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Maxwell Osvaldo de Oliveira Medeiros

CASA PALETE
PROJETO RESIDENCIAL FLEXÍVEL
COM SISTEMA CONSTRUTIVO
ALTERNATIVO

Trabalho Final de Graduação apresentado

ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, no semestre de 2014.2, como

requisito para a obtenção do título de

Arquiteto e Urbanista.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Bezerra de


Melo Tinôco

Natal/RN
2014.2
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e familiares por ajudarem de alguma forma na conclusão dessa etapa da
vida.

Ao meu orientador Professor Marcelo Tinoco pela sua paciência, entusiasmo e suas
ideias criativas nos momentos difíceis.

A Professora Edna Pinto, pela atenção e conselhos durantes os assessoramentos.

Aos amigos e colegas de curso que me acompanharam nos croquis e nas risadas
durante esse longo trajeto.

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RESUMO

O presente trabalho trata do projeto arquitetônico de uma habitação unifamiliar


flexível com sistema construtivo alternativo. A proposta foi desenvolvida para o bairro
de Tirol, na região administrativa leste de Natal. O foco da proposta é uso do palete
(componente feito em madeira utilizado na movimentação e armazenagem de carga
com função na dinamização da produção industrial, nos depósitos, no processo de
carregamento e descarregamento) como elemento construtivo em substituição aos
materiais construtivos tradicionais responsáveis por danos ambientais. Na concepção
do projeto explorou estratégia de racionalização, como modulação dos elementos
construtivos e flexibilidade.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01. Resíduos na construção civil..........................................................................12


Figura 02. Container Guest House..................................................................................13
Figura 03. Casa feita com tubos de papelão...................................................................14
Figura 04. Orfanato de bambu.......................................................................................15
Figura 05. Palete de madeira..........................................................................................15
Figura 06. Tipos de palete...............................................................................................16
Figura 07. Mesa de centro..............................................................................................17
Figura 08. Moveis feitos com paletes.............................................................................17
Figura 09. Sofá feito com paletes...................................................................................18
Figura 10. Cama de palete..............................................................................................18
Figura 11. Pavilhão feito em paletes..............................................................................19
Figura 12. Pavilhão feito em paletes..............................................................................19
Figura 13. Fachada composta por paletes......................................................................20
Figura 14. Fachada composta por paletes......................................................................20
Figura 15. Escritório com paletes...................................................................................21
Figura 16. Escritório com paletes...................................................................................21
Figura 17. Divisórias móveis dos apartamentos.............................................................25
Figura 18. Possibilidades na configuração espacial........................................................26
Figura 19. Vista externa da Palettenhaus.......................................................................28
Figura 20. Palettenhaus sendo construída.....................................................................29
Figura 21. Vista externa da Palettenhaus.......................................................................29
Figura 22. Vista interna da Palettenhaus........................................................................30
Figura 23. Vista externa da Palettenhaus.......................................................................30
Figura 24. Exterior da Peninsula House..........................................................................31
Figura 25. Flexibilidade da fachada................................................................................32
Figura 26. Interior da Península House...........................................................................33
Figura 27. Interior da Península House...........................................................................33
Figura 28. Interior da Casa Nua......................................................................................34
Figura 29. Planta Baixa da Casa Nua...............................................................................35
Figura 30. Caixotes sobre trilhos....................................................................................35

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Figura 31. Interior da Casa Nua.....................................................................................36
Figura 32. Exterior da Casa Nua.....................................................................................36
Figura 33. Primeira proposta..........................................................................................38
Figura 34. Segunda proposta..........................................................................................38
Figura 35. Esboço da terceira proposta..........................................................................39
Figura 36. Estudos de flexibilidade.................................................................................39
Figura 37. Volumetria da terceira proposta...................................................................40
Figura 38. Planta baixa da terceira proposta..................................................................40
Figura 39. Volumetria da quarta proposta.....................................................................41
Figura 40. Planta baixa da quarta proposta....................................................................41
Figura 41. Maquete física do módulo.............................................................................42
Figura 42. Expansibilidade através da combinação dos blocos......................................43
Figura 43. Inserção de outros componentes construtivos.............................................44
Figura 44. Adaptabilidade através de painéis móveis....................................................45
Figura 45. Movimentação dos painéis pivotantes..........................................................45
Figura 46. Fundação.......................................................................................................46
Figura 47. Painel Wall da Eternit....................................................................................47
Figura 48. Aplicações dos painéis Wall...........................................................................47
Figura 49. Instalação da placa cimentícia.......................................................................48
Figura 50. Perfis metálicos utilizados na junção dos painéis..........................................49
Figura 51. Processo de montagem do painel..................................................................50
Figura 52. Painel fixo......................................................................................................50
Figura 53. Estrutura interna do painel móvel.................................................................51
Figura 54. Tipo de tirante utilizado no projeto...............................................................51
Figura 55. Painel pivotante central.................................................................................51
Figura 56. Pino pivotante com capacidade de 150 kg....................................................51
Figura 57. Painel porta....................................................................................................52
Figura 58. Detalhe da dobradiça lida ao palete..............................................................52
Figura 59. Painel janela...................................................................................................52
Figura 60. Painel de OSB.................................................................................................53
Figura 61. Lã de PETISOSOFT..........................................................................................54
Figura 62. Aplicação de Osmocolor Stain na madeira....................................................55

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Figura 63. Cobertura com telha termoacustica..............................................................56
Figura 64. Dimensões da telha.......................................................................................56
Figura 65. Localização do bairro de Tiro, Natal/ RN.......................................................57
Figura 66. Localização do terreno no bairro de Tirol......................................................57
Figura 67. Vista de topo com as curvas de níveis e dimensões do terreno................58
Figura 68. Maquete topográfica do terreno...................................................................58
Figura 69. Vistas do terreno e do entorno....................................................................59
Figura 70. Mapa da Zona de gabarito.............................................................................60
Figura 71. Quadro do controle de gabarito....................................................................61
Figura 72. Quadro de áreas mínimas..............................................................................62
Figura 73. Dimensionamentos dos ambientes...............................................................62
Figura 74. Zoneamento...................................................................................................63
Figura 75. Direção dos ventos predominantes...............................................................63
Figura 76. Vista 01..........................................................................................................64
Figura 77. Vista 02..........................................................................................................64
Figura 78. Escritório........................................................................................................65
Figura 79. Sala de Estar/Jantar.......................................................................................65
Figura 80. Vista 03..........................................................................................................66
Figura 81. Vista 04..........................................................................................................66
Figura 82. Vista 05..........................................................................................................67
Figura 83. Vista 06..........................................................................................................67
Figura 84 .Vista 07..........................................................................................................68

