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Revista SymposiuM

Gêneros jornalísticos: appear, grow, change and disappear according to


the technological and cultural development of each
repensando a questão nation and each journalistic enterprise. In this
article, we carry out a literature review on the
Jorge Lellis Bomfim Medina * concepts of genre, discourse and discursive genres
from Plato to Mikhail Bakhtin, as well as Derrida
Resumo and José Marques de Melo.
Os gêneros jornalísticos são determinados pelo Key words: journalistic genres, printed media,
modo de produção dos meios de comunicação de journalism
massa e por manifestações culturais de cada socie-
dade onde as empresas jornalísticas estão inseridas. A questão dos gêneros
Precisam, portanto, ser estudados como um fenô-
meno histórico. Realizar uma classificação univer- Classificar gêneros já era uma atividade na
sal dos mesmos é praticamente uma tarefa impos- Grécia antiga, onde Platão propôs uma classifica-
sível, visto que estão sempre em transformação. ção binária, entre gênero sério, que incluía a epo-
O que pode ser um gênero hoje amanhã não o será péia e a tragédia, e gênero burlesco, do qual faziam
mais ou o que pode ser um gênero em um determi- parte a comédia e a sátira. Posteriormente, o pró-
nado país não o é em uma outra sociedade. Gêne- prio Platão realizou uma nova classificação, agora
ros aparecem, crescem, mudam e desaparecem con- em três modalidades, baseada na variação das re-
forme o desenvolvimento tecnológico e cultural lações entre literatura e realidade, à luz do concei-
de cada nação e de cada empresa jornalística. Nes- to de mimesis, ou seja, da imitação: gênero mimético
te trabalho, propomos uma revisão de literatura ou dramático (tragédia e comédia); gênero
sobre o conceito de gênero, de discurso e de gêne- expositivo ou narrativo (ditirambo, nomo, poesia
ros discursivos, de Platão a Mikhail Bakhtin, pas- lírica); e gênero misto, constituído pela associação
sando por Derrida e José Marques de Melo. das duas classificações anteriores (epopéia). Com
isso, Platão lançou o fundamento da tripartida dos
Palavras-chave: gêneros jornalísticos, mídia im- gêneros literários.
pressa, jornalismo.
Gênero vêm da raiz da palavra gen, da qual
Abstract provém o verbo latino gigno. Este conexiona a for-
ma, igualmente latina, genus quer com a idéia de
Journalistic genres are deter mined by the sexo (de onde o género gramatical), quer com a de
production mode of mass media and by the cultural estirpe ou de linhagem, como princípio de classifi-
manifestations of every society where the cação: temos assim, entre os usos literários das pa-
journalistic enterprises are inserted, which imposes lavras, genus scribendi ‘estilo’, e os genera literários,
their study as a historical phenomenon. To agrupamentos comparáveis aos da ciência, onde
accomplish a universal classification of these subsiste também uma diferença de generalização
genres is practically impossible since they are not (genus, por oposição a species).” (ENCICLOPÉDIA,
finished cultural signs: they are in permanent 1989, p. 72). Para GREIMAS (1979, p. 202):
change, in constant transformation. What is
considered to be a genre today might not be so “O gênero designa uma classe de discursos, reco-
tomorrow, or else, what is considered a genre in a nhecível graças a critérios de natureza socioletal.
certain country, is not so in another society. Genres Estes podem provir quer de uma classificação im-
____________________ plícita que repousa, nas sociedades de tradição oral,
* Jornalista profissional da Universidade Federal do Espírito Santo sobre a categorização particular do mundo, quer
(UFES) e mestrando do Programa de Comunicação e Semiótica de uma “teoria dos gêneros” que, para muitas soci-
edades, se apresenta sob a forma de uma
da PUCSP.

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taxionomia explícita, de caráter não científico. De- só se revela no drama romântico mas também em
pendente de um relativismo cultural evidente e fun- outras formas literárias, como no romance. Um
dada em postulados ideológicos implícitos, tal teo- outro exemplo desse hibridismo é a tragicomédia,
ria nada tem de comum com a tipologia dos dis-
cursos que procura constituir-se a partir do reco-
que foi uma das maiores manifestações da litera-
nhecimento de suas propriedades formais específi- tura barroca espanhola. Com isso, podemos con-
cas. O estudo da teoria dos gêneros, característico cluir que não existe pureza dos gêneros, pois todo
de uma cultura (ou de uma área cultural) dada, não texto participa em um ou em vários gêneros. Sem-
tem interesse senão na medida em que pode evi- pre haverá um gênero ou vários gêneros em uma
denciar a axiologia subjacente à classificação: ele determinada obra.
pode ser comparado à descrição de outros etno ou
sociotaxionomias”.
Para o pensador russo BAKHTIN (1997):
Platão, sem dúvida nenhuma, foi o primei- “gênero é uma força aglutinadora e estabilizadora
ro cientista a estudar os gêneros, além de definir dentro de uma determinada linguagem, um certo
que todos os textos literários são uma narrativa de modo de organizar idéias, meios e recursos expres-
acontecimentos, sejam eles passados, presentes ou sivos, suficientemente estratificado numa cultura,
futuros. Desde a época antiga, uma questão que de modo a garantir a comunicabilidade dos produ-
sempre esteve em debate até os dias de hoje é a tos e a continuidade dessa forma junto às comuni-
dades futuras. Num certo sentido, é o gênero que
mistura destes gêneros, que o próprio Platão, na
orienta todo o uso da linguagem no âmbito de um
sua classificação triádica, definiu como gêneros determinado meio, pois é nele que se manifestam
mistos, ou seja, a mistura das suas duas classifica- as tendências expressivas mais estáveis e mais or-
ções anteriores: mimético ou dramático e expositivo ganizadas da evolução de um meio, acumuladas ao
ou narrativo. longo de várias gerações de enunciadores.”

