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"' STE número da REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICí-

E PIO~ ~ ~nteiram~n~e dedicado ao H_ Congre.sso Nacion~l d~s


Mumctptbs Brastletros, levado a efetto na ctdade de Sao Vt-
cente (São Paulo), em outubro de 1952. Constitui- e êste é o obje-
tivo a que visamos - um documentário quanto possível completo
sôbre aquêle memorável encontro de líderes municipalistas. Des-
tinamos, por isso mesmo, largo espaço em nossas páginas ao noti-
ciário referente às atividades do Congresso, divulgando as con-
clusões aprovadas, bem assim, na íntegra, as Resoluções decorren-
tes dos debates verificados em plenário. A êste farto noticiário jun-
tamos algumas das teses apresentadas, escolhidas dentre as que
focalizaram temas doutrinários e problemas de maior atualidade
e de interêsse geral.
Justifica-se evidentemente a iniciativa dêste número especial,
em vista mesmo da importância de que se revestiu o Congresso
de São Vicente, cujos resultados foram, sem dúvida, os mais ex-
pressivos, uma vez que se confirmou o êxito alcançado na reu-
nião anterior, realizada em Petrópolis, de modo a ficar demons-
trada a conveniência de tais empreendimentos, que põem em mar-
cha a idéia municipalista. É de ver que cêrca de 2 000 pessoas
participaram do li Congresso, dando execução a um plano de tra-
balhos cujo alcance não se faz preciso acentuar. Contudo, vale
a pena ressaltar, como produto de um alto esfôrço construtivo, a
renovação da Carta dos Municípios, atualizada em !relação às
necessidades e conveniência do meio, de acôrdo com o que reco-
mendava a experiência. A reforma dos Estatutos da Associação
Brasileira dos Municípios foi outra tarefa que se ficou a dever ao
Congresso de São Vicente - reforma que se fazia necessária.
Afora a matéria r~lacionada com o referido Congresso, divul-
gamos algumas das secções habituais, a fim de não alterar de
todo a feição habitual da REVISTA. Ademais disso, publicamos
a parte final do quadro das áreas municipais, de acôrdo com a
divisão vigente na data do Recenseamento Geral de 1950.
Ano V 11 OUTUBRO- DEZEMBRO DE 1952 11 N.o 20

O li CONGRESSO NACIONAL DOS


MUNICÍPIOS BRASILEIROS

o PLENÁRIO do I Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros, realizado em abril


de 1950, em Petrópolis, deliberou escolher São Vicente para sede do 11 Congresso.
Essa preferência foi determinada por motivos históricos: São Vicente é considerada
pelos estudiosos da História do Brasil a "cellula mater" das Municipalidades Brasileiras.
Coube, aliás, à própria Delegação da Câmara Municipal de São Vicente, então presidida pelo
Sr. ANTÔNio BUENo CAPOLUPo, formular, com os Vereadores FERNANDo MARTINS LICHTI e
CAMILo TADEU, o pedido oficial naquele sentido ao citado Plenário.
As demais Delegações aprovaram a indicação por maioria de votos, apesar de outras cidades
brasileiras, igualmente tradicionais, como Olinda, Recife, Salvador, Ouro Prêto, Pôrto Alegre-
para mencionar apenas algumas - disputarem a honra de servir de sede à reunião de delegados
dos Municípios de todo o Brasil.
As atividades do li Congresso foram iniciadas com a organização e composição das seguin-
tes Comissões: a) Comissão Organizadora; b) Comissão Executiva e Direção Executiva do
Congresso.

COMISSÃO ORGANIZADORA

A Comissão Organizadora compunha-se dos seguintes elementos: Dr. RENÉ PENA CHAVES,
Presidente de Honra da Associação Brasileira dos Municípios; Dr. RAFAEL XAVIER, Presidente
da Associação Brasileira dos Municípios; Dr. JosÉ CIRILo, Presidente da Associação Paulista
de Municípios; Deputado NÉLSON OMEGNA, Diretor Exec'utivo da Associação Brasileira de Muni-
cípios; ANTÔNIO LÚCIO, Conselheiro Fiscal, de Santa Catarina; OSÉAS MARTINS, Conselheiro
da Associação Brasileira de Municípios e pela Associação Amazonense de Municípios; LAURo
BoRBA, pela Associação Pernambucana de Municípios; AMÉRICa BARREIRA, Conselheiro da
Associação Brasileira de Municípios e pela Associação Cearense de Municípios; e DoMINGOS
CARMELINGO CALÓ, Prefeito Municipal de Ourinhos, São Paulo.

Ü MANIFESTO

A Comissão Organizadora lançou, inicialmente, o seguinte manifesto:


"A Comissão Organizadora do li Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros tem a honra de convocar
os Prefeitos e Câmaras de Vereadores de todo o País para que participem da nova Convenção Municipalista a
ter lugar em São Vicente, no Estado de São Paulo, a 12 de outubro do fluente ano.
Quantos vêm estudando e sentindo os problemas. da polftica nacional são unânimes em reconhecer que, em
virtude de um secular processo de centralização administrativa, restou ao Município quinhão modestíssimo na
partilha das responsabilidades e recursos para. dar cumprimento aos mais comezinhos deveres, no sentido de atender
aos peculiares interêsses dos Municípios. A cruzada pelo fortalecimento da vida municipal, que já tem uma longa
história literária, começou a consolidar-se em movimento de feitio e fins mais objetivos com a elaboração da Carta
Constitucional de 1946, e com as campanhas que se promoveram através dos Congressos regionais e do magno
conclave nacional de abril de 1950, em Quitandinha.
Decerto não há porque paralisar a arrancada dos defensores da autonomia e da revitalização municipais.
Alguns frutos se colheram daqueles primeh os Congressos.
O melhor dêles foi a consciência do problema inculcada no plenário das Câmaras Municipais e no ânimo
dos Prefeitos, em virtude da visão panorâmica das possibilidades e necessidades das Comunas nacionais, ofere-
cida nos Congressos passados. Depois daqueles encontros principiaram os Municípios a agir na defesa de seus
direitos e na elaboração de seus códigos, com muito mais vigor e convicção.
As estatísticas patenteiam um crescimento inconteste nas colunas definidoras da arrecadação municipal,
por fôrça da deliberada vontade dos Prefeitos e Vereadores em erguer a vida da comunidade a nível mais digno.
Após os Congressos iniciam-se em numerosas Prefeituras trabalhos de planejamentos administrativos e a
codificação da legislação municipal, incorporando, com leis, decisões decorrentes de estudos e debates daqueles
plenários.
Outro fruto colhido na Campanha é a manifesta boa vontade das esferas governamentais por tudo quanto
interessa ao progresso municipal. Transitam pelo Parlamento inúmeros projetos de lei. cuja inspiração procede dos
Congressos já realizados, tais como o que obriga as Caixas Econômicas e outras autarquias a financiarem obras
públicas municipais, o que distribui aos Municípios lO% do impôsto de consumo para fomento da lavoura; o que

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obriga a participação do Govêrno Municipal na elaboração de contratos dos serviços públicos de luz e energia
elétrica; o que faz obrigatório o pagamento das consignações orçamentárias da União destinadas às instituições
assistenciais do País - e outros mais.
A própria defesa dêsses projetos de lei, o interêsse da opinião pela sua aprovação, e a definição de recomen-
dações outras a serem fixadas e conquistadas, a convocação da opinião nacional para a causa do Município amea-
çada com uma reforma constitucional que se pronuncia no panorama da política brasileira, impõem a congre-
gação dos Prefeitos e Vereadores em novo conclave.
Ademais, com a renovação dos quadros administrativos dos Municípios, com a eleição de novos Prefeitos
e Vereadores, muitos dos quais estranhos aos movimentos do passado, tornou-se de tôda conveniência a presente
deliberacão de promover-se o 11 Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.
A Comissão Organizadora confere aos companheiros da Associação Paulista de Municípios os poderes para
executar todos os trabalhos preparatórios daquele Congresso e promover os meios para que a reunião de São
Vicente venha a ser altamente benéfica à existência dos Municípios do Brasil 1 bem como à revitalização do Movi-
mento Municipalista.''

REGIMENTO INTERNO

Foi o seguinte o Regimento Interno que regulou o funcionamento do Congresso:


c: Art. 1.0 - O II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros tem por fim o estudo objetivo:dosjproblemas
municipais, de modo a ser fixada urna diretriz uniforme ao encaminhamento e solução dos ass'..lntos vitais para
o progresso do Município.
Art. 2. 0 - São membros natos do Congresso:
a) os Prefeitos Municipais ou seus representantes autorizados desde que integrantes de sua administração;
b) as Câmaras Municipais, por delegação de Vereadores devidamente credenciada;
c) uma delegação da Associação Brasileira dos Municípios;
d) uma delegação das associações congêneres regionais, círculos de estudos municipais e Conselhos Perma-
nentes dos Congressofj de Câmaras e Prefeitos dos Estados;
e) os membros da Comissão Organizadora dêste Congresso;
§ 1. 0 - Podem, igualmente, considerar-se me1nbros do Congresso, parlamentares, Vereadores ou estudiosos
de problemas municipais que tenham enviado, antecipadamente, contribuição escrita sôbre qualquer dos assuntos
do Temário, bem como representantes de órgãos federais e estaduais que tratem de problemas de interêsse para
o Município e os membros da Comissão Executiva.
§ 2. 0 - Os elementos referidos no parágrafo anterior, bem como as delegações previstas nas alíneas c e
d não têm direito a voto, podendo, entretanto, discutir os problemas em debate.
Art. 3. -0 As teses a serem apresentadas deverão versar sôbre os seguintes assuntos:
I - Direito Municipal: Legislação tributária; O ensino do Direito e da Ciência da Administração Muni-
cipal; Leis orgânicas; A codificação como meio de eficiência administrativa; Princípios, direitos e reivin-
dicações municipais.
II - Economia Municipal: Organização agrária; Organização racional da produção; Escoamento da produção;
Armazéns reguladores e entrepostos agrícolas; Bancos municipais; Cooperativas; Energia elétrica; Imi-
gração e colonização; Migrações internas; ~xodo rural.
III - Assistência Social: Ensino primário; Ensino profissional rural; Assistência médica, dentária e farmacêu-
tica; Habitações populares.
IV - Planejamento Municipal: Organização administrativa; Planejamento econômico, financeiro e social;
Urbanismo; Planejamento e execução de serviços públicos municipais; Convênios e acordos interadmi~
nistrativos.
V - O Município e a Reforma Constitucional.
§ 1. 0 - Não será permitido o uso da palavra aos congressistas para quaisquer moções, requerimentos, indi-
cações, discursos ou comunicações estranhos ao Temário.
§ 2. 0 - Todo trabalho apresentado deve terminar indicando, de modo claro e preciso, as conclusões do
estudo.
Art. 4. - Os congressistas providenciarão a entrega à Comissão Organizadora dos trabalhos que, em forma
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de tese ou de memória, queiram enviar aos debates do Congresso, de conformidade com o Temário a que se refere
o Artigo 3.o dêste Regimento. Esta entrega deverá ser feita, pelo menos em três vias, até trinta dias antes da
data da instalação do Congresso.
Art. 5.0 - O Congresso será dirigido por um Presidente, quatro Vice~Presidentes, 1.0 , 2 o, 3. 0 e 4.o Secretários
e quatro Suplentes de Secretários, escolhidos por eleição.
Art. 6. 0 - Nos três dias que antecederem à sessão preparatória prevista no Artigo 7. 0 dêste Regimento,
deverão ser entregues, pelos representantes municipais - Prefeitos e Câmaras de Vereadores - as respectivas
credenciais à Secretaria da Comissão Organizadora, que as verificará e registrará para os fins de direito.
Art. 7. 0 - Na véspera da instalação do Congresso, será realizada uma sessão preparatória para eleição da
Mesa e outras providências de caráter urgente.
Parágrafo único - Esta sessão preparatória será inicialmente presidida pelo Presidente do I Congresso
Nacional dos Municípios Brasileiros, que convidará dois congressistas para servirem como Secretários.
A seguir, o }.o Secretário lerá os nomes dos Municípios que estão representados no Congresso, tendo em
vista o registro das respectivas credenciais. Proceder~se-á, após, à eleição da Mesa. Escolhido o Presidente,
será êle empossado, dando posse, por sua vez, aos demais membros da Mesa eleita.
Art. S.o - Em seguida à posse da Mesa, o Presidente designará as Comissões Técnicas do Congresso, segundo
as inscrições prêviamente feitas.
§ 1.0 - As Comissões Técnicas serão tantas quantos os itens do Temário, e mais uma, de Redação Final.
§ 2. 0 - Haver9., também, uma Comissão Técnica Coordenadora, composta de elementos indicados pela
Associação Brasileira dos Municípios, à qual incumbe fazer a classificação dos trabalhos recebidos, segundo os
itens do Temário, bem como, em contacto com as Comissões Técnicas, coordenar as atividades gerais do Con-
gresso e preparar a coordenação geral da matéria aprovada.
§ 3. 0 - Cada Comissão terá um Presidente, dois Vice-Presidentes, um Secretário, um Relator-Geral e tantos
Relatores quantos forem os itens do Temário a ela correspondentes.
§ 4.0 - Competirá a cada Comissão dar parecer sôbre as teses ou trabalhos que lhe sejam distribuídos.
§ S.o - O Relator-Geral coordenará a opinião dos men1bros da Comissão, consubstanciada nos pareceres
dos Relatores, e elaborará o relatório geral a ser levado ao plenário, como base para a discussão.
§ 6.0 - O parecer terá duas partes: uma expositiva, de relatório dos trabalhos da Comissão, com explanação
e exame do assunto; e outra, de conclusões, apresentadas em forma articulada, de modo a poder figurar nas con ..
clusões gerais do Congresso.
§ 7.0 - Cada Comissão poderá subdividir-se em Subcomissões.
§ 8. 0 - A Conlissão de Redação Final terá a incumbência de elaborar as conclusões finais do Congresso
de acôrdo com o vencido aprovado pelo plenário.
Art. 9.o - Cada Comissão Técnica elegerá um Presidente, dois Vice-Presidentes e um Secretário. A seguir,
fará a designação do Relator-Geral e dos Relatores previstos no parágrafo 3. 0 do Artigo 8. 0 •
Parágrafo único - Os trabalhos da Comissão obedecerão ao seguinte processo: recebidas as teses ou memórias,
o Presidente distribuirá ao Relator designado. Discutido e aprovado o parecer, o Relator-Geral elaborará um
parecer gerei, na forma prevista no Artigo 8. 0 , parágrafo 6.0 , dêste Regimento, a fim de ser submetido a plenário.
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Art. 10 - Realizar-se-ão tantas sessões plenárias quantas sejam necessárias aos debates dos assuntos em pauta.
§ Lo - Aberta a sessão pelo Presidente, ou, em sua falta, por seu substituto, será lida, pelo 2.o Secre-
tário, a ata da sessão anterior, ap6s o que o 1 ° Secretário lerá o expediente que houver; em seguida passar-se-á à
ordem-do-dia.
§ 2.o - A ordem-do-dia terá a seguinte marcha! o 1.0 Secretário anunciará os temas a serem debatidos,
de acôrdo com os pareceres das respectivas Comissões, que serão lidos por seus Relatores-Gerais; finda esta leitura,
começará a discussão das conclusões, uma a uma, podendo cada congressista falar no máximo cinco minutos,
sôbre a matéria, e o Relator-Geral, dez n1inutos, encerrando os debates; as emendas apresentadas serão também
postas logo em discussão, ouvido o Relator~Geral da respectiva Comissão, com as conclusões a que se referilem;
proceder-se-á, a seguir, a votação de cada conclusão ou das conclusões em globo, se assim fôr requerido, seguindo-se
a votação das emendas, caso não estejam prejuaicadas com a aprovação da conclusão; finda a votação a matéria
aprovada será encaminhada à Comissão de Redação Final para a elaboraçã_o das conclusões do Congresso
§ 3 o - O representante do Poder Executivo municipal e o da Câmara Municipal terão direito a um voto
cada um; quando houver representação coletiva, esta prêviamente indicará o congressista que terá direito a voto.
§ 4. 0 - Não se.rá permitida a representação ou voto por procuração.
§ 5. 0 - Os membros da Comissão Organizadora terão direito a voto.
Art. 11 - As sessões plenárias terão a duração de três e meia horas, podendo, entretanto, ser prorrogadas,
até o máximo de mais uma hora, a requerimento de qualquer congressista e aprovação da Casa. Poderão~ igual-
mente, ser convocadas, pela Mesa, sessões extraordinárias, se assim se tornar necessário para ultimar-se a d is-
cussão ou votação de qualquer matéria.
Art. 12 - Haverá duas sessões solenes: a de abertura do Congresso e a de encerramento.
Parágrafo único - As sessões de abertura e de encerramento constarão de prog1 amas a serem elaborados,
o primeiro, pela Comissão Organizadora, e o segundo, pela Mesa do Congresso.
Art. 13 - As votações em plenário e nas Comissões serão feitas pelo sistema simbólico, sendo o resultado
anunciado pelo Presidente.
Parágrafo único - Qualquer congressista poderá pedir verificação de votação quando o resultado procla-
mado não lhe pareça exato; proceder-se-á à chamada nominal dos congressistas, que votarão sim ou não
Art. 14 - A Comissão Organizadora pleiteará da Associação Brasileira dos Municípios a organização da
Secretaria do Congresso, prevendo nela a exjstência de Assessôres para as Comissões e Subcomissões Técnicas.
Art 15 - Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora durante o período preparatório
do Congresso, e pela Mesa, em recurso ao plenário, quando êste já estiver reunido.
Art. 16 - Os Municípios contribuirão, para atender às despesas do Congresso, com uma taxa de adesão de
Cr$ 1 000,00, para os do Interior, e de Cr$ 5 000,00 para os de Capital.
Parágrafo único - A adesão ao Congresso implica a aceitação dêste Regimento.
Art. 17 - A Comissão Organizadora fica investida de plenos poderes para promover tôdas as medidas recla-
madas para a boa realização do Congresso, bem assim para adotar providências visando ao perfeito andamento
dos trabalhos previstos; para êsse fim poderá dirigir-se às autoridades federais, estaduais e municipais, tomar
deliberações, baixar recomendações, designar subcomissões cooperadoras etc."

SESSÃO PREPARATÓRIA

Não obstante ainda estarem chegando delegações que iriam participar do II Congresso Nacional dos Muni ..
cípios Brasileiros, realizou-se a sessão preparatória no dia 11 de outubrc
Grande número de convencionais, parlamentares federais e estaduais, Prefeitos e autoridades, além de altos
representantes do 1\1unicipalismo brasileiro, entre os quai.~ o Sr RAFAEL XAVIER, Presidente da A B M , e o
Deputado NÉLSON ÜMEGNA, que presidiu o I Congresso, compareceram à sessão preparatória, efetuada na vés-
pera da instalação dos trabalhos

ABERTURA DOS TRABALHOS

Abriu a sessão o Sr. NÉLSON ÜMEGNA, que convidou para sec:retariá-la os Srs. MANUEL DIÉGUES JÚNIOR,
do I.B.G.E., e SAMUEL CASTRO NEVES, Prefeito de Pi1-acicaba
Constituída a Mesa que dirigiria os trabalhos preliminares, pronunciou, então, o Deputado NÉLSON ÜMEGNA
a seguinte oraçR.o:
"Por imperativo de nosso Regimento Interno, cabe-me a alta honra de proferir a palavra de convocação
aos trabalhos dêste colendo e magnífico Congresso municipalista. E levantando-Ine perante a vossa desvane~
cedora presença, neste instante, depo!s de dias de labuta no preparo dos trabalhos que agora se inauguram, lamento
não ter tido um instante de calma para reflexão daquilo que devo dizer nesta alta tribuna, de onde descortino
a Pátria interna. No anseio de seus homens, na angústia de seus batalhadores, no cenário de seus idealistas,
na ação de seus palaainos; lamento que o faina de hoje não me tivesse reservado um minuto sequer para que pu-
desse transmitir, de meu coração ao vosso coração, o recado do meu orgulho e da minha crença, orgulho pela
alta compreensão dos patrícios, no chamado a encargos nas Câmaras e nas Prefeituras, nas Assembléias Legis-
lativas e nos Executivos Estaduais e nas Câmaras legislativas federais e da própria Presidência da República,
alta compreensão para êsses problemas municipais, que são realmente pela sua conjunção e pela sua soma uma
cordilheira imensa que estamos tentando superar e vencer para colocar sôbre a escadaria dessa série de dificul~
dades e obstáculos, a bandeira de nossa vitória e do nosso triunfo de patriotas de coração decidido a servir o
Brasil servindo a comunidade
Estamos na vigília de uma grande arrancada. O nervosismo dêsses instantes traduzidos, às vêzes, com
palavras e atitudes veementes, o nervosismo dêsses instantes não é senão a derivação daquele ardor que arrancou
o homem lá do alto do Guaporé, que trouxe para aqui o amazonense, que para aqui trouxe a representação do Pará,
de Mato Grosso, de Goiás, do Rio Grande do Sul, de Alagoas e do Nordeste todo, de todo o Centro e de São Paulo
que aqui está.
Estamos numa grande vigília, dentro de um grand-= cenário. Parece que a ornamentação desta casa mesma,
feita de palmas e bandeiras desfraldadas, constitui como que uma bênção da Pátria sôbre aquêles que ao seu ser-
viço esquecem outros compromissos e outras obrigações, para virem aqui escrever o catecismo e o programa de
salvação brasileira pelas reivindicações municipalistas.
Estamos aqui como em vigília de uma grande arrancada. E que cenário esplêndido êste que São Vicente,
a "cellula ma ter", nos oferece. Houve um instante em que o Brasil foi São Vicente, a única organização polí-
tica do continente português na América, justamente aqui implantado pela fé e pela bravura de MARTIM AFONSO
e seus dignos companheiros.
Repetimos neste momento hist6rico a síntese histórica: o Brasil está de novo conciso em São Vicente, para
servir a causa de homens vindos de tôdas as classes tangidos por tôdas as aspirações, convictos de tôdas as ban-
deiras, de todos os credos e ideologia, mas unidos neste denominador-comum magnífico que nos conduz realmente
a uma grande unidade - a crença dos brasileiros pelo serviço e ainda a serviço oo povo que vive nas Comunas
brasileiras.
Meus amigos, eu lamento não ter tido tempo para um instante de reflexão e foi bom que não tivesse tido,
porque o desejo de vos falar, de vos comunicar a emo!:ão que me vai na alma, levar-me-ia a longo discurso.
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Antes de dar início aos trabalhos do Congresso, cabe-me como Presidente desta sessão -prévia dizer uma
bonita palavra de gratidão e agradecimento aos que fizeram esta obra, aos que nos convocaram aqui. Quero
dizer, perante o espetáculo magnífico que esta sessão oferece, ao digno Presidente da Comissão Executiva prepa-
radora do II Congresso Nacional dos Municípios, o Sr. LouREIRO JúNIOR, e a êsse grande servidor do Munici-
palismo no Brasil, que é o nosso modesto mas excelente e poderoso companheiro NABOR MANGA, uma palavra
de agradecimento pelo muito que fizeram, e êles fizeram isso trazendo todos a esta reunião.
Segundo as determinações regimentais, vou convidar o Secretário da Mesa a proceder à convocação nominal
dos Municípios representados nesta reunião prévia, dando a oportunidade a que com ordem façam as suas ins-
crições os Municípios que porventura deixaram de realmente fazer por qualquer deficiência do serviço ou por
terem chegado realmente em cima da hora."
Feita a chamada dos Municípios participantes do Congresso, o Vereador NÉLSON BORGES DE BARRos, de
Campo Grande, Mato Grosso, indicou o nome do Sr CHARLES DE SousA DANTAS FORBES, Prefeito de São Vi-
cente, para Presidente do Congresso. A proposta foi aprovada por aclamação.

COMPOSIÇÃO DA MESA

Por proposta do Vereador ANIS BADRA, representante de Marília, foi aclamada a Mesa, que ficou assim cons-
tituída: Vice-Presidentes: OSÉAS MARTINs, do Amazonas; ]ORCE QUINTELA CAVALCÂNTI, de Alagoas; MÁRIO
CAMAR('.O, do Paraná; e ANTÔNIO LoMANTo JúNIOR, da Bahia; Secretários: ANTÔNIO JoRGE AcHUTT, do Rio
Grande do Sul; HERCÍLIO DEEC"r(E, de Santa Catarina; BENTO FERREIRA DE CARVALHO, de Pernambuco; e FLO·
RISBELO NEVES, do Espírito Santo; Suplentes de Secretário: JoAQUIM NuNES ROCHA, de Mato Grosso; LUCIANO
MAr.ALHÃES, do Ceará; JoÃo DE PAULA TEIXEIRA FILHo, de Goiás; SAUL A VELAR, do Rio de Janeiro; e IsMAEL
NETO, de São Paulo.
0 Sr NÉLSON 0MEr.NA convidou o Sr. CHARLES ALEXANDER DE SOUSA DANTAS FORBES, Prefeito Muni-
cipal de São Vicente, a assumir a Presidência do Congresso Já em seu pôsto, o Presidente eleito convocou os
demais membros da Mesa, empossando-os a seguir.
Em breves palavras, o Sr CHARLES FoRBES agradeceu a homenagem de que fôra alvo con1 a escolha de seu
nome para presidir o Congresso
O Sr. RAFAEL XAVIER, antigo titular da Secretaria-Geral do C N E , n1ereceu do plenádo significativa moção
de reconhecimento pelos serviços prestados à causa, sendo aclamado Presidente de Honra do Congresso. Igual
distinção foi conferida aos Srs. NÉLSON 0ME~NA, JosÉ CIRILO e FRANCISCO Luís RIBEIRO.
O Sr FREDERICO ZAMPO propôs fôssem as delegações dos Poderes Legislativo e Executivo federais e estaduais
consideradas membros natos do Congresso; e o Sr ARsÊNro PEREIRA DA Cos'l'A sugeriu que tomasse assento à
Mesa uma Vereadora do Ceará, prestando, assim, homenagem à Mulher Brasileira Ambas as indicações foram
aprovadas
Em seguida, foi eleito o Sr. EMÍLIO ABDON PóvoA, Prefeito de São Lourenço, orador oficial para responder
à saudação da Mesa aos congressistas, por ocasião da instalação do Congresso.

SESSÃO SoLENE DE INSTALAÇÃO

A instalação do Congresso verificou-se no dia 12 de outubro, domingo, no recinto do antigo Cassino da Ilha
Porchat Além dos Srs. GETÚLIO VAR<OAS, LUCAS NOGUEIRA GARCEZ, JoÃo CARLOS VITAL, Prefeito do Distrito
Federal, e ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA, Prefeito de São Paulo, compareceram à sessão de instalação, os Srs.
Senadores CÉSAR LACERDA VERSUEIRO e FRANCISCO GALLOTTI, os Deputados ASDRÚBAL DA CUNHA, LINCOLN
FELICIANO, CUNHA BUENO, AURO DE MOURA ANDRADE, ANTÔNIO FELICIANO, NOVELLI JÚNIOR, CÁSSIO CIAM·
POLINI, AMARAL FURLAN e SAL'IADO SOBRINHO, Desembargador FLORÊNCIO DE ABREU, Presidente do l.B.G.E.,
JoÃo PINHEIRO FILHO, Presidente do Conselho Nacional de Economia, BENJAMIM SoARES CABELLO, Presidente
da C O F.A.P., RAFAEL XAVIER, Presidente da Associação Brasileira dos Municípios e Diretor-Executivo da
Fundação Getúlio Vargas, OLIVEIRA CoSTA, Secretário da Educação, ANTÔNIO CARLOS CARDoso, Secretário
da Saúde, MÁRIO BENI, Secretário da Fazenda, PACHECO E CHAVES, Secretário da Agricultura, ADEMAR DE BARROS
ex-Governador do Estado de São Paulo, General CAIADO DE CASTRo, Chefe da Casa Militar da Presidência da
República, Brigadeiro ARMANDO ARARI'1BOIA, Comandante da Quarta Zona Aérea, Deputados NÉLSON OME'INA,
RUI RAMOS, EUZÉBIO ROCHA, RUBENS FERREIRA MARTINS, PAULO LAURO, SALES FILHO, ATIÊ JOR'1E COURY,
FRANCisco Lufs RIBEIRO, Prefeito de Santos, RENATO DE ARAÚJO FEIO, Diretor da Estrada de Ferro Santos·
Jundiaí, Coronel MILTON CEZIMBRA, representante do Comando da Segunda Região Militar, e outras desta~
cadas personalidades.

DISCURSO DO SR. DANTAS FORBES

Em nome da Municipalidade de São Vicente, saudou ao Presidente VAR'IAS o Prefeito CHARLES ALEXANDER
DE SousA DANTAs FORBES, a quem coube igualmente dar as boas-vindas a todos os congressistas Passando ao
mais alto magistrado da Nação a direção do C~ngresso e fazendo~lhe a entrega de um medalhão representativo
do brasão do Município, assin1 falou o Prefeito de São Vicente:

"Nada podia ser mais grato ao povo de São Vicente que a realização do II Congresso Nacional dos Muni-
cípios Brasileiros dentro de suas fronteiras.
Tal escolha significa para esta boa e ordeira população um dos maiores prêmios pela luta anônima, constante
e heróica, no sentido de conservar para o Brasil e para os brasileiros êste monumento histórico que é São Vicente,
berço da nacionalidade, origem da Pátria e documento vivo do esfôrço de nossos antepassados, homens de têm-
pera rija e espírito arrojado, que, partindo desta pequena célula, "cellula mater'', souberam construir esta grande
Pátria que é a nossa.
Prêmio para São Vicente é poder receber, como hoje recebe, brasileiros de todos os quadrantes, represen-
tantes de quase todos os Municípios e, mostrando-lhes, quase religiosamente, os marcos mais antigos de nossa
história, os primeiros sinais de uma civilização que aqui se iniciou, afirmar, de fronte erguida, como depositârio
Ntt sessão inauJluraf, falou o Sr. Presidente da Repúôlica

f iel que foi: eis aqui os te$Ouros que me foram c-onfiados. e is aqui o fogo sagrado do amor à .t-'6tna. que sempre eon •
scrvci aceso, esperando a volt.a daquelc:s que par-tira1n para a grande mi$$3o de construir uma naç3o e que hoje
regressam em esp!rito, no corpo de seus descendentes.
Cong re-ssistas. brasileiros de todos os Estadost em nome do povo de S ão Vicente, dou·vOS os votos de bo:\s·
.. vindas, afirmando, de COC"aÇA:>, que aqui se.-eis t.ratarlos como bons irmãos e que a cidade se ufana de seus hós·
pede.,, nada mn.is desejando, além da oportunidade de pode.r demonstrar a sinceri<!adc: do sentimento de cordial
amizade que avas&-alou a todos e a cada um dos vicentinos.
Sêde benvindos a S!\o Vicente, Senhores Congressistas.
Exc•lentlssimo Senhor Presidente da República:
Coisa alguma poderia ser m elhor ou mais perfeita para coroar o júbilo desta p opulação, que a presen'a ele
Vossa E xcelência em São Vicente.
Dá Vossa Excel~ncia, com esta honrosa e dignificante visita. a oportunidade de podermos nós, os vicentinos,
demonstrar o qunnto estimamos o nosso grande Presidente e o quanto admiramos a obra do odministrndor c
estadista ímpar. cujo benl:fico e clarividente Govêrno tanto nos tcrn ajudado para o J>rogresso dêste Municipio.
Saúdo t a mbêm a Vossa E xcelencia , Senhor Presidente da República, em nome de todo o povo de São Vi-
cente, e no 1ne u próprio, reAfirmando que a presença de Vossa Excel€.ncia, nesta cidade, passa a ser mais um marco
notável na hist6da de n ossA c idade.
E, pnra comemorar ~.ste tão auspic-ioso evento, Senhor Presidente, se Vossa E xcelência. assim o permitir ,
sentir· me.ei muito h o nrodo e comigo todo o povo d e São Vicente, e1n colocar na lapela de Vossn E xccl6ncia o
brasão de nossa c i<la<le. numa eimples, mas sincera e leal demonstração c.lo afeto, da a.dmiraçAo e do r eS J')eito que
todos devotamos a Vossa Excelência, grande President e de um g rande povo.''

