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A Linguística Antes de Ferdinand de Saussure - Uma Retomada Histórica
A Linguística Antes de Ferdinand de Saussure - Uma Retomada Histórica
HISTÓRICA
Resumo: Apresenta-se, neste trabalho, uma retomada histórica dos estudos linguísticos
anteriores à publicação póstuma do Curso de Linguística Geral, considerado o divisor
de águas dos estudos da linguagem. Esse percurso inicia-se com a descrição fonética e
gramatical feita pelos hindus, passa pelos estudos linguísticos dos gregos e dos
romanos, pela Idade Média, pelos estudos da época do Renascimento até o século XVIII
e finalmente, pelos estudos da linguagem no século XIX. Apesar de serem considerados
como uma preparação para os estudos linguísticos depois do advento de Curso, esses
estudos deixam clara uma característica: o estudo das línguas antes de Saussure tinha
motivações externas à própria língua.
Considerações Iniciais
1
Mestre em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS, Campus de Campo Grande. CEP: 79814340, Dourados-MS, Brasil.
peixoto.maria@uol.com.br.
A autora ressalta ainda que a tentativa de classificar cronologicamente esses
estudos seria frustrada, pois eles foram realizados de forma independente e não podem
ser relacionados historicamente uns com os outros. Deixa claro também que a tradição
linguística desses povos desenvolveu-se e ainda se desenvolve paralelamente aos
estudos lingüísticos modernos. Entretanto, no plano temporal, apesar de alguns modos
de pensamento e de análise da língua se desenvolverem de forma autônoma, outros
estudos se apresentam de forma sucessiva e com algum efeito cumulativo ou cíclico.
Diante disso, este trabalho consiste numa rápida de recuperação temporal dos
estudos mais conhecidos acerca da linguagem e que, anteriores a Saussure, são
considerados, de acordo com Faraco (2002, p. 28) como “um longo processo
preparador” para o que viria a ser a linguística a partir das concepções saussurianas.
Iniciando pela tradição hindu, passando pelas escolas grega e romana, passeando pela
Idade Média, pelo Renascimento e chegando até o século XIX, pretende-se aqui fazer
uma rápida retomada desses estudos.
A tradição hindu
a classificação dos sons da fala feita pelos gramáticos hindus era mais
detalhada, mais precisa e mais firmemente baseada na observação e na
experiência do que qualquer outra realizada na Europa, ou em
qualquer outra parte que saibamos, antes do fim do século XVIII [...].
Em sua análise das palavras, os gramáticos hindus foram bem além
daquilo que se poderia julgar necessário ao seu objetivo original.
Os gregos
Os romanos
Os latinos também não se preocuparam com o estudo das línguas com que
tiveram contato e, segundo Leroy (1967, p. 19):
Na Idade Média, o latim foi a língua mais estudada e expandida, por ser o
idioma da igreja ocidental. Lyons (1979, p.14) destaca que o latim não “era apenas a
língua da liturgia e das Escrituras, mas também a língua universal da diplomacia, da
erudição e da cultura”.
Surgiram, então, vários manuais do latim, considerando que era uma língua
estrangeira para tantos outros povos e que deveria ser aprendida nas escolas. Esse
contato com outras línguas e culturas poderia influenciar determinantemente o latim
mas, como ressalta Leroy (1967, p. 19), isso não aconteceu. Lembre-se aqui que o latim
era uma língua principalmente escrita e, na medida em que era falada, cada povo e cada
cultura a “reinventava”, “recriava”, dando-lhe outra sonoridade.
Muitos progressos aconteceram nos estudos gramaticais do latim na época
medieval e grande parte desses avanços permanece até os dias atuais. A velha
controvérsia entre analogistas e anomalistas, no entanto, continuou presente. Foi neste
período, também, que, segundo Leroy (1967, p. 19):
Considerações Finais
Neste texto procurou-se fazer uma retomada histórica dos mais conhecidos
estudos referentes à linguagem antes da publicação da obra póstuma de Ferdinand de
Saussure, o Curso de Lingüística Geral. Esses estudos são importantes porque se
constituem numa preparação para aquilo em que a linguística se transformaria a partir
de Saussure: uma ciência autônoma.
Destacou-se que os hindus se ocupavam da descrição do sistema fonético e
gramatical de sua língua com o objetivo de que seus textos sagrados não sofressem
modificações ao serem entoados nos rituais religiosos.
Já os gregos estudavam a linguagem com a intenção de estabelecer a língua dos
clássicos e manter aquilo que consideravam como superioridade em relação aos outros
povos, a sua cultura. Entre os gramáticos gregos a grande discussão era a de se a língua
era um produto da natureza ou de uma convenção. Essa controvérsia persistiu e evoluiu
para outra oposição: analogia e anomalia – embate que não foi resolvido por aqueles
estudiosos.
Entre os romanos o objetivo dos estudos da linguagem não eram outros senão a
manutenção do latim diante das línguas dos povos por eles conquistados. Percebe-se
que os romanos também se ocupavam da descrição da língua dos clássicos, em
detrimento da língua efetivamente falada pelo povo.
Na Idade Média, os estudos lingüísticos objetivavam a evangelização tanto no
que se referia à manutenção do latim como língua oficial da igreja, quanto à necessidade
de comunicação entre os romanos e outros povos para que a fé cristã fosse difundida.
Com a chamada Reforma Religiosa essa postura foi modificada e a língua
estudada passa a ser aquela dos melhores escritores, dos clássicos. No século XVII,
como declínio do latim, cresce a atenção às línguas de outros povos, surgindo a
comparação entre línguas.
No século XIX é que o interesse pelas línguas vivas se estabelece mais
efetivamente. Os estudos comparativos ganham novo fôlego com a descoberta do
sânscrito e de suas semelhanças com outras línguas.
Com esta retomada histórica, procurou-se destacar a contribuição do Curso de
Linguística Geral, aos posteriores estudos acerca da linguagem, pois antes dele os
estudos sobre os fenômenos linguísticos, mesmo tendo sua importância, sempre tiveram
motivações externas à própria língua. Somente a partir de Ferdinand de Saussure é que a
língua por si mesma passa a ser objeto de estudo de linguistas e de estudiosos da
linguagem.
Referências Bibliográficas
PETTER, Margarida. Linguagem, língua, lingüística. In: FIORIN, José Luiz (org.).
Introdução à lingüística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.