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1 INTRODUÇÃO

A legislação penal brasileira sempre deve ser utilizada como meio último para a
correção da sociedade, de modo a garantir os bens mais importantes da humanidade. Deve ser
aplicada de maneira proporcional a infração cometida e sempre buscando reinserir de maneira
adequada de volta à sociedade aquele que de alguma forma desrespeitou suas “normas de
conduta”.
Com a criança e o adolescente não poderia ser de maneira diferente. Mas como a
Constituição garante, temos que tratá-los de maneira diferenciada, visto que eles ainda estão
em pleno desenvolvimento de sua formação, de crescimento de sua moral e ainda possuem
direito a uma educação que pode e é uma forma de mudar a realidade social.
Baseada na premissa que a criança e o adolescente têm a “prioridade absoluta”, o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fora sancionado aos 13 dias de julho de 1990,
pelo então presidente da República Fernando Collor de Mello. Na época, o Brasil fora o
primeiro país da América Latina a garantir de modo normativo leis diferenciadas de modo
claro e em concordância com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, aprovada
pela Assembléia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989.
Nesse ano completando 18 anos, o Estatuto em muito melhorou a realidade social
daqueles que o são assistidos, mas ainda há muito a ser feito. Nesse trabalho apresentaremos o
aspecto criminal presente no Estatuto, os chamados Atos Infracionais. Falaremos um pouco
sobre os tipos de penas presentes no mesmo, além da forma como deve ser prosseguido um
procedimento jurídico quando falarmos daqueles que mais necessitam do apoio e da proteção
estatal.
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2 DO ATO INFRACIONAL

Crime é fato típico e antijurídico segundo a definição finalística. Analisando-se o


requisito da culpabilidade tanto a criança quanto o adolescente não podem responder por
crimes, já que esses só se aplicam aos maiores de 18 (dezoito) anos. Desse modo, tanto a
criança quanto o adolescente que praticam crime ou mesmo a contravenção penal praticam na
verdade um ato infracional, segundo o que dispõe o próprio artigo 103 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA):

“Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.”

Vale ressaltar que para eficácia do ECA, o prazo considerado é a idade do adolescente
a época do fato e a comprovação da idade do mesmo é feita por documento que demonstre a
data do nascimento do mesmo, como deixa claro o artigo 104 da lei citada:

Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às


medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato.

O documento de identificação, que deve possuir foto, ainda serve para se evitar a
identificação compulsória pelos órgãos policiais, salvo se houver dúvidas quanto à
autenticidade do documento, como demonstra o seu artigo 109:

“Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação


compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação,
havendo dúvida fundada.”

Quando o ato infracional é praticado por criança, essa sujeita-se ao disposto no artigo
105 e por seguinte ao 101 da Lei, que assim dispõem:

Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas


previstas no art. 101.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
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IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao


adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VIII - colocação em família substituta.
Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como
forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação
de liberdade.

Necessita-se destacar que o adolescente só será custodiado se pego em flagrante delito


(mesmas hipóteses do artigo 302, do CPP) ou através do mandado judicial e sempre os
responsáveis pela sua apreensão terão que se identificar, além do que será inadmitido, por
exemplo, custódia de adolescente para averiguação. Cabe realce no fato de que o adolescente
terá consulta pessoal com o membro do Ministério Público (MP) acerca das informações
sobre seus direitos, como deixa claro o artigo 106 do ECA:

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela
sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.

A apreensão do adolescente terá que ser comunicada ao seu responsável ou a pessoa


que ele mantiver relacionamento e sempre que possível tentará a autoridade competente sua
liberação imediata, como previsto no artigo 107 da Lei em questão:

Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido


serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do
apreendido ou à pessoa por ele indicada.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a
possibilidade de liberação imediata.

Sobre as penas de responsabilidade dispõe o artigo 235:

“Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de


adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.”

2.1 Da internação antes da sentença

A internação antes da sentença, tecnicamente conhecida como “atendimento


acautelatório para adolescentes em conflito com a lei”, como nos casos de adolescentes com
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várias representações, será permitida sobre o prazo máximo de 45 dias, tempo esse também
que a autoridade tem para finalizar a sindicância para aplicação de medida sócio-educativa,
como demonstram os artigos 108 e 183:

Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo
de quarenta e cinco dias.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios
suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da
medida.

A defesa jurídica do adolescente deverá ficar atenta aos prazos sob pena de
responsabilidade, prevista no artigo 235 citado acima.

2.2 Da Prescrição

Sobre o instituto da prescrição penal ao ato infracional percebe-se duas correntes: a


primeira diz que há esse instituto uma vez que a medida sócio-educativa tem aspecto de pena,
dentre os que defendem essa linha, destaca-se Rosaldo Elias Pacagnan; a segunda vertente
afirma que como as medidas sócio-educativas são aplicadas para que o adolescente se
reeduque, estando em concordância com os artigos 99 e 100 do ECA, abaixo dispostos:

Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo.
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades
pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários.

Consoante com tal teoria está Valter Kenji Ishida e o ministro do STJ Gilson Dipp e o
ex-ministro Vicente Leal.