LISTA DE TABELAS

Tabela 01. Dimensões dos painéis Wall..........................................................................48


Tabela 02. Dados técnicos da lã de PET ISOSOFT WALL.................................................54

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................10

CAPÍTULO 1 – REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................11

IMPACTO AMBIENTAL E CONSTRUÇÃO CIVIL ...............................................................12

Uso de materiais alternativos....................................................................................13

Palete como material alternativo..............................................................................15

Modulação como estratégia de projeto....................................................................22

ARQUITETURA FLEXÍVEL................................................................................................23

CAPÍTULO 2 – ESTUDO DE REFERÊNCIAS.................................................................27

Palettenhaus..............................................................................................................28

Peninsula House – Sean Godsell................................................................................31

Casa Nua – Shireru Ban..............................................................................................34

CAPÍTULO 3 – O PROJETO ..........................................................................................37

O PALETE COMO ELEMENTO PRINCIPAL DA MODULAÇÃO E DEFINIDOR DOS


ELEMENTOS DE VEDAÇÃO ............................................................................................38

Estudos Gráficos........................................................................................................38

Maquete física – Módulo físico.................................................................................42

CONCEITO – FLEXIBILIDADE...........................................................................................43

Expansibilidade do edifício........................................................................................43

Modulação do sistema construtivo............................................................................44

Adaptabilidade...........................................................................................................45

SISTEMA CONSTRUTIVO E MATERIAIS UTILIZADOS......................................................46

Estruturas...................................................................................................................46

Vedações....................................................................................................................49

Cobertura...................................................................................................................55

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PROGRAMA

Análise do terreno.....................................................................................................57

Condicionantes legais................................................................................................60

Programa de necessidades........................................................................................61

Pré-dimensionamento...............................................................................................62

Condições climáticas..................................................................................................63

PERSPECTIVAS................................................................................................................64

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................70

ANEXOS..........................................................................................................................72

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INTRODUÇÃO

Os danos gerados pela prática da construção civil tradicional, seu processo produtivo
ineficiente e ultrapassado são descomunais. O consumo descontrolado de material
construtivo por não haver uma integração, uma compatibilização com os demais
elementos que o compõe o sistema construtivo, ocasiona no desperdício do material,
que acaba gerando uma quantidade enorme de resíduos. Os Resíduos sólidos gerados
na construção civil são os mais variados como tijolo danificado, restos de argamassa,
embalagens plásticas, papel, ferragem, terra, pedaços de madeiras, entre outros. Todo
este material sem um destino certo, jogados em lixões, em vias públicas, em rios
provocando diversos danos. Dessa forma, torna-se necessário o desenvolvimento de
práticas na construção civil mais adequadas aos princípios sustentáveis, que causem
menos danos ambientais, na adoção de métodos mais conscientes e alternativos,
utilizando materiais e técnicas construtivas novas.

Outro problema relacionado com a construção civil se refere a uniformização do


espaço de morar, a padronização do espaço habitacional e a sua rigidez . A
flexibilidade é um item tão importante ao espaço arquitetônico, mas atualmente está
a margem dos demais elementos que compõe um projeto de arquitetura. O espaço de
morar tem que apresentar maleabilidade, adaptabilidade, expansão conforme as
novas situações que surgem, consequentemente, haverá o prolongamento da vida útil
da casa. A habitação tem que se adaptar ao morador e não o morador a ela.
Infelizmente, é a segunda opção que prevalece nos dias atuais.

Portanto, a partir destes pontos discutidos, o presente trabalho consiste na concepção


do projeto arquitetônico da Casa Palete, uma habitação que apresenta estratégias de
construção racional, como sistema construtivo modular e a flexibilidade dos espaços.

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IMPACTO AMBIENTAL E CONSTRUÇÃO CIVIL
Um dos maiores problemas atuais em relação à construção civil diz respeito aos
impactos ambientais. Caracterizada como um dos setores que mais consomem
recursos naturais e geram grandes quantidades de resíduos, desde a produção dos
insumos utilizados até a execução da obra e a sua utilização.

Figura 01 – Resíduos na construção civil.


Fonte: http://blogdaengenharia.com/

A pesquisa intitulada “Alternativas para a Redução do Desperdício de Materiais nos


Canteiros de Obras” realizado pela UFMG e mais 15 universidades brasileiras em 12
estados, onde em 69 canteiros de obras foram comprovados níveis preocupantes de
resíduos na construção civil. "Para se ter uma ideia, materiais como a argamassa
chegam a apresentar 90% de perda", afirma o professor Antônio Neves de Carvalho,
chefe do departamento de Engenharia de Materiais e da Construção Civil, da Escola de
Escola de Engenharia, e coordenador dos trabalhos na UFMG.

Em Natal segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado


(Sinduscon RN) são produzidos 1 mil metros cúbicos de resíduos diariamente. Na
fabricação do concreto, por exemplo, é utilizada a brita que é retirada da natureza, o
cimento que é derivado de outros minerais, água, enfim. Na execução de um metro
quadrado de uma obra, estima-se que se consuma uma tonelada de material. Mas

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nem todo esse material é aplicado. Na atual conjuntura torna-se necessário propor
fontes alternativas com menos impactos ambientais, que apresentem resultados mais
satisfatórios em beneficio do usuário e ao meio ambiente. O uso de matérias não
convencionais na construção civil representa uma alternativa em substituição dos
métodos tradicionais como tijolo e concreto, por proporcionarem rapidez na execução,
salubridade e mínimo desperdício de materiais.

Uso de materiais alternativos


Diversos projetos feitos com materiais alternativos são encontrados pelo mundo, isso
comprova que é possível ter uma arquitetura de qualidade utilizando materiais não
convencionais. Dentre os projetos que exploraram soluções construtivas alternativas,
vale destacar:

A casa projetada pelo escritório Poteet Architects localizada no Texas, EUA, foi
instalada em um container. O custo foi de 15% menor em comparação com uma
edificação tradicional e de baixo impacto ambiental. O projeto utilizou um container
marítimo em desuso, havendo a economia de recursos naturais que não foram
utilizados na construção da habitação como: areia, tijolo, cimento e água.
Reaproveitamento deste material para a construção de residências tem se tornado
mais simples com o desenvolvimento de novas tecnologias.

