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Energia Hidrelétrica e Outras Fontes

Alternativas

Brasília-DF.
Elaboração

Silvia Barreira Zambuzi

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade I
A água como fonte energética...................................................................................................... 9

Capítulo 1
Energia e a água................................................................................................................... 9

Capítulo 2
Energia hidrelétrica........................................................................................................... 15

Unidade iI
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil.......................................................... 26

Capítulo 1
Usinas hidrelétricas no mundo........................................................................................ 26

Capítulo 2
Usinas hidrelétricas no Brasil........................................................................................... 34

Capítulo 3
Legislação e os impactos ambientais das Hidrelétricas................................................. 44

Unidade IIi
Outras Fontes Alternativas............................................................................................................. 59

Capítulo 1
Fontes alternativas de energia existentes........................................................................ 59

Para (não) Finalizar...................................................................................................................... 78

Referências................................................................................................................................... 81
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Atualmente, a discussão sobre a questão energética mundial é cada vez maior, sendo
uma das principais razões as constantes crises no preço do barril de petróleo e a ameaça
de escassez cada vez mais latente dessa fonte não renovável. Somando-se a isso, as
questões ambientais e a diminuição da emissão de gases de efeito estufa incentivam a
cada dia mais as pesquisas e estudos para o desenvolvimento de alternativas de produção
de combustíveis e energias que sejam renováveis, a partir de matérias orgânicas de
origem animal e vegetal, a partir da força das águas, como nas hidrelétricas, a partir da
força dos ventos, como a energia eólica, ou a partir da luz solar, entre outras formas.

Neste sentido, o Brasil se destaca, uma vez que apresenta um diferencial em relação
a outros países, pois possui um potencial grande de desenvolvimento das energias
renováveis. Sua biodiversidade, localização no globo e extensão territorial já fazem do
Brasil uma grande potência no uso da energia hidrelétrica – o principal recurso da
matriz energética nacional – além do potencial de desenvolvimento de energia solar e
eólica em regiões específicas.

Mas o potencial para energias renováveis hoje também depende de alternativas cujo
impacto ambiental seja minimizado ao máximo, por isso, há a crescente alternativa
por investimentos em Pequenas Centrais Hidrelétricas e outras fontes alternativas
que, além de apresentarem boa eficiência energética, sejam ambientalmente viáveis de
instalação.

Vamos discutir um pouco sobre essas fontes de energia nessa apostila.

Bons estudos!

Objetivos
»» Descrever em detalhes o processo de geração de energia hidrelétrica, seus
pontenciais em todo o mundo e suas vantagens ambientais.

»» Descrever a energia hidrelétrica no Brasil, a maior fonte da matriz


energética nacional, e mostrar as principais usinas em operação no país.

»» Mostrar as soluções mais recentes para conciliar o uso da água como


fonte geradora de energia e minimizar os impactos ambientais causados.

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»» Indicar quais os tipos, os potenciais e o que já existe relativo ao
desenvolvimento de energias alternativas, no Brasil e no mundo.

»» Descobrir o potencial do Brasil para a implantação dessas fontes


renováveis e o arranjo atual delas no contexto de estratégica energética
do país para o futuro.

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A água como Unidade I
fonte energética

Ao tratarmos de energia, é preciso identificar, antes de mais nada, quais são as principais
fontes e quais são as características destas. A partir disso, é possível compreender
a matriz energética de cada localidade, baseada na viabilidade de exploração, sua
geografia, transporte e consumo de cada uma destas fontes.

Se levarmos em consideração as principais características do Brasil, em relação à sua


geografia e localização, podemos compreender o porquê da água ser o principal recurso
utilizado como fonte geradora de energia.

Capítulo 1
Energia e a água

Desde sempre o homem busca produzir algum tipo de energia. No início, os ancestrais
dominaram o fogo, depois domesticou e passou a utilizar a força dos animais,
posteriormente passando a usar recursos naturais como a água e o vento, para gerar
energia através das rodas d’água e dos moinhos.

Com o início da Revolução Industrial, quando surgiram as máquinas, o homem


começou a usar a lenha e o carvão para gerar vapor e energia elétrica, necessários para
impulsionar todo o sistema de manufaturas. O aperfeiçoamento dessas máquinas veio
com o advento tecnológico, a descoberta do petróleo e o desenvolvimento da energia
nuclear, o que tornou a sociedade ainda mais dependente de energia elétrica.

Atualmente, sabe-se que o consumo per capita de energia cresce mais do que o
aumento populacional (Herzog e Gianini, 2011). Essa dependência, além de garantir o
desenvolvimento socioeconômico, também traz conforto e segurança para a população,
oferecendo subsídios para a melhoria da qualidade de vida. Em contrapartida, o consumo
excessivo de fontes não renováveis, como o petróleo, o gás natural e o carvão mineral,

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UNIDADE I │ A água como fonte energética

causam a redução destes recursos e o aumento da emissão de dióxido de carbono com


consequências impactantes, como o aquecimento global, por exemplo.

Essas questões socioambientais levaram a sociedade a questionar as formas de


utilização dessas fontes de energia e a buscar um desenvolvimento mais pautado na
sustentabilidade, com o aumento da utilização de fontes de energia renováveis, como a
água, a luz solar e o vento.

Mas afinal, o que é energia renovável?


São as fontes de energia que são disponibilizadas pela natureza de forma cíclica, ou seja,
se recompõem em tempo hábil para que possa ser utilizada novamente, ou é constante,
de forma a ser utilizada initerruptamente.

Essas fontes podem ser utilizadas para gerar eletricidade, calor ou para a produção de
combustíveis líquidos utilizados em transportes, por exemplo.

Hoje em dia, os países industrializados – maiores consumidores de energia – investem


em fontes não-renováveis de energia. O desenvolvimento desse tipo de fonte não se
limita ao atendimento a compromissos ou obrigações ambientais, mas também à uma
redução da dependência de combustíveis fósseis.

Além disso, as novas fontes renováveis têm sido utilizadas como forma de reduzir as
diferenças regionais no que diz respeito ao acesso à energia. Apesar de seus elevados
custos, se comparados com os das fontes tradicionais, as novas fontes renováveis podem
se tornar competitivas em comunidades isoladas (COSTA; PRATES, 2005).

O Brasil, em particular, tem na hidreletricidade cerca de 90% da geração de eletricidade.


Mas é importante lembrar que a produção de energia dessa fonte é sazonal, uma vez
que pode ser dependente do regime de chuvas.

Vamos entender as principais razões dessa predominância da energia hidrelétrica no


país.

Água: um recurso abundante

A água é o recurso natural mais abundante na Terra, com um volume estimado de


1,36 bilhão de quilômetros cúbicos (km3), que recobre cerca de 2/3 da superfície
do planeta sob a forma de oceanos, calotas polares, rios e lagos, além de aquíferos
subterrâneos.

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A água como fonte energética │ UNIDADE I

A água também é uma das poucas fontes para produção de energia que não contribui
para o aquecimento global. É, também renovável, pois, pelos efeitos da energia solar e
da força da gravidade, do estado líquido a água transforma-se em vapor que se condensa
em nuvens, que retornam à superfície terrestre sob a forma de chuva.

Do volume total de água do planeta, cerca de 97% está nos oceanos. Apesar disso, a força
das marés ainda não é utilizada em escala comercial para a produção de energia elétrica.
Da água doce restante, apenas aquela que flui por aproveitamentos com acentuados
desníveis e/ou grande vazão pode ser utilizada nas usinas hidrelétricas – características
necessárias para a produção da energia mecânica que movimenta as turbinas das usinas
– ou seja, só é usada uma pequena parte de toda a água doce.

Nos últimos 30 anos a oferta de energia hidrelétrica aumentou em apenas dois locais
do mundo: Ásia, em particular na China, e América Latina, em função do Brasil, país
em que a hidreletricidade responde pela maior parte da produção da energia elétrica
(ANEEL, 2008).

Nos países desenvolvidos, não houve crescimento visto, devido a intensa exploração de
todos os seus potenciais hídricos – uma vez que exploram esses potenciais há séculos.
São notáveis as taxas de aproveitamento da França, Alemanha, Japão, Noruega, Estados
Unidos e Suécia, em contraste com as baixas taxas observadas em países da África, Ásia
e América do Sul. Mesmo nessas últimas regiões, a expansão não ocorreu na velocidade
prevista. Entre os fatores, está a pressão ambiental contra a construção de usinas de
grande porte em algumas regiões, por exemplo. O principal argumento contrário à
construção das hidrelétricas é o impacto provocado sobre o modo de vida da população,
flora e fauna locais, pela formação de grandes lagos ou reservatórios, aumento do nível
dos rios ou alterações em seu curso após o represamento (ANEEL, 2008).

A água no Brasil

O Brasil possui uma situação confortável, em termos globais, quanto aos seus recursos
hídricos. A disponibilidade hídrica per capita, determinada a partir de valores totalizados
para o País, indica uma situação satisfatória quando comparada aos valores de muitos
países.

Os recursos hídricos superficiais do Brasil representam cerca da metade do total


da América do Sul e aproximadamente 11% de todo o mundo (TUCCI, 2000 citado
por BARROS, 2001). Para facilitar a administração, o governo separou o país
em 12 regiões hidrográficas, sendo que sete delas são formadas pela bacia de um
rio principal (Amazonas, Tocantins-Araguaia, Parnaíba, São Francisco, Paraná,

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UNIDADE I │ A água como fonte energética

Paraguai e Uruguai) e as outras cinco por um grupo de bacias menores, como pode
ser visualizado na Figura 1:

Figura 1. Regiões Hidrográficas brasileiras.

Fonte: Resolução CNRH n o 32, de 15 de outubro de 2003 (Anexo I).

Entretanto, apesar dessa aparente abundância, os recursos hídricos têm uma


distribuição espacial desigual no território brasileiro. Na região Norte, onde está a
bacia Amazônica, vivem menos de 7% da população total do país, e a disponibilidade
dos recursos hídricos chega a 68,5%, enquanto que na região Sudeste, por exemplo,
que concentra mais de 42,5% da população, estão disponíveis apenas 6% dos recursos
hídricos (Fig. 2). Ou seja, a água no país é irregularmente distribuída, em geral numa
circunstância inversamente proporcional à concentração demográfica e, assim, à sua
demanda.

A bacia Amazônica sozinha possui mais de 8% do total dos recursos hídricos mundiais
e mais de 36% dos recursos da América do Sul. Isso mostra a importância dessa bacia
para o país e para o mundo, sendo uma região estratégica tanto politicamente quanto
ambientalmente.

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A água como fonte energética │ UNIDADE I

Figura 2. Distribuição dos recursos hídricos, da superfície e da população total no país (%).

Fonte: MMA/IDEC, 2005.

Além da disponibilidade real de água, o seu uso para abastecimento também é desigual
em todo o país. Na região sudeste, cerca de 70,5% dos domicílios são atendidos por
redes de abastecimento, enquanto que nas regiões norte, o serviço alcança apenas
44,3% dos domicílios (ESMERALDO, 2010).

Na imagem representada na Figura 3 pode-se observar que grande parte da


disponibilidade hídrica está na região Norte, em torno dos afluentes do rio Amazonas
e também nas regiões do pantanal mato-grossense e regiões pontuais do Centro-Oeste
e Sudeste. Em relação à demanda de água, é possível observar que a costa brasileira,
especialmente a região Nordeste e parte do Sudeste onde se localiza grande parte da
concentração da população, sofre com déficit de água para abastecimento.

Figura 3 Relação entre demanda e disponibilidade hídrica no Brasil.

Fonte: OCDE, 2009 em: <http://www.ambito-juridico.com.br/arquivos_sisweb/images/14999a.jpg>.

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UNIDADE I │ A água como fonte energética

Essa desigualdade de disponibilidade de recursos hídricos, aliada ao desmatamento,


ao lançamento de esgoto irregular em rios e córregos, à expansão desordenada dos
centros urbanos e gestão inadequada das nossas águas resultam em problemas como a
contaminação e escassez de água potável para uso em abastecimento. Outro fator que
contribui para a escassez de água é o desperdício, que no Brasil chega a 40% de toda
água tratada e, o consumo médio é de 200 litros/dia por cada habitante (CAMPANILI,
2003 citado por BARROS, 2008).

Se pensarmos, entretanto, nos recursos hídricos do país em relação ao potencial


de geração de energia, o país está entre os cinco maiores do mundo. O potencial
hidrelétrico é estimado em cerca de 260 GW, dos quais 40,5% estão localizados na Bacia
Hidrográfica do Amazonas. Para efeito de comparação, a Bacia do Paraná responde por
23%, a do Tocantins, por 10,6% e a do São Francisco, por 10%. Contudo, apenas 63% do
potencial foi inventariado. A Região Norte, em especial, tem um grande potencial ainda
por explorar (PORTAL BRASIL, 2011).

Água como matriz energética


Toda energia proveniente da água é renovável.

A matriz energética brasileira é baseada predominantemente na geração de


energia hídrica, como já dissemos. É a maior forma de produção de energia do
país. Mas não é só a força hidráulica que gera energia. São muitas as formas de se
gerar energia através desta fonte permanente, além da hidráulica.

»» Energia Maremotriz

»» Energia das ondas

»» Energia azul (termo usado para designar a energia obtida da diferença


de concentração de sal entre a água do mar e a do rio com o uso de
eletrodiálise reversa (ou osmose) com membranas específicas para
cada tipo de íons. O resíduo deste processo, é água salobra).

»» Energia Geotérmica (gerada no interior da Terra, a partir do


aproveitamento das águas quentes e vapores para a produção de
eletricidade e calor).

Nós vamos falar mais dessas alternativas no último capítulo dessa apostila!

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Capítulo 2
Energia hidrelétrica

O que é?
A energia das águas existe graças à irradiação solar e à energia potencial gravitacional.
O sol e a força da gravidade geram a evaporação, a condensação e a precipitação da
água sobre a superfície da Terra.

Podemos dizer então que a energia hidrelétrica é a energia gerada pelo aproveitamento
do fluxo das águas. Para que se consiga isso, é necessário integrar a vazão do rio, a
quantidade de água disponível em determinado período de tempo e os desníveis do
relevo, sejam eles naturais, como as quedas d’água, ou criados artificialmente.

Para isso, é necessário construir uma usina que compreenda equipamentos para
a geração dessa energia, além de um reservatório de acordo com a necessidade de
acúmulo de água.

A primeira hidrelétrica do mundo foi construída no final do século XIX – quando o


carvão era o principal combustível e as pesquisas sobre petróleo ainda engatinhavam
– junto às quedas d’água das Cataratas do Niágara. Até então, a energia hidráulica da
região tinha sido utilizada apenas para a produção de energia mecânica (ANEEL, 2008).

No mesmo período, no Brasil, ainda no reinado de D. Pedro II, foi construída a primeira
hidrelétrica do país em Diamantina, utilizando as águas do Ribeirão do Inferno, afluente
do rio Jequitinhonha, com 0,5 MW (megawatt) de potência e linha de transmissão de
dois quilômetros.

Muito se evoluiu no setor em todo o mundo, e a expansão desse tipo de geração de


energia foi enorme, graças ao avanço das tecnologias que permitiram o aumento da
eficiência do sistema.

As principais variáveis utilizadas na classificação de uma usina hidrelétrica são: altura


da queda d’água, vazão, capacidade ou potência instalada, tipo de turbina empregada,
localização, tipo de barragem e reservatório. Todos esses são fatores interdependentes,
ou seja, a altura da queda d’água e a vazão dependem do local de construção e
determinarão qual será a capacidade instalada que, por sua vez, determina o tipo de
turbina, barragem e reservatório (ANEEL, 2008).

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UNIDADE I │ A água como fonte energética

Como funciona uma usina hidrelétrica?

Uma usina hidrelétrica é composta, basicamente, de barragem, sistemas de captação e


adução de água, casa de força e vertedouros. Cada uma dessas partes demanda obras
e instalações que devem ser projetadas para um funcionamento em conjunto de todos
esses elementos (Figura 4).

Figura 4. Perfil esquemático de uma usina hidrelétrica.

Fonte: ANEEL, 2008

A barragem interrompe o curso normal do rio, formando, na maioria das vezes,


um lago artificial denominado reservatório. Além de estocar a água, o reservatório
permite a formação de um desnível de água (queda) necessário para criar um potencial
energético, além de realizar, em alguns casos, a regularização da vazão nos períodos de
chuva/estiagem por meio do armazenamento de água.

A localização do eixo da barragem e do circuito de geração é um dos critérios mais


importantes para a escolha do local da usina, sendo mais econômico em rios que tem
desníveis concentrados, como saltos, cachoeiras ou corredeiras. Nestes casos, o eixo da
barragem deve ficar localizado à montante da queda concentrada de maneira a reduzir
a altura das estruturas e, portanto, o custo do empreendimento.

O que são Jusante e Montante?


É o referencial de um ponto em um rio. Podemos dizer que, quanto mais
próximo da nascente do rio, se está a montante e quanto mais próximo da foz
desse rio, se está a jusante. Quando falamos de hidrelétricas, esses termos são
muito utilizados: se pensarmos na barragem, o reservatório está a montante,
enquanto após a barragem, se está a jusante, onde o rio volta ao seu curso após
passar pelas turbinas.

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A água como fonte energética │ UNIDADE I

O arranjo e concepção do circuito hidráulico de geração e estruturas dependem das


características topográficas e geológicas do local de construção e das características
operacionais da usina. A água captada no reservatório é levada até as turbinas localizadas
na casa de força, por meio de túneis, canais, condutos metálicos ou pela própria
passagem hidráulica da turbina. Depois de passar pela turbina, a água é restituída ao
leito natural do rio pelo canal de fuga.

