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V ENCONTRO INTERNACIONAL DA IF-EPFCL

OS TEMPOS DO SUJEITO DO INCONSCIENTE


A psicanálise no seu tempo e o tempo na psicanálise

05 e 06 de julho de 2008
São Paulo ▪ Brasil

ANAIS DO ENCONTRO
ANAIS DO V ENCONTRO INTERNACIONAL DA IF-EPFCL
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano
05 e 06 de julho de 2008 ▪ São Paulo (Brasil)
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ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
Atualidade
Colette Soler .................................................................. 06

▪ PRELIMINARES
1. Os tempos do sujeito do inconsciente 8. O evasivo do inconsciente e a certeza do
Dominique Fingermann ................................................. 09 parlêtre
2. Do tempo Marc Strauss ................................................................. 21
Daniela Scheinkman Chatelard ..................................... 10 9. A psicanálise em seu tempo
3. Agora nosso tempo Christian Dunker. .................................................... p. 23
Ramon Miralpeix .......................................................... 12 10. O inconsciente e o tempo
4. Em prelúdio Sidi Askofaré ............................................................ p. 25
Bernard Nomine ............................................................ 14 11. Tempo: Lógica e Sentimento
5. Perante o sintoma todo relógio é mole Sol Aparício .............................................................. p. 27
Antonio Quinet ............................................................. 15 12. O tempo do Analista
6. A transferência é a intrusão do tempo de Ana Martinez ........................................................... p. 29
saber do inconsciente 13. Après-coup
Lydia Gómez Musso ..................................................... 17 Guy Clastres ............................................................. p. 31
7. O manejo do tempo
Gabriel Lombardi .......................................................... 19

▪ PLENÁRIAS
1. O TEMPO NA ANÁLISE O tempo de Laiusar
O “tempo” de uma análise Antonio Quinet ............................................................. 65
Dominique Fingermann ................................................. 33 Le temps, pas logique
Le “tempo” d’une analyse Colette Soler ................................................................... 69
Dominique Fingermann ................................................. 36
La prisa y la salida 4. EFEITOS DO TEMPO
Luis Izcovich ................................................................. 40 Le temps: um objet logique
La cita y el encuentro Bernard Nominé ............................................................ 73
Gabriel Lombardi .......................................................... 46 Tempo e entropia
Sonia Alberti ................................................................. 77
2. O TEMPO DO ATO
Repetir, rememorar e decidir: a análise entre o 5. O TEMPO E O SUJEITO
instante da fantasia e o momento do ato L’etoffe du zero - La topologie et le temps
Ana Laura Prates ......................................................... 51 Françoise Josselin ........................................................... 84
Repetir, recordar y decidir: el análisis entre el Tu/er le temps
instante del fantasma y el momento del acto Martine Menès .............................................................. 87
Ana Laura Prates ......................................................... 56
Le temps du désir, lês temps de l’interprétation, le
temps de l’acte 6. TEMPO ATUALIZADO
Marc Strauss ................................................................. 61 El sin tiempo de la histeria hipermoderna
Carmen Gallano ............................................................ 91
La liberté ou le temps
3. O TEMPO QUE FALTA (Il faut le Mario Binasco ............................................................... 95
temps)

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7. OS TEMPOS DO INCONSCIENTE Temps logique et temps arrêté, incidences


L’inconscient: travailleur idéal cliniques
Maria Vitória Bittencourt ............................................. 101 Jean-Jacques Gorog ........................................................ 117
Modulação pulsional do tempo
Angélia Teixeira ............................................................ 105 9. O TEMPO DA NEUROSE
El aburrimiento, uma forma del tiempo Um tempo de espera para o obsessivo
Silvia Migdalek ............................................................. 109 Andréa Brunetto ............................................................ 121
O tempo da histeria e o fora do tempo da “não
8. TEMPORALIDADES PLURAIS toda”
Immortality Elizabeth Rocha Miranda ............................................... 124
Leonardo Rodriguez ....................................................... 113

MESAS SIMULTÂNEAS

O tempo na direção do tratamento

O uso diagnóstico do tempo em Psicanálise A pesar del tiempo


Christian Dunker ........................................................ 128 Trinidad Sanchez-Biezma de Lander ............................146
O futuro anterior na experiência psicanalítica Subjetivar la muerte: una apuesta a la vida
Sonia Magalhães ......................................................... 132 Florencia Farias .......................................................... 150
O tempo da entrada O inessencial do sujeito suposto saber
Gonçalo Galvão ........................................................... 136 Silvia Fontes Franco .................................................... 153
Os tempos de uma práxis O tempo na direção do tratamento
Ronaldo Torres .............................................................140 Alba Abreu ................................................................ 157
Los tiempos verbales del sujeto O tempo lógico e a duração da sessão analítica
Perla Wasserman ..........................................................143 Delma Gonçalves ......................................................... 161

Tempo e estrutura

Espaço e tempo na experiência do sujeito do Freud e Lacan – Caminhos na rede de


inconsciente significantes
Clarice Gatto ............................................................... 165 Gláucia Nagem ........................................................... 182
Um novo tempo para o sujeito que se dá a partir Do significante que faz tempo
do enfrentamento do real existente no intervalo Paulo Rona ................................................................. 185
significante Se hâter de l'acte ou dresser constat?
Robson Mello ............................................................... 170 Matilde Hurlin-Uribe .................................................. 188
Tempo e sintoma A lógica temporal de Charles Peirce: A
Andréa Fernandes ....................................................... 173 (des)continuidade na clínica psicanalítica
Le pâtir et le bâtir du temps Elisabeth Saporiti ........................................................ 192
Diego Mautino ............................................................ 176
"Smut" freudiano e a-temporalidade no chiste
Maria Teresa Lemos .................................................... 179

Modalidades subjetivas do tempo

El tiempo, la discontinuidad y el corte O tempo do sujeito na psicanálise:


Gabriela Haldemann ................................................. 196 considerações sobre o objeto e a nominação
O tempo de constituição da inibição Daniela Scheinkman Chatelard ................................... 202
Gloria Justo Martins .................................................. 199

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Consideraciones sobre el instante Bernard Lapinalie ....................................................... 217


Cristina Toro ............................................................... 205 Luto e angústia no fim de análise
Da filiação à nobre bastardia: linhagem real do Sandra Berta ............................................................... 222
desejo Acerca de la clínica del fin de análisis
Bárbara Guatimosim ................................................... 208 Enrique Katz .............................................................. 226
Tempo, repetição no final de análise O tempo real na experiência analítica
Ângela Diniz Costa .................................................... 214 Eliane Schermann ....................................................... 229
Le temps du deuil de l’objet a

O tempo e estruturas clínicas

Tempo para fazer se homem El tiempo cíclico de las psicosis


Ida Freitas ................................................................... 232 Gladys Mattalia .......................................................... 250
Acerca de la anticipación en la clínica Temporalidad del arrepentimiento
psicoanalítica lacaniana con niños Patrícia Muñoz ........................................................... 255
Pablo Peusner .............................................................. 235 A perversão e o tempo
El tiempo del sujeto niño del inconsciente Vera Pollo ................................................................... 258
Susy Roizin e Ana Guelman ....................................... 238 O seppuku de Mishima: a derradeira erotização
A repetição e o tempo de saber da morte
Maria Luisa Rodriguez Sant’Ana .............................. 241 Maria Helena Martinho .............................................. 261
Tempos do sujeito e o desejo do analista na Como se analisa “hoje” a perversão?
clínica Maria Lucia Araujo ................................................... 265
Lenita P. Lemos Duarte .............................................. 244
O tempo de construção da metáfora delirante
Georgina Cerquise ....................................................... 247

A psicanálise no seu tempo

Formação do psicanalista e transmissão da Tempo e política na clínica psicanalítica


psicanálise: qual articulação possível? Marcelo Amorim Checchia ........................................... 287
Beatriz Oliveira ........................................................... 269 A causa final na psicanálise e na arte
Instituciones Psicoanaliticas (?) en la era de la Silvana Pessoa ............................................................. 290
globalización La sucesion de instantes de tiron en el tiempo
Viviana Gómez ........................................................... 272 de las compulsiones
pintura renascentista Alicia Ines Donghi ...................................................... 293
Luis Guilherme Mola .................................................. 276 Corpo e histeria na contemporaneidade:
A eternidade do espaço, ou o que podemos considerações
aprender com a pintura de Francis Bacon? Michele Cukiert Csillag ............................................... 296
Sonia Xavier de Almeida Borges ................................. 279 Que tempo para o sexo?
Inland Empire - El cine de David Lynch como Luciana Piza ............................................................... 299
acontecimiento para el psicoanálisis
Laura Salinas ............................................................. 282

A psicanálise e o discurso capitalista


A posição do sujeito no laço totalitário do O nó do tempo nos tempos atuais, vicissitudes
capitalismo contemporâneo da memória
Raul Albino Pacheco ................................................... 303 Ângela Mucida ............................................................ 315
Capitalismo, Imperio y Subjetividad: el El psicoanálisis aplicado en la enseñanza
derecho, la guerra y el tiempo originaria de Lacan
Mario Uribe ................................................................ 307 Aníbal Dreyzin ........................................................... 319
Temporalidade contemporânea e depressão A brevidade como princípio da eficiência: as
Maria Rita Kehl .......................................................... 311 psicoterapias e a clínica do ensurdecimento

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Conrado Ramos ........................................................... 323 Há, ainda, tempo para a Psicanálise?


Le couple psychiatrie/psychanalyse: du temps Sergio Marinho de Carvalho ........................................ 336
des amours au temps du divorce ? Amor y pressura capitalista
Jean-Pierre Drapier ...................................................... 326 Jorge Zanghellini .......................................................... 340
Mañana el campo lacaniano
Eduardo Fernández Sánchez ....................................... 332

TRANSVERSAL DO CAMPO LACANIANO


O tempo da matéria, do ser vivo, do sujeito

Tempo e ser segundo a Ontologia de Martin O Conceito de Tempo, do Misticismo aos dias
Heidegger Modernos
José Eduardo Costa e Silva .......................................... 344 Elcio Abdalla .............................................................. 350

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Atualidade
Colette Soler
Tradução: Silmia Sobreira

oje a questão do o quanto esta última, pelo menos na França,


tempo próprio da para bajular o espírito da época, não recua em

H psicanálise nos vem de


fora. O tema nos é
trazido pela atualidade
do discurso capitalista,
que faz do tempo um
valor comercial como
qualquer outro, ligado evidentemente ao
fazer valer como pseudogarantia sua sessão
longa e com duração fixa – e sem mais
argumentação. Do outro lado, vimos até
mesmo aparecer no Campo Freudiano o
tema, não menos demagógico, da psicanálise
aplicada produzindo enfim, após um século
de vãos esforços, “a análise curta”! Vê-se
regime dos gozos contemporâneos. como é grande a tentação para as políticas de
Grande diferença tanto em relação a parvoíce de jogar-se nos braços do discurso
Freud como a Lacan. No começo da contrário, e por medo de que a psicanálise
psicanálise, foi no seio da comunidade dos desapareça do mercado, acaba-se por
analistas que a duração da análise esteve em contribuir ativamente para sua diluição no
questão e foi objeto de debate. Quando, meio campo chamado psi, cuja cotação está em alta.
século depois, Lacan quis fazer do tempo, não Nossa questão é diferente. Ela se
mais um dado inerte do quadro analítico, mas situa entre dois escolhos, seja por não
um dado inerente à relação de transferência e reconhecer que mudamos de mundo em
manejável em virtude disso na sessão, foi na alguns decênios e por ignorar soberbamente
ortodoxia ipeísta que ele esbarrou. O objeto “a subjetividade de nossa época”, seja por
de debate se tornara objeto de litígio, mas no ceder em relação à oferta propriamente
mundo restrito dos analistas. analítica em nome da adaptação realista,
Para nós, a interpelação é duplicada quando se trataria, antes, de precisar o que do
por outra, muito mais poderosa, a do discurso tempo na psicanálise não pode oscilar ao
corrente. Os meios de comunicação se sabor do espírito da época.
apoderaram do tema, que divulgam para o A análise, por exemplo, poderia não
grande público, e informam até mesmo as ser sempre longa, uma vez que sua extensão
demandas. Ser escutado durante um longo se mede em relação a uma espera? Desde a
tempo a cada sessão, e sarar depressa, bem época das primeiras análises, muito curtas na
poderia ser a nova exigência de nossa época. realidade, alguns meses ou algumas semanas,
Lógico: uma vez que hoje o tempo se compra já se lamentava sua duração, a começar por
e se vende, como o consumidor não iria Freud, sem dúvida porque o modelo de
querer comprar o gozo garantido de um referência era a consulta médica.
tempo de sessão, e pedir ao analista vender- Outra constatação engraçada: os psicanalistas
lhe uma análise curta? de diversas obediências, eles que não
E como analistas que se inscrevem concordam em nada, concordam, entretanto,
sob o significante do Campo Lacaniano, em relação a uma duração incompressível da
campo de regulação dos gozos, poderiam ser análise e poderiam subscrever, quanto ao
surdos a isso e continuar indefinidamente essencial, a frase de Lacan “é preciso tempo”.
deixando dizer? Tanto mais que o debate Forçoso lhes é, com efeito, constatar que
interno entre a corrente lacaniana e a ipeísta todas as tentativas para economizar tempo – e
não está encerrado. E verifica-se todos os dias

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os houve na história da psicanálise – antes de um real que se manifesta na


fracassaram1. “textura” do tempo.
Quanto à duração da sessão, em O ponto crucial de nosso tema hoje
contrapartida, desde que Lacan tocou nesse está, porém, noutro lugar, mais ético que
tabu, a luta permanece acirrada. Já não seria o clínico; o que uma análise sempre longa pode
sinal de que o analista não se considera prometer ao homem apressado pela
verdadeiramente como responsável pela civilização? Efeitos terapêuticos às vezes e
duração da análise, enquanto, no que diz mesmo freqüentemente rápidos, sem dúvida
respeito ao tempo da sessão, ele sabe que aí alguma, contrariamente ao que se crê. Mas,
entra em jogo uma opção, e que ela deve ser além disso, “o tempo necessário”, conforme a
justificada... expressão de Lacan, permitiria produzir um
O inconsciente seria o recurso? Mas novo sujeito?
primeiro seria necessário responder à Freud já se fazia essa pergunta,
pergunta, lancinante, ao longo de todo o questionando em “Análise finita, análise
ensino de Lacan e sempre retomada até o fim: infinita”, para além do terapêutico, a
o inconsciente, o que é isso? Na realidade, em possibilidade de um estado do sujeito que só
seus debates históricos sobre o tempo, os se alcançaria pela análise. Mas ele se detém
analistas o usaram como argumento, mas sem nesse limiar. Não que ele não reconheça que a
que conclusão alguma se impusesse, pois dele análise produz surpresas, mas, para ele,
pode-se dizer uma coisa e seu contrário: que o paradoxalmente, elas não são o signo do
inconsciente não conhece o tempo, insistência novo, mas, ao contrário, são o signo do
indestrutível, que ele se manifesta, contudo, reencontro, do retorno de um passado
em uma pulsação temporal que lhe é própria infantil. Em conseqüência, o que uma análise
(o tema é freudiano), que, entretanto, ele quer pode prometer de melhor é a reconciliação do
tempo para se manifestar na sessão (tema sujeito com o que ele rejeitara inicialmente no
pós-freudiano) ou que, ao contrário, recalque, ou a admissão do que nem sequer
trabalhador jamais em greve, ele tem todo o havia sido simbolizado e que insistiria na
tempo, pois não conhece os muros da sessão repetição. Daí a extraordinária fórmula
(tema lacaniano). É que a concepção que se freudiana, em sua ironia: reduzir o infortúnio
faz do inconsciente é solidária com a do neurótico ao infortúnio banal.
tempo analítico. Na opção de Lacan, ao contrário, o
A questão aberta por esse tema não é tempo é um possível vetor de novidade. É
simplesmente clínica. que ele não pode ser pensado unicamente
Uma clínica do tempo é possível, sem dúvida, como estruturado pela dimensão simbólico-
mas, para dizer a verdade, ela não está mais imaginária que assegura a imanência do
por ser feita, pois já se encontra bem balizada passado no presente. A questão do que ele
pelo ensino de Lacan. Tempo do sujeito que implica de real deve ser colocada, quer isso
se “hystoriza”NT puxado entre antecipação e agrade, quer não a Emmanuel Kant, pois,
retroação: tempo próprio de cada estrutura antes de toda promessa analítica, é preciso
clínica, que marca com seu selo a responder à questão de saber como o tempo
temporalidade universal do sujeito e cuja real de uma análise alcança o real do falasser
tipicidade já é o índice de um real, conforme
elas se hystorizam ou não; “tempo lógico” de NOTAS:
1 – Pensemos, sobretudo, em Rank, Ferenczi.
produção de uma conclusão a partir do “não NT – Jogo de palavra entre histeria (gr. hysteros) e
sabido”, produção cuja duração, incalculável, história.
é própria de cada analisante, o que leva a
pensar que, por mais lógico que seja esse
tempo, ele é algo não só lógico, participando

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PRELIMINARES

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Os tempos do sujeito do inconsciente


Dominique Fingermann
“A psicanálise só dará fundamentos científicos à sua teoria, e à sua técnica, ao formalizar adequadamente as dimensões essenciais de
sua experiência que são juntamente com a teoria histórica do símbolo: a lógica intersubjetiva e a temporalidade do sujeito”.
Jacques Lacan

om Lacan, orientamos a mostra esta dupla temporalidade do sujeito


psicanálise que sustentamos do inconsciente. Com efeito:“Em qualquer

C na atualidade, segundo uma


lógica temporal coerente
com a temporalidade do
sujeito do inconsciente.
O V
Internacional
EPFCL propõe um tema de trabalho
Encontro
da IF-
ponto em que se esteja dessa suposta
viagem, a estrutura, isto é, a relação com
um certo saber, a estrutura não larga disso.
E este desejo é estritamente, durante a vida
inteira, sempre o mesmo... esse famoso
desejo indestrutível que passeia sobre a
linha da viagem” .
desdobrado em três eixos inter- O tempo na psicanálise:
dependentes. Com efeito, o tempo na A escansão das sessões, sua freqüência, a
psicanálise decorre dos tempos do sujeito duração das análises se referem não à
do inconsciente e, de seu manejo depende a técnica, mas à ética que comanda a
efetividade da psicanálise no seu tempo. operação da transferência: “relação
Os tempos do sujeito do inconsciente: essencialmente ligada ao tempo e ao seu
Há o tempo que passa: manejo” . Em busca do tempo perdido, a
O tempo passa, é claro, irreversível, análise pode proporcionar “fazer-se ao ser”
segundo a sucessão do antes ao depois, da sendo que por isso “precisa tempo” (“à
vida à morte. l’étant, faut le temps de se faire à l’être ”),
Para o sujeito do inconsciente, todavia, isto é, o tempo de achar por ali seu sintoma
desde sua constituição pelo significante, o (sinthome), “pois é somente depois de um
presente se passa na antecipação de um longo desvio que pode advir para o sujeito
futuro marcado por aquilo que do passado o saber de sua rejeição original” .
não é mais: um “pode ser” delineia-se a A psicanálise no seu tempo:
partir de um “poderia ter sido”. Wo es war Esses longos desvios não estão em alta na
soll Ich werden. Este tempo é escandido por cotação do mercado de nosso tempo que se
momentos cruciais de báscula, marcando o compraz em denegrir a psicanálise ( Time is
corpo na hora da castração. money). Todavia, esta resiste - ainda,
E há um tempo que não passa: a a- sempre - ao avesso do plano capitalista.
temporalidade, que justifica a Isso não é uma razão para que os
indestrutibilidade do desejo, como dizia psicanalistas, mesmo tomando-a na
Freud. Neste tempo, pode ocorrer uma contracorrente, não se envolvam com essa
outra lógica que não aquela do Cronos: a atualidade e seus excessos para, a partir do
do momento oportuno, o Kairos. campo lacaniano, fazer subir na cotação o
A fita de Moebius que ostenta nosso cartaz humano e sua letra.
– em dois tempos, três movimentos -

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Do tempo
Daniela Scheinkman Chatelard
empo: é preciso. “É preciso lhes o sentido das necessidades por vir”[3]. É
tempo para fazer-se ser”[1]. preciso tempo! Lacan já nos dizia: é preciso

T Se é preciso tempo, é porque


uma psicanálise acontece por
uma suposição. Ela consegue
“desfazer pela palavra o que
se fez pela palavra”: é a
transmissão de Jacques Lacan
em seu seminário “O momento de concluir”.
tempo para se chegar ao momento de
concluir! É preciso tempo para fazer-se
ser[4], para habituar-se ao ser, é a transmissão
de Jacques Lacan em Radiofonia. Esse
trabalho de a-parição do ser, de parir o ser, é
todo um processo de Durchabeitung —
perlaboração de uma psicanálise. Os diversos
O tempo interroga a psicanálise, o tempo é desvios e os contornos sucessivos nos quais a
interrogado pelos psicanalisandos, o tempo experiência da talking cure é vivida pelo
faz questão para o ser falante, para o ser do sujeito permitem que ele progrida rumo ao
tempo, para o ser-para-morte (Heidegger). registro simbólico, realizando pela fala os
Em As Confissões[2], Santo Agostinho se diversos remanejamentos que chegarão ao
refere à experiência vivida, manifestando-se registro do real em conseqüência desse
no entrelaçamento da temporalidade entre o processo de Durchabeitung. Lacan já nos
passado, o presente e o futuro. Ao interrogar dizia: é preciso tempo para se chegar ao
sobre o ser, é no tempo que Heidegger vai momento de concluir! Estamos falando do
buscar repostas sobre o Dasein, o “ser-aí”. O surgimento de uma subjetividade que vai
ser-aí é situado numa trama temporal: no acontecendo segundo os tempos futuro
passado sob a forma do “ser-sido”, isto é, a anterior e a posteriori.
maneira como o Dasein volta ao passado; o Jacques Lacan intitulou o seu
“por vir” ou devir, isto é, uma antecipação no antepenúltimo seminário Momento de
presente num tempo ainda a advir; e, enfim, Concluir e, depois, seu último seminário, A
o “estar em situação”, refere-se ao presente. topologia e o tempo. Ora, são dois
Tempo é preciso para que a elaboração do seminários que não apenas tocam na questão
traumático se constitua numa psicanálise. do tempo, mas, sobretudo demonstra aos
Tempo que marca uma ruptura no ser seus ouvintes e leitores o tempo daquele que
temporal e histórico no a-temporal do sujeito elabora e profere estes seminários: o sujeito
do inconsciente. Marca uma ferida e funda o da enunciação que habita o homem Lacan
tempo do traumático na falácia do ser. O com seu estilo único. Jacques Lacan inaugura
dasein, como o ser-aí, se faz presente em si. o seu Momento de Concluir dizendo aos seus
O trabalho do tempo do traumático é vivido ouvintes: A psicanálise é uma prática. "Uma
na experiência, está presente no tempo prática que durará o que ela durará, é uma
analítico e é atualizado na transferência. prática de palavrório" e mais adiante,
Em termos temporais, sabemos o prossegue: "Isto não impede que a análise
quanto é precioso para a psicanálise a tenha conseqüências: ela diz alguma coisa". O
referência ao futuro anterior, no só-depois da que quer dizer: 'dizer'? 'Dizer' tem algo haver
elaboração simbólica. O tempo para com o tempo. Este tempo que nodula-se ao
compreender implica o tempo para a dizer é o tempo necessário para parir o ser;
passagem ao simbólico. Assim sendo, essa para que algo do ser aceda à fala, ao fala-ser.
assunção falada de sua história lhe permite É preciso tempo para que o "inconsciente
“reordenar as contingências passadas dando-

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articula-se daquilo que do ser vem ao dizer" num traço do sujeito. A locução futuro
[5]. anterior significa que, num a-posteriori, um
Podemos assim nos remeter à clínica, sentido é dado ao anterior.
ao desejo do analista. O desejo do analista --------------------------------------------------------
implica escutar o que o tempo a-posteriori NOTAS
vivido no presente traz como efeito [1] Lacan. in Radiophonie (1970). In: Scilicet
2/3.Paris:Seuil, (1970, p.78).
retroativo da antecipação que traçou o [2] Santo Agostinho. As confissões. Livro 11, cap.
destino do sujeito a partir da escrita deixada XIV.Tradução de Frederico Ozanam Pessoa de
em seu ser de objeto do desejo do Outro. Barros. Rio de Janeiro: Ed. De Ouro, 1970.
Desejo do analista a partir do qual ele opera [3] Lacan. Função e campo da palavra e da
sua escuta, possibilitando que a escrita de seu linguagem…, in: Escritos, p. 257.
[4] Lacan, J. in Radiophonie, p. 78 in Scilicet 2/3,
analisante torne-se, enfim, sua própria escrita, Seuil, Paris, 1970.
tornando o tempo do futuro anterior que [5] LACAN J. Radiophonie en Scilicet 2, p. 79, Seuil,
antecipara seu destino num momento de Paris.
concluir e transformando, assim, essa escrita

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Agora, nosso tempo.


Ramon Miralpeix
Tradução: Sílmia Sobreira

om este título quero colocar uma pergunta pertinente é por quais saberes
em destaque algo de comum queremos ser “reconhecidos” para fazer com

C deste tempo entre nós – num


círculo mais amplo os
psicanalistas, e mais estreito os
do campo lacaniano. Por
outro lado, penso que as
perguntas que podem servir
de ponto de partida são uma boa preliminar
eles essa rede, ou seja, de quais podemos
esperar, desejando-a, uma crítica que nos dê a
medida do lugar da psicanálise no mundo?
Podemos esperá-la da clínica. Mas,
geralmente, que classe de saber queremos que
seja a da psicanálise? Esperamos que o
encontro de São Paulo nos dê uma mão
para o debate. Aí vão algumas: nestas reflexões.
Temos escutado em muitas ocasiões Quando, na assembléia de 2006, se
que houve um tempo em que a psicanálise decidiu que a de 2008 teria como eixo
pôde nascer: Freud esteve ali para fazê-lo, e principal um exame em profundidade sobre a
deu-lhe um lugar de entrada entre as terapias adequação de nossas estruturas associativas e
destinadas a curar alguns sintomas e organizativas com o objeto com a qual foram
enfermidades com os quais os demais saberes criadas, se abriu um tempo “crônico”
(psiquiátricos) haviam topado. Isto é, houve limitado, concreto, o final do qual deverá
um momento propício da história, e durante coincidir com o do outro tempo, o tempo
um tempo a psicanálise teve o lógico do momento de concluir. Será um
reconhecimento dos saberes entre os quais se momento de concluir coletivo forçado – se
havia colocado, os da medicina (seria muito me permitem a expressão -, com todos os
ousado dizer que talvez Lacan não se tivesse perigos de gelificação e/ou exclusão que
interessado pela psicanálise como o fez e, supõe – no terreno de onde se julga
portanto, sequer falaríamos de campo identificação ao traço (einziger Zug)
lacaniano se não tivesse sido psiquiatra?). Se comum[1] -, mas, sobretudo, com as
ainda há um vínculo entre a psiquiatria, a dificuldades estruturais de uma conclusão
psicologia e a psicanálise, este é bastante coletiva[2].
distinto do que era há cinqüenta anos? Onde Entretanto, agora que ainda estamos
estão aquelas psiquiatria e psicologia que no tempo de compreender, podemos olhar
bebiam da psicanálise? Demos por feito que ao nosso redor para tentar localizar quais são
nós, os psicanalistas, estamos empenhados os riscos imediatos de algumas das escolhas
em sustentar a psicanálise, em sua possíveis: em último caso, podemos concluir
particularidade, como um saber a mais entre que ficamos como estamos, dissolver para
os saberes que se desenvolvem atualmente, voltar a começar de um modo distinto (ainda
pois sabemos que, com exceção de alguns que este últimoacho ainda válido de
campos da matemática, cada saber necessita prosseguirmos). Acredito, sem dúvida, que a
dos outros para poder constituir uma rede na aposta mais geral se encontra num lugar
qual possa se sustentar e se desenvolver. intermediário.
Então, a pergunta pelo tempo da psicanálise As opções pelas quais nos decidimos
não é vã, pois não está assegurada, e não só em nossos primeiros tempos – início dos
não o está pelo próprio fazer dos fóruns e da Escola – estiveram marcadas,
psicanalistas: tampouco o está pelos demais entre outras coisas, por dois preconceitos :
discursos em que se tenha sustentado. Então, um sobre a hierarquia e sobre a associação

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que envenenou a dialética sobre os pares que preconceito vamos abordar agora o
hierarquia/gradus e associação/escola; e passo à outra etapa em nosso percurso?
outro que, na falta de outro nome melhor, Esperamos poder estar avisados um pouco
chamarei o preconceito “democrático” ou antes do momento de concluir.
“de igualação”, que pesou sobre as estruturas --------------------------------------------------------
institucionais e sobre a Escola[3]. NOTAS
Contudo, graças à ela e apesar dela, [1] Ver em Freud, S. Psicología de las masas y análisis
del yo. (1921) Outras apreciações da vida anímica
agora temos um campo, o Campo Lacaniano coletiva. Ammorrortu. Vol XVIII; em Lacan, J.
e temos uma Escola, com seus membros e Seminario VIII La transferencia. Clase 28. El analista y
seus colegiados com suas funções bem su duelo. 28 de Junio de 1961.
definidas. Também estamos em outro [2] “Pero la objetivación temporal es más difícil de
momento: creio que, no geral, corrigimos os concebir a medida que la colectividad crece, y parece
obstaculizar una lógica colectiva con la que pueda
preconceitos citados, de forma que não completarse la lógica clásica.” Lacan, J. Escritos (I)
vemos os elementos dos binômios “El tiempo lógico y el aserto de certidumbre
mencionados como opostos e em luta, ou anticipada. Un nuevo sofisma” (p 202).
seja, não nos arrepiamos por pensar que [3] PREJUICIO: “Opinión previa y tenaz, por lo
nossa Escola possa ser uma associação, ou general desfavorable, acerca de algo que se conoce
mal”. (Diccionario de la RAEL). En ambos casos esta
uma hierarquia associativa melhor opinión y mal conocimiento estuvieron determinados
estabelecida; do mesmo modo, podemos por la confusión entre “jerarquía” y “una jerarquía”
pensar num Um de orientação – ainda que concreta, y entre dirección asociativa y orientación.
seja um Conselho – não igual em sua função
ao demais uns. A pergunta, neste caso é: com

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Em prelúdio...
Bernard Nominé
Tradução: Sílmia Sobreira

ara responder ao pedido de Poder-se-ia facilmente evocar sua


Dominique Fingermann e versão objeto perdido: é o tempo que nos

P Ramon Miralpeix, tomo de


bom grado a pena e lhes
ofereço alguns elementos da
reflexão que em mim suscita o
tema de nossas próximas
Jornadas Internacionais. Em
primeiro lugar, essas jornadas se realizarão
falta, aliás o único tempo que é apreciado.
Quando se crê ter todo o tempo, ele não é
medido, antes se está na miragem intemporal
da repetição. O inconsciente participa
amplamente dessa ilusão, ele que não mede o
tempo que passa. Entretanto, essa medida é o
que o condiciona, pois como definir de outra
em São Paulo, e devo dizer que me encanta a forma esse inconsciente, senão como o que
idéia de me ver lá de novo. Essa cidade não está em busca do tempo perdido?
tem uma vocação turística, isso quer dizer Poder-se-ia considerar esse tempo
também que quando lá se está não se tem o como um objeto da alienação. O tempo é
sentimento de ser um turista, mas o de poder sempre o do Outro que me espera, que me
incorporar-se à multiplicidade das culturas apressa para responder a sua demanda. Existe
que ali se freqüentam e sentir-se participando aí toda uma clínica a ser desdobrada entre
dessa comunidade que palpita de vida. A aqueles que se empenham em fazer como se
comunidade dos psicanalistas não desmerece ignorassem que se possa esperá-los, mas cujo
essa ambiência geral, e tenho em minha desejo lhes impõe recorrer ao estratagema de
memória lembranças inesquecíveis de inventar-se um Outro para atormentá-los até
momentos de convivência com nossos o último minuto. E há também aqueles que,
colegas e amigos paulistas. ao contrário, antes estariam sempre prontos
Então nossas Jornadas Internacionais para não ter de confrontar-se com o Outro e
serão paulistas. E não tenho dúvida que sua falta.
nossos colegas saberão prepará-las com Porém o mais novo e sem dúvida o
cuidado. Mas cabe a cada membro de nossa mais proveitoso seria o esforço para
Escola preparar-se para elas, tanto mais que considerar esse objeto em sua versão real e
esse encontro de São Paulo será também a lógica. Poderá ser observado então que além
oportunidade de refletir sobre a experiência de sua versão objeto faltante ou objeto do
de nossa Escola. Outro, esse objeto tempo jamais é percebido,
Se o lugar de nosso próximo ainda que esteja sempre ali operando e
encontro me é atraente, o tema igualmente o especialmente na experiência do analisante
é. O tempo é um real com o qual a como na do ato do analista. Para mim é um
psicanálise tem particularmente de se haver. pouco cedo para dizer mais a respeito por
A tal ponto que, parece-me, se deveria, como enquanto, mas será provavelmente nessa
Lacan nos sugeriu no fim de seu ensino, pista que terei de me apressar quando chegar
encarar o tempo como uma das presenças do a hora.
objeto a.

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Perante o sintoma todo relógio é mole


Antonio Quinet
odas as tentativas de Freud pobres por quatro meses (podendo ser
de fixar o tempo de uma prorrogado para até oito meses)

T análise fracassaram quando


não causaram dano maior
ao paciente, como no caso,
segundo Lacan, do Homem
dos Lobos. Tampouco há
como prever o tempo de
duração de entrevista prévia e necessária a
diferenciando-a da "psicanálise pura" para
os ricos e os psicanalistas. Um tal desvio da
psicanálise é incompatível com seus
princípios. Chamar essa terapia de
psicanálise é desconsiderar que o sujeito do
Inconsciente está também presente com
seus desejos e sintomas nas classes mais
essa entrada. E, uma vez estabelecida a desfavorecidas, oferecendo para eles esse
transferência analítica duas vertentes tipo de tratamento que é um engodo. O
temporais estarão em jogo: a vertente sem preconceito é classificar os inconscientes
fim, própria à cadeia significante do sujeito segundo a classe social em nome de uma
e a vertente disruptiva e atemporal do ser caridade. O psicanalista pode e deve atuar
em sua modalidade de gozo. A primeira é a na urgência e propor o tratamento
vertente interminável que inclui a psicanalítico para todos que o quiserem
temporalidade da sucessão própria à sem precisar contrabandear seus
associação livre com o passado-presente- fundamentos. É o que diversas Sociedades
futuro, a retroação característica da e Escolas de Psicanálise inclusive a EPFCL
experiência de significação na e as FCCL, e até mesmo ambulatórios em
rememoração e a prospecção que o futuro Universidades, já fazem há muito tempo no
infinito do desejo imprime no Brasil. O analista a partir de seu ato com a
Inconsciente. A segunda é a vertente oferta cria a demanda de uma análise
terminável conceitualizada como o independente do bolso do sujeito.
encontro com o rochedo da castração e por Padronizar uma psicanálise a curto prazo é
Lacan como "a solução do enigma do ir contra toda a luta de Lacan contra os
desejo do analista que lhe entrega seu ser padrões estabelecidos e burocratizados que
cujo valor se escreve () ou (a)". (Cf. impedem a psicanálise de se exercer na sua
Proposição). criatividade e singularidade de cada ato
A teoria dos nós e do sinthoma na analítico.
última parte do ensino de Lacan não Estipular um prazo para o
modificam essas duas vertentes nem tratamento é um empuxo ao furor curandi
eliminam as dimensões do simbólico do para fazer desaparecer o sintoma. Essa
inconsciente e do real do gozo. À pergunta prática leva ao pior, na medida em que o
sobre qual será a duração do tratamento sintoma é uma manifestação do sujeito que
analítico a única resposta verdadeira o analista deve antes de tudo acolhê-lo e
continua sendo a pronunciada por Freud: fazê-lo falar ao invés de tentar liquidá-lo
“Ande!”. para engrossar as estatísticas dos êxitos da
O tema do nosso Encontro pesquisa cientifíca. Diante do sintoma todo
reafirma a posição do analista quanto ao relógio é mole, como o do quadro de Dali.
tempo, quando escolas de psicanálise que Impor um tempo ao sintoma é uma
se reivindicam do ensino de Lacan ingenuidade se não for uma impostura. E
propõem uma "psicanálise aplicada" aos além do mais, prometer a reabilitação

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rápida do doente para que ele volte logo ao desastre e ao terror. A psicanálise não deve
mercado de trabalho e ao consumo não se adaptar ao discurso capitalista com o
seria estar ao serviço do discurso empuxo-à-fama de seu marketing nem se
capitalista? Não se pode pagar o alto preço curvar ao discurso da ciência que rejeita a
do assassinato do sujeito com vistas a não verdade do sujeito. Ao ceder a elas não há
se perder o trem-bala da mais lugar para o Inconsciente nem o real
contemporaneidade. Isto não é estar à do sinthoma. A Escola de Lacan é o lugar
altura da subjetividade de sua época e sim do refúgio e crítica ao mal-estar na
submeter a psicanálise aos discursos dos civilização.
mestres.
O capitalismo e a tecno-ciência são
as torres gêmeas que sustentam o mal-estar
na civilização contemporânea levando-a ao

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A transferência é a intromissão do tempo de saber


no inconsciente
Lydia Gómez Musso
Tradução: Luis Guilherme Mola

omei o título destas linhas de neurótico, o excessivo apego aos objetos, a


uma nota de pé de página, tendência a ficar fixado; por isso na cura a

T datada de 1966, do escrito de


Lacan “Variantes
Tratamento Padrão”, cito:
“Em 1966, não há quem siga
do

nosso ensino sem ver nele que


a transferência é a imisção do
tempo de saber.”[1] Nota que se enlaça a um
finalidade é levantar a amnésia que afeta os
pensamentos inconscientes recalcados que,
por causa do recalque obrigam o sujeito a
uma repetição das fixações infantis de gozo.
4. Para Freud o inconsciente não conhece o
tempo, por que se trata do inconsciente
referido a questão da origem, do recalque
parágrafo, que também vou citar, de “Posição originário. Entretanto, esse inconsciente
do Inconsciente” no qual aborda a questão atemporal nos diz que quer circular e isso
da transferência e do tempo: “A espera do implica o tempo, uma vez que o
advento desse ser em sua relação com o que levantamento do recalque introduz o sujeito
designamos desejo do analista, no que ele em sua história. Para Lacan o recalcado é
tem de despercebido...por sua própria nomeado como não realizado, que demanda
posição, é essa a última e verdadeira mola do ser consciente.
que constitui a transferência. Eis porque a 5. Por último, em relação a cura analítica, esta
tranferência é uma relação essencialmente insere o inconsciente no deciframento, ou
ligada ao tempo e ao seu manejo.”[2]. Então seja ao saber inconsciente determinado para
lemos: transferência, saber, tempo, ser, desejo isolar os pontos singulares do sujeito e fazê-
do analista. A questão é sua articulação, suas los advirem como verdade. Ou ainda, que
relações. produza um saber dos efeitos da verdade.
Pontuações: O SsS implica que o efeito de sentido
1. O sujeito se constitui no curso desse transferencial é o que ocupa o lugar do
tempo lógico que elaborou Lacan e, desde referente ainda latente. O sentido ocupa o
então não há sujeito prévio a esse tempo, lugar da satisfação da incidência libidinal que
senão um sujeito em vias de realização. terminará por revelar-se: o objeto a. Essa
2. O tempo é efeito do significante. E o trajetória implica, comporta e necessita do
sujeito deve passar necessariamente por fator tempo. Este querer ser do inconsciente,
enunciados para que sejam desmentidos. Ou o não realizdo que quer se realizar nos
seja, por uma sucessão de posições, de teses. desvela a possibilidade de captar seu estatuto
3. Se há sucessão, o tempo tem uma direção. ético, relativo ao desejo do analista.
Pois bem, existe uma direção retroativa do Na cura psicanalítica, o que lhe é
efeito de significação. Já a encontramos no inerente é fazer com que os efeitos de sujeito
exemplo de Freud em seu “Projeto...”. Ele do inconsciente ─ abertura e fechamento ─
inaugura a tese de que o inconsciente ignora ao mesmo tempo se acumulem sob a forma
o tempo. Em sua Metapsicologia isso é claro, de saber. Trata-se da realização do
essa tese se obtém por dedução a partir de: a inconsciente sustentado por um desejo na
falsa orientação do sonhos, a ausência dos procura de um momento de concluir, que
efeitos da passagem do tempo para o

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não é automático e para o qual se necessita pontual onde a presença do analista fica
de tempo. como única a representar ou a apresentar, o
Em seu artigo “O objeto a de Lacan, irrepresentável.”[3]
seu usos”, quando faz referência à incidência --------------------------------------------------------
do objeto no tempo da análise e da sessão, NOTAS
Colette Soler sublinha que o objeto a é quem [1] Lacan, J. Variantes do tratamento-padrão. Escritos.
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p.330.
comanda o tempo. Cito: “ Este impredicável [2] Lacan, J. Posição do inconsciente. Escritos. Rio de
é uma causa que estimula..., que opera na Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p.858.
economia do sujeito, hic et nunc. Passado [3] Soler, C. Revue de Psychanalyse Champ Lacanien.
tudo que se pode dizer, esse resto inomeável Nº 5/Juin, 2007.
do elaborável se faz valer no ato de corte

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O manejo do tempo
Gabriel Lombardi
Tradução: Ana Laura Prates Pacheco

que é o tempo? Na morte um irreferente, um absoluto, um


verdade, não sabemos, ele “precursar” que singulariza. A morte não se

O desliza entre os dedos de


nossa apreensão
conceitual. Existe? Quem
já não sonhou com a
eternidade, com
permanecer sempre igual,
a margem da mudança? Que analisante não
limita a “pertencer” indiferentemente ao
“ser aí” particular, senão que reivindica a
este no que tem de singular (Heidegger,
Sein und Zeit, 53).
A lição do filósofo não comove ao
neurótico em seu sonho de eternidade.
Pode fazê-lo um psicanalista? Se o faz, se
sente freqüentemente que é sempre o consegue promover no analisante uma
mesmo, que o tempo não passa? “A passagem da eternidade à finitude, antes
ausência de tempo é um sonho, se chama que termine sua vida, não é pelo caminho
eternidade. Passamos o tempo sonhando e do filósofo. A psicanálise não é um
não sonhamos apenas quando dormimos. memento mori, não repetimos no ouvido
O inconsciente é exatamente essa hipótese: do paciente: “lembra que vai morrer”,
que não sonhamos somente quando como se dizia ao general romano em seu
dormimos” – diz Lacan em seu seminário momento de glória.
intitulado, entretanto, O momento de Como se introduz, na clínica e na
concluir. prática psicanalítica, o que o tempo tem de
Nas neuroses, encontramos real? Pela renovação da experiência já
diversas formas de encobrir o tempo, de vivida da descontinuidade temporal, que
perdê-lo fazendo como se não existisse: a marca um antes e um depois, revelando o
distração – matar o tempo –, a aspecto mais real do tempo: a
programação, o aborrecimento, a impossibilidade de retroceder. As fantasias
antecipação morosa do obsessivo, o muito de alguns teóricos da física e as leituras
rápido histérico, o muito tarde melancólico, relativistas de muitos psicanalistas no
o desencontro, a urgência subjetiva deveriam enganar-nos sobre este ponto:
desorientada — o tomar a angústia como para nós, enquanto seres capazes de
motivo de fuga-. escolhas, o real do tempo é seu irreversível.
Ainda que a finitude do tempo seja Há palavras, há atos, há escolhas que
um tempo instalado, inclusive mediático, o estabelecem um antes e um depois. Os
neurótico fala de si de um modo impessoal, resultados de Alan Turing são, neste ponto,
que se opõe igualmente à surpresa e à conclusivas: uma máquina automática pode
determinação. A morte chega, com certeza, ser teletransportada, e seu tempo mudado,
diz; mas não por enquanto. Com este rebobinado por uma decisão exterior; mas
“mas...”, escreve Heidegger, “tira-se” da não um ser capaz de escolha.
morte toda a certeza. Todos os homens são Para o parlêtre o tempo tem uma
mortais; sim, mas eu não estou certo de coordenada real, a descontinuidade
nada. A essa forma de “se” corresponde a temporal, irreversível, e sua aproximação
inatividade, o passatempo, o desinteresse, traz consigo um pressentimento, um afeto
inclusive o “inativo pensar na morte”. É próprio que se chama angústia. A angústia
uma lástima, diz Heidegger, porque há na anuncia e prepara a renovação desse

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momento; sua certeza, seu caráter de pré- um convite e uma espera ativa do advento
ato assinalado por Freud (Erganzung zur desse ser, permite indicar “o recurso
Angst, em Hemmung, Symptom und verdadeiro e último da transferência em sua
Angst), fazem dela um indicador temporal relação com o desejo do psicanalista”,
fundamental, do que o neurótico, como uma relação essencialmente ligada ao
lamentavelmente, ignora o emprego. tempo e a seu manejo (Lacan, Écrits, p.
A experiência da descontinuidade 844).
temporal irreversível abarca vários “Manejar o tempo” soa
conceitos em psicanálise: o trauma, a pretensioso. E, no entanto, enquanto há
castração, a separação, o ato. De cada um tempo, seu manejo depende de nós. Por
deles podemos dizer diferentemente que mais reduzida que seja a margem de
nos afetam enquanto sujeito, o que neles escolha que nos resta, ali está nosso desejo,
nosso ser joga sua partida, sua realização, nesse lapso limitado pelo ato como
seu destino. Essa descontinuidade renovação do trauma original que marca o
irreversível, podemos padecê-la (sob a corpo, e a morte que apaga corpo, marca e
forma as repetição como sintoma), mas gozo. Por isso em psicanálise não tratamos
também podemos intervir na sua produção, tanto o neurótico somente como “ser
em ato, sem mais atraso. Entre o sujeito ao relativamente à morte”, mas como “ser
destempo da neurose, e o ser no tempo – o relativamente ao ato”.
ser no ato – a psicanálise se coloca como

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O evasivo do inconsciente e a certeza do parlêtre


Marc Strauss
Tradução: Elisa Fingermann

ara Dominique, Ainda assim, o que fiz eu para que


as coisas tenham acontecido dessa maneira?

C O tempo é realmente o que


me falta, o que faz com que
seja difícil lhe escrever,
como você me pediu, uma
preliminar sobre o assunto.
Não que eu tenha a
pretensão de achar que sou mais ocupado
Falhei ou não? Mesmo se hoje é evidente,
que eu não consegui agarrar esse instante
que passava, não foi por falta de vontade,
mas por ignorância, o que teria levado à
outra falha imperdoável. Sobre isso Freud,
que percorria incansavelmente os sutis
meandros dos romances familiares que se
do que outros, do que você, por exemplo, ofereciam a sua escuta.
que está encarregada da preparação desse Lacan: Tudo isso não nos leva
Encontro tão importante para o futuro de muito longe. Não mais longe do que
nossos Fóruns e Escola. Mas quando eu alimentar mais e mais o tema da falta com
digo que me falta tempo, é que ele me seu simulacro de processo no qual se
escapa e que eu não consigo pegá-lo de agitam juízes e advogados às ordens de um
volta. Portanto, como, a fortiori, escrever diretor de cena (“metteur en scène”) que se
algo sobre ele? atribui o papel do réu, então dito inocente,
Será que eu o perdi? Talvez eu o e de para seu maior conforto, por
tenha tido por algum tempo e o tenha acréscimo, mantido fora do jogo, à espera
deixado escapar, para o meu horror, sem de um veredicto sempre prorrogado. Se
me dar conta, ou sem medir o seu valor, existe uma tese que vale, é a da falta. Uma
senão eu teria prestado bem mais atenção... falta de estrutura, portanto, de gramática
Ah, juventude louca, cantava François primeiro.
Villon! Mas feliz juventude também, em É que a questão do "O que eu
que a urgência não era a mesma. Na época, faço?” só pode ser questionada de fato a
eu tinha pressa de acumular o máximo de partir de "O que eu fiz?, na qual o eu que
experiências, ao passo que hoje, é pouco o questiona já não é mais aquele que fez,
tempo que resta e que me apressa; e todo o senão na lembrança. E aquele que me
tempo, que eu já não tenho, que me responde não é mais aquele que fez, mas
oprime... aquele que se lembra mais ou menos, e
Mas, francamente, será que algum ainda por cima, sabe o que quer obter – ou
dia eu tive esse tempo? Quando eu era evitar - daquele que o interroga. Onde
jovem, não me parecia sensato deter-me estava eu, então, quando eu fazia ? E onde
sobre o fato do qual eu já tinha perdido o estou agora ?
bonde uma primeira vez. Tanto que esse Notemos, sem nos demorarmos
bonde podia ressurgir a qualquer instante e muito, que tudo isso vale também para o
por nada no mundo eu queria perdê-lo de "O que eu disse?", já que dizer é também
novo. Mesmo que fosse somente por conta fazer alguma coisa.
dessa terrível primeira vez, da qual eu tinha Assim, o tempo me divide, ou
muita dificuldade para me lembrar, mas que melhor, o tempo e a minha divisão são uma
sabia que não queria, sobretudo, vi vê-la única e mesma coisa. Podemos dizer com
outra vez. Lacan que estou dividido entre uma

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ausência pura e uma sensibilidade pura e Do instante de ver a cor


que o nome dessa divisão é o tempo. O simplesmente preta ou branca do disco dos
que sou então? Além, é claro, do que o outros dois prisioneiros ao instante de ver
outro me diz que eu fui, e que não é isso... o que é elidido, algo sempre já perdido; do
Lacan formulou uma resposta a tempo para compreender a aparição
partir de sua reflexão sobre o tempo, do desvanecente; da pressa de concluir ao
qual ele mostrou a estruturação lógica. Mas momento elusivo que não conclui: a
aqui não se trata da de 1945, desenvolvida diferença é grande, convenhamos, minha
em seu bem conhecido texto "O tempo cara Dominique.
lógico e a asserção da certeza antecipada", E quais são as conseqüências sobre
onde o sujeito encontra sua resposta ainda a concepção do sujeito, do sintoma, da
no outro, ainda que com a carga da pressa, condução da cura, até a sua conclusão,
e das suspensões que ela impõe. Trata-se você provavelmente me perguntará. Mas,
daquela que ele reformula no dia 29 de como se trata aqui apenas de uma
janeiro de 1964, na terceira lição de seu preliminar, eu te lembro, eu me contentarei
seminário Os quatro conceitos de lembrar que o ênfase colocada sobre o
fundamentais da Psicanálise, no qual ele evasivo do inconsciente por Lacan, o levou
chega à: "cingir uma estrutura temporal, da bem longe, à novas elaborações sobre o
qual podemos dizer que ela nunca foi, até real do objeto em jogo na psicanálise, já
agora, articulada como tal.”. que lhe era necessário, então, fundamentar
Mais ou menos vinte anos depois, a certeza do sujeito sobre outra coisa além
ele retoma, então a questão, de uma da cadeia da mensagem do Outro. O que
maneira que, não por acaso, ele assinala me permite te propor um título para esse
inédita. Lemos: "A aparição desvanecente bilhetinho, se você quiser um: "O evasivo
se dá entre dois pontos, o inicial e o do inconsciente e a certeza do parlêtre."
terminal, desse tempo lógico – entre esse
instante de ver, no qual alguma coisa é Se essas poucas observações confortam
sempre elidida, até mesmo perdida, da sua vontade de ir mais longe sobre essa
própria intuição e esse momento elusivo no questão tão singular do tempo na
qual, precisamente, a apreensão do psicanálise, nós poderemos fazê-lo daqui a
inconsciente não conclui, no qual sempre pouco juntos, em São Paulo. E na espera,
diz respeito a uma recuperação enganosa." eu nos desejo ainda interessantes trabalhos
E ele conclui: "Onticamente, então, o preliminares…
inconsciente, é o evasivo."
Marc

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A psicanálise em seu tempo


Christian Ingo Lenz Dunker
m grego temos três resquício de epos são aqueles que se sabem
expressões que podem exilados. São os velhos, as crianças, os

E igualmente ser traduzidas


por “palavra”: mithos, logos
e epos. Cada uma destas
expressões comporta uma
temporalidade diferente. O
mithos é a palavra sem
autoria, a palavra das origens imemoriais que
estrangeiros. São aqueles que praticam o que
Valéry chamou de profissões delirantes:
“aqueles que têm coragem de querer
claramente algo absurdo”. Sabe-se que se está
envelhecendo quando de repente começam a
sair de nossa boca expressões terríveis como:
“na minha época ...” ou “no meu tempo...”.
por ser de todos não é de ninguém. Mithos é Ou seja, uma época se apreende
algo que se diz além do dizente, de forma excentricamente. Como dizia S. Agostinho:
circular de tal forma que o que vem antes pode quando me perguntam o que é o tempo eu não
ser posterior ao que vem depois. É o ça parle sei, mas quando não me perguntam eu sei. Os
(Isso fala). Logos é outro tipo de palavra. velhos largaram esta estranha obsessão de
Palavra universal, palavra que supera o tempo pertencer ao próprio tempo, experimentam o
de sua própria enunciação. Palavra que possui tempo à distância. Assim como para as
uma lógica que aspira a verdade, em meio crianças o tempo, o seu tempo, funciona como
dizer. um horizonte. A frase de Lacan diz “Que antes
Epos, origem de termos como época, épico e renuncie a isto, portanto, quem não alcançar
epocal, refere-se ao relato e à narrativa. A em seu horizonte a subjetividade de sua
recitação do epos pode ser feita através de um época.”, ou seja, alcançar em seu horizonte,
discurso antigo e mesmo em uma língua não simplesmente pertencer à sua própria
arcaica ou estrangeira. Mas é um discurso época. Esta prudência com relação ao
indireto, entre aspas, que se apresenta não asenhoramento de seu próprio tempo parece
apenas para o coro, mas também para os depender do reconhecimento da opacidade do
espectadores. Tradicionalmente o epos refere- tempo.
se à origem de uma pessoa, comunidade ou Portanto, a psicanálise em seu tempo, não deve
grupo[1], mas segundo aquele que conta. Lacan resumir-se a saber se ela é filha da
critica a degradação destas duas formas de modernidade ou da pós modernidade, se ela
palavra na modernidade. Mithos, deixa de ser sobrevive ao fim das grandes narrativas ou se
uma palavra coletiva e passa ao mito individual inclui na sociedade do espetáculo. Se ela é
do neurótico. Logos deixa de ser ambição de herdeira das práticas de confissão e
verdade e passa a ser saber universal. Mithos e disciplinarização dos corpos ou se inclui como
logos parasitam epos de tal maneira que não uma forma de familiarismo repressivo,
podemos mais reconhecer o valor deste tipo de falocêntrico ou universalista. Se ela é uma
palavra. De certa maneira tudo virou epos. Por forma laica de religião ou uma técnica
isso pensar a psicanálise em seu tempo terapêutica ineficaz. Se ela fornece as bases
tornou-se uma tarefa tão simples quanto biológicas para uma possível neurociência ou
inexeqüível. os fundamentos lógicos de uma teoria da
Pensar o próprio tempo em que se está é, em cognição e da linguagem. Se ela é progressista
princípio, uma tarefa inexeqüível quando se ou conservadora. Tais debates são importantes
imagina tomar o epos como uma evidência. Os e caracterizam a posição da psicanálise em uma
únicos que são capazes de engendrar um época. Espera-se que deles se extraia um

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diagnóstico: será que a psicanálise cabe neste


tempo? Não estaríamos nós fora deste tempo, (b) Dizer que o que há de mais radical na
como casulos ou fósseis sociais de um psicanálise é que ela é atualizável. Ela aparece
experimento científico datado. aqui como uma Infant Terrible, o moleque
Tais debates presumem uma certa noção do travesso das ciências humanas, a única prática a
que vem a ser uma época e com isso uma altura da ação comunicativa (Habermas), o
economia própria do que é o tempo. O tempo reduto de uma estilística da existência
em que se está ou do qual se está excluído. Ao (Foucault). Ela é atualizável justamente porque
pressentir que a psicanálise é vítima de uma estava na frente na aurora da modernidade. Ela
obsolescência não programada estamos nos sempre foi profética: a papel da sexualidade, a
fazendo pertencer à nossa época. Época na crítica do funcionamento das massas, a
qual se vive em atraso e fora do tempo, o novo segregação inerente à expansão dos mercados
acontecendo em outro lugar. Mas ao pertencer comuns, o recuo diante das utopias e
a esta época, ao pertencer demais a esta época, planejamentos sociais.
deixamos de nos situar à partir de epos. A Digo que estas duas posições representam o
narrativa hegemônica desta questão identifica novo conservadorismo psicanalitico tanto por
nosso tempo ao que realmente está ironia ao fato de que já fazem cem anos que
acontecendo, ou seja, a tudo aquilo que é capaz ambas as soluções abundam a história da
de gerar ou de se apresentar como novo. Mas a psicanálise, quanto pelo fato de que ambas
obsessão pelo novo, como já se observou, aceitam tacitamente a tese de que nossa época
tornou-se uma velha obsessão. Entra em cena é tangível, imediatamente tangível: basta abrir
aqui o que chamo de o novo conservadorismo os jornais. Nisso ela está perfeitamente em
psicanalítico, ou seja, o argumento aqui é de acordo com nossa época, que se imagina
que é preciso cautela com relação às descrições transparente a si mesma, que as coisas
mais ou menos midiáticas de nossa época, realmente se conservam apesar de plenas de
prudência diante dos grandes diagnósticos mudanças. Ou seja, tanto uma quanto outra
massivos sobre a cultura, sobre a arte e sobre a confiam no retrato que recebem
ciência e sobre a sociedade. Isso é verdade, em desconhecendo uma das regras elementares do
uma época marcada pela sensação de que há funcionamento narcísico: entre o retrato e
um grande evento em curso, em algum lugar aquele que pretende nele se enxergar há
ocorre uma grande festa, da qual estamos sempre um lugar terceiro. Lugar para o qual
sempre em atraso ou exclusão. Há duas concorremos para produzir em soberano
estratégias mais simples, eu diria reativas diante desconhecimento e ignorância. Enquanto nos
deste mal estar: medimos no retrato, procurando o melhor
perfil e ajustando nossa posição esquecemos
(a) Dizer que o que há de mais radical na que nossa época foi produzida, como fato
psicanálise é que ela contenta-se em simbólico e discursivo, também pela
permanecer como é: como uma Velha psicanálise. Portanto a psicanálise está
Senhora. Ela afirma o valor da experiência perfeitamente em acordo com esta época,
contra a vivência, a importância do desejo simplesmente porque ela contribuiu para
contra a depressão, a importância da lei contra produzi-la. A questão é saber se ela poderá sair
o gozo, a força da ética contra o mundo da de sua própria época para poder reencontrá-la.
técnica, do tempo longo de uma análise contra ----------------------------------------------------------
a rapidez da cura dos homens feitos ás pressas. NOTAS:
A prova disso é que ela sobreviveu apesar de [1] Lacan, J. – Função e Campo da Fala e da Linguagem
em Psicanálise.
seu anacronismo.

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O inconsciente e(é) o tempo


Sidi Askofaré
Tradução: Paulo Marcos Rona

tempo falta, repete-se à quais o evento permanece latente no sujeito.


porfia. Ora, é necessário Quer dizer que ele anula os tempos de

O tempo, muito tempo para


pensar a psicanálise em seu
tempo e o tempo na
psicanálise.
Do tempo
psicanálise, há, parece,
pouco a dizer hoje em dia, de tanto que o
na
compreender em prol dos momentos de
concluir, que precipitam a meditação do
sujeito em direção ao sentido a ser decidido
do evento original” (Escritos, p. 258).
Passemos sobre o fato de “que ao
ente, é necessário o tempo de se fazer a ser”,
e o fato de que é necessário de tempo para
tema foi medido e balizado. Estamos longe, que Wo es war, soll ich werden.
com efeito, do tempo no qual nos sentíamos A psicanálise é concernida pelo
encerrados no paradoxo aparente que nos tempo também enquanto tempo histórico, ao
fazia dizer, de uma parte, com Freud, que “o menos porque os discursos que ela entra na
inconsciente não conhece o tempo” e, de roda – fundamentais ou não, os discursos da
outra parte, com Lacan, que ele se manifesta ciência e do capitalismo tendo seus preços –
segundo uma “pulsação temporal”. A e, sobretudo os sujeitos em sofrimento que a
oposição é, de saída, fecunda, já que ela faz ela se endereçam trazem deles a marca. Seria
aparecer que Freud trata das propriedades de possível esquecer que é no momento mesmo
um inconsciente-sistema, lá onde Lacan no qual Lacan enlaça pela primeira vez o “fim
convoca principalmente, senão da análise didática” ao “engajamento do
exclusivamente, o inconsciente tal como ele sujeito em sua prática” que ele adverte, a
se desdobra no processo da cura analítica. Do propósito da função do analista: “Que antes
mesmo modo, mesmo retomando a tese renuncie a isto, portanto, quem não alcançar
freudiana, é evidente que a ignorância do em seu horizonte a subjetividade de sua
tempo pelo inconsciente não implica que o época”?
tempo não seja assunto da psicanálise. No plano ético, em seguida.
Ora, o tempo concerne a psicanálise a A psicanálise, sabemos, deve muito,
três títulos. senão tudo à ciência, que é, ao mesmo tempo
No plano clínico, em primeiro lugar. a provedora do sujeito sobre o qual ela opera,
Com efeito, não foi o menor mérito de Freud sua condição epistêmica e, por suas
ter concebido, para capturar o “intemporal” conseqüências – Kant -, sua condição ética.
do inconsciente-linguagem, esse engenhoso Resta que ela não poderia, sem se dissolver
dispositivo fundado não somente na palavra como prática e como discurso, seguir a
– desenrolar e colocação em função temporal ciência em seu rebaixamento da vida humana
da linguagem – como também o manejo do à pura vida biológica. Que uma vida tenha
tempo como variável na transferência. Não sua qualificação de humana de sua apreensão
sem excesso, além do mais, às vezes, como e de seu desenrolar na linguagem está de
Lacan o notava a justo título a propósito da acordo muito bem com a máxima de
cura do Homem dos Lobos: “Bem mais com Sócrates: “Uma vida não examinada não é
uma ousadia que toca a desenvoltura, ele digna de ser vivida”. O exame socrático não é
declara considerar legítimo elidir na análise o exame analítico; todos os dois requerem,
dos processos os intervalos de tempo nos no entanto, a linguagem e o tempo, a

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colocação em discurso e mesmo a colocação do Outro (diacronia), o inconsciente como


em narrativa. Para a psicanálise, esse tempo história. De sorte que a a-temporalidade
oscilou entre duração e fulguração. Ele pode freudiana do inconsciente não poderia querer
tomar a figura das curas curtas com sessões dizer senão uma única coisa: o caráter não
longas, porque orientadas pela pesquisa do alterável de seus conteúdos, se estamos de
sentido e a busca da verdade; ele pode acordo com Heidegger em dizer que “o
também tomar aquelas das curas longas com tempo se encontra primeiro no ente que se
sessões curtas porque visando o ato e modifica. A alteração está no tempo”. O que,
orientadas ao real. aplicado ao inconsciente, Lacan traduzirá e
Permanece, nos dois casos, que não reduzirá a um sóbrio “indestrutibilidade de
se trata jamais de “viver para contar”, certos desejos” (Escritos, p. 581).
segundo o belo título das Memórias de E por uma razão evidente: se a
Gabriel Garcia Marques, mas de afinidade e a congruência desta tese com o
hystoricizar[1] sua vida ordenando-a não inconsciente freudiano parecem evidentes, ela
conforme o tempo do universo da precisão – se torna ao menos problemática desde que o
tempo da ciência e igualmente do capitalismo inconsciente se torna lacaniano, quer dizer,
-, mas segundo a “palavra que dura”, e que dá real: “do inconsciente (que só é o que se crê –
razão da operação propriamente digo: o inconsciente, seja, o real – caso se
hystoricizante[2] que somente uma acredite em mim)” (Outros escritos, p. 567).
psicanálise torna efetiva; “O que se realiza em Com efeito, como excluir o tempo do
minha história não é o passado simples conceito de inconsciente quando esse último,
daquilo que foi, uma vez que ele já não é, inclusive em Freud, além do mais, é
nem tampouco o perfeito composto do que indissoluvelmente memória, programa e
tem sido naquilo que sou, mas o futuro princípio de repetição? Não seria necessário,
anterior do que terei sido para aquilo em que ao contrário, chegar a dizer que o
me estou transformando” (Escritos, p. inconsciente é obra do tempo, ou mesmo que
301)[3]. o inconsciente é o tempo?
No plano da estrutura, enfim, se nós --------------------------------------------------------
a “desestruturalizamos” é para não guardar NOTAS:
dela senão sua épura: a linguagem. É o [1] (N.T.) Jogo de palavra entre histeria (gr. hysteros) e
história.
princípio da solução lacaniana à questão do [2] Idem 1.
tempo, e sabe-se que ela é o ponto de partida. [3] (N. T.) A citação no original no texto, incompleta,
Ela se efetua finalmente, esta solução, na é “Ce qui se réalise dans mon histoire, n’est pas le
oposição finalmente muito simples entre o passé défini de ce qui a été dans ce que je suis, mais le
inconsciente como lugar do Outro – futur antérieur de ce (que) j’aurai été pour ce que je
suis en train de devenir” (Écrits, p. 300)
sincronia – e o inconsciente como discurso

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Tempo: lógica e sentimento


Sol Aparício
Tradução: Paulo Marcos Rona

Tenho muita tristeza desde que para os corpos falantes. E, no entanto, a


minha avó morreu”. experiência analítica é bem aquela da

“ instante
Preocupada quanto a
situar o evento no tempo,
perguntei quando essa morte
havia ocorrido, para no mesmo
ouvir responder:
“recentemente há muito tempo”.
Essa breve troca, tendo sido várias
insistência sempre presente daquilo que
permanece, não modificado, desabitado do
tempo, que o tempo não poderia prender.
Percebe-se então a pertinência desse
comentário de Lacan a propósito da
repetição: “a função-tempo é aqui de ordem
lógica, e ligada a uma colocação em forma
vezes repetida no curso das entrevistas que se significante do real”. Habitar o tempo é se
seguiram, adquiriu para mim o valor de uma prestar a essa colocação em forma. É o caso
verdadeira pequena comédia cujo efeito na análise. Qualquer que seja o real com o
cômico parecia-me responder à inadequação qual o sujeito tenha a ver, a regra analítica o
da pergunta colocada. submete à tarefa de sua colocação em forma
Sem dúvida não havia para mim nada significante, de sua submissão ao tempo do
a ouvir ali senão esse dizer fazendo evento da discurso.
morte da avó para essa mulher. Daí os bruscos surgimentos, no curso
A liberdade que ela parecia se da análise, não tanto de um sentimento do
conceder frente aos imperativos de ordem tempo, quanto de uma consciência súbita de
lógica, aos quais a “alfabestização”[1] sua existência.
submete os seres falantes desde sua tenra O sentimento do tempo do qual fala
idade, havia me deixado perplexa. Somente o poeta é aquele do tempo que passa.
mais tarde esse “recentemente há muito Sentimento frequentemente melancólico,
tempo” – figura de estilo singular, marcado de remorsos e recriminações.
simultaneamente elipse e antítese, como Algumas vezes, antes, tingido de angústia. Ele
também holófrase -, acabou enfim por sempre supõe a antecipação, a retroação, a
ressoar como uma frase no estilo de rememoração, ou, dito de outra maneira, a
Novarina[2]: “recentemente (diz a tristeza estrutura da memória freudiana.
que experimento) há muito tempo (diz você, É necessário portanto distinguir esse
você que mora no tempo)”. sentimento que torna, por certo, o tempo
Ora, o que era essa intervenção senão presente, das ocasiões de realização do tempo
um chamado ou lembrança[3] do tempo, nos quais o efeito de desejo é evidente.
quer dizer, do discurso? Pensemos nesses momentos nos quais surgiu
Morar no tempo, não é isso próprio a idéia de um termo, freqüentemente sob a
de todo sujeito falante desde que o tempo, figura da morte.
como queria Kant, antes de ser um dado da “Se devo morrer, melhor que me
experiência, é uma forma a priori de nossa desperte”, diz um analisante perdido em seus
compreensão? Anterioridade da lógica em temores hipocondríacos. Vem-lhe então
relação ao vivido. Universalidade da categoria como num relâmpago: “Que perda de tempo,
à qual ninguém escapa. a neurose!”
Não haveria, portanto, falando Para um outro, saído de uma doença
propriamente, o “fora do tempo” possível grave, depois de longos anos de análise, isso

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se formula em um voto urgente de “passar a mesmo, se ele estiver à altura de apreender


Outra coisa”. Pressa de passar ao ato, nela a estrutura lógica na qual ele mesmo se
diríamos, de abreviar o gozo do sintoma. encontra tomado. Quer dizer, de localizar os
Presença súbita do desejo, para o qual, como instantes de ver, de respeitar os tempos de
dizia Blanchot, “o fazer tem primazia sobre o compreender e de reconhecer os momentos
ser”. de concluir que não advêem sem ele.
O discurso analítico que, aos olhos do --------------------------------------------------------
profano, parece desdenhar o tempo, introduz NOTAS:
de fato o sujeito à sua tomada em conta. [1] (N.T.) alphabêtization, no original, apresentando
uma corruptela da palavra alphabétization
Tomada em conta que constitui, além do (alfabetização) pela inclusão da sonoridade de bête
mais, a condição de possibilidade de um viver (bobo).
em seu tempo. [2] (N.T.) Valère Novarina, autor dramático
Como consegue isso? Pelo desvio de contemporâneo francês, autor, dentre outras peças de
sua submissão ao tempo do sujeito, tempo “Vous qui habitez le temps”.
[3] (N.T) (r)appel, no original. Não encontrando uma
que em si só determina a duração única palavra que pudesse expressar o duplo sentido
incompressível de seu percurso. Que essa que a inclusão de uma letra provoca no francês, optou-
duração não possa ser antecipada não quer se por incluir os dois através de duas palavras.
dizer que o analista a ignore. Ao contrário

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O tempo do analista
Ana Martínez Westerhausen
Tradução: Luis Guilherme Mola

os tempos atuais, tão psicanálise seja o que mais convenha ao


pouco inclinados ao discurso analítico.

N reconhecimento

parece necessário cuidar


da função do analista,
para que dure, para que
não definhe, para que não se transforme
e
consideração pelo sujeito
do inconsciente, me
Ella Sharpe, citada por Lacan em A
direção do tratamento, escreve em O
analista.Requisitos essenciais para a
aquisição da técnica, o seguinte: “O
trabalho do analista é ver o inconsciente
em ação. Por essa razão, o analista necessita
às vezes afastar-se de sua tarefa e
em algo indesejável ou insuportável. Pois, abandonar o tema do inconsciente em sua
se é bem certo que Lacan manifestou, vida diária e na de seus próximos, onde
explicitamente e com razões vale a totalidade de sua personalidade. O
fundamentadas, que podia prescindir dos pensamento, a arte, a literatura, as relações
psicanalistas, mas não da psicanálise, não é de amizade, o psicanalista necessita ver e
menos certo que não pode haver discurso viver a vida como uma totalidade, como
psicanalítico sem analistas atravessados um corretivo do ângulo especial que exige
pelo desejo do psicanalista. É por isso que seu trabalho.”
uma reflexão sobre o tempo do analista Em uma segunda instância, “o
parece oportuna. tempo do analista” pode ser tomado desde
A que nos referimos com o a perspectiva do uso ou manejo do tempo
sintagma “tempo do analista”? que cada analista faz na direção de uma
Em primeira instância à cura analítica.
administração do tempo real de que dispõe Dentro dessa concepção me
o analista. Entre colegas freqüentemente se interessa destacar o contraste que se
escuta dizer “estou esgotado...não paro.não descobre no ensino de Lacan entre, de um
me resta nem um minuto para os meus lado, a teorização e promoção das sessões
assuntos etc.”, o que evoca o analista hiper- curtas, baseando-se em que a anulação dos
ocupado, que consome quase todo seu “tempos de compreender” em favor dos
tempo em atividades psicanalíticas: “momentos de concluir”, “...precipita a
atendimento de pacientes, docência, tarefas meditação do sujeito em direção ao sentido
institucionais etc., e que no entanto resiste que há de decidir-se do acontecimento
a recusar novas demandas e ofertas que lhe original” (1954, Função e campo da palavra
exigem ainda mais tempo. Analista viciado e da linguagem). E, por outro lado, a
em psicanálise? Analista que, tomado pelo capacidade de espera, necessária ao analista
discurso capitalista, não pode deixar de para sustentar a dimensão de objeto. Pois,
produzir? Analista onipotente? como é sabido, há ocasiões em que é
Estamos acostumados a responder necessário um longo silêncio para que
que é a causa analítica que determina o uso emerja a presença do analista,
que damos ao tempo de que dispomos, acompanhada muitas vezes do afeto de
como se isso desse uma garantia maior à angústia.
existência do desejo do analista. Mas nada Se a sessão curta remete ao corte da
implica que a dedicação exclusiva à sessão, e portanto a um recorte de tempo

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decidido pelo analista, favorecer a Por outro lado, se o tempo lógico


emergência da angústia implica, muitas surge do tempo da rememoração, e por
vezes, capacidade de espera e de não isso dentro do marco do simbólico, o
intervenção, dar tempo ao sujeito para que tempo de espera surge da experiência da
se manifeste a presença efetiva do desejo angústia, isto é da incursão dentro do
em sua face mais real. registro do real.
Parafraseando a expressão de Lacan Assim pois, se pode concluir que ao
“A arte de escutar quase equivale a do bem analista convém ter ritmo e saber dançar
dizer” (Seminário XI cap.X A presença do tanto lenta quanto rapidamente, enlaçando-
analista),, poderíamos formular que “a arte se com seu parceiro-analisante, para em
de esperar equivale quase a do bem fazer”, alguns momentos conduzi-lo no baile e em
de onde se conclui que um ato pode outros deixar-se levar por ele.
ocorrer paradoxalmente sem ação, assim
como um discurso pode sê-lo sem palavras.

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Après-Coup
Guy Clastres
Tradução de Sylvana Clastres

preciso dar a Cesar o que é Desta forma, o sonho do « Homem


de Cesar, e à Deus o que é dos Lobos » é o próprio olhar do homem

E de Deus.
Façamos nossas as
palavras do Evangelho e
saibamos dar a Lacan, o
que nós lhe devemos.
Saibamos reconhecer o seu
imenso mérito em ter sabido extrair dos
dos lobos que fica para sempre fascinado
pelo real sobre o qual ele se fixa: é o seu
mais de gozo.
Lacan soube ler Freud no après-
coup e soube dar ao « nachtraglich »
freudiano sua importância topológica, tal
como ela foi posta em ato na escrita do
textos de Freud o « nachtraglich », ter vetor retroativo da representação gráfica do
sabido tirar deles as conseqüências texto: « Subversão do sujeito e dialética do
doutrinais referentes ao sujeito e a sua desejo ».
topologia. É a partir desse momento que
Porém, não esqueceremos a Lacan vai materializar na banda de Mœbius
interpretação magistral de Freud sobre a o corte do sujeito em si. É preciso um
neurose infantil do « Homem dos Lobos », tempo para que se faça no après-coup, o
interpretação esta que diz respeito, corte/a separação subjetiva da banda. E
sobretudo, ao lugar e à função do famoso cada psicanalista pode reencontrar neste «
sonho. après-coup » o encadeamento significante
Todos se lembram do desenho feito no qual o avesso e o direito da banda
pelo « Homem dos lobos », já que sua inscrevem o saber e a verdade segundo
reprodução continua a ser vendida na casa uma estrutura onde em que o não-todo (le
em que Freud terminou seus dias em pas-tout) tem o controle.
Londres.
Lembremos o pós Freud, que é o
sonho que exerce uma função traumática
neste caso, já que ele oculta na cadeia de
sua formação significante o traço/a marca
do encontro originário com o gozo - o
gozo da famosa cena primitiva, que não é
senão uma reconstrução do real suposto
por Freud a partir de sua interpretação dos
sonhos.
Este sonho encerra, portanto, um
real, e é este real que Lacan, no après-coup
da leitura de Freud, vai situar dando-lhe sua
verdadeira interpretação, interpretação esta
que Freud, por uma questão de tempo, não
podia produzir, mas que estava ao alcance
de Lacan que, de certa forma, tinha sabido
fazer emergir e, em alguma medida, extrair
o olhar como objeto “pequeno a”.

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PLENÁRIAS

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O “tempo” de uma análise.


Dominique Fingermann
O “Tempo” em música é o que produz, em ato, no final das contas, o
movimento característico limite, a conclusão, fazendo da “série

1. com o qual se executa uma


obra musical, é o seu ritmo,
o seu “andamento”. Os
movimentos [adágio,
andante, moderato.] são
definidos pela duração de
uma nota batida certo
infinita dos ditos uma seqüência finita” (C.S.)
. Por isso “Il faut le temps” um tempo é
necessário, para extrair do tempo que passa o
tempo que falta e o transformar no tempo
que resta.
A temporalidade peculiar e necessária de uma
análise permite passar de um tempo perdido
número de vezes por minuto. É essa até o tempo encontrado. Não o tempo “re-
distribuição de uma duração em uma encontrado”, isto é, o tempo que se encontra
seqüência de intervalos regulares, tornados numa análise não é o tempo da busca do
sensíveis pelo retorno periódico de algum tempo perdido, é o tempo encontrado
marco que produz o ritmo de uma seqüência enquanto encontro com o Real, é o tempo
musical. achado, com o qual a gente “topa” como
Por extensão o « Tempo » é o ritmo do “trouvaille”.
desenrolamento de uma ação (filme, obra 2-Desde o início, desde as entrevistas
literária) do começo ao fim. Com seqüências preliminares, uma análise revela uma estranha
melódicas, pausas, arranjos harmônicos temporalidade. Embora a fala, que se
[simultâneos], disposição regular de tempos desdobra e se descobre aí quase que
fortes, contratempos e contrapontos, imediatamente, tenha uma estrutura temporal
repartição dos acentos, e cesuras, o ritmo faz diacrônica e esteja se desenvolvendo na
a obra. O “tempo”, o andamento faz a obra forma linear da sucessividade, desde as
ao explorar e atravessar as suas possíveis primeiras voltas nos ditos, abre-se uma
modulações via repartição de temporalidade atordoante para quem chega
descontinuidade, num fluxo contínuo. Essa desprevenido e fica aturdido. Um tempo
cadência, repartição da descontinuidade no “sem pé nem cabeça”, se inaugura aí, já que
fluxo contínuo (de sons, imagens, nessa ficção que artificia a verdade do sujeito,
significantes) recorta instantes, distribuindo o presente se anuncia atropelado por um
silêncios e evidenciando seqüências, parece futuro suposto, formatado por um passado
produzir a efetivação, progressiva e hipotético que nunca foi. Muitas vezes, nessa
irremediável, do ponto de conclusão. Passado estranha temporalidade, reminiscências,
desse ponto, qualquer musica seria litania novela familiar, sintoma, repetição traumática
fastidiosa. parecem dar notícias de um tempo que não
Da mesma forma o andamento de uma passa.
análise do começo até o fim resulta do seu O tempo do chronos – que devora sua cria:
“tempo”, recortando instantes que isolam os instantes evanescentes, à medida em que
seqüências, que produzem conseqüências. O eles nascem - não é suficiente para explicar
“Tempo”, conduzido pela batuta do desejo do essa temporalidade que Freud descobriu no
analista, produz o tempo de uma análise, a fundamento e no funcionamento dos
medida de sua duração. processos inconscientes, intemporais -diz
A cadência da entrada do analista – nos ditos ele . É que os traços mnêmicos inscrevem
do sujeito - condiciona uma descontinuidade algo que não tem registro – a vivência real.

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As “formações do inconsciente”, retorno do momento de concluir da análise: o ato do


recalcado, não cessam de escrever, essa falha analisante.
na origem que não cessa, de não se inscrever. Como? Como o manejo pelo desejo do
Em 1932, nas Novas Conferências, Freud analista do instante do corte na sessão,
aponta para a incidência da clínica como a produção do instante do corte causa
psicanalítica sobre essa, supostamente a duração da análise como finita e não
inegável, intemporalidade. O progresso na infinita? A medida de uma análise, o seu
clínica psicanalítica não pode se reduzir à tempo, a sua finitude depende da marcação
leitura e à descoberta do desejo indestrutível, do “tempo” pelos cortes das sessões. Uma
mas, como aponta e aposta Freud nessa análise não se mede em anos, nem horas nem
conferência, uma análise deve conduzir um minutos: a sua medida é o corte. Quantos
sujeito a outra vivência do tempo que passa. cortes sua análise durou? (donde a
Curiosamente, ele lamenta, então não ter importância da freqüência das sessões que
explorado melhor essa característica do acolhe a alternância sessão –corte- intervalo).
inconsciente, na teoria e, conseqüentemente, O ato “fait d´une pierre deux coups”, causa
na clínica: “Muitíssimas vezes, tive a impressão de efeitos de sujeito: surpreende,evidencia e
que temos feito muito pouco uso teórico desse fato, esvazia a suposição do sujeito no Outro e, ao
estabelecido além de qualquer dúvida, da mesmo tempo, surpreende e evidencia o
inalterabilidade do reprimido com o passar do tempo. sujeito como resposta do real.
Isto parece oferecer um acesso às mais profundas 4- O analista, todas as vezes, corta as
descobertas. E, infelizmente, eu próprio não fiz sessões que sejam de tempo variável ou
qualquer progresso nessa parte.” sessão curtas ( tema de nossos debates), é
3- Onde Freud descobre a intemporalidade, imprevisível: é responsabilidade intempestiva
Lacan produz a a-temporalidade, que ele põe do ato analítico. Ao suspender a
em função na direção da cura como “tempo continuidade, isola-se uma seqüência na qual
lógico”. O desenvolvimento de seu ensino pode ser lida uma suposição do sujeito. O
explicita que não é o passado que estorva e que se ouviu? O que foi dito? 1,2,3? Ou
atravanca o presente, é o Real, uma falha na 21.34? Ou 5, 8. 13? Em que ponto eu parei
origem que constrange o sujeito à repetição e mesmo? 8,13,21!! 144? Não entendi! Não fez
às declinações infinitas de sua falta a ser. A nenhum sentido para mim a sua interrupção
estrutura do significante precipita o sujeito no da minha última sessão! 0,0,1? É isso?
tempo lógico de antecipação/retroação que o Reconhecemos nessas seqüências trechos de
faz se produzir/ se parir/ se causar, a partir uma série de Fibonacci, uma série matemática
da função negativa que sua afirmação pelo infinita na qual cada elemento é construído a
significante do Outro inscreve. A estrutura partir da soma dos dois números
do significante inaugura um tempo perdido precedentes, é simples como princípio de
nunca acontecido – terei sido – tempo real recorrência, mas quando se escuta esses
que a repetição não cessa de inscrever. trechos, é necessário um tempo antes de
Onde isso era - repetição - Lacan faz advir o poder concluir o tempo que falta, o cálculo
ato como descontinuidade no sentido da do intervalo entre um e outro
neurose. É no ponto mesmo da Um tempo sempre faz falta para o sujeito e
“inalterabilidade do reprimido” que ele insere o ele sempre tenta resgatar o tempo perdido na
tempo lógico, produtor do momento de sua demanda, no seu blabla, na sua suposição
concluir, intrusão do analista e de seu naipe de um Outro. A associação livre,
(silêncio, voz, presença, corte) que orienta e aparentemente linear desenrola, na diacronia,
conduz a análise até sua conclusão. É assim o que a sincronia do instante de ver
que podemos apreender como o ato do apreendeu: “falta o tempo”. A estrutura
analista produz no final das contas o própria da fala desenrola nos ditos as

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conseqüências do dizer, desdobra, estica, causadores, como causação do sujeito. A


infla, pinça,desinfla, costura e recorta o atualidade do analista, o seu a-tempo tem
espaço topológico da estrutura do sujeito, uma incidência clínica na intemporalidade do
tornando patentes suas descontinuidades, sujeito do inconsciente.2 O ato analítico
seus furos, suas vizinhanças. "A topologia de produz, extrai, da repetição, essa outra
nossa prática do dizer". Pouco a pouco, as dimensão do tempo, conhecida pela filosofia
voltas dos ditos, contornando o oco da da Grécia e até na China: o Kairos, “o
demanda, configuram e exibem o espaço momento oportuno”.
topológico da neurose: um toro, logo No Fim, o Momento de Concluir é ato do
apreensível como enodado com outro toro Analisante. O momento de concluir
do qual ele preenche e escamoteia o furo interrompe a diacronia da associação livre,
estrutural. Esse toro do sujeito neurótico interrompe, insuccès de l´une bévue, A
enlaçado com o toro do Outro é o enredo interrupção da sua sucessão é da ordem do
principal da novela familiar, moldada pela ato que se faz sem o saber suposto ao Outro
fantasia fundamental. A novela familiar gira e produz a sua suspensão. “vamos
em torno de uma volta não contada – falha suspender!”
na suas contas dos ditos que o étourdi – o No fim é momento de concluir que a
avoado – vai atribuir ao Outro, ligando sua indecidibilidade da partida se transforma
falta-a-ser à falta – falha - pecado do Outro e, numa carta na mão do analisante – não o
daí, sua suposição de que o seu tempo “mico preto”, carta da impotência que
perdido está no saber do Outro. Como estorva o jogo e impede a partida (separação),
demonstra Lacan no seu texto L´Etourdi”, é mas a carta que chega a seu destino na forma
o corte do analista na série infinita da de uma letra.
associação livre, nas voltas dos ditos, que faz Quanto tempo necessário para chegar ao fim!
aparecer o “tempo“ da neurose, e suspende « Ce n´est qu´après un long détour que peut advenir
por um tempo a sua razão fantasmática: pour le sujet le savoir de son rejet originel »
”vamos suspender!” Mas ainda falta um tempo, até que o
A interrupção produz o corte mediano da « tempo » do analista produza, à medida de
fita de Moebius, realiza o dizer que não está seus golpes, a espera, ou seja, a falha no
nos ditos- Que se diga permanece esquecido tempo do Outro onde o sujeito é flagrado
atrás do que se diz no que se ouve. Mas de como resposta do real : « Il faut le temps pour
novo, na seqüência a esse dizer, por definição faire trace de ce qui a défailli á s´avérer d´abord. »
fora do sentido, será atribuído um sentido,
cujo segredo está alojado no Outro e sua leis:
8,13,21....34! Vamos suspender!
Quantas vezes se interrompe a suposição de
saber no Outro para que caia a ficha da sua
inconsistência?
O desejo do analista que suporta o corte da
sessão valida o intervalo, como instância do
dizer. « C´est parce que le désir de l´analyste suscite
en moi la dimension de l´attente que je suis pris dans
l´efficace de l´analyse. » 1
O analista em ato – actualy- suscitando a
dimensão da espera faz valer as
intermitências – os interditos como

1 Lacan J. Seminário 10 – p. 180 2 Se o inconsciente é intemporal, o analista é actual

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Le tempo d’une analyse.

Dominique Fingermann

Le tempo en instants, isole des séquences, et de ce fait


musique c´est le produit des conséquences. Le « tempo »

1.
«andamento ». Les
mouvement
caractéristique
selon lequel une
oeuvre musicale
est executée, c´est
son rythme son
mouvements [
conduit para la mesure du désir de
l´analyste produit le temps d´une analyse,
donne la mesure de sa durée.
La cadence de l´entrée de l´analyste dans
les dits du sujet conditionne une
discontinuité qui produit ,en acte, au bout
du compte, la limite, la conclusion qui fait «
adagio,andante, moderato] sont définis par de la série infinie des dits une séquence
la durée d´une note battue un certain finie »( Colette Soler)
nombre de fois par minute. C´est cette C´est pour cela qu´ « il faut le temps, »,
distribution de la durée dans une séquence un temps est nécessaire pour extraire du
d´intervalles réguliers, rendue sensible par le temps qui passe le temps qui manque et y
retour périodique d´un certain trait qui produire le temps qui reste.
produit le rythme d´une séquence musicale. La temporalité particulière d´une analyse
Par extension, le « tempo » est le rythme permet de passer d´un temps perdu, au
du déroulement d´une action ( film, oeuvre temps trouvé. Pas le temps re-trouvé, le
littéraire) du début á la fin. Avec des temps que l´on rencontre dans une analyse
séquences mélodiques( succession),des n´est pas le temps de la recherche du temps
pauses, des harmonies (simultanéité), la perdu, c´est le temps trouvé en tant que
disposition régulières de temps forts, rencontre du Réel sur lequel on bute et avec
contretemps e contrepoints, la répartition lequel on tope : une trouvaille.
des accents, et des césures, le rythme fait 2- Dés le début ,dès le entretiens
l´oeuvre. Le « Tempo » fait l´oeuvre car il préliminaires une analyse révèle une étrange
permet d´explorer et de traverser ses temporalité. Bien que la parole qui se
multiples possibles modulations, par déroule et se découvre là, presque
l´intermédiaire de la répartition de la immédiatement, ait une structure temporelle
discontinuité dans un flux continu. La diachronique et se développe selon la forme
cadence, répartition de la discontinuité dans linéaire de la succession, dès les premiers
un flux continu ( de sons, images, tours dans les dits, s´inaugure une
signifiants) recoupe des instants, distribue temporalité étourdissante pour celui qui
les silences, met en évidence des séquences, arrive désavisé... C´est un temps sans dessus
et semble produire l´effectuation dessous qui s´inaugure, puisque dans cette
progressive et irrémédiable du point de fiction qui met en scène l´artifice de la
conclusion. Si l´on dépasse ce point de vérité du sujet, le présent s´annonce
chute n´importe quelle musique devient toujours bousculé par un futur supposé, et
lithanie fastidieuse ou ritournelle. formaté para un passé hypothétique que n´a
De la même manière, le parcours « jamais réellement été. Très souvent dans
andamento » d´une analyse du début à la fin cette étrange temporalité, des
résulte du « tempo » qui recoupe les réminiscences, le roman familial, les

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symptômes, la répétition traumatique par le biais du signifiant de l´Autre inscrit.


semblent nous donner des nouvelles d´un La structure du signifiant inaugure un temps
temps qui ne passe pas. Le temps du perdu, qui ne s´est jamais vraiment passé et
chronos, qui dévore ses créatures,les ne passera jamais- j´aurai été- temps réel
instants évanescents au fur et à mesure que la répétition ne cesse jamais d´écrire.
qu´ils naissent n´est pas suffisant pour Où ça était la répétiiton, Lacan fait
expliquer cette temporalité que Freud advenir l´acte en tant que discontinuité au
découvrit au pricipe du fonctionnement des coeur du sens de la névrose. C´est au point
processus inconscients, intemporels dit-il . même de « l´inaltérabilité du refoulé » qu´il
De fait les traces mnésiques inscrivent insère le temps logique, c´est à dire,
quelque chose que n´a pas de registre – le producteur du temps pour conclure, en
vécu réel. Les formations de l´inconscient, dépit, du bon sens, intrusion de l´analyste
le retour du refoulé, ne cesse pas d´écrire, et de ses cartes( silence-voix-présence-
cette faille à l´origine qui ne cesse pas, de ne coupure) qui oriente et conduit l´analyse
pas s´écrire. En !932, dans ses « Nouvelles jusqu´à sa conclusion . C´est ainsi que nous
Conférences » Freud souligne l´incidence de pouvons saisir comment l´acte de
la clinique analytique sur cette soi disant l´analyste produit au bout du compte le
intemporalité. Le progrés dans la clinique moment de conclure del´analyse, c´est À
analytique ne peut se réduire à la lecture et à dire l´acte de l´analysant
la découverte du désir indestructible, mais Comment ? comment le maniement par
comme l´avance Freud dans cette le désir de l´analyste de la coupure de la
conférence, une analyse doit conduire le séance, comment la production de l´instant
sujet á un autre vécu du temps qui passe. Il de la coupure, cause la durée de l´analyse en
regrette alors curieusement de ne pas avoir tant que finie et non infinie ?
exploré et exploité davantage cette La mesure d´une analyse, son temps, sa
caractéristique de l´inconscient, pour la finitude dépend de la cadence, pulsation, du
théorie, et en conséquence pour la clinique : « Tempo » du fait de l´interruption des
« J´eu très souvent l´impression que nous séances. Une analyse ne se mesure pas en
avons fait très peu fait d´usage théorique de année, ni heure ni minutes : sa mesure c´est
ce fait établi de l´inalterabilité du refoulé en la coupure. Combien de suspension de
dépit du passage du temps. Cela semble séance ton analyse a-t-elle duré? D´où
nous offrir un accés aux plus profondes l´importance cruciale de la fréquence des
découvertes et malheureusement je n´ai moi séances qui recueille l´alternance séance-
même fait aucun progrès à ce sujet ». coupure- intervalle. L`acte fait d´une pierre
3- Là où Freud découvre l´intemporalité, deux coups, il cause des effets de sujet :
Lacan produit l´a- temporalité qu´il met en surprend, met en évidence, et vide la
fonction dans la direction de la cure comme supposition du sujet suspendu à l´Autre et
« temps logique ». Le développement de dans le même temps surprend et met en
son propre enseignement explicite que ce relief le sujet comme réponse du réel.
n´est pas le passé qui encombre et 4-L´analyste, à chaque fois, coupe la
embarrasse le présent, c´est le Réel, une parole, coupe la séance, qu´elle soit de
faille d´origine qui contraint le sujet à la temps variable, ou séance courte( thème de
répétition et à la déclinaison infinie de son nos débats), c´est imprévisible, c´est la
manque à être. La structure du signifiant responsabilité de l´acte analytique. Quand
précipite le sujet dans le temps logique de on suspend la continuité, on isole une
l´anticipation/rétroaction qui le fait se séquence où peut se lire une supposition du
produire, se causer à partir de la fonction sujet. Qu´est-ce qui a été entendu ? Qu´est
négative que son affirmation( identification)

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ce qui a été dit ? 1,2,3 ? ou 21,34 ? ou bien de l´association libre,dans les tours dits, qui
5,8,13 ? fait apparaître le « tempo » de la névrose, et
Sur quel point me suis-je arrété ? suspend pour un instant sa raison
8,13,21 !! c´est ça !?J´ai rien compris ! Cela fantasmatique « Nous allons suspendre ! ».
ná fait aucun sens pour moi votre L´interuption produit la coupure médiane
interruption de séance la dernière fois ! d el abande de Moebius, elle réalise le «
0,0,1? C´est ça ? O reconnait dans ces dire » qui n´est pas dasn les dits. « Qu´on
séquences, des morceaux de suite de dise reste oublié derrière ce qui se dit dans
Fibonacci, une suite mathémathique infinie ce qui s´entend ». Mais encore une fois dans
ou chaque élément est construit à partir de la séquence de ce dire en suspend dans
la somme des deux précédents, c´est simple l´intervalle, dire par définition hors sens, il
comme principe, mais quand on entend ces sera attribué un sens, dont le secret se loge
morceaux choisit il faut un temps avant de dans l´autre et ses lois : « 8,13,21...34 !! » La
conclure le temps qui manque, le calcul de séance est suspendue !
l´intervalle entre l´un et l´autre. Combien de fois doit –on interrompre la
Il manque toujours un temps pour le supposition de savoir dasn l´autre pour que
sujet , et il tente toujours de récupeérer ce tombe sous le sens son inconsistance ?
temps perdu dans sa demande, son bla bla, Le désir de l´analyste qui supporte la
bref dans sa supposition d´un Autre. coupure de la séance valide
L´association libre apparemment linéaire, l´intervallecomme instance du dire :« C´est
déroule dans la diachronie ce que la parce que le désir de l´analyste suscite en moi la
synchronie de l´instant de voir a saisi : il dimension de l´attente que je suis pris dans l´efficace
faut le temps, il manque un temps. La de l´analyse. » 3
structure propre de la parole déroule dans L´analyste en acte – actualy-en suscitant
les dits les conséquences du dire, déplie, la dimension de l´attente fait valoir les
étire,gonfle, pince, dégonfle, coupe et intermittences- les interdits comme
recoupe l´espace topologique de la structure causatifs, causation du sujet. L´actualité de
du sujet exhibant ses discontinuités, ses l´analyste, son a-temps a une incidence
trous, ses voisinages : « La topologie de clinique sur l´intemporalité du sujet de
notre pratique du dire ». Peu à peu, les tours l´inconscient. L´acte analytique produit,
des dits qui contournent le creux de la extrait de la répétition cette autre dimension
demande façonnent et dé-couvrent l´espace du temps connue para la philosophie de la
topologique propre de la névrose : un tore Grèce jusqu´à la Chine comme le Kairos,
qui se saisit très vite comme noué avec un « le moment opportun ». A la fin, le
autre toredont il remplit et escamote le trou moment de conclure , c´est l´acte de
structurel. Ce tore du névrosé étroitement l´analysant. Le moment de conclure
enlassé avec le tore de l´Autre qu´il suppose interromp la diachronie de l´association
constitue l´intrigue principale du roman libre, cesse, de s´´ecrire, insuccés de l´une
familial, formaté para le fantasme bévue. Insuccés, l´interruption de la
fondamental. Le roman tourne autour de succession est de l´ordre de l´acte qui
ce tour non conté- faille dans ses comptes s´execute sans le savoir de l´Autre et
du dit que l ´etourdi va atribuer à l´Autre. Il produit sa suspension : « nous allons
lie son manque à être au manque –faille de suspendre ... »
l´autre- pêché de l´Autre , d´où sa A la fin il est emps de conclure que
supposiiton que son temps perdu est recelé l´indécidabilité de la partie devient une carte
dans le savoir de l´Autre. Comme Lacan dans la main de l´analysant – pas le mistigri
démontre dans son texte L´Etourdi, c´est
la coupure de l´analyste dans la série infinie 3 Lacan J. Seminário 10 – p. 180

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dont le névrosé passe son temps à essayer détour que peut advenir pour le sujet le savoir de
de se défausser , carte de l´impuissance qui son rejet originel »
encombre le jeu et empêche la partie, et Il faut le temps, le « tempo » de l´analyste
embrouille la partition ( séparation), mais qui produit au fur et a mesure de ses à-
cette carte qui arrive à point en forme de coups l´atttente, la faille dans le temps de
lettre. l´autre dont le sujet est réponse « « Il faut le
Combien de temps est nécéssaire pour temps pour faire trace de ce qui a défailli á s´avérer
arriver à la fin ! « Ce n´est qu´après un long d´abord. »

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La prisa y la salida
Luis Izcovich

i el inconsciente no conoce el politica. Tomemos por ejemplo el debate


tiempo, se puede deducir que sobre la duracion de la sesion ya que me

S la orientacion de un analisis no
puede
desciframiento
limitarse

inconsciente. Lacan lo formule


explicitamente en 1972, en el
texto en que resume su
seminario : O Peor..En dicho
al
del
parece indispensable situarlo en funcion de
estas coordenadas. Hay un nivel, puramente
tactico en el cual el analista es libre y como en
el caso de toda intervencion, el analista es
tambien libre en elegir el momento del fin de
la sesion. Esta posicion constituye una
objeccion a hacer de la sesion a duracion
texto luego de evocar el descubrimiento de variable o de las sesiones cortas una regla
Freud del inconsciente del cual Lacan retoma tecnica ya que en la tactica el analista es el
la esencia, ser estructurado como un lenguaje, unico amo a bordo.
Lacan indica sin embargo un piso superior, Si el analista es menos libre en cuanto a la
otra zona, ya que el acento no esta puesto en strategia del tiempo en la cura es porque el
el descubrimiento, sino en lo que Lacan llama tiempo en el analisis es relativo a la logica que
la creacion del dispositivo analitico, y impone la structura clinica., variable en el
continua, yo lo cito : « donde lo real toca a lo caso por caso, pero con puntos constantes
real » y agrega que esto es lo que él articulo segun las estructuras. Ahora bien, vengamos
como el discurso analitico. a lo que Lacan llamo la politica del
Por lo tanto, la perspectiva del analisis no psicoanalisis, ahi donde el analista es menos
esta solo dada en como lo simbolico permite libre ya que su politica esta ligada a su falta en
cernir el real propio al sujeto, sino de ser. Se podria homologar esta falta en ser a la
considerar en la practica analitica el modo en falta de inscripcion del tiempo en el
que la pareja analisante analista esta tomada inconsciente. La ausencia de ambos, y sin
por lo real. Que « lo real toque a lo real », embargo en posicion de ex-sistir, (existir por
indica la posibilidad de un efecto analitico fuera) los situa en el lugar de un real que guia
que no se limite a revelar el significante la experiencia. El tiempo, como la falta en ser
reprimido, pero ademas que lo real del del analista, condicionan la politica de la cura.
analizante sea susceptible de modificacion sin Y, se podria postular que la sesion corta, es
pasar por lo simbolico. desde esta perspectiva politica, la que
Esta proposicion de Lacan pone en evidencia corresponde a la orientacion de lo real del
que la perspectiva que él traza para la cura sintoma y el tiempo de la cura el que
analitica, esta ligada al inconsciente pero corresponde a hacerse al sintoma.
esencialmente a lo real del sintoma lo cual es Repito para disipar malentendidos. No se
determinante para el manejo del tiempo en la trata de situar una preeminencia de la sesion
cura. corta en la tecnica analitica. Cualquier
Se podria en efecto aplicar en relacion al postulado tecnico en relacion al tiempo
tiempo el tripode avanzado por Lacan en la implica una prescripcion y lo transforma en
direccion de la cura, es decir que se trata de standard. Asi puede haber un standard de la
una cuestia de tactica, de strategia y de sesion corta y tambien un standard de la

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duracion variable. De lo que se trata es de Ahora bien, porque Lacan cuando se refiere a
considerar que logicamente, la finalidad de la « lo real que toca lo real » se refiere al
sesion corta, corresponde a la formulacion de discurso analitico ? Se puede percibir que el
Lacan de la creacion de un dispositivo donde discurso analitico tiene une estructura
« lo real toque a lo real ». Esta perspectiva es semejante a de la angustia. Es suficiente
relativizada si se concibe la sesion analitica referirse a la linea superior de dicho discurso
como una secuencia unitaria puntuada por la que va de (a) a S tachado, y que indica que el
emergencia del inconsciente y con el objetivo analista esta en el lugar de la causa del deseo
de hacer emeger el sentido o la palabra plena. para el sujeto que es igualmente el lugar de la
En realidad mas alla de lo que el inconsciente angustia.
dice, se apunta al decir del inconsciente, a lo Y es esta perspectiva que Lacan privilegia en
indicible que sin embargo determina el relacion al tiempo, ya en el seminario La
conjunto de las asociaciones. Esto no angustia, donde se pone en evidencia que la
corresponde a una tecnica activa, ni a una funcion de la angustia en introducir al sujeto
sacralisacion de la escucha. Lo que se me en la dimension del tiempo. Lacan evoca una
parece es que se puede convenir, es que la relacion temporal de antecedencia en relacion
idea que un analista se hace del tiempo de la al deseo y considera que la dimension
sesion corresponde a la idea que se hace del temporal de la angustia es la dimension
inconsciente. E Independientemente de su temporal del analisis. En efecto la angustia
uso, la sesion de duracion breve es solidaria prepara la cita con el deseo. Y, no es
de la opcion lacaniana en cuanto al sorprendente que Lacan haya utilizado la
inconsciente como real y apunta al hueso de misma formula, « manejo de la angustia »,
las elucubraciones que provienen del « como manejo del tiempo ». Uno es solidario
inconsciente. Esto se traduce en un efecto del otro.
analitico mayor : el analista sera mas Situar el tiempo del analisis en funcion de la
susceptible de ser el tiempo, encarnarlo, para angustia es una perspectiva que Freud ya
cada analisante en lugar de pensarlo. habia senialado, haciendo de la angustia un
Tomemos la cuestion desde la perspectiva de punto nodal en la representacion del tiempo.
la transferencia. En el transcurso del analisis, La angustia, cuya omision es central en la
ella no esta limitada al tiempo del encuentro constitucion del trauma, constituye una
con el analista, y el inconsciente trabajador mediacion frente a la urgencia pulsional o
infatigable, no se limita a trabajar en la sesion. frente al deseo del Otro. En ese sentido
Mas bien, el inconsciente, trabajador ideal, no Freud frente a la abstraccion del tiempo de la
descansa nunca y se manifiesta cuando uno consciencia, privilegia el tiempo de la angustia
menos lo espera. Por ello es necesario un que se opone al tiempo del sintoma. La
tiempo para que se despliegue la logica angustia introduce une discontinuidad ahi
simbolica, que corresponde a los difrentes donde el sintoma asegura una permanencia.
mitos secretados por el inconsciente que han El sintoma frena al tiempo ya que su
conducido al impasse sexual del sujeto. temporalidad esta determinada por su
Pero porque suponer entonces que la sesion constitucion que es la de un tiempo que se
debe ser ritmada por la emergencia del detuvo.
inconsciente ? Mas bien se puede considerar Es lo que la clinica analitica pone en
la sesion como el momento en el cual el evidencia. A la falta de certeza del
analisante concluye una secuencia de inconsciente, el sujeto suple con el fantasma
elaboracion. Cada sesion, mas que un empuje y es en su vacilacion que emerge otra
a la asociacion, se podria considerar como temporalidad propiciada por la angustia. De
una preparacion al encuentro con lo real del hecho en todo sujeto, a la entrada del analisis
fin de analisis. e independiemente de la estructura clinica, se

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pone de manifiesto, de una manera o de otra mucho tiempo atras. Es suficente que se
la idea de un retraso que es lo propio del convierta en un signo para el sujeto para que
sintoma, y el pasaje a otra temporalidad dada este solicite una ayuda en lo inmediato.
por la angustia. En cuanto a la precipitacion,de lo que se trata
Esta temporalidad, incluye el tiempo marcado es de una aceleracion del tiempo que
por los latidos del inconsciente, es decir sus descuida las coordenadas simbolicas y es por
formaciones y la repeticion, pero permite ello que su mejor ilustracion es el pasaje al
situar un mas alla y es lo que Lacan articulo acto. El sujeto concluye saltanto el tiempo
con la funcion de la prisa. para comprender. Y Lacan hace del pasaje al
La prisa no es ni la rapidez resolutiva, ni la acto melancolico el paradigma de esta
urgencia, ni la precipitacion. Comencemos equivalencia en la cual el sujeto se hace
con el primero la rapidez resolutiva. Existe objeto. De ahi la necesidad de introducir un
desde Freud la idea de que un tiempo es semblante de tiempo cuando esto es posible
necesario afin a evitar la satisfaction para la psicosis. Y si la solucion spontanea de
inmediata y sus riesgos, ligados a escamotear Schreber se revela eficaz es en la medida en
la pregunta quien se satisface . Es por ello que resuelve un impasse subjetivo ligado a
que si preconizo no tomar grandes decisiones una solucion prematura. En este caso no se
antes del fin de analisis es porque la trato de hacer madurar un fantasma sino de
satisfaccion del super-yo, del yo, o del introducir una solucion asymptotica que es
inconsciente, no son equivalentes para el otra opcion del sujeto en relacion al tiempo
psicoanalisis. Ahora bien, quien se atreveria que lo extrae de la precipitacion puesto que
hoy a sugerir a un analizante que se abstenga implica la cita en un futuro indefinido que no
de tomar decisiones antes del fin de la cura ? debe hacerse realidad. Hay que senialar aqui
La duracion de los analisis en nuestra otra forma de saltar el tiempo para
actualidad hace objecion a este principio de comprender, es cuando se colapsa el instante
abstinencia. Por otra parte Freud mismo de ver y el tiempo para concluir . Es el caso
advirtio frente a los riesgos de la solucion de la experiencia traumatica que no se
terapeutica que interviene demasiado pronto. cristaliza en sintoma analitico.El Hombre de
La cuestion es que el tiempo de los lobos lo ejemplica en lo que Lacan llamo
comprehension, no se puede comprimir.. la anulacion del tiempo para comprender. El
Los efectos terapeuticos que intervienen resultado es verificable : toda una vida
prematuramente pueden ser un obstaculo a la dedicada a a un eterno recomenzar a explicar
prosecucion del analisis y a una resolucion a la comunidad analitica y mas alla, sobre lo
mas consistente. incurable en la cura. El sujeto esta fijado a un
La anticipacion resolutiva del sintoma no goce traumatico que excluye la inclusion del
implica consentir a la satisfaction. De ahi que tiempo y lo conduce por lo tanto a un duelo
Lacan evoque en relacion a la psicosis el imposible. Si el manejo del tiempo en la
termino de solucion prematura que se puede clinica de las psicosis implica un saber hacer
generalizar. La solucion prematura es aquella con el semblante del tiempo la respuesta
en la cual el sintoma, si bien es reducido, no analitica difiere en cuanto al manejo del
logra elevarse al rango de nombre de goce del tiempo en el caso de la neurosis. El tiempo
sujeto. Tomemos la cuestion de la urgencia. que pasa, digamos spontanéamente, no
Lacan se refiere a ella a menudo en relacion a favorece nada y frente a la division subjetiva
la entrada en analisis . Existe en efecto una la respuesta analitica difiere de la respuesta
urgencia a procurar el partenaire que psicoterapeutica. « Dese un tiempo de
responda al sintoma del sujeto. Y esto se reflexion » es el modo de dar un tiempo en la
confirma en el momento de la demanda psicoterapia. Y la formula corriente « el
analitica. Un sintoma puede estar desde tiempo hace bien las cosas » conviene a

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muchas circunstancias de la vida, salvo a la « lo real toca a lo rea »l) tiene como
neurosis.. Y si hoy aparece como anacronica pretencion introuducir un nuevo real.
la formula de Freud que una mujer luego de El inconsciente, no es solo una operacion de
los 30 anios es inanalizable, lo que es vigente revelacion de lo que ya esta, de traer a la luz
es que la neurosis, sin analisis, se agrava con los enigmas ocultos del sujeto. Mas alla de
el tiempo. descifrar lo que el inconsciente cifro, se trata
El analisis introuduce el tiempo de otro de escribir lo que no cesa de no escribirse.
modo que el de darse el tiempo de Logicamente la cuestion del tiempo en la
reflexionar. Es lo que justifica la referencia a direccion de la cura se articula con el objeto
la prisa, que tiene su especificidad en su (a), causa de deseo y de angustia que apunta
conexion con lo simbolico al cual sin al encuentro con un nuevo real. Tomemos la
embargo lo trasciende es decir que si lo perspectiva del deseo. En su esencia es
simbolico es condicion de la prisa, no es lo metonimico, metonimia de la falta en ser. Y
que la causa. La causa de la prisa es el (a), lo hay que senialar que Lacan distingue el deseo
cual nos remite a la vez a la angustia y al inconsciente de un deseo centrado en el
discurso analitico. narcicismo que puede ser el efecto de un
Y, si yo utilizo la distincion entre prisa y analisis como respuesta a lo efimero de la
urgencia es para indicar que lo que posibilita vida.
la logica de la prisa es que el analista pueda En ese sentido, hay un tiempo necesario en el
dar el tiempo que hace falta. Ya que hay un analisis para producir un deseo, efecto de una
tiempo necesario en la cura y esto esta enunciacion singular y que debe distinguirse
indicado desde Freud en texto sobre la de un deseo fundado en el narcisismo. La
cuestion del analisis profano y la formidable temporalidad del après-coup es esencial ya
definicion alli avanzada del analisis como que como efecto de la elaboracion anuda la
« magia lenta ». experiencia pasada y la conecta con la
La magia por definicion se sirve del experiencia a venir. El deseo forja un vector
semblante de la sorpresa y la temporalidad es de direccion alli donde el sin sentido reduce
la del instante. Es por ello que el publico al sujeto a ser un perdido en el tiempo.
pide que le repitan el numero pero esta vez Cuanto mas accede el sujeto a una posicion
mas lentamente para poder comprender el desirante mas se aleja de una relacion al
punto de ruptura en la ilusion. tiempo concebido como la suma de instantes.
Y noten bien que Lacan se refiere a esta Y como el inconsciente es evasivo, de lo que
oposicion cuando evoca la distincion en los se trata es de captar la metonimia del deseo.
semblantes de la magia y los semblantes des Cernir el deseo, es captarlo a la letra,
discurso analitico. El analisis exige tiempo, A travez del deseo, el sujeto entra en el
para comprender la escena que se escapo, a la tiempo y concomitantemente deja de pensar.
cual el inconsciente respondio produciendo Es lo que se traduce en la formule corriente ,
con un embrollo. Un tiempo es necesario al cuando un sujeto esta en un modo sintonico
despliegue de la cadena inconsciente pero con su deseo, « no veo pasar el tiempo ».
fundamentalmente el tiempo que hace falta es Estar en el tiempo o pensar el tiempo se
aquel que introduzca al sujeto en la funcion oponen como ser y pensar.
de la prisa propia a la causa de su deseo. Ahora bien cabe preguntarse sobre cual es la
Es lo que justifica que hablemos del analisis interpretacion analitica que propicia este
como de una prisa lenta, donde el analisante movimiento.. En la progresion de la
se hace a su ser, que no es solamente ensenianza de Lacan se percibe la reduccion
habituarse a ser lo que se es sino a producir de la interpretacion hasta hacerla minimal, y
un cambio en el ser. Ya que el real que incide se apunta como horizonte a la produccion del
en el real del sujeto (retomo aqui la formula acto. La cuestion que se desprende

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netamente no es unicamente la de como Esta dimension del analista como objeto a


apuntar al grado maximal de simbolizacion consumir presente durante toda la cura
sino al mas alla, a la hiancia entre lo adquiere un valor especifico luego de la caida
simbolico y lo real. Se deduce entonces que si del sujeto supuesto saber. Es el tiempo de un
la ultima perspectiva de Lacan es de definir el duelo dentro del analisis. Yo planteo que ese
inconsciente come un modo de gozar del tiempo de duelo, interno al analisis, es
sintoma, la operacion analitica no tiene su fundamental en cuanto a la experiencia que
finalidad ultima en interpretar lo reprimido, un analisante puede hacer de lo que adviene
sino en modificar el programa de goce del el analista al final y que Lacan dio el nombre
sujeto. de « deser ».Y es en esta zona donde se
Esto impone una revision del tiempo en el conjuga la verdadera salida del analisis
analisis. Es cierto que un analisis dura el lacaniano que como toda elaboracion de un
tiempo que le es necesario a un sujeto para duelo puede traducirse a la ocasion en una
apropiarse el objeto a, que previamente habia imposibilidad a concluir.
colocado del lado del analista, y que lo Esa zona que se abre en el analisis luego de la
encarna para el sujeto. caida del sujeto supuesto saber condiciona el
Y, interpretar lo reprimido es ya introducir al deseo del analista. Ya que no es lo mismo el
sujeto en la actualidad del tiempo ya que lo « deser » del analista como efecto de la caida
reprimido, y su caracter inalterable al paso del de la suposicion de saber que como efecto de
tiempo y a la contingencias que lo la elaboracion de un duelo. Ahora bien,
acompaniana submerge al sujeto en un existen salidas del analisis fulgurantes, pero
tiempo siempre pasado. Poder despojar la no es la fulgurance que nos indica la justeza
vivacidad actual de la representacion es para de la salida. La zona final del analisis
Freud un objetivo terapeutico central. Si el corresponde a la logica que preside al
neurotico esta fuera de tiempo es porque esta conjunto : magia lenta e instantaneidad del
regulado por el tiempo del fantasma cuyo acto, que corresponden a una prisa en la
axioma resiste a la usura y coloca al sujeto a salida como efecto de la elaboracion del
la hora del Otro, con el efecto de una duelo sin lo cual la salida puede confundirse
estereotipia atemporal. Ya Freud indica con con el ilusionismo de la magia.
precision que las representaciones reprimidas Dicho de otro modo yo planteo un beneficio
se comportan luego de decadas con la epistemico en la duracion de esta zona final
vivacidad del inicio. Que mejor ilustracion que opongo a la salida fulgurante por el
que la de la reminiscencia histerica : los anios encuentro con la inconsistencia del Otro.
han pasado los encantos se desvanecen pero Retomo la cuestion de la prisa, presente en
ella sigue soniando en el principe azul como cada sesion y que sin embargo no puede
cuando era nina. En este sentido la disociarse de la temporalidad lenta que es la
orientacion de lo real, y el deseo del analista que exige el analisis. La prisa es un empuje a
que es de despertar, introduce un cambio en decir lo que nunca se ha podido decir, hasta
la relacion con el tiempo. Sin embargo el encontrar el limite de lo dicible, muro detras
analisis no se limita al tiempo de la del cual se aloja el decir propio del sujeto, su
produccion de un deseo sino que implica singularidad intima, el soporte del conjunto
integrar el tiempo del circuito pulsional y la de los dichos.
modificacion del goce inconsciente. La prisa esta articulada al acto, del analista
La efectuacion del circuito pulsional hasta su pero en conexion con el acto del sujeto. Ya
ultima vuelta exige tiempo. Es el tiempo no que existe una prisa conectada a la ilusion de
solo del recorrido de la pulsion entre el sujeto la cual, como dice Lacan, la prisa puede ser
y su objeto sexual, sino el tiempo ligado a complice. El riesgo es de confundir la prisa
consumir, es el termino de Lacan, al analista. conjugada al acto de la prisa en su version

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imaginaria. Esta ultima es la prisa disociada De las salidas por la prisa, cabe distinguir
del acto. Al punto que Lacan aisla la correcta aquella en la cual el sujeto se sostiene de la
funcion de la prisa que es la de producir el deduccion del inconsciente. Es una salida por
momento de concluir (1) Y, Lacan nos el saber de un desciframiento. Por otro lado,
advierte de no hacer un uso imaginario, y bien diferente es la salida que depende de la
haciendo referencia a una prisa que se relacion del sujeto con un decir singular. En
concluye en salida arbitraria, dando lugar en definitiva, yo sostengo, que la salida
este caso a una prisa cuyo resultado es la fulgurante por la caida del SSS, no es
errancia dando como ejemplo mayor la equivalente a la salida una vez terminado en
revolucion. Se impone por lo tanto distinguir la cura, el duelo del objeto y que puede ser
diferentes formas de prisa y por lo tanto es una salida fulgurante o no. La prisa no
legitimo afirmar que existen variedades de la imaginaria en la salida depende de la
prisa en la salida del analisis. Obviamente, efectuacion de esta vuelta de mas en un
dejo fuera de la serie todo lo que implican las analisis y que no se hace sin tiempo.
soluciones prematuras o las salidas que
dependen de una precipitacion. RÉFÉRENCES BIBLIOGRAPHIQUES

1- Radiophonie p. 433

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La cita y el encuentro
Gabriel Lombardi
xiste para nosotros lo que capaz de elegir se llama túkhe; término que
no se elige; muchas veces usualmente se vierte al español como

E sentimos, y con razón, que


es muy poco lo que
depende de nosotros, de
nuestra voluntad
consciente o inconsciente;
Colette Soler habló de ello
hace unos años en Rio de
“fortuna”, pero que Lacan, bajo la influencia
de Freud, prefiere traducir como rencontre,
encuentro o reencuentro.
El ejemplo de túkhe que propone Aristóteles
es el siguiente: un hombre hubiera podido, de
haberlo sabido, acercarse a tal lugar para
recuperar un dinero, justo cuando su deudor
Janeiro. Ahora bien, es sin duda en ese percibe una suma considerable. Llega al lugar
estrecho margen de libertad que nos resta justo en el momento oportuno, pero no con
adonde reside lo que para cada uno de ese fin, sino por azar. Por accidente le sucede
nosotros es lo decisivo, el núcleo ético de que habiendo llegado hasta allí, llega para
nuestro ser, allí donde lo pulsional puede reunirse con el deudor y encontrar el dinero
conjugarse, o no, con el deseo que viene del que se le adeuda. Y esto, no porque venga a
Otro. ese lugar frecuentemente o necesariamente,
Por eso en nuestra vocación, en el amor, en sucede por azar algo que él deseaba, y se
nuestra condición de seres libres, un poco activa así una elección en un momento
libres, no elegimos lo que ocurre en el modo inesperado, por un efecto de fortuna, un
de lo necesario. En tanto psicoanalistas, efecto de encuentro accidental de algo
tampoco buscamos allí la etiología de los deseado.
síntomas. La historia y la clínica del El verbo tukhêin es entonces estar presente en
psicoanálisis sugieren fuertemente que lo que el lugar y el momento oportuno, para
llamamos causa, causa del síntoma, causa encontrar a alguien o algo que tal vez no se
subjetiva, no responde al régimen de lo esperaba conscientemente, pero se deseaba
necesario, sino a otras coordenadas lógico- encontrar. Anticipa la dimensión del
temporales. inconsciente.
La causalidad que nos interesa, y que nos ¿Cuál es la importancia para nosotros de lo
interesa en el goce como punto de engarce que acaece por accidente, por trauma? Que
del deseo del Otro, es la que ocurre “por extrae de lo necesario, haciendo lugar a la
accidente”, decimos en términos elección, que es el acto esencial del ser
aproximados, y tal vez sería mejor decir “por hablante.
trauma”, por discontinuidad, por ruptura
temporal que marca un antes y un después. La cita y el encuentro
Ocurre como por azar, de un modo no El ejemplo de Aristóteles tiene la virtud de
programado. describir un encuentro sin cita previa, sin
Para considerar las causas accidentales, Lacan rendez-vous agendado.
se inspiró en ese segundo libro de la Física en La clínica de la neurosis nos ha
el que Aristóteles explica que la causalidad acostumbrado, en cambio, a los ejemplos de
por accidente se ordena en dos registros cita sin encuentro; la cita ha sido pactada,
diferentes del ser: el accidente que acaece en pero el encuentro no se produce, falla, se
un ser incapaz de elegir se llama autómaton, el posterga, se deja pasar la ocasión. La tensión
accidente que ocurre en un ser que sí es esencial que hace de la neurosis una patología

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del tiempo, un desfasaje entre el deseo y el deseo. El hiato por ellas acentuado entre cita
acto, se expresa cotidianamente en la brecha y encuentro las distingue de otros tipos
lógico-temporal entre cita y encuentro. clínicos, destacando el desfasaje temporal que
Una aclaración en este Rendez-vous separa al sujeto de su acto, y revelando ese
multilingüe: los términos “cita” y orden causal descripto por Freud, y antes
“encuentro” se recubren parcialmente, pero vislumbrado por Aristóteles, en que lo
pueden ser distinguidos en algunas lenguas, perdido y deseado ha sido olvidado, y sólo se
español, francés, inglés, y también se puede reencuentra por accidente.
oponer el término latino cito al griego túkhein. Cuando aun así alguna vez el encuentro se
produce, es por lo general completamente
CITA
RENDEZ-VOUS
ENCUENTRO
RENCONTRE
desconocido por el sujeto, o bien es
APPOINTEMENT MEETING – ENCOUTER considerado como un mal encuentro, un
CITOTE (imperativo: rendez-vous!)
(encontrar por azar)
TUNKHANO acontecimiento a destiempo; demasiado pronto
CITO: llamar, hacer venir. TUKHÊIN: responder al deseo y para el histérico, demasiado tarde para el
a la espera4. melancólico, el obsesivo por su parte emplea
una estrategia temporal mixta para faltar al
En su seminario Problemas cruciales del encuentro: anticipa tarde. En cualquier caso, se
psicoanálisis Lacan da un ejemplo de cita trata de un acontecimiento a destiempo que
tomado de la teoría del signo de Peirce, de todos modos lleva la marca del
“cinco floreros en la ventana con la cortina desconocimiento.
corrida hacia la izquierda”, cuyo significado Los sueños de desencuentro son sueños
según el lingüista sería: estaré sola a las cinco. típicos de la neurosis, y es fácil encontrar en
Lacan observa sin embargo que no se trata de ellos ejemplos que ilustran bastante bien esa
un signo que componga un mensaje unívoco. evitación que es esencial en ese tipo clínico.
¿Qué quiere decir “sola a las cinco”? Una paciente soltera, atractiva aunque ya no
Remitimos a la clase del 5 de mayo de 1965 tan joven, consulta justamente por no poder
para el precioso análisis que allí realiza, sola, encontrar un hombre que al mismo tiempo le
seule, es también única, para el solo, el único resulte interesante y que todavía no esté
que recibe el mensaje ante la mirada ciega del casado. Relata dos sueños reiterados en su
vecindario. Retengamos solamente este vida previa a la consulta. En el primer sueño
comentario nosográfico de Lacan: Quien está en su casa, atrincherada, rodeada de
reciba este signo reaccionará de un modo indios. “¡Qué susto!” – dice con tono
diferente según su tipo clínico; en el caso del aniñado -. En el segundo sueño sale de su
psicótico la atención recae sobre el mensaje y casa, pero como un espíritu, sin que los otros
su lekton, el perverso se interesa en el deseo puedan verla, un espíritu sin cuerpo. “¡Me
en juego y el secreto poseído, el neurótico encanta!”, comenta divertida.
pone el acento en el encontrar, o mejor Las estrategias de desencuentro son diversas
dicho, reencontrar el objeto. en la neurosis. Es típico de la histeria ceder
El neurótico enfatiza lo que los estoicos corporeidad a Otra mujer, así como forma
llamaban tunkhánon, pero con la particularidad parte de las estrategias del obsesivo realizar el
siguiente, que se interesa en el encuentro: deseo sin que se note, de contrabando. Pero
para fallarlo. En efecto, las distintas neurosis si se presta atención, se puede advertir que las
pueden entenderse como formas diversas de técnicas de desencuentro en las neurosis
evitar el encuentro, de faltar a la cita del juegan eminentemente sobre el eje del
tiempo. La espera, la programación, el
4 Un ejemplo de Tucídides en sus Crónicas de la guerra aburrimiento, la anticipación a destiempo, el
del Peloponeso: Tés hekástou bouléseos te kaì dóxen tukhêin
(responder al deseo y la expectativa de cada uno).
demasiado tarde y el demasiado pronto, el
faltar a la cita sin darse cuenta y por los más

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diversos motivos, e incluso la urgencia -Usted esperaría que yo intervenga en el


subjetiva desorientada, son algunas de las pasado, ¡antes de que este análisis comience!
modalidades de encubrimiento del tiempo en - No, ¡no!, yo no diría “esperaría”, yo esperaba
las neurosis. La intervención analítica habrá una intervención, pero no llegó, y es cierto,
de reintroducir el tiempo como coordenada ahora ya es tarde, tuve que cortar yo misma
ética, como llamado a la finitud hecho desde esas situaciones con mi síntoma, y luego
el único punto de trascendencia que resta al también tuve que terminar yo sola con mi
ser hablante: el deseo del Otro – deseo que al síntoma, cuando me encontré con el límite de
analista le toca encarnar -. la sangre en el vómito. ¡Y bueno, su
intervención llega tarde!, añade con rabia, es
El acto del analista así… ¡qué quiere que le haga!. Más adelante
Esta tensión esencial que hace de la neurosis lograría matizar: “está todo mal, pero de
una patología del tiempo, esta brecha lógico- todas formas creo que aquí podré elaborar, y
temporal entre cita y encuentro, se presenta tal vez ya esté elaborando de otra manera eso
también en la cura psicoanalítica, poniendo a que no ocurrió, esa falta de intervención que
prueba la eficacia del tratamiento. Por ella el me forzó a tener que arreglar yo por mi
psicoanálisis no se reduce a la aplicación de misma las cosas”.
un método que se atenga a una cita rutinaria. Este viñeta ilustra para mí un encuentro
El psicoanálisis tiene un método, el que analítico, en este caso por la reedición del
prescribe la regla fundamental freudiana, pero corte que el analizante debió realizar a falta
el cumplimiento de ese método depende de la de intervención del Otro; con la diferencia,
autorización que confiere al analizante, cada en esta reedición, de que el analista encarna
vez, el acto del psicoanalista, acto que ha de ahora una causa más deseable que la que
responder a la lógica del encuentro, con lo animó la instalación o el cese del síntoma-
que ella implica de oxímoron. Lacan lo dijo acting bulímico. Las tijeras de la
magistralmente en su seminario El deseo y su interpretación analítica mejoran sin duda el
interpretación. instrumental precario que el sujeto encontró
El análisis no es una simple reconstitución del años antes para cortar: los límites impuestos
pasado, no es tampoco una reducción a nor- al sujeto por el cuerpo, la angustia ante la
mas preformadas, no es un epos, no es un ethos; sangre. Ahora el analista llega demasiado
yo lo compararía con un relato tal, que el rela- tarde a su vida, es cierto, pero al alojar su
to mismo sea el lugar del encuentro del que se reclamo anacrónico aporta alivio al
trata en el relato5. sufrimiento, y dialéctica a las posiciones
Evocaré aquí el ejemplo de otra paciente que libidinales actuales de la analizante. Los
relata su interpretación de un síntoma reclamos del neurótico siempre son
duradero pero ya desaparecido, la bulimia, anacrónicos, lo que tiene de particular este
como un síntoma de la falta de intervención caso es que ese rasgo temporal en esta
de su padre, 60 años mayor que ella, en oportunidad no fue camuflado.
algunas situaciones precisas de su infancia y Para su concepción del acto psicoanalítico,
adolescencia, situaciones dominadas por el Lacan se inspiró en On transference6, un texto
capricho de la madre. Curiosamente, lo dice en el que Winnicott sostiene que en
en tono de reproche, como si ese reproche se determinados momentos del tratamiento
dirigiera actualmente al analista, por lo que analítico, el analista debe “(…) permitir que el
me autorizo a decirle, sin ocultar cierta pasado del paciente sea el presente”, para
incomodidad:
6 D. Winnicott, On transference. Este texto precioso es
5Lacan, J., “Le désir et son interprétation”, clase del 1º citado por Lacan en Autres Écrits, Seuil, Paris, 2001, p.
de julio de 1959. 275.

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revivir ese momento en que el niño, en el diciéndome que ahora tenían plena confianza
momento del corte disruptivo en que hubiera en mí, etc. Pero yo respondía: «¡Ah... claro!
debido experimentar furia, no encontró el Ahora que yo también soy profesor ustedes
Otro ante el cual poder hacerlo. El relato me tienen confianza. Pero el título no ha
actual al analista no podría realizarse hecho variar en nada mis aptitudes; si ustedes
verdaderamente sin que esa furia se no podían utilizar mis servicios siendo yo
manifieste; sólo si esta vez ella no sólo se encargado de cursos, también pueden
revela sino que también se realiza, el prescindir de mí como profesor». En este
analizante puede encontrar al Otro de una punto mi fantasía fue interrumpida por un
manera diferente que a través de la asunción saludo en voz alta: «¡Adiós, señor profesor!»,
de un falso self – máscara que repite y señala y cuando miré de quién provenía vi que
aquel desencuentro primero -. pasaba junto a mí la pareja de la que acababa
de vengarme rechazando su pedido. Una
La clínica freudiana del encuentro somera reflexión destruyó la apariencia de lo
La Psicopatología de la vida cotidiana de Freud milagroso. Yo marchaba en sentido contrario
ofrece al psicoanalista la posibilidad de a la pareja por una calle recta y ancha, casi
sensibilizarse a la clínica del encuentro. Es un vacía de gente, y a distancia quizá de unos
texto maravillosamente entramado en los veinte pasos había distinguido con una
golpes de la fortuna, en lo que ocurre como mirada fugitiva sus importantes
por azar, en los pequeños actos que se personalidades, reconociéndolos, pero
afirman tanto más fuertemente como actos eliminé esa percepción – siguiendo el modelo
cuanto que representan fallas en el hacer. de una alucinación negativa - por los mismos
Particularmente la divergencia y la tensión motivos de sentimiento que se hicieron valer
temporal entre cita y encuentro fue allí objeto luego en esa fantasía de aparente emergencia
de observaciones y comentarios. Tomemos espontánea.
un ejemplo de encuentro milagroso con una No se trata en este ejemplo de un encuentro
persona en quien justamente uno estaba con alguien en quien Freud estaba pensando
pensando, un ejemplo “simple y de fácil conscientemente, los pensamientos allí se
interpretación”, según el propio autor: producen más bien como consecuencia de
Pocos días después que me hubieron una percepción previa. Este ejemplo muestra
concedido el título de profesor que tanta otro rasgo que caracteriza los hechos
autoridad confiere en países de organización fundamentales del psicoanálisis: las
monárquica, iba yo dando un paseo por el coordenadas del encuentro y del
centro de la ciudad y de pronto mis desencuentro no necesariamente son
pensamientos se orientaron hacia una pueril percibidas por la conciencia, y como en otras
fantasía de venganza dirigida contra cierta manifestaciones del inconsciente, a menudo
pareja de cónyuges. Meses antes, ellos me pueden ser situadas entre percepción y
habían llamado para examinar a su hijita, a consciencia, después de la percepción, pero
quien le había sobrevenido un interesante precediendo la conciencia.
fenómeno obsesivo después de un sueño. La alteración anti-intuitiva del orden causal es
Presté gran interés al caso, cuya génesis creía típica de estos “hechos” que en verdad son
entender; sin embargo, los padres actos, como también pasa en las
desautorizaron mi tratamiento y me dieron a premoniciones oníricas que “se cumplen”; se
entender su intención de acudir a una cumplen, explica Freud, solamente por
autoridad extranjera, que curaba mediante inversión de la secuencia temporal de los
hipnotismo. Yo fantaseé pues, que tras el hechos. Un encuentro sin cita previa
total fracaso de este intento los padres me responde a las coordenadas de una elección
rogaban que interviniera con mi tratamiento

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inconsciente, en él el ser hablante se expresa ¿Habrá en estos primeros días de julio de


por fuera del dominio yoico. 2008, en São Paulo, encuentro? No está
Lo voluntario del ser hablante no se reduce a garantizado de antemano. ¿Coincidiremos en
la voluntad consciente. la historia que aquí se elabore, la historia que
según decía Heine, es la profecía del pasado?
Nuestra política de Escuela ¿Qué hemos hecho en estos diez años? ¿Qué
La distinción entre cita y encuentro puede ser esperamos para los próximos?
relevante no sólo en la clínica del Quienes acudimos a esta Cita enfrentamos
psicoanálisis, también en su política. por ejemplo la pregunta: ¿Cuál es la
Como designación de una reunión reglamentación que necesitamos? Aprovecho
internacional, el término “cita”, “rendez- para dejar aquí una opinión, que creo
vous”, es más prudente que “encuentro” o coherente con lo que vengo de explicar. La
“rencontre”, porque nadie garantiza que reglamentación que necesitamos es la mínima
efectivamente en una cita haya encuentro, y necesaria, para asegurar el acto analítico en
menos aún que lo que se encuentra sea lo sus diferentes incidencias: en la intensión,
esperado. En todo caso, el deseo que puede facilitando el funcionamiento de los
animar a algunos no podría cumplirse en el dispositivos específicos de la Escuela que
modo de lo necesario, sin hacer lugar a lo que hacen lugar a opciones reales desde la
del deseo, en un ser capaz de elección, se perspectiva del psicoanálisis; en la extensión,
realiza en el modo de la túkhe. facilitando el acceso del psicoanalista a otros
Al “Encuentro” de 1998 por ejemplo se le contextos en los que él tenga la chace de
llamó así pero no hubo propiamente un hacer, de sus citas profesionales, ocasiones de
encuentro, no en todo caso un buen encuentro psicoanalítico.
encuentro. Esto ilustra ese rasgo estructural
del encuentro, que responde a una
temporalidad que no obedece el programa, el
tiempo de la elección.
La “cita”, que nos convoca en el modo del
imperativo, citote o rendez-vous!, es una
convocatoria que puede facilitar o no el
encuentro. Comentando la distinción entre tu
eres el que me seguirás – tu es celui qui me
suivra(s) -, con o sin “s”, Lacan mostró que
hay distintas maneras de citar al Otro, de
llamarlo, es distinto invitarlo desde el deseo
que darle instrucciones como a un autómata7.
La cita ordena a la manera de lo necesario,
pero el encuentro sólo se produce en seres
capaces de elección, y en el modo de la
contingencia. La ética del psicoanálisis incita
a advertir lo que se encuentra de real, y lo que
se encuentra de real, no necesariamente es un
buen encuentro, a veces se presenta bajo la
forma de lo que decepciona, del fracaso,
incluso de la crisis.

7 J. Lacan, Les psychoses, Seuil, Paris, clase del 13 de


junio de 1956.

