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Brasília, 10 a 14 de novembro de 1997 - Nº

92
Data (páginas internas): 19 de novembro de
1997.

Este Informativo, elaborado a partir de


notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-
oficiais de decisões proferidas pelo Tribunal. A
fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo
das decisões, embora seja uma das metas
perseguidas neste trabalho, somente poderá
ser aferida após a sua publicação no Diário da
Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Aposentadoria: Medida Provisória 1.523/97
Benefício de Apelar em Liberdade
Bis in Idem: Inocorrência
Caso Ronald Biggs
Composição Civil e Justiça Militar
Embargos de Declaração: Efeitos
Importação de Motores Usados
Intimação para Audiência
Ministério Público e Suspensão do Processo
Obrigatoriedade do Depósito de Multa Imposta
Reformatio in Pejus Indireta: Ocorrência
Vício de Iniciativa

PLENÁRIO
Obrigatoriedade do Depósito de Multa Imposta
O Tribunal, entendendo recepcionado pela CF/88 o
§ 1º do art. 636, da CLT que determina que o recurso
administrativo contra a imposição de multa por infração das
leis reguladoras do trabalho só terá seguimento se o
interessado o instruir com a prova do depósito da multa ,
conheceu e deu provimento, por maioria de votos, a recurso
extraordinário da União Federal para reformar acórdão do
TRF da 1ª Região que entendera que o prévio depósito do
valor discutido pelo empregador violaria os princípios da
ampla defesa e do contraditório. Vencidos os Ministros Ilmar
Galvão, relator, Maurício Corrêa, Marco Aurélio, Carlos
Velloso e Néri da Silveira. Precedente citado: ADInMC
1.049-DF (DJU de 25.8.95). RE 210.246-GO, rel. originário
Min. Ilmar Galvão, relator p/ o acórdão Min. Nelson Jobim,
12.11.97.

Caso Ronald Biggs


Resolvendo questão de ordem suscitada pelo Min.
Maurício Corrêa, relator, à vista da manifesta extinção da
punibilidade do extraditando pela prescrição da pretensão
executória perante a lei brasileira o tipo penal em que
incurso o extraditando corresponde, na lei brasileira, ao
crime de roubo qualificado cuja prescrição em caso de fuga
consuma-se quando completados 20 anos a partir da data do
evento, que, na espécie, ocorreu em 8.7.65 , o Tribunal
negou seguimento ao pedido de extradição de Ronald Arthur
Biggs, conforme previsto no art. 3, 1, e, ii, do Tratado de
Extradição celebrado entre o Brasil e o Reino Unido da Grã-
Bretanha (Artigo 3. Razões para Recusar Pedidos de
Extradição. 1. Não será concedida a extradição de uma
pessoa se a autoridade competente do Estado Requerido
entender: ... e) que, consideradas todas as circunstâncias,
seria injusto ou opressivo extraditar a pessoa procurada: ...
ii) de acordo com sua legislação, em decorrência do lapso
de tempo transcorrido desde a data do alegado cometimento
do crime ou da fuga ilegal da pessoa procurada, conforme o
caso;), restando prejudicada a possibilidade de decretação de
prisão do extraditando. Extradição 721-Reino Unido da Grã-
Bretanha, rel. Min. Maurício Corrêa, 12.11.97.

Ministério Público e Suspensão do Processo - 1


Retomando o julgamento de habeas corpus (v.
Informativo 76), o Tribunal, por maioria de votos, decidiu
que a iniciativa para propor a suspensão condicional do
processo prevista no art. 89 da Lei 9.099/95 (“Nos crimes em
que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangida ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao
oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do
processo, por dois a quatro anos, desde que ...”) é uma
faculdade exclusiva do Ministério Público, a quem cabe
promover privativamente a ação penal pública (CF, art. 129,
I), não podendo o juiz da causa substituir-se a este.
Prevaleceu, neste ponto, o voto do Min. Octavio Gallotti,
relator, no sentido do indeferimento do pedido ao argumento
de que não cabe ao magistrado, ante recusa fundamentada do
Ministério Público a requerimento de suspensão condicional
do processo, o exercício de tal faculdade, visto que não se
trata de direito subjetivo do réu, mas de ato discricionário do
parquet. Vencido o Min. Marco Aurélio, que deferia
integralmente a ordem sob o entendimento de que, uma vez
presentes os requisitos objetivos para a suspensão do
processo, surgiria um direito subjetivo do réu ao benefício, e
de que, na hipótese de o Ministério Público recusar-se a
propô-la, caberia ao juiz examinar desde logo o
enquadramento ou não da hipótese no referido art. 89.

Ministério Público e Suspensão do Processo - 2


Prosseguindo no julgamento do habeas corpus
acima mencionado, considerando-se que o art. 89 da Lei
9.099/95 alude ao “Ministério Público” na qualidade de
instituição, o Tribunal, por maioria, acolhendo o voto do
Min. Sepúlveda Pertence, construiu interpretação no sentido
de que, na hipótese de o promotor de justiça recusar-se a
fazer a proposta, o juiz, verificando presentes os requisitos
objetivos para a suspensão do processo, deverá encaminhar
os autos ao Procurador-Geral de Justiça para que este se
pronuncie sobre o oferecimento ou não da proposta. Firmou-
se, assim, o entendimento de que, tendo o referido artigo a
finalidade de mitigar o princípio da obrigatoriedade da ação
penal para efeito de política criminal, impõe-se o princípio
constitucional da unidade do Ministério Público para a
orientação de tal política (CF, art. 127, § 1º), não devendo
essa discricionariedade ser transferida ao subjetivismo de
cada promotor. Vencidos neste ponto os Ministros Octavio
Gallotti, relator, Néri da Silveira e Moreira Alves, sob o
entendimento de que a Lei 9.099/95 não autorizaria tal
procedimento administrativo. Habeas corpus deferido em
parte. HC 75.343-MG, rel. originário Min. Octavio Gallotti,
rel. para o acórdão, Min. Sepúlveda Pertence,12.11.97.

