Você está na página 1de 18

O FUTURO ESTÁ NOS OVOS

(Eugene Ionesco)

(Essa peça constitui uma espécie de continuação de “Jacques ou a Submissão”. Ao levantar o


pano, Jacques e Roberto estão abraçados, acocorados como no fim de “Jacques...”; a mudança do
cenário não é muito importante.
No fundo, à esquerda, há, agora, um grande móvel, uma espécie de mesa grande ou uma espécie de
sofá, que serve de incubadeira. O quadro “que nada exprime”, no meio da parede do fundo, está
substituído por uma grande moldura que contém o retrato de Jacques Avô, ou seja, o próprio
Jacques Avô. Cadeiras em torno da mesa-incubadeira. Ouve-se a chuva.
Jacques (Pai e Mãe), Roberta (Pai e Mãe), Jacqueline, Jacques avó estão em pé circundando
Jacques filho e Roberta II, olhando–os de alto à baixo, depois olhando uns aos outros, balançam a
cabeça, levantam os ombros, murmuram: “A mesma coisa”! No seu amor, Jacques filho e Roberta
II não os vêem)

ROBERTA – Pfff... pfff...

JACQUES – Pfff... pfff...

ROBERTA – Pfff... pfff...

JACQUES – Pfff... pfff...

ROBERTA – Pfff... pfff... (Roberta e Jacques ronronam. Os quatro pais, a avó e Jacqueline não
estão contentes. Ouve-se o que falam)

JACQUES PAI – É demais...

JACQUES AVÓ – No meu tempo não era preciso tanta coisa...

ROBERTA PAI – Eles estão exagerando...

ROBERTA MÃE – (ao marido) É Jacques que é assim...

JACQUES MÃE – (ao marido) É Roberta, com certeza...

JACQUES – (no seu amor) Pfff... pfff...

ROBERTA E JACQUES – (mesmo jogo) Pfff... (ronronam) Pfff...

JACQUES PAI – Já não há mais respeito!

JACQUES – Mas, papai, o senhor devia ver, nas ruas, no metrô, os jovens não dão mais bola...

ROBERTA MÃE – Roberta não daria tal espetáculo!

JACQUES MÃE – Nem meu filho poderia ter essa idéia!

ROBERTA E JACQUES – (mesmo jogo)

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 1


JACQUES PAI – Espetáculo ou não espetáculo, uma coisa só importa: o lucro... Tudo isto dá em
nada!

JACQUES MÃE – (a Jacques Pai) Um pouco de paciência, Gastão; ora, vamos, papai...

JACQUES AVÓ– Seja prático!

JACQUES MÃE – (a Jacques Pai) Tu és muito vernevoso (sic); Lembra, conosco Te lembras? Os
resultados não vieram logo...

ROBERTA E JACQUES – (abraçados) Pfff... ron... ron... ron...

JACQUES PAI – Não vale a pena defende-los.

JACQUES AVÓ– Ela não está defendendo.

ROBERTA PAI – (à sua mulher) Eu não teria permitido!

ROBERTA MÃE – (ao seu marido) Calma!

JACQUES PAI – Silêncio!

JACQUES MÃE – Oh, tu sempre és ruim... E, no entanto, tu és tão bom!

ROBERTA PAI – (à sua mulher) Essa mamãe-Jacques está sempre se esgoelando. Ninguém pediu
sua opinião.

ROBERTA MÃE – (ao seu marido) Ela faria melhor, se se calasse.

JACQUES – (ao casal Roberta) Que é que estão dizendo?

ROBERTA PAI – Nada, nada... Ou melhor, estamos falando bem de você querida.

ROBERTA E JACQUES – (sempre acocorados e abraçados) Pfff... ron... ron... ron...

ROBERTA MÃE – Eu acho que eles são tão engraçadinhos! Todos os dois...

JACQUES PAI – É justamente o que eu reprovo neles, em nome da tradição... Eles são muito
engraçadinhos, eles são demasiadamente engraçadinhos...

JACQUES – É só o que eles são...

ROBERTA E JACQUES – (mesmo jogo) Pfff... ronronron...

JACQUES PAI – (a Roberta Pai) Senhor, há três anos que concluímos que as núpcias.
Desde esse tempo eles estão aí, ronronando sem parar, e nós a olha-los. Isso não dá em
nada.

JACQUES MÃE – Apesar das nossas promessas, nossos encorajamentos.

JACQUES PAI – Isso não dá em nada. Isso não dá em nada. Estamos necessitando urgentemente
de resultados.

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 2


ROBERTA PAI – (a Jacques Pai) Eu repito: não é por culpa de minha filha!

JACQUES PAI – (a Roberta Pai) Por acaso, seria culpa da minha? O que é que o senhor quer
insinuar?

ROBERTA MÃE – (a Jacques Pai) Não pense isso!

ROBERTA E JACQUES – (mesmo jogo) Ron... ron... ron... ron...

JACQUES AVÓ– Para fazer muitas crianças é preciso boa sopa... Para fazer boa sopa é preciso
muita criança...

ROBERTA E JACQUES – (mesmo jogo) Pfff... Ronronronrronrrron...

JACQUES PAI – É preciso tomar uma decisão... Jacqueline, vamos, uma iniciativa...

ROBERTA E JACQUES – (mesmo jogo) Pfff... Rrronronronrronrrron...