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Repetir, rememorar e decidir: a análise entre o


instante da fantasia e o momento do ato
Ana Laura Prates Pacheco
título do meu trabalho é, [1957/58]): Alguns são atrasados e

O evidentemente,
homenagem ao texto de
Freud de
“Rememorar, repetir e
elaborar”, mas inclui o
conceito de decisão,
introduzido por Lacan
uma

1914
procrastinadores, já que é sempre possível
adiar ainda um pouco a decisão, à espera de
mais tempo para pensar. Tempo é o que lhes
falta – presumem – para livrá-los da dúvida e
da dívida com seu amo implacável. Em
contrapartida, há aqueles – ou mais
freqüentemente aquelas – que antecipam uma
precocemente com a expressão “a insondável encenação qualquer, tentando furtar-se da
decisão do ser” 8, e que apresenta inúmeros passagem inexorável com uma espécie de “eu
desdobramentos clínicos e éticos ao longo de faço a hora”, num escape calculado do
seu ensino. Tentarei desenvolver, então, este encontro inevitável com a hora marcada. Há
tema, através de três breves recortes. também os que fogem de Cronos como o
1-Repetição: O instante da fantasia: Se eu diabo foge da cruz, prevendo que o relógio
fosse, quando eu fizer, se tivesse pensado, eu não não os livrará da mordida. Aceleração e/ou
queria... O sujeito neurótico vive suspenso atraso, encontram-se na torção que cria a face
num tempo que projeta sobre o futuro toda a única da banda de Moebius (ilustrada no cartaz
promessa de um presente que “teria sido”, se de nosso Encontro), onde o sujeito – como
não fosse a maldição que determina o álibi uma formiga operária – corre contra o
para a eterna suspensão do ato. Congelado tempo. A diacronia que move a cadeia
no instante da fantasia – cena na qual significante é, assim, um eterno “vir a ser”
esboçou sua versão de uma relação sexual que movimenta o sujeito, projetando-o num
possível – o neurótico almeja o impossível: futuro incerto, mas consistente – já que no
parar o tempo que, introduzindo final, estava escrito na profecia da fantasia o
contingência na série necessária, que ele iria encontrar: “essa cadeia infinita de
desmascara a precariedade e a instabilidade significações a que se chama destino.
de sua montagem. Podemos escapar dela indefinidamente, mas
O sujeito, tentando tapear o fracasso o que se trataria de encontrar é justamente o
real de tal empreitada, alia-se a Cronos, começo – como é que o sujeito entrou nessa
pagando o preço de por ele se deixar devorar, história de significante?” – para usar as
em troca da ilusão de uma contabilidade que, palavras de Lacan no Seminário “A
se não pára o tempo, ao menos o domestica. Augústia” (Lacan, 2005 [1962/63], p. 78).
Há mesmo aqueles que dedicam a vida à Como dizia uma analisante: Não sei o
tarefa de domesticá-lo. “Na medida em que que me espera. Não sabe, mas tem a certeza de
Júpiter é perfeitamente capaz de castrar que, seja lá o que for, “isso” estaria lá,
Cronos – diz Lacan –, nossos pequenos pronto, esperando, em algum lugar no futuro.
Júpiteres temem que o próprio Cronos Wo es war, soll ich werden – como nos ensinou
comece fazendo o trabalho” (Lacan, 1999 Freud – “lá onde isso estava, o eu deverá
advir”. Cabe ao sujeito continuar
caminhando na estrada da vida (a banda), até
8Esta expressão é introduzida por Lacan no texto de – como dizia outro analisante – chegar lá! Eis a
1946 “Formulações sobre a causalidade psíquica”.

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suposição inconsciente que o sustenta em sua podemos formalizar logicamente como “o


alienação neurótica: a da existência do Outro que não cessa de não se inscrever”: No
que sabe, porque está “lá”, no futuro. O analisante – diz Freud – “a compulsão à
sujeito, assim, “só se anuncia que terá sido no repetição na transferência nos mostra que os
futuro anterior” – como expressa Lacan em traços mnêmicos recalcados de suas
sua célebre frase. Daí sua obsessão pela experiências primeiras não se encontram nele
previsão oracular: se soubesse o que o Outro em estado de ligação (Bindung)”. (Idem, p.
sabe, se tivesse acesso à senha, 2520). Sabemos que para Freud a repetição é
antecipadamente, todo o risco, o furo, o erro, atribuída ao “retorno ao inanimado”.
o equívoco, o engano, seriam apagados e, aí Com Lacan esse “retorno ao mesmo”
sim, o ato estaria garantido. Enquanto esse – que contém um impossível na própria
dia não chega, e o sujeito não “chega lá”, o fórmula – é chamado de real: “o real é aqui o
ato está suspenso ou simulado. O que não que retorna sempre no mesmo lugar” (Lacan,
implica em ausência de acting out ou mesmo 1962). O que Lacan chamava de retroversion
de passagens ao ato que, entretanto, apenas (receber do Outro sua própria mensagem de
reforçam sua alienação. forma invertida) revela a própria estrutura do
Aí está o paradoxo do neurótico: inconsciente, formalizada mais tarde na
embora sua relação com o tempo seja da escrita do Discurso do Mestre.
ordem do “muito cedo” ou “muito tarde”, o S1 / S2
sujeito é bastante pontual no que diz respeito $ / a
ao encontro com sua fantasia fundamental. A
fantasia, que estamos acostumados a tratar Essa escrita, entretanto, que inclui o
enquanto um lugar – A Outra cena –, que da estrutura está fora da linguagem (o
também apresenta uma dimensão temporal objeto “mais-de-gozar) contém a fórmula da
na vertente sincrônica. A vida vivida na Nachtraglichkeit freudiana nas vertentes
“miséria neurótica” é repleta de diacrônica (S1 → S2: o que se modifica) e
sincronicidades – como supôs Jung – (ou sincrônica ($◊a: o que permanece constante).
coincidências se vocês preferirem). O Outro, enquanto senhor do tempo é,
Estamos acostumados a escutar portanto, aquele que goza do saber sobre o
nossos analisantes queixarem-se: Comigo é futuro, enquanto o sujeito mantém-se fixado
sempre assim, parece que ando em círculos, parece no instante da fantasia – simultaneamente
carma, de novo a mesma coisa, sempre caio nessa. flexível e inextensível – na eterna expectativa
Vocês devem ter sua própria coleção de da alcançá-lo.
frases recortadas da clínica. Elas apontam 2. Rememoração: tempo entre o instante
para o que Freud chamou de “compulsão à e o momento: A intromissão do analista na
repetição” que, como sabemos, vai além do estrutura da neurose instaura, via associação
princípio do prazer. Por esta via, Freud livre, a lógica da rememoração. Como
concluiu em “Além do princípio do prazer”, articulava Freud, aquilo que era repetição
o que se convencionou chamar de (Wiederholung) passa a ser lembrança (Erinner),
atemporalidade do inconsciente: “os sob transferência. Trata-se de um artifício,
processos psíquicos inconscientes um truque – nos adverte Lacan. Um truque
encontram-se, em si, fora do tempo. Isto através do qual o analista incita o neurótico
quer dizer, em primeiro lugar que não podem ao saber, fazendo-se de suporte para o SSS
ser ordenados temporalmente, que o tempo (Lacan, 1969). Eis a histerização do discurso,
não muda nada neles e que neles não se pode que Lacan sublinha, desde o início de seu
aplicar a idéia de tempo”. (Freud, 1981 v. III ensino não se tratar de memória histórica,
[1920], p. 2520). Essa expressão “fora do
tempo” Freud articula com algo que

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mas da rememoração, da historisteria (hystoire)9 equívoco do SSS: “Suposto no saber em que


na qual: “não é o que vem depois que é ele consiste como sujeito do inconsciente”
modificado, porém tudo o que está antes” – (2003 [1973]). Suposição, ainda demasiado
dizia nos anos 50. A rememoração – neurótica, de que o saber produzido sob
acrescenta em 1976 – “consiste em fazer as transferência alcançará enfim o objeto da
cadeias entrarem em alguma coisa que já está fantasia inconsciente localizado, como
lá e que se nomeia como saber” (Lacan, 2007 verdade, em algum lugar do passado.
[1975/76]). Um analisante testemunhou com uma
$ → S1 anedota o momento em que se deu conta de
a // S2 sua posição na fantasia: Dois homens assaltam
um banco e cada um foge com uma mala. Após
Falar para ser escutado, falar para ser alguns anos, um dos assaltantes, que havia ficado rico
visto, falar para furar o Outro ou para fazê-lo com o dinheiro roubado, vê pela janela de seu carro,
existir. O saber, no dispositivo analítico, um mendigo que ele reconhece ser seu cúmplice no
passa a ser uma produção, que se retira do assalto. Curioso, pára o carro para perguntar por que
próprio sujeito pelas formações do inconsciente. ele estava naquela situação miserável? E o outro
Evidenciam-se, assim, os dois aspectos da responde: Na minha mala só encontrei papéis com
transferência: se, pela inclusão do analista na dívidas. Passar a vida pagando a dívida
fantasia fundamental, ela é a atualização da contraída por outro e, a partir dessa escolha,
realidade sexual inconsciente – isto é, da pagar o preço de viver na miséria pela culpa
relação sexual impossível –, ela não é, de reconhecer-se agente de outro crime. A
entretanto, apenas repetição de um passado a piada – que de resto revelava a presença do
ser revelado à luz da memória. Ao contrário, objeto anal articulado ao olhar – aludia a uma
o que abre a margem para o ato analítico, é cena de sua infância, reconstruída a partir da
justamente sua vertente de criação. intervenção da analista: fora severamente
Durante a maior parte do tempo que repreendido por roubar as ferramentas do pai nas
dura uma análise, entretanto, o que se cria – a quais era proibido terminantemente de
partir dessa aspiração vã chamada neurose de mexer, para emprestá-las a um amigo,
transferência – é uma ficção. Ficção que obtendo assim o prestígio de ser visto como
enquadra e justifica a realidade ao construir, aquele que tem as ferramentas. Caía, assim, sua
pouco a pouco, o castelo onde iriam habitar imagem tão cultivada de “menino bonzinho”.
o saber e a verdade após consumarem seu A presença, entretanto, do duplo especular,
casamento impossível. Aprisionado na torre encarnado naquele que goza da vida, do
que ele próprio terá erguido, o sujeito dinheiro e das mulheres ao roubar a mala
desconhece a servidão voluntária implicada certa, ainda permaneceu durante muito
em sua fixação no objeto parcial da fantasia tempo, nessa análise, como um ideal a ser
que se sustenta num equívoco: o da alcançado pelo avesso.
totalidade do gozo. Construir o castelo da 3. Decisão: O momento do ato/fazer
fantasia é, logicamente, condição necessária, outra ficção do real. Sabemos, desde Freud,
contanto que o sujeito não se contente em que os tempos da construção da fantasia até
habitá-lo. sua redução a um resíduo dessubjetivado,
A produção, ao longo de uma dependem das escansões operadas pelo
análise, portanto, porta em seu âmago o analista. O jogo do tratamento analítico,
cúmulo do engano, que Lacan chamou o assim, gira em torno do corte. É o corte que
tornará possível o salto mais além das
seqüências da construção. Aquele mesmo
9 Faço aqui referência ao texto de Lacan de 1976
“Prefácio da edição inglesa do Seminário 11”. In
analisante, quando se dá conta da
Outros Escritos (2003). consistência que havia dado ao Outro que

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não existe, inicia a sessão com o seguinte do casamento fictício entre saber e verdade.
chiste: O português entra num ônibus vazio, com a O analista não é o noivo da verdade, adverte
presença apenas do motorista e do cobrador e senta-se Lacan. Aqui, é preciso dar um passo além de
em um lugar qualquer. Está chovendo e justo no Freud, um passo que é um salto e que Lacan
lugar escolhido tem uma goteira que pinga sobre sua chamou de passe. O momento do passe,
cabeça. Após algum tempo circulando, o cobrador portanto, pressupõe justamente a
pergunta: - Português, não tem ninguém no ônibus e transposição da lógica dos objetos parciais da
você fica com essa goteira pingando em cima da sua fantasia (a parte pelo todo), para a lógica
cabeça. Porque não troca de lugar? E o português incompleta do não-todo. Trata-se, assim, de
responde: - Trocar com quem? Corte da sessão! um esvaziamento: “No fim da operação o
Desta vez, terá sido enfim suficiente para que analista aí representa o esvaziamento do
ultrapasse o horror ao ato? objeto a, ele cai para se tornar ele mesmo a
Tendo a transferência se reduzido ao ficção rejeitada” (Lacan, 1969). Rejeitar a
extremo da insignificância – este ponto real ficção, se despedir do castelo. Não por acaso,
não interpretável, quando a presença do Lacan articulou esse momento de pleno passe
analista é quase idêntica ao esquecimento da a certa posição depressiva que corresponde
coisa sabida – o que ainda a manteria, senão a logicamente à queda do SSS e à certeza
covardia do sujeito em desabonar-se do antecipada de que a falta é, realmente, pura
inconsciente – as migalhas de saber – perda. Essa posição deverá, entretanto, ser
enquanto lastro? Mais uma sessão, o saber atravessada. Só se termina uma análise,
Sn+1, a lembrança encobridora mais remota, portanto, por um ato que ultrapassa o sujeito,
uma volta a mais na demanda, a última pois implica em sua destituição.
palavra, o tijolo derradeiro da construção do Sim, é preciso tempo (Il faut le temps);
tal castelo de fantasia. Não. Não há última não há curto circuito para o atravessamento
palavra. Nenhuma esperança de se terminar da fantasia: Isso só se obtém – sublinha Lacan
uma análise por essa via, que Freud percebeu (1972/73) – “depois de um tempo muito
ser infinita. Como nos lembra Lacan a longo de extração para fora da linguagem, de
propósito do paradoxo de Zenão – que algo que lá está preso”; este “resto da coisa
aponta justamente para o incomensurável –: sabida” que se chama objeto a. Para uma
Aquiles, é bem claro, só pode ultrapassar a analisante; uma mulher, as ferramentas do pai
tartaruga, não pode juntar-se a ela. Ele só se junta a também apresentavam um valor muito
ela na infinitude. Se (como vimos no início), especial, na medida em que representavam o
não há o Outro que detém a senha que acesso ao dito paterno tomado como
decifra a charada sobre o futuro, tampouco imperativo: Você tem que aprender a se virar
há o Outro do passado pleno de significações sozinha. Na caixa de ferramentas encontrava
condensadas a serem desvendadas. Tal os instrumentos necessários para fazer tudo o
crença, aliás, só pode conduzir o sujeito a que um homem sabe; o que incluiu a fabricação,
perpetuar, sob transferência, a busca do tempo na infância, de um pênis artificial com o qual
perdido. podia urinar em pé. No momento em que
Uma vez tendo se deparado com o consente com sua clássica e surpreendente
horror da modalidade de gozo eleita, não é penisneid, tem um sonho: estava andando em
em absoluto de mais tempo que o sujeito Paris com o pai, apreciando os monumentos,
precisa para decidir abrir mão: da fixação do quando se deparam com um manto no chão,
objeto na fantasia, do acesso ao não sabido que todo bordado e brilhante. O pai deita-se
sabe da castração, ao insucesso da relação sexual10, sobre o manto e ela tenta em vão fotografá-lo
por todos os ângulos, já que sempre havia
10 Referência ao Seminário de Lacan L´insu que sait de
uma sombra que impedia a captura da
l´une-bévue s´aile à mourre. imagem. O pai levanta-se e o manto

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transforma-se em trapos de mendigos e


restos de comida. Nas associações, se dá REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
conta da inversão pulsional: meu pai sempre fez
LACAN, J. (1954-55). O Seminário, livro 2: O eu na
sombra sobre mim. Explicita-se, assim, sua teoria de Freud e na técnica da psicanálise.
inscrição não-toda fálica na presença deste Trad. de Marie Christine Lasnik Penot com a
objeto não capturável pela imagem – própria colaboração de Antônio Luis Quinet de
definição de objeto a – essa mancha que, Andrade. Rio de Janeiro, Zahar, 1985.
segundo Lacan, estrutura o lugar de falta em toda _________. (1956-57). O Seminário, livro 4: A
visão (Lacan, 1969). Ao mesmo tempo, revela- relação de objeto. Trad. Dulce Duque Estrada.
Rio de Janeiro, Zahar, 1995.
se a resposta fantasmática que lhe fornecia
consistência imaginária na identificação com _________. (1957-58). O Seminário, livro 5: As
formações do inconsciente. Trad. Vera
o rebotalho do outro (“os restos de comida”) Ribeiro. Rio de Janeiro, Zahar, 1985.
– marca de sua relação com os homens. _________ . (1962-63). O Seminário, livro 10: A
A extração do objeto a destaca, assim, angústia. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro,
a presença na estrutura, dessa outra banda Zahar, 2005.
não especularizável, imprimindo a pressa _________. (1964). O Seminário, livro 11: Os quatro
lógica: a função da pressa11 – enfatiza Lacan – conceitos fundamentais de psicanálise. Trad.
“é colocada pelo objeto a como causa de MD Magno. Rio de Janeiro, Zahar, 1998.
desejo”. (Lacan, 1985 [1972/73], p. 67). A _________ . (1969 – 70). O Seminário, livro 17: O
perda pura pode, então, causar outra ficção do avesso da psicanálise. Trad. Ari Roitman. Rio
de Janeiro, Zahar, 1992.
real12. O que exige, entretanto, uma decisão.
_________ . (1972-73). O Seminário, livro 20: Mais,
Ora, a decisão é um ato solitário. Solitário e ainda. Trad. M.D.Magdo. Rio de Janeiro, Zahar,
sem lastro, já que suas conseqüências não 1982.
podem ser antecipadas por nenhum cálculo. _________ . (1975-76). O Seminário, livro 23: O
Entre o antes e o depois, há um indecidível sinthoma. Trad. Sérgio Laia. Rio de Janeiro,
lógico, impossível de calcular. E isso por Zahar, 2007.
razões tão simples que chegam a ser
desconcertantes: o passado reduz-se apenas LACAN, J. (1946). Formulações sobre a causalidade
ao traço que suportou a inscrição primeira, e psíquica. In: Escritos. Op.Cit.
o futuro só existe enquanto desejo e aposta. _________. (1945). O tempo lógico e a asserção de
O momento do ato, assim, provoca uma certeza antecipada. In: Escritos. Op.Cit.
profunda transformação na própria relação _________. (1960). Subversão do sujeito e dialética do
do sujeito com o tempo. Consentindo em desejo no inconsciente freudiano. In: Escritos.
Op.Cit.
ceder à inexorável mordida de Cronos, é
LACAN, J. ________. (1961-62). A Identificação.
possível, então, experimentar a boa hora que Seminário não estabelecido oficialmente. Trad.
os gregos chamavam de Kairos – tempo que Ivan Corrêa e Marcos Bagno. Centro de Estudos
não pode ser medido, mas que pode ser Freudianos, Recife, 2003.
vivido. “A miragem da verdade, da qual só se ________. (1966-67). La lógica del fantasma.
pode esperar a mentira, não terá então outro Seminário não estabelecido oficialmente.
limite – nos ensina Lacan – senão a satisfação ________. (1967-68). O ato analítico. Seminário não
que marca o fim da análise” (2003 [1976], p. estabelecido oficialmente.
568). ________. (1968-69). De um Outro ao outro.
Seminário não estabelecido oficialmente.
11 Trata-se de uma referência ao texto de Lacan “O ________. ((1974-75). R.S.I. Seminário não
tempo lógico e a asserção da certeza estabelecido oficialmente.
antecipada”(1949), retomada por ele no Seminário 20
“Mais Ainda” (1972/73).
12 Expressão utilizada por Lacan no Seminário 17 “O

avesso da psicanálise” (1969/70).

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Repetir, recordar y decidir: el análisis entre el


instante del fantasma y el momento del acto
Ana Laura Prates Pacheco
-Repetición: el instante del encuentran en la torsión que crea la cara
fantasma: Si yo fuera, cuando haga, única de la banda de Moebius (ilustrada en el

1 si hubiera pensado, no querría… El


sujeto neurótico vive suspendido
en un tiempo que proyecta en el
futuro toda promesa de un
presente que “habría sido” si no
fuera por la maldición que
determina la coartada para la
cartel de nuestro Encuentro), en la cual el
sujeto – como una hormiga obrera – corre
contra el tiempo. La diacronía que mueve la
cadena significante es, así, un eterno “llegar a
ser” que moviliza al sujeto, proyectándolo a
un futuro incierto, pero consistente – ya que
en el final estaba escrito en la profecía del
eterna suspensión del acto. Congelado en el fantasma lo que encontraría: esa cadena
instante del fantasma – escena en la cual indefinida de significaciones que se llama destino.
esbozó su versión de una relación sexual Uno puede escapar indefinidamente, pero lo que se
posible – el neurótico anhela lo imposible: tratará de reencontrar es: ¿cómo entró el sujeto en esa
parar el tiempo que, introduciendo historia de significante? ? (Sem 10). Como decía
contingencia en la serie necesaria, un analizante: No sé lo que me espera. No sabe,
desenmascara la precariedad e inestabilidad pero tiene la certeza que, sea lo que sea, ‘eso’
de su montaje. El sujeto, intentando burlar el estaría allí, listo, esperando, en algún lugar en
fracaso real de tal empresa, se alía con el futuro. Wo es war, soll ich werden – como nos
Cronos, pagando el precio de dejarse devorar enseñó Freud – “donde ello era, el yo debe
por él a cambio de la ilusión de una advenir”. Cabe al sujeto continuar caminando
contabilidad que a pesar de no parar el en el camino de la vida (la banda) hasta –
tiempo, al menos lo domestica. Incluso hay como decía otro analizante – ¡llegar ahí! Esta
quienes dedican su vida a la tarea de es la suposición inconciente que lo sostiene
domesticarlo. En la medida en que Júpiter es en su alienación neurótica: la existencia del
perfectamente capaz de castrar a Cronos – dice Otro que sabe, porque está ‘ahí’, en el futuro.
Lacan – nuestros pequeños Júpiter temen que Cronos De ese modo, el sujeto sólo anuncia lo que habrá
comience él mismo a hacer el trabajo (Sem. 5): sido en el futuro anterior (Escritos). De allí surge
Algunos son atrasados y procastinadores, ya su obsesión por la previsión oracular: si
que siempre es posible postergar un poco la supiera lo que el Otro sabe, si tuviera acceso
decisión, a la espera de “más tiempo” para a la clave anticipadamente, todo riesgo,
pensar. Tiempo es lo que les falta – presumen desliz, error, equívoco, engaño sería borrado
– para liberarlos de la duda y de la deuda con y ahí sí el acto estaría garantizado. Mientras
su amo implacable. En contrapartida, hay ese día no llega y el sujeto ‘no llega ahí’, el
algunos que anticipan una puesta en escena acto está suspendido o simulado. Lo que no
cualquiera, intentando sustraerse al paso implica la ausencia de acting out o incluso de
inexorable con una especie de “adelantar el pasajes al acto que, sin embargo, refuerzan su
reloj”, en un escape calculado del encuentro alienación. Allí radica la paradoja del
inevitable con la hora marcada. También hay neurótico: aunque su relación con el tiempo
quienes huyen de Cronos como el diablo de la sea del orden del ‘muy temprano’ o ‘muy
cruz, previendo que el reloj no los liberará de tarde’, el sujeto es bastante puntual en el
la mordida. Aceleración y/o atraso se encuentro con su fantasma fundamental. El

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fantasma, que estamos acostumbrados a 2. Recuerdo: tiempo entre el instante y el


tratar en tanto lugar – la Otra escena –, momento. La intromisión del analista en la
también presenta una dimensión temporal en estructura de la neurosis instaura, vía
la vertiente sincrónica. La vida vivida en la asociación libre, la lógica del recuerdo. Como
‘miseria neurótica’ está repleta de lo articulaba Freud, aquello que era repetición
sincronicidades – como supuso Jung – (o de (Wiederholung) pasa a ser recuerdo (Erinner) en
coincidencias, si prefieren). Estamos la transferencia. Se trata de un artificio, un
habituados a escuchar a nuestros analizantes truco – nos advierte Lacan. Un truco a través
quejarse: Conmigo siempre es así, parece que camino del cual el analista incita al neurótico al saber
en círculos, parece un karma, de nuevo lo mismo, haciéndose soporte del SSS (Sem 16). Esta es
siempre caigo en la misma. (Ustedes deben tener la histerización del discurso; Lacan subraya
sus propias frases recortadas de la clínica). desde el inicio de su enseñanza que no se
Esto indica lo que Freud llamó ‘compulsión a trata de memoria histórica, sino de recuerdo,
la repetición’, que, como sabemos, va más de historisteria (hystoire), en la cual: lo que se
allá del principio del placer. Por este camino modifica no es lo que viene después, sino todo lo que
Freud concluyó lo que se llamó está antes (Sem 2). El recordar – agrega en
convencionalmente atemporalidad del 1976 – consiste en hacer que las cadenas entren en
inconciente: los procesos psíquicos inconcientes se algo que ya está allí y que se nombra como saber.
encuentran fuera del tiempo. Esto significa, en primer Hablar para ser escuchado, hablar para ser
lugar, que no se pueden ordenar temporalmente, que visto, hablar para descompletar al Otro o
el tiempo no altera nada en ellos y que no se les puede para hacerlo existir. En el dispositivo
aplicar la idea de tiempo (“Más allá”…). Freud analítico el saber deviene una producción, que
articula esa expresión ‘fuera del tiempo’ con se retira del propio sujeto por las formaciones del
lo ‘que no cesa de no inscribirse’: En el inconciente. Se evidencian así dos aspectos
analizante, la compulsión a la repetición en la de la transferencia: si por la inclusión del
transferencia muestra que las huellas mnémicas analista en el fantasma fundamental ella es la
reprimidas de sus primeras experiencias no se actualización de la realidad sexual inconciente
encuentran en él en estado de ligazón (Bindung). – o sea, de la relación sexual imposible – no
Sabemos que para Freud la repetición es es, sin embargo, sólo repetición de un pasado
atribuida al “retorno a lo inanimado”. En a ser revelado a la luz de la memoria. Al
Lacan ese “retorno a lo mismo” – que contrario, lo que deja margen para el acto
contiene un imposible en la propia fórmula – analítico es precisamente su vertiente de
es llamado real: “lo real es aquí lo que retorna creación. Lo que se crea durante la mayor
siempre al mismo lugar” (Sem.9). Lo que parte del tiempo que dura el análisis – a partir
Lacan denominaba retroversion (recibir del de esa aspiración vana llamada neurosis de
Otro su propio mensaje de forma invertida) transferencia – es una ficción. Ficción que
revela la estructura misma del inconciente, encuadra y justifica la realidad al construir,
formalizada más tarde en la escritura del poco a poco, el castillo adonde irían a vivir el
Discurso del Amo. Esa escritura contiene la saber y la verdad luego de consumar su
fórmula del Nachtraglichkeit freudiano en las casamiento imposible. Preso en la torre que
vertientes diacrónica (S1 → S2: lo que se él mismo habrá erigido, el sujeto desconoce
modifica) y sincrónica ($◊a: lo que permanece la servidumbre voluntaria implicada en su
constante). El Otro, en tanto señor del fijación al objeto parcial del fantasma que se
tiempo es, por lo tanto, aquel que goza del sostiene en un equívoco: el de la totalidad del
saber sobre el futuro, mientras el sujeto goce. Construir el castillo del fantasma es,
permanece fijo en el instante del fantasma – lógicamente, condición necesaria, siempre y
simultáneamente flexible e inextensible – en cuando el sujeto no se contente con
la eterna expectativa de alcanzarlo. habitarlo. Por lo tanto, la producción a lo

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largo de un análisis lleva en su núcleo el un gallego entra en un ómnibus vacío, con la sola
colmo del engaño, que Lacan denominó el presencia del chofer y del cobrador y se sienta en un
equívoco del SSS: supuesto no saber en que él lugar cualquiera. Está lloviendo y justo en el lugar
consiste como sujeto del inconciente (Televisión). elegido hay una gotera que cae sobre su cabeza.
Suposición, todavía demasiado neurótica, de Después de algún tiempo circulando el cobrador
que el saber producido en transferencia pregunta: - Gallego, no hay nadie en el ómnibus y
alcanzará por fin el objeto del fantasma usted se queda con esa gotera encima de la cabeza.
inconciente localizado, como verdad, en ¿Por qué no cambia de lugar? Y el gallego responde:
algún lugar del pasado. Un analizante ¿Cambiar con quién? ¡Corte de la sesión! ¿Habrá
testimonió con una anécdota el momento en sido suficiente esta vez para que por fin
que se dio cuenta de su posición en el supere el horror al acto? Habiéndose
fantasma: dos hombres asaltan un banco y cada uno reducido la transferencia al extremo de la
escapa con una valija. Después de algunos años, uno insignificancia – este punto real no
de los asaltantes, enriquecido con el dinero robado, ve interpretable, cuando la presencia del analista
por la ventana de su auto un mendigo que reconoce es casi idéntica al olvido de la cosa sabida –,
como su cómplice en el asalto. Curioso, para el auto ¿qué la mantendría todavía sino la cobardía
para preguntarle por qué estaba en esa situación. El del sujeto en desabonarse del inconciente –
otro responde: en mi valija sólo había papeles con las migajas de saber – como lastre? Una
deudas. Pasar la vida pagando la deuda sesión más, el saber Sn+1, el recuerdo
contraída por otro y, a partir de esa elección, encubridor más remoto, una vuelta más en la
pagar el precio de vivir en la miseria por la demanda, la última palabra, el ladrillo final de
culpa de reconocerse agente de otro crimen. la construcción del castillo del fantasma. No.
El chiste – que revelaba además la presencia No hay última palabra. No hay esperanzas de
del objeto anal articulado con la mirada – terminar un análisis por esa vía, Freud
aludía a una escena de su infancia percibió que es infinita. Como nos recuerda
reconstruida a partir de la intervención de la Lacan a propósito de la paradoja de Zenón –
analista: había sido reprendido severamente que indica justamente lo inconmensurable –:
por robar las herramientas del padre – que tenía Aquiles, está muy claro, sólo puede sobrepasar a la
terminantemente prohibido tocar – para tortuga, no puede alcanzarla. Sólo la alcanza en la
prestárselas a un amigo, obteniendo así el infinitud. Si no hay un Otro que tenga la clave
prestigio de ser visto como aquel que tiene las que descifra la charada sobre futuro, tampoco
herramientas. De este modo caía su imagen tan hay otro del pasado pleno de significaciones
cultivada de “nene bueno”. Sin embargo, la condensadas a ser descubiertas. En efecto, tal
presencia del doble especular, encarnado en creencia sólo puede conducir al sujeto a
aquel que goza de la vida, del dinero y de las perpetuar en transferencia la búsqueda del
mujeres al robar la valija correcta, se mantuvo tiempo perdido. Habiéndose enfrentado ya al
todavía durante mucho tiempo en ese análisis horror de la modalidad de goce elegida, no es
como un ideal a ser alcanzado por el revés. en absoluto de más tiempo de lo que el sujeto
3. Decisión: El momento del acto/hacer necesita para decidir abandonar la fijación del
otra ficción de lo real. Desde Freud objeto en el fantasma, el acceso a lo no sabido
sabemos que los tiempos de la construcción que sabe de la castración, el fracaso de la relación
del fantasma hasta su reducción a un residuo sexual, el casamiento ficticio entre saber y
desubjetivado dependen de las escansiones verdad. El analista no es el novio de la
operadas por el analista. Así, el juego del verdad, advierte Lacan. Aquí es necesario dar
tratamiento analítico gira en torno al corte. un paso más allá de Freud, un paso que es un
Aquel mismo analizante, cuando se da cuenta salto y que Lacan llamó pase. Por lo tanto, el
de la consistencia que le había dado al Otro momento del pase presupone precisamente la
que no existe, inicia la sesión con este chiste: transposición de la lógica de los objetos

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parciales del fantasma (la parte por el todo) a falta en toda visión (Sem 16). Al mismo tiempo
la lógica incompleta del no-todo. Se trata, de se revela la respuesta fantasmática que le daba
ese modo, de un vaciamiento: al término de la consistencia imaginaria en la identificación
operación, el analista representa allí el vaciamiento con el las sobras del otro (“los restos de
del objeto a, cae para devenir él mismo ficción comida”) – marca de su relación con los
rechazada (Sem 16). Rechazar la ficción, hombres. La extracción del objeto a destaca,
despedirse del castillo. No es casual que de esa manera, la presencia en la estructura de
Lacan articule este momento de pleno pase esta otra banda no especularizable,
con cierta posición depresiva que imprimiendo la prisa lógica: la función de la
corresponde lógicamente a la caída del SSS y prisa – enfatiza Lacan – es planteada por el objeto
a la certeza anticipada de que la falta es a como causa da deseo. La “pura pérdida” puede
realmente pura pérdida. Sin embargo, esa entonces causar otra ficción de lo real. Lo cual
posición deberá ser atravesada. Sólo se exige, sin embargo, una decisión. Ahora bien,
termina un análisis, por lo tanto, a través de la decisión es un acto solitario. Solitario y sin
un acto que va más allá del sujeto, pues lastre, ya que sus consecuencias no pueden
implica su destitución. Sí, es necesario tiempo ser anticipadas por ningún cálculo. Entre el
(Il faut le temps); no hay cortocircuito para el antes y el después hay un indecidible lógico
atravesamiento del fantasma: no se obtiene sino imposible de calcular. Y esto por razones tan
– subraya Lacan (Sem 20) – después de un largo simples que llegan a ser desconcertantes: el
tiempo de extracción a partir del lenguaje, de algo que pasado se reduce apenas al trazo que soportó
está prendido a él; este “resto de cosa sabida” la inscripción primera y el futuro sólo existe
que se llama objeto a. Para una analizante, en tanto deseo y apuesta. El momento del
una mujer, las herramientas del padre acto provoca así una profunda
también presentaban un valor muy especial transformación en la propia relación del
en la medida en que representaban el acceso sujeto con el tiempo. Aceptando ceder a la
al dicho paterno tomado como imperativo: inexorable mordida de Cronos es posible
tienes que aprender a arreglártelas sola. En la caja entonces experimentar la buena hora que los
de herramientas encontraba los instrumentos griegos llamaban Kairos – tiempo que no
necesarios para hacer todo lo que un hombre sabe, puede ser medido, pero que puede ser vivido.
lo cual incluyó la fabricación, en la infancia, El espejismo de la verdad, del cual sólo se puede
de un pene artificial con el que podía orinar esperar la mentira, no tendrá entonces otro límite –
de pie. En el momento en que acepta su nos enseña Lacan – sino la satisfacción que marca
clásico y sorprendente penisneid tiene un el fin de análisis.
sueño: estaba caminando por París con el REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
padre, contemplando los monumentos, LACAN, J. (1954-55). O Seminário, livro 2: O eu na
teoria de Freud e na técnica da psicanálise.
cuando encontraron una capa en el piso, toda Trad. de Marie Christine Lasnik Penot com a
bordada y brillante. El padre se acuesta sobre colaboração de Antônio Luis Quinet de
la capa y ella intenta en vano fotografiarlo de Andrade. Rio de Janeiro, Zahar, 1985.
todos los ángulos, ya que siempre había una _________. (1956-57). O Seminário, livro 4: A
sombra que impedía la captura de la imagen. relação de objeto. Trad. Dulce Duque Estrada.
El padre se levanta y la capa se transforma en Rio de Janeiro, Zahar, 1995.
trapos de mendigos y restos de comida. En _________. (1957-58). O Seminário, livro 5: As
las asociaciones de da cuenta de la inversión formações do inconsciente. Trad. Vera
Ribeiro. Rio de Janeiro, Zahar, 1985.
pulsional: mi padre siempre me hizo sombra. Se
_________ . (1962-63). O Seminário, livro 10: A
explicita así su inscripción no-toda fálica en la angústia. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro,
presencia de este objeto no captable por la Zahar, 2005.
imagen – propia definición del objeto a – esa
mancha que, según Lacan, estructura el lugar de la

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_________. (1964). O Seminário, livro 11: Os quatro _________. (1960). Subversão do sujeito e dialética do
conceitos fundamentais de psicanálise. Trad. desejo no inconsciente freudiano. In: Escritos.
MD Magno. Rio de Janeiro, Zahar, 1998. Op.Cit.
_________ . (1969 – 70). O Seminário, livro 17: O
avesso da psicanálise. Trad. Ari Roitman. Rio LACAN, J. ________. (1961-62). A Identificação.
de Janeiro, Zahar, 1992. Seminário não estabelecido oficialmente. Trad.
_________ . (1972-73). O Seminário, livro 20: Mais, Ivan Corrêa e Marcos Bagno. Centro de Estudos
ainda. Trad. M.D.Magdo. Rio de Janeiro, Zahar, Freudianos, Recife, 2003.
1982. ________. (1966-67). La lógica del fantasma.
_________ . (1975-76). O Seminário, livro 23: O Seminário não estabelecido oficialmente.
sinthoma. Trad. Sérgio Laia. Rio de Janeiro, ________. (1967-68). O ato analítico. Seminário não
Zahar, 2007. estabelecido oficialmente.
________. (1968-69). De um Outro ao outro.
LACAN, J. (1946). Formulações sobre a causalidade Seminário não estabelecido oficialmente.
psíquica. In: Escritos. Op.Cit. ________. ((1974-75). R.S.I. Seminário não
_________. (1945). O tempo lógico e a asserção de estabelecido oficialmente.
certeza antecipada. In: Escritos. Op.Cit.

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Le temps du désir, les temps de l’interprétation, le


temps de l’acte
Marc Strauss
l s’agit de distinguer trois temps, Ainsi, le sujet du désir vit dans le futur. Il se
accessoirement en démultipliant projette dans le moment où il sera au présent,

I le second. Et de démontrer que


ces trois temps appartiennent à
des modes d'existence différents
qui correspondent eux-mêmes à
trois temps dans la cure. Aux
trois temps de la cure d'ailleurs.
en présence de l'objet, réuni à lui. Il se
projette même dans un futur où il pourra se
voir avoir été au présent, Lacan a développé
cette dimension du futur antérieur du désir.
Le sujet projette cette rencontre à
venir que parce qu'il a manqué la rencontre
passée. Une méprise première a laissé sa
I/ Ainsi, le premier, le temps du désir, c'est trace, sa cicatrice d'insatisfaction qu'il s'agit
celui de la parole innocente. Celle qui se dit et d'effacer. Le sujet veut répéter de la bonne
ne sait pas ce qu'elle dit. Elle a cours dans ce manière, sans faute, ce qui a été manqué une
qu'on appelle la vie courante, où l'ignorance première fois. Cette réminiscence de la trace
est couverte par le masque du moi. C'est elle est ce qui le projette dans l'avenir attendu de
aussi qui se profère sur le divan, la parole la saisie de l'objet primordialement perdu. Un
analysante, celle de l'association libre, qui, de passé pour un futur, le présent n'étant que la
pacto, est placée sous le sceau du savoir en transition évanescente entre les deux
attente de son complément d'interprétation. Il y a à ces temps des affects qui sont
A ce temps du désir et de la parole attachés : l'espoir et la peur.
correspondent des temps grammaticaux. Et une animation particulière du corps : la
Des temps, pas les temps ; pas tous hâte.
donc, puisqu'à ces temps manquent celui sur C'est que dans le temps du désir, je
lequel je ferai porter aujourd'hui ma question n'ai pas de temps à perdre.
: Où est le présent ? Avec l'application L'objet est là, plus ou moins à portée
concrète, clinique, de cette question, qui de regard, de voix, de main, il m'attend.
s'énonce en : Quand puis-je dire que je suis Et je sais que je risque à chaque
présent – c'est-à-dire aussi quand puis-je me instant d'être dépassé par la mort, qui
sentir dans le présent ? interrompra ma course. Ce serait quand
Pourquoi à ces temps de la parole même dommage, tous ces efforts pour rien…
innocente manquerait le présent ? Mais au moment de la saisie de
C'est que le désir n'est pas au présent. l'objet, une crainte apparaît. Est-ce le bon ? Il
En effet, c'est lui qui est innocent, faut en être assuré, n'être pas dupe d'une
précisément de ce qui le cause, et il est tout précipitation causée par un leurre. Et pour
occupé à poursuivre son objet. Un objet dont cela suspendre le mouvement, afin qu'il
il veut croire que c'est celui qui lui manque. puisse être repris en connaissance de cause.
Et il ne peut le croire que tant qu'il ne l'a pas En quoi la seconde fois serait-elle en
attrapé. S'il l'attrape, il est obligé d'en connaissance de cause ? En tout cas,
changer, d'en mettre un autre à la même place suspendre leur mouvement est bien aussi ce
d'objet escompté. Autre objet, mais même que font les autres, les autres prisonniers du
place. temps logique. Donc, puisqu'ils se sont
arrêtés aussi, je peux reprendre ma marche.

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Mais y vont-ils vraiment ? Vérifions encore fuite, au sens de la détalade ; désir comme
qu'ils sont assurés de leur décision, que leur défense dit Lacan. Ajoutons comme défense
départ précédent était bien volontaire. contre le présent.
Arrêtons-nous encore une fois et voyons s'ils
repartent. Oui, repartir deux fois suffit à faire II/ Les temps de l'interprétation
preuve que la première suspension n'était pas Le deuxième temps que nous distinguons est
le fait du hasard. Ce n'est donc pas la mise en celui de l'interprétation. Nous avons dit les
mouvement du sujet qui lui donne sa temps de l'interprétation, non parce qu'ils
certitude, mais la suspension de ce sont grammaticalement variés, mais parce
mouvement. Et c'est la deuxième suspension qu'ils se répètent, à travers des formes
qui donne le sens de suspension vraie à la différentes. C'est le temps du traumatisme.
première. Un temps qui ne se dit pas, il n'est pas un
Voici donc l'objet qui s'offre à moi. temps grammatical, il n'accède pas à
La porte de la prison est sur le point de l'existence langagière. Au contraire, temps du
s'ouvrir et je vais enfin en passer le seuil. Me malentendu, lapsus ou équivoque, il coupe le
voilà libre, bientôt ! Mais libre de quoi ? Ce flux du langage, interrompt la douce
qui, passé la porte s'offre, n'est pas l'espace somnolence du pilotage automatique. Il fait
infini des possibles. Il y a bien un objet qui là surprise, suspend les semblants. Et par là
s'offre, mais, déception en même temps que répète à l'identique le trauma premier, celui
soulagement, cet objet obtenu n'est pas de la prise manquée de l'objet. Avec lui, il
l'objet attendu. Déception, car il ne me reste faut se réveiller, il y a urgence. Il faut éteindre
que la liberté de consommer éventuellement l'incendie provoqué par la chute du cierge
cet objet-récompense, jusqu'à ce que l'effet qui, au lieu de brûler bien à sa place,
de satisfaction en soit passé et qu'il me faille enflamme le corps entier.
repartir en quête du véritable objet.
Soulagement, car si c'était le bon, c'en serait Rendre impossible la chute du cierge, c'est à
cuit de ma quête, et le désir qui me représente quoi s'emploie le névrosé. Par des fixations,
s'abolirait en même temps qu'elle. Je puis auxquelles il arrime le cierge, même si par là il
donc hésiter à me satisfaire de l'objet qui se se fixe un peu trop lui aussi. Jusqu'à se faire le
présente ; hésitations qui correspondent aux servant du cierge, et lui supposer un vouloir
types cliniques des névrose : soit que trop être cierge et ainsi à l'adorer pour s'assurer
menaçant il faille au phobique l'éviter soit que qu'il reste bien cierge bienveillant, c'est-à-dire
trop décevant il faille le refuser, à l'hystérique immobile. Croire savoir tenir le cierge sous
en s'y soustrayant, anorexie de sa son contrôle, par ses rites, c'est rassurant.
consommation donc, et à l'obsessionnel en le Mais le démenti de la réalité ne manque
rendant inadéquat et donc impossible. jamais. L'accident sous toutes ses formes
Je peux aussi être fatigué de la course montre que ce n'était pas ça ! Autre chose
pour un temps, le temps de récupérer, de existe encore, que pour connaître, c'est-à-dire
somnoler. D'ailleurs, avec le pilotage maîtriser, il aurait fallu appareiller autrement !
automatique de l'appareil psychique, je peux Par la répétition des coupures
somnoler et continuer ma course. Que je interprétatives se dévoilent au sujet ses
dorme et rêve, ou que je sois éveillé, c'est la manœuvres pour faire exister à son désir un
même course. cierge doté d'un vouloir qui le protège de
l'incendie, qui assure les semblants qui
Mais quoi qu'il en soit de mon énergie à confèrent une image à l'objet de son désir.
désirer, le sens du désir, c'est la fuite du Ainsi progressivement le cierge apparaît dans
présent, au sens de l'évasion. Si le sens fuit, sa bêtise de cierge, S1.
au sens du tonneau, le sens du désir est la

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En effet, il n'y a pas plus de vouloir qui lui manque, n'en sait pas plus que lui.
du cierge que de directeur de prison, et par là Alors que le sujet veut être aimé pour autre
de liberté, d'évasion possible. Il n'y a pas de chose qu'un semblant, pour ce qui le fait
directeur pour décider d'inscrire sur le corps unique.
de chaque prisonnier sa couleur spécifiée ; ce La parole pour cela est sans espoir, de
que nous écrivons S(A)barré. Aucun des devoir ne procéder que du semblant. Reste
prisonniers ne peut déduire de la couleur des que le sujet parle, pour se faire, au-delà des
autres la sienne, à savoir la vraie nature de semblants, se faire reconnaître comme
son sexe, qui est sa signification au-delà de parlant, comme parlêtre.
son anatomie. Le temps de S(A)barré, temps Et il est un autre mode de l'usage du
de l'interprétation, ne peut se quantifier, se langage que n'est pas que semblant, et pas
sérier. Il s'éprouve, dans son ex-sistence. que coupure traumatique non plus : l'écriture.
L'idée que j'aimerais proposer
III / L'acte aujourd'hui est que notre expérience nous
Le troisième temps est celui de l'acte. révèle qu'il n'est de temps présent que dans le
Un temps qui se distingue de celui du désir, temps de l'acte, et que ce temps de l'acte est
avec sa fuite, comme de celui de un temps d'écriture. Ce qui m'oblige à
l'interprétation, qui est suspens, coupure du préciser en quoi le dire, puisqu'il n'y a d'acte
temps où le sujet ne s'appréhende que par sa que du dire, en quoi le dire se fait écriture.
disparition hors de la chaîne de ses Le plus simple est de dire que le dire
représentations, dans l'angoisse. est ce qui des dits, qui fluent et qui fuient, fait
Aussi bien le temps du trauma est sans suite, trace. Une trace qui constitue le sujet ; ou, ce
sans suite nouvelle. Après son suspens, ça qui revient au même, le change.
reprend comme avant, répétition vaine dit Une trace qui se veut écriture ne peut
Lacan. être le fait d'un accident. C'est une trace
Dans l'acte, en revanche, le sujet destinée à faire sens, voulue pour faire sens
répète aussi, mais tout autre chose. A partir pour un autre, son lecteur, qui peut être
du constat de la répétition vaine, il peut l'auteur lui-même à l'occasion. Ecrire, ce n'est
courir le risque absolu qu'il y a à opter sans pas le fait de l'animal qui laisse ses traces sans
garantie. Ne pouvant dès lors que soutenir les y penser, par un accident de la nature, mais
conséquences de son affirmation à partir de c'est la marque de la volonté d'un sujet. Elle
la réponse que les autres voudront bien est donc signe non seulement d'un désir, mais
donner pour lui attribuer un sens. Le sujet du fait qu'un sujet a accepté de s'y déposer
doit s'en remettre à l'autre pour deux choses. sans reprise possible, sans effacement
Authentifier ce qu'il dit, mais surtout possible. Ce qui distingue bien l'écriture de la
authentifier qu'il parle et qu'il a été entendu parole, qui peut tourbillonner dans tous les
comme tel, comme parlant sens, s'annuler - sauf bien sûr la parole
. analysante, où ce qui est dit est dit, en quoi
En effet, que veut dire le sujet, en parlant ? Il elle s'égale bien à l'écrit, ineffaçable sans
veut certainement que l'autre lui confirme laisser de trace résiduelle.
qu'il a bien dit ce qu'il pensait avoir dit, ce Le présent de l'acte est alors le dire
qu'il voulait dire, à savoir par exemple qu'il qui s'écrit, ne cesse pas de s'écrire.
était homme, ou qu'il était femme, ou qu'il Inconsciemment d'abord, dans la parole de
était ou mort ou vivant. Que l'Autre donc désir et dans le symptôme qui l'accompagne
l'assure de ses semblants. Mais le sujet ne sait et supplémente. Méthodiquement ensuite
que trop que les réponses qu'il reçoit de ses dans le parcours d'une analyse, où l'analyste
partenaires ne font que le décevoir dans son est l'archiviste de droit de la chaîne
attente. L'autre ne fait aussi que demander ce associative ainsi que celui qui ponctue cette

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dernière, l'ordonne par ses coupures constitués, mais l'un comme l'autre ne
interprétatives. Dans le dépôt final d'une peuvent de cet acte rien transmettre, ils ne
analyse enfin, quand, au-delà du fantasme et peuvent qu'enregistrer qu'il a eu lieu.
de ses mises en scène, s'isolent des bouts de L'historien ne peut qu'y supposer un sens,
lalangue qui, en faisant coïncider des sans accès possible au réel du sujet de
signifiants et la jouissance éprouvée du corps, l'histoire, à sa dimension créatrice. L'œuvre
font la seule certitude du sujet. d'art en revanche fait bien trace de ce que
Enfin peut-être ce dire qui s'écrit au quelque chose s'est réellement passé, comme
présent est-il présent aussi dans la dit Claude Lévi-Strauss, mais trace seulement,
transmission de l'expérience de l'analyse, car le sujet dans son œuvre n'y est déjà plus,
donc dans les dispositifs qui se proposent à cette dernière n'est que déchet de son acte.
nous à cette fin, passe, contrôle, élaboration Cela devrait nous amener à distinguer de
analytique enfin. l'œuvre d'art l'écrit, qui ne peut jamais se
Ainsi, le temps de l'acte réaliserait le réduire au déchet, même s'il lui faut en passer
présent, moment non de promesse toujours par la "poubellication". Il reste en effet
déjà passée comme celui du désir, moment toujours porteur de la singularité de la voix
non de suspens, d'absence du sujet comme de celui qui l'a commis et, contrairement à
dans les temps de l'interprétation, mais temps l'œuvre d'art, ses interprétations, ses lectures,
de présence au contraire, temps d'incarnation aussi ouvertes soient-elles, ne peuvent être
du verbe, de "réélisation" du sujet donc. ouvertes à tous les sens. De ce point de vue,
Ce serait ici le lieu de distinguer écrire et lire se rejoignent dans un présent
l'Histoire, et même l'œuvre d'art, de l'écrit tel toujours répétable, d'une répétition qui se
que nous en parlons avec Lacan. En effet, caractérise, comme celle du savoir, toujours
Histoire comme l'œuvre d'art sont par Lacan première, c'est-à-dire sans perte. Reste à nous
épinglés non de l'acte mais du tour de passe souhaiter à tous d'être de bons lecteurs.
passe. Pourquoi ? Certes, l'un comme l'autre
ne sont pas pensables sans l'acte qui les a

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Tempo de Laiusar
Antonio Quinet

stamos em tempos de Pai inicio da civilização era o ato. Nesses tempos


real. A figura de barbárie contemporânea o que faz

E representativa do Pai
simbólico, aquele que une
o desejo com a lei, que
barra o gozo devastador
da Mãe,
normativizador
o pai
que
protege e apazigua, esse
aparição não é o ato dos filhos impondo a
Lei e sim os atos desmedidos do Pai real que
faz a sua lei – lei do gozo – fora de qualquer
Lei do campo do Outro.
Retormemos o mito de Édipo à luz
do pai real e de Totem e Tabu. Quem é o pai
de Édipo? Na verdade ele teve dois pais: o
pai está desaparecendo na aletosfera espessa pai biológico Laio, rei de Tebas, que ele não
produzido pela fumaça do desmatamento da conheceu e sem saber o matou, e Pólibo, que
subjetividade no mundo contemporâneo. De o criou em Corinto. Mas é Laio, que aparece
nada adianta lamentar o declínio da como Pai real cuja desmedida constitui a Até,
autoridade paterna, acusar o pai de a desgraça, a maldição dos Labdácidos e que
humilhado, impotente e desdentado e receber será transmitida e paga por três gerações: o
o que todos já sabem que quem é o escravo próprio Laio, Édipo e seus filhos Etéocles,
da família é o papai. Polinice, Antígona e Ismênia. Laio é filho de
A figura paterna que tem emergido de Lábdaco, rei de Tebas e quando este é
seu obscuro anonimato é o Pai real, o grande assassinado, ele é levado aos 2 anos de idade
fodedor, como diz Lacan, o pai sacana fora para a Frígia sendo recebido pelo rei Pélops
da lei, gozador, que trata os filhos como que o adota. Laio tem também dois pais.
objeto. Temos como exemplos recentes o Pélops tem um filho Crísipo o qual, ao
austríaco Joseph Fritzl mantendo em chegar na adolescência, é entregue a Laios
carceragem sua filha por 18 anos nela para educá-lo. Este se apaixona pelo menino
engendrando seus próprios filhos, e o pai e o rapta e Pélops lança, então, a maldição:
violento, possuído por uma ignorância feroz "se tiveres um filho ele te matará e toda tua
como o pai de Izabela que auxiliado pela descendência desgraçada será". Daí vem a
madrasta num ato insano a atirou pela janela maldição e toda a história cujo
abaixo. desdobramento está na peça de Sófocles da
Nossa sociedade contemporânea qual vocês assistirão minha versão após esta
parece viver o mito de Totem e Tabu às mesa. A desmedida de Laios não foi ter tido
avessas: o desmoronamento da Lei simbólica relações com Crísipo, pois a relação
deixa aberto o caminho para o retorno do pedagógica erastes-erômenos era aceita como
cadáver vivificado do pai morto, o Urvater, uma relação pedófila normal de amante-
figuração do Pai real, como pai gozador da amado, professor-aluno na qual o saber não é
horda primitiva, tirânico abusador e transmitido sem Eros. A hybris de Laios foi
assassino, que é chamado por Lacan de pai tê-lo seqüestrado e com isso ter rompido as
Orangotango, O assassinato do pai e sua leis da hospitalidade e traído aquele que o
substituição simbólica por um totem, fez acolhera. A maldição de Pelops para Laio é o
Freud dizer que no inicio era o ato – no

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que o faz furar os pés de seu filho Édipo e Passando do mito á estrutura: é
mandar matá-lo. preciso tempo para se haver com o
Na minha interpretação, Édipo não impossível do furo do simbólico lá onde jaz o
quis saber do crime do pai e nem de sua gozo do pai rela imaginarizado uma vez que
tentativa de assassinato. Ele, em sua pai real e pai imaginário tendem a ser imiscuir
investigação, foi até o ponto em que um no outro. É o pai que a parece como
descobre que ele matou o pai e que a mulher abusador e criminoso na histeria e na neurose
com quem está é sua mãe. Mas não vai, além obsessiva cujo gozo se sintomatiza no filho.
disso pois não quis saber da maldição É o pai de tal paciente do hospital que a
herdada e da desmedida paterna. espancava quando ainda bebê ela chorava e
Se compararmos o desenvolvimento trágico que hoje seu sintoma é um choro sem fim e
da investigação de Édipo sobre sua origem, sem razão; ou o pai militar que colaborou
como o fazem Freud e Lacan, com o com a ditadura militar de tal outra analisante
percurso de uma análise podemos dizer com que faz de seu corpo um palco de torturas,
Lacan que se Édipo tivesse tido tempo de ou o pai fiscal do imposto de renda de um
laiousar ele talvez não teria tido o desfecho obsessivo que se enriqueceu ilicitamente
que teve. deixando para o filho a dívida do eterno
Lacan introduz esse comentário sobre desemprego.
a peça de Sófocles Édipo Rei no seminário O neurótico prefere salvar o pai do
RSI quando aponta que o furo do simbólico, que se deparar com sua canalhice; ele prefere
correspondente ao recalque originário, é a sofrer com seu sintoma do que saber do
morte. A peste, diz Lacan, é isso: a morte é crime do pai e suas conseqüências. Prefere,
para todos. "É preciso que a peste se como Édipo, se sentir culpado de seus atos
propague em Tebas para que esse "todos" do que desvelar a desmedida do gozo
cesse de ser de puro simbólico e passe a ser paterno. Deparar-se com o real do pai é
imaginável. É preciso que cada um se sinta confrontar-se com a conseqüência da falta
concernido pela presença da peste". Esta é radical do Outro, ou seja, o gozo mortífero
portanto, o real do furo do simbólico para além desamparo. E para isso é preciso
imaginarizado – peste que é o Laio-usar – gastar o Laio de cada um.
desdobrametno da calamidade provocada A posição do pai real, segundo Lacan,
pela Esfinge, outra figura da morte e da Até, está articulada em Freud como um
desgraça, dos Labdácidas. Édipo, continua impossível e não é surpreendente, diz ele, que
Lacan, só matou o pai por não ter se dado o encontremos sem cessar o pai imaginário. É
tempo de Laiusar. Se o tivesse feito, o tempo uma dependência necessária, estrutural. (sem.
que fosse preciso, teria sido o tempo de uma XVII). É o que vemos na figura do fantasma
análise, pois era para isso que ele estava na do pai: o espectro do cadáver vivo, como o
estrada" (Lacan, RSI, lição de 17/12/1974) pai do Homem dos ratos que apesar de
Laiuser em francês é derivado de lalue morto lhe aparece vivo no meio da noite e o
que significa discurso, fala, peroração no pai de Hamlet que além de aparecer tem fala.
jargão das Escolas. User em francês significa O espectro é o habitante dessa zona entre-
utilizar e também gastar,usar até acabar como duas-mortes, campo de gozo, do Hades ao
uma sola de sapato que de tanto se usar vai inferno, onde penam as almas pecadoras e
gastando e acaba. Na análise é preciso tempo criminosas à espera da segunda morte. "Sou o
para usar e gastar o pai real. Tempo para se ir espírito de teu pai e vivo errante noite e dia
para além do desejo de salvar o pai, até que a podridão de meus crimes seja
defrontar-se com seu crime e vencer a ordem queimada e purificada" – diz o pai de Hamlet
de ignorância feroz. no início da peça. As mitologias criaram esse
habitat para o pai real. Mas quem queima é o

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filho. Ele arde por causa dos pecados do pai, salvaram e a toda a descendência de Chan foi
como diz Lacan (Seminário XI). Pai, não vês amaldiçoada. O que Noé fazia nu na tenda,
que estou queimando por causa de teus jamais saberemos, mas sem dúvida era algo
pecados? E o espectro do pai de Hamlet lhe da ordem de um gozo que filho algum
diz que "a menor de minhas faltas angustiaria poderia em tempo algum ver ou saber. Toda
tua alma, gelaria teu jovem sangue e teus nudez do pai será castigada... no filho.
olhos saltariam das órbitas como os astros de O pai que mata o filho é abordado
suas esferas..." por Lacan a partir do sacrifício de Isaac por
Os crimes do pai são de um real que seu pai Abraão comentado por Kierkegard
não cessa de não se dizer para o filho e no descrito em temor e tremor em que descreve
entanto insiste e se tornam um sintoma do quatro variações do mito que se diversificam
filho – como a dívida do pai do homem dos a partir do ponto em que Deus diz a Abraão:
ratos e o gozo oral do pai de Dora. "sacrifica teu filho, mate-o". É na primeira
O espectro recobre, mascara, vela e que ele descreve a tentativa de filicídio..
também desvela o pai real ou o real do Pai. O Abraão agarrou Isaac pelo peito, jogou-o no
espectro é a encenação da articulação entre o chão e gritou: "Estúpido! Crês tu que sou um
pai real e o pai imaginário. É o que se pai? Não, não sou teu pai. Sou um idólatra!
encontra, como diz Marc Strauss, na fantasia Crês que estou obedecendo a um mandato
de Bate-se numa criança em que as cenas divino? Não. Faço isso somente porque me
vêem ao sujeito petrificar, cristalizar um dá vontade e porque me inunda de prazer!".
excesso como um ciframento primeiro, uma Abraão aparece como o pai real que diria:
representação do inominável do gozo (Tréfle, "Vou te matar por puro gozo!". "Então Isaac
maio 1999, nº 2, p. 48). Não importa se é exclamou angustiado: 'Deus de Abraão tende
efetivamente do gozo do Pai que se trata ou piedade de mim! Sê meu pai, já não tenho
do gozo imaginarizado do Pai e sim do outro neste mundo!'. Abraão se dirigiu a Ele,
dispositivo que o sujeito emprega para dizendo: Senhor onipotente receba minha
endossar um gozo que se apresenta a ela humilde ação de agradecimento, pois é mil
como exterior, vindo do Outro. vezes melhor que meu filho acredite que sou
O pai do crime não é o pai da lei, o um monstro do que perca a fé em ti"
Nome-do-Pai. O pai estuprador, ladrão, (Kierkegaard, 2004, p. 22). O pai monstro,
assassino, são figuras do pai imaginário que capaz de matar o filho nem que seja por
do fórum à hybris do pai: o gozo desmedido. amor a Deus, é o que é transmitido ao filho
A desmedida do pai com seu real é aquilo que como seu pecado.
o filho, com força, não quer saber. O homem É a propósito dessa passagem de
é como Édipo, filho de laio – ele não quis Kierkeggard que Lacan diz no Seminário XI
saber da desmedida paterna. No lugar do pai que o que se herda é o pecado do pai. Isaac
real existe, diz Lacan, a ordem de uma herda o crime do pai de ter desejado matá-lo.
ignorância feroz (Seminário XVII, p. 159). Eis a herança de Isaac e também a de Édipo.
Há uma interdição: "Está excluído Diferentemente de Abraão, que no mito
que se analise o pai real, diz Lacan em judaico-cristão recebe a ordem de Deus de
Televisão, o melhor que se pode é o manto matar o filho predileto como prova de seu
de Noé, quando o pai é imaginário" amor, Laios ele mesmo decide matar seu
(Télévision, Seuil, p.35). Um dia Noé se filho Édipo para evitar que este o mate
embriagou e ficou nu em sua tenda. Um de segundo a maldição oracular, fura-lhe então
seus filhos, Chan, o viu e foi chamar os os pés e o entrega a um pastor para ser
outros dois que, ao chegar, taparam os olhos jogado no lixão do monte Citéron.
e o cobriram com um manto para esconder a O Urvater de Totem e tabu, Noé
nudez paterna e saíram de costas. Estes se com sua nudez, o Deus de Abraão, Yavé com

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sua ignorância feroz e Laios são figuras do crime do pai da origem da Até dos
imaginárizadas e míticas do pai real. Labdácidas - móvel do filicídio que faz de
Édipo carrega em seu nome e em seu Édipo o objeto rejeitado pelo Outro – é o
corpo a marca do crime do pai. A ferida selo de seu ser de dejeto. Rejeitado pelos pais
causada por seu pai ao furar-lhe os e, no final da peça de Sófocles, ao se apagar
tornozelos para pendurá-lo como um animal como sujeito, pelo Outro social, que
e expô-lo e o edema que ocasionou foi o que representa Tebas. Óidipous não acredita em
lhe deu o apelido de Oidipous, de oiden, seu ser de synthoma, não acredita que ele seja
edema nos pés. O apelido virou nome capaz de um dizer, pois ele não quer saber
próprio e a ferida deixou-lhe coxo. Seu pé que se trata aí de uma cifra do gozo. Eis
carrega um saber (oida) sobre o crime do pai porque erra em sua ignorância e fica
do qual Édipo não quis saber. A esfinge, escravizado pelo gozo do Pai, servo do
como aponta Jean-Pierre Vernant, enunciava destino. Édipo está preso à ignoerrância.
o enigma dos pés e equivocava com seu O crime do pai real como gozo
nome: "tetrapous, dipois, tripou" disse ela desmedido é transmitido como erro trágico
para Óidipous que ao dizer o homem como que o filho carrega como óidipous com seu
resposta suprimiu, como diz Lacan, o sintoma no pé.
suspense da verdade. A verdade sobre a Por um lado encontramos a herança
castração e o gozo de laios – o pai real se da castração que se transmite de pai para
manifesta em Édipo como aquele que filho: Lábdaco , o manco, Laio, o torto, e
determina a Até família dos Labdácidos do Édipo, pé inchado. Por outro lado, há a
qual ele e sua descendência são herdeiros e transmissão da maldição que Édipo herda
também se manifesta como ignorância feroz: como lote do gozo do pai inscrito em seu
mandamento superegóico de não-saber. Eis nome e seu corpo. Essa letra é o nome do
porque para além do desejo de saber que o gozo do pai real. O nome que condensa o
impulsiona a querer investigar sua origem, gozo inscrito no enigma da Esfinge que
Édipo é possuído pela paixão da ignorância. Óidipous não ouviu.
Aliás, não será a força dessa paixão que faz O tempo da análise é o tempo de
Lacan dizer que finalmente não existe desejo laiusar: tempo de laio-ousar – tempo de ter a
de saber algum? ousadia de se confrontar com o crime e o
O que Édipo ignora é que seu nome é gozo desmedido e ectópico do sujeito, que
uma letra que cifra um gozo, o gozo do ele localiza no lugar do vazio do Outro –
Outro paterno: o "x" da função do synthoma, lugar topológico da desmedida do Pai real. É
ou seja, uma escrita do gozo do Inconsciente. preciso tempo de peroração para o sujeito
Óidipous, Pé Inchado é o signo do gozo do gastá-lo o suficiente para que se revele o que
Pai que desejou matá-lo e do qual ele não é: um nada esvaziado de gozo. O tempo de
quis saber; Óidipous, Pé-que-sabe é a letra laiusar é o tempo de olhar para os pés, ouvir
que confere a marca do saber do real, saber os pés e pensar com os pés.

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Temps, pas logique


Colette Soler
'essentiel de ce qui a été (73) celui du hors sens pour la passe au réel
élaboré par Lacan concernant tout court (76).

L le temps de l'analyse l'a été


dans le cadre de son retour à
Freud, pour une analyse telle
que Freud l'a initiée, ie une
analyse orientée vers la vérité,
la vérité qui parle dans la
structure de lgge, par la bouche de l'analysant
Cet ics réel, est autre chose que le réel
propre à l'ics : il ne se démontre pas mais se
manifeste. Il a son gîte dans la llgue, et ne
rélève pas de l'approche structurale à laquelle
il met un terme. On le rencontre dans
l'analyse, et dans l'analyse seulement, par des
effets qui sont d'affects, et par des épiphanies
mais aussi par les symptôme de son corps. langagières réductibles à l'absurde, hors sens.
C'est le temps de laiuser comme dit joliment Cet ics, effet de la llgue est doublement réel :
Antonio. Temps de la chaîne qui assure le ses Uns sont hors chaîne, donc hors sens, et
retour du refoulé en surprise, tendu entre ils sont passés dans le champ de la substance
anticipation et rétroaction, temps du futur jouissante. Cet ics est irréductible et
antérieur du sujet que commande les points imprenable, les effets de la llgue dépassant
de capiton de son discours, et qui dans l'après tout ce que le sujet peut en savoir l'ics-llgue
coup lui feront retrouver les marques des est impossible à savoir, il ex-siste à l'ics-lgge
premières contingences de sa vie. ie déchiffré, qui isole certes un essaim de uns,
La perspective que j'ai choisie pour mais il n'est jamais qu'hypothétique et partiel,
aujourd'hui est fonction de ce que j'ai élucubration dit Lacan.
travailler ces dernières années. C'est la Alors faut-il dire que dans les trois
suivante : comment le réel en jeu dans une cas, le temps qu'il faut et que l'on trouve si
analyse, le réel vers lequel elle s'oriente pour long, c'est le temps d'accès à la conclusion
trouver sa fin, jette-t-il un jour nouveau sur le épistémique par le réel. Sûrement pas. Et dès
temps de l'analyse aussi bien que sur celui de 49 avec la notion du "temps pour
la séance. comprendre" Lacan avait marqué la place de
Je pose en effet la question de savoir ce que j'appelle aujourd'hui, la variable non
si la séance courte lacanienne et à la durée logique. Elle est parfaitement évidente quand
qu'il faut pour l'analyse ne relèveraient pas il s'agit de l'ics réel. Je crois avoir montré à
d'une même causalité, alors même que dans propos de la première phrase du texte L'I°
les faits la durée de l'A, régulièrement longue, XI, que le lapsus ramener à son hors sens
semble indépendante de celle des séances qui donne un modèle réduit de la passe au réel,
varie de beaucoup selon les courants ? qui se répète dans une analyse. Mais, sans
Le réel qui pourrait se faire jour dans parler du symptôme, combien de lapsus
la parole et mettre un terme à la dérive infinie ramenés au réel ne faudra-t-il pas pour arriver
aussi bien de la vérité que du déchiffrage, à conclure à l'ics réel ?
Lacan en a avancée trois élaborations qui C'est que dans tous les cas, une autre
engagent trois définitions de la passe finale, et variable non épistémique est en jeu. C'est
pas une seule. Dans les trois cas, nous avons d'ailleurs pourquoi les voies d'une conclusion
un principe de conclusion par un réel : celui en acte ne sont jamais seulement celle des
de l'impossible à dire pour la passe à l'objet, nécessités de la déduction logique. Autrement
(67) celui de l'impossible à écrire pour la dit, la conclusion de fin à partir de la
passe au réel que Lacan dit "propre" à l'ics,

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conclusion épistémique n'est jamais que explicitement indiqué, et dans la Proposition


possible. et dans L'étourdit, qu'il suivait le moment de
Dit autrement, ce n'est pas l'absence passe au réel, en repoussant au-delà, le terme
d'un principe de conclusion qui fait l'analyse de l'analyse. Cette réponse de l'être, qui
longue, c'est que dans tous les cas, le principe introduit la marge de liberté sans laquelle
de conclusion est insupportable. De l'aperçu chacun ne serait que la marionnette de son
sur le bâti du fantasme, en éclair ou pas, à la ics, est non seulement imprévisible, je l'ai dit,
conclusion d'impossibilité du rapport, jusqu'à mais informulable en énoncé, et dès lors elle
l'ics réel de llgue, comme S2 insu, le savoir ne se laisse approcher que par des signes.
acquis est le savoir d'un impossible, Ces signes Lacan a fini par les situer
synonyme de castration. Il butte dès lors sur du côté de l'affect et lui a fallu le temps.
un refus, un "je n'en veux rien savoir" qui C'est la thèse de la Note italienne et
protége de "l'horreur du savoir". Intro° … XI. Il y a AE, quand le sujet analysé
"Faut le temps de se faire à être", est passer de l'horreur à l'enthousiasme.
disait Radiophonie. Dans le contexte ça D'autres cas de figure : j'ai ajoute de l'horreur
voulait dire à être l'objet qui est en exclusion à la haine, l'expérience le montre
interne au sujet. Le "se faire" connote la d'abondance. Il y a d'autres alternatives, la
patience à supporter, à accepter le réel que plus fréquente étant de l'horreur à l'oubli.
l'élaboration de l'ics a fait apparaître. L'éclair de l'éveil quand il a lieu fait
Un indexe de cette variable généralement long feu.
non logique, de ce seulement possible de la En 76, infléchissant un peu les termes
fin, je le trouve aussi chez les sujets dont j'ai il propose d'évaluer dans la passe, il dit non
eu l'occasion de parler récemment, qui venus pas l'enthousiasme mais la "satisfaction" de
à bout de la relation au savoir qu'est le fin, qui surgit éventuellement quand tombe la
transfert, s'allègent de leur propre "horreur satisfaction prise à la vérité menteuse. C'est
de savoir", en la convertissant en haine, aussi un changement de goût au fond, une
bien haine de l'analyse que de ses suppôts, satisfaction prise au hors sens de l'ics réel, qui
Freud, Lacan, et bien sûr celui ou celle qui les vient limiter la satisfaction prise à la vérité, et
a accompagnés dans le parcours. Il y a bien il précise bien que l'on n'est jamais sûr de
d'autres indexes de la variable non logique pouvoir la fournir, la nouvelle satisfaction.
dont Lacan a toujours marqué la place, et Elle n'est que possible, donc.
qu'il a inscrite avec le mot "éthique". Autant dire qu'avec ce principe
Autant dire qu'avec cette variable non d'évaluation qui porte, non sur l'effet
logique, on ne peut pas prévoir le temps qu'il didactique mais sur une réponse de l'être à
faudra à l'analyse. "On" ça n'est pas l'analyste l'effet didactique de l'analyse, on est très loin
seulement, c'est aussi bien le sujet lui-même. de l'idée que toute analyse menée à son point
Et combien de fois n'aura-t-on pas constaté de finitude produise un analyste, entendez un
avec surprise, que l'analysant décidé des analyste qui se plaise au réel. Aucun
débuts, se retrouve le plus récalcitrant à la fin automatisme ni de l'enthousiasme, ni de la
? L'inverse est aussi vrai, et on voit le satisfaction de fin. Autrement dit la variable
sceptique d'entrée devenir le très décidé de la non logique rend l'analyste seulement
fin. possible.
Le principe épistémique de la fin par Question ici. Il faut mesurer là le
le réel est nécessaire pour clore une analyse, changement de perspective que Lacan a
mais il n'est pas suffisant : s'y ajoute une introduit, avec un double dévalorisation : de
réponse de l'être qui ne relève pas de la la vérité au profit du réel, de la structure
logique. On est là dans le champ du deuil logique au profit de la position de l'être. Elle
transférentiel, de ce deuil dont Lacan a

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ne peut pas être sans conséquences sa fin, comme pour l'analyse d'ailleurs. Il y a
pratiques. les fins de séance qui concluent dégageant
C'est la variable non logique qui un point de capiton, qui généralement il
amène à cette dévalorisation. C'est elle qui satisfait ; les fins qui questionnent en
fait apercevoir que l'analysant travailleur est soulignant un terme qui relance la question
un analysant qui se plaît à la vérité transférentielle, et puis les que j'ai appelées
inconclusive, à son hystorisation avec un Y, fins suspensives qui coupent la chaîne pour
et c'est un euphémisme, il faudrait dire viser le suspens du sens. La séance courte
clairement que s'hystoriser et jouir de son F. lacanienne quasi ponctuelle y rajoute de faire
c'est la même chose, ce pourquoi Lacan dit passer en acte le rasoir de la coupure entre
que l'analysant consomme de la jouissance l'espace des dits, des semblants, et le présence
phallique et que l'analyste se fait consommer. réelle. Les deux premières, conclusives ou
Dès lors l'amour de la vérité apparaît pour ce questionnantes sont des pousse à
qu'il est, symptomatique, et on sait que l'hystorisation de la vérité.
foisonnement de bavardage, le dire des Les deux secondes plutôt des pousse
bêtises à profusion s'entretient de la au réel. Elles ont des affinités avec
satisfaction prélevée, qui ajourne le moment l'interprétation lacanienne apophantique, qui
de conclure. comme l'oracle, je cite, "ni ne révèle ni ne
D'ou la question des moyens que se cache, mais fait signe.". Signe de ce qui ex-
donne une analyse orientée vers le réel et de siste à l'hystorisation du sujet. Dans le DC de
la responsabilité de l'analyste dans cette la cure Lacan avait avancé l'idée d'un
destitution de la vérité. interprétation silencieuse, doigt pointé vers le
Je retrouve là le problème de la Sa du manque dans l'Autre. Au terme, c'est le
séance lacanienne et aussi de l'interprétation doigt pointé vers le réel qui vient à cette
proprement lacanienne. De la séance courte place.
j'en ai déjà parlé dans le texte "Une pratique L'hystorisation se fait par les temps dit
sans bavardage" j'en dirai aujourd'hui qu'elle d'ouverture de l'ics. dans lesquels la vérité se
cible le réel, que vise l'analyse lacanienne. déplie dans la structrure de lgge, le thème est
La question n'est pas d'objecter à connu et a fait déplorer les temps de
Lacan que l'inconscient demande du temps fermeture. Mais le réel quelle que soit sa
pour se dire, il est le premier à l'avoir décliné définition, se manifeste en temps de
sous toutes les formes, la question est de fermeture de l'ics, voire de rejet de l'ics
savoir si le battement ouverture-fermeture de bavard, Sicut palea. L'ics réel notamment est
l'inconscient qui se produit dans le transfert un ics fermé, fermé sur ses uns de jouissance.
est isomorphe à l'alternance séance-hors Maintenant, entre la vérité et le réel il
séance, autrement dit à la présence de n'y a pas à choisir dans l'analyse. Pas d'analyse
l'analyste. Toute l'expérience montre que sans hystorisation du sujet. Dans la
non. diachronie, le réel est au terme du processus,
En effet elle fait fonctionner aussi bien celui de la séance que de l'analyse,
l'interruption, la coupure du temps; comme où il fonctionne comme limite, donc point
une interprétation de ce qui habite la vérité d'arrêt de la vérité menteuse. Dans la
que le sujet articule, un doigt pointé donc synchronie réel et vérité sont disons noués,
vers le réel qui leste l'hystorisation du sujet ce qui exclut que de la vérité, malgré toute la
dans l'analyse. L'analysante disant que la dévalorisation que l'on y apporte, on en sorte
séance courte c'était comme un coït complètement. L'ics réel "tripote" avec la
interrompue ne pensait pas si bien dire. vérité. C'est si vrai qu'au moment même où
Mais en fait je crois ce qui compte Lacan affirme l'ics réel, Lacan réitère l'idée
dans une séance quelque soit sa durée, c'est que la passe consiste à témoigner de la vérité

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menteuse. Ça permet de préciser la tous. L'usage est pour un particulier. Le


satisfaction de fin. Elle est moins satisfaction temps de l'analyse c'est le temps d'acquisition
du réel que satisfaction de la façon, acquise à de cette satisfaction là. Temps imprévisible et
l'usage d'un particulier , de "balancer" cette pas pour tous : seulement pour des
embrouille entre vérité et réel. A l'usage veut particliers. Elle ne s'acquière pas sans des
dire peu à peu, avec le temps. L'usage ce n'est passes au réel réitérées au cours de l'analyse,
pas à l'usure, si c'était à l'usure ce serait pour que la séance courte est faite pour servir.

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Le temps: un objet logique


Bernard Nominé
e temps est un concept qui est présent, le relier au passé et le
difficile à saisir, tant pour les distinguer de ce qui se projette du futur.

L physiciens que pour les


philosophes. On ne peut
s’empêcher de l’imaginer
comme un fleuve qui coule du
passé vers le futur. Mais est-
on si sûr que le temps passe
réellement, n’est-ce pas nous qui l‘imaginons
C’est sans doute ce nœud qui installe le sujet
dans une réalité temporelle intelligible. Mais
le nouage de ces trois registres laisse malgré
tout échapper l’ objet que je cherche à
cerner dans ce travail. « Le temps ce n’est
peut-être que ça, les trinités ou l’éternité de
l’espace, ce qui sort là d’un coincement sans
passer alors que c’est nous qui passons ? « remède. »
Le temps s’en va, le temps s’en va Madame, Cet objet qui échappe au
las ! le temps non , mais nous nous en coincement, je vais essayer de l’approcher
allons…. » écrivait le poète Ronsard. par l’étude de ce genre de rêve répétitif que
Le temps est indissociable de tout le monde fait où l’on doit repasser un
l’espace, les distances sont couramment examen que l’on a réussi. Dans le rêve on se
mesurées en temps nécessaire pour les permet la fantaisie de remonter le cours du
parcourir, par exemple. Mais le temps est temps, on rêve donc que l’on est dans
lui-même considéré par les physiciens l’époque d’avant le passage de l’examen, on
comme un espace, on parle alors de s’y représente mais sans avoir rien préparé.
l’espace-temps et tous ne sont pas d’accord Cela peut tourner au cauchemar, et on est
sur sa structure ; est-il plat ou courbe, content de se réveiller en constatant que ce
continu ou discontinu ? Pour certains n’était qu’un rêve. Ce que l’on rêve de
physiciens l’espace-temps est un bloc rigide repasser, c’est toujours une étape décisive
qui n’est nullement orienté à priori, si ce qui a marqué un avant et un après, et que
n’est par nous, dans la mesure où nous l’on s’est efforcé de passer avec succès. On
organisons la suite des événements selon un rêve rarement de repasser un examen que
principe qui est celui de la causalité. Mais l’on a raté. Souvent le rêveur sait dans le
c’est une construction mentale et nous rêve qu’il a déjà passé cette épreuve avec
savons même, depuis Freud, que succès ; pourquoi donc la repasser ? Le
l’inconscient est capable de fabriquer une thème du reproche est toujours là, et selon
causalité psychique qui paraît fonctionner à Freud il s’applique à quelque chose de la
rebours du temps qui passe. Le temps qui veille, une conduite régressive par exemple. «
passe n’est donc pas un réel en soi, seul le Tu es déjà âgé, tu as beaucoup vécu et tu fais
présent est réel. On pourrait très bien définir encore des bêtises ,des enfantillages. »
le réel comme présent, toujours On pourrait aussi évoquer ce genre
éternellement présent. Par contre comment de rêve où l’on retourne dans une ancienne
fixer ce réel toujours présent ? En écrivant, maison après un déménagement mais on y
c’est à dire en historiant, en l’ordonnant en retourne comme un voleur, car on sait que
passé. A ce titre le passé est du côté du l’on ne devrait plus être là. Cette atmosphère
symbolique. Resterait alors l’imaginaire pour d’illégalité va bien dans le sens de
le futur, ce qui collerait assez bien. La l’interprétation freudienne du reproche.
perception du cours du temps dépend donc Mais je pense qu’on peut aller plus loin que
de la conscience qui doit pouvoir intégrer ce Freud sur ce sujet. Le caractère répétitif de

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ce genre de rêve est l’indice d’un effort du sujet s’efforce de revenir dans ses rêves, sont
sujet pour symboliser un événement des moments qui ont déterminé ce que le
important qui est un moment de passage : sujet a été, ce qu’il est devenu, ce qu’il aura
un examen, un déménagement, la disparition été quand…ce qu’il aurait pu être si…bref, il
d’un proche. Si l’épreuve se répète dans le s’agit d’essayer de symboliser, de serrer au
rêve, c’est que quelque chose échappe à plus près ce moment, ce laps de temps, cet
cette symbolisation, c’est que quelque chose instant où tout s’est précipité pour faire que
n’est pas pris dans la représentation de le sujet est devenu ce qu’il est.
l’événement. Il ne s’agit pas de l’événement Ce n’est pas pour rien que Lacan a
en soi, car, encore une fois, un examen utilisé l’apologue des trois prisonniers pour
réussi n’a aucune raison d’être difficile à cerner ce qu’il a appelé le temps logique, cet
symboliser. Alors, pourquoi faire comme si instant de hâte nécessaire pour que le sujet
cet événement heureux n’avait pas existé ? puisse se présenter tel qu’il est et sortir de la
En général, si l’on interroge le rêveur, il prison de ses identifications aliénantes. Ce
nous dit que dans son rêve, il doit repasser temps logique est propre à chacun, il fait
l’examen et fait comme s’il ne l’avait pas partie de ses attributs, il participe de son
passé tout en sachant confusément que c’est mode d’être, même s’il n’en a lui-même
faux. Ce n’est donc pas la nature de aucune espèce d’idée. C’est ce qui me fait
l’événement qui pose problème mais sa dire que ce temps logique fait partie de la
structure même d’événement, c’est à dire catégorie de l’objet tel que Lacan en a
une étape signifiante qui trace une frontière dessiné le contour et c’est d’ailleurs ce qu’il
entre un avant et un après. Le reproche que finira par dire dans les commentaires de son
le sujet se fait, c’est peut-être, avant tout, le apologue qu’il fera bien plus tard dans son
reproche de vouloir nier le franchissement, enseignement, que ce soit dans son
de vouloir revenir dans l’avant alors qu’il est séminaire Encore où il nous dit que l’objet a
déjà dans l’après. Mais au-delà du caractère joue sa fonction dans la hâte ou que ce soit
illicite de ce voyage dans le temps que dans Les non-dupes errent : quand il dit
permet le rêve, la répétition de ce genre de carrément que « l’objet a est lié à cette
rêve nous suggère que le sujet ne renonce dimension du temps. » Autrement dit, cet
pas à saisir dans cette symbolisation quelque objet que le rêveur essaye d’attraper dans
chose d’évanescent, quelque chose son rêve répétitif qui paraît se résumer en
d’insaisissable qui se découpe sur la première lecture à une recherche du bon
frontière entre l’avant et l’après. temps perdu, en réalité cet objet est
Si les heures de l’horloge défilent de inatteignable parce qu’il n’a pas d’être, d’où
façon rigoureusement constante, on ne peut la répétition inlassable pour essayer de
pas dire que, pour un sujet donné, le temps l’approcher.
passe de façon continue. La notion même Le temps, comme objet réel, n’a pas
d’événement en témoigne. Mais ce qui fait d’être, c’est ce qui lui confère sa fonction la
événement pour l’un ne fera pas forcément plus commune pour représenter notre
événement pour son voisin. Cette manque à être. C’est ce que disait déjà Plotin
temporalité dont il est question dans dans l’Antiquité grecque : le futur est le lieu
l’événement n’a donc rien à voir avec le où nous situons ce qui nous manque pour
temps qui passe, ni avec le temps de être. Si nous courons vers le futur c’est dans
l’Histoire, cette temporalité concerne le l ‘idée d’y trouver plus d’être. Autrement dit,
sujet. Elle est en rapport étroit avec le sujet, le temps qui nous manque pour être, ce
au point qu’on pourrait dire qu’elle participe après quoi nous courons, n’est rien d’autre
aux attributs du sujet, au sens grammatical que notre manque à être structural.
du terme, car ces évènements sur lequel le

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Je pourrais rajouter que cet objet mettre en relation ces cinq présentations de
auquel nous confions de représenter notre l’objet a, c’est la fonction du temps articulée
manque à être et qui se situe en quelque au langage puisque ce schématisme est celui
sorte en marge du langage, n’en est pas du graphe. C’est un parcours fléché, et cette
moins un produit. Le temps est produit par flèche, on pourrait la nommer flèche du
le sujet qui parle. Ceci n’est pas sans rapport temps. Mais ce parcours fléché n’est pas
avec la langue qui conjugue. Depuis les rectiligne, la flèche monte, comme s’il
Grecs et les Latins nous distinguons le passé s’agissait d’une progression du stade oral, au
le présent et le futur. « le seul fait de stade anal pour arriver au stade phallique et
conjuguer suffirait à prouver que le temps là, la flèche s’inverse comme s’il s’agissait
existe. » Mais certaines langues ne d’une régression vers le niveau inférieur où
conjuguent pas, c’est le cas du chinois dont Lacan inscrit la fonction du regard, au même
les verbes ne prennent pas la désinence. Il niveau que le stade anal, puis vers le niveau
s’en suit – à en croire François Jullien – qu’il encore inférieur où il situe la fonction de la
n’y a pas de concept du temps dans la voix qui se retrouve au même niveau que le
pensée chinoise. La sagesse chinoise stade oral. Cette construction de Lacan m’a
s’intéresse plus au moment qu’au temps en toujours paru très importante. Elle articule
lui même. Bref, si la philosophie occidentale demande, désir et plus de jouir et il faut ces
s’efforce, jusqu’à l’obstination parfois, de trois registres pour saisir la fonction logique
conceptualiser ce produit du langage, ce de l’objet a. Sur la branche montante de ce
n’est pas pour rien. parcours, on peut situer le temps de
Pour résumer, au point où nous en l’aliénation qui se décline à deux niveaux, le
sommes, j’ai essayé de montrer en quoi le niveau oral et le niveau anal. Au niveau oral,
temps est un réel qui personnalise chacun, il le nourrisson totalement dépendant doit
est un attribut du sujet, particulièrement s’adapter à l’exigence de la demande de
convoqué dans son acte en tant qu’il fait l’Autre qui impose ses scansions dans la
événement voire avènement, il est satisfaction du besoin. C’est là que l’Autre se
insaisissable bien qu’imaginable sous les montre comme le maître du temps : « mon
espèces du temps qui passe , du temps qui heure sera la tienne ». Ceci se renforce au
manque, du temps perdu, bref, du manque à niveau anal où l’Autre impose encore plus
être et il est un produit du langage. Que clairement son heure pour la satisfaction des
faut-il rajouter de plus pour vous convaincre besoins. A ceci près qu’à ce niveau le sujet
qu’il fait partie de la catégorie de l’objet a ? Il est un peu plus en mesure de s’y opposer,
faudrait pouvoir dégager sa fonction dans puisqu’il peut se retenir, ce qui lui permet
l’aliénation à l’Autre puisque c’est là qu’on d’inverser le processus et de prétendre
peut saisir au mieux la fonction de l’objet a imposer à l’Autre son heure en se faisant
de Lacan comme reste de l’opération qui attendre. Nous sommes là dans le temps de
tente d’inscrire la jouissance du vivant dans l’aliénation et je crois qu’on peut l’assimiler à
l’Autre du signifiant. l’instant de voir du sophisme des trois
Dans son séminaire l’Angoisse prisonniers puisque c’est la même logique
Lacan ébauche cinq stades pour cette qui y prévaut : le sujet y mesure ce que son
inscription et il les met en relation sur une identité doit à l’Autre. Le troisième niveau
sorte de graphe à trois niveaux. Il me faut où Lacan inscrit le stade phallique, c’est le
donc voir comment inscrire le temps dans temps où le sujet peut saisir le sens de son
cette construction, étant bien entendu que je aliénation, l’objet oral et l’objet anal en
ne compte pas rajouter un sixième stade. Il répondant à la demande de l’Autre y sont
suffit de relire la leçon du 19 juin 1963, pour mesurés à l’étalon de l’objet du désir de
s’apercevoir que ce qui permet à Lacan de l’Autre, c’est à dire au phallus.

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Ce qui s’opère à ce stade phallique, originale qui caractérise sa relation à l’Autre


c’est donc une traduction, c’est pourquoi je à qui il donne à voir. Mais cette temporalité
pense qu’on peut y situer le temps pour originale c’est aussi ce qui doit émerger à la
comprendre, mais cette signification ne peut fin de la cure analytique. Ce n’est pas pour
intervenir qu’à un certain moment, c’est rien que Lacan a inventé ce dispositif qu’il a
toute la question de la phase phallique nommé la passe. Celui qui s’y présente n’y
décrite par Freud, elle opère dans l’ après- rencontre pas un aîné qui est passé mais un
coup. Il faut du temps pour comprendre. passeur pour qui est présent ce moment
Mais quand le sujet comprend, il adopte le particulier de l’analyse qui lui permet
sens venu de l’Autre et, d’une certaine façon, d’ouvrir les yeux et les oreilles. « D’où
il est déjà trop tard, il a raté la rencontre pourrait donc être attendu un témoignage
avec ce qui le cause, ce qui laisse à désirer, juste sur celui qui franchit cette passe, sinon
du fait d’un petit rien qui rend les objets de d’un autre qui, comme lui, l’est encore, cette
la demande inadéquats au désir de l’Autre. passe?» C’est une formulation curieuse.
C’est dans cet écart que l’objet a trouve sa Lacan ne dit pas que le passeur est dans la
fonction et c’est là aussi que le sujet trouve passe, mais qu’il l’est. Ce n’est pas un espace
sa place du fait de l’impossibilité de faire Un dans lequel on peut être, c’est un pur
avec l’Autre. Nous entrons là dans une autre moment et le sujet est assimilé à ce moment.
temporalité, il ne s’agit plus du temps pour Comment comprendre cette formulation, si
comprendre mais de la hâte à poser l’acte ce n’est en considérant que la passe est
qui sépare, l’acte qui change la perspective, assimilable à la rencontre du sujet avec sa
l’acte qui s’impose du fait de la logique de temporalité originale, c’est à dire avec l’objet
l’objet plus-de-jouir opérant en un éclair, logique qui le cause ?
qu’il s’agisse du regard ou de la voix. Nous A bien y réfléchir, c’est quelque
sommes là sur la branche descendante du chose qui s’éprouve dans tout ce qui a la
parcours fléché qui enlace le regard et la qualité d’un acte. Le sujet y coïncide avec sa
voix, deux objets qui sont l’enjeu de la temporalité originale, ce qui leur donne – au
séparation qui suit le temps de l’aliénation. sujet comme à ce moment – une densité
C’est là qu’il faut situer la fonction de la toute particulière. C’est à ce genre de
hâte et cette fonction de la hâte c’est l’affaire rendez-vous, pas si fréquent dans la vie, que
de cet objet a, objet hâté spécialement sous peut conduire une analyse. Mais pour cela il
son aspect de regard ou de voix, rarement faut du temps . En ce sens, l’expérience de
vu , rarement entendu si ce n’est de façon l’analyse se situe en marge de l’air du temps,
extrêmement fugace. Le temps n’est plus du elle ne se préoccupe pas du temps qui passe,
tout le temps de l’Autre, c’est le temps du du temps perdu, du temps gagné, autant de
sujet, le temps comme trait caractéristique façons de concevoir, de donner forme au
du sujet , le temps qui le spécifie et le fait manque à être. Cependant Lacan nous a
exister, disons même qui le cause. Le regard montré que cette pratique est fondée sur le
et la voix seraient alors à considérer comme maniement du temps comme opérateur
présentifications de la temporalité du sujet, logique. Voilà pourquoi une analyse peut
temporalité particulièrement démontrée conduire l’analysant à faire le deuil du temps
dans certains actes créatifs, comme dans le perdu, à ne pas s’obnubiler sur le temps qui
geste du peintre par exemple. Lacan repère passe mais à savoir saisir le moment où il
ainsi dans la touche du peintre la temporalité peut se réaliser.

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Tempo e Entropia
Sonia Alberti
“Não existe tempo no mundo não transformado, não medido, não analizado”.
Dr. João Luiz Kohl Moreira, físico.

omeço com a psicanálise mesmo se estas não foram muitas, de


em seu tempo para o que acordo com as minhas pesquisas.

C isolo nosso tempo em


relação à ciência, uma das
muitas referências nesse
amplo tema. Para introduzir
diretamente a questão,
digamos que na época da criação da
Sublinho particularmente a seguinte,
encontrada em seu Seminário 17, O avesso
da psicanálise: “[...] não há somente a
dimensão da entropia no mais-de-gozar.
Há outra coisa, que alguém percebeu, é
que o saber, isso implica a equivalência
psicanálise com Freud o campo da física entre essa entropia e uma informação”
vivia um grande reboliço! Com efeito, em (Lacan, 1969-70:94)13. Com efeito, as
1905, quando Freud publicava a primeira várias outras contribuições que se
versão de seus “Três ensaios da acrescentaram à primeira formulação da
sexualidade”, Einstein formulava a teoria entropia encontraram seu ápice com a
da relatividade! E qualquer um de nós contribuição vinda da teoria da
sabe o quanto aqueles Ensaios e essa informação, na década de 1940.
teoria significaram para todo novo tempo Num texto de Michel Bousseyroux
então inaugurado! lê-se que a teoria da informação nasceu
“graças às pesquisas de Nyquist, Hartley
A entropia, a neguentropia e a et sobretudo Shannon sobre o telégrafo e
informação. o telefone da Companhia Bell”14 – que o
O termo de entropia – referido autor identifica como “as primeiras
por Freud em 1920 para articular a pulsão latusas”. Ao identificarem a informação
de morte, como sabem – foi lançado no como inversa à entropia, os teóricos da
campo da física em 1862, por Clausius. informação permitiram que se levantasse
Num sistema, se ele não está recebendo a hipótese de que a entropia é gerada num
nada de fora, como diria Boltzmann sistema na proporção inversa do acúmulo
(1844-1906), a energia vai se discipando e de informação. Se esse sistema é vivo, ele
a entropia vai crescendo. Naquele tempo, exporta entropia (Schrödinger) o que
o alcance da operacionalidade do conceito equivale a dizer que ele é neguentrópico
não foi bem medido porque seriam ou, ele importa neguentropia (Brillouin) e
precisas – para além da teoria da a acumula, importa informação e a
relatividade – várias outras contribuições memoriza, visando a maior duração da
que se acrescentaram à sua primeira
formulação. Note-se que Lacan 13“[...] il n’y a pas que la dimension de l’entropie dans ce qui se passe du côté du
plus-de-jouir. Il y a quelque chose d’autre, dont quelqu’un s’est aperçu, c’est que le
acompanhava os desenvolvimentos do savoir, ça implique l’équivalence entre cette entropie et une information” (p.94).
conceito, o que se verifica nas referências 14Question 3 in “Réponses aux questions”
que a eles fez ao longo de seu ensino www.champlacanienfrance.net/IMG/pdf/mbousseyroux.pdf

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vida e sua manutenção. Como aponta perdas produzidas”17 (idem). Assim, ao


Lacan (1973) em “L`étourdit”, os animais mesmo tempo em que o telefone e o
nisso fazem de nós seus caçulas, pois é telégrafo deram a possibilidade aos
“uma função de código que aí se exerce teóricos da informação de identificar esta
através da qual se dá a neguentropia de com a neguentropia, promoveram o
resultados de observação. Mais que isso, aumento da entropia pois não é possível
condutas vitais aí se organizam a partir de telefonar ou telegrafar sem com isso
símbolos perfeitamente semelhantes aos discipar mais energia e, portanto,
nossos (ereção de um objeto ao nível de aumentar as perdas produzidas.
significante do mestre na ordem do vôo
de migração, simbolismo da parada Três recortes históricos do tempo, na
amorosa e do combate, signos de física.
trabalho, marcas do território), com Na física clássica, o tempo é uma
exceção do fato de que esses símbolos consistência. Acreditava-se que existia
jamais são equívocos”15. Eis porque foi algo chamado tempo que fluía e podia ser
possível a Freud identificar as pulsões de medido, por fazer parte da estrutura
vida na contramão da entropia: elas dizem fundamental do universo como uma
respeito aos investimentos das dimensão na qual os acontecimentos
informações – os traços mnêmicos que ocorrem em seqüência. Como sistema de
armazenamos em cadeias associativas. Se referência absoluto, o tempo newtoniano
entendemos o saber como inscrição de é uma base de referência em que se toma
informação, então, como diz três dimensões do espaço mais o tempo.
Bousseyroux, o “reservatório das O tempo seria, no conceito clássico da
informações” é neguentrópico16, física, um “relógio” com marcha sempre
enquanto que o campo dos gozos é constante, sem instante inicial nem final.
entrópico, já que os gozos só se Este é o princípio da uniformidade do
recuperam sob a condição de uma tempo: as coisas mudam, mas o tempo é
entropia. “Se a neguentropia tem o sempre o mesmo, constante. Seria
sentido inverso da entropia física, então, necessário aguardar Einstein para que se
quanto mais o campo das latusas aumenta pudesse identificar de que consistência se
– e ele ciberaumenta! – mais crescem as tratava.
Dois séculos depois de Newton (4
15“une fonction de code s'y exerce par ou se fait la néguentropie de résultats de Janeiro de 1643 — Londres, 31 de
d'observation. Bien plus, des conduites vitales s'y organisent de symboles en tout
semblables aux nôtres (érection d'un objet au rang de signifiant du maître dans
Março de 1727), no século XIX mais
l'ordre du vol de migration, symbolisme de la parade tant amoureuse que du precisamente, muita coisa começou a
combat, signaux de travail, marques du territoire), à ceci près que ces symboles ne mudar. E para construir a relatividade,
sont jamais équivoques” (Lacan, L`Étourdit, Scilicet 4, Seuil, Paris,1973: 46).
16 Negative entropy or negentropy or syntropy of a living system is the entropy that
Einstein, na esteira do trabalho de
it exports to maintain its own entropy low. The concept and phrase were introduced Maxwell e de Lorentz, passou a situar o
by Erwin Schrödinger in his 1943 popular-science book What is life?.[1] Later, Léon tempo como uma grandeza relativa.
Brillouin shortened the phrase to negentropy, [2][3] to express it in a more
Oposta à concepção realista, “o tempo já
"positive" way: a living system imports negentropy and stores it (Wikipedia). In a
note to What is Life? Schrödinger explained his use of this phrase: “[...] if I had been
não se refere a nenhuma espécie de
catering for them [physicists] alone I should have let the discussion turn on free
energy instead. It is the more familiar notion in this context. But this highly 17 “La néguentropie que ayant le sens inverse de l'entropie physique, est-ce à dire
technical term seemed linguistically too near to energy for making the average reader alors que plus le champ des lathouses grandit — et il cybergrandit ! — plus
alive to the contrast between the two things” (idem). s'accroissent les pertes produites[...]” (Bousseyroux, op.cit.).

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'continente' atravessado pelos que “o incomensurável existia, e com isso


acontecimentos, nem tampouco [é] uma se começava a colocar a questão sobre o
entidade que 'flui', mas, no lugar disso, é que era o número” (Lacan, 1 de junho de
parte de uma estrutura intelectual fundamental 1972). Algo no número furava o número!
(junto com o espaço e o número) através da qual O tempo, com as mudanças que a
os humanos seqüenciam e comparam os física sofreu no início do século XX,
acontecimentos. Esta segunda acepção, [...] tornara-se então uma grandeza relativa,
sustenta que o tempo não é nem um não mensurável. Quando se trabalha na
acontecimento nem uma coisa, não sendo física e se é forçado a escrever as
portanto em si mensurável”18. De fato, ao grandezas sem possibilidade de medida, utiliza-
contrário das outras grandezas referentes se o artifício de anotá-las sempre
ao espaço, e que podemos medir com multiplicadas por i, ou seja, o número
uma régua ou trena, o tempo não seria imaginário, √(-1), como Lacan (1961-2) o
mensurável. O tempo não se mede, se retomaria já no Seminário 9, A identificação.
conta, se cifra, poderíamos dizer com a Número imaginário porque permite lidar,
observação de Lacan (1973-4) de que de alguma forma, com o real que revela –
aquilo que se cifra é da ordem do gozo da mesma forma como o falo revela o
(cf. Seminário XXI, lição de 20 de furo, ainda no mesmo Seminário 9. E de
novembro de 1973). “Não podemos usar que real, no contexto? Aquele que faz
uma régua para medir o tempo. Usamos o objeção ao número inteiro: “Em suma,
chamado relógio. Mas o relógio é um quanto mais se façam objeções ao Um,
dispositivo de contagem. Sejam os quer dizer, ao número inteiro, mais se
badalos de um pêndulo, sejam as batidas demonstra que é justamente do
de uma mola, sejam grãos de areia ou a impossível que em matemática se
freqüência de transição de elétrons em engendra o real” (Lacan, 1971-2, lição de
órbita de um átomo, todas as formas de 1/6/72).
medir o tempo são de contagem e não de Assim, o tempo passa a ser uma
medida”19. grandeza identificada com o número
Isso não é sem relação com a imaginário apesar de não haver “nada de
observação de Lacan na conferência de 1 menos imaginário do que √(-1)” (idem),
de junho de 1972, no bojo de seu curso como muito bem Lacan se refere a isso
“O saber do psicanalista”. Nessa nesse seu Seminário. Articulando isso à
conferência, Lacan observa o seguinte: primeira lição do Seminário 21, em que
teria havido um dia em que os pitagóricos Lacan (1973-4) associa e equivale os três
– ainda na Grécia antiga – esbarraram na registros, real, simbólico e imaginário,
√2. A √2, justamente, é incomensurável20. concluímos, necessariamente que a dit-
Isso teria sido retomado pelos filósofos e, mansion engendrada pela “parte de uma
se na época ninguém esteve à altura de estrutura intelectual fundamental (junto
responder à questão, nem por isso com o espaço e o número) através da qual
deixaram de com ela se darem conta de os humanos seqüenciam e comparam os
acontecimentos” (texto já citado), ou seja,
18http://en.wikipedia.org/wiki/Time. Grifo meu. o tempo, a partir do momento em que
19http://www.daf.on.br/jlkm/Opiniao/O_tempo_na_fisica.html Einstein o derruba como referência
20“cuja relação não pode ser expressa por um número inteiro ou fracionário (diz-se
de relação de grandezas)” in Dicionário Houaiss da língua portuguesa.

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absoluta, é o próprio I da articulação dos diretamente à entropia. O inconsciente


três registros: real, simbólico e tempo. como atemporal é o inconsciente do
O fato é que a matemática da qual saber, em que traços mnêmicos se
se serve Einstein, de Poincaré, já é uma associam e se inscrevem sem levar em
topologia em formação. É uma geometria conta, minimamente, o tempo que separa
que introduz sentido furando as uma lembrança da outra. Tal como, aliás,
transformações de Lorenz que auxiliaram as coisas ocorrem no mundo quântico em
Einstein a propor a teoria da relatividade, que tampouco as coisas ocorrem em
da mesma forma que observávamos qualquer referência ao tempo. Por sua
Lacan dizer: o imaginário fura o simbólico vez, a repetição do gozo sempre o mesmo
porque introduz nele o sentido. Quando é o que faz passar o tempo para um
estudávamos o plano projetivo no qual se sujeito. Se “o tempo tudo apaga”, com o
baseia a construção do Esquema R físico Boltzmann e o teórico da
(Lacan, 1956), não há dúvida que a banda informação Shannon é a entropia que
de Moebius já estava presente em sua “tudo apaga”. O tempo é, portanto,
formulação. O plano projetivo que já se entropia. Ficar jovem, ao contrário, é
impusera na época newtoniana implica o poder armazenar sempre mais informação
furo, mesmo se é somente com a e manter ocupados os estados, o que a
topologia no século XX que se passará a sabedoria popular conhece muito bem
pensar a partir dos furos! quando se reafirma a necessidade de se
ocupar no envelhecimento. Na tentativa
Informação e tempo. de lentificar o efeito entrópico, o
Na realidade, a partir da década de psiquismo se complexifica.
1940, associando as pesquisas físicas com Ainda no Seminário 17, Lacan
as da teoria da informação, entende-se (1969-70) identifica a “energética” com a
que a entropia age no sentido sempre de rede de significantes (p. 54). “Vocês
destruir a informação. Para imaginarizarmos ignoram que a energética é a mesma coisa
tal constatação, basta lembrar que, não [...] que um aplique da rede dos
importa o que se faça, um disco vai significantes sobre o mundo?” (idem, p.
perdendo a informação à medida em que 54)21. Para justificar essa conceituação,
o tempo passa – ele arranha, enche de Lacan sugere a seguinte experiência:
poeira... ou quebra –, e o mesmo se dá Desçam uma ladeira com 80kg nas costas
com o achado arqueológico, por exemplo. e depois a subam. Para quem o fizer,
Isso permite levantar a hipótese de que a duvido que isso não tenha sido um grande
ação do tempo não é senão a própria ação trabalho! “Mas se vocês aplicarem sobre
da entropia. O tempo é a manifestação da isso os significantes, quer dizer, se vocês
entropia. Logo, o tempo, como grandeza entrarem na via da energética, é cem por
primária não existe, ele é derivado da ação cento certo que não houve nenhum
da entropia. O que, evidentemente, trabalho” (idem, ibidem)22. Por quê?
provoca a necessidade de se explicar a
definição que conhecemos do 21 “Ignorez-vous que l’énergétique, ce n’est pas autre chose, [...] que le placage sur
inconsciente por Freud: ele é atemporal le monde du réseau des signifiants ?” (p.54).

mas regido, singularmente, pela pulsão de 22“Mais si vous plaquez là-dessus les signifiants, c’est-à-dire si vous entrez dans la
voie de l’énergétique, il est absolument certain qu’il n’y a eu aucun travail” (idem,
morte – aquela que Freud associa ibidem).

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Porque para o estudo da mecânica Os limites do gozo e o tempo lógico.


trabalho é força vezes a distância Se o significante é a energética,
percorrida. Logo, se você desce 80kg a conforme Lacan, a inscrição dos traços
força da gravidade exerce um trabalho mnêmicos, conforme Freud, então, ao se
equivalente à altura e na volta, a gravidade referir ao significante, não dá para
faz um trabalho negativo igual. Logo, o determinar o tempo – como vimos, o
trabalho da gravidade foi nulo. O inconsciente é atemporal. Isso também
problema é que, para a mecânica nessa coaduna com o princípio da incerteza de
experiência, trabalho é da força da Heisenberg que, ao referir-se ao mundo
gravidade que, no exemplo, se anula. Ao microscópico – campo da física quântica
se inscrever a ação com significantes da – percebeu que, num par complementar,
mecânica, não há nenhuma referência à por exemplo, o par: posição e velocidade de
entropia. No máximo, há neguentropia, uma partícula, não é possível determinar
aumento de informação. Mas essa de forma absoluta ambas as grandezas
inscrição também se faz, como vimos, complementares. Se medimos com
sem referência ao tempo. Nem tempo, precisão absoluta a posição da partícula,
nem entropia. não será possível determinar sua
Qual é o furo dessa explicação? O velocidade, e vice-versa. Outro par
furo está no fato de que a ação, ela complementar estudado por Heisenberg é
mesma, não é feita com significantes... justamente o par energia e tempo. Se
para descer você fez um esforço que se medimos a energia de uma partícula não
perdeu para evitar que os 80kg se sabemos precisar o instante em que ela a
estabacassem lá em baixo e para subir possuía. Se precisamos o instante em que
você teve que fazer um novo esforço, possuía tal energia, não saberemos em
esforço duplicado para vencer a que estado energético a partícula estava.
gravidade. No conjunto, a entropia sobe! Num primeiro momento, o absolutismo
A energia usada se dissipou, mesmo se do tempo é desbancado pela relatividade,
para a mecânica não houve nenhum depois veio a teoria quântica, que o
trabalho. Eis onde entrou também a desbancou definitivamente. “[...] o tempo
máxima de Taylor: Tempo é dinheiro que, já não é considerado como uma grandeza
nesse trabalho com os 80kg, se perdeu primária, isto é, uma grandeza de onde se
para sempre – tirando qualquer capitalista parte para construir ou derivar outras. Há
do sério... mesmo quem diga que o tempo não
Tempo é um conceito que aparece existe. Existe sim o movimento, sendo o
porque existe entropia. O que acontece tempo uma grandeza derivada deste”23.
nesse instante implica que o que Donde é preciso levantar a
aconteceu há dez minutos atrás é hipótese de que se estudamos o
diferente do que acontece agora: as coisas inconsciente como atemporal, não se
aconteceram às expensas do crescimento determina com precisão o gozo, e quando
da entropia, houve um acréscimo de se determina o gozo – o tempo – então
entropia. Por isso criou-se uma escala que não dá para definir o significante.
acompanha essa mudança, e a essa escala
chamou-se tempo.
23http://staff.on.br/jlkm

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Tive a oportunidade de aprofundar estar entre nós nesses dias, mas nos
a questão do gozo como processo deixou, em 9 de janeiro passado.
cíclico24 quando tentava entender o que Levanto minha hipótese: o corte
Lacan (1968-9) articula em seu Seminário na transferência, o corte como
XVI sobre a morte como encontro do significante (conforme o Seminário 9 –
limite mais baixo do ponto supremo com Lacan, 1961-2), introduzindo o tempo
o mais alto do ponto ínfimo. O processo lógico, interrompe o processo cíclico
cíclico – que não deixa de implicar a entrópico, promovendo, em
repetição, mas a repetição na qual sempre conseqüência, a neguentropia.
se perde – é sem dúvida o processo que Estratégia do psicanalista,
permite a contagem do tempo. Contagem conforme a Direção do tratamento e os
do tempo, ciframento e gozo separam-se princípios de seu poder 27, a transferência é
do inconsciente pela letra que lhes faz repetição, mas da tiquê (répétition à la tyché),
litoral (Lacan, 1971-2a). O que finalmente e é dever do analista retificá-la na
nos leva à provocação: e o tempo lógico? interpretação28. Lacan lembra, em seu
Seminário 11, que a transferência é antes de
O tempo lógico e a castração. mais nada, conforme Freud,
Minha visada com esse trabalho é Übertragnungswiderstand – resistência da
contribuir para a discussão da função do transferência –, na medida “que o
tempo numa psicanálise, no que tange a inconsciente se fecha por meio da
sessão analítica, levando em conta a transferência”29. Rendendo homenagem,
disjunção entre a produção dos S1 no por sua vez a Freud, Lacan observa nesse
discurso analítico e a correlata perda de Seminário que ele “descobriu os
gozo, no mesmo discurso, ou seja, os mecanismos do inconsciente. Que a
próprios S1 no lugar do mais-de-gozar relação do desejo à linguagem como tal
(cf. “O saber do psicanalista”, Lacan, não ficou velada para ele é justamente o
1971-225). Como observa Lydia Gomes traço de sua genialidade, mas isso ainda
Musso, nas “Preliminares” de nosso não é dizer que ele tenha [...] plenamente
Encontro, a partir do texto “Variantes do elucidado [...] a questão da
tratamento padrão” (Lacan, 1955), desde transferência” . Em sua tentativa de fazê-
30

cedo Lacan imiscui tempo e transferência lo então, Lacan – que até o final de seu
e ela cita: “Eis porque a transferência é ensino articula a transferência ao amor –,
uma relação essencialmente ligada ao propõe que a parte de real do sujeito
tempo e ao seu manejo”26. Gostaria de “interessada na transferência, que é ela
articular a conclusão de meu trabalho a que fecha a porta, ou a janela, ou a
essa observação que é aqui também uma veneziana, como queiram, e que a bela
homenagem à nossa colega que queria
27Lacan, J. “La direction de la cure et les principes de son pouvoir” in Écrits.
24Alberti, S. “O bem que se extrai do gozo” In Stylus, abril 2007, no. 14, p. 71-2. 28Lacan, J. Seminaire 11, Les quatre concepts fondamentaux, p.74. “[...] la rectifier
25Cf. o artigo “O bem que se extrai do gozo”, no qual se verifica a mudança dos c’est le devoir de l’analyste, dans l’interprétation du transfert”.
lugares nos discursos a partir dos desenvolvimentos na conferência de 3 de fevereiro 29 “que l’inconscient se referme par le moyen du transfert”. (Lacan, Le Séminaire,
de 1972 sobre “O saber do psicanalista” (Alberti, S. In Stylus, abril 2007, no. 14, p. livre XI::146)
71-2). 30“a découvert les mécanismes de l’inconscient. Que ce rapport du désir au langage
26Lydia Gómez Musso, Barcelona, novembro de 2007. “A Transferência é a comme tel ne lui soit pas resté voilé est justement là un trait de son génie, mais ce
intromissão do tempo de saber no inconsciente”. http://www.vencontro- n’est pas encore dire qu’il ait [...] pleinement élucidé [...] la question massive de
ifepfcl.com.br/textos/pre6TransferPT.pdf. transfert” (Lacan, Seminaire XI, p.21).

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com quem se pode falar está atrás, que ela LACAN, J. (1955) “Variantes de la cure type” in
Écrits. Paris, Seuil, 1966.
só demanda reabrir a veneziana. E é bem ________ (1956) ““D’une question
por isso que nesse momento a préliminaire à tout traitement possible de la psychose” in
interpretação se torna decisiva pois é a ela Écrits. Paris, Seuil, 1966.
que devemos nos dirigir”31. Esta “bela” ________ (1958) “La direction de la cure et
les principes de son pouvoir” in Écrits. aris,
que podemos associar à elaboração de Seuil, 1966.
Lacan do desejo do psicanalista ainda ________ (1961-2) “Le Séminaire, livre IX,
nesse mesmo Seminário, solicita a L`identification”. Inédito.
________ (1964-5) Le Séminaire, livre XI, Les
interpretação como ato analítico, a quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse. Paris,
provocar a reabertura do inconsciente e, Seuil, 1973.
por conseguinte, a retomada da ________ (1968-9) “Le Séminaire, livre XVI,
D`un Autre à l`autre”. Inédito.
atemporalidade. ________ (1969-70) Le Séminaire, livre XVII,
Então, “que o inconsciente se L`envers de la psychanalyse. Paris, Seuil, 1991.
fecha por meio da transferência” é a ________ (1971-2) “O saber do psicanalista”.
constatação do efeito, ele mesmo, Inédito.
________ (1971-2a) Le Séminaire, livre XVIII,
entrópico da própria psicanálise, e D`un discours qui ne serait pas du semblant.
introduzir aí o tempo lógico – e já não Inédito.
repetir o cronológico – é transformar tal ________ (1973) “L’Etourdit” in Scilicet, no 4,
Paris, Seuil.
efeito entrópico em ato analítico a ________ (1973-4) “Le Séminaire, livre XXI,
reinserir a função da atemporalidade e Les non dupes errent”. Inédito.
assumindo, por sua vez, o lugar de objeto MUSSO, L. (2007) A Transferência é a intromissão do
tempo de saber no inconsciente
a que o faz cair da idealização, sem o que, http://www.vencontro-
a “transferência seria uma pura e simples ifepfcl.com.br/textos/pre6TransferPT.pdf
obscenidade”32. Por quê? Porque
reintroduziria, necessariamente, o ciclo
das repetições de sempre “o mesmo
fracasso”33.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALBERTI, S. “O bem que se extrai do gozo” in
Stylus, abril 2007, no. 14.
BOUSSEYROUX, M. “Question 3 in 'Réponses
aux
questions'”www.champlacanienfrance.net/IMG/pdf/
mbousseyroux.pdf
FREUD, S. (1905) “Drei Abhandlungen zur
Sexualtheorie” in Studienausgabe. Frankfurt a.M.,
S.Fischer, 1972. v. V.
________ (1920) “Jenseits des Lustprinzips”
in Studienausgabe. Idem, v. III.

31 “intéressée dans le transfert, que c’est elle qui ferme la porte, ou la fenêtre, ou les
volets, comme vous voudrez, et que la belle avec qui on peut parler, est là derrière,
que c’est elle qui ne demande qu’à les rouvrir, les volets. Et c’est bien pour cela que
c’est à ce moment que l’interprétation devient décisive, car c’est à elle qu’on a à
s’adresser” (idem, p.147).
32 Le “tranfert serait une pure et simple obscénité” (Lacan, Le Séminaire, livre XV,
L`acte psychanalytique:94).
33toujours du “même ratage” (Seminaire XI:165).

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L’étoffe du zéro : La topologie et le temps


Françoise Josselin
hez Freud comme chez bloquant sur le roc de la castration. Tout
Lacan un effort constant l’effort de Lacan a porté sur la désignation

C pour cerner le réel en cause


dans la structure, pour en
élaborer le mathème, « pour
combler la béance entre
l’Imaginaire et
Réel…l’étoffe même d’une
psychanalyse »(1), soit pour imaginer le
le
du Réel comme l’impossible, le tissu même
de l’inconscient, un Réel tissé par le
nombre, un Réel à chercher du côté du
zéro absolu. « Désigner la forme du zéro
placé au centre de notre savoir c’est, dit-il,
la visée de mon 8 intérieur…ma topologie
a réhabilité le tissage »(8). Le zéro c’est le
Réel autrement que par l’imaginaire. Freud, trou. Rien n’existe sans l’existence du trou.
pressentant la dimension du réel dans sa Lacan invente donc une nouvelle
découverte que l’inconscient ne connaît pas écriture pour rendre lisible l’irreprésentable
le temps, tente d’en élaborer une Esquisse du rapport entre les sexes, l’incurable de la
scientifique. Lacan, lui, se sert de l’écriture division entre le signifiant et l’objet. Il nous
topologique pour parer à l’ab-sens du introduit à la dialectique de son nœud
rapport sexuel, au trou dans le savoir, à la borroméen par le truchement du nombre «
confusion du zéro qui n’est pas le vide mais seul réel reconnu dans le langage »(9).
la consistance du trou. Une topologie qui Partant de la dit-mension, équivoque
s’oppose à la fascination du trou introduite par Frege sur le nom du nombre,
imaginaire, une topologie « qui n’a d’autre que 0 et 1 ça fait 2, avec l’équivoque de 2,
étoffe à lui donner que ce langage de pur d’eux (qui pour Lacan va symboliser le
mathème »(2). « Je m’efforce à faire une sujet-supposé-savoir) : le zéro, c’est le trou,
géométrie du tissu, du fil, de la maille, c’est le UN désigne le vide du non-rapport
tout au moins où me conduit le fait sexuel, son écriture est le UN-dire, soit le
d’analyse »(3). Et pour rendre compte de nom du nombre zéro. Par ailleurs le
l’épaisseur de ce tissu qu’ est le Réel (4), il mathème du rapport des sexes fait
part du point de serrage du nœud qui « subversion : 2 Uns liés par un 3ème
suggère que l’espace implique le temps »(5). élément (10), figure même du nœud
Une topologie qui se nécessite de ce que le borroméen à 3 à partir duquel on peut
Réel lui revienne du discours analytique. Le déplier l’énumérable.
temps fait étoffe au dire. Le temps c’est la Lacan s’est attelé à la manipulation
coupure, une coupure qui n’implique nul de ses ronds de ficelle jusqu’à l’épuisement
trou (une coupure circulaire fermée) qui « pour trouver l’écriture de la consistance du
n’est même pas surface de ne rien séparer, trou, l’épaisseur de ce tissu qu’est le Réel.
et pourtant ça se défait »(6). Nous n’avons pas, dit-il, la notion du
« Ma topologie n’est pas théorie. volume ni de l’épaisseur, nous ne pouvons
Mais elle doit rendre compte de ce que, nous situer que dans un espace à deux
coupures du discours, il y en a de telles dimensions (d’où la mise à plat de ses
qu’elles modifient la structure qu’il accueille figures topologiques). Le seul maniement
d’origine »(7). Une Autre dit-mension qui du volume c’est le nœud borroméen qui a
justifie la passe. l’avantage de suggérer que l’espace
Cette autre dimension est celle du implique le temps. « Le temps ce n’est peut
réel dont Freud a refusé de se faire la dupe, être rien d’autre qu’une succession de

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tiraillements (pour le sujet) entre le puisque il exclut la copulation du


Symbolique, l’Imaginaire et le Réel. Le Symbolique et de l’Imaginaire. L’effet de
temps c’est peut être ça l’éternité de sens exigible dans la psychanalyse il faut
l’espace …le nœud ça donne une autre idée qu’il soit Réel.
de la spatialisation que l’univers ambidextre Le savoir dans le Réel n’est pas de
» (11) cet ordre de savoir qui porte le sens. Le
Le seul temps pour la psychanalyse sens de ce Réel est le symptôme. « Le Réel,
est le temps de l’acte, un temps qui n’est c’est l’expulsé du sens, c’est l’aversion du
pas chronologique, ni même vraiment sens. C’est aussi la version du sens… Le
logique mais un temps qui peut se saisir du Réel c’est le sens en blanc, le sens blanc, le
retournement topologique du tore du sujet semblant par quoi le corps se fait semblant,
dans le temps où il se produit. semblant dont se fonde tout discours »(13).
L’effet de sens exigible du discours Le psychanalyste doit se faire
analytique n’est pas imaginaire, il n’est pas l’instrument de l’opération de l’extraction
non plus symbolique, il faut qu’il soit réel. « du a en serrant de son dire e) l’effet de sens
La parole glisse (l’Imaginaire), le dire fait d’un nœud qui soit le bon (les points-
nœud (le Réel) »(12). nœuds de l’équivoque) « pour que le
Le psychanalyste, à partir de la parlêtre ne croit plus à l’être »(14), « là où
texture de fiction de la vérité, va, de son l’être fait la lettre »(15). Pour cela il doit
être faire étoffe à la production d’un « irréel garder la corde pour qu’au psychanalysant
», en se revêtant, en servant, pour son se révèle la clé du trou de la castration sans
analysant, de support à l’objet cause du laquelle il n’y pas d’ex-sistence de la
désir, à l’objet a,. Il est le gond pour jouissance phallique.
permettre à la tache analytique, après un Le psychanalyste n’est pas un héros
nombre impair des tours des dits de la comme le héros, le hère, qu’est Joyce selon
demande (coupures ouvertes), que, d’une Lacan, même si le psychanalyste, comme le
coupure circulaire fermée, se défasse le héros, voue sa destinée à être le déchet de
cross-cap (la mise à plat du tore) en la sa propre entreprise. Il n’est que l’étoffe du
bande moebienne du sujet (le S barré) et le zéro, soit le semblant de cette trame du
a, l’agalma du sujet-supposé-savoir (SSS), désêtre qui n’est pas la destitution
dont le psychanalysant peut, s’il l’a décidé, subjective qui fait plutôt être.L’analyse ne
reprendre le flambeau en tant que sujet consiste pas à ce qu’on soit libéré de ses
averti du destin de déchet de cette cause. sinthomes (la destitution subjective) mais
L’objet a est lié à la dimension du temps, consiste à ce qu’on sache pourquoi. Voilà
une dimension à articuler avec la dimension ce que la passe peut permet de vérifier.
de l’espace : là où c’était, je dois le devenir Lacan, dans son dernier séminaire :
ce déchet. La topologie et le temps (16), fait retour sur
Si la plume de Freud s’est le miroir dans la poursuite de son
suspendue sur la Spaltung, la division questionnement sur ce nouvel Imaginaire
subjective, celle de Lacan s’est arrêtée sur la qui imagine le Réel, qui imagine dans le
béance entre l’Imaginaire et le Réel, entre la sens qui reflète le Réel comme une
représentation et l’objet, soit l’inhibition, réflexion dans le miroir, « le plus simple des
qui est toujours une affaire de corps, à appareils », soit à deux dimensions ; retour
imaginer le Réel parce qu’il nous échappe, à un miroir qui ne ferait pas qu’articuler
une béance qu’il s’est, dit-il, efforcé de l’espace mais aussi le temps. « Il nous faut
combler. « Il faut se briser, dit-il, à un définir ce qui, dans un ensemble de
nouvel imaginaire concernant le sens ». Le dimensions, fait du même coup surface et
Réel est orientable mais forclot le sens temps »(17). Le Réel du corps y trouve son

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épaisseur et le nombre réel, la vraie perte 1 – Lacan J., Le Séminaire, Livre XXV, Le moment
dans le miroir, le trou autour duquel de conclure, 1977-1978, séance du 09/05/1978
2 – Lacan J., Autres Ecrits, l’Etourdit, p.458
l’imagination peut broder. 3 – Lacan J., Le moment de conclure, op. cit.,
La corde qui fait la trame de toute séance du 11/04/1978
étoffe doit avoir une consistance réelle et 4 – Lacan J., Le moment de conclure, op. cit.,
non imaginaire pour qu’il y ait séance du 09/05/1978
construction. L’expérience de l’espace- 5 – Lacan J., Le Séminaire, Livre XXI, Les non-
dupes-errent, 1973/1974, séance du 11/12 /1973
temps que l’on construit dans une analyse 6 – Lacan J., L’Etourdit, op.cit., p.461
est d’un autre imaginaire que l’adoration 7 – Lacan J., L’Etourdit, op. cit. p.478
pour le corps que l’on a. Alors que dit 8 – Lacan J., L’Etourdit
Lacan dans sa Conférence à la Columbia 9 – Lacan J., Autres Ecrits, …Ou pire p.547
University en Novembre 75, que si 10 – Lacan J., idem
11 – Lacan J., Les non-dupes errent, op. cit., séance
l’homme insiste pour avoir un corps, il du 11/12/1973
serait plus censé de dire qu’il est un corps. 12 – Lacan J., Le Séminaire, Livre XXII, RSI,
C’est même sa seule consistance, sa Ornicar n°4, séance du 11/02/1975
véritable identité (18). 13 – idem, RSI, séance du 11/03/1975
Le temps dans une analyse est à 14 – idem, RSI, Ornicar n°5, 08/04/1976
15 - …Ou pire, op. cit., p.548
articuler dans sa dit-mension de Réel, 16 – Lacan J., Le Séminaire, Livre XXVI, La
l’écriture du nœud même, la père-version, topologie et le temps, 1978-1979, inédit.
la version du sinthome, le seul intérêt pour 17 – Lacan J., Les non-dupes errent, op. cit., séance
la psychanalyse. du 9 Avril 1974
18 – Lacan J., Scilicet n°5, Conférence à la
BIBLIOGRAPHIE Columbia University, p.49, Edition du Seuil, Paris,
1976.

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Tu/er la mort
Martine Menès
« Si vis vitam, para mortem » est angoisse devant la vie) est l’analogon de
l’angoisse de castration , ce que Lacan
e rapport à la temporalité poursuit en les déclarant interprétables de
révèle la structure d’un sujet

L
façon équivalente, elle ne peut entièrement
mis au pied du mur du réel, s’y réduire.
entendons par là, pour Le temps fait symptôme
synthétiser, le rapport au Celui-ci, que j’appellerai Narcisse,
vivant, au sexe, à la mort. Le comme l’homme-fleur du même nom,
temps ne passe pas, c’est s’abîme dans la contemplation d’un reflet
l’être humain qui passe sous qu’il ignore être le sien. En arrêt sur image,
ses arcanes, qu’il méconnaît dans la aucune date, aucun rendez-vous, aucun
psychose et qu’il construit dans la névrose. souvenir, ne fait point de capiton. Narcisse
Comment traiter l’irruption de réel se meurt éternellement et se transforme
qui noue vie et sexe à la mort, évènement peu à peu en objet. Echo s’époumone en
qui n’existe ni pour celui auquel c’est arrivé vain à essayer de le prévenir et de l’arracher
puisque le sujet mort ne sait pas qu’il est à cette lente dévitalisation. Il est vrai que
mort, ni pour celui qui y pense puisqu’il ne pour elle aussi la pulsion fonctionne en
peut jamais n’en être que spectateur ? Sans boucle sur elle-même puisque sa voix lui
traces ni mots cernant la chose, vivre se revient indéfiniment sans être entendue.
sachant mortel est une décision qui Pour ce patient, il s’agit que le
suppose un consentement non seulement à psychanalyste ne soit pas à cette place.
la castration mais aussi à ce qu’elle échoue à Cet autre, que j’appellerai
traduire. Car la fin du voyage de chaque Ashasvérus , à l’inverse de Narcisse,
sujet dans le temps, c’est la mort dont marche sans repos et « erre seul dans les
aucun grand Autre ne peut protéger. Ainsi immenses déserts de l’éternité » comme «
le rapport à la mort de chacun rencontre la quelqu’un déguisé en personne ». Il
place du manque dans l’Autre, des limites s’ennuie à mourir, mais il ne meurt jamais.
signifiantes qui le barre, qui le fait pour Sans projet, confondant mémoire et avenir,
jamais, pour toujours, solitaire et perdant. il n’attend ni n’espère rien. « Mieux aurait
Le premier temps de la mort se loge valu ne pas naître », dit-il comme Œdipe
pour chacun dans l’originelle perte d’être, découvrant l’inceste dont il est coupable.
ancrée dans l’entame faite à une absolue Le voilà donc en deuil perpétuel de lui-
satisfaction organique, dont l’objet a est le même, mort dans le temps mort qui enserre
reste et la pulsion de mort la mémoire. Le son existence.
vide creusé dans le sujet est dans un A tuer le temps, le sujet du désir se
deuxième temps interprété via l’imaginaire tue aussi .
par la différence des sexes, et traité par la Laissons ces mélancoliques pour
castration qui peut transformer cette perte des personnages moins tragiques, ceux qui
en manque structurant. D’emblée donc la plus banalement rusent avec le temps de
pensée de la mort oscille entre deux mourir et sont toujours à contretemps.
instants, celui de la perte et celui du L’un est arrêté dans un passé anticipé perdu
manque. Et si comme Freud le relève, pour toujours, pour lui c’est désormais trop
l’angoisse de mort (dont il précise qu’elle

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tard. L’autre attend dans un futur antérieur du trauma inévitable qu’est la rencontre du
infini, pour elle c’est constamment trop tôt. sexuel révélateur du manque. Le sort sera
Le premier, que j’appellerai Henri adouci par une fée concurrente et la mort
comme Faust, prévient toute surprise, hélas transformée en un sommeil de cent ans.
pour lui même les bonnes. Tout en Ce que Belle tient à ignorer, c’est
préparation, précaution, prévision, il réussit qu’il y a escroquerie sur le prince dit
pourtant à tromper sa ponctualité et il lui charmant. Rappelons brièvement les faits :
arrive, plus souvent qu’à son tour, de se le château entier avec tous ses habitants se
faire attendre. Alors l’angoisse surgit devant fige dans le temps et une muraille d’épines
le vague désir qu’il pourrait rencontrer en le cerne. Les jeunes hommes tentés par
face. Surtout, que l’autre ne lui demande l’objet féminin recelé, but de leur trajet
rien ! Ce serait dès lors trop risqué. Car du pulsionnel, y restent accrochés jusqu’à ce
risque il ne veut plus ; déjà il a été mis au que mort s’en suive. Celui qui réussit à
monde sans son consentement, produit franchir l’obstacle le fait totalement par
d’une scène primitive à laquelle il hasard. Tout simplement le temps de la
préfèrerait ne jamais penser mais qui se malédiction est révolu. Il se trouve juste au
rappelle parfois à lui dans les méandres de bon moment, celui du réveil de la princesse
ses rêves. Chacune de ses petites lâchetés, au désir endormi. Pas le moindre exploit
où il pêche de céder sur son désir, souvent dans cette rencontre, juste une question de
au détriment de son partenaire, s’inscrit bon/ne heur/e.
non sur un tableau remisé dans une Belle ne veut pas courir le risque de
chambre close comme pour Dorian Gray , savoir la suite de l’histoire, elle se fait
mais sur la cire molle d’une culpabilité absence éternelle pour soutenir un désir
toujours fraîche dont il ne veut rien savoir jamais là au bon moment, toujours attendu,
mais qui lui rend la vie insupportable. Il toujours insatisfait. Assassine narcissique
végète dans l’après-coup de demandes du désir, elle ne voit pas le temps passer.
obsolètes, toujours nostalgique d’une après- L’heure de la mort la laisse indifférente, à
midi éternelle où il avait été l’enfant plus- peine l’aperçoit-elle quand un proche en
que-parfait , comblant une mère invincible. reçoit la visite funeste.
Ainsi prisonnier d’une répétition Se mettre à l’heure
qui le maintient dans un état de léthargie où Il serait souhaitable que ces patients
la pulsion de mort parle en silence, il ignore , qui incarnent particulièrement l’équivoque
l’heure de la fatale visiteuse dont pourtant du signifiant, ils ne sont que trop patients,
la simple évocation le plonge dans une trouvent dans l’analyse une mise à l’heure
inquiétante angoisse. Il est quasi déjà mort qui ne soit pas tant celle de l’inconscient
mais ne le sait pas. qui ignore le temps, mais celle du réel,
La seconde, que j’appellerai Belle, c’est-à-dire celle de la mort. Côté
ne voit pas le temps passer, parfois court inconscient, le déroulement de la chaîne
après, mais le plus souvent attend qu’un signifiante privilégie le mode diachronique,
homme d’exception lui courre après. Sa vie organisé par les bornes signifiantes de la
ressemble à celle de l’héroïne condamnée castration tout en étant sous le contrôle
dès sa naissance, par une fée qui ne fut pas d’une représentation consciente, construite
invitée aux festivités, à se piquer avec un et symbolisée, du temps. Il faut une
fuseau et à en tomber raide morte, ce très intervention particulière pour rompre le fil
précisément à l’âge de 15 ans . Ce n’est pas de la répétition et toucher à la synchronie
banal que ce soit l’âge de ‘l’éveil du intemporelle du refoulement. C’est
printemps’ , soit le moment de la rencontre pourquoi Lacan a introduit dans la
avec la sexualité effective, deuxième temps conduite même de la cure un acte affectant

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le temps concret, pour que l’analysant lasse pour lui « ne plus voir la maison, ni papa, ni
le hors-temps de la jouissance et entre dans maman ». Dans un premier rêve, une imago
le temps, compté, comptable, du désir. paternelle apparaît comme agent de la
Ainsi il s’agit de viser un bouclage de la castration : « ( ... ) le chef, il faisait peur.
série des signifiants non sur les tours de la Son nom c’est Croque-tout. C'est un
répétition mais sur une construction et une monstre qui mange tout, et tout le monde
traversée du fantasme qui brise sa fixité ». Reconnaissons au passage une figure
pulsionnelle et re/met à jour le rapport du d’ogre, ce mangeur d’enfants dont le
sujet à l’impossible. premier est Cronos, dévoreur de ses
Seule la mort est immortelle descendants jusqu’à ce que Rhéa réussisse à
La psychanalyse de l’enfant semble lui cacher Zeus, fils rescapé dont on
sur ce point particulièrement instructive car connaît la destinée. Mais dans cette famille
l’enfant-analysant est d’emblée dans la hâte bien plus modeste que celle de l'Olympe,
de conclure sur du réel. contentons-nous de relever ce que dit
La question de la mort se présente à l'enfant : son père parle « entre les dents ».
lui en même temps que celle de la vie, Dans un rêve suivant, toute la
instant de voir . Le petit sujet, lorsqu’il se famille se transforme en loups-garous ; il
découvre seul et limité en entrant dans la commente : « Mon père n'était plus mon
période de névrose infantile, temps pour père ». Déclaration de la différence radicale,
comprendre, explore avec ses théories que ce garçon a rencontré d’une façon
sexuelles infantiles toutes les hypothèses particulièrement exposée, qu'il y a entre le
sur le sens de l'existence. La conscience père partenaire de la mère, avec le réel
d'une origine s'impose, mais s'il y a un sexuel qu’il emporte, et le père nourricier.
début alors il y a une fin. Derrière toutes les C'est évidemment le premier qui supporte
questions sur la naissance des bébés, sur les fantasmes de rétorsion que le petit
l’énigme de la différence des sexes, se Zeus, protégé par l’amour de sa mère,
profilent, le plus souvent muettes, celles sur craint tout de même. Ce garçon très jeune,
le devenir de chacun. Ainsi d’emblée, sexe, vers 4 ans, était déjà venu me parler de son
vie et mort se trouvent noués par le désir effroi de n'avoir pas reconnu son père. Ce
de savoir et les limites de ses pouvoirs. dernier s'était rasé la barbe qu’il portait
L'enfant rencontre avec horreur cette face depuis toujours et il était apparu comme un
de réel qui reste pour partie hors d’atteinte, autre aux yeux de son fils. Ainsi puis-je
hormis par ce que l’assomption symbolique faire l’hypothèse que la coupure opérée par
de la castration pourra en métaboliser. la scie est le deuxième temps du trauma
Et seul le vivant est mortel inauguré par l’apparition d’un père qui n’est
Ce garçon de huit ans va scander en plus le même, révélant dans son apparition
quelques séances, après de nombreuses d’homme étranger son statut de partenaire
rencontres sans conséquence, le passage de la mère.
d’une angoisse de castration qui Après ce rêve, l’angoisse du jeune
s’exprimera en angoisse de mort à la garçon devient métaphysique et s'étend à la
possibilité de la castration assumée, vecteur terre entière : « Le soleil pourrait mourir et
de solitude mais aussi de désir. alors il n'y aurait plus de vie », même si
Un malheureux accident d'arbre lui cette perspective lui paraît bien lointaine et
vaut un bras cassé. La chose reste banale bien invraisemblable. Dans un nouveau
jusqu'au jour où le plâtre est enlevé. rêve, les loups n’apparaissent plus si
L'enfant est saisi d'effroi devant la scie, terribles, ce sont plutôt des louveteaux, et
devient blême et s'effondre. Depuis il est, son père semble pour la première fois
dit-il, obsédé par la mort, ce qui signifie protecteur ; il chasse avec un marteau des

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bébés loups qui attaquent son fils, mais ce peu accessible pour le sexe dit faible. Il
uniquement pour manger ses chaussons. opère ainsi la séparation avec une mère
Le dernier rêve donne la clé. trop proche en se rangeant côté homme et
L'enfant arrive en me déclarant: « Je n'ai en mettant entre elle et lui un obstacle
plus peur de la mort, je sais pourquoi ». infranchissable. Cette sortie très oedipienne
Puis il raconte : « J'ai fait un rêve, j'étais via l’identification permettra-t-elle à l’enfant
dans un grand arbre (comme celui dont il de supporter l’impossible ? Il semble en
est tombé), on a fait une cabane ». Et il prendre le chemin lorsque, jouant
commente : « C'est juste derrière un distraitement avec quelques petits
ruisseau, comme ça maman ne pourra pas personnages sur le bureau, il déclare
passer ». Il m’explique alors qu’il a sereinement : « Il n'y a que les faux qui ne
réellement construit une cabane avec son meurent pas ». Voilà l'enfant devenu
frère aîné et son père, dans un lieu supposé philosophe .

