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net/publication/327894302
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6 authors, including:
Edna Viana
Federal University of Minas Gerais
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All content following this page was uploaded by Livia Jacobini on 26 September 2018.
Livia Jacobini1, Vinícius Mendonça Galvão2, Daniel Tuler Passos3, Aloysio Portugal Maia
Saliba4, Edna Maria de Faria Viana5 e Jorge Luis Zegarra Tarqui6
1
Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SMARH) – EHR - UFMG, Brasil,
livia.jacobini@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil, vmgalvao90@gmail.com
3
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil, danieltpassos@gmail.com
4
Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos (EHR) – UFMG, Brasil, asaliba@ufmg.br
5
Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos (EHR) – UFMG, Brasil, ednamfv@ufmg.br
6
Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos (EHR) – UFMG, Brasil, jlztarqui@yahoo.com.br
Centro de Pesquisas Hidráulicas (CPH)-UFMG
RESUMO:
ABSTRACT:
Overtopped rockfill dykes are hydraulic structures generally used to contain mining
sediments, which have a lowering in the central portion of the embankment for flooding, i.e. the
spillway is incorporated into the dam. The stability of this type of structure depends on seepage;
surface specific flow (flow per unit width of the spillway); diameter and specific density of the blocks;
downstream slope of the dyke. In this context, the objective of this study is to evaluate the hydraulic
performance of spillways of overtopped homogeneous rockfill dykes using a reduced model. The
tests were carried out in an existing channel at the Hydraulic Research Center (CPH) of the Federal
University of Minas Gerais (UFMG) to determine the seepage through the blocks and the maximum
value of specific flow that cause no damage to the structure, in other words, that does not produce
significant displacement of rock blocks.
No Brasil, os tipos de barragens mais comuns, no que tange ao material de construção, são as
de concreto, terra e enrocamento.
As barragens de enrocamento geralmente são construídas com algum tipo de vedação, como
por exemplo um núcleo impermeável (argiloso ou asfáltico) ou o revestimento da face de montante
em concreto. Este tipo de estrutura pode atingir alturas da ordem de 300 m e inclinações do talude de
jusante mais íngremes, que variam de 1,2 a 1,6H:1,0V (Cruz et al., 2014).
Um caso particular de barragem em enrocamento, são os diques de enrocamento galgáveis,
que possuem um rebaixamento na porção central do maciço para passagem das cheias, ou seja, o
sistema extravasor é incorporado no próprio dique. Neste caso, estas estruturas são drenantes e não
possuem um núcleo impermeável. Estas estruturas são muito utilizadas na mineração brasileira para
contenção dos sedimentos gerados nas áreas de mineração durante o período chuvoso. Geralmente
possuem altura de 3 a 15 m, e inclinações de talude de jusante mais suaves, da ordem de 3,0H:1,0 V.
Os diques de enrocamento possuem a vantagem de reutilização dos blocos extraídos da lavra
do minério (itabirito, gnaisse, hematita, dentre outros), os quais seriam descartados em pilhas de
estéril, sendo uma alternativa construtiva na falta de material de empréstimo (escavações destinadas
à obtenção de volume de materiais necessários para aterros) para execução de dique em solo.
Adicionalmente, trazem o benefício de reduzir a área impactada e os custos referentes à área de
empréstimo e implantação de um extravasor em superfície. Estes diques também podem ser
executados em enrocamento proveniente de pedreiras, porém a custos mais elevados. A Figura 1
exibe um exemplo de dique em enrocamento galgável.
Estes diques geralmente estão localizados a jusante de áreas de mineração com elevado
potencial de geração de sedimentos, sendo necessária a manutenção periódica de desassoreamento do
reservatório (Pinheiro, 2011). Todavia, estas estruturas são drenantes, o que facilita o desaguamento
nos períodos de seca para o processo de limpeza, e são executadas com uma camada de transição e/ou
geotêxtil posicionada no talude de montante para retenção dos sólidos.
Durante o assoreamento, ocorre uma diminuição da vazão percolada (infiltrada pelos blocos),
devido à colmatação da transição e, consequentemente, um aumento da vazão galgada. Na Figura 2
é indicado o fluxo de água considerando a estrutura operando com o reservatório limpo e assoreado.
Figura 2.- Funcionamento do dique para condição de reservatório limpo e assoreado.
Segundo Julien (2010), o fluxo ao redor das partículas exerce uma força de arraste que tende
a iniciar seu movimento. A força de resistência do material não coesivo ao deslocamento é o peso
aparente da partícula. Condições limiares ocorrem quando há um equilíbrio entre estas forças, sendo
que a razão entre elas define a tensão de cisalhamento adimensional (τ∗), denominada de parâmetro
de Shields. A variação deste parâmetro em função do diâmetro adimensionalizado das partículas é
mostrada na Figura 3.