Saltando para uma época mais recente so- Os gêneros discursivos


bre os estudos de gêneros, Jacques Derrida, um dos
principais pensadores contemporâneos, no seu tra- Como o nosso estudo ficará centrado nos
balho sobre a “lei do gênero”, brinca afirmando que gêneros jornalísticos – os gêneros discursivos que
os gêneros não podem ser misturados. Para ele, “os aqui nos interessa –, iremos apresentar algumas
gêneros não devem ser misturados, como um voto definições sobre discurso. Os dicionários apresen-
de obediência, como um voto de compromisso e tam dois significados principais para o discurso:
fidelidade, sendo assim fiel à lei do gênero, ou seja, um é de exposição de um determinado assunto,
à lei da pureza” (DERRIDA, 1980). Em seguida, escrito ou proferido em público; o outro é o ato de
ele desmente essa afirmação, ao falar que a lei do discorrer, ato de comunicação lingüistica. Enten-
gênero, a lei da pureza, é impossível de ser pratica- demos como comunicação lingüistica o ato da pa-
da. Para ele, é impossível não misturar os gêneros. lavra e o uso da língua. Ouçamos Bakhtin:
Pode-se falar, então, segundo Derrida, de uma lei
da lei do gênero: a lei da impureza, que é precisa- “As diversas esferas da atividade humana estão re-
mente o princípio da contaminação. Para ele, o lacionadas com o uso da língua, e este uso, nas
grande enigma dos gêneros é trabalhar com os seus formas de enunciados, sejam eles orais ou escritos.
Os enunciados refletem as condições específicas e
limites: até que ponto um gênero não pode ser con- o objeto de cada uma destas esferas, não só pelo
taminado por um outro gênero? é a questão que seu conteúdo e pelo seu estilo verbal, ou seja, pela
ele nos sugere. seleção dos recursos léxicos e gramaticais da lín-
gua, mas sim, antes de tudo, pela sua composição
Na literatura, o gênero drama, por exem- ou estruturação. O conteúdo temático, o estilo e a
plo, participa dos caracteres da tragédia e da co- composição estão vinculados na totalidade do enun-
média, da ode e da epopéia. Esse hibridismo não ciado e se determina pela especificidade de uma
esfera dada de comunicação. Cada enunciado se-