2.3 Das Garantias Processuais

2.3.1 O Devido Processo Legal

O devido processo legal está contido no caput do artigo 110:

“Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.”
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Pelo devido processo legal estão assegurados o contraditório, a ampla defesa e a


aplicação de pena apenas quando houver regra expressa. Se um mesmo menor, por exemplo,
comete uma infração após estar respondendo por outra, deve ser instaurado novo processo
para se apurar responsabilidades em separado.
Algumas outras garantias são garantidas ao adolescente, como o disposto no artigo
111 da Lei:

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:


I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação
ou meio equivalente;
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e
testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do
procedimento.

Merece destaque a nulidade absoluta oriunda da aceitação por parte do advogado de


defesa do menor da versão do fato e que ainda solicite a medida de internação. (STF - RE-
285571/PR – 1ª Turma – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – Recte.: Ministério Público Estadual
– Recdos.: J.P. e outro).

3 DAS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS

Após a realização de um ato infracional instaura-se sindicância por meio de


representação do Ministério Público e após essa o Juiz determinará a medida sócio-educativa
adequada. Se o menor for portador de doença ou de deficiência, a medida será
individualizada. As Medidas existentes estão dispostas no artigo 112:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá


aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-
la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho
forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.
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Vale destacar que o Magistrado pode cumular penas, como bem esclareceu o artigo 99
da Lei e a prestação de serviços deve procurar ser em bairro que resida ao adolescente,
respeitando a preservação dos vínculos comunitários do mesmo.
A pena de advertência pode ser aplicada mesmo com apenas indícios da autoria do ato
infracional, já as demais medidas só poderão ser aplicadas quando se observar prova de
autoria e da materialidade, como bem explica o artigo 114:

Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112
pressupõe a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da
infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da
materialidade e indícios suficientes da autoria.

A confissão isolada é insuficiente para imposição da medida sócio-educativa como


bem explica Valter Ishida.

3.1 Da Advertência

A advertência prevista no artigo 115 do ECA é uma admoestação (leitura do ato


cometido e o comprometimento que ele não será repetido). É atribuída nos atos de lesões
leves e em vias de fato, nos casos de desacato e em alguns casos naqueles em que o menor
possui passado razoável e família estruturada ao invés do regime de semi- liberdade.

“Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e
assinada.”

3.2 Da Obrigação de Reparar o Dano

As infrações com reflexos patrimoniais são sujeitas a reparação do dano. Nesses casos
o Juízo designa audiência de composição do dano, na qual a presença do responsável legal do
menor é indispensável. Aquele será que será reduzido a termo e assim que homologo esse
passará a valer como título executivo de acordo com as termos do CPC.
O artigo 932, do CC, prevê a responsabilidade dos pais pelos filhos menores, assim
como as responsabilidades pelos tutores e curadores de menores. O artigo 928, do CC, prevê
também a reparação do dano mesmo que esse seja culposo.
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Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade


poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o
ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser
substituída por outra adequada.

3.3 Da Prestação de Serviços à Comunidade

Prestar serviços à comunidade nada mais é do que ajudar a mesma de modo gratuito
em tarefas de interesse geral ao seu próprio desenvolvimento. Tal medida não pode possuir
prazo superior a seis meses e tal prazo deve ser proporcional a infração cometida. É adequado
a essa medida o seguinte ato infracional a título de exemplo: jogo do bicho.
Ela está prevista no artigo 117 do ECA:

Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas


gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a
entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem
como em programas comunitários ou governamentais.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente,
devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos
sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a
freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho.

3.4 Da Liberdade Assistida

Consiste na submissão do menor após entregue aos responsáveis, liberação de


internato à assistência (podendo ser vigilância discreta) no intuito de impedir a reincidência
nos atos infracionais e a certeza da reeducação do mesmo e está prevista no artigo 118 da Lei.
Ela é aplicada em casos de roubo desde que o menor seja primário e haja integração
familiar e nos casos de furto, por exemplo. Não se pode aplicá-la em casos de estupro
comprovado e roubo quando o menor vive na rua.
Pode haver prorrogação do prazo estipulado pelo juiz desde que seja justificado tal
aumento.
O orientador tem suas funções definidas no artigo 119:

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais
adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual
poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.
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§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a
qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
orientador, o Ministério Público e o defensor.
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade
competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:
I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e
inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e
assistência social;
II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente,
promovendo, inclusive, sua matrícula;
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no
mercado de trabalho;
IV - apresentar relatório do caso.

3.5 Regime de Semi-Liberdade

Nessa espécie de regime o adolescente permanece internado, contudo, pode realizar


atividades externas como a escolarização e a profissionalização. É aplicado, por exemplo nos
casos de atentado violento ao pudor e está defino no artigo 120:

Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como
forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades
externas, independentemente de autorização judicial.
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que
possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as
disposições relativas à internação.

3.6 Da Internação

É a mais grave das medidas sócio-educativas, que tem que bem máximo atingido a
liberdade do adolescente. Nesse regime, são observados três princípios de fundamental
importância para sua compreensão: o da brevidade, o da excepcionalidade e o do respeito à
condição peculiar do infrator em desenvolvimento.
O princípio da brevidade trata do tempo que deve o adolescente permanecer na
instituição. O prazo deve ser somente aquele para que o infrator se reabilite e não superior a
três anos. O segundo princípio é aquele que informa que essa será a última medida que pode
ser aplicada pelo Estado, quando ineficaz as demais.
O terceiro princípio chama atenção por não ser notado de maneira eficaz nas
instituições que cuidam dos menores infratores. Ele diz que nesses centros deve ser mantida
as condições de desenvolvimento do adolescente, garantido seu ensino e profissionalização e
não é isso que se observa.
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A estipulação de prazo para permanência no instituto pode ser facultativa, visto que a
cada seis meses o adolescente deverá passar por uma avaliação. O chamado jovem-adulto
(pessoas com idade entre 18 e 21 anos) ainda estão sujeitos às medidas sócio-educativas dos
atos infracionais que cometeram antes dos 18 e após essa idade se observa a prescrição
educativa (não há mais como mudar a mentalidade do jovem) e executiva (fim do prazo para
cumprimento da medida estabelecido no artigo 2º da lei).
Como exemplos de infração penal em que a internação pode ser requerida citam-se a
tentativa de roubo, homicídio, latrocínio, dentre outros. A saída do instituto somente
acontecerá mediante autorização judicial. A internação está disposta no artigo 121:

