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1 INTRODUÇÃO
A legislação penal brasileira sempre deve ser utilizada como meio último para a
correção da sociedade, de modo a garantir os bens mais importantes da humanidade. Deve ser
aplicada de maneira proporcional a infração cometida e sempre buscando reinserir de maneira
adequada de volta à sociedade aquele que de alguma forma desrespeitou suas “normas de
conduta”.
Com a criança e o adolescente não poderia ser de maneira diferente. Mas como a
Constituição garante, temos que tratá-los de maneira diferenciada, visto que eles ainda estão
em pleno desenvolvimento de sua formação, de crescimento de sua moral e ainda possuem
direito a uma educação que pode e é uma forma de mudar a realidade social.
Baseada na premissa que a criança e o adolescente têm a “prioridade absoluta”, o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fora sancionado aos 13 dias de julho de 1990,
pelo então presidente da República Fernando Collor de Mello. Na época, o Brasil fora o
primeiro país da América Latina a garantir de modo normativo leis diferenciadas de modo
claro e em concordância com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, aprovada
pela Assembléia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989.
Nesse ano completando 18 anos, o Estatuto em muito melhorou a realidade social
daqueles que o são assistidos, mas ainda há muito a ser feito. Nesse trabalho apresentaremos o
aspecto criminal presente no Estatuto, os chamados Atos Infracionais. Falaremos um pouco
sobre os tipos de penas presentes no mesmo, além da forma como deve ser prosseguido um
procedimento jurídico quando falarmos daqueles que mais necessitam do apoio e da proteção
estatal.
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2 DO ATO INFRACIONAL
“Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.”
Vale ressaltar que para eficácia do ECA, o prazo considerado é a idade do adolescente
a época do fato e a comprovação da idade do mesmo é feita por documento que demonstre a
data do nascimento do mesmo, como deixa claro o artigo 104 da lei citada:
O documento de identificação, que deve possuir foto, ainda serve para se evitar a
identificação compulsória pelos órgãos policiais, salvo se houver dúvidas quanto à
autenticidade do documento, como demonstra o seu artigo 109:
Quando o ato infracional é praticado por criança, essa sujeita-se ao disposto no artigo
105 e por seguinte ao 101 da Lei, que assim dispõem:
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela
sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.
várias representações, será permitida sobre o prazo máximo de 45 dias, tempo esse também
que a autoridade tem para finalizar a sindicância para aplicação de medida sócio-educativa,
como demonstram os artigos 108 e 183:
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo
de quarenta e cinco dias.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios
suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da
medida.
A defesa jurídica do adolescente deverá ficar atenta aos prazos sob pena de
responsabilidade, prevista no artigo 235 citado acima.
2.2 Da Prescrição
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo.
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades
pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários.
Consoante com tal teoria está Valter Kenji Ishida e o ministro do STJ Gilson Dipp e o
ex-ministro Vicente Leal.
“Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.”
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Vale destacar que o Magistrado pode cumular penas, como bem esclareceu o artigo 99
da Lei e a prestação de serviços deve procurar ser em bairro que resida ao adolescente,
respeitando a preservação dos vínculos comunitários do mesmo.
A pena de advertência pode ser aplicada mesmo com apenas indícios da autoria do ato
infracional, já as demais medidas só poderão ser aplicadas quando se observar prova de
autoria e da materialidade, como bem explica o artigo 114:
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112
pressupõe a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da
infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da
materialidade e indícios suficientes da autoria.
3.1 Da Advertência
“Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e
assinada.”
As infrações com reflexos patrimoniais são sujeitas a reparação do dano. Nesses casos
o Juízo designa audiência de composição do dano, na qual a presença do responsável legal do
menor é indispensável. Aquele será que será reduzido a termo e assim que homologo esse
passará a valer como título executivo de acordo com as termos do CPC.
O artigo 932, do CC, prevê a responsabilidade dos pais pelos filhos menores, assim
como as responsabilidades pelos tutores e curadores de menores. O artigo 928, do CC, prevê
também a reparação do dano mesmo que esse seja culposo.
