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Topologia Geral

Ofelia Alas
Lúcia Junqueira
Marcelo Dias Passos
Artur Tomita
Sumário

Capı́tulo 1. Alguns conceitos básicos 5


Capı́tulo 2. Espaços topológicos 9
1. Espaços topológicos. Conjuntos abertos e fechados. 9
2. Subespaços 12
3. Vizinhanças. Bases 13
4. Fecho, interior e fronteira. Conjuntos densos 17
5. Axiomas de enumerabilidade. 20
6. Funções contı́nuas. 22
7. Axiomas de separação. 24
8. Homeomorfismos. Funções abertas e fechadas. Topologia mais fina. Topologias
geradas por funções 32
Capı́tulo 3. Operações sobre espaços topológicos. 35
1. Subespaços. 35
2. Produtos Cartesianos 39
3. Espaços quocientes e funções quocientes 47
Capı́tulo 4. Espaços conexos 51
Capı́tulo 5. Espaços compactos 55
1. Introdução 55
2. Espaços compactos 55
3. O Teorema de Tychonoff 62
4. Espaços localmente compactos 65
5. Espaços de Lindelöf 68
6. Espaços enumeravelmente compactos 70
7. Famı́lias localmente finitas e paracompacidade 72
Capı́tulo 6. Espaços métricos 79
1. Espaços métricos 79
2. Espaços métricos compactos e completos 81

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CAPı́TULO 1

Alguns conceitos básicos

Neste capı́tulo introduziremos alguns conceitos básicos e notações da teoria dos conjuntos
que serão usados ao longo desta apostila.

Definição 1.1. Sejam A e B dois conjuntos.


(i) Diremos que A é um subconjunto de B, denotado por A ⊂ B, se todo elemento de A
é também um elemento de B.
(ii) Diremos que A e B são iguais, A = B, se A ⊂ B e B ⊂ A.
(iii) O conjunto vazio é o único conjunto que não possui nenhum elemento e será denotado
por ∅.
E 1.1. Diga precisamente o que significa dois conjuntos serem diferentes.
E 1.2. Mostre que, para todo conjunto A, ∅ ⊂ A.
Usaremos o sı́mbolo ∈ para indicar que um elemento pertence a um conjunto. Note que
este elemento pode ser um outro conjunto. Por exemplo, se X é um conjunto, {X} é o
conjunto cujo único elemento é X. É importante não confundir ∈ com ⊂. A ⊂ B diz que
todos elementos de A também são elementos de B, ou seja, se x ∈ A, então x ∈ B.
E 1.3. Diga se cada afirmação abaixo é verdadeira ou falsa e justifique:
(a) ∅ ∈ {∅};
(b) ∅ ∈ ∅;
(c) ∅ ⊂ ∅;
(d) {a} ∈ {{a}};
(e) a ∈ {b} se e só se a = b.

Definição 1.2. O conjunto de todos os subconjuntos de um conjunto X é chamado


conjunto das partes de X. Este conjunto será denotado por P(X).
E 1.4. Como é o conjunto P({1, 2, 3})?
E 1.5. Quantos elementos você acha que tem o conjunto P({1, 2, 3, 4})? E o conjunto
P({1, 2, . . . , n}), onde n é um número inteiro?
E 1.6. Diga se cada uma das afirmações abaixo é verdadeira ou falsa e justifique:
(a) x ∈ X se e só se {x} ∈ P(X).
(b) {x} ∈ P(X) se e só se {x} ⊂ X.
(c) {x} ⊂ P(X) se e só se x ⊂ X.
E 1.7. Mostre que ∅ ∈ P(X) e que X ∈ P(X) , para todo conjunto X.
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6 1. ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

É comum vermos famı́lias de conjuntos que estejam indexadas pelos inteiros positivos,
algo do tipo {A1 , A2 , A3 , . . .}. Mas podemos também usar outros conjuntos (que serão cha-
mados conjuntos de ı́ndices) para indexar famı́lias de conjuntos. Por exemplo, o conjunto
{]p, q[⊂ R : p, q ∈ Q} é o conjunto de todos intervalos abertos de R com extremos racionais.
E 1.8. Escreva explicitamente os conjuntos:
(a) {2n + 1 : n ∈ N, 1 ≤ n < 9};
(b) {2r : r ∈ R};
(c) {rq : r ∈ R e q ∈ Q};
n
(d) { m : n, m ∈ N, n 6= 0};
(e) {i : i ∈ {j}}.

Recordamos que dados dois conjuntos A e B, a união de A e B, denotada por A ∪ B, é o


conjunto {x : x ∈ A ou x ∈ B}. A intersecção de A e B, denotada por A ∩ B, é o conjunto
{x : x ∈ A e x ∈ B}.
De modo geral podemos definir:

Definição 1.3. Seja C = {Ai : i ∈ I} uma famı́lia de conjuntos.


(i) A união de C é o conjunto
{x : x ∈ Ai para algum i ∈ I}.
S S S
Este conjunto será denotado por C, ou {Ai : i ∈ I}, ou ainda i∈I Ai .
(ii) Se C =
6 ∅, a intersecção de C é o conjunto
{x : x ∈ Ai para todo i ∈ I}.
T T T
Este conjunto será denotado por C, ou {Ai : i ∈ I}, ou ainda i∈I Ai .
Quando tomamos uma união (ou intersecção) de uma coleção finita de conjuntos, é
comum dizermos simplesmente união (ou intersecção) finita.

E 1.9.
S Mostre que para quaisquer conjuntos X e Y :
(a) S {X} = X;
(b) T{X, Y } = X ∪ Y ;
(c) S{X, Y } = X ∩ Y
(d) T P(X) = X;
(e) P(X) = ∅;
(f ) X ∩ {Y } 6= ∅ se e só se Y ∈ X.
S T
E 1.10. Em cada um dos ı́tens abaixo, diga quem é C e C:
(a) C = {[−n, n] : n ∈ N, n 6= 0}.
(b) C = {(− n1 , n1 ) : n ∈ N, n 6= 0}.
(c) C = {(−1 + n1 , 1 − n1 ) : n ∈ N, n 6= 0}.
(d) C = {(a, b) : a, b ∈ Q, a < b}.
(e) C = {[r, +∞) : r ∈ R}.
T S
E 1.11. Seja C = {Ai : i ∈ I} uma famı́lia de conjuntos. Mostre que C ⊂ Ai ⊂ C,
para todo i ∈ I.
1. ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS 7

Definição 1.4. Sejam A e B dois conjuntos. O complemento de A em relação a B ,


denotado por B \ A, é o conjunto
{x : x ∈ B e x ∈
/ A}.
E 1.12. Prove as seguintes afirmações abaixo:
(a) Se A ⊂ X, então X \ (X \ A) = A.
(b) Se A, B ⊂ X, então A ⊂ B se e só se X \ A ⊃ X \ B.
(c) Se A, B ⊂ X, então A = B se e só se X \ A = X \ B.
(d) Se A, B ⊂ X, então A \ B = A ∩ (X \ B).

Teorema S 1.5.T(Leis de De Morgan) Seja C uma famı́lia de subconjuntos de X. Então


(1) X \ T C = S{X \ A : A ∈ C} e
(2) X \ C = {X \ A : A ∈ C}.
Demonstração: Exercı́cio. 

E 1.13. Sejam A e B dois conjuntos. Mostre que:


(a) A ∩ B = A se e só se A ⊂ B.
(b) A ∪ B = A se e só se B ⊂ A.
(c) A ∩ B = A e A ∪ B = A se e só se A = B.
E 1.14. Se A ⊂ B e C ⊂ D são conjuntos, mostre que:
(a) A ∩ C ⊂ B ∩ D e
(b) A ∪ C ⊂ B ∪ D.
E 1.15. (Propriedade distributiva) Seja C uma coleção de subconjuntos de um conjunto
X e B ⊂ X. SMostreSque:
(a) B ∩ (T C) = T {B ∩ A : A ∈ C} e
(b) B ∪ ( C) = {B ∪ A : A ∈ C}.

S C uma
E 1.16. Seja S coleção não vazia de subconjuntos de X e B ⊂ X. Mostre que:
(a) B ∪ (T C) = T {B ∪ A : A ∈ C} e
(b) B ∩ ( C) = {B ∩ A : A ∈ C}
E 1.17. Dados A = {x ∈ P(N) : 2 ∈ x} ∪ {x ∈ P(N) : 3 ∈ x} e B = {x ∈ P(N) :
S a x}. (a) Mostre que se {xi : i ∈ I} é uma famı́lia
pelo menos um divisor de 6 pertence
qualquer de elementos de A, então {xi : i ∈ I} é um elemento de A. O mesmo vale para
intersecção? (b) Determine A ∪ B e A ∩ B.
E 1.18. Escreva explicitamente o conjunto P(X), onde X é:
(a) X = {∅, {∅}}; (b) X = {3, {1, 4}};
(c) X = {a, {a}, {a, {a}}}; (d) X = P({a});
(e) X = P({a, b}).
E 1.19. Mostre ou dê contraexemplo:
(a) A ∩ (B \ C) = (A ∩ B) \ C;
(b) A ⊂ B ∩ C se e só se A ⊂ B e A ⊂ C;
(c) A ⊂ B ∪ C implica A ⊂ B ou A ⊂ C;
(d) B ∩ C ⊂ C implica que B ⊂ A ou C ⊂ A.
(e) A ∩ B = A e A ∪ B = A se e só se A = B.
8 1. ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

E 1.20. Se A e B são dois conjuntos, a diferença simétrica entre A e B é o conjunto


A△B = (A \ B) ∪ (B \ A). Mostre:
(a) A△B = B△A; (b) (A△B)△C = A△(B△C);
(c) A ∩ (B△C) = (A ∩ B)△(A ∩ C);
(d) A ∪ B = (A△B)△(A ∩ B).
CAPı́TULO 2

Espaços topológicos

O objetivo deste capı́tulo é introduzir várias noções básicas de topologia.


1. Espaços topológicos. Conjuntos abertos e fechados.
Definição 2.1. Um espaço topológico é um par (X, T ), onde X é um conjunto e T é
uma coleção de subconjuntos de X satisfazendo as seguintes propriedades:
(1) O conjunto vazio e o conjunto X são elementos de T .
(2) A intersecção finita (não vazia) de elementos T é um elemento de T .
(3) A união qualquer de elementos de T é um elemento de T .

Neste caso dizemos que T é uma topologia sobre X (ou que X está munido da topologia
T ) e que X é o suporte do espaço topológico (X, T ). Os elementos de X são chamados de
pontos do espaço. Por abuso de notação, quando estiver claro qual é a topologia, denotaremos
o espaço topológico simplesmente por X.
Definição 2.2. Os elementos de T são chamados de abertos de X.
Como consequência da definição de topologia temos que os abertos satisfazem as seguintes
propriedades:
(i) o conjunto vazio e o espaço todo são conjuntos abertos;
(ii) a intersecção finita de abertos é aberta;
(iii) a união qualquer de abertos é um aberto.

Definição 2.3. Seja X um espaço topológico. Dizemos que um subconjunto F de X é


fechado se e somente se X \ F é um conjunto aberto.
Usando as leis de De Morgan, podemos ver que as seguintes propriedades estão satisfeitas:
Proposição 2.4. Para um espaço topológico X temos:
(1) O espaço todo e o conjunto vazio são subconjuntos fechados.
(2) A união finita de conjuntos fechados é um conjunto fechado.
(3) A intersecção de qualquer coleção de conjuntos fechados é um conjunto fechado.
Demonstração: Vamos verificar, por exemplo, que (3) está satisfeita.
T Seja F uma coleção
T de
subconjuntos fechados de X. Por definição, para
T mostrar que {F : F ∈ F} = F é um
conjunto fechado precisamos mostrar que X \ F é um conjunto aberto. Usando as leis de
De Morgan, temos \ [
X \ {F : F ∈ F} = {X \ F : F ∈ F}.
T
Então, como para cada F ∈ F, X \ F é um conjunto aberto, temos que X \ {F ∈ F} é
uma união de abertos, e portanto é um aberto pela propriedade (3). 
Antes de prosseguirmos com a teoria, daremos vários exemplos de espaços topológicos:
9
10 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Exemplo 2.5. Topologia discreta. Seja X um conjunto e seja T a coleção de todos


os subconjuntos de X, i.e. T = P(X). É facil verificar que T satisfaz as condições (1)-(3)
da definição 2.1.
Dizemos que X está munido da topologia discreta ou que (X, T ) é o espaço topológico
discreto.
Exemplo 2.6. Topologia caótica. Seja X um conjunto e seja T o conjunto cujos dois
únicos elementos são ∅ e X, i.e. T = {∅, X}. Claramente T é uma topologia sobre X.
Note que se X é um conjunto contendo mais de um ponto, então a topologia discreta e
a topologia caótica são distintas. Note, também, que qualquer topologia sobre X contém a
topologia caótica e está contida na topologia discreta.
E 2.1. Seja X = {0, 1}. Quais são as possı́veis topologias em X?
Passaremos agora a alguns exemplos menos triviais de espaços topológicos:
Exemplo 2.7. Topologia cofinita. Seja X um conjunto infinito e defina T = {∅} ∪
{V ⊆ X : X \ V é finito }.
E 2.2. Mostre que T do exemplo anterior é uma topologia sobre o conjunto X.
E 2.3. Se X um conjunto infinito e T = {∅} ∪ {V ⊆ X : V é finito }, então T é uma
topologia sobre X? Justifique.
Para o próximo exemplo precisaremos da seguinte definição:
Definição 2.8. Um conjunto X é enumerável se X é finito ou se existe um bijeção entre
X e o conjunto dos números naturais N.
Exemplo 2.9. Topologia coenumerável. Seja X um conjunto não-enumerável e defina
T = {∅} ∪ {V ⊆ X : X \ V é enumerável }.
E 2.4. Mostre que a topologia T do exemplo anterior é uma topologia sobre o conjunto
X.
E 2.5. Seja X um conjunto não-enumerável e seja T1 a topologia discreta sobre X, T2
a topologia caótica sobre X, T3 a topologia cofinita sobre X e T4 a topologia coenumerável
sobre X. Compare as topologias duas a duas com relação a inclusão.
Exemplo 2.10. A reta real com a topologia usual. Vamos denotar este espaço
topológico por R. Um subconjunto A será aberto nesta topologia se e somente se para cada
ponto x de A existe um ǫ > 0 tal que ]x − ǫ, x + ǫ[ está contido em A.
E 2.6. Verifique que a topologia usual é de fato uma topologia sobre a reta real.
O próximo espaço topológico aparecerá diversas vezes como contra-exemplo:
Exemplo 2.11. A reta de Sorgenfrey A reta de Sorgenfrey tem como suporte o
conjunto dos números reais, mas a topologia é diferente da topologia usual da reta. Um
subconjunto A nesta topologia será aberto se e somente se para cada ponto x em A existe
um ǫ > 0 tal que [x, x + ǫ[ está contido em A.
Iremos denotar a reta de Sorgenfrey por RS .
1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS. CONJUNTOS ABERTOS E FECHADOS. 11

E 2.7. Verifique que de fato foi definida uma topologia no exemplo acima. Verifique que
se A é um conjunto aberto na topologia usual da reta, então A é um conjunto aberto na
topologia de Sorgenfrey.
Segue abaixo mais exercı́cios sobre conjuntos abertos e conjuntos fechados.
E 2.8. Mostre que se X é um espaço topológico com a topologia discreta, então todo
subconjunto de X é aberto e fechado.
No exercı́cio anterior vimos um exemplo de espaço topológico no qual todos os subcon-
juntos são abertos e fechados. De modo geral, em um espaço topológico qualquer podemos
ter subconjuntos abertos e fechados (por exemplo o ∅), conjuntos que são só abertos ou só
fechados e podem existir conjuntos que não são nem abertos e nem fechados.
Um conjunto que é aberto e fechado ao mesmo tempo será chamado de conjunto aberto-
fechado.
E 2.9. Mostre que os intervalos da forma [a, b[ e da forma ]a, b] (a, b reais, a < b) não
são nem abertos e nem fechados em R.

E 2.10. Considere os espaços topológicos (R, I), (R, D), (R, T ), (R, F) e RS , onde I é
a topologia caótica, D é a topologia discreta, T é a topologia usual em R e F é a topologia
cofinita.
(a) Se x ∈ R, {x} é aberto em algum desses espaços? Quais?
(b) Se x ∈ R, {x} é fechado em algum desses espaços? Quais?
(c) Em quais desses espaços o conjunto ]a, b[ é aberto? Em quais é fechado? E os
conjuntos [a, b[, ]a, b] e [a, b]?
(d) O conjunto {x ∈ R : x 6= n1 } é aberto em algum desses espaços? É fechado?
(e) O conjunto {x ∈ R : x 6= n1 e x 6= 0} é aberto em algum desses espaços? É fechado?
E 2.11. Seja X um conjunto e T1 e T2 duas topologias distintas sobre X.
(a) T1 ∩ T2 é uma topologia sobre X? Justifique.
(b) T1 ∪ T2 é uma topologia sobre X? Justifique.

1.1. Espaços métricos. Uma classe especial de espaços topológicos são os espaços
métricos. Vamos primeiro recordar a definição destes espaços:
Definição 2.12. Um espaço métrico é um par (M, d), onde M é um conjunto e d é
uma função do conjunto M × M em R+ (o conjunto dos reais não negativos) satisfazendo as
seguintes propriedades:
(M1) para todos x, y ∈ M , d(x, y) = 0 se e somente se x = y.
(M2) para todos x, y ∈ M temos que d(x, y) = d(y, x).
(M3) para todos x, y e z em M , d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).
Lembramos que a propriedade (M3) é chamada de desigualdade triangular. A função d
é chamada de métrica ou distância sobre M . Por abuso de notação, quando estiver claro
qual a métrica, denotaremos o espaço métrico simplesmente por M .
12 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Definição 2.13. Seja (M, d) um espaço métrico, x um elemento de M e ǫ um número real


positivo. Chamamos de bola aberta de centro x e raio ǫ ao conjunto { y ∈ M : d(x, y) < ǫ},
o qual denotaremos por Bd (x, ǫ) (ou simplesmente por B(x, ǫ) quando estiver claro qual é a
métrica utilizada). Chamamos de bola fechada de centro x e raio ǫ ao conjunto { y ∈ M :
d(x, y) ≤ ǫ}, ao qual denotaremos por Bd [x, ǫ] (ou simplesmente por B[x, ǫ] quando não
houver ambiguidade).

Lembramos que a reta real é um espaço métrico com a seguinte distância: para todos
x, y ∈ R, d(x, y) = |x − y|, onde | | é a função módulo. Nesta métrica, B(x, ǫ) =]x − ǫ, x + ǫ[.
Assim como no caso da topologia usual na reta, para cada espaço métrico podemos definir
uma topologia utilizando as bolas abertas:
Definição 2.14. Seja (M, d) um espaço métrico e Td a coleção de subconjuntos de M
definida por:
Td = {U ⊆ M : para cada x ∈ U existe ǫ > 0 tal que B(x, ǫ) ⊆ U }.
Dizemos que Td é a topologia associada a métrica d.
E 2.12. Verifique que de fato Td é uma topologia sobre M . Mostre que toda bola aberta
é um conjunto aberto do espaço (M, Td ).
E 2.13. Seja X o espaço topológico associado a uma métrica d.Verifique que as bolas
fechadas são conjuntos fechados.
E 2.14. Seja (M, d) um espaço métrico. Defina as funções d′ e d∗ do seguinte modo: para
cada x, y ∈ M ,
d′ (x, y) = min{d(x, y), 1} e
d∗ (x, y) = 2d(x, y).
Verifique que d′ e d∗ são métricas sobre M e que Td = Td′ = Td∗ .
Observação 2.15. Note que nem toda topologia está associada a uma métrica. Um
exemplo simples é a topologia caótica num conjunto com mais de um ponto. Aliás, como
veremos futuramente, o caso em que a topologia está associada a uma métrica é um caso
“especial”.
E 2.15. Seja X um conjunto e defina uma métrica d em X por d(x, y) = 0 se x = y e
d(x, y) = 1 se x 6= y. Mostre que a topologia associada a métrica d é a topologia discreta.
E 2.16. Considere asp seguintes métricas em R2 :
d((x1 , y1 ), (x2 , y2 )) = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 (métrica euclidiana),
d′ ((x1 , y1 ), (x2 , y2 )) = |x1 − x2 | + |y1 − y2 | e
d′′ ((x1 , y1 ), (x2 , y2 )) = max{|x1 −x2 |, |y1 −y2 |}, para todos (x1 , y1 ), (x2 , y2 ) ∈ R2 . Verifique
se as topologias associadas a essas métricas são iguais ou não.

2. Subespaços
Lema 2.16. Se (X, T ) é um espaço topológico e Y um subconjunto de X, então a famı́lia
O = {Y ∩ U : U ∈ T } forma uma topologia sobre Y .
3. VIZINHANÇAS. BASES 13

Demonstração: Exercı́cio. 
Podemos então dar a seguinte definição:
Definição 2.17. Seja (X, T ) um espaço topológico e Y um subconjunto de X. Se
O = {Y ∩ U : U ∈ T }, então dizemos que (Y, O) é um subespaço de X, e que O é a topologia
induzida por X.
Definição 2.18. Dado um subespaço Y de um espaço topológico X, diremos que Y é
um subespaço fechado se Y é um subconjunto fechado de X. De forma análoga, definimos
subespaço aberto.
E 2.17. Seja X um espaço topológico infinito com a topologia cofinita. Se Y é um
subconjunto infinito de X, como é a topologia em Y induzida por X?
Proposição 2.19. Seja X um espaço topológico e M um subespaço de X. Um conjunto
A ⊆ M é fechado em M se e somente se existe um fechado F de X tal que F ∩ M = A.
Demonstração: (⇒) Se A ⊆ M é fechado em M , então M \ A é aberto em M , portanto
existe um aberto U em X tal que U ∩ M = M \ A. Então F = X \ U é um fechado tal que
F ∩ M = (X \ U ) ∩ M = M \ (M ∩ U ) = M \ (M \ A) = A.
(⇐) Seja F um fechado de X. Então X \ F é um aberto de X. Logo, M ∩ (X \ F ) =
M \(M ∩F ) é um aberto de M . Portanto, M \(M \(M ∩F )) = M ∩F é um fechado de M . 

Fica a cargo do leitor verificar a seguinte proposição:


Proposição 2.20. Seja X um espaço topológico e M um subespaço de X. Então, dado
um subconjunto L de M , as topologias induzidas em L por X e M coincidem.
Proposição 2.21. Seja (M, d) um espaço métrico e Y um subconjunto de M . Se res-
tringirmos a métrica d ao conjunto Y × Y , temos uma métrica sobre Y . Podemos então
definir em Y a topologia induzida por essa métrica. Essa topologia coincide com a topologia
de subespaço induzida por M .
Demonstração: Exercı́cio. 
Exemplo 2.22. O intervalo [0, 1] com a topologia induzida pela métrica usual é um
subespaço fechado da reta real R com a topologia usual. Note que o intervalo ]a, 1] (onde
0 < a < 1) é aberto em [0, 1] (verifique!), mas não é aberto em R.
E 2.18. Mostre que Z, o conjunto dos números inteiros, é um subespaço discreto de R,
isto é, a topologia induzida por R é a topologia discreta. Mostre que o subespaço A = { n1 :
n ∈ N \ {0}} também é discreto. A ∪ {0} também é discreto?

3. Vizinhanças. Bases
Definição 2.23. Seja X um espaço topológico e x um elemento de X. Dizemos que
um subconjunto A de X é uma vizinhança de x se existe um aberto U tal que x ∈ U ⊆ A.
Quando a vizinhança é um conjunto aberto, dizemos que é uma vizinhança aberta.
Observação 2.24. Segue imediatamente da definição, que todo aberto é uma vizinhança
dos seus pontos, ou seja, se U é aberto e x ∈ U , então U é uma vizinhança de x.
14 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Definição 2.25. Seja X um espaço topológico e seja x um ponto de X. Dizemos que


uma coleção Vx de subconjuntos de X é um sistema fundamental de vizinhanças de x se
(i) cada V em Vx é uma vizinhança de x;
(ii) cada vizinhança de x contém algum elemento de Vx .
Definição 2.26. Se Vx é um sistema fundamental de vizinhanças de um ponto x em X
e se os elementos de Vx são conjuntos abertos, então dizemos que Vx é uma base (local) para
o ponto x ou que é um sistema fundamental de vizinhanças abertas de x.
O próximo resultado pode ser muito útil para mostrarmos que um conjunto é aberto:
Proposição 2.27. As seguintes afirmações são equivalentes:
(i) U é um conjunto aberto;
(ii) para cada x ∈ U existe uma vizinhança Vx de x contida em U ;
(iii) para cada x ∈ U existe um aberto Vx contido em U e tal que x ∈ Vx .
Demonstração: O fato que (i) implica (ii) segue da observação feita acima: se U é aberto e
x ∈ U , então U é uma vizinhança de x e U ⊆ U .
Suponha agora que vale (ii). Fixe x ∈ U e uma vizinhança Vx de x contida em U . Pela
difinição de vizinhaça temos que existe um aberto Wx tal que x ∈ Wx ⊆ Vx e então temos
(iii).
Resta apenas mostrar que (iii) implica (i). Seja U satisfazendoS (iii). Para cada x ∈ U
fixe um aberto Vx ⊆ U tal que x ∈ Vx . Teremos então que U = {Vx : x ∈ U }. Logo U é
aberto, pois é uma união de abertos. 
Corolário 2.28. Para cada x em um espaço topológico X, seja Vx o conjunto de todas
as vizinhanças de x. Então U ⊆ X é aberto se e somente se U ∈ Vx para todo x ∈ U .
Demonstração: Exercı́cio. 
Os seguintes exemplos são deixados como exercı́cio:
Exemplo 2.29. Seja X o espaço topológico associado a uma métrica d. Então para cada
x ∈ X, o conjunto das bolas de centro x e raio n1 , onde n = 1, 2, ..., forma uma base de
abertos para o ponto x.
Exemplo 2.30. Seja x um ponto da reta de Sorgenfrey. Então, o conjunto dos intervalos
semi-abertos [x, x + n1 [, onde n = 1, 2, ..., forma uma base de abertos para o ponto x.

Definição 2.31. Seja (X, T ) um espaço topológico. Dizemos que uma coleção B de
conjuntos abertos de X é uma base de abertos para o espaço topológico X se todo aberto
S de uma subcoleção de elementos de B, i.e., para todo V ∈ T ,
pode ser escrito como a união
existe B′ ⊆ B tal que V = B′ .
Proposição 2.32. Seja B uma coleção de abertos de X. Então B é uma base da topologia
se e somente se, para todo aberto V e todo ponto x de V , existe U ∈ B tal que x ∈ U ⊆ V .
Demonstração: Exercı́cio. 

E 2.19. Seja X um espaço topológico associado a uma métrica d. Mostre que o conjunto
de todas as bolas abertas forma uma base para X.
3. VIZINHANÇAS. BASES 15

E 2.20. Mostre que cada intervalo semi-aberto [x, x + ǫ[ é um conjunto aberto na reta de
Sorgenfrey. Mostre também que o conjunto dos intervalos semi-abertos forma uma base de
abertos para este espaço.
E 2.21. (a) Mostre que se B é uma base de um espaço topológico X, então, para cada x
em X, a famı́lia B(x) = {B ∈ B : x ∈ B} é uma base para o ponto x.
(b) Mostre também que, Spor outro lado, se para cada x ∈ X, B(x) é uma base para o
ponto x, então a união B = {B(x) : x ∈ X} é uma base para X.

Diversas propriedades de um espaço topológico que estudaremos dependerão apenas de


uma base de abertos ao invés do conjunto de todos os abertos. Em particular, no caso
de propriedades envolvendo um ponto x, muitas delas dependerão apenas de uma base de
abertos no ponto x. Por isso, em muitos casos, fica mais conveniente (e mais claro) definir
a topologia em função de uma base de abertos ou dos sistemas fundamentais de vizinhanças
de cada ponto do espaço.
Vejamos primeiro quais propriedades são necessárias para que possamos definir uma
topologia a partir de uma famı́lia de subconjuntos de modo que esta famı́lia seja uma base.
Definição 2.33. Seja B uma coleção de subconjuntos de um conjunto X e seja B ∗ a
coleção de todos os subconjuntos de X que são uniões de elementos de B (inclusive a união
vazia). Se B∗ é uma topologia sobre X, então B∗ é chamada de topologia gerada por B, e B
é uma base para a topologia B∗ .
Olhando a definição acima é natural perguntar quais propriedades a coleção B precisa ter
para que possamos garantir que B∗ é uma topologia sobre X. O exercı́cio seguinte mostra
que essa pergunta faz sentindo, ou seja, não é verdade que B∗ é sempre uma topologia:
E 2.22. Seja B a coleção de todos os intervalos fechados [a, b] da reta real tais que a < b.
Mostre que a coleção B∗ , de todas as possı́veis uniões de elementos de B, não é uma topologia
sobre os reais.
A seguinte proposição nos dá uma condição nescessária e suficiente sobre a coleção B
para que B∗ seja uma topologia:
Proposição 2.34. Sejam X um conjunto e B uma coleção de subconjuntos de X satis-
fazendo as seguintes propriedades:
(1) Para cada U1 , U2 ∈ B e cada x ∈ U1 ∩ U2 , existe U ∈ B tal que x ∈ U ⊆ U1 ∩ U2 .
(2) Para cada x ∈ X, existe U ∈ B tal que x ∈ U .
Então, a coleção B∗ , formada pelas uniões de subcoleções de B é uma topologia sobre X
e B é uma base para o espaço topológico (X, B ∗ ).
Demonstração: Para verificarmos que ∅ ∈ B∗ ,Sbasta tomar a união da subcoleção vazia.
Temos que X é um elemento de B∗ , pois, X = B, por (2).
Vamos mostrar apenas que a intersecção de dois elementos de B∗ está em B∗ (para
intersecção finita qualquer é análogo ou segue por indução). Sejam U, VS ∈ B∗ e x ∈ U ∩ V
qualquer. Pela definição de B∗ , temos que existe B′ ⊆ B tal que U = B′ . Como x ∈ U ,
temos que existe U ′ ∈ B′ tal que x ∈ U ′ ⊆ U . Como B′ ⊆ B, U ′ ∈ B. Analogamente, existe
V ′ ∈ B tal que x ∈ V ′ ⊆ V . Sendo assim, x ∈ U ′ ∩ V ′ , e por (1), posso fixar Wx ∈ B tal que
x ∈ Wx ⊆ U ′ ∩ V ′ . Portanto, Wx ⊆ U ∩ V . Podemos então, para todo x ∈ U ∩ V achar Wx
16 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

S
coma acima e assim U ∩ V = {Wx : x ∈ U ∩ V }. Como {Wx : x ∈ U ∩ V } ⊆ B, temos que
U ∩ V ∈ B∗ .
Falta apenas verificarmos que a união qualquer de elementos de B∗ é um elemento de B∗
. SejaSU uma subcoleção
S de S B∗S
. Para cada U ∈ U, existe uma subcoleção S
B(U ) de B tal que
U = B(U ). Então U = {B(U ) : U ∈ U}. Basta agora notar que {B(U ) : U ∈ U}
é uma subcoleção de B.
Pela definição de base temos que B é uma base para a topologia B∗ . 