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El “sin tiempo” de la histeria hipermoderna


Carmen Gallano
uestra época experimenta presente continuo de la vida de hoy el
una paradójica sujeto está dividido entre el menos de

N rarefacción del tiempo y


una reducción
tiempo historizado en su
propulsión a un presente
continuo.Es
consecuencia
incidencia de las tecnologías de la
de
del

una
la
tiempo que le queda como sujeto, y el más
de goce que asedia al cuerpo. Ese impasse
del plus-de –goce como pérdida y
recuperación que no alcanza al sujeto, hace
síntoma. Lacan en el seminario XVI, dice
que “de lo que se trata en el síntoma es de
lo más o menos desahogado de los andares
información y la comunicación en los del sujeto en torno del plus-de-goce que él
mercados y en nuestras vidas. La sociedad es incapaz de nombrar”. El síntoma
en red, comprime el tiempo en la histérico se prende, hoy como ayer, a las
aceleración de los procesos y hace la marcas imperdibles del S1, a las marcas del
secuencia temporal impredecible y surgimiento del goce que perturbó el
aleatoria. Así, más aprisa se va, menos cuerpo. Algunas mujeres histéricas, muy
tiempo se tiene, y eliminando los intervalos solidarias en su identificación fálica con el
como “tiempos muertos”, se “mata el Uno capitalista, desenmascaran en sus
tiempo”. Lacan, en 1972, en Milán, ya había síntomas su división subjetiva, bajo la
diagnosticado que lo astucioso del discurso forma de una disociación temporal entre
capitalista es lo que lo hace insostenible: sumisión y resistencia al “sin tiempo”
“va como sobre ruedas, no puede ir mejor, capitalista.
pero justamente va demasiado deprisa, se Citaré aquí dos casos, ambos de
consume, se consume tanto que se mujeres treintañeras que tienen en común
consuma”. Ya a partir del 68, Lacan había haberse volcado en la ambición de ser
tomado muy en cuenta la concepción conquistadoras de mercados y sufrir por
marxista de la plusvalía, que explica el Time sentirse excluídas de las cosas del amor. La
is Money. Marx descubrió como se primera se define en su posición, al inicio
generaba la plusvalía que se añade al capital, con orgullo y luego con desolación, como
entre el menos-de-tiempo conveniente a la “el bulldozer”; la segunda como “ la que
producción, y el más-de-tiempo extraído al entra a saco” , cosa que no cuestionará sino
trabajo del proletario. Esa es la por lo que le dicen sus amigos del alma es
contradicción temporal inherente al lo que la hace intolerable para los hombres
capitalismo, cada día más agudizada. La y estropea su ser de mujer. La primera,
angustia crece hoy, tomando la forma del llegó a mi consulta tras haber recorrido
apremio de la prisa capitalista. No es el muchos médicos que no encontraban causa
apremio de la vida que pasa al campo del clara a unas infecciones urinarias
inconsciente y mantiene el tiempo del mantenidas con permanente dolor a la
sujeto en el encadenamiento significante. micción. Le dijeron que sería “por stress”
La compresión espacio-temporal del y le recomendaron una psicoterapia. Al
tardocapitalismo no es propicia al tiempo tiempo que venía disciplinadamente a sus
del sujeto, pues el sujeto no puede dos sesiones por semana para hablar de los
transcurrir sino en un lapso temporal, en la sinsabores de su historia, aceptó someterse
pulsación temporal intersignificante. En el a una peculiar técnica de fisioterapia que

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consistía en tratar el dolor de los “puntos el sueldo y encima se ha ganado la


gatillo” localizados por la fisioterapeuta, hostilidad de aquellos que antes habían sido
con la introducción de un artilugio por vía sus iguales en el equipo. Pues eso sí, no
vaginal. Pero no fue esta extravagante todo en ella es sumisión, y como era jefe,
técnica del cuerpo lo que hizo desaparecer desaparecía de vez en cuando del trabajo,
su síntoma de conversión, sino el recuerdo tomándose cortas vacaciones, para
de que el síntoma vino después de una practicar sus actividades favoritas, el ski y
penetración con otro cariz que la que le los deportes náuticos. Por una
practica la fisioterapeuta. Ella se prestaba, a reorganización de la empresa la sacan de
menudo en noches de alcohol y droga, a ese puesto de jefe- suplente y la mutan a
irse a la cama con hombres por los que una función en la que la potencia de su
luego se sentía desechada. Una de esas identificación fálica se quiebra, pues le falta
veces fue peor que otras: el hombre al que el saber para realizarla, poniéndose en
ella había querido conquistar, la penetró sin evidencia su incapacidad para satisfacer a
preliminares, en una prisa, me dice: “en la los clientes como ella siempre ha hecho.
que ni tiempo tuve de saber si lo deseaba ni Nadie la ayuda en esa tesitura, pues los
de excitarme”. Se dejó hacer, pero se sintió colegas expertos en el tema no están
agarrotada en un intenso dolor. A partir de dispuestos a dedicar un poco de tiempo a
la desaparición del síntoma de conversión, responder a sus preguntas. Por mucho que
abordó en su análisis lo problemático de su corra estudiando esos temas, no llega a
“ser bulldozer”: su vida está tan volcada en tiempo y se angustia con cada nuevo
lo “pro” , que se queda sin tiempo para lo dossier. Recuerda al Conejo Blanco de
“perso”. Aclaro con “lo pro” y “lo perso” Alicia en el País de las Maravillas, que mira
se refiere a “lo profesional” y “lo su reloj de gentleman solo para lamentarse
personal”, pues este sujeto moderno habla en su carrera, de que va perdiendo sus
con significantes- abreviatura, como en el emblemas por el camino, de que se le hace
argot de los SMS. Pero además, la potencia tarde , y ay! de él, le degollarán. A la vista
hiperproductiva que surca el campo del del fracaso en ese puesto, el Big Boss le
Otro, se salda repetitivamente, de una ofrece dedicarse a tareas de marketing, cosa
empresa a otra, en el fracaso de su que ella la hunde durante un tiempo, pues
aspiración de obtener un reconocimiento eso sentencia definitivamente que la
del “Big Boss”, como ella llama a sus Jefes. excluyen del status que corresponde a la
Una y otra vez, en todas la empresas en las carrera que ha estudiado, considerada en el
que ha trabajado, se ha visto expoliada de mundo profesional de nivel superior a la de
su tiempo de trabajo para solo beneficio del marketing . Tendrá que rendirse: nunca
Jefe que se traducirá en un menos para será lo que aspiraba ser. Y paralelamente,
ella. No recibe del Uno la equivalencia de cuando se ocupa un poco de lo “perso”, los
su trabajo vivo como valor dado a su hombres a los que trata de conquistar con
persona, que sentirá tratada como desecho, su activismo deseante, siempre la desechan
objeto caído del discurso. La cosa se agrava para preferir a otra. Es el saldo de su
a partir del momento en que se precipita a atadura histérica al Uno. Por efecto de su
aceptar la propuesta del Big Boss de análisis, irá aceptando que el puesto de
substituir al jefe inmediatamente superior a marketing que le dejarán desarrollar a su
ella, que se acababa de suicidar. Pues no manera le va muy bien y se dice curada del
solo no obtiene, tras un año y medio, lo stress en el que antes vivía “sin tiempo”,
que esperaba a cambio – ser admitida como pues ya no se precipita de cabeza según
asociada, para al fin igualarse a los Unos dicten los significantes del Otro. Pero si se
que tenían ese status - sino que ni le suben dice curada del stress, y ya no avanza como

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un bulldozer, no por ello ha abandonado lo a saco” para decirle sus 4 verdades se le


que ella llama su speed, con el que goza revela contraproducente y desata sus furias
como algo propio de su persona. Lo y angustia en el diván protestando de lo
celebra como éxito : el speed sin stress. inútil que es hablarme de todo esto, pues
Ese goce fálico no será sin contrapartida. solo ve una causa exterior a su angustia
Comienza a padecer fuertes dolores de “este mundo de lobos“en el que descubre
espalda, agravados por su gustoso ir de que ella para ese socio-jefe , no era sino
aeropuerto en aeropuerto, siempre deprisa, alguien “de quien hacerse dinero a su
por su trabajo. Y de golpe me anuncia que costa” . Está tentada de dejar el análisis,
no puede venir al análisis, pues está clavada más ahora que por el agujero en los fondos
en la cama, por una hernia de disco, que los de su empresa, ha tenido que buscarse, para
médicos dicen inoperable y que para su llegar a fin de mes, un trabajo de contable,
tratamiento requiere cotidianas largas ella que es economista. Se siente “entre las
sesiones de fisioterapia para que pueda cuerdas”, pues los 40 euros de su sesión
llegar a volver a moverse sin dolor. Al mes semanal le escuecen. Pero opta por no
se incopora al trabajo, pero en su apretada desperdiciarlos, cansada, dirá, de haber
agenda, no cabe ya el tiempo para las orientado su discurso en el diván solo para
sesiones de análisis, colonizado ahora por ser querida, sin disponerse, “a sacar la
las sesiones de rehabilitación. Así, vemos basura” que es la metáfora, dice, de lo que
como su presente está dividido entre el aún no había hecho en el diván. Hasta ese
goce del speed, en el que cifra un bien momento, se presentaba como la histérica
subjetivo, y volver a la escena en la que industriosa, febrilmente entregada a su
ofrece el mal de su cuerpo a las profesión, reivindicando su estilo unisex;
manipulaciones de la técnica. Reduce sus como la “enalmorada” gozando de los
visitas a la analista a una vez cada tres debates con sus amigos masculinos y de las
meses: para desplegar su amor de confidencias con sus amigas idealizadas. Y
transferencia,ser poco receptiva a mis no se quejaba mucho de no encontrar
interpretaciones y proyectar más adelante novio, o de aislarse en su casa, en su
volver a su análisis para tratar lo aún mundo personal en una intimidad muy
insatisfecho de su deseo : su radical suya, de la que me avisaba no pensaba
carencia de vida amorosa . La hora de la hablarme.
verdad de su deseo, la hace esperar, y le Su “sacar la basura” comienza por
cierra el hueco en su presente. entregar su saber de que su stress,
Del segundo caso, del sujeto que se trabajando a toda velocidad, sin tiempo,
define como “la que entra a saco”, que resulta de su evitación de los problemas
también lleva como el sujeto anterior, que le conciernen, por sentirse invadida por
cuatro años de sesiones conmigo, no daré el miedo y luego cuando ya no puede
detalles de las coyunturas en las que la estirar más el tiempo es cuando ya no
empresa creada por ella con la que se ha puede seguir escondida, sustrayéndose. Y
asociado, a modo de socio industrial, con pasa de golpe a producir mucho en un
otra más fuerte de otro país que es el socio tiempo mínimo, en una impaciencia voraz,
capitalista, para conquistar mercados en que le impide calcular los restos que va
común, se ve amenazada de quiebra. El dejando por el camino, con lo que su
asunto se puede resumir a que no logra producción es siempre chapucera y plagada
ahora que el “Tipo éste”, como ella lo de imprevistos. La misma disociación
llama, pague a unos proveedores unos temporal la aplica a su cuerpo: vaguea en
gastos imprevistos en el presupuesto inicial casa, comiendo a capricho, y de golpe se va
de un proyecto realizado por ella. “Entrarle al gimnasio a machacarse horas y horas. De

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niña, le excitaba mucho girar cada vez más Este sujeto, a diferencia del primer caso,
deprisa alrededor de una mesa hasta ha entrado en el tiempo de su inconsciente
alcanzar el vértigo. Y en contraposición, en en el que la causa de su división sintomática
su aislamiento en casa escribe relatos, asoma como causa sexual. Eso no sin
escenas de historias que no logra terminar resistencia, a la hora de de sacar a la luz el
de un personaje de nombre masculino que ser de goce que encierra en su fantasma,
encarna “la persona que yo querría ser”. Su del que ha pretendido en vano valga como
análisis da un giro cuando asocia a la causa del deseo del Otro. En su reiterado
angustia que la invade en forma de terror, modo de decirme que prefiere callar al
otros juegos, estos en su adolescencia, los borde de decir algo de la pasión que la
secretos juegos sexuales con un primo, y las habita, ¿no hace del tiempo suspendido la
amenazas ulteriores de éste de delatarla. hora fija de la espera del Otro? .

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La liberté ou le temps
Mario Binasco
e suis parti, pour cet exposé, de satisfaction digne de ce nom: parce que d’une
la conjecture que la question de certaine façon la satisfaction aussi est une

J la liberté ait quelques rapports


avec la question soit du temps du
sujet de l’inconscient, soit du
temps de la psychanalyse, et j’ai
essayé à vérifier ces rapports.
D’autant plus que, en nous
interrogeant sur comment le
réalisation de la liberté, la signification de la
liberté est intrinsèque à la satisfaction, y est
incluse et en est donc indissociable. On peut
vouloir se libérer d’une jouissance, non pas
en tant que jouissance attendue, mais si de la
répétition de cette attente; ou peut même
vouloir se libérer d’un désir, sauf quand
temps de la psychanalyse se situe dans ce que désirer c’est déjà vivre une satisfaction.
nous appelons notre temps, nous voyons Notons que soit le désir en tant que vecteur
combien notre temps semble marqué par la soit la jouissance attendue incluent une
référence à la liberté, au point qu’on pourrait dimension temporelle, tout comme la liberté.
dire que dans le discours courant le temps Je vais tout à l’heure signaler d’autres notions
c’est le temps de la liberté, qu’elle est la chose auxquelles me semble intrinsèque la
dont le temps serait le concept. Le temps, signification de la liberté.
dans ce sens, serait toujours le temps de Restons encore un moment sur
quelques formes de libération: soit négative, « notre temps ». Je souligne que la solidarité
soit positive, selon deux versants de la liberté, entre satisfaction et liberté est orientée, parce
le versant expérience et refus d’un manque et que c’est la liberté qui est incluse dans la
d’une limite, et le versant d’expérience d’un satisfaction, et non pas le contraire. Or, ce
supplément. Versant négatif: comme que fait notre temps c’est d’inciter à obtenir
recherche de libération d’un pouvoir exercé la liberté par l’objet, comme si ça entraînait la
par un Autre supposé réel, dans n’importe satisfaction : la promotion de l’insatisfaction
quelle condition qui définisse, localise ou par l’usage du plus-de-jouir dans notre temps,
même identifie l’individu, donc comme la promotion du manque à jouir, n’est-ce pas
libération d’avec ses liens: on rêve donc de se ce qui relance la quête de l’objet précisément
libérer pas seulement des autres – des comme signe de liberté, et au nom de la
autorités et des conjoints – mais aussi, bien liberté : on le voit soit par les objets que
sur, de soi même, que ce soit de son image, deviennent, sur le marché général de la
de son corps, de son sexe ou gender, de sa jouissance, les ainsi dits “droits de liberté”
mortalité, de son identité même – (qui étaient jadis personnels et indisponibles);
diachroniquement par l’amnésie ou soit par la publicité qui désormais insère
synchroniquement par la clonation. Versant toujours dans ses métonymies la signification
positif: comme réalisation d’une satisfaction, de quelque liberté, liberté qu’elle nous fait
mais dont le modèle unique tout de même acheter incluse dans l’objet proposé. On peut
c’est aujourd’hui l’objet « monté au zénith bien se demander premièrement si cette
social », le plus de jouir comme Colette Soler liberté incluse dans l’objet cause le désir du
a bien expliqué dans ses textes, objet qui se consommateur ou plutôt est faite pour le
croit la méthode, la voie pour réaliser cette rassurer, forme actuelle d’opium des peuples ;
libération coté négatif. deuxièmement si cet objet et cette liberté le
En fait, il est vrai que l’on peut consommateur les paye et comment et s’il le
vouloir se libérer de presque tout sauf d’une sait : ou plutôt s’il est comme le riche

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lacanien du Séminaire XVII 34 qui ne paye (dans laquelle l’objet fait objection ou abjection
pas: donc si cette liberté, incluse dans un prix de conscience, à sa façon, au lien entre le
qu’on ne paye pas, liberté d’avec le prix, fait sujet et l’Autre).
partie de la «qualité de riche» de laquelle on Comment situer dans notre temps
fait participer le consommateur. Cette face à ce type d’universalisation l’analyste et
question du prix payé ou pas, on y reviendra son offre singulière – dans les deux sens :
à propos de la rectification subjective dont offre de singularité et par la voie d’un acte,
l’analyste se sert pour le démarrage de singulier, qui produit un marché très
l’analyse : je crois que tout analyste ici présent singulier, où il y a offre et demande, mais non
aura rencontré au moins une fois un patient pas rencontre – au moins rencontre de
qui prétendait qu’il ne devait rien parce qu’il personnes37 (si je lis bien Lacan dans sa Préface
payait déjà avec le temps qu’il dépensait pour à l’édition anglaise du 1976). Un marché c’est
venir à l’entretien – préliminaire évidemment. l’espace de la rencontre (contingente donc)
À propos du marché du manque à de l’offre et de la demande et du temps de
jouir, je me permets une petite remarque. l’élaboration de cette rencontre, de ses
Pour parler du psychanalyste dans notre formes de réussite mais aussi bien de ratage.
temps nous sommes souvent revenus, avec C’est notre affaire, comment faire vivre ces
raison, sur l’ancienne référence de Lacan à marchés singuliers «dans» le contexte de
« la subjectivité de son époque » que l’abjectivité de notre époque : « Donner cette
l’analyste devrait « rejoindre à son horizon » satisfaction étant l’urgence à quoi préside
35
etc. Cela a un sens, seulement je me suis l’analyse, interrogeons comment quelqu’un
demandé si ce n’est justement pour nous peut se vouer à satisfaire ces cas d’urgence…
l’époque où – nous qui avons pluralisé L’offre est antérieure à la requête d’une
beaucoup de choses – nous essayons de urgence, qu’on n’est pas sur de satisfaire, sauf
pluraliser aussi « La » subjectivité de notre à l’avoir pesée »38. « Cas d’urgence », drôle de
époque, et d’en faire une référence moins définition de l’analysant – bien temporelle, il
absolue, depuis que nous avons commencé, faut noter, par la précipitation qu’elle
avec Lacan, à considérer la subjectivité implique : évoque-t-elle ce que par ailleurs
relativement aux discours, les quatre discours Lacan appelle « un désir décidé » ?
plus le discours capitaliste. C’est ce dernier, Pas de marché qui n’ait pas à faire
me semble-t-il, qui soutient, avec son avec la satisfaction, (avec sa connotation de
programme de circulation sans restes et sans liberté), et cela vaut pour la psychanalyse
impossibilités, ce singulier de « l’époque », qui aussi, où se lient l’analyste et l’analysant, et
est le singulier d’une universalisation et non qui fait exister une espace du lien du sujet à
pas d’une singularité: l’universalisation qui l’Autre (court-circuité dans la civilisation),
est en même temps « l’idéologie de la liberté, avec sa dissymétrie, en reproposant son
la seule à ce que l’homme de la civilisation aliénation constituante: à partir de ce que
s’en arme »36, avec son idéal du nous appelons avec Lacan «rectification des
consommateur parfait, de l’autre coté une rapports du sujet avec le réel»39: opération qui
universalisation d’objet, telle qu’il faudrait se place au commencement du temps de
peut être parler de l’objectivité de notre époque, l’analyse.
ou même de l’abjectivité de notre époque J’ai évoqué à ce propos le terme
d’acte, singulier : c’est une autre notion qui
34J.LACAN, Le Séminaire. Livre XVII. L’envers de la psy-
chanalyse, Seuil, p.94 37J.LACAN, Préface à l’édition anglaise des Ecrits du 1976,
35J.LACAN, Ecrits, Seuil, p.321 dans Autres écrits, Seuil, p. 573
36J.LACAN, Discours de cloture du Congrès sur la psychose et 38ibidem, p.573

l’enfant, dans Autres écrits, Seuil, p.362 39J.LACAN, Ecrits, Seuil, p..598

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inclut une signification de liberté : c’est responsabilité – manière qui peut changer
évident que s’il n’est pas libre ce n’est pas un avec l’analyse, corrélativement au traitement
acte : et l’acte est un terme essentiel pour ce de notre implication de jouissance.
qui est du temps, parce que l’acte réalise Je crois avoir déjà signalé quelque
toujours un commencement d’une certaine point de contact entre la liberté et le temps,
façon absolu, outre à produire des après mais je vais en rappeler d’autres, suivant
coup : voir H.Arendt commentant saint Lacan.
Augustin, où la liberté est définie comme la Lacan n’a jamais voulu traiter
capacité de «donner commencement»40. directement de la liberté comme si elle avait
Alors, sur cette série, outre qu’à la pu être une notion psychanalytique, mais il en
satisfaction et à l’acte, j’ajouterai que la a parlé à plusieurs reprises dans son
signification de liberté est intrinsèque aussi à enseignement, en parlant d’autres choses, en
l’amour, dans sa définition lacanienne : si articulant ses propres notions, dont certaines
l’amour c’est donner ce qu’on n’a pas, et ce fortement liées à la question du temps.
qu’on n’a pas peut être donné seulement dans D’abord, on sait bien, le temps
des signes qui aient justement la signification logique, avec ses trois prisonniers, leur
de ce don, alors là aussi il faut que le don de directeur de prison et les supposés disques
l’amour inclue la liberté pour être signe de sur leurs dos. Là, en effet, on peut dire que
l’amour. Dans ce cas on voit bien aussi le tout se tient dans « la subjectivité de son
caractère de contingence qui est associé à la époque » – établie par le directeur avec le
liberté : parce que si le don répondait à une problème qu’il propose à résoudre et dans
quelconque nécessité perdrait son caractère lequel il lie tout le monde, où les suspensions
de signe de l’amour – comme la vie conjugale des autres contribuent à l’acte de libération
montre, et l’érotomanie aussi, bien qu’a de chacun. Ici la liberté entre en jeu comme
contrario. Et l’on voit aussi le caractère une offre, possibilité alternative à la mort, où
temporel de cette contingence du don (signe) pas tout est perdu ni joué, encore. Avec cette
de l’amour, que dans le dire — en acte — de offre, un peu tordue et abusive, s’ouvre un
l’amour fait témoignage et promesse d’une temps, commence et s’oriente un temps
nécessité que paradoxalement on ne peut d’action : ce que je voudrais souligner c’est
qu’attendre. que ça prend son départ d’un trou que le
Donc la liberté ça regarde l’ être du directeur ouvre dans la situation réelle, en
sujet, l’ être parlant aussi. Ceci est confirmé assignant à chacun un disque : dès lors
par le dernier terme qui inclut, à mon sens, la l’instant de voir devient le temps de regarder
signification de liberté, et qui dit le terrain un manque, de voir qu’on ne peut pas voir
éthique sur lequel se joue cette inclusion, qui quelque chose qui est le signe du sujet. Pas de
est celui de responsabilité. Là aussi c’est la temps, logique, sans ce trou. C’est déjà «la
responsabilité qui inclut la liberté, pas le liberté ou la mort», mais ici elles ne sont pas
contraire : on ne peut pas déduire que nous synchroniques, et ne représentent pas le sujet,
sommes responsables, à partir de l’axiome de le sujet en question ce n’est pas divisé lui-
« La » liberté (posé comme ça c’est même, la perte ou le manque ne l’entament
l’indécidable du libre arbitre). C’est au pas en tant que tel. L’apologue montre plutôt
contraire parce que nous sommes la fonction de l’Autre, par la figure du
responsables, que nous ne pouvons que nous directeur, avec ses promesses et son savoir
retrouver libres dans la mesure ou plutôt supposé. Je ne crois pas qu’il s’agisse de
dans la manière paradoxale de notre soutenir que le directeur n’existe pas : le
symbolique est là, avec sa dimension de
40Augustinus, De civitsate Dei : «initium ut esset creatus
promesse pour le vivant humain. Mais c’est
est homo» que d’un coté il n’a pas l’autorisation ou la

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garantie pour la maintenir, puisque l’Autre de qui résulte de leur logique de réunion, facteur
l’Autre manque, donc il est troué (le qui est d’un autre ordre puisque c’est
symbolique est un trou, dira Lacan en l’événement et l’avènement de cette perte
197541), deuxièmement lui-même ne peut pas originelle de jouissance où le vivant se prend
savoir, c'est-à-dire décider, que signifie le dans le logos. C’est donc l’essentiel de la
disque qu’il a plaqué sur le prisonnier : parce synchronie, le trou et l’objet, qui engendre le
que à ce disque peut s’appliquer la phrase temps du sujet, mais aussi du vivant : parce
d’Encore que nous rappelait Colette Soler, où que comme Lacan dit dans la conférence de
Lacan dit que la valeur de S1 «reste indécis, Genève « il n’y a de logique que chez un
entre le phonème, le mot, la phrase, voire vivant humain »43 – parce que, me semble-t-il,
toute la pensée» ou «une vie entière » 42: si ça seul le vivant humain fait rentrer de la logique
reste non décidé, donc il y a quelque chose de parmi ses normes vitales, normes, il faut
troué dans tout savoir de l’identité d’un sujet. souligner, singulières. Rappelons nous que
Et donc c’est bien par ce trou que peut se l’aliénation se qualifie par le fait que l’être du
montrer dans ses actes, responsabilités, vivant/sujet y est pris, l’être qui figure soit au
amours, satisfactions quelques libertés du départ des travaux de Lacan – par exemple
sujet. dans la Causalité psychique – soit à la fin, avec
La liberté est aussi un signifiant que le terme de parletre et les nœuds.
Lacan convoque au moment de formuler sa Je n’ai pas le temps pour discuter le
causation inconsciente du sujet, dans la problème – qui, me semble, existe –, du
logique de l’aliénation et de la séparation, où statut des deux signifiant qui produisent
le temps est posé comme facteur décisif de l’aliénation, si ils sont quelconques ou pas, et
cette structure, identique, d’une certaine donc de quel est leur lien au réel – puisque
façon, au sujet meme : vous connaissez tous quand même l’aliénation me semble vouloir
ces textes, Séminaire XI et Position de rendre compte d’un moment de trouage, où
l’inconscient. Vous savez comme l’aliénation se symbolique et réel se prennent l’un dans un
constitue de la synchronie, et la séparation trou de l’autre ; sinon de souligner que
fait intervenir dans cela la diachronie. Ce que Lacan, dans Position de l’inconscient, les suspend
je voudrais souligner c’est que le temps, au fait que ces signifiants « s’incarnent plus
comme temps du sujet, c’est la synchronie. personnellement dans la demande ou dans
D’abord il n’y aurait pas de temps – l’offre »44. Seulement je pointe deux choses :
symbolisable, bien sur – s’il y avait seulement l’une, c’est que pour Lacan, dans l’aliénation,
du un et il n’y avait pas de deux. Or la la liberté entre en jeu comme signifiant :
synchronie est possible parce qu’il y a le signifiant veut dire tout ou rien, donc la
signifiant et le signifiant c’est le deux : sans liberté de l’aliénation c’est « La » liberté, qui
cela ne se poserait aucune question n’est pas la signification de liberté dont j’ai
synchronique et le temps ne pourrait être parlé avant : et donc ce n’est pas banal que
interrogé ni analysé au présent, donc dans sa aliénation et séparation l’entament, la rendent
cause réelle, présente et non pas passée. Or, si je puis dire, pas toute.
ce que le choix de l’aliénation montre («la Deuxièmement, quand même, Lacan
bourse ou la vie», «la liberté ou la vie», «la situe le temps de la liberté comme libération,
liberté ou la mort») c’est que il n’y a pas que comme mouvement diachronique, au niveau
les deux signifiants en présence de la séparation et de la torsion que celle ci
synchronique, mais il y a un troisième facteur suppose et qui donne commencement au
temps du désir, et il la situe comme tentative
41J.LACAN, Le Séminaire. Livre XXII. RSI, passim.
42J.LACAN, Le Séminaire. Livre XX. Encore, Seuil, p.131 43J.LACAN, Conférence de Genève sur le symptome,
et p.48. 44J.LACAN, Ecrits, p.841

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de « se libérer de l’effet aphanisique du peut être la plus infernale : sortie par ce qui
signifiant binaire »45, en tant que celui ci c’est existe comme cessation, ou comme
le point du refoulement primordial, donc du possibilité ou comme contingence. Là aussi, à
trou. propos de la subjectivité de notre époque
J’ai insisté sur la synchronie et sur nous pouvons nous demander : quel peut
l’importance de la présence en elle de l’objet, être le rapport au temps de quelqu’un qui
parce que c’est ce qui nous permet de situer pour aller au-delà du nécessaire voudrait
par exemple la manie, avec son vécu connaître et pratiquer seulement le possible
temporel, comme « réalisation » de « La » (la technique, avec son coté déstructeur :
liberté par refus de l’inconscient et de l’objet- cesser de s’écrire), tandis que par ailleurs
manque; et nous permet d’évoquer le coté forclot l’impossibilité (inhérente aux choses
plutôt maniaque de l’usage de l’objet-liberté de l’amour et à l’exile du rapport sexuel) ? On
dans notre temps, que je mentionnais avant. peut observer sa tendance à s’assurer :
Par rapport à ça, j’évoque en passant s’assurer de la possibilité – avec ses
les résonances temporelles d’une notion conséquences d’angoisse – , et s’assurer contre
lacanienne comme celle du sérieux, lu en la contingence. On s’assure contre la
rapport avec la série : le sérieux fait série, contingence, c'est-à-dire contre la rencontre
parce qu’il prend au sérieux la série, il opère et contre ce qu’elle implique de toujours raté,
avec la série, comme fait l’analyse, il y a de perdu, mais qui est la seule voie de réussite et
l’opération, de l’acte et donc un certain dire : de satisfaction. Et par rapport à l’espoir
et c’est bien la condition, me semble-t-il, (notion et affect temporels, s’il y en a), en
pour pouvoir localiser paradoxalement, pour rappelant que Lacan nous en met en garde,
traiter sérieusement, même les éléments qui dans Télévision en disant que ça amène les
restent hors série. gens au suicide, il me semble pouvoir dire
Avant de conclure je dois mentionner que Lacan parle là de l’espoir qui se voudrait
deux autres types de « synchronie », ou fondé sur la possibilité, et non pas d’un
d’analyse du temps au présent, qui à mon espoir – qui existe quand même – fondé sur
sens sont très importants pour notre question une contingence.
du temps du sujet de l’inconscient Pour ce qui est de la nécessité, je
relativement à la liberté. reprends plus longuement ma citation
Le premier se rattache à l’usage que précédente de la Conférence de Genève :
Lacan a fait un moment aux catégories de la
logique modale, (un type de logique qui «Jusqu’à un certain point, on conclut tou-
n’implique pas l’universel de la même façon jours trop tôt. Mais ce trop tôt est simplement
que d’autres logiques) : nécessaire, possible, l’évitement d’un trop tard. Cela est tout à fait lié
contingent, impossible, traduits par Lacan en au fin fond de la logique. L’idée du tout, de
termes de « cesser » ou « ne cesser pas » de l’universel, est déjà en quelque sorte préfiguré
dans le langage. Le refus de l’universalité est es-
s’écrire. C’est évidente l’implication quissé par Aristote, et il le rejette, parce que
temporelle de termes qui disent le rapport l’universalité est l’essentiel de sa pensée. Je puis
avec l’existant en termes de « cesser » ou de avancer avec une certaine vraisemblance que le
«ne cesser pas : le « cesser de… » scande et fait qu’Aristote le rejette est l’indice du caractère
qualifie le rapport avec l’événement et l’acte en fin de compte non nécessité de la logique. Le
comme sortie de deux éternités, l’une fait est qu’il n’y a de logique que chez un vivant
d’inclusion – le nécessaire –, l’autre d’exile – humain.»
l’impossible – , dont on ne sait pas laquelle
En relation avec l’impossibilité (du
45J.LACAN, Le Séminaire. Livre XI. Les quatres concepts fon-
rapport sexuel) je cite brièvement :
damentaux de la psychanalyse, Seuil, p.200

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«N’est vrai que ce qui a un sens. mais non pas appliqué au sujet, ni à l’Autre,
Quelle est la relation du Réel au vrai? ni à l’homme. Appliqué à l’être, si jamais,
Le vrai sur le Réel, si je puis mais à cette nouvelle manière de rendre
m’exprimer ainsi, c’est que le Réel, le compte de l’être parlant dans l’expérience
Réel du couple ici n’a aucun sens. analytique que c’était travailler sur les nœuds
Ceci joue sur l’équivoque du mot borroméens. Là alors la liberté devenait la
sens. Quel est le rapport du sens à ce condition des ronds dénoué, rendus libres,
qui, ici, s’écrit comme orientation ? l’un par rapport à l’autre, et retrouvait, chose
On peut poser la question, et on peut surprenante, la même relation avec la folie
suggérer une réponse, c’est à savoir qu’elle avait eu au début. On peut noter,
que c’est le temps. » seulement, que ce type de liberté regarde
moins le sujet que l’analyste, son opération de
Pour terminer : à lire Lacan, le fait coupure, sa responsabilité à lui.
s’impose que dans les dernières années il a C’est un travail à faire, difficile : mais
commencé à utiliser en continuation le c’est aussi pour cela qu’il vaut la peine.
vocabulaire de la liberté : libérer, libre, etc.,

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O inconsciente: trabalhador ideal


Maria Vitória Bittencourt
scolher como título « o Quanto à interpretação, desde o
inconsciente: trabalhador início, Freud chama a atenção quanto à

E ideal » para abordar nosso


tema é uma forma de
questionar a definição que
Lacan apresenta

é (…) um saber que não


pensa, nem calcula, nem
em
Televisão: « o inconsciente
fascinação que os mistérios do inconsciente
podem gerar. Em1912, Freud adverte que é
preciso uma certa abstinência quanto ao
desejo de interpretar pois, como diz, «
existem sonhos que vão mais rápido que a
análise » e que « ao tentar interpretá-los,
pode-se abalar todas as resistências latentes, e
julga, o que não o impede de trabalhar, no não se vê mais nada ».47 Introduz assim um
sonho por exemplo. Digamos que é o tempo para interpretar. Com efeito, Freud
trabalhador ideal46 ». Como articular esse descobriu na prática que o sonho é uma
trabalhador ao tempo do inconsciente? manifestação de outra coisa, ou seja, é uma
Proponho assim retomar o sonho, para demanda de interpretação, sendo o próprio
ilustrar o trabalho do inconsciente, tentando sonho um indício da transferência. Um apelo
responder à questão da prática da ao analista para decifrar o enigma de seu
interpretação, que viria introduzir uma desejo. Pois, em relação às outras formações
temporalidade ao trabalho do sonho. Disso do inconsciente, o sonho tem essa
decorre outra questão, - haveria necessidade particularidade : o sujeito acredita que ele
de interpretar o sonho? quer dizer alguma coisa e conta seu sonho
A referência de Lacan ao trabalhador para demandar o sentido. Foi o que Lacan
vem de Marx mas esse termo – trabalho – se constatou no Seminário II « Numa análise,
encontra em Freud a propósito do sonho, não intervimos somente enquanto
fenômeno que lhe permitiu lançar os interpretamos um sonho – se é que
fundamentos dos processos do sistema interpretamos - mas já estamos , enquanto
inconsciente. Mesmo que tenha sido a partir analista, na vida do sujeito, já estamos no seu
do sintoma histérico que Freud concebeu a sonho »48. Então, o sonho é um produto do
mensagem cifrada do inconsciente, foi o trabalho analítico, produto do trabalho da
sonho que abriu ao caminho ao que transferência, do encontro do desejo do
chamamos « via régia». No entanto, Freud analista com a demanda do analisando. «
não fez do sonho um equivalente do ninguém pode ser morto in absentia nos diz
inconsciente. Para ele, a essência do sonho se Freud a propósito da transferência.
encontra justamente no trabalho do sonho – Poderíamos acrescentar - nada pode ser
Arbeit – mais importante que seu conteúdo, sonhado in absentia. Logo, o inconsciente do
manifesto ou latente. A partir da lei do sujeito em análise é um inconsciente que
inconsciente e seus mecanismos operatórios, trabalha – arbeiter – cujo sujeito suposto saber
se abre toda uma elaboração semântica em é o pivô em torno do qual se articula a
torno da leitura dos sonhos e de sua transferência – nada ideal esse trabalho da
interpretação. O equívoco significante coloca transferência.
Freud na via da articulação do que chama «
moção pulsional » *, o desejo inconsciente. 47 Freud, S . – « Le maniement de l’interprétation des
rêves » in La technique analytique, PUF , 1953, p.49.
46 Lacan, J. – Télévision, Seuil, Paris, 1974, p.26. 48 Lacan, J. – Le Séminaire Livre II, Seuil, Paris, p. 83.

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Assim, duas operações se encontram tempo a sonhar, não se sonha somente


no sonho: o trabalho do sonho e o relato do quando se dorme. 50
sonho. De um lado, o relato não é o sonho, Para Freud, o trabalho do sonho
já é uma interpretação do desejo, uma testemunha de uma atividade de ciframento
colocação ao trabalho do inconsciente em e de elaboração que é destinada a evitar um
busca do saber. Desta maneira, Lacan vai encontro entre o pensamento do sonho e a
inverter os papéis: aquele que interpreta é o pulsão. O sujeito sonha para não despertar o
sonhador, pois o sonho já é uma desejo inconsciente. Nos anos 20, Freud
interpretação. O sonho pode se reduzir a indicou uma ligação entre o sonho e a pulsão:
uma frase que o inconsciente reveste com a « o eu adormecido, está focalizado no desejo
ajuda da encenação. Assim, como diz Lacan de manter o sonho; ele sente essa exigência
« Através do sonho, vem ao inconsciente pulsional como uma perturbação e procurar
somente o sentido incoerente que fabula, livrar-se dela. “O Eu consegue realizar isso
para revestir o que articula em termos de através do que parece um ato de submissão:
frase … o que vem já é uma interpretação ele satisfaz a exigência, com uma realização
que podemos dizer selvagem e que a inofensiva de um desejo e assim livra-se
interpretação argumentada que lhe é dela». 51
substituída aí, só vale pois faz surgir a falha Portanto, se seguirmos essa lógica, o
que a frase denota »49. Introduz assim dois trabalhador ideal pode passar seu tempo todo
tempos para a interpretação. O sonho não é a sonhar. O que pode despertá-lo? Segundo
o inconsciente, ele pode se reduzir a uma Lacan, a angústia vem romper o « sono do
frase cortada, um pensamento deformado, sujeito quando o sonho desemboca no « real
tomado ao pé da letra e que a interpretação do desejado »52. (Podemos encontrar em
vem restituir a ordem, para fazer emergir o Lacan outras referências a propósito da
sujeito. emergência de um real no sonho). Num
De outro lado, o trabalho do sonho comentário do sonho do filho morto – pai
implica a presença do analista. Logo o relato não vê que estou queimando – Lacan
do sonho é uma colocação ao trabalho do constata que o que vem despertar é uma «
inconsciente que se realiza a partir da outra realidade », aquela do « real pulsional ».
53
implicação da presença do analista, uma O real no sonho surge do encontro
colocação em ato da realidade sexual. A impossível entre um pai e um filho, um
função do sonho é levar o sujeito a falar, encontro faltoso que marca a impotência do
fazer o inconsciente trabalhar para contar ao simbólico a inscrever o impossível. O
analista. despertar para a realidade é a fuga de um
Mas, existe uma outra face do outro despertar para o real, aquele que se
trabalho do sonho. Se for uma mensagem anuncia no sonho quando o sujeito se
que visa ser interpretada, pois é uma aproxima daquilo que não quer saber.
demanda de interpretação, tem como função Nos anos 70, relendo um texto de
também de preservar o sono. Assim, o Freud sobre os limites da interpretação 54,
analisando sonha para contar ao analista e
continuar a dormir tranquilamente, sem tocar 50 Lacan, J. – « Pratique du bavardage » in Ornicar 19,
no real, em outros termos, para gozar da p.5.
transferência. Como diz Lacan, « passamos o 51 Freud, S. – Abregé de Psychanalyse Puf, Paris, p.34.
52 Lacan, J. – Ibid Nota 4.
53 53 Lacan, J. – Le Séminare Livre XI Les quatre

concepts de la psychanalyse, Seuil, Paris, p. 58/9.


54 Freud, S. – « Quelques additifs à l’ensemble de
49 Lacan, J. – Compte rendu du Séminaire L’éthique de linterprétation des rêves : les limites de
la psychanalyse in Ornicar 28-p.17. l’interprétation » travail du rêve vise « un gain

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Lacan acrescenta que o motor do sonho, trimetilamina, fórmula química de uma


enquanto desejo de dormir, se traduz por substância dos metabolismos sexuais, que lhe
aquilo que constitue o essencial do trabalho foi comunicada por Fliess. Assim, o sonho se
do sonho: é um ciframento que contém nele conclui com esse termo que não quer dizer
mesmo um gozo, uma satisfação do nada, mas que surge enquanto matéria visual.
sonhador nesse trabalho.55 Assim, o Lacan acentua que, diante do encontro com o
trabalhador ideal teria como mestre o gozo: real da castração do Outro, Freud atravessou
« o que pensa, calcula e julga é o gozo » diz esse momento de angústia porque estava
Lacan em Ou pior 56. O sonho teria assim tomado por uma paixão de saber, que é mais
como finalidade uma tentativa de dar sentido forte que seu desejo de dormir. Assim, ele
ao não sentido da relação sexual, onde o tem acesso à revelação do que é o
inconsciente trabalha sem mestre. Já o sujeito inconsciente, sua invenção. Freud continua a
do gozo, que pensa, calcula e julga, estaria no dormir tranquilamente, fantasiando que um
lugar do regente (regisseur), ou melhor, dia teria uma placa onde se poderia ler «
regozijador (rejouisseur), o gozo do sentido. nessa casa, no dia 24 de julho de 1895, o
Se o real pulsional surge no sonho, mistério do sonho foi revelado ao Dr.
qual o estatuto de sua interpretação? Em vez Sigmund Freud. » Podemos considerar esse
de interpretar o sonho, não seria preciso sonho como uma saída da transferência de
pensar em despertar o sujeito? Pois « o Freud a Fliess, o verdadeiro despertar de
desejo do sonho não é senão aquele de Freud, se livrando daquele que ocupava o
buscar o sentido, e é isso que satisfaz a lugar do sujeito suposto saber. Um novo
interpretação psicanalítica. Mas, será a via tempo que se inicia para Freud.
para um verdadeiro despertar para o Poderíamos propor que, nesse sonho
sujeito ?57 Trata-se então de pensar a de Freud, o « isso fala » do significante, que
interpretação como um modelo do pesadelo? constitui o relato do sonho na sua finalidade
Como conceber um verdadeiro despertar? de fazer sentido – sentido sexual – vem
Se retomarmos o sonho de Freud, recobrir o « isso mostra » do objeto, o não
conhecido como o sonho da injeção de Irma, sentido da relação sexual. Mostrar se
o único que Freud considera como tendo distingue de fazer sentido, pois equivale a
sido completamente analisado, podemos colocar em cena um gozo articulado às cenas
lembrar que Freud não desperta do pesadelo infantis traumáticas, criadoras e fundamentos
– « é um duro na queda» diz Lacan. No de todos os sonhos segundo Freud.
momento que Freud olha para a garganta de Fundamento fantasmatico. Assim o sonho
Irma, uma espécie de objeto inominável, ele converte o sentido sexual numa formula,
se retira do sonho e apela para outros letras, uma cifra que contém nela mesma um
personagens que tomam seu lugar. Nesse gozo: um « isso se escreve »
momento, surge uma voz, que é uma voz de Nesse sentido, a interpretação vem
ninguém, e aparece a fórmula da desvelar que o modo de falar (relato do
sonho) vem recobrir o modo de gozar – o
trabalho de ciframento do sonho. Para isso,
immédiat de plaisir » avec l’intention utilitaire de Lacan nos dá uma indicação quanto à
prévenir le sommeil. « Le rêve peut être décrit comme
un morceau d’activité fantasmatique au service de la
interpretação: « ler os sonhos…. como se
sauvegarde du sommeil » (p. 142). decifra uma mensagem cifrada »58. Ler supõe
55 Lacan, J. - Dans le séminaire Les non dupes errent uma escritura, colocando em jogo a atividade
(Novembre 73) da letra, permitindo o que Lacan designou
56 56 Lacan, J. - … Ou pire in Scilicet 4, Seuil, Paris,
como a lisibilidade do sentido sexual que se
p.9.
57 Lacan, J. – Compte rendu du Séminaire L’éthique de

la psychanalyse in Ornicar 28-p.17. 58 Lacan, J. - Televisão – p.22.

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encontra a partir do não sentido da relação interpretação do sujeito do final de sua


sexual que o sonho tenta imaginarisar. A análise. Poderíamos deduzir que a
dimensão da escritura sendo mais propicia a interpretação do sonho só é completa
tocar no real da experiência, o « moterialisme », quando desembaraçada da presença do
ou seja, o materialismo da fala. analista? Se a interpretação do analisando
Assim, interpretar o sonho, no nunca é independente da presença do
sentido freudiano, de via régia, de mensagem, analista, só há interpretação do analisando
seria alimentar o inconsciente e tornar a fora da transferência, fora do sujeito suposto
análise um processo de tempo interminável. saber. Assim, essa interpretação viria
Sendo um exercício de letras e não de confirmar uma tese de Freud que um sonho
sentido, o sonho não tem vocação a pode englobar uma análise, pois equivale a
comunicar mas a promover um trabalho do todo o conteúdo da neurose, « a
inconsciente que não visa a significação mais interpretação total de tal sonho coincide com
produzir o efeito de real. Assim o tempo de a conclusão da análise ». Será que poderíamos
dormir, de sonhar requer uma interpretação verificar essa tese com a experiência do
« justa para esgotar o apelo ao sentido, ao passe? Isso nos levaria a introduzir um novo
gozo do sentido »59O sonho não basta ao trabalho, trabalho de escola. Para isso é
despertar, ele não está desligado do sentido preciso um tempo.
que o sustenta. Ele necessita a presença do
analista, presença em ato, reveladora da
estrutura do desejo. Que o despertar ao real
seja impossível, não impede de tomá-lo como
finalidade. Será o despertar a via régia para o
final da análise?
A partir da experiência no cartel do
passe, pude observar que um sonho,
considerado muitas vezes como fundamental,
ocupa um lugar privilegiado no testemunho
dos passantes. Sonhos muitas vezes ligados
às experiências infantis, cujo surgimento no
início da análise toma uma outra dimensão
no momento de passe. Proponho como
hipótese que esse sonhos são evocações de
cenas infantis, uma reconstrução da neurose
infantil, o que viria a confirmar a tese de
Lacan em sua Conferência em Genebra sobre
o sintoma : no sonho, tornar a sair « a
maneira como alíngua foi falada e também
escutada em sua particularidade ». O sonho
teria a possibilidade de transmitir a marca do
tempo infantil, a marca das primeiras
experiências no encontro com a sexualidade.
Mas essa leitura do sonho se efetua
fora da transferência, trata-se de uma
interpretação da saída da transferência,

Lacan, J. –« C’est à la lecture de Freud… » in Lettre


59

mensuelle n° 102 – p.57.

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Modulação pulsional do tempo


Angélia Teixeira
Lembra-te que o tempo é um jogador que ganha todos os lances sem roubar.
C. Baudelaire

tempo é condição aparecem entrelaçados pelo fio do desejo, que


necessária para falar de os une”. 60

O subjetividade.
Regularmente,
evocamos a dimensão
topográfica do aparelho
psíquico na obra de
Freud. Entretanto, não
foi por ele ignorada a
Freud concebeu o registro do tempo
presente como uma operação fundamental
da consciência, esta, definida como um
estado mental operando num determinado
tempo. Assim, circunscreveu a
subjetividade nas três dimensões
temporais que conhecemos.
dimensão temporal da subjetividade e suas De forma única e exaustiva, Lacan
incidências clínicas. Desde cedo, Freud exaltou a importância das dimensões
apresentou suas hipóteses psicanalíticas sobre temporais da subjetividade, formulando
o tempo, retomadas posteriormente por preciosas teorias de máximo valor, que
Lacan. Podemos, resumidamente, citar cinco imprimiram grandes modificações clínicas: o
referências importantes em sua obra: 1- o tempo da sessão é lógico, e não cronológico;
inconsciente não conhece o tempo, é defende a análise finita, formulando algumas
atemporal, intemporal, como está posto na concepções do seu final; a transferência, ou
‘Interpretação dos sonhos’, entre outros seja, a suposição e dessuposição de saber ao
textos; 2- a concepção de indestrutibilidade analista, é o tempo da análise; cria uma nova
do desejo, - extensivo aos processos divisão subjetiva para o tempo, entre outras
inconscientes - que não estão submetidos aos proposições. Constrói, enfim, uma máquina
desígnios do tempo; 3- o tempo da do tempo utilizando alguns recursos próprios
subjetividade, que só pode ser recuperado a da sua época.
posteriori, só depois - nachtraglich, foi o Lacan escreve, em 1945, o texto ‘O
significante utilizado por Freud, aprés-coup, tempo lógico e a asserção da certeza
foi a tradução adotada por Lacan; 4 - a antecipada: um novo sofisma’61, dividindo o
importância da experiência sexual infantil ou tempo em dois: lógico, e cronológico. Modula
da neurose infantil para a constituição da o tempo lógico em três escansões: a primeira é
neurose. o instante de ver, ou de olhar; a segunda, o
A quinta referência traz a relação do tempo para compreender, a terceira escansão,
tempo com a fantasia e merece destaque. Freud é o momento de concluir.
situa a fantasia flutuando entre três tempos: o Modular o primeiro momento do
trabalho mental vincula-se a uma impressão tempo como um instante de ver, ou a
atual, no presente, capaz de despertar um dos primeira escansão temporal, como sendo o
principais desejos do sujeito; dali retrocede a
uma lembrança de um acontecimento pretérito
60 FREUD, S. Escritores criativos e devaneios. In:
que pode criar uma situação referida ao futuro,
___Edição standard brasileira das obras psicológicas
por representar a realização, a satisfação do
completas. Rio de Janeiro: Imago, 1987, Volume IX,
desejo, a partir das marcas da lembrança. No p. 153.
texto ‘Escritores criativos e devaneios’ conclui 61 LACAN, J. O tempo lógico e a asserção da certeza

“que o pretérito, o presente e o futuro antecipada. In:______. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed, 1998.

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olhar, nos remete diretamente ao campo da Antes de tudo, o tempo é um


pulsão e nos leva a conjecturar que há uma significante. “A paixão do significante
tensão temporal própria a cada um dos três manifestando-se como paixão do tempo”62,
momentos, ou ao menos na primeira tensão diz Soler. Prescinde do espaço, e em lugar de
temporal, que é o instante de ver, tal qual a ser tomado como um elemento da natureza
tensão temporal que atribuiu ao momento de deve ser tomado como um significante
concluir. fundamental da estrutura de linguagem, que
O inconsciente não conhece o tempo. De requer vários tratamentos e pode ser
qual dimensão do tempo falava Freud, já identificado em várias dimensões da
que elas podem ser tantas? Do tempo constituição da subjetividade. Soberano e
cronológico, teoriza Lacan. E a pulsão, em implacável, o tempo vaticina a vida e a morte.
quais dimensões do tempo poderia se Podemos também dizer: se o homem
inscrever? De acordo com as proposições inventou o tempo, o tempo inventa o
acima apresentas, poderíamos homem, vejamos: apressados, atrasados,
inversamente perguntar se há uma fleumáticos, serenos, agitados, impacientes,
dimensão pulsional do tempo? Pergunta entediados. Sabemos o peso que os
que me reteve. significantes, eterno, infinito, imortal,
ressurreição, renascimento, anacrônico,
Neste precioso estudo psicanalítico
velhice, atraso, hora, minuto, prazo, têm nas
sobre o tempo que estamos empreendendo
nossas vidas. Não seria o tempo uma das
há dois anos, a relação pulsão / tempo ou
modalidades do grande Outro? Não por
o gozo do tempo, como quero crer, foi
acaso o poeta canta ‘o acaso vai me
crescendo aos meus olhos como uma
proteger’...
importante questão, que identifico presente
O tempo traz complexidade de toda
na clínica de várias maneiras e que me levou a
ordem, aparecendo nos caprichos mais
algumas reflexões.
marcantes dos Deuses das mitologias, das
As considerações teóricas sobre o
lendas, das religiões, e é tema de estudo e
tempo apresentadas por Freud e Lacan são
pesquisa em vários campos do
fundamentais para esclarecer alguns aspectos
conhecimento. Na filosofia, na literatura, no
relativos aos analisandos especialmente e
romance ‘O retrato de Dorian Gray’,
sintomaticamente embaraçados com o
especialmente na poesia, o poeta brasileiro
tempo. Estas proposições favorecem a leitura
Vinicius que o diga: “que não seja imortal,
clínica que reconhece que há dimensões de
posto que é chama, mas que seja infinito
satisfação inerentes ao tempo, ou seja,
enquanto dure”, o amor..., na música, na
reconhecem o gozo do tempo, que passo a
matemática, na física, com suas sucessivas
adotar em lugar de pulsão.
teorias. Newton deu ao tempo toda
Esta formulação que estou tentando
autonomia, emancipando-o do espaço;
valorizar e desenvolver aparece no avesso do
Einstein, questionou o caráter absoluto do
que usualmente se faz. Tende-se
tempo newtoniano, criando a noção de
inadvertidamente a limitar a questão, por
relatividade.
exemplo, isolando-se o tempo necessário
A psicanálise, particularmente em
para que a pulsão faça seu circuito. Ao
Freud e Lacan, também fez largo uso do
contrário, estou tentando identificar as
tempo para entender a constituição da
modalidades de gozo do tempo e suas
subjetividade, seu pathos e seu manejo
escansões, para reconhecer que o tempo não
está a serviço da subjetividade, posto que o
tempo é subjetividade, o tempo produz 62SOLER, C.O tempo que falta. In:_____. Os tempos
gozo enquanto atributo da subjetividade. do sujeito do inconsciente. Salvador: EPFCL-
Brasil,2008.p.129.

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clínico, dando suas contribuições teóricas Um homem se aflige demasiadamente


preciosas. Se a Topologia é a ciência que se com o futuro porque não pode ter certeza do
ocupa do espaço, talvez, a psicanálise esteja que lhe acontecerá; vive o presente imerso na
contribuindo com um futuro campo que angústia, por não poder garantir tudo que
venha, pontualmente, se ocupar do tempo. conquistou e que mantém sob controle. O
Nada mais real e demasiadamente tempo futuro o ameaça. Sofre pelo que
humano que a angústia em sua relação com o poderá perder. Particular gozo da dúvida
tempo, esse tempo que tem afinidades com o conjugada no futuro. Particular gozo da
objeto a. É desta perspectiva que podemos antecipação de uma possível ruína. Possível
dizer que o tempo não apenas faz sintoma, dívida futura.
mas que ele é sintoma. Alguns sofrem de reminiscências:
Trago pequenas observações clínicas conjugam o gozo no tempo passado,
sobre os que padecem do tempo para lembrando nostalgicamente ou conjurando o
mostrar que tempo é subjetividade e gozo. passado, tornam-se escravos do passado. Os
Venho conferindo certas curiosas repetições melancólicos são os melhores exemplos.
relativas ao tempo que alguns analisandos Outros gozam com o futuro, na
apresentam. Vou me deter especialmente em esperança de resolver os seus impasses,
um caso: um homem extremamente exultam com o futuro que nunca chega,
disciplinado, organizado, metódico, sempre adiado. Aqui se encontra o maior
obediente à sua rígida rotina. Tudo parecia exemplo do jogo com o tempo, a
estar sob controle, afora sua imensa angústia. procrastinação. Temos bons exemplos entre
Fala do sofrimento que experimenta frente os obsessivos.
ao temor de ver falhar o seu controle Os maníacos gozam do presente,
milimetricamente construído e preservado. À sofregamente consumindo tudo hoje. O
primeira vista, ou fenomenicamente, tudo presente é também a medida de segurança
poderia simplesmente parecer um ritual dos fóbicos.
obsessivo. Contudo, associativamente
Entre temer o futuro e nele depositar as
aparece na análise o significante acaso,
esperanças, vacila-se, báscula do ser
passando o paciente a falar exasperado do
falante. Alguns pendem mais para um
horror ao imprevisto (kairós). Aparelhava-se
lado.
ele com todos os métodos seguros para se
prevenir do acaso e do imprevisto. Quando o homem cogita, quando
Metonimicamente, entra em jogo no trabalho sintomatiza, quando age, seja em que esfera
analítico o horror ao futuro, o temor de não for, goza do tempo. Nada existe fora do
poder garantir o futuro, finalmente, de não tempo, nada pode parar o tempo. O sujeito
ter como se proteger da morte. Conjeturei: se apresenta como um instante de ver, uma
um homem que tem horror ao acaso, que modalidade de gozo pontual e evanescente.
tem horror à contingência e ao futuro. O gozo do objeto a exige outras escansões.
Estavam em jogo as incidências do real, Entre o sujeito e o objeto a, estão espécies de
manifestando o impossível a dizer sobre o temporalidade do gozo em sua dimensão real.
tempo e sobre a morte. É de grande valor o gozo que é
Desta perspectiva, podemos dizer produzido pela expectativa do futuro, o que
que o tempo em si não apenas traz, serei? O gozo de conjeturar a morte como
inevitavelmente, a própria questão da morte, tempo final. O gozo da espera e do porvir.
mas que ao mesmo tempo é o elemento que Os que sofrem do tempo, de atrasar ou de
nos permite certa aproximação da morte, já antecipar. O gozo da morte, enfim.
que como o sol, não se pode encará-la de Curiosamente, entre o passado e o
frente. futuro, o presente não joga o peso maior na

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existência do indivíduo. Ele acaba se limitado


a esta contagem de tempo, que não se
sustenta senão do futuro anterior, do que
tivera sido, conjugando passado e futuro.
Vivemos entre o passado e o futuro, o
presente é sobretudo o instante do ato. Este é
um dos grandes desafios da análise: fazer
uma nova equação temporal, presentificando
em ato a experiência.
Em ‘Subversão do sujeito e dialética do
desejo no inconsciente freudiano’, ao construir o
grafo do desejo, Lacan volta a destacar a
questão do futuro anterior para os franceses
ou o futuro composto do modo indicativo na
gramática brasileira ao se referir ao “efeito de
retroversão pelo qual o sujeito, em cada
etapa, se transforma naquilo que era, como
antes, e só se anuncia “ele terá sido”, no
futuro anterior” 63.
A formulação do tempo lógico
proposto por Lacan é uma formulação das
modalidades subjetivas do tempo, ou seja,
modalidades de gozo do tempo, que vem
esclarecer a função do tempo na clínica, que é a
função da pressa: la hâte, do verbo hâter, que
diz respeito a precipitar o momento de
concluir seja da sessão, seja da análise.
Partindo desta dimensão subjetiva do
tempo, explica-se a função da pressa - la hâte
- no ato analítico. Isto é, Lacan propõe
recorrer aos recursos do tempo nas formas
da pressão/ pressa/ precipitação, para dar
atualidade ao gozo. Requer pressa, como
condição para produzir efeitos analíticos
sobre as escansões do gozo. Sabe que tempo
é subjetividade e gozo.

63LACAN, Jacques, Subversão do sujeito e dialética


do desejo, In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
1998, p. 823

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El aburrimiento, una forma del tiempo


Silvia Migdalek
a elección del tema de este destinados a tal efecto, por ejemplo los
Encuentro testimonia la relojes.

L vigencia que tiene para los


psicoanalistas la ya clásica
advertencia ética que Lacan
hiciera en 1953, “Mejor pues
que renuncie quien no pueda
unir a su horizonte la
subjetividad de su época”, Se trata
Lacan se refiere a ellos en distintos
contextos, habla del primer reloj mecánico
creado por un holandés Huygens en el año
1658. Evoca ese acontecimiento, para
fundamentar el lugar que el psicoanálisis
podría tener las ciencias, afirmando que no
será al modo de la concepción positivista
entonces, de estudiar y reconocer las de las mismas, sino por la vía de las
máscaras con las que el padecimiento ciencias conjeturales, de las que Lacan
psíquico este se muestra hoy. El subraya que en ellas la verdad no coincide
consultorio de los psicoanalistas es un lugar con la exactitud, aunque no por ello se trata
en el que resuenan los “matices” de una de una verdad menos rigurosa, su
época. rigurosidad es la de la lógica. Acerca de
Es el aburrimiento un matiz de esto me gustaría acentuar un sesgo:
nuestra época? “es divertido observar que el aparato (se
El aburrimiento, como fenómeno, refiere al reloj instrumento) fue terminado
como Stimmung, estado afectivo, tiene antes de que la hipótesis que estaba
una notable relación con el tiempo, tal destinado a demostrar, hubiese podido ser
como que trataremos de mostrar en el verificada por la observación, y que por
recorrido de este trabajo, repensando e este hecho la hacía inútil al mismo tiempo
interrogando las grietas por las que se filtra que le ofrecía el instrumento de su rigor.”
el actual malestar en la cultura. Lo simbólico crea un instrumento para
Lo actual: nuestro tiempo, el tiempo en el contabilizar, para medir el tiempo, y como
que transcurrimos, hagamos algunas efecto de estructura lo intemporal-
consideraciones acerca del tiempo, menuda atemporal, se vuelve imposible a la
cuestión! temporalidad de la serie.
El enigma insondable del tiempo ha Después ya sucede como en el
sido abordado por grandes pensadores, conocido bolero de Roberto Cantoral en el
escritores, poetas, filósofos, científicos, que el reloj solo servirá para marcar la
psicoanalistas que en distintos momentos desolación del amante que le pide
se han ocupado de él. Por nombrar vanamente “Reloj no marques las horas,
solamente algunos memorables: Borges, porque voy a enloquecer, ella se irá para
Heiddegger, Pascal, Einsten, Auster, Freud, siempre, hasta que amanezca otra
Lacan. Pero también el hombre común, vez.”…Se abre entonces el tema de la
que en lo vivido de cada día, en algún experiencia del tiempo en la pareja
momento, es alcanzado por la experiencia amorosa…
del tiempo… La ciencia y la técnica aportan en la
Desde el comienzo de su historia, el creación de los objetos-instrumentos
hombre ha tratado de hacer “algo” con el nuevas formas de padecimiento tal como
tiempo, por ejemplo medirlo, y una de sus ya lo enseñaba Freud en el Malestar en la
formas fue la construcción de instrumentos Cultura.

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En el siglo III antes de Cristo, En Descartes, con quien se inicia la


Ktesibios, diseña un reloj de agua, modernidad, las pasiones son buenas en
conocido también como Clepsydra. Este principio, e involuntarias, es decir el sujeto
funciona por la vía del ritmado ruido de lo no se siente responsable. Descartes escribe
que gotea, imposible no evocar el grifo que el tratado de las pasiones del alma,
gotea, el tic tac del reloj… En la Clepsydra, definiéndolas como “percepciones, o
primer forma de reloj de agua, el tiempo y sentimientos, o emociones que se
el ruido, aparecen de este modo formando relacionan particularmente a ellas”
una curiosa pareja, que también instituye En el hastío se trataría de que a
una serie. Borges evoca la Clepsydra, como veces la duración del bien causa el hastío o
el primer “nombre del tiempo” en algunos la saciedad, y esta última es una especie de
de sus poemas y escritos, y ficcionaliza un tristeza que proviene de la misma causa que
relato por el cual un sultán, quizá nada antes nos diera satisfacción, es decir que
aburrido, la utilizaba para medir el tiempo estaríamos preparados de tal modo, que la
que destinaba a cada una de sus mayor parte de las cosas de las que
amantes…No deja de ser interesante la gozamos, nos gustan solo por un tiempo.
siguiente definición de este primer Hay una frase de nuestra sabiduría popular,
instrumento destinado a medir el tiempo, a dirigida a calmar la queja recalcitrante de
dotarlo de alguna unidad : “forma de una alguno/a que lo ilustra claramente: vos te
vasija cónica que se llenaba de agua, la cual quejás de lleno!
iba vaciándose por un pequeño agujero que Hecha esta introducción, vamos a
tenía en el fondo”.Gráficamente, el tiempo adentrarnos en el tema que nos ocupa,
se va por un agujero. Es decir que el haciendo
tiempo, irremediablemete se pierde, lo cual algunas breves precisiones etimológicas.
no quiere decir, que debamos perder el Aburrir y aborrecer tienen el mismo
tiempo, y quizá por ello mismo, al origen etimológico: del latín ab horrere
contrario. “alejarse con horror, tener repugnancia” del
La referencia al tiempo, es latín ab- “lejos” y horrere “erizarse,
fundamental en el estado del aburrimiento temblar”.
o en su forma extrema, lo que llamamos el Sinónimo de “aburrir” es
tedio, ya que en él se tiene una particular “fastidiar”, del latín fastidium “asco,
percepción del tiempo que transcurre. repugnancia”. Otro sinónimo: el tedio. Del
Lo primero que podemos convenir es que latín taedium “cansancio, repugnancia”
al aburrido el tiempo se le vuelve denso, l´ennui, en francés, la noia, en italiano, y el
lento, y planteo como pregunta para inglés spleen. Se han ocupado
retomar en nuestro diálogo, lo denso es especialmente del tema, Pascal, Spinoza,
vacío o pleno; y lo lento revela los espacios Heidegger, y Kierkegard, en el campo de la
vacíos, o transcurre lento para ocultar la filosofía.
finitud? Se podría decir que se aburre quien Freud y Lacan, desde el
se piensa inmortal, eterno. psicoanálisis se han ocupado del tema,
El aburrimiento, en términos desde distintas perspectivas que vamos a
Spinozianos forma parte de las pasiones dejar para el final del trabajo.
tristes, que nacen del odio y la tristeza. Solo a modo de ilustración recortaremos
Por cuestiones de “tiempo” no vamos algunos modos de decir de los filósofos
profundizar en la historia de la filosofía de acerca de este afecto-pasión: Kierkegard: El
las pasiones. Solo unas apretadas aburrimiento es una eternidad sin
referencias. contenido, una felicidad sin gusto, una

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profundidad superficial, un hartazgo estímulos, mucho antes de cualquier


hambriento”!! diferenciación entre un adentro y un afuera,
Es con Heidegger que L´ennui, se una vesícula de sustancia estimulable.
transforma en la tonalidad fundamental del Freud se pregunta ¿qué es lo que lo
dasein. La angustia y el aburrimiento llevaría abandonar ese estado ameboide del
muestran, sin piedad, nuestra condición de que todo lo vivo partiría?
seres finitos, limitados. El aburrimiento Si bien hay un resto de energía o
como visión gris de lo que existe, es una libido que persiste inmutable en el interior
especie de dolor del alma que causa de la vesícula, la transferencia al exterior es
sinsabor y elimina las ganas de vivir. Quien una forma de libramiento de la energía. Lo
se aburre está asustado de enfrentarse a su exterior aparece así, como genuino
propio vacío. proveedor de estímulos, y al la vez, como
Heidegger plantea tres modos o formas del el verdadero perturbador de dicha vesícula.
aburrimiento, el tercero, l´ennui profundo, “Lo exterior” es lo que antes que
como tonalidad fundamental del ser: “eso” quiera nada, quiere por él, es decir, el
“Este no es el que sobreviene deseo del Otro, ya está ahí esperando.
cuando sólo nos aburre este libro o aquel Pascal en el S.17 afirmaba "nuestro
espectáculo, esta ocupación a aquel ocio. instinto nos hace sentir que debemos
Brota cuando "se está aburrido". El buscar la felicidad fuera de nosotros.
aburrimiento profundo va rodando por las Nuestras pasiones nos empujan hacia fuera,
simas de la existencia como una silenciosa y lo harían aunque los objetos no se
niebla y nivela a todas las cosas, a los presentasen para excitarlas. Los objetos
hombres, y a uno mismo en una extraña exteriores nos tientan por sí mismos y nos
indiferencia”. Su objeto se parece a lo llaman, aun cuando no pensemos en
desconocido, estoy aburrido…tiene la ellos…"
tonalidad de lo desconocido. Freud piensa que en el amor se
Podemos escuchar ahí algún eco de muestra la capacidad de investir algo
la angustia, algún parentesco entre diverso al sí mismo propio, a la vez que un
aburrimiento y angustia. En ambos se trata estado de empobrecimiento libidinal, ya
de la relación con algo desconocido, y la que casi toda la libido está afectada por el
indeterminación también está presente en estado de enamoramiento. Con esto
la angustia, con la consecuente dificultad estaríamos rozando el tema de la pasión
para discernir el ante algo de angustia, tanto amorosa. De todos modos, como es
como para el objeto del aburrimiento, fácilmente constatable, hay algo en esa
especialmente en esta versión del aspiración al UNO del amor, en el que el
aburrimiento heideggeriana. aburrimiento también se hace presente en
En Freud se puede pesquisar alguna línea la pareja amorosa. Otro tema para
que conecta nuestro tema con lo que se interrogar.
considera como su modelo energético. En el aburrimiento, no se trataría
El aburrimiento aparece justamente de esta dimensión del deseo y
mencionado en los estudios sobre histeria, su articulación con la falta, bien al
como “sobrante” de cantidad o “suma de contrario. Todos los intentos por cancelar
excitación”, ni libre ni ligado, sobrante. este hiato entre lo esperado y lo obtenido,
Cabe recordar también la pregunta son un vano intento de volver a un estado
que se hace Freud, cuando desplegando su que en realidad nunca existió.
metáfora de lo que imagina como el estado Lacan define al aburrimiento, como
originario del viviente, una vesícula viva, el afecto del deseo de Otra cosa, y juega
flotando en un mundo plagado de con l´ennui y lo unien en el anagrama que

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permite hacer la lengua francesa, Lo que ha cambiado son los


concluyendo que el aburrimiento, tiene que paraísos que nos prometen. Los jóvenes se
ver con algo de este Uno, como de la presentan hastiados de todo. En el
repetición uniana, que clínicamente aparece aburrimiento podemos reconocer, no la
con ese carácter fatigante y aburrido que a falta de la falta, sino la presencia
veces irrumpe en el relato repetido de algún inquietante, de la ausencia de límites, del
sujeto, bajo la forma de ¡ otra vez estoy anegamiento del todo es posible, atestados
hablando de lo mismo! de objetos que producen un aplastamiento
Sabemos también por el psicoanálisis, que subjetivo, el abaratamiento de los ideales,
todo objeto se recorta sobre un fondo de transformados en gadgets al alcance de la
falta constitutiva,. que hemos sido mano y por ende, el aplastamiento propio
expulsados del paraíso! Eso no ha del aburrimiento en la impiadosa y
cambiado! monótona continuidad del todo es posible.

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Immortality
Leonardo S. Rodríguez
n his tale ‘The Immortal’, Jorge man. Like Cornelius Agrippa, I am god, I
Luis Borges tells the adventures am hero, I am a philosopher, I am a demon

I of an explorer who after much


trouble manages to reach the city
of the Immortals. The place is
deserted and its disposition and
buildings most strange. They do
not appear to serve any purpose:
windows that are too high; doors that open
and I am the world, which is a rather
tedious way of saying that I am not.
(Borges, p. 541)
Immortality, the abolition of death,
entails the death of desire; but also,
according to the poet, a form of radical
insanity whose salient feature is a state of
to empty spaces or holes in the ground; catatonic autism. Borges’ explorer looks at
corridors and staircases that lead nowhere; a palace in the city of the Immortals and
staircases constructed upside down; thinks: This palace has been built by the
staircases with steps so irregular that it is gods. Then be reflects further and corrects
very hard to walk on them; constructions himself: The gods that erected this palace
with unintelligible shapes. The race of have died. And finally he concludes: The
immortals that built the city now lives gods that constructed this palace were mad.
elsewhere, in caves or in the open. They are With the death of desire comes the death
troglodytes: they do no practice, as Borges of creativity. Borges writes:
puts it, ‘the commerce of the word’. They The foundation of their city was the
live in a state of lethargic apathy, totally last symbol to which the Immortals
indifferent to the world. The visitor notices consented; it signalled a stage when,
a troglodyte lying on the ground with a concluding that all enterprise is futile, they
bird’s nest on his chest built in immemorial decided to live only in thought, in pure
times. Their bodies are lifeless; their speculation. They erected the city, forgot
immortality has guaranteed them complete, about it and went to live in caves.
infinite satisfaction and all possible human Permanently in a trance-like state, they
experiences – and as a result, their desire barely perceived the physical world.
has died. Borges writes: (Borges, p. 540)
[…] The republic of immortal men Death, which our subjection to
had achieved the perfection of tolerance language makes it a necessary presence in
and almost of disdain. They knew that our being, is the ultimate motor of desire.
when time is infinite everything happens to Our finite condition makes us human,
every man. For his past or future virtues, subjects of a restricted temporality, of a
every man has the right to every form of circumscribed, singular and necessarily
kindness, but he is also open to every form mutilated history, always running out of
of treason, for his crimes of the past and time, permanently losing opportunities.
future. […] In such a world, all our acts are Freud thought that we fear castration
just, but also indifferent. There is no moral rather than death, and this is so precisely
or intellectual merit. Homer created The because our mortal condition makes our
Odyssey; if time is infinite, if circumstances lacks and losses truly irreversible within our
and changes are infinite, then the limited allocated time.
impossible thing is not to write The Freud did not see in our mortal
Odyssey at least once. Nobody is condition a handicap but rather a fertile
somebody; a single immortal man is every incentive. It is our dreaded mortality that

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promotes desire and creativity. In his short no longer understand the works of our
essay, ‘On Transience’, Freud writes: poets and thinkers, or a geological epoch
Not long ago I went on a summer may even arrive when all animate life upon
walk through a smiling countryside in the the earth ceases; but since the value of all
company of a taciturn friend and of a this beauty and perfection is determined
young but already famous poet. The poet only by its significance for our own
admired the beauty of the scene around us emotional lives, it has no need to survive us
but felt no joy in it. He was disturbed by and is therefore independent of absolute
the thought that all this beauty was fated to duration. (14:306)
extinction, that it would vanish when Our capacity to sustain our desire
winter came, like all human beauty and all and creativity is correlative of our capacity
the beauty and splendour that men have to mourn past, present and future losses.
created or may create. All that he would Lacan’s concept of the object a, the object
otherwise have loved and admired seemed cause of desire, owes its originality precisely
to him to be shorn of its worth by the to its definition as a circumscribed lack
transience which was its doom. […] I could whose positive, structuring effects depend
not see my way to dispute the transience of on its being assumed by the subject as a
all things […]. But I did dispute the loss, with the psychical work of mourning
pessimistic poet’s view that the transience that this assumption requires.
of what is beautiful involves any loss of its The discontents of our civilization
worth. On the contrary, an increase! have affected human creativity in a
Transience value is scarcity value in time. pervasive way. This is not to say that
(Freud 1916a, p. 305) creativity has declined – on the contrary.
Freud then goes on to say that what But creativity completes a full circle:
is at stake is our human revolt against propelled by human mortality, it populates
mourning, against the detachment of libido the human world with its creations and
from objects that have been lost, ‘even creatures; and because nothing guarantees
when a substitute lies ready to hand’ that it be put to the service of the living, it
(14:306-7). introduces what Lacan called the lethal
To me this suggests that the act of factor, the mortifying effect of the signifier.
creation does not provide a replacement In our times, two cases are salient.
for our losses (as some conceptions of In the first place, we are all
creativity affirm). Creation is rather the witnesses to what Giorgio Agamben has
gestation and birth of things that come to called the destruction of experience. The
inhabit the world and which, like their uncontrolled and uncontrollable progress
creators and the already existing things, are of the technological applications of modern
destined to perish. Freud says in the same science has resulted in the massive
essay: emergence of experiences that we undergo
A flower that blossoms only for a passively and which are destined to be
single night does not seem to us on that destroyed at the very moment of their
account less lovely. Nor can I understand inception; experiences that are not worth
any better why the beauty and perfection of registering, because they involve the
a work of art or of an intellectual senseless satisfactions provided by the
achievement should lose its worth because prevalent compulsive consumption of
of its temporal limitation. A time may goods and gadgets, or because they are
indeed come when the pictures and statues experiences that we actively foreclose, as
which we admire today will crumble to they are nothing but a complete waste of
dust, or a race of men may follow us who time that, subjects always running out of

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time that we are, we cannot really afford; The second conception of


experiences that do not get recorded in our posthumanity, proposed by the authors
personal or collective histories. (Agamben that Lecourt calls biocatastrophists, best
) represented by the works of Francis
Secondly, recent developments in Fukuyama (Our Posthuman Future), is
the biological sciences and biotechnology concerned with the ethical, social and
have promoted serious projects that aim at political effects of the advances in
prolonging human life indefinitely – this, biological sciences and technologies. They
through the implantation and replacement predict:
of organs that contemporary technological The process of procreation will be
creations are making possible. These mastered. The sex of the infant who arrives
developments have led some authors to in this world will not be aleatoric again.
speak of a ‘post-human’ era, which in fact Inherited diseases will never be fatal. The
has already started: an era that offers a process of aging will be retarded, and death
distinct possibility for the material itself will be postponed indefinitely.
realization of a very extended, if not Neither haphazard nor destiny: in applying
immortal, life, and the selective promotion his genius to that living being that he is
of traits that would make of humans an among other living beings, the human
altogether new species, where desire as we being will change the conditions of his own
know it would be out of place. We can life; he will trespass the limits of what
imagine the rest: or rather, read it in those constitutes the essence of its finitude.
pages that Jorge Luis Borges wrote as (Lecourt 2003, p. 36)
fiction. Yet our reduction to being The selection of the genotype
troglodytes unable to engage in the before conception, which would make
commerce of the word, is already a firm possible the exclusion of undesirable traits,
possibility in a culture that promotes silent, would affect the social structure itself.
inert, uncritical consumption and Another author, Hans Jonas, predicts that
discourages all forms of creative discourse. Different social groups will try to
In his work, Humain post-humain improve their descendants; certainly the
[Human posthuman] (PUF 2003), rich, but also religious sects, and some
Dominique Lecourt discusses the forecasts ethnic groups. […] The risk of this would
and prophecies that artificial intelligence be […] the emergence of new forms of
and other scientific disciplines have discrimination. (Lecourt 2003, p. 36)
produced concerning this posthuman era. These are only projections onto the
Lecourt argues that there are two groups of future of what are already daily exercises in
thinkers who have formulated these megalomaniac jouissance. This is just one
predictions. of the symptoms of the discontents, or
The thinkers of the first group, malaise, of our culture.
which Lecourt calls technoprophets, In his seminar on the ethics of
envisage the creation of robots that will not psychoanalysis, Lacan stressed the need to
only have the intellectual capacity of the consider the relationship of the subject of
human brain but will also add new abilities desire to his death as an integral part of
in a prodigious scale. Lecourt says that analysis. He said then:
‘they announce the advent of minds The function of desire must remain
without constraints, liberated from bodies, in a fundamental relationship to death. The
free from passions and with access to question I ask is this: shouldn’t the true
immortality.’ (Lecourt 2003, p. 35) termination of an analysis – and by that I
mean the kind that prepares you to become

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an analyst – in the end confront the one finite subjects in this still human era,
who undergoes it with the reality of the precarious as our humanity may be.
human condition? It is precisely this, that in
connection with anguish, Freud designated REFERENCES:
AGAMBEN, G. (1993) Infancy and History: On
as the level at which its signal is produced, the Destruction of Experience, London: Verso.
namely, Hilflosigkeit or helplessness, the BORGES, J.L. (1980) Obras Completas. Buenos
state in which man is in that relationship to Aires: Emecé.
himself which is his own death […] and FREUD, S. (1916a) ‘On Transience’. Standard
can expect help from no one. (Lacan 1992, Edition 14: 303.
LACAN, J. (1992) The Seminar, Book VII, The
pp. 303-4) Ethics of Psychoanalysis, 1959-1960. New York:
As one of the few discourses still Norton.
viable to us (as Lacan put it thirty-five years LECOURT, D. (2003) ‘Tecnoprophètes et
ago), psychoanalysis is therefore engaged in biocatastrophists’. Magazine littéraire 422: 34-7.
the acknowledgement of the human mortal
condition in a way that is not anymore the
territory of ontology and theology, but that
of the defence of our time, our time as

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Temps logique et temps arrêté, incidences cliniques


Jean-Jacques Gorog
e temps logique est celui du elle assume le risque de rester à jamais
signifiant dans sa dynamique l’ombre d’une opération. »64

L propre, interprétable avec


efficacité parce qu’il implique
une conclusion possible.
Mais il arrive que le temps
s’arrête. Il manifeste alors sa
présence. Comme le corps
quand il est malade. Cet arrêt peut relever
On reconnaitra

la procrastination bien connue de


dans cette
thématique, et d’ailleurs citée dans ce texte,

l’obsessionnel : pas étonnant puisqu’il fait


symptôme de sa pensée. Cela dit celui-ci
peut espérer de la psychanalyse qu’elle
parvienne à en réduire les effets.
de structures cliniques variées et suppose Mais il n’y aura pas lieu d’être
des réponses adaptées. En réalité il impose surpris non plus qu’il évoque souvent dans
de situer à sa place l’objet a lacanien un autre registre Wittgenstein, et critique
Lorsqu’on tente de faire la « présupposition et tautologie » comme
présentation d’un exposé, longtemps à étant les deux formes de ce qui arrête la
l’avance, il se glisse une ambition, légitime pensée, cette pensée qui « ignore le temps
sans doute mais fort difficile à satisfaire bousculé, le temps qui manque de
lorsqu’on se trouve au pied du mur. temps »65. Il ironise même : « Se mouvoir
Qu’importe, c’est une façon certes risquée dans la présupposition et la tautologie passe
mais souvent efficace de se forcer à agir, à pour l’indice qu’on pense ».
penser, et comme toujours avec un temps La phrase « Qu’on dise reste
qui se compte à partir de sa limite, ces oublié… » que vous connaissez implique
journées. l’oubli de ce que Lacan appelle ici, dans
Lacan met l’accent, j’ai tenté de le l’Etourdit, le dire par opposition aux dits,
faire déjà dans un texte qui a été fourni en notamment de l’inconscient. Autrement dit
préambule à ces journées, sur le l’analyste peut bien relever les dits de
franchissement opéré dans ce qu’il appelle l’inconscient de son analysant, il ne peut en
moment de conclure, et qu’il théorisera restituer le dire, soit le temps où ça s’est dit.
avec l’acte, dans le séminaire du même Pour une part ceci recouvre le fait qu’il n’y
nom. a pas de point de vue extérieur qui
Mon propos est ici de revenir sur permette d’observer le langage, qu’il n’y a
les franchissements impossibles que pour pas de métalangage.
l’occasion je traiterai en termes de temps, le Mon hypothèse est que dans la
temps arrêté. psychose ce dire là, tout se passe comme si
Dans son ouvrage, Le Temps de la il n’était pas oublié. On le vérifie avec
pensée, Patrice Loraux considère que c’est l’hallucination dont la perception s’éternise,
un problème général de la philosophie : et qui justement ne passe pas au dit. C’est
« Bref au seuil de l’épreuve de réalité, la d’ailleurs pourquoi il n’y a pas de distance
pensée, prise d’une fatale inspiration, entre la voix et le dit, je veux dire par
s’octroie un temps d’arrêt où elle juge exemple que ce que dit la voix est
devoir faire le point, en ce lieu critique où indiscutable. On sait que par l’opération

64 O.c., p.24.
65 O.c., p.335.

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analytique, c’est à ne pas mettre en doute du texte, théorème qui est vrai dans tous les
l’existence même de la voix qu’on obtient cas pour le sujet parlant puisqu’il s’agit
que puisse venir au débat ce que dit la voix, d’une propriété du langage. La perte dont il
que quelque chose donc se détache entre la s’agit, du dire, comment la récupérer, ou
voix et ce qu’elle dit, et témoigne qu’il y tout au moins comment permettre au sujet
avait quelque chose dans lequel le dit était de s’en approcher, ou de faire valoir cette
resté englué, c.à.d. que précisément le dire perte nécessaire ? On en mesurera la
n’avait pas pu être oublié et continuait de validité avec Lacan à l’aune du sujet
parasiter le dit. Comme on voit ce dire non psychotique qui y parvient certes mais c’est
oublié n’est pas véritablement un gain, à ses dépens.
plutôt un embarras, et qui est, malgré ou à C’est à cet endroit qu’intervient le
cause de cela, le modèle de l’objet a.66 temps logique, que Lacan ne cesse de
Il me semble que décrire la chose revisiter. La hâte manifeste la présence de
de cette façon, un dire qui dans certains cas l’objet et l’équivoque l’instrument du
ne s’efface pas, présente quelque avantage psychanalyste.
si l’on se souvient de l’importance de la Je prendrai pour illustrer le point ce
psychose dans l’ensemble des film de Woody Allen bien connu et qui à le
développements de Lacan67. D’autant plus revoir n’a pas pris une ride : Annie Hall. Il
dans cet Etourdit qui commence avec un y est question de rapport sexuel impossible,
rappel de l’adresse de cet Ecrit, le d’homme et de femme, et de psychanalyse
cinquantenaire de l’hôpital Henri Rousselle, pour tenter d’y faire face.
service dans lequel il faisait sa présentation. Mais d’abord ceci qui nous apprend
Et il insiste encore sur cette présentation en quelque chose sur le temps et son
sa toute fin : interprétation : celle des séances manquées
mais dues, motif, drôle parce que sérieux,
« …je salue Henri-Rousselle dont à prendre ici pour ne pas se suicider puisqu’il devrait
occasion, je n’oublie pas qu’il m’offre lieu à, ce jeu du dit au payer les séances manquées. On voit
dire, en faire démonstration clinique. Où mieux ai-je fait
sentir qu’à l’impossible à dire se mesure le réel – dans la l’articulation du désir et de la mort que
pratique ? »
68 Lacan avait souvent repris avec le « il était
mort et ne le savait pas ».
Mais expliquons-nous d’abord sur L’autre motif n’inclut pas
ce point : le dire oublié, c’est à proprement directement le temps mais il s’en déduit
parler ce qui constitue le refoulement et pas aisément. C’est le mot de Groucho Marx :
seulement le refoulement originaire « Comment supporterais-je d’être accepté
puisqu’il se produit chaque fois qu’on comme membre d’un club qui m’admettrait
prend la parole. Qu’il s’agisse dans l’analyse comme membre ? » Le club serait donc
de retrouver le refoulé est une sorte automatiquement dévalué. L’effet est
d’évidence, mais ce que Lacan évoque est sensible à des degrés divers mais rarement
au-delà de ça puisqu’il s’agit d’un théorème absent dès qu’on obtient quelque
dont il fournira la démonstration au cours nomination que ce soit. Il vaut bien sûr
dans notre Ecole. Poussée dans sa logique,
66 Que penser de ce propos de Wittgenstein, cité par Loraux, p.327 : on obtient le type d’exclusion qui est celui
« Souvenez-vous : la plupart des gens disent qu’on ne sent rien sous anesthésie. que Lacan fait valoir au titre du manque,
Cependant il y en a qui disent : il se pourrait bien que l’on sente quelque chose, dans le style de Russel : l’ensemble des
mais qu’on oublie complètement qu’on l’a senti… »
67 « …mon discours n’est pas stérile, il engendre l’antinomie, et même mieux : il
se démontre pouvoir se soutenir même de la psychose. »

68 A.E., p.495.

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ensembles qui ne se contiennent pas eux- doit se soumettre à cette extraordinaire


mêmes se contient-il lui-même ?69 invention qu’est la psychanalyse à laquelle
Mais Woody Allen d’abord imagine lui s’est soumis non sans enthousiasme
que la citation provient de Freud et même depuis quinze ans mais comme il le dit sans
du « Mot d’esprit… », ce qui accentue la que ça n’ait apparemment rien changé. Le
dimension de la logique du Lustgewinn, du dire oublié est joué ici par la position qui
gain de plaisir et ensuite il se propose de la est la sienne à lui, ce qui reste escamoté,
mettre en œuvre pour son office, soit ce son impossible à lui, là où la mort est
qui expliquerait, une fois réduit le club au conjointe au désir. Ça ne se voit pas parce
deux du couple, ce pourquoi il ne parvient que, quoi de plus normal que d’exiger une
pas à rester avec une femme et plus jouissance sans partage avec la drogue ?
précisément Annie Hall. Ensuite vient la première séance,
Quoiqu’il en soit ceci me permet scène qui mériterait quelques commentaires
d’insister sur ce franchissement dans le mais que nos laisserons de côté pour nous
temps de la position du sujet qui s’en intéresser à ce qui fait le cœur du film, cette
trouve transformée, dans un éclair. Je vous courte séquence où l’on voit les deux
rappelle les éléments du film que nous chacun sur un divan, dire sa vérité sans
admettrons comme vrai puisqu’ils opèrent d’ailleurs qu’il n’y ait d’écart entre les faits,
ainsi dans la fiction mais parce qu’ils sont seulement une position propre à chacun.
susceptibles de nous montrer la réalité de On se souvient que les « rapports sexuels »
ce que nous rencontrons dans l’expérience sont avoués au nombre de 3 par semaine
analytique. chiffre pour lui nettement insuffisant et
Donc après la rencontre amoureuse pour elle bien excessif. Puis vient l’aporie
qui respecte les normes du genre avec un non résolue qui m’arrête ici : elle ne peut
Woody Allen embarrassé mais somme pas lui refuser ce qu’il demande ni le quitter
toute très efficace dans sa conquête et parce que c’est lui qui paye les séances et lui
surtout parfaitement normal, maniant le de son côté considère qu’elle progresse
mot d’esprit sans tomber dans une avec l’analyse mais contre lui, en somme il
clownerie souvent présente dans d’autres se fait avoir. Moyennant quoi elle parvient à
films. Sans doute il peine quelque peu à le lâcher puisque comme elle dit elle
s’engager et le manifeste bruyamment s’affirme et sait ce qu’elle veut, mais elle
lorsqu’elle décide de renoncer à son arrête du même coup son analyse. La
appartement ; il n’a pas gain de cause et psychanalyste n’avait rien dit, et a donc été
cède mais ce franchissement produit sans jetée comme le bébé avec l’eau du bain,
éclairage sur le dire qui devrait sans que rien n’ait été acquis sauf une
l’accompagner ne saurait être sans fausse assurance moïque, la suite montrant
conséquence dans ses suites. une Annie Hall errante d’homme en
Le symptôme surgit peu après chez homme. Manquait donc l’interprétation qui
elle, de ne pas pouvoir jouir sans l’appoint aurait traité l’impasse logique de telle sorte
du haschich. Mais ici la « bonne santé que le dire ne fût pas complètement oublié,
mentale » de Lom exige une jouissance non situé à sa place. L’aporie, le piège est aussi
partagée avec l’herbe. C’est pourquoi elle trompeur que le paradoxe du menteur dans
le sens que la solution existe à condition de
69Cf. A.E., p.493 : « Irai-je à parler de la « pulsion génitale » comme du cata- saisir cet écart entre l’énonciation et
logue des pulsions pré-génitales en tant qu’elles ne se contiennent pas elles-
l’énoncé, le sujet de l’énoncé ayant été
mêmes, mais qu’elles ont leur cause ailleurs, soit dans cet Autre à quoi la
« génitalité » n’a accès qu’à ce qu’il prenne « barre » sur elle de la division qui
modifié depuis et à cause de l’énonciation.
s’effectue de son passage au signifiant majeur, le phallus ? » La différence que Lacan introduit entre
cette version du problème, disons entre

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l’époque de « La Chose freudienne » et celle Et c’est en troisième lieu la logique


de « L’Etourdit » consiste dans cette dont ce n’est pas un hasard qu’on y
approche du réel, de cet oubli en tant que retrouve plus directement la question du
« structural ». temps – logique depuis 1945 – opérateur
Mais de même que l’ensemble de cette fois du moment où le sujet bascule
l’article insiste sur ceci qu’il n’y a pas de vers « Autre chose » grâce à ce mouvement
métalangage, il ne cesse de nous faire du dit au dire.
miroiter tout ce qui pourrait y ressembler, J’y vois une sorte d’avertissement72
tout ce qui pourrait situer le sujet comme et un rappel : le jeu de mots auquel on
effet de son dire. L’interprétation, si elle identifie un peu vite Lacan en en faisant
prétend changer quelque chose, ne le peut une exclusivité – il ironise lui-même sur le
qu’à ce niveau. Celle qui eut été adéquate mot valise – n’est pas le tout de
est donc, Lacan nous l’apprend, l’interprétation, s’il n’est pas resitué dans le
l’équivoque, à ceci près qu’on la réduit trop contexte grammatical où se place le sujet ni
souvent à l’homophonie, aux jeux de mots, dans celui logique qui suppose une
dont Lacan use amplement dans cet écrit temporalité et une chute, une fin fût-elle
mais précise qu’ils se jouent de nous : provisoire. Dans le cas de Annie Hall la
fiction nous autorise à imaginer une
« ce sont eux qui nous jouent. Sauf à ce que les poètes réponse au piège. Attraper la conscience de
en fassent calcul et que le psychanalyste s’en serve là où l’Autre, de l’homme, qui dans son souci
il convient. »
d’oblativité veut tout pour elle… sauf ce
qu’elle désire.
N’oublions donc pas la grammaire
qui vient ensuite plus propice à nous faire
saisir comment situer le temps du sujet et
de son dire. Je crois que nous pourrions
retenir pour notre gouverne la critique que
Lacan adresse aux psychanalystes qui se
sont mépris sur le prétendu
endoctrinement de Freud s’adressant à ses
patients70 :

« Freud fait aux sujets « répéter leur leçon », dans leur


grammaire.
À ceci près qu’il nous répète que, du dit de chacun d’eux,
nous devons être prêts à réviser les « parties du discours »
que nous avons cru pouvoir retenir des précédents.»71

C’est cette grammaire qui conduit


Lacan à sa définition de l’interprétation qui
nous sert de viatique : « je ne te le fais pas
dire », équivoque certes mais dans un autre
registre que celui de l’homophonie, qui la
72 L’avertissement n’exclut pas Lacan lui-même dans cette discrète notation,
complète de là où le sujet vient à s’inscrire. complétant le reproche fait à Freud de l’obscurantisme de ses élèves d’un :
« Certes pas moi qui ai aussi, à cet endroit (de mon envers), quelques
responsabilités. »(A.E., p.494) Il fait allusion ici une fois de plus à ce moment
crucial qu’a été le colloque de Bonneval, lui révélant comment l’erreur grossière
70 L’exemple le plus net est le cas de l’Homme aux rats, cité en effet de ses élèves est aussi de sa responsabilité et demandait une révision de
par Lacan (A.E.p.491). l’ensemble de sa description de l’inconscient effectuée les années suivantes.
71 A.E., p.492.

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Um tempo de espera para o obsessivo: “Está


provado: quem espera nunca alcança”
Andréa Brunetto
o mundo moderno, obsessivo “arrasta para a jaula de seu
capitalista, que tem narcisismo os objetos em que sua questão

N pressa e que o tempo é


dinheiro – algo a ser
valorizado, um
investimento – esperar é
uma vergonha. Vergonha
que recai sobre aquele
que espera. Zygmunt Bauman, em “Vidas
se propaga, no álibi multiplicado de
imagens mortais e, domando-lhes as
acrobacias, dirige sua ambígua homenagem
ao camarote em que ele mesmo se instala, o
do mestre/senhor que não se pode ver”. E
continua, afirmando que nesse espectador
invisível do palco está a figura da morte.
desperdiçadas” escreve: “correr atrás das A relação entre a preocupação
coisas e capturá-las em pleno vôo, ainda com seu desempenho e a morte já estava
frescas e cheirosas – isso é in. Adiar, apontada por Freud desde o Homem dos
escolher o que já está lá, é out. Ratos, sustenta Quinet em Zwang und Trieb
É esse ritmo vertiginoso, em que “quando se exibia tarde da noite, ao
tempo é dinheiro, que faz com que a cada espectro paterno, quando se preparava para
dia a avidez dos sujeitos – que é humana, uma prova e abria a porta para seu falecido
demasiada humana, já que nenhum objeto pai e, logo em seguida, contemplava seu
pode tamponar a falta – seja diuturnamente pênis em espelho”.
reavivada por novos objetos que prometem Tomando um recorte da minha
o impossível. clínica, esse sujeito obsessivo é um
Então, esse trabalho une o tema profissional eficiente e bem sucedido que
do tempo com um pequeno extrato clinico sabe fazer a ‘boa hora’. É uma análise que
em que mostra a entrada em análise de um se inicia (tem menos de um ano) e desde a
sujeito obsessivo que “não pode esperar”. primeira sessão, ele reclama por eu não
Por isso esse trabalho tem este respeitar exatamente os horários marcados
título: frase da música de Chico Buarque de e ele fica tendo que esperar, esperar. Faz
Holanda: “Está provado, quem espera sempre a apologia de que gosta de tudo
nunca alcança. Faça como eu digo, faça certo, nos dias e horários certos.
como eu faço: aja duas vezes antes de Além da meticulosidade própria
pensar”. do obsessivo, não poder esperar é um dos
O obsessivo fica meio perdido lemas do capitalismo. Consuma e goze
nesse tempo atual em que tudo é rápido. A agora! E “o inconsciente não é
façanha é ser rápido, como na música de anticapitalista, pelo contrário, ele trabalha
Chico, não adiar, não procrastinar. E ele incessantemente para produzir gozo”
tem necessidade de um grande tempo de (Soler, A confusão dos discursos).
compreender. Um dia é ele que tem de sair da
Lacan alega que é necessário rotina e mudar o horário de sua sessão e
entender o Eu dos sujeitos histéricos e chegar depois das 20hs. Espera fora do
obsessivos para saber através de quem e a consultório alguns minutos, sem saber se
quem ele formula sua pergunta e, assim, eu estava atendendo (a secretária já tinha
reconhecer seu desejo. Afirma que o ido embora). Então, abro a porta, um

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paciente sai e ele entra. Ao final da sessão, mortífero, visando a manutenção do


já em pé, me diz que achou que eu tinha Outro. Assim, o obsessivo se envolve com
esquecido ele lá fora. Digo que de forma seus pensamentos e adia o ato. E com isso
alguma esqueci dele, o que esqueci foi de o momento de concluir fica distante,
avisá-lo que nesse horário a secretária já unindo-se o infinito do tempo com o
teria ido embora e ele talvez tivesse que impossível em desejar. Procastinar,
esperar alguns minutos. fingindo-se de morto para enganar a morte,
É isso que constitui sua entrada é sua forma de manter o Outro sem falta.
em análise, enlaçando o sintoma, a fantasia O ‘bom conselho’ da música de Chico
e a intervenção da analista. Na sessão Buarque é um convite ao ato.
seguinte, vem a lembrança infantil: quando A proeza de meu paciente em
criança, a mãe sofreu um acidente, ele era ‘fazer a boa hora’ em seu trabalho é para
pequeno e não pode entrar no hospital. negociar com a morte. É por isso que ele
Ficou esperando do lado de fora, torcendo sabe fazer a “boa hora”.
para a mãe não morrer. Demorou muito e Com a interpretação ‘não esqueci
achou que a mãe tivesse esquecido dele ou de você’ a analista é enlaçada no sintoma
morrido. Não relaciona de forma nenhuma do sujeito e, para além de seu lugar de
a história com a espera do lado de fora do Outro, passa a ser objeto a. No Seminário
consultório. 11, Lacan diz que a presença do analista é
Em “O seminário, livro 5: as ela própria uma manifestação do
formações do inconsciente”, Lacan afirma inconsciente. E que o inconsciente está do
que é preciso que para o obsessivo haja lado de fora, porém pela boca do analista
alguém que registre e testemunhe suas esta porta pode ser aberta.
proezas. “Não se pratica uma proeza O que tem acontecido
sozinho”, alega Lacan. O Outro é diante de recentemente é que ele tem chegado bem
quem tudo isso se passa, o lugar onde se antes de seu horário e fica esperando na
registra a façanha. Novamente afirma um sala de espera. E não diz que chegou antes,
lugar de testemunha invisível para o Outro. não fala sobre isso durante a sessão. Esta
E como espectador, a morte. espera por vezes de cerca de uma hora não
Façanha, acrobacia, proeza são o incomoda.
palavras que Lacan usa para dizer desse No argumento deste trabalho
espetáculo que o obsessivo trava com a coloquei uma questão: qual o efeito dessa
morte. Como dizia outro obsessivo que análise sobre esse sintoma da espera? Entre
atendo: quando sinto que a morte me a escrita do argumento e esta, agora, ele
ronda, penso em Epicuro ‘se eu estou aqui, deixou de seu trabalho. Está investindo em
a morte não está; se ela está é porque já outro que envolve a recente e famosa
fui’. indústria da estética.
Com suas façanhas apresenta Isto significa uma mudança? Seu
uma heroicidade cada vez mais inútil – tempo de compreender é rápido? Acabei de
estou usando uma frase de Carmem afirmar que o obsessivo prolonga o tempo,
Gallano para designar a solidão paranóica, não concluindo. Minha resposta é não. Ele
mas creio que cabe aqui – em um mundo continua o ‘bom proletário’ que entende as
em que não há mais ordem que a do necessidades do mercado e busca o bom
mercado capitalista, o da produção desempenho. Essa é sua nova versão de
extensiva da falta-a-gozar. ‘fazer a boa hora’ com sua verdadeira
Esse tempo de compreender tão proeza que é a manutenção do Outro.
longo, que a clínica evidencia, pode ser Alega que agora está na profissão do
entendido como parte do espetáculo

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futuro, que atrasa a velhice: agora não é BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Rio de
mais um tempo para velhos. Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005
FREUD, Sigmund. Notas sobre um caso de
Ele continua na repetição, do neurose obsessiva (1909). In: ESB. RJ: Imago
lado de fora do hospital à espera de ser Editora, 1976.
chamado, à espera da morte do outro ou da GALLANO, Carmem. “Não sou paranóico”, in: O
dele, o que dá no mesmo. E esta espera da sintoma-charlatão. RJ: JZEditor,
morte é uma possibilidade certeira, GAZZOLA, Luiz Renato. Estratégias na neurose
obsessiva. RJ: JZEditor, 2002.
insuperável e indeterminada do sujeito, LACAN, Jacques. “Função e campo da fala e da
como afirma Lacan citando Heidegger em linguagem em psicanálise”. In: Escritos. Rio de
“Função e campo...”. Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
Retomando a música de Chico LACAN, Jaques. O seminário, livro 5: as formações
Buarque, ele ainda diz “Corro atrás do do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1998.
tempo. Vim de não sei onde. Devagar é LACAN, Jaques. O seminário, livro 11: os conceitos
que não se vai longe”. Assim, Chico inverte fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
o ‘quem espera sempre alcança’ para ‘quem Zahar Editor, 1998.
espera nunca alcança’. Mas o analista QUINET, Antonio. Zwang und Trieb, in: Destinos
espera, porque se não espera é o pior, da pulsão. RJ: Contracapa, 1997.
SALINAS-ROSÉS, Joan. Psicanálise. Psicoterapia.
espera nas avenidas da fala para abrir o Desejo do analista? In: Stylus 16. Revista da
postigo. Associação dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil.
No prelo.
SOLER, Colette. A Confusão dos discursos, in: O
tempo da psicanálise. Heteridade 3, 2004.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O tempo na histeria e o fora do tempo do não-todo


Elisabeth da Rocha Miranda
e o inconsciente freudiano é sempre um pouco indeciso, mantendo a
atemporal, (FREUD, S.1915 questão clássica; sou homem ou sou

S p.184), a vida é marcada por


uma temporalidade debitaria do
encontro traumático. Existe
então um inconsciente que está
aí, ele o é alheio ao tempo, mas
ele também é suscetível de
presentificar-se por meio das ações que
mulher? Esta vacilação torna a histeria
exemplar na demonstração de que a
fantasia inconsciente determinante da
realidade psíquica é infantil e sempre
atualizada.
A mulher é não-toda fálica o que
não significa que ela o seja de todo, em
determina no sujeito. Mas, para que este parte o é, em parte não o é. Freud pensa
processo ocorra é necessária a função da inicialmente que o desmentido da falta no
metáfora paterna, barrando o deslizamento corpo da mulher seria indício de um
infinito da ação, situando o sujeito em um psicose feminina (FREUD S.1925 p.271-
discurso. “Não há realidade pré-discursiva, 272) para logo em seguida descartar essa
diz Lacan, cada realidade se funda e se hipótese, no entanto o conceito de
define por um discurso” (LACAN, J.1972 desmentido da falta é a raiz da loucura
p.45), dando ao sujeito uma posição feminina.Temos aí a possibilidade de um
sexuada. Para exercê-la o sujeito precisa sujeito na posição feminina situar-se na
ocupar um lugar que lhe é dado pela falta do Outro no lugar de e cair no fora
fantasia, forma como cada um recupera seu do simbólico, do discurso, do sexo, do
gozo e sustenta seu desejo. É o desejo que tempo, lugar em que Lacan situa o que na
fixa o tempo como sempre o mesmo, mas mulher fica fora do fálico, o não-toda
atualizado na viagem da vida, assim fálica. A histérica banca o homem na
“presente, passado e futuro são como as tentativa de se colocar toda na norma fálica
contas de um colar unidas pelo fio do como evitação da experiência do não-todo
desejo” (FREUD, S.1907-8 p.130). fálico, lugar de objeto, de puro real.
A fantasia rege as relações do Quando a fantasia histérica vacila e o
sujeito com o tempo, o que implica uma sujeito é chamado a comparecer com a
acentuação do fading subjetivo: sempre castração ele se experimenta como objeto e
muito tarde ou muito cedo para o encontro pode como objeto experimentar-se fora do
com o objeto. O inconsciente não conhece tempo. É o que vemos no caso que passo a
o tempo, mas a libido o conhece; existe comentar.
uma temporalidade de Eros tanto no nível Maria, empresária bem sucedida,
do amor quanto no do desejo e do gozo. É tem 35 anos e um filho de 10, fruto de seu
por isso que dizemos que o sujeito entra no casamento. Filha única, sua infância é
tempo na medida em que a partir de sua marcada pelo convívio com uma mãe
castração faz a escolha na partilha dos psicótica, cujo delírio consistia em que as
sexos. Entre o nascimento e a morte o duas deveriam ir para Saturno, planeta em
tempo é contado e marcado pela posição que eram esperadas como rainhas e para tal
sexuada. A escolha exige um ato de deveriam morrer. Aos cinco anos evitou
assunção subjetiva do sexo, tarefa que faz o uma primeira tentativa de suicídio da mãe
neurótico vacilar e especialmente o que a incluía, cena que se repete por mais
histérico que se caracteriza justo por estar três vezes até que aos dez anos a mãe volta
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para a cidade natal e a família consegue minha mãe era brilhante.” Na viagem da
interná-la. No hospício a mãe, “sozinha vida, ela permanece fixada no espaço e no
sem a filha” consegue efetivar o suicídio. tempo, ao lugar que encontrou junto à mãe.
Essas cenas deixam forte impressão e Maria viaja a trabalho e conhece um
trazem uma marca temporal. O tempo de homem por quem se encanta de forma
vida para Maria é sustentado pelo lugar que desmedida. Em suas palavras “experimenta
ela ocupa no desejo do Outro, lugar regido com ele uma sensação de intimidade e de
por sua posição fantasmática, esta de ser a estranheza concomitantes que a impede de
sentinela da vida, de cuidar do outro. Maria se afastar ao mesmo tempo em que lhe
passa a viver com a avó paterna, criatura causa medo, é a paixão o perder-se nele.”
extremamente religiosa que em suas Este homem é pobre como sua família era,
orações pede ao “pai nosso que estais no e Maria resolve dar-lhe uma chance na vida
céu” para perdoar a mãe de Maria “essa oferecendo uma representação de sua
alma em sofrimento que arde no inferno”. empresa na cidade dele. A oferta recusada
O pai abandona a casa quando Maria tem causa irritação, mas “ela sente-se abraçada
três anos e morre assassinado em uma briga por aquele homem forte que a escuta e lhe
“por causa de mulher” quando ela tinha diz palavras de amor”. Do sexo o melhor
quatro anos. Essa avó religiosa, única são os abraços, mas é estranho “pensei que
ligação de Maria com o pai, foi queria alguém para me cuidar, mas me senti
severamente contestada por sua mãe para insegura com isso.” É para evitar deparar-
quem a religião “era a expressão máxima da se com o real da castração, marcado pela
ignorância”, com o que Maria concorda privação no corpo, que a histérica eterniza
com exaltada veemência. o desejo como insatisfeito. Sua prática
Com o marido vive uma relação consiste essencialmente na dissociação
praticamente sem sexo, pois ela “não acha entre desejo e gozo, fazendo com que a
muita graça nestas coisas”, além do mais ele essência temporal seja obter a eternização
é bruto, gritalhão e só fala de si, só olha do desejo pela suspensão do gozo.Tanto
para seu umbigo é extremamente auto- com marido quanto com namorado
centrado. Não trabalha, passa os dias observa-se a estratégia histérica para lidar
estudando, contesta a priori toda e qualquer com o tempo. Duas possíveis
opinião. Identifica neste marido muitos conseqüências desta estratégia são: o
traços da própria mãe, “ele é assim como fenômeno da frigidez, no sentido da
ela: intempestivo, imprevisível, inadequado evitação radical do gozo sexual e a
socialmente, briga com todo mundo é um exacerbação do amor, eternizado com
homem fora de propósito, alguém que não insatisfeito.
pode ficar só porque faz bobagens, precisa Voltando ao Rio Maria mantém
ser cuidado”. Diante dele Maria coloca-se com o namorado uma correspondência por
no mesmo lugar que ocupava junto à mãe, email durante um mês e meio até lhe
“ela precisa salvá-lo” não pode abandoná- comunicar que decidiu ir vê-lo, a passagem
lo, ele não tem vida própria e pode morrer já estava comprada. É então surpreendida
assim como sua mãe que “sozinha, sem pela reação dele: “ela não deve ir, ele não
filha se mata”. A relação se mantém estará na cidade.” Desde então ele se
ancorada na infância feliz do filho e esquiva dos encontros e não responde mais
também no saber deste homem que é tudo aos emails de Maria. Ela tenta falar-lhe ao
isso, mas “não me deixa no ar, sempre sabe telefone, ele atende, mas ela não ouve sua
o que fazer, entende de todos os assuntos, voz, ele permanece mudo e desliga. O
é louco, mas muito inteligente. Eu não silêncio dele é encarnado por Maria que
tenho paciência para pessoas limitadas, emudece e muda, faz de seu corpo - assim

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como a mulher de Mausolo que bebe as desenrolar uniforme do tempo. Ela sai do
cinzas do marido, para tomar seu lugar - o tempo na medida em que sua posição
mausoléu de um grande amor. O sintoma fantasmática “salvar a vida do outro” vacila
conversivo a leva à análise após quatro no encontro com um homem, onde ela se
meses de mutismo e uma vasta vê como objeto caído e dejetado do Outro.
peregrinação pelos consultórios dos Identificada com a falta tomada como
otorrinos. Com seu sintoma Maria mantém objeto, Maria perde-se na falta do Outro ,
a adoração ao homem, a exacerbação do tornando-se pura ausência, um ser para a
amor eternizado como insatisfeito, não eternidade, para o fora do tempo, de onde
realizado e por isso perfeito. só retorna com o apelo ao significante
O marido, com quem ela se furta ao vindo da família paterna.
gozo,, mas que a mantém em sua posição
fantasmática, enciumado sai de casa. Maria BIBLIOGRAFIA:
BORGES, Jorge Luis. (1978) “Le Temps” Em:
se vê só. Já não há com quem ocupar o Conférences. Paris: Gallimard Folio, 1985, p.203-16
lugar de “salvar o outro”, me diz que não FREUD, S. -(1915) “Lo inconciente; Las
entende bem como as coisas mudaram propiedades particulares del sistema ICCEm Obras
tanto. Sente-se perdida, como pode o Completas , Buenos Aires , Amorrortu editores
marido nem telefonar? Talvez tenha se vol.14 parte V 2000
__________(1907-1908) “El cresador liter´rio y el
metido em confusão, mas, e se ele estiver fntaseo” Em: Obras Completas, Buenos Aires,
bem? O namorado evaporou do nada. Amorrortu editores vol.9 2000
Durante a semana sou empresária e mãe, __________(1925) ”Algunas consecuencias
no fim de semana sem filho e marido para psíquicas de la diferencia anatómica entre los sexos
cuidar, não sou nada, caio no vazio, me Em: Obras Completas , Buenos Aires , Amorrortu
editores vol.XIX 2000
sinto desmanchando, sem fio terra, no LACAN J. - (1972-1973) O Seminário livro 20 Mais
espaço. Não consigo tirar a camisola, nem Ainda…. Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1983
comer nem me mexer, passo todo o fim de p.45
semana na cama, com um vazio
aterrorizante. É horrível sentir que você
toda é um grande e assustador buraco.
“Será que vou ficar louca como minha
mãe?” “Nada tem sentido, e quando
amanhece na segunda--feira preciso
recuperar o corpo, começar a vesti-lo a
compô-lo, preciso vestir com palavras até
as coisas, saio falando o que estou
fazendo”. Nos momentos de maior
angústia em que tem medo de desintegrar,
ela começa a repetir automaticamente, “pai
nosso que estais no céu, pai nosso que
estais no céu” e só assim “volta à vida, ao
tempo dos outros”. Essas palavras pelas
quais é tomada são para Maria enigmáticas;
“como posso eu rezar? Eu não tenho
religião, não vivo de crendices e elas me
irritam, eu sei que não estou rezando”. É
repetindo o significante da avó paterna que
Maria volta ao registro do fálico. Ela se vê
como objeto e o objeto é o que desregula o

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MESAS SIMULTÂNEAS

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

Uso Diagnóstico do Tempo em Psicanálise


Christian Ingo Lenz Dunker

Sentimento do Tempo que a levava a ir ao jornal constantemente


O caso Aimée pode ser para comprar os números atrasados. Sua

1 considerado o mais extenso e


sistemático

mais conhecido
proposição de uma nova
esforço
diagnóstico que encontramos
na obra de Lacan. O texto é
pela

forma clínica, representada pela paranóia de


casa fica entulhada de jornais e ela mantém a
certeza de que havia lido o artigo e visto a
fotografia. A investigação diagnóstica de
Lacan leva à conclusão de que ela só podia
realmente recordar-se de um fato: em um
dado instante ela acreditou lembrar-se do artigo.
Retenhamos a sutileza da evidência clínica:
autopunição, (oposta à paranóia de ela lembrou-se que havia acreditado que se
reinvindicação), mas ele contém, lembrava. É uma meta-recordação, uma
subsidiariamente, a intuição metodológica recordação de uma recordação. Ocorre que
que levará Lacan, anos mais tarde, a a segunda recordação baseia-se em uma
construir a noção de estrutura clínica. Trata- crença, ou em uma imagem-fantasia que
se da tese de que no delírio, em seu estado substitui uma imagem-recordação, segundo
constituído, na qualidade de um todo mais a expressão de Lacan. Assim o que se gostaria
ou menos organizado temática, formal e que tivesse acontecido aparece ao sujeito como
discursivamente, podemos encontrar o tendo acontecido.
prolongamento de situações subjetivas mais O mesmo fenômeno ocorre nos
simples. Situações estas que possuiriam sonhos que parecem ter uma duração
assim um valor constitutivo para o delírio. significativa antes de se interromperem por
Tais situações mais simples são os um ruído. Na verdade o ruído estava lá
fenômenos elementares, descritos por desde o início. O sonho cumpre sua função
Clérambault. No caso Aimée eles aparecem de manter o sono até o ponto limite em que
em quatro signos clínicos: (1) estados o ruído que estava no início faz acordar.
oniróides, (2) distúrbios de incompletude da Mas quando isso ocorre o que o sujeito se
percepção (3) interpretações propriamente lembra é que o ruído estava no fim do
ditas e (4) ilusões de memória 73. sonho não em seu início. Ou seja, uma parte
As ilusões de memória são o fato da realidade foi suprimida, substituída por
clínico mais difícil de extrair. Aimée declara uma imagem, sendo o resultado uma
que em havia lido um artigo de jornal no inversão temporal.
qual seus perseguidores declaravam que Este efeito de apreensão subjetiva do
matariam seu filho como vingança por sua tempo é chamado por Lacan, na tese de
maledicência. Ela diz que havia visto uma 1932, de sentimentos do tempo. O
fotografia de sua casa natal. Ocorre que sentimento do passado e o sentimento do
Aimée não dispunha do artigo ele mesmo o futuro ligam-se a esta função de
presentificação que determina o alcance para
73 Lacan, J. – Da Psicose Paranóica em suas Relações com a
um ato. Tal sentimento do tempo é
Personalidade. Perspectiva, Rio de Janeiro, 1987: 215. aproximado por Lacan dos sentimentos

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sociais: de realidade, de familiaridade e de que é por natureza aberto, mas que se


respeito. Tanto as ilusões de memória apresenta como um conjunto fechado e (c)
quanto os sonhos protetores não são algo que qualifica as ligações com os objetos
interpretações retrospectivas, mas na medida em que transforma o próprio
argumentam em favor de que o aparelho sujeito.
psíquico reconhece a presença (um ruído)
ou a ausência (uma fotografia) e simultânea 2. Perversão
ou sucessivamente reconhece seu próprio Voltemos aos termos do nosso
reconhecimento, conferindo-lhe realidade, problema agora aplicando-os ao tema da
familiaridade e temporalidade. A função de diferença entre estruturas clínicas. (1) Há o
presentificação nada mais é do que a reconhecimento da presença ou da ausência,
articulação destas duas formas de (simbólico-real) (2) há o reconhecimento
reconhecimento. Para que ela possa operar, deste reconhecimento, que nos dá o
induzindo a orientação temporal do sujeito, sentimento do tempo (real-simbólico) e (3)
é importante que ela mesma não se há a função de presentificação que articula
manifeste como função de reconhecimento. as duas primeiras dimensões (real-
Daí que a função de presentificação defina- imaginário). Vemos que a primeira condição
se duplamente: (b) por seu alcance para o é inteiramente dependente da espacialização
ato e pelo efeito de certeza e (b) por sua do tempo. O reconhecimento da presença
dimensão de desconhecimento e pelo efeito ou ausência, acrescida do sentido da
de crença. transição entre um e outro são a condição
Espero com isso ter introduzido elementar do tempo como alternância.
meu argumento. O texto de 1945 sobre o Contudo estas são condições do tempo
Tempo lógico e a asserção da certeza antecipada74 como espacialização do objeto. Os
desenvolve claramente um problema exemplos de Lacan são muito típicos a este
abordado na Tese de 1932, a saber um respeito: o dia e a noite, os meteoros, o
problema diagnóstico. Lembremos que a retorno nos planetas a uma dada posição.
precipitação, o atraso e antecipação são Este tipo de temporalidade aparece
tipos de sentimento do tempo. A partir do em apresentações da transferência nas quais
que exposto fica claro que o sentimento do ela polariza-se entre o amor ou o ódio, entre
tempo não devem ser confundidos com a a aceitação e a recusa. São transferências que
apreensão subjetiva da duração (mais parecem duplicar a estrutura da demanda.
extensa ou mais comprimida), e nem com a Ela é típica no discurso no qual se acentua a
apreensão objetiva do passado ou do futuro. alternância entre a presença e a ausência do
O que permite a Lacan falar do tempo, sintoma. Pacientes que trazem um
como uma experiência, como uma espécie fenômeno psicossomático, certas
de encontro figurado em metáforas do tipo depressões, bem como situações próximas
“hora da verdade” e “o tempo de concluir” da toxicomania ou da erotomania organizam
ou por noções como kairós. São hipóstases transferências baseadas nesta alternância.
de uma experiência impossível em si mesma: Neste caso a relação de objeto e o próprio
o tempo não é um personagem, nem uma objeto encontram-se em sobreposição. São,
coisa. O tempo equivale, neste sentido, àquilo portanto, teoricamente transferências em
que seria a consciência do ponto de vista do estrutura de perversão. Não digo que se
inconsciente, ou seja: (a) algo que se trate aqui de uma estrutura perversa, mas de
apresenta, mas não se representa, (b) algo uma transferência em estrutura de
perversão. Baseio-me, para tanto na
74 Lacan, J. – O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada: um afirmação de Lacan:
novo sofisma. In Escritos, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2000.

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“O fantasma na perversão é apelável, inúmeras maneiras por Lacan, uma que nos
ele está no espaço, ele suspende, não sei qual parece didática assinala que:
relação essencial; ele não é propriamente (a) No primeiro tempo há estranhamento
atemporal, ele está fora do tempo.”75 (estrangement, unhemilich) o que acusa uma
perturbação do sentimento do tempo.
3. Neurose: Uma separação entre o objeto a e o falo.
A situação seria inteiramente Ora, esta separação é estrutural, na
diferente, e portanto, dotada de valor neurose e na perversão, portanto o que
diagnóstico diferencial, no caso da neurose: ocorre no primeiro tempo da fantasia é a
“A relação do sujeito ao tempo, na percepção desta separação, é a
neurose, é justamente este algo do qual se apresentação desta singularidade sob
fala muito pouco e que é, entretanto, a forma de afânise.
própria base das relações do sujeito com seu
objeto ao nível do fantasma. Na neurose, o (b) No segundo tempo trata-se de uma
objeto se carrega desta significação, que está integração narcísica deste objeto
para ser buscada no que chamo de hora da paradoxal. O sujeito exterioriza o falo
verdade. O objeto aí está sempre na hora do como símbolo significante. Ele rejeita
antes, ou na hora do depois.” 76 seu próprio ser em nome do falo. Está
O obsessivo antecipa sempre tarde em curso uma identificação, a saber, em
demais, o histérico repete sempre o que há termos temporais, uma substituição
de inicial em seu trauma. Tudo se passa entre o que se poderia ter sido (objeto a)
como se o neurótico pudesse ler uma pelo que se poderia vir a ser (falo).
determinada temporalidade em seu objeto.
(c) No terceiro tempo encontramos a
A hora do um e a hora do outro, o cedo e o
função da presentificação, ou seja, a
tarde, o que poderia ter sido e o que se
hora da verdade, na qual o sujeito
acredita ter sido. Ora, estamos aqui na
encontra-se abolido, não como fading,
situação de reconhecimento do
nem como afânise, mas como ato.
reconhecimento, ou seja, na realização do
simbólico. Daí que a fantasia venha a ocupar 4. Psicose:
o lugar daquilo do que o sujeito encontra-se Esta exposição sumária dos três
em privado simbolicamente. tempos da fantasia, do qual se poderiam
Note-se como é uma conseqüência da desdobrar os tempos da transferência e os
teoria da temporalidade que a fantasia seja tempos do sintoma, nos induz a uma
pensada como uma seqüência em três imprecisão. Se a fantasia condiciona a
tempos onde um deles encontra-se abolido temporalidade do sujeito, tanto no sentido
o próprio sujeito (fading). Na mesma direção do sentimento do tempo, quanto no sentido
entende-se porque a diferença entre neurose da sua lógica de aparição e desaparição e
e perversão seja uma diferença no estatuto ainda quanto à temporalidade do ato, ela
da fantasia. Na neurose acentua-se o pólo mesma, a fantasia, não pode ser examinada
do sujeito e do tempo, na perversão segundo os próprios parâmetros temporais
acentua-se o pólo do objeto e do espaço. que deveria explicar. Ou seja, se a fantasia
Estes três tempos são designados de modela o tempo do sujeito o que modela o
tempo da fantasia?
Ora, a situação clínica que deve ser
75 Lacan, J. – O Seminário Livro VI – O Desejo e sua Interpretação (1958-1959).
Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 2002:332.
chamada para explicar este problema é
76 Lacan, J. – O Seminário Livro VI – O Desejo e sua Interpretação (1958-1959). justamente aquela na qual a fantasia está
Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 2002:332. ausente ou substituída por outra estrutura.

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Este é exatamente o caso teórico a infinitização do gozo é um evento


representado pela psicose. Ora, a primeira subjuntivo (se, que e quando isso aconteça)
constatação que se pode fazer então é que a e (c) a experiência de estranhamento,
expressão três tempos da fantasia é bastante despersonalização e descrença é um evento
aproximativa, tanto quanto a expressão os indicativo radical, tão bem expresso pela
três tempos do Édipo. Trata-se afinal de três noção de epifania. Portanto os três tempos
modos de relação (constituição de objeto), da fantasia encontram-se claramente
postos em uma sucessão baseada em uma presentes na psicose, uma vez pensados
condicionalidade lógica, não de três formas como modos lógicos e gramaticais. O que
distintas de fazer a experiência do tempo. estaria ausente é a articulação entre eles. Mas
Três tempos quer dizer aqui três modos. Em a pergunta remanesce: esta articulação seria
cada um destes modos se poderia ela mesma temporal ou lógica?
reencontrar a temporalidade da fantasia, mas
isso não significa que o conjunto responda à 5. Conclusão:
mesma forma temporal. Quando Joyce relata esta experiência
Por exemplo, quando Lacan argumenta que de ter apanhado de dois colegas de tal
a demanda possui uma lógica de ordem maneira que ele teria saído de si como uma
modal ele indica que esta possui uma casca sai de uma fruta madura temos um
articulação gramatical com o modo destes enclaves temporais de valor
subjuntivo (que eu faça, se eu fizer, quando eu diagnóstico. Ele diz que nada sentiu, nem
fizer). A interpretação e conseqüentemente o dor, nem raiva, nem desejo de vingança nem
desejo expressam-se segundo o modo humilhação. Ou seja, falta o sentimento
apofântico, ou indicativo, (eu faço, eu fiz, eu social, a integração subjetiva desta
farei). Finalmente o gozo exprime-se experiência que fica assim indeterminada do
segundo o modo imperativo ou gerúndio. ponto de vista temporal. Assim como o
Os modos do necessário, possível, artigo que Aimée lera sobre os
impossível e contingente são modos da perseguidores de seu filho, Joyce conseguia
demanda que exprimem também datar o acontecimento. Este fazia parte de
experiências temporais. uma história capaz de ser narrada. Mas fazia
De fato, quando se diz que não há parte como uma espécie de indeterminação
constituição da demanda na psicose, no existencial: teria ocorrido? teria sido
sentido de que nela não há posicionamento imaginado? teria acreditado ter acontecido?
do falo no campo do Outro, ou seja, que há Ele é o nome de um estranhamento, de uma
uma zerificação da posição fálica, tudo se identificação e de uma ausência de si. É um
passa como uma espécie de dedução da nome, não um significante.
maneira neurótica de articular o tempo. Na Concluindo. Na perversão o tempo
neurose e na perversão aplica-se a noção de aparece espacializado porque se trata da
voltas da demanda, ou seja, a demanda se posição terminal da fantasia. Na neurose o
fecha e se conta em circuitos de retorno, tempo está articulado ao modo de relação e
reconhecimento e desconhecimento. Na constituição dos objetos porque nele a
psicose a demanda não se fecha, sobrevindo temporalidade equivale aos processos de
assim três fenômenos clínicos: (a) o empuxo identificação, característicos da segunda fase
á mulher (b) a infinitização do gozo (c) a da fantasia. Finalmente na psicose a
descrença associada com a certeza. experiência intersubjetiva do tempo nos
Ora, estes três fenômenos mostra a temporalidade como ela é, ou seja,
encontram-se fixados claramente em modos um conjunto fragmentário de experiências
temporais: (a) a transformação em mulher é cujo efeito e não a causa é a unidade do
um evento gerúndio (está acontecendo), (b) tempo.

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

O futuro anterior na experiência psicanalítica


Sonia Campos Magalhães
ara iniciar este trabalho, ponto de gozo que, por tratar-se de um
tomarei um fragmento de um romance, fica intocável para ela .

P artigo de Daniela Chatelard


no qual ela nos diz que “em
alguns momentos, quase
fugazes, de uma psicanálise, o
sujeito percebe o seu ser de
gozo pois se confronta com o
que ele fora como objeto para o Outro.
Nesse nosso trabalho, através do
relato de um sonho, tentaremos levantar
questões a respeito dos tempos do sujeito
na experiência analítica buscando nos
aproximar do que nos diz Lacan a respeito
do futuro anterior.

Assim, deve passar por um desvio em O Sonho


torno da questão de sua existência: o que O sonho que escolhemos para
sou?” trazer neste trabalho é um material situado
A resposta para esta indagação – o logo no começo de uma experiência
que sou? –, a autora deste artigo vai buscar psicanalítica. Ao longo do percurso desta
na frase que Lacan toma de empréstimo a análise, este sonho será muitas vezes
Paul Valéry para mostrar que o gozo fala: retomado e, a cada vez, embora em sendo
“Sou no lugar de onde se vocifera que o o mesmo sonho, ele não será mais o
universo é uma falha na pureza do Não- mesmo, mostrando que a experiência
ser” . Ao situar esta frase, Lacan lhe dá uma analítica avança, em um tempo de
seqüência. Ele diz que esta resposta não é compreender, passando, de início, pela
sem razão porque “esse lugar, para se vertente do mito, pelo romance familiar,
preservar, faz o próprio Ser ansiar com mas apontando para o final, lá onde o furo
impaciência. Chama-se o Gozo, e é aquele exigirá que o sujeito conclua em termos
cuja falta tornaria vão o universo” . estruturais, que o Outro não existe, que há
Se voltarmos ao fragmento do texto do UM mas não há nada do Outro.
situado no início deste trabalho, poderemos Relato do sonho:
perceber que o gozo que fora, ali, atribuído Bem próxima do caixão aberto, de
ao Outro, seria um gozo encontrado no pé, ela olhava a sua mãe imóvel, como que
momento mesmo em que se dá a sua adormecida... Entre as flores dispostas com
destituição, a destituição do Outro, o apuro que ela amara em vida, o corpo
momento também no qual, de forma fugaz, encoberto da mãe, agora, quase não se dava
o sujeito percebe o seu ser de gozo. a ver. O seu rosto, no entanto, lá estava por
Neste artigo de Chatelard, a autora inteiro. Nele, o nariz afilado se destacava
recorre à literatura para trabalhar o tema entre as pálpebras cerradas e os lábios
“Gozo e posição subjetiva a partir de finos, discretos, na palidez da morte.
considerações sobre o romance O Bem próxima do caixão florido,
arrebatamento de Lol V. Stein. Ela quer muito tempo ela esteve assim, de pé,
mostrar que através deste texto de olhando a mãe com a estranheza de vê-la,
Marguerite Duras, se pode perceber não só enfim, emudecida...
as mudanças da posição da personagem Lol Perdeu-se no tempo...
como, também, onde estaria situado o seu

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De repente, dispôs-se a sair. nova impressão eficiente o que se poderia


Sempre a olhá-la, deslizou num movimento chamar o “ selo do momento”.
para trás, em direção à porta. Viu, então, Neste texto, Freud vai se referir à
que enquanto recuava, o corpo da mãe, importância do tempo na sua relação com a
num movimento sutil, se erguia.... e, lá fantasia. Ele nos diz que a fantasia flutua
estava ela, agora, sentada, de olhos abertos, entre três tempos: os três fatores temporais
a fitá-la... de nossa atividade representativa. O
Devagar, reaproximou-se e trabalho anímico se enlaça a uma impressão
percebeu que a cada passo que a levava à atual, a uma ocasião do presente,
mãe, esta voltava à posição de morta em susceptível de despertar um dos grandes
seu caixão florido. desejos do sujeito; a partir deste ponto,
Viu-se, então, a viver uma cena apreende, regressivamente, a lembrança de
estranha: se saía, a mãe vivia e, se voltava, um acontecimento pretérito e cria, então,
ela morria... até que, enfim, num gesto uma situação referida ao futuro, que o
final, decididamente, abriu a porta e partiu. sonho ou a fantasia apresentam como
Voltemos, mais uma vez, ao satisfação do dito desejo, trazendo, então,
fragmento do texto de Chatelard que em si, as marcas de sua procedência da
escolhemos para dar início a este trabalho. ocasião e da lembrança.
Vejamos: “em alguns momentos, quase Partindo daí, Freud afirma: É assim,
fugazes, de uma psicanálise, o sujeito portanto, que o pretérito, o presente e o
percebe o seu ser de gozo pois se confronta futuro aparecem entrelaçados no fio do
com o que ele fora como objeto para o desejo, que passa através deles” .
Outro”. Em termos dos tempos lógicos, No texto – A temporalidade da
trazidos por Lacan ao longo de seu ensino, transferência –, Sílvia Migdalek, em dado
encontramos aí, um instante de ver, que momento, nos diz que “se um trabalho,
remete o sujeito à pergunta – o que sou? É como o é o do sonho, serve a Freud como
um instante de encontro do real, que dará porta de entrada para a delimitação da
início a um tempo para compreender que experiência do inconsciente, não
aponta para o futuro, para o momento de deveríamos descuidar do que há nisto de
concluir, graças ao trabalho da referência a um trabalho” . Para esta autora,
transferência. é “a força pulsional dos desejos
Retornando ao sonho acima citado, inconscientes que coloca a energia
uma pergunta se nos apresenta: será que necessária para que esse trabalho se realize
podemos dizer que há, aí, neste início de e, mais precisamente, é seu caráter de
uma análise, um vislumbre do final, uma imortais e indestrutíveis, o que nos
antecipação do futuro? introduz em uma estranha dimensão
No seu texto Escritores criativos e temporal, já que, como desejo tem uma
devaneios, ao se referir á atividade de determinação que provém do futuro, no
fantasiar do ser humano, Freud vai nos que se põe como testemunha do que
dizer que os produtos desta atividade, (que haverá de ser, só pelo fato de tê-lo dito”.
se pode encontrar nos sonhos e nos Em A interpretação dos sonhos,
devaneios), não são, de modo algum, Freud nos diz que “na medida em que o
produtos rígidos e imutáveis. Para Freud, sonho nos apresenta um desejo como
muito ao contrário, estes produtos se cumprido, nos transporta,
adaptam às impressões mutantes da vida, indubitavelmente ao futuro, mas este
transformam-se com as circunstâncias da futuro, que ao sonhador lhe parece
existência do sujeito e recebem de cada presente, é criado à imagem e semelhança

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daquele passado pelo desejo indestrutível." composto do que tem sido naquilo que
. sou, mas o futuro anterior do que terei sido
A teoria psicanalítica, desde os naquilo que estou me transformando” .
primórdios da sua construção, ao trazer a Em Subversão do sujeito e dialética
questão do tempo, nos situa face a questões do desejo no inconsciente freudiano, ao
particularmente difíceis. Sabemos que construir o grafo do desejo, Lacan volta a
Freud qualifica os processos inconscientes destacar a questão do futuro anterior ao se
como intemporais e o desejo como referir ao “efeito de retroversão pelo qual o
indestrutível. No entanto, ainda que o sujeito, em cada etapa, se transforma
presente seja impossível de apreender, este naquilo que era, como antes, e só se
desejo indestrutível que, em sendo anuncia “ele terá sido”, no futuro anterior”
inconsciente, desconhece o tempo, pode .
aparecer no presente, na experiência da Nesse sentido, podemos dizer que
análise, graças à transferência. É o que o o futuro anterior, na experiência
próprio Freud nos ensina. psicanalítica, consiste em situar, na entrada
Migdalek, no texto acima citado, em análise, um significante do passado que
nos lembra que Freud em Recordar, pode anunciar a saída. O futuro anterior vai
Repetir e Elaborar faz uso, como já o havia exigir, da entrada á saída da experiência
feito em A interpretação dos Sonhos, do analítica, a articulação do S1, significante da
termo – Arbeit – trabalho. Ela chama entrada, a um outro significante, o S2 que,
atenção para o fato de que, nesse artigo de por sua vez, vai fazer cair o a que, sem
1914, Recordar, Repetir e Elaborar, ao falar dúvida, é o que está em jogo no final.
de trabalho – Arbeit – Freud recorre Enquanto significante do passado, este
também a um outro termo – significante da entrada anuncia o que será
Durcharbeitung – que conota um o sujeito na saída da experiência analítica na
movimento e que, literalmente, se poderia medida em que ele participa da
traduzir como “trabalhar através de”. Este transformação e é, ele mesmo, o operador
termo Durcharbeitung vem marcar a da transformação. Podemos observar, no
importância da transferência, um dos Discurso do Mestre, esta relação do
conceitos fundamentais na experiência significante mestre, S1, significante da
psicanalítica, que diferencia o tratamento entrada que se articula a um outro
analítico de toda a influência por sugestão. significante, o S2, para que o Sujeito, $ , se
Podemos constatar que, ao se falar encontre, no final, com o objeto a.
de transferência, entre outras coisas, se está Assim, quando se fala de regressão
a falar do tempo, tal como a psicanálise o temporal, como na frase – terei sido
concebe. naquilo que estou me transformando –,
Lacan, em vários momentos de seu temos aí um exemplo de futuro anterior
ensino, como Freud o fez, vai também porque nela o sujeito não volta ao passado,
conceder importância à questão do tempo é o significante do passado que se atualiza.
na experiência psicanalítica. No seu texto É o que podemos constatar em
Função e campo da fala e da linguagem em outro sonho no qual o significante mãe, do
psicanálise, ele inova e chama atenção para sonho anterior, reaparece deformado
o futuro anterior quando nos diz: através de um recurso translinguístico –
“Identifico-me com a linguagem, porém, MAR - MER; MÈRE - MÃE e se atualiza
somente, ao me perder nela como objeto. no trabalho da transferência, num tempo
O que se realiza em minha história não é o de compreender, situando uma pressa para
passado simples daquilo que foi, uma vez o momento de concluir.
que já não o é, nem, tampouco, o perfeito O outro sonho

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De repente, ela se vê a deixar a casa grumos grossos e pontiagudos que, como


ainda adormecida e a caminhar descalça espinhos, tornavam difícil a caminhada.
pela relva orvalhada em direção á praia. Deteve-se, então, e percebeu que se
Percebe que a conhecida areia da praia, encontrava frente a três escolhas: o
antes tão fina e dócil no contato com os retornar à casa, o adentrar-se em direção ao
pés, apresentava, agora, um aspecto hostil. mar perigoso, e a terceira ( a que será
Os pingos fortes da chuva da madrugada escolhida): seguir o caminho difícil ao
haviam deixado sulcos na areia formando longo da costa a se perder de vista.

