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Superposição de dois movimentos harmônicos: batimentos e figuras de

Lissajous
Danilo Machado, Maryelly Faria e Saulo Cordeiro
Instituto de Física – Universidade Federal de Uberlândia
Av. João Naves de Ávila, 2121 – Santa Mônica – 38400-902 – Uberlândia – MG – Brasil
e-mail: maryellyfaria@hotmail.com

Resumo: Este trabalho consiste no estudo de fenômenos de batimento, o qual se define como sendo o
resultado da superposição de duas oscilações periódicas com mesma amplitude, mesma direção e
frequências ligeiramente diferentes, a fim de se analisar o comportamento da saída de um gerador de
sinais elétricos, comparando com o movimento harmônico simples, e entender a aparição desses
batimentos a partir da superposição dos sinais. Além disso, foram verificadas as condições para a aparição
de figuras de Lissajous, ao superpor dois movimentos harmônicos simples em direções diferentes.

Palavras-chave: osciloscópio, Lissajous, batimentos, superposição.

1. Introdução

Há inúmeras situações em que Lissajous. Ao observarmos a aparição dos


movimentos harmônicos simples (MHS) se batimentos, reportamos os valores das
superpõem, gerando um movimento freqüências lidos da tela dos geradores de
resultante. Exemplo: dois diapasões sinais e os valores do período e período
vibrantes produzem tons musicais puros efetivo obtidos no osciloscópio, calculamos
(que correspondem a MHS), que atingem o o período e o período efetivo a partir dos
tímpano de nosso ouvido, colocando-o em valores de freqüência obtidos e
vibração; esta oscilação é gerada pela comparamos os dois resultados. Para a
resultante dos dois MHS [1]. obtenção das figuras de Lissajous fomos
Realizamos experimentos oscilatórios modificando as freqüências nos geradores
envolvendo batimentos e estudamos a de sinais, reportamos os resultados
superposição de oscilações em direções indicando as freqüências lidas nos
perpendiculares e as condições para a geradores e qual curva de Lissajous
obtenção de figuras de Lissajous. O obtemos.
fenômeno conhecido por batimento é o Este relatório está organizado conforme
resultado da superposição de duas esta sequência: na seção 2 está contida a
oscilações periódicas, com a mesma fundamentação teórica do experimento
amplitude, mesma direção e frequências realizado; a seção 3 descreve todo o
ligeiramente diferentes. Considera-se agora procedimento experimental, bem como os
duas oscilações, mas em direções materiais utilizados; a seção 4 relata os
diferentes, dependendo da razão entre a resultados obtidos para os batimentos e as
amplitude, as frequências e da constante de figuras de Lissajous; e a seção 5 contém as
fase 𝜙 , como será visto, algumas equações conclusões a respeito deste experimento.
serão as equações paramétricas de um
conjunto de curvas conhecidas como curvas
ou figuras de Lissajous [1].
Neste experimento, usamos um
osciloscópio para analisar de forma
qualificativa e quantitativa o fenômeno da
superposição de dois movimentos
harmônicos simples. Observamos a
aparição dos batimentos ao superpor
osciladores e logo após estudamos as
condições para a obtenção de figuras de
2. Teoria (2) 2 Geradores de sinais.
(3) Cabos.
Batimento é o nome dado ao fenômeno
resultante da superposição de duas oscilações
periódicas com a mesma amplitude, mesma
direção e frequências ligeiramente diferentes, e
são dadas por:

𝑥1 (𝑡) = 𝐴 cos(2𝜋𝑓1 𝑡) (1)

𝑥2 (𝑡) = 𝐴 cos(2𝜋𝑓2 𝑡)