DISCURSO DO SR. All!:>CN PÓVOA

Em no m e <los cong•-essistas , o Vereadcr EMÍLIO ABDON PóvoA, representante do Munic!pio de São Lou-
renço, ngrndeceu a saudação c.la Mesa·Diretora, proferindo o se~uintc discur3o:
''Sinto· me prorundomente emocionado com a honra insig ne que me fo i conferida de tradu~dr os sentim~ntos
e o pensamento dos Prereitos e Vereadores do BrasiL
Bem compreendo a responsabilidade d e interpretar e transmitir o reconhecimen to dos M unic:fpin.s brasileiros
ao nobre e tradicional Município d e S ão Vicente, na pessoa de seu ilustre Prefeit!), Or. CHARL ~S ALEXANPJo:R
DE SOUSA DAr<TAS FORDES.
E stamos vivendo uma das horas culminantes do Movi mento Municipalista Brasileiro. ~sle é, na verdade ,
um movimento decisivo, o ponto culminante de um grande esfôrço de organização, traduzido na reunião de: bra·
sileiros <te todos os recantos, nesta bela c acolhedora c:dade.
Considero a escolha de meu ntodesto nome: para missão de t amanha magnitude como uma homena~em ao
M uniclpio de Silo Lourenço. que a aceitou com justiricado org ulho-
Assim, não obstante A humildade d e minha pOsição, encontro estímulo e coraRem bastante para a tarefa
que m e foi confiada. Scja·me permitido declarar, desàe já, ao povo de Sito Vicente, que todos nós os Congrcs·
si.stas estamos plenamente satisfeit os com a r ecepção que nos foi proporcionada. Queira, portanto, o ilustre
Prefeito de São Vicente aceitar a nossa homenagem e os nossos sinceros agradecimentos.
C ompare<"emos a São Vi~ente cheios de fé e entusiasmo, co ntribuindo, nos limites de nossos possibilidades,
para o êxito d~te ma.:no condavc. .
Aqui estamos para dinamizar o M ovimento Municipalista. para imprimir-lhe nova orientação, para definir
as respon3abilidadc:s que, de ora em diante, pesarão sôbre os ombros de cada um dos que oqui se encontram .
Ta:lvez nao seja esta a hora mais apropriada para o exame, análise aprofundada ôas origens do desenvolvi-
mento e da 'ituaçio atual do Movimento Municipalista Bragileiro. Essa é matéria n ser e~austivamente deba-
514 REVISTA l3nASILEmA DOS MuNJcJPIOS

O Prefeito Alexttnder Forbes, Presidente do Conaresso, Mudou o Chefe d11 Naçiio .

tida nos próximos dias, no deeON'er dêste Congresso. Vozes mais autorizadas e eloqUent es do que a minha saberão
definir com propriedade os aspectos mai$ significativos d~sta gra nde obra de transfOC""mação nacional, cujos bené·
ficos efeitos já se fazem sentir em todo o Pa!s. Cabe-me apenas dizer que desde TAVAR2S BASTOS, passsndo
por Rut BAROOSA, at~ os dias de hoje, com a figura singular de R AFAEL XAVIER, milh~s de brasate1ros v<Xm
no Muniripalismo o ponto de partida e a base do desenvolvimento geral da N atão.
A renovação da vida municipal nos moldes estabelecidos na Carta de PrineípiOJ, Direitos e Reivindicações,
elaborada em Pet,r6polio, prossegue vigorosamente e não há fôrça capaz de d et er ~e m ovimento. As idéias
norteadoras do Municiru1.Jismo estão, pois, pràtie-am.ente -.ritoriosas.
O M u;licipalismo é hoje patrimônio nacional e denominado["-comum das aspirações de todos os brasileiros.
:1!: preciso, portant<>, que êle se transporte do texto da Constituição, Leis Orgânicas e Contribuições Culturais de
t-Antos ensalstas, pensadores políticos e sociólogos eminentes, para o plano das r ealizaçlSea concret~ts, para a te.r ra
firme dos fatos. Chegou a hora de tr3duzir, em termos de projetos c orçamentos? êsse not6vel c·o njunto de dou·
trinAS.
Uma das principais r esponsabilidades dêste Congresso é promover o ajustamento do Movimento ao quadro
das realidades polfticas, sociais, econômicas e administrativas da Nação - uma concretização quanto antes dos
objetivos c.la Campanha Municipalista.
N este Congres:so de São Vicente, deverá ser fixado o papel de cada pessoa~ 6rgllo, instituiçoão pública ou par-
tiçuiAr, com responsabilidAdes definidas no Movimento Municipatista. :1!: preciso que as palavr as aqui pro·
nunciadas encontrem reuonância no Brasil inteiro, da Amazônia ao H io Grande do Sul, de Pernambuco ao Guaporé.
~ preciso que QS discussõee, estudos e debates de São Vicente não se dispersem no ar. mas repercutam pelo Brasil
arora. atingindo rnesmo os mais longínquos d istritos e povoados.
aste Coni:rCSSO vale com o um comprcnnisso de honra no sentido de concretizar as aspira~ões locai~. Pro·
ponho mesmo, ern nome do Município de São Lourenço, que o Ill Cong resso N acional dos Municípios seja, t)rin-
cipalmente, u1n Congresso de prestaç~o de contas, de balanço geral das reali zações e fetuadas.
A êste respeito, "rande é a responsabilidade da Associação Brwdleira dos Municft;liOs, dns A:~~.socíaçõcs con-
gêneres estaduais. do Banco de Municípios, do Instituto Brasileiro de Admínistrnçao Municipal e demais enti·
dades anAiogas.
lt convenic:nte, desde jâ, deixar ctaran1ente definidas a compctt:neia, as atribuições e os encargos das insti-
tuições dirigentes e orientadoras do Movimento Municipalista Bras ileir o, o fim de que possam tôdas compene-
trar-se de seu papel e desincumblr-se das respectivas missões .JJ

DISCURSO 1.)0 SR. RAFAEL XAVIER

N a quatic.lac.le de Presidente da Associação Brasileira dos Municípios. discursou em seguido. o Sr. RAFAEL
XAVI ER. analisando a evolução <.103 Municípios brasileiros através da História e ttpOnlando as diretrizes que de-
vem ser íixa.das a essa evoluçKo. para o futuro. Saudou o Presidente da Re;,(ablict~ c o Covernador de São Pauto,
em nome dos municipa1istas reunidos em Ccngresso, com as seguintes palavras:

'"Foi até cert o ponto natural a suboràinação que os estadistas do Brasil independente impuseram às Pro-
víncias e, através dela,, aos Municípios, visando a preservar a unidade nacional, esta majestosa cria('-iio política,
alegria de nouo pens!lmento diante de área territorial tão g rande. sôbre a qual se estende um povo t io homogêneo.
apes.ar c.le sua vadada composiç-ão.
O Governo coloninl, itnorando a voz do povo, segundo a confissão do Marquês DO LAVRAOIO, não animara
o surto da democracia municipal, jungira todos os povoados ao absolutismo c.lo centro, embora em alguns. com
populsção mais bem constituída, se tivesse podido desde cedo rlar inicio a o Municipalismo. Prevaleceu o mau
juíT.O que a Metrópole fazia do povo do Brasil através ode informações pejorativas. como os daquele mesmo Vil"e·
Rei, que dizia:
O II CoNGREsso NACIONAL nos MuNICÍPIOS BRASILEIRos 515

"Devia-se impedir que se estabelecessem ali advogados, letrados e outros de espírito irrequieto, pois o
povo, em geral mal educado. ."
Com a Independência, a Constituição de 1824 atribuiu às Câmaras "o govêrno das cidades e vilas" e a "for-
mação de suas posturas policiais, aplicação das suas rendas e tôdas as suas particulares e úteis atribuições", pare-
cendo assim que caminhávamos para a autonomia, mas os acontecimentos posteriores desacreditaram essa pers-
pectiva. O clima social não favorecia a implantação do Municipalismo, fàcilmente conversível num regime
caudilhesco apoiado nos latifúndios em que o Interior do País se dividiu. Na amplitude do território as povo•
ações não eram, como as cidades do mundo antigo, produto da necessidade de defesa contra vizinhos ameaçadores
ou contra a incursão de bârbaros. A defesa fazia-se necessária contra a desordem interna dos núcleos de povow
amento - a impunidade do crime, o facciosismo da autoridade local, o caciquismo - cujos sulcos profundos
ainda não se apagaram da fisionomia de nossa política. Dêste modo firmou-se a tradição centralista. Erigido
como presumível árbitro dos dissídios, o Govêrno central era garantia contra os abusos do mandonismo e músw
culo propulsor da difusão da ordem jurídica e da cultura social.
Sob muitos aspectos, a obra realizada é admirável, dignos de alto culto cívico os seus autores - estadistas
do Império, que com descortino afastaram a Nação das encruzilhadas tumultuosas do primeiro quartel do século
XIX, guiando-a para a estrada desimpedida que o Segundo Reinado percorreu; estadistas da República, que
reproduziam os mesmos esforços colocando a integridade nacional acima do objetivo pessoal ou partidário.
O temor da desagregação justificara o centralismo. Mas a República surgiu como corretivo de prolongado
unitarisn1o, sendo êste já então uma causa do mesmo temor.
Nos últimos anos do Império, sentiu-se forte necessidade de uma reforma descentralizadora. O próprio
trono a sugeria "no sentido de desenvolver o espírito liberal de nossas instituições". Infelizmente, retardou-se
a reforma que, se realizada antes, teria facilitado a tarefa da República.
Com a República e o regime federativo, desmembra-se a unidade, e o que parecera uma temeridade já conta
mais de meio século de experiência tranqüilizadora. Já não era possível, porque existissem ProVíncias sem capaw
cidade para a autonomia, sacrificar o legítimo interêsse daquelas que a possuíam. Pena foi que, ao ensejo da rew
forma republicana, não se haja levado em conta essa diferença, em face da qual a divisão política deveria ter sido
modificada, classificando-se como Territórios as áreas ainda insusceptíveis de constituir Estados, e dando-se a
êstes limites menos incertos.
Sôbre a procrastinação da reforma descentralizadora, fala-nos a seguinte nota do diário de ANDRÉ REBOUÇAS.
Discutindo a federação, disse o Imperador:
- "PRADO, eu sou republicano Todos o sabem. Se fôsse egoísta, proclamava a república para ter gló-
rias de WASHINGTON SOmente sacrificava o Brasil à minha vaidade. Porque as pequenas Províncias
não têm pessoal para a federação e seria um desgovêrno geral, que acabaria pela separação."
O perigo do federalismo - tanto maior porque faltou o estágio preparatório sob o regime monãrquico e por-
que as Províncias foram convertidas em Estados por simples passe de mágica, sem atenção ao fator geopolítico
- foi vencido: mantém-se a integridade do País, a federação sobrevive.
Restou o problema dos Municípios, tecla em que se bateram sucessivas falas do trono, como que associando
a reforma da administração municipal a dois outros impOi. tantes objetivos: reorganização da magistratura, comw
bate à ociosidade.
A autonomia dos Municípios na Constituição da República quase nada signif!ca como descentralização.
Hoje, a História se repete: a descentralização, em benefício cio Município, é uma necessidade tão premente quanto
o foi, no fim do século passado, em favor das Províncias. Se há municípios que ainda não têm pessoal para o
Municipalismo, outros há, e numerosos, cuja capacidade de autopolítica, isto é, de plena expansão administra ..
tiva, só depende da reforma que lhes assegure maiores rendas autônomas.
Hoje, do panorama do País, o que ressalta como perigo de desagregação - não ~10 sentido geográfico, mas
no sentido social - é o desequilíbrio econômico. Pouca repercussão tiveram as reformas políticas sôbre a eco-
nomia, no sentido de melhorá-la. Desde os últimos tempos da Monarquia até o presente, vive a Nação num es-
tado de crise econômica, que seria leviandade diagnosticar como simples crise de crescimento.
Absorvidos pelo complexo problema da organização política e da ordem jurídica, e paralelamente pelos partiw
darismos e personalismos, os estadistas descuidaram-se dos fatos econômicos. E as realidades econômicas atuw
aram profundamente, criando uma situação desconcertante, que faz periclitar a estabilidade das instituições
políticas.
Em crônica recente escreveu LINS DO RÊGo:
"A mediocridade que nos marca é medíocre demais. Aí estão os homens para as nossas verificações ao na-
turaL São, na quase totalidade, uma miséria de gente, uma seleção às avessas de valores. Será que assim foram
os que nos antecederam em outras gerações?! É o que me alarma. Seremos um povo com esta terrível marca
de inferioridade para o comando, para as soluções de Estado?"
Essa marca de inferioridade, de que fala o excessivo pessimismo do escritor, eu penso que é sOmente o efeito
do pauperismo. A pobreza material e riqueza de espírito podem ocorrer no indivíduo, mas na coletividade onde
haja degradação econômica, parece inevitável a miséria do espírito. Como, porém, pensar em pauperismo, se
o País é rico de possibilidades segundo sempre se repete?
Sem ~dar ênfase ao elogio dessas possibilidades, temos de reconhecer que o pauperismo não se justifica no
Brasil. Esse mal resulta do fato apenas de o pensamento diretor da vida nacional não ter sido econômico, e sim
político.
A angústia aa crônica de LINS DO RÊGO é a mesma que fàz o conteúdo do inquérito À Margern da História
da República publicado há cêrca de trinta anos. Passaremos em revista o notável inquérito, iniciativa d-l.gna
de reprodução peri6dica.
CARNEIRO LEÃO via um povo retardatário, doente, mal organizado, de péssimas finanças, vida econômica
perturbada, cultura diminuta, lentidão de trabalho, atraso social, parasitismo político; acusava a falta do voto
secreto.
Para CELSO VIEIRA, o pecado mortal daquela geração era espírito sem ideais, atraiçoando o dos que fizeram
a Constituição de 1891.
GILBERTO AMADO dizia: "O que é evidente é que os elementos sociais da atualidade brasileira são os mesmos
que ehistianl no fim da Monarquia, com algumas modificações, já assinaladas em São Paulo e nos Estados do Sul.
A Constituição republicana sôbre o restante do País exerce a mesma ação nominal que exercia a Monarquia"
"leis, instituições, muna o político e social estão também fora e acima do Brasil. O nosso trabalho deve ser, man~
tendo a República, tornã-la antes de tudo brasileira "
"O bacharelismo foi o primeiro capítulo da burocracia. Dêle é que nasceu essa ir:-esistível inclinação ao emw
prêgo público que o novo regime não pôde conjurar, antes acoroçoou, porque, não tendo criado o trabalho, nem
a instrução profissional, não pôde evitar que se dirigissem para os cargos públicos os moços formados nas academias,
inaptos à lavoura, ao comércio, aos ofícios técnicos ''
"Podemos acusar a República, deixando de considerar nos erros peculiares ao meio, de não ter, principalM
mente, compreendido desde logo o seu papel educador. Refiro-me ao papel educador, porque o dever máximo
dos políticos em um país como o nosso, em que as realidades sociais estão abaixo das instituições, é exercer justa-
mente essa tutela, essa ditadura mental que JosÉ BONIFÁCIO quis exercer e não pôde, infelizmente para o Brasil,
senão por tão curto prazo."
NuNo PINHEIRO exprimia numa frase todo um rosário de causas negativas:" . república de "deficits"
orçamentãrios e pois de finanças avariadas", um truísmo, é certo, mas de que muita gente desdenhou, não fal-
tando quem pretenda o prosseguimento indefinido do sistema de construir por conta do "deficit".
OLIVEIRA VIANA indicava o desacôrdo entre o idealismo da Constituição de 1891 e a realidade nacional ~
a falta de opinião pública, a inexistência de um eleitorado tornado Independente pela difusão da pequena proprie-
dade, pelo espírito corpJrativo, por uma boa organização judiciária com magistratura autônoma, dotada de fôrça
moral e material para dominar o arbítrio dos mandões locais.
PoNTES DE MIRANDA queria uma grande reforma no sentido de libertar o País de peias e parasitas, uma orga-
nização baseada na boa divisão do trabalho, uma política de produção. Tocava, com espírito arguto, no ponto
nevrálgico, dizendo:
516 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNicfPIOS

"Os Estados em que cresce o número dos setn trabalho fazem recair na propriedade privada as despesas que
permitem a ordem a despeito da população desocupada; às vêzes são gastos policiais mantenedores das fôrças
repressivas e opressivas, ou tendentes ao barateamento da vida; outras vêzes, diretas espoliações ou encargos
sem método, em legislação social que pouco adianta aos operários e desgraça as indústrias."
Revelava-se PONTES DE MIRANDA um adepto fervoroso do fortalecimento da União, afirmando: uS6 há uma
unidade real no Brasil, o Império, a Nação . O Município é uma abstração; abstração também é a Província."
Mas ao lado destas ousadas e frágeis afirmativas, lapso de um brilhante espírito, tocou de novo no âmago
da questão, com estas nobres palavras que sublinham o mal secreto: " . que nos valem a nós, homens cons~
cientes e cultos, as homenagens superficiais e passageiras, os cargos decorativos e as glórias efêmeras, se os nossos
irmãos de certas zonas rurais, sob o despotismo do chefete político, ainda se acham em regime nitidamente co·
lonial?"
ltstes conceitos entremostram o pensamento centralizador de PONTES DE MIRANDA, que esquecia entretanto
o que havia de relevante no compromisso histórico representado pela federação, e não atentava no fato de que
o chefe local tanto podia agir sob a influência do centro estadual, como do federal. O principal~ porém, era o
fato de se colocar o escritor, já naquela época, no eixo de nossa campanha, compreendendo que nenhum regime
pode fazer a felicidade do Brasil sem corrigir a inferioridade a que foram relegadas as populações rurais, o con·
traste chocante a que se referiu ROQUETE PINTO em Rondônia: "Há uma diferença tão grande entre o que
são os brasileiros das cidades e o que padecem as populações sertanejas, que até parecem habitantes de dois países
diversos''.
TRlSTÃO DE ATAÍDE, fazendo o paralelo da política e das letras, mostrava que, com a República, os homens
de letras tenderam ao isolacionismo, no desencanto causado pelo militarismo dominando a política. O Brasil
não poderia ter conseguido, por uma troca de regime político, mudar de estrutura.
"0 Brasil" - dizia o escritor - "formara~se às avessas, começara pelo fim. Tivera coroa antes de ter
eleições. . ''
O livro encerrava~se com dois estudos de VICENTE LrcÍNIO CARDoso, um sôbre o carãter excepcional de
BENJAMIM CoNSTANT; o outro constituía uma tentativa de interpretação da realidade brasileira. Falou de uma
verdade sombria que nos atormenta, concluindo:
"O Brasil é o símbolo concreto de tôdas as nossas riquezas em potencial para o futuro. l!.le é, porém, também,
o símbolo vivo de tôdas as nossas dificuldades, gravíssimas e tenebrosas, do presente."
Dando à questão educacional a prin1azia, citava RUI (o célebre relatório de 1882 sôbre a instrução pública)
"Tôdas as leis protetoras são ineficazes para gerar a grandeza econômica do País: todos melhoramentos mate·
riais são incapazes de determinar a riqueza, se não partirem da educação popular, a mais criadora de tôdas as
fôrças econômicas, a mais fecunda de tôdas as medidas financeiras."
A conclusão da obra sintetizava-se numa frase: ''A grande e triste surprêsa de nossa geração foi sentir que
o Brasil retrogradou".
Tranqüilizemo·nos: s6 existe meia verdade nessa dolorosa afirmação. Mas o inquérito é uma p:::ça de grande
valor na pesquisa das causas do mal secreto da organização nacional.
A interpretação dêsse mal jã havia ocupado as vigílias de ALBERTO TôRRES, cuja obra é o início da nova cons·
ciência que se vem formando para estabelecer, na direção política do País, o primado dos imperativos econômicos,
ditados pelas realidades do solo, natureza, meio social, trabalho, capital, que condicionam o bem~estar e o progresso
de uma nação e oferecem perspectiva à manifestação da grandeza dos homens.
Outra afirmação triste da conclusão do inquédto foi esta:" vemos a cada momento, em tôrno de nós,
a negação não só de tudo o que sonhamos, mas também de tudo o que pensamos".
Alguns erros, e graves, terão sido praticados em nosso Govêrno e em nossa sociedade, para que se formasse
êsse desânimo, essa tristeza, marcando sucessivas gerações.
Sob vários aspectos, é inegável que o Brasil de hoje, confrontado com o da épo\::a do inquérito, demonstra
acentuado progresso. Existe o voto secreto e os partidos começam a se caracterizar. As eleições são írrepre·
ensíveis, nas mãos de uma Justiça Eleitoral prestigiada. A imprensa livre é uma grande fôrça. A indústria
cresceu. O Poder Legislativo não vive agachado aos pés do Executivo. O espírito cooperativo estã represen~
tado em poderosas associações e iniciativas de vulto. As fôrças armadas, colocando·se ortodoxamente acima
dos prélios políticos, limitam .. se à sua função específica, ao mesmo tempo que se aprimoram como instituição
cultural, desenvolvendo, em colaboração com o meio civil, estudos e planejamentos de alta importância.
De tôda a investigação a que me tenho referido, destaco três pontos. Um está naquela afirmação de PONTES
PE MIRANDA de que, no Brasil, só existe uma unidade real, o Império, a Nação. Outro, no contraste assinalado
entre o Brasil~ Interior e os grandes centros de progresso industrial e social, fato que é a pr6pria razão de ser da
Campanha Municípalista. O terceiro, no problema da educação nacional.
Hoje, com a documentação acumulada, com a experiência das reformas realizadas e com a obra dos diversos
instituto~ de pesquisa e análise, ao lado da generalização do gôsto pelos estudos econômicos, o problema brasi·
leiro, o mal secreto, coloca~se mais fàcilmente em equação.
Jâ não há lugar pa1.·a as imputações ao bacharelismo ou ao militarismo, ao unitarismo ou ao federalismo,
nem para a discussão fútil da atribuição 4as responsabilidades, se aos homens, se às instituições, nem para se pensar
que o fortalecimento da União depende de um açambarcamento de poderes e de serviços, nem para a idéia, comple ..
tamente errada, de meter todo o País numa uniformidade de moldes.
Nosso conceito de Municipalismo repele o que hã de excessivo na frase de PoNTES DE MIRANDA- "o Muni ..
cípio é uma abstração" -mas não se choca com a idéia do fortalecimento da União; ao contrãrio, o que esperamos
é ver a União fortalecida pelos resultados de uma atividade produtora mais ampla, quando os Municípios puderem
assumir a incumbência total de seus peculiares interêsses.
Imputamos, entretanto, à União a responsabilidade da desordem financeira) cujas conseqüências se acumu..
laram como fôrças negativas nos Municfpios, no âmbito rural, principalmente, sacrificado ao egoísmo dos grandes
centros. lt que, ao lado da centralização política, realizou·se pela via da inflação, velha no Brasil, de mais de
sessenta anos, a concentração da riqueza, o urbanismo perdulário, cujo reverso é o empobrecimento das popu·
lações rurais. O Municipalismo levanta.. se contra êsse mal.
A desvitalização dos Municfpios revelara·se como o fato mais grave dentre os erros de polftica econômico~
financeira da República. Pouco importa que o êrro viesse de época anterior. O dever da República era agir
firmemente no sentido de corrigi·lo.
Quando eram duas fôrças - a da União e a dos Estados -contra uma fraqueza-- a dos Munidpios - era
fácil resolver·se o problema das finanças pelo jôgo da inflação; aumentava-se a renda dos poucos grandes centros,
à custa da penúria dos pequenos que formam o Brasil rural. Essa possibilidade hoje parece extinta e apresenta·se
o dilema: ou a reforma ou a situação imprevisível, que resultaria do prolongamento do impasse.
Eis o Municipalismo como se apresenta hoje na polftica nacional. Ei~lo como ff,_l•~a política necessária para
apoiar uma reforma indispensável da estrutura brasileira.
Vejamos o terceiro ponto a que me referi - o problema educacional.
:É ainda a crítica de PONTES DE MIRANDA que me servirá de ponto de referência. Muito acertada foi a indi-
cação que fêz de uma reforma concernente à divisão do trabalho.
Êste é o ponto fundamental, o ponto de partida para o embasamento de nossa reorganização social e de nossa
grandeZa econômica. O instrumento adequado s6 pode ser a educação dirigida moral e têcnicamente, não só
para o aproveitamento das vocações, como também para seu ajustamento às necessidades coletivas. Nem sempre
será a vocação, a aspiração individual, que deva prevalecer, porque a coletividade sofre um grande dano se, pela
facilidade que encontram as vocações, se aumenta demasiadamente o afluxo numa atividade menos importante
e se diminui paralelamente em outra, que é chave de riqueza.
Algumas idéias correntes, de fundo demag6gico, são inconciliáveis com a finalidade da educação, assim con~
siderada como instrumento disciplinador da divisão do trabalho social. Por exemplo: a gratuidade do ensino
secundário e suPerior; a expansão imoderada do sistema ginasial; as próprias escolas profissionais de caráter vago,
não vinculadas predsamente ao meio industrial a que pretendem servir.
O II CoNGRESso NACIONAL nos MuNICÍPIOs BRASILEIROS 517

As estatísticas permitem hoje um levantamento de parte do Brasil trabalhador, num período de trinta anos,
qu{ldro impressionante como indicação de que temos caminhado para o improdutivismo.
Jâ não hã motivo para insistir no tema da ociosidade. Dado o grande vulto da população infantil, a pro-
porção entre a população ativa e a população total é razoável um pouco acima de 30%. A parcela dos indivíduos
de 10 a 19 anos sem ocupação escolar tem decrescido relativamente.
Para o confronto estatístico dispomos dos dados referentes a dez Unidades da Federação (Pará, Maranhão,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande
do Sul), que nos permitem comparar com certa segurança as situações reveladas pelos Censos de 1920, 1940 e
1950.
Na distribuição da atividade, manifesta-se o vício ingênito de nossa formação. Vejamos o seguinte quadro,
em que s~ englobam as dez referidas Unidades:

1920 1940 1950


RAMO DE ATIVIDADE
Número % Número % Número %

a) Produção: pessoas ocupadas em agricul-


tura, pecuária, indústria extrativa e
indústria de transformação 2 555 833 74,2 3 748 368 61,7 4 519 196 58,7
h) Comércio: pessoas ocupadas em comércio;
transportes; comunicações 333 962 9,7 519 113 8,6 706 413 10,0
c) Govêrno: pessoas ocupadas em adminis-
tração, defesa e segurança pública 113 539 3,3 237 398 3,9 271 857 3,8
d) Outras atividades: pessoas ocupadas em
outras atividades e profissionais inativos 438 324 12,7 1 563 001 25,8 1 943 566 27,4
TOTAL .. 3 441 658 100,0 6 067 880 100,0 7 081 032 100,0

Como se vê, foi enorme o decréscimo, em números relativos, no grupo a, que se dedica ao esfôrço básico da
produção, e portanto não é de estranhar o paupet"ismo. Nos grupos b e c não aparece alteração. O grupo d re-
flete todo o desequilíbrio.
No grupo a, a agricultura, a pecuária e a indústria extrativa, em 1920, absorviam 60,7% da ocupação total;
em 1940, sõmente 53,5 e em 1950 apenas 48,2. Desfalque formidável, num país onde o trabalho agrícola ainda
se executa na maior parte com instrumentos e por processos rudimentares. Nenhum outro fator estará contri-
buindo tanto para o encarecimento da vida e a inflação quanto êsse desvio de fôrça de trabalho, que em vez de
se somar à lavoura e às indústrias, deriva para ocupações não produtoras.
Essa tendência tem origem naquela inversão da ordem das vicissitudes humanas a que se referiu JosÉ
BoNIFÁCIO em discurso sôbre a corrupção do Brasil pela escravidão.
"Então, Senhores" - perguntava o Patriarca - "como podem regular a justiça e a virtude, a florescer
os bons costumes entre nós; Senhores, quando me emprego nestas tristes considerações, quase que perco de todo
as esperanças de ver o nosso Brasil um dia regenerado e feliz, pois se me antolha que a ordem das vicissitudes
humanas está de todo invertida no Brasil. O luxo e a corrupção nasceram entre nós antes da civilização e da
indústria? E qual será a causa principal de um fenômeno tão espanto3o? A escravidão, Senhores, a escravidão,
porque o homem que conta com os jornais de seus escravos vive na indolência, e a indolência traz todos os vícios
após si."
Nosso sistema educacional nunca se adaptou à obra educativa mais necessáda ao Brasil: a educação para o
trabalho, para a economia, para a cura dos vícios que nos ficaram como legado canceroso da escraviaão. A herança
nefasta aí se espelha na desinclinação de nossa gente para as atividades manuais, que foram durante séculos o
ônus do estado servil. E essa tendência do branco não podia deixar de influir nos libertos e seus descendentes,
dacia a falta de providências que os libertassem também da anarquia no gôzo da liberdade.
Ora, não é possível continuarmos a marcha para o improdutivismo, que é a negação de tôdas as possibilidades
de um auspicioso destino nacional O mal secreto não é senão essa tara, de que precisamos a todo custo nos
salvar.
O País necessita de grandes capitais para a reforma rural, para a expansão industrial, para a grandeza social,
mas os capitais não se formam num país que se fêz o paraíso dos improdutivos.
O Municipalismo reivindica uma política decisiva em defesa das atividades produtoras. Aos que se mantêm
nelas devem ser proporcionadas as melhores vantagens. ~ste objetivo é inconciliável com a demagogia que encon-
tra clientela tanto mais numerosa quanto maior é o grupo de desajustados que clamam pelo direito de viver e
que, em última análise, não são culpados do seu desajustamento. Complexa questão, portanto, é essa! Ao mesmo
tempo que se fechar uma porta, será preciso abrir outra, oferecer outro caminho, desdobrar novo horizonte.
Seja como fôr, a segurança do futuro brasileiro exige providências que reajustem a produção e o consumo,
fixem maior proporção de trabalhadores na agricultura e na indústria, descongestionem os centros onde se acu-
mulam os excessos de população que as atividades produtoras não conseguem absorver nas condições atuais.
Evoquemos a lição de ALBERTO TÔRRES! o problema vital do País é o problema de sua organização E ~on-
cluamos com êle: " a primeira coragem de que nos cumpre dar provas é a da longa, máscula e paciente te-
nacidade necessária para empreender e sustentar o esfôrço que essa obra exige."
Falei anteriormente no impasse, no beco sem saída. É a situação a que chegamos, levados pela inflação.
Mostrei que o Municipalismo, no cenário nacional, toma o sentido de uma resistência a êsse jôgo. Dêste modo
fechar-se-á a porta por onde se facilitou a entrada de tanta gente na classe improdutiva. Mas o Municipalismo
também se oferece para a ar a abrir a outra porta, a de nossas esperanças em melhores dias.
A análise estatística tnv.:;tra claramente a marcha da população para a improdutividade. Já vimos que é
no âmbito rural que se situa a origem do movimento, por uma razão bem simples: a atividade agrícola, em sua
generalidade, rende menos que qualquer outra Dêste modo, precisando aliviar a concorrência entre seus mem~
bros, rejeita uma grande parcela, que transborda para as cidades do Interior. Por isso mesmo verificamos, entre
1920 e 1950, enorme crescimento da populaçào urbana mais acentuadamente nas cidades do Interior, tôdas elas
portanto com um grande número de marginais.
É aí, portanto, nas cidades do Interior, que se deve criar a atividade nova que, sem fazer concorrência aos
estabelecimentos existentes, realize o aproveitamento daqueles a quem se fechar a porta das atividades impro-
dutivas.
~ evidente que as duas portas, uma fechando-se, outra abrindo-se, devem funcionar simultânea e coorde-
nadarnente.
Tudo isso concorre para demonstrar a relevância do Municipalismo como instrumento necessário na reor-
ganização nacional, de um lado exercendo influência para o estabelecimento de uma política financeira anti-infla-
cionária, considerando não apenas os fatôres monetários. mas também os fatôres demográficos e sociais; de outro
518 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

lado, fazendo da administração municipal, com sua estrutura remodelada e sua atividade incentivada, meio
natural do aproveitamento dos recursos que, paralisadas as causas da inflação, necessàriamente refluirão para
o Interior.
~ neste sentido, com esta relevância, que o Municipalisrilo merece o nosso apoio, certos como estamos de que,
nesta ordem de idéias, não cabe a acusação de anacronismo à nossa tese. );: pena que o brilhante espídto de
OLIVEIRA VIANA se haja obnubilado, deixando de considerar o Municipalismo em seu aspecto racional e prático,
em face do problema de reorganização nacional, para condená-lo como forma de uma caduca culturologia de base
territorial, e erigir em seu lugar um tipo ainda indefinido, de base funcionaL Nesta idéia revêssa vejo apenas
a conseqüência do êrro freqüente de se exagerar o sentido da m.udança a que se referiu KILPATRICK.
O Brasil ressalta o que há de aberrante no Estado constituído em linhas corporativas, com anulação do sen·
tido territorial da associação. O problema que defrontamos ainda é o problema primário da emprêsa ciVilizadora
- problema territorial.. O sociólogo fluminense, em contradição com as suas próprias idéias, exprimiu ~ realidade
quando disse:
"Nossa política econômica tem que se conciliar com os imperativos de nossa política demográfica" .
"Povoar os nossos grandes vácuos demográficos do Interior, organizar a pequena propriedade territorial e o pe·
queno urbanismo, pondo o confôrto da civilização ao alcance das populações rurais - eis a diretriz da nossa po·
lítica social.,
Ne~te caso, concluo, libertemo~nos da teia embaraçosa das idéias que, no trato do problema primário que
é êsse, é o nosso, são extravagâncias, - extravagâncias que prejudicam o acêrto da diretriz, desnorteiam a marcha
de nossa culturologia, que em vez de caminhar rumo ao Interior, espraiando o progresso, gira, como em cíiculo
vidoso, em tôrno de algumas poucas cidades, por efeito da centralização e das instituições que representam em
nosso meio a tendência a substituir o funcional ao territorial, a criar o regime como um arranha-céu plantado
no deserto.
Entre nós, pelo menos, a Província e o Município não podem ser considerados formas caducas. Nem o serão
em parte alguma, porque, se a sociedade sente hoje a necessidade de organizar-se em linhas funcionais regredindo
a formas que o século XIX considerou caducas, não deixa de sentir também a necessidade de organizar-se na
base territorial. Nossa pdmeira tarefa deve ser a boa organização na base territorial, em que o Municipalismo
tem a sua missão a cumprir - a missão de desenvolver o espírito de comunidade, que é a cooperação entre vizinhos
antes de ser a associação entre profissionais do mesmo ofício.
Desculpai·me, Senhores Congressistas, se avancei o sinal entrando em apreciação sôbre a matéria que é a
razão de ser de vossa presença, e deixando para o fim a alvoroçada saudação com que a Associação Brasileira dos
Municípios vos recebe neste cenário que relembra os primeiros passos da civilização na terra brasileira. Saúdo-vos
com a alma cheia de esperança, acreditando firmemente que, pela vossa coesão, o Movimento Municipalista -
vencida a sua primeira etapa, limitada à reivindicação de maiores rendas para as administrações locais, com
os resultados conhecidos, os quais, ainda agora, só podem ser frutos raquíticos- não deixará também de alcançar
os outros e mais altos objetivos, pelos quais o problema do Município se converte no problema nacional.
Aqui está diante de Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, já não direi apenas a alma, mas o
próprio corpo, o retrato fiel do Brasil. Estão aqui homens que trazem as características de sua procedência: do
extremo Norte, do Nordeste, do Sul, do Leste, do Oeste, descendentes das várias etnias que formam o nosso com·
plexo demográfico, portadores de ideologias diversas, reunidos, porém, por um sentimento comum e que levou
ao exercício da função pública: o desejo de bem servir à Pátria, servindo ao Município. De mãos calejadas, mas
limpas; de vozes modestas, mas honradas; de atitudes simples, mas dignas; retratam êles a própria imagem do
Brasil, na diversidade de suas ãreas fisiográficas, na variedade de suas características culturais, na diversificação
de seus tipos sociais. Defrontam-se êles com o supremo magistrado da República, não sõmente para lhe dirigir
a saudação cordial que ora lhe transmitem, mas para lhe afirmar também que trazem, com o Movimento Mu·
nicipalista, as linhas gerais de uma renovação da vida administrativa das unidades fundamentais, como base
para a inadiável reforma que venha a estabelecer, pela reestruturação dos quadros orgânicos, o equilíbrio polí·
tico, social e econômico do Brasil.
O pensamento político de Vossa Excelência, transmitido à Nação no memorável discurso de Belo Horizonte,
representa a significação de que o Movimento constitui uma tarefa a realizar. Encontra-se Vossa Excelência
com os administradores municipais para uma troca de idéias e para recolher o pronunciamento não de um paU~
tico, nem de correntes políticas, e sim dos legítimos representantes do povo brasileiro: seus Prefeitos e seus Verea·
dores. São êsses Prefeitos e Vereadores que dirigem ao Presidente da República as suas saudações mais efusivas,
na certeza de que elas se envolvem na bandeira das reivindicações, que, embora sendo municipalistas, se des·
tinam à própria reconstrução nacional.
À Vossa Excelência, Senhor Governador LUCAS NOGUEIRA GARCEZ, transmitem igualmente sua homenagem
os municipalistas aqui reunidos; e o fazem não apenas ao Chefe do Govêrno do Estado que tão cativamente e
generosamente nos acolhe, mas sobretudo ao companheiro eminente, o administrador que não perde o contato
com as populações do Interior, através de encontros constantes com as administrações municipais, de profícuos
resultados para a administração pública· paulista. Vossa Excelência planifica sua obra de govêrno auscultando
os interêsses do Interior, indo sentir em cada Município suas necessidades para que possa encontrar também
soluções de interêsse geral. Bem haja o administrador que assim o faz, porque vai haurir nas próprias fontes da
vida brasileira a palpitação de seus anseios e as sugestões que permitam administrar em hem da coletividaçle
paulista.
A homenagem que ora prestamos a Vossa Excelência, Senhor Governador LUCAS NoGUEIRA GARCEZ, esten.-
de-se ainda aos Chefes dos Governos estaduais que aqui vieram ou se fizeram representar, partilhando conosco
desta hora de júbilo cívico. Saudamos aos preclaros administradores, certos de que, ao contato com os homens
que representam o cerne da nacionalidade, venham também aliar-se à nossa jornada, trazendo-nos as lições de
sua experiência e as luzes de seu descortino.
Meus Senhores:
No momento dramático de suas batalhas. CONSTAN'fiNO recebeu de Deus, através do sinal que surgiu no
céu, o estímulo para a vitória, que não lhe tardou. Valeu·lhe a crença, animou-o a fé; crença e fé que o levaram
a seus grandes triunfos. Desfraldando a bandeira municipalista, e aqui congregados neste li Congresso para
novo exame de nossos problemas e de nossos direitos, os municipalistas brasileiros oferecem ao Brasil a esperança
de que não lhe faltarão dias melhores. Aqui está o Municipalismo, sinal com que o Brasil se depara nesta encru~
zilhada de sua vida, mostrando à Nação o rumo a seguir, o ideal com que se alcançará a vitória almejada."

