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WEBSÉRIES

Criação e Desenvolvimento

Guto Aeraphe
WEBSÉRIES
CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Escrito por: Guto Aeraphe

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida em qualquer


forma ou meio, seja eletrônico, mecânico ou qualquer outro que vier a ter sem o
consentimento ou permissão do autor.

Belo Horizonte, Brasil.


Janeiro de 2013

Todos os direitos reservados


www.gutoaeraphe.com.br

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Índice

Sobre o Autor.............................................................................................................03
Como usar este livro................................................................................................04
Agradecimentos.......................................................................................................05
Prefácio.........................................................................................................................06
Introdução...................................................................................................................09
A narrativa transmídia...........................................................................................13
O formato de webseriados...................................................................................16
Erros e acertos..........................................................................................................23
Quem é este webespectador................................................................................30
Escrevendo no formato de webséries.............................................................33
Explicando as letras S – D – R..............................................................................35
O método na prática................................................................................................37
A construção dos personagens..........................................................................42
Um novo jeito de fazer...........................................................................................45
Produção eficiente...................................................................................................47
Apêndice: O Portal Webseriados.......................................................................56

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Sobre o Autor

Formado em Comunicação Social com Pós-Graduação em Criação e Produção em


Mídia Eletrônica pelo UNI-BH, Guto Aeraphe trabalha desde 1997 com audiovisual
e nesse período já dirigiu e editou dezenas de comerciais para TV, realizou
programas para emissoras educativas e comerciais, produziu documentários,
curtas e média metragens. É professor universitário nos cursos de Cinema,
Publicidade e Jornalismo. Atualmente desenvolve projetos transmídia tendo como
principal produto as webséries. Diretor Cinematográfico - SATED MINAS/RPMT
nº8135

Contatos:
gutoaeraphe@yahoo.com.br - www.gutoaeraphe.com.br

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Como usar este livro

“Este não é um livro sobre alta tecnologia e


inovação. E sim sobre a alquimia que mídias e
novas maneiras de contar histórias estão fazendo
e mudando nossa maneira de se divertir e educar”
Maurício Mota – Prefácio da edição brasileira de “Cultura e
Mercado”, de Henry Jenkins

O que será apresentado aqui não é necessariamente uma regra que tem que ser
seguida a “ferro e fogo”. Muito pelo contrário, ela é apenas um guia para que você
possa desenvolver com mais facilidade suas webséries. Não é preciso que em todas
as suas produções tenham as ações dramáticas citadas. Se você quiser pode até
mesmo acrescentar o que julgar necessário ou cortar o que for preciso. O
importante é contar histórias e contá-las de forma eficiente.

Afinal, este livro foi feito principalmente para aqueles que querem levar o universo
das webséries a sério. E para isso é importante pensar que você vai fazer algo para
alguém assistir. E não para ficar guardado...

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente aos meus pais por acreditarem no sonho de um garoto de


Itaúna, interior de Minas Gerais, que se mostrou improvável no início, mas que
hoje ganhou o mundo através da internet. Obrigado pelos esforços que me
permitiram estudar e buscar minha realização. Quero aproveitar para pedir
desculpas pelo susto que dei em vocês, meus amados pais, quando anunciei que
deixaria a iminente carreira na medicina para tornar-me um contador de histórias.

Agradecer também ao meu amigo e mentor Elimar Alves Pereira, meu pai nas
artes. A primeira pessoa que acreditou em mim como artista, que me deu aos 15
anos de idade, a oportunidade de conhecer o teatro e todos os seus encantos. Foi
durante um espetáculo dirigido por ele que descobri que deveria ser um médico
das almas, e não do corpo.

E por fim, ao incrível Adriano Reis, o “Catitu”. Homem de índole e humildade


inabaláveis, com quem eu aprendi a amar o cinema e a televisão. Uma enciclopédia
viva da cinematografia nacional, um editor cuja sensibilidade derrete até os mais
duros corações. Ninguém fica imune as suas imagens... Obrigado pelos
ensinamentos!

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Prefácio

Este novo ano começou com um sentimento de mudança e crescimento em todo o


país. Um forte desejo de encontrar soluções capazes de oferecer melhores
condições de vida para nossa população e em especial para as camadas mais
marginalizadas de nossa sociedade. Para isso um dos elementos fundamentais é
ampliar a capacidade de comunicação da população.

A democratização das grandes redes e de outros instrumentos de comunicação


capazes de melhor escutar os anseios da população é um grande desafio, mas além
deste acredito que seja essencial explorar a capacidade interativa das novas
tecnologias disponíveis, tornando a produção audiovisual acessível à população.
Isto quer dizer, instrumentá-los para que eles possam expressar livremente sua
cultura, ideais, anseios, reivindicações e sonhos.

Neste sentido a tenda tecnológica assume seu papel social ao apresentar os


bastidores da produção cinematográfica digital e, sobretudo estimular e motivar os
visitantes a contar as suas próprias histórias através de imagens e sons, despertar
a alma de cineasta que cada um de nós possui.

Um cinema que, usando tecnologias digitais, possa viabilizar o sonho de cada


escola, centro de formação, associações de bairros, asilos, hospitais, de ter seus
próprios centros de comunicação digital, interligados por internet e munidos de
equipamentos digitais simples mas poderosos capazes de erradicar o novo mal
que rapidamente se aproxima do horizonte: o analfabetismo digital.

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O Brasil se destaca por ser um celeiro mundial de jogadores de futebol, isto porque
diariamente, em cada canto deste país, existem crianças jogando futebol, mesmo
que seja em campos de terra e com bolas de meia. Desta forma, porque não
estimular nestas crianças o gosto por dominar um computador e uma câmera e
deixá-la produzir livremente suas histórias em vídeos?

Provavelmente em poucos anos o Brasil se destacaria também como celeiro


mundial de cineastas e comunicadores visuais. A tenda tecnológica nasceu deste
desejo de compartilhar conhecimentos não somente para quem domina este
universo de imagens e sons, mas principalmente para aqueles que nunca tiveram a
oportunidade de se aproximar dele.

Finalmente, gostaria de agradecer a participação de todas as empresas convidadas,


profissionais e a coordenação geral da Mostra de Tiradentes que tornaram possível
viabilizar mais uma vez este espaço de interação e conhecimento.

Texto escrito pelo diretor Toni Martin em 2003,


quando foi coordenador da Tenda Tecnológica no
Festival de Cinema de Tiradentes.

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Introdução

“Mas voltando ao assunto, incontestavelmente


vivemos hoje uma revolução. Isso se levarmos em
conta que a melhor medida de uma revolução
tecnológica é seu impacto na vida das pessoas”

A internet revolucionou nossos hábitos. Isso é indiscutível e não vou discorrer aqui
sobre este tema tão amplo. Mesmo porque o foco deste livro é especificamente o
desenvolvimento de uma metodologia eficiente para se criar e desenvolver
produções exclusivamente para o formato webséries, que tem uma audiência
específica e que se divide cada vez mais nas mais diversas mídias.

Vamos pegar duas palavras chaves do parágrafo anterior para iniciarmos nossa
discussão. A primeira delas é internet. Ainda há muitos que pensam que internet é
o fim, quando na verdade a internet é o meio. Isso porque hoje temos que pensar a
internet não somente como um navegador que abrimos para digitar endereços de
sites, mas como um meio de propagar conteúdos, uma vez que praticamente não
há mais barreiras para se desenvolver equipamentos que sejam capazes de se
conectar a rede e principalmente transmitir imagens em movimento e de alta
definição. Aliás, vamos colocar um fim de uma vez por todas no termo “rede
mundial de computadores”, já que até os mais impensáveis equipamentos estão
conectados a rede.

