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Srimad Bhagavad Gita

Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja


Com comentários

Bhavanuvada de Srila Visvanatha Cakravarti Thakur, a jóia


cristalina entre os mestres espirituais e guardião da Sri Gaudiya Sampradaya
&

Prakasika-Vrtti de Srila Bhaktivedanta Narayana Goswami


Maharaja, o melhor entre os Tridandi Sanyassis

Dedicado á

Sri Gurupadapadma
Sri Gaudiya Vedanta Acarya Kesari
Nitya Lila Pravista
Om Visnupada Astottarasata
Sri Srimad Srila
Bhakti Prajnana Keshava Goswami Maharaja

O melhor da décima geração


Do Parampara de Sri Krsna
Caitanya Mahaprabhu
Sri Caitanya Mahaprabhu e associados

Antes de mais nada, devemos saber pelo menos um pouco sobre


estes devotos Maha Bhagavatas (devotos puros quem são os
comentaristas desta edição do Gita) que misericordiosamente nos
iluminam com as puras e profundas explicações dos preciosos
versos da Gita.

Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja é um


devoto Rasika (aquele que está sempre saboreando a doçura do
serviço devocional), vem servindo a Gaudiya Sampradaya por
mais de sessenta anos ininterruptos, e trabalhou incansavelmente
para que leitores sinceros de todo o mundo pudéssem compreender
os profundos significados dos versos do Gita. Srila Bhaktivedanta
Narayana Maharaja foi o idealizador deste projeto literário que
complementa o extraordinário trabalho deixado por Bhaktivedanta
Swami Maharaja (Prabhupada). Ele dedica esta edição ao seu
amado Mestre Espiritual Nitya Lila Pravista Om Visnupad Sri
Srimad Srila Bhakti Prajnana Kesava Goswami Maharaja, (o mais
querido diiscípulo de Jagad Guru Bhaktisiddhanta Sarasvati
Thakur e sanyassa Guru de sua Divina Graça Bhaktivedanta
Swami Maharaja (Srila Prabhupada – foto abaixo).

Sri Srimad Srila Visvanatha Cakravarti Thakura é um Acarya


renomado na nossa Sampradaya, Visvanatha quer dizer O Senhor
do Universo, e " Cakravarti " significa rodiado em circulo, pois ele
era sempre ouvido por devotos puros , que sentavam ao seu redor
afim de aprender o caminho da devoção pura, e as conclusões
filosóficas perfeitas. Ele é o principal seguidor de Srila Rupa
Goswamipad e seus comentários são cheios de rasa.

Assim rendo-me milhões e milhões de vezes aos pés de lótus


destes dois Vaishnavas, implorando pela sua misericórdia. Peço
licença e inspiração também, ao presidente da Gaudiya Vedanta
Samiti - Nitya Lila Pravista Om Visnupada Sri Srimad Srila
Bhaktivedanta Vamana Goswami Maharaja, quem é um oceano
de misericórdia e doçura, e á meu amado Sri Guru Paramaradyatta
Gurupadpadma Sri Srimad Srila Bhaktivedanta Narayana
Goswami Maharaja , o melhor da décima primeira geração do
Gaudiya Vaishnava Parampara e quem editou este extraordinário
Bhagavad Gita, enriquecendo-o com seus maravilhosos
comentários.
Observações:

Srila Bhaktivinoda Thakura diz que embora Bhagavan Sri Krishna


tenha dado instruções á Arjuna, na verdade estas instruções foram
dadas para a liberação do mundo inteiro. Todas as conclusões da
Gita levam o leitor ao objetivo final que é bhakti.
A palavra brahma usada na Gita pode significar Bhagavan Sri
Krishna, ou o seu aspecto impesssoal (ou seja, o brilho corpóreo
que emana do corpo de Sri Krishna), mas Brahma indica o semi-
deus Brahma (o primeiro ser criado).

Esta tradução tem como objetivo apresentar da maneira mais simples


possível, os profundos comentários dos Acaryas dados nesta edição,
tornando-os assim mais acessíveis aos leitores brasileiros. Perdoem qualquer
erro que eu tenha cometido na tradução e digitação e por favor aceitem sua
essência com o objetivo de realização transcendental.

B.V. Narayan Goswami Sevaka

Baladeva Das Brahmacari - Keshavaji Gaudiya Math (B.H) – 2009

http://sociedadeinternacionaldebhaktiyoga.blogspot.com/
Resumo dos dezoito capítulos da Gita por Sri Srimad Srila
Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja

Capítulo 1- Sainya – Darsana:

Observando os exércitos ...................................

O Bhagavad Gita se compõe de dezoito capítulos cuja


conclusão é bhakti. Arjuna atuou no campo de batalha como
se estivesse imerso na lamentação e Krsna lhe explicou então
que atma-dharma da entidade viva não tem relação alguma
com o dharma do corpo, dinastia ou casta. A entidade viva é
forçada á sofrer as misériasda lamentação, ilusão e do temor
enquanto permanecer cativa de maya e considerar que o
corpo é o próprio ser. Por tanto, é indispensável que aceite o
refúgio de um guru genuíno(tattva-vit guru).

Capítulo 2 - Sankhya Yoga

O princípio das análises.........................................

A jiva percebe sua ignorância quando aceita o refúgio de um


sad-guru e então trata de libertar-se das garras ilusórias de
maya, abandonando seus pensamentos independentes e
respeitando as instruções de Sri Gurudeva. O sad-guru está
livre dos quatro defeitos – ilusão, propenssão á cometer
erros, sentidos imperfeitos e a tendência á enganar-se –
porque é uma um tattva – darsi ekantika - prema - bhakta. O
sadhaka compreende a diferença entre a alma e o corpo
material quando escuta as instruções da boca de lótus de seu
misericordioso Gurudeva. Também compreende os efeitos
degradantes do desfrute sensual e desenvolve apego por
escutar acerca dos pensamentos, características e glórias dos
sthita – prajna - munis. Logo, pela influência de sadhu-sanga,
desperta em seu coração a consciência da necessidade de se
obter tattva – jnana.

Capítulo 3 – Karma Yoga

O princípio da ação..................................................

A jiva compreende que karma-yoga consiste nos esfórços


executados sem um desejo egoísta(niskama bhava) para o
serviço de Bhagavan quando escuta as instruções dadas por
Sri Krsna. Se seu coração está cheio de desejos de desfrute
sensual, então a aceitação do hábito de sannyasi não é
verdadeira renúnçia, senão que uma hipocrisia que jamais
pode atrair auspiciosidade.
A jiva deve executar seu karma como um serviço á Sri
Bhagavan porque a realização de karma para o desfrute
sensual não produz nenhum resultado favorável. A execução
de karma, como os yajnas védicos por exemplo, pode
outorgar prazer sensual mundano, mas este prazer é
temporário e está mesclado com infelicidade. Mesmo assim,
karma yoga purifica o coração. Por tanto, é favorável
abandonar todo tipo de akarma, vikarma e sakama karma e
adotar unicamente o niskama-karma-yoga oferecido á
Bhagavan.

Capítulo 4 – Jnana Yoga


O conhecimento transcendental .............................

O capítulo quatro começa com instruções sobre jnana-yoga.


Primeiro explica que uma pessoa só pode obter tattva-jnana
genuíno através da misericórdia de Sri Gurudeva, quem é um
tattva-darsi. Esta misericórdia se manifesta através do
proçesso de escutar de uma sucessão discipular fidedigna.
Não se pode obter bhagavat tattva-jnana mediante o
aprendizado mundano, inteligência ou conhecimento. Este
capítulo explica também que em cada yuga aparece um
avatara de Bhagavan. O nascimento e as atividades de
Bhagavan são divinos ; é tolice e ofensivo pensar que são
mundanos. Uma pessoa obtem tattva-jnana na associação de
um tattva darsi guru, escutando gradualmente dele acerca das
características de jnana-yoga e sua superioridade sobre
karma-yoga. Ela pode cruzar fácilmente o oceano de
nascimentos e mortes ao refugiar-se no tattva-jnana
verdadeiro. O sadhaka não pode progredir se tem dúvidas
sobre isto ; se carece de tattva-jnana ele se desviará do
caminho, cairá e ficará novamente enredado no ciclo de
karma.

Capítulo 5 – Karma-Sannyasa Yoga

Renúncia á ação ....................................................

O sadhaka obtém a qualificação para o karma sannyasa-yoga


quando obtém tattva-jnana. Meste momento compreende que
o verdadeiro sannyasa significa abandonar o apego pela ação
e seus frutos. Para alguém cujo coração é ainda impuro, é
benéfico e apropriado adotar o karma-yoga sem apegar-se ao
processo e seus frutos, ao invés de renunciar completamente
o karma. O niskama-karma-yoga oferecido á Bhagavan
concede a qualificação para se obter a natureza do brahma ou
brahmapada. Quem conhece o brahma obtém paz.

Capítulo 6 – Dhyana Yoga

O princípio da meditação .........................................

O sadhaka compreende á partir das instruções do tattva-vid


guru que só se pode meditar em Bhagavan quando o coração
está purificado. Um yogi ou sannyasi está livre de todo tipo
de desejos materiais, pois ninguém pode alcançar a perfeição
no yoga enquanto possui desejos de desfrute material. Uma
pessoa que deseja alcançar a perfeição no yoga deve regular a
ingestão de alimentos e atividades reáçionárias. Esta
perfeição significa: 1- perceber Sri Bhagavan como
Antaryami (superalma) no coração de todas as entidades
vivas, e 2- compreender que todas as jivas existem apenas
devido ao sustento e refúgio de Bhagavan. Este capítulo
também declara que um bhakta é superior ao karmi, jnani ou
yogi.

Capítulo 7 – Vijnana –Yoga

A compreenssão do conhecimento transcendental

O estudo constante destas instruções conduz á firme


compreenssão e percepção de que Bhagavan Sri Krsna é o
limite do para-tattva, A Realidade Absoluta Suprema e que
além dele, não há outro parama -tattva. Uma pessoa pode
liberar-se de maya apenas através da rendição exclusiva á
seus pés de lótus. Há quatro tipos de pessoas que carecem de
qualificação para dedicar-se ao Bhagavat bhajana porque
executam atividades impiedosas. Estes são: os tolos, os
deploráveis, os que possuem natureza demoníaca e os que
possuem um conhecimento coberto por maya. Ao contrário,
há quatro classes de pessoas dotadas de créditos piedosos
(sukrti) que podem se dedicar á bhagavat-bhajana: os aflitos,
os que buscam por fortuna, os questionadores e os jnanis. Os
bhaktas de Bhagavan são difíçeis de ser encontrados neste
mundo. Não se pode obter o benefício eterno através da
adoração dos diversos semi-deuses(deva e devis).

Capítulo 8 – Taraka Brahma Yoga

Yoga com Parambrahma .....................................

Apenas os ekantikas bhaktas de Sri Krsna podem conhecer


tattvas tais como o brahma-tattva, karma-tattva e adhibhuta-
tattva, entre outros. Estes ekantika bhaktas podem alcançar
Krsna muito facilmente. Os bhaktas de Bhagavan jamais
nasce de novo. Bhagavan pode ser alcançado apenas
mediante ananya bhakti(Gita 8.22).

Capítulo 9 – Raja - guhya Yoga

O conhecimento mais confidêncial .........................

O raja-vidya ou raja-guhya se refere unicamente –a suddha-


bhakti-yoga. A prakrti, a natureza material, não é a causa
original da criação cósmica, pois só obtém a potência para
criar pela inspiração de Bhagavan. È tolo e ofensivo pensar
que Bhagavan Sri Krsna é um ser humano ou que seu corpo
sac-cit-ananda está composto pelos cinco elementos materiais
igual aos corpos das almas condicionadas ordinárias ou
baddha-jivas. Os mahatmas genuínos se dedicam ao bhajana
de Sri Krsna com sentimentos devocionais exclusivos ou
ananya bhava e Sri Krsna atende pessoalmente suas
necessidades. A dedicaçãoi ao bhajana aos diversos devatas é
contrária ás regras prescritas, pois Krsna é o único
desfrutador e amo de todos os sacrifícios. Sri Bhagavan
aceita tudo que seus suddha bhaktas lhe oferecemcom amor.
O último verso deste capítulo, “man mana bhava mad-
bhakto”, se concluique bhakti é o único meio para alcançar o
Senhor Supremo.

Capítulo 10 – Vibhuti Yoga

A apreciação das opulências de Sri Bhagavan ......

Uma pessoa pode entender que Krsna é o fundamento de


todas as vibhutis e saktis (energias), através do estudo sincero
e constante deste capítulo. Também entende que todo
universo material, junto com suas opulências, constituem
apenas um quarto de sua grandeza. Ela pode compreender
facilmente que tudo está direta ou inderatamente conectado á
Bhagavan Sri Krsna quando obtém este conhecimento sobre
os vibhutis. Bhagavan outorga buddhi-yoga á seus bhaktas
para que possam entender o tattva-jnana. Assim, sua
ignorância é destruída e eles se dedicam á bhagavat bhajan
com amor.

Capítulo 11 – Visvarupa darsana yoga

A contemplação da forma universal do Senhor .......

Este capítulo revela que a visvarupa de Bhagavan é ilusória


enquanto que a svarupa é transcendentale similar á humana.
Apenas os bhaktas cujos olhos estão untados com prema
podem obter o darsana(visão) da sua forma rasika sekhara.
Bhagavan é alcançado apenas mediante ananya bhakti yoga.

Capítulo 12 – Bhakti Yoga

O serviço devocional puro ......................................


Este capítulo explica que Svayam Bhagavan Sri Krsna é a
Realidade Suprema e o objeto supremo de adoração exclusiva
da jiva. Os bhaktas dotados com ekantika bhakti são muito
queridos por Ele. Pode-se alcançar Bhagavan facilmente
aquele que pratica suddha bhakti, mas os nirvisesa
brahmavadis só enfrentam misérias.

Capítulo 13 – Prakrti-Purusa-Vibhaga Yoga

A diferença entre a natureza material e o desfrutador.

Este capítulo oferece uma profunda compreensão da natureza


material e da entidade viva. Através desta discussão,
Bhagavan outorga tattva-jnana á seus bhaktas rendidos e os
libera do oceano do mundo material.

Capítulo 14 – Guna-traya-Vibhaga Yoga

Os trê modos da natureza material

Um estudo analítico deste capítulo conduz á compreensaõ de


que este mundo material desenvolve-se simplesmente pela
ação e interação dos três gunas materiais: sattva, rajas e
tamas. Os sadhakas que executam bhakti-yoga podem
transcender estes três gunas com facilidade e finalmente
obtém a qualificação para alcançar Bhagavan.

Capítulo 15 – Purusottama Yoga

A compreensão da Pessoa Suprema .....................

Este mundo material se extende desde os sistemas planetários


inferiores até os superiores e as jivas são partes separadas ou
amsas de Bhagavan. Aquieles que se opõem á Bhagavan são
atados por seu karma e perambulam por diversas espécies de
vida, inferiores e superiores. Uma pessoa pode receber a
misericórdia de um Guru genuíno como resultado da sua boa
fortuna e dedicar-se por completo ao bhajana de Sri Krsna.

Capítulo 16 – Daivasura Sampada Yoga

As qualidades divinas e demôniacas .....................

Este capítulo explica as naturezas divina e demoníaca. A jiva


confundida por maya é controlada pela natureza divina ou
demoniaca. Ela inclina-se á bhagavat-bhajana quando se
refugia na natureza divina, mas quando adota a natureza
demoníaca ela se opõe á Bhagavan e assim vai ao inferno.
Aqueles que possuem esta natureza pregam a filosofia
mayavada. Portanto é necessário liberar-se desta tendência
mediante á execução de bhagavat-bhajana na associação dos
suddha bhaktas.

Capítulo 17 – Sraddha-Traya-Vibhaga Yoga

Os três tipos de fé .........................................

Este capítulo explica os três tipos de fé. Uma pessoa


desenvolve fé em sattva, rajo ou tamo de acordo com sua
ssociação e natureza que adquiriu de seus samskaras prévios.
A nirguna sraddha aparece no coração da jiva quando se
associa com suddha bhaktas de Hari; assim ela dedica-se ao
bhajana de Bhagavan, quem é nirguna. Estes bhaktas são
verdadeiros sadhus.

Capítulo 18 – Moksa Yoga


O princípio da liberação ........................................

Este capítulo explica a essencia da Gita. Primeiro, Sri


Krishna é identificado como o bhagavat-tattva supremo e
logo imparte esta instrução confidencial. Aqui se explica que
o rasamayi seva á Sri Krsna em sua morada suprema é
alcançado através da seguinte sequência:

1- Rendição á ele
2- Praticar os nove processoa de bhakti
3- Refugio em bhava-bhakti

Conteúdo

Capítulo Um – Observando os exércitos


Capítulo Dois – Sankhya Yoga
Capítulo Tres – Karma Yoga
Capítulo Quatro – Jnana Yoga
Cápitulo Cinco – Karma Sannyasa Yoga
Capítulo Seis – Dhyana Yoga
Capítulo Sete – Vijnana Yoga
Capítulo Oito – Taraka Brahma Yoga
Capítulo Nove – Raja Guhya Yoga
Capítulo Dez – Vibhuti Yoga
Capítulo Onze – Visvarupa Darsana Yoga
Capítulo Doze – Bhakti Yoga
Capítulo Treze – Prakrti-Purusa-Vibhaga Yoga
Capítulo Quatorze – Guna Traya Vibhaga Yoga
Capítulo Quinze – Purusottama Yoga
Capítulo Dezeseis – Daivasura Sampada Yoga
Capítulo Dezesete – Sradha Traya Vibhaga Yoga
Capítulo Dezoito – Moksa Yoga.

Radha e Krishna
Seva Kunja (por Syamarani Devi Dasi)
Sanjaya narrando a batalha ao Rei Drhtarastra

Capítulo 1
Observando os exércitos
Sloka 1

Dhrtarastra uvaca
Dharma ksetre kuruksetre
Samaveta yuyutsavah
Mamakah pandavas caiva
Kim akuvarta sanjaya

Dhrtarastra disse: Oh! Sanjaya, depois de se reunirem em


Kuruksetra, a terra da religião, com o desejo de lutar, o que
fizeram meus filhos e os filhos de Pandu?

Comentário Bhavanuvada de Srila Visvanatha Cakravarti


Thakura

A Suprema Verdade Absoluta, parabrahma Sri Krisna, cujos


pés de lótus são o objetivo de toda adoração e de todos os
sastras, apareceu em sua forma original, similar á humana,
como Sri Vasudeva nandana, o filho de Sri Vasudeva em Sri
Gopala Puri, mesmo sendo Adhoksaja, supramamente
inconcebível , se fez visível aos olhos dos homens ordinários
por meio de sua potencia chamada Yoga Maya. Ele ensinou á
partir das instruções do Bhagavad Gita visando liberar as
entidades vivas deste mundo que estavam se afogando no
oceano de nascimentos e mortes. Ele as submergiu no grande
oceano de prema (amor puro) ao dár-lhes saundarya-
madhurya, um gosto pela doçura de sua beleza e outras
qualidades. Apareceu neste mundo ao sentir-se obrigado por
sua promessa de proteger as pessoas santas e aniquilar as
demoniacas. Sem hesitar com o pretexto de eliminar a carga
da terra, concedeu a proteção suprema na forma da liberação
aos infiéis e á todos que eram antagonicos e que se afogavam
no vasto oceano da existencia material, a qual é comparada
com o planeta infernal onde as pessoas pecaminosas são
queimadas em azeite fervente.
Bhagavan Sri Krsna instruiu o Bhagavad Gita para que
mesmo depois de seu desaparecimento, pudesse liberar as
almas condicionadas que desde tempos imemoriais se
encontram sob a influençia da ignorancia e estão
completamente sujeitas á lamentação, ilusão e outros
sofrimentos. Outro propósito foi ressaltar suas glórias
mencionadas nos sastras e cantadas pelos sábios. Ele ensinou
o Bhagavad Gita á seu muito querido associado Arjuna, quem
voluntariamente havia aceitado o sentimento de lamentação e
ilusão.
O Gita se compõe de três divisões: Karma yoga, Jnana yoga e
Bhakti Yoga. Os dezoito capítulos do Bhagavad Gita estão
infundidos com o significado dos vedas manifestos em
dezoito tipos de conhecimento. Desta maneira, Sri Krsna
revelou o objetivo supremo. Nos primeiros seis capítulos
descreve-se o niskama karma yoga, a execução dos deveres
prescritos sem apego por seus frutos. O jnana yoga ou yoga
através do conhecimento, é descrito nos últimos seis
capítulos. Os seis capítulos sobre Bhakti yoga que é mais
confidencial e mais difícil de alcançar foram guardados no
meio dos outros capítulos. Bhakti yoga é a vida de karma e
jnana yoga pois sem bhakti estas são infrutíferas. Assim elas
só são aceitáveis quando se mesclam com Bhakti.
Bhakti é de dois tipos: Kevala ou exclusivo, e Pradhani
bhuta, que é a mescla com predomínio de bhakti. Kevala
bhakti, é a melhor por ser indepedente e supremamente
poderosa e não necessitar de nenhum vestígio de karma ou
jnana yoga. Por outro lado, Pradhana bhuta bhakti está
mesclado com karma e jnana, e será tratada com maior
profundidade mais adiante. Para explicar a natureza da
lamentação e ilusão de Arjuna o narrador do Mahabharata,
Sri Vaisampayana, um discípulo de Vyasadeva, relatou a
seção do Bhisma parva á seu ouvinte Janamejaya, começando
com o verso Dhrtarastra uvaca. Dhrtarastra perguntou á
Sanjaya. Ó Sanjaya, sentindo desejo de lutar, o que fizeram
meus filhos e os filhos de Pandu, reunidos em Kuruksetra?
Aqui poderia surgir uma pergunta: Dhrtarastra já havia
mencionado que seus filhos e os filhos de Pandu haviam se
reunidos com o único propósito de lutar, logo sem dúvida
iam lutar. Por que então a intenção de perguntar: Que fizeram
eles?. Em resposta Dhrtarastra usou a palavra dharma ksetre,
terra da religião. No sruti está dito: Kuruksetram deva
yajanam: Kuruksetra é a arena de sacrifício dos semideuses:
Então esta terra é famosa como aquela que nutre o Dharma.
Por influencia da associação com esta terra a ira das pessoas
irreligiosas como Duryodhana pode ser apaziguada e deste
modo, poderiam inclinar-se ao Dharma. Os pandavas são
religiosos por natureza, então a influencia de Kuruksetra
poderia despertar neles o discernimento de compreender a
impropriedade de aniquilar seus próprios parentes e deste
modo ambos poderiam buscar um acordo pacífico.
Externamente Dhrtarastra finge que seria feliz com um
acordo pacífico , mas internamente sentia uma grande
insatisfação. Ele pensava que se houvesse um acordo , os
Pandavas ainda seriam um impedimento para seus filhos.
Dhrtarastra pensava: Os guerreiros de meu grupo, tais como
Bhisma e Drona , não podem ser vencidos nem sequer por
Arjuna, então como nossa vitória é certa, será proveitoso
lutar.
Aquí, graças ao componete Ksetra na palavra Dharma ksetre,
Sarasvati-Devi faz a seguinte menção á palavra Dharma.
Yudhistira, a encarnação do Dharma, junto com seus
associados são como plantas de arroz, e seu sustentador
Bhagavan é como o agricultor. Os diversos tipos de
assistencia prestados por Krsna aos Pandavas podem ser
comparados a regar o cultivo e arar o campo. Os Kauravas
encabeçados por Duryodhana são como os vermes que
crescem no campo de arroz. Isto indica que assim como um
mal é arrancado pela raíz nos campos de arroz, Duryodhana e
os outros Kauravas seriam aniquililados e arrancados de
dharma ksetra, a terra da religião.

Prakasika Vrtti

O comentário que ilumina o dilúvio de significados


essenciais

Por Sri Srimad Srila Bhaktivedanta Narayana Maharaja

Ofereço minhas reverencias aos pés de lótus de Om


Visnupada Astottarasata Sri Srimad Bhakti-Prajnana Kesava
Goswami Maharaja, que é muito querido por Krsna. Ele é
uma personalidade completamente divina que sustenta com
grande afeto quem se refugia nele. Aflito ao ver o sofrimento
das pessoas que são aversas á Krsna, ele lhes outorga o Sri
nama saturado de prema.
O Srimad Bhagavad Gita é a essencia de todos os
Upanisads, Srutis e Puranas. Baseado na firme evidençia da
literatura védica, recebido através da suçessão discipular,
conclui-se que Vrajendra nandana Sri Krsna, o filho do rei de
Vraja é Svayam Bhagavan, a original Personalidade de Deus.
Ele é a personificação de todas as doçuras néctareas , o
onipotente e a realidade absoluta onipotente não dual. Entre
suas ilimitadas potências, três delas são proeminentes: a
potência interna (svarupa sakti), a potência marginal (tatastha
sakti) e a potência material externa(maya sakti). Pela vontade
de Bhagavan Sri Krsna, Vaikunta, Goloka e Vrndavana são
as transformações da potência interna. Todas as jivas são uma
transformação da sua potência marginal, e a criação material
é uma transformação da sua potência externa. As entidades
vivas (jivas) são de dois tipos: liberadas (mukta) e
condicionadas (baddha). As liberadas estão eternamente
ocupadas em saborear a doçura do serviço á Bhagavan em
Vaikuntha, Goloka e outras moradas transcendentais. Elas
são chamadas nitya mukta , eternamente liberadas, pois
nunca estão atadas á este mundo material, a prisão de maya.
As vezes pela vontade de Bhagavan , elas aparecem neste
mundo ilusório como seus associados com o único propósito
de beneficiar a humanidade. As entidades vivas do outro tipo
são chamadas de anadi baddha , ou condicionadas por maya
desde tempos imemoriais. Como resultado deste
condicionamento , a jiva sofre de três tipos de misérias
enquanto perambula no ciclo de nascimentos e mortes.
Bhagavan Sri Krsna, o oceano de compaixão , criou uma
aparente ilusão no coração de Arjuna , por meio de sua
potencia inconcebível(acintya sakti). Assim com o pretexto
de dissipar esta ilusão, ele falou este Bhagavad Gita com o
propósito de liberar as jivas das garras de maya. A conclusão
final do Bhagavad Gita é o serviço devocional supremamente
puro á Bhagavan. Somente por se refugiar neste serviço , tal
como se descreve no Gita , as jivas que estão sob a influência
de maya , conseguem se situar na sua posição constitucional
pura e assim oferecem serviço á Sri Krsna. Não há outra
alternativa para as jivas condicionadas. Baseando em
evidências concretas das escrituras , Srila Visvanatha
Cakravarti Thakura e outros proeminentes acaryas
vaishnavas, estabeleceram claramente que o orador do
Bhagavad Gita não carece de potências,não está desprovido
de variedade, não é sem forma , e não está desprovido de
qualidades transcendentais tais como misericórdia
transcendental. A jiva jamais é parambrahma, nem sequer no
estado liberado.
Esta percepção da diferença se denomina vaisistya, significa
especialidade ou característica distintiva única. Tal como o
sol e seus raios são simultaneamente iguais e diferentes por
ser possuídor dos atributos e atributos respectivamente, de
forma similar a relação entre paramesvara e a jiva sendo una
e ao mesmo tempo diferente está claramente demonstrada nos
Vedas. Esta relação de igualdade e diferença simultãnea está
além do nosso intelecto e só é compreensível com a ajuda dos
Vedas, por isso é chamada de acintya, ou inconcebível.
Assim o Bhagavad Gita trata da suprema realidade eterna
que é inconcebivelmente igual e diferente de suas potências.
Mesmo que karma yoga, jnana yoga e Bhakti yoga sejam
definidos como os três meios para alcançar a plataforma
espiritual, Bhakti Yoga é o único método para se alcançar
Bhagavan. A etapa preliminar de Bhakti yoga se denomina
karma yoga, a intermediária jnana yoga e no estágio maduro
se denomina Bhakti yoga. O conhecimento real do espírito
aparece quando o coração se purifica através de karma yoga
mesclado com bhakti, no qual se oferece o resultado das
atividades á Bhagavan, tal como se descreve nos Vedas.
Tanto jnana quanto karma são inúteis se carecem de Bhakti.
Com a aparição do conhecimento verdadeiro a devoção
exclusiva se manifesta no coração, e quando chega no estado
maduro, o amor puro aparece no coração da entidade viva.
Este tipo de amor é o único meio para alcançar e Ter uma
compreensão direta de Bhagavan. Este é o mistério oculto do
Bhagavad Gita. Ninguém pode obter a liberação através do
conhecimento do aspecto impessoal(brahman). Somente
quando o conhecimento está mesclado com devoção, pode-se
Ter mukti (liberação) na forma de salokya, sarupya, samipya
e sarsti, como um resultado intrísico. Mediante a execução de
devoção pura descrito no Bhagavad Gita, pode-se conseguir o
auspicioso serviço devocional saturado de amor divino para
com Bhagavan em sua morada suprema chamada Gokoka
Vrndavana. Quando se alcança esta morada não há a
possibilidade de voltar á este mundo material. Obter este
serviço é a meta última de toda entidade viva. A devoção é de
dois tipos: exclusiva e mesclada. A mesclada também é de
dois tipos:uma quando bhakti predomina sobre karma e jnana
e a outra quando bhakti predomina sobre jnana. Mediante a
execução de karma bhakti se purifica gradualmente o coração
e se desenvolve tattva jnana, enquanto que pela prática de
jnana bhakti se obtem mukti(liberação). Estes doi tipos visam
á obtenção final de Bhakti, porém sem Bhakti elas são
inúteis. Este Bhagavad Gita é comparado a uma pedra
filosofal, que é similar á um cofre, onde a tampa do cofre é
niskama karma yoga, a base é jnana yoga e o tesouro é
Bhakti. Religiosos e pessoas que possuem bom caráter são
qualificadas para estudar o Bhagavad Gita.

Dados sobre Arjuna: É um associado eterno de Bhagavan Sri


Krsna. É completamente impossível que ele caia em estados
como a lamentação e ilusão. Um associado eterno do senhor
não possui tais ilusões. Bhagavan Sri Krsna armou tudo isso
para o benefício das entidades vivas que estão atadas pela dor
e ilusão. Ele disse: “Eu os liberarei do oceano da existencia
material.”
Por sua própria vontade, Sri Krsna faz com que Arjuna se
iluda simplesmente para liberar as jivas que realmente se
encontram em lamentação e ilusão. Por meio de perguntas e
respostas ,ele define a sua natureza real,assim como da jiva, a
sua morada transcendental ,maya,bhakti e seus demais
aspectos.
Em seu comentário do verso "sarva dharman parityajya"
Srila Visvanatha Cakravarti Thakura explica que Krsna disse:
“Depois de converete-te em um instrumento, estou
difundindo esta mensagem para o benefício das jivas.”
Arjuna é um associado eterno do Senhor, portanto não há
sequer um vestígio de ilusão nele. Esta posição de Arjuna
pode ser comprovada em todos os Sastras.

Kuruksetra: Srila Vyasadeva se refere ao campo de batalha


de Kuruksetra como dharna ksetre; isto tem um significado
confidencial. De acordo com o Srimad Bhagavatam ,esta
terra se chama Kuruksetra em homenagem ao rei Kuru. No
Mahabharata encontramos a seguinte história: Uma vez
quando Kuru Maharaja estava arando esta terra, Indra
apreciou e lhe perguntou: Por que está fazendo isto? Kuru
Maharaja respondeu: Estou arando esta terra para que as
pessoas que morram aqui possam alcançar os planetas
celestiais. Ao escutar isto o senhor Indra retornou á seu
planeta. Então o rei voltou a arar a terra de novo com grande
entusiasmo. O senhor Indra vinha uma e outra vez para
ridicularizar o rei. Ainda que Indra sempre vinha
repetidamente agitar o Rei Kuru, este permanecia
impertubável e continuava seu trabalho. Finalmente pela
insistencia de outros semi deuses ,Indra lhe concedeu a
benção de que qualquer um que abandonasse o corpo ou
morresse em uma batalha nesta terra, alcançaria os planetas
celestiais. Por tal razão a terra conhecida como Kuruksetra
foi escolhida para a batalha.
A terra que se encontra entre os rios Sarasvati e Drsadvati é
conhecida como Kuruksetra. Neste lugar tambem realizaram
austeridades os grandes sábios Mudgala e Prthu Maharaja.
Sri Parasurama fez sacrifícios nesta terra em cinco diferentes
lugares depois de exterminar os Ksatriyas, por tanto era
conhecida préviamente como Samanta Pancaka. Depois
devido as atividades do rei Kuru se tornou famosa como
Kuruksetra.

Sanjaya: Sanjaya era o filho do condutor de quadrigas


chamado Gavalgama. Esperto nos sastras, generoso e
religioso. Devido á estas virtudes o grande avó Bhisma lhe
nomeou junto com Vidura, ministro real de Dhrtarastra.
Sanjaya que era considerado como um segundo Vidura, era
tambem um íntimo amigo de Arjuna. Pela misericórdia de
Srila Vyasadeva recebeu a visão divina pela qual podia ver a
batalha de Kuruksetra, ainda estando sentado longe, no
palácio de Hastinapura,e narrou todos os eventos da guerra á
Dhrtarastra. Maharaja Yudhisthira tambem descreve Sanjaya
como bem querente de todos, de doce oratória, de
temperamento pacífico, sempre satisfeito e imparcial. Se
encontrava estabelecido dentra dos limites da moralidade e
nunca se agitava pelo mau comportamento dos demais.
Neutro e livre de todo o temor ele só falava palavras que
estavam em harmonia com os princípios morais.

Sloka 2

Sanjaya uvaca
drstva tu pandavanikam
vyudham duryodhanas tada
acaryam upasangamya
raja vacanam abravit

Sanjaya disse: Ó rei! Imediatamente depois de examinar o


exército dos Pandavas alinhado em formação militar,
Duryodhana chegou perto de Dronacarya e falou-lhe as
seguintes palavras:

Bhavanuvada

Depois de compreender a intenção interna de


Dhrtarastra ,Sanjaya confirmou que definitivamente haveria
uma guerra. Mas sabendo que o resultado seria contrário á
perspectiva de Dhrtarastra, Sanjaya falou palavras como
drstva que significa"depois de ver". Aquí a palavra vyudham
se refere á formação estratégica do exército dos Pandavas.
Assim o rei Duryodhana que sentia medo em seu interior,
recitou nove versos, começando com a palavra pasyaitam no
verso 1.3.

Prakasika-vrtti
No momento da guerra do Mahabharata, além de ser cego de
nascimento, Dhrtarastra carecia tambem de visão, tanto moral
quanto espiritual. Por este motivo estava coberto de
lamentação e ilusão. Devido a influência de Kuruksetra, seu
filho Duryodhana podia Ter devolvido a metade do reino aos
Pandavas. Temendo isto ele se sentiu desconsolado. Sanjaya,
sendo muito religioso e tambem vidente ,podia perceber os
sentimentos internos de Dhrtarastra. Ele sabia que o resultado
da batalha não seria á favor de Dhrtarastra, mas ainda sim ele
ocultou esta informação de maneira muito inteligente, e
enquanto tranquilizava Dhrtarastra, Sanjaya disse:
“Duryodhana não está chegando á nenhum acordo com os
Pandavas, mas depois de ver a extrema força e disposição do
exército dos Pandavas, está aproximando-se de Dronacarya,
seu guru na ciencia militar, para informa-lhe sobre a situação
real.” Duryodhana tinha dois motivos para se aproximar de
Dronacarya: Por um lado ele se sentiu atemorizado ao ver a
poderosa formação do exército dos Pandavas; mas por outro,
com o pretexto de oferecer respeito á seu guru, queria exibir
sua habilidade política. Devido á sua experiencia na política,
estava sem dúvida qualificado em todos os aspectos para a
posição de rei. Este é o significado completo da declaração
"Sanjaya uvaca" Sanjaya disse.

Duryodhana: Duryodhana era o mais velho dos cem filhos


de Dhrtarastra e Gandhari. No momento do seu nascimento
houve vários fatores negativos que fizeram com que Vidura
temesse que ele seria a razão da destruição da dinastia
Kuru.De acordo com o Mahabharata, Duryodhana nasceu de
uma expansão de Kali. Ele era pecaminoso, cruel e uma
desgraça para a dinastia Kuru. Precisamente, em sua
cerimõnia de batismo, os sacerdotes e astrólogos eruditos,
vendo as indicações de seu futuro, lhe chamaram
Duryodhana. No final, com instruções de Krsna, Bhima o
matou.
O sabda ratnavali diz:
"Um vyuha é a formação de um esquadrão militar composta
por um bom rei, de tal maneira que se torna impossível a
penetração do exército inimigo em qualquer direção. Desta
forma o esquadrão se torna vitorioso na batalha."

Dronacarya: Dronacarya ensinou a ciência das armas tanto


aos filhos de Pandu quanto aos de Dhrtarastra. Ele era filho
do sábio Bharadvaja. Devido á que nasceu de um drona
(recipiente de madeira para água) se tornou famoso com o
nome de Drona. Além de ser um mestre na ciencia de armas,
tambem era conhecedor de todos os vedas.Depois de
satisfazer o grande sábio Parasurama, aprendeu com ele os
segredos da ciência da guerra e outras mais. Ninguém podia
matar-lo, pois recebeu a bendição de morrer no momento que
escolhesse. Logo depois de Ter sido insultado pelo rei
Drupada de Pancala, quem havia sido seu amigo de infancia,
Dronacarya foi a Hastinapura ganhar seu sustento.
Impressionado com as qualificações de Drona,o avô Bhisma
lhe designou como o acarya para instruir e treinar
Duryodhana, Yudhisthira e os demais príncipes. Arjuna era
seu discípulo mais querido. Na batalha de Kuruksetra,
Duryodhana lhe nomeou como o comandante chefe do seu
exército.

Sloka 3

Pasyaitam pandu-putranam
Acarya mahatim camum
Vyudham drupada-putrena
Tava sisyena dhimata

Oh! Acarya! Contempla este grande exército dos Pandavas,


disposto em falanges por teu inteligente discípulo
Drstadyumna, o filho de Drupada.
Bhavanuvada

Com estas palavras, Duryodhana insinua: "Drstadyumna, o


filho de Drupada,é realmante seu discípulo. Ele nasceu
somente para matar-te, e mesmo que tu soubesse, continuou a
dar-lhe treinamento militar, o que indica que sua inteligencia
é escassa."
Aqui, Duryodhana usou a palavra dhimata, que significa
inteligente, para referir-se á Drstadyumna . Isto tem um
significado profundo. Duryodhana queria que Dronacarya
compreendesse que ainda que Drstadyumna era seu próprio
inimigo, havia aprendido pessoalmente dele a arte de matar-
lo. Por tanto disse: "Agora observa sua grande inteligencia no
momento de obter os frutos de seu treinamento." Duryodhana
fez estes comentários diplomáticos só para provocar a ira de
seu mestre, Dronacarya.

Prakasika –vrtti

Drstadyumna: O rei de Pancala, Drupada, realizou um


sacrifício com o desejo de Ter um filho que pudesse matar
Dronacarya. Do fogo do sacrifício apareceu um menino que
vestia uma armadura e portava diversas armas. Neste
momento se escutou uma voz celestial que predisse que o
filho de Drupada mataria Drona. Os brahmanas chamaram o
menino heróico de Drstadyumna. Ele aprendeu o dhanur veda
de Drona, que era extremamente benevolente ,mesmo que
soubesse que um dia Drstadyumna o mataria. Assim, Drona
foi morto por seu próprio discípulo na guerra do
Mahabharata.

Sloka 4 – 6

Atra sura mahesvasa


Bhimarjuna – sama yudhi
Yuyudhano viratas ca
Drupadas ca maha – rathah

Dhrstaketus cekitanah
Kasirajas ca viryavan
Purujit kuntibhojas ca
Saibyas ca nara-pungavah

Yudhamanyus ca vikranta
Uttamaujas ca viryavan
Saubhadro draupadeyas ca
Sarva eva maha rathah

Neste exército há poderosos arqueiros iguais á Arjuna e


Bhima em combate, tais como Satyaki, o rei Virata, os
maharathi, Drupada e outros. Reunidos nesta batalha, estão
todos os maharathis como Dhrstaketu, Cekitana, o heróico
Kasiraja, Purujit, Kuntibhoja, os nara srestras como Saibya, o
melhor dos valentes, o vitorioso Yudhamanyu, o poderoso
Uttamauja, Abhimanyu e os filhos de Draupadi, encabeçados
por Pratibindhya.

Bhavanuvada

Aqui a palavra mahesvasah significa que todos estes grandes


guerreiros portavam arcos indestrutiveis pelo inimigo. A
palavra yuyudhana significa Satyaki. Saubhadrah é
Abhimanyu, e Draupadeyah indica os filhos dos cinco
Pandavas, encabeçados por Pratibindhya, quem nasceu de
Draupadi. As características de um maharati são descritas
aqui: em um grupo de grandes guerreiros expertos na astra
sastra , o que pode lutar com uma quantidade ilimitada de
guerreiros é conhecido como atirathi, aquele que pode lutar
contra dez mil guerreiros é chamado de maharathi, o que
pode lutar apenas com uma pessoa é conhecido como
yoddha, e o que necessita assistencia para vencer um único
inimigo se chama arddharathi.

Prakasika – vrtti

Yuyudhana : É outro nome do heróico Satyaki. Ele era um


servo muito querido de Sri Krsna, ele era extemamente
valente e um atirathi entre os comandantes em chefe do
exército Yadava. Ele aprendeu de Arjuna os segredos da
astra sastra. Na batalha do Mahabharata lutou ao lado dos
Pandavas.

Virata:Virata era um rei piedoso da terra de Matsya. Os


pandavas passaram um ano incógnitos sob sua proteção. Sua
filha Uttara se casou com Abhimanyu, o famoso filho de
Arjuna. Virata morreu na batalha do Mahabharata junto com
seus filhos Uttara, Sveta e Sankha.

Drupada: Drupada era filho do rei Prsata , o rei de


Pancala.Devido a que Maharaja Prsata e Maharsi Bharadvaja,
o pai de Drona, eram amigos, Drupada e Drona foram
tambem amigos desde sua infancia. Mais tarde quando
Drupada se tornou rei, Drona foi até ele para pedir ajuda
financeira, mas Drupada lhe insultou. Dronacarya não
perdoou esta ofensa. Quando Arjuna completou sua educação
na astra sastra, Drona o pediu que atacasse Drupada e
oferecesse á seus pés como doação á gurudev. Arjuna
cumpriu sua ordem. Dronacarya tomou a metade do reino de
Drupada, e logo o liberou. Para vingar este insulto, Drupada
realizou um sacrifício de cujo fogo apareceram Draupadi e
Drstadyumna.

Cekitana: Cekitana era um Yadava da dinastia Vrsni. Era


muito cortes, um Maharathi e um dos comandantes do
exército Pandava. Na batalha do Mahabharata morreu nas
mãos de Duryodhana.

Kasiraja: Kasiraja era o rei de Kasi. Ele nasceu de uma parte


do asura Dirghajihva. Era um valente e intrépido herói que
lutou ao lado dos Pandavas.

Purujit e Kuntibhoja: Eram irmãos de Kunti, a mãe dos


Pandavas.Dronacarya os matou na batalha de Kuruksetra.

Saibya: Saibya era o sogro de Maharaja Yudhisthira, já que


sua filha Devika se casou com este. Ele era um poderoso e
héróico guerreiro.

Yudhamanyu e Uttamauja: Eram irmáos de sangue e


príncipes do reino Pancala. Eram valentes e heróicos.
Asvatthama os matou no final da guerra do Mahabharata.

Subhadra: A irmã de Bhagavan Sri Krsna, Subhadra, estava


casada com Arjuna. O heróico Abhimanyu nasceu do ventre
de Subhadra, por isto ele é conhecido tambem como
Subhadra. Recebeu treinamento de astra sastrade seu pai,
Arjuna, e tambem de Sri Balarama. Foi um herói de
excepcional generosidade e um maharati. No momento da
guerra do Mahabharata tinha dezesseis anos. Durante a
ausencia de Arjuna, Abhimanyu era o único combatente
capaz de penetrar o cakra vyuha, uma formação militar
especial que havia sido ordenada por Dronacarya. Infiltrado
nesta formação, foi injustamente assasinado pelos esforços
combinados de sete maharatis, dentre quais estavam Drona,
Krpa e Karna.

Draupadeya: Draupadi deu a luz a um filho de cada um dos


cinco Pandavas. Seus nomes eram: Pratibindhya, Sutasoma,
Srutakarma, Satanika e Srutasena. De forma coletiva eram
conhecidos como Draupadeya. Foram assasinados no final da
guerra de Kuruksetra por Asvattama, enquanto dormian no
meio da noite.

Sloka7

Asmakam tu visista ye
Tan nibodha dvijottama
Nayaka mama sainyasya
Samjnrtham tan bravimi te

Oh! Dvija srestha, o melhor dos duas vezes nascidos


(brahmanas)! Para tua informação tambem enumero os
comandantes do meu exército, quem estão especialmente
qualificados para liderar.

Bhavanuvada

Aqui a palavra nibodha significa"por favor entende" e a


palavra samjnartham significa "para teu conhecimento
preciso".
Sloka 8-9

Bhavan bhismas ca karnas ca


Krpas ca samitinjayah
Asvatthama vikarnas ca
Saumadattir jayadrathah

Anye ca bahavah
Mad arthe tyakta jivitah
Nana sastra praharanah
Sarve yuddha visaradah

Em meu exército há heróis como tu,como o avô


Bhisma,como Karna, Krpacarya, Asvatthama, Vikarna,
Bhurisrava o filho de Somadatta e Jayadratha, o rei de
Sindhu, quem são sempre vitoriosos em batalhas. Há muitos
outros grandes heróis que estão dispostos a sacrificar suas
vidas por minha causa. Todos estão equipados com diversas
armas e são expertos em guerras.

Bhavanuvada

Aqui a palavra Somadattih se refere a Bhurisrava. Tyakta-


jivitah denota a uma pessoa determinada que faz aquilo que é
requerido,ao compreender apropriadamente que será
grandemente beneficiada, sobreviva ou não. No verso (1-33),
Bhagavan disse:"Oh Arjuna! Já dei cabo na vida de todas
estas pessoas, tu simplesmente tem que se converter-te em
um instrumento". De acordo com esta declaração , Sarasvati
Devi fez com que a palavra Tyakta-jivitah, saísse da boca de
Duryodhana, indicando que seu exército já havia sido
destruído.

Prakasika – Vrtti

Krpacarya: Na dinastia Gautama ,havia um sábio chamado


Saradvan. Uma vez, depois de ver a apsara Janapadi,
derramou semem espontaneamente, o qual caiu em um
montão de palha no bosque. Este semem se dividiu em duas
partes dos quais nasceram um menino e uma jovem. A
jovem foi chamada Krpi, e o jovem, Krpa. Krpa foi logo
reconhecido como um grande guerreiro. O sábio Saradvan
pessoalmente fez de Krpa um experto em dhanurveda e
outras artes. Krpa era extraordinariamente valente e
piedoso.Na batalha do Mahabharata, lutou ao lado dos
Kauravas, mas depois da batalha , Maharaja Yudhisthira lhe
enviou para o adestramento do príncipe Pariksit.
Asvatthama: A irmã de Krpacarya , Krpi, foi casada com
Dronacarya. De seu ventre nasceu Asvatthama, quem se
formou de uma combinação das porções do Senhor Siva, de
Yama, de Kama e de Krodha. Aprendeu os sastras e astra
sastra de seu pai. Tambem aceitou a responsabilidade de ser o
último comandante em chefe dos Kauravas na batalha do
Mahabharata. Ele matou os cinco filhos de Draupadi
enquanto estes dormiam profundamente,ao confundi-los com
os cinco Pandavas. Em vingança, os Pandavas lhe insultaram
severamente e lhe arrancaram uma jóia de sua testa. Então,
Asvatthama cheio de ira,tentou matar o ainda não nascido
Pariksit Maharaj, o único herdeiro da dinastia
Pandava,lançando sua Brahmastra ao menino que se
encontrava no ventre de sua mãe Uttara, a esposa de
Abhimanyu. Sem vacilar, Bhagavan Sri Krsna, quem é muito
afetuoso com seus Bhaktas, usou sua arma disco para
proteger Maharaj Pariksit.

Vikarna: Vikarna era um dos cem filhos de Dhrtarastra,


Bhimasena o matou na batalha do Mahabharata.

Somadatta: Era o filho de Bahlika e o neto do rei Pratika da


dinastia Kuru. Satyaki o matou na batalha de Kuruksetra.

Bhurisrava: Bhurisrava era o filho do rei Somadatta na


dinastia da lua. Ele foi um rei muito valente e famoso.
Satyaki o matou na batalha.

Sastra: Uma arma que se usa para usar em combate corpo a


corpo, tal como a espada, é chamada sastra.

Astra: Uma arma que se lança ao inimigo, yal como uma


flecha, é chamada astra.
Sloka 10

Aparyaptam tad asmakam


Balam bhismabhiraksitam
Paryaptam tv idam etesam
Balam bhimabhiraksitam

Nosso exército , ainda que protegido por Bhisma é


insuficiente, e por outro lado, o exército dos Pandavas, sobre
a cuidadosa proteção de Bhima, é competente.

Bhavanuvada

Aqui a palavra aparyaptam significa insuficiente. Os


Kauravas não são competentes e não tem forças suficiente
para lutar contra os Pandavas. Bhisma abhirakstam. Ainda
que nosso exército esteja bem protegido pelo avõ Bhisma,
mesmo assim isto é insuficiente para conter a força dos
Pandavas. Paryaptam bhimabhirakstam. Mas o exército dos
Pandavas, ainda que protegido por Bhima que é menos
experto na arte da arma e conhecimento, é competente para
lutar contra nós. Desta declaração se entende que
Duryodhana está completamente atemorizado.

Prakasika – Vrtti

O avó Bhisma é um herói sem igual que recebeu de seu pai a


bendição de morrer no momento que escolhesse. Mesmo que
lutava contra os Pandavas, ele era muito afetuoso com eles e
não queria que eles saíssem derrotados.

Sloka 11

Ayanesu ca sarvesu
Yatha-bhagam avasthitah
Bhismam evabhiraksantu
Bhavantah sarva eva hi

Por tanto, todos vocês devem permanecer em suas posições


estrategicamente, alinhadas em cada ponto da entrada, para
proteger o avõ Bhisma por todos os lados.

Bhavanuvada

Duryodhana disse:"Por tanto, todos voçes (Drona e os


demais) tem que ser cuidadosos" .Só com este propósito lhes
disse: Dividam-se entre os acéssos ás falanges e não
abandonem as áreas que lhes foram designados na batalha.
Desta maneira, Bhisma não poderá ser morto pela retaguarda
enquanto lutamos com o inimigo. O poder de Bhisma é agora
a nossa própria vida.

Sloka 12

Tasya sanjanayam harsam


Kuru vrddhah pitamahah
Simha nadam vinadyoccaih
Sankham dadhmau pratapavan

O avó Bhisma , o valente ançião da dinastia Kuru, soprou seu


búzio estrondosamente e produziu um som similar á um
rugido de um leão, que causou prazer á Duryodhana.

Bhavanuvada

Para erradicar o temor de Duryodhana, e alegra-lo, o maior


dos Kurus, Bhisma, fez soar seu búzio e produziu um som
como o rugido de um leão.
Sloka 13

Tatah sankhas ca bheryas ca


Panavanaka gomukhah
Sahasaivabhyahanyanta
sa sabdas tumulo bhavat

Depois soaram repetidamente todos os búzios, tímbalos,


tambores, mrdangas, trombetas, e outros instrumentos,
fazendo um tumultuoso e temível som.

Bhavanuvada

O propósito deste verso é expressar que ambos exércitos


mostraram seu entusiasmo pela guerra. Aqui, panavah,
Anakah e gomukhah fazem referencia á tambores, mrdangas
e diversas trombetas.

Sloka 14

Tatah svetair hayair yukte


Mahati syandane sthitau
Madhavah pandavas caiva
Divyau sankhau pradadhmatuh

Logo, Sri krsna e Dhananjaya, situados em uma grande


quadriga puxada por cavalos brancos, soaram seus búzios
divinos.

Sloka15

Pancajanyam hrsikeso
Devadattam dhananjaya
Paundram dadhmau maha sankham
Bhima karma vrkodarah
Hrsikesa Sri Krsna soou seu búzio conhecido como
Pancajanya: Arjuna soou seu búzio conhecido como
Devadatta: e Bhima, o realizador de tarefas hérculeas soou
seu grande búzio conhecido como Paundra.

Prakasika-vrtti

Pancajanya:Depois de finalizar a sua educação no asrama de


seu guru ,Sri Krsna pediu á ele e a sua esposa que aceitassem
alguma doação. Então eles pediram que Krsna devolvesse seu
filho que havia se afogado no oceano. Ao perguntar á Varuna
(a deidade do oceano), Sri Krsna descubriu que ele havia sido
devorado por um caracol demoníaco que morava no oceano.
Mesmo assim, Sri Krsna não encontrou o jovem dentro do
ventre, depois de matar Pancajanya. Depois, Sri Krsna foi á
Mahakalapuri, e trouxe o filho de seu guru, lhe presentiando
como doação. Devido á que Sri Krsna tomou a concha de
Pancajanya, á esta se conhece como tal.

Sloka 16

Anantavijayam raja
Kunti putro yudhisthirah
Nakulah sahadevas ca
Sughosa manipuspakau

Maharaja Yudhisthira, o filho de Kunti soprou seu búzio


chamado Anantavijaya. Nakula soprou seu Sughosa e
Sahadeva soprou seu búzio chamado Manipuspaka.

Sloka 17-18

Kasyas ca paramesvasah
Sikhandi ca maha rathah
Dhrstadyumno viratas ca
Satyakis caparajitah

Drupado draupadeyas ca
Sarvasah prthivi pate
Saubhadras ca maha bahuh
Sankhan dadhmuh prthak prthak

Oh! Dhrtarastra, rei da terra! Depois, o rei de Kasi, o grande


arqueiro, o maharathi Sukhandi, Drstadyumna, o rei de Virata,
o inconquistável Satyaki, o rei Drupada, os filhos de
Draupadi, e Abhimanyu o filho de Subhadra, soaram seus
respectivos búzios.

Bhavanuvada

A palavra Pancajanya e outras mencionadas neste verso são


os nomes dos búzios de Krsna e de outros guerreiros no
campo de batalha. Aparajita significa "aquele que porta um
arco".
Sloka 19

sa ghoso dhartarastranam
hrdayani vyadarayat
nabhas ca prthivim caiva
tumulo bhyanunadayan

Ressoando no céu e na terra, este tumultuoso e terrível som


deixou em pedaços os corações dos filhos de Dhrtarastra.

Sloka 20
Atha vyavasthitan drstva
Dhartarastran kapi dhvajah
Pravrtte sastra sampate
Dhanur udyamya pandavah
Hrsikesam tada vakyam
Idam aha mahi pate

Oh Rei! Depois de ver seus filhos em formação de batalha,


Arjuna, levantou seu arco e se preparou para disparar suas
flechas. Depois, ele disse as seguintes palavras á Hrsikesa.

Prakasika-vrtti

Kapi dhvajah: Este é um nome de Arjuna que aponta a


presença de Hanuman na bandeira de sua quadriga. Arjuna
estava muito orgulhoso de sua habilidade como arqueiro. Em
uma ocasião, quando passeava na beira de um rio portando
seu arco Gandiva, viu um macaco. Oferecendo-lhe
reverencias, ele disse: Quem és?
O macaco respondeu gentilmente. Sou Hanuman, o servo de
Sri Rama. Então Arjuna lhe perguntou: Voce é o servo do
mesmo Rama que incapaz de construir uma ponte de flechas
sobre o oceano mandou os macacos construir uma de pedras
para que seu exército pudesse cruzar o oceano. Se eu tivesse
lá neste momento eu teria construído uma ponte de flechas tão
poderosa que todo exército poderia cruza-la facilmente.
Hanuman voltou á responder muito gentilmente. Sua ponte
não iria suportar sequer o peso de um macaco do exército de
Rama.Então Arjuna disse: ”Vou fazer uma ponte de flechas
sobre este rio e voçe poderá cruza-lo com a carga mais pesada
que tiver. Hanuman se expandiu então em uma forma
gigantesca,saltou sobre as montanhas Himalayas e regressou
com umas pedras muito pesadas nos pelos de seu corpo.
ndentemente não se disfez. Arjuna , tremendo de medo orou á
Krsna: "Por favor meu Senhor, a honra dos Pandavas está em
suas mãos."
Quando Hanuman põs o peso completo de seus pés na ponte,
se surpreendeu que ela não se quebrava. Se a ponte não caía,
seria uma grande vergonha para ele. Dentro de seu coração
Hanuman orou á Rama, quando olhou para debaixo da ponte e
viu que Rama sustentava a ponte com sua espada. Então ele
disse: "O que é isto? "Meu adorável senhor está suspendendo
a ponte com sua espada!! "Imediatamente ele caíu aos pés de
lótus de Sri Ramacandra.
Ao mesmo tempo , Arjuna viu o senhor não como
Ramacandra, mas como Sri Krsna.Tanto Hanuman quanto
Arjuna juntaram suas mãos reverencialmente para seus
senhores adoráveis ,e então o Senhor disse:
"Não há diferença entre estas duas formas minhas. Eu, Krsna,
na forma de Sri Rama ,venho estabelecer os limites da
moralidade e da conduta religiosa apropriada. Na forma de
lila purusottama Krsna, sou a personificação do néctar de
todas as rasas. De hoje em diante vocês dois devem ser
amigos. Em uma futura batalha, o poderoso Hanuman situado
na bandeira da quadriga de Arjuna, lhe dará proteção de todos
os lados "Por esta razão, Arjuna recebeu o nome de Kapi
Dhvajah "Aquele que tem uma pintura de um macaco em sua
bandeira."

Sloka 20-23

Arjuna uvaca
Senayor ubhayor madhye
Rathan sthapaya me cyuta
Yavad etan nirikse ham
Yoddhu kaman avasthitan

Kair maya saha yoddhavyam


Asmin rana samudyame
Yotsyamanam avekse ham
Ya ete tra samagatah
Dhratarastrasya durbuddher
Yuddhe priya cikirsavah

Arjuna disse: Oh Acyuta! Por favor, situa minha quadriga no


meio de ambos os exércitos para eu poder ver todos os heróis
presentes que desejam lutar nesta batalha.

Sloka 24-25

Sanjaya uvaca
Evam ukto hrsikes
Gudakesena bharata
Senayor ubhayor madhye
Sthapayitva rathottamam
Bhisma drona pramukhatah
Sarvesam ca mahiksitam

Sanjaya disse: Oh Bharata! Ao receber a ordem de Gudakesa,


Hrsikesa Sri Krsna conduziu sua excelente quadriga no meio
de ambos os exércitos, e diante de todos os reis e
personalidades proeminentes como Bhisma, Drona e outros.
Ele disse então: "Ó Partha, contempla todos estes Kauravas
aquí reunidos."

Bhavanuvada

Hrsikesa significa o controlador dos sentidos. Ainda que


Krsna é Hrsikesa, quando recebeu as ordens de Arjuna, ele foi
controlador pelo sentido da fala de Arjuna. Bhagavan é
controlado apenas por Prema.

Sloka 26

Tatrapasyat sthitan parthah


Pitrn atha pitamahan
Acaryan matulan bhratrn
Putran pauntran sakhims tatha
Svasuran suhrdas caiva
Senayor ubhayor api

Alí, no meio de ambos os exércitos, Arjuna viu seus tios


paternos e maternos, seus avôs, mestres, primos, sobrinhos,
netos, amigos, sogros e bemquerentes.

Sloka 27

Tan samiksya sakaunteyah


Sarvan bandhun avasthitan
Krpaya parayavisto
Visidann idam abravit

Ao ver todos seus amigos e familiares presentes no campo de


batalha, Arjuna, o filho de Kunti, cheio de compaixão e
angústia, disse:

Sloka 28

Arjuna uvaca
Drstveman svajanan krsna
Yuyutsun samavasthitan
Sidanti mama gatrani
Mukham ca parisusyati

Arjuna disse: Oh Krsna! Ao ver meus próprios parentes


reunidos aquí com o desejo de lutar ,sinto que minhas
extremidades fraquejam e que minha boca está secando.

Sloka 29

Vepathus ca sarire me
Roma-harsas ca jayate
Gandivam sramsate hastat
Tvak caiva paridahyate

Meu corpo treme e meu cabelo arrepia. Meu arco Gandiva


está escorregando das minhas mãos e minha pele arde.

Sloka 30

Na ca saknomy avasthatum
Bhramativa ca me manah
Nimittani ca pasyami
Viparitani kesava

Oh Kesava! Sou incapaz de me manter em pé. Minha mente


dá voltas e sinto muita angústia e aflição.

Bhavanuvada

Na oração"eu estou vivendo aquí com o propósito de ganhar


riquezas.", aquí a palavra nimitta indica o propósito. Da
mesma forma, nimitta neste veso, indica a intenção. Arjuna
está dizendo: "Depois, apesar de ganhar a guerra, a obtenção
do reino não nos trará felicidade. Pelo contrário, nos causará
dor e aflição.

Prakasika-vrtti

Kesava: Aquí o devoto, Arjuna, está revelando os


sentimentos de seu coração ao dirigir-se a Bhagavan com a
palavra Kesava."Apesar de matar proeminentes asuras
(demônios) como Kesi e outros, tu sempre mantém seus
devotos. Da mesma forma, por favor, dissipa a lamentação e
ilusão do meu coração e sustenta-me. Srila Visvanatha
Cakravarti Thakura explicou que a palavra Kesava indica
aquele que penteia o cabelo de sua amada.

Sloka 31

Na ca sreyo nupasyami
Hatva svajanam ahave
Na kankse vijayam krsna
Na ca rajyam sukhani ca

Oh Krsna! Eu não vejo nada de auspicioso em matar meus


próprios parentes nesta batalha. Não desejo nem a vitória nem
o reino, nem sequer a felicidade.

Bhavanuvada

Sreyo na pasyamiti significa "não vejo nada auspicioso". Os


sanyassis que alcançam a perfeição no yoga e os guerreiros
que morrem no campo de batalha alcançam o globo solar.
Parece então que uma pessoa que morre na batalha obtém um
resultado auspicioso.

Sloka 32-34

Kim no rajyena govinda


Kim bhogair jivitena va
Yesam arthe kanksitam no
Rajyam bhogah sukhani ca
Ta ime vasthita yuddhe
Pranams tyaktva dhanani ca

Acaryah pitarah putras


Tathaiva ca pitamahah
Matulah svasurah pautrah
Syalah sambhandhinas tatha
Etan na hantum icchami
Ghnato pi madhusudana

Oh Govinda! De que nos serve o reino, o desfrute ou a própria


vida ,quando aqueles que queremos bem—mestres, tios,
filhos, avôs, sogros, netos, cunhados, e outros parentes—estão
diante de nós neste campo de batalha dispostos a perderem
suas vidas e riquesas? Oh Madhusudana! Ainda que eles me
matem, não desejo matar-los.

Sloka 35

Api trailokya-rajyasya
Hetoh kim nu mahi-krte
Nihatya dhartarastran nah
Ka pritih syaj janardana

Oh Janardana! Se matamos os filhos de Dhrtarastra,mesmo


que seja para obter não só a soberania da terra, mas de todos
os tres mundos, que felicidade obteremos com isto?

Sloka 36

Tasman narha vayam hantum


Dhartarastran as-bandhavan
Svajanam hi katham hatva
Sukhinah syama madhava

Oh Madhava! Ao matar todos estes agressores, apenas


cometeremos pecado.Por tanto,matar Duryodhana e nossos
outros familiares não é apropriado. Como poderíamos ser
felizes após matar nossos próprios parentes?

Bhavanuvada
De acordo com o Sruti há seis tipos de agressores: o que ata
fogo em uma casa, o que admnistra veneno, o que ataca com
armas mortais, o que rouba, o que usurpa a terra e o que rouba
a esposa de outrem. Arjuna argumentou:"Oh Bharata! se você
diz que ao ver algum dos seis tipos de agressores devemos
matar-los sem consideração, então se matássemos as pessoas
aquí reunidas, sem dúvida cometeríamos pecado."

Prakasika-vrtti

De acordo com o smrti sastra, não se comete pecado se matam


um dos seis tipos de agressores. Em contraponto, os srutis
declaram que não se deve matar nenhuma entidade vivente.
Quando surgem tais contradições,deve-se considerar os srutis
como superiores. Seguimdo esta lógica, Arjuna sente que
ainda que os filhos de Dhrtarastra são agressores, se ele os
matam, irá cometer pecado.

Sloka 37-38

Yady apy ete na pasyanti


Lobhopahata-cetasah
Kula ksaya krtam dosam
Mitra drohe ca patakam

Kathamna jneyam asmabhih


Papad asman nivartitum
Kula ksaya krtam dosam
Prapasyabdhir janardana

Oh Janardana! A inteligencia de Duryodhana e dos demais


,estáo contaminadas pela cobiça de obter o reino. Assim
sendo, eles são incapazes de conceber a ilegalidade que surge
ao destruir a dinastia e muito os pecados que ocorreria ao
lutar contra os amigos. Então, por que devemos nós, que
temos conhecimento, cometer atos indevidos como estes.

Bhavanuvada

Arjuna pergunta: Por que estamos ocupados nesta batalha?


Para responder sua própria pergunta , recita este verso que
começa com as palavras yady apy.

Prakasika-vrtti

Arjuna considerou que nesta batalha havia mestres como


Dronacarya , Krpacarya, e outros,tios maternos como Salya e
Sakuni,familiares maiores como Bhisma ,os filhos de
Dhrtarastra , parentes e familiares como Jayadratha e outros
Arjuna pensou: Os Vedas dizem que não podemos lutar com
pessoas que executam yajna,com o sacerdote familiar,com um
mestre,com o tio materno,com um convidado,com filhos
pequenos,com pessoas maiores, nem com parentes."Mesmo
assim ,é com estas pessoas com quem devo
combater".Assim ,Arjuna expressou sua objeção de lutar
contra seus próprios parentes."Mas,porque todos estão
empenhados á lutar contra nós.".Ao considerar isto,Arjuna
concluiu que eles deveriam estar dominados por interesses
baixos e egoístas e por tanto perderam a habilidade de
discriminar entre o que é bom ou mau. Como resultado eles
,ao destruir sua própria dinastia, cometeriam pecado."Já que
não temos motivos egoístas , por que devemos ocupar-nos
nestas atividades abomináveis e pecaminosas?.

Sloka 39
Kula-ksaye pranasyanti
Kula-dharmah sanatanah
Dharme naste kulam krtsnam
Adharmo bhibhavaty uta

Os prinçípios religiosos ancestrais transmitidos através de


uma dinastia são também destruídos quando ela é destruída.
Depois da ruína do Dharma, a dinastia inteira é subjugada
pelo adharma.

Bhavanuvada

A palavra sanatanah se refere aos princípios religiosos que


descendem da Dinastia desde um tempo ancestral.

Sloka 40

Adharmabhibhavat krsna
Pradusyanti kula-striyah
Strisu dustasu varna-sankarah

Oh Krsna! Quando uma dinastia é subjugada pelo adharma


,suas mulheres se degradam.Oh descendente de Vrsni!
Quando as mulheres se tornam degradadas e incastas, nascem
descendentes não desejados.

Bhavanuvada

O adharma ocupa as mulheres em atividades incastas.

Sloka 41

Sankaro narakayaiva
Kula-ghnanam kulasya ca
Patanti pitaro hy esam
Lupta-pindodaka-kriyah

Tal progenie não desejada leva ao inferno tanto a dinastia


inteira quanto os destruídores da tradição familiar. Sem
dúvida alguma,seus antepassados , privados de oblações de
água e alimento ,sofrem o mesmo destino.

Sloka 42

Dosair etaih kula-ghnanam


Varna-sankara-karakaih
Utsadyante jati-dharmah
Kula-dharmas ca sasvatah

Devido ás ações perversas daqueles que destróem a tradição


familiar ,os prinçípios religiosos da familia e da casta
desaparecem.

Bhavanuvada

A palavra utsadyante, significa “eles desaparecem”.

Sloka 43

Utsanna-kula-dharmanam
Manusyanam janardana
Narake niyatam vaso
Bhavatity anususruma

Oh Janardana! Eu escutei que todos aqueles cuja dinastia


carece de princípios religiosos, sofrem no inferno por um
período ilimitado.

Sloka 44
Aho bata mahat-papam
Kartum vyavasita vayam
Yad rajya-sukha-lobhena
Hantum svajanam udyatah

Quão surpreendente é que, levados pela condição de desfrutar


de felicidade imperial ,estamos dispostos á matar nossos
próprios parentes e cometer este grande pecado.

Sloka 45

Yadi mam apratikaram


Asastram sastra-panayah
Dhrtarastra rane hanyus
Tan me ksemataram bhavet

Seria ainda mais auspicioso para mim se, desarmado e sem


ofereçer resistençia, os filhos de Dhrtarastra fortemente
armados me matassem.

Sloka 46

Sanjaya uvaca
Evam uktvarjunah sankhye
Rathopastha upavisat
Visrjya as-saram capam
Soka-samvigna-manasah

Sanjaya disse: Com sua mente perturbada pela lamentação,


Arjuna pronunciou estas palavras no campo de batalha, põs de
lado seu arco e flecha, e sentou em sua quadriga.
Assim conclui-se o primeiro capítulo do Srimad Bhagavad
Gita

Capítulo 2
O prinçípio das análises

Sloka 1

Sanjaya uvaca
Tam tatha krpayavistam
Asru-purnakuleksanam
Visidantam idam vakyam
Uvaca madhusudanah

Sanjaya disse: Sri Madhusudana falou ao aflito Arjuna, quem


estava cheio de compaixão e cujos olhos estavam agitados e
cheios de lágrimas.

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Kutas tva kasmalam idam
Visame samupasthitam
Anarya-justam asvargyam
Akirtti-karam arjuna
Sri Bhagavan disse: Oh Arjuna! Qual é a causa da sua ilusão
neste momento crítico da batalha. Isto não é próprio de um
ariano, pois não condiz com sua reputação, nem te conduzirá
aos planetas celestiais.

Bhavanuvada

Neste capítulo, Bhagavan Sri Krsnacandra esboça os sintomas


das pessoas liberadas. Ele dissípa a obscuridade causada pela
lamentação e ilusão ao conçeder, em primeiro lugar, a
sabedoria para discernir entre matéria e espírito.

Prakasika-vrtti

Dhrtarastra estava satisfeito ao saber que,ainda antes de


começar a batalha , um sentimento religioso havia despertado
no coração de Arjuna. Ele recusava encarar a batalha, atendo-
se aos princípios da não violencia,que considerava sendo o
Dharma supremo. Dhrtarastra pensou:"Seria uma grande
fortuna se esta batalha não aconteçesse , pois assim, meus
filhos poderiam permanecer soberanos do reino sem nenhum
obstáculo."

Sloka 3

Klaibyam ma sma gamah partha


Naitat tvayy upapadyate
Ksudram hrdaya daurbalyam
Tyaktvottistha parantapa

Oh Partha! Não sejas covarde, isto não lhe é digno. Oh


Parantapa! Abandona sua fraqueza de coração e levanta-te.

Bhavanuvada
Aqui Krsna diz: Oh Partha! Apesar de ser um filho de Prtha
,estás se comportando como um covarde.".Depois ele disse:
"Tal covardia é própria de um ksatriya de baixa
classe."Arjuna poderia dizer: Oh Krsna! Não duvides da
minha coragem,eu desejo lutar.Mas por favor ,compreende
que do ponto de vista moral,minha renunçia á lutar é para
mostrar respeitos á meus gurus, Bhisma e Drona.".Krsna
contesta."Minha resposta é ksudram,tal atitude não demonstra
discriminação nem compaixão, senão lamentação e ilusão.
Ambas revelam a fraquesa da sua mente.

Sloka 4

Arjuna uvaca
Katham bhismam aham sankhye
Dronanca madhusudana
Isubhih pratiyotsyami
Pujarhav arisudana

Arjuna disse: Oh Madhusudana! Oh Arisudana! Destruídor


dos inimigos.! Como posso contratacar com minhas flechas, o
avô Bhisma, e Dronacarya, quem são dignos de minha
veneração?

Bhavanuvada

Para explicar porque não deseja combater, Arjuna argumenta


que de acordo com o dharma sastra, a violação da honra de
uma personalidade venerável é um ato fatídico.
Ao referir-se á Krsna como Madhusudana, Arjuna acode á
esta lógica."Oh querido amigo,tu também destruístes inimigos
em batalha, mas não assasinastes teu guru e nem seus
parentes. Devido á que o denônio Madhu era seu inimigo, eu
me referi á ti como Arisudana, ou o destruídor dos inimigos.

Prakasika-vrtti

Sandipani Muni era um famoso sábio pertençente á kasyapa


gotra, que vivia na cidade de Avanti,atual Ujjain. Quando
executaram seus passatempos, Sri Krsna e Baladeva o
aceitaram como seus Siksa Guru para dar exemplo aos
demais.Quando viviam em seu asrama, executaram o
passatempo no qual aprenderam as sessenta e quatro artes em
sessenta e quatro dias.Visvanatha Cakravarti Thakura
comenta que Sandipani Muni era seguidor do senhor Siva, ele
explica que se Krsna e Baladeva tivessem aceitado um guru
Vaisnava, este os teriam reconheçido como o supremo, e os
passatempos de aprendizagem não teriam ocorrido. Sandipani
Muni era filho de Paurnamasi Yoga Maya, e os amigos de
Krsna ,Madhumangala e Nandimukhi são filho e filha dele.