DISCURSO DO SR. LOUREIRO JÚNIOR

Em nome da Comissão Executiva do II Congresso, falou o Sr LOUREIRO JÚNIOR, que pronunciou o seguinte
discurso:

"Em nome da Comissão Executiva do li Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros quero agradecer
a homenagem que ontem nos foi prestada.
Realmente, desde o momento eht que recebemos a magna incumbência de preparar, do ponto-de~vista ma ..
teria1, a realização dêste grande Congresso, compreendemos a nossa responsabilidade. Mas, os nossos esforços
foram feitos com enorme satisfação, porque tínhamos a certeza de que, aqui, mais de uma vez, nós veríamos, posta
em relêvo, a verdadeira consciência do Brasil, que não pode ser outra senão a consciência municipalista. E todos
aquêles que procuram realizar, para a nossa Pátria, um regime político~administrativo que lhe assegure dias
melhores, bem conhecem e bem sabem que os seus olhos não devem ficar voltados para o estrangeiro mar afora;
ao contrário, devem voltar-se para o Interior de nossa terra, para a nossa hinterlândia. E se nos ativermos bem
a êste ponto, veremos, desde logo, que já existia uma grande e magnífica lição a aprender, porque foram inúmeros
O II CoNGREsso NAciONAL nos MuNICÍPIOs BRASILEIROS 519

e fulgurantes os espíritos daqueles patriotas que volveram sua inteligência para os problemas brasileiros, pro ...
curando perpetuar a verdadeira consciência nacional, no estudo das realidades nossas.
Lembramo-nos daquelas figuras magníficas de TAVARES BAsTos, no seu estudo sôbre o provincialismo, na
parte do Amazonas, daquele trabalho magnífico realizado por engenheiros como CALÓGERAS, como LICfNIO e
como o grande EucLIDES DA CUNHA, que são páginas que sempre deveremos reler.
Mas nossos olhos se abrem ainda quando nos dedicamos ao estudo daquela obra gigantesca que realizou
ALBERTO TÔRRES, no seu livro tão meditado, tão sentido, em que traçou os problemas da organização nacional.
E nossos olhos se abrem ainda mais quando nos volvemos para a obra de um OLIVEIRA VIANA, aquela figura
magnífica que esgotou sua vida, sempre dedicada ela t6da ao estudo da nossa terra e da nossa gente, aos problemas
das populações meridionais do Brasil, ao romantismo, que faz com que nós, ao traçarmos as bases da estrutura
fundamental da nossa política, ao invés de voltarmos nc.ssas vistas para os nossos fen6menos, procuramos inspi-
rações alienígenas, que, entretanto, não correspondem aos verdadeiros imperativos da realidade nacional.
Nós temos de compreender, neste momento, que não podemos nem desejamos o jacobinismo; o mundo é
um só, e a realidade universal é tangente a cada um de nós. Vivemos na época da televisão; vivemos na época
da aviação interplanetária; do avião a jato; vivemos os dias da bomba at6mica. Mas, se existem, no plano inter-
nacional, no plano universal - onde o mundo das idéias não encontra limites - , se existem já postulados que
deveremos reconhecer, que deveremos seguir, na construção nacional, entretanto, deveremos buscar inspiração
naquilo que seja a realidade local, o imperativo das nossas necessidades e as aspirações legítimas de nosso povo.
Se quisermos exemplo magnífico de trabalho nesse sentido, encontrá-lo-emas no século passado, quando
se fundou a nação norte-americana, naquele congresso fantástico - o maior que o mundo poderia contemplar -
o Congresso de Filadélfia, onde se reuniu uma pleiade de homens excepcionais: juristas, políticos e comerciantes.
E ali estiveram êles reunidos para fundar a nação americana. ~sses homens nos deram exemplo de como trabalhar.
Naturalmente, no plano universal, não se afastaram das idéias e aspirações realizáveis, porque o plano universal,
na política, tem referência ao tempo, enquanto qu~ o plano local tem referência ao espaço, à terra e à geografia.
~les encontraram, naquele movimento enciclopedista da Revolução Francesa, a idéia da igualdade perante a lei,
e as próprias cartas de JEFFERSON ao seu amigo HAMILTON não se esquecem do que representa o homem que está
nascendo para a política, e preconizam tenha êle a vida futura assegurada mediante uma carta de declaração
de direitos. E assim nasceu a declaração de direitos do cidadão, posteriormente ao Congresso de Filadélfia. Mas
nem por isso os americanos do norte se perderam no universalismo. A prova disso encontramo-la na própria
estrutura política do Estado, quando tiveram que traçar a doutrina dos poderes e da sua organização, segundo
a lição admirável de MoNTESQUIEU, que, no seu livro clássico, estudara a organização política da Inglaterra.
Os americanos, sem dúvida nenhuma, inspirados naquela idéia, criaram, entretanto, a obra mais racional
que se poderia fazer. Se nos detivermos na divisão daqueles poderes, ditos harmônicos ou independentes, ve-
remos, então, a capacidade, o espírito localista que presidiu àquele Congresso de Filadélfia.
No Poder Executivo, viam êles a figura do rei, do rei representando a Nação, rei chefe de Estado, rei que
não governava, porque entregava o Govêrno ao seu Primeiro Ministro. Criaram, para substituí-lo, o Pre-
sidente da República, e tornaram o Presidente da República responsf.lvel direto pelo Govêrno, colocaram-no
ao lado do cetro real. Mas deram temporariedade às suas funções, e o fizeram eleito pela vontade do povo. Por-
tanto, marcaram esta figura.
Ao traçarem as linhas do Poder Legislativo, não se esqueceram da grandeza, da importância da Câmara
dos Lordes, e quando fizeram o Senado americano, se a Câmara dos Lordes tinha uma origem real, se ela estava
quase que vinculada à própria hierarquia da sucessão dinástica do Império, êles fizeram com que os Senadores se
tornassem os representantes dos Estados americanos. Mas, ao lado do Senado, fizeram o corpo da Câmara Fe-
deral.
E tanto os titulares do Senado, como os titulares da Câmara Federal, tiveram as suas funções temporárias
e tiveram a sua sucessão assegurada pelo texto da Lei.
Assim, criaram todos êstes meios de vincular aquêle pensamento universal de organização dos poderes à
realidade americana.
Mas, onde se tornaram maiores ainda aquêles homens, foi na construção da peça principal da organização
americana, que foi o Poder Judiciário. E o constituíram através daquela plêiade de puritanos, homens rígidos,
de vi_da exemplar e pensamentos dedicados à terra, chegados à America pelo "May-Flower,.
Esses puritanos trouxeram todos, do Império, a experiência da hierarquização das leis, das leis das colônias,
submetidas a um contrôle do Tribunal Colonial. E dêsse instrumento particular e pequenino, fizeram o grande
instrumento que garante as instituições americanas, a Suprema Côrte, que mantém a constitucionalidade da
lei, que mantém a hierarquização entre os preceitos constitucionais, entre os preceitos de leis originárias e entre
os preceitos hierárquicos, na falta de organização do Estado e do Município.
Eis então tôda essa obra-mestra na grande linha geral do pensamento universal, a contribuição objetiva,
a contribuição efetiva do pensamento de homens, juristas e políticos que, ao legislarem, não tinham diante dos
olhos outro quadro que não aquêle da sua própria terra.
Onde, entretanto, maior se fêz sentir a capacidade objetiva, o poder intuitivo daqueles homens, foi na cons~
tituição do federalismo.
Na base dêsse sistetna de coordenação de Estado é que êles puderam fazer a sua grande obra popular, fazendo
sua proclamação, criando uma Nação. Porque o federalismo americano tem uma base interessante; aquêles homens
fundaram um binômio: Nação e Estado; Nação que iam criar, Estados que já existiam, porque, antes da inde-
pendência americana, houve uma liga movida na defesa dos interêsses comerciais, com o fim de combate às taxas
e impostos. E esta liga viu que a sua ação não era suficiente. Então formou-se o desejo, no espírito de todos,
de uma libertação, de dar liberdade àqueles treze Estados que, se se tornaram soberanos e independentes embora,
estavam fracos, estavam isolados e, então, procuraram aglomerá~los e uni-los e deram então mais um passo no
sentido da unidade, fecharam mais um círculo, criando a Confederação Norte-Americana. Nessa Confederação,
os Estados se mantiveram soberanos, donos dos seus próprios destinos, compromissados apenas na defesa dos
ínterêsses que a Confederação pudesse apresentar.
Mas, também a Confederação não foi suficiente, sentiu-se fraca, viu o perigo da conquista dos adversários
da Nação americana e então, no Congresso de Filadélfia, deram mais um passo para a centralização, apertaram
mais o círculo e criaram a Federação Norte-Americana, Federação dos treze Estados. Naquele momento, e
depois de pronta a Carta de Filadélfia, tão fraco era o poder central, tão relativa era a obra lá realizada, que aquela
mesma obra teve que ser submetida à aprovação dos Estados. E os treze Estados, pouco a pouco, foram apro-
vando a Constituição Federal. E o tempo passou e, com o tempo, continuou a luta, continuaram os desencontros
e os desentendimentos. Aí então é que surge o organismo maior da organização americana - a Suprema Côrte
~ e nela se destacou a figura singular, a figura primordial do Juiz MARSHALL, aquêle Juiz que foi, sem dúvida
nenhuma, o construtor da unidade americana, porque, através dos seus julgados e da doutrina que desenvolveu
a Suprema Côrte, conseguiu aproximar mais ainda uns Estados dos outros.
Os desentendimentos prosseguiam e a ação do Judiciário não foi ainda suficiente, porque aquêles Estados
soberanos se acercaram das decisões do Supremo Tribunal e, entretanto, procuraram iludi-lo na prática, não
as cumprindo e até as contrariando. E então as armas decidiram os destinos americanos na Guerra da Secessão,
quando tivemos, de fato, a união da Nação Americana.
Ainda como conseqüência dêsse sistema de formação, encontramos a ação posteriormente desenvolvida pelos
órgãos federais da administração pública americana. Realmente, na administração americana, êstes órgãos
tiveram que hipertrofiar sua ação. Mas, neste exagêro, neste ultrapasse do âmbito da sua competência, ainda
vemos uma política nacionalista, porque êles mantinham a unidade da Nação.
Ora, quando no Brasil estudamos o federalismo, a figura insigne do incomparável Rui BARBOSA preocupou-se
num dado momento, porque êle viu, percebeu, que sua palavra estava sendo desvirtuada, que a sua lição estava
sendo mal compreendida. E êle desfechou uma luta moral contra a política inspirada por um grupo de São Paulo,
que tinha um conceito de soberania dupla: soberania do Estado e soberania da Nação. ~ste trabalho, entretanto,
veio mostrar-nos isto: que os nossos legisladores esquecem sempre dêste binômio americano que é certo: Estado
e Nação; mas, o binômio brasileiro é diferente, é: Nação e Município.
520 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNicfPIOS

Basta atentarmos ràpidamente para a História do Brasil. Nascemos como Ilha de Vera Cruz, passamos
a ser Terra de Santa Cruz e nos tornamos mais tarde, e para sempre, um nome só, Brasil. E os Estados Unidos
da América do Norte, até hoje, não têm nome próprio, porque são apenas Estados que se uniram na América
do Norte. De maneira que a nossa unidade sentimental é perfeita, a nossa unidade nominal é existente, é per~
manente, e nós também sabemos, mais do que isto, que a nossa unidade política é permanente, indestrutível.
Prova disso: quando os portuguêses pretenderam voltar suas vistas para a terra nova e aqui fazer uma estru-
turação administrativa, criaram o regime das capitanias. Nós, na llist6ria, apreendemos que fracassou o regime
da divisa. Mais tarde, vieram os dois Governos: o Govêrno-Geral, do Norte, e o Central, com ramificação, no
Sul. Fracassaram os dois Governos, porque o que nos serve é uma coisa só: um Govêrno nacional para esta terra
brasileira. Desta forma, nós vimos a lição magnífica da realidade política brasileira.
Mas nós ainda temos que reivindicar para o Municipalismo as duas maiores e mais autênticas manifestações
brasileiras.
Quando se tratava da guerra holandesa, a nossa terra nova - o povo ainda não formado - viu-se de repente
diante de um inimigo: a invasão pôrto a dentro e a Holanda tomando quase conta de Pernambuco. Portugal,
unido a nós, procurou socorrer-nos, mas, em determinado instante dessa luta, os inglêses entraram na contenda
e propuseram aos portuguêses que chegassem a um acôrdo. Portuguêses e holandeses dividindo o território bra-
sileiro, enquanto que a diplomacia européia, nos seus faustosos salões, até hoje existentes, discutia os destinos
desta terra nova, dêste povo que ainda não tinha uma consciência manifestada no Exterior. Acontecia, porém,
dentro das nossas florestas, no interior das nossas casas, um fenômeno absolutamente novo e imprevisível para
os estadistas europeus. Quem fêz êsse fenômeno? Os homens das Câmaras Municipais de Pernambuco, da
Bahia, do Maranhão, de São Paulo, que resolveram unir-se e dizer: ''Repilamos daqui os holandeses e com êles
os portuguêses, se fizeram acôrdo contra os nossos destinos".
Nós tivemos a prova disso tudo naquela página magnífica da Batalha de Guararapes, onde pregamos igual-
dade de raças dentro do Brasil; os negros de HENRIQUE DIAS, que vieram da África e aqui encontraram, neste
berço esplêndido, o sentido cristão da vida, somados aos índios, donos da terra, que formaram ao lado de FILIPE
CAMARÃo; e os brancos, também reunidos, quiseram afirmar que, daquele instante em diante, nós brasileiros não
admitiríamos que qualquer Nação, sob qualquer pretexto, debaixo de qualquer bandeira, nos entrasse portas
a dentro, para nos impor a sua vontade.
Hoje, já temos as primeiras manifestações nacionalistas, mas, naquele instante, existia apenas a consciência
da Pátria, o movimento era de um povo que se aglomerava. Aquêle movimento não tinha um sentido político.
O sentido político veio mais tarde, quando rompemos os nossos liames com a Nação portuguêsa. E eu vos per~
gunto: na hora da Independência, como foi ouvido o Brasil ? Quem disse que aceitava a independência e por
ela lutava até a morte? Foram as Câmaras Municipais brasileiras. Ora, Senhores, tanto no ato sentimental que
fundou a Pátria, como no ato político que confirmou a Nação, soberanos foram os Vereadores que afirmaram
ao Brasil que o binômio Nação e Município, para nós, é autêntico e está impresso em nossa realidade histórica.
Senhores Congressistas, vós sentís o Brasil, porque representais os nossos Municípios. Os homens que pre-
pararam êste recinto, em nome de São Paulo, vos enviam uma mensagem; essa mensagem todos vós deveis im-
primi-la no vosso sentimento e no vosso coração. Ela está sintetizada apenas nestas bandeiras nacionais que
aqui tremulam, em nome do Brasil. A mensagem da vossa intelig,ênc.ia, a mensagem do vosso espírito, vós a en-
contrareis naqueles dois b1 asões unidos nesta Casa: o brasão de São Vicente, com as armas de MARTIM AFONSO
DE SousA; ali estão simbolizadas as tradições do velho Portugal, dos seus homens da estirpe moral e da coragem
de MARTIM AFONSO DE SOUSA.
Pois bem, Vereadores e Prefeitos, ao voltardes às vossas Câmaras, lembrai-vos de que os brasões nos ins-
piram o verdadeiro sentido da política brasileira, que tem a sua ucellula mater" nos seus Municípios.
Como que por um desígnio superior, instala-se êste Congresso hoje, no "Dia da América", 12 de outubro.
Nesta hora do mundo, nesta hora inquieta de dores e sofrimentos, em que a humanidade não sabe mais como re·
solver os seus problemas, milhões de homens se voltam para a América e na América encontram êles a melhor
aclimatação na terra brasileira. Nós temos um destino a cumprir, e eu vos pergunto: já estamos preparados
para êsse destino ?
Ressoam no meu ouvido, ainda, as palavras magníficas do Senhor Presidente da República, quando nos fêz
um apêlo para que esquecêssemos as rixas pessoais, e superássemos as distinções das legendas e nos tornãssemos
um corpo só, através de uma obra administrativa que repusesse o Brasil no seu verdadeiro sentido histórico.
Meus amigos, há milhares de vidas desesperançadas no mundo, que no dia de amanhã levantarão o mastro
nas praias brasileiras da América do Sul. E nós temos uma mensagem a dizer a êsse mundo. Qual é essa mensa-
gem que temos a dizer a êste mundo exausto, a êste mundo sem fé, a êste mundo alquebrado, a êste mundo incerto
dos dias de amanhã? Nós recebemos um dia essa mensagem; ela nos veio palpitante nas veias das caravelas:
foram as cruzes de Cristo, que vieram dizer-nos que nós temos que criar o reino da Caridade, o reino da Amizade,
o reino da Fraternidade, porque só com o Amor se constrói, com o Ódio se mata, se sepulta.
Portanto, vamo-nos preparar todos, ao voltarmos aos nossos Municípios, para criar a grande União Brasi-
leira, a fim de que, na hora em que a guerra vier mais uma vez fazer fremir o Velho Mundo nos seus alicerces,
possamos dizer aos nossos irmãos de lã: "As praias brasileiras estão abertas e, do alto do Corcovado o Cristo
vos recebe com o amor da raça brasileira!"

DISCURSO DO SR. LUCAS GARCEZ

Agradecendo o comparecimento do Sr. GETÚLIO VARGAS, o Sr LUCAS NOGUEIRA GARCEZ pronunciou o se-
guinte discurso:

"O Governador do Estado de São Paulo tem a honra de participar da sessão de instalação do II Con-
gresso Nacional dos Municípios Brasileiros, que, em virtude da resolução aprovada no I Congresso, rea-
lizado em abril de 1950, em Petrópolis, tem sede na cidade de São Vicente, um dos mais antigos Municípios do
Brasil.
Em nome do povo paulista agradeço a honra da escolha que vetn trazer para a história desta velha e encan-
tadora cidade mais um motivo para orgulho de suas tradições. Pois que o conclave que ora se inaugura tem um
caráter de alta transcendência para o futuro de nossa Pátria e o aprimoramento das instituições do nosso regime
político.
Como membro da Comissão de Honra do Congresso e como Governador do Estado congratulo-me com todos
os participantes desta reunião histórica pela honrosa presença do Excelentíssimo Senhor Presidente GETÚLIO
VARGAS, que veio trazer pessoalmente o testemunho do seu valiosíssimo apoio à iniciativa. Sua Excelência,
que vem prestigiando em seu esclarecido Govêrno todos os empreendimentos inspirados no propósito de promover
o engrandecimento de nossa terra, consagra o caráter idealista que inspirou êste Congresso. Saúdo, portanto,
na pessoa do preclaro Chefe da Nação, o grande brasileiro que tanto tem feito pelo bem do Município, no seu
patriotismo infatigável, construtivo e bem orientado.
Senhores Congressistas:
Em certa ocasião, o ilustre Professor FRANCISCo CAMPOS teve a oportunidade de afirmar que a vida polí-
tica do Município é permanentemente ativa e absorve efetivamente o interêsse do povo. A observação corres-
pende plenamente à realidade, pois na pequena célula municipal funciona o Estado, que os indivíduos sentem
influenciando mais diretamente em sua vida social, regulamentando a construção da casa, fornecendo água, fisca~
lizando a venda dos alimentos, instituindo as posturas que asseguram o sossêgo e a higiene das ruas, legislando
sôbre o sepultamento dos mortos. O Govêrno do Município interessa, pois, aos indivíduos mais que o do Estado
ou o da União, porque é o Govêrno mais próximo. Por isso, é necessário fortalecer e enriquecer o Muni.:ípio
através de um racional sistema de discriminação de rendas.
O li CoNGREsso NACIONAL nos MuNICÍPIOs BRASILEIROs 521

Reconhecendo êste fato social indiscutível, a- Constituição política do País assegurou ao Município uma auto-
nomia inviolável, a fim de que a representação municipal tenha a maior dignidade possível, pois é o Govêrno
que entrelaça intimamente as pessoas dos governantes e dos governados nas mesmas condições locais de vida,
nas mesmas aspirações legítimas de felicidade e nas mesmas afeições sentimentais.
No entanto, é forçoso reconhecer que, apesar do progresso social, político e econômico do País, o Govêrno
do Município apresenta ainda lacunas sensíveis, que provêm de muitas circunstâncias históricas. O Govêrno
da União e o Govêrno dos Estados, não sõmente pelos seus recursos financeiros mais largos, mas também por
terem podido contar com a contribuição de material humano mais abundante, já lograram montar a máquina
áe sua administração em bases mais aperfeiçoadas e eficientes. O Município, porém, ilhado nos seus limites
e jungido à estreiteza de seus orçamentos, não pôde ainda preparar-se convenientemente para exercer com a dese-
jada proficiência sua missão de governar, isto é, promover o bem público e administrar os dinheiros que provêm
da arrecadação de tributos.
Por isso, altamente acertado é o programa da Associação Brasileira dos Muuicípios de propagar a noção de
que cabe aos dirigentes dos Municípios o dever de estudar os problemas da sua administração, com o propósito
de resolvê-los no sentido da mais profunda integração nacional das células Municipais, onde realmente se elabora
a vida do País.
O I Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros, realizado em Petrópolis há dois anos, revelou
a existê-ncia de absoluta compreensão do problema, por parte dos dirigentes dos Municípios, de Norte a Sul do
Brasil, dirigentes êsses que têm consciência clara de sua missão, conhecimento das deficiências existentes no apa-
relho da administração e desejo de superarem os obstáculos para a solução dos problemas da coletividade.
Nos Problemas de Base do Brasil, publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que
mencionam muitos e importantes aspectos da vida nacional, se reconhece que "no plano municipal, a dispersão
de esforços e a falta de uma orientação coordenada chegaram a tal ponto, que já houve o comêço de reação com
o instituírem-se os Departamentos de Municipalidades, infelizmente mais propensos a fiscalizar do que a assistir.
Ali, com efeito, a multiplicidâde dos tipos de organização crescia de ponto, retirando ao panorama da vida dos
Municípios brasileiros todo o sentido de progresso orgânico".
Mas a realização dêste l i Congresso revela com meridiana clareza a existência da noção de que é im-
prescindível discutir em conjunto os graves problemas que assoberbam a vida dos Municípios, para a busca das
melhores soluções, visando à edificação de uma obra que efetivamente possa concorrer para proporcionar o pro-
gresso do Município, a mais antiga unidade administrativa criada no País.
Como Governador de São Paulo posso dar um testemunho público. Em cêrca de dois anos de Govêrno
tenho estado constantemente em contato com os dirigentes dos Municípios - Prefeitos e Vereadores - rece·
bendo-os quinzenalmente em audiência e visitando quase semanalmente o Interior. Tenho sentido de perto as
aflições dos governantes municipais, que se vêem a braços com problemas urgentes a que não podem dar remédio
e vêm por isso pedir a ajuda do Govêrno Estadual. Mas posso também dar um outro testemunho, e êste com
orgulho patriótico. Tenho sentido igualmente, nesses contatos, pulsar no coração dêsses representantes do povo
o mais puro e mais nobre espírito de realização, num desejo sincero de procurar os meios existentes para solução
dos problemas de suas coletividades, que é a elevada ambição de ver engrandecida a terra que os elegeu. E
a existência dêste idealismo é a garantia de que será possível realizar a tarefa de engrandecimento de nossa Pátria,
na qual se empenham com firmeza os homens de boa vontade.
Foi pensando na necessidade de prestar maior auxílio aos Municípios, dentro das normas constitucionais
asseguradoras de sua soberania, que determinei a elaboração de um projeto de lei criando na Secretaria do Go-
vêrno o Departamento de Assistência aos Municípios, destinado a dar ao Estado um instrumento adequado para
cooperar com o Município, prestando-lhe a assistência técnica, sem eiva de tutela e sem intuitos de fiscalização,
porque ficará rigorosamente dentro do respeito da autonomia que o Município deve ter. Êsse projeto de lei,
que se acha na fase final de sua elaboração, será dentro em pouco encaminhado à alta consideração da augusta
Assembléia Legislativa.
Louvando êste magnífico empreendimento, aplaudindo vosso fecundo esfôrço pelo progresso de nossa terra,
desejo que vossos trabalhos se desenvolvam sob o mesmo sentido patriótico que presidiu à convocação dêste
Congresso. Que o amor à Pátria e o sentido de unidade do Brasil orientem sempre as vossas discussões e inspirem
as resoluções que tornardes, é o desejo que formulo no limiar da jornada que empreendeis. Confio na esperança
que vos despertou e na fé que vos anima a empreender esta caminhada, na certeza de que os passos bem orientados
1evam sempre pelos melhores caminhos aos mais felizes destinos.
Como Governador do Estado agradeço ao Excelentíssimo Senhor Presidente GETÚLIO VARGAS seu honroso
comparecimento a êste Congresso, emprestando-lhe a importância que decorre da presença de sua ilustre perso-
nalidade de estadista, de homem de Govêrno, que tem dedicado a maior atenção aos problemas do Município
brasileiro, e de supremo magistrado da Nação.
Como Governador de São Paulo, saúdo todos os representantes de Municípios brasileiros, que, nesta noite
histórica, vêm a esta tradicional cidade de São Vicente trazer a contribuição de sua inteligência, de sua cultura,
de seu idealismo, de seu amor à Pátria, a uma obra que se destina ao mais glorioso sucesso. Desejo a todos que
vieram de distantes rincões do Pais que tenham feliz permanência nesta velha e acolhedora cidade, que foi uma
das sementes da colonização e do povoamento, naqueles dias em que o Brasil era ainda a irrevelada selva.
O espírito que germinou aqui foi o de trabalho, de igualdade e de concórdia. Como São Vicente, cresceu
o Brasil, sem reservas, como uma nação unificada pela mesma língua e pela crença no mesmo Deus. E é nessa
língua mantenedoca da unidade da Pátria e com a esperança em Deus e no futuro do Brasil, unido de Norte a
Sul, que o Governador de São Paulo vos recebe em um recanto histórico de seu Estado, como se recebem irmãos,
de coração aberto e na simplicidade dos mais sinceros desejos de coope1 ação e harmonia na realização de uma
gigantesca tarefa, que é do interêsse de todos os brasileiros.''

DISCURSO DO SR. GETÚLIO VARGAS

Encerrou a série de discursos e a sessão de instalação o Presidente da República, transmitindo aos congres-
sistas o pensan1ento d') Govêrno Federal actrca da Campanha Municipalista e da solução dos inúmeros problemas
que enfrentam as 1\iunicipalidades brasileiras, em sua quase totalidade, para proporcionar ao povo o amparo,
a assistência e o confôrto a que tem direito. Foram as seguintes as palavras do Chefe do Govêrno Federal:

"Foi singularmente feliz a escolha da cidade de São Vicente para a realização dêste II Congresso dos Muni-
cípios Brasileiros, que congrega para um exame dos problemas comuns os representantes dessas unidades polí-
ticas municipais, em cujo seio repercutem e em cuja alçada recaem as questê?es de interêsse mais imediato para
o confôrto, a segurança e o bem-estar dos cidadãos.
Foi, com efeito, neste litoral paulista que se firmou o primeiro estabelecimento civilizado em nosso Paír., e
desta terra brotaram as primeiras sementes dêsse espírito cívico e dessa forte noção de solidariedade comuna!
que animou, com vitalidade tão notável, a nossa história colonial, e que se reflete na robustez com que o princí-
pio da autonon1ia dos Municípios se projetou em nosso sistema jurídico.
O Município é a fôrça modeladora da vida política, bem como da vida econômica do País. As liberdades
municipais são a base da democracia, pois é no âmbito do Município que o cidadão exerce o direito do voto que
lhe permite escolher os mandatários a quem confia os seus interêsses. A prosperidade da economia municipal,
por outro lado, é ao mesmo tempo um índice fiel e seguro esteio do desenvolvimento econômico.
Daí a constante preocupação do meu Govêrno no sentido de manter em dia os compromissos da União Federal
para com os Municípios, a fim de que não faltem à operosidade das administrações locais os recursos que lhes
atribuiu a Constituição. É testemunho dêsse cuidado a Mensagem que enviei ao Congresso Nacional em julho
do corrente ano, solicitando a abertura de um crédito especial de 250 milhões de cruzeiros, destinado ao pagamento,
.522 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

aos Municípios, da quota que ainda lhes era devida sôbre a percentagem do impôsto de renda a~re<:_adado em 1?51.
E ainda, nesta última semana, assinei decreto autorizando o pa~a:nento de uma quota de 80 mllhoes de cruzetros,
devida ao mesmo título e correspondente ao mesmo exerctcto.
Não é pensamento do Govêrno, nem corresponde à boa prática administrativa, admitir que a. autori?ade
municipal se possa substituir com órgãos federais na execução daquelas obras d~ grande.;:ulto e de âmblt~ nacw~al
cujo ônus e orientação pertencem de tôda evidência a ull?-a esfera de competên~t~ d?- Untao; mas nem Pc;?r tsso detxa
de subsistir 0 fato de que a União pode e deve encorajar os .Govc:rnos Muntctp~ts, e colabor~r co~ e_les, na reaM
lização de empreendimentos tendentes a benefic~ar de modo ~~~dtato as resp~cttvas po~ulaçoes, mtms~rando ao
seu confôrto pessoal ou abrindo novas.. pc:rspe~t~vas à sua .a~tvtda~e econ~mu::a. Para 1sso, é necessâno que os
recurso~ financeiros e os meios técnicos a dtspostçao das admtntstraçoes locats seJam adequados às tarefas a desem~
penhar. . d M . • . . . • .
Eis por que observo, com satisfação, que a mator ~a~te '?s nossos untctpt~s anseta por uma_asst~tencta
técnica que permita a reestruturação de seus_ quadros. B:dmt.mstrat.tvos ,e do seu mecantsmo. de_arrecadaç.ao, vtsand_o
à simplificação burocrática e melhores padro_es de eftctêncta; Dtsso ~ p~ova a r~ct;nte cnaçao '!o I?stltuto Brasi-
leiro de Administração Municipal, emanaçao da beneménta Assoctaçao Brastletra dos Muntcfptos e fruto do
Congresso de Petr6polis, em cuja Carta se inscrevem recomendações de alta transcendência. Entre elas desta-
cam-se as que dizem respeito à concessão de facilidades para o desenvolvimento de indústria; a localização de
postos agropecuários visando ao incentivo da exploração rural; a criação de cooperativas de produção, consumo
e crédito; o censo da população escolar e manutenção da educação pública e a organização de estabelecimentos
de crédito para financiamento da produção. Essas providências, em conjunto, valem por um planejamento que,
sem acarretar excessivos encargos financeiros, produzirá benefícios imediatos e crescentes.
Muito me preocupa, igualmente, o fato de que, sendo nitidamente rural a fisionomia da grande maioria dos
Municípios brasileiros, a nossa economia agrãria, mercê de fatôres inerentes a uma estrutura social herdada de
outros tempos, ainda não se plasmou em feição consentânea com o progresso de nossfl hinterlândia e com elevação
do padrão-de~ vida das populações do Interior. Não pode mais ser protelaci.a uma reforma agrária que, sem atentar
contra a ordem econômica e social garantida por nossas leis, franqueie ao esfôrço de um povo laborioso as vastas
extensões de terras que a inação dos latifundiários mantém desertas e improdutivas. É direito do Estado pro-
mover a desapropriação dessas terras, para permitir ao homem dos campos a realização do seu mais caro desejo
e sua mais legítima aspiração; tornar-se dono da terra que cultiva com tanto esfôrço, e com tanto amor. A criaçãr.J
da pequena e média propriedade rural é tarefa que se impõe à nossa geração, para que sirva de base à pr6pria
estrutura social do País, como fator decisivo de estabilidade e equilíbrio. Ela vi:râ estimular poderosamente
o esfôrço de produção no setor agropecuário e promover a fixação ao solo de contingentes demográficos atualmente
tornados instáveis pelas condições flutuantes do mercado de trabalho agrícola.
O Gov~rno Federal tem a sua atenção voltada, do modo mais decidido, para êste magno problema, e espera
poder encaminhar brevemente, ao Congresso Nacional, o projeto do estatuto que vai consubstanciar os cuidadosos
estudos já realizados sôbre a matéria pela Comissão Nacional de Política Agrária.
A mesma preocupação de vir em auxílio de populações rurais inspirou, outrossim, a orientação do Govêrno
no sentido de estender a todo vasto Interior do País os benefícios do progresso e da civilização, amparando a agri-
cultura, descentralizando a indústria, expandindo o mercado interno e criando, assim, melhores condições de
existência.
É assim que já se acha assegurada, por uma legislação de preços mínimos que visa a garantir o futuro mais
ainda do que atender às emergências do presente, a estabilidade dos preços dos produtos da agricultura e da pecu-
ária. Por outro lado, foi possível promover uma notável ampliação do sistema de crédito agrícola, no sentido
de torná-lo mais acessível, mais rápido e mais desembaraçado de formalidades legais ou burocráticas. A criação
do Serviço Social Rural, que já foi objeto de projeto de lei encaminhado ao Poder Legislativo, deverâ completar
essa estrutura de amparo ao homem do campo.
Senhores Congressistas:
É com prazer que aproveito êste ensejo para fazer uma comunicação de elevado alcance para os Municípios
que representais, o que vale dizer, para tôda a comunidade nacional.
Vivamente impressionado com o fato de que, dos 1 900 Municípios brasileiros, mais de 1 500 não dispõem
de serviço de abastecimento de ãgua, o meu Govêrno decidiu facilitar aos Governos Municipais os recursos necesM
sârios para atender a essa necessidade imperiosa e elementar de seus habitantes.
Acabo de autorizar, portanto, à Secretaria da Presidência da República a receber, para encaminhamento
às autoridades apropriadas, pedidos e projetos de financiamento para serviços públicos essenciais ao desenvolM
vimento econômico e ao bem-estar das populações, como sejam água, luz e esgôto.
Para tanto serão mobilizados recursos financeiros do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, do
Banco do Brasil, das Caixas Econômicas Federais e das instituições de previdência social, além da utilização
das i~eservas técnicas das companhias de seguro, que terão, assim, aplicação mais consentânea com os altos inte-
rêsses da coletividade. Será assegurada, igualmente, a necessária assistência técnica, consubstanciada na elaM
boração dos respectivos projetos, que ficarão a cargo de entidades governamentais ou privadas, de reconhecida
ídoneidade profissional.
Êsse plano acarretará, sem dúvida, o dispêndio de vultosas quantias: tais gastos, porém, devem ser consi-
derados como proveitosas e benéficas inversões de capital, porquanto é bem sabido que a ausência de facilidades
adequadas de abastecimento de ãgua e de saneamento é responsável por excessivos índices de mortalidade e pela
alta incidência de numerosas moléstias, prejudicando assim o nosso crescimento demográfico e a capacidade de
trabalho de nossa gente. É fato provado que a supressão de vários tipos de endemias, responsáveis pela baixa
produtividade e subdesenvolvimento econômico de algumas regiões, pode ser conseguida tão sOmente com a ins-
talação de serviços de água e esgotos.
Atendendo a que a construção da rêde de esgotos depende da existência de água em abundância, firmou-se
o critério de que o abastecimento de água terá absoluta prioridade, entre os serviços públicos municipais a serem
instalaàos.
Dessa forma, removidos os obstáculos principais à execução dêsses serviços, que são a falta de financiamento
a juros baixos e o custo relativamente elevado dos projetos técnicos, espera o Govêrno Federal poder contemplar
gradativamente tôdas as localidades que ainda não dispõem dêsses serviços tão intimamente ligados ao progresso,
à saúde e ao confôrto de tantas regiões até agora esquecidas e abandonadas.
Senhores Congressistas:
Faço votos para que os vossos patri6ticos e merit6rios trabalhos sejam coroados de êxito e que do exame
de problemas comuns, aqui empreendido, resultem conclusões e recomendações benéficas para a totalidade dos
brasileiros. A êsses esforços e a êsses resultados jamais faltarão o aplauso e o apoio do Govêrno Federal, cujo
vivo interêsse em vossas deliberações quis demonstrar, vindo ao vosso encontro. Natural de um pequeno Muni-
cípio nos confins da Pâtria, tendo iniciado a minha vida pública no âmbito das atividades cívicas municipais,
sinto-me perfeitamente ir1tegrado nos problemas e nas preocupações que aqui se reftetem, e predisposto a acolher
com a maior simpatia e o mais decidido espírito de cooperação as sugestões que daqui emanarem. O Govêrno
Federal estará atento aos vossos desejos e partilha a vossa aspiração de levar a todos os rincões do País, desde
a orla litorânea até às mais remotas fronteiras, o confôrto, o bem-estar e a felicidade que serão alcançados pela
união dos vossos esforços e pela estreita solidariedade entre governantes e governados."

