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A ANATOMIA

DA IGREJA

SEIS ESTUDOS

SOBRE A IGREJA

por

LOllrellçO Stelio Rega ©

10
Sumário

Introducão
, . 2
1. O que é a igreja de Cristo? . 3
2. Para que existe a igreja de Cristo? 6
3. Como funciona a igreja de Cristo? 9
4. Como a igreja cresce? . 12
5. Qual é a estratégia de ação da igreja? 15
6. Como a igreja de cristo deve viver
no mundo? 19

Quadros e ilustrações

As figuras lingüísticas da natureza da igreja. 3


A missão da igreja para com o mundo. 6
A missão da igreja para com Deus. 7
A missão da igreja para consigo mesma. 7
A visão tridimensional da missão da igreja. 7
As atividades contínuas da igreja. 8
Os dons e a missão tridimensional da igreja. 10
Os tipos de crescimento da igreja. 14
Transmissão e vida. 17
Introducão
,

Esta série de seis estudos sobre a igreja se constitui um conjunto de


informaçOes bíblicas e teológica essenciais para que possamos compreender afinal o que é
a igreja de Jesus Cristo, para que ela existe, como deve ela funcionar, qual é a sua
estratégia de ação, etc.
Em geral procuramos ir trabalhando na obra de Deus e fazendo as coisas,
realizando eventos, programas e atividades, para manter o trabalho andando, mas nem
sempre perguntamos se, de fato, estamos atingindo os objetivos específicos que Deus
estabeleceu para a sua igreja. ,\1uitas vezes poderemos até pensar que o Importante é fazer
a obra, nem nos preocupando como estamos fazendo essa obra, ou se estamos atingindo os
IdeaiS de Deus para ela. Aí poderemos acabar realizando muito mOI'imento, mas pouco
dcslocamento e tendo uma Igreja onentada para eventos e para o ativismo.
Outras vezes fICamos perguntado se uma determinada estratégica ou método
funCiona e se funCionar, é porque é de Deus. Desta forma acabamos aceitando aquela
estratégIca ou método como bíblico e Infalível. Um médico somente poderá executar seu
trabalho se conhecer a anatomia. Assim são esses seis estudos - uma anatomia da igreJd à
luz do Novo Testamento. Para vocé escolher um método ou estratégia a ser empregada
procure conhecer antes a anatomiú da igreja. Antes de 'perguntar cssc maodo fimôona? você
deve perguntar ,'55" 1II,;todo, ,"Si1 cstratégia t; compatiI'c! com a conccpção ncotcstamcntária da
igreja 7
ASSim, esses estudos procuram extrair do Novo Testamento a essência do
enSinO sobre a Igreja com o objetiVO de buscar os paradigmas que possam nortear o
planejamento da Igreja e o estabeleCimento de objetivos que sejam compatíveis com Oque
Deus deseja para a Sua Igreja. Aliás, não devemos acrescentar ao plano de Deus para a Sua
igreja os nossos planos, mas cumpnr a Sua vontade atravês de nossos planos.

LOllrenço Stdio Rega


rega@etica. pro. br

?1
o QUE É A IGREJA DE CRISTO?15
Pro Lourenço Stelio Rega 16 ©
Alguém responderia imediatamente que igreja é o LOCAL onde vamos cultuar a
Deus. Outros diriam que é o conjunto de departamentos ou organização de um grupo de
pessoas salvas por Jesus Cristo. Ainda outros fariam referéncia à estrutura denominaclOnal
como sendo a igreja.

Afinal o que é a igreja? Biblicamente não temos uma resposta sistematizada e


objetIva, pois esta não era a estrutura de pensamento do povo que Deus se utilizou para
inspirar Sua Palavra. Desta forma precisamos penetrar na estrutura literária da Bíblia para
buscar a resposta à nossa pergunta.

Em vez de explicar algo através de definições ou proposições o povo bíblico fazia


comparações utIlizando-se muitas vezes de figuras, parábolas, etc. Assim é também com o
signIficado de igreja. Pesquisando o Novo Testamento nesta direçào poderemos sintetizar
o signIficado de Igreja em diversos grupos ou conceitos lingüístIcos metafóricosl 7 :

CONCEITO IGREJA TEXTOS


Genético CORPO DE CRISTO 1 Co 12; Rm 12.4ss
Político IGREJA AI. 14.23, 27
Arquitetônico EDIFICIO DE DEUS 1 Co 3.9; Ef. 2.20-22
Agronômico LAVOURA DE DEUS 1 Co 3.6-9; 2 Tm 2.6
Familiar FAMILIA DE DEUS GI 6.10; Ef 2.19
Sociolól!ico COMUNIDADE At 2.44-47; 4.32-37
Militar EXERCITO DE DEUS 1 Tm 2.3,4
Diplomático EMBAIXADA DO REINO DE DEUS 1 Co 5.20

i\Jão é difíCil dedUZir que cada um desses conceitos metafóncos apresenta suas
Implicações sobre a Vida da Igreja. A título de exemplo citamos:

]. Conceito (m/Illiar: Indica o espinto de famiha que deve eXistir em nós - união.
fraternidade, submIssão ao Pai etc.

2. Conceito gl'1ll'tico: indica a união e Interdependência que deve existir na igreja.


~v1ostra a igreja como um orgamsmo.

3. Conceito militar: indica a luta ofensiva da igreja, não contra a carne e o sangue (Ef
6.12), mas contra o exército de Satanás.

~:' S.'>ri{' de <';('IS drligos ruh1il"ddos Ild H'visldl UVENTUDE BA nSTA, -I" T rillH'stn' dl' 19l{...l {' (('PU bliúldos IM
nWSllld revistei no 1" Trimestre (te- 1996. DigilddO!lel c11Udl fornM por Dirn~u Cunhil. Texto dtudl revis~H_io.
Ir" LOllrcl1co StcllO Rcgn (' B~Khdn>ll' ~kslr(' em Tl'ologill, Lin'I1("idl1o ('111 Fi\osolid, l\1t'str<' em EduCd(dO (' Pús-
Grdduddo em Administrd(dO dt' Emprl'SdS (nudt'o dt' Análist, dt' Si~h.'llldS). E-mdil: H'grt(ú)t'licd.pro.br.
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livro Você porie ser Snllto, Mogi ddS Cru/('s: ABECAR. 198-1.
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Deve ficar claro que nao encontramos no Novo Testamento a idéia de que igreja
venha a ser o templo ou o prédio em que nos reunimos. A igreja somos nós, salvos por
Jesus Cristo que afinal nao morreu por tijolos ou madeira.

ORGANIZAÇÃO OU ORGANISMO?
Atualmente há uma disputa em tomo de ser a igreja apenas uma organização ou
apenas um organismo. Se visualízarmos a igreja dentro da perspectiva anteriormente
apresentada concluiremos que as duas idéias nao são contraditórias e excludentes, mas
plenamente viáveis, pOIS cada uma delas apresenta aspectos diferentes da mesma verdade.

Quando falamos da igreja como ORGANIZAÇÃO estamos nos referindo ao seu


aspecto administrativo, estrutural e operacional. Quando falamos da igreja como
ORGANISMO estamos nos referindo à igreja como composta de membros
interdependentes e co-participantes de uma mesma experiéncia salvadora e vivencial sob
uma mesma fonte de vida - Cristo. Enfim falando da igreja do ponto de vista genético.
Desta forma poderemos afirmar: Igreja - Organismo e Organização.

IGREJA UNIVERSAL E IGREJA LOCAL

Em termos geográficos podemos ainda entender a igreja de modo UNIVERSAL e


LOCAL. A IIniZ'crsal abrange todos os salvos por Jesus Cristo à parte das barreiras
geográficas (l Tm 3.15; Ef 5.2355). Um crente em i\lanaus e outro em Porto Alegre fazem
parte da mesma igreja - a universal. iX

A Igreja local abrange um grupo de crentes dum determinado local (At 11.26). O
conceito de Igreja local no Novo Testamento parece ser mais amplo do que pensamos, pois
Incluía tanto a Idéia de um grupo de crentes de uma determinada região (AI. 9.31) como a
IdéIa de um grupo restrito (Rm 16.5).

AqUI temos de relembrar que é estranha ao Novo Testamento a Idéia da


InterdependénCla administratIva das Igrejas locais. No Novo Testamento cada igreja local
é autônoma. Isso não Significa que entre elas não haVIa cooperação fraternal (2 Co 8.9).

QUAL A ORIGEM DA IGREJA?

A igreja nasceu no coração de Deus, sendo aSSim uma Instituiçào divina.


OperacIOnalmente podemos dizer que a igreja iniciou suas atiVidades no Pentecostes com
a vinda do Espírito Santo. Mas teoricamente falando, ela Já eXistia no Éden, mesmo antes
da entrada do pecado no mundo. Aquela família constItuía a primeira célula da Igreja que
Iria se expandir. A contIngéncia do pecado interrompeu o plano de Deus e a vida
embrionária da Igrejil se conge/oll sendo reaqueClda no Pentecostes.

Aqu i ad vém ou tra questão: A cslm IlIra denominacional ,; lima in51i IlIição diZ'úw? Ou
ainda A cslmlma dmominacional rode ,,'r conSiderada lamh,;m como igre;a? Não possuimos
nenhuma base bibltca para responder afirmativamente. Desta forma, tecnicamente falando

I~ Nà(\ ((Jnlundlf :.lljUl () termo teolngico para c:\prcssar a ahrangcncia unlycrsal da IgH~Ja de Cristo (Igreja uni\"t,~rsa] -
lwJo em Illmusculu l. com () nome da Igreja Uniycrsal Jl) Remo tk Deus \IURDl t.hrigu.hl pelo HislX) b.lir MaceJo
?1
uma estrutura denominacional é uma estrutura paraeclesiástica. Muitos veriam aqui a
negação de sua validade, contudo temos de aceitar sua importãncia e necessidade.

Uma estrutura denominacional, em vez de ser sacralizada, deve ser instrumento útil
no fortalecimento e expansào operacional da igreja local. Agindo desta forma ela estará em
seu devido lugar de meio e nào fim em si mesma. Sendo assim, uma estrutura
denominacional é culturalmente dependente e deve se ajustar constantemente às
necessidades e realidades das igrejas locais servindo de elo entre elas.

Temos de ser honestos em reconhecer que nossas igrejas possuem falhas, mas em
vez de nos referirmos a ela na terceira pessoa - a igreja está errada nisto ou naquilo - devemos
estar conSCIentes de que nós somos a igreja. nós fazemos parte dela. Então em vez de criticar
destrutivamente devemos indagar particularmente que posso cu, membro da igreja de Jesus
Cristo. fazer para contribuir para sell aprimoramento efortalecimento? (Hb 10.25).

?A
PARA QUE EXISTE A IGREJA?
Pro Lourenço Stelio Rega ©
Você já parou para pensar nessa pergunta? Será que os membros de sua igreja
sabem qual a finalidade da existência da igreja? Esta questão é uma das mais importantes
para o cristianismo, pois a sua resposta nos levará à resposta de outras queslCes também
importantes, tais como: Por que devo ser membro da igreja? Por que devo trabalhar na
igreja? O que devo esperar dela? etc.

Na Teologia a resposta à nossa pergunta é descoberta no estudo da MISSÃO DA


IGREIA. É bom não confundir missão com missõcs. Missão tem a ver com a finalidade da
existência da igreja. Missões, com a obra missionária da igreja.

Quando perguntamos a algum irmão qllal a missão da igreja, geralmente a resposta


tem sido: A missão da igreja é el'angelizar o mllndo perdido.' (fig 1). Dessa forma o seu
crescimento é medido numencamente. A vida da igreja local. suas tarefas, enfim, sua
mensagem acaba sendo dIreCIonada neste enfoque de apenas evangelizar o mundo
perdido. Contudo, analisando as Sagradas Letras poderemos concluir que a missão da
Igrej3 é mais abrangente.

:-estemunhar, pIegal o Evangelho


s,oeOlJeI ao neceuir:<l:do

MJ5sAO PARA O MUNDO


Figura 1 - t\,lissao da igreja para com o mundo
Não podemos deixar de relaCionar a finalidade da eXIstênCia da igreja com a
finalidade da nossa sdlvaçao. Para que fomos salvos? Só para possUirmos uma apólice de
,"'gWO contra o ill'ÚldlO do mtállo? A resposta é encontrada quando retornamos na história
até a ocaslao da cnaçao e queda do homem no Éden.

Fomos mados para glorificar a Dells.' (Is 43.7). vivendo sob Sua dependênCIa e
alegrando-O. Esse era o nosso papel na mação. A queda consistiu na declaração de
independênCia do homem contra Deus. Agindo assIm o homem se distanCIOu do propósito
onglnal para o qual fOI cnado - deiXOU de glonflCar a Deus. Agmdo assim o homem se
distanCiou do propÓSitO ongmal para o qual fOi cnado - deiXOU de glonficar a Deus (Rm
3.23). A salvaçao por mtermédlo de Jesus Cristo nos recoloca neste estado onginal do qual
nos deSViamos em Adão.

Se é vontade de Deus que vivamos neste estado renovado de Vida, é vontade de


Deus também que ele se concretize coletivamente em nossa comUnIdade ecleSIástica e
aSSim podemos conclUir que a comunidade dos salvos eXiste também para glorificar a
Dells! (fig. 2).
Ora, glOrifIcar a Deus mcluI multo maIs que adoração e louvor.