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

Tempo de entrada – Reflexões acerca da


entrada em análise
Gonçalo Moraes Galvão
gostinho é um autor
bastante lembrado quando Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo claro e

A se quer fazer referência ao brevemente? [...] e que modo existem aqueles dois
tempos – o passado e o futuro – se o passado já não
tempo. Enquanto filósofo existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se
medieval percorre uma fosse sempre presente, e não passasse para o pretérito,
variedade de assuntos e como poderíamos afirmar que ele existe, se a causa de
entre eles está uma reflexão sua existência é a mesma pela qual deixará de existir?
sobre o tempo que merece (AGOSTINHO, 1970)
respeito e tempo de
entendimento. Segundo ele por um lado A partir destes elementos vai se
podemos reconhecer, enquanto humanos, delineando para este autor que, pelo menos
nossa inserção no tempo como algo filosoficamente, não é possível a existência
corriqueiro e simples: de um tempo objetivo. Ele irá argumentar
logicamente a favor da não existência
Que assunto mais familiar e mais batido nas nossas objetiva do passado e do futuro. Um já foi,
conversas do que o tempo? Quando dele falamos já passou e assim ‘já não é’ e o outro ainda
compreendemos o que dizemos. Compreendemos não veio, ou seja, ‘ainda não é’; desta feita tão
também o que nos dizem quando dele nos falam.
falso quanto afirmar a existência do passado
(AGOSTINHO, 1970)
é afirmar a do futuro. O presente, por sua
vez, o único modo de lhe reconhecermos
Por outro lado não escapa ao bispo
enquanto presente é quando contrastado aos
de Hipona o quanto se ignora dessa mesma
outros dois tempos, passado e futuro, assim
inserção, ou seja, aquilo que parece obvio
sendo também não tem existência em si
traz uma série de problemas, quando nos
mesmo.
propomos a trabalhar a questão com mais
Depois desta conclusão, de
cuidado. É assim que sobre o mesmo assunto
estranhamento frente ao tempo, o bispo de
afirma:
Hipona não para por aí. Irá propor a partir
Se ninguém me perguntar eu sei, porém, se quiser do já trabalhado um segundo momento de
explicar a quem me perguntar, já não sei. conclusão:
(AGOSTINHO, 1970)
O que agora transparece é que, não há tempos futuros
nem pretéritos. É impróprio afirmar: os tempos são
Esta ignorância não será um três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse
elemento paralisante, mas ao velho estilo próprio dizer: os tempos são três: presentes das coisas
socrático levará o filósofo a empreender um passadas, presente dos presentes, presente dos futuros.
árduo trabalho para pensar o que é e quais Existem, pois estes três tempos na minha mente que
seriam as condições do tempo para o não vejo em outra parte: lembrança presente das
coisas passadas, visão presente das coisas presentes e
humano. Assim parece viável pegarmos esperança presente das coisas futuras. Se me é lícito
carona naquilo que destaca enquanto questão empregar tais expressões, vejo então três tempos e
para avançar: confesso que são três. (AGOSTINHO, 1970)

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distinção possível entre a psicanálise e as


A partir do destacado fica possível psicoterapias. Não basta um ‘encontro’ onde
perceber os esforços para marcar o tempo um se põe a falar e outro a escutar, alguém
como algo que de alguma maneira constitui- deve se dispor a um lugar de escuta que
se a partir da relação com o sujeito sendo inclua a indecorosa proposta de que o
que o mesmo é seu corolário – o sujeito se inconsciente se apresenta pelas vias
dá no tempo – apesar de não ser algo que se inusitadas da linguagem – o inconsciente é
apresente claramente, ou seja, não há estruturado como linguagem. Caso isso não
consciência declarada destes aspectos. Se ocorra corre-se o risco de se manter muito
Agostinho aponta para o aspecto da facilmente num registro dominado pelo
subjetividade do tempo, ou seja, o tempo em imaginário onde a linguagem é um sistema
sua teoria não é algo independente do de signos, que possibilita a comunicação e o
homem e objetivo, mas contrário a isso, nos entendimento entre, no mínimo, duas partes.
dirige também para perceber a relação de Lacan pautado na proposta freudiana
reciprocidade entre estes dois elementos. Se do ‘fale tudo’ coloca-nos frente a um
o tempo existe por causa de nossas dispositivo – nesta relação não espontânea
consciências esta só se dá por conta do vai se instalando aquilo que pode ser
tempo. recortado como dispositivo que conta com o
Ao fazer uso de Agostinho, faço aqui próprio analista como recurso, para que o
uma proposital digressão, por saber que este ‘fale tudo’, o ‘não sugerir’, a outra cena, e até
foi lido por Heidegger que por sua vez foi mesmo um outro tempo possa se instalar.
lido por Lacan, para o qual o tempo não é Um tempo onde o sujeito possa se ver
qualquer coisa. O tempo é algo caro à teoria plasmado pelas teias significantes das quais
e à clínica lacaniana. Além de ser um divisor fizeram dele e que fez uso para ser hoje o
político, na história da psicanálise, se assim que é. Lacan como bom freudiano leva às
podemos entender, acaba sendo norte para a últimas conseqüências a proposta do pai da
condução dos tratamentos. Se a chamada psicanálise: implicar o paciente de outra
subjetividade humana se plasma numa certa maneira em relação a sua queixa e ao
temporalidade que se plasma no humano, enunciado de seu tormento.
então a clínica deve incluir como um de seus Desta feita fica claro que a
elementos passíveis de manejo o próprio psicanálise somente poderá se desenvolver
tempo – não há clínica lacaniana sem uma ao preço de um constituinte ternário, que é o
séria reflexão sobre a incidência do tempo. significante introduzido no discurso que se
É desta maneira que entrada e saída instaura – cabe ao analista dar ouvidos ao
não são termos ingênuos ou automáticos na significante que se intromete no discurso. E
proposta de J. Lacan, mas nos remete a uma isso somente é possível a partir do momento
preocupação que passou a ficar mais que há qualquer um ocupando o lugar de
destacada na psicanálise a partir deste autor analista, mas não um qualquer, pois
que acolhe o desdobramento das necessariamente precisou passar pelos
conseqüências do tempo no tratamento desfiladeiros daquilo que agora pode
psicanalítico – não há entrada espontânea em oferecer. Escutemos Quinet:
análise e se assim o é, a mesma pode ser
pensada como algo que se refere ao É o analista com seu ato que dá existência ao
analisando, mas que envolve o analista em inconsciente, promovendo a psicanálise no particular
de cada caso. Autorizar o início de uma análise é um
todos os seus aspectos da função que ocupa. ato psicanalítico – eis a condição do inconsciente cujo
Se não há entrada espontânea, então não estatuto não é, portanto, ôntico, mas ético, pois
basta um encontro de um sujeito que fala e depende desse ato do analista. (Quinet, 1995, p.10)
outro que escuta – aqui estamos frente a uma

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É assim que a questão desse autor, Quero antes afiançar que essa moça não se conhece
em ‘As 4+1 Condições da Análise’, ganha sua senão através de ir vivendo à toa. Se tivesse a tolice de
se perguntar “quem sou eu?” cairia estatelada e em
extrema coerência: quais condições são cheio no chão. É que “quem sou eu?” provoca
necessárias para que ocorra uma análise? O necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem
que é a entrada em análise? Talvez possamos se indaga é incompleto. (LISPECTOR, 1998)
esboçar uma resposta a partir da personagem
clássica de Clarice Lispector em ‘A Hora da Apesar de se manter enquanto aquele
Estrela’ – Macabéa – mulher de pouca valia que dá voz à esta história, nosso narrador,
que além de ser estrangeira na terra em que Rodrigo S. M., não interfere
habita é também estrangeira de si mesma – consistentemente na mesma, fica
parece desafetada do mundo. Apresentada e inconformado com o estado de sua
contada por um homem, Rodrigo S. M., personagem; estado de absurda resignação e
artifício criado pela autora para marcar que passividade. Frente a isso apenas pode usar
uma mulher não suportaria acompanhar-lhe daquilo que nomeia de ‘direito ao grito’. Mas
a trajetória: “(...) porque escritora mulher pode esse não é um apelo de Macabéa, é apenas o
lacrimejar piegas.” (LISPECTOR, 1998) protesto de um narrador frente à
Assim se impõe a esse homem desenvoltura e força daquilo que narra. Sem
escritor, a possibilidade de se fazer enquanto ele seria impossível percebermos os
tal – escritor – acompanhando/contando a contornos de Macabéa, assim é perceptível
história de Macabéa, que escreve por motivo que o que faz funcionar algo da ordem do
de ‘força maior’, ou seja, ‘por força de lei’. discurso que coloca em questão o lugar do
outro.
Algo se impõe a Rodrigo S. M. de forma absoluta e Por conta de ser e suportar aquilo
imperiosa, como uma lei. Mas trata-se de algo que se
impõe inteiramente, mobilizando as raízes de sua que se coloca na ordem da alteridade,
própria subjetividade. Este vivencia a sua própria Rodrigo S. M., faz girar sobre Macabéa a
exclusão interior, pelo contato com esse outro questão que lhe permitirá desembocar,
‘Macabéa’ que é ‘vida primária, que respira, respira, mesmo que palidamente, nos umbrais de
respira. ’ (PEREIRA, 1998) Madama Carlota, a cartomante: qual é a parte
que lhe cabe, dessa história? Desejas? Ao
É assim que aos poucos vamos emprestar a essa moça um encadeamento
tomando contato com essa nordestina, discursivo que tece a sua própria história,
cadela vadia que não se faz perguntas, que com metáforas e metonímias, alcançou-se
apesar da miséria concreta de sua condição; algo a mais do que um simples relato –
não tem angústia. Nosso narrador, artifício galgou se através de uma questão a
de Clarice Lispector, não consegue deixar de possibilidade de um novo tempo, que pode
demonstrar seu encantamento e interrogação ser conduzido imaginariamente ou sustentar
frente a tamanha simplicidade: “ (...) como ela a pergunta que se coloca suportando as suas
podia ser simplesmente ela mesma, sem se fazer conseqüências:
perguntas?” (LISPECTOR, 1998)
Mas isso não basta para dizer de Qual foi a verdade de minha Maca? Basta descobrir a
Macabéa, já que por outro lado é possível verdade que ela logo já não é mais: passou o
pensar que essa desafetação em relação ao momento. Pergunto: o que é? Resposta: não é.
mundo, as coisas e a si mesma – profundo (LISPECTOR, 1998)
desconhecimento de si – marca de sua
aparente inocência, é uma forma de desviar- Assim a posição de Madama Carlota
se de se ver pega enquanto desejante: pode ser desdobrada em dois pontos de
reflexão: um aonde o imaginário conduz o
sujeito ao pior e outro aonde a sustentação

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do desejo do analista possibilita aparecer outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em
aquilo que é da ordem do desejo daquele que si uma esperança tão violenta como jamais sentira
tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma,
fala; ponto de entrada de uma psicanálise, isso significava uma perda que valia por um ganho.
propriamente dita: ‘Que queres?’ Instauração (LISPECTOR, 1998)
de um novo tempo onde aquilo que é da
ordem do sujeito pode ser escutado. A
possibilidade de escuta do inconsciente abre REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
um novo tempo onde analista e analisando AGOSTINHO, Santo. As Confissões. Rio de
são convidados a suportar a alteridade, Janeiro: Edição de Ouro, 1970.
permitida pela intrusão do significante, único LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: J.Z.E.,
1998.
caminho para se alcançar uma verdade, LACAN, J. Outros Escritos. Rio de Janeiro:
mesmo que não toda: J.Z.E., 2003.
LACAN, J. O Seminário, Livro 1 – Os Escritos
Madama Carlota havia acertado tudo. Macabéa estava Técnicos de Freud. Rio de Janeiro: J.Z.E., 1981.
espantada. Só então vira que sua vida era uma miséria. O Seminário, Livro 7 – A Ética da
Teve vontade de chorar ao ver o seu lado oposto, ela Psicanálise. Rio de Janeiro: J.Z.E., 1991.
que, como eu disse, até então se julgava feliz. O Seminário, Livro 8 – A
Saiu da casa da cartomante aos tropeços e parou no Transferência. Rio de Janeiro: J.Z.E., 191992.
beco esquecido pelo crepúsculo – crepúsculo que é LISPECTOR, C. A Hora da
hora de ninguém. Mas ela de olhos ofuscados como se Estrela. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
o último final de tarde fosse mancha de sangue e ouro PEREIRA, M.E.C. Solidão e Alteridade em A
quase negro. Tanta riqueza de atmosfera a recebeu e o Hora da Estrela, de Clarice Lispector. In Pereira, M.E.C.
primeiro esgar da noite que, sim, sim, era funda e (Org.) Leituras da Psicanálise: Estéticas da Exclusão.
faustosa. Macabéa ficou um pouco aturdida sem saber Campinas, S.P: Mercado das Letras, 1998.
se atravessaria a rua, pois sua vida já estava mudada. E QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise.
mudada por palavras – desde Moisés se sabe que a Rio de Janeiro: JZE, 1991.
palavra é divina. Até para atravessar a rua ela já era

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

Os tempos de uma práxis


Ronaldo Torres
uais são os tempos de ethos, o espaço do mundo torna-se
uma praxis? Para a isso habitável para o homem. O domínio da

Q responder devemos
recuperar que o ato na
praxis, que concerne tanto
ao campo da ética quanto
ao da política na Grécia
antiga, apresenta uma
configuração bem diferente do ato presente
phisis ou o reino da necessidade é rompido
pela abertura do espaço humano do ethos
no qual irão se inscrever as ações... A
segunda acepção de ethos (com épsilon
inicial) diz respeito ao comportamento que
resulta de um constante repetir dos
mesmos atos” (Lima Vaz, 1993, p. 12).
na natureza (phisis) e na arte (poiesis). Só Assim, como hábito, o ethos traz em si a
para se ater à dimensão do tempo, o ato na marca do que se repete e, como costume a
phisis se desdobra em um tempo de inscrição do novo, da criação que escapa à
desenvolvimento necessário de uma necessidade natural.
ordenação do logos, na passagem No que toca a psicanálise e em particular
determinada da potência ao ato; e na Lacan é importante lembrar que a
poiesis o tempo se coloca no intervalo nomeação da experiência analítica pelo
entre o agente e o produto, onde a techne termo praxis só acontece a partir do sétimo
acha seu lugar. Por seu lado, na praxis, ano de seu seminário, justamente em: “A
devido ao fato de que não há distinção Ética da Psicanálise”. Até então, Lacan
entre agente, produto e finalidade no ato normalmente utilizava a expressão “técnica
(ou seja, o ato, na praxis, é o agente, o psicanalítica”. Fica por saber, então, porquê
produto e finalidade), o tempo é indexado um seminário em que há um claro esforço
de forma diferente. Ele é marcado tanto para distanciar a experiência psicanalítica
pelo instante do ato, por exemplo, de um do orthoslogos aristotélico, deixa-nos
ato justo, como também traz em si a também, contraditoriamente, a herança de
extensão histórica de seu agente, por localizar a psicanálise no campo da praxis.
exemplo, um homem notadamente injusto. A resposta pode estar em certa disjunção
Por essa razão, o tempo do ato na praxis da “Ética a Nicômano” que se pode operar
pode ser tanto um tempo de repetição, entre o que seria relativo às propriedades
quanto pode ser um tempo de reordenação, do ethos, nas quais vemos elementos
de irrupção do novo. concernentes à psicanálise, e o que toca a
Essa marca do ato penetra toda a teleologia da ética aristotélica, diante da
praxis na medida em que a ética não é um qual Lacan posiciona a experiência analítica
campo do singular. Assim, da mesma como uma espécie de antítese.
forma, o ethos, como campo trans- Sobre o que afasta a psicanálise da
individual, apresenta a mesma pulsação ética aristotélica, isto está bem claro neste
entre repetição e criação. Devemos lembrar seminário na crítica à noção de “Soberano
a dupla nomeação do ethos: por um lado o Bem” e no tratamento dado à questão do
“ethos (com eta inicial) designa a morada desejo. Esse não será o foco de nossa
do homem...a metáfora da morada e do exposição. Mas pelo lado contrário,
abrigo indica justamente que, a partir do podemos trabalhar a aproximação da

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experiência analítica a praxis por alguns são dados senão pela realidade do
vértices, como a questão da alteridade e do inconsciente posta em ato, uma das
endereçamento que se coloca no ato ou a definições de transferência dadas por
questão da suposição ao saber também Lacan. No dispositivo analítico, é na
presente nesse ato. Devemos recordar que transferência como atualização da realidade
a liberdade implicada no ethos, como inconsciente que a queixa, o sintoma, o
possibilidade de criação, está condicionada acting-out e o delírio se desdobram em
a alteridade posta no ethos como repetição. repetições que são, de fato, atualizações das
Isso decorre da dialética interna ao próprio relações que o sujeito criou com o Outro.
ethos e refere o conflito ao campo do Vemos assim, em um primeiro plano,
saber; conflito entre o saber constituído e o como é na transferência que os tempos de
saber como razão, potência criativa. Assim criação e repetição da relação entre sujeito
tal alteridade se manifesta tanto na relação e Outro se inscrevem. Porém, salientemos
direta dos cidadãos na Polis, como também por enquanto, que essa repetição, como
na relação do cidadão ao saber. A questão nos adverte Lacan, é da ordem de
do tempo se insere como um outro vértice autômaton e não de tiquê como veremos
pelo qual podemos relacionar a psicanálise depois.
e a praxis, mas que acaba por incluir esses Seguindo nosso caminho, devemos
outros campos, como veremos. agora abordar a questão do tempo a partir
O tempo, tal como indicamos, em da praxis no que toca não apenas o sujeito
se inscrevendo duplamente no ato da e a transferência, mas o tempo desses
praxis, sugere proximidades ao tempo do tempos na experiência analítica. Porque o
sujeito tal como a psicanálise o concebe. O sujeito na transferência estar entre criação e
ato na praxis, como vimos, é um ato que é repetição é condição de possibilidade, mas
o seu próprio agente. Não é a apresentação não condição suficiente para que sua
de uma faceta ou a representação de um análise se inicie. A entrada em análise tem a
papel, mas sim, no ato está o próprio marca de sua direção e se estabelece por
agente que é também o produto do mesmo um tempo e por um ato. A isso Lacan
ato. Assim, o que marca o ato como ethos nomeou retificação subjetiva, mas podemos
é a instauração de um sujeito, pelo menos, também situar este ponto no primeiro
até aqui, sujeito da ação. Mas também tempo dos tempos lógicos, o “instante de
vimos como esse ato não está dado ao ver”. Aqui se fortalece a aproximação com
infinito de possibilidades abstratas, sendo, a praxis no sentido da finalidade do campo
antes, suposto a uma alteridade que lhe da ética e da política entre os gregos. O
convoca a um tempo de repetição, mas que fato da psicanálise não compartilhar da
se apresenta, igualmente, como a única mesma direção não a posiciona
possibilidade de inscrição de um tempo necessariamente fora do campo da ética e
novo. Então, podemos ver como o ato é o da política.
instante mesmo em que o sujeito surge Em primeiro lugar, a direção é dada no
como submetido às coordenadas outras e sentido de que se transforme a
como lugar da criação. Porém o ato é o transferência imaginária posta na figura do
sujeito. Portanto ele, o sujeito, é o instante, analista em transferência ao saber. O
a suposição e é o lugar da criação. Daí sujeito suposto saber. Essa é uma operação
podemos depreender a estrutura do sujeito que será feita pelo sujeito, mas no
em seu tempo. dispositivo. Aqui é um outro ato se que
Nessa mesma direção, vemos esses coloca como paradigmático: o ato falho.
tempos se colocarem na transferência. Pois a posição subjetiva no ato falho está
Porque esses tempos do sujeito não nos colocada na determinação de sua relação

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com o Outro. Porém, não basta surgir o da repetição” (Lacan, S11, p. 71). Esse
ato falho, mas que seja possível que o núcleo real da repetição como tiquê, curto-
sujeito se veja neste tipo de posição em que circuita os tempos de repetição e criação,
é o Outro quem nele fala. É essa posição pois o tempo da repetição é sempre o
retificada por esse “ver” que pode abrir à tempo da primeira vez, porque não há
Outra cena como nos apontava Freud. inscrição do que se repete na cadeia
Essa é a primeira escansão, um corte como significante. É, portanto, um tempo sempre
criação, mas que redunda na repetição do novo. “O tempo da pulsão é muito
automatismo significante do segundo diferente. É um tempo de encontro,
tempo da análise, o tempo de estruturado como um instante, que opera
compreender. como um corte na continuidade do tempo
Todavia, para seguirmos, e significativo” (Soller, 1997, p.66). No
finalizarmos, torna-se necessária a “tempo de compreender”, trata-se da
introdução de um elemento novo. Esse experiência dessa repetição, as voltas da
elemento, vemos Lacan introduzi-lo demanda como nos descreve Lacan. Trata-
também e curiosamente no seminário 7: se de descobrir que a repetição é a criação
“Pois bem, coisa curiosa para um que se fez a partir do objeto como objeto
pensamento sumário que pensaria que toda cedido ao Outro. Mas isso só encontra o
exploração da ética deve incidir sobre o fim por um outro ato com seu tempo; no
domínio do ideal, senão do irreal, iremos, ato da escansão do “momento de
pelo contrário, ao inverso, no sentido de concluir”, no ato analítico como passagem,
um aprofundamento da noção de real” travessia, a praxis grega é subvertida pela
(p.21). psicanálise. Pois aqui, no momento do ato,
Os passos dados até aqui: o tempo não há sujeito, e na posição de agente se
do sujeito, a transferência como ato e a coloca o objeto. Ato que marca um giro e
entrada em análise, poderiam se sustentar instaura o psicanalista. Analista que só se
somente em Freud. Mas a abordagem do autoriza de si mesmo (Lacan, 2003, p.248).
real como direção para a praxis analítica,
isto se deve a Lacan. Pois os tempos da REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACAN, J. Outros Escritos. Jorge Zahar editora.
análise não se esgotam no tempo do sujeito Rio de Janeiro, 2003.
e no “instante de ver”. O “tempo de LACAN, J. O Seminário - vol VII. Jorge Zahar
compreender” e a escansão que se editora. Rio de Janeiro, 1985.
denomina “momento de concluir” são LACAN, J. O Seminário - vol XI. Jorge Zahar
implicações lógicas daqueles tempos editora. Rio de Janeiro, 1985.
LIMA VAZ, H.C. Escritos de Filosofia II – Ética e
(embora não necessárias) que devem Cultura. São Paulo, 1993.
introduzir a dimensão, não mais apenas do SOLLER. C. O Sujeito e o Outro. In: Para Ler o
sujeito, mas também do objeto. Objeto Seminário 11 de Lacan. Jorge Zahar Editora. Rio de
pequeno a como nos indica Lacan. Janeiro, 1997.
Isso se opera pela transferência,
mas agora em se tratando de “sacar como a
transferência pode nos conduzir ao núcleo

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

“Los tiempos del sujeto: - deseo indestructible: -


trieb por venir/-lo actual en la transferencia
Perla Wasserman
i trabajo está guiado Toma entonces una hipótesis.
por una pregunta Hipótesis que trae de Fechner que dice: ”la

M respecto del tiempo y


es como sigue: si el
deseo, como lo plantea
Freud, es indestructible,
lo es en tanto escapa al
tiempo. Entonces ¿a
qué registro de la realidad pertenece el
escena, en que los sueños se desarrollan es
distinta de aquella en la que se desenvuelve
la vida de representación despierta. Sólo
esta hipótesis puede hacernos comprender
las particularidades de la vida onírica”.
Freud concluye entonces en lo siguiente:
“La idea que aquí se nos ofrece es la de
deseo? otra localidad psíquica”.
He tomado como referencia dos citas. La Freud plantea como hipótesis para
primera, escrita por Freud en su libro “La que el sueño sea lo que es, una
interpretación de los sueños”; la segunda, interpretación -en tanto interpretar es situar
de Lacan en su seminario “Los cuatro estos sueños en relación a un discurso.-
conceptos fundamentales del toma entonces como hipótesis la existencia
Psicoanálisis”. de “Otra escena”. Otra escena donde el
La cita de Freud es la siguiente: “¿Y sueño transcurre, que es siempre en el
el valor de los sueños para el conocimiento presente del contenido manifiesto.
del futuro? Ni pensar en ello, naturalmente. Ahora bien, sobre este fondo de escena
Podríamos reemplazarlo por esto otro: para también los recuerdos infantiles tienen su
el conocimiento del pasado. Pues del lugar siendo lo que son: deseos infantiles
pasado trata el sueño, en todo sentido. que toman su impulso del deseo
Aunque tampoco la vieja creencia de que el inconciente. De este modo, el deseo por
sueño nos enseña el futuro deja de tener realizar en el sueño y los recueros infantiles
algún contenido de verdad. En la medida forman parte de esa “Otra Localidad “ que
en que el sueño nos presenta un deseo nombra Freud y que Lacan llama “la Otra
como cumplido nos traslada Realidad”.
indudablemente al futuro pero este futuro Así, esta Otra escena funciona
que al soñante le parece presente es creado como hipótesis en la cual el sujeto puede
a imagen y semejanza de aquel pasado por verse, ser mirado según la posición en el
el deseo indestructible.” fantasma. Es decir, además de ser la
Hay una preocupación de Freud, a lo largo posibilidad del presente en el relato del
de toda su obra, en ubicar un lugar para el sueño, es la posibilidad de constitución del
aparato psíquico, un lugar que no sea sujeto en tanto le es necesario Otro. No
neurológico. ¿Cuál es el lugar donde sólo Otro como diferente, sino como otro
transcurre el sueño? ¿Qué escena es la que lugar diferente de aquel que el sujeto puede
el soñante relata? ¿Dónde está esta escena ocupar.
que se realiza? Entonces, Otra escena como Otra
localidad que podría plantearse como

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secuencia espacial, es a mi entender hace las veces de anticipación: hipótesis de


también una secuencia temporal que no es una Otredad necesaria que da la posibilidad
ni progresiva ni regresiva, en todo caso es para ese sujeto de desalojar ese lugar, no sin
sobre el fondo de esta otra escena que el apropiarse de algo que está en el Otro.
fantasma tiene lugar en presente. Hasta aquí, dos planos en que se realiza el
Y ahora traigo la cita de Lacan en Otro para el sujeto: uno, el que construye la
“Los Cuatro conceptos fundamentales del Otra realidad, lo pulsional por venir; y el
Psicoanálisis:”...pero por otro lado esa otro plano, el de la Otra escena donde el
realidad no es poca cosa, pues nos deseo tiene lugar.
despierta la otra realidad escondida tras la Entonces lugar y tiempo como
falta de lo que hace las veces de equivalentes. Otro y presente como
representación, el trieb, nos dice Freud... y metáfora de esa equivalencia.
si por falta de representación, no está ahí, Ahora lo tercero, que es de la
de qué trieb se trata, tal vez tengamos que práctica misma.
considerar que solo es trieb por venir.” Liliana una mujer de 45 años,
Allí Lacan agrega otras metáforas casada. Tiene tres hijos. Llega, y en a las
para hablar de esa Otra realidad: ruptura primeras entrevistas pronuncia esta frase:
entre percepción y conciencia, entre carne y “Con mi madre no puedo pensar.”.
uña, el lugar intemporal. La pregunta acerca Alrededor de este dicho van a girar sus
del campo de la percepción Lacan la va a quejas. Habrá otras frases en el mismo
situar relevando lo que es del campo sentido donde ella queda vacía de
escópico, no sin relevar la Otra escena: el pensamientos frente a su madre. Sentido el
sueño como un lugar donde algo se da a de sus frases que revela momentos de
ver en esa Otra escena y por otra parte lo angustia, allí donde no puede pensar.
pulsional, articulado en el sueño por el Sentido que le da existencia. Su ser está ahí
deseo en relación a una representación que como objeto entregado al Otro. Se lamenta,
es inexistente. se enuncia como culpable del lugar que
El “quiero ver” de la exigencia tiene para su madre. Culpable por no decir
pulsional se hace presente en el sueño, lo que piensa, cuando piensa distinto y por
presente como tiempo verbal y presente supuesto culpable por pensar distinto.
también como metáfora de una ausencia. Se plantea colmarla, para callarla,
Ausencia que en la experiencia del análisis para que la deje tranquila. Necesita creer
la soporta la presencia del analista, ausencia fervorosamente en que es posible una
del tiempo anterior borrado a la manera en identidad que anule el tiempo, la diferencia.
que Freud describe la pizarra mágica, Identidad que sabemos, por propia
donde lo que queda es una marca. Tiempo experiencia, es la medida de la
en el que se le demanda al otro y en el insatisfacción es la repetición puesta a
“decir” la promesa que la palabra evoca. repetir. La exigencia de ir a ese lugar, lo
Tiempo por venir... dice, “es mas fuerte que ella”.
Y lo por venir entonces, si el Incesantemente va de Martínez a Belgrano
tiempo anterior falta ¿dónde se ubica? (dos puntos distintos de la Ciudad de
Si no hay representación de la falta, Buenos Aires) cuando algo en la voz de su
sino la de una hipótesis que hace las veces madre varía, cuando ella percibe su
de representación de lo que no hay, lo por insatisfacción y, aclara, la de su madre.
venir y allí objetos, satisfacciones, Escena de ir y volver que repite una
insatisfacciones, penas, goces, deseos en anterior, anterioridad que en el principio se
fin, palabras; lo por venir, entonces, es le anticipa como destino. ¿Qué pide? ¿De
retroactivo respecto de esta hipótesis que qué insatisfacción se trata? Por supuesto

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que es la insatisfacción de su madre, pero “¿Es que me entendí?” “¿Habré


no sin la de ella. Allí, en esto que es lo sido entendida?”
primero y como segundo queda borrado, Entonces, podemos preguntarnos:
retorna. Retorna, a mi entender, en una si lo idéntico escapa al tiempo y la
segunda frase que corresponde a un repetición es la de la no variación, ¿qué
segundo momento en el análisis de Liliana. hace entrar al tiempo que se escapa?
La frase es: “con mi mama no me La Cosa, idéntica a sí misma, esa búsqueda
entiendo”, que es dicha en el contexto de incesante de su “principio” que realice el
una nueva discusión que tiene con su deseo; la Cosa en tanto idéntica lo es en
madre. La escansión allí es: “no me tanto idéntica a su pérdida. Pérdida que
entiendo.” queda fuera del tiempo. Por lo tanto lo
Ubiquémonos en el texto de Freud idéntico no escapa el tiempo, lo que escapa
“Más allá del principio del placer”. Cuando al tiempo es lo idéntico de la perdida.
el niño se separa de la madre es algo de sí Freud, respecto de la pérdida de ese
que pierde a través de esta auto-mutilación. objeto primero, aquel de la vivencia de
Cuando algo es perdido, en términos de satisfacción, nos dice que cayó sobre él la
objeto amado, es algo de sí que el sujeto represión que nombró primaria. Si ese
pierde. Podemos llamar su ser lo que el tiempo de pérdida falta por reprimido
sujeto pierde al constituirse esta primera primordial, falta como falta la cosa para el
esquicia. Y que la madre a su vez vaya al sujeto.
sitio de “la cosa” no la hace idéntica al Das Luego, lo que retorna es el despiste
Ding, sino que la eleva por perdida al lugar de los objetos por venir. En cuanto al
de lo prohibido. tiempo, retorna en “Menos un tiempo in-
Se trata, entonces, de la repetición contado”, -1 que el sujeto pondrá en la
de la primera esquicia, repetición que es cuenta indestructible de su deseo. La
huella de ese primer tiempo perdido, ¿y búsqueda incesante de esa identidad es lo
luego?: que sea lo mismo en todos sus que en análisis un sujeto demanda: la
detalles, eso es lo que Freud remarca, que promesa de sentido, la promesa, en última
no haya variación. ¿Y qué es lo que se trata instancia, del objeto de la representación de
de alcanzar allí sino algo que se pierde en el lo irrepresentable.
propio advenimiento al lenguaje? Esto que Para el sujeto, “el no haber estado
se pierde y que llamamos significancia . ahí”, eso que designé como -1, faltar ahí,
esto que no puede ser significado . es la promesa que el analista podrá cumplir
Se pierde algo, entonces hay en la “con el tiempo”. Quiero decir “con el
demanda el pedido de que esta pérdida sea tiempo”, no con el sujeto.
significada y así reencontrar al objeto en su
significación.

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

A pesar del tiempo


Trinidad Sanchez-Biezma de Lander
l inconsciente, señala Lacan momento en el que el yo no estaba en
en 1967: “no es perder la capacidad de entender de esas cosas oídas o

E memoria, es no acordarse
de lo que se sabe”. Es un
saber que si bien se impone
en las repeticiones y en los
síntomas no representa al
sujeto. Es memoria en la
que el sujeto no se reconoce. Una memoria
vistas.
Posteriormente Freud será más
radical al decir que el inconsciente no
conoce el tiempo; es decir, que es tal la
huella que ese encuentro precoz
(significado en un segundo momento) deja
en el yo, que el sujeto llevará de por vida
que no es mera leyenda sino algo vivo que una marca erradicada de su conciencia y de
abre el paso al saber de las huellas que la que solo quedará en el inconsciente su
quedaron inscritas como determinación de representación après-coup, un recuerdo.
un sujeto. Memoria que no es añoranza Lo ejemplifica con el caso Emma (Freud,
sino resorte de vida, memoria del trauma, 1895:252). Hay que recalcar que en el
experiencia misma de subjetividad. momento el suceso no había sido
El inconsciente es esa memoria del traumático para la niña, no lo comprendió
origen: el trauma y su fijación, que entonces, pero sintió una extraña y vaga
podemos entender como tabla de salvación sensación de algo prohibido.
a la que el niño se agarra con fuerza para María también sabe de lo prohibido
otear la orilla. Tabla que termina cuando a los tres años, escondida detrás de
convirtiéndose en referencia de unos arbustos escarba tierra en el jardín de
satisfacción. Torpeza de la que estamos su casa: “Es como si buscara algo, o abriera
hechos y de la que se guarda un saber, un huequito con mi dedo índice, encuentro
saber oculto del origen, de la vida en su una pequeña moneda, no estoy segura pero
inicio precario. me llevo algo a la boca, la moneda o tierra.
Desde las primeras elaboraciones Oigo la voz de mi mamá que me llama,
Freud articula el efecto del trauma al creo que estoy escondida de ella haciendo
tiempo y dice, que la vivencia traumática algo que me gusta pero que está prohibido:
que está en la base de la formación del ¿Hacer pupú de esta manera?”
síntoma corresponde a una experiencia Freud le dio importancia a las escenas
sexual precoz intolerable para el yo. infantiles. Trabajó la escena primaria del
También descubre, que el efecto traumático hombre de los lobos y cinco años después,
no está ligado a esta escena de seducción, otra escena no menos importante que tituló
sino que esa escena es a su vez un producto pegan a un niño, escena que aparece en los
fantasmático; es decir, una elaboración textos freudianos igual a como asoma en la
après-coup: “los traumas consisten en clínica: aislada, apartada del resto de las
experiencias somáticas o en percepciones elaboraciones del paciente.
sensoriales, por lo general visuales o En el caso del hombre de los lobos,
auditivas; son, pues vivencias o Freud habla de dos tiempos constitutivos
impresiones” (Freud, 1939:3285), en un de su posición sexuada en relación a la

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experiencia de castración. El primer tiempo situarse en la diferencia sexual. El amor al


es, la observación del coito de los padres padre es el eje alrededor del cual gira la
que alimenta su teoría sexual infantil. En organización del síntoma histérico y por lo
este primer tiempo el niño estaba cual su cuerpo siempre se mantiene a punto
identificado con su madre, con todos sus de desfallecer. La escena fija la posición
síntomas intestinales; Freud estima que este femenina.
órgano estaba afectado histéricamente. La identificación previa y la constatación de
Después, el sueño de los lobos en la falta de la madre que era su propia falta,
donde aparece una catatonia, una detención la orientó al padre siendo igual a ella y
fascinada y a la vez horrorizada de la queriendo lo que ella quería. Reconocer la
imagen, y que marca una discontinuidad: la castración materna y elegir al padre fue
madre está castrada y frente a esto tiene elegir el miedo y la neurosis, pero también,
que tomar una posición; o reconoce la al elegir la falta y el deseo, elegía al hijo para
eficacia de la castración y la toma tanto taponar la falta. La relación con la madre
para su madre como para él, o, la repudia y orienta la elección de sexo, al amor al padre
permanece en su teoría sexual infantil. y al hijo están unidos al reproche
Posterior a este sueño, construye una permanente a esa madre que era la
imagen de su infancia. Una mujer en responsable de su falta de niña.
cuclillas que le recuerda a su madre en la Anteriormente el sujeto había
escena primaria, y un hombre que se porta construido sus teorías, sus hipótesis sobre
en esta escena como su padre. Aquí hay un el nacimiento y el sexo y de repente estas
niño copiando a su padre, lo que nos hace hipótesis están en desacuerdo con un saber
suponer la tendencia a crecer en una que se le escapa. Lacan lo dice claramente:
dirección, que podríamos llamar viril. “El mal encuentro central está a nivel de lo
Este tipo de escena, graba para el sexual. Lo cual no quiere decir que los
sujeto el encuentro con la diferencia de los estadios tomen un tinte sexual que se
sexos. Sabemos desde Freud que esta difunde a partir de la angustia de
escena adquiere su valor demoledor solo castración. Al contrario, se habla de trauma
cuando es referida a la castración de la y de escena primaria porque esta empatía
madre. Son escenas que confrontan al no de produce” (Lacan, 1964:72)
sujeto con un enigma para el que no hay Recordemos que la elección
respuesta; el sexo está allí presente como sexuada no depende de la partida de
diferencia y no como actividad específica nacimiento que inscribe al sujeto como
que daría sentido a esa diferencia. Es el varón y hembra, sino de un encuentro y la
encuentro con una hendija, una falta en el significación que el sujeto le da. Por eso
saber. hablamos de elección del sujeto, ya que es,
Ana nos cuenta una clara construcción por una parte, libre de esta significación y,
acerca del origen de los niños en donde se por otra parte, esta satisfacción se deriva de
nuestra el drama de la niña deseante: “era la pulsión; en este caso oral. Es la
muy pequeña y estaba sola en una castración en su plenitud de verdad que
montañita mirando al cielo, había una gran instituye el deseo sexual infantil reprimido,
luna llena y pensé: ¿qué pasaría si tengo de que se sustenta en el fantasma fundamental.
niño, un gran queso manchego?, como la En la escena hay un claro deseo del hijo
luna. Tenía miedo, el queso manchego era como metáfora del falo, y claro está, como
el preferido de mi papá”. producto del amor por el padre.
Es por amor al padre y la metáfora Las otras escenas a manera de se pega aun
que él implica, metáfora en la que por su niño identifican al sujeto en una fórmula
amor, para su amor se condesciende a única y característica. La frase enuncia dos

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posiciones distintas, del niño pegado y del como aquello que Freud llamó recuerdo
adulto que pega. encubridor, o incluso como un sueño de
A diferencia de la primera, esta infancia, una imagen surgida no se sabe de
escena representa una acción precisa y si donde, como sin razón, que está casi a flor
bien el sujeto puede no haberle dado una del fenómeno, que resiste al
importancia decisiva durante mucho desplazamiento, y que el significante hace
tiempo, siempre permaneció nítida en su volver siempre. Evidentemente, hay que
conciencia. La escena no tiene contenido pulsar esa imagen como apresada en el
sexual, aparece siempre implicado Otro; un significante y preñada de significación.
partenaire está siempre presente y el sujeto Significación absoluta, que no deriva, que
participa activamente, incluso cuando se escapa a la relatividad del significante, que
sitúa en posición pasiva, como masoquista. es inamovible, que es casi como un quiste
La escena tiene un valor paradigmático y en las significaciones, y que Lacan formuló
ejemplifica la posición del sujeto, que como axioma, en otras palabras, principio
resume los avatares de su historia, de inteligibilidad del conjunto de la relación
presentándose como matriz originaria e con el mundo de ese sujeto” (Soler,
identificándolo con una fórmula. 1986:72), y que funda además la seguridad
Tú serás así, y así te asegurarás del sujeto, de lo que no duda, su punto de
como lo que le falta al Otro. Es la frase certeza.
inaugural del orden de un axioma al que el Lacan dice que el fantasma es una
sujeto está sometido y le condena al ventana sobre lo real: “ahora tenemos que
sufrimiento. Ana nos comenta de pasada detectar el lugar de lo real, que va del
una escena en la que se encuentra en una trauma al fantasma –en tanto que el
actitud de sometimiento ante la mirada del fantasma nunca es sino la pantalla que
Otro. “Estaba arrodillada con las manos disimula algo absolutamente primero,
juntas implorando, suplicando perdón a mi determinante en la función de la
mamá, ella me miraba duramente, sentía repetición” (Lacan, 1964:68).
miedo. Había hecho algo que no debía”. Freud en “El Proyecto …” plantea
El cuadro de valor paradigmático permite por primera vez la posibilidad de articular
ver la posición inaugural que resume su las dos escenas. Deduce que alguna vez
existencia, presentándose como matriz hubo una vivencia que consistió en sumar
originaria de su vida, a la vez que permite A y B, y en donde A se convirtió en
ubicar el lugar frente a la demanda del símbolo de B, un símbolo inconsciente,
Otro. reprimido: la Cosa, das Ding fue sustituida
Esta bella y triste escena contiene por el símbolo. Añade además que hay
un plus-de-goce que esconde esa mirada de desplazamiento de cantidades de B a A, o
la madre. Esa mirada esconde el –phi, la que B es sustituto de A, lo que sería tratarlo
castración. “La mirada solo se nos presenta al modo de la represión histérica.
bajo la forma de una extraña contingencia, Si la primera escena enfrenta al
simbólica de aquello que encontramos en el sujeto con un enigma para el que no hay
horizonte y como tope de nuestra respuesta, la segunda ejemplifica la posición
experiencia, a saber, la falta constitutiva de del sujeto y las condiciones de satisfacción
la angustia de castración” (Lacan, 1964:81) pulsional, una satisfacción que
“En medio de aquello que se realiza permanecería ignorada para el sujeto.
la asociación libre, efectivamente, se ve Representa una acción característica que se
venir, aparecer una imagen por ejemplo, mantiene viva en la memoria, y a la que no
una escena, una imagen sin origen, una se le había dado la importancia que la
imagen que se presenta, llegado el caso, interpretación revela. Interpretación

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ajustada. A tiempo que sorprende, hecha en REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.


el cuadro de la transferencia y que permite Freud, S. (1939). “Moisés y la religión monoteísta”.
Obras completas. Madrid. Biblioteca Nueva.
avanzar en el análisis, salir del marco del Freud, S. (1895). “El proyecto de una psicología
fantasma. para neurólogos”. Obras completas. Madrid.
El objeto en su caída se lleva el Biblioteca Nueva.
horror, su condición terrorífica. Horror y Lacan, J. (1964). Seminario 11. “Los cuatro
temor desaparecen, la angustia cae y en su conceptos fundamentales del psicoanálisis”. Buenos
Aires. Paidos.
lugar aparece la verdad antes oculta. El Idem, p:81
atravesamiento conlleva una caída de la Soler, C. (1986). “Finales de análisis”. Buenos Aires.
consistencia imaginaria del objeto y permite Manatial.
una nueva luz sobre la historia, una luz que Lacan, J. (1964). Seminario 11. “Los cuatro
ilumina en el tiempo, a pesar del tiempo. conceptos fundamentales del psicoanálisis”. Buenos
Aires. Paidos.

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

Subjetivar la muerte: una apuesta a la


vida
Florencia Farias
iempo, muerte y acto se paso del tiempo vital, habitualmente signado
entrelazan a lo largo de un por la desmentida.

T
muerte.
análisis.
Hablar del tiempo es
introducirnos en esa dualidad
a la que el psicoanálisis nos
invita: vida- muerte, vida que
para realizarse precisa de la
Cada análisis tiene un tiempo lógico,
para el cual no hay prescripción, será el aprés-
coup que sancionará si ese análisis transcurrió
en un tiempo que le permitió alcanzar el fin.
Es el fin del análisis que posibilita que el
tiempo se historice en acto. Desaloja al sujeto
de la comodidad, de la pasividad.
“La inclinación a no computar la
muerte en el cálculo de la vida trae como Los tiempos de la cura
consecuencias muchas otras renuncias y ¿Qué implica el tiempo en la lógica de
exclusiones” nos dice Freud. Podríamos la cura? El tiermpo en su constitución misma
parafrasear : “Si quieres soportar la vida, se localiza en el acto de la palabra, sin ella no
prepárate para la muerte” podríamos localizarnos en el tiempo.
Freud insistió que el inconciente no En la dialéctica de la articulación entre el
sabe nada de la muerte y que no conoce el tiempo de la repetición y el tiempo para
tiempo, es atemporal. Postula una tensión concluir el análisis se juega un análisis. En
entre el reconocimiento de la muerte como la estos dos tiempos se trata de evitar el vacío
terminación de la vida y la negación de la del uno como el infinito del otro. Así, al
muerte y su reducción a la nada, con la ilusión tiempo de la repetición y al de la
de la vida eterna. precipitación, tenemos que oponerle otro, lo
Las pérdidas son circunstancias que llamamos tiempo lógico.
inevitables a lo largo de la vida. Exigen Tiempo que es escansión, punto de
efectuar algo con ellas, requieren un tiempo almohadillado, cortes de sesión e
que permita atravesar una dimensión de interpretaciones que van en contra del
agujero en la existencia e instalar allí el lugar sentido.
donde reconocer y simbolizar la falta Podemos diferenciar en la cura dos
estructural. Falta estructural que remite a la grandes tiempos: Un primer tiempo de
falta en ser en el sujeto, y su recíproca, la apertura del inconciente, es un tiempo de
castración del Otro irrupción en un fondo de atemporalidad, y el
La dirección de la cura tiene desde el tiempo del proceso lógico, lo que Lacan llama
comienzo, en su horizonte, la dimensión del “certidumbre anticipada” que
acto y además el tiempo de la cura está paradójicamente es capaz de introducir de
signado por su fin, puesto que se trata de un manera efectiva una dimensión de
tiempo limitado, que reduplica en acto en el incertidumbre.
interior del discurso analítico, el irreversible Así entre el instante de mirar, el
tiempo para comprender y el momento de

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concluir, una de las cuestiones fundamentales no suceda nada, entra en un tiempo que no
es cómo interviene cierto grado de existe.
incertidumbre. Sin él no habrá posibilidad de El tiempo del inconciente no
una verdadera conclusión. reconoce un proceso cronológico sino que
El uso del tiempo lógico, va a empuja a la vuelta hacia el mismo lugar, a la
contracorriente de la inercia depresiva de la irrupción de lo real, al arrasador goce del
repetición. No es un tiempo que sigue cierta Otro, a las fauces del cocodrilo, a menos que
burocratización, tiempo standarizado, sino es un saber comience a inscribirse.
el tiempo de la transferencia en la dimensión El análisis supone la liberación del
del acto. Acto, que como tal es tan tiempo como categoría vacía y finita en tanto
incalculable como incontrolable. Por lo cual la enfermedad, que sostiene la fantasía de
se encuentra excluido del ámbito del análisis inmortalidad, implica el sometimiento a un
todo tipo de previsión, de timing, de fijación tiempo lineal, cuantificado, sustraído de
previa de plazo. nuestro control y decisiones.
Lacan plantea en el Seminario XV, Puede advenir, luego del recorrido de un
que un psicoanálisis empieza a partir del acto análisis, el tiempo del acto placentero y
inaugural del analista que instaura la regla responsable, liberado ya el sujeto de la
fundamental, y a lo largo del análisis se van perpetua postergación desiderativa, así como
dando sucesivos actos, que formarían parte de de la fantasía de un eterno presente, signado
lo que es el acto analítico. Largo recorrido por la influencia de un pasado no resuelto y
que va transformando la falta en pérdida, la un futuro que no termina de acontecer.
impotencia en imposibilidad.
Tiempo ce concluir
El tiempo en la neurosis ¿Cuándo es el tiempo de concluir un
El neurótico se instala en un tiempo análisis? El dar por terminado un análisis tiene
cristalizado, goza en este tiempo que ver con una decisión. Pero ¿Quién
improductivo, hecho de incertidumbres, se decide? No es el analista, tampoco el
desvía hacia tareas contingentes, para evitar de analizante, es una decisión acéfala, sin autor,
ese modo la consumación del acto radical, que no depende de la voluntad. El analista tiene
es aquel en el que se juega en la apuesta de su sin embargo, la responsabilidad de escuchar
deseo decidido y se hace responsable de él. esa decisión.
El sujeto mantiene una paradójica y Concluir antes de que sea demasiado
sintomática relación con el tiempo. La manera tarde y antes de perder, quizás para siempre,
en la cual cada sujeto se las arregla con el el momento oportuno. Este tiempo
tiempo, se reencuentra en su síntoma, se demuestra que no hay tiempo. No es que al
articula a él, mostrando la relación del sujeto análisis le falte tiempo, por el contrario tiene
con lo real. todo el tiempo posible.
El neurótico realiza todo tipo de Se trata de un tiempo lógico, tiempo
maniobras dilatorias, ya sea postergando el en que cesan las dudas y adviene una especie
acto como lo hace el obsesivo, que en vez de de certeza, el acto analítico soportando lo
realizarlo, piensa bajo la forma de la duda, incalculable, tramos finales en que el saber ya
considera que nunca llegó el buen momento, no se espera del analista, testigo a veces
no permitiendo la sorpresa y lo imprevisible. silencioso de estos encuentros, se preanuncia
El obsesivo en “la espera de la muerte”, vive su caída.
esta espera de la muerte como su vida. Intenta Debe hacerse el duelo por el analista que
que su existencia transcurra en un mundo sostuvo la función a lo largo del análisis y el
atemporal, la tardanza, están al servicio que duelo por el objeto “a”, pérdida radical en la

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estructura, que se inscribe como falta Solo la muerte subjetivada es


auspiciante. condición de toda sublimación posible. El
En “Momento de concluir”, Lacan tiempo subjetivo resulta una categoría ligada a
propone:” El fin del análisis es cuando se ha la sublimación y por ende supone la capacidad
girado dos veces en círculo, es decir de asumir valiente y creativamente la
reencontrado esto de lo cual está prisionero”. posibilidad cierta de la propia muerte.
Entendemos que dos son las versiones en Entonces la muerte enfrentada sin cobardía
que lo real desanudado toca el cuerpo: muerte permite la inscripción subjetiva del tiempo.
y sexo. Girar en torno a ello, arrancar un decir Se trata ni más ni menos que de la
a lo real. asunción de la castración. Recorrido por los
Del análisis debe surgir un nuevo confines de la castración que subjetivan la
tiempo subjetivo, dado que se trata de lograr falta y propicia un acto, que no es impulsivo
la transformación cualitativa del mismo, en el ni postergado. Que el sujeto, sirviéndose de
sentido de instalar una temporalidad signada su análisis, pueda alcanzar a penetrar en lo
por la liberación del goce. real que le concierne y de esta manera
El tiempo de la creación se puede prescinde de su análisis.
desplegar en toda su potencia en tanto se Poder acceder a otro goce, a la medida
asume, aun con temor, la certeza de la propia del deseo, el goce de la vida.
finitud, siendo la obra el modo más logrado
de respuesta sublimatoria al impacto REFERENCIAS BBIBLIOGRÁFICAS
Allouch, J. Erotica del duelo en el tiempo de la muerte
traumático de lo real de la muerte. seca, Ed. Edelp, Bs As, 1996
Solo con el tiempo acotado que media Chamorro, J.”Clínica del fin del análisis” Cap-
entre la certidumbre de la propia muerte y su Identificación al síntoma, y Lo real y la
consumación se puede instalar la creación, y identificación.EOL: Grama. Bs As, 2005
los plazos breves y perentorios de toda Dreizzen, A. “Los tiempos del duelo” Homo Sapiens
Ediciones, 2001
existencia amenazada por su extinción Freud, S.“Análisis terminable e interminable
inminente, son el motor que acelera y “O.C.Tomo XXIII, Bs As, Ed.Amorrortu, 1993
precipita el apuro y la premura necesarios 1915 “De guerra y de muerte”” O.C. Tomo XIV, Bs
para la realización de toda producción. As, Ed. Amorrortu 1993
Se trata de inscribir en la historia 1915, “Duelo y melancolia” OC. Tomo XIV, Bs As ,
Ed. Amorrortu , 1993
libidinal del sujeto un tiempo auténtico Lacan J. El seminarioo 11 Los cuatro conceptos
correlativo de la subjetivación de la muerte, fundamentales del psicoanálisis. Bs As, Paidós 1987
que el análisis otorgue al sujeto el tiempo El seminario 15 El acto psicoanalítico. Inédito.
necesario para que pueda temporalizar su ser, El seminario 22.RSI. Inédito
concientizando y disolviendo sus estáticos El seminario 24 Línsu que sait de lúne-bévue s´aile a
mourre- Inédito.
puntos de goce. López, H. “Lo fundamental de Heidegger en Lacan”
Toda temporalización del ser se halla Bs. As Ed. Letra Viva. (2004)
signado por la capacidad de anticipar la Milmaniene, J. “El tiempo del sujeto” Bs. As Editorial
eventualidad de la propia muerte. No se trata Biblos. (2005)
de estar a la espera de que acontezca la Soler, C. “Finales de análisis” Bs. As. Ed, Manantial
(1988)
muerte, poniendo así fin a la existencia. Sino “El plus de tiempo” Revista Uno por Uno Nº 36
asumir con valor la anticipación de la muerte (1993)
que opera como “metáfora real” y permite
realizar un proyecto que incluye el carácter
restitutivo del límite temporal, el que abre,
paradójicamente, las máximas posibilidades

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

O inessencial do sujeito suposto saber


Sílvia Fontes Franco
“Nesse des-ser revela-se o inessencial do sujeito suposto saber, donde ofuturo psicanalista entrega-se ao agalma da essência do desejo,
disposto apagar por ele em se reduzindo, ele e seu nome, ao significante qualquer”
LACAN, Jacques. Proposição de 9 de outubro de 1967, p 259. In: Outros Escritos.

O título deste trabalho foi tomado de uma deles – é aí que eu situo a questão – a idéia de se
passagem do texto de Jacques Lacan, a autorizarem a ser analistas79”.
“Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o Como é possível manter vivo o
analista da Escola” 77. Lacan dirá “que foi com o discurso analítico, sem colocar em questão a
objetivo de isolar o que é do discurso analítico que fez análise dos analistas? Como é possível alguém
a Proposição”.78 Ao longo do seu ensino é ocupar um lugar quando ainda está
possível destacar vários pontos precisos desse embaraçado em seu gozo fantasmático? Há
empenho de Lacan em manter vivo o uma articulação lógica e indissociável entre o
discurso analítico, sua “lâmina cortante”. início e o final de análise, entre a posição do
Na “Proposição” Lacan estabelece um analista e a direção do tratamento. O que
corte, uma ruptura em relação a tudo o que sustenta essa articulação lógica é a
havia sido estabelecido até então para a transferência e seu manejo suportada pelo
formação do analista e para a direção do desejo do analista (um lugar, uma função, um
tratamento. O inédito, o subversivo nesse x), possível resultado de uma análise levada
escrito é colocar em continuidade a até o fim, a partir da passagem de analisante a
Psicanálise em intensão e a Psicanálise em analista.
extensão e é em torno da formalização do No seminário “O avesso da
final de análise que essa articulação é psicanálise80”, às voltas com a transferência,
possível. Lacan pergunta novamente o que define um
Neste texto de 1967, que completou analista?, e mais a frente, o que se espera de
quarenta anos, Lacan coloca na berlinda, mais um psicanalista?E responde: “análise, eis o
uma vez, a análise dos analistas. No final de que se espera de um psicanalista”.
seu ensino, expressou, mais uma vez, que Na “Proposição”, Lacan indica “os
esperava que o dispositivo do passe dissesse pontos de junção onde devem funcionar nossos órgãos
alguma coisa sobre o que ocorre no final de de garantia81 ”, e articula o começo e o fim da
uma análise: “como é que pode passar pela cabeça psicanálise. E é a partir da teorização do final
de análise e do ato psicanalítico - ato em que
o analisante se torna analista - que ele propõe

79 Lacan, Jacques. Jornadas sobre a experiência do


Passe(1978). In: Documentos para uma escola. Revista
77 LACAN, Jacques. Proposição de 9 de outubro de Letra Freudiana. Ano XIV, n.0 p. 63.
1967. In: Outros Escritos. 80 Lacan, J. O seminário, livro 17: O avesso da
78 Lacan, Jacques. Sobre a experiência do Passe (1973). psicanálise, p.50, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991
In: Documentos para uma escola. Revista Letra 81 LACAN, Jacques. Proposição de 9 de outubro de

Freudiana. Ano XIV, n.0 p. 54-59. 1967, p 252. In: Outros Escritos.

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o dispositivo do passe “onde o ato poderia ser análise levada a seu termo.Minha intenção é
apreendido no momento em que se produz82”. falar disso que ocorre, no momento de
Dispositivo inédito, o passe, desde o início, concluir, o desfecho final quando o sujeito
teve conseqüências na comunidade analítica, conclui sobre aquilo que ele foi como objeto
provocando ondas ao subverter a formação para o Outro ao mesmo tempo em que surge
do analista fundada, até então, numa tentativa a suposição de saber no Outro e sua
de “tapeação do real”. destituição.
Lacan, crítico das concepções No seminário “De um Outro ao outro86”,
de final de análise que tinham como objetivo Lacan, retoma a questão do sujeito na sua
a identificação com o eu do analista e\ou relação com o Outro, e precisa a questão do
uma adaptação à realidade, separa do sujeito sujeito suposto saber e a função lógica do
suposto saber a pessoa do analista, a objeto a. A partir da teoria dos conjuntos,
transferência é com um significante qualquer Lacan, mais uma vez coloca em evidência que
do analista. O sujeito suposto saber é um o que “condiciona” a transferência, é a
equivoco, e a psicanálise visa reduzir sua estrutura do sujeito: transferência é a
função até sua destituição ao final de uma transferência da estrutura, ou seja, sua
análise: “No começo da psicanálise está a estrutura de linguagem. Mais uma vez, Lacan
transferência” 83. “E o sujeito suposto saber é o eixo recorre à fórmula: o significante é o que
a partir do qual se articula tudo o que acontece com a representa o sujeito para o Outro significante
transferência” 84. e demonstra a coalescência entre a estrutura
Mas o que condiciona a transferência? do sujeito e o sujeito suposto saber. É a
Embora Lacan diga nesse texto que não própria crença do sujeito no saber
temos que dar conta do que a condiciona, inconsciente que possibilita que ele se dirija a
não cessou de formalizá-lo (o que a um Outro que ocupe essa função. Lacan
condiciona) e sua possível resolução, até o enfatiza, que o sujeito é representado como
final do seu ensino. um (1) para um outro significante, este um
A psicanálise não inventou a Outro, é o que representa o um (1),
transferência, ela sempre existiu, é um unário(marca de um gozo) no Outro.Cada
fenômeno geral, efeito da linguagem. O inscrição do traço unário no Outro visa a
mérito de Freud, desde Anna O., foi não ter repetição de um gozo enigmático. Lacan nos
recuado frente a sua manifestação, isolando-a diz que é necessário acrescentar a esse um no
e incorporando-a ao tratamento analítico. Outro, o conjunto vazio (segundo a definição
Lacan demonstrou-a, precisou seu manejo e da teoria dos conjuntos) 1, (1,0).O que está
resolução partindo da lógica e da topologia. dentro do parêntese é o Outro (A), o
A partir do ensino de Lacan, escolhi conjunto vazio, “esse um-a-mais”,
um ponto do seminário “De um Outro ao representado por círculos que se engendram
outro85” para tentar articular, inicialmente, indefinidamente, transformando o que era
aquilo que se verifica na prática em uma interior em exterior. Essa repetição se
organiza ao redor de uma borda, um buraco,
o lugar do objeto a: “[...] um buraco sozinho
82 Lacan, Jacques. Discurso na Escola Freudiana de basta para fixar toda uma conduta subjetiva87. Esse
Paris (1967), p. 271. In: Outros Escritos. Rio, Zahar,
2003.
conjunto vazio representa a incompletude do
83 Lacan, Jacques. Proposição de 9 de outubro de Outro (ele evoca o paradoxo de Russel) que
1967, p 252. In: Outros Escritos. o objeto a, em-forma, ou seja, o objeto a
84 Idem, p.253.
enforma A. Este Outro inconsistente, esse
85 Lacan, Jacques. O seminário, livro 16: De um Outro

ao outro. Publicação do Centro de Estudos


Freudianos do Recife. Publicação não comercial 86 Idem.
exclusiva. 87 Ibidem, p.253.

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vazio, o objeto a (esse falso ser) irá enformar S(A barrado) que o analista com seu corte em
(envolver). ato faz aparecer, operando a separação,
Podemos afirmar que o sujeito busca fazendo surgir essa suposição de saber no
na transferência, na suposição de saber, o ser, Outro, evidenciando sua inconsistência. A
ser Um. O sujeito dividido, falta-a-ser, suposição de saber se sustenta por um saber
demanda ao Outro, ser, como explicita Lacan absoluto. Não existe o sujeito suposto.
em “Posição do Inconsciente”: “ A espera do No final da análise, como nos
advento desse ser em sua relação com o que prisioneiros do apólogo, há um salto, uma
designamos desejo do analista,[...] [...]por sua própria passagem que se faz no limite (momento de
posição, é essa a última e verdadeira mola do que concluir), um ato do sujeito,“apesar da falta
constitui a transferência. Eis porque a transferência é de saber”, uma conclusão que constitui uma
uma relação estritamente ligada ao tempo e ao seu asserção sobre si mesmo. Nesse momento
manejo88”. em que o sujeito conclui sobre aquilo que ele
O que “condiciona” a transferência é foi como objeto para o Outro, nesse
a “coalescência” entre o toro do sujeito e o momento, é que o sujeito se dá conta da
toro do Outro, estrutura da neurose, algo suposição de saber, da suposição do Outro
muito evidente nas análises onde “verdades ao mesmo tempo em que se revela o
escondidas, as neuroses as supõem sabidas. É preciso inessencial do sujeito suposto saber: “A hora
destacá-las dessa suposição para que eles, os do encontro é também despedida”.93
neuróticos, cessem de representar na carne essa
verdade89 ”. Lacan explica então, que cabe ao
analista efetuar “o corte graças ao que, essa OUTRAS BIBLIOGRAFIAS
Darmon, Marc. Ensaios sobre a topologia lacaniana.
suposição de saber é arrancada90”. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994.
Esta estrutura, essa coalescência, que Nominé, Bernard. O Passe e a análise finita. Buenos
o corte, o ato do analista, visa separar. Lacan Aires, julho 2004.
define a interpretação como um corte, “[...] Porge, Erik. Jacques Lacan, um psicanalista. Editora
cortes que têm efeito de subversão topológica91”; corte UnB, 2006.
Franco,Silvia. O sentido do Sintoma. Texto
no toro do neurótico, evidenciando o furo apresentado nas Jornadas de Formações Clínicas do
central, o vazio deste objeto a, que a FCL-SP, 2004.
suposição de saber visava encobrir. Franco, Silvia. Discurso a EFP e o desejo do analista.
No seminário “Momento de concluir92”, Texto apresentado no Seminário de Formação
na famosa aula de 10 de janeiro de 1978, Continuada do FCL- SP
Franco, Silvia. S de A (barrado) e a produção dos
Lacan repete mais uma vez que o sujeito é discursos. Texto apresentado nas Jornadas de
sempre suposto, não há sujeito, e o suposto Formações Clínicas do FCL-SP, 2005
saber, é o suposto ler de outro modo, o que
se inscreve no inconsciente. O analista lê o Lacan Seminário Identificação página 199
que se inscreve no inconsciente, não como “Se há, vocês sabem, algo a que se pode dizer que,
desde o início, o neurótico foi pego, é nessa armadilha;
uma cifra, mas como índice do real, como ele tentará fazer passar na demanda o que é o objeto
de seu desejo, de obter do Outro não a satisfação de
sua necessidade, pela qual a demanda é feita, mas a
88 Lacan, Jacques. Posição do inconsciente, p.858. In: satisfação de seu desejo, isto é, de ter o objeto, isto é,
Escritos. Rio de Janeiro, Zahar, 1998. precisamente o que não pode demandar. E isso está na
89 Idem. O seminário, livro 16: De um Outro ao outro,
origem do que se chama dependência, nas relações do
p.375. sujeito com o Outro. Da mesma maneira, ele tentará,
90 Ibidem, p.375.
91 Lacan, Jacques. O aturdido, p. 474. In: Outros

Escritos. Rio de Janeiro, Zahar, 2003.


92 Lacan, Jacques. O momento de concluir. Aula de 10 93 Milton Nascimento. Música: “Encontros e
de janeiro de 1978. Tradução de Jairo Gerbase. In: despedidas”.
www.campopsicanalitico.com.br.

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mais paradoxalmente ainda, satisfazer pela deve ao fato de que seu espaço interior e o espaço
conformação de seu desejo à demanda do Outro.” exterior são os mesmos. O sujeito, a partir disso,
constrói seu espaço exterior sobre o modelo da
Página 201, irredutibilidade de seu espaço interior.
“[...] que a propriedade do anel, enquanto simboliza a
função do sujeito em suas relações com o Outro, se

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________________________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

O tempo na direção do tratamento


Alba Abreu Lima
“O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente...” um rio que fluísse sempre para frente e de
Mario Quintana maneira uniforme – o tempo simplesmente
passa. Mas foi Albert Einstein quem
tempo em que vivemos introduziu o conceito de que o tempo e o
nunca esteve tão saturado

O
espaço não são coisas distintas. Com a teoria
de produtos. Produtos da relatividade, definiu que o mesmo
cada vez mais excedentes intervalo de tempo pode ser diferente para
e inventados pela força do diferentes observadores: o tempo, portanto,
capitalismo para é relativo para quem o está medido e não
condicionar os existe um tempo universal.
consumidores a possuir sempre algo novo, Freud – tão revolucionário quanto
sendo esse o modo que legitimaria a Einstein nas fronteiras do impossível -
personalização. É chegada a hora da desgraça também inventa sua ‘teoria da relatividade’
simbólica a que Freud¹ se referia em mal quando afirma que a realidade psíquica não é
estar na civilização: “por mais que se a realidade factual, mas depende inteiramente
assemelhe a um deus, o homem hoje não se do trilhamento significante deixado pelas
sente feliz”. marcas do vivido, que esperam um
A psicanálise vislumbra o perigo das acontecimento que lhe forneça sentido,
soluções rápidas e das respostas insuficientes retroativamente (Nachträglich).
apenas para responder o fluxo da tendência Ele não abordou diretamente a noção de
tanatológica, e o que é pior, nos quadros das tempo a não ser num sucinto e admirável
chamadas instituições psicanalíticas. ensaio de 1915, Sobre a transitoriedade, onde
O tempo sempre foi analisado como relata a conversa que tivera num passeio
um conceito relacionado à cultura na pelos campos italianos na companhia de
sociedade a qual pertencemos. Na mitologia Rainer-Maria Rilke e da amiga Lou-Andreas
grega, Cronos, deus do tempo, era Salomé. Na ocasião, conversavam sobre o
personificado na figura de um velho alado, caráter transitório da beleza das coisas e a
simbolizando sua rapidez; com uma foice, caducidade dos objetos e finitude da vida.
para representar seu poder destruidor e, O poeta fala do desejo de eternidade e
alguns artistas, colocam-lhe ainda uma Freud responde que é preciso retirar a
ampulheta na mão porque os antigos se libido dos objetos para ligá-la aos
serviam deste instrumento como relógio, substitutos. Freud não compreendia porque
para a medida do tempo. alguma coisa perderia seu valor, única e
Galileu Galilei se preocupou em exclusivamente devido a sua limitação no
medir e utilizar o tempo como uma maneira tempo. Para Freud, diferentemente de
de compreender a natureza: determinando Rilke, a transitoriedade implicaria não em
equações de movimento da queda dos uma perda, mas em um aumento do valor
corpos demonstrou que era possível prever do objeto em questão, pois a limitação da
os movimentos conforme o tempo passava. possibilidade de uma fruição elevaria o
Posteriormente, Isaac Newton construiu as valor dessa fruição. O diálogo ocorreu no
bases da física clássica, apresentando o verão antes de deflagrada a primeira guerra,
conceito de tempo absoluto, como se fosse como se Freud houvesse previsto os
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acontecimentos que se sucederam. Ele modula o tempo de acordo com uma


escreve²: operação que se desenvolve num tempo que
não é cronológico, mas de proposições,
“O valor da transitoriedade é o valor da obedecendo a uma lógica de circunstâncias:
escassez no tempo. A limitação da
possibilidade de uma fruição eleva o valor
instante de ver, tempo de compreender,
dessa fruição... A beleza da forma e da face momento de concluir. Na relação de
humana desaparece para sempre no alteridade, o sujeito adquire uma certeza
decorrer de nossas próprias vidas; sua antecipada sobre sua identidade em função
evanescência, porém, apenas lhes empresta de uma operação lógica de afirmação
renovado encanto”.
conclusiva. A partir daí, a clínica se aparelha
nessa modulação do tempo para a
No entanto, antes disso, em 1899, no
convocação ao saber na direção do
texto Lembranças encobridoras³, ele revela que
tratamento: o corte, a suspensão da certeza, a
as marcas mnêmicas podem ser reativadas,
pontuação do discurso interrompem os
independentes do tempo que tenha passado -
momentos em que o sujeito poderia concluir,
são as pegadas da erotização infantil,
para levá-lo a um trabalho de elaboração do
fundamentos da fantasia - e que persistem
insabido.
sob uma capa aparentemente insignificante.
Em Função e Campo da Fala e da
O que ele nos ensina com esse texto é que
Linguagem (7) Lacan retoma a noção de
uma cena esconde uma outra que tem raízes
sujeito que se constitui pela alteridade, em
fantasísticas, que recobrem o traumático
função do desejo e acrescenta, baseado no
edipiano.
texto de 1945, os efeitos técnicos do
Na Interpretação dos Sonhos(4), ele
tempo.
aborda um inconsciente atemporal e no
De início interroga os casos
mecanismo de esquecimento dos sonhos
freudianos e principalmente o prazo fixado
demonstra a possibilidade de intervenção do
para a duração do tratamento do Homem
analista a partir do levantamento do recalque,
dos Lobos porque no seu ponto de vista a
produzindo efeitos retroativos de articulação
antecipação do tempo, só pode ser
significante.
indefinida e, numa perspectiva dialética,
Passando ao tema da duração do
buscar a verdade do sujeito. Depois, ele
tratamento, Ele atesta em todos os
introduz a questão da duração da sessão: “o
trabalhos sobre a técnica, que na neurose de
inconsciente demanda tempo para se
transferência, moções pulsionais se repetem
revelar... mas qual é sua medida?”. Introduz
com a mesma força da infância, por conta do
aqui sua crítica à sessão de tempo
desejo indestrutível que não desgasta sua
cronológico, indiferente às tramas do
tessitura com o passar do tempo.
discurso. Ele então, se opunha a uma
Concluindo seu percurso em Análise
concepção psicanalítica extraviada e
terminável e interminável (5) discute
centrada na teoria do Eu, e acentua que,
exaustivamente a duração da análise, o que
qualquer tratamento que ofereça respostas
sobra de imutável no sujeito – algo que
à demanda do sujeito, só reforça o sintoma
estaria fora de tempo - apesar do longo
do paciente. Simplesmente porque não
período e da efetividade do tratamento no
existem respostas adequadas, já que o EU é
esvaziamento de gozo do sintoma e do
uma miragem, uma ilusão que precisa ser
destino da pulsão.
dissipada.
Sabemos que Lacan, desde o início se
Carmen Lafuente(8), em Heteridade
interessa pelo tempo articulando-o à
3: O tempo da psicanálise, recomenda aos
subjetividade. A partir do texto sobre o
psicanalistas que quiserem conhecer os
sofisma de 1945, O tempo Lógico(6) ele
efeitos da estrutura, que se debrucem no

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modo como se ordena o tempo na alíngua imobilizado e uma mãe atarefada com os
do analisante; assim como, na regressão, outros filhos.
que refaz o caminho até o trauma, Lacan (9), em Variantes do tratamento
passando pelos significantes da alienação, padrão, adverte que o analista quando acredita
para que se possa produzir uma operação saber, convertido em quem detém a
de separação. O que significa dizer que, o experiência, induz a construção de padrões –
tempo de uma análise depende do manejo tendo como resultado um “tratamento tipo”,
da transferência e seus avatares, num excluindo aqueles sujeitos que não
percurso que nada tem de linear. respondem à proposta formalista. Nesse
Ana inicia suas entrevistas, reticente: escrito fundamental, ele recoloca o analista
não sabe se fica com o analista de muitos em sua posição ética: “O analista, com efeito,
anos por já conhecer toda sua história ou se só pode enveredar por ela (psicanálise do
quer começar “tudo de novo” comigo. Fui particular) ao reconhecer em seu saber o
indicada pelo colega de trabalho como a que sintoma de sua ignorância”. De um
não dá “significações pessoais no tratamento, inconsciente como lugar estático e de sentido
não exige que o paciente venha todos os dias, obscuro tomado pelos pós-freudianos, faz
pague adiantado, ou que a sessão seja uma brotar uma concepção dinâmica, de um
tortura de 50 minutos” (palavras dela) sujeito representado pelo significante em
diferente de seu analista. Um dia chega no movimento a outro significante.
horário, senta e espera porque supõe que a Formatar o tratamento, fazer uma
placa na minha porta indicava para aguardar. reeducação emocional, norteado apenas na
Depois de um tempo, saio e pergunto por sugestão, sem lugar para o desejo, que é
que não bateu, já que a placa indicava que deixado transparecer na demanda, como
podia bater. Ela cai em prantos, pergunta Lacan evoca na Direção da Cura(10), a ponto
como posso ficar sozinha. Ao perceber a de fechar a boca e deixar a paciente no leito,
incoerência da pergunta diante do meu como pudemos observar no caso Ana,
silêncio, única intervenção possível (!) diz parece ser a preocupação de Marc Strauss na
que é assim na vida: acha-se inconveniente mesma revista Heteridade, no texto: As sessões
com os filhos adolescentes, com o marido, breves (10). Demonstrando o avanço dado por
com as poucas amigas, no exercício de Lacan desde A direção da Cura – a passagem
comando exigido pela profissão. Afirma que do imaginário ao simbólico – ao O Aturdito -
fala as coisas erradas, nos momentos mais passagem dos ditos ao dizer, ou seja, a
impróprios e relata um problema muito grave palavra como resposta de gozo à castração
que está enfrentando no trabalho... Diz que que leva o discurso no qual o sujeito está
ultimamente tem pensado em desistir de tomado, ele também propõe dois tempos
viver: “se não fosse o remédio não levantaria para a análise:
da cama”. Diante de uma pergunta sobre 1) tempo da elaboração fálica com
levantar da cama, relaciona que teve sessões de tempo variável, onde o sujeito
vergonha de falar ao analista de muitos anos ativa seu cenário, elabora, constrói,
com medo de ser “mal interpretada”, um testemunha sua historia;
fato que não é falado por ninguém da família, 2) sessões breves como o modo de
pois é motivo de muita vergonha para a mãe: alcançar o mais além dos ditos, apontando o
ela nasce quando seu pai já não tinha “como dizer em sua radicalidade, correspondendo
levantar da cama”. ao atravessamento da fantasia.
A partir daí relaciona sua Na pressa nossa de cada dia, as
cena infantil e o lugar enigmático que desde sessões breves não podem nos servir de
sempre respondia ao desejo do Outro – a padrão, sob o risco de voltarmos a uma
nostalgia de ocupar um lugar para um pai prática tão inexata quanto aquela denunciada

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por Lacan. Desta feita, invocando o tempo FREUD, S. Análise terminável e interminável. ESB,
lógico para justificar uma condução de v.XXIII, p. 241-287, v. XXIII. Rio de Janeiro: Imago,
1969
tratamento que nada teria de lógica... Melhor LACAN, J. (1945) "O tempo lógico e a asserção de
seria seguirmos Gil: uma certeza antecipada", in Escritos. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar: 1998
Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei Lacan, J. (1953). Função e campo da fala e da
Transformai as velhas formas do viver linguagem em psicanálise. Em Escrito. (pp. 238-324).
Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei... Heteridade 3
Lacan, J. (1955/1998) "Variantes do tratamento
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS: padrão", in Escritos, Rio de Janeiro, Jorge Zahar.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização (1932). In: LACAN, J A direção do tratamento e os princípios de
Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1977. seu poder (1958) in Escritos, Rio de Janeiro, Jorge
FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade (1915). In: Zahar.
Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1977. Heteridade 3
FREUD, Sigmund. Lembranças encobridoras (1899).
In:Obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Imago,
1977.
Freud S. - A Interpretação dos Sonhos (1900) – IN:Obras
Completas de S. Freud – vols. IV e V – Rio de
Janeiro: Imago –1977

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_________________________________________________▪ O tempo na direção do tratamento

O Tempo Lógico e a Duração da Sessão Analítica


Delma Maria Fonseca Gonçalves

historicização e uma temporalidade de


á uma diferença que desenvolvimento. Essa noção sustenta uma

H gera tensão, uma


separação

indivíduo
cerrada
entre o tempo do

sociedade e o tempo
na

do sujeito. O 1º muda
com o tempo. Os agentes sociais estão
prática ou um tratamento que deveria
conduzir o analisando a passar de novo pelas
opacidades ou fixações a supostos estádios
em uma pretendida regressão real. E ainda,
os psicanalistas da IPA, começando por
Freud, que se valem de um tempo
essencialmente simbólico, o tempo standart
sempre a dar coordenadas sobre como se das sessões de 50 minutos, fazem também
submeter ao tempo. Existem diferenças uma diferença fundamental com o tempo de
fundamentais entre as sociedades primitivas sessão variável estabelecido pela nova
e as modernas. Nas sociedades primitivas e concepção de inconsciente que nos trás a
rurais, o tempo tem uma construção evolução da teoria lacaniana.
cosmológica, inscrevendo-se nos ritmos da
natureza, nos rituais que escandem as Nessas afirmativas feitas acima, a
práticas sociais. Já nas sociedades modernas sociedade, a psicologia, os pós-freudianos
o tempo entra no registro da quantificação. desconhecem o significante e seus efeitos, o
Para o sistema capitalista no qual estamos sujeito dividido, o lugar do Outro, da
inseridos time is money. É um operador particularidade do objeto na pulsão, no
fundamental dos processos sociais de desejo e no gozo. Excluem também o que
produção e a rentabilidade da experiência do Lacan pôde formular a respeito da disjunção
tempo se interpõe ao sujeito. entre saber e verdade de onde procede o
discurso analítico . A ciência esforçou-se,
Há uma diferença fundamental entre desde sempre, para inventar os aparelhos
o tempo de todas as logias filosóficas – onto, mais precisos que assegurassem a
teo, cosmo e também psicologia e o tempo mensuralidade do tempo, mas para
do sujeito. psicanálise a exatidão nada tem a ver com a
verdade. Essa aponta a divisão do sujeito,
Há uma diferença fundamental e que com a concepção do inconsciente que vai
gera mal estar entre o manejo do tempo além daquele estruturado como uma
entre os lacanianos e o dos pós freudianos. linguagem, vai tocar no inconsciente como
Esses últimos imaginaram a noção de hiância, fenda, furo.
regressão temporal nos tratamentos,
fundamentada sobre a idéia prévia de um Sabemos que só o discurso do
desenvolvimento do sujeito, estabelecido psicanalista feito de imprevisibilidade,
por estádios, sucedendo-se no tempo, onde escanções e ato, restaura o poder de tocar o
fica permitido juntar uma temporalidade de inconsciente. Um tal despertar requer um

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outro manejo, inclusive do tempo, por ouviu? As escansões são, portanto próprias
trabalhar com uma concepção do para relançar a cadeia associativa na procura
inconsciente esvaziado de toda concepção da causa”
de conteúdo. Como Lacan nos indica no
seminário XI: ele é vazio, pura falha, ruptura Sabemos que Freud anunciou que o
e é o conceito de furo que subjaz a todos os inconsciente ignora o tempo, mas acentuou
efeitos e não o do UM. Ali onde buscava-se o efeito do nachtraglich, onde, o que não
os traços equívocos ou apagados em tudo pode ser lido, mas se inscreveu num 1º
que faz retorno do recalcado, onde reinava o tempo, deixando marcas e impressões, se
ciframento e deciframento que trabalham a decifram à posteriori, por intermédio de uma
favor do sentido, aqui acentua-se a nova inscrição.
estrutura de hiância. Em Radiofonia
(1968),Lacan diz que o ics se revela ser um Lacan, sem jamais abandonar essa
saber, mas um saber sem conhecimento- noção, vai introduzir o tempo no raciocínio
portanto se mostra como uma disjunção do psicanalítico às custas de um sofisma,
saber e da verdade. A letra está aqui em obtendo o que poderíamos chamar uma
detrimento do restabelecimento do sentido estrutura lógica do tempo, que passa a ser
latente. O mestre interessa ao neurótico, não cronológica. Em “O Tempo Lógico e a
mas não o surpreende, porque foraclui a Asserção da Certeza Antecipada” 1945, há
verdade. E é em direção da verdade que um embaraço que o sofisma dos três
uma sessão de análise se norteia , onde o prisioneiros produz, e esse, advém da
sujeito é surpreendido em sua divisão. O consideração de que o sujeito pode assentir
tempo de uma análise é o de uma algo como verdade, a despeito da falta de
transferência que se conta em tempo lógico. saber: - O diretor de um presídio chama 3
Talvez a implicação decisiva de se investigar prisioneiros e lhes diz :- Vocês são 3 aqui
o tempo em análise seja a determinação de presentes e tenho 5 discos que só diferem
momentos de passagem, onde o sujeito por sua cor:- 3 são brancos e 2 são pretos.
conclui com o Outro, pela posição onde Prenderei um disco nas costas de cada um
encontra-se só – uma verdade sobre o que o de vocês. Vocês não verão a cor do próprio
causa. disco, mas verão os dos dois companheiros.
O primeiro que puder deduzir sua própria
O compromisso ético do analista é cor se beneficiará com a medida libertadora.
com a existência desse inconsciente, seu Será preciso ainda que a conclusão seja
futuro depende de ser escutado e o manejo fundamentada em motivos de lógica e não
do tempo da sessão e a função do corte de probabilidade. Depois de se haverem
empreendido por ele, longe de serem um considerado entre si por um certo tempo, os
artifício técnico, ou uma coordenada de 3 sujeitos dão juntos alguns passos, que os
como se submeter ao tempo, situam-se levam simultaneamente à porta de saída. Em
como derivação lógica e necessária dessa separado, cada um fornece então uma
estrutura significante de hiância, furo, resposta semelhante, que se exprime assim:
buraco. É em nome dessa descoberta que
procuro, nesse breve estudo, a sustentação “Sou branco, e eis como sei disso. Dado que
teórica para a prática das sessões de tempo meus companheiros eram brancos , achei que , se eu
variável. Nosso colega Marc Straus diz em fosse preto,cada um deles poderia ter interferido o
Heteridade 3 que “uma vez que a sessão tem seguinte: ‘Se eu também fosse preto, o outro, devendo
uma duração variável, nenhum fim de sessão reconhecer imediatamente que era branco, teria saído
é “inocente”, eles são todos significantes: na mesma hora,logo não sou preto. E os dois teriam
“por que nesse momento? O que, pois, ele saído juntos,convencidos de ser brancos. Se não
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estavam fazendo nada, é que eu era branco como jogo o objeto. No sofisma dos prisioneiros,
eles. Ao que sai porta afora, para dar a conhecer a conclusão não depende da inter-
minha conclusão. Foi assim que todos três saíram subjetividade, mas da relação dos sujeitos
simultaneamente, seguros das mesmas razões de com o objeto “a”. Essa determina o tempo
concluir.” de concluir, momento onde uma
subjetivação pode-se realizar.
Ter êxito em concluir, a despeito da
falta de saber, foi este o problema colocado No seminário XX- 27 anos depois de
para cada um dos prisioneiros, onde cada ter escrito “O Tempo Lógico... Lacan diz:
um deve deduzir sua própria cor, que não “Se há alguma coisa que, nos meus Escritos, mostra
sabe qual, embora os outros dois saibam. que minha boa orientação, pois é aquela com que
tento convencê-los, não data de ontem, é mesmo que,
“ Cada prisioneiro hesita sobre sua própria logo depois de uma guerra, quando nada
conclusão, tendo medo de ser superado pelos outros, evidentemente parecia prometer amanhãs dourados,
caso não o faça rapidamente. Através dessa tensão escrevi O Tempo Lógico e a Asserção de Certeza
do tempo, vê-se que a certeza do sujeito equivale a Antecipada. Pode-se ler muito bem ali, se se escreve,
uma antecipação do julgamento assertivo, que se e não somente se se tem bom ouvido, que, a função
exprime aqui por um ato.” da pressa, já é esse “a” minúsculo que a tetiza. Ali,
valorizei o fato de que algo como uma
O tempo lógico, nos diz C Soler “é intersubjetividade pode dar com uma saída salutar.
o tempo necessário para produzir uma Mas o que mereceria ser olhado de mais perto é o
conclusão a partir do que não é sabido” que suporta cada um dos sujeitos, não em ser um
Toda a questão é saber como concluir onde entre os outros, mas em ser, em relação aos dois
há falta de saber . Então, essa lógica é que outros, aquele que está em jogo no pensamento deles.
sustenta a prática da sessão de tempo Cada qual só intervindo nesse termo a título desse
variável, e por isso não interessa à direção de objeto “a” que ele é sob o olhar dos outros. (...)Em
uma análise a exatidão do tempo, submetido outros termos, eles são três, mas na realidade, são
ao relógio, mas o tempo necessário para dois mais “a”. Esse dois mais “a”, no ponto do
produzir algo, um ato, onde há falta de “a”, se reduz, não aos dois outros, mas a Um mais
saber. “a”.( ...)é que funciona o que pode dar com uma
saída na pressa.”
O sofisma trazido por Lacan,
permite distinguir três partes, algo que Como podemos ver não se pode
conhecemos como o Instante de Ver, o pensar o texto “O Tempo Lógico e a
Tempo de Compreender e o Momento de Certeza Antecipada” sem se referenciar ao
Concluir. Primeiro um tempo instantâneo, ato, que só se dá pela intervenção do
seguido do tempo de compreender, que é de analista, quando descentra a demanda em
duração indeterminada, mas que tem que se direção ao que a causa, ficando do lado da
produzir, e a conclusão, que não é um novo relação do sujeito com o objeto “a”.
instante de ver, nem contemplação de uma “Tomados um a um , os sujeitos A,B,C , são
verdade, é o momento do ato, na medida em todos iguais e cada um diferente. A é o
que a certeza da conclusão se antecipa à sujeito real que vem concluir sozinho. Ele
realização. O corte da sessão, longe de está designa cada um dos sujeitos enquanto real,
acomodado ao tempo do capitalista, que só na medida em que é ele mesmo que está em
pensa em como rentabilizar o tempo, toca o questão e se decide ou não a concluir por si.
ponto em que o sentido escapa, como no B e C são os dois outros, na medida em que
momento de concluir, impedindo que o são objetos do raciocínio de A” (Erik Porge)
discurso se fixe aos significantes, pondo em Da mesma forma A é também objeto do
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raciocínio de B e C, que não são apenas competitividade, o sujeito fracassa como


objetos de A, são também sujeitos, desejante, para atender o que é exigido pelos
refletidos. A, pois, não é idêntico a A. Cada agentes sociais dessa época, ao preço da
um é ao mesmo tempo A e B / C. Mais: exclusão de sua subjetividade, único lugar
Cada um só é A se for ao mesmo tempo B e de onde pode produzir uma significação
C.” Cada um que decide é A, decisão nova, arriscar uma conclusão antecipada ,
advinda da pressa, de sua própria advir no exercício do seu desejo que o
subjetividade e não por submissão a uma transforma e o coloca como um fazedor de
coordenada simbólica , advinda do Outro. história. Ou como diz nosso colega Gabriel
Por definição, o objeto “a” não é só o que se Lombardi, fazer de sua hora marcada a
perde, mas também é algo que se produz no ocasião de um encontro com o inconsciente
ato de fundação do sujeito e no ato de real que o neurótico evita.
concluir. Temos a clínica do inconsciente
estruturado como uma linguagem que está BIBLIOGRAFIA:
submetida à temporalidade do a posteriori e 1- Lacan, Jacques “O tempo lógico e a asserção da
temos a clínica do inconsciente estruturado certeza antecipada” in Escritos JZE RJ 1998.
como furo, cuja temporalidade está ligada à 2- Lacan, Jacques “Radiofonia” in Outros escritos
antecipação que é o tempo lógico . Esse JZE –RJ – 2003
último se caracteriza pelo Ato, que como 3-Lacan, Jacques “O Seminário – livro XI O quatro
conceitos fundamentais da psicanálise JZE
vimos, antecipa uma conclusão onde falta 4-Lacan, Jacques “O Seminário – livro XX Mais,
saber, ou, produz uma conclusão a partir do ainda (1972-3)JZE RJ,1985
que não é sabido. Isso está na contra mão 5-Freud, Sigmund “O Projeto para uma psicologia
do tempo do indivíduo na sociedade , como científica” (1895) ESBRJ Imago 1969
dissemos no início desse texto. O mercado 6-Straus, Marc “O tempo do Ato” in Heteridade 3
IF/EPCL, 2004
um rompimento ou achatamento do tempo 7Soler, Colette “ Texto Inédito “ in Volume
lógico, onde Lacan vai exatamente analisar Preparatório para o V Encontro da IF-EPCL- SP
as condições que tem que se dar para que 8- Porge, Erik Psicanálise e Tempo - 1989 Cia de
uma subjetivação seja possível: Sem tempo Freud editora
de compreender , perdido nos imperativos
da rentabilidade, da produtividade, da

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

Espaço e tempo na experiência do sujeito do


inconsciente
Clarice Gatto
“A fala avança no escuro. O espaço não se estende, mas se escuta. Pela fala, a matéria está
aberta, crivada de palavras; o real ali se desdobra. O espaço não é o lugar dos corpos; ele não nos serve de apoio. A linguagem o
carrega agora diante de nós e em nós, visível e oferecido, tenso, apresentado, aberto pelo drama do tempo no qual estamos com ele
suspensos. O que há de mais bonito na linguagem é que passamos com ela. Tudo isso não é dito pelas ciências comunicativas, mas nós
sabemos muito bem disso com nossas mãos na noite: que a linguagem é o lugar do aparecimento do espaço”.
(Valère Novarina)

ou começar pela dificuldade, Já que nosso tempo é curtíssimo, farei


premida pelo tempo para breves pontuações a propósito de espaço e

V escrever... O título surgiu


primeiro “espaço e tempo
na experiência do sujeito do
inconsciente” e

encontro “Os tempos do


logo
estranhei já que o tema do

sujeito do inconsciente. A psicanálise no


tempo e em seguida, por meio de um
fragmento de um caso de histeria, assinalo
para a formação do sintoma por meio de
um dizer no âmbito da experiência do
sujeito do inconsciente.

O espaço: Kant, Lacan, Freud


seu tempo e o tempo da psicanálise” não Os conceitos de espaço e tempo
nos remete imediatamente a noção de são para Kant (1724-1804) “duas formas
espaço. Ou será que sim? puras da intuição sensível” (oriundas da
Na apresentação do livro preparatório sensibilidade, ou seja, da capacidade de
deste Encontro Josée Mattei cita de modo obter representações mediante o modo
interessante o livro Vous qui habitez le como somos afetados por objetos) como
temps. Descubro vários livros desse autor princípios do conhecimento a priori e não
editados em português, interessei-me da “intuição empírica” proveniente da
especialmente por um. Aí, começou uma experiência. Para Kant a posteriori é o que
outra busca, o livro está esgotado no Brasil, pode ser dado na experiência. Espaço e
depois de alguns dias a editora entregou um tempo são, portanto para ele a priori a
exemplar, belíssimo de Valère Novarina. qualquer experiência do sujeito. Isto quer
Pronto. Esse era o significante que faltava dizer que “o sentido interno mediante o
para a articulação que eu esperava. qual a mente intui a si mesma ou o seu
Diante da palavra94 do poeta me próprio estado interno, na verdade não
ocorreu a articulação que eu esperava: proporciona nenhuma intuição da própria
estava lá o tempo todo – inconsciente – alma como um objeto; consiste apenas
estampado no cartaz do Encontro: a banda numa forma determinada unicamente sob a
de Moebius, figura topológica por onde qual é possível a intuição do seu estado
Lacan demonstra a experiência do sujeito interno de modo a tudo o que pertence às
do inconsciente.

94 Novarina, Valère. Diante da palavra (1999). Rio de Janeiro: Sete


Letras, 2003.

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determinações internas ser representado


em relações de tempo”95.
Aqui Kant lembra Lacan, se é que posso
fazer essa articulação, por exemplo, no
Estádio do espelho como formador da
função do eu tal qual nos é revelado na
experiência psicanalítica. Lacan compara o
estádio do espelho como uma identificação,
no pleno sentido que a análise lhe confere,
ou seja, a transformação produzida quando
o sujeito assume uma imagem que vai da Fig.1: Figura modificada do Esquema de Lacan.
insuficiência a antecipação; revelando a
matriz simbólica em que o eu se precipita Lendo Lacan com Kant talvez
numa forma primordial antes de se possamos supor que o espaço é mesmo a
objetivar na dialética da identificação com o priori a toda experiência do sujeito, ou seja,
outro e antes que a linguagem lhe restitua, oriundo da “intuição sensível” caso
no universal, sua função de sujeito. contrário não seria possível Lacan cometer
(Encontramos também em Freud “a esse engano e mesmo assim afirmar
identificação como a expressão mais corretamente a experiência. Talvez,
primitiva de uma ‘ligação sentimental’ possamos aproximar os a priori kantiano do
(Gefühlsbindung) com uma outra que Freud denominou uma suposição
96
pessoa” .) Cerca de onze anos depois em “necessária e legítima da existência do
Observação sobre o relatório de Daniel mental inconsciente”. (Ficou essa questão
Lagache, de 1960, Lacan retoma o estádio para outro momento.)
do espelho e nos propõe uma reformulação Em O inconsciente97, de 1915,
do Esquema ótico de Bouasse para pensar no capítulo “características especiais do
a estrutura do eu ideal e do ideal de eu. sistema inconsciente” Freud resume: no
Auxiliada por um professor de física, Inconsciente há isenção de contradição
repetimos a experiência proposta por mútua entre os representantes pulsionais,
Lacan, e foi possível verificar que o espaço prevalece o processo primário (mobilidade
necessário para a criação da imagem virtual dos investimentos), não há negação, nem
ficou elidido no Esquema proposto por dúvida, nem grau de certeza, os processos
Lacan. O esquema abaixo (Fig.1) é uma inconscientes são intemporais, isto é, não são
figura modificada do esquema proposto ordenados temporalmente, não se alteram
por Lacan. O espaço vazio deixado entre a com a passagem do tempo; não têm
flor e o aparador, é o espaço da “intuição absolutamente qualquer referência ao
sensível” kantiana para o vaso (ou o corpo), tempo; e há substituição da realidade
de modo que a imagem do vaso (ou do externa pela psíquica.
corpo) possa de fato ser formada Com a ajuda do Aurélio – o outro
virtualmente e vista pelo sujeito, por meio mais popular do significante de nossa
do “espelho falante” do (grande) outro língua – encontramos tanto intemporal
quanto atemporal. Atemporal quer dizer que
independe do tempo, enquanto intemporal
quer dizer “não temporal ou transitório;
95 Kant, I. Crítica da razão pura. In: Os Pensadores. São Paulo:
Abril cultural, 1980.
eterno, perene”; “não temporal ou profano;
96 Freud, S. Psicologia das massas e análise do eu. In: Edição
Standard Brasileira das Obras completas psicológicas de S. Freud. Rio de 97 Freud, S. O inconsciente. In: Edição Standard Brasileira das
Janeiro: Imago, 1994. Vol. 18. Obras completas psicológicas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1994. Vol.14.

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espiritual”. Intemporal grosso modo é o que chamar Topologia, estudo dos espaços e de
deixa inscrição, vestígio, como assinala suas propriedades.
Freud no Bloco mágico; ou conforme Lacan na aula de 14 de janeiro de
formulou Lacan no Encore “não para de não 1975 de R.S.I. distingue que o nosso corpo
se escrever”. – presente no espaço – seja de três
O interessante nessa releitura do dimensões, é o que não deixa nenhuma
texto O inconsciente é a afirmação dúvida, já que, com esse corpo, a gente
contundente de Freud: “há ordem do pinta e borda; mas isso não quer
tempo” e esta é dada pela censura do sistema absolutamente dizer que o que chamamos
pré-consciente; quando escapa provoca o de espaço não seja sempre mais ou menos
riso! Ou seja, o acesso aos representantes plano. Há até matemáticos para o escrever
pulsionais, ou significantes como exprime com todas as letras: todo espaço é plano”99,
100
Lacan, passam por uma censura. É a esta . Lacan nos lembra também que
censura que se dirige a regra fundamental sabemos manejar muito mal qualquer coisa
da psicanálise da associação livre e as do Real que escapa esse espaço de três
formações do inconsciente. dimensões.
Somente em Achados, idéias e Jeanne Granon-Lafont em seu
problemas, de agosto de 1938, Freud se estudo da topologia de Lacan interroga
refere a Kant para abordar espaço e tempo sobre como podemos compreender tal
na relação com do sujeito do inconsciente. observação. Ela responde que o espaço em
Ele discorda de Kant. Ele escreve “O si não encerra a dimensão da profundidade,
espaço pode ser a projeção da extensão do a famosa terceira dimensão. É somente
aparelho psíquico. Nenhuma outra para aquilo que se encontra mergulhado no
derivação é provável. Em vez dos próprio espaço que, segundo seus
determinantes a priori, de Kant, de nosso movimentos que se desenrolam no tempo,
aparelho psíquico. A psique é estendida; vai existir um antes e um depois e, por
nada sabe a respeito”. Esse fragmento é extensão, um na frente e um atrás. Os
um verdadeiro achado e a banda de topólogos, tentando manipular esta
Moebius utilizada por Lacan nos percepção e suas ilusões, recorrem
demonstra esses determinantes a priori. classicamente a “metáfora da formiga”
presente na capa do seminário d’Angústia
O tempo, o dizer: a banda de Moebius de Lacan e desenhado pelo artista gráfico
Kant ainda trabalha no espaço da holandês Mauritus Cornelis Escher (1898-
Geometria plana, ainda que ele tenha sido 1970).
assim como Freud e Lacan um Imaginemos, comenta a autora, que
“instaurador de discursividade”. O espaço no lugar da formiga situa-se o sujeito em
da Geometria projetiva será descrito em análise. Este sujeito-formiga ou – os
meados do século XIX. Moebius em 1861 homenzinhos na fita da primeira divulgação
descobre a figura que passará para a deste Encontro – se desloca sobre a banda
posteridade, como nos informa Jeanne de Moebius, superfície plana com duas
Granon-Lafont98, a “banda de Moebius” e dimensões, que assim é definida na relação
suas superfícies uniláteras. O que era que mantém com sua vizinhança imediata.
“estudo do lugar” em 1679 com Leibniz
passa quase dois séculos depois a se
99 Lacan, J. O seminário: RSI, aula de 14 de janeiro de 1975, versão
pirata brasileira, s/d.
100 Cf. Kant em Sobre o primeiro fundamento da distinção de
98 A topologia de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar direções no espaço (1768), [tradução de Rogério Passo Severo], disponível em
Editor, 1990. http://www.ufrgs.br/kantcongress/sociedadekant/fundamento.pdf

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Por outro lado, diz ela, o horizonte, o nesse esquema Nasio propõe estabelecer
ponto onde a banda revira, pinça sua relações entre quatro conceitos lacanianos
torção, sempre na relação às vizinhanças que definem a realidade e os objetos
imediatas, é percebido como profundidade. topológicos respectivos. Das quatro
Ora essa profundidade – cria o plano proposições recolho apenas uma já que
projetivo – tem como medida o tempo que nosso tempo é curto, mas remeto vocês ao
a formiga levará para alcançar este ponto texto de Jairo que é muito interessante.
de torção, ao qual ela jamais chegará, uma Na primeira a demanda e o desejo
vez que tão logo o atinja, um novo são representados pelo toro. Na terceira, o
horizonte irá sempre se apresentar como significante e a cadeia, representados pela
terceira dimensão, como profundidade. garrafa de Klein. Na quarta, a relação do
O plano é o que se define como a sujeito e o objeto (a fantasia),
superfície de um quadro limitado por seus representados pelo gorro cruzado (ou
contornos, e o espaço pela percepção da cross-cap). Na segunda relação do sujeito e
profundidade. Trata-se do horizonte, o o dizer, a que recolhi para comentar por
qual sabemos não ser o limite, mas que meio de um fragmento clínico, está
topologicamente, se entende como o representada pela banda de Moebius.
tempo necessário para alcançá-lo. Então, indaga Jairo Gerbase, como dizer
O que é interessante é que será por que somos sujeito se somos dizer? Como
meio da experiência provocada pelo ser outro ou como haver transformação
movimento de torções, de cortes, de meias- pelo fato de dizer? A banda de Moebius
torções, etc., que se faz surgir “como um (Fig. 2) mostra o sujeito, suas peripécias.
vazio” o espaço moebiano ou plano Sua propriedade de ter um único lado se
projetivo. Isto tem, sem dúvida, um valor transforma se nela operamos um corte
fundamental para a experiência mediano. Não basta representar o sujeito
psicanalítica. A experiência do vazio, do no espaço é preciso também o ato de
buraco, certamente, pode ser aproximada cortar. O ato de dizer é da mesma ordem, o
da experiência da angústia – que é mediana significante fende o sujeito em dois: o
entre gozo e desejo, como assinala Lacan – significante simultaneamente representa o
vivida, pelo sujeito na análise. É curioso, sujeito e o faz esvaecer102 (apagar-se).
dependendo da condição econômica de
nossos analisantes, podemos ouvir aqueles
que dizem parecer estar em uma montanha
russa ou aqueles que parecem estar em um
trem descarrilado! Eis aí a experiência
subjetiva da banda de Moebius que a
psicanálise revela. Como o psicanalista
pode se servir dela? Por meio, claro, da
promoção da associação livre do lado do
analisante e da interpretação e do ato
psicanalítico do lado do analista.
Jairo Gerbase na aula de 12 de maio
de 2000 de seu seminário Clínicas de nós de
toros - comentários101 faz um resumo do livro
J.-D. Nasio Monstration et Topologie, de 1983;

101 Gerbase, Jairo. Clínicas de nós de toros - comentários, aula de 12 102 Lacan, J. Seminário: A topologia e o tempo, aula de 15 de maio de
de maio de 2000, disponível em www.campopsicanalítico.com.br. 1979. Edição fora de comércio.

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Fig. 2 – Banda de Moebius inteira e cortada ao meio

Fragmento de um caso de histeria e a minha responsabilidade fazer o


formação do sintoma experimento do começo ao fim, não tem
“Hoje estou muito feliz! Escuta só! porque não fazer...”
Fui designada a conferir os microscópios Ela se espanta e indaga: “como
do setor de produção para padronizar o pode, doutora, um dizer modificar o que
controle de qualidade dos testes de AIDS éramos?”
que o Brasil exporta para diversos países. Esse dizer, esse modo de bem-dizer o
Era muita responsabilidade e eu tremia dos sintoma – testemunhado por meio da
pés a cabeça, não pela função para a qual transferência na experiência psicanalítica –
fui designada porque eu sabia fazer, mas se chama interpretação, diz Lacan103, e tem
porque teria que voltar naquele setor que relação com o desejo do sujeito do
gerou todos os problemas que me inconsciente.
trouxeram aqui há dois anos atrás...” Como diz o poeta: “O que há de
Essa moça de vinte e poucos anos, mais bonito na linguagem é que passamos
bonita, prossegue descrevendo-se por meio com ela. Tudo isso não é dito pelas ciências
de uma imagem (significante), aquela que comunicativas, mas nós sabemos muito
ela preparou desde a noite anterior para bem disso com nossas mãos na noite: que a
ocupar o lugar que lhe foi designado e ao linguagem é o lugar do aparecimento do
qual ela temia não saber se poderia ocupar espaço”.
na hora marcada.
“Fui bem bonita, coloquei meu
salto mais alto, meu melhor terninho, me
maquiei, coisa que nunca faço... Eu e um
outro colega começamos a tarefa, eu tremia
tanto que o colega me sugeriu fazer
somente parte do experimento. Neste
instante me senti igual a uma formiguinha,
humilhada, diminuída como se fosse
literalmente cair... Lembrei-me do saltinho
fino (risos) e me senti poderosa, então
respondi lentamente a ele: de jeito algum, é 103 Lacan, J. L’etourdit. [Tradução de Isidoro Eduardo Americano do
Brasil]. Edição fora de comércio.

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

Um novo tempo para o sujeito que se dá a partir do


enfrentamento do real existente no intervalo
significante
Robson Mello
conceito lacaniano sobre Ao se apoderar dos seus objetos
o sujeito nos orienta internos ou externos, a libido circula de

O quanto ao fato de que há


algo da ordem da
inconsistência e do não-
todo. Jacques Lacan nos
remete à linguagem, e às
marcas que dela
decorrem, para nos dizer que o sujeito é tão
uma marca simbólica a outra, e percorre
toda a cadeia significante presente no
inconsciente.
Quanto mais o tempo do sujeito for
aquele que possibilite esse trânsito, na
associação livre, tanto mais serão os
momentos oportunizados para o
somente da ordem da representação. O surgimento do seu desejo e da sua verdade.
sujeito é representado por um significante A verdade do sujeito está
para um outro significante. Desde já há, aí, intimamente ligada ao recalcado. E, dessa
algo que é da ordem de um tempo que é o verdade, nada ele quer saber. O recalcado –
tempo do advir, tempo da castração, tempo marca significante que guarda consigo o
da relação imaginária e tempo de uma tempo do real da angústia – existe e insiste
verdade que se deixa surgir a partir da por um lugar na consciência. O S1 e S2,
suposição de um saber. Ele nos remete ao agora, podem ser interpretados como o
fato de que o sujeito, mesmo, existe no tempo do antes e o tempo do depois para
intervalo existente entre os significantes S1 um ser que se põe a falar sob os efeitos da
e S2 e que, portanto, o registro do real transferência analítica. O tempo do sujeito
sempre aparece e opera como um índice do é, também, o tempo de uma decisão entre a
tempo existente no inconsciente. O sujeito vida e a morte.
é, logo, o resultado de uma significação que Quanto mais o sujeito falar das
se deu a partir do encontro com o indizível marcas da linguagem da sua história
do real apresentado pelo Outro. amorosa, tanto mais serão as suas chances
Apropriamo-nos da teoria freudiana para um novo tempo, agora já não mais tão
para dizer do inconsciente correlato a uma amarradas ao aspecto psicopatológico do
trama – contendo muitas redes e sintoma. S1 e S2 podem ser identificados,
entrecruzamentos por onde, então, aqui, enquanto tempo do sintoma do
encontraremos marcações significantes por sujeito num dado momento antes da
onde a libido transita. A rede é tecida a análise, e tempo em que esse mesmo
partir da linguagem que vem do Outro, e sintoma se desdobra em sintoma analítico
que, por ser assim, marca um tempo para o que, endereçado à figura do analista, vai
desejo. O tempo para o sujeito começa a para muito além dela.
ser contado, portanto, a partir do encontro Com isso, podemos falar, então,
com o S1 (mãe), seu marco zero, e ainda na que o outro nome da repetição diz respeito
infância. Tempo que é sempre infantil.

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ao fato de não querer aceder às regras da cotidiana para o tempo do S2 = realidade


associação livre sob o vetor transferencial. subjetiva.
É a linguagem que possibilita a O lugar do sujeito é mesmo o lugar
codificação do sintoma, e é ela, também, do real. O conceito de sujeito se liga à
que possibilita a sua decodificação, seu resposta que o falante dá quando do seu
deciframento sob análise. Temos, aqui, encontro com o indizível do registro do
portanto, o tempo do sujeito face a duas real amparado pelos efeitos da linguagem.
possibilidades: o tempo do sintoma (S1) e o O seu lugar diz do intervalo significante
tempo do deciframento significante (S2). que é marcado pela castração em seu viés
Esse intervalo diz da passagem do com o Édipo. O tempo do sujeito é
não querer saber da verdade inconsciente marcado no vir-a-ser, no vazio e no só
ao ato da livre associação significante depois significante.
amarrado ao desejo de saber. O interrogar- O falante inaugura o campo do
se sobre o porquê de um determinado novo a partir do ponto em que ele se põe
significante estar representando o sujeito disposto a decifrar o conteúdo recalcado
para um outro sujeito faz com que o que tanto o assola e o faz padecer. O
falasser se descole do lugar de submissão campo do novo se encontra enquanto uma
frente à marca significante e, então, virtualidade presente desde sempre na
podendo olhá-la, agora com outros olhos, relação que se estabelece entre um
ressignificá-la, oportunizando um lugar inconsciente para outro inconsciente. S1 =
para o seu desejo e para a verdade na sua inconsciente do analisante, S2 =
vertente mais radical e singular. Essa inconsciente do analista constituído a partir
retificação subjetiva, que é promovida em da experiência e do saber extraídos de sua
análise, faz alterar a relação do sujeito com própria análise → Sn = cadeia de
o objeto, produzindo, assim, uma relação significante sob efeito da associação livre
de causa de desejo. Revela-se, pois, que o conduzida pelo analisante a partir da sua
Outro em questão é mesmo, e antes de fala.
tudo, o inconsciente. S1 = lugar do Só o tempo próprio à análise – com
analisante para o tempo do S2 = o corte que faz separar o sujeito do
surgimento do analista. significante do seu gozo repetidor – é capaz
A possibilidade de que o sintoma de fazer com que o Outro do S2 possa cair
do sujeito possa vir a se estabelecer e, então, o sujeito possa se descobrir ante
enquanto sintoma analítico somente poderá ao recalcado que, agora, se faz novo a partir
ocorrer a partir do ponto em que o falante, do deciframento do sintoma que sempre se
na relação analisante-analista, sob o vetor fez seu parceiro. Resta tão somente ao
da transferência e em livre associação, sujeito, agora tendo como parceiros o resto
endereçar o seu sintoma para um outro do seu sintoma, a sua verdade, o seu desejo
significante, que ele cria – o significante e a sua castração. No lugar de um Outro,
que marca o lugar do Outro enquanto lugar que agora é inexistente, e para o qual ele
de suposição de um saber: lugar do analista. sempre se dirigiu, o sujeito põe, com sua
Será essa mesma posição, enquanto capacidade criativa, se quiser, a causa
significante de sujeito suposto saber, que, analítica e a Escola de Psicanálise orientada
ao instituir o lugar do Outro da vida por Freud e por Lacan, que possibilitará o
amorosa para o analisante, o faz lançar ao surgimento das trocas entre seus pares, das
Outro do inconsciente. Podemos, então, formulações, do estudo, e também dos
dizer que o outro nome do S1 – S2 poderá impasses. S1 = transferência analítica ao S2
ser analisante-analista! S1 = realidade = transferência de trabalho. Mas, mesmo
sendo assim, e exatamente por isso, revela

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algo do resto significante com o qual todo função de um significante que um dia foi
sujeito tem de lidar em sua vida. O que estranho recalcado, e hoje é da ordem do
fazer com o resto no âmbito da solidão que familiar e do consciente; da transformação
toca na verdade do sujeito. Para onde do sintoma banal para o sintoma analítico;
destiná-lo ? A Escola o acolhe e o recebe das verdades à verdade do sujeito frente à
sob os nomes da verdade de cada sujeito e vida, ao sexo, e à morte e do deciframento
de sua castração, que, agora, se desdobram do sintoma. Abre-se para o ser falante uma
em produção e trabalho. A Talvez a Escola nova relação com o objeto faltoso. O novo
possa vir representar, mesmo, o quão difícil surge a partir das marcas simbólicas que ali
é para o sujeito lidar com o tempo para que sempre estiveram presentes, e que, sob a
se fique só e, ao mesmo tempo, ratificar força da transferência analítica, e do desejo
seu mais radical tempo de solidão e decidido do sujeito.
desamparo frente ao outro. Daí vermos a Novo que diz do fato de o sujeito
solidariedade como fator tão valioso na ter conseguido fazer a reescritura da sua
Escola de Lacan. S1 = solidão do sintoma vida. S1 = texto sintomático para S2 =
analítico ao S2 = solidão da sua verdade texto novinho em folha. Assim sendo, o
com seus pares. sujeito o escreve, reescreve, pontua, resume
O novo que surgiu toca no ponto para ao final intitulá-lo. Reintitula-o, agora,
que diz de um retornar daquilo que ali ao seu modo e estilo próprios.
sempre estivera, a saber, o sujeito com a A cada ida e vinda de um
sua verdade inconsciente, e que agora significante a outro significante há uma
ambos encontram solo para germinar no perda: perda de gozo, perda de parte do
campo fértil da Escola, da Comunidade sintoma que se fixa ao significante. Perda
Analítica de Escola. Espaço onde o bem- de parte de si mesmo que se desdobra, ao
dizer da experiência transmitida de um ao final, no mais puro ganho.
outro se dá com alguma sintonia àquilo que
se fala e se escuta.
O novo tempo virá em função do
circular da libido de um ponto ao outro, em

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

Tempo e sintoma
Andréa Hortélio Fernandes

esde Freud, podemos No texto “Os caminhos da


afirmar que a noção do formação do sintoma” (1916) Freud declara

D sintoma está associada à


noção de tempo na
psicanálise. Lacan retoma
a lógica freudiana ao
afirmar, no Seminário
R.S.I., haver “consistência
entre o sintoma e o inconsciente” , donde o
que “os sintomas criam um substituto da
satisfação frustrada, realizando uma
regressão da libido a épocas de
desenvolvimento anteriores, regressão a
que necessariamente se vincula um retorno
a estádios anteriores de escolha objetal” .
Esta passagem atesta a transferência,
sintoma é uma das manifestações dos entendida por Lacan, como trazendo uma
tempos do sujeito do inconsciente. O tema reatulização da realidade sexual do
do sintoma leva Freud a declarar que, com inconsciente.
o passar do tempo, o sujeito descobre que As dificuldades do manejo da
fez ‘mau negócio’ ao optar pela neurose. transferência vão ser tratadas por Freud em
Daí surge à questão central que buscamos “O estado neurótico comum” (1916).
tratar neste artigo: é dentro da lógica Freud adverte, então, das dificuldades que
temporal do inconsciente que o sujeito o analista deve encontrar já que o sintoma,
pode vir, graças ao manejo da transferência, como formação substitutiva, traz um ganho
a lidar com o que persiste do real sexual, secundário para o sujeito. Poderíamos
sempre traumático, no seu sintoma? Para dizer, com Lacan, que o sintoma apresenta
responder esta questão vamos retomar o em si um mais de gozar que se sustenta na
caso Dora tal qual ele é retomado por fantasia do sujeito.
Lacan. Nesta evolução da técnica
Nos primórdios da psicanálise, o psicanalítica vemos que “o analista
interesse de Freud pela etiologia das abandona a tentativa de colocar em foco
neuroses leva-o a afirmar que “as diferentes um momento ou um problema específico”
neuroses têm seus requisitos cronológicos , não é esta a lógica temporal do
particulares para suas cenas sexuais”. inconsciente. A psicanálise, com Freud, vai
Estamos aí frente ao real sexual sempre buscar superar os empecilhos para a
traumático, conforme a teoria lacaniana. associação livre contando que o sintoma
Ao longo da obra freudiana, Freud vai seja possível de ser traduzido, como se
dando-se conta do dispêndio de energia fosse possível pensar que há Outro do
gasto pelos sujeitos, ao longo dos tempos Outro, deixando de lado no manejo da
da neurose, na manutenção dos sintomas. transferência, o matema do significante que
Defende que o maior dano causado pelos falta no Outro. A partir dos anos setenta,
sintomas “reside no dispêndio mental que Lacan vai dar as coordenadas de como
acarretam” . Nesta época, o sintoma trabalhar a dimensão do real e isto abarca o
entendido como uma satisfação substitutiva tratamento das questões relativas ao tempo
vai orientar a técnica psicanalítica a lidar e ao sintoma na prática analítica.
com os tempos do sujeito do inconsciente.
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Freud nos ensina que, com o passar Dora experimenta no lago. Tal
do tempo, o sujeito descobre que fez um reatualização evidência “a raiz da pulsão
mau negócio ao optar pela neurose. De escópica” que deve ser pega, nos diz Lacan
acordo com Lacan, a experiência no Seminário XI, retomando Freud, “no
psicanalítica deverá levar o sujeito a se fato de que o sujeito se vê a si mesmo”.
confrontar com o objeto que ele fora para Uma ressalva importante, o sujeito não se
o Outro. Alcançamos então uma a- vê no espelho, mas é “a sexualidade como
temporalidade do inconsciente, na qual o tal faz retorno, [...], por intermédio das
objeto a será de fundamental importância pulsões parciais”, no caso de Dora pela
para pensar os três tempos lógicos pulsão escópica.
envolvendo o instante de ver, o tempo para A circularidade da pulsão ao
compreender e o momento de concluir. É mostrar que “a heterogeneidade da ida e da
dentro desta lógica que a psicanálise volta mostra no seu intervalo uma hiância”
passará a tratar o sintoma. revela como a sexualidade faz retorno no
Utilizemos aqui do exemplo de Dora para sintoma. A hiância aponta para dimensão
tratar deste tema. da falta tanto para o sujeito como para o
Tudo funcionava bem na vida da Outro. Neste percurso, o sintoma surge ali
jovem de 18 anos até que ela se descobre onde “a representação do Outro falta,
fazendo parte de um agenciamento precisamente, entre esses dois mundos
amoroso no qual ela era oferecida ao opostos que a sexualidade nos designa
marido da suposta amante de seu pai. Dora como masculino e feminino”. Logo, para
acredita que o comércio sexual além de uma habilitação ao amor seria
empreendido está na origem do seu mal- preciso levar Dora a poder lidar com a sua
estar. Entretanto, seus sintomas divisão subjetiva, vislumbrada pela hiância,
denunciam como ela participa do mal-estar pela falta que se instaura no cerne do
do qual se queixa. Absorvida pelo enigma sujeito.
da feminilidade que lhe causa horror, Dora Como sabemos nos anos 50, Lacan
fica, durante duas horas, fixada frente a um vai enfocar, sobretudo, a sua tese do
quadro da Madona Sistina, de uma galeria inconsciente estruturado como uma
de Dresden. O quadro, tal qual a Sra K., a linguagem e vai partir da premissa do
captura pela brancura da pele ou pelo significante como causa do sujeito. Mas já
“adorável corpo alvo”, que segundo Freud neste período, Lacan vai construindo a
teria uma “tônica mais apropriada a uma elaboração de que o sujeito é causado por
amante do que a uma rival” . Freud vai um objeto. Tanto que em 1960, ele já fala
insistir em tratar o caso Dora habilitando-a que “a relação do objeto com o corpo”
à vida amorosa. Com Lacan, podemos revela “que esse objeto é protótipo da
dizer que Freud estaria aí tamponando a dotação de sentido do corpo como pivô do
falta-a-ser com objeto de amor. ser”. E em 1975, ele diz que “o sujeito é
Entretanto, o que nos interessa no causado por um objeto que só é notável
nosso esforço de aproximar o tempo e o por uma escritura e é assim que um passo é
sintoma, é em que medida a pulsão dado na teoria... objeto que designo, que
escópica revela estar Dora, enquanto escrevo com a escritura pequeno a, e da
sujeito, capturada neste instante de ver. No qual nada é pensável, com o senão apenas
episódio do lago com o Sr K. Dora de que tudo que é sujeito, sujeito do
experimenta algo similar, pois o Sr K. ao pensamento que se imagina Ser, é por isso
declarar que sua esposa não significa nada determinado.
para ele, deixa Dora frente a frente com a Apoiando-nos na “consistência
Sra K. A cena do quadro reatualiza o que entre o sintoma e o inconsciente” vamos

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tentar dar prosseguimento na nossa tempo para produzir uma conclusão a


elaboração acerca do sintoma como um partir desse algo que não está sabido,
marcador lógico dos tempos do sujeito do incógnita, “cálculo sobre o objeto a”,
inconsciente. Voltaremos ao Seminário XI, momento de concluir, cálculo de gozo”.
na tentativa de articular as duas causas do O manejo da transferência ensejará
sujeito: significante e objetal. Neste o tempo de compreender e o momento de
seminário, Lacan diz que o fechamento e concluir. No caso Dora, Freud declara não
abertura do inconsciente mostra que “a sua ter sido “possível dominar a transferência a
essência é de marcar esse tempo, pelo qual, tempo” e termina por antecipar-se com o
por nascer como significante, o sujeito seu saber criando dificuldades para manejar
nasce dividido”. Com a ressalva de que “o com os tempos do sujeito do inconsciente.
sujeito é esse surgimento que, justo, não era Ele sobrepuja o momento de compreender
nada, mas que, apenas aparecido”, pela ao instante de ver, e acaba sem levar em
extração do objeto a, “se coagula em conta a queda do objeto a olhar que causa a
significante” . afonia em Dora.
De acordo Dominique Fingerman é Deste caso podemos extrair que
preciso tempo para se chegar à conclusão para que uma psicanálise aconteça de fato é
de que a falta é causa. Para ela, “é nesse preciso levar em consideração que “o
ponto a, nesse momento de concluir que se sentido do sintoma depende do futuro do
detém o sujeito à deriva, em fading nas leis real. Tudo depende que o real persista ” e
de combinações significantes, é dessa que haja um analista para manejar com isso.
referência ao ponto a que provém a
permanência do sujeito, sua a-
temporalidade”. Ela diz então ser preciso

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

El pâtir y el bastir del tiempo


Diego Mautino
«L’eterno orologio a polvere dell’esistenza viene sempre di nuovo capovolto,
e tu con esso – granello di polvere dalla polvere venuto» .

ace aproximadamente
2.500 años, Aristóteles

H
El tiempo precipitado de la sorpresa
había ya analizado el “Freud es el primero en articular con
problema del tiempo audacia y potencia que el único momento
advirtiendo que el de goce que conoce el hombre está en el
tiempo era la medida del lugar mismo donde se producen los
movimiento en la fantasmas.”
perspectiva del antes y La sorpresa es el efecto de tiempo
del después. Y es esto lo que todavía en la experiencia del sujeto “sobrepasado”
hacemos hoy: por los eventos que, abriendo un más allá,
medimos el tiempo con relojes que tienen ponen en juego su división. El chiste, el
un movimiento periódico. Esto responde a lapsus, el sueño, evitando el encuentro del
la lógica del péndulo e induce a pensar que inconsciente con lo real, testimonian una
si no hubiese rozamiento, continuaría destitución del sujeto en su dominio y
oscilando hasta el infinito. En cambio el comparten con el acto, sea su inscripción
movimiento se atenúa y llega al reposo, se en un lazo social que el hecho de responder
dice: es por efecto de un ‘punto atractor’ a una temporalidad de división del sujeto.
(en los últimos años se descubrieron los ¿Cómo distinguir esa temporalidad efímera
atractores fractales) . ¿Funcionaría como el de aquello que, en cambio, se impone por
punto en una frase? Pero, ¿qué es lo que su constancia y su insistencia: el síntoma?
señala el antes y el después? Aristóteles no Un sujeto que calcula con el
respondió a esta cuestión. predominio del inconsciente , compete con
Lacan dice que dejando el alma como la
identidad supuesta al cuerpo y el intelecto velocidad y converge con la hipótesis que la
como agente de la función simbólica, prisa está implicada tanto en la emergencia
Aristóteles “no había gozado” de la de la verdad como en la eficacia de la
revelación cristiana (la encarnación de interpretación. Eficacia que, respecto al
Dios en un cuerpo y la pasión sufrida en síntoma [“se interpreta correctamente solo
una persona constituyendo el goce de en función de la realidad
Otro), dejando desconectada la palabra del sexual” ], apunta a la coalescencia entre
goce. ¿Porqué una frase termina? ¿Porqué lalengua y el encuentro con el goce primero
algunos sujetos son convocados por los – dos heteridades distintas.
efectos de ‘frases interrumpidas’? Freud Coalescencia en la que precipita un
inscribe la deriva [Trieb] del goce en la objeto cuya presencia nos ilustra la obra de
hiancia de la dit-mension. Decir y medida, arte, en lo que el enigma del tiempo escribe
en el “cuerpo hablante”, conectan al goce en el reloj de arena con la fuerza del estilo –
che Lacan condensa en la fórmula: “Donde el duro Dürer9 y tantos otros… «¿Cómo
eso habla, goza” . se imprime el tiempo en la materia? En

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definitiva esto es la vida, es el tiempo que Nuestra época: Los discursos epifánicos
se inscribe en la materia…»10 ¿Cuáles son Terminado el tiempo del poeta
los modos de presencia de ese objeto, con maldito, nuestra época no cesa de producir
función de agente en el acto analítico, en la figura del poeta nuevo, solitario,
las diferentes versiones del patir y del bastir anacrónico, contra corriente del amo. Hoy
del tiempo? en día los poetas ya no son malditos, la
a-tiempo singularidad poética es simplemente
El amor de transferencia demanda ignorada. Razón para volver a pensar la
el saber en cuanto objeto. Lacan nota que subversión, en la que «el sujeto se hiende
la escritura del mathema de la transferencia por ser a la vez efecto de la marca y soporte
inscribe el sujeto supuesto saber debajo de de su falta». Subversión que no se sostiene
la barra, “en el lugar del referente [objeto] cuando el significante amo regula los lazos
aún latente”. Esta frase anuncia una establecidos desde el lugar del agente. Con
sustitución y un efecto de tiempo: donde el declino o la fragmentación del
era el SsS advendrá el objeto y esto no significante amo en el capitalismo la
impide que el SsS funcione desde el inicio excepción divergente ha cambiado valor.
como un objeto, no el mismo, sin embargo Entre los fenómenos que aspiran a la
que el a-venir: lo que el objeto a coordina restauración, las sectas y las lobbies son el
di una experiencia de saber. Los modos de paradigma. El efecto de aburrimiento
presencia de ese objeto en la experiencia frente a la homogenización y a estas
pasan: aspiraciones de restauración, dan hoy una
1. en los hilos de la metonimia que mayor apertura al discurso singular y
‘hilvana’, embaste [bâtir] un hábito, singularizante.
compone un hábitat, una casa [Heim], una Cuestión social y clínica (política)
patria [Heimat], un secreto (familiar) estudiar y saber lo que valen en cada caso,
[heimlich], lo siniestro [Unheimlich]. los lazos fundados sobre suplencias otras
2. en la angustia de «este extraño ser que que el padre. Volcar todo en la gran caja de
atraviesa el tiempo y que en su lucha con la las psicosis, no hace avanzar la cuestión.
Nada es llamado a otras dos pruebas «¿Qué es por ejemplo lo que caracteriza el
inevitables: la duda y el dolor». lazo social singular que Joyce ha logrado
3. el acto que, con la angustia, es el segundo establecer con sus solas fuerzas discursivas?
modo de la certeza que se presenta en la Que la cuestión se ponga para él no nos
experiencia, mientras que lo siniestro exime de considerar come se plantea para
[Unheimlich] permanece del lado del cada discurso no establecido.» Un discurso
enigma. Desde el primer tiempo del enigma es un lazo social fundado sobre un decir y
[pâtir] de no saber, al segundo tiempo del les affaires d’amour están escindidos de los
bastir [bâtir] incluso del ‘bastar’ de la lazos sociales establecidos. Colette Soler
certeza – que en la angustia es certeza que propone un ternario entre los lazos: 1.
surge frente al deseo del Otro: «Il faut, Discursos establecidos, 2. Forcluidos o
falta… es necesario el acto que produzca ‘fuera discurso’ de la psicosis tipo y 3.
en lo real el significante [del acto]» . «Discursos epifánicos: lazos sociales no
Entonces, no podemos situar la muerte establecidos, o sea discursos que se
como el acto final. Desde la sentencia de autorizan de un decir contingente para
Nietzsche: “Dios ha muerto”, antes de establecer durante un tiempo, y para
llegar al discurso establecido, “Dieu se algunos, un lazo que no está en el programa
retire” y desde su reserva un [poeta] ser de los discursos establecidos.»
devorado por los versos escribe: “solo
santos efímeros me protegen”.

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Repetición y preterición que insertó en lo real lo que elabora cada


El Otro produce efectos sobre lo una, a saber, ese tiempo propio del campo
real del viviente: como el deseo, que genera que analiza, el que alcanzó Freud al decir
el objeto causa. La elaboración en términos que era repetición.» La repetición en acto
de saber determina la causa, porqué no cesa empasta, anacrónica, la diferencia llevada al
de reproducir el efecto de pérdida significante. El acto quiere decir: «Lo que
significante, produciendo la caída del fue, repetido, difiere, y se hace sujeto de la
objeto – medio de producción que no se reiteración [devenant sujet à redite].»
cierra como saber sobre la causa. En el El patir del tiempo en la subversión
discurso analítico, la temporalidad de la significante, convoca el sujeto a una cita
producción del sujeto en su estructura de con el bastir del tiempo en la repetición del
impasse, encuentra en la repetición del impasse. «La preterición que contiene es
impasse, ocasión para producir un [a- cosa muy distinta de ese mandamiento del
tiempo] objeto que, por esa hendidura, pasado con que se la vuelve fútil» .
toma su función de causa para el deseo. El La preterición dice que el
sujeto se encuentra así de nuevo en el nihil significante que se repite no se hereda de la
del impasse (hendido por ser efecto de la experiencia primera y asegurando esa
marca y soporte de su falta) reproducido a pérdida en la repetición… empuja a decir,
partir del supuesto sujeto saber. Sea cual aún.
fuere el número y el modo de las
elaboraciones «…cada una de estas
operaciones es ya el cero producido por lo

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

“Smut” freudiano e a-temporalidade no chiste


Maria Teresa Guimarães de Lemos
omeço pelo chiste. Alguns unificação, que faz parte das técnicas de
amigos conversam numa deslocamento. Há um desvio súbito no

C mesa de bar. O assunto?