JACQUES – (a Jacques Pai) Sim, papai. Está bem, papai. Ás suas ordens, papai. Sempre sou eu...
Ah, La Li Lata, que coisa chata!

JACQUES PAI – (ameaçando) Jacqueline ! Jacqueline! Jacqueline!

JACQUES – (baixando a cabeça) Perdão, papai.

ROBERTA MÃE – (ao seu marido) E eles ainda vão se mostrar arrogantes com você!

JACQUES – (a Jacques Pai) Sim, papai. Está bem, papai. Ás suas ordens, papai.

JACQUES AVÓ– Que menina formidável!

JACQUES MÃE – Minha filha... Ela é a minha grande consolidação (sic)!

ROBERTA MÃE – (ao seu marido) Isso, nós temos de reconhecer!

ROBERTA PAI, ROBERTA MÃE, JACQUES PAI, JACQUES AVÓ – (Abrindo os braços
para Jacques, enquanto o retrato do avô continua imóvel e mudo) Menina formidável! Menina
formidável! Menina formidável!

JACQUES – vamos tentar primeiro separa-los... Para, em conseqüência reuni-los melhor... (os pais
se afastam ligeiramente. Todos , até o avô, seguem Jacques com os olhos)

JACQUES – (ao casal amoroso) De pé! (sic)

ROBERTA E JACQUES – (mesmo jogo) Pfff... Pfff... Rrronrrronrrron... rrronrron...

JACQUES – (bate palmas, Jacques E Roberta não ouvem e continuam a ronronar ternamente
abraçados) Chega!...Eu disse: Chega!! (ela sacode vivamente os dois , Jacques e Roberta)

JACQUES – E então?!... Como é que é?!...

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 3


(Jacques e Roberta parando de ronronar, e como que acordando penosamente de um sono pesado,
olhando Jacques surpresos, mal a reconhecendo, ainda sonolentos, levantam-se, estranhando, com
esforço, mantendo-se sempre enlaçados)

JACQUES – (á parte) Oh, e essa, com os narizes sempre escorrendo! (depois, com muito esforço,
golpeando seco, desfaz o abraço separa Jacques E Roberta) Aí... Assim... Se comporte m...
(murmúrio de satisfação entre os pais Jacques e os pais Roberta) Estou com fome.

ROBERTA– Estou com fome.

JACQUES – Vocês estão ensopados.

JACQUES – Estou com frio. Brrr... Estou ensopado.

ROBERTA– Estou com frio. Brrr... Estamos ensopados. (ambos tremendo de frio)

JACQUES – Bem feito!

JACQUES PAI – Bem feito!

ROBERTA E JACQUES – Estou com fome.

ROBERTA MÃE – Meus pobres filhinhos!

ROBERTA PAI – (a Roberta mãe) Também, não lhes dão de comer, nessa casa!

JACQUES – Vocês só pensam nas suas barrigas. Vocês negligenciam a dução. Por que não fazem
isso? E no entanto é o principal dever de vocês!

JACQUES PAI, JACQUES MÃE, JACQUES AVÓ, ROBERTA MÃE, ROBERTA PAI – É o
dever de vocês!

JACQUES – (a Roberta) É verdade, querida...


Ao mesmo tempo:

ROBERTA – (a Jacques) É verdade, querido...

ROBERTA E JACQUES – É o nosso dever.

JACQUES PAI – (a Jacques e Roberta) Por conseguinte? ...

JACQUES – Estou com fome.

ROBERTA– Estou com fome.

JACQUES MÃE– Oh, meus pintinhos (enternecida), eles estão com fome! Oh, nenenzinhos,
nenenzinhos, nenenzinhos... Amoresinhos... Coitadinhos...

ROBERTA MÃE – (ao seu marido) Ela tem bom coração!

ROBERTA PAI – (à sua mulher) Não faça concessões! Os Roberta também têm seu orgulho!

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 4


JACQUES AVÓ– (apresentando a Jacques e Roberta uma vasilha em que estes metem os dedos e
comem com as mãos) Tomem, meus filhos, batatas com toucinho; olha a vovó! (Jacques e Roberta
esfomeados, atiram-se às batatas)

JACQUES AVÓ – Comam! Comam!

JACQUES MÃE – Comam!

JACQUES – (tomado de repente de um antigo escrúpulo, interrompe timidamente seu movimento


para as batatas) Não... Eu... Vamos! Não tens mais fome?

ROBERTA MÃE – (a Jacques) Você deve se alimentar!

ROBERTA – (a Jacques) Pfff ... Sim ... Pfff ... Como eu!

JACQUES – Estou com fome! (joga-se à comida)

ROBERTA – Mais um pouco de batata.

JACQUES PAI – (a Jacques Mãe) Como ele é voraz! (Jacques Avó dá batatas com toucinho à
Roberta)

JACQUES – (a Jacques Avó) Mais um pouco de presunto.

JACQUES PAI – (a Jacques Avó) Dê mais! O toucinho faz bem à espécie. (Jacques Avó dá
toucinho a Jacques)

ROBERTA – Mais um pouco de batata. (Dão-lhe)

JACQUES – Mais um pouco de toucinho. (Dão-lhe)

JACQUES PAI – Isso basta!

JACQUES MÃE – Oh!