Mas voltando ao assunto, incontestavelmente vivemos hoje uma revolução. Isso se


levarmos em conta que a melhor medida de uma revolução tecnológica é seu
impacto na vida das pessoas, com mudanças significativas no modo como
produzimos bens e serviços e que desencadeiam uma energia transformadora nas
relações humanas em seus aspectos mais íntimos. Talvez você esteja lendo este

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artigo em seu notebook, tablet ou smartphone. Não importa. O que interessa é que
vivemos a “Era das Telinhas”. Um tempo onde tudo está em movimento em todos
os lugares, principalmente em dispositivos que se tornaram extensões, verdadeiras
próteses de nosso corpo e mente. E de forma quase anárquica nossa atenção é
constantemente atacada por diversas mensagens que saltam aos nossos olhos,
fragmentando a todo o momento nossos afazeres e relacionamentos, sejam eles
parte nosso ciclo social, profissional ou familiar.

A evolução do “homem transmídia”

Tudo isso nos remete a segunda palavra, que na verdade faz parte de uma
expressão que acredito já está obsoleta: são as “novas mídias”. Este termo não é
novo e foi cunhado para colocar em um mesmo cesto todas aquelas mídias que
fossem alternativas as tradicionais como rádio, tevê, impressos e outdoors. Meu
Deus! Era só isso que a gente via na faculdade na minha época... E olha que eu me
formei em 2002. Como o tempo passa!

Uma característica comum ao que podemos considerar como novas mídias é a


capacidade de comunicação que é construída fazendo com que, em certo ponto,
dispositivos e aplicações sejam automaticamente interoperáveis.

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Nos tempos atuais, este termo virou quase um sinônimo de internet. Primeiro com
os já ultrapassados banners, depois com aqueles chatos e inconvenientes popups
que invadiam, ou melhor, ainda invadem nossas telas enquanto lemos ou
assistimos algo em nossos computadores. Sem esquecer os hotsites promocionais,
além de tantos outros exemplos... Hoje o termo novas mídias é sinônimo de redes
sociais, tablets e smartphones. E no futuro... Bem, só Deus sabe o que virá a ser.

Mas junte a estes conceitos, as novas redes de fibra ótica de altíssima velocidade
que começam a chegar e os novos protocolos e equipamentos de IPTV que
proporcionarão em breve a consolidação desta nova forma de ver e fazer
audiovisual, totalmente independente e alternativa aos grandes grupos de
comunicação. Então teremos a revolução!

O conceito de TV Social já é uma realidade entre os espectadores

O fato é que tudo isso transformou principalmente os hábitos de nossos


espectadores. A verdade é que enquanto assistimos tevê estamos conversando no
facebook pelo smartphone, curtindo, compartilhando ou comentando o conteúdo.

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Este fenômeno é chamado pelos sociólogos de TV social, considerado pelo MIT
como uma das dez maiores tecnologias emergentes e tendências para o futuro e
que cada vez mais ganha força no mundo corporativo. É cada vez maior o número
de campanhas multitelas que têm como objetivo buscar o indivíduo (leia-se
consumidor) onde ele está, com produtos/serviços customizados e sob demanda
para quem está na frente da tela. Hoje já é possível fazermos nosso “check-in”
televisivo através de aplicativos que nos conectam a outras pessoas que estão
assistindo a mesma programação e assim temos a chance de conversar e
compartilhar nossas ideias com todos, além de que é possível que os realizadores
do conteúdo em questão e os anunciantes possam falar diretamente com os seus
consumidores.

Fato é que os analistas de mercado já batizaram este conceito de uma forma mais
ampla, chamado de narrativa transmídia.

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A narrativa transmídia

Em suma, narrativa transmídia é aquela que se desenrola por meio de múltiplos


canais de mídia, cada um deles contribuindo de forma distinta para a compreensão
do universo narrativo. Uma narrativa transmídia não deve possuir uma única boa
história, mas sim um rico universo onde podem se desenvolver diversas histórias e
diversos personagens, através de livros, filmes, quadrinhos, sites, etc.

Projeto transmídia

Geralmente, a história é introduzida por um meio (no nosso caso através das
webséries) e incrementada através dos outros canais (séries de TV, games,
quadrinhos, animações, romances), ampliando seu desenvolvimento narrativo e
expandindo seu universo, permitindo não apenas a criação de novos conflitos,
histórias e personagens, como também novas maneiras de se consumir e interagir
com esse universo. Cada acesso a franquia deve ser autônomo, afim de que seja

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possível consumir e interagir de forma satisfatória com ou sem a necessidade se
conhecer os outros, ao menos sem a necessidade de se conhecer profundamente.
Cada um dos produtos (filme, games, quadrinhos, programas de TV, romance) se
configura como um ponto de acesso à franquia como um todo.

Acessar a franquia através de diversos


DICA:
produtos estabelece uma profundidade
O oferecimento de novos níveis de
de experiência de compreensão do
revelação e experimentação renova
universo que motiva ainda mais o a franquia e sustentam a
consumo. Essa motivação expande não fidelidade do consumidor,
enquanto que a redundância
apenas o consumo como também insere acaba com o interesse do fã e
o consumidor no universo de uma forma provoca o fracasso da franquia.
afetiva e duradoura.

Convidar o fã a participar do universo da franquia é uma das habilidades chave de


narrativas transmidiáticas. Elas conseguem desenvolver universos ricos, cheios de
becos e camadas pelas quais as histórias podem expandir não apenas por iniciativa
dos produtores, mas também por iniciativa dos fãs. Imersos nestes universos, os
fãs passam a desenrolar discussões sobre múltiplas interpretações das histórias,
criar novas histórias a partir de seus pontos de vista, investigar a biografia de seus
personagens favoritos e descobrir informações que não foram esclarecidas
totalmente em todos os produtos.

Neste contexto o formato de websérie tem aumentado sua participação no


mercado, alcançando marcas expressivas e constituindo-se como referência
quando trabalhamos com produtos audiovisuais. A verdade é que temos que levar
em consideração estes dois novos conceitos, tevê social e narrativa transmídia,
quando vamos escrever histórias para este formato. O primeiro é sem dúvida
comportamental, o segundo é mercadológico.
Somado com as novas tecnologias de produção que elevaram a qualidade técnica e
estética e com a facilidade de distribuição que a rede nos proporciona, temos uma

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enorme revolução diante de nossos olhos e ao alcance de nossas mãos. Mas afinal
de contas, como contar estas histórias dentro destes novos meios para estes novos
espectadores?

Websérie ApocalipZe (2012). Em Cena a atriz Raquel Dutra – Direção Guto Aeraphe – Fotografia: Elisângela Guanaira

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O formato de webseriados

“Com as webséries não é diferente. Na


verdade, em sua essência, as webséries nada
mais são do que a fórmula clássica das séries
televisivas aplicadas ao universo
multiplataforma da internet.”

Em seu período inicial de maturidade, as webséries eram criadas como


complemento a séries de televisão, apresentando histórias paralelas ou
complementares da história principal, como é exemplos a série Lost: Missing
Pieces ou Heroes: Going Postal. Por vezes este formato foi utilizado para lançar
pequenas séries que serviam para fazer a ponte entre duas temporadas da mesma
série, mantendo o interesse do espectador, ou ainda como suporte para campanhas
publicitárias diversas.

