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A estratégia libertária da secessão!

ancapismo / abril 27, 2015

por Bruno Cavalcante

Suponhamos que existe um país chamado Ruritânia, onde as pessoas pagam(são


obrigadas) uma quantia impensável de 40% de impostos sobre tudo o que produzem e
consequentemente é demasiado caro produzir, visto que somente 60% será do produtor.
Como o governo se apropria de 40% dessa riqueza produzida, os impostos são o meio
estatal de transferir riqueza de quem produz para quem não produz.

Essa transferência de bens de quem produz para quem não produz de forma não
contratual é chamada de socialismo nos meios libertários[1].

Então a Ruritânia tem um órgão central que redistribui riqueza de um individuo que
produz para outro que não produz, ou seja, aumenta os custos do produtor e diminui os
custos do não produtor, isso consequentemente traz uma queda relativa na produção, um
encarecimento nos preços dos bens produzidos, um aumento relativo dos não produtores
e uma queda geral no padrão de vida.

Na imagem abaixo entendam como se fosse um modelo simplificado de Ruritânia, onde


há governo em todo o território, independente de onde as pessoas forem(dentro das
fronteiras nacionais) estarão sob a mesma carga tributária.

Como libertários defensores da propriedade privada, devemos nos opor a essa violação
clara que visa redistribuir títulos de propriedade, títulos esses que deveriam ser
distribuídos pelo processo de mercado – dinâmico, voluntário e instantâneo.

A melhor solução seria criar fronteiras políticas que impedissem ou pelo menos
limitassem essa redistribuição de bens pelos meios coercitivos do estado. Isso quer
dizer, criar a possibilidade de votar com os pés[2] e escolher morar em um lugar com
menos ou nenhuma carga tributária ou regulação.
Isso pode acontecer basicamente de duas maneiras:

1) A primeira e mais difícil de ocorrer, seria os moradores de um espaço territorial


dentro das fronteiras nacionais declarar aquele espaço como privado das garras do
estado, declarar secessão e a partir de então a gestão de todos os bens contidos seria
privada e consequentemente poderiam adotar o modelo anarcocapitalista [3] ou algum
outro que voluntariamente aceitem (o Exército Zapatista fez isso em Chiapas e decidiu
por um modelo de propriedade comum).

2) A segunda maneira seria se basear na ideia de que um menor governo é menos


prejudicial à propriedade privada do que um maior governo e com isso criar pequenos
estados, como ilustrado na próxima imagem:

A ideia de criar pequenos estados, não pode desviar o foco libertário que é não ter
estado, pois independente do seu tamanho ele viola a propriedade privada, é preferível
um estado menor porém esse não é o fim libertário, essa luta por diminuir a atuação
estatal tem que ser contínua, caso contrário estará defendendo modelos socialistas(de
redistribuição maior ou menor de produtores/contratantes para não produtores/não
contratantes).

Na imagem acima o território de atuação política (não econômica – o processo de


mercado entre as áreas continua ocorrendo normalmente) foi dividido em dois menores
estados, e se as fronteiras ficarem abertas para a livre migração teremos uma ferramenta
para abaixar impostos. Se cada estado tiver 6 pessoas para tributar, o interesse dele será
atrair mais pessoas e com isso tributar um montante maior(como por exemplo a Suiça
faz com o seu regime de exceção para estrangeiros desde 1862, a pratica gera mais de
22 mil empregos: http://goo.gl/nH7u45), consequentemente ele irá abaixar sua carga
tributária em relação aos demais, só que isso ocorre em todos simultaneamente gerando
uma concorrência entre os estados por uma maior população.

Com isso, os impostos e consequentemente a violação da propriedade privada tende a


cair rapidamente, e as pessoas irão começar a se mudar para diminuir os custos em
produzir e assim os estados diminuirão cada vez mais os impostos. Por exemplo Porto
Rico que em 2012 criou uma lei apelidada de “Sol, Areia e Imposto Zero” destinada a
atrair americanos e investidores, a lei prevê imposto zero para ganhos de capital obtidos
após a mudança e isenção de impostos locais sobre ganhos de dividendo e de juros.
Cerca de 500 pessoas se inscreveram para a mudança e foram aprovadas, mais da
metade já se mudou, houve um ganho de US$ 200 milhões no setor imobiliário. Assim
como após a vitoria da presidente Dilma no Brasil o numero de brasileiros que
migraram para Miami tem aumentado(http://goo.gl/MVWwBo)

O próximo passo é reaplicar o mesmo remédio para o estado, novamente dividir.