InclUI \'Ida submissa à Sua vontade, Vida de serVIço, de cooperaçao e convlvéncia


comunitária. Embora esse aspecto da vida seja desenvolvido pelo indivíduo, na somatória
acaba envolvendo a própria comunidade e não é difícil deduzir que isso acabe requerendo
constante manutenção. Desta forma, podemos concluir que a missão da Igreja inclui mais
um aspecto que está diretamente relacionado com a sua própria vida de comunidade (fig.
3). É a igreja promovendo a sua própria manutenção e fortalecimento para que seus
membros tenham uma vida equilibrada de glorificação a Deus e uma vida dedicada à
comunidade, ao seu trabalho e desenvolvimento. Aqui está incluído o treinamento
operacIOnal dos crentes, a administração, o ensino e pregação da Palavra, a assistência
espiritual e material aos domésticos na fé (Gl 6:10), a manutenção da própria convivência ou
comunhão entre os irmãos, etc. É isso que encontramos na igreja do primeiro século (At
2.42-47; 4.32-35).
MISSÃO PARA CONSIGO MESMA

ensino, admoestação,
~ sist ênci.a soeW e
espiritual. eomunJ.i",
AdOIaç~Q
Jiociplina. ,eniço.
GlOIif><::l <? o
ad mini str.l <?(), et c.
Lealdade

FIgura 3 - Missão da Igreja para consigo mesma


FIgura 2 - Missão da igreja para com Deus
Desta forma poderemos concluir que no conjunto a mIssão da igrep em vez de
única - evangelizar, por exemplo - é tríplice. É dIreCIonada a Oel/s, é dIrecIOnada a si mesma
e é dIrecIOnada ao 11lImdo (fig. 4).
MISSÃO TRIDIMENSIONAL DA IGREJA
MISsA O MRA CONSIGO MESMA

enswo) admoestação,
assistência social e
AJ OI ""ão .:-spirirua.i, c-omunh:.l:o,
GIOIifl~çáO
Juciplina.. ~Cl-viyo.
LealJaJ. .d mi.nittr.aç:i~ «c.

S <>coner ...0 nec.e~úu,J()

M/SsAo PARA O MUNDO

Figura 4 - Visão tridimensional da missão da igreja


Teologicamente essa maneira tridimensional de encarar a missão da Igreja pode ser
chamada de MISsAo HOLÍSTICA da igreja. A expressão holística vem da palavra grega
halos, que significa todo, inteiro. Essa visão holística representa uma visão integral da
missão da igreJd, pois abrange outros aspectos e implicações que uma visão polarizada
(parcial) deixa de lado.

Uma implicação sumamente prática da aceitação da missão holística da ígreja é a


ampliação da visão ministerial, pois assim teremos na igreja não apenas evangelistas,
missionários, pastores e leigos sfn'içais. Desta forma, a igreja terá um ciclo de atividades
contínllas envolvendo diversas áreas de atuação, bem como uma descentralização
operacional e, consequentemente, um maior contingente de pessoas. Não é difícil concluir
que desta forma o crescimento da igreja será integral envolvendo diversas áreas e não
apenas umas poucas, como evangelização, pregação, etc. Veja a seguir uma tabela
ilustrativa das ath-idades contínllas da igreja. Compare-a com o gráfico da figura 4.

ATIVIDADES CONTÍNUAS DA IGREJA


Algumas áreas
Atividades Contínuas da Igreja Textos
ministeriais envolvidas
a. Adorar a Deus Atos 2.4255; 1 Co Música Sacra - Pastoral
10.31
b. Admoestar aos crentes Quanto à Hh 7.25 Pregação - Ensino
vontade de Deus
c. Ensinar os crentes tvlt 28.20 EnSInO - Pastoral
d. TreInar os crentes rara uma vida Ef 4.11,12 EnSInO Pastoral
operaCIonal frutífera
e. Dar asslsténCla aos crentes Clli.7-1O Pastoral - Aconselhamento
1. EspIritualmente ASSistênCIa SOCIal -
2. Materialmente Diaconato
f. Promover comuhào ou conVivênCia AI 2.42-47; 4.32 Pastoral
(no gr. kOInoma) entre os crentes
g. AdmInistrar seus negóCIos Rm 72.8: 7 Co 72.28 Administração
h. Proclamar o Evangelho aos não- lv1t 28.19 Apostolado (missões)
crentes Evangelização
Todos os crentes (como
testemunhas - AI. 1:8)

?7
COMO FUNCIONA A IGREJA?
Pro Lourenço SteIio Rega ©
O leitor poderá achar estranha nossa abordagem sobre esse tema. É bom avisar,
logo de início, que não é nossa intenção repetir o que poderá ser facilmente ser estudado
nos compéndios de eclcsiologia (parte da Teologia que estuda a Doutrina da IgreJa), mas
abordar o assunto dentro de uma perspectiva mais prática e assim tomá-la assimilável.

Já pudemos observar que a Igreja tem um caráter organizacional. Ela precisa ser
gerida, administrada. Mas como a Igreja deve ser administrada? Só alguns poucos deverão
trabalhar na Igreja? Existe grau de importância nos diversos trabalhos da Igreja?

Já pudem05 observar também que, devido à visão tridimensional de sua missâo, a


igreja possui diversos ministérios ou esferas de ação. Esses diversos ministérios aparecem
mUito cedo, tanto em Jerusalém quanto no desenrolar dos primeiros passos da igreja em
sua expansão, pnncipalmente entre os gentios.

Segundo o hvro de Atos (6.1-12) os dozc eram assistidos pelos scte a fim de que pudessem
se consagrar à oração e à ministração da palavra, enquanto aqueles cuidassem da
asslsténcia socIal da Ign"Ja.

Em Jerusalém (At 11.30) temos também a existência de presbíteros, mesmo antes de


Paulo apresentar as suas qualificações a Tito e a Timóteo. Neste trecho de Atos os
apóstolos nem são menCionados, talvez por estarem fora em viagem mIssionária, e assim a
hderança da Igreja ficaria soh o comando dos preshíteros.

É interessante notar aqui dois fatos. (1) Não há um só preshítero na liderança da


Igreja local no NT, mas presbíteros, indiCando descentrali:ação de poder. (2) Os
PRESBÍTEROS de Éfeso (At 20.28) são chamados de BISPOS e se continuarmos
analisando o texto também encontraremos ai a idéIa da função PASTORAL. O que
poderemos concluir dISSO é que presbítero, bispo e pastor são três vocáhulos que
descrevem três facetas diferentes de uma só pessoa.

Preshítero era o anoão e dá a Idéia de alguém com e.\perirnLÍa na vIda. Bispo, do


grego epíscopos, que SIgnifica superintendente, gerente, Indicando o aspecto
administraliê'o. p,)stor é alguém que l'uida de ovelhas, indICando o CUidado do pastor pelo
desenvolVimento dos crentes.

Vemos aSSim lá na Igreja do prImeiro século a eXIstênCia de líderes e liderados e o


texto chave que indICa esse fato é Efésios 4.11-16:

E ele deu uns como apóstolO5, " outros como pro/Í'tas, " outros como
el'ange/istas. e outros Lomo pastores e mestres, tendo em l'ista o aperjL'içoamento
dos santos, para a ohra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo: alt' que
lodos cheguemo> à unidade de .h' " do rimo conhecimento do Filho de Deus, ao
,'stado de homem .ft'ito à medida d,) estahlra da plenitude de Cristo, para que não
mais seiam05 menin05, inconstantes, ICl'ados ao redor por todo l'ento de doutrina,
pela .fraudulhlcia dos iJomens, pela astIÍcia tendente à maquinação do erro; antes,
?R
seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do
qual todo corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo aImlio de todas as juntas,
segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu próprio crescimento para
edificação de si mesmo em amor.

Para que, então, deve existir o apóstolo, o profeta, o evangelista, o pastor-mestre? A partir
do v. 12 encontramos a resposta:

(1) Para o aperfeiçoamento (gr. katartismos, preparo, equipamento, conserto de


redes, tomar algo no que deve ser) dos santos);
(2) Para que os santos, depoIs de devIdamente preparados, possam desempenhar
seu servIço;
(3) E, assim, ocorra o crescimento da igreja.

E os liderados, quem são? Paulo em Romanos 12.6-8 menciona representativamente alguns


deles: mInistérios (gr. diakonia, que é a tarefa do diácono), ensino, exortação (talvez
aconselhamento), nercícío da misericórdia (talvez assistência social), etc.

Já falamos da missão 110Iística da igreja e aqui poderemos dar um caráter prático a


Isto se relaCIonarmos as diversas tarefas da igreja à sua própria missão e assim poderemos
ilustrar essa integração ministt'rios/missão com a seguinte figura:

MISSÃO TRIDIMENSIONAL DA IGREJA


MISSÁO PARA CONSIGO MESMA

en$ino~ admoestação,
.usinêneia H>C-UI e ;nes~re. pas*),...me.atre..
AdOI~:io odminiab'ador. líder~
espiritual, comuohi~
Gloliftcac?0 COf>3eiheil'O, diaconos,
.lisciplina. serviço,
Lealdade ~;"tente """oi, etc.
,d mini <Ino? o, '" c.

SOCOI ler ao neceuu .. do


Evangeli.31a. fJ1i.ssionário. tDdo:s 0$
crentes como tes1emu n-. ass~. """io!
M1ssAo PARA O MUNDO

Não podemos deixar de mencionar que Infelizmente temos caído na desventura de


achar que só devemos trahalhar na igreja se formos eleitos para algum cargo. Esse ano 1'01/
descal1súr, l1ão 'll/ero Sl'r eleito. é o chavão.

Não há prátIca mais satânica que essa' Todos os crentes S<10 chamados para exercer
funçàes específicas dentro da Igreja. Alguns são escolhidos numa eleição para liderar, mas

?Q
isso não signIfica que os outros não escolhidos deverão, num berço esplêndido, apenas
contemplar as atividades da igreja sem qualquer comprometimento. Talvez por isso é que
o domingo, dia do descanso, tem se tomado um dia de cansaço para muitos crentes que,
sentindo a importânCIa e necessidade da obra de Deus, se empenham com afinco no
trabalho tendo de fazer a sua parte e a de outro que não quer se comprometer. Até quando
isso ocorrerá em nossas igrejas?1

Outro aspecto preocupante é o conceito de distinção entre clero e leigos que muito
temos feito ao crermos, ainda que inconscientemente, que nós pastores somos mais
Importantes que nossas ovelhas. No NT não há essa distinção que queremos fazer.
Podemos estar na liderança do povo de Deus, mas isso não nos faz melhores. Aliás o
vocábulo leigo vem do grego laikós (que vem de laós, povo) que significa alguém do povo. Se
a igreja é o povo de Dc1/s (I Pe 2.9,10), todos nós somos leigos, isto é, pertencentes ao povo
de Deus.

Sobre isso é bom citarmos Ray C. Stedman, em seu livro A Igreja - Corpo Vivo de
Cristo (p. 79,80):

... 1'eio lima tral1sferc'ncia gradativa de responsabilidade do popa para o que foi
dmomil1ado de clero ... O col1ceito Mblica de 'llle todo crente é IIm sacerdote
diante de Dells (ri se perdendo aos pOIlCOS, SlIrgil1do IIm corpo especial de
slIpercristãos qlle eram praclI rados praticamen te para todos os fil1s e assim acaboll
smdo chamado de mInistério (ali o pastorado). Agora, Efésios 4 deixa bem claro
qlle todos rs cristãos estão 1105 ministérios. A tarefa própria dos qllatro
mil1istérios de apoio qlle namil1amos é treil1ar, moti1'ar e ser1'ir de sllporte às
pessoas 110 trabalho do 5C1I próprio ministério. QlIal1do o mil1istério foi, portal1to,
relegado aos prolissic'I1ais. não sobroll l1ada para as pessoas fazerem a não 5Cr l'ir à
igreja e ficar esclltando. Dizia-se-lhes qlle era slla responsabilidade trazer o mllndo
para dentro do edíficio da igreja, a fim de ollvir o pastor pregar o cz'al1gelllO. Em
breue o cristianismo se tomoll nada mais, l1ada mC110S do qlle IIm esporte de
l'spectadores. mIlito parecido com o .tiltebol: 1') homms em campo,
desesperadamC11te precisal1do de descanso, c 20 mil nas arqllibal1cadas,
d,'sespcradamente precisando de exercício!
COMO A IGREJA CRESCE?

Pro Lourenço Stelio Rega ©

o crescimento é um fator que está presente em praticamente todas as esferas da


vida. Uma criança nasce para crescer. Um estudante luta por desenvolver suas aptidões e
crescer numa determinada profissão. Um comerciante procura trabalhar de modo a levar
seus negócios ao crescimento.

No estudo O que é a Igreja de Jesus Cristo? desta série apresentamos alguns conceitos
metafóricos do NT sobre a igreja. Se analisarmos tais conceitos poderemos perceber
claramente que em cada um está implícita a idéia do crescimento. Antes de partir aos céus
OJesus deixou uma ordem aos discípulos para que a Igreja se expandisse. crescesse, se
espalhasse por toda a terra. Ninguém pode negar que a Igreja de Jesus Cristo deva crescer.