A primeira referência sobre o conceito de websérie surgiu com os pesquisadores


espanhóis Nuria Romero e Fernando Centellas, em seu ensaio sobre novas
narrativas audiovisuais. O conceito de webséries é renovado mais tarde por Henry
Jenkins, em seu livro Cultura da Convergência. Ele classifica as webséries como
estratégias para narrativas transmidiáticas.

A verdade é que todos nos gostamos de ver, ler e ouvir estórias. E isto acontece
desde que o mundo é mundo. Em milhares de anos, das mais primitivas as mais
modernas histórias, uma coisa não mudou em meio a tanta tecnologia: o drama
está no centro de tudo. Através dos personagens nos identificamos e nos
realizamos com seus conflitos. O que mudou foi a forma como contamos isso.

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E é exatamente por isso que as webséries ganharam força e se desvencilharam das
amarras das séries de tevê ou franquias de cinema para ganhar vida e fãs próprios.
Mas antes de entrarmos nos pormenores, vejamos algumas definições para
compreendermos melhor o que está por vir.

Cena da websérie Heróis (2011) – Direção Guto Aeraphe – Fotografia: Elisângela Guanaira

De acordo com Umberto Eco o formato de série diz respeito, íntima e


exclusivamente, à estrutura narrativa. Temos uma situação fixa e certo número de
personagens principais da mesma forma fixos, em torno dos quais giram
personagens secundários que mudam, exatamente para dar a impressão de que a
história seguinte é diferente da história anterior. (...) Na série, o espectador
acredita que desfruta da novidade da história enquanto, de fato, distrai-se
seguindo um esquema narrativo constante e fica satisfeito ao encontrar um
personagem conhecido, com seus tiques, suas frases feitas, suas técnicas para
solucionar problemas.

Com as webséries não é diferente. Na verdade, em sua essência, as webséries nada


mais são do que a fórmula clássica das séries televisivas aplicadas ao universo
multiplataforma da internet. E sem dúvida o público que consome este tipo de

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produto é o mesmo que consome a tradicional dramaturgia de forma seriada na
TV. Talvez a grande diferença esteja no comportamento fragmentado do público e
não o público em si, já que em sua maioria, quer algo além da passividade da tela
do televisor. Ele quer interagir, participar ativamente do universo proposto.

Vejamos a seguir alguns exemplos de como as webséries estão se tornando cada


vez mais populares no Brasil, ganhando público e produções cada vez mais
elaboradas.

Matéria veiculada sobre o universo das webséries no Brasil

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Matéria veiculada sobre o universo das webséries no Brasil

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Matéria veiculada sobre o universo das webséries no Brasil

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Matéria veiculada sobre o universo das webséries no Brasil

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Muito já foi dito (e bem escrito) sobre formas e conceitos para se elaborar roteiros
para cinema e TV. Na verdade, quando me interessei por realizar webséries em
2004, passei a consumir mais estes tipos de “manuais” de escrita. Desde então
venho aplicando estes conceitos em meus trabalhos. Testei vários. Desde os mais
conhecidos como os de Syd Field, Doc Comparato, Christopher Vogler, Joseph
Campbell, etc., até alguns mais alternativos que nem vale a pena citar. A verdade é
que nenhum realmente atendeu plenamente às minhas expectativas, já que eles
tinham como foco o comportamento de um público passivo, de uma época que não
se interagia com nada nem ninguém, que ficava (e de certo modo ainda fica)
estático e em silêncio diante da tela grande do cinema.

Diante disso, resolvi desenvolver um método que reúne o que vi de melhor nos
métodos tradicionais com os conhecimentos de mercado e audiência que os anos
de experiência me deram durante a produção dos meus trabalhos realizados até
2012. Com eles pude ter um contato direto como o meu webespectador, recebendo
críticas e sugestões, fazendo-me refletir sobre os acertos e principalmente sobre os
erros. Confesso que foi um exercício de humildade incrivelmente difícil, mas que
no final resultou na criação de um processo mais maduro de realização
audiovisual.

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Erros e acertos

Quando comecei no audiovisual sempre tive como objetivo o cinema, mas


infelizmente nunca tive a oportunidade de ingressar diretamente em uma
faculdade onde pudesse estudar especificamente a sétima arte. Por isso entrei no
curso de Comunicação, que era o mais próximo do audiovisual que eu poderia
chegar. Hoje eu fico feliz por ter seguido este caminho. A faculdade de
Comunicação, com habilitação em Publicidade e Propaganda me proporcionou
uma outra visão do processo. Deu-me as ferramentas de mercado que eu iria
utilizar com tanto acerto anos mais tarde, quando fiz minha primeira grande
websérie.

Na verdade o meu primeiro contato com as webséries se deu ainda na faculdade,


quando conheci o projeto BMWfilms, uma série de curtas feitos exclusivamente
para internet onde o personagem principal era o carro. Foi uma campanha de
brand content perfeita na minha opinião. Isso chamou muito a minha atenção
principalmente pelo sucesso que a série fazia entre meus colegas, todos admirados
com a qualidade do produto. Também não era para menos, afinal foram
convidados grandes diretores do cinema norte-americano para realizar os filmes
como Ang-Lee, Alejandro González Iñárritu e John Frankenheimer.

Bmwfilms websérie realizada em 2001

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Isto era em 2001, eu estava com 21 anos, faltava um ano para eu me formar e a
minha cabeça estava cheia de ideias. Tudo numa época em que ver vídeos na
internet ainda era muito complicado e passávamos horas até um destes pequenos
vídeos da BMW carregar...

O tempo foi passando e em 2004 fiz a minha especialização. Como projeto de


conclusão de curso propus para a minha coordenadora uma websérie baseada em
“causos” do interior de Minas. Passei semanas pensando, pesquisando e
preparando o pré-projeto com toda a dificuldade do mundo para encontrar
referências bibliográficas. Aliás ainda hoje não há muita literatura sobre o
assunto...

Quando apresentei a idéia, minha coordenadora olhou para mim e disse: “deixa
isso de lado... não vai dar certo. Esse negócio de vídeo pela internet não vai para
frente. A televisão nunca vai perder seu espaço!” Muito triste eu acatei a
recomendação e terminei o meu curso. Para falar a verdade eu nem me lembro
sobre o que foi o meu trabalho final, pois continuei a realizar minhas pesquisas
sobre o tema “webséries”.

Somente em 2006, quando trabalhava como coordenador dos laboratórios de


comunicação de uma universidade que eu finalmente consegui realizar o meu
primeiro trabalho. Fruto do esforço de vários amigos, dentre eles Eron, dono da
Foco Vídeo Design que cedeu os equipamentos e dos meus grandes amigos e atores
Christiano Corradi e José Roberto Pereira, este último um grande irmão que tenho
desde 1996.

Fiz o curta e fiz a loucura de disponibilizá-lo em três episódios pela internet. Foi
um reboliço na cidade e na região. O filme ficou legal, teve boa visibilidade numa
época em que o Orkut reinava absoluto e o youtube dava seus primeiros passos.
Mas o curta tinha todos os defeitos de um jovem diretor iniciante se metendo a
fazer um filme de suspense pela primeira vez...

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Making of da websérie Artigo 159

O tempo passou e fui amadurecendo tanto técnica como artisticamente e somente


5 anos depois, em 2011 eu realizei a minha primeira grande produção que colocou
o meu nome no mercado nacional. Heróis surgiu da minha vontade de fazer algo
com uma temática diferenciada dentro da cinematografia nacional. Depois de
frequentar durante muitos anos o Festival de Cinema de Tiradentes, eu estava
cansado de ver filmes autorias que só faziam esvaziar as salas com suas temáticas
apoiadas na estética do sexo e da pseudo arte.