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Prestar serviços à comunidade nada mais é do que ajudar a mesma de modo gratuito
em tarefas de interesse geral ao seu próprio desenvolvimento. Tal medida não pode possuir
prazo superior a seis meses e tal prazo deve ser proporcional a infração cometida. É adequado
a essa medida o seguinte ato infracional a título de exemplo: jogo do bicho.
Ela está prevista no artigo 117 do ECA:
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais
adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual
poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.
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§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a
qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
orientador, o Ministério Público e o defensor.
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade
competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:
I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e
inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e
assistência social;
II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente,
promovendo, inclusive, sua matrícula;
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no
mercado de trabalho;
IV - apresentar relatório do caso.
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como
forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades
externas, independentemente de autorização judicial.
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que
possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as
disposições relativas à internação.
3.6 Da Internação
É a mais grave das medidas sócio-educativas, que tem que bem máximo atingido a
liberdade do adolescente. Nesse regime, são observados três princípios de fundamental
importância para sua compreensão: o da brevidade, o da excepcionalidade e o do respeito à
condição peculiar do infrator em desenvolvimento.
O princípio da brevidade trata do tempo que deve o adolescente permanecer na
instituição. O prazo deve ser somente aquele para que o infrator se reabilite e não superior a
três anos. O segundo princípio é aquele que informa que essa será a última medida que pode
ser aplicada pelo Estado, quando ineficaz as demais.
O terceiro princípio chama atenção por não ser notado de maneira eficaz nas
instituições que cuidam dos menores infratores. Ele diz que nesses centros deve ser mantida
as condições de desenvolvimento do adolescente, garantido seu ensino e profissionalização e
não é isso que se observa.
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A estipulação de prazo para permanência no instituto pode ser facultativa, visto que a
cada seis meses o adolescente deverá passar por uma avaliação. O chamado jovem-adulto
(pessoas com idade entre 18 e 21 anos) ainda estão sujeitos às medidas sócio-educativas dos
atos infracionais que cometeram antes dos 18 e após essa idade se observa a prescrição
educativa (não há mais como mudar a mentalidade do jovem) e executiva (fim do prazo para
cumprimento da medida estabelecido no artigo 2º da lei).
Como exemplos de infração penal em que a internação pode ser requerida citam-se a
tentativa de roubo, homicídio, latrocínio, dentre outros. A saída do instituto somente
acontecerá mediante autorização judicial. A internação está disposta no artigo 121:
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios
de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica
da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser
liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial,
ouvido o Ministério Público.
Sobre os critérios para a internação dispõe de maneira clara o artigo 122 do ECA:
Caso ocorra fuga do adolescente durante seu período de internação o prazo em que
esse permanecer foragido não será contato como tempo de internação. Caso cometa algum ato
infracional enquanto estiver fora da instituição, um novo prazo deve ser contato a partir do
momento de sua apreensão.
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Os direitos do menor infrator estão dispostos nos artigos 123 a 125, abaixo dispostos:
Ressalta-se que o menor pode ficar internado sob custodia em locais diferentes dos
institutos caso não haja um na localidade, contudo, caso tal fato ocorra, cabe ao MP ingressar
com Ação Civil Pública contra o Estado para que essa cumpra com seu dever estabelecido na
CF, em seu artigo 227, caput.
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Vale destacar também que não somente a integridade física do menor é assegurada,
mas sua integridade mental, além desse não poder ficar de maneira alguma incomunicável.
4 REMISSÃO
Assim, fica-se entendido que o MP pode decidir pela remissão, contudo, qualquer
forma de medida sócio-educativa, mesmo as mais simples, tem que ser impostas pelo Juiz,
mesmo que o MP faça um acordo bilateral com o menor, ao nosso ver, tal acordo não se torna
plenamente constitucional.
Vale dizer, contudo, que esse posionamento não é mesmo de Valter Kenji Ishida que
defende a cumulação da Remissão com as medidas sócio-educativas mais brandas.
A remissão pode ser revista a qualquer momento desde que pedida por parte legitima.
Sob a remissão dispõe o ECA:
Sobre as medidas que os pais ou responsáveis podem sofrer dispõe o ECA em seu
artigo 129 e 130. Merece destacar que os pais não respondem por atos infracionais, visto que
não são parte no processo.
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina.
6 ACESSO À JUSTIÇA
Agora veremos como se procede ao acesso à justiça presente no ECA em seu artigo
141.