Para o caso de vazões do rio superiores a capacidade de armazenamento, utiliza-se o


vertedouro, que permite a saída da água caso os níveis do reservatório ultrapassem os
limites recomendados (TOLMASQUIM, 2016). Uma das razões para a sua abertura é
o excesso de vazão ou de chuva. Outra é a existência de água em quantidade maior que
a necessária para o armazenamento ou a geração de energia. Em períodos de chuva, a
abertura de vertedouros busca evitar enchentes na região de entorno da usina.

A turbina realiza a conversão da energia hidráulica em potência mecânica, que é


utilizada pelo gerador para a conversão em energia elétrica.

Veja esse vídeo que mostra em detalhes o funcionamento de uma usina


hidrelétrica:

<https://www.youtube.com/watch?v=3xshEp2AIBY>.

Os componentes de uma Usina Hidrelétrica estão descritos a seguir (Engenharia


Compartilhada, 2016):

»» Barragem: É uma estrutura construída no leito de um rio, permitindo


acumular água. Pode ser de terra, alvenaria ou concreto.

»» Reservatório: usados para acumular a água usada para a geração de energia.


No dimensionamento de um reservatório são levados em consideração:
localização e características do terreno; níveis mínimo, máximo e críticos
de operação da hidrelétrica; crista do barramento; perdas por evaporação;
assoreamentos; ações integradas entre reservatórios.

»» Vertedouro: É o elemento estrutural que permite a passagem de água


de montante para jusante. É também responsável pela integridade e
segurança de uma barragem quando ocorre as vazões máximas. Pode ter
ou não comportas.

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UNIDADE I │ A água como fonte energética

Foto 1. Vertedouro da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

Fonte: <http://jie.itaipu.gov.br/sites/default/files/u39/20151122AM9144.jpg>.

»» Tomada d’água: Usada para captar a água necessária ao funcionamento


das turbinas hidráulicas, e deve conter dispositivos para eliminar ou
reter materiais sólidos transportados pela água que poderia danificar as
turbinas, como troncos d’água, por exemplo. Elas podem ser de superfície
ou afogadas, contendo adutores (condutos forçados), comportas, stop
logs e sistema de acionamento.

»» Condutos forçados: Dutos de alta pressão que conduzem a água até as


turbinas da usina. Podem ser externos ou subterrâneos.

»» Comportas: Permitem o controle da vazão de água e a limpeza dos


reservatórios, além da manutenção de equipamentos.

»» Casa de força: Concentra os equipamentos eletromecânicos


responsáveis pela produção de energia. Há vários tipos de casa de
força, mas no Brasil o mais comum é a do tipo abrigada, em que todo
o conjunto turbina-gerador e equipamentos são instalados dentro de
uma estrutura.

»» Turbinas: A água, ao atingir as turbinas, gira as suas pás, devido a alta


pressão que exerce. Essas pás acionam o gerador.

»» Gerador: Está acoplado mecanicamente à turbina. Com o movimento das


turbinas transformam a energia mecânica em elétrica.

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A água como fonte energética │ UNIDADE I

»» Transformador: Localizado acima do gerador, recebe a corrente elétrica


e aumenta a sua tensão para que a energia passe a ser enviada a outras
distâncias.

»» Canal de fuga: Depois de movimentar a turbina, a água volta para o leito


natural do rio por meio desse canal.

»» Subestação: Recebe a energia elétrica gerada na usina, transformando-a


em alta tensão, para que possa ser transportada pelas linhas de
transmissão a grandes distâncias.

As imagens a seguir ilustram os componentes de uma usina hidrelétrica.

Figuras 5, 6 e 7. Componentes de uma usina hidrelétrica.

Fontes: Adaptado de <http://www.ceee.com.br/pportal/ceee/Component/Controller.aspx?CC=1875 e http://www.infoescola.


com/wp-content/uploads/2008/09/hidroeletrica-turbina.jpg>.
Legenda:
1. Reservatório ou lago
2. Barragem
3. Vertedouro
4. Tomada d’água
5. Conduto Forçado
6. Casa de Força
7. Canal de Fuga
8. Subestação
9. Turbina
10. Gerador

19
UNIDADE I │ A água como fonte energética

Cada projeto hidrelétrico possui características específicas, definidas de acordo com


as características topográficas, geológicas e socioambientais de cada local. Assim, os
projetos podem ter diferentes aspectos técnicos, seja no tamanho ou tipo de usina, altura
da queda e as funções gerais. Segundo Tolmasquim (2016), a Agência Internacional de
Energia (IEA, 2012) classifica as hidrelétricas em três categorias funcionais: usinas com
reservatório de acumulação, usinas a fio d’água e usinas hidrelétricas reversíveis.

Os primeiros, geralmente estão localizados na cabeceira dos rios, em locais de altas


quedas d’água e, devido ao seu grande porte, permitem o acúmulo de grande quantidade
de água, funcionando com estoques a serem utilizados em períodos de estiagem. As
unidades a fio d’água geram energia com o fluxo de água do rio, ou seja, pela vazão com
mínimo ou nenhum acúmulo do recurso hídrico. As usinas reversíveis possuem dois
reservatórios e um sistema de bombeamento de água de um para outro.

Usinas a fio d´água

Nesse tipo de usina, o reservatório pode ter uma dimensão reduzida, uma vez que é
aproveitada a força da correnteza dos rios sem precisar estocar grandes quantidades
de água. Assim, nos períodos de cheia, a usina produz muita energia e nos períodos de
seca, a produção de energia fica reduzida.

Embora a produção de energia elétrica fique em função quase que total das vazões dos
rios, muitos afirmam que esta seja uma alternativa ambientalmente menos impactante.
Há vantagens como o fato da não necessidade de grandes quedas d’água e de relevos
mais acidentados, podendo, muitas vezes, ser instalado em locais mais planos.

Por essa razão, por exemplo, que há diversos projetos para construção de usinas a fio
d’água na região amazônica, região que, por ser plana, não favorece o represamento e
não possui grandes quedas d’água, além de ser extremamente sensível do ponto de vista
ambiental, mas que, segundo especialistas, apresenta um grande potencial de geração
de energia.

O fato é que, em geral, usinas a fio d’água têm baixos fatores de capacidade, razão entre
a energia gerada ao longo do ano – em geral, medida em MWh/ano (magawatt-hora
por ano) – pela energia máxima que poderia ser gerada no sistema. Sendo que em
termos de equivalência, 1 MWh é igual a 1.000.000 Wh ou 3,6×109 joules.

Muitas vezes, o que ocorre é a instalação de várias usinas em um mesmo curso hídrico,
que atuam de forma integrada. Usinas localizadas a montante podem usar seus
reservatórios para regular o fluxo de água utilizado pelas usinas localizadas a jusante.

20
A água como fonte energética │ UNIDADE I

A usina binacional Itaipu, por exemplo, por ser a última a jusante da Bacia do Rio
Paraná, é considerada como a fio d’água.

Usinas com reservatórios de acumulação


Nas usinas com reservatórios de regularização do rio, ocorre acúmulo de água no
reservatório nos períodos de cheia. Durante os períodos secos, a água acumulada, além
da decorrente do fluxo natural, é utilizada para gerar energia. Por isso, usinas com
reservatórios de regularização têm como característica importante o fato da produção
de energia ser mais constante.

Como exemplo, estão as usinas brasileiras construídas na década de 1960, como a


Usina de Furnas, em Minas Gerais, cujas barragens formam um grande lago, podendo
ser alimentado por mais de um rio.

Os grandes reservatórios, além de propiciarem o controle das cheias dos rios, podem
também permitir o aproveitamento dos múltiplos usos da água, como abastecimento
das cidades, irrigação, piscicultura, recreação, transporte fluvial e outros.

É importante lembrar que, um dos maiores problemas entre produção e consumo de


energia é o armazenamento. A energia produzida precisa ser imediatamente consumida,
porque não tem como ser armazenada. Por isso, os grandes reservatórios das usinas
da região Sudeste e Centro-Oeste do país, por exemplo, representam cerca de 70%
da energia do Sistema Interligado Nacional. Entretanto, os grandes reservatórios,
geralmente, necessitam de grandes áreas, muitas vezes longe dos consumidores,
encarecendo o valor dessa energia gerada devido aos custos com a transmissão, além
dos grandes impactos ambientais associados à formação desses reservatórios.

Usinas reversíveis ou de bombeamento


Em uma usina hidrelétrica convencional, a água do reservatório passa pela usina, sai
e volta para o rio. No caso das usinas reversíveis, no entanto, há dois reservatórios:
um superior, onde a água passa pela usina hidrelétrica para gerar a eletricidade, e um
inferior, para onde a água vai depois de gerar a energia, ao invés de voltar para o rio.

Utilizando uma turbina reversível, a usina pode bombear a água de volta para o
reservatório superior. Isto é feito nos horários fora de pico (durante a madrugada e
finais de semana, por exemplo). Em resumo, o segundo reservatório preenche o
reservatório superior. Ao bombear a água de volta para o reservatório superior, a usina
tem mais água para gerar eletricidade durante os horários de pico de consumo. A Figura
8 apresenta um esquema de usina reversível:

21
UNIDADE I │ A água como fonte energética

Figura 8. Esquema das Usinas reversíveis.

Fonte: Adaptado de IEA (2012) citado em TOLMASQUIM (2016).

As UHR (Unidades Elétricas Reversíveis) classificam-se entre ciclo aberto, semiaberto e


fechado, de acordo com sua conexão com o rio ou outro corpo d’água. No ciclo aberto,
os reservatórios superior e inferior estão presentes ao longo do curso natural de um
rio, sendo similar a uma usina hidrelétrica convencional, com a adição do reservatório
inferior e o sistema de bombeamento. É possível, portanto, transformar uma usina
convencional em uma usina reversível de ciclo aberto. No ciclo semiaberto há um
reservatório isolado (geralmente artificial), enquanto o outro reservatório faz parte
do fluxo do rio. No ciclo fechado, há dois reservatórios isolados do curso d’água. O
enchimento inicial do reservatório é realizado através de sua própria zona de captação
ou através do desvio de um corpo d’água próximo.

Como exemplo temos a construção das usinas elevatórias de Pedreira e Traição em


São Paulo. A usina elevatória de Pedreira foi inaugurada em 1939 com a entrada em
operação da primeira unidade reversível do mundo em operação comercial, ou seja,
com possibilidade de funcionamento tanto como geradora de energia, tanto como
bombeadora de água do reservatório.

É a potência instalada uma das formas de se determinar a dimensão de uma usina.


Esta é a máxima potência elétrica ativa possível de ser obtida nos terminais do gerador
elétrico, respeitados os limites nominais do fator de potência.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adota três classificações: Centrais


Geradoras Hidrelétricas (com até 1 MW de potência instalada), Pequenas Centrais
Hidrelétricas (entre 1,1 MW e 30 MW de potência instalada) e Usina Hidrelétrica de
Energia (UHE, com mais de 30 MW). (ANEEL, 2008).

Em relação à dimensão dos reservatórios, podemos classificar como: CGH (sem


reservatórios, geralmente uma usina a fio d’água), PCH (sem reservatórios ou com
reservatórios de no máximo 3km², UHE (reservatórios maiores que 3km²).

22
A água como fonte energética │ UNIDADE I

CGH

As Centrais Geradoras Hidrelétricas são usinas com potência instalada de até 1.000 kW
(1 MW).

Geralmente, elas são construídas para a exploração de energia hidrelétrica para uso
próprio por indústrias que apresentam alto consumo de energia. Os excedentes são
vendidos para o Sistema Interligado Nacional, mas o total deste tipo de geração no total
do país não chega a 1%. Santa Catarina é o Estado que mais apresenta CGH’s, seguido
de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

Elas apresentam um processo simplificado e de menor custo de implantação, uma vez


que não é necessário a elaboração de estudos de inventário, nem projeto básico, mas
é necessário realizar todo o processo de licenciamento ambiental, incluindo desde a
Licença Prévia, de Instalação e Operação, além da obtenção de outorga de uso de água.
Caso a intenção seja a venda da energia gerada, a ANEEL deverá ser informada para que
seja registrado o proprietário como Produtor Independente de Energia (PIE) (STANO
JR., 2011).

PCH

Por meio da Lei no 13.097 de 19 de janeiro de 2015, foi definido que os aproveitamentos
com características de Pequena Central Hidrelétrica são aqueles que têm potência
superior a 3.000 kW e igual ou inferior a 30.000 kW, destinados à produção
independente, autoprodução ou produção independente autônoma, com área do
reservatório inferior a 3,0 km2. Admite-se, contudo, que um aproveitamento possa
ainda ser considerado com características de PCH mesmo sem atender a limitação
da área do reservatório, respeitados, sempre, os limites de potência e modalidade de
exploração.

A importância e o cuidado na caracterização de um aproveitamento hidrelétrico como


PCH estão relacionados, entre outros fatores, à preservação do aproveitamento ótimo
do potencial hidrelétrico de um determinado sítio e às vantagens fiscais e tarifárias que
uma PCH desfruta, estabelecidas com o objetivo de incentivar investimentos nesse tipo
de projeto, especialmente pela iniciativa privada. As PCH’s podem ser tanto a fio d’água
quanto de acumulação, com regularização diária ou mensal. Entretanto, raramente
dimensiona-se o reservatório de uma PCH com acumulação capaz de promover
regularização superior à mensal (TOLMASQUIM, 2016).

Dependendo do local de projeto da PCH, pode-se reservar a água por uma das duas
formas para gerar energia, ou através de um grande volume de água que cai de uma

23
UNIDADE I │ A água como fonte energética

distância curta, ou a partir de uma pequena quantidade de água que cai por uma longa
distância (IEA, 1998).

Muitos acreditam que as PCH’s é um dos métodos ambientalmente mais corretos para
a geração de energia, por não ter baixa emissão de gases de efeito estufa, por exemplo,
comparando-se com os demais recursos de energia. Entretanto, as PCH’s não são
totalmente isentas de problemas ambientais ((MARI JUNIOR et al, 2003).

UHE

Uma UHE apresenta mais de 30 MW (megawatts) de potência instalada e, com relação


à dimensão dos reservatórios, as UHE’s possuem reservatórios com área superior a
3km².

Há uma tendência atual de diminuição deste tipo de aproveitamento hidrelétrico,


especialmente por ela necessitar de condições geográficas para a grande geração e
inundação de áreas, o que torna também os estudos ambientais cada vez mais complexos
e as compensações mais caras. No caso do Brasil, além disso, grande parte dos
aproveitamentos desse tipo inventariados já são explorados, havendo menor número
de opções locacionais que possuam as condições perfeitas para esse tipo de exploração.

Transmissão

O porte da usina também determina as dimensões da rede de transmissão que será


necessária para levar a energia até o centro de consumo. A tendência para os novos
empreendimentos é que quanto maior a usina, mais distante ela tende a estar dos grandes
centros (questões de uso do solo). Assim, as UHE’s geralmente exigem a construção de
grandes linhas de transmissão em tensões alta e extra-alta (de 230 quilovolts a 750
quilovolts) que, muitas vezes, atravessam o território de vários Estados. Já as PCH’s
e CGH’s, instaladas junto a pequenas quedas d’águas, no geral, abastecem pequenos
centros consumidores – inclusive unidades industriais e comerciais – e não necessitam
de instalações tão sofisticadas para o transporte da energia (ANEEL, 2008).

Para interligar toda essa geração de energia, há o SIN – Sistema Interligado Nacional,
um sistema de controla toda a produção e transmissão de energia do país, englobando
todas as regiões brasileiras. O SIN é responsável pelo suprimento de energia a 96,6% do
território nacional. Os 3,4% restantes constituem-se de sistemas isolados localizados
na Região Norte do país que dispõem de sistemas hidrotérmicos e/ou térmicos locais.

Todas as empresas privadas, mistas e públicas que compõem o SIN são fiscalizadas
pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e pelo Operador Nacional do

24
A água como fonte energética │ UNIDADE I

Sistema Elétrico (ONS), órgãos responsáveis pelo controle, regulação e fiscalização das
operações relacionadas à geração, transmissão e comercialização de energia elétrica em
território brasileiro.

O SIN apresenta dimensões continentais, dado o tamanho do Brasil. Isso dá uma


complexidade imensa para sua operação, quando comparado ao sistema de outros
países. Há mais de 100 mil quilômetros de linhas de transmissão, com diversas
subestações que redistribuem a energia elétrica.

A rede possibilita a transferência de excedentes energéticos permitindo a otimização


dos estoques armazenados nos reservatórios das usinas hidrelétricas, uma vez que
os respectivos períodos secos e úmidos não são coincidentes nas regiões do país. Na
Região Sudeste/Centro-Oeste, por exemplo, o período úmido ocorre de dezembro a
abril. Embora a Região Sul não possua período úmido e seco bem delimitados, neste
mesmo período a ocorrência de chuvas encontram-se abaixo do valor médio anual, de
modo que o Sul pode importar os excedentes energéticos da Região Sudeste. Da mesma
forma, quando a situação hidrológica da Região Sul está mais favorável, o subsistema
Sul pode exportar o seu excedente energético para as Regiões Sudeste/Centro-Oeste, já
que estas encontram-se em seus períodos secos. Nas regiões Norte e Nordeste, apesar
dos regimes hidrológicos coincidentes, elas também se complementam. Com isso, há
uma clara complementariedade hidrológica que indica a necessidade da transferência
de excedentes energéticos entre essas Regiões, bem como do uso dos estoques que
apresentarem menor custo.