Então em 2010 resolvi encarar o desafio de fazer um filme sobre a participação do


Brasil na Segunda Guerra Mundial. Algo até então inédito e sem referenciais no
mercado nacional. Não foi fácil. Imagine um garoto com pouca experiência
tentando produzir um filme de época no interior do Brasil... Na ocasião eu já tinha
a minha produtora, a Cinemarketing Filmes, e eu precisa provar que era capaz de
fazer o filme. Pesquisando na internet eu encontrei em São Paulo um grupo de
Reencenação Histórica que topou me ajudar na gravação de um piloto. Então juntei
meus equipamentos convoquei meus amigos que trabalhavam comigo na época,
Janildo Carneiro, Larissa Lovissi e José Roberto Pereira, meu irmão do coração e
grande ator (que mais tarde veio a fazer parte do elenco de Heróis), sendo eles os

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únicos loucos a encarar esta aventura. Tudo pronto partimos. Chegamos à tarde e
fomos bem recebidos pelos nossos anfitriões, visitamos as locações e depois de um
breve descanso fomos jantar. Já era quase meia noite quando um telefonema
causou indigestão em todos. O evento no qual iríamos gravar o piloto havia sido
cancelado. Graças ao empenho de alguns integrantes do grupo conseguimos
arrumar algumas peças de figurino e uma arma cênica para fazermos aos ‘trancos e
barrancos” a cena improvisada do piloto... Na verdade nem eu sabia bem o que iria
fazer. Quase foi um desastre, mas aqueles quase dois minutos de filme que
conseguimos ali foram fundamentais para captarmos todos os recursos
necessários. Um ano depois estávamos iniciando as gravações da websérie Heróis
na histórica São João del Rey.

Os problemas durante a produção da websérie Heróis foram inúmeros, de todos os


tipos e tamanhos. A inexperiência na produção de um grande filme pesou e passei
momentos terríveis. Mas graças a equipe que estava completamente
comprometida e que acreditou no projeto em todos os sentidos, conseguimos
superar adversidades como a demissão da diretora de arte duas semanas antes do
início das gravações, a equipe de efeitos especiais falhando durante as gravações e
a logística que atrasava todos os dias. Só para citar alguns...

Set de filmagem de Heróis

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Confesso que a cada encerramento das gravações eu deitava no meu quarto no
hotel e ficava me perguntando por quê tinha começado aquilo. Foi assim durante
os seis dias de produção.

Mas a resposta veio um mês depois, quando o filme ficou pronto. Havia ficado
maravilhoso! Apesar de todas as dificuldades eu sabia que tinha nas mãos um
material incrível. Foi aí que começou a dúvida: O que eu vou fazer com isso agora?
Afinal, Heróis nasceu como um médiametragem e este formato, infelizmente, não
se faz quase nada com ele. Não dava para passar em cinema; tv nem pensar; e eram
poucos os festivais que aceitavam este formato. Foi então que resolvi desenterrar
as minhas idéias de trabalhar com a internet. Certo de que era a melhor coisa a se
fazer, fui atualizar os meus conhecimentos sobre o assunto.

Nestas pesquisas eu descobri a websérie “2012-Onda Zero”, do diretor carioca


Flávio Langoni, que depois veio a se tornar um grande amigo e conselheiro nesta
caminhada pelo audiovisual. Flávio havia realizado com destreza e muita
competência uma websérie de ficção científica que não devia em nada às grandes
produções internacionais. Pelo menos para mim, com este trabalho, inaugura-se o
ciclo das webséries no Brasil. Logo seguiram as minhas “Heróis” e “ApocalipZe” e
na mesma época veio “3%” e “Lado Nix”, webséries que viraram referência para as
outras que se seguiram.

Cena da websérie 2012 – Onda Zero

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Lembro-me como se fosse hoje, quando cheguei na Guerrilha Filmes, produtora do
Marcello Marques, diretor de fotografia da websérie Heróis, dizendo que iria
veicular o filme em episódios pela internet. O Marcello e todos os outros presentes
foram contra, mesmo depois de argumentar com dados do mercado e com
exemplos como a websérie “Onda Zero”. Mas como diretor e idealizador do projeto,
e com uma vontade imensa de colocar em prática todo o conhecimento adquirido
durante os últimos anos, resolvi encarar o desafio e publicar Heróis como uma
websérie. Foi a decisão mais acertada da minha vida!

Como websérie o filme fez um excelente carreira que nunca faria se seguisse os
tramites normais do cinema. Junto com o Grupo “Diários Associados”, com a ajuda
do Editor Chefe do “Portal Uai” Benny Cohen e do diretor de programação da “TV
Alterosa/SBT” Rodrigo Scoralick, consegui fechar um tipo de “estratégia
transmídia” que foi um grande sucesso.

Para divulgar, fizemos o seguinte. Toda terça-feira lançávamos um episódio pelo


portal, onde continha informações extras como fotos, making of, e um infográfico
especial que mostrava toda a trajetória da Força Expedicionária Brasileira na Itália,
com fotos e vídeos da época. No domingo que antecedia a exibição, saía uma
matéria especial no caderno de cultura do Jornal “Estado de Minas”. Nestas
matérias focávamos mais na história real, como objetivo de informar ao público
que o Brasil havia feito grandes batalhas durante o período da segunda Guerra. Na
segunda-feira, durante o “Jornal da Alterosa” na televisão, programa líder de
audiência no horário, fazíamos matérias com os ex-combatentes onde eles
contavam de forma emocionante suas experiências durante o conflito na Itália. Em
meio a isso tudo, exibíamos comerciais na Tv chamando para o hotsite da websérie
no Portal Uai. O resultado... Milhares de acessos em poucas semanas e um retorno
de mídia espontânea que foi mensurado pela empresa de assessoria de imprensa
“Árvore de Comunicaçã”o que ultrapassou R$ 1,3 milhão de reais.

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Todos estes trabalhos e outros que fiz nos anos que se seguiram, me deram a
experiência necessária para conseguir começar a compreender este fenômeno que
sãos as webséries. Mas ainda faltava entender uma importante coisa. Afinal de
contas, quem era este novo espectador? Quais eram os seus hábitos e desejos?
Como lidar com uma audiência tão fragmentada? Foi aí que eu descobri o último
elo que faltava.

Página da websérie Heróis no Portal Uai

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Quem é este “webespectador”?

”No entanto temos o compromisso de dar ao


nosso webespectador a percepção de que ele
está assistindo a um conteúdo “Premium”,

Sem dúvida nenhuma este novo espectador, que aqui chamo de webespectador,
tem relação direta com as novas tecnologias de veiculação de imagens em
movimento que já citamos anteriormente e com o desgaste dos formatos
tradicionais de dramaturgia. Quantas vezes nos entediamos com as famosas
“barrigas” nas novelas ou da previsibilidade dos filmes, sem falar na dificuldade
que é ir ao cinema: seja no trânsito, seja pelos altos preços dos ingressos. Sem
dúvida para levar uma família composta por pai, mãe e filho gasta-se facilmente
uma centena de reais ou mais...

Ligar nossos dispositivos à internet, no conforto de nossas salas com telas de LED
(cada vez maiores e mais baratas), através dos serviços on demand se tornaram
uma conveniência cada vez mais utilizada pelos espectadores, ou melhor, pelos
webespecatores.

Este “novo” público permitiu a criação de uma nova categoria de consumidor de


vídeo chamado aqui de “Casual Viewers”, que nada mais é do que um espectador
que tem a sua audiência fragmentada, se permitindo programar quando, por
quanto tempo, onde e em qual dispositivo ele quer assistir. Isto quebra um
paradigma que durante décadas reinou na televisão: a periodicidade e o
engajamento.

