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Aborto Uma Questao de Saude Publica PDF
Aborto Uma Questao de Saude Publica PDF
CURITIBA
2015
ANA PAULA MARTIN BENITEZ
CURITIBA
2015
TERMO DE APROVAÇÃO
Ana Paula Martin Benitez
__________________________________
Orientadora: ______________________________
Profª Helena de Souza Rocha.
Examinador 1: _____________________________
Prof(a). Dr(a).
Examinador 2: _____________________________
Prof(a). Dr(a).
Dedico o presente trabalho a todos
os que contribuíram pacientemente
para que o mesmo fosse realizado.
AGRADECIMENTOS
1. INTRODUÇÂO.............................................................................................09
2. ABORTO .....................................................................................................09
2.1 DEFINIÇÃO E CONCEITO....................................................................09
2.2 CLASSIFICAÇÃO .................................................................................11
2.3 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO .................................................... 12
2.4 O ABORTO NO MUNDO ......................................................................16
3. O ABORTO NO BRASIL.........................................................................19
3.1 DADOS E ESTATÍSTICAS ...................................................................20
3.2 O ABORTO E O DIREITO BRASILEIRO .............................................26
3.2.1 DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .......................................................26
3.2.2 PROJETOS DE LEI ...........................................................................31
4. O ABORTO COMO UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA ....................32
4.1 UMA QUESTÃO DE SÁUDE PÚBLICA ...............................................32
4.1.2 DOS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS ................................37
4.1.3 DA LEI DO PLANEJAMENTO FAMILIAR ........................................38
4.1.4 ABORTO, UMA VISÃO INTERNACIONAL SOBRE O TEMA ..........38
4.1.5 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA ............................................................42
4.2 PRINCÍPIOS E DIREITOS CONSTITUCIONAIS...................................42
4.2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ......................42
4.3 DESCRIMINALIZAÇÃO x LEGALIZAÇÃO DO ABORTO .................. 43
5. CONCLUSÃO..............................................................................................46
6. REFERÊNCIAS............................................................................................50
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1. INTRODUÇÃO
2. O ABORTO
E abortar é:
2.2. CLASSIFICAÇÃO
própria fecundidade, o que torna o aborto uma prática atávica, espontânea, pois
corresponde a um desejo natural de não querer ou não poder levar a termo a
gravidez. Na América Latina encontra-se essa prática não só em meio a grupos
que enfrentam dificuldades econômicas e sociais para assumir mais uma criança,
em centros urbanos favelados e marginais, mas também nas comunidades
indígenas. Nestas últimas apesar de não estarem submetidas às mesmas
pressões que aquelas, também abortam (Prado, 1985 p.42)
Relata Danda Prado que os primeiros dados que se dispõe sobre o aborto
datam de 1700 antes de Cristo no código de Hammurabi, nele considera-se o
aborto como um crime acidental contra os interesses do pai e do marido, e
também uma lesão contra a mulher. Deixava-se no entando bem claro que o
marido era o prejudicado e ofendido economicamente. (Prado 1985,p42)
Sócrates era partidário de facilitar o aborto quando a mulher assim o
desejasse, e seu discípulo Platão propunha em seu escrito A República que as
mulheres de mais de 40 anos deveriam abortar obrigatoriamente, e aconselhava o
aborto para regulamentar o excessivo aumento de população (Prado,1985,p 44).
Aristóteles chamava a atenção dos políticos da época, opinando que, a seu
ver, em casos de excesso de população, deveria ser autorizado o aborto antes da
“animação” do feto, (60 dias após sua concepção) para mulheres que tivessem
engravidado fora das exigências da legislação (Prado 1985, p44).
Esparta proibia o aborto juridicamente, pois tinha como preocupação atingir
o maior número de guerreiros e atletas. No entanto, reservava ao Estado a
decisão sobre a vida ou a morte dos recém-nascidos, eliminando os malformados.