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parado é individual, mas cada esfera do uso da língua. “Nem um só fenômeno novo (fonético, lé-
língua elabora seus tipos estáveis de enunciado, que xico ou gramatical) pode ser incluído no sistema
são gêneros discursivos. Assim, a língua participa da língua sem passar por uma larga e complexa via
da vida através dos enunciados concretos que os
realizam, como a vida participa da linguagem atra-
de prova de elaboração genérica,” ensina Bakhtin.
vés dos enunciados “ (BAKHTIN, 1997).
Para ele, o estudo da natureza do enunciado e dos
gêneros discursivos tem uma importância funda-
O discurso é um processo e produto da mental para ultrapassar as noções simplificadas
interação verbal e o enunciado, sua unidade real, sobre a vida discursiva da chamada “corrente do
pois, segundo Bakhtin, “a enunciação é o produto discurso” e sobre a comunicação discursiva, que
da interação de dois sujeitos socialmente organi- permitirá compreender, de maneira mais correta, a
zados. O discurso se molda à forma do enunciado natureza das unidades da língua como sistema (as
(unidade real de comunicação verbal), que perten- palavras e as orações).
ce a um sujeito falante e não pode existir fora des-
sa forma”. Então, o discurso pode ser entendido Gêneros midiáticos
como uma linguagem em funcionamento numa
determinada situação ou um processo de produ- Definir gêneros nas mídias e, mais especi-
ção de significação, sendo a língua o instrumento ficamente, no jornalismo impresso não é uma tare-
dessa produção. fa fácil. Vejamos a opinião do professor José Mar-
Para se manifestar, o discurso usa o texto, ques Melo sobre o assunto: “classificar gêneros
que podemos definir como toda e qualquer mani- jornalísticos é o maior desafio do jornalismo, como
festação da capacidade humana, realizada medi- campo do conhecimento, é, sem dúvida, a confi-
ante um sistema de signos. Pode ser tanto um poe- guração da sua identidade enquanto objeto cientí-
ma ou uma conversa, quanto uma pintura ou uma fico e o alcance da autonomia jornalística que pas-
escultura. Bakhtin ressalta que é através do texto sa inevitavelmente pela sistematização dos proces-
que a história do pensamento, orientada para o sos sociais inerentes à captação, registro e difusão
pensamento, o sentido e o significado do outro se da informação da atualidade, ou seja, do seu dis-
manifestam e se apresentam. “Texto é modalidade curso manifesto. Dos escritos, sons e imagens que
composicional, produto comunicativo, unidade de representam e reproduzem a atualidade, tornando-
informação vinculado à vida interativa. Gêneros se indiretamente perceptível” (MELO, 1985).
são articulações discursivas que organizam e defi-
nem a textualidade. Os gêneros são inconcebíveis A questão dos gêneros jornalísticos assu-
fora do texto; sem os gêneros, o texto se esfarela” me um papel importante para a compreensão dos
(MACHADO, 1999). O texto é a manifestação do diferentes discursos produzidos pelos meios de
discurso por meio de um plano de expressão. comunicação de massa, pois a preocupação em
Bakhtin nos informa ainda que, para haver a co- defini-los tem sido uma inquietação constante en-
municação verbal, o sujeito tem à sua disposição tre os estudiosos norte-americanos, europeus e la-
uma imensa variedade de gêneros discursivos e ele tino-americanos. No seu conhecido estudo sobre
elege uma das formas dos enunciados em função os gêneros jornalísticos, A opinião no jornalismo bra-
do objeto que está diretamente ligado à esfera sileiro, José Marques Melo faz uma compilação à
discursiva, seja pelo tema, seja pela situação de concepção de vários estudiosos sobre o que seri-
comunicação ou ainda pela orientação do locutor am os gêneros jornalísticos. Para estudiosos como
consigo mesmo e com o outro. Em outras pala- Juan GARGUREVICH (1982), por exemplo, os gê-
vras, o sujeito aprende a falar utilizando os gêne- neros jornalísticos são formas que os jornalistas
ros do enunciado. buscam para se expressar. Seus traços definidores
estão, portanto, no estilo, no manejo da língua. Para
Os gêneros discursivos são canais de trans- ele, trata-se de formas jornalístico-literárias, por-
missão entre a história e a sociedade e a história da que o seu objetivo é o relato da informação e não

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necessariamente o prazer estético. Já Emil quais ele considera como sendo os mais importan-
DOVIFAT afirma que os gêneros jornalísticos são tes. Em seguida, vêm as colunas, os artículos, os
formas de expressão jornalísticas que se definem testemunhos, as resenhas, a crítica, a polêmica ou
pelo estilo e assumem expressão própria pela obri- debate, as campanhas, a titulação e os folhetins. O
gação de tornar a leitura interessante e motivadora. autor observa que não é uma classificação fecha-
Entretanto FOLLIET acredita que são formas uti- da e que vários textos combinam vários gêneros
litárias, pois as diferenças entre os gêneros surgem dependendo do talento do redator.
justamente da correspondência dos textos que os
jornalistas escrevem em relação às inclinações e A revisão de todos esses trabalhos nos per-
aos gostos do público. Ou seja, a essência do esti- mite aqui propor que, no jornalismo, o gênero de
lo jornalístico estaria na tentativa de fazer o relato base é a notícia (o relato puro dos acontecimentos).
do cotidiano, utilizando uma linguagem capaz de Os pesquisadores ARMAÑANZAS e NOCI apud
estar sintonizada com o que Gonzalo Martin MELO (1998) afir mam que os gêneros
Vivaldi chama de ‘linguagem de vida’ e que pres- jornalísticos ficaram mais evidentes a partir do sé-
supõe o uso de todos os recursos expressivos e vi- culo XIX, quando a notícia, com informações so-
tais, próprios e adequados para expressar a bre os principais acontecimentos daquela época,
variadíssima gama do acontecer diário. consolidou-se como o gênero jornalístico por ex-
celência. “A produção da notícia é um processo
GARGUREVICH (1982), no livro Géneros que se inicia com um acontecimento. É o sujeito
periodísticos, traz-nos, outra vez, uma preciosa re- observador que dá sentido ao acontecimento. Os
visão de conceitos de alguns pesquisadores do jor- acontecimentos estariam formados por aqueles ele-
nalismo sobre gêneros jornalísticos, como, por mentos exteriores ao sujeito a partir dos quais ele
exemplo, Maria Júlia Sierra, que faz uma distinção mesmo vai recorrer e construir o acontecimento”
entre jornalismo noticioso e jornalismo literário. No (ALSINA, 1993, p. 81). Como escreve Rodrigues
primeiro grupo, são classificadas as crônicas, as (1988), “o acontecimento constitui o referente de
colunas, as entrevistas, as reportagem, o editorial, que se fala. Lemos a notícia acreditando que elas
o artículo e a notícia. No segundo grupo, estão os são um índice do real; lemos as notícias acreditan-
ensaios, as biografias, os contos e as histórias verí- do que os profissionais do campo jornalístico não
dicas ou conto da vida real. Já o estudioso John irão transgredir a fronteira que separa o real da fic-
Hohenberg classifica os gêneros da seguinte ma- ção. E é a existência de um “acordo de cavalhei-
neira: notícia básica (a que concede a virtude da ros” entre jornalistas e leitores pelo respeito dessa
objetividade), notícia de interesse humano, entre- fronteira que torna possível a leitura das notícias
vista, biografia popular, notícia interpretativa (sub- enquanto índice do real”.
jetividade), reportagem especializada, colunas, re-
portagem investigativa e reportagem de campanha). LAGE apud HENN, (1994, p. 27), em seu
Johnson Harris, por sua vez, divide os gêneros em livro Ideologia e técnica da notícia, agrupou algumas
notícias correntes, crônicas especiais, nota de in- definições de notícia, entre as quais destacamos:
teresse humano, notícias sociais (englobando pes- notícia é uma copilação de fatos e eventos de
soas, notas breves, entretenimento e coluna soci- interesse ou importância para os leitores do jornal
al), ilustrações (fotografia, caricaturas, mapas e que publica; é tudo que o público necessita saber,
diagramas) e editoriais. tudo aquilo que o público deseja falar, quanto mais
comentários suscite, maior é o valor. É a inteligên-
Depois de resgatar o trabalho de vários cia exata e oportuna dos acontecimentos que inte-
pesquisadores, Gargurevich encerra o seu próprio ressa aos leitores; fatos essenciais de tudo que acon-
trabalho, propondo a seguinte descrição: nota in- teceu ou idéia que tem interesse humano; infor-
formativa, entrevista, crônica, reportagem, gráfi- mação atual, verdadeira, carregada de interesse
cos (fotos, caricaturas, mapas, tiras cômicas), os humano e capaz de despertar a atenção e a curiosi-