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios
de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica
da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser
liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial,
ouvido o Ministério Público.

3.6.1 Dos Critérios Para a Internação

Sobre os critérios para a internação dispõe de maneira clara o artigo 122 do ECA:

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:


I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a
pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.
§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser
superior a três meses.
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida
adequada.

Caso ocorra fuga do adolescente durante seu período de internação o prazo em que
esse permanecer foragido não será contato como tempo de internação. Caso cometa algum ato
infracional enquanto estiver fora da instituição, um novo prazo deve ser contato a partir do
momento de sua apreensão.
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Um outro aspecto importante a se destacar é o que diz respeito a adolescente que


comete crime grave, contudo, vive com apoio familiar e é réu primário. Nesse caso, há
jurisprudência do TJSP que afirma não se aplicar a internação devendo o magistrado optar por
outra medida sócio-educativa.

3.6.2 Dos Direitos do Infrator

Os direitos do menor infrator estão dispostos nos artigos 123 a 125, abaixo dispostos:

Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para


adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa
separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão
obrigatórias atividades pedagógicas.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os
seguintes:
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;
V - ser tratado com respeito e dignidade;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao
domicílio de seus pais ou responsável;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o
deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-
los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis
à vida em sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de
pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade
aos interesses do adolescente.
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos,
cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança.

Ressalta-se que o menor pode ficar internado sob custodia em locais diferentes dos
institutos caso não haja um na localidade, contudo, caso tal fato ocorra, cabe ao MP ingressar
com Ação Civil Pública contra o Estado para que essa cumpra com seu dever estabelecido na
CF, em seu artigo 227, caput.
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Vale destacar também que não somente a integridade física do menor é assegurada,
mas sua integridade mental, além desse não poder ficar de maneira alguma incomunicável.

4 REMISSÃO

A Remissão é a atividade exclusiva do MP para que o processo seja excluído, dessa


forma o menor deixaria de responder pelo ato infracional. A remissão poderá ocorrer mesmo
sem prova clara do ato infracional.
Há duas correntes distintas sobre o tema na discussão acerca da cumulação ou não da
remissão com medidas sócio-educativas mais brandas, excetuando-se assim a internação e a
semi-liberdade. O STJ dispõe em sua súmula 108:

“A aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente pela prática de ato


infracional, é de competência exclusiva do Juiz”

Assim, fica-se entendido que o MP pode decidir pela remissão, contudo, qualquer
forma de medida sócio-educativa, mesmo as mais simples, tem que ser impostas pelo Juiz,
mesmo que o MP faça um acordo bilateral com o menor, ao nosso ver, tal acordo não se torna
plenamente constitucional.
Vale dizer, contudo, que esse posionamento não é mesmo de Valter Kenji Ishida que
defende a cumulação da Remissão com as medidas sócio-educativas mais brandas.
A remissão pode ser revista a qualquer momento desde que pedida por parte legitima.
Sob a remissão dispõe o ECA:

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato


infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como
forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato,
ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor
participação no ato infracional.
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade
judiciária importará na suspensão ou extinção do processo.
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou
comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes,
podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei,
exceto a colocação em regime de semi-liberdade e a internação.
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser revista judicialmente,
a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de seu representante
legal, ou do Ministério Público.

5 DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS


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Sobre as medidas que os pais ou responsáveis podem sofrer dispõe o ECA em seu
artigo 129 e 130. Merece destacar que os pais não respondem por atos infracionais, visto que
não são parte no processo.

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:


I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento
a alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e
aproveitamento escolar;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
X - suspensão ou destituição do pátrio poder.
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste
artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos
pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida
cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.

A definição de maus-tratos está disposta no artigo 136 do CP:

Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina.