Sloka 5

Gurun ahatva hi mahanubhavan


Sreyo bhoktum bhaiksyam apiha loke
Hatvartha kamams tu gurun ihaiva
Bhunjiya bhogan rudhira pradigdhan

Seria melhor manter minha vida neste mundo mediante


mendicancia do que matar meus gurus, que são grandes
personalidades. Se os mato, os prazeres e riquezas que
pudesse derfrutar neste mundo, ficariam manchados de
sangue.

Bhavanuvada
Arjuna pensou que se converteria em traídor se matasse seus
gurus, e qualquer prazer que tivesse depois deste ato, estaria
manchado pelo resultado de atos pecaminosos.

Sloka 6

Na caitad vidmah kataran no gariyo


Yad va jayema yadi va no jayeyuh
Yan eva hatva na jijivisamas
Te vasthitah pramukhe dhratarastrah

Sou incapaz de decidir o que é melhor para nós: conquistar ou


ser conquistados por eles. Mesmo se nós os matássemos, não
iríamos desejar viver. Mas, eles estão do lado de Dhrtarastra e
estão na nossa frente, preparados para a batalha.

Bhavanuvada

Aqui arjuna está falando sobre a possibilidade da vitória ou


derrota. Ele disse: "Para nós, a vitória é igual á derrota".

Sloka 7

Karpanya dosopahata svabhavah


Prcchami tvam dharma sammudha cetah
Yac chreyah syan niscitam bruhi tan me
Sisyas te ham sadhi mam tvam prapannam

Dominado pela covardia e confundido sobre o dever, perdí


meu heroísmo natural. Te suplico, por favor, que me digas o
que é melhor para mim. Sou teu discípulo rendido e uma alma
entregue á ti. Por favor instruí-me.

Bhavanuvada
Sri Krsna podia ridicularizar Arjuna dizendo:"Ainda que és
Ksatriya, você decidiu converte-te em mendigo errante,
mediante tua própria compreensão do significado dos sastras.
Então, qual é o valor das minhas palavras?." Anteçipando-se,
Arjuna começa este verso com a palavra Karpanya: O
abandono do heroísmo natural se chama karpanya, que
significa comportamento covarde. Para receber instruções de
Krsna, Arjuna então lhe assegura."sou teu discípulo, não
refutarei mais tuas declarações.

Sloka 8

Na hi prapasyami mamapanudyad
Yae chokam ucchosanam indriyanam
Avapya bhumav asapatnam rddham
Rajyam suranam api cadhipatyam

Ainda que obtivesse na terra um reino inigualável e próspero,


com soberania até mais que os semideuses, não vejo como
posso brecar este meu pesar que seca meus sentidos.

Bhavanuvada

Arjuna começa este verso coma palavra na hi: "Nos tres


mundos, não encontro ninguém, a não ser tu, que possa
dissipar minha lamentação."Assim como o intenso calor do
verão seca as pequenas folhas, a compaixão está secando
meus sentidos.

Sloka 9

Sanjaya uvaca
Evam uktva hrsikesam
Gudakesah parantapah
Na yotsya iti govindam
Uktva tusnim babhuva há

Sanjaya disse:Depois de pronunciar estas palavras , Gudakesa


, o castigador dos inimigos ,disse á Krsna. "Oh Govinda, não
lutarei, e logo ficou mudo."

Sloka 10

Tam uvaca hrsikesah


Prahasann iva bharata
Senayor ubhayor madhye
Visidantam idam vacah

Oh descedente de Bharata(Dhrtarastra)! Neste momento,


Hrsikesa Sri Krishna sorrindo no meio dos exércitos, se
dirigiu ao aflito Arjuna com as seguintes palavras:

Bhavanuvada

A frase senayor ubhayor madhye indica que a afição de


Arjuna, as instruções e as garantias oferecidas por Krishna,
eram igualmente visíveis em ambos os exércitos. Em outras
palavras, esta mensagem do Bhagavad Gita foi presenciada
por ambos os exércitos.

Sloka 11

Sri bhagavan uvaca


Asocyan anvasocas tvam
Prajna vadams ca bhasase
Gatasun agatasums ca
Nanusocanti panditah
Sri Bhagavan disse: Enquanto falas palavras sábias, você se
lamenta por nada. O sábio não se lamenta nem pelos vivos
nem pelos mortos.

Bhavanuvada

"agata asun" significa onde não chega o ar vital". O erudito e


o sábio não se lamentam sequer pelo corpo sutil, pois é
indestrurível antes da etapa de mukti. Em ambas as condições,
em vida ou com vida, a natureza do corpo grosseiro e sutil é
imutável. É incorreto lamentar-se, já que a alma é eterna.

Prakasika-vrtti

O corpo grosseiro da entidade viva é composto por cinco


elementos materiais - terra, agua, fogo, ar e éter e é
temporário. Onde há nascimento, a morte é certa, seja hoje,
amanhã ou daqui uns anos.

Sloka 12

Na tv evaham jatu nasam


Na tvan neme janadhipah
Na caiva na bhavisyamah
Sarve vayam atah param

Jamais houve um tempo em que eu, tu e todos estes reis não


existiram, tampouco haverá no futuro um momento em que
deixaremos de existir.

Bhavanuvada
Ainda que existe diferença entre Isvara e a jiva, ambos os
tipos de alma são eternos e estão livres da morte. Assim a
alma não é objeto de lamentação.

Prakasika-vrtti

As pessoas ignorantes que consideram que o corpo grosseiro é


igual á alma, não compreendem que o verdadeiro ser não é
material.

Sloka 13

Dehino smin yatha dehe


Kaumaram yauvanam jara
Tatha dehantara praptir
Dhiras tatra na muhyati

Assim como a alma corporificada neste corpo grosseiro passa


da infância á juventude e logo á velhice, também passa á
outro corpo depois da morte. Uma pessoa inteligente não se
confunde pela destruição e nascimento do corpo.

Sloka 14

Matra-sparsas tu kaunteya
Sitosna-sukha-duhkha-dah
Agamapayino nityas
Tams titiksasva bharata

Oh Kaunteya! Quando os sentidos entram em contato com os


objetos sensíveis, se experimenta frio e calor, felicidade e
aflição.Tais experiências são flutuantes e temporárias. Oh
Bharata! Por isso deve tolera-las.

Bhavanuvada
Não só a mente nos trazem problemas, mas os sentidos por
exemplo, também nos causam problemas. Tolerar as
sensações causadas pelos objetos dos sentidos, sabendo que
estes também são temporários é uma obrigação prescrita nos
Vedas. Assim sendo, banhar-se no inverno é incômodo, mas
não se deve abandonar a rotina de se banhar, prescrita nos
Sastras. Igualmente, as mesmas pessoas, como os irmãos, os
filhos, etc, nos proporcionam felicidade ao nascer ou quando
adquirem riquezas, mas estas mesmas pessoas produzem dor
no momento de suas mortes. Sabendo que estas felicidades e
aflições são temporárias ,devemos tolera-las. Krsna falou á
Arjuna: "Não deves abandonar seu Dharma de lutar na batalha
com a desculpa de ter afeição por seus parentes. O abandono
do dever que os Sastras prescrevem, é sem duvida uma causa
de grande pertubação."

Sloka 15

Yam hi na vyathayanty ete


Purusam purusarsabha
Sama dunkha sukham dhiram
So mrtatvaya kalpate

Oh! Tú é o melhor dos homens! A pessoa sensata que


considera que a felicidade, a aflição, e a percepção dos
diversos objetos sensíveis é a mesma coisa e não se pertuba
por elas, sem dúvida está qualificada á liberar-se.

Sloka 16

Nasato vidyate bhavo


Nabhavo vidyate satah
Ubhayor api drsto`ntas
Tv anayos tattva darsibhih
Coisas temporárias– como o verão e o inverno – não tem uma
existencia real, e o eterno – a alma –jamais é destruída. Os
conhecedores da vedade chegaram á esta conclusão após
estudarem sobre o eterno e o temporário.

Sloka 17

Avinasi tu tad viddhi


Yena sarvam idam tatam
Vinasam avyayasyasya
Na kascit karttum arhati

Deves saber que isso que se propaga por todo o corpo não
pode ser destruído. Nada é capaz de destruir a alma
imperecível.

Bhavanuvada

A alma é diminuta e só pode-se compreende-la quando o


coração está purificado e livre dos tres modos da natureza
material.

Prakasika-vrtti

Há duas verdades indestrutíveis: uma é a jiva atômica


consciente, e a outra é Paramatma , que manifesta e controla
todas as jivatmas. Assim como uma simples gota de pasta de
sandalo aplicada em um só local refresca o corpo inteiro, a
alma (jivatma) localizada no coração, ocupa todo o corpo.

Sloka 18

Antavanta ime deha


Nityasyoktah saririnah
Anasino prameyasya
Tasmad yudhyasva bharata

Deves considerar que os corpos materiais que a alma eterna,


indestrutível e incomensurável, ocupa, são perecíveis. Oh!
Descendente de Bharata! Por tanto, lute!

Sloka 19

Ya enam vetti hantaram


Yas cainam manyate hatam
Ubhau tau na vijanito
Nayam hanti na hanyate

Os que consideram que a alma mata ou é morta, são


ignorantes. A alma não é morta e nem mata ninguém.

Bhavanuvada

Krsna diz: "Oh amigo Arjuna, tu és uma alma, tu não és o


sujeito nem o objeto do ato de matar. "Por tanto ó amigo, por
que temes a infamia só por que os ignorantes te chamarão de
"asassino de seus superiores?"

Sloka 20

Na jayate mriyate va kadaci


Nayam bhutva bhavita va na bhuyah
Ajo nityah sasvato yam purano
Na hanyate hanyamane sarire

A alA A alma não nasce nem morre, tampouco experimenta o


crescimento. Ela não nasce pois é eterna e permanente. A
alma é primordial, é sempre jovem e não morre quando o
corpo é destruído.

Sloka 21

Vedavinasinam nityam
Ya enam ajam avyayam
Katham as purusah partha
Kam ghatayati hanti kam

´Óh Partha! Como pode uma pessoa matar alguém, sabendo


que a alma é eterna, não nascida, imutável e indestrutível?

Bhavanuvada

Sri Krsna responde á Arjuna: "Oh Partha! Logo que adquirir


este conhecimento, não serás culpado de nenhum pecado,
mesmo depois de lutar na batalha."

Sloka 22

Vasamsi jirnani yatha vihaya


Navani grhnati naro parani
Tatha sarirani vihaya jirnany
Anyani samyati navani dehi

Assim como uma pessoa abandona suas roupas velhas e


aceita outras novas, a alma abandona os corpos velhos e
inúteis e aceita outros novos.

Sloka 23

Nainam chindanti sastrani


Nainam dahati pavakah
Na cainam kledayanty apo
Na sosayati marutah

Esta alma não pode ser ferida por nenhuma arma, nem
queimada pelo fogo, molhada pela água ou secada pelo
vento.

Sloka 24-25

Acchedyo yam adahyo yam


Akledyo sosya eva ca
Nityah sarva gatah sthanur
Acalo yam sanatanah

Avyakto yam acintyo ya


Mavikaryo yam ucyate
Tasmad evam viditvainam
Nanusocitum arhasi

A alma é indivisível, indestrutível e insolúvel. É eterna,


onipenetrante, permanente, inalterável e sempre existente. É
imperceptível, inconcebível e, devido a que está livre dos seis
tipos de transformações como o nascimento, é imutável.
Depois de compreender a alma desta maneira, não deves
lamentar-te.

Atha cainam nitya jatam


Nityam va manyase mrtam
Tathapi tvam maha-baho
Nainam socitum arhasi

Mas, se ainda pensas que a alma nasce e morre


constantemente, não há razão para que fiques aflito por ela ó
Maha Baho!

Bhavanuvada
Aqui Krsna está dizendo: "Ainda que pense que o
nasçimemto é perpétuo,ainda sim tu deves executar o seu
dever como um valente Ksatriya."
Krsna está tentando fazer com que Arjuna veja então o lado
prático da batalha, deixando de lado o conhecimento acerca
da alma.

Sloka 27

Jatasya hi dhruvo mrtyur


Dhruvam janma mrtasya ca
Tasmad apariharye rthe
Na tvam socitum arhasi

Para aquele que nasce a morte é certa, e para aquele que


morre o nascimento é certo. Por tanto não deves lamentar-se
por esta situação inevitável.

Sloka 28

Avyaktadini bhutani
Vyukta madhyani bharata
Avyakta nidhanany eva
Tatra ka paridevana

Oh Bharata!. Todos os seres humanos são imanifestos antes


de seu nascimento. No interim , depois do nascimento, eles se
manifestam , e após a morte voltam á imanifestar-se. Então
,por que te lamentas?

Sloka 29

Ascaryavat pasyati kascid enam


Ascaryavac cainam anyah srnoti
Srutvapy enam veda na caiva kascit

Há quem considera que a alma é surpreendente, outros falam


dela como algo surpreendente e alguns após escutar sobre ela
acham que é algo incompreensível e assim não á
compreende.

Bhavanuvada

Krsna explica este verso para mostrar á Arjuna o quanto é


maravilhoso a combinação do corpo com a alma e lhe
esclarece sobre este tema.

Prakasika-vrtti

A alma, a pessoa que instrui sobre a alma, e a audiencia são


todos maravilhosos, pois a verdade sobre a ciençia da alma é
muito dificil de ser compreendida. Ainda assim, somente
poucas personalidades são capazes de compreende-la e a
consideram como algo maravilhoso. É estranho que a grande
maioria,mesmo depois de escutar sobre a alma de um expert
no assunto não consegue compreende-la.
Por esta razão Sri Caitanya Mahaprabhu nos deu a instrução
de cantar os santos nomes e como resultado secundário deste
canto, virá tambem o conhecimento acerca da alma.

Sloka 30

Dehi nityam avadhyo yam


Dehe sarvasya bharata
Tasmat sarvani bhutani
Na tvamsocitum arhasi
Oh Arjuna! A alma eterna que reside nos corpos de todas as
entidades vivas jamais pode ser aniquilada. Por tanto, não é
correto que te lamentes por nada.

Sloka 31

Svadharmam api caveksya


Na vikampitum arhasi
Dharmyad dhi yuddhac chreyo nyat
Ksatriyasya na vidyate

Por outro lado se consideras teu próprio dever de Ksatriya,


não deves oscilar, pois não há atividade melhor para você do
que a luta.

Bhavanuvada

Considerando os dois pontos de vista, é recomendável que


Arjuna lute.

Sloka 32

Yadrcchaya copapannam
Svarga dvaram apavrtam
Sukhinah ksatriyah partha
Labhante yuddham idrsam

Oh Partha! Afortunados são os Ksatriyas que tem semelhante


oportunidadede lutar, pois tal batalha é a porta de entrada
para os planetas celestiais.

Sloka 33

Atha cet tvam imam dharmyam


Sangramam na karisyasi
Tatah svadharmam kirttin ca
Hitva papam avapsyasi

Mas, se não participas desta batalha religiosa, desobedecerás


teu dever e perderá tua fama. Então a reacão virá até você.

Bhavanuvada

Neste e nos próximos três versos, Sri Bhagavan explica os


defeitos de não lutar.

Sloka 34

Arkittincapi bhutani
Kathayisyanti te vyayam
Sambhavitasya cakirttir
Maranad atiricyate

O povo só irá falar sobre tua infâmia, e para uma pessoa


honrosa, a desonra é mais dolorosa que a morte.

Sloka 35

Bhayad ranad uparatam


Mamsyante tvam maha rathah
Yesanca tvam bahu-mato
Bhutva yasyasi laghavam

Grandes guerreiros como Duryodhana e outros irão pensar


que fugiste da batalha, cheio de temor. Aqueles que te
honravam, irão te considerar um ser insignificante.

Sloka 36

Avacya vadams ca bahun


Vadisyanti tavahitah
Nindantas tava samarthyam
Tato duhkhataram nu kim

Teus inimigos te insultariam com palavras duras e criticariam


tuas habilidades. Oh Arjuna! O que poderia ser mais doloroso
para ti?

Sloka 37

Hato va prapsyasi svargam


Jitva va bhoksyase mahim
Tasmad uttistha kaunteya
Yuddhaya krta niscayah

Oh! Kaunteya! Se for morto na batalha, alcancarás os


planetas celestiais, e se você sai vitorioso da batalha,
desfrutarás do reino da terra. Por tanto, levanta com
determinação e luta.

Sloka 38

Sukha duhkhe same krtva


Labhalabhau jayajayau
Tato yuddhaya yujyasva
Naivam papam avapsyasi

Sabendo que felicidade e aflição, vitória e derrota, fracasso e


triunfo, são todos iguais, luta com esta mentalidade, pois só
assim não cometerás pecado algum.

Bhavanuvada
"Assim como uma folha de lótus nunca molha enquanto
permanece na água, um Ksatriya que luta na batalha jamais
comete pecado.”

Prakasika-vrtti

Krsna fala á Arjuna: "Se lutas com a mentalidade de que


felicidade e aflição, vitória e derrota, fracasso e triunfo são
todos iguais, então não há pecado algum."
Uma pessoa que está apegada aos frutos de seus atos, está
cometendo pecado, por tanto, a renúncia ao apego kármico, é
sem dúvida necessária.

Sloka 39

Esa te bhihita sankhye


Buddhir yoge tv imam srnu
Buddhya yukto yaya partha
Karma bandham prahasyasi

Oh! Partha! Até este momento te expliquei o Sankhya-yoga,


mas agora vou te explicar Bhakti Yoga, com este
conhecimento te libertarás do cativeiro material.

Sloka 40

Nehabhikrama-naso sti
Pratyavayo na vidyate
Svalpam apy asya dharmasya
Trayate mahato bhayat

Os esforços realizados em Bhakti Yoga jamais são em vão.


Mesmo uma pequena quantidade deste Yoga, libera a pessoa
do mais grande perigo.
Bhavanuvada

Aqui , Krsna diz á Arjuna ."Buddhi Yoga é de dois tipos:1-


Bhakti Yoga na forma de audição e canto, e 2-Niskama
Karma Yoga na forma de entrega dos frutos dos atos
desinteressados á Bhagavan. "Ambos estes dois tipos de
Yoga se define com a palavra Buddhi-Yoga.

Prakasika-vrtti

Bhakti é primário e Niskama Karma é secundário. Bhakti


Yoga é completamente transcendental aos modos materiais.
Qualquer atividade em Bhakti nunca é perdida, a pessoa que
não teve sucesso nesta vida, poderá continuar o processo na
próxima vida, desde o estágio onde parou.

Sloka 41

Vyavasayatmika buddhir
Ekeha kuru-nandana
Bahu-sakha hy anantas ca
Buddhayo vyavasayinam

Oh! Filho dos Kurus! A inteligencia resoluta dos que


praticam Bhakti é indivisível, mas a inteligencia dos
indecisos em relação á Bhakti possuem ramificações
ilimitadas.

Bhavanuvada

A inteligencia cuja meta é Bhakti yoga é suprema quando


comparada aos demais tipos de inteligencia.

Sloka 42
Yam imam puspitam vacam
Pravadanty avipascitah
Veda-vada-ratah partha
Nanyad astiti vadinah

Oh! Partha! Os insensatos, que estão apegados ás declarações


floridas dos Vedas, que na verdade só produz veneno, dizem
que não há nada além disto nas escrituras.

Prakasika-vrtti

No Srimad Bhagavatam adverte-se para as afirmações


Védicas.
Oh! Pracinabarhi! Devido á ignorancia, as atividades
ritualísticas mencionadas nos Vedas parecem ser o objetivo
supremo. Ainda que suas narrações parecem ser fascinantes
aos ouvidos elas carecem de conexão com o absoluto. Por
tanto ignore-as.

Sloka 43

Kamatmanah svarga-para
Janma-karma-phala-pradam
Kriya-visesa-bahulam
Bhogaisvarya-gatim prati

As pessoas de natureza luxuriosa, que fazem muitos rituais


védicos pomposos para alcançar os planetas celestiais, onde
há bastante opulencia e desfrute sensual, acabam se atando ao
ciclo de nascimentos e mortes.

Sloka 44

Bhogaisvarya-prasaktanam
Tayapahrta-cetasam
Vyavasayatmika buddhih
Samadhau na vidhiyate

Aqueles que estão apegados ao desfrute e opulencia, cujas


mentes estão cativadas pelas palavras floridas dos Vedas, não
obterão inteligencia absoluta, com a qual pode-se meditar no
Supremo.

Sloka 45

Traigunya-visaya veda
Nistraigunyo bhavarjuna
Nirdvandvo nity-sattva-stho
Niryoga-ksema atmavan

Oh! Arjuna! Supera os modos da natureza material descrita


nos Vedas e situa-se transcendentalmente, livre de
dualidades, desapegado da tendencia de aquisição e situa-se
no eu(atma).

Bhavanuvada

No Srimad Bhagavatam Krsna diz:


"Viver na floresta está no modo da bondade, viver na cidade
está no modo da paixão, viver em uma casa de apostas está
no modo da ignorancia e viver onde eu moro (templo) está
transcendental aos tres modos da natureza material (nirguna).

Sloka 46

Yavan artha udapane


Sarvatah samplutodake
Tavan sarvesu vedesu
Brahmanasya vijanatah
Assim como vários reservatórios de água que satisfazem um
mínimo propósito provém de um grande lago, similarmente o
resultado alcançado com a adoração aos semideuses é
insignificante se comparado á realização alcançada pelo
brahmana erudito que está dotado com Bhakti por Krsna.

Prakasika-vrtti

As diferentes atividades que podem ser executadas mediante


o uso de pequenos poços separados, podem fácilmente ser
executadas ao usar um grande estanque.
Assim também, os diferentes desejos que podem ser
satisfeitos através da adoração aos semi deuses, podem ser
fácilmente alcançados simplesmente adorando Krsna.

Sloka 47

Karmany evadhikaras te
Ma phalesu kadacana
Ma karma-phala-hetur bhur
Ma te sango stv akarmani

Sem dúvida , tens o direito de executar seu dever prescrito,


mas em momento algum tens o direito de desfrutar dos frutos
de sua ação. Não sejas motivado pelos frutos da ação , mas
também não deixa de executar seu dever.

Sloka 48

Yoga-sthah kuru karmani


Sangam tyaktva dhananjaya
Siddhy-asiddhyoh samo bhutva
Samatvam yoga ucyate
Oh! Dhananjaya! Situado em Bhakti Yoga, abandonando os
apegos pelos frutos da ação, executa os deveres prescritos e
permanece equanime no êxito e fracasso. Isto se denomina
Yoga.

Sloka 49

Durena hy avaram karma


Buddhi-yogad dhananjaya
Buddhau saranam anviccha
Krpanah phala-hetavah

Oh! Dhananjaya! Atividades fruitivas são bastante inferiores


se comparadas á Bhakti, e quem anseia pelos frutos das
atividades são ávaros.

Sloka 50

Buddhi-yukto jahatiha
Ubhe sukrta-duskrte
Tasmad yogaya yujyasva
Yogah karmasu kausalam

Uma pessoa inteligente abandona as atividades piedosas e


pecaminosas nesta vida mesmo, por tanto, esforça-te nesta
Yoga e executa todas as atividades desinteressadamente.

Sloka 51

Karma-jam buddhi-yukta hi
Phalam tyaktva manisinah
Janma-bandha-vinirmuktah
Padam gacchanty anamayam
Sem dúvida, os sábios que possuem inteligencia absoluta,
abandonam os resultados nascidos das ações fruitivas, assim
eles alcançam um lugar onde não há sofrimento algum, e são
eternamente liberados do ciclo de nascimentos e mortes.

Sloka 52

Yada te moha-kalilam
Buddhir vyatitarisyati
Tada gantasi nirvedam
Srotavyasya srutasya ca

Quando sua inteligencia cruzar o denso bosque da ilusão,


ficarás indiferente á tudo que já escutou ou está por escutar.
Sloka 53

Sruti-vipratipanna te
Yada sthasyati niscala
Samadhav acala buddhis
Tada yogam avapsyasi

Quando tua inteligencia estiver desapegada das diferentes


interpretações dos Vedas e firme em transe, neste momento
alcançarás o fruto do Yoga.

Sloka 54

Arjuna uvaca
Sthita-prajnasya ka bhasa
Samadhi-sthasya kesava
Sthita-dhih kim prabhaseta
Kim asita vrajeta kim
Arjuna disse: Oh! Kesava! Quais são os sintomas de uma
pessoa cuja inteligencia está fixa na transcendência? Como
ela se senta, fala e como ela caminha?

Sloka 55

Sri bhagavan uvaca


Prajahati yada kaman
Sarvan partha mano-gatan
Atmany evatmana tustah
Sthita-prajnas tadocyate

Sri Bhagavan disse: Oh! Partha! Uma pessoa possui


inteligençia perfeita quando abandona todos os tipos de
desejos materiais que surgem da mente. Dentro de sua mente
controlada ele está satisfeito por Ter uma alma bem
aventurada. Neste estado ele é visto como uma pessoa de
inteligência perfeita.

Sloka 56

Dunkhesv anudvigna-manah
Sukhesu vigata-sprhah
Vita-raga-bhaya-krodhah
Sthita-dhir munir ucyate

O sábio cuja mente não se agita pelas misérias e permanece


livre de ansiedade provocados pelos desejos sensuais, livre
do apego e temor e ira, é chamado de sábio com inteligençia
perfeita.

Bhavanuvada
São tres, os tipos de misérias.As que são provocadas pela
sede,dor de cabeça,febre etc..,que provém do corpo e da
mente,são chamadas Adhyatmika.
As que são provocados por entidades vivas tais como
serpente, insetos etc.., são chamadas de Adhibhautika.
E as que provém dos semi-deuses, tais como a chuva, frio,
calor etc...chaman-se Adhidaivika.
Aqui Krsna diz que aquele que não se agita devido á estas
misérias, é um sábio controlado e inteligente.

Sloka 57

Yah sarvatranabhisnehas
Tat tat prapya subhasubham
Nabhinandati na dvesti
Tasya prajna pratisthita

A pessoa que não tem apegos mundanos exessivos, que não


se regosija na vitória e nem se lamenta pela derrota, é
considerada uma pessoa de inteligencia resoluta.

Sloka 58

Yada samharate cayam


Kurmo nganiva sarvasah
Indriyanindriyarthebhyas
Tasya prajna pratisthita

Quando uma pessoa pode retrair seus sentidos


completamente dos objetos dos sentidos, assim como uma
tartaruga retrai suas extremidades para dentro da carapaça, se
diz que essa pessoa possui inteligência resoluta.
Sloka 59

Visaya vinivarttante
Niraharasya dehinah
Rasa-varjam raso py asya
Param drstva nivarttate

Uma pessoa que se identifica com seu corpo pode restringir-


se dos objetos dos sentidos artificialmente, mas ainda
permanece o gosto por esses objetos. Mas a pessoa de
inteligencia clara,ao compreender a superalma, seu gosto
pelos objetos sensíveis acaba automaticamente.

Sloka 60

Yatato hy api kaunteya


Purusasya vipascitah
Indriyani pramathini
Haranti prasabham manah

Oh! Filho de Kunti! Os sentidos agitados, sem dúvida


arrastam á força a mente de um homem inteligente que possui
conhecimento e se esforça para alcançar a liberação.

Prakasika-vrtti

Dominar os sentidos é tão dificil como controlar a mente.


Mas, de cordo com as instruções de Sri Caitanya
Mahaprabhu, esta difícil tarefa se torna fácil quando ocupa-se
os sentidos no serviço á Bhagavan Sri Krsna.

Sloka 61

Tani sarvani samyamya


Yukta asita mat-parah
Vase hi yasyendriyani
Tasya prajna prathisthita
A pessoa deve controlar todos os sentidos,através de Bhakti
Yoga, dedicando-se á mim, pois somente a pessoa com
sentido controlado possui inteligencia determinada e pura.

Sloka 62

Dhyayato visayam pumsah


Sangas tesupajayate
Sangat sanjayate kamah
Kamat krodho bhijayate

Uma pessoa desenvolve apego pelos objetos dos sentidos ao


comtenpla-los. Deste apego surge o desejo de desfrute e do
desejo surge a ira.

Sloka 63

Krodhad bhavati sammohah


Sammohat smrti-vibhramah
Smrti-bhramsad buddhi-naso
Buddhi-nasat pranasyati

Da ira vem a confusão, da confusão surge o esquecimento, na


perda da memória a inteligencia é destruída, e quando a
inteligençia é destruída, a pessoa cai completamente nas
garras da ilusão.

Sloka 64

Raga-dvesa-vimuktais tu
Visayan indriyais caran
Atma-vasyair vidheyatma
Prasadam adhigacchati
Sem dúvida, um homem com sentidos controlados, livre do
apego e aversão, alcança paz mental mesmo quando desfruta
dos objetos dos sentidos com os seus sentidos controlados.

Sloka 65

Prasade sarva-duhkhanam
Hanir asyopajayate
Prasanna-cetaso hy asu
Buddhih paryavatisthate

Uma pessoa de inteligencia clara se libera de todas as


misérias, a mente de tal homem é muito pacífica e calma, e
assim ele se fixa em atingir a meta desejada.

Sloka 66

Nasti buddhir ayuktasya


Na cayuktasya bhavana
Na cabhavayatah santir
Asantasya kutah sukham

Uma pessoa desconectada do Senhor não possui inteligencia


espiritual e assim sendo, ela é incapaz de meditar em
Paramesvara. Como pode haver felicidade para alguém que
não possui paz?

Sloka 67

Indriyanam hi caratam
Yan mano nuvidhiyate
Tad asya harati prajnam
Vayur navam ivambhasi
Assim como o vento arrasta um bote sobre a água,
simirlamente, a mente de uma pessoa descontrolada é
arrastada pelos sentidos , então é arrastada também, sua
inteligencia.

Sloka 68

Tasmad yasya maha-baho


Nigrhitani sarvasah
Indriyanindriyarthebhyas
Tasya prajna pratisthita

Oh!Maha-Baho! Por tanto ,a pessoa que é capaz de restringir


seus sentidos completamente dos objetos dos sentidos, possui
inteligencia absolutamente clara.

Sloka 69

Ya nisa sarva-bhutanam
Tasyam jagartti samyami
Yasyam jagrati bhutani
sa nisa pasyato muneh

Neste estado noturno mental no qual dorme todos os seres,um


homem inteligente está desperto. Quando os seres ordinários
estão mentalmente despertos, este momento é noite para o
sábio iluminado.

Sloka 70

Apuryamanam acala-pratistham
Samudram apah pravisanti yadvat
Tadvat kama yam pravisanti sarve
As santim apnoti na kama-kami
Assim como o oçeano permanece calmo,quieto e imóvel,
ainda que inúmeros rios deságuam nele, similarmente , o
homem sábio permaneçe fixo e impertubável, ainda que a
agitação dos sentidos entram á força dentro dele. Somente a
pessoa que possui inteligência estável pode alcançar a paz.
Isto não é alcançável para aqueles que tentam satisfazer os
desejos materiais.

Sloka 71

Vihaya kaman yah sarvan


Pumams carati nihsprhah
Nirmamo nirahankarah
As santim adhigacchati

Aqueles que abandonam todos seus desejos materiais, e que


estão livres de possesividade, estão livres de ansiedades e
falso ego. Esta pessoa alcançará paz.

Sloka 72

Esa brahmi sthitih partha


Nainam prapya vimuhyati
Sthitvasyam anta-kale pi
Brahma-nirvanam rcchati

Oh!Partha! Esta é a situação daquele que alcançou o


brahmam,mas aquele que não alcançou esta condição será
confundido.Aquele que alcança tal estado, consegue a
emancipação espiritual no momento da morte.

Bhavanuvada
Neste capítulo se explica espeçificamente o jnana yoga,
karma yoga e indiretamente Bhakti Yoga. Por este motivo,
este é considerado o resumo do Sri Gita.

Capítulo 3
KARMA YOGA

O prinçípio da ação

Sloka 1

Arjuna uvaca
Jyayasi cet karmanas te
Mata buddhir janardana
Tat kim karmani ghore mam
Niyojayasi kesava

Arjuna disse: Oh!Janardana! Se consideras que a inteligencia


é melhor do que o trabalho fruitivo, então por que estäs me
ocupando nesta terrível batalha?

Sloka 2

Vyamisreneva vakyena
Buddhim mohayasiva me
Tad ekam vada niscitya
Yena sreyo ham apnuyam
Minha inteligencia está confundida por tuas declarações
ambíguas. Diga-me por favor, o que é mais benéfico á mim?

Sloka 3

Sri bhagavan uvaca


Loke smin dvi-vidha nistha
Pura prokta mayanagha
Jnana-yogena sankhyanam
Karma-yogena yoginam

Sri Bhagavan disse: Oh!Imaculado Arjuna! Já te expliquei


que neste mundo há dois tipos de fé inquebrantável: A fé dos
filósofos empiristas baseada no processo de especulação
filosófica, e a fé dos yoguis baseada no processo de niskama-
karma-yoga.

Sloka 4

Na karmanam anarambhan
Naiskarmyam puruso snute
Na ca sannyasanad eva
Siddhim samadhigacchati

Uma pessoa não pode alcançar liberação por deixar de fazer


seus deveres prescritos, e nem uma pessoa pode alcançar a
perfeição simplesmente por aceitar sannyasa.

Sloka 5

Na hi kascit ksanam api


Jatu tisthaty akarmakrt
Karyate hy avasah karma
Sarvah prakrti-jair gunaih
Certamente, nada permanece inativo sequer por um instante.
Todas as pessoas certamente se ocupam inevitavelmente na
ação, através dos modos materiais, de acordo com sua própria
natureza.

Sloka 6

Karmendriyani samyamya
Ya aste manasa smaran
Indriyarthan vimudhatma
Mithyacarah sa ucyate

Uma pessoa tola, que controla os sentidos, mas permanece


meditando nos objetos dos sentidos por meio da mente, é
chamada de hipócrita.

Sloka 7

Yas tv indriyani mana


sa
Niyamyarabhate arjuna
Karmendriyaih karma-yogam
Asaktah sa visisyate

Oh!Arjuna! Aquele que sem apego, controla os sentidos


através da mente, e que começou o processo de niskama-
karma-yoga mediante os sentidos de trabalho, é superior ao
hipócrita.

Bhavanuvada

Bhagavan recita este verso para explicar que um homem


casado que segue as instruções dos Sastras, é superior ao
falso renunciante. Aqui, a palavra karma-yoga refere-se á
ação prescrita pelos sastras sem o desejo do resultado de tal
atividade.

Sloka 8

Niyatam kuru karma tvam


Karma jyayo hy akarmanah
Sarira-yatrapi ca te
Na prasidhyed akarmanah

Você deve executar seus deveres segundo as regulações dos


Sastras, pois a ação é melhor que a inação. Tua manutenção
corporal não pode ser feita sem o trabalho.

Sloka 9

Yajnarthat karmano nyatra


Loko yam karma-bandhanah
Tad-artham karma kaunteya
Mukta-sangah samacara

Oh! Filho de Kunti! Com excessão da ação oferecida á Visnu


dessinteressadamente, todas as demais atividades perpetuam
a humanidade neste mundo. Por tanto, livre do apego,
executa seus atos para sua própria satisfação.

Sloka 10

Saha yajnah prajah srstva


Purovaca prajapatih
Anena prasavisyadhvam
Esa vo stv ista-kama-dhuk

Em tempos remotos, tendo criado sua progenie,junto com os


brahmanas qualificados para executar sacrifíçios, Prajapati
Brahma lhes deu esta benção: "Que este sacrificio lhes traga
prosperidade e sastifaça todos os seus desejos."

Bhavanuvada

Para explicar o verso anterior, Sri Krsna recita sete versos


que começam com este, cuja palavra inicial é saha."Uma
pessoa de coração impuro deve dedicar-se exclussivamente
ao cultivo da ação desinteressada e não deve aceitar
sannyasa. Mas se em sua condição atual não pode sequer
executar tal ação, deve então dedicar-se á ação fruitiva e
ofereçe-la á Visnu.
Levando em conta a tendencia de desfrute que teria a
progenie, o Senhor Brahma disse: "Que este yajna satisfaça
todas as suas metas."

Sloka 11

Devan bhavayatanenate
Deva bhavayantu vah
Parasparam bhavayantah
Sreyah param avapsyatha

Satisfazendo os semi-deuses mediante o sacrifíçio , eles


também o satisfarão. Satisfazendo-se mutuamente, voces
alcançarão suprema fortuna.

Sloka 12

Istan bhogan hi vo deva


Dasyante yajna-bhavitah
Tair dattan apradayaibhyo
Yo bhunkte stena eva sah
Estando satisfeitos com os sacrifícios, os semi-deuses o
recompensarão concedendo-lhes tudo que desejam. Por tanto,
aquele que desfruta dos ingredientes ministrados pelos
semideuses sem oferece-los á eles, é sem dúvida um ladrão.

Sloka 13

Yajna sistasinah santo


Mucyante sarva kilbisaih
Bhunjate te tv agham papa
Ye pacanty atma-karanat

As pessoas santas que comem os restos de comida do


sacrifício, estão livres de todo o pecado, mas , as que
cozinham grãos e outros alimentos apenas para seu próprio
prazer, estão comendo apenas pecado.

Sloka 14

Annad bhavanti bhutani


Parjanyad anna-sambhavah
Yajnad bhavati parjanyo
Yajnah karma-samudbhavah

As entidades vivas nasçem dos grãos produzidos pela chuva.


A chuva por sua vez é produzida pelo sacrifício que nasce
da execução dos deveres prescritos.

Sloka 15

Karma brahmodbhavam viddhi


Brahmaksara-samudbhavam
Tasmat sarva-gatam brahma
Nityam yajne pratisthitam
Deves saber que os deveres prescritos nascem dos Vedas, os
Vedas nascem do Senhor Supremo imutável. Por tanto,o
Brahma Supremo onipenetrante, se situa sempre no
sacrifício.

Sloka 16

Evam pravarttitam cakram


Nanuvartayatiha yah
Aghayur indriyaramo
Mogham partha as jivati

Oh! Partha! Aquele que não segue o ciclo estabeleçido nos


Vedas, vive em vão, pois é um desfrutador dos sentidos , e é
a morada do pecado.

Sloka 17

Yas tv atma-ratir eva syad


Atma-trptas ca manavah
Atmany eva ca santustas
Tasya karyam na vidyate

Sem dúvida, a pessoa que se regosija no ser e se sente feliz


consigo próprio, á ela não existe dever algum.

Sloka 18

Naiva tasya krtenartho


Nakrteneha kascana
Na casya sarva-bhutesu
Kascid artha-vyapasrayah

Aquele que é atmarama não alcança virtude alguma mediante


a execução das ações neste mundo, tampouco incorre em
pecado por sua inação e nem tem a necessidade de depender
das jivas para conseguir seus propósitos.

Prakasika-Vrtti

Todas as jivas, tanto móveis tanto imóveis,começando por


Brahma, permanecem absortas no desfrute material devido á
sua identificação com o corpo; cada uma de suas ações está
dirigida para o prazer sensual. Mas a pessoa que é Atmarama,
transcendeu o egoísmo relativo aos prazeres mundanos e nem
sequer se interessa por jnana ou vairagya,e por que estão
completamente absortas em Bhakti, jnana e vairagya
manifesta-se naturalmente neles.

Sloka 19

Tasmad asaktah satatam


Karyam karma samacara
Asakto hy acaran karma
Param apnoti purusah

Por tanto, executa seu dever prescrito sem nenhum apego.


Executando os deveres prescritos sem apego, um homem
alcança o Supremo.

Sloka 20

Karmanaiva hi samsiddhim
Asthita janakadayah
Loka-sangraham evapi
Sampasyan kartum arhasi

Janaka e outros reis santos, sem dúvida, alcançaram a


perfeição por executar seus devers prescritos. Voce também,
para o benefício do povo, também dve fazer isto.
Sloka 21

Yad yad acarati sresthas


Tat tad evetaro janah
sa yat pramanam kurute
lokas tad anuvarttate

Sem dúvida, as pessoas ordinárias atuam do mesmo modo


que uma pessoa exaltada. Qualquer regra que uma pessoa
exaltada estabeleça, estas pessoas o seguirão.

Slok 22

Na me parthasti karttavyam
Trisu lokesu kincana
Nanavaptam avaptavyam
Varta eva ca karmani

Oh!Partha! Para mim, não há nenhum dver prescrito, pois


não há nada inalcançavel pra mim nos tres mundos. Mas até
mesmo eu estou ocupado na execução dos deveres prescritos.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan se exibe como exemplo para instruir o povo


comum neste e nos próximos versos.

Sloka 23

Yadi hy aham na vartteyam


Jatu karmany atandritah
Mama vartmanuvarttante
Manusyah partha sarvasah
Oh!Partha! Se em algum momento eu não me ocupasse
cuidadosamente na execução dos meus deveres prescritos, as
pessoas seguiriam meu comportamento em todos os aspectos.

Sloka 24

Utsideyur ime loka


Na kuryam karma ced aham
Sankarasya ca kartta syam
Upahanyam imah prajah

Se eu não realizasse meus deveres prescritos (Karma), todo o


mundo se degradaria e eu seria o criador da população
indesejada. Então eu seria o instrumento para a decadençia de
todas as pessoas.

Sloka 25

Saktah karmany avidvamso


Yatha kurvanti bharata
Kuryad vidvams tathasaktas
Cikirsur loka-sangraham

Oh!Bharata! Assim como o ignorante executa o dever


prescrito com apego, do mesmo modo, o sábio deve atuar
sem apego, sempre desejando o bem estar do povo.

Sloka 26

Na buddhi-bhedam janayed
Ajnanam karma-sanginam
Yojavyet sarva-karmani
Vidvan yuktah samacaran
A pessoa erudita não deve confundir os ignorantes induzindo-
os a abandonar seus deveres prescritos. Ao contrário,com
uma mente equanime,ele deve anima-los a ocupar-se em
todos seus deveres.

Sloka 27

Prakrteh kriyamanani
Gunaih karmani sarvasah
Ahankara-vimudhatma
Karttaham iti manyate

Uma pessoa confundida pelo falso ego,pensa que é o


atuante ,mas, em todos os aspectos, as atividades se realizam
pela vontade da natureza material do Senhor.

Sloka 28

Tattvavit tu maha-baho
Guna-karma-vibhagayoh
Guna gunesu varttanta
Iti matva na sajjate

Oh! Arjuna de braços poderosos. Um conheçedor da ciençia


transcendental sabe das diferenças entre a alma , os modos
materiais e a leis do Karma. Considerando que os sentidos se
ocupam em seus objetos, ele se mantém desapegado.

Sloka 29

Prakrter guna-sammudhah
Sajjante guna-karmasu
Tan akrtsna-vido mandan
Krtsna-vin na vicalayet
As pessoas confundidas pelos três modos da natureza
material se apegam aos modos e ao Karma, mas o sábio não
deve se perturbar com estas pessoas menos inteligente e
ignorantes.

Sloka 30

Mayi sarvani karmani


Sannyasyadhyatma-cetasa
Nirasir nirmamo bhutva
Yudhyasva vigata-jvarah

Fixa tua mente no ser interior, oferece todas as suas


atividades á mim, e estando livre de todo o desejo, do sentido
de possesividade e lamentação, lute.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan converte Arjuna em um instrumento visando


ensinar os homens comuns a importançia de se executar o
Karma prescrito ,livre do falso ego de se açhar o auante das
açõesedo desejo pelos fruto destas ações.

Sloka 31

Ye me matam idam nityam


Anutisthanti manavah
Sraddhavanto nasuyanto
Mucyante te pi karmabhih

Aquelas pessoas quenão são invejosas, que tem plena fé em


mim e que sempre se ajustam ao meu desejo, se liberam
também do cativeiro das ações fruitivas.
Sloka 32

Ye tv etad abhyasuyanto
Nanutisthanti me matam
Sarva-jnana-vimudhams tan
Viddhi nastan acetasah

Mas as pessoas invejosas, que não seguem minhas instruções,


carecem de inteligencia e de verdadeiro conheçimento,
fracassam em seu intento de alcançar a perfeição.

Sloka 33

Sadrsam cestate svasyah


Prakrter jnanavan api
Prakrtim yanti bhutani
Nigrahah kim karisyati

Inclusive um sábio atua segundo sua propria inclinação,


porque todos os seres seguem suas naturezas. Que poderiam
obter coma repressão dos seus sentidos?

Prakasika-vrtti

Uma pessoas cujos sentidos estão descontrolados, pode Ter


certa discriminação,mas é incapaz de refrea-los através do
conheçimento dos Sastras.
Os desejos incontroláveis e degradados podem ser eliminados
através de Sadhu Sanga, associação com os Santos
poderosos.
Srila Bhaktivinoda explica: ”Krsna diz: ”Ó Arjuna, não pensa
que um homem com conheçimento pode alcançar a liberação
do cativeiro material apenas por saber sobre a matéria e
espírito. A alma condiçionada deve esforçar-se de cordo com
suas inclinações espeçíficas. Deve continuar atuando segundo
sua inclinação de forma natural. Voçê deve entregar os frutos
das suas ações a Sri Bhagavan. A renúnçia ao dever prescrito
lhe trará a desviação do caminho da perfeição.
Quando,através da minha misericórdia ou de meu devoto, o
Bhakti yoga apareçe no no coração, não há neçessidade de
seguir o dever prescrito , poiseste caminho é superior ao
deniskama-karma-yoga. Mas, ainda sim, se Bhakti ainda não
surgiu,o niskama-karma-yoga ofereçido á mim, é sempre
benéfico.”

Sloka 34

Indriyasyendriyasyarthe
Raga-dvesau vyavasthitau
Tayor na vasam agacchet
Tau hy asya paripanthinau

Todos os sentidos são controlados pelo apego e a aversão por


seus objetos. Por tanto o sadhaka não deve converter-se em
um escravo dos seus sentidos, pois o apego e a aversão são
totalmente desfavoráveis.

Prakasika-Vrtti

Os sentidos são de dois tipos: jnanendriya e karmendriya.Há


cinco jnanendriyas: vista, ouvido, olfato, gosto e tato. Os
karmendriyas são cinco também: fala, mãos, pernas, ânus e
genitais. O sadhaka de Bhakti emprega estes dez sentidos e a
mente em diversos tipos de serviço devocional para o prazer
de Sri Krsna, ao invés de usar-los para seu próprio desfrute.
Desta maneira, pode-se dominar os sentidos e alcançar a meta
suprema da vida.
Srila Bhaktivinoda Thakura explica. “Krsna diz á Arjuna:
“Oh Arjuna, se pensas que ao açeitar os objetos dos sentidos,
as entidades vivas ficarão mais viçiadas ao prazer mundano e
por tanto,sua liberação do cativeiro do Karma será
impossível, então escuta-me. Não é certo que todos os
objetos sensíveis sejam prejudiçiais para o progresso
espiritual. O apego e a aversão á estes objetos é que são seus
piores inimigos. Enquanto possuir um corpo material, deves
aceitar os objetos dos sentidos, mas ao eliminar gradualmente
o apego e a aversão, os quais são produtos da identificação
córporea, te desapegarás totalmente deles. Você deve
controlar o apego e a aversão que estão relaçionados com seu
próprio prazer, porque eles promovem um temperamento
oposto á Bhakti (devoção).

Sloka 35

Sreyam sva-dharma vigunah


Para-dharmat svanusthitat
Sva-dharme nidhanam sreyah
Para-dharmo bhayavahah

È melhor executar o próprio dever prescrito,ainda que de


modo imperfeito,do que levar á cabo o dever de outros
perfeitamente.É melhor morrer executando o próprio dever
de acordo com o Varnasrama do que desempenhar o dever
alheio,pois isto é muito perigoso.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda diz:”Alguém que segue seu dever,pode


morrer antes de alcançar um estado superior de Dharma,mas
ainda sim,isso lhe é benéfico,pois cumprir o dever alheio é
sempre terrível e perigoso.Tal consideração não é aplicável
aos praticantes de Nirguna Bhakti,pois alguém que alcançou
isto pode abandonar seu dever sem vaçilação,pois neste
momento seu Nitya Dharma(natureza constituçional)se
manifesta como seu Sva Dharma.
Sloka 36

Arjuna uvaca
Atha kena prayukto ýam
Papam carati purusah
Anicchann api varsneya
Balad iva niyojitah

Arjuna disse:”Ó desçedente de Vrsni!Por que uma pessoa


tem que ser ocupada ainda que contra sua próporia vontade, á
cometer algum pecado?

Sloka 37

Sri bhagavan uvaca


Kama esa krodha esa
Rajo-guna-samudbhavah
Maha-sano maha-papma
Viddhy enam iha vairinam

Sri Bhagavan diz:”O desejo de desfrutar dos objetos dos


sentidos, que depois se transforma em ira,nasçe do modo da
paixão.Isto é imensamente grande e voraz.Considere isto
como o prinçipal inimigo da jiva neste mundo.

Bhavanuvada

A luxúria,o desejo pelos objetos dos sentidos,vincula as


pessoas com as atividades pecaminosas e as impulsiona á
executa-las. Conclusão:O desejo que nasçe do modo da
paixão,produz a ira,a qual está situada no modo da
ignorânçia.
Segundo a declaração do Smrti se diz que a satisfação do
desejo está aquém da capaçiadade de uma
pessoa.Anteçipando a pergunta”Se não há a possibilidade de
controlar a luxúria ofereçendo-a seus objetos:devemos nós
controlá-la retraíndo-a?”
Bhagavan diz:”Ela é extremamente formidável e muito difícil
de se controlar.”

Sloka 38

Dhumenavriyate vahnir
Yathadarso malena ca
Yatholbenavrto garbhas
Tatha tenedam avrtam

Assim como a fumaça cobre o fogo ou o ventre cobre o


embrião, o conhecimento fica encoberto por diversos agrados
da luxúria.

Sloka 39

Avrtam jnanam etena


Jnanino nitya-vairina
Kama-rupena kaunteya
Duspurenanalena ca

Oh!Arjuna! O Verdadeiro conhecimento do sábio é encoberto


pelo inimigo eterno, a luxúria, que assim como fogo, jamais
se sacia.

Bhavanuvada

No Srimad Bhagavatam se diz:”O fogo não se sacia com a


manteiga clarificada, muito pelo contrário, ele se torna mais
vivo. Igualmente, a sede de prazer sensual se intensifica mais
e mais ao desfrutar dos objetos dos sentidos.
Sloka 40

indriyani mano buddhir


asyadhisthanam ucyate
etair vimohayaty esa
jnanam avrtya dehinam

Se diz que os sentidos, a mente e a inteligênçia, são as


residencias da luxúria. Com sua ajuda,esta luxúria envolve o
conhecimento e desconçerta a entidade viva.

Bhavanuvada

Os sentidos, a mente e a inteligência são como um grande


forte onde reside este inimigo, a luxúria.E os objetos
sensíveis, como o som, constituem seu reino. A alma
corporificada é desconcertada por todos eles.

Sloka 41

Tasmat tvam indriyany adau


Niyamya bharatarsabha
Papmanam prajahi hy enam
Jnana-vijnana-nasanam

Óh melhor dos Bharatas! Por tanto,primeiro controla os


sentidos,assim sem dúvida alguma você aniquilará este forte
destruídor(a luxúria), que destrói tanto o conhecimento
quanto a auto realização.

Bhavanuvada

O inimigo é vencido quando se conquista sua guarita; esta é a


estratégia. Então, devemos primeiro controlar os sentidos.
Controlando os sentidos, ou seja, desviando-os de seus
objetos, a mente se libertará da luxúria em seu devido
momento.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan disse á Uddhava: ”A mente só se pertuba


quando os sentidos é posto em contato com seus objetos.”

“Assim sendo,a mente de uma pessoa que domina seus


sentidos é sempre estável e paçífica.”

Sloka 42

Indriyani parany ahur


Indriyebhyah param manah
Manasas tu para buddhir
Buddher yah paratas tu sah

Se diz que os sentidos são superiores á materia inerte, a


mente é superior aos sentidos, a inteligência é superior á
mente, e a alma é superior á inteligência.

Sloka 43

Evam buddheh param buddhva


Samstabhyatmanam atmana
Jahi satrum maha-baho
Kama-rupam durasadam

Ó possuidor de braços poderosos! Desta maneira,


compreendendo que a alma é superior á inteligênçia, controla
com firmeza a mente através da inteligência pura e destrói
este poderoso inimigo em forma de luxúria.
Capítulo 4
Jnana Yoga

O conheçimento Transçendental

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Imam vivasvate yogam
Proktavan aham avyayam
Vivasvan manave praha
Manur iksvakave bravit

Bhagavan disse: Eu ensinei esta impereçível cieençia do


Yoga primeiramente á Vivasvan, o deus do sol, quem por sua
vez ensinou á Manu. Então Manu ensinou á Iksvaku.

Prakasika-vrtti

Neste capítulo, Sri Bhagavan introduz o conçeito da suçessão


discípular de mestres espirituais auto realizados, sem o qual
não se pode manifestar Bhakti ou Jnana Yoga neste mundo
material. Só através dela se pode compreender temas
espirituais. Na Índia, podemos ver como a fé e devoção na
sucessão disçípular encontra-se até nas pessoas comuns.Os
mantra que não são recebidos através da sucessão discípular
são completamente infrutíferos. Nesta Kali Yuga existem
quatro suçessões Vaishnavas: Sri, Brahma, Rudra e Kumara.
Sri Krsna é a fonte de todas elase dele flui todo a verdade
neste mundo.
No Gita, se explica como Krsna ensinou primeiramente o
jnana yoga á Surya deva, Vivasvan, que por sua vez ensinou
á manu, que logo ensinou á Iksvaku. Assim sendo, o sistema
de suçessão discipular, parampara, é uma tradição ancestral e
confiável mediante o conheçimento divino há sendo
preservado até o presente momento.
Uma pessoa jamais compreenderá o Bhagavad Gita se não se
situa no Guru Parampara, ainda que seja muito qualificada
em termos de conheçimento material; portanto é necessário
se proteger dos comentaristas maléficos, principalmente os
Mayavadis(impersonalistas) os quais se identificam com o
corpo material.

Sloka 2

Evam parampara-praptam
Imam rajarsayo viduh
As kaneleha mahata
Yogo nastah parantapa

Ó Arjuna! Esta ciência do yoga foi recebida através da


suçessão discipular e os reis piedosos assim á aprenderam.
Mas, devido á poderosa influência do tempo, esta ciência
suprema se perdeu neste mundo.

Sloka 3

As evayam maya te dy
Yogah proktah puratanah
Bhakto si me sakha cet
Rahasyam hy etad uttamam

Hoje te ensino esta mesma ancestral ciência da conexão com


o supremo. Por que você é meu amigo e meu devoto você
pode enteder este conhecimento confidêncial supremo.
Prakasika-Vrtti

Um guru genuíno ensina princípios muito confidênciais


apenas ao discípulo afetivo e rendido, que tem uma atitude de
serviço.
Quem não possui estas qualidades, não são capazes de
compreender o conheçimento transmitido pelo Guru. Aqui,
Bhagavan sri Krsna está dizendo á Arjuna:”Por que tu és
muito afetuoso e um querido amigo, eu estou o impartindo
este conhecimento transcendental confidencial.

Sloka 4

Arjuna uvaca
Aparam bhavato janma
Param janma vivasvatah
Katham etad vijaniyam
Tvam adau proktavan iti

Arjuna disse: Tu nasceste recentemente, enquanto que Surya


nasceu há muito tempo. Como você o ensinou este yoga?

Bhavanuvada

Considerando impossível a declaração anterior de Krsna,


Arjuna pergunta: ”Você nasceu recentemente , enquanto que
Surya(o deus do sol)nasceu há muito tempo atrás. Como
posso crer então que tu ensinastes este yoga em um empos
ancestrais?”

Sloka 5
Sri bhagavan uvaca
Bahuni me vyatitani
Janmani tava carjuna
Tany aham veda sarvani
Na tvam vettha parantapa

Sri Bhagavan disse: Ó Arjuna, castigador do inimigo. Voçê e


eu já tomamos muitos nascimentos juntos. Eu me recordo de
todos eles, mas você não.

Prakasika-vrtti

Aqui Krsna diz á Arjuna: ”Mesmo antes desta minha


existência atual, eu vim na forma de muitos outros avataras,
manifestando assim diversos nomes, passatempos e formas,
os quais me recordo plenamente. Você apareceu comigo em
todos eles, mas não se recorda porque pertences á categoria
das partículas atômicas conscientes.”

Sloka 6

Ajo pi sann avyayatma


Bhutanam isvaro pi san
Prakrtim svam adhisthaya
Sambhavamy atma-mayaya

Ainda que sou não nasçido e que possuo um corpo


transçendental e imperecível, e mesmo que sou o senhor de
todos os seres, eu me manifesto através de minha própria
potência interna.

Prakasika-Vrtti

“Em Sri Bhagavan não há distinção entre seu corpo e sua


alma corporificada. ”Já nas entidades vivas, o corpo é
diferente da alma corporificada, em outras palavras, seu
corpo sutil e grosseiro são diferentes dela.”
Bhagavan apareçe neste mundo através de sua potênçia cit-
sakti, enquanto que as jivas nascem neste mundo pela
influênçia de maya-sakti.
Sri Krsna é o controlador e a fonte de ambas as potências.

Sloka 7

Yada yada hi dharmasya


Glanir bhavati bharata
Abhyutthanam adharmasya
Tadatmanam srjamy aham

Ó Bharata! Sempre que há um declínio do Dharma (religião)


e um aumento de Adharma (irreligião), eu me manifesto
neste mundo.

Prakasika-vrtti

Quando descende Sri Bhagavan? Sua explicação começa com


a palavra yada; ”Incapaz de tolerar o declínio do Dharma e o
aumento do Adharma, eu apareço com o propósito de reverter
a situação.”

Sloka 8

Paritranaya sadhunam
Vinasaya ca duskrtam
Dharma – samsthapanarthaya
Sambhavami yuge yuge

Eu apareço em cada era para proteger meus devotos


imaculados, aniquilar os ímpios e restabecer o Dharma.
Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan desçende á este mundo por três razões: aliviar


as aflições dos devotos que sofrem sofrem por sua separação,
para matar os demônios como Kamsa que se opõem
fortemente contra os santos, e para difundir a mensagem da
devoção pura. Sri Krsna é a origem de todos os inumeráveis
avataras.

Sloka 9

Janma karma ca me divyam


Evam yo,vetti tattvatah
Tyaktva deham punar janma
Naiti mam eti so rjuna

Ó Arjuna! Meu nascimento e atividades são transcendentais.


Quem conhece esta verdade não aceita outro corpo material
após abandonar este corpo atual, se não que vem até mim.

Prakasika-Vrtti

Quem pela graça do Guru e dos Vaishnavas compreende que


Sri Bhagavan açeita um nascimento transcendental e executa
atividades transcendentais mediante sua potência
inconcebível, obtem seu serviço eterno nesta mesma vida e
pela misericórdia da sua energia de prazer alcança a
liberação.
E aqueles que consideram que o nasçimento e atividades de
Sri Krsna são mundanos, são subjugados e perambulam no
ciclo de nascimentos e mortes , assim sendo, são afligidos
pelos três tipos de misérias.

Sloka 10
Vita - raga – bhaya – krodha
Man – maya mam upasritah
Bahavo jnana – tapasa
Puta mad – bhavam agatah

Livre do apego , do temor e da ira, fixa tua mente em mim.


Assim, através do conhecimento e das austeridades , muitas
pessoas se purificam e alcançam amor por mim.

Bhavanuvada

As palavras vita – raga se refere á quem abandonou por


completo o apego pelas pessoas que se dedicam á conversas
inúteis. ”Meus devotos não se misturam com tais pessoas e
nem ás temem. Se alguém pergunta o motivo de tal atitude, a
resposta é que ela está totalmente absorto na meditação,
deliberação, e ao canto sobre o meu nasçimento e minhas
atividades.”

Prakasika-Vrtti

Bhaktivinoda Thakura interpreta á Krsna.”Há três razões para


que os néscios não sentem inclinação por discutir sobre a
natureza transçendental e totalmente pura do meu
nasçimento,atividades e forma: O apego por coisas mundanas,
o temor e a ira.”
Já os sábios se liberam do apego, temor e ira e me perçebem
em todas as partes.Totalmente entregues á mim, eles são
purificados mediante o fogo do conheçimento transcendental
da penitênçia de tolerar o ardente veneno do comentário
impróprio. Assim, eles obtém o mais puro e sublime amor por
mim.”

Sloka 11
Ye yatha mam prapadyante
Tams tathaiva bhajamy aham
Mama vartmanuvarttante
Manusyah partha sarvasah

Ó filho de Prtha! Á aqueles que se rendem á mim, eu


correspondo amavelmente na mesma medida. Na verdade, o
mundo inteiro segue meu caminho em todos os aspectos.

Bhavanuvada

Surge á possível pergunta:”Apenas seus devotos exclusivos


compreendem que teu nasçimento e atividades são eternos.
Mas, o que aconteçe com os jnanis,e os praticantes de outros
métodos que não açeitam a eternidade dos eu nasçimento,
atividades , forma etc..? ”Krsna responde:”Eu os recompenso
dando-lhes o resultado de sua adoração na mesma proporção
das suas adorações.Para aqueles que me adoram em atitude de
serviço,eu como Isvara,dou-lhes um nasçimento eterno.
Outros,que refugiam em mim como os jnanis,que consideram
meu nasçimento e atividades como sendo temporários,eu
outorgo-lhes a açeitação de repetidos nasçimentos e
mortes,sujeitos á destruição. Para os que desejam a liberação,
que consiste na dissolução do corpo sutil e grosseiro, eu
destruo seu enrendamento no ciclo de nasçimentos e mortes e
conçedo-lhes a liberação. Assim sendo, todos seguem meu
caminho.”

Sloka 12

Kanksantah karmanamsiddhim
Yajanta iha devatah
Ksipram hi manuse loke
Siddhir bhavati karmaja
Aqueles que desejam os frutos de suas atividades neste
mundo, adoram os semideuses. De tal maneira eles obtém
rapidamente os resultados de seu trabalho fruitivo.

Bhavanuvada

“Entre as pessoas á quem correspondo, os que desejam êxito


material abandonam o caminho de Bhakti, o qual não é
diferente de mim, pra transitar no caminho de karma no qual
se obtém frutos rapidamente.”

Sloka 13

Catur – varnyam maya srstam


Guna – karma – vibhagasah
Tasya karttaram api mam
Viddhy akarttaram avyayam

O sistema quádruplo de ordens sociais (castas) foi criado por


mim de acordo com as divisões de qualidades (guna) e
ocupação (karma). Ainda que sou o criador deste sistema,
deves saber que sou imutável e não sou o atuante direto.

Bhavanuvada

De acordo com as quatro castas, os brahmanas situam-se no


modo da bondade e sua ocupação é controlar a mente e os
sentidos. Os Ksatriyas estão no modo da bondade misturada
com paixão e se ocupam na guerra, os vaisyas estão
influênciados pelos modos da paixão e da ignorânçia e sua
ocupação esta relaçionada com a agricultura e a proteção ás
vacas,os sudras estão no modo da ignorância e se ocupam em
trabalhos menores como deveres domésticos e serviçais.

Prakasika-Vrtti
Sri Bhagavan ,por sua misericórdia imotivada , cria o
caminho da ação através da sua energia externa, com o
propósito de liberar as jivas. Ao mesmo tempo, ele se ocupa
em seus passatempos transçendentais, desfrutando com sua
energia interna, pemanecendo assim imutável e sem criar. Ou
seja, ele não é o criador ou atuante direto.

Sloka 14

Na mam karmani limpanti


Na me karma-phale sprha
Iti mam yo bhijanati
Karmabhir na sa badhyate

O karma jamais me afeta e eu não desejo seus frutos. Aquele


que me compreende desta maneira, nunca é aprisionado por
tais atividades.

Sloka 15

Evam jnatva krtam karma


Purvair api mumuksubhih
Kuru karmaiva tasmat tvam
Purvaih purvataram krtam

Assim, sabendo que inclusive as antigas almas liberadas


executaram karma apenas para ensinar as pessoas comuns,
você também deve executar suas ações igual fizeram seus
antepassados.

Bhavanuvada

“As autoridades do passado, como Janaka, executaram karma


para estabelecer o ideal da humanidade.”
Sloka 16

Kim karma kim akarmeti


Kavayo py atra mohitah
Tat te karma pravaksyami
Yaj jnatva moksyase subhat

Até o homem sábio se confunde ao determinar o que é ação e


o que é inação. Por tanto, te explicarei o prinçípio da ação e
ao compreende-la, te liberarás de toda inauspiciosidade.

Sloka 17

Karmano hy api boddhavyam


Boddhavyanca vikarmanah
Akarmanas ca boddhavyam
Gahana karmano gatih

O prinçípio da ação (karma) é muito profundo. Por tanto ,


deves entender o que é ação (karma), o que é ação
pecaminosa (vikarma) e o que é inação (akarma).

Sloka 18

Karmany akarma yah pasyed


Akarmani ca karma yah
Sabuddhiman manusyesu
sayuktah krtsna -karma-krt

A pessoa inteligente que pode ver a inação na ação e ação na


inação,está situada transcendentalmente ainda que realiza
todo tipo de atividades.

Bhavanuvada
Janaka Maharaja e outros sábios de coração puro não
açeitaram sannyasamesmo sendo dotados de conhecimento
transcendental.Pelo contrário, executaram niskama-karma-
yoga. O karma jamais cativa os que entendem que estas ações
não constituem karma. Um karmasannyasi de coração
impuro , que carece de conheçimento transçendental e que
possui apenas conheçimento intelectual dos Sastras, é capaz
apenas de pronunçiar discursos retóricos.
As pessoas de coração puro executam todo tipo de ação mas
não açeitam Karma Sannyasa.Outros se consideram
entendidos , mas na realidade são orgulhosos e charlatões.

Sloka 19

Yasya sarve samarambhah


Kama-sankalpa-varjitah
Jnanagni –dagdha-karmanam
Tam ahuh panditam budhah

Aquele cujo todos os esforços são desprovidos de desejos


egoístas, sua ação é abrasada pelo fogo do conheçimento. Os
sábios o denominam como sendo um erudito.

Prakasika-Vrtti

Quem executa karma livre dos desejos fruitivos, queima os


resultados do seu karma prescrito , assim como os resultados
de seu vikarma, no fogo do conheçimento transcendental
produzido pela execução de niskama-karma-yoga.

Sloka 20

Tyaktva karma phalasangam


Nitya-trpto nirasrayah
Karmany abhipravrtto pi
Naiva kincit karoti sah

Os que abandonaram o apego aos frutos da ação , estão


sempre satisfeitos e independentes. Por tanto, eles não fazem
nada ainda que estejam ocupados na ação.

Sloka 21

Nirasir yata-cittatma
Tyakta-sarva-parigrahah
Sariram kevalam karma
Kurvan napnoti kilbisam

Aquele que atua unicamente para a manutenção de seu corpo,


cuja mente está controlada e que abandonou toda busca por
prazeres sensuais, ao agir ele não obtem nenhuma reação
pecaminosa.

Sloka 22

Yadrccha-labha-santusto
Dvandvatito vimatsarah
Samah siddhav asiddhau ca
Krtvapi na nibadhyate

Ele não se enreda ainda que atue, pois está sempre satisfeito
com o que vem espontaneamente. Ele abandonou toda a
dualidade e inveja e é equanime no êxito e no fracasso.

Sloka 23

Gata-sangasya muktasya
Jnanavasthita-cetasah
Yajnayacaratah karma
Samagram pravilyate

Aquele que abandonou toda a assoçiação externa e cuja


consçiênçia está situada no conheimento,de certo está
liberado.Ao atuar para o prazer de Visnu,sua ação fruitiva se
dissolve por completo.

Sloka 24

Brahmarpanam brahma havir


Brahmagnau brahmana hutam
Brahmaiva tena gantavyam
Brahma-karma-samadhina

A realidade espiritual é sem dúvida alcançada pelo brahmana


que está absorto em transe executando uma ação espiritual. Os
instrumentos usados no sacrifíçio também devem estar
espiritualizados, tais como; a manteiga clarificada, o fogo, as
oferendas de alimentos etc..

Sloka 25

Daivam evapare yajnam


Yoginah paryupasate
Brahmagnav apare yajnam
Yajnenaivopajuhvati

Alguns karma-yogis executam perfeitamente o sacrifício aos


semi-deuses, mas os jnani-yogis ofereçem todas as suas
atividades como oblações no fogo do brahma.

Prakasika-Vrtti

Os yajnas se dividem em dois grupos de acordo com a


compreensão científica:O karma-yajna que consiste na
oblação de oferendas;e o jnana-yajna,o sacrifíçio na forma de
discussões açerca da verdade consçiente.
Os karma-yogis executam sua adoração aos representantes
autorizados de Visnu, tais como Indra,Varuna etc..Por meio
desta adoração, eles çhegam na plataforma de niskama-
karma-yoga de forma gradual.
Os jnana-yogis executam ynana yoga através ofereçendo seu
próprio ser na forma da manteiga clarificada no fogo do
sacrifíçio do brahma,reçitando o pranava mantra om e a frase
tat-tvam-asi,”eu sou seu servo”. Mais tarde, Krsna explicará a
superioridade do jnana-yajna.

Sloka 26

Srotradinindriyany anye
Samyamagnisu juhvati
Sabdadin visayan anya
Indriyagnisu juhvati

Os naisthika-brahmacaris ofereçem os sentidos começando


pelos ouvidos, no fogo da mente controlada. Outros, os
grhasthas, oferecem os objetos sensíveis começando pelo
som, no fogo dos sentidos.

Sloka 27

Sarvanindriya-karmani
Prana-karmani capare
Atma-samyama-yogagnau
Juhvati jnana-dipite

Outros yogis ofereçem as funções dos sentidos e seu ar vital


no fogo do auto controle,iluminado pelo conheçimento
transçendental(jnana).
Sloka 28

Dravya-yajnas tapo-yajna
Yoga-yajnas tathapare
Svadhyaya-jnana-yajnas ca
Yatayah samsita-vratah

Outros executam dravya-yajna doando suas posses em


caridade, alguns executam tapo-yajna fazendo austeridades e
outros praticam yoga-yajna estudando os oito tipos de yoga
mística çhamado astanga yoga.
Outros ainda estudam os vedas, adquirindo assim o
conheçimento transçendental. Todos estes ascetas seguem
estritos votos.

Sloka 29

Apane juhvati pranam


Prane panam tathapare
Pranapana-gati ruddhva
Pranayama-parayanah
Apare niyataharah
Pranam pranesu juhvati

Os que estão dedicados no controle da respiração, oferecem a


respiração (prana) na inspiração (apana) e vice versa.
Detendo-lhes gradualmente permaneçem em transe. Outros
ofereçem o prana no fogo do prana, enquanto restrigem a
alimentação.

Prakasika-Vrtti

Este verso explica com mais detalhe o sistema óctuplo de


yoga (astanga yoga). A palavra pranayama tem dois
componentes;prana e yama. Prana significa “um tipo espeçial
de ar” e ayama significa “expansão”. Neste contexto, a
palavra expansão indica o controle do prana desde a ponta dos
dos dedos dos pés até a ponta do cabelo. Pranayama significa
expandir o prana com o objetivo de controlar as atividades
sensuais.
Os smrti-sastras também descrevem estes tipos de yajnas,
yogas, ou votos que visam o controle dos sentidos. Porém em
Kali-yuga,quando vive- e pouco e tem-se pouca
inteligênçia. :”As pessoas inteligentes adoram Krsna através
do canto congressional dos santos nomes.”

Sloka 30

Sarve py ete yajna-vido


Yajna-kssapita-kalmasah
Yajna-sistamrta-bhujo
Yanti brahma sanatanam

Todos aqueles que conheçem o prinçípio do sacrifício se


libera do pecado mediante sua execução. Eles desfrutam dos
remanescentes do sacrifício e assim alcançam o brahma
eterno.

Prakasika-Vrtti

O fruto prinçipal do yajna é alcançar o brahma, enquanto que


o secundário é o desfrute material mundano e as perfeições
místicas, tais como acapacidade de se tornar do tamanho de
um átomo.

Sloka 31

Nayam loko sty ayajnasya


Kuto nyah kuru-sattama
Ó melhor dos Kurus! Se até este planeta é inalcançavel para
aqueles que não executam yajna, ue dizer então dos planetas
celestiais?

Sloka 32

Evam bahu-vidha yajna


Vitata brahmano mukhe
Karma-jan viddhi tan sarvan
Evam jnatva vimoksyase

Os Vedas descrevem detalhadamente os diversos tipos de


sacrifícios. Conseguirás a liberação quando entenderes que
todos eles nascem do karma.

Prakasika-Vrtti

O yajna descrito nos Vedas falam sobre atividades do corpo ,


da mente e da fala, por tanto, não há relação alguma com a
verdadeira natureza da alma.

Sloka 33

Sreyan dravyamayad yajnaj


Jnana-yajnah parantapa
Sarvam karmakhilam partha
Jnane parisamapyate

Ó castigador do inimigo! Melhor que o sacrifíçio das posses


materiais é o conhecimento (jnana yajna), porque todas ações
culminam no conhecimento transcendental.

Prakasika-Vrtti
Bhaktivinoda Thakura diz que todos os tipos de yajna
cultivam no conhecimento, assim sendo, jnana-yajna é
superior aos outros.
O Sri Caitanya Caritamrta declara:”As cordas que nos atam á
este mundo material, são facilmente desatadas por aqueles
que cantam o Krsna Mantra, através do qual alcança-se o
serviço amoroso á Krsna. Assim sendo,na era de Kali
(desavenças), tudo, á não ser o canto dos santos nomes, são
inúteis, pois não se enquadram na ocupação eterna da alma.”