Figura 02 – Container Guest House.


Fonte: http://www.archdaily.com.br

13
Com tubos de papelão reciclado o arquiteto Shigeru Ban projetou uma casa de três
andares, no alto de uma montanha. Sobre os alicerces de uma antiga construção, a
casa combina tubos de papelão com tubos transparentes, proporcionando a entrada
de luz natural no ambiente interno. Além disso, os tubos podem ser trocados em caso
de danos. Os tubos foram utilizados tanto na vedação quanto na parte estrutural cujo
desempenho é comparado ao do bambu.

Figura 03 – Casa feita com tubos de papelão.


Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com

O escritório de arquitetura TYIN Tegnestue desenvolveu um projeto de orfanato


sustentável que abriga pequenas habitações individuais para 24 jovens, cuja
construção é composta basicamente por bambu. Atualmente o bambu é considerado
um dos materiais mais sustentáveis do mundo. Isso porque é encontrado em
abundância e sua reprodução no ambiente é extremamente veloz. Além disso, é um
material muito resistente e flexível que proporciona grande versatilidade ao
construtor. Sua resistência é comparada com a do aço.

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Figura 04 – Orfanato de bambu.
Fonte: http://www.projetocontem.com.br

Palete como material alternativo


Os paletes são componentes utilizados na movimentação e armazenagem de carga
com função na dinamização da produção industrial, nos depósitos, no processo de
carregamento e descarregamento.

Figura 05 – Pallets de madeira.


Fonte: http://www.arquitetonico.ufsc.br

Há diferentes tipos de paletes, sendo os mais comuns os paletes de madeira, de metal,


de plástico e de papelão. Essa estrutura de madeira foi projetada para ser
movimentada mecanicamente por empilhadeiras, guindastes e veículos semelhantes.

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Caracterizada por uma plataforma de madeira na posição horizontal, sobre ela é
condicionada a carga para os devidos fins.
No Brasil, segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira de
Supermercados (ABRAS) e Grupo Palete de Distribuição (GPD) foram encontrados
inúmeros modelos diferentes de paletes. O que prejudicava a logística de
movimentação e armazenamento de produtos pelos supermercados. Ficou
comprovada a necessidade da padronização do palete.

Figura 06 – Tipos de palete.


Fonte: http://www.arquitetonico.ufsc.br/

O palete PBR foi então introduzido no Brasil em 1990 pela (ABRAS) e por entidades
que fazem parte do Comitê Permanente de Paletização (CPP) assessorados pelo (IPT-
USP) Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo. Os paletes PBR
têm medidas padronizadas de 1000 mm x 1200 mm, possuem número de peças
(tábuas superiores, tábuas intermediárias, tocos e tábuas inferiores) com quantidades
e medidas padrão. É produzido em madeiras de reflorestamento (Pinus e Eucalipto).
Segundo a GPD a capacidade de peso do paletes PBR é 1200 Kgs.

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Os paletes usados em transporte de cargas facilmente encontrado em comércio
atacadista e empresas de transporte. Após perderem a sua função original, são
descartados em aterros. Diante desta situação arquitetos e designers vêm
desenvolvendo novas funções para o reaproveitamento do material. A estrutura de
madeira transformou-se em matéria-prima para a confecção de diversas peças de
design.

O grupo francês Doobi utilizou paletes reciclados para a criação de mesa de centro
pintada a mão, com espaços para guardar revistas. A designer inglesa Nina Tolstrup, do
Studiomama, desenvolveu luminárias, pêndulos e cadeiras com paletes de madeira
reciclados.

Figura 07 – Mesa de centro.


Fonte: http://www.studiohomeplanejados.com.br/

Figura 08 – Moveis feitos com paletes.


Fonte: http://www.arquitetonico.ufsc.br

17
Figura 09 – Sofá feito com paletes.
Fonte: http://maispaletes.com/sofas-de-pallets-e-com-bracos/

Figura 10 – Cama de palete.


Fonte: http://www.comprandoemorando.com/

18
As peças de madeiras também estão sendo usadas na arquitetura. O arquiteto alemão
Matthias Loebermann projetou em 2005 um pavilhão usando 1300 paletes
empilhados. A construção tem 8 metros de altura, 8 de largura e 18 de comprimento.

Figura 11 – Pavilhão feito em paletes.


Fonte: http://www.arquitetonico.ufsc.br

Figura 12 – Pavilhão feito em paletes.


Fonte: http://www.arquitetonico.ufsc.br

19
A fachada da residência estudantil em Paris é composta de paletes. O arquiteto francês
Stephane Malka desenvolveu a fachada modular composta por centenas de paletes
unidos por dobradiças que lhe permitem se dobrar e articular.

Figura 13 – Fachada composta por paletes.


Fonte: http://www.archdaily.com.br

Figura 14 – Fachada composta por paletes.


Fonte: http://www.archdaily.com.br

20
O escritório de arquitetura holandês Most Architecture criou um projeto para a
agência de publicidade Brandbase. O projeto era temporário e deveria ocupar a nova
sede da agência holandesa, com 245 metros quadrados. Para facilitar a composição do
layout e a mudança do ambiente no futuro, foram usados paletes de madeira
reciclados.

Figura 15 – Escritório com paletes.


Fonte: https://arquiteturaparalela.wordpress.com

Figura 16 – Escritório com paletes.


Fonte: https://arquiteturaparalela.wordpress.com

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Modulação como estratégia de projeto
A modulação contribui para a racionalização do processo construtivo, pois, garante
flexibilidade de combinação de elementos, além de contribuir para uma precisão
maior na definição e alcance de medidas. Também contribui para o aumento da
repetição de componentes e para a produção em série, já que, ao fixar uma medida
básica da qual as demais devem ser múltiplo ou mesmo submúltiplo, limita as
variações dimensionais para um mesmo elemento construtivo, eliminando assim o
desperdício de material.