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dade de grande número de pessoas. sempre é a transformação de um ou vários gêneros


velhos. Cada trabalho novo dentro de um gênero
Voltemos, neste ponto, aos gêneros para tem o potencial para influenciar mudanças dentro
concluir com Marques Melo que: do gênero ou talvez o aparecimento de subgêneros
novos, que podem florescer depois em gêneros cres-
“Se os gêneros são determinados pelo estilo e se cidos. (CHANDLER, 1997)
este depende de uma relação dialógica que o jorna-
lista deve manter com o seu público, apreendendo TOMASHEVSKY apud CHANDLER (1997) afir-
seus modos de expressão (linguagem) e suas expec- ma que nenhuma classificação lógica de gêneros é
tativas (temáticas), é evidente que a sua classifica- possível. A demarcação dela é sempre histórica,
ção restringe-se a universos culturais delimitados. quer dizer, só vale para um momento específico
Por mais que as empresas jornalísticas assumam da história. Alguns gêneros só são definidos
hoje uma dimensão transnacional em sua estrutura retroativamente e não são reconhecidos como tal
operativa, permanecem contudo as especificidades pelos produtores originais. Gêneros precisam ser
nacionais ou regionais que ordenam o processo de estudados, sobretudo, como um fenômeno históri-
recodificação das mensagens importadas. Tais co. Gêneros atuais passam por fases ou ciclos de
especificidades não excluem as articulações popularidade, como o ciclo de filmes de desastre
interculturais que muitas vezes subsistem através nos anos setenta. Sem perder a história de vista,
das línguas e são prolongamentos do colonialismo” MELO (1985) faz uma revisão de literatura sobre
(MELO, 1985). as classificações dos gêneros jornalísticos em vári-
os países europeus, além das classificações norte-
Existem muitos gêneros nos meios de co- americana, hispano-americana e brasileira. Em re-
municação de massa. Esse número depende da lação a classificação brasileira, o autor nos informa
que o único pesquisador a se preocupar com o
complexidade e diversidade da sociedade. Para uma assunto foi Luiz Beltrão, que classificou os gêneros
sociedade, uma coisa pode ser um gênero e, para jornalísticos em três categorias (informativo,
outra, um subgênero ou ainda, para uma terceira, interpretativo e opinativo), com as funções de in-
poderá ser supergênero. O mesmo texto pode per- formar, explicar e orientar o público leitor. Para
tencer a gêneros diferentes em países e tempos tam- Melo, Luiz Beltrão não se ateve à natureza de cada
bém diferentes “No cinema, por exemplo, alguns um (estilo/estrutura, narrativa/técnica de
gêneros estão baseados em conteúdos de história codificação), mas obedeceu ao senso comum que
rege a própria atividade profissional, estabelecen-
(o filme de guerra), outro é obtido emprestado de do limites e distinções entre as matérias.”
literatura (comédia, melodrama) ou de outras mídia
(o musical). Enquanto outros estão baseados em Convencido de que é impossível fazer uma
estado artístico (o filme de arte), identidade racial classificação universal, já que os gêneros são de-
(cinema afro), localização (o ocidental) ou orien- terminados pelos modos de produção dos jornalis-
tação sexual.” Concluímos que os gêneros são de- tas e têm uma identificação com a questão cultu-
terminados pelo modo de produção jornalística e ral de cada nação, MELO propõe uma classifica-
por manifestações culturais de cada sociedade. ção dos gêneros jornalísticos brasileiros. Essa sua
Determinar uma classificação universal é impossí- nova classificação obedece a dois critérios. Primei-
vel, uma vez que estão sempre em mudança, o que ramente, ele agrupa os gêneros em categorias que
se pode fazer é adaptá-la da melhor forma possí- correspondem à intencionalidade determinante dos
vel para cada comunidade. (STAM apud relatos, nas quais podem ser identificadas duas
CHANDLER, 1997). vertentes: 1) a reprodução do real, através da qual o
jornalista comunica os fatos noticiosos (jornalis-
Os gêneros e as relações entre eles mudam mo informativo), o que significa descrevê-los
com o passar do tempo. Gêneros novos e jornalisticamente a partir de dois parâmetros – o
subgêneros emergem e outros desaparecem, en- atual e o novo, ou seja, a observação da realidade
quanto outros permanecem duradouros. e a descrição do que é apreensível à instituição
TODOROV nos informa que um gênero novo