É muito comum afirmarmos que o crescimento da Igreja vem pela evangelização.


De certo modo isso é verdade. mas ninguém pode negar que se essa for a única força
motnz o crescimento será desequilibrado, pendendo praticamente para o lado
quantItatIvo. A conseqüéncia disso é que. embora podendo ter muitos membros. a Igreja
será fraca espIritualmente falando.

Juan Carlos OrtIz em seu controvertIdo livro O Disápztlo (p. 94) comenta que numa
certa ocasião ele estava analisando seu mmistério e concluiu que o seu cuidado para com
sua Igrep era como o da Coca-Cola quando vendia seus produtos. embora ele relutasse em
aceitar ISSO pOIS perguntava-se a si mesmo e a Deus como poderia ser aSSim se a sua Igreja
estava crescendo e ultimamente ISSO tinha sido de 200 para 600 membros.

Analisando um pouco mais a questão ele chegou à conclusão de que o que estava
ocorrendo era que a sua Igreja não estava crescendo mas realmente engordando. pois na
verdade o que ele conseguIu foi agrupar mais pessoas da mesma qualidade (bebês
esplntuals) das que Já haVia. E aSSim, ninguém estava amad urecendo em Cristo. Antes eles
contavam com 200 bebês esplntuals. agora com 600. Desta forma. ele sentIu que estava
levando a sua Igreja a viver como um orfanato espirihwl e não realmente como uma Igreja.

:'-Jão podemos negar que essa história mUitas vezes tem se repetIdo em muitas
Igrejas. Quando ISSO ocorre. estamos apenas cumpnndo o papel como que de um médico
oDstt"tra que tem a missão de aUXIliar uma mãe a dar à luz um filho. Precisamos também
desempenhar o papel da pediatria cumprindo a missão de levar os bebês espirituais ao
creSClmento.

~lasafmal em que consiste o crescimento da Igreja? Qual a sua força motriz? Qual a
nossa parte?

Em que consiste o crescimento da igreja?


Quando se fala em crescimento da Igreja logo pensamos nos bancos vazios. Sem
dúvida esse VIsual não é nada agradável num mundo matenalista e ImediatIsta em que
vivemos, onde o que importa é a produtividade medida geralmente pelos números numa
tabulação estatística onde os resul tados podem ser visualmente apreciados e cultuados.

Como podemos verificar já no estudo sobre a missão da Igreja, temos de aqui


também concluir que o crescimento da Igreja é igualmente Izolístico, isto é, integral,
abrangente. Não é muito dificil deduzir isso ao termos como ponto de partida o Novo
Testamento, em vez das modernas técnicas de mensuração produtiva de nosso mundo
pragmático (que dá ênfase à produtividade).

Desta forma poderemos entender que o crescimento Izolístico da Igreja pode ser:

1. QUANTITATIVO: que inclui

a. Cresciml'nto numérico: que envolve a quantidade de pessoas que sào alcançadas


pelo Evangelho seja na Igreja Local, seja na Universal. Consulte os seguintes textos: Mt
28.19; At 2.47; 4.4; 5.14; 6.1,7; 8.6, etc.

b. Crescimento geográfico: que envolve a expansão geográfica do Evangelho pelo


mundo. Em Atos 1.8 Jesus ordenou que a Igreja se espalhasse por toda a terra começando
por Jerusalém. Os CrIstãos da Igrela de Jerusalém possivelmente não entenderam essa
ordem de Jesus e contlTIuaram em jerusalém talvez pensando que o cristianismo desse se
desenvolver como sua antiga religião Judaica e assim começaram a promover o que
podemos chamar de cresCImento ccntripeto (aquele que converge para o centro). Era assim
a vida religiosa JudaICa, tudo era centralizado em jerusalém. A Igreja cresceu tanto que
começou a ter sérios problemas de convivência (veja At 6.1-7). O Evangelho crescia em
Jerusalém (At 6.7) porém Deus queria que ele se espalhasse. Cremos que um dos
propósitos em Deus permilir a morte de Estevão tenha sido a de forçar o Seu povo a saIr de
Jerusalém e se espalhar por toda a terra (AI. 8.14; 9.31; 11.19). Não fora isso talvez o
cristianismo seria hOJe uma mera religião regional. O cresCImento ordenado por jesus para
a Igreja é o crescimento (cntrífllgo, IStO é, aquele que se expande de um ponto (centro -
jerusalém) de partIda.

(. Crescimento étnico: não era a vontade de Deus que o Evangelho fosse raCIal. Deus
queria que ele se espalhasse por todas as nações e povos, alTIda que a Igreja cristã
primitiva contlTIuasse a manter uma grande barreIra exclUSIVista do Evangelho. Isso é fáCIl
entender quando o Evangelho chega a SamarIa e aos gentios e provoca espanto aos
Judeus-<:nstdos de Jerusalém (At 8.14-25; 10.1-11. 21). Para quebrdr essa outra barreIra da
Igreja de jerusalém Deus preCIsou repetir a experiéncia do balismo no Espírito Santo e
provIdenCIar uma Visão estonteante a Pedro (At 8.15-17; 10.955). Veja também Mt 28.19; Lc
24,47)

2. QUAlITATIVO: qUE' ITICIUI

a. Crescimento doutrinaI: é o crescimento no conhecimento doutrinário da Palavra


de Deus. At 2.42ss; Ef 4.11-16 (especialmente o v. 14).
b. Crescimento vivencial: é o crescimento na experiência cristã de obediência
pessoal e comunhão com Deus. É o amadurecimento espiritual dos membros da Igreja. Ef
4.15; Cl 3.1-11; Fp 2.12; 1 Pe 2.2; 2 Pe 3.17,18.

c. Crescimento operacional: envolve o treinamento dos crentes para o desempenho


de suas funções na Igreja. É o abandono à improvisação que, infelizmente, tanto reina em
nossas igrejas. At 6.1-7; Rm 12.4-8 (exemplo: o que ensina, esmere-se no fazê-lo, v. 7); Ef
4.11-16 (espeCIalmente o v. 12).

3. ORGÂNICO: que envolve a idéia do crescimento em comunidade e, desta forma,


inclui:

a. Crescimento convivencial: é o crescimento na Igreja da vida em comunidade,


onde os irmaos levam as cargas uns dos outros (Gl 6.2); amam uns aos outros ao 13.34;
17.19-23); oram uns pejos outros (Tg 5.16); interessam-se uns pelos outros (At 2.44-45; 4.32-
35; zelam uns pelos outros (Hb ]2.14,15); etc. Sobre isso seria interessante que o irmão
leitor lesse o capítulo dez (Cuidando da Saúde do Corpo) do livro A Igreja Corpo Vivo de
Cristo de Rav C. Stedman, que Já citamos em outra ocasião.

b. Crescimento na inflnência social: diz respeito às influências que a Igreja deve


exercer no contexto SOCIal em que está inserida (At 2.47). J\!ao se trata aqui do Evangelho
SOCIal, ou da mJi,tâncla marxIsta da TeologIa da Libertação, mas do cumprimento do papel
da Igreja como sal da terra e luz do mundo (l\1t 5.14-16). Quantas pessoas pensam de nós
cristaos como uma gente mUIto ooa, mas dillcil de suportar'?!

TIPOS DE CRESCIMENTO DA IGREJA


QUA NTITATIVO QUALITATIVO ORGÂNICO
numériCO doutrinai con vivencia I
geográfKo vlvenClal influénCla social
étniCO operaCIonal

Como ocorre o crescimento da igreja?


Levando-se em conta a ampla visao do cresCImento holístico da Igreja temos de
conclUir que ele Ol'orrerá não quando operarmos apenas numa frente de trabalho, pois
assim ele será desequJilorado, mas quando operarmos numa ampla frente de açao.
Vejamos alguns princípiOS soore ISSO para concluir nosso estudo de hoje.

1. A força motriz" Dells: Paulo nos ensina que emoora um venha a plantar e outro a
regar, no fim quem dá o crescImento é Deus (1 Co 3.5-9). Podemos elaborar os mais
estratégiCOS planos que até venham a funcionar num balão de' ensaio. mas se eles nào
esltverem de acordo com o coraçao de Deus podemos contar que o cresCImento será
inefICaz. amda que aparentemente os resultados sejam mensuráveiS.

2. O papel de cada 11111 de nós: Quando afirmamos que o crescimento da Igreja só vem pela
operosldade da eVilngelizaçao, estamos restringindo a rmssao da Igreja e a amplídao de
seus mmlstérios como Já tIvemos a oportumdade de concluir nos estudos Para que existe a
Igreja? e Como funciona a Igreja? desta sene. Para um crescimento equilibrado (ou
crescimento holístico) é preciso que cada um de nós desempenhe os dons específicos que
Deus nos repartiu (Rrn 12.4,5; 1 Co 12.4-6,11 ,14-26). Sobre isso Paulo nos ensina em Efésios
4.15,16: Mas seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de
quem todo corpo, bem ajustado e consolidado pelo allxaio de toda junta, segundo ajusta cooperação
de cada parte efetua o seu próprio aummto para edificação de si mesmo em amor. Além de incluir
o fato de que os membros de uma Igreja devam atuar em diversas frentes da obra de Deus,
Paulo ensina que o crescimento da Igreja requer também urna vida espiritual amadurecida
- cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo - e isso envolve o crescimento numa vida
de imltaça.o a Cristo. Em resumo, nosso papel no crescimento da Igreja é duplo: (1) Ter
urna vida espintual em constante crescimento; e (2) Desempenhar a diversidade de dons
operaclOnais que Deus repartiu à sua Igreja.
QUAL É A ESTRATÉGIA DE AÇÃO DA IGREJA?
Pro Lourenço Stelio Rega ©

Muitas são as alternativas de atividade utilizadas no desenvolvimento do trabalho


da Igreja. Cultos nos lares, Escola Bíblica Dominical, Uniões de Treinamento, cultos ao ar
livre, cruzadas evangelísticas, operação "pente-fino", operação "arrastão", operação do tipo
"traga o seu vizinho", "trata o seu colega de escola ou do trabalho" etc. Sem dúvida, muitas
dessas alternativas são eficazes, outras tem um "cheiro" de marketing. E outras levam o
crente a alterar o seu papel de testemunha para ser como que um conviteiro. Mas, afinal, o
Novo Testamento fala sobre alguma estratégia que a Igreja deva adotar?
Tem se tomando comum no meio evangélico a introdução do DISCIPULADO como
MAIS UMA OpçÃO para o trabalho da Igreja. Recordamos, agora, até com certa saudade,
quando tivemos o primeiro contato com o discípulado no início da década de 1970.
Juntamente com o pastor da Igreja tínhamos que discípular quase que às escondidas ou
quase que clandestinamente, pois tinhamos receio sobre o que os demais membros da Igreja
pensariam desse NOVO método. Hoje é normal falar em discipulado. Aliás muito se tem
dito, e muitas vezes há até confusão sobre o que realmente seja o discipulado. Uns pensam
que sejam encontros para estudos bíblicos e/ou oração. Outros pensam que sejam
encontros para testemunhos de fortalecimento mútuo. Outros, que sejam encontros para
amadureCImento de crentes. Afinal. qual é a importância do discípulado? O que é
disClpulado?

o que é discipulado?
Em pnmelro lugar, o disClpulado NÃO É MAIS UMA OpçÃO de trabalho na Igreja.
É A ESTRATÉGIA QUE /ESUS ORDENOU QUE USÁSSEMO. O principal texto do
disClpulado situa-se em Mt 28.19, cUJa tradução em nossas Bíblias precisa ser explicada,
pOIS nem sempre o tradutor tem condições de transpor para o nosso idioma toda
profundidade do texto no grego do Novo Testamento.
Uma tentatIva de traduçdo poderia ser assim: Tendo ido ( que estás no particípio
aonsto no grego e ndO Imperativo, como em nossas traduções),fazei discípulos (no grego o
modo deste verbo é ImperatIvo) de todos os popas ... Assim, o ImperatIvo ndO está no IR.
mas no FAZER DISClPULOS. 1550 slgmfica dizer que a ordem de Jesus para a Sua Igreja
ndO é para que ela \'á ao mundo falar dEle. pois como cnstdos Já estamos no mundo ainda
que ndO pertençamos a ele OOdO 17.14-16,23). A ordem é para que ao partirmos nesta noz'a
Jornada da pida como novas crIaturas (2 Co 5.15-17) a nossa mlssdO é FAZER DISClPULOS
(e aquI sim está o imperatIvo).
Desta forma, podemos perceber que discipulado ndO envolve apenas a mimstraçdo
do ensino aos crentes após a sua conversão. envolve também o trabalho da evangelização.
Não eXistem dOIS evangelhos - um para o ndo-crente e outro para o crente. Jesus é ao
mesmo tempo SENHOR e SAL VADOR. pOIS estas SdO duas figuras para mostrar certas
implicações de nosso relaCionamento com Jesus Cristo. E uma dessas implicações que
vemos nesses dOIS títulos de Jesus é que lhe devemos nossa vida, no primeiro caso porque
ele nos salva de um pengo - a morte espiritual! o afastamento completo do Criador - e no
segundo, porque ele nos resgatou das mdOS de Satanás. Os dOIS títulos apontam para uma
só obra de Jesus. Concluímos que ao ser evangelizada a pessoa Já deva ser colocada diante
da opção de se render ou ndO aos pés de Jesus Cristo.
o que significa ser discipulo?
Discipulado não é somente a transmissão de dados ou informações sobre a fé cristã,
mas, sobretudo, TRANSMISSÃO DE VIDA. Temicamente podemos chamar Isso de
TRANSFUSÃO VIVENCIAL. E isso envolve compartilhamento de conhecimento, de
experiéncia. oração intercessÓria. amizade. Em resumo, o mestre (discipulador) será um
exemplo a ser seguido. Dois textos de Paulo já são suficientes para mostrar isso. E o que de
minha parte ouviste (TIMÓTEO) ... TRANSMITE a homens fiéis e capazes para também instnlÍr a
OUTROS (2 Tm 2.2). Neste texto vemos a seqüência

0 =:> ~ ~MÓTEV
AULO ~ ~UTRo0
Outro trecho é: Sede mell5 imitadores, como eu também S01I de Cristo. Aqui a seqüência é

CCRIST0 ~ 0 =:> ~AULO ~UTRo0


Ser imitador aqui envolve a idéia de alguém que duplica ou reproduz, como cópia
fiel. uma vida e seu padrão de conduta.

