Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Criação e Desenvolvimento
Guto Aeraphe
WEBSÉRIES
CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Escrito por: Guto Aeraphe
1
Índice
Sobre o Autor.............................................................................................................03
Como usar este livro................................................................................................04
Agradecimentos.......................................................................................................05
Prefácio.........................................................................................................................06
Introdução...................................................................................................................09
A narrativa transmídia...........................................................................................13
O formato de webseriados...................................................................................16
Erros e acertos..........................................................................................................23
Quem é este webespectador................................................................................30
Escrevendo no formato de webséries.............................................................33
Explicando as letras S – D – R..............................................................................35
O método na prática................................................................................................37
A construção dos personagens..........................................................................42
Um novo jeito de fazer...........................................................................................45
Produção eficiente...................................................................................................47
Apêndice: O Portal Webseriados.......................................................................56
2
Sobre o Autor
Contatos:
gutoaeraphe@yahoo.com.br - www.gutoaeraphe.com.br
3
Como usar este livro
O que será apresentado aqui não é necessariamente uma regra que tem que ser
seguida a “ferro e fogo”. Muito pelo contrário, ela é apenas um guia para que você
possa desenvolver com mais facilidade suas webséries. Não é preciso que em todas
as suas produções tenham as ações dramáticas citadas. Se você quiser pode até
mesmo acrescentar o que julgar necessário ou cortar o que for preciso. O
importante é contar histórias e contá-las de forma eficiente.
Afinal, este livro foi feito principalmente para aqueles que querem levar o universo
das webséries a sério. E para isso é importante pensar que você vai fazer algo para
alguém assistir. E não para ficar guardado...
4
Agradecimentos
Agradecer também ao meu amigo e mentor Elimar Alves Pereira, meu pai nas
artes. A primeira pessoa que acreditou em mim como artista, que me deu aos 15
anos de idade, a oportunidade de conhecer o teatro e todos os seus encantos. Foi
durante um espetáculo dirigido por ele que descobri que deveria ser um médico
das almas, e não do corpo.
5
Prefácio
6
O Brasil se destaca por ser um celeiro mundial de jogadores de futebol, isto porque
diariamente, em cada canto deste país, existem crianças jogando futebol, mesmo
que seja em campos de terra e com bolas de meia. Desta forma, porque não
estimular nestas crianças o gosto por dominar um computador e uma câmera e
deixá-la produzir livremente suas histórias em vídeos?
7
8
Introdução
A internet revolucionou nossos hábitos. Isso é indiscutível e não vou discorrer aqui
sobre este tema tão amplo. Mesmo porque o foco deste livro é especificamente o
desenvolvimento de uma metodologia eficiente para se criar e desenvolver
produções exclusivamente para o formato webséries, que tem uma audiência
específica e que se divide cada vez mais nas mais diversas mídias.
Vamos pegar duas palavras chaves do parágrafo anterior para iniciarmos nossa
discussão. A primeira delas é internet. Ainda há muitos que pensam que internet é
o fim, quando na verdade a internet é o meio. Isso porque hoje temos que pensar a
internet não somente como um navegador que abrimos para digitar endereços de
sites, mas como um meio de propagar conteúdos, uma vez que praticamente não
há mais barreiras para se desenvolver equipamentos que sejam capazes de se
conectar a rede e principalmente transmitir imagens em movimento e de alta
definição. Aliás, vamos colocar um fim de uma vez por todas no termo “rede
mundial de computadores”, já que até os mais impensáveis equipamentos estão
conectados a rede.
9
artigo em seu notebook, tablet ou smartphone. Não importa. O que interessa é que
vivemos a “Era das Telinhas”. Um tempo onde tudo está em movimento em todos
os lugares, principalmente em dispositivos que se tornaram extensões, verdadeiras
próteses de nosso corpo e mente. E de forma quase anárquica nossa atenção é
constantemente atacada por diversas mensagens que saltam aos nossos olhos,
fragmentando a todo o momento nossos afazeres e relacionamentos, sejam eles
parte nosso ciclo social, profissional ou familiar.