Agora o webespectador não tem mais a fidelidade que tinha antes com as séries.
Em um passado recente, quando havia o lançamento de um episódio, era
praticamente um evento esperado tão ansiosamente quanto o nascimento de um

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filho. Hoje, ele nem se preocupa com isso, já que no outro dia ele vai poder ver pela
internet em algum dispositivo (de forma legal ou não) e ainda com comentários e
reviews de seus amigos nas redes sociais.

Talvez um processo interessante para renovar o conceito de engajamento seja o da


gameficação das narrativas, ou para ser mais preciso e até mesmo mais chique, o
processo de meritocracia audiovisual. Isto nada mais é do que fazer com que seus
webespectadores conquistem de alguma forma posições hierárquicas superiores
entre sua rede de relacionamento por merecimento. Em resumo, fazer com o que
ele se sinta de alguma forma especial em meio a seus amigos. Este é o conceito que
temos que aplicar as nossas produções de webséries.

Claro que, trazendo para a nossa realidade mercadológica, talvez nunca tenhamos
os orçamentos milionários como têm as séries da HBO ou da Warner. No entanto
temos o compromisso de dar ao nosso webespectador a percepção de que ele está
assistindo a um conteúdo “Premium”, com uma narrativa bem definida, com um
cuidado especial na seleção e atuação dos atores e principalmente um apuro no
acabamento técnico e estético das webséries. É o famoso “Uau! Isso parece filme de
Hollywood!”.

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Depois de muito refletir, eu descobri que era justamente este o conceito que eu
tinha que aprender. E apliquei em todos os meus trabalhos. Esta era a “percepção
de Premium”! Eu não tinha um grande orçamento em meus filmes, mas as pessoas
percebiam que eu tinha. E isso era ótimo para a audiência.

Outra coisa que ajuda nessa percepção e que na internet temos a liberdade
criativa! Não dependemos de interesses de terceiros. A televisão tem amarras por
todos os lados que impedem que várias temáticas entrem na programação. Na rede
podemos trabalhar nichos de mercado que são atentos aos mais diversos temas e
que em algum momento podem até influenciar na Tevê, devido a grande audiência.

Muito bem, agora que já entendemos o que é uma websérie, qual é o seu público e
o contexto em que todos eles estão inseridos, vamos ao fundamental: o roteiro!

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Escrevendo no formato de webséries.

Como afirmei anteriormente, todos nós gostamos de uma boa história e para
desenvolver este método juntei o conhecimento de vários outros já conhecidos
com a minha própria experiência.

Aprendi com meu pai que a melhor forma de se conseguir resolver um problema é
desmembrando-o em problemas menores, buscando sempre as soluções mais
simples e práticas para resolvê-los. Com base nisso, busquei simplificar ao máximo
o método para chegar ao resultado necessário e que também fosse de fácil
assimilação a qualquer um que deseje ingressar nesse universo.

Então desenvolvi o meu método que chamo Método SDR (Simpatia – Desafios –
Resolução) e o baseie em dois pontos principais: o princípio da dramatização e o
princípio dos referenciais. O primeiro remete ao cerne das ações dramáticas que é
o conflito, interno e externo. Veja bem, “interno e externo” e não “interno ou
externo”. Pode até ser que alguns céticos digam que não é necessário o uso dos

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dois ao mesmo tempo, mas no universo dinâmico das webséries um não vive sem o
outro. O primeiro serve para justificar a jornada e o segundo serve para definir
como ela será. Isso nos lembra de que toda história precisa ter bons personagens.
Não interessa se são humanos ou não, se é um cão, uma árvore, um alienígena ou
uma pedra. É preciso que se deem sentimentos a estas ações e não tem como
contar uma história sem isso. E quanto mais eles estiverem presentes melhor.

O segundo princípio é o dos referenciais. É


fundamental para o engajamento de
DICA:
nossos websespectadores a identificação
A partir destes dois elementos
com o seu mundo pessoal, real, e também
conseguimos criar esta
com o seu mundo imaginário. Note que identificação mesmo que o
isso não tem nada haver com o tema personagem seja completamente
diferente de nossos costumes.
proposto e sim com os anseios comuns a
todo ser humano relacionado
principalmente com a busca e a conquista.

Não importa se somos alguém avesso à violência, mas sempre vamos torcer para
que o personagem se vingue dos bandidos, mesmo que para isso ele tenha que usar
métodos violentos. Talvez a maior prova disso seja o seriado Dexter, onde nos
apaixonamos pelo personagem principal que dá nome a série. Ele é um perito em
medicina forense, mas também é um serial killer, que canaliza sua vontade de
matar assassinando criminosos e assim, como ele mesmo diz, limpando as ruas de
sua pior sujeira. E mesmo assim torcemos por ele.

É importante frisar que aqui vamos tratar somente de roteiro para o formato de
websérie, tendo ela como suporte para o desenvolvimento de outras narrativas
que permeiem por outras mídias (narrativa transmídia). Mas para isto acontecer
de maneira eficiente vai depender das suas necessidades e principalmente da sua
criatividade.

34
Explicando as letras S - D – R

SDR significa: simpatia, desafios e resolução. Parece simples, e é! Fiz um esquema


padrão para uma temporada de websérie sendo cinco episódios de
aproximadamente 8 minutos cada. Mas você deve estar se perguntando o por quê?
dessa divisão? Bem, a experiência na produção e a observação de outros trabalhos
mostrou que este é o tempo ideal para desenvolver uma narrativa que seja
artisticamente interessante e que proporcione a audiência um entretenimento
satisfatório.

Pois bem, vamos falar de cada um em separado. O “S” é de simpatia e nada mais é
do que criar histórias e personagens que tenham uma identificação direta com o
público, que o toque de alguma forma, que gere nele uma simpatia. Parece óbvio,
mas não é. Escrever normalmente é um ato muito solitário e pessoal. Na maioria
das vezes fazemos somente para nós mesmos, não para o outro, E desta forma
omitimos neste processo informações importantes para o bom entendimento do
público e consequentemente perdemos sua simpatia.

Para atingirmos nosso objetivo com a letra “S” do processo, retorno ao conceito
anteriormente explicado de que tudo se resume as motivações humanas. Ou seja,
sentimentos e anseios.

A próxima letra da sigla é “D” de desafio. Nesta letra se concentra todos os conflitos
que o personagem vai passar, tanto internos quanto externos. Estas dificuldades,
assim como na vida real, servem para testar nossas aptidões, os limites de nossos
medos e principalmente nos motivar a seguir em frente. Tornar desafios óbvios em
grandes tomadas de decisão talvez seja o maior dos problemas de quem cria uma
websérie. Isso porque não há tempo nem personagens suficientes para
desenvolver o arco dramático. Dessa forma a ação tem que ser concentrada (tanto

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em personagens como em locações) para que o público experimente a cada
episódio uma dose intensa de emoções, sempre deixando um gancho para o
próximo episódio. Afinal de contas, o fim de cada desafio é o principio de outro e
assim por diante.

Também é fato que, desde que o mundo é mundo, fazemos algo por alguma coisa.
Por isso temos o “R” de recompensa. E esta recompensa é dupla. Ao mesmo tempo
em que é do personagem, é do webespectador. É o processo de gameficação
aplicado ao roteiro, antigamente chamado de “E viveram felizes para sempre”.