Observação 2.35. Se X é um espaço topológico e B é uma famı́lia de subconjuntos


abertos de X satisfazendo as propriedades (1) e (2) da proposição acima, então a topologia
gerada por B não precisa ser a topologia original, porém, claramente qualquer aberto da
topologia gerada por B será um aberto da topologia original.
E 2.23. Seja X um conjunto não enumerável e fixemos um ponto x0 de X. Seja
B = {{x} : x ∈ X \ {x0 }} ∪ {A ⊆ X : x0 ∈ A e X \ A é enumerável }.
Verifique que B satisfaz as condições (1) e (2) da proposição 2.34.

Veremos agora como definir a topologia a partir dos sitemas fundamentais de vizinhanças
de cada ponto.
Usando a difinição de vizinhança é fácil mostrarmos:
Proposição 2.36. Seja X um espaço topoloógico e para cada x ∈ X denotemos por Vx
o conjunto de todas as vizinhançasde x. Então vale que:
(I) x ∈ V , para todo V ∈ Vx ;
(II) se V1 e V2 pertencem a Vx , então V1 ∩ V2 também pertence a Vx ;
(III) se V ∈ Vx e V ⊆ U ⊆ X, então U ∈ Vx ;
(IV) se V ∈ Vx , então existe U ∈ Vx tal que U ⊆ V e U ∈ Vy , para todo y ∈ U .

Teorema 2.37. Seja X um conjunto não vazio e suponhamos que para cada x ∈ X está
associado um conjunto Vx de subcojuntos de X de modo que as condições I, II, III e IV
acima estejam verificadas. Então existe uma única topologia T sobre X de modo que cada
Vx seja o conjunto das vizinhanças de x em (X, T ).
Demonstração: Com efeito, seja T = {U ⊆ X : U ∈ Vx para todo x ∈ U }. Então T é uma
topologia sobre X. É imediato que o ∅ e X pertencem a T e que a intersecção finita e a
reunião qualquer de elementos de T pertence a T .
Note que o conjunto U em IV será aberto em T . Em vista disso, em (X, T ) cada Vx será
o conjunto de todas as vizinhanças de x, para todo x ∈ X.
Mostremos agora a unicidade da topologia. Suponhamos que T ′ fosse uma topologia
sobre X tal que Vx é o conjunto das vizinhanças de x em (X, T ′ ), para todo x ∈ X. Então,
se U ∈ T ′ , U ∈ Vx , para todo x ∈ U e U pertenceria a T . Por outro lado, se U ∈ T , então
U ∈ Vx , para todo x ∈ U e U seria aberto em T ′ . 
Exemplo 2.38. O plano de Niemytzki. Seja L o conjunto de todos os pontos do
plano com a segunda coordenada maior ou igual a zero, ou seja, L = { (x, y) ∈ R2 : y ≥ 0 }.
Denotemos por L1 a reta y = 0 e seja L2 = L \ L1 . Para cada x ∈ L1 e r > 0, seja U (x, r)
o conjunto de todos os pontos em L no interior da bola de raio r tangente a L1 no ponto
4. FECHO, INTERIOR E FRONTEIRA. CONJUNTOS DENSOS 17

x e seja Ui (x) = U (x, 1i ) ∪ {x} para i = 1, 2, . . .. Para cada x ∈ L2 e r > 0, seja V (x, r) o
conjunto de todos os pontos de L dentro do cı́rculo de raio r e centro x e seja Ui (x) = V (x, 1i )
para i = 1, 2 . . .. Para cada x ∈ L, seja Bx = {Ui (x)}∞ i=1 .
S
É fácil verificar que a coleção B = {Bx : x ∈ L} satisfaz as condições 1) e 2) da
proposição 2.34. O conjunto L1 é fechado com respeito à topologia gerada pelo sistema de
vizinhanças abertas {Bx }x∈L . O espaço L é chamado de Plano de Niemytzki.
E 2.24. Mostre que no exemplo acima, L1 com a topologia de subespaço é discreto.

4. Fecho, interior e fronteira. Conjuntos densos


Seja (X, T ) um espaço topológico.
Definição 2.39. Um ponto x ∈ A é ponto interior de A se existe V ∈ T tal que
x ∈ V ⊆ A. Ao conjunto dos pontos interiores chamamos interior de A e denotamos por Å.
E 2.25. Mostre que A é aberto se e somente se Å = A.
Definição 2.40. Um ponto x ∈ X é ponto aderente (ou ponto de clausura, ou ponto de
fecho) de A se para todo V ∈ T tal que x ∈ V tem-se que V ∩ A 6= ∅.
Definição 2.41. Um ponto x ∈ X é ponto de acumulação de A se para todo V ∈ T tal
que x ∈ V tem-se (V \ {x}) ∩ A 6= ∅. Ao conjunto dos pontos de acumulação de A chamamos
derivado de A.
E 2.26. Mostre que nas definições de ponto aderente e ponto de acumulação poderı́amos
substituir “para todo V ∈ T ” por “para todo V ∈ calV x , onde calV x é um sistema funda-
mental de vizinhanças de x qualquer.
E 2.27. Seja X = {1, 2, 3} e T = {∅, {1}, {1, 2}, X}. Mostre que 3 é ponto de acumulação
de {1} e de {1, 2} e que 1 não é ponto de acumulação de {1, 2}.
E 2.28. Sobre o conjunto dos números reais R considere a topologia T abaixo definida:
um subconjunto V de R pertence a T se e somente se para cada x ∈ V \ Q existe ǫx > 0
tal que ]x − ǫx , x + ǫx [⊆ V . Mostre que qualquer que seja A ⊆ R, A não tem pontos de
acumulação racionais. Por outro lado, se x ∈ R é ponto de acumulação de um subconjunto
A nesta topologia T , também será ponto de acumulação de A na topologia habitual de R.
E 2.29. Na reta de Sorgenfrey mostre que 1 não é ponto de acumulação de [0, 1]; no
entanto, é ponto de acumulação na reta real.
Veremos agora o conceito de fecho de um conjunto, que está relacionado com o conceito
de ponto aderência, como veremos a seguir.
Definição 2.42. Seja (X, T ) um espaço topológico e seja A um subconjunto de X. O
fecho (ou aderência ou clausura) de A é a intersecção de todos os fechados que contém A
T
e será denotado por A ou clT (A). Quando estiver claro qual a topologia, denotaremos por
X
A ou clX (A), ou simplesmente por A ou cl(A).
O operador fecho é a função que associa a cada subconjunto de X o seu fecho.
Como vimos anteriormente, a interseçcão de conjuntos fechados é um conjunto fecha-
do. Segue então da definição de fecho a seguinte proposição, cuja demonstração fica como
exercı́cio.
18 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Proposição 2.43. Seja X um espaço topológico e A ⊆ X. Então:


(i) A é um conjunto fechado;
(ii) A ⊆ A; e
(iii) A é o menor fechado contendo A, i.e., se F é conjunto fechado e A ⊆ F , então
A ⊆ F.
A seguinte caracterização de fecho é muito útil e relaciona fecho com pontos aderentes:
Proposição 2.44. Para cada A ⊆ X as seguintes condições são equivalentes:
(i) o ponto x pertence a A.
(ii) para cada vizinhança V de x temos V ∩ A 6= ∅.
(iii) para todo sistema fundamental de vizinhanças Vx do ponto x, para cada V ∈ Vx
temos que V ∩ A 6= ∅.
Demonstração: Para mostrar que (i) ⇒ (ii), suponhamos que x ∈ A e seja V uma
vizinhança de x. Pela definição de vizinhança, existe um aberto U tal que x ∈ U ⊆ V .
Como V ∩ A ⊇ U ∩ A, basta mostrar que U ∩ A 6= ∅. De fato, se U ∩ A = ∅, então A ⊆ X \ U .
O conjunto U é aberto, logo, o conjunto X \ U é fechado por definição. Portanto, pela
proposição acima, temos que A ⊆ X \ U , ou seja, U ∩ A = ∅, contradição, pois x ∈ U ∩ A.
Com isto mostramos que U ∩ A 6= ∅.
É fácil ver que (ii) ⇒ (iii).
Só resta mostrar que (iii) ⇒ (i). Suponha que (i) não esteja satisfeita, ou seja, que x ∈
/ A.
Então, pela definição de fecho, existe um fechado F contendo A tal que x ∈ / F . Logo X \ F é
uma vizinhança aberta de x e portanto existe V ∈ Vx tal que V ⊆ X \ F , ou seja, V ∩ F = ∅.
Como A ⊆ F , isso implica que V ∩ A = ∅, contradizendo (iii). 

Corolário 2.45. O fecho de um conjunto A é o cojunto dos pontos aderentes de A.


E 2.30. Calcule os fechos dos seguintes subconjuntos da reta dos reais com relação às
diferentes topologias dadas no exercı́cio 2.10:
(a) (0, 1);
(b) [0, 1];
(c) [0, 1);
(d) (0, 1];
(e) {0};
(f ) Q;
(g) { n1 : n ∈ Z \ {0}};
(h) ∅.
E 2.31. Sejam X = {a, b, c, d} e T = {∅, X, {a}, {a, b}, {c, d}, {a, c, d}} uma topologia
sobre X. Calcule {a, d} e {b, d}.
E 2.32. Mostre que um conjunto é fechado se, se somente se, ele é igual ao seu fecho
E 2.33. Mostre que o interior de um conjunto A é o maior aberto (com relação a inclusão)
que está contido em A.
E 2.34. Mostre que x é um ponto de acumulação de A se e somente se x ∈ A \ {x}.
Definição 2.46. Um ponto x ∈ X é ponto de fronteira de A se para todo V ∈ T tal
que x ∈ V tem-se V ∩ A 6= ∅ e V ∩ (X \ A) 6= ∅. Ao conjunto dos pontos de fronteira de A
chamamos fronteira de A e denotamos por F r(A).
4. FECHO, INTERIOR E FRONTEIRA. CONJUNTOS DENSOS 19

E 2.35. Mostre que:


(i) F r(A) = A ∩ X \ A e
(ii) A é aberto-fechado se e somente se F r(A) = ∅.
No próximo teorema temos as principais propriedades do operador fecho:
Teorema 2.47. O operador fecho em um espaço topológico X tem as seguintes proprie-
dades:
(1) ∅ = ∅.
(2) (A) = A.
(3) Para todo A, B ⊆ X, temos A ∪ B = A ∪ B.
Demonstração: As propriedades (1) e (2) seguem diretamente da definição de fecho e do
fato de A ser um conjunto fechado.
Vamos mostrar agora que a propriedade (3) é válida.
“⊇” : Pela proposição 2.43, temos que A ⊆ A ∪ B ⊆ A ∪ B, e que isso implica que
A ⊆ A ∪ B. Analogamente, temos que B ⊆ A ∪ B e portanto temos que A ∪ B ⊆ A ∪ B.
“ ⊆ ” : Por outro lado, temos que A ⊆ A e B ⊆ B, e portanto, temos que A∪B ⊆ A∪B.
Como o último conjunto é uma união de dois conjuntos fechados, ele é um conjunto fechado.
Utilizando a proposição 2.43 novamente, segue então que A ∪ B ⊆ A ∪ B.
Com isto, mostramos que a igualdade em (3) está satisfeita. 
E 2.36. É verdade que para quaisquer subconjuntos A e B de um espaço topológico X
(i)A ∩ B = A ∩ B e
(ii) A \ B = A \ B?
Prove ou dê contraexemplos.
E 2.37. Seja X um espaço topológico e M um subespaço de X. Mostre que se A é um
M X
subconjunto de M , então A = A ∩ M .
Definição 2.48. Seja X um espaço topológico. Dizemos que um subconjunto D de X
é denso em X se o fecho de D é igual a X.
Claramente X é denso em X. Vamos dar alguns outros exemplos menos triviais:
Exemplo 2.49. O conjunto Q dos racionais é um conjunto denso na reta de Sorgenfrey.
Exemplo 2.50. Se X é um espaço discreto, então X é o único subconjunto denso de X.
Exemplo 2.51. Se X é um espaço caótico, então qualquer subconjunto não-vazio é denso
em X.
E 2.38. Mostre as afirmações feitas nos exemplos acima.
E 2.39. Mostre que as seguintes afirmações são equivalentes para um espaço topológico
X:
(i) D é denso em X;
(ii) D ∩ U 6= ∅, para todo aberto não-vazio U em X;
(iii) para qualquer base B de X, D ∩ B 6= ∅, para todo B ∈ B.
E 2.40. (i) Seja X um conjunto infinito com a topologia cofinita. Mostre que um sub-
conjunto D de X é denso se, e somente se, D é infinito.
(ii) Seja X um conjunto não-enumerável com a topologia coenumerável. Mostre que um
subconjunto D de X é denso se, e somente se, D é não-enumerável.
20 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

E 2.41. Mostre que D é denso em R se, e somente se, D é denso em RS .


E 2.42. Seja X um espaço topológico e D ⊆ X. Prove que D é denso em X se, e somente
se, D ∩ V = V , para todo aberto V .

5. Axiomas de enumerabilidade.
Definição 2.52. Seja X um espaço topológico.
(a) Se cada ponto do espaço X possui um sistema fundamental de vizinhanças que é
enumerável, dizemos que ele satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade.
(b) Quando X possui uma base enumerável, dizemos que X satisfaz o segundo axioma
de enumerabilidade.
(c) Dizemos que X é separável ou que satisfaz o terceiro axioma de enumerabilidade, se
possui um conjunto denso enumerável.
Exemplo 2.53. Seja (X, d) um espaço métrico. Para todo ponto x de X, temos que
{Bd (x, n1 ) : n = 1, 2, . . .} é um sistema fundamental de vizinhanças de x, logo X satisfaz o
primeiro axioma de enumerabilidade.
Exemplo 2.54. Considere a reta real com a topologia usual. Facilmente tem-se que Q é
denso em R, logo a reta real é separável. Além disso, {]r − n1 , r + n1 [: r ∈ Q, n = 1, 2, . . .} é
uma base que é enumerável. Portanto R satisfaz também o primeiro e o segundo axioma de
enumerabilidade. Note que {]a, b[: a < b e a, b ∈ Q} também é uma base enumerável de R.
Exemplo 2.55. Seja X um conjunto não-enumerável com a topologia cofinita. Então
nenhum ponto de X tem sistema fundamental de vizinhanças enumerável.
E 2.43. Mostre a afirmação do exemplo anterior. X é separável? O que acontece quando
X é um conjunto enumerável?
E 2.44. Considere o espaço definido no exercı́cio 2.23. Prove que somente o ponto x0
não tem sistema fundamental de vizinhanças que seja enumerável.
E 2.45. Prove que todo espaço que satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade satisfaz
também o primeiro.
E 2.46. Mostre que se X é enumerável e satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade,
então X também satisfaz o segundo axioma da enumerabilidade.
Proposição 2.56. Todo espaço topológico X satisfazendo o segundo axioma de enume-
rabilidade é separável.
Demonstração: Por hipótese, existe uma base de abertos B de X que é enumerável. Podemos
assumir, sem perda de generalidade, que cada elemento de B é não vazio. Logo, para cada
U ∈ B, podemos fixar um ponto xU pertencente a U . Claramente D = {xU : U ∈ B} é
um subconjunto enumerável de X e, para cada aberto U ∈ B, xU ∈ U ∩ D. Logo, segue do
exercı́cio 2.39, que D é um subconjunto denso. 

Veremos agora que a recı́proca da Proposição 2.56 vale no caso dos espaços métricos:
Proposição 2.57. Seja X um espaço topológico associado a uma métrica d. Então X
satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade se e somente se X é separável.
5. AXIOMAS DE ENUMERABILIDADE. 21

Demonstração: (⇒) Segue da Proposição 2.56.


(⇐) Suponhamos que X é separável e seja D um subconjunto enumerável denso de X.
Vamos mostrar que a famı́lia B = {Bd (x, n1 ) : x ∈ D e n = 1, 2, . . .} é uma base de abertos
de X. Seja y ∈ X e U uma vizinhança aberta de y. Como as bolas abertas de centro y
formam uma base para o ponto y, existe um ǫ > 0 tal que Bd (y, ǫ) ⊆ U . Seja m um inteiro
positivo tal que m2 < ǫ. Como D é denso, existe um ponto x ∈ D tal que x ∈ Bd (y, m1 ).
Como d(x, y) = d(y, x), temos que y ∈ Bd (x, m1 ). Além disso, se z ∈ Bd (x, m1 ), então
d(y, z) ≤ d(y, x) + d(x, z) < m1 + m1 < ǫ, ou seja z ∈ Bd (y, ǫ). Logo Bd (x, m1 ) ⊆ Bd (y, ǫ).
Então y ∈ Bd (x, m1 ) ⊆ Bd (y, ǫ) ⊆ U . Como y e U eram arbitrários temos que B é uma base
de abertos de X. Como B é enumerável (pois D é enumerável), temos que X satisfaz o
segundo axioma de enumerabilidade. 

Vimos anteriormente que o conjunto dos racionais é denso na reta de Sorgenfrey e por-
tanto ela é separável. Temos também que ela satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade
pois, para cada x ∈ RS , a famı́lia {[x, x + n1 [}∞
n=1 é uma base enumerável para o ponto x.
Veremos agora que a reta de Sorgenfrey não satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade.
Isto mostra que a proposição acima não vale para espaços topológicos arbitrários, mesmo
que estes satisfaçam o primeiro axioma de enumerabilidade.
Teorema 2.58. A reta de Sorgenfrey não satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade.
Demonstração: Suponhamos por contradição que B seja uma base enumerável para RS .
Como B é uma base, para cada x ∈ RS , podemos fixar um aberto Ux ∈ B tal que x ∈
Ux ⊆ [x, x + 1[. Note que Ux 6= Uy , sempre que x 6= y. De fato, se x 6= y, sem perda
de generalidade, podemos assumir que x < y. Como Uy ⊆ [y, y + 1[, teremos que x ∈ / Uy .
Portanto, Ux \ Uy 6= ∅.
Podemos então construir uma função injetora do conjunto dos reais no conjunto B, o que
é uma contradição, pois não existe uma função injetora de um conjunto não enumerável num
conjunto enumerável. 
Teorema 2.59. Para um espaço topológico X satisfazendo o segundo axioma de enume-
rabilidade, cada base B contém uma subcoleção enumerável que forma uma base.
Demonstração: Como X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade, podemos fixar uma
base enumerável B0 para X. Seja B uma base qualquer para X.
Seja D o conjunto de todos os pares ordenados (U, V ) tais que U e V são elementos de
B0 e existe um aberto W ∈ B tal que U ⊆ W ⊆ V . Para cada par (U, V ) ∈ D, fixemos
um aberto W (U, V ) ∈ B tal que U ⊆ W (U, V ) ⊆ V . Como D é enumerável, claramente
a famı́lia W = {W (U, V ) : (U, V ) ∈ D} é um conjunto enumerável. Para terminarmos a
demonstração, é suficiente mostrar que W é uma base de abertos para X.
Seja x ∈ X e V uma vizinhança aberta de x. Como B0 é uma base, existe V0 ∈ B0 tal
que x ∈ V0 ⊆ V e como B é uma base, existe W0 ∈ B tal que x ∈ W0 ⊆ V0 . Usando nova-
mente que B0 é uma base, temos que existe U0 ∈ B0 tal que x ∈ U0 ⊆ W0 ⊆ V0 . Portanto,
(U0 , V0 ) ∈ D e x ∈ U0 ⊆ W (U0 , V0 ) ⊆ V0 ⊆ V . Mostramos então que existe W ∈ W tal que
x ∈ W ⊆ V . Como x e V eram arbitrários, concluı́mos que W é uma base de X. 

Definição 2.60. Uma sequência em X é uma enumeração {xn : n ∈ N} tal que xn ∈ X,


para cada n ∈ N. Dizemos que uma sequência {xn : n ∈ N} converge para x, se, para cada
vizinhança V de x, o conjunto {n ∈ N : xn ∈
/ V } é finito.
22 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

E 2.47. Verifique que uma sequência {xn : n ∈ N} converge para x se, e somente se, para
cada vizinhança V de x, existe n0 , tal que xn ∈ V , para todo n ≥ n0 .
E 2.48. Verifique que se X é a reta real, então a definição de convergência de sequências
coincide com a definição dada nos cursos de Cálculo.
E 2.49. Seja X um espaço topológico que satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade.
Mostre que, para cada ponto x ∈ X, existe uma base {Bn : n ∈ N} no ponto x tal que
Bn+1 ⊆ Bn , para todo n ∈ N.
Proposição 2.61. Sejam X um espaço topológico que satisfaz o primeiro axioma de
enumerabilidade e A um subconjunto de X. Mostre que, se x ∈ A, então existe uma sequência
{xn : n ∈ N} em A (i.e., xn ∈ A, para todo n ∈ N) convergindo para x.
Demonstração: Seja x ∈ A. Fixemos B = {Bn : n ∈ N} uma base de abertos no ponto x
dada pelo exercı́cio anterior. Pela proposição 2.44, temos que Bn ∩ A 6= ∅, sempre que n ∈ N.
Fixemos xn ∈ Bn ∩ A, para cada n ∈ N. Vejamos que {xn : n ∈ N} converge para x. Seja
V uma vizinhança de x. Como B é base de abertos no ponto x, temos que Bn0 ⊆ V , para
algum n0 ∈ N. Logo xn ∈ Bn ⊆ Bn0 ⊆ V , para todo n ≥ n0 . 
E 2.50. Mostre que a recı́proca da proposição anterior vale, mesmo quando o espaço não
satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade, ou seja, se A ⊆ X e {xn : n ∈ N} é uma
sequência em A convergindo para x, então x ∈ A.

6. Funções contı́nuas.
A noção de função contı́nua de R em R ou em espaços métricos é definida em termos de
ǫ’s e δ’s, logo, pode parecer que esta noção não tenha um análogo em espaços topológicos.
Vamos definir agora a continuidade de uma função para espaços topológicos arbitrários e
veremos que esta noção é equivalente à noção já conhecida para espaço topológico associado
a uma métrica.
Definição 2.62. Sejam X e Y espaços topológicos e seja f uma função de X em Y .
Dizemos que f é contı́nua no ponto x se para cada vizinhança V de f (x) existe uma vizi-
nhança U de x tal que f (U ) ⊆ V . Dizemos que f é contı́nua (em um conjunto A) se f é
contı́nua em todo ponto x ∈ X (em todo x ∈ A).
A demonstração da seguinte proposição fica como exercı́cio:
Proposição 2.63. Sejam X e Y espaços topológicos e seja f uma função de X em Y .
São equivalentes:
(i) f é contı́nua em x;
(ii) para cada vizinhança aberta V de f (x) existe uma vizinhança aberta U de x tal que
f (U ) ⊆ V ;
(iii) se Bx e Df (x) são bases para os pontos x e f (x), respectivamente, então, para cada
V ∈ Df (x) existe um U ∈ Bx tal que f (U ) ⊆ V .
O próximo exemplo mostra que a definição de continuidade, dada acima, coincide com a
de espaços métricos, quando X é um espaço métrico.
6. FUNÇÕES CONTÍNUAS. 23

Exemplo 2.64. Sejam (X, d) e (Y, d′ ) dois espaços métricos e sejam T e T ′ as topologias
associadas à d e d′ respectivamente. Para cada x ∈ X, seja Bx o conjunto de todas as bolas
abertas de centro x e para cada y ∈ Y , seja Dy o conjunto de todas as bolas abertas de
centro y. Pela equivalência da proposição anterior, uma função f de X em Y é uma função
contı́nua do espaço topológico (X, T ) no espaço topológico (Y, T ′ ) se e somente se para cada
x ∈ X e para cada bola de centro f (x) e raio ǫ > 0, existe uma bola de centro x e raio δ > 0
tal que f (Bd (x, δ)) ⊆ Bd′ (f (x), ǫ). Isto equivale a dizer que para cada ponto x ∈ X e para
cada ǫ > 0 existe δ > 0 tal que para cada y ∈ X se d(x, y) < δ então d′ (f (x), f (y)) < ǫ.
Proposição 2.65. Seja (X, T ) e (Y, T ′ ) dois espaços topológicos. Uma função f de X
em Y é contı́nua se e somente se f −1 (U ) ∈ T , para cada U ∈ T ′ , isto é, a imagem inversa
de um aberto de Y é um conjunto aberto de X.
Demonstração: (⇒) Seja U ∈ T ′ . Dado x ∈ f −1 (U ), temos que existe Vx ∈ T , vizinhança
de x, tal que f (Vx ) ⊆ U , já
S que f é contı́nua em x. Portanto Vx ⊆ f −1 f (Vx ) ⊆ f −1 (U ) e
então segue que f (U ) = {Vx : x ∈ f (U )}. Logo f −1 (U ) ∈ T .
−1 −1

(⇐) Sejam x ∈ X e U ∈ T ′ , tais que f (x) ∈ U . Então x ∈ f −1 (U ) e f −1 (U ) ∈ T . Logo


f −1 (U ) é um vizinhança aberta de x e f (f −1 (U )) ⊆ U . 

A proposição acima nos fornece uma equivalência de continuidade que em geral é mais
fácil de lembrar e que é frequentemente usada. Note que ela trata diretamente da continui-
dade “global”, ou seja não precisamos primerio definir a continuidade num ponto particular
para depois definir a continuidade da função no domı́nio.
Proposição 2.66. Para uma função f de um espaço topológico X num espaço topológico
Y , as seguintes condições são equivalentes:
(i) a função f é contı́nua.
(ii) a imagem inversa de cada aberto em uma base B de Y é aberta em X.
(iii) a imagem inversa de cada fechado de Y é um fechado de X.
E 2.51. Demonstre a proposição anterior.
E 2.52. Seja f : X −→ Y . Mostre que as seguintes afirmações são equivalentes:
(i) a função f é contı́nua;
(ii) para cada A ⊆ X temos f (A) ⊆ f (A);
(iii) para cada B ⊆ Y temos f −1 (B) ⊆ f −1 (B).
Exemplo 2.67. Se X é um espaço topológico munido da topologia discreta então para
todo espaço topológico Y , qualquer função f de X em Y é contı́nua.
Exemplo 2.68. Se Y é um espaço topológico munido da topologia caótica, então para
cada espaço topológico X, toda função f de X em Y é contı́nua.
Exemplo 2.69. Seja R a reta real com a topologia usual e RS a reta de Sorgenfrey.
Defina a função f de RS em R por f (x) = [x], para todo x ∈ RS , onde [x] é o maior inteiro
≤ x. Temos então que f é uma função contı́nua.
E 2.53. Mostre que a função f do exemplo acima é contı́nua.
E 2.54. Seja X o espaço definido no exercı́cio 2.23 e f uma função contı́nua qualquer
de X em R. Mostre que existe um subconjunto enumerável X0 de X tal que para cada
24 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

x ∈ X \ X0 , temos f (x) = f (x0 ), ou seja, a menos de um conjunto enumerável, a função f


é igual a função constante de valor f (x0 ). (Dica: A imagem inversa por f de um ponto é
fechada)
Teorema 2.70. Seja f uma função contı́nua sobrejetora de um espaço topológico X em
um espaço topológico Y . Então se D é um subconjunto denso de X, o conjunto f (D) é um
subconjunto denso de Y .
Demonstração: Seja D um subconjunto denso de X. Para mostrarmos que f (D) é denso em
Y , é suficiente mostrar que para cada aberto não vazio V de Y , o conjunto f (D) ∩ V é não
vazio.
Seja V um aberto não vazio de Y . Como f é contı́nua, temos que f −1 (V ) é um aberto
de X. Temos ainda que f −1 (V ) 6= ∅, pois f é sobrejetora. Portanto, como D é denso em X,
temos que existe x ∈ D ∩ f −1 (V ). Então f (x) ∈ f (D) ∩ f (f −1 (V )) ⊆ f (D) ∩ V e portanto
f (D) ∩ V é não vazio. Como V era um aberto arbitrário de Y , f (D) é denso em Y . 
Corolário 2.71. Seja f uma função contı́nua sobrejetora de X em Y . Se X é separável,
então Y também é separável.
Note que o mesmo tipo de resultado não é verdade em geral para os outros axiomas de
enumerabilidade. Tente achar exemplos.
E 2.55. Sejam T1 e T2 duas topologias em um conjunto X. Mostre que a função identidade
idX (x) = x do espaço topológico (X, T1 ) no espaço topológico (X, T2 ) é contı́nua se, e somente
se, T2 ⊆ T1 .
E 2.56. Mostre que a composta de funções contı́nuas é contı́nua.
E 2.57. Seja X um conjunto infinito com a topologia cofinita. Mostre que se f é uma
função sobrejetora de X em X, então f é contı́nua se, e só se, f −1 ({x}) é finito, para todo
x ∈ X.

7. Axiomas de separação.
A definição de espaço topológico é muito geral e isso leva a ter poucos resultados de
interesse que valem para todos os espaços topológicos. Por outro lado, assumir que o espaço
topológico está associado a uma métrica, por exemplo, é uma restrição muito grande. Os
axiomas de separação consideram diferentes possibilidades para separar pontos e fechados.
Definição 2.72. Um espaço topológico X é chamado de espaço T0 se para cada dois
pontos x1 , x2 ∈ X distintos, existe um aberto que contém apenas um desses pontos.
A topologia caótica num conjunto com mais de um ponto é um exemplo de uma topologia
que não é T0 .
E 2.58. Seja X um espaço topológico. Mostre que X é T0 se, e somente se, para cada
x, y ∈ X distintos e para cada Bx e By , bases de abertos dos pontos x e y respectivamente,
temos Bx 6= By .
E 2.59. Mostre que um espaço topológico X é T0 se, e somente se, {x} 6= {y}, sempre
que x 6= y.
7. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO. 25

Definição 2.73. Seja X um espaço topológico. Dizemos que X é um espaço T1 se para


cada dois pontos x, y ∈ X distintos, existe uma vizinhança de x que não contém y.
Note que na definição de espaço T0 era suficiente que um dos pontos tivesse uma vizi-
nhança que não contivesse o outro ponto. No caso de espaço T1 cada um dos dois pontos
deve ter uma vizinhança que não contém o outro ponto.
Exemplo 2.74. Seja X um conjunto com mais de um ponto e fixemos um ponto x0 em
X. Para cada x ∈ X \ {x0 } definimos Bx = {{x}} e para o ponto x0 , definimos Bx0 = {X}.
Temos que {Bx }x∈X satisfaz as propriedades (1) e (2) da proposição 2.34 e portanto gera
uma topologia em X. Na topologia gerada pela famı́lia {Bx }x∈X , o espaço X é T0 mas não
é T1 .
E 2.60. Mostre as afirmações feitas no exemplo acima.
A seguinte caracterização de espaços T1 é muito usada:
Proposição 2.75. Seja X um espaço topológico. Então as seguintes afirmações são
equivalentes:
(i) X é um espaço T1 .
(ii) para cada ponto x de X, o conjunto {x} é fechado.
Demonstração:
(i) ⇒ (ii). Seja x um ponto de X e vamos mostrar que X \ {x} é um conjunto aberto.
De fato, se y ∈ X \ {x}, então y é um ponto distinto de x. Pela definição de T1 , temos que
existe um aberto U que contém y mas não contém x. Logo, y ∈ U ⊆ X \ {x}. Como o ponto
y era arbitrário, o conjunto X \ {x} é aberto e portanto {x} é fechado.
(ii) ⇒ (i). Sejam x e y dois pontos distintos de X. Como {x} e {y} são fechados, X \ {x}
e X \ {y} são conjuntos abertos. Portanto existe uma vizinhança de x não contendo y e
existe uma vizinhança de y não contendo x. 