Tudo isso nos remete a segunda palavra, que na verdade faz parte de uma
expressão que acredito já está obsoleta: são as “novas mídias”. Este termo não é
novo e foi cunhado para colocar em um mesmo cesto todas aquelas mídias que
fossem alternativas as tradicionais como rádio, tevê, impressos e outdoors. Meu
Deus! Era só isso que a gente via na faculdade na minha época... E olha que eu me
formei em 2002. Como o tempo passa!
10
Nos tempos atuais, este termo virou quase um sinônimo de internet. Primeiro com
os já ultrapassados banners, depois com aqueles chatos e inconvenientes popups
que invadiam, ou melhor, ainda invadem nossas telas enquanto lemos ou
assistimos algo em nossos computadores. Sem esquecer os hotsites promocionais,
além de tantos outros exemplos... Hoje o termo novas mídias é sinônimo de redes
sociais, tablets e smartphones. E no futuro... Bem, só Deus sabe o que virá a ser.
Mas junte a estes conceitos, as novas redes de fibra ótica de altíssima velocidade
que começam a chegar e os novos protocolos e equipamentos de IPTV que
proporcionarão em breve a consolidação desta nova forma de ver e fazer
audiovisual, totalmente independente e alternativa aos grandes grupos de
comunicação. Então teremos a revolução!
11
Este fenômeno é chamado pelos sociólogos de TV social, considerado pelo MIT
como uma das dez maiores tecnologias emergentes e tendências para o futuro e
que cada vez mais ganha força no mundo corporativo. É cada vez maior o número
de campanhas multitelas que têm como objetivo buscar o indivíduo (leia-se
consumidor) onde ele está, com produtos/serviços customizados e sob demanda
para quem está na frente da tela. Hoje já é possível fazermos nosso “check-in”
televisivo através de aplicativos que nos conectam a outras pessoas que estão
assistindo a mesma programação e assim temos a chance de conversar e
compartilhar nossas ideias com todos, além de que é possível que os realizadores
do conteúdo em questão e os anunciantes possam falar diretamente com os seus
consumidores.
Fato é que os analistas de mercado já batizaram este conceito de uma forma mais
ampla, chamado de narrativa transmídia.
12
A narrativa transmídia
Projeto transmídia
Geralmente, a história é introduzida por um meio (no nosso caso através das
webséries) e incrementada através dos outros canais (séries de TV, games,
quadrinhos, animações, romances), ampliando seu desenvolvimento narrativo e
expandindo seu universo, permitindo não apenas a criação de novos conflitos,
histórias e personagens, como também novas maneiras de se consumir e interagir
com esse universo. Cada acesso a franquia deve ser autônomo, afim de que seja
13
possível consumir e interagir de forma satisfatória com ou sem a necessidade se
conhecer os outros, ao menos sem a necessidade de se conhecer profundamente.
Cada um dos produtos (filme, games, quadrinhos, programas de TV, romance) se
configura como um ponto de acesso à franquia como um todo.
14
enorme revolução diante de nossos olhos e ao alcance de nossas mãos. Mas afinal
de contas, como contar estas histórias dentro destes novos meios para estes novos
espectadores?
Websérie ApocalipZe (2012). Em Cena a atriz Raquel Dutra – Direção Guto Aeraphe – Fotografia: Elisângela Guanaira
15
O formato de webseriados
A verdade é que todos nos gostamos de ver, ler e ouvir estórias. E isto acontece
desde que o mundo é mundo. Em milhares de anos, das mais primitivas as mais
modernas histórias, uma coisa não mudou em meio a tanta tecnologia: o drama
está no centro de tudo. Através dos personagens nos identificamos e nos
realizamos com seus conflitos. O que mudou foi a forma como contamos isso.
16
E é exatamente por isso que as webséries ganharam força e se desvencilharam das
amarras das séries de tevê ou franquias de cinema para ganhar vida e fãs próprios.
Mas antes de entrarmos nos pormenores, vejamos algumas definições para
compreendermos melhor o que está por vir.