Sloka 34

Tad viddhi pranipatena


Pariprasnena sevaya
Upadeksyanti te jnanam
Jnaninas tattva-darsinah

Deves compreender este conheçimento prostando-se em


reverênçia á um guru que realmente conheçe e viu a verdade
absoluta. Assim, oferecendo-lhe serviço devocional, esse
conheçimento se revelará á ti.

Prakasika-Vrtti

Só se pode obter tal elevado conheçimento por meio da


misericórdia de uma grande personalidade que conheça a
verdade, e mais espeçificamente,de alguém que á perçebe e
experimenta. Os sadhakas sinceros devem indagar acerca
desta verdade refugiando-se em uma grande personalidade e
ofereçendo-lhe reverências, fazendo-lhe perguntas e
oferençendo-lhe servico. Este é o proçesso com o qual se
pode obter tal conheçimento.

Sloka 35
Yaj jnatva na punar moham
Evam yasyasi pandava
Yena bhutany asesani
Draksyasy atmany atho mayi

Ó filho de Pandu! Depois de compreender este conhecimento


dado pelos conheçedores da verdade, nunca mais estarás
sujeito á ilusão. Mediante este conheçimento, você vai me
perceber dentro de todos os seres como Paramatma e verás
que todas elas estão situadas em mim.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta á Krsna. ”Devido á


ilusão,estais tentando abandonar seu dever prescrito de
participar da batalha, mas ao obter este conhecimento
transcendental de um guru, não se tornarás mais vítima da
ilusão. Assim, voçê entederá que todos os seres humanos,
animais e as demais entidades vivas estão situadas em um
princípio comum de almas espirituais.

Sloka 36

Api ced asi papebhyah


Sarve bhyah papa-krttmah
Sarvam jnana-plavenaiva
Vrjinam santarisyasi

Ainda se fosses o pior de todos os pecadores, poderías cruzar


o oceano de pecados através do bote do conhecimento
transcendental.

Sloka 37

Yathaidhamsi samiddho gnir


Bhasmasat kurute rjuna
Jnanagniih sarva-karmani
Bhasmasat kurute tatha

Ó Arjuna! Assim como um fogo ardente reduz á lenha á


cinzas, o fogo do conhecimento transcendental queima todas
as reações das atividades materiais.

Prakasika-Vrtti

O conhecimento transcendental destrói as reações de todo tipo


de atividade material , porém não destrói aquelas que já
germinaram (prarabdha-karma).
Na opinião de Srila Rupa Goswami, uma pessoa que se
refugia no santo nome, mesmo que seja namabhasa (a sombra
do nome puro), não somente destrói os resultados de seu
karma em forma seminal mas também os que já germinaram.

Sloka 38

Na hi jnanena sadrsam
Pavitram iha vidyate
Tat svayam yoga-samsiddhah
Kalenatmani vindati

Neste mundo não há nada mais purificante que o


conheçimento transcendental. Uma pessoa que alcançou a
perfeição através de niskama-karma-yoga, recebe tal
conhecimento em seu coração no devido momento.

Sloka 39

Sraddhavan labhate jnanam


Tat-parah samyatendriyah
Jnanam labdhva param santim
Acirenadhigacchati

Uma pessoa fiel que se dedicou á prática da ação


desinteressada e assim controlou seus sentidos, obtém este
conhecimento transçendental. Após obter este conhecimento
ele alcança a paz suprema: a liberação do cativeiro material.

Sloka 40

Ajnas casraddadhanas ca
Samsayatma vinasyati
Nayam loko sti na paro
Na sukham samsayatmanah

As pessoas ignorantes, infiéis ou de natureza duvidosa, estão


arruinadas. Para o indeciso não existe felicidade, nem neste
mundo e nem no próximo.

Bhavanuvada

Depois de explicar as qualificações necessárias para obter o


conheçimento transçendental, Bhagavan descreve agora a
pessoa que é indigna de obte-la. Ajnah significa”tolo como
um animal” e asraddadhanah indica aquele que tem
conheçimento dos sastras mas não possui fé em nenhum
prinçípio filosófico por ser incapaz de conciliar as
contradições das diversas filosofias. Samsaya-atma indica
aquele que duvida da possibilidade de êxito em seus esforços.

Sloka 41

Yoga-sannyasta-karmanam
Jnana-sanchinna-samsayam
Atma-vantam na karmani
Nibadhnanti dhananjaya
Ó conquistador de riquezas! Aquele que renunciou á ação
através do processo de niskama-karma-yoga e cujas dúvidas
foram dissipadas pelo conhecimento transcendental
compreendendo assim sua própria natureza interna, jamais é
atada ás reações do seu karma.

Prakasika-Vrtti

Nos dois últimos slokas,Bhagavan conclui o tema. De acordo


com as instruções de Krsna, um apessoa se refugia em
niskama-karma-yoga quando oferece todas as ações aos seus
pés de lótus. O proçesso descrito permite a purificação do
coração e sua consequente iluminação através do
conhecimento transçendental, que por sua vez acaba com
todas as dúvidas.
A partir do momento da iluminação, a pessoa se livra do
cativeiro do karma.

Sloka 42

Tasmad ajnana-sambhutam
Hrt-stham jnanasinatmanah
Chittvainam samsayam yogam
Atisthottistha bharata

Por tanto ó Bharata! Corta com a espada do conheçimento


transcendental, a dúvida nascida da ignorância que situa em
seu coração. Refugia-te neste yoga (niskama-karma-yoga) e
prepara-te para a batalha.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura diz:”Neste capítulo explica-se as


instruções açerca de duas divisões do sistema eterno de yoga.
A primeira , denominada jada-dravya maya-vibhaga, consiste
na realização de rituais mundanos ou no sacrifíçio das posses
materiais. A Segunda divisão se denomina atma-yathatma-
rupa-cinmaya-vibhaga, ou conhecimento sobre o ser e
Bhagavan.
Quando pratica-se a primeira sem algum objetivo
espiritual,este se converte simplesmente em karma, e quem se
dedica á ela são denominados karma-jada ou pessoas
profundamente absortas no desfrute mundano. Mas, aqueles
que praticam rituais mundanos com o único propósito de
avançar espiritualmente são yukta, ou seja, estão situados
apropriadamente. Quando discutimos sobre a natureza real
das atividades espirituais , devemos considerar dois aspectos;
o conheçimento sobre o prinçípio da entidade viva, e o
conhecimento acerca da Suprema Personalidade de Deus,
Bhagavan Sri Krsna. Só quem compreende e perçebe a
verdade sobre Bhagavan pode entender a essênçia do
conhecimento da natureza da alma como serva de Krsna.

Assim se conclui o quarto capítulo do Srimad Bhagavad Gita.

Capítulo 5

Karma-sannyasa yoga
A renúnçia da ação

Sloka 1
Arjuna uvaca
Sannyasam karmanam krsna
Punar yoganca samsasi
Yac chreya etayor ekam
Tan me bruhi su-niscitam

Arjuna disse: Ó Krsna, primeiro você descreveu a renúnçia á


ação (sannyasa karma yoga) e agora descreve a ação
desinteressada ofereçida á Bhagavan (niskama-karma-yoga) .
Diga-me claramente por favor, qual caminho me é mais
benéfico?

Bhavanuvada

No quarto capítulo se diz que karma é superior á jnana com o


propósito de animar os ignorantes á atuar apropriadamente,de
modo que ao final pudéssem alcançar a perfeição no
conhecimento transçendental. Este quinto capítulo explica o
conhecimento açerca da verdade absoluta e as características
de quem possui uma natureza equânime. Arjuna está perplexo
depois de escutar os dois últimos versos do capítulo anterior;
ele pensa que Krsna se contradiz e por isso argumenta
agora:”Anteriormente voçê disse sobre a renúnçia da ação,a
qual apareçe quando o niskama-karma-yoga produz
conheçimento transcendental. Depois você falou novamente
sobre niskama-karma yoga. Mas o karma sannyasa yoga e o
niskama-karma yoga são de naturezas opostas, assim como as
entidades vivas móveis e as inertes. Não compreendi sua
intenção, por favor esclarece minha dúvida. Qual dos dois é
mais benéfico á mim?”

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Sannyasah karma-yogas ca
Nihsreyasa-karav ubhau
Tayos tu karma-sannyasat
Karma-yogo visisyate

O plenamente opulento Senhor disse:Tanto a renúnçia ás


atividades (karma-sannyasa)como a ação desinteressada
(niskama-karma-yoga) são auspiciosas, mas a última é sem
dúvida superior.

Sloka 3

Jneyah as nitya-sannyasi
Yo na dvesti na kanksati
Nirdvandvo hi maha-baho
Sukham bandhat pramucyate

Ó tu de braços poderosos! Aquele que não reprime e nem


deseja nada é digno de ser conhecido como sannyasi; devido
ao fato de estar livre da dualidade de aversão e apego, ele se
libera façilmente do cativeiro do mundo material.

Bhavanuvada

É possivel alcançar a liberação que se obtem através de


sannyasa sem entrar nesta ordem. Com este propósito,
Bhagavan diz: ”Oh Maha baho, deves compreender que
niskama-karma yogi de coração puro é sempre renunciado.”

Sloka 4

Sankhya-yogau prthag balah


Pravadanti na panditah
Ekam apy asthitah samyag
Ubhayor vindate phalam
O ignorante diz que o jnana-yoga e o niskama-karma yoga são
diferentes, mas o sábio refuta esta opinião Seguindo
corretamente qualquer destes yoga, se alcança o resultado de
ambos na forma de liberação.

Bhavanuvada

“Ó Arjuna! Você perguntou qual deles é superior,mas esta


não é uma pergunta inteligente, pois o sábio refuta esta
opinião, pois os dois caminhos culminam no mesmo
objetivo.”

Sloka 5

Yat sankhyaih prapyate sthanam


Tad yogair api gamyate
Ekam sankhyam ca yoganca
Yah pasyati sapasyati

O resultado alcançado por meio do estudo analítico (sankhya-


yoga) se obtém através de niskama-karma yoga. Os
verdadeiros sábios consideram que ambos produzem o mesmo
resultado.

Bhavanuvada

Este verso esclarece o verso anterior.Sankhya significa


sannyasa e yoga significa niskama-karma yoga. Quem vê com
olhos de sabedoria que os processos são essencialmente
idênticos, mesmo sendo métodos diferentes, vêem
corretamnente a coisa.

Sloka 6
Sannyasas tu maha-baho
Duhkham aptum ayogatah
Yoga-yukto munir brahma
Na cirenadhigacchati

Ó Maha baho! A prática de renúncia sem niskama-karma


yoga produz miséria, mas quem se dedica á niskama-karma
yoga obtém conhecimento transcendental e rápidamente
alcança a transçendençia.

Bhavanuvada

Sannyasa se torna miserável quando o coração se pertuba por


desejos materiais, pois só o niskama-karma yoga outorga paz
ao coração.
No Srimad Bhagavatam se diz: ”Os tridandi-sannyasis que
careçem de conheçimento e renúnçia apropriados, que não
controlou os cinco sentidos e a mente, perdem ambos os
mundos. ”Por isso o niskama-karma yogi após converter-se
em jnani, alcança rápidamente a plataforma espiritual.

Sloka 7

Yoga-yukto visuddhatma
Vijitatma jitendriyah
Sarva-bhutatmabhutatma
Kurvann api na lipyate

Quem se dedica ao niskama-karma yoga com inteligência e


coração puros e com sentidos controlados, é objeto de afeição
por parte de todos. A ação não recai sobre ele, mesmo que ele
seja o atuante.

Sloka 8-9
Naiva kincit karomiti
Yukto manyeta tattva-vit
Pasyan srnvan sprsan jighrann
Asnan gacchan svapan svasan

Pralapan visrjan grhnann


Unmisan nimisann api
Indriyanindriyarthesu
Varttanta iti dharayan

Quando um niskama-karma yogi desenvolve consçiência


trascendental, conclui-se que ainda que ele vêja, toca, cheira,
escuta, move-se, come, dorme, respira, fala, abre e fecha os
olhos, realmente ele não está atuando; apenas seus sentidos é
que estão ocupados em seus objetos.

Sloka 10

Brahmany adhaya karmani


Sangam tyaktva karoti yah
Lipyate na sapapena
Padma-patram ivambhasa

Oferecendo suas atividades ao senhor supremo e livre do


apego pelos frutos do karma, a alma pura não é afetada pelo
pecado assim como a flor de lótus não é afetada pela água.

Sloka 11

Kayena manasa buddhya


Kevalair indriyair api
Yoginah karma kurvanti
Sangam tyaktvatma-suddhaye
Para purificar sua mente , o niskama-karma yogi abandona o
apego e atua com seu corpo, mente e inteligência. As vezes,
realiza atos apenas com os sentidos, sem sequer ocupar sua
mente.

Sloka 12

Yuktah karma-phalam tyaktva


Santim apnoti naisthikim
Ayuktah kama-karena
Phale sakto nibadhyate

Abandonando os frutos da ação, o niskama-karma yogi


alcança paz eterna. Mas aquele que está apegado aos frutos
das atividades, se enreda cada vez mais devido ao ímpeto da
luxúria.

Sloka 13

Sarva-karmani manasa
Sannyasyaste sukham vasi
Nava-dvare pure dehi
Naiva kurvan na karayam

A entidade viva auto controlada , que renunciou á todas as


atividades por meio de sua mente, sem dúvida permanece
feliz na cidade de nove portas(no corpo que está livre do falso
ego), sabendo que não é a atuante e nem que está ocupando
outros na ação.

Bhavanuvada

Aqui,Sri Krsna ensina que uma pessoa que atua sem apego, é
de certo um sannyasi. Ainda que realiza atividades corporais
externas, a pessoa auto controlada que renunçia mentalmente
todas suas ações, é sempre feliz. E onde vive essa pessoa? Sri
Krsna responde ”na cidade de nove portas”, quer dizer, em
um corpo livre do falso ego.

Prakasika-Vrtti

O Srimad Bhagavatam estabelece: ”O corpo humano é como


uma casa”. O assunto foi abordado detalhadamente na
narração sobre Puranjana. A casa do corpo humano possui
nove portas: olhos, ouvidos, boca, narinas, ânus e genitais.
Um yogi perçebe que seu próprio ser é diferente do corpo.

Sloka 14

Na karttrtvam na karmani
Lokasya srjati prabhuh
Na karma-phala-samyogam
Svabhavas tu pravarttate

O Senhor Supremo Paramesvara não é responsável pela


tendênçia de atuar de uma pessoa, nem de suas ações ou dos
frutos das ações. Esta responsabilidade está relacionada
somente com a inclinação natural da pessoa.

Bhavanuvada

É somente a natureza condicionada da entidade viva, ou sua


ignorância adquirida desde tempos imemoriais , que á induz á
desenvolver seu ego de atuante.

Sloka 15

Nadatte kasyacit papam


Na caiva sukrtam vibhuh
Ajnanenavrtam jnanam
Tena muhyanti jantavah

Paramesvara tampouco assume as reações pecaminosas ou


piedosas de alguém. A ignorância é quem cobre o
conhecimento transcendental das entidades vivas, fazendo
com que elas se confundam.

Sloka 16

Jnanena tu tad ajnanam


Yesam nasitam atmanah
Tesam adityavaj jnanam
Prakasayati tat param

Mas para aqueles cuja a ignorânçia foi destruída pelo


conheçimento,o sol brilhante na forma do conheçimento sobre
a alma, ilumina a escuridão e revela o Senhor Supremo.

Sloka 17

Tad-buddhayas tad-atmanas
Tan-nisthas tat-parayanah
Gacchanty apunar-avrttim
Jnana-nirdhuta-kalmasah

Aqueles que possuem uma inteligênçia fixa em


Paramesvara(Krsna), cuja mente está sempre meditando
nele,que se dedica exclusivamente á ele, que se ocupa em
escutar e cantar suas glórias,e cuja a ignorância foi
completamente destruída pelo conheçimento trascendental,
alcança a liberação, este nunca mais volta á nasçer.

Bhavanuvada
O conheçimento transçendental ilumina somente assuntos
sobre jivatma (alma individual), mas não esclareçe sobre
Bhagavan. No Srimad Bhagavatam, Krsna esclarece: ”Eu só
posso ser alcançado através de Bhakti yoga.”

Prakasika-Vrtti

O conheçimento se encontra no modo da bondade, mas


paramatma (super alma) está além dos três modos materiais e
é seu controlador. Por isto, apesar do conhecimento no modo
da bondade poder destruir a ignorânçia,não pode dar
conhecimento sobre Paramatma. No Gita (18-55) se
diz:”Apenas Bhakti pode manifestar conhecimento sobre a
verdade acerca de Sri Bhagavan.”

Sloka 18

Vidya-vinaya-sampanne
Brahmane gavi hastini
Suni caiva svapake ca
Panditah sama-darsinah

O sábio equipado com conhecimento e gentileza, vê com


equanimidade um brahmana, uma vaca, um elefante, um
cachorro e um comedor de cachorro (candala)

Bhavanuvada

O sábio dedicado completamente á Sri Bhagavan, transcende


os modos materiais e perde seu interesse pelos gunas (modos
materiais). Desta maneira , ele desenvolve equanimidade. Se
diz que o brahmana e a vaca estão no modo da bondade,
portanto são superiores ao elefante que está no modo da
paixão e ao cachorro que está no modo da ignorância, porém
o sábio que transcendeu os modos materiais não estabelece
tais diferenças entre eles. Pelo contrário, ele vê que
Paramatma (a superalma) está situada em todas as entidades
vivas.

Sloka 19

Ihaiva tair jitah sargo


Yesam samye sthitam manah
Nirdosam hi samam brahma
Tasmad brahmani te sthita

Aqueles cujas mentes estão fixas na equanimidade,


conquistam o universo inteiro nesta mesma vida. Elas
possuem as qualidades imaculadas do brahma e por isso estão
situadas nele.

Sloka 20

Na prahrsyet priyam prapya


Nodvijet prapya capriyam
Sthira-buddhir asammudho
Brahma-vid brahmani sthitah

Aquele que conheçe o brahma e está firmemente fixado nele,


possui uma inteligência resoluta e jamais se confunde. Ele não
se regosija ao receber algo prazeiroso e nem se perturba ao
obter algo desagradável.

Bhavanuvada

Devido ao seu falso ego , as pessoas são confundidas pela


felicidade e lamentação, mas o sábio jamais se perturba , pois
está livre do falso ego.

Sloka 21
Bahya-sparsesv asaktatma
Vindaty-atmani yat sukham
Sabrahma-yoga-yuktatma
Sukham-aksayam asnute

Uma alma desapegada dos prazeres sensuais , encontra


felicidade dentro de sí mesmo. Ao estar unida com o espírito
supremo mediante o processo de yoga, obtém felicidade
ilimitada.

Bhavanuvada

Apenas as pessoas que estão unidas á Bhagavan por meio do


yoga, não se apegam aos prazeres sensuais, porque ao realizar
Paramatma a pessoa alcança a bem aventurança ilimitada.”Por
que então ela se interessaria em comer excremento já que
sempre saboreia o néctar.?”

Sloka 22

Ye hi samsparsaja bhoga
Dunkha-yonaya eva te
Ady-antavantah kaunteya
Na tesu ramate budhah

Ó Kaunteya! Os prazeres nascidos do contato sensual , sem


dúvida é a causa de toda a miséria. Eles sempre tem um início
e um fim, por tanto, o sábio não se apega á eles.

Sloka 23

Saknotihaiva yah sodhum


Prak sarira-vimoksanat
Kama-krodhodbhavam vegam
Sayuktah sasukhi narah

A pessoa que , mesmo antes de abandonar seu corpo,


consegue tolerar os impulsos da luxúria e da ira, é um yogi e
está sempre feliz.

Sloka 24

Yo ntah-sukho ntararamas
Tathantar-jyotir eva yah
Sayogi brahma-nirvanam
Brahma-bhuto dhigacchati

Aquele que se sente feliz internamente,cujo regosijo é interno


e que está iluminado internamente, está realmente situado no
brahma e alcança a bem aventurança do brahma-nirvanam
(emancipação da existençia material).

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan explica aqui o método para alcamar de forma


natural os impulsos da luxúria e da ira. Estes impulsos podem
ser controlados pela experimentação do ser. Srila
Bhaktivinoda Thakura: ”Um sannyasi que está livre da luxúria
e da ira, que controlou sua mente e que conhece sobre a
natureza de atma,obtêm muito rápidamente plena
compreensão do brahma nirvanam.”

Sloka 25

Labhante brahma-nirvanam
Rsayah ksina-kalmasah
Chinna-dvaidha yatatmanah
Sarva-bhuta-hite-ratah
Os sábios que estão livres do pecado e da dúvida, que
controlaram suas mentes e que estão ocupados ao bem estar
eterno de todas as entidades vivas, alcançam a liberação do
ciclo de nascimento e morte através da compreensão do
brahma.

Sloka 26

Kama-krodha-vimuktanam
Yatinam yata-cetasam
Abhito brahma-nirvanam
Varttate viditatmanam

Os sannyasis que estão livres da luxúria e da ira, que


controlam suas mentes e que são versados no atma-tattva,
conseguem a extinção da vida material através da realização
espiritual.

Sloka 27-28

Sparsan krtva bahir bahyams


Caksus caivantare bhruvoh
Pranapanau samau krtva
Nasabhyantara-carinau

Yatendriya-mano-buddhir
Munir moksa-parayanah
Vigateccha-bhaya-krodho
Yah sada mukta eva sah

Aquele que está livre do desejo, temor e da ira, elimina


completamente os desejos sensuais externos de sua mente,
como o son e o tato. Logo,ele fixa sua vista entre as
sobrancelhas e equilibra no seu nariz os movimentos
ascendentes e desçendentes do prana e apana. Desta maneira
ele equilibra seus ares vitais, controla seus sentidos, mente e
inteligência e se dedica á obter moksa (liberação). Este sábio
está sem duvida liberado.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta á Krsna: ”Ó Arjuna! O


coração só se purifica através de niskama-karma-yoga
ofereçido á mim. Depois de se purificar o coração se obtém
jnana, o qual produz jnana-svarupa-bhakti, ou bhakti na forma
de conheçimento. Este é o método para compreender a
Verdade Absoluta. Finalmente , a experiênçia do brahma
nasce de bhakti oferecida com o conhecimento transcendental.
Agora te explicarei astanga-yoga como meio para os que já
purificaram o coração alcançar o brahma;por favor escuta. As
percepções externas tais qual o tato, forma, gosto, som, etc..
devem ser eliminados por completo da mente. Enquanto
praticas este controle mental, fixa seus olhos entre as
sobrançelhas e na ponta do nariz,pois se você os fecha pode
ser que começe á dormir e se mantem os olhos
completamentes abertos pode ser distraído pelos objetos
externos. Deve mante-los semi feçhados de modo que a visão
se fixe entre as sobrançelhas e na ponta do nariz. Respirando
pelo nariz deves regular a respiração e a inspiração visando
equilibrar os movimentos asçendentes e desçendentes.
Sentados assim,os asçetas controlam sua mente, sentidos e
inteligência. Abandonando o desejo, o temor e a ira, eles
praticam com o único propósito de alcançar o brahma. Assim
eles se liberam do cativeiro material. Então, o astanga yoga
deve ser praticado como parte do niskama-karma yoga.

Sloka 29

Bhoktaram yajna-tapasam
Sarva-lika-mahesvaram
Suhrdam sarva-bhutanam
Jnatva mam santim rcchati

Aquele que me conhece como o beneficiário de todos os


sacrifícios e austeridades, o controlador Supremo de todos os
planetas e o bem querente de todas as entidades vivas, sem
dúvida se libera e obtém paz.

Bhavanuvada

O mesmo que aconteçe com o jnani (praticante de jnana-


yoga), o astanga yogi se libera através do conheçimento
açerca de Paramatma, o qual se manifesta através de Bhakti.
Sri Krsna declara no Srimad Bhagavatam. ”Eu só posso ser
alcançado através de Bhakti. Os yogis podem compreender
meu aspecto parcial, Paramatma, apenas por nirguna Bhakti.”

Capítulo 6

Dhyana Yoga

O prinçípio da meditação

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Anasritah karma-phalam
Karyam karma karoti yah
Sasannyasi ca yogi ca
Na niragnir na cakriyah
Sri Bhagavan disse: Os que levam á cabo seus deveres
prescritos sem desejar o resultado de suas ações são
verdadeiros sannyasis e yogis. Quem não oferece yajnas, tais
como agni-hotra-yajna, não são sannyasis e os que
simplesmente abandonam todas as atividades corporais não
são yogis.

Bhavanuvada

No sexto capítulo estuda-se os diversos tipos de yoga


executados pelos yogis que possuem mentes auto-controladas.
Também explica os métodos para se controlar a mente
instável.
Uma pessoa ocupada na prática de astanga yoga não deve
abandonar impulsivamente o niskama-karma-yoga, o qual
purifica o coração. Por esta razão Bhagavan diz: ”Os que
realizam seus deveres prescritos sabendo que são obrigatórios,
sem desejar seus resultados, são verdadeiros sannyasis.
Porque suas mentes estão livre do desejo de prazer sensual,
tais pessoas são denominadas yogis. ”A palavra niragni indica
que não se considera um sannyasi, pelo simples fato de
renúnciar ás ações que lhe são próprias, como por exemplo o
agni-hotra-yajna. Akriyah significa que uma pessoa não é um
yogi apenas por renunciar ás atividades corporais e se sentar
imóvel com os olhos entre abertos.

Sloka 2

Yam sannyasam iti prahur


Yogam tam viddhi pandava
Na hy asannyasta-sankalpo
Yogi bhavati kascana

Ó Arjuna! Deves saber que aquilo que o sábio chama de


niskama-karma-yoga não é diferente da renúncia á ação, pois
uma pessoa que é incapaz de abandonar o desejo pelos frutos
da ação assim como o prazer sensual, jamais pode converter-
se em yogi.

Sloka 3

Aruruksor-muner yogam
Karma karanam ucyate
Yogarudhasya tasyaiva
Samah karanam ucyate

A ação desinteressada é o meio para se alcançar dhyana-yoga,


mas quando ascende á plataforma de dhyana-nistha, firmeza
na meditação, a renúncia ás ações que distraem sua mente
passa á ser benéfica.

Bhavanuvada

Muni quer dizer que para que os aspirantes póssam


estabelecer-se no yoga, devem executar niskama-karma-yoga,
pois isto purifica o coração. Não obstante, uma vez que já
alcançou firmeza na meditação, devem deter todas ações que
podem distraí-los.

Sloka 4

Yada hi nendriyarthesu
Na karmasv anusajjate
Sarva-sankalpa-sannyasi
Yogarudhas tadocyate

Uma pessoa que não está apegada aos objetos sensíveis nem
ás ações, realmente alcançou o yoga. Esta pessoa sem dúvida
é um renunciado (sannyasi), pois renunciou o desejo pelos
frutos de suas ações.
Sloka 5

Uddhared atmanatmanam
Natmanam avasadayet
Atmaiva hy atmano bandhur
Atmaiva ripur atmanah

Uma pessoa deve liberar-se desapegando a mente do mundo


material e á impedindo de se degradar de novo, pois a mente
pode ser tanto a melhor amiga quanto a pior inimiga da alma.

Bhavanuvada

A mente desapegada dos objetos sensuais, libera a entidade


viva. A mente apegada é a causa do nosso enredamento no
mundo material.

Sloka 6

Bandhur atmatmanas tasya


Yenatmaivatmana jitah
Anatmanas tu satrutve
Varttetatmaiva satru-vat

Para aquele que conquistou a mente, esta é sua aliada; mas


uma pessoa carente de conhecimento espiritual, que ocupa
sua mente em atividades perigosas, esta se torna sua pior
inimiga.

Bhavanuvada

Para a entidade viva que controla sua mente, esta é sua amiga.
Mas a entidade viva que tem uma mente descontrolada, esta é
sua perigosa inimiga.
Sloka 7

Jitatmanah prasantasya
Paramatma samahitah
Sitosna-sukha-duhkhesu
Tatha manapamanayoh

Aquele que controlou a mente, e que está livre das dualidades


como frio e calor, felicidade e tristeza, honra e blasfêmia,
apego e inveja, é uma alma exaltada e está profundamente
absorto em transe (samadhi).

Bhavanuvada

Nestes três versos se definem as características de um yogi.

Sloka 8

Jnana-vijnana-trptatma
Kutastho vijitendriyah
Yukta ity ucyate yogi
Sama-lostasma-kancanah

È denominado um verdadeiro yogi, a pessoa que está


plenamente satisfeita através do conhecimento trascendental e
de sua compreensão prática. Esta pessoa está firmemente
situada em sua natureza real e porque conquistou os sentidos,
ela vê com equanimidade a areia, a pedra ou o ouro.

Prakasika-Vrtti

“A pessoa que está livre da perturbação sensual e permanece


eternamente situada em seu próprio ser (svarupa) se denomina
kuta-sthah.”
Sloka 9

Suhrn-mitrary-udasina
Madhyastha-dvesya-bandhusu
Sadhusv api ca papesu
Sama-buddhir visisyate

È ainda mais elevada, a pessoa que vê de modo equanime os


seus benquerentes, amigos, inimigos, pessoas neutras ,
mediadores, invejosos, parentes e pecadores.

Bhavanuvada

Aqueles que possuem este tipo de equanimidade são


superiores aos que foram descritos no verso anterior.

Sloka 10

Yogi yunjita satatam


Atmanam rahasi sthitah
Ekaki yata cittatma
Nirasir aparigrahah

Um yogi deve fixar sua mente em samadhi (transe). Ele deve


viver só em um lugar isolado, e deve controlar seus
pensamentos e seu corpo, estando assim livre do desejo e do
refute pelos objetos dos sentidos.

Prakasika-Vrtti

Ao finalizar a explicação sobre os sintomas de um yogi-


arudha, Bhagavan explica agora o proçesso da prática de
yoga, tal como foi dada neste presente verso.
Slokas 11-12

Sucau dese pratisthapya


Sthiram asanam atmanah
Naty-ucchritam nati-nicam
Cailajina-kusottaram

Tatraikagram manah krtva


Yata-cittendriya-kriyah
Upavisyasane yunjyad
Yogam atma-visuddhaye

Em um lugar sagrado, o yogi deve-se colocar sobre o solo, a


grama çhamada Kusa e uma pele de veado em cima de uma
esteira de palha,fazendo assim um assento nem muito alto
nem muito baixo. Sentado neste assento deve praticar yoga
para purificar a mente, com uma conçentração firme e com
todos os pensamentos e atividades controladas.

Sloka 13-14

Samam kaya-siro-grivam
Dharayann acalam sthirah
Sampreksya nasikagram svam
Disas canavalokayam

Prasantatma vigata-bhir
Brahmacari-vrate sthitah
Manah samyamya mac-citto
Yukta asita mat-parah

Mantendo seu corpo, quadril e cabeça erguidos, deve fixar sua


visão na ponta do nariz. Deste modo, firme em seu voto de
celibato, cheio de paz, livre do temor e com a mente
controlada, deve se ocupar continuamente em pensar em mim.

Bhavanuvada

“Mantendo seu corpo ereto e estável e retraindo sua mente


dos objetos dos sentidos ,deve dedicar-se a minha Bhakti
enquanto meditas em mimha charmosa forma de Vishnu com
quatro braços.”

Sloka 15

Yunjann evam sadatmanam


Yogi niyata manasah
Santim nirvana-paramam
Mat-samstham-adhigacchati

Assim, sempre ocupando a mente em mim ,o yogi de mente


controlada se situa em mim e finalmente alcança a paz da
liberação absoluta.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan explica qual é o resultado de se praticar dhyana-


yoga. ”Através da prática de yoga, após Ter alcançado
experiênçia transcendental em relação á Bhagavan, o yogi
supera o ciclo de nascimentos e mortes dentro da existência
material. ”Desta maneira, os yogis alcançam o aspecto
impessoal (nirvisesa-brahma).

Sloka 16

Natyasnatas tu yogo sti


Na caikantam-anasnatah
Na cati-svapna-silasya
Jagrato naiva carjuna

Ó Arjuna! Sem dúvida, aquele que come muito pouco ou


come demais, dorme muito pouco ou dorme demais, não
consegue alcançar a perfeição no yoga.

Bhavanuvada

Nestes versos, Sri Bhagavan explica os sintomas de um yogi.


”Uma pessoa deve encher a metade de seu estomago com
alimentos, deixar um quarto para o ar vital e deixar o outro
quarto para a livre circulação do ar.”

Prakasika-Vrtti

Para realizar um sadhana perfeito, o yogi não deve praticar


quando está faminto ou cansado , ou se sua mente está
perturbada. Deve-se observar certos princípios enquanto canta
hari-nama, seguindo os diversos aspectos de Bhakti e
recordando os passatempos de Krsna. Mantendo a
conçentração de pensamento, o sadhaka deve passar algum
tempo cantando hari-nama com uma atitude indivisa em lugar
solitário. Srila Bhaktivinoda Thakura dá estas instruções no
Hari-nama-cintamani.

Sloka 17

Yuktahara –viharasya
Yukta-cestasya karmasu
Yukta-svapnavabodhasya
Yogo bhavati duhkha-há

A prática de yoga destrói todas as misérias materiais daquele


que é controlado em sua alimentação, em seu trabalho, e
equilibrado no sonho e na vigília.
Bhavanuvada

Tanto as atividades materiais quanto as transcendentais


conduzirão ao êxito a pessoa que é regulada em sua
alimentação e no descanso.

Sloka 18

Yada viniyatam cittam


Atmany evavatisthate
Nisprhah sarva-kamebhyo
Yukta ity ucyate tada

Se diz que o yogi alcançou a perfeição quando está livre da


ansia pelo desfrute sensual, e tem a mente controlada e
estabelecida em seu ser.

Sloka 19

Yatha dipo nivata-stho


Nengate sopama smrta
Yogino yata-cittasya
Yunjato yogam atmanah

Assim como uma lamparina permanece aceza em um lugar


sem vento, a mente controlada de um yogi permanece firme
em sua meditação no atma (alma).

Slokas 20-25

Yatroparamate cittam
Niruddham yoga-sevaya
Yatra caivatmanatmanam
Pasyann atmani tusyati
Sukham atyantikam yad tad
Buddhi-grahyam atindriyam
Vetti yatra na caivayam
Sthitas calati tattvatah

Yam labdhva caparam labham


Manyate nadhikam tatah
Yasmim sthito na duhkhena
Gurunapi vicalyate

Tam vidyad duhkha-samyoga


Viyogam yoga-samjnitam
Saniscayena yoktavyo
Yogo nirvinna-cetasa

Sankalpa-prabhavan kamams
Tyaktva sarvan asetasah
Manasaivendriya-gramam
Viniyamya samantatah

Sanaih sanair uparamed


Buddhya dhrti-grhitaya
Atma-samstham manah krtva
Na kincid api cintayet

Na etapa do yoga denominada de samadhi, a mente do yogi é


controlada pela prática de yoga. Assim ele desapega dos
objetos sensíveis e se satisfaz internamente percebendo a
superalma (paramatma) com a mente purificada. Nesta etapa,
o yogi experimenta bem aventurança eterna por meio da sua
inteligência transcendental, a qual se encontra além da
juridição dos sentidos. Assim estabelecido, ele nunca se
desvia da sua natureza intrísica sabendo que não há nada
superior do que a bem aventurança do ser. Neste estágio , ele
está livre de qualquer contato com as dualidades tais como
frio e calor,feliçidade e tristeza etc.. e também das misérias
materiais. Deve-se praticar yoga com uma mente
perseverante, abandonando todo o capriçho. Com os sentidos
controlados completamente pela mente, deve-se seguir as
instruções dos Sadhus e dos Sastras. Também deve-se
desenvolver desapego gradualmente, com a inteligência
resoluta e determinada, fixando a mente no ser e sem pensar
em mais nada.

Bhavanuvada

Nestes versos, Bhagavan explica as atividades iniçiais e finais


de uma pessoa que pratica astanga-yoga: o abandono dos
desejos materiais é a atividade inicial e a despreocupação
pelos demais é o ato final.

Sloka 26

Yato yato niscalati


Manas cancalam asthiram
Tatas tato niyamyaitad
Atmany eva vasam nayet

A mente agitada e instável deve ser controlada e fixada no ser,


e deve-se evitar que ela perambule pelos objetos dos
sentidos.

Prakasika-Vrtti

Quando a mente do sadhaka é instável e corre atrás dos


objetos sensíveis, ele deve refrea-la imediatamente, evitando
assim o contato com os objetos externos e fixando-a
unicamente no ser.
Sloka 27

Prasanta-manasam hy enam
Yoginam sukham uttamam
Upaiti santa-rajasam
Brahma-bhutam akalmasam

Este yogi sossegado que vê tudo em conexão com o brahma e


está livre tanto da influência de rajo-guna como das reações
pecaminosas prévias, alcança a bem aventurança suprema na
forma da auto realização.

Sloka 28

Yunjann evam sadatmanam


Yogi vigata-kalmasah
Sukhena brahma-samsparsam
Atyantam sukham asnute

Desta maneira, liberado dos pecados e sempre regulando a


mente, o yogi alcança facilmente a bem aventurança suprema
na forma da vivência do brahma.

Sloka 29

Sarva-bhuta-stham atmanam
Sarva-bhutani catmani
Iksate yoga-yuktatma
Sarvatra sama-darsanah

Uma pessoa conectada através do yoga experimenta o brahma


em todas as partes. Ele percebe a Superalma em todas as jivas
e vê todas as jivas na Superalma.
Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Arjuna


pergunta; Que tipo de bem aventurança se experimenta
através do contato com o brahma? Sri Krsna responde e expõe
brevemente que o yogi que alcançou samadhi se comporta de
duas maneiras:segundo sua bhava(visão), e de acordo com sua
kriya (atividade). A natureza de sua visão lhe permite
perceber a Superalma nas jivas e as jivas na Superalma. Suas
atividades refletem uma visão equânime em todas as partes.”

Sloka 30

Yo mam pasyati sarvatra


Sarvanca mayi pasyati
Tasyaham na pranasyami
Saca me na pranasyati

Jamais estou ausente para aquele que me percebe em todos os


seres e vê todos os seres em mim. Ele também jamais é
ausente á mim.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan nunca está fora da visão dos sadhakas que tem
uma experiência direta dele e, ao mesmo tempo, eles jamais
estão fora da sua visão. Como resultado do contato recíproco,
o adorador jamais cai.

Sloka 31
Sarva-bhuta-sthitam yo mam
Bhajaty-ekatvam asthtitah
Sarvatha varttamano pi
sa yogi mayi varttate
O yogi que me adora em meu aspecto onipenetrante
(Superalma) , ascende á etapa de inteligência resoluta
aceitando-me como a Realidade Absoluta Suprema. Ele existe
em mim em qualquer circunstância.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Se recomenda


que o yogi medite na forma de quatro braços de Sri Vishnu
durante a etapa de sadhana, o qual culmina na perçepção da
minha forma Syamasundara, durante o estado de transe. Em
tal estado, sua inteligência se libera das dualidades de tempo
com respeito a parama-tattva. ”O yogi que me adora e me
ofereçe sua Bhakti (devoção) através do ouvir e cantar minhas
glórias. Em todas as etapas e circunstânçias –ação, liberação e
meditação,ele vive em mim.”
“Assim sendo, Krsna Bhakti é sem dúvida o estado supremo
do samadhi no yoga.”

Sloka 32

Atmaupamyena sarvatra
Samam pasyati yo rjuna
Sukham va yadi va duhkham
sa yogi paramo matah

Ó Arjuna! O yogi que vê todos os seres vivos como sendo


iguais á si, e que considera a felicidade ou aflição alheia como
sendo seu também, esse é o melhor dos yogis.

Sloka 33

Arjuna uvaca
Yo yam yogas tvaya proktah
Samyena madhusudana
Etasyaham na pasyami
Cancalatvat sthitam sthiram

Arjuna disse:Ó Madhusudana!Este processo de yoga que você


falou, baseado na equanimidade , sou incapaz de compreender
devido á natureza instável da mente.

Bhavanuvada

Arjuna se dirige á Bhagavan neste verso pensando que os


sintomas de equanimidade que ele mencionou são difíceis de
ser desenvolvidos devido á natureza instável da mente.

Sloka 34

Cancalam hi manah krsna


Pramathi balavad drdham
Tasyaham nigraham manye
Vayor iva suduskaram

Ó Krsna! A mente é naturalmente inquieta, poderosa,


obstinada e capaz de avassalar por completo a inteligência, o
corpo e os sentidos. Me parece que controla-la é tão difícil
quanto controlar o vento.

Bhavanuvada

Assim como uma poderosa enfermidade pode não ser afetada


por um remédio com capacidade para curar-la, a mente, que é
muito poderosa por natureza, não sempre aceita a inteligência
dotada com sabedoria.”

Sloka 35

Sri bhagavan uvaca


Asamsayam maha-baho
Mano durnigraham calam
Abhyasena tu kaunteya
Vairagyena ca grhyate

Sri Bhagavan disse: Ó maha-baho! A mente é sem dúvida


instável e dificil de se controlar. Ainda assim ,pode ser
dominada através da prática constante e da renúncia.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan açeita a observação de Arjuna e dissipa sua


dúvida com este verso. ’O que você disse está certo. Mesmo
assim, até uma enfermidade crônica é curada se tomamos
remédio regularmente que foi receitado por um médico
competente , ainda que isto demore algum tempo. Assim
também, a mente instável pode ser dominada mediante prática
constante de yoga, de acordo com as instrunções de um sad-
guru,pela prática regular de dhyana-yoga e mediante renúncia
genuína.”

Sloka 36

Asamyatatmana yogo
Dusprapa iti me matih
Vasyatmana tu yatata
Sakyo vaptum upayatah

Para aquele que possui uma mente descontrolada, a auto


realização através do yoga é muito difícil. Mas aquele que
controlou a mente e se esforça na prática constante e na
renúncia, pode alcançar-me sem dúvida. Esta é minha
opinião.

Sloka 37
Arjuna uvaca
Ayatih sraddhayopeto
Yogac calita-manasah
Aprapya yoga-samsiddhim
Kam gatim krsna gacchati

Arjunta perguntou; Ó Krsna! Qual é o destino de uma pessoa


que começou o proçesso de yoga com fé, mas logo cai de
novo em coisas mundanas e não consegue a perfeição?

Sloka 38

Kaccin nobhaya-vibhrastas
Chinnabhram iva nasyati
Apratistho maha baho
Vimudho brahmanah pathi

Ó Maha Baho Krsna! Alguém que fracassa nos proçessos de


karma e jnana, desviando-se do caminho para alcançar o
brahma, não pereçe como uma nuvem que se disperssa por
não Ter refúgio algum?

Bhavanuvada

Arjuna pergunta: ”O que acontece com uma pessoa que se


desvia do proçesso de karma e jnana? Ele deseja abandonar o
desejo de desfrute sensual quando começa no caminho do
yoga, mas ao mesmo tempo,devido á sua renúncia
incompleta, o desejo permanece dentro de sí. Parece que tal
pessoa se encontra desamparada pois, não alcançou seu
seguinte destino, (os planetas celestiais) e também não obteve
a liberação. Te pergunto então se a pessoa que se desviou do
sadhana que visa a obtenção do brahma se encontra
desamparada. Ela está perdida ou não?

Sloka 39

Etan me samsayam krsna


Chettum arhasy asesatah
Tvad-anyah samsayasyasya
Chetta na hy upapadyate

Ó Krsna! Esclarece minha dúvida por completo. Além de ti


não há ninguém que possa remover esta minha dúvida.

Sloka 40

Sri bhagavan uvaca


Partha naiveha namutra
Vinasas tasya vidyate
Na hi kalyana-krt kascid
Durgatim tata gacchati

Sri Bhagavan respondeu: Ó Partha! O yogi que fracassou não


está perdido nem neste mundo e nem no próximo. Ó meu
querido amigo, uma pessoa que realiza atividades auspiciosas
jamais obtém um destino desfavorável.

Sloka 41

Prapya punya-krtam lokan


Usitva sasvatih samah
Sucinam srimatam gehe
Yoga-bhrasto bhijayate
A pessoa que se desvia do caminho do yoga após Ter
praticado por algum tempo, alcança os planetas das pessoas
piedosas e depois de desfrutar ali durante muitos anos, nasce
em uma família aristocrática e virtuosa.

Prakasika-Vrtti

Os yogis que se desviam do caminho do astanga yoga se


dividem em duas categorias. Na primeira categoria estão os
que caem após terem praticado yoga durante curto período.
Ditos yogis não alcançam destinos inferiores; pelo contrário,
desfrutam a feliçidade dos planetas superiores (celestiais)
reservados para as pessoas que ofereçem yajnas (sacrifícios)
tais como asvamedha. Depois eles nascem em famílias de
brahmanas qualificados ou de homens aristocráticos ocupados
em atividades prescritas pelo Dharma. Ambas situações são
favoráveis para continuar sua prática de yoga.
Na Segunda categoria estão os que caíram após uma longa
prática de yoga. Em sua próxima vida, alguns deles obtem o
desfrute esperado, se satisfazem, e finalmente terminam seu
processo de yoga.

Sloka 42

Athava yoginam eva


Kule bhavati dhimatam
Etaddhi durlabhataram
Loke janma yad idrsam

O yogi que se desvia depois de muito tempo de prática, nasce


na família de um yogi de grande sabedoria. Este nascimento
neste mundo é sem dúvida muito excepcional.

Bhavanuvada
Sri Bhagavan descreveu o destino de um yogi que se desvia
após praticar yoga durante um curto período. Agora, explica o
destino de um yogi que cai depois de praticar durante muito
tempo. Um exemplo disto é Nimi Maharaja (Srimad
Bhagavatm 9.13.1-10).

Sloka 43

Tatra tam buddhi-samyogam


Labhate paurva-daihikam
Yatate ca tato bhuyah
Samsiddhau kuru-nandana

Ó Kuru nandana! O yogi fracassado recobra a consçiênçia


conectada á Paramatma de seu nascimento anterior e se
esforça de novo em alcançar a perfeição no yoga.

Prakasika-vrtti

Em ambos nascimentos , em virtude das impressões


resultantes da prática de yoga em sua vida prévia, o yogi
desviado obtem uma inteligência fixa em seus próprios
prinçípios do dever e conhecimento relaçionado com
Paramatma após purificar o coração de modo natural. Assim
como alguém que acaba de despertar de um sonho, ele
começa á esforçar-se seriamente para incrementar sua prática
yogica. Este já não terá nenhum obstáculo. Esta é a razão por
que um yogi não se perde nem alcança um destino
desfavorável.

Sloka 44

Purvabhyasena tenaiva
Hriyate hy avaso pi sah
Jijnasur api yogasya
Sabda-brahmativarttate

Em virtude de sua prática prévia, ele se sente


automaticamente atraído pelo caminho da liberação e estando
relaçionado com a prática da realização transcendental (yoga)
ele transcende as ações fruitivas descritas nos Vedas.

Sloka 45

Prayatnad yatmanas tu
Yogi samsuddha-kilbisah
Aneka-janma-samsiddhas
Tato yati param gatim

Na verdade, o yogi que se dedica com grande esforço e


sinceridade se libera de todos os pecados depois de muitos
nascimentos e finalmente obtém a perfeição. Desta maneira
ele alcança o destino supremo.

Bhavanuvada

Uma pessoa se desvia do caminho do yoga quando se torna


negligente em seus esforços. Este yogi retornará ao caminho
do yoga em sua próxima vida, mas não alcançará a perfeição,
pois isto levará muitas vidas até ficar totalmente maduro. Ele
nunca se debilita nem cai. Pelo contrário, após muitas vidas,
ele amadurece e obtém a perfeição.

Sloka 46

Tapasvibhyo dhiko yogi


Jnanibhyo´pi mato´dhikah
Karmibhyas cadhiko yogi
Tasmad yogi bhavarjuna
O yogi é superior ao asceta, ao jnani e ao karmi. Ó Arjuna!
Por tanto, converte-te em um yogi.

Prakasika-Vrtti

Geralmente se pensa que um yogi, um asceta, um karmi, um


jnani e um bhakta são iguais. Sri Bhagavan emite sua opinião
categórica dizendo que não são e que existe uma graduação.
Um niskama-karma-yogi é superior ao asçeta e á um sakama-
karmi e o jnani é ainda superior á estes. Um astanga yogi é
superior á um jnani e um bhakti-yogi é superior á todos, tal
como se descreverá no próximo verso.

Sloka 47

Yoginam api sarvesam


Mad-gatenantaratmana
Sraddhavan bhajate yo mam
As me yuktatamo matah

Aquele que me adora constantemente com plena fé e pensa


exclusivamente em mim, é na minha opinião, superior á todos
os yogis.

Bhavanuvada

“Não há então ninguém superior ao yogi?”. Sri Bhagavan


responde:”Não digas isto.” E recita este verso.No Srimad
Bhagavatam se diz: ”Ó Maha-muni,entre milhões de seres
liberados e perfeitos,uma pessoa pacífica que está dedicada á
Sri Narayana (Krsna) é extremamente difíçil de se encontrar.
Nos próximos oito capítulos se delineará o proçesso de
bhakti-yoga. No primeiro capítulo do Bhagavad Gita, a jóia
cristalina dos Sastras, foi dado um esboço. Nos capítulos dois,
tres e quatro foi descrito o niskama-karma-yoga. O quinto
capítulo expõe jnana e o sexto descreve yoga (astanga).
Mesmo assim, os primeiros seis capítulos tratam
prinçipalmente açerca do karma.

Prakasika-Vrtti

Ao final de cada capítulo, Bhagavan Sri Krsna declara


categóricamente que um bhakti-yogi é superior á todos os
demais yogis. Existem várias etapas do yoga. A primeira é o
niskama-karma-yoga. Quando adiçionada á jnana e renúncia,
esta se converte em jnana-yoga,a segunda etapa. Quando
adiciona-se dhyana (meditação em Isvara) á jnana-yoga, vem
á se chamar astanga-yoga, a terceira etapa. Finalmente,quando
se agrega afeto por Bhagavan, se converte em bhakti-yoga, a
quarta etapa.Krsna diz á Arjuna: ”Ó Partha! Bhakti é o estágio
máximo do yoga, portanto tu deves converte-te em um bhakti-
yogi.

Capítulo 7

Vijnana-Yoga

A compreensão do conhecimento transcendental

Sloka 1
Sri Bhagavan uvaca
Mayy asakta-manah partha
Yogam yunjan mad-asrayah
Asamsayam samagram mam
Yatha jnasyasi tac chrnu

Sri Bhagavan disse: Ó Partha! Agora escuta como podes me


conheçer praticando o processo de bhakti-yoga com tua mente
apegada á mim e refúgiando só em mim, estando assim, livre
de toda dúvida.

Bhavanuvada

Quando poderei refugiar-me nos pés de lótus de Sri Caitanya


Mahaprabhu, a morada da bem aventurança eterna e o oçeano
de misericórdia? Agora que abandonei os proçessos de
desfrutes e da liberação e me refugiei no caminho de bhakti,
quando me tornarei qualificado para degustar o néctar de
prema?
O Srimad Bhagavatam afirma: ”Simplesmente mediante a
prática de bhakti-yoga, meu devoto obtém por completo
qualquer resultado favorável que se possa obter através da
execução de karma, austeridades e outras atividades
auspiciosas, e também pelo proçesso de jnana
(conhecimento), vairagya (renúnçia), yoga (astanga-yoga) e
atividades filantrópicas.”

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Ó Partha! Nos


seis primeiros capítulos expliquei jnana e astanga-yoga. Estes
são os caminhos para se obter moksa e requerem a assistênçia
de niskama-karma-yoga para purificar o coração. Nos
próximos seis capítulos, explicarei o processo de bhakti-yoga,
por favor escuta. Para obter conhecimento sobre mim, deves
apegar tua mente e refugiar-te plenamente em mim por meio
do processo de bhakti-yoga. Se fizeres isto, não há dúvida que
me conhecerás.”

Sloka 2

Jnanam te ham as-vijnanam


Idam vaksayamy asesatah
Yaj jnatva neha bhuyo nyaj
Jnatavyam avasisyate

Agora te revelarei com detalhes o jnana enriquecido com


vijnana. Quando compreenderes isto, não haverá nada
desconhecido á ti neste mundo.

Prakasika-vrtti

Existem nove etapas no processo de nirguna bhakti(bhakti


pura). 1-sraddha, 2-sadhu-sanga, 3-bhajana kriya, 4-anartha-
nivrtti, 5-nistha, 6-ruci , 7-asakti, 8-bhava, 9-prema. Antes
que o sadhaka alcançe a etapa de asaktimo conhecimento
acerca de Bhagavan está saturado pela opulênçia do senhor,
mas quando o asakti (apego) amadurece, ele experimenta a
doçura do senhor em seu coração, o que se denomina vijnana.

Sloka 3

Manusyanam sahasresu
Kascid yatati siddhaye
Yatatam api siddhanam
Kascin mam vetti tattvatah
Dentre milhões de homens, pode ser que um se esfórce para
alcançar a perfeição; dentre os que á alcançam, dificilmente
alguém me conhece de verdade.

Prakasika-Vrtti

Bhagavan mostra neste verso que bhagavat-jnana


(conheçimento açerca de Bhagavan) é muito exçepçional. No
Srimad Bhagavatam se descreve: “Ó Maha-muni, entre
milhões de pessoas perfeitas e liberadas, é muito difícil
encontrar um devoto de Narayana. E ainda mais raro que os
devotos atraídos por Narayana, são os devotos de Sri Krsna. A
bem aventurança que se deriva ao saborear a doçura de Sri
Krsna é milhões de vezes maior do que a bem aventurança de
seu aspecto impessoal (brahma).

Sloka 4

Bhumir apo nalo vayuh


Kham mano buddhir eva ca
Ahankara itiyam me
Bhinna prakrtir astadha

Minha energia material externa é composta por oito divisões:


terra, agua, ego, ar, terra, mente, inteligência e falso ego.

Prakasika-Vrtti

“Krsna diz á Arjuna que ele deve conheçer a quantidade de


elementos perteçentes á energia externa(apara-sakti)
relacionados com a matéria inerte. Os cincos elementos
grosseiros: terra, água, fogo, ar e éter se denominam maha-
bhuta, suas qualidades respectivas são o aroma,gosto, forma,
tato e o som. Assim, eles somam dez elementos. Deves saber
que os sentidos são seus elementos ativos começando pelo
falso ego(ahankara) e são efeito de mahat-tattva.Ainda que a
mente e a inteligênçia são classificados como elementos
separados devido a suas funções destacadas e diferençiadas do
resto dos elementos,elas constituem um só elemento.Todo
este grupo são parte da minha energia externa.”

Sloka 5

Apareyam itas tv anyam


Prakrtim viddhi me param
Jiva-bhutam maha-baho
Yayedam dharyate jagat

Ó Maha-baho! Deves saber que minha energia externa,


constituída por oito divisões, é inferior.Eu possuo outra
potência conhecida como jiva-svarupa, a qual mesmo sendo
superior, aceita o mundo material com o propósito de
desfrutar os resultados do karma.

Bhavanuvada

A bahiranga-sakti mençionada é externa devido á sua natureza


inerte.A tatastha-sakti ,na forma das jivas, é diferente e
superior á aquela, pois possui consciência. A razão de sua
superioridade indica que sua natureza consçiente sustenta o
universo e essa energia aceita o mundo material unicamente
para seu próprio desfrute.

Sloka 6

Etad yonini bhutani


Sarvanity upadharaya
Aham krtsnasya jagatah
Prabhavah pralayas tatha
Entende que todas as entidades vivas nasceram destas duas
prakrtis (maya e jiva-sakti). Eu sou a causa única da criação e
destruíção do universo inteiro.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:”As jivas e a


criação material inerte emanaram destas duas prakrtis.Tanto
maya quanto jiva-sakti são minhas potências, pois se originam
de mim. Eu, Bhagavan, sou a causa primordial da origem e da
dissolução do universo.”

Sloka 7

Mattah parataram nanyat


Kincid asti dhananjaya
Mayi sarvam idam protam
Sutre mani-gana iva

Ó Dhananjaya! Não existe nada superior á mim. O universo


inteiro depende de mim assim como as pérolas ensartadas em
um cordão.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan disse: ”Desta forma,sou a causa de tudo.Assim


como a causa e o efeito não são diferentes entre sí, tampouco
são a energia e o energético.
Nos Srutis se estabelece: ”Antes da criação do universo, só
existia a Realidade Absoluta incomparável.”
“Sou a causa de tudo,pois minhas energias são a causa de
todas as criações.”Assim, depois de explicar sua natureza
onímoda, Bhagavan expõe agora sua qualidade de
onipresença.”Tanto o universo consciente como o inerte não
são diferentes de mim, pois ambos são minhas criações.Eles
são minha svarupa, e assim como as jóias se ensartam em um
cordão, estão contidos em mim.”

Sloka 8

Raso ham apsu kaunteya


Prabhasmi sasi-suryayoh
Pranavah sarva-vedesu
Sabda khe paurusam nrsu

Ó Kaunteya! Eu sou o sabor da água, o brilho da lua e sol. Eu


sou a sílaba om de todos os mantras védicos. Sou o som no
éter e a habilidade do homem.

Bhavanuvada

“Como Antaryami, entro em cada universo que criei e existo


nele. De modo similar, existo em essençia dentro dos seres
humanos e demais entidades vivas. Em alguns lugares sou a
causa e em outros sou o efeito.”

Sloka 9

Punyo gandhah prthivyanca


Tejas casmi vibhavasau
Jivanam sarva-bhutesu
Tapas casmi tapasvisu

Eu sou a fragância atrativa e original da terra, o calor do fogo,


a vida de todos os seres e a austeridade dos ascetas.

Sloka 10
Bijam mam sarva-bhutanam
Viddhi partha sanatanam
Buddhir buddhimatam asmi
Tejas tejasvinam aham

Ó Partha! Conhece-me como sendo a causa eterna de todos os


seres vivos.Sou a inteligênçia dos inteligentes e o poder dos
poderosos.

Sloka 11

Balam balavatam caham


Kama-raga-vivarjitam
Dharmaviruddho bhutesu
Kamo smi bharatarsabha

Ó melhor da dinastia Bharata! Sou a força dos fortes, livre do


apego e do desejo. Sou a união sexual conforme o dharma o
qual o único propósito é a procriação.

Sloka 12

Ye caiva sattvika bhava


Rajasas tamasas ca ye
Matta eveti tan viddhi
Na tv aham tesu te mayi

Entende que todos os estados de existência: sattvika


(bondade), rajasika (paixão), tamasika (ignorância) – se
manifesta por meio das qualidades de minha natureza
material. Eu não estou exposto á estas qualidades pois todas
elas estão sobre o controle da minha energia (Maha-maya).

Sloka 13
Tribhir-guna-mayair bhavair
Ebhih sarvam idam jagat
Mohitam nabhijanati
Mam ebhyah param avyayam

Enganados por esses tres estados de existências, o mundo


inteiro não me conhece, visto que estou além das qualidades
materiais e que sou imperecível.

Bhavanuvada

“A mente, os sentidos, a felicidade, a lamentação, o apego e a


inveja estão sobre o controle da natureza adquirida. Mas eu
estou acima dos três gunas e sou livre de qualquer
transformação distorcida. Por esta razão,eles não podem me
conhecer.”

Sloka 14

Daivi hy esa gunamayi


Mama maya duratyaya
Mam eva ye prapadyante
Mayam etam taranti te

Minha energia material composta pelos três gunas é difícil de


ser superada. Mas os que se refugiam exclusivamente em
mim, pode transcende-la muito facilmente.

Bhavanuvada

Pode surgir uma pergunta: Como uma pessoa pode se liberar


da ilusão criada pelos três gunas? Sri Bhagavam responde:
”Maya se chama daivi porque seduz as jivas, que são divinas
por natureza porém estão absortas nos prazeres do desfrute
sensual. Esta bahiranga-sakti que pertençe á mim,é
sumamente difícil de se superar. Porém se torna fácil de ser
superada para aquele que se rende exclusivamente á mim, em
minha forma de Syamasundara.”

Sloka 15

Na mam duskrtino mudhah


Prapadyante naradhamah
Mayayapahrta-jnana
Asuram bhavam asritah

Os hereges e néscios carentes de discriminação, e outros seres


humanos cujo conhecimento foi roubado por minha energia
ilusória (Maya) e que possuem natureza demôniaca, não se
rendem á mim.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:” Existem quatro


tipos de pessoas que se refugiam em minha natureza
demôniaca e não á mim: Os malvados, os néscios, os
desprezíveis e os que possuem conhecimento coberto por
Maya.

Sloka 16

Catur-vidha bhajante mam


Janah sukrtino ‘rjuna
Artto jijnasur atharthi
Jnani ca bharatarsabha

Ó tu, o melhor da dinastia Bharata! Quatro tipos de pessoas


piedosas me adoram: os aflitos, os inquisitivos, os que
buscam fortuna (riqueza) e os sábios.
Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”As pessoas


aflitas tem o defeito dos seus diversos desejos, as inquisitivas
possuem o defeito de estar atadas ao moralismo, os que
buscam riquesa tem o defeito de lutar para alcançar os
planetas celestiais e os jnanis que pensam que bhagavat-tattva
é temporário, possuem o defeito de querer fundir-se no
brahma. Quando se elimina estas impurezas do coração,os
quatro tipos de pessoas mençionadas açima adquirem a
qualificação para executar bhakti pura. Mas enquanto estas
impurezas ainda existir nele, sua bhakti é considerada
pradhani-bhuta. Por tanto, só quando as impurezas citadas
desaparecerem por completo, é que ele obterá bhakti ; esta
bhakti chama-se kevala,akincana ou uttama.”

Sloka 17

Tesam jnani nitya-yukta


Eka-bhaktir visisyate
Priyo hi jnanino´ty-artham
Aham sa mama priyah

Dentre estes, o meu devoto exclusivo cujos pensamentos


estão sempre em mim, é o melhor de todos, pois sou muito
querido por ele e ele é muito querido á mim.

Bhavanuvada

Dentre os quatro tipos de devotos elegíveis para executar


bhakti, os que estão exclusivamente atraídos por bhakti são os
melhores yogis.

Sloka 18
Udarah sarvah evaite
Jnani tv atmaiva me matam
Asthitah sahi yuktatma
Mam evanuttamam gatim

Mesmo sendo eles grandes almas, eu considero o jnani como


sendo eu mesmo. Estas almas estão sempre conectadas
comigo, e se refugiam em mim como seu destino supremo.

Bhavanuvada

“Eu sou bhakta-vatsala Bhagavan e considero o jnani dotado


com pradhani-bhuta bhakti livre de desejos como sendo eu
mesmo. Porém me é mais querido ainda, quem possui kevala
bhakti imaculado.”

Sloka 19

Bahunam janmanam ante


Jnanavan mam prapadyate
Vasudevah sarvam iti
Samahatma sudurlabhah

Após muitas vidas de prática espiritual, o jnani que está


dotado com o conheçimento de que tudo que é consçiente e
inerte está relaçionado com Vasudeva, se rende á mim e me
adora.Um mahatma assim é muito difícil de se encontrar.

Bhavanuvada

Alguém poderia argumentar: “Os jnanis te alcançam pois


aceitam teu refúgio como o destino supremo, mas; Quanto
tempo faltará para eles poderem preparar-se para entrar no
reino de bhakti?.Bhagavan responde: “Os jnanis refugiam em
mim, quando depois de muitas vidas, percebem Vasudeva em
todas as partes. Este sadhus se rendem á mim pela influênçia
da assoçiação apropriada que conçedo á eles. Ou seja, se
rendem de acordo com a bhava (sentimento) que reçebem de
tal assoçiação. Dentre milhões e milhões de homens, o jnani
bhakta cujo pensamento repousa em mim é muito raro; que
dizer então dos meus devotos exclusivos? eles são ainda mais
raros.”

Sloka 20

Kamais tair tair hrta-jnanah


Prapadyante´nya-devatah
Tam tam niyamam asthaya
Prakrtya niyatah svaya

Aqueles cuja inteligência é roubada pelos seus diversos


desejos luxuriosos, se rendem aos semi-deuses que podem
satisfazer seus desejos. Arrastados deste modo pela sua
própria natureza, eles adoram tais semi-deuses.

Prakasika-Vrtti

As pessoas afortunadas e inteligentes que estão influênçiadas


por diversos tipos de desejos, tentam satisfaze-los mediante a
adoração á Paramesvara Sri Krsna. Por sua
misericórdia,quando satisfazem seus desejos, eles perdem
gradualmente o interesse nestes desfrutes.
As pessoas nésçias e desafortunadas permaneçem cativas
pelas qualidades da paixão e ignorânçia como resultado de
sua aversão á Krsna e pensam que os semi-deuses podem
satisfazer seus desejos mais rápidamente. Por isto eles adoram
os diversos e insignificantes semi-deuses segundo suas
naturezas específicas em uma tentativa de satisfazer seus
desejos materiais, assim rápidamente eles se satisfazem.
Sloka 21

Yo yo yam yam tanum bhaktah


Sraddhayarcitum icchati
Tasya tasyacalam sraddham
Tam eva vidadhamy aham

Eu (Antaryami), outorgo a fé inquebrantável de um devoto


fruitivo por qualquer semi-deus que ele deseja adorar
fielmente.

Prakasika-Vrtti

Alguns pensam que se adorarem os semi-deuses, estes podem


inspirar fé em bhagavat-bhakti no coração de seus adoradores.
Sri Krsna explica que ele em sua forma Antaryami outorga
aos adoradores de semi-deuses uma fé inquebrantável por
qualquer semi-deus que eles desejam adorar, mesmo sendo
tais semi-deuses nada mais que suas vibhutis. Ele não inspira
fé em si mesmo nos corações de quem o rejeita. Se os semi-
deuses não podem inspirar fé em si mesmos á seus
adoradores, que dizer de produzir fé para Bhagavan?.

Sloka 22

sa taya sraddhaya yuktas


tasyaradhanam ihate
labhate ca tatah kamam
mayaiva vihitam hi tan

Dotados com este tipo de fé, eles se esfórçam na adoração dos


semi-deuses e assim obtém a satisafação de seus desejos. Na
realidade essas bençãos são dadas apenas por mim.

Bhavanuvada
Eles obtém satisfação para seus desejos adorando os semi-
deuses, mas na realidade os semi-deuses não tem esta
capacidade. Por tanto, Bhagavan diz: “Na realidade, eu é
quem satisfaço seus desejos.”

Sloka 23

Antavat tu phalam tesam


Tad bhavaty alpa-medhasam
Devam deva-yajo yanti
Mad-bhakta yanti mam api

Os frutos obtidos por tais pessoas de escassa inteligência, são


perecíveis. Os adoradores dos semi-deuses vão aos planetas
celestiais de um semi-deus particular, enquanto que meus
devotos vem á mim.

Prakasika-Vrtti

Aqui poderia surgir uma pergunta: “Já que os semi-deuse são


vibhutis(membros corporais) de Krsna, não há diferença entre
adorar os semi-deuses e adorar Bhagavan?.Bhagavan
responde: “A pessoa que se refugia nos semi-deuses
impulsionada por algum desejo realmente perdeu sua
inteligênçia, pois os resultados são perecíveis.”
Os devotots dos semi-deuses obtém frutos pereçíveis,
enquanto que os devotos de Bhagavan Sri Krsna obtém seu
serviço eterno em sua morada transçendental. Por tanto, as
pessoas inteligentes adoram a forma eterna de Bhagavan
mesmo se possuem desejos materiais.

Sloka 24

Avyaktam vyaktim apannam


Manyante mam abuddhayah
Param bhavam ajananto
Mamavyayam anuttamam

Aqueles que carecem de inteligênçia consideram que eu, que


sou imanifesto e transcendental á existência mundana, nasço
como um ser humano ordinário. Eles não conhecem minha
natureza suprema, exçelente, imutável e transçendental da
minha forma, nascimento, passatempos e qualidades.

Sloka 25

Naham prakasah sarvasya


Yoga-maya-samavrtah
Mudho yam nabhijanati
Loko mam ajam avyayam

Eu não me revelo á todos. Os tolos não compreendem minha


forma não nascida e imperecível, pois estou coberto pela
minha potência chamada yoga-maya (interna).

Prakasika-Vrtti

Deve enteder-se aqui que Bhagavan possui dois tipos de


maya-sakti: yoga-maya ou interna e maha-maya ou externa.
Yoga-maya constitue sua svarupa sakti, a qual é experta em
fazer o impossível se tornar possível, e maha-maya é a
sombra da energia interna. Yoga-maya organiza a
manifestação dos passatempos do onisçiente e onipotente
Bhagavan situando ele e seus assoçiados em uma ilusão
transcendental. Ela também arruma a união de Bhagavan com
a jiva que pratica sadhana-bhakti. Por esta razão se denomina
yoga-maya. Por outro lado,maha-maya cativa as jivas que são
contrárias á Bhagavan e ás ata com os resultados de suas
atividades. Maya-maya não pode afetar Bhagavan, porém ela
encobre o conhecimento da jiva e obscura sua visão para com
Bhagavan.

Sloka 26

Vedaham samatitani
Varttamanani carjuna
Bhavisyani ca bhutani
Mam tu veda na kascana

Ó Arjuna! Conheço todos os seres, tanto os móveis como os


imóveis, conheço o passado, o presente e o futuro, mas
ninguém me conhece.

Prakasika-Vrtti

Alguém poderia questionar; “Se Bhagavan está coberto por


yoga-maya, ele deve estar iludido como a jiva e, por tanto,
afligido pelo defeito da ignorânçia. “Bhagavan responde aqui:
“Maya está ocupada em meu serviço, sujeita á meu poder e
permaneçe sob meu controle.”
Ele enfatiza isto dizendo; “ Eu conheço o passado,o presente e
o futuro,mas mesmo grandes personalidades como Maharudra
não me conhece plenamente, pois seu conhecimento está
coberto por yoga-maya; que dizer então dos homens
ordinários?”

Sloka 27

Iccha-dvesa samutthena
Dvandva-mohena bharata
Sarva-bhutani sammoham
Sarge yanti parantapa
Ó Parantapa! No momento da criação, as jivas confundidas
pelas dualidades da felicidade e aflição nasçidas do desejo e
da aversão, tornam-se completamente cativadas pela ilusão.

Bhavanuvada

Quanto tempo as jivas tem estado cativadas por maya?


Bhagavan responde: “Desde a criação.” O que ás confunde?
“O desejo e a aversão nasçidos de seu karma prévio. “ Elas
estão iludidas pelas dualidades que surgem do desejo pelos
objetos que gostam e aversão pelos que não gostam.A honra e
desonra, o frio e calor, a feliçidade e tristeza,os sexos
masculino e feminino,para mençionar alguns exemplos. As
pessoas estão profundamente apegadas á esposa, aos filhos e
parentes. Quem tem estes profundos apegos mundanos não
tem direito de dedicar-se á minha bhakti. Eu disse á Uddhava:
“A pessoa afortunada que desenvolveu fé em escutar
conversas sobre mim e que não sente nem repulsão nem
apego excessivo pelos objetos sensíveis, alcança a perfeição
em bhakti-yoga.”

Sloka 28

Yesam tv anta-gatam papam


Jananam punya-karmanam
Te dvandva-moha-nirmukta
Bhajante mam drdha-vratah

Mas as pessoas piedosas cujos pecados foram erradicados, se


liberam da confusão criada pelas dualidades e se dedicam á
minha adoração com grande determinação.

Bhavanuvada
Qual é então, a qualificação para executar bhakti? Bhagavan
Sri Krsna responde: “Quando os pecados de uma pessoa são
eliminados mediante atividades piedosas,dentro dela surge o
modo da bondade (sattva-guna) e esta reduz seu modo da
ignorância (tamo-guna) juntamente com seu efeito, a ilusão.
Quando esta pessoa se assoçia com meu devoto, que não está
escessivamente atraído á este mundo, sua ilusão se reduz e ele
se ocupa volutariamente em meu bhajana com grande
determinação.”

Sloka 29

Jara-marana-moksaya
Mam asritya yatanti ye
Te brahma tad viduh krtsnam
Adhyatmam karma cakhilam

Aqueles que lutam para liberar-se da enfermidade e da morte


refugiando-se em mim,obtém o conheçimento do brahma,da
natureza constituçional da jiva e do prinçípio do karma,o qual
é a causa do cativeiro neste mundo material.

Prakasika-Vrtti

Bhagavan explicou iniçialmente os três primeiros tipos de


sakama-bhaktas,entre eles os afligidos.”No prinçípio eles se
dedicam ao meu bhajana com o propósito de alcançar seus
objetivos, mas quando conseguem conseguem seus
objetivos ,entendem que este são miseráveis e degradantes e
assim se desapegam deles.Finalmente, mediante associação
com os bhaktas,obtém o êxito em minha ekantika-bhakti.”
Bhagavan explica agora o quarto tipo de sakama-bhakta,o que
deseja moksa (liberação).”Quando os sakama-bhaktas obtêm
a assoçiação de meus suddha-bhaktas, eles perdem o desejo
de se fundir-se em meu aspecto impessoal e se conçentram em
situar-se em sua forma constituçional pura como servos de
Krsna.”

Sloka 30

Sadhibhutadhidaivam mam
Sadhiyajnanca ye viduh
Prayana-kale pi ca mam
Te vidur yukta-cetasah

Aqueles que me conheçem como a deidade regente do


princípio controlador dos elementos materiais grosseiros do
cosmos, como o sustento dos semi-deuses e como o
fundamento de todos os sacrifíçios, e cujas mentes estão
apegadas á mim, me recordam até no momento da morte.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan diz: “Aqueles que mediante o poder de minha


bhakti,me conheçe como o princípio regente de adhibhuta-
tattva, o adhidaiva-tattva e adhiyajna-tattva, podem lembrar
de mim no momento da morte. Eles não temem a morte
porque jamais duvídam de mim.”