Jesus tinha os seus discípulos. embora a idéia do discipulado não tenha surgido
com Ele. PossIvelmente Ele tomou como modelo as relações

CMESTRV ~ ~SCÍPU~
Esse relacionamento MESTRE ~ DISCÍPULO existente entre os rabinos lhe
permItia definir sua posição para com seus discípulos numa forma compreensível a seus
compatrIotas. A Instrução dada pelos rabinos a seus discípulos não se limitava apenas ao
campo teÓrICO, pelo contrário, seu método preferido de ensinar preocupava-se com a
prática da Lei. HaVia contínuo contato com o rabi, pois os discípulos chegavam até a
morar com ele e, aSSim, reproduziam em sua vida a Vida de seu mestre. Os diversos casos
concretos da Vida sugerIam-lhes perguntas, às quais o rabi podia então responder
tomando como ponto de partida aquela sltuaçao específica.
Além de levar "o discípulo a viver o mesmo estilo de vida do seu mestre de acordo
com a Lei, o discipulado tinha também como alvo levar o discípulo a ser MESTRE. Isso é
perceptível no dlsopulado CrIstão (2 Tm 2.2; Hb 5.12). O leItor poderá estudar com maís
profundidade ISSO no livro de Alselmo SchuIz.
Como Vimos, no discipulado está implicita a Idéia de SEGUIR um mestre. E é por
ISSO que Jesus afirma: 5e alguém quer l'ir após mim, a 51 MESMO se NEGUE, DIA a DIA tome
a sua cruz c SICA-/vlE (Lc 9.23). Deste trecho podemos extraIr pelo menos quatro verdades
chaves.
1. Negar-sc a si mesmo: ind ica o retomo ao Éden, o retomo a uma vida de
submissão e dependênCIa a Deus;
2. Dia a dia:. o Evangelho não. é para ocasiões espeCIaiS, é para ser vivído em
todas as suas implicações cotidianas, no dia a dia;
3. Tomar a sua cruz: a morte por crucificação fOI introduzida pelos romanos e
reservada aos escravos e foi também utilizada na Palestina nos tempos de Jesus.
Em tais ocasiões, costumava-se obrigar o condenado a transportar o patibulwn,
isto é, a parte transversal da cruz, até o local da execução. Não há dúvida que
nos últimos decênios antes da destruição de Jerusalém, qualquer tentativa de
rejeição ao Império e Imperador devia considerar a possibilidade duma
repressão severa por parte dos romanos. Adeptos de um movimento assim
deveriam estar prontos para enfrentar a morte e pagar com a crucificação a sua
participação no mesmo. Quem, então, viesse a seguir a Jesus Cristo deveria estar
pronto para morrer. Veja Lc 17.33. Sem dúvida que poderemos incluir aqui
também a idéia de segUlr a Cristo até o Calvário e ali mortificar o nosso eu (Rm
6.3-9). É a renúncia cotidiana aos direitos do eu humano; e
4. Seguir a Jesus: significa pôr-se, junto com ele, a serviço do reino de Deus.
Significa também ser Seu imitador. Por serem seus imitadores, os Seus
discipuIos deveriam ser exemplos dEle no mundo. A chave para a interpretação
exata desta afirmação aparece num dos artigos da lei rabínica - o enviado de um
homem é cama se fosse aquele mesmo homem (veja também João 13.20 e as págs. 35ss
de 5chulz).
Com tudo isso em mente, já podemos imaginar que para ser mestre, além de
conhecimento das verdades do Evangelho, é preciso ter vida real e verdadeira para
transmItir. Como podemos ensinar alguém a vencer a ira, por exemplo, se ainda não
temos tido a VI toria sobre esse problema, ainda que possamos conhecer o que precisa ser
feito, ou uma espécie de fÔrmula que possa ser o remédio para isso. Por ISSO é mais fácil
adotar outras estratégIas de trabalho na igreja. O que o mundo mais espera de nós é ver a
concretização do Evangelho em nossas vidas e não apenas uma pregação teórica e idealista
de um tal de Cristo que nem sequer seguimos.

É possível o discipulado hoje?

MUitos acreditam que serIam necessárias muitas alteraçoes em nossa estrutura


eclesiástica para introdUZir o dlscipulado no ministério da Igreja. A verdade é que o que
preCIsamos é sim acrescentar e prIorizar o que está faltando. Afinal, como Já vimos, o
dlscipulado nao ê mais uma opção, mas A OpçÃO DE JESUS para a igreja.
Infelizmente temos de conclUlr que nossa atual estratégia é calcada no ei'angelicalismo
sal1'acianista, pOIS que visa desenvolver toda sua atenção apenas na evangelização do
mundo pecador. Sem dÚVida não podemos negar que o que maIs necessIta o pecador é o
Evangelho, mas uma vez convertido deve crescer e levar outros ao mesmo caminho (Fp
212)
Vivemos num crIslianlsmo alivista e Imediatista onde queremos resultados rápidos
ao eslilo da correrIa e produtividade das grandes Cidades modernas. Ficamos tão
preocupados em arrmlUlr um "sIm" de uma pessoa que esquecemos que não é essa a nossa
obrIgaçao. Aliás é intrIgante que queiramos conSiderar apenas as deClsoes positivas ao
lado de CrIsto. Se dez pessoas ouviram o Evangelho e apenas quatro disseram "sim",
tivemos dez deClsoes e nao apenas quatro, pois temos de conSiderar que o Evangelho é
uma opção (Se alguém quiser <,ir . ..) que Inclui também um "não". Resultados imedIatos
nem sempre sao duradouros. DlsClpuJarenvolve paciência aguardando pelos resultados. O
reino de Deus merece isso'
Outros acham que dlsclpulado nada mais ê do que um convite a uma vida ascética
num mosteiro, ou mesmo um convite para ir ao campo missionário. Sem duvida as
passagens bíblicas sobre o assunto exigem uma prontidao e dedicação sobre-humanas e é
claro que existe o perigo de que essa renúncia seja interpretada erroneamente como uma
prova de heroismo ou de asceticismo (Shulz, p. 45).
Para o cristão não deve haver diferença entre a vida secular e a vida religiosa.
Vivemos uma só vida (Tg 1.8; 4.8 - ânimo dobre: dupla personalidade, duas vidas). Não
podemos negar que é possível viver o cristianismo no mundo moderno. E ser discípulo
hoje também requer reavaliação de nossas vidas. A verdade é que os discípulos de Jesus
adaptaram suas vidas ao reino de Deus, e nós hoje queremos adaptar o reino de Deus às
nossas vidas. PreCisamos assumir o cristianismo em todas as suas implicações.
Cristianismo, mais que um conjunto de crenças, é também um ESTILO DE VIDA. Como
cristãos somos uma sociedade de impacto perante a sociedade mundana governada por
Satanás, o príncipe deste mundo e a nossa maior arma e o amor de uns para com outros.
Muitos falam que esse tipo de vida é fanatismo. Mas há diferença entre o fanatismo
paranóico religioso e o viver o verdadeiro cristianismo. Quando precisamos utilizar o
adjetivo significa que o substantivo já perdeu o seu signIficado. Que tal dar ao cristianismo
novamente o seu significado original'7!
COMO A IGREJA DEVE VIVER NO MUNDO?

Pro Lourenço Stelio Rega ©


A palavra mundo tem um significado especial na Bíblia, pois geralmente se refere ao
curso desta <,ida, ao estilo de <'ida adotado pela humanidade decaída no pecado e governada por
Satanás. Constantemente ouvimos os chavões o mundo está penetrando na Igreja ou a Igreja
está ficando mlmdal1a. Como a Igreja pode viver neste mundo sem ser contaminada por ele?
A Igreja não pode viver Isolada do mundo como ocorreu na época dos monastérios
e ordens religiosas do passado. Somos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5.14-16). Antes de
ser crucificado, Jesus orou ao Pai não peço que os tires do mundo . .. eles não são do mundo . .. a
fim de que todos sejam um ... para que o mundo creia que tu me cn<,íaste (17.15,16,21,22). O que
precisamos, então, não é nos isolar do mundo, mas saber qual é o nosso papel perante ele.
Desde o princípio deve ficar claro que o Evangelho não é hóspede do estilo de vida do
mundo, mas seu juiz e redentor (Nicholls, p. 13). Sendo assim, o Evangelho é colocado em
supenoridade.
Temos de aprender a manter o equilíbrio entre o Isolar-se do mundo e o se envolver
tanto a ponto de ser por ele contaminado. Paulo nos admoesta: l1ão 1'05 CONFORMEIS
COtvl (moldar a vida conforme) este mundo, mas TRANSFORMAI-VOS (Rm 12.2).
Vejamos, portanto, algumas de nossas responsabilidades pelo mundo.

Pregação do Evangelho

O mundo está sem Deus. tendo como seu governante a Satanás e as estruturas
SOCiaiS. politlcas e econômICas da SOCIedade estão em prime-causa nas suas mãos (Ef. 2.1-3;
Jo 14.30; 16.11). Por ISSO é ljue o mundo é o que é. Falamos tanto que o mundo preCIsa
melhorar. mas nos esquecemos que para isso ocorrer é preCIso que hajam mudanças no
coração do homem e ISSO só terá iniCIO quando pregarmos o Evangelho e levarmos os
homens à conversão em Cnsto Jesus. O homem arrependido e liberto do seu pecado dará
livre acesso à atuação de Jesus Cnsto em sua Vida e a conseljüénCla será uma vida
transformada. :'\ossa tarefa e responsabilidade pnmelra, como uistãos. perante este
mundo é a sua evangelização. Primeira, mas não a única.

Responsabilidade social pelos pobres e necessitados

"lmguém nega que devemos ter um CUidado especial pelos nossos Irmãos
necessItados. Fi/ç","o,,' h'm 11 lodos. prl11cipll/mcnte aos donll'sticos dai,' (GI 6.10). t\las mUItas
vezes nos esquecemos que o não crente também merece a nossa atenção. Façmnos bem 11 °
TODOS. diZ o texto. A pnmazla está na assistênCIa aos Irmãos na fé, mas o texto não exclui
°
a ajuda aos pobres e necessitados do mundo. Devemos amar "0SSO próximo, é o segundo e
grande mandamento. A Bfblia nunca fala que esse amor ao próximo deve ser só para os
Irmãos na fé. É verdade que não somos salvos PELAS boas obras, mas é verdade também
que somos salvos PARA as boas obras (Ef 2.8-10).
t\luitas vezes queremos negar a nossa responsabilidade pelos pobres e necessItados
do mundo afirmando que o ljue eles preCIsam mesmo é do Evangelho. Sendo assim,
tenderemos a achar que essas duas tarefas - evangelização e aSSistênCIa social - são
Il1com patívels.

,o
Mas Já afirmamos que a evangelização tem prioridade e isso não exclui a
possibilidade de assistênCIa social, aliás a incentiva, pois como poderemos pregar que o
Evangelho liberta-nos do pecado fazendo-nos amar o nosso próximo (Tg 2.1-13) e ao
mesmo tempo venhamos a negligenciar o sofrimento alheio???
Sendo assim, a assistência social é, em primeiro lugar, cOIlse'fiiência da
evangelização. Ou seja, a evangelização é um meio pelo qual Deus produz nas pessoas um
novo nascimento. E esta nova vida se manifesta no serviço prestado aos outros. E, em
segundo lugar, a assistência socia! pode ser uma ponte para a evangelização. Ela pode
destruir barreiras, preconceitos, desconfianças, abrir portas fechadas e ganhar a atenção do
povo para o Evangelho. O próprio Jesus algumas vezes realizou obras de misericórdia
antes de proclamar as boas novas do reino. (Adaptado de Evangelização e Responsabilidade
Social, p. 20,21).
Temos de deixar claro que o Evangelho não tem uma opção preferencial pelos
pobres, como dizem os defensores da Teologia da Libertação. A nossa opção preferencial
deve ser por Jesus Cristo. O Evangelho não faz acepção de pessoas, pelo mesmo fato de
que sem Cristo todos somos pecadores, ricos ou pobres.
Dizer que Deus é pelos pobres, que nós precisamos optar por eles é uma coisa.
Outra, é proclamar que o pobre é salvo por ser pobre. Ora, se o pobre é salvo por ser
pobre, para que tentar tirar-lhe a pobreza e fazé-Io perder a salvação? (Sturz, p. 159).