Primeiramente podemos salientar que deve ser garantido o acesso de toda criança ou
adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer
de seus Órgãos (art. 141, caput, do ECA). Com isso se assegura o acesso aos operadores do
direito que agem em nome dos mesmos.
O acesso ao defensor é garantido por lei através da Defensoria Pública, mas não só
através dela, pois a gratuidade depende do critério necessidade. Também é garantido que a
criança ou adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo
interesse na solução da lide, podem intervir nos procedimentos de que trata o ECA, através de
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advogado, o qual deve ser intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação
oficial, respeitado o segredo de justiça.
A lei garante o acesso ao Ministério Público, através de seu Representante. O art. 200
determina que as funções do Ministério Público devem ser exercidas nos termos da sua lei
orgânica.
A lei garante o acesso ao poder judiciário através da autoridade judiciária competente. A
seção II, do capítulo II, do ECA, trata do Juiz. Assim, o art. 145, afirma que a autoridade a
que se refere o ECA é o Juiz da Infância e da juventude, ou o Juiz que exerce essa função na
forma estabelecida pela Lei de Organização Judiciária local. A súmula 108, do STJ, determina
que "a aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é
da competência exclusiva do juiz".
Quanto a assistência judiciária gratuita, em seu art. 141, § 1º, diz o ECA que tal
assistência deve ser prestada aos que dela necessitarem, através da defensoria pública ou
advogado nomeado.
A Constituição Federal de 1988, no seu art. 5°, inciso LXXIV, estabelece como direito
fundamental a assistência jurídica integral aos que comprovarem insuficiência de recursos. A
Lei 1060, de 05/02/1950, estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados.
Assim, o seu art. 1° determina que os poderes públicos federal e estadual,
independentemente da colaboração que possam receber dos municípios e da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), devem conceder assistência judiciária aos necessitados, nos
termo dessa lei. Gozam dos benefícios tanto nacionais quanto estrangeiros residentes no País
que necessitarem recorrer à justiça penal, civil, militar, ou do trabalho.
A lei mencionada define necessitado, para os fins legais, como todo aquele cuja situação
econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem
prejuízo do sustento próprio ou da família. A lei refere "custas do processo e os honorários de
advogado" (§u, art. 2°, Lei 1060/50). Portanto, os dois juntos. Se tiver condições de pagar
apenas um deles, tem direito à assistência.
sujeitam às normas da legislação especial, o ECA. Além disso, o Estado também garante
proteção às crianças e adolescentes através deste Estatuto.
Diante dessas garantias oferecidas ao adolescente, deve o Estado observar, de forma
estrita, para a aplicação de qualquer medida sócio-educativa, o princípio maior esculpido na
Constituição Federal: o devido processo legal.
Para tanto, o Estado-Juiz, ao ser provocado pela representação oferecida pelo
Ministério Público observará o procedimento previsto na Lei 8069/90, cujo resultado poderá
ser ou a concessão da remissão como forma de suspensão ou a extinção do procedimento, ou,
ainda, a análise do mérito, com a conseqüente absolvição ou aplicação de medida sócio-
educativa.
Dentro do procedimento, o adolescente ao qual se atribui a prática de um ato
infracional tem o direito de, na audiência de apresentação, ser ouvido sobre os fatos que lhe
são imputados, garantindo-se, assim, o absoluto respeito ao princípio do contraditório e da
ampla defesa, consistente no direito de presença, audiência e auto-defesa.
Nesse momento, o adolescente, ao qual se permite reservar-se ao silêncio, pode
confessar a prática do ato infracional. Diante dessa conduta, muitos juízes da Vara da Infância
e Juventude, com a desistência da produção de outras provas pelo Ministério Público, e como
forma de prestigiar o princípio da economia processual, dispensavam a instrução probatória,
causando, de imediato, violação ao princípio da não culpabilidade e indo ao encontro de
dispositivos previstos no Código de Processo Penal, cuja aplicação é subsidiária ao
procedimento da infância.