CoMISSÃo TÉcNICA CooRDENADORA

De acôrdo com o previsto no Regimento Interno, foi constituída de elementos indicados pela Associação
Brasileira dos Munic!pios a Comissão Técnica Coordenadora, à qual incumbia proceder à "classificação dos
trabalhos recebidos, segundo os itens do Temârio, bem como, em contato com as Comissões Técnicas, coordenar
Ü 11 CONGRESSO NACIONAL DOS MuNICÍPIOS BRASILEIROS 523

as atividades gerais do Congr,esso e preparar a coordenação da matéria" Compunha-se dos seguintes membros:
Presidente - Deputado NÉLSON OMEGNA; Secretário-Geral - ANTÔNIO LÚciO; Membros -FRANCISCO MA-
CHADO VILA, IVES ORLANDO TITO DE OLIVEIRA, ARAÚJO CAVALCÂNTI, ÜSÓRIO NUNES, AFONSO ALMIRO,
JOSÉ RIBAMAR DE CARVALHO, Lufs GONZAGA DE SILOS, JOAQUIM NEVES PEREIRA, GÉRSON AUGUSTO DA
SILVA, ANl'ÔNIO PEZZOLO, FRANCISCO BURKINsrn, MARCOS MÉLEGA, CARLOS MACHADO, JUNQlJEIRA FERRAZ,
ANTÔNIO BUENO CAPOLUPo e OsMAR CUNHA; Coordenadores dos trabalhos das Con1issões Técnicas -- OsóRIO
NUNES, FRANCISCO BURKINSKI e JosÉ RIBAMAR DE CARVALHO; Coordenadores das atividades do Congresso
~- ARAÚJO CAVALCÂNTI e jOAQUIM NEVES PEREIRA; Elemento de ligação entre as Comissões e a 1\t!esa do
Congresso - MANUEL DIÉGUES JÚNIOR

COMISSÕES TÉCNICAS

Para a apreciação da matéria constante do Temário que teria de ser discutido no Congresso, foram criada3
5 Comissões Têcnicas, correspondentes a cada um dos itens do Temário, as quais assim se constituiram:

1 a Comissão Técnica (Direito Municipal) - Presidente - Vereador ]UNQUEIRA FERRAZ; 1 o Více4


4Presidente --Vereador JoÃo BATISTA VrziOLI; 2. 0 Vice-Presidente --Prefeito OSCAR RIBEIRO GoNÇALVEs;
1 ° Secretário- Vereador Luís RIBEIRO DO VALE; 2. 0 Secretário ---Prefeito ANTÔNIO AUGUSTO DE CAR-
VALHO NETO; Relator Geral- AFONSO ALMIRO; Assessôres-Técnicos - Luís G DA SILVA, J BETTI, SE-
BASTIÃO G SIMÕES, JOÃO B VIZIOLI, ANTÔNIO J. ARCHETTI, BRUNO MARTINS, FRANCISCO P PEIXÃO,
LUÍS CENTARI, OSCAR R. GONÇALVES. NATANIEL A R. GoNÇALVES, JOSÉ OLIVEIRA COSTA, MESSIAS DE
SOUSA COSTA, F. A. CARNEIRO, ANTÔNIO PIZZOLI, EDMAR DIAS BEXIGA, OSVALDO TOSCHI, GERALDO B. DO
CARMO, GERLES GAMA, LOURIVAL MOREIRA DO AMARAL, SEVERIANO B ALMEIDA, JosÉ C. L DE ALMEIDA,
MARCOS MÉLECA, LUÍS LÔBO NETO, N CAMARASONE, 0LINDO MIRANDA DE SOUSA, ANTÔNIO SILVEIRA
BRASIL, JoSÉ ARAÚJO MENDES, JOSÉ FRANCISCO DE PAULO e MANUEL FERREIRA DE MELLO

2 a Comissão Técnica (Economia Municipal) - Presidente - Vereador CARLOS MACHADO; 1 o Vice-


Presidente - ANTÔNIO GALVÃO CAVALCÂNTI; 2 o Vice-Presidente - Vereador LuciANO MAGALHÃES; Se-
cretário- EDIVAL LEMOS SANTOS; Relator Geral- NÉLSON DE Assis; Assessôres-Técnicos- ANTÔNIO Lúcro,
J BETTI, JosÉ PORFÍRIO, JOSÉ C LOPES, GASPERINO ROCHA, MOISÉS CHERPEVAL, MAR'l'INS ARANHA
ELIAS MoiSÉS ELIAS, JosÉ OLIVEIRA COSTA, ÂNGELO NOVI, ANTÔNIO PIZZOLI, EDMAR DIAS BEXIGA, Os,
VALDO TosCHI, GERALDO B DO CARMO, FRANCISCO G. M. NoGUEIRA e MANUEL FERREIRA DE MELLO-

3 a Comissão Técnica (Assistência Social) - Presidente - Vereador ANTÔNIO BUENO CAPOLUPO;


1 ° Vice-Presidente - JoÃo BATISTA ALVES dos REIS; 2 o Vice-Presidente - Luís RoGÉRIO; Secretário-
HEITOR RITZEL; Relator Geral - Vereador BERALDO MADEIRA DA SILVA; Assessôres-Técnicos -- JosÉ
PORFÍRIO, GASPARINO RoCHA, JUVENAL DE CAMPOS, CLÓVIS DANTAS RAMALHO, JOSÉ HOLANDA, JosÉ B.
HELMAISTER, JosÉ OLIVEIRA COSTA, MESSIAS S CoSTA, PAULO CARNEIRO, ÂNGELO NOVI, GERALDO B. DO
CARMO, FRANCISCO G M NOGUEIRA, 0LINDO M. DE SOUSA, SEVERINO B ALMEIDA, JosÉ ARAÚJO
MENDES, BERALDO M. SILVA e FERNANDO SCALAMANDRÉ JúNIOR

4.a Comissão Técnica (Planejamento Municipal) - Presidente - OsMAR CuNHA; 1 ° Vice-Presidente -


ERASTO GAETNER; 2 o Vice-Presidente - JoRGE FIALHO; Secretário - Vereador NICOLAU TUMA; Relator
Geral -MOACIR SANTANA; Assessor TécnicÔ - ARAÚJO CAVALCÂNTI.

5 a Comissão Técnica (O Município e a Reforma Co!l.stitucional) -- Presidente - Vereador MARCOS


MÉLECA; 1 ° Vice-Pre3idente - MILTON MENEZES; 2 ° Vice-Presidente -- FIÚZA DE CASTRO; 1 ° Secretário
- JoÃO BEZERRA; 2 ° Secretário -- Vereador MESSIAS SOUSA COSTA; Relatores - CARLOS GRIMALDI, JOSÉ
CUPERTINO DE ALMEIDA, EVALDO DE MELO, DELORENZO NETO e IVES DE OLIVEIRA; Assessôre:s-Técnicos -
JORGE BETTI, ANTÔNIO DARDIS NETTO, JosÉ OLIVEIRA CosTA, MEsSIAs S Co3TA, ANTÔNIO PEzzoLo, GERALDO
E DO CARMO, FRANCISCO G M. No::mElRA, GERLES GAMA, LOURIVAL MOREIRA DO AMARAL, 0LINDO M
SoUSA, UBIRATÃ PINTO DA COSTA, JosÉ C. LEITE ALMEIDA, NICOLAU TUMA, MARCOS MÉLEGA, LUÍS LÔBO
NETO e NILO CAMAROSANO

Subcomissões Técnicas da 4 a Comissão -- 1. 6 Organização Administrativa -· ORLANDO CARIELO. -


2 a Planejamento Econômico, Financeiro e Social - HENRIQUE MAGALHÃES. - 3 a Urbanismo - LINCOLN
CoNTINENTINO - 4 a Planejamento e Execução de Serviços Públicos Municipais ~ LAURO BORB>\. - 5 a
Convênios e Acordos Interadministrativos - JoÃo BOTELHO.

0 TRABALHO DAS CoMISSÕES

1 a Comissão Técnica

(Direito Municipal)

Foram apresentadas 64 Teses e diversas Indicações, algumas das quais rejeitadas ou encaminhadas a outras
Comissões;
- A Azrecadação do lmpdsto de Vendas e Consignações - Rur DO VALE PENTEADO, Prefeito de
Guaratã.
- Legislação Tributária - Do lmpdsto pago pelas Filiais cuja Matriz esteja em outro Município
- NATANIEL RUBENS RIBEIRO GONÇALVES, de São Félix;
--Legislação Tributázia ~ Entrave de Barreiras - Contribuiçãc da Comissão Federal de Abas-
tecimento e Preços (C O F A P );
- Princípios, Direitos e Reivindicações Municipais - Vereador ÂLVARO RONDON PoNTES, DE
Aquidauana;
524 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

- Conferência Nacional de Po11tica Financeira e Legislação Tributária - Vereador ANTÔNIO


PEZZOLO, de Santo André:
- Princípios, Direitos e Reivindicações Municipais - Prefeito ERfsro FoNTES CUNHA, de Pôrto
de Pedras;
- A Participação dos Municípios nas Rendas Públicas -- WILSON TRONcoso e outros Vereadores
de Birigüi.
- Entrega aos Municípios da Quota do Fundo Rodoviário Nacional - Prefeito FREDERICO Pov
FILHO, de Piratuba.
- Unificação e Distribuição da Arrecadação Pública - FREDERICO PARDINI, da Delegação de Poços
de Caldas.
- Cálculos sdbre o Excesso de Arrecadação Estadual dos Municípios - Prefeito FRANCISCO DE
PAULA LEITE NOGUEIRA, de Rubiãcea.
- Taxa de Turismo -- JosÉ DE OLIVEIRA CosTA, da Delegação de Petrópolis.
- Ajuda Financeira aos Municípios que são cortados por Estradas Federais - Idem.
-- Divisão Percentual das Rendas Brasileiras - idem.
- Emancipação Tributária Municipal - SINÉSIO CAMPOS XAVIER, Chefe do Departamento da
Fazenda da Prefeitura de Petrópolis.
- Artigo 20 da Constituição Federal - Deputado MíLTON SALES
- Proposta de Denominação para as Conclusões dos Congressos Nacionais de Municípios
Vereador ANTÔNIO PEZZOLO, de Santo André.
Sugestões para Elaboração da li Carta de Princípios, Direitos e Reivindicações Municipais
Idem
Reivindicações do Município de Santa Rosa do Viterbo, Estado de São Paulo - Vereador JosÉ
MASSON, Presidente da Câmara Municipal de Santa Rosa do Viterbo.
- Tributação - Idem.
- lmpôsto de Vendas e Consignações -- Incidência e Local de Recolhimento - Câmara l\1unicipal
de Viterbo.
- Necessidade Imperiosa e Urgente de se criar no País Mentalidade Cívica que se distinga por
Alta Educação Política e Profundo Sentintento de Humanidade - Deputado MANUEL COSTA, de Minas
Gerais,
- Municipalismo - Prefeito OSVALDO FARIA, de Mirandópolis.
-~ O Projeto Aliomar Baleeiro e a Denominação da Cátedra de" Direito, Govêrno e Finanças Mu~
nicipais" - IVES ORLANDO TITO DE OLIVEIRA, Representante da Associação de Municípios da Bahia
- Criação da Cáted1a do Direito Municipal-- Diversos Vereadores e Prefeitos
- Associação Antazonense de Municípios - Prefeito FRANCISCO CHAGAS DE ALMEIDA, de Benw
jamim Constant.
- Da InconstltucionaHdade do Artigo 34 da Constituição Estadual do Ceará, da Lei Estadual
n ° 227, de 18 de julho de 1948 (Lei Org!lnica dos Municípios) - Câmara Municipal de Fortaleza
- A Delorenzo Neto e a Codificação Municipal - IvEs ORLANDO TITO DE OLIVEIRA, Representante
da Associação dos Municípios da Bahia
- Govêrno Rural - Deputado RUI RAMOS.
- A Nova Divisão Administrativa. e Judiciária e seu Reflexo na Economia Nacional.
- Problemas do Município de Bôca do Acre - DANILO DE AGUIAR CORREIA, do Amazonas
- Da. Descentralização dos Institutos de Aposentadoria e Pensões - Vereador CLÁUDIO TA-
KESHI1'A, de São Bernardo do Campo.
- Imunidade dos Vereadores - SEBASTIÃO GUAENAES SIMÕES, Diretor da Câmara Municipal de
Garça
- Tese sôbre Diversos Assuntos de Interêsse Municipal -~ Câmara Municipal de São Vicente
- Pagamento aos Municípios do Interior de 10% do Produto da Arrecadação dos Impostos de
Consumo e de Importação e Afins, PJ:etende o ProJeto de Lei no 656/51, subscrito pelos Deputados
Federais CuNHA BUENO e NÉLSON OMEGNA Prefeitos e Vereadores da Zona Araraquarense de
São Paulo.
-Direito Municipal-- Prefeitura Municipal de Petrópolis.
- Associações Municipais; Federações Estaduais de Municípios; e Confederação Nacional de
Municípios. - Prefeito CoRDOLINO JosÉ AMBRÓSIO e AMIL ALVES, Secretário da Prefeitura.
- Da Necessidade de se Ampliar a Azrecadação Municipal -- Vereador JosÉ CUPERTINO LEITE
DE ALMEIDA, de Vitória.
- Os Municípios do Médio São Francisco na Comunidade Nacional - Delegação do Município
de Coração de Jesus.
-- Carta de Pzincípios, Direitos e Reivindicações Municipais OSÓRIO NUNES - do Distrito
Federal.
Carta de New Orleans - ANTÔNIO PEZZOLO, de Santo André.
O Dia do Município Americano --· Idem.
Sugestões para a Representação Brasileira ao li Congresso Interamericano de Municípios
Idem.
- Imoôsto de Transmissão de Pzopriedade nos Terrít6ríos -Prefeitura do Amapá.
- Os Municípios em Face dos Descontos para o I A P.I -Prefeitos e Presidente da Câmara de
Timoneira e Colombo
- Impôsto de Licença e sua Incidência - GASPAR DE MENDONÇA, de Macei6
- Classificação Orçamentária da Despesa -- Prefeitura de São Paulo.
- Problema da Energia Elétrica no Município - Piracicaba.
O II CoNGREsso NACIONAL nos MuNICÍPIOS BRASILEIROS 525

- Energia Elétrica - LAERTE MrcHIELIN, de Araras.


- Revogação do Decreta~ lei no 8 207, de 27-11-45, revertendo para os Municípios os Bens oriundos
de Hezança Jacente.
- Assegurar aos Prefeitos o Direito de escolher o Delegado de Polícia e Revisão da. Discriminação
de Renda - Associação Amazonense de Municípios
- Aplicação dos Saldos das Caixas Econômicas - Câmara Municipal de Pirassununga
-- Associação Amazonense de Municípios - Município de Borba
-- Município ele São Félix - Bahia.
- Associação Amazonense de Municípios - Município de Humaitá.
-- Associação Amazonense de Municípios - JoAQUIM PAULINO GOMES, de Carauari.
~- Receita de Combustíveis e Lubrificantes - Rui DO VALE PENTEADO, de Guarantã.
-- l~pôsto sôbre Energia Elétrica - Campinas
-- Participação de 10% - lmpôsto de Consumo
- Denúncia dos Convênios Municipais --- Marília.
- Denúncia dos Convênios - Birigüi.
- Direito Municipal - S. Luís do Quitunde.
- Tributação - ARISTEU CAVALCÂNTI.
- Limite de Receita para Criação de Municípios -- General Salgado, de São Paulo.
-- A Comissão Representativa de ]undiai - ANTÔNIO DE PÁDUA NoGUEIRA DE SÁ, ]OL FULLER,
JOAQUIM CANDELÁRIO DE FREITAS e SEBASTIÃO ÜRACIANO DE SOUSA,

A Comissão procurou condensar a n1atéria vencida em H Conclusões Finais", que foram as seguintes:

- LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Os Mttnicipios

Reclamam integral cumprimento da discriminação constitucional de rendas, manifestando-se contrà~


riamente a qualquer reforma da Constituição, salvo aquela que vise à ampliação de seus recursos;
2 Reivindicam paralelamente ao acréscimo de recursos, a responsabilidade de novos encargos como meio
de acelerar sua maior participação percentual na receita pública;
3 Dentro da orientação do item anterior e visando à percepção progressiva de pelo Inenos 40% das rendas
arrecadadas no País, pleiteiam, além de outros impostos, a transferência imediata do lmpôsto Territorial Rural
e participação de 1 O% no lmpôsto Federal de Consumo;
4 Ainda com o mesmo objetivo deve ser entregue aos Municípios pelo menos metade da quota (60 %)
do Fundo Rodoviário Nacional que cabe aos Estados. Os planos das ligações rodoviárias municipais devem
ser executados pelos Municípios, quotas maiores serão atribuídas aos Municípios cujos territórios não sejam
atravessados por estradas federais ou estaduais, bem como aquêles cujas vias públicas sejam cortadas pelas ro~
devias daquela natureza;
S Reclamam a aplicação integral do disposto no Artigo 20 da Constituição Federal, levantando o seu
protesto contra aquêles GovernoS estaduais que ainda não cumpriram tão justo direito dos Municípios. Sugerem
melhor regulamentação dêsse Artigo 20, a ser feita pelo Congresso Nacional, com a finalidade de evitar critérios
discriminatórios, injustiças fiscais e protelações nos pagamentos devidos, compreendendo principalmente os
seguintes pontos:
a) fixação de um conceito restritivo da expressão ''rendas locais de qualquer natureza";
b) determinação do total da renda estadual atribuída a cada Município, por meio de normas que definam
o local da arrecadação dos tributos indiretos;
c) como exemplo, sugerem que o recolhimento do lmpôsto sôbre Vendas e Consignações seja creditado
à Coletoria do Município em que estiver situado o estabelecimento produtor, seja qual fôr a localização da sede
cu do escritório da emprêsa; da mesma forma deverá ser procedido com referência ao produtor, inclusive os
agrícolas, remetidos pelos produtores aos comissários, agentes ou representantes. ftsse recolhimento poderá ser
feito com base em notas de vendas ou consignações, expedidas pelo produtor;
d) estabelecimento de rigorosas sanções contra os Estados que se negarem ao cumprimento de tal regu~
lamentação
6 Reclamam a imediata regulan1entação do Artigo 15, no 111, § 2,0 da Constituição Federal na parte
relativa aos minérios e energia elétrica, cuja falta vem prejudicando a receita municipal Nesta regulamentação,
deverá ficar assegurada aos Municípios, nos quais se realiza a extração ou o consumo de energia elétrica, a parti~
cipação mínima de 50% da arrecadação daqueles tributos, cuja arrecadação seria feita pelas Prefeituras;
7 Salientan1 de forma especial o direito de percepção direta das várias quotas constitucionais de imediato
e sem indevidas fiscalizações ou descontos provenientes de auxílios ou subvenções concedidas;
8 Deve ser da competência exclusiva do Município a taxa ou impôsto de turismo, a ser cobrado nas lo~
calidades de reconhecida significação histórica ou classificadas como estâncias hidroterápicas ou climáticas,
destinando-se a respectiva receita ao embelezamento das n1esmas lo_calidades e à conservação de suas atrações
turísticas;
9 Como corolário dessas reivindicações e como melhor meio de assegurar os seus direitos, os Municípios
brasileiros trazem seu caloroso aplauso à concretização de uma aspiração nacional agora reforçada mais uma
vez pelo Senhor Presidente da República, qual seja a elaboração de um Código Tributário Nacional Tal Código
conteria normas gerais a serem observadas e complementadas pelas três esferas governamentais, consolidando
as reivindicações municipalistas através de nítida delimitação dos campos de competência e de subordinação
às diretrizes básicas de uma política tributária definida em plano nacional O 11 Congresso Nacional dos Muni~
cípios Brasileiros apóia a orientação seguida com aquêle objetivo nos trabalhos Preparatórios da li Conferência
Nacional de Legislação Tributária, cuja convocação imediata recomenda.

R.B.M.- 2
526 REVISTA BRASILEIRA nos MuNICÍPIOs

li - 0 ENSINO DO DIREITO E DA CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

Os Municípios

1. Pleiteiam a criação da cátedra de Direito e Ciência da Administração Municipal nas Universidades


do País, apoiando o p:rojeto de lei sôbre o assunto presentemente em curso no Congresso Nacional;
2 A instituição de cursos intensivos e práticos de educação municipal, nos quais, de par com a instrução
fundamental, sejam ministradas noções de Administração Pública, Economia, Geografia e História do Muni-
cípio.

III - LEIS ORGÂNICAS

Os Municípios

Manifestam suas esperanças de que as Assembléias Legislativas adotem critérios para a divisão admi~
nistrativa condizentes com a realidade nacional e regional, de forma a que ao mesmo tempo não seja propiciada
a proliferação de novas sedes municipais sem capacidade econômica, e se permita a natural e salutar criação de
novos núcleos populacionais administrativamente autônomos;
Solicitam aos poderes competentes seja designada uma comissão de juristas constitucionalistas a fim
de melhor estruturar a idéia vitoriosa no 11 Congresso de Municípjos, da criação de Governos rurais autônomos;
3 Expressam sua formal desaprovação às leis vigentes que direta ou indiretamente atentam contra o prin-
cípio constitucional de autonomia do Município.

IV - CODIFICAÇÃO COMO MEIO DE EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA

Os Municípios

I. Proclamam a necessidade da consolidação dos dispositivos legais regulares da arrecadação, despesa,


serviços públicos, bem como das posturas e editais como meio de alcançar maior eficiência e objetividade na
administração municipal.

V - PRINCÍPIOS, DIREITOS E REIVINDICAÇÕES MuNICIPAIS

Conforme deliberado pelo plenário na I a Comissão Técnica, devem ser incluídos com a mesma redação
todos os itens constantes da Carta de Princ1pios, Direitos e Reivindicaç.ões Municipais (Petrópolis, 1950}.
que não tenham sido alterados pelas conclusões acima.

RECOMENDAÇÕES

A I Comissão encaminhou ao plenário as seguintes Indicações resultantes de teses aprovadas:


a
I Inclusão, entre as finalidades das Caixas Econômicas, do auxílio ao Município, estabelecendo como
mínimo aplicável em cada municipalidade 40% dos depósitos ali feitos, e fixando juros máximos de 6% para os
empréstimos às Prefeituras
2 Solicitar aos Institutos de Aposentadoria e Pensões o integral cumprimento de suas finalidades em
todos os recantos do País;
3 Assegurar aos Prefeitos municipais o direito de indicar o Delegado de polícia que servirá no seu Muni-
cípio;
4 Solicitar ao Congresso Nacional a elaboração de uma lei que assegure plenan1ente aos Vereadores o
direito à imunidade;
5 Passar à competência dos Municípios o direito aos bens oriundos de heranças jacentes;
6 Fixação de divisas municipais pelos próprios Municípios interessados, de ac6rdo com o Artigo 2 ° da
Constituição Federal;
7 Criação de Comarcas em todos os Municípios onde a renda estadual alcance pelo menos 5 milhões de
cruzeiros anuais;
8 Jurisdição exclusiva dos Municípios interessados sôbre linhas de ônibus intermunicipais, especialmente
quando não transitáveis em rodovias estaduais;
9. Apoio ao Projeto de Lei n.• 656, de 1951, da Câmara dos Deputados, que dispõe sôbre o pagamento
aos Municípios do Interior do produto da arrecadação dos impostos de consumo e de importação;
10 Revogação do Decreto·lei no 5 764, de I9 -8-I943, sôbre fornecimento de energia elétrica;
11 Criação de associações municipais e conseqüente transformação das atuais associações estaduais de
Municípios em federações e da A B.M em Confederação Nacional das Associações dos Municípios.

2 a Comissão Técnica

(Economia Municipal)

A 2.a Comissão Técnica foram apresentadas 78 teses sôbre os seguintes assuntos do Temário:
- Mecanização da Lavoura - MATOZINHO DE OLIVEIRA PINHEIRO.
-- Organização Agrária - Luís NOVAIS TAVARES
- Escoamento da Produção - Idem.
Ü JI CONGRESSO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS 527

-- Bancos, Companhias de Seguros, Loterias - Deputado MfLTON SALES.


- Indicação - Idem.
- Economia Municipal - BENEDITO SANTOS
- 0 Munic1pio e a sua Economia - ARTUR TÔRRES FILHO.
- Organização Agrária - DrEGO PIRES DE CAMPOS
- Problemas da Alimentação - REINALDO MACHADO
-- O Problema do Algodão - Idem.
- O Problema da Energia Elétrica - Idem.
- Auxílio Técnico à Agricultura e à Pecuária - MorsÉs ELIAS
- Redução do Custo da vida -- Câmara de Santa Rosa do Viterbo.
- Fazenda-Modêlo Municipal- JosÉ DE ARAÚJO MENDES
-- Problemas Agro-social-econôrnicos - Associação dos Amigos de Bebedouro.
- Reflorestamento - FRANCISCO DE BARROS PIRES
-- Organização Agrária e da Produção - LEÔNIDAS BARBOSA FILHO
- Planejamento Econômico, Financeiro e Social - Idem.
- Organização Agrária -- Deputado CARLOS MENEZES
- Memorial do Instituto do Açúcar e do Álcool - Indicação de FRANCISCO DE BARROS PIRES.
- Escoamento da Produção -- SEVERINO A. TEIXEIRA
-- Rêde de Frigoríficos - JosÉ DE OLIVEIRA COSTA
-- Energia Elétrica -- Idem.
- Bancos Rurais -- Idem.
-- Arntazéns Frigoríficos - C.O.F A.P
-Bancos dos Municípios -ANTÔNIO DARDIS NETO
- Êxodo Rural - V ÁLTER PEREIRA
-Êxodo Rural-- AMÉRICO BARREIRA,
-- Êxodo Rural -- J<>sÉ PoRFÍRIO.
- Êxodo Rural - ADEÍLDO NEPOMUCENO MARQUES
- Êxodo dos Nordestinos - LUÍS FERRAZ DE SAMPAIO.
- Sugestões sôbre o Êxodo Rural - JosÉ JoAQUIM DE ALMEIDA
- 0 Fendmeno do Êxodo Rural -- ALFREDO BERTOLDO KLASS
- Arma contra o Êxodo Rural - Departamento de Assistência Técnica dos Municípios do Paraná.
- Êxodo, Migrações e suas Causas - DIEGO PIRES DE CAMPOS
- Energia Elétrica - Idem.
-- Fixação do Homem. à Terra - ANTÔNIO TEIXEIRA GARRIDO.
- Aspectos do Êxodo Rural - AURINO AZEVEDO TEIXEIRA
- Assistência Sanitária Educativa - FREDERICO PARIDINI.
-- Indicação - Prefeitura de Macapã
-- Indicação -- Prefeitura de Guararapes.
-- Indicação - J CoRIOLANO DE CARVALHO
- Indicação - Prefeitura de Ponta Grossa.
- Indicação -- Associação Amigos de Bebedouro
- Palestras -- Centro de Debates Culturais de Ribeirão Prêto
-- Êxodo Rural -- Vereadores de Cachoeira do Itapemirim.
-- Êxodo Rural - JoAQUIM HoRÁCIO Luís PIRAUÁ
- Organização Agrária e Êxodo Rural - JoÃO CARLOS DE VASCONCELOS e PEDRO FABBRI.
-- Banco do Estado - JosÉ PATRÍCIO FRANCO
- Organização do Crédito Municipal - FENELON SILVA
- Dos Sistemas Bancários dos Municípios - WILSON DA SILVEIRA SOARES,
- Taxa de juzos Bancários - RUBENS DO AMARAL
- Banco dos Municípios - ]OEL DA CUNHA MENDES
- Bancos de Economia para os Municípios - ASSIS REZE.
- Estudos sôbre a criação de Bancos Municipais ~ A. SILVEIRA BRASIL
- Economia Municipal - JosÉ PATRÍCIO FRANCO
-- Indicação - FRANCISCO DE BARROS PIRES
- Cooperativas Agrícolas -- EUGÊNIO DIAS XAVIER
- O Cooperativismo como Fonte de Desenvolvimento do Município - Deputado VÔLNEI CoLAÇO
DE OLIVEIRA
- Energia Elétrica - LAERTE MICHIELIN
- Indicação - Câmara de Penedo
- Indicação - ANTÔNIO DELORENZO NETO
- Indicação - Executivo e Legislativo de Iguaçu.
- Indicação - FÉLIX ARAÚJO e GALVÃO CAVALCÂNTI.
- Colonização e Imigração - FRANCISCO GOMES DE MATOS NOGUEIRA.
-- Êxodo Rural - TEÓFILO ATAÍDE SILVEIRA
- Êxodo Rural - JOSÉ ALVES FERREIRA ARAGÃO
- Êxodo Rural - JoAQUIM HoNÓRIO LINS
- Êxodo Rural - ANTÔNIO LúciO
- Êxodo Rural - ORLANDO DE SOUSA.
- Êxodo Rural. - ROMILDO NUNES
528 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

Do estudo e debate dessas teses foram aprovadas as seguintes conclusões:

QUANTO AO !TEM DA ORGANIZAÇÃO AGRÁRIA

1 o) O II Congresso Nacional dos Municípios está convencido que se impõe às autoridades da Nação, dos
EstadoJ e dos Municípios uma conjugação de esforços no sentido de se promover a organização da economia
agrária do País,
2 °) No sentido de se promover a formação dos equipamentos para os trabalhos agrícolas, se insista junto
ao Govêrno Federal para que se realizem os entendimentos com as indústrias estrangeiras para a lavoura, dando-
se-lhes as facilidades e garantias para a obtenção dêsse desiderato.
3 °) Que os Governos Estaduais instalen1 em cada Município a "Casa da Lavoura" com seções
de distribuição, adubos, e de mecanização agrícola, fornecidos os serviços e as utilidades aos lavradores pelo justo
preço.
4 °) Que a União conceda isenção de direitos, tributos e facilidades de divisas para a importação de ma-
quinarias, inseticidas e adubos, dos mercados estrangeiros
5°) Que se advirta aos Poderes Estaduais da conveniência de, garantindo a plena autonomia dos
Municípios, reservar aos Poderes Municipais a legislação sôbre a produção, transporte e con1ércio dos gêneros
alin1entícios e particularmente do leite e seus derivados.
6 °) Que se apele para o Senhor Presidente da República no sentido de solicitar seja elaborado, pelo Con-
selho Florestal Federal, um plano de reflorestamento obrigatório, à base mais ou menos de 10% da área de cada
propriedade rural, funcionando os Municípios como órgão executivo e fiscalizador através do Conselho Florestal
Municipal, a ser criado junto a cada Prefeitura.
7 °) Que seja o Ministério da Agricultura autorizado a vender às Prefeituras, tratores e demais máquinas
agrícolas a preço nas mesmas condições de vendas a particulares, dentro dos limites mínimos para cada Muni-
cípio, da quota do impôsto sôbre a renda
8 °) Que o Ministério da Agricultura estabeleça nas diferentes zonas geo-econômicas dos Estado3, oficinas
mecânicas especializadas na conservação das máquinas agrícolas, e escolas de tratoristas
9. 0 ) Que seja garantido a todos os produtos da lavoura o preço mínimo fixado anualmente, antes do início
da plantação de cada gênero.
10) Que seja recomendado aos órgãos competentes da União a conveniência do contrôle da industrialização
e exportação da carne bovina, como também as providências para a ampliação dos nossos plantéis, com a insta-
lação de estações de monta
11) No sentido de descentralizar c fomento agrícola, que se recomende aos Municípios a necessidade da
criação de Departamentos de Defesa Vegetal e Animal, bem assim como, onde e quando oportuno, o estabele-
cimento de colônias tipo granjas ou fazendas-modêlo municipais
12) Que se recomende ainda aos Municípios a promoção de Congressos Regionais de agricultores, e in-
centivem a modernização da lavoura, através daqueles conclaves.

QUANTO AO ITEM SÔBRE O EsCOAMENTO DA PRODUÇÃO:

1 °) Que se recomende aos Municípios a estrita observação ao inciso constitucional que regulamenta a dis-
tribuição da quota do impôsto de renda, invertendo-a realmente em empreendimentos de ordem rural, especial-
mente em rodovias
2.c) Que se lembre aos Poderes da União a urgente necessidade do serviço de dragagem dos rios, como
a via de comunicação mais barata, a serviço de vastas zonas do País

DE REFERÊNCIA AO !TEM SÔBRE ARMAZÉNS REGULADORES E ENTREPOSTOS AGRÍCOLAS:

Que o Govêrno da União ponha, no menor espaço de tempo, em exercício o programa de instalação de ar-
mazéns frigoríficos, bem como facilite aos Estados e Municípios, por meio de crédito, os recursos para execução
dessas obras, por aquêles Poderes Públicos nelas interessados.