Participação na vida

Já vimos que ser cnstão não significa isolar-se da Vida. Por outro lado participar
ativamente da Vida não signifIca se isolar da Vida eclesiástica. Num outro estudo Já
afirmamos que, como cnstaos, formamos uma sOCledade-de-lmpacto perante a deste
mundo e que nossa força motrIZ é o amor e a fidelidade a Deus. Não podemos continuar
vivendo duas vidas - uma no domingo e outra totalmente diferente durante a semana.
Domingueiro nun(a queira ser . .. diz a bela canção.
Como embaixadores de Cristo (2 Co 5.20-6.3) representamos o reino de Deus aquI no
mundo e devemos viver de tal modo que nao o envergonhemos sendo pedra de tropeço,
seja a crentes, sela a não crentes.
Se vivemos neste mundo e dele colhemos nosso sustento pelo nosso trabalho, como
cnstãos devemos participar nas diversas esferas da Vida penetrando e Influenciando com
uma Vida contaglante e autenticamente CrIstã. Novamente voltamos ã figura - somos o sal
da terra e a luz do mundo. Pelulo afirma que tudo fazia para ver se alcançava alguns, ainda
que ele mesmo CUidasse de não estar sem lei em sua Vida, estando debaiXO da leI de Cristo
(veja 1 Co 9.19-27)
A título de exemplo falemos sobre o nosso trabalho profiSSional citando Forrei (p.
179). :"ão podl' ser nl'gado que 05 homens precisam trabalhar para sobrel,ii'er. O trabalho é mais do
t!IlC UnI mllI necessário; de dá sigmficado l' propósito a (,idas qIle de outra forma seriam
(ompletamCllte .fiíteis. ,'vIa..' O trabalho 'llio é um mero meio de adquirir propriedades nem mfÍo de
servir ao Estado ou partido; antes. ele l; uma oporhmidade de sen,ir a Deus. O conccito cristão de
chamado (i'ocação-prolissão) signilica quc pela ,tl, todo cristão pode e deZ'e CIlcarar seu trabal/lO
diário como uma oportunidade de ser"ir a Deus . .. Não e!.-iste domínio de trabalho em que Deus
não é o Senhor. É impos5Íi'l'1 di:er, (amo aistào: Negócios são negóCIos, ou política é política,
como se existis5em áreas da I'ida que pudessem funcionar conforme suas próprias regras L'
indepcndentes da vontade d,' Deus, , , Tem de hm'er umll di,tlTCIlça na maneira de um ais tão fazer
o S(11 trabalho, Isso não significa que se espera dele 'lue interrompa as sua.., ati"idades de soldador,
por exemplo, a cada meia hora para dirigir um sermonete a SeI/S colegas. Significa, no entanto, que
ele será o melhor soldador possível para a sua capacidade, porque ele estará soldando para a glória
de Deus e verá em seu trabalho diário uma oportunidade de glorificar a Deus e a semir sem
semelhanteso
Que tal levar os membros da sua Igreja a encarar o mundo com sabedoria aceitando
o desafio de viver nele a vida de modo cristão?

.,
TRÊS PARADIGMAS ECLESIÁSTICOS
Ed René Kivitz, 1° Semestre de 1999

INTRODUÇÃO

De acordo com Ricardo Mariano, em NEO-PENTECOSTALlSMo. OS PENTECOSTAIS


ESTÃO MUDANDO', o movimento pentecostal e neo-pentecostal, por sua vez, segue
mais ou menos a seguinte caracterização histórica, em três grandes ondas:

1. Primeira onda: a partir de 1910 e 1911 com o surgimento das Igrejas Congregação
Cristã e Assembléia de Deus, respectivamente;
2. Segunda onda: a partir de 1950 e inicio de 1960, quando o movimento pentecostal
se fragmenta em três grandes gnupos, em meio a dezena de menores: surge a igreja
do Evangelho Quadrangular, em 1951; a igreja O Brasil Para Cristo, em 1955; e a
igreja Deus é Amor, em 1962.
3. Terceira onda marca o surgimento do movimento neo-pentecostal com a chegada
da Igreja Universal do Reino de Deus, em 1970; e Igreja Internacional da Graça de
Deus, em 1980.

Em paralelo a esta subdivisão. seguem as denominações chamadas históricas, herdeiras


da Reforma Protestante do século XVI: Batista, Presbiteriana, Metodista e
Congregaclonal

Independentemente desta classificação geral na maneira como as comunidades cristãs


contemporâneas se estruturam e desenvolvem seu aprouch no mercado, podemos
distinguir pelo menos três paradigmas eclesiásticos.

O primeiro paradigma é neotestamentário está descrito nas páginas de Atos e seguintes,


bem como amplamente estudado e debatido nos ambientes acadêmicos. O segundo, é
tradicional, fruto da miscelânea sócio-cultural que afetou a igreja em sua expressão
histórica ao longo dos anos, notadamente desde a chamada Reforma Protestante do
século XVI: O terceiro, é moderno, ou pós-moderno.

Tenho a impressão de que, na tentativa de ser eficaz e relevante no mundo pós-moderno.


as comunidades contemporâneas acabaram por criar um outro paradigma eclesiástico, e
nesse sentido, distanciaram-se ainda mais do modelo proposto a partir da descrição da
vivência comunitária dos primeiros Cristãos nas páginas do Novo Testamento. Meu
sentimento particular é que inúmeros segmentos da igreja evangélica no Brasil mais se
parecem com seitas do que com o Cristianismo autêntico das páginas do Novo
Testamento

A?
TRÊS PARADIGMAS ECLESIÁSTICOS

CONCEITO NOVO TESTAMENTO TRADICIONAL PÓS-MODERNO

Ekklesia Corpo Vivo Instituição Mailing Iist

Mundo Perdido Imundo Mercado

Crescimento Multiplicação Adição Massificação

Conversão Transformação Adesão Satisfação

I Ministros Santos Clero Gurus


I

!
!
Pastores Pessoas-dons Bacharéis Empreendedores
i

I
I Espiritualidade Experienclal Sensorial Esotérica

I
I Bênção Dádiva Conquista Produto

Sucesso Fidelidade Diplomacia Performance

Celebração Atitude Liturgia Show

Mariano. Ricardo. NEO PENTECOSTALlSMO OS PENTECOSTAIS ESTÃO MUDANDO. Dissertação de


Mestrado em Sociologia. apresentada na faculdade de Filosofia. Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo. não publicado. 1995
AS TENDÊNCIAS ECLESIÁSTICAS CONTEMPORÂNEAS
ou
OS "ANSEIOS OCULTOS" DO POVO BATISTA

NÃO SÓ MAS TAMBÉM


01. Decência e ordem Liberdade e espontaneidade

02. Teologia Ortodoxa de Ontém Teologia Pragmática de Hoje

03. Impedir que a Igreja seja Testemunhar os feitos de Deus


vista como uma agência de para que o povo se maravilhe
milagres

04. O alicerce estável das O entusiasmo desestabilizador


famílias pioneiras das lideranças emergentes

05. A consistência do Pequeno O poder de fogo do Grande

06 Boletim e cartaz Rádio e Televisão

07. Democracia e particuipação Autoridade e agilidade

08. Deus sábio que fala Deus poderoso que age

09. Discreção educada Ousadia impetuosa

10. Seriedade disciplinadora Parceria restauradora

11. Liderança via academicismo Liderança via performance

12. Que Deus nem sempre faz Que Deus muitas vezes faz

13. Programa Denominacional Visão contextualizada

14. Manutenção da identidade Adequação ao mercado

15. Tradição Criatividade

16. Manutenção do público interno Atração do público externo

17. Otimizar a instituição Conquistar o mundo

18. Cuidado do Rebanho Serviço à coletividade


P\ll"\\u'\c FI.,IJ,,,,4olnc rio Il"'lroi-::.t _ I r"Jrl::>nrv'l r::::fa/J,.., C),::::.rt::l AA
19. Clero Laicato

20. Estrutura organizacional Flexibilidade carismática

21. Proclamação inteligente Contato emocionante

22. Esvaziamento do ibope Díscernimento dos conflitos


satânico espirituais

23. Graça da salvação Radicalidade do discipulado

24. Abrangência missionária Profundidade comunitária

25. Verdade Experiência

26. Bíblia e reflexão Oração e contemplação

27. Comportamento ético Engajamento profético

28. Homens bons Homens misticos

29. Idoneidade na administração Agressividade na arrecadação

30. Humanamente viável Aparentemente impossível

Ed René Kivitz
Pastor da Igreja Batista de Água Branca
São Paulo, 22 de setembro de 1994
MITOS E PARAOíGMAS
DO MINISTÉRIO PASTORAL HOJE
Lourenço S/e/io Rega ©

Introdução

I. Reagimos á vida baseados em scripts que não somente modelam nosso


comportamento, como também nossas escolhas, decisões cotidianas e
relacionamentos.
2. Um criterioso estudo a respeito do ministério pastoral no Novo Testamento indica que
muitos ingredientes foram agregados e outro tanto suprimido desse ministério.
3. Desta forma, foi-se atribuindo uma série de conceitos e crendices no perfil do pastor a
ponto de não mais se perguntar se são biblicos ou não, se realmente são verdadeiros
ou não. Isso nada mais é do que a agregação de mitos á descrição do ministério
pastoral. Mito nada mais é do que uma crendice aceita sem comprovação, ainda que
isso seja possivel.
4. Assim, valeria a pena rever alguns mitos e paradigmas que estão implicitos no
ministér'lo pastoral hoje e analisar como eles têm influenciado nosso comportamento e
ministério.
~. Esse estudo é um ensaio e, portanto, carece de reparos Mesmo assim, vamos arriscar
e ás vezes até utilizar alguma figura hiperbólica.

I - MITO DO UNGIDO DO SENHOR

a. Ninguém toca no pastor, porque ele é o ungido do Senhor, mesmo que seja insuficiente
e incompetente
b. A declaração de valores de uma igreja afirma que: "valorizamos o compromisso do
pastor com a congregação como dissolúvel pela direção de Deus.
c. Figura do Antigo Testamento para designar o rei (1 Samuel 166; 24.6,10; 26.9.16; 2
SamueI1.14-16; 1 Crônicas 1621) e, talvez, o profeta (1 Crônicas 16.22; 19.21; Salmo
105.15)
d. Esse mito, em geral. leva o pastor a não perceber que o seu ciclo de vida numa igreja
ou instituição já encerrou e começa a ser cruelmente fritado pela liderança:

la) Por questão de educação ou medo de "tocar no ungido do Senhor", os lideres da


igreja ou instituição não tratam diretamente com o pastor os necessários ajustes em
sua filosofia de trabalho, ou mesmo a sua demissão em casos irrecuperáveiS
"MATA-SE" O TRABALHO, PREJUDICAM-SE VIDAS, MAS NÃO SE TOCA NO
"UNGIDO";
(b) Ai o trabalho começa a sofrer e a deixar de cumprir a sua missão;
(c) Infelizmente trazemos para o cristianismo o conceito ministerial e sacerdotal do
Antigo Testamento baseado na autoridade e não na eficiência do ministro. Veja, por
exemplo, em Romanos 12.7 ... o que ensina esmere-se no fazê-lo.
(d) É preciso fazer diferença entre uma organizações (e igreja também é uma
organização) baseadas em autoridade/cargolfunção e organizações baseadas em
processos e resultados.

I. Na organização baseada em autoridade/cargo/função, vale a autoridade da


pessoa, não a sua competência ou desempenho No caso pastoral, considera-se
que se é pastor, é vocacionado e "ungido" e, portanto, temos a garantia de que
ele vai funcionar direitinho. O compromisso do "ungido" é com o seu Senhor, por
isso é que ninguém pode avaliar o "ungido". Se é o "ungido" ninguém pode tocá-lo
(avaliá-lo, por exemplo). Aqui o erro é não separar a consagração da pessoa, do
seu desempenho. Isto é, ser pastor, ter convicção disso e ser consagrado, não
garante que uma pessoa terá bom desempenho. Por isso é que existe
treinamento, reciclagem, capacitação. Alguns dizem, seu Deus vocaciona, ele
capacita. Mas onde está isso na Biblia? Parece-me que é um argumento de
preguiçoso. Aliás, hoje em dia estamos mais sendo influenciados pela era
"praxeológica" (que enfaliza a ação como um fim em si mesmo, e como fonte de
verdade), do que pela necessidade de nos aperfeiçoarmos em nossa atividade,
em sermos especialistas na palavra de Deus e em relacionamentos;
11. Na organização baseada em processos e resultados o que vale é a competência,
é o bom desempenho na concretização dos processos que visam atingir os
resultados esperados no cumprimento dos objetivos estabelecidos pela
organização. Em outras palavras, o pastor procurará cada vez mais se
aperfeiçoar no desenvolvimento de sua função para conseguir atingir os
resultados adequados e compatíveis com a missão da igreja. Aqui vale não o
cargo ou autoridade, ou mesmo se ele é consagrado. ou "ungido", mas se ele
cumpre direito a sua missão. O processo de trabalho inclui a avaliação de
desempenho, sem constrangimento.