Aposentadoria: Medida Provisória 1.523/97


Pela relevância jurídica da argüição de
inconstitucionalidade por ofensa aos artigos 194, parágrafo
único, inciso I, 201, caput e parágrafo 1º e art. 202, inciso I,
da CF, o Tribunal, apreciando medida liminar requerida em
ação direta proposta pelo Partidos Democrático Trabalhista -
PDT, dos Trabalhadores - PT e Comunista do Brasil - PCB
contra dispositivos da Lei 8.213/91, com a redação dada pela
Medida Provisória 1.523-11/97, o Tribunal deferiu o pedido
para suspender, até decisão final da ação, a eficácia do art. 48
(“A aposentadoria por idade será devida ao segurado que
completar 65 anos de idade, se homem, e sessenta, se
mulher, desde que tenha cumprido a carência exigida nesta
lei e não receba benefício de aposentadoria de qualquer
outro regime previdenciário.”) e do art. 107 (“O tempo de
serviço de que trata o art. 55 desta Lei, exceto o previsto em
seu § 2 º, será considerado para cálculo do valor da renda
mensal de qualquer benefício.”). Concedeu-se, ainda, a
cautelar quanto ao § 2º do art. 55 para suspender a eficácia
da expressão “exclusivamente para fins de concessão do
benefício previsto no art. 143 desta Lei e dos benefícios de
valor mínimo”. Em relação ao inciso IV do art. 96 da citada
Lei 8.213/91 (“O tempo de serviço anterior ou posterior à
obrigatoriedade de filiação à Previdência Social só será
contado mediante indenização da contribuição
correspondente ao período respectivo, com acréscimo de
juros moratórios de um por cento ao mês e multa de dez por
cento”), o Tribunal deu interpretação conforme à
Constituição para afastar a aplicação do mencionado
dispositivo no tempo de serviço do trabalhador rural, no
período em que ele esteve desobrigado de contribuir.
Vencido, na extensão do deferimento, o Min. Marco Aurélio,
que suspendia todos os dispositivos objeto da ação.
ADInMC 1.664-UF, rel. Min. Octavio Gallotti, 13.11.97.

Vício de Iniciativa
Considerando, ao primeiro exame, configurada a
ofensa ao disposto no art. 61, § 1º, II, a, da CF, que confere
ao Presidente da República e, por força do disposto no art.
25, caput, da CF, também aos Governadores de Estado a
iniciativa privativa das leis que disponham sobre “criação de
cargos, funções ou empregos públicos na administração
direta e autárquica ou aumento de sua remuneração”, o
Tribunal concedeu liminar em ação direta proposta pelo
Governador do Estado de Santa Catarina para suspender, até
decisão final, a eficácia da Lei estadual 10.476/97, que
instituíra auxílio alimentação para os servidores civis
investidos em cargos de provimento efetivo da administração
direta autárquica e fundacional do Estado de Santa Catarina,
já que a lei impugnada resultara de projeto de iniciativa
parlamentar Precedentes citados: ADIn 822-RS (DJU de
6.6.97). ADInMC 1.701-SC, rel. Min. Carlos Velloso,
13.11.97.

Lei 9.099/95 e Transação Civil e Justiça Militar


Iniciado o julgamento de habeas corpus contra
decisão do STM que deferiu correição parcial, nos termos do
art. 498 do CPPM, por considerar inaplicável à Justiça
Militar a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais e, em
conseqüência, anulou a composição civil celebrada entre a
vítima e o paciente acusado da prática do crime de lesão
corporal culposa de acordo com o artigo 74 da Lei 9.099/95
(“A composição dos danos civis será reduzida a escrito e,
homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá
eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa
privada ou de ação penal pública condicionada à
representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao
direito de queixa ou representação.”). Após os votos dos
Ministros Nelson Jobim, relator, Maurício Corrêa e Ilmar
Galvão, que indeferiam o pedido ao argumento de que a
composição civil não é extensível aos crimes sujeitos ao
Código Penal Militar, o julgamento foi adiado em virtude do
pedido de vista do Min. Marco Aurélio. HC 74.581-CE, rel.
Min. Nelson Jobim, 13.11.97.

PRIMEIRA TURMA
Benefício de Apelar em Liberdade
Se a sentença condenatória reconhece ao réu, ainda
que indiretamente, o direito de permanecer em liberdade até
o trânsito em julgado da condenação, não havendo recurso
do Ministério Público, não pode o tribunal submeter o
conhecimento da apelação do réu ao seu imediato
recolhimento à prisão. Com base nesse entendimento, a
Turma reformando decisão do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal que considerara não estar devidamente
atendido o § 2º, do art. 2º, da Lei 8.072/90 por falta de
fundamentação (“em caso de sentença condenatória, o juiz
decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em
liberdade”) , deferiu habeas corpus para que, afastada a
preliminar de conhecimento, prossiga o Tribunal de origem
no julgamento da apelação criminal da paciente. Precedente
citado: 57.964 (RTJ 98/637). HC 76.095-DF, rel. Min.
Moreira Alves, 11.11.97.

Embargos de Declaração: Efeitos


Considerando que apenas excepcionalmente os
embargos de declaração concedem efeito modificativo ao
julgado, a possibilidade de interposição destes não impede a
execução imediata do mandado de prisão do réu. HC 75.648-
RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 11.11.97.