De acordo com o artigo 197 do mencionado código, o valor da confissão se aferirá
pelos critérios adotados para os outros elementos de prova e, para a sua apreciação, o juiz
deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre a confissão e
estas existe compatibilidade ou concordância. Observe-se, a princípio, que aludido dispositivo
se aplica aos réus maiores e, com maior razão, aos adolescentes que se encontram submetidos
à especial e integral proteção do Estado. Portanto, viola direitos e garantias mínimos a
dispensa da produção de outras provas.
Para evitar essa conduta, o Superior Tribunal de Justiça editou, no dia 13/08/07, a
Súmula 342, cujo caráter é meramente orientador, nos seguintes termos: “no procedimento
para aplicação de medida sócio-educativa, é nula a desistência de outras provas em face da
confissão do adolescente”. Com efeito, o aplicador do direito deve observar o devido processo
legal também na seara da infância e juventude.
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De acordo com o artigo 171, do ECA, o menor apreendido por mandado judicial, deve
ser encaminhado à autoridade judiciária. E em caso de apreensão do menor sem justa causa, é
cabível o uso do hábeas corpus.
Quando apreendido por policiais militares, o menor deve ser encaminhado ao Distrito
policial. E em caso de criação de repartição especializada por lei, o mesmo deve ser
encaminhado a esta, que terá atribuição até mesmo em casos de co-autoria com maior de 18
anos. O maior deverá mais tarde ser encaminhado ao Distrito Policial.
Em caso de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça, deve ser
lavrado o alto de apreensão, a apreensão do produto e devem ser requeridos os exames
periciais cabíveis. E caso o ato infracional seja cometido sem essas duas prerrogativas o
menor deverá ser encaminhado mediante termo circunstanciado ao Poder Judiciário.
De acordo com o ECA existem dois procedimentos: o primeiro é o delito de menor
gravidade, onde a autoridade elabora um termo circunstanciado e libera o menor já na
presença de seus responsáveis legais com o compromisso de comparecerem ainda no mesmo
dia ao Ministério Público. E o segundo são os delitos graves, onde o adolescente deve ser
internado, desde que seja para a segurança do menor ou mantimento da ordem pública.
Em concordância com o artigo 175, em caso de não-liberação a autoridade policial
deve encaminhar o menor para o membro do Ministério Público ou a entidade de
atendimento, onde lhe será incumbida a apresentação. E vale lembrar que o adolescente
infrator não pode ser mantido na delegacia de policia, tendo, assim, o juiz ter que expedir um
mandado de transferência.
Caso haja indícios de participação do adolescente como co-autor em ato infracional a
autoridade policial deverá encaminhar relatório de investigações. Deve-se deixar claro, ainda,
que de acordo com o artigo 178, a dignidade do adolescente deve ser preservada, estando
impossibilitado seu transporte em “camburão”. Porém vale ressaltar que tal dispositivo não
veda a condução do menor infrator no banco traseiro de viatura policial.
Em caso de discórdia da convicção do membro do Ministério Público e da autoridade
judiciária competente, esta última remeterá sua opinião e encaminhará os autos do processo
ao Procurador Geral de Justiça.
O Procurador Geral de Justiça poderá, ou deverá, oferecer a representação ou designar
outro membro do Ministério Público para tal, ou ainda, ratificar a decisão do membro do
Ministério Público em primeira instância.
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uma conduta prejudicial à criança ou adolescente, mesmo que tais condutas sejam praticadas
por estes próprios. Isso aliás, decorre do mandamento constitucional disposto no artigo 227.
Mesmo sendo os menores os sujeitos passivos das infrações administrativas previstas
no Estatuto da Criança e do Adolescente, é imperioso assegurar-se aos sujeitos ativos dessas
infrações todas as garantias constitucionais peculiares ao Estado Democrático de Direito, a
fim de que o procedimento para apuração das potenciais infrações às normas tutelares se
desenvolva rigorosamente segundo o devido processo legal, o que aliás também está
positivado na Constituição da República.
A Lei 8.069/90, chamada de Estatuto da Criança e do Adolescente, traz na Seção VII o
procedimento intitulado: “Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de Proteção à
Criança e ao Adolescente”, onde, a partir do artigo 194 trata do procedimento a ser observado
pelo Juízo da Infância visando à apuração de supracitadas infrações administrativas.