Acesse o mapa mais recente do Sistema Interligado Nacional (SIN) publicado


pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em 2016:

<http://www.epe.gov.br/Documents/Mapa_EPE_2015.pdf>.

25
Geração
de energia Unidade iI
Hidrelétrica no
Mundo e no Brasil

Embora a geração de energia por meio do uso da água em movimento – energia


mecânica - seja antiga em todo o mundo, a geração de energia elétrica por meio dessa
fonte começou a ser explorado a partir do desenvolvimento de tecnologias e do aumento
da demanda por energia, com a industrialização. Por muitos anos deixada de lado
devido à abundância de combustíveis fósseis, foram retomados mais recentemente os
investimentos nessa fonte renovável, uma exigência de um mundo onde, cada vez mais
se busca independência desses combustíveis fósseis, bem como o uso de alternativas
mais limpas para suprir a sempre crescente demanda de energia.

Capítulo 1
Usinas hidrelétricas no mundo

O uso da energia vinda da água é antigo, desde o uso das rodas d’água para geração de
energia mecânica.

A primeira usina hidrelétrica foi construída no final do século XIX, em Cragside, na


Inglaterra, e hoje, após pouco mais de um século, esta fonte de geração está presente em
cerca de 160 países (IEA, 2012). O uso da hidreletricidade foi rapidamente disseminado
nos Estados Unidos e nos países da Europa, para serviços públicos de iluminação e tração
e para algumas atividades econômicas (como na mineração). Nestes países, o potencial
hidrelétrico foi largamente explorado, mas com o crescimento da demanda de energia
elétrica e o aparecimento de novas fontes de geração, a participação da hidreletricidade
em relação às demais fontes foi gradualmente reduzida ao longo do tempo. Atualmente,
nos Estados Unidos, apesar de a capacidade hidrelétrica instalada ser a terceira maior
do mundo, sua participação na matriz elétrica, em termos de geração, é cerca de 7%.
(TOLMASQUIM, 2016).

26
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

Cerca de 16,6% da produção de eletricidade no mundo em 2014 foi gerada por usinas
hidrelétricas, o que representou aproximadamente 73% da eletricidade gerada por
fontes renováveis (REN21, 2015 citado por TOLMASQUIM, 2016).

Gráfico 1. Produção total de eletricidade em 2014.

Fonte: Adaptado de REN 21 (2015)

O parque hidrelétrico mundial se expandiu cerca de 3,6% em 2014, atingindo a


capacidade instalada de aproximadamente 1055 GW (REN 21, 2015). Esse crescimento
ocorreu, principalmente, por causa da China, mas também devido ao Brasil, Canadá,
Turquia, Índia e Rússia, que também registraram crescimentos.

Gráfico 2. Capacidade hidrelétrica instalada nos principais países em 2014.

300

250

200
GW

150

100

50

0
China Brasil Estados UnidosCanadá Rússia Índia
Fonte: Adaptado de TOLMASQUIM, 2016.

27
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

Esse crescimento nessas regiões estava estagnado nas últimas décadas, uma vez
que as formas de instalação dessas usinas hidrelétricas estavam sendo questionadas
especialmente em relação aos impactos ambientais e para as populações afetadas pelas
barragens.

De 2005 em diante, a expansão desse tipo de energia se concentrou mais na América


Latina e na Ásia, com destaques para o Brasil e principalmente para a China, cuja
produção praticamente triplicou, passando de 350 TWh, em 2004, para 1042 TWh, em
2014. Essa expansão da hidreletricidade mais expressiva nestes países se deve às suas
demandas crescentes e disponibilidade de recursos hídricos que, diferentemente da
maior parte dos países mais desenvolvidos, ainda não foram extensamente explorados.
Vale destacar que cerca de 60% da produção de hidreletricidade esteve concentrada nos
seis maiores produtores após 2010 (TOLMASQUIM, 2016).

Na Tabela 1 a seguir são listados os países com produção hidrelétrica superior a 50


TWh em 2013, bem como a participação desse tipo de energia na matriz energética dos
países. Essa participação varia de 7% (Estados Unidos) a 96% (Noruega), chegando
a 100% no caso do Paraguai (graças à hidrelétrica binacional de Itaipú, que veremos
adiante).

Tabela 1. Maiores produtores de hidreletricidade (2013).

Países Produção TWh Participação %


China 900 17
Canadá 388 61
Brasil 387 72
EUA 269 7
Rússia 179 18
Índia 133 12
Noruega 127 96
Venezuela 83 69
Japão 77 8
França 70 13
Suécia 61 41
Paraguai 60 100
Fonte: Adaptado de TOLMASQUIM (2016)

Uma das principais razões para esse novo crescimento da energia hidrelétrica em todo
mundo é a diminuição de emissão dos gases de efeito estufa, principalmente nos países
em que o potencial hidrelétrico já foi quase totalmente explorado (como é o caso de
alguns países europeus e Estados Unidos), ou o potencial é reduzido com relação à
demanda a ser atendida (como é o caso da China, dentre outros). Mas é preciso lembrar
que, o crescimento do uso dessa fonte, pelo fato dela poder ser intermitente, também

28
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

está relacionado – estrategicamente – à necessidade de sistemas elétricos mais


confiáveis, para uma maior segurança energética, especialmente para os países com
forte dependência de combustíveis fósseis (visto que esses recursos são finitos), para
os países importadores, a fim de não correr riscos com as flutuações de preços destes
combustíveis fósseis, por exemplo.

A China se destaca por ser a maior produtora e investidora em energia hidrelétrica,


assim como em todos os demais tipos de energia vinda de fontes renováveis, como
a eólica e a solar, por exemplo. Da mesma forma, houve crescimento do consumo e
produção de energia vinda de carvão, gás natural e petróleo, fazendo com que o país
também lidere o ranking de países emissores de gases de efeito estufa.

Os EUA, embora apresentem uma grande produção mundial de energia hidrelétrica e


uma capacidade instalada superior a de grande parte dos países, não tem uma grande
participação desta no total de energia produzida no país, uma vez que há investimentos
e potenciais grandes de outras fontes, especialmente petróleo, carvão e gás natural.

Se considerarmos outras fontes renováveis de energia, como a eólica e a solar, há algumas


variações de geração de energia. A energia eólica, por exemplo, pode ser suscetível
às reduções da capacidade de geração a qualquer momento, caso ocorra ausência de
ventos. Da mesma forma, as usinas solares fotovoltaicas não geram energia durante a
noite, além de poderem apresentar variações em função de nebulosidades ao longo do
dia. As usinas hidrelétricas podem, pelas suas características operativas, assumir as
oscilações dessas gerações mais instáveis, dada a sua capacidade de armazenamento. Da
mesma forma, usinas solares e eólicas podem contribuir para maximizar sua oferta de
eletricidade através da redução de geração das usinas hidrelétricas, que assim poupam
a água armazenada em seus reservatórios, para posterior turbinamento, quando houver
menor oferta eólica ou solar.

Em países com potencial hidrelétrico reduzido ou inexistente ou nos que esse potencial
já foi praticamente todo explorado, uma maior participação de fontes renováveis
intermitentes pode ser viabilizada através de intercâmbios com países vizinhos
que dispõem de potenciais hidrelétricos superiores às suas próprias demandas. Na
Noruega, por exemplo, em que há uma intensa participação desse tipo de energia, é
exportada parte desta para a Dinamarca, país que apesar de ter a maior participação de
energia eólica na matriz energética em todo o mundo, necessita ainda da importação
de energia. A Islândia, com exploração de energia geotérmica e hidrelétrica, também
analisa a questão da exportação de eletricidade para outros países da Europa.

Estas interligações também podem surgir da necessidade e interesse no desenvolvimento


de potencial hidrelétrico de rios fronteiriços, por exemplo, a usina hidrelétrica

29
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

binacional de Itaipu (Brasil-Paraguai). Portanto, são inúmeras formas e motivações


para a expansão da hidreletricidade e um enorme potencial hidrelétrico a nível mundial
ainda a ser explorado, embora a maior parcela esteja concentrada na Ásia, América do
Sul e África.

Maiores usinas hidrelétricas do mundo

Segundo PENA (2016), estas são atualmente as dez maiores usinas hidrelétricas do
mundo, em capacidade de produção de eletricidade:

1o Usina de Três Gargantas – China (22.500MW).

A Usina de Três Gargantas, localizada no Rio Yang Tsé, além de ser a maior hidrelétrica
do planeta, exerce funções como o controle de enchentes e facilitação do transporte
hidroviário na região, em uma das obras mais controversas ambientalmente, pelo fato
de ser considerada de alto impacto ambiental.

2o Usina de Itaipu – Brasil / Paraguai (14.000MW)

Até 2012, essa era a maior usina hidrelétrica do mundo. Por ser localizada em uma
região fronteiriça, é uma hidrelétrica binacional, sendo utilizada pelo Brasil e pelo
Paraguai. Apesar de superada em tamanho pela Usina de Três Gargantas, a gigante
brasileira muitas vezes a supera em energia gerada. Em dezembro de 2016, por exemplo,
a geração chegou a 98.800.319 milhões de megawatts-hora (G1, 2016).

3o Belo Monte – Brasil (11.233MW).

A Usina de Belo Monte, embora ainda não esteja com suas obras totalmente concluídas,
pretende ser, além da maior usina hidrelétrica totalmente brasileira, a segunda da
América Latina, projetada para ter uma potência instalada de 11.233MW, mas deve
operar apenas com 4.500MW, em razão do reservatório reduzido de que irá dispor. A
construção da usina chama atenção para os impactos em torno da sua localização e das
suas obras que afetam áreas indígenas, de ribeirinhos tradicionais e grandes áreas de
Floresta Amazônica.

4o Guri – Venezuela (10.200 MW).

A Hidrelétrica de Guri, também denominada por Central Hidrelétrica Simón Bolívar,


está localizada no Rio Caroni e sua construção foi concluída em 1986. Essa usina garante
o abastecimento de toda a Venezuela e também exporta parte de sua energia para o
Estado de Roraima, no Brasil.

30
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

5o Tucuruí I e II – Brasil (8.370 MW).

Localizada ao longo do Rio Tocantins, na cidade de Tucuruí, ao sul de Belém do Pará, a


Hidrelétrica de Tucuruí ainda é maior usina 100% brasileira em operação e apresenta
o segundo maior vertedouro do mundo. A sua construção se deu entre os anos de 1974
e 1984.

6o Grand Coulee – Estados Unidos (6.494MW)

A Usina Hidrelétrica de Grand Coulee foi construída em 1974, e por muitos anos foi a
maior do mundo. Possui uma barragem de 1,6km de largura e o dobro da altura das
Cataratas do Niágara.

7o Sayano-Shushenskaya – Rússia (6.400MW)

Sayano-Shushenskaya é a maior usina hidrelétrica da Rússia. Em termos de rendimento,


é umas das principais usinas do mundo, pois apenas com 10 turbinas produz cerca de
6.400MW.

8o Krasnoyarsk – Rússia (6.000MW)

Sua longa construção iniciou em 1956 e só foi conluída em 1972. Sua utilização principal
é abastecer as centrais produtoras de alumínio.

9o Churchill Falls – Canadá (5.428 MW)

Foi construída no início dos anos 1970 e é a maior do Canadá. É considerada a maior
hidrelétrica subterrânea do mundo.

10o Usina La Grande 2 – Canadá (5.328 MW)

Construída na região de Quebec, no Canadá, em 1992, envolveu a construção de uma


série de barragens ao longo do rio La Grande. Caso o projeto original seja continuado e
todas as barragens sejam construídas ao longo do rio, essa usina pode se tornar a maior
do mundo.

Se há uma obra polêmica no mundo, é a de Três Gargantas. Ela é considerada a


maior usina hidrelétrica do mundo, construída no rio Yangtze, na China. Sua obra
durou 17 anos, precisou de 40 mil trabalhadores, com um custo de 28 bilhões de
dólares, porém, o custo real é desconhecido. É a estrutura de concreto de maior
massa na Terra.

31
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

A usina hidrelétrica chinesa de Três Gargantas superou Itaipu na produção


de energia elétrica em 2014. Dados mostram que a hidrelétrica produziu 98,8
milhões de megawatts por hora (MHw) no ano passado, um novo recorde para
o setor.

Foto 2. Usina de Três Gargantas, na China.

Fonte: <http://mundoengenharia.com.br/monstrosdaengenharia/wp-content/uploads/sites/41/2016/02/mosingenieros-china-
presa-tres-gargantas-640.jpg>.

Outro número impressionante, a hidrelétrica Três Gargantas possui mais de 180


metros de altura e segura 1.4 trilhões de metros cúbicos de água por trás de mais
de 2.8 milhões de metros cúbicos de concreto.

A Corporação responsável pela sua construção explicou que a energia


produzida em 2014 equivale à economia de 49 milhões de toneladas de carvão,
que continua sendo a principal fonte de energia da China, evitando também a
emissão de 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera
(Instituto Engenharia, 2015).

A usina foi idealizada por Mao Tse-tung, um político, teórico, líder comunista,
revolucionário e arquiteto chinês, ainda nos anos 50 para acabar com o déficit
energético de Xangai, mas a usina só começou a ser construída em 1993 e
suas obras foram finalizadas em 2006. Apesar disso, a represa sempre recebeu

32
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

muitas críticas por causa dos danos ambientais, pelas desapropriações e


perdas patrimoniais e históricas causadas pela sua construção. Cerca de cem
trabalhadores morreram durante a sua construção.

Os impactos a longo prazo são incalculáveis. Muitas populações de peixes estão


em declínio e a poluição está aumentando porque equilíbrio ambiental do rio foi
rompido pela barragem (RAMOS, 2016).

A instalação perdeu o posto de maior obra hidráulica do mundo para outro


projeto chinês de concepção maoísta, chamado de transposição Sul-Norte. A
ideia é abastecer todas as regiões do país, incluindo a capital Pequim, com as
águas do rio Yang Tse. Entretanto, esse ainda é um projeto, previsto para ser
concluído incialmente em 2050 (Instituto Engenharia, 2015).

Acesse esse documentário sobre essa usina: <https://youtu.be/EUy0l2bKUPE>.

33
Capítulo 2
Usinas hidrelétricas no Brasil

Os primeiros aproveitamentos hidráulicos ocorreram nos estados de Minas Gerais e


São Paulo, desde o final do século XIX. O crescimento desse tipo de aproveitamento, já
na primeira década do século XX, superou a produção das usinas termelétricas no país.

Os investimentos vinham, em sua maioria, das empresas estrangeiras que se instalaram


no país na era pré-industrial, que organizaram todo o processo de geração, transmissão
e distribuição dessa energia, com destaque para as empresas Brazilian Traction, Light
& Power (LIGHT), American Foreign Power Company (AMFORP) (Mendes, 2005).

Após os crescimentos dos investimentos até a década de 1950, as empresas privadas


estrangeiras perderam força com o aumento dos custos, o que permitiu o crescimento
dos investimentos estatais de produção de energia.

Mas as medidas estatais de investimentos em energia já estavam crescendo desde a


década de 1930, com a assinatura do Código das Águas em 1934, como um norteador
das concessões de água e energia elétrica.

Na década de 1950, cabe lembrar, o déficit de energia já era considerado sério


obstáculo ao avanço da industrialização do país. O presidente Getúlio Vargas, além
da regulamentação do Código de Águas, fortaleceu o estado como investidor no setor,
estimulando a construção de grandes usinas geradoras e linhas transmissoras de alta
tensão, além da implantação da indústria de material elétrico pesado. Nesse período foi
elaborado também o inventário do potencial hidrelétrico brasileiro, a partir de estudos
pontuais sobre as principais bacias hidrográficas.

Nesse período, recursos financeiros importantes começaram a ser captados no país e


repassados para a construção de grandes hidroelétricas nas diversas regiões do país;
no Sudeste, por Furnas, Cesp e Cemig; no Nordeste pela CHESF; no Sul pela Eletrosul,
e no Norte, pela Eletronorte. Isso movimentou todo o setor, abrangendo empresas de
equipamentos, turbinas, maquinários etc.

Além da ampliação da usina de Paulo Afonso, inaugurada em janeiro de 1955,


iniciou-se uma fase de grandes obras hidráulicas. Essa fase prosseguiu com a construção
das usinas de Furnas, Urubupungá, entre outras.

34
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

A criação da Eletrobrás, apenas em1962, veio enfim para consolidar essa política
desenvolvimentista do setor energético, com um Estado fortalecido e investimentos
pesados em construções de usinas de grande porte.

Durante a década de 70, sob a atmosfera do milagre brasileiro o Brasil iniciou a construção
de enormes usinas, onde se destacam Itaipu e Tucuruí. Essa fase foi caracterizada pelo
modelo denominado “desenvolvimentista”, em que as hidrelétricas foram criadas para
amenizar a demanda por energia, gerada pela indústria que despontava em todo o país,
e como fonte de geração de novos empregos, mas não se questionando os impactos
causados pelas obras.

“A capacidade instalada de energia hidrelétrica aumentou de 3 milhões de kw


em 1955 para quase 5 milhões de kw em 1961” (MENDES, 2005).

Esses investimentos e o modelo desenvolvimentista continuaram durante o Período


Militar (1964-1984), quando outras usinas de grande porte foram construídas, para
acompanhar o modelo de desenvolvimento mundial.

É importante lembrar que, no período entre 1960 a 1990, a construção de usinas


hidrelétricas causou impactos irreparáveis ao meio ambiente e à população local
atingida pela formação dos grandes lagos. A construção de usinas hidrelétricas no
Brasil, desde sempre, tem sido acompanhada de inúmeros conflitos e polêmicas
relacionados geralmente à retirada das populações atingidas e impactos decorrentes de
sua implantação.