A soma dessas duas oscilações, 𝑥(𝑡) = 𝑥1 (𝑡) +


𝑥2 (𝑡), resulta em
Figura 1: Osciloscópio com um gerador de sinais.
2𝜋∆𝑓
̅ ) cos(
𝑥(𝑡) = 2𝐴 cos(2𝜋𝑓𝑡 𝑡), (2)
2

onde os termos oscilatórios dependem de duas


O experimento foi realizado em duas etapas, na
novas frequências, dadas por
primeira delas se observou os batimentos, e na
𝑓1 +𝑓2 segunda as figuras de Lissajous.
𝑓̅ = 2
(3)

∆𝑓 = 𝑓1 − 𝑓2 3.1 Batimentos

Através da equação (3), vemos que a oscilação Monte o aparato conectando as saídas dos
resultante possui uma frequência angular efetiva geradores de sinais às entradas um e dois do
igual a frequência média 𝑓,̅ que oscila osciloscópio. Ligue os aparelhos.
rapidamente, e cuja amplitude é modulada pela
Nos geradores de sinais, selecione freqüências
função oscilatória com frequência menor dada
próximas, mas que sejam diferentes, da ordem
por ∆𝜔.
de 1khz e com amplitude igual. Anote o valor
Cada frequência está associada a um período das freqüências marcadas na tela dos
respectivo, ou seja, temos período efetivo 𝑇𝑒 geradores. Logo após, posicione a chave
associado ao ∆𝑓 e um período médio 𝑇̅ denominada como VERT MODE no CH1 para
associado ao 𝑓,̅ os quais podem ser calculados medir o período da saída do gerador que entra
da seguinte mandeira: por este canal, antes, encontre a escala
temporal do osciloscópio adequada usando o
2 1
𝑇𝑒 = ; 𝑇̅ = ̅ (4) botão TIME/DIV, observe a imagem na tela do
∆𝑓 𝑓
osciloscópio para medir o período T. Posicione a
3. Procedimento Experimental chave VERT MODE no CH2 e repita o
procedimento anterior.
Para este experimento foram utilizados os
seguintes materiais:
Posicione novamente a chave VERT MODE,
(1) Osciloscópio. dessa vez no ADD, assim são somados os canais
um e dois. Observe a figura na tela do
osciloscópio e meça o período menor, 𝑇̅, que
está associado à freqüência média. Por fim,
meça o período da oscilação efetiva do
batimento, 𝑇𝑒 . A figura abaixo nos mostra como
pode ser medido 𝑇̅ e 𝑇𝑒 .

Figura 2: Esquema de medição do período menor e do período


de oscilação efetiva 𝑻𝒆 . Figura 3: Curvas de Lissajous considerando amplitudes (A=B).

3.2 Figuras de Lissajous Modifique a frequência dos geradores, não


esquecendo, de anotá-las e observar as
Selecione a mesma freqüência e amplitude nos
geradores de ondas e no osciloscópio, posicione modificações que estão ocorrendo. Obedeça à
o botão TIME/DIV na posição x-y (primeira relação da figura acima para facilitar a
posição à esquerda). Coloque a chave VERT encontrar as curvas de Lissajous.
MODE no CH2 que corresponde ao modo x-y
4. Resultados e disussão
posicionado anteriormente. Anote o que se pode
concluir da imagem que aparece na tela do 4.1 Batimentos
osciloscópio, se puder, fotografe o resultado que
apareceu na tela.

Modifique e anote o valor de uma das


freqüências, de modo a se obter as curvas da
segunda figura. A relação das curvas de
Lissajous encontra-se na imagem abaixo:

Figura 4:

Os valores de frequência lidos nos geradores de


sinais foram 𝑓1 = 877,20𝐻𝑧 e 𝑓2 = 820,69𝐻𝑧.
Pela imagem gerada no osciloscópio (figura 4),
obtivemos os valores para os períodos 𝑇𝑒 =
30𝑚𝑠 e 𝑇̅ = 0,8𝑚𝑠. A partir das equações (3), Os valores verificados nos geradores de sinais,
podemos calcular os valores ∆𝑓 e 𝑓 ̅ usando 𝑓1 e de acordo com as relações de frequências pré-
𝑓2. Dessa forma, temos: definidas, encontram-se na tabela abaixo:

