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19 Introdução

Com tudo o que já afirmei, surgem três questões relativas à filosofia


da tradução que precisam ser respondidas: 1) Equivalência formal versus
dinâmica (“traduções literais” versus “paráfrases”); 2) O grau em que a
interpretação do texto dada pelo tradutor deve interferir na tradução; e
3) As vantagens e desvantagens de uma versão produzida por um único
indivíduo em contraste com a produzida por uma equipe de tradução.

“Traduções literais” versus “paráfrases”. Existe uma escala de medição das


traduções. Em um lado da escala, estão as traduções “literais”, que repro­
duzem na língua receptora (português) as formas gramaticais da língua-
-fonte (hebraico, aramaico e grego); os tradutores as denominam “traduções
de equivalência formal”. As versões Almeida Revista e Atualizada (ARA),
Almeida Revista e Corrigida (ARQ, Almeida Edição Contemporânea (AEC),
Edição Corrigida e Revisada Fiel (Fiei) e Almeida Século 21 (A21) da tradução
multissecular de João Ferreira de Almeida e a Traducção Brazileira são
exemplos delas. Versões interlineares, que apresentam o texto grego pala­
vra por palavra, são traduções literais por excelência, como o Novo Testa­
mento Interlinear (tanto da Sociedade Bíblica do Brasil quanto da Editora
Cultura Cristã). No outro extremo da escala, encontram-se as “traduções
de equivalência dinâmica”, que objetivam reproduzir na língua recepto­
ra o significado compreendido pelos leitores originais sem, entretanto,
transpor as formas gramaticais da língua-fonte. Estas são popularmente
denominadas “paráfrases”, ainda que o termo deva ser reservado para
documentos nos quais a língua-fonte e a língua-receptora são as mesmas.
A Nova Tradução na Linguagem de Hoje, a Bíblia Viva, a Versão Fácil de Ler
e Cartas para Hoje são exemplos desse tipo de tradução. A Nova Versão
Internacional (NVD, A Torá Viva e Torá — A Lei de Moisés encontram-se em
algum ponto entre os dois extremos.
Nessa escala, a Bíblia Judaica Completa localiza-se mais próxima do
extremo da equivalência dinâmica. Em pontos específicos, relacionados
à sua judaicidade, ela assim procede de forma militante. Por exemplo, a
expressão grega hypo nomon (lit., “sob lei”) é geralmente vertida “sob
a Lei”. Entretanto, pelo fato de essa tradução ter sido usada para amparar
a teologia cristã anti-Torah, o Novo Testamento Judaico e também a Bíblia
Judaica Completa explicam o significado dessas duas palavras gregas me­
diante 11 palavras na língua portuguesa: “em sujeição ao sistema resultante
da perversão da Torah em legalismo”.4

4 V. mais sobre este tópico na seção 8 a seguir.

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