Naquele período, em especial, não se incluíam discussões com a sociedade a respeito da


localização e criação dessas usinas. Como exemplo estão as construções de Sobradinho
(Bahia), Tucuruí (Pará) e Itaipu (Paraná) e, a partir desse período, as pressões sociais
começaram a surgir.

A partir da década de 1980, com a crise financeira do país e o intenso endividamento


externo, houve a paralisação das obras e dos projetos de novas hidrelétricas,
inviabilizando o avanço do setor por décadas.

A retomada surgiu aos poucos no início dos anos 2000, com a negociação das dívidas e
mudanças em leis que permitiram uma maior participação do capital privado, além de
uma nova postura de consciência ecológica refletida nas leis de licenciamento ambiental
para empreendimentos de energia.

Nesse sentido, novas hidrelétricas passaram a ser construídas com reservatórios de


regularização cada vez menores ou até sem regularização, com ênfase nas chamadas
usinas a fio d’água.

35
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

Histórico das principais usinas hidrelétricas do Brasil

A primeira usina hidrelétrica construída no país foi no município de Adamantina (MG),


aproveitando as águas do Ribeirão do Inferno, afluente do rio Jequitinhonha. Mas, a
primeira construída para utilidade pública da energia foi a usina no rio Paraibúna, que
produzia energia para a cidade de Juiz de Fora, também em Minas Gerais, em 1889. A
população viu com estranheza aquela nova tecnologia, desconhecendo e temendo que
houvesses descargas elétricas e outros problemas.

Sem empresas que fabricassem os equipamentos, o país precisou importar tecnologias,


e trazer empresas novas que suprissem esse mercado, especialmente após a I Guerra
Mundial. Em 1930, o Brasil já possuía 891 usinas, sendo 541 hidrelétricas, 337
térmicas e 13 mistas. Com a 2ª Guerra Mundial voltou o problema de importação e de
racionamento de carvão e petróleo. A essa altura a usina elétrica já era utilizada para
outras finalidades, além da indústria da iluminação pública e doméstica.

Na década de 1940, para atender a demanda de energia na capital Rio de Janeiro, foi
construída no rio Paraíba do Sul a Usina Ilha dos Pombos, com barragem que possuía
as maiores comportas de concreto do mundo à época.

Foto 3. Vista da barragem da Usina Hidrelétrica Ilha dos Pombos, no rio Paraíba do Sul, município de Carmo (RJ).

S/d. Acervo Light.

Fonte: <http://www.memoriadaeletricidade.com.br/>.

36
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

Em 1958, iniciou-se a construção da Usina Hidrelétrica de Furnas, tendo a primeira


unidade entrado em operação em setembro de 1963 e a sexta, em julho de 1965. No
início da década de 70, foi iniciada sua ampliação para a instalação da sétima e oitava
unidades, totalizando 1.216 MW, o que colocou a obra entre uma das maiores da
América Latina. A localização estratégica da usina (cerca de 500 km do Rio de Janeiro,
400 km de São Paulo e 300 km de Belo Horizonte) permitiu que se evitasse, em meados
da década de 60, um grande colapso energético no Brasil, evitando o racionamento e o
corte no fornecimento de energia elétrica ao parque industrial brasileiro.

Ainda na década de 1950, a Usina de Paulo Afonso I foi concluída e, em 1961, entrou em
funcionamento a Paulo Afonso II.

Na década de 1960, já no governo Jânio Quadros, o panorama da energia hidrelétrica


mudou. Entre 1962 e 1976 a produção de energia cresceu significativamente, de
5729MW para 17700MW.

Em 1966, foram reunidas as centrais elétricas do Rio Pardo CHERP as usinas elétricas
de Paranapanema (USEIPA) e as centrais elétricas de Urubupunbá (CELUSA), para
formar as centrais elétricas de São Paulo (CESPE).

Na década de 1970, com a ditadura militar, o projeto desenvolvimentista intensificou


ainda mais a construção de usinas hidrelétricas, com destaque para Paulo Afonso III,
IV, Apolônio Sales em 1977, Marimbondo, em 1975 e Tucuruí.

A Usina de Tucuruí merece destaque, uma vez que o objetivo de aproveitar o potencial
do rio Tocantins surgiu ainda no final da década de 1950, e sua construção seguiu
durante toda a década de 1960, sendo concluída em partes apenas em 1975, no auge da
ditadura militar, que no período implantou no sul do Estado do Pará o Projeto Grande
Carajás, visando o desenvolvimento da Amazônia Oriental através da atividade minero
metalúrgica e de projetos agropecuário-florestais. E para a consolidação desse projeto,
a Usina de Tucuruí tornava-se ponto decisivo para geração de energia para essa região.

Construída em duas etapas, Tucuruí tem capacidade instalada de 8.370 MW. As obras
da primeira casa de força — com 12 unidades geradoras de 350 MW, duas auxiliares de
22,5 MW e potência instalada de 4.245 MW – foram concluídas em 1992. Entre 1998 e
2006, houve outra expansão da usina, com a construção de uma segunda casa de força,
com com 11 unidades geradoras de 375 MW e potência instada total de 4.125 MW.

Com altos investimentos, a Usina chegou a empregar mais de sete mil trabalhadores no
auge de sua construção.

37
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

Ainda na década de 1970, iniciou-se a construção da gigante Usina de Itaipu, com as


barragens construídas entre 1975 e 1982, pelos governos militares de Brasil e Paraguai.
A Usina tornou-se a maior do mundo, com vinte unidades geradores e um lago artificial
que ia desde Foz do Iguaçu, no Brasil até Ciudad del Este, no Paraguai.

Ainda durante o período militar, foi construída a Usina de Sobradinho, próximo das
cidades de Juazeiro, na Bahia e Petrolina, Pernambuco. A Usina começou a funcionar
em 1982, com um grande reservatório plurianual, de cerca de 320 km de extensão e
4.214 km2, é considerado um dos maiores lagos artificiais do mundo, sendo necessário
para isso a realocação de vilarejos inteiros, o que causou grande impacto social.

A Usina pertence à CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), possui uma


potência instalada de 1.050 megawatts e conta com 6 geradores de 175.050 kW cada.

Ainda nos anos 1980, mais precisamente em 1988, entrou em funcionamento parcial
outra usina no norte do país, a Usina Hidrelétrica de Balbina. Ela foi construída para
ajudar a suprir a demanda de energia da região Norte, uma vez que até a década de 1970,
Manaus ainda era abastecida por Termelétricas que queimavam petróleo. Entretanto,
com a chamada Crise do Petróleo a partir de 1973, o governo acreditou ser necessário a
construção de outra usina capaz e suprir essa demanda de energia e substituir a fonte
de produção.

O local escolhido foi o Rio Uatumã, no meio da Floresta Amazônica. Entretanto, com
o pequeno reservatório que o rio foi capaz de formar, os custos de geração de energia
Hidrelétrica em Balbina foram altíssimos, o que tornou o projeto uma grande tragédia
econômica, só não superando a tragédia ambiental causada. Veremos isso mais adiante.

No rol de suas principais unidades hidrelétricas constam ainda as usinas Itaparica, de


1988; e Xingó, de 1994.

Nas últimas décadas, os novos projetos de Usinas Hidrelétricas do país não são mais
pensados em funcionar com reservatórios plurianuais, com grandes áreas de reserva de
água, sendo a questão ambiental a principal causa dessa tendência. Estrategicamente,
os projetos atuais de construção de usinas hidrelétricas na região Amazônica, por
exemplo, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, são realizados a fio d’água – até
mesmo devido ao relevo plano que favorece esse tipo de projeto – o que tornam as áreas
vulneráveis à sazonalidade dos rios e a produção de energia mais baixa na estação seca,
fazendo com que o rendimento dessa energia seja, muitas vezes, questionado.

Como decorrência disso, o uso de geração termelétrica tem sido mais intenso nos últimos
anos, mesmo para períodos com precipitação pluvial próxima à média histórica.

38
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

O Brasil é o país com maior potencial hidrelétrico, num total de 260 mil MW. De
acordo com o Plano Nacional de Energia 2030, o potencial ainda a aproveitar é de
cerca de 126.000 MW. Desse total, mais de 70% estão nas bacias do Amazonas e do
Tocantins/Araguaia. A Figura 9 indica o potencial hidrelétrico por região hidrográfica
(2016).

Figura 9. Evolução do parque hidrelétrico por região geográfica.

Fonte: Adaptado de Tolmasquim, 2016

As concentrações de aproveitamento estão relacionadas não somente à questão


topográfica do país, mas a como se desenvolveu o planejamento do parque hidrelétrico
no país. A primeira hidrelétrica de maior porte começou a ser construída no Nordeste
(Paulo Afonso I, com potência de 180 MW), pela Companhia Hidrelétrica do S.
Francisco (Chesf, estatal constituída em 1948). As demais, erguidas ao longo dos 60 anos
seguintes, concentraram-se nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste (com o aproveitamento
integral do rio São Francisco). No Norte foram construídas Tucuruí, no Pará, e Balbina,
no Amazonas. Mas apenas nos anos 90 a região começou a ser explorada com maior
intensidade, com a construção da Usina Serra da Mesa (GO), no rio Tocantins.

Assim, é possível afirmar que a maioria das grandes centrais hidrelétricas brasileiras
localiza-se nas bacias do São Francisco e, principalmente, do Paraná, particularmente
nas sub-bacias do Paranaíba, Grande e Iguaçu, apesar da existência de unidades
importantes na região Norte. Os potenciais da região Sul, Sudeste e Nordeste já estão,
portanto, quase integralmente explorados.

39
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

Com relação ao aproveitamento futuro do potencial inventariado, merece destaque


o fato de a maior parte estar localizado nas regiões hidrográficas Amazônica e
Tocantins-Araguaia, onde há grandes extensões de áreas protegidas (unidades de
conservação, terras indígenas e terras ocupadas por remanescentes das comunidades
dos quilombos) (Tolmasquim, 2016).

Em relação à produção de energia vinda desse potencial, a evolução ao longo das últimas
décadas, a partir dos anos 1970, indica um crescimento praticamente constante, embora
os anos 1980 e 1990 destacaram-se por uma desaceleração na construção de usinas,
conforme já vimos anteriormente.

Quando comparamos com outras fontes renováveis de energia, podemos ver que a
produção de energia hidrelétrica, diferentemente das demais, mantém um crescimento
linear e praticamente constante desde os anos 1970, com poucos períodos de oscilações
e quedas na produção.

Gráfico 3. Produção de energia primária por fontes renováveis (1970-2015). Unidade: 10³ tep.

Fonte: ANEEL 2016

A partir de 2010 podemos ver que há uma tendência de queda na produção hidrelétrica,
que coincide com o crescimento de outras alternativas de fontes renováveis de geração
de energia. Podemos atribuir essa tendência tanto aos estímulos governamentais para
o crescimento de fontes como a biomassa, eólica e solar quanto pelas dificuldades
ambientais que envolvem o licenciamento das usinas hidrelétricas, ainda que sejam
PCH’s e a fio d’água, que possuem menores impactos ambientais quando comparadas
às grandes UHE’s.

40
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

Atualmente no país, a quantidade de usinas produtoras de energia hídrica só perde para


a produção vinda dos combustíveis fósseis, entretanto, quando analisamos o percentual
de potência outorgada e fiscalizada, a oriunda de energia hidráulica é a maior do país,
com mais da metade da potência total.

Tabela 2. Fontes utilizadas no Brasil – Em operação.

Origem Quantidade Potência Outorgada (kW) Potência Fiscalizada (kW) %

Fóssil 2407 28.099.567 26.904.382 17,44

Biomassa 531 14.524.041 14.088.282 9,02

Nuclear 2 1.990.000 1.990.000 1,24

Hídrica 1233 106.472.734 96.845.862 66,1

Eólica 405 9.965.838 9.878.760 6,19

Solar 42 27.008 23.008 0,02

Total 4620 161.079.188 149.730.295 100

Fonte: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>.

Gráfico 4 Potência (kW) por fonte de energia (%)

0,02

6,2
17,4

9,0
1,2
66,1

Fóssil Biomassa Nuclear Hídrica Eólica Solar

Fonte: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>.

Em relação ao tipo de usina que produz essa energia, as Termelétricas se destacam,


com um maior número de unidades, entretanto, a potência das UHE’s, que se somam
2180 unidades, possuem mais de 60% do total da potência outorgada no país. As PCH’s
possuem 440 unidades com 3,28% da potência, e as CGH’s totalizam 575 unidades com
potência outorgada de mais de 470 kW, pouco mais de 0,30% da potência total.

41
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

Tabela 3. Empreendimentos em Operação (2016).

Tipo Quantidade Potência Outorgada (kW) Potência Fiscalizada (kW) %


CGH 575 470.701 472.363 0,32
EOL 405 9.965.838 9.878.760 6,6
PCH 440 4.925.412 4.914.029 3,28
UFV 42 27.008 23.008 0,02
UHE 218 101.076.620 91.459.470 61,08
UTE 2.938 42.623.607 40.992.664 27,38
UTN 2 1.990.000 1.990.000 1,33
Total 4.620 161.079.186 149.730.294 100

Fonte: ANEEL, 2016.

Em relação às usinas instaladas por rio, e a capacidade instalada de cada um desses


rios, podemos ver a grande capacidade do rio Tocantins, no Pará, que possui apenas
1 usina instalada. O rio São Francisco é o que apresenta a segunda maior capacidade
instalada e 6 usinas. A Tabela 4 mostra a capacidade instalada e o número das usinas
em operação por rio e Estado.

Tabela 4. Capacidade de geração instalada e em operação no Rio/UF.

No de Usinas Capacidade
Rio
Instaladas Instalada (kW)
Tocantins - PA 1 8.535.000
São Francisco - AL 6 7.441.601
Grande - MG 12 7.203.500
Paraná - PR 2 7.000.085
Madeira - RO 2 6.900.760
São Francisco - BA 7 6.809.501
Iguaçu - PR 5 6.674.000
Paraná - MS 4 6.544.038
Paraná - SP 3 6.535.200
Paranaíba - GO 5 5.640.802
Grande - SP 7 5.217.400
Paranaíba - MG 4 4.982.800
São Francisco - SE 1 3.162.000
Tocantins - TO 4 2.731.450
Paranapanema - SP 11 2.398.156
Uruguai - SC 2 2.305.000
Uruguai - RS 2 2.305.000
Paranapanema - PR 8 2.184.700
Xingu - PA 1 1.988.683
Tietê - SP 11 1.906.224
OBS: Para os Rios que fazem a divisa de Estado do Brasil, a potência está
quantificada para ambos os Estados.

Fonte: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/Rio.asp>.

42
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

Podemos destacar os rios das regiões Sul e Sudeste, que estão entre os que apresentam
a maior capacidade instalada e também o maior número de usinas em operação,
especialmente as UHE’s construídas no início a expansão energética, conforme vimos
anteriormente.

43
Capítulo 3
Legislação e os impactos ambientais
das Hidrelétricas

Nesse capítulo são descritas algumas bases legais do Brasil relacionadas aos
aproveitamentos hidrelétricos e o uso dos recursos hídricos. É importante conhecermos
os processos legais que fizeram avançar essa fonte como matriz energética e, dessa
forma, compreender como as políticas públicas e leis priorizaram esse desenvolvimento
ante às demais fontes de energia.

Código das Águas (Decreto no 24.643, de 10 de julho de 1934): estabelecia como águas
públicas de uso comum as correntes, canais, lagos e lagoas navegáveis ou flutuáveis.
O domínio dessas águas fora dividido entre a União, os Estados e os Municípios,
posteriormente redefinido, pela Constituição Federal de 1988, apenas entre a União e
os Estados. As quedas d’água e outras fontes de energia hidráulica foram definidas no
Código como bens imóveis não integrantes das terras em que se encontravam.

Surge o conceito de uso múltiplo: Todo aproveitamento de energia hidráulica deveriam


satisfazer as “exigências acauteladoras dos interesses gerais”:

»» alimentação e necessidades das populações ribeirinhas;

»» salubridade pública;

»» navegação;

»» irrigação;

»» proteção contra as inundações;

»» conservação e livre circulação do peixe;

»» escoamento e rejeição das águas.

Na regulamentação de aproveitamentos de potenciais de energia hidráulica


estabeleceu-se o regime de autorização ou concessão para aproveitamentos de quedas
d’água ou qualquer fonte de energia hidráulica de domínio público ou particular.

Constituição Federal (1988): Art.20: estão entre os bens da União os lagos, rios e
quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio ou que banhem mais de um
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou

44
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

dele provenham, bem como os terrenos marginais, as praias fluviais; os potenciais de


energia hidráulica.

Art. 21: Compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização,


concessão ou permissão, os serviços e instalações de energia elétrica e
o aproveitamento energético dos cursos d’água, em articulação com os
Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

Art 176: Não dependerá de autorização ou concessão o aproveitamento


do potencial de energia renovável de capacidade reduzida.

Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei no 9433/1997): cria o Sistema Nacional


de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Dentre os usos sujeitos à outorga de direito
de uso de recursos hídricos, enumera o aproveitamento dos potenciais hidrelétricos e
outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em
um corpo de água.

Lei no 9.984/2000: determina que para licitar a concessão ou autorizar o uso de potencial
de energia hidráulica em corpo de água de domínio da União, a Agência Nacional de
Energia Elétrica - ANEEL deverá promover, junto à ANA, a prévia obtenção de declaração
de reserva de disponibilidade hídrica33. Quando o potencial hidráulico localizar-se em
corpo de água de domínio dos Estados ou do Distrito Federal, a declaração de reserva
de disponibilidade hídrica será obtida em articulação com a respectiva entidade gestora
de recursos hídricos

Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6938/1981): Estabelece que: a construção,


instalação e funcionamento de empreendimentos que acarretem degradação ambiental
dependerão de prévio licenciamento ambiental.