Reformatio in Pejus Indireta: Ocorrência


Anulado o processo criminal por incompetência
ratione materiae mediante recurso exclusivo da defesa, a
eventual nova condenação pelo juízo competente não pode
agravar a situação do réu quanto à sentença declarada nula.
Com base nesse entendimento, a Turma, por maioria, deferiu
habeas corpus para restabelecer a decisão de 1ª instância da
justiça militar que declarara extinta a punibilidade da
paciente pela prescrição retroativa da pretensão punitiva
considerada a pena estabelecida na sentença proferida no
processo declarado nulo. Vencido o Min. Moreira Alves, que
indeferia o pedido sob o entendimento de que a sentença
nula por incompetência absoluta não seria susceptível de
fazer coisa julgada material. Precedente citado: RHC 48.998
(RTJ 60/348); HC 71.849-SP (DJU de 4.8.95). HC 75.907-
RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 11.11.97.

Importação de Motores Usados


A Turma conheceu e deu provimento a recurso
extraordinário da União Federal para reformar acórdão do
TRF da 5ª Região que decidira pela inconstitucionalidade da
proibição de importação de motores usados mediante a
Portaria nº 8/91, do Departamento do Comércio Exterior do
Ministério da Fazenda - DECEX. A Turma, considerando
que “a fiscalização e o controle sobre o comércio exterior,
essenciais à defesa dos interesses fazendários nacionais,
serão exercidos pelo Ministério da Fazenda” (CF, art. 237),
entendeu válida a edição de portaria disciplinando a
importação de bens, não se exigindo lei formal e material
para tanto, ao contrário do que decidido pelo tribunal de
origem. Afastou-se, na espécie, a alegada ofensa ao princípio
da legalidade (CF, art. 5º, II) tendo em conta também o
precedente do Plenário no RE 203.954-CE (DJU de 7.2.97)
no qual, julgando hipótese semelhante, versando sobre a
importação de carros usados, o Tribunal rejeitara a tese de
ofensa ao princípio da isonomia. RE 219.482-CE, rel. Min.
Moreira Alves, 11.11.97.

SEGUNDA TURMA
Intimação para Audiência
A Turma apreciando habeas corpus em que se
aponta como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, que manteve sentença que condenara o
paciente pela prática dos crimes de seqüestro, concussão e
resistência indeferiu, vencido o Min. Marco Aurélio, o
pedido ao entendimento de que a regular intimação da
defesa da expedição da carta precatória e da data da primeira
audiência de inquirição de testemunhas torna desnecessária
nova intimação para eventual audiência de continuação.
Ponderou-se, ainda, que não houve cerceamento de defesa já
que nomeado defensor ad hoc. No mesmo julgamento,
concedeu-se habeas corpus de ofício para que, mantida a
condenação, o Tribunal de origem fundamente sua decisão
quanto às questões preliminares suscitadas pela defesa.
Precedentes citados: HC 63.206-SP (DJU de 28.2.86); HC
72.215-SP (DJU de 17.5.96); HC 72.651-MG (DJU de
21.6.96); HC 69.203-SP (RTJ 141/556); e RHC 49.506-SP
(RTJ 60/405). HC 75.474-SP, rel. Min. Maurício Corrêa,
11.11.97.

Bis in Idem: Inocorrência


Considerando que o fato da vítima ser menor de
quatorze anos pode ser utilizado tanto para presumir a
violência como circunstância elementar do tipo (CP, art. 214
c/c 224, I), quanto para aumentar a pena devido à causa de
aumento prevista no art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos
[“As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos
arts. 157, § 3º, 158, § 2º 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º,
213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput e
parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223,
caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são
acrescidas de metade, respeitado o limite superior de 30
(trinta) anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das
hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal”],
sem que haja a ocorrência de bis in idem, a Turma indeferiu
habeas corpus interposto contra acórdão do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro que negara provimento à
apelação interposta contra sentença que condenara o paciente
a onze anos e três meses de reclusão pela prática do crime de
atentado violento ao pudor praticado contra menor, com
abuso do pátrio poder. Precedentes citados: HC 71.011-RJ
(DJU de 26.5.95); HC 72.528-MG (DJU de 2.2.96); HC
74.074-SP (DJU de 20.9.96); HC 74.250-SP (DJU de
29.11.96); e HC 74.487-SP (DJU de 14.11.96). HC 74.780-
RJ, rel. Min. Maurício Corrêa, 11.11.97.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 12.11.97 13.11.97 15


1ª Turma 11.11.97 --------- 155
2ª Turma 11.11.97 10.11.97 350

CLIPPING DO DJ
14 de novembro de 1997

HC N. 73.228-3
RELATOR : MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL
PENAL. JÚRI: SOBERANIA. DECISÃO CONTRÁRIA À PROVA
DOS AUTOS. ANULAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE.
"HABEAS CORPUS".
1. Tendo sido alegada, na apelação do Ministério Público, que a
decisão do Tribunal do Júri havia sido "manifestamente contrária à
prova dos autos" (art. 593, III, "d", do Código de Processo Penal), o
acórdão impugnado teve de examinar o conjunto probatório, para
poder concluir, como concluiu, pelo provimento do recurso e,
conseqüentemente, pela sujeição do réu a novo julgamento (§ 1° do
art. 584 do C.P.P.).
2. Fazendo-o, o aresto não incidiu em nulidade, o que, na verdade,
ocorreria, se o não fizesse, pois todas as decisões judiciais devem ser
fundamentadas (artigo 93, inc. IX, da Constituição Federal e art.
381, III, do C.P.Penal).
3. Se é certo que a Constituição preservou a soberania do Júri (art.
5°, inc. XXXVIII, "d"), por outro lado constitucionalizou a
exigência de que todas as decisões judiciais sejam fundamentadas,
sob pena de nulidade, inclusive, portanto, aquelas que julgam
apelações contra decisões do Tribunal do Júri, mesmo quando se
alegue que estas contrariaram a evidência dos autos.
4. É inconsistente a alegação de que tal fundamentação do acórdão
pode influir na formação da convicção dos Jurados, no novo
julgamento a ser realizado, pois estes podem, em tese, absolver
novamente o réu, e, nesse caso, já não caberá nova apelação do
Ministério Público, com a mesma alegação (art. 593, § 3°, do
C.P.Penal).
5. No caso, o réu conformou-se com a submissão a novo julgamento.
E só se dispôs a impugnar o acórdão que o determinara, após a
condenação que lhe foi imposta. Podia fazê-lo. Mas, na hipótese,
sem razão.
6. Quanto à alegação de que não havia motivos para o acórdão
considerar contrariada a evidência dos autos, não pode ser apreciada,
pelo S.T.F., no âmbito estreito do "Habeas Corpus", que não
comporta aprofundado reexame de provas, conforme sua pacífica
jurisprudência.
7. "H.C." indeferido. Decisão unânime.