E 2.61. Seja X um espaço topológico. Mostre que as seguintes afirmações são equivalen-
tes:
(i) X é um espaço T1 .
T (ii) para cada ponto x de X existe uma famı́lia Ux de vizinhanças abertas de x tal que
Ux = {x}. T
(iii) para cada ponto x de X e para cada base Bx de x, temos Bx = {x}.

Definição 2.76. Um espaço topológico X é T2 , ou de Hausdorff, se para cada par de


pontos distintos x, y ∈ X existem vizinhanças U de x e V de y tais que U ∩ V = ∅.
É fácil ver que todo espaç de Hausdorff é T1 .
Exemplo 2.77. Seja X um conjunto infinito com a topologia cofinita. Fica como
exercı́cio verificar que T é uma topologia T1 que não é T2 .
E 2.62. Verifique que um espaço topológico X é de Hausdorff se, e somente se, para cada
ponto x de X, a intersecção de todas as vizinhanças fechadas de x é o conjunto {x}.
E 2.63. Seja X um espaço métrico com a topologia associada a métrica. Mostre que X
é um espaço T2 .
26 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

O próximo resultado será utilizado posteriormente:


Teorema 2.78. Para cada par f, g de funções contı́nuas de um espaço topológico X em
um espaço de Hausdorff Y , o conjunto {x ∈ X : f (x) = g(x)} é um subconjunto fechado
de X.
Demonstração: Vamos mostrar que o conjunto A = {x ∈ X : f (x) 6= g(x)} é aberto. Seja
x ∈ A. Como f (x) 6= g(x) e Y é de Hausdorff, existem abertos U contendo f (x) e V
contendo g(x) tais que U ∩ V = ∅. Pela continuidade de f , temos que f −1 (U ) e g −1 (V ) são
vizinhanças abertas de x e portanto W = f −1 (U ) ∩ g −1 (V ) é uma vizinhança aberta de x.
Resta mostrar que W ⊆ A. De fato, se y ∈ W , então temos que f (y) ∈ U e g(y) ∈ V . Como
U ∩ V = ∅, segue que f (y) 6= g(y) e portanto y ∈ A.
Como x ∈ A foi escolhido arbitrariamente, o conjunto A é aberto e portanto X \ A =
{x ∈ X : f (x) = g(x)} é fechado. 
Proposição 2.79. Sejam g e h duas funções contı́nuas de um espaço topológico X em
um espaço topológico Hausdorff Y e seja D um conjunto denso em X. Se g ↾ D = h ↾ D,
então g = h.
Demonstração: Se g ↾ D = h ↾ D, então D ⊆ {x ∈ X : g(x) = h(x)}. Pelo teorema 2.78,
temos que {x ∈ X : g(x) = h(x)} é um conjunto fechado, portanto X = D ⊆ {x ∈ X :
g(x) = h(x)}, ou seja, g = h. 

Definição 2.80. Seja X um espaço topológico. Dizemos que X é T3 se para cada x ∈ X


e cada fechado F ⊆ X tal que x ∈
/ F existem abertos U contendo x e V contendo F tais que
U ∩ V = ∅. Dizemos que X é um espaço regular se X é T1 e T3 .
Todo espaço regular é T2 pois assumimos explicitamente a propriedade T1 (e portanto
todo ponto é fechado). Sem assumir a propriedade T1 na definição, o espaço caótico satisfaz
a propriedade de regularidade e não é T1 . Para alguns autores (por exemplo o Engelking),
regular e T3 são a mesma propriedade e ambas incluem T1 .
Proposição 2.81. Um espaço X é T3 se e somente se para cada x ∈ X e para cada
vizinhança aberta W de x existe uma vizinhança aberta U de x tal que U ⊂ W .
Demonstração: Primeiro suponha que X é T3 . Seja x ∈ X e W uma vizinhança aberta de
x. Então X \ W é um fechado não contendo x e portanto existem abertos U contendo x e
V contendo X \ W tais que U ∩ V = ∅. Logo U ⊆ X \ V e como X \ V é fechado, temos
que U ⊆ X \ V . Além disso, temos que X \ V ⊆ X \ (X \ W ) = W e portanto U ⊆ W .
Para mostramos a recı́proca, seja x ∈ X e F um fechado que não contém x. Então X \ F
é uma vizinhança aberta de x, logo por hipótese, existe um aberto U tal que x ∈ U ⊆ U ⊆
X \ F . Note que X \ U é um aberto contendo X \ (X \ F ) = F . Além disso, U ∩ (X \ U ) = ∅,
portanto X é T3 . 
Corolário 2.82. Um espaço X é T3 se, e somente se, todo ponto x em X tem um
sistema fundamental de vizinhanças fechadas.
Demonstração: Seja Bx uma base de abertos de x em X e defina Vx = {B : B ∈ Bx }. Pela
proposição anterior, temos que Vx é um sistema fundamental de vizinhanças de x. 
E 2.64. Seja X um espaço métrico com a topologia associada a métrica. Mostre que X
é um espaço T3 .
7. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO. 27

Vamos agora dar um exemplo de um espaço Hausdorff que não é regular:


Exemplo 2.83. Seja X o conjunto dos números reais e seja Z o conjunto { n1 : n =
1, 2, . . .}. Para cada x em X seja Bx a seguinte famı́lia de subconjuntos de X:

{]x − 1i , x + 1i [: i = 1, 2 . . .}

se x 6= 0
Bx =
{]x − 1i , x + 1i [\Z : i = 1, 2 . . .} se x = 0
Note que {Bx }x∈X satisfaz as propriedades (1) e (2) da proposição 2.34 e que o espaço
X com a topologia gerada pelo sistema de vizinhanças abertas {Bx }x∈X é Hausdorff.
Vamos verificar agora que X nesta topologia não é regular. De fato, o conjunto Z é um
fechado de X que não contém 0. Fica a cargo do leitor verificar que qualquer aberto de X
contendo 0 tem intersecção não vazia com um aberto contendo Z.

Definição 2.84. Seja X um espaço topológico. Dizemos que X é um espaço T4 se para


cada par de fechados F e G disjuntos, existem abertos disjuntos U e V contendo F e G
respectivamente. Se X é T1 e T4 dizemos que X é um espaço normal.
Um espaço normal é um espaço regular. Como anteriormente, alguns autores colocam
normal e T4 como a mesma propriedade, onde ambas incluem a propriedade T1 .
Analogamente ao caso dos espaços regulares, temos a seguinte proposição:
Proposição 2.85. Um espaço X é T4 se, e somente se, para cada par de fechados
disjuntos A e B existe um aberto U tal que A ⊆ U ⊆ U ⊆ X \ B.
Demonstração: Exercı́cio. 

Ainda iremos definir uma classe de espaços intermediária, entre os espaços regulares e
os espaços normais, portanto não veremos agora um exemplo de espaço regular que não é
normal.
Veremos depois que os reais e o intervalo [0, 1] são espaços normais. Na verdade, todos
os espaços métricos são espaços normais. Vamos primeiro mostrar que:
Exemplo 2.86. A reta de Sorgenfrey é um espaço normal.
De fato, sejam A e B dois fechados disjuntos de RS . Para cada a ∈ A, fixemos um aberto
[a, x(a)) cuja intersecção com B é vazia. Analogamente, para cada b ∈ B, fixemos um aberto
[b, x(b)) cuja intersecção com A é vazia. Sejam
[ [
U= [a, x(a)) e V = [b, x(b)).
a∈A b∈B

Então U é um aberto contendo A e V é um aberto contendo B. Para concluirmos a


demonstração de que a reta de Sorgenfrey é normal, basta mostrarmos que U ∩ V = ∅.
Suponhamos por contradição que existe y ∈ U ∩ V . Então existe a ∈ A e b ∈ B tal que
a ≤ y < x(a) e b ≤ y < x(b). Temos dois casos a considerar: a < b ou b < a. Ambos os
casos são análogos, portanto vamos assumir que a < b. Então temos a < b ≤ y < x(a), ou
seja b ∈ [a, x(a)) ∩ B, contradizendo a escolha de x(a). Portanto U ∩ V = ∅.
Teorema 2.87. Todo espaço regular satisfazendo o segundo axioma de enumerabilidade
é normal.
28 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Demonstração: Seja X um espaço nas condições acima e sejam A e B dois fechados disjuntos
de X. Fixemos uma base enumerável de abertos B. Pela regularidade de X, para cada a ∈ A,
existe uma vizinhança aberta Ua de a tal que Ua ∈ B e Ua ∩ B = ∅.
Como B é enumerável, podemos fixar uma famı́lia {Un : n ∈ N} de abertos de B tal
que para cada a ∈ A,Sexiste n ∈ N tal que Ua = Un . Temos então uma famı́lia de abertos
{Un : n ∈ N} tal que ∞ n=0 Un ⊇ A e para cada n ∈ N temos que Un ∩ B = ∅.

S∞ Analogamente, podemos encontrar uma famı́lia de abertos {Vn : n ∈ N} tal que


n=0 Vn ⊇ B e para S cada n ∈ N temos que Vn ∩ A = ∅.
Seja Un = Un \ ( nm=0 Vm ). Como cada Snm=0 Vm é fechado, Un∗ é um conjunto aberto,

S
para todo n ∈ N,S∞e portanto o conjunto U = S∞ ∗
n=0 Un é aberto. S∩
Note que A Un = A ∩ Un∗
∞ S∞ ∞
e queSA = A ∩ n=1 Un . Portanto A = A ∩ n=1 Un = n=1 (A ∩ Un ) = n=1 (A ∩ Un∗ ) =
A∩ ∞ ∗
n=1 Un = A ∩ U . Logo, A ⊆ U .
Seja Vn = Vn \ ( m=0 Um ) e V = ∞

Sn S ∗
n=0 Vn . Analogamente, teremos que V é um aberto
contendo B.
Para terminarmos a demonstração, falta apenas verificar que U ∩ V = ∅. ParaSisso basta
mostrar que Un∗ ∩ Vm∗ = ∅ para todo n 6= m. De fato, se n ≤ m, então, Vm∗ = Vm \ ( m
i=0 Ui ) ⊆

Vm \ Un ⊆ X \ Un ⊆ X \ Un . De modo análogo, podemos mostrar que a intersecção é vazia
se m ≤ n. 
Corolário 2.88. A reta real R e o intervalo [0, 1] com a topologia induzida pela métrica
usual são espaços normais.
Teorema 2.89. Todo espaço enumerável regular é normal.
Demonstração: Basta adaptarmos a demonstração acima. Como antes, para cada ponto de
um dos fechados, podemos achar uma vizinhanca cujo fecho não intercepta o outro fechado.
Como o espaço é enumerável, uma quantidade enumerável de abertos será suficiente para
cobrir os fechados e portanto poderemos encontrar abertos disjuntos contendo os fechados.
Os detalhes ficam como exercı́cio. 

A idéia das duas demonstrações anteriores aparecem em outras demonstrações e podem


ser usadas para mostrar:
E 2.65. Seja X um espaço topológico. Suponha que para quaisquer
S fechados S
F e K de
X, existem famı́lias de abertos {Un }n∈N e {Vn }n∈N tais que F ⊆ n∈N Un , K ⊆ n∈N Vn e
além disso para cada n ∈ N, Un ∩ K = ∅ e Vn ∩ F = ∅. Mostre que X é T4 .

O principal resultado desta seção talvez seja:


Teorema 2.90. (Lema de Urysohn) Seja X um espaço T4 . Então para cada par de
fechados disjuntos A e B de X, existe uma função contı́nua f : X −→ [0, 1] tal que f (x) = 0,
para cada x ∈ A, e f (x) = 1, para cada x ∈ B.
Demonstração: Sejam A e B dois fechados disjuntos de X. Seja Q o conjunto de todos os
racionais no intervalo [0, 1] e seja {qn : n ∈ N} uma enumeração de Q tal que q0 = 0, q1 = 1
e para cada n, m ∈ N distintos, temos qn 6= qm .
Iremos primeiro definir indutivamente uma sequência de abertos {Un : n ∈ N} satisfa-
zendo as seguintes propriedades:
(i) A ⊆ Un ⊆ Un ⊆ X \ B, para todo n ∈ N;
7. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO. 29

(ii) para cada n, m ∈ N se qn < qm , então Un ⊆ Um .


Como X é T4 , existe um aberto U tal que A ⊆ U ⊆ U ⊆ X \ B. Então podemos tomar
U0 = U e claramente as propriedades (i) e (ii) estarão satisfeitas.
Vamos agora escolher U1 . Pelo fato de X ser T4 e pelo fato de que U0 ⊆ X \ B, existe
um aberto U1 tal que U0 ⊆ U1 ⊆ U1 ⊆ X \ B. Como q0 < q1 , temos que (i) e (ii) estão
satisfeitas.
Suponhamos por hipótese de indução que k > 1 e que já estão definidos {U0 , . . . , Uk−1 }
satisfazendo as condições (i) e (ii) acima. (Caso haja alguma dificuldade, sugerimos ao leitor
tentar primeiro assumir que k = 2, para melhor visualizar o que faremos a seguir.) Temos
que escolher Uk satisfazendo (i) e (ii).
Seja i ∈ {0, . . . , k − 1} tal que qi = maxM , onde M = {qm : 0 ≤ m < k e qm < qk },
i.e. qi é o maior racional de {q0 , . . . , qk−1 } menor que qk . Note que como q0 = 0, o conjunto
M é não vazio, portanto i está bem definido. Analogamente, seja j ∈ {0, . . . , k − 1} tal
que qj = minN , onde N = {qn : 0 ≤ n < k e qn > qk }, i.e. qj é o menor racional de
{q0 , . . . , qk−1 } maior que qk . Como q1 = 1, N é não vazio e j está bem definido.
Obeserve que pela escolha de i e j, temos qi < qj . Pela condição (ii) da hipótese de
indução, temos então que Ui ⊆ Uj . Logo, por X ser T4 , existe um aberto Uk tal que
Ui ⊆ Uk ⊆ Uk ⊆ Uj .
Resta apenas verificar que as condições (i) e (ii) estão satisfeitas:
Temos (i), pois por hipótese de indução, A ⊆ Ui e Uj ⊆ B e escolhemos Uk de modo que
Ui ⊆ Uk ⊆ Uk ⊆ Uj .
Para checarmos (ii), é suficiente considerarmos os casos m = k ou n = k, pois os outros
casos valem pela hipótese de indução. Suponhamos que n < k e qn < qk (se qn > qk é analogo
e fica como exercı́cio). Vamos primeiro mostrar que Un ⊆ Ui , para i definido acima. Se i = n
não há nada a fazer. Se i 6= n, qn < qi pela definição de i. Logo, pela hipótese de indução,
temos que Un ⊆ Ui ⊆ Ui .
Pela definição de Uk , segue que Un ⊆ Ui ⊆ Uk . Portanto a condição (ii) está satisfeita e
terminamos assim a construção da sequência {Un : n ∈ N}.
Vamos agora definir a função f usando essa sequência.
Para cada x ∈ X defina

f (x) = inf ({qn : x ∈ Un } ∪ {1}).

Mostraremos que f é a função procurada. Primeiro note que, como 0 ≤ qn ≤ 1, para cada
n ∈ N, temos que f (x) ∈ [0, 1].
Se x ∈ A, pela propriedade (i), temos que x ∈ Un , para todo n ∈ N. Portanto f (x) =
inf {q : q ∈ Q} = 0, para cada x ∈ A. Por outro lado, se x ∈ B, pela propriedade (ii), temos
que x ∈ / Un , para cada n ∈ N. Logo, f (x) = inf (∅ ∪ {1}) = 1, para cada x ∈ B. Então resta
apenas verificar que f é uma função contı́nua.
Pela equivalência (ii) da Proposição 2.66, basta mostrar que imagem inversa de cada
aberto em uma base B de [0, 1] é aberta. Como para todo 0 < a < b < 1, (a, b) = [0, b)∩(a, 1],
é suficiente mostrar que f −1 [0, b) e f −1 (a, 1] são abertos, para cada b tal que 0 < b ≤ 1 e
para cada a tal que 0 ≤ a < 1.
Vamos primeiro mostrar que f −1 [0, b) é aberto. Pela definição de f , temos que x ∈
−1
f [0, b) se, e somente se, f (x) = inf ({qn : x ∈ Un } ∪ {1}) < b. Mas isso acontece se, e
somente se, existe qn < b tal que x ∈ Un . Podemos concluir então que x ∈ f −1 [0, b) se, e
30 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

somente se, x ∈ {Un : qn < b}, ou seja, f −1 [0, b) = {Un : qn < b}. Como cada Un é
S S
aberto e união de conjuntos abertos é aberto, temos que f −1 [0, b) é aberto.
Resta apenas mostrar que f −1 (a, 1] é aberto. Se x ∈ f −1 (a, 1], então f (x) > a, o
que implica que existe qn e qm tais que a < qn < qm e x ∈ / Um . Mas qn < qm implica
que Un ⊆ USm . Portanto temos que x ∈ / Un , ou seja x ∈
S \ Un . Mostramos então que
X
−1
f (a, 1] ⊆ {X \ Un : qn > a}. Suponha agora que x ∈ {X \ Un : qn > a}. Temos então
que x ∈
/ Un (e portanto x ∈ / Un ), para algum qn > a. Como Um ⊆ Un se qm < qn , podemos
concluir que x ∈/ Um para todo qmS< qn . Logo, f (x) > a, ou seja, x ∈ f −1 (a, 1], pois qn > a.
Mostramos assim que f −1 (a, 1] = {X \ Un : qn > a} e portanto é aberto. 

Note que vale a recı́proca do Lema de Urysohn:


Proposição 2.91. Seja X um espaço tal que para cada par de conjuntos fechados dis-
juntos A e B existe uma função contı́nua f de X em [0, 1] tal que f (A) ⊆ {0} e f (B) ⊆ {1}.
Então X é um espaço T4 .
Demonstração: Exercı́cio. 
Observação 2.92. No enunciado acima, exigimos que f (A) ⊆ {0} e f (B) ⊆ {1}. Se ao
invés disso, tivéssemos exigido f −1 (0) = A e f −1 (1) = B a condição seria mais forte que T4 .
Iremos agora definir uma classe entre os espaços regulares e os espaços normais:
Definição 2.93. Dizemos que um espaço topológico X é T3 1 se para cada ponto x ∈ X
2
e cada fechado F não contendo x, existe uma função real f , contı́nua, tal que f (x) = 0 e
f (F ) ⊆ {1}. Se X é T1 e T3 1 dizemos que X é um espaço de Tychonoff ou é completamente
2
regular,
Como assumimos que espaços normais são T1 , temos que os pontos são fechados e por-
tanto, pelo lema de Urysohn, segue que todo espaço normal é completamente regular. Temos
também:
E 2.66. Mostre que todo espaço completamente regular é regular.
Os próximos dois exemplos mostram que: regular 6⇒ completamente regular 6⇒ normal.
Exemplo 2.94. Seja M0 = {(x, y) ∈ R2 : y ≥ 0}, z0 = (0, −1) e M = M0 ∪ {z0 }. Seja
L a reta y = 0 e para cada i = 1, 2 . . . seja Li = {(x, 0) : i − 1 ≤ x ≤ i}. Para cada ponto
z = (x, 0) ∈ L, definimos
A1 (z) = {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ y ≤ 2}
e
A2 (z) = {(x + y, y) ∈ R2 : 0 ≤ y ≤ 2}.
Se z ∈ M0 \ L, definimos por Bz o conjunto {{z}}. Se z ∈ L, definimos por Bz o conjunto
{(A1 (z) ∪ A2 (z)) \ F : F é um subconjunto finito de M0 que não contém z }. Finalmente,
se z = z0 , então definimos por Bz o conjunto {Ui : i = 1, 2, . . .}, onde para cada i = 1, 2, . . .,
Ui = {z0 } ∪ {(x, y) ∈ M0 : 0 ≤ y e x ≥ i}. Fica a cargo do leitor fazer a simples verificação
de que {Bz : z ∈ M } de fato gera uma topologia Hausdorff sobre M .
Vamos agora mostrar que M é um espaço regular. Se z ∈ M0 , então z possui uma
vizinhança que é aberta e fechada, portanto, basta verificarmos a regularidade para z0 e um
fechado não contendo z0 . Se F é um fechado não contendo z0 , existe uma vizinhança Ui0 de
7. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO. 31

z0 que é disjunta de F . Temos então que existe um aberto V contendo F que é disjunta da
vizinhança Ui0 +2 de z0 . Logo M é um espaço regular.
Para verificarmos que M não é um espaço Tychonoff, basta mostramos que se L1 é um
fechado que não contém o ponto z0 e f é uma função contı́nua tal que f (z) = 1 para cada
z ∈ L1 , então f (z0 ) = 1.
Primeiro vamos mostrar que, para cada i = 1, 2, . . .,
(*) o conjunto f −1 ({1}) ∩ Li é infinito.
Este fato será demonstrado por indução sobre i. Claramente (*) é válido para i = 1.
Suponhamos que (*) é válido para i ≤ k, onde k ≥ 1, e mostraremos que é válido para
i = k + 1. Seja Z um conjunto infinito enumerável de Lk tal que f (z) = 1, para cada z ∈ Z.
Analogamente ao exercı́cio 2.23, para cada ponto z ∈ Z, podemos mostrar que, para apenas
um número enumerável de pontos w em (A1 (z)∪A2 (z)), teremos f (w) 6= 1. Logo, W = {w ∈

S
z∈Z A2 (z) : f (w) 6= 1} é um conjunto enumerável. Seja L = {z ∈ Lk+1 : A1 (z) ∩ W 6= ∅},
isto é, o conjunto dos pontos da projeção de W na reta L que pertencem a Lk+1 . Então L′
também é enumerável. Portanto Lk+1 \ L′ é um conjunto infinito (não-enumerável).
Afirmamos que Lk+1 \ L′ ⊆ f −1 ({1}). De fato, seja z ′ ∈ Lk+1 \ L′ e F um subconjunto
finito de M0 que não contém z ′ .
Para cada z ∈ Z, temos que A2 (z) intercepta A1 (z ′ ) e para z’s distintos o ponto na
intersecção é distinto, pontanto, para apenas um subconjunto finito Z ∗ ⊆ Z, teremos que
A2 (z) ∩ F 6= ∅. Portanto para cada z ∈ Z \ Z ∗ , existe az ∈ A2 (z) ∩ (A1 (z ′ ) \ F ). Como
z′ ∈/ L′ , temos que f (az ) = 1. Portanto a imagem de toda vizinhança de z ′ contém o ponto
1. Logo, como o espaço é Hausdorff e f é contı́nua em z ′ , temos que f (z ′ ) = 1 (verifique!).
Com isto, temos que (*) vale para cada i = k + 1, e portanto, mostramos por indução
que (*) vale para cada i ∈ {1, 2, . . .}. Para mostrarmos que f (z0 ) = 1 basta agora notar que
a imagem de toda vizinhança de z0 pela f contém o ponto 1, logo segue da continuidade da
f em z0 que f (z0 ) deve ser 1.
Exemplo 2.95. O plano de Niemytzki é um espaço T3 1 que não é normal.
2
Como na definição do exemplo, denotaremos este espaço por L e a reta y = 0 por L1 ; é
fácil ver que L é um espaço de Hausdorff.
Se x ∈ L1 denotemos por Sn (x) o cı́rculo de raio n1 , contido em L, que é tangente à reta
L1 no ponto. Se x ∈ L \ L1 denotamos por Sn (x) a intersecção de L com o cı́rculo de centro
x e raio n1 .
Mostremos que L é T3 1 . Seja x ∈ L e F um fechado ao qual x não pertence; fixemos
2
n ∈ {1, 2, . . .} de modo que o cı́rculo de centro x e raio n1 esteja contido em L no caso de x
não pertencer a L1 . Para cada ponto y ∈ Sn (x) seja y ′ o único ponto da fronteira de Sn (x)
tal que y pertence ao segmento de extremidades x e y ′ . Vamos definir uma função fn de L
em [0, 1] do seguinte modo:

 0 para y = x

fn (y) = 1 para y ∈ L \ U1 (x)


 |xy| para y ∈ U1 (x) \ {x}
|xy ′ |

onde |ab| denota o comprimento do segmento de extremidades a e b. Note que a função está
bem definida. Fica a cargo do leitor verificar que a função é contı́nua.
Temos então que fn é uma função contı́nua tal que fn (x) = 0 e fn (F ) ⊆ {1}. Portanto
o espaço é Tychonoff.
32 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Vamos agora mostrar que L não é normal. Primeiro, note que L contém um subconjunto
enumerável denso D (por exemplo, o conjunto Q × (Q∩]0, ∞[)). Seja C o conjunto das
funções contı́nuas de L em R. Pela Proposição 2.79, podemos definir uma função injetora ϕ
que leva cada f ∈ C na função f ↾ D. Contudo, existe uma bijeção do conjunto das funções
de D em R no conjunto dos reais. Temos assim que existe uma função injetora do conjunto
C no conjunto dos reais.
Pela definição da topologia em L é fácil mostrar que todo subconjunto A de L1 é um
conjunto fechado (verifique!). Vamos assumir por contradição que L é um espaço normal.
Então, pelo Lema de Urysohn, para cada subconjunto A de L1 existe uma função contı́nua
fA de L em [0, 1] tal que fA (A) ⊆ {0} e fA (L1 \ A) ⊆ {1} (pois A e L1 \ A são fechados em
L). Note que se A 6= B, então fA 6= fB . Logo, temos uma função injetora do conjunto P(L1 )
de todos os subconjunto de L1 , para o conjunto C. Como L1 = R × {0}, temos uma bijeção
entre P(L1 ) e P(R). Além disso, vimos acima que existe uma função injetora do conjunto
C no conjunto dos reais. Fazendo a composta dessas funções, podemos concluir que existe
uma função injetora de P(R) em R, o que é uma contradição.
E 2.67. Seja (X, τ1 ) um espaço topológico. Suponha que τ2 seja outra topologia em X,
tal que τ1 ⊆ τ2 . Mostre que, se (X, τ1 ) é um espaço Ti , então (X, τ2 ) também será Ti , para
i = 0, 1, 2.
E 2.68. Verifique quais axiomas de separação o espaço topológico definido no exercı́cio
2.23 satisfaz.
E 2.69. Suponha X um conjunto não-vazio munido da topologia coenumerável. Mostre
que:
(i) X é sempre T1 .
(ii) X é T2 se, e só se, X é um conjunto enumerável.
E 2.70. Consideremos τ a topologia sobre o conjunto dos números reais R gerada por
B = {{x} : x ∈ Q} ∪ {((x − ǫ; x + ǫ) ∩ Q) ∪ {x} : x ∈ R \ Q, ǫ > 0}.
Mostre que este espaço topológico satisfaz T2 mas não satisfaz T3 .
E 2.71. Seja X um espaço de Hausdorff. Mostre que uma sequência {xn }n∈N de pontos
de X converge para, no máximo, um ponto de X.
E 2.72. Suponha X um conjunto não-vazio munido da topologia coenumerável. Mostre
que:
(i) X é sempre T1 .
(ii) X é T2 se, e só se, X é um conjunto enumerável.
(iii) Mostre que toda sequência de pontos de X converge para, no máximo, um ponto de
X.

8. Homeomorfismos. Funções abertas e fechadas. Topologia mais fina.


Topologias geradas por funções
Começaremos esta secção definindo a noção de homeomorfismo:
8. HOMEOMORFISMOS. FUNÇÕES ABERTAS E FECHADAS. TOPOLOGIA MAIS FINA. TOPOLOGIAS GERADAS P

Definição 2.96. Sejam hX, T i e hY, Oi dois espaços topológicos. Dizemos que uma
função bijetora f de X em Y é um homeomorfismo de hX, T i em hY, Oi se f e f −1 são
funções contı́nuas. Dois espaços topológicos são ditos homeomorfos quando existe um home-
ormorfismo entre eles.
E 2.73. Seja f uma bijeção de um espaço X no espaço Y . Verifique que são equivalentes:
(i) f é um homeomorfismo.
(ii) um subconjunto A de X é aberto se e somente se f (A) é aberto.
(iii) um subconjunto B de X é fechado se e somente se f (B) é fechado.
Fica a cargo do leitor verificar que ser homeomorfo é uma relação de equivalência(isto é,
é uma relação reflexiva, simétrica e transitiva).
Definição 2.97. Seja f uma função de X em Y . Então f é uma função aberta se a
imagem de todo aberto de X pela f é um aberto de Y . Dizemos que f é uma função fechada
se a imagem de todo fechado de X pela f é um fechado de Y .
E 2.74. Verifique que uma função contı́nua aberta (fechada) f de X em Y é um homeo-
morfismo se e somente se f é bijetora.
E 2.75. Uma propriedade topológica é uma propriedade que é preservada por homeomor-
fismos, ou seja, se um espaço X satisfaz uma propriedade P e Y é homeomorfo a X, então
Y também satisfaz P . Verifique que ser Ti , para i ∈ {0, 1, 2, 3, 3 12 , 4}, é uma propriedade
topológica.
Teorema 2.98. As propriedades T1 e T4 são preservadas por funções contı́nuas fechadas
e sobrejetoras.
Demonstração: Seja X um espaço T1 e f uma função contı́nua fechada de X sobre um espaço
Y . Para mostrarmos que Y é T1 , basta mostrar que para cada y ∈ Y temos {y} fechado.
Fixe y ∈ Y . Como f é sobrejetora, existe x ∈ X tal que f (x) = y. Mas X T1 implica que o
conjunto {x} é fechado. Portanto o conjunto f ({x}) = {y} é um conjunto fechado de Y .
Seja f uma função contı́nua fechada e sobrejetora de um espaço T4 X em um espaço Y .
Sejam F e G dois conjuntos fechados disjuntos de Y . Então f −1 (F ) e f −1 (G) são fechados
disjuntos de X, logo por X ser T4 temos que existem abertos disjuntos U e V tais que
f −1 (F ) ⊆ U e f −1 (G) ⊆ V . Como f é uma função fechada, f (X \ U ) e f (X \ V ) são
conjuntos fechados de Y . Portanto, Y \ f (X \ U ) e Y \ f (X \ V ) são abertos de Y . Note que
f −1 (Y \ f (X \ U )) ⊆ U (pois se x ∈/ U então x ∈ X \ U e assim f (x) ∈ f (X \ U ), ou seja
f (x) ∈/ Y \ f (X \ U )). Analogamente, f −1 (Y \ f (X \ V )) ⊆ V . Logo f −1 (Y \ f (X \ U )) ∩
f −1 (Y \f (X \V )) ⊆ U ∩ V = ∅. Como f é sobrejetora, Y \f (X \V ) ∩ Y \f (X \U ) = ∅. Para
concluı́rmos a demonstração, resta mostrarmos que F ⊂ Y \f (X \U ) e que G ⊆ Y \f (X \U ).
Vamos apenas mostrar a primeira relação, já que a segunda é análoga a primeira. Lembramos
que f −1 (F ) ⊆ U , portanto, f (X \ f −1 (F )) ⊇ f (X \ U ) e F ∩ f (X \ f −1 (F )) = ∅. Então
F ⊆ Y \ f (X \ f −1 (F )) ⊆ Y \ f (X \ U ). 
Observação 2.99. O fato acima não é válido para os outros axiomas de separação.
Veremos agora que os axiomas de separação não são preservados por funções abertas. De
fato, existe uma função aberta sobrejetora de um espaço normal no espaço caótico.
Exemplo 2.100. Sejam R a reta real com a topologia usual e D = {a, b} o espaço caótico
com dois pontos. Defina f de R em D por f (x) = a, para cada x ∈ Q, e f (x) = b, para
34 2. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

cada x ∈ R \ Q. Como D é um espaço caótico f é contı́nua. Por Q ser denso e co-denso,


a imagem de todo aberto de R pela f é o conjunto {a, b} que é aberto. Portanto f é uma
função aberta.

