros. Os cot-codac fazem-
se ouvir mais altos. Jacques faz “ah!” e desmaia)
JACQUES PAI – Jacqueline! Teu irmão está desmaiando! (todos os personagens acorrem para
Jacques, esfregam-lhe as têmpras, dão-lhe tapinhas, enquanto se ouve)
JACQUES PAI – Ele não agüenta! Ele não agüenta! (movimentos vários, febris. Agitação em torno
de Jacques, mas também para a saída, de onde vêm os cot-codac. Jacques sai para a direita, com
um cesto vazio nas mãos, enquanto Jacques volta a si)
ROBERTA PAI – (Aparece à direita, com o cesto cheio de ovos, à mão) Eis os primeiros ovos!
TODOS – (menos Jacques, afundado na sua cadeira, enquanto o avô olha, com um olho só,
furtivamente) Aaaah! Aaah! Bravos! (Aplaudem, abraçam-se, congratulam-se)
JACQUES PAI, ROBERTA PAI – (felicitando-se entre si) Todos os meus cumprimentos. Todos
os meus cumprimentos! (As duas mães abraçam-se soluçando, enquanto Jacques Avó, apanha o
cesto, diz)
JACQUES AVÔ – Oh, como são bonitos! Como são engraçadinhos! São tão lindos nessa idade!
Será que estão bem coagulados? (Os personagens vão, agora, rodear a avó; tiram-lhe o cesto, isto
se passa no procênio)
JACQUES PAI – Fresquinhos, devem custar bem vinte francos. Podemos faze-los ovos quentes.
ROBERTA MÃE – São os primeiros ovos da minha filha. Parecem tanto com ela.
ROBERTA PAI – Ela está lá com Roberta. Alguém precisa lhe dar assistência.
JACQUES PAI – (Apanha o cesto, vai para Jacques, com os outros personagens) Vês, são teus
ovos.
JACQUES – Obrigado.
JACQUES PAI – Em nossa família, esse papel é do homem. (a Jacques) Levanta-te! Vamos! (Os
personagens erguem Jacques e o carregam para a mesa-incubadeira)
JACQUES AVÓ – (Carregando Jacques) Te casaste, estou contente com isso. Agora, é preciso
chocar. (Colocam Jacques na incubadeira)
JACQUES AVÔ – (em sua moldura) Hi! Hi! Hi! (riso sardônico)
JACQUES PAI – Choca, choca para a glória e a grandeza das nações, para a imortalidade! (Os cot-
codac, que não se ouviam mais, recomeçam mais fortes)
ROBERTA PAI – Apressemo-nos! Os ovos vão-se acumular! (Jacques está instalado sobre ou no
meio de seus ovos. Jacques aparace, com um segundo cesto às mãos)
TODOS – (salvo Jacques e o avô que ri silenciosamente) Bravo! Bravo! Oh, como são bonitos!
JACQUES PAI – (ergue Jacques que está de bruços, olha e diz) Continuem trazendo! Há lugar!
Não se preocupem. (Derrama o conteúdo do cesto em cima e ao redor de Jacques)
JACQUES MÃE – (a Jacques) É isso que é preciso, meu querido, para chocar... Calor, muita
afeição! (ela enxuga a testa de Jacques)
JACQUES MÃE – Choca, meu filho, choca, choca. (Jacqueline sai com o cesto vazio, enquanto
Roberta Pai entra com um terceiro cesto cheio. Os cot-codac continuam)
JACQUES – (bufa ruidosamente como uma máquina a vapor) Tuf! Tuf! Tuf! Tuf! Tuf! Tuf! (O
ritmo de seu “Tuf! Tuf!” vai se acelerando, assim como o os cot-codac; do mesmo modo o
movimento de Roberta Pai e de Jacqueline, um a um, indo, sem parar, buscar e trazer os cestos de
ovos; o movimento é regulado de maneira que quando um deles chega, o outro sai, um chega, o
outro sai, etc.)
JACQUES PAI – (bate com as mãos) Produção! Produção! Produção! (Etc. O movimento geral vai
crescendo. É Roberta Mãe que apanha os cestos de ovos, um a um, de Roberta Pai e Jacques, à
medida que um e outro trazem e derrama o conteúdo na cabeça e no corpo de Jacques, sobre a
mesa, no chão; Jacques ficará coberto pelos ovos; e Roberta Mãe, devolvendo os cestas vazios, diz)
JACQUES AVÓ – (no meio do palco, bate palmas também, rodando) Produção! Produção! (A
movimentação, o barulho continuam, “cot-codac”, “tuf!, tuf!”, “Produção!, produção!”, como um
refrão, em côro, enquanto, sem interromper o jogo, as idas e vindas, ouvem-se, bem altas para
cobrir o tumulto, as réplicas seguintes)
JACQUES MÃE – Lã para tricotar. (Em sua moldura, Jacques Avô pode dirigir, com o dado, a
movimentação, com um gesto de maestro)
JACQUES – Humanistas! Anti-humanistas! (A partir dessa última réplica, o refrão será: “sim,
sim, sim apenas Jacques Pai continuará com o antigo refrão: “Produção! Produção”, batendo
palmas sempre)
TODOS – (em coro, menos Jacques e Jacques Avô) sim, sim, omeletes, muitas omeletes. (A
movimentação e os ruídos cessam bruscamente. Ouve-se Jacques dizer, com voz fraca)
JACQUES – Pessimistas!
TODOS – (indignados) O quê? Como se atreve? O que é que lhe deu? Sempre assim, nunca está
contente! (Aproximam-se dele. Silêncio tenso)
JACQUES PAI – (ao seu filho) Então diz: o que é que tu queres?
JACQUES – Eu quero uma fonte de luz, água incandescente, um fogo de gelo, neves de fogo. Não
esquece teu compromisso!
JACQUES AVÓ – Como no passado, o futuro está nos ovos! (Um alçapão pode ou não se abrir:
ou então o chão pode ou não lentamente afundar, os personagens - podem suavemente desaparecer
sem interrupção do jogo, ou continuar, simplesmente segundo as possibilidades técnicas da
maquinaria)
PANO