Sinteticamente, o procedimento é iniciado por representação do Ministério Público ou
do Conselho Tutelar, oportunizando-se ao representado a apresentação de defesa no prazo de
10 dias. Sendo apresentada esta, o Juízo poderá decidir no prazo de 5 dias ou então, antes de
assim proceder, designará audiência de instrução e julgamento, quando ensejará ao Ministério
Público e ao procurador do representado o tempo sucessivo de vinte minutos, prorrogável por
mais dez minutos, para manifestação.
O artigo 196 do ECA prevê que não apresentada a defesa no prazo legal, a autoridade
judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público por cinco dias, decidindo em igual prazo,
sendo que o seguinte artigo 197 dispõe que mesmo sendo apresentada a defesa, a autoridade
judiciária poderá proceder na conformidade do artigo anterior ou, se necessário, designará
audiência de instrução e julgamento, onde oportunizará ao representante e representado prazo
para manifestação.
7 DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará
obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que
cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos autos depois das partes, podendo
juntar documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito,
que será declarada de oficio pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
A interpretação literal do art. 204 é exagerada visto que há casos em que o Ministério
Público pode abster-se de se manifestar entendendo inexistir essa necessidade, porém deve ser
entendido com este artigo que sem a abertura de possibilidade de manifestação por parte do
Ministério ter-se-á nulidade absoluta do procedimento, que deverá ser declarada de oficio pelo
juiz. Apesar disso, há controvérsias doutrinarias acerca do nível de participação necessária
para validar o procedimento, sob o argumento: Para cumprimento do mandamento legal é
necessário a participação ativa do Ministério Público e não apenas a intimação e presença em
audiência.
No art. 202 percebemos que existirão casos em que o Ministério Público não será
parte, porem o Estatuto da Criança e do Adolescente fez questão de mencionar que mesmo
nestas ocasiões o Ministério atuará, supervisionando, juntando documentos e requerendo
diligencias se necessário usando os recursos cabíveis e em defesa dos direitos e interesses de
que cuida a Lei, demonstrando e caracterizando o Ministério Público como o grande defensor
dos direitos da Criança e do Adolescente.
Os art. 200, 203 e 205 tratam respectivamente de como será exercida a função do
Ministério Público, como será a intimação e como devem ser as manifestações processuais
por parte deste, respectivamente in fine:
Art. 200. As funções do Ministério Público, previstas nesta Lei, serão exercidas nos
termos da respectiva Lei Orgânica.
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita
pessoalmente.
Art. 205. As manifestações processuais do representante do Ministério Público
deverão ser fundamentadas.
Apesar da importância fundamental dos artigos citados, é realmente no art. 201 que
encontramos a discriminação completa da competência do Ministério Público. Os doze
incisos do art. 201 são:
Estes incisos, específicos por natureza, se analisados de forma global representam o desejo do
legislador demonstrado nos art. 202 e 204 do estatuto: O ministério público será o principal
defensor dos direitos e interesses de que trata esta Lei.
8 DO ADVOGADO
O art. 206 ressalta um ponto importante a se considerar: para que haja necessidade de
procurador nos autos, deve haver um conflito de interesses qualificado por pretensão resistida,
ou seja, uma lide. Outro ponto importante é a forma de intimação, que assim como no caso do
Ministério Público deve ser pessoal, respeitando o segredo de justiça que é regra do ECA,
objetivando resguardar a criança e o adolescente. Este segredo de justiça atinge todos os
procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude. O parágrafo único, precioso por
seu valor social, garante aos que necessitam assistência judiciária integral e gratuita.
O art. 207 segue o principio da garantia do Devido Processo Legal e da ampla defesa,
visando proteger os direitos na criança e do adolescente sempre que estes estiverem sujeitos a
sindicância. O parágrafo primeiro, que segue a linha do parágrafo único do artigo anterior,
garante ao adolescente um defensor publico caso ainda não tenha um, resguardando-lhe o
direito de constituir outro de sua preferência, mas esclarece em parágrafo seguinte que a
ausência de defensor não adiará nenhum ato do processo, devendo apenas o juiz nomear
substituto, mesmo que só para efeito do ato.
9 DOS CRIMES
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o
adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte Geral do
Código Penal e, quanto ao processo, às pertinentes ao Código de Processo Penal.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada.