Assim conclui-se o sétimo cápitulo do Srimad Bhagavad Gita

Capítulo 8
Taraka Brahma yoga

Yoga com Parambrahma

Arjuna uvaca
Kim tad brahma kim adhyatmam
Kim karma purrusottama
Adhibhutanca kim proktam
Adhidaivam kim ucyate

Arjuna perguntou: Ó Purusottama! O que é brahma? O que é


adhyatma? O que é karma? O que é adhibhuta? O que é
adhidaiva?

Sloka 2

Adhiyajnah katham ko ´tra


Dehe ´smin madhusudana
Prayana-kale ca katham
Jneyo ´si niyatatmabhih

Ó Madhusudana! Quem é o senhor do sacrifício e como ele


mora neste corpo? Como pode uma pessoa de mente
controlada, te conhecer
no momento da morte?

Bhavanuvada

No oitavo capítulo, Bhagavan Sri Krsna explica o yoga, com


o objetivo de responder as perguntas de Arjuna Dentro destas
respostas, desenvolve-se as definições de yoga-misra bhakti e
suddha-bhakti, incluindo a meta de ambos.
Sloka 3

Sri bhagavan uvaca


Aksaram paramam brahma
Svabhavo dhyatmam ucyate
Bhuta-bhavodbhava-karo
Visargah karma-samjnitah

Sri Bhagavan disse: A suprema verdade impereçível e eterna


é o brahma. A jiva em seus estado puro se denomina
adhyatma e o prinçípio do yajna no mundo material onde se
desenvolvem os corpos das jivas e suas expansões se conhece
como karma.

Bhavanuvada

As jivas situadas em seu estado puro mediante o cultivo de


bhakti conseguem a conexão com Paramatma.
O samsara da jiva resulta nos elementos grosseiros e sutis que
criam tanto os corpos humanos quanto os demais tipos de
corpos,de acordo com a existênçia da jiva. O samsara, ciclo
da existênçia material, é criado pelo karma da jiva, de modo
que neste contexto a palavra karma indica a existência
material da entidade viva (jiva).

Sloka 4

Adhibhutam ksaro bhavah


Purusas cadhidaivatam
Adhiyajno ´ham evatra
Dehe deha-bhrtam vara

Ó tu que é o melhor entre os seres corporificados! O perecível


se denomina adhibhuta e a forma universal se chama
adhidaiva, o senhor que rege todos os semi-deuses. Só eu sou
adhiyajna e estando situado no corpo da jiva na forma de
antaryami, nspiro as pessoas á executar atividades tais como o
yajna.

Prakasika-Vrtti

Adhibhuta: Coisas grosseiras tais como as ondas ou roupas,


que são perecíveis e trocam constantemente.

Adhidaiva. O ser cósmico total ou virat-purusa se chama


adhidaiva poruqe tem soberania sobre os devatas.

Adhiyajna. Se refere ao purusa,que está situado nos corpos


das jivas na forma do onipresente Antaryami. Nesta forma,
inspira ações como o yajna e outorga os resultados do karma.
É uma porção plenária de Bhagavan sri Krsna(svamsa tattva).
No Svetasvatara Upanisad (4.6) se descreve:
“Ksirodakasayi-purusa e a jiva vivem como dois pássaros
amigos nos galhos de uma árvore de banana,o qual é
comparado ao corpo material temporário. A jiva saboreia os
frutos da árvore de acordo com seu karma, enquanto que o
outro pássaro, Paramatma, não desfruta deles senão que
simplesmente permaneçe como testemunha das atividades da
jiva.’’
Sri Sukadeva Goswami diz no Srimad Bhagavatam (2.2.8)
‘’Alguns yogis recordam o pradesa-matra purusa que se
encontra no fundo de seus corações.’’
Srila Cakravarti Thakura disse: “Através de sua acintya-sakti,
ele está situado dentro desta área em sua forma juvenil de
quinze anos de idade.”
O Katha Upanisad declara: ”Antaryami tem o tamanho de um
polegar e se instala no coração da jiva.”
Mas para os devotos, Krsna está situado nos corações em sua
forma juvenil de quinze anos de idade na forma de Yasoda
nandana Krsna, o adolescente transcendental. O Antaryami
situado no coração de Arjuna é o mesmo Kisora Krsna que
está sentado na sua carróça.

Sloka 5

Anta-kale ca mam eva


Smaran muktva kalevaram
Yah prayati sa mad-bhavam
Yati nasty atra samsayah

E aquele que no momento da morte abandona seu corpo


recordando só á mim, sem dúvida alcança minha natureza.
Não há nenhuma dúvida sobre isto.

Bhavanuvada

“Lembrando de mim, uma pessoa pode me conhecer, mas não


é possível conhecer-me plenamente da mesma forma que se
conhece os objetos materiais como por exemplo, os
recipientes ou a roupa. “Através de quantos tipos de jnana
pode-se recordar-me? Isto é explicado nos próximos quatro
versos.”

Sloka 6

Yam yam vapi smaran bhavam


Tyajaty ante kalevaram
Tam tam evaiti kaunteya
Sada tad-bhava-bhavitah

Ó Kaunteya! Qualquer coisa que se recorde no momento da


morte determina o estado de existênçia que uma pessoa
alcançará em sua próxima vida, por Ter estado sempre absorta
nesta contemplação.
Prakasika-Vrtti

Por lembrar de Bhagavan no momento da morte,uma pessoa


alcança sua natureza.Assim também , uma pessoa alcança a
natureza correspondente á outros seres e objetos que recordam
neste momento.
Bharata Maharaja pensou em um veado no momento da sua
morte,assim ele obteve um corpo de veado na sua próxima
vida. Por isso, deve-se pensar apenas em Bhagavan Sri Krsna
no momento da morte. Para alcançar este estado de
consciência é indispensável esforçar-se nesta direção desde o
princípio da vida.
A história de Puranjana mostra como ele obteve o corpo de
uma mulher em sua seguinte vida como resultado de pensar
em uma mulher no momento da morte. Na realidade, qualquer
coisa que façamos durante nossa vida influi no estado de
consçiênçia no momento da morte e de acordo com este
estado, receberemos outro corpo. Por esta razão, os sadhakas
devem executar hari-nama e praticar suddha-bhakti durante
sua vida, para que no momento da morte sejam capazes de
lembra-se de Bhagavan e para que seu caminho rumo á bem
aventurança seja abençoado.

Sloka 7

Tasmat sarvesu kalesu


Mam anusmara yudhya ca
Mayy arpita-mano-buddhir
Mam evaisyasi asamsayah

Por tanto, deves recordar-me sempre e ao mesmo tempo


executar teu dever prescrito de lutar. Com tua mente e
inteligência dedicadas á mim, sem dúvida você me alcançará.

Sloka 8
Abhyasa-yoga-yuktena
Cetasa nanya-gamina
Paramam purusam divyam
Yati parthanucintayan

Ó Partha! Aqueles que estão dedicados á prática constante de


yoga, com a mente indesviável e pensando continuamente em
mim, alcançam a Pessoa Suprema.

Prakasika-Vrtti

É necessário ocupar-se em abhyasa-yoga para alcançar uma


continuidade inquebrantável no bhajana, semelhante á
corrente indetível de um rio. Uma pessoa só pode ocupar sua
mente em lembrar de Bhagavan mediante o cultivo de
abhyasa-yoga e a retraíndo-a dos objetos sensíveis.

Sloka 9-10

Kavim puranam anusasitaram


Anor aniyamsam anusmared yah
Sarvasya dharatam acintya-rupam
Aditya-varnam tamasah parastat

Prayana-kale manasa calena


Bhaktya yukto yoga-balena caiva
Bhruvor madhye pranam avesya samyak
Satam param purusam upaiti divyam

Deve-se lembrar dele como a pessoa divina e eterna, como o


controlador supremo, como o menor do que o menor, como o
sustentador de todos cuja forma é inconcebível, como aquele
que é refugente como o sol e que é transçendental á natureza
material. Sem sombra de dúvidas, aquele que no momento da
morte fixa seu ar vital entre as sombrancelhas através da força
do yoga, se concentra sem desviar sua atenção, e se ocupa em
devoção, alcança o supremo.

Bhavanuvada

É impossível retrair a mente dos objetos sensíveis e recordar-


se de Krsna sem a prática continua do yoga. Bhakti mesclada
com qualquer tipo de yoga se denomina karma-misra-bhakti.
Sri Bhagavan explica este processo nos quatro versos
seguintes.

Sloka 11

Yad aksaram veda-vido vadanti


Visanti yad yatayo vita-ragah
Yad icchanto brahmacaryam caranti
Tat te padam sangrahena pravaksye

Agora te explicarei sobre a meta última que os sábios védicos


definem como imperecível. Á elas ascendem os ascetas que
estão livres de todos os desejos assim como os que anseiam
alcança-la praticando o celibato.

Slokas 12-13

Sarva-dvarani samyamya
Mano hrdi nirudhya ca
Murdhny adhayatmanah pranam
Asthito yoga dharanam

Om ity ekaksaram brahma


Vyaharan mam anusmaran
Yah prayati tyajan deham
Sayati paramam gatim
O yogi alcança o destino supremo mediante o controle dos
sentidos, concentrando a mente no coração, fixando o ar vital
na parte superior da cabeça, absorvendo-se profundamente em
samadhi (transe) pela prática do yoga, pronunciando a sílaba
Om (a manifestação sonora do brahma) e abandonando seu
corpo enquanto medita em mim.

Bhavanuvada

Aqui Sri Bhagavan explica como uma pessoa alcança o


destino supremo de salokya-mukti e vai á seu planeta.

Sloka 14

Ananya-cetah satatam
Yo mam smarati nityasah
Tasyaham sulabhah partha
Nitya-yuktasya yoginah

Ó Partha! Sou facilmente alcançável por aquele que está


constantemente absorto em bhakti-yoga e me recorda
continuamente sem distrair a mente.

Bhavanuvada

No Gita (7.29) se explica karma-misra-bhakti e pradhani-


bhuta bhakti, junto com seus fatores dominantes (karma,
jnana e yoga). Agora neste verso, Sri Bhagavan explica
kevala-bhakti, qual é nirguna e superior á todos demais tipos
de yoga..”Sou fácilmente alcançável pelo bhakta que me
recorda sem considerar tempo ou pureza do local, cuja mente
não está atraída por karma, jnana ou yoga, que não adora
nenhum dos semi-deuses e nem deseja liberação.
Sloka 15

Mam upetya punar janma


Duhkhalayam asasvatam
Napnuvanti mahatmanah
Samsiddhim paramam gatah

Depois de alcançar-me, as grandes almas jamais voltam á


nascer neste mundo temporário, o qual é a morada de todas as
misérias, pois alcançaram a perfeição suprema.

Bhavanuvada

O que acontece com aqueles que te alcançam? Bhagavan


responde á Arjuna. “Eles não tem mais que aceitar outro
nasçimento neste mundo material, senão que conseguem um
nascimento similar ao meu, eterno e pleno de bem
aventurança.”

Sloka 16

a-brahma-bhuvanal lokah
punar avarttino rjuna
mam upetya tu kaunteya
punar janma na vidyate

Ó Arjuna! Todos os planetas deste universo até Brahma-loka,


são lugares de repetidos nascimentos e mortes , mas quem me
alcança, ó Kaunteya, jamais volta á nascer.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna. ”Desde


Brahma-loka ou Satya-loka até os planetas inferiores, tudo é
temporário. As jivas destes planetas nasçem de novo, mas
quem se refugia em mim através de kevala bhakti (bhakti sem
misturas, pura), não volta á nascer.”

Sloka 17

Sahasra-yuga-paryantam
Ahar yad brahmano viduh
Ratrim yuga-sahasrantam
Te ´ho-ratra-vido janah

Aqueles que conhecem a verdade acerca do dia e da noite de


Brahma, compreendem que sua duração é de mil ciclos de
quatro eras.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “De acordo com


o cálculo,tanto o dia quanto a noite de Brahma são iguais á
mil ciclos de quatro yugas(4.320.000.000). De tal forma,
Brahma sucumbe no período de cem anos. Se esta é a situação
de Brahma, como os sanyassis que alcançaram este planeta
poderiam ser eternos? . Não é possível. Eles são obrigados á
nascer de novo.

Sloka 18

Avyaktad vyaktayah sarvah


Prabhavanty ahar-agame
Ratry-agame praliyante
Tatraivavyakta-samjnake

Todas as jivas surgem do imanifesto quando amanhece, e se


fundem neste estado imanifesto no momento do anoitecer.
Bhavanuvada

Da causa imanifesta, que é a noite de Brahma, vem seu dia ,o


qual revela o campo para o desfrute na forma do corpo, dos
objetos sensíveis e os demais objetos. O mundo inteiro se
manifesta ativamente desta maneira. Logo, ao chegar a noite,
se dissolve de novo na causa imanifesta enquanto ele
(Brahma) dorme.”

Sloka 20

Paras tasmat tu bhavo ´nyo


Vyakto vyaktat sanatanah
Yah sa sarvesu bhutesu
Nasyatsu na vinasyati

Porém, superior á este estado imanifesto, há uma outra


natureza eterna e maravilhosa que não se destrói nem no
momento da grande dissolução, quando o mundo inteiro é
aniquilado.

Bhavanuvada

Sobre o princípio não fenomenal do prajapati Hiranyagarbha


Brahma, existe outra natureza imanifesta, a qual é eterna e
sem começo e está além da causa de Hiranyagarbha.

Sloka 21

Avyakto ´ksara ity uktas


Tam ahuh paramam gatim
Yam prapya na nivarttante
Tad dhama paramam mama
Esta minha natureza imanifesta é chamada de aksara e
constitue o destino supremo. Os que vão á esta morada jamais
regressam á este mundo. Essa minha morada suprema é
eterna.

Prakasika-Vrtti

Esta realidade imanifesta se denomina aksara-brahma e é o


destino supremo das jivas. Ao obter essa morada suprema,
não há possibilidade de regressar ao mundo material.

Sloka 22

Purusah as parah partha


Bhaktya labhyas tv ananyaya
Yasyantah-sthani bhutani
Yena sarvam idam tatam

Ó Partha! Eu sou a pessoa suprema cuja expansão está situada


no coração de todos os seres e por quem o mundo inteiro é
penetrado. Apenas sou alcançado pela prática de ananya-
bhakti (devoção imaculada).

Bhavanuvada

“Esta pessoa suprema, que é minha expansão (Antaryami


Paramatma), é alcançada unicamente através de ananya-
bhakti. Ananya significa aquilo que não tem nenhum vestígio
de karma, jnana, yoga ou desejos mundanos.”

Sloka 23

Yatra kale tv anavrttim


Avrttincaiva yoginah
Prayata yanti tam kalam
Vaksyami bharatarsabha

Ó melhor da dinastia Bharata! Agora te explicarei os


momentos no qual os semi-deuses que regem o tempo
definem se yogis vão ou não regressar á este mundo.

Prakasika-Vrtti

Os bhaktas não dependem do tempo no qual partem deste


mundo para liberar-se. Por exemplo, se o sol se encontra ou
não no hemisfério norte. O momento no qual eles entram nos
passatempos transcendentais de Sri Krsna é sempre nirguna.

Sloka 24

Agnir jyotir ahah suklah


San-masa uttarayanam
Tatra prayata gacchanti
Brahma brahma –vido janah

Os conhecedores do brahma o alcançam quando abandonam


este mundo durante a influência dos semi-deuses que regem o
fogo (Agni), a luz, os dias favoráveis, a quinzena da lua
crescente e os seis meses do curso norte do sol.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura diz que os yogis que abandonam


o corpo em tais momentos, jamais regressam á este mundo.

Sloka 25

Dhumo ratris tatha krsnah


San-masa daksinayanam
Tatra candramasam jyotir
Yogi prapya nivarttate

O karma-yogi que toma o caminho dos semi-deuses que


presidem sobre os momentos de neblina, da noite, da lua
minguante e dos seis meses em que o sol transita o hemisfério
sul, alcançam svarga. Depois de desfrutar os prazeres
celestiais alí, eles regressam ao mundo material.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan explica agora o caminho de regressão dos


karmis. Um karma-yogi que transita pela órbita destes semi-
deuses, chegam ao planeta Svarga, onde desfrutam do
resultado de seu karma. Finalmente, regressam ao mundo
material, quando se esgotam seus créditos.

Sloka 26

Sukla-krsne gati hy ete


Jagatah sasvate mate
Ekaya yaty anavrttim
Anyayavarttate punah

Para abandonar este mundo, existem duas maneiras que são


consideradas como sendo eterna: o brilhante e o escuro. Ao
entrar no caminho luminoso alcança-se a liberação e ao entrar
no caminho escuro regressa-se á este mundo.

Prakasika-vrtti

Os meios mencionados são o deva-yana – viagem pelo


caminho dos semi-deuses – são iluminados pelo
conhecimento e se denomina sukla-gati ou destinos
iluminados. O segundo tipo é, ptri-yana – viagem para os
antepassados – está cheio de ignorância e é chamado de
krsna-gati ou caminho escuro.

Sloka 27

Naite srti partha janam


Yogi muhyati kascana
Tasmat sarvesu kalesu
Yoga-yukto bhavarjuna

Ó Partha! Os bhakti-yogis que conheçem todos estes


caminhos jamais se confundem. Por tanto, Arjuna, permanece
sempre fixo neste yoga.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:”Os bhakti-yogis


jamais se confundem, pois permaneçem fixos em bhakti-yoga
com um conhecimento que se baseia em tattva(verdades
absolutas). Por tanto, conhecem a diferença entre as duas
metas e se refugiam em bhakti, que é superior. Em outras
palavras, eles se refugiam em ananya-bhakti-yoga, sabendo
que os outros caminhos são cheios de misérias. Ó Arjuna!
Deves refugiar-te unicamente neste yoga.”

Sloka 28

Edesu yajnesu tapahsu caiva


Danesu yat punya-phalam pradistam
Atyeti tat sarvam idam viditva
Yogi param sthanam upaiti cadyam

Um bhakti yogi supera todos os resultados piedosos que se


adiquire mediante o estudo dos Vedas, da execução de yajnas,
das austeridades, caridades, karma e outros processos. Depois
de adquirir o conhecimento sobre o que te expliquei, alcança-
se a suprema, original e superexcelente morada.

Prakasika-Vrtti

Srila Visvanatha Cakravarti Thakura diz que uma pessoa


consegue a bem aventurança plena através da prática de
kevala-bhakti e que sem bhakti não pode-se obter nada.
Assim, define-se o processo de bhakti como o proçesso
supremo e auspicioso, anto pelas declarações diretas dos
sastras como pelas indiretas.
Srila Bhaktivinoda interpreta Krsna neste verso: ”A fé se
transforma em nistha ou absorção exclusiva em meu serviço,
quando os anarthas de um devoto cuja fé é absoluta, são
liminados pelo bhajana na associação dos meu
devotos(bhaktas). O bhajana que se realiza em sadhu-
sanga(associando-se com um santo) elimina todos os pecados
mesmo que a fé não esteja desenvolvida plenamente.”
Os sentimentos devocionais mesclados com jnana e yoga,
contaminados com bhukti e mukti, são anarthas que impedem
a compreensão do bhajana-tattva. O bhajana de uma pessoa se
purifica dos anarthas quando sua tendênçia á bhakti se torna
kevala(pura) e refugia em visuddha-tattva, a Realidade
Absoluta de Sri Bhagavan. Esta é a essência do oitavo
capítulo.

Capítulo 9
Raja-Guhya Yoga

O conheçimento mais confidêncial

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Idam tu te guhyatamam
Pravaksyamy anasuyave
Jnanam vijnana-sahitam
Yaj jnatva moksyase ´subhat

Sri Bhagavan disse: Ó Arjuna! Devido ao fato de não seres


invejoso, eu te explicarei agora o conhecimento mais
confidêncial,o qual está dotado com as características de
suddha-bhakti e permite conheçer-me diretamente. Este
conhecimento irá te liberar das misérias do mundo material.

Bhavanuvada

Este capítulo explica o conheçimento sobre a opulênçia do


senhor Krsna, que seus devotos desejam para servi-lo
favoravelmente. Aqui se descreve claramente a supremacia de
suddha-bhakti.

Prakasika-vrtti

Aqui Bhagavan diz que deve-se explicar o conhecimento mais


confidêncial apenas para aqueles que estão livres da inveja e
do ódio, e que possuem um coração afetivo.

Sloka 2
Raja-vidya raja-guhyam
Pavitram idam uttamam
Pratyaksavagamam dharmyam
Su-sukham karttum avyayam

Este jnana é o rei do conheçimento e o monarca entre todos os


temas confidênciais. É extremamente puro, e revela
diretamente a natureza do ser conduzindo á perfeição do
dharma. É executado com alegria e outorga resultados
transcendentais e imperecíveis.

Bhavanuvada

Este conheçimento é o rei do conhecimento. Existem diversos


tipos de conhecimento e adoração, mas seu único rei é bhakti,
que é o monarca dos assuntos confidênciais. Todas as
atividades pecaminosas são expiadas por meio de bhakti, o
que demonstra que é puro e mais purificante que o
conhecimento do ser ou tvam-padartha-jnana. Sripad
Masdhusudana Sarasvati disse que esta bhakti pode destruir
em menos de um segundo os estados grosseiros e sutis de
todo tipo de atividades pecaminosas acumuladas durante
milhôes de vidas, e também sua causa, a ignorânçia.
A prática de bhakti é caracterizada por ouvir, cantar, lembrar
do Senhor Supremo(Krsna) etc.... Assim ocupa-se os
sentidos, como os olhos e a lingua. Devido ao fato desta
bhakti ser nirguna(transcendental), não é perecível como o
jnana e karma.

Prakasika-vrtti

Kevala bhakti é a jóia preciosa do conhecimento. É


supremamente confidêncial, muito purificadora e se
experimenta pela percepção direta.
Os proçessos de karma, yoga e jnana não podem outorgar
uma compreensão e percepção direta ao sadhaka(praticante)
como bhakti. “Bhakti é tão poderosa que outorga uma
experiência própria ainda nas etapas iniciais.”

Sloka 3

Asraddadhanah purusa
Dharmasyasya parantapa
Aprapya mam nivarttante
Mrtyu-samsara-vartmani

Ó Parantapa! As pessoas que não possuem fé no dharma que


constitue minha bhakti não podem me alcançar. Elas
perambulam pelo caminho da existência material que está
repleto de morte.

Bhavanuvada

“As declarações dos sastras estabeleçem a superioridade de


bhakti, mas as pessoas que não tem fé , consideram que estas
declarações são exageradas. Eles rejeitam este dharma devido
á sua inteligência de ateísta. Mesmo que uma pessoa pratique
severos métodos alternativos para alcançar-me depois de Ter
abandonado o caminho de bhakti, ela jamais terá êxito. Pelo
contrário, perambulará continuamente pelo caminho da
existência material que é saturado de morte.

Sloka 4

Maya tatam idam sarvam


Jagad avyakta-murttina
Mat-sthani sarva-bhutani
Na caham tesv avasthitah
Todo este universo é penetrado por mim em minha
svarupa(forma imanifesta), a qual não se pode perceber com
os sentidos materiais. Todos os elementos e entidades vivas
estão situadas em mim, mas eu não estou neles.

Prakasika-Vrtti

A essênçia desta instrução de Krsna é a seguinte: “Este


universo não é uma transformação minha, nem tampouco uma
ilusão. Eu sou a Realidade Absoluta auto refulgente. As jivas
e o universo são também reais; ambos são a transformação de
minha sakti (potência). As jivas são eternas e se manifestaram
de tatastha – sakti, que apesar de ser real, é temporária e está
sujeita á destruição. As jivas e o mundo são transformações
da minha sakti, a qual não é diferente de mim, por isso são
simultaneamente iguais e diferentes de mim. “Este conceito é
inconçebível, visto que pode ser compreendido apenas com a
ajuda dos sastras, e não por intermédio da inteligência
ordinária.

Sloka 5

Na ca mat-sthani bhutani
Pasya me yogam aisvaram
Bhuta-bhrn na ca bhuta-stho
Mamatma bhuta-bhavanah

Toda a criação não existe realmente em mim. Contempla


minha opulênçia mística! Como Paramatma mantenho e
sustento todos elementos e entidades vivas, ainda sim, não
estou situado neles.

Bhavanuvada
“Ainda que todas as entidades vivas e os elementos estão
situados em mim, não estão em minha svarupa, pois sou
asanga, estou separado deles.
Ainda que sustento e mantenho a manifestação cósmica
ilusória, ao mesmo tempo não estou nela pois não estou
apegado á ela; pelo contrário, sou independente.”

Sloka 6

Yathakasa-sthito nityam
Vayuh sarvatra-go mahan
Tatha sarvani bhutani
Mat-sthanity upadharaya

Assim como o poderoso vento que sopra pra qualquer lado


sempre descansa no céu, que se encontra separado dele,
similarmente todos os seres descansam em mim, mas eu não
estou neles.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan usa uma analogia para ilustrar suas


características de onipenetrante e ilimitado; ”Devido á sua
natureza, o vento está sempre em movimento, por isso ele é
sarva-ga, se move para onde quiser. Se diz que ele é poderoso
pois sua capaçidade é ilimitada. Ainda que o vento esteja
situado no céu, simultaneamente não está situado nele. E
devido á natureza asanga do céu, não está situado no vento,
mesmo que ao mesmo tempo está. Da mesma forma,os cinco
elementos, entre eles o céu e o vento que existem em todas as
partes, não estão em mim pois minha natureza é asanga. Eles
não estão em mim ainda que estão situados em mim.
Reflexiona sobre minha explicação e trata de compreende-la.”

Sloka 7
Sarva-bhutani kaunteya
Prakrtim yanti mamikam
Kalpa-ksaye punas tani
Kalpadau visrjamy aham

Ó Kaunteya! No momento da devastação universal todos os


seres entram em minha prakrtim. No começo de uma nova
kalpa (ciclo de eras) eu os crio novamente com suas naturezas
específicas por intermédio da minha potência

Bhavanuvada

Aqui se poderia Ter a seguinte dúvida: “Neste momento


todos os seres visíveis e os elementos estão situados em ti,
mas para onde vão durante a aniquilação?” Sri Bhagavan
responde anteçipadamente a pergunta com este presente
verso. “Eles entram em minha maya-sakti, que
está composta pelos três gunas e depois da aniquilação,
melhor dizendo, no início da criação, eu os crio de novo junto
com as suas naturezas específicas.”

Sloka 8

Prakrtim svam avastabhya


Visrjami punah punah
Bhuta-gramam imam krtsnam
Avasam prakrter vasat

Através de minha prakrti, que está composta pelos três gunas,


crio várias vezes as inumeráveis entidades vivas atadas pelo
seu karma, segundo suas naturezas individuais.

Prakasika-Vrtti
Este verso nos faz compreender que todas as espéçies de vida,
animais, humanos etc..são criadas ao mesmo tempo. A teoria
da evolução proposta por Darwim não tem nenhuma base, é
uma crença completamente equivocada. É só percebermos
que mesmo após milhões de anos, o ser humano não evoluiu
nem tampouco outras espécies tem superado sua evolução.

Sloka 9

Na ca mam tani karmani


Nibadhnanti dhananjaya
Udasina-vad asinam
Asaktam tesu karmasu

Ó Dhananjaya! Visto que permaneço desapegado dos atos tal


qual a criação como um observador neutro, tais ações não me
afetam.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Ó Dhananjaya!


Nenhuma destas ações podem me atar. Sempre estou
desapegado das ações como se fosse uma pessoa indiferente,
ainda que na realidade não sou. Pelo contrário, estou sempre
absorto em minhas próprias atividades espirituais bem
aventuradas. Os diversos tipos de seres são criados por meio
de minha potência externa, maya, juntamente com minha
tatastha-sakti, as quais aumentam indiretamente minha bem
aventurança transcendental. Minha svarupa não é perturbada
por minhas saktis. Qualquer ação que as jivas executem sob a
influênçia de maya, colaboram indiretamente para
encrementar meus passatempos bem aventurados puramente
divinos. Por isso minha atitude para com as atividades
mundanas é como a de um observador imparcial.”
Sloka 9

Na ca mam tani karmani


Nibadhnanti dhananjaya
Udasina-vad asinam
Asaktam tesu karmasu

Ó Dhananjaya! Visto que permaneço desapegado e neutro em


atos como a criação universal, as ações não me atam.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso para responder a possível


pergunta: ”Se você age como a jiva e também executa karma,
por que sua ações não te ata?”
“O cativeiro surge devido ao apego ás atividades, como por
exemplo, a criação, mas eu não estou apegado. Todos os meu
desejos estão satisfeitos, pois sou aptakama.”

Sloka 10

Mayadhyaksena prakrtih
Suyate sa-caracaram
Hetunanena kaunteya
Jagad viparivarttate

Ó Kaunteya! Sob minha direção, a manifestação cósmica


juntamente com todos os seres, móveis e imóveis, surge da
minha sakti (potência externa) . Por isto o mundo material é
criado várias e várias vezes.

Bhavanuvada
Sri Bhagavan recita este verso para dissipar a possível dúvida
de Arjuna: ”Eu não consigo acreditar que tu, sendo o criador
de toda a manifestação cósmica, permaneças tão indiferente.”
“Sou apenas a causa instrumental; é a natureza material quem
cria o mundo material. Minha função é apenas reger, assim
como o rei Ambarisa Maharaja que concentra sua energia
exclusivamente na execução dos deveres próprios do seu
cargo.Assim como os súditos não são capazes de atuar sem a
existência do trono real, a natureza material não pode executar
nenhuma função sem os elementos que são sintomáticos da
minha existência.”

Prakasika-Vrtti

Bhagavan é o amo dos modos materiais e o superintendente


de maya.É a causa instrumental da natureza material e á rege
em atos com a criação. É apenas pela influência do seu olhar
que a natureza material é criada repetidamente. A natureza
material recebe o poder de criar dele, pois está sob seu
controle ; a matéria inerte não pode realizar a função de
criação por si própria.

Sloka 11

Avajananti mam mudha


Manusim tanum asritam
Param bhavam ajananto
Mama bhuta-mahesvaram

Quando apareço em uma forma similar á humana, os néscios


de inteligência mundana zombam de mim, pois são incapazes
de compreender minha natureza suprema, o Senhor Supremo
de todos os seres.
Prakasika-Vrtti

Sri Krsna é a origem de todas as manifestações visnu-tattva,


enquanto que o nirvisesa brahma é descrito nos upanisads
como sendo sua refulgência corpórea. Paramatma, que
penetra o universo inteiro, é sua expansão párcial. Sri
Narayana, o senhor de Vaikunta, é sua potência de
passatempos. Sri Krsna é a origem de todos os avataras, o
controlador dos controladores e a realidade transcendental
suprema. Sri Krsna é o amo de todos os seres e o senhor dos
universos. Ele é onisçiente, onipotente e sumamente
compassivo. Ele pode fazer o que bem desejar, mas os nésçios
zombam dele quando tem uma visão de sua charmosa forma
de aspecto humano. Esses tolos comsideram que a forma de
Yashoda Nandana Sri Krsna é mundana e mortal igual á dos
seres humanos ordinários. Alguns pensam que o corpo de
Krsna é material e perecível, acreditam que há uma alma
(paramatma) dentro de seu corpo. Quem pensa assim é tolo,
pois os sastras declaram que o corpo de Krsna é sac-cid-
ananda e que não há diferença entre ele e seu corpo.

Sloka 12

Moghasa mogha-karmano
Mogha-jnana vicetasah
Raksasim asurincaiva
Prakrtim mohinim sritah

As esperanças de liberação, ganância material e cultivo de


conheçimento destes tolos, são completamente infrutíferas.
Com suas mentes confusas, eles adquirem uma natureza
ilusória e ignorante tal qual a dos ateus e dos demônios.

Bhavanuvada
“Qual é o destino de quem ridiculariza Sri Krsna ,pensando
que ele possui um corpo humano feito por maya?.” Prevendo
esta possível pergunta de Arjuna, Sri Krsna diz que mesmo
que eles sejam bhaktas, suas esperanças e seus desejos de
alcançar algum dos quatro tipos de mukti são infrutíferos. Se
são karmis, não conseguem o resultado correspondente á seu
karma, como por exemplo a residência em svarga (planetas
celestiais), se são jnanis, não obtém moksa (liberação) como
resultado de seu jnana. O que eles conseguem então? Sri
Bhagavan responde na terceira linha deste verso. ”Eles
adquirem uma natureza demoníaca.”

Sloka 13

Mahatmanas tu mam partha


Daivim prakrtim asritah
Bhajanty ananya-manaso
Jnatva bhutadim avyayam

Ó Partha! Mas as grandes almas que se refugiam em minha


natureza divina, me conhecem como a causa original e
imperecível de todos os seres vivos. Eles se dedicam
constantemente ao meu bhajana com suas mentes fixas
exclusivamente em mim.

Bhavanuvada

“As grandes almas que alcançaram a glória pela misericórdia


da minha bhakti e se refugiaram em minha natureza
transcendental, se ocupam em meu bhajana servindo-me na
minha forma de aspecto humano. Suas mentes não estão
atraídas por karma, jnana ou yoga, por tanto estão
exclusivamentes absortos em mim.”
Sloka 14

Satatam kirttayanto mam


Yatantas ca drdha-vratah
Namasyantas ca mam bhaktya
Nitya-yukta upasate

Cantando constantemente as glórias dos meus nomes,


qualidades, forma e passatempos, com um esforço resoluto e
ofereçendo-me reverências com devoção, eles me adoram e
permanecem sempre junto comigo.

Bhavanuvada

“Você disse que eles dedicam-se á seu bhajana, mas que


bhajana é esse?” Sri Bhagavan responde com este verso.”Eles
fazem kirtan constantemente, que sendo diferente de karma-
yoga , não existe consideração sobre a pureza ou impureza do
momento, do lugar ou da pessoa. Não existe restrição alguma
para se cantar o santo nome, seja com a boca contaminada ou
estando em um estado impuro. Meus bhaktas estão apegados
ao meu kirtan e outras atividades devocionais e trabalham
juntos com os sadhus para obter bhakti. Os que são estritos e
jamais quebram seu voto de cantar um número fixo de santos
nomes,que ofereçem uma certa quantidade de reverências á
mim todos os dias,que executam outros tipos de serviços
regularmente e que jejuam nos dias de Ekadasi, se chamam
yatnavan, ou pessoas cuidadosas. Estes grandes bhaktas estão
sempre desejando minha associação eterna."

Sloka 15

Jnana-yajnena capy anye


Yajanto mam upasate
Ekatvena prthaktvena
Bahudha visvato-mukham

Entre os que se dedicam ao cultivo de conhecimento, alguns


me adoram com o conhecimento da conçepção monista,
outros com o conhecimento da dualidade, outros através dos
diversos semi-deuses e outros adoram minha forma universal.

Bhavanuvada

Neste capítulo e nos anteriores são descritos apenas os


ananyas bhaktas como sendo mahatmas. Foi demonstrado que
os bhaktas são superiores aos demais tipos de devotos, como
por exemplo, os aflitos. Sri Bhagavan descreve agora os três
tipos de bhaktas que não haviam sido descritos e que se
classificam em uma categoria diferente. São eles: os que
consideram as jivas como sendo iguais á Bhagavan; os que
adoram os semi-deuses considerando-os o supremo e os que
adoram a forma cósmica ou universal do Senhor.

Sloka 16-19

Aham kratur aham yajnah


Svadhaham aham ausadham
Mantro ´ham aham evajyam
Aham agnir aham hutam

Pitaham asya jagato


Mata dhata pitamahah
Vedyam pavitram omkara
Rk sama yajur eva ca

Gatir bhartta prabhuh saksi


Nivasah saranam suhrt
Prabhavah pralaya sthanam
Nidhanam bijam avyayam
Tapamy aham aham varsam
Nigrhnamy utsrjami ca
Amrtancaiva mrtyus ´ca
Sad asac caham arjuna

Ó Arjuna! Eu sou os rituais védicos tais como o agnistoma, os


smarta-yajnas como o vaisva-deva e sou também a oblação
aos antepassados. Sou a potência das ervas medicinais, o
mantra, a manteiga clarificada, o fogo e o sacrifíçio. Sou a
mãe, o pai, o mantenedor e o avô do universo. Eu sou o objeto
do conheçimento e o purificador. Sou a sílaba om e também o
rig-veda, yajur-veda e o sama-veda. Sou o destino na forma
dos frutos do karma,o sustentador, o Senhor, o amo,a morada,
o testemunho, o refúgio e o amigo mais querido. Sou também
a criação, a dissolução, a base, o lugar de repouso e a semente
eterna. Sou o controlador do calor e da chuva. Sou a
imortalidade e a morte personificada. Sou a causa e também o
efeito de tudo e tanto o espírito quanto a matéria estão em
mim.

Bhavanuvada

“Por que as pessoas te adoram de diversas formas?”.


Prevendo esta pergunta,Bhagavan dá uma explicação
detalhada da sua natureza. Ele descreve sua forma cósmica ou
universal. A palavra kratuh se refere aos yajnas, como o
agnistoma, prescrito nos vedas, assim como o vaisva-deva
descritos nos smrti-sastras dos smartas. A palavra ausadham
indica a potênçia produzida pelas ervas medicinais. Pita
significa que sendo ele a causa material efiçiente do universo,
seja individual ou coletivamente, ele é potanto o pai e a mãe,
visto que ele leva o universo em seu ventre. Ele mantém e
alimenta todo o universo, por tanto é dhata, o sustentador, e
ele é o avô por ser o pai de Brahma, o criador do universo.
Vedyam significa”objeto de conhecimento e pavitram “o que
purifica”.
A palavra gati significa fruto no sentido de resultado ou
destino, seja ele bom ou mal, das ações passadas ou presentes.
Bharta significa esposo ou protetor, prabhuh significa
controlador, saksi significa testemunho das atividades
favoráveis e desfavoráveis, e nivasag significa morada.
Saranam é aquele que libera outros das calamidades e suhrt é
aquele que realiza trabalhos benéficos desinteressadamente.
Prabhav-adya quer dizer;”Só eu realizo os atos como a
criação, manutenção e destruição.”Nidhanam quer dizer; ”Sou
o tesouro, visto que em minhas mãos tenho o lótus, a concha,
a maça e o disco.”Bija significa semente. Avyayam significa;
”Eu não sou perecível como as semntes de arroz. Sou
imperecível, eterno e imutável. Na forma do sol dou o calor
do verão e outorgo as chuvas na estação chuvosa. Sou a
imortalidade, o ciclo de nascimentos e mortes, a substância
sutil ou espiriual e sou a matéria grosseira.” Desta forma,
relaciona-se este verso com o anterior.

Sloka 20

Trai-vidya mam soma-pah puta-papa


Yajnair istva svar-gatim prarthayante
Te punyam asadya surendra-lokam
Asnanti divyan divi deva-bhogan

Os que se dedicam ás atividades fruitivas descritas nos três


vedas, me adoram através de yajna. Uma vez livres dos
pecados por terem tomado soma, o remanescente do yajna,
oram para entrar em svarga (planetas celestiais). Quando, em
virtude de suas atividades piedosas alcançam o planeta de
Indra, eles desfrutam dos prazeres celestiais.

Prakasika-vrtti
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:”A jiva me adora
como Paramesvara apenas quando há um vestígio de bhakti
nestes três tipos de adoração, então ela abandona
gradualmente as impurezas da sua adoração mesclada e obtém
moksa na forma de suddha-bhakti, Se o adorador abandona o
conceito equivocado da unidade com Bhagavan, pode
gradualmente alcançar suddha-bhakti ao deliberar suficiente e
apropriadamente acerca de bhakti. A idéia de que os semi-
deuses são iguais á Bhagavan pode culminar gradualmente na
compreensão da minha sac-cid-ananda svarupa Syamasundara
sempre que se fale de tattva em associação com os sadhus. Ao
compreender que minha adoração é mais elevada do que á dos
semi-deuses, elimina-se a adoração á Paramatma. O adorador
pode concentrar-se então em minha forma sac-cid-ananda de
aspecto humano.
“Mas se uma pessoa que pratica algum dos três tipos de
adoração citados persiste na atração por karma e jnana, os
quais são sintomas de aversão para comigo, não poderão obter
o eternamente auspiçioso bhakti. Devido á esta aversão, os
que adoram a unidade indiferenciada caem gradualmente na
rede ilusória mayavada, enquanto que os adoradores dos
semi-deuses ficam atados pelas leis do karma. Depois de
estudar os três tipos de conhecimento védico sobre karma, se
liberam do pecado ao tomar soma-rasa. Então eles me adoram
através do yajna e suplicam ser promovidos ao planeta svarga,
no plano dos semi-deuses, como prêmio para suas ações
piedosas. Deste modo, desfrutam dos divinos prazeres dos
semi-deuses.”

Te tam bhuktva svarga-lokam visalam


Ksine punye martya-lokam visanti
Evam trayi-dharmam anuprapanna
Gatagatam kama-kama labhante
Eles regressam ao mundo mortal quando seus méritos
piedosos se esgotam, depois de Ter desfrutado de imensos
prazeres celestiais. Deste modo, os que desejam prazeres
sensuais e executam as atividades fruitivas descritas nos
vedas, recebem apenas nasçimento e morte recorrentes no
mundo material.

Prakasika-Vrtti

Aqueles que desejam prazeres materiais,como se descreve no


verso anterior e são contrários á Bhagavan, caem de novo no
samsara após desfrutar de prazeres celestiais e recebem como
resultado outro nascimento mortal.
No Srimad Bhagavatam se diz: ”Eles desfrutam de prazeres
celestiais até que seus mérito se esgotam. Então,
impulsionados pelo poder do tempo, voltam a cair neste
mundo contra sua própria vontade.”

Sloka 22

Ananyas cintayanto mam


Ye janah paryupasate
Tesam nityabhiyuktanam
Yoga-ksemam vahamy aham

Mas as pessoas que me comtemplam com exclusividade e me


adoram através de tudo, eu me encarrego das suas necessiades
para seu bem estar.

Bhavanuvada

“A felicidade de meus bhaktas não é produto dos frutos do


karma, sou eu quem outorga. Eu concedo a felicidade aos
sábios que através de bhakti, estão sempre unidos á mim.
Prakasika-Vrtti

Como Sri Bhagavan se ocupa do progresso e da manutenção


de seus bhaktas? Cabe ilustra isto com uma história real.
Era uma vez um brahmana chamado Arjuna Misra ; que era
um parama-bhakta de Sri Bhagavan. Toda manhã, após
finalizar seu bhajana, dedicava duas horas á escrever seus
comentário do Bhagavad Gita e depois saía para mendigar.
Ao regressar, entregava á sua esposa o que reçebia e ela
conzinhava e ofereçia o alimento á Sri Bhagavan com muito
amor. Logo ela dava a maha-prasada á seu esposo e quando
ele terminava ela comia seus remanentes com grande
satisfação. Eles viviam em condição de grande pobreza e
vestiam panos surrados, só tinham um dhoti em bom estado
para sair de casa. Ambos consideravam suas pobrezas como
uma dádiva de Bhagavan e estavam plenamente satisfeitos.
Este era seus sentimentos constante e assim passavam seu
tempo bem aventuradamente sem a menor perturbação pelas
circunstânçias que se encontravam. Um dia após executar seu
bhajana, ele se sentou para escrever sobre o seguinte verso:

Ananayas cintayanto mam


Ye janah paryupasate
Tesam nityabhiyuktanam
Yoga-ksemam vahamy aham

(B.G 9-22)

Ao ler, sua mente ficou confundida por um grave dilema que


não podia resolver.; ”Será certo que Sri Bhagavan, o amo do
universo,se encarrega pessoalmente do yoga-ksema de quem
está ocupado em sua ananya-bhakti? Não, isto não pode estar
certo.Se fosse asssim,porque estou em tal situação? Dependo
absolutamente dele e ofereço tudo á seus pés de lótus com
devoção exclusiva.Por que então,tenho que viver com miséria
e pobreza? Por tanto, a afirmação deste verso não pode Ter
vindo de Bhagavan ,alguém deve Ter escrito isto. ”Ele tratou
de resolver esta dificuldade confiando em sua própria
inteligência, mas sua perplexidade e dúvidas aumentaram.
Finalmente, riscou este verso com tinta vermelha, parou de
escrever e foi mendigar. O muito compassivo Bhagavan , que
protege as almas rendidas, viu que havia surgido uma dúvida
á respeito de suas palavras na mente de seu bhakta.
Assumindo a forma de um menino muito charmoso, doce e
com tez escuro, encheu duas cestas com uma grande
quantidade de arroz, grãos, vegetais, manteiga clarificada e
outros alimentos e ás colocou em varas de bambus Então
levou os alimentos sobre seus ombros até a casa do brahmana.
A porta estava feçhada por dentro. Primeiro ele bateu na porta
e exclamou: ”Mãe, Mãe!”. Mas a pobre brahmani estava
vestida apenas com panos rasgados e não se atreveu á abrir a
porta. Devido á sua timidez ,ela se sentou em silênçio. Mesmo
assim o menino continuava chamando.Vendo que não tinha
outra alternativa, a mulher saiu timidamente com a cabeça
baixa e abriu porta. Sri Bhagavan disfarçado de um menino
entrou no pátio da casa, colocou os alimentos no chão e disse:
”Mãe, o brahmana lhe enviou isto. Leve pra dentro por
favor.”
Até este momento a brahmani havia estado com a cabeça
baixa, mas ao escutar a doçe voz do menino, levantou sua
cabeça e viu que havia duas cesta cheias de alimentos no
chão. Ela jamais havia visto tão grande quantidade de vegetais
e grãos. O menino lhe pediu vária vezes e finalmente ela
levou as cesta para o interior da casa. Enquanto comtemplava
o charmoso rosto do menino e se sentia plenamente satisfeita
ela pensava;”Que rosto charmoso! Como pode uma pessoa de
tez escura possuir tal beleza transçendental?”. Ela estava
paralizada devido á emoção,nunca imaginara que poderia
existir tal beleza. Ela notou então que havia três arranhados
sangrando no peito do menino, como se alguém tivesse
cortado com uma faca afiada Com o coração inquieto, ela lhe
disse chorando: ”Ó filho! Que homem malvado arranhou
voçê? É espantoso! Mesmo um coração de pedra se derreteria
só em pensar em ferir seus charmosos membros.Sri Krsna
disfarçado de menino disse: Mãe, eu me atrasei em trazer
isto,por isto teu esposo me arranhou assim.
Com os olhos cheios de lágrimas, a brahmani disse; ”Que?
Ele fez essas feridas em seu peito? Esperarei ele voltar e lhe
perguntarei como pôde fazer algo tão abominável! Ó meu
filho,não se sinta aflito, fique aqui um pouco. Vou cozinhar
algo e logo poderás aceitar a prasada de Thakuraji.”
A brahmani convidou o menino para se sentar e foi até a
cozinha preparar a oferenda. Krsna pensou: ”Já cumpri meu
propósito de trazer estes alimentos. Quando o brahmana
voltar pra casa descrubirá imediatamente a autentiçidade das
minhas palavras e nunca mais terá dúvidas.”E assim, Krsna
desapareceu após fazer o necessário para que desapereçesse as
dúvidas de seu devoto. Nesse dia,apesar de seu grande
esforço, o brahmana não reçebeu nada.Sem esperança,ele
voltou á sua casa pensando que sua impossibildade de coletar
era desejo de Thakuraji (deidade). Ao chegar, bateu na porta e
sua esposa abriu;ao entrar ele viu que ela estava cozinhando e
ele então perguntou:”Eu não reçebi nada hoje. O que estás
cozinhando? ”Sua esposa respondeu;” Porque estás
perguntando? Pouco tempo atrás enviaste tantas coisas com
este menino que vamos Ter comida por seis meses.E teu
coração é como uma pedra,eu não sabia disto. Este menino
estava com três marcas vermelhas em seu peito; Como pôde
fazer aquilo em seu charmoso corpo? Você não tem
compaixão?. ”Completamente surpreendido, o brahmana
pediu que lhe explicasse. ”Eu não enviei nada e nem
machuquei nenhum menino. Não sei do que estás falando.”
Ao escutar as palavras de seu esposo ela lhe mostrou o arroz,
a farinha e os demais alimentos, mas quando foi até o pátio
para mostra-lhe o menino e suas feridas, ele já não estava
mais lá. Ela procurou por toda casa e não o encontrou. A porta
estava feçhada como antes. Ambos se olharam surpreendidos.
O brahmana começou á entender a situação e seus olhos
começaram á derramar torrentes de lágrimas. Depois de lavar
suas mãos e pés, ele entrou no quarto da deidade e para
esclareçer de vez sua dúvida, abriu seu Bhagavad Gita. ”Esta
manhã risquei três linhas vermelhas sobre ao verso
nityabhiyuktanam yoga-ksemam vahamy aham, mas os riscos
não estão mais aqui. Com muita feliçidade saiu chorando do
quarto da deidade. ” Ó mulher! Tu és infinitamente
afortunada! Hoje você viu Sri Gopinatha em pessoa! Como eu
poderia trazer tantos alimentos?Esta manhã,,enquanto
escrevia o comentário do Bhagavad Gita, duvidei das
declarações de Bhagavan e risquei algumas palavras com três
linhas vermelhas. Por isto é que nossa Thakuraji, Gopinatha,
tinha uns córtes. Por ser ele supremamente compassivo ele se
deu ao trabalho de provar a autentiçidade das suas declarações
e eliminar as dúvidas de um ateu que sou.”
Então ele ficou completamente sem voz. Carregado de
amor ,ele exclamou”Há Gopinatha, Há Gopinatha!” e
desmaiou. Os olhos da sua esposa que estava de pé diante de
Gopinath, maravilhada, estava cheio de lágrimas. Após isto, o
brahmana voltou á si e se banhou para executar seus deveres
cotidianos. Ele ofereçeu as preparações que sua esposa havia
cozinhado á Sri Gopinatha e com grande amor ambos
aceitaram seus remanentes. Assim ele continuou escrevendo
diariamente seu comentário do Bhagavad Gita e sua vida
inundou-se de amor.
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna; ”Meus bhaktas
só pensam em mim sem desvios. Para a manutenção de seus
corpos ,aceitam qualquer coisa favorável á minha bhakti e
rejeitam o desfavorável. Assim sendo eles estão sempre
unidos comigo através de amor devoçional. Eu lhes dou a
riqueza, satisfaço qualquer necessidade e os mantenho.”
Sloka 23

Ye ´py anya-devata-bhakta
Yajante sraddhayanvitah
Te ´pi mam eva kaunteya
Yajanti avidhi-purvakam

Ó Kaunteya! As pessoas que adoram os semi-deuses com fé,


na realidade estão apenas me adorando, porém de uma
maneira desautorizada.

Bhavanuvada

“Nenhum semi-deus existe independentemente de ti; tal é a


natureza da forma universal. Pode-se então concluir que quem
adora semi-deuses como Indra estão adorando á ti.; Porque
então eles não se liberam? Sri Bhagavan responde: ”É certo
que que me adoram, mas fazem isto sem seguir as regras
prescritas pra alcançar-me. Por isto, permanecem no mundo
material

Prakasika-vrtti

A essência do comentário de Srila Visvanatha Cakravarti


Thakur sobre este verso é que ao regar a raiz de uma árvore se
nutre até as ramas mais pequenas, mas não se alcança o
mesmo resultado se reaga-se as folhas, ramas, frutas e flores.
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: ”Eu sou a
personificação de sac-cit-ananda,na realidade sou o único
Paramesvara,o controlador supremo. Não há nenhum semi-
deus indepedente de mim. Mas muitas pessoas adoram semi-
deuses tais com Indra e Surya. Em outra palavras,os seres
humanos condiçionados no mundo material honram e adoram
o aspecto majestoso de minha maya-sakti na forma dos
diversos semi-deuses. Mesmo assim,através da deliberação
apropriada se pode compreender que minhas opulênçias,os
semi-deuses, são simples encarnações das minhas distintas
qualidades ou guna-avataras; assim os consideram aqueles
que que adoram conheçendo sua posição verdadeira e a
realidade de minha svarupa. Desta maneira,sua adoração
torna-se autorizada e aprovada como parte do proçesso
progressivo. Mas aqueles que adoram os semi-deuses
pensando que eles são eternos e indepedentes de mim, os
fazem de uma forma desautorizada que não segue as regras
prescritas e por esta razão, não obtém resultados eternos.”

Sloka 24

Aham hi sarva-yajnanam
Bhokta ca prabhur eva ca
Na tu mam abhijananti
Tattvenatas cyavanti te

Sou o único amo e desfrutador de todos os yajnas, mas


aqueles que não reconhecem meu verdadeiro ser, perambulam
repetidamente pelo ciclo de nascimento e morte.

Bhavanuvada

Qual é o sentido da frase “sem regras prescritas?” Sob a


forma de diversos semi-deuses,sou o único desfrutador, sou o
amo e o senhor, e sou quem outorga os resultados. Mas os
adoradores dos semi-deuses não conhecem esta verdade
(tattva). Eles pensam , por exemplo, que adorando Surya, á
quem eles veem como Paramesvara, o controlador supremo,
ele se satisfará e outorgará os resultados desejados. Sua
inteligênçia não lhes permite enteder que Paramesvara Sri
narayana,se converte em Surya e é quem provê esta fé. Assim
eles caem devido á carênçia de tattva-jnana.Por outro lado, os
que compreendem que sob a forma de Surya e outros semi-
deuses apenas Narayana é adorado, esses me veneram estando
conscientes da minha universal. Por tanto é indispensável que
quem adora os semi-deuses, entenda que eles são minhas
opulênçias e não devem ser adorados independetemente de
mim.”

Prakasika-vrrti

Encontramos os Siddhantas corretos nos srutis;


“Brahma nasçe de Sri Narayana, Indra nasce de Sri Narayana,
Siva nasce de Sri Narayana e todos os semi-deuses e
entidades vivas nasçem de Sri Narayana. Quando completam
seus deveres universais e morrem, todos se fundem
novamente em Sri Narayana.”
A conclusão se encontra também nos demais Upanisads. As
declarações anteriores sinalizam uma diferença entre os semi-
deuses e Sri Vishnu, quem é o Controlador Supremo. Em
ditas escrituras,se estabelece a supremaçia de Sri Visnu sobre
os semi-deuses,ainda que em algumas passagens se diz que
algum semi-deus particular é igual á Sri Vishnu. Isto é assim
devido á influência de um semi-deus particular que está sob o
controle de Sri Vishnu ou por que este semi-deus é muito
querido por ele.

Sloka 25

Yanti deva-vrata devan


Pitrn yanti pitr-vratah
Bhutani yanti bhutejya
Yanti mad-yajino ´pi mam

Os que adoram os semi-deuses vão aos planetas dos semi-


deuses, os que adoram os antepassados vão aos planetas dos
antepassados, os que adoram os espíritos vão aos planetas dos
espíritos e os que me adoram sem dúvida me alcançam.
Bhavanuvada

Alguém poderia perguntar: “Que problema há em adorar os


semi-deuses? ”Sri Bhagavan responde: “É certo que eles
adoram os semi-deuses segundo as regras e regulações para
sua adoração e como resultado alcançam os semi-deuses. Este
é o prinçípio. “Sri Bhagavan recita este verso para explicar
este ponto. “Se os semi-deuses são pereçíveis,como pode seus
devotos se tornarem imperecíveis? Mas eu sou imperecível e
eterno,por tanto,meus bhaktas também são impereçíveis e
eternos.”

Sloka 26

Patram puspam phalam toyam


Yo me bhaktya prayacchati
Tad aham bhakty-upahrtam
Asnami prayatatmanah

Se um bhakta (devoto) de coração puro, me oferece com amor


e devoção uma folha, uma flor ou água, eu aceito essa
oferenda.

Bhavanuvada

Aqui se diz que a devoção que há no devoto é o que obriga


Bhagavan á açeitar a oferenda. Isto indica que se alguém não
é um devoto e oferece frutas ou flores com devoção
superficial Bhagavan não a eita. Mas Bhagavan açeita
qualquer coisa que o devoto lhe ofereça, inclusive uma folha.
Ainda sim, se o corpo do devoto está impuro , Bhagavan não
aceita a oferenda. Desta declaração se conclui que Bhagavan
não açeita por exemplo a oferenda de uma mulher que esteja
menstruada.
Prakasika-Vrtti

Depois de explicar a natureza imperecível e ilimitada dos


resultados de bhagavat-bhajana, Bhagavan descreve agora sua
qualidade;a façilidade de executa-lo. Quando se oferece com
devoção algum objeto que se pode obter facilmente como
uma folha, uma flor ou um pouco de água, Bhagavan aceita a
oferenda, mesmo possuindo opulência ilimitada e mesmo ele
sendo perfeitamente satisfeito. Ele sente fome e sede devido
ao amor que seu bhakta tem por ele e, absorto no sentimento
devocional, aceita a oferenda.Na casa de seu devoto Vidura,
Sri Krsna, cheio de amor, comeu as cascas das bananas que a
esposa de Vidura o ofereceu. Enquanto comia o arroz seco
que seu querido amigo (Sudama Vipra) lhe trouxe e ofereceu-
lhe com amor, Sri Krsna disse:
“A preparação pode ser deliçiosa ou não,mas se ela é
ofereçida com amor e com sentimento de que está deliciosa,
então se torna deliçiosa para mim. Neste momento abandono
todos meus outros pensamentos e a saborei-o. Mesmo que
uma flor ou fruta não possua fragânçia ou gosto, eu as aceito,
cativado pelo amor de meu devoto.”

Sloka 27

Yat karosi yad asnasi


Yaj juhosi dadasi yat
Yat tapasyasi kaunteya
Tat kurusva mad-arpanam

Ó Kaunteya!Tudo que fizer,tudo que comer,tudo que


sacrificar ,dê em caridade á mim. Qualquer austeridade que
executes, ofereça á mim.

Bhavanuvada
Arjuna poderia perguntar: “Até agora voçê explicou os
diversos tipos de bhakti, começando com o verso que começa
com arto jijnasur artharthi (Gita 7.16) Qual deles devo
seguir?
Para erradicar esta dúvida de Arjuna, Sri Bhagavan diz. “Ó
Arjuna, neste momento és incapaz de abandonar o karma, o
jnana e outros processos, por tanto voçê não possui a
capaçidade para executar ananya bhakti, o tipo mais elevado
de devoção. Por outro lado, não tens a neçessidade de
executar sakama bhakti, já que tua qualificação é superior á
isto. Assim sendo, deves executar uma bhakti mesclada com
niskama-karma e jnana. Por esta razão, Sri Bhagavan reçita o
presente verso. “Qualquer atividade mundana ou védica que
executes como rotina,o alimento e a água que voçê ingerir
diariamente e qualquer austeridade que executes,deves
compreender que deves ofereçer-las á mim.” Mas tal
atividade não é niskama-karma-yoga ou bhakti-yoga. Aqueles
que se dedicam ao niskama-karma-yoga, oferece á Bhagavan
apenas as atividades prescritas nos sastras,e não as atividades
cotidianas normais.Mas os bhaktas ofereçem ao Senhor todas
as funções dos sentidos ,juntamente com a alma, mente e seu
ar vital. Prahlada Maharaj diz no Srimad Bhagavatam:
“Escutar, cantar e lembrar acerca do nome, forma, qualidades,
parafernália e passatempos transçendentais do Senhor
Vishnu,servir os pés de lótus do Senhor, ofereçer orações,
ofereçer adoração respeitosa ao Senho com dezesseis
artigos,converter-se em seu servo,considera-lo como sendo o
melhor amigo e render-lhe tudo - corpo,mente e palavras,
constituem os nove proçessos do serviço devoçional puro. A
pessoa que cultiva os nove proçessos devoçionais ,
oferençendo-se exclusivamente á Krsna, pode alcançar
fáçilmente a meta suprema da vida.”

Sloka 28
Subhasubha-phalair evam
Moksyase karma-bandhanaih
Sannyasa-yoga-yuktatma
Vimukto mam upaisyasi

Deste modo, irá te livrar do cativeiro dos resultados das ações,


tanto favoráveis quanto desfavoráveis. Conectado comigo
através do yoga com renúnçia por ofereçer-me os resultados
das suas ações, te distinguirás inclusive entre as almas
liberadas e assim virás á mim.

Prakasika-Vrtti

O coração de uma pessoa se purifica quando se refugia em


pradhani-bhuta bhakti descrita anteriormente e ofereçe todas
suas ações á Sri Bhagavan. Liberando-se assim do cativeiro
do bom e mal karma, a pessoa pode obter uma posição
especial entre as almas liberadas e finalmente alcançar
Bhagavan. Deve enteder-se aqui que ela consegue prema-
mayi seva, que é superior á mukti.

Sloka 29

Samo ´ham sarva-bhutesu


Na me dvesyo ´sti na priyah
Ye bhajanti tu mam bhaktya
Mayi te tesu capy aham

Eu sou equânime para com todas as entidades vivas,não sou


parçial nem hostil com ninguém.Ainda sim, estou atado pelo
afeto de meus devotos, que estão apegados á mim e que me
servem com grande amor.

Bhavanuvada
Arjuna poderia argumentar: “Ó Krsna, tu és atraído á seus
bhaktas mas não te atrai aos não devotos. Isto significa que és
parcial, pois tal atitude é uma amostra de apego e inveja.” Sri
Bhagavan responde com este verso dizendo: “Não. Eu sou
equânime com todos. Os bhaktas vivem sempre em mim e eu
vivo neles.” De acordo com a explicação, o universo inteiro
está em Bhagavan e Bhagavan está em todo o universo. Isto
demonstra sua imparçialidade. A declaração ye yatha mam
prapadyante tams significa: “Corresponde com a mesma
consciência como a de uma pessoa que se rende á mim e com
esta consciência, também adoro á essa pessoa ; e com a
mesma intensidade com a que meus bhaktas se apegam á
mim, eu, que existo neles, me apego também.”

Prakasika-Vrtti

Alguém poderia interpôr a seguinte objeção: “Bhagavan


conçede a seus devotos o prema-mayi seva para seus pés de
lótus outorgando-lhe uma liberação espeçial. Não é isto um
sintoma de parçialidade, um defeito que nasçe do apego e da
inveja?” Como resposta se diz que sua visão é equanime. Ele
não odeia nem inclina-se á ninguém. Ele cria e mantém os
seres humanos e demais entidades vivas segundo seu
respectivo karma. Outras pessoas poderiam dizer que ao
manter as jivas de acordo com seu karma ele conçede
felicidade á alguns, sofrimento á outros e liberação á
outros,não é este um sintoma do defeito de parçialidade que
surge do apego e da inveja?
O presente verso do Srimad Bhagavatam (6.17.23)também
ajuda á sustentar este ponto:
“Ainda que Sri Krsna é o executor original da ação, ele não é
a causa da felicidade, a aflição, o cativeiro ou a liberação da
jiva. É sua energia material quem governa os resultados do
pecado e da piedade da jiva e se converte na causa de seu
nascimento e morte ,felicidade e aflição.”
Devido ao fato de não haver diferença entre a energia e o
energético, é certo que as atividades de sua maya-sakti se vê
como obra sua. Mas não se pode atribuir á ele o defeito da
parcialidade, pois os resultados que uma jiva recebe
corresponde á seu próprio karma. Para comentar este verso
,Srila Visvanatha Cakravarti Thakura dá o exemplo do sol e
do brilho. A luz do sol é desprezível para a flor kumuda e
outra entidades vivas, mas é prazeirosa para o pássaro
cakravaka e o lótus. Não se pode acusar o sol de parcialidade.
Da mesma maneira,a energia material de Bhagavan outorga
resultados acordes ás ações das jivas. Não se pode lhe atribuir
o defeito de ser parcial por isto. Vale á pena levar em conta o
seguinte verso do Srimad Bhagavatam(8.5.22):
“Sri Bhagavan não tem ninguém á proteger, ninguém á
descuidar e ninguém á se adorar. Mesmo assim, com o
propósito de criação, manutenção e aniquilação, ele aceita
diferentes formas nos modos materiais da paixão, bondade e
ignorância, de acordo com o momento específico.”

Sloka 30

Api cet su-duracaro


Bhajate mam ananya-bhak
Sadhur eva samantavyah
Samyag vyavasito hi sah

Mesmo se um homem de caráter abominável se dedica á


minha ananya bhajana,deve ser considerado um
sadhu(santo)porque está apropriadamente situado em minha
bhakti.

Bhavanuvada
“Meu apego pelo meu bhakta é natural,mesmo se seu
comportamento é degradado,meu apego por ele permaneçe
intacto e eu o converto em um homem supremamente
virtuoso.” Suduracarah significa que mesmo que seja um
viciado em asassinar, Ter relações ilícitas com o sexo oposto
ou estar apegado á riqueza alheia,se ele se ocupa em meu
bhajana deve considerado santo; Que tipo de bhajana deve
executar? Sri Bhagavan responde: ananya-bhakti, “É um santo
aquele que não adora os semi-deuses senão que apenas adora
á mim,que não se ocupa em karma ou jnana senão em minha
bhakti,e que não deseja obter um reino senão que unicamente
deseja alcançarme.” Mas como pode dizer que alguém é um
sadhu se pode-se ver nele algum mal comportamento.?
Bhagavan responde: mantavyah, “Deve considerar-se um
sadhu.A palavra mantavyah indica que o defeito existe em
quem não o considera sadhu.”Á este respeito minha ordem é
autoritativa.”
Se alguém se dedica á teu bhajana mas seu comportamento é
impróprio;pode ser considerado um sadhu parcial? Bhagavan
responde : eva,”Ele deve ser considerado um sadhu
completo.Não deve-se ver que ele careçe de qualidades
santas,pois ele fez uma firme resolução. “Mesmo que vou ao
inferno ou ás espécies inferiores por conta dos meus
pecados,jamais abandonarei a ekantika-bhakti á Sri Krsna.”

Prakasika-Vrtti

Neste verso, Bhagavan, que é um bhakta-vatsala, explica a


potência inconcebível de sua bhakti com a seguinte
declaração: “Mesmo que meu bhakta realize algum ato
abominável eu o converto rapidamente em uma pessoa
elevada de comportamento virtuoso. Não é possível que as
pessoas perfeitas que se refugiam em minha ananya-bhakti
tenham um mal comportamento, e se aparentam te-lo aos
olhos dos ignorantes, isto não existe na realidade. Eles são
realmente santos. Se os grandes eruditos não podem
compreender as ações e atitudes dos vaishnavas, que dizer
então dos ignorantes?” No Caitanya-caritamrta se diz:

“É impossível compreender o comportamento dos uttama-


adhikari bhaktas através dos sentidos materiais.”

Sri Krsna instrui Uddhava no Srimad Bhagavatam:

“Meus ekantikas bhaktas, que estão livres do apego e da


inveja,que são equanimes com todos,que me alcançaram e que
estão além da inteligência material, não ocorre em pecado
nem praticam uma atitude virtuosa quando executam
atividades proibidas ou prescritas.”

Mesmo assim,deve-se saber que o comportamento


aparentemente errôneo destes ananyas bhaktas não deve ser
imitados. Não se deve render-lhe críticas e nem associar-se
com eles. No Srimad Bhagavatam se diz que a destruição é o
destino de quem critica o comportamento dos maha-
bhagavatas,que podem Ter uma conduta aparentemente
incorreta.

O fogo permanece puro ainda que consome todas as


substâncias ,sejam elas puras ou impuras. Deste modo, um
maha bhagavata permanece puro ainda que externamente sua
conduta aparenta ser imprópria.
O Srimad Bhagavatam descreve como os filhos de marici e
netos de jagad guru Brahma tiveram que nasçer entre os
demônios como resultado de ridicularizar a conduta do senhor
Brahma.
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna:
“Ainda que a conduta de quem se ocupa em meu bhajana com
suas mentes fixas em mim,não seja apropriada, deve-se
considerar-lhes santos, pois sua dedicação resoluta é
respeitável e charmosa em todos pontos de vista.
Se deve entender claramente o significado da palavra
sudaracarah. O comportamento de uma baddha-jiva é de dois
tipos: sambandhika (condicional) e svarupa-gata
(constitucional). Atividades como limpeza , atos piedosos,
alimentação ou a satisfação das necessidades do corpo e da
sociedade,ou o progresso mental são consideradas atividades
condicionadas. O bhajana ,que é uma atividade consciente que
a jiva executa em estado puro á mim,é sua função
constitucional. Esta função também é chamada de amisra-
bhakti ou kevala-bhakti.
“No estado de cativeiro, a execução de kevala-bhakti por
parte da jiva tem uma relação irrevocável com sua conduta
condicionada. Dita conduta estará presente enquanto tem um
corpo material,inclusive quando aparecer ananya-bhakti. A
jiva (entidade viva) perde o gosto por tudo que é desfavorável
para a devoção apenas quando apareçe bhakti. Ela se
desapega dos objetos dos sentidos na medida em que aumenta
seu gosto pelo krsna-bhajana. Enquanto o gosto pelos objetos
dos sentidos não é eliminado por completo, isto forçará a
pessoa a comportar-se de modo impróprio,mas quando
adquire uma tendência amorosa para com Krsna,tal gosto é
rapidamente subjugado. A conduta de um devoto nos mais
altos níveis de bhakti é bastante virtuosa e absolutamente
charmosa. Se em algumas ocasiões ou acidentalmente ,uma
pessoa se comporta de forma imprópria ou mesmo
pecaminosa e realiza atividades pelas quais um bhakta não
possui um gosto natural, assim como matar, roubar ou Ter
relações sexuais ilícitas com a esposa de outro, será de
qualquer forma purificado rapidamente deste comportamento.
Deve entender-se que minha bhakti, que é muito poderosa e
purificante, jamais se contamina por esta conduta. Não deve
jamais considerar-se que um parama-bhakta seja degradado
porque talvez tenha consumido peixe ou teve relações sexuais
ilícitas.”

Sloka 31

Ksipram bhavati dharmatma


Sasvac-chantim nigacchati
Kaunteya pratijanihi
Na me bhaktah pranasyati

Muito rapidamente ele se torna virtuoso e alcança paz eterna.


Ó Kaunteya! Deves declarar que meu devoto jamais carece.

Bhavanuvada

Poderia surgir aqui a seguinte pergunta: “Como podes aceitar


o serviço destas pessoas imorais? Como podes comer os
alimentos oferecidos por uma pessoa cujo coração está
contaminados pelos defeitos como luxúria e ira?” Sri
Bhagavan responde: “Ele se torna virtuoso muito
rapidamente.”As palavras bhavati e nigacchati foi utilizada no
tempo presente no lugar do futuro para indicar que
imediatamente depois de realizar uma atividade irreligiosa ou
abominável,a pessoa se lamenta e se recorda de Krsna uma e
outra vez, e assim ela se retifica da sua conduta e se torna
virtuosa.
“Assim, lamentando-se repetidamente a pessoa alcança paz
eterna.”
Por outro lado , quando finalmente se torna virtuosa ,pode
permanecer nela os rastros sutis de irreligiosidade e
contaminação. O calor mortal da febre ou o veneno podem
permaneçer mesmo depois de tomar a melhor medicina. De
forma similar, se quando bhakti entra na mente desta pessoa a
sua atividade pecaminosa acaba, mesmo que possa
permanecer de forma sutil durante um tempo. Logo, em uma
etapa superior, ainda pode existir algumas indicações de
conduta imprópria como a luxúria e a ira, mas elas não tem
nenhuma influência . Isto é como no caso da serpente que não
pode aplicar seu veneno porque teve seus dentes extraídos.
Assim, sua luxúria e sua ira ficam eternamente dominadas
incomparávelmente. Deve-se considerar que esta pessoa
possui um coração puro mesmo que as vezes se comporte de
maneira imprópria.
Srila SridharSvami diz que se esta pessoa se torna religiosa ou
virtuosa não há problema algum,mas, o que dizer de um
devoto que não é capaz de abandonar seu mal comportamento
até mesmo no momento da morte? Em resposta ,Bhagavan diz
enfáticamente e desgustado: “Mesmo quando morre ele não
cai. Mas os que falam mal dele devido á sua escassa
inteligência,não podem aceitar este fato.” Seguindo esta
lógica ,Krsna se dirigiu á Arjuna com palavras de incentivo,
por que ele se encontrava sob controle da lamentacão e da
dúvida. “Ó Kaunteya!, ressoando os sinos, vê onde se
encontram os que me contradizem e, levantando os braços e
livre de toda dúvida,declara que meus devotos nunca pereçe
mesmo que seu comportamento seja impróprio. Muito pelo
contrário , eles alcançam todo êxito. Assim ,todas as suas
palavras falsas serão destruídas por tua eloquência , e eles se
refugiarão em ti e te aceitarão como guru.”

Prakasika-vrtti

Os sadhakas de ananya-bhakti sentem uma aversão natural


pela conduta imprópria ou pecaminosa. Mas, se por acidente,
o ananya-bhakta se comporta incorretamente, esta tendência
tem um caráter temporário. A inconcebível influência de
ananya-bhakti não se perde por isto. Pelo contrário, a
tendência é eliminada pela influência de ananya-bhakti
situada no coração, que além do mais implica na liberação dos
bhaktas, tanto da piedade como do pecado, e finalmente
alcançam a paz suprema que nasce de bhakti. “Os ananyas
bhaktas jamais estão perdidos”. Neste verso, Krsna, que é
muito afetuoso com seus devotos, pede á seu muito querido
amigo Arjuna que faça um juramento. Esta declaração se
encontra também no Nrsimha Purana:

“Os bhaktas cujos pensamentos estão absortos exclusivamente


em Sri Hari, estão sempre situados em sua própria glória
mesmo que externamente exibem uma conduta abominável.
Isto se deve á influência de ananya-bhakti que está em seus
corações. Isto é como uma lua cheia que tem manchas escuras
ainda que a escuridão não á cobre.”

Sloka 32

Mam hi partha vyapasritya


Ye ´pi syuh papa-yonayah
Striyo vaisyas tatha sudras
Te ´pi yanti param gatim

Ó Partha, os que se refugiam em mim, mesmo que sejam


pessoas de baixo nascimento, mulheres, comerciantes, sudras
ou qualquer outro tipo de pessoa, alcançam o destino
supremo.

