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PROTÓTIPOS DOS PRINCIPAIS MÉTODOS DE ALTEAMENTOS DE BARRAGENS DE

REJEITOS: À JUSANTE E À MONTANTE

Deyvid Alves Melo1; Leila Alves Gonçalves1; Pedro Andrade Martins Parrela1;
Pedro Antônio Pinheiro Muniz1; Ellen Carolinne Rodrigues Alves2; Jéfferson de Oliveira Costa2

¹Discente. Engenharia Civil. Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – Campus Januária;
2
Docente. Engenharia Agrícola e Ambiental. Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – Campus
Januária.

Introdução
A mineração é um setor muito importante no desenvolvimento de qualquer sociedade. No
Brasil têm contribuído muito na economia e na qualidade de vida de várias pessoas, já que a maior
parte dos seus derivados é essencial para a vida moderna (FARIAS, 2002). Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2014) o setor é responsável por 1,4% do PIB
do país, gerando cerca de 185 mil empregos diretos e mais de 2 milhões indiretamente (Instituto
Brasileiro Mineração - IBRAM, 2018). Entretanto, a extração do minério de ferro é um
empreendimento que pode causar grandes impactos ambientais, pois no processo de beneficiamento
do minério é feito a retirada do material nobre com uso da água, e o que sobra é um material úmido,
argiloso e estéril, contido em bacias de armazenamento formadas por barragens. Essas barragens
são construídas a partir da compactação deste mesmo material, comumente chamado de “rejeito”.
(SOARES, 2010)
Tradicionalmente existem vários modelos de barragens de rejeitos por aterro hidráulico, porém
o mais comum - por ter menor custo de construção - é o método à montante: neste, o alteamento é
construído no sentido para dentro da barragem, caracterizado por sua altura se elevar de forma
desproporcional à base. Outro método de alteamento de barragens de rejeito é o método à jusante:
diferente do primeiro o alteamento é feito para fora da barragem e sua altura é construída de forma
proporcional à base. Por último, há o método da linha de centro que possui disposição similar ao
primeiro mas mantendo o eixo de simetria da barragem constante (CARDOZO; PIMENTA;
ZINGANO, 2016).
O número alarmante de acidentes causados pelo rompimento de barragens no Brasil marcou
negativamente a falta de segurança nessas estruturas, sendo a maioria deles associados ao método
de alteamento à montante. O caso mais recente foi o da barragem à montante I da mina de Feijão
em Brumadinho – Minas Gerais que rompeu-se liberando 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos
de mineração que soterraram escritórios, vestiário e um refeitório da mineradora, causando centenas
de mortes, além de destruir a fauna e a flora local e atingir o Rio Paraopeba, afluente do Rio São
Francisco (BRASIL, 2019). Neste contexto, este trabalho teve como objetivo simular por meio de
protótipos os métodos de barragem à montante e à jusante e identificar na prática qual desses
apresenta maior rigidez avaliada pelo tempo que leva para se romper, sob uma tensão provocada
pela água.

Material e métodos
O experimento foi realizado no laboratório de construção civil do Instituto Federal do Norte de
Minas Gerais – Campus Januária, latitude 15°26'47.83"S e longitude 44°22'19.63"O. Inicialmente
foi realizada a medição dos materiais a serem utilizados para construção dos dois modelos de
barragens - alteamento à montante e alteamento à jusante. A quantidade de areia e água utilizada
para confecção do protótipo foi a mesma para ambos os modelos: 4 kg de areia e 500 g de água
modeladas em um caixote de plástico.
Foi dimensionada a estrutura geométrica de ambos os protótipos das barragens. A barragem de
alteamento à montante foi representada por 3 degraus com altura de 6 cm e largura de 8 cm
totalizando uma estrutura de 18 cm de altura e 24 cm de largura. Logo em seguida, foram
adicionados 3 kg de água de forma gradual, representando o rejeito do qual se destinaria a
construção da barragem. Foi cronometrado o tempo em que a mesma viria a ruptura.
O mesmo procedimento foi realizado para o protótipo da barragem do método à jusante que foi
modelada até atingir a altura de 18 cm de e 24 cm de largura.

Resultados e discussão
Através da realização do experimento, os resultados foram de acordo com os esperados e
conforme indicados por outros autores (CARDOZO; PIMENTA; ZINGANO, 2016). A barragem à
jusante, conforme Fig. 1, resistiu à pressão dos rejeitos de forma mais eficiente do que à barragem à
montante (Fig. 2). Esse resultado foi obtido através do tempo necessário para a barragem se romper:
à montante levou 11 segundos para apresentar falhas na estrutura, enquanto à jusante veio a se
romper somente 32 segundos após o início do teste com preenchimento do protótipo da barragem
com água. Isso demonstra um dos motivos que justifica o fato método à jusante ser considerada
mais segura na contenção de rejeitos do que o método à montante.
Apesar do alteamento À montante ser o mais adotado na prática e menos oneroso de ser construído,
representa um desafio no âmbito geotécnico devido às tensões induzidas, potencial de liquefação e
não consolidação do material utilizado como fundação (MARTIN; MCROBERT, 1999).

Considerações finais
Utilizando o mesmo volume de material tanto para construção da barragem quanto para o rejeito,
foi possível analisar o melhor desempenho na barragem à jusante quando comparada ao método à
montante, sendo que essa última apresentou rompimento em um período de tempo menor,
evidenciando por meio dos protótipos que a utilização do modelo à jusante permite a contenção do
material de forma mais segura do que à montante.

Referências
BRASIL: Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH. Relatório da missão emergencial a Brumadinho/MG
após rompimento da Barragem da Vale S/A – Brasília: Conselho Nacional dos Direitos Humanos; 2019.
CARDOZO, F. A. C.; PIMENTA, M. M.; ZINGANO, A. C.. Métodos construtivos de barragens de rejeitos de
mineração - uma revisão. Holos, Rio Grande do Norte, v. 8, n. 1, p.77-85, 14 dez. 2016. Anual.
FARIAS, C. E.G. Mineração e meio ambiente no Brasil. Relatório do CGEE/PNUD, v. 76, p. 2, 2002.
IBRAM (Brasil). Instituto Brasileiro Mineração (Comp.). Relatório anual de atividades: Julho 2017 a junho de 2018.
Brasília: Ibram, 2018. 40 p.
MARTIN, T. E.; MCROBERTS, E. C. Some considerations in the stability analysis of upstream tailings dams. In
Proceedings of the Sixth International Conference on Tailings and Mine Waste, Vol. 99, 287-302., 1999.
SOARES, L. Barragem de rejeitos. In: LUZ, Adão Benvindo da; SAMPAIO, João Alves; FRANÇA, Silvia Cristina
Alves. Tratamento de Minérios. 5. ed. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2010. Cap. 19. p. 831-896.

Figura 1. Protótipo do método de alteamento de barragem de rejeitos à jusante. Fonte: Próprio autor, 2019.

Figura 2. Protótipo do método de alteamento de barragem de rejeitos à montante. Fonte: Próprio autor, 2019.

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