Esta sensação de plenitude nos faz relaxar e curtir o momento. É quase que uma
sensação orgasmica. Todos os conflitos têm que ser resolvidos, não há espaço para
pontas soltas no roteiro ou brechas para especulações, sob a pena de gerar no
público a decepção. Talvez o maior exemplo disso seja o seriado “Lost” que
encerrou de uma maneira que não agradou a todos (incluo-me nesta conta) porque
tinham várias histórias paralelas que ficaram sem explicação, por que havia
personagens complexos demais e que deram margem a muitas teorias que nem
mesmo os autores imaginavam. Resultado... Decepção.

Esta lógica de estrutura dramática segue a mesma que mostrei lá no início do texto,
aquele em que aprendi com o meu pai que o melhor meio de se resolver o
problema é dividi-lo em outros menores. Assim é a lógica do modelo SDR proposto,
que se aplica tanto para a temporada inteira como para os episódios. Cada um é a
resolução de um problema que vai levar a conclusão do principal. Mas vamos ver
como isso se aplica na prática!

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O Método na prática

Graficamente podemos representar o Método SDR da seguinte forma:

Acima da linha acontece o que chamamos de bons eventos e os abaixo são os maus
eventos. Além disso, podemos observar sete pontos marcados ao longo da
trajetória da temporada. Sendo o ponto inicial e final em verde, as provocações em
vermelho e os já famosos pontos de virada em azul. Note que eles estão
posicionados estrategicamente em interseções entre os episódios e a linha de bons
e maus eventos.

Os dois primeiros episódios estão completamente integrados na área verde, de


bons eventos. Isso não quer dizer que serão flores para o nosso personagem, muito
pelo contrário. Acontecerão as mais diversas ações dramáticas e desta forma
apresentaremos seu mundo comum onde ele receberá o chamado a aventura até se

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deparar com a primeira provocação que o colocará em dúvida se ele irá ou não
aceitar o desafio.

No episódio 02 ele encontra com o seu mentor que o preparará para o que está por
vir impondo a ele diversos testes até que ele tem que tomar a grande decisão e
atravessar o primeiro ponto de virada. Desta forma completamos o ciclo da
“simpatia”, a primeira letra do Método.

Então entramos no terceiro capítulo da temporada. Nele há uma mudança radical


na curva da ação dramática. Aqui vale um importante comentário. Esta mudança
radical é importante para manter a audiência, uma vez que conduzimos de forma
linear nosso webespectador e agora precisamos quebrar isso de alguma forma
para gerar nele o sentimento de curiosidade sobre o que vem a seguir, já que nem
tudo o que ele acreditava era verdade.

Então nosso personagem conhece melhor o universo do inimigo e percebe que ele
é pior do que tinha pensado e se preparado. Conhece novos inimigos, conquista
novos aliados até conhecer o personagem X, que de forma amigável vai apresentá-
lo a tentação, gerando a dúvida se ele deve seguir o bem e o mal (nossa segunda
provocação) e que na verdade vai levá-lo para a “morte” (não no sentido literal)
que é nosso segundo ponto de virada.

No quarto episódio nosso personagem passa pela provação suprema, se recupera e


volta com mais força para atingir seu objetivo, já que agora a busca, a motivação
passa a ser mais pessoal do que coletiva uma vez que ele foi enganado pelo
inimigo. E ele começa literalmente uma escalda para chegar à resolução do drama.
Chegamos à terceira provocação e fechamos o ciclo da letra “D” de desafio do
método.

Agora nosso personagem está pronto para o confronto final. Ele vai resgatar seus
aliados, matar seu traidor, enfrentar seus medos e ter o embate final com o

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antagonista. Neste ponto há a recompensa que geralmente é o retorno para casa
com o troféu da liberdade de seus conflitos, tanto internos como externos.

Tudo bem, mas... Expliquei aqui como acontece com a temporada inteira, mas não
falei nada dos episódios. Pois bem... Lembra-se daquela história de dividir os
problemas? É aqui que vamos aplicar isso mais intensamente. Veja o gráfico:

Basicamente vamos utilizar a mesma estrutura dramática. A diferença é que vamos


utilizar nos episódios somente o “S” de simpatia e o “D” de desafios, alternando-os
entre os episódios de forma a termos sempre um início onde o personagem vai
cativar e terminar sempre com um “gancho” para a resolução no episódio seguinte.

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Outra diferença é que as divisões na linha do tempo das ações são menores e o
episódio é dividido em quatro “blocos” de 2 minutos cada. A tabela abaixo pode
ajuda-lo a descrever como será a estrutura do seu roteiro. Marque e descreva os
eventos mais importantes da sua história.

Ponto inicial

Simpatia Provocação 01

Ponto de virada 01

Provocação 01

Desafio Ponto de virada 02

Provocação 03

Resolução Ponto final 01

Tabela do Método SDR

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Modelo de Ficha de Cena

Descrição da cena
Nome da Cena:
Descrição da cena:

Detalhes da Cena
Qual é o evento central nesta cena? Como este evento afeta a trama geral?

Quais personagens estão nesta cena? Qual é a configuração desta cena?

Quando esta cena ocorre? Qual é o clima desta cena?

Protagonista/Antagonista
Quem é o protagonista nesta cena? Quem é o antagonista nesta cena?

Qual é o objetivo do protagonista nesta Qual é o objetivo do antagonista nesta


cena? cena?

Como o protagonista atingirá este Como o antagonista atingirá este


objetivo? objetivo?

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A construção das personagens

É importante desenvolver total e completamente os seus personagens em seu


roteiro. Afinal, a razão de um roteiro existir é para contar a história de alguém.

Os personagens tem que refletir os sentimentos mais básicos do ser humano. Se o


personagem tem inteligência, coração, coragem e outras características
admiráveis, o público com certeza irá gostar de ver. Então não tenha medo ou
preguiça e coloque-o sobre a mesa, observe-o bem e faça as perguntas certas para
colocar para fora o que há dentro dele.

Assim, você precisa se alinhar com a DICA:


personalidade e as características do Tenho que alertar, o
personagem para criar um algo crível, sob desenvolvimento de personagens
é um processo exaustivo.
a pena de criar algo sem nenhuma conexão Principalmente porque um
emocional, enfadonho e sem vida. Aqui personagem é uma extensão da
personalidade que você deu para
estão algumas dicas para fazer um ele.
personagem totalmente funcional.

1) Em primeiro lugar, você precisa criar


uma personalidade. Como fazemos isso? Simplesmente pergunte as questões
importantes da vida. Aplique-as ao seu personagem. Qual é o propósito da vida? O
seu personagem acredita em Deus, ou ele é ateu? O que o seu personagem pensa
sobre política, religião, sexo? O seu personagem tem sonhos, pesadelos? Como o
seu personagem se relaciona com a família dele?

2) Crie profundidade. Até os detalhes insignificantes importam. Na verdade, a


maioria das pessoas se lembra de detalhes minuciosos sobre uma pessoa e não da
personalidade inteira. Adicionar detalhes sutis e triviais dá cor ao seu personagem.

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3) Outras perguntas que você pode se fazer para criar um personagem
interessante: Qual é o maior desejo ou sonho do meu personagem? Qual é o seu
pior pesadelo? Onde o meu personagem se sente mais confortável/desconfortável?
Como o meu personagem lida com o stress? Qual foi o momento mais embaraçoso
da vida do meu personagem?

4) O mesmo vale para os personagens secundários. Obviamente, você não terá que
ir muito fundo, mas você precisa do pano de fundo básico para incutir vida em seus
corpos unidimensionais. Também é importante que você faça a mesma análise
aprofundada do personagem – do seu herói e do seu vilão igualmente. O vilão é tão
importante para a história quanto o herói; se você desenvolver profundamente o
seu vilão, então o choque de poderes será ainda mais interessante.