JACQUES PAI – Tenho dito! (Jacques Pai pega a vasilha e põe-na em qualquer lugar, no palco)

ROBERTA PAI – (à sua mulher) É mais por avareza que por princípio!

ROBERTA MÃE – (ao seu marido) Talvez seja também por princípio!

JACQUES – (a Jacques e Roberta) Decidam... À produção, de agora em diante, deve ser a


preocupação constante de vocês!

JACQUES PAI – Eu acho que, agora, é preciso impor, absolutamente, toda minha autoridade.

JACQUES MÃE – Vai, meu esposo... Se quiseres, lógico!... Com prudência doçura, eu te peço! ...

ROBERTA MÃE – Nós também temos o direito de impor um pouco de nossa autoridade.

ROBERTA PAI – Se isso não anda, não é por culpa de nossa filha, não é por ser filha única, que
seja estéril.

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 5


ROBERTA MÃE – (ao seu marido) Muito bem. É preciso que faças alguma coisa.

ROBERTA PAI – Senhor!?...

JACQUES PAI – Que cada um, portanto, imponha sua autoridade onde lhe couber.

ROBERTA PAI – De acordo!

JACQUES PAI – (ao seu filho) Jacques... Temos de fazer as mais solenes declarações! (dois
grupos se formam. Os Jacques Pais, a avó, e Jacqueline circundam Jacques; os Roberta Pais
circundam Roberta, que afastaram-se um pouco para o lado. Roberta Pai e Roberta Mãe falam à
sua filha; ouve-se Roberta dizer, de vez em quando, dócilmente: “sim papai, sim, mamãe, sim,
papai, sim, mamãe, sim papai, etc ...”)

JACQUES PAI – (ao seu filho) Jacques! Tenho de te anunciar uma cruel novidade!

JACQUES MÃE – (chora) Buá! Buá! Buá!

JACQUES – Qual, papai?

JACQUES PAI – Olha ... Vê tua avó (Jacques coloca sobre a cabeça da avó, um véu negro), não
notas nada?

JACQUES – Não, papai. Não noto nada.

JACQUES – Olha melhor. Um esforcinho de nada!

JACQUES – Não vejo nada, mesmo!

JACQUES MÃE – Meu filho... Tu não compreendes. (ao seu marido) É a idade feliz! (ela chora
no ombro do seu filho)

JACQUES AVÓ – (soluçando) Eu estou toda enlutada! ...

JACQUES – O que é que quer dizer? (De seu lado, entre os pais, Roberta repete sempre, de vez em
quando: “sim, papai, sim, mamãe...”)

JACQUES PAI – Um filho como tu, que, desde um certo tempo, reparando, suas flautas (sic) da
juventude me dá um pouco de satisfação, deveria compreender assim mesmo.

JACQUES – Entendes?

JACQUES – Entender o quê, papai, mamãe?

JACQUES PAI – Eis, portanto, em poucas palavras, a terrível verdade!... Nunca te perguntas-te
porque não ouves mais teu avô cantar?

JACQUES MÃE – Teu avô, que gostava tanto de ti, e que tu adoravas?

JACQUES – (mostrando a moldura) Nem porque ele está ali, em vez de estar aqui, ao nosso lado?
(na sua moldura, o avô faz sinais com a cabeça. Amigavelmente sorri)

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 6


JACQUES – Eu nunca me perguntei. (De seu lado, Roberta aprova e diz sempre, de vez em
quando:”sim papai, sim mamãe...”)

JACQUES PAI – (ao seu filho) Se nunca te perguntaste, é o momento de fazê-lo: Pergunta-te!

JACQUES – Eu me pergunto. Que é que respondes?

JACQUES – Eu não respondo nada ...

JACQUES PAI – (ao seu filho) Não te perguntaste o suficiente. Pergunta para mim.

JACQUES – O quê?

JACQUES PAI – Por que não ouves mais teu avô cantar?

JACQUES – Por que é que eu não ouço mais meu avô cantar? Por que é?

JACQUES PAI – Dou a palavra a tua avó;

JACQUES AVÓ – É porque teu avô morreu. (Jacques não tem reação alguma)

JACQUES – (a Jacques) O vovô morreu! (dá-lhe uma violenta cotovelada)

JACQUES PAI – Teu avô morreu. (cotovelada em Jacques)

JACQUES MÃE – Teu avô morreu. (cotovelada, da mesma maneira. Jacques não reage. No canto
dos Roberta, ouve-se)

ROBERTA PAI – O avô dele morreu.

ROBERTA MÃE – O avô dele morreu.

ROBERTA– Sim, papai, sim, mamãe.

JACQUES PAI – (ao seu filho) Não entendes então que teu avô morreu?

JACQUES PAI – Não. Não entendo que vovô morreu.

JACQUES MÃE – (Choraminga) Meu filhinho, tua corda sensível então não vibra? Meu
queridinho, vamos faze-la vibrar. (Jacques cai nos braços de Jacques que o recoloca em pé. Fica
alguns instantes de rosto imóvel. Os pais, a avó, a irmã, procuram um sinal no rosto de Jacques.
Parecem muito inquietos. Jacques Mãe diz)

JACQUES MÃE – (ao seu filho) Chora! Vamos, Jacquinho, vamos, chora! (silêncio) Chora,
vamos, Jacquinho! (Silêncio. Subitamente, Jacques explode em soluços fortes)

JACQUES PAI – Ah, até que enfim! Ta aí! Ta aí!

