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Famat Revista 12 Artigo 06 PDF
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Introdução
Historicamente, um problema que tem recebido uma atenção considerável por parte
dos matemáticos é a distribuição dos números primos. Algumas questões relacionadas são:
1) Quantos números primos existem?
2) Existe algum polinômio com coeficientes inteiros que possua em seu conjunto imagem
somente números primos?
3) Existem primos em progressão aritmética?
4) Quantos primos existem menores que certo inteiro?
Neste trabalho apresentaremos soluções para cada uma destas questões, podendo
assim compreender melhor como os números primos estão distribuídos no conjunto dos
números inteiros.
1 Números primos
Teorema 1.1: Todo inteiro n > 1 pode ser expresso como produto de primos.
Dem:
i) Se n é primo, então n = n , que é produto de primos.
ii) Se n é composto, então n = n1 × n2 , onde 1 < n1 < n e 1 < n2 < n .
iii) Se n1 e n2 são, então n é produto de primos caso contrário, proceda como no
passo (ii) e assim sucessivamente, um número finito de passos.
α α2 α
p = p1 1 × p 2 × ... × p r r
Demonstração de Euclides:
Suponhamos por contradição que exista um número finito de primos p1 , p 2 ,..., p r .
Façamos n = p1 × p 2 × ... × p r + 1 e seja p um primo que divide n . Esse número p não pode
ser igual a nenhum dos números p1 , p 2 ,..., p r porque então ele dividiria
n − p1 × p 2 × ... × p r = 1 , o que é impossível. Assim p é um primo distinto de p1 , p 2 ,..., p r e,
por conseqüência, p1 , p 2 ,..., p r não podem formar o conjunto de todos os números primos.
Demonstração de kummer:
Suponhamos que exista um número finito de primos p1 < p 2 < ... < p n . Seja
N = p1 × p 2 × ... × p n > 2 , pelo teorema fundamental da aritmética temos que o inteiro N − 1
teria um fator primo p i que dividiria também N . Então p i dividiria N − ( N − 1) = 1 , o que é
absurdo.
Demonstração de Hermite:
Basta mostrar que para todo número natural n existe um número primo p > n . Tome
então N = n!+1 , pelo teorema fundamental da aritmética temos que existe um número primo p
qualquer dividindo N . Se N − 1 então p < n divide n! , então como p divide N e divide n!
teríamos que p dividiria n!−N = 1 , o que é absurdo. Logo, N − 1 .
Demonstração de Goldbach:
Daremos aqui somente a idéia utilizada por Goldbach em sua demonstração. Basta
achar uma sucessão infinita a1 , a 2 , a 3 ,... de números naturais, primos entre si, dois a dois, isto
é, sem fator primo comum. Se p1 é um fator primo de a1 , p 2 um fator primo de a 2 ,..., p n um
fator primo de a n ,..., então p1 , p 2 , p 3 ,..., p n ,... são todos distintos.
Uma seqüência infinita de números naturais, primos entre si dois a dois, descoberta
pro Goldbach e, independentemente a mesma demonstração foi descoberta por Hurwitz em
1891 é a seguinte.
n
Os números de Fermat Fn = 2 2 + 1 (para n ≥ 0 ) são, dois a dois, primos entre si. Por
recorrência sobre m demonstra-se que Fn − 2 = F0 × F1 × ... × Fm−1 ; então, se n < m , Fn
divide Fm − 2 . Se existisse um primo p que dividisse simultaneamente Fn e Fm , dividiria
Fm − 2 e, portanto dividiria 2 , então p = 2 , o que é impossível porque Fm é ímpar.
FAMAT em Revista - Número 12 - Abril de 2009 93
Demonstração de Euler:
Se p é um número primo qualquer, então 1 / p < 1 . Daí, a soma da série geométrica de
razão 1 / p e primeiro termo 1 é dada por:
∞
1 1
∑p k
=
1
k =0
1−
p
1 1 1 1 1 1 1
1+ + + 2+ + 2 + ... = ×
p q p pq q 1 1
1− 1−
p q
Demonstração de Saidak:
Toma-se uma seqüência crescente de números N 1 ,...N K ,... de tal modo que cada
termo N K tenha pelo menos K fatores primos. Dessa forma, conclui-se que existem infinitos
números primos.