Agora o que era Ruritânia se transformou em 4 estados independentes e que concorrem


entre si por pessoas, caso todos saiam de um país o seu governo irá falir pois não tem
ninguém para pagar impostos.

Com isso os custos para produzir já quase não existem, os estados precisam abrir mão
de seus programas e monopólios e com isso há uma grande abertura dos mercados, pois
o estado consegue pouco dinheiro através dos seus meios coercitivos e com isso
pretende somente manter sua estrutura em funcionamento (manter o emprego dos
burocratas ineficientes).

O passo para a abolição total é simplesmente em um estado os indivíduos começarem a


declarar secessão individual, e proteger suas propriedades por meios contratuais e livres.
Qualquer espaço poderá aplicar qualquer sistema desejado, tendo visto que os
envolvidos precisarão concordar voluntariamente uma vez que a estrutura estatal já nem
existe mais.

O grande problema rumo a secessão individual são as barreiras para a migração, isso faz
com que o povo esteja dentro de uma especie de gaiola e impossibilita a queda na carga
tributária, consequentemente leva a uma maior violação da propriedade privada. A
grande solução é não permitir ao estado o poder de decidir quem entra ou sai de um
território, isso deve ser decisão dos donos das propriedades e não do estado (agressor
institucionalizado de propriedade privada).
Por último, quando todas as barreiras políticas forem diminuídas até não haverem mais,
somente haverá livre contrato, uma vez que não há redistribuição de títulos de
propriedade. Caso alguém tenha interesse em viver uma vida em uma sociedade
comunista, só precisa encontrar demais adeptos voluntários desse sistema e juntarem
suas propriedades, isso seria legitimo.

Essa queda nos impostos atrai investimento e consequentemente aumenta a qualidade de


vida geral, veja alguns exemplos de como a carga tributária pode atrapalhar o
crescimento de um país:

“Segundo informações do mercado, estrangeiras como a H&M (de roupas) e Ikea (de
móveis) desistiram de se instalar em território brasileiro, pelo menos a médio prazo.
Entre os motivos estão a burocracia excessiva, a alta carga tributária (de mais de 35%
do PIB), o complicado sistema tributário e os altos custos trabalhistas.”
(http://goo.gl/QTxuV7)

“O ator francês Gerard Depardieu decidiu mudar a sua residência fiscal para a Bélgica,
onde pagará menos impostos, o que gerou uma onda de críticas. A decisão, também já
tomada por milionários franceses, tem como objetivo escapar à taxa de 75% sobre o
rendimento dos mais ricos criada pelo Governo de François
Hollande.”(http://goo.gl/XJiWaC)

“Ricos franceses ameaçam deixar o país se taxa sobre fortunas for


aprovada”(http://goo.gl/DDOpfo)

No final dos anos 60, princípio dos 70, no Reino Unido, a carga tributária era muito
apertada para os mais abastados, com taxas que chegavam perto dos 90% do
rendimento.

Esta legislação fez com que muitos músicos e atores iniciassem um movimento a que
mais tarde se chamou dos “exilados fiscais”. Desde os Rolling Stones, que
abandonaram o país em 1971, a Rod Steward, Sean Connery, Michael Caine, Led
Zeppelin, David Bowie, muitos foram os que partiram em busca de menores impostos.(
http://goo.gl/nH7u45)
*Notas:

1 – “Definimos socialismo como uma política institucionalizada de redistribuição de


títulos de propriedade. De forma mais precisa, socialismo é uma transferência de títulos
de propriedade de pessoas que realmente utilizaram recursos escassos de alguma forma
ou que os adquiriram contratualmente de pessoas que o fizeram anteriormente para
terceiros, que nada fizeram com as coisas em questão e que nem as adquiriram
formalmente por contrato.” Hans-Hermann Hoppe, Uma Teoria do Socialismo e do
Capitalismo.

2 – “Extensificar a exploração – assaltando as pessoas – de um monopólio estatal,


implica por si só uma intensificação, porque quanto menor o número de estados
concorrentes – isto é, quanto maior o território do estado fica – menores são as
oportunidades de se votar com os próprios pés, ou seja, migrar. E sob o cenário de um
estado mundial, aonde quer que uma pessoa vá, a estrutura de impostos e
regulamentações é a mesma. Ou seja, com a ameaça de imigração eliminada, a
exploração monopolística irá naturalmente aumentar – quer dizer, o preço da proteção
subirá e a qualidade cairá. ” O que deve ser feito, Hans-Hermann Hoppe.

3 – Ver O que deve ser feito, Hans-Hermann


Hoppe(http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=95).

Bruno Cavalcante é estudante de economia na PUC-SP e anarcocapitalista

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