HC N. 75.252-7
RELATOR : MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.
ESTELIONATO. INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO. ALEGAÇÃO DE
INOCORRÊNCIA DE ILÍCITO PENAL. ERRO NA
CAPITULAÇÃO DO DELITO: INOCORRÊNCIA.
I. - Estelionato: Cód. Penal, art. 171, caput: o Juízo competente é o
do lugar onde o agente realiza o negócio fraudulento, obtendo
vantagem indevida.
II. - Crime de estelionato configurado: Cód. Penal, art. 171.
III. - H.C. indeferido.

HC N. 75.289-6
RELATOR : MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA. HABEAS CORPUS. INTIMAÇÃO. PAUTA DE
JULGAMENTO. DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. LC 80/94,
ART. 44 E LEI Nº 1.060/50, ART. 5º, § 5º, ACRESCIDO POR
FORÇA DA LEI Nº 7.871/89.
Nos termos do art. 44 da Lei Complementar nº 80/94 e do § 5º do
art. 5º da Lei nº 1.060/50, acrescentado pela Lei nº 7.871/89, o
defensor público será intimado pessoalmente de todos os atos do
processo em ambas as instâncias. Implica nulidade da intimação e,
conseqüentemente, do julgamento da apelação e da certidão de
trânsito em julgado do acórdão, se o defensor público não foi
intimado pessoalmente, mas apenas pela publicação na imprensa
oficial.
Habeas corpus deferido.
* noticiado no Informativo 87

HC N. 75.305-1
RELATOR : MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.
PRONÚNCIA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE:
IMPROCEDÊNCIA. COMPATIBILIDADE ENTRE AS
QUALIFICADORAS "DISSIMULAÇÃO" E "OU OUTRO
RECURSO QUE DIFICULTE OU TORNE IMPOSSÍVEL A
DEFESA DO OFENDIDO", PREVISTAS NO ART. 121, § 2º, IV,
DO CÓDIGO PENAL.
I. - Inexistência de nulidade da pronúncia que acolhe qualificadora
implicitamente contida na denúncia.
II. - Compatibilidade entre as qualificadoras "dissimulação" e "ou
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido", previstas no inciso IV, § 2º, do art. 121 do Código Penal.
III.- H.C. indeferido.

HC N. 75.318-3
RELATOR : MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: I. Fiança: a afiançabilidade de infração penal, a partir da
L. 6.416/77, verifica-se em função do mínimo da pena abstratamente
cominada, independentemente da que concretamente tenha sido
aplicada pela decisão condenatória recorrível.
II. Fiança: prestação a qualquer tempo, enquanto não transitar em
julgado a decisão condenatória (C.Pr.Pen., art. 334): irrelevância da
inexistência de efeito suspensivo dos recursos contra ela cabíveis e
de a prisão dele decorrente constituir execução provisória da
condenação: nova orientação do STF (HC 72.169, 1ª Turma,
21.2.95, Pertence, DJ. 9.6.95; HC 73.151, 1ª Turma, Moreira, DJ
19.4.96; RHC 74.035, 2ª Turma, Rezek, Informativo STF, n. 42; HC
75.079, 1ª Turma, Moreira, 18.8.97; HC 75.318, 1ª Turma,
Pertence, 18.3.97).

HC N. 75.620-4
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
COMPETÊNCIA - HABEAS-CORPUS - ATO DE TRIBUNAL DE
ALÇADA CRIMINAL. Na dicção da ilustrada maioria,
entendimento em relação ao qual guardo reservas, compete ao
Supremo Tribunal Federal julgar todo e qualquer habeas-corpus
dirigido contra ato de tribunal ainda que não possua a qualificação
de superior. Convicção pessoal colocada em segundo plano, em face
de atuação em órgão fracionário.
PRESCRIÇÃO - EXTRAVIO DE AUTOS - PARÂMETROS.
Exsurgindo de dados relativos a peças restauradas a conclusão sobre
ausência da passagem do prazo prescricional, descabe falar em
prescrição da pretensão punitiva. Isso acontece quando, nebulosa a
data do recebimento da denúncia, verifica-se que, antes da sugerida
nos autos, já ocorrera a citação dos acusados para o interrogatório,
sempre a pressupor o curso de ação penal e, portanto, o recebimento
da peça de acusação. O Judiciário não pode se mostrar flexível em
hipótese em que o sumiço dos autos resultou da retirada do cartório
por falso advogado, fato que somente poderia favorecer aos
acusados.