JACQUES MÃE E JACQUES AVÓ – Ta aí! Ta aí! Ta aí!

JACQUES – tá aí! Oh, oooh, coitado do vovô! (Pára e sorri)

JACQUES MÃE – Mais!

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 7


JACQUES – (recomeça) Oooh! Oooh! Vovô! Vovô! (Roberta no canto dos Roberta, diz sempre,
cada vez mais raramente “papai, sim, mamãe, sim papai, sim mamãe...”)

JACQUES MÃE – (beija seu filho que chora) Meu filhinho!... Como sofre.

JACQUES – (Chora) Hiii! Hiii! Hiii! Hiii!

JACQUES AVÓ – Sim, claro, teu avô partiu! (soluços da avó)

JACQUES PAI – Consolai-vos uns aos outros! (Os Jacques choram todos. O pai enxuga
dignamente as lágrimas. Do lado dos Roberta se ouve)

ROBERTA MÃE – Vai, então apresentar tuas cordolências (sic)

ROBERTA PAI – Vamos, nós também, já que agora nós somos da família.

ROBERTA – Sim, papai; sim mamãe. (Roberta chega perto de Jacques e berra) Calorosas
cordolências!

TODOS OS JACQUES, SALVO AVÔ, EM CÔRO – Encantados! (Roberta Pai, Roberta Mãe à
Roberta que se vira para eles)

ROBERTA PAI E MÃE – Nossas calorosas cordolências.

ROBERTA – Muito obrigada. Encantada. (os três Roberta viram-se agora para Jacques Pai)

OS TRÊS ROBERTA – (a Jacques Pai) Nossas calorosas cordolências.

JACQUES PAI – Infinitamente obrigado, meus amigos, eu as aceito com muita alegria.

OS TRÊS ROBERTA E JACQUES PAI – (Viram-se para Jacques Mãe, em coro) Nós lhe
apresentamos nossas calorosas cordolências, cordolências, cordolências.

JACQUES MÃE – Obrigada, obrigada, flicíssima, obrigada.

OS TRÊS ROBERTA, JACQUES PAI, JACQUES MÃE – (a Jacques Avó) Cordolências!


Cordolências! Cordolências! Cordolências! Calorosas cordolências!

JACQUES AVÓ – Mil vezes obrigada! Obrigada! Obrigada! Não deixarei de ir, obrigada!
Encantada, obrigada.

OS TRÊS ROBERTA., OS TRÊS JACQUES – (a Jacques) Nossas calorosas cordolências!


Cordolências! Cordolências!

JACQUES – Obrigada! Obrigada! Obrigada! Obrigada! Para vocês também. (Depois, todos –
menos o avô – cercam Jacques que é, de todos, o mais emocionado) “Cordolências! Calorosas
cordolências! Cordolências! Calorosas cordolências!” (Chora) Hiii! Hiii! Hiii! Hiii! Obri --- ga ---
do! (Depois, quando Jacques Pai diz: “Não esqueçamos o finado”. Todos entoam, em coro,
voltados de costas para o público, de frente para o retrato do avô: Cordolências! Cordolências!
Cordolências! Nossas calorosas, nossas sinceras cordolências! Cordolências! Cordolências! Deve-
se distinguir a voz de Jacques que chora)

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 8


JACQUES AVÓ – (Sem deixar sua moldura, responde acenando com a mão) Cordolências!
Cordolências! Cordolências! (Depois, todo mundo, inclusive o avô, para quem todos estão
voltados: “Cordolências! Cordolências! Cordolências! Cordolências! Calorosas cordolências!
Cordolências!” – Jacques Avô volta a ficar imóvel em sua moldura. Os personagens – exceto o
avô, bem entendido- viram-se para Jacques, cercam-no e dizem-lhe: “Cordolências!” – depois
choram mais alto. Jacques cai, enquanto continuam a lhe apresentar condolências. Levantam-no.
Sentam-no em uma cadeira)

JACQUES – (Berra) Hiiii! Hiiii! Hiiii! Condo --- lên --- cias! Hiii!

JACQUES PAI – (Tapando os ouvidos, a Jacques Mãe, grita, mais alto que Jacques) Tu fizeste a
corda dele vibrar demais! Agora desvibra.

JACQUES – Cala-te, tu deixas todo mundo indisposto!

ROBERTA MÃE – (Gritando) Como ele é exagerado! (Jacques Mãe dá uma imensa bofetada em
Jacques.Ele para imediatamente de chorar. Movimento para Jacques Mãe, exceto Jacques Pai,
Jacques, Roberta Mãe, Roberta Pai, Roberta, entoam todos)

OS ROBERTA PAIS – Oh, felicitações, senhora, todas as minhas felicitações.

EM CONJUNTO – (Jacques Avó e Jacques) Bravo! Bravo! Bravo! Mamãe! Bravo!

JACQUES PAI – Chega! (Interrupção imediata do movimento. Silêncio. Todos olham Jacques)

JACQUES PAI – (a Jacques) Tu tens o direito e o dever de conhecer as circunstâncias pelas quais
teu antepassado desapareceu! (o avô, em sua moldura, faz sinais)

JACQUES – Vovô quer dizer alguma coisa! (o avô – Jacques deixa sua moldura e aproxima-se
dos outros) Desde que morreu, ele fala muito melhor.