A coordenação modular consiste num sistema capaz de ordenar e racionalizar a


confecção de qualquer artefato, desde o projeto até o produto final PENTEADO (apud
CARVALHO & TAVARES, 2002). Esta ordenação e racionalização se efetiva,
principalmente, pela adoção de uma medida de referência, chamada módulo,
considerada como base de todos os elementos constituintes do objeto a ser
confeccionado. Em equipamentos complexos, ou de execução em grande escala, como
na produção industrial, a padronização de medidas, ou modulação, torna-se
obrigatória.

Nos aspectos econômicos a utilização da coordenação modular gera redução de custos


em várias etapas do processo construtivo. Essa redução de custos ocorre seja por
otimização do uso da matéria-prima, seja pela agilidade no processo de decisão de
projeto ou compra dos componentes, seja por aumento da produtividade, seja por
diminuição de perdas. (GREVEN & BALDAUF, 2007)

Segundos dados estudos realizados por Yeang (apud, GREVEN & BALDAUF), que faz um
balanço dos insumos e produtos da construção civil, 40% das matérias-primas (por
peso) do mundo são usadas na construção de edificações a cada ano; 36% a 45% do
insumo de energia de uma nação é usado nas edificações e 20% a 26% do lixo de
aterros vem das construções.

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ARQUITETURA FLEXÍVEL

Para Digiacomo a flexibilidade é um item tão importante quanto os demais pontos


estratégicos na concepção de um projeto arquitetônico de qualidade, como
localização, orientação solar, conforto ambiental, segurança e estética, etc. Segundo a
autora flexibilidade se aplica de forma simples, racional, sutil através de elementos
que induzem a flexibilidade e não de forma drástica.

O diferencial do edifício flexível é definido por qualidades físicas que permitam uma
variação da sua configuração espacial (lay-out) ou por diversas maneiras de se
apropriar de um ambiente. Estas características podem ser elementos tais quais
divisórias móveis, portas de correr, paredes leves, detalhes como hierarquia e
geometria dos espaços, localização das aberturas e posicionamento do lote.
(DIGIACOMO, 2004, p. 17)
A arquitetura moderna e sua forma de projetar, a independências dos elementos que
compõe a obras arquitetônicas, e outras características geraram diversas
possibilidades de aplicação da flexibilidade. A associação da arquitetura moderna com
o conceito de flexibilidade é presente, em particular nos anos 20. Época que os
arquitetos modernos foram questionados de que forma a arquitetura se adequa as
mudanças que surgem ao longo da vida. (WEINSCHENCK, 2012)

Segundo Finkelstein (2009) para alcançar a flexibilidade em um projeto arquitetônico é


necessário haver elementos facilitadores da flexibilidade. São os seguintes:

1. Estruturas independentes – Com a separação da estrutura portante da vedação,


inaugura-se a possibilidade de novos subsistemas serem criados, uma nova moradia,
fluidez do espaço interno.

2. Modulação – O uso do módulo propicia o estabelecimento de uma arquitetura


neutra. Através da modulação estabelece a compatibilização entre os diferentes
sistemas e elementos presentes em uma obra.

3. Paredes divisórias internas leves

4. Divisórias móveis – Devem permitir ampla comunicação quando e onde forem


necessárias. Aumentar as alternativas de uso e distribuições de atividades no espaço
doméstico.

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5. Mobiliário como divisória – O mobiliário se confunde com a parede e torna-se
polifuncional. O mesmo móvel utilizado na separação dos espaços, criando privacidade
e servindo como local para guardar diferentes objetos.

6. Núcleos de banheiros e cozinha – Junção de atividades que requeiram instalações de


infraestruturas: sistemas hidráulicos, esgoto e elétricos em um núcleo. Ao utilizar
deste recurso libera o restante da planta para outros usos.

7. Fachada livre – Possam fazer o controle da insolação, da ventilação natural, da


luminosidade, do fluxo térmico.

8. Pisos elevados – Qualquer parte da moradia é possível acessar as redes de


infraestrutura e instalar eletrodomésticos, sanitário ou equipamentos eletrônicos.

9. Armários embutidos – Representa todo o tipo de mobiliário que cumpra a função de


armazenar objetos e que tenha sido planejado com o projeto de moradia. Os locais
destinados os armários são locais residuais da planta, como nichos, centro da planta.

Segundo Brandão (2002) existem cinco grupos de flexibilidade:

 Diversidade tipológica – diversidade de unidades tipo em um mesmo edifício


permitindo assim a escolha das mais adequada pelo futuro grupo doméstico.
 Flexibilidade propriamente dita – a liberdade de reformular a organização do
espaço interno, definido por um vedo perimentral.
 Adaptabilidade – é um critério que visa assegurar a polivalência mediante a
descaraterização funcional das peças de uma edificação, de forma a dar-lhes
alternativas de uso.
 Ampliabilidade – é a forma corrente de responder às exigências de polivalência
à qual recorrem especialmente os usuários das faixas menos favorecidas.
Representam opções de ampliabilidade da casa mínima ou a habitação-
embrião.
 Junção e desmembramento – é o caso em que duas ou mais unidades
residenciais são agregadas para formar uma maior, e também, o caso contrário,
quando uma unidade é desmembrada em duas ou mais unidades.

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Para uma melhor compreensão dos tipos de flexibilidades, serão apresentados alguns
exemplos de habitações flexíveis que utilizam os métodos citados. O arquiteto Steven
Holl desenvolveu na cidade de Fukuoka, Japão um edifício de apartamentos que
emprega o conceito de flexibilidade. Na edificação as divisórias podem ser
manipuladas pelos moradores estabelecendo configurações espaciais distintas em
relação ao dia e a noite, necessidade como isolar ou o integrar um ambiente.

Figura 17 – Divisórias móveis dos apartamentos.


Fonte: http://architecturalmoleskine.blogspot.com.br/

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O projeto de Helmut Wimmar, em Viena, a flexibilidade é aplicada através da
associação de operadores ativos de divisão do ambiente interno, a organização central
das áreas molhadas, dos acessos e a ausência de componentes estruturais. A habitação
é caracterizada por quatro ambientes iguais de 16 m², agrupados entorno de um
núcleo fixo que contém o acesso a habitação e a área de serviço. A configuração
espacial da unidade vai depender das necessidades dos usuários. Com o auxílio de
páineis deslizantes a flexibilidade é permanente, de forma rápida e econômica a
habitação de adequa as mudanças surgidas.

Figura 18 – Possibilidades na configuração espacial.