SÔBRE O ITEM REFERENTE À CRIAÇÃO DE BANCOS MUNICIPAIS:

Que o li Congresso recomende aos Municípios a conveniência de se empenharem na criação dos Bancos
dos Municípios, no sentido de reter no interior a fortuna gerada nas zonas do ''hinterland", e que se apele para
o Presidente da República e para a Superintendência da Moeda e do Crédito para que sejam apressadas as pro-
vidências de ordem burocrática para a concessão de cartas-patente às instituições dessa natureza.

DE REFERJl:NCIA AO ITEM SÔBRE A ORGANIZAÇÃO DAS CoOPERATIVAS;

1 °) Que os Municípios estimulem a instalação de cooperativas de crédito, consumo e distribuição, faci-


litando o seu funcionamento com a convocação de técnicos e vantagens de ordem material e tributária, instalando
mesmo, onde conveniente, o serviço municipal de cooperativismo
2. 0 ) Que a Mesa do Congresso pleiteie junto à Carteira de Redescontos do Banco do Brasil, o direito das
cooperativas de crédito gozarem dos benefícios de redescontos para financiamento da lavoura, no plano atual-
mente em andamento do Congresso Federal, relativo à ampliação das margens do redesconto, para as instituições
bancárias.
Aspecto do plenlulo, durante uma das reuniões ord:"nluiss

QUANTO AO l 'l•.t: M. SO~.tu:; EN EkOIA ELÉTRICA;

1.•) O l i Congresso Nacional dos Munic!pios proclamo ser da competência municipal a elaboraç.i lo dos
contratos locais para distt"ibu.içào e fornecimento da ener"gia el~trica.
2.•) Recomenda aos Governos Estaduais a urgente necessidade de se aparelharem técnica e administrati-
vamente para exercerem as atribuiçi3es constante• do Artigo 153 da Constituição Federal.
3.0 ) Propõe que passe a ter a seguinte redaçlo a letra c do item 18 da Carta de Principio~ e Reivindicaçõe3,
elaborada em Petrópolis: H - a $USpensão, pelo Govêrno Federal , de tOdas as revisões para aumento de tarifas
sôbre o fo rnecimento de fôrça e luz aos Municípios com imposição de redução no preço da demanda, propor cio·
nalmente ao ra.cionamento na' zonas a êles sujeita'S até que o Conaresso Nacíonal vote n lei especial reguladora
do regime de concessão de serviços públicos na forma da constituição vigente".
4.•) Recomenda que se imponha a obrigatoriedade da instalaçllo de conjuntos ter mclétricos para auxílio
em épocas de estia~em como soluçào de emera;l:ncia ali onde as usinas hidrelétricas n3o atendam à demanda.
5.0 ) Recomenda aos Poderes competentes a Constituição de sociedade de econotnit\. ntlsta para obtenção
do capital necessário à exploração de energia elétrica , como meio de dar a prevalência nas concessões de serviço
público no interêsse coletivo, sôbre o particular.
6.0 ) Recomenda que o Porler compete:tte reexamine o critério do custo histórico como base para fixação
de ta.dras, a dotando o processo realista que evit e a hipertrofia artificial do capital como expediente rraudatário
da legislação reguladora.
7 .0 ) Recomenda ao.s Poderes contp::tenteJ que facilitem a importação de equipamento nece:asário
à melhoria das instalaçõ~• ltid r o ou termclétricas em todo o Pufs.
8.0 ) Q\te se recomende à Hidrelétrica do São Francisco, ao firmar os seus contrates com as emprésas
redistdbuidores, inchtn cláusula que obrigue a adoção de preços uniformes, tanto para as Capitais, como para
o Interior.

QUANTO AO h&>< SóBR& bUCRAÇÃO B CoLONIZAÇÃO

1.•) Que se apele pAra QS autoridades competentes a fim de promoverem a distribuiçiío de terras da raixa
da fron teira em lotes colonia.is entregues a bt·asileiros.
2 .o) Que se recorra ao Ministério da Agric-ultura para que promova a distribuição d as terras ma1·gina\s
dos açudes p(Jblicos , no triângulo da sêca, em Jotes coloniais, ~m caráter definitivo, a l.lvrftdores da rcgiKo.
3.•) Que no plano nacional de colonização e imigração se dê ao imigran te nacional o mesmo tratamento
concedido aos estrangeiros entígrados.
4.•) Que as terras devolutas dos Estados sejam distribuldns dentro de um plano de cujo estudo participem
as autoridades dos Municí pios, dentro de cujas áreas essa$ terras se encontrem.
530 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

QUANTO AO !TEM SÔBRE O ll:xoDO RURAL:

1.0 ) O Congresso reconhece a necessidade de uma reforma agrária como única medida certa para solução
dos problemas do êxodo e das migrações dos rurícolas.
2.0 ) Que no plano da reforma agrária em estudo no parlamento faça êste Congresso ali chegarem as su·
gestões que se propõem:
a) A constituição da pequena propriedade agrícola, em terras férteis, próximas aos centros consumidores
e às vias de transporte;
b) Constituição de colônias agrícolas para a exploração coletiva das áreas cultivadas por processos técnicos,
sob a assistência do Poder Público;
c) Simplificação do processo expropriatório;
d) Adoção imediata do novo regulamento da Carteira de Crédito do Banco do Brasil, de modo a atender
às necessidades mínimas do produtor nacional.
3 °) Que se apele aos Poderes Federais para que se faça imediata aplicação de, pelo menos, um têrço da
quantia prevista no Artigo 198 da Constituição, na instalação de colônias agrícolas no Nordeste.
4. 0 ) Que se apele para o Presidentê da República a fim de fazer funcionar imediatamente o Banco do Nor ..
deste, como meio subsidiário, capaz de favorecer a fi'<ação do camponês no poligno da sêca
S.o) Que o Banco do Brasil e o Ministéri~ da Agricultura promovam os financiamentos agrícolas e o for ..
necimento de máquinas e instrumentos necessários ao incentivo da vida agrícola do polígno da sêca, no sentido
de fixar o nordestino rural à terra e à região.
6. 0 ) Que se apresse a instalação do serviço social rural que garantirá a extensão ao rurícola dos benefícios
da legislação social do trabalho.
7 .0 ) Que para difusão dos métodos de irrigação se apele para o Congresso Nacional a fim de que formule
a legislação necessária sôbre uso das águas correntes, seu represamento, desvios e canalização.
8.o) O Congresso reconhece a necessidade da criação de escolas rurais, com ensino especializado (agro ..
técnico, agrícola e de iniciação) atendendo mesmo às modalidades funcionais das escolas mantidas pelo Minis ..
tério da Agricultura.
9.0 ) Que se recomende a criação de escolas de ct patazes rurais e de patronatos agrícolas, para a formação
de administradores de fazendas, agrícolas e de pecuária, escolas rurais femininas para aprendizagem de letras,
trabalhos manuai~, pequenas indústrias caseiras, arte culinária, com conhecimentos técnicos, noções de prática
de veterinária e de enfermagem.
1 O.o) Que se organize o serviço de assistência rural ou social rural, dirigido pelos próprios Municípios, com
seus estatutos, administração própria e instalações adequadas
1 I.o) Que se apele ao Ministério da Guerra para que crie Tiros de Guerra nos Municípios, de preferência
nQs Municípios cujas bases econômicas se assentam na agricultura.
12.0 ) Que os Municípios organizem serviços volantes de cinema educativo e recreativo para a zona rural,
bem como a criação de postos de saúde volantes, os quais visitarão as sedes distritais e núcleos de regular den~
sidade
13. 0 ) Que se recomende ao Ministério e Secretarias de Educação a estruturação de escolas primárias para
as zonas rurais à base e regime de escolas de trabalho.
14 o) Que se recomende aos Governos dos Estados que as concessões de terras devem tornar obrigatória a
colonização, mediante um planejamento aprovado pelo Estado e que sejam respeitados os posseiros que ali se
encontrarem.
15. 0 ) Que se recomende aos Governos dos Estados a necessidade de se aplicaren1 novos e progressivos im~
postos sôbre as terras rurais não cultivadas, exceção feita naturalmente às áreas ocupadas com matas
16 °) Que os Municípios tentem a recuperação social do colono através de rêdes de Hospitais Regionais
e postos agropecuários.
17. 0 ) Que seja destinada uma quota do impôsto de consumo aos Municípios para ser aplicada ao combate
ao êxodo rural, cc..m medidas que venham facilitar a fixação do homem. ao solo
18. 0 ) Que se apele às autoridades federais e estaduais no sentido de fazerem cumprir a lei proibindo o em-
prêgo de transportes coletivos inadequados como os caminhões "paus-de-arara", e outros veículos que não
ofereçam confôrto e segurança aos passageiros.
19. 0 ) Que se recomende aos Departamentos de Saúde dos Estados a instalação de postos sanitários nos
pontos de partida, chegada e trânsito das correntes migratórias internas, para assistir os emigrantes com exames
abreugráficos pulmonares, exames gerais de sanidade física e mental, e vacinações.
20.0 ) Que as autoridades municipais organizem serviços de fiscalização sôbre contrato de trabalho e orien-
tação sôbre os locais em que se empreguem os emigrantes nacionais.
21. 0 ) Que seja elevada a percentagem das quotas devidas aos Municípios.
22.o) Que promovam os Municípios a maior assistência à família rurícola, com serviços pré-natal de ma-
ternidade, médicos e educativos.
23. 0 ) Êste Congresso recomenda aos Municípios a criação das associações rurais, e o planejamento racional
do fomento à produção.
24. 0 ) Que se alertem as administrações municipais com o fenômeno da transformação de zonas da lavoura
em pastagens, o que está constituindo um forte fator do êxodo rural.

3 a Comissão Técnica

(Asústência Social)

As teses, indicações ou recomendações enviadas à 3 a Comissão Técnica foram as seguintes:


Instrução Prirnátia ~ SEVERINO CUNHA PRIMO, de Paulista.
- Descentralização do Ensino ~ DÉCIO DUAR'I_'E ENNES, de Petrópolis.
O 11 CoNGREsso NAciONAL nos MuNICÍPIOs BRASILEIROs 531

- Plano para a Ampliação e Melhoria do Ensino Médio e Secundário - Instituto Nacional de


Estudos Pedagógicos.
- Padronização do Ensino - DoMINGOS FuscHINI, - de Santos.
- Problemas do Ensino Primário Municipal - NICOLAU BALAZZI BARROS, de Foz do Iguaçu,
Ensino Primário Municipal - Câmara Municipal de Garça.
- Novas Diretrizes ao Ensino Primário - JoÃo CARLOS DE AzEVEDO, de Santos, São Paulo
- Ensino Primário -- GASPARINO RocHA, de São João Evangelista.
- Ensino Profissional e CurSos Normais Regionais - ARTUR DE SÁ RIBEIRO, de Curitiba.
- Gratuidade do Livro e do Material Didático - GRACITA DE MIRANDA, de São Paulo.
- Ensino Emendativo dos Surdos-rnudos - MARIJESO DE ALENCAR BENEVIDES, do Rio.
- Criação do Salão de Arte - VALDEMAR FREIRE VERAS, de Guarulhos.
-- Escola Rural do Município - JoSÉ STÊNIO LOPES, de Fortaleza.
-- Ensino Primário Rural ~ JosÉ PORFÍRIO, de Garça.
~ Amparo ao Homem Rural pelos Municípios, Estados e União - SAMUEL DE CASTRO NEVES,
de Piracicaba.
- Assistência Social no Municíoio - GERALDO BARBOSA DO CARMO, de Mandaguari - Paraná.
-- O Município e a Previdência - Vereador JosÉ PAULINO DE OLIVEIRA, de Araras.
- A Esquistossomíase como Problema e sua Solução - Idem.
- Saúde e Assistência - JosÉ FIRMINO DA VEIGA, de Paulista.
- Assistência à Maternidade pelo Município - JosÉ ARAÚJO MENDES, de Brotas.
- Assistência Médica, Dentária e Farmacêutica - ARTUR DE MACEDO FRANÇA, de Capela.
- Parque Sanatorial das Municipalidades -- Câmara Municipal de Campos do Jordão.
·- Assistência Médico-dentária - ANTÔNIO FERREIRA DA ROCHA, de Rio Largo.
- P6sto de Higiene e Saúde na Zona Rural - JosÉ DE OLIVEIRA CosTA, de Petrópolis.
- Indicação - Idem.
- Aspectos Sanitários e de Assistência Médica Itinerante aos Municípios Amazônicos - ÜDER
POGGY DE FIGUEIREDO, de Manacapuru
- Aplicação do Fundo Sindical nos Municípios - JosÉ HOLANDA, de São Caetano do Sul.
-- Assistência Médica Rural -- RuBENS SPfNOLA DO AMARAL, de José Bonifácio.
- Alguns Aspectos dos Problemas c'as Malocas - ALFREDO AUGUSTO HOLSEISTER, de Pôrto
Alegre
- Colabotação com os Poderes Públicos Municipais no Desenvolvimento da Solidariedade Mu-
nicipal
- Assistência Médica - VINÍCIUS MONTECOURADO GOMES, de Eirunepé.
- Os Menores Abandonados -- ÁLVARO CARDOSO, de Ribeirão Prêto.
- Cons6rcio Intermunicipal para Proteção aos Menores Abandonados - ROBERTO ANDALÓ,
de Rio Prêto
- Realidade S6bre Previdência Social no Brasil - FÁBIO MARCONDES HOMEM DE MELO, de
Rio Prêto.
- Assistência Social à Infância - ALMERINDO FRANCISCO MARIANI e outros, de Jardinópolis,
- Direitos da Criança -- Prefeitura Municipal de Ribeirão Prêto.
- Educação Rural e Cívica -· ÁLVARO CARDOSO, de Ribeirão Prêto
- Assistência Social - ltnsoN PIRES, de Teresina.
Centros de Estudo de Habitação - AUGUSTO L. DUPRAT, do Rio.
- Habitações Populares -- SAUL SOARES AVELAR, de Petrópolis.
Problemas de Habitação Popular - Comissão Nacional de Bem-Estar Social.
Serviço Social Rural - RUBENS ASSUNÇÃO MIRANDA., de Curitiba.
Saúde e Assistência ao Homem do Campo - DOMINGOS GRACIANO, de Guarulhos
Conceituação de Benefícios de Ordem Rural - ULISSES BRAGA JÚNIOR, de Maceió
Conselhos Municipais de Assistência Social - Padre URBANO GALVÃO DHONE, de Conceição do
Coité.
Regulamentação da Prostituição - AssiS REZE, de Bauru.
- Indicações - SEVERINO BENEDITO DE ALMEIDA, de Cuiabá.
-- Indicação - J. CoRIOLANO DE CARVALHO, de Mar!lia.
- Habitações Populares - Solução do Problema das Favelas com Construções de Habitações
Populares - BERALDO MADEIRA DA SILVA, de Vitória.
As subcomissões estudaram e apresentaram parecer sôbre os trabalhos apresentados Do exame e debate
dêsses pareceres resultou a elaboração das seguintes conclusões:
1 As escolas municipais devem ser providas de professôres primários selecionados através de concurso
de títulos e provas.
2 a medida do possível, os Estados e os Municípios deverão instalar grupos escolares procurando obedecer,
no que diz respeito às instalações e equipamentos, as normas da moderna pedagogia.
3 Na organização do ensino primário deverão ser observadas as seguintes normas: duração do curso de
cinco anos; efetivos de classe de 30 alunos, no máximo; não haver tresdobramentos das escolas primárias; período
diário de trabalho escolar de cinco horas
4 Recomenda-se aos Governos, Escolas que promovam nova regulamentação das concessões de licença,
de modo a atender aos professôres, sem prejuízo dos alunos e do ensino.
5 Anexo aos grupos escolares deverá ser mantido um serviço de assistência médico-dentária.
6. Reconhece se a necessidade de uma reforma no Ensino Normal para melhor atender à formação de
professôres Nessa 1eforma deverão figurar os seguintes princípios fundamentais: exigência de exame de sufici·
ência; criação de escolas normais regionais c~m programas específicos, baseados na técnica, costumes, produção
532 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

e organização de trabalho na região; manutenção de cursos de extensão para os professôres primãrios; realização
de exames vocacionais para a preparação de especialistas para as diversas f~nções de educar a criança; o período
de férias das escolas isoladas deve atender às conveniências locais; criação, pelo Estado, de Departamento de
Ensino Normal Rural, mantendo Escolas Normais Rurais que formem professôres especializados, usufruindo
vantagens especiais; remuneração condigna ao professorado primário municipal nunca inferior ao pessoal ad..
ministrativo; criação de serviço de assistência técnica educacional para elevação do nível pedagógico do magis ..
tério primário municipal.
7 Aconselha-se a instituição de um tipo de escola mais flexível, "escolas móveis", sem prejuízo da exis-
tência de unidades fixas nas vilas e povoados, destinada à tarefa de alfabetização dos habitantes das zonas rurais:
Os professôres dessas "escolas móveis", além da justa remuneração a que têm direito, terão ainda um prêmio para
cada aluno que levem a exame.
8 A tarefa educativa do Município não deve limitar-se à alfabetização. Cumpre, por isso, sejam criadas
escolas típicas rurais, com sentido profissional, para adolescentes alfabetizados, destinadas a preparar o homem
do campo para os encargos da mecanização da lavoura e da agricultura racional, aconselhando-se a realização
de convênios com o Estado para a disseminação dessas escolas e o planejamento de seus programas adaptados
ao respectivo meio.
9 Os Municípios encarecem a necessidade de lhes serem atribuídos 50% do sêlo de educação e saúde e
10% do impôsto de consumo, destinados à assistência médico-social e à manutenção do ensino pré-primârio,
primário fundamental, primârio complementar, curso ginasial, curso básico e técnico comercial e ensino profis-
sional e normal, êstes segundo as necessidades locais.
10 Encarece-se a criação, pelo Ministério da Educação e Saúde, através. do I.N.E.P., de cursos médios
em cidades de mais de 2 000 habitantes e nas de menor número de habitantes sejam distribuídas bôlsas de estudo
aos jovens capazes.
11 Os Municípios devem entrar em contato com o Departamento de Educação Física do Estado de São
Paulo a fim de obterem dêste assistência e orientação técnicas para a instalação de parques infantis.
12 Recomenda-se que o Ministério da Educação e Saúde estude as medidas necessârias para a padronização
do livro didático Em complemento a essas providências devem os Estados impedir a mudança freqüente dos
livros didáticos escolhidos, de maneira a fixar-se, pelo menos, um prazo de três anos para sua adoção, e que nas
escolas se mantenham os mesmos livros para cada grau de ensino
13 Os Municípios deverão reservar uma parte dos recursos destinados à educação para atender a despesas
com a aquisição do livro e material didáticos, pelo menos nos cursos primários e secundários, distribuindo-os
gratuitamente aos estudantes pobres.
14. A União deve promover a criação de Institutos de Ensino Emendatívo para surdos-mudos e cegos,
nas regiões do País onde maior é o número dêsses desajustados fisicamente.
15 Os Municípios deverão promover a instalação de salões de arte, nos quais serão expostos e vendidos os
trabalhos artísticos do respectivo povo.
16 lt recomendado um entrosamento entre as instituições públíc,. e os órgãos. autárquicos no sentido de
resolver-se o problema da habitação popular, especialmente no Interior.
17 Os Municípios empregarão seus esforços no sentido de promover a extinção das vilas de malocas, favelas,
mocambos e cortiços, como responsãve.is que são pelo índice de mortalidade infantil, pela delinqüência precoce
e pelo analfabetismo. Para êsse fim cuidarão, através de loteamentos e assistência técnica, de transformar as
favelas em higiênicas vilas de casas populares. Encarece-se, neste sentido, a cooperação da União e dos Estados,
promovendo, através de um serviço municipal, o loteamento das terras de sua propriedade, como colaboração
à solução do problema da moradia própria.
18 Recomenda-se, como sugestão adequada ao encaminhamento do problema da habitação popular, a
criação, pelos Estados, de institutos semelhantes ao Instituto de BemMEstar Social, criado pelo Govêrno do
Espírito Santo, cujo êxito de suas atividades indica o caminho a seguir.
19 Ê dirigido apêlo ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República, no sentido de que o Instituto de
Previdência e Assistência aos Servidores do Estado (I P.A.S E) faça convênios com os Municípios que o desejarem.
20 Ê aconselhada a descentralização administrativa dos Institutos de Previdência no sentido de poderem
atender os seus associados residentes em cidades de relativa população. Igualmente, aconselha-se a proibição
de empréstimos pelos Institutos aos estranhos aos seus quadros de associados.
21 Os Institutos de Previdência e as Caixas de Aposentadoria e Pensões devem promover a criação de
cooperativas para atender aos seus associados.
22 :É encarecida ao Govêrno Federal a adoção de medidas que visem ao cumprimento do dispositivo legal
que manda empregar 50% do total da arrecadação dos Institutos no local onde esta foi feita, bem como deter-
minem que parte do produto do impôsto sindical fique no local onde foi arrecadado para atender aos problemas
de ordem médico-social dos operários
23 Recomenda-se seja n1odificado o atual sistema de financiamento e ap,licação de fundos da previdência
social.
24 Recomenda-se às administrações municipais tnantenham ligação estreita com a Comissão Nacional
de Bem-Estar Social, no sentido de entrosarem os respectivos trabalhos para a solução dos problemas a que
aquêle órgão se dispõe resolver, em parêicular quanto; à criação de centro3 de estudos de habitação; à criação de
serviços sociais urbanos e rurais; ao fomento de cooperativas de crédito, de produção, de consumo, de habitação
etc.; à criação de um fundo social para fins de financiamento dos serviços sociais; ao fomento da ajuda própria
na construção de habitações populares urbanas e rurais* revendo-se o respectivo código de obras para facilitar
essas construções; à organização do planejamento urbanístico; à cooperação com os órgãos federais ou estaduais
de colonização, assistência social, educação rural, ensino profissional etc ; ao estudo das condições sócio-econômicas
do Município para fins de planejamento.
25 Recomenda-se a criação de Conselhos Municipais de assistência social, criando-se para êsse fim um Fundo
Municipal de Assistência Social, o qual será aquinhoado, além dos recursos que as Leis Federal e Estadual venham
O 11 CoNGREsso NAciONAL nos MuNICÍPIOS BRASILEIROS 533

a conferir-lhe, con1 50% do montante da arrecadação do sêlo de educação e saúde, distribuídos equitativamente
aos Municípios e com os recursos que a Constituição Federal atribui aos Municípios em seu Artigo 20. A Asso-
ciação Brasileira dos Municípios e suas congêneres estaduais e o Instituto Brasileiro de Administração Municipal,
bem assim entidades ligadas ao movimento municipalista, devem ser convocadas para auxiliar a campanha de
assistência social municipal
26 Recomenda-se às adn1inistrações municipais a criação de bôlsas de estudos destinadas à formação de
enfermeiras especializadas em estabelecimentos dêsse gênero, para dirigir onde não exista assistência médica,
uma enfermariaMmodêlo com salas destinadas ao serviço de pronto socorro, cuja manutenção será feita em re~
gime de cooperação.
27 :E:. encarecido aos Governos estaduais pôr em funcionamento uma rêde de postos de higiene e saúde
nas zonas rurais e que os centros e postos de saúde sejam dotados de meios de transporte para também atender
a zona rural compreendendo assistência médica, dentária e farmacêutica.
28 Os Municípios em regime de consórcio promoverão a construção de hospitais para atender a região e
que o Estado construa hospitais regionais, com hospitais de triagem para atender aos problen1as dos doentes
do Interior.
29 Os Municípios devem criar o" Sêlo da Maternidade" para as entradas de espetáculos públicos revertendo
em favor da Assistência à Maternidade
30 Recomenda-se às administraç:õ,ts Municipais estabelecerem convênios ou acordos com o Serviço Social
Rural, tão logo êste seja criado, no sentido de que se empregue no plano elaborado por êste órgão, parte da cota
recebida do impôsto sôbre a renda e destinada à aplicação em benefícios de ordem rural, obrigando-se o Serviço
Social Rural a executar, com o quantitativo correspondente, serviço3, obras ou prestação de serviços que se tornem
necessários, no respectivo Município, em benefício das populações rurais e do seu ben1~estar social
31 1t encarecido aos Estados criarem e manterem satisfatôdamente serviços regionais de combate à es-
quistossomíase, e que os Municípios concorram para melhor eficiência do serviço.
32 Será encarecido ao Serviço Nacional de Combate à Tuberculose dê orientação técnica necessária aos
Municípios sôbre o combate à tuberculose, adotando os Municípios, nas rubricas orçamentãrias, verbas destinadas
à manutenção de leitos-dias em sanatórios onde possam internar os doentes pobres
33. O Congresso aplaude efusivamente a iniciativa da constituição do Parque Sanatorial das Municipali-
dades de Campos do Jordão e apela para os Municípios interessados no combate à tuberculose que apóiem moral
e materialmente tão meritório estabelecimento
34 Os Municípios devem encarar com seriedade o problema da prostituição e colaborar na profilaxia das
doenças venéreas, na moralização dos costumes, promovendo com os Governos Federais e Estaduais os estudos
necessários à recuperação da mulher prostituída.
35 Os Governos municipais devem estudar a possibilidade de intensificar, através de meios adequados
e de orientação educativa, o uso de calçados pelo trabalhador rural, solicitando para êsse fim a cooperação dos
Governos da União e do Estado, sobretudo na parte financeira
36 É reconhecida a necessidade de serem definidos os "benefícios de orden1 rural", a que se refere o Ar-
tigo 15, § 4 °, da Constituição Federal, dirigindo respeitoso apêlo ao Congre~so Nacional para que seja dado
urgente andamento ao projeto de lei ora em curso na Câmara dos Deputados, e sugerindo que no texto da lei
S]' levem em consideração os têrmos do item VI da Carta de Princípios, Direitos e Reivindicações Municipais
37 É dirigido um apêlo ao Govêrno Federal no sentido de que complemente o regulamento da Carteira
de Crédito Agrícola do Banco do Brasil, de maneira a transformar-se o atual crédito financeiro em crédito edu ...
cativo, sendo de conveniência a fundação de Associações de Crédito Rural Educativo Supervisionado, visando,
como órgão técnico, a desenvolver objetivos de prestação de assistência e de orientar a aplicação do crédito.
38 Recomenda-se a criação, pelos Governos Estaduais, ou através de consórcios municipais, nas sedes de
região, de Instituto~ de Recuperação de Menores Transviados
A Comissão recebeu e foram aprovadas as seguintes Indicações:
Aos Poderes Constituídos - Para desmembramento das Universidades criando Faculdades, notada-
mente de Agronomia e Veterinária nas grandes cidades chaves de região
Ao Govêrno do Estado de São Paulo -- Para criação de uma Faculdade de Medicina na Zona Noroeste
Ao Ministro da Marinha - Para criação de Escola de Marinha Mercante em Santos
Pa1a os Poderes Constituídos --Para divulgação entre os diretores de escolas e colégios fortalecerem
uma cruzada de educação moral e cívica.
Ao Congresso Nacional - Para aprovação dos seguintes projetos de leis:
1 °- Projeto de Lei que trata do saneamento da baixada santista;
2 ° - Projeto de Lei no 646/51 que visa e atribuir aos Municípios uma cota de 10% no impôsto de con-
sumo

4 a Comissão Técnica

(Planejamento Municipal)

Teses apresentadas: A t.a Subcomissão (Organização Administrativa):


- A Eliminação da Burocracia nn Concessão de Emp1éstimos aos Municípios -- SALIM SALOMÃO,
de Morro Agudo.
- O Município na América -OSÓRIO NUNES, do Rio.
- Podem os Municípios baz'xa.r os Estatutos dos seus Funcioná1ios? - Vereador PEDRO TEODORO
DA CUNHA, de Santos.
- Os Aspectos Econômico-financeiros da Adm1'nistração Municipal nos Municípios Brasileiros -
ACRÍSIO SILVA, ]OÃO BATISTA FERNANDES e JOAQUIM ROCHA PENTEADO, Técnicos de Administração
do Instituto de Administração de São Paulo.
534 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

- Prefeito e Administração - Vereador DEOCLÉCIO VIEIRA DE ARAÚJO, de Viçosa.


~ Organização e Administração - Vereador ORLANDO CARIELLO, de Vitória.
- Padronização da Contabilidade Municipal - OLIVEIRA SOUSA LIMA.

A 2 a Subcomissão (Planejamento Econômico, Financeiro e Social):

- A Despesa com o Funcionalismo Público Municipal deve ser reduzida ao Máximo - Câmara
Municipal de Poá.
- Plano para Fundação do Departamento Municipal de Assistência Rural - SEBASTIÃO SousA
BuENO, de Birigüi
- Novos Ru:a1os para uma Nova Política Rural - OSVALDO GoMES DA SILVA, de São Domingos
do Prata.
-- Legislação Tributária - A Execução do Orçamento deve ser fiscalizada pelo Município - Ve-
reador JosÉ FRANf"ISCO DE PAULA, de Vitória.
- Orientação Racional da Administração Municipal - VÁLTER E. DE OLIVEIRA, de Atibaia.

À 3.• Subcomissão (Urbanismo):

- Construção de Estações Rodoviárias - JosÉ DE OLIVEIRA CosTA, de Petrópolis.


-· Criação de Conselhos Municipais ou Regionais de Urbanismo - Caminho indicado para a
Penetração da Civilização no Interior elo País - MOACIR SANTANA, de Santa Maria.
- Problemas de Urbanismo e Saneamento de Belo Horizonte - LINCOLN CoNTINENTINO.
- Laborat6rio de Saneamento - Idem.
- Plano de Urbanização das Cidades Brasileiras - Idem.
- Revisão das Taxas de Águas e Esgotos cobradas pelos Municípios - Idern.
- Administração Municipal e Urbanismo - Planejamento - DIEGO PIRES DE CAMPOS, de São
Vicente.
- Nomes de Ruas e Praças e Estabelecimentos Públicos -- CoRIOLANO DE CARVALHO, de MarUia.
- Urbanismo e Arquiteturll -- VICENTE CÉSAR VIEIRA.
- Urbanização dos Mo11os da Cidade ée Recife - HILO LINS E SILVA
- Nossas Cataratas - NICOLAU B BARROS, de Foz do Iguaçu.

À 4.• Subcomissão (Planejamento e Execução de Serviços Públicos Municipais):


- Departamento de Assistência Técnica aos Municípios - JosÉ DE OLIVEIRA PRESS, Diretor-Geral
do Departamento das Prefeituras Municipais, de Pôrto Alegre.
- Plano Quadrienal de Assistência Obri{Jat6ria dos Municípios - ESTANISLAU ENFELT JúNIOR,
WILSON PLACCO e ALFREDO MARTINS DOS SANTOS, de Andradina.
- Construção de Aeroportos pela Associação dos Poderes Públicos Administrativos - Vereadores
VIANA FILHO e HERCULANO BERETA, de Votuporanga.
- Organização de Emprêsas para Execução de Serviços Públicos - BILAC PINTO, pelo Congresso
Sul-Mineiro de Municípios.
- Os Municípios do Médio São Francisco na Comunidade Nacional - Prefeito JosÉ AUGUSTO
VELOSo, de Coração de Jesus.
- O Problema da Divisão Terzitorial - JoRGE ZARUR, do C.N.G.
- Serviço de Aferição de Pesos e Medidas nos Municípios -- AMÍLCAR GONÇALVES e DIRCEU
GONÇALVES, de São Vicente.
-·A Cooperação do Municipio na Solução do Problema Florestal- JoÃo GONÇALVES CARNEIRO,
ROBERTO DE MELO ALVARENGA e OSVALDO BARBOSA, da Secretaria da Agricultura de São Paulo
- Problemas Estruturais do Município - RÔMULO ALMEIDA
- A Familia Rural Brasileira e seus Problemas Peculiares -- EDI COSTA LEITE, do S.A P.S.
- Comunicações e Transporte - ORLANDO DE SousA, de Pacaembu.
- Relações entre o Município e o Estado, num Verdadeiro Desenvolvimento das Est~ncias Hidro·
minerais - ANTÔNIO DE OLIVEIRA FABRINO, de Lambari.
- Alvenaria Poliédrica como Solução para o Problema da Pavimentação de Logradouros -
ALBERTO PASSOS S. THIAGO, de Belo Horizonte

A 5 s Subcomissão (Convênios e Acordos Interadministrativos):


- Defesa e Fomento da Produção Animal - FREDERICO Poy FILHO
- Associação Amazonense de Municípios - ÜDORICO ALMEIDA NUNES, de Itacoatiara.
- Convênios e Acordos Intern1unicipais -· JosÉ DE OLIVEIRA COSTA, de Petrópolis
- Cons6rcio Intermunicipal para Pioteção dos Menores Abandonados - ALBERTO ANDALÓ,
de São Paulo.
-- Intervenção 1'emporália do Poder Concedente nos Serviços Públicos Concedidos -- MARTINS
ARANHA, de Pôrto Alegre.
- Diversos Estudos, Planejamento Municipal, Turismo, Estâncias Hidrominerais, Climáticas,
Balneárias ou Sanitárias - ORLANDO DE SousA, de Pacaembu.
- O Entrosamento do Plano Rodoviário Municipal ao Plano Rodoviário Estadual -- JAIR LEAL,
do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Paraná.
-- O Serviço de Transporte Coletivo de Passageiros no lviunicípio - Vereador ROBERTO BRAMBILA
DEMARIA, de Serra Negra
Do estudo dessas teses, monografias, ensaios, indicações e sugestões diversas, a Comissão elaborou as se·
guintes recomendações:
Municipalistas de todo o País participaram dos debates, no Congresso

I - 0RCAN1UÇÃO A l>M!NlSTRATIV A

J .o) Que em cada Estado se o r ganize um núcleo de formação de técnicos de administraç-lo municipal q ue
Ee encarregue, também. de elaborar estudos sôbre :.nedidas e condições peculiares ~ a dntinistrGçio municipal i
2.o) que se promovam, per-iôdicamente, congresso-s. conferencias p(ablicas, reuniões r·e gionais de Municfpios,
propiciando a modernizaç~o de serviços, a discus~ão e o estudo das eventuais altera ções n a legisla çilo feder:>! e
estadua l, aplicãveia a os Municlpios, ajustando tais alterações à realidade municipgl;
J.o) que os Municlpios brasilejros procedam a urna organização racional de seus serviçoa. criando-se. de
início, um Código Administrativo de Normas Processuais que vise a regulamenta r o trânsito de PAJ)é.it em seus
órgãos, bem como se proceda ao estudo de um saneamento funcional e a classificaciio racional dos cargos pú-
blicos.