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Modelo de Ficha de Personagem

Descrição física
Nome: Características distintas:
Idade:
Cabelo:
Altura:
Papel do persoangem:
Olhos:
Peso:
Motivação
Qual é o objetivo deste personagem? Qual o plano para atingir este objetivo?

Antecedentes do personagem
Antecedentes familiar: Hábitos/Vícios:

Educação: Personalidade:

Gosta de: Não gosta de:

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Um novo jeito de fazer...

No meio audiovisual, para um modelo de negócio tornar-se viável, precisa


contemplar o público consumidor e o mercado, um não sobrevive sem o outro.
Com as novas mídias não é diferente. Para que suas futuras produções tenham
êxito, é importante observar algumas dicas:

A primeira delas é o tempo de duração das webséries. Particularmente eu acredito


que 8 minutos seja o ideal, mas dependendo da sua história você pode utilizar mais
ou menos. O importante é que nunca seja menor ou maior que o necessário, com a
pena de não conseguir o entendimento da história ou perder o seu webespectador
pelo tédio na demora dos episódios. E aqui também cabe um toque sobre a
sazonalidade. Já mencionei que os webespecatores não são presos a datas de

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lançamentos, mas eles sempre gostam de novidades. Então, nunca os deixe com um
intervalo grande entre uma produção e outra. Alimente-os sempre com
informações, fotos, etc. para que eles não percam o foco em você e no seu trabalho.

Outro problema é a banalização do termo. Tudo agora virou websérie! E não é bem
isso que o seu consumidor quer... Lembre-se ele quer ter a noção de conteúdo
“Premium”. Se sua websérie estiver ligada a outras com características amadoras, a
sua audiência vai trata-lo assim também. Principalmente porque ela não quer ter o
trabalho de procurar por você. Logo, trabalhe bem o seu site, blog ou redes sociais
para que ele comece a se tornar uma referência entre seus amigos.

Mesmo porque o processo de popularização das webséries ainda está muito no


início e é uma questão de costume, hábito. Assim como um dia nos acostumamos a
ir ao cinema, nos acostumamos a ver tevê e nos acostumamos a alugar um DVD,
etc. E não se preocupe se a sua websérie não teve milhões de acessos ainda... Tudo
é uma questão de posicionamento de mercado. Talvez o seu nicho seja realmente
de poucos acessos. Mercadologicamente é mais interessante ter 10 mil acessos
qualificados e ativos por episódio do que um milhão que vê apenas uma vez e no
dia seguinte nem se lembra mais. Pense nisso!

De qualquer forma, as experiências das produções para internet trouxeram um


grande avanço no processo de criação e realização audiovisual que facilitou e
viabilizou que roteiros, antes inimagináveis nos moldes de produção antigos. Este
modelo é baseado no conceito de produção eficiente.

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Produção eficiente

Não vou discorrer aqui sobre os detalhes de uma produção em si. Mesmo porque a
estrutura básica de produção é a mesma de qualquer outra para cinema ou TV.
Ainda mais se pensarmos aqui que todos estão ligados à internet e
consequentemente são uma janela em potencial. Logo temos que fazer com a
melhor qualidade possível para passar em qualquer dispositivo possível. O
pensamento que se é para internet pode ser feito de qualquer modo ou com
qualquer equipamento não é verdade e só vai te trazer prejuízos, dor de cabeça e
baixa audiência. (Lembre-se da noção de PREMIUM!).

No entanto, este modelo de “produção eficiente” que cito aqui é baseado em alguns
pontos fundamentais e de fácil assimilação e aplicação: o primeiro deles é o uso de
equipamentos que realmente resolvam os problemas do set, buscando ao máximo
a eficiência da relação custo x benefício. As DSLR vieram para colocar um fim
definitivo nesta barreira. Mas cuidado, ao contrário do que muitos pensam (e
fazem) por aí, a câmera sozinha não vai fazer belas imagens. É preciso um bom
profissional para operá-la e extrair o máximo de qualidade que o equipamento
possa dar. E aqui chegamos ao segundo ponto: o uso de uma equipe que seja
multidisciplinar e autossuficiente, acumulando funções de forma inteligente e sem
gerar o desgaste físico e mental. Desta forma, você vai ter os profissionais
necessários para realizar os seus trabalhos de forma eficiente e barata. O quadro
abaixo mostra uma boa equipe para se começar a trabalhar.

47
Quadro uma equipe ideal para começar os trabalhos.

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Para facilitar o início do seu projeto dentro do universo das webséries, fiz uma
adaptação de um quadro para modelos de negócios baseado encontrado no site
Business Model Generation (www.businessmodelgeneration.com - sob licença do
Creative Commons). Nele você vai encontrar tudo o que é necessário para a
realização de sua websérie. Aqui fica mais uma dica... Pense em sua websérie como
um negócio e a partir disso vá preenchendo o quadro que 9 blocos que se
relacionam para descrever como será seu projeto. O ideal é que você reproduza
este quadro em tamanho grande e utilize “post-its” coloridos para definir como
cada etapa irá atuar no todo. Assim, fica mais fácil mudar, corrigir e incluir ideias.
Analise o quadro de acordo com o roteiro a seguir.

1) Vou fazer o quê? – Essa resposta será a sua Temática da Série;


2) Para quem vou fazer? – Aqui estão 3 blocos: Público alvo, distribuição e
promoção e interação e engajamento;
3) Como vou fazer? – Coloque quais são os principais (e essenciais)
equipamentos da sua produção, a equipe e suas parcerias.
4) Quanto? – Analize os principais custos e as receitas para viabilizar o seu
projeto.

DICA! Combine a temática da sua série com seu


público-alvo e a partir daí veja quais serão
Inspire-se em projetos de webséries
os canais de distribuição e as formas de
que deram certo. Tente analisar e
visualizar as estruturas de interação e engajamento. Então revise tudo
produção por trás destes projetos e fazendo o caminho contrário para ver se
a partir daí identifique
oportunidades de inovar tudo se encaixa dentro da sua temática
proposta.

Muito já disse aqui sobre roteiro. Mas como estamos chegando ao final, cabe
lembrar algumas dicas importantes. Quando escrever um roteiro de websérie,
pense em um público alvo especifico, através de temas onde há poucas
personagens e locações a serem trabalhadas, concentrando a ação dramática e

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encurtando os arcos das tramas. Dessa forma, o seu público terá o máximo de
engajamento em um mínimo de tempo. Essa é a proposta crucial para a viabilidade
e o sucesso das webséries.

Depois passe para a parte de produção e coloque no papel tudo o que é necessário
em termos de equipe e equipamento para que a sua produção aconteça. Lembre-se
aqui que coloque realmente somente o essencial. Elimine tudo o que é supérfluo
sempre com o cuidado para que sua produção não seja prejudicada. Feito isso, veja
como você pode conseguir parceiros para reduzir ainda mais seus problemas de
produção. Isso é fundamental para que tudo dê certo, uma vez que sempre
trabalhamos com orçamentos apertados.

Para finalizar, a etapa mais importante e mais decisiva de todo o trabalho. Agora
temos que completar o quando com as despesas e receitas. Coloque aqui quais são
as estimativas de custos mais importantes que você têm e também as formas com
que você pretende financiar o projeto. Na parte de receitas, também é importante
colocar como você pretende ganhar recursos com suas webséries. Seja com a
venda direta ou com produtos relacionados.