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A seguir vamos apresentar uma nova demonstração para a existência de infinitos números
primos.
n
Teorema 1.4: Considere a seqüência de números naturais da forma Rn = 2 p − 1 , p é primo
impar. Sempre temos que Rn +1 = Rn × k e mdc( Rn , k ) = 1 , ∀n ∈ N .
Dem:
n +1 n n n n n
Observe que 2 p − 1 = (2 p ) p − 1) = (2 p − 1)((2 p ) p −1 + (2 p ) p − 2 + ... + 2 p + 1) .
n n n n
Suponha que mdc(2 p − 1, (2 p ) p −1 + (2 p ) p −2 + ... + 2 p + 1) = d , daí vem que
n n
2 p − 1 = dx ⇒ 2 p = dx + 1 substituindo na expressão acima temos:
n n n
(2 p ) p −1 + (2 p ) p −2 + ... + 2 p + 1 = (dx + 1) p −1 + (dx + 1) p −2 + ... + dx + 1 + 1
Como cada uma das potencias podem ser escritas da forma dm + 1 , temos que
dm1 + 1 + dm 2 + 1 + ... + dm p − 2 + 1 + 1 + dx + 1 + 1 , fazendo M = m1 + m2 + ... + m p − 2 e
observando que o 1 aparece p − 2 vezes, segue que:
n n n
(2 p ) p −1 + (2 p ) p − 2 + ... + 2 p + 1 = dm1 + 1 + dm2 + 1 + ... + dm p − 2 + 1 + dx + 1 + 1
n n n
(2 p ) p −1 + (2 p ) p − 2 + ... + 2 p + 1 = dM + p − 2 + dx + 1 + 1
n n n
(2 p ) p −1 + (2 p ) p − 2 + ... + 2 p + 1 = d ( M + x) + p
n n n
Logo, como d divide (2 p ) p −1 + (2 p ) p − 2 + ... + 2 p + 1 temos que d | p ⇒ d = p ou d = 1 .
Observe que:
p ≡ 1(mod p − 1)
p 2 ≡ p × p ≡ 1(mod p − 1)
p 3 ≡ p 2 × p ≡ 1(mod p − 1)
n
2 p − 1 = 2 ( p −1)t +1 − 1 = (2 p −1 ) t × 2 − 1
Pelo teorema de Euler que diz se mdc(a, m) = 1 ⇒ a ϕ ( m ) ≡ 1(mod m), ∀a, m ∈ Z . Temos
2 p −1 ≡ 1(mod p ) . Segue que:
n
2 p − 1 = 2 ( p −1)t +1 − 1 = (2 p −1 ) t × 2 − 1 ≡ 1 × 2 − 1 ≡ 1(mod p)
n n n n
Logo, p não divide 2 p − 1 , então d = mdc(2 p − 1, (2 p ) p −1 + ... + 2 p + 1) = 1 .
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Como cada número da seqüência é o anterior vezes pelo menos mais um numero primo que
não aparece na decomposição do mesmo, podemos afirmar que existem infinitos números
primos.
Vamos agora fazer algumas observações interessantes relacionadas às varias maneiras que os
números primos podem ser escritos usando o algoritmo de divisão de Euclides.
Sabemos pelo algoritmo da divisão que todo inteiro pode ser escrito da seguinte
maneira:
4n, 4n + 1 , 4n + 2 , 4n + 3
Tendo em vista que 4n e 4n + 2 são sempre pares. Então todos inteiros primos estão
em duas progressões:
* 4n + 1
1, 5, 9, 13, 17, 21,...
* 4n + 3
3, 7, 15, 19,...
É claro que estas progressões contem os números primos. Uma questão que surge
então é quantos primos existem em tais progressões. Vamos então fazer uma demonstração
usando o argumento parecido com o de Euclides para a infinitude dos números primos.
Teorema 1.1.3: Se a e b são primos entre si, então todo primo impar divisor de a 2 + b 2 é
da forma 4n + 1 .
Não faremos a demonstração do teorema acima, mas o tomaremos como verdadeiro
para demonstrar a infinitude de primos da forma 8n + 5 .
é a soma de dois quadrados que não tem fator em comum. O quadrado de um número impar
2m + 1 é 4m(m + 1) + 1 . Observe que m pode ser par ou ímpar, vamos analisar ambas as
situações:
* m = 2r
4(2r )(2r + 1) + 1 = 8r (2r + 1) + 1 = 8n + 1
* m = 2r + 1
4(2r + 1)(2r + 2) + 1 = 4(4r 2 + 4r + 2r + 2) + 1 = 8(2r 2 + 3r + 1) + 1 = 8n + 1
Teorema 1.1.5: (Dirichlet) Se a e b são inteiros positivos primos entre si, então a
progressão aritmética
a, a + b, a + 2b, a + 3b,...