HC N. 75.944-6
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
COMPETÊNCIA - HABEAS-CORPUS - ATO DE TRIBUNAL DE
ALÇADA CRIMINAL. Na dicção
da ilustrada maioria, entendimento em relação ao qual guardo
reservas, compete ao Supremo Tribunal Federal julgar todo e
qualquer habeas-corpus dirigido contra ato de tribunal ainda que não
possua a qualificação de superior. Convicção pessoal colocada em
segundo plano, em face de atuação em órgão fracionário.
INCOMPETÊNCIA - NULIDADE - NATUREZA. Em se tratando
de incompetência, a nulidade é absoluta, não restando sanada pela
passagem do tempo, ou seja, diante da circunstância de não haver
sido evocada na fase das alegações finais - inteligência dos artigos
564, inciso I, 571, inciso II, e 572 do Código de Processo Penal.
COMPETÊNCIA - CRIME CONTRA EMPRESA PÚBLICA
FEDERAL. A competência para julgamento de ação retratando
crime praticado em detrimento de bem de empresa pública é da
Justiça Federal - artigo 109, inciso I, da Constituição Federal.
* noticiado no Informativo 87

MS N. 22.477-1
RELATOR : MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR PÚBLICO: DEMISSÃO. ILÍCITO PENAL E ILÍCITO
ADMINISTRATIVO.
I. - A jurisprudência do S.T.F. é no sentido de que a demissão do
funcionário público motivada pela prática de crime funcional pode
fazer-se mediante processo administrativo, decidido antes da solução
do processo penal pelo mesmo fato.
II. - MS 21.294-DF, Pertence, Plenário, 23.10.91; MS 21.293-DF,
Gallotti, Plenário; MMSS 21.545-SP, 21.113-SP e 21.321-DF,
Moreira Alves, DJ de 02.04.93, RTJ 134/1105 e RTJ 143/848,
respectivamente.
III. - M.S. indeferido.

AG (AgRg) N. 191.110-1
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO - FORMALIDADE. A teor do
disposto no artigo 321 do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal, a petição de encaminhamento do recurso deve-se indicar,
com precisão, a alínea do inciso III do artigo 102 da Constituição
Federal que o autoriza. A formalidade é essencial à valia do ato,
consubstanciando, assim, ônus processual.

AG (AgRg) N. 191.337-6
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL - REVISÃO DE SALÁRIOS.
Longe fica de vulnerar o inciso III do artigo 8º da Constituição
Federal provimento mediante o qual, a partir de interpretação
conferida a normas estritamente legais (Leis nºs 6.708/79 e
7.238/84), conclui-se pela normalidade da substituição processual
dos integrantes da categoria pelo sindicato que a congrega,
limitando-a aos associados e à questão concernente ao reajuste
salarial.

AG (AgRg) N. 191.864-1
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
GARANTIA DE EMPREGO - INTEGRANTE DE COMISSÃO
INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTE - SUPLENTE. O
preceito da alínea "a" do inciso II do artigo 10 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, da Carta de 1988, encerra
garantia de emprego considerado o cargo de direção de comissões
internas de prevenção de acidente, sem distinguir as figuras do
titular e do suplente, mesmo porque este é comumente chamado a
atuar em substituição ao titular, podendo, assim, arrostar interesses
do empregador.
* noticiado no Informativo 86

AG (AgRg) N. 195.629-9
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL - PROCURADORES
AUTÁRQUICOS - Tratando-se de autarquia, a representação por
procurador do respectivo quadro funcional independe de instrumento
de mandato. Suficiente é a revelação do "status", mencionando-se,
tanto quanto possível, o número da matrícula. Declinada a simples
condição de advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil,
presume-se a contratação do profissional para o caso concreto,
exigindo-se, aí, a prova do credenciamento - a procuração.

AG (AgRg) N. 199.238-4
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Agravo regimental.
- Inexistência, no caso, de ofensa aos incisos XXXV, LIV e LV do
artigo 5º da Constituição.
- De outra parte, como salientado no despacho agravado, em se
tratando de acordo coletivo homologado pela Justiça do Trabalho, é
esta competente para julgar os litígios que tenham origem no
cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas (art.
114, "in fine", cfe., a título de exemplo, o RE 131.032).
Agravo a que se nega provimento.

AG (AgRg) N. 200.733-4
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Agravo regimental.
- A posição sustentada pelo agravante pretende basear-se em
interpretação puramente literal, que é a forma mais rudimentar de
exegese. Por isso, esta Primeira Turma acolheu, quanto a esse artigo
7º, XXIX da Constituição, a interpretação lógica que, sem contrapor-
se à letra do dispositivo, é a no sentido de que esse texto, com a
expressão créditos, abarca os direitos de crédito quaisquer que
sejam, não estabelecendo regra alguma sobre se essa prescrição
alcança apenas as prestações vencidas (prescrição parcial) ou se
atinge também o denominado fundo de direito (prescrição total).
Agravo a que se nega provimento.

AG (AgRg) N. 202.928-4
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: - Agravo regimental.
- Se o artigo 544, § 1º, do C.P.C. determina que a procuração
outorgada ao advogado do agravado é peça de traslado obrigatório
sob pena de não-conhecimento do agravo, se, porventura, essa peça
não constar dos autos, deverá o agravante juntar ao instrumento
certidão dessa falta, o que não se fez no caso.
- Por outro lado, esse mesmo dispositivo, ao aludir a que "o agravo
de instrumento será instruído com as peças apresentadas pelas
partes", se refere à peças com que agravante e agravado formam o
instrumento do agravo, mas é evidente que, havendo a cominação de
não-conhecimento do agravo se não constarem do instrumento as
peças de traslado obrigatório, cabe ao agravante juntar aquelas peças
produzidas nos autos originais pelo agravado, até porque este não
está obrigado a contra-arrazoar o agravo, nem, portanto, a apresentar
peça alguma para compor o instrumento.
Agravo a que se nega provimento.