6 ACESSO À JUSTIÇA

Agora veremos como se procede ao acesso à justiça presente no ECA em seu artigo
141.
Primeiramente podemos salientar que deve ser garantido o acesso de toda criança ou
adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer
de seus Órgãos (art. 141, caput, do ECA). Com isso se assegura o acesso aos operadores do
direito que agem em nome dos mesmos.
O acesso ao defensor é garantido por lei através da Defensoria Pública, mas não só
através dela, pois a gratuidade depende do critério necessidade. Também é garantido que a
criança ou adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo
interesse na solução da lide, podem intervir nos procedimentos de que trata o ECA, através de
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advogado, o qual deve ser intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação
oficial, respeitado o segredo de justiça.
A lei garante o acesso ao Ministério Público, através de seu Representante. O art. 200
determina que as funções do Ministério Público devem ser exercidas nos termos da sua lei
orgânica.
A lei garante o acesso ao poder judiciário através da autoridade judiciária competente. A
seção II, do capítulo II, do ECA, trata do Juiz. Assim, o art. 145, afirma que a autoridade a
que se refere o ECA é o Juiz da Infância e da juventude, ou o Juiz que exerce essa função na
forma estabelecida pela Lei de Organização Judiciária local. A súmula 108, do STJ, determina
que "a aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é
da competência exclusiva do juiz".
Quanto a assistência judiciária gratuita, em seu art. 141, § 1º, diz o ECA que tal
assistência deve ser prestada aos que dela necessitarem, através da defensoria pública ou
advogado nomeado.
A Constituição Federal de 1988, no seu art. 5°, inciso LXXIV, estabelece como direito
fundamental a assistência jurídica integral aos que comprovarem insuficiência de recursos. A
Lei 1060, de 05/02/1950, estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados.
Assim, o seu art. 1° determina que os poderes públicos federal e estadual,
independentemente da colaboração que possam receber dos municípios e da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), devem conceder assistência judiciária aos necessitados, nos
termo dessa lei. Gozam dos benefícios tanto nacionais quanto estrangeiros residentes no País
que necessitarem recorrer à justiça penal, civil, militar, ou do trabalho.
A lei mencionada define necessitado, para os fins legais, como todo aquele cuja situação
econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem
prejuízo do sustento próprio ou da família. A lei refere "custas do processo e os honorários de
advogado" (§u, art. 2°, Lei 1060/50). Portanto, os dois juntos. Se tiver condições de pagar
apenas um deles, tem direito à assistência.

6.1 Procedimento da apuração de ato infracional atribuído a adolescente

A Constituição Federal estabelece que os menores de dezoito anos são inimputáveis, e


que os adolescentes autores de atos infracionais – crimes ou contravenções penais – se
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sujeitam às normas da legislação especial, o ECA. Além disso, o Estado também garante
proteção às crianças e adolescentes através deste Estatuto.
Diante dessas garantias oferecidas ao adolescente, deve o Estado observar, de forma
estrita, para a aplicação de qualquer medida sócio-educativa, o princípio maior esculpido na
Constituição Federal: o devido processo legal.
Para tanto, o Estado-Juiz, ao ser provocado pela representação oferecida pelo
Ministério Público observará o procedimento previsto na Lei 8069/90, cujo resultado poderá
ser ou a concessão da remissão como forma de suspensão ou a extinção do procedimento, ou,
ainda, a análise do mérito, com a conseqüente absolvição ou aplicação de medida sócio-
educativa.
Dentro do procedimento, o adolescente ao qual se atribui a prática de um ato
infracional tem o direito de, na audiência de apresentação, ser ouvido sobre os fatos que lhe
são imputados, garantindo-se, assim, o absoluto respeito ao princípio do contraditório e da
ampla defesa, consistente no direito de presença, audiência e auto-defesa.
Nesse momento, o adolescente, ao qual se permite reservar-se ao silêncio, pode
confessar a prática do ato infracional. Diante dessa conduta, muitos juízes da Vara da Infância
e Juventude, com a desistência da produção de outras provas pelo Ministério Público, e como
forma de prestigiar o princípio da economia processual, dispensavam a instrução probatória,
causando, de imediato, violação ao princípio da não culpabilidade e indo ao encontro de
dispositivos previstos no Código de Processo Penal, cuja aplicação é subsidiária ao
procedimento da infância.
De acordo com o artigo 197 do mencionado código, o valor da confissão se aferirá
pelos critérios adotados para os outros elementos de prova e, para a sua apreciação, o juiz
deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre a confissão e
estas existe compatibilidade ou concordância. Observe-se, a princípio, que aludido dispositivo
se aplica aos réus maiores e, com maior razão, aos adolescentes que se encontram submetidos
à especial e integral proteção do Estado. Portanto, viola direitos e garantias mínimos a
dispensa da produção de outras provas.
Para evitar essa conduta, o Superior Tribunal de Justiça editou, no dia 13/08/07, a
Súmula 342, cujo caráter é meramente orientador, nos seguintes termos: “no procedimento
para aplicação de medida sócio-educativa, é nula a desistência de outras provas em face da
confissão do adolescente”. Com efeito, o aplicador do direito deve observar o devido processo
legal também na seara da infância e juventude.
17