Bhavanuvada

“A devoção por mim não leva em conta os acidentes de uma


pessoa que se comporta incorretamente devido ao karma. Que
há de extraordinário nisto? Minha bhakti não leva em conta os
defeitos naturais e inerentes de quem se comporta
icorretamente devido á sua casta”. No Srimad Bhagavatam
(3.33.7) está dito: “Qualquer pessoa cuja língua tenha cantado
teu nome, mesmo que seja uma só vez, é muito digna de
adoração mesmo que tenha nascida em uma família de
candala. Quem canta teu nome já executou todo tipo de
austeridades e sacrifícios, estudou os Vedas e realizou todas
as demais atividades prescritas". Isto se refere também ás
prostitutas, vaisyas e outros que se refugiam em Sri
Bhagavan, mesmo se els são impuros e mentirosos.

Prakasika-Vrtti

No verso anterior, Bhagavan explicou que um sadhaka


dedicado á prática de ananya-bhakti deve ser considerado
santo mesmo quando pode-se ver nele algum mal
comportamento acidental. Neste verso, Bhagavan explica que
quem se refugia nele através de ananya-bhakti, mesmo que
tenha nascido em uma família de candala ou mleccha, em
família de sudras inferiores, e mesmo as prostitutas, que tem
uma inclinação natural para as atividades ilícitas, alcançam
rápidamente o destino supremo, o qual é muito difíçil de ser
alcançado até mesmo para os yogis.
Srila Bhaktissidanta Sarasvati Prabhupada escreve: “O verso
não se refere aos candalas comuns; eles nasceram em uma
família inferior de acordo com seu prarabdha-karma e
continuam se dedicando, pelo resto de suas vidas, á cometer
atos abomináveis próprios de sua casta. Se refere aos
Vaishnavas que, mesmo que tenham nascidos em família de
comedores de cães, perdem o interesse pelas atividades
abomináveis de sua tradição familiar e depois de açeitar diksa
de um sad-guru, permaneçem dedicados ao serviço de
Bhagavan. Bhagavan afirma no Itihasa samuccaya:

“Um brahmana que conheçe os quatro vedas não é


necessariamente um bhakta, mas meu bhakta, mesmo que
tenha nascido em família de candalas, é muito querido por
mim, é o recipiente apropriado para a caridade e é a pessoa
certa de quem se deve aceitar caridade. Mesmo que tenha
nascido em família de candalas, meu devoto, tal como eu,
deve ser respeitado por todos, até mesmo pelos brahmanas”.

Srila Bhaktivinoda Thakura diz que a razão pela qual uma


pessoa que se refugiou no santo nome de Sri Krsna Ter
nascido na casa de um candala é com propósito de aperfeiçoar
a qualidade da humildade, a qual é favorável para bhakti. A
partir deste verso, podemos entender mmais sobre a liberação
de Jagai e Madhai pela misericórdia de Gaura-Nityananda, do
caçador Mrgari por Narada Muni e da prostituta por Haridasa
Thakura.

Sloka 33

Kim punar brahmanah punya


Bhakta rajarsayas tatha
Anityam asukham lokam
Imam prapya bhajasva mam

Que dúvida pode haver então de que os brahmanas piedosos e


os reis santos póssam se converter em meus devotos? Por
tanto, tendo vindo á este mundo material miserável e
temporário, dedica-te á execução de meu bhajana.

Sloka 34

Man-mana bhava mad-bhakto


Mad-yaji mam namaskuru
Mam evaisyasi yuktvaivam
Atmanam mat-parayanah

Absorva sempre tua mente em mim, converte-te em meu


devoto, adora-me e oferece-me reverências. Assim, com tua
mente e corpo plenamente rendidos á meu serviço, sem
dúvida me alcançarás.
Prakasika-vrtti

O objetivo supremo de toda jiva é obter krsna-prema e o


único meio para alcança-lo é ananya-bhakti. Apenas as
suddha-jivas estão capacitadas á executar bhajana de Sri
Bhagavan, o para-tattva, e o svarupa de Sri Krsna é seu mais
elevado objeto de adoração. A menos que uma pessoa entenda
perfeitamente este siddhanta, não pode realizar puramente
seus esforço por alcançar o destino supremo. Nos capítulos
sete e oito sew descreve suddha-bhakti desprovido de jnana,
karma e yoga. Neste capítulo descreveu-se o tattva
supremamente adorável. Para definir tal tattva(verdade), é
necessário descrever os defeitos que surgem da adoração de
outros semi-deuses que também pareçem ser a realidade
adorável. Por tanto, foi estabeleçido cientificamente a
natureza eternamente perfeita da svaruoa supremamente pura
e consciente de Sri Krsna. Um suddha-bhakta adora
exclusivamente a forma eterna de Sri Krsna. A pessoa deve
abandonar completamente a adoração dos semi-deuses, e com
fé inquebrantável deve manter seu corpo enquanto se dedica
exclusivamente aos nove processos de bhakti tais como
sravanam, kirtanam e smaranam de Sri Krsna. Os ananyas
bhaktas são superiores aos karmis, jnanis e yogis mesmom se
sua conduta na fase preliminar seja imprópria. Assimsendo,
eles são certamente santos, pois em uma questão de poucos
dias se estabelecem em ekantika-bhava e seu caráter se faz
puro em todo sentido.

Capítulo 10

Vibhuti - Yoga
As opulências de Sri Bhagavan

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Bhuya eva maha-baho
Srnu me paramam vacah
Yat te ´ham priyamanaya
Vaksyami hita-kamyaya

Sri Bhagavan disse: Ó Maha-baho! Escuta de novo minhas


instruções,pois estas são superiores ás que te falei até agora.
Devido ao seu amor por mim, te revelarei este conhecimento
para teu próprio benefício.

Bhavanuvada

Desde o sétimo capítulo adiante, se explica o bhakti-tattva


juntamente com com o aspecto opulento de Bhagavan. Este
mesmo bhakti-tattva é descrito neste capítulo com seus
significados confidênciais.

Sloka 2

Na me viduh sura-ganah
Prabhavam na maharsayah
Aham adir hi devanam
Maharsinanca sarvasah
Eu sou a causa original em todos os aspectos, de todos os
semi-deuses e grandes sábios, mesmo que eles não conheçam
a verdade sobre minha aparição neste mundo.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “ Eu sou a causa


original dos semi-deuses e dos sábios(rsis). Por esta razão,
eles jamais podem compreender-me através de seus esfórços.
Todo mundo, semi-deuses e maha-rsis, buscam minha tattva
utilizando a força de sua inteligência, mas apesar dos
diligentes esfórços desta inteligência material, eles podem
entender-me e perceber-me apenas parcialmente. Eles apenas
podem compreender meu aspecto impessoal, o qual é
imanifesto e careçe de variedade e qualidades. Eles
consideram equivocadamente que meu aspecto impessoal é
parama-tattva. Sempre me manifesto por meio de minha
potência inconcebível, estou completamente livre da
contaminação material e possuo todas as qualidades
transcendentais. Minha potência externa manifesta um
aspecto parcial de minha svarupa denominada Isvara ou
Paramesvara, o qual mora dentro de todas as jivas. O brahma
é uma das minhas formas indiferenciadas e sem atributos,
impessoal – o aspecto negativo da minha personalidade.

Sloka 3

Yo mam ajam anadim ca


Vetti loka-mahesvaram
Asammudhah sa martyesu
Sarva-papaih pramucyate

Apenas aquele que sabe que sou oniciente e não nascido,que


não tenho princípio e que sou o controlador supremo de todos
os mundos, está livre do engano e se libera de todo pecado
neste mundo mortal.

Sloka 4 – 5

Buddhir jnanam asammohah


Ksama satyam damah samah
Sukham duhkham bhavo ´bhavo
Bhayam cabhayam eva ca

Ahimsa samata tustis


Tapo danam yaso ´yasah
Bhavanti bhava bhutanam
Matta eva prthag – vidhah

A inteligência, o conhecimento, a ausencia de ansiedade, a


tolerância, a veracidade, o controle dos sentidos e da mente, a
felicidade, a aflição, o nascimento, a morte, o temor, a
valentia, a não violência, a equanimidade, a satisfação, a
austeridade, a caridade, a fama e a crítica, são todas elas
qualidades das entidades vivas que se originam de mim.

Sloka 6

Maharsayah sapta purve


Catvaro manavas tatha
Mad-bhava manasa jata
Yesam loka imah prajah

Os sete maharsis (grandes sábios) ,os quais estão Marici,e


antes dele os quatro kumaras encabeçados por Sanaka; e os
quatorze manus, dentre os quais se encontra Svayambhuva,
nasceram da minha forma Hiranyagarbha através da minha
mente. A raça humana descende de sua progênie e de seus
discípulos.
Bhavanuvada

Depois de explicar que os que possuem atributos tais como a


inteligência,o conhecimento e ausência de ansiedade, não
podem entender sua tattva-jnana, Sri Bhagavan expõe a
realidade das suas deficiências. Em outras palavras, estas
qualidades provém apenas de Krsna. Ele disse neste verso: “
Os sete maharsis, enre os quais está Marici, e antes deles os
quatro kumaras e os quatorze manus, entre eles
Svayambhuva, nasceram de mim, ou melhor, da minha forma
Hiranyagarbha. Eles nasceram da minha mente. A terra está
povoada por brahmanas e ksatriyas que são filhos, netos, e
discípulos de Marici, Sanaka e outros.”

Sloka 7

Etam vibhutim yogam ca


Mama yo vetti tattvatah
So ´vikalpena yogena
Yujyate natra samsayah

Aquele que conheçe realmente todas as minhas opulências e


também o proçesso de bhakti yoga, possui bhagavat-tattva-
jnana inquebrantável. Não há nenhuma dúvida sobre isto.

Sloka 8

Aham sarvasya prabhavo


Mattah sarvam pravarttate
Iti matva bhajante mam
Budha bhava – samanvitah
Eu sou a fonte tanto dos mundos materiais quanto dos
espirituais. Tudo emana de mim. O sábio que entende isto
perfeitamente me adora com grande alegria no coração.

Sloka 9

Mac-citta mad-gata-prana
Bodhayantah parasparam
Kathayantas ca mam nityam
Tusyanti ca ramanti ca

Aquele que absorve a mente em mim e se dedica ao meu


serviço, experimenta grande satisfação e bem aventurança ao
conversar sobre mim e cantar meus santos nomes.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “A natureza de


quem mantém sua mente dedicada exclusivamente á mim é a
seguinte: Ao ofereçer-me sua mente e sua vida por inteiro,
eles compartilham seus sentimentos e glorificam
continuamente meus passatempos e meus demais aspectos.
Assim, através da audição e do canto, obtém-se a felicidade
de bhakti. Logo, na etapa de sadhya, a etapa seguinte á
obtenção de prema, que é alcançável apenas pelo caminho de
raga-marga, eles experimentam o prazer de desfrutar comigo
em vraja-rasa, culminando no bhava de madhurya-rasa.”

Sloka 10

Tesam satata-yuktanam
Bhajatam priti-purvakam
Dadami buddhi-yogam tam
Yena mam upayanti te
À aqueles que me adoram com amor e anseiam por minha
associação eterna, eu lhes concedo o conhecimento
transcendental pelo qual podem vir até mim.

Bhavanuvada

“ Desta maneira, eles obtém satisfação e bem aventurança. De


acordo com tua declaração, teus bhaktas alcançam a bem
aventurança suprema unicamente através da devoção á ti.
Está claro que eles transcendem os modos materiais. Mas,
como eles te conheçem e perçebem diretamente e de quem
aprendem este proçesso?”. Sri Bhagavan recita este verso,
adiantando-se á pergunta de Arjuna: “ Eu pessoalmente
inspiro todas as tendências naturais dentro do coração de
quem deseja minha associação eterna.”

Sloka 11

Tesam evanukampartham
Aham ajnana-jam tamah
Nasayamy atma-bhava-stho
Jnana-dipena bhasvata

É apenas devido á compaixão pelos ananyas bhaktas que eu,


morando no fundo de seus corações, destruo a escuridão de
samsara nascida da ignorância com a ardente chama do
conheçimento transcendental.

Bhavanuvada

Arjuna poderia argumentar: “Uma pessoa carente de


conheçimento verdadeiro não pode chegar até você, por que
deve esforçar-se nisto?” Sri Bhagavan responde: “ Não. Estou
explicando á você que só dou minhas bençãos aos meus
ananyas bhaktas,e não aos yogis ou outros. Sempre anseio
concede-lhes minha misericórdia para que não tenham que
passar por dificuldades. Entrando na sua inteligência, dissipo
a escuridão de seus corações com a tocha do conhecimento. O
jnana que lhes permite ver-me não é sattvika e sim nirguna e,
visto que nasce de bhakti, é especial mesmo que esteja dentro
da categoria de nirguna-jnana. Eu acabo com a escuridão de
seus corações apenas com a tocha deste jnana em particular.
Assim sendo; qual a necessidade de se esforçarem? Eu me
encarrego pessoalmente da manutenção e das necessidades de
quem está dedicado exclusivamente á mim”. Os quatro versos
que culminam com este, constituem a essência do Bhagavad
Gita. São plenamente auspiciosos e eliminam o sofrimento da
jiva, que surge da ignorância.

Slokas 12 – 13

Arjuna uvaca
Param brahma param dhama
Pavitram paramam bhavan
Purusam sasvatam divyam
Adi-devam ajam vibhum

Ahus tvam rsayah sarve


Devarsir naradas tatha
Asito devalo vyasah
Svayam caiva bravisi me

Arjuna disse: Sei que és a Verdade Absoluta Supremo e a


Morada Suprema. És supremamente puro e dissipa a impureza
nascida da ignorância. Os grandes sábios como Narada, Asita,
Devala e Vyasa também te glorificam como a Personalidade
eterna, o Senhor transcendental e primordial, não nascido e
onipresente. E agora, tu mesmo estás dizendo isto á mim.

Bhavanuvada
Arjuna recita este verso com o desejo de escutar mais
detalhadamente sobre o significado do que já foi explicado
sucintamente. “ Tu és param brahma, porque possui a
charmosa forma Syamasundara.” “ Tu és dhama. Ao contrário
das jivas, não há diferença entre tu e teu corpo.” Qual é a
svarupa deste corpo? Bhagavan responde dizendo pavitram-
paramam, “Aquele que contempla esta forma se libera da
impureza da ignorância.” Por tanto, os sábios te chamam
sasvatam purusam ahuh – a pessoa eterna – e glorificam a
natureza eterna de sua forma humana.

Sloka 14

Sarvam etad rtam manye


Yan mam vadasi kesava
Na hi te bhagavan vyaktim
Vidur deva na danavah

Ó Kesava! Aceito tudo que me disse. Nem os semi-deuses,


nem os demônios compreendem a verdade sobre seu
nascimento.

Bhavanuvada

Arjuna disse: “ Não tenho dúvidas. Outros sábios consideram


que tú, a Verdade Absoluta Suprema, que possui a eterna e
charmosa forma de Syamasundara, é não nascida, mas não
sabem nada sobre teu nascimento. Não compreendem como é
possível que tú, Parabrahma, nasce e ao mesmo tempo não
nasce. Você afirma. (Gita.10.12): “Os semi-deuses e os sábios
não sabem nada sobre minha aparição”. , mas eu aceito com
firmeza tudo o que tenha me dito. Ó Kesava! A sílaba ka se
refere á Brahma e a sílaba isa á Rudra. Visto que atado á estas
pessoas com a ignorância relacionada com tua aparição, não
és absolutamente surpreendente que outros semi-deuses e
demônios não te conheçam.

Sloka 15

Svayam evatmanatmanam
Vettha tvam purusottama
Bhuta-bhavana bhutesa
Deva-deva-jagat-pate

Ó Purusottama! Pessoa Suprema! Ó Bhuta-bhavana! Criador


de todos os seres! Ó Bhutesa, Senhor de todos os seres
criados! Ó Deva -deva, Deus dos deuses! Ó Jagad-pate, Amo
do universo! Mediante tua própria potência apenas tu
conheces á ti mesmo.

Bhavanuvada

“Apenas tu te conheces. A palavra eva indica que teu bhaktas


conheçem o tattva de teu nascimento e não nascimento
simultâneos, o qual é inconcebível. Mas, por que inclusive
eles não tem pleno conhecimento sobre isto? Apenas tu te
conheçes mediante tua cit-sakti, não por outro meio. Por isto,
tu és a melhor das pessoas, és superior até do que Maha-
Vishnu, e o criador do mahat-tattva. Não só és o melhor, mas
também és o controlador de todos, mesmo do avô de Brahma.
E não só és o controlador, mas também és o Deva dos
semideuses,pois até mesmo Brahma e Siva são instrumentos
em seus passatempos. Além do mais, és Jagat-pati, o amo do
universo. Devido á tua compaixão ilimitada és o amo de todas
as jivas que, assim como eu, vivem no mundo material.”

Prakasika-Vrtti
Desejando ouvir os detalhes, sobre as opulências de Bhagavan
Sri Krsna, Arjuna diz: “Apenas tu conheçes as glórias da tua
realidade inconçebível. Nada, incluindo os semi-deuses,
demônios e seres humanos, pode conheçer sequer uma
partícula das tuas glórias através um esforço independente.
Apenas os ananyas bhaktas podem conheçer um pouco destas
glórias mediante tua graça. Por isto suplico que sejas
misericordioso comigo.”

Sloka 16

Vaktum arhasy asesena


Divya hy atma-vibhutayah
Yabhir vibhutibhir lokan
Imams tvam vyapya tisthasi

Por favor, descreve detalhadamente tuas majestosas


opulências, as quais te fazes onipresente em todos os mundos
e fazes residir neles.

Bhavanuvada

“ É muito difícil compreender tua tattva. Dizem que essas


opulências divnas não se pode explicar detalhadamente, então
fala-me pelo menos sobre tuas opulências superiores.”

Sloka 17

Katham vidyam aham yogims


Tvam sada paricintayan
Kesu kesu ca bhavesu
Cintyo ´si bhagavan maya
Ó Místico Supremo, amo da yoga-maya-sakti! Como posso
conhecer-te e como posso pensar sempre em ti? Ó Bhagavan!
Com qual atitude e em qual de suas formas devo meditar?

Prakasika-Vrtti

Após pedir á Sri Bhagavan no verso anterior que lhe


descrevesse suas opulências, Arjuna ora especificamente
neste verso, implorando para compreender em qual objeto e
forma existem estas opulências. A yoga-maya, quem pode
fazer o impossível se tornar possível, reside sempre com Sri
Krsna. Por esta razão, Arjuna se dirige á ele como yogin, a
morada de yoga-maya. Aquí se explica que apenas Krsna é
capaz de descrever suas opulências.

Sloka 18

Vistarenatmano yogam
Vibhutinca janardana
Bhuyah kathaya trptir hi
Srnvato nasti me ´mrtam

Ó Janardana! Por favor, fala-me de novo em detalhe, sobre


teus poderes místicos e opulências, pois jamais me sacio de
escutar suas palavras nectáreas.

Sloka 19

Sri bhagavan uvaca


Hanta te kathayisyami
Divya hy atma-vibhutayah
Pradhanyatah kuru-srestha
Nasty anto vistarasya me
Sri Bhagavan disse: Ó tu que é o melhor dos Kurus!
Descreverei á ti minhas divinas opulências, mas só as mais
proeminentes pois minhas glórias são ilimitadas.

Bhavanuvada

A palavra hanta neste verso indica compaixão. Sri Bhagavan


disse: “Apenas te explicarei minhas glórias mais
proeminentes, pois estas variedades não tem fim”.

Sloka 20

Aham atma gudakesa


Sarva-bhutasaya-sthitah
Aham adis ca madhyam ca
Bhutanam anta eva ca

Ó Gudakesa! Como Antaryami resido no coração de todas as


jivas. Sou a causa única da criação, manutenção e destruição
de todos os seres.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan diz aqui: “Ó Arjuna, deves entender que sou a


causa de todas as opulências mediante apenas uma de minhas
porções”. Aqui a palavra atma se refere á Antaryami da
prakrti original, o purusa avatara Karanodakasayi Visnu,
quem cria o mahat-tattva. Gudakesa indica alguém que
controla seu sonho. Sri Bhagavan usa esta palavra para indicar
que Arjuna é capaz de meditar. “ Sou a Superalma de toda
criação, sarva-bhutasaya-sthitah”. Sarva-bhuta indica Brahma.
Em outras palavras, sou o começo, o meio e o fim de todas as
entidades vivas, e sou os elementos ou a causa da
aniquilação”.
Sloka 21

Adityanam aham visnur


Jyotisam ravir amsumam
Maricir marutam asmi
Naksatranam aham sasi

Dos doze Adityas sou Visnu. Entre as luminárias sou o sol


radiante, dos Maruts sou Marici e entre as estrelas sou a lua.

Sloka 22

Vedanam sama-vedo ´smi


Devanam asmi vasavah
Indriyanam manas casmi
Bhutanam asmi cetana

Entre os Vedas sou o Sama-Veda, entre os semideuses sou


Indra, entre os sentidos sou a mente e sou a consciência das
entidades vivas.

Sloka 23

Rudranam sankaras casmi


Vitteso yaksa-raksasam
Vasunam pavakas casmi
Meruh sikharinam aham

De todos os Rudras sou Sankara, dos Yaksas e Raksasas sou


Kuvera, dos oito Vasus sou Agni e entre as montanhas sou
Sumeru.

Sloka 24
Purodhasanca mukhyam mam
Viddhi partha brhaspatim
Senaninam aham skandah
Sarasam asmi sagarah

Ó Partha! Entre os sacerdotes sou Brhaspati, o diretor. Dos


generais sou Karttikeya e entre as extensões de água sou o
oçeano.

Sloka 25

Maharsinam bhrgur aham


Giram asmy ekam aksaram
Yajnanam japa-yajno ´smi
Sthavaranam himalayah

Entre os Maharsis sou Brhgu. Das vibrações sou a sílaba om,


dos sacrifícios sou japa-yajna e entre os objetos inertes sou os
Himalayas.

Sloka 26

Asvatthah sarva-vrksanam
Devarsinanca naradah
Gandharvanam citrarathah
Siddhanam kapilo munih

Entre as árvores sou a figueira, entre os devarsis sou Narada,


dos Gandharvas sou Citraratha e entre os seres perfeitos sou
Kapila Muni.

Sloka 27

Uccaihsravasam asvanam
Viddhi mam amrtodbhavam
Airavatam gajendranam
Narananca naradhipam

Entre os cavalos sou Uccaihsrava, que nasceu do néctar, dos


elefantes sou Airavata e sou o rei entre os homens.

Sloka 28

Ayudhanam aham vajram


Dhenunam asmi kamadhuk
Prajanas casmi kandarpah
Sarpanam asmi vasukih

Entre as armas sou o raio e entre as vacas sou Kamadhenu, a


vaca dos desejos. Eu sou o deus do amor Kandarpa, que causa
a procriação e, entre as serpentes sou Vasuki.

Sloka 29

Anantas casmi naganam


Varuno yadasam aham
Pitrnam aryama casmi
Yamah samyamatam aham

Das nagas sou a serpente divina Ananta, entre os seres


aquáticos sou Varuna, o Senhor das águas. Dos ancestrais sou
Aryama e entre os castigadores sou Yamaraja.

Sloka 30

Prahladas casmi daityana


Kalah kalayatam aham
Mrgananca mrgendro ´ham
Vainateyas ca paksinam
Entre os daityas sou Prahlada e entre os controladores sou o
tempo. Sou o leão entre os animais ferozes e entre os pássaros
sou Garuda.

Bhavanuvada

A palavra kalayatam significa “entre os controladores”, mrga-


indrah significa leão e vainateyah significa Garuda.

Sloka 31

Pavanah pavatam asmi


Ramah sastra-bhrtam aham
Jhasanam makaras casmi
Srotasam asmi jahnavi

Entre tudo que é ágil e purificante sou o vento. Entre os que


manejam armas sou Parasurama. Dos animais aquáticos sou o
tubarão e entre os rios sou o Ganges.

Sloka 32

Sarganam adir antas ca


Madhyancaivaham arjuna
Adhyatma-vidya vidyanam
Vadah pravadatam aham

Ó Arjuna! Sou o começo, o meio e o fim de toda criação.


Entre todos os tipos de conheçimento sou o atma-jnana e da
lógica sou a conclusão.

Bhavanuvada

“Todas as coisas criadas, como por exemplo o céu, se


denomina svarga. Sou o criador , aniquilador e sustentador de
todas elas. Por tanto, deve-se meditar na criação, manutenção
e aniquilação, pois estas são minhas opulências.”
“Do conheçimento védico sou atma-jnana, o conhecimento
acerca do ser. No debate lógico dividido em jalpa, vitanda e
vada – que estabeleçe o argumento próprio e refuta as
conclusões do oponente, sou o vada, mediante o qual se
estabeleçe os princípios filosóficos – siddhanta e tattva –
corretos”.

Prakasika-vrtti

Bhagavan explica neste verso que entre os diversos aspectos


do conhecimento , o conhecimento espiritual ou adhyatma-
vidya, é sua vibhuti. Vidya é a educação que uma pessoa
adquire em relação aos objetos de conhecimento mediante sua
própria inteligência. Os sastras descrevem dezoito tipos de
vidya, dentre os quais quatorze são proeminentes:

“Siksa, kalpa, vyakarana, nirukta, jyotisa e chanda são os seis


tipos de conhecimento denominados vedanga, ramos dos
Vedas. Os quatro Vedas são: Rg, Sama, Yajur e Atharva.
Todos eles, combinados com mimamsa, nyaya, os dharma-
sastras e os Puranas constituem os quatorze vidyas
principais”.

A prática dos vidyas agrava a inteligência de uma pessoa e


aumenta os diversos campos de seu conhecimento. Este jnana
não apenas ajuda uma pessoa á sustentar sua vida, mas
também á guia no caminho de karma. Sem dúvida, o
conhecimento transcendental outorga a imortalidade aos seres
humanos liberando-os do cativeiro do mundo material. É
superior á todos os vidyas anteriormente mencionados e
outorga total conhecimento de parabrahma, o que se permite
compreender a realidade eterna suprema. Este conhecimento
transcendental é vibhuti ou uma opulência de Krsna. O
Bhagavd Gita e os Upanisads estão incluídos dentro desta
categoria. O rasamayi-bhakti dos habitantes de Vraja descrito
no décimo canto do Srimad Bhagavatam é milhões de vezes
superior ao conhecimento espiritual de Uddhava. Devido ao
fato de que rasamayi-bhakti é a essência das potências hladini
e samvit de Krsna, constituem na realidade a svarupa de
Krsna, enquanto que adhyatma-vidya é apenas uma opulência
parcial de prema-bhakti. O diálogo entre Ramananda Ray e
Sri caitanya Mahaprabhu no Caitanya caritamrta ( Madhya-
lila 8.245) corrobora esta conclusão:

“ Mahaprabhu perguntou: ‘Entre os tipos de conhecimento,


qual é o melhor?’ . Ramananda Ray respondeu: ‘ Além de
Krsna-bhakti não há nenhum outro conhecimento’. “

Sloka 33

Aksaranam a-karo ´smi


Dvandvah samasikasya ca
Aham evaksayah kalo
Dhataham visvato-mukhah

Das letras sou a “ A “ e das palavras compostas sou a


composta dual. Sou Mahakala Rudra entre os aniquiladores e,
dos criadores sou o Brahma de quatro cabeças.

Bhavanuvada

Entre as palavras compostas sou dvandvah, a composta dupla.


Ela é a melhor devido ao fato dela ser proeminente em ambos
elementos.
Dos aniquiladores sou Mahakala Rudra, o tempo eterno. Entre
os criadores sou visvato-mukhah, o Brahma de quatro
cabeças.
Prakasika-Vrtti

Bhagavan diz que entre as palavras compostas ele é a


dvandvah. Quando há na formação de uma palavra composta
duas ou mais palavras que perdem as terminações de seus
casos respectivos e se combinam, isto se denomina samas e a
palavra resultante se conheçe como samasta-pada ou palavra
composta. Existem seis tipos principais de samasas: dvandva,
bahubrihi, karma dharaya, tat-purusa, dvigu e avyayi-bhava.
A dvandva é a melhor delas, pois em outras palavras
compostas, ou apenas uma das partes é proeminente ou estas
se combinam para produzir um novo significado. Mas na
dvandva-samasa ambas as partes conservam sua proeminência
original, como em Rama-Krsna ou Radha-Krsna. Por isso
Krsna diz que a dvandva –samasa é sua vibhuti.

Sloka34

Mrtyuh sarva-haras caham


Udbhavas ca bhavisyatam
Kirttih srir vak ca narinam
Smrtir medha dhrtih ksama

De tudo que devora sou a morte e das seis transformações


progressivas que todas entidades vivas experimentam sou o
nascimento. Entre as mulheres sou a fama, a beleza, a maneira
delicada de falar, a memória, a inteligência, a tolerância e o
perdão.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan diz aqui que entre as mulheres ele é a fama, a


beleza ou a fortuna, a forma delicada de falar, a memória, a
inteligência, a paciência ou fortaleza e o perdão. Isto pode-se
entender de duas maneiras.
1- “ As qualidades como a fama, beleza, a maneira doçe de
falar, a memória, o pensamento sutil e o perdão, presentes em
Sita Devi, Uma, Rukmini, Draupadi, e, especialmente nas
Vraja-gopis, são vibhutis de Krsna.

2- Entre as vinte quatro filhas de Prajapati Daksa, Kirti,


Medha, Dhrti, Smrti e Ksama são mulheres ideais em todos os
sentidos. Kirti, Medha e Dhrti foram casadas com Dharma,
Smrti com Angira e Ksama com o grande sábio Pulaha. Sri é
a filha do grande sábio Bhrgu que nasceu do ventre de Khyati,
a filha de Daksa. Sri Visnu á tomou como esposa. Vak é a
filha de Brahma. De acordo com seus respectivos nomes, elas
são as deidades regentes das qualidades mencionadas. Elas
foram incluídas entre as mulheres mais excelsas, por tanto,
Krsna diz que elas são suas vibhutis.

Sloka 35

Brhat-sama tatha samnam


Gayatri chandasam aham
Masanam marga-sirso´ham
Rtunam kusumakarah

Dos ramos do Sama-veda sou o Brhat-sama, a oração á Indra.


Dos versos sou o gayatri, dos meses sou Marga-sirsa e entre
as estações sou a florida primavera.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan disse anteriormente que dos Vedas ele é o


Sama-veda. Agora diz que dentro do Sama-veda ele é o
Brhat-sama, indicado pelo Rg-mantra, o qual é cantado como
“tvam rddhim havamahe”.

Prakasika-Vrtti
Bhagavan não é diferente de seus nomes, qualidades,
passatempos e orações. O Sama-veda contém orações que são
a forma de Bhagavan, e por isso é aceito como o melhor dos
Vedas e uma de suas opulências. O gayatri ilumina a forma de
Bhagavan, razão pela qual se conhece como a mãe dos Vedas
também está entre as opulências de Bhagavan. Dos doze
meses, ele expressa que Marga-sirsa é sua opulência. Este
mês não é nem muito calor nem frio, e é neste tempo que se
executam diferentes atividades védicas. Exatamente antes de
seu começo, Krsna realiza sua rasa-lila, seu passatempo mais
elevado. A natureza floresce em sua plenitude e planta-se
novas sementes nos campos. Agrahayana é o começo do ano,
por isso Bhagavan diz que é sua vibhuti. A primavera é a
melhor das estações e é conhecida como rtu-raja, rei das
estações. Nesta estação, a natureza abandona seus antigos
ornamentos e se adorna com uma coberta fresca. Todos os
seres, móveis e imóveis, se enchem de nova vida e Krsna
realiza seu passatempo do balanço, entre outros. É
especialmente suprema porque Sri Caitanya Mahaprabhu
apareçeu nela assumindo o bhava e a tez de Srimati Radhika,
a personificação de mahabhava. Por isso Bhagavan á inclui
entre suas vibhutis.

Sloka 36

dyutam chalayatam asmi


tejas tejasvinam aham
jayo ´smi vyavasayo ´smi
sattvam sattvavatam aham

Sou o azar dos enganadores e o esplêndor do esplêndido. Sou


a vitória dos vitoriosos, o esforço do diligente e a força do
poderoso.
Sloka 37

Vrsninam vasudevo´smi
Pandavanam dhananjayah
Muninam apy aham vyasah
Kavinam usana kavih

Dos vrsni sou Vasudeva, dos Pandavas sou Arjuna, dos munis
sou Vyasa e entre os kavis sou o poeta Sukracarya.

Bhavanuvada

‘Dos Vrsnis sou Vasudeva, o que significa que meu pai,


Vasudeva é minha vibhuti”. A palavra Vasudeva se forma
agregando o sufixo an á palavra Vasudeva. A afirmação “ dos
Vrsni sou Vasudeva” não é aceitável porque Bhagavan está
descrevendo suas vibhutis, não sua svarupa. Vasudeva é um
dos aspectos da sua svarupa, não uma de suas opulências.

Sloka 38

Dando damayatam asmi


Nitir asmi jigisatam
Maunam caivasmi guhyanam
Jnanam jnanavatam aham

Sou a vara de castigo dos justiceiros e a moralidade de quem


persegue a vitória. Dos segredos sou o silêncio e sou a
sabedoria dos sábios.

Sloka 39

Yac capi sarva-bhutanam


Bijam tad aham arjuna
Na tad asti vina yat syan
Maya bhutam caracaram

Ó Arjuna! Sou a causa original, a semente geradora de toda


existência. Nenhuma entidade viva, seja móvel ou inerte,
pode existir sem mim.

Sloka 40

Nanto ´sti mama divyanam


Vibhutinam parantapa
Esa tuddesatah prokto
Vibhuter vistaro maya

Ó Parantapa! Minhas opulências divinas são ilimitadas, o que


te foi descrito é uma simples indicação delas.

Sloka 41

Yad yad vibhutimat sattvam


Srimad urjitam eva va
Tat tad evavagaccha tvam
Mama tejo ´sma-sambhavam

Entende que toda a criação opulenta, majestosa e dotada de


poder, nasce de uma parte da minha sakti.

Sloka 42

Atha va bahunaitena
Kim jnatena tavarjuna
Vistabhyaham idam krtsnam
Ekamsena sthito jagat
De que te serve, ó Arjuna, todo este conhecimento detalhado?.
Simplesmente entende que eu me faço onipresente e sustento
todo o universo com apenas uma das minhas fragmentações.

Bhavanuvada

“ Qual é a necessidade de saber isto tudo detalhadamente?


Simplesmente, tenta compreender a essência. Eu sustento toda
o universo inteiro mediante meu aspecto parcial Antaryami, o
purusa da natureza material. Como a autoridade regente eu o
presido e como o controlador eu o controlo.
Sendo onipenetrante estou presente nele e como o criador sou
a causa.”

Capítulo 11
Visvarupa Darsana Yoga

Contemplando a forma universal

Sloka 1

Arjuna uvaca
Mad-anugrahaya paramam
Guhyam adhyatma-samjnitam
Yat tvayoktam vacas tena
Moho ´yam vigato mama
Arjuna disse: Minha ilusão foi dissipada após Ter escutado o
supremo conhecimento confidêncial de tuas opulências, a qual
me revelaste devido ao fato de teres compaixão por mim.

Bhavanuvada

No décimo primeiro capítulo, Arjuna se aterroriza ao


comtemplar a forma universal , visvarupa, de Sri Bhagavan e,
perplexo, começa á orar. Logo Sri Hari lhe outorga bem
aventurança mostrando-lhe novamente sua forma eterna de
dois braços;
Sri Krsna disse no final do capítulo anterior. “ Eu penetro e
sustento todo o universo simplesmente mediante uma das
minhas porções.” Arjuna estava imerso na bem aventurança
suprema depois de escutar de seu querido amigo acerca de
suas opulências. Ele se regosijou ao escutar Bhagavan
descrevelas. Com o desejo de ver esta forma, Arjuna recita
três versos começando com as palavras mad-anugrahaya.
A ignorância de Arjuna com respeito ao aisvarya de Krsna se
dissipou ao escutar as declarações de Bhagavan.

Sloka 2

Bhavapyayau hi bhutanam
Srutau vistaraso maya
Tvattah kamala-patraksa
Mahatmyam api cavyayam

Ó Senhor de olhos de lótus! Já te escutei falar os detalhes de


tuas glórias ilimitadas, e também sobre tua origem e
dissolução de todas as entidades vivas.

Sloka 3

Evam etad yathattha tvam


Atmanam paramesvara
Drastum icchami te rupam
Aisvaram purusottama

Ó Paramesvara! Açeito tudo o que disse sobre voçê mesmo.


Ó Purusottama! Agora desejo contemplar essa grande forma
repleta de sua aisvarya.

Bhavanuvada

Voçê disse: “ Estou situado no mundo penetrando-o através


de minhas porções.” ‘Isto é certo; não tenho nenhuma
dúvida, mas desejaria Ter a satisfação de contemplar tua
forma aisvarya. Quero ver com meus próprios olhos a forma
desta porção, tua forma isvara, na qual existes ao entrar neste
mundo.’

Prakasika-Vrtti

Com o desejo de contemplar a forma de Bhagavan plena de


aisvarya, Arjuna disse: “ Ó Paramesvara, escutei sobre tuas
maravilhosas e ilimitadas opulências. Porém, agora estou
ansioso para ver tua forma aisvarya. És Antaryami que existe
dentro de todos os corações e, por tanto, conheçes meu
desejo íntimo e és capaz de satisfazer-me”.
Alguém poderia questionar: “Se Arjuna é um amigo eterno
de Krsna, a personificação da doçura; por que deseja
contemplar a forma universal, visvarupa, a qual expressa a
aisvarya de Bhagavan? A resposta é que assim como uma
pessoa que gosta muito de dôces deseja comer alimentos
amargos de vez em quando, Arjuna, que sempre degusta a
doçura de Krsna, também teve o desejo de ver sua visvarupa,
a qual é uma expressão de sua aisvarya.

Sloka 4
Manyase yadi tac chakyam
Maya drastum iti prabho
Yogesvara tato me tvam
Darsayatmanam avyayam

Ó Prabhu! Se pensas que posso contemplar a forma aisvarya


impereçível, então, ó Yogesvara! Revéla-me por favor.

Bhavanuvada

“Arjuna disse: Mesmo que não seja capaz de ver esta sua
forma, poderia revelar-me, através de teu poder místico, pois
és Yogesvara, o místico Supremo”.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura expressa: “A jiva é uma entidade


consciente atômica e por esta razão, não pode entender
apropriadamente as atividades de Sri Bhagavan, quem é a
consciência infinita suprema. “Eu sou uma jiva, mas mesmo
que tenho adquirido por tua misericórdia, a qualificação para
entender e contemplar e sua svarupa-tattva, a forma
universal, sou incapaz de compreender teus infinitos aspectos
aisvarya. Isto porque eles estão aquém da concepção da jiva.
Tu és Yogesvara e és meu Prabhu. Por favor, mostra-me tua
yoga-aisvarya, a qual é de natureza consciente e
imperecível.”

Sloka 5

Sri bhagavan uvaca


Pasya me partha rupani
Sataso tha sahasrasah
Nana-vidhani divyani
Nana-varnakrtini ca

Sri Bhagavn disse: Ó Partha! Contempla minhas centenas de


milhares de formas divinas multicoloridas.

Bhavanuvada

“Primeiro te revelarei o primeiro purusa, Karanodakasayi,


quem é uma de minhas porções e o Antaryami da natureza
material. No Purusa-sukta lhe descreve como tendo milhões
de cabeças, olhos e pés. Logo te farei compreender minha
svamsa, minha própria expansão cujo aspecto kala, o tempo
que tudo devora, é relevante neste contexto”.
Pensando assim, Krsna disse á Arjuna: “Preste atenção” para
atrair sua atenção.

Sloka 6

Pasyadityan vasun rudran


Asvinau marutas tatha
Bahuny adrsta-purvani
Pasyascaryani bharata

Ó Bharata! Veja os doze Adityas, os oito Vasus, os doze


Asvini-kumaras, os quarenta e nove Maruts e muitas outras
maravilhosas e supreendentes formas que tu jamais havia
visto.

Prakasika-vrtti

Aqui é significativo que Krsna se refere á Arjuna como


Bharata. Arjuna nasceu na dinastia do rajarsi Bharata, um
devoto muito piedoso e puro. Por esta razão, ele é também
muito virtuoso e um ekantika-bhakta de Bhagavan. Assim ele
é apto para ver a forma de Bhagavan que jamais havia visto.
Sloka 7

Ihaika-stham jagat krtsnam


Pasyadya as-caracaram
Mama dehe gudakesa
Yac canyad drastum icchasi

Ó Gudakesa! Contempla agora o universo inteiro, incluindo


todos os seres móveis e inertes, reunidos em um só lugar
dentro do meu corpo. Qualquer outra coisa que desejes ver
também está dentro desta forma universal.

Bhavanuvada

“O grande universo, que jamais poderás ver completamente


mesmo que perambules por ele durante milhões de anos, está
situado em apenas uma parte do meu corpo.” Sri Bhagavan
explica o feito no presente verso. A causa da tua vitória ou
derrota, aconteça o que acontecer, existe neste corpo, o qual é
o refúgio do universo”.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan disse novamente: “Dentro desta forma


universal verás o mundo inteiro com seus seres móveis e
imóveis. Nesta forma, que não se pode ver pela execução de
árduas tarefas durante milhões e milhões de anos e apenas
pela minha misericórdia, verás eu e o mundo inteiro, mesmo
que ganhe ou perca a batalha de Kuruksetra. E digo mais,
poderás ver o que quiser”. Neste texto se usa a palavra
Gudakesa: gudaka significa sonho ou ignorância e isa
significa amo. Assim, Bhagavan indica á Arjuna que deve
contemplar esta forma com grande atenção. Assim suas
dúvidas sobre a derrota ou vitória se dissiparão e Arjuna
poderá compreender que neste universo, a execução de cada
atividade está predestinada por Krsna. Nem Arjuna nem
ninguém pode mudar esta disposição de nenhuma maneira.

Sloka 8

Na tu mam sakyase drastum


Anenaiva sva-caksusa
Divyam dadami te caksuh
Pasya me yogam aisvaram

Mas não poderás me ver com teus olhos atuais. Por tanto, lhe
outorgo olhos divinos com os quais podes contemplar minha
yoga-aisvarya.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan disse: “Arjuna, não pense que minha forma é


ilusória e composta de maya, entende que ela é sac-cid-
ananda. Minha svarupa, na qual existe todo o universo, etá
além da percepção dos sentidos materiais”. Bhagavan recita
este verso para fazer-lo entender isto. Ele disse: “Tu não
poderás ver-me com teus olhos materiais, por tanto lhe
concedo olhos divinos com os quais poderás me ver”. O
propósito da declaração é assombrar Arjuna que pensa que é
um ser mortal ordinário. Mas Arjuna é um dos principais
associados de Sri Bhagavan e apenas aparenta ser um ser
humano comum. Arjuna, que experimenta diretamente a
doçura de Sri Krsna não será capaz de ver sua forma
universal com estes mesmos olhos, por tanto, deve aceitar
olhos divinos. Que tipo de lógica é esta? Alguns dizem que
os olhos supremamente afortunados de um ananya-bhakta
vêem a imensa doçura dos passatempos da forma humana de
Sri Krsna, mas não vêem o aspecto aisvarya de seus
passatempos divinos. Por tanto, o pedido de Arjuna é para
outorga-lhe a visão especial e maravilhosa do aspecto
aisvarya de sua forma divina. Sri Bhagavan lhe concede
olhos sobre humanos apropriados para saborear este
intercâmbio amoroso particular.

Prakasika-Vrtti

Srila Baladeva Vidyabhusana clarea o ponto em seu


comentário. “Sri Krsna deu á Arjuna olhos divinos
necessários para ver sua forma universal; mas não lhe deu a
mente divina correspondente. Se tivesse feito isto, Arjuna
desenvolveria um interesse para saborear a forma universal,
mas em troca, ao vê-la, seu interesse se foi. Tal desinteresse
se evidência nas palavras de Arjuna ao sair de seu assombro
após ver a forma universal. Ele suplicou á Krsna que lhe
mostrasse apenas sua forma natural de dois braços sac-cid-
ananda”.
Este sentimento se encontra explicado também no Srimad
Bhagavatam:
“Um dia, Krsna estava nos braços de Mãe Yasoda. Ela lhe
amamentava e beijava seu cativante rosto cuja beleza estava
realçada por seu doce sorriso. Neste momento, o menino
bocejou e mostrou á ela sua forma universal dentro da boca.
Ao ver aquilo dentro da boca de seu bebê, ela ficou atônita.
Tenebrosa, fechou os olhos pensando: Meu deus! O que vi?
Temendo que alguém tivesse lançado algum feitiço ou mal
olhado em Krsna, ela chamou o sacerdote da família e lhe fez
cantar mantras para proteger o menino. Apenas depois dele
dar banho para purificar o menino(Krsna) ela se sentiu
aliviada.”
Srila Sanatana Goswami explica um profundo segredo sobre
este verso: “Como pôde Mãe Yasoda ver a forma universal
de Krsna se não tinha olhos divinos? Para alimentar os
passatempos de Krsna, a serva de Laksimi devi, a potência de
prazer, faz com que o amor de Yasoda seja sempre novo e
por isso lhe foi permitida saborear o néctar do assombro,
vismaya-rasa, da aisvarya-sakti de Sri Krsna.”

Sloka 9

Sanjaya uvaca
Evam uktva tato rajan
Maha-yogesvara harih
Darsayamasa parthaya
Paramam rupam aisvaram

Sanjaya disse: Ó Rei! Ao dizer isto, Sri Hari, o amo de todos


os poderes místicos, revelou á Arjuna sua Suprema forma
aisvarya.

Prakasika-vrtti

Após dizer isto, Sri Bhagavan mostrou sua forma universal á


Arjuna. Sanjaya á descreve ao rei cego Dhrtarastra nos seis
versos, afirmando-lhe que Sri Krsna não apenas é grandioso
mas também o maior dos místicos, Yogesvara. Com objetivo
de mostrar á Arjuna sua forma universal, lhe outorgou olhos
divinos, o que revela que Arjuna é muito querido por ele.
Este sentimento implica que a vitória de arjuna é só questão
de tempo. Agora não há dúvida de que, pela misericórdia de
Bhagavan, a vitória, tanto espiritual como material, virá á
Arjuna. Com suas palavras, Sanjaya indica á Dhrtarastra que
seu desejo pela vitória de seus filhos foi completamente
frustrado.

Slokas 10-11

Aneka-vaktr-nayanam
Anekadbhuta-darsanam
Aneka-divyabharanam
Divyanekodyatayudham

Divya-malyambara-dharam
Divya-gandhanulepanam
Sarvascarya-mayam devam
Anantam visvato-mukham

Arjuna contemplou a forma universal de Sri Bhagavan que


possui olhos e bocas ilimatadas e intermináveis
características assombrosas. Incontáveis e maravilhosos
ornamentos e guirlandas celestiais decoravam sua forma,
cujas mãos empunhavam múltiplas armas celestiais. Ele
vestia suntuosas roupas, estava ungido com fragãncias
divinas e estava cheio de ilimitadas e resplandescentes
maravilhas, que decoravam seus milhões de rostos.

Bhavanuvada

Visvato-mukham significa “cujo rosto está em toda parte”.

Sloka 12

Divi surya-sahasraya
Bhaved yugapad utthita
Yadi bhah sadrsi as syad
Bhasas tasya mahatmanah

Se milhões de sóis aparecessem simultaneamente no céu, o


resplendor apenas se aproximaria da refulgência da Pessoa
Suprema em sua radiante forma universal.

Sloka 13
Tatraika-stham jagat krtsnam
Pravibhaktam anekadha
Apasyad deva-devasya
Sarire pandavas tada

Neste momento, Arjuna pôde ver o universo inteiro situado


no gigantesco corpo de Visvarupa, o Deus dos deuses.

Bhavanuvada

No mesmo campo de batalha, Arjuna viu ilimitados universos


no corpo de deva-devasya, o deus dos deuses. Com suas
diversas características distintivas, cada universo se
encontrava situado em uma parte de seu corpo, em cada poro
e cada ventre. A palavra anekadha significa que alguns
estavam feitos de terra, outros de ouro, e outro de gemas.
Alguns mediam cinqüenta yojanas(1 yojana equivale á 9,6
km), alguns cem, alguns centenas de milhares e outros
mediam milhões de yojanas.

Sloka 14

Tatah as vismayavisto
Hrsta-roma dhananjayah
Pranamya sirasa devam
Krtanjalir abhasata

Arjuna, maravilhado e com olhos semi-fechados, inclinou a


cabeça para oferecer reverências, e com as mãos juntas, se
dirigiu á Sri Krsna, o criador da forma universal.

Prakasika-vrtti

A forma universal que Maha-Yogesvara Krsna mostrou á


Arjuna era surpreendente, resplandescente e maravilhosa, e
estava decorada com diversos tipos de ornamentos celestiais.
Arjuna viu no corpo do Supremo Senhor Sri Krsna o universo
inteiro situado no mesmo lugar e dividido em várias formas.
Para evitar que Dhrtarastra pensasse que Arjuna correu
aterrorizado ao contemplar esta aterradora forma, Sanjaya
disse: “Arjuna é um grande bhakta e conhece bem krsna-
tattva e está situado no modo da bondade. Ele não se
aterrorizou ao ver a forma universal de Krsna senão que
experimentou adbhuta-rasa, assombro. Arjuna estava dotado
com fortaleza natural, mas estando absorto em adbhuta-rasa,
caiu em êxtase e seu corpo estremeceu. Ele inclinou sua
cabeça, juntou suas mãos em sinal de reverências e falou”.
Os olhos de Arjuna não estavam fechados pelo temor e sim
porque estava experimentando adbhuta-rasa. A forma
universal de Krsna é o objeto ou visaya-alambana desta rasa e
Arjuna é o receptáculo ou asraya-alambana. A contemplação
repetida da forma universal é um estímulo para sua
lembrança, uddipana.

Sloka 15

Arjuna uvaca
Pasyami devams tava deva dehe
Sarvams tatha bhuta-visesa-sanghan
Brahmanam isam kamalasana-stham
Rsims ca sarvan uragams ca divyan

Arjuna disse: Ó meu senhor! Dentro de teu corpo divino


posso ver os semi-deuses e todas as espécies de seres vivos.
Vejo também Brahma sentado sobre sua flor de lótus, o
Senhor Siva e todos os sábios e serpentes divinas.

Sloka 16

Aneka-bahudara-vaktra-netram
Pasyami tvam sarvato nanta-rupam
Nantam na madhyam na punas tavadim
Pasyami visvesvara visva-rupa

Ó Visvesvara, Senhor do universo! Ó Visvarupa! Vejo tuas


inumeráveis formas com ilimitadas mãos, ventres, bocas e
olhos por todo lugar. E tem mais, não posso ver em ti, o
começo, o meio e nem o fim.

Sloka 17

Kiritinam gadinam cakrinanca


Tejo-rasim sarvato diptimantam
Pasyami tvam durniriksyam samantad
Diptanalarka-dyutim aprameyam

Vejo tua forma como a super brilhante e onipenetrante


morada do resplendor, adornada com coroas e manuseando
maças e discos por todos lados. É muito difícil perceber-te
em meio ao fogo ardente de tua refulgência, que como o sol,
ilumina todas as direções.

Sloka 18

Tvam aksaram paramam veditavyam


Tvam asya visvasya param nidhanam
Tvam avyayah sasvata-dharma-gopta
Sanatanas tvam puruso mato me

Tu és parabrahma, o supremo objeto conhecido por todas as


pessoas liberadas. És o supremo lugar de descanso deste
universo. És imutável, o protetor da religião eterna e a Pessoa
Suprema primordial. Esta é minha opinião.
Sloka 19

Anadi-madhyantam ananta-viryam
Ananta-bahum sasi-surya-netram
Pasyami tvam dipta-hutasa-vaktram
sva-tejasa visvam idam tapantam

Não tens princípio, meio ou fim. Possuis poder infinito,


inumeráveis braços e olhos semelhantes ao sol e a lua. Vejo
sair fogo ardente de suas bocas e o universo inteiro está
sendo abrasado pelo teu resplendor.

Sloka 20

Dyav a-prthivyor idam antaram hi


Vyaptam tvayaikena disas ca sarvah
Drstvadbhutam rupam idam tavogram
Loka-trayam pravyathitam mahatman

Tu propagas por todas as direções no espaço existente entre a


terra e o céu. Ó Mahatman! Ao ver tua maravilhosa e terrível
forma universal, os habitantes dos três mundos ficam
perturbados pelo temor.

Bhavanuvada

Neste e no próximo nove versos, Sri Bhagavan mostra sua


kala-rupa, seu aspecto como o tempo que tudo devora, como
uma parte de sua forma universal, com um propósito
especial.

Prakasika-Vrtti

A grande batalha de kuruksetra foi vista igualmente pelos


semi-deuses como Brahma, demônios, antepassados,
gandharvas, yaksas, raksasas, kinnaras e seres humanos.
Todos eles observaram a batalha de acordo com seus
temperamentos respectivos, tais qual amizade, inimizade ou
indiferença. Mas apenas os bhaktas puderam ver a forma
universal, pois pela misericórdia de Bhagavan, receberam
olhos divinos.

Sloka 21

Ami hi tvam sura-sangha visanti


Kecid bhitah pranjalayo grnanti
Svastity uktva maharsi-siddha-sanghah
Stuvanti tvam stutibhih puskalabhih

Os milhões de semi-deuses estão entrando em ti em busca de


refúgio. Devido ao temor, alguns estão elogiando-te com as
mãos juntas. Os grandes sábios e siddhas te contemplam
enquanto cantam hinos védicos auspiciosos, te oferecem e te
adoram profusamente.

Sloka 22

Rudraditya vasavo y eca sadhya


Visve svinau marutas cosmapas ca
Gandharva-yaksasura-siddha-sangha
Viksante tvam vismitas caiva sarve

Os onze rudras, os doze adityas, os oito vasus, os


sadhyadevas, os visvadevas, os dois asvini-kumaras, os
maruts, os pitrs, os gandharvas, os yaksas, os asuras e os
siddhas, te contemplam maravilhados.

Sloka 23
Rupam mahat te bahu-vaktra-netram
Maha-baho bahu-bahuru-padam
Bahudaram bahu-damstra-karalam
Drstva lokah pravyathitas tathaham

Ó Maha-baho! Ao ver tua gigantesca forma com ilimitadas


bocas, incontáveis olhos, inumeráveis braços, pernas, pés,
ventres e muitos dentes terríveis, todo o mundo, incluindo eu,
está aterrorizado.

Sloka 24

Nabhah-sprsam diptam aneka-varnam


Vyattananam dipta-visala-netram
Drstva hi tvam pravyathitantar-atma
Dhrtim na vindami samanca visno

Ó Visnu! Ao ver tua ardente forma multicolorida com olhos


ferozes e vastas bocas abertas propagando-se pelo céu, minha
mente está atemorizada, não posso sentir paz e nem consigo
manter o equilíbrio.

Sloka 25

Damstra-karalani ca te mukhani
Drstvaiva kalanala-sannibhani
Diso na Jane na labhe ca sarma
Prasida devesa jagan-nivasa

Ao ver estas terríveis bocas, cheias de ferozes dentes e


ardendo com o fogo da aniquilação, não posso perceber onde
estou nem sentir felicidade alguma. Ó Senhor dos devas! Ó
refúgio do universo! Por favor, conceda-me tua misericórdia.
Sloka 26-27

Ami ca tvam dhrtarastrasya-putrah


Sarve sahaivavani-pala-sanghaih
Bhismo dronah suta-putra tathasau
Sahasmadiyair api yodha-mukhyaih

Vaktrani te tvaramana visanti


Damstra-karalani bhayanakani
Kecid vilagna dasanantaresu
Sandrsyante curnitair uttamangaih

Todos os filhos de Dhrtarastra juntamente com seus reis,


Bhisma, Drona, Karna e também os guerreiros do nosso lado,
se precipitam em tua direção,e entram em tuas bocas que
possui dentes terríveis e que se parecem com cavernas. E
alguns deles estão esmagados ali, com suas cabeças trituradas
entre estes dentes.

Sloka 28

Yatha nadinam bahavo mbu-vegah


Samudram evabhimukha dravanti
Tatha tavami Nara-loka-vira
Visanti vaktrany abhivijvalanti

Semelhante ás ondas de um rio que se aproxima


impetuosamente até o oceano, todos os grandes heróis estão
entrando em tuas ardentes bocas.

Sloka 29

Yatha pradiptam jvalanam patanga


Visanti nasaya samrddha-vegah
Tathaiva nasaya visanti lokas
Tavapi vaktrani samrddha-vegah

Assim como as moscas entram rápidamente em um fogo


ardente, os guerreiros entram em sua boca simplesmente para
morrer.

Sloka 30

Lelihyase grasamanah samantal


Lokan samagran vadanair jvaladbhih
Tejobhir apurya jagat samagram
Bhasas tavograh pratapanti visno

Ó Visnu! Com tuas ferozes línguas lambes a multidão de


entidades vivas (que se encontra por todo lado) e ás devora
com tuas ardentes bocas. Estás abrasando o universo inteiro
com os onipenetrantes e ferozes raios de tua refulgência.

Sloka 31

Akhyahi me ko bhavan ugra-rupo


Namo´stu te deva-vara prasida
Vijnatum icchami bhavantam adyam
Na hi prajanami tava pravrttim

Ó Deva-vara, o melhor entre os deuses! Ofereço-te


reverências. Conceda-me tua graça e diga-me quem és, ao
assumir esta feroz forma. Anseio muito te conhecer, a causa
primordial, pois não posso compreender tuas atividades.

Sloka 32

Sri bhagavan uvaca


Kalo smi loka-ksaya-krt pravrddho
Lokan samahartum iha pravrttah
Rte ´pi tvam na bhavisyanti sarve
Ye ´vasthitah pratyanikesu yodhah

Sri Bhagavan disse: Sou o tempo, o poderoso destruidor do


mundo, e estou aqui para aniquilar todas estas pessoas.
Mesmo sem teus esforços, não sobreviverá nenhum dos
guerreiros de ambos os exércitos.

Prakasika-vrtti

Sri Bhagavan disse á Arjuna: “Eu sou o tempo que tudo


destrói e agora adotei uma gigantesca forma. Estou aqui para
aniquilar Duryodhana e os demais. Como resultado da minha
missão, com exceção dos Pandavas, ninguém mais
sobreviverá no campo de batalha. Mesmo sem teu esforço ou
dos demais guerreiros, todos serão devorados pelo tempo,
pois em minha forma como o tempo, aniquilo suas vidas. Os
heróis presentes em ambos os grupos morrerão mesmo que
não lutem. Por isto, ó Arjuna! Se te retiras da batalha, caíras
da tua posição de ksatriya ao abandonar teu sva-dharma e , de
qualquer jeito, eles não se salvarão.”

Sloka 33

Tasmat tvam uttistha yaso labhasva


Jitva satrun bhunksva rajyam samrddham
Mayaivaite nihatah purvam eva
Nimitta-matram bhava savya-sacin

Por tanto levanta-te, participa da batalha, alcança a glória


conquistando teus inimigos e desfruta assim de teu
incomparável reino. Já aniquilei todos os guerreiros. Ó
Savyasacin! Atua como meu instrumento.

Sloka 34
Dronanca bhismanca jayadrathanca
Karnam tathanyan api yodha-viran
Maya hatams tvam jahi ma vyathistha
Yudhyasva jetasi rane sapatnan

Drona, bhisma, Jayadratha, Karna e muitos outros grandes


heróis já foram destruídos por mim, sendo assim,
simplesmente mate-os e não te perturbes. Tua vitória na
batalha está assegurada, então lute.

Prakasika-vrtti

Há um significado oculto nesta declaração. “Eu já matei


Bhisma, Drona, jayadratha, Karna e os demais”. Bhagavan
está declarandoque quando todos os guerreiros Kauravas
insultaram publicamente Draupadi ao despila, ele os matou
por haver cometido esta atroz vaisnava-aparadha. “Apenas
para conceder-te fama fiz com que estas pessoas aparecessem
á ti como estátuas, é como elas estivessem ali sem vida. Atua
somente como um instrumento para a morte deles”.

Sloka 35

Sanjaya uvaca
Etac chrutva vacanam kesavasya
Krtanjalir vepamanah kiriti
Namaskrtva bhuya evaha krsnam
sa gadgadam bhita-bhitah pranamya

Sanjaya disse á Dhrtarastra: Ao escutar as palavras de Sri


Kesava, Arjuna, tremendo, lhe ofereceu repetidas reverências
com as mão postas. Com muito temor ele falou á Krsna com
a voz trêmula.
Sloka 36

Arjuna uvaca
Sthane hrsikesa tava prakirtya
Jagat prahrsyaty anurajyate ca
Raksamsi bhitani diso dravanti
Sarve namasyanti ca siddha-sanghah

Arjuna disse: Ó Hrsikesa! Todos no universo se regozijam e


apegam-se á ti ao escutar a glorificação de teus nomes,
formas e de tuas qualidades. Os raksasas estão se dispersando
pelo temor, enquanto os seres perfeitos te oferecem repetidas
reverências. Isto é, sem dúvida, o mais apropriado.

Bhavanuvada

Arjuna conhece o seguinte tattva: a Sri vigraha de Bhagavan


se satisfaz com aqueles que estão dedicados á ele, enquanto
que ele mostra seu aspecto tenebroso a quem lhe são aversos.
A palavra sthane é gramaticalmente indeclinável e significa
yukta ou apropriado; foi utilizado em todos os componentes
deste verso. Arjuna se dirigiu á Krsna como Hrsikesa(aquele
que controla os sentidos de seus bhaktas e aparta dele os
sentidos dos não devotos. “o mundo inteiro está sendo atraído
pelo canto de suas glórias; isto é correto, pois tudo deve ser
dedicado á ti. Por outro lado, os raksasas, asuras, danavas,
pisacas e outros seres demoníacos se dispersam em todas as
direções devido ao temor. Também é correto, pois eles tem
aversão á ti. Uma multidão de seres que se tornaram perfeitos
através da prática de bhakti te oferece reverências, os quais
são você próprio, pois sãos seus bhaktas.” Este verso é
célebre nos mantra-sastras como o mantra para destruir os
demônios.”

Prakasika-Vrtti
A influência transcendental da forma de Sri Bhagavan é tanta
que os bhaktas se enchem de alegria ao vê-la. Mas os que tem
naturezas demoníacas e são aversos á ele, esta forma lhes
lembram a de Yamaraja, o senhor da morte. Na arena de luta
de Mathura, os líderes como Nanda Maharaja, os amigos e os
Yadavas, estavam prazeirosos ao ver o charmoso nava-ksora
Sri Krsna, mas ele parecia a morte personificada para Kamsa,
forte como o touro para os lutadores, o dispensador da lei
para os reis ignorantes, e Paramatma para os yogis. Por tanto,
as jivas devotas sentem alegria e se apegam á Krsna ao
escutar sobre suas glórias. Os siddhas se rendem á ele,
enquanto que os demônios e raksasas, que lhe são aversos,
fogem aterrorizados.

Sloka 37

Kasmad ca te na nameran mahatman


Gariyase brahmano ´py adi-kartre
Ananta devesa jagan-nivasa
Tvam aksaram sad-asat tat param yat

Ó Mahatmam! Ó Senhor dos semi-deuses! Ó Ananta! Ó


refúgio do mundo! Tu és maior que Brahma. És o criador
original e és Brahma, a realidade imperecível que está além
da causa e efeito. Porque não haveriam de oferecer-te
reverências?

Prakasika-vrtti

No verso anterior, Arjuna explicou que Sri Bhagavan é


adorado até mesmo por Brahma. Este verso, revela que Sri
Bhagavan é a alma de todos. “Os devas, rsis, gandharvas e
outros seres similares, sem dúvida te oferecem reverências.
Tu não és somente isto, senão que és a alma de todos e
constitue o todo”.

Sloka 38

Tvam adi-devah purusah puranas


Tvam asya visvasya param nidhanam
Vettasi vedyanca paranca dhama
Tvaya tatam visvam ananta-rupa

És o Senhor original, a pessoa primordial e o único lugar de


descanso do universo. És a morada suprema e o conhecedor
de tudo e de todos. Ó Ananta-rupa, possuidor de formas
ilimitadas! Só tu penetras o univero inteiro.

Sloka 39

Vayur yamo ´gnir varunah sasankah


Prajapatis tvam prapitamahas ca
Namo namas te ´stu sahasra-krtvah
Punas ca bhuyo ´pi namo namas te

Tu és Vayu, o deus do vento e também Yama, o


superintendente da morte. És o deus do fogo Agni; Varuna, o
deus do oceano; Candra, a deusa da lua; o criador Brahma e
também o pai de Brahma. Por tanto, te ofereço milhões de
reverências, uma e outra vez.

Sloka 40

Namah purastad atha prsthatas te


Namo ´stu te sarvata Eva sarva
Ananta-viryamita-vikramas tvam
Sarvam samapnosi tato ´si sarvah
Ó Sarva-svarupa! Ofereço-te reverências pela frente, por trás
e de todos os lados. Possuis valor e poder infinito. És
onipenetrante e por tanto, és tudo.

Bhavanuvada

“Assim como ouro está presente nos ornamentos dourados,


tais como a armadura, tu penetras o mundo material, o qual é
seu efeito, por tanto, és tudo”.

Prakasika-Vrtti

Ao compreender que Krsna é o objeto máximo á ser


venerado, Arjuna oferece reverências á ele, a personificação
do todo. Devido á sua profunda fé e seu grande respeito, e
considerando que as reverências não são suficientes , ele
inclina diante de Krsna, que possui poder ilimitado, força
imensurável, que é a alma das almas e que é a forma de tudo.
Isto também se confirma nas palavras de Sukadeva Goswami
no Srimad Bhagavatam(10.14.56):

“As pessoas que compreendem Sri Krsna tal como ele é,


percebem todas as coisas, sejam elas móveis ou inertes, como
suas manifestações. Estas almas liberadas não percebem
outra realidade”.

Sloka 41- 42

Sakheti matva prasabham yad uktam


He krsna he yadava he sakheti
Ajanata mahimanam tavedam
Maya pramadat pranayena vapi

Yac cavahasartham asat-krto ´si


Vihara-sayyasana-bhojanesu
Eko ´tha vapy acyuta tat-samaksam
Tat ksamaye tvam aham aprameyam

Por não conheçer tuas glórias, devido á meu descuido, ou


então pela afeição fraternal que tenho por ti, me dirigí á voçê
de maneira imprudente chamando-o de”Ó Krsna! Ó Yadava!
Ó Sakhe! Ó Acyuta!”. Se te desrespeitei enquanto fazia
piadas quando estávamos sozinhos ou na presença de nossos
parentes, enquanto descansávamos, sentávamos ou comíamos
juntos, te suplico humildemente que me perdoe ó Aprameya!
(Senhor de glórias ilimitadas).

Bhvanuvada

“Que desgraça! Tenho te ofendido ilimitadamente’’.


Lamentando-se assim, Arjuna recita este verso. Ele disse: “Ó
Krsna” para expressar “ És conheçido como o filho de
vasudeva, um ser humano que careçe de fama e que é
considerado um arddharathi, uma pessoa que necessita de
ajuda para derrotar apenas um oponente. Mas eu sou atirathi,
posso lutar contra uma quantidade ilimitada de guerreiros e
sou famoso como o filho do Rei Pandu”. “Ó Yadava”
significa “Por ter nascido na dinastia yadu não possuis
nenhum reino, enquanto que eu nascí na dinastia Puru, por
tanto sou de linhagem real. A relação que tenho contigo não
se deve aos teus ancestrais ou á influência de uma dinastia , e
sim para com ti mesmo. Me dirigí á ti ásperamente mesmo
que minhas intenções eram amistosas. Por isso imploro pelo
seu perdão”.
Devido á loucura, o afeto que expressava enquanto
jogavamos e brincávamos, insultei as glórias de tua forma
universal. Assim sendo, te peço perdão pelas milhões de
ofensas que cometi. Ó Prabhu! Rogo por seu perdão”.
Sloka 43

Pitasi lokasya caracarasya


Tvam asya pujyas ca gurur gariyan
Na tvat-samo ´sty abhyadhikah kuto ´nyo
Loka-traye ´py apratima-prabhava

Ó possuidor de podêr sem rival! Tu és pai, o mais venerável,


o guru e a pessoa mais gloriosa neste mundo de seres móveis
e inertes. Nada nos três mundos se iguala á ti, então como
poderia alguém ser maior que voçê?

Sloka 44

Tasmat pranamya pranidhaya kayam


Prasadaye tvam aham isam idyam
Piteva putrasya sakheva sakhyuh
Priyah priyayarhasi deva sodhum

Ó venerável Paramesvara! Ofereço-te prostradas reverências


á teus pés de lótus e te suplico que conçeda-me tua graça. Ó
Deva! Assim como um pai perdoa seu filho, um amigo tolera
o amigo ou um amante desculpa sua amada, por favor perdoa
todas as minhas ofensas.

Sloka 45

Adrsta-purvam hrsito ´smi drstva


Bhayena ca pravyathitam mano me
Tad eva me darsaya deva rupam
Prasida devesa jagan-nivasa

Ó Deva! Depois de ver tua forma universal, que jamais foi


vista antes, estou carregado de feliçidade, mas minha mente
está muito perturbada pelo temor. Ó Devesa, Deus dos
Deuses! Mostra-me novamente tua forma de quatro braços. Ó
Jagan-nivasa, refúgio do universo! Conçeda-me tua graça.

Sloka 46

Kiritinam gadinam cakra-hastam


Icchami tvam drastum aham tathaiva
Tenaiva rupena catur-bhujena
Sahasra-baho bhava visva-murte

Anseio ver tua forma que está decorada com um elmo, uma
maça e um disco. Ó Sahasra-baho, Senhor de mil braços! Ó
Visvamurte, forma universal! Por favor, móstra-me de novo
sua forma de quatro braços.

Bhavanuvada

“No futuro, quando exibir teu aspecto aisvarya, móstra-me


únicamente a forma vasudeva-nandana que vi antes.
Manifesta a forma que personifica a rasa supremae confere
bem aventurança aos olhos de minha mente; esta forma que
jamis foi vista. O aisvarya de tua forma universal, que é parte
de teu passatempo divino, não é muito atrativo aos olhos da
minha mente”.

Prakasika-vrtti

A svarupa(forma original) de Krsna é de um jovem, um


charmoso ator vestido de pastorzinho com uma flauta em
suas mãos. Esta é a forma eterna de Krsna. Ainda que ele é a
personificação de madhurya, aisvarya também está presente
nele. Matou Putana quando era apenas um menino pequeno e
mesmo assim, seu comportamento como um menino não foi
ofuscado pela manifestação de sua aisvarya.
Enquanto executava seus passatempos com os Yadavas e os
pandavas em sua forma de dois braços, Sri Krsna manifestava
algumas vezes sua forma de quatro braços. Os passatempos
em Dvaraka se passam em aisvarya-mayi, mas todos os
passatempos de Vraja são madhurya-mayi ou naravat,
semelhantes ás atividades humanas.
Uma vez, em sua vraja-lila, Krsna desapareçeu
repentinamente da rasa-lila. Sob sua forma de quatro braços
ele se posiçionou no caminho que as gopis passavam para
procula-lo ; ao ve-lo elas lhe ofereçeram reverênçias e
continuaram procurando pelo Krsna de dois braços. Enquanto
isto, a personificação de maha-bhava, chegou no lugar. Krsna
ficou maravilhado ao vê-la, e apesar de grande esforço, não
pôde manter sua forma de quatro braços, a qual desapereçeu
em sua forma de dois braços.

Sloka 47

Sri bhagavn uvaca


Maya prasannena tavarjunedam
Rupam param darsitam atma-yogat
Tejo-mayam visvam anantam adyam
Yan me tvad anyena na drsta-purvam

Sri Bhagavan disse: Ó Arjuna! Porque estou satisfeito


contigo te mostrei minha forma universal resplandesçente,
ilimitada e primordial através da minha inconçebível yoga-
maya-sakti. Antes de ti, ninguém jamais viu esta forma.

Bhavanuvada

“ Ó Arjuna, voçê me implorou para te mostrar minha


aisvarya-rupa (Gita 11.3), por sito te mostrei minha visvarupa
purusa que é nada mais que um de meus aspectos parciais.
Por que ficou perturbado ao vê-la? Por outro lado, agora
desejas contemplar minha forma de aspecto humano e róga-
me; Seja bondoso, seja bondoso! Por que falas de maneira tão
surpreendente? Mostrei apenas á ti e á ninguém mais minha
svarupa porque estava satisfeito contigo. Antes de voçê,
ninguém mais havia visto; Por que não desejas mais vê-la?

Sloka 48

Na veda-yajnadhyayanair na danair
Na ca kriyabhir na tapobhir ugraih
Evam-rupah sakya aham nr-loke
Drastum tvad anyena kuru-pravira

Ó Kuru-pravira, o maior guerreiro kuru! Com exceção de


voçê, ninguém mais é capaz de vêr minha visvarupa dentro
dos confins do mundo mortal. Esta forma não póde ser vista
mediante estudo dos Vedas, sacrifíçios, rituais ou severas
penitências.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan disse: “A habilidade para ver a forma que foi


exibida não se pode obter através dos vedas ou outros
proçessos. Não mostro esta forma á outros. Estabeleçe
firmemente tua fé unicamente nesta forma forma excepçional
compreendendo que conseguiu o objeto mais inalcançável.
“Porque desejas ver novamente minha forma humana depois
de Ter visto esta forma extraordinária?”.