Definição 2.101. Seja X um conjunto e T e U duas topologias sobre X. Dizemos que


T é uma topologia mais fina que U (ou que U é uma topologia menos fina que T ) se T ⊇ U,
ou seja, todo aberto em (X, U) é aberto em (X, T ).
Exemplo 2.102. A topologia de Sorgenfrey é mais fina que a topologia usual da reta.
A topologia de Niemytzki é mais fina que a topologia do semi-plano superior induzida pela
métrica usual.
A topologia discreta sobre um conjunto X é mais fina do que qualquer outra topologia
sobre X. A topologia caótica sobre um conjunto X é menos fina do que qualquer outra
topologia sobre X.
E 2.76. Mostre que se X é um espaço T1 , então a topologia de X é mais fina do que a
topologia co-finita.
E 2.77. Sejam T1 e T2 duas topologias sobre um conjunto X tais que T1 ⊆ T2 . É verdade
que se (X, T1 ) é T0 , então (X, T2 ) também é? Mostre ou dê contra-exemplo. Verificar também
o que acontece com os outros axiomas de separação.

Seja f uma função de um conjunto X em um conjunto Y . Se considerarmos uma topologia


em Y , podemos ter várias topologias em X que tornam a função f contı́nua. Por exemplo,
a topologia discreta em X sempre torna f contı́nua. Entretanto, podemos considerar a
topologia menos fina entre as topologias que tornam f contı́nua.
E 2.78. Sejam X um conjunto, (Y, T ′ ) um espaço topológico e f : X → Y uma função.
Mostre que:
(i) {f −1 (U ) : U ∈ T ′ } é uma topologia sobre X.
(ii) Em relação à topologia acima, a função f é contı́nua em X.
(iii) Se T é uma topologia sobre X tal que f : (X, T ) → (Y, T ′ ) é contı́nua, então a
topologia definida em (i) está contida em T .
Definição 2.103. Sejam X um conjunto, Y um espaço topológico, f : X −→ Y uma
função e T = {f −1 (U ) : U é um aberto de Y }. A topologia T é chamada de topologia gerada
pela função f .
E 2.79. Seja f uma função contı́nua de X em Y . Mostre que f é fechada se, e só se,
f (A) = f (A), para todo A ⊆ X. Mostre que f é aberta se, e só se, f (IntA) ⊆ Intf (A),
para todo A ⊆ X. Mostre, ainda, que f é aberta se, e só se, f −1 (B) = f −1 (B), ou,
equivalentemente, Intf −1 (B) = f −1 (IntB), para todo B ⊆ Y ?
E 2.80. Seja f : R −→ R a função f (x) = x2 , para x ∈ R. Mostre que f é uma função
fechada que não é aberta.
E 2.81. Seja X um espaço topológico que satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade
e Y um espaço topológico. Se existe uma função f contı́nua, sobrejetora e aberta de X em
Y , então Y também satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade? Vale o mesmo resultado
para o segundo axioma de enumerabilidade?
CAPı́TULO 3

Operações sobre espaços topológicos.

Vamos ver neste capı́tulo como definir uma topologia “natural” em conjuntos relaciona-
dos com suportes de espaços topológicos pré-selecionados. Por exemplo, dado um espaço
topológico (X, T ), se Y é um subconjunto de X, podemos definir uma topologia para Y que
esteja relacionada à topologia de X.

1. Subespaços.
No capı́tulo 1 vimos:
Definição 3.1. Seja (X, T ) um espaço topológico e Y um subconjunto de X. Se O =
{Y ∩ U : U ∈ T }, então dizemos que (Y, O) é subespaço topológico de X, e que O é a
topologia induzida por X.
Vimos ainda a seguinte proposição:
Proposição 3.2. Seja X um espaço topológico e M um subespaço de X. Um conjunto
A ⊆ M é fechado em M se e somente se existe um fechado F de X tal que F ∩ M = A.
M X
Além disso, se A é um subconjunto de M , temos que A = A ∩ M .
Estudaremos nesta seção mais alguns resultados envolvendo subespaços:
E 3.1. Seja M um subconjunto de um espaço topológico X e seja iM : M −→ X a função
identidade em M , i.e., para cada x ∈ M temos iM (x) = x.
a) Mostre que se M é munido da topologia induzida por X, então iM é uma função
contı́nua.
b) Se T é a topologia em M gerada pela função iM , então T coincide com a topologia
induzida em M por X.
Definição 3.3. Dada uma função contı́nua f de X em Y e dado M um subespaço de
X, denotaremos por f ↾ M a função definida por f ↾ M (x) = f (x), para cada x ∈ M .
E 3.2. Verifique que f ↾ M é uma função contı́nua quando f é contı́nua.
E 3.3. Sejam X e Y dois espaços topológicos, e f : X −→ Y , uma função contı́nua.
Considere a topologia induzida em f (X) e verifique que f : X −→ f (X) é contı́nua.
E 3.4. Mostre que f : X −→ Y é contı́nua se, e só se, para todo x ∈ X, existe V ,
vizinhança de x, tal que f ↾ V é contı́nua.
E 3.5. Seja f : X −→ Y uma função contı́nua e fechada. Mostre que para qualquer
subespaço L ⊆ Y , f ↾ f −1 (L) : f −1 (L) −→ L é fechada. Mostre que o mesmo é verdade para
funções abertas contı́nuas.
35
36 3. OPERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS TOPOLÓGICOS.

Definição 3.4. Seja P uma propriedade topológica. Dizemos que P é hereditária (he-
reditária com respeito a subespaços fechados, abertos, etc...) se para cada espaço X, se X
satisfaz a propriedade P, então todo subespaço (respectivamente subespaço fechado, aberto,
etc...) de X satisfaz a propriedade P.
Proposição 3.5. As propriedades “satisfazer o primeiro axioma de enumerabilidade” e
“satisfazer o segundo axioma de enumerabilidade” são propriedades hereditárias.
Demonstração: Exercı́cio. 

Por outro lado, “ser separável” não é uma propriedade hereditária.


Exemplo 3.6. O plano de Niemytzki é um espaço separável que contém um subespaço
que não é separável: L1 é um subespaço discreto e não-enumerável do plano de Niemytzki.
Definição 3.7. Seja P uma propriedade topológica que não é hereditária. Diremos que
um espaço X é hereditariamente P se todo subespaço de X satisfizer P. Neste sentido,
usaremos termos como ‘hereditariamente separável’, ‘hereditariamente normal’, etc...
Por exemplo, a reta real R é hereditariamente separável. De fato, se X é um espaço
satisfazendo o segundo axioma de enumerabilidade, vimos acima que todo subespaço também
satisfaz este axioma e portanto, são separáveis. Mostramos assim que:
Proposição 3.8. Todo espaço que satisfaz o segundo axioma da enumerabilidade é he-
reditariamente separável.
E 3.6. Mostre que se X é um espaço topológico separável e Y é um subespaço aberto de
X, então Y também é separável, i.e. ser separável é hereditário para subespaços abertos.
E 3.7. Sejam Y um espaço topológico e D ⊆ X ⊆ Y . Suponhamos que D é denso em X
(com a topologia induzida por Y ) e que X é denso em Y . Mostre que D é denso em Y .
Vamos agora estudar como os axiomas de separação se comportam com relação aos
subespaços.
Teorema 3.9. Todo subespaço de um espaço Ti é, também, Ti , onde i = 0, 1, 2, 3, 3 21 .
Demonstração: Seja Y um subconjunto de um espaço X. Deixamos para o leitor a demons-
tração da hereditariedade de T0 e T1 . Vejamos que se X é T2 , então Y é T2 . Dados dois
pontos distintos, x e y, de Y , temos que existem U e V , abertos de X, tais que x ∈ U , y ∈ V
e U ∩ V = ∅. Sendo assim U ∩ Y e V ∩ Y são dois abertos de Y , disjuntos, que separam x e
y.
Nos casos T3 e T3 1 , sejam y ∈ Y e F um fechado de Y tal que y 6∈ F . Vimos que
2
X Y X
F ∩ Y = F = F . Portanto y não é um elemento de F , que é fechado em X. Se X é T3 ,
X
então existem abertos disjuntos de X que separam y e F . A intersecção desses abertos com
Y serão abertos disjuntos de Y que separam y e F . Se X é T3 1 , existe uma função contı́nua
2
X
f de X em [0, 1] tal que f (y) = 0 e f (F ) = {1}. Então h = f ↾ Y é uma função contı́nua
de Y em [0, 1] tal que h(y) = 0 e h(F ) = {1}. 

Se tentarmos repetir as idéias acimas para mostrar que a normalidade é hereditária


encontraremos um problema: podem existir subespaços contendo dois fechados disjuntos
1. SUBESPAÇOS. 37

cujos fechos em X não são disjuntos. Isso impossibilita o uso da normalidade de X para
obter abertos disjuntos. De fato existem exemplos que mostram que a normalidade não é
uma propriedade heriditária, mas não veremos esse exemplo agora. Porém é fácil mostrar
que:
Proposição 3.10. A normalidade é hereditária com relação a subespaços fechados.
E 3.8. Para cada espaço topológico as seguintes afirmações são equivalentes:
(i) O espaço X é hereditariamente T4 .
(ii) Todo subespaço aberto de X é T4 .
(iii) para cada par de conjuntos A, B ⊆ X, tais que A ∩ B = A ∩ B = ∅, existem abertos
U, V ⊆ X tal que A ⊆ U, B ⊆ V e U ∩ V = ∅.
E 3.9. Mostre que a reta de Sorgenfrey é hereditariamente normal.
E 3.10. Mostre que se d é uma métrica em X e Y ⊆ X, então d ↾ Y × Y é uma métrica
em Y e que a topologia induzida por d ↾ Y × Y é a topologia de subespaço. Conclua que todo
espaço cuja topologia é induzida por uma métrica é hereditariamente normal.
Definição 3.11. Seja f : M −→ Y uma função contı́nua, onde M é um subespaço de
X. Dizemos que uma função contı́nua F : X −→ Y é uma extensão contı́nua de f para X
se F ↾ M = f . Quando tal extensão existe, dizemos que f pode ser estendida continuamente
a X.
Nem sempre é possivel estender uma função de um subespaço ao espaço todo. Quando
um espaço é normal, a função dada pelo Lema de Urysohn (teorema 2.90), pode ser vista
com a extensão de uma função definida na reunião de dois fechados disjuntos, onde ela vale
constantemente 0 em um fechado e 1 no outro fechado.
Na verdade pode-se estender mais do que apenas tais funções:
Teorema 3.12. Teorema de extensão de Tietze-Urysohn Toda função contı́nua
definida em um subespaço fechado M de um espaço T4 X com valores em I = [0, 1] ou R
pode ser estendida continuamente a X.
Demonstração: Vamos primeiro mostrar que é possı́vel estender as funções contı́nuas defini-
das em M com valores em J = [−1, 1]. Depois aplicaremos este resultado para terminar a
demonstração.
Precisaremos do seguinte fato:
Fato: Para cada função contı́nua f0 : M −→ R satisfazendo |f0 (x)| ≤ c, para todo
x ∈ M , existe uma função contı́nua g : X −→ R tal que,

(1) |g(x)| ≤ 31 c, para cada x ∈ X e

(2) |f0 (x) − g(x)| ≤ 23 c, para cada x ∈ M .

De fato, os conjuntos A = f0−1 ([−c, − 13 c]) e B = f0−1 ([ 31 c, c]) são fechados disjuntos de
M . Como M é fechado, eles são também fechados em X. Aplicando o Lema de Urysohn,
temos que existe uma função contı́nua k : X −→ R tal que k(A) = {0} e k(B) = {1}.
Vamos verificar que definindo g como g(x) = 32 c(k(x) − 21 ) obteremos a função desejada.
Como 0 ≤ k(x) ≤ 1, teremos − 21 ≤ k(x) − 21 ≤ 12 e portanto teremos (1).
38 3. OPERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS TOPOLÓGICOS.

Só resta checar (2). Se x ∈ A, então k(x) = 0 e portanto g(x) = − 3c . Além disso, pela
escolha de A, temos que −c ≤ f0 (x) ≤ − 3c . Logo, −c + 3c ≤ f0 (x) − g(x) ≤ − 3c + 3c , ou
seja, − 2c
3
≤ f0 (x) − g(x) ≤ 2c 3
, o que implica (2). Se x ∈ B, então k(x) = 1 e portanto
c
g(x) = 3 . Pela escolha de B, temos que 3c ≤ f0 (x) ≤ c. Logo, 3c − 3c ≤ f0 (x) − g(x) ≤ c − 3c ,
o que implica (2). Finalmente, se x ∈ X \ (A ∪ B), então f0 (x) ∈ [− 3c , 3c ]. Portanto teremos
f0 (x) − g(x) ∈ [− 2c , 2c ], logo (2) está satisfeita e o Fato está demonstrado.
3 3

Seja f : M −→ [−1, 1] uma função contı́nua. Iremos agora definir, por indução, uma
seqüência g1 , g2 . . . de funções contı́nuas de X em R tal que para todo i = 1, 2, . . . temos:
(3) |gi (x)| ≤ 31 ( 32 )i−1 para cada x ∈ X e
Pi
(4) |f (x) − j=1 gj (x)| ≤ ( 23 )i para cada x ∈ M .

Para obter g1 aplicaremos o fato acima para c = 1 e para f0 = iJ f , onde iJ é a inclusão


de J em R. Assumindo que já foram definidos P g1 , g2 , . . . , gi , satisfazendo as condições acima
e aplicando o fato acima para f0 = iJ f − ( ij=1 gj ↾ M ) e c = ( 32 )i , obtemos uma função
gi+1 satisfazendo (3) e (4), com i +P 1 ao invés de i.
Segue então de (3) que F (x) = ∞ i=1 gi (x) define uma função contı́nua F : X −→ J e (4)
implica que F (x) = f (x) paraP cada x ∈ M . Logo F é uma extensão de f para X. Note que
F (x) ∈ [−1, 1], pois a série ∞ 1 2 i−1
i=1 3 3 )
( converge para 1.
Vamos agora mostrar como estender uma função f de M em [0, 1]. Seja φ um home-
omorfismo de I = [0, 1] em J = [−1, 1]. Então φf é uma função contı́nua de M em J e,
pelo que mostramos acima, segue que existe uma função G : X −→ J que estende φf .
Agora, a função φ−1 G é uma função contı́nua de X em I, e para cada x ∈ M , temos que
φ−1 G(x) = φ−1 φf (x) = f (x). Portanto φ−1 G é uma extensão contı́nua de f em X.
Para concluirmos a demonstração, só resta mostrar como estender uma função f de M
r
em R. Seja φ : R −→ J definida por φ(r) = 1+|r| , e φ é um homeomorfismo de R em (−1, 1).
Então φf é uma função contı́nua de M em J. Logo, aplicando o caso que acabamos de
mostrar, existe uma função contı́nua G1 de X em J que estende φf . Como G1 é contı́nua,
o conjunto L = G−1 1 ({−1, 1}) é um fechado em X. Além disso L é disjunto de M , pois
φ(R) = (−1, 1) e G1 estende φf . Aplicando o Lema de Urysohn, temos que existe uma
função contı́nua k : X −→ I tal que M ⊆ k −1 ({1}) e L ⊆ k −1 ({0}). Seja G2 : X −→ (−1, 1)
tal que G2 (x) = G1 (x) · k(x), para cada x ∈ X. Vamos checar agora que a função contı́nua
φ−1 G2 é uma extensão de f . De fato, se x ∈ M , φ−1 G2 (x) = φ−1 (G1 (x).k(x)) = φ−1 G1 (x) =
φ−1 φf (x) = f (x). 
r
E 3.11. Seja φ : R −→ (−1, 1) a função definida por φ(r) = 1+|r|
. Mostre que φ é um
homeomorfismo.
Vimos um teorema de existência relacionado à extensão. Veremos agora um teorema de
unicidade:
Teorema 3.13. Seja D um subespaço denso de X e f uma função contı́nua de D num
espaço Hausdorff Y . Então se f pode ser estendida a X, a extensão é única.
Demonstração: Suponhamos que F1 e F2 são duas extensões de f para X. Pela proposição
2.79, F1 = F2 . 
O argumento para mostrar o próximo corolário é similar ao que foi utilizado para mostrar
que o plano de Niemytzki não é normal:
2. PRODUTOS CARTESIANOS 39

Corolário 3.14. Nenhum espaço normal separável contém um subconjunto fechado e


discreto que admita uma bijeção sobre os reais.
2. Produtos Cartesianos
Sejam X1 e X2 dois conjuntos. Lembramos que X1 × X2 é o conjunto de todos os pares
ordenados (x1 , x2 ) tais que x1 ∈ X1 e x2 ∈ X2 .
E 3.12. Decida quais das igualdades abaixo são verdadeiras. Prove as verdadeiras, corrija
as falsas e prove as versões corrigidas. Sejam A, B, C, D ⊆ X, onde X é um conjunto:
(i) (A × B) ∪ (C × D) = (A ∪ C) × (B ∪ D).
(ii) (A × B) ∩ (C × D) = (A ∩ C) × (B ∩ D).
(iii) (A × B) \ (C × D) = (A \ C) × (B \ D).

Dadas topologias para X1 e X2 , queremos dar uma topologia ao produto cartesiano


X1 × X2 . É natural esperar que tal topologia faça com que X1 × {x2 } seja homeomorfo a
X1 , para cada x2 ∈ X2 , e que {x1 } × X2 seja homeomorfo a X2 para cada x1 ∈ X1 .
Definição 3.15. Vamos chamar de topologia produto em X1 × X2 à topologia gerada
pela base {U1 × U2 : Ui aberto em Xi , i = 1, 2}.
E 3.13. Verifique que a famı́lia acima gera, de fato, uma topologia em X1 × X2 .
E 3.14. Sejam X e Y dois espaços topológicos. Sejam A ⊆ X e B ⊆ Y subespaços.
Mostre que a topologia produto em A × B coincide com a topologia de subespaço induzida
por X × Y .
E 3.15. Sejam B1 e B2 bases para os espaços X1 e X2 , respectivamente. Mostre que
{U1 × U2 : Ui ∈ Bi , i = 1, 2} é uma base para a topologia produto de X1 × X2 .
E 3.16. Sejam F1 e F2 fechados dos espaços X1 e X2 , respectivamente. Mostre que F1 ×F2
é fechado.
E 3.17. Sejam A1 ⊆ X1 e A2 ⊆ X2 , onde X1 e X2 são espaços topológicos. Mostre que
A1 × A2 = A1 × A2 .
Observação 3.16. É importante observar que nem todos os abertos ou fechados de
X1 × X2 podem ser escritos como produto de dois abertos ou fechados dos espaços X1 e X2 .
Exemplo 3.17. Em R2 , a métrica usual é dada por
p
d((x, y), (x′ , y ′ )) = |x − x′ |2 + |y − y ′ |2 .
Vamos ver que a topologia gerada por esta métrica coincide com a topologia produto de R2 ,
onde R é a reta real com a métrica usual que denotaremos aqui por e.
Seja W um conjunto aberto na topologia produto e seja (x1 , x2 ) um ponto arbitrário de
W . Então existem U1 e U2 abertos em R tais que (x1 , x2 ) ∈ U1 × U2 ⊆ W . Para cada
i ∈ {1, 2}, como Ui é aberto em R, existe ǫi > 0 tal que Be (xi , ǫi ) ⊆ Ui . Seja ǫ > 0 tal que
para cada i ∈ {1, 2} temos ǫ ≤ ǫi . Note que, para mostrarmos que a topologia produto é
menos fina que a topologia usual em R2 , basta mostrarmos agora que Bd ((x1 , x2 ), ǫ) ⊆ W .
Seja (y1 , y2 ) ∈ Bd ((x1 , x2 ), ǫ). Então para cada i ∈ {1, 2} temos e(xi , yi )2 = |xi − yi |2 ≤
|x1 − y1 |2 + |x2 − y2 |2 < ǫ2 ≤ ǫ2i , portanto para cada i ∈ {1, 2}, temos que yi ∈ Be (xi , ǫi ) ⊆ Ui .
Portanto Bd ((x1 , x2 ), ǫ) ⊆ U1 × U2 ⊆ W .
40 3. OPERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS TOPOLÓGICOS.

Vamos agora mostrar que a topologia produto é mais fina que a topologia usual de R2 .
Seja W um aberto da topologia usual do R2 e seja (x1 , x2 ) ∈ W . Então existe um ǫ > 0
tal que Bd ((x1 , x2 ), ǫ) ⊆ W . Seja δ > 0 tal que 2δ 2 ≤ ǫ2 . Então Be (x1 , δ) × Be (x2 , δ) é
uma vizinhança aberta de (x1 , x2 ) na topologia produto. Para terminarmos agora, basta
mostrarmos que Be (x1 , δ) × Be (x2 , δ) ⊆ W .
Seja (y1 , y2 ) ∈ Be (x1 , δ) × Be (x2 , δ). Então d((x1 , x2 ), (y1 , y2 ))2 = |x1 − y1 |2 + |x2 −
y2 | e(x1 , y1 )2 + e(x2 , y2 )2 < δ 2 + δ 2 ≤ ǫ2 . Portanto temos que (y1 , y2 ) ∈ Bd ((x1 , x2 ), ǫ) ⊆ W .
2

E 3.18. Seja X um espaço topológico e defina por △ = {(x, x) : x ∈ X} a diagonal de


X × X. Mostre que:
(a) X é T2 se e somente se △ é um subconjunto fechado de X × X.
(b) X é T1 se e somente se △ pode ser escrita como intersecção de uma famı́lia de abertos
de X × X.
(c) △ é aberto se e somente se X é um espaço discreto.

O leitor pode notar que os espaços topológicos X1 ×X2 e X2 ×X1 são homeomorfos. Segue
naturalmente a definição da topologia produto em um produto finito Q de espaços topológicos.
Primeiro, lembramos que dados conjuntos X1 , . . . , Xn definimos por ni=1 Xi o conjunto das
sequências {xi }ni=1 tal que para cada i ∈ {1, . . . , n} temos xi ∈ Xi .
Qn
Definição 3.18. Sejam X1 , . . . , XQ
n espaços topológicos. A topologia produto em i=1 Xi
n
é a topologia gerada Q pela base B = { i=1 Ui : Ui é aberto em Xi }. A base B será chamada
de base canônica de ni=1 Xi e seus elementos são chamados de abertos básicos.
Observação 3.19. De fato B satisfaz as propriedades (1) Q e (2) da proposição 2.34 e
por isso, podemosQ gerar umaQtopologiaQa partir dela. Note que ni=1 Xi ∈ B implica que B
satisfaz (2) e que ni=1 Ui ∩ ni=1 Vi = ni=1 (Ui ∩ Vi ) implica que (1) está satisfeita.
E 3.19. Mostre que a topologia produto de p nP
cópias de R coincide com a topologia usual
n
do Rn dada pela métrica d({xi }ni=1 , {yi }ni=1 ) = 2
i=1 |xi − yi | .

E 3.20. Sejam X um conjunto e {Yi : i ∈ I} uma famı́lia de espaços topológicos. Seja


{fi : i ∈ I} uma famı́lia de funções tal que fi : X −→ Yi , para cada i. Defina B =
{fi−1
1
(Ui1 ) ∩ . . . ∩ fi−1
k
(Uik ) : i1 , . . . , ik ∈ I, k = 1, 2, 3, . . . e Uis é aberto de Yis }. A topologia
gerada pela base B é chamada de topologia gerada pela famı́lia de funções {fi : i ∈ I}.
Verifique que B satisfaz as propriedades (1) e (2) da proposição 2.34 e que a topologia gerada
por B é a topologia menos fina tal que as funções fi , i ∈ I, são todas contı́nuas.
E 3.21. Seja ni=1 Xi o produto dos espaços X1 , . . . , Xn . Por πj :
Q Qn
−→ Xj
i=1 Xi Q
denotamos a função definida por πj ({xi }i=1 }) = xj , a qual chamamos de projeção de ni=1 Xi
n

na j-ésima coordenada.
a) Verifique que cada πj é uma função contı́nua.
b) Verifique que a topologia gerada no conjunto ni=1 Xi pela famı́lia {πj : j ∈ {1, . . . , n}}
Q
coincide com a topologia produto (i.e., a topologia produto é a topologia menos fina que torna
as projeções contı́nuas).
Antes de chegarmos ao produto infinito de espaços, relembremos o produto de dois es-
paços. Dados dois espaços topológicos, X1 e X2 , definimos uma topologia em X1 × X2 . O
conjunto X1 × X2 , nada mais é do que o conjunto dos pares ordenados onde sua primeira
coordenada está em X1 e sua segunda coordenada está em X2 . Uma outra maneira de “ver”
2. PRODUTOS CARTESIANOS 41

um par ordenado é considerá-lo como uma função. De fato, podemos pensar no par (x1 , x2 )
como uma função de {1, 2} em X1 ∪ X2 que “manda” 1 em x1 e 2 em x2 . Se usarmos sim-
bologia matemática, (x1 , x2 ) : {1, 2} → X1 ∪ X2 tal que (x1 , x2 )(1) = x1 e (x1 , x2 )(2) = x2 .
Sendo assim, poderı́amos definir:
X1 × X2 = {x : {1, 2} → X1 ∪ X2 : x(1) ∈ X1 , x(2) ∈ X2 }.
Se chamássemos {1, 2} de “conjuntos de ı́ndices” para X1 ×X2 , estarı́amos definindo X1 ×X2
como o conjunto de todas as funções do conjunto de ı́ndices na união dos fatores, tais que
x(i) ∈ Xi , para cada i no conjunto de ı́ndices. Esperamos, com esta discussão, justificar a
definição de produto cartesiano de uma famı́lia qualquer.
S e uma famı́lia {Xs : s ∈ S}, definimos o produto
Definição 3.20. Dados um conjunto Q
cartesiano de {Xs : s ∈ S}, denotado por s∈S Xs , como
( )
Y [
Xs = x : S → Xs : x(s) ∈ Xs , para cada s ∈ S .
s∈S s∈S

O valor x(s) da função x é usualmente denotado por xs e chamado de s-ésima coordenada


de x. Ainda, muita vezes escreveremos
Q x = {x }s∈S , ou até, x = {xs }. Quando S for
Qs∞
enumerável, poderemos escrever s∈S Xs como s=0 Xs e aı́ (x0 , x1 , x2 , ...) será {xs }s∈S .
Q
Definição 3.21. Dado Q t ∈ S, a função π t : s∈S Xs −→ Xt tal que πt (f ) = f (t) é
chamada de projeção de s∈S Xs na coordenada t.
Seja {Xs : s ∈ S} uma Q famı́lia de espaços topológicos. Vamos agora discutir duas
topologias naturais sobre s∈S Xs .
Olhando a definição da topologia produto quando se tem uma famı́lia finita de es-
paços
Q topológicos, talvez a primeira idéia que ocorre é tomar a topologia gerada pela base
{ s∈S Us : Us é aberto em Xs para todo s ∈ S}. Se tomarmos essa topologia, as projeções
serão contı́nuas, mas esta não é a topologia menos fina que torna as projeções contı́nuas.
Portanto, uma segunda idéia que ocorre é utilizar-se das projeções e Q
tomar a topologia ge-
rada pela famı́lia {πs : s ∈ S} ou seja, a topologia gerada pela base { s∈S Us : Us é aberto
em Xs , para todo s ∈ S e {s ∈ S : Us 6= Xs } é finito }.
Chegamos assim às seguintes definições:
Definição 3.22. Seja FQ= {Xs : s ∈ S} uma famı́lia de espaços topológicos. A
topologia gerada pela base { s∈S Us : Us é aberto em Xs para todo s ∈ S} é o produto
caixa (box-product em inglês) da famı́lia F. Este espaço topológico é geralmente denotado
por 2s∈S Xs .
Definição 3.23. Seja F = {Xs : s ∈ S} uma famı́lia de espaços topológicos. Dizemos
que a topologia gerada pela base
Y
{ Us : Us é aberto em Xs , para todo s ∈ S e {s ∈ S : Us 6= Xs } é finito }
s∈S

é o produto de Tychonoff da famı́lia F. Este espaço topológico é geralmente denotado por


Q
s∈S Xs .

O exercı́cio abaixo exemplifica como as topologias se comportam diferentemente.


42 3. OPERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS TOPOLÓGICOS.