6.1.1 Da apuração de ato infracional atribuído a adolescente

De acordo com o artigo 171, do ECA, o menor apreendido por mandado judicial, deve
ser encaminhado à autoridade judiciária. E em caso de apreensão do menor sem justa causa, é
cabível o uso do hábeas corpus.
Quando apreendido por policiais militares, o menor deve ser encaminhado ao Distrito
policial. E em caso de criação de repartição especializada por lei, o mesmo deve ser
encaminhado a esta, que terá atribuição até mesmo em casos de co-autoria com maior de 18
anos. O maior deverá mais tarde ser encaminhado ao Distrito Policial.
Em caso de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça, deve ser
lavrado o alto de apreensão, a apreensão do produto e devem ser requeridos os exames
periciais cabíveis. E caso o ato infracional seja cometido sem essas duas prerrogativas o
menor deverá ser encaminhado mediante termo circunstanciado ao Poder Judiciário.
De acordo com o ECA existem dois procedimentos: o primeiro é o delito de menor
gravidade, onde a autoridade elabora um termo circunstanciado e libera o menor já na
presença de seus responsáveis legais com o compromisso de comparecerem ainda no mesmo
dia ao Ministério Público. E o segundo são os delitos graves, onde o adolescente deve ser
internado, desde que seja para a segurança do menor ou mantimento da ordem pública.
Em concordância com o artigo 175, em caso de não-liberação a autoridade policial
deve encaminhar o menor para o membro do Ministério Público ou a entidade de
atendimento, onde lhe será incumbida a apresentação. E vale lembrar que o adolescente
infrator não pode ser mantido na delegacia de policia, tendo, assim, o juiz ter que expedir um
mandado de transferência.
Caso haja indícios de participação do adolescente como co-autor em ato infracional a
autoridade policial deverá encaminhar relatório de investigações. Deve-se deixar claro, ainda,
que de acordo com o artigo 178, a dignidade do adolescente deve ser preservada, estando
impossibilitado seu transporte em “camburão”. Porém vale ressaltar que tal dispositivo não
veda a condução do menor infrator no banco traseiro de viatura policial.
Em caso de discórdia da convicção do membro do Ministério Público e da autoridade
judiciária competente, esta última remeterá sua opinião e encaminhará os autos do processo
ao Procurador Geral de Justiça.
O Procurador Geral de Justiça poderá, ou deverá, oferecer a representação ou designar
outro membro do Ministério Público para tal, ou ainda, ratificar a decisão do membro do
Ministério Público em primeira instância.
18

O Ministério Público exerce a parcela de soberania do Estado que lhe é conferida e na


hipótese de não oferecer o arquivamento ou a remissão, oferecerá representação contra o
adolescente. O Estatuto estabelece, ainda, prazo para a finalização do procedimento, estando o
adolescente internado. Visando desta forma coibir o constrangimento ilegal, tal qual ocorre
com os réus presos, segundo o artigo 183.
Por esta mesma razão é que o menor não pode de forma alguma ser citado por meio de
edital ou com hora certa. Na hipótese de não localização do menor, o juiz deverá, sim, ordenar
a busca e apreensão do mesmo.
Dando continuidade, o artigo 184 diz que assim que ofertada a representação o ato
seguinte é o da designação de audiência de apresentação. Por via de decisão interlocutória,
cabe ao juiz decidir a manutenção ou não da medida de internação. Caso decida manter a
internação, deve o juiz findar o procedimento dentro do prazo de 45 dias, de acordo com o
artigo 188 c.c. artigo 183 do ECA.
O juiz deve ater-se ainda, ao fato de não poder suspender o processo pela internação
do menor em um segundo processo.
De acordo com o artigo 185, caso seja verificado a necessidade de manutenção da
internação o magistrado deve enviar o adolescente a entidade própria. Caso a mesma inexista
na área do menor, este deve ser encaminhado para a comarca mais próxima onde exista a
entidade.
E o prazo máximo de cumprimento em estabelecimento prisional por parte do menor
infrator é de 5 (cinco) dias, caso este prazo seja ultrapassado é cabível a liberação do mesmo
por meio de hábeas corpus.
De acordo com o artigo 186 o procedimento no caso de representação apresenta seis
etapas básicas. São elas: a representação em si, a oitiva pelo Juiz dos pais ou responsável legal
e do próprio menor, defesa prévia e rol de testemunhas, audiência de instrução, debates e a
sentença. Vale ressaltar que a presença de um membro do Ministério público é desnecessária.

6.2 A apuração de infração administrativa às normas de proteção à criança e ao


adolescente

É importante que o escopo do procedimento para apuração de infração administrativa


às normas de proteção à criança e ao adolescente é tutelar os infantes diante de eventual
omissão da família e da sociedade, ou seja, o Estado tem atuação solidária, mas muitas vezes
subsidiária quando a família e a sociedade não conseguem primeiramente atuar prevenindo
19

uma conduta prejudicial à criança ou adolescente, mesmo que tais condutas sejam praticadas
por estes próprios. Isso aliás, decorre do mandamento constitucional disposto no artigo 227.
Mesmo sendo os menores os sujeitos passivos das infrações administrativas previstas
no Estatuto da Criança e do Adolescente, é imperioso assegurar-se aos sujeitos ativos dessas
infrações todas as garantias constitucionais peculiares ao Estado Democrático de Direito, a
fim de que o procedimento para apuração das potenciais infrações às normas tutelares se
desenvolva rigorosamente segundo o devido processo legal, o que aliás também está
positivado na Constituição da República.
A Lei 8.069/90, chamada de Estatuto da Criança e do Adolescente, traz na Seção VII o
procedimento intitulado: “Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de Proteção à
Criança e ao Adolescente”, onde, a partir do artigo 194 trata do procedimento a ser observado
pelo Juízo da Infância visando à apuração de supracitadas infrações administrativas.
Sinteticamente, o procedimento é iniciado por representação do Ministério Público ou
do Conselho Tutelar, oportunizando-se ao representado a apresentação de defesa no prazo de
10 dias. Sendo apresentada esta, o Juízo poderá decidir no prazo de 5 dias ou então, antes de
assim proceder, designará audiência de instrução e julgamento, quando ensejará ao Ministério
Público e ao procurador do representado o tempo sucessivo de vinte minutos, prorrogável por
mais dez minutos, para manifestação.
O artigo 196 do ECA prevê que não apresentada a defesa no prazo legal, a autoridade
judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público por cinco dias, decidindo em igual prazo,
sendo que o seguinte artigo 197 dispõe que mesmo sendo apresentada a defesa, a autoridade
judiciária poderá proceder na conformidade do artigo anterior ou, se necessário, designará
audiência de instrução e julgamento, onde oportunizará ao representante e representado prazo
para manifestação.