Na Figura 3:
τ* é o parâmetro de Shields (adimensional);
τ0 é a tensão de cisalhamento imposta pelo escoamento (Pa);
γ é o peso específico (N/m³);
G é a massa específica dos grãos (adimensional);
ds é o diâmetro das partículas (m);
d* é diâmetro das partículas adimensionalizado;
d50 é o diâmetro equivalente à abertura da malha da peneira em que 50% do material peneirado
fica retido, também chamado de diâmetro mediano dos grãos; e
ν é viscosidade cinemática (m²/s).
𝛾𝑠 −𝛾𝑤 1/2
𝑣 = 𝑐 [2𝑔 ( )] (𝐷50 )1/2 [1]
𝛾𝑤
Em que:
v é a velocidade (m/s);
c é a constante de Isbash (0,86 para fluxos de alta turbulência e 1,20 para baixa turbulência);
γs é o peso específico dos blocos (kN/m³);
γw é o peso específico da água (kN/m³); e
D50 é o diâmetro mediano dos blocos (m).
Partindo-se desta formulação, a estabilidade dos blocos depende do seu diâmetro e da sua
densidade específica, bem como da velocidade, que por sua vez, está relacionada à vazão de
percolação; à vazão específica (vazão por unidade de largura do vertedouro) de galgamento e
inclinação do talude de jusante do maciço, para o caso dos diques galgáveis drenantes. Nesse caso,
admite-se que a região crítica de velocidade nestas estruturas é o pé do maciço.
Neste contexto, o objetivo deste estudo é avaliar o desempenho hidráulico de vertedores de
diques homogêneos de enrocamento galgáveis, por meio de modelo experimental.
Conforme citado por Saliba et al. (2017), os modelos reduzidos têm sido amplamente
utilizados na engenharia hidráulica desde o século XIX, época em que os modelos numéricos não
estavam disponíveis. Atualmente, os estudos estão focados nos modelos numéricos, os quais
evoluíram rapidamente e são capazes de resolver problemas tridimensionais, produzindo resultados
estáveis e consistentes. Todavia, é preciso calibrar e estimar parâmetros nos modelos numéricos, os
quais, geralmente não são obtidos em campo, sendo então necessária a realização de ensaios de
laboratório em escala reduzida.
(a)
(b)
Figura 4.- Arranjo geral do canal A (a) e do canal B (b).
Os diques serão construídos com brita 0, que apresenta peso específico de aproximadamente
26,5 kN/m³, e inclinação do talude de montante de 2,0H:1,0V, sendo que o dique do canal A terá
altura de 15 cm e serão utilizados blocos com diâmetro entre 2 e 8 mm, e o dique do canal B será
construído com altura de 30 cm e o diâmetro variando entre 4 e 16 mm.
A escolha do material e dos diâmetros foi realizada em função do material disponível no CPH
e devido ao fator de escala que será adotado nos modelos e às características e dimensões comumente
utilizadas nestes diques na mineração.
CENÁRIOS DE SIMULAÇÃO
Na Tabela 1 são apresentados os cenários que serão simulados nos canais A e B, os quais
foram definidos visando avaliar a influência de alguns parâmetros na estabilidade hidráulica dos
diques homogêneos de enrocamento galgáveis, a saber: inclinação do talude de jusante; assoreamento
do paramento de montante e a compactação realizada durante a construção da estrutura.
Tabela 1.- Cenários a serem simulados nos modelos físicos reduzidos
Inclinação do talude de
Ensaio Cenário Assoreamento Compactação dos blocos
jusante
Sem assoreamento.
2 A-II Compactação com blocos secos
Vazão máxima percolada
3,0H:1,0V
3 A-III Compactação com blocos úmidos
Sem assoreamento.
5 A-V
Vazão máxima percolada
4,0H:1,0V Situação crítica
6 A-VI Totalmente assoreado
Os ensaios do Cenário A serão realizados uma única vez, enquanto os ensaios do Cenário B
serão repetidos 3 vezes. Nesse momento, apenas os resultados dos ensaios do Cenário A estão
disponíveis. Os ensaios foram realizados para definir a metodologia de ensaio e algumas variáveis do
aparato experimental, as quais são listadas a seguir:
• Cenários a serem ensaiados;
• Material e diâmetro dos blocos a serem utilizados na construção dos diques;
• Metodologia de construção dos diques, no que se refere à compactação, umidade e
assoreamento do reservatório;
• Hidrograma de simulação;
• Vazão percolada quando o dique não está assoreado;
• Medições a serem realizadas e instrumentos a serem utilizados em cada simulação;
• Determinação do critério para definição de estabilidade hidráulica do dique.