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jornalística; 2) leitura do real (jornalismo opinati- venção não há verdadeiro distanciamento. Nem
vo), que significa identificar o valor do atual e do espacial, nem temporal, nem cultural, nem socioló-
novo na conjuntura que nutre e transforma os pro- gico. Até porque, como salienta Paul Riccoeur ‘nar-
rar é já refletir sobre os acontecimentos narrados´.
cessos jornalísticos, ou seja, a análise da realidade O jornalista transporta, em si , a Lebenswelt (mun-
e a sua avaliação dentro dos padrões jornalísticos, do vivido ou vivência do mundo), conceito que
ou em outras palavras, a versão dos fatos construída Habermas retirou da fenomenologia de Husserl,
por meio de argumentações, em favor de determi- pra designar aquele nível profundo de um grupo,
nadas idéias e valores. de uma coletividade, onde se enraízam linguagens,
normas e comportamentos comuns. Inscreve-se,
O segundo critério usado por MELO para pela sua própria praxis, na realidade que descreve
e estabelece, com o jornal para qual escreve, uma
descrever os gêneros jornalísticos busca identifi- relação mimética que o conduz a reproduzir o léxi-
ca-los a partir da natureza estrutural dos relatos co e os valores desse mesmo jornal. Atua, assim,
observáveis nos processos jornalísticos. Não se duplamente, como protagonista de um discurso
referindo apenas à estrutura do texto ou das ima- dialógico e como parte de um coletivo profissional
gens e sons que representam e reproduzem a reali- com regras e projetos próprios” (REBELO, 2000,
dade, e sim, à articulação que existe do ponto de p. 17-8).
vista processual entre os acontecimentos (real), sua
expressão jornalística (relato) e a apreensão pela O próprio verbete sobre objetividade do
coletividade (leitura). Partindo dessas premissas, Manual de Redação do Jornal Folha de São Paulo
o autor propôs a sua classificação: gêneros infor- não deixa dúvida sobre esse mito:
mativos (nota, notícia, reportagem e entrevista) e
gêneros opinativos (editorial, comentário, artigo, “Objetividade - não existe objetividade em jornalis-
resenha/crítica, coluna, crônica, caricatura e car- mo. Ao redigir um texto ou ao editá-lo, o jornalista
toma uma série de decisões que são em larga medi-
ta).
da subjetivas, influenciadas por suas posições pes-
soais, hábitos e emoções. Isto não o exime, porém,
Um problema, no entanto, que podemos da obrigação de procurar ser o mais objetivo possí-
identificar na classificação de MELO é a questão vel. Para retratar os fatos com fidelidade, reprodu-
do real, o que ele considera “real”. O que é repro- zindo a forma em que ocorrem bem como suas
duzir e ler o real para os leitores. Será que o jorna- circunstâncias e repercussões, o jornalista deve
lista quando está perto do real, para apreendê-lo, procurar vê-los com distanciamento e frieza, o
que não significa apatia nem desinteresse....”
não modifica de uma forma ou de outra esse real
(MANUAL, 1987)
quando passa para os seus leitores? Podemos afir-
mar que existe objetividade jornalística? Não exis-
te interferência do profissional de imprensa no
Gêneros jornalísticos
retratamento desse real? Podemos concluir, sem
dúvida nenhuma, que a relação com o real não
Para que servem os gêneros jornalísticos?
permite uma reprodução fiel do mesmo, entretan-
Com certeza servem para orientar os leitores a le-
to também a leitura do real não será a mesma. Acre-
rem os jornais, permitindo-os identificar as formas
ditamos que ninguém consegue reter na mente to-
e os conteúdos dos mesmos. Servem, também,
dos os detalhes de um acontecimento. Podemos
como um diálogo entre o jornal e o leitor, pois é
concluir que a objetividade jornalística é um mito,
através das exigências dos leitores que as formas e
uma utopia na busca da tão sonhada “verdade”
os conteúdos dos jornais se modificam. Os gêne-
jornalística.
ros servem ainda para identificar uma determina-
da intenção, seja de informar, de opinar, de inter-
“O jornalista não é aquele sujeito exterior e distan-
te, armado de uma independência, de uma neutra- pretar ou de divertir. Podemos afirmar que os gê-
lidade sem falha. Entre ele e o objeto da sua inter- neros são determinados pelo estilo que o jornalis-