7 DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Estatuto da Criança e do Adolescente disciplinou as atribuições do Ministério


Público nos seus arts. 200 a 205, mas apesar da natureza taxativa deste capítulo demonstrada
no art. 201, responsável por discriminar as competências do Ministério Público, são nos
artigos seguintes que notamos o seu real papel.
Assim como no direito penal, o ministério público é o principal defensor dos direitos e
interesses de que trata a Lei, e isso fica claro nos arts. 202 e 204.
20

Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará
obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que
cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos autos depois das partes, podendo
juntar documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito,
que será declarada de oficio pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.

A interpretação literal do art. 204 é exagerada visto que há casos em que o Ministério
Público pode abster-se de se manifestar entendendo inexistir essa necessidade, porém deve ser
entendido com este artigo que sem a abertura de possibilidade de manifestação por parte do
Ministério ter-se-á nulidade absoluta do procedimento, que deverá ser declarada de oficio pelo
juiz. Apesar disso, há controvérsias doutrinarias acerca do nível de participação necessária
para validar o procedimento, sob o argumento: Para cumprimento do mandamento legal é
necessário a participação ativa do Ministério Público e não apenas a intimação e presença em
audiência.
No art. 202 percebemos que existirão casos em que o Ministério Público não será
parte, porem o Estatuto da Criança e do Adolescente fez questão de mencionar que mesmo
nestas ocasiões o Ministério atuará, supervisionando, juntando documentos e requerendo
diligencias se necessário usando os recursos cabíveis e em defesa dos direitos e interesses de
que cuida a Lei, demonstrando e caracterizando o Ministério Público como o grande defensor
dos direitos da Criança e do Adolescente.
Os art. 200, 203 e 205 tratam respectivamente de como será exercida a função do
Ministério Público, como será a intimação e como devem ser as manifestações processuais
por parte deste, respectivamente in fine:

Art. 200. As funções do Ministério Público, previstas nesta Lei, serão exercidas nos
termos da respectiva Lei Orgânica.
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita
pessoalmente.
Art. 205. As manifestações processuais do representante do Ministério Público
deverão ser fundamentadas.

Apesar da importância fundamental dos artigos citados, é realmente no art. 201 que
encontramos a discriminação completa da competência do Ministério Público. Os doze
incisos do art. 201 são:

I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;


II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a
adolescentes;
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de
suspensão e destituição do pátrio poder, nomeação e remoção de tutores, curadores e
21

guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da


Justiça da Infância e da Juventude;
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a especialização e a
inscrição de hipoteca legal e a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer
administradores de bens de crianças e adolescentes nas hipóteses do Art. 98.
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os
definidos no Art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los:
a) expedir notificações para colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de
não-comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela
polícia civil ou militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais,
estaduais e federais, da administração direta ou indireta, bem como promover
inspeções e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos a particulares e instituições privadas;
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e determinar a
instauração de inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de
proteção à infância e à juventude;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às
crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer
juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais
indisponíveis afetos à criança e ao adolescente;
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por infrações cometidas
contra as normas de proteção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas
de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais
necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos,
hospitalares, educacionais e de assistência social, públicos ou privados, para o
desempenho de suas atribuições.

Estes incisos, específicos por natureza, se analisados de forma global representam o desejo do
legislador demonstrado nos art. 202 e 204 do estatuto: O ministério público será o principal
defensor dos direitos e interesses de que trata esta Lei.

8 DO ADVOGADO

O capítulo referente ao Advogado no Estatuto da Criança e do Adolescente está


contido no Titulo VI “do Acesso A justiça”, portanto desde já fica claro que a intenção
principal do legislador é garantir todos os meios de acesso à justiça ao menor e ao seu
responsável legal. Este acesso não seria completo sem o Advogado, afinal não adianta ter a
possibilidade de recorrer à justiça sem possuir a devida assistência.
O Estatuto da Criança e do Adolescente trata sobre o Advogado, seu papel e suas
atribuições nos art. 206 e 207 in fine:
22

Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa


que tenha legítimo interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos
de que trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para todos os atos,
pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça.
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e gratuita àqueles que
dela necessitarem.
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda
que ausente ou foragido, será processado sem defensor.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o
direito de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de nenhum ato do
processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só
efeito do ato.
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado
ou, sido constituído, tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da
autoridade judiciária.

O art. 206 ressalta um ponto importante a se considerar: para que haja necessidade de
procurador nos autos, deve haver um conflito de interesses qualificado por pretensão resistida,
ou seja, uma lide. Outro ponto importante é a forma de intimação, que assim como no caso do
Ministério Público deve ser pessoal, respeitando o segredo de justiça que é regra do ECA,
objetivando resguardar a criança e o adolescente. Este segredo de justiça atinge todos os
procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude. O parágrafo único, precioso por
seu valor social, garante aos que necessitam assistência judiciária integral e gratuita.
O art. 207 segue o principio da garantia do Devido Processo Legal e da ampla defesa,
visando proteger os direitos na criança e do adolescente sempre que estes estiverem sujeitos a
sindicância. O parágrafo primeiro, que segue a linha do parágrafo único do artigo anterior,
garante ao adolescente um defensor publico caso ainda não tenha um, resguardando-lhe o
direito de constituir outro de sua preferência, mas esclarece em parágrafo seguinte que a
ausência de defensor não adiará nenhum ato do processo, devendo apenas o juiz nomear
substituto, mesmo que só para efeito do ato.