11 - PLANEJAMENTO ECONÔMICO, FINANCEIRO E SOCIAL

!.•) Que seja criado o Serviço Municipal de Assistênc'a Rural, como departamento autônomo, sob n direção
das ndnti nistro~C5es
munic:ipnie, regulamentado por leis federal, estadual e municipal;
2 .f•) que· se orgo.nizern cursos intensivos sôbre administração municipal;
z.o) que se crie UDl órgao t écnico, diretamente subordinado à Câmara Municipal. enl cada Município, des-
tinado a auxilíâ-Ja na fiscalização da execução orçamentária.

III - URB.\NlSMO

l.•) Sejam c:rindos Conselhos M"nicipais de Urbanisno;


2.o) sejam propiciadas cGndiçêes para o scrgin1ento de pequenas metrópoles regionais, detendo, por esta
maneira, a evasão dos dinhei ros obtidos pela produção municipal, par a as grandes metrópolesi
J.o) seja criAda uma rêdc de estações rodoviárias c:as grandes cidade!: atingidas por estrndas federais c
estaduais;
4.o) que se c r iem Jabcrat6rios de saneam~nto e.m tôeas as cidade.s servidas por r edes de 6eua e cs~õto, a
fim de melhor ass~gurar as ccndições de salubrided e;
5 .•) seja elaborado o plano diretcr das cidades-~edeo dos Municípios que ainda não o J)OSsuam;
(i.0 ) seja e vitado a colocacão de nomes de pessoas vivas em ruas, praças e estabelecimentos públicos;
7 ,o) que o Govl!rno Federal proporcione apoio financeiro para a realização de planos urbanísticos n as zonas
de fronteira, transfor;m ando·as em re-giões capazes de se tornarem centros de turismo internacional. como ocorre
com o Munic(pio de Foz do IguaÇu.
536 REVISTA BRASILEIRA nos MuNICÍPIOS

IV - PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS

1 o) Que se criem Departamentos de Assistência Técnica aos Municípios, em todos os Estados da Federação,
respeitados os princípios de autonomia municipal, não só no sentido de padronizar os serviços públicos municipais
como ainda de modernizá-los periOdicamente, melhorando a vida administrativa do Município;
2 °) que os três Poderes, Federal, Estadual e Municipal, num esfôrço conjunto, procurem criar aeroportos,
no maior número possível de cidades brasileiras, o que é o caminho para estabelecer-se a unidade nacional;
3. 0 ) que se efetive melhor fiscalização, no tocante ao problema florestal evitando-se a devastação das flo-
restas nacionais;
4 °) que se organizem planos quadrienais de assistência obrigatória aos Municípios, pelos Governos estaduais;
5 °) sejam fomentadas as organizações de emprêsas públicas, e de sociedades destinadas à execução dos
serviços públicos regionais;
6 °) sejam instaladas nos Estados, secções do I B A M, (Instituto Brasileiro de Administração Municipal),
capacitando-as a cumprir a sua missão de cooperar nas atividades administrativas do Município;
7 °) sejam estudados e resolvidos os problemas peculiares à família rut ai brasileira, célula básica da eco~
nomia municipal;
8 °) seja realizado um planejamento, verdadeiramente científico, ao mesmo tempo prático e econômico,
para o desenvolvimento das estâncias hidrominerais.

V -- CONVÊNIOS E AcORDOS INTERADMINISTRATIVOS

1 °) Que cada Município brasileiro, que se esteja defrontando com o problema do menor abandonado,
procure dar amparo à criança nessas condições, na medida de seus recursos econômicos e, tanto quanto possível,
procurando a ajuda do Poder Público Federal e Estadual;
2 °) seja solicitada a regulamentação do dispositivo constitucional, contido no Artigo no 151 da Constituição
Federal, de modo a se tornar legal o direito de intervirem os Poderes Públicos, estadual e municipal na emprêsa
particular, sempre que se verifique o abandono e o descaso, a falta de segurança; sendo declarado, expressamente
na lei reguladora, o direito de retomar, o Poder concedente, temporàriamente, o serviço público concedido, sempre
que o interêsse público o exija, sem prejuízo dos prazos e cláusulas contratuais;
3. 0 ) seja entrosado o Plano Rodoviário Municipal ao Estadual;
4 o) sejam estendidos diretamente aos Municípios os acordos firmados entre a União e os Estados.

5 a. Comissão Técnica

(O Município e a Reforma Constitucional)

Foram distribuídas a esta Comissão as seguintes teses:


- A Autonomia Municipal e suas Restrições --- Vereador MÁRIO ORESTES BRUZA, de Capinzal
- Regulamentação do Artigo no 20 da. Constituição Federal - Representação do Município de
Santa Rosa do Viterbo
Reforma dos Itens III e IV do Artigo no 15 da Constituição Federal - Vereador GERALDO
CosTA, de Manaus.
- Supressão dos Parágrafos 1 ° e 2 o do Artigo n o 28 da Constituição Federal - Vereador ALVARO
RONDON PONTES, de Aquidauana
- Defesa das Conquistas Municipalistas e Melhor Distribuição de Rendas -- Vereador JosÉ
GUIMARÃES e ANIS BADRA, de Marília
- Pagamento aos Municípios da Quota do Artigo n ° 20 da Constituição Federal - FRANCISCO
GOMES DE MATOS NOGUEIRA e GERALDO BARBOSA DO CARMO, de Mandaguari
- Reforma do Artigo no 15, Parágrafo 4 ° d11. Constituição Federal -- GERALDO COSTA, de Manaus.
- Imunidade aos Vereado1es - SEBASTIÃO GUANAES SIMÕES, de Garça
- Autonomia Política das Estâncias Hidrominerais - Câmara Municipal de Campos do Jordão.
- Criação dos Estados Regionais e Revogação das Leis Orgânicas Municipais votadas pelas Assen1-
bléias Estaduais - ANTÔNIO DELORENZO NETO, de São Paulo.
-Da Necessidade de se arnplia1 a A11ecadação Municipal- Vereador JosÉ CuPERTINO DE AL-
MEIDA, de Vitória
-- Os Municípios e o Desconto para o I A P I -- Prefeituras e Câmaras Municipais de Timoneira,
Colombo, e Campo Largo.
-- O Município em Face do Estado e da União - ERNÂNI REICHMAN, do Paraná.
Autonomia Política do Município e a Réforma Constitucional - RoDOLFO VALE.
- O Municipio e a Reforma Constitucional - Prefeito ORLANDO DE SousA, de Pacaembu
- Os Prefeitos poderão candidatar-se para o Periodo seguinte de sua Administração - J S.
BILHARINHO e lGUATIMozr DE SousA, de Uberaba.

Debatida e votada a matéria, deliberou a Cmnissão indicar ao plenário a inclusão, na Carta de Princípios
e Reivindicações do II Congresso dos Municípios Nacionais 1 das seguintes conclusões:
l,a) recomendar ao Congresso Nacional a reforma do Artigo n,o 20 da Constituição Federal, de modo a
permitir a participação das Capitais dos Estados na percentagem prevista nesse dispositivo.
2.a) recomendar também a reforma do Artigo n ° 19, III, a fim de transferir para os Municípios a cobrança
do impôsto de transmissão de propriedade imobiliária "inter-vivos" e sua incorporação ao capital das sociedades;
J.a) recomendar às Assentbléias Legislativas Estaduais a revogação das leis de Organização Municipal,
como desnecessárias à administração e atentatórias do princípio de autonomia municipal estabelecido pelo Artigo
n. 0 28 da Constituição da República;
O II CoNGREsso NACIONAL nos MuNICÍPIOs BRASILEIROS 537

4,a) recomendar ao Congresso Nacional o exame, na oportunidade da reforma constitucional, do Estado


Regional, como condição fundamental para a reorganização dos Municípios brasileiros;
5 a) solicitar das Assembléias Legislativas Estaduais a revogação dos dispositivos, existentes nas Constituições
respectivas, que permitem aos Estados nomear Prefeitos para as estâncias hidrominerais naturais, sem que
isto importe na supressão dos recursos financeiros cCJnstitucionais, destinados ao desenvolvimento dêsses MuniM
cípios peculiares;
6 a) estender a recornendação do item anterior às Capitais dos Estados que se encontram na mesma situação;
7 a) solicitar do Congresso Nacional as medidas indispensáveis à extensão, aos Vereadores n1unicipais,
das imunidades legislativas;
8 a) solicitar ao Congresso Nacional a adoção da seguinte emenda no Artigo n ° 15, parágrafo IV, da Cons-
tituiçã.o Federal: ( (A União entregará aos Municípios, excluídos os das Capitais de renda superior a
Cr$ 200 000 000,00, 10% do total que arrecadar do impôsto de que trata o item IV, feita a distribuição em
partes iguais e aplicando·se, pelo menos, a metade da importância em benefícios de ordem rural";
9 a) recomendar aos Governos Estaduais o cumprimento do disposto no Artigo n o 20 da Constituição
Federal;
10 a) recomendar ao Congresso Nacional a rejeição de quaisquer medidas tendentes a retirar ou diminuir
as vantagells já concedidas aos Municípios;
11 a) recomendar ao Congresso Nacional o exame duma reforma constitucional que assegure aos Municípios
os direitos vigentes, bem como uma mais perfeita distribuição de rendas, a fim de que possa o Município prover,
por si mesmo, às suas necessidades imediatas;
12 n) recomendar ao Congresso Nacional a reforma do Artigo n. 0 15, IV, da Constituição Federal, no sentido
de se elevar para 20% a cota-parte do Impôsto de Renda atribuída aos Municípios;
13 a) encarecer ao Congresso Nacional a urgência na votação do Projeto de lei que regulamenta o disposto no
Artigo no 15, Vl, § 2 o, da Constituição Federal;
14 a) encarecer ao Congresso Nacional o estudo e adoção das medidas indispensáveis à instituição do Poder
Legisla ti v o nos Municípios dos Territórios Federais

CARTA MUNICIPALISTA DE SÃO VICENTE

Damos a seguir, na íntegra, a Carta dos Municípios, elaborada no Congresso de São Vicente, a qual se fun-
damenta nos princípios estabelecidos em Petrópolis: autonomia, cooperação administrativa intermunicipal,
colaboração intergovernamental, combate ao éxodo rural, organização racional da produção, planejamento,
turismo, assistência e previdência social às populações rurais, reivindicações ti ibutárias e outras:

"Nós, os representantes dos Municípios brasileiros, reunidos na Cidade de São Vicente, de 12 a 19 de ou~
tubro de 1952;
considerando, com especial interêsse, as recomendações e conclusões consubstanciadas na Carta de Declaração
de Princípios, Direitos e Reivindicações aprovada pelo I Congresso Nacional dos Municípios, realizado em abril
de 1950, em Petrópolis;
considerando os ensinamentos e exigências da realidade brasileira, a experiência haurida nestes dois últimos
anos, bem como as novas perspectivas para o futuro da vida municipal;
considerando a urgente necessidade de ampliar e fortalecer a capacidade política, econômica, financeira e adminis-
trativa dos Municípios brasileiros;
considerando a conveniência de serem examinadas novas teses e recomendações objetivas com o propósito de
solucionar, através de reivindicações concretas, os problemas estruturais e funcionais básicos das Comunas de
todo o Paí:s;
considerando a necessidade de sistematizar os pontos fundamentais de uma política municipalista de âmbito
nacional mediante soluções adequadas e racionais;
considerando, principalmente, a necessidade de estimular o desenvolvimento econômico e social das municipali-
dades e resolver, consoante os impositivos da economia e da eficiência, os problemas essenciais de organização,
administração e govêrno dos Municípios;
RESOLVEMOS promulgar a seguinte Carta de São Vicente que dispõe sôbre princípios, direitos e reivindi..
cações nos têrmos aprovados pelo II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.

PRINCÍPIOS

I - Considerando que qualquer tentativa de mudança violenta da ordem jurídica instituída atenta fun-
damentalmente contra a autonomia municipal, os Governos Municipais, pelos seus poderes constituídos, e como
representantes do povo brasileiro, obrigam-se a consolidar, pelo respeito à Constituição e às Leis, o regime repre-
sentativo democrático da Federação e da República, mantido pelos Estados Unidos do Brasil.
II - 1) O Município é um grupo natural da sociedade, constituído por um conjunto de famílias e orga~
nizado como unidade política primária;
2) Todos os Municípios brasileiros são jurídica e politicamente iguais, constituindo a Nação e os Es-
tados, integrados na sua função de defender as tradições e os ideais que vêm presidindo a formação .histórica
do País e a evolução política da nacionalidade.
III ~ A participação da admiaistração municipal nas atividades econômicas, sociais e culturais da comu-
nidade deve visar, precipuamente, à elevação da capacidade econômica do Município, através de elementos capazes
de fixar e estabilizar a população em seu próprio ambiente.
IV ~ Os tributos municipais arrecadados nos Distritos devem ser nos mesmos aplicados, tanto quanto
possível, depois de deduzidas as parcelas destinadas a atender às despesas de administração geral.
V ~ O conceito da autonomia deve prevalecer na organização de todos os Municípios dá Brasil, inclusive
as Capitais de Estado e as sedes ou portos militares de excepcional importância para defesa externa do País, bem
assim onde houver estâncias hidrominerais naturais.
VI ~ Prestigiar, de tôdas as formas a seu alcance, as entidades que efetuam assistência técnica ou ins-
crevam nos respectivos programas o planejamento das atividades municipais.
VII - À Associação Brasileira dos Municipios, órgão oficial das municipalidades do País, fica delegada
expressamente a competência necessária para promover, junto aos Poderes Públicos e instituições pa1ticulares,
a efetivação das providências indispensáveis à concretização da presente Carta.
538 REVISTA BRASILEIRA nos MuNICÍPIOS

DIREITOS (*)

São Direitos dos Municípios:


1 _ A autonomia politica, compreendendo a autonomia administrativa e financeira, assegurada
pelas normas inscritas na Constituição e nas Leis.
II - A eleição direta. dos Prefeitos e Vereadores. . . ..
III - A administração própria, no que concerne ao seu pecu!tar. Interesse: _
IV - A decretação e arrecadação dos tributos de sua competencta e a aphcaçao de suas renda.s.
V - A renda oriunda de seus bens patrimoniais e serviços) bem como de outras fontes determ1nadas
na Constituição e na legislação em vigor.
VI - A organização dos serviços públicos locais.
VII - Além dos tributos que, no todo ou em parte, lhes forem transferidos pelo Estado, pertencem aos
Municípios os impostos: predial e territorial urbano; de licença, de indústrias e profissões; sObre diversões públicas;
sôbre atos de sua economia ou assuntos de sua competência.
VIII - Competência para cobrar contribuição de melhoria, quando se verificar valorização do imóvel,
em con~eqüêncía de obras públicas; taxas, quaisquer outras rendas que possam provir do exercício de suas atri-
buições e da utilização de seus serviços.
IX - O recebimento da porcentagem de dez por cento da arrecadação total do impOsto sôbre a renda
e proventos de qualquer natureza, exclusive os Municípios das Capitais, feita a distribuição em partes i!5uais.
X - Participação na porcentagem de sessenta por cento no mínimo da renda resultante do impôsto
único sôbre lubrificantes e combustíveis líquidos ou gasosos, entregue aos Estados, Distrito Federal e aos Mu-
nicípios.
XI - Participação na porcentagem de sessenta por cento, reservada aos Estados, Distrito Federal
e aos Municípios, da renda do impôsto único sôbre minerais e do impôsto único sôbre energia elétrica
XII - Recebimento anual de trinta por cento do excesso da arrecadação estadual de impostos, salvo
a do impôsto de exportação, quando esta superar, em Município que não seja o de Capital, o total das rendas
locais de qualquer natureza.
XIII - Recebimento de quarenta por cento do produto dos impostos criados pelos Estados, além dos
que lhe são atribuídos pela Constituição Federal, fazendo-se a entrega daquela porcentagem aos Municípios
onde se tiver realizado a cobrança à medida que os Estados efetuarem a arrecadação.
XIV - Contrair empréstimos externos, com prévia autorização do Senado.
XV - A administração dos cemitérios.
XVI - Promover ação regressiva contra os funcionãrios causadores de dano ao seu patrimônio, quando
tiver havido culpa dêstes.
. XVII - O cumprimento a partir de 1. 0 de janeiro de 1948 da discriminação de rendas estabelecidas pela
Constituição nos Artigos 20 e 21 e 29, na parte em que modifica o regime anterior.
XVIII - O cumprimento gradativo, a partir de 1948, no curso de dois anos, do disposto no Artigo 15, § 4.o,
assim como, no curso de dez anos, do estabelecido no artigo 20 da Constituição Federal.
XIX - O uso de símbolos próprios, bandeira, hino, sêlo e armas~

REIVINDICAÇÕES

São reivindicações do Municipio:


I - O cumprimento integra!, por parte da União e dos Estados, dos dispositivos constitucionais
que visam a consolidar a autonomia política do Município com a autonomia administrativa e a autonomia finan-
ceira.
II ~ Limitação da esfera estadual e definição da ãrea administrativa do Município, dando~lhe maior
âmbito de ação.
III - Melhor distribuição de encargos entre a União, os Estados e os Municípios.
IV - Integral acatamento dos princípios jurídico-administrativos consagrados pela Constituição
Federal em relação ao Município e resguardo das liberdades públicas, dado que o desenvolvimento político do
País depende essencialmente do progresso da democracia municipal.
V - Maior autonomia para o Município, a fim de que todos os cidadãos integrantes da Comuna
adquiram a convicção de que o exercício de seus direitos e deveres é o processo eficaz para resolver os problemas
do meio onde vivem.
VI - Conjunção dos esforços e recursos da União, Estados e Municípios, mediante acordos, con-
vênios ou contratos multilaterais, para a solução de problemas de interêsse geral, principalmente os relacionados
com a educação, sal1de, agricultura e transporte.
VII - Destinação de recursos especiais, por parte dos Poderes Públicos, para valorização dos centros
de atração turística, de cura ou repouso.
VIII - Cooperação dos Municípios na fiscalização de !eis federais de interêsse local, como, por exemplo,
os Códigos Florestal e de Caça e Pesca, bem assim o acompanhamento dos trabalhos de repartições federais ou
estaduais, nêles sediados, para fins de verificação do cumpdmento dos respectivos encargos.
IX - Modificação das bases de assistência e previdência sociais no País, a fim de que se igualem os
benefícios, direitos, garantias e obrigações dos segurados, seja qual fôr a entidade a que estejam vinculados.
X - Extensão, dentro de curto prazo, dos benefícios da assistência e previdência sociais às popu-
lações do interior.
XI - Descentralização administrativa dos serviços de assistência e previdência, de molde a facilitar
o contato entre a instituição e o segurado, garantindo maior rapidez na concessão dos benefícios.
XII - Aplicação no Município em que se originou, ou em grupos de Municípios vizinhos, de pelo menos
cinqüenta por cento da arrecadação de cada entidade de assistênda e previdência sociais.
XIII - Cessação das atividades extralegais dos órgãos criados sob o re~ime da Constituição de 1937,
e que não se harmonizam com o direito assegurado, pela Constituição Federal, ao Município, de deliberar, com
autonomia, sôbre aquilo que concerne ao seu peculiar interêsse
XIV - Competência às Câmaras de Vereadores dos Municípios congregados, para a ratificação dos
consórcios intermunicipais, sOmente cabendo fazê-lo à Assembléia Legislativa quando o Estado àêles participar
e na parte que diz respeito aos compromissos, encargos e benefícios da administração estadual.
XV - Participação efetiva do Município em todos os serviços públicos que correspondem a atividades
concomitantemente de interêsse da Nação, do Estado e do Município, como os de educação, assistência social,
polícia, justiça, viação, saúde pública, produção e crédito.
XVI - A responsabilidade de novos encargos, que seriam transferidos aos Municípios j1.,1ntamente
com as rendas ora destinadas à manutenção dos respectivos serviços, na União e nos Estados.
XVII - Recebimento de pelo menos da metade da cota porcentual (sessenta por cento) do Fundo Rodo-
viário Nacional, que cabe aos Estados, Territórios e Municípios.
XVIII - Percepção de quarenta por cento, no mínimo, do total das rendas públicas arrecadadas no País,
dentro de prazo razoável e progressivamente, quer mediante outorga de novos tributos, quer pela maior partici-
pação das rendas federais e estaduais.
XIX - Elaboração de um plano de interligações rodoviárias municipais, com execução a cargo dos Mu-
nicípios e aplicando a renda conseqüente ao aumento da participação no Fundo Rodoviário Nacional.
XX - Instituição do Município como arrecadador único.

(*) Artigos 7, 15, 21, 23, 28, 29, 30, 63, 141, 194 e 195 da Constituição Federal e Artigo 13 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias.
O 11 CoNGRESSO NAciONAL nos MuNICÍPIOS BRASILEIROS 539

XXI - Facilidades para generalização do planejamento) como ponderável fator de bem-estar, segurança
e progresso geral, modernizando e aperfeiçoando a administração local, tornando possível melhor utilização dos
recursos humanos, naturais e institucionais da comunidade.
XXII - Concessão de maior amparo financeiro ao pequeno agricultor pelos estabelecimentos de cré-
dito de que participem os Poderes Públicos e pelas entidades autárquicas.
XXIII - Unificação e simplificação dos serviços de imigração e colonização, bem como sua regionali-
zação e zoneamento, de modo a atender às peculiaridades locais e regionais.
XXIV - Criação de cursos intensivos e práticos de Direito e Ciência de Administração Municipal, junto
às Faculdades de Direito, de Administração, de Economia e de Engenharia, assim como no Departamento Admi-
nistrativo do Serviço Público (D.A.S.P.).
XXV - Reivindicam os Municípios brasileiros: maiores rendas, novos encargos, mais acesso ao crédito.
XXVI - Recebimento mensal, diretamente das Exatorias Federais, de cinqüenta por cento da arreca-
dação local feita sob a rubrica do sêlo de "Educação e Saúde", cujo montante serâ aplicado na solução de pro-
blemas de assistência social.
XXVII ~- Inversão das reservas de previdência não só no mercado de imóveis dos grandes centros, mas
também no dos pequenos centros municipais, como contribuição à solução do problema da moraâia.
XXVIII - Propugnar pela manutenção do atual sistema de discriminação de rendas estabelecido na Cons-
tituição da República, lutando contra qualquer reforma constitucional em contrário, salvo se visar, expressamente,
à ampliação das rendas tributárias do Município.

DECLARAÇÃO ADICIONAL À CARTA DE PRINCÍPIOS, DIREITOS E REIVINDICAÇÕES DOS MuNICÍPIOS

1 São consideradas indispensáveis as seguintes providências para fixar e estabilizar as populações


em seu próprio meio, cumprindo às Municipalidades promovê-las:
I - A conjugação de esforços no sentido de serem concedidas facilidades para o desenvolvimento
de indústrias, divulgando-se as condições próprias do Município, de maneira a atrair capitais, e incentivando-se
as explorações agropecuárias já existentes ou que venham a organizar·se.
II - O estabelecimento de postos agropecuários ou de outros serviços de fomento e assistência à po-
pulação rural, e a cooperação na manutenção dos já existentes, criadc;>s pelo Ministério da Agricultura ou governos
estaduais.
III - A criação de escolas regionais, ou patronatos para menores, de tipo variável de acôrdo com as ati·
vidades econômicas da região.
IV - A exploração rural como meio de desenvolvimento econômico, e não como fonte de rendas pú-
blicas, facilitando·se a aquisição, pelo preço de custo, não só de materiais de exploração agrícola, sementes sele-
cionadas e máquinas agrícolas, como também da pequena propriedade.
V - O aproveitamento das terras do patrimônio nacional, estadual ou municipal, dando·se preferência
aos habitantes das zonas empobrecidas e aos desempregados, na forma prevista no Artigo 156 da Constituição
Federal.
VI - O estímulo à criação de cooperativas de produção, consumo e crédito, que visem a possibilitar
aos lavradores meios de financiamento de seus produtos e facilidades de armazenamento, bem assim a instituição
de associações rurais, com finalidades econômicas e de atuação social.
VII - A criação e manutenção de serviços nas vilas e nas sedes dos subdistritos, quando os houver, ou
dos povoados, incumbindo a êsses serviços quer a fiscalização da arrecadação municipal e auxílio à fiscalização
estadual, quer a execução de atividades sociais e culturais benéficas à população local.
VIII - A colaboração com os órgãos federais, estaduais ou particulares na instituição de Colônias Es·
colas, Colônias Agrícolas ou Núcleos Coloniais, principalmente nas áreas mais prejudicadas pela existência de
latifúndios e na vedação do aliciamento, por elementos estranhos, de trabalhadores rurais.
IX - O incentivo aos festejos populares, promovidos por grupos organizados ou que venham a organi-
zar-se, para a realização em público e gratuitamente dos folguedos tradicionais do folclore regional, inclusive
com a concessão de facilidades e a dispensa do pagamento de tributos.
X - A instalação, com a cooperação dos particulares, de pequenos museus de mineralogia, com o
objetivo de incrementar o conhecimento das riquezas do País e o intercâmbio de exemplares entre o público e
o Departamento Nacional da Produção Mineral.
XI ~ O levantamento da população em idade escolar, em colaboração com as autoridades estaduais,
com o objetivo de possibilitar melhor administração do ensino a cargo das municipalidades e mais profícua apli-
cação dos recursos destinados a tais fins.
XII - A organização e manutenção, mediante destaque de recursos da cota destinada ao ensino e à
educação pública, de parques infantis, onde as crianças, especialmente as das classes menos favorecidaG, recebam
a necessãria educação e assistência.
XIII - A promoção, sobretudo pelos Municípios mais atingidos pelas conseqüências do êxodo rural,
das medidas indispensáveis à colonização das áreas de terras devolutas dos seus territórios, sob sua exclusiva
responsabilidade ou com o auxilio dos órgãos especializados do Govêrno FederaL
XIV - A importação direta da maquinaria necessária à execução dos serviços, pleiteando-se a efetivação
dos dispositivos constitucionais relativos à imunidade tributária e à extensão destas às próprias taxas que in-
cidem sôbre a entrada de mercadorias.
XV - A criação de cursos de educação municipal, nos quais, de par com a instrução fundamental comum,
sejam ministradas noções de higiene e de geografia e história do Município.
XVI - A admissão para as escolas municipais preferentemente de professôres formados e que possam não
só difundir conhecimentos de higiene como ainda promover divertimentos educativos nos núcleos onde traba·
lharem.
XVII - A incorporação, pelos Municípios de cada região, de estabelecimentos de crédito especial para
atender às respectivas necessidades financeiras e constituir a base para implantação e desenvolvimento do cré-
dito pessoal.
XVIII - A racionalização da administração municipal, mediante reforma dos processos de trabalho e
criação de órgãos técnicos necessários.
2. São igualmente necessárias as medidas abaixo:
I - Estudo dos problemas turísticos em conjunto, pelos Municípios ou Estados interessados ou,
quando menos, por parte das estâncias hidroterápicas e climáticas, estações balneãrias e cidades históricas.
li - Realização de agrupamentos de Municípios de uma mesma região geo~econômica, de modo a
tornar possível, mediante a cooperação intergovernamental, a solução de problemas comuns às respectivas admi-
nistrações, sobretudo energia elétrica, telefones, abastecimento d •água, esgotos e saneamento, fomento da pro-
dução e encaminhamento de gêneros alimentícios aos mercados de consumo locais, vias de transporte, desen-
volvimento cultural, saúde pública, crédito e financiamento.
III - Criação, sob a forma cooperativa, de modo a utilizar recursos, não só dos Municípios, mas também
de particulares, de bancos regionais, destinados, possivelmente, a servir de base a um futuro instituto de crédito
municipal.
IV - Cooperação entre os Municipios para a criação de organizações de fins econômicos. quando a
execução dos acordos intermunicipais o tornar necessário, podendo participar, nesse caso, do empreendimento
pessoas físicas ou jurídicas.
V - Entrega das cotas percentuais do Fundo Rodoviário Nacional aos Municípios, diretamente pelo
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, por intermédio das coletorias federais e agências do Banco
do Brasil.
VI - Regulamentação do Artigo 20 da Constituição Federal, sem prejuizo da legislação supletiva,
a ser baixada pelos Estados.
540 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNicfPIOS

VII - Estabelecimento, na lei complementar, sugerida no item anterior de:


a) normas relativas à determinação do total da renda estadual atribuída a cada Município no caso do im ..
pôsto de vendas e consignações e de outros tributos cuja arrecadação apresente dúvidas na sua distribuição geo-
gráfica;
b) fixação de um conceito restrito da expressão urendas locais de qualquer natureza";
c) estabelecimento de sanções contra os Estados que neguem cumprimento a essa lei.
VIII - Regulamentação do Artigo 15, número III, § 20 da Constituição Federal, na parte relativa aos
minérios e à energia elétrica, a fim de que os Munidpios interessados possam usufruir as vantagens tributárias
correspondentes.
IX - Recebimento de pelo menos 50% da arrecadação do impôsto si)bre minerais ou energia elétrica,
respectivamente por parte dos Municípios nos quais se realizar a extração ou fôr consumida a energia elétrica,
devendo a arrec~dação do tributo ou da porcentagem municipal ser levada a efeito diretamente pelas Prefeituras
interessadas.
X - Pagamento da cota.. parte do impôsto sôbre a renda aos Municípios integralmente, de uma só
vez, durante o terceiro trimestre de cada ano.
XI - Levantamento das restrições desnecessárias ao pagamento dos auxílios e subvenções, concedidos
pela União e pelos Estados, aos Municípios e entidades privadas nestes sediadas.
XII - Entrega direta aos Municípios das verbas consignadas no orçamento federal para emprêgo nos
Municípios.
XIII - Competência exclusiva ao Município para cobrança da taxa ou impôsto de turismo, nas locali·
dades de reconhecida significação histórica ou classificadas como estâncias hidroterápicas ou climáticas.
XIV - Elaboração de planos diretores tendo em vista a conveniência de atender·se às necessidades co-
muns dos Municípios vizinhos, bem assim o estabelecimento de providências que assegurem:
a) a regulamentação dos loteamentos urbanos, de modo a garantir-lhes condições mínimas quanto a faci-
lidades de acesso, existência de melhoramentos públicos e reserva de áreas destinadas a parques e escolas;
b) o reflorestamento, como fator essencial à proteção do solo e dos mananciais;
c) a instituição de regime fiscal que evite a atrofia das iniciativas econômicas;
d) a participação obrigatória da administração nos empreendimentos de defesa da saúde pública, de com-
bate às pragas e moléstias dos vegetais e animais, com especial interêsse para a manutenção de serviço perma-
nente de combate à saúva e a outras formigas cortadeiras, e das práticas recreativas, mesmo quando de inici-
ativa privada; na construção de campos esportivos e parques infantis e em assuntos urbanísticos, com a coope-
ração dos departamentos especializados do Estado;
e) a difusão cultural, em cooperação com os particulares e depois de preparado corpo especializado de servi-
dores, por meio, principalmente, de conselhos escolares, bibliotecas, teatros, rádio, imprensa, e mediante facili-
dades tributárias à indústria e ao comércio de livros.
XV - Reexame da divisão das regiões administrativas das unidades federadas, com o objetivo de tor-
ná-Ias mais condizentes com a realidade.
3 O Congresso, considerando vital aos interêsses dos Municípios a entrega das cotas que lhes são devidas
por fôrça do dispositivo constitucional, recomenda aos Governos I ocais o recurso ao Poder Judiciário para obtenção
do recebimento das aludidas cotas. Reconhece, no mesmo passo, os mais altos propósitos municipalistas dos
Governos que vêm cumprindo aquêles preceitos constitucionais, o que os torna merecedores de confiança e apoio
moral.
4 As verbas consignadas no orçamento da União para emprêgo nos Municípios, deveriam ser entregues,
no que diz respeito às atribuições dos Governos Municipais, diretamente a êstes, mediante acordos, quando fôr
o caso, entre os Poderes interessados.
5 Faz-se necessária a entrega imediata, por parte dos Governos Estaduais, das cotas do Fundo Rodovi-
ário Nacional, ainda retidas em poder dos Departamentos e Comissões Estaduais de Estradas de Rodagem.
6 Entendam-se comô características de benefício de ordem rural, para fins do estabelecido no § 4.0 do
Artigo 15 da Constituição Federal, as despesas realizadas com a execução de obras ou a prestação de serviços que
atendam às necessidades de natureza coletiva da zona rural, sem obrigar, contudo, os Municípios ao pagamento
de qualquer impôsto, taxa ou contribuição especial pelo gôzo de tais benefícios.
7 Recomendam aos Municípios brasileiros a elaboração de uma lei complementar federal, na qual se
regulamentem, atendidos os princípios desta Declaração, os dispositivos gerais da Constituição e da legislação
ordinária da União concernentes ao Município.
8 Os Prefeitos e Vereadores reunidos no I e no li Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros se com·
prometem a pleitear a inscrição das conclusões a que chegaram nos programas de seus partidos políticos e a
reivindicar, por intermédio dos representantes locais que vierem a ser eleitos, a sua efetivação posterior.

PRINCIPAIS REIVINDICAÇÕES APROVADAS PELAS CoMISSÕES


TÉCNICAS DO CONGRESSO DE SÃO VICENTE

Assuntos de competência do Govêrno Federal (Poder Executivo).