Cena da websérie Heróis (2011) – Direção Guto Aeraphe – Fotografia: Elisângela Guanaira
17
produto é o mesmo que consome a tradicional dramaturgia de forma seriada na
TV. Talvez a grande diferença esteja no comportamento fragmentado do público e
não o público em si, já que em sua maioria, quer algo além da passividade da tela
do televisor. Ele quer interagir, participar ativamente do universo proposto.
18
Matéria veiculada sobre o universo das webséries no Brasil
19
Matéria veiculada sobre o universo das webséries no Brasil
20
Matéria veiculada sobre o universo das webséries no Brasil
21
Muito já foi dito (e bem escrito) sobre formas e conceitos para se elaborar roteiros
para cinema e TV. Na verdade, quando me interessei por realizar webséries em
2004, passei a consumir mais estes tipos de “manuais” de escrita. Desde então
venho aplicando estes conceitos em meus trabalhos. Testei vários. Desde os mais
conhecidos como os de Syd Field, Doc Comparato, Christopher Vogler, Joseph
Campbell, etc., até alguns mais alternativos que nem vale a pena citar. A verdade é
que nenhum realmente atendeu plenamente às minhas expectativas, já que eles
tinham como foco o comportamento de um público passivo, de uma época que não
se interagia com nada nem ninguém, que ficava (e de certo modo ainda fica)
estático e em silêncio diante da tela grande do cinema.
Diante disso, resolvi desenvolver um método que reúne o que vi de melhor nos
métodos tradicionais com os conhecimentos de mercado e audiência que os anos
de experiência me deram durante a produção dos meus trabalhos realizados até
2012. Com eles pude ter um contato direto como o meu webespectador, recebendo
críticas e sugestões, fazendo-me refletir sobre os acertos e principalmente sobre os
erros. Confesso que foi um exercício de humildade incrivelmente difícil, mas que
no final resultou na criação de um processo mais maduro de realização
audiovisual.
22
Erros e acertos
23
Isto era em 2001, eu estava com 21 anos, faltava um ano para eu me formar e a
minha cabeça estava cheia de ideias. Tudo numa época em que ver vídeos na
internet ainda era muito complicado e passávamos horas até um destes pequenos
vídeos da BMW carregar...
Quando apresentei a idéia, minha coordenadora olhou para mim e disse: “deixa
isso de lado... não vai dar certo. Esse negócio de vídeo pela internet não vai para
frente. A televisão nunca vai perder seu espaço!” Muito triste eu acatei a
recomendação e terminei o meu curso. Para falar a verdade eu nem me lembro
sobre o que foi o meu trabalho final, pois continuei a realizar minhas pesquisas
sobre o tema “webséries”.
Fiz o curta e fiz a loucura de disponibilizá-lo em três episódios pela internet. Foi
um reboliço na cidade e na região. O filme ficou legal, teve boa visibilidade numa
época em que o Orkut reinava absoluto e o youtube dava seus primeiros passos.
Mas o curta tinha todos os defeitos de um jovem diretor iniciante se metendo a
fazer um filme de suspense pela primeira vez...
24
Making of da websérie Artigo 159
25
únicos loucos a encarar esta aventura. Tudo pronto partimos. Chegamos à tarde e
fomos bem recebidos pelos nossos anfitriões, visitamos as locações e depois de um
breve descanso fomos jantar. Já era quase meia noite quando um telefonema
causou indigestão em todos. O evento no qual iríamos gravar o piloto havia sido
cancelado. Graças ao empenho de alguns integrantes do grupo conseguimos
arrumar algumas peças de figurino e uma arma cênica para fazermos aos ‘trancos e
barrancos” a cena improvisada do piloto... Na verdade nem eu sabia bem o que iria
fazer. Quase foi um desastre, mas aqueles quase dois minutos de filme que
conseguimos ali foram fundamentais para captarmos todos os recursos
necessários. Um ano depois estávamos iniciando as gravações da websérie Heróis
na histórica São João del Rey.
26
Confesso que a cada encerramento das gravações eu deitava no meu quarto no
hotel e ficava me perguntando por quê tinha começado aquilo. Foi assim durante
os seis dias de produção.