E 3.22. Seja {Xn : n = 1, 2, ...} uma famı́lia enumerável onde cada Q∞ Xn = R com a
1 1
topologia usual. Considere a sequência {( n , n , ....) : n = 1, 2, ...} em i=1 Xi . Certamente
gostarı́amos que ela convergisse para (0, 0, ...). Mas se um produto de abertos é aberto do
espaço produto, teremos que essa sequência não convergirá. Para cada n = 1, 2, ..., seja
Un =] − n1 , n1 [.
(1) Mostre que a sequencia {( n1 , n1 , ....) : n = 1, 2, ...} nunca está em ∞
Q
n=1 Un . Sendo
1 1
assim, se este conjunto fosse um aberto do produto, {( n , n , ....) : n = 1, 2, ...} não convergiria.
Note que de modo geral, se usamos a topologia caixa, nenhuma sequência não-trivial (isto é,
não constante) converge neste espaço.
(2) Mostre que {( n1 , n1 , ....) : n = 1, 2, ...} converge para (0, 0, ...) quando ∞
Q
n=1 Xn tem a
topologia do produto de Tychonoff.
Iremos trabalhar apenas com o produto de Tychonoff, dado que as aplicações do produto
caixa estão além do nı́vel deste curso. Os abertos da base utilizada na definição do produto
de Tychonoff são chamados de abertos básicos e a base é chamada de base canônica. Neste
texto, espaço produto irá sempre se referir ao produto de Tychonoff.
Observação 3.24. O produto caixa surgiu antes do produto de Tychonoff, mas por
causa de alguns resultados envolvendo o produto de Tychonoff, este segundo produto é o
mais conhecido. Entretanto, exemplos de espaços topológicos surgidos na década de 70
mostram que o produto caixa possui várias aplicações importantes na área.
E 3.23. As projeções são funções abertas
Em geral, as projeções não são funções fechadas:
Exemplo 3.25. Seja π : R2 −→ R a projeção do R2 no eixo x. Note que o conjunto
F = {(x, y) ∈ R2 : xy = 1} é um conjunto fechado. Porém a projeção de F no eixo x é o
conjunto R \ {0} que não é fechado. Portanto π não é uma função fechada.
Proposição 3.26. Seja {Xs }s∈S uma famı́lia de espaços topológicos
Q e As um subespaço
de Xs para cada s ∈ S. Então a topologia sobre o conjunto A = s∈S As dado pela topo-
logia produto da famı́lia {As }s∈S coincide com a topologia induzida pelo produto da famı́lia
{Xs }s∈S .
Demonstração: Sem perda de generalidade, podemos assumir que cada As é um conjunto não
vazio. A restrição das projeções πs à A são contı́nuas no subespaço A. Portanto, a topologia
de subespaço é mais fina que
Q a topologia produto em A. Por outro lado, a intersecção dos
abertos básicos do espaço s∈S Xs com A é um aberto básico da topologia produto sobre
A. Logo a topologia produto é mais fina que a topologia induzida. Segue então que as duas
topologias coincidem. 
Proposição 3.27. Para cada famı́liaQde conjuntos {As }s∈S , onde As é um subconjunto
de um espaço topológico Xs , no produto s∈S Xs , temos
Y Y
As = As .
s∈S s∈S
Q Q
Demonstração:QTemos que x = {xs }s∈S ∈ s∈S QAs se e somente
Q se s∈S QAs intercepta todo
aberto básico s∈S Ws contendo x. Portanto, s∈S Ws ∩ s∈S As = s∈S (Ws ∩ As ) 6= ∅.
Logo, para cada s ∈ S, temos que Ws ∩ As 6= ∅, onde Ws é uma vizinhança de xs . Mas isto
2. PRODUTOS CARTESIANOS 43

Q
vale se e somente se para cada s ∈ S temos que xs ∈ As . Portanto x ∈ s∈S As se e somente
Q
se x ∈ s∈S As . 
Q Q
Corolário 3.28. O conjunto A = s∈S As , onde cada As 6= ∅, é fechado em s∈S Xs
se, e somente se, As é fechado em Xs , para cada s ∈ S.
Demonstração: Exercı́cio. 
Corolário 3.29. Seja {Xs }s∈S uma famı́lia de espaços
Q topológicos não-vazios
Q e para
cada s ∈ S, seja As um subconjunto de Xs . Então s∈S As é denso em s∈S Xs se e
somente se para cada s ∈ S temos que As é denso em Xs .
Demonstração: Exercı́cio. 
Q
Proposição 3.30. Uma função f de um espaço topológico X no produto s∈S Xs é
contı́nua se e somente se πs f é contı́nua para cada s ∈ S.
Demonstração: Para mostrarmos isto, basta utilizar o fato que a topologia do produto
cartesiano coincide com a topologia gerada pelas funções {πs : s ∈ S}. Uma das equivalências
segue direto do fato da composição de funções contı́nuas ser contı́nua. Por outro lado,
para cada s1 , . . . , sk ∈ S, e para cada aberto Q Usi de Xsi , onde i ∈ {1, . . . , k}, temos que
k −1 −1 −1 k −1 −1
∩i=1 f (πsi (Usi )) = f (∩i=1 πsi (Usi )) = f ( s∈S Ws ) é um conjunto aberto, onde Ws =
Usi , se s = si para algum i ∈ {1, . . . , k}, e Ws = Xs caso contrário. 
Proposição 3.31. O produto cartesiano
S é “associativo”, isto é, se {Xs : s ∈ S} é uma
famı́liaQde espaçosQtopológicos
Q e S = t∈T t onde {St : t ∈ T } são dois a dois disjuntos,
S ,
então s∈S Xs e t∈T ( s∈St Xs ) são homeomorfos.
Demonstração: Exercı́cio. 
Proposição 3.32. Sejam {Xs : s ∈ S} e {Yt : t ∈ T } duas famı́lias de espaços
topológicos
Q e φ : S −→ T uma bijeção
Q tal que Xs é homeomorfo a Yφ(s) . Então o produto
s∈S Xs é homeomorfo ao produto t∈T Yt .

Demonstração: Exercı́cio. 
Observação 3.33. Quando Xs = X, para todo s ∈ S, iremos denotar o espaço produto
por X S . Note que, pela proposição acima, X N e (X N )N são homeomorfos.
Corolário 3.34. O produto de Tychonoff é “comutativo”, isto é se {Xs : s ∈ S} é
uma famı́lia de espaços topológicos
Q Q e φ é uma permutação de S (bijeção de S em S), então
s∈S Xs é homeomorfo a s∈S X φ(s) .
E 3.24. Seja {Xs : s ∈ S} uma famı́lia de espaços topológicos TQ
1 e não vazios. Mostre
que, para todo s ∈ S, Xs é homeomorfo a um subespaço fechado de s∈S Xs .
Seja X um espaço topológico Hausdorff e F uma famı́lia de subespaços de X.
E 3.25. T
Então Y = {UQ: U ∈ F} com a topologia induzida por X, é homeomorfo a um subespaço
fechado de Z = {U : U ∈ F}.
Estudaremos agora a preservação dos axiomas de separação com relação ao produto.
Teorema 3.35. O produto de Tychonoff de uma famı́lia Ti é Ti para cada i ≤ 3 21 .
44 3. OPERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS TOPOLÓGICOS.

Demonstração: Faremos apenas o caso em que a famı́lia é T3 1 ; os outros casos ficam como
2
exercı́cio. Seja x = {xs }s∈S
Q um ponto do produto e F um fechado que não′ contém x. Então
existe um aberto básico s∈S Ws que contém x e é disjunto de F . Seja S = {s ∈ S : Ws 6=
Xs }. Lembramos que S ′ é finito. Para cada s ∈ S ′ , existe uma funçãoQ fs : Xs −→ [0, 1]
tal que fs (xs ) = 0 e fs (Xs \ Ws ) = 1. Para cada y = {ys }s∈S ′ ∈ s∈S ′ Xs , seja f (y) =
max{fs (ys ) : s ∈ S ′ }. Claramente f é uma função contı́nua (verifique). Seja πS ′ a projeção
de S no subproduto S ′ . Então f πS ′ é uma função contı́nua que satisfaz as propriedades
desejadas. 
Normalidade não é preservada pelo produto finito:
Exemplo 3.36. A reta RS de Sorgenfrey é normal, mas RS × RS não é normal. De fato,
note que {(x, −x) : x ∈ RS } é um conjunto fechado de RS × RS e todo ponto da forma
(x, −x) possui uma vizinhança aberta em RS × RS que não contém nenhum outro ponto
da forma (y, −y). Logo, fazendo um argumento análogo ao que fizemos para mostrar que o
plano de Niemytzki não é normal, podemos mostrar que RS × RS não pode ser normal.

Q E 3.26. Seja {Xs : s ∈ X} uma famı́lia de espaços topológicos não vazios e suponha que
s∈X Xs é Ti , para i ≤ 4. Então, Xs é também Ti .

As seguintes definições serão usadas mais a frente.


Definição 3.37. Sejam {Xs : s ∈ S} e {Ys : s ∈ S} duas famı́lias de espaços to-
pológicos
Q eQ para cada s ∈QS, seja fs : Xs −→ Ys uma função contı́nua. QDefinimos por
Qs∈S fs : s∈S Xs −→ s∈S Ys a função tal que para cada {xs }s∈S ∈ s∈S Xs temos
f
s∈S s ({x }
s s∈S ) = {f (x )}
s s s∈S . Chamamos esta função de produto das funções {fs : s ∈
S}.
E 3.27. Mostre que a função produto definida acima é contı́nua.
Definição 3.38. Seja X um espaço topológico, {Ys : s ∈ S} uma famı́lia de espaços
cada s ∈ S seja fs : X −→ Ys uma função contı́nua. Definimos por
topológicos e para Q
△s∈S fs : X −→ s∈S Ys a função tal que para cada x ∈ X, △s∈S fs (x) = {fs (x)}s∈S .
Chamamos esta função de função diagonal.
E 3.28. Mostre que a função diagonal definida acima é sempre contı́nua.

Vamos agora discutir o que acontece com os axiomas de enumerabilidade quando toma-
mos o produto. Nenhum dos axiomas de enumerabilidade vai ser preservado para produtos
quaisquer. Entretanto temos:
Proposição 3.39. O produto de uma famı́lia enumerável de espaços topológicos que sa-
tisfazem o primeiro (respectivamente segundo, terceiro) axioma de enumerabilidade, também
satisfaz o primeiro (resp. segundo, terceiro) axioma de enumerabilidade.
Demonstração: Exercı́cio. 

Mas se tomarmos produtos não enumeráveis temos:


Proposição 3.40. O produto de Tychonoff não enumerável de espaços topológicos (com
mais de um aberto não-trivial) com mais de um ponto não satisfaz o primeiro (e portanto o
segundo) axioma de enumerabilidade.
2. PRODUTOS CARTESIANOS 45

Demonstração: Exercı́cio. 

Com relação a separabilidade, temos “um pouco mais de preservação”:


Teorema 3.41. Teorema de Hewitt-Marczewski-Pondiczery Q Seja I o conjunto dos
reais e {Xi : i ∈ I} uma famı́lia de espaços separáveis. Então i∈I Xi é separável.
Demonstração: Para cada i ∈ I, sejaQ
Q Di um subconjuntoQenumerável denso de Xi . Então
i∈I Di é um subconjunto denso de i∈I Xi . Q
Note que i∈I Di é, nos casos não triviais,
um produto não enumerável. Mostraremos queQ i∈I Di contém um subconjunto enumerável
denso, o que pelo exercı́cio 3.7, implica que i∈I Xi possui um subconjunto enumerável
denso.
Seja N o conjunto dos números naturais com a topologia discreta. Para cada i ∈ I, seja
fi : N −→ Di uma função sobrejetora. Como NQ é discreto,
Q a função Q
fi é contı́nua, para
cada i ∈ I. Consideremos agora a função produto i∈I fi : i∈I N −→ i∈I Di . Então esta
função é sobrejetora Q e contı́nua. Como a imagem de um espaço Q separável é separável, para
mostrarmos que i∈I Di é separável, é suficiente mostrar que i∈I N é separável.
Denotaremos por E a coleção de todas as famı́lias finitas de intervalos dois a dois disjuntos
{]a1 , b1 [, . . . , ]an , bn [}, onde os ai ’s e bi ’s são todos racionais. Note que E é enumerável. Para
cada {]a1 , b1 [, . . . , ]an , bn [} ∈ E e cada k1 , . . . , kn ∈ N, iremos fixar a função f : I −→ N tal
que

kj se i ∈]aSnj , bj [
f (i) =
0 se i ∈ / j=1 ]aj , bj [
Como os intervalos da famı́lia {]a1 , b1 [, . . . , ]an , bn [} são dois a dois disjuntos, f está bem
definida.
Seja F o conjunto de todas as funções f obtidas como acima. Note que F é enumerável,
pois E é enumerável e o conjunto de todos os subconjuntos finitos de N também Q é enumerável.
Para concluirmos a demonstração, é suficiente mostrar que F é denso Q em Q Para isto,
i∈I N.
é suficiente mostrar que F intercepta cada aberto básico não-vazio i∈I Wi de i∈I N. Seja
I ′ = {i ∈ I : Wi 6= N}. Como I ′ é um subconjunto finito de reais, podemos escrever I ′ como
I ′ = {i1 , . . . , in } e encontrar {]a1 , b1 [, . . . , ]an , bn [} ∈ E tal que para cada j = 1, . . . , n, temos
ij ∈]aj , bj [. Para cada j = 1, . . . , n, fixemos kj ∈ Wij . Claramente Q a função f ∈ F associada
aQ{]a1 , b1 [, . . . , ]an , bn [} e a k1 , . . . , kn é um elemento de i∈I Wi , portanto F é denso em
i∈I N, o que conclui a demonstração. 

Definição 3.42. Sejam X e Y espaços topológicos. Dizemos que uma função contı́nua f
de X em Y é uma imersão de X em Y se a função g : X −→ f (X) definida por f (x) = g(x),
para cada x ∈ X é um homeomorfismo. Neste caso, dizemos que f é um homeomorfismo
sobre f (X) e que X pode ser imerso em Y .
Na definição acima colocamos a função como g apenas para melhor ilustrar que estamos
mudando de contra-domı́nio. De agora em diante, iremos denotar a função também por f .
Note que se X é um subconjunto de Y então a função iX : X −→ Y com iX (x) = x,
é uma imersão contı́nua. Temos também que existe uma imersão contı́nua de Z em Y se
e somente se existe um subespaço de Y que é homeomorfo a Z. Logo, do ponto de vista
topológico, se existe uma imersão contı́nua de Z em Y , então Z pode ser considerado como
um subespaço de Y .
46 3. OPERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS TOPOLÓGICOS.

Exemplo 3.43. Seja X o conjunto dos naturais estritamente positivos munido da to-
pologia discreta. Então f : X −→ R tal que f (n) = n é uma imersão contı́nua fechada e
h : X −→ R tal que h(n) = n1 é uma imersão contı́nua que não é fechada.
x
Exemplo 3.44. A função f (x) = 1+|x| é um homeomorfismo da reta real R em ] − 1, 1[
com a topologia usual. Portanto, a reta R pode ser imersa no intervalo fechado [−1, 1].
E 3.29. Verifique que a composição de duas imersões contı́nuas é uma imersão contı́nua.
Verifique que uma imersão contı́nua é uma função aberta (fechada) se e somente se f (X) é
um conjunto aberto (fechado).

Definição 3.45. Seja X um espaço topológico. Seja F = {fs : s ∈ S} uma famı́lia de


funções contı́nuas, onde para cada s ∈ S, temos fs : X −→ Ys , Ys um espaço topológico.
Dizemos que F separa pontos de X se para cada x, y ∈ X distintos, existe s ∈ S tal que
fs (x) 6= fs (y). Dizemos que F separa pontos de fechados de X se para cada x ∈ X e cada
Ys
fechado F de X tal que x ∈ / F , existe s ∈ S tal que fs (x) ∈
/ fs (F ) .
Observação 3.46. Note que se X é um espaço T1 e F é uma famı́lia que separa pontos
de fechados de X, então F separa pontos de X.
Teorema 3.47. Teorema de imersão Seja F = {fs : s ∈ S} uma famı́lia de Q funções
contı́nuas, fs : X −→ Ys , que separa pontos. Então a função f = △s∈S fs : X −→ s∈S Ys
é injetora. Se além disso, F separa pontos de fechados, então f é uma imersão.
Demonstração: Sejam x e y dois pontos distintos de X. Se F separa pontos, então existe
t ∈ S tal que ft (x) 6= ft (y). Portanto, f (x) = {fs (x)}s∈S 6= {fs (y)}s∈S = f (y) e f é injetora.
Suponhamos agora que F separa pontos de fechados. Como f é injetora e contı́nua, é
suficiente mostrarmos que para cada fechado F de X, temos que f (F ) é fechado em f (X),
ou seja, basta mostramos que f (F ) ∩ f (X) = f (F ). Seja z = {zs }s∈S ∈ f (F ) ∩ f (X). Como
z ∈ f (X), existe x ∈ X tal que f (x) = z. Mostraremos que x ∈ F e portanto teremos que
z = f (x) ∈ f (F ).
Por contradição, se x ∈ / F , então, como F separa pontos de fechados, existe t ∈ S tal
Yt Q Q
que ft (x) ∈ / f (F ) . Portanto z = f (x) ∈ / s∈S fs (F ) = s∈S fs (F ). Note que f (F ) ⊆
Q Q
s∈S fs (F ). Portanto, f (F ) ⊆ s∈S fs (F ) e segue então que z ∈
/ f (F ), contradição. Logo,
z ∈ f (F ). Como z era um ponto arbitrário de f (F ) ∩ f (X), temos que f (F ) contém seu
fecho em f (X) e portanto é fechado em f (X). 

Veremos agora duas aplicações importantes do Teorema de Imersão. O próximo teorema


mostra que ser completamente regular é equivalente ao espaço poder ser imerso em algum
produto de cópias de [0, 1] com a topologia usual:
Teorema 3.48. Um espaço topológico X é completamente regular se e somente se existe
um conjunto de ı́ndices S e uma imersão de X em [0, 1]S .
Demonstração: Seja C o conjunto de todas as funções contı́nuas de X em [0, 1]. Como X
é completamente regular, temos que C separa pontos de fechados e como X é T1 , C separa
pontos. Portanto, pelo teorema 3.47, a função diagonal △f ∈C f : X −→ [0, 1]C é uma imersão.
Reciprocamente, se X pode ser imerso em [0, 1]S , então X é homeomorfo a um subespaço
de [0, 1]S . Como ser completamente regular é uma propriedade topológica, basta agora usar o
3. ESPAÇOS QUOCIENTES E FUNÇÕES QUOCIENTES 47

fato de que [0, 1] é completamente regular e que a propriedade de ser completamente regular
é perservada por produtos e subespaços. 

Para a outra aplicação do Teorema de Imersão precisaremos da seguinte definição:


Definição 3.49. Dizemos que um espaço topológico X é um espaço zero-dimensional,
se X possui uma base B tal que cada elemento de B é um conjunto aberto-fechado.
E 3.30. Mostre que os racionais e os irracionais são espaços zero-dimensionais com a
topologia induzida pela topologia usual dos reais.

Q E 3.31. Verifique que se {Xs : s ∈ S} é uma famı́lia de espaços zero-dimensionais, então


s∈S Xs é zero-dimensional. Verifique que um subespaço de um espaço zero-dimensional é
zero-dimensional.
Vamos ver agora que a partir dos espaços discretos, produtos e subespaços, podemos ob-
ter, a menos de homeomorfismo, todos os espaços zero-dimensionais. Primeiro, precisaremos
da seguinte definição:
Definição 3.50. Seja D = {0, 1} com a topologia discreta. Chamamos de cubo de
Cantor a um produto DS , onde S é um conjunto de ı́ndices.
Teorema 3.51. Seja X um espaço zero-dimensional T1 e B uma base de conjuntos
aberto-fechados de X. Então X pode ser imerso no cubo de Cantor DB .
Demonstração: Se x ∈ X e F é um fechado que não contém x, então existe um aberto-
fechado U tal que x ∈ U ⊆ X \ F . Seja fU : X −→ {0, 1}, onde {0, 1} é discreto, tal que
fU (U ) = 0 e fU (X \ U ) = 1. Como U e X \ U são abertos, a função fU é uma contı́nua.
Segue então que {fU : U ∈ B} separa pontos de fechados de X e portanto pelo teorema
3.47, X pode ser imerso em DB . 
Note que na demonstração acima mostramos também que todo espaço zero-dimensional
é completamente regular.

3. Espaços quocientes e funções quocientes


Primeiro, lembramos a seguinte definição:
Definição 3.52. Se X é um conjunto e E é um subconjunto de X × X, dizemos que E
é uma relação de equivalência se:
(a) (x, y) ∈ E implica (y, x) ∈ E,
(b) para cada x ∈ X, temos (x, x) ∈ E e
(c) (x, y), (y, z) ∈ E implica (x, z) ∈ E.
Para cada x ∈ X, denotaremos por [x] a classe de equivalência de x, que é o conjunto
{y ∈ X : (x, y) ∈ E} = {y ∈ X : (y, x) ∈ E}, e por X/E o conjunto de todas as classes de
equivalência.
Definição 3.53. Suponhamos que X é um conjunto e E é uma relação de equivalência
sobre X. Então q : X −→ X/E é a função quociente natural, ou simplesmente função
natural de X pela relação E se para cada x ∈ X temos q(x) = [x].
48 3. OPERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS TOPOLÓGICOS.

Se X é um espaço topológico, podemos tentar dar a X/E uma topologia que torne q
contı́nua. Pode haver mais de uma topologia para isto. Veremos que existe uma topologia
mais fina entre as que tornam q contı́nua.
Definição 3.54. Seja X um espaço topológico e E uma relação de equivalência. Seja
q a função quociente de X pela relação E. Chamamos de topologia quociente a topologia
T = {U ⊆ X/E : q −1 (U ) aberto em X} e X/E com esta topologia é chamado de espaço
quociente.
E 3.32. Verifique que T é de fato uma topologia e mostre que T é a topologia mais fina
que torna q contı́nua.
Proposição 3.55. Um conjunto A ⊆ X/E é fechado em X/E se e somente se q −1 (A)
é fechado em X.
Demonstração: Um conjunto A é fechado em X/E se e somente se (X/E) \ A é aberto em
X/E. Mas isso acontece se e somente se q −1 ((X/E) \ A) = X \ q −1 (A) é aberto em X, ou
seja, q −1 (A) é fechado em X. 
Proposição 3.56. Uma função f do espaço quociente X/E em Y é contı́nua se e so-
mente se f q : X −→ Y é contı́nua.
Demonstração: Se f é uma função contı́nua, então f q é uma composição de funções contı́nuas
e portanto é contı́nua. Reciprocamente, se f q é contı́nua, seja U um aberto em Y . Então
(f q)−1 (U ) = q −1 (f −1 (U )) é um conjunto aberto de X, logo pela definição da topologia
quociente, f −1 (U ) é aberto em X/E. 

Dada uma função contı́nua sobrejetora de um espaço X num espaço Y , podemos con-
siderar a relação de equivalência E(f ), onde (x, y) ∈ E(f ) se e somente se f (x) = f (y).
Claramente, as classes de equivalência serão as fibras dos pontos de Y , isto é, os conjuntos
f −1 (y), onde y ∈ Y .
Podemos definir uma função f : X/E −→ Y por f ([x]) = f (x). Como [x] = f −1 (f (x)),
claramente f está bem definida. Pela proposição acima, f é contı́nua, pois f q = f é contı́nua.
Claramente f é uma bijeção, mas nem sempre f é um homeomorfismo.
Estudaremos agora as funções f tais que f é homeomorfismo. Para funções contı́nuas
sobrejetoras, esta propriedade generaliza funções abertas ou fechadas.
Definição 3.57. Dizemos que uma função contı́nua sobrejetora f : X −→ Y é uma
função quociente se ela é a composição de uma função natural e um homeomorfismo, isto é,
existe uma relação de equivalência E e um homeomorfismo f ′ : X/E −→ Y tal que f = f ′ q,
onde q : X −→ X/E é a função natural.
Proposição 3.58. Para uma função contı́nua sobrejetora f de X em Y as seguintes
afirmações são equivalentes:
(i) A função f é quociente.
(ii) O conjunto f −1 (U ) é aberto em X se e somente se U é aberto em Y
(iii) O conjunto f −1 (F ) é fechado em X se e somente se F é fechado em Y .
(iv) A função f : X/E(f ) −→ Y é um homeomorfismo.
Demonstração: (i) → (ii). Suponhamos que f é uma função quociente. Então existe uma
relação de equivalência E tal que f ′ q = f , onde f ′ : X/E −→ Y é um homeomorfismo
3. ESPAÇOS QUOCIENTES E FUNÇÕES QUOCIENTES 49

e q : X −→ X/E é a função natural. Pela definição de topologia quociente, f −1 (U ) =


q −1 (f ′ −1 (U )) é aberto em X se e somente se f ′ −1 (U ) é aberto em X/E. Mas isto acontece
se e somente se U é aberto em Y , pois f ′ é um homeomorfismo.
Para ver que (ii) implica (iii), basta usar f −1 (F ) = X \ f −1 (Y \ F ).
Vamos agora assumir (iii) e mostraremos (iv). Como f é contı́nua e bijetora, é sufici-
ente mostrar que a imagem de todo fechado F de X/E(f ) é fechado em Y . Porém, como
−1
f −1 (f (F )) = q −1 (f (f (F ))) = q −1 (F ), temos, pela continuidade de q, que f −1 (f (F )) é um
conjunto fechado. Logo por (iii), f (F ) é fechado.
A implicação (iv) → (i) é obvia, o que conclui a demonstração. 
Corolário 3.59. As funções contı́nuas abertas sobrejetoras e as funções contı́nuas fe-
chadas sobrejetoras são quocientes.
Demonstração: Basta notar que se f é sobrejetora então f (f −1 (B)) = B. 
Corolário 3.60. A composição de duas funções quocientes é quociente.
Corolário 3.61. Se a composição gf das funções contı́nuas f : X −→ Y e g : Y −→ Z
é quociente, então g : Y −→ Z é uma função quociente.
Demonstração: Primeiro, note que g(Y ) ⊇ g(f (X)) = Z e portanto g é sobrejetora. Se a
imagem inversa g −1 (U ) de U é aberta em Z então f −1 (g −1 (U )) = (gf )−1 (U ) é aberto em X
e como gf é quociente, então U é aberto em Z. 
E 3.33. Encontre funções contı́nuas g e f sobrejetora tal que gf é quociente, mas que f
não é quociente.
Corolário 3.62. Se para uma função contı́nua f : X −→ Y existe um conjunto A ⊆ X
tal que f (A) = Y e a restrição f ↾ A é quociente, então f é quociente.
Demonstração: Segue do corolário acima e do fato que f ↾ A = f iA , onde iA é a inclusão de
A em X. 
Corolário 3.63. Toda função quociente injetora é um homeomorfismo.
CAPı́TULO 4

Espaços conexos

Definição 4.1. Seja X um espaço topológico. Dizemos que X é conexo se não existem
abertos não vazios U e V tais que U ∩ V = ∅ e U ∪ V = X.
Definição 4.2. Um subconjunto A de X se diz um subconjunto conexo de X se o
subespaço topológico A for conexo, ou seja, se não existem abertos U e V em X tais que
U ∩ A 6= ∅, V ∩ A 6= ∅, U ∩ V ∩ A = ∅ e A ⊆ U ∪ V .
Exemplo 4.3. O espaço discreto X quando X tem mais de um ponto não é conexo.
E 4.1. Mostre que X com a topologia co-finita é conexo se e só se X é infinito.
E 4.2. Mostre que X é conexo se, e somente se, os únicos subconjuntos abertos e fechados
são o ∅ e X.
A conexidade de um espaço é preservada por funções contı́nuas:
Teorema 4.4. Seja f uma função contı́nua de um espaço X em um espaço Y . Se A é
um subconjunto conexo de X, então f (A) é um subconjunto conexo de Y .
Demonstração: Suponha que f (A) não é conexo. Então existem abertos U e V de Y tais
que U ∩ f (A) 6= ∅, V ∩ f (A) 6= ∅, U ∩ V ∩ f (A) = ∅ e f (A) ⊆ U ∪ V . Como f é contı́nua
U ′ = f −1 (U ) e V ′ = f −1 (V ) são abertos. Além disso, U ′ ∩ A 6= ∅, V ′ ∩ A 6= ∅, U ′ ∩ V ′ ∩ A = ∅
e A′ ⊆ U ∪ V , o que contradiz a conexidade de A. 
O próximo resultado nos mostra que se um espaço tem um subespaço denso conexo,
então o espaço é conexo:
Teorema 4.5. Seja X um espaço topológico e A ⊆ X um subconjunto conexo de X. Se
B é tal que A ⊆ B ⊆ A, então B é conexo.
Demonstração: Suponha que B não é conexo. Então existem abertos U e V em X tais que
U ∩ B 6= ∅, V ∩ B 6= ∅, U ∩ V ∩ B = ∅ e B ⊆ U ∪ V .
Mas como B ⊆ A, temos que U ∩ A 6= ∅ e V ∩ A 6= ∅. Além disso, como A ⊆ B temos
que U ∩ V ∩ A = ∅ e A ⊆ U ∪ V , absurdo, pois A é conexo. 
O próximo corolário é imediato:
Corolário 4.6. Se X tem um subespaço denso conexo, então X também é conexo.
Exemplo 4.7. A reta real é conexa. Além disso, todos os intervalos de R são conexos.
Demonstração: Suponha R não conexa. Temos então que existem abertos não vazios U e V
em R tais que R = U ∪ V e U ∩ V = ∅. Como U e V são não vazios, podemos fixar a ∈ U e
b ∈ V . U ∩ V = ∅ implica que a 6= b; suponhamos que a < b (o caso a > b é análogo).
Seja
S = {x ∈ U : a < x < b e ]a, x[⊆ U }.
51
52 4. ESPAÇOS CONEXOS

Como U é aberto, temos que S é não vazio. S é majorado por b, logo podemos tomar
s = sup S. É claro que s ≤ b.
Note que não podemos ter s ∈ V . De fato, se s ∈ V , como V é aberto, existe ǫ > 0 tal
que ]s − ǫ, s + ǫ[⊆ V . Podemos ainda tomar ǫ tal que a < s − ǫ. Como s = supS, existe
x ∈ S tal que x > s − ǫ e ]a, x[⊆ U . Mas daı́ teremos que ]s − ǫ, x[⊆ U , o que contradiz
U ∩ V = ∅.
Então temos que s ∈ U , pois U ∪ V = R. Mas daı́, como U é aberto, existe ǫ > 0 tal que
]s − ǫ, s + ǫ[⊆ U . Logo ]a, s + ǫ[⊆ U ; mas s era supremo de S. Temos então uma contradição,
o que implica que R é conexo.
Como os intervalos abertos são homeomorfos à reta real temos que eles também serão
conexos. Usando o teorema anterior, podemos concluir que os intervalos fechados e semi-
fechados também são conexos. 
E 4.3. Mostre que um subconjunto da reta real (com a topologia usual) é conexo se e só
se é um intervalo.
Corolário 4.8. Todo espaço conexo de Tychonoff contendo pelo menos dois pontos é
não enumerável.
Demonstração: Seja X um espaço conexo de Tychonoff com pelos menos dois pontos e sejam
x e y dois pontos de X. Como X é um espaço de Tychonoff existe uma função contı́nua
f : X −→ [0, 1] tal que f (x) = 0 e f (y) = 1. Agora, X é conexo e f é contı́nua. Então f (X)
é conexo e portanto é um intervalo de R. Logo f (X) = [0, 1], o que implica que X é não
enumerável. 
Teorema 4.9. SejaTX um espaço topológico e C uma S coleção não-vazia de subconjuntos
conexos de X tal que {Y : Y ∈ C} = 6 ∅. Então C = {Y : Y ∈ C} é um subconjunto
conexo de X.
S
Demonstração: Suponhamos, por absurdo, que C = {Y : Y ∈ C} não é um subconjunto
conexo de X. Então existem abertos U e V tais que C ⊆ U ∪ V , C ∩ U 6= ∅, C ∩ V 6= ∅ e
C ∩ U ∩ V =T∅.
Seja a ∈ {Y : Y ∈ C} fixado. Suponhamos que a ∈ U (se a ∈ V é análogo). Para cada
Y ∈ C, temos então que a ∈ Y ∩ U e portanto Y ∩ U 6= ∅. Além disso, Y ∩ U ∩ V = ∅ e
Y ⊆ U ∪ V . Mas Y é conexo, logo precisamos ter Y ∩ V = ∅.
Como a afirmação acima vale para todo Y ∈ C, concluı́mos que C ∩ V = ∅, contradição.