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ta emprega para expressar para o seu público os por Marques Melo, tem que ser deixada de lado.
acontecimentos diários. A maioria dos jornais bra- Um outro conceito que temos de abdicar é a ques-
sileiros divide os gêneros jornalísticos em quatro tão do gênero que alguns autores definem como
grandes grupos: informativo, com a preocupação de interpretativo, que teria a função de aprofundar as
relatar os fatos de uma forma mais objetiva possí- notícias. Se estamos interpretando, automaticamen-
vel; interpretativo, que, além de informar, procura te estamos opinando, pois acreditamos que os tex-
interpretar os fatos; opinativo, expressa um ponto tos são manipulatórios, possuem pontos de vistas.
de vista a respeito de um fato; entretenimento, que Segundo FIORIN (2000, p. 52), “a finalidade últi-
são informações que visam à distração dos leito- ma de todo ato de comunicação não é informar,
res. mas é de persuadir o outro a aceitar o que está
sendo comunicado. Por isso, o ato de comunica-
Essa divisão serve para identificarmos ção é um complexo jogo de manipulação com vis-
como os fatos jornalísticos são processados, ser- tas a fazer o enunciatário crer naquilo que se trans-
vindo como uma ferramenta inquestionável para mite’’. Feitos esses esclarecimentos, vamos, então,
que os leitores se orientem na procura das infor- a nossa mencionada proposta de descrição.
mações desejadas, pois, quando lemos um editori-
al, por exemplo, devemos ter consciência de que Gêneros na comunicação jornalística
estamos recebendo um ponto de vista da empresa
jornalística, o mesmo acontecendo com um artigo Jornalismo
ou uma crônica. Entretanto os jornais, além de
serem canais eficientes para transmissão de infor- - Gêneros informativos
mação, servem também como prestadores de ser- Nota, notícia, reportagem, entrevista, título e cha-
viços, como suportes para publicidade e propagan- mada.
da, entre outras utilidades; a fim de orientar os lei-
tores para essa multiplicidade de utilidade que os - Gêneros opinativos – (totalmente subjetivos,
órgãos de comunicação possuem, propor aqui um com opiniões de colaboradores e editores).
novo rearranjo para os gêneros jornalísticos. Editorial, comentário, artigo, resenha ou crítica,
coluna, carta, crônica.

Uma proposta de organização - Gêneros utilitários ou prestadores de servi-


ços – roteiro, obituário, indicadores, campanhas,
A classificação dos gêneros decorre das “ombudsman”, educacional (testes e apostilas).
necessidades e das exigências dos leitores e, ao
mesmo tempo, da organização e do desenvolvimen- - Gêneros ilustrativos ou visuais – engloba grá-
to das empresas jornalísticas (não esqueçamos que, ficos, tabelas, quadros demonstrativos , ilustra-
até bem pouco tempo, o jornalismo era considera- ções , caricatura e fotografia.
do um gênero literário). A nossa proposta de
mapeamento dos gêneros resulta, sobretudo, de um Propaganda
“diálogo” direto com a classificação feita pelo pro-
fessor Marques Melo. A primeira questão que deve - Comercial, institucional e legal.
ser analisada é a divisão de alguns autores na clas-
sificação dos gêneros, em informativos, opinati- Entretenimento
vos e interpretativos. Como já foi dito, considera-
mos aqui a objetividade jornalística como um mito. - Passatempos, jogos, história em quadrinhos, fo-
Então, a divisão baseada na reprodução do real (in- lhetins, palavras cruzadas, contos, poesia, chara-
formativo) e na leitura do real (opinativo), proposta das, horóscopo, dama, xadrez e novelas.