(e) Nós, pastores, lideres do povo de Deus, também temos de pensar em eficiência e
capacitação adequada para o exercícío de nosso ministério, em vez de nos
arvorarmos em nossa fama, ou folha de serviços prestados no passado, ou mesmo
em qualquer autoridade ou posição que possamos ter. Muitos pastores vivem num
"berço esplêndido· achando que sua autoridade é suficiente.
(I) Além disso é precIso estar cientes de nosso ciclo de vida numa igreja e instituição.
Se soubermos detectar correta e antecipadamente o término de um ciclo de vida,
poderemos até conseguir iniciar um outro com criatividade e dinamismo.

I frases como 'ainda não cumpri a minha missão (ou a missão que Deus me deu)
nesta Igreja ou InstituiÇão" etc, mostram que estamos mais preocupados com a
obra do homem, do que com o homem da obra, pois, apesar de convicções como
essa o povo ou o trabalho poderão estar sofrendo, e, assim, em vez de realizar o
trabalho de pastor, acabe fazendo vitimas de sua visão distorcida do ministério
11 mais prudente e sábiO é sair bem dum ministério, do que nele ter iniciado bem

11 - MITO DO MERCENÁRIO

a Falar sobre sustento no ministério á igreja e aos diáconos dá um mal estar, como se
fôssemos mercenános
b Mesmo que a família fique passando necessidade.
c MUitas vezes o pastor faz de conta que está satisfeito, e os lideres acreditam que o
ministério é assim mesmo.
d Digno é o obreiro do seu salário ... (1 Timóteo 5.18; Deuteronômio 254); ... não atarás
a boca do boi que debulha o trigo ... (1 Corintlos 91ss; 1 Timóteo 5.18; ver também
Hebreus 1317); os que anuncíam o Evangelho, que vivam do Evangelho (1
CoríntiOS 914)
e Muitas vezes o pastor pode desenvolver um mínistério tão sem sentido que o pouco
saláriO ainda é muito. (Ex: Mcos/SZO)
11I - MITO DA ONIPOTÊNCIA

a. O pastor tem um dom especial e somente ele é quem conhece os mistérios de Deus.
b. Somente ele consegue interpretar corretamente a Bíblia.
c. Ele é o único capaz em dar a visão á igreja. Ele é preparado para isso nos seminários.
d. A igreja é do pastor. Tanto é que falamos "Ah! Você é da igreja do pastor fulano de tal
... 7"
e. Podemos também chamar esse mito de MITO DA POSSESSÃO.
f Ele estabelece as prioridades da igreja, mesmo que a liderança seja madura para fazer
isso. Aí quando ocorrem os conflitos, ele se sente incompreendido por todos e acaba
se "quebrando" todo e sua família para realizar a sua visão particular.
g Tem uma personalidade corporativizadora (mistura a sua personalidade com a da
igreja como instituição). Quando alguém avalia ou critica uma determinada atividade ou
programa da igreja, ou mesmo aponta algum erro que precisa ser corrigido no trabalho
da igreja, é o mesmo que falar mal do pastor. Enfim, ele e a igreja são uma só coisa.
h. Nunca percebe se o seu ciclo de vida já está no fim ou não. Deus é quem determinará
se ele deve ou não sair.
I. Esse mito induz muitos pastores a dirigirem sua igreja como organizações orientadas
por cargos e atribuições, em vez de orientadas por processos e resultados. E assim, a
autoridade que ele tem pesa mais do que o seu desempenho e eficiência.
J É preciso fazer diferença entre vocação ministerial e competência ministerial. Um
pastor. ainda que tendo convicção de sua vocação, poderá não ter bom desempenho e
eficiência no exerci cio de seu ministério.
k. Esse mito impede que um pastor aceite ser avaliado pelas ovelhas - aliás, os leigos - e
se acha superior á elas.

IV - MITO DA INFALIBILIDADE PASTORAL

a O pastor nunca erra. Isso é paralelo á infalibilidade papal da Igreja Católica Romana.
Também não tem "cheiro", não mofa e não mancha .. ' I
b Pode ser chamado também de mito da impermeabilidade, pois o pastor enfrenta
todas as "barras" sem ceder, mesmo que as ovelhas acabem tendo somatizações.
c. É um impermeável emocionalmente Um inabalável.
d Os outros é que sempre estão errados, ele é um Incompreendido.

V - MITO DO "SÓ EU"

a É a visão monolitica do pastorado.


b Pastor-rolha, tampão É o gargalo por onde deve passar tudo na igreja. Se ele não
aprovar a realização de alguma atividade, ou algum proJeto, ou mesmo se algo
acontecer no ámblto da sede da igreja sem ele saber, o mundo "desaba". Tudo deve ter
o "imprimatur' dele
c Não há lugar para o desenvolvimento dos outros Não há "empowerment"
d Se tiver ministros auxiliares com ele: o "brilho" só pode ser dele: os outros só ficam em
sua sombra. Caso contrário ele arde em ciúmes. Exemplos. (1) Romário e Bebeto no
Flamengo; (2) OPL em VIX sobre o ministério associado na PC.
e Nos sermões e palestras constantemente utiliza exemplos pessoais, de seu matrimônio
ou familia
f Esse mito leva o pastor a lidar com a realidade do ministério apenas do ponto de vista
do poder. Os outros somente poderão ter poder se ele o delegar

AA
g. A declaração de valores daquela igreja mencionada diz: "valorizamos a autoridade do
pastor como guia do rebanho que irá responder diante de Deus pelo exerci cio da sua
autoridade."

VI - MITO DO SACERDOTE

a. O sacerdote representava o homem perante Deus.


b. O pastor se sente, muitas vezes, como o único, verdadeiro e eficaz representante de
suas ovelhas diante de Deus.
c. Ele é quem dá o aval espiritual para as suas atividades. Sem a bênção dele o crente
não se sente bem.
d. Também pode ser chamado de mito da onipresença, pois uma reunião não tem valor
espiritual sem a sua presença e sem a sua bênção.

VII - MITO "A IGREJA É A CARA DO SEU PASTOR"

a. É uma frase muito comum, para descrever como as ovelhas absorvem como que por
osmose o jeitão do seu pastor. Depois de algum tempo falam até a linguagem dele.
b. Quem deve dar a visão para a igreja? Somente o pastor? Ou é o pastor que deve ter a
visão com a igreja sobre como ela deverá ser?
e O pastor é o soberano da igreja ou é Cristo que deve ser? A Igreja deve ter a cara do
seu pastor ou de Cristo?

VIII - MITO DO "OU EU"

a. Muitos pastores se sentem tão imprescindiveis e insubstituiveis que num conflito


acabam afirmando "ou eu. ou o fulano de tal

IX - MITO DA "CASA GRANDE E SENZALA"

a. Se uma ovelha agrada o seu pastor, tem direito a viver na "Casa Grande", se não vai
para a "senzala". Isto é. a pessoa estará ou não recebendo a atenção do pastor e a sua
amizade dependendo de seu relacionamento com ele. Se o agradar e com ele
concordar em tudo
b É uma conseqüência dos outros mitos que supervalorizam o pastor

X - MITO DO "MOTO-CONTINUO"

a Não importa o que. mas sempre é preciso estar em atividade. fazendo algo
b Pastor ligado em 220 volts.
e "Crente que não trabalha dá trabalho".
d Neste caso o pastor deixa de ser um "ovelheiro" para ser um atarefado gerente de
calendário. Importa o povo estar ocupado trabalhando na "causa".
e Neste caso" buscar em primeiro lugar Deus e a sua justiça ... " significa buscar em
primeiro lugar preencher o tempo com as tarefas da igreJa ..

XI - MITO DO "ALÉM DO BEM E DO MAL"

a. Nietzsche' Além do bem e do mal.


b A sua vontade e o seu conceito do certo e do errado está acima das outras pessoas
c. Vontade e cosmovisão pessoal, universalizada.
d. Racionalização contra a culpa

AO
e. Pode também ser chamado de mito da "síndrome de Deus" (ou de Lúcifer). Vide o
livro de Caio Fábio. O pastor, neste caso, está acima da verdade, acima lei. O que ele
fala é sempre verdade, mesmo que a realidade mostre o contrário.
f Talvez haja aqui traços da patologia chamada paranóia

XII- MITO DO "ANJO DO SENHOR"

a. Para muitos, o pastor é o anjo da igreja. O seu guardião, o seu tutor.


b. É uma variante do mito do sacerdote.
c. Ex.: Estatuto da IBP-SP
d. As ovelhas se sentem seguras embaixo de suas "asas". Deixam até de se preocupar
com a doutrina, afinal o pastor sabe de tudo e as protege, qualquer coisa é só correr
para a proteção das asas do "anjo"!!'
e. Quando ficam sem o pastor, acabam perdidas e sem conhecimento biblico e
doutrinário.
f Pode ser chamado também de mito do cartório, pois o tabelião nada mais é do que
aquele que tem fé pública para dizer que as coisas são como ele diz que são. Assim, a
minha assinatura num documento só passa a ser verdadeira a partir do momento que o
tabelião a reconhece Ele empresta a sua autoridade para que eu possa dizer que a
assinatura que eu mesmo fiz é verdadeira e tem fé pública. Assim, o pastor (tabelião)
quando diz que uma doutrina é verdadeira, pode contar que é mesmo. Ainda que não o
seja'.

XIII - MITO "AÇÃO ENTRE AMIGOS"

a. É comum ver pastores falando "familia tal ou fulano de tal é sempre a favor do pastor

b. As pessoas se tornam boas ou más, se votam pelo pastor ou não.


c Este mito está relacionado com o mito da Casa Grande e Senzala. Só que aqui é na
situação de normalidade. No mito da Casa Grande ... é no momento de conflito.
d Se o pastor ajudou alguém. amanhã essa pessoa terá de votar com ele, e ficar do seu
lado. Caso contrário, será considerado por ele como um traidor.
e Usa a ética do "bateu-levou". "toma lá-dá cá".
f Nesse caso. o pastor não olha para a sua própria eficiéncia.

XIV - MITO "FILHO DE PASTOR É UMA PESTINHA"

a Os filhos de pastor sempre são considerados com desconfiança;


b Isso é "predestinação cultural" ou falha no cuidado com os filhos? Ou os dois?
c Devemos lembrar que uma das caracteristicas do perfil do pastor (bispo) é governar
bem a sua própria casa, pois se não faz isso, como poderá cuidar da igreja de Deus?
(1 Timóteo 35) Além disso deve ter filhos fiéis (Tito 1.6).
d Muitas vezes o pastor cuida tanto da "casa do Senhor" que se esquece dos
compromissos com a sua própria casa. Ao tornar-se pastor, Deus não o dispensou dos
compromissos como mando e pai. Esse é um compromisso e responsabilidade que
somente o própno pai e marido pode arcar. É uma responsabilidade intransferivel

XV - MITO "ESPOSA DE PASTOR É SEMPRE SOFREDORA"

a A esposa de pastor. em geral, é tida como sofredora, deprimida, neurótica etc.


b. Há quem pense que a esposa de pastor é sempre mediocre.
c. Será que estamos investindo em nossa família o que ela merece e necessita, como
pastores, pais e maridos?
d. A familia está num nivel prioritário superior ao da ígreja/minístério, ainda que sejamos
pastores.
e. Veja a hierarquia de prioridades em Efésios (5.18-6.20) - eu e Deus: eu e meu
matrimônio; eu e minha família (filhos); eu e minha profissão/ministério; eu e a batalha
espiritual.

XVI- MITO DO RESTAURANTE

a. Muitos pastores se sentem os únicos e eficazes alimentadores espirituais de suas


ovelhas.
b. Há ênfase demasiada no púlpito (pulpitismo) e no culto em detrimento, por exemplo, ao
ensino.
c. Muitos acreditam na sacralidade da pregação, afinal a palavra nunca voltará vazia
(Isaías 55.11 - mas a palavra que sair da boca de Deus ...)
d. É uma conseqüência do mito do anjo do Senhor e do mito do sacerdote.
e. Geralmente sente ciúme de algum seminarista ou lider da igreja que se destaca no
ensino e pregação. Exemplo SM/IBP/ESC-.

XVII - MITO "LÁ VEM SERMÃO"

a Muitos pastores desenvolveram um espirito critico tão "ácido", que o pastorado, em


geral, ficou fortemente tingido por esse espirito.
b Quando o pastor aparece por perto, pode contar que vem alguma bronca, alguma
cobrança.
c. O pastor é comparado ao homem "do saco" para muitas crianças "filho não faz isso, se
não eu vou contar para o pastor l "

XVIII - MITO DO CARRANCUDO

a Ser pastor é viver sério e de cara fechada.


b Para muitos, pastor é um camarada chato que só pensa em Biblia e no céu
c Para esses mUitos. pastor é sempre uma pessoa que não sabe aproveitar bem a vida,
não tem nenhum hobble. mUito menos sabe se divertir, a não ser jogar bola (e sempre
no ataque)
d A roupa do pastor é sempre o surrado terno, esteja calor ou frio. Se não tomar cuidado,
vai até no plque-nlque da igreja de paletó e gravata É curioso notar como muitos
membros da igreja vigiam um pastor assim, e quando troca o paletó e a gravata por
uma camiseta, fazem questão de fotografar para mostrar o "troféu".
e Esse mito geralmente distancia o pastor do povo, criando barreiras intransponíveis e
impedindo a comunicação. a camaradagem e o aumento de confiança. Enfim, procurar
o pastor para aconselhamento é uma última alternativa (às vezes é para evitar a
disciplina na Igreja)
f Neste mito, o pastor dificilmente é visto amorosamente (como um pastor deve mesmo
ser), como um amigo com quem se pode abrir o coração.