»» Licença prévia (LP);

»» Licença de Instalação (LI);

»» Licença de Operação (LO).

Resolução CONAMA 1/1986: define que o licenciamento de Usinas hidrelétricas, acima


de 10 MW, dependem da elaboração do EIA e RIMA.

Resolução CONAMA no 6/1987, edita regras gerais para o licenciamento ambiental


de obras de grande porte, especialmente aquelas nas quais a União tenha interesse
relevante, como a geração de energia elétrica, no intuito de harmonizar conceitos e
linguagem entre os diversos intervenientes no processo.

45
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

Cabe lembrar quais as licenças ambientais necessárias nas várias etapas de implantação
de novos empreendimentos hidrelétricos:

»» Licença Prévia (LP) – expedida na fase preliminar do planejamento da


atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de
localização, instalação e operação, observados os planos municipais,
estaduais ou federais de uso do solo;

»» Licença de Instalação (LI) - visa autorizar o início da construção de


acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos
aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental, e demais
condicionantes;

»» Licença de Operação (LO) - autoriza a operação do empreendimento,


após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças
anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes
determinadas para a operação. Desta forma, a concessão da LO vai
depender do cumprimento daquilo que foi examinado e deferido nas
fases de LP e LI.

As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo


com a natureza, as características e fase do empreendimento ou atividade.

Diante da crise de energia elétrica no ano de 2001 e atendendo, em especial, à demanda


por mais agilidade no processo de licenciamento ambiental de Pequenas Centrais
Hidrelétricas - PCH, a Resolução CONAMA 279/2001 estabeleceu procedimentos para
o “Licenciamento Ambiental Simplificado” de empreendimentos elétricos com pequeno
potencial de impacto ambiental (ANA, 2005).

Vantagens e desvantagens ambientais das usinas


hidrelétricas

Qualquer empreendimento gerador de energia elétrica causa impactos, sejam eles


sociais e/ou ambientais. Em comparação com outras alternativas economicamente
viáveis (como as usinas térmicas e nucleares), as usinas hidrelétricas são consideradas
formas mais eficientes, limpas e segurar para produzir energia elétrica.

Em termos de disponibilidade, esse tipo de energia apresenta como vantagem o fato da


abundância de volume de água em grande parte do globo, o que possibilita encontrar
muitos pontos para que essa água seja utilizada de forma a gerar energia elétrica, em
todo o mundo.

46
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

Outra vantagem importante é o fato da geração de energia hidrelétrica ser considerada


limpa durante seu pleno funcionamento e, quando comparada com outras fontes
energéticas, torna-se evidente a diferença de impacto que a mesma causa, especialmente
quando observada a quantidade de gases de efeito estufa geradas por diferentes fontes
de eletricidade. Considera-se que a energia hidrelétrica emite aproximadamente 60
vezes menos gases que as usinas de carvão e 18 vezes menos que as usinas movidas
a gás natural (MARI JUNIOR, A., et al., 2013). Além disso, esse tipo de geração não
envolve riscos de contaminações, vazamentos, como é o caso das usinas nucleares, por
exemplo.

Por ser renovável e contínua, é também uma fonte confiável de energia, claro que,
quando bem estudada sua implantação e preservadas as águas nas quais estiver
localizada a usina.

Há também uma certa flexibilidade de locais para a instalação de usinas, que podem
ser dimensionadas de acordo com o relevo, o ambiente, a vazão do rio, entre outras
características, sendo possível projetar desde grandes UHE’s para geração de energia em
grande escala, até PCH’s, que causam menores impactos ambientais (MARI JUNIOR,
A., et al., 2013).

Muitos afirmam que os reservatórios das usinas podem promover uma série de serviços
não energéticos, como controle de cheias, irrigação, suprimento de água para consumo
humano, recreação e serviços de navegação. No entanto, esses múltiplos usos da água
podem, muitas vezes, gerar conflitos e impor restrições à operação hidrelétrica.

Em relação às desvantagens, uma das maiores é, sem dúvida, a ambiental, em relação


ao meio em que se instala a usina. Esse tipo de empreendimento pode causar grandes
impactos ambientais para a flora e fauna da região, podendo alterar, algumas vezes,
ecossistemas inteiros. Sem falar nos impactos para a população, pois muitas vezes é
preciso realocar populações inteiras em outros locais devido à cheia do reservatório.
Assim, para a implantação de uma usina deste tipo, é importante encontrar um ponto
onde as características geográficas permitam um grande potencial energético para o
curso hídrico, e uma menor área impactada (MARI JUNIOR, A., et al., 2013).

Se pensarmos nas grandes usinas, o custo de implantação é alto, pois são necessários
muitos estudos prévios à implantação, uma vez que erros de projeção podem gerar
grandes prejuízos. Além disso, novos aproveitamentos hidrelétricos estão cada vez
mais distantes dos grandes centros de consumo, o que resulta na necessidade de
investimentos adicionais em linhas de transmissão para escoamento da produção de
eletricidade (TOLMASQUIMM, 2016).

47
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

Se pensarmos nas PCH’s, além das vantagens já faladas anteriormente em relação


ao tamanho mínimo dos reservatórios, que causam menores impactos ambientais e
sociais, outra importante vantagem está na descentralização na geração de energia,
possibilitando atendimentos melhores das necessidades de energia de pequenos
centros urbanos e regiões rurais, além do baixo custo de implantação, pequeno prazo
de construção etc.

Entretanto, um fator negativo relacionado das PCH’s está o alto custo da energia gerada,
uma vez que, se operam à fio d’água, estão sujeitas às regulações da sazonalidade hídrica.

Custos econômicos

Projetos de Usinas Hidrelétricas se caracterizam, em geral, por grandes investimentos,


mas que variam muito de acordo com cada projeto, com as características do local
onde se pretende construir, os impactos decorrentes etc. É preciso considerar que
são necessários anos para o desenvolvimento do projeto técnico de uma usina, com
inventários, estudos de viabilidade técnica e econômica, e mais alguns anos para a
construção da usina, além do tempo de obtenção das licenças ambientais necessárias.
Os custos de produção de energia, por outro lado, são baixos, requerendo uma equipe
pequena para sua operação e manutenção, sem custos com matéria-prima para geração
(TOLMASQUIM, 2016).

Grande parte dos custos de uma usina estão nas obras civis, como a construção de
barragem, diques, vertedouros, infraestrutura de acesso etc., e o fornecimento e
montagem dos equipamentos eletromecânicos, como turbinas, geradores, comportas,
guindastes etc. Entretanto, deve-se destacar os custos cada vez mais elevados relacionados
às ações de mitigação de impactos socioambientais associados à implantação do projeto
hidrelétrico, como por exemplo, a aquisição de terrenos e benfeitorias, relocações de
infraestrutura e população e programas socioambientais, como limpeza do reservatório,
conservação da fauna e flora e apoio a comunidades indígenas e tradicionais.

A razão entre os custos de equipamentos eletromecânicos e obras civis é alta em projetos


hidrelétricos de pequeno porte, como as PCH’s, por exemplo. Para projetos de usinas de
grande porte, a relação se inverte, predominando os custos em obras civis, que podem
variar consideravelmente em função do tipo de projeto, as dificuldade de acesso, custos
de mão de obra, cimento e aço. Os equipamentos eletromecânicos apresentam menor
variação de custos, pois tendem a seguir os preços do mercado internacional.

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Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

Aspectos sociais

É importante dizer que, a predominância da hidroeletricidade no país se deve, sobretudo,


ao grande potencial hídrico do país, além das ações e estratégias adotadas pelo governo
e por todo o setor energético ao longo da história.

Esse tipo de geração se adaptou muito bem às oscilações hídricas e variações de


demanda, bem como às características físicas dos locais em que podem ser instaladas,
explorando quedas d’água de diferentes tamanhos e vazões para estabelecer entrais
geradoras de pequeno porte (CGHs e PCHs) ou usinas hidrelétricas (UHEs) de grande
porte, com reservatórios de acumulação ou à fio d’água.

Entretanto, essa mesma característica implicou também em alterações socioambientais


nas diversas regiões de construção, que variam muito de acordo com as especificidades
do local.

Tais preocupações com as interferências socioambientais começam nas primeiras


etapas do processo de planejamento para aproveitamento do potencial hidrelétrico, no
inventário desse potencial. Nas etapas seguintes, com o Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) e de Projeto Básico Ambiental (PBA), são avaliadas em detalhe os impactos do
projeto, incluindo as interferências cumulativas e sinérgicas da instalação de mais de
uma usina em um mesmo rio, por exemplo. As informações levantadas auxiliam na
proposição de medidas para reduzir ou compensar os impactos causados e de programas
de controle e monitoramento. O layout construtivo (arranjo dos projetos), por exemplo,
incorpora questões como a construção de escada de peixes e de mecanismos de
transposição de níveis para embarcações.

É importante lembrar que não existe geração de energia sem impactos socioambientais
e, por isso, os estudos para se escolher a melhor solução de aproveitamento do
potencial são tão importantes. Além disso, mitigar tais impactos geram custos que,
posteriormente, são repassados na produção da energia e, consequentemente, também
para o consumidor final.

Mas o aproveitamento hidrelétrico, em geral, apresenta baixa emissão de gases de


efeito estufa, ainda mais se compararmos às usinas Termelétricas, por exemplo, o que
possibilita a redução da geração térmica no parque existente, e, consequentemente, a
emissão de gases de efeito estufa provenientes da matriz elétrica. Além disso, a geração
de energia numa usina hidrelétrica não implica no consumo de água, ficando o recurso
hídrico disponível para outros usos após a geração. Por isso, a hidreletricidade é uma
fonte economicamente competitiva, com baixo custo de operação quando comparada a
outras fontes.

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UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

No país, o desenvolvimento da indústria hidrelétrica, com a produção de equipamentos,


turbinas, além da formação de mão-de-obra especializada tornou-se referência no
mercado internacional, exportando tais tecnologias e conhecimentos e trazendo
benefícios sociais e econômicos para o país.

Por essas razões, especialmente o avanço tecnológico do setor que diminui os custos
produtivos, faz desse tipo de geração destaque na expansão da matriz elétrica nacional.

Impactos ambientais

Para aprofundarmos na questão das vantagens e desvantagens ambientais da


implantação das usinas hidrelétricas, é importante ressaltarmos os principais impactos
causados por estas. Esses impactos dependerão, claro, do tamanho, da localização,
condições ambientais e outros requisitos específicos. Por esse motivo, os estudos de
impacto ambiental são fundamentais para compreender a realidade inserida no local
escolhido para uma implantação de usina hidrelétrica.

Os principais impactos ocorrem no ambiente de implantação das usinas. Podemos


listar simplificadamente dessa forma:

»» Impactos sobre o meio físico:

›› Impactos sobre a água: alteração da qualidade; alteração do regime


hidrológico;

›› Impactos no uso do solo: aumento dos processos erosivos,


assoreamentos; alterações de uso.

»» Impactos sobre o meio biológico:

»» Impactos sobre a flora: supressão de vegetação; interferência nas espécies


e nos ecossistemas florestais;

»» Impactos sobre a fauna: afugentamento de fauna; interferência na fauna


aquática e na migração de peixes;

»» Impactos sobre o meio socioeconômico: interferência em cidades, vilas


e distritos; alteração do cotidiano, das atividades sociais, econômicas e
culturais; pressão sobre serviços e equipamentos públicos; aumento de
doenças; entre outros.

De maneira geral, todos os projetos, independentemente do seu porte, causam a


interrupção do curso d’agua para a construção do barramento e para a formação

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Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

do reservatório. A alteração do regime hídrico do corpo d’água, é um dos impactos


mais significativos, com alterações no escoamento superficial e subterrâneo desde o
barramento até a jusante deste.

A alteração do ambiente lótico para lêntico pode causar uma maior retenção dos
sedimentos e alterar as espécies de peixes e outros seres vivos que habitam os rios.

Há impactos socioeconômicos também significativos no momento da construção


das usinas. Elas podem atingir diretamente cidades, vilas ou moradias rurais, com
a eventual perda de benfeitorias e de áreas agricultáveis no local do enchimento do
reservatório d’água, por exemplo. Para minimizar esses impactos são estabelecidos
programas de remanejamento da população tratando de reassentamentos, realocações
e indenizações. Ao longo do processo, programas que estabelecem a comunicação com
a população são importantes para garantir o acesso e a transparência às informações,
bem como a participação social.

Em usinas de grande porte, um dos impactos mais relevantes é a atração de população


para a região do projeto com o intuito de trabalhar nas obras das usinas, fato que pode
alterar completamente o cotidiano da população local. Considerando que, grande parte
dessa mão de obra e composta por homens, uma grande obra pode atrair para pequenas
regiões, uma quantidade desproporcional de pessoas. Os impactos que são avaliados
nesse sentido são o aumento de doenças sexualmente transmissíveis, prostituição,
aumento de doenças como a malária e dengue, dependendo da região geográfica do
projeto.

Todas essas alterações implicam em um outro impacto que é a pressão sobre os


equipamentos públicos, especialmente de saúde. Por isso, geralmente são propostos
projetos realizados pelo empreendimento em implantação para o monitoramento e
o controle de doenças, com assistência e vigilância epidemiológica, em parceria com
agentes públicos de saúde.

Essa quantidade de pessoas pode também aumentar a especulação imobiliária,


aumentando custos com moradia e incentivando a ocupação de novas áreas,
eventualmente irregulares, gerando outras pressões, como por exemplo, nos recursos
naturais com a exploração de áreas não habitáveis até então.

Dessa forma, é importante um bom projeto de desmobilização dessa mão de obra com
o fim das obras, para que a pressão sobre todos os equipamentos públicos diminua e
parte dessa população retorne para seus locais de origem, uma vez que, com a operação
das usinas, poucos empregos são gerados em relação à etapa anterior, de obras para a
implantação.

51
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

Esses impactos já descritos se aplicam com maior cuidado também aos povos e
comunidades tradicionais e indígenas. Suas particularidades socioculturais e históricas
devem ser consideradas pontualmente nos estudos ambientais, uma vez que estes
são mais sensíveis aos impactos causados por um empreendimento de grande porte,
por exemplo. No geral, essas populações são mais dependentes e ligadas aos recursos
naturais e qualquer alteração no ciclo natural de vida destes pode causar interferências
irreversíveis em seus modos de vida tradicional.

Usina de Belo Monte causa impactos


ambientais e sociais em Altamira (PA)
As tensões e discussões em torno da usina de Belo Monte começaram mais
de 20 anos antes da construção. Em 2010, sob protestos de ambientalistas,
processos e liminares judiciais que tentavam impedir a obra, o governo deu o
passo definitivo para tirar do papel o projeto em debate há 35 anos.

A usina de Belo Monte foi inaugurada este ano, pouco depois de surgirem
denúncias de corrupção nas obras (...).Estima-se que a região de Altamira, no
oeste do Pará, tenha recebido quase cem mil pessoas, desde o começo das
obras de Belo Monte. Com a parte de engenharia civil da obra quase no fim, pelo
menos 22 mil trabalhadores já foram demitidos. Com a cidade vazia, quem vive
de comércio e serviços sente os impactos dessas demissões.

A situação também é difícil para os ribeirinhos do rio Xingu. Quem vive da pesca,
reclama da escassez de peixes na região da hidrelétrica (...). O crescimento da
violência é outro problema atribuído à obra de Belo Monte. Os últimos dados
de homicídios colocam Altamira como a quinta cidade onde mais se mata no
Brasil. A Norte Energia, responsável pelas obras da usina, fez um convênio com o
estado do Pará e investiu R$ 100 milhões em segurança. A nova penitenciária vai
ficar pronta em setembro, seis anos depois do começo da barragem.”
Leia a matéria completa em: <http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2016/07/usina-de-
belo-monte-causa-impactos-ambientais-e-sociais-em-altamira-pa.html>.

Como impacto positivo está o incremento das receitas locais, com a arrecadação de
impostos como o ISS (imposto Sobre Serviço), além do pagamento da Compensação
Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos para Fins de Geração de Energia
Elétrica (CFURH).

Cabe salientar também que, embora as PCH’s causem menores impactos ambientais,
conforme já vimos, eles existirão e precisam ser mensurados quando ocorrem esses
estudos.

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Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

Uma das principais problemáticas relacionadas à formação do reservatório é a questão


do desmatamento. Além da prevista compensação ambiental, que deve ser contemplada
nos estudos prévios à implantação da usina, é importante que haja o aproveitamento
da madeira retirada. Essa retirada da madeira, além de diminuir a emissão de gases
causadores do efeito estufa, com o gás carbônico e o gás metano, pode ser aproveitada
em atividades geradores de renda e na construção civil, além de ser utilizada como
combustível.

Exemplos de conflitos e impactos ambientais

Usina hidrelétrica de Balbina

Quando falamos da questão da retirada de madeira para o enchimento de reservatórios,


o caso mais emblemático está em Balbina. A Usina, implantada em meio à floresta
amazônica durante os anos 1980, já era uma promessa de fracasso antes mesmo da
finalização das obras. Além do alto custo pela energia gerada, foram destruídos vários
hectares de floresta e, com o pouco relevo da região do rio Uatumã, uma imensa área
foi alagada, perdendo-se toda a diversidade da região, além da putrefação das árvores
que não foram removidas corretamente, produzindo gases sulfúricos e metano, que
eliminaram a vida aquática, e aumentaram a emissão de gases prejudiciais ao clima.