Contém infinitos números primos.
Não faremos a demonstração devido a dificuldade apresentada em seu desenvolvimento.
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Teorema 1.2.6: Não existe uma progressão aritmética formada apenas por números primos.
Dem:
Seja a progressão a, a + b, a + 2b, a + 3b,... , suponha a + nb = p onde p é primo. Se
colocarmos n k = n + kp, k = 1,2,3,... , temos:
a + nk b = a + (n + kp )b = a + nb + kpb = p + kpb
Então temos que a + n k b é divisível por p.
Vamos provar que não é possível encontrar um polinômio com coeficientes inteiros
que tivesse como conjunto imagem somente números primos.
Seja π (n) a função de contagem dos números primos, que retorna o numero de primos
entre 1 e n. Então vale o limite:
π (n) pn
lim = 1 ≈ lim
n →∞ n / ln n n →∞ n ln n
N π (n) π ( n)
n / ln n
10 4 0,921
100 25 1,151
1000 168 1,161
10.000 1229 1,132
100.000 9.592 1,104
1.000.000 78.498 1,084
10.000.000 664.579 1,071
100.000.000 5.761.455 1,061
1.000.000.000 50.847.534 1,054
10.000.000.000 455.052.511 1,048
100.000.000.000 4.118.054.813 1,043
π ( n)
Tabela de π (n) e
n / ln n
2 Números Perfeitos
Vamos estudar agora outro tipo de número especial são os chamados números
perfeitos.
Definição 2.1: Um inteiro positivo n é chamado de número perfeito se n for igual à soma de
seus divisores positivos, excluindo o próprio n.
A soma dos divisores positivos de um inteiro n, cada um deles menores que n, é dada
por φ(n)-n. Deste modo, a condição “n é perfeito” é equivalente a dizer φ(n)-n= n.
Por exemplo:
φ(6) =1+2+3+6=12
φ(28) =1+2+4+7+14+28=2.28
Então 6 e 28 são números perfeitos.
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Mas da hipótese a k − 1 é primo, o outro fator na decomposição tem que ser 1; isto é, a − 1 = 1
então a = 2 .
Se k fosse um número composto, teríamos k = r × s , com 1 < r e 1 < s . Deste modo
a k − 1 = (a r ) s − 1 = (a r − 1)((a r ) s −1 + (a r ) s − 2 + ... + a r + 1)
E cada fator da direita é mairo que 1. Mas isto viola a primaridade de a k − 1 , então temos k
gerando uma contradição. Logo k é primo.
2 2 × (2 3 − 1) = 28
2 4 × (2 5 − 1) = 496
2 6 × (2 7 − 1) = 8128 , são todos números perfeitos.
n = 2 4 m (2 4 m +1 − 1) = 2 8 m +1 − 2 4 m = 2 × 16 2 m − 16 m
Como 16 t ≡ 6(mod 10), para todo inteiro positivo t.
Usando congruência temos:
n ≡ 2 × 6 − 6 ≡ 6(mod 10)
Agora, se k = 4m + 3 :
n = 2 4 m + 2 (2 4 m +3 − 1) = 2 8m +1 − 2 4 m = 2 × 16 2 m +1 − 4 × 16 m
Como 16 t ≡ 6(mod 10) temos:
n ≡ 2 × 6 − 4 × 6 ≡ −12 ≡ 8(mod 10)
Conseqüentemente todo numero perfeito partermina em 6 ou 8.
Conclusão
Neste trabalho obtivemos importantes informações sobre o problema da distribuição
dos números primos, podendo assim compreender um pouco melhor o mistério e o fascínio
causado nos matemáticos pelos chamados números primos.
Bibliografia
[1] Hardy, G.H.; Wright, E.M. An Introduction To The Theory Of Numbers. 5° ed. Oxford
Science Publications, 1979.
[2] Burton, D.M. Elementary Number Theory. 5° ed. Mc-Graw-Hill Higher Education, 2002.
[3] Hygino H. Domingues, São paulo, ed. Atual, 1991.
[4] Ribenboim P., Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, Rio de
Janeiro, 2001.