JACQUES PAI – (a Jacques) Eis teu avô em carne e osso que vai nos contar, ele próprio, as
circunstâncias de seu passamento. (Silêncio respeitoso. A aproximação do avô, os personagens
tapam o nariz)

JACQUES AVÔ – (Orgulhoso em ser ouvido) Heuh! Heuh! Correu tudo bem, isto é, morreu... Eu
estava justamente cantando ... (Quer cantar)

JACQUES AVÓ – Não vais te por novamente a cantar ... Estás morto. Estás de luto! Não... Não...
Não... Não tem importância. Eu quero cantar.

JACQUES PAI – (a Jacques Avô) Se não respeitas teu próprio luto, quem o respeitará... Conta
logo, rápido!

JACQUES AVÔ – Cantando!

JACQUES AVÓ – Não vais cantar!

JACQUES AVÔ – Então não vou contar nada. Mais nada. Mais nada. Vocês nunca mais vão me
ver, em toda a minha vida. Pronto! (Jacques Avô volta a se integrar na sua moldura)

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 9


JACQUES AVÓ – Continua o mesmo teimoso! Não aprendeu nada com o que lhe aconteceu. (Na
sua moldura, o Jacques Avô tomará um ar aborrecido, zangado, em vez do ar alegre que tinha no
início da peça. Não se mexerá mais até o fim)

JACQUES PAI – (a Jacques) Meu filho, como vês, todos se vão ... Tu és nossa única e grande
esperança! É preciso, é preciso substituir àqueles que se vão. O avô morreu, viva o avô.

TODOS EM CONJUNTO – (Menos Jacques) Vovô morreu! Viva o vovô!

JACQUES – Por quê?

JACQUES PAI – É preciso assegurar a continuidade de nossa raça.

JACQUES – Por quê?

JACQUES PAI – A continuidade de nossa raça ... a branca. Viva a raça branca!

TODOS – (Menos Jacques, aplaudem e dizem, juntos) Viva a raça branca! Viva a raça branca!

JACQUES PAI – (Ao seu filho) O futuro da raça branca está nas tuas mãos. É preciso que ela
continue, que ela continue, que ela estenda cada vez mais sua força!...

JACQUES – Como fazer isso? Para sua extensão, é preciso impedir a sua extinção! Que meio
utilizar?

JACQUES PAI – (Ao seu filho) Pela produção. Tudo o que desaparece deve ser substituído por
novos produtos, mais numerosos, mais variados ainda. Cabe a ti provocar a produção ...

JACQUES MÃE – (Ao seu filho) Meu filho, para que eu sinta orgulho de ti, provoca, provoca a
produção. (Roberta toma um ar preocupado)

ROBERTA PAI – Minha filha é perfeitamente capaz disso, com já declarei oficialmente! (Roberta
toma um ar cada vez mais preocupado)

JACQUES PAI – Logo veremos se os resultados desses três anos são famosos! Até agora não me
parece. (Roberta, cada vez mais preocupada, toma entretanto poses extravagantes)

ROBERTA MÃE – (a Roberta) Minha filha, vejamos, isso não é bonito na frente de todo mundo.
Vem com tua mamãe, eu vou te ensinar. Basta um pouco de experiência no negócio. Um
pouquinho!

JACQUES MÃE – (a Roberta Mãe) Se a minha experiência puder servir ... Estou a disposição.

ROBERTA MÃE – Obrigada. Não posso recusar ...

JACQUES AVÓ – (a Roberta Mãe) Eu vou também. Canto prá ela uma canção de ninar ...

ROBERTA MÃE – (a Roberta Pai) Fica aqui, com teu genro. Se tivermos necessidade de ti, para
ajudar, chamamos. (A Jacques Pai) O senhor também, chamaremos se for necessário.

JACQUES PAI – (Inclina-se) Ao seu dispor, madame.

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 10


JACQUES MÃE – Ainda tenho reservas, se for preciso. (Roberta, Roberta Mãe, Jacques Mãe,
Jacques Avó saem pela direita. Roberta sai fazendo gestos e tomando atitudes cada vez mais
extravagantes. Vendo sair, Jacques estende vivamente os braços para ela, esboça uma careta como
uma criança que tivesse vontade de chorar e faz “Mm ...Mm... Mm...”)

JACQUES – (Vendo Roberta e sua corte saírem) Ela se mostra tão maternal! Ela tem instinto!
(Jacques cai numa poltrona)

ROBERTA PAI – Vamos ver o que vales.

JACQUES PAI – (a Jacques) Jacques, meu filho, coragem. Produz! Sê homem!

JACQUES – (ao mesmo) Vamos, vamos, meu irmão, coragem.

ROBERTA PAI – (ao mesmo) Vamos, vamos, coragem! Avante!

JACQUES – (ao mesmo) Avante! Força! (Jacques faz uma careta. Acomoda-se na sua poltrona.
Ao mesmo tempo) Vamos... Vamos...

ROBERTA PAI – (ao mesmo tempo) Vamos, vamos, sê homem! Todos nós já passamos por isto!

JACQUES PAI – (ao seu filho; voz grossa) Despacha-te ou vais ter de entender comigo.

VOZ DE JACQUES AVÓ – Então, como vai isso aí?

JACQUES – Vamos que já começam a se impacientar. Força!

ROBERTA PAI – (a Jacques) Força!