Foto 4. Reservatório de Balbina, em plena Amazônia.

Fonte: <http://www.reporter-am.com.br/wp-content/uploads/2016/03/balbina.jpg>.

Usina hidrelétrica de Tucuruí

Construída antes das Leis que exigem a realização de Estudos e Relatório de Impacto
Ambiental (EIA/Rima) como pré-requisito para o início da obra, esses estudos foram

53
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

elaborado simultaneamente à sua construção. Porém, o alcance do reservatório foi


imprevisível e, na época, milhares de pessoas tiveram que sair às pressas de suas
casas, pois a água se aproximou rapidamente. A barragem deslocou cerca de 32 mil
pessoas, que só posteriormente foram cadastradas e obtiveram pequenas indenizações
(ECOAGÊNCIA, 2009).

Usina hidrelétrica de Sobradinho

O reservatório de Sobradinho – considerado um dos maiores do mundo – inundou


grande parte de sete municípios: Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado e Remanso, que
precisaram transferir suas sedes, sendo bastante afetados. Outros municípios como
Juazeiro, Xique-Xique e Barra, sofreram menos impactos. Cerca de 70 mil pessoas
precisaram ser retiradas da área alagada, dos quais 80% eram de camponeses que
abasteciam a região com suas produções. Com a construção da barragem, a maior parte
dessa população ribeirinha foi deslocada compulsoriamente pelo Estado e reassentada a
vários quilômetros das margens originais do rio, em plena caatinga, em solos impróprios
para o plantio, perdendo-se assim as melhores terras para cultivo da região, às margens
dos rios (COSTA, 1990).

Foto 5. Lago do reservatório de Sobradinho.

Fonte: <http://www.brasil247.com/images/cache/1000x357/crop/images%7Ccms-image-000474197.jpg>.

A música Sobradinho foi composta com o objetivo de protestar contra a


construção da usina de Sobradinho no interior da Bahia. A barragem construída
no rio São Francisco deu origem a um imenso lago que inundou cidades que
são citadas na música, expulsando da região seus moradores. Os compositores
utilizaram ainda a profecia de Antônio Conselheiro de que o sertão vai virar mar
o e o mar irá virar sertão para evidenciar os impactos causados pela construção
do lago.

Sobradinho (Sá e Guarabyra).

O homem chega, já desfaz a natureza

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Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar

O São Francisco lá pra cima da Bahia

Diz que dia menos dia vai subir bem devagar

E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que


o Sertão ia alagar

O sertão vai virar mar, dá no coração

O medo que algum dia o mar também vire sertão

Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé

Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir

Debaixo d’água lá se vai a vida inteira

Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir

Vai ter barragem no salto do Sobradinho

E o povo vai-se embora com medo de se afogar.

Remanso, Casa Nova, Sento-Sé

Pilão Arcado, Sobradinho

Adeus, Adeus ...

Usina de Belo Monte, Jirau, Santo Antônio

Já falamos anteriormente das problemáticas que envolvem o aproveitamento hidrelétrico


na região Amazônica, embora haja esse potencial a ser explorado. Com caráter
estratégico para o desenvolvimento do setor energético, a escolha pelo investimento
em implantação das hidrelétricas ao longo dos rios da bacia Amazônica busca atender
essa demanda. Como exemplo das grandes usinas em construção ou projeto estão as
de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira em Rondônia, e de Belo Monte, no rio Xingu
(AM) e São Luís do Tapajós, no Pará.

Somando-se à essas usinas citadas, estão projetadas mais cerca de 20 grandes


hidrelétricas (na lista dos Planos Decenais de Energia de 2020, 2021 e 2023) que em
conjunto trarão uma nova configuração ambiental, social e territorial para a região
(INESC, 2015).

Entretanto, as experiências recentes com as hidrelétricas do rio Madeira – Jirau e Santo


Antônio – e Belo Monte, por exemplo, mostram que há ainda falhas entre o licenciamento
ambiental e as efetivas ações dos empreendedores para minimizar tais impactos

55
UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

socioambientais, além das falhas por parte do governo em fiscalizar, exigir e colaborar
com as ações e obrigações das empresas e construtoras. A falta de planejamento e de
diálogo com as comunidades causam enormes prejuízos e consequências, especialmente
para as comunidades atingidas do entorno.

Ao impor à Amazônia os impactos de um padrão de crescimento que a região e sua


população não são capazes de suportar sem consequências irreparáveis para a
preservação da sua rica e complexa diversidade biológica e cultural.

O grande fluxo migratório de pessoas para a construção é, sem dúvida, o maior impacto.
O crescimento das cidades no entorno, em um curto período de tempo, pressiona
os equipamentos de saúde, habitação e saneamento básico de uma forma na qual os
governos não conseguem suprir as novas demandas. A interferência desses projetos
no modo de vida tradicional de indígenas, quilombolas e ribeirinhos, são dificilmente
mensurados.

O desmatamento também é um impacto difícil de mensurar, uma vez que, além do


desmatamento autorizado, o causado pela atração populacional normalmente não é
calculado.

Embora teoricamente o processo de licenciamento deveria suprir todas essas lacunas


e propor medidas de compensação/ mitigação à altura dos impactos, o processo sofre
com uma série de problemas, especialmente:

»» morosidade no processo e no cumprimento de acordos entre


empreendedores e órgãos públicos (federais, estaduais e municipais);

»» estruturas e falta de corpo técnico para garantir as ações definidas no


processo de licenciamento;

»» sub-dimensionamento e fragilidade no monitoramento de impactos por


parte do empreendedor;

»» falta de transparência na utilização dos recursos previstos para a execução


dos programas exigidos no licenciamento, e ausência de acompanhamento
da dimensão financeira por parte dos órgãos envolvidos.

Fim da pororoca em rio do Amapá é


irreversível, avaliam especialistas.
O fim de um dos fenômenos naturais mais conhecidos do Amapá, a pororoca,
parece ser um caminho sem volta. Mesmo com investigações e estudos

56
Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil │ UNIDADE II

anunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) e órgãos ambientais do estado


para saber as reais causas e alternativas para o Amapá ter de volta as famosas
ondas, especialistas avaliam que o retorno do fenômeno tende a ser irreversível
(...). As ondas do Araguari ganharam notoriedade por terem sido consideradas
as mais longas em duração no planeta. O fenômeno, que foi palco de surfistas
na costa Leste do Amapá, sofreu danos causados pela ação do próprio homem,
segundo especialistas, com a construção de três hidrelétricas e a criação de
búfalos às margens do rio Araguari, que corta sete municípios amapaenses”.

Figura 10. Hidrelétricas criaram lagoas próximo às nascentes do rio Araguari, o que diminuiu seu volume e

velocidade ao desaguar no oceano.

Fonte: SANTIAGO, 2005

Saiba mais em:

<http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2015/07/fim-da-pororoca-em-rio-do-
amapa-e-irreversivel-avaliam-especialistas.html>.

Movimento Atingidos por Barragens (MAB)

O MAB é um movimento organizado em todo o país no fim da década de 1970, que luta
por direitos às populações atingidas por barragens e protesta contra as barragens que
geram grandes impactos ambientais.

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UNIDADE II │ Geração de energia Hidrelétrica no Mundo e no Brasil

No período da ditadura militar, quando o desenvolvimento do país se deparou com


graves crises energéticas – como a crise do petróleo – houve um estímulo à construção
de usinas hidrelétricas em várias regiões do país. Mas, ao mesmo tempo que havia um
estudo sobre o potencial e como fazer o aproveitamento da energia, não havia uma
proposta de indenização adequada das famílias que viviam na beira dos rios.

A expulsão dessas populações para áreas dentro dos municípios, gerando inclusive a
formação de favelas, fez com que o MAB se organizasse e lutasse por mais direitos
para os atingidos, até hoje estando presente nas discussões e protestos contrários à
implantação de Usinas, como as da bacia Amazônica, por exemplo.

O filme Narradores de Javé (2004) retrata a luta de um povoado fictício (Javé),


para impedir que este seja inundado pela construção de uma usina hidrelétrica.
Para isso, os moradores resolvem escrever a história do povoado, para tentar
transformar o local em patrimônio histórico a ser preservado.

58
Outras Fontes Unidade IIi
Alternativas

Embora o aproveitamento hidrelétrico seja uma das alternativas mais limpas, pelo fato
da água ser um bem renovável, há questões relacionadas às dificuldades e limitações
hídricas de muitos locais, que impedem a exploração desse tipo de fonte. Além disso,
os impactos ambientais com a construção dessas usinas estão a cada dia mais sendo
apontados e questionados pela população.

Dessa forma, o mundo passou a investir também em outras fontes limpas e renováveis de
energia, tais como as geradas pelo sol, pelo vento, por resíduos, entre outras alternativas.
O desafio agora do setor energético em todo o mundo é tornar essas alternativas viáveis
economicamente e exploráveis nos locais potencialmente geradores.

Capítulo 1
Fontes alternativas de energia existentes

As discussões atuais em todo o mundo sobre as questões energéticas, aprofundadas pela


escassez cada vez maior de petróleo, além das mudanças climáticas – que são atribuídas
por muitos pela queima de combustíveis fósseis – tem enfatizado o desenvolvimento
técnico e econômico das fontes renováveis de energia.

A busca pela diversificação da matriz energética, ou seja, a procura por diferentes


fontes de energia, tem sido uma busca em diversos países do mundo. Por isso são tão
importantes os investimentos em outras fontes renováveis de energia.

Nessa busca por fontes alternativas de energia, o Brasil apresenta grande diferencial
em relação a outros países. Já vimos que a energia hidrelétrica é a principal fonte
renovável do país, beneficiado por características geográficas que permitiram o seu
desenvolvimento. Mas além da energia hidrelétrica, o país tem grande potencial para
o desenvolvimento de outras fontes alternativas de energia, graças a diversas outras
características que aumentam esse potencial.

59
UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

É bom relembrar que as fontes de energia renováveis são aquelas que podem ser
aproveitadas ao longo do tempo, sem que haja a possibilidade de seu esgotamento, pois
surgem de ciclos naturais que se regeneram de uma forma cíclica, em uma escala de
tempo reduzida, que permite seu uso intermitentemente.

Há vários tipos de energia renováveis. Entretanto, o seu uso dependerá de fatores


como localização geográfica, custo de investimento e eficiência energética, para que se
avalie se o investimento em determinadas fontes de fato é benéfica economicamente e
ambientalmente para uma localidade.

Vamos ver a seguir quais são essas fontes alternativas, suas vantagens e desvantagens
de implantação.

Energia eólica
É a energia cinética das massas de ar (ventos) provocadas pelo aquecimento desigual na
superfície da Terra e captada por aerogeradores. É uma grande alternativa energética em
diversos países, pois é abundante na natureza e produz energia a preços relativamente
competitivos. Seu aproveitamento ocorre com a conversão dessa energia cinética –
através de turbinas eólicas ou aerogeradores – em eletricidade (FILIPE et al 2010).

A conversão da energia cinética em energia mecânica vem sendo utilizada pela


humanidade há milhares de anos, a partir do bombeamento de água e moagem de grãos
pelos moinhos de vento em atividades agrícolas (MARTINS et al, 2007).

Na geração de eletricidade, os primeiros experimentos surgiram no final do século XIX,


mas somente um século depois, com a crise internacional do petróleo (década de 1970),
é que houve interesse e investimentos para viabilizar o desenvolvimento e aplicação de
equipamentos em escala comercial desse tipo de energia (FILIPE et al 2010).

Desde o início da década de 1990 o setor de energia eólica está apresentando um rápido
crescimento em todo o mundo, especialmente na Europa e, atualmente, nos países em
desenvolvimento, como o Brasil e a Índia.

O potencial eólico de uma região depende de condições ideais de dois fatores: velocidade
e regime de ventos, isso é, a quantidade e constância destes. Para determinar se uma
região é boa para esse tipo de geração, são necessários muitos estudos e análises das
condições locais.

A estimativa é de que o potencial eólico bruto do mundo seja de cerca de 500.000


TWh anual, entretanto, com as restrições ambientais em algumas áreas, apenas 10%

60
Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

disso são considerados aproveitáveis. Ainda assim, esse potencial corresponde a cerca
de quatro vezes o consumo mundial de eletricidade (FILIPE et al, 2010).

Em relação à sua instalação, pode ser colocada em terra firme ou à certa distância da
costa (offshore).

»» Em áreas terrestres: a instalação das turbinas eólicas é feita em


regiões costeiras e/ou grandes áreas descampadas – onde sopram ventos
de velocidade constantes e regulares, geralmente em áreas rurais e pouco
povoadas de regiões planas. As áreas urbanas são locais que apresentam
rugosidades elevadas (como prédios, áreas urbanizadas e relevo alterado
pelo homem) que causam interferência nos ventos, dificultando seu uso
como potencial energético.

»» Offshore: os parques eólicos situados a certa distância da costa são


conhecidos como parques eólicos offshore. Muitos parques estão sendo
desenvolvidos nessas regiões pois apresentam algumas vantagens em
relação à instalação terrestre, como (ROSSI; OLIVEIRA, 2013):

›› não ter limitações em termos de utilização do solo e dos diversos


impactos visuais;

›› não ter problemas com impactos sonoros, devido a distância da costa;

›› a superfície do mar geralmente tem baixa rugosidade, o que não torna


necessário a implantação de turbinas em grandes alturas;

›› a turbulência do vento é inferior no mar, devido à ausência de barreiras.


Assim, as turbinas não sofrem um desgaste exorbitante, tendo um
aumento em sua vida útil.

Entretanto, há dificuldades na instalação das torres eólicas no mar como a estabilidade


e resistência às correntes e à erosão. As fundações são devem ter isolamentos para evitar
a entrada de sal, o que pode danificar além das estruturas, as aparelhagens elétricas.

É importante lembrar que quanto maior for a distância da costa, mais caro fica o
transporte dessa eletricidade, portanto, o parque não pode ser muito distante das áreas
em terra firme.

61
UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

Foto 6. Parque eólico offshore.

Fonte: Reve, 2015

Segundo estimativas do Conselho Mundial de Energia, se 1% da área terrestre fosse


utilizada na geração de energia eólica, a capacidade mundial de geração seria equivalente
ao total gerado através de todas as outras fontes. A capacidade das regiões ao longo da
costa é a maior e, no caso da Europa, por exemplo, o potencial até 30km de distância
da costa é suficiente para atender as necessidades energéticas atuais de toda a União
Europeia (VICHI; MANSOR, 2009).

Se considerarmos as barreiras políticas, econômicas e tecnológicas, ainda sim a energia


eólica poderia suprir até 20% da demanda mundial de energia elétrica até 2050 (SIMAS,
2013). O desenvolvimento desse tipo de energia depende, cada dia mais, do apoio
governamental e este é, por sua vez, bastante sensível às pressões da comunidade. Ou
seja, quanto maior as iniciativas de empresas, pessoas e discussões relacionadas ao
tema, maior é a pressão por fomento governamental para incentivá-la.

Com isso, a tendência é o aumento cada vez maior da tecnologia eólica, e o mesmo
ocorre em outras fontes de energia limpa. Em 2005, por exemplo, apenas 55 países
adotavam algum tipo de incentivo às fontes renováveis, enquanto no início de 2011 tais
políticas estavam presentes em 118 países (SIMAS, 2013).

No Brasil, já nos anos 1980 foram desenvolvidos mapeamentos de potencial eólico, e na


década seguinte, o país foi pioneiro na América latina com a instalação de aerogeradores.
Entretanto, durante a década seguinte, pouco se avançou no desenvolvimento do setor
eólico no país, principalmente devido ao alto custo da tecnologia e falta de incentivos

62
Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

políticos. Com o lançamento do Atlas do Potencial Eólico Brasileiro em 2001, o setor


ganhou um novo estímulo (SIMAS, 2013).

Em 2014, o Brasil foi o quarto colocado no ranking mundial de expansão de potência


eólica, com 2.689 megawatts (MW), atrás apenas da China (23.149 megawatts),
Alemanha (6.184 megawatts) e Estados Unidos (4.854 megawatts) (PORTAL BRASIL,
2016). Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2015), em 2014 a potência
instalada na geração eólica no país expandiu 122,0%.

A estimativa, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2024) é de que a


capacidade instalada eólica do Brasil chegue a algo em torno de 24 mil MW. Desse total,
21 mil MW deverão ser gerados na região Nordeste, o que vai representar 45% do total
produzido na região.

A região Nordeste, aliás, é a que apresenta as melhores condições do Brasil para o


aproveitamento da energia eólica, não somente pelos regimes dos ventos, mas também
pela possibilidade de complementaridade com a energia hidráulica.

Embora seja considerada uma fonte renovável de energia, é importante considerar


alguns impactos na instalação dos parques eólicos, especialmente aqueles de grande
proporção:

»» Uso da terra: as turbinas devem estar suficientemente distanciadas


entre si para evitar a perturbação causada no escoamento do vento entre
uma unidade a outra. Estes espaçamentos podem tomar um grande
espaço de terreno. Apesar disso, a área do parque pode ser aproveitada
para produção agrícola ou atividades de lazer;

»» Ruído: as turbinas de grande porte geram ruído, mas existem


regulamentações para à instalação de turbinas na vizinhança de áreas
residenciais.

»» Impactos visuais: as pás das turbinas produzem sombras e/ou reflexos


que, muitas vezes, podem ser indesejáveis próximo às áreas residenciais.
Além disso, as máquinas de grande porte são objetos de muita visibilidade
e interferem significativamente na paisagem natural, por isso podem
existir restrições à sua instalação em algumas áreas (por exemplo, em
áreas turísticas ou áreas de grande beleza natural);

»» Aves: algumas aves podem morrer por impacto com as pás das turbinas,
por isso, não é recomendável a instalação destas em áreas de rotas de
migração de aves, em áreas de reprodução e de proteção ambiental.