Mas tenha cuidado. Se você pretende colocar outros produtos licenciados, é


imprescindível que tenha uma estrutura capaz de atender as futuras demandas. E
principalmente observe os cuidados legais e fiscais de cada região para que você
não tenha surpresas mais tarde.

As minhas duas primeiras webséries, Heróis e Apocalipze, são tipos de produção


completamente distintos e por isso mesmo ideais para se construir uma média de
gastos de orçamento. Heróis tem como tema a participação do Brasil na Segunda
guerra Mundial, um trabalho difícil de ser realizado, já que envolvia muita
reconstituição histórica e efeitos de tiros, explosões, etc. Já ApocalipZe é uma ficção
científica e que se passa em um futuro próximo, onde após um ataque

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bioterroristas, grupos de sobreviventes tentam se reorganizar para entender o que
aconteceu.

Os orçamentos estavam longe de serem os ideais para as produções, muito em


função da minha inexperiência na época e também por eles terem sido pensados
para serem realizados com profissionais que atuavam fora do circuito. Mas por
sorte tive produtores que conseguiram fazer verdadeiros milagres, adequando as
planilhas à realidade assim consegui realizar minhas webséries.

Fazendo um cruzamento destas novas planilhas, e buscando trocar informações


com outros realizadores, consegui desenvolver um relatório que servisse de base
para os meus futuros projetos. Claro que cada projeto é um projeto, com todas as
suas especificidades que só saberemos quando definirmos o roteiro. Além do mais,
muitas das despesas foram abatidas em função de parcerias realizadas nas mais
diversas áreas. No entanto, é possível adequarmos praticamente todos os projetos
de websérie dentro desta planilha. E espero que ela sirva de guia para que você
possa realizar suas produções.

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Vale aqui mais uma dica. Por mais que acreditamos que nossas idéias são as mais
incríveis e rentáveis do mundo, pode ser que o público em geral não ache a mesma
coisa... Por isso teste muito seu modelo antes de sair produzindo ou enviando para
algum investidor. Crie pilotos, converse com possíveis consumidores, parceiros e
fornecedores e a partir dos dados colhidos ajuste seu modelo até que ele esteja
consistente o suficiente para transformá-lo em realidade.

Vamos descrever cada etapa do quadro:

 Temática da série: É a sua grande idéia! Coloque aqui a storyline da


sua websérie, os personagens principais e os conflitos dramáticos
que você julga serem os mais importantes da sua série. Se você tem
dificuldades aqui, é hora de rever se você realmente tem domínio do

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assunto o suficiente a ponto de justificar uma produção. Coloque post
its para cada personagem e conflito que deseja trabalhar.

 Público–alvo: Este ponto é importantíssimo porque você precisa


definir para quem vai direcionar a sua temática. Afinal de contas um
trabalho audiovisual é para ser visto e a audiência é que vai te dar
condições para monetizar o seu produto. Definido isso, pense em
como traduzir em imagens e sons sua websérie que sejam
condinzentes com o seu público –alvo. E lembre-se, a internet é um
meio de nicho, portanto há sempre um grupo especial de pessoas que
querem consumir sua websérie.

 Distribuição e promoção: Aqui é preciso responder uma questão


fundamental, Como eu vou me comunicar e alcançar meus
consumidores para que eu possa dar a eles um entretenimento
satisfatório utilizando várias plataformas. Afinal, quanto mais curto
for o caminho que o seu webespectador fizer em relação ao sua
websérie melhor. Veja as melhores formas de hospedagem para seus
vídeos. No mercado há várias empresas que fazem muito mais do
que o Youtube pode proporcionar, inclusive a administração de
publicidade em diversos níveis.

 Integração e engajamento: Como fazer o meu webespectador


interagir com o meu conteúdo e torna-lo o meu maior divulgador?
Talvez esta seja um pergunta eterna e que nunca terá uma única
resposta. Então pense aqui de forma a atender dois públicos
distintos. Aqueles que gostam de interagir e aqueles que não gostam
de interagir. Isto quer dizer que temos que observar e identificar em
nosso público-alvo seus hábitos de engajamento, principalmente
pelas redes sociais.

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 Equipe: Trabalhar com uma equipe reduzida é ao mesmo tempo fácil
e difícil. Fácil porque temos um menor custo e uma maior facilidade
de comunicação entre os membros, o que garante maior agilidade no
processo. Por outro lado é mais difícil porque acaba que todos têm
que acumular funções. A dica aqui é não extrapolar. Se você tem uma
equipe pequena, não tente fazer uma megaprodução que não vai dar
certo. Adapte sua produção a sua equipe e assim você nunca terá
surpresas desagradáveis. Veja no próximo quadro uma equipe ideal
para começar os trabalhos.

 Equipamento: É fato que hoje em dia há bons equipamentos com


custos baixos, mas é preciso ter cuidado para escolhê-los. Observar
bem a relação entre custo, benefício e o resultado estético dramático
que você pretende para a sua cena. Isso quer dizer que nunca, em
hipótese alguma, você deve trabalhar com equipamentos
improvisados que vão, além de estragar sua produção, colocar em
risco a integridade física da sua equipe. Então use tudo o que estiver
ao alcance da mão, mas com cuidado.

 Produção e parcerias: Este é o ponto fundamental de toda e qualquer


produção independente. Coloque aqui tudo aquilo que você pode
conseguir para facilitar a sua produção. Muitas das vezes este quadro
pode determinar boa parte do restante. Já teve casos em que
tínhamos uma ótima locação, com tudo de graça, inclusive energia.
Então tivemos que adaptar boa parte do roteiro para acontecer
naquela locação. Pense nisso e você terá sempre boas produções.

 Estrutura de custos: Aqui temos que ser bem honestos e justos. Não
adianta colocar despesas que serão impossíveis de serem cobertas.
Seja realista e adapte-se a realidade para que sua produção não vá
por água abaixo.

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 Receitas: Tenha em mente de onde virão os recursos para a
realização de sua produão. Será patrocínio direto? Via Lei de
Incentivo? Ou você vai bancar do próprio bolso. Não importa. O que
você tem que ter em mente aqui é que para fazer um produto
audiovisual gasta-se dinheiro e por isso temos que ter
responsabilidade. Pode-se colocar aqui também uma estimativa de
ganho com venda de produtos relacionados à webséries ou até
mesmo colocar formas monetizadas para visualizar os episódios.

E por fim do uso do conceito de desperdício “0”, otimizando os processos de


captação e edição, através de uma pré-produção bem elaborada de forma a evitar
que nada, absolutamente nada, seja feito sem antes ser pensado, elaborado e
projeto para aquele fim. Como se diz em todos os manuais de eficiência em
processos produtivos, o pensamento ainda é a parte mais barata de uma produção
e por isso deve ser valorizada e respeitada.

Em resumo, faça suas webséries através de roteiros onde há poucas personagens e


locações a serem trabalhadas, concentrando a ação dramática e encurtando os
arcos das tramas para que o público possa ter o máximo de engajamento em um
mínimo de tempo. Essa é a proposta crucial para a viabilidade e o sucesso das
webséries.

55
O Portal Webseriados.

O Portal webseriados.com nasceu basicamente de uma necessidade e de uma


oportunidade. Com o surgimento de várias produções de webséries no Brasil com
qualidade profissional e de forma isolada, era preciso concentrar a produção e a
audiência que se formou, oferecendo um canal completo onde além de visualizar as
webséries, os websepectadores pudessem ter notícias e principalmente interagir
com outros que tenham a mesma vontade: seja de produzir, seja de assistir. Se você
é realizador, acesse o portal pelo www.webseriados.com e entre em contato
conosco!

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Visite a página do autor

www.gutoaeraphe.com.br

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