9 DOS CRIMES

O Estatuto da criança e do adolescente trata em capitulo separado os crimes praticados


contra criança e o adolescente, contudo sem prejuízo do disposto na legislação penal. É uma
forma de o legislador demonstrar a importância dos sujeitos objeto desta Lei, semelhante ao
demonstrado com o Estatuto do Idoso.
Os arts. 225, 226 e 227 contêm as disposições gerais, que são:
23

Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o
adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte Geral do
Código Penal e, quanto ao processo, às pertinentes ao Código de Processo Penal.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada.

Estes artigos demonstram respectivamente a função do capitulo do estatuto que é:


Dispor sobre os crimes praticados contra a criança e o adolescente, caracterizar tais normas
como normas penais e, portanto sujeitá-las a todas as normas da parte geral do Código penal e
o Código de Processo Penal, alem de excluir qualquer tipo de ação penal senão a ação penal
publica incondicionada.

9.1 Dos Crimes em Espécie

Esta sessão do Estatuto é como a parte especial do Código penal, elencando os crimes
e suas respectivas penas, agravantes, atenuantes, possibilidade de crime culposo e
possibilidade de tentativa. Vejamos cada crime separadamente, comentando todos os seus
elementos.

Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de


atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na
forma e prazo referidos no Art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou
a seu responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde
constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à
saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião
do parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no Art. 10 desta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Os dois primeiro artigos dos crimes em espécie tem como sujeito passivo o neonato e
a genitora, defendendo seus direitos ao atendimento e principalmente à documentação
indispensável como a declaração de nascimento, identificação do neonato, exames de
diagnostico, tornando crime quando o encarregado deste serviço, o enfermeiro, dirigente do
hospital ou médico (sujeitos ativos deste crime) o deixam de fazer.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua


apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da
autoridade judiciária competente:
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Pena - detenção de seis meses a dois anos.


Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou
adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata
liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de
adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Os crimes dos artigos 230, 231, 234, e 235 têm como tipo objetivo proteger a criança e
o adolescente de descasos quanto ao seu direito de liberdade. Os dois primeiro têm
exclusivamente como sujeito ativo a autoridade policial responsável pela apreensão e seguem
os princípios da parte geral do código penal que são não prender alguém que não esteja em
flagrante ou sem ordem judicial de autoridade competente, e da publicidade, ao se apreender
alguém é resguardado o direito do apreendido de contatar família ou pessoa por ele indicada,
no caso de criança e adolescentes este direito é fundamental e a sua inobservância tipifica
crime.
Os dois últimos artigos citados têm como tipo objetivo não protelar sem necessidade a
privação de liberdade da criança e do adolescente, no primeiro caso mantendo detido
ilegalmente o menor com conhecimento da ilegalidade, caracterizando dolo, e no segundo
caso também sob dolo, descumprindo prazos injustificadamente. Estes dois últimos artigos
possuem como sujeito ativo alem da autoridade policial a autoridade judiciária, e é
interessante ressaltar aqui que este descumprimento de prazo deve ser contra o interesse do
menor, que é sujeito passivo de todos os crimes citados.

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do


Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função
prevista nesta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Um dos poucos crimes em que o sujeito passivo deixa de ser diretamente a criança e o
adolescente e passa ser a autoridade judiciária responsável por defender seus interesses, este
crime tem como sujeito ativo qualquer pessoa que obste a atividade de juiz, promotor ou
membro do conselho tutelar no exercício de suas funções. Tem como tipo objetivo não deixar
que a ação judiciária tendente a defender os direitos da criança e do adolescente seja impedida
ou embaraçada no cumprimento de suas funções.
25

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância
a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Este artigo tem como objetivo principal proteger a integridade da criança e do


adolescente, física ou mental, pois o vexame ou constrangimento citado pode ser cometido
mediante emprego de violência ou grave ameaça. O sujeito ativo é a autoridade que detêm a
guarda ou vigilância, portanto pode ser o responsável (pai, mãe por exemplo) ou a autoridade
policial responsável temporariamente pelo menor.

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda
em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga
ou recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou
recompensa.
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou
adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito
de obter lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
(Acrescentado pela L-011.764-2003)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.

Estes três artigos supracitados demonstram a intenção do autor em coibir o


denominado “trafico de menores” ou a comercialização destes. No primeiro caso o Sujeito
ativo é qualquer pessoa que subtrai criança ou adolescente visando este fim, já no segundo
artigo o sujeito ativo é sempre o responsável legal, tutor, genitor ou guardião, caracterizando
um crime personalíssimo. O tipo objetivo do ultimo artigo difere dos dois primeiro apenas
pelo fato do tráfico ser cometido para o exterior. Os parágrafos destes artigos tratam de deixar
claro que qualquer participação nestes crimes incide na mesma pena, mesmo que esta
participação seja o referente à “receptação” ou seja mesmo as pessoas que são os “clientes”
deste crime.