JACQUES – (fazendo careta) Também não é assim... Agente não pode fazer isso sob controle... Eu
não estou inspirado.

VOZ DE JACQUES MÃE – Meu Jacquinho, Roberta está pronta. E tu?

VOZ DE ROBERTA MÃE – Agora vocês não podem mais dizer que é por culpa de minha filha.

JACQUES PAI – Jacques, não seja preguiçoso!

JACQUES – (grita para que a ouçam do outro lado) Um minutinho, um minutinho. Paciência! (em
sua poltrona) Já vem... Eu sinto que já vem...

VOZ DE JACQUES AVÓ – Jacques, filhinho, apressa-te, olha, eu te suplico!... Roberta já está
pronta há muito tempo. Ela não pode mais esperar.

JACQUES – Eu faço o que posso.

JACQUES PAI – Tu não podes quase nada.

ROBERTA PAI – (a Jacques) Vamos, audácia!!

JACQUES – Audácia, Jacques.

ROBERTA PAI – (a Jacques Pai) Seu filho, senhor, não vale a minha filha.

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 11


JACQUES PAI – Senhor, as cartas ainda não foram dadas. Depois o senhor fala...

JACQUES – (ao retrato do avô) Ajude, vovô!

JACQUES AVÔ – (sem sair de lá, sardônico) Ah... Ah... Ah... Nem dou bola... Não sou mais
desse mundo... E, depois vocês me proibiram de cantar... Agora, aprendam... Bem feito!

JACQUES – (ao avô) Então se cale.

JACQUES AVÔ – (Rapidamente, furioso) Eu me calo se eu quiser, se eu não quiser não me calo; e
o culto dos mortos, não vale mais nada?

ROBERTA PAI – (ao avô) Dobre a língua, senhor!

JACQUES PAI – (ameaçando) Dobre a língua! (Jacques Avô se cala)

VOZ DE ROBERTA MÃE – E então, aí?

JACQUES – (segurando o ventre) Ai! Ai! Ai!Ai!f

JACQUES AVÔ – (na moldura, ri) Hi! Hi! Hi!

ROBERTA PAI – (ao Jacques Avô) Fique quieto aí!

JACQUES – (Mãos sobre o ventre) Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! (Gritos cada vez mais agudos. Alto, para
que ouçam do outro lado) Mamãe, mamãe, ele já está com as dores de parto!

ROBERTA PAI – (grita) Roberta... Roberta... Podes relaxar (sai para a direita)

JACQUES – (sofre) Ai! Ai! Ai! Ai!

VOZ DE ROBERTA MÃE – Relaxa bem, filhinha... Podes começar...

VOZ DE ROBERTA– (Agudíssima) cot-cot-codac! Cot-cot-codac! Cot-cot-codac! Cot-cot-codac!


Cot-cot-codac! Cot-cot-codac! Cot-cot-codac!

JACQUES – Ai! Ai! Ai! Ai! (Roberta Mãe, Jacques Mãe, Jacques Avó aparecem pela direita)

VOZ DE ROBERTA– cot-cot-codac! Cot-cot-cot-cot-cot-codac! (ouve-se forte, os “cot-codac” de


Roberta; Jacques geme. Roberta Mãe e Jacques Mãe caem nos braços uma da outra)

ROBERTA MÃE – Minha querida Jacque- mãe... Nossos filhos! (chora)

JACQUES MÃE – Minha querida Roberta- mãe... Nossas crianças! (choros. Os cot-codac fazem-
se ouvir mais altos. Jacques faz “ah!” e desmaia)

JACQUES MÃE – Ai, meu filho, meu filho!

JACQUES AVÓ– Ai, ai, ai, não era hora disso!

JACQUES PAI – Jacqueline! Teu irmão está desmaiando! (todos os personagens acorrem para
Jacques, esfregam-lhe as têmpras, dão-lhe tapinhas, enquanto se ouve)

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 12


VOZ DE ROBERTA PAI – Pronto! Tragam um cesto!

JACQUES PAI – Ele não agüenta! Ele não agüenta! (movimentos vários, febris. Agitação em torno
de Jacques, mas também para a saída, de onde vêm os cot-codac. Jacques sai para a direita, com
um cesto vazio nas mãos, enquanto Jacques volta a si)

JACQUES MÃE – Meu filho! Está voltando a si!

JACQUES – Onde eu estou?

JACQUES MÃE – Em casa, meu filho, entre teus queridos pais.

ROBERTA MÃE – No castelo da tua Roberta!

JACQUES – (desgosto) Ah, eu queria ir embora!

ROBERTA PAI – (Aparece à direita, com o cesto cheio de ovos, à mão) Eis os primeiros ovos!

TODOS – (menos Jacques, afundado na sua cadeira, enquanto o avô olha, com um olho só,
furtivamente) Aaaah! Aaah! Bravos! (Aplaudem, abraçam-se, congratulam-se)

JACQUES PAI, ROBERTA PAI – (felicitando-se entre si) Todos os meus cumprimentos. Todos
os meus cumprimentos! (As duas mães abraçam-se soluçando, enquanto Jacques Avó, apanha o
cesto, diz)

JACQUES AVÔ – Oh, como são bonitos! Como são engraçadinhos! São tão lindos nessa idade!
Será que estão bem coagulados? (Os personagens vão, agora, rodear a avó; tiram-lhe o cesto, isto
se passa no procênio)

JACQUES PAI – Fresquinhos, devem custar bem vinte francos. Podemos faze-los ovos quentes.