Problemas causados pelas
mulheres. Por fim, um deles
exclama: “Pois é... e sexo
que é bom, só uma vez por
semana”. O segundo se
espanta. “E você ainda reclama? Lá em
curso do pensamento: de repente, a ênfase
psíquica é transferida para um outro
sentido que não o promovido inicialmente
mas devido a unificação esse deslocamento
não se torna imediatamente reconhecível,
há uma “falha lógica” que só aparece
depois. E qual é ela? Os termos todo dia,
casa é uma vez a cada quinze dias!”. O uma vez por semana, a cada quinze dias,
terceiro suspira: “Vocês têm sorte: comigo uma vez por mês e hoje aparentemente
é uma vez por mês”. De pé, no balcão, um pertenceriam a uma mesma classe
homem silencioso acompanha a conversa semântica, algo como “expressões
com um sorriso nos lábios. “E você, temporais”, entretanto, o termo “hoje”
porque tá rindo? Com certeza deve transar produz um corte e um deslocamento na
todo dia”. “Não” responde o sujeito, “em cadeia, por revelar-se de natureza diversa
absoluto... é de dez em dez anos!”. “Mas, das expressões anteriores (estas
então, porque o sorriso?”. “É hoje!”. Este constituindo o que Freud chama de
chiste abre a via pela qual pretendo retomar fachada, uma aparência lógica). “Hoje” é
o tema da temporalidade do sujeito um tipo de expressão que os lingüistas
enquanto determinada pelo sexual, isto é, nomeiam de dêiticos e o que as caracteriza
pelo mau encontro com o sexual. é que só podem ser referidas à instância do
Lembremos que o eixo da análise freudiana ato em que são faladas.
do chiste é a pergunta sobre sua satisfação: Para colocar em questão o
de onde ela vem? É produzida por propósito do chiste, Freud toma como
processos puramente formais, técnicos ou modelo os chistes obscenos (chamados
derivada do seu propósito, de sua intenção? também de desnudadores), nos propondo a
Como sabemos, a análise de Freud hipótese de sua origem no “smut”. “Smut”
coloca em primeiro lugar o exame da é uma expressão inglesa que literalmente
técnica, só depois vindo a pergunta pelo significa fuligem, mas também é empregada
seu propósito. Entretanto, gostaria de no sentido de pornografia, obscenidade.
mostrar que a análise dos propósitos do Freud a define como um tipo de prática
chiste (parte III, “O propósito do chiste”), discursiva popular, na qual uma fala com
parte que tem sido pouco explorada nas “intencional proeminência de fatos
leituras que são feitas desta obra de Freud, sexuais” serve para provocar o riso,
não deve ser deixada de fora da questão da geralmente num grupo de homens. O
satisfação, tal como ela é interrogada pelo “smut” não deve ser confundido com o
chiste como formação do inconsciente. chiste obsceno, pois este último se
Do ponto de vista da análise caracteriza por não ser um dito
formal, a técnica do nosso chiste é ostensivamente sexual, mas sim alusivo à
facilmente reconhecível: trata-se da

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sexualidade (através das técnicas obstáculo, o primeiro sendo um obstáculo


identificadas por Freud). real e o segundo uma interdição simbólica.
Freud supõe três momentos lógicos “O smut é como que um
na derivação da estrutura do chiste pelo desnudamento das pessoas, sexualmente
“smut”. O primeiro, corresponde a uma diferentes, a quem é dirigido. Pela
cena de “agressão sexual” na qual a enunciação de palavras obscenas a pessoa
enunciação de palavras obscenas seria assediada é compelida a imaginar a parte do
dirigida a uma mulher com o propósito de corpo ou o procedimento em questão, ao
transmitir a excitação sexual despertada por mesmo tempo em que lhe é mostrado o
ela no homem e assim induzir uma que o assediante, ele próprio está
excitação correspondente, levando-a então imaginando. Não se pode duvidar de que o
a um exibicionismo passivo, um motivo original do smut seja o desejo de
desnudamento. Mas esse cortejamente ver desmascarado o que é sexual” (op. Cit.
verbal ainda não seria o “smut”. Pag. 98)
Ora, esse assédio direto, diz Freud, O primeiro obstáculo é real porque
encontrará necessariamente um obstáculo: o desejo de desnudamento, de ver o sexo
a mulher, por razões que lhe seriam feminino sem máscara, encontrará sua
próprias, não tolera o discurso sexual impossibilidade como necessária. O Outro
direto. A inflexibilidade da mulher é, assim, não co-responde! O segundo obstáculo é
a primeira condição para o smut, que pacificante porque a interdição imposta a
surgirá em seguida como produto das este desejo “desnudador” realiza um lugar
seguintes transformações operadas nessa de ausência para a mulher, a partir do qual
cena original: 1. a tendência sexual altera ela passa a funcionar como causa de uma
seu caráter, como todo impulso libidinoso abertura, de uma fenda que permite ao
que encontra um obstáculo (torna-se hostil próprio sujeito produzir a resposta do
e cruel), 2. há introdução de um outro, um Outro, pelo chiste. Através do chiste, o
terceiro/espectador, que passa a ser o sujeito faz o Outro responder, pelo riso.
destinatário do “smut”. Essa segunda Reduzir a questão da satisfação do
etapa ainda supõe a presença da mulher: a chiste a uma oposição entre satisfação
mulher envergonhada é o objeto da estética/formal ou satisfação de tendências
agressividade hostil ou sexual enquanto o obscenas ou agressivas, nos impediria de
terceiro, o espectador, figura o lugar onde reconhecer essa articulação que “liga” os
se cumpre o objetivo do prazer. dois: a abertura no sentido (o “pouco de
Para chegar ao chiste propriamente sentido” para Lacan) e a abertura no real
dito, é preciso que situemos agora um do corpo, pela abertura dos lábios no riso.
outro obstáculo, diferente do anterior. Voltando, então, ao nosso chiste
Trata-se de uma operação de que podemos podemos dizer que o cálculo da
chamar de censura, característica de (in)satisfação pelo ritmo de freqüência das
círculos sociais de educação mais refinada, relações sexuais encobre algo que Freud
onde o “smut” só é tolerado sob a forma coloca como originário no smut, mas que a
de um chiste. Esse novo obstáculo, de partir de Lacan podemos colocar como
natureza civilizatória segundo Freud, núcleo de real que funciona na a-
produz novas alterações: 1. a mulher está temporalidade da repetição: o mau
agora ausente e 2. os atos e orgãos sexuais encontro com o sexual (Lacan, 1964 ). Se,
não são mencionados abertamente, mas numa primeira leitura poderíamos entender
sempre de forma alusiva. o sentido desse chiste como “não importa
Chamo a atenção para o fato de que entre que seja todo dia ou uma vez por mês, o
cada uma das etapas encontramos um que importa é que seja hoje”, num segundo

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momento, advém o sentimento de que no que se refere a posição do sujeito


perplexidade pelo desvelamento de um no encontro com o real do sexo, o chiste
ponto de angústia. Ora, quando se trata do poderia demonstrar aquilo que Lacan disse
desejo do Outro, o “é hoje” é sempre da psicanálise: que tem menos a ver com a
“cedo demais”! Entretanto, no chiste, o verdade da babaquice, do que com a
cálculo da satisfação alinhado com o caráter babaquice da verdade (Lacan, 1967). E não
homeostático do princípio do prazer é seria essa uma boa razão para Lacan ter
“enganado” por um significante que é tomado o Chiste como modelo para o
capaz de ao mesmo tempo re-introduzir a passe?
dimensão do Outro (ponto de angústia)
como produzir esse encontro já como REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FREUD, S (1905) O chiste e sua relação com o
resposta, resposta no real do corpo pela inconsciente. ESB, vol.VIII. Rio de Janeiro: Imago,
abertura dos lábios e resposta na abertura 1972.
da cadeia significante, pela impossibilidade LACAN, J. (1964) O Seminário, livro 11. Os quatro
de fechamento numa significação. conceitos fundamentais da Psicanálise, Rio de
Finalmente, não poderíamos Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
LACAN, J. (1967) Seminário XV: O ato
transformar a pergunta pela satisfação do psicanalítico (inédito).
chiste em a pergunta do chiste sobre a
satisfação? Seria mesmo interessante, já

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

Freud e Lacan: Caminhos na rede de significantes


Glaucia Nagem

er Lacan nos remete ao texto dizer, só no fim, o que viria a ser o término
de Freud, e a cada retorno a de uma análise.

L
de Freud’.(1)
Freud, temos uma surpresa.
É pelos caminhos de Freud
que podemos ver o terreno
no qual Lacan se apoiou.
Façamos, então, como Lacan
insiste: ‘Retomemos o texto
Nos deteremos aqui na articulação que
Freud faz do tempo do trauma para
pensarmos por qual caminho podemos
seguir o tempo da constituição de um
sujeito. Para isso, vemos a importância do
conceito de nächtraglich que Freud já
utiliza no ‘Projeto’ quando relata o caso de
A questão do tempo foi tratada por Freud Emma. Nele, Freud demonstra como o
com muito apreço. Sua preocupação ia trauma se manifesta no ‘só depois’.
desde o tempo de duração das sessões ao No caso Emma, Freud propõe um
tempo do tratamento e mesmo o tempo do esquema que pode ser chamado de rede ou
inconsciente. Em Análise terminável e grafo, conforme define Eidelstein:
interminável, ele inicia uma discussão sobre ‘Chamamos grafo ou rede à tríade de
o encurtamento ou não do tempo de vértices, arestas e função, de modo que a
tratamento. Localiza a tentativa de Otto cada aresta corresponde a dois vértices,
Rank como ‘um produto de seu tempo’ a assim como à função específica que
uma resposta à urgência que o pós-guerra possuem’.(3) (figura 1 – exemplo de rede)
trouxe a partir da miséria na Europa e O que Freud desenha, no caso de Emma,
prosperity na América. Em seu pós-escrito pode assim ser chamado grafo ou rede. Ele
A questão da análise leiga, isso fica ainda escreve neste grafo apenas alguns
mais claro. Ele diz: ‘Certo, time is money, significantes depois de relatar o caso desta
mas não se compreende muito bem por moça. (figura 2 – rede de Emma)
que deve converter-se em dinheiro com Resumidamente, Freud relata que
tanta pressa [...] Os decursos psíquicos Emma acha-se dominada atualmente pela
entre consciente e inconsciente têm, pois, compulsão de não poder entrar nas lojas
suas condições temporais particulares, que sozinha. Como motivo para isso ela citou
afinam mal com a demanda americana.’(2) uma lembrança da época em que tinha
Vemos ai que o tempo de uma doze anos, quando ela entrou em uma loja
análise não pode seguir uma lógica para comprar algo, viu dois vendedores
cronológica e menos ainda mercadológica, rindo juntos e saiu correndo, tomada de
tanto que na continuação de Análise uma espécie de susto. Em relação a isso,
terminável e interminável ele faz uma terminou recordando que os dois estavam
revisão de seus conceitos, as suas primeiras rindo de seu vestido e que havia sentido
idéias sobre o fim de uma análise, as idéias atração sexual por um deles. Ressalta ainda
comuns sobre alguém analisado e as que tanto a relação desses fragmentos entre
relações entre as instâncias psíquicas para si quanto o efeito da experiência são
incompreensíveis. Prosseguindo nas

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investigações, revelou-se uma segunda cena possibilidade de leitura do inconsciente


em que, aos oito anos de idade, foi duas pela via da estrutura de linguagem:
vezes comprar doces numa confeitaria, 1. O Vínculo associativo: Ele escreve: ‘O
sendo que logo na primeira o proprietário vínculo associativo entre as duas cenas é o
agarrou-lhe as partes genitais por cima do riso.’ Percebemos na leitura que o que
vestido. Apesar disso, voltou lá de novo a Freud escuta não são os fatos em si, mas o
agora se recrimina por essa segunda vez, ‘vínculo associativo’. O riso é lido como
como se, com isso, tivesse desejado signo que liga o confeiteiro e os rapazes,
provocar o atentado. E, com efeito, sua signo que tem em si a marca de algo sexual.
torturante má consciência pode ser ‘Vestido’ como significante que se repete
atribuída a essa experiência. nas cenas e que porta uma incongruência
O vínculo associativo entre as duas lógica.
cenas é o riso (dos vendedores e o do 2. Sobre a Verdrangung (O Recalque), em
confeiteiro). A lembrança evocou o que ela sua relação com o tempo ‘só depois’, Freud
certamente não estaria apta a sentir na escreve: ‘Sempre se comprova que se
ocasião: uma liberação sexual que se recalca uma recordação, o qual do a
transformou em angústia. Devido a essa posteriori chega a converter-se em trauma.’
angústia, teve medo de que os vendedores O Riso ser um signo nos evoca as
da loja pudessem repetir o atentado e saiu tantas vezes que Lacan recorre à lingüística
correndo. Freud conclui que decisão – de para articular o que é um significante e o
não permanecer sozinha na loja devido ao que é um signo. Enquanto signo, o riso
risco do atentado – é perfeitamente lógica, significa algo para alguém, e esse alguém é
levando em conta todos os elementos do Emma. Para que houvesse ‘vínculo
processo associativo, e que esse caso é associativo’, ele precisou deslizar para o
típico do recalque que se produz na caráter de significante, fazendo assim com
histeria. Sempre se comprova que se recalca que o sujeito pudesse advir em uma cadeia
uma recordação, o qual do nächtraglich / rede associativa.
chega a converter-se em trauma.(4) O tempo está nesse desenrolar da
Em Lacan, podemos pensar nesses cadeia, pois como puro signo algo parava
elementos como ‘significantes’, e que foi Emma em seu próprio movimento, haja
‘entre’ eles que algo do sujeito em questão vista sua queixa (inibição). Freud a faz
surgiu. A segunda cena traz o peso voltar no tempo, recordar para dizer algo
traumático da primeira, sob o efeito do que, apesar de ser passado, está sendo
nächtraglich. Emma sente a recriminação – vivido no agora, em sua ‘agorafobia’. É o
o efeito do recalque da primeira cena – que Lacan aponta na retroação da cadeia
somente na recordação que a segunda cena associativa, em seu movimento sincrônico:
lhe traz e do caráter sexual da primeira, um significante não se significa por si, ele
fazendo uma ponte entre elas. precisa de um outro. As marcações
Quando Lacan articula o freudianas no valor do riso e da palavra
‘inconsciente como uma linguagem’ indica ‘vestido’ fazem com que essa cadeia se
que Freud, ‘dócil à histérica’, chegou a ler rompa e passe a outra, marcando um ponto
os sonhos, lapsos e até mesmo os chistes de basta na história relatada, indicando sua
como se decifra uma mensagem cifrada.(5) diacronia, passando a outro patamar.
Vemos que desde Emma o tempo está Vemos, como indica Lacan, que o instante
posto em relação à linguagem, conforme de ver é a sincronia, que no relato de
nos indica o próprio Freud em duas Emma se localiza nessa mirada dos
observações nas quais vemos a vendedores rindo para ela e o
desencadeamento de sua ‘agorafobia’. A

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diacronia é o tempo para compreender, que que Freud sustenta como o inconsciente
no caso dessa paciente se dá pelas supõe sempre um saber, e um saber falado
escansões que Freud efetua e que a faz [...] Daí minha escrita do saber como tendo
voltar à cena de sua infância. O momento suporte no S com índice pequeno dois, S2.
de concluir é a pressa que, pensando neste A definição que dou do significante ao qual
caso específico, poderia ser sua liberação confiro o suporte S índice um é representar
para o movimento, sua saída do sintoma. um sujeito como tal e representá-lo
(6) verdadeiramente’. Através de Emma, um
Em seu seminário 23, Lacan diz caso que está tão no início da Psicanálise,
que: ‘A reminiscência é distinta da acompanhamos os passos dados por Lacan
rememoração. As duas funções são no rastro freudiano, a leitura do
distintas em Freud, porque ele tinha o inconsciente estruturado como uma
senso das distinções [...] A idéia linguagem, as articulações significantes do
testemunhada por Freud no projeto é de Grafo do desejo e ainda do Nó Borromeu.
figurar isso através de redes, e foi isso Por essas vias, cabe a nós, analistas
talvez o que me incitou a lhes dar uma pensarmos por onde colocamos nossos
nova forma, mais rigorosa, fazendo com pés.
isso alguma coisa que se encadeia, em vez BIBLIOGRAFIA
de simplesmente de trançar’. (7) 1 – Jacques LACAN, O seminário 2, Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1985, p. 136.
Se inicialmente as redes freudianas 2- Sigmund, FREUD, ‘Fragmento inédito do pós-
poderiam ser relidas pelo grafo, vemos ai escrito ‘A questão da psicanálise leiga (1927)’, in A
um passo a mais por onde poderíamos ler análise é leiga (revista), Rio de Janeiro: Escola Letra
as redes pela via do nó. A inibição de Freudiana, 2003, p. 15.
Emma pode ser localizada pela articulação 3- Alfredo EIDELSTEIN, Modelos, Esquemas y
grafos en la enseñanza de Lacan, Manantial
do Simbólico com o Imaginário, e é pela Estúdios de Psicoanalisis, p. 131.
via do sentido (sens) que algo dessa 4- Sigmund, FREUD, ‘Projeto’, in Obras
inibição se dissolve e o inconsciente se Completas, Biblioteca Nueva, 4ª edição, 1981, p.
mostra como um saber, S2. Mas esse S2 252.
traz o sentido no a posteriori ao retroagir 5- Jacques LACAN, Televisão, Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1993, p. 22.
sobre S1, fazendo algo do sujeito 6- Jacques LACAN, O seminário 12 (inédito), Lição
comparecer entre esses dois significantes. de 13 de janeiro de 1965.
Como lemos ainda neste seminário: ‘A 7- Jacques LACAN, O seminário 23, Rio de Janeiro:
rememoração consiste em fazer essas Jorge Zahar Editor, 2007, p. 127.
cadeias entrarem em alguma coisa que já 8- Op. Cit. p. 127-128.
está lá e que se nomeia como saber [...] O

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

Do significante que faz tempo


Paulo Marcos Rona
breve análise que aqui havia agarrado as partes genitais por cima
proponho se apóia, de um das roupas, expressando um riso. Apesar

A lado, no caso Emma,


apresentado no Projeto para
uma psicologia científica
(Freud, 1895) e, de outro,
nas elaborações de Alain
Badiou, tanto em L’être et
l’événement, quanto em Logique des
dessa experiência, ela ainda voltara à
confeitaria - recrimina-se por isso –, e
depois não fora mais lá.
A tese sustentada por Freud é a de
que a primeira ocasião, a do ataque, só
chegou a ser traumática pelo efeito da
segunda, aquela do riso dos vendedores.
mondes, em uma tentativa de mostrar uma Supostamente, a liberação do afeto sexual,
interação possível com a teoria do presente na puberdade, fez re-significar (ou
significante de Lacan. Trata-se de exercitar significar) a primeira cena. Ficaram retidas
uma leitura do Projeto a partir da chave da em sua memória, o interesse pelo vendedor
multiplicidade, ou da teoria dos conjuntos, na segunda loja, como representante do
tal como Badiou a formula, e daí, de despertar sexual, as roupas, como
mostrar a aparição do significante e do representante do interesse sexual do
tempo. confeiteiro, e o riso, comum à expressão
Emma, nos conta Freud, é uma dos dois homens nas duas cenas. Essa
jovem que se acha dominada por um medo análise de Freud, aparentemente, provocou
de entrar sozinha em lojas. Inquirida pelas os efeitos desejados, fazendo desaparecer o
possíveis razões disso, a moça apresenta sintoma.
uma lembrança da época em que tinha Nosso interesse, obviamente, repousa na
cerca de doze anos e na qual havia entrado temporalidade dessas duas situações e no
em uma loja para comprar algo. Ali havia fato de que o sintoma de Emma, a manteve
visto dois vendedores, dos quais ao menos presa no tempo.
de um ainda se lembra, porque a havia Todo múltiplo é composto de
agradado, rindo juntos. Tomada por um múltiplos, diz Badiou, em uma
afeto de susto, a garota saíra correndo, e disseminação múltipla que persiste, seja até
considera que a razão do riso – essa é sua o vazio que os constitui, a todos, no caso o
associação – eram as suas roupas. Se o mais natural, seja até o elemento mais
motivo real fossem suas roupas, isso já teria opaco, em que o vazio se esconde
sido remediado, vez que, como adulta, já se insidiosamente. A função de um conjunto é
vestia de modo diferente; além disso, entrar a tentativa de estabelecer uma consistência
em um loja sozinha ou acompanhada nada disso que se reúne sob um traço. Essa
teria a ver com as roupas. E que dizer ainda tentativa do conjunto é redobrada pela
da lembrança de que um dos vendedores a constituição de um segundo conjunto. Se o
teria agradado? Não faria diferença se primeiro, Badiou chama de uma situação,
estivesse acompanhada. Incitada por Freud, ao segundo denomina estado da situação, e
Emma apresenta uma outra cena: aos oito sua função é a de estabelecer as partes
anos, ela havia entrado em uma confeitaria componentes da situação, na crença de que
para comprar doces, e o proprietário lhe se as partes são consistentes, seu conjunto

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também o seria. Uma situação apresenta tivessem sido fielmente acompanhadas em


seus elementos e o estado da situação os re- sua disseminação pelo estado da situação.
apresenta. Ele é o conjunto das partes. Um Porém, a situação de um evento
teorema na teoria dos conjuntos, fruto do corresponde, segundo Badiou, por sua
conhecido paradoxo de Russel ou do auto- estrutura paradoxal, a um indecidível, fruto
pertencimento, entretanto, reza que o mesmo do indiscernível dos componentes
conjunto de todas as partes – e, de um sítio. A partir de Logique des
particularmente daquelas de um conjunto mondes, diríamos possivelmente que a
infinito – excede absolutamente o tamanho intensidade de aparição do inexistente
do conjunto original; tem um tamanho próprio à situação não teria sido suficiente
desmedido. Se, fruto desse teorema, não se forte, relativamente, para que um evento
pode garantir que tudo o que se inclui em encontrasse lugar, ou então, o que seria
um conjunto a ele pertença, tenta-se o mais provável, que as condições daquilo
inverso: o de tentar garantir, ao menos, que que em que consistiria um corpo, capaz de
o que pertence seja incluído, e isso, tratar o evento, não estavam presentes.
transitivamente, de multiplicidade a Segunda situação: e, num certo
multiplicidade, conforme a constituição nível da disseminação múltipla, os mesmos
múltipla disseminada das situações. Pode elementos se apresentam, mas agora, o
ocorrer, no entanto, que a uma situação conjunto cujo traço característico é a
pertença um conjunto cujos elementos não sexualidade não é mais opaco – a menina já
se apresentem e que, fugindo assim à tem doze anos, afinal. Porém, não se pode
condição de transitividade, tampouco se dizer que esse conjunto apresente
representem no estado da situação. tampouco todos os seus elementos. Deriva-
Emma apresenta duas situações, se da tese freudiana do traumatismo da
que são múltiplos, ou seja, conjuntos, com sexualidade que algo sempre permanece
seus componentes também múltiplos. Em opaco nessa conformação múltipla, o que
ambas, alguns múltiplos em comum: quer dizer que sempre há alguma
roupas, riso, loja, vendedores, sexo. Na singularidade que pode se apresentar aí; e o
primeira, no entanto, um dos elementos da potencial para um evento. Há que se
situação apresenta-se de maneira considerar, portanto, que essa segunda
perfeitamente opaca, não deixando situação também configuraria um sítio
transparecer, quanto à sua composição, eventural, mas que, aí, a decisão de que um
nenhum elemento particular. Diríamos, evento teria tido lugar foi tomada. O ponto
corriqueiramente, sem sentido: nada nele é chave é que, fruto de sua estrutura
inteligível. Essa característica, segundo o paradoxal, como um conjunto que pertence
filósofo, daria a essa situação a propriedade a si mesmo, um evento só pode ascender a
de ser uma singularidade e, ao elemento essa mesma condição por efeito de uma
considerado, a de ser algo que ele intervenção cuja possibilidade lógica são as
denomina de um sítio eventural (site conseqüências de um outro evento. Dito de
événementielle). A característica básica de outra maneira, o evento é o que faz tempo.
um elemento com essa propriedade é que É o que se afiguraria com Emma, a
ele tem o potencial de ser um evento menos da redução da distância cronológica,
(événement). No caso de Emma, não foi. que faz com que o evento anterior, que
Para que pudesse ter sido um, teria sido habilita a decisão do posterior, passa à
necessária uma decisão – um ato, diríamos condição de evento no mesmo tempo
– que caracterizasse o evento como evento, lógico que esse. De uma certa maneira, são
fazendo-o pertencer à situação. Mais: teria o mesmo evento. Do ponto de vista dos
sido necessário que suas conseqüências elementos múltiplos componentes,

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realmente o são: é fruto do axioma da define. Porém, nessas condições, um


extensionalidade da teoria dos conjuntos. significante que não faz tempo.
Mas também, tomando as A terceira situação é a análise com
formulações de Logique des mondes, Freud. É necessário supor que aí tenha
poderíamos supor que, mesmo a havido também um evento; que o
intensidade de aparição do inexistente que inexistente, que seu vazio intrínseco, tenha
caracteriza o sítio tendo sido máxima, e, tido a ocasião de se insinuar; e que o tenha
novamente, que não havendo condições de feito com intensidade máxima. É
tratar o evento ou, o que é mais provável e necessário supor a presença de um corpo
de acordo com a tese de Freud, que a (corps) capaz de tratar a singularidade,
posição subjetiva em questão, e aí, de porque, como diz Lacan “é incorporada
acordo com Badiou, seria a de um sujeito que a estrutura faz efeito” – aí, talvez, a
reativo, capaz de negar as conseqüências do presença necessária e a função do analista.
traço do evento e, portanto, incapaz de Uma análise, nesses termos, deveria ter o
produzir um novo presente. Em ambas potencial de constituir evento, ou eventos,
perspectivas, o tempo ficou congelado. habilitados por eventos anteriores, e talvez,
Na segunda situação, a se supor a esses, só chegando a essa condição pela
ocorrência de um evento, teria havido operação analítica. Constituir eventos e,
aquilo que propriamente o caracteriza, isto portanto, significantes que, por poderem
é, a escolha de um nome, colhido na borda tratar em um corpo os eventos segundo
do vazio (quase) apresentado, um nome suas conseqüências, esses sim, fariam
comum, contingente, cuja função, para o tempo.
evento, seria a de representá-lo, sem ter
legitimamente tais poderes. Porque, do REFERENCIAS
BADIOU, Alain. L’être et l’événement. Paris:
indiscernível, o que estaria sendo Éditions du Seuil, 1988.
discernido? Que isso seja possível é um dos ___________ Logique des mondes: l’être et
axiomas da teoria dos conjuntos, o axioma l’événement 2. Paris: Éditions du Seuil, 2006.
da escolha, e a tese é a de que esse nome FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das
comum, que não representa nada em Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.
Trad. sob direção geral de Jayme Salomão. Rio de
particular, entra na composição múltipla da Janeiro: Imago, 1996
situação e de seu estado, disseminando-se, ___________ (1895) Projeto para uma psicologia
relacionando-se com outros elementos. Um científica
significante, portanto, como Lacan o

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

Se hâter de l'acte ou dresser constat?


Matilde Hurlin-Uribe
’ai appris avec Lacan qu'il n'y a La logique de Lacan est une
pas de progrès à attendre de logique de l'action et de la délibération

J vérité et de bien-être, lorsqu'il


dit que " le virage
l'impuissance imaginaire
l'impossible qui s'avère d'être le
réel à ne se fonder qu'en
logique: soit là où j'avertis que
l'inconscient siège, mais pas pour dire
de
à
prenant appui sur trois temps. D'après E.
Porge ( "L'apport freudien" Bordas p.
567) cette logique donne à la répétition de
deux scansions une valeur qui n'est pas
celle de situer l'analysant dans le temps,
mais d'engendrer le sujet de l'assertion par
les temps de ces scansions, isolant du
que la logique de ce virage n'ait pas à même coup la fonction spécifique de la
se hâter de l'acte" ("Radiophonie", hâte. Dans "La logique du fantasme"
"Autres Écrits" p.439) (Compte rendu du Séminaire 1966- 1967
L'indication qui suit sur dans "Autres Écrits" p.326) , Lacan nous
"l'impossibilité dont le sexe s'inscrit rappelle que, je cite : "répétition et hâte
dans l'inconscient, à maintenir comme ayant déjà été par nous articulées au
désirable la loi dont se connote fondement d'un " temps logique", la
l'impuissance à jouir" et selon laquelle sublimation les complète pour qu'un
" le psychanalyste n'a pas ici à prendre nouveau graphe, de leur rapport orienté,
parti, mais à dresser constat" me guide satisfasse en redoublant le précédent, à
dans l'écoute de mes patients. compléter le groupe de Klein- pour autant
M'appuyant sur cette position que ses quatre sommets s'égalisent de
du discours de l'analyste, je compte rassembler autant de concours
apporter un témoignage de ma pratique. opérationnels". Ce deuxième graphe nous
Afin de vous faire part de mes le trouvons dans le cours de Colette Soler
questionnements cliniques, je vais d’abord "La Politique de l'acte" (cours du 15 mars
poser quelques repères théoriques. 2000) p. 97. Cela lui permet de présenter
J’ai appelé cette première partie : les trois opérations de l'impasse du sujet :
aliénation, vérité, transfert.
I. Le temps logique et la hâte Lacan explique ces opérations
Après avoir parlé dans ses Écrits, dans "L'acte psychanalytique" (livre XV,
du temps logique et l'assertion de certitude leçon du 17 janvier 1968). C. Soler ajoute
anticipé (1945 ), Lacan affirme dans le que dans la "Logique du fantasme" (livre
livre XX que la "fonction de la hâte, c'est XIV, leçon du 22 février 1967 ) Lacan
déjà ce petit "a" qui la thètise " ( 1973, convoque trois autres opérations: la
pp 46-47). A partir de son dire que " nous répétition, la hâte et la sublimation et cela
ne sommes qu'un « a », il reprend sa mise constitue un autre graphe que celui de
en valeur du fait que quelque chose comme l’impasse. Dans ce cadre la répétition est
une intersubjectivité peut aboutir à une acte et la hâte est connectée à l’acting out.
issue salutaire, c'est à dire, d'arriver à C’est dans la hâte qu’on accède à la vérité,
"conclure". le sujet étant agi par la vérité de ses pensées

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inconscientes. Dans son aliénation, le sujet Le discours de Patrice, qui vient me


ne veut rien savoir de ce qui l’agite. voir depuis trois ans, tourne autour de son
Dans la construction lacanienne, incapacité de satisfaire sexuellement une
les deux graphes se complètent tout en femme qu’il arrive très bien à séduire sans
restant distincts et cette distinction signifie grand effort, juste en se montrant dans
que l’analyste, le Sujet supposé savoir « toute sa beauté physique et étant un peu
reste à distance du réel », de même que le intéressé par l’objet de sa conquête.
sujet peut y accéder, au réel en tant que Marié et père d’un fils préadolescent, il
logique, seulement par le fantasme. tente depuis plusieurs années une
Précisons que, selon Lacan, le fantasme séparation « impossible » de sa femme qui
tient la place de ce réel. Les deux modes de « l’aime » et c’est justement pour cela qu’il
traversée sauvage du fantasme peuvent se se sent obligé de la quitter. Il ne comprend
lire, dans le cas du passage à l’acte : « le pas pourquoi il est obsédé par cette idée.
sujet commande l’objet » et dans celui de Surtout qu’avec elle, dans » l’hainamoration
l’acting out : « l’objet commande le sujet ». » qui l’a liée à elle, par ailleurs, il n’a pas de
L’acting out est analysable, puisqu’il peut pannes sexuelles. Ceci jusqu’au moment de
donner accès aux pensées inconscients qui la cure lorsque cette pensée se présente à
ont régi l’acte. lui tel un commandement, sinon « mon
Au moment de conclure , le père ne serait pas content ».
temps d'avance possible de l'autre se Patrice interroge l’énigme de son
constitue comme objet d'une symptôme qui se manifeste avec des
concurrence temporelle; l'analysant se femmes dont il se dit être amoureux, mais
précipite à conclure pour « rattraper » qui sont en position de le rejeter, le lâcher.
son retard éventuel , ravir cet objet Face à celles-ci, il n’arrive pas à être un
temporel de concurrence, cet objet h( a homme, il perd ses moyens, transpirant et
)té, comme dit Lacan. tremblant. Il redevient le petit garçon d’une
À ce moment cet objet h (a ) té se très nombreuse fratrie désigné à dormir
substitue à l'objet "a" regard dont (surveiller, servir de pare excitant ?) entre
dépend le sujet ( Voir Encore P. 47). ses deux parents jusqu’à l’âge de 8 (huit)
Chacun n'intervenant dans ce ternaire ans et finalement abandonné par sa mère
qu'au titre de cet objet "a" qu'il est , partie avec un autre homme. La fonction
sous le regard des autres et qui chute de « bouchon » lui attribuée tacitement est
dans la faille entre ce qui est vouée aussi tacitement au ratage par les
supposable vu par l'autre et ce que le deux adultes qui s’adonnent à des ébats
sujet affirme en se déprenant de cette sexuels malgré la promiscuité avec leur
supposition. jeune fils. Lui, l’enfant, il sert les fèces
E. Porge nous éclaire en disant sentant derrière le sexe en érection de son
qu'aussi dans l'identification par l'image père.
dans le miroir, où l'analysant désigne En cure, Patrice se dit dégoûté par
comme moi, et au fond de la réponse ses rêves homosexuels à répétition et
fantasmatique , où il y a un rapport du constate avec horreur : « mon père a gagné,
sujet au temps qui s'énonce au futur il m’interdit toutes les femmes. Il ne
antérieur (« il aura voulu ») , du lieu de m’interdit pas les hommes – c’est moi !.. »
l'Autre, la fonction de la hâte est A un autre moment de sa cure,
décisive, donc concluante. Patrice se rend compte que son
symptôme qu’il appelle « blocage » était lié
II. Le temps qu'il faut au désir inconscient « d’être pris pour
toujours » par sa mère. Il faut préciser qu’il

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la perd définitivement dans un accident peu mère et son père en lui évitant de choisir le
de temps après sa fuite de la maison. Sa partenaire incestueux.
réaction dans la hâte a été de se rendre au .
cimetière pour lui parler et lui faire ses III. De la logique du fantasme a la
adieux. Il a pleuré sur sa tombe et lui a pulsion
raconté son malheur en amour, dans le Pour Lacan, la place du fantasme
but d'accomplir un détachement , et en est marquée du "je ne pense pas".
finir avec. Soulignant sa nature essentiellement
La nuit suivante il fit le rêve qui langagière, il introduit "S barré poinçon
suit: " on est dans une voiture , Berthe ( de petit "a". Ce mathème désigne le
femme déjà prise vers laquelle il se sent rapport particulier d'un sujet de
attiré)...elle n'est pas seule avec moi, il y a l'inconscient , barré et irréductiblement
un homme avec elle, plus un autre qui divisé par son entrée dans l'univers des
conduit la voiture. Après, Berthe signifiants, avec l'objet "a" qui
disparaît, Patrice se met à crier son constitue la cause inconsciente de son
prénom pour la retrouver....Sans désir.
succès." Ayant du mal avec son désir,
Dans la séance ultérieure il se Patrice préfère faire ce qu’on lui demande.
plaint d’être dans la merde, il sanglote ...il Il désire qu’on lui demande quelque chose.
se déteste, il décrit sa diarrhée, sa perte De par son objet anal, l’expérience du
d’énergie ...il est désespéré : « j’ai deux fantasme fondamental de Patrice devient la
maisons et je n’ai pas où vivre ». Il dit qu'il pulsion. L’objet regard y est connecté
croyait que sa visite sur la tombe de sa permettant de rester en relation avec
mère et ses prières allaient le faire l’Autre à une certaine distance. On peut
surmonter sa souffrance. Pas du tout! " voir à cette place l’obsessionnel qui
Berthe reste pour moi aussi insaisissable s’efforce de faire en sorte que cet Autre
que ma mère. " devienne un même, un petit autre.
Malgré sa hâte de guérir, malgré Ramenant les choses au même, Patrice le
son geste relatif au deuil de sa mère ...il retrouve dans ses rêves et fantasmes
reste "tiers lésé", dirait Freud. C’est homosexuels, confronté à quelque chose de
seulement dans une autre séance qu’il va l’ordre de l’impossible. Mettant en place un
pouvoir faire le lien avec le fait que la scène autre semblable, il ne fait que se mettre en
du rêve se passe dans un véhicule, scène soi-même, d’être dans ce scénario et
signifiant du père, très présent dans ses de fantasmer avec cet autre qui n’est que
rêves, en tant que mouvance et instabilité. lui-même tout ce qui lui permet d’avoir son
Sur la scène de son fantasme, derrière assise.
l’assujettissement au désir de sa mère, Son fantasme le met à l’abri de ce
Patrice s’efforce à s’identifier à l’objet de ce qui pourra être le désir de l’Autre, tout en
désir de la femme qui a été sa mère. pouvant avoir une jouissance. A la
Rivalisant avec l’homme pour lequel sa demande de l’Autre, à la demande faite à
mère l’avait quitté, il cherche autant qu’il l’Autre, il met en place la pulsion. Ce qui
repousse l’amour du père – ainsi son choix fait que l’objet cause du désir n’aura pas à
amoureux répond à la condition que la se conjoindre avec le sujet barré. C’est
femme fasse déjà couple avec un autre, un seulement par le biais de la pulsion anale
homme. Cette condition est la seule qui lui associée au regard, par « se faire chier » et «
permet de retrouver l’état dans lequel son se faire voir » que Patrice peut jouir.
corps entier d’enfant s’érigeait entre sa L’obsessionnel ne pense pas la
différence sexuelle, mais se pose la

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question de son sexe. On entend cela chez L’objet a du fantasme, cet objet de déchet,
mon analysant qui ne sait pas se ranger « ni ce reste de jouissance, il a du mal à
de côté homme, ni femme », la réponse à la l’accepter en tant qu’objet perdu et il fait
question peut-être formulée de la façon tout pour récupérer cet objet perdu. C’est
suivante : « c’est un enfant ». Le un objet qui cause un désir impossible
commandement, l’interdit lui servent de puisqu’il est du côté du Réel.
défense, c’est une façon d’avoir
l’autorisation de l’Autre et la pulsion est là
pour le mettre à l’abri du désir de l’Autre.

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____________________________________________________________▪ Tempo e estrutura

A lógica temporal de Charles Peirce: a


(des)continuidade na clínica psicanalítica
Elisabeth Saporiti
“Time has usually been considered by logicians to be what is called extra logical matter.
I have never shared this opinion.” (Peirce: C.P. 4 523) 1.
“The reader will note that our entire account of TIME is a semiotic construct.” (Peirce C.P. 4 523)

“(...) l´analyst comme tenant-lieu de La continuité.” (Danielle Roulot)

ma análise se dá durante A lógica de Peirce por incluir


um certo período de tempo, transformação e movimento pode

U tempo, como um corte no


continuum de uma vida.
Cada sessão, por sua vez,
pode ser considerada
como uma escansão do
tempo maior
tratamento analítico visto como um todo.
do
iluminar e fundamentar questões da
psicanálise. Esta é a aposta deste trabalho.
Conhecemos a afirmação de Freud
segundo a qual o inconsciente não conhece
o tempo. É “zeitlos”.(1) Conhecemos
também sua famosa frase: WO ES WAR,
SOLL ICH WERDEN (2), geralmente
Pensar questões relativas ao tempo traduzida como “Lá onde o Isso era, deve
e à psicanálise conjuntamente, somente o eu advir”. Diante dessas duas afirmações
pode ter sentido se essas questões aparentemente antagônicas e inconciliáveis
estiverem de alguma forma a serviço da “como dar conta de estabelecer um nexo
tentativa de se encontrar respostas sempre entre uma proposição que nos fala de algo
mais apropriadas a esta pergunta ainda mais a-temporal, o inconsciente e, de outro lado,
fundamental : “Qual o tempo para que uma uma outra proposição que,
análise possa se mostrar efetiva, para que imperativamente, faz alusão de forma
uma cura analítica possa se realizar?” Essas necessária à idéia de tempo?” Diante deste
considerações, por sua vez, teriam seu aparente impasse vejamos como pode se
desdobramento natural em outras, não dar esta articulação com a lógica peirceana.
menos significativas e importantes, como Charles Peirce é um autor ainda
por exemplo: “Mas, afinal, de onde parte hoje muito pouco conhecido
um tratamento analítico? Quais as fases comparativamente com outros lógicos. Sua
pelas quais ele passa? O que seria uma cura vasta produção teórica, projetada para ser
analítica bem sucedida?”.... Como se pode editada em mais de 30 volumes, tem apenas
observar, já a primeira vista, tratar dessas seis deles publicados por enquanto. O
questões todas extrapolaria o tempo (ah! O restante deve ser consultado em
tempo...) que nos cabe aqui e nos afastaria manuscritos de difícil acesso. Entretanto, o
do tema enunciado no título. Assim, fato realmente surpreendente e que nos
partirei de algumas afirmações de Freud, de interessa de perto, é que Lacan, já nos anos
Lacan e de outros psicanalistas tomando-as 60 (3) entrou em contato com as idéias de
como pressupostos, como a priori , Peirce, bebeu nesta fonte e deixou marcas
tentando desta forma “cortar caminho” e suficientes em sua obra para que possamos
gerenciar o tempo disponível. ter a evidência da importância que ele

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soube reconhecer da lógica de Peirce para se deu de fato ou não, isso é algo a ser
psicanálise. verificado no Passe e deve ser desvinculado
É importante destacar, com de um final de análise que implica sempre
bastante ênfase, que quando se fala da outras considerações. Estabeleçamos,
lógica peirceana estamos sempre nos portanto aqui uma equivalência entre a
referindo a uma concepção de lógica que “destituição subjetiva” e a “destituição
ultrapassa, vai muito além, do enquadre da verificada no Passe”. Sem entrarmos na
lógica formal ou da lógica clássica (4): com interessante questão de se fundamentar a
Peirce assumimos que a lógica é um outro diferença entre “destituição” e “des-ser”
nome da semiótica geral. Uma vez que que esta, sim nos fala de uma finitude da
todo pensamento somente se dá através de análise, marquemos que a “destituição
signos, sua lógica/semiótica é definida subjetiva” enquanto algo que tem a ver
como “a quase necessária ou formal com o processo analítico é sempre uma
doutrina dos signos” (C.P. 2.227) (5), ou “a destituição programada, diferentemente de
pura teoria dos signos em geral” (MS L outras destituições que acontecem fora da
107), ou seja, é a tentativa de considerar análise. Essa destituição programada só é
toda experiência como um sistema possível se estiver presente a transferência,
estruturado de signos em interação uns o analista colocado no lugar do suposto
com os outros. Essa teoria, por sua vez, se saber. Daí ser evidente a afirmação de
baseia nas categorias universais peirceanas: Lacan que uma análise está vinculada à
Primeiridade, Secundidade e Terceiridade transferência e ao seu manejo no tempo.(8)
que vêem a ser uma combinação, com É uma arte do analista saber colocar em
muitas nuances possíveis, do geral com o prática essa programação da destituição
particular. Sem me deter na descrição subjetiva para que o analisante possa ir
dessas categorias, gostaria de enfatizar com abandonando sua fixação ou ficção de gozo
Peirce que “O começo (de qualquer que o prende ao tempo do OUTRO,
processo) é Primeiro, o término é Segundo assim, assumir-se como sujeito desejante.
e a mediação é Terceiro” (C.P.1.337) A Em termos da lógica acima referida, essa
Primeiridade e a Terceiridade são as mudança é factível porque existe como
categorias que nos falam de coluna dorsal comum tanto ao processo
CONTINUIDADE. A Secundidade lógico como ao analítico: a idéia muito
representa o CORTE, a proeminente de que deve haver uma
(DES)continuidade.Assim, além do atual, CONTINUIDADE. O sujeito desejante,
essa lógica inclui o possível e o potencial. contrariamente aquele paralisado pelo
Lacan vai propor que a noção de gozo, é um sujeito que pode deslizar pela
“destituição subjetiva” pode ser cadeia metonímica. A lógica peirceana
considerada como a sua interpretação da ilumina o “como” se dá essa continuidade.
frase de Freud WO ES WAR, SOLL ICH O que a torna possível são as noções de
WERDEN. (6) Tomar esta afirmação vagueza e de generalidade que a
como um pressuposto será aqui também caracterizam. A vagueza, própria da
um artifício para se abreviar caminhos Primeiridade, se explicita pelo fato de que
naturalmente mais longos. A partir daí há um tempo em que o princípio da
podemos dizer que o processo analítico contradição pode ser aqui derrogado: um
que se dá no tempo vem a ser justamente momento caótico em que ser algo e não ser
este movimento para se chegar à esse algo podem coexistir- o que nas
“destituição subjetiva”, logicamente se lógicas clássicas e formais é inconcebível.
pressupondo que no início haveria, então, Somente por esse meio é que as
um sujeito instituído (7). Se essa passagem identificações podem ser trabalhadas numa

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análise, bem como as insígnias recebidas do linguisteria, Lacan, conforme suas próprias
Outro. A continuidade também encontra palavras passa para uma outra lógica, não
nesta lógica um outro ponto de apoio. mais binária, mas agora ternária e é quando
Refiro-me agora à generalidade que Peirce ele cita mesmo a lógica/semiótica de Peirce
diz ser a característica da categoria da (11). Balat vai chamar a atenção para o fato
Terceiridade. Haveria aqui um princípio de que o “significante” lacaniano, não é
geral, uma força viva, capaz de gerar uma palavra qualquer (como poderia ser se
atualizações através do tempo. É somente estivéssemos na lingüística). Numa
desta forma que no transcorrer de uma linguisteria, pensando-se na lógica triádica
análise vão se presentificando porções de Peirce, aqui sempre um significante será
esgarçadas de uma formação fantasmática a necessáriamente um legissigno, ou seja um
que se chegará “por dedução” no final: signo que traz em si uma lei, é a
aquilo que poderíamos chamar sua matriz, presentificação dela. Essa lei tem a ver com
outro nome para o fantasma fundamental. algo da história particular desse sujeito, que
É da lógica peirceana essa terminologia de o levou, por uma “insondável decisão do
que na Terceiridade existiria esse princípio ser”, a ligar este significante a algo,
formal, organizacional, funcionando como estabelecendo-se aí uma cristalização, uma
uma lei. Aqui Peirce faz uma distinção lei determinante de como esse
chamando de TIPO (type) o principio significante/legissigno irá funcionar. É
formal que vai gerar várias Réplicas claro que aqui está implicada a idéia de
(tokens). No processo analítico, através das trauma e a forma como esse sujeito lidou
interpretações vamos tendo acesso a essas com ele. “A experiência analítica nos
presentificações ou réplicas e pelas obriga, sem mais, a supor que algumas
“construções” poderemos, num segundo vivências puramente contingentes da
momento, chegar aos princípios gerais. As infância são capazes de deixar como
interpretações funcionam sempre como sequela fixações da libido”, nos diz Freud
cortes, descontinuidades de um continuum. (..)” (12) Ou seja, o contingente se tornou,
Assim, é muito interessante a observação aí, necessário. Duramente o tratamento, no
de Colette Soler de que a angústia nos fala chamado “tempo para compreender”, o
sempre de destituição.(9) E, nesta tempo se espacializa dando lugar aos
destituição programada que é constitutiva significantes mestres (S1) cujo conjunto
de uma análise, o analista deve saber usar o marca a história desse sujeito como única.
corte – corte que é sempre Secundidade, Fica, então, a pergunta que nos interessa:
enquanto categoria, é interpretação e “Mas quando, então, essa série infinita
também supõe se levar em conta a angústia mostra seu ponto de basta?” Freud nos fala
para que o sujeito instituído do início possa de uma análise finita e infinita. Peirce nos
ir se desfazendo de suas insígnias e fala de um “interpretante final”.(C.P.
identificações, dando lugar ao vazio 8.315) Esse fim nos assinala o término de
essencial, vazio não do apenas oco, mas o um processo de deslisamento e se
vazio em volta do qual o oleiro faz nascer caracteriza, então por se presentificar
um vaso.. Ainda outro ponto, este bem através de uma mudança de habito. Tenho
elaborado pelo psicanalista Michel Balat me perguntado se isto não seria o mesmo
(10) é o fato de que ao dar autonomia ao que acontece numa análise quando o
Significante, invertendo a ordem do sujeito, depois de esgotar todas as suas
algoritmo de Saussure (de s/S, em Lacan cadeias de significantes/legisignos, depois
S/s) a teoria lacaniana se imbricou com a da construção do fantasma, ao atravessá-lo,
linguística, mas ao dizer que não era da ao se posicionar frente aquilo a que chegou,
lingüística que se tratava, e sim de uma não estaria num mesmo registro ao mudar

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sua posição frente ao gozo? O significante


novo do qual nos fala Lacan,(13) não teria a NOTAS:
1.Freud, S. “Obras Completas de Sigmund Freud”.
ver com essa mudança de hábito de Peirce, Tradução de Luis Ballesteros y de Torres. 3 vol..
quando se tem um novo princípio de Madri Biblioteca Nuova. 1981. O Inconsciente
organização dos ditos, mais de acordo com (1915).
um “bem-dizer” quando se trata da análise? 2. idem, (1931) Conferência 31
Gostaria de terminar com uma 3. Lacan fala pela primeira vez de Peirce no
Seminário 7, da Ética da Psicanálise, na lição de 13
observação de Colette Soler sobre a de janeiro de 1960.
destituição subjetiva e a angústia. Se 4. Haack, Susan, “Filosofia das Lógicas”, São Paulo.
compreendi bem sua proposta, no final, Unesp. 2002.
não é mais a angústia que predomina. A 5..A norma usual nas citações de Peirce é a
angústia serviu durante o processo para indicação dos Collected Paper, por C.P. seguida do
número do volume, ponto, parágrafo.
propiciar os deslocamentos necessários. 6.Soler, Colette. Clinica de a destitución subjetiva in
Mas depois, existiria então um sujeito “Qué se espera Del psicoanálisis y Del
“pret-à-supporter”, um sujeito com psicoanalista?” Buenos Aires. Letra Viva. 2007
prontidão para dar continuidade à sua vida pp.51-82.
enfrentando o que der e vier, até a morte, 7. Idem
8. Lacan, Jacques: Posição do Inconsciente, in
nos diz ela(14). Então, assim como “Escritos”, Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 1998.
acontece na lógica temporal de Peirce, 9. Soler, Colette, idem
também no processo analítico o que deve 10. Balat, Michel. “Des fondements sémiotiques de
predominar é a CONTINUIDADE La psychanalyse: Peirce après Freud et Lacan” Paris.
(enquanto terceiridade). As L´Harmattan. 2000.11. Lacan, J Seminário 23. O
Sintoma. Lição de 16 de março de 1976.
(DES)continuidades, (secundidades) 12. Freud, S apud Silvia Bleichmar in Repetición y
representadas pelos cortes necessários nas temporalidad. “Temporalidad, Determinación y
sessões e depois pelo próprio ATO, Azar”, Buenos Aires. Paidós 1994, nota11, p.58.
estariam a serviço desta 13. Lacan, J. lição de 17 de maio de 1977.
CONTINUIDADE. 14. Soler, Colette, idem

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

El tiempo, la discontinuidad y el corte


Gabriela Haldemann
La particularidad del tiempo en la permite a Lacan afirmar que es “un afecto
angustia que no engaña”.
e interesa especialmente Detengámonos por un momento en esta
la temática del tiempo expresión; para ser precisos la angustia “no

M en la angustia ya que
éste presenta
particularidad que es
una

digna de detenernos en
su diferencia.
angustia se presenta
como un compás de espera, cercana a la
La
engaña” al analista, porque en lo que
respecta a quien la padece se trata de un
caso de certidumbre que incluye una
paradoja, ya que siempre se liga a un matiz
de perplejidad, de desconocimiento. La
experiencia de la angustia dista mucho de la
idealización clínica que confunde “certeza
perplejidad y puede involucrar coordenadas de lo real” con la posibilidad de un efecto
subjetivas o no, como sea, nos presenta didáctico de la angustia.
grandes dificultades a la hora de su Una de las definiciones de lo real
dialectización. Se trata de un tiempo de que nos da Lacan en El Seminario 11 es
detención, de corte, que generalmente se que se trata de lo imposible.
muestra como discontinuidad, un Solidariamente con esta idea, en “La
momento de pérdida de coordenadas apertura de la Sección Clínica” define a la
subjetivas. Esta abrupta pérdida de clínica psicoanalítica como “lo imposible de
referentes, ya sean: subjetivos, imaginarios, soportar”.
o bien en el caso en que observamos una La angustia tiene una cercanía
reducción del sujeto a su cuerpo, le permite ostensible con lo real por eso muestra una
a Colette Soler definir la angustia como un particularidad respecto de su aparición; su
caso salvaje de destitución subjetiva. temporalidad está ligada al momento, nadie
Destitución que se produce por encuentro, puede habitar allí, algo en la experiencia
y que no tiene nada de didáctico, porque misma eyecta al sujeto, Lacan juega en El
retorna, pero sin que el sujeto pueda Seminario 10 con el término ejecter,
obtener un efecto didáctico de esta arrojar el je.
repetición. La angustia me evoca la
Querría trabajar especialmente la imposibilidad de habitar en un medio sin
angustia en tanto afecto que irrumpe, oxígeno. Experiencia que hemos realizado
momento crítico y puntual y no aquello que todos al sumergir la cabeza en el agua
conceptualiza Freud como “angustia señal” intentando permanecer abajo para luego de
que es el punto de anclaje, de amarre; la unos segundos salir boqueando a la
primera emergencia que permite al sujeto superficie.
orientarse. Lacan define a la angustia como un
Quiero desarrollar y destacar el “momento de inmovilidad”. Siempre
sesgo clínico con el cual Lacan distinguió resulta útil detenernos cuando nos
este afecto de entre los otros. Es un afecto tropezamos con un oxímoron, figura
excepcional porque está amarrado, y es retórica que intenta conjugar dos conceptos
exactamente el punto de amarre el que le opuestos en una sola expresión. En la

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violencia de esa conjugación asistimos al “momento fuera de serie” que no puede


esfuerzo que realiza el lenguaje por apresar encadenarse.
lo real. Del lado del oyente esa Es por esta vía que se asemeja a la
imposibilidad lo obliga, a su vez, por su perplejidad propia de la pre-psicosis en los
carácter de absurdo, a buscar un sentido bordes del desencadenamiento.
metafórico. Como destaca Soler "volver en lo
“Momento”, del latín momentum real", tiene para Lacan una definición muy
curiosamente tiene dos significados en precisa, explícita y quiere decir volver fuera
apariencia, contrapuestos. La primera de la cadena significante. Algo retorna de
acepción proviene de movere, denota un un modo tan crudo cuando la cadena se ha
movimiento continuo y la segunda nos roto. El sujeto capta que pasa algo pero no
conduce a instante, temporis puctum, que puede definirlo. Es por eso que nos
acarrea un matiz sincrónico, de corte. referimos al abismo o al vértigo al evocar la
Otras expresiones que Lacan utiliza angustia, todo ello condensado en un
para referirse a la angustia son las de instante.
“abismo” y “mutis¬mo aterrado”. Cada “Instante” etimológicamente deriva
uno de nosotros tendrá numerosos de la expresión “estar en pie”, “estar
ejemplos clínicos de cómo los pacientes inmóvil”. Si tuviera que elegir otro
enuncian esta detención temporal, modos oxímoron éste sería “instante atemporal”.
de recortar ese momento en el que La angustia es un momento en suspenso
desaparece el sujeto de la palabra, donde la que deja al serhablante sin movimiento, sin
perplejidad impide incluso la posibilidad de tiempo y sin voz.
dirigirse al Otro. Su carácter trans-estructural borra
Tomemos como ejemplo las grandes distinciones entre las formas de
paradigmático la “alucinación del dedo respuesta neuróticas y psicóticas. El sujeto
cortado” del Hombre de los Lobos. Este se contenta con: huir, reprimir y evitar. Sus
episodio acaecido en la infancia del manifestaciones clínicas suelen ser pasajes
paciente es relatado a Freud del siguiente al acto, actings out y síntomas, en el mejor
modo: de los casos; todos estos recursos, aun los
“De pronto noté con indecible más desesperados, permiten metonimizar la
terror que me había seccionado el dedo angustia, es decir reducirla.
meñique de la mano (¿derecha o Pero el momento propio de la angustia es
izquierda?), de tal suerte que sólo colgaba la petrificación frente al peligro, allí el
de la piel. No sentí ningún dolor sólo una sujeto no se mueve; su evitación ya es un
gran angustia. No me atreví a decir nada al resultado.
aya, distante unos pocos pasos; me Sabemos que el objeto a es causa de
desmoroné sobre el banco inmediato y deseo, cuando este objeto se encuentra en
permanecí allí sentado, incapaz de arrojar función de causa del deseo, es más bien
otra mirada al dedo…”. una solución a la angustia. Cuando el
Como vemos se trata de una sujeto se mantiene como deseante, no hay
angustia tal que el niño, durante un angustia. Esto implica que una solución no
ins¬tante, no puede siquiera dirigirse a su patológica para la angustia se divisa en
amada niñera, es realmente un momento de torno al deseo.
exclusión del sujeto supuesto a la palabra.
El relato nos ilustra también otra El corte interpretativo
particularidad del tiempo en los fenómenos El descubrimiento freudiano
de angustia es que se presentan como un verifica en la experiencia clínica que existe
un saber articulado que determina al sujeto

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pero que por la extrañeza que produce a La interpretación siempre implica


quien lo profiere hace que nadie se sienta un corte, se trate o no de un corte de sesión
por completo responsable del mismo. y será esa operación la que retome ese
Cuando un sujeto se encuentra con elemento que se repite y le otorgue otro
ese saber, y esto sólo es posible por la vía valor. El corte interpretativo permite de ese
de ponerlo a hablar y de silenciar el sentido modo que el sujeto pueda percatarse de su
común que nos habita, se desconoce en propia ubicación en lo real.
aquello que dice, bien puede seguir esa El medio decir de la interpretación
pista o elegir desconocerla por poco grata. atañe a la causa del deseo pero no predica
Es la aplicación del dispositivo analítico lo nada acerca del objeto. En su medio decir
condujo a Freud al “más allá del principio introduce bruscamente un elemento
del placer”. faltante y transmuta la repetición en la
Lacan nos dice en “La dirección de la cura posición fantasmática del sujeto. La ficción
y los principios de su poder”: del sujeto supuesto saber permite que el
“…porque es como en derivación de la analista, con su deseo articulado en el decir
cadena significante como corre el arroyo a medias de la interpretación, puede dar un
del deseo y el sujeto debe aprovechar una sentido a algo que para el sujeto no lo tenía.
vía de tirante para asir en ella su propio No va en la dirección de eternizar el
feedback (…) Porque el deseo, si Freud “instante atemporal” ni de suturarlo.
dice la verdad del inconsciente y si el Para finalizar, en el mismo texto
análisis es necesario, no se capta sino en la Lacan define la interpretación de la
interpretación”. siguiente manera:
La repetición no implica un eterno “La interpretación, para descifrar la
retorno de comienzos y finales, recae en un diacronía de las repeticiones inconscientes,
rasgo, un elemento de escritura, que debe introducir en la sincronía de los
conmemora una irrupción del goce. significantes que allí se componen algo que
Ahora bien, cómo es posible que el bruscamente haga posible su traducción –
serhablante registre el efecto de la precisamente lo que permite la función del
repetición para hacer de ella algo que de Otro en la ocultación del código – ya que
paso a una escritura nueva. es a propósito de él como aparece su
Es por la presencia del analista, la elemento faltante”.Esta cita retoma las dos
aplicación de la regla y la interpretación que dimensiones que condensa “momento”,
se podrá hacer del instante serie. Nos una diacrónica y otra de orden sincrónico,
inclinamos a pensar entonces que el acto introducido por el analista. Se trata de una
analítico mismo supone la reducción de la respuesta nueva que por una vía diferente a
angustia. Como Lacan dice en El Seminario la “política del avestruz” propicia una
11 será necesario “…canalizarla dosificarla, solución a la angustia.
para que no nos abrume e implica la
dificultad que es correlativa de la que existe
en conjugar el sujeto con lo real”.

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

O tempo de constituição da inibição


Glória Justo Martins
clínica psicanalítica revela as infantis. A pulsão escópica e o desejo de
diferentes formas da saber foram fortemente excitados pelas

A realidade do tempo,
vivenciadas por cada sujeito,
dependendo das fases da
vida e da estrutura psíquica.
A proposta deste trabalho é
estabelecer uma relação
entre o efeito do tempo e a sua
impressões mais remotas da infância. Sua
tendência para a curiosidade sexual foi
sublimada numa ânsia geral de busca do
saber. A outra parte da sua libido, muito
menor, representa a vida sexual adulta, com
traços homossexuais.
A partir daí, verificou-se que o
conseqüência no estudo da inibição impulso de saber vai ter três destinos
neurótica, a partir de fragmentos de um diferentes: 1) inibição neurótica, em que a
caso clínico. pesquisa participa do destino da
O termo inibição, numa abordagem sexualidade – a curiosidade intelectual
médica, diz respeito à “suspensão, permanece inibida e a liberdade da
diminuição ou retardamento transitório da atividade intelectual poderá ficar limitada;
atividade de uma parte do organismo, por 2) desenvolvimento intelectual,
efeito de excitação nervosa”1. Nos suficientemente forte para resistir ao
primórdios da Psicanálise, no período das recalque sexual que o domina – a pesquisa
suas correspondências a Fliess, Freud torna-se uma atividade sexual e, por muitas
utiliza, pela primeira vez, no Manuscrito vezes, a substitui, visando,
A2, o termo inibição (Hemmung), cujas compulsivamente, a encontrar o gozo
referências posteriores vêm associadas à sexual das primeiras investigações; 3)
defesa do aparelho psíquico, devido ao impulso de saber, o qual escaparia à
excesso de sexualidade psíquica que gera inibição do pensamento neurótico
desprazer. compulsivo – a atividade sexual é recalcada
No estudo sobre Uma lembrança e substituída pela pesquisa compulsiva.
da infância de Leonardo da Vinci3, por Freud destaca que Leonardo estaria no
exemplo, Freud associa o tema da inibição terceiro caso, em que a libido se junta à
à questão da pesquisa sexual. Enfoca, em curiosidade sexual: desvia seu alvo através
particular, a pulsão escópica, ou o desejo de do mecanismo da sublimação, e a pesquisa
ver o corpo nu da mãe, gerando o impulso intelectual torna-se libidinal, sem tratar do
de saber - Wissensdrang. A hipótese saber sexual. Esse algo que escapa pela via
freudiana é que a acentuada curiosidade de da sublimação é o que faz Leonardo criar –
Leonardo está relacionada com os por excelência, a arte de driblar o recalque.
primeiros anos de vida em que ficou Anos mais tarde, em 1926, em
entregue à carinhosa sedução materna e à Inibição, sintoma e angústia4, Freud
privação total da autoridade do Outro articula o conceito de inibição com outros
paterno. Naquele período, despertou-se dois conceitos presentes na clínica: o
nele uma comprovada intensificação da sintoma e a angústia, formando uma tríade
atividade sexual infantil e, de relevante importância na teoria analítica.
conseqüentemente, de suas pesquisas Assinala que os conceitos de inibição e de

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sintoma não se encontram no mesmo Cabe o recorte de um caso em


plano. A inibição é um processo que início de análise. Um homem de 40 anos de
ocorre, exclusivamente, na dimensão do eu idade relata uma inibição de falar e de
e se expressa como redução funcional expor-se em público – possibilidade que
normal, não sendo, necessariamente, algo lhe desencadeia expectativa angustiante e
da ordem do patológico. Contudo, quando uma série de sintomas físicos (sudorese,
essa função apresentar-se modificada, ou taquicardia, pressão no peito, bolo na
surgir nova manifestação patológica dela, garganta e angústia). O paciente pertence a
poderá tornar-se um sintoma, nomeado de um grupo religioso no qual costumava
inibição neurótica. realizar tarefas que lhe demandam dirigir e
A inibição é exclusiva do eu, ocorre organizar encontros, falar, cantar e tocar
de forma imposta, seja por conseqüência de numa banda para determinadas platéias.
medida de precaução, seja por Atualmente, sente-se incapaz, paralisado,
empobrecimento energético. O eu é aterrorizado, quando convidado às mesmas
apresentado como algo que tem de servir a atividades que antes lhe davam prazer.
dois senhores: o isso e o supereu. Para Freqüentemente, é escolhido para realizar
impedir o recalque e o conflito, o eu certas tarefas por apresentar as melhores
restringe as suas funções como forma de idéias, porém cede seu lugar ao Outro. O
precaução contra o supereu. Por isso, a sujeito inibido, em geral, mostra-se
inibição está freqüentemente relacionada à impedido de executar o ato, não arrisca e,
angústia e ao recalque5. efetivamente, não expõe seu desejo, que
A importância da inibição para a fica estagnado.
teoria psicanalítica vai além do fato de Numa sessão, o paciente associa
representar a restrição de uma função do tais sensações físicas com a lembrança que
eu. Freud a explicou como função motora. lhe remete aos 12 anos de idade, ao ganhar
Lacan retoma o estudo de tais conceitos, bolsa de estudo e trocar a escola pública
representando-os na topologia do nó pela particular, onde sua mãe era
borromeano através dos registros funcionária. Não se sentia à vontade com
“imaginário, simbólico e real”6. A inibição os outros colegas, pois não compartilhavam
está localizada num falso buraco, as mesmas vivências, com exceção do jogo
produzido pela invasão do imaginário no de futebol, quando era escolhido por suas
simbólico, o qual fica reduzido e, como habilidades. A lembrança mais marcante
conseqüência, restringe-se a ambigüidade, relaciona-se a um professor que não usava
característica própria do significante. livro didático; suas aulas eram ditadas e,
“Estar impedido é um sintoma; e “de repente”, ele apontava para um aluno e
inibido é um sintoma posto no museu”7. O fazia perguntas sobre a matéria. O paciente
que Lacan queria dizer com tal proposição, recorda que ficava apavorado com a
já que não desenvolve seu significado? possibilidade de ser o escolhido; por isso,
Uma hipótese pode ser levantada: Existem, estrategicamente, sentava no final da sala,
num museu, várias coleções de objetos escondendo-se atrás dos colegas, longe do
expostas ao olhar, mas não ao toque; são olhar do professor.
peças de arte, descobertas científicas, entre Na verdade, tal professor nunca lhe
inúmeras outras, que compõem uma dirigiu uma pergunta, porém, há dois anos
história localizada no passado. É como se o deste relato à analista, a situação se repete:
sujeito inibido estivesse paralisado num ele apresenta um sofrimento angustiante,
museu, evidenciando-se aí um simbólico semelhante ao sentido na escola. Durante
empobrecido na cadeia associativa. os cultos religiosos, procura ficar no fundo

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da igreja, perto da porta de saída, longe medida em que, solicitado ou não, os


daqueles que lhe poderiam pedir algo. mesmos sintomas físicos aparecem. É
Num segundo momento, associa a interessante destacar que o significante “de
figura do professor à do pastor. Aos 20 repente” não desliza na cadeia significante,
anos, engravidou a namorada e foi pois que, para o sujeito, ele remete a uma
chamado pelo pastor para conversar sobre antecipação temporal da hora derradeira,
casamento. Como o jovem decidiu não se como uma declinação do tempo da neurose
casar antes do nascimento do bebê, o casal histérica, “o cedo demais”, trazendo
foi excluído do quadro de membros da consigo um afeto próprio – a angústia.
igreja, para, só mais tarde, tornar a ser A direção do tratamento seria tirar
admitido. Tal situação fez com que o o sintoma do museu, promovendo o
paciente se sentisse ainda preso ao deslizamento do significante “de repente”
significante “de repente”, escondendo-se na cadeia associativa, instaurando-se uma
atrás do Outro, a fim de evitar ser, “de nova temporalidade que não seria,
repente”, chamado em público. Em outra necessariamente, de susto, de surpresa, de
situação na sala de espera do analista, diz momento antecipado.
que levou um susto quando “de repente”
abriu-se a porta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo dicionário
Na inibição, o Outro se apresenta da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
assustador – o professor, o pastor... Na Fronteira, 1979, p. 767.
histeria masculina, o paciente supõe que 2. FREUD, Sigmund. Manuscrito A (1892). In:
tais representantes do Outro homem Obras completas. Buenos Aires: Amorrortu, Vol. I
saberiam responder: o que é ser um 1993.
3. FREUD, Sigmund. Un recuerdo infantil de
homem? O sujeito inibido evita a questão Leonardo da Vinci. (1910). In: Obras Completas.
do Che vuoi? O que o Outro quer de mim? Ob.cit., Vol. XI.
Lacan assinala que o sujeito não sabe sobre 4. FREUD, Sigmund. Inhibición, sintoma y
o desejo do Outro: é aí que a angústia se angustia. (1926). In: Obras completas. . Op.cit.,
manifesta de forma complexa, porque “o Vol.XX.
5. Ibid. p. 84-86.
sujeito não consegue saber qual o objeto a 6. LACAN, Jacques. O Seminário, livro 21: RSI.
que ele é para o Outro”8. (1974-75). Inédito.
Dessa forma, o paciente mantém o 7. LACAN, Jacques. O Seminário, livro 10: A
desejo insatisfeito: o sofrimento de ser angústia (1962-63). Inédito.
chamado em público na escola ou na igreja 8. Ibid.
assemelha-se ao sofrimento do não-
acontecido, do não ser chamado, na

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

O tempo do sujeito na psicanálise: considerações


sobre o objeto e a nominação
Daniela Scheinkman Chatelard
a clínica psicanalítica, sujeito como ficção a partir da qual uma
trabalhamos com a história começa a ser contada.

N temporalidade do sujeito
inconsciente em sua
relação com a estrutura
da
termos
linguagem. Em
temporais,
sabemos o quanto é
precioso para a psicanálise a referência ao
Para desdobrar tal temática, Frege,
diversas vezes citado por Lacan, durante o
seu ensino, sobretudo em seu último
seminário de 1971/72 (O Saber do
Psicanalista) é exemplar. O que é essencial
para nós na lógica de Frege, são as duas
relações: conceito/objeto; e,
futuro anterior, no só-depois da elaboração denotação/sentido. Frege, foi uma das
simbólica. O tempo para compreender grandes referências que permitiu Lacan
implica o tempo para a passagem ao formular sua teoria do Um e da contagem
simbólico. Assim sendo, essa assunção na repetição vindo do campo do Outro.
falada de sua história lhe permite Para Frege, com efeito, «o número (...)
“reordenar as contingências passadas deduz-se do conceito, ele é (...) um traço do
dando-lhes o sentido das necessidades por conceito» . Existe uma transição do puro
vir” . Esse trabalho de a-parição do ser, de conceito ao número que é a extensão do
parir o ser, é todo um processo de conceito. Este primeiro conceito, então,
Durchabeitung — perlaboração de uma funcionaria como um ponto de referência
psicanálise. Nesta mesma veia, Lacan que daria em seguida sentidos diferentes.
sublinha a importância da relação Ora, este conceito fundamental seria um
simbólica, no seu poder de nomear os conceito vazio, daí seguiria uma série, uma
objetos, estruturando a percepção. É extensão do conceito, conforme a
através da nominação que o ser faz expressão de Frege, mas neste conceito
subsistir a consistência num objeto. Aqui se vazio permanece, no entanto, um elemento:
faz uma menção à dimensão temporal do o conjunto vazio, o elemento da
objeto: "O objeto num instante constituído inexistência, que ex-siste e funda a extensão
como uma aparência do sujeito humano, do conceito. Se nos reportarmos à
apresenta, entretanto, uma certa psicanálise, nela encontraremos a função
permanência de aspecto através do tempo. do traço unário, que é bem a função do um
Essa aparência, que perdura um certo como fundador, o um da inexistência como
tempo, só é estritamente reconhecível por inscrição do significante. O Um vai ao
intermédio do nome. O nome é o tempo mesmo tempo ex-sistir, inaugurar e dar à
do objeto". Sabemos, que tempo: é preciso. cadeia significante seu tom de repetição: o
Se é preciso tempo, é porque uma Um, a série dos SI — significantes mestres
psicanálise acontece por uma suposição. do sujeito — o enxame, vai dar as
Wo es war,soll Ich werden, o sujeito deve modulações da repetição. O número é um
advir. Por detrás do advir é a verdade do predicado, «ele é» e sua essência é ser um
sujeito que está em causa. Verdade do puro múltiplo, um múltiplo portando

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predicados. O que nos interessa nessa relação, mas bem mais do objeto, de sua
teoria é a abertura que ela nos dá para existência que cai sob um conceito. Em
podermos falar do lugar ausente, vazio, da suma, «um objeto cai sob o conceito se for
inexistência que permite fundar o Um. Mas bem um caso de verdade», em outras
o Um em sua singularidade é o que ex-siste palavras se «o objeto validar o conceito.
e funda de um lado o lugar vazio e, do Tudo (...) se origina do valor de
outro, é o que se inscreve na série dos verdade dos enunciados, que é a denotação
significantes. deles, o verdadeiro ou o falso» . Se em
Para Lacan, a lógica do número Frege encontramos a dualidade
introduz o contável. No que concerne ao verdadeiro/falso referente ao valor do
limite do contável, articulado ao limite da objeto, na psicanálise, por outro lado,
linguagem, Frege trata o «número encontramos apenas um único objeto,
independentemente do ato de contar». O aquele que de imediato está perdido, que
número pode ser considerado como uma deixa um lugar vazio: um objeto que cai
seqüência serial e como o limite de uma sob o falso-ser do sujeito e que será
função. Ora, o próprio Frege era um lógico construído em sua diacronia. Com efeito,
da linguagem e, como tal, era sensível a não é do valor de verdade que se trata, mas
esse ponto de limite contido pelo universo bem mais da verdade criada de uma causa
simbólico, o universo da linguagem. Com doravante perdida, de uma verdade que cai
Lacan, esse limite da linguagem é o ponto sob o falso-ser. É pelo fato de causar um
de obstáculo que indica o real. Frege toma objeto que o desejo vai afigurar-se onde ele
o conceito de conjunto vazio cuja tinha no início uma foice* do tempo, uma
atribuição de número é o zero a partir do falha e ao mesmo tempo é preciso tempo:
qual a proliferação dos números se «Assim é que o inconsciente articula-se
multiplica sem limite, manifestando sob daquilo que do ser vem ao dizer» . É, com
forma serial uma infinitude. O que permite efeito, sobre essa perspectiva e estrutura
o vínculo entre o sujeito e o complemento fundamental que a fala do sujeito desliza e
de objeto é «a instauração do sentido». conta sua singular história, apesar dos
Assim, como demonstra Frege, «o número caminhos turbulentos, a despeito de todos
2 cai sob o conceito número primeiro»; é os desvios e contornos atravessados pelos
preciso o encadeamento das palavras cai acontecimentos do sujeito, esse sujeito do
sob para que uma frase possa denotar uma inconsciente, como leitor de nada menos
relação e ter um sentido, ao passo que as que sua própria história do inconsciente.
palavras à relação de subsunção de um Trata-se de ler os efeitos de um dizer: «Na
objeto sob um conceito, longe de psicanálise, a história é outra dimensão que
designarem uma relação, designam bem a do desenvolvimento, a história só
mais um objeto, contanto que esse objeto prossegue em contratempo do
tenha valor de verdade. Em outras palavras, desenvolvimento» . É preciso tempo para
de acordo com essa lógica, o objeto existe parir o ser.
se a denotação do signo (ou de um Como mostra Lacan em seu
conceito) que exprime um sentido tiver Seminário XIX — Ou pior — O saber do
valor de «verdade verdadeira», e o objeto psicanalista: o Um, o S1 e o zero fazem
não existe se a denotação do signo tiver apenas um Esse S1 que é o significante da
valor de «verdade falsa». Em outras inexistência é igualmente aquele que funda
palavras, existe em Frege a passagem do a cadeia significante; é a unicidade que
conceito como signo à existência do objeto; permite a seqüência das unidades, a
essa passagem sofre o processo da unicidade como traço único. Mas foi
subsunção. Assim, não se trata mais de preciso seu precedente, o zero; o um só

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existe a partir do «fundo de inexistência». basta o olhar do Outro «interiorizando-se


Esse traço, embora estando excluído de por um signo» , esse signo de onde seguirá
uma série a vir, concerne ao sujeito a advir. o significante que, diferentemente do signo,
A esse traço único, a esse Einziger Zug, «representa o sujeito para outro
não se pode atribuir o estatuto de significante». É o signo, como função do
significante, como diz Lacan no Seminário significante, uma vez que ele é o ponto de
VIII — A Transferência, mas bem antes o amarra de algo de onde o sujeito se
de signo, signo como função da unidade, continua» . O objeto a, o objeto da
de uma referência, de uma baliza que psicanálise, é o único que ex-siste e insiste
indiquem ao mesmo tempo uma presença, em dar a volta em torno da falta
um desejo, o desejo do Outro. «O Um estruturante.
como tal é o Outro, (...) profunda e O sujeito deve advir sob os efeitos
enigmática estrutura do Um como do significante, sob os efeitos das
diferença (...) de onde se pode ver o formações do inconsciente, do inconsciente
significante se constituir (...) é no O(utro)» . estruturado no campo da linguagem onde a
O significante tem como suporte esse traço fala está como função, como elemento
tomado em sua unicidade e que doravante variável. Será nessa estrutura lógica,
escreve sua diferença. Eis a identificação diacrônica e sincrônica, que o sujeito e o
inaugural que «nada tem a ver com a objeto tomarão seus lugares.
unificação». Esse signo tem como
«referência originária o outro», ao qual

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

Consideraciones sobre el instante


Cristina Toro
e interesaron los términos de existencia, tal como lo hace
aportes de Kierkegaard Lacan en el seminario “La identificación” ,

M en relación al tema que


trabajaríamos
nuestra cita, porque
este autor al tratar el
tema del tiempo se
ocupó particularmente
de la noción de instante.
en
va a considerar como instante ético al
instante en que se produce la elección de sí
mismo. Cabe señalar que para este autor
hay distintos instantes, el de la creación
artística, el del enamoramiento, el de la fe.
El pensamiento de Lacan se
distancia de Hegel, y se aproxima a
En “El concepto de la angustia” Kierkegaard, cuando plantea a la cura no
Kierkegaard lo define como una como el devenir de las transformaciones
temporalidad arrancada a la eternidad. Nos subjetivas en una continuación lanzada
dice que en el instante la eternidad penetra hacia el infinito, en la construcción de un
al tiempo, lo que permite pensar saber absoluto, sino introduciendo la idea
inversamente que, aun estando en el de este salto que la mediación dialéctica no
tiempo, es un fuera de tiempo a la vez. En puede anular, salto en la cadena significante
el instante se produce la paradoja temporal , más allá del partenaire Otro, donde se
en que lo eterno permite subjetivar lo atrapa al objeto partenaire del goce, donde
finito. Se trata, para este autor, de una se hace lugar, a eso que se es, a la elección
radicalización de la contradicción, en la cual de la absoluta diferencia, que cabe agregar,
se ubica al tiempo en una dimensión que no es sin que opere el deseo del analista
anuda lo eterno y el devenir. El tiempo en la clínica
Esta noción de instante tal como la psicoanalítica lacaniana es tiempo pensado
plantea Kierkegaard, que articula al instante en tres tiempos: instante de ver, tiempo de
como la bisagra misma, como el corte que comprender y momento de concluir. El
ensambla pensamiento y ser , tiene sus instante de ver no es simultaneidad de
resonancias en la particularidad de la elementos, sino que ya implicó una
modulación del tiempo en la clínica elección, que es una selección en la
analítica, en la que el inconsciente es el simultaneidad, por eso podemos decir que
corte en acto entre sujeto y el Otro el instante de ver es una operación de corte,
Para Kierkegaard el tiempo es de localización, sin sujeto, mientras que el
discontinuidad de instantes, el instante tiempo de comprender es la aprehensión de
ubicado como una ruptura en la una forma, que da lugar a que se precipite
continuidad es el punto de máxima tensión el momento de concluir. Instante, tiempo
de la existencia. Es la categoría temporal en y momento anudan la anticipación y la
la que se produce lo que él llama el salto, la retrospección significante, pero el instante
ruptura de la continuidad, el corte. Es en el en tanto corte es el tiempo eterno, real, que
instante que el sujeto se enfrenta a la pura sólo puede subjetivarse como ruptura de la
diferencia en la que se afirma a sí mismo. continuidad.
Kierkegaard, que es el pensador de la Dos tiempos electivos diferentes, el
diferencia absoluta, a la que plantea en del instante de la mirada y el del momento

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de concluir. Este último coincide con la trata de lo que sale a luz un instante,
noción de separación planteada en el tiempo en apertura y cierre. , En el
seminario XI, y que se puede articular al seminario de los conceptos fundamentales
tiempo del acto como el de reunión lógica. dice “el inconsciente es lo evasivo, pero
Por eso la certidumbre es anticipada, la conseguimos circunscribirlo en una
experiencia de concluir, desde el punto de estructura, una estructura temporal, de la
vista lógico, afirma la primera. Mientras que que podemos decir que, hasta aquí, nunca
el segundo tiempo lógico es de suspensión, ha sido articulada como tal”
en relación a la subjetivación. Ya que el En este párrafo, aparece la fórmula
segundo tiempo, el de la duda en el sentido estructura temporal, fórmula que
cartesiano, es el tiempo, la hora del Otro. aparentemente junta dos opuestos, ya que
El tercer tiempo es el de la determinación manejamos por un lado el término
subjetiva. estructura, cuya naturaleza es considerada
Los tiempos son lógicos y no hay atemporal y el término temporalidad, que
uno sin el otro, se sumerge uno en otro, es tomado en tanto tiempo sensible que se
son momentos de la evidencia, dice Lacan, aprehende como un devenir. Pienso que
pero en su modulación los tipos clínicos Lacan presenta su noción de estructura
muestran su particularidad temporal para metaforizar el lugar donde
Encuentro que la idea con la que estalla la oposición entre atemporalidad y
plantea Lacan la temporalidad del instante temporalidad, es decir que es una
en su obra, si bien es un momento de la oposición que conceptualmente no se
obra de Lacan profundamente hegeliano , mantiene, y que estalla cuando hace
puede ser articulada con lo que desarrolló irrupción lo real, articulado a la noción de
Kierkegaard. Ya que el tiempo de lo real, instante.
sin objetivación ni subjetivación, responde Ya que se trata de temporalizar, ahora en
curiosamente a la lógica del instante esta argumentación, lo que es captado en
kierkiergaariana. Kierkegaard dice que la un instante, lo que sale a la luz un instante
voz de Dios cuando ordena a Adán, ordena para volver a perderse, “dispuesto a
algo que Adán no puede entender porque escabullirse de nuevo” . El inconsciente
no dispone del lenguaje y por lo tanto no Eurídice que en su pulsación trata
sabe de la ley. Voz equivalente a una nada malogradamente de hallar una inscripción
inicial inasimilable. Como dice Lacan en en el tiempo.
Aun sobre el Génesis, será el verbo el que El tratamiento que fue concebido
opere sobre la nada. por Freud en términos de sesiones de
Argumentación que despliega duración determinada es un procedimiento
Kierkegaard para introducir su idea de que como nos dice, construye a su medida,
pecado y que a nosotros, psicoanalistas, a la medida de su teoría y de su práctica, y
nos permite pensar la temporalidad de lo que es solidario de su modo de
real en la clínica como lo que se subjetiva intervención , da lugar al nacimiento de
como angustia cuando el sujeto se ve una escanción temporal que es la sesión
afectado por el deseo del Otro, de una analítica, artificio original creado por el
manera inmediata, no dialectizable. psicoanálisis como recorte de un tiempo
Freud, cuando habló del tiempo que corresponde al encuentro entre
del inconsciente, situó lo que llamó la analizante y analista, que se constituye en
atemporalidad, Lacan toma lo de una serie, y que se inscribe y responde a la
atemporalidad/ temporalidad del lógica de la cura. Cura que se da en un
inconsciente para ubicarlo en su lectura proceso que abreva de la noción de deseo
como pulsación temporal , diciendo que se indestructible, ya que el deseo cuyo

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vehículo es la metonimia parte de una falta iluminación, en que se aprehende el


y apunta a una falta, pero donde el sujeto inconsciente. Dice Lacan en Problemas
en su intervalo ataca a la cadena, expresión Cruciales que la sorpresa es la frontera
en la que queda subrayado entonces que se psicoanalítica misma donde aparece la
trata de ubicar la discontinuidad, que el negación de lo esperado. Tema crucial de
sujeto del que se trata se aloja en esa un tratamiento, resguardar la dimensión de
discontinuidad. la sorpresa, del hallazgo, para no caer en lo
A la temporalidad y a la que Freud advierte respecto del analista,
atemporalidad las captamos anudadas en la quien “corre el riesgo de no hallar nunca
sesión, tiempo necesario para el decir más de lo que ya sabe; y si se entrega a sus
analizante, tiempo que se imaginariza en inclinaciones, con toda seguridad falseará la
continuidad, tiempo de resistencia fijado percepción posible. No se debe olvidar que
en la repetición, que retrasa y hasta dificulta las más de las veces uno tiene que escuchar
el encuentro con el deseo. Pero, la clínica cosas cuyo significado sólo con
nos permite verificar que en la sesión hay la posterioridad (nachträglich) discernirá.”
presencia de lo real que el instante recorta. Falta decir, el analista está obligado
De esta estructura temporal tenemos a sostener la paradoja, porque el tiempo del
confirmación en la sesión analítica. Cada inconsciente, el tiempo lógico, que es el
sesión abre su posibilidad para que se que nos concierne en el marco de una cura,
produzca el corte en la eternidad el de la subversión misma del sujeto que es
fantasmática neurótica, por eso estimo que tiempo y no devenir, encierra algo de
la elucubración freudiana dice“no tiene que paradojal, tal como piensa Kierkegaard a la
haber preparación previa”, introduciendo paradoja, que curiosamente, como Lacan,
la regla fundamental, artificio que debe este autor utiliza como instrumento para
hacer lugar a la sorpresa, no sólo para el desafiar los límites mismos del
analizante, como señala Lacan cuando hace pensamiento.
referencia a Teodor Reik . Se trata de hacer
de la sorpresa, el momento de brillo, de

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

Da filiação à nobre bastardia: linhagem real do


desejo - comentando uma expressão de Lacan
Bárbara Guatimosim
“E quando escutar um samba-canção
Assim como ‘Eu preciso aprender a ser só’
Reagir e ouvir o coração responder:
‘Eu preciso aprender a só ser.’” G. Gil.

O empuxo ao ser Outro materno, na visada de ser Um todo. 104


a psicanálise, o sujeito, Isso não se faz sem que seja dado, para além
como sabemos, não é o do imaginário da presença paterna, uma

N indivíduo ou a pessoa. Esta


nasce para a vida biológica,
mas, inseparavelmente, para
o banho da linguagem em
um determinado contexto
social, cultural e familiar.
Verbo fazendo-se carne e carne fazendo-se
significação simbólica ao sujeito, liberando
ainda um desejo real não articulável, mas que
se transmite. Desejo liberado pela hiância do
desejo entre a mãe e o pai e que,
conseqüentemente, separa o filho. Hiância
que não só separa os elementos em jogo, mas
revela ainda o corte no ser de cada um; corte -
verbo, em uma composição fundante. A vida que dá lugar à causa - freqüentemente elidido
incipiente do infans como objeto, porta em pela cobertura imaginária das identificações
potência o sujeito que inicia sua trajetória que forja um “Eu”.
marcado pelos desejos, gozos e ditos do meio Mas para o sujeito como tal se apresentar em
significativo que o cerca . E desde o início de sua condição de fenda, afânise, divisão que
uma vida, tão destituída de ser, parece que abole uma substancia e identidade plenas de
tudo se desenvolve votado ao ser: É-se fulano ser, é preciso que se faça o levantamento das
de tal, menino ou menina, rico ou pobre, a significações que supostamente o designam,
cara do pai ou da mãe, etc. O que ser quando das identificações imaginárias e miragens
crescer? A pessoa se insere em um lugar, na atributivas, garantias e condenações, que
linha das gerações, descendente de seus pretendem dizer o que ele é, para relançá-lo
predicados e das expectativas de outrem. em reversão no que teria sido. Isso não deixa
São portanto os atributos e designações que, de evocar Freud, no que ele entende como
neste momento, colando-se à pessoa, fazem o alcance de uma análise: “O nervoso curado
dito ser. Evidentemente, essas operações de realmente veio a ser um outro ser humano,
montagens, fazem alguma coisa. Forjam o eu, embora no fundo ele permaneceu,
bem necessário, mas constituído de capturas naturalmente, o mesmo, isto é, ele veio a ser
imaginárias que recobrem, representam e como, no melhor dos casos, sob as condições
fazem um “corpo”, detentor de uma
identidade individual. Nesse processo, o nome 104Aqui é interessante observar o que Lacan ainda
do pai em corte metafórico introduz a lei, no precisa ao distinguir o nomear para – como um
que poderia ser uma colagem absoluta no projeto materno em sua lei férrea - do dar o nome,
o batismo, nominação, implicado na função paterna.
Lacan, Seminário XXI, Les non dupes errent, lição de
19/03/1974, inédito.

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mais favoráveis, poderia vir a ser. Isso, porém, investidas do sujeito podem recair nessa
já é muita coisa”. 105 afluência demandante, reduzindo a demanda
Podemos ler esse condicional freudiano mesma, a uma paixão de ser. Assim como
jogando aqui com a marca do “terá sido” outras, a demanda de filiação - ser filho de,
lacaniano - que tanto pode cumprir-se no mulher de, membro de - pode também
fecho de uma significação predestinada, como insistir patologicamente e manter-se em toda a
abrir-se à fenda que vaza e constitui o sujeito vida do sujeito, desenhando deslocamentos,
para a acontecência contingente. Pois o que substituições e conveniências em sua
terá sido, ainda não foi. 106 Isso nos faz trajetória, correndo sobre o leito onde subjaz
lembrar novamente Freud, ao formular o a aspiração infinita de Um ser109. Tal
devir ético radical: onde isso era, o sujeito premência de Ser a qualquer preço, pode
deve vir a luz “como lugar de ser”.107 chegar a consubstancializações patéticas,
Esta questão remete ao que Lacan chamou como alerta Lacan: “Mas a demanda de ser
paixões do ser: aquilo que se demanda ao uma merda, eis o que torna preferível que nos
Outro preencher, sendo o que também lhe coloquemos meio de esguelha quando o
falta, são demandas de ser, em seus efeitos de sujeito se descobre nela. Desgraça do ser”110
amor, ódio e ignorância que recrudescem Evidentemente, este comentário vem para
quanto mais a demanda é satisfeita.108 Se o aguilhoar os analistas que se querem cíbalo.
humano, desde o início de sua existência, é “Quem não sabe levar suas análises didáticas
votado ao ser, não faltarão demandas que até o ponto de viragem em que se revela,
respondam nesse sentido. E todas as tremulamente, que todas as demandas que se
articularam na análise – e, mais do que
105Freud, (1916-1917) conferência XXVII, A qualquer outra, a que esteve em seu princípio,
transferência, p.508. No original alemão “Der geheilte a de tornar-se analista, que então esgota seu
Nervöse ist wirklich ein andere Mensch geworden, prazo – não passaram de transferências
im Grunde ist er aber natürlich derselbe geblieben, destinadas a manter instaurado um desejo
d.h. er ist so geworden, wie er bestenfalls unter den
günstigsten Bedingungen hätte werden können.”
instável ou duvidoso em sua problemática,
Freud, Gesammelte Werke Ed. Fischer Verlag, este nada sabe do que é preciso obter do
Frankfurt am Main, Vol. XI, 1999, p. 452. Tradução sujeito para poder garantir a direção de uma
proposta por Raquel Pardini e Sérgio Becker. análise, ou para simplesmente fazer nela uma
106 Freud faz agir aqui um futuro do pretérito, que
interpretação com conhecimento de causa”111
se aproxima do sentido do “terá sido” de um futuro
anterior, (Lacan (1960), Subversão do sujeito, p. 823 e
Esta demanda infinitiva de ser visa
Função e campo da fala e da linguagem, p.301, desincumbir o sujeito de se parar, separar, de
Escritos. O termo surge ainda, neste sentido, no se parir, e de fazer-se ser. É nesse tempo que
Sem. I págs. 184-186.) mas que sutilmente interroga Lacan definirá a ética da psicanálise,
sua determinação, abrindo possibilidades. precisamente, como uma política da falta a
Curiosamente, o futuro anterior na língua
portuguesa é nomeado futuro do presente
composto, ou seja, futuro do presente que se 109 “O sujeito não identificado faz muita questão de
conjuga com o passado, com um verbo partícipe do sua unidade; seria preciso explicar-lhe, mesmo
passado, entrelaçando assim, em um só tempo, assim, que ele não é um, e é nisso que o analista
futuro, presente e passado. pode servir para alguma coisa.” Lacan, (1978)
107 “- s’être [ser-se] -, onde se exprime o modo de Jornadas sobre a experiência do passe, p. 64.
subjetividade absoluta, tal como Freud 110 Lacan,op.cit, A direção do tratamento, p.642.

propriamente a descobriu em sua excentricidade 111 Lacan, idem. A farpa tem ressonâncias em todo o

radical: ‘Ali onde isso era’, como se pode dizer, ou ensino de Lacan e mais claramente no discurso à
‘ali onde se era’, gostaríamos de fazer com que se EFP no qual Lacan comenta que o desejo do
ouvisse, ‘é meu dever que eu venha a ser’.” Lacan, A analista (como objeto a) não tem nada a ver com o
coisa freudiana, (1955), Escritos, págs. 418-419. desejo de ser analista, o que pode se adequar
108 Lacan (1958), A direção do tratamento e os princípios perfeitamente ao desejo de ser uma merda. Portanto
de seu poder, Escritos, p. 634. é preciso submeter à análise, este desejo de ser.

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ser, princípio que se prolonga na ética do No texto “A direção do tratamento” Lacan


desejo que, ao analista, cabe sustentar. se refere à “nobre bastardia” como o
efeito de refenda que inscreve a barra como
Do pai à bastardia apagamento do ser e instauração do dizer,
Com a pluralização do nome do pai como advindo então o sujeito, sujeito barrado e
nomes do pai, ocorre o desprendimento de desejante, por ser falante.115 É tomando o
uma primeira referência de lei, da castração desejo ao pé da letra, na última parte do
edípica, para a lei do enodamento das texto mencionado, que Lacan se refere ao
dimensões fundamentais do RSI. Ao tornar-se sujeito do desejo como sendo aquele que,
nome de nome de nome, três buracos que ao suspender o dito que o marca, o “ tu
articulam o nó borromeano, o pai torna-se és”, encontra em seu próprio dizer a
nome em ato, a ação nomeante, o que nomeia contundência do Outro da linguagem que o
e enoda desde a ex-sistência 112. O sujeito, a luz remarca. Esta operação, portanto, não
desta topologia, pode ser então concebido produz a absolvição do sujeito, a liberdade
como constituído pelo enodamento, por sua do desejo, mas a impressão do que o causa,
vez descoberto e adotado por Lacan, a partir fazendo aí uma dupla marca, consumação
do brasão da dinastia italiana dos Borromeo, da fenda (spaltung)116. Nessa refenda, um
desde uma contingência que lhe “caiu como dos nomes da castração, o sujeito se
um anel no dedo”113. Esta trajetória de Lacan constata irremediavelmente mortificado
pelo pai em seus últimos seminários, pode se pelo significante: mais que filho do
enlaçar retroativamente a uma expressão, um significante, mais que simplesmente dito,
tanto enigmática, sobre o sujeito, que surge nomeado, vê-se aí portador do significante,
em torno de 1958, em pelo menos dois de um dizer que nomeia, pai do nome. Este
momentos: no seminário V, a expressão pode ser um modo de ler a expressão
“abastardamento” está ligada a possibilidade “nobre bastardia”117; não como uma
de anulação do significante, de ser cortado, simples ilegitimidade ou degeneração, mas
barrado, revogado e substituído e, como como real linhagem do desejo do pai
produto de uma ação simbólica, deixado a enquanto ex-sistente. Desse modo o sujeito
desejar.114 recupera o que terá sido o desejo desde

112 Ver Lacan, Seminário R.S.I., lição de 15 de abril de da função que lhe constitui seu lugar, ser arrancado
1975. da consideração em constelação que o sistema
113 “(...) já que parto da tese de que o sujeito é o que significante institui ao ser aplicado ao mundo e ao
é determinado pela figura em questão, determinado pontuá-lo. A partir daí, ele cai da desconsideração
não como sendo de algum o duplo mas que o é para o rebaixamento [désidération] , onde é marcado
pelos cruzamentos do nó, daquilo que, no nó, precisamente por isso, por deixar a desejar.” Lacan,
determina os pontos triplos pelo fato do (1957-1958) As formações do inconsciente, p.356.
estreitamento do nó que estabelece o sujeito.” 115 “( É o que simboliza a barra oblíqua, de nobre

Lacan, (1974-1975) RSI, lição de 18 de março de bastardia, com que assinalamos o S do sujeito, para
1975. grafá-lo como sendo esse sujeito: $.)” Lacan, A
114 “Há no significante, portanto, em sua cadeia e direção do tratamento, op.cit., p.640.
em sua manobra, sua manipulação, algo que está 116 O texto de fundo em que se baseia Lacan na

sempre em condições de destituí-lo de sua função teorização da Spaltung do sujeito é a “Divisão


na linha ou na linhagem – a barra é um sinal de (Spaltung) do eu no processo de defesa” de Freud.
abastardamento – de destituí-lo como tal, em razão 117 Algumas definições de bastardo: “ Filho que

da função propriamente significante do que nasceu fora do matrimônio. Degenerado da espécie


chamaremos consideração geral. Quer dizer que o a que pertence. Híbridos ou mestiços, formas
significante tem seu lugar no dado da bateria resultantes de cruzamentos de duas espécies bem
significante, na medida em que ele constitui um definidas ou, mesmo, de variedades. Tipo,
certo sistema de signos disponíveis num discurso espaço,etc., que não obedecem aos sistemas
atual, concreto – e em que ele pode sempre decair tipométricos usuais. ” Dicionário Novo Aurélio.

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sempre: desejo do Outro - Outro como passaram por uma análise, ao dizerem que
agente do desejo. Saudade do futuro depois dessa experiência se sentem (e isso não
sempre presente na experiência da causa. sem a confirmação de alguns outros) outra
Filho do desejo, do significante Falo e do pessoa. Evidentemente, não se tornaram outra
enodamento, excêntrico e não reconhecido pessoa e não se trata também da emergência
pelo eu e sua consciência, o sujeito deseja de um novo sujeito. É o sujeito que é sempre
porque fal(h)a, ao que lhe resta, “ser novo.
falante”. 118 Disso é possível concluir que
os termos “sujeito” e “ser falante” são A Escola da Causa – abastardamento e
versões de uma mesma notação $. O adoção
desejo, um aquém que cava o além da No tempo da dissolução da EFP, é a uma
demanda de ser, entrecruzando sua tarja de indigência fundamental que Lacan lança a
estirpe enigmática, atravessa o sujeito Escola ao invocar a Causa Freudiana121. É
tornando-o, nesta fenda causal, desejante. preciso, nesse corte, que ele como pai se
E como é preciso tempo para se “faire à vá, ex-sista,“afim - de ser, enfim, Outro.”122,
l’être,”119 em seu desejo e gozo singular, Pois interessa-lhe “(...)ver o que acontece
como ser sexuado - onde incide ainda e quando minha pessoa não opacifica o que
literalmente a secção - é preciso ensino”.123 Diante de uma Escola carregada
desapaixonar-se em ser, para deixar-se ser de sentido hierárquico e religioso, Lacan
em seu fazer.120 Nessa reversão, a entrada passa a contar com a mola mestra do
para o final de análise e a singularidade de significante e do real: “ A hierarquia só se
cada um se presentificam desde o resgate e sustenta por gerir o sentido. É por isso que
relançamento de um tempo anterior, não dou um empurrãozinho a qualquer
enunciante da constituição original, radical responsável, na Causa Freudiana. É com o
do sujeito. turbilhão, com a hélice que conto. E, devo
Não é incomum ouvirmos os ecos da frase dizê-lo, com os recursos de doutrina
mencionada de Freud, em sujeitos que acumulados em meu ensino.”124 É uma
declarada “desidentificação” com sua
Escola que Lacan evoca como um trabalho
118 “O desejo, por sempre transparecer na demanda, de luto a ser feito, respondendo a F. Dolto
como se vê aqui, nem por isso deixa de estar para- que entendia a dissolução como auto-
além. E está também para - aquém de uma outra
demanda em que o sujeito, repercutindo no lugar do
destruição: “Mas, felizmente para mim, eu
outro, menos apagaria sua dependência por um não disse jamais que a Escola Freudiana
acordo de retorno do que fixaria o próprio ser que sou eu” e ainda, “”eu não me identifico em
ele vem propor ali. Isso quer dizer que é de uma fala absoluto com Françoise Dolto, e muito
que suspenda a marca que o sujeito recebe de seu menos com a Escola Freudiana. É isso o
dito, e apenas dela, que poderia ser recebida a
absolvição que o devolveria a seu desejo. Mas o
que me justifica precipitar-me ao trabalho
desejo nada é senão a impossibilidade dessa fala, para construir a Causa freudiana.”125 Não é
que, por responder `a primeira, não consegue fazer por acaso que nesse momento de
outra coisa senão reduplicar sua marca, dissolução, tempo d’écolage, contrariamente
consumando a fenda (Spaltung) que o sujeito sofre
por só ser sujeito na medida em que fala.”, Lacan, A
direção do tratamento, op.cit., p.640. 121 “A causa freudiana não tem outro móvel a não
119 Lacan, Radiofonia (1970), Outros Escritos, p.425. ser minha caixa de correio. Indigência (dénuement)
120 “Ao que sou eu? não há outra resposta no nível do que tem muitas vantagens (...)”. Lacan (1980), Senhor
Outro que o deixa-te ser. E toda precipitação dada e A ., p.54.
esta resposta, qualquer que seja ela na ordem da 122 Lacan, (1980) O Outro falta, p.48.

dignidade, criança ou adulto, não passa de eu fujo ao 123 Lacan (1980), O mal- entendido, p.60.

sentido deste deixa-te ser.” Lacan, (1961) A transferência, 124 Lacan,op.cit., Senhor A., p.54.

p. 239. 125 Lacan (1980), Luz!, p.58.

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à religião que crê que tudo pode ser “Que eu saiba, no transcorrer do século XIX,
revelado, Lacan retoma o enigma duas ou três crianças nasceram, sem ser
traumático da condição herdada do ser esperadas: Marx, Nietzsche, Freud. Filhos
falante: O mal-entendido: “Tantos quantos ‘naturais’, no sentido em que a natureza
vocês são, que são vocês senão mal- ofende os costumes, o honrado direito, a
entendidos?”126 Desde antes, o legado do moral e a arte de viver: natureza é a regra
desejo e do balbucio dos ascendentes faz o violada, a mãe solteira, logo, a ausência de pai
homem nascer mal-entendido e o corpo só legal. A Razão Ocidental faz pagar caro a um
aparece no real como tal. “Sejamos aqui filho sem pai (...): preço contabilizado em
radicais: seu corpo é fruto de uma linhagem exclusões, condenações, injúrias, miséria,
da qual boa parte de suas desgraças provém fome e mortes ou loucura.”129
de que ela já nadava no mal-entendido o Althusser comenta que Freud sofreu
máximo que podia. Ela nadava pela simples principalmente uma solidão teórica. A
razão de que ser-falaria (parlêtrait) a quem descoberta que deparava em sua prática, não
fizesse melhor.”127 tinha ascendência teórica paterna. Teve que se
Porque a obscenidade e o desvio da arranjar,
verdade analítica puderam mais que a causa “(...)ser ele mesmo, o seu próprio pai;
analítica, Lacan incita ao debate se construir, com suas mãos de artesão, o espaço
retirando, abastardando a Escola da Causa, teórico em que pudesse situar sua descoberta;
ao adotá-la como sua. Tudo isso, não sem tecer, com fios emprestados aqui e ali, por
entusiasmo: “ A experiência tem seu preço, adivinhação, uma grande rede com a qual
pois não é algo que se imagine capturaria, nas profundezas da experiência
antecipadamente. (...) Vale a pena arriscar- cega, o peixe abundante do inconsciente (...)”
se. É a única saída possível – e decente.”128 130

Althusser que fazia um retorno à Marx,


Nobres bastardos escreve isso identificado a Lacan que, em seu
É prosseguindo e perseverando na condição retorno a Freud, sofria a excomunhão, e aos
de sujeitos de nobre bastardia, que alguns homens que, em ato, sustentaram um corte
homens podem operar corte no saber epistemológico. Mas a distinção que Althusser
estabelecido e avançar na feitura de algo não fazia, no seu esforço em consertar, “fazer
inédito. O não esperado, seja filho ou o pai”, em ser ele mesmo “pai do pai” que
descoberta, sofre de uma bastardia não tinha, ao não prescindir deste, é que,
constitutiva. E o que, nesse contexto, a diferentemente, por se garantirem no pai da
nobreza adjetiva? Talvez, a linhagem milenar ex-sistência, para além da ascendência, que
da condição significante e real fundação Freud, Marx, Nietzsche e outros, se valeram
desejante do $, aliadas ao duro trabalho, da bastardia. Se na paixão da esperança, o
enobrecedor, que exige a sustentação do que “futuro dura muito tempo”131, ou nunca
acontece de inesperado para, e em cada um. chega, na causa que não cede e anima o
Um filósofo, no impacto no seu encontro desejo, chega e basta, ainda que tardia, a
com a psicanálise, não se furtou em fazer a
seguinte declaração:
129 Althusser, (1965) Freud e Lacan - Marx e Freud,
págs. 51-52
130 Althusser. Idem, p.52
126 Lacan, op. cit., O mal- entendido, p.60. 131 “Ne pas céder parce que l’avenir dure
127 Lacan, idem, p.61. longtemps.” Frase do General De Gaulle que
128 Lacan, (1981) Primeira carta do Fórum. Citação inspira o título do livro póstumo de L. Althusser,
extraída do site http://www.ecole- onde ele “se explica” e aguarda, por sua vez, uma
lacanienne.net/bibliotheque (tradução da autora) explicação.

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anterioridade de um futuro, sempre relançado LACAN, Jacques. O seminário – livro V: As


no presente. formações do inconsciente (1957-1958). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1999.
LACAN, Jacques. O seminário - livro VIII: A
Transferência (1960-1961). Rio de Janeiro: Jorge
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Zahar Editores,1992.
LACAN, Jacques. O seminário – livro XXI: Les
ALTHUSSER, Louis. Freud e Lacan – Marx e non dupes errent.(1973 – 1974) Inédito.
Freud. Ed. Graal, Rio de Janeiro, 1984. LACAN, Jacques. O seminário – livro XXII: R.S.I.
ALTHUSSER, Louis. O futuro dura muito tempo. (1974-1975) Inédito.
São Paulo: Ed. Companhia das letras, 1992. LACAN, Jacques. Seminário - Dissolução (1980).
FREUD, Sigmund. (1916-1917), Conferências Documentos para uma Escola. Revista Escola Letra
introdutórias sobre psicanálise. In.: Obras Freudiana, Rio de Janeiro: Ano I - Nº0, p.45 -62.
completas, Edição Standard brasileira, Rio de LACAN, Jacques. Jornadas sobre a experiência do
Janeiro: Imago, 1976. Vol. XVI. passe (1978). Documentos para uma Escola II -
LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Lacan e o passe. Revista Escola Letra Freudiana,
Zahar Editores, 1998. Rio de Janeiro: Nº. 0’, p.63-64. 1995.
LACAN, Jacques. Outros escritos. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editores, 2002.

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

Repetição no tempo de final de análise


Ângela Diniz Costa
ara situar os conceitos nos aponta que o típico da repetição é que
fundamentais da psicanálise: “esses uns se repetem, mas não se totalizam”

P
135
repetição, inconsciente, ; instalando um percurso de uma série
transferência e pulsão, Lacan insistente de repetições pelos caminhos
teve como fio condutor a traçados pelos significantes. Destaco uma
estrutura do significante: referência que nos interessa, para o
“se funda na função de corte, e desenvolvimento desse trabalho, que se
na função de borda.132” , e será encontra no seminário 17136, quando Lacan
uma das bússolas para abordar o tema deste nos aponta a repetição enquanto identificação
trabalho. do gozo,e que é nessa articulação que
Por um lado, o conceito de encontramos a função do traço unário. “É no
inconsciente é correlacionado a repetição traço unário que tem origem, esse saber
significante. Nessa vertente, a função do qualificado como memória de gozo, que
retorno (wiederkehr) se mostra fundamental, trabalha no sujeito, ordenando seus sintomas,
pois a partir da discriminação, de como a rede a estrutura do fantasma... É esse saber que
significante se entrecruza, de como ela se interessa aos analistas”137
repete, depreende-se uma “linguagem Outra consideração importante a se
formal”133, que é constituída de uma maneira fazer para abordar este viés da repetição, é que
tal que escapa ao acaso, fazendo emergir um neste percurso, de tanto o sujeito percorrê-lo
real, fora do sentido, indicando que o acaba por engendrar uma perda de “força, de
simbólico é situado ao lado do autômaton, velocidade”.138 E é no fato da repetição se
como linguagem formal constituinte e fundar num retorno do gozo que se origina
determinante do sujeito. É a repetição no discurso freudiano, a função do objeto
enquanto um saber que o sujeito não sabe e perdido”139. Esta referência á função do objeto
que ao mesmo tempo constitui-se num perdido me remete ao texto-“A Carta
tratamento que o discurso inconsciente realiza Roubada”140no qual encontro uma colocação
do real traumático, à medida que o “inconsciente de Lacan que me abre a possibilidade de
assegura a passagem do real traumático do gozo para o abordar outra vertente sobre a repetição em
simbólico”.134 A repetição funda-se na seu entrelaçamento ao inconsciente: “este
comemoração desse resto de gozo formalismo ligado à cadeia simbólica, cuja lei
inesquecível, e ao mesmo tempo vai pode ser formulada... inscreve um tipo de
deparando-se com a impossibilidade de repetir contorno, onde o que chamamos de caput
aquela primeira vez. Trata-se da repetição mortuum do significante assume seu aspecto
enquanto memória de gozo. A temporalidade
da repetição é aquela qualificada como se
fosse sempre a primeira vez. Por isso Lacan 135 Lacan, Jacques- Seminário OU PIRE.
136Lacan- seminário17- O avesso da Psicanálise
137 Lacan, Jacques- seminário 17.
132 -Lacan-seminario11 138 Laca, Jacque- seminário 17p.
133 Lacan... seminário da Carta roubada..... 139 Lacan Jacques- Seminário Livro XVII- O avesso da psicanálise 1969-1970
134Soler, Colette- Discurso e trauma. In: Retorno do Exílio- Editora Rios (1, 992 R.J
Ambiciosos. R.J 140 Lacan, Jacques- A Carta Roubada- In: Escritos

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causal”.141—. O significante fazendo corte, deixa de sujeito que aparecem e desaparecem, e que
um resto “o caput mortuum do significante”, e eles produzam a acumulação de uma forma de
também faz borda com isso que lhe escapa. um saber. Essa hipótese de que a experiência
Há um intervalo, um buraco entre a causa e a analítica possibilita a construção de um saber,
lei significante. O que se passa no a partir do caráter pulsativo do inconsciente
inconsciente, é aquilo que é produzido nessa nos envia a uma segunda premissa: faz-se
hiância. É o inconsciente como fenda, como necessário que o analista saiba operar
tropeço, como ruptura que é estrutura de presentificando a dimensão de equívoco ali
descontinuidade temporal. Aqui, a repetição onde o sujeito sanciona um sentido, pois é por
aponta a função de real, qualificado como esse viés, tal como está escrito na fórmula do
acidental, inesperado, inassimilável, pelo sujeito suposto saber, presente no interior do
discurso enquanto encontro sempre faltoso, parêntese. “É no âmbito dessa série
denominada como tiquê. Esta temporalidade significante que se apreende aquilo que se
pulsativa do inconsciente é bastante distinta da apresenta como efeito de sujeito que se
temporalidade da insistência significante deposita e acumula como saber”144.
repetitiva. Esta distinção me faz o gancho para Desde essas premissas, podemos então
interrogar sobre as vicissitudes da repetição extrair que a instauração do sujeito suposto
em sua articulação ao inconsciente, no tempo saber é condição da entrada, e da travessia de
do final de análise. Quais são as premissas que uma análise, e que nesse laço transferência
fundamentam essa hipótese- de que a implica um saber-fazer do analista, para
experiência analítica intervém na repetição presentificar na transferência a atualidade do
enquanto insistência repetitiva, criando a inconsciente, e assim também podemos dizer
possibilidade do sujeito poder se separar desta que é pela via do sujeito suposto saber, que a
modalidade de repetição¿ função do tempo é introduzida no
A primeira premissa é de que para inconsciente, alterando a modalidade
chegar ao momento de uma conclusão de um insistente da repetição, apontando que o
percurso analítico, requer do analisante um analista maneja a transferência, tendo como
desejo de percorrer essa aventura, que não é referência a hiância, que constitui sua lei; e que
sem conseqüência, pois uma vez iniciado “seu aquilo que concerne ao inconsciente é matéria
vôo, jamais encontra lugar seguro para seu de linguagem145. É por esse viés, que a
pouso”142; bem como, requer do analista um psicanálise faz desprender, não seus efeitos de
fazer que implique que ele se inclua na sentido, mas os efeitos de furo, de corte,
experiência “na estrutura da equivocação do criando a possibilidade da queda do sujeito
sujeito suposto saber, pois é aí que ele suposto saber, enquanto manifestação
encontra a certeza de seu ato e a hiância que sintomática do inconsciente. È por esse
constitui sua lei”143. O próprio da experiência caminho cortado, que a análise pode modificar
analítica, é que a função analítica requer um algo das inércias das condições de gozo,
manejo clinico conseqüente com essas fazendo advir a repetição enquanto função de
modalidades temporais da repetição em sua real encontro sempre faltoso, denominada
articulação ao inconsciente, por isso é de como tiquê, encontro com o real, que é causa
pouca valia ficar apontando ao sujeito suas do sujeito como separado do Outro. Nesse
repetições, pois elas não acumulam as sentido a repetição, tem a “potência”146 de
unidades que se repetem. O fazer analítico tem
mais relação com o fazer prevalecer os efeitos
144 Santiago Jésus- IN: Ianni, Gilson e AL (org). O tempo, o objeto e o avesso-
ensaios de filosofia e psicanálise. Belo Horizonte. Editora Autêntica. 2004.
141Idem anterior. 145 LACAN, J. Seminário 18. De um discurso que não seria do semblante.
142 Lacan, seminário 20 Lição de 12/05/1971. (Inédito)
143LACAN, J. O engano..., op. cit. 146Termo de Kierkegaard, para se referir a repetição.

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poder reabrir o passado sobre o futuro; ao inerente ao saber é desvelado, possibilitando


possibilitar ao sujeito resignificar seu passado, topar com o irreversível, enquanto ser-falante,
fantasmaticamente tomado pelo neurótico, ser dividido entre a intrusão do significante e
como aquilo que determina seu destino. do gozo. O sujeito que atravessa essa
Fraturando esse determinismo, que pelo fio experiência, o possibilita saber que, ao final,
condutor do trabalho analítico, reintroduz a pode-se dizer que dos inumeráveis
contingência na história, no qual esta deciframentos já perpassados vão tecendo um
implicado o ato do analista, que pela texto de um sentido esvaziado da pretensão
equivocidade faz operar o corte entre S1 e S2. em captar significado. É nesta distância criada
“A topologia do limite entre saber e verdade entre significante e significado que Lacan
está formulada no algoritmo do sujeito insere a função do escrito, pois é a dimensão
suposto saber, ou seja, da transferência147. do escrito que nos faz perceber que “o
Sendo a única relação possível com a verdade significado não tem nada a ver com os
é a da castração; podemos dizer que esse ouvidos, mas somente com a leitura do que se
sujeito não é suposto saber a verdade, mas ouve de significante, o inconsciente é o que se
apenas que ele se sujeita a trabalhar a fim de lꔓ149— Nesta referência ligada á escritura, o
“saber lidar” com a verdade. O saber inconsciente é traduzido por Lacan, como
constituído na análise faz supor que desde que Une-bévue:150 - Um equívoco; realçando que o
colocado no lugar da verdade (S2), ele possa próprio do inconsciente é se manifestar na
interpelar o sujeito para produzir um S1, equivocidade da língua, e de precisá-lo como
”significante pelo qual o sujeito pode resolver um modo de, de cifrar o gozo, na
sua relação com a verdade” 148, e aqui se trata equivocidade do significante. Assim, podemos
da verdade, tal como esse termo é em sua dizer que para tratar esse real posto na
origem jurídica, que ao requerer do experiência analítica, faz-se necessário o ato
testemunho dizer a verdade, o que é buscado é do analista para fazer advir “o inconsciente é o
poder julgar o que é do seu gozo. Assim o S1- conceito decorrente da instauração de um
produto do discurso analítico, significante fora traço que se repete como diferença. Algo que
do sentido, extraído da cadeia que remete ao se escreve no sujeito sem que se transcreva
gozo do encontro marcado com a falta. A inteiramente na palavra, e nem é integralmente
repetição nesse tempo não é mais relacionada lido. No seminário Momento de Concluir151,
com a inércia do gozo fantasmático; ela é em Lacan retoma o conceito freudiano de pulsão
sua estrutura lógica: que a repetição traça, de morte, para extrair que o trabalho analítico
conta e cifra o gozo, o que se perde dele. Essa assenta-se num impossível de dizer e delimitar
cifragem, que é recolhida no tempo de um novo estatuto do real: um real sem lei e
conclusão de uma analise como S1 através do avesso ao sentido. Encontro aqui, uma
qual ressoa o sentido do gozo que é fixado a possibilidade de reler com Lacan, aquilo que
esse mesmo elemento, assim podemos dizer Freud, já havia nos feito notar, que a
que esse sentido nesse tempo, funciona mais orientação ética de uma análise, implica um
como limite que um enigma a decifrar. Esta ponto de assujeitamento do qual o sujeito não
referência reabre a via pela qual iniciamos tem como desembaraçar-se, pois “o que um
nossa reflexão sobre o manejo do fazer dia veio à vida, aferra-se tenazmente à
analítico: para aquele que inicia e conclui o existência”152.
percurso de uma análise, ele acaba por deparar
que essa aventura não foi sem conseqüência.
Buscava um saber suposto ao Outro, e a falha
14919-LACAN, J. Seminário 20. A função do escrito. Cap. 3.
150 Lacan, J, Seminário L` Insu, conferência, 06/11/76, inédito.
147 Lacan, Jacques- Radiofonia Outros Escritos. 151 Lacan, Jacques.. momento de concluir
148 Lacan, Jacques- seminário 20- pág. 123 15223- Freud, Sigmund- Problema econômico do masoquismol

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

Le temps du deuil de l’objet a


Bernard Lapinalie
« Disons pourtant la fin de l’analyse… L'analysant ne termine qu'à faire de l'objet (a) le représentant de la représentation de son
analyste. C'est donc autant que son deuil dure de l'objet (a) auquel il l’a enfin réduit, que le psychanalyste persiste à causer son
désir… Puis le deuil s'achève. Reste le stable ...»
J.Lacan, L’étourdit (Silicet p.44) :

insi, de même qu'il y a un nous pouvons au moins faire quelques


temps des préliminaires pour remarques :

A l'entrée en analyse, il y aurait


selon Lacan un moment où
l'analysant entre dans la
sortie, pour la fin de son
analyse.
Il y a un préalable à
la lecture de cet énoncé qui paraît bien
Ce «enfin réduire l’analyste à l'objet (a) »
place l'opération ouvrant à la fin de
l'analyse, à ce deuil, dans le transfert et pas
ailleurs.
Ca pose bien sûr la question de
savoir en quoi consiste cette réduction de
l'analyste par l'analysant, à un objet dont la
assertif. On ne peut ignorer le mode avec jouissance lui est radicalement interdite ; à
lequel Lacan engage son sujet sur la fin de un objet irréductible du fait de l'empreinte
l'analyse : « Disons !.. ». Car nous y symbolique imposée au sujet ; et à l'objet le
retrouvons l'ossature même qui a entamé et plus inaccessible pour lui, puisque c'est sa
organisé son texte L'étourdit : « Qu'on dise perte même qui supporte sa subjectivation
(!) reste oublié derrière ce qui se dit dans ce dans le rapport à l'Autre : Ce que Lacan
qui s'entend ». disait en 64 : « affaire de vie et de mort
Avec ce : « Disons pourtant la fin entre le signifiant unaire, et le sujet comme
de l’analyse », Lacan place donc son propos St binaire, cause de sa disparition.
à l'aune d'un dire, d'un « pas-je ». L'analyse serait donc cette situation
Et en trois phrases, il dit une unique, quasiment contre nature, qui
conception temporalisée de la fin de offrirait à une personne de rencontrer cet
l’analyse, qu'il place sous les auspices du objet impensable, le plus intime mais le
deuil, y incluant ainsi le réel du temps que plus étranger. Et ce serait même l'occasion
cette fin imprime : « le temps que dure le inédite de pouvoir en entamer le deuil,
deuil de l'objet (a) ». Et il en indique même pour terminer l'analyse.
les coordonnées précises dans le transfert, Ce qui ouvre bien sûr la question de
avec trois temps que nous allons examiner, savoir si certains ont fait le deuil de leur
et soumettre à l'épreuve de la clinique : objet (a), si
certains mieux que d’autres, si certains pas
1. Disons le moment de cette perte qui du tout, si certains ne pourront pas le faire,
ouvre au deuil de l'objet (a) : etc... En tout cas, si ce deuil n’est pas fait,
Le premier coup de cloche de la fin une psychanalyse selon Lacan serait un
serait le moment où « l’analysant a enfin (!) moyen pour les névrosés de faire ce deuil ;
réduit l’analyste à l'objet (a) ». Il y a un côté et ce serait même la condition de la fin
un peu surréaliste, un peu occulte, mais réelle d'une analyse.

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On voit ainsi qu'avec cette notion Il y a une question pratique : Ce nouage


de deuil, avec son poids de réel, Lacan réel que propose Lacan, entre transfert,
implique pour la fin d'une analyse, d'avoir perte irréductible, et deuil... comment
vécu une perte et un deuil dans le transfert. pouvons nous le faire solidaire d'une
Il ne s'agit là ni de remémoration, ni de pratique où il s'agirait pour l'analysant de «
retrouvaille ; et que l'avoir vécu – comme le faire de l'objet (a) le représentant de la
disait Freud - est autre chose que l’avoir représentation de son analyste », pour en
compris intellectuellement.. finir ?
Si on prend le temps du transfert
2. Disons la façon dont s’opère cette où l'analysant charge l'analyste de ses
perte dans le transfert : représentants de représentation, des
Il faudrait « réduire son analyste à signifiants qui supportent son aliénation, ce
l’objet (a) », et c'est cette réduction qui temps peut être assimilé au travail
permettrait alors de faire le deuil de ce minutieux d'un deuil, au sens de la
même objet (a). Notons déjà que ça reconstitution par le détail de tout ce qui a
implique une part d'acte de l'analysant. été vécu avec l'ancien objet, tel que
Et Lacan nous donne la recette l'analysait Freud dans Deuil et mélancolie
pour opérer cette réduction : L'analysant (1915).
doit « faire de l'objet (a) le représentant de Lacan corrigera que ce n'est que le
la repésentation de son analyste». Cette versant de résistance du deuil ; car le
référence aux représentations nous résultat est de maintenir l'objet, et donc le
raccroche un peu aux les wagons de la transfert ! Dans quel but ? Parce-qu'en
parole ; attardons nous donc sur cette réalité ce qu'il s'agit de maintenir « ce sont
histoire de représentant de représentation. les liens par où le désir est suspendu à
Le représentant de la l'image narcissique par quoi tout amour est
représentation, c'est le narcissiquement structuré...» (L'angoisse p
vorstellungrepräsentanz Freudien. 410). C'est le versant aliénant, et sans fin du
Freud liait déjà ce terme àune part transfert, comme parfois du deuil.
irréductible par le symbolique, puisqu'il Comment en sortir ?
l'employa pour la pulsion (versant objet), et Il faut un deuil véritable. C'est donc
pour le refoulement originaire (versant en accord avec Freud que, pour la fin,
sujet). Lacan propose qu'apparaisse autre chose
Lacan reprend ce terme en 64 pour dans le travail de deuil du transfert ; autre
référer, comme Freud, à ce qui reste chose, qui génère une perte réelle, pour
d'irréductible au symbolique. Puisque c'est pouvoir faire un deuil réel. Et cela
le séminaire de sa grande refonte de la adviendrait lorsqu'enfin l'analysant aurait
pulsion, à laquelle il associe sa conception fait de l'objet (a) le représentant de la
de la « causation du sujet »: Le représentant représentation de l'analyste.
de la représentation c'est le signifiant Là bien sûr, nous devrions
binaire, sur quoi porte le refoulement, et rencontrer une difficulté, au moins logique
où s'opère « l'aliénation » fondamentale. : Comment cet objet (a), ce « hors signifiant
C'est la fameuse « affaire de vie ou de mort », irréductible par le symbolique, peut-il
entre le signifiant unaire, et le sujet en tant venir jouer sa partie dans le processus des
que signifiant binaire, cause de sa représentations, du symbolique ? On a une
disparition », qui dit que c'est une perte piste, si on n'oublie pas que l'objet (a), c'est
obligée qui est subjectivante à l'origine, et aussi la vérité du sujet comme signifiant
que c'est l'essentiel de l'aliénation. binaire, c'est la vérité de l'aliénation. En

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tout cas on est au niveau du processus qu'il y a comme préalable, l'acte de


primaire de l'Inconscient Freudien. l'analyste qui est « fait de l'objet a »; parce
En même temps, avec cette impasse qu'il y a eu le séminaire de Lacan en 67 sur
apparente, on a envie de dire : « Tant mieux L'acte, qui l'a préparé.
», si on sort de l'infini de la chaîne J'ajouterai une remarque pour la
signifiante et de ses effets de relance ; c'est pratique : l'objet (a) étant masqué derrière
l'espoir d'une possibilité de fin réelle d'une l'image narcissique, on peut supposer que
analyse. D'autant qu'avec ce passage pour en restaurer le lien, il faudra une
énigmatique de l'objet (a) dans le champ sérieuse brisure du narcissisme. Ce qui, au
des signifiants, on n'est pas totalement sorti passage, met le corps dans le coup.
du champ des représentations, et on n'est Puis le deuil s'achève. Reste le
donc pas passé dans un indicible absolu stable...
pour la fin.
Mais ça nous laisse encore la L'épreuve de la clinique :
question d'une issue particulière de l'analyse Pour la fin de l’analyse, Lacan a donc mis
pour chacun, c'est à dire de la différence les projecteurs sur une opération réelle
absolue pour la séparation. dans le transfert, sur un vécu. Ce qui pose
la question du statut objectivable de ce
3. Disons le temps que dure ce deuil, vécu, qui demeure subjectif et trompeur.
pour la fin de l'analyse : D’où la solution proposée par la passe : «
Là encore Lacan semble précis : « de l’éprouvé à la preuve ».
C'est la durée qu'il faut au deuil de l'objet Pourtant je voudrais tenter de dire
(a), c'est le temps où le psychanalyste – le tenant d'un analysant - ce qui, à un
persiste à causer son désir… Puis le deuil moment d'une analyse a pu faire non
s'achève ». trompeur cet affect, donner consistance à
Que le deuil s'achève, et comment, l'éprouvé d'un moment d'entrée dans la fin
demeura une question pour Freud ; c'est de l'analyse : Ce fut une émotion insistante
même ce qu'il interrogea en vain avec la bien que banale : L' émoi (et moi.. ce qui
manie. Est-ce-que l'arrêt de Freud sur cette échappe au moi), avec son corrélat de fuite
question de la fin du deuil, ne rend pas corporelle que furent parfois les larmes,
compte de son échec à articuler la fin de toujours au bord de l'angoisse.
l'analyse ? Cet émoi me parut être l'indice de la
Ce qui permit à Lacan d'aller plus destitution subjective attendue, et sonna le
loin que Freud sur cette question du deuil premier coup de cloche – non pas du délire
et de la fin de l'analyse, fut d'avoir introduit - mais de la fin de l’analyse... Lacan
son objet (a), avec son séminaire sur n'affirmait -il pas dans L'angoisse que «
L'angoisse (p410). Là où Freud parlait l'émoi n'est rien d'autre que le (a) lui-même,
d'exécuter en détail le détachement libidinal dans les rapports du désir et de l'angoisse ».
de l'objet, Lacan a renversé le problème et a Comme Lacan le précise bien dans
parlé au contraire de restaurer le lien «avec « l'étourdit » il s'est agi pour cet analysant
l'objet a... masqué derrière l'image d'un temps précis dans l'analyse, et pour
narcissique ». une structure donnée, la névrose. Ce temps
Une analyse permettrait donc de se décomposa en deux étapes : Je dirai une
faire le deuil de l'objet (a), parce-qu'elle versant objet, un versant sujet, les deux ne
permettrait d'en restaurer le lien via s'apercevant pas en même temps sur la
l'analyste, et d'ainsi pouvoir le perdre. scène :
On entrevoit que si ce passage, cet
acte de l'analysant est possible, c'est parce

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1. La brisure narcissique, ou l'apeçu sur le manque, entrevue, lui échappait, mais


l'objet manquant : surtout il aperçut qu'elle comportait chez
Depuis un certain temps, un symptôme lui un refus ultime ; comme un pousse à
avait pris une dimension « s’accrocher, à son insu, à la jouissance qui
concentrationnaire » dans la vie de cette ne convenait pas. Son sentiment étant d'un
personne, comme pour ravaler, nier : « plutôt ce que j'ai toujours connu que cet
l'évolution apparemment favorable de sa inconnu là ». « Cet inconnu là » le
cure. Le conflit moral était important. renvoyant à l'Autre barré, aux partenaires
Puis un jour advint où cet analysant qui l'incarnaient, l'analyste compris.
fut surpris d'apercevoir qu’un certain L'autre versant de la faille révélait
fonctionnement fantasmatique – sans donc son être de refus ; refus de céder
problème jusque là – pouvait à contrario quelque chose qu'il méconnaissait !
comporter un obstacle à son désir. Et C'est ce moment qui fonctionna
même que cette incompatibilité de sa comme une brisure subjective, avec
jouissance avec son désir n'allait l’apparition irrépressible d'un émoi, d'un
logiquement pas sans alimenter son affleurement de larmes, comme une fuite
symptôme, et le transfert. corporelle, qui dura plusieurs mois. Cette
Un savoir nouveau était donc advenu, sur émotion le submergeant aussi bien dans les
quelque chose à perdre, mais qui restait séances d'analyse qu'entre les séances, dès
sans prise, sans nom, et quasi impensable. que sa pensée approchait cette faille et ce
Mais du coup une urgence nouvelle se refus destituants : « Le sujet se barre » disait
présentait à lui : Comment perdre ce qui ne Lacan dans Encore à propos des larmes,
pouvait s'entrevoir que comme manquant ? lorsqu'on vous marche sur le pied.
L'avoir compris intellectuellement, J'ajouterai que c'est aussi bien le corps qui
et l'avoir vécu étaient bien deux choses fuit – celui qui nous est donné par l'ics.
différentes . Lacan ne disait-il pas : « L'émoi dans les
Ce savoir nouveau suscita d'abord rapports du désir et de l'angoisse, n'est rien
une surprenante angoisse. d'autre que le a lui-même ».
Comme pour un patient Bien sûr, comme tout affect, la
schizophrène de Lacan, notre patient se portée de cet émoi demeure critiquable :
trouvait lui aussi au pied du mur de devoir Nous retrouvons en effet cette émotion
assumer le manque fondamental qui le larmoyante à toutes les étapes d'une
constituait ; un abime s'était ouvert. analyse, et dans toutes les structures
Du coup, le sujet comme l'analyste cliniques. Je pense à ces analysant(e)s, au
s'en trouvèrent quelque peu désupposés. temps des préliminaires, qui manifestent
cette émotion dans le transfert, alors qu'ils
2. La destitution subjective : Où le sujet avaient pensé aux mêmes choses et sans
se barre, où le corps fuit : émotion dans la salle d'attente. Temps où il
Jusque là, il aurait pu ne s'agir que faut bien trier ceux qui seraient susceptibles
d'un épisode supplémentaire des surprises ou non de faire le deuil de l'objet a.
du manque, de l'Inconscient, dans la cure, Pensons aussi à ces patients psychotiques,
s'il n'avait eu pour conséquence une brisure paraissant solidement désaffectés, qui se
subjective durable qui me semble avoir trouvent soudain arrêtés, voire submergés
sonné le premier coup de cloche – non pas d'une apparente émotion, d'approcher un «
du délire - mais du deuil de l'objet (a). je » impossible à assumer ; c'est toujours au
Comment ? Au-delà de l'angoisse, point où « ils risquent de ne plus pouvoir
ce patient put apercevoir un autre versant nier les sensations fausses d'un corps qu'ils
de la faille : Non seulement la solution par ne peuvent reconnaître » ; ils ne peuvent

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d'ailleurs généralement rien en dire. Les dire ;un pousse à sonoriser l’analyste, à le
schizophrènes sont exemplaires à cet égard faire consister au gré de son fantasme.
; ces patients qui eux ne pourront pas faire L'analyste avait fonctionné en creux,
le deuil de l'objet a. n'ayant renvoyé que l'écho de l'objet du
C'est ce temps me semble-t-il qui fantasme construit dans la cure. Où se
ouvrit la voie de la séparation, c'est à dire confirmait que le fantasme se construit bien
du deuil de l'objet (a). dans la cure.
Pourtant, chez notre analysant, Mais cette brisure subjective fit
l'émotion et sa durée dans le transfert ne apercevoir autre chose. Disons :
suffiraient toujours pas à affirmer qu'il Un dire était à l'oeuvre qui était un
s'agissait bien d'une entrée dans ce temps « pas-je ». Mais un dire qui n'était pas
de la fin Lacanienne. neutre pour autant, qui n'était pas sans
consistance, qui était porteur d'une trace
Le deuil de l'objet a, entamé : pulsionnelle.
Comme nous en avons l'habitude, Un dire qui n'était pas sans un
ce sont les suites, l'après coup, qui vouloir obtenir la complaisance de l'autre.
imprimèrent à ce temps sa dimension de Un dire qui faisait noeud, infiltrant
réel, de deuil de l'objet (a). tous ses dits, tous ses liens.
Le plus sûr de son être se révélait Un dire comme marqué d'une
pour cet analysant dans les traces de jouissance primordiale, fixée dans le
l'abject, du plus improbable pour son moi. rapport à l'Autre, aux autres ; quelque
La réduction de l'analyste à la chose d'achaïque, marqué de la répétition,
tournante des objets pulsionnels auxquels comme une lallation.
le sujet s'équivalait, était déjà bien entamée. Un dire resté oublié derrière ce qui
C'est ainsi que l'analyste se présenta s'était dit dans ce qui s'était entendu.
comme reste en tant que voix muette, quasi
surmoïque, qui ne disait rien et poussait à

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

Luto e angústia no fim da análise


Sandra Leticia Berta
ma análise chega a seu fim. própria vergonha na banheira. Essa cena
Trata-se de um sujeito será vinculada ao “malandro agulha”.

U obsessivo que, após a


morte inesperada da sua
mulher, inicia uma vida
amorosa dupla que se
estende por anos, que lhe
perturba e que lhe faz
demandar análise. As duas mulheres abrem
Porém, perto do final, e por um sono, o
“malandro” vira o “cagão”. Não sem
angustia pode verificar que com o Outro,
nem mesmo no desafio amoroso que
estabeleceu com a morte, com o Outro
absoluto, só se pode ser cagão. Mas, por
quê? Porque o Outro materno assim o
para o sintoma que ele mesmo nomeia desejou, em particular para ele, o filho
“vou falar das duas”. Na entrada em predileto, bem sucedido e provedor.
análise, se apresenta uma piada na qual o Momento de separação e de extração de
significante que lhe representa é: “o um novo saber que lhe modifica sua vida
malandro agulha”. A piada é a seguinte: um amorosa. Jamais se tinha considerado um
homem e uma mulher fazendo o amor são cagão com as mulheres, antes um “bom
interrompidos por um estranho que está moço”, isto é: ideal materno do qual sabia
armado. Este, antes de estuprar a mulher, há tempos na análise e pelo qual tinha
ordena ao amante: “você ficará dentro atestado modificações subjetivas. Nesse
desse círculo” – desenhado no chão – tempo do final da análise se surpreende ao
“caso você saia, eu a mato”. Assim o verificar como seu corpo respondeu ao
amante fica ‘preso’ no círculo e pensa o “cagão”: cagando reiteradas vezes por dia,
seguinte: “poderei enganá-lo, poderei entrar dado esse que nunca tinha sido
e sair do círculo sem que ela me veja, considerado por ele.
enquanto ele transa com a minha mulher”. Por que razão, isso que se sabe no
A satisfação se obtém desse desafio à final da análise, se sabe nesse momento e
morte. Eis a piada do “malandro agulha” não em outro? Por que razão, isso que se
que lhe representa em todas as situações sabe estava à disposição no discurso do
nas quais ele se “afina” face às ameaças do analisante, por vezes muito tempo antes?
Outro. Essa cena vincula às versões do pai, Por que não um pouco antes ou um pouco
construídas na análise. Em relevo, outra depois? Responderei a essa questão sobre a
cena, desta vez infantil, retorna em temporalidade perguntando-me se, nesse
momentos cruciais da análise. Sendo intervalo, entre o que estava à disposição
criança, ele está no banheiro e ouve que sua do sujeito e não se sabia, ou se sabia um
avó materna está chegando em casa. pouco, e o momento do fim da análise;
Decide assomar-se pela janela e cuspir na devem ser articulados um ‘trabalho’, a
cabeça da avó, acertando o alvo. saber: o luto; e um ‘afeto que não engana’
Imediatamente depois sua mãe sobe as (Lacan, 1963), a saber: a angústia. Vale aqui
escadas, está possessa e força para que ele uma ressalva: nem tudo passa ao saber. Se
abra a porta do banheiro, ele não consegue no fim da análise há um ganho de um
não abrir, recebendo em castigo um monte saber, no mesmo momento resta uma
de pimenta na boca e escondendo-se da sua dimensão enigmática.