Fonte: http://www.wimmerundpartner.com/

26
27
Os estudos de referencias apresentados foram utilizados como influência na
concepção da proposta arquitetônica. Os projetos arquitetônicos escolhidos
apresentam características semelhantes com tema proposto, como a adoção de
sistema construtivo alternativo, a flexibilidade e suas estratégias, a estética e a forma.
Assim os projetos escolhidos foram a Palettenhaus dos estudantes Gregor Pils e
Andreas Claus Schnetzer, a Península House do arquiteto Sean Godsell e a Casa Nua do
arquiteto Shigeru Ban.

Palettenhaus

Figura 19 – Vista externa da Palettenhaus.


Fonte: http://sbd2050.org/upload/project/56/l_522_venice_02.jpg

A Palettenhaus foi desenvolvida por dois estudantes da Universidade de Viena, na


Áustria, Gregor Pils e Andreas Claus Schnetzer. O projeto foi vencedor do prêmio para
estudantes Gaudi de arquitetura sustentável de 2007-2008. Os candidatos deveriam
desenvolver uma habitação com área mínima de 60 m² e aplicados conceitos de
sustentabilidade no projeto. Os estudantes desenvolveram um projeto sendo
reutilizados os paletes descartáveis pelas empresas locais como o principal material
construtivo. Desde as paredes externas e externas, piso, teto foram construídos com
este elemento. O projeto visa combinar arquitetura sustentável com a arquitetura
modular.

28
Foram utilizados 800 paletes do tipo Euro-pallet (80 cm x 120 cm). Duas camadas de
paletes servem como as paredes da casa. Entre as paredes duplas passariam os apoios
estruturais, isolamento térmico e acústico, sistema hidráulico e elétrico entre as
camadas. Segundos os estudantes austríacos os espaços vazados podem ser
preenchidos com os mais diversos tipos de matérias isolantes, como celulose reciclada,
spray de espuma, ou palha. As janelas são instaladas nas laterais, e as duas
extremidades têm fachadas de vidro com uma porta deslizante. As divisões internas
também são divididas com paredes de palete. A casa foi projetada para ter um
aquecimento e um esfriamento de baixa demanda. A água da chuva é recolhida do
telhado para ser reaproveitada. O tempo de construção foi de apenas três dias e o uso
de poucas ferramentas.

Figura 20 – Palettenhaus sendo construída.


Fonte: http://www.designbuzz.com/

Figura 21 – Vista externa da Palettenhaus.


Fonte: http://sbd2050.org/

29
Figura 22 – Vista interna da Palettenhaus.
Fonte: http://www.designboom.com

Figura 23 – Vista externa da Palettenhaus.


Fonte: http://www.designboom.com

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Peninsula House
Localizada na cidade de Sorrento na península de Mornington, à 120 km de
Melbourne, Austrália, essa residência situa-se em uma mata relativamente intocada
próxima à praia, acomodando-se em 2 níveis no terreno.

Figura 24 – Exterior da Peninsula House.


Fonte: http://europaconcorsi.com

Austera nos acabamentos e refinada nos detalhes, a residência se destaca pela


integração dos ambientes. Sua estrutura em sucessivos pórticos de aço configura um
exoesqueleto de 30 x 7,2 m no qual ripas de madeira justapostas conformam uma pele
que ao longo do dia permite um constante movimento de luz e sombra nos interiores.
Painéis móveis proporcionam, ao desejo do morador, a conexão entre interior e
exterior, quando abertos, sugerem marquises proporcionando áreas sombreadas e
uma transição entre os espaços.

31
Figura 25 – Flexibilidade da fachada.
Fonte: http://europaconcorsi.com

32
Figura 26– Interior da Península House
Fonte: http://europaconcorsi.com

Figura 27 – Interior da Península House.


Fonte: http://europaconcorsi.com

33
Casa Nua
Casa Nua foi projetada pelo arquiteto japonês Shigeru Ban, em Kawagoe, cidade a
cerca de 30 minutos de Tóquio. O arquiteto construiu a casa para uma família de cinco
pessoas: um casal, dois filhos e uma avó. Os donos queriam um espaço onde todos
pudessem conviver livremente, sem separações, aprofundar os laços familiares. Ban
resolveu o problema desenhando uma construção linear sem paredes.

Figura 28 – Interior da Casa Nua.


Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com/

Os quartos são "caixotes" de madeira sobre trilhos com dimensões que variam de 5m²
e 7m². Cada volume que podem ir mudando de lugar, de acordo com o desejo da
família. Os cômodos fixos, como banheiros e cozinha, são protegidos por cortinas ou
portas leves, de correr.

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Figura 29 – Planta Baixa da Casa Nua.
Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com/

Figura 30 – Caixotes sobre trilhos.


Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com/

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Figura 31 – Interior da Casa Nua.
Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com/

Figura 32 – Exterior da Casa Nua.


Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com/

36
37
O PALETE COMO ELEMENTO PRINCIPAL DA MODULAÇÃO E
DEFINIDOR DOS ELEMENTOS DE VEDAÇÃO

O projeto da Casa Palete foi elaborado a partir das dimensões do palete (1,20 m e 1,00
m), ficando assim estabelecido a modulação base. E através deste módulo foram
definidas as escolhas dos materiais e o sistema construtivo adotado.

Estudos gráficos da proposta arquitetônica


No processo da escolha do partido arquitetônico, buscou-se um partido linear e
cúbico, e que a adoção da modulação fosse possível. Nas duas propostas iniciais
apresentam volumes lineares com duas águas direcionadas para o meio da habitação.
Porém ambas as propostas foram descartadas, pois a forma não cúbica prejudicava a
aplicação dos módulos.

Figura 33– Primeira proposta.


Fonte: Arquivo pessoal

Figura 34 – Segunda proposta.


Fonte: Arquivo pessoal

38
A terceira proposta apresenta um partido em forma de um cubo retangular. As
fachadas maiores seriam flexíveis, os painéis presente em toda a fachada girariam
sobre seus eixos.

Figura 35 – Esboço da terceira proposta.


Fonte: Arquivo pessoal

Em relação à flexibilidade os espaços internos da casa poderiam ser modificados


conforme a iniciativa dos moradores com o auxílio de divisórias móveis, convertendo o
espaço da moradia em um ambiente versátil e multiuso. O núcleo central de serviços
seria o único espaço estável e fabricado em concreto devido aos ambientes úmidos.