Sloka 49

Ma te vyatha ma ca vimudha-bhavo
Drstva rupam ghoram idrn mamedam
Vyapeta-bhir prita-manah punas tvam
Tad eva me rupam idam prapasya

Não temas nem te confunde ao ver esta terrível forma. Livre


do temor e com uma mente jubilosa, contempla de novo
minha charmosa forma de quatro braços para sua completa
satisfação.

Sloka 50

Sanjaya uvaca
Ity arjunam vasudevas tathoktva
Svakam rupam darsayamasa bhuyah
Asvasayamasa ca bhitam enam
Bhutva punah saumya-vapur mahatma

Sanjaya disse: Depois de dizer estas palavras, o magnânimo


filho de Vasudeva revelou de novo sua forma de quatro
braços, e consolou Arjuna ainda mais assumindo sua delicada
forma de dois braços.

Bhavanuvada

Assim, logo após revelar a forma de sua amsa, Sri bhagavan,


á pedido de Arjuna, mostrou sua forma de quatro braços
decorada com um elmo, maça, disco, e outros ornamentos. A
Suprema Personalidade manifestou novamente sua grata
forma de dois braços decorada com braceletes, pingentes,
turbante, pitambara eoutros ornamentos, dando paz ao
aterrorizado Arjuna.

Sloka 51

Arjuna uvaca
Drstvedam manusam rupam
Tava saumyam janardana
Idanim asmi samvrttah
Sacetah prakrtim gatah

Arjuna disse: Ó Janardana! Agora meu coração se deleita ao


contemplar tua cativante forma que se assemelha á humana e,
também retornei á minha condição normal.

Bhavanuvada

Contemplando a muito doçe forma de Sri Krsna e sentindo-se


imerso no oçeano de bem aventurança, Arjuna disse: “Meu
coração se deleita e retornei á minha condição normal”.

Prakasika-Vrtti

Neste momento, Arjuna, livre de todo temor, viu Krsna


primeiro em sua doçe forma de quatro braços e logo depois
em sua forma Syamasundara de dois braços. Com grande
alegria, Arjuna disse: “Ó janardana, depois de ver tua forma
de aspecto humano, a qual é sumamente prazeirosa, recuperei
minha compostura e minha condição natural”.
Sri Krsna executou seus passatempos com os Yadavas e
Pandavas principalmente em sua forma de dois
braços(dvibhuja-rupa), mesmo que as vezes apareçia em sua
forma de quatro braços(caturbhuja-rupa). Por isto, a
caturbhuja-rupa também é considerada humana.

Sloka 52

Sri-bhagavan uvaca
Su-durdasam idam rupam
Drstavan asi yan mama
Deva apy asya rupasya
Nityam darsana-kanksinah
Sri Bhagavan disse: A forma humana que contemplastes
difiçilmente pode ser vista por outros. Mesmo os semi-deuses
anseiam constantemente em ver esta forma.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan fala neste e no seguinte verso sobre as glórias


da svarupa que mostrou á Arjuna. “ mesmo os semi-deuses
anseiam ver esta forma, porém jamais á viram. Mas tú,
Arjuna, não desejas ver minha forma universal. É
compreensível, pois voçe saboreias eternamente a madhurya
suprema de minha forma humana original.; Como poderia
então a visvarupa atrair seus olhos? Te abençoei com o poder
da visão divina mas não com a mente divina correspondente.
Por tanto, devido ao fato de que tua mente se satisfaz
unicamente vendo a madhurya suprema de minha forma
humana, voçê não pôde apreçiar plenamente minha outra
forma mesmo te conçedendo tal visão. Se te conçedesse uma
mente divina, então, como os semi-deuses, voçê ficaria
atraído pela minha visvarupa”.

Prakasika-vrtti

Neste verso, Sri Krsna explica as glórias da sua forma


humana. Exibindo o aspecto mais excepcional da sua
misericórdia á Arjuna, Krsna disse á Arjuna: “É muito difíçil
contemplar a forma que vês agora; até mesmo os semi-deuses
não podem ve-la. No déçimo canto do Srimad Bhagavatam, o
Garbha-stotra diz que mesmo os semi-deuses difíçilmente
veem esta forma. Como meu nitya-bhakta(eterno devoto),
degustas a grande doçura da minha forma humana e em
contrapartida não te agrada minha visvarupa. Te conçedi
olhos divinos mas não uma mente divina. Se tivesse á
outorgado, então, assim como os semi-deuses, havias sido
atraído pela forma universal”. Esta forma humana te és muito
querida, visto que és meu devoto eterno e tem sentimento de
amizade para comigo.

Sloka 53

Naham vedair na tapasa


Na danena na cejyaya
Sakya evam-vidho drastum
Drstavan asi mam yatha

Não é possível ver-me na forma que me vês agora através do


estudo dos Vedas, prática de austeridades, caridade ou
celebração de sacrifíçios.

Bhavanuvada

“Se alguém deseja ver, tal como tu, minha eterna forma
humana de dois braços, considerando-a como a essênçia do
esforço humano, não poderia consegui-la mesmo se dedicasse
ao estudo dos Vedas, austeridades ou outros proçessos.
Acredita em mim”.

Sloka 54

Bhaktya tv ananyaya sakya


Aham evam-vidho ´rjuna
Jnatum drastunca tattvena
Pravestunca parantapa

Ó Parantapa! Ó Arjuna! Apenas através de ananya-


bhakti(devoção exclusiva) é que alguém pode observar e
conheçer minha eterna e charmosa forma humana, e assoçiar-
se comigo em minha morada.

Sloka 55
Mat-karma-krn mat-paramo
Mad-bhaktah sanga-varjitah
Nirvairah sarva-bhutesu
Yah samam eti pandava

Ó filho de Pandu! A pessoa que trabalha exclusivamente para


mim e que me considera como sendo a meta suprema, que se
dedica á executar os diversos proçessos de bhakti – como
svaranam e kirtanam – abandonando os apegos mundanos e
permaneçendo livre de aversão á qualquer entidade viva,
alcança minha suprema e charmosa forma de Krsna.

Prakasika-Vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “Neste capítulo


foi estabeleçido que a forma de Sri Krsna é o refúgio
supremo e a realidade venerável última, superior á sua
visvarupa, kala-rupa e também sua visnu-rupa. Os bhaktas
são atraídos unicamente por sua forma humana eterna e super
atrativa, e não pela sambandha-vigraha ou manifestação
relativa de Bhagavan. Este capítulo estabeleçe que a forma de
Sri Krsna é o oçeano de todas as rasas nectáreas e a única
morada da doçura suprema”.

Assim se conclui o décimo primeiro capítulo do Srimad


Bhagavad Gita.

Capítulo 12

BHAKTI-YOGA

O SERVIÇO DEVOÇIONAL PURO


Sloka 1

Arjuna uvaca
Evam satata-yukta ye
Bhaktas tvam paryupasate
Ye capy aksaram avyaktam
Tesam ke yoga-vittamah

Arjuna disse: Segundo tuas instruções anteriores, existem


bhaktas que são dotados com nistha(firmeza) e que se
dedicam continuamente á adoração de tua forma
Syamansundara. Há outros que adoram teu aspecto impessoal
indiferenciado. Qual destes yogis é o melhor?

Bhavanuvada

Neste capítulo Sri Bhagavan confirma a superioridade de


todas as classes de bhaktas sobre os jnanis, e entre os
bhaktas, ele glorifica somente os que possuem qualidades
como ausênçia de inveja.

Prakasika-vrtti

Dos diversos tipos de sadhana praticados para alcançar Sri


Bhagavan rapidamente, o suddha-bhakti é o mais simples,
fácil e natural. Sua influência é infalível.

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Mayy avesya mano ye mam
Nitya-yukta upasate
Sraddhaya parayopetas
Te me yuktatma matah

Sri Bhagavan disse: Os yogis que, com fé transcendental,


fixam suas mentes em minha forma Syamansundara e me
adoram constantemente através de ananya-bhakti, são os
maiores conhecedores do yoga. Esta é minha opinião

Bhavanuvada

O Srimad Bhagavatam (11.25.27) também diz: “ A fé que


tem a alma como centro está em sattva-guna, a que tem o
karma como centro é rajo-guna e a que tem as atividades
irreligiosas como centro é tamo-guna. Mas a fé cujo objetivo
e centro são o serviço á mim é nirguna(transcendental).
Deste modo, se estabeleçe que bhakti é superior á jnana, e
dentro de bhakti, ananya-bhakti é o melhor.

Slokas 3-4

Ye tv aksaram anirdesyam
Avyaktam paryupasate
Sarvatra-gam acintyanca
Kutastham acalam dhruvam

Sanniyamyendriya-gramam
Sarvatra sama-buddhayah
Te prapnuvanti mam eva
Sarva-bhuta-hite ratah

Mas sou alcançável também por aqueles que adoram minha


brahma-svarupa indescritível, imanifesta, onipenetrante,
inconcebível, imutável, eterna e indiferençiada, através do
controle dos sentidos, visão equânime e dedicação ao bem
estar de todos os seres.

Bhavanuvada

“Os que adoram meu aspecto indiferenciado estão sempre


aflitos, por tanto, são inferiores aos meus bhaktas”.
A frase mam eva significa: “Eles me alcançam. Em outras
palavras, não há diferença entre o imperecível brahma e eu”.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan disse: “As pessoas que, com seus sentidos


controlados e com visão equânime, se ocupam em atividades
benefiçiosas para com todas as entidades vivas e adoram
minha forma indiferençiada, imperecível, indescritível e
imanifesta, finalmente me alcançam depois de realizar um
difícil sadhana”. No Gita (14.27) se explica que Krsna é o
refúgio do nirvisesa-brahma. Por tanto, os adoradores deste
dependem indiretamente de Krsna. Existem graduações de
adoradores que se refugiam em algum aspecto da Verdade
Absoluta. O brahma é a refulgência do corpo de Krsna, uma
manifestação incompleta dapotência consciente interna de
Krsna. Por tanto, quem alcança o nirvisesa-brahma (sayujya-
mukti) depende indiretamente de Sri Krsna, mas não
experimentam a bem aventurança do serviço amoroso. Assim
sendo, mesmo que Bhagavan ofereça aos bhaktas diversas
classes de mukti como por exemplo sayujya-mukti, eles não á
açeitam.

Sloka 5

Kleso ´dhikataras tesam


Avyaktasakta-cetasam
Avyakta hi gatir duhkham
Dehavadbhir avapyate

Aqueles cujas mentes estão apegadas ao meu aspecto


imanifesto e impessoal experimentam grandes dificuldades,
pois para a entidade viva corporificada é muito penoso
conseguir estabilidade em algo imanifesto.

Bhavanuvada

“Por que os jnanis são inferiores? Sri Bhagavan recita o


presente verso para responder a pergunta de Arjuna: “Os que
desejam experimentar o brahma imanifesto devem se
submeter á austeridades extremas para alcança-lo. Os
sentidos só podem perçeber aquilo que possui atributos
relacionados com o sentido respectivo, por exemplo, o som.
Não podem, então, experimentar o que está desprovido de
qualidades ou atributos.
Os que desejam nirvisesa-jnana devem controlar os sentidos,
mas tal coisa é mais difíçil do que controlar a corrente de um
rio. Sanat Kumara disse á Prthu Maharaja no Srimad
Bhagavatam(4.22.39):
“Os bhaktas podem facilmente desatar o nó do coração, que é
formado por desejos fruitivos, recordando com devoção a
refulgência dos dedos dos pés de Bhagavan, os quais se
assemelham ás pétalas de um lótus. Mas os yogis que
careçem de bhakti não podem faze-lo mesmo que estejam
livres das inclinações mundanas e controlem seus sentidos.
Por tanto, abandona todo esforço para controlar os sentidos e
dedica ao Bhajana de Sri Vasudeva. Os que praticam yoga e
outros proçessos com desejo de cruzar o oçeano da existência
material, que está infestado pelos crocodilos dos sentidos,
tem que enfretar dificuldades extremas se não refugiam em
Bhagavan, quem é comparado á uma embarcação. Assim
sendo, ó Rei, deves aceitar os pés de lótus do adorável
Bhagavan como a embarcação para cruzar este oceano
insuperável e cheio de obstáculos”.
Mesmo que este destino se alcançe depois de grandes
dificuldades, na realidade só é possível chegar á meta com a
assistência de bhakti. Sem bhakti por Bhagavan, o adorador
do brahma não apenas deve experimentar misérias mas
também não alcança Bhagavan.

Prakasika-vrtti

Os adoradores do nirvisesa-brahma enfrentam dificuldades


tanto na etapa de sadhana quanto na de siddha, pois nenhum
sadhana pode outorgar a perfeição sem a assistência de
bhakti. Quem aodra o nirvisesa-brahma se esfórça para
adquirir brahma-jnana apoiando-se em bhakti como um
proçesso secundário. Em troca, Bhakti-devi os recompensa
com resultado secundário, brahma-jnana, e logo desapareçe.
As pessoas que adoram o brahma ficam impedidas de
saborear o nome, forma, qualidades e os passatempos de Sri
Krsna.
Elas se submergem em um oçeano de grande miséria na
forma de sayujya-mukti. É um proçesso auto destrutivo. Por
esta razão, o Srimad Bhagavatam declara(10.14.4).
“Meu querido senhor, o bhajana á ti é o caminho mais
elevado para a realização do ser. Se alguém abandona este
caminho e se dedica ao cultivo de conheçimento
especulativo, simplesmente encontrará um caminho
problemático e não alcançará sua meta”.
Tanto a etapa de sadhana como a de sadhya se descrevem
como sendo problemáticas para os nirvisesa jnanis. Ao
contrário, bhakti é super prazeiroza e auspiçiosa em ambas as
etapas. O Srimad Bhagavatam declara(4.22.39):

“Os bhaktas, que estão sempre ocupados no serviço aos


dedos dos pés de lótus de Sri Bhagavan, podem desatar
facilmente o nó dos desejos pelas atividades fruitivas. Faze-lo
através de outro processo é tão difícil, que não tem êxito em
suas empresas aqueles que não são devotos, os jnanis e os
yogis, que se esforçam constantemente para deter as ondas do
desfrute sensual. Te aconselho então, que te dediques ao
bhajana á Sri Krsna, o filho de Vasudeva”.

Srila Bhaktivinoda Thakura diz: “ A diferença entre um


jnani-yogi e um bhakti-yogi é que na etapa de sadhana o
bhakta pode cultivar facilmente o proçesso para obter o
objetivo supremo, Bhagavan, e alcança a etapa de perfeição
sem temor á auto destruição. Ao contrário, durante seu
sadhana, um jnani-yogi se estabelece na realidade imanifesta
e tem que sofrer o problema que implica a prática do conçeito
da negação, pensando sempre: “Isto não é, isto não é”. É um
proçesso que supõe pensar de uma maneira contrária á atitude
natural ou funao constitucional da jiva, e, por tanto, resulta
em um roesso muito penoso para as entidades vivas.
A jiva é uma entidade consciente e eterna e se ela se funde no
estado imanifesto, que é um suicidio pra ela, sua qualidade
constitucional e plena da tendência de servir Krsna, é
destruída.

Sloka 6-7

Ye tu sarvani karmani
Mayi sannyasya mat-parah
Ananyenaiva yogena
Mam dhyayanta upasate

Tesam aham samuddharta


Mrtyu-samsara-sagarat
Bhavami na cirat partha
Mayy avesita-cetasam
Mas, aos amorosos bhaktas que realizam todas suas ações
com o propósito de alcançar-me e absorven-se
exclusivamente em meu bhajana com devoção imaculada, eu
os libero rapidamente deste oceano de nascimento e morte.

Prakasika-Vrtti

Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “ Eu libero


rapidamente do oçeano da existencia material, caracterizado
pelo nascimento e morte, quem se refugia em meu aspecto
pessoal. Eles submetem á minha bhakti todas suas atividades
corporais, sociais, e adorando minha eterna e charmosa forma
humana de Krsna, eles absorvem seus corações
completamente em mim. Após resgata-los do cativeiro de
maya, eu os protejo da tendência suicida de adotar o conceito
monista, o qual é causa de infortúnio para as pessoas
apegadas ao imanifesto.”

Sloka 8

Mayy eva mana adhatsva


Mayi buddhim nivesaya
Nivasisyasi mayy eva
Ata urddhvam na samsayah

Fixa tua mente exclusivamente em minha forma


Syamasundara e ocupa tua inteligência por completo em
mim. Assim, após abandonar o corpo, virás viver comigo.
Não há nenhuma dúvida quanto á isto.

Prakasika-Vrtti

Nestes versos, Sri Krsna explica o proçesso de prática


adotado por seus ananyas-bhaktas. Antes de mais nada ele diz
á Arjuna: “Ó Arjuna, eu libero rapidamente do oçeano de
nascimento e morte e, finalmente, lhe conçedo meu prema-
mayi-seva, á meu ananya-bhakta que se rendeu á mim e
abandonou o varnasrama-dharma. Por tanto, deves fixar tua
mente em mim, a Realidade Absoluta Transcendental
Suprema. Eliminando todos os desejos de desfrute sensual do
teu pensamento, absorva-se exclusivamente em mim”. A
mente segue as tendências da aceitação e refutação, por tanto,
para fixar a mente em Bhagavan é necessário render a
inteligência á ele depois de desconectar a mente de todos os
objetos sensíveis.
Deste modo, usando Arjuna como seu instrumento, Sri
Bhagavan mostra que bhakti é por si só o melhor dos
sadhanas e o melhor sadhya. Por tanto, é indispensável
recordar constantemente sua forma eterna de Syamansudara
fixando a mente nele e rendendo a inteligência á ele.

Sloka 9

Atha cittam samadhatum


Na saknosi mayi sthiram
Abhyasa-yogena tatos
Mam icchaptum dhananjaya

Ó Dhananjaya! Se não és capaz de fixar a mente em mim


com determinação, entao deves desejar alcançar-me
controlando e fixando a mente em mim através da pratica de
retrai-la constantemente dos objetos sensiveis.

Bhavanuvada

O verso dá enfase á palavra Dhananjaya. Assim como Arjuna


acumulou uma grande quantidade de riqueza (dhana)
conquistando seus inimigos, ele também é capaz de
conquistar a riquesa da meditação(dhyana) em Bhagavan,
conquistando e controlando sua mente.
Prakasika-vrtti

No verso anterior, Sri Bhagavan aconselha todas as pessoas á


se dedicarem exclusivamente á ele fixando a mente e
inteligência nele. Neste sentido poderia surgir a seguinte
pergunta: “Assim como o Ganges flui até o oçeano, aqueles
cuja atitude ou corrente mental se dirige sempre e velozmente
até Bhagavan, podem alcança-lo rapidamente. Disto não resta
dúvida. Mas, como alguém pode alcançar Bhagavan se não
tem esta forte corrente mental ou sentimental para com ele?”
Bhagavan oferece uma Segunda opção como resposta:
“Aqueles que são incapazes de fixar a mente em mim com
firmeza e constância pelo método anteriormente dito, deve
tratar de alcançar-me através de abhyasa-yoga, a tentativa de
fixar a mente em mim diminuindo gradualmente sua
tendência de absorver-se nos diversos objetos sensíveis.
Através de abhyasa-yoga, a mente se apega lentamente á
mim.”

Sloka 10

Abhyase ´py asamartho´si


Mat-karma-paramo bhava
Mad-artham api karmani
Kurvan siddhim avapsyasi

Se não podes ocupar-te em abhyasa-yoga, podes dedicar


então á atuar para mim, pois através da execução de
atividades como sravanam (ouvir) e kirtanam (cantar) para
meu prazer, sem dúvida alcançarás a perfeição.

Bhavanuvada
“Ó Arjuna, assim como uma pessoa cuja língua está afetada
por icteríçia não deseja comer açúcar, uma mente
contaminada pela ignorânçia não açeita a doçura de minha
forma. Por tanto, se pensas que não podes realizar abhyasa
por que não és capaz de lutar contra tua formidável e
poderoza mente, então escuta. Através das atividades
realizadas para meu prazer, tais como escutar e cantar meus
passatempos, orar, adorar-me, limpar meu templo, regar
tulasi, colher flores e outros serviços, alcançarás a perfeição
de se converter em meu querido associado mesmo sem
recordar-me constantemente.”
Aqui, Krsna ofereçe uma terçeira opção á Arjuna.

Sloka 11

Athaitad apy asakto ´si


Karttum mad-yogam asritah
Sarva-karma-phala-tyagam
Tatah kuru yatatmavan

Mas se não és capaz de trabalhar para mim desta forma,


refugia-te em minha bhakti-yoga renunciando e ofereçendo-
me os resultados de tuas ações com uma mente controlada.

Bhavanuvada

Os seis primeiros capítulos explicam o niskama-karma-yoga,


as atividades ofereçidas á Bhagavan como meio de alcançar
moksa(liberação).
Os seis capítulos intermediários descrevem bhakti-yoga como
meio para alcançar Bhagavan. Bhakti-yoga é de duas classes:
a primeira está constituída pelas ações dos sentidos internos
fixos em Bhagavan e a Segunda pelas atividades dos sentidos
externos. A primeira classe se subdivide em três categorias:
smarana ou lembrança, manana ou meditação, e abhyasa ou a
prática de quem não é capaz de recordar constantemente
porém estão ansiosos por faze-lo. As três práticas são muito
difíçeis para os menos inteligentes, mas são fáçeis para quem
está livre de ofensas e dedicados ao cultivo da inteligência
pura. A Segunda classe de bhakti-yoga, que ocupa os
sentidos externos, é um método muito mais fáçil. Quem está
dedicado a alguma destas duas classes de bhakti são
superiores ao resto, segundo se descreve nos seis primeiros
capítulos da Gita. Quem não é capaz de realizar nenhuma
destas duas classes de bhakti e não podem adorar Sri
Bhagavan através do controle dos sentidos e da mente, pode
ofereçer o niskama-karma-yoga á Bhagavan, segundo se
descreve nos seis primeiros capítulos. Sem dúvida, o
niskama-karma-yoga é inferior aos dois tipos de bhakti-yoga
mencionados acima.

Prakasika-vrtti

Na declaração”mat-karma-paramo bhava” do verso anterior,


Sri Krsna aconselha, entre outras atividades, limpar seu
templo, regar Tulasi e manter seus jardins. Ao escutar isto,
Arjuna se pergunta o que deve fazer uma pessoa que , por
nascer em uma família aristocrática ou ser socialmente
respeitada, considera insignificantes estes serviços á
Bhagavan, os quais são simples, fáçeis e felizmente
executáveis e recuza á faze-lo. No presente verso, Bhagavan
Sri Krsna, compreendendo á mente de Arjuna, ofereçe a
quarta opção: “Se alguém é incapaz de executar estes simples
serviços á Bhagavan, então o único meio é a adoção do
proçesso de niskama-karma-yoga, o trabalho desinteressado
ofereçido á Bhagavan”. Sem dúvida, não é correto evitar
realizar serviços como limpeza do templo, devido ao falso
ego material. Mesmo que o rei Ambarisa fosse senhor das
sete ilhas da terra, estava constantemente ocupado no serviço
á Bhagavan, limpando seu templo com suas próprias mãos e
realizando outros serviços. Segundo o caitanya-caritamrta, o
rei Prataparudra varria a rua em frente a carroça de Sri
Jagannatha Deva durante o festival Rathayatra em Jagannatha
Puri. Ao ver esta atitude de serviço, Sri Caitanya
Mahaprabhu ficou muito satisfeito com ele. Por tanto, de
acordo com as instruções do nosso guru-varga, mesmo o mais
insignificante serviço á Sri Bhagavan é muito favorável para
nós. Pensar que serviços como limpeza do templo são
insignificantes e considerar-se superior devido ao ego
material, são a causa do abandono da busca pela meta
transcendental.
O muito compassivo Bhagavan Sri Krsna oferece outra opção
para quem, devido ao complexo de superioridade , é incapaz
de se dedicar ao serviço devoçional. A pessoa deve atuar
livre do desejo de desfrutar dos resultados do seu karma, e
deve oferecer os resultados á Bhagavan.

Sloka 12

Sreyo hi jnanam abhyasaj


Jnanad dhyanam visisyate
Dhyanat karma-phala-tyagas
Tyagac chantir anantaram

Melhor do que o abhyasa é o jnana que estimula a


contemplação de mim. Superior á este tipo de jnana é a
meditação através da qual a pessoa me recorda
constantemente. Esta meditação conduz á renúncia aos frutos
das ações. Mediante tal renúncia, a pessoa se libera dos
desejos de desfrutar de Svarga e obter moksa. Deste modo ela
obtém paz mental.

Bhavanuvada
Sri Bhagavan recita este verso para explicar, em ordem
ascendente, a graduação entre abhyasa, manana e smarana.
“Jnana significa absorver a inteligência em mim, porque a
contemplação(manana) de mim é superior á abhyasa”. A
meditação abhyasa requer grande esforço e é difíçil devido
aos obstáculos, mas se alcança a etapa de manana, sua
execução é façilitada.Isto é superior ao jnana, porque a
meditação conduz á renúncia aos frutos da ação, ou melhor
dizendo, dissipa os desejos pelos resultados das ações tais
como prazeres em Svarga ou obter moksa.

Sloka 13-14

Advesta sarva-bhutanam
Maitrah karuna eva ca
Nirmamo nirahankarah
Sama-duhkha-sukhah ksami

Santustah satatam yogi


Yatatma drdha-niscayah
Mayy arpita-mano-buddhir
Yo mad-bhaktah as me priyah

Meu bhakta que não é invejoso e que é compassivo e


amistoso com todas as entidades vivas, que está livre do
sentimento de posse e careçe de falso ego, que é equilibrado
na feliçidade e na aflição, que é magnânimo, que está sempre
satisfeito e dotado com bhakti-yoga, que controla seus
sentidos e está completamente dedicado á mim tanto com sua
mente como com sua inteligência, é muito querido por mim.

Bhavanuvada

Qual é a natureza dos bhaktas que obteram o estado de paz


mencionado? Prevendo esta pergunta de Arjuna, Sri
Bhagavan explica as qualidades de seus bhaktas em oito
versos, começando com este. Uma pessoa que não inveja
ninguém, nem mesmo os que tem inveja por ele, se não que
tem uma relação amistosa com ela, se chama advesta.
Desejando que a pessoa descontente não se degrade ou caia
de sua posição devido á uma atitude invejosa, os bhaktas
sentem compaixão por ela. Se alguém perguntasse como e
com qual tipo de discriminação alguém pode mostrar
amizade e compaixão para com pessoas invejosa, a resposta é
que estas atitudes existem naturalmente nos bhaktas, pois não
discriminam. “ Meu bhakta está livre da inveja porque é
nirmamah, ele não abriga sentimentos de posse para com seus
filhos, esposa, e demais pessoas, e ao mesmo tempo, não se
identifica com o corpo”.
O Senhor Siva afirma no Srimad Bhagavatam (6.17.28):
“Os que se dedicam á Sri narayana não temem nada, pois
veem que Svarga, a liberação e o inferno são iguais”. A
capacidade de ver a felicidade e a aflição com equanimidade
se denomina sama-darsitva. Além do mais, eles aceitam que
devem enfrentar o sofrimento, pois é o resultado de seu
prarabdha-karma.
Mantendo-se equânimes, suportam todas as misérias com
grande tolerãncia.
Se alguém se pergunta como os bhaktas podem manter suas
vidas, a resposta é “santustah, se satisfazem com qualquer
alimento que obteem pela vontade da providência ou com
pouco esforço”. Arjuna perguntou: “ Mas antes voçê disse
que eles são equãnimes, tanto na miséria quanto na felicidade
e devem enfrentar a adversidade que significa não Ter
comida. Como podem sentir-se satisfeitos quando conseguem
alimentos por conta própria? Isto pareçe contraditório”.
Bhagavan responde satatam yogi, “Dotados com bhakti-yoga,
desejam manter seus corpos com o único desejo de alcançar a
perfeição em bhakti”. Se por vontade da providência não
consegue nada para comer, estas pessoas permaneçem
impertubáveis. Se enfrentam uma situação que pertube sua
mente, eles não praticam astanga-yoga para sossega-la. Por
este motivo são conheçidos como drdha-niscayah; eles jamais
se desviam do propósito exclusivo de obter ananya-bhakti por
Bhagavan. “Os bhaktas são muito queridos por mim e atuam
apenas para satisfazer-me”.

Prakasika – vrtti

Nos versos anteriores, depois de descrever os diversos tipos


de sadhana praticados pelos bhaktas exclusivos e
determinados, Sri Bhagavan explica suas qualidades nos
próximos sete versos. Aqui a palavra advesta significa que
eles não invejam. Eles pensam que a inveja é produto de
prarabdha-karma administrado por Paramesvara, por tanto,
não invejam ninguém. Pelo contrário, considerando que todos
os seres são a morada de Paramesvara, manteem uma atitude
amistosa com eles. Ao ver o sofrimento dos demais, qualquer
que seja a causa, tratam de alivia-lo. Por tanto, são
compassivos. Consideram que o corpo e tudo que está
relacionado com ele são apenas transformações da natureza
material e diferentes de seu atma-svarupa, por isso não tem
nenhum sentido de possesão com seus próprios corpos e ao
atuar, permaneçem livres da falsa identificação corpórea.
Quando enfrentam felicidade e aflição materiais não sentem
euforia nem lamentação, senão que permanecem equânime
em ambas situações. Pelo fato de serem magnânimos, são
também tolerantes. Como sempre estão satisfeitos em todas
situações, seja na derrota ou vitória, fama ou infâmia, se
consideram yogis e permaneçem firmemente estabelecidos no
sadhana sob guia de Sri Gurudeva. A palavra yatatma
significa” aquele que controla os sentidos”. Sua determinação
é firme, pois nenhuma falsa lógica lhe perturba. No mundo
material, nenhuma niséria pode descvia-los de bhagavad-
bhakti. A qualidade especial dos ekantika-bhaktas consiste no
fato que estão dotados com fé firme com a qual permite-lhes
entender “ Sou o servo de Bhagavan”, e sua mente, corpo e
demais posses está rendidos aos pés de lótus de Sri
Bhagavan. Por tanto, os ekantika-bhaktas são muito queridos
por ele.

Sloka 15

Yasman nodvijate loko


Lokan nodvijate ca yah
Harsamarsa-bhayodvegair
Mukto yah sa ca me priyah

O bhakta que não perturba ninguém nem é perurbado pelos


outros, que está livre da felicidade mundana, da intolerância,
do temor e da ansiedade, é sem dúvida muito querido por
mim.

Bhavanuvada

No Srimad Bhagavatm (5.18.12) se diz: “Os semideuses e


suas qualidades, residem apenas em quem possui ekantika-
bhakti por Bhagavan”. Estas e outras qualidades que
satisfazem Bhagavan surgem naturalmente pela prática
contínua de sua bhakti.

Prakasika – vrtti

Nestes versos, Bhagavan descreve outras qualidades dos


devotos de Bhagavan que se manifestam de forma natural
através da prática de bhakti. Como disse anteriormente, não
há possibilidade de que o comportamento dos meus bhaktas
cause danos á alguém, pois estão livres da tendência de ser
violentos com qualquer entidade viva, e além disso, tem uma
disposição compassiva para com todos. Eles não provocam
temor ou ansiedade á ninguém. É impossível alguém agitar-
los visto que são equãnimes tanto na felicidade quanto no
sofrimento. Quando alcançam a meta desejada não sentem
euforia e nem tampouco sentem inveja ao ver a superioridade
ou o progresso dos demais. Suas mentes jamais se perturbam
pelo temor ou ansiedade de perder alguma posse.

Sloka 16

Anapeksah sucir daksa


Udasino gata-vyathah
Sarvarambha-parityagi
Yo mad-bhaktah sa me priyah

Este meu bhakta, que é indiferente á todas as atividades


mundanas, que é puro tanto interna quanto externamente, que
é hábil, que está desapegado e livre de toda agitação, e que
evita cuidadosamente qualquer atividade desfarovável á
bhakti, é muito querido por mim.

Yo na hrsyati na dvesti
Na socati na kanksati
Subhasubha-parityagi
Bhaktiman yah as me priyah

Aquele que não se deleita com prazeres mundanos nem se


dezespera com as dificuldades materiais, que não se lamenta
pela perda nem anseia a ganãnçia, que renunçia ás atividades
piedosas e impiedosas e que me serve com devoção amorosa,
é sem dúvida um bhakta muito querido por mim.

Prakasika-vrtti

“os devotos(bhaktas) não se regosijam quando teem um bom


filho ou um bom disçípulo, nem se sentem decepcionados por
um filho desobediente ou um mal disçípulo ; que não se
absorvem na lamentação pela perda de um objeto amado nem
desejam um objeto prazeiroso que não possuem ; que não se
ocupam em atividades piedosas ou impiedosas e estão
dedicados á mim, são muito queridos por mim.”

Slokas 18 – 19

Samah satrau ca mitre ca


Tatha manapamanayoh
Sitosna-sukha-duhkhesu
Samah sanga-vivarjitah

Tulya-ninda-stutir mauni
Santusto yena kenacit
Aniketah sthira-matir
Bhaktiman me priyo narah

Abençoado por minha bhakti, aquele que é igual ao lidar com


amigos e inimigos, equilibrado na honra e na desonra, no frio
e no calor, na felicidade e no sofrimento, no elogio e na
crítica; que não busca a associação desfavorável e pratica o
silêncio mediante controle da fala, que permanece satisfeito
com qualquer coisa, que não está apegado ao seu lugar
residêncial e que cuja inteligência está firmemente
estabelecida, este bhakta(devoto) é muito querido por mim.

Prakasika-vrtti

Sri Krsna conclui agora sua glorificação das qualidades


naturais de seus queridos devotos neste dois versos.

Sloka 20

Ye tu dharmamrtam idam
Yathoktam paryupasate
Sraddadhana mat-parama
Bhaktas te tiva me priyah

Sem dúvida, meus bhaktas que se dedicam exclusivamente á


meu bhajan com fé firme e adoram o nectáreo dharma que foi
descrito, são sumamente queridos por mim.

Bhavanuvada

Ao concluir sua descrição das características que se


encontram nos bhaktas firmemente estabelecidos em sua
bhakti, Sri Bhagavan explica o resultado para quem escuta,
estuda ou medita nestas características com anseio de
desenvolve-las. Todas as características citadas nascem de
bhakti e produzem paz, elas não são qualidades materiais.
Nas escrituras se diz: “ Apenas satisfaz Krsna, aquele que
possui bhakti, e não aquele que possui qualidades materiais.”
Bhakti é supremo, prazeiroso e constitue a meta mais difíçil
de ser alcançada. Neste capítulo foram ditas muitas de suas
qualidades. Foi descrito que o jnana é como um limão
amargo e bhakti como uma doçe uva. Os sadhakas ansiosos
por algum desses sabores devem aceitar um deles de acordo
com sua preferência pessoal.

Assim se conclui o décimo segundo capítulo do Srimad


Bhagavd Gita

Capítulo 13
Prakrti-Purusa-Vibhaga-Yoga
A diferença entre a natureza material e o desfrutador

Sloka 1

Arjuna uvaca
Prakrtim purusancaiva
Ksetram ksetrajnam eva ca
Etad veditum icchami
Jnanam jneyanca kesava

Arjuna disse: Ó Kesava! Gostaria de compreender a natureza


material(prakrti), o desfrutador(purusa), o campo(ksetra), o
conhecedor do campo(ksetrajna), o conhecimento(jnana) e o
objeto do conhecimento(jneya).

Bhavanuvada

Ofereço minhas reverências á bhagavad-bhakti, parte do qual


está misericordiosamente situado nos proçessos tais como o
jnana com o objetivo de garantir o êxito neles. Nesta terceira
série de seis capítulos se descreve bhakti-misra-jnana
mesclado com bhakti. Também se faz referência á
supremacia de kevala-bhakti. O capítulo treze trata
especificamente dos assuntos do corpo(ksetra), a jivatma e
Paramatma(ksetrajna), o sadhana para conhece-los, o
desfrutador(purusa) e a natureza(prakrti).
Só pode-se alcançar Bhagavan através de kevala-bhakti, isto
se descreveu na segunda série de seis capítulos.

Prakasika-Vrtti

O Srimad Bhagavad Gita consta de dezoito capítulos que se


dividem em três partes. Os primeiros seis capítulos
descrevem o niskama-karma-yoga, o bhakti-misra-jnana e os
temas relevantes sobre jivatma e Paramatma. A Segunda
série seis capítulos explica as glórias de kevala-bhakti,
deliberam sobre o para e apara bhakti, e descrevem as glórias
da svarupa de Sri Bhagavan e do bhakta. Também explica a
peculiaridade e supremacia de bhakti sobre os outros
processos e começa á falar detalhadamente sobre temas
realcionados. O tattva jnana, que se descreveu, é explanado
na terceira série de seis capítulos. A presente descrição é uma
parte da explanação sobre a natureza material, o desfrutador,
o campo e o conhecedor do campo. A instrução mais
confidencial do Gita é dada no capítulo dezoito.

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Idam sariram kaunteya
Ksetram ity abhidhiyate
Etadyo vetti tam prahuh
Ksetrajna iti tad-vidah

Sri Bhagavan disse: Ó Kaunteya! Os que estão dotados com


conhecimento acerca de ksetra e ksetra-jna sabem que o
corpo é conhecido como ksetra(o campo) e aquele que
conheçe o corpo se denomina ksetra-jna(o conhecedor do
campo).

Bhavanuvada

O que é ksetra? E o que é ksetra-jna? Em resposta á esta


pergunta, Sri Bhagavan recita este verso, que começa com a
palavra idam. O corpo se denomina ksetra em razão de ser o
refúgio de todo o desfrute sensual; em outras palavras, é a
origem da árvore da existência material. As jivas
condicionadas estão cobertas pelo conceito errõneo gerado
pelo falso ego de “eu” e “meu” com relação á seus corpos, e
não se libertam desta mentalidade até que alcançam o estado
de liberação. Em outras palavras, se desapegam do corpo
apenas quando se liberam. A jiva situada em qualquer deste
estados se conheçe como ksetra-jna.
Sri Bhagavan diz no Srimad Bhagavatam (11.12.23)

“As almas condicionadas ignorantes que estão ávidas por


obter objetos sensíveis experimentam misérias como um dos
frutos da árvore da existência material. Em última análise os
planetas celestiais também são miseráveis. Por outro lado as
mukta jivas ou almas liberadas que vivem na árvore obtém
outra classe de fruto: a eterna felicidade da liberação. Assim
sendo, a árvore da existência material conduz á distintos
destinos como Svarga(planetas celestiais), Naraka(o inferno)
e a liberação. Considera-se por tanto, que a árvore está
composta por maya e tem múltiplas formas devido á que
nasce de maya-sakti. Apenas os que aceitam um sad-guru
compreendem este segredo e conheçem realmente o ksetra e
o ksetra-jna.”

Prakasika-Vrtti

Após escutar as perguntas de Arjuna, Bhagavan Sri Krsna


estabelece que o corpo da jiva condicionada, juntamente com
seu ar vital e sentidos ,constituem seu lugar de desfrute e se
denomina ksetra. Aquele que conhece o corpo entende que
ele é o meio de desfrute para quem está no estado
condicionado e o meio de alcançar a liberação para os que
estão na etapa de moksa. A jiva situada em qualquer destes
estados se denomina ksetra-jna. Não obstante, Sri Baladeva
Vidyabhusana diz: “A jiva que se identifica com o corpo não
compreende o tattva do corpo. Por tanto não é ksetra-jna.”
Os que aceitam seu corpo como seu ser, o considera
unicamente como meio para o desfrute. Intoxicados pelo
falso ego material, estão atados ao samsara ou existência
material; vida após vida, seu único ganho é a miséria. Ao
contrário, os que se liberam do ego material enquanto
permanecem no corpo e oferecem serviço á Sri Hari,
alcançam gradualmente a felicidade de moksa. Conseguem o
êxito ao obter a oportunidade de servir Bhagavan.

Sloka 3

Ksetrajnam capi mam viddhi


Sarva-ksetresu bharata
Ksetra-ksetresu bharata
Ksetra-ksetrajnayor jnanam
Yat taj jnanam matam mama

Ó Bharata! Deves saber que sou o único conhecedor de todos


os ksetras. O conhecimento do corpo como sendo ksetra, e o
conhecimento da jiva e isvara como ksetra-jna é um
conhecimento verdadeiro. Esta é minha opinião.

Bhavanuvada

Assim sendo, a entidade viva se denomina ksetra-jna poruqe


tem conhecimento sobre o ksetra, mas Paramatma tem um
conhecimento mais profundo que as jivas pois conhece cada
aspecto de todos os ksetras. Este verso, que começa com as
palavras ksetra-jnam, explica seu ksetra-tattva ou a qualidade
de conhecer o ksetra. Sri Bhagavan diz: “Você deve saber
que u, Paramatma, sou ksetra-jna que está situado como o
controlador de todos os ksetras. A jiva é ksetra-jna apenas de
seu ksetra individual e ainda sim seu conhecimento é
incompleto. Sou o único que conhece todos os ksetras
completamente. Esta é minha peculiaridade”.

Sloka 4
Tat ksetram yac ca yadrk ca
Yad-vikari yatas ca yat
As ca yo yat prabhavas ca
Tat samasena me srnu

Agora escuta minha breve descrição do ksetra, suas


características e transformações, porque e de quem surgiu e
qual é a natureza e a influência do ksetra-jna.

Bhavanuvada

Neste verso que começa com as palavras tat ksetram, Sri


Bhagavan fala mais profundamente sobre o significado da
palavra ksetra, que já foi mencionada de maneira simples. O
ksetra é uma combinação de cinco elementos, o ar vital e os
sentidos.”Escuta como o ksetra, o campo integrado por um
corpo grosseiro e outro sutil, possui diferentes tipos de
natureza, desejos e transformações tais como a inimizade e
amizade. Escuta como nasce da união da prakrti e o purusa e
como se manifesta de maneira diferente em distintas formas
móveis e imóveis. O ksetra-jna é a jivatma e também
Paramatma.” De acordo com as regras da gramática sanscrita,
a palavra ksetra-jna é usada aqui em gênero neutro porque a
palavra ksetra se utiliza em tal gênero.

Sloka 5

Rsibhir bahudha gitam


Chandobhir vividhaih prthak
Brahma-sutra-padais caiva
Hetumadbhir viniscitaih
Os sábios explicaram o prinçípio do ksetra e do ksetra-jna de
muitas formas diferentes em inúmeras escrituras védicas, e
no brahma-sutra canta-se com uma lógica perfeita e com
evidências categóricas.

Bhavanuvada

“Quem descreve sobre este tema que você irá me explicar


agora?”
Antecipando a pergunta de Arjuna, Sri Bhagavan diz:
“Santos como Vasistha, entre outros, descreveram o tema nos
seus yoga-sastras. Chandobhir significa que se explica nos
Vedas e também no Brahma-sutra, em sutras ou aforismos
como athato brahma-jijnasa.
Visto que as características do brahma, a Suprema Verdade
Absoluta, estão sustentadas pelos sastras, estes se conhecem
como pada ou,”aquele que proporciona evidência para
demonstrar sua existência”. Qual é a natureza do brahma?
Bhagavan responde: “ Os videntes que percebem tudo em
termos de causa e efeito á definem no brahma-sutra; iksate
nasabdam, “ O Senhor Supremo não é indescritível e,
anandamayo bhyasat, O Senhor Supremo é bem aventurado
por natuteza”.

Slokas 6 -7

Maha-bhutany-ahankaro
Buddhir avyaktam eva ca
Indriyani dasaikanca
Panca cendriya-gocarah

Iccha dvesah sukham duhkham


Sanghatas cetana dhrtih
Etat ksetram samasena
As-vikaram udahrtam
Os cinco grande elementos, o falso ego, a inteligência, a
prakrti, os onze sentidos, os cinco objetos dos sentidos, os
desejos, a aversão, a felicidade, a miséria, o corpo, o
conhecimento e a paciência constituem uma breve descrição
do ksetra, junto com suas transformações mundanas.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan explica a natureza do ksetra. A terra, a água, o


fogo, o ar e o céu, sua causa (falso ego), a inteligência na
forma de razões científicas, o maha-tattva (causa do falso
ego), a prakrti (causa do maha-tattva), os dez sentidos de
trabalho e aquisição de conhecimento, a mente e os cinco
objetos sensíveis (tais como o som e o tato) fazem referência
aos vinte quatro elementos.

Slokas 8 –12

Amanitvam adambhitvam
Ahimsa ksantir arjavam
Acaryopasanam saucam
Sthairyam atma-vinigrahah

Indriyarthesu vairagyam
Anahankara eva ca
Janma-mrtyu-jara-vyadhi
Dunkha-dosanudarsanam

Asaktir anabhisvangah
Putra-dara-grhadisu
Nityanca sama-cittatvam
Istanistopapattisu

Mayi cananya-yogena
Bhaktir avyabhicarini
Vivikta-desa-sevitvam
Aratir jana-samsadi

Adhyatma-jnana-nityatvam
Tattva-jnanartha-darsanam
Etaj jnanam iti proktam
Ajnanam yad ato´nyatha

O desapego do desejo de honra, a humildade, a não violência,


a tolerância, o perdão, o serviço á um Guru genuíno, a pureza
tanto interna como externa, a cosntãncia, o controle do corpo
e dos sentidos, o desapego dos objetos dos sentidos, a
ausência de falso ego, a constante percepção das misérias do
nascimento, morte, velhice e doença, o desapego da esposa,
filhos etc.., a indiferença na felicidade e na tristeza etc..., a
equanimidade com o ganho de objetos favoráveis ou
desfavoráveis, bhakti incondicional, determinada e
ininterrupta á mim, gosto pela solidão e aversão á associação
com pessoas materialistas, a meditação interna constante, os
princípios da auto realização que falei anteriormente, isto é
conhecimento verdadeiro. Qualquer outra atitude é somente
ignorância.

Bhavanuvada

Nestes cinco versos, Sri Bhagavan explica vinte meios,


sadhanas, para se alcançar a meta. O primeiro deles é a
humildade. Também explica as qualidades as qualidades dos
ksetra-jnas – jivatma e Paramatma, que são diferentes das
características do ksetra préviamente mencionadas. Dezoito
destas qualidades são gerais e servem tanto para os jnanis
como para os bhaktas. Bhagavan afirma: mayi cananya-
yogena bhaktir avyabhicarini. Para poder percebe-lo, é
indispensável que os devotos se esfórçem com sinceridade na
ekantika-bhakti. Dezessete qualidades, começando com a
humildade, se manifestam de forma natural nos devotos que
praticam a devoção pura; eles não necessitam esforços
separados para adquirir estas qualidades. As duas últimas
qualidades, não obstante, são exclusivas dos jnanis. Esta é a
opinião da comunidade dos devotos.
Ainda sim, os jnanis tem uma opinião diferente. Alegam que
ananya yogena significa ver o ser em tudo e avyabhicarini
significa executar o yoga todos os dias. Segundo Sripada
Madhusudana Sarasvati, a palavra avyabhicarini significa
“aquele que não pode ser detido por nada”. A palavra
adhyatma-jnana se refere ao conhecimento que se encontra
no ser e que deve praticar-se constantemente se desejam a
purificação do ser.
Os sintomas da ignorância (ajnana), tais como o desejo de
honra, se opõem ás qualidades mencionadas.

Prakasika-vrtti

Bhaktivinoda thakura diz que destas vinte qualidades citadas


neste verso deve-se adotar a devoção imaculada e
incondicional á Sri Krsna e que as outras dezenove
qualidades são frutos secundários desta bhakti.

Sloka 13

Jneyam yat tat pravaksyami


Yaj jnatva ´mrtam asnute
Anadimat param brahma
Na sat tan nasad ucyate

Agora te explicarei o que é jneya, aquele que se deve


conhecer, pois ao compreende-lo, obtém-se moksa
(liberação). O brahma que não tem começo e depende de
mim, está além da causa e do efeito desta criação.
Prakasika-vrtti

Préviamente Sri Bhagavan explicou o método para se obter


jnana. Neste verso desenvolve-se o assunto sobre o para-
tattva conhecível, que é a meta do jnana. Os jnanis pensam
que o para-tattva é o nirvisesa-brahma. Imaginam que o para-
tattva carece de nome, forma, qualidades, atividades e
associados; um vazio que não se pode descrever com
adjetivos como “O dono das energias”, diversificado ou
ativo. Os suddha-bhaktas que se refugiam em ananya-
avyabhicarini bhakti, veem o parabrahma, o para-tattva,
como Sri Krsna, a Verdade Absoluta, o qual é a
personificação dos jogos transcendentais e a base de todas as
qualidades, energias e doces relações que estão livres das
insignificantes qualidades materiais. Ainda que em algumas
passagens dos srutis se descreve contextualmente o tattva
como nirvisesa, estas descrições só negam que Krsna possui
qualidades materiais, não que não tem qualidades
transcendentais. Os sastras iluminam este profundo segredo.

“Os próprios mantras védicos que descrevem primeiro o


tattva como nirvisesa, o mostram como savisesa. Ambos são
aspectos de Bhagavan, mas uma consideração mais profunda
revela que o savisesa-tattva é superior visto que apenas este é
perceptível neste mundo material, enquanto que o nirvisesa-
tattva não se experimenta em absoluto”. (Hayasirsa-
pancaratra)

Sloka 14

Sarvatah pani-padam tat


Sarvato ksi-siro-mukham
Sarvatah srutimal loke
Sarvam avrtya tisthati
Suas mãos e seus pés estão em todas as partes. Seus olhos,
cabeças e rostos se infiltram em todas as direções e ele
também ouve tudo. Situado desta maneira, o brahma penetra
em todo universo.

Bhavanuvada

Afirmar que o brahma é distinto da causa e do efeito não


contradiz os srutis como : sarvam khalv idam brahma, “tudo
isto é brahma”.
Antecipando este tipo de pergunta, Bhagavan explica que por
natureza o brahma está além da causa e efeito, e é tanto a
causa e efeito, visto que a energia e o possuidor da energia
são não diferentes. Por tanto, ele disse que suas mãos e pés
entram em todas as partes. Isto implica que o brahma tem
limitados braços e pés na forma de dois braços e pés de cada
entidade viva visível, desde o Senhor Brahma até uma
diminuta formiga. Assim mesmo, seus olhos, cabeças, bocas
e ouvidos estão também em todas as partes.

Prakasika-vrtti

No verso anterior se descreveu o brahma como um ser que


está além da causa e do efeito. Pode-se citar o Vedanta sutra
– sakti-saktimator abhedah: “ a energia e seu possuidor não
são diferentes”. Assim sendo, pode-se entender que todos os
efeitos, incluindo o mundo visível, são a svarupa de
Bhagavan por ser transformações de sua sakti. Neste verso
agora clareia-se este ponto.
O brahma existe em todas as partes mediante as mãos, pés e
demais membros de todas as entidades vivas que estão
submetidas á ele e situadas dentro dele. Devido ao fato de
que ele é onipenetrante, ele possui mãos, pés e ouvidos
ilimitados. As entidades vivas não são onipenetrantes, assim
não podem Ter mãos, pés e ouvidos ilimitados. Paramatma é
onipotente, mas a jiva não.
Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “ Assim como
os raios do sol iluminam devido á sua dependência deste
astro, o brahma-tattva obteve seu aspecto infinito e
onipenetrante por depender da minha potência. A existência
do brahma, que é a fundação das ilimitadas jivas, desde
Brahma até uma formiga, compôe-se coletivamente de mãos,
pés, olhos, cabeças, bocas e ouvidos ilimitados e é visível por
toda sua manifestação cósmica.

Sloka 15

Sarvendriya-gunabhasam
Sarvendriya-vivarjitam
Asaktam sarva-bhrc-caiva
Nirgunam guna-bhokr ca

O parabrahma é a fonte de todos os sentidos e de suas


respectivas funções, mas carece de sentidos materiais. Ainda
que está desapegado, é ele que sustém todas as entidades
vivas e ainda que seja nirguna, ele é o desfrutador das seis
qualidades transcendentais.

Bhavanuvada

Além disso, ele manifesta todos os objetos sensíveis e os


sentidos. Os srutis dizem: “Ele é o olho do olho”, e “Ele
manifesta as funções dos sentidos tais como o som”. Ainda
sim, ele não tem sentidos materiais porque seus sentidos são
trancendentais.
Ele não está apegado ao plano mundano e mantém á todos e
cada um através da sua forma de Vishnu. É nirguna, possui
uma forma transcendental que está livre das qualidades
materiais e é guna-bhoktir, superior á estas. É conhecido
como bhoga porque é o desfrutador dos seis tipos de
opulências transcendentais.

Sloka 16

Bahir antas ca bhutanam


Acaram caram eva ca
Suksmatvat tad avijneyam
Dura-stham cantike ca tat

A entidade Absoluta habita dentro e fora de todos os seres


móveis e imóveis. É muito difícil de compreende-lo poruqe é
muito sutil. Ele está simultaneamente longe e perto.

Bhavanuvada

Ele está situado em todas as partes, tanto dentro quanto fora


de todas as entidades e elementos da sua criação, assim como
o céu está dentro e fora do corpo. Ele é o todo, tanto os seres
móveis ou imóveis, porque é a causa de toda criação. Mesmo
assim, não se pode percebe-lo de forma direta já que sua
forma e semais atributos são diferentes das formas e
qualidades materiais.
Por tanto , ele está situado a milhões de kilometros das
pessoas ignorantes, e está muito perto aos que estão
iluminados com o conhecimento transcendental.

Prakasika-vrtti

Paramesvara está situado coração de todos os seres em sua


forma Ataryami e existe fora de todo em seu aspecto
onipenetrante como Paramesvara.
Apenas os ananyas bhaktas podem conhece-lo através da
influência de ananya bhakti. Por tanto ele está muito perto
dos ananyas bhaktas e muito distante dos não devotos.
Sloka 17

Avibhaktanca bhutesu
Vibhaktam iva ca sthitam
Bhuta-bharttr ca taj jneyam
Grasisnu prabhavisnu ca

Mesmo que é indivisível está situado dentro de cada ser como


se tivesse se dividido. Tente entender que ele é o sustentador,
o aniquilador e o criador de todos os seres.

Bhavanuvada

Como Sri Narayana ele é o mantenedor de todas as entidades


vivas no período da manutenção. Como Grasisnu ele é o
destruídor no momento da aniquilação e, na hora da criação é
Prabhavishnu, o criador dos diferentes efeitos e formas.

Prakasika-Vrtti

Mesmo que aparece de forma diferente em todas as


entidades vivas, o parama-tattva está situado em uma forma
invisível. Os srutis afirmam: “Mesmo sendo um, ele pode ser
visto de diferentes formas”. O smrti estabelece: “Apenas um
Paramatma, Visnu, existe em todo lugar. Não há dúvida sobre
esta singularidade”. Assim como o mesmo sol aparece em
formas diferentes de acordo com o lugar, Paramatma aparece
em diversas formas através de sua potência inconcebível
mesmo sendo um. Ele existe como Antaryami individual
dentro dos corações das jivas, enquanto que externamente é
onipenetrante, o purusa coletivo, Paramesvara. É também o
sustentador e aniquilador de toda esta existência.

Sloka 18
Jyotisam api taj jyotis
Tamasah param ucyate
Jnanam jneyam jnana-gamyam
Hrdi sarvasya dhisthitam

Ele é a fonte de luz de todos os objetos luminosos e é


transcendental á ignorância. Ele é o verdadeiro
conhecimento, o verdadeiro objeto do conhecimento e pode
ser conhecido através do processo de jnana. Ele habita nos
corações de todos os seres.

Bhavanuvada

Ele é inclusive a luz que emana dos objetos luminosos como


a lua e o sol. Esta característica se confirma nos srutis: suryas
tapati tejasendrah, “ mediante seu resplendor, o sol se torna
luminosos e distribui o calor”. Se o sol, a lua ou as estrelas
não parecem charmosas e radiantes comparadas com Ele, que
dizer do fogo. Refulgentes em aparência, todos eles adquirem
sua luminosidade á partir do brilho. É unicamente por sua
refulgência que adquirem sua qualidade de iluminação.

Prakasika-Vrtti

Paramesvara, o ksetra - jna completo, é o iluminador original


de todos os objetos luminosos tais como o sol, a lua e o fogo.
Na tatra suryo vibhati: “Se o sol, a lua, as estrelas ou o fogo
não podem iluminar o auto refulgente parabrahma, o raio
menos ainda. E é através do auto refulgente brahma que
todos os objetos luminosos como o sol podem dar a luz. O
mundo móvel e imóvel está iluminado pela refulgência
corporal de Parabrahma”. No Srimad Bhagavatam(3.25.42)
está dito:
“O vento sopra e o sol brilha por temor á mim”.
Sloka 19

Iti ksetram tatha jnanam


Jneyancoktam samasatah
Mad-bhakta etad vijnaya
Mad-bhavayopapadyate

Descrevi brevemente o campo, o conhecimento e o


conhecível. Meu bhakta se capacita para alcançar minha
prema bhakti quando os compreende.

Bhavanuvada

Aquí, no verso que começa com a palavra iti, Sri Bhagavan


conclui suas declarações sobre o conhecimento do ksetra e o
ksetrajna explicando quem está capacitado para compreender
este conhecimento e qual é seu resultado. No presente
capítulo foi explicado a palavra ksetra á partir do verso
“adhyatma-jnana-nityatvam” (Gita 13.6), até o verso
“adhyatma-jnana-nityatvam” (Gita 13.12). Tmbém foi
descrito o jnana desde o verso Gita(13.6) até o verso(13.13).
O jneyah e o jnana gamyam foi descrito desde o verso que
começa com a palavra jneyam. A própria Realidade Absoluta
é conhecida como brahma, Paramatma e Bhagavan.
Apalavra mad-bhakta se refere ao jnani que está dotado com
bhakti. Mad-bhavaya significa que eles alcançam sayujya-
mukti. Mad bhakta também se refere á: “Meu servo puro que
pensa ‘meu Prabhu tem grande aisvarya’ está capacitado para
obter meu prema”. Assim, se capacita para executar prema-
bhakti.

Prakasika-vrtti
Neste verso, Sri Bhagavan estabelece claramente que os
karmis, os jnanis, os yogis, os tapasvis e os nirvisesa-
mayavadis não podem compreender a essência real do
Bhagavad Gita; apenas os bhaktas de Bhagavan podem
entende-lo. Tal é o significado profundo dos tattvas de jneya,
jnata e jnana tal como se descreve no Gita. Por esta razão
uma pessoa deve praticar bhakti refugiando-se nos pés de
lótus de um Guru Genuíno.

Sloka 20

Prakrtim purusancaiva
Viddhyanadi ubhav api
Vikarams ca gunams caiva
Viddhi prakrti-sambhavan

Há de saber que tanto a prakrti quanto a entidade viva não


tem começo e que suas transformações e qualidades nascem
da natureza material.

Bhavanuvada

Depois de descrever paramatma, Sri Bhagavan passa agora á


explicar jivatma(purusa) que é também um ksetra-jna.
“Porque surgiu a relação entre este ksetra-jna e a natureza
material(prakrti)? Quando começou?”. Esperando estas
perguntas, Sri Bhagavan responde com o verso que começa
com a palavra prakrti. “ A natureza material e a jiva não tem
começo. Em outras palavras, sua causa não tem um princípio.
Visto que eu, Isvara, não tenho começo, eles, sendo minhas
energias, tampouco tem.
Também no Bhagavad Gita(7.4-5) está dito:

“A natureza material está dividida em oito partes – o céu, a


água, o fogo, o ar, o éter, a mente, a inteligência e o ego –
mas é inferior á outra natureza minha. As jivas são minha
energia superior. Aceitam o mundo material para desfrutar os
resultados de suas ações.”
Segundo minha própria declaração, visto que maya e a jiva
são minhas energias, elas não tem começo e, por tanto, sua
relação tampouco tem um princípio. E ainda que estão
relacionadas entre si, são diferentes”. Sri Bhagavan diz que o
corpo e os sentidos, as transformações dos gunas tais como a
felicidade, a aflição, a lamentação e a ilusão, nascem á partir
de prakrti. A jiva, que se modifica em forma do ksetra, é
diferente da prakrti.

Prakasika-vrtti

A pós explicar ambos os ksetras, o ksetra-jna parcial(a jiva),


o ksetra-jna completo(Paramesvara), o jnana e o jneya, Sri
Bhagavan fala agora das transformações do ksetra tais como
a luxúria, a ira, o afeto, e o medo, e de como surgiu a relação
entre o ksetra-jna jiva e maya. Nem a prakrti nem a jiva tem
um começo visto que são energias de Paramesvara. Assim
elas também são eternas. A prakrti inerte se chama apara-
prakrti e a jiva se denomina para-prakrti.
O Sri Caitanya Caritamrta estabelece nos ensinamentos á
Sanatana Goswami (Madhya-lila 20.108,109, 111, 117)

“ Por sua constituição, a jiva é uma serva eterna de Krsna. A


tatastha-sakti de Krsna se transforma em ilimitadas jivas.
Devido ao fato da energia não ser diferente do enegético, as
jivas conscientes atômicas que são as transformações da sakti
são de alguma forma iguais á Krsna. Simultaneamente elas
também são eternamente diferentes em muitos sentidos.
Bhagavan é ilimitadamente consciente e a jiva é
infinitamente consciente. Ambos são iguais de acordo com a
perspectiva de consciência, mas Bhagavan é a entidade
consciente completa e a jiva é uma entidade consciente
atômica. Bhagavan é o amo de maya e a jiva é subjulgada por
maya. Bhagavan é a causa da criação, a manutenção e a
destruição, a qual a jiva é incapaz. Pode-se dar o exemplo de
que assim como as partículas ilimitadas e diminutas faíscas
são formadas pelo fogo, as ilimitadas e atômicas jivas
conscientes emanam de Bhagavan.

Sloka 21

Karya-karana-karttrtve
Hetuh prakrtir ucyate
Purusah sukha-duhkhanam
Bhoktrtve hetur ucyate

Se diz que a prakrti é a origem da causa e do efeito materiais,


enquanto que a entidade viva condicionada é a causa do
sentimento de felicidade e aflição materiais.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan revela agora a relação da jiva com maya.


Karya(o efeito) se refere ao corpo; karana(a causa) se refere
aos sentidos que são o meio para obter felicidade ou miséria,
e karttrtva(o agente) se refere ás deidades regentes dos
sentidos(os semi-deuses). Devido á ignorãncia a entidade
viva condicionada delega á si mesma o sentimento de que ela
é a executora ou a agente, mas a verdadeira causa deste
sentimento é a prakrti. É apenas a prakrti que se tranforma
em efeito para entrar em contato com a jiva. A tendência de
maya é dar um conhecimento ilusório á jiva.
Segundo a lógica, se diz que a prakrti é a causa do corpo, dos
sentidos e dos semi-deuses, e que a jiva é a causa do desfrute
e da aversão.

Sloka 22
Purusah prakrti-stho hi
Bhunkte prakrti-jan gunam
Karanam guna-sango ´sya
Sad-asad-yoni-janmasu

Estando situada na prakrti, a jiva desfruta dos objetos dos


sentidos nascidos dela. A causa do seu nascimento em
espécies superiores e inferiores é a sua associação com as
qualidades da natureza.

Bhavanuvada

A jiva considera as qualidades da prakrti como sendo suas,


tais como as deidades regentes dos sentidos e a
experimentação da felicidade e aflição, devido ao falso
conhecimento surgido da ignorância desde tempos
imemoriais.
Esta é a razão do seu aprisionamento no mundo material. A
jiva se situa dentro do corpo, o qual é efeito da prakrti, e
absorve-se completamente na identificação do seu corpo com
seu próprio ser. Devido ao seu falso ego, a jiva considera que
os aspectos da mente como a lamentação, ilusão e miséria,
que são gerados pelas qualidades da prakrti são seus e assim
sofrem por eles. Tal identificação se deve á sua associação
com as qualidades da natureza material. Isto significa que tal
identificação com o corpo, que é feita de qualidades
materiais, é uma suposição baseada na ignorância visto que
na verdade a jiva está livre desta associação. “Então, onde a
jiva desfruta?”. Esperando esta pergunta, Sri Bhagavan disse:
“Nas espécies cuja consciência é superior como os Sadhus e
os semi-deuses” e “Nas espécies cuja consciência é mais
baixa como os animais”. Ela nasce e experimenta felicidade
ou sofrimento em razão do seu bom ou mal karma.
Prakasika-vrtti

Por Ter se esquecido de Krsna, as jivas, que são de natureza


marginal, consideram seus corpos como sendo seu próprio
ser. Pensam que são as autoras e as desfrutadoras da matéria
inerte. Assim, são atadas ao mundo material e nascem em
distintas espécies de vida nas quais experimentam felicidade
e aflição. As jivas que são enganadas por maya, caíram no
ciclo de repetidos nascimentos e mortes,e como consequencia
sofrem misérias mundanas, nascendo as vezes em svarga, as
vezes no inferno, as vezes como rei ou súditos, as vezes
como brahmana ou sudras, e as vezes como fantasma,
demônios, servos ou amos. Algumas vezes são felizes e
outras são sofredoras. A consciência da jiva é atômica e
mesmo que ela seja uma serva de Bhagavan, ela se vê
enganada por maya, que se encontra muito perto. Ela é
enganada devido á que abriga desejos materiais como
resultado de sua aversão á Krsna. Assim, como a inteligência
de uma pessoa possuída por um duende ou um fantasma fica
coberta pela ignorância, a inteligência das jivas confundidas
fica coberta por maya. Pela misericórdia de Bhagavan e seus
devotos, elas obtém uma associação apropriada, libera-se de
maya e uma vez situada em sua posição natural, desfruta
felizmente do serviço á Bhagavan.

Sloka 23

Upadrastanumanta ca
Bhartta bhokta mahesvarah
Paramatmeti capy ukto
Dehe´smin purusah parah

Neste corpo existe um purusa superior que é o desfrutador


transcendental. Ele é Paramatma: o testemunho, o
sancionador, o amo, o sustentador e o Controlador Supremo.
Bhavanuvada

Após falar sobre a jivatma, Bhagavan fala agora sobre


Paramatma
Neste verso. A partir do verso “anadi mat-param brahma”
(Gita 13.13) até o verso “hrdi sarvasya visthitam” (Gita
13.18) descreve Paramatma de maneira geral e também
específica. Mesmo que Paramatma se mantém perto da jiva
está sempre separado dela. Paramatma está localizado dentro
do corpo e é superior á atma. Anumanta significa que
enquanto reside perto da jiva, ele é generoso e facilitador.
Bharta significa sustentador e bhokta significa protetor.

Prakasika-vrtti

Paramatma que está situado como um testemunho no corpo, é


diferente da jiva. Os advaita-vadis (monistas) consideram que
a jivatma e Paramatma são unos, mas neste verso fica claro
que Paramatma é diferente da jiva. Devido ao fato de que ele
é superior á jivatma, é conhecido como Paramatma ou atma
suprema; é uma porção de uma porção de Svayam Bhagavan
Sri Krsna. Sem sua permissão a jiva não pode fazer nada.
Mesmo que vive com a jiva, Paramatma é sempre o amo da
jiva e de maya.
Bhagavan outorga a independência á jiva. Quando a entidade
viva utiliza apropriadamente, pode desfrutar facilmente de
prema-mayi-seva á Sri Bhagavan em seu eterno dhama, mas
quando usa indevidamente sua independência ela é atada por
maya e assim sofre os três tipos de misérias incluindo o ciclo
de nascimentos e mortes. O Svetasvatara Upanisad (4.6) e o
Mundaka Upanisad (3.1.1) afirma:

“Ksridakasayi-purusa e a jiva vivem juntos no mundo


material temporário ( o corpo) como dois amigos em uma
árvore pippala. A jiva saboreia os frutos da árvore de acordo
com seu karma e Paramatma testemunha seus atos. Ele não
saboreia os frutos, ele apenas contempla seu amigo”.

Sloka 24

Ya evam vetti purusam


Prakrtinca gunaih saha
Sarvatha varttamano ´pi
Na as bhuyo ´bhijayate

Aquele que compreende os princípios de Paramatma, da


entidade viva e da natureza material juntamente com suas três
qualidades, não nasce de novo, seja qual for sua condição
atual.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso para explicar o resultado do


jnana. “Mesmo que estejam iludidos pelo sonho e
perturbação mental, aquele que conhece o
purusa(Paramatma), a prakrti(energia material) e a jiva
sakti(indicada pela palavra ca) não volta á nascer.

Prakasika-vrtti

O sadhaka se capacita para liberar-se quando conhece o


bhakti-tattva, a jiva tattva, o paramatma tattva e suas relações
mútuas. Assim, pela misericórdia de um sad-guru e dos
vaishnavas e por seguir o caminho de suddha bhakti, alcança
gradualmente as etapas de sraddha, nistha, ruci, asakti, bhava
e finalmente Bhagavat prema quando entra na morada de
Bhagavan. Ele nunca cai do bhagavat-dhama. A idéia
imaginária de que as jivas condicionadas estiveram alguma
vez ocupadas no serviço á Bhagavan em sua morada e que de
alguma forma caíram no mundo material é completamente
contrária á conclusão dos sastras. Se aceitássemos esta teoria
com um propósito de discussão, surgiria a pergunta; “Qual é
então a importância ou as glórias de bhakti e de prema se
caem de novo no mundo material depois de executar um
sadhana rigoroso e alcançar a morada de Bhagavan?”.
Os exemplos de Citraketu e Jaya e Vijaya não são adequados
neste contexto porque eles são associados eternos de
Bhagavan. Eles descendem ao mundo material pela vontade
de Bhagavan, para o bem estar de todas as entidades vivas e
para nutrir sua lila. Considera-los como almas ordinárias é
uma grave ofensa.

Sloka 25

Dhyanenatmani pasyanti
Kecid atmanam atmana
Anye sankhyena yogena
Karma-yogena capare

Meditando na Pessoa Suprema, os bhaktas podem ve-la


dentro de seus corações. Os jnanis podem ve-la através de
sankhya-yoga, os yogis através de astanga-yoga e outros
através do processo de niskama-karma-yoga.

Bhavanuvada

Neste verso e também no seguinte, Sri Bhagavan explica os


diferentes meios para alcançar o conhecimento do ser.
Através de dhyana(meditação em Bhagavan), alguns bhaktas
o veem em seus corações.
O Gita (18.55) expões isto. “Os jnanis se esfórçam para ver-
me através de sankhya, o estudo analítico da consciência e da
matéria inerte, os yogis através de astanga-yoga e os karmis
através do niskama-karma-yoga”. Aqui o sankhya yoga,
astanga-yoga e niskama-karma-yoga não são as causas
diretas para receber o darsana(visão) de Paramatma visto que
são todos sattvika e Paramatma está além das qualidades
materiais. Também é dito no Srimad Bhagavatam (11.19.1)
“Deve-se me entregar o jnana”. No verso 11.14.21 agrega:
“Sou alcançável apenas através de ekantika-bhakti”.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “Ó Arjuna, com


relação á meta da vida mais elevada, as baddha-jivas estão
divididas em dois grupos: as aversas á vida espiritual e as
inclinadas á vida espiritual. Os ateus, os agnósticos(aqueles
que estão apegados á materia inerte) e os moralistas estão
incluidos no grupo das pessoas aversas á Bhagavan. Uma
pessoa inquisitiva e fiel, um karma yogi e um bhakta estão no
segundo grupo. Os bhaktas são superiores visto que se
refugiam no conhecimento que está além de prakrti e
meditam em Paramatma dentro do ser. Os sankhya yogis que
buscam Isvara o seguem com superioridade. Depois de
meditar na prakrti, a qual está formada por vinte e quatro
elementos, eles compreendem que o elemento vinte e cinco, a
jiva, é uma entidade consciente pura. Gradualmente se
dedicam á bhakti-yoga como o elemento vinte e seis. Através
de niskama-karma-yoga desenvolvem a facilidade de meditar
em Bhagavan ou adora-lo.”

Sloka 26

Anye tv evam ajanantah


Srutvanyebhya upasate
Te´pi catitaranty eva
Mrtyum sruti-parayanah
Por outro lado, há pessoas que não conhecem estes princípios
porém desenvolvem
o desejo de adorar Bhagavan após escutar os Acaryas. Graças
á sua devoção por escutar, eles podem transcender
gradualmente o mundo mortal. Isto não há dúvida.