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A inclusão dos títulos e das chamadas como A fotografia, que o Jornal Folha de São Pau-
subgênero dos gêneros informativos, e da fotogra- lo já classifica como um gênero jornalístico, é um
fia como um componente dos gêneros visuais, que casamento perfeito da palavra e da imagem, onde
não constam nas classificações que serviram de a imagem, às vezes, fala mais do que a própria re-
subsídio para o nosso estudo, deveu-se, sobretu- portagem. É a fotografia um recorte da realidade
do, ao reconhecimento de sua grande importância oferecendo aos leitores a oportunidade de desen-
no jornalismo. Os títulos, por exemplo, falam por volver sua capacidade de interpretar uma imagem
si mesmos, despertando o interesse do público para visual que representa esse pedaço da realidade: “a
as matérias jornalísticas. Como sabemos, a maio- fotografia tem a capacidade de reproduzir com ta-
ria dos leitores se limita somente à leitura de títu- manha fidelidade o mundo exterior, uma capaci-
los, e são os títulos que vão motivar a lerem ou dade advinda de sua técnica, o que outorga a ela
não as notícias contidas nos jornais. As chamadas um caráter documental e a coloca como o mais
que definimos como um resumo da notícia, colo- exato e íntegro processo de registro da vida social”
cada na primeira página ou na capa de um cader- (Freunf, apud Pierre, 1999). Ou ainda:
no, com esclarecimento sobre a seção ou página
em que pode ser lida, têm o mesmo objetivo dos “A fotografia fornece provas (...). Uma fotografia
títulos, incentivando os leitores para a leitura das passa a ser uma prova incontroversa de que uma
notícias. Os títulos de primeira página destacam determinada coisa aconteceu (...) o que exigimos
primariamente à fotografia: que registre, diagnosti-
as notícias que foram consideradas pela empresa
que, informe (...). As imagens fotográficas são, de
jornalística como as mais importantes. Os títulos fato, capazes de usurpar a realidade, porque, antes
de mais nada, uma fotografia não é só uma ima-
“Representam manifestações constantes do traba- gem (no sentido em que a pintura é uma imagem),
lho plástico da linguagem no mundo moderno. O uma interpretação do real; é também uma marca,
arranjo gráfico do jornal associa-se, aliás, à disposi- um rastro direto do real, como uma pegada ou
ção fonética, sintática e semântica das formas lin- uma máscara mortuária. Enquanto uma pintura,
güísticas para constituírem em conjunto uma ma- ainda que conforme aos padrões fotográficos da
nifestação particularmente complexa, ao mesmo semelhança, nunca é mais do que a afirmação de
tempo estética e estratégica, assegurando uma uma interpretação, uma fotografia nunca é menos
multiciplidade de funções comunicacionais, nome- do que o registro de uma emanação (ondas de luz
adamente poéticas, fáticas, referenciais, apelativas refletidas pelos objetos), um vestígio material da-
e metalinguísticas. Os títulos de imprensa recor- quilo que foi fotografado e que é inacessível a qual-
rem, no entanto, tanto à plasticidade verbal como à quer pintura”. (Sontag, apud Santaella, 1999: 122).
plasticidade gráfica. É, alias, através do grafismo
que a retórica discursiva se abre a recursos
semióticos extralinguísticos, com particular relevo
A transferência da caricatura, da qual a
para a imagética. Dos recursos da imagética, os charge faz parte, do gênero opinativo para o gêne-
títulos utilizam, sobretudo, o material fotográfico, a ro ilustrativo deve-se ao seguinte: a caricatura,
disposição gráfica da mancha da página, o como sendo uma representação gráfica, ocupava o
cromatismo, a disposição dos grafemas, o design lugar que ocupa hoje a fotografia (antes da inven-
topográfico da paginação. É por isso uma prática ção dessa linguagem), com desenhos mostrando a
semiótica que sintetiza de modo particularmente realidade abordada pelas matérias jornalísticas da
original todos estes domínios, conferindo ao seu
estudo uma extrema complexidade...Os títulos de
época. A caricatura, normalmente, apresenta uma
imprensa, graças ao próprio processo de figuração, imagem em forma satírica ou humorística e não
constituem um verdadeiro texto dentro do texto. depende de texto para explicação, e a atualidade é
Fazem ao mesmo tempo ver e esconder o texto a fonte de inspiração dos seus produtores. Entre-
para que dirigem o olhar do leitor. São uma espécie tanto, nem tudo que sai nas caricaturas tem o efei-
de véu transparente, mostram o que escondem to de opinar, por isso não as consideramos um gê-
como escondem aquilo que dão a ver” ( Rodrigues, nero opinativo: «muitas vezes ela perde essa fun-
1997).
ção destruidora (crítica e sátira social e política),