Mas a resposta veio um mês depois, quando o filme ficou pronto. Havia ficado
maravilhoso! Apesar de todas as dificuldades eu sabia que tinha nas mãos um
material incrível. Foi aí que começou a dúvida: O que eu vou fazer com isso agora?
Afinal, Heróis nasceu como um médiametragem e este formato, infelizmente, não
se faz quase nada com ele. Não dava para passar em cinema; tv nem pensar; e eram
poucos os festivais que aceitavam este formato. Foi então que resolvi desenterrar
as minhas idéias de trabalhar com a internet. Certo de que era a melhor coisa a se
fazer, fui atualizar os meus conhecimentos sobre o assunto.
27
Lembro-me como se fosse hoje, quando cheguei na Guerrilha Filmes, produtora do
Marcello Marques, diretor de fotografia da websérie Heróis, dizendo que iria
veicular o filme em episódios pela internet. O Marcello e todos os outros presentes
foram contra, mesmo depois de argumentar com dados do mercado e com
exemplos como a websérie “Onda Zero”. Mas como diretor e idealizador do projeto,
e com uma vontade imensa de colocar em prática todo o conhecimento adquirido
durante os últimos anos, resolvi encarar o desafio e publicar Heróis como uma
websérie. Foi a decisão mais acertada da minha vida!
Como websérie o filme fez um excelente carreira que nunca faria se seguisse os
tramites normais do cinema. Junto com o Grupo “Diários Associados”, com a ajuda
do Editor Chefe do “Portal Uai” Benny Cohen e do diretor de programação da “TV
Alterosa/SBT” Rodrigo Scoralick, consegui fechar um tipo de “estratégia
transmídia” que foi um grande sucesso.
28
Todos estes trabalhos e outros que fiz nos anos que se seguiram, me deram a
experiência necessária para conseguir começar a compreender este fenômeno que
sãos as webséries. Mas ainda faltava entender uma importante coisa. Afinal de
contas, quem era este novo espectador? Quais eram os seus hábitos e desejos?
Como lidar com uma audiência tão fragmentada? Foi aí que eu descobri o último
elo que faltava.
29
Quem é este “webespectador”?
Sem dúvida nenhuma este novo espectador, que aqui chamo de webespectador,
tem relação direta com as novas tecnologias de veiculação de imagens em
movimento que já citamos anteriormente e com o desgaste dos formatos
tradicionais de dramaturgia. Quantas vezes nos entediamos com as famosas
“barrigas” nas novelas ou da previsibilidade dos filmes, sem falar na dificuldade
que é ir ao cinema: seja no trânsito, seja pelos altos preços dos ingressos. Sem
dúvida para levar uma família composta por pai, mãe e filho gasta-se facilmente
uma centena de reais ou mais...
Ligar nossos dispositivos à internet, no conforto de nossas salas com telas de LED
(cada vez maiores e mais baratas), através dos serviços on demand se tornaram
uma conveniência cada vez mais utilizada pelos espectadores, ou melhor, pelos
webespecatores.
Agora o webespectador não tem mais a fidelidade que tinha antes com as séries.
Em um passado recente, quando havia o lançamento de um episódio, era
praticamente um evento esperado tão ansiosamente quanto o nascimento de um
30
filho. Hoje, ele nem se preocupa com isso, já que no outro dia ele vai poder ver pela
internet em algum dispositivo (de forma legal ou não) e ainda com comentários e
reviews de seus amigos nas redes sociais.
Claro que, trazendo para a nossa realidade mercadológica, talvez nunca tenhamos
os orçamentos milionários como têm as séries da HBO ou da Warner. No entanto
temos o compromisso de dar ao nosso webespectador a percepção de que ele está
assistindo a um conteúdo “Premium”, com uma narrativa bem definida, com um
cuidado especial na seleção e atuação dos atores e principalmente um apuro no
acabamento técnico e estético das webséries. É o famoso “Uau! Isso parece filme de
Hollywood!”.
31
Depois de muito refletir, eu descobri que era justamente este o conceito que eu
tinha que aprender. E apliquei em todos os meus trabalhos. Esta era a “percepção
de Premium”! Eu não tinha um grande orçamento em meus filmes, mas as pessoas
percebiam que eu tinha. E isso era ótimo para a audiência.