Prakasika-vrtti

Neste verso, Bhagavan ensina sobre um proçesso muito


importante.
“Há certas pessoas que não são ateus, mayavadis ou
filósofos. Mesmo que seja gente influente na sociedade, eles
tem muita fé porque possuem boas impressões de vidas
passadas(samskaras).
Elas me adoram de uma forma ou de outra quando escutam o
bhagavat-katha na compania dos devotos e recebem
instruções de diversos pregadores. Logo, quando conseguem
a associação com os suddha bhaktas, recebem a oportunidade
de escutar um hari-katha puro, entram em bhakti-tattva e
finalmente me alcançam”.
A carência de educação sobre o conhecimento da alma é
frequente na assim chamada ‘sociedade civilizada’, mas o
Bhagavad Gita e o Srimad Bhagavatam explicam que o
processo de escutar sobre estes assuntos é muito poderoso.
Mais recentemente, o processo foi dado por Sri Caitanya
Mahaprabhu, quem deu muita enfase para se escutar e cantar
o maha mantra Hare Krsna. Sua instrução principal é que
pela influência de escutar o sri hari nama e o bhagavat katha,
pode-se alcançar facilmente o serviço á Bhagavan. O Brahma
de quatro cabeças, Sri Narada, Sri Vedavyasa, Sri Sukadeva
Goswami, o Rei Pariksit e Prahlada Maharaj obtiveram o
darsana direto de Bhagavan como resultado deste processo.
Srila Haridasa Thakura (associado íntimo de Sri Caitanya
Mahaprabhu) nasceu em uma família turca, porém ele
cantava trezentos mil santos nomes todo dia. Todas as
pessoas ao seu redor, ricos e pobres lhe gostavam muito. Mas
Ramacandra Khan, um famoso tenente da região, sentia
muita inveja dele e com o objeto de difama-lo, contratou uma
jovem e bela prostituta prometendo muitas riquezas em troca.
Em uma noite de lua cheia, ele enviou a garota ao lugar onde
estava haridasa Thakura. Sentado no seu lugar solitário, nas
margens do Bhagavati ganga, Haridasa Thakura estava
cantando atentamente Hare Krsna Hare Krsna Krsna Krsna
Hare Hare Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.
Perto deste lugar crescia uma planta de Tulasi. A prostituta
Aproximou-se de Haridasa Thakura e tentou seduzi-lo com
posturas e gestos, mas vendo que isto não dava resultado, ela
se ofereceu abertamente. Mas haridasa Thakura contestou:
Fiz um voto de cantar trezentos mil santos nomes do Senhor
Hari todo dia. Quando completar isto satisfarei todos os seus
desejos”.
Confiando em suas palavras, a prostituta sentou-se perto dele
por toda noite esperando pelo término do canto, mas ao
amanhecer ela regressou á sua casa temerosa de ser vista pelo
povo. Na noite seguinte ela voltou e se sentou perto de
Haridasa Thakura, mas de novo ele pediu á ela que esperasse
acabar de cantar seus nomes. A noite passou igual á anterior.
Na terceira noite que a jovem veio, Haridasa estva cantando
em voz baixa. O efeito de escutar o santo nome da boca de
um suddha bhakta foi tão maravilhoso que mudou o coração
da prostituta. Ela prostou-se aos pés de Haridasa, chorando e
suplicando seu perdão. Haridasa Thakura ficou muito
satisfeito e disse: “Eu ia embora deste lugar no mesmo dia
que vieste, mas permanecí aqui apenas por que queria seu
bem. A mudança do seu coração me causou grande alegria.
Esta é a glória infalível de escutar e cantar hari-nama. Agora
deves permanecer aqui neste asrama e cantar continuamente
o nome de Hari. Deves servir Tulasi-devi e o Bhagavati
Ganga”. Ela seguiu as instruções e sua vida mudou por
completo. Até mesmo grandes devotos iam ve-la. Ela viveu
humilde e modestamente e sem posse alguma e executava
bhajana de Sri Hari continuamente. Após poucos dias, ela
partiu para a morada de Bhagavan. Por esta história se deduz
que qualquer um que escute o canto do santo nome, seja qual
for sua posição, pode alcançar Bhagavan.

Sloka 27

Yavat samjayate kincit


Sattvam sthavara-jangamam
Ksetra-ksetrajna-samyogat
Tad viddhi bharatarsabha

Ó melhor dos Bharatas! Deves saber que todos os seres que


nascem, sejam eles móveis ou imóveis, são produzidos pela
combinação do campo com o conhecedor do campo.

Sloka 28

Samam sarvesu bhutesu


Tisthantam paramesvaram
Vinasyatsv avinasyantam
Yah pasyati as pasyati

Apenas aquele que vê a Pessoa Suprema em todos os seres


como o imperecível sentado dentro do perecível, realmente
vê.

Prakasika-vrtti

Aqueles que são jnanis no real sentido experimentam


simultaneamente o corpo, a alma corporificada e o amigo da
alma, Paramatma, pela influência da associação de uma
grande alma que conhece a Verdade Absoluta. Ao contrário,
ao que não possuem uma associação sagrada são realmente
ignorantes. Eles apenas podem ver o corpo perecível. Um
jnani, por outro lado, experimenta a existência da alma e de
Paramatma mesmo depois da destruição do corpo. Quando o
corpo é destruído, a alma entra em outro corpo junto com os
sentidos e o corpo sutil. Seu amigo, Paramatma, permanece
situado com ela como o a testemunha. Os que compreendem
isto são reais jnanis.

Sloka 29

Samam pasyam hi sarvatra


Samavasthitam isvaram
Na hinasty atmanatmanam
Tato yati param gatim

Aquele que vê que Paramesvara habita em todas as partes da


mesma maneira e em todos os seres, não é degradado pela
mente. Assim, alcançam o destino supremo.

Sloka 30

Prakrtyaiva ca karmani
Kriyamanani sarvasah
Yah pasyati tathatmanam
Akarttaram as pasyati

Quem vê que é unicamente a prakrti, e não a alma, quem


realiza todas as atividades, realmente vê.

Bhavanuvada

A visão das jivas que pensam que são atuantes devido á que
identificam-se com o corpo inerte, não é real; elas estão
submetidas pela ignorância. Mas aquele que vê que não é o
autor da ação, possui uma visão correta.
Prakasika-vrtti

A jiva condicionada é impulsionada pelas ações e qualidades


da prakrti devido ao falso ego que lhe faz pensar que é ela
quem executa as atividades materiais. Mas, na realidade, não
é ela quem atua. Bhagavan explicou isto anteriormente.
Paramesvara tampouco é o realizador mesmo que esteja
situado no coração de todos os seres na forma de Anataryami,
aquele que ourtoga inspiração. Se a jivatma no seu estado
puro não tem o ego de ser a autora das ações materiais que
são feitas pelos sentidos materiais, muito menos
Paramesvara. Quem sabe disto, possui verdadeiro
conhecimento.
No Tantra-bhagavata se diz que: “É unicamente através do
ego material que se encontra na existência material que a jiva
se enreda no ciclo de nascimentos e mortes. Elas não tem
relação alguma com o ego material”. Ainda sim, no seu
estado puro, a jiva possui o ego de ser serva de Krsna, com o
corpo espiritual similar ao humano e um nome, forma,
qualidades e atividades espirituais. Ela não carece de forma
ou qualidades.

Sloka 31

Yada bhuta-prthag-bhavam
Eka-stham anupasyati
Tata eva ca vistaram
Brahma sampadyate tada

Ele alcança a compreensão do brahma quando vê, seguindo a


guia das autoridades prévias, que as diversas naturezas das
entidades vivas nasceram e moram apenas na prakrti.

Bhavanuvada
Aquele que vê realmente que durante a aniquilação todos os
seres móveis e imóveis corporificados em formas diversas se
fundem na prakrti, e que logo, no momento da criação,
voltam a manifestar-se desta mesma prakrti, alcançam a
plataforma de brahma.

Prakasika-vrtti

Uma pessoa ve as diferentes formas ou corpos como semi-


deuses, seres humanos, gatos, cachorros, sudras, hindus,
muçulmanos etc..., apenas poruqe se identifica com o corpo.
A discriminação mundana é causada pela ignorância que faz
com que uma pessoa se identifique erroneamente com o
corpo. É devido á esta ignorância que duvida de Bhagavan.
Quando a lembrança de bhagavan aparece dentro dela pela
graça dos suddha vaishnavas, toda sua ignorância desaperece
e suas idéias materialistas de diferenciação se dissipam.
Neste momento, ela se situa no brahma, que está dotado com
oito qualidades. Seguidamente, ela percebe tudo de maneira
equânime a todo momento, e por último, alcança para-bhakti.
As vezes os sastras chamam de brahma ou brahma-bhuta
para se referir á jivatma dotada com as oito qualidades
especiais. São elas:

“Deve-se buscar e conhecer a alma que está completamente


livre de: misérias que surgem dos desejos pelos objetos
sensíveis, as três classes de misérias como a velhice, a morte,
a lamentação, a tendência de desfrutar, as aspirações
mundanas. Esta alma está: dotadas com desejos favoráveis de
servir Krsna e é capaz de alcançar a perfeição em qualquer
coisa que deseje.”

Sloka 32
Anaditvam nirgunatvat
Paramatmayam avyayah
Sarira-stho´pi kaunteya
Na karoti na lipyate

Óh! Kaunteya! Por que não tem começo e está livre das três
qualidades materiais, o Paramatma imperecível não produz
karma nem é afetado pelos resultados do karma mesmo
estando situado no corpo.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “ Quando as


jivas alcançam a compreensão do brahma, podem entender
que Paramatma é imperecível, sem começo e transcendental
ás qualidades materiais. Mesmo existindo no corpo junto com
a jivatma, ele não é afetado pelas qualidades do corpo, como
a jiva condicionada. Por tanto, as jivas que alcançaram a
plataforma de brahma, não se envolvem mais em assuntos
materiais visto que se refugiam no conhecimento sobre as
qualidades de Paramatma. Escuta agora como a jiva que não
se relaciona com as qualidades materiais opera com o corpo.”

Sloka 33

Yatha sarva-gatam sauksmyad


Akasam nopalipyate
Sarvatravasthito dehe
Tathatma nopalipyate

Assim como o céu onipresente não se mistura com nada


devido á sua natureza sutil, a alma que alcançou a
compreensão do brahma, protegida por Paramatma, não é
afetada pelas qualidades ou defeitos do corpo material
mesmo que habite dentro dele.
Sloka 34

Yatha prakasayaty ekah


Krtsnam lokam imam ravih
Ksetram ksetri tatha krtsnam
Prakasayati bharata

Óh Bharata! Assim como um sol ilumina todo universo,


Paramatma ilumina o corpo inteiro através da consciência.

Prakasika-vrtti

Assim como o sol ilumina o universo apesar de estra situado


em um só lugar, a atma que está situada em uma parte do
corpo, lhe ilumina por completo ao difundir a consciência
nele. O Brahma-sutra diz: “mesmo a jivatma sendo atômica,
se difunde por todo corpo por meio de qualidade de
consciência.”

Sloka 35

Ksetra-ksetrajnayor evam
Antaram jnana-caksusa
Bhuta-prakrti-moksanca
Ye vidur yanti te param

Aqueles que possuem o olho do conhecimento espiritual e


estão versados na diferença entre o ksetra e o ksetra-jna, e
que também conhecem o meio pelo qual a jiva se libera da
prakrti, alcançam a morada suprema.

Bhavanuvada
Sri Bhagavan conclui agora este capítulo dizendo que aquele
que conhece o ksetra e o ksetra-jna, a jivatma e Paramatma, e
também os processos, como o dhyana por exemplo, mediante
os quais a jiva libera-se da prakrti(natureza material),
alcançam o destino supremo. Dos dois ksetra-jnas, a jivatma
é quem fica atada ao desfrutar das qualidades ou frutos do
ksetra, mas se libera com a aparição de jnana. Tal é a
explicação que se dá ao longo deste capítulo.

Assim termina o décimo terceiro capítulo da Gita

Capítulo 14

Guna – Traya – Vibhaga Yoga

As três qualidades da natureza material

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Param bhuyah pravaksyami
Jnananam jnanam uttamam
Yaj jnatva munayah sarve
Param siddhim ito gatah
Sri Bhagavan disse: Falarei novamente á você o supremo
jnana que está além de todo outro tipo de conhecimento. Os
sábios que compreenderam e seguiram estas instruções
alcançaram a liberação suprema do cativeiro corporal.

Bhavanuvada

Neste capítulo se explica que as três qualidades materiais são


sem dúvida a causa do cativeiro, o qual se pode inferir do seu
resultado, e que bhakti é a causa da sua destruição.

Prakasika-vrtti

No capítulo anterior foi estabelecido claramente que a


associação santa, qualquer pessoa pode liberar-se do cativeiro
da existência material e adquirir o conhecimento dos
princípios do corpo, da jiva e de Paramatma. Tal estado de
cativeiro no mundo material deve-se á associação da jiva com
as qualidades da natureza material.
Neste capítulo Bhagavan Sri Krsna explica á Arjuna o que
são as qualidades materiais, como elas funcionam , como
cativam a jiva e como a jiva pode alcançar a perfeição e o
destino supremo através deste conhecimento.

Sloka 2

Idam jnanam upasritya


Mama sadharmyam agatah
Sarge pi nopajayante
Pralaye na vyathanti ca

Os sábios adquirem uma natureza transcendental similar á


minha, ao refugiar-se neste jnana. Assim, eles não nascem de
novo nem mesmo no momento da criação. Eles também não
são perturbados pela morte no momento da devastação.
Prakasika-vrtti

Após adquirir o conhecimento transcendental do ser, a jiva


adquire qualidades similares ás de Bhagavan, em outras
palavras, muitas das suas qualidades se tornam parcialmente
semelhante ás de Bhagavan. Mesmo após obter mukti e
liberar-se do ciclo de nascimento e morte, continua existindo
como uma associada de Bhagavan. Em quanto se estabelece
em sua svarupa dedica-se ao serviço amoroso eterno aos pés
de lótus de Bhagavan. Os bhaktas não abandonam sua
svarupa, o serviço á Bhagavan, mesmo após obter mukti.

Sloka 3

Mama yonir mahad brahma


Tasmin garbham dadhamy aham
Sambhavah sarva-bhutanam
Tato bhavati bharata

Ó Bharata! Minha prakrti é o ventre onde fertilizo o embrião


e assim eu produzo o nascimento de todas as entidades vivas.

Bhavanuvada

A causa do cativeiro material é a associação com os três


modos da natureza material., como consequencia da
ignorância existente desde tempos imemoriais. Para explicar
melhor a causa da condição de cativeiro, Bhagavan explica
como nacsem o ksetra e o ksetrajna. “O mahad-brahma é meu
lugar de fecundação”.

Prakasika-vrtti
No mundo material tudo sucede pela combinação de ksetra e
ksetra-jna, o corpo e a jivatma respectivamente. A
combinação da prakrti com o purusa – a jivatma – ocorre pela
vontade de Paramesvara. Assim como os escorpiões botam
seus ovos em uma bocado de arroz e as pessoas acham que
eles nascem do arroz e não dos ovos, da mesma forma, o
nascimento da jiva não é produto da natureza material.
Bhagavan infunde a jiva dentro da prakrti, mas as pessoas
pensam que a jiva nasce dela. Cada jiva obtém um corpo de
acordo com suas ações prévias, a prakrti apenas cria
diferentes corpos materiais sob a supervisão de Bhagavan. As
jivas que se identificam com seus corpos, desfrutam de
felicidade ou experimentam sofrimento segundo seu karma.
Deve-se entender que Bhagavan é a causa original da
manifestação da jiva e do universo.

Sloka 4

Sarva-yonisu kaunteya
Murtayah sambhavanti yah
Tasam brahma mahad yonir
Aham bija-pradah pita

Óh Kaunteya! A grande natureza material é a mãe de cujo


ventre nasce todas as espécies de vida e eu sou o pai que
concede a semente.

Bhavanuvada

“A prakrti é a mãe de todos os seres e eu sou o pai, não


apenas no momento da criação, mas sempre. A prakrti é o
ventre ou a mãe de todos os tipos de corpos nos quais nascem
os seres móvei e imóveis, desde os semi-deuses até as ervas
etc.. Eu sou o pai que a fertiliza concedendo a semente.”
Sloka 5

Sattvam rajas tama iti


Gunah prakrti-sambhavah
Nibadhnanti maha-baho
Dehe dehinam avyayam

Óh Maha-baho! Os três gunas, sattva, rajas e tamas, nascidos


da prakrti, prendem a jiva imutável que mora dentro do
corpo.

Bhavanuvada

A jiva é imperecível, imutável e em princípio é livre do


contato material. Mas suas qualidades materiais á prendem
devido á sua associação com elas. Esta associação é produto
de sua ignorância desde tempo imemoriais.

Prakasika-vrtti

O Srimad Bhagavatam diz que: “As jivas, manifestadas da


tatastha sakti, recebem a associação da natureza material
como consequencia da sua aversão por Krsna.”
Constitucionalmente falando, as jivas são superiores á maya,
mas devido ao ego de “eu” e “meu” causado pela associação
com maya, se torna subordinada á existência material em
corpos gerados pela prakrti.

Sloka 6

Tatra sattvam nirmalatvat


Prakasakam anamayam
Sukha-sangena badhnati
Jnana-sangena canagha
Óh Anagha! Das três qualidades materiais, a qualidade da
bondade é favorável, ilumina o ser e é livre de vícios devido
á sua pureza, mas prende a jiva através do apego, da
felicidade e do conhecimento.

Bhavanuvada

Este verso descreve as características de sattva-guna e explica


como ela ata á jiva. Quando a jiva se sente calma, o apego á
felicidade produzido pelas atividades em sattva-guna lhe faz
pensar que está materialmente satisfeita. Como é iluminada, o
apego pelo conhecimento em sattva-guna lhe faz desenvolver
um ego de conhecedor.
A felicidade e o conhecimento nestes estados se deve á
ignorância que obriga a jiva á desenvolver concepções
baseadas no falso ego. Tal ego é a causa do cativeiro da jiva .
“Óh imaculado! Não deves aceitar este pecado , o aspecto do
falso ego que o faz pensar; “Sou feliz, ou “Sou esperto”.

Sloka 7

Rajo ragatmakam viddhi


Trsna-sanga-samudbhavam
Tan nibadhnati kaunteya
Karma-sangena dehinam

Óh Kaunteya! Entende que a qualidade da paixão se


manifesta pela qualidade do apego pelos objetos sensíveis e
do desejo de desfruta-los. Esta energia ata a jiva
corporificada através do apego pelas atividades fruitivas.

Bhavanuvada
Entende que rajo-guna é que outorga prazer mundano. O
desejo por um objeto que não se possui é chamado trsna, o
apego pelos objetos que já se obteve se chama sanga. O rajo-
guna do qual nasce ambos os apegos, ata a alma
corporificada através da ação consciente ou inconsciente,
perceptível ou imperceptível. O apego pela atividade fruitiva
se deve tanto ao desejo quanto á associação.

Prakasika-vrtti

A atração mútua entre macho e fêmea é a qualidade


específica de rajo-guna. Esta qualidade material gera o anseio
de desfrute nos seres corporificados, assim como o desejo de
obter honra na sociedade ou nação, uma bonita esposa, boa
progênie e uma família feliz. Tais são as características de
rajo-guna.
A razão pela qual o universo todo caiu no cativeiro de maya é
o apego aos prazeres sensuais produzido por rajo-guna. Sua
influência é vista atualmente por todo lugar na sociedade
moderna, mas no mundo antigo , sattva-guna predominava.
Se um homem em sattva-guna é incapaz de obter mukti,
muito menos um que está coberto por rajo-guna.

Sloka 8

Tamas tv ajnana-jam viddhi


Mohanam sarva-dehinam
Pramadalasya-nidrabhis
Tan nibadhnati bharata

Óh Bharata! O tamo-guna, que nasce da ignorância , é a


causa da ilusão das entidades vivas. Ela aprisiona as almas
condicionadas através da indolência(loucura), apatia e do
sonho(depressão mental).
Prakasika-vrtti

O tamo-guna(qualidade da ignorância) é a mais baixa dos


três gunas e é completamente oposta á sattva-guna. Uma
pessoa em tamo-guna pensa que o corpo e os prazeres
corporais são a coisa mais importante. Como resultado,
perede sua capacidade de discriminação e praticamente
enlouquece.
Vemos que nossos pais e avôs já morreram, nós também
morreremos e nossos descendentes também irão morrer. Isto
demonstra que a morte é certa.
Aqueles que se encontram em tamo-gunca não pode buscar
pelo ser interno. Acumulam riqueza mediante o engano,
hipocrisia, violência ou atos similares com o único propósito
de satisfazer seus sentidos. Tal atitude é sintoma de loucura.
O sintoma de uma pessoa em tamo-guna é que ela ingere
drogas, carne, peixe, ovos, licor e produtos similares. Elas
permanecem inativas, é preguiçosa, descuidada, negligente e
dorme mais que o necessário. Um sadhaka deve abondanar
por completo esta qualidade material.

Sloka 9

Sattvam sukhe sanjayati


Rajah karmani bharata
Jnanam avrtya tu tamah
Pramade sanjayaty uta

Óh Bharata! A qualidade da bondade aprisiona a pessoa


através da felicidade e a qualidade da paixão através do
trabalho fruitivo, mas a qualidade da ignorância cobre todo
seu conhecimento e á conduz á loucura.

Sloka 10
Rajas tamas cabhibhuya
Sattvam bhavati bharata
Rajah sattvam tamas caiva
Tamah sattvam rajas tatha

Óh Bharata! Quando surge a qualidade da bondade, ela


supera os modos da paixão e da ignorância. A qualidade da
paixão submete ás da bondade e da ignorância ao aparecer, e
quando a qualidade da ignorância se manifesta, vence todas
as outras.

Sloka 11

Sarva-dvaresu dehe´smin
Prakasa upajayate
Jnanam yada tada vidyad
Vivrddham sattvam ity uta

Deve se entender que a qualidade da bondade predomina


quando aparece o conhecimento, e quando todas as portas dos
sentidos de adquisição de conhecimento se iluminam
manifestando no ser a felicidade.

Bhavanuvada

Agora, Sri Bhagavan explica os sintomas da qualidade


predominante. Quando os sentidos, como por exemplo o
ouvido, começa á adquirir conhecimento védico perfeito,
entende-se que sattva guna está predominando.A palavra uta
enfatiza que a iluminação, na forma de felicidade, é gerada
pelo ser.

Sloka 12

Lobhah pravrttir arambhah


Karmanam asamah sprha
Rajasy etani jayante
Vivrddhe bharatarsabha

Óh Bharata-rsabha! Os sintomas do predomínio da qualidade


da paixão são a avareza, o esfôrço exagerado e o anseio
constante pelo prazer sensual.

Sloka 13

Aprakaso pravttis ca
Pramado moha eva ca
Tamasy etani jayante
Vivrddhe kuru-nandana

Óh Kuru-nandana! O predomínio da qualidade da ignorância


produz inércia(falta de esfôrço), loucura, ilusão e falta de
discriminação.

Sloka 14

Yada sattve pravrddhe tu


Pralayam yati deha-bhrt
Tadottama-vidam lokam
Amalan pratipadyate

Quando uma pessoa abandona seu corpo predominada pelo


modo da bondade, ela alcança os planetas superiores puros,
onde moram os grandes sábios, os adoradores de
Hiranyagarbha e também se tornam livres da qualidade da
paixão e ignorãncia.

Sloka 15

Rajasi pralayam gatva


Karma-sangisu jayate
Tatha pralinas tamasi
Mudha-yonisu jayate

Os que morrem predominados pelo modo da paixão, nascem


como humano entre os trabalhadores fruitivos, mas os que
morrem no modo da ignorância nasce em uma espécie
animal.

Sloka 16

Karmanah sukrtasyahuh
Sattvikam nirmalam phalam
Rajasas tu phalam duhkham
Ajnanam tamasah phalam

Os sábios dizem que a atividade realizada no modo da


bondade produz resultados puros e prazeirosos, as que são
realizadas no modo da paixão resultam em miséria e o único
fruto das atividades realizadas no modo da ignorância é a
prória ignorância.

Prakasika-vrtti

Aqueles que estão situados na qualidade da bondade se


dedicam á seu bem estar pessoal, ao bem estar da sociedade e
das pessoas em geral. Suas ações são denominadas de punya-
karma, atividades piedosas. São felizes no mundo material e
tem a possibilidade de obter sadhu-sanga. O karma executado
pelas pessoas no modo da paixão, produz miséria pois as
ações realizadas para o prazer sensual e momentâneo são
inúteis. Sua vida é miserável e sua felicidade não é real. As
ações de uma pessoa situada no modo da ignorância são
dolorosas ao extremo para ela. Após a morte, tem que nascer
como cachorros, pássaros ou em alguma outra espécie
animal. O principal sintoma de quem está situado nesta
qualidade é que ela mata e come carne de animais. Os que
matam animais ignoram que no futuro o mesmo animal, de
uma forma ou de outra o matará também. Esta é a lei da
natureza. Na sociedade humana, se alguém mata um ser
humano ela é punida pelo estado. Mas os ignorantes não
sabem que Paramesvara é o controlador original do universo
inteiro. Ele não toléra nem mesmo a morte de uma formiga
pelo ser humano, por tanto, tais pessoa devem sofrer algum
castigo. Matar animais apenas para satisfazer o paladar é uma
ofensa gravíssima. Destas atividades a matança de vacas é
severamente castigada. A vaca e o touro são nosso pai e mãe,
por isso nos Vedas e nos Puranas se considera que a matança
de vacas é o ato mais pecaminoso.
A vaca, com seu leite, é como uma mãe e o touro, com seu
serviço na agricultura, é como um pai. Eles nos alimentam
como nossos pais. Devido á ignorância, os seres humanos
‘cultos’ da atualidade vão contra esta verdade e assim aderem
ao caminho da degradação de toda a sociedade. Destróem á si
mesmos e a sociedade inteira. Por tanto é indispensável que
que as pessoas inteligentes se situem na qualidade da
bondade e se refugiem em bhagavad-bhakti e no canto dos
santos nomes de Hari, para proteger a sociedade deste grande
perigo. Quando uma pessoa se lembra de Bhagavan Sri Krsna
na associação dos devotos, toda sua ignorância é dissolvida,
seu sectarismo material e sua discriminação mundana
desaparecem e ela vê Paramesvara em tudo.

Sloka 17

Sattvat sanjayate jnanam


Rajaso lobha eva ca
Pramada-mohau tamaso
Bhavato jnanam eva ca
O jnana nasce da qualidade da bondade, enquanto que a
qualidade da paixão é a origem da avareza. O descuido, a
ilusão e a ignorância são frutos da qualidade da ignorância.

Sloka 18

Urddhvam gacchanti sattva-stha


Madhye tisthanti rajasah
Jaghanya-guna-vrtti-stha
Adho gacchanti tamasah

Aqueles que estão situados na qualidade da bondade


ascendem aos planetas celestiais. Os que estão na qualidade
da paixão permanecem nos planetas terrenos e os que estão
absortos nas abomináveis atividades da qualidade da
ignorância são jogados nos planetas infernais.

Sloka 19

Nanyam gunebhyah karttaram


Yada drastanupasyate
Gunebhyas ca param vetti
Mad-bhavam so´dhigacchati

Quando a jiva observa de acordo com os Vedas que não há


outro agente ativo além das três qualidades materiais e
compreende que atma(alma) é transcendental á estas
qualidades, pela influência de suddha-bhakti ela alcança
minha natureza espiritual.

Bhavanuvada

Após descrever o mundo material, constituido pelas


qualidades materiais, Sri Bhagavan explica neste e no
próximo verso, a devoção pura, que é completamente distinta
daquelas.

Prakasika-vrtti

Todas as jivas nas diferentes espécies de vida desde a


formiga até os rios, montanhas ás árvoes e seres humanos,
trabalham irremediavelmente atadas pelas qualidades
materiais. Na realidade, nas suas atividades não há nenhum
outro agente ativo á não ser estas qualidades materiais.
Paramesvara se encontra além da natureza material e de suas
qualidades, mesmo sendo o controlador original. Quem
conhece esta realidade cruza a prakrti e suas qualidades para
alcançar o destino supremo, mas nada pode entender através
de sua própria inteligência e discriminação. Por tanto, a
associação dos maha-purusas versados no conhecimento
transcendental é extremamente necessária. Não importa quão
degradada seja a jiva, na associação dos grandes
sadhus(santos) ela transcende rápida e facilmente as três
qualidades.

Sloka 20

Gunan etan atitya trin


Dehi deha-samudbhavan
Janma-mrtyu-jara-duhkhair
Vimukto mrtam asnute

Após transcender as três qualidades que geram o corpo, a jiva


se libera do nascimento, morte, da enfermidade e da velhice.
Assim ela alcança a imortalidade.

Prakasika-vrtti
Uma pessoa que alcançou a natureza do brahma não é afetada
pelas misérias do nascimento, morte, velhice e doença.
Mesmo os bhakti-misra-jnanis,que alcançaram a perfeição do
jnana, abandonam tal jnana para obter param-bhakti aos pés
de lótus de bhagavan. Ocupados constantemente na bem
aventurança deste serviço, finalmente saboreiam o néctar de
prema. O contrário, os nirvisesa-jnanis que se dedicam
simplesmente ao cultivo de jnana não obtéem nada.

Sloka 21

Arjuna uvaca
Kair lingais trin gunan etan
Atito bhavati prabho
Kim-acarah katham caitams
Trin gunan ativarttate

Arjuna disse: Ó Prabhu! Quais são os sintomas de uma


pessoa que transcendeu estas três qualidades? Como ela se
comporta? Como ela ás transcende?

Sloka 22-25

Sri bhagavan uvaca


Prakasanca pravrttinca
Moham eva ca pandava
Na dvesti sampravrttani
Na nivrttani kanksati

Udasina-vad asino
Gunair yo na vicalyate
Guna vartanta ity evam
Yo´vatisthati nengate

Sama duhkha-sukhah sva-sthah


Sama-lostasma-kancanah
Tulya-priyaoriyo dhiras
Tulya-nindatma-samstutih

Manapamanayos tulyas
Tulyo mitrari-paksayoh
Sarvarambha-parityagi
Gunatitah sa ucyate

Sri Bhagavan disse: Óh! Filho de Pandu, uma pessoa que


transcendeu as três qualidades materiais não se agita pela
iluminação, atividades ou ilusão, quando estas se fazem
presentes nem fica ansioso quando elas se esgotam; é
indiferente e equânime diante ás qualidades materiais e suas
reações como felicidade e aflição, consciente de que é apenas
estas qualidades que estão atuando. Ela é impertubável e
imparcial; está situada em sua svarupa e considera que a
terra, a pedra e o ouro são iguais. É equlibrado nas situações
agradáveis e desagradáveis, é inteligente, permanece
equânime na crítica e no elogio, na honra e na desonra; trata
com objetividade os amigos e os inimigos e renunciou á todas
as atividades á não ser as que são necessárias para sua
manutenção.

Sloka 26

Manca yo´vyabhicarena
Bhakti-yogena sevate
sa gunan samatityaitan
brahma-bhuyaya kalpate

Aquele que oferece serviço devocional exclusivo á mim,


transcende por completo estas três qualidades materiais e
capacita-se á compreender o brahma.
Bhavanuvada

Como pode alguém transcender as três qualidades materiais?


Para responder esta pergunta, Bhagavan recita este verso.
“Apenas quem me oferece serviço em minha forma de
Syamasundara, Paramesvara, se capacita á experimentar
minha natureza espiritual”. O Gita (7.14) afirma também: “
Apenas os que se rendem á mim, podem cruzar o oceano de
maya.”
O Srimad Bhagavatam declara; “O praticante da ação que
tem á mim como refúgio é nirguna.” Também diz:
“A pessoa situada em sattva-guna está desapegada, a que está
em rajo-guna está extremamente apegada e a pessoa na
qualidade de tamas perde sua memória e sua capacidade de
discriminação. Mas á que se refugia em mim é nirguna.”
O verso explica que os karmis e jnanis desapegados são
sadhakas em sattva-guna, enquanto que os que refugiam em
Bhagavan são nirguna. Aqui, explica-se que os bhaktas são
os únicos sadhakas verdadeiros.”

Sloka 27

Brahmano hi pratisthaham
Amrtasyavyayasya ca
Sasvatasya ca dharmasya
Sukhasyaikantikasya ca

Sou a base do nirvisesa-brahma e o único refúgio da


imortalidade, o dharma eterno e a bem aventurança
transcendental do prema que resulta da ekantika-bhakti
(devoção pura e exclusiva).

Bhavanuvada
“Sou o fundamento do brahma e sou conhecido como a
suprema base de todas as coisas. Visto que o brahma depende
de mim, sou o fundamento. Também sou o fundamento da
imortalidade ou amrta. É este amrta o néctar celestial? Não.
O amrta é a liberação, moksa. Sou também o fundamento de
bhakti, o dharma supremo e eterno, que existe tanto na etapa
de sadhana quanto na etapa de siddha, e além do amis sou o
prema que se obtém através de ekantika bhati. Visto que tudo
depende de mim, uma pessoa pode alcançar a plataforma do
brahma, sua fusão neste, quando executa meu bhajana com
objetivo de alcançar kaivalya”. Kaivalya é um estado único
de existência espiritual carente de atividades mentais e
físicas.
Madhusudana Sarasvati compôs um verso que analiza se o
brahma é nirvisesa ou savisesa.

“Adoro a refulgente forma que é a essência de toda beleza, o


filho de Nanda Maharaja, o parabrahma possuidor de uma
forma humana que dissipou a dualidade da minha mente.”

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “ Em minha


plataforma nirguna eterna, em minha svarupa como
Bhagavan, coloco na jiva, a semente consciente que provém
da tatastha-sakti, no ventre da minha energia material inerte.
A refulgência do meu corpo é a primeira manifestação do
meu reino espiritual e constitue meu aspecto indiferenciado.
A jiva avança progressivamente fazendo planos no cultivo de
jnana yoga e finalmente alcança meu aspecto brahma. Este
constitue o primeiro estado da plataforma nirguna. Antes de
chegar alí, é desconcertada por um sentimento nirvisesa que
se produz ao abandonar a atração pela diversidade mundana.
Este sentimento acaba quando chega ao plano nirguna e
decide se refugiar em suddha-bhakti-yoga. Mais tarde,
através deste processo, alcança a plataforma da variedade
espiritual.
Eu , a Suprema Personalidade de Deus, sou o refúgio do
brahma, que é o destino supremo dos jnanis. A imortalidade,
a eternidade, o prema em sua forma de ocupação eterna e a
sempre bem aventurada plataforma de vraja rasa é alcançada
através do refúgio em minha krsna-svarupa, a realidade
suprema que transcende as qualidades materiais e está cheia
de variedade.”

Assim, conclui-se o décimo quarto capítulo do Srimad


Bhagavd Gita.

Capítulo 15
Purusottama Yoga

A compreensão da pessoa Suprema

Sloka 1

Sri bhagavan uvaca


Urddhva-mulam adhah-sakham
Asvattham prahur avyayam
Chandamsi yasya parnani
Yas tam veda sa veda-vit

Sri Bhagavan disse: Os sastras descrevem o mundo material


como um asvattha imperecível, um tipo especial de árvore
banyam no qual as raízes crescem para cima, aos ramos se
extendem para baixo e as folhas são os hinos védicos que
estabelecem as atividades fruitivas. Quem conhece a verdade
sobre esta árvore, conhece os vedas de verdade.

Bhavanuvada

Sri Krishna corta as ataduras da existência material e ao


mesmo tempo não está vinculado á ela. O atma ou jiva é uma
parte de Isvara. Krsna é o purusa que se encontra além das
entidades perecíveis e também imperecíveis. Tudo isto é
descrito neste capítulo.
Foi dito no capítulo anterior: “ Aquele que me adora com
ananya-bhakti transcende as qualidades materiais e se
capacitam á experimentar o brahma” (Gita 14.26). Agora
alguém poderia perguntar. “Se tu tens uma forma humana,
como poderia alguém alcançar a natureza espiritual
adorando-te através de bhakti-yoga?” Bhagavan responde:
“Sou um ser humano, mas ao mesmo tempo sou o refúgio
Supremo e o fundamento do brahma.”
Então surge as perguntas: “ Qual é então, a natureza do
mundo material constituído pelos gunas? De onde eles foram
gerados? Quais são as jivas que transcendem o mundo
material através de bhakti? Qual é o significado da palavra
brahma? Prevendo estas perguntas, Sri Bhagavan usa uma
liguagem metafórica para descrever o mundo material
comparando-o com uma árvore banyam. Satya loka é a região
mais elevada deste mundo. “O mahat-tattva é o broto da
semente fecundada por mim no ventre da prakrti.”
Adhah significa que os ramos desta árvore descendem aos
planetas Svarga, Bhuah e Bhu, na forma de ilimitados semi-
deuses, gandharvas, kinnaras, asuras, raksasas, pretas, seres
humanos e animais tais como vaca, cavalos, pássaros, cisneis,
insetos e entidades vivas imóveis. A árvore outorga frutos aos
trabalhadores fruitivos na forma de religiosidade,
desenvolvimento econômico, desfute sensual e liberação. Por
tal razão se denomina uttama, o melhor.
Se diz que aquele que entende este mundo material, o qual se
parece com tal árvore que é também temporária, conhece a
verdade dos vedas.

Sloka 2

Adhas corddhvam prasrtas tasya sakha


Guna-pravrddha visaya-pravalah
Adhas ca mulany anusantatani
Karmanubandhini manusya-loke

As folhas desta árvore, que representam os diversos objetos


sensíveis, são nutridas pelas três qualidades materiais. Seus
ramos se extendem até as espécies inferiores de vida, como
os seres humanos e animais, e também até os superiores
como os semi-deuses. Algumas das suas raízes são os desejos
de desfrute sensual e crescem para baixo gerando assim a
corrente do karma na sociedade humana.

Bhavanuvada

Os ramos da árvore do mundo material se espalham por todo


lugar. Assim como alimenta-se uma árvore regando-a com
água, a árvore do mundo material alimenta-se de diferentes
tendências das qualidades materiais. Os objetos sensíveis, tais
como o som, são seus brotos. Alguns acreditam que debaixo
dos seus ramos tem um grande tesouro. Mesmo que a origem
das raízes se encontrem em Brahmaloka, há outras raízes na
sociedade humana. Tais raízes, sustentadas pelo karma, estão
em constante crescimento. Depois de experimentar os
resultados de suas ações no corpo de alguma das espécies de
vida, a jiva volta á gerar karma na forma humana de vida.
Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “Numerosos


ramos desta árvore se sustentam em tamo-guna e se
extendem para baixo. Muitos ramos são nutridos por rajo-
guna e estão situados em um nível intermediário. Muitos
ramos, sustentados por sattva-guna, crescem para cima. Os
prazeres sensuais materiais são os brotos destes ramos.

Slokas 3 – 4

Na rupam asyeha tathopalabhyate


Nanto na cadir na ca sampratistha
Asvattham enam su-virudha-mulam
Asanga-sastrena drdhena chittva

Tatah padam tat parimargitavyam


Yasmin gata na nivarttanti bhuyah
Tam eva cadyam purusam prapadye
Yatah pravrttih prasrta purani

A verdadeira forma desta árvore não é perceptível neste


mundo. Seu começo, final e base, não é definítivo. Após
cortar profundamente a raíz desta árvore da existência
material com a afiada faca do desapego, é indispensável
buscar pelos pés de lótus da pessoa primordial, Sri Bhagavan,
que constituem as raízes desta árvore sem começo que
simboliza o samsara. Aquele que se rendeu e alcançou
Bhagavan, cortou o ciclo de nascimentos e mortes e assim
jamais regressa á este mundo.

Bhavanuvada
Aqui a palavra asanga significa desapego de tudo. Após
cortar esta árvore com a faca do desapego, deve-se buscar por
brahma, a maior riqueza e a origem da árvore.
“Qual é a natureza da sua origem?”. Bhagavan responde: “Ao
alcançar este destino, o estado original, jamais se regressa ao
mundo material temporário.”.
“Como devemos busca-lo?” Bhagavan responde: “A pessoa
deve se refugiar no purusa primordial e dedicar-se á seu
bhajana, pois todo o mundo material é uma expansão dele,
quem não tem começo. Por tanto, é necessário busca-lo
através de bhakti.

“ A jiva perdeu sua memória desde tempos imemoriais como


consequencia da sua aversão á Paramesvara. A aversão á
conduziu para a absorção dos objetos dos sentidos. Ela
confunde seu ser com seu corpo devido á influência da
energia ilusória composta pelos três gunas, as quais lhe
causam temor devido á esta absorção na matéria. As jivas
condicionadas são cativadas por maya. Por isto, os eruditos
devem se refugiar nos pés de lótus de Sri Guru e executar
bhajana com ananya bhakti á Sri Krishna. Assim, podem
transcender a energia ilusória (maya).

Sloka 5

Nirmana-moha jita-sanga-dosa
Adhyatma-nitya vinivrtta-kamah
Dvandvair vimuktah sukha-duhkha-samjnair
Gacchanty amudhah padam avyayam tat

Apenas as pessoas emancipadas que estão livres do orgulho e


da ilusão, que superaram a degradação do falso desapego,
que estão dedicadas á busca por Paramatma e não estão
sujeitas ao desejo por desfrute material, dualidades como
felicidade e miséria, alcançam a imutável morada eterna.
Bhavanuvada

Quais são os sintomas das pessoas que alcançaram a morada


eterna de Bhagavan, após obterem bhakti? Sri Bhagavan
responde com este verso que quem está interessado em
entender o que é eterno e o que é temporário, permanece
ocupado em deliberar sobre Paramatma e também deseja
obte-lo.

Sloka 6

Na tad bhasayate suryo


Na sasanko na pavakah
Yad gatva na nivarttante
Tad dhama paramam mama

Nem mesmo o sol, a lua ou o fogo pode iluminar este reino


supremo, que é auto refulgente por natureza e ilumina todos
os demais. Quando as pessoas rendidas alcançam tal morada,
jamais regressam á este mundo.

Prakasika-vrtti

Neste verso descreve-se as características da morada de


Bhagavan. Após chegar á morada eterna, nunca mais se
regressa ao mundo material. Esta morada não está iluminada
pelo sol, lua, fogo, raio etc.. pois é auto refulgente. Esta
morada se chama Goloka, Krishna-loka, Vraja, Gokula ou
Vrindavana. Svayam Bhagavan, Vrajendra Nandana Sri
Krishna, performa seus passatempos bem aventurados com
seus associados em sua morada suprema. Pode-se alcança-la
apenas mediante o cultivo de prema bhakti, raganuga bhakti
seguindo especificamente os passos das gopis de Vraja. É
impossível alcança-la por algum outro meio.
Sloka 7

Mamaivamso jiva-loke
Jiva-bhutah sanatanah
Manah sasthanindriyani
Prakrti-sthani karsati

As jivas eternas que se encontram no mundo material são


minhas partes integrantes. Atadas pela natureza material, são
atraídas pelos seis sentidos, incluindo a mente.

Bhavanuvada

As jivas são eternas, mas enquanto vivem em corpos


materiais são atadas pela atração mundana que surge da
mente e dos cinco sentidos. Isto é devido ao ego que as fazem
pensar: “Tudo pertence á mim”, assim elas se sentem atraídas
pelo mundo material.

Prakasika-vrtti

Neste verso, Bhagavan descreve jiva tattva. A jiva é uma


parte de Bhagavan, mas deve compreender o seu tipo
específico. As amsas(partes) de Bhagavan são de dois tipos:
svamsa e vibhinnamsa. O visnu-tattva está dentro da
categoria svamsa tais como Matsya, Kurma, Nrsimha e Rama
são svamsa – tattva. As jivas são vibhinnamsa-tattva. Quando
sac-cid-ananda Bhagavan está separado de todas suas
energias, exceto a tatastha-sakti, suas partes separadas se
denominam vibhinnamsa-tattva.
As jivas, geradas da jiva-sakti ou tatastha-sakti, a qual não é
diferente de Bhagavan, são vibhinnamsa-tattva. Algumas das
suas características são qualitativamente iguais á Bhagavan e
outras são diferentes. Assim sendo, sua relação com
Bhagavan é tanto de igualdade quanto de diferença
simultânea e inconcebível ou acitya-bedha-abedha-tattva.
As jivas existem em dois estados ocndicionados:
condicionados e liberados. No estado liberado a jiva está livre
das designações ilusórias e permanece ocupada no serviço á
Bhagavan, mas em seu estado condicionado se encontra
enredada no mundo material e coberta pelas designações
ilusórias dos corpos sutil e grosseiro. Isto é explicado no
Srimad Bhagavatam:

“Ó inteligente Uddhava, as jivas são partes separadas de


mim, a Realidade Absoluta não dual, ele é um sem um
segundo. Devido á ignorância as entidades vivas são
cativadas mas as vezes o conhecimento lhes proporciona
mukti.”

“Devido á energia externa, a jiva entende que é um produto


material e por tanto, tem que submeter-se ás reações do
sofrimento material.”

Este verso explica que a entidade viva é uma entidade eterna,


jamais se funde em nenhuma outra existência nem é
destruída. A existência da jiva é eterna, tanto em seu estado
liberado quanto no condicionado. A jiva é sempre jiva,
jamais pode converter-se em brahma.

Sloka 8

Sariram yad avapnoti


Yac capy utkramatisvarah
Grhtvaitani samyati
Vayur gandhan ivasayat
Assim como o vento transporta o aroma das flores, a jiva
corporificada transporta os seis sentidos juntamente com seus
desejos do seu antigo corpo para o próximo corpo.

Prakasika-Vrtti

Sri Bhagavan está explicando como uma jiva condicionada


obtém outro corpo. Depois da morte, seu condicionamento
não se acaba. Até que a jiva se libere do mundo material
mediante execução de bhagavad bhajana, ela tem que nascer
repetidamente de acordo com as impressões de suas
atividades prévias. Aqui foi usada a anlogia das flores para
explicar este processo.
O Srimad Bhagavatam diz (11.22.26)

“A mente, onde se encontra as impressões do karma, viaja


com os cinco sentidos de um corpo á outro. O atma é
diferente dela, mas á segue devido ao falso ego.”

Sloka 9

Srotrancaksuh sparsananca
Rasanam ghranam eva ca
Adhisthaya manas cayam
Visayan upasevate

Refugiando-se nos ouvidos, olhos, língua, nariz, o sentido do


tato e especialmente na mente, a jiva desfruta dos diversos
objetos sensíveis.

Sloka 10

Utkramantam sthitam vapi


Bhunjanam va gunanvitam
Vimudha nanupasyanti
Pasyanti jnana-caksusah

O néscio que carece de discriminação não pode perceber com


seus sentidos quando a jiva abandona o corpo, quando mora
no corpo ou quando desfruta através dos sentidos. Mas os
sábios podem ver tudo.

Sloka 11

Yatanto yoginas cainam


Pasyanty atmany avasthitam
Yatanto py akrtatmano
Nainam pasyanty acetasah

Os yogis perseverantes podem perceber a alma situada dentro


do corpo, mas quem sustenta pensamentos impuros e
carecem de sabedoria não pode percebe-la mesmo que se
esfórce para isto.

Sloka 12

Yad aditya-gatam tejo


Jagad bhasayate khilam
Yac candramasi yac cagnau
Tat tejo viddhi mamakam

Deves entender que o resplendor do sol que ilumina todo


universo, assim como a lua e o fogo, provém todos de minha
pessoa.

Bhavanuvada

“Favoreço a jiva em seu estado condicionado, na forma do


sol, da lua e outras luminárias, capacitando-a para satisfazer
todas as suas necessidades.” Tal favor se indica com as
palavras yad aditya-gatam e continua explicando nos dois
versos seguintes. “Desde a montanha Udaya, eu, o resplendor
do sol nascente, ilumino o universo para que começe a ação
que satisfaz os desejos, tanto evidentes quanto ocultos, de
desfrute sensual das jivas. O brilho da lua e do sol também
são meus. Possuo diferentes nomes como Surya e Candra.
Eles se eencontram entre minha opulências por que fazem
parte da minha magnificiência.”

Prakasika-vrtti

Uma pessoa carente de bhakti, ego ignorante, confunde o


corpo com o ser. Não pode compreender que Paramesvara é a
causa original da existência ou manifestação de todas as
entidades vivas, sentimentos, ações, e qualidades deste
mundo. Pensa que a causa de tudo é a terra, a água, o ar, p
éter, a lua, o sol, a eletricidade ou outros elementos. Sri
Krishna expressa aqui claramente que o sol, a lua, o fogo e a
eletricidade se manifestam dele. Ele cria as variedades de
desfrute e liberação da jiva. Ele cria as variedades de desfrute
visíveis e invisíveis, para as jivas, fazendo com que parte do
seu resplendor entre no sol, na lua e outras luminárias.
Uma jiva pode entender facilmente o princípio mencionado
através da prática de bhakti yoga. Assim ela pode
compreender o aspecto da magnificiência de Sri Bhagavan
que Ele está explicando. Mas uma jiva confundida por maya,
jamais compreende esta realidade.

Sloka 13

Gam avisya ca bhutani


Dharayami aham ojasa
Pusnami causadhih sarvah
Somo bhutva rasatmakah
Eu infundo minha potência na terra e deste modo sustento
todas as entidades vivas. Me converto na nectárea lua e assim
alimento a vida vegetal.

Sloka 14

Aham vaisvanaro bhutva


Praninam deham asritah
Pranapana-samayuktah
Pacamy annam catur-vidham

Como o fogo da digestão nos corpos das entidades vivas,


combinado com os ares vitais, digiro os quatro tipos de
alimentos.

Sloka 15

Sarvasya caham hrdi sannivisto


Mattah smrtir jnanam apohananca
Vedais ca sarvair aham eva vedyo
Vedanta-krd veda-vid eva caham

Situo-me como Antaryami no coração de todas as entidades


vivas. A lembrança e o conhecimento também vem de mim.
Sou o objetivo único do conhecimento védico. Sou a origem,
o compilador e o conhecedor do Vedanta.

Sloka 16

Dvav imau purusau loke


Ksaras caksara eva ca
Ksarah sarvani bhutani
Kuta-stho ksara ucyate
Nos quatorze sistemas planetários, há dois purusas famosos:
o falível e o infalível. As entidades vivas, móveis e imóveis
são falíveis e o purusa imutável é infalível.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krishna: “Se dissestes


que a prakrti é uma, está certo. Mas há dois tipos de purusa
neste mundo, o falível e o infalível. As jivas conscientes
emanadas como porções são falíveis. A jiva se denomina
ksara-purusa por que sua natureza é tatastha; por este motivo
tem a tendência de cair de sua posição constitucional. As
manifestações svamsa jamais caem de sua posição
constitucional, elas são infalíveis. Outro nome do aksara
purusa é kuta-stha. O kuta-stha se manifesta de três maneiras:

1 – Brahma, o aksara original que infiltra o universo inteiro.


Este tattva é relativo ao universo, não é indepedente.

2 – Paramatma, a manifestação parcial da transcendencia, o


refúgio e a testemunha da jiva consciente.

3 – Bhagavat-tattva, Sri Bhagavan que será explicado no


capítulo dezoito.

Sloka 17

Uttamah purusas tv anyah


Paramatmety udahrtah
Yo loka-trayam avisya
Bibharty avyaya isvarah

Há uma personalidade infalível superior conhecida como


Paramatma. Ele é Isvara, o imutável controlador que penetra
e sustenta os três mundos.
Sloka 18

Yasmat ksaram atito ´ham


Aksarad api cottamah
Ato ´smi loke vede ca
Prathitah purusottamah

Por que sou superior tanto em relação ao princípio falível


quanto ao infalível, o mundo inteiro e também os Vedas me
conhecem como Purusottama, a Pessoa Suprema.

Bhavanuvada

Após descrever Paramatma, o objeto adorável dos yogis, Sri


Bhagavan descreve o bhagavat-tattva, a deidade adorável dos
bhaktas. De todas as formas, unicamente Krishna é
reconhecido como Purusottama. Sri Bhagavan recita este
verso para explicar tal denominação e sua supremacia. Esta
formaé superior á ksara purusa, á jiva, e ao imutável
Paramatma.

Prakasika-vrtti

A primeira compreensão do para-tattva é o brahma, a


Segunda é Paramatma e a terceira é a compreensão de
Svayam Bhagavan. Assim, Svayam Bhagavan é o limite
superior do parambrahma, enquanto que brahma e
Paramatma são apenas duas de suas manifestações. A
refulgência de Krishna é conhecida como brahma e a porção
de sua porção é conhecida como Paramatma. O terceiro e
máximo aksara-purusa é conhecido como Bhagavan Sri
Krishna.

Sloka 19
Yo mam evam asammudho
Janati purusottamam
As sarva-vid bhajati mam
Sarva-bhavena bharata

Ó Bharata! Aquele que não se engana pelas distintas crenças,


sabe que sou Purusottama. Ele conhece tudo e por tanto se
dedica á adorar-me de corpo e alma.

Prakasika-vrtti

Mesmo que não haja diferença entre Sri Krishna e Sri


Narayana em relação á siddhanta(verdade filosófica), da
perspectiva de rasa, a forma de Sri Krishna é superior. Esta é
a glória da rasa.

Sloka 20

Iti guhyatamam sastram


Idam uktam mayanagha
Etad buddhva buddhimam syat
Krta-krtyas ca bharata

Ó imaculado Bharata! Te revelei o segredo mais confidencial


dos sastras. A pessoa que possui inteligência pura se ilumina
plenamente e é abençoada ao conhece-lo.

Praksika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krsna: “Ó imaculado!


O purusottama-yoga é sem dúvida a instrução mais
confidêncial dos sastras. Uma jiva obtém iluminação e
bençãos ao conhece-la. Todas impurezas que a jiva possa Ter
e a concepção sobre o objeto de devoção, desaparecem ao
compreender este yoga.”
Os primeiro cinco versos deste capítulo explica que a
renúncia pura destrói as debilidades mencionadas. Do sexto
verso até o final do capítulo se descreve a discussão sobre o
purusottama-tattva juntamente com a renúncia gerada pela
devoção(bhakti). Em resumo, o capítulo descreve as
diferenças entre a matéria inerte e o espírito assim como a
deliberação sobre as diferentes manifestações da realidade
consciente.

Assim se conclui o décimo quinto capítulo do Srimad


Bhagavad Gita.

Capítulo 16

Daivasura Sampada Yoga

As qualidades divinas e as demoniacas

Sloka 1 – 3

Sri bhagavan uvaca


Abhayam sattva-samsuddhir
Jnana-yoga-vyavasthitih
Danam damas ca yajnas ca
Svadhyayas tapa arjavam
Ahimsa satyam akrodhas
Tyagah santir apaisunam
Daya bhutesv aloluptvam
Mardavam hrir acapalam

Tejah ksama dhrtih saucam


Adroho nati-manita
Bhavanti sampadam daivim
Abhijatasya bharata

Sri Bhagavan disse: Ó Bharata! A valentia, o regozijo do


coração, a constância no cultivo de conhecimento, a caridade,
o controle dos sentidos, a execução de yajna, o estudo dos
sastras, a penitência, a sencibilidade, a não violência, a
veracidade, a ausência da ira, o desapego da esposa, filhos e
demais parentes, o sossego, a aversão á criticas, a bondade
para com todos os seres vivos, a ausência de avareza, a
gentileza, a modéstia, a determinação, o vigor, a indulgência,
a paciência, a limpeza interna e externa, e a ausência total de
ódio, são todas qualidades divinas que se manifestam em uma
pessoa que aparece neste mundo em um momento auspicioso.

Prakasika-vrtti

As qualidades divinas e demoníacas juntamente com as


inclinações descritas brevemente no capítulo anterior, são
descritas agora detalhadamente. As pessoas de tendências
demoníacas enroscadas na rede de maya, nascem em espécies
de vida demoníaca e sofrem miséria e dor. Ao contrário, as
pessoas de natureza divina, dotadas com qualidades divinas,
cruzam o miserável oceano do nascimento e morte e
gradualmente avançam no caminho mais auspicioso de
bhakti. Finalmente desfrutam da bem aventurança do serviço
á Bhagavan em sua morada. As pessoas liberadas jamais são
atadas á este mundo material. O acúmulo de qualidades
divinas só sem manifestam em pessoas elevadas que
nasceram em um momento favorável e de pais auspiciosos
que realizaram garbhadhana samskara, o processo védico
para conceber um bom filho. Os pais devem evitar fazer
filhos como fazem os gatos e cachorros. Sri Krishna expressa
no Gita que ele é o sexo que produz bons filhos. Por tanto, o
sexo não está proibido , mas quando se faz apenas para o
desfrute, é de natureza infernal.
Pode-se ver todas estas boas qualidades nos suddha-bhaktas.
Um bhakti-sadhaka rendido deve Ter a firme convicção:
“Bhagavan é meu protetor e está sempre comigo. Ele me
olha, conhece tudo e me sustenta.”Quando um devoto
desenvolve este tipo de fé, ele está livre de todo temor por
qualquer lugar que se encontre, seja em casa ou num bosque.
Srila Haridasa Thakura se manteve parado quando os
fanáticos muçulmanos o arrastaram por vinte mercados em
navadvip. Após terem o espancado, eles o submergiram no
ganges, mas quando ele emergiu estava com um corpo
saudável e regressou ao seu bhajana-kutira. O kazi e os
demais se surpreenderam ao ver a cena. Assim sendo, o
bhakti-sadhaka deve ser sempre confiante.

Sloka 4

Dambho darpo ´bhimanasca


Krodhah parusyam eva ca
Ajnanam cabhijatasya
Partha sampadam asurim

Ó Partha! A hipocrisia, a arrogância, a ira, a dureza de


coração e a falta de discriminação residem naqueles que
nascem com qualidades demoníacas. Quem nasce em um
momento inauspicioso, adquire estas qualidades.
Bhavanuvada

Sri Bhagavan menciona agora os frutos que atam uma pessoa


á existência material. Mostrar-se como uma pessoa religiosa
quando se é irreligioso se denomina hipocrisia. A arrogância
consiste no orgulho da riqueza e educação. O desejo de ser
respeitado pelos demais e o apego pela esposa, filhos e
família se chama vanidade.

Sloka 5

Daivi sampad vimoksaya


Nibandhayasuri mata
Ma sucah sampadam daivim
Abhijato ´si pandava

As qualidades divinas são a causa da liberação, enquanto que


as demoníacas são a causa do cativeiro. Ó filho de Pandu,
não lamentes, pois nascestes com qualidades divinas.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan mostra agora como funcionam as duas


naturezas mencionadas. Mas antes que Arjuna se lamentasse
dizendo “Que desgraça! Eu devo Ter qualidades demoníacas
como a dureza do coração e ira, pois desejo matar meus
parentes com estas flechas.” Sri Bhagavan lhe consola
dizendo; “Não lamentes. Nasceste em uma dinastia de
ksatriyas. As dharma-sastras aprovam que seja duro de
coração e valente na guerra. Mas a violência em outras
circunstâncias é demoníaca.”

Sloka 6

Dvau bhuta-sargau loke´smin


Daiva asura eva ca
Daivo vistarasah prokta
Asuram partha me srnu

Ó Partha! Neste mundo há dois tipos de seres: Os divinos e


os demoníacos. Descrevi á ti detalhadamente as qualidades
divinas. Escuta agora sobre a natureza demoníaca.

Sloka 7

Pravrttinca nivrttinca
Jana na vidur asurah
Na saucam napi cacaro
Na satyam tesu vidyate

As pessoas demoníacas não conhecem a virtude nem sabem


como absterse do vício. Não se encontra nelas a limpeza,
conduta apropriada ou veracidade.

Sloka 8

Asatyam apratistham te
Jagad ahur anisvaram
Aparaspara-sambhutam
Kim anyat kama-hetukam

Os demônios descrevem o mundo como sendo irreal, sem


fundamento e carente de Deus. Afirmam que são produto da
união sexual e que não há outra causa á não ser a luxúria.

Prakasika-vrtti

Neste verso Bhagavan explica a filosofia de quem possui


uma natureza demoníaca. A essência do comentário de
Baladeva Vidyabhusana para este verso é o seguinte:
1- De acordo com a opinião dos mayavadis, o mundo
material é asatya, apratisthita e anisvara. Asatya porque
é uma ilusão, tal como a corda pode ser confundida com
uma serpente. Apratisthita por que não tem fundamento,
tal como uma flor no céu. Anisvara por que nenhum
Isvara o criou.
2- Na opinião dos budistas svabhava-vadis, o mundo é
aparaspara-sambutam, melhor dizendo, não nasceu da
união do macho com a fêmea se não que é o produto de
svabhava: é produzido e sustentado pela ação natural e
necessária de algumas substâncias segundo suas
propriedades inerentes.
3- Segundo carvaka, este mundo é kama-haitukam, nascido
da luxúria que flui entre macho e fêmea.
4- De acordo com os jainistas, o desejo egoísta é a causa
deste mundo. Baseados em sua lógica especulativa,
descartam a literatura védica e se dediacm á inútil tarefa
de definir a causa do mundo material.
A afirmação de Sri Krishna expressa claramente que o
mundo material, constituído por seres móveis e imóveis,
foi criado pela prakriti sob sua supervisão. Visto que foi
criado pela vontade de Bhagavan, o possuidor da
verdadeira determinação, este mundo é real, ainda que
mutável e perecível. Os asuras(demônios), carentes de
sabedoria pura e perfeita, imaginam diversos tipos de
conclusões ateístas temporárias.

Sloka 9

Etam drstim avastabhya


Nastatmano ípa-buddhayah
Prabhavanty ugra-karmanah
Ksayaya jagato ´hitah
Os demônios carecem de atma-tattva. Eles se refugiam nas
visões ateístas e identificando o corpo como sendo seu
verdadeiro ser, atuam com violência. Eles são a
personificação de tudo que é indesejável e nascem com o
único propósito de desfrutar do mundo.

Prakasika-Vrtti

Os demônios carecem de tattva-jnana. Eles inventam vários


tipos de máquinas e com pretexto de avanço da civilazação
humana, inventam numerosas armas e dispositivos para matar
a maior quantidade de pessoas no menor tempo possível,
mesmo se estas se encontram em outros continentes. Eles
estão muito orgulhosos de tais inventos. A sociedade
demoníaca trabalha para destruir o mundo visto que não tem
fé em Isvara nem nos Vedas.

Sloka 10

Kamam asritya duspuram


Dambha-mana-madanvitah
Mohad grhitva ´sad-grahan
Pravarttante ´suci-vratah

Obsecados por desejos insaciáveis e cheios de hipocrisia,


orgulho e arrogância, os demônios néscios anseiam
constantemente os objetos temporários. Consagrados á
depravação eles se dedicam á doração de semi-deuses
insignificantes.

Slokas 11-12

Cintam aparimeyanca
Pralayantam upasritah
Kamopabhoga-parama
Etavad iti niscitah

Asa-pasa-satair baddhah
Kama-krodha-parayanah
Ihante kama-bhogartham
Anyayenartha-sancayan

Pensando que o desfrute sensual é o propósito da vida, eles se


quedam ansiosos até o momento da morte. Atados ás cordas
dos ilimitados desejos e dominados pela luxúria e a ira, se
esfórçam em acumular riqueza mediante métodos indevidos,
com o objetivo de obter prazer sensual.

Sloka 13

Idam adya maya labdham


Idam prapsye manoratham
Idam astidam api me
Bhavisyati punar dhanam

Os demônios pensam: “Consegui muita coisa hoje e assim


satisfarei meu desejos. Tenho tanta riqueza agora e isto
aumentará ainda mais no futuro.

Sloka 14

Asau maya hatah satrur


Hanisye caparan api
Isvaro ´ham aham bhogi
Siddho ´ham balavan sukhi

“Matei este meu inimigo e matarei outros também. Sou o


senhor e o desfrutador. Sou perfeito, poderoso e feliz.”

Sloka 15
Adhyo ´bhijanavan asmi
Ko ´nyo ´sti sadrso maya
Yaksye dasyami modisya
Ity ajnana-vimohitah

“Sou afortunado e nobre de nascimento. Quem pode se


comparar á mim? Executarei yajna, oferecerei caridade e
como resultado gozarei de grande felicidade.” Eles falam
assim por que estão enganados pela ilusão.

Sloka 16

Aneka-citta-vibhranta
Moha-jala-samavrtah
Prasaktah kama-bhogesu
Patanti narake ´sucau

Confundidos por numerosos desejos e ansiedades,


emaranhados na rede da ilusão e escesivamente viciados no
desfrute sensual. Eles caem em situações impuras e infernais.

Prakasika-vrtti

As pessoas demoníacas pensam que são Isvara(controlador)


apesar de estarem agitadas por diversas ansiedades inúteis e
atadas á uma rede de ilusão. Eles se convertem em instrutores
e ensinam seus seguidores. “Tu és Isvara, podes fazer tudo
que desejas.”
Hoje em dia, aqueles que possuem inclinações demoníacas
pretendem alcançar os planetas superiores com diversos tipos
de naves espaciais, mas não sabem que transitam em um
caminho destrutivo.

Sloka 17
Atma-sambhavitah stabdha
Dhana-mana-madanvitah
Yajante nama-yajnais te
Dambhenavidhi-purvakam

Inflados, arrogantes e intoxicados pelo falso prestígio que a


opulência outorga, os demônios realizam ostentosos yajnas
apenas externamente, pois não seguem as instruções dos
sastras.

Prakasika-vrtti

Hoje em dia a maioria das pessoas que adoram os semi-


deuses e outras personalidades, o fazem segundo seus
próprios caprichos, sem respeitar as instruções dos sastras.
Devemos escutar as instruções de Krishna sobre este aspecto.

Sloka 18

Ahankaram balam darpam


Kamam krodhanca samsritah
Mam atma-para-dehesu
Pradvisanto bhyasuyakah

Confundidos pelo falso ego, pela força corpórea, pelo


orgulho, pela luxúria e ira, eles me invejam e me criticam
através dos sadhus, em cujos corações resido eternamente
como Paramatma.

Sloka 19

Tan aham dvisatah kruran


Samsaresu naradhaman
Ksipamy ajasram asubhan
Asurisv eva yonisu

Aqueles que invejam os sadhus, que possuem um cruel


coração e que são malévolos, são os seres humanos mais
degradados. Eu os jogo na existência material entre as
diversas espécies de demônios.

Sloka 20

Asurim yonim apanna


Mudha janmani janmani
Mam aprapyaiva kaunteya
Tato yanty adhamam gatim

Ó Kaunteya! Aceitando um nascimento atrás do outro em


espécies demoníacas, tais néscios jamais me alcançam.
Assim, eles continuam emaranhados nas formas mais
degradadas de vida.

Prakasika-vrtti

Geralmente, a jiva obtém os frutos do seu próprio karma, e


para experimentar os resultados deste karma, as pessoas que
se opõe aos vedas, aos bhaktas e á Bhagavan, caem uma e
outra vez nas espécies demoníacas de vida. Por que cometeu
várias ofensas, elas não conseguem nenhuma oportunidade de
se liberarem destas ofensas. Estas ofensas não podem ser
expiadas nesta mesma vida, mas a pessoa tem a oportunidade
de expia-las quando descende á espécies inferiores como a
dos animais. O nascimento em qualquer espécie, com
exceção da humana, tem como único objetivo a expiação dos
resultados kármicos anteriores.

Sloka 21
Tri-vidham narkasyedam
Dvaram nasanam atmanah
Kamah krodhas tatha lobhas
Tasmad etat trayam tyajet

Há três portas que conduzem ao inferno: a luxúria, a ira e a


cobiça. Deve-se ás abandonar por completo, pois são a causa
da destruição da alma.

Prakasika-vrtti

As qualidades demoníacas mencionadas destroem o ser e o


conduz ao inferno. A luxúria, a ira e a cobiça são a raíz das
outras. Por tanto, todo ser humano que deseje seu próprio
bem estar, deve erradica-las. Os karmis, os jnanis e yogis não
podem controlar estas tendências apesar de seus esforços,
mas um suddha-bhakta, pela influência de sadhu-sanga, pode
subjulgar facilmente estes três inimigos e mostrar assim um
extraordinário exemplo de como eles podem ser controlados.

Sloka 22

Etair vimuktah kaunteya


Tão-dvarais tribhir narah
Acaraty atmanah sreyas
Tato yati param gatim

Ó Kaunteya! Aquele que escapou das portas que conduzem


ao inferno, atua para o bem estar do seu próprio ser e deste
modo alcança o destino supremo.

Sloka 23

Yah sastra-vidhim utsrjya


Varttate kama karatah
Na as siddhim avapnoti
Na sukham na param gatim

Aqueles que recusam a sanção dos sastras e atuam segundo


sua própria vontade, não alcançam a perfeição, a felicidade
nem o destino supremo.

Sloka 24

Tasmac chastram pramanam te


Karyakarya-vyavasthitau
Jnatva sastra-vidhanoktam
Karma kartum iharhasi

Por tanto, os sastras são a única autoridade acerca da conduta


correta e incorreta. Quanto ao seu dharma, deves executar
todas as suas atividades compreendendo a essência dos
sastras.

Prakasika-vrtti

Após aprender as instruções dos sastras, as pessoas que


desejam bem aventurança eterna, devem cultivar bhakti á Sri
Hari sob a guia do guru-varga, de acordo com sua
qualificação respectiva. Para uma pessoa inteligente, não é
espíritualmente favorável atuar contra os códigos dos sastras
ou considerar autoritativas as idéias imaginárias de supostos
instrutores que são glorificados pelos não devotos.
A ofensa original da jiva é o mau uso do seu livre arbítrio e
sua aversão á Krishna. Por isto, maya, que é uma serva de
Krishna, á coloca em cativeiro. Atrapada por maya, a jiva
abandona a natureza sattvika que lhe permite compreender
Bhagavan e desenvolve uma natureza demoníaca de
qualidades tamasika. Neste momento manifestam-se muitas
ofensas como a crítica aos sadhus, o conceito politeísta de
Deus ou a idéia de que Deus não existe, a desobediência ao
guru, a falta do devido respeito aos sastras entre outros.

Assim se conclui o décimo sexto capítulo do Bhagavad gita.

Capítulo 17

Sraddha-Traya-Vibhaga Yoga

Os três tipos de fé

Sloka 1

Arjuna uvaca
Ye sastra-vidhim utsriya
Yajante sraddhayanvitah
Tesam nistha tu ka krsna
Sattvam aho rajas tamah

Arjuna perguntou: Ó Krishna! Qual é a posição de quem


ignora as instruções dos sastras, mas ainda sim adorão com
fé? São eles sattvika, rajasika ou tamasika?

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Tri-vidha bhavati sraddha
Dehinam as svabhava já
Sattviki rajasi caiva
Tamasi ceti tam srnu
Sri Bhagavan disse: A fé dos seres corporificados é de três
tipos – sattvika, rajasika ou tamasika – e é determinada pelas
impressões de suas vidas prévias. Escuta agora sobre estes
três tipos de fé.

Prakasika-vrtti

Alguns pensam que é difícil e dolorozo seguir as instruções


dos sastras, e outros ás descartam e adoram os semideuses
caprichosamente com uma fé material nascidas das
impressões de sua vidas prévias. A fé destas pessoas é de três
tipos – sattvika, rajasika ou tamasika. Mas a fé que está
dirigida ao cultivo de bhagavad-bhakti sob a guia dos suddha
bhaktas versados nos sastras é nirguna. A fé de um bhakti-
sadhaka pode ser sattvika nos estágios iniciais, mas pela
influência dos sadhus, se converte rapidamente em nirguna-
sraddha e transcende as qualidades materiais. Neste momento
o sadhaka começa a progredir no caminho de bhakti e se
ocupa com grande determinação em escutar, cantar e lembrar
hari-nama e hari katha e assim segue meticulosamente as
regras e regulações dos sastras.

Sloka 3

Sattvanurupa sarvasya
Sraddha bhavati bharata
Sraddha-mayo yam puruso
Yo yac-chraddhah as eva sah

Ó Bharata! A fé de uma pessoa é determinada pela natureza


da sua mente. Todas as pessoas possuem fé e desenvolvem
uma tendência correspondente ao objeto no qual á depositam

Sloka 4
Yajante sattvika devan
Yaksa-raksamsi rajasah
Pretan bhuta-ganams canye
Yajante tamasa janah

As pessoas que se encontram na qualidade da bondade


adoram os semi-deuses de natureza similar. Aquelas que
estão na qualidade da paixão adoram as bruxas e os demônios
que possuem natureza apaixonada similar, e as pessoas na
qualidade da ignorância adoram os fantasmas e espíritos.

Sloka 5 – 6

Asastra-vihitam ghoram
Tapyante ye tapo janah
Dambhahankara-samyuktah
Kama-raga-balanvitah

Karsayantah sarira-stham
Bhuta-gramam acetasah
Mancaivantah sarira-stham
Tan viddhy asura-niscayan

Devido ao orgulho e egoísmo, algumas pessoa realizam


severas austeridades não recomendadas pelos sastras.
Movidos pela luxúria, o apego mundano e o desejo de poder,
infligem dor não apenas ao seu corpo mas também á mim,
que moro no seu interior. Estas pessoas devem ser
consideradas como demônios.

Bhavanuvada

Krishna disse: “Ó Arjuna! Perguntaste se aqueles que


ignoram as regras dos sastras, mas executam adoração com
fé, são sattvika, rajasika ou tamasika. Escuta agora minha
resposta. A fé a renúncia aos desejos egoísta são a
características que se observam nas pessoas que executam
austeridades severas, as quais atemorizam os demais seres.
As pessoas orgulhosas e interesseiras sem dúvida violarão as
regras dos sastras. Kama se refere aos desejos como o de
permanecer sempre jovem, se tornar imortal ou obter um
reino. Raga se refere ao apego pelas austeridades e bala é a
capacidade de executar austeridades como as realizadas por
Hiranyakasipu. Tais austeridades torturam os elementos
presentes no corpo e causam dor desnecessária tanto a mim,
quanto a jiva. Estas pessoas possuem inclinações
demoníacas.”

Prakasika – vrtti

As austeridades como os jejuns dolorosos e inúteis, o


sacrifício do corpo, carne ou de outros seres huamnso ou
animais, entre outros atos violentos similares, causam dor ao
próprio ser e também á Paramatma. As pessoas que possuem
tal natureza cruel devem ser consideradas demoníacas. Hoje
em dia, algumas pessoas jejuam com propósitos egoístas ou
políticos. Os jejuns estipulados pelos sastras que tem como
propósito a meta transcendental são benéficos, como o
ekadasi por exemplo. No ekadasi se estipula jejuar até mesmo
de água e permanecer acordado toda a noite executando hari-
kirtana. Hoje em dia, as pessoas permanecem acordadas
comendo carne, bebendo vinho e cantando canções vulgares
e vergonhosas. Elas violam as regras dos sastras. Tais
atividades são executadas devido ao profundo orgulho e ao
ego nascido do apego excessivo aos desejos materiais e ao
desfrute sensual. Os que atuam assim infligem dor
desnecessária ao corpo e pertubam a paz interna e também a
alheia. Mas se por boa fortuna, consege a associação de um
suddha-bhakta, podem receber algum benefício.
Sloka 7

Aharas tv api sarvasya


Tri-vidho bhavati priyah
Yajnas tapas tatha danam
Tesam bhedam imam srnu

O tipo de comida das diferentes classes de pessoas é de três


tipos, dependendo das suas qualidades. O mesmo ocorre em
relação á sacrifícios, austeridades e caridade. Escuta agora as
diferenças entre elas.