Esta sessão do Estatuto é como a parte especial do Código penal, elencando os crimes
e suas respectivas penas, agravantes, atenuantes, possibilidade de crime culposo e
possibilidade de tentativa. Vejamos cada crime separadamente, comentando todos os seus
elementos.
Os dois primeiro artigos dos crimes em espécie tem como sujeito passivo o neonato e
a genitora, defendendo seus direitos ao atendimento e principalmente à documentação
indispensável como a declaração de nascimento, identificação do neonato, exames de
diagnostico, tornando crime quando o encarregado deste serviço, o enfermeiro, dirigente do
hospital ou médico (sujeitos ativos deste crime) o deixam de fazer.
Os crimes dos artigos 230, 231, 234, e 235 têm como tipo objetivo proteger a criança e
o adolescente de descasos quanto ao seu direito de liberdade. Os dois primeiro têm
exclusivamente como sujeito ativo a autoridade policial responsável pela apreensão e seguem
os princípios da parte geral do código penal que são não prender alguém que não esteja em
flagrante ou sem ordem judicial de autoridade competente, e da publicidade, ao se apreender
alguém é resguardado o direito do apreendido de contatar família ou pessoa por ele indicada,
no caso de criança e adolescentes este direito é fundamental e a sua inobservância tipifica
crime.
Os dois últimos artigos citados têm como tipo objetivo não protelar sem necessidade a
privação de liberdade da criança e do adolescente, no primeiro caso mantendo detido
ilegalmente o menor com conhecimento da ilegalidade, caracterizando dolo, e no segundo
caso também sob dolo, descumprindo prazos injustificadamente. Estes dois últimos artigos
possuem como sujeito ativo alem da autoridade policial a autoridade judiciária, e é
interessante ressaltar aqui que este descumprimento de prazo deve ser contra o interesse do
menor, que é sujeito passivo de todos os crimes citados.
Um dos poucos crimes em que o sujeito passivo deixa de ser diretamente a criança e o
adolescente e passa ser a autoridade judiciária responsável por defender seus interesses, este
crime tem como sujeito ativo qualquer pessoa que obste a atividade de juiz, promotor ou
membro do conselho tutelar no exercício de suas funções. Tem como tipo objetivo não deixar
que a ação judiciária tendente a defender os direitos da criança e do adolescente seja impedida
ou embaraçada no cumprimento de suas funções.
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Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância
a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda
em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga
ou recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou
recompensa.
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou
adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito
de obter lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
(Acrescentado pela L-011.764-2003)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma,
a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Alterado pela L-011.764-2003)
Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de
qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos
componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização
indevida:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime
mais grave. (Alterado pela L-011.764-2003)
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma,
a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo
seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso
de utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
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Art. 244-A Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do Art.
2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: (Acrescentado pela L-009.975-
2000)
Pena - reclusão de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
no caput deste artigo.
§ 2ºConstitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e
de funcionamento do estabelecimento.
O ultimo crime, o art. 244-A, acrescentado pela Lei 9.975 de 23 de junho de 2000,
tipifica a exploração sexual, e submeter criança ou adolescente à prostituição, determinando a
mesma pena para o proprietário do local em que se verifique a submissão de crianças e
adolescentes a tais práticas.
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11 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei nº 2848 de 7 de julho de 1940. Dispõe sobre o Código Penal Brasileiro.
Lex: Vade Mecum Saraiva, 6. ed., p. 547-584. 2008. Legislação Federal e marginália.
SOBRE O ECA: Composto por 267 artigos, Estatuto tem como base o princípio da
"prioridade absoluta" às crianças e aos adolescentes. Disponível em:
<http://www.redeandibrasil.org.br/eca/sobre-o-eca>. Acesso em: 03/10/2008 às 12 horas.
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STJ - Superior Tribunal de Justiça: Normas de prescrição penal não se aplicam ao Estatuto
da Criança e do Adolescente. Disponível em: <
http://www.direitonet.com.br/noticias/x/27/47/2747/>. Acesso em: 06 out. 2008.
TEIXEIRA, Alexandre César Fernandes. Prescrição da ação que apura infração praticada
por adolescente. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1654>.
Acesso em: 06 out. 2008.