Outra coisa que ajuda nessa percepção e que na internet temos a liberdade
criativa! Não dependemos de interesses de terceiros. A televisão tem amarras por
todos os lados que impedem que várias temáticas entrem na programação. Na rede
podemos trabalhar nichos de mercado que são atentos aos mais diversos temas e
que em algum momento podem até influenciar na Tevê, devido a grande audiência.
Muito bem, agora que já entendemos o que é uma websérie, qual é o seu público e
o contexto em que todos eles estão inseridos, vamos ao fundamental: o roteiro!
32
Escrevendo no formato de webséries.
Como afirmei anteriormente, todos nós gostamos de uma boa história e para
desenvolver este método juntei o conhecimento de vários outros já conhecidos
com a minha própria experiência.
Aprendi com meu pai que a melhor forma de se conseguir resolver um problema é
desmembrando-o em problemas menores, buscando sempre as soluções mais
simples e práticas para resolvê-los. Com base nisso, busquei simplificar ao máximo
o método para chegar ao resultado necessário e que também fosse de fácil
assimilação a qualquer um que deseje ingressar nesse universo.
Então desenvolvi o meu método que chamo Método SDR (Simpatia – Desafios –
Resolução) e o baseie em dois pontos principais: o princípio da dramatização e o
princípio dos referenciais. O primeiro remete ao cerne das ações dramáticas que é
o conflito, interno e externo. Veja bem, “interno e externo” e não “interno ou
externo”. Pode até ser que alguns céticos digam que não é necessário o uso dos
33
dois ao mesmo tempo, mas no universo dinâmico das webséries um não vive sem o
outro. O primeiro serve para justificar a jornada e o segundo serve para definir
como ela será. Isso nos lembra de que toda história precisa ter bons personagens.
Não interessa se são humanos ou não, se é um cão, uma árvore, um alienígena ou
uma pedra. É preciso que se deem sentimentos a estas ações e não tem como
contar uma história sem isso. E quanto mais eles estiverem presentes melhor.
Não importa se somos alguém avesso à violência, mas sempre vamos torcer para
que o personagem se vingue dos bandidos, mesmo que para isso ele tenha que usar
métodos violentos. Talvez a maior prova disso seja o seriado Dexter, onde nos
apaixonamos pelo personagem principal que dá nome a série. Ele é um perito em
medicina forense, mas também é um serial killer, que canaliza sua vontade de
matar assassinando criminosos e assim, como ele mesmo diz, limpando as ruas de
sua pior sujeira. E mesmo assim torcemos por ele.
É importante frisar que aqui vamos tratar somente de roteiro para o formato de
websérie, tendo ela como suporte para o desenvolvimento de outras narrativas
que permeiem por outras mídias (narrativa transmídia). Mas para isto acontecer
de maneira eficiente vai depender das suas necessidades e principalmente da sua
criatividade.
34
Explicando as letras S - D – R
Pois bem, vamos falar de cada um em separado. O “S” é de simpatia e nada mais é
do que criar histórias e personagens que tenham uma identificação direta com o
público, que o toque de alguma forma, que gere nele uma simpatia. Parece óbvio,
mas não é. Escrever normalmente é um ato muito solitário e pessoal. Na maioria
das vezes fazemos somente para nós mesmos, não para o outro, E desta forma
omitimos neste processo informações importantes para o bom entendimento do
público e consequentemente perdemos sua simpatia.
Para atingirmos nosso objetivo com a letra “S” do processo, retorno ao conceito
anteriormente explicado de que tudo se resume as motivações humanas. Ou seja,
sentimentos e anseios.