Corolário 4.10. Se quaisquer dois pontos de um espaço topológico X pertencem a um
mesmo subespaço conexo de X, então X é conexo.
Demonstração: Fixemos x0 ∈ X. Para cada x ∈ X, podemos tomar um subespaço conexo
Cx de X que contem os pontos x e x0 . Podemos então aplicar o teorema acima para a famı́lia
C = {Cx : x ∈ X}. 
Temos que a conectividade é preservada pelo produto cartesiano:
Q
Teorema 4.11. O produto X = s∈S Xs , onde Xs 6= ∅ para todo s ∈ S, é conexo se, e
somente se, todos os espaços Xs são conexos.
Demonstração: Se X é conexo, então Xs é conexo, para todo s ∈ S pois as projeções são
contı́nuas. Para mostrar a outra implicação, primeiro, usando o corolário anterior, podemos
4. ESPAÇOS CONEXOS 53

mostrar que o produto de dois espaços conexos é conexo: se (x1 , y1 )e(x2 , y2 ) são dois pontos
quaisquer do produto X1 × X2 , consideramos o conexo (X1 × {y2 }) ∪ ({x2 } × X2 ). Por
indução, podemos concluir que o produto finito de espaços conexos é conexo.

Para um Q produto qualquer, fixe a = {as }s∈S ∈ X. Note que para todo S ⊆ Q S finito
temos que s∈S ′ Xs × {as }Q s∈S\S ′ é conexo (pois é homeomorfo ao produto finito s∈S ′ Xs ).

T
Considere a famı́lia C = {S s∈S ′ Xs × {as }s∈S\S ′ : S ⊆ S finito }. Como C = 6 ∅ (pois
contém a), temos que C = {Y : Y ∈ C} é conexo. Mas também C é denso em X. Portanto
X é conexo. 
Exemplo 4.12. R2 \ Q2 é um subconjunto conexo de R2 .
Exemplo 4.13. R2 \ M , onde M é um subconjunto infinito enumerável, é conexo.
Definição 4.14. Seja X um espaço topológico e x ∈ X. A componente conexa de x é o
maior (no sentido da inclusão) subconjunto conexo de X ao qual x pertence.
E 4.4. Mostre que a componente conexa de um ponto x num espaço topológico X é sempre
fechada.
Podemos definir também espaços localmente conexos:
Definição 4.15. Um espaço topológico é localmente conexo se todo ponto admite um
sistema fundamental de vizinhanças conexas.
Exemplo 4.16. O espaço discreto X é localmente conexo.
Exemplo 4.17. A reta real é conexa e localmente conexa.
E 4.5. Mostre que se X é localmente conexo então toda componente conexa é aberta.
Vamos dar agora um exemplo que mostra que nem todo espaço conexo é localmente
conexo.
Exemplo 4.18. Seja X = ({0} × [−1, 1]) ∪ {(x, sen x1 ) : x ∈]0, 1]}. Consideremos X como
subespaço de R2 . Temos então que X é conexo mas não é localmente conexo.
Um outro tipo de conexidade que é comum é conexidade por caminhos.
Definição 4.19. Um espaço topológico X é conexo por caminhos se para quaisquer dois
pontos x1 e x2 em X, existe uma função contı́nua f : [0, 1] −→ X tal que f (0) = x1 e
f (1) = x2 .
E 4.6. Mostre que todo espaço conexo por caminhos é conexo e dê um exemplo de um
espaço conexo que não é conexo por caminhos.
CAPı́TULO 5

Espaços compactos

1. Introdução
Veremos neste capı́tulo a compacidade e algumas de suas generalizações, como compaci-
dade enumerável, compacidade sequencial, paracompacidade e propriedade de Lindelöf.
Antes daremos algumas definições que serão usadas com frequência:
Definição 5.1. Seja X um espaço topológico. Dizemos que uma S famı́lia C de subcon-
juntos de X é um recobrimento de X (ou uma cobertura de X) se X = C. O recobrimento
diz-se aberto se os elementos de C forem abertos.
Dizemos que uma subfamı́lia C ′ ⊆ C é um sub-recobrimento de X se C ′ = X
S

2. Espaços compactos
Definição 5.2. Seja X um espaço topológico. Dizemos que C é um recobrimento finito
se C é um recobrimento contendo apenas um número finito de elementos.
Definição 5.3. Um espaço topológico é compacto se todo recobrimento aberto de X
possui um sub-recobrimento finito.

Pela definição de subespaço podemos mostrar o seguinte:


Teorema 5.4. Um subespaço A ⊆ XSé compacto se e somente se para cada famı́lia
{Us : s ∈ S}Sde abertos de X tal que A ⊆ s∈S Us , existe um subfamı́lia finita {Us : s ∈ S ′ }
tal que A ⊆ s∈S ′ Us .
Demonstração: Exercı́cio. 
Observação 5.5. Dado um S subconjunto A e uma coleção de subconjuntos abertos C de
X, diremos que C cobre A se C ⊇ A. Podemos então, pelo teorema acima, dizer que um
subconjunto A ⊆ X é compacto se e somente se toda famı́lia de abertos de X que cobre A
possui uma subfamı́lia finita que cobre A.
Corolário 5.6. Seja X um espaço topológico. A reunião finita de subespaços compactos
de X é compacta.

Exemplo 5.7. R com a topologia usual não é compacta, mas [0, 1] é compacto. De
fato, seja C uma coleção de abertos de R que cobre o intervalo [0, 1]. Considere o conjunto
A = {x ∈ [0, 1] : [0, x] pode ser coberto por finitos elementos de C}. Observe que o conjunto
A admite supremo e que supA = 1 o que mostra que [0, 1] é compacto.
55
56 5. ESPAÇOS COMPACTOS

E 5.1. Verifique se os subconjuntos de R abaixo são ou não compactos (R com a topologia


usual). Mostre as afirmações usando a definição de compacidade.
(a) o intervalo ]0, 1[;
(b) { n1 : n ∈ N, n 6= 0};
(c) { n1 : n ∈ N, n 6= 0} ∪ {0}.
E 5.2. Dê um exemplo de um subconjunto de R que é fechado (e diferente de R) que não
é compacto.
E 5.3. Mostre que um espaço X com a topologia discreta é compacto se e somente se X
é finito.
E 5.4. Seja X um conjunto infinito. Mostre que X com a topologia co-finita é compacto
e que X com a topologia co-enumerável não é compacto.
Veremos agora vários resultados simples envolvendo espaços compactos.
Teorema 5.8. Todo subespaço fechado de um espaço compacto é compacto.
Demonstração: Seja X um espaço compacto e F um subespaço fechado de X. Seja {Vs : s ∈
S} uma coleção de abertos de X que cobre F . Como F é fechado, {Vs : s ∈ S} ∪ {X \ F }
é um recobrimento aberto de X. Portanto existe um subconjunto finito S ′ ⊆ S tal que
{Vs : s ∈ S ′ } ∪ {X \ F } é um recobrimento aberto de X. Segue então que {Vs : s ∈ S ′ } é
finito e cobre F . 

Os próximos resultados ajudam a verificar se espaços compactos. Primeiro veremos que


é suficiente considerar recobrimentos formados por abertos de uma base:
Lema 5.9. Seja X um espaço topológico e B uma base de X. Então X é compacto se e
somente se cada cobertura aberta C ⊆ B possui um sub-recobrimento finito.
Demonstração:
(⇒) Imediato, já que C é um recobrimento aberto de X.
(⇐) Seja C um recobrimento aberto de X. Para cada x ∈ X, existe Ux ∈ C tal que
x ∈ Ux e Vx ∈ B tal que x ∈ Vx ⊆ Ux . Temos então que {Vx : x ∈ X} é um recobrimento
aberto de X formado por elementos de B e, por hipótese, tem um sub-recobrimento finito.
Logo existe F ⊆ X finito tal que {Vx : x ∈ F } cobre X. Segue então que {Ux : x ∈ F } é um
sub-recobrimento finito de C, o que termina a demonstração. 
Um resultado mais forte, mas menos conhecido e com uma demonstração mais difı́cil, é
o fato de ser suficiente usar abertos de uma sub-base do espaço topológico.
Definição 5.10. Seja X um espaço topológico e B um subcojunto de abertos de X.
Dizemos que B é uma sub-base de X se o cojunto das intersecções finitas de elementos de B
forma uma base para X.
Teorema 5.11. (Lema de Alexander) Seja X um espaço topológico e B uma sub-
base de X. X é compacto se e somente se todo recobrimento aberto de X, cujos elementos
pertencem a B, admitem um sub-recobrimento finito.
Demonstração: Um sentido é imediato. Para mostrar que X é compacto, seja C0 um recobri-
mento aberto de X qualquer e suponhamos, por absurdo, que não admite sub-recobrimento
finito.
2. ESPAÇOS COMPACTOS 57

Denotemos por M o conjunto de todos os recobrimentos abertos C de X tais que:


(1) C0 ⊆ C e
(2) C não admite sub-recobrimento finito.
Ordenemos M por inclusão. É fácil mostrar que (M, ⊆) é ordenado indutivo. Pelo lema
de Kuratowski-Zorn, existe um elemento maximal C∗ em M.
Mostremos que C∗ ∩ B é um recobrimento de X, o que em vista da hipótese, implicaria
que C∗ ∩ B admitiria sub-recobrimento finito,
S contradição.
Se C∗ ∩ B não recobre X, existe x ∈ X \ C∗ ∩ B. Como B é sub-base existem G1 , . . . , Gm
pertencentes a B tal que x ∈ G1 ∩ . . . ∩ Gm e este último conjunto está contido em algum
elemento U de C∗ .
Para cada ı́ndice i, 1 ≤ i ≤ m, temos que Gi ∈ / C∗ . Portanto, C∗ ∪ {Gi } admite sub-
recobrimento S T existe Ci ⊆ C∗ , finito, tal que Ci ∪ {Gi } recobre X.
finito (por (2)); donde,
Segue-se que {Ci : 1 ≤ i ≤Sm} ∪ { {Gi : 1 ≤ i ≤ m} é um recobrimento finito de X.
Temos, finalmente, que {Ci : 1 ≤ i ≤ m} ∪ {U } é um cojunto finito, recobre X e está
contido em C∗ (contradição). 

Definição 5.12. Dizemos que uma famı́lia F = {Fs : s T ∈ S} tem a propriedade da



intersecção finita se, para cada S ⊆ S finito, a intersecção s∈S ′ Fs é um conjunto não
vazio.
E 5.5. Quais das coleções de subconjuntos de R abaixo tem a propriedade da interseçcão
finita?
(a) {[−n, n] : n ∈ Z+ };
(b) {] − n1 , n1 [: n ∈ Z+ };
(c) {[n, ∞[: n ∈ Z+ };
(d) {]n, ∞[: n ∈ Z+ }.
Teorema 5.13. Um espaço X é compacto se e somente se toda famı́lia de conjuntos
fechados de X satisfazendo a propriedade da intersecção finita tem intersecção não vazia.
Demonstração: Seja X um espaçoT compacto e {Fs : s ∈ S} uma famı́lia de conjuntos
fechados tal que
S a intersecção
S s∈S s é vazia.TPara cada s ∈ S, seja Us = X \ Fs . Cada
F
Us é aberto e s∈S Us = s∈S (X \ Fs ) = X \ ( s∈S Fs ) = X. Portanto, {Us : s ∈ S} é um

recobrimento Saberto de X. Pela T compacidade de X, existe um subconjunto finito S de S
tal que X = s∈S ′ Us . Logo, s∈S ′ Fs = ∅ e portanto a famı́lia {Fs : s ∈ S} não satisfaz a
propriedade da intersecção finita.
Reciprocamente, se X não é compacto, existe um recobrimento aberto {Us : s ∈ S} que
nenhum sub-recobrimento finito, ou seja, para cada subconjunto finito S ′ ⊆ S,
não possui S
temos que Ts∈S ′ Us 6= X. Portanto {X \ Us : s ∈ S} satisfaz a propriedade da intersecção
finita, mas s∈S (X \ Us ) = ∅. 
E 5.6. Mostre que o plano Euclidiano, com a topologia usual, não é compacto.
E 5.7. Mostre que [0, 1] ∩ Q não é um subconjunto compacto de R com a topologia usual.

Vamos agora ver alguns resultados envolvendo a compacidade e os axiomas de separação:


Teorema 5.14. Todo subespaço compacto de um espaço Hausdorff é fechado.
58 5. ESPAÇOS COMPACTOS

Demonstração: Seja A um subespaço compacto de um espaço Hausdorff X e seja x ∈ / A.


Para cada ponto a ∈ A, existem abertos Ua e Va , disjuntos, tais que a ∈ Ua e x ∈ Va . Como
{Ua : a ∈ A} é uma famı́lia de abertos que cobre A e A é compacto, temos que existe A′ ⊆ A,
finito, tal que A ⊆ {Ua : a ∈ A′ }. Sendo assim, temos que V = {Va : a ∈ A′ } é uma
S T
vizinhança aberta de x contida em X \ A. Logo, X \ A é aberto, o que implica que A é um
fechado. 
E 5.8. Mostre que a hipótese de ser Hausdorff é essencial no teorema acima. (Sugestão:
olhe a topologia cofinita.)
Teorema 5.15. Todo espaço de Hausdorff compacto é regular.
Demonstração: Sejam F um fechado e x 6∈ F . Para cada y ∈ F , existem abertos disjuntos,
Uy e Vy , tais que y ∈ Uy e x ∈ Vy . Temos então que {Uy : y ∈
SF }∪{X \F } é um recobrimento
aberto de X e portanto existe F ′ ⊆ F , finito, tal que F ⊆ y∈F ′ Uy . Portanto U = y∈F ′ Uy
S
T
e V = y∈F ′ Vy são abertos disjuntos tais que F ⊆ U e x ∈ V . 
Podemos agora fazer um argumento parecido para mostrar o seguinte teorema:
Teorema 5.16. Prove que todo espaço compacto regular é normal.
Demonstração: Exercı́cio. 
Assim concluı́mos que:
Corolário 5.17. Todo espaço compacto Hausdoff é normal.
Observação 5.18. Espaços compactos T1 não são necessariamente Hausdorff. Por exem-
plo, podemos tomar X um conjunto infinito com a topologia co-finita.
E 5.9. Seja X um espaço topológico. A intersecção de dois subespaços compactos de X
é compacta?
O próximo teorema mostra que a compacidade é preservada por funções contı́nuas:
Teorema 5.19. Seja X um espaço compacto e f uma função contı́nua de X em Y .
Então f (X) é compacto.
Demonstração: Seja C uma famı́lia de abertos em Y que cobre f (X). Então {f −1 (U ) : U ∈ C}
é um recobrimento
S −1aberto de X ′Como X é compacto, existe um subconjunto finito C ′ ⊆ C
tal que X = {f (U ) : U ∈ C }. Mas teremos então que f (X) ⊆ {U : U ∈ C ′ }, o que
S
termina a demonstração. 
Corolário 5.20. Sejam X e Y espaços topológicos e seja F um subconjunto compacto
de X. Se f : X −→ Y é uma função contı́nua, então f (F ) é compacto em Y .
Demonstração: Exercı́cio. 
Corolário 5.21. Seja X um espaço compacto e Y um espaço Hausdorff. Seja f uma
função contı́nua de X em Y . Então f é uma função fechada.
Demonstração: Seja F um subconjunto fechado de X. Como X é compacto e F é fechado,
temos que F é compacto. Pelo teorema acima, f (F ) é um subconjunto compacto de Y . Mas
Y é Hausdorff, então seus subconjuntos compactos são fechados. Logo, f (F ) é fechado em
Y , o que mostra que f é uma função fechada. 
Do corolário acima, segue o seguinte:
2. ESPAÇOS COMPACTOS 59

Corolário 5.22. Toda função contı́nua bijetora de um espaço compacto X em um espaço


Hausdorff Y é um homeomorfismo.
E 5.10. Sabemos que o intervalo aberto ]0, 1[ é homeomorfo a R. Mostre que o intervalo
fechado [0, 1] não é homeomorfo a R.
Corolário 5.23. Seja (X, T ) um espaço compacto T2 . Então não existe uma topologia
Hausdorff em X estritamente menos fina que T .
Demonstração: Suponhamos que exista uma topologia Hausdorff T ′ menos fina que T . Então
a função identidade i : (X, T ) −→ (X, T ′ ) é uma função contı́nua bijetora. Pelo corolário
acima, i é um homeomorfismo. Logo, U ∈ T ′ se e somente se U = i−1 (U ) ∈ T . Portanto
T = T ′. 
E 5.11. Mostre que se τ e τ ′ são topologias sobre X e τ ⊆ τ ′ , então, (X, τ ) é compacto
sempre que (X, τ ′ ) é compacto, e, (X, τ ′ ) é T2 sempre que (X, τ ) é T2 .
Observação 5.24. Note que pelo corolário acima, se (X, τ ) é um espaço compacto T2 ,
não existe τ ′ , topologia em X, tal que τ ( τ ′ e (X, τ ′ ) é compacto T2 .

Mostraremos mais a frente que o produto qualquer de espaços compactos é compacto. Um


caso particular, com uma demonstração mais simples, é o fato do produto de dois compactos
ser sempre compacto:
Teorema 5.25. Se X e Y dois espaços compactos, então o produto cartesiano X × Y é
um espaço compacto.
Demonstração: Seja B a base de abertos básicos da topologia produto X × Y . Seja C um
recobrimento aberto de X × Y tal que C ⊆ B. Pelo lema acima, é suficiente mostrar que C
possui um sub-recobrimento finito.
Fixemos x ∈ X. Como {x} × Y é homeomorfo a Y ,Stemos que {x} × Y é um espaço
compacto. Seja Dx = {U × V ∈ C : x ∈ U }. Note que Dx ⊇ {x}S× Y , portanto, existe
uma subfamı́lia
T finita D′ x = {Ux,1 × Vx,1 , . . . , Ux,nx × Vx,nx } tal que Dx′ ⊇ {x} × Y . Seja
Ux = {Ux,i : i ≤ nx }.
Para cada x seja Ux o aberto definido como acima. Então, {Ux : x ∈ X} é uma
′ ′
cobertura aberta de X. Portanto existe um

S subconjunto finito X tal que {Ux : x ∈ X }
recobre X. Para cada x ∈ X , temos que {Ux × Vx,i : i ≤ nx } recobre Ux × Y . Portanto
{Ux × Vx,i : x ∈ X ′ e i ≤ nx } recobre X × Y . Como Ux ⊆ Ux,i , para cada x ∈ X ′ e para
cada i ≤ nx , temos que {Ux,i × Vx,i : x ∈ X ′ e i ≤ nx } é um sub-recobrimento finito de C.
Portanto, X × Y é compacto. 

Fica a cargo do leitor mostrar o seguinte lema que usaremos a seguir. Note que sua
demonstração na verdade aparece dentro da demonstração acima.
Lema 5.26. Se A é um subespaço compacto de um espaço X e y é um ponto de Y , então
para cada aberto W de X × Y contendo A × {y}, existe um aberto U de X e um aberto V
de Y tal que A × {y} ⊆ U × V ⊆ W .
Vamos dar agora uma caracterização dos espaços compactos utilizando projeções do
produto cartesiano de dois espaços:
60 5. ESPAÇOS COMPACTOS

Teorema 5.27. (Teorema de Kuratowski) Para um espaço X, as seguintes condições


são equivalentes:
(i) o espaço X é compacto;
(ii) para cada espaço topológico Y , a projeção π : X × Y −→ Y é fechada;
(iii) para cada espaço normal Y a projeção π : X × Y −→ Y é fechada.
Demonstração: Note que Y não é necessariamente Hausdorff compacto no ı́tem (ii) ou (iii).
(i) ⇒ (ii): Seja X um espaço compacto e F um subconjunto fechado do produto cartesiano
X × Y . Vamos mostrar que π(F ) é um conjunto fechado, mostrando que Y \ π(F ) é aberto.
Fixe y ∈ / π(F ). Como X × {y} ⊆ (X × Y ) \ F , pelo lema acima, existe um aberto U de
X e um aberto V de Y tal que X × {y} ⊆ U × V ⊆ (X × Y ) \ F . Note que U = X; logo
π −1 (V ) ∩ F = (X × V ) ∩ F = ∅. Portanto V ∩ π(F ) = ∅, ou seja, V é uma vizinhança de y
disjunta de π(F ), o que mostra que π(F ) é um conjunto fechado.
A implicação (ii) ⇒ (iii) é obvia, portanto resta apenas mostrarmos que (iii) ⇒ (i). Seja
X um espaço com a propriedade (iii). Suponhamos que existe uma famı́liaT {Fs : s ∈ S} de
subconjuntos fechados de X com a propriedade da interseção finita tal que {Fs : s ∈ S} =
∅. Tomemos um ponto y0 ∈ / X e sobre o conjunto Y = X ∪ {y0 } consideramos a topologia
consistindo de todos os subconjuntos de X e de todos os conjuntos da forma

{y0 } ∪ (Fs1 ∩ . . . ∩ Fsk ) ∪ K,


onde s1 , . . . sk ∈ STe K ⊆ X.
Da igualdade {Fs : s ∈ S} = ∅, segue que Y é um espaço T1 . Como todo subconjunto
que não contém y0 é aberto, Y é um espaço normal.
Como X possui a propriedade (iii), a projeção π(F ) do conjunto F = {(x, x) : x ∈ X} ⊆
X × Y é fechado em Y . Da inclusão X ⊆ π(F ), segue que y0 ∈ π(F ), pois o conjunto X é
denso em Y ; logo existe x0 ∈ X tal que (x0 , y0 ) ∈ F . Segue então que para cada vizinhança
U de x0 em X e para cada s ∈ S, temos que [U × ({y0 } ∪ Fs )] ∩ {(x, x) : x ∈ X} 6= ∅.
X
Portanto
T U ∩ Fs 6
= ∅, o que mostra que x 0 ∈ Fs = Fs , para cada s ∈ S. Isto implica que
x0 ∈ {Fs : s ∈ S} = ∅, que é uma contradição. 

Antes do próximo resultado lembraremos a seguinte definição:


Definição 5.28. Seja X um espaço topológico e A ⊆ X. Dizemos que x ∈ X é ponto
de acumulação de A se para cada vizinhança U de x em X, A ∩ (U \ {x}) 6= ∅.
E 5.12. Mostre que se X é T1 e A ⊆ X, então x ∈ X é ponto de acumulação de A se, e
somente se, para cada vizinhança U de x em X, A ∩ U é infinito.
E 5.13. Mostre que x é ponto de acumulação de A, se, e somente se, x ∈ A \ {x}.
Proposição 5.29. Se X é compacto, então todo subconjunto infinito de X tem ponto
de acumulação.
Demonstração: Seja A um subconjunto de X que não tenha pontos de acumulação e vamos
S cada x ∈ X, existe uma vizinhança aberta Ux de x tal
mostrar que A é finito. Então, para
que Ux ∩ A ⊆ {x}. Logo X = {Ux :S x ∈ X}. Como X é compacto temos que existe X ′ ,
subconjunto finito de X, tal que X = {Ux : x ∈ X ′ }. Segue então que
[ [ [
A=A∩X =A∩ Ux = (Ux ∩ A) ⊆ {x} = X ′ .
x∈X ′ x∈X ′ x∈X ′
2. ESPAÇOS COMPACTOS 61

Como X ′ era finito, temos que A é finito. 


Teorema 5.30. Sejam X um espaço compacto Hausdorff, Y um espaço Hausdorff e
f : X −→ Y uma função contı́nua sobrejetora. Então se X satisfaz o segundo axioma de
enumerabilidade, Y também o satisfaz.
Demonstração: Como X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade, podemos fixar uma
base enumerável de abertos B′ de X. Seja B = {U1 ∪ . . . ∪ Un : U1 , . . . , Un ∈ B′ e n ∈ N}.
Já que B′ é enumerável, temos que B também é. Como B′ ⊆ B, B também é uma base de
X. Seja D = {Y \ f (U ) : U ∈ B}. Como f é uma função contı́nua de um espaço compacto
num espaço Hausdorff, temos que f é fechada. Portanto D é uma famı́lia de abertos de Y .
Além disso, D é enumerável.
Só resta mostrar que D é uma base para o espaço Y . De fato, seja y ∈ Y e W uma
vizinhança aberta de y. Como f é sobrejetora, podemos tomar x ∈ f −1 (y). Pela continuidade
de f , temos que f −1 (W ) é uma vizinhança aberta de x e X \ f −1 (W ) é um fechado que tem
interseção vazia com o fechado f −1 (y). Pela regularidade de X e pelo fato de B ser base,
para cada z ∈ X \ f −1 (W ), existe Uz ∈ B tal que z ∈ Uz ⊆ Uz ⊆ X \ f −1 (y). Como
X \ f −1 (W ) é um subconjunto fechado de um compacto, ele é compacto. Logo, existe
um subconjunto
Sn finito z1 , . . . , zn ∈ X \ f −1 (W ) tal que Uz1 ∪ . . . ∪ Uzn ⊇ X \ f −1 (W ).
Seja U = i=1 Uzi . Pela construção de B, U ∈ B e pelo que fizemos acima, temos que
Y \f (U ) ⊆ Y \f (X \f −1 (W )) = Y \f (f −1 (Y \W )) = Y \(Y \W ) = W , pois f é sobrejetora.
Portanto Y \ f S (U ) ⊆ W . Como Y \Sf (U ) ∈ D, resta mostrarmos que y ∈ Y \ f (U ). Mas,
U ∩ f −1 (y) = ( ni=1 Uzi ) ∩ f −1 (y) = ni=1 (Uzi ∩ f −1 (y)) = ∅. Portanto y ∈ / f (U ) e D é uma
base de Y . 
Exemplo 5.31. (“Alexandroff double arrow”) Seja X o intervalo [0, 1], D = {0, 1}
um conjunto com dois elementos e Z o conjunto X × D. Vamos definir uma topologia em Z
a partir de um sistema de vizinhanças {Bz : z ∈ Z}. Para cada z = (x, 1), onde x ∈ X, seja
Bz o conjunto {{(x, 1)}} e para cada z = (x, 0) tal que x ∈ X, Bz = {[(x − n1 , x + n1 ) ×D]\F :
n ∈ N+ e F ⊆ X × {1} é finito}. Fica a cargo do leitor verificar que a coleção {Bz : z ∈ Z}
acima de fato gera uma topologia sobre Z e que essa topologia é Hausdorff. Como cada Bz é
uma coleção enumerável, temos que o espaço satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade.
Note que o espaço não satisfaz o segundo axioma da enumerabilidade, pois qualquer base
de Z precisa conter a famı́lia {{(x, 1)} : x ∈ X}. Também é fácil ver que Z não é um espaço
separável.
Vamos agora mostrar que este espaço é compacto. Primeiro,S note que X × {0} é homeo-
morfo a I e portanto é um subespaço compacto. Seja B a base {Bz : z ∈ Z} de Z. Basta
mostrarmos que toda cobertura aberta C ⊆ B de X possui sub-recobrimento finito. Como
X × {0} é um subespaço compacto, existe uma subfamı́lia finita C ′ de C que cobre X × {0}.
1 1
Como os abertos em C ′ que interceptam X × {0} são Sda′ forma [(x − n , x + n ) × D] \ F , onde
F é um subconjunto finito, temos que X × {1} \ C é um subconjunto finito, portanto,
podemos achar uma subfamı́lia finita C ′′ de C tal que C ′ ∪C ′′ cobre Z. Portanto Z é compacto.
Em particular, um espaço compacto Hausdorff satisfazendo o primeiro axioma de enu-
merabilidade não precisa ser metrizável.
E 5.14. Mostre que no teorema 5.30 não podemos substituir segundo enumerável por
primeiro enumerável, ou seja, mostre que existem dois espaços compactos Hausdorff Y e W
e uma função f contı́nua sobrejetora de Y em W tal que Y satisfaz o primeiro axioma de
enumerabilidade, mas W não.
62 5. ESPAÇOS COMPACTOS

Sugestão: Seja Z o exemplo 5.31 acima e considere a seguinte relação de equivalência E:


(x, 1) é equivalente apenas a ele mesmo e (x, 0) é equivalente a (y, 0), para cada x, y ∈ X.
Considere a função quociente de Z em Z/E.

De modo geral a intersecção de dois conjuntos densos pode ser vazia (ache exemplo).
Mas temos alguns casos especiais como veremos a seguir.
E 5.15. A intersecção finita de conjuntos abertos densos é um conjunto denso.
Sugestão: Mostre primeiro para dois e use indução finita.
No caso de uma famı́lia enumerável de abertos densos, não podemos esperar que a in-
terseção seja um conjunto denso. Por exemplo, seja Q o conjunto dos racionais com a
T usual. Então para cada q ∈ Q, o conjunto Q \ {q} é um conjunto aberto denso,
topologia
mas {Q \ {q} : q ∈ Q} = ∅.
Vamos agora mostrar que se o espaço é compacto Hausdorff, então a intersecção enu-
merável de abertos densos é um conjunto denso. Este resultado é conhecido como Teorema
de Baire e vale também para outros espaços.
Teorema 5.32. (“Teorema de Baire” para espaços de Hausdorff compactos)
Seja X um espaço compacto
T T2 e seja U = {Un : n ∈ N} uma famı́lia enumerável de abertos
densos de X. Então U é denso em X.
T
Demonstração: Seja U um aberto não vazio de X. Precisamos mostrar que U ∩ U é um
conjunto não vazio. Para isto, primeiro construiremos por indução uma sequência W1 , W2 , . . .
de abertos não vazios de X tais que para cada i = 1, 2, . . ., temos que
(i) Wi ⊆ Ui ∩ U e
(ii) Wi+1 ⊆ Wi .
Para i = 1, o conjunto U1 ∩ U é não vazio, pois U1 é denso em X e U é um aberto não
vazio. Logo, Como X é compacto e Hausdorff, X é regular e portanto existe um aberto W1
tal que W1 ⊆ U1 ∩ U . É fácil ver que (i) e (ii) estão satisfeitos neste caso. Por hipótese de
indução, suponhamos definidos W1 , . . . , Wi satisfazendo (i) e (ii). Como Wi é não vazio, e
Ui+1 é um aberto denso, Wi ∩ Ui+1 é um aberto não vazio de X. Portanto, existe Wi+1 aberto
não vazio tal que Wi+1 ⊆ Wi+1 ⊆ Ui+1 ∩ Wi ⊆ Ui+1 ∩ U . Portanto (i) e (ii) estão satisfeitos
o que termina a indução. T
Vamos agora mostrar que U ∩ U = 6 ∅. De fato, por (ii), {Wi : i = 1, 2, . . .} é uma famı́lia
de fechadosTsatisfazendo a propriedade da intersecção finita. Portanto, como X é compacto,
existe x ∈ {Wi T : i = 1, 2, . . .}. Por (i), segue que x ∈ Ui ∩ U , para cada i = 1, 2, . . . e
portanto x ∈ U ∩ U. 