Figura 36 – Estudos de flexibilidade.


Fonte: Arquivo pessoal

39
A proposta foi descartada, pois o partido ficou com aspecto estetico pesado, fugindo
da leveza que o palete apresenta. Além disso, devido a forma compacta do projeto
prejudicava a ventilação cruzada, dificultava a permeabilidade aos ambientes.

Figura 37 – Volumetria da terceira proposta.


Fonte: Arquivo pessoal

Figura 38 – Planta baixa da terceira proposta.


Fonte: Arquivo pessoal

Outro ponto negativo era em relação ao zoneamento. Havia flexibilidade nos


ambientes, mas de forma confusa. Não havia uma circulação direta do espaço íntimo
para o espaço de serviço, a proximidade dos quartos com a sala de estar/jantar.

40
A quarta proposta, o partido mais longilíneo e estreito, esteticamente causa uma
sensação de leveza, além disso, os dois blocos lineares desalinhados possibilitam uma
melhor aplicação da flexibilidade aos ambientes, assim como favorece a ventilação
cruzada.

Figura 39 - Volumetria da quarta proposta.


Fonte: Arquivo pessoal

Figura 40 – Planta baixa da quarta proposta.


Fonte: Arquivo pessoal

Esta proposta foi apresentada a pré-banca, e surgiram algumas observações, por


exemplo, a respeito do zoneamento, o interior da casa estava confuso, espaço íntimo
próximo ao espaço social prejudicava a funcionalidade. Foi discutido a separação dos
ambientes em áreas íntimas, social e serviço. Como solução optou-se em adicionar um
corredor central e acrescentar mais espaços, pois tinha espaço suficiente para ampliar
a habitação. Outro ponto discutido foi em relação ao acesso a residência que estava
localizado na lateral da casa, e foi sugerido que este fosse modificado para a parte
frontal da habitação. Realizada as modificações conforme as orientações, porém, a

41
forma da casa não agradava esteticamente, continuava “pesada”. Então, optou-se por
descartar a proposta e desenvolver outra. E daí surgiu a quinta e defenitiva proposta.

Maquete física – Módulo


A maquete física foi utilizada como ferramenta facilitadora no âmbito da
representação e materialização das ideias. Foram desenvolvidos os módulos de paletes
e com base neles foram definidos os elementos que compõem o projeto. Tais como o
sistema estrutural, a proteção acústica, isolamento contra as intempéries, a forma de
fixação.

Figura 41 – Maquete física do módulo.


Fonte: Arquivo pessoal

42
CONCEITO – FLEXIBILIDADE

O conceito de flexibilidade é identificado neste projeto arquitetônico nos seguintes


pontos: expansão do edifício no lote, a modulação do sistema construtivo e na
adaptabilidade.

Expansibilidade do edifício
A expansibilidade corresponde a uma estratégia de ampliação do espaço através do
acréscimo de blocos independentes modulados, na junção do bloco com o restante
ocorre a integração com o corpo homogêneo do edifício, consequentemente, ocorre a
mudança na configuração do edifício. Jorge (2012) classifica como ampliação exógena,
que seria a ampliação de organismos com a interferência na fisionomia do edifício.
Representa o acréscimo de corpos autônomos ou a extrusão das geometrias
existentes, com alteração nos limites da habitação.

Figura 42 – Expansibilidade através da combinação dos blocos.


Fonte: Arquivo pessoal

43
Modulação do sistema construtivo
Por ser um projeto caracterizado como um sistema construtivo aberto cria a
possibilidade de mudança de componentes construtivos. Através da substituição de
dos módulos de palete por outros tipos de elementos que se encaixem na modulação
definida, como esquadrias, vidros, painéis e entre outros.

Figura 43 – Inserção de outros componentes construtivos.


Fonte: Arquivo pessoal

44
Adaptabilidade
A possibilidade de adequação de usos no interior da unidade com o auxílio de painéis
móveis. Os ambientes internos são delimitados por painéis pivotantes, e manualmente
é possível a movimentação dos mesmos permitindo usar os espaços de diferentes
maneiras. A flexibilidade aplicada através desses elementos móveis possibilitam a
integração dos ambientes ou parte deles, ampliação de uma área ou subdividi-la para
criar um novo espaço, um novo uso.

Figura 44 – Adaptabilidade através de painéis movéis.


Fonte: Arquivo pessoal

Figura 45 – Movimentação dos painéis pivotantes.


Fonte: Arquivo pessoal

45
SISTEMA CONSTRUTIVO E MATERIAIS UTILIZADOS

Para ficar de acordo o sistema construtivo, houve a necessidade de modificações de


alguns materiais utilizados, a fim de encontrar uma maior integração de todos os
elementos com a modulação.

Estruturas
 Fundação

A habitação vai ser suspensa do solo para evitar contato direto da madeira e da
estrutura metálica com a umidade do solo. A fundação terá base de concreto e a
conexão com o perfil metálico será realizada através de uma chapa metálica com
auxílio de parafusos.

Figura 46 – Fundação.
Fonte: Arquivo pessoal

46
 Piso

Para o piso optou-se pela placa cimentícia Wall, fabricada pela empresa Eternit®. De
acordo com as especificações técnicas, o produto é composto de miolo de madeira
laminada ou sarrafeada, contraplacando em ambas as faces por lâminas de madeira e
externamente por placas cimentícias em CRFS (Cimento Reforçado com Fio Sintético)
prensadas.

Figura 47 – Painel Wall da Eternit.


Fonte: http://www.etersul.com.br/wall.html

Figura 48 – Aplicações dos painéis Wall.


Fonte: Catálogo Técnico – Sistemas Construtivos ETERNIT

47
Tabela 01 – Dimensões dos painéis Wall.
Fonte: Catálogo Técnico – Sistemas Construtivos ETERNIT

A placa utilizada tem como dimensões 40 mm de espessura, 1,20 m de largura e 2,50


m de comprimento. Para proporcionar uma modulação adequada houve a necessidade
de cortar a placa no comprimento, assim, o tamanho resultante é de 2,40 m. A fixação
das placas será nas vigas secundárias com auxílio de parafusos de cabeça chata e no
acabamento será aplicada uma pintura incolor para a proteção da sua superfície.

Figura 49 – Instalação da placa cimentícia.