A partir das definições obtidas nos ensaios do Cenário A, serão realizados os ensaios do
Cenário B em escalas maiores e repetindo 3 vezes cada simulação.
A análise granulométrica dos blocos de brita foi realizada por meio de peneiramento manual,
utilizando-se as peneiras com aberturas normalizadas de 16, 8; 4; 3,35 e 2 mm, as quais estão
disponíveis no CPH.
A partir da massa percentual acumulada que passa em cada peneira foi elaborada a curva
granulométrica e determinado o diâmetro mediano (D50) do material a ser utilizado na construção dos
diques.
Etapa 2: Construção do Maciço do Dique
(a) (b)
Figura 6.- Construção do dique com compactação.
A vazão percolada pelo maciço será determinada por meio da medição da vazão bombeada
para o canal, quando o nível do reservatório estiver na mesma elevação da crista do dique. Os canais
de testes são dotados de medidores de vazão eletromagnéticos para este fim.
Etapa 4: Determinação da Vazão Específica Limite
Robinson et al. (1998) e Baptista e Coelho (2016) recomendam que os canais revestidos em
enrocamento sejam executados com uma espessura equivalente a 2 vezes o diâmetro mediano (D50)
dos blocos. Neste sentido, definiu-se que a vazão específica limite, será aquela em que o deslocamento
de blocos atinge este limite de espessura.
Para permitir a identificação desta camada foi realizada a pintura dos blocos, conforme
exibido na Figura 7. Foram utilizadas 4 faixas, de cores diferentes para permitir a visualização dos
locais onde ocorre deslocamento dos blocos.
(a) (b)
Figura 7.- Camada de blocos pintadas, referente a 2xD50. Vista da ombreira esquerda (a) e vista de
cima (b).
Para o dique com inclinação de jusante de 3,0H:1,0V, será realizado o acréscimo gradual da
vazão, conforme hidrograma apresentado na Figura 8. Este hidrograma foi definido a partir dos
ensaios preliminares realizados até o momento. Foi verificado que são necessários aproximadamente
10 minutos para estabilizar o nível de água no reservatório e 10 minutos após esta estabilização para
realizar as observações e medições necessárias.
4,50
4,00
3,50
3,00
q (L/s.m)
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
20 40 60 80 100 120 140 160 180
t (min)
Etapa 5: Medições
Para a vazão específica limite do sistema extravasor do dique de cada cenário, serão realizadas
as seguintes medições: profundidade no reservatório, na crista e em determinadas seções do talude de
jusante do dique e a jusante da estrutura; medidas de lâmina de água no pé do talude (Canal A) e
mapeamento dos campos de velocidade com o uso de anemômetro Doppler (Canal B).
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Curva granulométrica
Ensaios Hidráulicos
Dos ensaios realizados até o momento, a vazão percolada para o cenário A-I foi de
aproximadamente 0,37 L/s (2,64 L/s.m) no canal A. Os ensaios serão realizados novamente para
confirmar este valor.
Na Figura 10 e Figura 11 são apresentados os resultados de uma simulação para o cenário A-
I, considerando vazão de 0,40 L/s (2,85 L/s.m) e 0,55 L/s (3,93 L/s.m), respectivamente.
CONCLUSÕES
Para os ensaios realizados até o momento foi construído um dique com brita 0 (D50 = 5,35
mm), altura de 15 cm, inclinação do talude de montante de 2,0H:1,0V e de jusante de 3,0H:1,0V,
considerando o reservatório sem assoreamento e maciço sem compactação e blocos secos.
Resultados obtidos de forma preliminar apontaram a vazão percolada de aproximadamente
0,37 L/s (2,64 L/s.m). Os ensaios serão realizados novamente para confirmar este valor. A vazão
máxima em que não ocorre danos na estrutura está entre 0,40 L/s (2,85 L/s.m) e 0,55 L/s (3,93 L/s.m).
Para as próximas etapas serão simulados valores intermediários de vazões para estabelecer a vazão
limite em que não ocorre danos na estrutura e serão realizadas as medidas de profundidade e
mapeamento dos campos de velocidade com o uso de anemômetro Doppler.
Será calculado o número de Reynolds, verificando-se se o escoamento é turbulento rugoso e
o efeito do atrito é preponderantemente influenciado pelo tamanho dos blocos, sendo predominante
as forças gravitacionais. Neste caso, os resultados serão convertidos em ábacos ou planilhas para uso
em situações de projeto de diques com geometria típica de estruturas dessa natureza, utilizando-se a
semelhança pelo número de Froude.
AGRADECIMENTOS