1 Integral cumprimento do disposto na Constituição, relativamente à discriminação constitucional de
rendas.
2 Transferência imediata para os Municípios do Impôsto Territorial Rural e 10% do Impôsto de Consumo.
3 Entrega aos Municípios pelo menos da metade da cota de 60% do Fundo Rodoviário Nacional, que
cabe aos Estados ..
4 Execução pelos Municípios dos planos de ligações rodoviárias intermunicipais, atribuindo-se cotas
maiores aos Municípios cujos territórios não sejam servidos por estradas federais ou estaduais.
5 Aplicação integral do disposto no Artigo 20 da Constituição Federal.
6 Elaboração do Código Tributário Nacional, que deverá conter normas gerais a serem observadas e
complementadas pelos 3 níveis de Govêrno, através da nítida delimitação dos campos de competência, nos moldes
preconiz2dos pelos trabalhos preparatórios da II Conferência Nacional de Legislação Tributária, cuja convocação
imediata é recomendada.
7 Instituição de cursos intensivos e práticos de Administração Municipal, os quais devem também in-
cluir noções de economia, geografia e história do Município.
8 Inclusão, entre as finalidades das Caixas Econômicas, do auxílio aos Municípios, estabelecendo-se,
para aplicação em cada Município, o mínimo de 40% dos depósitos ali feitos, e fixando-se juros máximos de 6%
para os empréstimos às Prefeituras.
9 Pleitear que as instituições de previdência cumpram, integralmente, suas finalidades em tôdas as partes
do País.
10 Transferir para os Municípios o direito aos bens oriundos de heranças jacentes.
11 Conferir aos Munícípios jurisdição exclusiva sôbre linhas de ônibus intermunicipais.
12 Revogação do Decreto-lei n. 0 5 764, de 19~8-43, que dispõe sôbre fornecimento de energia elétrica.
13 Apoiar a Reforma Agrária, que deverá realizar-se através da cooperação e do esfôrço conjugado dos
3 níveis de Govêrno.
14 Entendimentos com indústrias estrangeiras para que instalem no País fábricas de tratores e demais
instrumentos agrícolas.
15 Isenção de direitos e tributos, bem como concessão de facilidades de divisas para a importação de
maquinaria, inseticidas e adubos.
16 Solicitar elaboração de um plano de reflorestamento obrigatório, à base de 10% da área de cada pro-
priedade rural, cuja execução e fiscalização ficarão afetas aos Municípios.
17 Fornecimento de tratores e demais máquinas agrícolas às Prefeituras.
O 11 CoNGREsso NACIONAL DOS MuNICÍPIOS BRASILEIROS 541

18 Estabelecimento, nas diversas zonas geo-econômicas do País) de escolas de tratoristas e de oficinas


mecânicas especializadas na conservação de máquinas agrícolas. ,. .
19. Fixação em cada ano, antes do início da plantação de cada gênero, de um preço mtn1mo para todos
os produtos da lavoura. . _ . .
20 Contrôle de industrialização e exportação de carne bovina, bem como amphaçao dos plantéts, med1 ..
ante a instalação de monta.
21. Recomendar a urgente necessidade de drenagem dos rios.
22. Solicitar a instalação de armazéns frigoríficos, bem como concessão de crédito aos Governos Estaduais
e Municipais para a execução dessas obras.
23. Solicitar a rápida concessão de cartas-patentes destinadas a Bancos Municipais.
24. Concessão às cooperativas de crédito de benefícios de redesconto para financiamento da lavoura.
25 Obrigatoriedade de instalação de conjuntos termelétricos para, nas épocas de estiagem, suplementarem
as atividades das usinas hidrelétricas.
26 Constituição de sociedades de economia mista, com o fim de obter capitais para a exploração de energia
elétrica.
27. Reexame do critério do custo histórico como base para fixação de tarifas, adotando-se o processo realista.
28. Facilidades para importação de equipamentos necessários à melhoria das instalações hidro ou termelé ..
tricas de todo o País.
29 Nos seus contratos com emprêsas redistribuidoras a Hidrelétrica do São Francisco deverá incluir
cláusula que garanta a uniformidade de preços, tanto para as Capitais, como para o Interior.
30 Distribuição de terras da faixa de fronteira em lotes coloniais a serem entregues a brasileiros.
31 . Distribuição em caráter definitivo, a lavradores da região, das terras que marginam os açudes públicos
no Polígono das Sêcas.
32 Adocão, no plano nacional de imigração e colonização, do critério de igualdade de tratamento para
o imigrante e o nacional.
33 Aplicação de pelo menos 1/3 da quantia prevista no Artigo 198 da Constituição Federal na instalação
de colônias agrícolas no N ardeste.
34 Funcionamento imediato do Banco do Nordeste, como meio subsidiário, capaz de facilitar a fixação
do camponês no Polígono das Sêcas.
35 Concessão de financiamentos agrícolas e fornecimento de máquinas e instrumentos necessários às
populações agrícolas do Polígono das Sêcas.
36. Criação de escolas rurais, com ensino especializado (agrotécnico), nos moldes das escolas já mantidas
pelo Ministério da Agricultura.
37 Criação de escolas de capatazes rurais e de patronatos agrícolas para a formação de administradores
de fazendas, agrícolas e de pecuária, bem como escolas rurais femininas para aprendizagem de letras, trabalhos
manuais, pequenas indústrias caseiras, arte culinária etc.
38 Criação de tiros de guerra nos Municípios essencialmente agrícolas.
39 Estruturação de escolas primárias para as zonas rurais à base e regime de escolas de trabalho.
40 Proibição do uso, no transporte coletivo, de veículos inadequados, ou que não ofereçam segurança e
confôrto.
41o Conclusão tão rápida quanto possível das obras da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, bem
como a extensão de suas linhas de transmissão à região de Cariri, no Estado do Ceará.
42 Classificação dos trabalhos rurais, a fim de que sejam remunerados aquêles que exijam maiores esfOrços.
43 Construção do ramal da Rêde Ferroviária do Nordeste entre Arcoverde e Paulo Afonso através do
Município de Buíque por ser êste úl~imo Município zona de intensa produção agropecuária capaz de abastecer
os demais Municípios do Polígono das Sêcas.
44 Construção, em maior escala, de obras contra as sêcas.
45 Transformação, em serviço permanente, da atual Comissão de Abastecimento do Nordeste, com âm ..
bito de ação sôbre todos os Estados abrangidos pelo Polígono das Sêcas.
46 Expedição imediata de novo regulamento para a Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil,
com o fim de atender às necessidades mínimas dos agricultores.
47. Concessão aos Municípios de 50% da importância proveniente do sêlo de Educação e Saúde, para
aplicação em obras assistenciais.
48 Criação de cursos médios em cidades com mais de 2 000 habitantes, e concessão de bôlsas de estudo
a jovens capazes, residentes em cidades com menor número de habitantes.
49 Adoção de medidas destinadas a evitar as freqüentes mudanças de livros didáticos, de modo a fixar-se
o prazo mínimo de 3 anos para o seu uso, mantendo-se, em cada escola, os mesmos livros para cada grau de ensino.
50 Criação do Instituto de Ensino Emendativo para Surdos-Mudos e Cegos, nas regiões do País onde
houver maior número de pessoas portadoras de tais defeitos físicos.
51. Determinar ao I P.A.S.E. que celebre convênio com os Municípios que o desejarem.
52. Desc.entr-alização dos serviços das instituições de previdência ficando as mesmas proibidas de conceder
empréstimos a pessoas estranhas aos seus quadros de contribuintes.
53 As instituições de previdência devem criar cooperativas de consumo para atender às necessidades de
seus associados.
54 Cumprimento do dispositivo legal que manda aplicar 50% da arrecadação das instituições de previ-
dência nos locais em que a mesma se realizar.
55 Aplicação de parte do impôsto sindical no local de arrecadação, em serviços de assistência médico-
-social aos trabalhadores
56 Prestação de assistência técnica e orientação aos Municípios no combate à tuberculose.
57 Emprêgo de parte dos recursos destinados à educação na aquisição de livros e material didáticos, pelo
menos nos cursos primário e secundário, distribuindo-se os mesmos gratuitamente a estudantes pobres.
58 oCriação de uma rêde de estações rodoviárias em grandes cidades servidas por estradas federais ou esta·
duais.
59 Apoio financeiro à realização de planos urbanísticos nas zonas de fronteira, transformando-as em centros
de turismo, a exemplo do que ocorre com o Município de Foz do Iguaçu.
60 Criação, conjuntamente com os Estados e Municípios, de aeroportos no maior número possível de
cidades brasileiras.
61. Intensificar ainda mais a fiscalização das florestas, a fim de evitar-se sua devastação.
62. Início imediato das obras de transferência da Capital da República para o Planalto Central Goiano.

ASSUNTOS DE COMPETÊNCIA DO CONGRESSO NACIONAL

(Câmara dos Deputados e Senado Federal)

1. Regulamentação do Artigo 20 da Constituição Federal, com o fim de evitar diversidade de critérios


discriminatórios, injustiças fiscais e protelações nos pagamentos devidos, compreendendo principalmente o se ..
guinte:
a) fixação de um conceito restritivo da expressão urendas locais de qualquer natureza";
b) determinação do total de renda estadual atribuída a cada Município, por meio de normas que definam
os locais de arrecadação dos tributos indiretos;
c) estabelecimento de rigorosas sanções contra os Estados que se negarem a cumprir tal regulamentação.
2o Regulamentação do artigo 15, n.o 111, parágrafo 2.o, da Constituição Federal, na parte referente a
minérios e energia elétrica, com o fim de assegurar aos Municípios, nos quais se realizar a extração de minérios
ou consumo de energia elétrica, a participação mínima de 50% na arrecadação daqueles tributos.

R.B.M.- 3
542 REVISTA BHASILEIHA DOS MuNICÍPIOS

3 Ma,nifestar apoio ao projeto~: le_i ora em cu.rs_o no ~ongress_o_Nacional, instituindo, nas universidades
do Pais, uma cátedra de Direito e Ctencta da Admtntstraçao Muntctpal.
4 Elaboração de lei que assegure imunidades aos Vereadores. . ~
5 Apoio ao projeto de lei n.o 656-51, :J.a Cân:ara dos Deputados, que ~tspoe só~re o pagamento, aos Mu-
nicípios do Interior, do produto da arrecadaça? _dos tmpostos de consumo e tmportaçao.
6 Sugestões para a lei de reforma agrana:
a) constituição de pequenas propriedades agríc.:>las, em terras férteis, nas proximidades de centros con-
sumidores e vias de transporte;
b) constituição de colônias agrícolas para a exploração coletiva de áreas cultivadas por processos técnicos;
c) simplificação do processo expropriatório.
7 Definição dos "beneficiados de ordem rural", a que se refere o parágrafo 4.0 , do Artigo 15, da Cons~
tituição Federal, dando-se para tanto andamento ao projeto de lei ora em curso na Câmara dos Deputados, no qual
deverão ser devidamente considerados os têrmos do item VI da Carta de Princípios, Direitos e Reivindicações
Municipais.
8. Regulamentação do Artigo 151 da Constituição Federal, com o fim de ficar assegurado aos Poderes
Públicos estadual e municipal o direito de intervir nas emprêsas concessionárias de serviços públicos, sempre
que houver descaso ou abandono, autorizando-se o Poder concedente a suspender, temporàriamente, a concessão,
independentemente dos prazos e clãusulas contratuais.
9 Reforma do Artigo 20 da Constituição Federal, de modo a permitir a participação das Capitais dos
Estados nas porcentagens nêle previstas.
10. Reforma do Artigo 19, item III, da Constituição Federal, a fim de permitir-se ao Município a cobrança
do impôsto de transmissão de propriedades imobiliárias "inter vivos" e sua incorporação ao capital das sociedades.
11 Exame da possibilidade de adoção de Estados Regionais, como base para a reorganização dos Muni-
cípios brasileiros.
12 Extensão a Vereadores das prerrogativas de imunidade.
13 Adoção da seguinte emenda para o Artigo 15, parágrafo IV, da Constituição Federal: na União entre-
gará aos Municípios, excluídos os das Capitais de renda superior a Cr$ 200 000 000,00, 10% do total que arrecadar
do impôsto de que trata o item IV, feita a distribuição em partes iguais e aplicando-se pelo menos a metade da
importância em benefícios de ordem rural".
14 Rejeição de quaisquer medidas tendentes a subtrair aos Municípios as vantagens até agora obtidas.
15. Reforma da Constituição, com o fim de obter-se uma discriminação mais justa das rendas públicas,
de modo que possibilite ao Município prover por si mesmo as suas necessidades imediatas.
16 Reforma do Artigo 15, item IV, da Constituição Feâeral, elevando-se para 20% a cota do Impôsto
de Renda atribuida aos Municípios.
17 Promulgação rápida do projeto de lei que regulamenta o Artigo 15, item VI, parágrafo 2 o, da Cons~
tituição Federal.
18 Instituição de órgãos legislativos nos Municípios pertencentes aos Territórios Federais.

ASSUNTOS DE COMPETÊNCIA DOS GOVERNOS ESTADUAIS

(Poder Executivo)

1 Execução, pelos Municípios, dos planos de ligações rodoviárias, intermunicipais, atribuindoMse maiores
cotas do Fundo Rodoviário Nacional aos Munidpios que não dispuserem de estradas federais ou estaduais.
2 Aplicação integral do disposto no Artigo 20 da Constituição Federal.
3 Designação de uma comissão de constitucionalistas, com o fim de elaborar o plano de criação dos go-
vernos rurais autônomos.
4 Assegurar aos Prefeitos o direito de indicar os delegados que devam servir nos seus Municípios.
5 Criação de Comarcas em todos os Municípios em que a arrecadação estadual atinja pelo menos 5 milhões
de cruzeiros por ano.
6 Recomenda-se o exercício pelos Estados das atribuições prescritas no Artigo 153 da Constituição Federal~
p~ra o que devem estar técnica e administrativamentente aparelhados.
7 A legislação sôbre produção, transporte e comércio de gêneros alimentícios, especialmente do leite e
seus de.rivados, deve ser da competência dos Poderes Públicos municipais.
8 Constituição de sociedades de economia mista para obtenção do capital necessário à exploração de
energia elétrica.
9 Distribuição de terras devolutas esta,duais dentro de um plano de cujo estudo participem os Municípios
interessados.
10 As comissões de terras devem obedecer a um plano elaborado e aprovado pelo Estado, no qual fique
estabelecida a obrigatoriedade da colonização, bem como garantidos os direitos dos posseiros porventura exis-
tentes.
11 Decretação de novos e progressivos impostos sôbre terras rurais não cultivadas, com exceção das áreas
ocupadas por matas.
12 Proibição do emprêgo, nos transportes coletivos, de veículos inadequados, ou que não ofereçam se·
gurança e confôrto aos passageiros.
13 Instalação de postos sanitários nos pontos de partida, chegada e trânsito das correntes migratórias
internas 1 a fim de prestar assistência aos emigrantes e imigrantes.
14 Organização, com auxílio da União e dos Municípios, de serviços volantes de cinema educativo e re-
creativo para a zona rural, bem como a criação de postos volantes de saúde, os quais visitarão as sedes distritais
e os núcleos de regular densidade demográfica.
15 Estruturação de escolas primárias para as zonas rurais à base e regime de escolas de trabalho.
16 Adoção de medidas destinadas a evitar freqüentes mudanças de livros didáticos de modo a fixarMse o
prazo mínimo de 3 anos para seu uso, mantendo-se em cada escola os mesmos livros para cada grau de ensino.
17. As escolas primárias, sempre que possivel, devem ser providas de professôres primários selecionados
através de concursos de provas e títulog.
18 Construção na medida do possível de grupos escolares dotados de instalação e equipamento adequados.
19 Observância das seguintes normas na organização do ensino primário:
a) curso com duração de 5 anos;
b) efetivo máximo de 30 alunos por classe;
c) evitar desdobramento de classe;
d) per!odo diário de 5 horas de trabalho.
20. Expedir nova regulamentação nas escolas de modo que atenda aos professôres nas suas licenças e re-
moções, sem prejuizo dos alunos e do ensino.
21 . Manutenção, junto aos grupos escolares, de um serviço de assistência médicoMdentária.
2 2 . Reforma do Ensino Normal, para melhor atender à forn1ação de professôres, obedecidas as seguintes
bases:
a) exigência de exame de suficiência;
b) criação de escolas normais regionais, com programas específicos, baseados na técnica, costume, pro ..
dução e organização de trabalho da região;
c) manutenção de cursos de extensão para professôres primários;
d) realização de exames vocacionais com o fim de preparar especialistas para as diversas funções de educar
a criança;
e) os períodos de férias das escolas isoladas devem atender às conveniências locais;
f) criação do departamento de ensino normal rural, bem como de escolas rurais, que formem professôres
especializados;
O li Co:-~camsso NACIO~AL nos :\luKJCÍPIOS 13nAsiLEmos 543

~) remuneraçlo condigna ao profe$sorado primário municipal;


11) criação de serviços de assist ência t~nica educacional, com o fim de elevar o nlvel pedagógico do ma-
gistério prim6.rio munlcipal.
23. Jnstituiçlio de um tipo de escola flexlvel (escolas m óveis), destinada à alfabetização dos habitantes
das zonas rurais.
24. Criação, em cada Estado, de um órgão que se dedique ao problema da habitação popular.
25. Manutençlo, nas zonas rurais, de uma rêde de centros sociais, postos de saúde e hi;,icne, dotando-se
os mesmos dos meios de transport es necessários à perfeita execução de suas finalidades.
26 . Manutenção, em condições satisfatórias, de serviços regionais de combate à esquistou om!ase.
27. Criaçlo de órglios que se incumbam da recuperação de menores abandonados.
28 . Parte dos recursos destinados à educação deverá ser empregada na aquisição de livros e material di·
dáticos, pelo menos nos curcos primário e secundário, distribuindo-se os mesmos gratuitamente aos alunos
pobres.
29. Organização, em cada Estado, de um n6cleo d e formação d~ Té~nicos de Administração, que se encnr·
regue, também, de renliza.r estudos sObre medidas peculiares à Administração Municipal.
30. Criatão de uma rêde de estações roaoviârias nas grandes ciciades servidas por estradas federais e esta-
duais.
31. Cristão, em cada Estado, de um Departamento de Assistência Técnica nos Municípios, respeitado
o prindpio de autonon\ia municipal.
32. Criaçlo, conjuntamente con1 a União e os Municipios, de Aeroportos no maior número possível de ci-
dades bras ileiras.
33. Organizas;i!o de planos quadrienais de assistência a os Municlpios.
34. E laboração de planos de desenvolvimento racional de nossas estâncias hidrominerais.
35. Entrosamento dos planos rodoviârios dos Estados com os dos Municlpios.
36. Extensão direta aos Municípios dos acordos celebrados com a União.
37. Cumprimento do disposto no artigo 20 da Constituição Federal.

A SSUNTOS DE COMP&Tl).NCIA DAS ASSEMBLÉIAS LEGISLATIVAS DOS ESTADOS

1. Adotor, na divisrío odministrativf\ dos Estados, c-ritérios condizentes com a realidnde nacional e re·
gio nal, evitando-se a criaçiio de novos Munidpios sem capacidade econômica para tal.
2. Revogatlo das Leis Orgânicas, por serem desnecessárias e ferirem o principio da autonomia muni-
cipal.
3. Revogação dos dispositivos das Constituições Estaduais, que permitem a nomeação de Prefeitos para
os Munidpios do.s Capitais c para as estâncias hidromi nerais naturai!;.

TenHl.S mul"'ic1'pall'stas foram obje to de vivos debates no plonlulo


544 REVISTA BRASILEIRA nos MuNICÍPIOS

ASSUNTOS DA COMPETÊNCIA DOS GOVERNOS MUNICIPAIS

(Prefeitos e Câmaras de Vereadores)

1 . Criação de Departamentos de Defesa Vegetal e Animal, bem como a instalação de colônias típicas,
granjas ou fazendas~modêlo municipais.
2. Realização de Congressos Regionais de Agricultores.
3 Aplicação da cota do Impôsto de Renda, de acôrdo com o dispositivo constitucional, em empreendi·
mentos de ordem rural, especialmente em rodovias.
4 Fomentar a criação de Bancos de Municípios, com o fim de se reterem no interior as fortunas ali geradas.
5. Instalação de cooperativas de crédito, consumo e distribuição, facilitando, por todos os meios dispo·
níveis, o seu funcionamento. ·
6 Constituição de sociedades de economia mista para obtenção do capital necessário à exploração da
energia elétrica.
7. Organização, com o auxílio da União e dos Estados, de serviços volantes de cinema educativo e re-
creativo para a zona rural, bem como criação de postos volantes de saúde, os quais visitarão as sedes distritais
e núcleos de regular densidade demográfica.
8. Recuperação social do colono, através de rêdes de hospitais regionais e postos agropecuários.
9. Organização de serviços de fiscalização de contratos de trabalho, de orientação e colocação de imi-
grantes nacionais.
I O Organização de serviços de assistência médica à família rurícula.
11 Delimitação, em cada Município, da zona destinada à criação, a fim de evitar-se a transformação de
zona de lavoura em zona de pastagem, o que vem constituindo forte fator de êxodo rural.
12. Instalação, em cada Município, de um moinho de trigo com o fim de incentivar a cultura doméstica,
industrialização e consumo "in loco" dêsse cereal.
13 Instituição de um tipo de escola mais flex!vel (escolas móveis), para alfabetização dos habitantes das
zonas rurais.
14 Criação de escolas típicas rurais, com sentido profissional, para adolescentes alfabetizados, destinadas
a preparar o homem do campo para os encargos da mecanização da lavoura e da agricultura racional, aconse-
lhando·se a celebração de convênios com os Estados para a disseminação dessas escolas e o planejamento de seus
programas.
15 Os Municípios instalarão, sempre que possível, parques infantis em suas sedes, mantendo obrigatà·
riamente nos mesmos biblioteca infantil especializada.
16 Parte dos recursos destinados à educação deverá ser empregada na aquisição de livros e material di·
dáticos, pelo menos nos cursos primário e secundário, distribuindo-se os mesmos gratuitamente a estudantes
pobres.
17 Instalação de salões de arte, onde os artistas locais possam expor e vender suas produções.
18 Entrosamento com órgãos federais, estaduais e entidades autárquicas, objetivando resolver o pro-
blema da assistência social.
19 Extinção de favelas, mocambos e cortiços, como meio de combate à mortalidade infantil, à delinqüência
e ao analfabetismo.
20 Manutenção de estrita ligação com a Comissão Nacional do Bem-Estar Social, visando à solução de
problemas comuns, principalmente:
a) criação de centros de estudo de habitação;
b) criação de Serviços Sociais urbanos e rurais;
c) fomento de cooperativas de crédito, de produção, de consumo, da habitação etc.,
d) constituição de um fundo para fins de financiamento dos serviços sociais;
e) auxílio para construção de habitações urbanas e rurais próprias;
f) elaboração de planos urbanísticos;
g) estudo das condições sócio-econômicas do Município, para fins de planejamento.
21 Criação de Conselhos Municipais de Assistência Social, bem como convocação da Associação Brasileira
de Municípios, associações congêneres estaduais e o Instituto Brasileiro de Administração Municipal para co-
laborarem na execução dos planos de assistência social aos Municípios.
22 Concessão de bôlsas de estudo para formação de enfermeiros especializados, os quais ficarão incubidos
de organizar e dirigir, onde não exista assistência médica, enfermarias-modêlo, com salas destinadas a serviços
de pronto socorro.
23. Criação do "sêlo de maternidade", que deverá incidir sôbre entradas para divertimentos públicos, re ..
vertendo-se o seu produto em benefício da maternidade.
24 Manutenção de leitos·dias em sanatórios, para internamento de tuberculosos pobres.
25. Colaborar na moralização dos costumes, na profilaxia das doenças venéreas, bem como na recuperação
da mulher prostitu!da.
26 Estudar a possibilidade de intensificar mediante a adoçã.o de meios adequados, o uso de calçados pelo
trabalhador rural, solicitando, para êsse fim, a cooperação dos Governos Federal e Estaduais.
27 Criação de uma réde de estações rodoviárias em grandes cidades servidas por estradas federais ou
estaduais.
28 Realização peri6dica de Congressos, conferências ou reuniões regionais de Municípios, para o estudo
e debate de problemas de interêsse comum.
29 Reorganização geral e racional dos serviços públicos municipais, com o fim de aumentar-lhes a efi·
ciência e rendimento.
30 Criação de serviços municipais de assistência rural.
31. Organização de cursos intensivos de administração municipal.
32. Criação de um 6rgão técnico, em cada Município, subordinado às Câmaras Municipais, com o fim de
auxiliá~las a fiscalizar a execução orçamentária.
33. Criação de Conselhos Municipais de urbanismo.
34. Criação de laboratórios de saneamento nas cidades servidas por rêdes de água e esgôto.
35. Elaboração de plano-diretor para as cidades-sedes de Municípios.
36. Evitar-se a colocação de nomes de pessoas vivas em ruas, praças e estabelecimentos públicos.
37. Elaboração de planos racionais de aproveitamento das estâncias hidrominerais.
38 Ampla cooperação dos Municípios nos planos de assistência ao menor abandonado.
39 Entrosamento do plano rodoviário municipal com o estadual.
40 Recomenda-se aos Prefeitos e Vereadores que telegrafem ao Presidente da República e ao Congresso
Nacional, solicitando o imediato início das obras de transferência da Capital da República para o Planalto Central
Goiano

REFORMA DOS ESTATUTOS E NOVA DIREÇÃO DA


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MUNicfPIOS

Entre as resoluções tomadas pelo li Congresso, destaca~se a alteração dos Estatutos da Associação Brasi·
leira de Municípios.
Em março de 1945, como é sabido, a Comissão Pau-americana de Cooperação Intermunicipal da Junta Dire-
tora do Congresso Interamericano de Municípios designou uma Comissão Nacional para organizar a Associação
Brasileira de Municípios. Dois meses depois, isto é, em n1aio, era instalada, no Rio de Janeiro, a Associação
Brasileira de Municípios, com amplo programa de propaganda e defesa das prerrogativas e direitos municipais.
O II CoNGREsso NAciONAL vos MuNICÍrros BRASILEIHOS 545

Rearticulando o Movin1ento Municipalista e orientando-o num sentido mais objetivo, a A B M. conseguiu,


em 1946, uma grande vitória: a Constituição da República, então promulgada, consagrou algumas reivindicações
pelas quais hã muito se batiam alguns brasileiros ilustres.
No I Congresso Nacional dos Municípios BrasÜeiros, realizado em Petrópolis em 1950, a A.B.M. foi elevada
à categoria de órgão oficial das Municipalidades de todo o País.
Baseando-se na experiência dêsses sete anos de funcionamento, contudo, o l i Congresso deliberou reformar
os Estatutos da A.B,M., para dar-lhe nova organização, mais de acôrdo com as exigências da técnica e das suas
condições objetivas de existência. A A B.M. passou a constituir uma espécie de Conselho Nacional, ficando assim
incumbida de orientar, nas suas linhas mestras, a política municipalista e traçar as diretrizes gerais dos planos
de assistência às municipalidades de todo o País.
Os encargos executivos foram confiados ao Instituto Brasileiro de Administração Municipal, recentemente
criado. De acdrdo com a decisão do II Congresso, êsse órgão funcionará anexo à A.B M , como sua agência
executiva.
Apresentando o projeto de reforma à consideração do II Congresso, o Sr. RAFAEL XAVIER, presidente da
A.B.M , precedeu-o da seguinte exposição:

uEm 15 de março de 1946, era instalada solenemente no Rio de Janeiro, a Comissão Nacional Organiza-
dora da Associação Brasileira de Municípios, que tivemos a honra de presidir, designada pela Comissão Pan-
americana de Cooperação Intermunicipal da Junta Diretiva do Congresso Interamericano de Municípios.
E, precisamente dois meses após, a 15 de maio, nascia a Associação Brasileira de Municípios.
Surgida numa época de agitada luta pela restauração de nossas instituições políticas calcadas no sistema
federativo, a A.B.M. contribuiu decisivamente para a consolidação de nossa vida democrática, mediante o rea-
tamento da campanha em prol dos ideais municipalistas que, desde TAVARES BASTOS, no Impêrio, através de
DOMINGOS ]AGUARIBE, CARNEIRO MAIA e RUI BARBOSA, na República, impulsionaram fortemente o regime
representativo e a autonomia local. A A.B.M. não só restabelecia o movimento municipalista como, pela pri-
meira vez em nossa história, imprimia-lhe orientação mais positiva, tendo em vista as fôrças econômicas e sociais
atuantes da Nação. Em verdade, além de apregoar o princípio da autonomia das Comunas brasileiras, a A.B.M.
preconizava a necessidade do fortalecimento da vida municipal, através do aumento ct escente de suas rendas
públicas.
Ainda na instalação da Comissão Nacional Organizadora da A B.M., dizíamos:
"Os limites de recursos a perceber e mais a pena de pagar bem caro pelo direito de percebê-los, tornaram
um .mito a liberdade de autodeterminação e reduzi:ram o Município brasileiro a um estado de penúria que o inca-
paclta para promover os mais elementares serviços públicos e muito mais para realizar, com seus próprios meios,
obra de fixação, amparo e defesa de sua gente e de sua riqueza.
Já se tem demonstrado, em inúmeros estudos estatísticos, em quadros elaborados com dados insofismáveis,
a inominável política de absorção das rendas municipais "
. .Daí porque, logo a partir de sua fundação, a Associação Brasileira de Municípios resolveu entregar-se a grandes
atividades, até que logrou ver consubstanciadas na Constituição Federal de 18 de setembro de 1946, em escala
apreciável, as aspirações pelas quais vinham lutando ardorosamente as centenas de entidades con1unais do País.
Haviam sido coroados de êxito os primeiros passos da campanha pela qual se empenhara com zêlo e patriotismo.
Tal vitória deve-se, em grande parte, sem dúvida, ao corpo dirigente da Associação, na sua maioria composto
de Deputados federais.
Todavia, não pequena era a falta de correspondência que se notava entre o que a Carta Magna assegurava
ao~ Mu~icípios, relativamente às verbas que lhe eram destinadas direta ou indiretamente, e a realidade nacional.
Fot preCISO que a A.B.M. prosseguisse intensamente nas suas atividades, a fim de que se cumprisse efetivamente
o que a Carta Magna havia consagrado. Para isso, foi preciso despertar a consciência municipalista do País
ou, melhor, plasmar uma verdadeira consciência municipalísta.
Fiel a êsse objetivo, em 1948, a A.B.M. editou a REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS, destinada
a levar a todos os municípios do Brasil, a verdade e a flama dos ideais pelos quais propugnava.
Nesse sentido a A.B.M. articulou-se desde logo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, órgão
através .do qual poderia manter contato ativo e permanente com tôdas as municipalidades do País.
HoJe, pode-se dizer sem receio, que mercê da divulgação dos postulados municipa!istas pela REVISTA BRA
SILEIRA DOS MUNICÍPIOS, existe uma poderosa corrente municipalista entre nós.
Apesar dessas sucessivas vitórias, confessamos com lisura, a A.B.M. sempre sentiu, ~ dado o pequeno
número de seus quadros dirigentes, na sua quase totalidade dedicados aos n1isteres do Parlamento, e a exigüidade
de recursos financeiros, - que difl:dlmente poderia cumprir a contento as finalidades que seus Estatutos lhe
atribuíam.
Essa situação se agravava em virtude das prementes necessidades de assistência técnica manifestadas pelos
Municíp}os, para a satisfação das quais a A B.M. não se pôde aparelhar. Tal circunstância levou muitas vêzes
as Prefeituras a recorrer a emprêsas privadas para a organização e reorganização de seus serviços. Exemplos
dessa natureza vamos encontrar nas Prefeituras do Salvadm-, Belo Horizonte, Pôrto Alegre, Vitória e outras.
Urgia, pois, uma radical transformação da estrutura da A.B M., adaptando-a aos progressos crescentes
de grande número de Comunas brasileiras, nas quais, dada a vida industrial e comercial ter-se desenvolvido inten-
samente, impunha-se uma organização mais racional de sua máquina administrativa. Isso, sem falar nos
Municípios que até hoje se ressentem da falta de serviços essenciais, como os de abastecimento d'água, energia
elétrica, educação e assistência social.
. O momento, entretanto, ainda não era propício para tal empreendimento. Ainda não havíamos entregue
a direção da Associação aos seus naturais condutores: os Prefeitos e Vereadores do Brasil
Vencida essa etapa, sentíamos, ademais, a necessidade inadiável de corporificar em um único documento
todos os direitos e as reivindicações das Comunas brasileiras.
Foi com êsse objetivo que se celebrou, em abril de 1950, na cidade de Petrópolis, o I Congresso Nacional
do~ Mun~cípios Brasileiros. Aí, depois de longos debates, em clima de patriotismo, aprovou-se a Carta de Prin-
dptos, D1re1tos e Reivindicações Municipais, reunindo tôdas as indicações e conclusões aprovadas pelo Congresso.
Conquanto imperfeita, como todo documento dessa natureza, constituía de qualquer forma a positivação de
um ideal de há muito acalentado por tddas as entidades comunais do Brasil.
Devido a múltiplos fatôres, entre os quais a própria estrutura dirigente da Associação, formada, sobretudo,
de Prefeitos e Vereadores residentes em regiões diversas do País, e desprovida de departamentos especializados,
quase impossível se tornou coordenar e dar satisfação às reivindicações proclan1adas pelos Municípios na Carta
de Petrópolis.
Aliás, cumpre salientar que nos Estados Unidos, sociedades congêneres existem compostas principalmente
d~ Prefeitos e localidades diversas, cujo objetivo precípuo consiste em traçar diretivas gerais no sentido de aper-
feiçoamento da vida local, deixando a outras entidades a tarefa de pô-las em execução. Assim também acon-
tece com a própria "Comisión Panamericana de Cooperación Intermunicipal," órgão incumbido de debater,
em escala continental, os problemas do Município.
Foi por êsse motivo que a Associação Brasileira de Municípios resolveu estimular e participar diretamente
dos trabalhos de estruturação do Instituto Brasileiro de Administração Municipal, articulado por vários de seus
fu.ndadores e surgido no seio da própria A.B.M. A Associação Brasileira de Municípios vê no Instituto Brasi·
le1ro de Administração Municipal, o órgão através do qual poderá pôr em prática as finalidades para o cumpri-
mento das quais foi criada, mas que, como se mostrou, em virtude de sua própria estrutura heterogênea, jamais
poderia executar no plano desejado.
546 REVISTA BHASILEIRA DOS JI.1UNICÍPIOS

Eis os motivos principais que nos levam a propor a reforma dos Estatutos da A.B.M., ajustando-os aos tra-
balhos que, na prática, essa entidade vem desenvolvendo desde o início, na qualidade de órgão oficial incumbido
de formular, nas suas grande linhas, a política que mais convém aos Municípios do País.
E o que fazemos, apresentando à consideração dos nobres congressistas, o projeto de reforma dos Estatutos
da A.B.M., a ser discutido neste Congresso.
a) RAFAEL XAVIER
(Presidente)"

Para discutir e opinar sôbre o Projeto de novos Estatutos para a A.B.M. foi escolhida uma comissão, com-
posta dos Srs. Rur PENTEADO, ANIS BADRA, ]OSÉ ARAÚJO MENDES, UBIRATÃ PINTO DA COSTA, A. ANTUNES
DE OLIVEIRA, JOSÊ CIRILO, Deputado CELSO PEÇANHA, ANÉSIO PÓVOA, MACHADO VILA, ALFREDO AUGUSTO
HOFFMAISTER, LÁURI BORBA, YVES DE OLIVEIRA, UMBERTO SANTA CRUZ, JOSÉ PORFÍRIO, JosÉ GUIMARÃES TÔNI
e AMÉRICO BARREIRA,
Essa comissão elaborou, finalmente, a nova redação aprovada pelo plenário, e que é a seguinte:

ESTATUTOS DA A.B.M.
CAPÍTULO I

Da Associação Brasileira de Municípios e seus fins


Art. 1 o - A Associação Brasileira de Municípios (A.B.M.) é uma sociedade civil, de âmbito nacional, com
sede no Rio de Janeiro, operando num regime de íntima cooperação com as municipalidades, instituições congê·
neres e afins, bem assim com quaisquer entidades estaduais, federais e internacionais.
Art. 2.0 - São objetivos específicos da A.B.M.:
a) formular nas suas grandes linhas as diretrizes do movimento municipalista no País;
b) promover o aperfeiçoamento da administração municipal na multiplicidade de seus aspectos;
c) sugerir aos poderes competentes as medidas que lhe parecerem oportunas e necessárias;
d) realizar os objetivos de cooperação expostos nos Estatutos da Comissão Pau-americana de Cooperação
Intermunicipal e nas formas recomendadas e ratificadas pelos Congressos Pau-americanos de Municípios e pela
VI Conferência Internacional Americana;
e) propugnar pela integral aplicação dos dispositivos consubstanciados na Carta de Princípios, Direitos
e Reivindicações Municipais e pelas recomendações aprovadas nos Congressos Nacionais dos Municípios Brasi~
leiros;
f) promover, cada dois anos, a realização dos Congressos Nacionais dos Municípios BrasiJeiros.