ROBERTA MÃE – São os primeiros ovos da minha filha. Parecem tanto com ela.

JACQUES AVÓ – Pelo contrário, são a cara do Jacques.

ROBERTA PAI – Eu não acho.

JACQUES MÃE – Eles não tem três narizes.

ROBERTA MÃE – É porque ainda são pequeninos. Ainda vai crescer

JACQUES MÃE – Parecem com os dois, ta aí.

JACQUES PAI – Onde está Jacqueline?

ROBERTA PAI – Ela está lá com Roberta. Alguém precisa lhe dar assistência.

JACQUES MÃE – Estou tão comovida! É um grande momento.

JACQUES PAI – (Apanha o cesto, vai para Jacques, com os outros personagens) Vês, são teus
ovos.

JACQUES – Obrigado.

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 13


JACQUES PAI – És tu quem vai chocá-los.

JACQUES MÃE – Ele talvez ainda esteja muito cansado.

ROBERTA PAI – Nossa filha poderia chocá-los.

JACQUES PAI – Em nossa família, esse papel é do homem. (a Jacques) Levanta-te! Vamos! (Os
personagens erguem Jacques e o carregam para a mesa-incubadeira)

JACQUES PAI – (Carregando o filho) Vamos leva-lo para a incubadeira.

JACQUES MÃE – (Carregando Jacques, a seu marido) Tu não és mau.

JACQUES AVÓ – (Carregando Jacques) Te casaste, estou contente com isso. Agora, é preciso
chocar. (Colocam Jacques na incubadeira)

JACQUES MÃE – Choca, bem, meu filho.

JACQUES AVÓ – Como teus antepassados.

JACQUES AVÔ – (em sua moldura) Hi! Hi! Hi! (riso sardônico)

JACQUES PAI – Choca, choca para a glória e a grandeza das nações, para a imortalidade! (Os cot-
codac, que não se ouviam mais, recomeçam mais fortes)

ROBERTA PAI – Apressemo-nos! Os ovos vão-se acumular! (Jacques está instalado sobre ou no
meio de seus ovos. Jacques aparace, com um segundo cesto às mãos)

TODOS – (salvo Jacques e o avô que ri silenciosamente) Bravo! Bravo! Oh, como são bonitos!

ROBERTA PAI – Eu vou buscar outros. (Sai pela direita)

JACQUES – Ainda há muitos.

JACQUES PAI – (ergue Jacques que está de bruços, olha e diz) Continuem trazendo! Há lugar!
Não se preocupem. (Derrama o conteúdo do cesto em cima e ao redor de Jacques)

ROBERTA MÃE – Tragam! Tragam!

JACQUES PAI – Vamos, vamos, não parem!

JACQUES – ... Estou com calor...

JACQUES MÃE – (a Jacques) É isso que é preciso, meu querido, para chocar... Calor, muita
afeição! (ela enxuga a testa de Jacques)

JACQUES PAI – (batendo palmas) Produção! Produção! Produção!

JACQUES AVÓ – Ovos! Ovos! Ovos! Ovos! (Ela pula e dança)

JACQUES MÃE – Choca, meu filho, choca, choca. (Jacqueline sai com o cesto vazio, enquanto
Roberta Pai entra com um terceiro cesto cheio. Os cot-codac continuam)

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 14


TODOS – Bravo! Bravo!

ROBERTA PAI – Ainda há mais.

JACQUES – (bufa ruidosamente como uma máquina a vapor) Tuf! Tuf! Tuf! Tuf! Tuf! Tuf! (O
ritmo de seu “Tuf! Tuf!” vai se acelerando, assim como o os cot-codac; do mesmo modo o
movimento de Roberta Pai e de Jacqueline, um a um, indo, sem parar, buscar e trazer os cestos de
ovos; o movimento é regulado de maneira que quando um deles chega, o outro sai, um chega, o
outro sai, etc.)

JACQUES PAI – Viva a produção! Mais produção! Produzam! Produzam!

JACQUES – Tuf! Tuf! Tuf! Tuf! Tuf! (cot-codac ao lado)

JACQUES MÃE – (enxuga a testa de seu filho) Coragem... coragem...

JACQUES – Estou com muito calor mamãe. Tuf! Tuf!

ROBERTA MÃE – Vai, vai, não pára!

JACQUES PAI – (bate com as mãos) Produção! Produção! Produção! (Etc. O movimento geral vai
crescendo. É Roberta Mãe que apanha os cestos de ovos, um a um, de Roberta Pai e Jacques, à
medida que um e outro trazem e derrama o conteúdo na cabeça e no corpo de Jacques, sobre a
mesa, no chão; Jacques ficará coberto pelos ovos; e Roberta Mãe, devolvendo os cestas vazios, diz)

ROBERTA MÃE – Produção! Produção! Produção! (etc.)

JACQUES AVÓ – (no meio do palco, bate palmas também, rodando) Produção! Produção! (A
movimentação, o barulho continuam, “cot-codac”, “tuf!, tuf!”, “Produção!, produção!”, como um
refrão, em côro, enquanto, sem interromper o jogo, as idas e vindas, ouvem-se, bem altas para
cobrir o tumulto, as réplicas seguintes)

JACQUES MÃE – Eu penso no futuro de todas essas crianças!