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Organizo minha questão ver que refere à petrificação, o estupor


diferenciando brevemente luto e angústia. subjetivo, o tempo de compreender
Tomo como referência as articulações de referido ao desfolhamento dos ideais, um a
Lacan, em 1963, quando diz “Não estamos um; e o momento de concluir ligado ao
de luto senão de alguém de quem preço que o sujeito deve pagar para que o
poderíamos dizer: eu era a sua falta” luto, de modo enviesado, chegue a seu
(Lacan, 1962-1963, p. 151) em contraponto término. Esse momento, segundo Lacan,
com a definição precisa da angústia: “a falta define um preço a ser pago pelo enlutado: a
vem faltar” (Lacan, 1962 -1963, p. 50). libra de carne. O sujeito deve pagar com
Minha hipótese é que nesse sua libra de carne, isto é: o sacrifício que o
intervalo do fim da análise, podemos sujeito do desejo pagou por existir. Eis a
articular uma serie que vai do luto à razão pela qual o luto e angústia podem ser
angústia, tendo como efeito: a produção de correlacionados, pois o furo no real do luto
um significante que transforme o “gaio confronta o sujeito com a libra de carne.
issaber”, gay sçavoir, (Lacan, 1974), o saber A respeito da angústia, a seguinte
“alegre”, sempre do falo, que até o definição parece-me preciosa: “Em suma, a
momento funcionava contestando uma angústia é correlativa do momento em que
possível tristeza (a qual seria demitir-se de o sujeito está suspenso entre um tempo em
querer saber). que ele não sabe mais onde está, em
Luto e angústia têm uma tópica em direção a um tempo em que ele será alguma
comum, pois ambos afetam, em primeira coisa na qual jamais se poderá reencontrar.
instância o eu. O luto é um trabalho que É isso aí, a angústia”. (Lacan, 1956-7/1995,
acontece no eu. Enquanto a angústia é um p.231).
sinal no eu. Lembremos: sinal de um real, Em 1963 a angústia se define por ser o
índice de um real. afeto que não engana, impar entre todos os
No luto trata-se da desmontagem das outros, e por não ser sem objeto. Eis aí que
diferentes identificações que afetam o a angústia faz sinal no eu, justamente
simbólico e o imaginário para dar conta de quando o enquadre da borda fantasmática -
um furo no real. O trabalho deverá que inscreve a relação do sujeito ao desejo
contemplar as modificações ao nível das do Outro – vacila, apontando o real do
identificações imaginárias i(a) e simbólicas objeto. A angústia aparece no que não se
I(A), estas última sendo o signum do encaixa e se vincula a essa torção entre o
Outro. As marcas do Outro, as quais se Unheimlich e o heimlich na qual se
inscrevem por traços isolados, únicos, evidencia que o que provoca estranheza é a
“tendo cada um a estrutura do significante” inquietante familiaridade. Entretanto, a
localizam o sujeito em relação a sua angustia é uma subjetivação desse real e por
imagem i(a), envoltório da falta (-φ) que essa razão guia o sujeito quando de
indica um lugar para ser amado pelo Outro. encontro com o mais íntimo do seu ser.
Portanto, o luto é um trabalho Podemos pensar nesses termos tanto a
econômico no qual a libido se desloca em entrada quanto o fim da análise.
novos objetos, sendo o primeiro: o eu. A angustia, afeto de exceção (Soler,
Mesmo se Lacan (1958) nos propõe pensar 2005) é índice do mais íntimo do ser. As
que em todo luto há um furo no real coordenadas desse afeto foram articuladas
diferençando-o da psicose na qual o furo é por Lacan em 1962 na operação de corte
no simbólico, e acrescentado que há pontos do cross-cap, a saber: o objeto a, que
de fuga em todo luto; somos levados a conserva as propriedades da superfície, mas
pensar que o luto tem um final. A lógica não é especularizavel, pois é irredutível à
temporal do luto se resume em: instante de imagem, mesmo dela participando. Por sua

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vez, o corte do cross-cap cria uma parte surpreendentemente besta. E é esse o


periférica que é a superfície da banda de momento de concluir sobre esse saber
Moebius na qual se representa a estrutura neurótico. Mas não sem que antes se abra,
do sujeito. Isso posto: trata-se, a partir da mais uma vez, uma fresta na janela
operação do corte, da formulação das fantasmática que confronta o sujeito com o
coordenadas da fantasia fundamental ($ indizível. Isso deveria nos guiar para uma
a). O corte serve para enunciar as clínica da angústia e do ato (que lhe
relações do sujeito com o objeto que a corresponde em sua certeza) no final da
análise procura (a  $), permitindo análise: incluindo ali, os fenômenos do ato:
estabelecer uma disjunção radical que fará acting-out e passagem ao ato; e
que nenhum saber diga jamais a verdade diferenciando-o do ato que a função da
toda. O mito individual que se articula nos pressa impõe ao sujeito no momento de
significantes que representam o sujeito tem concluir. Os mesmos apontam à
pretensão de verdade (considerando o impossibilidade própria ao saber para dizer
discurso do analista, embaixo da barra - S2 toda a verdade. Depois, sendo ou não
no lugar da verdade). Precisamente o saber, praticante da análise, há um primeiro
no seu bojo, carrega a seguinte fórmula: testemunho que o sujeito do inconsciente
“desde que isso se sabe, que alguma coisa dá. Eis o que esse analisante encontra no
de real chega ao saber, há algo perdido, e a final: a passagem do malandro-provedor
maneira mais certeira de aproximar-se para o cagão resulta-lhe uma surpresa,
desse algo perdido é concebê-lo como um mesmo porque em seu desafio à morte, a
pedaço de corpo” (Lacan, 1963, p. 144). É turgência fálica tinha sido a resposta
isso que o objeto a, no lugar do agente, neurótica que fundamentava seu sintoma.
promove no discurso do analista. Quando
“a falta vem faltar” há um apagamento do BIBLIOGRAFIA
FREUD, S. (1917[1915]). Luto e melancolia. In:
significante em relação ao Che voi? Porém, ______. Edição Standard Brasileira das Obras
precisamente no final da análise, a Psicológicas Completas de Sigmund Freud.
produção de um significante (S1) que Tradução J. Salomão. v. XIV. Rio de Janeiro:
decanta as significações anteriores permite Imago, 197. p. 270-94.
fazer uma torção, sem por isso estar de ______. (1919a). Lo siniestro. In: ______. Obras
Completas. Tradução Luis Lopez Ballesteros y de
posse de todas as respostas. Dito de outro Torres. v. III. 4. ed. Madrid-4, Espanha: Biblioteca
modo: sem por isso fechar o enigma do ser Nueva, 1981. p. 2483-506.
falante. LACAN, J. (1945). O tempo lógico e a asserção da
Se o luto afeta a dialética da certeza antecipada. In: _____. Escritos.
identificação, a angustia afeta o corpo, vai Tradução V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1998, p. 1197-213.
direto ao coração do ser e lhe perturba ______. (1956 – 1957) El Seminario, libro IV, La
porque lá não há significante. Mas, Relación de Objeto. Buenos Aires: Paidós, 1992.
pensando o fim da análise é aí que se ______. (1958 – 1959). O Seminário. Livro VI. O
apresenta o paradoxo, pois quando cai a desejo e sua interpretação. Tradução da Associação
demanda que suportava o sintoma e Psicanalítica de Porto Alegre a partir do texto
estabelecido pela Association Freudienne
justificava a fantasia, um significante Internationale, 2002.
amarra e dá a senha do jogo da neurose _______. (1961 – 1962). O Seminário A
para o sujeito. identificação. (inédito).
Então, porque não antes ou depois, _______. (1962 – 1963). O Seminário. Livro X. A
se algo do saber já estava à disposição? angustia. 3. ed. Tradução do Centro de Estudos
Freudiano de Recife a partir da transcrição realizada
Porque após o luto das identificações, as pela Associação Freudiana Internacional, 2002.
mais singelas e as mais certeiras, a ficção
neurótica se torna ‘boba’,

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______. (1964). O Seminário. Livro XI. Os quatro SOLER, C. Angústia, o afeto de exceção. Notas
conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de pessoais da Conferência ministrada em São Paulo,
Janeiro: Jorge Zahar, 1993. no dia 11 de novembro de 2004, no V Encontro
______. (1969 – 1970). El Seminário. Libro XVII. Nacional da Associação Fóruns do Campo
El reverso del psicoanálisis. Buenos Aires: Paidós, Lacaniano – II Encontro da EPFCL – Brasil, de 11
1992. a 14 de novembro de 2004.
______. (1973 – 1974). Televisão. In: ______.
Outros Escritos. (V. Ribeiro, trans.). Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2003, p. 508 – 543.

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

Acerca de la clínica del fin de análisis


Enrique Katz
resto atención y opino, el tiempo del inconsciente, cada psicoanálisis
amor que cree el psicoanálisis tiene su tiempo.

P es verdadero, o quizás tan


mentiroso como aquellos que
todos los días creen en lo
verdadero
encuentran.
de lo

Esto dice mucho


sobre la práctica que me interesa, me dice
que
El tiempo del inconsciente no es un
tiempo cronológico, sino un tiempo ligado
al proceso de elaboración significante que
le sujeto está llamado a realizar en el marco
de su propia experiencia respecto a sus
propias preguntas y elecciones existenciales
en el tiempo hay una medida.
algo, que los amores también se terminan. Hacer decir tic – tac al reloj nos
Cuando dos que se amaron, me permite percibir su duración porque ya está
dijeron que se sientan a hablar sobre la falta organizado. Pero, tras la entrada necesaria
de amor, cuando el amado no sostiene de la cifra en el tiempo, queda siempre un
como objeto, la ilusión de que es él lo que resto, esta es la razón por la cuál el
hace falta ya no hay nada más que hablar. intervalo entre lso dos sonidos del tic – tac
Así fue que me encontré con enredos en está cargado de duración significativa el tic
algunos análisis para dar cuenta de la - tac es pues una trama, como la
elaboración del fin, como dejar la articulación significante fort – da del juego
transferencia. infantil freudiano pero trama que humaniza
Hay amores que cuentan un puro el tiempo al conferirle forma y donde el
transcurrir. Un devenir que se sostiene en intervalo entre ambos representa el tiempo
el tiempo, peor que no parece lograr puramente sucesivo y desorganizado que
encuentro alguno de aquello que el amor necesitamos humanizar.
busca, y también hay otros, donde se hace Pero ese tic – tac es también un
patente que no son más que encuentro tras tiempo mortificado que no recubre
encuentro donde la pasión que alcanza, no totalmente el tiempo como real, el tiempo
parece provocar ni duración ni historia, vivo del sujeto deseante, el tiempo peculiar
cosa de la neurosis, donde lo que entiendo del sujeto.
por psicoanálisis no lo hallo. Cada amor Este tiempo no es tan poco el
teje su tiempo, cuál es el último. tiempo como medida del valor del trabajo
Encuentro tras encuentro, donde el del analista.
“tras” implica una cronología en donde Según los parámetros propios de la
propongo recuperar para pensar la palabra economía del discurso capitalista que
freudiana excomulgada de la elaboración. sanciona que el tiempo equivale al dinero.
Encuentro tras encuentro ¿Cómo En un psicoanálisis se trata entonces de
situar por que alguno de estos encuentros restaurar la función del tiempo en
merece ser el último? Y en estos enredos conformidad al funcionamiento temporal
del amor a punto que la caída del sujeto del inconsciente del sujeto.
supuesto saber es un momento que se Si hay un resumen insuperable que
incluye entre el amor y el olvido. Digo rectifica el aporte de la lingüística y que
entonces: si el tiempo del psicoanálisis es el ante todo rectifica el concepto de tiempo

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es: “lo que se diga permanece olvidado “Lo que habré sido para lo que
detrás de lo que se dice en lo que se estoy llegando a hacer” se caracteriza por
escucha”. Lectura de Lacan del expresar acciones expresadas en futuro en
“Atolondradicho”. relación con hechos del pasado, ninguna de
Lo que se diga, cuando se habrá de las dos acciones han concluido, ni lo que
decir? ¿Cuándo sino, en una diferencia para habré sido ni lo que estoy llegando a hacer.
siempre diferida? En la gramática que se Sin embargo hay matices dentro de esta
diga menciona el presente del subjuntivo, fórmula del futuro anterior, justamente lo
tiempo virtual y desiderativo. Virtualidad que se percibe como pregunta es porque es
que excluye la actualidad del acto. (El ahora de tipo conjetural, el “habré” es una
es sino sido siendo). Lo que se dice es conjetura; hay una acción dudosa o
siendo sido lo que habrá sido gracias al supuesta, “habré” de un pasado, “sido”, y
espaciamiento de lo que se dice con aquello relativa a otra acción venidera también
que se escucha (entiende). conjetural, porque no es “lo que seré” sino,
Este intervalo sin duración que “lo que estoy llegando a hacer”.
separa el decir del escuchar es operado y Hay una doble conjetura en el
retenido por la sustracción de una “habré sido y en el “llegando a hacer”,
presencia virtual, sin consumación. entonces esto propicia una sensación de
(Siempre falta algo para la plena descarga y interrogación de que hay algo que no está
satisfacción) Freud y sus conmovedoras acabado ni en un lado ni en el otro. Y con
notas póstumas. todo esta, ¿qué ocurre con los analistas y el
Entre el decir y el dicho, entre la fin del análisis?
enunciación y el enunciado, la separación Recuerdo una práctica de control, la
proyecta hacia el futuro lo que se haya de analista temerosa de la violencia esperable
decir sin que sea posible decirlo. Lo que en acto que creía escuchar en el decir del
resta por decir habrá de ser dicho cuando analizante, quería su finalización. Creía
sea dicho lo que ha sido, curioso futuro encontrar la solución subiendo los
anterior, que es anterior al retorno de lago honorarios más allá de las posibilidades de
sido ¿Cuándo fue lo sido mismo? ¿Alguna pago. Quería echarlo. El expulsado se las
vez fue pasado sin presente? ¿O bien, ingenió luego de un tiempo, reorganiza su
presente sin pasado? No hay otra respuesta economía y apretó victorioso el timbre de
que la adelantada: lo que está siendo es la asustadiza. No sería tan rápido ni tan
sido, porque no hay ningún sujeto que sea fácil el final de lo que se tramitaba, porque
contemporáneo de si mismo, el corte y la el sujeto puede hacer ahí donde le pedían
repetición que define al acto se articula que se vaya. Escena básica de su fantasma
eludiendo la dimensión del presente, de provocación al otro.
porque todas las dimensiones temporales Ahora un suceso en apariencia que
pasan de continuo por ese lugar vacio que relata todo lo contrario. Aquí en el analista
es el tiempo virtual, tiempo de elixis. su fantasma se jugó en tratar de retener a
Lo que ocurre en mi relato no es esa paciente en momentos en que le
una historia acabada, lo que se realiza en mi preocupa demasiado el tener el consultorio
historia no es el pretérito definido, en el despoblado. Se cuida de decir lo que
sentido de “lo que fue”, no es lo que ha escucha, el tema de la finalización del
sido en lo que yo soy, es futuro anterior es análisis, insiste en la palabra de esa mujer.
“lo que habré sido para lo que estoy Cuidado temeroso, no muy
llegando a hacer” esta acción venidera que efectivo, puesto que no impide que la
anticipa a otra acción venidera esta es la analizante insista en la transferencia lo
temporalidad del sujeto analítico. suficiente para no dejar ser enmudecida. En

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una de esas veces en que la mujer declara con s posibilidad de existencia los destinos
que “todo se termina”, el analista sabiendo de una relación. No es lo mismo que algo
hacer ahora un poco más sobre sus miedos, tenga o no un fin. De eso depende que
subraya lo que escucha, lo que no se atrevía haya lugar para el deseo. Se le marca aquí
a pronunciar con la esperanza de controlar que le fin de su análisis fue incluida por ella
sus implicancias y es ahí que el analista al modo de una petición a ser concedida.
dice: “es cierto, todo se termina, cómo La vuelta que ahora encontraba era cómo
hasta el análisis”. Después de un silencio de seguía, si seguía aquello que podía tener un
ella, la analizante que parece no haber fin. Re encontrarse con su deseo de
prestado atención, se acuerda de dos analizarse iba por el sesgo de que el fin de
hombres, el empapelador y el mecánico, análisis era un tiempo que podía llegar.
con quienes se peló fuertemente, “los El tiempo del análisis no parece
trabajos se terminan bien o no se encontrarse en el mejor lugar si forma parte
terminan”, yo me enojo demasiado, si a del fantasma del analista, más bien este
veces pudiera hacer un chiste, fórmula debería saber pagar el precio que su
rotunda para que alguien diga de su anhelo función exige dejándolo entre paréntesis.
que en un tiempo porvenir su análisis le Entonces el trabajo arduo de los
permita realizar lo que quiere de lo que analistas: separar los dos sentidos de la
desea. palabra “fin” en cuanto a finalización y en
Así tiene trascendencia la cuanto a finalidad no parece banal y
tramitación de la inclusión del fin de terminado. No se muestra saldada la
análisis en el decir del analizante. Que cuestión y aunque los analistas estemos más
alguien se decida a hablar de la terminación avisados que es inherente a nuestro lugar
de quien fantasea despedirse. Si hasta ahí pagar con nuestras aspiraciones y
hubo análisis, es un paso, nada fácil de prejuicios, no terminamos con nuestro
sostener por el analizante, toda vez que fantasma de esperar “algo”.
cuestiona la existencia de la transferencia, El fin de un análisis se presenta
Aquí quiero diferenciar de la pregunta que como un lugar privilegiado para que la
aparece en las entrevistas previas, a veces, analista espere. ¿Pero que sería propicio
sobre ¿y esto cuánto dura?¿cuándo le que espere? Nada que esperar de un fin de
parece a usted que este análisis debe análisis. Arriesgo, más que la manera
terminar? Fórmula que una analizante particular con que ese análisis se las arregla
encontró para introducir el fin de análisis para dar a leer que ahí hubo un fin. Un fin
bajo el modo de la demanda. Que la de la cuestión que lo inicia y es que vamos
abstinencia ubique el fin de análisis en serio a un análisis para saber, sin relucir este a un
con otros objetos de su historia, no oculta conocimiento, ahí donde la angustia hace
que se realiza una operación para que sea pregunta, entonces ¿Qué otra cosa ofrece
leído ese fin como posible. como promesa inaugural un psicoanálisis,
En una sesión posterior, una frase sino, “ese” saber sobre el padecimiento?
sale al encuentro del analizante en medio Comienzos del seminario XXIV
de una de sus habituales quejas, por el dice Lacan “el psicoanálisis particularmente
desasosiego que le produce su pareja: no es un progreso. Es un sesgo práctico
“hasta que la muerte nos separe, es muy para sentirse mejor”
pesado, no permite que se elija” dice
descubriendo que una separación cambia

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__________________________________________________▪ Modalidades subjetivas do tempo

O tempo real na experiência analítica (o que


conjuga a entrada e a conclusão da experiência de
análise)
Eliane Z. Schermann
reud afirma que o Como articular a função da pressa
inconsciente ignora o tempo. com o tempo necessário para que o “ser”

F Para Lacan, o tempo faz o


inconsciente. Para Lacan, o
tempo orienta a estrutura
desse
palavras”
“discurso
e define
sem

inconsciente como “um saber


que não pensa, nem calcula, nem julga, o
o
nasça da falha produzida ao se dizer? O
tempo real insiste em se dizer para, enfim,
alcançar o que já estava em causa e não
podia ser dito desde a entrada. Lacan
nomeia em Radiofonia de “a foice do
tempo” (la faux du temps / il faut du
temps) essa experiência de se deparar,
que não o impede de trabalhar” (Televisão). mesmo sem o saber, com o que já lá estava
O tempo é tratado por Lacan como desde “o instante de ver” a falta e a
escansão, como hiato, como o que cessa e castração do Outro.
o que não cessa de escrever os traços nos Em psicanálise, as questões sobre o
quais o sujeito se apaga e se precipita ao se tempo só podem ser abordadas em relação
desvelar em ato. No entanto, ele também à estrutura. O sujeito depende do
afirma ser preciso tempo para que o significante que o determina e que também
inconsciente advenha à falha que se revela o divide. Ao trabalhar Hamlet, Lacan
no “ser” ao se dizer. Se, por um lado, é afirma que “o tempo, em sua própria
“preciso tempo para fazer traço daquilo constituição nos tempos da gramática –
que falhou (défailli) em se mostrar de passado, presente e futuro – se refere a
saída”, por outro lado, a função da pressa nada mais do que ao tempo da fala, do blá-
precipita o sujeito no lugar vazio do objeto, blá-blá”. Logo, embora seja preciso tempo
fazendo com que, no ato, o sujeito se para alcançar a verdade, o tempo na
“realize na perda em que surgiu como experiência analítica está estreitamente
inconsciente” (Radiofonia). ligado à transferência, ou seja, ao que, a
Essa experiência supõe uma partir dela, do equívoco do SsS, se desvela
travessia pela perda, regulada pelo objeto a. e se precipita. Então a transferência não é
Não podemos ignorar a contingência do simplesmente repetição de um passado
ato analítico, provocando seus efeitos no desconhecido que segue o traçado da
tempo a posteriori da experiência analítica. orientação fálica. A transferência é definida
Enfim, o objeto a é o fundamento da por Lacan como “a colocação em ato da
estrutura topológica do inconsciente e realidade sexual do inconsciente”. E esta
serve de lastro ao tempo necessário (por realidade nada mais é do que regida por um
exemplo: nachträglich, na função da pressa, “não há”, por algo que se furta à razão
no après-coup) para liberar o sujeito da fálica (que faz com que os significantes se
repetição monótona em que fixou seu ser. sucedam, na descontinuidade, orientados
pela metonímia e pela metáfora).

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A transferência se refere à próprio significante é equívoco) se não


dimensão do tempo necessário para que o houver nenhuma intervenção que conduza
sujeito encontre os significantes de sua a um trabalho que vise descentrar a
alienação. Os significantes que daí surgem demanda em direção à causa. Para tanto, é
obedecem às leis da repetição e da necessária a intervenção de um analista.
automação. Eles são regidos pelas leis do Esse é o momento inicial do ato analítico
simbólico de permutação e substituição. que permite ao sujeito da experiência
Um sujeito repete na experiência de análise analítica destacar sua marca de gozo .
os significantes que marcaram o momento Como efeito do ato analítico, uma
em que fixou seu ser. Os significantes se falta é extraída da lei repetitiva da cadeia
desvelam no sintoma, sem o saber. Lá onde significante (já que esta falta é correlata ao
estava o significante de um gozo motor da demanda). A falta abre o circuito
primordial, deverão advir os significantes da pulsação inconsciente (abre o circuito
produzidos pelo trabalho de transferência. pulsional) para permitir a construção de
Entretanto, “é o real” – insistente em se uma ficção nos instantes de encontro
dizer – “que permite efetivamente desatar inesperado do sujeito com sua verdade.
aquilo em que consiste o sintoma, ou seja, Como efeito, o sujeito tende a se precipitar
esse nó de significantes” (Televisão, p. 25). na surpresa que reflete a urgência da perda
Ao lado de um trabalho de de um gozo até então possivelmente
transferência nomeado por Freud de ignorado. Esses instantes fugazes em que o
Durcharbeitung, propomos distinguir um sujeito se precipita como efeito da perda
outro efeito deste trabalho que não é subjacente ao desdobramento do traçado
simples repetição. Há uma exigência lógica da “bússola”, razão ou orientação fálica,
inerente ao percurso analítico que não marcam uma suspensão (Aufhebung) e
ignora a causa do desejo subjacente ao uma interrupção de um tempo que se
deslizamento da série. Ao reenviar o sujeito sucede.
à descontinuidade psíquica, o que foi vivido Embora seja preciso um tempo
como sucessão se inscreve como para que se desfaçam os nós que ataram o
simultaneidade. Em um instante – o do ato sujeito aos seus sintomas, é da alternância
-, entre a causa e o efeito há (atualiza-se) entre tédio, monotonia de significantes e
um hiato que se desnuda como pulsão. A precipitação na pressa que a estrutura é
causa funda na atualidade a matriz de um constituída. Assim duas versões do gozo
“futuro anterior” – nachträglich. são recuperadas – uma fálica, da qual
Para discutir a entrada que antecipa extraímos as marcas da seqüência
a conclusão da experiência analítica, vamos tensionada entre antecipação e retroação
nos deter em dois momentos cruciais da (ou seja, extraímos as marcas do sintoma
direção de um tratamento. É a partir das que surgiram da descontinuidade fálica no
entrevistas preliminares que poderemos encontro com a pulsão de morte), e outra
dizer se um sujeito a se realizar como orientada pelo objeto a , em que o não-
possível analisante encontrou um possível todo se furta ao gozo fálico e faz com que
analista ao qual endereçar “aquilo” que lhe o sujeito se precipite em uma decisão
retornará como questão. Então, é impensável, imprevisível.
necessário um tempo para que se dê este A contingência, provocada pela
“encontro/re-encontro”. No entanto, a pressa em concluir, está mais para o
entrada na experiência analítica corre o registro do que “cessa de não se escrever”.
risco de se constituir em um tempo O falo objeta a possibilidade do encontro
monótono que se perpetua no mal- sexual, impede o encontro de se realizar.
entendido inevitável próprio à estrutura (o Contudo, o falo funciona como símbolo da

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castração, tornando assim visível o tempo A experiência de análise não é um


zero da falta. O falo também vale como processo devotado à
símbolo do gozo. É dessa forma que o falo eternização/eternidade. É mais uma
se reafirma como da ordem do impossível experiência que visa levar o sujeito a falar.
– “o que cessa de não se escrever”. Apenas Mas falar o essencial em um curto espaço
no a posteriori – après-coup - da de tempo (veremos surgir na pressa o que é
experiência é possível ser revelada a o essencial). Esse essencial se refere a
resposta que reduz o sujeito ao seu “ser” agarrar a prova do impossível na
sem o Outro (ou seja, o sujeito enfim se contingência da precipitação que desvela o
reduz ao seu ser de gozo, ser necessário ao sujeito em ato.
real em sua consistência lógica para que daí Enfim, o objeto a funda a estrutura
possa se precipitar no novo que o re- topológica do sujeito, serve de lastro ao
significa). tempo que sempre falta no processo
O vazio incluído na suposição de constitutivo do sujeito (futuro anterior).
saber da colocação em ato da realidade Enquanto a repetição é acompanhada por
sexual da transferência se opõe à repetição um erro na contabilidade, há nela mesma
da presentificação do passado. Como a sempre um-a-menos, uma volta que falta e
sexualidade é marcada por um “não-há”, que faz furo levando o sujeito a tentar
esse “nada”, espaço vazio da pulsão, ressurgir e a se representar no traço
convoca o sujeito prometido ao novo, unário..No traço, ele se desvela mas
passível de ser comparado ao vocábulo também se apaga. Nessas voltas da
“há-de-vir” = “advir” da expressão repetição , o sujeito poderia se contar
freudiana Wo Es War, Soll Ich Werden. cronologicamente, uma após a outra.
(Onde o Isso era, o sujeito – efeito da Contudo, nessa contagem, há sempre uma
atividade do objeto, correlato ao ato que volta que falta. Dito de outro modo, trata-
faz com que o sujeito se precipite – há de se de um tempo lógico que aí se furta. O
vir). que conotamos como objeto a, objeto fora-
O dispositivo analítico oferece ao de-sentido produz o efeito de corte, hiato
analisante a possibilidade de reorganizar as e suspensão de sentido. Como efeito da
marcas (o traçado) significantes de seus pressa em concluir, o sujeito se eclipsa no
ditos no après-coup de sua experiência, no objeto a que o precipita em ato para passar
a posteriori de seu percurso. Daí se a um tempo em que o desejo se torna
depreende a lógica explicitada por Lacan novamente um futuro calculável, fruto da
em Radiofonia: “o ser nasce da falha que incalculável “leveza do ser” produzida pelo
produz o ser ao se dizer”. objeto. Enfim, é o objeto a que conjuga a
Uma nova montagem da pulsão é entrada em análise com a saída.
passível de se reorganizar para além da A operação analítica deve (dever
fantasia que sustentou o sujeito em seus ético) conduzir o sujeito a se identificar
ditos. Esse “ser” não mais advém do Outro com seu ato, assim como deve conduzir o
nem do laço transferencial que, pela sujeito a fazer ato de sua causalidade.
demanda, conectava o sujeito ao Outro. Enfim, é preciso tempo para “saber lidar”
Como efeito desta separação, não mais com o que estava em causa desde a entrada
haverá correspondência nem no amor nem (saber sem sujeito) e que também reordena
no saber. A impossível resposta do um dizer a partir da sua reiterada perda. “A
simbólico revela não haver “boa-hora”- cada conto, se acrescenta (e se perde) um
(tické) para o sexual porque este é marcado ponto”, diz o ditado popular.
pela contingência.

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

Tempo para fazer-se homem


Ida Freitas
freqüência com que o sintoma hemorróidas. Desde então passa a recusar-se
da fobia vem se apresentando a ir a escola, e isso dura aproximadamente 2

A na clínica, em especial, aquela


fobia capaz de produzir uma
descontinuidade na vida do
sujeito, como o afastamento
da vida escolar e social de
jovens rapazes, tem me levado
a refletir a respeito desse fato clínico, sem,
anos e meio. Os sintomas eram múltiplos
caracterizando um quadro de medo e
angústia com seus efeitos sobre o corpo, que
passa a funcionar como um termômetro para
os passos e pensamentos do sujeito. A isola-
se em casa relacionando-se apenas
virtualmente com seus semelhantes, vivendo
no entanto perder de vista a singularidade um mundo paralelo através de seu jogo
dos casos concernidos ao mesmo fenômeno. preferido em um Chat da Internet. Vem a
O título escolhido – Tornar-se análise estabelecendo sem dificuldades um
homem – advém das primeiras reflexões laço transferencial positivo e produtor de
sobre as observações clínicas referidas. saber, mas que exige tempo, a temporalidade
Alguns sujeitos parecem precisar de mais própria da associação livre, segundo Soler
tempo que outros, mergulhando num longo (Um tempo a mais – Heteridade 3
tempo para compreender, acompanhado do p.103) que é a dos enunciados, que colocam
isolamento no ambiente familiar evitando os ditos em série. Apesar do inconformismo
assim o contato com espaços públicos, e familiar, do freqüente questionamento dos
conseqüentemente todos os riscos ali amigos e de seu próprio tédio A esteve,
implicados. exceto por poucas tentativas de retorno a
Tempo para que? Para poder escola, impassível na sua decisão de não ir a
responder aos apelos fálicos, como a posição escola. A análise que teve como fio condutor
em relação a diferença sexual, à assunção de a pergunta: o que é um pai? Que se desloca
seu próprio sexo, e sobretudo em relação ao para: o que é ser um homem? E que encontra
desejo que apontará para a possibilidade de a resposta identificatória, que lança o sujeito
gozar do corpo de um parceiro? Para no futuro de seu desejo: Quero ser um
assumir a responsabilidade pelas próprias homem bom como meu pai. Se conseguir ser
escolhas? Para encontrar um lugar na para alguém o que meu pai, apesar de sua
estrutura significante, através do trabalho de ignorância, foi para mim, ficarei satisfeito.
identificação? Enfim, tempo para fazer-se Caso B – Menino, 16 anos, desmaia
homem, já que os casos que me inspiram a no Shopping, apresentando a partir daí o
essa elaboração referem-se a sujeitos que se medo de desmaiar em lugares públicos,
encontram na passagem de meninos para encerrando-o em casa na companhia de seu
homens? computador. Inicia a análise e interrompe os
Centrarei minha reflexão a luz de três estudos por 3 anos. Sua análise traz uma
casos clínicos que como observado acima lembrança infantil, viu sua mãe traindo seu
possuem alguns pontos em comum. Caso A pai e silenciou sobre isso. Outra lembrança
– Menino, 13 anos. A angústia é importante: quando seu avô morreu pensou:
desencadeada a partir da ausência da mãe eu serei o próximo. O desmaio surge como
determinada por uma cirurgia de metáfora da morte, que o coloca ao abrigo de

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seu desejo, na medida em que desejar uma Na adolescência, o real irrompe de


mulher poderia implicar em “ser feito de forma particular. Aquele sujeito, que havia
corno-idiota, como seu pai”. Uma renunciado à atividade sexual, num tempo de
interpretação do inconsciente via um sonho compreender que é a latência, é despertado
indica um significante para a identificação desse sono, com a sexualidade fazendo
procurada, seu avô lhe diz: “Meu filho, esse barulho e buraco à sua porta. Como
lugar é seu, em referencia ao lugar que ele, o conseqüência desse acordar advém o apelo
avô, sentava à mesa, e complementa, o lugar ao encontro de um parceiro, colocando o
do homem da casa”.Ao fazer aniversário B sujeito de forma inédita, frente ao enigma
enuncia: fiquei triste porque estou mais que representa A Mulher, obrigando o
velho, não temo mais a morte, mas me adolescente a se recolocar em relação à
entristece o fato do tempo passar tão rápido diferença entre os sexos, à assunção de seu
e só termos uma vida para viver. próprio sexo e, sobretudo, em relação ao seu
Caso C – Menino 16 anos, muda de desejo. Desejo esse, que inclui a possibilidade
escola e não consegue mais ser engraçado e de gozar do corpo do parceiro, tempo
portanto popular. Não encontra mais as particularmente fecundo que impõe o ato de
palavras, não se encaixa mais na imagem que escolher.
tinha de si, outros passam a ocupar seu lugar, Em A temporalidade do sujeito,
não suporta o olhar do outro porque o Fingermann, precisa que:
interpreta como: “você é um merda”. Como “A identificação do sujeito é um momento
conseqüência dessa inibição advém o inaugural, “passagem ao ato” do sujeito,
afastamento da escola, porque como o momento de concluir a sua “insondável
próprio C repete infinitamente, seu problema decisão do ser”: decisão-conclusão-
incide na relação com o outro, esse outro que separação-identificação.
encontra na escola. O abalo das “Decisão do ser insondável” que
identificações imaginárias deixa C diante do podemos, no entanto sondar como
vazio levando o sujeito a se interrogar sobre acontecimento singular do sujeito, a partir
seu ser, Quem sou eu, sou um merda? Sou das três modalidades de identificação que
nada? Sou um louco? Gostaria de voltar a ser Freud descreve, e que remetemos aos três
quem eu era... E ainda, porque justo no tempos lógicos que produzem o sujeito até o
momento em que eu deveria ter me afirmado seu momento de concluir inaugural.
como homem, parei, deixei o tempo passar e Estas três escansões do tempo lógico,
agora não sei como voltar. C ainda está a que produzem o sujeito a partir de um corte,
deriva, a procura de uma “ identificação que de uma ruptura de sua superfície, implicam
se cristalize numa identidade”, seu tempo de uma topologia peculiar. Três tempos, dois
compreender ainda não levou o sujeito a dar movimentos, uma topologia. Esta estrutura
os giros necessários para concluir, afirmar topológica conclui, posiciona, localiza o
algo sobre seu ser. sujeito em torno da sua “extimidade”, ou
Podemos dizer através dos seja, da articulação topológica de seu furo
ensinamentos de Freud e Lacan que o grande “interno”, com o furo do Outro”.
embaraço da adolescência, se caracteriza por Podemos pensar que essa passagem
um novo encontro com o real, com a da infância a vida adulta que não se dá sem
inconsistência do Outro, com a castração. que o sujeito articule sua divisão, com o furo
Um encontro com o real pode vir a produzir do Outro, exige uma atualização das
um abalo simbólico, exigindo do sujeito um operações de decisão, conclusão, separação e
trabalho mental no sentido de um rearranjo identificação, uma atualização dessa
deste na estrutura. conclusão inaugural do sujeito.

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Essa operação de transformação que trabalho, especialmente por parte dos pais,
acontece num sujeito quando este escolhe um por outras tentativas como a medicalização
traço com o que o representa, para um outro do sintoma, ou breve passagem por alguma
significante, essa operação de identificação terapia, pela religião, mas a aposta sempre
como um tempo para compreender, é o que relançada que o desejo do psicanalista opera,
pode retirar o sujeito da deriva significante, possibilitou a continuidade da experiência
para um tempo de asserção subjetiva, de analítica em paralelo a descontinuidade na
cristalização de uma hipótese autêntica, é a vida do sujeito.
certeza antecipada pelo sujeito no tempo de Há um tempo necessário para se fazer
compreender; tempo da afirmação, bejahung, ser, para fazer-se homem, nos casos
tempo de um consentimento ao UM, que abordados. O tempo lógico, segundo Soler, é
marca e transforma o rastro em traço. o tempo necessário para produzir uma
Ainda seguindo a elaboração de conclusão a partir do que não é sabido.
Finguermann concordamos que “a Alguns sujeitos necessitam de mais tempo
identificação junta as partes, faz ancora, que outros, isso é um fato, alguns conseguem
amarração, faz sintoma: dá consistência apesar do medo e da angústia seguir sua
imaginária, à ex-sistência real, a partir de um rotina, suas tarefas, outros, e isso tem sido
furo simbólico”. habitual em nossos dias, precisam se abrigar
Uma psicanálise é desde Freud uma em seus territórios seguros para compreender
experiência subjetiva que requer tempo, e reordenar seu particular universo
tempo real para que as operações lógicas significante, sem a ajuda do mouse. Passar
possam se efetuar. Um psicanalista hoje, mais dos games para o jogo da vida para alguns
do que em qualquer outro tempo anterior se pede um esforço a mais. A virtualidade, a
depara com as exigências da pressa, da possibilidade de ser poderoso, forte, rico,
eficácia dos resultados. É com toda razão que enfim ter atributos fálicos no jogo eletrônico,
uma mãe se angustia e demande resultados ao parece produzir a ilusão de uma facilidade em
tratamento de um filho que está fora da conquistar, em ter e até mesmo ser, mas o
escola há um, dois anos ou até mais tempo. tempo passa e esse pequeno internauta se
O que dizer a esses pais, se não, paciência! torna grande e o mundo o convoca a outros
Lacan no Seminário 2 ( p.113) jogos.
pergunta, – “O que a psicanálise desvenda – Nos três casos trazidos, a inserção
se não a discordância fundamental, radical, dos rapazes durante longo período de suas
das condutas essências do homem, com vidas nos jogos eletrônicos foi a meu ver
relação a tudo o que ele vive? A dimensão excessiva, sem limites, assim como pede o
descoberta pela análise é o contrário de algo capitalismo. Sem até o momento uma
que progrida por adaptação, por pesquisa um pouco mais aprofundada a
aproximação, por aperfeiçoamento. É algo respeito, fica a questão para um próximo
que vai aos saltos, aos pulos”. desenvolvimento, de que se para esses jovens
Nos exemplos clínicos trazidos a maior dificuldade para lidar com seus
encontramos nos dois primeiros, resultados sintomas não recebe uma contribuição dos
satisfatórios e acredito que o mesmo ocorrerá efeitos dessa outra experiência, ainda um
com o terceiro, mas tais resultados não foram tanto desconhecida para muitos adultos de
alcançados sem a passagem por todos os hoje.
questionamentos, pela quase desistência do

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

Acerca de la anticipación en la clínica psicoanalítica


lacaniana con niños (Volver al futuro)
Pablo Peusner
n la enorme bibliografía ambos valores temporales del significante,
psicoanalítica, y o sea anticipación y retroacción, en un

E específicamente en aquella
dedicada a los problemas
emergentes de la clínica, se
verifica una

carácter retroactivo del


fuerte
insistencia por destacar el

significante; o sea, su valor en lo referente a


ámbito de trabajo con las características de
la clínica psicoanalítica lacaniana con niños?
Antes de responder, conviene hacer
notar que si bien no podemos desconocer
la dependencia genérica del niño respecto
de sus otros parentales que representan al
medio humano, sí podemos afirmar –
la resignificación. Sin embargo, Lacan siguiendo a Lacan– que esa dependencia
afirmaba que debido a su naturaleza, el puede considerarse como “dependencia
significante “anticipa siempre el sentido, significante” desde un estadío
desplegando en cierto modo ante él mismo increíblemente precoz del desarrollo,
su dimensión” . justificando de este modo que el analista no
Este doble matiz temporal propio retroceda ante la situación de la consulta
de su funcionamiento estaba ya presente en por un niño. Si este modo de dependencia
el adjetivo alemán Nachträglich que Freud puede considerarse “significante”, entonces
utilizaba con frecuencia para dar cuenta de es posible formular la siguiente hipótesis: la
procesos de temporalidad paradójica. Se presencia de los padres y parientes en la
trata de un término que admite una doble clínica psicoanalítica lacaniana con niños
lectura: puede indicar que el sujeto no puede considerarse un real. Si bien por
continúa cargando cierto evento del pasado el momento se trata sólo de una hipótesis,
hasta el presente –es decir, cierta tensión conviene desarrollar las implicancias de una
hacia adelante, cierta tensión hacia el afirmación tal.
futuro–; y también puede indicar que el El significante “presencia de padres
sujeto vuelve al pasado para encontrarse y parientes” no es un significante de Lacan.
con el evento –o, lo que es equivalente, que No hay en los textos lacanianos referencias
el sujeto trae el evento del pasado hacia el explícitas al problema, sino que el término
presente, futurizándolo–. Conviene pareciera provenir de los textos freudianos,
entonces destacar que, en español, al donde dicha “presencia” era reducida a una
traducirse Nachträglich por “posterioridad” presencia en la realidad: una presencia física
(recurso frecuente entre los psicoanalistas que, además, cobraba valor de obstáculo al
de habla hispana) se pierden la noción de tratamiento. Cito: “Psicológicamente, el
retorno al evento y la idea de permanencia niño es un objeto diverso del adulto,
del evento, tanto como la referencia a un todavía no posee un superyó, no tolera
continuo proceso elaborativo de nueva mucho los métodos de la asociación libre, y
significación. la transferencia desempeña otro papel,
Ahora bien, ¿cómo establecer un puesto que los progenitores reales siguen
dispositivo que permita el despliegue de presentes” .

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Nosotros, psicoanalistas, no bajo el modo de consignas, consignas que


definimos al padre y a la madre de un niño vehiculizarán –incluso hasta en las
a partir del lazo sanguíneo que entre ellos inflexiones de su enunciado– la doctrina
mantienen. La clínica contemporánea se con que el practicante las sostenga, tanto
articula con todo un muestrario de nuevos como el efecto que en su análisis personal
modos de lazos familiares que, de alguna hayan producido sobre él.
manera, nos obligan a resituar en lo Si el dispositivo de presencia de
simbólico los lazos paterno-filiales (y padres y parientes en la clínica
también los fraternales). Ahora bien, la psicoanalítica lacaniana con niños es
existencia de esos lazos... ¿únicamente llevado a su máximo desarrollo, se tensará
puede cobrar valor de obstáculo en el una red discursiva en la que se hablará del
devenir clínico, o puede resultar utilizable sujeto o asunto desde diversas posiciones
en alguna medida? enunciativas, permitiendo que dicho sujeto
Para responder, conviene recordar bidimensional quede en clara posición de
que la acción que el analista produce sobre dependencia respecto del significante. Así,
el paciente –o en nuestro caso, sobre el en los relatos que puedan aparecer, ya no
niño considerado como paciente, y sus importará quién sea el autor de los textos,
padres y parientes incluidos en el sino que estos “se digan”. En una red tal,
dispositivo– “se le escapa junto con la idea será posible enunciar acontecimientos
que se hace de ella, si vuelve a tomar su pasados como si fueran posteriores al
punto de partida en aquello por lo cual ella momento de la enunciación reponiendo el
es posible, si no retiene la paradoja en lo Nachträglich freudiano, aunque ahora
que ella tiene de desgarrado, para revisar en transmutado en futuro anterior. Y como el
el principio la estructura por donde toda analista conjetura, su intervención puede
acción interviene en la realidad” . He aquí devenir en una hipótesis o abducción
su política, la del analista, a la que hipocodificada de efecto anticipatorio y
sugerimos adscribir el dispositivo de decisivo para el asunto en cuestión,
presencia de padres y parientes; dispositivo permitiéndole establecer relaciones
que se diseñará con la mayor libertad según coherentes entre datos textuales diferentes
la táctica de cada caso, tomando posición y aún inconexos.
acerca de quiénes participarán y con qué Hemos verificado en la muy
frecuencia –aunque, para facilitar ciertos diversificada clínica psicoanalítica lacaniana
fenómenos temporales de tipo con niños que dejar en manos de los padres
anticipatorio, proponemos que ésta debe y parientes la decisión del momento de la
ser fija–. entrevista con el psicoanalista, produce que
Este dispositivo –que no será sino casi siempre lleguemos tarde al problema
una red generada por un discurso que en cuestión, además de derivar en una
incluye decisiones reglamentarias, especie de cesión de nuestra tan preciada
enunciados científicos, proposiciones dirección de la cura.
enunciadas y no enunciadas– estará Creemos que el trabajo así planteado
inscripto en un juego de poder (del que contribuye a una labor conjunta en la que
Colette Soler ha señalado su violencia ciertas ideas pueden matizarse y presentarse
inicial para cualquier modelo de menos bruscamente, a la vez que permite
dispositivo), y contribuirá a la creación de trabajar en un terreno de probabilidades
la llamada “situación analítica”. Así es que beneficioso para lo que hemos dado en
la presencia de los padres y parientes se llamar “el sufrimiento de los niños en su
convertirá en un artificio generado a partir matiz objetivo” .
de las directivas planteadas por el analista

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En uno de sus textos clásicos, “Reglamento y doctrina de la comisión de


“Introducción al narcisismo”, Freud la enseñanza de la SPP”, Lacan subrayaba
proponía que los padres obtienen por la vía la flexibilidad técnica que debía acreditar
del niño cierta satisfacción como modo de cualquier candidato al ejercicio de la clínica
recupero de un antiguo narcisismo ya con niños. Y en ese marco, afirmaba que a
resignado. Sin embargo, nos atrevemos a nosotros, los analistas que no retrocedemos
afirmar que un hijo siempre es más, menos ante los niños, se nos solicitaban sin cesar
o distinto de aquello que podría haberlos invenciones técnicas e instrumentales, lo
satisfecho plenamente a nivel de ese que terminaba por instalar al trabajo
narcisismo ya perdido. Surge así una teórico-clínico con niños en el lugar de “la
diferencia que al retornar sobre la posición frontera móvil de la conquista
parental determina un modo particular del psicoanalítica”. Que nuestra propuesta de
sufrimiento: el sufrimiento de los niños en trabajar con el dispositivo de presencia fija
su matiz objetivo. Y como cuando el de padres y parientes en la clínica
paciente es el niño este sufrimiento es psicoanalítica con niños sea considerado
susceptible de ser abordado, desplegado y como un intento de extender dicha
modificado por la vía del dispositivo de frontera, favoreciendo los dos valores
presencia de padres y parientes, temporales del significante, valores
encontramos otro motivo para justificar el coadyuvantes a la hora de intentar ceñir a
uso del mismo, y para reflexionar acerca de lo real.
sus alcances.
Tempranamente, en 1949, con
ocasión de proponer su proyecto de

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

El tiempo del sujeto niño del inconsciente


Ana Guelman e Susy Roizin
os diferentes puntuaciones inconsciente no tiene status óntico,
en el titulo, dos tampoco lo tiene su tiempo. Es un tiempo

D resonancias significantes:

sujeto...
1) El tiempo del

inconsciente.
niño

simbólicamente, engendra
al sujeto, como a un niño-producto del
del
El
inconsciente, estructurado
evanescente, como el “ahora” aristotélico,
un instante ubicado entre el pasado que ya
fué y el futuro que todavía no. El tiempo es
a partir de ese momento lo efímero de una
pulsación, porque aparece un real en juego,
más allá de la vertiente simbólica del
inconsciente. En el encuentro entre lo Real
lenguaje. En tanto sujeto, no tiene edad. 2) y lo Simbólico queda una huella de goce
El tiempo del sujeto-niño ... del imposible de absorver por el
inconsciente: Se trata asi de la subjetividad significante.Hace falta entonces un segundo
de una “persona menor”,viviendo en el tiempo.Es un tiempo que dura, el tiempo
primer tiempo de su vida y por lo tanto de la repetición de sus vueltas significantes
dependiente del amor, expuesto como una que nunca alcanzan a ese Real, pero que
esponja permeable al discurso familiar y a pueden enmarcarlo en una construcción
sus significantes Amo y a la vez intérprete fantasmatica. El síntoma es la expresión del
de los actos y decires del Otro. fracaso de la represión ante la exigencia
Nos preguntamos por el tiempo del pulsional constante y la repetición es la
sujeto y por sus particularidades en el insistencia de lo que no termina de
análisis con niños. ¿Cuál es el tiempo del anudarse. Desde los Tres ensayos de
sujeto del inconsciente? Freud, el goce perdido, la sexualidad
En 1951, era el pasado, traumática, competen al perverso
presentificado. La Transferencia se definía polimorfo, tanto como a las personas
como la repetición de los modos grandes. Por eso sostenemos que el niño
permanentes de constituciön de los tiene sus síntomas. El niño puede también
objetos, habia que descifrar al inconciente ser un sintoma.
como una escritura de contenidos El niño es hablado por sus padres y
reprimidos, como verdades que podian ser tocado por una propuesta significante
todas-dichas, para liberar al neurótico de activa y actual desde el Otro que ellos
sus síntomas. encarnan. El sujeto niño será el efecto y la
En 1960, el tiempo del sujeto del respuesta a esa propuesta. Además de
inconsciente es un tiempo gramatical, el ofrecerle un saber articulado, los padres lo
futuro anterior : advendrá en el futuro pero exponen al enigma de sus deseos, que no se
se ubicará en la estructura como habiendo articulan en las palabras. Este enigma,
acontecido en un tiempo anterior.Es una llamado Significante del Otro barrado, es
subjetivación en apres coup. interpretado como la evidencia de una falta
En 1964 Lacan se separa de la IPA que el niño se siente atraído a suturar,
y la Transferencia, como puesta en acto, se ocupando él mismo el lugar del objeto
separa de la Repetición. Lacan habla del tapón, como metonimia del deseo materno
status ético del inconsciente. Si el de un falo. Para que opere una función

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separadora es necesario que la versión de consultan porque algo no anda bien en el


un padre haga de la madre una mujer. La niño, pero ofrecer un análisis implica un
división la hace no-toda madre. La mujer, esfuerzo narcisista. No todos los padres
en tanto no-toda fálica, debe consentir con son capaces de un acto tan generoso. Ver
la castración. La madre deberá estar desaparecer a su niño detrás de la puerta
dispuesta a perder lo que la colmaba. Del hermética de un consultorio es un
lado del niño lo que opera es lo que Lacan momento de destitución angustiante. Los
llama “su insondable decisión”: él podrá padres dan su aval y eso le da al niño el
desgarrarse del lugar que creía ocupar y coraje de correrse de la cadena que lo
renunciar a ese goce para obtener a cambio sostiene, a condición de no perderlos. Pero
la dimensión subjetiva ó, en su defecto, existe también para el niño el riesgo de ser
quedar ubicado en el lugar del falo. En sustraido del análisis, como el hilo de un
“Dos notas sobre el niño”, a Jenny Aubry, carretel, en manos del adulto. Los padres
Lacan describe otras dos modalidades son quienes pagan y tienen el poder de
sintomáticas. En una, el niño está fijado en ofrecer un análisis que dure todo el tiempo
la posición de objeto del fantasma materno que hace falta para que llegue a su fin. En la
y en la otra, representa simbólicamente lo proposición de octubre Lacan dice que la
que no funciona en la pareja parental. Esta operación analítica rompe las certidumbres
última, es más sensible a las intervenciones del sujeto hasta sus últimos espejismos....
del analista justamente porque se trata de rompe el espejo en la temporalidad del
representaciones simbólicas y no de un instante, que lo hace caer de su fantasma.
objeto condensador de goce, en tanto tal, Cual seria la conclusión lógica de la
más resistente al análisis. En algunos casos experiencia con un niño? ¿Cuál es el niño
será necesario abrir el discurso de los del fin del análisis? Lo llamamos un
padres, trabajando directamente con ellos. “atrevido-divertido”. Atrevido, porque se
El deseo del analista orienta la cura hacia el atreve a “no ser eso” que se esperaba de él,
objeto a, hacia la Separación, como desidentificado de las demandas del
solución del Vel de la Alienación y ofrece la Otro.Es un niño que vive con sus padres
posibilidad de crear una respuesta propia pero no en sus padres. Divertido, porque
desde la singularidad de un sujeto-niño son diversas las posibilidades que abre la
deseante. La posición del analista de niños contingencia de los encuentros una vez
se desdobla en dos: Por un lado, es el abandonada la fijeza del fantasma.
partenaire del juego en el que el niño Divertido también por estar abierto a los
representa su novela, desplegando el efectos de sorpresa, del chiste y el
automatón significante y produciendo un sinsentido.Ha construido su propio
saber que se ubica como en el tiempo fantasma y tambien puede atravesarlo.
mítico del “habia una vez”, como si se Tomaremos dos escenas en las que
tratara de un cuento escrito en algún lugar. dos niños desaparecen, no están donde se
Es la ilusión de un saber supuesto, que espera que estén y, parafraseando a Lacan
articula la transferencia. Por otro lado, el en Posición del Inconsciente, diríamos que
analista busca aislar el significante como revisan si “pueden perderlos”. Son
letra que no se extravía en el sentido. El variaciones subjetivas del juego de las
espera el tropiezo, la tyché, lo nuevo: lo que escondidas, como paradigma de la
pone en evidencia lo real y la fuerza pujante Separación, donde el niño “se anima”.
de la “substancia gozante”. Se hace posible Mai tiene 10 años y comienza su
la construcción de un síntoma y un modo análisis después de cuatro meses de
de goce propios, de los cuales el niño podrá entrevistas preliminares. El padre no está
ser subjetivamente responsable. Los padres convencido de lo necesario de un

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tratamiento ya que él la ve a su hija feliz y si desaparición, se atreve a desilusionar,


alguien hubiera necesitado terapia de niño corriéndose del espejismo de ser una niña
era él.La madre dice que Mai es infantil feliz y de las de las marcas de niña
para su edad y es rechazada por sus retardada que lleva grabadas. Sola, pero en
amiguitas desde la época del jardin.Durante lazo con la madre.Me propone jugar al
todos estos años fue sometida a una serie ahorcado, y la palabra que tengo que
de maniobras conductistas para resolver adivinar es la palabra: J-O-F-E-S-CH. La
sus graves dificultades de lecto-escritura oferta de análisis es ya el inicio de un
que transformaron el hogar en un campo proceso de separación de lo que representa
de entrenamiento.Se hablaba de ella como para sus padres. Ramy, un niño de ocho
de niña-problema. Mai comienza su análisis años, está escondido en el momento en que
avergonzada, inhibida , casi sin hablar, pero la analista le abre la puerta. Algo no anda
rápidamente aparecen señales de alivio, en de acuerdo a lo programado. La analista
la sesión y fuera de ella. Aparece en el juego pregunta: ¿Dónde está Ramy? La madre
una nena que vive con sus abuelos contesta, cómplice: “Ramy no está”. Se
millonarios porque los padres murieron en genera un espacio lúdico en el que la madre
un accidente; ella es muy complaciente, la y la analista hablan de él, fingiendo creer
llenan de regalos caros, pero finalmente se que él no está.Y entonces el niño aparece
escapa de la casa, a Australia y grita que la de un salto, sorprendiendo, a modo de
dejen tranquila, que no la busquen, que no witz, sonriente y divertido. Ramy solía
quiere volver nunca más. Unas sesiones repetir en las sesiones, insistentemente, un
más tarde le pide a la madre que no se vaya. juego con muñecos y soldaditos, en el que
Mai se queda unos minutos en el baño y al parecía intentar dominar un peligro
salir me cuenta que a veces a la noche exterior. Podia ser un monstruo, un robot
duerme en un colchón en la pieza de los gigante o un ejército exageradamente
padres porque tiene miedo que se numeroso que amenazaba a una víctima
mueran.Vuelve a ir al baño, vuelve más desprovista de recursos para defenderse.
angustiada, y me cuenta mirando a la pared, Un niño embrollado en la relación entre un
que hace unos meses, los chicos la padre violento y una madre intimidada, que
insultaron en el recreo y se fue corriendo al tenía la mirada puesta en el hijo y no podía
árbol de la cueva de las serpientes. Se trepó dejar de preocuparse por él, ya sea como
con ganas de saltar y desaparecer. Nadie la víctima del rechazo de sus compañeros, ya
vino a buscar, ni siquiera se dieron cuenta sea como quien lastima a los demás, en sus
que faltaba en el aula, pero pensó en la ataques de enojo. La escena elegida es un
tristeza que le iba a provocar a su madre y momento privilegiado en su análisis, en el
se bajó. Al salir de la sesión hay un silencio que parece haberse corrido del automatón
muy especial y la madre lo respeta sin significante y puede, por un instante, jugar
preguntar nada. Presente en el otro cuarto, con la sorpresa.
presente en sus pensamientos. Mai se
atreve a hablar de un deseo de

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

A repetição e o tempo de saber


Maria Luisa Sant’Ana
m seu texto “A significação biológico e entrou na justiça com um
do falo” de 1958, Lacan processo de reconhecimento da

E afirma que
desenvolvimento de uma

entre a demanda de amor e


a experiência do desejo. A
demanda de um sujeito se
constitui como demanda ao Outro (pulsão
o

criança ocorre na dialética


paternidade e obtenção de pensão
alimentícia. Depois de algum tempo, o
sobrenome do pai de Teresa foi
incorporado ao seu nome, ocorrendo assim
uma mudança no seu registro civil.
Quando recebo Teresa, em sua primeira
sessão, verifico que ela apresenta uma
oral) e vai se tornar demanda do Outro obesidade importante, fala todo o tempo
(pulsão anal). Essa demanda do Outro é de comida e tem suas próprias questões:
incondicional e o sujeito diante dela se vê “Eu sou muito grande por isso na escola
assujeitado. O Outro demanda que o sempre tenho que ser a ultima, ficar atrás.
sujeito lhe de o complemento que lhe falta, Sou obrigada a sentar na última carteira. O
o falo. Entretanto é o desejo que vai meu colega me colocou o apelido de Baleia
permitir ao sujeito destacar-se, desligar-se Assassina. Eu não tenho culpa se minha
do Outro. O desejo tem uma função de mãe me deu fermento para eu crescer”.
defesa contra a demanda do Outro, Teresa passa a maior parte das
introduzindo o sujeito na dimensão da sessões contando historias fantasiosas
escolha. sobre as aparições de uma loura, assassina
Teresa é trazida ao consultório de crianças, que costumam acontecer no
quando tinha oito anos de idade, devido a banheiro da escola. Em meio a essas
um sintoma de incontinência urinária e narrativas faz comentários do tipo: “Eu me
fecal (enurese e encoprese), que surgira aos caguei de medo” ou “Eu me mijei de
quatro anos de idade e que vinha piorando medo”.
com o tempo. A mãe de Teresa nunca Com o prosseguir de seu processo
conheceu seu próprio pai. Viveu sempre de análise, começaram a surgir os
com sua mãe numa relação muito difícil. comentários sobre as notas falsas. Ela
Depois de ter ficado grávida, nunca não examinava cuidadosamente as cédulas de
voltou a falar com o pai de Teresa e assim a dinheiro com que pagava as sessões antes
menina foi sempre filha de duas mães, a de entregá-las a analista e comentava que é
própria mãe e a avó. A ela foi dito que seu preciso ter muito cuidado, pois há muito
pai estava morto. Mas quando Teresa tinha dinheiro falso circulando por ai. Dentro
quatro anos, ouviu sua avó dizer para a sua dessa série, comenta sobre uma professora
mãe: “Não minta. Ela tem que saber que o que tem unhas muito longas, pintadas de
pai está vivo e que mora aqui no bairro.” vermelho, mas eram unhas falsas. Então ela
Segundo o relato de sua mãe, foi a comenta: “Ela podia machucar uma criança
partir daí que Teresa iniciou com seu com aquelas unhas falsas”.
sintoma de incontinência. Conta ainda que, Essas associações de Teresa
depois desse episódio, decidiu promover a demonstram que para a menina, a
aproximação da criança com o seu pai descoberta da mentira de sua mãe a

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respeito de seu pai, põe em questão a com um fantasma, um morto que foi
demanda da mãe, que se apresenta, então, assassinado.
como uma demanda falsa, não confiável e Assim Teresa reintroduz o tema
mortífera. que percorre toda a sua análise: seu medo
A revelação de que seu pai de fantasmas, vampiros, dos zumbis, dos
biológico não estava morto, se constitui mortos vivos, do Chuck, da Múmia. Relata
num momento traumático, de invasão de filmes que assistiu, histórias que ouviu ou
real, que marca um certo fracasso da inventou com esses personagens.
função paterna de defender a criança das “Você conhece a história do Chuck? Foi
demandas do Outro. A função paterna é uma mulher que matou um homem, depois
falha por estrutura, uma vez que o tirou a alma dele e colocou num boneco.
significante não consegue recobrir todo o Depois, no segundo filme, ele queria uma
gozo, sendo necessário que quem encarna companheira, para não ficar sozinho. Então
essa função venha a falhar a fim de ele vai matar uma menina e vai colocar a
significar para o sujeito esse desejo alma dela numa boneca, aí eles vão ter um
procedente do Outro. É nessa falha da bebe.”
função paterna que Teresa entra com seu Nessa época fala sempre de seu pai,
sintoma de incontinência urinária e fecal. a mudança do seu nome, e começa a
Para a Psicanálise o sintoma é uma estabelecer uma relação mais efetiva com
metáfora da estrutura edipiana, pois efetiva ele. Algum tempo depois monta uma peça
a articulação da lei com o desejo. O de teatro na escola e passa quase todo o
sintoma é a forma como o sujeito responde ano letivo às voltas com essa montagem,
à falha da função paterna, ele tem a função em que ela escreve o texto, dirige a peça e
estruturante de desalojar o sujeito da interpreta um dos personagens. A peça é
posição de angústia diante da demanda do sobre o folclore brasileiro e na historia que
Outro. Teresa institui, com o real de seu Teresa criou, ela interpreta o Anhangá,
sintoma, algo que vem em socorro da personagem que se envolve numa disputa
metáfora paterna. de vida e morte com a Cuca e sai vitorioso,
Numa sessão Teresa conta que viu na batalha final. Teresa descreve o seu
na televisão um animal do futuro. Ele é personagem da seguinte forma: “O
uma mistura de foca com pingüim e para se Anhangá é um veado com olhar de fogo.
defender, ele vomita uma “gosma nojenta, Ele engana os caçadores, causando febre e
uma porcaria”. A analista pergunta: loucura em quem olha para ele. É um
“Defender de que?” protetor da floresta. Ele é todo azul,
“De quem quer comer ele” – aparece e desaparece. Ele e um zumbi, um
responde. morto vivo”.
Nessa época, faz sempre comentários do Podemos verificar como Teresa,
tipo: “Se eu não passar na prova minha partindo do significante “Baleia Assassina”,
mãe vai comer meu fígado”. apelido dado por um colega da escola, vai
Também faz muitos comentários construindo sua cadeia: Loura Assassina,
sobre as bijuterias da analista, quer saber se Chuck, Morto Vivo, Zumbi, Múmia,
são jóias verdadeiras ou falsas, assim como Anhangá. E dessa forma, constrói uma teia
os outros objetos da sala. Ela diz que tem simbólica com a qual tenta dar sentido ao
duas certidões de nascimento, uma real do trauma, operando um ciframento
verdadeira e uma falsa, e diz que não queria do gozo presente no seu sintoma de
trocar seu sobrenome. Em seguida se deita incontinência, com a sua satisfação
no divã e brinca de dormir e de sonhar paradoxal. Com isso consegue interromper
o tempo da demanda, aprisionado na

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repetição infinita do seu sintoma. Para que fosse possível uma virada
Poderíamos concluir que isso se dá num do tempo da demanda para o tempo do
processo temporal em que a transferência desejo, foi necessário, no caso de Teresa
viabiliza uma substituição dos objetos da que uma elaboração de saber sobre a
demanda – a comida e o coco – pelo objeto castração pudesse se efetivar num trabalho
causa do desejo – o olhar - como ele de associação livre sob transferência.
comparece em sua construção do Sobre o caso de Teresa, podemos concluir,
personagem do Anhangá. como afirma Colette Soler, no texto “Um
Paralelamente a esse trabalho de tempo a mais” publicado em Heteridade 3:
ciframento, Teresa passa a gostar de usar o “Para que o processo de análise se
sobrenome do pai, consegue emagrecer constitua em uma seqüência finita,
bastante e começa a se interessar pelos requerem-se muitos modos de
meninos da escola. Ela também começa a temporalidade. Há o tempo próprio da
manifestar um grande interesse pela associação livre, dos pensamentos
história do Egito, seus faraós, sua cultura. colocados em série; depois há o tempo
Sempre procura livros e filmes com esse lógico, que é diferente daquele, pois é o
tema. Seu personagem favorito é um tempo necessário para produzir uma
sacerdote que é assassinado como castigo conclusão a partir do que não se sabe.”
por amar uma mulher proibida. Ele é
mumificado e ressurge centenas de anos
depois, quando uma expedição de pesquisa
profana o seu túmulo. Algum tempo
depois Teresa decide estudar museologia.

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

Tempos do sujeito e o desejo do analista na clínica


Lenita Pacheco Lemos Duarte
este trabalho abordo exclama: “Quero matar a fada porque ela
algumas questões de dois não é carinhosa comigo!” Começa a

N sujeitos, Jane, de 04 anos


e João, 84 anos, que a
partir de acontecimentos
da ordem do real, do
traumático
expectativa

nascimento de um irmão e a internação e


a
do
desenhar uma figura humana dizendo: “
Essa sou eu, mamãe, vovó e você, todas
numa só.” Continuando: “Hoje fiz um
pouco de coisa errada. Bati no papai e na
mamãe, mas no meu irmão fiz o maior
carinho! Parei de fazer malcriação.”
Malcriação?”, pontua a analista. “É, porque
morte de um filho - desenvolvem sintomas não gosto de menino”. Que menino? “É o
que os levam à analista. Procuro ilustrar, Flávio, o meu irmão que vai nascer. Papai e
por meio de fragmentos da minha clínica, o mamãe me batem prá valer quando faço
que nos apontam Rosine e Robert Lefort: negócio errado!”
“A estrutura, o significante e a relação com Jane ilustra suas histórias pintando
o grande Outro não concernem de maneira flores, sereias, o sol, o céu, o mar, a chuva,
diferente à criança a ao adulto. É isso que o vento, o tubarão, o monstro baleia e os
faz a unidade da Psicanálise” 153. Sob esta “passarinhos tristes”. Pontua a analista:
ótica não há uma criança ou um adulto, há Tristes? “É, porque o caçador quer comê-
um sujeito e, se há particularidades, elas los”, diz Jane. Enquanto pinta, cantarola:
decorrem não da idade ou do fato de ser “Rum ram rum é o tubarão. Ele não queria
um “sujeito pequeno ou grande”, mas da comer a menina porque achou ela
relação do sujeito com o gozo. A criança bonitinha. Então ele beijou ela. Mé,mé,mé,
desde cedo faz escolhas que orientarão a pe, perepepe, mam, mam, mesticuia” O
lógica de sua existência, ou seja, faz que é isso? “Mesticuia é uma coisa triste,
escolhas de gozo dentro de uma estrutura que fica com saudade. Plucaiate também”.
determinada pelo sintoma e pela fantasia Depois Jane pergunta: “Posso chupar o
dos pais. A diferença entre uma criança e pelinho do pincel?” Segundo Soler, “A fala
um adulto é o encontro com o outro no ato irresponsável da criança [...] é solidária de
sexual, ou seja, o gozo sexual com o qual se uma fronteira fluida entre a fantasia e a
defrontará na adolescência. realidade” 154. Convém dar seu peso na
Além destas pontuações teóricas, psicanálise com as crianças pequenas a
ressalto a questão do desejo do analista. dimensão fabulatória da fala, que é o índice
Dois tempos, dois sujeitos. Oitenta de uma posição em relação ao gozo, ainda
anos cronológicos os separam. Jane chega à incompletamente decidido.
consulta trazida pela avó, preocupada com É por meio de desenhos, e de
o comportamento da neta: muito ansiosa, representações de personagens de histórias
agressiva e dispersiva na escola. No infantis, advindos de significantes
primeira sessão chega cantando alto a apresentados pelos Outros – pais, mães,
música da Branca de Neve. Depois
154 Soler,Colette. “Le désir du psychanalyste – Où est la différence?”, In: La
153Miller,Judith. (org.) - A criança no discurso analítico.Zahar editor,1991.p.13. Lettre Mensuelle, Paris:n. 131, p.10- 12, jul. 1994 . Tradução : Sonia Magalhães.

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avós e substitutos – que ela tenta expressar sozinho. Quando foi nomear tal local, num
sua angústia, ciúme e a ambivalência afetiva ato falho, disse o nome do shopping onde
diante da aproximação do nascimento do o filho costumava levar a namorada
irmão “Flávio”. Como ainda não dispõe de “clara”, indicando aqui sua identificação
um vocabulário adequado e da com o filho morto. Esta manifestação do
possibilidade da escrita, ela se utiliza de inconsciente, nos leva a pensar na
outros recursos para expressar a sua dor transferência. Quem sabe João não deseja a
diante da ameaça de perder seu valor fálico analista como parceira, a namorada “clara”,
no desejo do Outro, assim como perder para se sentir-se amparado e voltar a
seus objetos agalmáticos, fontes de prazer caminhar com firmeza em direção à vida?
oral. Mostrando-se enciumada e Com muita dificuldade diante da perda real
entristecida, Jane exclama indignada: e traumática do filho, para qual João não
“Mamãe vai dar minha mamadeira e tem palavras para expressar, (o simbólico
chupeta para o neném!”. não dá conta integralmente), ele vai
Por outro lado, João, convoca a contando outras histórias, inclusive sobre
analista em casa. Em virtude de uma queda as mulheres. Diz ele: “As mulheres de hoje
que deixou-o hospitalizado durante cerca andam com partes dos seios de fora se
de 40 dias, sente-se inseguro para sair de oferecendo como objetos de desejo
casa sozinho. Angustiado, questiona “se descartáveis, que não servem para serem
este sintoma é orgânico, mental ou mães e esposas”. Paradoxalmente, escreve
depressão”. Relata que por ocasião de sua artigos enaltecendo a mulher, colocando-a
internação, seu filho, que já estava doente, como presença imprescidível na vida do
faleceu em outro hospital. Assim não teve a homem.
chance de acompanhá-lo nos seus últimos Dois sujeitos tentam construir com os
momentos de vida. Refere sentir muita falta significantes “triste, filho, nascimento,
dele, com quem contava nos momentos de morte, mãe, pai e irmãos”, cada um a seu
doença. Em análise, este sujeito desfila os modo, seus romances familiares. Tanto um
significantes de sua história pessoal de quanto o outro se defrontam com
maneira fluente, falando também dos sentimentos de perda e angústia de
déficits auditivo, visual e olfativo, castração. Jane se angustia frente à
decorrentes de sua idade avançada. Mesmo possibilidade de perder o amor do Outro
apresentando essas limitações, acha que sua paterno e materno e com a separação de
produção intelectual não foi afetada, seus objetos de prazer. Sentindo-se
mantendo um hábito antigo: escrever desamparada, busca o simbólico para dar
artigos para um jornal. Significantes não lhe conta do real que a acomete. Segundo
faltam para contar suas histórias, as quais Colette Soler:
procura ilustrar por meio de fotos, flashes
familiares, onde aponta vários parentes “... cada criança se faz intérprete, se
agarra em estabelecer sua própria leitura
mortos, destacando a mãe, o pai e irmã do dizer do Outro, e da mãe,
prefererida, assim como cenas da natureza principalmente [...] das hiâncias do seu
destruída pelo tempo e/ou transformada discurso. Ela está evidentemente
pela mão do homem. interessada em seu próprio ser, já que o
Em uma sessão, João acha a que busca perfurar aí, é tanto o mistério
de sua concepção quanto o de seu sexo.
analista parecida com a namorada do filho O interpretado se torna, pois,
morto, dizendo: “Ela é clara, loura, assim intérprete, e é neste nó das
como você.” Associando livremente, conta
que sempre ia à uma lanchonete, próxima à
sua casa, mas que agora teme voltar lá

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interpretações que jaz o segredo de como uma linguagem” segundo Lacan, tem
todas as suas interpretações.”155 uma lógica e uma articulação própria, que
desconhece a contradição; e é atemporal,
A questão do ser: quem sou eu para como diz Freud.
que o Outro me fale? O que eu sou como
objeto? Na resposta da linguagem está a O que se analisa numa análise?
questão daquilo que eu sou, pois eu só Como indica Soler: “Em termos freudianos
tenho acesso ao meu ser como efeito do analisa-se o sintoma e, de acordo com os
dito. É no campo da linguagem que se ensinamentos de Lacan pode-se generalizar,
constitui o dito sem existência teórica, o dizendo-se que se analisam as relações do
que chamamos lalangue, “alíngua”156, sujeito com o real: o real que se apresenta
termo que Lacan encontrou mais próximo sob a espécie do sexo e do gozo” 157. A
da lalação, que se relaciona com o tatibitate respeito deste ponto, adulto e criança
da criança antes dela articular a linguagem, diferem. A questão coloca-se em saber se o
que, no caso apresentado, corresponde analista pode se defrontar com não importa
àqueles “mé, me’, peperepepe, mesticuia, que relação ao real e, mais precisamente, se
plucaiate,man man”, expressos por Jane. o desejo do analista pode operar sob não
Ao lado do objeto a como causa de gozo importa em que estado do ser. O desejo do
temos os significantes da alíngua que analista enquanto definido como elemento
permitem fazer a junção da linguagem com da estrutura do discurso, isto é, como
o gozo. O que fica para o sujeito é que vai parceiro do sujeito analisante, não poderia
determinar a forma dele gozar. operar senão quando certas condições se
Retornando ao João, este sofre encontram realizadas: sobretudo que o
com a perda do filho e com a possibilidade “lugar nítido do desejo” esteja posto, como
de perder sua autonomia, exclamando Lacan designou.
revoltado: “preciso da minha mulher, como
uma bengala para me acompanhar a rua,
coisa que nunca me aconteceu!” A velhice é
muito triste... “Simultaneamente,
apontando uma rosa para analista, exclama:
“Eu namoro o jardim da minha casa, vibro
com o nascimento e a ternura de uma flor!”
Nos dois casos observamos sujeitos
em transferência com a analista, que para
um representa a “mãe, avó, fada ou
tubarão” e que para o outro está no lugar
da “namorada clara” do filho, da “mulher
bengala” ou da irmã Ana. Além disso,
temos duas formas distintas de dizer do
real, ameaçador, avassalador, que o
simbólico não dá conta de esvaziar
totalmente. Expressões do sujeito do
inconsciente, sujeito do desejo, dividido
pelo sintoma. O inconsciente, “estruturado

155 Soler,Colette. “A criança Interpretada”. Em: Revista Carrossel, ano I, no 0,


1997, p. 18.
156 Lacan,Jacques.Conferência in Ginebra sobre el sintoma. In “Intervenciones
y textos 2. Buenos Aires: Manantial, 1975. 157 Miller,Judith.(org.) - A criança no discurso analítico. Zahar editor,1991.p.13.

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

O Tempo e a construção da metáfora delirante

Georgina Cerquise

prática psicanalítica está continua seu trabalho de significantização do


relacionada, intrinsecamente, real para apaziguar o gozo que localiza

A
com o conceito de tempo. parcialmente o Outro do delírio”5.
Em geral, ao submeter-se a Freud formula que, “no método
uma psicanálise, o sujeito1 descontínuo do sistema Pcpt-Cs, temos a
retoma o fluxo de sua origem do tempo”6. A falta de continuidade
história, explicitando a da percepção consciente do eu dá a noção do
descontinuidade temporal do tempo, ou seja, o carrilhão da temporalidade
inconsciente, que ex-siste, insiste e se estabelece no intervalo, na hiância. No
comparece nas reminiscências e elaborações: período de sua segunda internação, Schreber7
“Não existe nada que corresponda à idéia do comprova a tese freudiana. Em estado de
tempo no inconsciente, não há vigília constante – uma insônia sequer
reconhecimento da passagem do tempo”2. A atenuada com a medicação – e sem nenhum
Psicanálise trabalha com um tempo re- intervalo perceptivo para seu aparelho
construído, a partir da escuta da realidade psíquico, ele perde a referência ao tempo que
psíquica, possibilitando ao sujeito uma o mantinha em sua subjetividade:
apropriação elaborada da sua história.
“Uma virada fatal para a história da
Lacan observa sobre a construção Terra e da humanidade pareceu-me, então,
artificial do tempo, para interrogar sobre o indicada pelos acontecimentos de um único
que insere o sujeito numa escala temporal dia, do qual me recordo claramente, em que
razoável: “Onde pode estar a mola da se falou de extinção dos relógios do mundo,
exatidão, a não ser justamente no fato de se e simultaneamente ocorreu um afluxo
porem os relógios em concordância?”3 Na contínuo, de uma rara abundância de raios
clínica da psicose, pela via do real, observa-se para o meu corpo”8.
a impossibilidade da ordenação da
temporalidade na cadeia significante. Existe Observa-se aí o exemplo da relação
um tempo que não pára de chegar; o entre os fenômenos elementares e a
foracluído pelo sujeito não cessa de desordem cronológica. A clínica psicanalítica
reproduzir-se, marcando a ausência do ponto comprova que, na psicose, é impossível
de basta, de amarração da função fálica. dissociarem-se as perdas da realidade psíquica
das de referência temporal – fator que revela
Para Lacan, tal qual para Freud, a a desorientação e obnubilação do paciente,
perda da realidade e a formação delirante4 explicitada pela tentativa de remodelar a
apontam para um futuro, um tempo realidade através das alucinações e dos
assintótico, infinitamente prolongado. No delírios.
caso Schreber, a sua transformação em
mulher de Deus se dará num futuro distante: Lacan (9) explicita que, para regular o
“Enquanto o futuro não acontece, cada qual relógio como instrumento de exatidão, é

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preciso uma unidade de tempo, tomada “Meu pai brigava, minha mãe
emprestada, que se refere ao real, pois volta chorava, ele passou a mão no meu rosto e
sempre ao mesmo lugar. Schreber revela, saiu pela janela da sala, o gênio da Lâmpada
através da alucinação, que a desarticulação do de Aladim, voava e passava nas paredes dos
tempo e o gozo na psicose estão prédios vizinhos. Muito lindo, era um bom
relacionados. Verifica-se, assim, a posição de motivo, isso foi quando era criança”.
um sujeito perdido no abismo do tempo, no Aqui o ponteiro do relógio aponta
vazio que produz uma desorganização do para o tempo no passado a cruzar,
mundo que o rodeia. efetivamente, o momento crítico da
O tempo dos sintomas: alucinação do sujeito e sua fala. O Outro sem
barra passeia pelas paredes, preenchendo,
As descobertas freudianas, realizadas
ocupando o lugar de ausência da metáfora
na escuta dos sintomas e das reminiscências
paterna.
dos pacientes, permitiram a teorização sobre
a importância do tempo na estruturação do Tempo de construção da metáfora
sujeito. Pode-se também pensar no tempo delirante:
como um modo verbal, pela via do A metáfora delirante é uma
significante. Em outras palavras, passado, construção que vem substituir a ausência da
presente e futuro estão revelados no discurso metáfora paterna, como uma das possíveis
do sujeito, embora não seja regra geral. Na tentativas de simbolização, de estabilização
psicose, escutamos sujeitos que apresentam do sujeito. Conforme recorte clínico
perdas da percepção da temporalidade; a apresentado, a lembrança não é a geradora de
foraclusão10 do Nome-do-Pai impede a construções, pois o tempo do passado não
organização da cadeia significante e as está significado enquanto tal. Lacan diz que:
mensagens ficam destruídas, ininteligíveis. “O Outro está excluído na fala delirante; daí,
Lacan11 traz o caso do Homem dos Lobos um fenômeno bruto: a perplexidade. E é
para interrogar “Qual é o valor do passado preciso muito tempo para que o sujeito
do sujeito?”, chamando atenção para a pouca psicótico tente restituir uma ordem delirante
importância de o sujeito rememorar, no em torno disso”13. O significante “fecundo”,
sentido intuitivo da palavra, os eventos apregoado por Flechsig quanto à prescrição
formadores da sua existência. Na verdade, o dos novos soníferos, é utilizado por Schreber
centro de gravidade do sujeito é a síntese para dar origem, depois de longo período de
presente do passado, a que se chama história: internação, à possibilidade de fazer uma
“O que conta é o que ele disso reconstrói”12. amarração na cadeia significante, que se
É preciso ir mais além da lembrança, servirá da causalidade psíquica na construção
e a clínica da psicose atesta isso: as da metáfora delirante: “Sou uma Mulher que
lembranças não são associadas, uma vez que, vai copular com Deus para gerar uma nova
na psicose, o tempo se desestrutura e se raça”.
confunde por falta da significação fálica. Trazemos um caso de paciente
Escutamos alguns pacientes esquizofrênico, atendido no intervalo de
psicóticos relembrarem “algo de seu ausência da analista que o acompanhava por
passado”; todavia, não conseguem associar o dez anos. Curiosamente, apesar da gravidade
que “irrompe” no discurso, e a causa de sua dos sintomas, com várias tentativas de
doença. Com diagnóstico de paranóia, a suicídios e internações, acompanhamos, na
paciente traz uma lembrança do primeiro ausência da referida analista, uma contenção
tempo da alucinação na infância: dos fenômenos elementares. Ele retoma “seu
trabalho”14 e comparece às sessões com a

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analista substituta, relatando progressos de completas. Edição Standard Brasileira (ESB), Rio de
escrita e diminuição das consultas com o Janeiro: Imago, Vol. XXII (1974: 95).
psiquiatra, sempre se referindo ao tempo e ao 3 LACAN, Jacques. [1954-55]. O seminário, Livro 2:
compromisso de retorno da analista. A O eu na teoria de Freud e na técnica psicanalítica. Rio
temporalidade para ele é marcada pela de Janeiro: Zahar. (1985: 372).
correspondência escrita/analista ausente. 4 FREUD, Sigmund. [1911]. Notas psicanalíticas
“Hoje é o último dia que venho aqui. Minha sobre um relato autobiográfico de um caso de
paranóia. In: Obras psicológicas completas. Edição
analista voltou e eu a escolho, pois temos um Standard Brasileira 1974. Vol. XII. (1974: 68).
caso de amor platônico”. O retorno marcado
pela analista fez um ponto de amarração, deu 5 QUINET, Antonio. Autismo e esquizofrenia na
clínica da esquize. (1999:104) Marca D’água. Rio de
um contorno no tempo, e a espera fixou o Janeiro.
gozo.
6 FREUD, Sigmund. Uma nota sobre o bloco mágico.
Levando-se em conta os casos [1925-1924]. In: Obras psicológicas completas. Edição
clínicos apresentados, se o tempo na psicose Standard Brasileira (ESB), Rio de Janeiro: Imago, vol.
é da ordem do real, entendemos que a XIX (1974: 290).
construção da metáfora delirante é tentativa 7 Período de março a junho de 1894.
de cavar um momento de apaziguamento do 8 SCHREBER, Paul Daniel. Memórias de um doente
que não cessa de retornar, instalando um de nervos. São Paulo: Paz e Terra (1995: 880).
intervalo no tempo-futuro do “para sempre” 9 LACAN, Jacques. [1954-1955]. O seminário, Livro
do retorno do foracluído. 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise.
Rio de Janeiro: Zahar (1985: 372).
Finalizando, para Lacan15, a falta do
Nome-do-Pai abre um furo no significado, 10 Conceito de foraclusão como modo de expulsão do
que dá inicio à cascata de remanejamentos do significante da Lei do pai, de alguém para fora das leis
da linguagem.
significante, de onde provém o desastre
crescente do imaginário, até que seja 11 LACAN, Jacques: O seminário, Livro 1: Os
alcançado o nível em que significante e escritos técnicos de Freud [1953-54]. Rio de Janeiro:
Zahar. (1979: 22).
significado se estabilizam na metáfora
delirante. E é preciso muito tempo para que 12 Idem, ibidem.
o sujeito psicótico tente restituir uma ordem 13 LACAN, Jacques. O seminário, Livro 3: As
delirante em torno disso. psicoses [1955-56]. Rio de Janeiro: Zahar. (1985: 65).
14 Tradução das letras das músicas de Bob Dylan.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 15 LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar.


(1998: 584).
1 Na estrutura clínica da neurose.
2 FREUD, Sigmund. [1932]. A dissecação da
personalidade psíquica. In: Obras psicológicas

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

El tiempo cíclico de las psicosis

Gladys Mattalia

a imposibilidad experimentada Esto constituye dos modalidades


del discurso pulverulento es el sintomáticas, dos estructuras diferenciadas:

L caballo de Troya por donde


entra, en la ciudad del discurso,
el amo que es en ella el
psicótico. Jacques Lacan - 1967
Si partimos de la
afirmación sostenida por
neurosis y psicosis. Dos modos de existencia:
existir en lo simbólico y existir en lo real
constituyen
diferenciados.
dos estilos

Reiteración esquizofrénica
claramente

Dos textos freudianos iluminan el


Lacan, a lo largo de su enseñanza, que las trabajo de Lacan: De la historia de una
psicosis no es un caos, un desorden, sino un neurosis infantil…-1914- y La Negación -
nuevo ordenamiento del mundo: un orden 1925-.
del sujeto; quiero trabajar en este recorrido
las incidencias causales de la ausencia del Del primero extrae Lacan, un hecho
significante primordial y las consecuencias, clínico que constata una fórmula: “Lo que
para un sujeto psicótico, de la falla en la está forcluído de lo simbólico retorna en lo
operación de separación que condena a las real”. Del segundo un dato de estructura: es
psicosis a transitar por “fuera-del- la “hiancia de un vacío” lo que produce lo
inconsciente” o por “fuera-de-discurso”. simbólico.
Me detendré particularmente en las Vayamos primero a la viñeta clínica
incidencias sobre la constitución de la de la pequeña alucinación del “dedo cortado”
temporalidad en esta estructura, cuando la de Serguei Constantinovich Pankejeff
Bejahung primordial ha sido forcluída. (inmortalizado por Freud como “El Hombre
de los Lobos”) conocida por todos y
El sujeto psicótico, sea en la trabajada por muchos.
“reiteración” esquizofrénica o en la
“retroacción en un tiempo cíclico” de la “Teniendo cinco años jugaba en el
paranoia, nos ilumina sobre un uso particular jardín, al lado de mi niñera, tallando una
del tiempo, que hace de las psicosis una navajita en la corteza de uno de aquellos
estructura de certeza. nogales , que desempeñaban también un
papel en mi sueño. De pronto observé, con
Partiré de algunas consideraciones terrible sobresalto, que me había cortado el
sobre la constitución de la Bejahung – dedo meñique de la mano (¿derecha o
afirmación- primordial y de lo que queda izquierda?) de tal manera, que sólo
fuera de la simbolización, y por lo tanto lo permanecía sujeto por la piel. No sentía dolor
que es del orden de la Verwerfung –rechazo- ninguno, pero sí un miedo terrible. No me
y que fue traducido por Lacan, al final de su atreví a decir nada a la niñera, que estaba a
Seminario 3, Las Psicosis, como forclusión. pocos pasos de mí, me desplomé en el banco
más próximo y permanecí sentado, incapaz

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de mirarme el dedo. Por último, me de su verdad” fantasmática. La psicosis,


tranquilicé, me miré el dedo y vi que no tenía escribe Freud, “adquiere su fuerza de
en él herida alguna.” convicción de un fragmento de verdad
histórico vivencial que se ubica en el lugar
Es interesante ver que el relato está
donde la realidad es rechazada”
calcado sobre lo vivido, sin localización
temporal. Relatado como es vivido. Una El esquizofrénico se siente víctima
suspensión en la posibilidad de hablar. “Hay pasiva de lo que le llega, como desde el
aquí abismo, una picada temporal, un corte exterior, y esto por el defecto de la de
de la experiencia, después de la cual resultó simbolización primordial que conmueve todo
que no tenía nada, todo terminó, no el edificio subjetivo. Parafraseando a Freud
hablemos más de ello” diremos: así como “la inalterabilidad de lo
reprimido que permanece insensible al
Freud lo señala como un fenómeno
tiempo” -en las neurosis- así también se
muy especial: no saber nada de la cosa, ni
constata, la inalterabilidad de lo forcluído que
siquiera en el sentido de la represión.
permanece insensible al tiempo –en las
Lo que es rehusado en el orden psicosis-. El Hombre de los Lobos, nombre
simbólico, vuelve a surgir en lo real. hecho de goce, no cesa de no escribirse, de
Este fenómeno alucinatorio nos habla reiterarse, de sufrirse, de eternizarse en el
de la historia del sujeto en el orden simbólico. instante de ver de su fantasma que anula el
Nos habla de un sujeto en relación a la tiempo de comprender y colapsa el momento
castración. de concluir. Toda una vida indexada a la
imposibilidad de la subjetivación de la escena
No hubo para él Bejahung, traumática.
afirmación del plano genital y la castración se
manifiesta en lo imaginario de la vivencia El tiempo esquizofrénico es un
alucinatoria. Tampoco hay otro a quién “tiempo sin Otro”, por lo tanto no es un
contar la experiencia, ni rastros de tiempo que se pierde o se apresure o se
emoción… sólo la vivencia de un sentimiento procastine… Es un tiempo que no inca sus
catastrófico. Tan sólo un mundo exterior raíces en el Otro del “tesoro significante”, y
inmediato. que se traduce por la infinitud de secuencias
comenzadas “una y otra” vez. Recuerdo un
“El sujeto no es en absoluto sujeto reducido a la frase, frase repetida, mas
psicótico. Sólo tiene una alucinación. Podrá no interrumpida: “El gordo Mario se ha
ser psicótico más adelante, pero no lo es en el comprado una moto…” Minutos, horas, días,
momento en que tiene esa vivencia semanas, meses, años…la púa rayada en el
absolutamente limitada, nodal, extraña a las mismo disco, pero sin la posibilidad de
vivencias de su infancia, totalmente marcar jamás un surco como un resto de
desintegrada. En ese momento de su infancia inscripción. Esta frase repetida es la garantía,
nada permite clasificarlo como un el escaso reaseguro de la realidad. Tiene que
esquizofrénico y, sin embargo, se trata en asegurarse de esto a cada instante.
efecto de un fenómeno de psicosis”.
El significante en lo real de la
El esquizofrénico se empeña en esquizofrenia, esa existencia en lo real, donde
“reiterar ese paso”, lo cual cae en saco roto la x del sujeto falta y, por ende, la función de
puesto que para él lo simbólico es real. El representación significante (S1-S2). Sólo resta
Hombre de los Lobos, que al final de su vida, un enjambre de zumbidos significantes (S1,
todavía pintaba tarjetas postales con la escena S1, S1) que al no representarlo, lo dejan
del sueño de los “lobos en el nogal”. Quedó librado a la tiranía de la fragmentación y la
fijado en el instante de ver, en “la alienación
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esquicia de las identidades, de los objetos, de psicótico está condenado al eterno retorno de
los tiempos… en un “más acá” de la su existencia en lo real, que al decir de Lacan:
alienación a los significantes del Otro. Un “hace tan difícil la anamnesia de sus perturbaciones, de
sujeto “fuera-del-inconsciente” está “(…) fenómenos elementales que son solamente
preso de lo múltiple no vectorializado, de presignificantes y que no logran sino después de una
cronologías ahistóricas que yuxtaponen organización discursiva larga y penosa establecer,
hechos y datos sin ordenarlos” . Viene a mi constituir, ese universo siempre parcial que llaman un
delirio.”
memoria el caso de un joven sujeto que en
una de las presentaciones de enfermos, en El paranoico encuentra una solución
nuestro Colegio Clínico en el norte de que implica el tiempo, se mantiene en la
Argentina, decía: “A mi hermano lo mataron alienación a la cadena significante y conserva
de un tiro en la cabeza, de allí yo me la relación al Otro en la gravidez de su delirio.
enloquecí, fue cuando me internaron, yo no Otro que goza de él, un Otro “sin barradura”
existía todavía, no había nacido…”. La como lo es el Dios de Schreber. Al “estasis”
“muerte del sujeto” estaba fechada antes de de la abulia esquizofrénica se opone el
su nacimiento. Una muerte resultante de la “éxtasis” de la voluntad de goce de la
no afirmación de la simbolización primordial, paranoia, en esta relación particular de
preso de un “no” forclusivo, para nada Schreber con su Dios.
discordancial, que impidió la inscripción del En De una cuestión
sujeto en el “sentimiento de la vida”. Muerte preliminar…Lacan nos da una fórmula:
que se fenomenaliza en una pluralidad de
manifestaciones: abulia, estereotipias, “Sin duda la adivinación del inconsciente ha advertido
muy pronto al sujeto de que, a falta de poder ser el
“veleidades inoperantes”… falo que falta a la madre, le queda la solución de ser la
Luego de un trabajo sostenido, una mujer que falta a los hombres”.
mujer había construido penosamente que Una solución prematura, una
“dos salchichas y un huevo”, ofrecidas por su conclusión apresurada para poder cerrar el
madre, eran la certificación de que la “quiso agujero dejado por la ausencia de la
hombre”. La “representación de cosas” significación fálica. En la paranoia lo que está
freudiana, el tratar las palabras como cosas forcluído es el significante del Nombre-del-
(Sachvorstellungen) se efectiviza en los Padre que no permite la metaforización del
fenómenos en que las cosas copulan entre sí. Deseo de la Madre. En la paranoia está
Las palabras han perdido su calidad de conservada la x del sujeto de la Bejahung
significantes, reducidas a simple materia primordial, más próximo al sujeto dividido,
sonora o visual. El esquizofrénico dispone de que al sujeto de la esquicia. Pero, falta el
la lengua, por ello habla, pero no dispone de abrochamiento del segundo tiempo de la
lo simbólico. Como dijimos un sujeto “fuera- metáfora paterna que incluiría al sujeto en el
del-inconsciente”, sin Otro, por el fracaso de orden del discurso. El sujeto paranoico es un
la bejahung primordial. “fuera-de-discurso”, pero conserva en la
Retroacción en un tiempo cíclico metonimia de los significantes una relación
particular al Otro. El fuera-de-discurso del
La “reiteración” esquizofrénica es sujeto Schreber se presenta como un
bien diferente a la “retroacción en un tiempo significante que no representa al sujeto y que
cíclico” de la paranoia. Tiempo cíclico que no pone barrera a su goce. Entre Dios y
evoca, a mi entender, el tiempo cíclico en la Schreber hay una relación sexual. La relación
antigüedad oriental y retomado por Mircea sexual es posible.
Eliade bajo el signo del “eterno retorno”. El
En la paranoia encontramos la
estructura de la retroacción temporal (a

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posteriori – après-coup) propia de la Paul Daniel Schreber le ha tomado toda una


estructura significante, pero bajo una forma vida y, sobre todo, varias escansiones lógicas
cíclica del tiempo o bajo los fenómenos y temporales.
elementales que dan cuenta de la muerte del Lo que la Presentación de enfermos
sujeto a consecuencia de la forclusión. Y lo nos enseña
que ha desfallecido en demostrase es el ser de
goce del sujeto, ser que se precipita a Para concluir, brevemente un caso de
responder por la metáfora delirante. un sujeto paranoico en la Presentación de
enfermos de nuestro Colegio Clínico:
En De una cuestión preliminar…
Lacan construye el Esquema I, para explicar La ausencia del significante
las psicosis (Po y Φo) y nos habla de la primordial del Nombre-del-padre lo
relación “asintótica” infinita, que une al yo constatamos en M.: “sin nadie que me diga
delirante con el otro divino. Una divergencia qué hacer o me lleve de la mano”. Un sujeto
hiperbólica en el espacio y el tiempo. que define su infancia como “muy feliz”. Una
Señalando que Freud ya lo había intuido con infancia sin conflictos, podemos agregar: sin
su término: asymptotisch. indicadores de neurosis infantil. Un niño:
“infantil, chiquilín, inocente, ingenuo…”. Un
En Schreber, varios momentos niño muy alejado del “perverso polimorfo”
lógicos y temporales: freudiano.
Primero: no puede “ser el falo que le Esto es claro en M. donde su mundo
falta a la madre” (“non” S=). Instante de se ordena alrededor de varios significantes:
ver. “ser contador”, “ser jefe”, “denunciar las
Segundo: “ser la mujer que le falta a estafas”. Su dimensión ética frente al mundo
los hombres” y esto se expresa en la frase corrupto. El rigor y la dignidad del sujeto
interrumpida o fantasía pre-consciente: Sería psicótico.
hermoso ser una mujer en momento del En dos momentos de su vida –dos
acoplamiento. La pre-psicosis. Pero, “ser la escenas- aprendió la lección del otro, dos
mujer que le falta a los hombres” no es una momentos de alienación, pero sin apropiarse
solución, ya que no hay significación fálica del discurso, sin incluirse en él:
(), sino que hay o. No hay para el sujeto
Schreber el “conjunto de los hombres”, -“Unos minutos en el calabozo bastó para que
aprendiera la lección…” y a no escaparse jamás de la
entonces no es suficiente ser la mujer de los escuela.
hombres. “Ser la puta de los hombres”, no
cierra la ecuación que no se produjo, no -“A los 16 años, todo se tergiversó,
cierra S=. Los hombres son tan maduré de golpe. Era ingenuo hasta ese
improbables como él mismo. Todos están entonces en lo sexual, porque mi padre no
desprovistos de falo. Tiempo de comprender. me comentó nada, y empecé a desarrollar mi
curiosidad. Un profesor de anatomía, me
Tercero: la Versöhnung (sacrificio). enseño sobre la sexualidad femenina y
La salida es el sacrificio: sufrir la masculina, y me llevo a la madurez
Ent’mann’ung – eviración, para luego humana…” Una lección de anatomía le
Ver’wei’blichung - transformación en mujer. indicó el camino de la diferencia sexual.
Necesita hacer el sacrificio de la norma
masculina, norma viril, de lo norm-mâle La psicosis nos presenta un sujeto no
(norma-macho). Momento de concluir. inscripto en la función fálica. Un sujeto que
mira la vida, desde afuera, sin incluirse: “el río
Una construcción de tal envergadura en el que se bañaban los corpulentos, yo no
no puede hacerse por fuera del tiempo, a era así, prefería lo intelectual”. Su lógica

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sexuada es: “Todos fálicos corpulentos”. Hace una condensación: “revolear la


Pero, él no está incluido en el universo fálico cartera” y “chancletear” y dice: “revolear la
de “todos los hombres corpulentos” y se chancleta”. Un ¿“empuje a la mujer”?, otro
inscribe en la excepción, M. hace excepción rasgo de la psicosis. Toma un rasgo de lo
al universal fálico. Más bien se ubica en lo femenino para nombrar su goce sexual…
que hace rasgo diferencial. M. no pudo, por
La mujer no es un Otro diferente,
incidencia de la forclusión, inscribirse en la
sino un “otro parecido”, otro especular.
función fálica, que regula el goce del órgano.
Sabe claramente la diferencia sexual:
Su “letra” es un “no a leer”. Un
“los hombres usan hojotas”, pero M. a la
estudiante “normal”, que “estudia y estudia y
hora de gozar “revolea la chancleta”. ¿Su
estudia…”. M. es un sujeto “normal”, pero
órgano, una chancleta? Hay que ver…
no es “norm-mâle” (norma-macho). No está
regido por la norma, que hace al macho. Se Ninguna va para hacerla su mujer…
incluye, más bien, dentro del universo de los darle un hijo… Valen más la patria, los
que tienen “capacidades diferentes”, pero afectos, sus padres.
vive en un mundo que no encaja. Es muy Por otra parte, vemos en M. que su
significativa la frase que denuncia su posición psicosis se disimula bajo una hiper-
ética: “si todos respetaran a los otros, todo el normalidad: “uno tiene capacidades
mundo sería mejor”. ¡Cierto! Pero, es diferentes, o una constitución física mejor, yo
justamente esto, lo que lo deja por fuera: “el no soy atleta, lo mío es lo intelectual, si todos
soltero que sigo siéndolo”. Es más, cuando se respetaran a los otros, todo el mundo seria
enamora son amores de excepción: “judía” mejor…”
“raza aria”.
M. nos habla de sus padres no
Vemos momentos de irrupción del biológicos: “Tata Dios”, “profesor de
goce del órgano, “momentos locos”, luego de anatomía”, los “padres espirituales”.
que elige una mujer y, a pesar de sus
artilugios (asados, flores…) no puede Al nombrarlos, se nombra -renglón
seducirla y se aboca a un goce loco, sin seguido- con un nombre que le dio, como
regulación. suplencia, su profesión: “Soy el mejor
economista del mundo, de la macro y micro
En un momento de la entrevista nos economía…”
entrega su fórmula: “Cuándo me recibí, me
metía en todos lados, como las mujeres a El es el mejor economista: suma,
‘revolear las chancletas’ ”. resta, calcula, organiza y dirige empresas.
Puede transformar todo, incluso un
Una lógica sexuada, la de M., que psiquiátrico, en un negocio rentable…
divide los sexos en: “mujeres chancletas /
hombres hojotas”

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

Temporalidad del arrepentimiento

Patricia Muñoz

ste título es una En la psicosis, en el momento del


redundancia pues el desencadenamiento hay una ruptura con la

E arrepentimiento en
mismo, implica un tiempo

algo de lo cual uno siente


pena y se culpa por ello.
Siendo como es, un verbo
reflexivo, arrepentirse, ese vestigio de voz

anterior en el cual se realizo


realidad y por la tanto con las coordenadas
simbólicas y espacio temporales. La
temporalidad implica la estructura del
lenguaje y el tiempo gramatical el pasado, el
presente y el futuro. Sería imposible
concebir una temporalidad en una
dimensión animal, los animales no tienen
media en que además de la implicación del ninguna relación con el tiempo.
sujeto en la persona del verbo, se insiste de Para el psicoanálisis se trata del
nuevo con el pronombre. El verbo nunca sujeto que habla y por lo tanto inmerso en
es pasivo en las oraciones medias, la voz el lenguaje, que se estructura en una
media designa que la acción del verbo relación compleja con el significante y se
afecta al sujeto. Gramaticalmente este determina en un efecto del significante.
significante tiene una implicación redoblada
del sujeto. En latín decían me poenitet, En el seminario Las psicosis Lacan
que interpretado sería “me aflige una vez y nos habla de un tiempo lógico y no
otra vez” “me atormenta la pena” por eso cronológico, previo a toda simbolización,
se invento el punire, es decir el imponer en el cual habría una etapa donde, puede
penas. El arrepentimiento (me poenitet) suceder que parte de la simbolización no
nace en la penitencia. Ésta es el malestar se lleve a cabo… puede entonces suceder
constante (reiterado) que experimenta que algo primordial en lo tocante al ser del
quien está pagando una pena. Ese mismo sujeto no entra en la simbolización, y sea,
malestar reduplicado es el arrepentimiento. no reprimido sino rechazado. Es lo que
Lacan llama la verwerfung primitiva, algo
Es una posición ética, el sujeto se que no es simbolizado y que se manifiesta
sabe responsable y asume una culpa, en el en lo real. El fenómeno psicótico es para
arrepentimiento no hay solamente la doble Lacan en este seminario, la emergencia en
implicación del sujeto sino que también hay la realidad, de una significación enorme que
un malestar reduplicado parece una nadería, en la medida en la que
Se quiere con este trabajo acercarse, no se le puede vincular con nada, ya que
aunque sea sólo un poco, a lo que sería la nunca entro en el sistema de simbolización
relación con el tiempo en la psicosis, pero que en determinadas condiciones
tomado un caso en el que después del puede demoler todo . Es una significación
desencadenamiento se instala un obsesivo que concierne al sujeto pero que es
sentimiento de arrepentimiento. rechazada y que sólo asoma de la manera
más desdibujada en su horizonte y en su

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ética y cuyo surgimiento determina la menopausia, entendida ésta como estar


invasión psicótica. vieja y que las hijas ya crecieron, ella
En la psicosis se deshace la hubiera querido que se quedaran pequeñas.
secuencia temporal por helecho del En relación a las hijas es algo de la
significante en lo real, pero que quiere decir sexualidad de ellas que le es difícil aceptar,
¿un significante en lo real?, en el seminario hay también en ese tiempo una gran culpa
“las psicosis” se refiere primero a lo que el por los abortos que se hizo antes de
llama un puro significante y más adelante decidirse a tener sus hijas.
habla del significante en lo real. Nos dice Hay algo del paso del tiempo
Lacan que en relación a la fenomenología, imposible de atrapar y que produce un
en la psicosis no se puede desconocer la arrepentimiento, de haberse separado, de
originalidad del significante en cuanto tal, haber dejado un trabajo y de no haber
se trata del abordaje por el sujeto del aprovechado el tiempo cuando sus hijas
significante en cuanto tal y de la estaban pequeñas.
imposibilidad de ese abordaje. Entonces
Hay también un rechazo hacia lo
un puro significante, el significante en lo
viejo, no soporta lo que le evoca el pasado,
real y el significante en cuanto tal,
la música vieja, encontrarse con personas
diferentes formas de nombrar algo difícil
que compartió en esas épocas, las fotos
de asir. Es un significante fuera de la
viejas, lugares que le traen recuerdos, para
cadena.
ella es como si todo se le devolviera.
Sabemos también que en la
No esta fuera del tiempo, como
apropiación que hace el sujeto del
pasa en la neurosis, esta dolorosamente
significante hay un resto de esa operación
aferrada a él por el arrepentimiento, no
que es el objeto a. Esa relación es esencial,
acepta el presente porque esta siempre
es ciertamente la que proporciona una
pensando en lo que hizo y en lo que no
estructura a la aprehensión del mundo. Es
hizo, se podría nombrar como: “Un gran
el fantasma llamado también la ventana
esfuerzo por vivir en el presente acosada
sobre la realidad. La relación del sujeto con
por el pasado y con horror al futuro”
el objeto a.
Para ella el pasado es algo oscuro,
Estos son los desarrollos teórico
hay en su familia un enigma, los apellidos
esenciales para la psicosis, pero a partir de
de su madre son diferentes a los de su
los años 70 ya no son solamente las
abuelo y además su padre mantuvo dos
elaboraciones que se refieren a las
familias al mismo tiempo, una legalizada y
relaciones del sujeto con el significante,
la otra, que es la de la paciente, oculta,
sino que inicia la teoría de los nudos y hay
secreta. También hay una tendencia a los
un cambio en la concepción de los 3
auto reproches y un rechazo de sí misma.
registros, RSI, anudados por un cuarto
término, el síntoma o algo que haces las Si en el neurótico hay una ausencia
veces de función del Nombre del Padre, y de los efectos del paso del tiempo, para esta
esta función pasa a ser una función que paciente podríamos decir que es, ese peso,
nombra. paso del tiempo lo que la desencadena. El
tiempo, la vida y la muerte, la sexualidad, la
Después de un rodeo teórico
generación, la filiación y la existencia,
vamos al caso, hay en esta paciente una
anudados en un momento por el tiempo.
gran inquietud que inicia con el grado de su
hija mayor, al mimo tiempo se van El arrepentimiento se podría tomar
presentando los síntomas de la como una solución al vacío que se abre

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ente ella. Hay en la pintura un término se trata más bien de una melancolía y no
repentie, que hace referencia a los trazos de una paranoia. Dice Freud, la melancolía
que ha hecho el pintor y luego se ha se trata de un duelo por la pérdida de la
arrepentido de ellos y ha pintado encima, libido, de una hemorragia interna, aunque
solo se ha visto más claramente con la hay autorreproches y autodenigraciones, no
tecnología de los rallos x, pero en la vida hay culpa ni expectativa de castigo y el
real, ¿quién podría, al arrepentirse de lo ya arrepentimiento va en el sentido de la
vivido, corregirlo añadiendo nuevas capas culpa.
de pintura hasta que lo nuevo ocultara Sol Aparicio, en su texto “En su
cualquier traza de lo antiguo?, no en la hora” dice: “En la psicosis se deshace la
neurosis, pero en la psicosis, se podría secuencia temporal por el hecho mismo del
pensar que el arrepentimiento es la manera significante en lo real fuera de la cadena y
de poner encima capas de pintura que no en la melancolía es el presente eternizado”.
dejan ver lo que hay debajo, como una No creo tampoco que se pueda decir que
solución, un síntoma que permitiría anudar es el presente eternizado, aunque el trabajo
lo real, lo simbólico y lo imaginario, como con ella es vivir el día a día, ir a trabajar,
cuarto nudo que supliría la función tener un horario, estar mirando el reloj.
anudante del Nombre del Padre. Lo que le
daría un nombre, “la arrepentida” que Lo que nos enseña este caso: …
además tiene que ver con su nombre
propio.
.
Aunque el desencadenamiento fue
persecutorio, he pensado si en este caso no

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

A peversão e o tempo

Vera Pollo

e considerarmos a alta Em seu livro “A subjectividade por


incidência do termo perversão vir” , Zizec (2004/2006) comenta que já se

S na doutrina psicanalítica, talvez


nos espante a pequena
freqüência d sujeitos de
estrutura perversa em nossos
consultórios. É que o uso do
termo se estende desde “a
perversão polimórfica da infância”
tornou lugar-comum falar do laço íntimo
que une a perversão e o ciberespaço. Isto
porque, se o cenário perverso põe em cena
o desmentido da castração, a perversão só
pode ser entendida como uma forma de
defesa contra o motivo “morte e
sexualidade”, conseqüentemente, defesa
assinalada por Freud, até o comentário de contra a ameaça de finitude (o tempo real)
Lacan, em R.S.I., de que é preciso que o e contra a imposição contingente da
homem tome “père-vertidamente” uma diferença sexual. O autor nos lembra,
mulher como objeto a causador do seu então, que o perverso instala um universo
desejo, para que mereça o respeito filial, semelhante ao dos desenhos animados,
passando, evidentemente, pela onde sobrevivemos ilesos a todas as
caracterização da fantasia como “traço catástrofes. Nele, não somos obrigados a
perverso da neurose”. morrer nem a escolher um dos dois sexos.
Como universo da mais pura ordem
Em 1957, Lacan propõe a pergunta
simbólica, do jogo de significante entregue
“O que é a perversão?”, para, com sua
a si mesmo, ele está desembaraçado da
resposta, afastar a idéia de que ela seria
inércia do Real e da finitude humana. Não
apenas o índice de algo que parou no
corresponde à realidade em que vivemos,
tempo, como um acidente na evolução das
mas à projeção espacial da fantasia narcísica
pulsões. Enfatizou que a fórmula freudiana
de imortalidade.
“A perversão é o negativo da neurose” não
significa que a primeira deixa ver ‘a céu Nesse sentido, podemos dizer que a
aberto’ o que a segunda esconde, indicando perversão faz existir um grande Outro
que podemos lê-la como a diferença entre a imaginário como um deus do tempo, ali
subjetivação neurótica e a dessubjetivação onde a neurose faz existir privilegiadamente
perversa. A fantasia perversa parece estatuir um grande Outro simbólico, deus do
a mais completa equivalência espaço. O resultado, o sabemos, é que,
Eromenos/Erastes, amado/amante: $ ◊ a “preso à hora do Outro”, o neurótico está
= sujeito desejo de objeto, objeto desejo de sempre adiantado ou atrasado,
sujeito. Nessa ocasião, Lacan salientou que procrastinando ou precipitando-se. Em
o molde da perversão é a valorização da contrapartida, o perverso encontra
imagem, a prevalência da dimensão Ebenbild, a imagem exata. Mas são os ditos
imaginária. neuróticos que denunciam a existência de
um tempo eminentemente pulsional, se
assim pudermos nos expressar, uma vez

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que caracterizam o objeto tempo alternada um bom tempo, insisti em que tinha
ou simultaneamente como falta e como lembrança de cenas do meu próprio
excesso. Impotência e impossibilidade nascimento”. Em seguida desfia uma série
enunciam-se como: “Não tenho tempo, de lembranças de sua primeira infância,
estou sem tempo” e, inversamente: “Estou cenas que “o atormentaram e assombraram
perdendo tempo, jogo tempo fora”. Não se a vida inteira” e que teriam imprimido nele
indica, assim, a existência de uma fantasia um desejo de transformar-se em um outro,
em que o tempo é um fluxo contínuo, tal que tanto podia ser um “rapaz todo sujo”
qual o jorrar dos significantes? carregando baldes de excrementos e
vestindo uma calça muito justa, quanto
Em seu texto “A tempo, o que não
uma bailarina opulenta “ envolta em trajes
espera” , Bousseyroux (2002) ressalta que
semelhantes aos da meretriz do livro do
o tempo da história só nos faz andar em
Apocalipse”.
círculo, uma vez que o mundo humano é
tórico. O que equivale a dizer que, em suas Em nota enviada ao editor, o jovem
relações simbólicas, o sujeito é um Mishima, então com vinte e quatro anos,
aglomerado de significantes em torno de observa que Confissões de uma máscara
dois espaços vazios e que o vazio central será seu primeiro romance autobiográfico,
comunica-se com o exterior. O motivo da mas não um “Ich-roman convencional”. E
impossibilidade dessa representação central acrescenta: “Apontarei para mim o bisturi
não reside simplesmente no fato dela ser da análise psicológica que agucei em
demasiado traumática, mas de que nós, personagens imaginários. Tentarei dissecar-
sujeitos que a consideramos, continuamos me bem vivo. Espero atingir a exatidão
sempre implicados nela e fazemos parte científica...” (apud Ritter,2005:28). Diz-se
integrante do processo que a engendrou que sua escrita é também uma tentativa
(Zizec, 2004). Assim como o real da terapêutica que faz apelo ao que ele designa
história resiste à historização, o real do como “poderes de auto-análise” ou “um
tempo resiste à cronologização. Em desses círculos obtidos dando um simples
“Função e campo”, Lacan já observava que movimento de torção a um pedaço de
“o que se realiza em minha história não é o papel, cujas extremidades são em seguida
pretérito perfeito do que foi, uma vez que coladas juntas. O que parecia ser o interior
já não é [...] mas o futuro anterior do que era o exterior e o que parecia ser o exterior
terei sido para aquilo em que me estou era o interior” (idem:29). Não há dúvida de
transformando” (1953/1998:301). Há uma que Mishima percebeu o interesse da
excessiva proximidade do sujeito com o topologia da banda de Moebius na análise
irrepresentável. Pois o sujeito só se dos fatos subjetivos, ao mesmo tempo em
comunica com o Outro real – o que nos que dizia possuir um “talento perverso”
ensina Lacan no seminário, livro 10 – no capaz de “transmudar o sofrimento em
ápice da angústia. Este momento de queda gozo e a falta em plenitude”. Para Millot
do objeto a configura-se como “um nó do (1996/2004), seu talento inscreve-se na
tempo como superfície” , um retorno do linha direta do masoquismo originário, dito
instante do olhar no momento de concluir, erógeno, sob a forma de um “erotismo da
que decide, retroativamente, o tempo para desolação”. Já Assoun, após concluir que
compreender. “raramente se verá, como em Mishima, a
identificação de um escritor com uma
Yukio Mishima , um dos autores
estrutura transformada em princípio de
mais traduzidos da moderna literatura
escrita” (1998:15), propõe que “não é
japonesa, inicia seu livro Confissões de
talvez uma casualidade se, depois de uma
uma máscara com a seguinte frase: “Por

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momento ainda observável no século álibi fálico do orgasmo, também a


passado em que a literatura se distinguia mascarada perversa, ao fazer-se letra e, até,
como refúgio neurótico, a literatura literatura, presta-se à perversão do Outro.
(pós)moderna acaba servindo para trazer à
Mishima preparou cuidadosamente
cena a subjetividade perversa”(Idem:18).
o seppuku como morte televisionado.
Lembremos, para terminar, que, Confirmou suas palavras de que “a morte
assim como a mascarada feminina não é violenta é a beleza suprema, contanto que
uma mentira ou uma falsa imagem de aquele que morre seja jovem.”
mulher, mas, como assinala Lacan, o
“prestar-se à perversão d’O homem”
(Lacan 1973, p.71) que nela encontrará a
sua hora de verdade e poderá chegar ao

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

O seppuku de Mishima: a derradeira erotização da


morte
Maria H. Martinho

imitake Hiraoka nasceu em Através da narrativa do protagonista desse


Tóquio em 14 de janeiro de romance Mishima confessa cenas de sua

K 1925, membro de uma


família burguesa, foi criado
como um herdeiro do trono
imperial. Adotou
pseudônimo Yukio Mishima
– que passaria a usar por
toda a sua vida -, aos dezesseis anos
o
própria vida extraídas das suas mais
remotas lembranças que conjugam o
erotismo e a morte. A lembrança de uma
cena ocorrida aos quatro anos de idade
passou a perseguí-lo. O encontro com um
jovem latrineiro com quem cruzou na
estrada representa para o menino algo da
quando publicou seu primeiro romance, A ordem de um sacrifício heróico que
floresta em pleno esplendor (1941). continha o auge da sensualidade. “Um
Mishima foi o mais famoso dos autores jovem descia a vertente carregando uma
nipônicos de sua época. Quase todos os canga de baldes de fezes noturnas num
seus dramas visam à estética trágica, ombro [...] Estava vestido como um
baseada no tripé, juventude, beleza e morte. operário e calças justas de algodão azul-
Esse texto pretende destacar alguns escuro, do tipo chamado “puxa-coxas”
aspectos da história do escritor japonês (1949, p. 11). Olhando para o jovem sujo o
extraídos da criação literária do próprio menino ficou “sufocado pelo desejo”. O
autor, nos quais ele descreve e formaliza desejo tinha dois pontos de enfoque: as
episódios de sua vida, de seu romance calças justas e o ofício de latrineiro. A calça
familiar, deixando transparecer o modo que justa contém uma carga de erotismo e o
utiliza para negar a castração do Outro: o ofício de latrineiro de “tragédia”. Isso fez
desmentido (Verleugnung), ilustrando com que o menino pensasse: “quero me
assim, de forma paradigmática o que é a transformar nele”, “quero ser ele”. Dali por
estrutura perversa para a psicanálise. O diante quer “ser ele”, tornar-se coletor de
texto procura ressaltar o que há de singular excrementos e vestir aquela roupa colada
na perversão de Mishima: ele deveria no corpo. Ser latrineiro parecia ao menino
perseguir a dissolução de todas as poder desempenhar um ofício heróico
polaridades - “a carne e o espírito”, “o semelhante ao martírio. O protagonista de
corpo e as palavras”, “o amor e o desejo”, Confissões de uma máscara descreve uma
“a arte e a ação”, até aos extremos da outra cena marcante vivida aos quatro anos
derradeira erotização da morte que foi seu de idade que retrata o fascínio que sentira
suicídio. diante da figura de um cavaleiro montado
“enfrentando a morte”. No instante que lhe
Na infância conjuga: solidão, erotismo
é explicado que aquele belo cavaleiro era
e morte
uma mulher – Joana d’Arc -, e não um
Em Confissões de uma máscara homem seu encantamento pela figura se
(1949), Mishima mistura realidade e ficção. desfaz, pois a “morte trágica” se dissocia da

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figura do “cavaleiro” másculo, viril. Outra provocada pelo choque de erotismo e


cena extraída das lembranças da tenra morte. São Sebastião passou a representar
infância explicita o fascínio do menino pelo para Mishima o seu ideal de tipo físico
destino trágico, pelo sujo, fedorento, pela masculino. Para Mishima a coragem era a
morte. O cheiro de suor das tropas de coisa mais importante da vida. O princípio
soldados que passam diante do portão de básico do corpo para ele é o culto do herói,
sua casa. “Anseio apaixonado por coisas um conceito físico, uma vez que
como o destino dos soldados, a natureza relacionado ao contraste entre um corpo
trágica de seu apelo, as terras distantes que robusto e a destruição da morte. Em suma,
veriam, as maneiras como morreriam...” é o tema do martírio de São Sebastião. Para
(1949, p. 16). “Tinha predileção por Mishima a beleza estaria associada à
príncipes assassinados ou destinados à destruição e a morte.
morte [...] Meu coração se inclinava para a A erotização da morte
Morte, a Noite e o Sangue” (1949, p. 20).
As visões de príncipes que foram mortos o A erotização da morte se desvela
perseguiam tenazmente. “Quem poderia em Mishima desde a mais tenra infância. As
explicar-me por que eu ficava tão cenas descritas pelo autor – o encontro
encantado com a fantasia em que aquelas com o latrineiro, com os soldados, com o
roupas justas que moldavam o corpo, cavaleiro enfrentando à morte, com São
usadas pelos príncipes, eram associadas Sebastião -, revelam que a partir dos seus
com suas mortes cruéis? [...] Eu me quatro anos de idade esse sujeito conjuga
deliciava imaginando situações em que eu solidão, erotismo e morte. Em Sol e Aço
mesmo morria em combate ou (1968), aos quarenta e três anos de idade,
assassinado” (1949, p. 20). A carga de Mishima confessa que tentou aproximar o
desejo, ao mesmo tempo a qualidade corpo e o espírito ao longo de toda a sua
trágica que está ligada a ela, pertence à vida, mas “corpo e espírito nunca deram
figura do latrineiro, dos cavaleiros mortos boa combinação” (1968, p.90). Contudo,
na guerra, aos príncipes assassinados e aos Mishima não cessava de buscar a interseção
mártires cristãos. Aos doze anos de idade tão almejada entre o corpo e o espírito “em
pegou alguns livros de arte do pai. algum lugar corpo e espírito devem se
encontrar. Onde porém? [...] Em algum
“Topei com uma figura que eu lugar deve haver um princípio maior onde
tinha que acreditar estivera ali à minha os dois se encontrem e façam as pazes.
espera, por minha causa. Era uma Esse princípio maior, eu pensei, era a
reprodução do São Sebastião de Guido morte” (1968, p.90). Numa tarde de
Reni. Um jovem excepcionalmente bonito inverno, a 5 de dezembro de 1967, três
estava amarrado nu ao tronco da árvore. anos antes de seu seppuku. Mishima
Não é dor que paira sobre seu peito embarca num caça supersônico F104
retesado, seu abdômen tenso, seus quadris transporta o seu corpo a 4500 pés da terra.
levemente contorcidos, mas um tremular “A esta distância da terra, minha aventura
de prazer melancólico como a música” intelectual e minha aventura física
(1949, p. 32). poderiam se fundir em harmonia. Era o
Quando se depara com a gravura de que eu sempre havia buscado” (1968, p.
São Sebastião o menino fica tão excitado 100). Foi então, num momento de êxtase
que se masturba e tem a sua primeira sexual, que ele viu a “gigantesca serpente
ejaculação. A excitação sexual do de nuvens brancas cercando o globo
protagonista, gerada ao ver a gravura do terrestre e mordendo sua própria cauda”.
Martírio de São Sebastião também fora Lá no alto, envolto pela morte, posto que

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“as regiões mais altas, onde não há ar, estão A forma de negação da castração do
repletas de morte pura”, sua consciência Outro: a Verleugnung
contemplou a união de corpo e espírito, o
Em “Esboço de Psicanálise” (1940
gigantesco anel-serpente que supera as
[1938]), especificamente na parte VIII,
polaridades. O círculo da serpente revelava
intitulada “O aparelho psíquico e o mundo
o mistério: “a carne e o espírito, o sensual e
exterior”, Freud dá uma enorme atenção à
o intelectual, o dentro e o fora, vão
“divisão do eu” e ao “desmentido”. Esse
desprender-se do chão e, mais alto, mais,
importante trabalho Freud nos dá subsídios
mais alto até do ponto onde o círculo-
para supor o modo que Mishima encontrou
serpente de nuvens brancas que cerca a
para negar a castração do Outro: a
terra, todas as coisas vão se encontrar”
Verleugnug. Mishima tentou constituir dois
(1968, p. 89). “O mundo interior e o
pólos de pureza e perfeição, dois absolutos,
mundo exterior tinham se invadido
por uma separação que exclui a mistura
mutuamente e se tornado completamente
deles. Os desejos divergentes representam
intercambiáveis” (1968, p.100).
duas soluções das quais cada uma traz um
O Seppuku: a derradeira erotização da desmentido à castração materna e que,
morte embora contraditórias, se reforçam
No processo criativo de seus mutuamente. Mishima perseguiu a solução
romances e dramas, Mishima só começava da divisão do eu que se apresentava nas
a escrever quando determinava claramente polaridades. No entanto, a fenda entre os
o final. Depois pensava em como levar à pólos opostos não se preencheu, ao
conclusão, tendo em vista a última cena. E contrário só ressaltou a irremediável
isso ele também praticou na sua existência. incompletude de cada um dos termos. “As
O escritor esculpiu o seu corpo como uma flores artificiais da arte” e as “flores
obra de arte, que segundo a sua estética perecíveis da ação” são uma o ideal da
estava irremediavelmente fadado à outra. O gozo do instante e o da eternidade
destruição, a tragédia derradeira. Dois anos respondem a votos contrários. Só a morte
antes de cometer o seppuku Mishima revela pode resolver a discordância deles. Só a
em Sol e aço a sua insatisfação com a morte do belo herói conjuga a arte e a ação.
literatura, pois nela embora a morte seja a A morte se afigura a única resolução
força condutora na construção de ficções, a possível da dualidade que o habita e a única
arte não morre, ela é eterna, cria uma flor maneira de parar o incessante movimento
imortal, artificial, ficção. Ao passo que na que o projeta de um pólo ao outro de sua
ação se morre com a flor que não é imortal. subjetividade dilacerada.
“Na literatura, a morte é mantida em xeque REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
mas, ao mesmo tempo, usada como uma FREUD, Sigmund. (1905) Obras completas. “Tres
força condutora [...] Ação é morrer com a ensaios de teoria sexual” Buenos Aires: Amorrortu,
flor; literatura é criar uma flor imortal. E 2005.
uma flor imortal, evidentemente, só pode _________. (1927) Obras completas: “Fetichismo”.
ser uma flor artificial” (1968, p. 49). Com a Buenos Aires: Amorrortu, 2005.
sua morte Mishima combina ação e arte, a _________. (1940 [1938]) Obras completas. “La
flor que fenece e a flor que dura para escisión del yo em el processo defensivo”. Buenos
sempre, mistura a um só tempo os dois Aires: Amorrortu, 2005.
desejos mais contraditórios da humanidade _________. (1940 [1938]) Obras completas. “El
e os respectivos sonhos da realização aparato psíquico y el mundo exterior”. In:
desses desejos. “Esquema Del psicoanálisis”. Buenos Aires:
Amorrortu, 2005.

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KUSANO, Darci. Yukio Mishima: O homem de MISHIMA, Yukio. (1949) Confissões de uma
teatro e cinema. São Paulo: Perspectiva: Fundação máscara. São Paulo: Vertente Editora Ltda, sem
Japão, 2006. data.
LACAN, Jacques. O Seminário, livro 4: a relação de ________. (1956) O templo do pavilhão dourado.
objeto (1956-57). Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
_________. “Kant com Sade”. (1963). In: Escritos. ________. (1968) Sol e Aço. São Paulo: Editora
Rio de Janeiro: Zahar, 1998. Brasiliense, 1985.
_________. O Seminário, livro 18: de um discurso STOKES, Henry S. A vida e a morte de Mishima.
que não seria do semblante (1971), inédito. Porto Alegre: L&PM Ltda, 1986.
MILLOR, Catherine. Gide, Genet, Mishima: VALAS, Patrick. Freud e a perversão Rio de
inteligência da perversão. Rio de Janeiro: Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
Companhia de Freud, 2004.

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_____________________________________________________▪ O tempo e estruturas clínicas

Como se analisa “hoje” a perversão?

Maria Lucia Araújo

A
idéia axial desse trabalho é perverso procura análise, estabelece
partir de algumas transferência e há manejos a partir das quais
considerações das noções de o analista opera. Além disso, entendemos que
desejo e gozo para interrogar é um dever pautado na ética atender tais
como nós, analistas, temos nos sujeitos, pois o analista sabe que em tal
atualizado em relação à análise dispositivo trabalha-se a partir da relação do
da estrutura perversa. sujeito ao significante e da posição do sujeito
Sabe-se que não há consenso entre os na fantasia, e não a partir da realidade. Assim,
analistas a respeito da possível análise de um é a partir desses dois operadores que o
sujeito de estrutura perversa. Um aspecto analista poderá identificar as estratégias de
preocupante, e que chama a atenção, é o fato desejo do sujeito e sua modalidade de gozo.
de existir uma tendência, dentro do campo O próprio Lacan nunca esteve de acordo
psicanalítico, de dizer que o perverso não com não analisabilidade do sujeito perverso e
demanda análise. Enfatiza-se: o sujeito a prova disso é que muitas são as referências
perverso não tem questão...Os sujeitos, à perversão durante todo o percurso de sua
realmente perversos, ficam pouco tempo e obra, onde ele se empenhou em demonstrar a
interrompem o tratamento..., etc.Nesse possível análise de tais sujeitos, sempre
sentido, ocorreu-nos pensar em que ponto considerando que existem diferenças na
estamos na pesquisa e tratamento desses direção do tratamento.
sujeitos, a partir da descoberta freudiana e Nogueira nos lembra que: “... a
após os avanços lacanianos, pois sabemos linguagem é condição do inconsciente...” e
desde Freud que perversidade não é que “A relação simbólica que a linguagem
perversão e que há traços perversos em todas constitui possibilita a investigação, e
as estruturas. simultaneamente, a modificação do que está
Freud, quando apresenta o fetiche como além da linguagem, mas que ela indica: a
paradigma da perversão, já faz uma distinção sexualidade humana enquanto uma economia
entre neurose, psicose e perversão. Jacques de gozo, e não apenas o exercício das
Lacan vai, então, a partir da dupla função do relações de reprodução ou a prática do prazer
véu, que é a um só tempo o que esconde e o do sexo”. O autor diz, ainda, que “Lacan se
que designa, nos apresentar a estrutura de preocupou em estabelecer a Lógica dessa
toda a perversão. economia propondo o que ele chamou de
“lógica do significante”, estudando a
Nesse sentido, chega a causar realidade das fantasias inconscientes.
estranheza ouvir alguns analistas afirmarem Significante porque na investigação
que o dispositivo analítico não é adequado psicanalítica o que vai ser privilegiado, pela
para os perversos. Todavia, consideramos a escuta do analista, decorrente da fala do
partir de nossa pesquisa teórico-clínica, que o analisante será a manifestação mesma da

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língua, do enunciado, enquanto indicador da demanda de análise de um sujeito perverso é


subjetividade do falante e não a referência a feita quando há perturbação com o gozo,
realidade. E fantasia porque é ela que pois aí sobrevêm sintomas. O perverso tem a
estabelece o ponto de partida dessa lógica vontade decidida de gozar, realizando sua
que está articulando e orientando essa fantasia. É uma forma possível do desejo
economia, sabendo que a fantasia é um perverso, isto é, transformando o desejo em
significante construído a partir da indicação vontade de gozo. Em seu artigo “O
da associação livre.” fetichismo”, Freud observa que o fetiche
No seminário A angustia, Lacan representa freqüentemente o último objeto
considera que se alguma coisa é reveladora que o sujeito viu antes de ser traumatizado
pela experiência analítica, é que mesmo na pela castração feminina. Constitui como uma
perversão onde o desejo em suma apareceria espécie de parada na imagem, deslocada
como aquilo que faz a lei, ou seja, por uma metonimicamente pela relação da falta fálica.
subversão da lei, ele é de fato, Assim, guiamo-nos na análise de um
verdadeiramente o suporte de uma lei. Ele perverso seguindo sua cadeia significante, e
nos chama a atenção para o fato de que “Se diagnosticamos a partir do enquadre da
há algo que sabemos agora do perverso, é fantasia, tendo o fetiche como prova clínica
que isso que aparece externamente como da estrutura.
satisfação sem freio é defesa, e
Entretanto, para o perverso não há
verdadeiramente colocação em jogo,
sustentação no campo do desejo como desejo
exercício de uma lei na medida em que ela
do Outro, como acontece na neurose, pois
freia, suspende, detém, precisamente sobre o
ele faz um curto-circuito na questão do
caminho do gozo. A vontade de gozo no
desejo e inverte o axioma da fantasia, indo
perverso,..., é vontade que fracassa, que
em direção ao gozo do Outro. Dessa forma,
encontra seu próprio limite, seu próprio
ele tenta inverter o jogo na direção da análise
freio, no exercício como tal do desejo
com a intenção de angustiar o outro; é sua
perverso.”
maneira de lidar com o corte, com a
Ao comentar esse seminário, Bicalho castração. Do ponto de vista da transferência,
esclarece que a fantasia é um dos lugares que o jogo quem joga é ele. Ele não se interessa
permite uma diferenciação das estruturas pelo jogo do outro. A identificação na
clínicas. Isso a partir de várias leituras que perversão é com o gozo da mãe e não com o
Lacan fez da fantasia para a lógica da fantasia. desejo da mãe, há repetição por inversão. A
Assim, o lugar que a angustia ocupa, diz ela, é criança que foi objeto de tal gozo perpetua
o mesmo lugar da fantasia, o que permite esse gozo, gozando por sua vez de um objeto
tratar da angustia ligada às defesas do eu, isso semelhante ao que ela foi. Entra, então, em
além de um conceito é um operador clínico. uma relação imaginária a serviço do gozo do
Sublinha, ainda, que a garantia do campo do Outro a ser mantido.
desejo na perversão é o fetiche, e há um tipo
Aliás, convém sublinhar que, Jacques
de fantasia no fetiche. Sendo assim, se há
Lacan, em seu texto: “De uma questão
campo do desejo, há barreira ao gozo, e a
preliminar a todo tratamento possível da
angustia é mediana entre eles. Dessa maneira,
psicose” salienta que “Todo problema das
na neurose temos o campo do desejo,
perversões consiste em conceber como a
enquanto que na perversão temos o desejo
criança, em sua relação com a mãe, relação
transformado em vontade de gozo.
esta constituída na análise, não por sua
Cabe ainda ressaltar, que o nosso dependência vital, mas pela dependência de
trabalho clínico vem nos revelando que a seu amor, isto é, pelo desejo de seu desejo,

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identifica-se com o objeto imaginário desse transformado em Ter, através do mecanismo


desejo, na medida em que a própria mãe o do desmentido da castração. Na verdade o
simboliza no falo”. perverso está interessado no gozo do Outro.
Assim, “O que define se uma Como ele entende que o Outro não sabe
estrutura é perversa não são os atos a ela gozar, ele se dedica a fazer o Outro gozar.
associados, mas sim a posição do sujeito na Seguindo os ensinamentos lacanianos
trama edípica”, conforme nos lembra podemos encontrar no Seminário intitulado
Chermann. O desejo e sua Interpretação a seguinte
Na verdade o Édipo é um operador citação de Lacan que nos aponta uma das
do discurso do desejo. Nas considerações de diferenças em relação ao desejo e gozo na
Antonio Quinet, “Alguns analistas se neurose e na perversão: “Se, no neurótico, o
equivocam ao abandonar a referência às desejo está no horizonte de todas as suas
estruturas clínicas, e ao não considerar a demandas longamente desdobradas e
posição do sujeito no Édipo, a relação à literalmente intermináveis, pode-se dizer que
castração”. “A clínica dos discursos, diz ele, o desejo do perverso está no coração de
como propõe Lacan ao inserir a psicanálise todas as suas demandas”.
no campo do gozo a partir dos anos 70, Após estas breves considerações
permite um acréscimo à clínica das estruturas convém nos interrogarmos a respeito de uma
subjetivas ordenadas pelo Édipo, e não a questão crucial: qual é o pivô que suportaria a
exclusão desta”. transferência de tal estrutura no curso de uma
Sabe-se que para Freud, a criança é análise?
um perverso polimorfo e que a polimorfia Uma possível elucidação dessa
das perversões se aplica a todas as estruturas, questão podemos encontrar no Seminário
todavia, para que se estruture psiquicamente “Mais, ainda” em que Lacan nos diz: “A
a perversão é necessário que o sujeito passe transferência é o desejo do analista e que é ele
por uma sucessão de tempos lógicos e que a (o desejo do analista) o pivô e motor do
isto se acrescente transtornos no percurso tratamento. Que o analista não deve ceder de
edípico. Como observa Chermann “Nesta seu desejo e abrir mão de seu real cujo nome
estrutura a transgressão e o desafio andam é não há relação sexual”. Ora, sabemos que o
juntos. É o desafio que angustia o outro e o desejo do analista deve justamente ser
deixa sem saída muitas vezes. Ele convoca o definido em oposição ao desejo do perverso
outro como testemunha de um segredo, pois e que a ética da psicanálise não nos deixa
precisa do olhar do outro como terceiro”. opção para qualquer acordo com a perversão.
Como o perverso se fixa no segundo Serge André, um psicanalista que há
tempo do Édipo, isto é, no tempo da anos se debruça sobre a complexidade
privação, ele fica atrelado ao desejo da mãe e teórico-clínica da estrutura perversa, afirma
não articula desejo à lei. A fórmula da que “Os analistas, parece que concordam que
metáfora perde a possibilidade de os perversos interrompem prematuramente
substituição, mas não perde a condição sua análise. A questão é identificar o ponto
desejante, há acesso ao simbólico, mas como exato em que eles põem fim à sua análise. Na
o x do desejo da mãe não é enigmático como maioria das vezes ele assinala o momento em
na neurose o próprio sujeito faz a lei. O falo que o sujeito, repetindo sua sujeição
tem estatuto imaginário, é positivado e o primordial significante, que o determina no
objeto “a” é revestido pelo fetiche, sendo inconsciente, escolhe ou, pelo menos, adota
este a prova clínica da recusa da castração sua perversão. Fica faltando uma modificação
materna. Para a perversão, o não Ter é de sua postura em relação à fantasia”. Assim,

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“... onde o perverso pára, começa o desejo do FREUD, S, (1976) O Fetichismo. In. S. Freud, Edição
analista". E acrescenta, “ninguém solicita Standart Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud (VOL.XXI) Rio de
melhor do que o sujeito perverso a expressão Janeiro:Imago (trabalho original publicado em 1927).
desse desejo no analista, pois ninguém
reivindica mais do que o perverso a LACAN, J, (1995) O Seminário Livro 4: A relação de
Objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (trabalho original
possibilidade de fazer de seu sintoma uma publicado em 1957-1958).
escolha”.
LACAN, J. (2000) O Seminário Livro 10: A Angustia.
Para concluir, ressaltamos que ao Seminário Inédito, Publicação Interna da Associação
analista cabe operar em termos de desejo, isto Freudiana Internacional. Recife: Centro de Estudos
é, ser causa de desejo, pois como nos adverte Freudianos do Recife, (1962).
Rabinovich “Operar em termos de gozo é LACAN, J. (1998). De uma questão preliminar a todo
operar em termos de recuperação. Por essa tratamento possível da Psicose. In. Escritos Rio de
Janeiro: Jorge Zahar (trabalho publicado em 1957-
razão, não há gozo para o analista no 1958).
exercício de sua função, não há gozo do “ser
psicanalista”. Lacan é categórico a esse LACAN, J. (1972-1973) Livro 20, mais, ainda. Versão
brasileira de M. D. Magno, Rio de Janeiro, Jorge Zahar
respeito em seu texto Televisão, quando Editor. (1985).
afirma, com severidade sardônica, que o lugar
do analista, enquanto ele desempenha a NOGUEIRA, L. C. , A psicanálise: Uma experiência
original; o tempo de Lacan e a nova ciência. Tese de
função que lhe é própria, é um lugar drenado, Livre-docência, Instituto de Psicologia , Universidade
esvaziado de gozo...” de São Paulo.(1997,p.151).
QUINET, A, Psicose e laço social, esquizofrenia,
BIBLIOGRAFIA paranóia e melancolia . Jorge Zahar Editor, Rio de
Janeiro, (2006).
ANDRÉ, S, A impostura perversa, Jorge Zahar
Editor, Rio de Janeiro (1995, p.27). RABINOVICH, D., O desejo do psicanalista-
liberdade e determinação em psicanálise. Companhia
BICALHO, H, “O fantasma na direção da análise”, de Freud editora, Rio de Janeiro (2000, p.128).
tese de doutorado no IPUSP, 1990.
BICALHO, H, Aula ministrada no Instituto de
Piscologia da Universidade de São Paulo, no dia Como se analisa”hoje” a perversão, título deste
13/09/2004 (trabalho não publicado). trabalho, foi inspirado no título do Terceiro Encontro
CHERMANN, E, Perversão em Cena ,Editora Internacional do Campo Freudiano: Como se analisa
Escuta, São Paulo, (2004). hoje?. Publicado em livro. Editora: Manancial.
Buenos Aires. Argentina.(1987).