RE (AgRg) N. 212.839-2
RELATOR : MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL
CONTRA MASSA FALIDA. INCLUSÃO NO CRÉDITO
HABILITADO EM FALÊNCIA DA MULTA FISCAL COM
EFEITO DE PENA ADMINISTRATIVA. INVIABILIDADE DA
SUA COBRANÇA. ART. 23, PARÁGRAFO ÚNICO, III DA LEI
DE FALÊNCIAS. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A falência tem a natureza de medida preventiva do prejuízo, para
impedir a dissipação dos bens do devedor, que são a garantia comum
dos seus credores. É também processo de execução extraordinária e
coletiva, sobre a generalidade daqueles bens, com o objetivo de
circunscrever o desastre econômico do devedor e igualar os credores
quirografários.
2. Inexigibilidade da multa administrativa, que refletiria no montante
da massa a ser partilhado pelos credores.
3. Agravo regimental não provido.
RE N. 190.104-7
RELATOR : MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Recurso extraordinário. 2. Ação de adjudicação
compulsória. Oposição. 3. Improcedência da ação, em primeira
instância, e procedência da oposição. 4. Apelação do autor provida
pelo Tribunal de Justiça, para julgar procedente a demanda e
improcedente a oposição. 5. Embargos de declaração dos réus ao
acórdão na apelação onde se sustenta nulidade do processo, porque,
embora falecidos, à época do ajuizamento da ação, três dos réus
foram, por via de edital, citados e não os respectivos espólios. 6.
Embargos de declaração dos réus (CPC, art. 535, I e II) não
acolhidos, afirmando-se, na ementa do aresto: "Em seu delimitado
território nada se redecide, inova ou modifica, exceção que se abre
ao espanque de sopitável erro material. Sua destinação é esclarecer,
suprir omissões, diminuir eventuais contradições, sem contudo ferir
a essência do que restou ungido pela sacralidade do julgado". 7.
Recursos especiais interpostos pelos réus, dos quais três foram
conhecidos e providos com base na alegada nulidade do processo
por vício de citação. 8. Afirmou-se no acórdão do STJ, referente aos
recursos especiais, que, "mesmo em sede de embargos de declaração
opostos à decisão de segundo grau, se mostra possível o
reconhecimento de vício que eventualmente haja maculado a regular
e válida constituição da relação processual", analisando e decidindo,
a seguir, o mesmo aresto, ora extraordinariamente recorrido, o
mérito da argüição de nulidade, concluindo ser nula a citação dos
três litisconsortes e "nulo o processo a partir de então". 9. Embargos
de declaração do ora recorrente, sustentando contradição no acórdão
do STJ, bem assim violência aos princípios do devido processo
legal, do contraditório e da ampla defesa (Constituição, art. 5º, LIV e
LV), foram rejeitados, o mesmo sucedendo com os segundos
embargos de declaração. 10. Recurso extraordinário interposto por
Mohamad Ismail El Samad, alegando ofensa pelo julgado do
Superior Tribunal de Justiça ao art. 5º, incisos LIV e LV, e ainda ao
art. 105, III, letra a, todos da Constituição Federal. 11. Limites do
recurso extraordinário, para o Supremo Tribunal Federal, contra
acórdão em recurso especial, do Superior Tribunal do Justiça, em
face do sistema da Constituição Federal (arts. 102, III, letras a, b e c,
e 105, III, letras a, b e c). Definida a área de competência de ambas
as Cortes, certo está que o Supremo Tribunal Federal, pela
competência excepcional e incontrastável prevista no caput do art.
102 da Lei Magna, enquanto guarda da Constituição, pode, em
princípio, conhecer de recurso extraordinário também de decisão
proferida pelo STJ, quer no exercício da competência originária,
quer de competência recursal ordinária, quer em recurso especial
(CF, art. 105, I, II e III), desde que o julgado contrarie dispositivo da
Constituição, inclusive o art. 105 e seus incisos. Assim, ad
exemplum, se o Superior Tribunal de Justiça julgar, em recurso
especial, causa não enquadrável nas hipóteses a), b) e c) do inciso III
do art. 105 aludido, pode, eventualmente, configurar-se espécie
submetida a recurso extraordinário, ut art. 102, III, a), da
Constituição, precisamente, por ofensa ao art. 105, III, da Lei Maior.
Decerto, não há de caber recurso extraordinário, desde logo, como
instrumento revisional do acerto ou não da decisão de mérito do
STJ, quando confere, em recurso especial, determinada interpretação
a norma infraconstitucional, ao decidir se o acórdão local recorrido,
em aplicando a mesma norma, fê-lo corretamente, ou se lhe negou
vigência, deixando de fazê-la incidir em situação onde seria
aplicável, ou por tê-la feito disciplinar hipótese em que não devia
fazê-lo. Nesses casos, tudo ocorre no plano infraconstitucional e
segundo a competência prevista no art. 105, III, da Lei Magna. 12.
De outra parte, os temas constitucionais emergentes do julgamento
do recurso especial podem fundamentar recurso extraordinário,
justificando-se, ademais, aí, a interposição de embargos de
declaração, no STJ, para o regular prequestionamento desses
assuntos constitucionais a serem, após, deduzidos no pleito do apelo
extremo. 13. No caso concreto, em alguns dos recursos especiais
interpostos pelos ora recorridos ao STJ, contra os acórdãos do
Tribunal de Justiça, houve expressa alegação de negativa de vigência
do art. 535, I e II, do Código de Processo Civil, porque a Corte local
decidira que os embargos de declaração eram incabíveis para
conhecer, originariamente, de argüição de nulidade da citação e do
processo, pelo fundamento de estarem falecidos três dos réus
citados, por edital, à época do ajuizamento da demanda. Dessa
maneira, o Superior Tribunal de Justiça podia conhecer, tal como o
fez, do tema concernente ao âmbito dos embargos de declaração e
decidir, consoante sucedeu, quanto à exegese que entendesse de
emprestar ao art. 535, I e II, do CPC; no ponto, não há ver, destarte,
ofensa ao art. 105, III, letra a, da Constituição, pois os três recursos
especiais conhecidos e providos, a esse respeito, efetivamente,
atendiam aos cânones formais para viabilizar o pronunciamento de
mérito da Corte Superior a quo, quanto à matéria
infraconstitucional, referente à abrangência dos embargos de
declaração, em nosso sistema processual. Expressamente, o acórdão
ora recorrido afirmou: “mesmo em sede de embargos de declaração,
se mostra possível o reconhecimento de vício que eventualmente
haja maculado a regular e válida constituição da relação
processual”. Ao reformar, assim, o acórdão do Tribunal de Justiça e
proclamar, como via adequada, os embargos de declaração para
decidir sobre nulidade de citação-edital, questão posta, nesse ensejo,
originariamente, à Corte de segundo grau, após o julgamento da
apelação, podendo, inclusive, conferir efeito modificativo aos ditos
embargos de declaração, procedeu o acórdão ora recorrido, nos
limites do art. 105, III, a, da Constituição, dando pela negativa de
vigência, do art. 535, I e II, do CPC, por parte do aresto local. 14.
Ocorre, porém, que o acórdão ora recorrido, indo adiante, desde
logo, julgou o mérito dos embargos de declaração e anulou o
processo a partir da citação-edital, embora o Tribunal local, nos
embargos de declaração, não houvesse julgado, efetivamente, o
mérito da argüição de nulidade, eis que teve, a tanto, a via em
referência como inadequada para decidir, originariamente, essa
matéria, não posta na ocasião da sentença ou da apelação. 15. Dessa
maneira, força é concluir que, no ponto, o acórdão recorrido não
podia, desde logo, enfrentar o mérito da argüição de nulidade da
citação, envolta como está a questão em fatos e provas, suprimindo
instância ordinária, onde possível ainda seria produzir prova ou
discutir sobre os fatos, máxime em hipótese como a dos autos em
que, durante tantos anos, o feito teve seu processamento, com amplo
conhecimento, debate e assistência dos interessados, todos se
contrapondo à pretensão de mérito do autor. Não seria, destarte,
possível desprezar a instância ordinária e natural, para decidir, de
imediato, originariamente, a quaestio juris em causa, em instância
extraordinária, como é a do recurso especial. 16. Em assim
decidindo, o acórdão, ora extraordinariamente recorrido, ofendeu o
art. 105, III, a), da Constituição, ao dar, ao recurso especial, a
extensão e eficácia que lhe conferiu, bem assim vulnerou os incisos
LIV e LV do art. 5º, da Constituição, quanto ao devido processo
legal, ao contraditório e ampla defesa, devidamente prequestionados,
em suprimindo instância ordinária onde possível ainda discutir fatos
e produzir provas, originariamente, no reconhecido âmbito dos
embargos de declaração. 17. Recurso extraordinário conhecido, em
parte, e, nessa parte, provido a fim de cassar, parcialmente, o
acórdão do Superior Tribunal de Justiça, no ponto em que julgou,
desde logo, nula a citação e nulo o processo, a partir da citação-
edital, e determinar retornem os autos ao Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, para que prossiga no julgamento dos
embargos de declaração interpostos pelos ora recorridos e os decida,
como entender de direito, respeitados o contraditório e ampla defesa
do autor sobre a alegada nulidade do processo, por vício da citação-
edital.
* noticiado no Informativo 53