Em Roma, o início, o aborto voluntário não foi considerado delito, pois os
juristas e filósofos não viam o feto como um ser vivo. No direito Romano não se
encontravam disposições sobre o aborto, para as mulheres que praticavam o
aborto contra a vontade do marido, tinham como o castigo o desterro, ou então o
marido unia sua autoridade à do Tribunal Doméstico (instituto legal que
regulamentava os comportamentos intrafamiliares) a fim de impor o castigo devido
à culpada (Prado, 1985 p45).
Com o passar dos anos e com a necessidade de aumentar sua população,
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FIGURA Nº 1
Nos Estados Unidos o aborto é legalizado desde 1973 e por ano realizam –
se 730 mil abortos, nos anos seguintes a legalização a taxa de mulheres que
recorriam ao aborto era de 29,3%, porém, este número vem caindo com o passar
dos anos e após quatro décadas de legalização o número de mulheres que
recorrem ao aborto nos Estados Unidos é de 16,9%. Observa-se com os números
apresentados que o direito ao aborto não implica necessariamente em um
aumento do número de abortos (O estadão, blog Guga Chacra, disponível em:
http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/por-que-ha-mais-abortos-
no-brasil-do-que-nos-eua-onde-e-legalizado/, acesso em 02.05.2015)
Nos países onde o aborto não é tipificado como na Holanda, a Espanha e a
Alemanha, observa-se uma taxa muito baixa de mortalidade e uma queda no
número de interrupções, porque passa a existir uma política de planejamento
reprodutivo efetiva. (Coletivo feminista Classista Ana Montenegro . Disponível em:
19
https://anamontenegrodotorg.files.wordpress.com/2014/10/nota-polc3adtica-sobre-
violc3aancia-obstc3a9trica-no-hospital-materno-de-marc3adlia-ana-
montenegro.pdf, acesso em 01.05.2015).
O Uruguai, que descriminalizou o aborto em outubro de 2012 também tem
experimentado grandes quedas em suas estatísticas, tanto no número de mortes
maternas quanto no número de abortos realizados. Segundo números
apresentados pelo governo, entre dezembro de 2012 e maio de 2013, não foi
registrada nenhuma morte materna por consequência de aborto e o número de
interrupções de gravidez passou de 33 mil por ano para 4 mil. Isso porque, junto
da descriminalização, o governo implementou políticas públicas de educação
sexual e reprodutiva, planejamento familiar e uso de métodos anticoncepcionais,
assim como serviços de atendimento integral de saúde sexual e reprodutiva
(Último segundo, disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2013-09-
20/clandestinas-retratos-do-brasil-de-1-milhao-de-abortos-clandestinos-por-
ano.html, acesso em: 14.09.2014).
3. O ABORTO NO BRASIL
FONTE: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-72032010000300002&script=sci_arttext
FIGURA Nº 2
a idade das mulheres, com as maiores proporções registradas entre aquelas com
mais de 35 anos de idade (3,9%). O aborto espontâneo predominou entre as
residentes em zona rural (16,1%), enquanto que a referência ao aborto provocado
foi mais frequente entre as entrevistadas na área urbana. Não se obteve diferença
entre os relatos de abortos provocados entre mulheres católicas e evangélicas,
sendo mais elevado entre as mulheres que declararam não ter religião (3,7%) ou
outro credo (4,4%). Tanto o aborto espontâneo quanto o provocado foi mais
frequentemente mencionado entre mulheres não brancas e com mais de um filho
nascido vivo. As entrevistadas casadas ou que viviam junto com o companheiro ,
bem como as mulheres que referiam não ter escolaridade declararam mais
frequentemente eventos provocados e espontâneos. O relato de aborto provocado,
entretanto, foi maior entre as mulheres que consideravam como ideal ter apenas
um filho (3,2%).
