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Arantes, Paulo Eduardo. “A fratura brasileira do mundo.” In: Zero à esquerda.

São
Paulo: Conrad, 2004.

Brasilianização: expressão usada nos EUA para falar de (31-33):

Belíndia nos EUA (o termo é do Edmar Bacha)

Cisão social/desigualdade/desagregação nacional

Polarização e formação de oligarquias

Classe & cor

Encarceramento em massa

Financeirização/elite rentista

Desterritorialização da elite ← Dolarização da economia

Desaburguesamento + Proletarização

Trata-se de Dualismo

A ideia de brasilianização também evoca uma aproximação entre dois mundos: o mundo
desenvolvido e o mundo subdesenvolvido.

O discurso dualista, no Brasil, tende a ser um “evolucionismo modernista” (eu diria


“modernizante”). No jargão do PSDB nos anos 1990: há um Brasil tecnofobo e ibérico que não
dá certo, ao lado de outro Brasil privatista que dá certo.

Discurso da globalização x Dualismo

Um discurso sobre a fluidez e imaterialidade da riqueza capitalista contraria a tese dos “dois
mundos”. Seria tudo um mundo só. Porém:

Globalização + Concentração / Territorialização

“... a atual pulverização da atividade econômica pela transnacionalização das cadeias


produtivas globais seria materialmente inviável sem uma correspondente centralização
territorial, mais especificamente uma hiperconcentração da propriedade dos meios de
produção e consumo em nós estratégicos exigidos por uma nova lógica de
aglomeração.” (36)

Globalização: Cidades estratégicas de operadores + Força de trabalho descartável

A centralidade das cidades nesse raciocínio, entre outras coisas, entra em conflito com
vários aspectos da noção tradicional de imperialismo.
Cidades divididas ← Dualismo periférico (37-38)

Ao descrever as cidades estratégicas, entretanto, autores americanos vêm falando de “cidades


divididas” (p. ex. Saskia Sassen, Robert Reich, Edward Soja, Mike Davis). Trata-se de
empregar raciocínios típicos de descrições da Belíndia para falar de cidades supostamente ricas.

Reestruturação produtiva (Reorientação privatista dos fundos públicos / Neoliberalismo +


Redisciplinarização da Força de Trabalho / Flexibilização) → Cidade dual →
Periferização do centro

“Consciência dual da elite pensante” no Brasil

Fidelidade para com o ideário metropolitano + Atenção às segregações periféricas

Dualidade periférica x Homogeneidade europeia → Problema do subdesenvolvimento

Tradicionalmente, intérpretes da realidade brasileira contrastaram a dualidade da nossa


realidade com uma suposta homogeneidade social europeia, que seria a referência para
uma superação do subdesenvolvimento.

Luta de classes

Progresso técnico + Pressão dos assalariados para participação no produto =


Homogenização sócio-econômica

Neodualismo do FHC (50)

Quando presidente, FHC afirma em entrevista que uma parte da população simplesmente não
terá lugar na economia formal (Folha de São Paulo, Caderno Mais!, 13/10/1996).

Consciência dual nos EUA e na Europa na década de 1990 (47)

É um discurso sobre uma “nova pobreza” que acompanha uma “nova riqueza”.

Emergência & Neoliberalismo

Na França, a consciência da “cisão social” é acompanhada de uma releitura neoliberal


do conceito de “reforma social”. Trata-se de desmontar emergencialmente o resquício do
aparato do Estado Social para aumentar a lucratividade.

Fratura social → Discurso dos riscos → “Estado de sítio” (51)

O papo dos “riscos” é que parte do mundo desenvolvido estaria se contaminando por
relações sociais anômalas semelhantes às do mundo cindido / subdesenvolvido.

Ponto cego: produção sistemática da desigualdade

Discurso difuso da “exclusão social” x Trabalhador sem trabalho e consumidor sem


dinheiro (incluídos, porém disfuncionais) (52)

Robert Castel: geração da exclusão pela inclusão > Dualismo (Mundo dos incluídos < >
Mundo dos excluídos) (53)

Geração sistemática de desigualdade / cisão → Relevância problemática do conceito de sociedade


(Thatcher) → Problema da unidade nacional ≈ Brasil: problema da formação nacional →
Fratura brasileira torna-se universal → Crise de consciência da intelectualidade periférica não
precisa mais ocorrer... (55-57)

Marildo, nos Olhos acostumados à sombra, menciona como “a pergunta que parece animar a
investigação de Caio Prado Jr. é: de fato podemos considerar o resultado desta formação como
sociedade?” (n. 213 p. 211). Isso tem a ver com o emprego de C. P. J. do conceito de
“inorganicidade” social. (210-211).

Colônia como vanguarda → Modernização abortada = Consumada (59 - 66)

Nesse ponto, Paulo Arantes volta a atenção do leitor para as leituras da formação da sociedade
brasileira, e encontra um eco recíproco nas descrições dos anos 1990 dos países desenvolvidos.

Celso Furtado: a sociedade criada pela razão econômica é essencialmente e


totalmente moderna. (59)

Caio Prado Jr.: Exploração econômica bruta da colônica (plenamente moderna) →


Falta de nexo moral / Sociedade não se torna um “todo coeso” → Cisão social

Antonio Candido & Modernismo: Dualismo x Determinação econômica

A leitura de A.C. da malandragem, e a dualidade lida pelo Modernismo procuravam empreender


um desrecalque do colorido local para fins de criticar justamente o espírito “puritano” (A.C.)
que submetia a vida toda a um princípio econômico (Weber).

Paulo Arantes: Dualismo ← Determinação econômica

O que o argumento do Paulo Arantes está mostrando é que a dualidade que era lida como
colorido local é um resultado da determinação econômica da vida, é um resultado da
modernização, e não um antídoto contra ela!

Schwarz: Colorido local com sinal trocado... (68-9)

Ditadura = Ordem + Desordem

Adaptação ↔ Malandragem ↔ Flexibilização

Schwarz fala de sujeitos monetários sem dinheiro, contravenção, gangsterismo, cultura


iletrada, capitalismo sem lei.

Elites absurdamente/desabusadamente livres → “Malandragem (…) a serviço da ordem”


Celso Furtado: elites ineptas que não podem ser responsáveis pela política econômica
são, de bom-grado, passadas para trás pelo FED, que toma conta de uma economia
dolarizada. (71)

Sergio Bianchi (“Cronicamente inviável”, 2000): Diante do horror, as elites formulam


muito bem.
“Poder irresponsável”: supostamente pressionado pela emergência social, o poder
público não pode ser responsabilizado por coisa nenhuma. (75)

Favelização

“... flexível ambivalência das zonas intermediárias entre o certo e o errado: a legislação tanto
pode ser aplicada ou não ser; ora vale a informalidade clientelista, ora as leis do mercado.” (74)
– “Punição aleatória e penas erráticas” (n. 116 p. 75) + “Fúria regulatória” necessária à
arbitrariedade.

Homens livres na ordem escravocrata → Tradicional instabilidade ocupacional / Rotatividade do


trabalho altíssima (75)

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