XIX - MITO DO RAMBO

a. Em geral o pastor é tido como um "homem de sete Instrumentos" como o Rambo (que
sabia dirigir qualquer veiculo ou avião, utilizar qualquer tipo de arma etc)
b. Ele é quem sabe mesmo evangelizar, aconselhar, pregar, escolher a fachada melhor
para o templo, administrar, cuidar de finanças, organizar e coordenar um evento etc.
c. Minha experiência no pastorado em Itatiba.
d. Esse mito tem levado as instituições denominacionais acreditarem que, por ter sido
escolhido um pastor para ocupar uma determinada função, certamente o trabalho vai
ter sucesso.
e É conseqüência dos mitos da infalibilidade pastoral e do "só eu".

xx - MITO DO XERIFE
a Muitos pastores se acham no direito de se envolver na vida particular de suas ovelhas.
b. Nenhuma filho de uma família da igreja namora sem o seu consentimento.
c. Qualquer coisa que acontece num lar da igreja tem de ter a aprovação do pastor.
d A escolha da Faculdade para um mebro da igreja deve receber a aprovação do seu
pastor

Conclusão

I. Analise sua Vida e ministério á luz das cartas pastorais.


2. Será que sobrou alguma coisa para você no pastorado? Certamente sobrou amar e
cuidar de suas ovelhas. como um "ovelhelro".
3. Lembre-se mais da figura de servo do que de rei para exercer o seu ministério
pastoral
Por que não mudar?
Aqui está o mais puro exemplo de como temos, muitas vezes, de nos adaptar á atitudes
tomadas no passado:

A bitola das ferrovias (distância entre os dois trilhos) nos Estados Unidos é de 4 pés e 8,5
polegadas. Por que esse número foi utilizado?

Porque era esta a bitola das ferrovias inglesas e como as americanas foram construidas
pelos ingleses, esta foi a medida utilizada.

Por que os ingleses usavam esta medida?


Porque as empresas inglesas que construíam os vagões eram as mesmas que
construiam as carroças, antes das ferrovias e se utilizavam dos mesmos ferramentais das
carroças.

Por que das medidas (4 pés e 8,5 polegadas) para as carroças?


Porque a distância entre as rodas das carroças deveria servir para as estradas antigas da
Europa, que tinham esta medida.

É por que tinham esta medida?


Porque essas estradas foram abertas pelo antigo império romano, quando de suas
conquistas, e tinham as medidas baseadas nas antigas bigas romanas

E por que as medidas das bigas foram definidas assim?


Porque foram feitas para acomodar dois trazeiros de cavalos'

Finalmente..
O ônibus espacial americano. o Space Shuttle. utiliza dois tanques de combustível sólido
(SRB - Solid Rocket Booster) que são fabricados pela Thiokol, em Utah Os engenheiros
que os projetaram queriam fazé-Io mais largo, porém tinham a limitação dos túneis das
ferrovias por onde eles seriam transportados. os quais tinham suas medidas baseadas na
bitola da linha Conclusão O exemplo mais avançado da engenharia mundial em design e
tecnologia acaba sendo afetado pelo tamanho do traseiro do cavalo da Roma antiga.

recebido pela Internet


CRIANDO UMA COMUNIDADE DE VALORES 19
Lourenço Stelio Rega ©

Tudo o que dissemos até aqui é sumamente importante, mas nada será
conseguido se não resgatarmos o sentido de comunidade no povo batista brasileiro que
está separado por várias "distâncias", a geográfica, a ausência de equilibrio geralmente
encontrada no conceito de autonomia/soberania zD da igreja local, ênfase na
individualidade e conseqüente ausência de responsabilização e solidariedade
comunitária, etc. Precisamos recriar uma comunidade de valores e não apenas de
proximidade. Será precIso identificar nossos esteriólipos e buscar nossos "pontos de
contato", ou os valores e ideais que devem nos ligar num vinculo gerador de um espirito
de solidariedade e mutualidade. "A proximidade focaliza o que é visto; o valor focaliza o
que é sentido. A proximidade admite a importância da presença fisica para compartilhar
idéias; os valores criam elos emocionais e a capacidade de compartilhar idéias através
de grandes distâncias. As comunidades do futuro podem ser definidas menos por onde
vivemos que pelas coisas que acreditamos."zl

o resgate de valores que gerem coesão, um senso de "pertencer", de


interdependência e serviço, sem dúvida contribuirá para fortalecer a identidade de nosso
povo batista. Sem dúvida, um identidade assim gerada será muito maior, mais abrangente
e com maior gama de implicações e resultados do que uma identidade caracterizada
apenas por uma declaração de fé (que afinal precisamos revisar sempre), ou mesmo pela
uniformidade juridica ou mesmo uma identidade apenas baseada em práticas
eclesiásticas e litúrgicas.

Assim. será necessário gerar mecanismos e procedimentos funcionais que


viabilizem o resgate desse sentido de comunidade e identidade. E neste sentido
precisamos buscar os adequados pontos de contato para nosso povo e que o nosso
ponto de contato seja muito mais do que estatutos, regimentos e relatórios financeiros,
que têm o seu lugar próprio e necessário, mas não podemos mais ter uma Convenção
centralizada apenas numa visão juridico-contábH-financeira. Isso é meio e não o fim que
almejamos. Temos uma missão a cumprir e essa visão é que deve estar em nossa frente.
Numa linguagem popular, estamos como uma ave ciscando milimetrlcamente o chão.
enquanto precisariamos também alçar altos vôos como uma ave para ter a visão ampla
do todo. Sem dÚVida, ao nutrirmos os ideais de uma missão (não confundir com Missões.
que é parte de nossa missão) não devemos deixar de considerar o chão que estamos
pisando. Aqui está o equilibrio entre o ideal e o real. Vamos andar à medida que
enxergarmos nosso chão e a modelagem de uma nova visão denominacional deve
considerar ISS0 22 Ulrich sugere que para criarmos comunidade de valores devemos
desenvolver seis práticas

'9 Extraido e adaptado do Relatório do GT Repensando a CBB, anexo de autoria de Lourenço Stelio Rega-
Livro do Mensageiro da Assembléia da CBB, 1999, Serra Negra, SP.
:'C Veja meu artigo "Autonomia da igreja local - isso é biblico?". publicado no jornal (O Batista Paulistano)

onde discuto que a doutrina da autonomia da igreja local tem seu equilibrio quando praticamos a
doutrina da solidariedade e mutualidade no reino de Deus. Sem isso perdemos o senso de comunidade
e cada igreja local passa a ser um todo completo e fechado.
" ULRICH, Dave. "Seis praticas para criar comunidades de valores, e não de proximidade" in : PETER F.
DRUCKER FOUNDATION. A comunidade do futuro - idéias para uma nova comunidade. São Paulo,
Futura, 1998. p. 161 (com adaptações).
2: Como batistas, precisamos resgatar novamente os ideais de uma visão de futuro. Creio que estamos
traumatizados pelos dissabores que temos sofrido pelas crises gerenciais-financeiras em algumas de
nossas instituições têm passado ultimamente.
(1) Fomentar uma identidade forte e distinta:
(2) Estabelecer regras claras de inclusão;
(3) Compartilhar informações através de fronteiras;
(4) Criar reciprocidade em série; e,
(5) Utilizar simbolos e fatos que criem e mantenham valores. 23

,-.-.-,-.-,-.-.-.-,-.-,-,-,- -

" Idem ibidem.


NÍVEIS DE MUDANÇAS
grande Comportamento institucional
dificuldade CULTURA

Comportamento/experiência
certo grau ESTILO DE VIDA
de
dificuldade Relacionamentos
CORAÇÃO

fácil Conhecimento
MENTE

cada nível requer diferente qualidade de resposta

NÍVEL RESPOSTA

E7 Conhecimento/informação -7 mudança de 'ncntalidadc

E7 Relacionamentos -7 mudança de ::lituue

E7 Experiências -7 mudança de _::--liio de ,ida

E7 Institu ições e leis -7 mudança de :lltura

Fonte: LeacJership :\ernork (Church Champions. 0.0 38. 39). http:///W\nl,leacJnel.orv,/


l'raduçun l' (j(laptaçàl1 Ll\UTCnçO Stcllp lú:g.a
CULTURAS DE OBJEÇÃO À IGREJA

-
GERAÇAO PARADIGMA
anos 80 a igreja não é relevante; é enfadonha e maçante; em vez de
futebol parece mais um jo~o de bocha
anos 90 ela não é real; é hipócrita; é omissa e escorregadia
, "
pl"oxlma ela para os santarrões, desocupados e alienados da sociedade;
~ __geras~(!~ _________ ~~~J!!"o~~!~~u!!o~~~s!!~º~ons~ue explicar a vida

.'unte: uadl"rship Nernork (N("tF~x. n.o 77, ".H.1997) http://lwwl\.lcadn<,t0'1t'


TnllJuçãn c ad"pt~ç:.io: Lourenço SteUlI R~a

Novos Modelos de Igrejas - Lourenço Ste/lo Rega © 5:


A IGREJA URBANA
NO MUNDO PÓS-MODERNO

,
MUNDO MODERNO MUNDO POS-MODERNO
O homem é uma pessoa cética O homem é uma pessoa espiritual
Mundo natural
______________________________ n
Redescoberta do mundo super-natural
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
_ _n

Autoridade racional Abrangência de autoridades alternativas


11 istória pro~ressiva Desilusão/decepção do pro~resso histórico
- _ ..
--_."
Método
----.----
científico
------------ - - - - ----_.-.----
-----
_______JYle!Qdo!Qgia multidimensional
Revolução industrial Revolução informacional
hmtc: lA'lIti('I"\hip Nehn.rk (NetFa\.. 0.0 MS, S.I.199H) httll:III\\\Hl.lclltlnet.o~1
Tr.uhu;ão c adapta"ãu: Lourenço Stello Rc~a

Novos Modelos de Igrejas - Lourenço S/e/Ia Rega © 51


TRANSFORMAÇÕES
NOS MODELOS DE LIDERANÇA

equipando PASSADO HOJE EMERGENTE


~ - - -- - ------_. ---- ._-------~- ~- -~-~~-~--~~ ~~---------- --
o que? conhecimento, saber métodos princípios
por que? para ministrar ... o povo para 2erenciar ... estruturas para multiplicar ...
quando? Semanalmente centralizado na agenda centralizado nas necessidades
FORMAL FORMALlINORMAI, FORMAL, INFORMAL E NÃO-
FORMAL
como? teoria buscada na prática estudo de casos, simulação contato pessoal
~~-- - - - - - ------ -.-- - - - - - - - - - - - ,,-- ---- ----- - -----_._~. ---~~_._---_._---_._---~
prática ... relacional
o foco evangelização pessoal discipulado mobilização do "leigo"
aconselhamento pastoral uso dos dons reprodução

Fonte: l.A"adership Nern'ork (NetF~t:\. n.o 50. 22. 7.199(,) hlll):lllw\l".lelldnet.o~1


Tradll~'iio
e adaptaçào: L.ourenço Stelio Re~8

Novos Modelos de Igrejas - Lourenço Ste/lo Rega © 5!


o r~ovo PARADIGMA APOSTÓLICO

PARADIGMA PARADIGMA DA O NOVO PARADIGMA


QllESTÃO APOSTÓLICO CRISTANDADE APOSTÓLICO
(Ser I ao Ser"') (Ser IV a metade do Ser XX) (metade final do Ser XX - Ser XXI)

força motriz missão, visão/valores tradição, lealdade, obediência missão, núcleo de fé e valores
missão focalizada no externo: alcançar focalizada internamente: focalizada externamente: buscar
o mundo fora da igreja buscar o que está longe os afastados

estrutura simples, funcional, centra- complexa, hierárquica, flexível, contextual, centralizada


lizada na igreja local centralizada na burocracia na comunidade local

relacionamento pessoal, estilo de vida na social, corporativo, individual, experiencial


com Deus comunidade institucional
ensinar, equipar, treinar,
papel do "clero" ensinar, eq uipar ministro profissional discipular

pallel do "leigo" ativo, engajado na missão passivo, obediente ativo, participante da missão

veículo de histórias narrativas literatura e proclamação, histórias narrativas e mutimidia


comunicação argumento racional

nivel de alto, informal alto, formalizado, denominações alto, pequeno em termos de


participação propósitos específicos, redes,
~ ~--~.- --_._~- ---- varcerias
Fonte: Leadenhlp Nem'ork (NctFa,. 0.0 27. ".9.1995) hUI):IIIl\'l1-l1".leadnet.o~/-Tradução e adaptação: Lourenço Stello R~8