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UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

»» Interferência eletromagnética: ocorre quando a turbina eólica é


instalada entre os receptores e transmissores de ondas de rádio, televisão
e microondas.

Energia solar

Proveniente do sol, ou seja, utiliza os raios solares para gerar energia. É importante
lembrar que o sol é a fonte de energia primária mais abundante do nosso planeta.
Pode-se afirmar que praticamente todas as outras fontes de energia são formas de
manifestação da energia solar, uma vez que a biomassa (fotossíntese), a eólica (ventos)
e a hidráulica (evaporação) necessitam do calor para ocorrer.

Entretanto, para seu aproveitamento, é importante medir a radiação (a partir de


piranômetros) e a insolação (a partir de heliógrafos) para determinar a duração da
radiação solar direta e, assim, avaliar o potencial de geração de energia (MME, 2007).

A incidência de radiação varia conforme a posição geográfica no globo, conforme pode


ser visto na Figura 11 a seguir que mostra a energia solar incidente ao nível do solo em
toda a extensão do planeta.

Figura 11. Mapa da energia solar recebida ao nível do solo nas diferentes regiões da Terra. Valores em kWh/

m2/dia.

Fonte: VICHI e MANSOR, 2009

Como podemos ver, a incidência solar no Brasil é alta, variando entre o amarelo e
o vermelho no mapa, o que indica ser uma das regiões de maior incidência solar no
mundo.

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Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

A energia solar pode ter diferentes formas de aproveitamento. Ela pode ser utilizada
para o aquecimento de ambientes, de água e para a produção de eletricidade. Para o
uso doméstico como aquecedor de água, por exemplo, é possível reduzir o consumo de
energia em até 70% com o uso dessa fonte. Para a conversão direta em energia elétrica
são utilizados materiais como os painéis fotovoltaicos ou equipamentos heliogeradores.
Apesar de existir em abundância, a tecnologia para conversão em energia elétrica ainda
é de alto custo, se comparado à outras fontes de energia, entretanto estas tem sido
aprimoradas e estão se tornando cada vez mais acessíveis.

A energia solar heliotérmica é a conversão de irradiação solar em calor para geração de


energia elétrica. Para o aproveitamento da energia heliotérmica é necessário um local
com alta incidência de irradiação solar direta, ou seja, pouca intensidade de nuvens,
baixos índices pluviométricos, características muito comuns no Brasil na região do
semi-árido do nordeste brasileiro (MME, 2007). Apesar disso, devido aos altos custos de
implantação, há poucos projetos desse tipo de geração de energia em desenvolvimento
no Brasil.

A tecnologia mais utilizada no mundo em relação a energia solar é o aquecimento de


água por meio de coletores. Embora o investimento ainda seja de alto custo, esse valor
diminui cada dia mais, uma vez que sua implantação é mais barata do que aquecedores
elétricos, sendo assim ideal para regiões de grande incidência solar.

Além da utilização no aquecimento de água através de coletores, a energia solar pode


ser usada para a geração de eletricidade através do uso de painéis fotovoltaicos, que
convertem diretamente a energia solar em energia elétrica (energia solar fotovoltaica).

Os painéis fotovoltaicos são feitos, geralmente, de células de silício cristalino, tecnologia


mais empregada atualmente, com uma participação de mais de 95% do mercado,
apresentam rendimentos de 13 a 17%.

Foto 7. Painéis solares.

Fonte: <http://www.portalsolar.com.br/usina-solar.html>.

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UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

No mundo, a demanda por painéis fotovoltaicos tem crescido a uma taxa de 35% ao
ano. Isto fez com que o custo da energia solar fotovoltaica subisse, já que as indústrias
de placas solares não conseguem acompanhar a demanda. Entretanto, conforme se
aumenta a demanda por essas placas, a tendência é aumentar a sua produção e, ai sim,
os custos diminuírem significativamente.

O nordeste brasileiro é a região de maior radiação solar do Brasil, com média anual
comparável às melhores regiões do mundo, com destaque para o Vale do São Francisco,
Piauí, oeste da Bahia, além de Mato Grosso do Sul, leste de Goiás. Mas, embora seja uma
energia considerada limpa, o país ainda está se adaptando no processo de licenciamento
ambiental para implantar de forma eficiente os parques solares.

Os parques solares tendem a ser construídos em locais afastados das grandes cidades,
geralmente no meio rural ou próximo a cidades de pequeno porte, pois isso diminui a
chance de interações com grandes áreas urbanas densamente ocupadas.

A estimativa é que, até 2018, o Brasil esteja entre os 20 países com maior geração de
energia solar, considerando a potência já contratada e a expansão do setor. O Plano
Decenal de Expansão de Energia (PDE 2024) estima que a capacidade instalada de
geração solar chegue a 8.300 MW em 2024 e os estudos para o planejamento do setor
elétrico em 2050 estimam que 18% dos domicílios no Brasil contarão com geração
fotovoltaica (8,6 TWh), ou 13% da demanda total de eletricidade residencial (PORTAL
BRASIL, 2016).

Biomassa

Do ponto de vista ecológico, a biomassa é a quantidade total de matéria viva existente


num ecossistema ou numa população animal ou vegetal. Podemos dizer também que é
a energia química produzida pelas plantas na forma de hidratos de carbono, por meio
da fotossíntese. Do ponto de vista da geração de energia, o termo biomassa abrange os
derivados recentes de organismos vivos utilizados como combustíveis ou para a sua
produção.

A utilização como combustível pode ser feita tanto de forma bruta quanto através de
seus derivados. Madeira, produtos e resíduos agrícolas, resíduos florestais, excrementos
animais, carvão vegetal, álcool, óleos animais e vegetais são formas de biomassa
utilizadas como combustível (PACHECO, 2006).

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Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

Foto 8. Matéria-prima de biomassa.

Fonte: <https://flic.kr/p/o5FzQJ>.

A renovação na biomassa se dá no chamado ciclo do carbono. A decomposição ou a


queima da matéria orgânica ou de seus derivados provoca a liberação de CO2 na
atmosfera. As plantas transformam o CO2 por meio da fotossíntese e água nos hidratos
de carbono, que compõe sua massa viva, liberando oxigênio. Dessa forma, a utilização
da biomassa, desde que não seja de maneira predatória, não altera a composição média
da atmosfera ao longo do tempo.

Figura 12 Ciclo de formação da biomassa.

Vegetais 2 Animais

4
5

Combustíveis Decompositores

Fonte: Adaptado de <https://djalmasantos.files.wordpress.com/2011/02/304.jpg>.

67
UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

Podemos, de certa forma, pensar em três classes de biomassa (PORTAL ENERGIA,


2010):

»» Biomassa sólida: produtos e/ou resíduos da agricultura (vegetais


e animais), resíduos de florestas e a fração biodegradável dos resíduos
industriais e urbanos;

»» Biomassa líquida: biocombustíveis líquidos como o biodiesel, etanol


e o biometanol;

»» Biomassa gasosa: biogás como os gerados por efluentes agropecuários,


agroindústria ou meio urbano, resultados da degradação biológica
anaeróbia da matéria orgânica, constituídos por uma mistura de metano
e gás carbónico. Esses materiais são submetidos à combustão para a
geração de energia.

Se pensarmos na questão econômica, os preços instáveis dos combustíveis fósseis no


mercado internacional (o mesmo que gera aquelas conhecidas oscilações do valor da
gasolina, por exemplo), fortalecem o desenvolvimento desse tipo de energia alternativa.
Da mesma forma, os problemas de sazonalidade da energia hidrelétrica gerados pelos
períodos de chuva irregulares, além da pressão da sociedade por alternativas mais
limpas de geração de energia, deram à biomassa um papel de destaque como alternativa
segura e viável ambientalmente, especialmente por tratar dos resíduos produzidos pela
agroindústria, em muitos casos (SILVA et al, 2012).

O uso de biomassa como fonte de energia elétrica tem sido crescente principalmente em
sistemas de cogeração, processo onde são geradas duas formas de energia, sendo mais
comum a cogeração de energia elétrica e térmica, o que ocorre em geral nos setores
industriais.

Em usinas de produção de etanol, por exemplo, há um estímulo à investimentos para


essa cogeração com a produção de energia a partir do bagaço descartado na produção.
Essa energia é normalmente utilizada pela própria indústria geradora, mas, nos casos
em que há excedentes, este pode ser somado à rede de distribuição pública. Cabe
lembrar que o setor industrial é o que mais consome energia elétrica no país, dessa
forma, a geração da biomassa e o consumo de energia em uma espécie de circuito
fechado dentro da própria indústria já contribui para diminuir a pressão do sistema
interligado nacional.

68
Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

No caso da cana-de-açúcar, a colheita e geração de energia ocorrem no mesmo período


em que o regime de chuvas no Brasil diminui e a vazão nos reservatórios está em baixa,
o que causa a baixa produção de energia hidrelétrica.

É importante salientar que, quando falamos de biomassa, enfatizamos, sem dúvida,


a oriunda da cana-de-açúcar resíduo do processo produtivo da fabricação de etanol e
do açúcar. Entretanto, entendemos como biomassa uma série de outros produtos, de
menor participação na produção energética. A Tabela 5 a seguir mostra as principais
fontes das usinas de biomassa.

Tabela 5. Ranking das principais fontes de Biomassa (2015).

Posição Tipos de fonte MW médios

1o Bagaço de cana-de-açúcar 1.584,414

2o Licor Negro 187,206

3o Resíduos Florestais 50,478

4o Biogás – resíduos sólidos urbanos 31,538

5o Capim elefante 21,774

6o Casca de arroz 10,874

7o Gás de alto forno – carvão mineral 3,037

8o Calor de processo – carvão mineral 1,650

9o Carvão Vegetal 0,819

10o Gás de alto forno – biomassa 0,543

11o Biogás - Agroindustriais 0,053


Fonte: Adaptado de MME, 2016

Uma das principais formas de utilização de biomassa é na forma de biocombustível.


O etanol é o mais popular destes, entretanto, há o biometanol, biodiesel, entre outros.

»» Etanol: é um álcool etílico derivado de cereais e vegetais. No Brasil,


conhecemos a produção derivada da cana-de-açúcar, entretanto, em
países com os Estados Unidos e México, por exemplo, é utilizado o milho
para tal produção.

Ele pode ser utilizado para fazer funcionar motores de veículos ou para produzir energia
elétrica. Possui vantagens significativas em relação à gasolina como combustível
automotivo, por ser menos poluente e criado a partir de fonte renovável. Por isso, no
Brasil é um combustível bastante utilizado, inclusive sendo misturado à gasolina para a
venda final, devido ao seu menor custo.

69
UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

Há alguns pontos negativos em relação à energia vinda da cana-de-açúcar, por exemplo.


Um dos principais questionamentos é a perda de áreas que potencialmente poderiam
ser usadas no cultivo de alimentos para o cultivo de cana-de-açúcar. Além disso, alguns
trabalhadores do setor– conhecidos como bóias - frias – são sujeitados à más condições
de trabalho e segurança, o que, embora em declínio, prejudica muito o setor.

»» Biodiesel: combustível biodegradável derivado de reações químicas de


óleos vegetais ou de gorduras animais com o etanol, tornando-se menos
poluente que os óleos de origem não renováveis (como o petróleo). Há
dezenas de espécies vegetais no Brasil das quais se podem produzir o
biodiesel, tais como mamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim,
pinhão manso e soja, dentre outras.

No Brasil, assim como o etanol, o biodiesel teve avanços consideráveis na produtividade


nos últimos anos. Em 2015, a produção nacional alcançou 3,94 bilhões de litros
em 2015, crescimento de 15% em relação ao ano anterior. A soja é atualmente a
matéria-prima mais utilizada no Brasil para a produção do biodiesel.

Há uma questão importante, porém, que envolve a produção de soja no país. Estima-se
que, atualmente, cerca de 75% das emissões de gases do efeito estufa são provenientes
das mudanças de uso da terra, e a principal causa disso são as queimadas que ocorrem,
especialmente, no cerrado e nas bordas da floresta amazônica, geralmente para dar
lugar à pastagens ou à plantações de soja. Hoje, a expansão da área plantada com soja
é uma das principais causas do desmatamento das florestas do estado do Mato Grosso,
por exemplo, e da Amazônia como um todo (BERMANN, 2007). Por esse motivo, é
preciso reconsiderar a questão do biodiesel e seus benefícios para a emissão de gases
do efeito estufa, quando este é feito a partir da soja.

Biogás

O biogás é um gás produzido a partir da decomposição de matéria orgânica (resíduos


orgânicos) através da ação de determinadas bactérias.

A composição do biogás é difícil de ser definida, podendo variar de acordo com o tipo
e a quantidade de biomassa empregada e o tipo de tratamento anaeróbico que sofre.
Contudo, em linhas gerais, o biogás é uma mistura gasosa composta principalmente
por (CETESB, 2016):

O principal componente do biogás, o gás metano, é incolor e altamente combustível,


além de não produz fuligem. Em função da participação percentual do metano na
composição do biogás, o poder calorífico deste pode variar de 5.000 a 7.000 kcal por

70
Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

metro cúbico. Esse poder calorífico pode chegar a 12.000 kcal por metro cúbico se
eliminado todo o gás carbônico da mistura (DEGANUTTI et al., 2002).

O biogás pode ser utilizado diretamente, purificado ou ainda após o seu armazenamento,
dependendo do seu potencial de uso. Os principais empregos do biogás são:

»» Na produção de vapor: principalmente nas indústrias que tratam seus


resíduos através do processo de digestão anaeróbica e utilizam o biogás
gerado para a geração de vapor em caldeiras, economizando combustíveis
utilizados para tal, como óleo ou carvão mineral;

»» Na geração de energia elétrica: o biogás produzido nos biodigestores


pode ser utilizado como fonte de energia primária para fornecer energia
mecânica em turbinas e motores, quando acoplados a geradores elétricos
tornam-se capazes de produzir energia elétrica, por meio de cogeração.
Essa energia pode ser utilizada pela indústria localmente, ou até mesmo
vendida para a concessionária de energia elétrica local, quando houver
excedente de geração;

»» Como matéria-prima para a indústria: o metano pode ser utilizado para


a síntese de uma série de compostos orgânicos, como a obtenção de
metanol;

»» Como combustível veicular: esta é uma das alternativas mais atraentes


para a produção de biogás, assim como a geração de energia elétrica.
A tendência é a utilização da forma gasosa em altas pressões, uma vez
que o custo para tornar o biogás líquido é alto. Para ser utilizado como
combustível veicular, é preciso que haja purificação para a retirada de gás
carbônico e sulfídrico, pois este último pode corroer o motor.

Podemos ver que os diferentes usos variam de acordo com o tipo de beneficiamento
do biogás. Basicamente, o uso para a produção de energia térmica e elétrica possuem
custos mais baixos, uma vez que o biogás precisa apenas de um motor para conversão
de energia. Já os usos como energia veicular, por exemplo, necessitam de purificação e
tecnologias mais complexas, o que pode aumentar o seu custo final de uso.

O potencial brasileiro de produção de biogás é enorme, podendo abastecer até 12% de


toda a energia do país, apesar de usar somente cerca de 0,5%, em gerações elétricas,
térmicas ou de biocombustível a partir desse tipo de fonte, transformando desde dejetos
de animais ou resíduos agrícolas até resíduos e esgoto das cidades. Falta políticas
públicas e investimentos no setor para que esse potencial seja ainda mais explorado.

71
UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

Grande parte dos projetos brasileiros estão localizados na região sudeste, seguido da
região sul e nordeste. Nesta última região, aliás, há grande interesse e investimento
em pesquisas, devido a temperatura da região que potencializam a ação das bactérias,
produzindo assim uma maior quantidade de biogás. Segundo SOARES (2011),
a implantação de biodigestores nessa região, em pequenas propriedades rurais
aproveitando os dejetos de bovinos ou suínos poderia ser uma forma de trazer benefícios
econômicos para as pessoas que vivem no local (a partir da utilização do biogás em
fogões domésticos, lampiões, geladeiras e/ou combustível, por exemplo), além dos
benefícios ambientais de minimizar a emissão de gás metano na atmosfera.

Energia das ondas e marés

O fenômeno das marés, resultado das forças gravitacionais exercidas pelo Sol e pela Lua,
possui um ciclo previsível de maré alta e baixa (SILVA, 2012). Condições específicas
de determinadas regiões litorâneas, como a forma da costa, seu leito marinho, bem
como a existência de baías e estuários podem provocar grandes variações de nível entre
as marés, além de elevadas correntes, que podem ser aproveitadas para a geração de
energia elétrica (TAVARES, 2005).

A energia obtida pelas ondas funciona a partir do movimento destas, que movimenta
uma turbina contida numa câmara de ar, produzindo energia mecânica que, ao passar
por um gerador, se transforma em energia elétrica. Há também a tecnologia que move
para cima e para baixo (de acordo com a onda) um cilindro, que produz a energia
mecânica.

Essa reportagem mostra a produção de energia a partir das ondas em Portugal:


<https://www.youtube.com/watch?v=cBnOGf_xKrw>.

A energia gerada pelas marés – também chamada de maremotriz - é obtida por meio do
aproveitamento da energia proveniente do desnível das marés. Para que essa energia
seja revertida em eletricidade, é necessária a construção de barragens, diques, eclusas
(permitindo a entrada e saída de água) e unidades geradoras de energia. Quando a
maré enche a água entra e fica armazenada no dique; ao baixar a maré, a água sai pelo
dique como em qualquer outra barragem.