𝑓1 + 𝑓2 877,20𝐻𝑧 + 820,69𝐻𝑧 𝑓1⁄𝑓2 𝑓1 𝑓2𝑐𝑎𝑙𝑐𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜𝑓2𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎 figura


𝑓̅ = =
2 2 1⁄1 520Hz 520Hz 521,47Hz (5)
𝑓 ̅ = 848,945𝐻𝑧 1⁄2 520Hz 1040Hz 1039,7Hz (6)
1⁄3 520Hz 1560Hz 1561,1Hz (7)
E para ∆𝑓, temos:
2⁄3 1040Hz 1560Hz 1040,7Hz (8)
∆𝑓 = 𝑓1 − 𝑓2 = 877,20𝐻𝑧 − 820,69𝐻𝑧 3⁄4 1560Hz 2080Hz 2080Hz (9)

∆𝑓 = 56,51𝐻𝑧

De acordo com as equações (4), podemos Como mostram as figuras a seguir, podemos
calcular os valores dos períodos usando as notar que com exceção da figura (5), as demais
frequências encontradas acima. apresentaram uma boa estabilidade, de forma
que as imagens obtidas das mesmas são mais
2 2 nítidas.
𝑇𝑒 = = = 0,035𝑠 = 35𝑚𝑠
∆𝑓 56,51𝐻𝑧
Observando-se as curvas de Lissajous
1 1 encontradas, constatamos que, em todos os casos
𝑇̅ = = = 0,0011𝑠 = 1,1𝑚𝑠
𝑓 ̅ 848,945𝐻𝑧 analisados, a trajetória das oscilações é
periódica, ou seja, elas retomam ao ponto de
Comparando os valores dos períodos verificados
partida. Notamos ainda que a constante de fase
na leitura do osciloscópio com aqueles
não é fixa, tendo em vista que a diferença desta
encontrados através das equações, nota-se uma
do gerador 1 pro gerador 2, aliada às frequências
ligeira diferença, a qual se dá, em sua maioria, a
comensuráveis emitidas pelos mesmos, resulta
uma inexatidão das medidas feitas, tendo em
neste tipo de curva.
vista que a leitura foi realizada por aproximação
visual das escalas do aparelho.

Analisando o valor das frequências encontradas,


pelo fato de 𝑓1 e 𝑓2 serem muito próximas,
podemos afirmar que ∆𝑓 ≪ 𝑓.̅ Nestas condições,
podemos dizer ainda, considerando a equação
(2), que a melhor expressão para situação
experimental observada é

2𝜋∆𝑓 Figura 5: Curva de Lissajous com razão 1/1 de frequência.


𝑥(𝑡) = 2𝐴 cos ( )𝑡
2

4.2 Figuras de Lissajous


5. Conclusão:

Podemos concluir, com base em todos os


resultados obtidos, que os valores encontrados
experimentalmente se aproximam
consideravelmente daqueles obtidos nas leituras
dos geradores de sinais. O erro encontrado entre
o 𝑇𝑒 verificado no osciloscópio e o 𝑇𝑒 obtido
através do cálculo das frequências foi de
Figura 6: Curva de Lissajous com razão 1/2 de
frequências. 14,28%, enquanto que o erro encontrado entre o
𝑇̅ verificado no osciloscópio e o 𝑇̅ obtido através
do cálculo das frequências foi de 27,3%. Essa
diferença é proveniente da imprecisão das
medidas realizadas experimentalmente.

Bibliografia:

[1] NUSSENZVEIG, M., Curso de Física


Figura 7: Curva de Lissajous com razão 1/3 de Básica,Vol. 2, 3ª Edição, Edgard Blücher Ltda
frequências.
(1996).

Figura 8: Curva de Lissajous com razão 2/3 de


frequências.

Figura 9: Curva de Lissajous com razão 3/4 de


frequências.

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