Novos Modelos de Igrejas - Lourenço S/e/lO Rega © 5f


TRANSFORMAÇÕES NOS PARADIGMAS ORGANIZACIONAIS
CARACTERíSTICA PARAI)IGI\IA MODERNO PARADIGMA PÓS-MODERNO

Força motriz centralização na Economia/lucro baseada em Ilrollósitos/Missão


Liderança baseada na posição/atribuição/cargo Visão e Valores
Visão mantida somente Ilelos oficiais Ilrincipais comllartilhada Ilor todos da comunidade
Forma mecân ica/mecanicista orgânica/vivencial
Estrutura hieranluia rígida e Iliramidal horizontal, flexível, compartilhada
Persllectiva eSllecialização que resulta em "silo" equipe em rede (matricial)
Ênfase função/cargo processo e resu Itad os
Cultura Ilaternalista l13rticillativa
Crescimento crescer bastante para se tornar grande grande crescimento através de pequenos grupos

Habilidade dos líderes cronstrução, máquinas, capital pessoas, informação, especialização


Comunicação formal através de memos e relatórios informal, oral, eletrônica
Expectativa do trabalho salário, beneficios materiais, aposentadoria particillar, busca de sentido

Fon'f': LeadcnhilJ Nct\\ork (NctFax, ".026. 2I.H.1995) httlJ:!I\"\,,.I("Hlnet.o~1


TradUf;ào e adaptação: Loure-o\'O Stello Rega

Novos Modelos de Igrejas - Lourenço Slello Rega © 6-


CINCO JANELAS PARA
A IGREJA DO SÉCULO XXI
O Liderança efetiva
liderança proativa, descentralizada, orientada por processos e
resultados em vez de por atribuições

8 Mobilização de todos ("leigo")


ministério orientado/baseado nos dons, todos são
ministros/vocacionados

• Culturalmente sensível
contextualização à luz dos princípios bíblicos; cultura relevante,
mas não normativa

e Comunidade autêntica
as pessoas precisam de oportunidades, mas nem sempre de
programas; cuidado, ensino, admoestação, amadurecimento

o Visão global do Reino de Deus


esta aberta para parcerias e alianças interdenominacional com o
propósito de cumprir a Missão, local e globalmente; deverá ter
precisa sua convicção doutrinária e firmeza nas Escrituras
Fonte: l.e~Jcrshlr Nl'l\\Ort.. (!':LXT. ue/.l:mhroN7l hUpll\\\\\\.kaJnetorgl
rraduy~l\) c :1Japtw;ào l.nl!fcnç\) Stcho Rega
FINS E MEIOS
Lourenço SteJio Rega"

Há principios simples que regulam a vida humana. Um deles diz respeito às


finalidades das coisas. No campo da filosofia estudamos isto no capitulo chamado
teleologia. Um fogão foi feito para aquecer, uma geladeira para gelar, etc. Como você
pode ver o princípio é simples. Há ainda o principio dos meios que indica através do que
um fim é atingido. Um fogão aquece utilizando geralmente gás liqüefeito de petróleo. Uma
geladeira, eletricidade. O próprio fogão ou geladeira são também meios.
Um outro detalhe fundamental é o relacionamento entre meios e fins. Para
chegarmos aos fins precisamos dos meios. Para um fogão cumprir o seu papel - aquecer
- é preciso de um agente que funcione como meio - gás. O que é mais importante? O gás,
que é o meio, ou o fogão? Todos os itens são importantes, mas o mais importante é o fim
que queremos conseguir - aquecer uma comida, por exemplo. Neste caso o mais
importante não é o gás, nem o fogão, mas o aquecimento.
Poderá ocorrer que, muitas vezes, confundiremos fins e meios e vice-versa a
ponto de um ser trocado pelo outro. Um fogão pode ser auto-limpante, ter acendedor
automático, há diversos tipos de reostatos para o fomo, etc. Assim, por exemplo, quando
vamos a uma loja comprar um fogão, poderemos nos confundir em diversos detalhes a
ponto de esquecermos do fundamental - fim para que precisamos de um fogão: aquecer,
fazer comida etc.
Esses princípios simples também se aplicam às organizações, mesmo as
complexas. As organizações e entidades existem em função de fins a elas propostos.
Seminários existem para formar obreiros, Juntas Missionárias para promover a obra
missionária. Orfanatos, para promover a dignidade humana. Colégios Batistas para
promover a obra educaCional expandindo os ideais evangélicos, evangelizar e promover a
ação social (no correto sentido da palavra), etc. Em outras palavras, uma instituição ou
entidade existe como meio para realizar um ou mais fins. Isso é tão importante que os
cientistas da administração contemporânea têm escrito pilhas de livros, dirigido milhares
de conferências sobre temas como RAZÃO DE SER, MISSÃO, VISÃO.
Um dos impulsores para todo esse movimento é que, com o passar do
tempo, a distinção entre meios e fins deixou de ficar bem clara e, muitas vezes, os meios
se tornaram em fins, e os fins nem sempre lembrados no planejamento estratégico de
cada instituição ou entidade. Especialmente em nosso meio batista, onde a Assembléia é
o magno e soberano fórum para a expressão da vontade da igrejas. A própria estrutura
denomlnacional a que chamamos de Convenção Batista deve existir em função das
Igrejas locais. Toda estrutura convencional existe para objetivar a cooperatividade e
mutualidade entre as Igrejas locais.
Então as igrejas locais não existem por causa da Convenção, mas a
Convenção existe por causa das igrejas. Atender as necessidades das igrejas locais deve
ser a preocupação-fim da Convenção Batista Brasileira, enquanto estrutura. Assim
também as Convenções Estaduais. Quando falo em Convenção enquanto estrutura me
refiro a todo meio institucional criado pela Convenção ou Convenções Estaduais.
Vamos a uma abordagem prática. É comum quando uma Junta ou Conselho
de Área se reúne enfatizar a sua avaliação do relatório administrativo/contábil da entidade
ou instituição "subordinada", nem sempre enfocando o relatório de suas atividades-fim.
Não é raro que Juntas e Conselhos de Áreas sejam surpreendidos por situações já fora

" Lourenço Slelio Rega é Bacharel e Mestre em Teologia(FTBSP-SP). é Licenciado em Filosofia (FAI-SP).
Pós Graduado em Administração de Empresas (Núcleo de Análise de Sistemas - FECAP-SP) e Mestre
em Educação (PUC-SP) É o atual Diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Foi relalor do
GT Repensando a CBB. Este artigo fOi publicado em "O Jornal Batista", de 16 a 22/11/98, p. 15.
de controle de instituições/entidades. Dai criam-se comissões, o assunto vaza para o
plenário das Assembléias.
Na ilustração acima parece ficar claro que os fins foram trocados pelos
meios. Senão vejamos, em prima causa uma instituição da Convenção ou Convenções
Estaduais foi criada para servir á causa das igrejas locais, legítimas mandatárias da
própria Convenção. Uma Junta ou Conselho de Área, numa análise essencial, existem
para que os representantes das igrejas locais que foram escolhidos para sua composição,
possam aferir se as instituições/entidades estão cumprindo seus fins de modo compativel
com o que foi determinado pelas igrejas locais em sua criação e organização.
Nos bastidores denominacionais fala-se muito de "proprietários" de Juntas e
instituições, que exercem seu poder soberano e divinal de modo que esses organismos
se tomam impermeáveis e intocáveis até pelo soberano plenário de uma Assembléia.
Neste caso a instituição se tomou um fim em si mesma em vez de ser um meio. Muitas
vezes é o executivo que poderá se tomar um fim em si mesmo em vez de ser o
representante das igrejas para levar a cabo as finalidades da instituição que dirige e,
portanto, buscando o interesse delas em vez de o seu próprio. Como executivo devemos
ser servos-lideres e nessa ordem.
Por outro lado, em vez dos membros das Juntas/Conselhos serem
espectadores de relatórios, devem exercer seu direito em requerer que os executivos
denominacionais e as instituições que dirigem palmilhem o caminho que salvaguarde os
fins para que foram criadas para que possam ser meios e não fins em si mesmas.
Nesse sentido, cada um de nós, executivo batista, deve investir na
preservação da memória histórica da instituição que dirigimos, pois muitas vezes
poderemos ser tentados a "zerar o velocimetro" histórico da instituição a partir de nossa
posse. fazendo com que a história da instituição bem como seus principios vitais e
fundamentais sejam considerados apenas a partir daquele momento. Enfim, poderemos
ser tentados a querer recriar ou reinventar a instituição que dirigimos.
É claro que essa abordagem não deva ser um demotivador para constantes
avaliações e revisões dos paradigmas de uma instituição. Precisamos primar pelo seu
continuo aperfeiçoamento, inclusive na depuração cada vez mais precisa de seus fins
para que ela não se tome si própria num fim.
Já não há mais tempo para que esta confusão entre fins e meios possa
continuar. Precisamos dinamizar nossa ação como denominação e redescobrir nossa
razão de ser e redimensionar todas as nossas atividades e projetos de modo que
venhamos a ter esse foco como nosso alvo a perseguir.
Todo povo batista precisa estar em continua oração para que nós executivos possamos
ter sempre lúcida nossa missão diante das instituições a nós confiadas pelas igrejas
batistas, para que sempre possamos ter sabedoria nas decisões diárias, por minimas que
sejam; para que possamos por Ele ser capacitados para os desafios que nos cabem.
Amém'
Instituições e pessoas
Lourenço Stelio Rega © 25

Por muito tempo tenho ouvido a expressão "as pessoas passam, mas as
instituições penmanecem". Em geral esta frase tem sido dita em ocasiões quando alguma
pessoa precisa ser "sacrificada" no quadro de uma equipe.
Uma cuidadosa análise indica que precisamos refletir sobre os pressupostos que
lastreiam uma afinmação dessa natureza. Se a nossa visão partir do ponto de vista de
uma linha do tempo, de fato as pessoas estão passando e as instituições estão
permanecendo, pelo menos até que o mundo acabe e considerando-se apenas o aspecto
fisico da existência humana.
Mas, por outro lado, é preciso fazer um retomo na compreensão da existência de
uma instituição. E aqui parece-me que vale partir do raciocínio de Jesus sobre o sábado.
Afinal ele não estava preocupado apenas em praticar cegamente as detenminações sobre
o sábado, mas em conhecer a natureza ou razão de ser do sábado. Para que existe o
sábado? Relacionando-o ao ser humano, então a pergunta mudou-se para: "o sábado foi
feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado".
Seguindo o mesmo raciocinio, creio que devamos sempre perguntar para que
existe uma instituição? Ela existe para as pessoas ou as pessoas para ela? Ela deve
existir em função de algum serviço a ser prestado ao ser humano, ou o ser humano deva
existir em função dela? Por exemplo, um seminário, uma escola, existem em função das
pessoas ou as pessoas é que devem existir em função dessas instituições?
Talvez alguém poderia responder de duas maneiras: (1) enquanto aluno, a
instituição escola deve existir em sua função: (2) enquanto funcionário, ela deve ser a sua
razão de existir, pelo menos em tenmos operacionais. De fato, se do ponto de vista como
um funcionário, seja qual for seu nivel de atuação, uma pessoa deixa de cumprir com
excelência o que se espera dela como equipe, não há razão para que essa mesma
pessoa possa dizer que está contribuindo para que a instituição escola, em nosso
exemplo, esteja cumprindo a sua principal razão de ser no processo educacional. Neste
sentido, uma pessoa assim não está qualificada para o trabalho e precisa ser capacitada
e treinada. Afinal a ineficiência gera turbulência funcional de uma equipe.
Mas se olharmos ainda mais um pouquinho sobre a importância que o ser humano
tem na dimensão biblico-teológica na história quotidiana, creio que há um outro lado da
questão que também precisa ser relevado aqui. Por exemplo, se a nossa visão de uma
linha cronológica transcender o tempo chamado no grego de kronoj, isto é, o tempo
mensurável, e fizermos uma conexão da história do quotidiano com o kronoj de Deus,
isto é, com a história e biografia de Deus, a linha do tempo que teremos transcenderá a
vivênCia materral e transpassará mesmo após o ténmino da atual história humana Afinal
quando o presente mundo acabar, recomeçaremos a viver nos novos céus e terra.
Assim, as Instituições deverão existir em função das pessoas e não o inverso. â
semelhança do que Jesus ensinou sobre o sábado. Mesmo trabalhando numa instituição,
ela eXiste para as pessoas, em função mesmo de ser uma viabilizadora da ação humana
no cumprrmento de uma missão compatível com a razão de ser da instituição. Assim, uma
escola, um seminário existe em função dos alunos, mas também em função de seus

" Lourenço 5telio Rega é Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia (espec. em Ética). Licenciado em
Filosofia, Pós-Graduado em Administração (núcleo de Anaiise de Sistemas). tem curso de extensão
pedagógica do ensino superior e é Mestre em Educação. é Diretor Geral e professor da Faculdade
Teológica Batista de São Paulo, Presidente da Associação Brasileira de Instituições Batistas de Ensino
TeológiCO (ABIBET), Diretor do Programa de Educação Religiosa do Estado de São Paulo (CETM-
CBESP) colabora na área de educação da Igreja Evangélica Batista da Liberdade (S. Paulo). Foi Ministro
de Educação da Igreja Batista em Perdizes (S. Paulo) e Igreja Batista da Praia do Canto (Vitória - ES).

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