A próxima letra da sigla é “D” de desafio. Nesta letra se concentra todos os conflitos
que o personagem vai passar, tanto internos quanto externos. Estas dificuldades,
assim como na vida real, servem para testar nossas aptidões, os limites de nossos
medos e principalmente nos motivar a seguir em frente. Tornar desafios óbvios em
grandes tomadas de decisão talvez seja o maior dos problemas de quem cria uma
websérie. Isso porque não há tempo nem personagens suficientes para
desenvolver o arco dramático. Dessa forma a ação tem que ser concentrada (tanto
35
em personagens como em locações) para que o público experimente a cada
episódio uma dose intensa de emoções, sempre deixando um gancho para o
próximo episódio. Afinal de contas, o fim de cada desafio é o principio de outro e
assim por diante.
Também é fato que, desde que o mundo é mundo, fazemos algo por alguma coisa.
Por isso temos o “R” de recompensa. E esta recompensa é dupla. Ao mesmo tempo
em que é do personagem, é do webespectador. É o processo de gameficação
aplicado ao roteiro, antigamente chamado de “E viveram felizes para sempre”.
Esta sensação de plenitude nos faz relaxar e curtir o momento. É quase que uma
sensação orgasmica. Todos os conflitos têm que ser resolvidos, não há espaço para
pontas soltas no roteiro ou brechas para especulações, sob a pena de gerar no
público a decepção. Talvez o maior exemplo disso seja o seriado “Lost” que
encerrou de uma maneira que não agradou a todos (incluo-me nesta conta) porque
tinham várias histórias paralelas que ficaram sem explicação, por que havia
personagens complexos demais e que deram margem a muitas teorias que nem
mesmo os autores imaginavam. Resultado... Decepção.
Esta lógica de estrutura dramática segue a mesma que mostrei lá no início do texto,
aquele em que aprendi com o meu pai que o melhor meio de se resolver o
problema é dividi-lo em outros menores. Assim é a lógica do modelo SDR proposto,
que se aplica tanto para a temporada inteira como para os episódios. Cada um é a
resolução de um problema que vai levar a conclusão do principal. Mas vamos ver
como isso se aplica na prática!
36
O Método na prática
Acima da linha acontece o que chamamos de bons eventos e os abaixo são os maus
eventos. Além disso, podemos observar sete pontos marcados ao longo da
trajetória da temporada. Sendo o ponto inicial e final em verde, as provocações em
vermelho e os já famosos pontos de virada em azul. Note que eles estão
posicionados estrategicamente em interseções entre os episódios e a linha de bons
e maus eventos.
37
deparar com a primeira provocação que o colocará em dúvida se ele irá ou não
aceitar o desafio.
No episódio 02 ele encontra com o seu mentor que o preparará para o que está por
vir impondo a ele diversos testes até que ele tem que tomar a grande decisão e
atravessar o primeiro ponto de virada. Desta forma completamos o ciclo da
“simpatia”, a primeira letra do Método.
Então nosso personagem conhece melhor o universo do inimigo e percebe que ele
é pior do que tinha pensado e se preparado. Conhece novos inimigos, conquista
novos aliados até conhecer o personagem X, que de forma amigável vai apresentá-
lo a tentação, gerando a dúvida se ele deve seguir o bem e o mal (nossa segunda
provocação) e que na verdade vai levá-lo para a “morte” (não no sentido literal)
que é nosso segundo ponto de virada.
Agora nosso personagem está pronto para o confronto final. Ele vai resgatar seus
aliados, matar seu traidor, enfrentar seus medos e ter o embate final com o
38
antagonista. Neste ponto há a recompensa que geralmente é o retorno para casa
com o troféu da liberdade de seus conflitos, tanto internos como externos.
Tudo bem, mas... Expliquei aqui como acontece com a temporada inteira, mas não
falei nada dos episódios. Pois bem... Lembra-se daquela história de dividir os
problemas? É aqui que vamos aplicar isso mais intensamente. Veja o gráfico:
39
Outra diferença é que as divisões na linha do tempo das ações são menores e o
episódio é dividido em quatro “blocos” de 2 minutos cada. A tabela abaixo pode
ajuda-lo a descrever como será a estrutura do seu roteiro. Marque e descreva os
eventos mais importantes da sua história.
Ponto inicial
Simpatia Provocação 01
Ponto de virada 01
Provocação 01
Provocação 03
40
Modelo de Ficha de Cena
Descrição da cena
Nome da Cena:
Descrição da cena:
Detalhes da Cena
Qual é o evento central nesta cena? Como este evento afeta a trama geral?