Fonte: Arquivo pessoal

48
 Pilares e vigas

Seguindo o conceito de construção racional optou-se em utilizar na parte estrutural a


estrutura metálica. Segundo Sant’anna, Villari e Costa (2004), o uso da estrutura
metálica gera inúmeras vantagens: redução de prazo, racionalização de material e
mão-de-obra, confecção em trabalhos em paralelo, obra limpa e organizada,
flexibilidade de reformas, maior área útil e distância entre vãos, maiores precisão em
detalhes do projeto e redução de carga, com consequente alívio na fundação, além da
possibilidade de reutilização do material empregado. Os pilares metálicos são
utilizados três tipos. O perfil de esquina foi gerado a partir do perfil “T” para um
melhor encaixe com o painel.

Esquina Entre painéis Entre 4 painéis

Figura 50 – Perfis metálicos utilizados na junção dos painéis.


Fonte: Arquivo pessoal

O sistema de vigas metálicas é composto por vigas principais e vigas secundárias. As


vigas principais são responsáveis pela sustentação da habitação e as secundárias fazem
parte do sistema estrutural do piso e cobertura.

Vedações – Painel de palete


O painel de palete foi desenvolvido através da associação de três paletes PBR, de
dimensões 1,20 de largura e 1,00 m de comprimento. Para o processo de montagem
do painel levou em conta na criação de um painel simples, de fácil montagem e
desmontagem, facilidade na manutenção do elemento, por exemplo, a substituição de
um palete que por acaso sofreu algum tipo de dano na sua estrutura. Para a proposta
considerou também o emprego de materiais para um melhor funcionamento do painel
em relação ao isolamento acústico, a privacidade, a flexibilidade. No final o painel

49
elaborado apresenta 3,00 m de altura e 1,20 m de largura. Os painéis foram divididos
em dois tipos: painéis fixos e painéis móveis.

Figura 51 – Processo de montagem do painel.


Fonte: Arquivo pessoal

 Painéis fixos
Os painéis fixos tem a função de fechamento, não possuem estrutura interna sendo
apenas parafusados nos perfis “T” pela parte interna da casa.

Figura 52 – Painel fixo.


Fonte: Arquivo pessoal

 Painéis móveis

Os painéis móveis foram divididos em três tipos: o painel pivotante central, o painel
porta e o painel janela. Para haver a movimentação dos painéis foi criado um sistema
de tirantes com a função de estabilização, eles estariam conectados uns ao outros
através de chapas metálicas.

50
Figura 53 – Estrutura interna do painel móvel. Figura 54 – Tipo de tirante utilizado no projeto.
Fonte: Arquivo pessoal Fonte: http://www.owa.com.br/

a. Painel pivotante central

O painel pivotante central além dos tirantes na estrutura interna haverá também o
pino pivotante responsável pelo giro do painel, sua instalação deve ser feita na
parte superior e inferior do painel e anexados a estrutura da casa. O painel não é
utilizado como porta e sim como elemento controlador de ventos, iluminação solar
e integração com a área externa.

Figura 55 – Painel pivotante central. Figura 56 – Pino pivotante com capacidade de 150kg.
Fonte: Arquivo pessoal Fonte: http://www.virtualinox.com.br/

51
b. Painel porta
Para a elaboração do painel porta foram fixadas dobradiças em todo o painel para
possibilitar o giro. As dobradiças serão fixadas no palete no local aonde apresente o
bloco de madeira interno.

Figura 57 – Painel porta. Figura 58 – Detalhe da dobradiça ligada ao palete.


Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal

c. Painel janela
Para o painel janela o palete superior e inferior estarão fixados nos perfis metálicos “T”
por parafusos, e o palete central estará fixado às dobradiças ligadas ao perfil “T”. Com
esse sistema cria a possibilidade do giro do módulo central.

Figura 59 – Painel janela.


Fonte: Arquivo pessoal

52
 Tratamento dos painéis
Outros elementos foram adicionados aos painéis para um melhor funcionamento. A
vedação será feita através de painéis de OSB. Os painéis de OSB seriam cortados e
inseridos na parte interna do palete, o elemento seria utilizado também no
acabamento interno do painel, apenas nas áreas molhadas o acabamento interno será
com placa cimentícia da Eternit.

O OSB utilizado será da linha LP OSB Home Plus Estrutural, uma placa estrutural,
utilizada para contraventamento e fechamento externo e interno de paredes,
coberturas e lajes no Sistema CES, Construção Energitérmica Sustentável (Steel Frame
e Wood Frame).De acorco com as especificações técnicas, o material apresenta nas
camadas externas, resinas fenólicas e, nas internas, MDI, que garantem alta adesão
interna das tiras e uma resistência adequada para aplicações em ambientes externos.
As bordas são seladas nas cores laranja e amarela oque garante resistência à umidade.
Além disso, recebe aditivos a base de ciflutrina, inofensivo para o ser humano, e que
protege contra o ataque de cupins.

Figura 60 – Painel de OSB.


Fonte: http://www.lpbrasil.com.br/produtos/lp-osb-home-plus-estrutural.html

53
No isolamento acústico será utilizada a lã de PET ISOSOFT WALL fabricada pela
empresa Trisoft. De acordo com as especificações técnicas a lã pode ficar em contato
com a umidade sem mofar, sem deteriorar e sem perder suas propriedades. Disponível
em placa e manta. Desenvolvida como tratamento térmico e acústico em sistemas
drywall de paredes com placas de gesso/ cimentícia e construções a seco em steel
frame e wood frame.

Figura 61 – Lã de PET ISOSOFT.


Fonte: http://www.construirsustentavel.com.br/

Tabela 02 – Dados técnicos da lã de PET ISOSOFT WALL.


Fonte: Catálogo Técnico – Lã de PET ISOSOFT da Trisoft

54
Na preservação da madeira conta ações externas será utilizado o stain da linha
Osmocolor Stain fabricado pela Montana, além de desempenhar função fungicida,
protegendo as fibras da madeira contra fungos na superfície do acabamento.

Figura 62 – Aplicação de Osmocolor Stain na madeira.


Fonte: http://www.montana.com.br/

A aplicação de Osmocolor Stain é um acabamento hidrorrepelente que penetra nas


fibras, formando uma película fina com a função de acompanhar os movimentos da
madeira. Segundo o fabricante o produto não descasca, possibilitando renovações
mais fáceis, sem a remoção da película anterior.