O sistema funciona como em uma usina hidrelétrica. Mas nesse caso, as barragens
são construídas próximas ao mar, e os diques são responsáveis pela captação de água
durante a alta da maré. A água é armazenada e, em seguida, é liberada durante a baixa
da maré, passando por uma turbina que gera energia elétrica.

72
Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

Parece uma tecnologia recente, porém, a força das marés tem sido aproveitada desde o
século XI, quando era utilizada na Europa para movimentar pequenos moinhos.

Foto 9. Geração de energia maremotriz em teste no porto de Pécem - Ceará.

Fonte: <http://www.duniverso.com.br/wp-content/uploads/2014/02/usina-maremotriz-pecem-brasil-02.jpg>.

Essa é uma boa alternativa para a produção de eletricidade, visto que a energia das
marés é uma fonte limpa e renovável. No entanto, é importante destacar que poucas
localidades apresentam características propícias para a obtenção desse tipo de energia,
visto que são necessárias marés e correntes fortes. Além disso, são necessárias marés
e correntes fortes, e um desnível de maré de mais de 7 metros, aproximadamente
(FRANCISCO, 2016).

Outras questões que torna essa geração pouco viável são os altos investimentos e o baixo
aproveitamento energético. Em termos de eficiência energética, esse tipo de energia
ainda não é viável no Brasil, embora haja projetos e pesquisas no setor.

Geotérmica

É o aproveitamento do calor da terra presente nos fluídos existentes em grande


profundidade, especialmente em bacias sedimentares ou áreas de rochas cristalinas,
para geração de energia e calor. Assim como a energia solar, pode ser utilizada para
aquecimento de casas, piscinas etc.

No entanto, grande parte desta energia encontra-se dispersa e a baixa temperatura,


assim, apenas uma pequena parte deste calor pode ser recuperado e economicamente
aproveitado. A temperatura aumenta, em profundidade, cerca de 33ºC por Km. Porém,
devido à heterogeneidade da crosta terrestre, existem zonas anómalas (>100ºC/km),
isto é, zonas onde a variação da temperatura com a profundidade é inferior ou superior
ao valor considerado normal. Desde modo, o gradiente geotérmico varia de lugar para
lugar, consoante as suas características.

73
UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

O aproveitamento da energia geotérmica implica a existência de um fluido, normalmente


a água, que transporte o calor do interior da terra para a superfície. Atualmente há
o desenvolvimento de tecnologias que aproveitam a energia geotérmica contida nos
aquíferos —hidrogeologia energética— ou em formações geológicas superficiais
(MARTINS CARVALHO; CARVALHO, 2004).

Embora haja evolução nas pesquisas de exploração desse tipo de energia, a utilização
desta para a geração de energia elétrica é lenta e se caracterizou pela construção
de pequeno número de unidades em poucos países. No Brasil, foi identificado um
potencial para sistemas de alta temperatura geotérmica, embora esse potencial pareça
estar restrito às ilhas atlânticas de Fernando de Noronha e Trindade. Por outro lado,
segundo os autores, recursos de baixa temperatura (< 90◦ C) foram identificados no
Brasil em número significativo, sendo que a maior parte dos recursos geotérmicos está
localizada no centro-oeste do Brasil (nos estados de Goiás e Mato Grosso) e no sul (no
estado de Santa Catarina) (ARBOIT et al, 2013).

Foi identificado também um potencial geotérmico no Aquífero Guarani. Entretanto,


este reservatório geotérmico é caracterizado por ser de baixa temperatura, e com
baixos gradientes térmicos, não existindo a possibilidade de aproveitamento do mesmo
para produção de energia elétrica, apesar de haver o potencial para uso direto da água
aquecida, que apresenta grande possibilidade de exploração, devido ao fato de existirem
atividades diversificadas na área de abrangência, tanto agrícolas como industriais (essa
água poderia ser utilizada em indústrias, por exemplo).

De qualquer forma, a viabilidade de utilização da energia geotérmica no Brasil ainda


é discutida. São necessários mais estudos que revelem, de forma mais aprofundada, a
real potencialidade de aplicação desse tipo de energia no Brasil (ARBOIT et al, 2013).

Figura 13. Esquema de funcionamento de uma usina de energia geotérmica.

Fonte: Adaptado de <http://www.engquimicasantossp.com.br/2015/05/energia-geotermica-centro-da-terra.


html#ixzz4S3tcAFQC>.

74
Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

O desenvolvimento e implantação de energias alternativas tem sido amplamente


buscada desde a década de 1970, quando a grande crise do petróleo levou diversos
países a procurar segurança energética e a redução da dependência dos combustíveis
fósseis. Recentemente, o assunto voltou a ganhar destaque nas políticas públicas e
no desenvolvimento tecnológico devido às preocupações ambientais e a busca de
alternativas mais limpas de produção de energia, uma vez que estas causam pequenos
impactos ambientais se comparado às fontes não renováveis (SIMAS, 2013).

Como já dissemos anteriormente, o Brasil tem um enorme potencial de desenvolvimento


de fontes alternativas de energia. De todas as fontes apresentadas, a geotérmica é a
única que não é totalmente viável, as demais fontes apresentam condições ideais para
o desenvolvimento no país, especialmente no desenvolvimento de energia solar e
biomassa, que já são usados em escalas menores e por particulares, em praticamente
todas as regiões do país.

A Figura 14 a seguir indica as principais fontes alternativas de energia do país, e a


localização de seus maiores potenciais.

Figura 14. Fontes de Energia Renováveis complementares à Matriz Energética Pré-Existente no Brasil.

Fonte: SANTOS et al, 2015.

75
UNIDADE III │ Outras Fontes Alternativas

Cada tipo de energia possui particularidades em relação ao seu uso e eficiência


energética. Dessa forma, é possível estabelecer comparativos entre as principais fontes
de energia.

A Tabela 6 a seguir apresenta um indicativo das vantagens e desvantagens existentes


em cada fonte de energia, bem como seus principais usos.

Tabela 6. Comparativo entre fontes de energia (renováveis e não renováveis).

Fonte Uso Vantagens Desvantagens


Geração de poluentes como a liberação
Produção de energia elétrica; de dióxido de carbono (combustível);
Domínio da tecnologia para sua
Petróleo Matéria-prima da gasolina, diesel, exploração e refino; Alto custo de extração;
nafta, plástico, borracha sintética,
Facilidade de transporte e distribuição. Não renovável e finito;
tinta, asfalto, ceras etc.
Distribuição geográfica limitada.
Emissão de poluição do ar (por exemplo
Produção de energia elétrica; Custo de extração inferior ao do Petróleo; mercúrio, dióxido de enxofre);
Carvão
Aquecimento; Domínio de tecnologia para seu Contribuinte significativo à chuva ácida e a
mineral
aproveitamento; aquecimento global;
Matéria-prima de fertilizante.
Requer sistema extensivo de transporte
A usina pode ser instalada em locais
próximos de centros de consumo;
Ausência de tecnologia para tratar
Não emite poluentes que contribuam para resíduos;
Produção de energia elétrica;
o efeito estufa;
Nuclear Fabricação de artefatos (como a Custo alto de construção de usinas, de
Fonte concentrada de geração, armazenamento e gestão de resíduos;
bomba atômica).
produzindo menos resíduos comparado
às demais fontes não renováveis; Risco de contaminação nuclear.

Fácil transporte.
Aquecimento;
Geração de eletricidade;
Pode ser utilizado nas formas gasosa e A construção de gasodutos e metaneiros
Gás Natural Combustível para veículos, caldeiras líquida; (navios especiais) para o transporte e a
e fornos; distribuição requer alto investimento.
Grande número de reservas existentes.
Matéria-prima de derivados da
indústria petroquímica.
Inundação de grandes áreas e
deslocamento de população residente; a
Não emite poluentes; construção das usinas é cara e demorada;
Hidrelétrica Produção de energia elétrica. Produção controlada; Fonte limitada pela natureza e o regime
de água/chuva;
Não interfere no efeito estufa.
Danos ambientais às áreas da represa/
vidas marinhas.
Fonte infinita; Exige investimentos para armazenamento
e transmissão da energia;
Menor custo de implantação;
Limitação geográfica para a implantação;
Produção de energia elétrica; Não poluente;
Eólica Dependência total do clima;
Movimentação de moinhos. Não ocupa áreas de produção de
alimentos; Produz poluição sonora e impactos na
avifauna; Pode haver interferência em
Menor custo de implantação. transmissões de rádio e TV.

76
Outras Fontes Alternativas │ UNIDADE III

Fonte Uso Vantagens Desvantagens


Fonte infinita; Limitação climática e geográfica de
implantação;
Menor custo de implantação;
Produção de energia elétrica; Exige investimento para atingir boa
Não é poluente;
Solar eficiência energética;
Aquecimento. Não interfere no efeito estufa;
Requer espaço grande atualmente
Não precisa de turbinas nem geradores para a implantação (tecnologia em
para a produção da energia elétrica. desenvolvimento)
Aquecimento; Não interfere no efeito estufa (quando o Exige investimento em seu
Biomassa Produção de energia elétrica e de gás carbônico liberado durante a queima aproveitamento;
biogás (metano). é absorvido depois no ciclo de produção). É preciso ser utilizado em grande escala.
Fonte: Adaptado de IF/USP, 2016.

Conforme pode ser visto, as fontes não renováveis apresentam algumas vantagens,
se comparado às fontes renováveis, especialmente no que tange o custo de geração
de energia, muitas vezes, considerada mais barata. Mas isso ocorre por uma questão
importante: a tecnologia para a geração das fontes não renováveis já existe há muito
tempo.

Os custos de extração dessas fontes são altos! Elas só são mais viáveis devido a
quantidade de extração e por essa evolução da tecnologia.

Já as fontes não renováveis não apresentam custos para a sua extração. O Sol e o vento,
que geram energia solar e eólica são gratuitos e disponíveis infinitamente na natureza.
Entretanto, é a geração de energia a partir dessas fontes que ainda apresenta um custo
alto, pois essa é uma tecnologia mais recente, em pleno desenvolvimento. Isso quer dizer
que, conforme se desenvolve, os custos de produção ficam mais baixos, aumentando o
uso dessas fontes, o que abaixa ainda mais os valores de produção.

77
Para (não) Finalizar

Conforme podemos estudar, apesar do aproveitamento hidrelétrico ser a base da matriz


energética nacional, há entraves à expansão do setor e à construção de novas usinas.
Enquanto isso, a demanda por energia elétrica no país aumenta a cada dia. Segundo
a Empresa de Pesquisa Energética – EPE (2016), nas últimas décadas, enquanto o
consumo final de energia elétrica aumentou progressivamente, a produção de energia
hidráulica, após anos de crescimento, está em queda.

Tabela 7. Percentual de produção de energia hidráulica e consumo final de energia elétrica (1970 – 2015).

Anos 1970 1980 1990 2000 2010 2015

Produção de energia primária - 6,9 16,7 16,5 17,1 13,7 10,8


Hidráulica (%)

Consumo final - eletricidade (%) 5,5 10,1 14,7 16,6 16,6 17,2

Fonte: EPE, 2016.

Conforme é possível observar, após um salto de produção de energia hidrelétrica entre


1970 e 1980, uma pequena queda em 1990 e um discreto crescimento nos anos 2000,
após esse período, o setor caiu significativamente nos últimos anos.

Essa queda é atribuída, especialmente, à falta de investimentos no setor e, mais


recentemente, às dificuldades e entraves burocráticos nos licenciamentos ambientais
e às questões judiciais para a construção de mais usinas hidrelétricas. As novas usinas
na região Amazônica são um exemplo disso. A região tem potencial hidrelétrico
inventariado e, ao contrário das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, é ainda pouco
explorado. Entretanto, os impactos ambientais previstos ao longo da implantação de
usinas nessa região ameaçam populações e ecossistemas complexos da região.

Ao mesmo tempo, dada a crescente demanda por energia elétrica no país, a construção
de novas usinas se delineia como necessária para os avanços econômicos e aumento da
oferta de empregos.

Para administrar a questão, o governo brasileiro aposta na tendência de investir em


projetos que se dediquem a diminuir tais impactos ambientais, pensando mais nos
benefícios econômicos – diminuindo gastos inerentes à remediação e compensação
destes impactos – do que nos benefícios ambientais trazidos.
78
para (não) finalizar

As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s) se destacam neste sentido, uma vez


que prometem causar menores impactos, mas também geram menos energia por
empreendimento criado. Além da necessidade de percorrer todos os processos de
licenciamento ambiental para a instalação destas, a energia gerada pelas PCH’s não
consegue suprir a demanda de energia do país com a mesma velocidade na qual são
instaladas. Apesar disso, o baixo custo de instalação (quando comparamos com as
UHE’s de grande porte) permite que indústrias com alto consumo de energia elétrica
invistam em usinas próprias, vendendo o excedente produzido – quando o há – para a
distribuição no Sistema Interligado Nacional.

O fato é que o setor enfrenta desafios de desenvolvimento. A exploração de potenciais


na região Amazônica, bem como a maior participação da sociedade nessas questões
provocaram dificuldades de crescimento. Considerando que cerca de 60% do potencial
inventariado no país está na região Amazônica e que esta possui cerca de metade de
sua extensão coberta por áreas protegidas (unidades de conservação, terras indígenas
e terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos), compatibilizar
a geração hidrelétrica com a proteção do meio ambiente é, sem dúvida alguma, o maior
desafio.

Uma das principais dificuldades está relacionada aos dispositivos legais e normativos
que regem a situação das populações mais vulneráveis, como indígenas, ribeirinhos e
quilombolas. A Convenção no 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT é o
principal instrumento e referência de proteção e salvaguarda dessas populações. A falta
de regulamentação mais profunda sobre a exploração dos recursos hídricos em terras
indígenas, por exemplo, que trata o §3o do artigo 231 da Constituição Federal de 1988,
deixa lacunas para o real nível de aprofundamento nas consultas à essas comunidades
para a implantação de usinas hidrelétricas e a forma de compensação às comunidades
afetadas provoca conflitos constantes.

A exploração de aproveitamentos hidrelétricos em áreas de Unidades de Conservação


é outro entrave ambiental/jurídico enfrentado, uma vez que há previsto em lei a
re-delimitação dessas áreas (§7o do art. 22 da lei 9.985/2.000 do Sistema Nacional de
Unidade de Conservação – SNUC que prevê que “a desafetação ou redução dos limites
de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica”), mas sem mais
dispositivos que estabeleçam procedimentos para isso, o que aumenta o surgimento de
conflitos.

Além disso, uma percepção negativa da sociedade em relação às usinas hidrelétricas,


especialmente com a falta de diálogo e comprometimento de empreendedores e órgãos
públicos com as compensações dos impactos sociais e ambientais, tornam o processo

79
Para (Não) Finalizar

de licenciamento cada vez mais complexo e incerto, podendo, muitas vezes, tornar os
projetos inviáveis.

Voltando à questão Amazônica, de todo potencial de energia inventariado no país,


grande parte está localizada desta região, grande parte em áreas protegidas. Se
caracterizam por estar em rios de planície (portanto, baixa queda d’água), com vazões
elevadas e padrão fortemente sazonal. Para minimizar impactos socioambientais, tem
sido adotada como solução a construção de projetos de usinas hidrelétricas a fio d’agua.
Esta solução, pelo porte das usinas nesta região, exigiu várias concepções inovadoras
em engenharia e tecnologia, dentre as quais a utilização de turbinas bulbo (que hoje,
são as maiores em funcionamento no mundo). Esta solução, no entanto, resulta numa
produção de energia elétrica com padrão sazonal, impactando a operação do Sistema
Interligado Nacional (TOLMASQUIM, 2016).

Mantida esta tendência, a operação dos reservatórios de acumulação existentes


apresentará maiores variações, e considerando ainda a demanda crescente de energia,
o sistema como um todo apresentará uma menor capacidade de regularização. Além
disso, há a questão das grandes distâncias entre a geração de energia em meio à floresta
e do mercado consumidor dessa energia, que tendem a exigir investimentos altos em
tecnologias para vencer barreiras físicas e minimizar os impactos decorrentes.

A confiabilidade no atendimento dessa demanda crescente de energia pode, dessa forma,


depender de investimentos em outros setores energéticos, a partir de outras fontes de
geração. Por isso a compatibilização da matriz energética entre a hidroeletricidade e
outras fontes renováveis é cada vez mais discutida, a fim de evitar a dependência do país
em combustíveis fósseis e investir no potencial existente e já estudado em tecnologias
limpas, como a geração eólica e a solar.

Embora de custos mais altos, essas fontes alternativas poderiam exercer importante
função de gerar energia de forma combinada, aproveitando os períodos secos, por
exemplo, em que as usinas hidrelétricas produzem menos energia, para intensificar a
geração dessas outras fontes.

80
Referências

AQUINO, D.N. Recursos hídricos disponíveis no Brasil para geração de


energia elétrica. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - CENTRO DE CIÊNCIAS
AGRÁRIAS. 2012. Disponível em: <http://www.ppgea.ufc.br/images/diversos/
Energia_hidrel%C3%A9tricas.pdf>. Acessado em: 20 de outubro de 2016.

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geração de energia. ANA: Distrito Federal, Brasília, 2005. Disponível em: <http://
arquivos.ana.gov.br/planejamento/planos/pnrh/VF%20Gera%C3%A7aoEnergia.
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ARBOIT, N. K. S.; et al. Potencialidade de utilização da energia geotérmica no


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<http://www.revistas.usp.br/rdg/article/viewFile/75194/78742>. Acessado em: 20 de
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