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

Formação do analista e Transmissão da Psicanálise:


qual articulação possível?
Beatriz Oliveira

m seu texto de 1919158, Lacan fará referência ao texto freudiano


Freud deixa claro qual a Psicologia das Massas para argumentar

E importância da formação
em uma sociedade
psicanalítica. Além do
trabalho de análise pessoal,
Freud considera
fundamental a troca com
analistas experientes em sessões científicas,
contra a formação dispensada na IPA. Essa
dimensão da transferência pela qual o
analisante, ao final, identifica-se ao eu do
analista será o elemento constituinte do
funcionamento das sociedades analíticas,
tal como acontecia na igreja ou exército: os
indivíduos colocavam as “suficiências” -
bem como o trabalho de supervisão e nome dado aos analistas reconhecidos
análise didática com analistas reconhecidos. como tal- no lugar de Ideal aos quais todos
Assim, sua proposta institucional se se identificavam. A consequência disto
sustenta como um lugar onde a formação seria o silêncio dos analisandos mais
pasicanalítica deveria acontecer. jovens. Diz Lacan:
Desde sua formação na Sociedade A função da identificação na teoria – sua
Psicanalítica de Paris, instituição ligada à prevalência- assim como a distorção de reduzir a
ela o término da análise, estão ligadas à
Internacional – IPA – Lacan sustenta uma constituição dada por Freud às sociedades – e
crítica assídua aos abusos transferenciais e levantam a questão do limite que com isso ele
desvios em relação à direção dos pretendeu dar a sua mensagem.” 161
tratamentos dispensados, a ponto de A questão que pretendo discutir
romper com a SPP em 53. Em 56159, Lacan neste trabalho refere-se à proposta de
esclarece que estrutura de formação da formação analítica introduzida por Lacan.
IPA era conseqüência da própria direção Em que esta se diferenciaria da de Freud e
do tratamento ali estabelecida. Ou seja, quais seriam os elementos que permitiriam
para se formar analista, era necessária uma uma saída institucional que não
graduação obtida no instituto de formação, reproduzisse os efeitos de identificação e
bem como a autorização obtida do próprio hierarquia tal como verificado na IPA?
analista. Ora, esta autorização estava A Proposição de 67 é um texto
relacionada com a direção do tratamento ali fundamental pois é a primeira vez que
dispensada: o fim de uma análise pela Lacan faz uma proposta efetiva de
indentificação ao analista, pela “introjeção Formação dos psicanalistas em sua Escola,
do bom objeto”160 articulando-a necessariamente com o
A transferência é um ponto nodal próprio funcionamento de uma sociedade
para a crítica realizada por Lacan à IPA. psicanalítica: “trata-se de fundamentar as
garantias mediante as quais nossa Escola poderá
158Freud, S. -(1919) Deve ensinar-se a psicanálise na universidade? In Obras autorizar um psicanalista por sua formação e...
Completas. Amorrortu Ed., vol. XVII
159Lacan, J. - Situação da psicanálise e formação do psicanalista em 1956 In
Escritos. Jorge Zahar, E. 1998. 161LACAN, J. – Primeira versão da “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre
160 Op. Cit, p. 466 o Psicanalista da Escola” In Outros Escritos. Jorge Zahar Ed. 2003

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responder por ela (...). Pode também constituir o dispositivo do Passe: “ o que faz com que ,
meio de experiência e de crítica que estabeleça ou após ter sido analisante, nos tornamos
sustente as condições de melhores garantias”. 162 psicanalistas?”165. Com isto, podemos dizer
Crítico da concepção de final de que Lacan faz um giro em relação à saída
análise pela via da identificação, Lacan pela identificação ao situar a transmissão da
sustentará que o analista autoriza-se de si psicanálise no cerne de sua proposta
mesmo. Ou seja, a questão do lugar e institucional. Dessa forma ele desloca o
função do psicanalista, no início e fim da lugar do objeto como ideal, tal como nas
psicanálise, está orientada pelo conceito de instituições freudianas, para o lugar de
transferência como Lacan formalizará na causa, o que implica em manter aberta a
proposição. “ O sujeito suposto saber é, para pergunta a respeito do que faz a passagem
nós, o eixo a partir do qual se articula tudo o que de analisando a analista.
acontece com a transferência”163. A transferência Se por um lado esta pareceu ser
se verifica na articulação de um significante uma proposta subversiva e audaciosa, por
qualquer do analista com a cadeia outro, e por sua estrutura mesma, nos faz
significante do analisando. Neste sentido, questionar a respeito de suas
Lacan será claro ao afirmar que a consequências.
transferência faz resistência à Na Carta de Dissolução da EFP ,
intersubjetividade, desconstruindo a idéia Lacan afirma que
de relação dual entre analisando e analista e “A Internacional reduz-se ao sintoma que é
sustentando o final da análise não pela via daquilo que Freud dela esperava. Sabemos o que
custou o fato de Freud haver permitido que o grupo
da identificação, mas pela via da destituição psicanalítico prevalecesse sobre o discurso,
subjetiva. tornando-se Igreja.”
Lacan articulará dois pontos de Assim critica os rumos pelos quais
junção, onde tem que funcionar seus órgãos a psicanálise se orientou, qual seja, a via do
de garantia : a intensão e a extensão da sentido e conclui: “a estabilidade da religião
psicanálise e o início e o fim da psicanálise provém de o sentido ser sempre religioso”.166
– tal como a partida de xadrez, sendo que o Aqui situamos o ponto
ponto de encontro é justamente a problemático das sociedades psicanalíticas.
passagem de psicanalisante a psicanalista. Lacan, em 1980, critica e dissolve a EFP
Neste ponto a transferência é o pivô em por questões semelhantes às que verificava
torno do qual a passagem se articula. Ou na Internacional, por seus efeitos de grupo.
seja, como transmitir o que se foi para o A questão que se coloca é se sua proposta
Outro e o modo particular de como se saiu de Escola permitiria um outro tipo de laço
disso? Como fazer passar do particular ao que fizesse “resistência à
universal um desejo que se extrai nesta intersubjetividade”, que barrasse os efeitos
passagem? de grupo inerentes ao Ideal, que permitisse
Lacan se refere ao desejo do um avanço em relação à proposta freudiana
psicanalista, uma enunciação que ocupa o de formação analítica. Lacan dirá
lugar do x em uma função, “resto que, como claramente que sua Escola pretende
determinante de sua divisão, o faz decair de sua dissipar a sombra que encobre este ponto
fantasia e o destitui como sujeito”164. Em 79, de junção, de passagem de psicanalisante a
Lacan dirá que foi por isso que instaurou o psicanalista, muito embora diagnostique:

162Lacan, J. Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. 165 9º Congrès de l’École Freudienne de Paris sur “La transmission”. Parue
In Outros Escritos. Jorge Zahar Ed., 2003 dans les Lettres de l’École, 1979, nº 25, vol. II, pp 219-220.
163 Op. Cit. p. 253 166 Lacan J. Carta de Dissolução In Outros escritos Jorge Zahar ed., 2003., p.
164 Idem, p. 257 320.

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“há um real em jogo na formação do psicanalista e desejo que não seja anônimo, uma
que as sociedades existentes fundam-se nesse Real. nominação169 conseqüência das três
Esse Real provoca seu próprio desconhecimento, até
mesmo sua negação sistemática” 167
instâncias freudianas, que permita, na
Ora, como tratar esta negação presentificação da psicanálise no mundo,
sistemática, própria da estrutura do sentido, manter aberta a fenda, o furo, o estilo
do significante, da neurose, que promove o cortante da psicanálise. Parece-me que a
efeito de cola nas instituições, constituindo Escola se presentifica pelo efeito de corte
igrejas? Poderia o dispositivo do passe que seu estilo pode transmitir.
barrar isso? A questão que me parece
Se apostamos no passe como um fundamental colocarmos hoje é: estamos
dispositivo de transmissão do que fez um fazendo Escola?
analista autorizar-se, podemos encontrar aí
um princípio de dissolução que barre a
constituição de igrejas? Se acompanhamos
a advertência em relação à via do sentido –
sempre religioso- poderíamos esperar do
Passe, a cada testemunho, uma reinvenção
do intransmissível da psicanálise, tal como
Lacan articula em 79? Dessa forma, cada
saída encontrada colocaria em questão um
sentido unívoco, ao mesmo tempo que
permitiria dar um testemunho do que seria preciso
para colocar o analista no passo de sua função168.
Foi por isso que Lacan perseverou em seu
caminho de matemas, como diz em 1980.
Assim, a proposta de Escola inclui a
Transmissão como mais um elemento na
formação dos analistas hoje. Transmissão
esta que se verifica a posteriori, tal como a
função do mais-um em um cartel; tal como
o discurso analítico que propicia os giros.
O que se obtêm são efeitos de Escola.
Ora, neste sentido, me parece que
este efeito articula o que Lacan procurou
deenvolver com sua proposta de ponto de
junção na proposição. A Escola seria a
causa de se fazer esta junção: do particular
ao universal. Neste sentido que, para fazer
a psicanálise durar, preocupação desde
Freud, me parece que não só análise, a
teoria e a supervisão seriam necessárias,
mas algo mais. Não apenas um lugar onde
isto possa ocorrer – como Freud propôs-
mas um laço a mais, uma quarta enodação
que tenha uma função de sustentar um
169No Houaiss, o verbete nominação refere-se à “figura de retórica que consiste
167 Lacan, J. Proposição de 9 de outubro, p. 249 em denominar algo que não tenha nome
168Lacan, J. Carta de Dissolução, p. 320.

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

Instituciones psicoanaliticas (¿?) en la era de la


globalización
Viviana Gomez
A modo de introducción de la comunidad y en vez de eso estamos
esde la fundación de la contribuyendo a su sepultamiento.
IPA, pasando por la EFP Tal vez lo peligroso, lo desbastador

D de Lacan hasta nuestros


días sostener la presencia
del discurso analítico
dentro de una comunidad
cuyo devenir científico e
ideológico la empujaba
con frenesí hacia la forclusión del sujeto,
del pensamiento del hombre no sea “el
olvido, sino
olvidado”(Nietzche).

Dos testimonios
olvidar que

1er. Testimonio: Mi transito por


ha

una Institución Psicoanalítica con objetivos


fue la apuesta. de “formación y asistenciales” se extendió
Lejos de ideales de adaptabilidad, el por tres años.
psicoanálisis supo leer la particularidad, el Fui docente y supervisora de un grupo de
caso por caso y aun axial establecer tipos alumnos que acababan de egresar de la
clínicos y estructuras de la subjetividad Carrera de Psicología de la UBA, ámbito en
intentando vencer la tendencia del el cual también fui docente.
psicoanálisis a la “religiosidad” Mi tarea consistía en una supervisión
En este trabajo intento reflexionar sobre el semanal “grupal” donde cada participante
quehacer de cierto conjunto de comentaba el caso de algún paciente que
Instituciones Psicoanalíticas que funcionan había sido derivado desde una entrevista de
en la actualidad en Argentina y ofrecen sus admisión.
servicios asistenciales. El participante podía tener hasta 6
Reflexionare si, tal como lo hicieron Freud pacientes en el año y pertenecía a la
y Lacan pueden ellas mismas reconocerse Institución abonando una cuota mensual.
herederas, no solo del aspecto terapéutico Por cada paciente que atendía, él
de una cura sino de responsabilizarse por la recibía un porcentaje de los honorarios
permanencia del discurso analítico en la acordados y el otro porcentaje lo recibía la
época actual. institución.
La psicofarmacologia o el Los pacientes pactaban con el
conductismo se nos presentan como psicólogo el monto de los honorarios pero
adversarios temibles, pero, son ellos por si por alguna razón no podía pagar debía
quienes tenemos que preocuparnos? O tal ser atendido en forma gratuita.
vez el riesgo de la desaparición del Las derivaciones eran hechas por una
psicoanálisis sea responsabilidad de secretaria, la cual adjudicaba los pacientes
nosotros mismos, los psicoanalistas, que de acuerdo a la disponibilidad de horarios
atravesados por el discurso capitalista de los practicantes. El tratamiento duraba,
estamos siguiendo una huella que creemos como mínimo, un año en la institución, y
nos acerca a extender tanto el psicoanálisis luego podían continuar en forma privada
como la formación de los analistas dentro (fin)

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2do testimonio: Me llamo Andrés. hacer su experiencia. Tal vez haya


Salí hace un año de la Universidad, afirmaciones cuestionables de las cuales no
soy Lic. En Psicología, tengo formación podemos quitarnos parte de la
sicoanalítica , me interesa la clínica y quiero responsabilidad quienes fuimos sus
atender pacientes. docentes, muchos de nosotros, practicantes
Me anote en el examen de “Residencia del psicoanálisis.
Hospitalaria” pero como solo habían 20 Tal vez, Andrés crea que su titulo
vacantes para 2000 inscriptos y quede en el de Lic. En Psicología incluye una
lugar 280, lo cual me permitió aplicar para formación analítica suficiente sin saber que
la concurrencia en el Hospital Moyano. ese titulo se ubica en el lugar que las
Pensé si hacia esos 4 años como Instituciones Sicoanalíticas deben ocupar
concurrente o me inscribía en una de las respecto de esa autorización y deja vacío el
Instituciones Asistenciales que ofrecen espacio del análisis personal como
“residencias privadas” y opte por lo fundamento del deseo del analista.
segundo, entendí que era lo mejor me iba a Pero nosotros, los analistas,
formar, e iba poder empezar a atender sabemos que no son los títulos
pacientes. En el Hospital no te pagan al ser universitarios los que sostienen la garantía
concurrente y además tense que pagar un sino el pase y los reconocimientos
seguro de mala praxis. sostenidos en un trabajo permanente.
En la institución pagas por mes y tense El pase, en tanto verifica el momento
pacientes , también “te incluye” seminarios clínico del surgimiento del deseo del
y supervisiones grupales y además te dejan analista y el reconocimiento como analista
llevarte a los pacientes después de un año de una Escuela de aquel que ha dado
de atenderlos allí. pruebas de ser tal.
Si pagas la cuota un porcentaje alto A lo mejor Andrés crea que el
de lo que abona el paciente es para mi sino “quehacer analítico” como objeto de
una parte es para mi y otra para la conocimiento, pueda capturarlo al final del
institución mas o menos un 60 para mi y recorrido de su postgrado o aprehenderlo
un 40 para ellos. cuando finalice su concurrencia y “sea un
Podes tener hasta 6 pacientes y si una se va, analista” producto de una carrera y no
te derivan otro. Eso si, el paciente que no producto de un análisis…
puede pagar lo atended gratis. Elegís, un Andrés cree, pero quienes hace
modulo de horas y allí te acomodan a los algún tiempo que sostenemos una práctica
pacientes, si quedes adultos o niños. y una formación sabemos que eso no es
Yo todavía no me analizo. No se más que “vana ilusión”.
con quien, tendré que ver cuando comience Lo urticante es que algunas
a atender porque no cuento con mucho instituciones
dinero. asistenciales,”verdaderamente”
Tal vez también me empiecen a derivar psicoanalíticas prometan conseguir “lo
pacientes para el consultorio privado y axial imposible”, que en acto de ofertar
con los pacientes de la institución y los formación que haga lugar ala demanda del
privados me pueda sostener mercado socave los fundamentos del
económicamente (fin) psicoanálisis que intenta sostener.
Todo le cierra, verdad? He aquí un En esta misma línea, encontramos
psicólogo que pertenece a la nueva el obstáculo de las instituciones
generación. hospitalarias.
Andrés, plantea sus inquietudes e Me pregunto, Cual es esa demanda
relación a una practica en la cual desea dirigida al “orden medico” de ser

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reconocidos como analistas, cuando globalización “todos los bienes humanos


sabemos que el psicoanálisis mismo del mundo están siendo tasados y
necesito separarse de la medicina para formateados como mercancías”. Y agrego
poder existir, haciendo lugar a una clínica no olvidemos que los “humano” también
de la escucha en vez de una clínica de la se ha transformado en un “recurso” junto a
mirada, un saber del lado del analizante y los recursos materiales…
no del medico, tomando el error como Cuantas veces se ha planteado el
objeto de estudio y no como falencia. psicoanálisis su duración. Sin lugar a dudas
Dice Freud. En “El Psicoanálisis Profano”: su temporalidad armoniza aparentemente
El neurótico constituye una condición con un romanticismo que se lleva mejor
indeseada para la Medicina, tanto como con los valses de Strauss que con la época
para los tribunales de justicia o para el actual, pero su razón sintoniza con su
servicio militar(…) Ahora bien, la fundamento. Freud nos recuerda:”Un
formación medica universitaria no trayecto que en tiempo de paz recorre un
proporciona medio alguno para su estudio tren en pocas horas, puede costar semanas
o su tratamiento(…)La situación seria aun enteras a un ejercito si tiene que ir
soportable si la formación académica de los venciendo la existencia del enemigo. Tales
médicos se limitase a impedirles orientarse combates necesitan tiempo en la vida
hacia el terreno de la neurosis”. anímica, todas las tentativas realizadas hasta
el dia (de hoy)para apresurar la cura, han
TIEMPO-TRANSFERENCIA-PAGO fracasado. El mejor medio de abreviarla es
Tomare estos tres ejes, y los desarrollarla correctamente.”
interrogare en relación al lugar que ocupan Es claro pues, que cualquier
en nuestra práctica analítica y a la escansión que no este vinculada a una
significación que corren el riesgo de correr intervención analítica introduce la
en la era actual donde se valoriza lo eficaz, incidencia del discurso del amo
el rápido reestablecimiento, el consumo y el parametrando el tiempo en relación a
mercado. circunstancias situacionales o
Dice Cristian Ferrer en su texto “El reglamentarias que apuntan a que “todo
nido roto”: Inexistente hasta comienzos de ande” evitando el encuentro fallido con lo
los noventa, la palabra de orden, real.
GLOBALIZACION llego a la manera de La Institución, regida necesariamente por el
ciertos productos importados, con discurso del amo existe con una lógica que
instrucciones de uso especificadas en no se articula a la lógica del discurso
idioma ingles en el manual analítico sino que mantiene con él una
correspondiente. Su inclusión en los relación de “tensión”.
lenguajes públicos ha sido rápida, rampante Del mismo modo cuando un practicante
e imperativa y pronto se dispuso ante la entiende que el paciente es de la
opinión publica como desideratum Institución, y lo es porque ella misma
humanista y funcional cuya naturalidad puede sancionar a quien se lo apropie antes
seria indiscutible. Pero el proceso de de tiempo, con qué concepto de
globalización no solamente reorganiza transferencia nos estamos manejando?
espacios sociales y modifica los tiempos Volvamos a Freud :”El neurótico
antropológicos, o los aplana, también presta su colaboración porque tiene fe en el
despliega una imagen del mundo al interior analítico y este sentimiento va
de cuyos confines ciertas formas de vida se constituyéndose durante la cura. Tampoco
hacen posibles y otras cancelables e incluso el niño cree sino a aquellos a quienes
informulables. En la lógica de la quiere. Esta influencia “sugestiva” tan

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importante, no la utilizamos para yugular penosamente al enfermo, la relación entre


los síntomas y esto diferencia el método ambos pierde todo carácter real quedando
analítico de otros procedimientos el paciente privado de uno de los motivos
psicoterapéuticos, sino como fuerza principales para atender a la terminación de
impulsiva para mover al yo a vencer sus la cura”
resistencias, para darle un gran impulso No pocas veces en mis tiempos de
hacia su desenlace”. supervisora en aquella institución
Para finalizar la cuestión del Dinero escuchaba intervenciones que los
articulada al pago. practicantes hacían a “esos” pacientes en
Quien paga?. Si el psicoanálisis se las que se vehiculizaban sentimientos de
sostiene en una platica que implica una impotencia y hostilidad hacia aquel que
perdida, pagar es estar dispuesto a perder, regulaba su pago y por lo tanto su goce.
perder qué…goce, por ello paga el sujeto.
Dice Lacan “Sabemos la Consideraciones.
importancia que tiene el pago en Me pregunto, si no somos
psicoanálisis, no es algo para tomar a la practicantes de la medicina y el
ligera y dejarlo librado a la interpretación psicoanálisis aunque conserva el dicho
mundana”. ”tratamiento” tampoco lo es.
Si el que paga es el que trabaja, cuando el Cual es la razón por la cual
analizante no paga, quien trabaja?, necesitamos que en ese orden sea
responderé sin mas, el analista, si no cobra, reconocido para poder autorizarnos.
paga. No será acaso que nos ocurrirá
¿A qué posición de altruismo como al sacerdote que quiso convertir al
debemos este quehacer del presunto vendedor de seguros y en vez de lograrlo
analista, es acaso curador? ¿el que tiene?, ¿el resulto él asegurado contra todo riesgo?,
que sabe?, ¿aquel que escamotea su según comenta Freud
castración al mostrarse poderoso pudiendo No nos pasara como a Einstein que
escuchar y soportar la transferencia? para que resulte mas comprensible la
El problema esta bastante Teoría de la Relatividad la simplifico tanto
generalizado en el ambiente del que termino siendo otra cosa?.
psicoanálisis en tanto que hemos hecho de Entiendo que, si la consistencia del
nuestra práctica una discusión religiosa, discurso analítico se verifica en el Pase tal
somos sacerdotes y humanitarios, vez solo necesitemos un Campo y una
sostenemos principios que no se Escuela donde trabajar en torno a la
solidarizan con nuestra labor. pregunta Que es un analista y que la
En su articulo sobre “La iniciación del practica vuelva a los consultorios y que de
tratamiento” Freud, escribe:”El tratamiento su análisis personal se responsabilice cada
gratuito intensifica enormemente algunas cual.
de las resistencias del neurótico (…)La
ausencia de compensación que supone el
pago de honorarios se hace sentir

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

Duração e profundidade: algumas considerações


sobre espaço e tempo a partir da pintura
renascentista
Luis Guilherme Mola
m seu texto O Tempo Lógico e a asserção da início do Renascimento representa um
certeza antecipada, Lacan momento de profundas modificações nas
utiliza o que ele formas pelas quais os homens e suas

E denomina um sofisma
para discutir
insuficiência da lógica
clássica na resolução de
problemas
envolvam a dimensão
temporal. A dificuldade residiria segundo
a

que
relações com o mundo são representadas.
No entanto, é talvez na pintura que essas
modificações se mostram
contundentes. As figuras “chapadas” e
mais

justaposição de cenas para representar a


passagem do tempo, tão típicos da pintura
medieval, já não são mais suficientes para
Lacan, na redução do tempo a uma única dar conta do olhar do artista da
dimensão, a duração, que seria Renascença. Torna-se necessário
representada de maneira espacializada: ao encontrar novas maneiras de representar
que pode ser visto de um único golpe170. No uma realidade que adquiriu novas
entanto a crítica de Lacan à espacialização dimensões. As relações entre espaço e
do tempo não deve ser entendida como tempo tiveram que ser revistas ou mesmo
uma recusa a qualquer tentativa de subvertidas, a partir do momento em que
articulação entre essas duas dimensões, o a visão passa a ser concebida mais como
recurso à topologia mostra um esforço uma atividade da mente do que como uma
para ultrapassar uma concepção que função óptica.171 Entendida como função
considera o tempo uma sucessão de óptica, a visão receberia da realidade suas
instantes e o representa espacialmente ora formas, cores e relações cabendo ao
congelando um desses instantes, ora artista reproduzi-los a seu modo. Se, no
enlaçando-os em cenas das quais se entanto, a visão passa a ser entendida
depreenderia uma dimensão cronológica. como uma ação do intelecto na qual o
No entanto, seriam essas as duas únicas olho é apenas um instrumento, o
formas de tratar as relações espaço- movimento se dá do sujeito para o
tempo? Não haveria uma forma de exterior, ação que organiza o espaço, que
espacialização do tempo (além da o submete a regras, que o deforma para
topológica) que seguisse outros critérios que ele, paradoxalmente, se torne mais
que os da linearidade? Vejamos as formas semelhante ao que pretende representar.
pelas quais esta questão foi enfrentada em A visão perspectiva é o oposto da visão
um momento específico da história da óptica. O ponto de vista do artista
arte e se as articulações aí produzidas encontra-se projetado no ponto de fuga
podem contribuir para o nosso propósito. da representação que ele constrói. Um
No que se refere à arte de maneira geral o belo exemplo de como o olho do artista é

170LACAN, J. O Tempo Lógico e a asserção da certeza antecipada. In: Escritos. 171 ARGAN, G.C. Clássico e anticlássico: o Renascimento de Brunelleschi a
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p.202. Bruegel. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.

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“colocado” no quadro encontra-se em Masaccio representa Cristo crucificado


uma das primeiras experiências sobre a encimado pelo Espírito Santo sustentados
determinação das leis da perspectiva pela figura de Deus Pai (cuja
realizada por Brunelleschi. Ele pinta um representação era pouco usual até então).
retábulo representando o Batistério de A perspectiva aqui é utilizada para marcar
Florença que para fornecer a ilusão de um corte entre o espaço profano,
profundidade deveria ser posto diante de cotidiano (representado pelas figuras dos
um espelho colocando-se o observador patrocinadores da obra) e o espaço
atrás do quadro e observando seu reflexo sagrado, absoluto, daquilo que já foi, ainda
por meio de um orifício feito na própria é, e sempre será; o lugar portanto, do
pintura. Nesse esquema óptico, o olho eterno. O espaço não é aqui um vazio a
ocupa um ponto fixo, calculado para que a ser preenchido por uma cena qualquer ou
imagem no espelho lhe devolva a visão do uma sucessão de eventos, mas um espaço
artista. Posteriormente esse artifício não que engendra uma determinada
será mais necessário, basta fazer com que temporalidade. Nas palavras de Argan:
o olhar escoe pelas linhas que conduzem a “Masaccio compreende que, para
esse ponto para que o espectador tenha a representar o verdadeiro sentido do
sensação de profundidade calculada pelo dogma, é preciso representar na mesma
criador da cena. A perspectiva fornece às cena a causa e o efeito, até torná-los
pinturas um terceiro eixo que lhes confere idênticos. Assim essa trindade, toda
volume e amplia o espaço permitindo constituída por triangulações espaciais,
assim novas formas de representação para não ilustra seu tema, mas o representa
a dimensão temporal. Sendo talvez mais estruturalmente. Consegue evitar o
preciso, a questão que aqui se coloca é a símbolo e a alegoria, substituindo-os por
possibilidade de se derivar uma estrutura uma representação que encarna e torna
temporal a partir de uma representação evidente por si mesma”173. Masaccio
espacial. Vejamos como essa questão é “enforma” o tempo sem que isso conduza
tratada por um dos mais representativos ao singular do instante, o que se encontra
nomes da pintura desse período: aí é o universal do eterno. Mas, como
Masaccio. Nascido em 1401 em Castel articular tempo e espaço em uma obra que
San Giovanni, cidade próxima a Florença, retrata um episódio composto de várias
Masaccio constitui com Brunelleschi e cenas sem necessariamente utilizar uma
Donatello os pioneiros da revolução sucessão cronológica? O quadro O Tributo
renascentista da pintura, arquitetura e foi pintado por Masaccio nos anos de
escultura respectivamente. Influenciado, 1427-28 para a Capela Brancacci e
segundo Argan, pela retomada de uma representa o episódio em que ao ser
concepção teológica em que a verdade cobrado para entrar na cidade de
religiosa embora racional deveria revelar- Cafarnaum, Cristo diz a Pedro para pescar
se pela “evidência literal da forma”172 e um peixe que milagrosamente trará em
não por demonstração argumentativa, sua boca uma moeda para pagar o
Masaccio procura alcançar a “forma imposto. Embora trate de eventos que se
total”, isto é “a unidade formal absoluta sucedem no tempo a cena não está
entre espaço e tempo.” Um exemplo representada convencionalmente da
dessa tentativa pode ser encontrado em esquerda para direita, mas organizada
sua obra A Trindade. Ocupando toda uma segundo a hierarquia dos fatos o que
parede da Igreja de Santa Maria Novella, implica uma hierarquização do espaço, a

172 Idem, p.42. 173 Idem, p.43.

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organização espacial do quadro segue uma haveria outras? As respostas sugeridas


exigência ética: o centro deve ser ocupado pela análise das obras aqui apresentadas
pelo evento mais significativo, ainda que indicam outros caminhos ou podem ser
isso contrarie a sucessão temporal do consideradas “intuições” de uma
episódio. Masaccio sabe que o fato estruturação topológica de espaço e
fundamental dessa passagem não o tempo? Que cortes seriam possíveis ou
milagre (tanto que o representa de necessários para que se precipite o sujeito
maneira pouco definida e à margem do implicado nessas construções? Ainda
quadro), mas a simultaneidade dos gestos mais, que conceito de sujeito está
de Cristo e Pedro: “À indicação ali!, implicado nessas concepções? Talvez
corresponde a execução ali!”174 O aquele que se oculta no ponto de fuga e
movimento é condensado em uma forma dali, invisível, organiza toda a cena que
única: a ação e a reação tornam-se uma oferece ao olhar do Outro? Embora arte e
coisa só. A articulação entre as cenas psicanálise constituam campos distintos,
representadas não é cronológica, “antes” e talvez as produções artísticas possam
“depois” não são relevantes para o provocar e instigar o psicanalista a
entendimento da cena, embora a “ocupar seu tempo” na investigação dos
dimensão temporal esteja fortemente pressupostos que fundamentam sua
presente no quadro. Uma vez mais Argan: prática.
“É preciso então traduzir o tempo em
termos visíveis, e portanto em termos de
espaço: fazer coexistir no mesmo espaço
aquilo que não pode coexistir no mesmo
momento. O que vem a ser, então, esse
espaço? A natureza, talvez? Não, porque a
natureza não pode abranger presenças
simultâneas. É uma quarta dimensão, é
tempo condensado, solidificado ou
coagulado, visualizado. Mas continua
sendo tempo”175. Esses exemplos, que
constituem o início de um trabalho de
pesquisa, procuram mostrar que a
espacialização do pensamento embora
implique em uma espacialização do
tempo, como afirma Porge176, não
necessariamente conduz a uma
representação estática que “nada traz que
não possa ser visto de uma só vez”, mas
que possibilita, ou melhor dizendo, exige
novas formas de nodulação entre essas
duas dimensões. Lacan encontra na
topologia possibilidades de superar a
representação unidimensional do tempo,

174 Idem, p.46.


175 Idem, p.45.
176 PORGE, E. Psicanálise e Tempo: o tempo lógico de Lacan. Rio de Janeiro,
Companhia de Freud, 1998.

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

A eternidade do espaço, ou o que podemos


aprender com a pintura de Francis Bacon?

Sonia Xavier de Almeida Borges

rancis Bacon foi capaz de ano, em “Uma nota sobre o bloco mágico”
formalizar a sensação de que apresenta a sua teoria sobre o tempo:

F tempo no espaço da tela.Para


ele, o objetivo da arte deve
ser o de romper com as
percepções ordinárias e
escapar dos clichês. Pintar as
sensações, de modo a
provocá-las também no receptador, foi o
“É como se o inconsciente
estendesse sensores, mediante o veiculo do
sistema Pcpt-Cs. Orientados para o mundo
externo, e rapidamente os retirasse assim
que tivesse classificado as excitações
provenientes dele (...) Tive ainda a suspeita
de que este método descontínuo de
procedimento que escolheu para isto, ainda funcionamento do sistema Pcpt – Cs jaz no
que o considerasse uma tarefa impossível. fundo da origem do conceito de tempo.
Queimava suas telas por não o haver (Freud, O Bloco mágico”, v. XIX, p.290)
conseguido,mas não admitia outra Poeticamente podemos resumir a
possibilidade. perspectiva da psicanálise sobre o tempo
As características absolutamente com as palavras de Hamlet: “O tempo está
originais do seu trabalho e esta ênfase que fora dos gonzos”. Tempo que rompe com
concede à função da sensação e também ao os critérios científicos – filosóficos
acaso na produção da obra de arte me clássicos de uma somatória de instantes, e
instigaram a uma maior aproximação de tampouco se alinha à descrição moderna,
sua pintura e da descrição que apresenta de bergsoniana, de um fluxo contínuo. Tempo
sua atividade criativa nas entrevistas que livre de toda medida, intervalo, número.
concedeu a David Sylvester por vinte anos. Independente do que seria a permanência,
Mas, o que a pintura de Bacon pode nos a sucessão ou a simultaneidade porque
ensinar sobre o tempo? submetido à lógica indissociável dos efeitos
No texto “O inconsciente” de de temporalidade relativos à incidência das
1915, Freud menciona três características cadeias significantes que, como mais tarde
do tempo em psicanálise: organização Lacan enfatizaria, condicionam a
descontínua, ou não linear, eternidade ou modulação temporal de cada sujeito. O
imutabilidade e independência do tempo Nachträglich põe em jogo um tempo que é
cronológico tal como percebido pela paradoxalmente. reversível e descontínuo.
consciência como tempo vivido. Estas Trata-se de um vir –a –ser no tempo e no
idéias adquirem ainda maior precisão espaço, feito de cortes, rupturas, como
quando em 1920, em “Mais além do Freud o apresenta no livro dos sonhos:
princípio do prazer”, onde põe em dúvida a Como você sabe, estou trabalhando
afirmação kantiana de que tempo e espaço com a hipótese de que nosso mecanismo
seriam duas categorias necessárias e inatas psíquico tenha se formado por um
constitutivas de nosso pensamento. Mas, processo de estratificação material presente
pode-se dizer que é, ainda neste mesmo sob a forma de traços mnêmicos fica

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sujeito de tempos em tempos [sic] a um na pintura do que lhe atiça os sentidos.


rearranj, de acordo com novas ´Em linguagem da psicanálise, diríamos que
circunstâncias, a uma retranscrição. Assim, quer destituir as determinações narcísicas e
o que há de essencialmente novo em minha as repetições fantamáticas naquilo que
teoria é a tese de que a memória não se faz podem representar de limitação à
presente de uma só vez, e sim ao longo de criação.Um exemplo disto são as várias
diversas vezes. [e] que é registrada por telas em que, sucessivamente, representa o
vários tipos de indicações.( Freud, 1900: Grito buscando fazê-lo “como jamais
209) alguém o teria feito”. E afirma que o seu
Considero importante registrar, intuito nunca foi pintar o horror, que
pois nos leva à concepção de tempo já aí supostamente originaria o Grito, mas, o
implícita, que desde o “Projeto”, Freud já próprio Grito, de modo a tornar audível o
nos remete à consideração de que quando inaudível. (TELA GRITO
se trata da memória inconsiente, a repetição, Este é o fio que liga o seu trabalho
implicada na reprodução ou na transncrição, é ao de Cézanne e Paul Klee que também
lugar da diferença, e não da mimésis ou da consideravam que a música e a pintura
cópia. Estão, portanto, em jogo, segundo deveriam tornar visíveis forças invisíveis,
Freud, relações que não remetem a um sonoras forças não sonoras. Como pintar
original, mas, como explica Derrida, à ou fazer ouvir o tempo que é insonoro e
diferença invisível e indiscernível entre os invisível? Referindo-se a Van Gogh, Bacon
trilhamento (1973). afirma que seus quadros não mostram
Identidade, presença, tempo e girassóis, mas, sensações advindas da força
espaço, como constructos da filosofia invisívae de sua germinação. Em seu belo
clássica, sempre estiveram sob suspeita para livro sobre Bacon, “A lógica das sensações”
Freud..A idéia de repetição em Freud não Deleuse comenta que
diz respeito nem à qualidade, nem à pintar para Bacon é como equilibrar-se em uma
quantidade, mas à grandeza, à magnitude , à corda tensionada entre aquilo que se costuma
chamar de pintura figurativa e aquilo que é
força, noções que não são explicativas, abstração, mas, na verdade, nada tem a ver com
mas, ajudam em sua descrição. É uma ela.É uma tentativa de fazer como que a coisa
grandeza que varia em um espaço - figurativa atinja o sistema nervoso de uma maneira
tempo; mais violenta e penetrante. (2007:.12)
Em arte não se trataria de Para Bacon, a tela nunca está em
reproduzir ou inventar formas, mas de branco, mas, preenchida por clichês, de que
captar forças. Bacon é pintor da força, da é necessário se livrar. E só haveriam dois
intensidade, do movimento e também do caminhos para isto: a pintura abstrata, ou,
tempo. Em sua obra há um predomínio da na via aberta por Césanne, a pintura da
força sobre a forma. Ele topologisa a força sensação.Nas entrevistas a Sylvester,
do tempo no espaço em branco da tela. expressou a inusitada opinião de que a
Mas, de onde partir para se chegar a estas pintura abstrata ainda lhe parecia
conclusões? Antes de mais nada, de uma insuficiente para desempenhar a tarefa. E
concepção estética que reconheça na obra pergunta: Não haveria outra via mais direta
de arte uma realidade ontológica, isto é, e sensível para isto?
reconheça que nela existem elementos A via da sensação, afirma.Para ele, a
numa tensão interna capaz de provocar sensação dirige-se à carne, ao corpo, e
sensações. Sensações advindas e que devem menos ao intelecto. Na sensação, a
ser examinadas na própria obra, e não na distinção sujeito–objeto é confusa, não só
mente do artista ou do fruidor. O esforço no corpo do sujeito que sente, mas também
de Bacon é de subjetivação e formalização na coisa sentida. Ao falar de seus esforços

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para a consecução desta tarefa, Bacon se que possibilita que a figura passeie.pelos
refere a “ordens de sensações”, “níveis vários planos. Bacon aceita o desafio de
sensitivos”, “domínios sensíveis”, desfigurar a figura, principalmente cabeças
“seqüências moventes”. Um quadro seria e corpos, para, desfigurando-a, figurá-la de
uma “seqüência movente” d sensações que forma a romper com o que seria
são ou estão em diversos níveis. considerado como identidade do objeto
A formalização da sua pintura dá-se pintado.TELA CABEÇA. A figura é
sempre através de uma. Mesma distorcida, contorcida num movimento de
organização topológica de seus elementos vai e vem em que passa de uma ordem para
ou planos, constitutivos da figura, em que outra, ou provoca a sua contração. Os
entram em conexão (ou “contração”): a corpos se alongam querendo fugir, ou se
própria “figura”, a “grande superfície diluir, ou estão saindo de uma convulsão
plana” e a “área redonda”. Trata-se sempre interna? TELA CORPOS A Grande área
de uma figuração desfigurada pela variação também se movimenta, numa fuga ou
e deformação destes planos topológico, aproximação da figura. Seus múltiplos
sobretudo das cabeças e corpos, que tem planos desterritorializam as figuras,
como efeito a emergência de ressonâncias desmaterializam os corpos, já que as
internas como ritmo e movimento e tempo. sensações que promovem vêm de
Nos quadros de Bacon, não se trata de percepções que, porque nunca estão
passar do espacial ao temporal, mas de acabadas, sempre nos ultrapassam. Estes
realizá-los a um só tempo. TELA 2 mesmos processos de imantação e
A destituição dos processos ressonâncias mútuas ocorre nos trípticos.
intelectuais visada por Bacon, porque TRÌPTICO As imagens de Bacon são
necessária à criação, se dá pela valorização lugar de movimento, tempo, espaço de
da sensação e também do acaso na criação: múltiplos devires que impedem
“Pode-se, - diz ele - de um jeito muito estabilidades e identidades perceptivas.
parecido com a pintura abstrata, fazer Em 64, Lacan.ensaia representar
marcas involuntárias sobre a tela, que topologicamente a relação tempo-espaço
sugerem outros caminhos muito mais com a garrafa de Klein. Desde então se
penetrantes para apreender o fato que você pergunta: “como definir aquilo que em um
persegue”: conjunto de dimensões faz de uma só vez
Um dos quadros que pintei em 1946, aquele que superfície e tempo?” Em 1973, no. Sem.
parece um açougue, surgiu diante de mim por 21, afirma: “O espaço implica o tempo e o
acaso. Eu estava tentando fazer um pássaro
pousando num campo [...] de repente as linhas que tempo não é nada mais que uma sucessão
eu tinha desenhado sugeriram uma coisa muito de instantes de contração. O tempo é talvez
diferente, e desta sugestão brotou o quadro. [...] a eternidade do espaço”. (Lição de
TELA PÀSSARO 11.12.1973).
Na pintura de Bacon, o que conta é
a proximidade absoluta dos elementos, que
faz com que possam se imantar,
organizando um regime de forças sensíveis

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

Inland Empire - El cine de David Lynch como


acontecimiento para el psicoanálisis

Laura Salinas

l momento del comentario Tendríamos que aceptar para


de la película suele resultar empezar, que no hay psicoanálisis sin

E tan grato como el momento


de su proyección.
Comentario que puede
tener la oportunidad de la
charla apasionada en la
pizzería o el café, o lo
inoportuno de surgir justo en ese momento
experiencia del tiempo. “Con el tiempo
pasará”... es la fórmula a veces resignada a
veces decidida, que vulgarmente suele
ofrecerse como tratamiento para la
repetición del síntoma. Aunque no dé
resultado en la mayoría de los casos, hay un
saber colectivo que mantiene anudados de
en que nuestra pareja está a punto de lograr algún modo, tiempo y sujeto. Tanto es
el sueño. así, que Freud funda su propuesta para el
Estar hoy aquí con Uds. intenta psicoanálisis, incluyendo en el tratamiento
renovar esa incauta experiencia de la charla la experiencia del tiempo. En Recordar,
sobre cine para poder, errando, decir algo repetir, reelaborar dirá: “El analizado repite en
que importe al psicoanálisis y no tal vez a vez de recordar y repite bajo las
David Lynch. condiciones de la resistencia” Pero,
El modo en que Lacan realiza su agregará “nombrar la resistencia no puede
homenaje a Marguerite Duras177, abre una producir su cese inmediato. Es preciso dar
nueva operación en la relación del tiempo al enfermo para enfrascarse en la
psicoanálisis con el arte; operación que se resistencia, no consabida para él...Sólo en el
hace necesaria no al arte, sino al apogeo de la resistencia descubre uno,
psicoanálisis. Esta nueva relación nos dentro del trabajo en común con el
aparta de la vía del psicoanálisis aplicado analizado, las mociones pulsionales
como trabajo de revelar lo incc reprimido reprimidas que la alimentan y de cuya
del autor en la obra. Lacan insistirá en la existencia y poder el paciente se convence
advertencia freudiana que alcanza al propio en virtud de tal vivencia”. Mientras el
Freud en algunas oportunidades: es el enfermo vivencia esta condición patológica
artista quien viaja adelante del psicólogo en artificial de la neurosis de transferencia
el desbrozado del camino. “como algo real-objetivo y actual, tenemos
Lynch, así, concita nuestro asombro nosotros que realizar el trabajo terapéutico,
no sólo como espectadores sino en tanto que en buena parte consiste en la
psicoanalistas, al modo en que Lacan se reconducción al pasado” Es decir que es
anoticia de cómo “Marguerite Duras en la acción de este tiempo de la repetición
evidencia saber sin él, lo que él enseña.178 en la que el pasado habita el presente, por
donde el psicoanálisis encuentra el motor
177 Lacan, J (1985) “Homenaje a Marguerite Duras, del rapto de Lol
de la cura.
V. Stein”, Intervenciones y Textos 2, Editorial Manantial, 1988.
Inland Empire o Imperio como se la
178 Ibid, 1985, pag. 66. tradujo, puede ser entendida como

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invitación a hacer la experiencia del tiempo. reconocerse en la imagen alienada del


Una invitación a transitar otro tiempo que espejo. Ese Yo que ahora es otro y que aquí
el lineal, con personajes que se debaten se da a ver en el encuentro del personaje
sobre un tiempo descalibrado. Un pasado con su doble; en ese espejo que refleja las
que aparece en el futuro, y un presente dos siluetas de Nikki separándose de sí; en
continuo que no puede consumarse, la ventana que deja ver al partenaire pero
finalizar, devenir pasado. Los relojes que no transparenta su propia imagen. Así,
escoltando escenas muestran su el vidrio del televisor es una ventana real
incapacidad para medir las horas. donde espectador y personaje conforman
TRACK 1. FILM VECINA las dos caras moebianas de un mismo
OMINOSA (9 minutos) sujeto. La joven prostituida del inicio que
Este personaje ominoso viene a mira del otro lado del televisor llorando,
encargarse de interrogar la responsabilidad será con quien Nikki se reencuentra al final
del sujeto por el sendero del olvido. El del periplo. El personaje, Sue y la actriz,
olvido, es el tiempo del amo que avanza en Nikki, integran ahora a un único sujeto que
la certidumbre de un tiempo que progresa ha descubierto el otro lado de la banda
junto a un pasado que ya ha acontecido y moebiana pero no puede acceder a él. Así
un futuro que vendrá. como Nikki en la escena de la cama le
Pero Lynch se muestra fascinado reclama al partenaire que continúe siendo
por esta reversión del tiempo como él, el amante-actor, podrá pasar luego a
sustento de la experiencia humana. Ese buscar a “Billy” el amante en la ficción.
tiempo reversivo que pareciendo ir hacia el Lynch parece interesarse además
futuro va a mostrar simultáneamente, su por una alienación que no sólo se visualiza
inscripción en el pasado. “No te acuerdas: en lo Imaginario, sino por aquella otra
si hoy fuera mañana, estarías sentada ahí y alienación –simbólica- que revela la división
sucedería eso.” del sujeto entre dos estados del ser: el
En el film, recordar no es el estado del sentido y el del sinsentido.
regodeo nostálgico de la fantasía Convoca a pensar ese otro modo
encubridora, sino un ver-se ahí. Ver-se en del tiempo que es el inconciente y que
un lugar donde el ser ya no puede revela la subversión del cogito que funda el
reconocerse. La repetición como discurso de la ciencia moderna: el cogito
encuentro fallido con lo Real, es este cartesiano. El psicoanálisis encuentra un
tiempo que no pasa al pasado, que vuelve y sujeto, dividido entre el soy donde no
que no cesa de no-escribirse. pienso (ese inconciente) y el pienso (el
La imagen de esa incesante púa que inconciente) donde no soy.
surca, sobre un disco de vinilo en Podría entenderse así, el modo en
movimiento. que Lynch hace transitar a su personaje
TRACK 5- ENSAYO EN EL ESTUDIO desde esta posición inicial del no pienso;
empiezan a ensayar, ella llora y surge el ruido desde una cierta comodidad de la existencia
hasta que él vuelve. (9 minutos) que ha encontrado en el olvido el modo de
TRACK 12 - FILMACIÓN rechazar el saber sobre su posición de
INTERRUMPIDA POR LA FRASE objeto, a una posición de encontrarse con
FUERA DEL GUION (1 minuto) el no ser; el no-ser bajo historia rechazada,
TRACK 15 - Desde ESCENA EN LA enviada al olvido.
CAMA hasta que la ventana no refleja su En la cohabitación de este estado
imagen. del no ser, se ve a una Nikki que ahora se
A partir de allí, comenzará un abismo del encuentra entre prostitutas. Ambiguamente
ser. Un abismo del ser que ya no puede pasa a ser la criminal o la víctima del

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crimen que va a perpetrarse. Una frase la escucha. Necesita para ello un segundo
representa como sujeto incapaz de momento donde el decir se transforme en
responsabilizarse subjetivamente en tanto dicho, en texto.
deslocalizado en el tiempo de la repetición: El cine de Hitchcock por ejemplo,
despeinada, desencajada; visiblemente constituye en sí mismo un género por el
golpeada y lastimada y con un modo de comprometer la identificación del
destornillador en la mano, reflexiona ante espectador en el desarrollo de la trama, con
un interlocutor que la escucha en silencio: un uso del montaje que pone nítida la
“Un día supuse que al despertar descubriría disyunción entre la visión y la mirada. Si
qué diablos sucedió ayer” Lynch propone bien este uso del montaje está presente
que es necesaria una presencia, un todo el tiempo en Imperio, el dato no puede
semblante, para que esta pregunta del ser completado por el espectador como en
sujeto pueda desplegarse? el film hitchcockiano donde el espectador
“No sé qué hago acá”. “No fue fácil es un Yo que sabe y ocupa un lugar similar
encontrar el lugar, eh?” “Vine porque me al del detective. Aquí Lynch se dirige a un
dijeron que podría ayudarme” Frases Yo que debe ser puesto en suspenso para
conocidas para un analista y que son poder escuchar, para que el saber puesto en
aquellas con las que esta Nikki se anuncia al juego, advenga.
llegar hasta este interlocutor: ¿Alude Lynch Ver Imperio resulta una vivencia de
a la figura de un analista? Si lo fuera, parece una belleza insoportable, ya que es un
difuminarse en la imagen de un gordo que tránsito regido por la fragmentación de los
soporta semblantes de idiota, de detective episodios, las situaciones desconectadas y la
privado y de alcahuete del amo. reiteración de estribillos. Ver el film por
Podría arriesgarse una hipótesis más segunda o tercera vez deja ver que la
sobre el film de Lynch. En ‘Imperio’ se aparente desconexión cobra otra lógica y
despliega una invitación a la experiencia del surge un guión imposible de situar en un
tiempo simultáneamente en dos planos: en primer intento.
el del enunciado y en el de la enunciación. Como en el axioma del fantasma
Lo descripto hasta aquí podría inconciente, hay una trama que permanece
demarcar la experiencia del tiempo en el por la que se deslizan personajes
plano del enunciado, es decir aquello que superpuestos y tiempos fragmentarios.
ocurriéndole a los personajes es un mensaje Llamativamente un mismo personaje –
a transmitir. como el del esposo- puede ocupar lugares
Pero hay una apuesta de Lynch que distintos en el relato. Habitualmente en un
supone un acto: el hacer que la experiencia relato el personaje funciona como un
del tiempo se realice ya no en el personaje operador estable que realiza ciertas
sino en el espectador mismo. funciones en la narrativa de la historia. A lo
El film parece constituir un nuevo sumo, la función puede ser cambiar de
género de cine en el que el montaje179 personalidad, de edad, metamorfosear en
obliga a salir del cine para estar en el cine. otro simultáneamente, pero manteniendo
No en el sentido de los muchos que deben una relación con los acontecimientos que
abandonar la sala por la sensación de experimentan los otros personajes de la
molestia o fraude que les produce el film, trama. Aquí no. Lynch hace que en las dos
sino en el sentido de que es un cine que se historias, la de la mafia polaca de los años
30 y la de la mafia del nuevo milenio, los
179 Montaje: en cine el montaje se define como la manipulación que
personajes roten como en el
el director realiza con lo real para crear un espacio cinematográfico realizarde lo desplazamiento del sueño. Mezclando sus
con características, pasando la función de un

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actor a otro pero haciendo permanecer una concita asombro la coherencia de un


trama que se repite: la mujer prostituída relato180 que conserva varios de los
presa entre el amor por su amante y el elementos y temas que pueden poblar el
mafioso criminal por celos, será asesinada. desencadenamiento de una psicosis y el
El amante que la entrega, que le suelta la intento restitutivo del delirio.
mano como se dice en los códigos Vemos al personaje enfrentado a la
mafiosos, también por su culpa va a morir. disolución de su mundo frente a presencias
En la historia actual, Devon el actor ominosas y fenómenos de lenguaje; lo
es el amante; en la historia polaca el marido vemos ante el encuentro con la presencia
es el amante, el amor verdadero de la chica real de su doble, y también ante el
prostituta. El personaje del proxeneta fenómeno del empuje-a-la-mujer todos
polaco de la vieja historia, reitera el rasgo fenómenos propios del desencadenamiento
de criminal por celos del personaje del de la psicosis.
marido de la historia actual como así Tan absurdo como pensar que
también su imposibilidad para procrear. fuera necesario haber leído a Lacan o a
¿Lynch se interesa por cómo está Freud para escribir Hamlet, es absurda la
desfiguración de los datos está al servicio pregunta sobre si Lynch leyó o no a Lacan.
de hacer que la trama subsista en el tiempo? De todos modos, habitar ese
Como en la figurabilidad del sueño según tiempo del no-soy sin la apoyatura del amor
lo enseñara Freud a principios del otro de transferencia, nos habla o de la
siglo, las imágenes están al servicio de pesadilla o de los fenómenos de las
desfigurar la realización del deseo. Como psicosis.
el síntoma, que bajo el sufrimiento En la última clase del seminario 11,
enmascara la satisfacción prohibida. Lacan dice: ...”la religión, entre los modos
(TRACK 34 hablando con el gordo?) que tiene el hombre de hacerse la pregunta
TRACK 35- Desde la calle con las prostitutas por su existencia en el mundo y, más allá
hasta que se retira la cámara. como modo de subsistir del sujeto que se
(11 minutos) hace preguntas, se distingue por una
dimensión que le es propia y que esta
¿La hipótesis psicológica o un intento signada por el olvido.”
de lectura del sujeto posmoderno y la La muerte de dios de la
segregación? posmodernidad, con el nacimiento del
No resulta sencillo discernir –y tal individuo, ha cedido paso llamativamente
vez no sea demasiado fructífero hacerlo- al recrudecimiento de las religiones. El
cuál de las dos lecturas posibles cabría para capitalismo como otra religión, no ayuda a
los eventos que vive el personaje mantener ni a contestar las preguntas, pero
construido por Lynch. puede prometer a los individuos una
La hipótesis psi es denostada en pequeña garantía para la falta de ser. La
general por los seguidores del director ya publicidad parece una tentativa. Las
que consideran –tal vez legítimamente- que boquitas atomizadas y besuconas bajo el
la variante de análisis psi del film es lema ‘Coca-cola fábrica de felicidad’ que se
infructuosa y estéril para desentrañar el fin veía hasta hace unos días en nuestro cartel
expresivo de la estética puesta en juego. de Corrientes y Callao, representan ese
Para quienes estamos habituados a intento. En otro extremo como lo hacía
escuchar desde el psicoanálisis el discurso
de la psicosis con las vías que abrió la 180Aceptar que Lynch ha filmado sin guión, podría hacer caer en la ingenuidad
teorización del delirio y del de que porque no lo tiene escrito, creer que no sabe lo que quiere transmitir.
desencadenamiento a partir de Lacan, Los psicoanalistas sabemos algo de eso.

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notar Jorge Alemán con respecto a la La lógica del supermercado


estrategia publicitaria de hace unos pocos gobierna no sólo la pulverización de los
años de Benetton de mostrar el horror para ideales sino del objeto de goce. Bajo el ideal
acercarnos a la moda: el mercado ya no de un tiempo que progresa, lo nuevo se
necesitaría velo para convocar la mirada: no instala como promesa de satisfacción
hay más que este horror que te mostramos, acelerando los ritmos de producción con
así que vístete con Benetton que sólo queda objetos cada vez más perecederos. Junto a
tu apariencia.” la plusvalía de un capital que se hipertrofia,
Lynch gusta de transitar los bordes Lacan encuentra algo más: lo indeseable de
de la gran maquinaria legitimadora que es la entropía de la producción, que borra
Hollywood. Está más atento a la penumbra progresivamente el límite entre el desecho y
de los estudios de filmación, a los el producto. La entropía del lado de la
bastidores de los escenarios, y a las ocultas materia, la basura. Del lado de las
redes de poder que sustentan los films. sociedades, la segregación. Entropía es
Está atento a aquello que es rechazado de aquello que no se puede usar ni sacárselo
este discurso en su producción como de encima.
maquinaria ideológica. Así el cine de Lynch puede pensarse
Nikki, emblema identificatorio para como acontecimiento para el cine porque
la cultura globalizada, puede ser una más rompe no solo con el cine posible de hacer,
entre esos seres-desecho que moran en los sino que constituye un cine imposible de
bordes del consumo, que habitados por la ver. Es un cine que cuestiona la posibilidad
locura o la debilidad mental muestran sin de su consumo ya que es un cine que
velo el saber de la segregación. necesita ser escuchado y por ello se
Como Lacan lo señala en marzo de emparenta más con la literatura.
1970, es del tiempo de la repetición de lo Un acontecimiento para el
cual el discurso del capitalismo se sustenta. psicoanálisis también, porque en el avance
Como resultado de la copulación entre el de una civilización global que intenta
discurso del amo y la ciencia, su motor se curarse de lo Real instituyendo el discurso
reanuda al servicio de la forclusión de la del individuo, hay mucho lugar para los
verdad de la castración. films sobre terapeutas como “analízame” o
El discurso capitalista se alimenta “secretos de diván” pero poco lugar para
de su propuesta para el goce sin lazo social, dar testimonio de la experiencia del sujeto.
es decir la promesa de una conexión directa
con el objeto de goce.

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

Tempo e política na clínica psicanalítica


Marcelo Amorim Checchia
m 1961 foi criada pela IPA Mas a conjunção entre tempo e
(International Psychoanalytical política apresenta ainda outras

E Association) uma comissão


que ficou conhecida como
Comissão Turquet, por ser
dirigida pelo psicanalista inglês
Pierre Turquet, cuja missão era
a de investigar a SFP (Société
interferências na clínica psicanalítica. O
tempo dos cidadãos destinado ao trabalho,
ao lazer ou ao cuidado de si é também de
domínio da política. Nas grandes cidades
da sociedade contemporânea os homens se
organizaram de tal forma, com base em tal
Française de Psychanalyse) e, sistema econômico, que tempo passou a
principalmente, o uso do tempo na prática significar dinheiro. O tempo de produção,
clínica lacaniana. Essa comissão chegou a de consumo e mesmo das relações
convocar analisandos de Lacan para obter interpessoais fora do âmbito profissional
informações sobre seu método e, mais foi abreviado. No nível da organização do
especificamente, sobre o tempo de duração trabalho, as corporações exigem alta
das sessões (Didier-Weil, Alain; Weiss, produtividade num curto espaço de tempo;
Emil; Gravas, Florence;, 2007). Isto no nível ideológico, as propagandas
porque, já há algum tempo, ao longo da demandam alto consumo em ritmo
década de 1950, Lacan ficou conhecido por acelerado. A maioria dos cidadãos está
conduzir as análises didáticas sem seguir os submetida a essa política do tempo.
padrões estabelecidos pela IPA, Olhando por essa perspectiva,
principalmente no que diz respeito à poder-se-ia dizer que as sessões lacanianas
arbitrariedade dos 50 minutos de sessão. mais curtas enquadram-se perfeitamente
A variabilidade e o encurtamento nessa política. Inclusive, essa era uma das
do tempo da sessão lacaniana suscitaram críticas que Lacan recebia: ele podia atender
uma questão propriamente política. Os muito mais pessoas e assim enriquecer mais
dirigentes da IPA – primeira instituição facilmente. “Lacan era um capitalista!”,
psicanalítica internacional, fundada por poderiam bradar seus críticos. Trata-se,
Freud e Ferenczi em 1910 –, fizeram valer obviamente, de um grande equívoco. Em
o poder a eles investido pela própria seu sétimo seminário, A ética da psicanálise
comunidade de analistas da qual Lacan (1959-1960/1997), Lacan deixa bem claro
queria fazer parte e negaram o que a clínica psicanalítica não deve seguir
reconhecimento da SFP. Em 1963 a na direção da política de felicidade (e seu
Comissão Turquet emitiu seu parecer final equivalente na idéia de sucesso da análise
negando o pedido de filiação da SFP à IPA. como conforto individual) própria daquilo
O que estava em jogo, portanto, era a que ele denominou de “serviço dos bens” .
legitimação ou não de uma instituição A garantia de bem-estar no plano político
psicanalítica em função, essencialmente, do não passa de uma falácia: o ordenamento
respeito ao tempo cronológico da sessão. É universal do serviço dos bens implica
a política interferindo diretamente no sacrifícios, renúncias, o que na verdade
tratamento do sujeito. complica a relação do homem com seu
desejo. Portanto, além de questionar e

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mesmo criticar qualquer associação da poder de governar o tratamento. Ademais,


clínica psicanalítica com o propósito de o psicanalista possui uma experiência (a da
reeducação emocional por meio da própria análise) e uma teoria que procura
harmonização entre as instâncias psíquicas formalizar essa experiência para que se
e de adaptação e adequação ao sistema possa transmiti-la. Isso pode lhe dar o
social, Lacan, em seguida, denuncia o poder poder de ocupar um lugar particular que
do “serviço de bens”, cuja moral é a de não faz funcionar o dispositivo analítico, de
deixar espaço para a manifestação do fazer intervenções que visam obter os
desejo. A posição desse poder em relação “efeitos desejados”, como uma associação
ao desejo sempre foi, segundo Lacan, em livre. Mas esse poder não parece ser
qualquer circunstância histórica, a mesma: propriamente um poder político, pois este é
“Continuem trabalhando. Que o trabalho caracterizado também pela possibilidade de
não pare. (...) A moral do poder, do serviço uso da força para obtenção de seus fins, tal
dos bens é – quanto aos desejos, vocês como ocorre na sugestão.
podem ficar esperando sentados” (1959- É curioso, contudo, que Lacan
1960/1997, pp. 377-378). tenha recorrido a Clausewitz, filósofo da
A política lacaniana de tratamento guerra, cuja noção de política está
não segue, portanto, a lógica do capital, estreitamente associada às estratégias e
mas a do inconsciente, da falta-a-ser, tal táticas de domínio sobre o outro na
como ele afirma em A direção do experiência da guerra, para tratar da política
tratamento e os princípios de seu poder do tratamento. É claro que reduzir a noção
(1958/1998). O tempo da sessão está lacaniana de política às influências de
submetido a essa política que, por sua vez, Clausewitz só pode ser uma espécie de
fundamenta-se no tempo lógico do witz, uma vez que o uso da força pela
inconsciente. Ao recusar o estabelecimento sugestão foi abandonado por Freud há
de um contrato modelado no serviço dos muito tempo. Mas o lugar do psicanalista
bens, contrato no qual o sujeito pagaria não deixa de “impor” algo ao analisando. O
pelo serviço de análise e teria assim o que se “impõe” ao sujeito em análise é a
direito de consumidor, de usufruir de todo experiência da falta, do desejo, que o leva a
o tempo combinado nesse contrato, o retificar suas relações com o gozo e com a
psicanalista indica de outro modo que o realidade. O psicanalista não deve recuar
cerne dessa experiência é a fala. Ambos diante disso, por isso ele é tão menos livre
estão submetidos a(o) isso, o que nos traz em sua política do que em sua estratégia e
uma questão bem interessante: a do tática.
estatuto do poder na experiência Se o poder da sugestão deve ser
psicanalítica. recusado, o poder atribuído ao psicanalista
Atualmente, não se pode pensar em pela transferência deve ser manejado. Ele
política sem se referir também à noção de não recusa totalmente esse poder que lhe é
poder. “O poder político pertence à dado, mas o utiliza com a finalidade de
categoria do poder de um homem sobre fazer o sujeito associar e trazer significantes
outro homem”, afirma Norberto Bobbio, que liberam significados até então
poder, por exemplo, que os governantes recalcados. É aqui que entra também a
exercem sobre os governados, poder que é função do corte da sessão. Esse corte,
exercido pela “posse dos meios que como qualquer outra intervenção do
permitem obter os ‘efeitos desejados’” psicanalista, deve ter um estatuto
(Bobbio, 2000, p. 161). De certo modo, um significante e deve ser realizado sob
sujeito elege um psicanalista para tratá-lo, transferência. Esta, por sua vez, tem íntima
atribuindo a ele, pela suposição de saber, o relação com a temporalidade do

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inconsciente: “a transferência é uma relação corte não garante que este tenha efeito de
essencialmente ligada ao tempo e a seu ato. E esse ato pode ser considerado
manejo”, afirma Lacan em Posição do também um ato político? Deixo essas
Inconsciente (1960/1998). A variabilidade questões para nosso debate.
do tempo da sessão está assim associada ao
manejo transferencial. OBRAS CITADAS
BOBBIO, N. (2000). Teoria Geral da Política - a
Mas fica ainda a questão sobre o filosofia política e a lição dos clássicos. Rio de
estatuto do poder na clínica psicanalítica. É Janeiro: Elsevier.
evidente que ele não deve ser exercido de DIDIER-WEIL, Alain; Weiss, Emil; Gravas,
forma arbitrária, despótica ou sugestiva, Florence;. (2007). Entrevista com Christian Simatos.
mas fundamentado na ética do desejo. In: A. Didier-Weil, E. Weiss, & F. Gravas, Quartier
Lacan. Rio de Janeiro: Cia de Freud.
Contudo, mesmo aí não há também um LACAN, J. (1958/1998). A direção do tratamento e
uso de poder? Embora não saiba no início os princípios de seu poder. In: J. Lacan, Escritos.
da sessão quanto tempo esta durará, é o Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
psicanalista que em ato realiza o corte, seja LACAN, J. (1959-1960/1997). O Seminário, livro 7:
isso do agrado do analisando ou não. Mas a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed.
ele só o faz com base naquilo que foi dito LACAN, J. (1960/1998). Posição do Inconsciente.
ou enunciado pelo sujeito. Que tipo de In: J. Lacan, Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
poder é esse, então, ligado à temporalidade Ed.
do inconsciente? Qual a potência desse
poder? Pois o fato do psicanalista operar o

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

A causa final na psicanálise e na arte


Silvana Pessoa
ual é o tempo necessário à Nem sempre, a um primeiro olhar
transformação de uma de uma cena qualquer, percebe-se a

Q estrutura, seja ela de um


bloco de mármore ou do
sujeito em análise?
Depende. Se o artista for
muito perfeccionista, o
processo de construção
não acabará nunca. Se o analisando e o
existência de algo novo: e, quando isso se
dá, no instante seguinte tenta-se explicar o
diferente, dar um nome, associá-lo a algo
visto, inseri-lo num mundo das coisas
conhecidas. Busca-se reduzir
desconhecido, o que nos causa preocupação,
ao familiar, ao “mesmo”, que nos acalma.
o

analista colocarem o final como um ideal, a Mas, com isso, lamentavelmente perde-se o
resposta será a mesma. Se não houver novo.
abandono da obra ou da análise - que serão Esse mecanismo também acontece
considerados inacabados -, chegará o na leitura: adquirimos o vício de não ler ou
momento de concluir. não ler direito. Buscamos, no que lemos e
Nas artes, o momento de uma no que escutamos, aquilo que tem relação
exposição ou publicação precipita a com as nossas verdades. Inventamos, para
produção, mesmo que haja procrastinação nós mesmos, boa parte do fato. Somos
durante todo o processo. Assim foi com todos inventores. Mas vemos e ouvimos o
Leonardo da Vinci, assim é com muitos geral segundo as nossas verdades e
escritores, pintores e escultores que perdemos o detalhe. Isso também pode
trabalham com datas marcadas para a ocorrer em algumas análises, quando não
entrega da obra. Na psicanálise, a pressa entende-se a linguagem como causa do
também é necessária para a conclusão. inconsciente.
Entretanto, não se pode fixar uma data para Na psicanálise, temos familiaridade
a “finalização do produto”, pois não há com os chistes, que são importantes por
produto final, e uma antecipação desse terem a característica de uma escuta que
tempo pode deixar o sujeito prisioneiro na capta o detalhe. Eles despertam prazer nos
sua própria repetição. ouvintes pelo seu jogo com as palavras e por
A duração de um processo estarem ligados a fontes reprimidas ou a
psicanalítico precisa ser indefinida, pois não hostilidades. Através da técnica de
podemos prever o tempo necessário para condensação acompanhada de um
compreender e o tempo que levará o substituto, do nonsense ou o duplo sentido
alargamento das tramas discursivas, a das palavras, nós nos vingamos do nosso
(de)formação ou a destituição subjetiva. Mas inimigo ao trazemos o outro, um terceiro,
é preciso verificar o que encontramos no para rir do nosso lado. Naturalmente,
percurso ou ao final de uma análise, após alteramos a estrutura discursiva – é como
decorrido um tempo: a transformação do abrir lugar para a emergência de algo
mesmo ou a emergência do novo? diferente, algo novo.
Analisaremos o que as artes, particularmente Dar tempo para a coisa aparecer,
na literatura e na música, podem nos ensinar deixar a coisa ser, sem pensar em nada, sem
a esse respeito. emitir parecer ou julgamento, deixar a coisa

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se mostrar, é a orientação nesses campos: o deixar os sons serem eles mesmos, como
da linguagem, o da arte e o da psicanálise - nos aponta Cage na conjugação da sua
talvez particularmente no passe. Entretanto, “gramática da desafecção”. Gramática que
nem sempre se consegue isso – um podemos aproximar do analista como
momento difícil de capturar, difícil de se alguém “não afetado” pelas paixões ou
apresentar e de passar. ignorância.
Deixar as imagens irem e virem, sem O movimento de dialética que uma
julgar a priori – sentir o mundo sem tentar psicanálise instaura “não determina somente
explicá-lo, mesmo que num segundo o sujeito, à sua revelia (...), mas o constitui
momento possamos rotulá-lo - o que é numa ordem que só pode ser excêntrica em
inevitável. Criar o silêncio, um espaço, um relação a qualquer realização da consciência
momento, entre esses dois tempos, para ter de si”. Os analistas, que fazem parte desse
o aparecimento das coisas como movimento - e para quem se dirige a fala -,
recompensa – estrutura de linguagem que devem aprender a “agir com a linguagem
possibilita a aparição do sujeito do como se faz com o som: seguir a velocidade
inconsciente entre dois significantes. dela para romper o seu muro” , muro que
A música de John Cage nos ensina a lhe é próprio, e passar esse modo de
fazer isso na sua forma dadaísta de compor. funcionamento ao analisando, transmitindo-
Cage impõe, na sua obra, o uso deliberado lhe, com isso, a psicanálise .
do acaso, ‘da indeterminação e da A rapidez é exigida para antecipar-se
indistinção entre som estruturado e ruídos às defesas do sujeito, às crenças a que esse
vindos da vida ordinária. Ele “[...] leva às sujeito se apega na civilização e constituem
últimas conseqüências seu projeto de crítica uma variedade de delírio. É preciso seguir a
à racionalidade da música ocidental” . velocidade própria da linguagem para que
Racionalidade que, ao contrário, tem uma possa emergir o desejo, captado pela
ansiedade enorme de dizer, comentar, brincadeira do Fort-Da, mas que o sujeito
murmurar, remedar, expressar-se, buscar faz abolir, desaparecer cem vezes para poder
sentido – expressa nas estruturas dos vê-lo aparecer novamente, nas repetições
romances, nas grandes sinfonias, nas falas que voltam para ser elaboradas.
dos analisandos. Para adquirir essa prática, convém não nos
“Todos querem através da palavra, e enganarmos com regras, modas e proibições
não do silêncio, provar que estão vivos”, e presentes em todos os lados, principalmente
perdem a oportunidade de permitir que se nas instituições. Esse é um risco que sempre
instale um espaço para outras vozes corremos.
irromperem. Um horror a vacui, expressão Lacan sugere que os analistas abram
utilizada na era do Renascimento, quando os os ouvidos para as canções populares e para
pintores não deixavam um pedaço de sua os maravilhosos diálogos de rua. Essa
tela sem cor, por menor que fosse o espaço, sugestão aponta para um aspecto que nunca
e os compositores criavam priorizando o engana: que toda sabedoria é um gaio saber,
sentido e os afetos – pensando em termos desde que o homem começou a enfrentar o
de progressão, expectativa e resolução. seu destino, como ele diz.
Mas é no vazio que as coisas Uma linguagem que subverte, canta,
acontecem. ( ). O que pretendemos com instrui e ri, um gaio saber. Alimentam-se
esse trabalho é investigar a capacidade de dessa tradição, para citar alguns: Joyce,
criação de um significante novo no percurso Machado de Assis, Rabelais, esse último,
ou no final de análise, ou seja, de um novo representante da sátira menipéia , gênero
saber que colocamos nesse vazio, da nossa literário que destaco neste trabalho porque
capacidade de depor nosso julgamento e consiste em produzir um tipo

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particularmente fragmentário de narrativa e Qual a verdade em questão? Para a


inclui particularidades que, quando não filosofia de Pantagruel: casar ou não casar dá
detectadas ou bem analisadas, são no mesmo. Crer ou não crer dá no mesmo,
geralmente consideradas como aberrações já que, para Rabelais e vários outros,
ou irregularidades, que aproximamos da vivemos num lusco-fusco da consciência,
estratégia de desconstrução do mesmo ou nunca certos de quem somos ou supomos
emergência do significante novo proposta ser; há sempre um erro cujo ângulo não
por Lacan. sabemos. Estamos falando de autores que
Tanto a psicanálise como a obra de ensinam sobre o indecidível, sobre a
Rabelais convidam os analisandos ou impossibilidade de fazer uma escolha
leitores a realizar, eles mesmos, a tarefa de acertada, sem dúvidas, baseada no porvir. A
procurar sua própria sabedoria. A pedagogia psicanálise segue o mesmo trilho.
rabelaisiana e a lacaniana ensinam que é Panurge tem dúvidas deve casar-se,
necessário dissolver as fórmulas, as idéias pois teme ser traído pela esposa. Nada do
recebidas e, no lugar delas, desenvolver-se que lhe digam o convence de que deve
um espírito critico, ampliar a trama seguir o seu desejo. O que quer que se diga,
discursiva, aquela em que todos estamos já foi. Para Rabelais, melhor mesmo que se
peados. esqueça. Pessoa diz que, depois que escreve,
Pantagruel, personagem criado por já não mais se reconhece, e Lacan, que os
Rabelais, acolhe, no Terceiro Livro , a significantes que nos são dados do Outro,
angústia de Panurge – que, tal como um apesar de terem diversas combinatórias,
neurótico obsessivo, buscava garantias do seguem um determinado padrão e estrutura,
futuro e procrastinava a decisão de contrair representantes do mesmo, que, ainda assim,
matrimônio. Pantagruel acolhe o que vem nos causam estranheza.
do outro por saber que existe igualdade na Na verdade, não há a opinião
imperfeição - situação essencialmente verdadeira e única - já que há paradoxos.
humana, que jamais deve ser pretexto para a Não vale confrontar, desafiar as coisas.
intolerância. Resta-nos, ao final, respeitá-las no seu
Pantagruel, tal como os analistas, tempo com humor, valorizando os chistes e
sabe a limitação e a incapacidade de tropeços da linguagem na clínica, com a
adaptação que as viseiras das idéias feitas certeza que há o indecidível demonstrado
tendem a impor aos seres humanos, que, por Rabelais, assim como os mundos
através da psicanálise, da literatura e/ou das simultâneos e mundos impossíveis,
artes, procuram minimamente libertar-se. representados por Escher; ou, na música
“Tudo o que impede a multiplicidade da criada por John Cage, formas possíveis do
realidade, da constante descoberta do fim, que podem vir em socorro e
mundo são vícios. É essa forma de transformar algo do mesmo (transformação
estupidez que se apresenta em Panurge. Sua inerente à própria estrutura de linguagem)
obsessão em não aceitar as verdades e as em um significante novo, que pode emergir
mudanças da vida fazem com que o próprio do silêncio, no vazio entre dois significantes,
curso dessa se repita incessantemente durante todo o processo e também no final.
dizendo-lhe sempre a mesma verdade”.[sic]

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

Sucesion de instantes de tiron “En tiempos de


compulsion.
Alicia Donghi
“Para no ver pasar el tiempo, nos tapamos los ojos con el pañuelo de la eternidad”
Proverbio chino

iempo y magia: dimensión la del acto analítico, que alivia y libera al


enigmática solo para los sujeto de un trozo o “pedazo de real”181 que

T seres parlantes pero no así


para los restantes.
Subjetivamente a veces pasa
vertiginosamente, es tan
frenético y subyugante que
hasta asombra que la
cronología no coincida, en tanto en otras
comparte raíces con la eternidad. “Presencias
del objeto a”, lugar al que el analista deberá
advenir y semblantear para que un sujeto
pueda transitar desde la barrera del bien,
que no es el soberano bien, sino el
inherente a “la ética del deseo”, para poder
acampar en la barrera de la belleza, el
situaciones la bruma del aburrimiento lo “tiempo” que haga falta para que su vivir
envuelve y no fluye: pasa “nada”. Por la incorpore el goce como “aperitivo” o sea de
lógica de la razón, sabemos que para los muerte tan solo un poco.
sujetos, ni el tiempo ni el espacio son Lacan dice:”Entre lo simbólico, lo
eternos o infinitos, pero es sólo en esa otra imaginario y lo real el tiempo se lo pasa
lógica de la experiencia vivida en un tironeando, ´sucesión de instantes de tirón´…
psicoanálisis, que se pueden evidenciar los presencias del objeto a”, dimensión
“contratiempos” o “des- encuentros” cuando se también espacial con movilidad, giros,
descubre que somos los únicos animales nudos. Esto demuestra que la medida, la
vivientes que solemos tropezar más de una hora justa o la cantidad precisa, no son de
vez con la misma piedra. También en lo este mundo, constituyendo otra forma de
inexplicable de “la compulsión a la repetición”, leer la falta de proporción sexual. La prisa
así como en el discurso como “insistencia sin acto, el apremio, la urgencia
significante” cuando se descubre el enredo en desorientada, hacen de la aceleración el
hechos y actos que le dan consistencia y funcionamiento privilegiado del mundo
fijeza al síntoma. Insistir en lo que no anda, contemporáneo. Es en este tiempo donde
quedarse en el padecimiento, es una el “no pienso” produce un cortocircuito entre
manera de permanecer varado en el tiempo “el instante de ver” y “el momento de concluir”.
tormentoso y subyugante de la magia de Hay tres cuestiones ligadas entre si,
ese extraño goce, que Lacan denominara, respecto del psicoanálisis en el tiempo de la
“plus de goce” y que lo autorizara a impulsión y/ o compulsión al consumo, las
proclamar: “ Sin goce es vano el universo”. cuales tienen cada una su propia lógica y se
Tiempo lindante con una eternidad a la que relacionan con fenómenos de masa: la
no se renuncia. A veces desenredar esos droga, las adicciones, y la toxicomanía.
nudos hechos de tiempo y trauma y sortear Cada una tiene su propia historia, su propia
ese maleficio (¿mal - beneficio?) para época, su propia narrativa. Por un lado la
pasar a otra cosa, significa sostener una
lógica que no es la del sentido común, sino 181 Asi denomina Lacan al objeto a en el Seminario X ( La angustia)

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droga es tan vieja como el hombre y lo ha un efecto, a un cambio de estado que tiene
acompañado tanto en la producción de que ver con la capacidad que tiene el yo
mitos colectivos, como en ceremonias para lograrlo. Lo problemático no es el
sagradas de diversas creencias y religiones. efecto, sino el camino para lograrlo - en el
La adicción, en cambio, ha ido apareciendo caso de las drogas- que saltea ni mas ni
ligada a pruebas médicas para la analgesia y menos que el circuito del tiempo del deseo
luego a la industria del medicamento más que supone una espera. Entonces en la
tributaria de un discurso de la ciencia compulsión al consumo, es adicción a un
incipiente: Las drogas pasan al campo efecto, a un cambio de estado inmediato en
medico, al descubrirse los problemas el yo, mas que la clásica fijación a un
colaterales al uso de sustancias (“el síndrome objeto. Esta inmediatez supone saltear el
de abstinencia”). Es el momento donde se tiempo de comprender, que es el tiempo de
empieza a utilizar la morfina para calmar inscripción. No en vano en los tres tiempos
los dolores de los heridos de la guerra civil lógicos, Lacan sitúa un instante de ver y un
americana de fines del siglo XIX en EEUU momento de concluir pero donde ubica el
y se los llamaba “habituados”, término aun tiempo, es en el de comprender. Como
desprovisto de una connotación teológica o decia Borges paradojalmente: “Lo único que
moral. Es la época de Freud cuando el uso puede ser modificado en la vida de alguien es el
de narcóticos está asociado a una estrategia pasado” Si hay algo no inscripto, si hay una
más frente al “malestar en la cultura” o sea pulsación temporal que no termina de
un medio para un fin. En estas instancias permitir la inscripción, eso circula en un
cada adicto era una entidad singular en si presente continuo, es decir se torna menester
misma y, como dice Lacan, era un asunto historizarlo, entramarlo en un tiempo. En
de la polis, una contravención ligada a lo el análisis se establece una vía de escritura
policial. En consonancia con esta posición que hace necesario dejar que “la lengua vaya
se han ido con el tiempo construyendo delante de uno”, delante incluso del analista
representaciones que consolidarían a los como sujeto para devenir” semblante”
adictos como delincuentes desde de…
paradigmas ético-jurídicos, o como La familia de X (23 años), joven
enfermos desde paradigmas medico- toxicómano de larga data, tras largas e
sanitarios. Luego, aparece un tercer infructuosas internaciones en distintas
momento, hacia fines del siglo pasado instituciones por diferentes practicas de
vigente en los últimos años, en que el riesgo, consulta por un dispositivo
consumo se transforma en un fin en si ambulatorio mas personalizado en una
mismo, algo generalizado y producto de la institución especializada con un marco
globalización. En otras culturas las drogas psicoanalítico de abordaje. Una de las
eran sagradas, el grupo participaba de los practicas adictivas se recorta con fijeza a lo
consumos, el lazo social ordenaba los largo de los últimos 5 años: el consumo de
intercambios y no se transformaban estas cocaína, fumada tras cocinarla (crack), solo,
practicas en una satisfacción en si misma, encerrado en su habitación. Negado a
es decir no se cerraba el circuito pulsional cualquier experiencia terapéutica individual,
y esto no generaba toxicomanía. acepta solo entrevistas con su familia con
Voy a hacer un rodeo y diferenciar quien vive. Se logra situar el origen de ese
dependencia de nudo adictivo. Todo consumo, tras la muerte de su abuela
fenómeno de dependencia es un proceso materna “cocinera”, cuando pasa
objetal, que puede tener diferentes formas casualmente “a acampar” en la habitación
(televisión, sexo, psicoanálisis, velocidad, donde ella muere, a causa de un cáncer
juego, etc.) El nudo adictivo es la adicción a terminal que la postra. Los psicofármacos

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que “ella deja por azar” escondidos antes de este psicoanálisis el ofrecimiento consistió
fallecer le sirven de puntapié al inicio de un en posibilitar que pueda ni más ni menos
consumo que rápidamente se desliza a la que volver a decidir acerca de su goce, con
“fetichización del ritual”182, lectura retroactiva otro tipo de libertad, después de estar
mediante. Hicieron falta diferentes advertido sobre las condiciones en que
prácticas (acompañamientos terapéuticos, “eso” gozaba. En ese sentido, este
encuentros grupales, etc) para que algo de dispositivo personalizado de tratamiento,
la historización y de la subjetivación funcionó como preliminar a la entrada en
adviniese. Le costó separarse de este análisis, entendido como tiempo de
consumo fatídico, recurso identificatorio de implicación subjetiva de un goce que
goce propicio también para sus allegados, devino deseo, no sin su perdida pertinente.
negados por supuesto a emprender Nadie puede gestionar el goce
cualquier trabajo de duelo, taponando con intrínseco al cambio de estado sin un
este sujeto ” elegido” , identificación al espacio para la angustia como indicador
muerto mediante, la existencia de aquella temporal fundamental. De gobernarla y
para quien “supo ser su falta”183. Una educarla se ocupan las psicoterapias y los
pesadilla que se repite: “compro cocaína de dispositivos que, creyendo en la voluntad,
mala calidad, al cocinarla se estropea y no puedo obedecen a formas de control social que
fumarla” y su trabajo de elaboración inicio propician la dilución de las singularidades
un derrotero analítico que permitió que la en pro de la masa. El tiempo del
compulsión ingresara en el desfiladero de psicoanálisis, con su intervalo entre el
las formaciones del inconciente. Se impulso y la acción, por un lado y el
despierta cada vez angustiado ante esta manejo de la transferencia (entre azar y
repetición onírica, pero no recurre al cálculo) como “intromisión -inmixion- del
consumo - no sin un acto de por medio- tiempo de saber” por el otro, hacen
mudarse con su pareja y la apuesta objeción al presente continuo del “no
sublimatoria de comenzar estudios de Chef. pienso”. Su principal misión: vectorizar el
Esto determina la caída perdurable y goce de una eternidad con prescindencia
absoluta de una adicción, que ya instalado del tiempo del Otro hacia la
en su análisis, el definirá como “de otro intemporalidad de la repetición del goce
tiempo, de otra vida” ¿La vida de quien?...” De fálico del síntoma con un analista,
allí las más o menos bruscas apariciones, en advertido de la finitud en su acto. Dando
el curso del análisis, no tanto del el rodeo exigido por su sumisión al
sentimiento del tiempo, como de la tiempo del sujeto, tiempo propio que
repentina conciencia de su existencia determina la incompresible duración de
(sucesión de instantes de tiron?) a veces, con un su recorrido. Que esta no pueda ser
tinte de angustia. Es preciso, entonces, anticipada no quiere decir que el analista
distinguir este sentimiento, que sin duda la ignore. A condición de que consiga
vuelve presente al tiempo, de los aprehender la estructura lógica en la cual
momentos de realización del tiempo, cuyo él mismo se encuentra. Es decir, a
efecto de deseo es evidente. Quizás para condición de situar los instantes de ver,
de respetar los tiempos para comprender
182“Cualquier ritual tiene ese doble matiz: ayuda a elaborar una perdida, pero al y de reconocer los momentos de concluir
mismo tiempo el recusarla… suerte de fetichización… permite seguir con la que no advienen sin él
vida… perdida a medias” Hechizos del tiempo de O. Lamorgia
.
183 “No estamos de duelo, sino de ´alguien´ de quien podemos decirnos: yo era
su falta…No sabemos que llevamos (por nuestro camino) esa ´ funcion´, a saber
: la de estar en el lugar de su falta” J. Lacan , Seminario X, la angustia. Clase del
30/1/ 63 (fragmentos)

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_____________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

Corpo e histeria na contemporaneidade:


considerações
Michele Cukiert Csillag
esde os primeiros o impacto de uma cultura midiática que tem
momentos da no culto ao corpo e na valorização da boa

D Psicanálise, o corpo,
sobretudo na diversidade
de formas dos sintomas
histéricos, se apresentou
como um desafio clínico
fundador (Cukiert,M.,
2000). A histeria permanece como doença
forma seus ícones, os transtornos do corpo
também se manifestam nos distúrbios
alimentares e na recorrência compulsiva a
dietas, cirurgias, ginásticas e tratamentos
estéticos. Evidente que alguns desses
sintomas são histéricos e outros não,
fazendo-se necessário uma escuta que
princeps que possibilitou a própria considere a especificidade da estrutura
construção da clínica psicanalítica. presente em cada caso.
Freud, buscando formular respostas para O corpo hoje é hiperinvestido, estandarte
manifestações histéricas que não conseguiam de um ideal de perfeição que a retórica da
ser explicados pela lógica médica, criou um beleza e da estética não cansa de preconizar.
novo método de tratamento e implicou o Mas para além das promessas de felicidade e
sujeito em suas queixas e sintomas. completude da mídia, na clínica ele é referido
Com uma etiologia que envolveu como fonte de frustração, insatisfação e
inicialmente elementos traumáticos e em sofrimento.
seguida colocou em cena um jogo defensivo Em contextos familiares, sociais e culturais
entre o conflito psíquico, o recalque dos distintos, na contemporaneidade, expressões
afetos e uma solução de compromisso, ainda sintomáticas diversas convivem lado a lado.
hoje o termo conversão permanece como Na mesma época em que é possível “ver-se
referência no campo psicanalítico para uma jovem definhar, seu corpo inteiramente
explicar o que está em jogo na histeria. reduzido na anorexia, (...), sob o império da
Lembremos ainda que na histeria freudiana cultura light que toma o estar em forma
há um recalcamento paradigmático das idéias como imperativo máximo do ideal de saúde e
de caráter sexual e por extensão, da beleza” (Alonso, 2000, p.82); outras moças
genitalidade. perdem os sentidos em vez de revelar sua
Do ponto de vista da Psicanálise, a gravidez indesejada, em famílias nas quais a
conversão continua em plena cena. Em suas virgindade permanece como valor
apresentações mais familiares ou nas mais fundamental do feminino. Em suas novas e
pós-modernas, os fenômenos conversivos velhas formas, plástica, mutável e histórica, a
aparecem nas novas síndromes (pânico), nas histeria não pode ser pensada fora de seu
dores generalizadas (fibromialgias), tremores, contexto histórico e cultural.
na ansiedade maciça, desmaios, em Ainda hoje a histeria suscita no meio
pseudocrises e nas diversas formas de médico e nos pacientes alguma recusa. Ao
somatização que tomam conta do corpo. mesmo tempo, sub-diagnósticos implicam
Acompanhando as transformações em cirurgias e medicações desnecessárias
econômicas e sociais contemporâneas, e sob (Cukiert-Csillag, M. 2006). Nos consultórios

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dos ginecologistas, cardiologistas e sobre o seu sofrimento. Como afirma


reumatologistas, a queixa histérica aparece e Birman (2001, p.24), “no silenciamento do
em geral é medicada com psicotrópicos e enfermo opera-se o esvaziamento de uma
antidepressivos. história (...) e a enfermidade perde sua
O que Freud insistiu em fazer falar, inscrição no registro da linguagem”. Retira-
outros preferem calar. A abordagem se a noção de histeria, exclui-se o conflito, a
cientificista dos sintomas histéricos tenta etiologia sexual e até mesmo a idéia de
excluir de seu campo a causalidade psíquica transferência. Concordemos com Lacan
mas “o inconsciente ressurge através do (1970) quando diz que “a ciência é uma
corpo” (Roudinesco, 2000, p.18). ideologia da supressão do sujeito” (p.436).
Ainda que a lógica histérica esteja Quinet (2001, p.73) esclarece:
perfeitamente viva para a Psicanálise, “enquanto os critérios de diagnóstico têm
recentemente, a morte da histeria vem variado(...) na psiquiatria contemporânea, a
sendo cogitada. Ela seria uma doença psicanálise tem lidado praticamente com as
vitoriana, que surgiu como reação das mesmas referências diagnósticas
mulheres do século XIX às limitações que empregadas por Freud. Ao passo que as
lhe eram impostas pela moral da época, formas dos sintomas mudam de acordo
portanto, teria supostamente desaparecido a com o discurso dominante na civilização, as
partir da liberação sexual. estruturas clínicas permanecem as mesmas,
Ao mesmo tempo, o termo histeria e se declinam para a psicanálise em neurose,
caiu em desuso nas classificações perversão e psicose, ou seja, a maneira de o
psiquiáticas mais recentes. Conforme o sujeito lidar com a falta (...), que condiciona
discurso Psiquiátrico se distanciou da a modalidade de cada um se haver com o
Psicanálise, nas classificações do DSM-III, sexo, o desejo, a lei, a angústia e a morte”.
IV e nas modificações do CID-10 que Afirma ainda que “a nosografia psiquiátrica,
acompanharam essas mudanças a palavra (...) com sua série de DSMs, se diferencia da
histeria (e neurose) foi retirada e substituída nosografia psicanalítica das estruturas
por transtornos (somatoformes, sexuais, clínicas neurose, psicose e perversão, diante
dissociativos, etc.). da qual o analista não deve recuar”.
Sem dúvida há questões econômicas Na Conferência Propôs sur l’hysterie,
importantes envolvidas nas mudanças do Lacan perguntava “para onde foram aquelas
discurso psicopatológico atual. Elas se mulheres maravilhosas, as Annas O. e as
explicitam na medida em que a psiquiatria Doras?”. Em 1977, ele já constatava o
biológica, com sua ênfase farmacológica, desaparecimento das crises histéricas à
passou a apoiar-se nas Neurociências e os moda vienense. Mas Lacan sempre afirmou
interesses dos laboratórios internacionais que a Psicanálise seguia como disciplina
colocaram suas peças no “tabuleiro comprometida com o tratamento do
diabólico do poder dos saberes” (Birman, sofrimento histérico. Em sua releitura, a
2001). noção de histeria avança, pensada como
Claro que há psiquiatras estrutura e como discurso. A noção de falo,
comprometidos com uma posição de escuta em sua dimensão imaginária, simbólica e
de seus pacientes. Entretanto, trata-se de real também possibilitou repensar a
destacar conseqüências teóricas e configuração histérica.
epistemológicas significativas a partir das Na contemporaneidade, a repressão e
mudanças citadas. De fato, a abordagem a vergonha anteriormente ligados à esfera
organicista do sintoma, na qual para cada sexual parecem ter cedido terreno a um
queixa prescreve-se um medicamento, retira “apelo incessante para gozar” (...) (Mezan,
do dispositivo de cura o saber do sujeito p.362) e à uma “busca frenética pela

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excitação”. Sem dúvida o tema da liberdade mulheres hesitam frente a decisões


sexual, possibilitado inclusive pela fundamentais: compromissos definitivos,
Psicanálise, Reich e a Sexologia, casar-se ou não, ter ou não ter um filho, etc.
diversificaram a vida sexual e o erotismo. O Acrescentemos a queixa da mulher
corpo hoje se mostra e pode ser observado que busca o divã pois não consegue
em todos os ângulos. Mas será que os engravidar ou a angústia ligada ao conflito
vínculos amorosos se aprofundaram à altura nem sempre consciente entre ser uma
dos anseios libertários de quarenta anos mulher tradicional ou moderna. Onde
atrás? Será que o narcisismo e o investir a libido: no lar, na profissão, filhos,
exibicionismo institucionalizados não jornada pela beleza?
favorecem ainda mais modos histéricos (e Essas novas configurações sinalizam por
fálicos) de lidar com a angústia? onde deve caminhar nossa investigação.
Convém nos perguntar, como faz Não são elas afinal as imagens que falam
Soler (2003) “em que se transformou a dos conflitos e da economia paradoxal do
histeria, uns cem anos depois de Freud ter desejo que a histeria coloca em jogo na
aceito o desafio, depois de a Psicanálise ter contemporaneidade?
surgido na ciência para se encarregar de sua
solicitação,(...) e de haver conseguido BIBLIOGRAFIA
ALONSO, S. L. & Fuks, M. P. Histeria. SP, Casa do
inscrever o enclave de sua prática no Psicólogo, 2004.
discurso dominante. É a histeria na ciência ALONSO, S. L. O que não pertence a ninguém... e
(...) depois de um século de psicanálise que as apresentações da histeria. In: A clínica conta
interrogamos” (p.122). histórias. Fuks, L. B. & Ferraz, F. C. (org). SP,
Afirmando que “a psicanálise é Escuta, 2000.
CSILLAG, M.C. (2006). A psicanálise e o tratamento
realmente [ainda hoje] o que convém à possível de pacientes com epilepsia e crises pseudo-
histérica” (p.125), ela desenha “novas epiléticas. Tese. Instituto de Psicologia, Universidade
figuras da mulher” agora que “a instituição de São Paulo.
familiar, os semblantes e o discurso CUKIERT, M. (2000). Uma contribuição à questão
referente ao gozo sexual já não são o que do corpo em Psicanálise: Freud, Reich e Lacan.
Dissertação (mestrado). Instituto de Psicologia,
eram há décadas” (p.128). Atualmente, ao Universidade de São Paulo.
lado do casamento e da maternidade, abriu- LACAN, J. (1970). Radiofonia. In: Outros Escritos.
se para a mulher, “todo o campo do que RJ. Zahar, 2003.
Lacan chama de as realizações mais eficazes LACAN, J. (1977). Propôs sur l`hysterie.
(...) os bens, o saber, o poder, etc.”(p.124). Conferência proferida em Bruxelas. In: Revista
Quarto, n.2, 1981.
Mas agora que as conquistas fálicas são BIRMAN, J. Despossessão, saber e loucura: sobre as
unissex (p.123), tudo se mistura e isso relações entre psicanálise e psiquiatria hoje. In:
produz fantasias e sintomas inéditos (p132). Quinet, A. Psicanálise e Psiquiatria: controvérsias e
Soler cita imagens clínicas como por convergências. RJ, Rios Ambiciosos, 2001.
exemplo “a forma banalizada de uma tensão QUINET, A. Como se diagnostica hoje? In: Quinet,
A. (org). Psicanálise e Psiquiatria: controvérsias e
entre os sucessos profissionais e a chamada convergências. RJ, Rios Ambiciosos, 2001.
vida afetiva” (p.133), a recorrência a uma MEZAN, R. (2002). Interfaces da psicanálise. São
sucessão de amantes (que só satisfazem o Paulo, Companhia das Letras.
que é da ordem do gozo em detrimento do ROUDINESCO, E. Por que a Psicanálise? RJ,
amor), a mulher que retardou a maternidade Zahar, 2000.
SOLER, C. O que Lacan dizia das mulheres? RJ,
e se queixa de não conseguir encontrar um Zahar, 2005.
homem à altura de suas exigências e as
“novas inibições femininas”, nas quais as

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______________________________________________________▪ A psicanálise no seu tempo

Que tempo para o sexo?


Luciana Piza

nicio esse trabalho com um A cena primitiva é uma representação


diálogo relatado à analista: “Agora que Freud dá a esse encontro traumático,

I levanta a saia! Vai, levanta!” “Agora


tira a calcinha.” “Tá bom.” “Agora
mostra seu peitinho” “Agora coloca a
mão na sua boceta.” “Faz assim: pega
um paninho, torce ele bem apertado,
deita e enfia ele na boceta.” Joana
permanece inerte. Ouve, então, um grito
em que a criança se depara com um
excesso de real inassimilável
intransponível, resistente a qualquer
possibilidade de subjetivação. Segundo
Soler, “o trauma tem a estrutura de
e

foraclusão... no sentido da não-inscrição, da


falha da Bejahung”185. Trata-se do encontro
vindo do corredor: “Joana, sai desse com o enigma da diferença sexual, cujo
computador, menina, e vai fazer seu dever de casa, valor de sideração advirá apenas num
senão vou te deixar de castigo, sem ver desenho!” segundo tempo, quando associada à
Essas foram as palavras da mãe de castração materna. É o encontro, não de
Joana, após observar, escondida, a conversa um saber, mas de uma questão sem
da filha de 6 anos pela internet. Do outro resposta, de um saber em falta sobre o sexo
lado, um pedófilo? Se assim pudermos – algo inarticulável simbolicamente, ex-
chamar Denise, sua amiguinha do colégio, sistente ao seu saber. O traumático é, pois,
que tem a mesma idade... Na era do a própria desnatureza da pulsão que implica
discurso capitalista, criança tem sexo? a sua impossibilidade de insatisfação, a
Criança faz sexo? Ou é uma mera vítima de inacessibilidade a um saber sobre a falta no
pedófilos? Os pais de Joana, horrorizados Outro, a impossibilidade de gozar da mãe.
com a cena e com o palavreado usado pelas Por instaurar-se como furo resistente a
crianças, exigiram da escola providências, significação, mas em torno do qual se
acionaram na justiça os pais de Denise e, à arranjam os significantes, o trauma se nos
própria filha, nada disseram: “Agente não apresenta como estrutura fundamental.
queria deixar ela mais traumatizada”. Advindo com o recalque originário, o
Houve trauma? trauma tem como efeito a divisão do
Freud, desde os primórdios de sua sujeito – portanto, o próprio inconsciente.
investigação, já abandonara a atribuição Daí a idéia de um trauma original a todo
biunívoca do trauma à sedução ou abuso sujeito.
sexual, dada a descoberta da fantasia Soler fala, mesmo, em um real que
inconsciente por meio da qual se reconhece “assalta” 186 o sujeito, o que me leva a um
o infantilismo da sexualidade como o que significante tão atual quanto interessante
há de traumático para o sujeito. Lacan o para essa discussão: Perdeu! A
endossa, asseverando que “O fato
copulatório da introdução da sexualidade é 185SOLER, Colette. “Discurso e trauma”. Em: Sônia ALBERTI e Maria Anita
traumatizante. (...) O mau encontro central CARNEIRO RIBEIRO (orgs.). Retorno do exílio: o corpo entre a psicanálise e
está no nível do sexual”184. a ciência. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2004, p. 81-82
186 SOLER, Colette. “Discurso e trauma”. Em: Sônia ALBERTI e Maria Anita
184 LACAN, Jacques. O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais CARNEIRO RIBEIRO (orgs.). Retorno do exílio: o corpo entre a psicanálise e
da psicanálise (1964). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 1998, p. 65. a ciência. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2004, p. 71.

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temporalidade de instante própria ao prisioneiro. Para Freud “Os traumas da


traumatismo, ao engendrar uma infância atuam de modo adiado, como se
perpetuidade, põe em jogo a dimensão do fossem experiências novas, mas o fazem
‘nunca mais’, e também de algo que não inconscientemente.”187.
pode ser antecipado e, tampouco, evitado. Se há uma próton pseudos, como diz
Aponta, de uma só vez, para um tempo que Freud, ela é devida ao recalque e diz respeito
já não é mais acessível, pois que perdido, e à versão que o sujeito dá ao trauma, a sua
também para uma perda que já está versão para a causalidade psíquica do
decidida, sem que o sujeito a tenha trauma. Poderíamos, ainda, ousar interrogar
escolhido, mas na qual, ainda assim, está se o ‘abuso sexual’ não seria, em si mesmo,
implicado, posto que é a própria escolha uma segunda mentira, a defteron pseudos, visto
forçada. A experiência do tempo se revela, que, ao recriminar-se por ter voltado à loja
assim, como sendo a experiência da perda, mesmo após ter sido agarrada pelo
enquanto “já perdido”: Perdeu! proprietário em suas partes genitais, Emma
Paradoxalmente, o mau encontro é o revela a implicação de seu desejo sexual.
meio mesmo pelo qual a criança pode vir a Um outro caso clínico pode ser fértil
ser erotizada, incluída no desejo do Outro, para essa reflexão: dois irmãos de 5 e 7
abrindo-se-lhe a possibilidade de advir anos são levados à analista por terem sido
como sujeito de linguagem e, assim, abusados sexualmente pelo pai. Todavia,
escrever o trauma no texto de seu quem é tomado de assalto por um horror
fantasma, dando escopo ao seu gozo. Uma insuportável é a mãe, cuja angústia aponta
vez colmatado pela fantasia, esse trauma para o reencontro de significantes que se
servirá de ponto de ancoragem de enlaçam a uma cena de sua história, então
encontros fortuitos que poderão, num atualizada como trauma. Diz saber o que os
futuro que retroage, significando o passado, filhos estão sofrendo (suposição sua), pois
constituir-se como traumáticos caso a que ela também fora abusada em sua
cadeia significante dê suporte a essa infância: uma vez por seu pai, que depois
amarração. preferiu sua irmã a ela, e posteriormente,
Assim, pois, sucedeu a Emma pelo tio, cujo ‘abuso’ durou cerca de 6
significar como traumática, por uma anos, até que ela preferisse namorados mais
associação significante a posteriori, uma cena novos. No entanto, os traços que, da cena
passada, que até então havia permanecido real com o pai, ficaram marcados, se
desprovida de sentido, muito embora já reapresentam: o desejo de um pai abusador,
portasse traços de um gozo experimentado. atualizado na escolha do marido
A substituição significante cumpre sua (sabidamente inclinado a atos incestuosos),
função, não por deixar um rastro, mas é realizado pelos filhos, pois que a eles foi
precisamente por fazê-lo se perder no transmitido nos significantes da demanda
recalque da experiência real traumática, materna.
como uma tentativa mesmo de apagá-lo. O traumatismo é necessariamente
Ao reencontrar, no real, esse elemento segundo, podendo ser definido apenas a
significante, Emma tropeça nos rastros de partir dos seus efeitos. Somente se
seu gozo e ali faz sintoma. O que opera aí é reativada a posteriori é que a excitação
uma lógica em que S1 não tem qualquer perturbadora pode abalar efetivamente a
significação até que um S2 a ele se associe, economia psíquica do sujeito. O
produzindo seu sentido. E se o sentido é
atribuído num só depois, nada pode 187FREUD, Sigmund. (1896b) Observações adicionais sobre as neuropsicoses
garantir um efeito de trauma, a não ser a de defesa. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund
escrita fantasmática da qual o sujeito é Freud, vol. III. Rio de Janeiro, 1976, p. 158.

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transbordamento das margens se abriu a Maria no momento mesmo em


fantasmáticas que manteriam Maria nos que, ao revelar à analista que o que fazia
limites do princípio do prazer produz um com o tio era “agradável, uma novidade”,
efeito de ruptura, tornando-a presa de uma coloca em jogo o seu desejo, o fato de que
‘excitação’ intratável pelo discurso. Eis a o ‘abuso sexual’ foi, também aqui, uma
ação póstuma de uma significação defteron pseudos.
traumática que resulta, nesse caso, não de Para Joana, todavia, nada há, até
um suposto abuso, mas do mau encontro então, que se possa chamar de trauma. Há
com a falta no Outro, cuja resposta S1 à espera de significação. A angústia
fantasmática se mostrou precária para desencadeada por seu encontro erótico não
cicatrizar o trauma, deixando a ferida aberta é dela, mas dos pais: “Nossa filha está se
a repetições de um gozo real. O trauma masturbando! Ficou traumatizada”. Eis o
retorna, pois, no real do corpo de quem é problema que, no verso da bandeira do
filho de um pai abusador. trauma, levou o casal a procurar a analista:
Segundo Soler, o primeiro tempo do “os adultos se esforçam por não ver uma
trauma é o do impacto, golpe real, parte das manifestações sexuais das crianças
momento de foraclusão, de pavor, que e por disfarçar uma outra parte,
imprime suas marcas indeléveis no segundo interpretando-lhes erroneamente a natureza
tempo sob a forma de seqüelas, que variam sexual, conseguindo assim negá-la em sua
conforme o sentido que cada um dá ao real totalidade.”189
traumático, segundo sua fantasia. Esse Afinal, houve o trauma? Se o caráter
efeito de sentido, todavia, não deixa de ser traumático reside na possibilidade de uma
uma armadilha para o sujeito, posto que é associação significante estabelecida pelo
um modo de eternizar o traumatismo. sujeito num só depois, não há regra na
Alienado a um passado que só lhe pertence produção de seu sentido; somente no caso
porque fantasiado, o sujeito repete sua a caso, na singularidade das respostas
história no presente e projeta no futuro o subjetivas, calcadas na construção
seu passado. fantasmática, que se pode deduzir seus
Todavia, se a lógica do só-depois efeitos. Não há experiência que possa, em
guarda em si a possibilidade de si, ser nomeada como traumática – não
significações a posteriori, o sentido que antes que o sujeito lhe atribua tal efeito a
antecipadamente fixou o sujeito em lugar posteirori, se o fizer.
de objeto do desejo do Outro é um sentido A psicanálise nos adverte que o
também aberto a ressignificações. Na analista está no lugar de não responder,
medida em que puder ser dialetizado oferecendo, em contrapartida, a escuta,
discursivamente num endereçamento ao pois que essa permite o deslizamento
outro no lugar do vazio, pode-se significante por meio do qual o sujeito
reintroduzir o imprevisível, permitindo ao poderá construir sua resposta. Por não ser
sujeito abandonar a fatalidade do anônima, essa resposta é exclusiva: exclui
traumatismo; pode-se produzir, como todo aquele, que não o próprio sujeito, de
efeito, o reordenamento das contingências afirmá-la (como traumática ou não).
passadas “dando-lhes o sentido das Se o traumatismo se produz ali onde
necessidades por vir, tais como as constitui a criança, confrontada com o gozo do
a escassa liberdade pela qual o sujeito as faz Outro, defronta-se com a inexorável
presentes.”188 Essa é uma possibilidade que
189 FREUD, Sigmund. (1916-1917[1915-1917]) Conferências introdutórias
188 LACAN, Jacques. A instância da letra no inconsciente ou a razão desde sobre psicanálise. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de
Freud. Em: Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 1998, p. 527. Sigmund Freud, vol. XV. Rio de Janeiro, 1976, p. 251.

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evidência de sua própria sexualidade, ele é


inevitável. Se um acontecimento exterior só
tem eficácia se for capaz de ativar fantasias
determinadas pela sexualidade infantil, as
seqüelas do trauma real são
necessariamente subjetivas. Assim sendo,
Soler dá voz à reivindicação da psicanálise
quanto à urgência de se “estabelecer uma
oposição ao discurso determinista que
pretende estabelecer uma correspondência
biunívoca entre uma causa traumática e
suas conseqüências sintomáticas, pois entre
os dois há o inconsciente.”190 Emma, Joana
e Maria: destinos diferentes, posto que
sujeitos. Destinos que se singularizam na
lógica temporal que rege o encadeamento
significante, sempre subjetivo, que
estrutura o inconsciente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, Sigmund. (1896b) Observações adicionais
sobre as neuropsicoses de defesa. Em: Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund
Freud, vol. III. Rio de Janeiro, 1976.
FREUD, Sigmund. (1916-1917[1915-1917])
Conferências introdutórias sobre psicanálise. Em:
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de
Sigmund Freud, vol. XV. Rio de Janeiro, 1976.
LACAN, Jacques. A instância da letra no
inconsciente ou a razão desde Freud (1957). Em:
Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
LACAN, Jacques. O Seminário, livro 11: os quatro
conceitos fundamentais da psicanálise (1964). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
SOLER, Colette. Discurso e trauma (1998). Em:
Sônia ALBERTI e Maria Anita CARNEIRO
RIBEIRO (orgs.). Retorno do exílio: o corpo entre a
psicanálise e a ciência. Rio de Janeiro: Contra Capa
Livraria, 2004.
SOLER, Colette. “Trauma e fantasia”, Stylus: Revista
de Psicanálise, nº 9. Rio de Janeiro: Associação dos
Fóruns do Campo Lacaniano, 2004.
SOLER, Colette. “Angústia, afeto de excessão”,
Stylus: Revista de Psicanálise, nº 10. Rio de Janeiro:
Associação dos Fóruns do Campo Lacaniano, 2005.

190SOLER, Colette. “Discurso e trauma”. ”. Em: Sônia ALBERTI e Maria


Anita CARNEIRO RIBEIRO (orgs.). Retorno do exílio: o corpo entre a
psicanálise e a ciência. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2004, p.87.

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

A posição do sujeito no laço totalitário do


capitalismo contemporâneo
Raul Albino Pacheco Filho
constituição do sujeito e seu sustentar sua pseudo-existência: mesmo
ingresso no simbólico, na que seja às custas da sua insatisfação ou

A linguagem e na cultura,
‘cobra o preço’
cisão/alienação originárias,
que se redobram a cada vez
que ele fala. A entrada do
sujeito em todo e qualquer
laço social sempre implica essa alienação
da
impotência.
O objetivo deste trabalho é ressaltar
a existência de um adicional de alienação
específico do laço social implicado pelo
capitalismo, que está para além da alienação
estrutural anteriormente mencionada; e que
responde por uma aceleração exponencial
originária e constitutiva, que é da ordem da da referida ‘inércia totalitária’, nessa forma
estrutura e não da contingência: histórica de sociedade. Consiste, portanto,
poderíamos dizê-la ‘trans-histórica’. Na em uma tentativa de contribuir para a
esperança de assim estar servindo a uma crítica do capitalismo, a partir da
instância absoluta e sem falhas, potente consideração da questão do sujeito: ou seja,
para lhe assegurar escapar aos sofrimentos oferecer uma contribuição da Psicanálise
ordinários da vida humana, os sujeitos para a interlocução com o pensamento e as
inventam um Outro/Pai Absoluto que lhes teorias sobre a sociedade.
permita sustentar o ideal impossível de um Em um de seus textos, Lacan diz
gozo absoluto e ilimitado; mas que, ao que a “integração vertical extremamente
mesmo tempo, os proteja contra essa complexa e elevada da colaboração social”
mesma possibilidade de gozo. Iludidos de exigida pelo sistema de produção capitalista
que estão juntos na mesma fantasia, e de conduz a um “plano de assimilação cada
que se remetem a um único e mesmo vez mais horizontal” dos ideais, no qual (...)
Outro absoluto e sem falhas, os sujeitos os indivíduos descobrem-se tendendo para
com estrutura neurótica entregam-se como um estado em que pensam, sentem, fazem
instrumentos desse saber. E isto está na e amam exatamente as mesmas coisas nas
origem de inúmeras tragédias sociais: os mesmas horas, em porções do espaço
totalitarismos de direita ou esquerda, os estritamente equivalentes. Meu propósito é
fundamentalismos religiosos, os genocídios explorar este aspecto do laço social
e massacres racistas ou xenófobos e assim capitalista, esmiuçando as bases sobre as
por diante. quais ele se assenta.
Disparado esse processo, ele Entendo que uma crítica do
prossegue na direção de uma alienação total capitalismo, que não se pretenda
do sujeito, em um movimento de fundamentada em um ponto de vista
progressiva redução da participação de sua meramente ’moral’, não pode alegar uma
singularidade, nas ações em sociedade. pretensa ‘desumanização’ do sujeito pelo
Aqui vou me referir a isto como a ‘inércia atrelamento do seu desejo à posse de
totalitária’ do laço social. O Outro não mercadorias. Kojève nos lembra que o
existe, mas, mesmo assim, o sujeito deve desejo propriamente humano,

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‘antropogênico’, não busca um objeto real membros do corpo social. Acredito que se
‘positivo’, mas sim o desejo de um outro possa relacionar isto à observação de
ser humano. O desejo por um objeto só é Lacan, de que o capitalismo talvez tenha
‘humano’, se for mediatizado pelo desejo produzido um ponto crítico de ruptura, ao
de um outro ser humano pelo mesmo articular o sujeito ao ‘objeto causa do
objeto. E, no que diz respeito a isto, desejo’. Aliás, Marx propôs que a passagem
ninguém poderia acusar o capitalismo de à forma-valor-geral constituiu um salto
‘desumanizar’ o sujeito. A criação da qualitativo, pois se dissolveu na totalidade
‘forma-valor’, analisada por Marx em “O social a antiga relação em que o valor-de-
Capital”, possibilita a padronização e uso ainda predominava sobre o valor-de-
universalização dos procedimentos de troca.
medida do valor das mercadorias, por meio Proponho que a saída de um
do ‘valor-de-troca’. E isto viabiliza uma mundo de valores-de-uso, para um mundo
amplificação inusitada da referida de valores-de-troca, apresenta uma
mediação, pela articulação do desejo dos homologia com o processo de
distintos sujeitos aos objetos-mercadorias. compartilhamento significante, que é
Aqui é possível estabelecer-se uma seguinte possibilitado pela instituição de uma língua.
articulação relevante (poder-se-ia dizer Uma língua cria as ‘amarrações’ de
homologia?) entre ‘função paterna’ e o significações operadas pelos signos,
processo de instituição social do ‘valor-de- viabilizando a comunicação e a cultura
troca’: a) Ainda que o significado do humana (respeitada, é óbvio, a prevalência
Desejo da Mãe seja um enigma para o do significante no que diz respeito à
sujeito, o Nome-do-Pai permite emergência do sujeito do inconsciente). E
‘significantizá-lo’, criando a significação algo como um ‘valor-desejo’ pelos objetos
fálica e possibilitando a circulação do falo; pode ser significantizado pelo equivalente-
b) Ainda que o significado último do valor geral, em processo que guarda relação de
do objeto seja um enigma para o sujeito, o homologia com aquele pelo qual o ‘Desejo
‘equivalente-geral’ (e sua forma mais bem da Mãe’ pode ser significantizado pelo
acabada, o dinheiro) permite ‘significantizá- ‘Nome-do-Pai’. Portanto, não me parece
lo, criando o valor-de-troca e possibilitando absurdo chamar a atenção para uma
a circulação de mercadorias. conexão entre: a) A função do Nome-do-
Os desejos por objetos também são Pai, que, ao ser incluída no lugar do Outro,
mediatizados pelos desejos de outrem, em funciona como ponto-de-basta e possibilita
culturas não capitalistas, como é o caso do que o sujeito confira significação aos seus
valor de um bom arco, entre os índios de significantes; b) E o que seria uma ‘função
uma tribo. Até mesmo o que relaciona os equivalente-geral’, que, ao ser estabelecida
seres humanos ao seu alimento é desejo no seio da sociedade, introduz algum tipo
humano, na medida em que, já se disse, de homogeneização/ padronização da
comemos signos. Lévi-Strauss não mostrou relação dos sujeitos com os objetos do
algo desta ordem, em “O cru e o cozido”? mundo, por meio da criação de algo da
Porém, por meio do valor-de-troca, a natureza de um ‘valor-desejo’.
cultura capitalista criou um poderoso e A linguagem possibilita um certo
inédito instrumento de articulação, fixação compartilhamento parcial dos objetos do
e padronização da ‘desejabilidade’ pelos mundo e uma certa unificação das ações a
objetos do mundo: talvez pudéssemos nos eles dirigidas, mas com uma ‘perda’ –
referir a isto como a registrada pela extração do ‘objeto a’, em
fixação/padronização/homogeneização do função daquilo a que o simbólico não pode
‘valor-desejo’ de um objeto, para todos os dar conta –, produzida pela equivocidade

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significante. Equivocidade significante que, estamos na sociedade em que todos


de algum modo, responde pela “pensam, sentem, fazem e amam
singularidade na relação desejante do exatamente as mesmas coisas”, nas mesmas
sujeito com o mundo. Proponho a seguinte horas e lugares?
questão: não seria, a função equivalente- Disparada por uma padronização
geral, responsável pela produção de uma sem precedentes históricos dos ‘valores-
limitação sem precedentes na margem de desejo’ pelos objetos do mundo, lança-se às
singularidade da relação do sujeito com o alturas a disponibilidade para entrega à
mundo? Limitação produzida pelo fato dela alienação produzida pela fantasia coletiva
capturar algo da ordem de um ‘valor- de referência a um único e mesmo Outro
desejo’ pelos objetos, em suas malhas? Não Absoluto. É este, assim o entendo, o perigo
foi isso, aliás, que possibilitou o maior desta forma de estruturação da
desenvolvimento de tecnologias sociais de sociedade: a ‘inércia totalitária’ do laço
administração do desejo, como é o caso da social capitalista. Perigo tão maior quanto
publicidade e do marketing? Cito o também o próprio sujeito deixe de
Seminário 17: “Aqui, na encruzilhada, representar um ‘enigma’, para tornar-se,
enunciamos que o que a psicanálise nos igualmente, apenas um objeto com ‘valor-
permite conceber nada mais é do que isto, desejo’ quantificado e padronizado: uma
que está na via aberta pelo marxismo – a mercadoria (seu trabalho), com valor
saber, que o discurso está ligado aos socialmente definido pela medida do
interesses do sujeito. É o que na ocasião equivalente-geral. Cito Marx: [No modo
Marx chamou de economia, porque esses capitalista de produção] o próprio operário
interesses são, na sociedade capitalista, somente aparece como vendedor de
inteiramente mercantis. Só que, sendo a mercadorias (...). Os principais agentes
mercadoria ligada ao significante-mestre, deste modo de produção, o capitalista e o
nada adianta denunciá-lo assim.” operário assalariado, não são, como tais,
Unidos pelo compartilhamento do senão encarnações do capital e do trabalho
ideal de consumo, não me parece que os assalariado, determinadas características
sujeitos do capitalismo estejam atados por sociais que o processo social de produção
um laço social frágil, nem imersos em um imprime nas pessoas, produtos destas
narcisismo metapsicológico ‘stricto sensu’, relações determinadas de produção.
como certas análises parecem pretender. O sujeito do capitalismo ensaiou
Neles, o que mais me assusta é a disposição seus primeiros passos, na História,
para se entregarem à ‘inércia totalitária’ do substituindo a obediência ao Pai da Igreja
‘discurso do capitalista’. Se existe Católica pela obediência ao Pai da Reforma
possibilidade de se produzir abalos na Protestante. Prosseguiu, ensaiando uma
ilusão dos sujeitos, de que estão juntos na tentativa de libertação da alienação e
mesma fantasia e se remetem a um único e submissão a qualquer Pai Absoluto,
mesmo Outro, isso depende de que tentando posicionar-se como criador do
percebam as contradições entre as seu próprio mundo, responsável pela sua
diferentes formas de relação com o mundo, Ciência e autor de sua própria história. Mas
que decorrem das distintas concepções que o fetichismo da mercadoria amarrou-o em
eles (os diferentes sujeitos) têm a respeito suas malhas e desviou-o do percurso
do mundo. Porém, como é possível buscado, de responsabilidade pelo seu
questionar-se a convicção de que todos próprio destino. Fetichismo, este, operando
compartilhamos a única e mesma nos dois sentidos, marxiano e freudiano,
‘realidade’, se, como mencionado conforme a distinção proposta por Zizek:
anteriormente, Lacan nos lembra que (...) no marxismo, o fetiche oculta a rede

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positiva de relações sociais, ao passo que, será espaço, mas tempo. Manter-se na
em Freud, o fetiche oculta a falta existência significará, pois, para esse Eu:
(‘castração’) em torno da qual se articula a “não ser o que ele é (Ser estático e dado,
rede simbólica. Esquivar-se de se submeter Ser natural, caráter inato) e ser (isto é,
a qualquer totalização positiva, sustentando devir) o que ele não é.” Esse Eu será assim
o próprio desejo como norte, e assumindo sua própria obra: ele será (no futuro) o que
as contradições e conflitos inerentes ao ele se tornou pela negação (no presente) do
laço social, talvez seja este o único modo que ele foi (no passado), sendo essa
pelo qual o ser humano possa retomar o negação efetuada em vista do que ele se
progresso na História, na condição que é tornará.
própria do seu ‘ser’. Termino citando
Kojéve (...) o próprio Ser desse Eu será
devir, e a forma universal desse Ser não

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

Capitalismo, Imperio y Subjetividad: el derecho, la


guerra y el tiempo
Mario Uribe
a instauración primitiva y se escande un gap irreductible
contemporánea de una nueva entre goce y deseo. Freud propone

L forma de soberanía solidaria


de la
irreversible
globalización
de
intercambios económicos y
culturales hace surgir un
nuevo sujeto distinto del
sujeto freudiano de la época victoriana. A
los
inauguralmente la guerra ontra el padre de
la horda y la lógica triunfal de “unión de los
más débiles” contra la ley del “más fuerte”,
con lo cual no hace otra cosa que
humanizar el crimen y definir de paso la
cultura como una manifestación erótica
contraria a la destructividad inherente a la
diferencia del sujeto del malestar freudiano, pura pulsión de muerte. Se instaura así un
dominado por la culpa y la vergüenza modo de lazo social cuya estabilidad es el
inherentes a la preeminencia de un Otro efecto de la libido y de la lógica de las
que juzga, el nuevo sujeto “desnudo” del identificaciones. De la misma manera,
Imperio obedece a una lógica de auto define una teoría de la “guerra justa”
fundación subjetiva, tiende inercialmente al donde, más allá del clásico jus ad bellum o
goce, al acto, y su obscenidad consiste en derecho a hacer la guerra asociado a la
no mostrarse particularmente proclive ni a simple percepción de una amenaza de
la culpa ni a la vergüenza. Examinaré ese agresión o peligro para la integridad
cambio de estatuto de la subjetividad, el territorial o política del estado, la
malestar en la cultura asociado y la legitimidad de la guerra va a depender de
dificultad para el psicoanálisis de operar que en su desencadenamiento haya
sobre el sujeto en esta nueva cultura primado Eros o la unión erótica de los
capitalista donde las relaciones entre el muchos por sobre Thánatos o la violencia
derecho y la guerra son solidarias de la destructiva del uno. En su artículo ¿Por qué
precariedad simbólica de la época. la guerra? y frente al debilitamiento de la
El psicoanálisis encuentra al sujeto Liga de las Naciones, Freud concluye que la
dividido del malestar freudiano y sus materialización del ideal pacifista de
condiciones de posibilidad en las posguerra va a depender de que los
postrimerías de la época victoriana, estados-nación unidos sean capaces de
fuertemente disciplinaria, y dominada por otorgarle poder y estabilidad permanente y
el puritanismo, la represión de la duradera a esta institución de violencia
sexualidad, una neta demarcación entre central mediadora. Pero, ¿qué unifica en
espacio privado y espacio público y una nuestra época donde el Imperio implica
muy conocida doble moralidad. En ese una soberanía distinta de aquella de los
contexto, Freud define un mito del origen estados-nación? ¿Qué une al sujeto en un
de la cultura, de la ley y de la guerra a partir mundo donde se elogia o banaliza la guerra
del efecto creacionista de un crimen luego del resurgimiento del viejo concepto
primordial: el parricidio. Desde entonces la de guerra justa en torno a la guerra del
familia del neurótico se opone a la familia Golfo según lo denunciara Antonio Negri?

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Lo que une en tiempos de Freud es La Cultura del Nuevo Capitalismo


un cierto estilo de erotismo y una lógica de de Richard Sennett revela, por ejemplo, el
identificaciones donde destaca la figura déficit de cultura del capitalismo toda vez
preeminente de un padre fuerte como Otro que una economía tan flexible y en
en el lugar de la ley. La monarquía, el constante reestructuración modifica el
estado, la iglesia y el ejército, entre otras, paradigma de prácticas y valores que
son algunas de las estructuras simbólicas tradicionalmente unían a la gente como la
fuertes que inciden en la subjetividad de la lealtad con sus empresas e instituciones, el
cultura freudiana cuyo denominador valor de la calificación y experiencia
común es el padre. No obstante y profesionales, el sentimiento de
paradójicamente, al mismo tiempo que une, continuidad y la posesividad, en otros. Al
el padre divide. En efecto, algunas de sus igual que Freud, el autor se interroga sobre
declinaciones: la mirada panóptica de un aquello que une a los ciudadanos hoy
Otro que juzga, prohíbe, sanciona y cuando las instituciones en las cuales viven
desnuda la intimidad del sujeto hasta el se fragmentan y se disuelven los
pudor y la vergüenza, el significante de la aprendizajes pasados. Tres aristas de este
ley, el Otro que legitima la guerra justa en nuevo malestar debieran interesar al
tanto culta y erótica, en fin el padre del psicoanalista. Primero, la imposibilidad
Edipo, no solo constituyen el eje para el sujeto asalariado de instituir un
creacionista alrededor del cual gravita en relato sobre su vivencia en el marco de su
última instancia toda la clínica de la culpa, relación con el trabajo y la consecuente
el deseo, la vergüenza, la inhibición, el incapacidad de interpretar su historia,
síntoma y la angustia, sino también el apropiarse de ella y suscitar la acción.
malestar en la cultura del neurótico. Más Segundo, la herida narcisista del sujeto en
aún, el sujeto dividido que recrea la el plano de la competencia profesional,
posibilidad del psicoanálisis en sus orígenes producto de la imposibilidad de constituir
es un efecto de la marca imborrable o rasgo una experiencia acumulativa, en una cultura
unario que deja el padre en él bajo la dominada por una temporalidad del orden
forma del superyó. de una sincronía del presente, y donde el
Para bien o para mal, no se puede contexto económico disipa constantemente
decir lo mismo a propósito de la la experiencia pasada. Tercero, el carácter
subjetividad y del psicoanálisis en los insostenible e inaceptable para un sujeto de
albores del siglo XXI. El paso de una cierta edad de tener que partir a menudo de
sociedad normativa dominada por una cero en el contexto de instituciones
función paterna poderosa y eficaz a un flexibles interesadas en el desarrollo de
modelo de lazo social caracterizado por la nuevas competencias entre sus asalariados.
declinación progresiva y la falta de En cuanto a Lacan, desde Los Complejos
ubicuidad del Otro constituye un terreno Familiares ya nos había alertado sobre los
particularmente árido para el desarrollo del riesgos aludidos de la declinación
psicoanálisis. De manera general y a simbólica de la época, particularmente de la
diferencia del modelo cultural victoriano, la función paterna. Posteriormente, en
clínica analítica y la reflexión filosófica y distintos momentos de su obra, alude al
sociológica, coinciden en que el lazo social malestar en la cultura contemporánea en
contemporáneo conlleva un déficit de los términos de una obturación de las
subjetivación, una decadencia de la posibilidades de subjetivación del
experiencia colectiva, y un ciudadano común como efecto del discurso
empobrecimiento de la experiencia privada. capitalista y su instrumento, la ciencia
positiva, la cual pone sobre el mercado una

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enorme producción de objetos de Afirmar que no hay vergüenza implica


consumo que colmatan la falta en ser. Dos entonces admitir un cambio del estatuto del
aspectos de este malestar merecen una Otro que mira, o en otros términos, admitir
particular mención. Primero, la pérdida de que se trata, sea de un Otro que no existe,
la significación de la sanción en un mundo sea de un Otro cuya mirada está
dominado por el utilitarismo. Segundo, el desprovista de la potencia de provocar
empuje a la obscenidad en un sistema vergüenza. Ahora bien, en estricto rigor, al
donde “no hay vergüenza”. mismo tiempo que anuncia la muerte de
A propósito del sentido de la aquella vergüenza ligada al honor, la
sanción en un mundo dominado por el dignidad y la nobleza, es decir de la
neoliberalismo de mercado, Lacan anticipa vergüenza como antónimo del pudor,
ya en los años 50 su tendencia a la Lacan afirma entre líneas que no es posible
desaparición. Para Lacan, la marca del escapar a un tipo de vergüenza primordial:
superyó o del padre en el sujeto implica una la vergüenza de vivir. Esta forma de
necesidad estructural de castigo. Por su vergüenza ontológica, ligada al goce más
parte, el sentido expiatorio del castigo íntimo del ser, es el efecto de la relación del
implica que la ley positiva del corpus sujeto con un Otro distinto del Otro
sociocultural que lo decrete encuentre una freudiano de la culpa, refleja bien la
resonancia en el nivel de la ley simbólica relación actual del sujeto con el Otro, y
del sujeto. Esta resonancia solo es posible condiciona el advenimiento de la era de la
mediante el asentimiento subjetivo, vida nudita, tan bien identificada por
condición suficiente para que la sanción Agamben.
tenga un efecto retributivo y eventualmente Frente al panorama esbozado, el
curativo, ya que permite al sujeto admitir su paso de un Otro que empuja al deseo a un
responsabilidad verdadera y aceptar la Otro que empuja al goce y su correlato
sanción como “su justo castigo”. Al no último, es decir un sujeto que no quiere
recrear el terreno favorable a la saber nada sobre su falta en ser, implica la
subjetivación o asentimiento, nuestra época pregunta para el psicoanalista sobre el
no favorece la responsabilidad sino la desarrollo y difusión de su arte. ¿Qué
producción de una irresponsabilidad estrategia futura? ¿Qué actitud frente al
generalizada. derecho a la guerra? En Los caminos de la
En fin, a propósito de la vergüenza, terapia psicoanalítica, Freud anticipa
en el Reverso del psicoanálisis…, Lacan algunas soluciones posibles. Se evoca allí la
proclama un mundo donde “no hay “adaptación de nuestra técnica a las nuevas
vergüenza”. La fórmula implica un cambio condiciones” y el uso de métodos “más
de estatuto de la mirada en relación con la activos”. Para el Freud de Los caminos…la
decadencia del Otro. La vergüenza, adaptación del discurso analítico implicaría
entendida como el índice de un momento ir más allá del sujeto individual y considerar
donde falta ese campo del Otro que seriamente la posibilidad de impacto sobre
determina la función del rasgo unario y del grandes masas de individuos en el marco de
Ideal del Yo, es un afecto raro en una las instituciones públicas o privadas de
época proclive a la auto fundación del salud, incluyendo incluso la polémica
sujeto o a la escisión entre el sujeto y el posibilidad de un acceso gratuito al
Otro. La vergüenza es un afecto que psicoanálisis para las clases populares. En la
presupone una mirada, representa un perspectiva de la ética freudiana de la
intento de esconder la realidad de la adaptación, creo pertinente operar hoy una
castración, y surge cuando la coyuntura sutura entre la realidad psíquica individual y
muestra la falla de la identificación fálica. la aplicación del arte de la cura en el nivel

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de la masa. Esta difícil tarea implicaría la ley penal positiva en el nivel de la ley
posicionar el discurso analítico en todos simbólica del sujeto. De esta manera y
aquellos niveles políticos en que se trate de entre otras fórmulas, las estrategias de
contrarrestar el imperativo al goce control social y los programas de
inherente al superyó de la cultura rehabilitación de delincuentes ganarían en
contemporánea. Para ello se necesitan eficacia. En fin, a propósito de la guerra en
estrategias adecuadas y psicoanalistas un mundo donde ni el padre ni la ONU
decididos a dejar la comodidad de la cumplen eficazmente su rol agregativo y
consulta privada y crear activamente la resurgen viejos discursos que el secularismo
demanda con la oferta en el seno del moderno ya había borrado, lo menos que
espacio público, tal cual lo hiciera Freud a un psicoanalista puede exhibir es una
propósito de la difusión de la peste. actitud crítica frente a fórmulas
Entendiendo que el discurso analítico apologéticas como aquella de David Frum,
opera como regulador de goce, creo tan bien denunciada por Norman Mailer, y
deseable y pertinente, por ejemplo, su que identifica a la Ex Mesopotamia con “el
inclusión en programas públicos de eje del mal”. En efecto, muy lejos de los
prevención orientados a estimular la discursos moralistas de legitimación de la
responsabilidad del sujeto y de las guerra inspirados en la lucha medieval del
instituciones del Imperio. Crear un espacio bien contra el mal, al fundar las relaciones
para la palabra allí donde actualmente entre la cultura y la guerra sobre una
domina el goce, es decir en los ámbitos del metapsicología, Freud sitúa de entrada el
comportamiento sexual, del consumo, y de jus ad bellum más allá del bien y del mal.
la delincuencia, contribuiría a reposicionar
el deseo, a emancipar al sujeto de las leyes
del mercado y a favorecer la resonancia de

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

O tempo e a depressão
Maria Rita Kehl
que a teoria freudiana freudianas depois de percorrer a cultura
sobre a melancolia pode ocidental, desde Aristóteles, carregada de

O ensinar ao psicanalista
sobre a clínica das
depressões? Muito pouco,
quase nada. No entanto,
nos debates de que tenho
participado recentemente
em torno desse tema, assim como em
signos de sensibilidade, originalidade,
nobreza de espírito e outras qualidades que
caracterizam o gênio criador. Tais
qualidades da alma humana não se
encontram entre as observações de Freud a
respeito dos sintomas melancólicos.
A teoria freudiana da melancolia promoveu
textos de diversos autores sobre o mesmo duas rupturas simultâneas: no plano clínico,
assunto, não é incomum encontrar certa seu texto de 1915 trouxe a melancolia do
confusão entre as características dos campo da medicina psiquiátrica – em que
quadros depressivos e melancólicos, que era chamada de “psicose maníaco-
chegam a ser abordados, depressiva” – para o da clínica psicanalítica.
indiscriminadamente, como se fossem a No outro plano, o da história das idéias, o
mesma coisa. Não são. As características texto de Freud acabou de afastar
“depressivas” do melancólico – definitivamente a melancolia da longa
negativismo, falta de ânimo, falta de auto- tradição pré-moderna das representações,
estima, fantasias auto-destrutivas, predominantemente sublimes, atribuídas
distúrbios somáticos e outras tantas aos homens de caráter melancólico, desde a
manifestações de dor psíquica – podem se antiguidade grega.
parecer, empiricamente, com as dos A teoria freudiana sobre a melancolia
depressivos. Mas assim como algumas ocupou um lugar tão importante no
crises histéricas e algumas construções de pensamento clínico do início do século XX
pensamento delirantes entre os obsessivos que o conceito de depressão foi
podem ser confundidas com sintomas praticamente englobado pelo de
psicóticos, a semelhança fenomenológica melancolia, quando não confundido com
entre a tristeza e o abatimento dos ela. Nos últimos trinta anos, no entanto, o
melancólicos e dos depressivos não são crescimento a níveis epidêmicos dos
manifestações da mesma estrutura psíquica. diagnósticos de depressão impõe aos
Tal confusão talvez se deva ao fato psicanalistas uma separação teórica mais
de Freud, cujo texto “Luto e Melancolia” rigorosa entre esses dois campos clínicos. É
(1915) trouxe uma contribuição decisiva e preciso empreender novos esforços
inovadora para a compreensão da clínica da conceituais para pensar a especificidade da
melancolia, não ter dedicado nenhum texto depressão de modo a impedir que esta
ao tema das depressões. Se as noções de forma de mal estar, agravada pelas
depressão, estados depressivos, psicose condições da vida contemporânea, seja
maníaco-depressiva, ainda não terminaram inteiramente apropriada pela medicina e
de ser resgatadas do campo exclusivo da pela psicofarmacologia. A teoria da
psiquiatria para o da clínica psicanalítica, o melancolia é insuficiente para subsidiar a
termo “melancolia” aportou em terras clínica das depressões, esta forma de mal

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estar que a indústria farmacêutica vem psiquismo nada mais é do que uma rede de
tentando circunscrever exclusivamente sob representações tecida sobre um fundo
seus domínios, como se o deprimido vazio. A pressa do Outro materno, o
sofresse apenas desarranjos e déficits excesso de solicitude e/ou de ansiedade de
químicos em um corpo sem sujeito. certas mães em atender rapidamente às
Do ponto de vista da psicanálise, a menores manifestações de insatisfação do
depressão resulta do empobrecimento da infans, intercepta a temporalidade psíquica,
vida psíquica, sobretudo no que se refere favorecendo a posição depressiva do
ao enfrentamento de conflitos. O abuso de sujeito no fantasma.
soluções medicamentosas acaba por ser A sociedade contemporânea vem
cúmplice deste encolhimento subjetivo. Daí produzindo – e sofrendo com isso – uma
que o avanço mercadológico dos invasão de formas imaginárias deste Outro
antidepressivos não corresponda a uma apressado, que não admite nenhum tempo
diminuição dos casos de depressão. Bem ao ocioso que não seja rapidamente
contrário: a supressão química do sujeito preenchido por ações que visam satisfação
do inconsciente só faz aumentar o mal imediata. Em função disso, o recuo do
estar. A introspecção, a tristeza, o depressivo ocupa o lugar do sintoma social.
recolhimento, a contemplação – a vida do Ao deprimir-se, ele tenta fugir do excesso
espírito, enfim – são desvios que de ofertas – que do ponto de vista do
atrapalham o rendimento de uma vida cuja sujeito em formação, são entendidas como
qualidade se mede por critérios de demandas – do Outro, para se refugiar
eficiência, competência e disponibilidade debaixo das cobertas. Este é lugar que
para o consumo e a diversão. caracteriza o recuo do depressivo em
relação à vida. Segundo alguns autores191, o
O tempo do sujeito e o tempo do Outro ninho que o depressivo faz para si mesmo
Desde 2005 venho investigando a debaixo das cobertas, onde o tempo não
questão das depressões do ponto de vista passa, funciona de maneira paradoxal.
da relação dos sujeitos com a dimensão do “Debaixo das cobertas” o depressivo
tempo, ao qual ele é introduzido através encontra tanto um esconderijo quanto um
das práticas do Outro materno. Meu lugar de gozo, de onde tenta, mas não
interesse é investigar a relação dos consegue, se proteger contra a ameaça de
depressivos com a delicada temporalidade ser engolido pelo Outro materno. Quanto
psíquica, em contraste com a velocidade da mais o depressivo recua, mais se coloca à
vida social. Se a psiquiatria explica a mercê da demanda da “bocarra de jacaré”,
lentidão depressiva como resultante de um na dramática expressão utilizada por Lacan
déficit nos neurotransmissores, do ponto de vista para se referir à mãe do infans.
da psicanálise ela resulta da posição do O tempo, como bem escreve
sujeito diante do Outro. François Julien, é “a última figura da
Na origem da posição depressiva, transcendência no seio do pensamento
encontramos um sujeito atropelado pela ocidental192”. Esta última possibilidade de
urgência do Outro. O psiquismo, em Freud, é pensar e também de experimentar a
uma instância temporal que se inaugura a transcendência, através da multiplicidade
partir da espera de satisfação. O tempo dos fenômenos temporais, vem se
que se inaugura com a espera de satisfação
da pulsão é a primeira dimensão da falta
191Ver Dominique Fingermann e Mauro Mendes Dias, Por causa do pior, São
que se apresenta ao infans, a partir da qual Paulo: Iluminuras, 2005, e Pierre Fedida, Depressão. São Paulo: Escuta, 1999.
ele haverá de dar início ao trabalho de 192 François Julien, Do “tempo”: elementos para uma filosofia do viver.(2001),
representação do objeto faltante. O p. 100. São Paulo: Discurso, 2004. Tradução de Maria das Graças de Souza.