3. O Teorema de Tychonoff
Vamos mostrar nesta secção o Teorema de Tychonoff, ou seja, que o produto arbitrário
de espaços compactos é compacto. Para isto, vamos primeiro lembrar o axioma da escolha
e o Lema de Zorn.

O axioma da Escolha: S Para cada famı́lia {Xs : s ∈ S} de conjuntos não-vazios, existe


uma função f de S em s∈S Xs tal que para cada s ∈ S, temos f (s) ∈ Xs . Em outras
palavras, o produto de conjuntos não-vazios é não-vazio.
3. O TEOREMA DE TYCHONOFF 63

Definição 5.33. Seja X um conjunto. Um subconjunto A ⊆ X × X é uma ordem em


X se para quaisquer x, y, z ∈ X temos:
(i) se (x, y) ∈ A, então (y, x) ∈
/ A,
(ii) se (x, y) ∈ A e (y, z) ∈ A, então (x, z) ∈ A.
Denotaremos (x, y) ∈ A por x <A y ou simplesmente x < y e relação A por <.
Dizemos que uma ordem < é linear (ou total) se ela é uma ordem e para cada par de
elementos x, y ∈ X distintos, temos x < y ou y < x.
Um conjunto X é bem ordenado por uma ordem linear < se todo subconjunto não vazio
de X tem mı́nimo, ou seja, se Y ⊆ X é não-vazio, então existe x0 ∈ Y tal que para cada
x ∈ Y \ {x0 } temos x0 < x.
Exemplo 5.34. A relação ⊂ é uma relação de ordem sobre o conjunto das partes.
O Teorema de Zermelo de boa ordenação: Todo conjunto X pode ser bem ordenado,
isto é, admite uma boa ordem sobre ele.
Definição 5.35. Dada uma ordem A sobre X e Y ⊆ X, a relação A∩(Y ×Y ) define uma
ordem sobre Y que chamaremos de ordem induzida em Y . Diremos que Y é um subconjunto
linearmente ordenado de X se a ordem induzida em Y é linear.
Diremos que x ∈ X é um elemento maximal de X se não existe y ∈ X tal que x < y.
O Lema de Kuratowski-Zorn: Seja X um conjunto ordenado por <. Se para cada
subconjunto Y linearmente ordenado de X existe x0 ∈ X tal que x < x0 ou x = x0 para
todo x ∈ Y (i.e., x0 é um majorante de Y ), então X possui um elemento maximal.
Pode-se mostrar que o Axioma da Escolha, o Teorema de Zermelo e o Lema de Kuratowski-
Zorn são equivalentes. A prova da consistência do Axioma da Escolha foi obtida por Gödel
na década de 30-40 com o modelo construtı́vel. A independência do Axioma da Escolha foi
obtida por P. J. Cöhen na década de 60 com o uso do forcing.
Vamos agora definir filtros e ultrafiltros. Utilizaremos o Lema de Kuratowski-Zorn para
mostrar que todo filtro pode ser estendido a um ultrafiltro.
Definição 5.36. Seja X um conjunto não-vazio. Dizemos que uma famı́lia não-vazia F
de subconjuntos de X é um filtro sobre X se:
(a) ∅ ∈
/ F;
(b) se A ∈ F e A ⊆ B ⊆ X, então B ∈ F e
(c) se A, B ∈ F, então A ∩ B ∈ F.
Definição 5.37. Seja S uma famı́lia de subconjuntos de X com a propriedade da inter-
secção finita. Então o filtro gerado por S é o conjunto {F ⊆ X : ∃S ′ ⊆ S finito tal que ∩S ′ ⊆
F }.
E 5.16. Mostre que, na definição acima, o filtro gerado é de fato um filtro.
Definição 5.38. Dado um filtro F sobre X, dizemos que S ⊆ F é uma base do filtro F
se para cada A, B ∈ S existe C ∈ S tal que C ⊆ A ∩ B e o filtro gerado por S é F.
Note que se uma famı́lia S satisfaz a propriedade da intersecção finita, temos então que
A = {∩S ′ : S ′ ⊆ S é finito } é uma base para o filtro gerado por S.
Definição 5.39. Dizemos que um filtro F é um ultrafiltro se F é maximal com relação
a ordem de inclusão, i.e., não existe um filtro sobre X contendo F propriamente.
64 5. ESPAÇOS COMPACTOS

Teorema 5.40. Toda famı́lia P de subconjuntos de um conjunto X satisfazendo a pro-


priedade da interseção finita pode ser estendida a um ultrafiltro F, isto é, existe um ultrafiltro
F tal que P ⊆ F.
Demonstração: Considere o conjunto Z de todos os filtros que contêm P. Temos que Z é
não-vazio pois o filtro gerado por P está em Z. Consideremos a relação ⊂ sobre Z e seja W
um subconjunto de Z linearmente ordenado. S
Fica a cargo do leitor verificar que W é um filtro e portanto
S é um elemento
S de Z.
Note que para mostrar que a intersecção de dois elementos de W está em W , éSpreciso
S Z é linearmente ordenado. Temos também que, para cada W ∈ W , W ⊂ W ou
usar que
W = W , i.e., Z satisfaz as hipóteses do Lema de Kuratowski-Zorn. Então Z possui um
elemento maximal F e F é um ultrafiltro estendendo P. 
A seguinte caracterização de ultrafiltros é muito útil:
Teorema 5.41. Seja U um filtro sobre um conjunto X. Temos que U é um ultrafiltro
sobre X se e somente se para todo A ⊆ X, A ∈ U ou X \ A ∈ U.
Demonstração: Suponha primeiro que U é um ultrafiltro e seja A ⊂ X. Se A é tal que
A ∩ F 6= ∅ para todo F ∈ U, temos que U ∪ {A} tem a propriedade da interseção finita (note
por exemplo, que se F1 e F2 estão em U, F1 ∩ F2 ∈ U e portanto A ∩ F1 ∩ F2 6= ∅) e portanto
gera um filtro. Como U é maximal temos que A ∈ U. Se, por outro lado, existe F ∈ U tal
que A ∩ F = ∅. temos que F ⊆ X \ A, o que implica que X \ A ∈ U.
Suponha agora que U não é maximal. Temos então que existe um filtro F que contém
U propriamente. Portanto, existe A ∈ F tal que A ∈ / U. Por hipótese teremos então que
X \ A ∈ U. Mas U ⊆ F e F é um filtro, contradição. 

E 5.17. Sejam X um conjunto e x ∈ X. Mostre que U = {U ⊆ X : x ∈ U } é um


ultrafiltro sobre X.
E 5.18. Seja Y um conjunto infinito. Defina F = {T ⊆ Y : Y \ T é finito }. Mostre
que F é um filtro sobre Y e que não existe b ∈ Y tal que b ∈ F para todo F ∈ F. F é um
ultrafiltro?
Definição 5.42. Seja F um filtro sobre umTespaço topológico X. Dizemos que um ponto
x ∈ X é um ponto de aderência de F se x ∈ {F : F ∈ F}.
Definição 5.43. Dizemos que um filtro F sobre um espaço topológico X converge para
x, ou que x é um limite de F se toda vizinhança de x é um elemento de F.
E 5.19. Mostre que se x é um limite de F, então x é um ponto de aderência de F.
E 5.20. Mostre que se X é um espaço de Hausdorff, então F possui no máximo um
limite.
Teorema 5.44. Seja F um ultrafiltro sobre X e suponhamos que x é um ponto de
aderência de F. Então x é um limite de F.
Demonstração: Seja V uma vizinhança de x. Temos que mostrar que V ∈ F. Como x é
ponto de aderência de F, para cada F ∈ F, temos que x ∈ F e portanto V ∩ F 6= ∅. Em
particular, see X \ V ∈ F, então V ∩ (X \ V ) 6= ∅, contradição. Portanto, X \ V ∈
/ F, o que
implica que V ∈ F, já que F é um ultrafiltro. 
4. ESPAÇOS LOCALMENTE COMPACTOS 65

Teorema 5.45. Um espaço X é compacto se e somente se todo ultrafiltro sobre X con-


verge.
Demonstração: Primeiro suponhamos que X é compacto e seja F um ultrafiltro sobre X.
Então a famı́lia {F : F T
∈ F} possui a propriedade da intersecção finita. Portanto, como X
é compacto, existe x ∈ {F : F ∈ F} e pelo teorema acima x é um limite de F.
Reciprocamente, suponhamos que todo ultrafiltro sobre X converge. Seja G uma famı́lia
de fechados que possui a propriedade
T da intersecção finita. Para mostrarmos que X é com-
pacto, basta mostrarmos que G = 6 ∅. Pelo teorema 5.40, podemos estender G para um
ultrafiltro F. Por hipótese,
T existe x ∈ X tal
T que x é limite T de F, o que implica (por um
exercı́cio acima) que x ∈ {F : F ∈ F} ⊆ {G : G ∈ G} = G. 
Para mostrar o teorema do Tychonoff, precisaremos do seguinte resultado:
Lema 5.46. Sejam f : X −→ Y um função e F um ultrafiltro sobre X. Então o conjunto
{f (F ) : F ∈ F} é uma base para um ultrafiltro sobre Y .
Demonstração: Primeiro note que, como F é um filtro, S = {f (F ) : F ∈ F} tem a
propriedade da interseção finita. Seja G o filtro gerado por S. Fica a cargo do leitor verificar
que S é uma base para G. Resta mostrarmos que G é um ultrafiltro. Vamos mostrar que
para cada A ⊆ Y , A ∈ G ou Y \ A ∈ G.
Seja A um subconjunto arbitrário de Y . Como F é um ultrafiltro, temos que f −1 (A) ∈ F
ou X \ f −1 (A) = f −1 (Y \ A) ∈ F. Se f −1 (A) ∈ F, então como f (f −1 (A)) ⊆ A, concluı́mos
que A ∈ G. Se f −1 (Y \ A) ∈ F, temos que Y \ A ∈ G. 
Teorema 5.47. (Teorema de Tychonoff ) Seja {Xi : i ∈ I}Quma famı́lia de espaços
topológicos compactos não-vazios. Então o produto de Tychonoff i∈I Xi é compacto.
Q
Demonstração: É suficiente mostrarmos
Q que todo ultrafiltro F sobre i∈I Xi converge. Para
cada j ∈ I, seja πj a projeção de i∈I Xi sobre Xj . Pelo lema acima, {πj (F ) : F ∈ F} é uma
base para um ultrafiltro sobre Xj , que denotaremos por Fj . Como Xj é compacto, temos
que Fj converge em Xj para um ponto xj . Vamos mostrar que x = {xj }j∈I é um limite do
ultrafiltro F. Note que basta mostrarmos que os abertos básicos que são vizinhanças de x
pertencemQ a F.
Sejam i∈I Vi um aberto básico tal que x ∈ i∈I Vi e I ′ o conjunto finito {i ∈ I : Vi 6=
Q

Xi }. Para cada i ∈ I ′ , como F é um ultrafiltro, temos que πi−1 (Vi ) ∈ F ou πi−1 (Xi \ Vi ) ∈ F.
Se πi−1 (Xi \ Vi ) pertencesse a F, terı́amos que πi (πi−1 (Xi \ Vi )) = Xi \ Vi ∈ Fi ; mas como
xi é limite de Fi , temos que Vi ∈ FQi , contradizendo que Fi é um filtro. Logo, πi−1 (Vi ) ∈ F.
Como I ′ éQfinito, temos então que i∈I Vi = i∈I ′ πi−1 (Vi ) ∈ F. Logo F converge para x.
T
Portanto i∈I Xi é compacto. 

4. Espaços localmente compactos


Definição 5.48. Dizemos que um espaço X é localmente compacto se todo ponto x de
X possui um sistema fundamental de vizinhanças compactas.
E 5.21. Mostre que todo espaço localmente compacto Hausdorff é regular.
Teorema 5.49. Seja X um espaço Hausdorff. Então X é localmente compacto se e
somente se para cada x ∈ X e para cada vizinhança aberta W de x, existe uma vizinhança
aberta V de x tal que V é um subconjunto compacto de W .
66 5. ESPAÇOS COMPACTOS

Demonstração: Exercı́cio. 
Corolário 5.50. Todo subespaço aberto de um espaço localmente compacto Hausdorff
é localmente compacto.
Demonstração: Exercı́cio. 
E 5.22. Verifique que a reta real é localmente compacta. Verifique que os racionais e os
irracionais não são localmente compactos.
E 5.23. Mostre que se X é compacto e Hausdorff, então X é localmente compacto.
Teorema 5.51. Todo espaço localmente compacto Hausdorff X é Tychonoff.
Demonstração: Seja x ∈ X e F um subconjunto fechado de X tal que x ∈ / F . Pelo teorema
5.49, existe uma vizinhança aberta U de x tal que x ∈ U ⊆ U ⊆ X \ F e U compacto. O
subespaço U é compacto Hausdorff e portanto é Tychonoff. O conjunto U \ U é um conjunto
fechado em U que não contém x. Portanto existe uma função f de U em [0, 1] tal que
f (x) = 0 e f (U \ U ) = 1.
Seja g : X −→ [0, 1] tal que g ↾ U = f e g(X \ U ) = 1. Temos que g(x) = 0 e g(F ) = 1.
Logo, para concluı́rmos a demonstração, basta mostrarmos que g é contı́nua. Primeiro note
que como g ↾ U = f , temos que g ↾ U = f ↾ U . Mas f é contı́nua e U é aberto, logo g ↾ U é
contı́nua. Resta apenas mostrar que g é contı́nua para todo y ∈ / U . Temos 2 possibilidades
para y.
Se y ∈ X \ U , então X \ U é uma vizinhança de y tal que g(X \ U ) ⊆ {1}, logo g é
contı́nua no ponto y. Finalmente, seja y ∈ U \ U e W uma vizinhança de g(y) = 1. Pela
continuidade de f em U , existe um aberto V de U tal que f (V ) ⊆ W . Seja V ′ um aberto
de X tal que V ′ ∩ U = V . Então g(V ′ ) = g(V ) ∪ g(V ′ \ V ) = f (V ) ∪ {1} ⊆ W . 

E 5.24. Seja A um subespaço compacto de um espaço localmente compacto Hausdorff.


Mostre que para cada aberto U ⊇ A existe um aberto V tal que A ⊆ V ⊆ V ⊆ U e V é
compacto.

É óbvio que existem vários espaços topológicos não compactos. Mas alguns espaços
topológicos não compactos têm uma propriedade especial: eles são subespaços densos (ou
homeomorfos a subspaços densos) de espaços compactos, que são chamados de compactifi-
cações. Veremos a seguir um exemplo simples de compactificação:
Exemplo 5.52. (Compactificação de Alexandroff ) Seja (X, T ) um espaço localmen-
te compacto Hausdorff que não é compacto e fixe x0 ∈ / X. Defina Y = X ∪ {x0 }. Vamos
introduzir uma topologia T ′ em Y de modo que (Y, T ′ ) é Hausdorff compacto e (X, T ) é um
subespaço denso de (Y, T ′ ).
A topologia T ′ em Y = X ∪ {x0 } é dada por:

T ′ = T ∪ {{x0 } ∪ U : U ∈ T e X \ U é um subconjunto compacto de X}.


Fica a cargo do leitor verificar que T ′ é de fato uma topologia em Y . Como X é Hausdorff
e localmente compacto, temos que Y é Hausdorff. Note que a topologia de X como subespaço
de Y coincide com T . Como X não é compacto, pela definição da topologia em Y , temos
que {x0 } não é um subconjunto aberto de Y e portanto X é denso em Y .
4. ESPAÇOS LOCALMENTE COMPACTOS 67

Para ver que Y é compacto, basta notar que se C é um recobrimento aberto de Y por
abertos de T ′ , então existe U ∈ T cujo complemento em X é compacto e tal que {x0 }∪U ∈ C.
Como X \ U é compacto e (X, T ) é um subespaço de Y , podemos encontrar C ′ ⊆ C finito
tal que X \ U ⊆ C . Portanto C ′ ∪ {{x0 } ∪ U } é um sub-recobrimento finito de C.
S ′
Chamamos Y de compactificado de Alexandroff do espaço X. Note que segue, por exem-
plo, uma outra demonstração de que todo espaço localmente compacto Hausdorff é Tycho-
noff, pois espaços compactos Hausdorff são Tychonoff e a propriedade de ser Tychonoff é
hereditária.
Exemplo 5.53. Seja X um espaço infinito com a topologia discreta. Então o compacti-
ficado de Alexandroff de X é um espaço Y = X ∪ {x0 }, com x0 ∈
/ X, {x} aberto para cada
x ∈ X e uma vizinhança de x0 é um conjunto da forma x0 ∪ A, onde A é um subconjunto
co-finito de X (isto é, X \ A é finito).
E 5.25. Ache a compactificação de Alexandroff da reta real com a topologia usual.
Vimos que se X é compacto e f : X −→ Y é contı́nua sobrejetora, então Y é compacto.
O mesmo não é verdade para espaços localmente compactos:
Exemplo 5.54. Seja X um espaço enumerável discreto, Q o conjunto dos racionais com
a topologia usual e f uma bijeção qualquer de X em Q. Então, f é contı́nua, pois X é
discreto, mas Q não é localmente compacto.
Porém temos o seguinte resultado:
Teorema 5.55. Seja X um espaço localmente compacto e f : X −→ Y uma função
contı́nua sobrejetora aberta. Então Y é localmente compacto.
Demonstração: Seja y ∈ Y e W uma vizinhança aberta de y. Como f −1 (y) é não vazio,
podemos fixar x ∈ f −1 (y). Pela continuidade da f , temos que f −1 (W ) é uma vizinhança
aberta de x. Temos que X é localmente compacto, logo existe uma vizinhança compacta
Z de x contida em f −1 (W ). Tomemos U um aberto contendo x tal que U ⊆ Z. Como
f é contı́nua e Z é compacto, temos que f (Z) é um subconjunto compacto de Y . Temos
ainda que f é aberta e U é aberto, logo f (U ) é uma vizinhança aberta de f (x) = y. Além
disso, f (U ) ⊆ f (Z) ⊆ W e portanto f (Z) é uma vizinhança compacta de y contida em
W . Mostramos então que y possui um sistema de fundamental de vizinhanças compactas.
Portanto, Y é localmente compacto. 
E 5.26. (Teorema de Baire para espaços localmente compactos Hausdorff ) Seja X um
espaço localmente compacto
T Hausdorff. Mostre que se U é uma famı́lia enumerável de abertos
densos de X, então U é denso em X.
E 5.27. Seja I o conjunto dosTirracionais com a topologia usual. Mostre que se U é uma
famı́lia de abertos densos, então U é um subconjunto denso de I. T
(Sugestão: O espaço I não é localmente compacto, mas a reta real R é; e I = {R \ {q} :
q é racional}.)
Observação 5.56. Pode-se mostrar o teorema de Baire também para espaços métricos
completos. O conjunto dos irracionais com a métrica usual não é completo, porém, existe
uma métrica associada
Q∞ a topologia usual de I que é completa. O espaço I dos irracionais é
homeomorfo a n=1 N, onde N é o espaço discreto enumerável.
68 5. ESPAÇOS COMPACTOS

Veremos agora que a compacidade local é preservada por produtos finitos:


Teorema
Q 5.57. Seja {Xs : s ∈ S} uma famı́lia finita de espaços topológicos não-vazios.
Então s∈S Xs é localmente compacto se e somente se, para cada s ∈ S, Xs é localmente
compacto.
Q
Demonstração:Q Se s∈S Xs é localmente compacto, então para cada s ∈ S, temos que a
projeção πt : s∈S Xs −→ Xt é uma função contı́nua sobrejetora aberta, logo pelo teorema
5.55, Xs é localmente compacto.
Reciprocamente,Q suponhamos queQcada Xs é localmente compacto. Seja x = {xs }s∈S um
ponto arbitrário de s∈S Xs e W = s∈X Ws um aberto básico contendo x. Como cada Xs
é localmente compacto,
Q existe uma vizinhança compacta Us de xs contida em Ws . Como S
é finito, temos que s∈S Us é uma vizinhança compacta de x contida em W . Portanto x
possui um sistema fundamental de vizinhanças compactas. 
E 5.28. Seja X um espaço localmente compacto Hausdorff. Mostre que se F é um subcon-
junto fechado de X e V é um subconjunto aberto de X, então F ∩ V é localmente compacto.
(Sugestão: Já vimos que subespaços abertos de um espaço localmente compacto Haus-
dorff são localmente compactos, portanto basta mostrar que subespaços fechados de espaços
localmente compactos são localmente compactos.)

5. Espaços de Lindelöf
Definição 5.58. Dado um recobrimento aberto C de X e um sub-recobrimento aberto C ′
de C, dizemos que C ′ é um sub-recobrimento enumerável de C se C ′ é uma famı́lia enumerável.
Definição 5.59. Dizemos que um espaço topológico X é de Lindelöf se todo recobri-
mento aberto de X possui um sub-recobrimento enumerável.
E 5.29. Mostre que para todo conjunto X, X com a topologia co-enumerável é um espaço
deLindelöf.
E 5.30. Se YSé uma reunião enumerável de subespaços de Lindelöf, então Y é de Lindelöf
(isto é, se Y = n∈N Yn e cada Yn é de Lindelöf, então Y é de Lindelöf ).
As demonstrações dos próximos dois resultados são análogas ao caso compacto:
Lema 5.60. Seja X um espaço topológico e B uma base de X. Então X é de Lindelöf se
e somente se todo recobrimento aberto C ⊆ B de X, possui um sub-recobrimento enumerável.
Teorema 5.61. Todo subespaço fechado de um espaço de Lindelöf é de Lindelöf.

Temos então que:


Corolário 5.62. Se X um espaço satisfazendo o segundo axioma de enumerabilidade,
então X é de Lindelöf.
Demonstração: Se B é uma base enumerável, então a condição do lema acima está satisfeita,
pois toda cobertura aberta de X contida em B é enumerável. Portanto X é de Lindelöf. 

Exemplo 5.63. R é um espaço de Lindelöf.


5. ESPAÇOS DE LINDELÖF 69

Mostramos que todo espaço compacto Haursdorff é normal. Para espaços de Lindelöf
precisamos supor a regularidade:
Teorema 5.64. Todo espaço de Lindelöf regular é normal.
Demonstração: Basta modificar a demonstração de que um espaço regular satisfazendo o
segundo axioma de enumerabilidade é normal. As modificações ficam como exercı́cio. 
Definição 5.65. Uma famı́lia F de subconjuntos de X tem a propriedade da intersecção
enumerável se para cada subfamı́lia enumerável F ′ ⊆ F, temos que F ′ 6= ∅.
T

Os teoremas a seguir têm demonstrações análogas ao caso compacto e são deixadas como
exercı́cio:
Teorema 5.66. Um espaço X é de Lindelöf se e somente se toda famı́lia de fechados
com a propriedade da intersecção enumerável tem intersecção não-vazia.
Teorema 5.67. Se existe uma função contı́nua sobrejetora de um espaço de Lindelöf X
sobre um espaço Y , então Y é de Lindelöf.
Teorema 5.68. O produto cartesiano de um espaço compacto X e um espaço de Lindelöf
Y é um espaço de Lindelöf.
Demonstração: Analogamente ao caso do produto de dois compactos, podemos tomar uma
cobertura formada por abertos básicos de X × Y . Entretanto, temos que tomar cuidado se
vamos primeiro trabalhar com uma cobertura do espaço X ou do espaço Y (pois precisamos
usar que a interseção finita de abertos é aberta. Os detalhes ficam como exercı́cio. 
Exemplo 5.69. A reta de Sorgenfrey é de Lindelöf.
De fato, seja X a reta de Sorgenfrey e seja B a base de X consistindo dos abertos básicos
da forma [x, y[, onde x < y. Seja C ⊆ B um recobrimento de X. Para mostrarmos que
X é deS Lindelöf, basta mostrarmos que C possui um sub-recobrimento enumerável. Seja
Y = {]x, y[: [x, y[∈ C}. Consideremos em Y a topologia de subespaço da reta real R.
Temos então que Y satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade e portanto é um espaço
de Lindelöf. Como {]x, y[: [x, y[∈ S C} é uma cobertura aberta
S ′ de Y , existe uma subfamı́lia
′ ′
enumerável C de C tal que Y ⊆ {]x, y[: [x, y[∈ C } ⊆ C . Mostraremos que X \ Y é
um subconjunto enumerável de X. De fato, para cada a ∈ X \ Y , existe b(a) e c(a) tal que
b(a) é racional e b(a) ∈]a, c(a)[ e [a, c(a)[∈ C. Afirmamos que se a 6= a′ , então b(a) 6= b(a′ ).
De fato, sem perda de generalidade, assumimos que a < a′ . Se b(a) = b(a′ ), terı́amos que
a′ ∈]a, b(a′ )[=]a, b(a)[⊆]a, c(a)[⊆ Y , contradição. Portanto, existe uma função injetora de
X \ Y no conjunto dos racionais, o que implica que X \ Y éSenumerável. Podemos então
achar uma subfamı́lia enumerável C ′′ de C tal que X \ Y ⊆ C ′′ . Ou seja, C ′ ∪ C ′′ é um
sub-recobrimento enumerável de C. Logo X é Lindelöf.
Observação 5.70. A reta de Sorgenfrey é um espaço Lindelöf regular satisfazendo o
primeiro axioma de enumerabilidade que não satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade.
Além disso, como X × X é um espaço regular que não é normal, temos que X × X não
é Lindelöf. Com isto, vemos que a propriedade de Lindelöf não é preservada por produtos
finitos.
70 5. ESPAÇOS COMPACTOS

6. Espaços enumeravelmente compactos


Na seção anterior, vimos uma generalização de compacidade, onde o sub-recobrimento
obtido era enumerável ao invés de finito. Nesta seção veremos uma generalização em que
apenas se espera sub-recobrimentos finitos de coberturas abertas enumeráveis.
Definição 5.71. Seja X um espaço topológico. Dizemos que X é enumeravelmente
compacto se toda cobertura aberta enumerável de X possui um sub-recobrimento finito.
Das definições de compacto, Lindelöf e enumeravelmente compacto, segue que um espaço
é compacto se e somente se é de Lindelöf e enumeravelmente compacto.
Observação 5.72. Os russos chamavam os espaços compactos de espaços bicompactos,
pois possui duas propriedades de compacidade: Lindelöf e enumeravelmente compacto (que
era a propriedade conhecida como compacidade).
Fica a cargo do leitor verificar o teorema abaixo, que é analogo ao resultado para a
compacidade:
Teorema 5.73. Para um espaço topológico X as seguintes propriedades são equivalentes:
(i) X é enumeravelmente compacto.
(ii) Toda famı́lia enumerável de fechados de X com a propriedade da interseção finita
possui interseção não-vazia..
(iii) Toda famı́lia enumerável decrescente de fechados não-vazios F1 ⊇ F2 . . . de X possui
interseção não-vazia.
Veremos agora que a compacidade enumerável pode ser caracterizada pela existência de
pontos de acumulação de conjuntos enumeráveis infinitos.
Teorema 5.74. Seja X um espaço topológico T1 . Então são equivalentes:
(a) X é enumeravelmente compacto.
(b) todo subconjunto infinito enumerável de X possui um ponto de acumulação.
Demonstração: Suponhamos que X é enumeravelmente compacto T1 e que existe um con-
junto A infinito enumerável sem ponto de acumulação em X. Então para todo x ∈ X, existe
uma vizinhança aberta V de x tal que V ∩ (A \ {x}) = ∅. Emparticular, temos que A é
fechado.
Para cada x ∈ A, seja Vx uma vizinhança aberta de x tal que Vx ∩ A = {x}. Temos então
que {X \ A} ∪ {Vx : x ∈ A} é um recobrimento enumerável de X. Portanto ele admite um
subrecobrimento finito, o que é uma contradição pois A é infinito e Vx ∩ A = {x}, para todo
x ∈ A.
Suponhamos agora que temos (b) mas que X não é enumeravelmente compacto. Então
existe uma cobertura aberta enumerável U = {Un : n ∈ N} Sn de X que não possui sub-
recobrimento finito. Logo, para cada n ∈ N, temos que S X \ i=1 Ui é não-vazio. Portanto,
para cada n ∈ N, podemos fixar um elemento xn ∈ X \ ni=1 Ui tal que xn 6= xk , para todo
k < n. Vamos mostrar que A = {xn : n ∈ N} não possui um ponto de acumulação. Como
X é T1 , x é um ponto de acumulação de A se e somente se para toda vizinhança U de x,
U ∩ A é infinito. Note que, pela escolha dos xn , A é infinito.
Se x ∈ X, existe m ∈ N tal que x ∈ Um e portanto, UmSé uma vizinhança aberta
de x. Pela construção de A, se l > m, temos que xl ∈ X \ li=1 Ui ⊆ X \ Um . Então
6. ESPAÇOS ENUMERAVELMENTE COMPACTOS 71

{n ∈ N : xn ∈ U } ⊆ {1, . . . , m} é um conjunto finito. Como x é um ponto arbitrário,


concluimos que X não possui ponto de acumulação. 