ROBERTA MÃE – O que é que se vai fazer da prole?

JACQUES PAI – (continuando seu jogo) Carne para salsinhas!

ROBERTA PAI – (entre as indas e vindas) Carne para caminhão!

JACQUES AVÓ – Vamos precisar deles para os omeletes!

JACQUES – (Entre duas idas e vindas) Faremos deles atletas!

JACQUES MÃE – Podemos conserva-los para a reprodução!

ROBERTA MÃE – Massa de modelar.

ROBERTA PAI – (mesmo jogo) Massa para patê!

JACQUES PAI – Faremos oficiais e oficiosos.

JACQUES AVÓ – Deixaremos de lado para comê-los.

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 15


JACQUES – Empregados e patrões.

JACQUES PAI – Diplomatas!

JACQUES MÃE – Lã para tricotar. (Em sua moldura, Jacques Avô pode dirigir, com o dado, a
movimentação, com um gesto de maestro)

ROBERTA MÃE – Cebolas e cebolinhas!

ROBERTA PAI – Banqueiros e porcos!

JACQUES PAI – Citadinos e rurais!

JACQUES MÃE – Empregadores e empregados!

JACQUES – Papas, reis e imperadores;

JACQUES PAI – Policiais!

ROBERTA MÃE – Beatos e sacerdotes.

JACQUES AVÓ – Omeletes! Muitas omeletes

JACQUES – Humanistas! Anti-humanistas! (A partir dessa última réplica, o refrão será: “sim,
sim, sim apenas Jacques Pai continuará com o antigo refrão: “Produção! Produção”, batendo
palmas sempre)

JACQUES MÃE – Oportunistas!

ROBERTA MÃE – Nacionalistas!

ROBERTA PAI – Internacionalistas!

JACQUES PAI – Revolucionários!

JACQUES AVÓ – Antirevolucionários!

JACQUES – Radicelas! Radicais!

JACQUES MÃE – Populistas!

ROBERTA PAI – Acionários!

JACQUES PAI – Reacionários!

JACQUES AVÓ – Químicos!

JACQUES – Bombeiros, professores!

JACQUES MÃE – Jansenistas!

ROBERTA MÃE – Livre-pensadores.

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 16


ROBERTA PAI – Marxistas! Marqueses, marcos, contra-marcos!

JACQUES PAI – Idealistas! Relativistas!

JACQUES AVÓ – Existencialistas!

JACQUES – Essencialistas e materialistas!

JACQUES MÃE – Federalistas e espiritualistas!

ROBERTA MÃE – Letristas!

ROBERTA PAI – Irmãos e falsos irmãos!

JACQUES PAI – Amigos e inimigos!

JACQUES AVÓ – Manutencionistas!

JACQUES – Alfandegários, atores!

JACQUES MÃE – Bêbados, católicos!

ROBERTA MÃE – Protestantes e israelitas!

ROBERTA PAI – Escadas e sapatos!

JACQUES PAI – Lápis e canetas!

ROBERTA MÃE – Aspirinas! Fósforos!

JACQUES AVÓ – E omeletes! Principalmente muitas omeletes! (Jacques e Roberta Pai


encontram-se no meio do palco, com os cestos vazios nas mãos)

TODOS – (em coro, menos Jacques e Jacques Avô) sim, sim, omeletes, muitas omeletes. (A
movimentação e os ruídos cessam bruscamente. Ouve-se Jacques dizer, com voz fraca)

JACQUES – Pessimistas!

TODOS – (indignados) O quê? Como se atreve? O que é que lhe deu? Sempre assim, nunca está
contente! (Aproximam-se dele. Silêncio tenso)

JACQUES – Anarquistas! Niilistas!

ROBERTA PAI – Eu já tinha avisado, não se pode contar com ele.

JACQUES PAI – (ao seu filho) Perdeste a fé?

ROBERTA MÃE – Ele não tem fé:

JACQUES PAI – (ao seu filho) Então diz: o que é que tu queres?

JACQUES – Eu quero uma fonte de luz, água incandescente, um fogo de gelo, neves de fogo. Não
esquece teu compromisso!

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 17


JACQUES AVÓ – (em sua moldura, a Jacques) Ocupa-te dos teus ovos!

ROBERTA PAI – (a Jacques) Só tens que ir ver os fogos de artifícios! (sic)

ROBERTA MÃE – Como ele tem pretensões!

ROBERTA PAI – Vai então ao castelo de merdalhas!

JACQUES AVÓ – Viva a produção! Viva a raça branca! Continuemos! Continuemos! (A


produção”, os “cot-codac” recomeçam mais fortes, a movimentação acelera-se ainda mais, no
entusiasmo geral. O avô , em sua moldura, grita também: “Produzam! Produzam!” Os outros
dizem: Produzamos! Produzamos! Produzamos!” Todos fazem “cot-codac” e aplaude.)

JACQUES AVÓ – Como no passado, o futuro está nos ovos! (Um alçapão pode ou não se abrir:
ou então o chão pode ou não lentamente afundar, os personagens - podem suavemente desaparecer
sem interrupção do jogo, ou continuar, simplesmente segundo as possibilidades técnicas da
maquinaria)

PANO

Desvendando Teatro (www.desvendandoteatro.com) 18

Você também pode gostar