Cobertura
A casa possui cobertura do tipo borboleta em dois trechos e nos outros trechos
apresentam o tipo uma água. Será utilizada a telha termoacústica ETERNIT® tipo
“sanduíche”, que é composta de duas placas de aço galvanizado de perfil trapezoidal e
miolo de EPS (poliestireno expandido).

55
Figura 63 – Cobertura com telha termoacústica.
Fonte: Arquivo pessoal

Figura 64 – Dimensões da telha.


Fonte: Catálogo de Telhas Metálicas ETERNIT.

56
PROGRAMA

Análise do terreno
O terreno escolhido está localizado no bairro de Tirol, na Região Administrativa Leste
da cidade de Natal/RN, e tem como limites o bairro de Petrópolis ao norte, o bairro de
Lagoa Nova ao Sul, ao leste o Parque das Dunas e o bairro de Cidade Alta ao Oeste.

Figura 65 – Localização do bairro de Tirol, Natal/RN.


Fonte: Acervo do autor

Figura 66 – Localização do terreno no bairro de Tirol.


Fonte: Google Earth

O terreno possui 360 m² de área, sendo 12 metros de largura e 30 metros de


comprimento. O lote tem como limites a sul a Av. Bernardo Vieira, a leste a Av. Xavier

57
da Silveira e a norte a R. Cel. Juventino Cabral. A topografia do terreno é praticamente
plana, em alguns pontos apresentam declividades, mas é irrelevante ao projeto.

Figura 67 – Vista de topo com as curvas de níveis e dimensões do terreno.


Fonte: Acervo do auto

Figura 68 – Maquete topográfica do terreno.


Fonte: Acervo do autor

58
Figura 69 – Vistas do terreno e do entorno.
Fonte: Acervo do autor

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Condicionantes legais
O Plano Diretor de Natal define que os recuos mínimos para o lote sejam de 3,00 para
o recuo frontal e para lateral e fundos não são obrigatórios. O bairro de Tirol se insere
na Zona Adensável. Segundo ainda o PDN, o bairro corresponde a uma área sujeita a
Operação Urbana. De acordo com o Anexo I – Quadro 2, o bairro de Tirol está inserido
dentro da Área de Controle de Gabarito no entorno do Parque das Dunas. Segundo o
plano, as construções devem proteger o valor cênico e paisagístico, assegurar as
condições de bem estar e garantir a qualidade de vida e o equilíbrio climático da
cidade.

Figura 70 – Mapa da Zona de Gabarito.


Fonte: Semurb

60
Figura 71 – Quadro do controle de gabarito.
Fonte: Semurb

Programa de necessidades
O programa de necessidades não foi elaborado para nenhum cliente específico, pois o
objetivo deste trabalho não é esse, mas sim propor um método construtivo com
características racionais, buscando também a aplicação da flexibilidade. Como a casa é
constituída por divisórias móveis, os ambientes podem ter usos distintos dependendo
configuração destas divisórias. Então, foi estabelecido um programa de necessidades
dentre as possibilidades. A casa apresentaria dois quartos, escritório com acesso
independente, sala de estar/jantar, BWC, cozinha/área de serviço. A residência foi
zoneada em três áreas distintas: serviço, social e íntima.

61
Pré-dimensionamento
O pré-dimensionamento foi definido com base na modulação proposta pelos paletes,
ou seja, dimensões múltiplas de 1,20. Para o pré-dimensionamento foi consultado o
Código de Obras de Natal/RN com as dimensões mínimas permitidas.

Figura 72: Quadro de áreas mínimas.


Fonte: Código de obras de Natal/RN

Figura 73 – Dimensionamentos dos ambientes.


Fonte: Acervo do autor

62
Condicionantes climáticos
Em relação a incidência solar dobre a edificação, buscou-se algumas estratégias. No
sentido Leste priorizou a disposição dos ambientes íntimos, no sentido Oeste priorizou
nesse sentido os ambientes de serviço como forma de proteção aos ambientes sociais.

Figura 74 – Zoneamento.
Fonte: Acervo do autor

Sobre a incidência da ventilação natural sobre a edificação, pode se observar que as


áreas sociais e íntimas recebe diretamente o fluxo de vento predominante vindo do
sudeste, o projeto com o formato estreito promove a ventilação cruzada nos
ambientes.

Figura 75 – Direção dos ventos predominantes.


Fonte: Acervo do autor

63
PERSPECTIVAS

Figura 76 – Vista 01
Fonte: Acervo do autor

Figura 77 – Vista 02
Fonte: Acervo do autor

64
Figura 78 – Escritório
Fonte: Acervo do autor

Figura 79 – Sala de Estar/Jantar


Fonte: Acervo do autor

65
Figura 80 – Vista 03
Fonte: Acervo do autor

Figura 81 – Vista 04
Fonte: Acervo do autor

66
Figura 82 – Vista 05
Fonte: Acervo do autor

Figura 83 – Vista 06
Fonte: Acervo do autor

67
Figura 84 – Vista 07.
Fonte: Acervo do autor

68
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta de promover uma habitação racional utilizando o palete como elemento


construtivo alternativo obteve resultado satisfatório. A elaboração de um projeto que
além do emprego de um material alternativo, buscou-se também explorar na solução
projetual o uso da flexibilidade e a da modulação. O tamanho padronizado do palete
possibilitou o uso do sistema modular. As peças seriam fixadas em perfis metálicos na
formação de painéis. Os painéis foram divididos em dois tipos: fixos e móveis. Os
móveis haveria subcategorias: painel porta, painel janela e painel pivotante central. Os
painéis móveis seriam acrescentados elementos rotativos para possibilitar os giros,
assim como tirantes internos na junção dos elementos que compõe o painel. Além
disso, o projeto apresenta outras características presente na arquitetura flexível, como
adaptabilidade, ampliação e integração com outros tipos de materiais construtivos.

69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Introdução
ao Trabalho Final de Graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN,
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sustentável no projeto de uma pousada. AKRÓPOLIS - Revista de Ciências Humanas da
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http://revistas.unipar.br/akropolis/article/view/376/342>. Acesso em: 6 de dezembro
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Anais... Salvador: Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia,
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Dissertação de mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, 2004.

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70
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71
ANEXOS

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