23
FIGURA Nº 3
É a jurisprudência:
No Brasil, conforme afirma o médico Thomaz Rafael Gollop, são 250 mil
internações por ano para o tratamento de complicações pós-abortamento,
internações estas que geram um custo de 30 milhões ao Estado (Instituto Ciência
Hoje. Disponível em http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-
2013/consenso-para-que acesso em 03.05.2015).
As internações realizadas por conta de um aborto mal sucedido superam
em 41% as internações por câncer de mama ou de colo de útero. A curetagem
(limpeza do útero necessária para evitar infecções graves) é o procedimento
hospitalar mais realizado no País (TN OnLine. Disponível em:
http://tnonline.com.br/noticias/brasil/33,48835,08,10,sus-interna-12-mulheres-por-
hora-por-causa-de-aborto.shtml acesso em 01.05.2015)
Abaixo dois gráficos que demonstram o número de curetagens pós-
abortamento realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) nos 10 estados
brasileiros com maior incidência, nos anos de 1995 e 2000, números estes que
denunciam a elevada ocorrência de abortos clandestinos no país:
FONTE: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatisticas_992000.pdf
36
FIGURA Nº 4
FONTE:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatisticas_992000.pdf
FIGURA Nº 5
Nos seis primeiros meses de 2010, foram gastos R$ 12,9 milhões para
internar mulheres com seqüelas resultantes de abortos realizados em péssimas
condições de higiene. No caso das curetagens os valores superam R$ 30 milhões.
Um procedimento simples do ponto de vista médico torna-se oneroso diante das
complicações.
Nos países onde há poucas restrições ao abortamento seguro verifica-se
uma queda nos números de mortes e doenças além da diminuição no número de
abortos realizados.
Segundo Rosângela Talib (Coordenadora da Organização Católica pelo
Direito de Decidir) isso ocorre porque nos países onde há a legalização do aborto,
ao buscar o sistema de saúde as mulheres recebem informações aumentando
assim a probabilidade de elas saírem do serviço de saúde com métodos
37
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_283054.s
html?func=2 acesso em 03.05.2015)
No mapa abaixo esses países são os que estão na cor vermelha.
Os países em marrom são onde o aborto é permitido nos casos de estupro
ou para salvar a vida da mulher e para preservar a saúde física da mulher (34
países, 9,4% da população).
Os países em amarelo são onde o aborto é permitido também nos casos
em que a gravidez provoca abalo emocional para a mulher (23 países, 4,1% da
população).
Os países em azul são onde o aborto é permitido também por razões
socioeconômicas, quando a mulher alega falta de recursos financeiros (14 países,
21,3% da população).
Os países em verde são onde o aborto é permitido sem nenhuma restrição
(56 países, 39,3% da população).
40
FIGURA Nº 6
atentado contra a vida, crime este que atualmente é imposto para a mulher que
realizar o aborto ou o técnico que a auxiliar passando estes a serem considerados
como criminosos e sendo passível a eles a imputação da pena determinada em lei.
É importante ressaltar que a atual criminalização do aborto é uma afronta
aos direitos fundamentais femininos, aos direitos reprodutivos e ao princípio da
autonomia.
Ao adotarmos a expressão descriminalização do aborto sugere-se que o
Estado deve apenas deixar de considerar a conduta típica, o que não importa no
compromisso do mesmo em fornecer o procedimento na rede pública de saúde ou
dar qualquer tipo de suporte aos envolvidos. Por outro lado, ao se adotar a
expressão legalização do aborto, diz-se que o Estado deve, além de
descriminalizar a conduta, fornecer o procedimento nos hospitais públicos,
promover campanhas de esclarecimento, acompanhamento psicológico e outras
formas de suporte ocorrendo também à interferência direta do Ministério da Saúde
que então poderá regulamentar e direcionar para onde devem ser encaminhadas,
como será procedimento e quem irá atender essas mulheres.