Art. 240. Produzir ou dirigir representação teatral, televisiva, cinematográfica,


atividade fotográfica ou de qualquer outro meio visual, utilizando-se de criança ou
adolescente em cena pornográfica, de sexo explícito ou vexatória: (Alterado pela L-
011.764-2003)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena quem, nas condições referidas neste artigo, contracena
com criança ou adolescente. (Renumerado pela L-011.764-2003)
26

§ 2º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos: (Acrescentado pela L-011.764-


2003)
I - se o agente comete o crime no exercício de cargo ou função;
II - se o agente comete o crime com o fim de obter para si ou para outrem vantagem
patrimonial.
Art. 241. Apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer
meio de comunicação, inclusive rede mundial de computadores ou internet,
fotografias ou imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo
criança ou adolescente: (Alterado pela L-011.764-2003)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena quem: (Acrescentado pela L-011.764-2003)
I - agencia, autoriza, facilita ou, de qualquer modo, intermedeia a participação de
criança ou adolescente em produção referida neste artigo;
II - assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou
imagens produzidas na forma do caput deste artigo;
III - assegura, por qualquer meio, o acesso, na rede mundial de computadores ou
internet, das fotografias, cenas ou imagens produzidas na forma do caput deste
artigo.
§ 2º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos: (Acrescentado pela L-011.764-
2003)
I - se o agente comete o crime prevalecendo-se do exercício de cargo ou função;
II - se o agente comete o crime com o fim de obter para si ou para outrem vantagem
patrimonial

Estes dois artigos defendem dois direitos fundamentais da criança e do adolescente, o


direito de imagem, e a integridade sexual. A intenção do legislador é clara, proteger o menor
de idade quanto à exploração sexual de sua imagem seja fotográfica, teatral cinematográfica,
televisiva ou qualquer outro meio visual. Tem como sujeito ativo no primeiro artigo o
produtor ou diretor da peça, programa televisivo ou filme e no segundo caso qualquer pessoa
que facilite a divulgação de imagens por qualquer meio de comunicação. Portanto alem de
tipificar o crime de produzir imagens, é tipificado o crime de divulgar. Incorre na mesma pena
qualquer tipo de participação dolosa nestas infrações e é agravado caso aja objetivo de obter
vantagem patrimonial ou é cometido sob uso de seu exercício cargo ou função.

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma,
a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Alterado pela L-011.764-2003)
Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de
qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos
componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização
indevida:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime
mais grave. (Alterado pela L-011.764-2003)
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma,
a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo
seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso
de utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
27

Este grupo de crimes tende a defender a integridade física da criança e do adolescente


impedindo que qualquer pessoa, mediante dolo, abuse de seu discernimento reduzido
presumido por sua idade, para vender respectivamente armas de fogo ou munição (art. 242),
produtos que causam dependência física e química, como drogas e alucinógenos (art. 243) e
fogos de artifício (art. 244)

Art. 244-A Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do Art.
2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: (Acrescentado pela L-009.975-
2000)
Pena - reclusão de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
no caput deste artigo.
§ 2ºConstitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e
de funcionamento do estabelecimento.

O ultimo crime, o art. 244-A, acrescentado pela Lei 9.975 de 23 de junho de 2000,
tipifica a exploração sexual, e submeter criança ou adolescente à prostituição, determinando a
mesma pena para o proprietário do local em que se verifique a submissão de crianças e
adolescentes a tais práticas.
28

11 CONCLUSÃO

O trabalho abordou o Estatuto da Criança e do Adolescente no que tange seu aspecto


punitivo, os chamados “atos infracionais”.
È notório que as penas nos atos infracionais diferem-se dos crimes e das
contravenções penais, sendo até denominadas de forma diferenciada, as chamadas medidas
sócio-educativas. Os menores de 18 (dezoito) anos são dessa forma, penalmente inimputáveis.
Todo o desenvolvimento do ECA baseia-se na premissa de que a criança e o
adolescente ainda encontra-se em pleno desenvolvimento psicológico e é nesse crescimento
seus valores morais estão sendo construídos. Por esse fato, não se pode nem deve punir o
menor de maneira extremamente rígida.
Deve-se, assim, reeducá-lo para que esse não se torne um adulto com valorações
incorretas e não venha a se tornar um criminoso. Nas medidas sócio-educativas deve
prevalecer o acompanhamento do jovem, sempre o incentivando a práticas educativas e
profissionais, para que esse não se torne um excluído da sociedade.
Mas não basta só isso. Não se deve ver apenas o aspecto “punitivo” do Estatuto. É
preciso que os direitos básicos da criança e do adolescente sejam resguardados. Que esses
possam ter mínimas condições de desenvolver seu crescimento moral e educacional de
maneira condizente com a sociedade.
Para isso necessita-se de políticas que visem o desenvolvimento da educação e da
cultura nos comunidades, que se invista em esporte, lazer para evitar que os jovens tornem-se
vítimas do mundo criminal que os rodeia.
Aos 18 (dezoito) anos da implantação do ECA, deve-se ficar contente com todos os
avanços que vem sendo obtidos, mas devemos ficar atentos e para proporcionarmos o
crescimento com dignidade àqueles que estão construindo o futuro.
29

REFERÊNCIAS

ASSUMPÇÃO, André Del Grossi: Processo de Aplicação da medida sócio-educativa.


Disponível em
<http://www.datavenia.net/artigos/Direito_Processual_Penal/processoaplicacaomedidasocied
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Estatuto da Criança e do Adolescente

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