E 5.31. Seja X um espaço topológico T1 . Mostre que X é enumeravelmente compacto


se, e somente se, X não tem um subespaço enumerável infinito que seja discreto e fechado.
Os seguintes resultados ficam como exercı́cio:
Teorema 5.75. Seja X um espaço topológico e Y ⊆ X um subespaço de X. Então Y é
enumeravelmente
S compacto se e somente se para cada coleção enumerável S U de abertos de
X tal que se U ⊇ Y então existe uma subcoleção U ′ ⊆ U finita tal que U ′ ⊇ Y .
Teorema 5.76. Todo subconjunto fechado de um espaço enumeravelmente compacto é
enumeravelmente compacto.
No caso de espaços T2 , tı́nhamos que todo subespaço compacto era fechado. Porém, isto
não é válido em geral para subespaços enumeravelmente compactos, mesmo que o espaço
seja completamente regular.
Exemplo 5.77. Seja I = [0, 1] e R o conjunto dos números reais. Vamos Q definir um
subespaço denso (portanto não fechado) e enumeravelmente compacto de X = t∈R It , onde
It = I, para todo t ∈ R. Note que pelo teorema de Tychonoff X é compacto. Teremos
assim um subespaço enumeravelmente compacto não fechado (não compacto) de um espaço
compacto.
Seja Y o subespaço de X formado pelos pontos {xt }t∈R de X tais que o conjunto {t ∈
R : xt 6= 0} é no máximo enumerável.
Pela definição de abertos básicos da topologia produto, segue que Y é denso em X. Como
Y é um subconjunto próprio de X, temos que Y não é fechado (e não é compacto) em X.
Resta mostrar que Y é enumeravelmente compacto.
Seja A um subconjunto infinito enumerável de Y . Pela definição de Y , existe um conjunto
R0 ⊂ R enumerável tal que πt (x) = 0 para todo x ∈ A e para todo t ∈ R \ R0 , onde πt
é a projeção
Q de X sobre It . Temos então que A é um subconjunto do produto cartesiano
Z = t∈R Xt , onde Xt = I se t ∈ R0 e Xt = {0} se t ∈ R\R0 . Pelo teorema de Tychonoff, Z é
compacto e portanto A tem um ponto de acumulação em Z. Mas temos também que Z ⊆ Y .
Portanto, A tem um ponto de acumulação em Y , o que mostra que Y é enumeravelmente
compacto.
O próximo teorema também é análogo ao caso compacto:
Teorema 5.78. Seja X um espaço enumeravelmente compacto e f : X −→ Y uma
função contı́nua. Então f (X) é enumeravelmente compacto.
E 5.32. A imagem de toda função contı́nua de um espaço enumeravelmente compacto X
na reta real R é limitada e fechada.
De modo geral, produto de espaços enumeravelmente compactos não precisa ser enume-
ravelmente compacto. Mas temos o seguinte resultado, cuja demonstração iremos apenas
esboçar:
Teorema 5.79. Seja X um espaço enumeravelmente compacto T1 e Y um espaço com-
pacto T1 . Então X × Y é enumeravelmente compacto.
72 5. ESPAÇOS COMPACTOS

Demonstração: Seja A ⊆ X × Y um subconjunto infinito enumerável. Basta mostrarmos


que A possui um ponto de acumulação em X × Y . Sejam πX e πY as projeções de X × Y
em X e Y respectivamente.
−1
(i) Suponha que existe x ∈ X tal que πX ({x}) ∩ A é infinito. Neste caso, temos que
B = πY (A ∩ {x} × Y ) é infinito, portanto B possui um ponto de acumulação y ∈ Y (Y
é enumeravelmente compacto). Fica a cargo do leitor verificar que (x, y) é um ponto de
acumulação de A.
(ii) Suponha que existe y ∈ Y tal que πY−1 ({y}) ∩ A é infinito. É similar a (i) e fica como
exercı́cio.
(iii) Suponha agora que nem (i) nem (ii) estão satisfeitas. Verifique que existe um sub-
conjunto infinito D ⊆ A tal que (x, y), (x, y ′ ) ∈ D −→ y = y ′ e (x′ , y), (x, y) ∈ D −→ x′ = x.
Daı́ πX (D) é infinito e portanto existe um ponto x0 ∈ X tal que x0 é ponto de acumulação
de πX (D). Seja U o conjunto de todas as vizinhanças abertas de x0 . Então para cada U ∈ U,
−1
T
seja Y (U ) = πY (πX (U ) ∩ D). Verifique que {Y (U ) \ F : U ∈ U ∧ F ⊆ Y , finito} 6= ∅ e
fixe y0 neste conjunto. Mostre que (x0 , y0 ) é um ponto de acumulação de A. 

7. Famı́lias localmente finitas e paracompacidade


Definição 5.80. Seja X um espaço topológico e F uma famı́lia de subconjuntos de X.
Dizemos que F é localmente finita se para cada ponto x ∈ X existe uma vizinhança aberta
U de x tal que {F ∈ F : F ∩ U 6= ∅} é um conjunto finito. Se F é uma cobertura de X que
é uma famı́lia localmente finita, diremos que F é uma cobertura localmente finita.
Proposição 5.81. Seja U uma famı́lia localmente finita de subconjuntos de X. Então
a famı́lia {U : U ∈ U} é localmente finita.
Demonstração: Exercı́cio. Note que se W é uma vizinhança aberta de x e F ∩ W = ∅, então
W ∩ F = ∅. 
E 5.33. Seja X um espaço topológico T1 . Mostre que as seguintes afirmações são equi-
valentes:
(a) X é enumeravelmente compacto.
(b) Toda famı́lia localmente finita de subconjuntos não-vazios de X é finita.
Vamos agora ver a definição de paracompacidade, uma noção que generaliza compacidade
e metrizabilidade (a topologia estar associada a uma métrica):
Definição 5.82. Seja X um espaço topológicoS e U um recobrimento aberto de X.
Dizemos uma famı́lia F é um refinamento de X, se F = X e, para cada F ∈ F, existe um
aberto U ∈ U tal que F ⊆ U . Neste caso, diremos que U admite um refinamento F. Se os
membros da famı́lia F são abertos (fechados) de X então dizemos que F é um refinamento
aberto (fechado).
Definição 5.83. Dizemos que um espaço topológico é paracompacto se todo recobrimen-
to aberto de X admite um refinamento aberto localmente finito.
Segue direto da definição de paracompacidade que todo espaço compacto é paracompacto.
Todo espaço métrico é também paracompacto, mas a demonstração deste fato utiliza indução
transfinita, e por isso não a faremos aqui.
7. FAMÍLIAS LOCALMENTE FINITAS E PARACOMPACIDADE 73

Exemplo 5.84. Todo espaço discreto é paracompacto (mas um espaço discreto é com-
pacto se e somente se ele é finito).
Teorema 5.85. Todo espaço regular de Lindelöf é paracompacto.
Demonstração: Seja X um espaço de Lindelöf regular e seja U uma cobertura aberta de X.
Como X é regular, para cada x ∈ X existem abertos Ux e Vx de X tais que x ∈ Ux ⊆ Ux ⊆ Vx
e Vx está contido em algum membro de U. Como {Ux : x ∈ X} é uma cobertura aberta de
X e X é Lindelöf, existe uma subcobertura enumerável {Uxi : i ∈ N}.
Os conjuntos W1 = Vx1 e Wi = Vxi \ (Ux1 ∪ . . . ∪ Uxi−1 ), para i ≥ 2 são conjuntos abertos
e formam uma cobertura de X. De fato, se x ∈ X, então podemos tomar o menor i′ tal que
x ∈ Vxi′ e teremos que x ∈ Wxi′ . Além disso, a cobertura {Wi : i ∈ N} é um refinamento de
U e é localmente finita, pois Uxj ∩ Wi = ∅ para i > j. 
E 5.34. Se X é paracompacto e F é um subconjunto fechado de X, então o subespaço
topológico F é paracompacto.

S Seja F uma famı́lia localmente finita de subconjuntos de um espaço topológico


Lema 5.86.
X. Então {F : F ∈ F} é um conjunto fechado.
S S S
Demonstração: Vamos mostrar que {F : F ∈ F} é o fecho de F. Seja x ∈ F.
Como F é localmente finita, existe uma vizinhança aberta U de x tal que F0 = {F ∈ F :
S S S
U ∩ F 6= ∅} é finita. Portanto x ∈ F0 = {F : F ∈ F0 } ⊆ {F : F ∈ F}. Logo,
S S
F ⊆ {F : F ∈ F}. A outra inclusão é imediata. 
Lema 5.87. Seja X um espaço paracompacto e A e B dois subconjuntos fechados disjuntos
de X. Se para cada x ∈ B existem abertos Ux e Vx tais que A ⊆ Ux , x ∈ Vx e Ux ∩ Vx = ∅,
então existem abertos U e V tais que A ⊆ U , B ⊆ V e U ∩ V = ∅.
Demonstração: Como B é fechado, a famı́lia {Vx : x ∈ B} ∪ {X \ B} é uma cobertura aberta
de X. Logo, pela paracompacidade de X, a cobertura acima possui um refinamento aberto
localmente finito {Ws : s ∈
S S}. Seja S0 = {s ∈ S : Ws ∩ B 6= ∅}. SEntão A ∩ Ws = ∅ para
cada s ∈ S0 e B ⊆ V = s∈S0 Ws . Pelo lema acima, temos que s∈S0 Ws é um conjunto
S
fechado. Então, temos que U = X \ s∈S0 Ws é um conjunto aberto. É fácil verificar que U
e V satisfazem as propriedades requeridas. 
Teorema 5.88. Todo espaço X de Hausdorff e paracompacto é normal.
Demonstração: Como X é de Hausdorff, para cada ponto x ∈ X e cada fechado F ⊂ X
que não contém x, podemos aplicar o lema acima para A = {x} e B = F e obter abertos
disjuntos U e V contendo {x} e F respectivamente. Logo, X é regular.
Tomemos agora um par de fechados disjuntos A e B de X. Pela regularidade de X,
podemos novamente aplicar o lema acima e assim obter abertos disjuntos U e V contendo A
e B respectivamente. Portanto, X é normal. 
Exemplo 5.89. A reta de Sorgenfrey é paracompacta (pois é regular e de Lindelöf), mas
o produto dela por ela mesma não é nem normal. Temos então que o produto de espaços
paracompactos Hausdorff não é necessariamente paracompacto.
Entretanto temos que:
Teorema 5.90. O produto de um espaço compacto e um espaço paracompacto é para-
compacto.
74 5. ESPAÇOS COMPACTOS

Demonstração: Exercı́cio. 

Definição 5.91. Uma famı́lia {fs : s ∈ S} de funções contı́nuas de um Pespaço X no


intervalo fechado [0, 1] é chamada de partição da unidade sobre o espaço X se s∈S fs (x) = 1
para cada x ∈ X.
A última igualdade na definição acima implica que, para cada x0 ∈ X, teremos que
fs (x0 ) 6= 0 somente para uma quantidade enumerável de ı́ndices. Temos ainda que a série
P ∞
i=1 fsi (x0 ), onde {s1 , s2 , . . .} = {s ∈ S : fs (x0 ) 6= 0}, converge para 1.
Definição 5.92. Dizemos que uma partição da unidade {fs : s ∈ S} em um espaço
topológico X é localmente finita se a cobertura {fs−1 (]0, 1]) : s ∈ S} é localmente finita.
Note que neste caso teremos que para cada x ∈ X existe uma vizinhança U de x tal que
{s ∈ S : fs ↾ U não é constantemente igual a 0} é finita. Em particular, para cada ponto
x ∈ X, temos que S ′ = {s ∈ S : fs (x) 6= 0} é finito e s∈S ′ fs (x) = 1.
P

Observação 5.93. A famı́lia {fs−1 ((0, 1]) : s ∈ S} é de fato uma cobertura, pois para
cada x ∈ X, existe s ∈ S tal que fs (x) 6= 0.
Definição 5.94. Uma partição da unidade {fs : s ∈ S} sobre um espaço X é subordi-
nada a uma cobertura A de X se a cobertura aberta {fs−1 (]0, 1]) : s ∈ S} do espaço X é um
refinamento de A.
Vamos agora caracterizar espaços paracompactos Hausdorff em termos da partição da
unidade. Primeiro, precisaremos de dois lemas:
Lema 5.95. Se toda cobertura aberta de um espaço regular X possui um refinamento
localmente finito (consistindo de conjuntos arbitrários), então para cada cobertura aberta
{Us : s ∈ S} do espaço X existe uma cobertura fechada localmente finita {Fs : s ∈ S} de X
tal que para cada s ∈ S temos Fs ⊆ Us .
Demonstração: Pela regularidade de X existe uma cobertura aberta W do espaço X tal que
{W : W ∈ W} é um refinamento de {Us : s ∈ S}. Tome um refinamento localmente finito
{At : t ∈ T } da cobertura W. Para cada t ∈ T , escolha s(t) ∈ S tal que At ⊆ Us(t) e para
S
cada s ∈ S, seja Fs = s(t)=s At . Como {At : s(t) = s} é localmente finita, Fs é um conjunto
fechado. É fácil ver que, pela definição de Fs , Fs ⊆ Us para cada s ∈ S. Portanto resta
apenas mostrarmos que {Fs : s ∈ S} é localmente finita. Seja x ∈ X. Como {At : t ∈ T }
é localmente finita, existe uma vizinhança U de x tal que T ′ = {t ∈ T : U ∩ At 6= ∅} é
finito. Pela definição de Ft e por termos associado a t um único s(t), temos que {s(t) : t ∈
T ′ } = {s ∈ S : Fs ∩ U 6= ∅} é um subconjunto finito de S. Logo, {Fs : s ∈ S} é localmente
finita. 
Observação 5.96. Note que se a cobertura {At : t S ∈ T } na demonstração anterior
consiste de subconjuntos abertos, então o conjunto Vs = s(t)=s At é um conjunto aberto
e Vs = Fs . Logo, se X é um espaço paracompacto Hausdorff (e portanto regular), temos
que para cada cobertura aberta {Us : s ∈ S} existe uma cobertura aberta localmente finita
{Vs : s ∈ S} tal que para cada s ∈ S temos Vs ⊆ Us .
Lema 5.97. Para cada cobertura aberta U de um espaço X, se existe uma partição da
unidade {fs : s ∈ S} subordinada a U, então U possui um refinamento aberto localmente
finito.
7. FAMÍLIAS LOCALMENTE FINITAS E PARACOMPACIDADE 75

Demonstração: Seja {fs : s ∈ S} uma partição da unidade subordinada a U. Vamos primeiro


mostrar que para cada função contı́nua g : X −→ [0, 1] e para cada x0 ∈ X tal que g(x0 ) > 0,
existe uma vizinhança aberta U de x0 e um subconjunto finito S ′ ⊆ S tal que
(∗) para cada s ∈ S \ S ′ e para cada x ∈ U temos fs (x) < g(x).
De fato, existe um subconjunto finito S ′ ⊆ S tal que 1 − s∈S ′ fs (x0 ) < g(x0 ). Logo, pela
P
continuidade das funções
P acima, existe um aberto U de x0 tal que para cada x ∈ U temos

P
s∈S\S ′ fs (x) = 1 − s∈S ′ fs (x) < g(x). Logo, para cada t ∈ S \ S e para cada x ∈ U temos
ft (x) < g(x).
Vamos agora mostrar que a função sup{fs : s ∈ S} é contı́nua. De fato, para cada
x0 ∈ X, existe s0 ∈ S tal que fs0 (x0 ) > 0. Aplicando (∗) para x0 e fs0 , obtemos S ′ finito e U
vizinhança aberta de x0 tal que para cada s ∈ S \ S ′ e para cada x ∈ U temos fs (x) < fs0 (x).
Portanto para cada x ∈ U temos sup{fs : s ∈ S}(x) = max{fs : s ∈ S ′ }(x). Logo,
sup{fs : s ∈ S} ↾ U é contı́nua. Fica a cargo do leitor verificar que sob estas condições
f = sup{fs : s ∈ S} : X −→ [0, 1] é contı́nua.
Para cada s ∈ S, temos que o conjunto Vs = {x ∈ X : fs (x) > 12 f (x)} é um aberto, e
a famı́lia V = {Vs : s ∈ S} é um refinamento de U (pois Vs ⊆ fs−1 (]0, 1])). Além disso, se
tomarmos g = 21 f em (∗), vemos que V é uma famı́lia localmente finita (para cada x ∈ X,
temos que f (x) 6= 0). 

Podemos agora mostrar a caracterização para espaços paracompactos usando partição


da unidade:
Teorema 5.98. Para cada espaço T1 X, as seguintes condições são equivalentes:
(i) X é paracompacto Hausdorff.
(ii) Toda cobertura aberta de X possui uma partição da unidade localmente finita subor-
dinada a ela.
(iii) Toda cobertura aberta do espaço X possui uma partição da unidade subordinada a
ela.
Demonstração:
(i) ⇒ (ii). Assumimos que X é paracompacto Hausdorff e consideramos uma cobertura
aberta A de X. Seja U = {Us : s ∈ S} um refinamento aberto localmente finito de A. Pelo
lema 5.95, existe uma cobertura fechada {Fs : s ∈ S} localmente finita do espaço X tal que
para cada s ∈ S temos Fs ⊆ Us . Pelo lema de Urysohn, para cada s ∈ S podemos encontrar
uma função contı́nua gs : X −→ [0, 1] tal que gs (X \ UP s ) = {0} e gs (Fs ) = 1. Como a famı́lia
U é localmente finita, a função g definida por g(x) = s∈S gs (x) para cada x ∈ X está bem
definida e é contı́nua (exercı́cio). Fica a cargo do leitor verificar que a famı́lia {fs : s ∈ S}
definida por fs = ggs é uma partição da unidade localmente finita subordinada a A.
Como a implicação (ii) ⇒ (iii) é obvia, para terminarmos a demonstração do teorema,
basta mostrarmos que (iii) ⇒ (i). Contudo, pelo lema 5.97, basta mostrarmos que a condição
(iii) e o fato de X ser T1 implicam que X é Hausdorff. Considere um par de pontos distintos
x1 , x2 ∈ X. Como X é T1 , os conjuntos unitários são fechados, e U = {X \ {x1 }, X \ {x2 }}
é uma cobertura aberta de X. Pela propriedade (iii), U possui uma partição {fs : s ∈ S}
subordinada a ela. Tome s0 ∈ S tal que fs0 (x1 ) = a > 0. Como fs−1 0
((0, 1]) 6⊆ X \ {x1 } e
−1
{fs : s ∈ S} é subordinada a U, temos que fs0 ((0, 1]) ⊆ X \ {x2 }, ou seja, fs0 (x2 ) = 0.
Seja U1 = fs−1 0
(( a2 , 1]) e U2 = fs−1
0
([0, a2 )). Então, para cada i ∈ {1, 2}, temos que Ui é uma
76 5. ESPAÇOS COMPACTOS

vizinhança aberta de xi e U1 ∩ U2 = ∅. Como x1 e x2 eram arbitrários, temos que X é


Hausdorff e a demonstração está terminada. 

Veremos agora algumas caracterizações para espaços paracompactos que envolvem outros
tipos de refinamentos para um dado recobrimento aberto do espaço.
Lema 5.99. Se toda cobertura aberta de um espaço topológico X possui um refinamento
fechado localmente finito, então toda cobertura aberta de X possui um refinamento aberto
localmente finito.
Demonstração: Seja U uma cobertura aberta de X e seja A = {As : s ∈ S} um refinamento
fechado localmente finito de U. Para cada x ∈ X, fixemos uma vizinhança aberta Vx de x
tal que {s ∈ S : As ∩ Vx 6= ∅} seja finito. Seja F um refinamento fechado
S localmente finito
da cobertura aberta {Vx : x ∈ X} e para cada s ∈ S seja Ws = X \ {F ∈ F : F ∩ As = ∅}.
Então Ws é um conjunto aberto e contém As . Além disso, para cada s ∈ S e para cada
F ∈ F temos que

(∗) Ws ∩ F 6= ∅ se e somente se As ∩ F 6= ∅.
Para cada s ∈ S fixemos U (s) ∈ U tal que As ⊆ U (s) e seja Vs = Ws ∩ U (s). Daı́ para
cada s ∈ S, temos que As ⊆ Vs e portanto a famı́lia {Vs : s ∈ S} é um refinamento aberto
da cobertura U. Como para cada s ∈ S temos Vs ⊆ Ws , para mostrarmos que {Vs : s ∈ S}
é localmente finito, basta mostrarmos que {Ws : s ∈ S} é localmente finito.
Para isso, fixemos x ∈ X. S Como F é localmente finito, F ′ = {F ∈ F : x ∈ F } é um
subconjunto finito. Note que F ′ é uma vizinhança (não necessariamente aberta) de x.
Como F é refinamento de {Vx : x ∈ X}, e como cada Vx intercepta somente um número
finito de elementos de A, temos que cada SF ∈ F intecepta somente um número finito de
elementos de A. Logo, S ′ = {s ∈ S : As ∩ F ′ 6= ∅} S é ′finito.
Pela propriedade (∗), temos
S ′ que {s ∈ S : W s ∩ F 6= ∅} = S ′ é finito.
Como x é arbitrário, e F é vizinhança de x, temos que {Ws : s ∈ S} é localmente
finito e {Vs : s ∈ S} é um refinamento aberto localmente finito de U. 

Vamos ver agora mais algumas caracterizações de espaços paracompactos Hausdorff:


Definição 5.100. Uma cobertura F é σ-localmente
S∞ finita, se existe para cada n ∈ N
uma subfamı́lia Fn ⊆ F localmente finita tal que n=0 Fn = F.
Lema 5.101. Toda cobertura aberta σ-localmente finita V de um espaço topológico X
possui um refinamento localmente finito.
Demonstração: Seja V = ∞
S
i=0 Vi , onde cada Vi = {Vs : s ∈ Si } é uma famı́lia de abertos
localmente finita tal que para cada i, j ∈ N distintos temos Si ∩ Sj = ∅. Para cada s0 ∈ Si
seja [ [
As0 = Vs0 \ Vs ;
k<i s∈Sk
S∞
a famı́lia A = {As : s ∈ S}, onde S = i=1 Si , cobre X (verifique) e é um refinamento de
V. Vamos ver agora que V é localmente finita. FixemosS x ∈ X.
Denotaremos por k o menor inteiro tal que x ∈ s∈Sk Vs , e seja s0 ∈ Sk talS que x ∈ Vs0 .
Então Vs0 é uma vizinhança que não intercepta As , qualquer que seja s ∈ i>k Si . Como
as famı́lias Vi são localmente finitas, para cada i ≤ k, existe uma vizinhança aberta Ui de
7. FAMÍLIAS LOCALMENTE FINITAS E PARACOMPACIDADE 77

x tal que Ui intercepta somente um número finito de elementos da famı́lia Vi . A vizinhança


U1 ∩ . . . Uk ∩ Vs0 de x intercepta somente um número finito de elementos da famı́lia A. 
Teorema 5.102. Para cada espaço regular X as seguintes condições são equivalentes:
(i) X é paracompacto;
(ii) Toda cobertura aberta de X possui um refinamento aberto σ-localmente finito;
(iii) Toda cobertura aberta de X possui um refinamento localmente finito;
(iv) Toda cobertura aberta de X possui um refinamento fechado localmente finito.
Demonstração: Exercı́cio. 
E 5.35. Dizemos que um espaço X é σ-compacto se X pode ser escrito como uma união
enumerável de subespaços compactos. Mostre que o produto de um espaço paracompacto com
um espaço σ-compacto é paracompacto. Use esse fato para concluir que o produto da reta de
Sorgenfrey com a reta real é paracompacto.
E 5.36. Todo espaço enumeravelmente compacto paracompacto é compacto.
(Sugestão: use a equivalência de compacidade enumerável envolvendo famı́lias localmente
finitas)
Lema 5.103. Toda famı́lia localmente finita de subconjuntos não-vazios de um espaço de
Lindelöf X é enumerável.
Demonstração: Seja A uma famı́lia localmente finita de subconjuntos não-vazios de X.
Para cada x ∈ X escolha uma vizinhança aberta Ux de x que intercepta somente um número
finito de elementos de A. Pela propriedade de Lindelöf, tome uma subfamı́lia S enumerável
{Vxi : i ∈ N} ⊆ {Vx : x ∈ X} cuja reunião é X. Então, temos que A′ = i∈N {A ∈ A :
S ∩ Vxi 6= ∅} é uma reunião enumerável′ de conjuntos finitos e portanto é enumerável. Como
A
{Vxi : i ∈ N} = X, temos que A = A é enumerável. 
Teorema 5.104. Se um espaço paracompacto Hausdorff X contém um subespaço denso
A que possui a propriedade de Lindelöf, então X é Lindelöf.
Demonstração: Seja U = {Us : s ∈ S} um recobrimento aberto de X. Pela observação 5.96
existe um refinamento aberto localmente finito {Vs : s ∈ S} tal que para cada s ∈ S temos
Vs ⊆ Us . Como W = {W : ∃s ∈ S tal que W = A ∩ Vs } é uma famı́lia localmente finita de
abertos não-vazios de A, pelo lema acima, W é enumerável,
S portanto existe S0 enumerável
tal que W = {W : ∃s ∈ S0 tal que W = A ∩ Vs }. De A = s∈S0 (A ∩ Vs ), segue que
[ [ [ [
X=A= (A ∩ Vs ) = A ∩ Vs ⊆ Vs ⊆ Us ;
s∈S0 s∈S0 s∈S0 s∈S0
deste modo U possui uma subcobertura enumerável. Como U é uma cobertura arbitrária,
temos que X é Lindelöf. 
Corolário 5.105. Todo espaço paracompacto Haudorff separável é Lindelöf.
E 5.37. Seja X um espaço paracompacto Hausdorff. Mostre que se G ⊆ X é uma reunião
enumerável de subconjuntos fechados, então G é paracompacto.
CAPı́TULO 6

Espaços métricos

1. Espaços métricos
Primeiro recordaremos a definição de uma métrica e de um espaço métrico.
Definição 6.1. Um espaço métrico é um par (M, d), onde M é um conjunto e d é uma
função do conjunto M × M em R+ (o conjunto dos reais não negativos) satisfazendo as
seguintes propriedades:
(M1) para todo x, y ∈ M , d(x, y) = 0 se e somente se x = y.
(M2) para todo x, y ∈ M temos que d(x, y) = d(y, x).
(M3) para todo x, y e z em M , d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).
Definição 6.2. Seja (M, d) um espaço métrico, x um elemento de M e ǫ um número real
positivo. Chamamos de bola aberta de centro x e raio ǫ ao conjunto { y ∈ M : d(x, y) < ǫ}, o
qual denotaremos por Bd (x, ǫ) (ou simplesmente B(x, ǫ) quando estiver claro qual é a métrica
utilizada). Chamamos de bola fechada de centro x e raio ǫ ao conjunto { y ∈ M : d(x, y) ≤ ǫ}
(denotaremos por Bd [x, ǫ] ou simplesmente B[x, ǫ] quando não houver ambiguidade).
Definição 6.3. Seja (M, d) um espaço métrico e Td uma coleção de subconjuntos de M
definida do seguinte modo:
U ∈ Td se e somente se U ⊆ M e para cada x ∈ U existe ǫ > 0 tal que B(x, ǫ) ⊆ U.
Dizemos que Td é a topologia associada à métrica d.
Definição 6.4. Um espaço topológico X é dito metrizável se existe um métrica d em
X tal que a topologia induzida por d coincide com a topologia original de X.
Definição 6.5. Duas métricas d1 e d2 sobre um conjunto X são ditas equivalentes se
elas induzem a mesma topologia.
Teorema 6.6. Para todo espaço métrico (X, d), existe uma métrica d1 em X equivalente
a d e limitada por 1.
Demonstração: Basta definir d1 (x, y) = min{1, d(x, y)}, para todo x, y ∈ X. 
Como todo espaço métrico satisfaz o primeiro axioma da enumerabilidade temos que:
Proposição 6.7. Seja X um espaço métrico. Um ponto x pertence ao fecho de um
subconjunto A de X se e só se existe uma sequência em A convergindo para x.
Podemos então mostrar que:
Proposição 6.8. Duas métricas são equivalentes se e só se elas induzem a mesma
convergência.
Demonstração: Sejam d e d1 duas métricas sobre X. Se d e d1 são equivalentes então é
claro que elas induzem a mesma convergência. Por outro lado, se d e d1 induzem a mesma
79
80 6. ESPAÇOS MÉTRICOS

convergência, usando a proposição acima, podemos mostrar que as topologias associadas a


elas vão ter os mesmos fechados, e portanto elas são iguais. 

Proposição 6.9. Seja f uma função de um espaço métrico (X, d) em um espaço métrico
(Y, d′ ). Então f é contı́nua se e só se para todo x ∈ X, para todo ǫ > 0, existe δ > 0 tal que
d(x, y) < δ implica d′ (f (x), f (y)) < ǫ.

Definição 6.10. A distância d(x, A) de um ponto x a um conjunto não vazio A em um


espaço métrico (X, d) é definida por
d(x, A) = inf {d(x, a) : a ∈ A}.
Analogamente, a distância entre dois subconjuntos não vazios A e B de um espaço métrico
(X, d) é definida por
d(A, B) = inf {d(a, b) : a ∈ A e b ∈ B}.
Teorema 6.11. Para todo conjunto A em um espaço métrico (X, d), a função que associa
cada ponto x ∈ X a distância d(x, A) é uma função contı́nua.
Demonstração: Use que, para todo x, y em X, vale a desigualdade
|d(x, A) − d(y, A)| ≤ d(x, y).

Corolário 6.12. Para todo conjunto A em um espaço métrico (X, d), temos
A = {x ∈ X : d(x, A) = 0}.
Teorema 6.13. Todo espaço métrico é normal.
Demonstração:
Primeiro note que todo espaço métrico é T1 . Seja X um espaço métrico e sejam A e B
dois fechados não vazios disjuntos em X. Seja f : X −→ [0, 1] a função dada por
d(x, A)
f (x) = .
d(x, A) + d(x, B)
Então f é contı́nua, f (x) = 0, para todo x ∈ A e f (x) = 1, para todo x ∈ B. 
Proposição 6.14. Todo subespaço de um espaço métrico é um espaço métrico.
Demonstração: Exercı́cio. 
Proposição 6.15. O produto finito de espaços métricos é um espaço métrico.
Demonstração: Se (X, d) e (Y, d′ ) são dois espaço métricos, podemos definir em X × Y a
métrica q
d(a, b) = d2 (x1 , y1 ) + d′ 2 (x2 , y2 ),
onde a = (x1 , x2 ) e b = (y1 , y2 ).
Fica a cargo do leitor mostrar que esta função é de fato uma métrica e que induz a
topologia produto em X × Y . Além disso, faça o caso geral para um produto finito qualquer.

Temos também que:
2. ESPAÇOS MÉTRICOS COMPACTOS E COMPLETOS 81

Teorema 6.16. O produto enumerável de espaços métricos é métrico. Por outro lado, o
produto não enumerável de espaços topológicos com mais de um ponto nunca será metrizável.

Recordaremos o seguinte resultado visto no capı́tulo 2:


Proposição 6.17. Se X é um espaço métrico, então X satisfaz o segundo axioma da
enumerabilidade se e só se X é separável.

2. Espaços métricos compactos e completos


A compacidade é mais facilmente verificada em espaços métricos. Temos as seguintes
equivalências:
Teorema 6.18. Para um espaço métrico X são equivalentes:
(i) X é compacto;
(ii) Todo subconjunto infinito de X tem ponto de acumulação;
(iii) Toda sequência de X tem subsequência convergente.
Vamos agora definir espaços métricos completos.
Definição 6.19. Seja (X, d) um espaço métrico e {xi } uma sequência de pontos de X.
Dizemos que {xi } é uma sequência de Cauchy se para todo ǫ > 0, existe um número natural
k tal que d(xi , xk ) < ǫ, sempre que i > k.
Definição 6.20. Um espaço métrico (X, d) é dito completo se toda sequência de Cauchy
converge.
Podemos sempre “completar” um espaço métrico:
Teorema 6.21. Todo espaço métrico é isomorfo a um subespaço denso de um espaço
métrico completo.

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