Universidade Católica de Pernambuco - 52


Revista SymposiuM

para servir como instrumento de promoção de per- turais de cada sociedade. Realizar uma classifica-
sonagens desconhecidas do público, cujo objetivo ção universal é praticamente uma tarefa impossí-
é tornar rápida a sua popularização. É o caso de vel, uma vez que eles estão sempre em mudança,
muitos artistas e políticos iniciantes que se tornam em transformação. O que pode ser um gênero hoje
conhecidos através dos traços satíricos utilizados amanhã não será mais ou o que pode ser um gêne-
pelos caricaturistas” (SILVA, 1992, p. 9). ro em um determinado país não é em uma outra
sociedade. Gêneros aparecem, mudam e desapa-
Outro ponto que temos que explicar é a recem, conforme o desenvolvimento tecnológico
inclusão do folhetim na categoria de subgênero do e cultural de cada nação e da empresa jornalística.
gênero do entretenimento. Os folhetins, apesar de O que é politicamente correto é adaptá-los da
não serem muito comuns nos dias de hoje, em nossa melhor forma para suprir as necessidades dos lei-
mídia, já foram muito utilizados. Os folhetins são tores e dos profissionais de imprensa.
capítulos, fragmentos de romance ou de novelas,
que são publicados diariamente nos jornais, com o O cientista Boris Tomashevsky (apud
objetivo de manter o interesse do leitor pelo veí- Chandler, 1997) afirmou que nenhuma classifi-
culo de comunicação. Já a campanha incluímos cação lógica de gêneros é possível. A demarca-
como um formato dos gêneros prestadores de ser- ção deles é sempre histórica, quer dizer, só está
viços, que é um conjunto de ações cujo objetivo é correto para um momento específico da história
beneficiar a população no esclarecimento ou na e eles precisam ser estudados como um fenôme-
prevenção de um determinado assunto. Por Exem- no histórico. A nossa classificação é mais uma
plo, o Jornal da Tarde, de São Paulo, durante as in- forma de pensamento; acreditamos que contri-
vestigações dos vereadores acusados de corrupção bua para mais uma etapa nos estudos dos gêne-
na Câmara Municipal, realizou uma campanha ros no jornalismo impresso, uma vez que o pro-
intitulada: “eu tenho vergonha dos vereadores cor- fessor Marques Melo afirmou que enfrentar essa
ruptos de São Paulo”. questão representa o maior dilema dos que se
dedicam a estudar o jornalismo nas universida-
Incluímos também, como um subgênero des brasileiras. Também acreditamos que nenhum
dos gêneros prestadores de serviços, apostilas e trabalho é definitivo e fechado sobre um deter-
testes que têm o objetivo de prestar um serviço à minado assunto, e as conclusões dependem da
sociedade, uma vez que são os estudantes e interpretação e do repertório de vida de cada
prestadores de concursos os maiores interessados pessoa e do seu engajamento na sociedade em
nesses materiais. Outro ponto também foi a exclu- que está inserida. Também não podemos esque-
são dos gêneros interpretativos, acreditamos que a cer que o conhecimento é um processo
análise, o perfil, a enquete e a cronologia são com- evolutivo, que está sempre em mutação.
ponentes, ou melhor, são complementos de uma
boa reportagem. As propagandas, nós não as divi- Nas discussões sobre gêneros jornalísticos,
dimos como fazem alguns grupos de estudo. Em o que mais importa é que eles sirvam de estilos de
se tratando de propagandas, elas carregam, direta organização para os profissionais da mídia, com o
ou indiretamente, uma grande carga ideológica. dever de informar os seus leitores de uma forma
mais neutra possível, visando à construção de uma
sociedade justa e transparente, seja opinando, di-
Conclusão: retomando os pressupostos vertindo, orientando, criticando, esclarecendo ou
de outra forma qualquer. O que importa é que o
Como vimos, os gêneros jornalísticos são jornalismo cumpra com a sua função social, ou seja,
determinados pelo modo de produção dos meios deve estar a serviço da sociedade, e não de grupos
de comunicação de massa e por manifestações cul- econômicos, sociais ou religiosos.

Ano 5 • nº 1 • janeiro-junho 2001 - 53


Ciências, Humanidades e Letras

Pequeno glossário Editorial – texto que expressa a opinião oficial do


jornal sobre os acontecimentos de maior repercus-
Análise – explora diversos aspectos de fatos rele- são no momento.
vantes e recentes, seus antecedentes e conse-
qüências. É sempre assinado. Encartes – são aquelas propagandas que cobrem
toda a página dos jornais ou está em anexo, tendo
Artigo – traz interpretações ou opiniões de pesso- mais destaques do que os demais anúncios.
as que não precisam ser necessariamente jornalis-
tas. É sempre assinado. Enquete – pesquisa de opinião onde são ouvidas
várias pessoas sobre um determinado assunto.
Avulsas – realizados pelas agências de publicida-
de e propaganda. Entrevista – permite ao leitor conhecer opiniões
e idéias das pessoas envolvidas no ocorrido ou em
Calhau – propaganda da própria empresa um determinado assunto
jornalística para preencher um espaço vazio no jor-
nal. Indicador – informações úteis sobre órgãos go-
vernamentais, empresas, instituições, países ou
Caricatura – imagem de opinião em forma satíri- sobre determinado assunto especializado, como
ca ou humorística, por meio da qual a opinião se mercado econômico: ações, dólar, fundos.
manifesta de forma explícita.
Nota – relato de um acontecimento.
Carta ou coluna do leitor – é um recurso em que
o leitor pode expressar seus pontos de vista e opi- Notícia – puro registro dos fatos, mas sem entre-
niões. vistados.

Chamadas – resumo da notícia colocado na pri- Obituário – informações sobre óbitos registrados
meira página ou na capa de um caderno, com es- pelos cartórios especializados, publicados em co-
clarecimentos sobre a seção ou página em que pode lunas específicas.
ser lida.
Ombudsman – profissional pago pela empresa
Classificados – anúncios realizados pelo cidadão para representar os interesses dos seus leitores.
comum.
Perfil – tipo de biografia sobre um dos persona-
Coluna – espaço no jornal onde uma pessoa es- gens da reportagem.
creve regularmente.
Reportagem – relato ampliado de um aconteci-
Comentário – pequeno artigo interpretativo de um mento. O jornalista vai ao local para apurar os
fato. fatos.

Crônica – tem como característica tratar de as- Resenha ou crítica – apreciação de um trabalho
suntos cotidianos de maneira mais literária. É sem- intelectual ou de um desempenho artístico com o
pre assinada. objetivo de orientar o público leitor.

Cronologia – trata-se de rememorar os eventos Roteiro – informações de “shows”, espetáculos,


passados que dispensa o texto. televisão e cinema.

Universidade Católica de Pernambuco - 54


Revista SymposiuM

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