RE N. 198.720-1
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Desapropriação. Extinção de execução. Atualização
monetária.
- Esta Corte, na vigência da Emenda Constitucional n° 1/69, firmou,
a partir do julgamento do RE 106.588, em sessão plenária, a
orientação de que, em se tratando de desapropriação, a atualização
monetária sucessiva do pagamento só se verifica se decorrido prazo
superior a um ano a contar da anterior.
Recurso extraordinário conhecido e provido.

Acórdãos publicados: 444

T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

Tribunal de Contas e Cerceamento de Defesa


(v. Informativo 85)

MS 22.562-DF *

Ministro Marco Aurélio (relator)

Relatório: - Ao apreciar o pedido

de concessão de liminar, assim sintetizei à espécie dos autos:

1. Com a
inicial de folhas 2 a 4, o
Impetrante informa haver sido
Prefeito do Município de São
Vicente Ferrer, no Estado do
Maranhão. Afirma ainda que, em
decorrência de convênios
celebrados com o extinto
Ministério da Habitação e Bem
Estar Social, fora alvo de vistoria
em ação de tomada de contas e
que, diante da decisão da 1ª
Câmara do Tribunal de Contas da
União, quanto à aplicação dos
recursos objeto de convênio,
interpôs recurso de
reconsideração, não logrando
resultado satisfatório. Sustenta a
inconstitucionalidade do artigo 23,
§§ 1º e 2º, da Resolução TCU nº
36/95, salientando que, de acordo
com tal Resolução, quando
rejeitada a argumentação da
defesa, não se admite recurso
perante o Tribunal de Contas, em
que pese a contrariedade ao artigo
31 da Lei nº 8.443, de 16 de julho
de 1992. Daí concluir pela
transgressão ao inciso LV do rol
das garantias constitucionais,
abrindo-se margens à impetração.
Por derradeiro, enquadra o direito
reclamado como líquido e certo,
pleiteando liminar com que se
afaste qualquer ato de constrição
patrimonial até o julgamento final
deste mandado de segurança.