Protagonista/Antagonista
Quem é o protagonista nesta cena? Quem é o antagonista nesta cena?
41
A construção das personagens
42
3) Outras perguntas que você pode se fazer para criar um personagem
interessante: Qual é o maior desejo ou sonho do meu personagem? Qual é o seu
pior pesadelo? Onde o meu personagem se sente mais confortável/desconfortável?
Como o meu personagem lida com o stress? Qual foi o momento mais embaraçoso
da vida do meu personagem?
4) O mesmo vale para os personagens secundários. Obviamente, você não terá que
ir muito fundo, mas você precisa do pano de fundo básico para incutir vida em seus
corpos unidimensionais. Também é importante que você faça a mesma análise
aprofundada do personagem – do seu herói e do seu vilão igualmente. O vilão é tão
importante para a história quanto o herói; se você desenvolver profundamente o
seu vilão, então o choque de poderes será ainda mais interessante.
43
Modelo de Ficha de Personagem
Descrição física
Nome: Características distintas:
Idade:
Cabelo:
Altura:
Papel do persoangem:
Olhos:
Peso:
Motivação
Qual é o objetivo deste personagem? Qual o plano para atingir este objetivo?
Antecedentes do personagem
Antecedentes familiar: Hábitos/Vícios:
Educação: Personalidade:
44
Um novo jeito de fazer...
45
lançamentos, mas eles sempre gostam de novidades. Então, nunca os deixe com um
intervalo grande entre uma produção e outra. Alimente-os sempre com
informações, fotos, etc. para que eles não percam o foco em você e no seu trabalho.
Outro problema é a banalização do termo. Tudo agora virou websérie! E não é bem
isso que o seu consumidor quer... Lembre-se ele quer ter a noção de conteúdo
“Premium”. Se sua websérie estiver ligada a outras com características amadoras, a
sua audiência vai trata-lo assim também. Principalmente porque ela não quer ter o
trabalho de procurar por você. Logo, trabalhe bem o seu site, blog ou redes sociais
para que ele comece a se tornar uma referência entre seus amigos.
46
Produção eficiente
Não vou discorrer aqui sobre os detalhes de uma produção em si. Mesmo porque a
estrutura básica de produção é a mesma de qualquer outra para cinema ou TV.
Ainda mais se pensarmos aqui que todos estão ligados à internet e
consequentemente são uma janela em potencial. Logo temos que fazer com a
melhor qualidade possível para passar em qualquer dispositivo possível. O
pensamento que se é para internet pode ser feito de qualquer modo ou com
qualquer equipamento não é verdade e só vai te trazer prejuízos, dor de cabeça e
baixa audiência. (Lembre-se da noção de PREMIUM!).
No entanto, este modelo de “produção eficiente” que cito aqui é baseado em alguns
pontos fundamentais e de fácil assimilação e aplicação: o primeiro deles é o uso de
equipamentos que realmente resolvam os problemas do set, buscando ao máximo
a eficiência da relação custo x benefício. As DSLR vieram para colocar um fim
definitivo nesta barreira. Mas cuidado, ao contrário do que muitos pensam (e
fazem) por aí, a câmera sozinha não vai fazer belas imagens. É preciso um bom
profissional para operá-la e extrair o máximo de qualidade que o equipamento
possa dar. E aqui chegamos ao segundo ponto: o uso de uma equipe que seja
multidisciplinar e autossuficiente, acumulando funções de forma inteligente e sem
gerar o desgaste físico e mental. Desta forma, você vai ter os profissionais
necessários para realizar os seus trabalhos de forma eficiente e barata. O quadro
abaixo mostra uma boa equipe para se começar a trabalhar.
47
Quadro uma equipe ideal para começar os trabalhos.