Sloka 8

Ayuh-sattva-balarogya
Sukha-priti-vivarddhanah
Rasyah snigdhah sthira-hrdya
Aharah sattvika-priyah

Os alimentos que aumentam a duração da vida, o entusiasmo,


a força, a saúde, a felicidade e a satisfação; que são
saborosos, engordam, nutrem e são agradáveis ao coração e
ao estômago, são muito apreciados pelas pessoas situadas na
qualidade da bondade.

Bhavanuvada

É um fato bem conhecido no mundo, que por ingerir


alimentos no modo da bondade, a duração da vida aumenta.
A palavra sattvam significa entusiasmo. Rasya se refere ás
substâncias como o pão de açúcar que são saborosos porém
são secos. Sri Bhagavan se refere também aos alimentos
como o leite e o creme de leite que são saborosos e pastosos
porém não são sólidos.
Depois fala dos alimentos saborosos, pastosos e não sólidos
como a fruta de pan. Ainda que esta fruta esteja nas
categorias mencionadas, não é boa para o coração e
estômago, por tanto Sri Bhagavan menciona especificamente
os alimentos que são benéficos para isto. Os produtos da vaca
como o leite e o yourgute, assim como o trigo, o açúcar e o
arroz, possuem todas as boas características e as pessoas na
qualidade da bondade gostam. Estas pessoas não gostam de
alimentos impuros.

Prakasika-vrtti

É fácil de distinguir a diferença entre os efeitos de beber leite


e beber alccol. As pessoas deixam de ingerir alimentos no
modo da bondade devido á má associação, o conhecimento
defeituoso e a falta de samskara apropriado.

Sloka 9

Katv-amla-lavanaty-usna
Tiksna-ruksa-vidahinah
Ahara rajasasyesta
Duhkha-sokamaya-pradah

Os alimentos margos, ágrios, salados, picantes, secos ou


quentes e que causam dor, pesar e enfermidade, são
consumidos pelas pessoas situadas no modo da paixão.

Prakasika-vrtti

Ao ingerir alimentos no modo da paixão, que logo provocam


indigestão, imediatamente se experimenta sensação de ardor
em sua língua, garganta e estômago. Posteriormente, a mente
se torna inquieta com pensamentos dezagradáveis e ansiosa e
assim se desenvolve diversas doenças. Assim sua vida se
torna miserável.

Sloka 10

Yatayamam gatarasam
Puti paryusitanca yat
Ucchistamapi camedhyam
Bhojanam tamasapriyam

As pessoas situadas na qualidade da ignorância gostam de


ingerir alimentos cozinhados á mais de três horas e também
frios, insípidos, em putrefação, parcialmente comidos ou
dispensados e também impuros.

Bhavanuvada

A palavra yata-yamam significa comida fria que foi


cozinhada três horas antes de ser consumida. Gata-rasam
indica aquilo que perdeu seu sabor natural ou cujo suco já
tenha sido extraído como a semente de manga. Paryusitam
indica algo cozinhado na véspera. Ucchistam significa
sobras, mas não se refere aos remanentes de pessoas
altamentes respeitáveis como as situadas no Guru parampara.
Amedhya é tudo o que não é apto á ser consumido como a
carne e o tabaco. As pessoas preocupadas com seu próprio
bem estar, devem consumir alimentos no modo da bondade,
mas os vaishnavas não devem aceitar nem sequer alimentos
sattvika se este não foi oferecido á Bhagavan.

Prakasika-vrtti

O Srimad Bhagavatam (11.5.11) diz:


“É evidente que as pessoas no mundo material tem uma
inclinação natural para com o consumo de carne, alcool e
atividade sexual, mas as escrituras jamais estimulam estas
atividades. È permitida a vida sexual até certo ponto, dentro
de um matrimônio sagrado.”

Algumas pessoas pensam que mesmo que comer carne seja


pecaminoso, ao ingerir peixe, isto não se inclui nas atividades
pecaminosas. Porém o Manu-Samhita proíbe por completo o
consumo de carne:

“Os consumidores de carne de um animal específico são


conhecidos como comedores deste animal, mas aqueles que
ingerem peixe comem a carne de todos, porque o peixe
comem a carne de todas as entidades vivas , inclusive da vaca
e do veado. Eles comem inclusive coisa putrefatas. Quem
consome peixe na realidade ingere a carne de todos os seres.”

Os suddha-bhaktas comem apenas os alimentos que tenham


sido oferecidos á Bhagavan Sri Krishna, e isto se denomina
Maha Prasada. Este é o único alimento indicado para ser
ingerido porque é nirguna e está completamente livre de
pecado. No Padma Purana se diz:

“Ingerir comida ou água que não tenha sido oferecido á Sri


Vishnu é como comer excremento e beber urina.”

Sloka 11

Aphalakansibhir yajno
Vidhi-disto ya ijyate
Yastavyam eveti manah
Samadhaya as sattvikah
A execução de yajna é obrigatória. O yajna que é oferecido
com esta compreensão e executado segundo as instruções dos
sastrase sem esperar recompensa está na qualidade da
bondade.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan descreve agora os três tipos de yajna. Se


alguém se pergunta como uma pessoa pode executar yajna
sem esperar resultados, Sri Bhagavan responde: “Executa
yajna porque compreende que é seu dever e também porque
os sastras ordenam.”

Sloka 12

Abhisandhaya tu phalam
Dambhartham api caiva yat
Ijyate bharata-srestha
Tam yajnam viddhi rajasam

Ó melhor da dinastia Bharata! O yajna que se executa


pretensa e pomposamente, desejando seus frutos, está sem
duvida na qualidade da paixão.

Sloka 13

Vidhi-hinam asrstannam
Mantra-hinam adaksinam
Sraddha-virahitam yajnam
Tamasam paricaksate

O yajna que se executa contra as regras dos sastras, no qual


não se distribui prasadam, não se canta mantras védicos e
tampouco se oferece caridade aos sacerdotes, e que é
realizado sem fé, é condenado pelos sábios que o consideram
como estando no modo da ignorância.

Sloka 14

Deva-dvija-guru-prajna
Pujanam saucam arjavam
Brahmacaryam ahimsa ca
Sariram tapa ucyate

As austeridades relacionadas com o corpo que incluem a


adoração aos semi-deuses, aos brahmanas, aos gurus e aos
sábios, são; limpeza, celibato e não violência.

Sloka 15

Anudvega-karam vakyam
Satyam priya-hitanca yat
Svadhyayabhysanam caiva
Van-mayam tapa ucyate

As austeridades da fala confere em proferir palavras que não


causem agitação e que sejam verazes, prazeirosas e benéficas,
assim como também a recitação dos Vedas.

Sloka 16

Manah-prasadah saumyatvam
Maunam atma-vinigrahah
Bhava-samsuddhir ity etat
Tapo manasam ucyate

As austeridades da mente consistem na satisfação, gentileza,


seriedade, disciplina mental e conduta pura.
Sloka 17

Sraddhaya paraya taptam


Tapas tat tri-vidham naraih
Aphalakanksibhir yuktaih
Sattvikam paricaksate

As austeridades do corpo, da fala e da mente, executadas por


homens conectados com o Senhor Supremo e que estão livres
do desejo de recompensa material, é considerada como
estando no modo da bondade.

Sloka 18

Satkara-mana-pujartham
Tapo dambhena caiva yat
Kriyate tad iha proktam
Rajasam calam adhruvam

A austeridade executada com arrogância para obter


reconhecimento, honra e adoração é considerada como
estando no modo da paixão. Ela é temporária e incerta.

Sloka 19

Mudha-grahenatmano yat
Pidaya kriyate tapah
Parasyotsadanartham va
Tat tamasam udahrrtam

A austeridade executada sem sentido, que causa dor ao ser ou


que é realizada para prejudicar os outros, é considerada com
estando no modo da ignorância.

Sloka 20
Datavyam iti yad danam
Diyate nupakarine
Dese kale ca patre ca
Tad danam sattvikam smrtam

A caridade deve ser oferecida como uma questão de dever. A


caridade outorgada com este critério, sem esperar na da em
troca, que é realizada em um lugar sagrado, em um momento
auspicioso e á uma pessoa venerável, situa-se no modo da
bondade.

Sloka 21
Yat tu pratyupakarartham
Phalam uddisya va punah
Diyate ca pariklistam
Tad danam rajasam smrtam

Mas a caridade que é oferecida com mal humor ou com


esperança de obter algum benefício, é considerada no modo
da paixão.

Sloka 22

Adesa-kale yad danam


Apatrebhyas ca diyate
Asat-krtam avajnatam
Tat tamasam udahrtam

A caridade que é oferecida com uma atitude desrespeitosa,


em um lugar impuro ou em um momento inauspicioso á uma
pessoa indigna, é considerada como estando no modo da
ignorância.

Slokas 23-24
Om tat sad iti nirdeso
Brahmanas tri-vidhah smrtah
Brahmanas tena vedas ca
Yajnas ca vihitah pura

Tasmad om ity udahrtya


Yajna-dana-tapah-kriyah
Pravarttante vidhanoktah
Satatam brahma-vadinam

É dito que om, tat e sat são as três palavras usadas para
indicar a Realidade Absoluta Suprema. Os brahmanas, os
Vedas e os yajnas foram criados destas três palavras. Por
tanto, os seguidores consagrados dos Vedas, sempre
começam a execução de sacrifícios, atos de caridade,
austeridades e demais atividades prescritas nos sastras
pronunciando a sagrada sílaba om.

Sloka 25

Tad ity anabhisandhaya


Phalam yajna-tapah-kriyah
Dana-kriyas ca vividhah
Kriyante moksa-kanksibhih

As pessoas que desejam obter moksa (liberação), executam


diversos tipos de yajna, austeridades e caridades
pronunciando a sílaba tat e renunciam os frutos de suas
atividades.

Sloka 26

Sad-bhave sadhu-bhave ca
Sad ity etat prayujyate
Prasaste ksrmani tatha
Sac-chabdah partha yujyate

Ó Partha! A palavra sat se refere á Verdade Absoluta


Suprema e aos adoradores do brahma. É utilizada também em
conexão com atividades auspiciosas.

Sloka 27

Yajne tapasi dane ca


Sthitih sad iti cocyate
Karma caiva tad-arthiyam
Sad ity evabhidhiyate

A determinação no yajna, a austeridade, a caridade e o


conhecimento do seu verdadeiro propósito, estão
relacionados com a sílaba sat. As atividades como a limpeza
do templo visando agradar á Sri Bhagavan são também
consideradas sat.

Sloka 28

Asraddhaya hutam dattam


Tapas taptam krtanca yat
Asad ity ucyate partha
Na ca tat pretya no iha

Ó filho de Partha! O yajna, a caridade, a austeridade ou


qualquer ação que é realizada sem fé se denomina asat. Estas
atividades não produzem benefício nem neste mundo e nem
no próximo.

Prakasika-vrtti
Todas as atividades que são realizadas para servir Bhagavan,
o guru e os vaishnavas, como pedir caridade, cavar poços e
tanques, plantar jardins de flores e tulasi, plantar árvores e
construir templos, são consideradas tad-arthiyam karma,
atividades para sua satisfação, e por tanto são sat.

Assim se conclui o décimo sétimo capítulo do Srimad


bhagavd Gita de B.V.Narayana Goswami Maharaj.

Capítulo 18

Moksa Yoga

O princípio da liberação

Sloka 1
Arjuna uvaca
Sannyasasya maha-baho
Tattvam icchami veditum
Tyagasya ca hrsikesa
Prthak kesi-nisudana

Arjuna disse: Ó maha-baho! Ó Hrsikesa! Ó Kesi nisudana!


Desejo saber a diferença entre sannyasa e tyaga, assim como
a natureza de ambos.

Bhavanuvada

Este capítulo descreve os seguintes temas ; os três tipos de


sannyasa, o jnana, o karma, a compreensão conclusiva de
mukti e a essência mais confidencial de bhakti. No capítulo
anterior Sri Bhagavan disse: “Após liberar-se dos desejos
materiais, os que buscam moksa executam diversos tipos de
yajna, oferecem caridade e realizam penitências
pronunciando a sílaba sat.”
Arjuna é muito inteligente e inquisitivo , por isso se dirige á
Krishna recitando este verso começando com com a palavra
sannyasasya, para que possa compreender estes temas
claramente.

Sloka 2

Sri bhagavan uvaca


Kamyanam karmanam nyasam
Sannyasam kavayo viduh
Sarva-karma-phala-tyagam
Prahus tyagam vicaksanah

Sri Bhagavan disse: Segundo os sábios, a renúncia total ás


atividades fruitivas se chama sannyasa, enquanto que a
renúncia aos resultados de todas as atividades se chama
tyaga.

Bhavanuvada

O termo sannyasa se aplica á pessoa que abandona por


completo todas as atividades fruitivas como por exemplo a
execução de yajnas para satisfazer o desejo de ter um filho ou
alcançar planetas superiores, mas não abandona as atividades
obrigatórias como a meditação nos gayatri-mantras. O termo
tyaga se aplica á pessoa que por uma questão de dever,
realiza tanto atividades fruitivas quanto as obrigatórias mas
renuncia os frutos destas atividades.

Sloka 3

Tyajyam dosa-vad ity eke


Karma prahur manisinah
Yajna-dana-tapah-karma
Na tyajyam iti capare

Alguns pensadores, como os sankhya-vadis, declaram que


visto que toda ação é defeituosa, deve ser abandonada.
Outros, como os mimamsakas, opinam que os atos de
sacrifício, caridade e austeridade nunca devem ser
abandonados.

Sloka 4

Niscayam srnu me tatra


Tyage bharata-sattama
Tyago hi purusa-vyaghra
Tri-vidhah samprakirttitah
Ó melhor entre os Bharatas! Escuta minha definitiva opinião
sobre o tyaga. Ó supremo entre os homens! Se diz que o
tyaga são de três tipos.

Sloka 5

Yajna-dana-tapah-karma
Na tyajyam karyam eva tat
Yajno danam tapas caiva
Pavanani manisinam

A ação na forma de sacrifício, caridade ou austeridade,


jamais deve ser abandonada porque estes são deveres
prescritos. O sacrifício, a caridade e a austeridade purificam
até mesmo os corações dos pensadores e dos sábios.

Sloka 6

Etany api tu karmani


Sangam tyaktva phalani ca
Karttavyaniti me partha
Niscitam matam uttamam

Ó Partha! Uma pessoa deve realizar toda atividade sem


considerar-se o atuante e abandonando o apego por seus
frutos. Esta é minha opinião definitiva e suprema.

Sloka 7

Niyatasya tu sannyasah
Karmano nopapadyate
Mohat tasya parityagas
Tamasah parikirttitah
Mas a renúncia ao trabalho obrigatório não é correta. Esta
renúncia é considerada tamasika porque é produto da ilusão.

Bhavanuvada

Dos três tipos de tyaga, este é o tyaga que se encontra no


modo da ignorância.

Sloka 8

Duhkham ity eva yat karma


Kaya-klesa-bhayat tyajet
As krtva rajasam tyagam
Naiva tyaga-phalam labhet

Se uma pessoa considera que o dever prescrito é uma fonte


de sofrimento e o abandona por temor á incomodidade
corpórea, sua renúncia está no modo da paixão e é infrutífera.

Sloka 9

Karyam ity eva yat karma


Niyatam kriyate ´rjuna
Sangam tyaktva phalancaiva
sa tyagah sattviko matah

Ó Arjuna, a renúncia de uma pessoa que executa sua


atividade prescrita como uma questão de dever e abandona o
apego pelos frutos da ação, como também o ego de se
considerar o atuante, é considerada como estando no modo da
bondade.

Sloka 10

Na dvesty akusalam karma


Kusale nanusajjate
Tyagi sattva-samavisto
Medhavi chinna-samsayah

O renunciado dotado de sattva-guna, cuja inteligência é firme


e que está livre de toda dúvida, não abomina o trabalho
doloroso nem se apega ás coisas que outorgam felicidade.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan explica as características de uma pessoa firme


no sattvika-tyaga. Akusalam significa que eles não
abominamas atividades dolorosas, como os banhos matinais
de água fria no inverno, e kusale significa que não estão
apegados ás atividade que dão prazer, como os banhos de
água fria durante o verão.

Sloka 11

Na hi deha-bhrta sakyam
Tyaktum karmany asesatah
Yas tu karma-phala-tyagi
sa tyagity abhidhiyate

Um ser corporificado não pode abandonar á ação por


completo, mas aquele que abandona os frutos da ação é um
real renunciado.

Sloka 12

Anistam istam misranca


Tri-vidham karmanah phalam
Bhavaty atyaginam pretya
Na tu sannyasinam kvacit
Aqueles que não se dedicam á renúncia descrita, alcançam
três destinos após abandonar o corpo; uma existência
infernal, um lugar onde residem os semi-deuses ou um
nascimento humano neste mundo. Mas os sannyasis nunca
obtém tais resultados.

Sloka 13

Pancaitani maha-baho
Karanani nibodha me
Sankhye krtante proktani
Siddhaye sarva-karmanam

Ó Maha-baho! Escuta agora sobre as cinco causas que


intervem no cumprimento de qualquer ação. Estão descritas
na filosofia sankhya, que explica como obter as reações do
karma.

Bhavanuvada

“Ouve-me falar agora sobre as cinco causas da ação que são


responsáveis pelo cumprimento de todas as atividades.” A
filosofia que descreve Paramatma se denomina sankhya (san-
completamente, e khya-descreve), isto é explicado no
Vedanta-sastra e explica como anular as reações das ações
que tenham sido executadas.

Sloka 14

O corpo, o agente e o atuante, os sentidos, as diversas classes


de esforço e o inspirador interno ou Antaryami, são as cinco
causas do karma que é mencionado no Vedanta.

Prakasika-vrtti
Aqui se explica as cinco causas da ação mencionadas no
verso. A palavra adhisthanam neste contexto refere-se ao
corpo, pois a ação só pode ser realizada quando a baddha-jiva
está situada nele. A alma situada no corpo é a atuante, pois é
ela quem executa a ação. A alma pura não tem relação
alguma com o karma, mas se converte em quem desfruta dos
resultados devido ao falso ego de atuante. Assim sendo, a
alma é tanto quem conhece quanto quem atua. Isto é
mencionado nos srutis: “A alma é tanto a testemunha quanto
a atuante.” Por outro lado, a alma realiza diversos tipos de
atividades com ajuda dos sentidos, os quais são por tanto, os
instrumentos utilizados para a execução do karma. Cada
atividade requer um esforço separado, mas todas elas
dependem da sanção de Paramesvara, que está situada dentro
dos corações de todos como controlador, testemunho e
amigo. Paramesvara é a causa Suprema. As pessoas que estão
inspiradas por uma grande personalidade esperta no
significado dos sastras e conhecedora da realidade
transcendental e por Paramesvara, sabem o que é obrigatório
e o que não é. Assim, se dedicam á execução de bhakti e
rapidamente alcançam o destino supremo sem se atar ás
reações do seu bom e mal karma.

Sloka 15

Sarira-van-manobhir yat
Karma prarabhate narah
Nyayyam va viparitam va
Pancaite tasya hetavah

Estas são as cinco causas que existem atrás de qualquer


atividade correta ou incorreta que uma pessoa execute com o
corpo, fala ou mente.

Sloka 16
Tatraivam sati karttaram
Atmanam kevalantu yah
Pasyaty akrta-buddhitvan
Na as pasyati durmatih

Por tanto, aquele que ignora estes cinco fatores e considera


que a alma é a única atuante de todas as atividades é um
néscio que não pode ver as coisas apropriadamente devido á
sua impura inteligência.

Sloka 17

Yasya nahankrto bhavo


Buddhir yasya na tipyate
Hatvapi as imallokan
Na hanti na nibadhyate

A pessoa que está livre do ego de se julgar o atuante e cuja


inteligência não está apegada aos frutos do karma, mesmo
que mate algum ser vivo, na realidade não mata e nem é
atada pelos resultados de suas ações.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krishna: “Ó Arjuna!


Tu estás confundido sobre sua posição nesta batalha devido
ao falso ego. Se estivesse compreendido que os cinco fatores
descritos são a causa do karma, não estava se sentindo assim.
Por tanto, as pessoas cuja inteligência não se está coberta
pelo falso ego de atuantes não mata mesmo que aniquile toda
a humanidade, e por tanto não são atadas pelos resultados
desta matança.”

Sloka 18
Jnanam jneyam parijnata
Tri-vidha karma-codana
Karanam karma kartteti
Tri-vidhah karma-sangrahah

O conhecimento, o conhecível e o conhecedor, constituem o


impulso para executar o karma. O instrumento, a atividade e
o agente formam a base tripla do karma.

Prakasika-vrtti

Srila Bhaktivinoda Thakura interpreta Krishna: O


instrumento, o objeto e o atuante formam as três bases do
karma conhecido como karma-sangrahah. Qualquer ação que
uma pessoa execute tem duas etapas: codana ou inspiração e
sangrahah ou base. O processo que antecede o karma chama-
se codana. A inspiração constitue a existência sutil da ação e
da fé que existe na mente antes que a ação se manifeste. A
etapa que precede a ação se divide em três partes: o
conhecimento do instrumento da ação, o objeto concebido da
ação e o que executa a ação. A execução da ação tem três
divisões: o instrumento, o objeto e o sujeito.”

Sloka 19

Jnanam karma ca kartta ca


Tridhaiva guna-bhedatah
Procyate guna-sankhyan
Yathavac chrnu tany api

Os sastras sankhya descrevem as diferentes qualidades da


natureza, o conhecimento, a ação e o sujeito da ação. Se diz
que cada um é de três tipos: sattvika, rajasika e tamasika.
Escuta agora eu falar sobre eles.
Sloka 20

Sarva-bhutesu yenaikam
Bhavam avyayam iksate
Avibhaktam vibhaktesu
Taj jnanam viddhi sattvikam

O sattvika-jnana é o conhecimento no qual se percebe que as


jivatmas corporificadas em humanos, semi-deuses e animais,
são indivisíveis e imperecíveis, e possuem a mesma
qualidade de consciência mesmo que ainda estejam
experimentando diferentes tipos de frutos.

Prakasika-vrtti

Como se explicou anteriormente, as jivas são de dois tipos:


baddha (condicionadas) e mukta (liberadas). Mesmo que
sejam ilimitadas, elas são idênticas com relação á sua
natureza consciente. Todas são, segundo sua natureza
constitucional, servas de Krishna, mesmo que nasçam em
diferentes espécies como os semi-deuses, seres humanos e
animais. Para estabelecer este siddhanta, Sri Krishna explica
que através de sattvika-jnana percebe-se que as inumeráveis
jivas existem dentro de diferentes corpos. Desde a
perspectiva da realidade consciente e mediante o sattvika-
jnana, pode-se perceber como as entidades indivisíveis, são
imutáveis e sem diferença alguma quanto á sua natureza.

Sloka 21

Prthaktvena tu yaj jnanam


Nana-bhavan prthag-vidhan
Vetti sarvesu bhutesu
Taj jnanam viddhi rajasam

O conhecimento no qual se percebe os diferentes tipos de jiva


dentro de diferentes corpos, como semi-deuses ou humanos,
pertencentes á diferentes categorias de existência com
propósitos diversos, se denomina rajasika-jnana.

Prakasika-vrtti

O rajasika-jnana promove diferentes concepções. Isto


significa que aqueles que não acreditam na existência de um
plano transcendental dizem que o corpo é a alma. Os jainis
dizem que mesmo que a alma seja diferente do corpo, está
limitada pelo corpo, ou seja, não tem uma existência
separada. Os budistas afirmam que a alma é consciente por
um período de tempo limitado. Os lógicos afirmam que a
alma é a base dos nove tipos de qualidades especiais, ou seja,
que é diferente do corpo e não é inerte. O jnana que produz
estas compreensões á respeito da alma é denominado de
rajasika –jnana (conhecimento no modo da paixão)

Sloka 22

Yat tu krtsna-vad ekasmin


Karye saktam ahaitukam
Atattvartha vad alpanca
Tat tamasam udahrtam

O tamasika-jnana é o conhecimento que impulsiona o homen


á absorver-se em atividades relacionadas com o corpo
material, tais como tomar banho e comer, considerando-as
como a perfeição máxima da vida. Este conhecimento é
irracional, carente de substância espiritual e é não diferente
do de um animal.
Bhavanuvada

Sri Bhagavan descreve agora o conhecimento no modo da


ignorância. É o conhecimento que carece de referência
espiritual e que promove o apego pelos atos próprios tais
como comer, beber e tomar banho, assim como desfrutar do
sexo oposto.

Sloka 23

Niyatam sanga rahitam


Araga-dvesatah krtam
Aphala-prepsuna karma
Yat tat sattvikam ucyate

O karma que é executado sem desejos fruitivos e apegos e


que está livre de qualquer atração ou aversão pessoal, é
considerado sattvika.

Bhavanuvada

Após descrever os três tipos de conhecimento, Sri Bhagavan


descreve agora os três tipos de karma.

Sloka 24

Yat tu kamepsuna karma


Sahankarena va punah
Kriyate bahulayasam
Tad rajasam udahrtam

Mas o karma que é executado com grande esforço por uma


pessoa iludida pelo falso ego e que busca satisfazer seus
desejos fruitivos, é denominado rajasika-karma.
Sloka 25

Anubandham ksayam himsam


Anapeksya ca paurusam
Mohad arabhyate karma
Yat tat tamasam ucyate

A atividade que é realizada através da ilusão sem considerar a


habilidade para executa-la, que produz misérias futuras e
causa a destruição do dharma e do jnana assim como a perda
do ser ou dificuldades aos outros, é denominada de tamasika-
jnana.

Bhavanuvada

Bandha significa o cativeiro causado por pessoas como a


polícia ou os yamadutas. Qualquer esfôrço material que surge
da ilusão sem se considerar as terríveis conseqüências
futuras, a destruição do dharma ou a perda do próprio ser, é
considerada tamasika.

Sloka 26

Mukta-sango naham-vadi
Dhrty-utsaha-samanvitah
Siddhy-asiddhyor nirvikarah
Kartta sattvika ucyate

O executor da ação que está livre de desejo fruitivo e do


orgulho, que está dotado de fortaleza e entusiasmo, e que não
se pertuba diante o êxito ou fracasso de seus atos, é
considerado sattvika.

Bhavanuvada
Sri Bhagavan explicou primeiro os três tipos de karma e
agora explica os três tipos de atuantes.

Sloka 27

Ragi karma-phala-prepsur
Lubdho himsatmako sucih
Harsa-sokanvitah kartta
Rajasah parikirttitah

Aquele que atua apegado á ação e que anseia seus frutos, que
é viciado em objetos sensíveis, que está sempre disposto á
violência, que é invejoso e se deixa levar pela alegria e
tristeza, é considerado rajasika.

Sloka 28

Ayuktah prakrtah stabdhah


Satho naiskrtiko lasah
Visadi dirgha-sutri ca
Kartta tamasa ucyate

Aquele que ignora as instruções dos sastras e atua segundo a


natureza adquirida, que é obstinado, enganador, indignado,
mal humorado e negligente, é considerado tamasika.

Prakasika-vrtti

No Srimad Bhagavatam (11.25.26) se diz:

“O trabalhador desapegado é sattvika, o que está apegado é


rajasika, o que não possui discriminação entre bom ou mau é
tamasika, mas aquele que se rende á mim é nirguna ou
transcendental.”
Sloka 29

Buddher bhedam dhrtes caiva


Gunatas tri-vidham srnu
Procyamanam asesena
Prthaktvena dhananjaya

Ó Dhananjaya! Agora te explicarei detalhadamente sobre as


três divisões da inteligência e da determinação relacionadas
com as três qualidades materiais.

Sloka 30

Pravrttinca nivrttinca
Karyakarye bhayabhaye
Bandham moksanca ya vetti
Buddhih sa partha sattvika

Ó Partha! A inteligência é sattvika quando pode distinguir


entre o que é apropriado e o que é incorreto, entre o que se
deve temer e o que não se deve temer, e entre o que escraviza
e o que libera.

Sloka 31

Yaya dharmam adharmanca


Karyancakaryam eva ca
Ayathavat prajanati
Buddhih sa partha rajasi

Ó Partha, a inteligência é rajasika, quando não se discerne


perfeitamente entre o dharma e o adharma, e entre o que se
deve e o que não se deve fazer.

Sloka 32
Adharmam dharmam iti ya
Manyate tamasavrta
Sarvathan viparitams ca
Buddhih sa partha tamasi

Ó Partha! A inteligência é tamasika quando está coberta pela


ignorância e ilusão, quando confunde o dharma com adharma
e quando atua de maneira perversa.

Sloka 33

Dhrtya yaya dharayate


Manah-pranendriya-kriyah
Yogenavyabhicarinya
Dhhrtih sa partha sattvika

Ó Partha! É considerada sattvika, a firme determinação que


se alcança mediante a prática do yoga e o controle das
funções da mente, ar vital e sentidos.

Sloka 34

Yaya tu dharma-kamarthan
Dhrtya dharayate ´rjuna
Prasangena phalakansi
Dhrtih sa partha rajasi

Ó Arjuna! A determinação na qual uma pessoa se apega ao


dharma, ao desfrute sensual e ao desenvolvimento
econômico, ansiando pelos frutos, é considerada rajasika.

Sloka 35

Yaya svaonam bhayam sokam


Visadam madam eva ca
Na vimuncati durmedha
Dhrtih sa tamasi mata

Mas a determinação carente de inteligência que não vai além


do sonho, do temor, da lamentação e da loucura, é
considerada tamasika.

Sloka 36

Sukham tv idanim tri-vidham


Srnu me bharatarsabha
Abhyasad ramate yatra
Duhkhantanca nigacchati

Ó melhor da dinastia Bharata! Me escuta falar agora sobre as


três classes de felicidade. A felicidade que a jiva saboreia
através do cultivo constante e que põe fim á miséria da
existência material, é considerada sattvika.

Sloka 37

Yat tad agre visam ivã


Pariname ´mrtopamam
Tat sukham sattvikam proktam
Atma-buddhi-prasada-jam

A felicidade que é como um veneno no começo e néctar no


final e que gera inteligência pura relacionada com o ser, é
considerada sattvika.

Sloka 38

Visayenadriya-samyogad
Yat tad agre ´mrtopamam
Pariname visam ivã
Tat sukham rajasam smrtam

A felicidade rajasika é o resultado do contato dos sentidos


com seus respectivos objetos. Ela é como néctar no começo e
é como veneno no final.

Sloka 39

Yad agre canubandhe ca


Sukham mohanam atmanah
Nidralasya-pramadottham
Tat tamasam udahrtam

A felicidade que cobre a natureza do ser do princípio ao fim e


que surge do sonho, da negligência e da indiferença, é
considerada tamasika.

Sloka 40

Na tad asti prthivyam va


Divi devesu va punah
Sattvam p´rakrti-jair muktam
Yad ebhih syat tribhir gunaih

Entre os seres humanos e outras espécies terrenas, e até entre


os semi-deuses em Svarga, nenhum objeto ou entidade nesta
criação está livre das três qualidades nascidas da natureza
material.

Prakasika-vrtti

Tudo que está relacionado com o mundo material está


composto pelas três qualidades da natureza material.
Bhagavan estabeleceu a superioridade da qualidade da
bondade e por isto aconselha-se uma pessoa á aceitar e
refugiar-se apenas no que é próprio desta natureza. Mesmo
assim, para liberar-se do cativeiro material é necessário que
as pessoas situan-se em nirguna (transcendentalmente). É
através da associação com o sadhu (pessoa santa) que uma
pessoa pode transcender os modos da natureza material e
assim se liberar do cativeiro material, não há outra maneira.
O Srmad Bhagavatam (11.25.32) diz:

“As jivas estão atadas pelos gunas e o karma devido á


confusão de achar que o corpo seja o ser. Por isto
perambulam pelas distintas espécies de vida. Mas as pessoas
que estão influenciadas pela associação dos devotos que
praticam bhakti-yoga e como resultado conquistam os modos
materiais que se manifestam na mente na forma do falso ego
( a identificação do corpo com o ser) e se dedicam
firmemente á mim,
alcançam bhagavat-seva em minha morada.”

Sloka 41

Brahmana ksatriya visam


Sudrananca parantapa
Karmani pravibhaktani
Svabhava prabhavair gunaih

Ó Parantapa! Os deveres prescritos dos brahmanas, dos


ksatriyas, dos vaisyas e dos sudras, estão divididos de acordo
com as tendências provindas de suas respectivas naturezas.

Prakasika-vrtti

Com o propósito de situar os seres humanos além da


jurisdição dos três gunas e promove-los gradualmente á uma
atitude mais elevada, Bhagavan Sri Krishna estabelece o
varna-dharma dividindo os deveres prescritos de acordo com
as qualidades e ações.
O sistema de varna puro é muito benéfico, favorável e
científico para a vida humana. Porém, com o decorrer do
tempo, os homens ordinários perderam a fé neste sistema
após detectar diversos defeitos em seus respectivos
seguidores. Perdeu-se a fé de tal maneira que hoje em dia até
as pessoas ordinárias da sociedade hindu responsabilizam o
sistema de varnasrama, pelas divisões e hostilidade criada por
suas castas.
A maioria da população hindu está determinada á destruir o
varna-dharma para estabelecer uma sociedade ateísta sem
nenhum varna. É fácil destruir algo útil, mas é muito difícil
criar e propagar, neste caso, o sistema ideal. Que Sri
Bhagavan outorgue uma boa inteligência á estas pessoas.
Estão elas assumindo esta postura após a deliberação sobre o
assunto ou elas estão sendo arrastadas por seus sentimentos?
Com relação á isto, citaremos fragmentos dos comentários de
Bhaktivinoda Thakura encontrados no Caitanya Caritamrta.
Oramos humildemente ao leitor fiel que os examine
cuidadosamente e tente compreende-los.

“As inclinações ou qualidades de uma pessoa depende da sua


natureza, ela deve atuar de acordo com esta natureza
individual, pois a ação que não é realizada de acordo com
este princípio é defeituosa. A palavra “gênio” é usada para
indicar uma atitude ou caráter particular. É difícil que uma
pessoa mude sua natureza uma vez que esta amadureceu, por
tanto ela deve trabalhar para viver e aperfeiçoar-se
espiritualmente através das ações próprias da sua natureza
específica. Na Índia, as pessoas são divididas em quatro
varnas segundo suas naturezas. O resultado é que as pessoas
situando-se em um lugar social adequado sempre atuam
naturalmente de forma fruitiva e a humanidade se torna
favorável. Uma sociedade com este fundamento é digna de
respeito de toda a humanidade.”

“Pode ser que algumas pessoa duvidem do sistema de


varnasrama e digam: ‘Na Europa e América ninguém segue
as instruções baseadas nas divisões de varnas e as pessoas
deste continentes são mais avançadas e respeitadas,
econômica e científicamente, do que o povo hindu.’ Aqueles
que pensam assim consideram que é inútil aceitar este
sistema. Mas as dúvidas carecem de fundamento, poia as
sociedades européias são consideravelmente novas. As
pessoas destas sociedades são geralmente muito fortes e
audaciosas. Com toda esta audácia e força executam diversas
atividades no mundo e aceitam parte do conhecimento,
ciência e artes que estão preservadas pelas sociedades mais
antigas. Mas estas sociedades se extiguirão gradualmente por
que sua estrutura social não tem fundamento cientìfico. Mas
os sintomas do sistema de varna original que existia na
sociedade ariana hindu, se pode ver também na sociedade
hindu atual apesar de ser tão antiga e débil.

“Antigamente, as sociedades romanas e gregas erão muito


mais poderosas e avançadas do que os países europeus
modernos, mas qual é a sua condição atual? Perderam seu
antigo sistema de castas e abraçaram as religiões e sistemas
das sociedades modernas até o extremo, tanto que as pessoas
destas castas nem sequer proclamam as glórias dos seus
nobres ancestrais. Mesmo que a sociedade ariana da Índia
seja mais antiga que a romana e a grega, os arianos atuais se
sentem orgulhosos dos seus grandes de seus grandes e
heróicos antepassados. Qual a razão disto? Se deve á
fundação forte na qual se sustenta a sociedade ariana que é o
sistema de varnasrama que suas divisões sociais ou de castas
toda via ainda permanece. Os descedentes de Rana, que
foram derrotados pelos mlecchas, ainda se consideram
heróicos descendentes de Sri Ramacandra. Enquanto a
estrutura do varna continuar existindo na Índia, as pessoas
continuarão sendo arianas.”

“ Ainda que o varna-dharma seja parcialmente aceito na


Europa, não se estabeleceu em sua forma plena e científica.
Onde quer que o conhecimento e a civilização progressem, o
varna-dharma se manifesta proporcionalmente de forma mais
completa. Em qualquer atividade há duas classes de métodos
efetivos; o científico e o intuitivo. Uma atividade é
execuatada intuitivamente até que se aceite o processo
científico. Por exemplo, antes da invenção dos barcos á
vapor, as pessoas viajavam em botes desenhados para
depender do vento. Mas quando se introduziu as embarcações
fabricadas científicamente, todas as viagens começaram á ser
feitas nelas. O mesmo princípio pode ser aplicado á
sociedade. Enquanto o varna não se estabelecer
apropriadamente em um país, sua sociedade se estruturará em
um sistema rudimentario e intuitivo. Esta estrutura de
varnarudimentária e primitiva opera e controla hoje, as
sociedades de todos os países do mundo, com exceção da
Índia. Por esta razão, a Índia vem sendo denominada como
karma-ksetra, ou a terra ideal para a execução apropriada do
karma.”

“Poderia se perguntar agora, se o sistema de varna ainda


funciona na Índia atual. A resposta é não. Mesmo que este
sistema tenha sido estabelecido plenamente, se debilitou com
o decorrer do tempo e sua degradação é visível hoje em dia
na Índia.”

“A fama da Índia se dinfundiu pelo mundo inteiro, como o


poderoso brilho do sol meridional, quando o varna
funcionava de maneira inteligente. Pessoas de todos os países
do mundo ofereciam tributo á Índia e aceitavam seus
governantes, regentes e mestres espirituais como sendo seus.
As pessoas de países como o Egito e China escutavam e
recebiam instruções dos hindus com grande fé e reverência.”

“O sistema de varnasrama-dharma mencionado perdurou na


Índia, em sua forma pura, durante muito tempo. Logo, devido
á influência do tempo, Jamadagani e Parasurama, que
possuíam uma natureza ksatriya, foram ilegalmente aceitos
como brahmanas, mas eles abandonaram esta casta que era
oposta á suas naturezas. Então surgiu uma disputa entre os
brahmanas e os ksatriyas que causou uma perturbação na paz
em nível mundial. O resultado desfavorável desta luta no
sistema de varna foi que se deu maior ênfase no nascimento.
Com o passar do tempo, o sistema de varna deturpado foi
infiltrando de modo incoberto de modo que até os sastras
foram afetados. Os ksatriyas perderam toda esperança de
alcançar um varna superior e começaram uma revolta. Eles
apoiaram o dharma budista e focaram toda energia na
destruição dos brahmanas. A oposição á qualquer atividade
ou opinião nova se desenvolvia com a mesma intesidade da
propagação. Quando o dharma budista, oposto aos Vedas,
nasceu para confrotar os brahmanas, a estrutura do varna
fundamentada no nascimento se aprofundou ainda mais.
Logo surgiu um desacordo entre este sistema errôneamente
concebido e um espírito nacionalista conduziu a virtual
desintegração da civilização ariana da Índia.”

“Movidos por desejos egoístas, os supostos brahmanas


carentes de qualidades bramínicas, criaram suas próprias
escrituras religiosas e começaram á enganar as outras castas.
Os supostos ksatriyas haviam perdido suas qualidades e seu
espírito ksatriya e eram contrários á guerra, e assim perderam
seus reinos. Finalmente todos começaram á pregar o dharma
budista, que era insignificante e inferior. Como resultado, o
cultivo de conhecimento e as discussões sobre os sastras
Védicos foram barrados. Os governantes dos países baixos
atacaram então a Índia e estabeleceram seu controle. A
indústria naval da Índia sofreu e finalmente desapareceu
devido á má administração. Assim, a influência de Kali se
intesificou. A raça ariana da Índia, que havia sido um
exemplo para o mundo inteiro, se deteriorizou até a lastimosa
condição que vemos hoje. A razão deste desafortunado
acontecimento não é o envelhecimento da civilazão hindu,
mas os numerosos defeitos que se infiltraram neste sistema
de varna.”

“Paramesvara é o controlador original de todos os sistemas e


entidades vivas. Ele tem a capacidade de eliminar todos os
elementos defavoráveis e outorgar aquele que é favorável.
Ele pode se assim deseja, enviar um empoderado para
restabelecer o varnasrama dharma. Mesmo os escritores dos
Puranas afirmam que Sri Kalki-deva virá e reinstaurará a
glória do varnasrama-dharma. A história do Rei Maru e
Devapi descreve uma expectativa similar.”
“O princípio básico deste sistema é que uma pessoa adquire
deveres de acordo com sua própria natureza.”

Sloka 42

Samo damas tapah saucam


Ksantir arajavam eva ca
Jnanam vijnanam astikyam
Brahma-karma svabhava-jam

O controle da mente e os sentidos, a penitência, a pureza, a


tolerância, a sencibilidade, o conhecimento do ser e do
bhajana, e a fé firme nos sastras, são qualidades e deveres
característicos dos brahmanas, nascidos de sua própria
natureza.
Prakasika-vrtti

Neste verso se desvreve as qualidades dos brahmanas.


Rsabhadeva diz no Srimad Bhagavatam (5.5.24):

“Quem pode ser superior aos brahmanas? Através dos


estudos, eles reafirmam minha charmosa forma primordial
dos Vedas, os quais são o avatara do som transcendental. Eles
estão dotados com as oito qualidades supremamente puras de
sattva-guna; controle da mente, controle dos sentidos,
veracidade, misericórdia, penitência, tolerância,
conhecimento e bhakti. “O brahmana verdadeiro que possui
estas qualidades não pode ser uma causa de violência para
ninguém. Estes indivíduos são sem dúvida os bem querentes
de todos os seres vivos. Esta declaração é definitivamente
certa. Mas os que não possuem qualidades brahmínicas
apenas causam dano á sociedade mesmo que se auto
proclamen brahmanas. Mas não é correto criticar o sistema de
castas devido á este defeito. A ação indicada para corrigir
estes defeitos que se infiltraram neste sistema é oferecer a
honra apropriada apenas para brahmanas que possuam boas
qualidades.
A sociedade ateísta que está se formando atualmente não se
preocupa pelas castas ou divisões e simplesmente avança ao
assasinato, roubo, delinqüência, engano e outras atividades
pecaminosas. A agitação e o temor tomou conta de todos. O
mundo jamais havia estado em uma condição tão miserável.

Sloka 43

Sauryam tejo dhrtir daksyam


Yuddhe capy apalayanam
Danam isvara-bhavas ca
Ksatram karma-svabhava-jam
O heroísmo, a firmeza, valentia na batalha, generosidade e
liderança, são as ações prescritas para os ksatriyas nascidas
de sua própria natureza.

Sloka 44

Krsi-go-raksya-vanijyam
Vaisya-karma svabhava-jam
Paricaryatmakam karma
Sudrasyapi svabhava-jam

O karma prescrito dos vaisyas, nascido da sua própria


natureza, é a agricultura, a proteção ás vacas e o comércio. O
karma dos sudras, também nascido da sua própria natureza, é
render serviço aos outros três varnas.

Bhavanuvada

Nos vaisyas, predomina-se rajo-guna e um pouco de tamo-


guna. E tamo-guna é predominante nos sudras.

Sloka 45

Sve sve karmany abhiratah


Samsiddhim labhate narah
Sva-karma niratah siddhim
Yatha vindati tac chrnu

Os homens se dedicam á seu próprio karma segundo sua


aptitutes respectivas. Deste modo conquistam a perfeição de
ser elegíveis á obter jnana. Escuta agora como uma pessoa
que não cumpre com seu dever prescrito jamais poderá
alcançar a perfeição.
Sloka 46

Yatah pravrttir bhutanam


Yena sarvam idam tatam
Sva-karmana tam abhyarcya
Siddhim vindati manavah

Um homen conquista a perfeição mediante execução do seu


karma prescrito adorando Paramesvara, que é a fonte de todas
as jivas e quem penetra este mundo.

Sloka 47

Sreyan sva-dharmo vigunah


Para-dharma sv-anusthitat
Svabhava-niyatam karma
Kurvan napnoti kilbisam

É mais benéfico executar o dever próprio (sva-dharma),


mesmo que seja inferior ou realizado de forma imperfeita, do
que executar o dever mais elevado de outros (para-dharma).
Um homen jamais incorre em pecado ao executar seu dever
prescrito.

Sloka 48

Saha-jam karma kaunteya


As-dosam api na tyajet
Sarvarambha hi dosena
Dhumenagnir ivavrtah

Ó Kaunteya! Uma pessoa não deve abandonar seu dever


natural mesmo este sendo defeituoso, pois assim como a
fumaça cobre o fogo, todo esfôrço está coberto por algum
defeito.
Sloka 49

Asakta-buddhih sarvatra
Jitatma vigata-sprhah
Naiskarmya-siddhim paramam
Sannyasenadhigacchati

A pessoa que possui uma inteligência desapegada dos objetos


materiais, que tem uma mente controlada e que está livre de
desejos incluindo o de alcançar a felicidade de Brahma-loka,
renuncia completamente o karma e conquista a perfeição
suprema da ação desiteressada que está livre de toda reação.

Sloka 50

Siddhim prapto yatha brahma


Tathapnoti nibodha me
Samasenaiva kaunteya
Nistha jnanasya ya para

Ó Kaunteya! Vou te explicar agora os meios pelos quais uma


pessoa que alcançou a perfeição na forma de niskarmya,
situa-se no brahma, que culmina no jnana.

Slokas 51-53

Buddhya visuddhaya yukto


Dhrtyatmanam niyamya ca
Sabdadin visayams tyakva
Raga-dvesu vyudasya ca

Vivikta-sevi laghv-asi
Yata-vak-kaya-manasah
Dhyana-yoga-paro nityam
Vairagyam samupasritah

Ahankaram balam darpam


Kamam krodham parigraham
Vimucya nirmamah santo
Brahma-bhuyaya kalpate

A pessoa pacífica e dotada de inteligência pura, que controla


sua mente e é tolerante, que abandona os objetos de desfrute
sensual, que está livre do apego e da aversão, que vive em um
lugar solitário, come pouco, controla o corpo mediante a
meditação em Bhagavan, que está totalmente desapegada e
livre do ego e do apego falso, da arrogância, do desejo, da ira,
do acúmulo desnecessário de posses e da noção de “meu”,
está apta para conhecer o brahma.

Sloka 54

Brahma-bhutah prasannatma
Na socati na kanksati
Samah sarvesu bhutesu
Mad-bhaktim labhate param

Aquele que está situado no brahma é plenamente satisfeito.


Ele jamais se lamenta e nem deseja nada. Ele é equânime
com todos os seres. Neste estado ele obtém minha bhakti, a
qual está abençoada com os sintomas de prema (amor puro
por Krishna).

Prakasika-vrtti

As grandes almas que na associação com Sadhus, alcançaram


a plataforma brahma-bhuta que está dotada com os sintomas
mencionados, experimentam para-prema-bhakti á Sri
Bhagavan. Chegando á este ponto, é necessário compreender
o real significado da palavra para-bhakti.

“Uttama-bhakti é o cultivo de atividades que são realizadas


exclusivamente para satisfazer Sri Krishna. Em outras
palavras, é a corrente ininterrupta do serviço á Sri Krishna
executado com cada ação do corpo, mente e sentidos, através
da expressão de diversos sentimentos espirituais, que não está
coberto pelo jnana, karma ou yoga, e que também está
desprovido de qualquer desejo diferente da aspiração de
satisfazer á Sri Krishna.”

Sloka 55

Bhaktya mam abhijanati


Yavan yas casmi tattvatah
Tato mam tattvato jnatva
Visate tad-anantaram

Apenas através de bhakti, uma pessoa pode conhecer o tattva


(verdade) sobre as minhas glórias e minha svarupa (forma
original). Ela então entra em meus passatempos através deste
tattva, sustentada pela potência de prema-bhakti.

Bhavanuvada

Qual é o resultado de obter sua bhakti? Sri Bhagavan


responde com este verso, dizendo: “Os jnanis e os diversos
tipos de bhaktas que obteram bhakti, compreendem o
princípio das minhas opulências e minha natureza, assim
entram em meus passatempos eternos.”

Prakasika-vrtti
Sri Bhagavan explica neste verso, o resultado de para-bhakti
(kevala-bhakti ou bhakti pura) que é caracterizada por prema.
Devido á boa fortuna, uma pessoa que alcançou a plataforma
de brahma-bhuta, obtém para bhakti pela misericórdia de
uma grande personalidade. Neste momento ela perde seu
interesse por moksa (liberação impessoal). Quando se
libera do jnana, ela obtém nirguna bhakti e compreende o
krishna-tattva. Isto acontece quando ela realiza sua svarupa
siddhi (sua forma espiritual) e quando obtém vastu-siddhi ela
entra nos passatempos de Bhagavan.

Sloka 56

Sarva-karmany api sada


Kurvano mad-vyapasrayah
Mat-prasadad avapnoti
Sasvatam padam avyayam

Aquele que se refugia em minha ekantika-bhakti (bhakti sem


misturas) alcança minha eterna morada, mesmo que esteja
executando diversos tipos de atividades.

Sloka 57

Cetasa sarva-karmani
Mayi sannyasya mat-parah
Buddhi-yogam upasritya
Mac-cittah satatam bhava

Com a mente livre do falso ego de se julgar o atuante,


oferecendo-me todas as suas atividades com todo coração e
refugiando-se em uma inteligência firme e dedicada á mim,
permanece-te sempre consciente de mim.

Sloka 58
Mac cittah sarva-durgani
Mat-prasadat tarisyasi
Atha cet tvam ahankaran
Na srosyasi vinanksyasi

Fixando tua mente em mim com devoção incondicional, por


minha graça superarás todos os obstáculos. Mas se devido ao
falso ego, ignoras minhas instruções, se verás em ruínas.

Sloka 59

Yad ahankaram asritya


Na yotsya iti manyase
Mithyaiva vyavasayas te
Prakrtis tvam niyoksyati

Tua decisão de não lutar, se deve apenas á um pretensioso


desejo de satisfação e é completamente inútil, pois minha
maya na forma de rajo-guna te impulsionará á lutar de todo
jeito.

Bhavanuvada

“Sou um ksatriya e lutar é meu dever. Mesmo assim, não


desejo executa-lo porque temo em incorrer em grandes
pecados como resultado de matar tantas pessoa.” Dando a
resposta á este argumento, Sri Bhagavan repreende Arjuna
recitando este verso. “Ó Maha-vira, agora você não aceita
minhas instruções, mas quando teu entusiasmo natural pela
luta despertar, me fará rir vendo como te lançarás
voluntariamente á batalha e matarás personalidades como
Bhisma.”

Prakasika-vrtti
Os sadhakas jamais devem fazer mal uso da sua
independência realizando atividades frívolas. De acordo com
as instruções de Bhagavan, devem abandonar o falso ego de
considerar-se o atuante e desfrutadores, e assim realizar todas
as atividades como um servo.
Estas instruções devem ser recebidas de bhagavan na forma
dos sastras e do Caitya –guru. Se uma pessoa pensa que é ela
quem atua e quem desfruta, coisa que os sastras se opõe, terá
que experimentar os resultados bons ou maus de suas ações,
vida pós vida.

Sloka 60

Svabhava-jena kaunteya
Nibaddhah svena karmana
Kartuum necchasi yan mohat
Karisyasy avaso ´pi tat

Ó Kaunteya! De qualquer maneira te verás impelido á


executar esta ação que no seu estado confuso atual desejas
evitar, pois estás atado pelas atividades que nascem da tua
própria natureza.

Sloka 61

Isvarah sarva-bhutanam
Hrd-dese ´rjuna tisthati
Bhramayan sarva-bhutani
Yantrarudhani mayaya

Ó Arjuna! Sarvantaryami Paramatma está situada no coração


de todas as jivas e mediante sua maya ás faz perambular pelo
ciclo de nascimento e morte como se tivessem em uma
máquina.
Bhavanuvada

Os srutis afirmam: “Sri Narayana penetra tudo que é visível


ou audível neste universo e também tudo que está dentro e
mais além dele” Assim conclui-se que Isvara está situado no
coração como Antaryami. Ali ele faz com que todas as jivas
perambulem dentro do mundo material através de sua maya-
sakti, ocupando-as em diversas atividades.”Assim como um
ator teatral manobra marionetes em um cenário mediante uma
corda que controla os corpos dos bonecos, maya controla as
jivas de um modo particular.

Sloka 62

Tam eva saranam gaccha


Sarva-bhavena bharata
Tat prasadat param santim
Sthanam prapsyasi sasvatam

Ó Bharata, rende-te exclusivamente á Isvara em todos os


aspectos. Por sua graça obterás a paz transcendental na
morada eterna suprema.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso com o propósito de explicar a


importância de se render á ele. No Srimad Bhagavatam
(11.29.6), Uddhava diz:
“Ó Isa, até mesmo grandes eruditos que adquiriram uma
duração de vida igual igual á de Brahma e recordam sua
glórias, sentem endividados com você. Isto se deve ao fato de
você iluminar as entidades vivas corporificadas com o
processo para alcança-lo. Voc~e faz isto externamente como
o Acarya-guru e internamente como o caitya-guru.
Sloka 63

Iti te jnanam akhyatam


Guhyad guhyataram maya
Vimrsyaitad asesena
Yathecchasi tatha kuru

Já te revelei o conhecimento mais confidencial que o secreto


conhecimento do brahma. Reflexiona agora sobre ele e
depois atua como queira.

Bhavanuvada

Sri Bhagavan recita este verso começando com a palavra iti,


para concluir a Gita. “Uma pessoa pode entender o karma-
yoga, o astanga-yoga e o jnana-yoga mediante este
conhecimento que é inclusive mais confidêncial do que o
conhecimento secreto do jnana-sastra. Por ser o segredo
secreto supremo, até mesmo sábios como Vasistha, Veda-
vyasa e Narada, não puderam revelar isto nos sastras que
escreveram. Em outras palavras, sua onisciência é relativa, e
a minha absoluta. Por isso, ó Arjuna, reflexiona
cuidadosamente sobre este assunto e faça o que bem quiser.

Sloka 64

Sarva-guhyattamam bhuyah
Srnu me paramam vacah
Isto ´si me drdham iti
Tato vaksyami te hitam

Escuta de novo esta minha instrução suprema, que é o


conhecimento mais confidencial. Porque és muito querido á
mim, revelo este conhecimento para seu benefício máximo.
Bhavanuvada

Quando Sri Krishna viu que seu amigo Arjuna ficou em


silêncio refletindo sobre os profundos significados da Gita-
sastra, seu coração, que é tão suave como a manteiga, se
derreteu e disse: “Ó Arjuna, meu querido amigo, agora te
descreverei a mesma essência de todos os sastras neste oito
versos finais”. Eu o repito para seu benéfico máximo, pois tu
és uma amigo muito querido.”

Sloka 65

Manmana bhava mad bhakto


Mad-yaji mam namaskuru
Mam evaisyasi satyam te
Pratijane priyo ´si me

Oferéceme tua mente, converte-te em meu devoto, dedica-se


á cantar meus nomes, formas, qualidades e passatempos,
adora-me e oferéce-me reverências. Assim sem dúvida, tu
virás á mim. Te prometo isso sinceramente porque és muito
querido por mim.

Bhavanuvada

“Man-mana bhava significa que deves meditar em mim,


convertendo-se em meu devoto exclusivo. Não te convertas
em jnani ou yogi nem pense em mim assim como eles. Man
mana bhava significa também que deves atuar como alguém
que oferece a mente á mim, Syamansundara, e que derrama
sobre ti um doce olhar vindo do seu rosto que é como a lua,
adornado com sonbracelhas em forma de arco e um suave
cabelo encaracolado.
Mad-bhaktah significa oferecer-me os sentidos. Em outras
palavras, executa meu bhajana dedicando todos os sentidos á
meu serviço: executando sravana e kirtanam, comtemplando
minha forma, limpando e decorando meu templo, colhendo
flores e fazendo guirlandas, oferecendo-me abano e
sombrinha, e executando outros serviços. Mad-yaji significa
adorar-me e oferecer-me diversos artigos como flores
fragantes, incenso, lamparinas de manteiga clarificada e
alimentos. Mam namaskuru significa oferecer-me dandavat-
pranams caindo ao solo e oferecer reverências com cinco ou
oito membros do corpo. Mam evaisyasi significa que sem
dúvida me alcançarás mediante execução das quatro
atividades de pensar em mim, servir-me, adorar-me e
oferecer-me reverências, ou até mesmo apenas uma delas.
Oferecendo-me tua mente e teus sentidos, em troca te darei
meu ser.”

Prakasika-vrtti

Man mana bhava significa absorver a mente exclusivamente


em Krishna. Sri Krishna aceitou as gopis como o ideal mais
elevado de amn mana bhava e Ele expressa isto á Uddhava
com doces palavras no Srimad Bhagavatam (10.46.4-6):

“Querido Uddhava, as mentes das gopis estão sempre


absortas em Mim. Eu sou sua própria vida e tudo que elas
tem. Apenas pelo meu prazer abandonaram tudo, incluindo
suas casas, esposos, filhos, parentes, timidez e princípios
morais. Elas permanecem sempre absortas pensando em
Mim. Pela confiança delas em minha firmação “Eu voltarei”,
de uma forma ou de outra, com grande dificuldade, elas se
mantém com vida e me esperam.”

A instrução mad-bhakto bhava é dada para aqueles que não


podem absorver-se por completo em Krishna como as gopis
fazem. Significa oferecer-se á si mesmo em todos os aspectos
aos pés de lótus de Bhagavan. Como pode um bhakta
oferecer serviço continuamente? A resposta está na história e
instruções de Prahlada maharaja descritas no Srimad
Bhagavatam (7.5.23-24):

“Prahlada Maharaja disse: ‘Ó querido pai, a devoção á Sri


Vishnu é executada de nove maneiras: escutar, cantar e
lembrar do nome, forma, qualidades e passatempos, servir
seus pés de lótus, adora-lo, orar, servir, convertenter-se em
seu amigo e render-se á ele. Eu considero que esta é a melhor
educação referente á bhakti por Bhagavan.”

Sloka 66

Sarva dharma parityaijya


Mam ekam saranam vraja
Aham tvam sarva papebhyo
Moksayisyami ma sucah

Abandona todo dharma corporal e mental, como o varna e


asrama, e rende-te completamente á mim. Eu te livrarei de
todas as reações dos seus pecados. Não temas.

Bhavanuvada

“Devo executar atividades tal como meditar em ti e ao


mesmo tempo cumprir com os deveres do meu asrama-
dharma, ou devo executar esta meditação sem depender de
nenhum outro dharma?”
Para responder esta pergunta, Bhagavan recita este verso que
começa com as palavras sarva-dharma. “Rende-te
exclusivamente á mim, renunciando todos os tipos de
varnasrama-dharma”. É incorreto traduzir a palavra
parityajya como sanyassa ou a renúncia completa do karma,
porque como ksatriya, Arjuna não tem uma atitude ideal para
aceitar sanyassa, tampouco é correto traduzir a palavra
parityajya como a renúncia aos frutos das atividades. O
Srimad Bhagavatam (11.5.41) declara:

“Aquele que abandona o falso ego de se considerar o


executor (atuante) e aceita o refúgio supremo de Sri
Mukunda no âmago de seu coração, libera-se de todas as
obrigações para com os semi-deuses, sábios, entidades vivas,
familiares e antepassados.”

Outro verso do Srimad Bhagavatam declara (11.20.9):

“Uma pessoa deve continuar executando seus deveres


prescritos permanentes e ocasionais até que se desapega dos
objetos sensíveis e adquira fé em escutar sobre mim.”

O Srimad Bhagavatam (11.11.32) agrega:

“Aqueles que me oferecem serviço depois de abandonar


todos os tipos de dharma e de compreender os aspectos
negativos e positivos inerentes aos deveres prescritos
intruídos por mim nos Vedas, são os melhores sadhus.”

É necessário explicar o significado deste verso do Gita sob a


luz das profundas declarações feitas por Sri Bhagavan e
destrinchar seus significados. A palavra parityajya indica que
o objetivo supremo destas instruções não é renunciar os
frutos do karma. “Pelo contrário, significa que deves
refugiar-te plenamente em mim, não render-se ao dharma, ao
jnana, ao yoga ou aos devas. Antes Eu te disse que não tinhas
adhikara (qualificação) para executar ananya-bhakti e podias
apenas praticar karma-misra-bhakti. Agora, por minha
ilimitada e imotivada misericórdia estou te outorgando a
qualificação necessária para para executar ananya-bhakti.Tal
bhakti é obtida pela misericórdia de meus devotos puros. Esta
é minha promessa. Se agora abandonas teus deveres
prescritos cumprindo minha ordem, não terás nenhuma
reação. Eu, na forma dos Vedas, dei instruções de execuatr
nitya-karma, mas agora te ordeno pessoalmente que os
abandones. Se aceitas minha ordem, que possibilidade há de
incorrer em pecado como conseqüência de abandonar teu
nitya-karma? Mas se decides ignorar Minha ordem direta e
continuar executando seus deveres prescritos, cometerás
pecado. Deves saber que esta é uma verdade. Se uma pessoa
se rende á alguém, ela permanece sob controle e propriedade
do outro como um animal que foi comprado. Deve fazer o
que o amo lhe ordene, permanecer onde ele lhe coloque e
comer o alimento que lhe proporcione. Esta é a essência do
dharma tal como entendem os que se renderam
completamente. O Vayu Purana enumera os seis aspectos da
rendição ou saranagati:

“1- Aceitar com determinação tudo que é favorável para


bhakti, 2- recusar e abandonar tudo que é desfavorável para
bhakti, 3- ter uma inquebrantável fé que Bhagavan é o único
protetor, 4- aceitar Bhagavan como seu sustentador, 5-
oferecer-se completamente á Ele e 6- ser humilde.”
O saranagati (renidção total) é a execução destas seis
atividades com a intenção de obter prema por Bhagavan.
Sri Krishna diz aqui á Arjuna:
“Não te aflites pensando.’”Ai de mim! Coloquei uma carga
pesada sobre meu Senhor e amo.’ Para Mim, isto não
representa nenhum esforço, a aceitação deste peso. Sou
bhakta-vatsala, afetuoso com meus devotos, e satya-sankalpa,
sempre cumpro minhas promessas. Após seguir esta instrução
não há a necessidade de mais nada. Por tanto, concluo aqui
este sastra”.

Prakasika-Vrtti
No verso anterior, Sri krishna deu a instrução mais
confidencial do Bhagavad Gita referente á suddha-bhakti.
Agora, neste verso, declara que primiero é necessário render-
se completamente com objetivo de de qualificar- se para
recebe-lo. A palavra sarva dharma significa que o varnasrama
dharma e todos seus componentes – karma, jnana, yoga,
adoração dos semi-deuses e as crenças religiosas distintas de
krishna-bhajana, estão todos baseados na plataforma mental
ou corpórea. É incorreto pensar que a palavra parityajya
significa apenas abandonar o apego por karma e seus frutos.
O significado íntimo desta declaração de Bhagavan é
abandonar completamente a adesão ao karma.Alguém
poderia pensar que que existe a possibilidade de incorrer em
pecado ao abandonar os dharmas prescritos para a rendição á
Bhagavan. Para acabar com esta dúvida das mentes das
pessoas fiéis comuns, Sri Krishna declara: sarva papebhyo
moksayisyami ma sucah, “Não te aflites, eu te libertarei de
todo tipo de pecado”.

Sloka 67

Idante natapaskaya
Nabhaktaya kadacana
Na casusrusave vacyam
Na c amam yo ´bhyasuyati

Jamais deves explicar esta essência da Gita-sastra á uma


pessoa de sentidos descontrolados, á um não devoto, á quem
não tem uma atitude de serviço, ou á quem tem inveja de
mim.

Bhavanuvada
Após culminar as instruções da Gita-sastra, Sri Bhagavan
explica o princípio de continuidade da sampradaya. Em
outras palavras, Ele formula o critério para definir quem está
preparado para receber estas instruções. Uma pessoa de
sentidos descontrolados se denomina atapaska. Estas
instruções não devem ser dadas á não devotos, mesmo se eles
controlam os sentidos. Também não deve-se dar tais
instruções á um devoto que controlou os sentidos mas não
escuta submissamente.

Sloka 68

Ya imam paramam guhyam


Mad-bhaktesv abhidhasyati
Bhaktim mayi param krtva
Mam evaisyaty asamsayah

E aquele que instrui este conhecimento super confidencial da


Gita-sastra á meu devotos, obterá minha para-bhakti e após
por um fim em todas as dúvidas, finalmente me alcançarão.

Prakasika-vrtti

É indispensável que o pregador da Gita-sastra possua amor e


firme fé por Krishna. Ele deve ser esperto no tattva-jnana e
está livre de dúvidas. Se um pregador da Gita tem um
conhecimento teórico mas não prático, ou se carece de
qualidades mencionadas, não é um pregador genuíno e não
deve-se escutar a Gita dele. Os sastras descrevem as
características de um ouvinte sincero. Sri Krishna disse á
Uddhava:

“Este ensinamento deve ser dado aos que estão livres dos
defeitos do engano, ateísmo, infidelidade, arrogância e
carência de bhakti. Deve ser destinado ao bem estar dos
brahmanas, os que anseiam por bhagavat-prema, os que
possuem natureza santa e sobre tudo ao bem estar dos
bhaktas. Mas pode-se dar estas instruções á um sudra que
possua fé em Mim.”

Esta declaração afirma que não deve-se levar em conta a


casta, cor, credo, ou idade, se a pessoa possui as qualidades
descritas acima, ela está apta á receber tal conhecimento.

Sloka 69

Na ca tasman manusyesu
Kascin me priya-krttamah
Bhavita na ca me tasmad
Anyah priyataro bhuvi

Não existe ninguém na sociedade humana que me satisfaça


mais do que aquele que explica a mensagem da Gita.
Tampouco existirá nada neste mundo inteiro que seja mais
querido por Mim.

Prakasika-vrtti

Os pregadores genuínos da Gita-sastra são muito queridos


por Sri Krishna. Por tanto, o dever dos suddha bhaktas é
pregar a mensagem da Gita. Mas, os que nos enganam sob
pretexto de pregar a Gita e não pregam o tattva (verdade)
mais confidencial e apenas pregam mayavada, karma, jnana e
yoga, ofendem os pés de lótus de Bhagavan. Não há
benefício em se escutar a Gita dos lábios destes pregadores.

Sloka 70

Adhyesyate ca ya imam
Dharmyam samvadam avayoh
Jnana-yajnena tenaham
Istah syam iti me matih

Serei adorado através deste jnana-yajna, o princípio do


verdadeiro conhecimento, por aqueles que estudarem este
sagrado diálogo entre nós. Esta é minha opinião.

Sloka 71

Sraddhavan anasuyas ca
Srnuyad api yo narah
So ´pi muktah subhal lokan
Prapnuyat punya-karmanam

E aquele que simplesmente escuta a Gita com fé e sem


inveja, também se libera dos pecados e vai aos planetas
auspiciosos onde residem as pessoas piedosas.

Sloka 72

Kaccid etac chrutam partha


Tvayaikagrena cetasa
Kaccid ajnana-sammohah
Pranastas te dhananjaya

Ó Partha! Ó Dhananjaya! Escutou a Gita com atenção? Após


ter escutado, a ilusão nascida da ignorância se foi?

Prakasika-vrtti

Sri Krishna pergunta á Arjuna se ele tem alguma outra


pergunta. Aqui, se entende que deve-se escutar a Gita com
muita atenção e mesmo após escutar dos lábios de Sri
Gurudeva e sábios, o estudante deve continuar escutando
continuamente através do processo de indagação submissa e
oferecer serviço, até que compreenda completamente.

Sloka 73

Arjuna uvaca
Nasto mohah smrtir labdha
Tvat prasadan mayacyuta
Sthito ´smi gata-sandehah
Karisye vacanam tava

Arjuna disse: Ó Acyuta, agora minha ilusão se foi por tua


graça e recuperei a percepção do meu verdadeiro ser. Minha
dúvida se foi e estou situado firmemente no verdadeiro
conhecimento. Agora cumprirei tua ordem.

Bhavanuvada

“Que mais posso perguntar?” Ao abandonar todo tipo de


dharma e render-me á ti, me libertei de toda ansiedade.
Arjuna recita este verso para mostrar á Krishna a condição
atual de seu coração. Arjuna, o portador do arco gandiva, se
preparou para lutar quando escutou Bhagavan dizer: “Ó meu
querido amigo Arjuna, ainda tenho que realizar algumas
atividades para eliminar a carga da terra. Executarei através
de você.”

Sloka 74

Sanjaya uvaca
Ity aham vasudevasya
Parthasya ca mahatmanah
Samvadam imam asrausam
Adbhutam roma-harsanam
Sanjaya disse: Ó Rei! Foi assim que escutei este maravilhoso
diálogo entre mahatma Vasudeva e Partha, fico arrepiado de
escuta-lo.

Bhavanuvada

As duas folhas nas quais eu havia escrito a explicação dos


cinco versos finais que resumem a essência da Gita,
desapareceram. Suponho que Ganesaji mandou seu rato me
roubar. Depois disso, não escrevi mais sobre estes
significados. Quie Ganesaji fique satisfeito comigo. Eu lhe
ofereço reverências.

Aqui finaliza-se o comentári oBhavanuvada do Srimad


Bhagavad Gita. Que este aumente o prazer das pessoas
santa. Que a doçura deste comentário, que é benéfico para
toda a sociedade, satisfaça completamente os bhaktas que
são como pássaros cataka. E que a doçura se manifeste em
nosso corações.

Sloka 75

Vyas-prasade chrutavan
Imam guhyam aham param
Yogam yogesvarat krsnat
Saksat kathayatah svayam

Pela graça de Srila Vyasadeva, escutei este yoga super


confidencial explicado por Yogesvara, o super atrativo Sri
Krishna.
Vyasadeva instruindo Sanjaya

Prakasika-vrtti

Sanjaya reconhece queque escutou e compreendeu os


ensinamentos divinos do Srimad Bhagavad Gita pela graça de
seu mestre espiritual Srila Vyasadeva. Sem a graça do guru,
não pode-se compreender o tattva da Gita-sastra. Apenas o
fiel discípulo pode conseguir a perfeição na compreensão de
bhagavat-tattva. Assim como Arjuna e sanjaya foram
abençoados e conseguiram a perfeição, qualquer pessoa que
deseje aperfeiçoar sua vida, pode conseguir se refugia-se em
um guru genuíno com rendição. Sem aceitar um devoto puro
é impossível que alguém obtenha bhagavat-tattva
(conhecimento sobre Bhagavan.)

Sloka 76

Rajan samsmrtya samsmrtya


Samvadam imam adbhutam
Kesavarjunayoh punyam
Hrsyami ca muhur muhuh

Ó Rei! Ao me lembrar deste maravilhoso e sagrado diálogo


entre Sri Krishna e Arjuna, me regozijo vez e outra.

Sloka 77

Tac ca samsmrtya samsmrtya


Rupam atyadbhutam hareh
Vismayo me mahan rajan
Hrsyami ca punah punah

Ó Rei. Me assombro e me deleito a cada instante, recordando


esta maravilhosa forma de Sri Hari.

Prakasika-vrtti

Este verso evidência que a forma vista por Arjuna em


kuruksetra foi a mesma vista por Sanjaya pela misericórdia
de Srila Vyasadeva., mesmo estando ele no palácio real de
Hastinapura.
Sloka 78

Yatra yogesvarah krsno


Yatra partho dhanurdharah
Tatra srir vijayo bhutir
Dhruva nitir matir mama

Onde quer que esteja Krishna, o amo de todos os yogas, e


onde quer que esteja Arjuna, o grande arqueiro, haverá
opulência, vitória, prosperidade e moralidade. Esta é minha
opinião.

Prakasika-vrtti

O décimo oitavo cápítulo descreve brevemente essência de


todo o Gita. Uma parte descreve o karma-yoga predominado
por dhyana-yoga que produz atma-jnana, e a outra parte
descreve o suddha-bhakti-yoga que nasce da sraddha
relacionada com Bhagavan. Esta é a essência da Gita.A
instrução mais confidencial é cultivar atma-jnana através de
dhyana-yoga e a instrução confidêncial suprema é dedicar-se
á bhakti-yoga rendedo-se exclusivamente á Svayam
Bhagavan Sri Krishna.
Após recompilar o siddhanta de todos os Vedas e o Vedanta
no Gita, foi determinado que a meta suprema é krishna-prema
(amor puro por Deus) através da prática de bhakti-yoga.
Deve-se abandonar a adesão pelo processo inferior e
desenvolver fé pelo processo superior. Finalmente, deve se
estabelecer com firmeza em bhakti-yoga através da rendição
e vivendo desta maneira Bhagavan o recompensará com
suddha-prema. Uma pessoa obtém a misericórdia de
Bhagavan ao entrar neste processo de purificação da
existência. Esta misericórdia é imortal, libera da lamentação,
e assim a pessoa absorve-se eternamente em seu prema (amor
puro).
Assim se conclui o comentário Prakasika-vrtti de Srimad
Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja sobre o décimo
oitavo capítulo do Srimad Bhagavad Gita.

FIM

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