O Ministro
Celso de Mello, no exercício da
Presidência, despachou à folha
169, condicionando a apreciação
da liminar às informações, que
vieram aos autos mediante ofício
com o qual restou encaminhada
manifestação da Consultoria Geral
do Órgão. Em síntese, consigna tal
pronunciamento haver a 1ª
Câmara do Tribunal de Contas
rejeitado a defesa apresentada
pelo Impetrante, ausente que se fez
a comprovação de terem sido os
recursos concernentes aos
convênios aplicados tal como
previsto. Embargos foram
rejeitados, seguindo-se a
interposição de “recurso de
reconsideração” incabível.
Articula-se com a regra do § 1º do
artigo 12 da Lei nº 8.443/92,
segundo o qual “o responsável
cuja defesa for rejeitada pelo
Tribunal será cientificado para, em
novo e improrrogável prazo
estabelecido no Regimento Interno,
recolher a importância”. O artigo
23, §§ 1º e 2º, da Resolução nº
036/95, estaria a mostrar-se,
assim, em harmonia com a
legislação evocada.

Deferi a liminar pleiteada, suspendendo, até decisão final deste


mandado de segurança, qualquer ato de constrição patrimonial
resultante da tomada de contas a que restou submetido o Impetrante.
Remetidos os autos à Procuradoria Geral da República, pronunciou-
se no sentido do deferimento da segurança. Assim ficou sintetizada a
peça:

“Decisão do
Tribunal de Contas da União
rejeitando as alegações da defesa,
em processo de tomada ou
prestação de contas: Não constitui
decisão preliminar (art. 10 da Lei
nº 8.443/92), nem despacho de
mero expediente - porquanto
aprecia o mérito das contas -, e,
por isso, não é irrecorrível” (folha
224).

Estes autos vieram-me conclusos para exame em 13 de junho de


1997, sendo que os liberei para inclusão em pauta no dia 17 de julho
imediato (folha 237).
É o relatório.

Voto: - Na oportunidade em que

examinei o pedido de concessão de medida acauteladora fiz ver:

2. Ao primeiro
exame, o artigo 32 da Lei nº
8.443/92 viabiliza o recurso contra
a decisão primeira em processo de
tomada de contas. O preceito, ao
dispor sucessivamente sobre o
pedido de reconsideração, os
embargos declaratórios e a
revisão, não contempla a exceção
somente insculpida na Resolução
nº 36/95, no que, mediante o § 1º
do artigo 23, revela não caber
recurso da decisão que rejeitar as
alegações de defesa exaradas pelo
responsável (folha 118)

Conforme ressaltado pelo Procuradoria Geral da República, a


inadmissão do recurso administrativo decorre de interpretação
conferida à Lei nº 8.443/92. A materialização se fez via o artigo 23
da Resolução nº 36/95:

“Art. 23. O
responsável cuja defesa fora
rejeitada pelo Tribunal será
cientificado para, em novo e
improrrogável prazo estabelecido
no regimento interno, recolher a
importância devida.

§ 1º. Não cabe


recurso da decisão que rejeitar as
alegações de defesa apresentadas
pelo responsável.

§ 2º. Caso o
responsável não recolha a
importância devida e apresente
novos elementos de defesa, esses
serão examinados quando do
julgamento das contas.”

Prevê, portanto, o citado artigo 23, a apreciação da defesa


inicialmente apresentada, bem como, diante da rejeição desta,
determinação de recolhimento da importância. No próprio § 1º do
artigo 23 alude-se à natureza desse ato como consubstanciadora de
verdadeira decisão. Ora, a teor do disposto no artigo 10 da Lei nº
8.443/92, as decisões nos processos de tomada ou prestação de
contas podem ser: preliminar, definitiva ou terminativa. O preceito
está assim redigido:

“Art. 10. A
decisão em processo de tomada ou
prestação de contas pode ser
preliminar, definitiva ou
terminativa.

§ 1º. Preliminar é
a decisão pela qual o relator ou o
tribunal, antes de pronunciar-se
quanto ao mérito das contas,
resolve sobrestar o julgamento,
ordenar a citação ou a audiência
dos responsáveis, ou, ainda,
determinar outras diligências
necessárias ao saneamento do
processo.

§ 2º. Definitiva é
a decisão pela qual o Tribunal
julga as contas regulares,
regulares com ressalva ou
irregulares.

§ 3º. Terminativa
é a decisão pela qual o Tribunal
ordena o trancamento das contas
que foram consideradas
iliquidáveis, nos termos dos
artigos 20 e 21 desta lei.”

Ora, não se pode enquadrar uma decisão que implique a rejeição


de defesa e a ordem de recolhimento de certa importância como
preliminar. Na verdade, a resolução do Tribunal de Contas da União
acabou por criar uma fase que precede o próprio julgamento
definitivo das contas, mas que pode desaguar em quadro de
constrição a este equivalente que é, justamente, o de recolhimento
das importâncias. Considerada a Lei nº 8.443/92, mais precisamente
o disposto no artigo 32, forçoso é admitir, nessa fase, a
recorribilidade. Rememore-se o preceito:

“Art. 32. De
decisão proferida em processo de
tomada ou prestação de contas
cabem recursos de:

I -
Reconsideração;
II - Embargos de
Declaração;
III - Revisão.

Parágrafo Único.
Não se conhecerá de recurso
interposto fora do prazo, salvo em
razão de superveniência de fatos
novos na forma prevista no
regimento interno.”

A Resolução nº 36/95, que se encontra às folhas 77 a 80 deste


autos, mostra-se insubsistente, no que, no § 1º do artigo 23, afasta o
cabimento do recurso assegurado na Lei nº 8.443/92, muito embora
tenha sido editada visando a “estabelecer procedimentos sobre o
exercício da ampla defesa no âmbito do Tribunal de Contas da
União”.
Por tais razões, concedo a segurança pleiteada. Faço-o para
assegurar ao Impetrante o recurso previsto no artigo 32 da Lei nº
8.443/92, a ser apreciado pelo órgão competente do Tribunal de
Contas.

* acórdão ainda não publicado

Assessores responsáveis pelo Informativo


Maria Ângela Santa Cruz Oliveira
Márcio Pereira Pinto Garcia

informativo@stf.gov.br

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