48
Para facilitar o início do seu projeto dentro do universo das webséries, fiz uma
adaptação de um quadro para modelos de negócios baseado encontrado no site
Business Model Generation (www.businessmodelgeneration.com - sob licença do
Creative Commons). Nele você vai encontrar tudo o que é necessário para a
realização de sua websérie. Aqui fica mais uma dica... Pense em sua websérie como
um negócio e a partir disso vá preenchendo o quadro que 9 blocos que se
relacionam para descrever como será seu projeto. O ideal é que você reproduza
este quadro em tamanho grande e utilize “post-its” coloridos para definir como
cada etapa irá atuar no todo. Assim, fica mais fácil mudar, corrigir e incluir ideias.
Analise o quadro de acordo com o roteiro a seguir.
Muito já disse aqui sobre roteiro. Mas como estamos chegando ao final, cabe
lembrar algumas dicas importantes. Quando escrever um roteiro de websérie,
pense em um público alvo especifico, através de temas onde há poucas
personagens e locações a serem trabalhadas, concentrando a ação dramática e
49
encurtando os arcos das tramas. Dessa forma, o seu público terá o máximo de
engajamento em um mínimo de tempo. Essa é a proposta crucial para a viabilidade
e o sucesso das webséries.
Depois passe para a parte de produção e coloque no papel tudo o que é necessário
em termos de equipe e equipamento para que a sua produção aconteça. Lembre-se
aqui que coloque realmente somente o essencial. Elimine tudo o que é supérfluo
sempre com o cuidado para que sua produção não seja prejudicada. Feito isso, veja
como você pode conseguir parceiros para reduzir ainda mais seus problemas de
produção. Isso é fundamental para que tudo dê certo, uma vez que sempre
trabalhamos com orçamentos apertados.
Para finalizar, a etapa mais importante e mais decisiva de todo o trabalho. Agora
temos que completar o quando com as despesas e receitas. Coloque aqui quais são
as estimativas de custos mais importantes que você têm e também as formas com
que você pretende financiar o projeto. Na parte de receitas, também é importante
colocar como você pretende ganhar recursos com suas webséries. Seja com a
venda direta ou com produtos relacionados.
50
bioterroristas, grupos de sobreviventes tentam se reorganizar para entender o que
aconteceu.
51
Vale aqui mais uma dica. Por mais que acreditamos que nossas idéias são as mais
incríveis e rentáveis do mundo, pode ser que o público em geral não ache a mesma
coisa... Por isso teste muito seu modelo antes de sair produzindo ou enviando para
algum investidor. Crie pilotos, converse com possíveis consumidores, parceiros e
fornecedores e a partir dos dados colhidos ajuste seu modelo até que ele esteja
consistente o suficiente para transformá-lo em realidade.
52
assunto o suficiente a ponto de justificar uma produção. Coloque post
its para cada personagem e conflito que deseja trabalhar.
53
Equipe: Trabalhar com uma equipe reduzida é ao mesmo tempo fácil
e difícil. Fácil porque temos um menor custo e uma maior facilidade
de comunicação entre os membros, o que garante maior agilidade no
processo. Por outro lado é mais difícil porque acaba que todos têm
que acumular funções. A dica aqui é não extrapolar. Se você tem uma
equipe pequena, não tente fazer uma megaprodução que não vai dar
certo. Adapte sua produção a sua equipe e assim você nunca terá
surpresas desagradáveis. Veja no próximo quadro uma equipe ideal
para começar os trabalhos.
Estrutura de custos: Aqui temos que ser bem honestos e justos. Não
adianta colocar despesas que serão impossíveis de serem cobertas.
Seja realista e adapte-se a realidade para que sua produção não vá
por água abaixo.
54
Receitas: Tenha em mente de onde virão os recursos para a
realização de sua produão. Será patrocínio direto? Via Lei de
Incentivo? Ou você vai bancar do próprio bolso. Não importa. O que
você tem que ter em mente aqui é que para fazer um produto
audiovisual gasta-se dinheiro e por isso temos que ter
responsabilidade. Pode-se colocar aqui também uma estimativa de
ganho com venda de produtos relacionados à webséries ou até
mesmo colocar formas monetizadas para visualizar os episódios.
55
O Portal Webseriados.
56
Visite a página do autor
www.gutoaeraphe.com.br
57
58