Para assegurar os direitos reprodutivos e da autonomia das mulheres na
tomada de decisões sobre o seu corpo e por conta da ameaça dos abortos
inseguros deve o Estado se posicionar sobre o assunto e não se calar. Somente
com uma atitude do legislativo brasileiro é que se podera assegurar as mulheres
meios seguros de realizar o procedimento, porém, a não descriminalização e a
não legalização do aborto nos dias atuais tem um alto custo para o Estado, as
clínicas ilegais continuam agindo sem nenhuma supervisão de médicos ou
instruções de como conduzir essa intervenção de forma segura.
As mulheres se sentem desamparadas e perdidas, sem ter aonde buscar
ajuda ou ter com quem conversar sobre o assunto, tomando quase sempre
sozinhas a decisão de recorrer ou não a uma clínica clandestina, ficando a mercê
das pessoas que lá trabalham. O aborto inseguro tem uma forte associação com a
morte de mulheres - são quase 70 mil no mundo todos os anos, destes 70 mil 95%
acontecem em países em desenvolvimento, a maioria com leis restritivas.
Até mesmo entre os governantes o tema já é tratado de forma mais branda
45
em reportagem publicada pela revista veja em junho de 2008 (Revista Veja on-line.
Disponível em :http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/aborto
/#6, acesso em : 20.10.2014) algumas opiniões foram expostas:
O Brasil começa a dar seus passos na luta para retirar o aborto do Código
Penal e torná-lo um direito da mulher, O Conselho Federal de Medicina (CFM)
manifestou apoio à questão, a entidade defende que o país não deve considerar o
procedimento como crime e apóia a autonomia da mulher em abortar até a décima
segunda semana de gestação. O Conselho Federal de Psicologia já havia se
manifestado a favor da descriminalização do aborto, em junho de 2012.
Conforme afirma Rosângela Talib da ONG Católicas pelo Direito de Decidir
em entrevista ao DoisP, (disponível em RBA, Rede Brasil Atual,
46
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/12/proibicao-do-aborto-no-brasil-
penaliza-mulheres-pobres-e-negras-diz-ong-catolica-4727.html, acesso em 25 de
abril de 2015) a descriminalização e a legalização levariam a questão aborto para
onde ela já deveria estar, na questão da saúde sexual e reprodutiva da população.
Ao tirar-se o stigma e o preconceito em relação ao tema, tira-se da mulher a carga
social negativa e psicológica de que realizar um aborto seria algo criminoso.
Há necessidade de um respaudo social para essas mulheres que precisam
de compreensão e de ser entendidas e não julgadas ou criminalizadas.
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS
ANJOS, Carla Ferraz dos. Aborto e saúde Pública no Brasil: Reflexões sob a
perspectiva dos direitos humanos. http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v37n98/a14v37
n98.pdf acesso em 01.05.2015.
ASJ.http://www.asj.org.br/educacao_artigos.asp?codigo=4189&cod_curso=134
acesso em 30.03.2015.
02.05.2015.
CHACRA, Gustavo. Por que há mais abortos no Brasil do que nos EUA, onde
é legalizado? http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/por-que-
ha-mais-abortos-no-brasil-do-que-nos-eua-onde-e-legalizado/, acesso em
02.05.2015
CFEMEA.http://www.cfemea.org.br/index.php?option=com_content&view=article&i
d=1422:planejamento-familiar&catid=157:saude-e-dsdr&Itemid=127, acesso em
03.05.2015
R7 NOTÍCIAS. http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/caso-jandira-promotoria-
denuncia-dez-pessoas-por-morte-em-aborto-18112014 acesso em 03.05.2015
STF.http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121928488/aborto-anencefalico-
56
STF.http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/processoAudienciaPublicaAdpf54/anexo/adp
f54audiencia.pdf acesso em 29/03/2015.
TJRS. http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/16037741/agravo-de-instrumento-
ai-70018163246-rs acesso em 03.05.2015.
TN ONLINE. http://tnonline.com.br/noticias/brasil/33,48835,08,10,sus-interna-12-
mulheres-por-hora-por-causa-de-aborto.shtml acesso em 01.05.2015.