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reduzindo drasticamente. O homem chamo a atenção para a freqüência com que


contemporâneo vive tão completamente encontramos ampulhetas entre os
imerso na temporalidade urgente dos instrumentos que cercam as figuras dos
relógios de máxima precisão, no tempo melancólicos, a partir do Renascimento –
contado em décimos de segundo, que já esta relação se expressa de maneira
não é possível conceber outra forma de dramática na lentidão dos depressivos
estar no mundo que não sejam as da contemporâneos, incapazes de atender à
velocidade e da pressa. urgência das demandas do Outro. Tal
“Aproveitar bem o tempo” é um lentidão, que se apresenta tanto aos olhos
dos imperativos da vida contemporânea. do sujeito deprimido quanto aos dos
Na prática, tal mandato corresponde a uma psiquiatras como mais uma entre as muitas
série de possibilidades que de fato se disfunções características da depressão,
abriram para o desfrute da vida privada, nas talvez tenha algo a ensinar ao psicanalista.
sociedades liberais. O indivíduo, sob o É razoável supor que a temporalidade
capitalismo liberal, dispõe de uma enorme moderna sacrifica o sujeito a seus
variedade de escolhas quanto ao desfrute imperativos; vale perguntar, então, de que
de seu tempo livre, não mais regulado pelos ordem é a recusa que a depressão impõe a
ritos e proibições da vida religiosa, nem alguns sujeitos desviantes dessa norma
limitado pelas horas de luz do dia ou pelo contemporânea que insiste em anunciar: o
maior ou menor rigor das estações. Por futuro já começou194.
outro lado a marcação que caracteriza o Não nos precipitemos. Ainda que, de
tempo do trabalho (de forma acordo com Freud, a aniquilação seja o
desproporcional à oferta efetiva de objeto definitivo do gozo da pulsão de
oportunidades de trabalho) invade cada vez morte, não devemos nos deixar fascinar, na
mais a experiência subjetiva da clínica, pela negatividade dos depressivos.
temporalidade, mesmo nas horas ditas de Se com sua recusa eles se aproximam
lazer. Não me refiro ao ócio, esta forma de perigosamente da verdade sobre o vazio
passar o tempo tão desmoralizada em Real que funda o psiquismo, o apego à
nossos dias, mas às atividades de lazer, negação dos depressivos deve ser
marcadas pela compulsão incansável de entendido principalmente como o avesso
produzir resultados, comprovações, efeitos de uma urgência. Sua lentidão encobre a
de diversão, que torna a experiência do inapetência característica daqueles que
tempo de lazer tão cansativa e vazia quanto tiveram sua demanda antecipada pelo
a do tempo da produção. Nada causa tanto Outro e se vêem incapacitados para
escândalo, em nosso tempo, quanto o preencher este inquietante rodeio entre o
tempo vazio. É preciso “aproveitar” o nascimento e a morte, a que chamamos
tempo, fazer render a vida, sem preguiça e vida. Ao contrário do melancólico, abatido
sem descanso. A este imperativo, como pela sombra de um objeto que não
veremos, o depressivo resiste com sua compareceu a tempo, os depressivos,
lentidão, seu mergulho angustiado e preenchidos pela solicitude do Outro,
angustiante em um tempo estagnado – um foram poupados de inventar seus próprios
“tempo que não passa193”. jogos de fort-da – daí decorre o sentimento
Se existe uma relação entre o estado de vazio interior de que se queixam em
subjetivo que os antigos chamavam de análise.
melancolia e a percepção do tempo –

193 Referência ao título do livro de Laplanche sobre a depressão, Ce temps qui 194 Trecho do jingle natalino da Rede Globo de televisão, desde a década de
ne passe pas. 1970.

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Instalados em um tempo que lhes dimensão deste saber sobre o tempo que se
parece vazio, sob sua aparente imobilidade, encontra encoberto pela sua imobilidade
os depressivos estão mais próximos de angustiada. A indústria farmacêutica se
encontrar a temporalidade distendida da empenha em oferecer ao depressivo
contemplação e do devaneio do que os substâncias capazes de levantar seu ânimo,
neuróticos mais bem adaptados às colocá-lo em movimento, adaptá-lo ao
condições que a vida social lhes impõe. O tempo do Outro. A psicanálise, em
tempo vazio do depressivo recusa a contrapartida, lhe oferece a perspectiva de
urgência da vida contemporânea e remete a um percurso sem pressa, a partir do qual ele
um outro modo de viver o tempo, que a possa criar, ou redescobrir, suas próprias
modernidade recalcou ou pelo menos, modalidades rítmicas de jogar com a falta,
reprimiu. suas próprias brincadeiras de fort-da
O psicanalista que escuta um
depressivo deve ficar atento para a

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

O nó do tempo nos tempos atuais, vicissitudes da


memória
Ângela Mucida
a Carta 52 Freud memória. Antes de falar, articular um
apresenta um aparelho discurso e tentar traduzir o tempo

N psíquico constituindo-se
por traços. De um lado e
do outro, separados por
intervalos
tempos,
sistema
consciência. Os primeiros traços da
de
situa-se
três

percepção-
o
marcado, o sujeito já foi falado, nomeado,
contado por um tempo anterior, que não se
recupera jamais. O 2º e 3º tempo permite
certo tratamento do real do tempo pelas
ligações,
contingentes,
traduções e
suportados
rearranjos
por
impossível a traduzir e recuperar. Esse
um

percepção constituem-se os primeiros “bom tempo” de cada dia, não opera sem
traços da memória e o 1º tempo da essa alienação fundamental e inaugural. A
constituição do sujeito, delimitando uma memória é o que se recorda e como se
relação estreita entre sujeito, tempo e recorda no tempo que passa, marcado por
memória. Podemos afirmar com Freud que essa barra à recordação; proteção do
o sujeito é também um efeito do tempo e aparelho psíquico contra o excesso de
da memória, já que esta é a primeira sofrimento, limite à sincronia e ao
apreensão do tempo. Esse tempo deslizamento significante. Com Lacan: ”O
primordial escrito por traços que não se aparecimento evanescente se faz entre dois
apagam, só pode ser traduzido pontos, o inicial e o terminal, desse tempo
parcialmente pelo 2º tempo, de ligação, e o lógico – entre um instante de ver em que
3º das representações verbais. Relendo algo é sempre elidido, se não perdido, da
essas indicações com as indicações de intuição mesma, e esse momento elusivo
Lacan em Mais Ainda, diremos que esse 1º em que, precisamente, a apreensão do
tempo, marcado pela simultaneidade, inconsciente não conclui, em que se trata
constitui-se de significantes esvaziados de sempre de uma recuperação lograda”
sentido, denominados por Lacan de letra. (Lacan,1998, pp.35,36)."Recuperação
Eles são aquilo que são, não fazem cadeia e lograda” que abre à neurose sentidos
não sofrem a erosão do tempo. É um possíveis, transitórios, contingentes diante
tempo real; tem incidência sobre o sujeito, de um tempo perdido. Se a memória é uma
não se apaga, mas não pode ser percebido função do tempo, ela o atualiza, carregando
ou apreendido. Entre o 1º e o 2º tempo, há suas falhas, buracos, interstícios
uma barra ao sentido, impondo uma falha inassimiláveis presentes na realidade
originária no tempo que percorrerá todo o psíquica; conceito que, segundo Lacan,
funcionamento da memória, traduzindo a enodaria em Freud os três tempos.
nosso ver o que Lacan nomeia de Lacan indica uma associação entre
“debilidade” do sujeito para tratar a topologia e tempo e em O Sinthoma
precoce incidência do Outro em sua propõe um enodamento entre R.S.I por um
constituição. Essa falha inaugural, marca a quarto termo, o sinthoma. Trata-se de um
primeira e fundamental vicissitude da enodamento que permite reparar a cadeia,

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mantendo juntos R.S.I e a especificidade de da produção do sentido) persiste um


cada um como ex-sistência, buraco e intervalo, uma perda, marcando a divisão
consistência. Independente da estrutura, o subjetiva, e como produto dessa operação
sinthoma refere-se a uma invenção singular do tempo, um resto (objeto a); tempo que
do sujeito, diante da debilidade face à sua excede e não se apreende. No DC
constituição. Na análise, acentua Lacan, prevalecem dois tempos: S1 sobre S2 sem a
trata-se de ensinar o analisante a emendar barra do impossível e o tempo dos objetos
seu sinthoma e o real que paralisa o gozo a que, mesclando-se como objetos de um
um gozo possível (Lacan, 2005.p.71) , tempo que se recupera, incide diretamente
afirmando dessa maneira um enodamento sobre o tempo do sujeito, tentando anulá-lo
dos tempos. e convocando-o ao tempo do mais-de-
Na obra de Proust para além do tempo gozar. Tempo bizarro que, buscando
perdido ou a ser redescoberto, o apagar o inapreensível, apresentando-se
extratemporal expõe, a nosso ver, um como factível e assimilável, produzindo
entrelaçamento das três dimensões por um sujeitos “enlouquecidos” pelo tempo,
traço singular e intraduzível: ”(...) o ruído tomados pelo tempo, sem tempo... Objeto
da colher no prato, a desigualdade das a ser consumido, precioso e agalmático, o
pedras, o sabor da madeleine fazendo o tempo é regido por uma contradição
passado permear o presente a ponto de me fundamental, quando não o têm o querem,
tornar hesitante, sem saber em qual dos ao tê-lo devem consumi-lo. No tempo das
dois me encontrava; na verdade, o ser em simultaneidades, algumas crianças aceleram
mim então gozava dessa impressão e lhe demais, já que o tempo é também da
desfrutava o conteúdo extratemporal, desmedida, passando de um objeto e
repartido entre antigo e o atual, era um ser atividade a outros sem que nada lhes
que só surgia quando, por uma dessas detenha a atenção. Os hiper-ativos
identificações entre o passado e o presente, sinalizam os efeitos do real que retorna de
se conseguia situar um único meio por um tempo que desliza sem o sinal do
onde poderia viver, gozar a essência das “basta”.
coisas, isto é, fora do O imperativo de que tudo circule
tempo.”(Proust,1994,p.152). Se o gosto da em um tempo mínimo, com passagens
pequena madeleine, o pisar no calçamento rápidas de um objeto a outro, incide
irregular, os ruídos e cheiros de outrora lhe diretamente sobre a memória. Atualizar,
serviram naquele momento para acalmar os renovar, modernizar em um tempo cada
temores da morte, foi porque, ali ele pode vez mais curto, impõe uma forma de
encontrar um traço singular enodadando os memorização alheia à memória subjetiva
tempos. que demanda um intervalo para que a
Utilizamos “tempos” para indicar as retenção se processe. Uma analisante de 73
traduções possíveis do real do tempo. anos acentua sua dificuldade em memorizar
Tempos que circulam, vão com o temporal, senhas bancárias e números de telefones
aliam-se aos discursos e incidem sobre os celulares ao contrário dos fixos “que têm
sintomas, provocando outras vicissitudes uma lógica”. Entre o fixo e o móvel, uma
da memória. Nos quatro discursos lógica se impõe: cada um é convocado a
formalizados por Lacan, há três formas de memorizar uma gama enorme de senhas
incidência do significante ($, S1, S2) e o para acessar simples transações bancárias.
objeto a que podem se lidos como quatro Uma vez escolhida, deve-se mudá-las
versões do tempo. No DM, nos dois frequentemente para resguardar o sigilo. O
tempos da constituição do sujeito idoso que tende a escolher números ligados
S1(tempo real e intraduzível) e S2 (tempo à sua história é orientado a não fazê-lo,

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pois são facilmente descobertos. Na nova muitos fios sua história de amor, tempo
ordem da memorização instantânea e que não se apaga, à vida que continua.
artificial impera o corte com a história. Na Como falar na falta dos referentes?
contramão do novo, os idosos são Como pensar sem as palavras? Insiste em
convidados a esquecerem suas lembranças falar pelas lembranças, mas não todas; não
e a história, sempre fora dos tempos atuais quer se lembrar da perda, mas apenas do
e, sem espaços para os lutos- cada vez mais que vive do objeto amado. Talvez como
evasivos-, de perdas que se agudizam, Garcia Márquez e Yourcenar, pudéssemos
encontram inúmeras dificuldades para pensar que “(...) a memória dos homens
enodarem os tempos, atualizando sua assemelha os viajantes fatigados que se
memória. Esquecer e deixar cair são desfazem das bagagens inúteis a cada pausa
palavras dos novos tempos que não levam do caminho” (Yourcenar, 1983,p.17), mas
em conta o tempo particular. Esquecidos, não é possível desfazermos de tudo. “Se ao
muitos idosos adoecem, não falam, perdem menos pudesse sonhar com ele!”. Tempo
a palavra ou se agarram “ao seu tempo”. real do sonho, onde o objeto perdido pode
Por essa via, qual o tempo do Alzheimer? retornar tal como foi, sem os limites dos
De imediato poderíamos responder; é um tempos que corroem até as lembranças.
fora do tempo de uma memória que se Mesmo com afasias esse sujeito agarra-se às
apaga, mas qual memória se apaga? lembranças que lhe interessam e isto não a
Da clínica com sujeitos deixa sair do tempo. Para outros, ao
diagnosticados com Alzheimer ou com contrário, na falta do espaço para o luto, o
suspeita dessa patologia, depreendi a buraco aberto com as perdas (marcadas
existência de um ponto singular, já que inicialmente, sobretudo, no corpo, com
todo desencadeamento passa pelo sujeito, buracos substanciais sobre a consistência
que toca um rombo na relação com o imaginária) e o domínio de um real sem o
Outro e que, sem um trabalho de luto- amparo do simbólico e imaginário, impera
movimento que permite enlaçar os tempos, a demissão dos tempos com recuo ao
abrindo as vias ao desejo-, provoca o tempo primordial, real.
desenlaçamento do tempo e da vida. Sem Observa-se que no final dessa via
as emendas às suturas-, possibilitando que crucis dos tempos, vários sujeitos retornam
R.S.I mantenham-se juntos sem se ao tempo do balbucio, pequenos sons
confundirem-, no Alzheimer prevalece a conhecidos, pequenas letras tocadas como
perda gradativa da cadeia e, música, frases escutadas, traços que
consequentemente, a mistura dos tempos e marcados não morrem jamais e encontram-
uma indistinção avassaladora entre RSI. se ainda disponíveis, mas sem os recursos
Sem essas amarras o sujeito tende a se da tradução e da amarração. Se Joyce pode
agarrar a um passado conhecido, como corrigir os erros do enodamento entre RSI
medida protetora contra um real pelo sinthoma de sua escrita, dirigindo-se
devastador. Sem os meios simbólicos e diretamente ao real da linguagem,
imaginários e, portanto, sem retenção do estilhaçando-a, quebrando as palavras e
simbólico e imaginário, persiste um real do fazendo das letras uma invenção original de
tempo que desliza. Restam apenas escrita, do lado do Alzheimer permanece
fragmentos de cada registro, sem relação também um encontro com um tempo real
entre si. Um sujeito com 93 anos acentua (especialmente no final), mas sem
que depois da perda do marido começou a possibilidade de invenção, amarração ou
esquecer os nomes das coisas. Afásica para costura. Essas letras, restos metonímicos,
alguns nomes cotidianos, tenta enlaçar com resquícios da cadeia que se esgarça,
memória de um tempo primordial, talvez

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seja o último recurso a que alguns sujeitos ---------------------. Topologie du temps. O


com Alzheimer se agarram para tratar o Seminário.(1979). In: http://www.ecole-
lacanienne.net/bibliotheque.php
real avassalador desse tempo que realmente ---------------------. O Seminário. O Sinthoma (1975-
desliza e não pára. 76). Rio de Janeiro, Zahar, 2005, p. 90.
MÁRQUEZ, Gabriel. Memória de minhas putas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS tristes. Rio de Janeiro - São Paulo: Record, 2005,p.
FREUD, Sigmund. Carta 52([1896]. ESB, Rio de 14.
Janeiro: Imago, 1977. v. PROUST, Marcel. O tempo redescoberto. São
LACAN, Jacques. O Seminário.Os quatro conceitos Paulo: Globo, 1994.
fundamentais da psicanálise.(1964). Rio de Janeiro, YOURCENAR. Marguerite. O tempo esse grande
Zahar, 1988. escultor. 2ª ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
-----------------------. O Seminário [1972-1973]. Livro 1983.
20: Mais ainda. Rio de Janeiro: Zahar, 1985
---------------------. R.S.I. O Seminário (1974-1975).
Inédito.

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

El psicoanálisis aplicado en la enseñanza originaria


de Lacan
Anibal Dreyzin
acan sostuvo a lo largo de su considerarse las tareas de cada sección con
práctica tres caminos de los pares conceptuales enseñanza y

L experiencia que recorrió sin


cesar: la enseñanza, en su
seminario

1953; la
desde
aunque se publicó desde
práctica
1949,

del
psicoanálisis en su gabinete
en el 5, rue de Lille; y una actividad en el
transmisión, por un lado, trabajo analítico
en intención y en extensión, por otro lado.
Vamos a avanzar aquí algunos
temas relativos al Psicoanálisis Aplicado.
En la propuesta originaria de Lacan
no se trataba con relación a las tareas de la
Sección de Psicoanálisis Aplicado de
Hospital Saint-Anne, donde llevó adelante cuestiones de duración del tratamiento,
de modo ininterrumpido sus célebres y terapia más o menos corta, ni de
demasiado desconocidas presentaciones de valoraciones clasistas del estilo de
enfermos. psicoanálisis para algunos, psicoanálisis
Cuando fundó su primer Escuela, la para muchos según las posibilidades
Escuela Francesa de Psicoanálisis (EFP), materiales o lugares donde se desarrolla.
planteó la actividad en tres secciones, una Se trata de distintos ejes o lugares
sección de estudio de la doctrina y los de inserción de la práctica de los
textos del campo freudiano, una sección de psicoanalistas.
psicoanálisis puro y una sección que llamo Rescatar la perspectiva lacaniana
de psicoanálisis aplicado . cuando fundamentó la sección de
El paralelo y cierto equilibrio es Psicoanálisis Aplicado en su Escuela en
notorio entre los lugares en la Escuela y los 1964 nos resulta de interés clínico y ético
ejes de su experiencia como psicoanalista. en la actualidad pues con el paso de los
Un equilibro en el que sostenía las dos años la articulación original que Lacan
cuestiones que le importaban, practicar el había planteado para estos distintos ejes o
psicoanálisis y mantener abierta la pregunta prácticas de los psicoanalistas se ha ido
qué es un psicoanalista ? Consideraba que desdibujando. A falta de esa articulación
de otro modo la cuestión sería cerrada, y original se ha generado mucho ruido y los
además, desde otros discursos, con otros practicantes, incluso las instituciones
fines. pierden la posibilidad de sostener con
En esta Escuela de Psicoanálisis claridad sus fundamentos. La confusión se
que creo Lacan en 1964 había entonces generaliza. La práctica se degrada y
tres secciones. A su vez, para cada una de finalmente vienen a poner orden en el
estas secciones hay un proyecto de trabajo psicoanálisis desde otros discursos, desde la
específico y orientado desde el Universidad o desde el Estado.
psicoanálisis. Pero allí ya no importará sostener
En modo alguno se trata en estas abierta la pregunta qué es un psicoanalista ?
secciones de grados o degradaciones de la Mucho menos encontrar la respuesta en los
opción lacaniana. En todo caso, podrían análisis mismos y en aquello que de ello

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puedan decir quienes concluyeron la hicimos pie en las estructuras freudo-


experiencia tal como lo propuso Lacan . lacanianas de la subjetividad.
¿ Cómo definía Lacan la Sección de Así fue que nos pusimos las
Psicoanálisis Aplicado ? primeras balizas y condiciones de
Recordemos muy brevemente y posibilidad. Nos propusimos trabajar con
para que ustedes puedan medir la sujetos psicóticos. Es decir, no atendemos
diferencia, que la sección de psicoanálisis en ninguna de las modalidades que
denominado puro en 1964 era aquella cuya desarrollamos y que son de internación y de
actividad era la praxis donde se producía el centro de día a pacientes neuróticos, ni
nuevo analista, es decir, el psicoanálisis perversos. No atendemos pacientes adictos
didáctico. Luego los términos cambiarían a las drogas, alcoholistas, menores
pero seguirá tratándose de la práctica delincuentes ni otras patologías que
analítica que apunta hacia el final de análisis golpean a las puertas. Es decir que la
del cual surge el nuevo analista, aquel de primera pauta está apoyada en un eje
quien la Institución Analítica espera que en nosográfico y de clínica diferencial según
el frescor de ese momento, llamado las estructuras freudo-lacanianas.
momento del pase, nos pueda decir algo Segundo concepto, este muy
sobre qué es un analista, sobre los puntos específico de Lacan que guía nuestro
más relevantes de una cura y del final de un trabajo, el concepto de no-todo, que tuvo
análisis. para nosotros una especificidad clínica de
La sección de psicoanálisis aplicado enorme incidencia.
de la Escuela en cambio, es aquella que Podemos presentar algunas
cobijaba proyectos terapéuticos, llevados declinaciones o consecuencias clínicas del
adelante por “sujetos psicoanalizados o no trabajo con este riquísimo concepto.
por poco se hallen en condiciones de Una de ellas es que trabajamos con
contribuir a la experiencia psicoanalítica” . esta orientación pero que no todos somos
¿ De qué modo ? psicoanalistas, no todos psicoanalizados ni
“...mediante la crítica de sus psicoanalizantes. Damos además el mayor
indicaciones en sus resultados... por la valor a la interdisciplinariedad del equipo.
puesta a prueba de los términos categóricos No todo lo que hacemos es
y de las estructuras que en ellos introduje... psicoanálisis. No somos una institución
en el examen clínico, en las definiciones psicoanalítica sino una Institución de Salud
nosográficas, en la posición misma de los Mental. Consideren ustedes que el
proyectos terapéuticos” . dispositivo es de internación o de centro de
Vamos a desarrollar ahora en este día, es decir que los pacientes están con
trabajo los fundamentos de una experiencia nosotros al menos 15 horas semanales.
que bien hubiera podido en 1964 ubicarse El paciente suele llegar a nosotros con
bajo la rúbrica de la sección de Psicoanálisis diversos trastornos psicóticos o asociados a
Aplicado en la EFP. Plantearemos las psicosis, motricidad deteriorada,
particularmente aquellos conceptos que dificultades cognitivas, abandonos diversos
sostienen nuestra actividad en la dirección ligados a los tratamientos o internaciones
de un Centro de Día y Hogar psiquiátrico psiquiátricas donde sólo importa la
que venimos llevando adelante desde hace compensación dejando de lado cuestiones
pronto quince años . subjetivas o relativas al lazo social y
¿ Cuáles fueron las definiciones del presentan diversos deterioros derivados de
Proyecto terapéutico en cuestión ? la estructura.
Para comenzar, en el inicio de la Tercer concepto que nos guía
experiencia, cuando fundamos la clínica, entonces, - recuerden que el primero fue el

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de diagnóstico estructural y el segundo el no al comienzo de un análisis, así un


de no-todo -, hacemos de secretarios del proceso de admisión de un sujeto psicótico
alienado, de prótesis, de cuarto nudo y en esta Institución puede llevar a comenzar
desde esa perspectiva surgen las estrategias con él en una modalidad prestacional de
terapéuticas. Internación o Centro de Día o no.
Si una de las consecuencias Quinto concepto. Un dispositivo
existenciales de la estructura psicótica es la terapéutico bien construido, una estrategia
segregación, la imposibilidad para el sujeto terapéutica para cada cual. Hay proyecto
de sostenerse en el lazo social, el proyecto terapéutico, hay dispositivos, programas,
terapéutico se orienta allí para paliar esa un territorio balizado que apunta a
inercia mortificante de la estructura presentar una suerte de “ruta principal” . A
presente en el campo de las psicosis. partir de esa consistencia cada paciente
Esto lo hacemos en lo cotidiano de hará fallar el dispositivo a su modo, lo
las actividades que proponemos con gran utilizará a su modo, nos interpelará a su
flexibilidad. Hay para quienes apoyamos modo y según sus tiempos y así se irá
más en tal o cual aspecto, pero en todos los dibujando la estrategia terapéutica para
casos apuntamos a inscribir al sujeto cada cual. Una paciente utilizará el Centro
psicótico en aquello donde el neurótico se de Día de Media Jornada para estabilizar su
inscribe habitualmente solo y el psicótico jornada como esposa, un paciente utilizó
no puede hacerlo. Esto va de la escolaridad los productos de la huerta y el taller de
al cybercafe, del gimnasio a la utilización cocina para ser recibido como novio capaz
del transporte, de la natación a la capacidad de proveer en la casa de su suegra.
de escribir, producir objetos de valor social Cada uno pondrá también en juego
reconocible, reanudar un lazo familiar su particular eficacia subjetiva y nosotros
caído, la lista es tan larga como avatares hay desde la perspectiva lacaniana que nos evita
en la vida de cerca de cuarenta personas. volver a transitar los caminos rebatidos del
Cuarto concepto. La cuestión furor curandis no buscamos su
subjetiva desde el inicio: la inversión de la rehabilitación al mercado capitalista del
demanda desde la admisión. Aún el sujeto trabajo, somos flexibles a la estructura.
autista más profundo tiene la eficacia Sexta. Los talleres, la producción de
subjetiva necesaria para consentir o no a objeto y su subjetivación. En otro lugar ya
una propuesta terapéutica. Desde éste hasta planteamos el debate acerca de la cuestión
el sujeto paranoico en su despliegue y aún de los talleres en el dispositivo . El
en su reticencia cada uno de ellos puede dispositivo interdisciplinario donde se
consentir o no al proyecto terapéutico que despliegan diversos talleres y actividades
proponemos. De allí surge la modalidad terapéuticas, educativas, de socialización e
singular de admisión que siempre inscripción del sujeto en las más diversos
practicamos. Una admisión es entonces un planos de la actividad humana puede tener
proceso, puede llevar un día o tres meses, lugar en ese marco institucional y
dos encuentros al menos, o quince. lenguajero amplio donde también tiene
Siempre más de un tiempo pues un tiempo lugar la psicoterapia o el tratamiento
es el del sujeto traído, a partir de allí hay individual. No para todos o en todos los
que instaurar otro tiempo que inicia la casos, sino allí donde se plantea ya sea
dialéctica de la demanda. Esto es inusual y porque la estrategia terapéutica lo requiere,
genera sorpresas interesantes en algunos ya sea por la demanda del sujeto. El espacio
casos. Así como el sujeto neurótico tiene del psicoanalista no requiere
en la praxis analítica un período de necesariamente de un marco externo .
entrevistas preliminares que pueden llevar o Recordemos la postura de Maude Mannoni

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cuando fundó Bonneil: era de rechazo de La extraterritorialidad del


los dispositivos de talleres y otros que tratamiento individual no es formal. La
desde su ideología antipsiquiátrica en ese demanda surge allí donde está la oferta y
momento rechazaba. El demanda de los esa oferta es posible en el dispositivo.
pacientes fue contundente: los pacientes La palabra encuentra su lugar en
demandaron un dispositivo que incluyera espacios particularizados de la vida
esas actividades rechazadas por la institucional, que no empuja, ni siquiera a la
fundadora de Bonneuil y ésta volvió sobre palabra. El goce empuja, el psicoanalista no
sus pasos reconociendo su prejuicio. Un empuja. El dispositivo terapéutico no tiene
dispositivo todo-psicoanálisis deja a los que empujar.
pacientes librados, en su no inscripción, a la Séptima cuestión. La duración del
inercia de las pulsiones y los libra a la tratamiento. La psicosis acompaña al sujeto
agresividad y la mortificación. Ese no es el a lo largo de su vida. Nosotros no nos
campo para el encuentro con la palabra. hacemos en consecuencia ningún planteo
Nosotros planteamos un dispositivo con de finalización del tratamiento. En todo
talleres y actividades que posibilitan el caso acompañamos al sujeto en el
desarrollo de la subjetivada en las áreas despliegue y nos prestamos a modificar el
cognitiva, de la motricidad, ocupacional y dispositivo propuesto toda vez que eso le
expresiva. Insistimos en la especificidad de es útil al sujeto. Así, un mismo paciente
cada saber y cada práctica. En particular puede estar internado y luego en una
evitamos todas las actividades modalidad ambulatoria o al revés, puede
infantilizantes que hacían a la tradición concurrir todo el día o medio día o tres
asilar y nos vedamos los caminos que veces a la semana, estar internado siete días
conducen a la producción de objetos que a la semana o cinco o cuatro. Lo
reduplican la segregación propia de la fundamental es que el sujeto sabe que nos
estructura, objetos que algunos llaman prestaremos flexiblemente a sus procesos,
esquizofrénicos. Los pacientes en su que cuenta con nosotros.
medida producen objetos de valor de Lo fundamental es que a lo largo
mercado, hay un trabajo apropiación y del tiempo el sujeto sepa más de cómo
subjetivación de esas producciones. En la manejarse con su estructura en la vida.
hora de piscina no se interpreta. En cambio
hay un momento específico para el
tratamiento individual.

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

A brevidade como princípio da eficiência: as


psicoterapias e a clínica do ensurdecimento
Conrado Ramos

m 1937 Freud (1988, p.245) vários recursos são convidados ao tratamento:


escreveu: “sem dúvida é da hermenêutica e codificação da

E desejável abreviar a duração


do tratamento analítico, mas
só podemos conseguir nosso
intuito terapêutico
aumentando o poder da
análise em vir em assistência
do eu”. Essa passagem indica a relação que há
comunicação corporal (facial, gestual,
postural) e do clima de acolhimento afetivo ao uso
combinado de técnicas de relaxamento e
catarse (como socar almofadas); do
planejamento de situações-problema e de
manipulações ambientais para além do setting ao
uso do dispositivo de repetição de frases com
entre a abreviação do tempo de tratamento vistas à reprogramação de sistemas cognitivos
analítico e os dispositivos de socorro danificados e manejos de correção perceptivo-
terapêutico calcados no imaginário e na emocional. Todos esses recursos são
sugestão. As modalidades de tratamento dispositivos clínicos de produção de sentidos,
conhecidas como psicoterapias breves, que códigos de enredamento dos afetos numa
sustentam clínicas ortopédicas, educativas ou imagem cristalizada. Vale dizer que são
de apoio, ao buscarem o alívio imediato dos clínicas da linguagem intersubjetiva, mas no
sintomas assemelham-se à prática médica que, sentido que esses termos ganham ao
após o diagnóstico da “doença”, prescreve a pensarmos na relação especular e na
conduta mais adequada à eliminação do comunicação cibernética.
sintoma (e não ao seu questionamento), o que Se além do princípio de eficiência da
cala o sujeito que deveria escutar. lógica capitalista recordarmos também da lei
A função da pressa, que dentro do geral da cibernética – para a qual num mínimo
tempo lógico nos aponta àquele momento em de tempo e energia consumida um máximo de
que, por um ato de fala, o sujeito se implica informação deve ser tratada (POCIELLO,
deixando-se representar na cadeia de 1995, p.118) –, podemos sustentar a
significantes, fora do tempo lógico, isto é, no existência de uma fórmula comum para os
tempo cronológico linear, corresponde ao dispositivos administrativos de controle e
princípio de eficiência da lógica capitalista que dominação presentes em nossos dias: a
deve alcançar o máximo de produção no associação do grau de eficiência ao número de
mínimo de tempo. Neste caso, nas informações processadas num mesmo
psicoterapias, o equivalente à função da intervalo de tempo195. Quanto maior o número de
pressa assume a forma da brevidade e o informações num tempo dado, maior o grau de
paciente é chamado a produzir tão rápido eficiência. Isto dá à noção de brevidade um valor
quanto puder, devendo, pois, concentrar imperativo cujo adágio mais conhecido é o time
todos seus esforços no foco (ou seja, na is money.
associação não-livre).
Além disso, sob a perspectiva do 195 No. informações processadas
Eficiência = ________________________
aumento da produção num mínimo de tempo, tempo

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Pois bem, quando num tratamento a nota 3) insiste que “é impossível definir saúde,
pressa é retirada de sua função lógica para exceto em termos metapsicológicos, isto é,
responder por sua função social imperativa por referência às relações dinâmicas entre as
(como brevidade), as justificativas da instâncias do aparelho psíquico”.
manutenção dessas opções clínicas não Assim, podemos supor que para
conseguem se distanciar dessa mesma Freud, definir saúde por meios não
fórmula. Invariavelmente, critérios objetivos metapsicológicos, isto é, por benefícios
ou objetiváveis acabam sendo chamados a objetivos ou objetiváveis, leva a psicanálise
responder em nome da eficiência. Neste caso, mais facilmente às práticas ortopédicas
maior é o grau de eficiência de um tratamento adaptativas (torna-se ajustamento segundo
quanto maior o número de benefícios critérios cotidianos). Freud escreve, no
alcançados num mesmo espaço de tempo. mesmo texto, que a psicanálise vai orientar-se
Parecem-nos inevitáveis, então, quatro pelo amansamento das pulsões, ou seja, pela
conseqüências para essas clínicas196: 1) o intervenção no campo das fantasias que
tempo como denominador comum e com sustentam a força das pulsões, e sabemos o
função imperativa nesta proporção quanto as psicoterapias breves, ao contrário,
benefícios/duração; 2) o princípio pragmático vão dar preferência ao fortalecimento do eu,
e relativista da eficiência como a “verdade trabalhando no campo das defesas.
possível” sustentada por essa proporção; 3) é A perspectiva clínica de que os
entre a brevidade (como significante-mestre) e sintomas respondem como crises provocadas
o pragmatismo (como “saber-fazer”) que tais por acidentes externos e que o tratamento
clínicas acabam, em geral, por representar sua deve levar à recuperação dos ajustamentos
eficiência; e 4) é na produção de benefícios cotidianos do eu, remete-nos ao seguinte
mensuráveis que encontram sua justificativa. trecho de Colette Soler (2004, p.48): “A
Estas são as condições nas quais situamos ênfase dada à causalidade traumática da
todos os esforços de formalização presentes neurose nos interessa muito particularmente
no campo das psicoterapias. porque faz do sintoma o resultado de um
Quanto à discussão dos benefícios, na acidente da história, de uma das contingências
condição que adquirem de critérios objetivos da vida, na qual, no fundo, o sujeito, mesmo
ou objetiváveis, precisamos voltar à Freud. com alguma nuança, é essencialmente vítima:
Na parte III do Análise terminável e interminável vítima do mau encontro mais que parte
(finita e infinta), Freud (1937/1988) discute a interessada.”
relação econômica entre força das pulsões e Via de regra, quanto mais os
força do eu, apontando o fator quantitativo psicodiagnósticos pautados pelo modelo
na etiologia da neurose. Este é um ponto médico seguem critérios anamnésicos, mais
muito citado em textos de psicoterapia breve, buscam responsabilizar a causalidade
posto que, se a força do eu diminui, a força traumática e mais “inocentam” o sujeito. Vale
das pulsões têm suas exigências aumentadas, dizer, com Soler (2004), que a medicina e as
decorrendo daí a importância dos fatores ciências naturais conhecem bem o trauma,
cotidianos e objetivos na etiologia das mas desconhecem a fantasia. A psicanálise,
neuroses ou crises e a orientação clínica em por sua vez, por conhecer bem a fantasia,
direção ao eu. Mas o próprio Freud (p.241, coloca em questão o modelo médico calcado
no trauma e toma como uma dimensão ética a
implicação do sujeito na sua neurose. Esta é
196 Aplicando os termos ao discurso do mestre, temos:
uma diferença fundamental porque nos leva a
Brevidade Pragmatismo
___________  _________________ = lógica utilitarista
leituras conflitantes da clínica: se do lado da
do consumo psicanálise, Lacan caminhou para a
Eficiência // Benefícios mensuráveis formalização do ato e da constituição do

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sujeito por retroação, para as psicoterapias reduz o sujeito à sua imagem, perenizando-o
pautadas no modelo médico, os operadores nas relações dos sujeitos recíprocos ou
clínicos conduziram à via psicológica e refletidos do sofisma do tempo lógico, imerso
desenvolvimentista da regressão e à no campo da linguagem em sua acepção
compreensão do sujeito como um dado cibernética aplicada às relações imaginárias
natural. Aqui chegamos novamente às (PORGE, 1994). Estamos no muro da
diferenças clínicas entre tempo lógico e tempo linguagem, a-a’, e na codificação de zeros e
cronológico e às suas respectivas funções da uns, pela qual as máquinas se conversam e os
pressa e da brevidade. psicoterapeutas se tornam surdos ao sujeito
No final de seu escrito sobre o tempo do inconsciente.
lógico, Lacan (1945) nos diz que a pressa em Diante disso, cumpre questionarmos
autorizar-se e reconhecer-se por si mesmo, se a psicanálise que coloca o tempo como
vem em resposta ao medo de não ser imperativo clínico não ruma ao pior. É
reconhecido pelo Outro. Essa posição é preciso opor a ética do desejo ao princípio da
diferente daquela presente na dialética do eficiência, o que nos leva a sustentar o
senhor e do escravo, pela qual, por medo de momento simbólico da linguagem, isto é, a
ser morto, na urgência, o escravo cede e fala, que é estranha às máquinas e à fórmula
reconhece o senhor, oferecendo-se a ele reducionista da cibernética, e que se introduz
como objeto. Ao invés de buscar o “a partir do momento em que o sujeito [do
reconhecimento do outro (desejo de sofisma do tempo lógico] executa essa ação
reconhecimento, tendo a brevidade como pela qual afirma ‘eu sou branco’” (PORGE,
imperativo), trata-se de, também na urgência, 1994, p.77). Mas opor a ética do desejo ao
reconhecer-se por meio do ato de fala princípio da eficiência implica também, e
(reconhecimento do desejo ou a pressa como fundamentalmente, operar pela via da
função lógica). A diferença em relação às duas extração do objeto ª
urgências acima pode ser esclarecida quando
recordamos que “nada há de criado que não REFERÊNCIAS
FREUD, S. (1937). Análise terminável e interminável.
apareça na urgência, e nada na urgência que In: Obras completas de Sigmund Freud: edição
não gere sua superação na fala” (LACAN, standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1988, vol.
1953, p.242). XXIII, pg. 225-270.
As psicoterapias breves, ao pautarem- LACAN, J. (1945). O tempo lógico e a asserção da
se pelo imperativo do tempo e não pela ética certeza antecipada. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1998, p.197-213.
do desejo, conduzem a clínica à lógica do LACAN, J. (1953). Função e campo da fala e da
senhor e do escravo, pedindo que o sujeito se linguagem em psicanálise. In: Escritos. Rio de Janeiro:
ajuste ao seu lugar o mais rápido possível, Jorge Zahar, 1998, p.238-324.
tendo por preço o seu desejo. Por esta via, POCIELLO, C. Os desafios da leveza: as práticas
para o sujeito trata-se de ceder em seu desejo, corporais em mutação. In: SANT'ANNA, D.B. de
(org), Políticas do corpo. São Paulo: Estação
guiado pelo mestre e pelo alívio imediato do Liberdade, 1995, p. 115-20.
sintoma na produção de uma nova posição de PORGE, E. Psicanálise e tempo: o tempo lógico de
objeto ou na correção da posição rompida, Lacan. Rio de Janeiro: Campo Matêmico, 1994.
num campo que é o da direção do paciente e SOLER, C. Trauma e fantasia. Stylus: revista de
não do tratamento. O tempo para psicanálise. Rio de Janeiro: Associação Fóruns do
Campo Lacaniano, n.9, outubro de 2004, p.45-59.
compreender, aqui, se conclui por seu
engessamento quando um máximo de
informações num mínimo de tempo e energia

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

Le couple psychiatrie/psychanalyse :du temps des


amours au temps du divorce ?

Jean-Pierre Drapier

ous sommes passés à structures diverses. Les troubles du


l’époque du trouble qui comportement de l’enfant sont des

N n’est rien d’autre qu’un


tour de passe-passe
sémantique pour
imposer la pensée ( ?)
anglo-saxonne,
« desorder » américain.
le
phénomènes aussi bien compatibles avec
la névrose ou la psychose et qui y trouvent
leurs causes, plurielles comme les sujets. A
contrario LE trouble des conduites est
une entité et surtout une entité a-
subjective, universalisante, qui est plus
cause qu’effet : cause de conduite anti-
Les cliniciens de la vieille Europe,
dont nous nous revendiquons sans aucune sociale ou asociale, de sociopathie etc.…
vergogne, avaient l’habitude d’utiliser le Cause sans cause, objet à dépister,
signifiant trouble , en particulier dans la prévenir, guérir ou réprimer. LE trouble
clinique d’enfant, mais ils l’employaient au n’est pas soluble ni compatible avec la
pluriel : les troubles du comportement, de la clinique, il est plutôt là pour la dissoudre.
relation, les troubles de la parole etc.… Bref, LE trouble n’est ni à écouter,
comme un vrai synonyme de « difficultés ». Ce ni à entendre et encore moins à
pluriel classait simplement ces troubles du côté interpréter : il donne enfin à la psychiatrie
de la description symptomatique ; ils voulaient une nosographie acéphale, jetant encore
dire : tel enfant a du mal dans ses relations, plus le trouble dans le drôle de couple
son symptôme s’exprime par l’agitation qui est qu’elle forme avec la psychanalyse.
UN trouble du comportement etc.… Cela ne
Et pourtant, pendant des décades
disait rien sur la cause du trouble et encore
psychiatrie et psychanalyse se sont tant
moins qu’il était une entité en lui-même. Les
aimées !Elles ont été objet d’amour l’une
troubles sont compatibles avec la
pour l’autre.
psychopathologie, solubles dans une clinique
dynamique. « Et si je t’aime prends garde à
toi ! » Ce sont les paroles de Carmen de
Avec the desorder, LE trouble on
Bizet qui me trottaient dans la tête en
passe à autre chose, à tout autre chose : le
préparant ce texte quand je pensais à
trouble est à lui-même sa propre cause ; la
l’articulation psychiatrie-psychanalyse. Et
simple approche purement
aussi des phrases de Lacan sur l’amour :
phénoménologique et descriptive suffit à
« l’horizon du rapport à l’objet n’est pas
créer de nouvelles entités nosographiques,
avant tout un rapport conservatif. Il s’agit
débarrassés des approches dynamiques
d’interroger l’objet sur ce qu’il a dans le
singulières et pouvant renvoyer à des
ventre…/… Jusqu’où l’objet peut-il

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supporter la question ? Peut-être …/… sujet, Monsieur parle d’hystérie (« il y a


jusqu’au point où la question se confond conversion ou suggestibilité » dit-il)
avec la destruction même de l’objet. » Madame parle d’obsession (« Satisfaction
(1)Rien que ça.Dans l’amour de la impossible » « position mortifère » dit
psychiatrie pour la psychanalyse il y a ce elle) ; lorsqu’elle parle paranoïa au nom du
rapport de curiosité, d’investigation déchaînement de jouissance de l’Autre, il
destructive mais aussi comme dans tout n’y voit qu’hystérie ou schizophrénie
amour une tromperie dans la rencontre, selon les cas. Rappelons-nous le
un malentendu de base : quand le sujet malentendu historique représenté par le
croit dire « je t’aime » il dit en fait : « je cas du Président Schreber : schizophrénie
m’aime à travers toi », et quand il classique en psychiatrie pour sa
demande à l’autre, il ne sait pas que l’autre dissociation, son morcellement et sa
ne peut rien lui lui donner hormis ce qu’il jargonophasie ; paranoïa évidente en
n’a pas. psychanalyse par l’instauration d’un Autre
absolu de méchanceté jouissant sans
Je prendrai quatre exemples des
ménagement du corps du pauvre
amours malheureuses de Monsieur
Schreber.
Psychiatrie et Madame Psychanalyse. Puis
j’essaierai, conformément au thème Malentendu redoublé quand la
d’aujourd’hui, d’augurer du devenir de ce psychiatrie se simplifie la vie en
couple improbable . simplifiant sa nosographie, recourt encore
plus massivement à la phénoménologie
1 – « Je te donnerai une belle
voire aux effets des médicaments pour
nosographie » se sont-ils promis l’un à
établir une classification sans queue ni tête
l’autre au temps de leurs belles
de plusieurs centaines de pages. Le DSM
fiançailles… Et voilà la psychiatrie prêtant
4, rejeton adultérin de Monsieur
son hystérie à la psychanalyse qui lui cède
Psychiatrie, aboutit à des perles
la névrose obsessionnelle, remise en
savoureuses telle celle-ci que j’aime à citer
forme et en raison de la vieille
sans me lasser : « la dépression est ce qui
psychasthénie. La catégorie névrose au
guérit sous antidépresseur » (2) ! Fi de
sens moderne adoptée par la psychiatrie
l’étiopathogénie qui divise, vive la robuste
lui vient directement de Freud et de ses
simplicité de l’effet médicamenteux qui
élèves. Ceux-ci en revanche ont tiré vers
unit les praticiens et les maladies :
eux les psychoses qu’elles soient
pourquoi s’embarrasser de dépression
schizophréniques ou paranoïaques. Une
névrotique ou de mélancolies, alors
langue commune c’est bien pratique pour
qu’avec une telle définition le melting-pot
s’aimer … mais derrière cette rencontre
des « maladies dépressives » sera parfait.
apparente se cache un malentendu de
fond : Dans les deux dernières décennies
La psychiatrie classait à partir de ,ce qu’il y a de remarquable c’est la
signes et de syndromes c’est-à-dire utilisait préexistence chronologique ou logique du
une classification in fine médicament à chaque « invention »
phénoménologique ; la psychanalyse « nosographique » pilotée par les
s’oriente à partir d’éléments structuraux laboratoires. Préexistence logique : « la
tels que le rapport à la castration, la dépression est ce qui guérit sous anti-
fonction paternelle ou le mode de dépresseur » osaient donc écrire dans « les
jouissance, ce qui l’amène à privilégier maladies dépressives » nos confrères Olié,
avant tout le discours du sujet plus que Poirier et Loo. Et dans ce qui se voulait
son comportement. Lorsque,pour tel être la bible de la dépression des années

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90 (480 p. dont de nombreux exemplaires dans la prévention de la psychanalyse :


offerts gracieusement par un laboratoire exit culpabilité, objet perdu et deuil ; exit
pharmaceutique) ils lançaient un pulsion, fantasme et désir ; exit le
découpage de la dépression en dépression symptôme analytique, sa mise au travail et
sérotoninergique ou dépression le transfert – que d’économies !
dopaminergique poussant à ses ultimes
Avouons-le : dans ce couple
conséquences le mécanisme de formation
maudit ce n’est plus un malentendu, c’est
de cette nouvelle nosographie : à partir de
une trahison. Madame Psychanalyse aurait
la pharmacodynamique des médicaments
bien du mal à croire ou même à faire
,ce qui évidemment économise la question
semblant de reconnaître des enfants
de la cause .
communs dans ces rejetons .
Mais aussi préexistence
2 – Il lui avait dit aussi : « aide-moi à
chronologique du médicament, l’existence
guérir tous ces malheureux ». Elle,
de celui-ci entraînant la naissance d’un
vaillante, s’était mise au travail. Et puis,
mutant nosographique : ainsi de la Ritaline
chemin faisant elle s’est aperçue que dans
pour laquelle on a inventé le syndrome
la vie elle n’était pas faite pour soigner
hyperkinétique (HTDA) en piquant
mais pour éclairer, que son éthique était
l’agitation et les troubles de l’attention
celle du bien-dire .
tantôt chez l’enfant dépressif, tantôt chez
En vérité, la psychiatrie n’arrive
l’enfant psychotique, tantôt chez l’enfant
pas à soigner les symptômes du névrosé –
angoissé, en autonomisant ces troubles et
mais elle le croit alors qu’elle ne fait que
en les élevant à la dignité d’une nouvelle
les déplacer ou les masquer. La
maladie. Et puis tant qu’à faire étendons
psychanalyse, avec Freud, pensait y
l’HTDA à l’adolescent et à l’adulte, ça
arriver : pour lui le symptôme est la trace
étend les indications de la Ritaline.
d’un conflit oublié dont le sens est enfoui.
Idem pour les anxiolytiques, C’est donc un hiéroglyphe qu’il faut
insuffisamment utilisées pour les névroses déchiffrer par l’interprétation. Celle-ci
et les psychoses. Alors piquons l’angoisse, suffit à faire céder le symptôme qui a
nommons la syndrome « d’angoisse perdu sa valeur ce compromis ou de
généralisée » ou « attaque de panique » et satisfaction substitutive. Avec Lacan la
en avant les grosses doses. psychanalyse est plus prudente et
Et les antidépresseurs croyez-vous considère le symptôme comme une
qu’il soit raisonnable de réserver ces réponse à l’insatisfaction structurelle du
excellents médicaments à la seule rapport sexuel, comme un autre mode de
dépression, même si on a vu qu’ils la jouissance. Il ne s’agit plus d’un
définissaient ? Et si on appelait T.O.C. les compromis, d’un ratage, d’une clocherie
compulsions obsessionnelles ou mais en quelque sorte d’une réussite qui
psychotiques ? Et si de l’évitement ou de vient combler le sujet – d’où l’amour qu’il
l’isolation on faisait une nouvelle phobie, lui porte… et la robustesse du symptôme.
appelée disons … phobie sociale ? Hé Il ne s’agit plus de guérir du symptôme
bien, on pourrait donner les anti- mais de « faire avec ». Alors, la
dépresseurs à deux ou trois fois leur dose psychanalyse se donne pour but le savoir,
usuelle et puis étendre l’indication aux ce qui n’est pas la guérison mais peut
adolescents et puis aux enfants. Et aussi l’amener « de surcroît » comme elle peut
les donner dans la prévention des troubles conduire à une simple pacification un
maniaco-dépressifs …et accessoirement sujet qui s’assujettit au « malheur banal ».
Quand il dit : »je veux guérir et libérer

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l’individu » et qu‘elle lui répond : »Je vise sophistication du symptôme-jouissance,


le savoir et pour moi la guérison est de maintenant ne la voilà-t-elle pas qui le
surcroît » ,ça ne peut que dégénérer : prive du sens, le précipite dans le hors-
« Trahison », traînée ! lui crie-t-il « Cause sens en parlant de logique de la chaîne
toujours… je t’écoute » répondit-elle. signifiante, raccordant un signifiant non
pas à un signifié mais à un autre signifiant
Sur cette question du symptôme
et cela sans fin…
leur désaccord ne fit que croître. Avec les
Encore un espoir déçu et le couple
médicaments et les thérapies
qui se déchire un peu plus.
comportementales il se pensait redevenu
maître du jeu et, en effet, il assurait ou en 4 – Et puis ils s’aperçoivent un beau
tout cas le croyait. « Tu vois, lui dit-il, je jour qu’ils ne sont mêmes pas d’accord
guéris les névrosés maintenant » « Crétin ! politiquement. Pour lui, il y a un idéal avec
tu masques les symptômes et aggrave des signifiants-maîtres qui le confortent :
leurs destinées ! ». « Ecoute au moins ce soigner, guérir même, protéger (le patient
que je fais avec les neuroleptiques sur les ou la société à l’occasion) … il y croît et il
délires et sur… ». Elle l’interrompt d’un : n’a pas tort puisque c’est sa fonction
« apprends à t’en servir et sache ce que tu même, son être qui s’y trouve engagé. Et
vises, empoté : si c’est faire taire le en effet Il y a une unité entre discours
symptôme et le sujet alors là bravo tu y sécuritaire, discours scientiste et tentative
arrives mais je t’avertis je te quitte. Le de réduire le sujet à l’individu, le corps à
silence des organes, l’homéostase du l’organisme, la thérapeutique au
corps, l’harmonie antérieure c’est bon médicament et le symptôme au silence.
pour la médecine pas pour nous, rêveur. Cette unité est devenu évidente avec le
Tu frappes sur tout ce qui bouge content rapport de l’INSERM sur les troubles
quand tu écrases à bon escient les effets prédictifs de la délinquance : c’était un
de jouissance telles que l’agitation ou les discours scientiste à commande sécuritaire
hallucinations aussi bien que lorsque tu et à solutions sécuritaires faisant appel aux
écrabouilles maladroitement les effets de thérapeutiques scientistes telles les
sujet tels que les délires, les identifications thérapies comportementales et
et autres tentatives de construction » cognitivistes – dont le préalable est la
« Bêcheuse » lui répond-il et il s’en va. (3) réduction du symptôme à un trouble
trans-nosographique, du coup hors-sens
3 – Monsieur psychiatrie a une autre
particulier à chaque sujet et impossible à
récrimination envers sa belle. Il voulait
appréhender d’une manière articulée aux
faire ménage avec elle pour qu’elle vienne
autres symptômes et modes de défense
donner du sens à ce qui n’en avait guère.
propres à chaque structure.
Toujours la même histoire, au début elle
Mais la catin, elle, se la joue
lui a fait plaisir, elle est allé dans son sens
subversive se méfiant des idéaux comme
si j’ose équivoquer . Avec Freud et son
de la peste, de l’universalisation comme
« symptôme – hiéroglyphe », ses traces sur
du discours de la Science et l’accuse, lui,
la neige et son retour du refoulé la vie
de collaborer avec le Maître et son avatar
était belle et ils roucoulaient : on passe du
moderne, le Capitaliste. Déjà que la
signe au sens, du signifiant à son signifié
situation n’est pas facile avec ces derniers
et en avant pour la signification. Mais
qui veulent lui couper les crédits, il se
voilà ,avec Lacan, elle est devenue
demande où il va avec une compagne qui
sophistiquée, compliquée, rebelle à l’usage
n’a qu’une boussole : l’objet cause du
simplifié, quasi domestique qu’il espérait
désir.
d’elle. Déjà il n’appréciait pas sa

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Tout cela fait beaucoup ! D’autant Avec la psychanalyse, il constitue


que dans ce vieux couple s’il y a un un couple conflictuel, basé sur des
rejeton adultérin c’est qu’il y a une malentendus : en somme un couple banal.
maîtresse, d’abord tapie dans l’ombre et Avec les neurosciences il constituerait un
qui maintenant s’affiche sans vergogne. couple tranquille : celui du boa en train de
Elle plait beaucoup à Monsieur car elle est digérer la souris. Pour ma part je préfère
dotée de multiples facettes : Mademoiselle le bruit des disputes, encore mieux celui
Neurosciences avec sa neurophysiologie, de la disputation, au silence de la pensée
sa psycho-pharmacologie, sa neurochimie, et au consensus bêlifiant. C’est peut-être
sa biologie moléculaire, etc.…Et en plus dans cette certitude d’être étouffée puis
la donzelle paraît tellement plus jeune ! digérée dans les tentacules des
Elle va lui donner, via les neuro- neurosciences que la psychiatrie trouvera
transmetteurs et leurs le courage de continuer sa vie infernale
dysfonctionnements, le sens qu’il réclame. avec la psychanalyse et de lui
Tant pis si le sujet risque d’avoir du mal à crier : »reviens ,je te haime »
y trouver le sien, qui passe par la Il y a une remarque à faire sur
reconnaissance d’un certain non-sens. mon petit apologue et que je me suis faite
Rationnel, Monsieur Psychiatrie préfère dans l’après-coup : dans la distribution des
les molécules… au risque de s’y perdre ,de rôles je n’ai pas hésité une minute et ne
perdre son nom pour redevenir Monsieur suis jamais revenu sur la distribution des
Neuropsychiatrie et de disparaître dans le rôles, Monsieur Psychiatrie et Madame
grand corps de la médecine. Psychanalyse.

∃x . Φx ∃x . Φx

∀x . Φx ∀x . Φx

$ S (A)

a La

Φ
la psychanalyse en place de compléter son
manque, de suppléer à l’insatisfaction
La psychiatrie du côté de la
fondamentale qui est la sienne. Dans
position phallique, de celui qui n’est pas
« Encore » (p.75) Lacan n’écrivait-il pas
sans l’avoir et la psychanalyse du côté du
que côté masculin « le sujet n’a jamais
pas-tout. La psychiatrie du côté masculin :
affaire, en tant que partenaire, qu’à l’objet
de ce côté le partenaire est un symptôme
(a) inscrit de l’autre côté de la barre », d’où
et en effet la psychiatrie met bien souvent

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il concluait que pour les hommes « la l’université, d’ailleurs. Mais situer la


conjonction de ce $ et de ce (a) ce n’est psychanalyse du côté féminin c’est aussi la
rien d’autre que le fantasme » ($ ◊ a). La définir comme pas-toute, ayant affaire à
relation d’amour entre Monsieur une autre jouissance que la jouissance
Psychiatrie et Madame Psychanalyse tient phallique. Bref, mettre la psychanalyse du
du fantasme pour lui et du danger pour côté féminin c’est avoir l’idée qu’elle peut
elle car on peut, comme Lacan, se poser la se sauver du piège phallique et du même
question « jusqu’où l’objet peut-il coup sauver son partenaire, la psychiatrie.
supporter la question ? Peut-être …/… Et pourquoi pas, puisque comme le dit le
jusqu’au point où la question se confond poète la femme est l’avenir de l’homme ?
avec la destruction même de l’objet ? »
Et en effet mettre la psychanalyse BIBLIOGRAPHIE :
du côté féminin n’est pas anodin : le 1. LACAN J. : Le Séminaire livre VIII « Le
partenaire pour la femme n’est pas un Transfert » Paris, Seuil, 1991 – p.453
symptôme mais un ravage et on
2. OLIE J.P., Poirier M.F., Lôo M. : « Les maladies
comprend bien pourquoi à la lumière de dépressives »Paris, Flammarion, 1995 – p. XXV
ce que je viens de dire. Alors la psychiatrie
ravage pour la psychanalyse ? Sûrement si 3. cf. L’Enfant et les Sortilèges, VIIIèmes
Rencontres du C.M.P.P. d’Orly, chapitre « Les
elle se laisse piéger à n’avoir affaire qu’au médications du caractère » Orly 1998, Association
phallus du partenaire, éblouir par sa R.O.S.E. éditeur, p.5 à 30.
brillance et au semblant de pouvoir qu’il
confère. Ce leurre a souvent fonctionné
avec la psychiatrie…comme avec

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

Mañana, el Campo Lacaniano


Eduardo Fernández Sánchez

ace cuarenta años, los está entrando en una crisis probablemente


abundantes conflictos de una magnitud inédita en la historia de la

H que

planeta.
atravesaban
mundo hicieron signo a
una primera generación
de posguerra
distintos lugares del

La masiva integración del discurso


el

en
humanidad e intentar comprender su
naturaleza.

El discurso del analista


Pensar la dirección de la cura desde
los discursos nos ayuda a entender de qué
manera el analista puede intervenir para
universitario en el discurso capitalista que el analizante circule por la ronda de los
propició que el sujeto producto del discursos. Nos ayuda a entender que sin
discurso universitario se desvelara histerización, es decir, sin que el sujeto
abruptamente como objeto con la tarea de dividido ocupe el lugar del agente, no hay
valorizarse como fuerza de trabajo, como posibilidad de psicoanálisis. Nos ayuda a
saber-mercancía, destinada al mercado. entender que sin intervención del discurso
Descubrirse como ese objeto le aproximó, analítico el saber producido no ocupará el
interrogó e identificó con aquellos que en lugar de la verdad del sujeto y entonces ni
el mundo eran usados como tales y se los significantes amos que dirigieron al
rebelaban contra ello, los negros sujeto ni otros nuevos aparecerán.
americanos luchando por los derechos Algo homólogo al discurso del
civiles, los refugiados palestinos, los analista emerge cuando en la sociedad hay
jóvenes americanos enviados a Vietnam a cambios de discurso, cuando aparecen
morir matando a otros inocentes, las nuevos semblantes de la causa del deseo y
mujeres sin derechos, los pueblos el plus de gozar y se producen nuevos
oprimidos, los judíos víctimas del nazismo, significantes amos.
los obreros explotados y un largo etcétera. La pregunta que me hago y les
Todo ello empujado por un anhelo de transmito es: ¿de qué manera el saber
“libertad” sexual. La re-vuelta del sujeto depositado por la experiencia del discurso
colocó a éste en la posición de agente del del analista puede contribuir a una lógica
discurso sintomatizando su división. Su colectiva que aborde los inevitables
grito rasgó el silencio de plomo de cambios en y del discurso capitalista
posguerra y los ecos aún resuenan en inherentes a la crisis del sistema que lo
muchos pechos y vientres. sostiene?
Además de la conmemoración de Algunos dichos de Lacan sobre el
goce que implican, recurro a discurso capitalista
estas palabras para destacar la magnifica Dice Lacan en Televisión: “…al discurso
herramienta que Lacan forjó en esa capitalista, yo lo denuncio. Indico
coyuntura histórica: la teoría de los solamente que no puedo hacerlo
discursos. Dicha teoría cobra enorme seriamente, porque al denunciarlo lo
relevancia como herramienta para intentar
anticipar el instante de ver que el mundo

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refuerzo – lo normativizo, a saber, lo trabajo, toda transformación, no puede ser


perfecciono.” más que sobre y de la naturaleza; hecho
El sentido de la afirmación resulta éste que Marx expuso por doquier en su
inequívoco pues es la misma tesis obra y que hoy se nos hace evidente.
formulada sobre el hallazgo de la función
de la plusvalía por Marx. Demostrar que la Crisis energética y cenit de la
plusvalía es la clave del capitalismo, no sólo extracción de petróleo
ha ayudado al capitalista a obtenerla, sino La aceleración del proceso de
que ha hecho de la plusvalía el objeto a producción y consumo de la era industrial
recuperar por el trabajador, transformando ha sido posible, entre otros factores, por la
así la plusvalía en la causa de deseo de toda disponibilidad de una fuente de energía de
una economía. gran valor de uso por su enorme capacidad
Efectivamente, no se trata de energética y, hasta el momento, fácilmente
denunciarlo, se trata de entenderlo a fondo obtenible: los hidrocarburos. El carbón, el
y valorar si podemos estar entrando en el petróleo y el gas, recursos limitados de la
tiempo del “reventón”. naturaleza, han tardado millones de años en
Dice Lacan en la conferencia de formarse.
Milán de mayo de 1972: “(…) la crisis, no La extracción de petróleo se
del discurso del amo, sino del discurso encuentra al límite de su capacidad, es decir
capitalista, que es el sustituto, está abierta en su cénit, y en pocos años entraremos en
(…) discurso astuto pero abocado al la fase de declive. Después de la carestía
reventón. Es insostenible (…) porque no vendrá la escasez.
puede marchar mejor, marcha demasiado Confiar en que el mercado
rápido, se consuma, se consuma, de modo permitirá adaptarse a la carestía, próxima
que se consume.” escasez y a la tasa de agotamiento geológica
futura, pasando la factura a los más
Lo imposible del discurso capitalista desprotegidos en el mundo, constituye una
Podemos formular la pregunta en actitud suicida para las clases medias de los
los mismos términos que emplea Lacan. países desarrollados que son igualmente
¿En que momento nos encontramos vulnerables. El sistema financiero se
respecto a la insostenibilidad y al sostiene en el supuesto de un crecimiento
reventón? futuro.
Nos encontramos, por un lado, con Es difícil hacerse una idea del grado de
una crisis financiera y una crisis de dependencia que la sociedad actual tiene
sobreproducción de mercancías, inherentes del petróleo. Daré dos datos relevantes:
y proporcionales al grado de expansión e 1º) El transporte – necesario para la
internacionalización del sistema; por otro escala en la que están organizadas la
lado nos topamos ya con los límites producción y distribución – depende en
impuestos por la naturaleza a toda más de un 90% del petróleo.
producción. 2º) En la alimentación humana,
El desmentido de la dependencia de cinco de cada seis calorías provienen de la
la naturaleza, producto de la pasión de la energía fósil, y solamente una de la energía
ignorancia, de no querer saber de qué solar directa. La producción agrícola actual
gozamos realmente, comporta la –la llamada revolución verde- depende del
consecuencia de dejar a la humanidad en uso intensivo de maquinas, fertilizantes y
condiciones de gran vulnerabilidad. pesticidas. Además de la dependencia del
La ideología marxista – al contrario petróleo, la posibilidad de aumentar las
que Marx – desdeñó el hecho de que todo tierras cultivables y la disponibilidad de

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agua para regadío están muy limitadas a El intento de sustituir un pequeño


nivel mundial. porcentaje del petróleo por bio-carburantes
Aunque no puedo extenderme aquí repercute inmediatamente sobre la
sobre la imposibilidad de sustitución de los alimentación humana. Si a esto añadimos
hidrocarburos y de disposición de fuentes que, por efecto de la crisis económico-
energéticas suficientes para sostener el financiera, ingentes cantidades de capital se
consumo en un futuro no lejano, les invierten en lo único rentable en estos
aseguro que la crisis energética será un momentos (algunas materias primas,
hecho, a no ser que suceda algo parecido a petróleo y cereales) el resultado resulta
un milagro. inevitable: carestía de esos productos
Los estudios realizados sobre la básicos que se extiende a todo el sistema.
población que podría soportar la Tierra sin El temido estancamiento y recesión
hidrocarburos arrojan unas cifras de entre económicos con aumento de la inflación ha
1.500 y 2000 millones de habitantes. entrado en escena. El inicio del declive en
Espero haber transmitido la extracción de petróleo marcará un punto
suficientemente la magnitud y urgencia del de inflexión con consecuencias de
problema al que más de 6.500 millones magnitud incalculable.
(2.500 en 1.950) de habitantes del planeta Tomémoslo con un poco de ironía,
nos enfrentamos. como afirman nuestros gobernantes la
El discurso tecno-político solución es sencilla. La crisis de
capitalista, amplificado hasta la saturación sobreproducción de mercancías se resuelve
por los medios llamados de comunicación, aumentando el consumo, y la crisis de
se esfuerza en creer y hacer creer en la recursos naturales reduciendo el consumo.
ciencia y la tecnología como si fueran la
divina providencia. Guerra contra el terrorismo, guerras por
Por el contrario, la ciencia y la el petróleo
técnica ponen de manifiesto tanto su La estrategia de las grandes
dependencia de la naturaleza como los potencias se limita a intentar asegurarse el
límites a la transformación de la misma, suministro y controlar las reservas, en la
tanto su incapacidad para sustituirla como medida de sus fuerzas, mediante alianzas
su capacidad para violentarla, agotarla y militares. La militarización y la guerra ya
destruirla. La ciencia y la técnica muestran han comenzado en torno a las grandes
la inviabilidad y banalidad de las grandes reservas, principalmente el Golfo Pérsico.
soluciones que el discurso dominante El control y apropiación de las
promete a través de sus colosales medios reservas de petróleo y de los alimentos
de sugestión. constituyen la estrategia fundamental
Lo posible de hacer para evitar la estadounidense para afrontar la crisis y su
catástrofe a la que está abocada la crisis, propio declive. “Controla el petróleo y
resulta antinómico y antagónico con el controlarás la economía, controla los
discurso capitalista. Confiar su gestión al alimentos y controlarás a las poblaciones.”
sistema que la produce es sencillamente Viene diciendo Henry Kissinger desde hace
suicida. tiempo.
Para desarrollar tal agenda hace
Entrelazamiento de las diversas crisis falta el consentimiento de las poblaciones,
Podemos apreciar ya desde el inicio de la opinión pública, lograda mediante la
de la crisis cómo las medidas tomadas para opinión publicada. Si no se consigue por
paliarla no hacen más que agravarla. medio de la sugestión pacífica, entonces

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una buena dosis de “choque y pavor” hará destrucción campeará a lo largo y ancho del
a las gentes más sugestionables. planeta.
El significante amo “guerra contra La evolución ha dotado a los
el terrorismo”, particularmente islamista ha humanos de amplios recursos para la
mostrado su poder y lo seguirá ejerciendo. supervivencia, pero limitados a los grupos
La población europea rechaza, hoy en día, reducidos y ejercidos sobre otros grupos y
un ataque a Irán. Sin embargo, un criminal especies.
atentado en suelo europeo que Durante este proceso los cambios
“demuestre” el peligro nuclear iraní y su de discurso, el cuestionamiento de los
connivencia con Al-Quds, la haría cambiar significantes amos actuales, la aparición de
de opinión. otros nuevos y la reaparición de antiguos
será una constante.
Escenarios probables y goce mortífero Sabemos que solamente la
Cualquier escenario futuro, incluido aceptación del derecho a gozar del
el mejor, resulta siniestro. usufructo de la tierra y la renuncia a su
Si la recesión económica aplaza el inicio del posesión permitirá devolver esta a las
declive del petróleo la gobernabilidad en el futuras generaciones, pero sabemos
mundo tendrá alguna oportunidad de también lo lejos que los humanos estamos
mejorar y el inevitable decrecimiento de ello.
podría resultar más regulable. Más probable
será que eso no ocurra e incluso que la El campo lacaniano y la teoría de los
situación se agrave como consecuencia de discursos
las luchas y guerras por el control de las El concepto de campo lacaniano,
reservas especialmente de petróleo y como campo del goce, y la teoría de los
alimentos. discursos constituyen una valiosísima
El escenario más probable resulta contribución del Psicoanálisis a la
ser el de un mundo donde la crisis posibilidad de pensar y anticiparse, sin
sistémica, la de recursos especialmente precipitarse, en alguna medida, a lo que está
energéticos y la medio ambiental se por venir.
entrelacen y potencien entre si. Es En todo caso, sea probable o
previsible un proceso de colapso improbable la hipótesis de escenario que he
progresivo de los distintos niveles de la descrito, la prudencia y sensatez aconsejan
compleja organización social mundial, de que sea tomado en consideración y puesto
reordenamiento de nacionalismos a prueba.
enfrentados, de migraciones y Les propongo, en palabras de
desplazamientos masivos, de Lacan, una primera herramienta:
empobrecimiento, carestía, escasez, “… quizás si la gente trabajara un poco, si
epidemias, hambre y guerras. Algunas verdaderamente interrogaran el significante,
zonas del mundo, (entre ellas el funcionamiento del lenguaje, de la misma
Latinoamérica) si alcanzan un alto grado de manera que lo interroga un analizante
integración, podrían librarse de lo peor entonces quizás saliera algo.” (Lacan,
La pulsión de muerte desanudada y Conferencia en Milan, mayo de 1972).
manifestada bajo su forma de odio y

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

Há, ainda, tempo para a Psicanálise?


Sérgio Marinho de Carvalho
ciência moderna provocou porque a ciência natural moderna e a
transformações ordem social capitalista dominante têm

A fundamentais no eixo de
compreensão que o homem
possui de si mesmo. Até o
fim da Idade Média era o
poder da religião que
dominava as mentes
humanas. A ciência moderna, por sua vez,
uma origem histórica comum”.198 Para
Kurz, a prevalência das ciências naturais
como o modelo de ciência tem sua razão de
ser no desenvolvimento do sistema
capitalista na medida em que elas
“forneceram um paradigma de
‘objetividade’ sem sujeito”. Isso permitiu ao
trouxe à baila uma nova concepção de capitalismo atingir seu estágio atual de
autoridade. A querela envolvendo Galileu é transformação em que tudo é
um momento exemplar dessa questão e intercambiável e tem um preço bem
marcou o conflito radical entre um definível.
principio de autoridade calcado no Do ponto de vista da ciência, esse
enunciador – o poder temporal da Igreja – processo culminou na “medicalização da
e um princípio de autoridade fundado na vida”, isto é, na difusão social, mediante o
lógica interna dos enunciados, discurso da ciência, de que os problemas
independente do enunciador, que passou a habituais da existência humana, que causam
caracterizar o novo saber emergente, a angústia, sofrimento, desamparo, etc, são,
ciência. A ciência, e o discurso que lhe é na verdade, oriundos de disfunções
subjacente, criaram uma nova situação bioquímicas perfeitamente corrigíveis
social caracterizada pela substituição da mediante o devido diagnóstico e a devida
relação mestre-sujeito por uma relação prescrição médica. Essa “coisificação” da
saber-sujeito.197 Esse novo saber não possui existência humana, tal qual promovida
um enunciador mas estrutura-se nas leis e pelas ciências biológicas, é concomitante à
relações lógicas que lhe são próprias e que “coisificação” da existência humana
independem de qualquer autoridade promovida pelo sistema capitalista. Lebrun
enunciadora. Esse aspecto é bastante salienta que a contemporaneidade é
relevante pois aponta para o fato de que o determinada pela substituição das
sujeito, no discurso da ciência, é excluído. ideologias antigas pela ideologia da
Outro aspecto importante a ser tecnociência: “(...) Doravante, não há mais
salientado é que o surgimento da ciência necessidade de projeto para sustentar a
moderna coincide com o surgimento do existência, nem de recurso ao mito para
modo de produção capitalista. Quem inventar o sentido, não há mais necessidade
aponta com clareza essa questão é o de reconhecer ao Terceiro seu lugar (...)”.199
sociólogo Robert Kurz. Diz ele: “O triunfo De fato, não se trata de que não existam
da ciência natural sobre o pensamento mais ideais, mas que o ideal adquiriu
crítico da sociedade e sua entronização conotações negativas, isto é, o ideal é não
como "a ciência não é obra do acaso. Isso
198 Kurz, R – O Homem reduzido. Folha de São Paulo – 3.10.1999.
197 Ver Lebrun, J-P. – op. cit., pág. 53 199Lebrun, J-P. – op. cit.; pág. 132

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ter ideal algum, é ser, simplesmente, dessignificantizado – torna-se a sede desse


conforme aquilo que se apresenta. Com gozo sem simbólico.
isso, o sofrimento humano desprende-se da Uma outra conseqüência desse
frustração provocada pelo registro do processo pode ser constatada na
Simbólico e liga-se, justamente, à recusa em progressiva necessidade de reconhecimento
aceitar os limites que o Simbólico impõe. A imaginário por parte do sujeito – antes
incerteza e o risco, que movem o desejo, sustentado e garantido pelo simbólico. Essa
são atacados, tanto quanto o tempo da necessidade de reconhecimento imaginário
espera. Em seu lugar surgem “as categorias tem como característica tornar o outro uma
de segurança e de imediatez sem limite, já mera prótese contra a angústia,
que estas são abusiva e enganosamente comprometendo sensivelmente a
prometidas pelos implícitos de nosso capacidade de construção de laços sociais
social”.200 Em especial, pelo discurso da estáveis.
ciência, que torna o sujeito reivindicador, “Seguramente, nos lembra Lebrun,
na medida em que promete o “tudo é podemos pensar que, no fim das contas,
possível”. Dessa forma, o sujeito é posto sempre foi assim, que a alteridade sempre
como credor insistente de uma dívida que foi traumática, o que é verdadeiro, mas o
não é, contudo, passível de simbolização. que parece atualmente novo é a amplitude
Esse processo de avanço do da reação que ela suscita, é considerar que
capitalismo para as esferas mais íntimas da esse traumatismo não deveria ter
subjetividade permitiu a ingerência do acontecido; tudo se passa como se tivesse
discurso da ciência naquilo que sempre havido não só o apagamento da diferença,
esteve fora de seus domínios. A mas apagamento do apagamento; e quando
subjetividade, de um lado, se coisifica, a diferença, entretanto, é encontrada,
então, em neurônios, em bioquímica, em assistimos seja a um comportamento de
genética, e, de outro, se imaginariza, num esfolado vivo, seja à indiferença
processo complementar ao primeiro, absoluta”.201 Nesse contexto, em que o
tornando virtual as insígnias do ser, num Outro é visto como quem oferta bens e
simbólico que não marca mais a falta-a-ser objetos de satisfação (capitalismo); ou que
mas que, ao contrário, alimenta uma diz que nada é impossível (ciência), o
promessa de “tudo é possível”. sujeito depara-se com a ausência de
As chamadas “novas patologias” referências. Isso provoca uma invasão de
relacionam-se, então, “a uma defesa contra gozo e o outro adquire, não raras vezes,
a desordem conseqüente à desinscrição do características meramente operacionais.
significante fálico”. Trata-se de uma Se as chamadas “novas patologias”
tentativa de se desembaraçar do terceiro são, na verdade, formas contemporâneas de
através do desembaraçamento do pai. O se evitar a castração, há aí uma diferença
movimento realizado pelo sujeito, então, fundamental: os discursos da ciência e do
intenta desfazer essa relação com o capitalista fundam um simbólico virtual,
terceiro, num correr da cadeia significante, calcado basicamente na troca e no
sem ponto-de-estofo provocado pelo estabelecimento de imagens. O simbólico
recalque. A conseqüência desse processo é de uma época marcada pela religião era um
a produção de um tipo de gozo mais ligado simbólico de todos, “coextensivo à
à imediatez e menos às representações do humanidade, preexistente a todos nós, não
simbólico. Com isso, há uma ênfase na pertencente a ninguém”. Isso permitia ao
economia dos signos e o corpo – sujeito se situar numa genealogia que lhe

200 Lebrun, J-P. – op. cit.; pág. 132 201Lebrun, J-P. – op. cit.; pág. 168

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era própria; fundar sua sexualidade em qual, no entanto, procede; seguramente,


termos que não se resumiam ao mero não pode chegar a isso, é uma
biológico do corpo, o fazer devedor impossibilidade estrutural (...)”.204
perante a linguagem; ou seja, lhe permitia Havendo uma impossibilidade
lançar-se no social tecendo inúmeras estrutural, a realidade trabalhada pela
relações. O simbólico essencialmente ciência e o Real não se confundem jamais.
virtual, introduzido pelos discursos Se, de um lado, isso alimenta o discurso da
dominantes, destrói “a falta comum a ciência (real e realidade se equipararão um
todos” e esgarça o tecido social.202 Para dia); de outro, delimita o lugar de onde a
Lebrun isso representa um germe totalitário psicanálise pode trazer algo de novo, algo
presente no discurso da ciência que, que permita desconstruir esse discurso,
“liberando-se da obrigação mítica do Pai, ressaltando o lugar do sujeito.
crê poder liberar-se da lógica do terceiro”. A função da psicanálise, portanto, é a de
O discurso da ciência “destitui a ressaltar o lugar do sujeito, contrapondo-se
legitimidade da autoridade e que, por à função da ciência e de seu discurso.
abandonar sua tarefa de refletir o caráter Lacan utiliza o termo constituição
fundamentalmente decepcionante da do sujeito para marcar o caráter de
ordem simbólica, se mostra dessimbolígeno positividade que ele possui. O sujeito, para
e que, por esse fato, não constitui mais a psicanálise, não surge da interação de
limite para um imaginário desvairado, exterioridades, mas, ao contrário, ele se
favorecendo, assim, a vitimização tanto constitui. O sujeito “é a prova positiva e
quanto a inflação das expectativas”. 203 concreta de que é não apenas possível
Estabelecido o quadro sócio- como absolutamente exigível e necessário
psíquico contemporâneo, resta-nos, a que se conceba o vetor em torno do qual se
seguir, tentar traçar algumas possibilidades organiza o campo de atuação da psicanálise
de atuação do psicanalista. Parece-nos que como tendo um modo de produção que
a intervenção do psicanalista (ou do saber não é nem inato nem aprendido”.205
psicanalítico) no ambiente social – em O sujeito tem sua origem na
sentido amplo – é cada vez mais necessária linguagem. Não é o caso aqui de nos
em função dos processos patologicamente depararmos com o desenvolvimento da
desagregadores mencionados até aqui, cada teoria do sujeito em Lacan, mas faz-se
vez mais dispersos e mais intensos. necessário apontar o caráter social de sua
É preciso salientar, antes, que a teoria. Isto é, a psicanálise é antes de tudo,
ciência e seu discurso, falham. A ciência articulada ao mundo social. O bebê
não é capaz de tudo dizer sobre a verdade humano só se transforma em um sujeito
das coisas ou da verdade do homem. Como humano se for inserido numa ordem
nos recorda Lebrun, “com efeito, ali onde, familiar e social específica. A esse
antes de seu nascimento, Real e Simbólico desamparo de base deve corresponder uma
estavam intrincados, o que o ‘projeto resposta. Essa resposta, como sabemos
matemático da natureza’ instala é um desde Lacan, provém do Outro. Esse
Simbólico que, sozinho, doravante, Outro, no entanto, deve ser encarnado,
elidindo a enunciação, pretende dar conta deve ser alguém, deve, antes de tudo, ser
do real (...); um real com o qual, a partir de capaz de representar a ordem simbólica. É
então, a ciência não para de querer a partir desta ordem simbólica que chegam
coincidir, ‘esquecendo’ a intrincação da
204Lebrun, J-P. – op. cit.; pág. 61
202Ver Lebrun, J-P., op. cit.; pág. 169 205 Elia, L. – O Conceito de Sujeito – Jorge Zahar Editor – 2004 – Rio de
203 Lebrun, J-P., op. cit.; pág. 170 Janeiro; pág. 36

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ao bebê humano os significantes – marcas relacionadas à compulsão para com o


materiais e simbólicas – que “suscitarão em objeto – isto é, ao consumo desenfreado e
seu corpo, um ato de resposta que se a busca incessante por um objeto de
chama de sujeito”.206 Os significantes satisfação plena -- procurando ressaltar
recebidos, portanto, gerarão respostas de significantes que permitam separar o sujeito
sentido que constituirão o novo sujeito. da procura por satisfação imediata, que
Esse sujeito, que nenhuma relação representa uma submissão não questionada
possui com a biologia, é o que nos ao gozo do Outro.
caracteriza como humanos. É esse sujeito Esse Outro contemporâneo impõe
que está sendo ameaçado pela lógica dos fidelidade ao consumo desenfreado e se
discursos capitalista e da ciência pois, como apresenta como todo poderoso, um Outro
discursos da cultura, emitem, através do não barrado, nos termos lacanianos.
Outro, significantes enrijecidos e Do ponto de vista social, cabe aos
comprometidos com uma lógica analistas uma militância em nome do
“coisificante”. Essa lógica, como vimos, sujeito. Não se trata, evidentemente, de
tenta inserir o próprio sujeito numa cadeia uma militância política qualquer, mas de
de objetos consumíveis. Reside aí o risco uma inserção social que lhe permita fazer
dos fenômenos culturais contemporâneos e circular o discurso da psicanálise. Trata-se
suas respectivas conseqüências, refletidas de ocupar um lugar não previsto na lógica
na eclosão dos “novos sintomas”. Se do mercado e da ciência mas fundamental
observarmos bem, verificaremos que esses para sustentar laços sociais consistentes. Ao
sintomas caracterizam-se pela progressiva fazer isso, a psicanálise marca seu caráter
dessubjetivação, isto é, pela ausência de de resistência aos discursos dominantes.
referências a qualquer processo de Resistência do sujeito que requer a
subjetivação. Isso gera a emergência de um resistência de um lugar que possa ser
gozo sem limites e o único remédio para Outro, barrado e simbólico.
isso, como sabemos, é o desejo. É o desejo
que faz barreira ao gozo e é o desejo que
faz barreira à emergência da angústia. E o
que assistimos hoje é justamente a
dificuldade de lidar com a dimensão do
desejo.
A psicanálise, portanto, possui a
função de legislar sobre o gozo, isto é, “(...)
introduzir significantes que separem o
sujeito e suas demandas da busca de
satisfação imediata, estabelecendo uma
nova posição subjetiva que se efetive pela
via do desejo e não por uma submissão
passiva ao gozo do Outro”.207 O que a
análise tem a fazer, como lembra Ocariz, é
resgatar o direito à singularidade dos
sintomas. Garantir a construção de uma
singularidade do sintoma consiste em
trabalhar as relações contemporâneas

206 Elia, L. – op. cit.; pág. 41


207Ocariz, M. C. – op. cit.; pág. 109

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________________________________________________▪ A psicanálise no discurso capitalista

Amor y presura capitalista


Jorge Zanghellini
época nos grita, plena de Y si es así, puede hablarse de amor
gigas de aumento diario, como si su definición fuera sin tiempo?

L que es de la velocidad de
aquello que no es posible
moderar. El impulso veloz,
a contra los duelos y contra
las relaciones de amor,
justamente cuandio amor y
duelo son imposibles sin tiempo.
Pensar primero si aquello que se
llama amor en la época ¿qué supone? dados
estos rasgos del tiempo capitalista, no si es
necesario para dar cuenta de ese lazo,
llamarlo apego romántico, como hace el
cognitivismo.
El APEGO es una propiedad de las
Es un lugar común sostener la diferencia en relaciones psicosociales donde un sujeto
la escena de amor de la época respecto a más débil y menos capaz confía en la
otros tiempos asi como dar cuenta de los protección que le brinda otro sujeto más
sin tiempos de todo lazo al otro. competente y poderoso. Ambos sujetos
Pero así como en esa famosa desarrollan vínculos emocionales
melodía de la película Casablanca, '''As recíprocos y construyen una representación
Time Goes By''', el así pasan los años, interna de la relación vincular. La
película del año 1942, el tema ya había sido representación mental interna que
estrenado en 1931 en una obra musical de construyen los infantes es denominada por
Broadway. La primera estrofa del tema un científico cognitivo ,Bowlby, ¨ working
original, es el siguiente: El día y epoca que model ¨.
estamos viviendo Bowlby (1982) considera que los
Nos da causa de aprehensión sistemas de apego infantiles son similares,
Con velocidad y nuevas invenciones en su naturaleza, a los que más tarde se
Y cosas que gustan de la cuarta ponen en juego en las relaciones amorosas
dimensión y, en realidad, señala pocas diferencias
Terminando de hacer referencia a entre las relaciones cercanas, sean éstas
Einstein y su teoría y la necesidad de bajar entre padres e hijos o entre pares.
nuestra ansiedad al tiempo que pasa. Ainsworth (1991) remarcó la función del
Después vendría You must remember this sistema de apego en las relaciones adultas,
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh. The enfatizando el fenómeno de base segura
fundamental things apply como un elemento crítico a ellas. Una
As time goes by. relación de apego seguro facilita el
YA FREUD lo precisaba en los funcionamiento y la competencia exterior a
años diez. ella misma.
Pero es que los mismos albores del El concepto de apego permite des-
siglo veinte nos trajo el empuje al vértigo o subjetivar lo que en el amor supone el ser
es que ello no es solo consecuencia de la implicado.
tecnociencia y si, una consecuencia de la Sostienen los cognitivistas que : Un adulto
misma lógica capitalista, donde el tiempo muestra un deseo hacia la proximidad de
regido no es el propio del sujeto sino lo que figuras de apego en situaciones de malestar.
conlleva la necesariedad del mercado? Siente bienestar ante la presencia de esa

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figura y ansiedad si ésta es inaccesible. La Award de la Asociación Norteamericana de


aflicción es esperable ante la pérdida de una Antropología y a la que se considera una
figura de apego.( Simpson, Steven Rholes, autoridad en las cuestiones del amor
1998). romántico, Helen Fisher208 plantea que…
De allí que pueda hacerse una Amamos porque, hace millones de años,
clasificación en relacin acuatro formas de nuestros ante apasados necesitaban ese
apego que sew denominan seguro, ansioso, flujo cerebral, estos impulsos y
evitativo y temeroso. En el estilo seguro, sentimientos para dirigir su cortejo,
las personas tienen una buena imagen de sí apareamiento, reproducción y paternidad.
misma y del otro, por lo tanto se sienten El impulso del amor está profundamente
dignas de captar la atención y el amor de imbricado en el cerebro humano. Por lo
los otros y esperan que sus expresiones de tanto, el amor es una necesidad fisiológica,
amor sean bien recibidas. En cambio, los un instinto animal y también el resultado de
de estilo despreocupado tienen una imagen un flujo químico en el cerebro.
positiva de sí mismos pero negativa de los Se trata de sustancias que campean
otros, lo cual los lleva a autoprotegerse de por las llanuras del cerebro, subsidiadas por
desencuentros amorosos, evitando la necesidad animal, sin otra significación
relaciones muy íntimas y manteniendo el que el instinto. Luego vendrán las palabras,
sentido de independencia. Los lo que se llama la subjetividad a vestir ese
preocupados muestran un modelo negativo real de la pura química. La ciencia, ha
de sí mismo y positivo de los demás: se podido por fin reducir los brillos tontos del
esfuerzan continuamente por ser aceptados amor a la nominación de sustancias que
por otras personas, altamente valoradas por son causa.
ellos. Finalmente, los miedosos o inseguros Y la principal, la dopamina.
tienen modelos negativos de sí mismos y de En el amor todo es química? Sin
los otros, por lo cual tienden a evitar duda. Cada vez que pensamos, tenemos una
relaciones románticas firmes. motivación o una emoción, siempre se trata de
Las personas que están expuestas química (de la dopamina, uno de los estimulante
socialmente a mayores niveles de estrés más poderosos de la naturaleza, por dar un caso);
especialmente paternidades de tipo sin embargo, por más que se conozcan todo los
insensitivas, ambientes físicamente ingredientes del pastel amoroso …
violentos y graves inconvenientes Como se ve, no faltan las
económicos tienden a desarrollar estilos de metáforas, a pesar de que toda causa sea
apego inseguros asociados con estrategias química. El pastel amoroso, tiene los
de elección de pareja de corto plazo. ingredientes de las sustancias dulces y
Sujetos de contextos sociales con saladas, pero su forma depende de cómo
estrés más bajo, como personas que viven ello se organice. Y para tal efecto, quienes
en culturas con amplios recursos, tienden a serían lo mejor, sino los encargados en el
desarrollar estilos de apego romántico mundo capitalista de dar forma a los
seguros asociados con estrategias de objetos deseables: las agencias de
elección de parejas monógamas. publicidad.
Lo mismo sucedió al comparar el En el mundo complejo entonces
producto bruto: encontraron que un PBI del apego romántico, intervienen los
per cápita alto estaba asociado con bajos antropólogos académicos, los químicos de
niveles de apego despreocupado. las farmacopeas importantes y las agencias
Otra intelectual, muy celebrada en
el ambiente académico estadounidense y 208 FISHER. H. POR QUE AMAMOS? Editorial: Punto De Lectura. Buenos
que ha recibido el Distinguidhed Service Aires. 2007.

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de publicidad.Es indudable la asociación con la lógica cuantitivista y hacia lo que


complementaria entre las definiciones tiende el mercado.
cognitivistas del amor y la política de los Esos elementos químicos, posibles
grandes laboratorios.Porque quizás los que entonces de ser elaborados permitirá la
no están nominados como integrantes del próxima modificación de los males de
pastel son los psiquiatras y psicólogos amor.
cognitivos que tienen su ubicación El contrato capitalista impulsa a
fundamental cuando el pastel, a lo sumo, hacer del otro del amor, incierto e
18 meses después(según serias inaprensible, de una consistencia definible y
investigaciones), comienza a derruirse, de un valor preciso, como bien diría un
cuando las migajas adquieren mala imagen, psicólogo científico. El otro del apego será,
cuando los olores evidencian que algo dejó en una elección adaptada a la lógica de la
de ser perfumado y brilloso. Las globalización, un otro con ropajes de Dior
investigaciones sobre la dopamina y otras y con esencia de caja de seguridad. No es
sustancias, llevan sostener conclusivos, a no acaso la principal cuestión, para el mercado,
pocos investigadores como Ortiz Quesada las cuestiones de seguridad? De allí que el
(cirujano mejicano) que "cuando dos personas amor es anticapitalista en tanto que pone
se atraen sexualmente, una cascada de en juego el no tener con la falta en ser. Por
neurotransmisores recorre su cerebro y su cuerpo. ello, de uno u otro lado, un-amor es lo que
Tales agentes son oxitocina, fenilenetilamina, hace suplencia en la escena de negociación
adrenalina, noradrenalina, serotonina, dopamina, de la diferencia y donde se dirimen las
vasopresina, endorfina, así como las hormonas elecciones subjetivas. De allí lo que
sexuales testosterona y estrógenos. Es decir, que comporta la tesis lacaniana devenida del no
si se explica que es el amor, es cuando la hay relación proporción sexual. Valentía
serotinina no es más del 40% y el amor ante fatal destino. Es el enfrentar esa
loco, pasional con el exceso de dopamina. valentía la posición fuerte del psicoanálisis
En cambio, cuando usted se queda con la en la época y el lugar posible para una
misma persona por tiempo considerable, clínica de la in-pareja lacaniana: el hacer
es la presencia de una determinada tasa de falta al tiempo.
ocytocina, llamada la hormona del amor.
Está muy claro que el amor es entendido

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TRANSVERSAL DO CAMPO
LACANIANO

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___________________________________________▪ O tempo da matéria do ser vivo, do sujeito

Tempo e ser, segundo a Ontologia de Martin


Heidegger.
José Eduardo Costa Silva
empo e ser são ordem do ser, propriamente, isto é, o ser
necessariamente pensados em seu sentido ontológico. A partícula é

T em conjunto. A percepção
do tempo ocorre mediada
por uma determinação do
ser. Em contrapartida, a
determinação do ser ocorre
segundo uma concepção do
tempo. Este postulado se converteu na tese
não é determinável, posto que é a condição
de determinação da ação de determinar. Ela
não se dá às operações do tipo
significante/ significado e muito menos se
refere a algo substancial ou que tenha a
estrutura de coisa. A partícula é é em si
mesma tautológica. Dela podemos dizer
central da obra Ser e Tempo209 de Martin apenas: o é é! Lembramos de alguns versos
Heidegger: “O tempo é a chave de do Tom Jobim. Em um primeiro momento
compreensão do sentido do ser.” Tecemos da letra de Águas de Março ele canta: É pau, é
alguns comentários sobre essa tese. pedra. Em um momento posterior ele canta:
Detemo-nos, inicialmente, na Pau, pedra. Note-se que, no contexto da
expressão: sentido do ser. No conjunto das canção, cantar é pau, é pedra é o mesmo que
articulações que compõem a ontologia cantar pau, pedra: a partícula é está implícita
heideggeriana, essa expressão demarca um na palavra. Em síntese, pau e pedra
modo de indagar o ser, distinto dos modos correspondem ao ser determinado como
exercidos pela tradição metafísica. O ente. E a partícula é corresponde ao ser na
sentido do ser expressa a articulação de forma de sua própria indeterminação.
uma diferença em sua própria estrutura. O
ser é, por um lado, o que abrange a Segundo Heidegger, a determinação do ser
totalidade de todas as coisas que são é histórica. No ensaio A Origem da Obra de
apreendidas pela linguagem, ou seja: o ser é Arte, Heidegger enumera os modos
o ente. Por outro, o ser é um modo pelo históricos da determinação do ser no ente,
qual o próprio ente vem à luz, fornecendo- que são: na Antiguidade, Idéia (eidos) e
nos sua própria determinação. O ser é o substância (ousia), na Idade Média, ente
que dá suporte à linguagem, tornando-a o criador e criatura; na Idade Moderna, o
elemento primordial do pensamento e, por cogito. Essa história tem o seu momento
conseguinte, de todas as operações mais recente no pensamento de Nietzsche,
significadoras. que determina o ser como vontade de
Tomamos, por exemplo, a poder. Percorremos brevemente cada uma
expressão S (sujeito) é P (predicado). S e P são dessas determinações, buscando reter suas
da ordem do ente, posto que são respectivas articulações com o tempo.
determinados pela linguagem. O que é da No Timeu, Platão determina o ser
ordem do ente é o ser em seu sentido como Idéia (Eidos). A idéia é da ordem do
ôntico. A partícula é, por sua vez, é da inteligível, que escapa à transitoriedade do
vivente captado pelos sentidos. Ela não
perece com o tempo, posto que transcende
209 HEIDEGGER. Sein und Zeit, Ser e Tempo, trad. de M. de Sá Cavalcanti (2
vol). RJ: Vozes, 1988. Introdução, parágrafos 3 e 4.
à existência temporal. Sendo imperecível, a

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Idéia está livre de qualquer imperfeição. Ela quatro causas”.210 Em linhas gerais,
é o em si mesmo e como tal é parâmetro de Aristóteles identifica duas causas que são
valoração de si mesma. A Idéia é, portanto, intrínsecas ao ente, as causas material e
real, universal, única e imutável. Por formal, e duas causas extrínsecas: a
exemplo, uma idéia de cadeira sempre será eficiente e a final. A causa material é o
uma idéia de cadeira. Dialeticamente sujeito permanente, do qual parte o
contraposta à ordem do Inteligível, há a movimento. A causa formal é o termo de
ordem do Sensível. Uma cadeira é, nessa chegada, que estabelece um novo estado de
concepção, a realização sensível de sua perfeição. A causa eficiente (energéia) é
respectiva idéia; cópia de um paradigma aquela que leva a causa material à causa
ideal. E como é imperfeita, está submetida formal. E a causa final é a que orienta o
aos fenômenos de geração e corrupção. A objetivo final do movimento ontológico,
realização do sensível ocorre em função da ou seja, é o princípio imanente da matéria
finalidade do inteligível. Embora o sensível (physis). A dinâmica concernente às quatro
seja uma realização imperfeita do causas se expressa na divisão do ente am
inteligível, há entre eles uma relação de ato e potência: o ente existe efetivamente
verossimilhança. E é esta relação que dá em ato (forma) e potência (essência
sustentação ontológica aos juízos e material que foi determinada pelo ato). A
discursos. potência é a capacidade real para o que se
Assim, Platão situa ser e vir-a-ser determina na forma do ente, é o puro
em dois planos distintos. O ser é o possível que convive com o ato e não cessa
paradigma imutável do vir-a-ser, do no ato. O movimento ontológico, por sua
existente sensível dinâmico e transitório, vez, é a prova da existência do ente em ato
cujo movimento é guiado pela sua e potência, existência que é concreta e
realização verossimilhante em relação ao singular.
modelo inteligível. É daí que Platão Portanto, a causa é o princípio do
formula o seu conceito de tempo: tempo, ser; de onde ele procede como unidade
em sua expressão negativa, é algo que não é entre o sensível e o inteligível. Enquanto os
propriamente da ordem do real posto que sentidos, com a mediação da alma,
não pode existir na eternidade da idéia. observam as causas, a inteligência entende
Platão dissocia a noção de tempo da noção as causas, estatuindo esse entendimento da
de eternidade. Tempo é, em sua forma observação do ente. O ser é a parte
positiva, a medida da transformação do imutável, a essência que, no plano
transitório, ou seja, do que se gera e inteligível, deve converter-se em conceito
corrompe no âmbito do vir-a-ser. O tempo universal e necessário. Por outro lado, a
é circular porque o vir-a-ser é circular. O forma é a parte mutável do ser, isto é: o vir-
vir-a-ser, por sua vez, é circular porque ele a-ser. Assim, Aristóteles concilia ser e vir-a-
cumpre imperfeitamente a finalidade ser na estrutura do ente, de onde provém a
teleológica da idéia. Platão fundamenta esse máxima: “o ser se diz de muitas maneiras.”
raciocínio no princípio de que uma coisa As especulações de Aristóteles
não pode advir do nada. Por isso, a sobre o tempo, elaboradas sobretudo no
circularidade temporal: se o nada não existe Livro IV da Física, têm como ponto de
na ordem do sensível, os entes estão aí
eternamente circulando; cumprindo os 210 O que correntemente denomina-se por “doutrina das quatro causas”, que

ciclos de geração e corrupção. propriamente constitui o ponto central do sistema filosófico de Aristóteles, foi
elaborado aos poucos, obedecendo os estágios de seu pensamento. Assim,
referimo-nos aqui, como fonte, aos textos Metafísica. Liv. II.e III.; Physique
A relação que Aristóteles estabelece entre Vol. II e IV.
ser e tempo deriva de sua “doutrina das

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partida a aceitação de que esse fenômeno condição necessária da existência da criatura.


possui natureza obscura: o presente, Aqui também as determinações de tempo e
condição primordial do ente ser caminham juntas. O tempo do criador é
substancializado, fundamenta-se sobre dois a eternidade, própria da perfeição do Deus.
não-seres, o passado e o futuro. Todavia, se O tempo da criatura é o tempo do
chamamos o presente de instante, devemos movimento da geração e da corrupção.
admitir que ele, compreendido como um A determinação do ser como cogito
limite entre o passado e o futuro, destrói-se assinala uma mudança de paradigma do
constantemente. Por isso, também o pensamento ocidental. Ao radicalizar a
instante, que assinala a presença de algo, dúvida cética, Descartes desloca para o
não pode ser parte do tempo. Diante âmbito do sujeito a garantia de que todo
dessas dificuldades de se determinar a existente possui valor ontológico; “o penso,
natureza do tempo, Aristóteles busca logo existo” é a única certeza necessária e
compreendê-lo em sua relação com o imutável. Porém, é no pensamento de Kant
movimento ontológico, onde ele é que as articulações entre subjetividade e
percebido. fenômeno encontram a sua formulação
Segundo Aristóteles, o tempo não mais acabada. Segundo Kant, é o sujeito
existe sem movimento. Essencialmente, ele que dá os contornos formais e conceituais
é elemento do movimento, porque só é ao que emana da coisa em si, esta em si
percebido no movimento e vice-versa. O mesma inapreensível. Essa faculdade do
tempo, percebido como o instante, assinala sujeito de significar o mundo fenomênico
a existência do movimento contínuo, só é possível porque ele possui em si as
delimitando o que no movimento é intuições de tempo é espaço. São elas que
anterior e posterior. Então o tempo é o dão forma às informações derivadas dos
número do movimento, conforme o fenômenos. Em síntese, pensamos,
anterior e o posterior. Logo, o tempo dá a primariamente, a partir da capacidade de
noção da quantidade do movimento. E a reduzir a multiplicidade e a diversidade dos
medida do tempo é o próprio instante. dados fenomênicos às formas universais.
Sendo assim, o instante será sempre o Portanto, Kant, distintamente da tradição
mesmo, pois ele meramente assinala o que que o antecede, eleva tempo e espaço à
é anterior e posterior ao movimento. Em categorias privilegiadas do sujeito, as quais
contrapartida, o instante é variável, posto ele distingue pelo nome de intuições. Tempo
que assinala o que foi transformado no e espaço são condições de possibilidade de
movimento. Em resumo, o instante, que todo conhecimento, que é a atividade que
identificamos como presente, é um dá status ontológico ao sujeito. Portanto, o
acidente que permite quantificar o tempo. que é da ordem do ser, propriamente, está
O tempo é, portanto, o número do no sujeito e se confunde a ele. O que é da
movimento segundo o anterior e o ordem do vir-a-ser é o que é redutível a
posterior e é o contínuo dos instantes. imobilidade e universalidade dos conceitos.
Tomás de Aquino acentua o caráter Nietzsche determina o ser como
teológico da ontologia de Aristóteles, “vontade de poder”: o vínculo necessário
articulando-o ao cristianismo. Em sua entre o desejo genérico e inominável à
concepção, o ser é determinado como realização do mundo como a totalidade
causa primeira, origem de toda a criação. O efetiva do aparente. Em outros termos,
ser é o entre criador cujo princípio vontade é o que mantém o ente em sua
repercute em todo vivente. Ele é a garantia estatura de ente. Ela é a garantia da
de que o ser não degenere em não ser, presentificação de qualquer forma. Só onde
entendido como nada. O ente criador é a vontade atua o ente aparece. Onde a

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vontade não atua, ou seja, na dimensão ser só pode ser determinado na dimensão
temporal do passado, é o não ser. Por temporal da presença, onde a linguagem o
outro lado, a vontade atua no futuro como captura no movimento do ente.
antecipação. Nesse sentido, não há Em Ser e Tempo, Heidegger sustenta
qualquer realidade para além do aparente a tese de que o ser foi historicamente
que decorre da vontade. As coisas estão determinado segundo a dimensão temporal
simplesmente aí, sendo em seu vir-a-ser da presença, através da análise da
constante. constituição estrutural do Dasein. O Dasein
A articulação entre vontade de é o sujeito heideggeriano, que se estrutura
poder e tempo é encontrada no famoso segundo uma relação de co-pertencimento
episódio do Zaratustra em que o anão se vê entre ser, ente e linguagem. Nessa relação,
diante do portal do tempo. Com a visão o Dasein, concebido como aquele que se
condicionada por sua baixa estatura, o anão constitui na atividade significadora da
só pode perceber uma curta porção do linguagem, só pode se constituir na
tempo, que o leva a acreditar que o tempo presença efetiva do objeto, que é o ente
descreve um percurso retilíneo, determinado segundo o modo de
constituindo-se na ordem: passado, determinação do ser. E o objeto, concebido
presente e futuro. Entretanto, ao erguer-se como o ente que encontrou sua
nos ombros de Zaratustra, o anão percebe determinação singular, só pode se
que a linha do tempo descreve um sentido constituir como tal na presença do sujeito.
curvilíneo e deduz: “se tudo sempre esteve Logo, na ontologia heideggeriana não há
aí, então o tempo descreve uma trajetória separação entre sujeito e objeto. Eles estão
circular.” Interpretamos a expressão “tudo mutuamente incluídos um no outro.
sempre esteve aí” como uma alusão direta Portanto, o Dasein é o sujeito em sua
ao postulado que Nietzsche enuncia em A relação de mútuo pertencimento com o
Vontade de Poder, qual seja: “a totalidade da objeto.211
força é imóvel”. Entenda-se por “totalidade O Dasein existe inserido na cultura,
da força” a “totalidade dos entes” que, genericamente, é entendida como a
determinados pela vontade. Eis o que está apropriação simbólica do mundo
na origem da concepção nietzscheana do circundante. A cultura se constitui do
eterno retorno. Que tudo sempre retorna conjunto de crenças, ideologias e
pois tudo sempre está aí. Esse retorno não concepções políticas que mediam as
é necessariamente idêntico, posto que ele relações entre o Dasein com os entes que
requer uma coincidência das condições são por ele significados. Segundo
físicas, como em um jogo de dados sem Heidegger, essa mediação simbólica que se
fim. interpõe entre o Dasein e o mundo
Heidegger interpreta o pensamento circundante está enraizada no modo
de Nietzsche como o limite da metafísica, histórico de determinação do ser no ente.
uma vez que Nietzsche inverte No âmbito da cultura, o Dasein
radicalmente o projeto filosófico platônico, tende a interpretar os entes circundantes
ao determinar o ser como algo que é como úteis. À essa situação existencial
exclusivamente da ordem do sensível. Heidegger denomina facticidade. Trata-se do
Nietzsche une duas extremidades da
ontologia tradicional: de um lado pensa-se
o ser segundo o inteligível, de outro, pensa- 211 A exposição da questão da circularidade do pensamento em sua relação com
a linguagem e o mútuo pertencimento entre sujeito e objeto encontra-se
se se o ser segundo o sensível. Entretanto, sobretudo na Preleção (1929): Que é Metafísica. HEDIEGGER. Conferências e
no pensamento que vai de Platão a Escritos Filosóficos, trad. Ernildo Stein, Col. Pensadores. SP: Nova Cultural,
Nietzsche, subsiste a concepção de que o 1984. p.35-44.

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modo primordial de inserção do Dasein na do não ser como presença em um duplo modo.
existência. Por exemplo: o seio materno é O primeiro modo refere-se à experiência
um útil, tanto quanto a mais sofisticada que o Dasein tem com a morte. Heidegger
ferramenta ou a natureza em geral. Assim, observa que o Dasein não vive a própria
se interpretamos os entes segundo uma morte, mas a morte do outro, que para ele
concepção prévia que corresponde à adquire o significado de não-presença.
facticidade, é evidente que nessa Assim, a angústia é um sentimento que o
circunscrição interpretativa Dasein experimenta diante da possibilidade
desconsideramos parte do que emana do da não-presença do outro. Por isso, a
ente que se constitui como objeto. angústia inclui o não-ser como presença no
Portanto, a cultura fática permite apenas horizonte existencial do Dasein. O segundo
uma visão parcial do ente, justamente modo é decorrente. Se o não-ser como presença
aquela visão que o determina como uma é possível, apresenta-se para o Dasein a
coisa útil. É por isso que de Platão a possibilidade de seu aniquilamento como
Nietzsche o ser é determinado no ente ente interpretante: ao sentir angústia, o
segundo uma finalidade: a idéia platônica Dasein teme que o objeto que assegura a
cumpre a sua finalidade no sensível, a sua própria constituição como sujeito não
matéria aristotélica cumpre sua finalidade esteja à disposição de sua atividade
na forma, o cogito kantiano no imperativo interpretante. Em outros termos, a angústia
moral, e a vontade de poder nietzschiana coloca o Dasein diante da intuição de um
na manutenção da estatura do ente. objeto que efetivamente ainda não
A facticidade é uma disposição compareceu à sua linguagem. A angústia
afetiva do Dasein: imerso no mundo dos coloca o Dasein diante de um não-
úteis, o Dasein tende a querer permanecer significante.
no conforto da dimensão da presença, em Ao relacionar-se com esse objeto,
que o objeto a partir do qual ele mesmo se que ainda não compareceu à presença, o
constitui como sujeito, oferece-se à Dasein apreende esse objeto em seu futuro,
atividade significadora. O Dasein é um ente antes que ele se efetive em uma presença.
essencialmente interpretante e na ausência Logo, o Dasein, entendido como um ente
do objeto ele vislumbra o seu horizonte de essencialmente interpretante, possui um
aniquilamento. Por isso, o Dasein caráter projetivo: ele se projeta para além
reconhece o existente na presença, que, da presença do objeto para reter na
efetivamente, é o que ele consegue reter presença o significado do objeto. Por
com a linguagem. A esse modo de conseguinte, o ser é apreendido pelo
percepção do tempo, que está vinculado à Dasein na ekstasis do tempo. Por ekstasis
situação fática do Dasein, Heidegger entenda-se a união simultânea das três
denomina: Tempo Inautêntico. É o tempo dimensões temporais em um único
que se constitui na sucessão de agoras, que instante, segundo a ordem: futuro, presente
comumente é identificado pela ordem: e passado. O que se presentifica no instante
passado, presente, futuro. Todavia, nesse é a determinação que está projetada no
tempo só há efetivamente o presente, que futuro e aquilo que imediatamente
se estrutura a partir de dois não existentes: cristaliza-se como passado. Isto é, o
o passado e o futuro. Daí o uso do termo presente reúne em si mesmo o futuro
inautêntico. implícito em toda possibilidade ôntica e o
O que retira o Dasein do conforto que em si mesmo já está aniquilado. A esse
de sua situação fática é a angústia. Segundo movimento temporal ekstatico Heidegger
Heidegger, a angústia é uma disposição denomina Tempo Autêntico, justamente o
afetiva pela qual o Dasein intui a existência tempo que permite que o Dasein ultrapasse

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a presença de um objeto para arrancar do ontológica participa de seu projeto


futuro a sua determinação. Nesse futuro existencial. Nesse sentido parecemos com
está contida a totalidade de determinações certas estrelas que vemos no céu: mortas
possíveis de um ente. alhures elas se mostram no movimento
Por fim, o Dasein é um ente que, espacial que abrange a totalidade de suas
ao constituir-se a si mesmo como objeto, existências, como entes projetados na
determina-se segundo as possibilidades ekstasis do tempo. Então não vemos
contidas em seu futuro. Se alguém diz: “sou propriamente cadáveres no céu.
um médico” não significa propriamente
que ele está, naquele instante, sendo um
médico, mas que essa determinação

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___________________________________________▪ O tempo da matéria do ser vivo, do sujeito

O Conceito de Tempo, do Misticismo aos dias


Modernos
Elcio Abdalla
Resumo: considero a evolução do conceito de tempo desde os primórdios do pensamento, através do Misticismo até a Física Moderna.

esde que o Homem se (Mar) e Gaia (Terra) que gerou o Céu


percebeu como inteligência, (Urano). Esta é a fase análoga ao tempo

D ele olhou para os Céus e


perguntou-se sobre a origem
de todas as coisas inclusive
de si mesmo. Viu-se também
compelido a olhar para os
Céus como modo de
previsão de fenômenos.
caótico, sem início ou fim, sem interpretação
direta.
Gaia e Urano geraram os doze Titãs,
entre eles Cronos e Rhea, três ciclopes e três
gigantes. Farta do apetite sexual de Urano,
Gaia pediu ajuda aos filhos. Cronos decidiu-se
a ajudá-la. Esperou Urano com uma foice,
Os Céus nos dão razões de sobra para com a qual o castrou, jogando os testículos ao
que o examinemos. Há uma vertente prática mar, de onde nasce Afrodite. Do sangue
no quotidiano do Homem, qual seja, a da nasceram as Erínias. Urano amaldiçoou o
marcação do tempo, previsão das colheitas, filho, vaticinando que os filhos de Cronos o
antecipação meteorológica. O ciclo de verões trairiam. Cronos casou-se com Rhea. Comia
e de invernos era de vital importância para o seus filhos por temor de que eles cumprissem
Homem antigo e uma eventual perda de tal a maldição de Cronos. Cronos personifica o
antecipação pode levar à morte de uma tempo, aquele que cria para posteriormente
sociedade pela fome. destruir. Representará o tempo da
Há, no entanto, uma segunda Relatividade Geral, assim como o tempo das
vertente, independente e aparentemente religiões monoteístas, com um início, com
longínqua da primeira, mas, ainda assim, uma criação a partir de algo desconhecido,
indissociável dela, posto que será o outro lado caótico.
da inquirição científica. Refere-se esta à De seus filhos, Rhea salvou Zeus
Mitologia e à pergunta sobre a origem do dando a Cronos uma pedra embrulhada como
Universo e do Homem. Esta vertente mística se fora o novo filho. Cronos comeu a pedra
seria a origem da pergunta científica sobre a pensando ser a criança. Zeus foi criado às
origem do Cosmos, sobre a compreensão do escondidas, no Monte Ida.
início do Mundo e fazia parte, na época, da Zeus retorna, exila Cronos e os Titãs no
Religiosidade e da Mitologia. Tártaro, casa-se com Hera. Zeus gerou filhos
Os Mitos de Criação falam do tempo e filhas, deuses e mortais, abrindo a época dos
de uma forma bastante direta e têm uma deuses Olímpicos. É a era do tempo clássico,
imagem direta nas diversas interpretações de o tempo sem início ou fim, como o tempo de
tempo da Física. Newton, absoluto.
Assim, Caos e Noite geraram Érebo As Religiões monoteístas tiveram,
(escuridão). Depois vieram Éter (luz) e também, suas sugestões quanto à criação do
Hemera (dia). Hemera e Eros criaram Pontus

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Universo e do Homem, espelhadas, por O calendário foi de grande


exemplo, na arte renascentista. importância histórica em nossa compreensão
Por outro lado, os primeiros da física e da medida do tempo. Não o foi de
conhecimentos científicos, no que tange ao modo intrínseco, mas sua compreensão levou
Cosmo, vieram dos filósofos gregos. Na a descobertas muito importantes. Por volta
Antigüidade, a Terra era tida como plana, do século XVI, a data da Páscoa havia se
como entre os babilônios, ou mesmo entre os adiantado no calendário Juliano. Esta data é
primeiros gregos que pensavam que Apolo definida através de uma combinação dos
levava o Sol diariamente em sua carruagem, calendários lunar e solar. O calendário solar é
de leste para oeste. Há indícios, entre os melhor para as colheitas, pois segue o curso
gregos já na época de Homero, do natural das estações do ano, mas o calendário
conhecimento de dias extremamente longos, lunar é de mais fácil apreciação pelo homem.
o que dá uma indicação da esfericidade da O domingo de Páscoa é definido como o
Terra. Posteriormente, segundo Heródoto, os primeiro domingo depois da primeira lua
fenícios, ao circunavegarem a África, viram o cheia após o equinócio de primavera do
Sol à sua direita ao caminharem em direção ao hemisfério norte. Portanto, depende de
poente, o que indica, conforme uma observações solares e lunares. É claro que o
interpretação de Terra esférica, que eles período solar não é necessariamente
estavam abaixo da linha do equador. As comensurável com o período de 365 dias e
primeiras interpretações mais diretas e um quarto definido pelo calendário Juliano;
incisivas sobre a esfericidade da Terra deram- uma revisão era necessária. Nicolau
se com os pitagóricos. Ainda entre os gregos, Copérnico, astrônomo polonês nascido em
formou-se a idéia de que a Terra, redonda, 1473 e falecido em 1643, fez esta revisão.
seria o centro do Universo, as estrelas se Apesar de anteriormente a ele sábios gregos,
moveriam em uma esfera exterior, a esfera indianos e árabes terem proposto um sistema
celeste, com período fixo212. Os movimentos heliocêntrico, tal hipótese ganhou força com
foram conhecidos através da sombra de uma o calendário proposto por Copérnico.
vara vertical fixa ao solo, vara esta Copérnico usou o heliocentrismo como
denominada gnomon. O movimento da sombra método de trabalho, mas posteriormente esta
indica não apenas o horário durante o dia, hipótese foi vista como realidade física.
mas o movimento do sol durante o ano. O calendário de Copérnico foi
O conhecimento mais detalhado e instituído pelo papa Gregório XIII em 1582,
científico do Cosmos evoluiu bastante. As tendo sido então chamado de calendário
medidas de tempo através da observação da Gregoriano213. A grande vantagem desta nova
sombra do gnomon e o conhecimento das era, no que tange à marcação de tempo, não
estações do ano permitiram as primeiras foi o calendário em si, mas o fato de que o
medidas de tempo. Os babilônios sistema heliocêntrico, com observações
introduziram um ano de 360 dias, corrigidos posteriores do dinamarquês Tycho Brahe,
para 365 pelos egípcios. O calendário Juliano foram utilizadas por Johannes Kepler para
foi introduzido por Júlio César com a ajuda formular as três Leis de Kepler do
de astrônomos egípcios e apresentava a movimento planetário. Subseqüentemente,
novidade do ano bissexto, onde havia um ano Descartes e Galileo formularam o método
de 366 dias a cada quatro anos. Tal calendário
durou cerca de 1500 anos.
213O calendário gregoriano é definido da seguinte maneira: ao dia 4 de outubro de
1582 seguiu-se o dia 15 de outubro de 1582. Os anos bissextos múltiplos de 100, mas
212 Este período é de 23 horas e 56 minutos, 4 minutos a menos que o dia solar não de 400, foram eliminados (assim, 1900 não foi bissexto mas 2000 o foi e 2100
médio, em vista do movimento de translação da Terra em torno do Sol. É claro que também não será.)
os gregos não conheciam todos estes detalhes.

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científico, utilizado por Galileo e por Newton do ponto de vista observacional pelas suas
para descrever a Mecânica. Dentro da previsões sobre a órbita do planeta Mercúrio
Mecânica temos o conceito clássico de e principalmente pelo desvio de luz das
Tempo. estrelas pelo Sol, observado em um eclipse
O Tempo clássico é o tempo solar na cidade de Sobral, no Ceará, em 1919.
absoluto, um fluir perpétuo de algo que não O resultado positivo da Relatividade
sabemos definir, mas que bem podemos Geral para o movimento planetário permitiu
intuir. O Tempo Newtoniano clássico é o que se pudesse aplicar a teoria para se
tempo de Zeus, um perpétuo movimento descrever o Cosmo. Procurou-se então uma
observado pelos deuses de seu assento chamada solução cosmológica da Teoria. O
olímpico. É a passagem inexorável associada que se procurava, na Relatividade Geral, seria
ao movimento eterno das coisas. Foi também uma chamada métrica, ou seja, uma régua e um
a definição do determinismo clássico, com a relógio específicos214 para a descrição do
previsão de todos os fenômenos, desde que Cosmos. Tal problema foi resolvido supondo-
saibamos a configuração atual do mundo. se um chamado princípio cosmológico, que
Conforme Laplace, se um ser for capaz de diz que não há lugares privilegiados no
saber todos os detalhes do Universo assim Universo. A solução para a métrica é aquela
como suas leis, todo o futuro estará de Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker, e
determinado. descreve um espaço em evolução, com uma
No entanto, a visão determinista da régua que se alonga com o tempo. Ou seja, o
física sofre um impacto brutal vindo de uma Universo expande-se continuamente!
outra teoria física bem conhecida, o Einstein não se satisfez com a
eletromagnetismo. Conhecidos desde a solução, pois esperava um Universo estático.
Antigüidade, os fenômenos elétricos e Tentou modificar suas equações introduzindo
magnéticos foram, no século XIX, reunidos a chamada constante cosmológica, que
em uma só teoria por James Clerk Maxwell, posteriormente qualificou como o maior erro
corroborada pela experiência e que trazia em de sua vida215. A solução cosmológica acima
seu bojo algo preocupante, do ponto de vista foi confirmada pelas observações do
clássico: a velocidade da luz é a mesma para astrônomo Edwin Hubble cerca de 80 anos
todos os observadores, ou seja, se eu correr atrás.
atrás da luz jamais a alcançarei, e se for em Como o Universo encontrava-se em
direção a ela, não a encontrarei mais rápido. expansão, olhando-se para trás podemos
Albert Einstein teve a grande idéia de antever um instante em que todo o Universo
interpretar o resultado dizendo que o tempo e estaria concentrado em um só ponto216: seria
o espaço estão reunidos de forma inseparável, o instante inicial do Universo, a criação do
ou seja, o mundo físico é um contínuo quadri- próprio espaço-tempo, o instante da criação
dimensional espaço-tempo. Era a teoria da do Universo! É a própria criação do tempo, o
Relatividade Especial, formulada no anus tempo de Cronos, o tempo de Agostinho, o
mirabili de 1905, quando Einstein escreveu instante anterior ao qual não havia tempo!
nada menos que três trabalhos que
revolucionaram a física. 214Devemos neste ponto nos lembrar que agora não descrevemos a física pela velha
Mas, no que diz respeito ao tempo, Geometria de Euclides, mas por uma nova geometria que inclui o tempo.
uma revolução maior ainda estava por Denominamos o procedimento de se achar a geometria apropriada, ou seja, a régua e

acontecer. Durante alguns anos, Einstein o relógio apropriado para cada problema físico, de achar a métrica do problema.

estudou como estender os resultados obtidos 215 É de se notar aqui que hoje a constante cosmológica é freqüentemente utilizada
hoje para uma possível explicação da chamada Energia Escura que parece permear
para o caso de haver forças gravitacionais, o todo o Universo fazendo-o acelerar-se sem parar.
que conseguiu ao formular a Teoria da 216De fato, o ponto inicial, ou o Big Bang não necessariamente se configura em um
Relatividade Geral que foi bem estabelecida único ponto. Deixaremos de lado este detalhe técnico.

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Assim, após o tempo de Zeus, o uma, e a trajetória real será uma média
tempo clássico, Olímpico, compreendemos o ponderada, sendo a ponderação definida
tempo criado, o tempo de Cronos. O tempo através de uma constante fundamental
da Relatividade Geral aproxima-se da noção introduzida por Max Planck quando do
de criação, da idéia de ciclo, tal como primeiro trabalho histórico que trouxe a
espelhada na Arte católica da Capela Sistina. Teoria Quântica para a Física.
Contrapõe-se ao tempo de Zeus, que, sem A Mecânica Quântica entra na história
início ou fim, concorda melhor com as idéias do Universo em dois pontos importantes. O
clássicas de determinismo. primeiro diz respeito à evolução cósmica
No entanto, outra revolução científica dentro do âmbito da Relatividade Geral
se dá no início do século XX que fará mudar através da Teoria das Partículas Elementares.
nossas concepções de espaço-tempo. Trata-se A causa é o fato de que quanto mais próximas
da Mecânica Quântica. A Mecânica Quântica as partículas (o que ocorre no Universo
nasceu com a tentativa de explicar os primordial devido à contração do espaço)
fenômenos associados ao muito pequeno, às mais quente o Universo, mais próximas umas
partículas elementares, âmbito no qual a das outras as partículas e a descrição delas
Teoria Clássica, abarcando a Mecânica será eminentemente quântica.
Clássica e o Eletromagnetismo, tem Mostra-se que a história cósmica tem
dificuldades intrínsecas insuperáveis. A fases e pode, de modo simplificado, ser
Teoria Quântica evoluiu, para explicar todos descrita em termos de três épocas
os tipos de fenômenos associados ao muito fundamentais. A primeira, chamada de fase de
pequeno, para uma concepção totalmente radiação, contém uma sopa quentíssima de
nova na explicação dos fenômenos físicos, partículas a uma temperatura tão alta que as
com a inclusão do observador que passa a ser diferentes interações elementares se
parte do fenômeno a ser estudado. Tal confundem. No final desta fase, certas marcas
concepção é totalmente estranha na Física foram deixadas nos céus e somos capazes de
Clássica, onde o observador é completamente corroborar certas facetas das teorias das
externo e estranho ao fenômeno estudado, partículas elementares. Posteriormente, temos
devendo assim permanecer de modo a não a fase da matéria, mais fria, onde as estruturas
borrar os resultados experimentais. Na cosmológicas (aglomerados de galáxias,
Mecânica Quântica isto é impossível! Os galáxias, estrelas) foram formadas.
fenômenos, na ausência de observador são Finalmente, temos a fase moderna, de
probabilísticos, e uma das possibilidades só expansão acelerada através da energia escura.
ocorre na presença do observador, ou, melhor A Mecânica Quântica foi essencial
ainda, no caso de uma observação. para esta descrição e para as previsões que
A Mecânica Quântica tem um levaram os físicos a afiançar a teoria padrão
formalismo muito rico e pode ser descrita de do início do Universo. A esta descrição
diversas maneiras diferentes. Em particular, chamaremos de descrição de Cronos, sendo a
há uma maneira elegante e instrutiva de se mesma da Relatividade Geral vista
definir a Mecânica Quântica. Como tudo são anteriormente, mas muito mais sofisticada.
probabilidades em Mecânica Quântica217, a No entanto, há outra faceta da
trajetória de um ponto pode ser qualquer descrição do Universo que será ainda mais
elaborada e chega a ser quase mitológica, na
medida em que não há, dentro da tecnologia
217Na verdade, a situação é um pouco mais complicada, pois as probabilidades
atual, possibilidade de corroborar os detalhes
quânticas não se somam como as probabilidades clássicas. Por esta razão elas se
chamam amplitudes de probabilidade. Podem inclusive ser negativas ou mesmo
desta teoria. O fato é que a Teoria da
números complexos. No entanto este é um ponto técnico que não nos interessam Relatividade e a Mecânica Quântica pareciam,
neste momento. até um quarto de século atrás,

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misteriosamente imiscíveis. A descoberta da Não sabemos ao certo o que é o


Teoria das Cordas em um contexto de física tempo. Esta é uma das mais fascinantes
nuclear foi singularmente interessante. A questões da física, e talvez jamais possamos,
teoria foi reinterpretada em termos da dentro desta geração, ter uma resposta
Relatividade Geral e se descobriu que ela definitiva e final. No entanto, poderíamos
descrevia a Teoria Quântica da Gravitação, ou dizer que estes conceitos estão em um
seja, a Relatividade Geral Quântica, pela domínio meta-científico, tal como a questão
primeira vez depois de três quartos de século! da efetividade da matemática como descrição
A Teoria das Cordas (de fato, Teoria da natureza. São questões que talvez não
das Supercordas218) tem características possam ser respondidas dentro da Ciência,
peculiares. Em particular, ela está definida em podemos apenas intuir sobre sua veracidade e
um espaço-tempo com várias dimensões: a corroborar sua acurácia na descrição dos
Teoria das supercordas está definida em 9 fenômenos naturais.
dimensões de espaço e um tempo. Assim
sendo, como na Arte e na ficção, temos um
Universo multidimensional! Em particular,
como na Mecânica Quântica temos criação de
partículas e antipartículas e várias trajetórias
multiprováveis, podemos ter vários Universos
com tempos independentes e não
relacionados.
Assim, temos não somente um
Universo multidimensional, mas uma
infinidade de Universos com tempos e
espaços diferentes e independentes. Nosso
conceito de tempo se esvai e relativiza-se, pois
diferentes observadores em diferentes
Universos não podem se comunicar visto que
seus tempos são incompatíveis. Temos, então,
a volta de um tempo caótico, antes de
Cronos! O tempo de Cronos não passa de
uma pálida faceta de tempo, entre tantos e
tantos tempos que populam o Multiverso,
agora bem mais maiúsculo. O Multiverso
contém uma infinitude de diferentes
Universos alguns chamamos de pântanos ou
brejos, onde a vida não é possível, e outros que
chamamos de paisagens, onde a vida é possível.
Caso esta teoria seja realmente correta
em seus detalhes, talvez tenham razão
Edward Witten e David Gross que afirmam
Maybe space-time is doomed, ou seja, talvez os
conceitos de espaço e de tempo estejam
fadados à ruína.

218 A Superssimetria é uma importante simetria relacionada às partículas


elementares, essencial para uma descrição consistente da Teoria das Cordas, daí o
nome, Teoria das Supercordas.

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COMISSÕES DE ORGANIZAÇÃO
Dominique Fingermann Presidência
Silvia Regina Fontes Franco Oganização Geral
Ana Laura Prates Pacheco (organizadora) Equipe Científica
Beatriz Silveira Alves de Oliveira Articulação IF-EPFCL
Sandra Leticia Berta Tradução
Heloisa Helena Aragão Ramirez Divulgação
Sandra Aparecida Bosseto Acolhimento
Silvana Pessoa Patrocínios
Sandra Aparecida Galvão Livraria
Paulo Marcos Rona Site internet
Mathias Fingermann Webmaster
Silvana Mantelatto Finanças
Raquel Passos Secretariado
Cícero Alberto de Andrade Oliveira Secretariado

COMISSÃO CIENTÍFICA INTERNACIONAL


Ana Diaz Patron (Argentina - CRIF)
Angelia Teixeira (Brasil - CIOE)
Antonio Quinet (Diretor EPFCL - Brasil)
Colette Soler (França - CRIF)
Dominique Fingermann (Brasil - presidente do V° Encontro)
Luis Fernando Palacio (Colômbia - CRIF)
Marc Strauss (França- CIOE)
Mario Binasco (Itália - CRIF)
Ramón Miralpeix (Espanha - CIOE)
Sonia Alberti (Brasil - CRIF)

EQUIPE CIENTÍFICA LOCAL


Ana Laura Prates Pacheco
Ângela Diniz Costa
Christian Dunker
Conrado Ramos
Elizabeth Saporiti
Elizabeth da Rocha Miranda
Gabriel Lombardi
Helena Bicalho
Sílmia Sobreira

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FÓRUM DO CAMPO LACANIANO - SÃO PAULO


ESCOLA DE PSICANÁLISE DOS FÓRUNS DO CAMPO LACANIANO – BRASIL
Rua Tomás Carvalhal 551- ANAIS DO -VSão
Paraíso ENCONTRO INTERNACIONAL
Paulo - 04006-001 – SP DA IF-EPFCL
Internacional
Tel.: (11) 3057-1743 dos Fóruns-Escola
/ 3567-7556 de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano
– E-mail: epfcl-forumsaopaulo@campolacaniano.com.br
Site: www.campolacaniano.com.br05 e 06 de julho de 2008 ▪ São Paulo (Brasil)

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