CAPÍTULO II
Da organização da Associação Brasileira de Municípios
a) Dos memb1os ou sócios
Art. 3.o - São membros ou sócios naturais da A.B.M. quaisquer Municípios que solicitem, por escrito, a
sua inscrição nos quadros da Associação.
Art. 4.o- Além dos membros ou sócios naturais a que se refere o artigo anterior, a Associação será composta
de sócios coletivos e individuais ..
Art. S.o - Poderão ser admitidos como associadas as entidades ou organizações cujas finalidades se identi-
fiquem com as da A.B.M.
Art. 6.o - Poderão ser sócios coletivos da A.B M. as Associações Técnicas, Institutos de Ensino ou Pes-
quisas, Órgãos de Publicações Técnicas ou quaisquer sociedades civis que desejem colaborar na consecução dos
objetivos colimados pela A.B.M.
Art. 7.o- Poderão ser sócios individuais da A.B.M. quaisquer pessoas interessadas nos assuntos, cujo estudo
constitui objetivo da A.B.M.
Art~ 8.0 - Os sócios coletivos e individuais serão admitidos mediante proposta de 3 sócios da A B.M ,
devidamente aprovada pelo Conselho Deliberativo.
Parágrafo único - A A.B.M. poderá ter, outrossim, sócios honorários e correspondentes no estrangeiro,
conforme proposta do Conselho Deliberativo.

b) do Conselho Deliberativo e do Conselho Direto1

Art. 9. 0 - O Conselho Deliberativo será composto de sócios, em número de 50, sendo 2 dos Estados, 2
dos Territórios Federais e 2 do Distrito Federal, eleitos pela Assembléia Geral da A B.M , em cada Congresso
Nacional dos Municípios Brasileiros.
Art. 10 - O Conselho Deliberativo será dirigido por 1 Presidente, 5 Vice-Presidentes, 1 Secretário-Geral
e 1. 0 e 2.0 Secretários, eleitos pelo próprio Conselho Deliberativo.
Art. 11 - Compete ao Conselho Deliberativo:
a) a aprovação do orçamento bienal elaborado pelo Conselho Diretor;
b) elegei e empossar o Conselho Diretor;
c) aprovar o Regimento Interno da Secretaria-Geral.
Art. 12 - O Conselho Diretor será eleito pelo Conselho Deliberativo entre os membros da A B.M.
Parágrafo único - Compor-se á o Conselho Diretor de 1 Presidente, 1 Vice-Presidente, 2 Secretários e o
1. 0 e 2.0 Tesoureiros.
Art. 13 - Cabe ao Presidente do Conselho Diretor:
a) a direção geral da A.B.M.;
b) a sua representação em juízo e fora dêste;
c) a admissão e dispensa de funcionários.
Parágrafo único - Os membros do Conselho Direto. -. terão as atribuições correspondentes à designação
de seus cargos.
Art. 14 - Os membros do Conselho Deliberativo e os do Conselho Diretor poderão ser reeleitos.
Art. 15 - O Conselho Deliberativo reunir-se-ã ordinàriamente uma vez por ano e extraordinàriamente sem-
pre que convocado por seu Presidente ou, pelo menos, por um têrço de seus membros.
Art. 16 - O Conselho Diretor reunir-se-á, ordinàriamente, uma vez por mês e extraordinàriamente sempre
que convocado por seu Presidente.
c) Da Secretaria-Geral

Art. 17 - Integrando o Conselho Diretor terá a A.B.M. uma Secretaria-Geral.


Art. 18 - A Secretana compete todo o serviço de correspondência, de organização de fichários, de estatís-
tica, de publicidade, de coordenação de estudos, de preparo e distribuição das publicações da Associação, da bibli-
oteca especializada da A.B.M., assim como de todos os demais serviços de administração geral da entidade.

d) Do Conselho Fiscal
Art. 19- O Conselho Fiscal será composto de 5 membros, eleitos por 2 anos pela Assemblzia-Geral da A.B.M.
Art. 20 - Compete ao Conselho Fiscal:
a) julgar o relatório do Presidente do Conselho Diretor;
b) julgar as contas apresentadas pelo Tesoureiro.
O II Co1'>CHESSO NACIO~A!. uos ).IU!'\ ICÍPIOS BnAS JLElHOS 547

O Sr. Arízio ViRn<'l, diretor do D.A.S.P ., quando pron uncinvu s ua conferéncia.

CAPÍTULO II I

Dtls ntividll<les da A. B.M.


Art. 2 1 - AIÇm das suas reuniões gerais a A.B.M. pr-omoverA sessões especiais de eatudos. confer~ndas.
debates , mesas redonoas etc., não só na sede como em q uaisquer outros locais, na Capital do Pab e nos
Municlpios.
Art. 22 - A A.B. M. publicar!\:
n) a REVISTA B RASILEIRA DOS M UNICiPIOS;
b) estudos, conferências, ensaios, livros e folhetos de interêsse para ns municipalidades.

CAPÍTULO IV

Dos recur&os financci·ros

Art. 23 - Os recursos financeiros serão constituldos P""'


a) cotas especiais anuais dos Munidpios assodados, na base mlnima de Cr$ 1 500,00;
b ) contribuições dos sócios coletivos ;
c) contribuição dos sócios individuais;
d) subvençôes e auxíiios de qualquer espécie;
c) doações;
f ) juros de capital formado;
,<!) renda provenient e das publicnç.i es da A.B.M.
Parágrafo tlnic::o - Das cutus globais ac..-á dc:dL:.z-ida a parte que c.e de$tina. a Comi:u3o Pan.-sam~rirA nA d e
Coop~ração I ntermunicipal e ao I.B.A.M.
A r t. 24 - Os sócios coletivos p agnrilo uma anuidade de Cr$ 1 200,00.
Art. 25 - Os sócios individuais pn~:nrão uma anuidade de C r$ 120,00 di vislvel por trimestre ou semestre.

CAPITULO v
D:1s disp:Jsições gerais e frttnsit6rins

Art. 26 - A Associação Brasileiro d e Municípios terá como órgão técnicO·executivo de suas diretrizes o
Instituto Brasileiro de Administração Municipal (I.B.A.M.).
Art. 27- Os sócios não res pondem, n em particular, nem so lidAriamente, pelos atos praticados pela Diretoria.
Art. 28 -As disposições dêsscs Estatutos só poderio ser reformadas quando da realização do lli Congresso
N ncional dos M unicíp ios Bra1ileiros.
Art. 29 - Em caso de d issolução da A.B. M .. que sOmente poderú verificar-se por votação de 2 terços de sócios
quites, em Assembléia Gera l, esta decidirá sôbre o dest ino do patrimônio.

A NOVA DIREÇÃO GERAL DA A.B.M.

Ficou assim constituída a nova direção l(eral da A.B.M., Conselho Dire tor - Presidente, RAFAEL XAVIER;
Vice-Presidente, N J<LSON ÜM EONA; L • Secretário, J OAQUIM N EVES P&R&tRA! 2.• Secretiirio, AFONSO AL~11RO;
1.• Tesoureiro, Ruu&N G UEIROS; 2.• Tesoureiro, J OROE NASCt~f&NTO C ASTRO. Consoll>o De/ibernt ivo -
Presidente, OsóRIO NuNES; L • Vice-Presidente, ANTÔNIO Lúcto: 2.• ANIS BADRA; 3.• E~tÍLIO PóvoA; 4.• ANTÔNIO
LOMANTO JÚNIOR; S.•, OsÉAS MARTINS; Secretário-Geral, ARAóJO CAVALCÂNTI; 1.• Secretário, I v&s DE OLI-
VP.IRA; 2.• Secretário, LEÕN!DAS BARBOSA. Consoll>o Fiscal - Por prOpOStO do Sr. RAFA EL XAvt&R. aclamada
pelo plenário, foram escolhidos pnra o Conselho Fiscal os Srs. SfLviO BRAGA (Norte) , JosÉ MANUEL DE QUEIROZ
(Nordeste) , L ufs ROGÉRIO (Leste) , A NTÔNIO DELORENZO N&TO (Ccntro·Ocste) e ANTÔNIO P&ZZOLO (Sul) .
548 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

RECIFE, A SEDE DO 111 CoNGRESSO

Foram indicadas para a sede do pr6ximo Congresso de Municípios, a ser realizado em 1954, as cidades do
Recife, Salvador, Goiânia e Poços de Caldas. Discutida a matéria na última sessão plenária, os delegados de
Salvador, Goiãs e Minas solicitaram retirada de suas indicações em favor do Recife. Sob aplausos, foi então
anunciada a escolha, por unanimidade, da capital pernambucana para sede do III Congresso N'acional dos Muni-
cípios Brasileiros.

SESSÃO DE ENCERRAMENTO

A sessão de encerramento do Congresso realizou~se no dia 19 de outubro, sob a presidência do Sr ALEXANDER


DE SOUSA DANTAS FORBES, Prefeito de São Vicente.
A Mesa estava composta dos seguintes congressistas, convidados e autoridades: Deputado Federal CUNHA
BUENo, Deputado Federal NÉLSON ÜMEGNA, VALTER SÁ CAVALCÂNTI, SíLVIO BRAGA, ÁLVARO LINS, ALMIR SANTOS
PINTO, ULISSES BRAGA, Secretário do Interior do Govêrno de Alagoas, JoAQUIM BASTOS, OsÉAS MARTINS, ANTÔ-
NIO LOMANTO JÚNIOR, CANUTO MENDES DE ALMEIDA, representante do Governador do Estado de São Paulo,
FRANCISCO ANTÔNIO CARDOSO, Secretário da Saúde do Govêrno de São Paulo, Prefeito Luís RIBEIRO, Prefeito
ANTÔNIO MENDONÇA DE BARROS, Prefeito ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA, WAGNER STELITA CAMPOS, ALBERTO
ANTUNES DE OLIVEIRA, FÉLIX ARAÚJO, ÜSÉAS RIBEIRO GONÇALVES, ERASMO GAERTNER, MESSIAS DE SOUSA
COSTA, ALFREDO GOMES JÚLIO, RAFAEL XAVIER, NABOR RODRIGUES MANGA, DAMIANO GULO, CUNHA LIMA,
Secretário do Trabalho do Govêrno de São Paulo, BENTO FERREIRA DE CARVALHO, Deputado Estadual ATHIÉ
JORGE COURY, ANTÔNIO DARDIS NETO, MANUEL DIÉGUES JÚNIOR, JOÃO CARDOSO DE MELO NETO, J. COIMBRA
BUENO, ANIS BADRA e Deputado Estadual ALBERTO ANDALÓ

DISCURSO DO SR. ALBERICO ANTUNES DE OLIVEIRA

Inicialmente, falou o Sr ALBERICO ANTUNES DE OLIVEIRA, do Amazonas, que, em non1e da região do Norte
do País, pronunciou o seguinte discurso:

"Nesta hora, representando o extremo Norte, levanto a voz para dar minhas palavras de agradecimento
a êste Congresso.
Quando olho, nesta hora, figurativamente para os Municípios do Amazonas, Pará, do Maranhão e os Muni-
cípios de outros recantos, lembro-me das glórias dêste Congresso. Após tanta luta, tanto discutir, tanto falar,
após tantos entrechoques, deve sair daqui a concepção segura de um Municipalismo eficient~ e objetivo, para que
os Municípios, células da nacionalidade, demonstrem que sabem construir o Brasil de hoje e o Brasil de amanhã.
Sonhamos com TEIXEIRA DE FREITAS, sonhamos com o próprio RuY e sonhamos com RAFAEL XAVIER e
tantos outros, pela grandeza do Município, porque só será grande o Brasil quando forem grandes os seus Muni-
cípios. Enquanto estivermos dando tôdas as nossas fôrças apenas nos grandes centros, enquanto estivermos
partindo da periferia para lá, para o Interior, estaremos desviando os grandes destinos do próprio Brasil. Preci-
samos partir do Interior para os centros maiores. Precisamos fazer a política do Municipalismo, que é a polí-
tica de servir as partes menos favorecidas da Pátria. E então, quando servirmos os Municípios, quando êles forem
fôrças vivas, organizadas e autônomas, poderemos contar para o mundo mil anos de glórias e mil anos de gran-
deza, com o Brasil no seio das nações civilizadas.
E agora, ao nos despedirmos, deixo aqui, desvanecido, aos pés do Munidpio de São Vicente, os meus agra-
decimentos, a minha gratidão, a gratidão do Norte, porque aqui fomos recebidos como irmãos e filhos; aqui, o
Prefeito e o povo nos cercaram de tantas gentilezas que podemos dizer que essa recepção constituiu para nós
uma glória. Agradecemos não só o beijar das praias, o amplexo dos amigos, mas êsse coral formidável que hoje
à tarde encantou nossos corações com CHOPIN e outros artistas. Aquelas moças e moços, Senhores e Senhoras,
êsse professor, êsse maestro, todos êles vieram encantar tanto o coração da gente, que se pudesse ter uma viola
do Norte e do Nordeste, faria uma cantiga que só o LEÃO no NoRTE sabe cantar.
Agradeço-vos em nome do Norte extremo, em nome da Amazônia ciclópica, da maior ~acia hidrográfica do
r;õ~~-o, que, quando explorada, farâ mudar o eixo econômico do mundo para o Brasil, e o do Brasil para a Ama-

Eu vos agradeço em nome dêsse extremo Norte, para vos dizer que sonho com a Federação, que sonho com
os Estados e os Municípios, conclamando todo o povo brasileiro para seus destinos, dentro do Municipalismo.
E para terminar, queró deixar aqui, principalmente aos paulistas e aos mineiros, aos sulistas de um modo
~eral, a admiração do extremo Norte, por aquela votação extraordinária, que revelou a cultura e, mais do que
1sso, o coração aberto da gente verdadeiramente brasileira, quando vós tínheis Goiânia, Poços de Caldas e Curi-
tiba, e não obstante consagrastes a escolha do Norte, do Recife, para a sede do próximo Congresso. N6s lá do
Norte, vos receberemos com o nosso coração, vos receberemos com flores de nosso afeto.
Congressistas ilustres, eu sonho com o Municipalismo sadio, conto com o Brasil de amanhã dentro das vi-
tórias do Municipalismo. Então, NÉLSON AJURICABA, meu querido filho, tataraneto de índio, receberá, com
sua geração, um Brasil melhor.''

DISCURSO DO SR FÉLIX ARAÚJO

A seguir, em nome do Nordeste, falou c Sr. FÉLIX ARAÚJO, Vereador em Campina Grande:

"Agora é o Nordeste que lhes dirige a palavra. Região constantemente estragada pelo clima e freqüen-
temente abandonada pelo Govêrno, recanto do Brasil onde o homem luta tenazmente contra as fôrças da natu-
reza e sobretudo onde o homem luta contra uma organização estatal variada e injusta, que o relega inteiramente
ao abandono e ao esquecimento. E veio o Nordeste falar para dar o seu testemunho e transmitir as suas saudações.
Sentimentais que somos, sentimentais não queremos ser hoje. A gravidade dos problemas que agitam e
atormentam a nossa região reclama do representante do Nordeste objetividade e realismo no seu discurso, para
que a sua palavra seja, também, a palavra de acusação e protesto em face do Brasil.
Falando em nome do Nordeste, denuncio nossos homens do Centro, quando desde a República relegaram
ao esquecimento os interêsses primordiais de nossa Pátria, que são aquêles onde residem os interêsses vitais dos
Municípios brasileiros. Tivesse havido, desde o início de nossa organização política, uma outra orientação, um
outro qualquer sistema e, de certo o Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros em vez de ser um Congresso
de reivindicações em que buscamos aquilo que não temos e reclamamos aquilo que nos negam, seria simplesmente
a consagração da família municipalista alegre e feliz pela consecução das suas grandes realizações sociais e eco-
nômicas.
O II CoNGREsso NAciONAL DOS MuNICÍPIOs BRASILEIROS 549

Mas nos falta tudo. Falta·nos a ajuda do clima. A técnica e a ciência poderiam superar as deficiências
da terra mas - e é isso que nos atormenta e angustia naquela zona da Federação do Brasil- lá, de modo terri-
velment~ dra:Uático, se manifesta essa diferença de tratamento, essa desigualdade com que geralmente a União
e o Estado tratam as células do organismo nacional que são os Municípiosj com que tratam aquêles que cons-
tituem as bases da Nação, que são os cidadãos do Interior.
O N ardeste agradece a São Paulo e a São Vicente a hospitalidade com que nos recebem e voltam os seus dele-
gados com uma convicção: a de que êste Congresso constituiu um tríplice atestado, um tríplice documento: a prova
de unidade nacional, da nossa capacitação para o exercício da democracia e da sólida consciência municipalista
de nossa terra!
Quem estêve nas Comissões, quem ouviu os debates das teses, quem compareceu às sessões do plenário, deve
ter saído daqui com uma convicção de grande utilidade para a formação do legítimo espírito brasileiro: a convicção
da unidade nacional.
Problemas dos mais diversos, questões das mais variadas, pontos-de-vista dos mais contradit6rios se levan-
taram nos debates das Comissões e nas sessões plenárias, mas nenhum de interêsse regionalista, nenhum de espí-
rito partidário. Nenhuma tentativa divisionista poderá apagar o sentido maior dêste Congresso, que é a união
de todos os Municípios brasileiros, pela grandeza de nossa Pátria.
1t particularmente querido para o representante do N ardeste salientar um fato que tocou o nosso coração
e que diretamente se :relaciona com o próprio interêsse da sobrevivência da região que :representamos. Entre
as teses focalizadas e debatidas havia uma que particularmente falava ao nordestino: a tese de êxodo rural.
Senhores: está sangrando a economia do N ardeste; está despovoando-se a nossa terra; estão ficando desertas
as nossas cidades; o drama e a tragédia dos "paus-de-arara" pelos caminhos do Brasil representam um triste
depoimento, e uma acusação solene contra a organização nacional, que relegou as populações do Interior ao aban-
dono e à misêria. Porém, Senhores, o que constituiu a prova maior do sentimento de união nacional, que orientou
os nossos trabalhos e que mobilizou nosso pensamento neste Congresso, foi que quando tratamos do problema
do ~.xodo rural vimos o sul do Brasil, que está recebendo o homem do Nordeste para trabalhar na sua lavoura,
não pensou no seu interêsse ou em nosso drama, mas pensou no interêsse do Brasil! Quer que o homem do Nor-
deste lá se fixe para prosperidade de nossa Pátria. Todos os homens do Sul desejam solução para o problema
do êxodo rural. Assim fazendo, estão mostrando a objetividade com que aqui se estudaram os problemas bra-
sileiros.
No sul do Brasil, estão surgindo as primeiras raízes da independência econômica de nossa Pátria. O parque
industrial do sul do Brasil representa o primeiro esfôrço, representa a primeira vitória objetiva no sentido da ins
4

tauração da revolução industrial em nossa terra. E o sulista sabe que com o Nordeste martirizado e deserto,
com o Nordeste faminto, cairia a própria economia brasileira, porque enquanto lá se morre de fome as indústrias
aqui são obrigadas a fechar suas portas por falta de mercado consumidor para seus produtos.
E olhando o problema nacional sem resquícios bairristas ou regionalistas deu o Congresso ao Brasil inteiro
o testemunho de que a Pátria está unida para a realização de seus superiores destinos.
Mas vou também chamar a atenção para outro aspecto. Foi também o Congresso uma prova de nossa capa~
citação para o exercício da democracia. A liberdade dos debates, o modo objetivo como os problemas foram aven-
tados, a tolerância mútua entre representantes das mais diversas regiões, tudo isto demonstrou, Senhores, que
o interêsse dos Municípios se confunde com o interêsse da preservação da Democracia Tudo isto demonstrou
de modo que ninguém podia jamais adnlitir, o retrocesso de tôdas as instituições que preconizam o sacrificio da
autonomia municipal e da liberdade de todos os cidadãos.
Atentai bem, Senhores, para êste exemplo de estadista de hoje: hoje está diante de amanhã: daqui caminha-
remos partindo para mais longe, daqui caminharemos para progredir, porque parar é perecer. Afirmamos desta
histórica cidade de São Vicente, a todo o Brasil, que os municipalistas da Pátria inteira desejam a continuidade
e o aperfeiçoamento do regime democrático. Isso é a prova da consciência municipalista também, consciência
municipalista que não é fruto apenas de pregação doutrinária.
Prestamos nossa homenagem aqui, àqueles que primeiro formularam os ideais municipalistas no Brasil:
TAVARES BASTOS, ALBERTO TÔRRES, ]UAREZ TÁVORA, TEI:X:EIRA DE FREITAS e ao nosso inconfundível líder RAFAEL
XAVIER. Mas ao evocar os seus nomes não temos ilusão porque êles não construíram no vácuo, nem edificaram
êsses movimentos nas nuvens, nem foram meros teóricos abstracionistas simples. Se nós evocamos seus nomes nesta
hora, é porque merecem a gratidão da Pátria e porque a doutrina que êles construíram repousa e se sustenta na
própria realidade nacional que reclama para a preservação do Brasil, a autonomia e o progresso de seus Muni-
cípios!
E vamos terminar, Senhores Congressistas, a palavra do Nordeste e ao encerrá-la, fazemos um apêlo à vigi-
lância e à fidelidade dos municipalistas brasileiros. Desta cidade de São Vicente, no Estado de São Paulo, dirijo
um apêlo veemente aos governadores dos Estados da Federação para que cumpram os dispositivisos constitu ..
cionais que beneficiam os Municípios do Brasil. Há ainda governos - e eu não os individualizo porque não
estou atacando homeM, mas tratando da instituição - ainda há governos, dizia, estaduais, que temem e querem
varrer todos os caminhos municipalistas, mutilando as conquistas da Carta Republicana de 1946.
Daqui fazemos um apêlo a êsses governos, e êsse apêlo não vai com o tom lamuriante nem no sentido de uma
súplica, mas se formula com a consciência vigorosa do municipalismo reclamando seu lugar na história do Brasil.
Quando São Paulo nos recebeu, quando as portas dêste cenário magnífico se abriram para os Congressistas,
veio ter conosco o supremo magistrado da Nação, o Presidente GETÚLIO VARGAS. Todos nós :recebemos o Presi-
dente com o respeito e o acatamento que pelo seu mandato nos merece e êle aqui formulou uma promessa e firmou
um compromisso. O Presidente prometeu que faria uma reforma agrária, condição indispensável para a inde·
pendência econômica do Brasil. Afirmou, também f que espalharia a todos os recantos do Brasil os serviços indis-
pensáveis ao bemMestar da população e para elevar o nível sanitário de nosso povo, os serviços de abastecimento
de água e saneamento.
Confiamos no Presidente porque estamos certos da sinceridade de suas palavras, mas também, para cooperar,
para ajudar a servir o País, queremos daqui declarar ao. Presidente que vamos voltar para nossos Municípios
dispostos a vigiar e fiscalizar o cumprimento de suas palavras~
Prezados companheiros e queridos Congressistas. Chamou-me a atenção o Sr. Presidente, para dizer que
meu tempo está esgotado.
Quero dizer mais duas palavras, apenas.
Primeiro, sem quaisquer resquícios de política partidária a dividir os homens, que acirram as idéias e des-
pertam paixõesf mas num sincero testemunho do homem do Nordeste, como pleito de justiça para aquêles que
fielmente servem ao povo, permitam-nos que o Nordeste preste uma homenagem, nesta hora, a um dos cidadãos
mais íntegros e honrados de nosso País, êsse admirâ.vel Governador de São Paulo, o Professor LUCAS NOGUEIRA
GARCEZ,
Nós iremos dizer no Nordeste que são pessimistas os que afirmam a falência do homem brasileiro Nós
vamos dizer no Nordeste, que são aves agourentas os que pregam a morte do espírito público em nossa terra e
que estão errados os que têm essa concepção, e que em São Paulo encontramos o que desejaríamos encontrar em
todo o Brasil: um Govêrno capaz e honesto, servindo a um povo laborioso e organizador extraordinário.
Em São Vicente nasceu o impulso civilizador e inicial que levou aos caminhos do Interior os primeiros núcleos
de vida~ o trabalho. Em São Paulo nasceu a independência do Brasil. Aqui está sendo edificado um outro ideal
que mobiliza todos os brasileiros e equaciona nossa sobrevivência. Aqui está sendo edificada a independência
econômica de nossa Pátria. Em São Vicente, no II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros abriramMse
as perspectivas para a redenção da Pátria através a vitória do movimento municipalista brasileiro."
550 REVISTA BRASILEIHA DOS MUNICÍPIOS

DISCURSO DO DEPUTADO CUNHA BUENO

Transmitindo a saudação do povo de São Paulo aos Congressistas, falou o Deputado CUNHA BUENO, que
pronunciou o seguinte discurso:

"Manda o protocolo que, em reuniões da solenidade como esta que vivemos aqui em São Vicente, tragam
os oradores discursos escritos, discursos pensados, discursos ponderados. E, atendendo a êste imperativo, nós
também não quisemos fugir à regra. E aqui trouxemos o nosso discurso escrito. Entretanto, diante do ambi-
ente magnífico desta festa, perante o entusiasmo cívico de todos aquêles que se reúnem neste local, vamos limi-
tar-nos a enviar o nosso discurso à taquigrafia para que possa falar neste conclave municipalista, mais do que o
raciocínio, mais do que o pensamento, o coração puro, o coração fraterno de paulista que tem a honra, a suprema
honra de se dirigir, nesta noite magnífica de civismo, a representantes de tôdas as regiões da Pátria brasileira.
Falou o Nordeste, já falou também o Norte; logo mais ides ouvir o Centro do País, ides ouvir GoiáR, onde
pulsa o coração geográfico da Pátria. E, depois, descereis para os pampas do Sul, onde encontramos o Rio Grande
vigilante e sempre alerta nas nossas fronteiras. E aqui quem vos fala é São Paulo, não São Paulo de 400 anos,
porque nós, felizmente, somos mais do que isso, porque nós, felizmente, podemos hoje oferecer ao mundo e à
Pátria, o BraEil, a síntese magnífica do caldeamento de todos os filhos da Terra de Santa Cruz, porque São Paulo
não é mais do que senão o fruto do esfôrço e da soma de capacidade, civismo e patriotismo e de trabalho de todo
o Brasil.
Os Vereadores e Prefeitos que vieram de grandes distâncias a fim de comemorarem conosco esta grande festa
de brasilidade, por certo alguns dêles, os da Paraíba, os do Ceará, os do Paraná, hão de ter-se surpreendido diante
da circunstância de que grande número de Vereadores, de que grande número de Prefeitos que hoje enobrecem
a tradição administrativa de São Paulo não nasceram aqui, mas nasceram lá, e vieram comungar conosco nesta
grande tarefa de construir uma Pátria que não tem mais fronteiras estaduais, porque hoje, felizmente, já vingou
o único princípio que é capaz de assegurar ao Brasil os elementos de que êle necessita para a sua grande cami-
nhada do futuro. Êsse princípio não é mais do que senão o próprio Município, fonte eterna de tôdas as grandezas
materiais e morais da Pátria. E o Congresso de São Vicente, o segundo que se realiza no Brasil, teve, indiscuti-
velmente, Srs. Congressistas, e Srs. ouvintes, aspectos extraordinários, aspectos que bem demonstram que a men-
talidade municipalista no Brasil é hoje uma grande realidade.
Lembram ainda os Congressistas, os episódios magníficos oferecidos por êles, quando alguns pretenderam
transformar esta festa de civismo, esta festa de Paz e esta festa de concórdia, en1 festa político-partidãria. Nesse
instante, em que alguns ousaram perturbar o nosso trabalho, a voz foi unânime, todos repudiaram aquêle prin-
cipio, não vendo as pessoas, não vendo os Partidos, mas procurando, isto sim, prestigiar o nosso único objetivo,
que é o objetivo do trabalho construtivo pelo municipalismo.
E, além dêste aspecto, poderíamos lembrar, aqui, também, o episódio que se verificou quando alguns pre-
tenderam discutir um assunto que, felizmente, não interessa ao Congresso Municipalista, porque interessa tão
sOmente a alguns. Era o assunto do restabelecimento da regulamentação do jôgo no Brasil. Neste momento,
a maioria do Congresso se levantou, de pé, resolveu repudiar aquela tese, porque o interior de São Paulo, o interior
de todos os Estados, o interior do Brasil, ainda prefere ficar com a moral, a ficar com o interêsse.
E, ao encerrarmos esta breve alocução - que fazemos trazendo sempre presente aquêles primeiros passos
da campanha municipalista, quando alguns idealistas da têmpera dêste grande brasileiro, dêste magnífico patrício
que não tem mais nascimento num ou em outro Estado, porque êle é o símbolo do Brasil, dêste grande RAFAEL
XAVIER,- trazendo sempre presente os primeiros passos, ensaiados timidamente, nos orgulhamos de ver, hoje,
nesta festa, esta grande Assembléia municipalista.
E, ao terminar estas palavras, nós queremos também fazer u'a menção especial a uma pessoa que não está
presente fisicamente, mas que vive no espírito e na alma de todos os Congressistas, porque esta pessoa consubs-
tancia, esta pessoa encarna tudo o que aqui defendemos, eis que cs Municípios do Brasil aqui nada mais defen-
deram senão a boa administração, senão a moral pública e a honestidade de própositos - e esta pessoa de que
vos fazemos referência nada mais é senão um símbolo daquilo que o Brasil necessita, é o grande Governador do
Estado de São Paulo, LucAs NoGUEIRA GARCEZ.''

DISCURSO DO SR. ÜSCAR RIBEIRO GoNÇALVES

Em nome da região Leste, falou o Sr. OscAR RIBEIRO GONÇALVES, representante do Município de São
Félix, Bahia:

"Depois de tantos oradores ilustres, fala o Leste, através do pequenino Município de São Félix, Estado da
Bahia. Fala o industrial do Município de São Félix, terra bem conhecida pelos que fumam. charutos procedentes
de suas fábricas, terra visitada pelas grandes enchentes do Rio Paraguaçu, terra de um povo operário, disposto
a enfrentar a luta da vida, não obstante sua má situação econômica.
Fala-vos o Leste:
Ê sob os raios dardejantes do ideal municipalista que nesta hora solene nos reunimos neste recinto para fazer
nossas despedidas. Sairemos daqui para os nossos Municípios com a mais profunda convicção de que nossos
trabalhos hão de produzir na alma dos dirigentes da Nação uma idéia mais lúcida e justa, para u'a melhor e per~
feita administração nacional.
Viemos de todos os quadrantes do País certos de que êste Congresso Municipalista é uma verdade política,
cuja finalidade é levar, é conduzir a Nação a estado econômico, moral e cívico, onde jamals impere o maquiave-
lismo partidário pelo qual o homem explora o próprio homem.
Viemos aqui trazendo um precioso material cívico para a edificação do templo de uma nova estrutura eco-
nômica e financeira. As nossas teses e indicações são verdadeiras plantas com as quais poderão os Governos
Federal e Estaduais construir êsse gigantesco edifício. Nesse dia, então, a miséria, a fome, os "tubarões" e o
partidarismo improdutivo e misantrópico serão exilados de nossa sociedade.
O municipalismo é um poder moral, político e cívico que combate a mentira e a metamorfose dos Cretinos.
No ambiente municipalista não há partidarismo, nêle tudo nos une. Um só princípio, uma só idéia restauradora
da economia política e financeira.
Senhores, não podemos, nem devemos continuar, como TÂNTALO, morrendo de sêde em cima d'água.
O nosso País é de uma riqueza imensurável; por que, então, a maioria de seus filhos são paupérrimos? O
êrro é 6bvio. O indiferentismo e a misantropia de muitos, o egoísmo da política partidária são os fatôres
primos dessa situação.
Precisamos abolir quaisquer destas hipóteses e transubstanciarmos êste estado de coisas, numa política
sadia, produtiva, filantrópica e progressista. Na idéia municipalista, encarnam-se estas qualidades democráticas.
Já atingimos a uma extremidade econômica de profunda improdutibilidade, não é mais possível pro~
crastinar por mais tempo esta grave situ.ação. Esta situação tem suas raízes distendidas desde há muito, razão
por que houve a Revolução de 1930.
Apesar dos pesares, o mal se multiplica impiedosamente. Cada dia que passa, mais e mais se apagam os
sentimentos morais e cívicos, razão por que Rui BARBOSA disse: "De tanto ver progredir as nulidades, de tanto
ver triunfar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos
dos maus, o homem se desanima da virtude e tem vergonha de ser honesto".
Pelos métodos atuais não é possível mudar a face desta situação. Não é questão de um homem, é questão
de muitos homens; se estivesse afeta à responsabilidade de um, o atual Presidente da República, não erro em
afirmar, tem capacidade moral e cívica bastante para uma reforma econômica à altura das necessidades nacionais.
O II CoNGHEsso NAciONAL nos MuNICÍPIOS BnAsrLmnos 551

Dessarte, Senhores, só a União dos Municípios poderâ, como o inquebrável feixe de varas, salvaguardar a Nação
de uma fatal derrocada econômica e financeira. :Êste l i Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros é um
brado justo e perfeito, assim foi que êste brado mobilizou todos os homens, de todos os partidos para, sob o
estandarte do municipalismo, salvar o Brasil de uma possível derrota econômica e financeira.
Terminando estas pálidas considerações, pretendemos, em nome do ~iunicípio de São Félix - Bahia,
trazer ao povo de São Vicente, ao seu Prefeito, nossos votos de felicidades e prosperidade. Igualmente ao Sr.
Governador do Estado de São Paulo, e, em particular ao ilustre Sr. HÉLIO QuEIROZ TEt.ES, mui digno Secre·
tário da Prefeitura de São Paulo - , a todos êsses grandes homens, a todos êsses administradores, que encarnam
a verdadeira experiência indispensável ao progresso, a todos êsses grandes vultos, os representantes de São Félix
são gratos por esta hospedagem que aqui tiveram, cercados de tôda a simpatia, de tôda a cooperação moral, tão
característica do nobre povo do sul do País, principalmente de Santos e São Vicente, com quem tivemos maior
contato.
Ficam aqui, portanto, os nossos agradecimentos a êsse grande povo."

DISCURSO DO SR. MESSIAS DE SOUSA COSTA

Pelo Centro do País, falou o Sr. MESSIAS DE SOUSA COSTA, que disse as seguintes palavras:

"Já ouvimos atravês de oradores ilustres, representando o Norte, Nordeste e Leste, e agora vou falar pelo
Centro, vai falar o coração do Brasil.
O Congresso Nacional dos Municípios, além de suas finalidades precípuas, atinge, ainda, o objetivo menos
imediato, mas igualmente importante, de aprimorar a cultura política dos dirigentes locais, de alargar os seus
horizontes, de proporcionar·lhes uma visão ampla dos problemas de govêrno em todos os seus aspectos.
E êsse objetivo não é apenas atingido nas discussões de plenário e no debate dos temas, senão que também
no convívio pessoal com outros dirigentes, nas trocas de idéias sem caráter formal, no intercâmbio amistoso de
experiências e pontos-de·vista, nas próprias confidências recíprocas de problemas e dificuldades.
O Congresso, portanto, é uma verdadeira escola de educação política, em que os interêsses coletivo:; se des-
tacam num plano elevado e são encarados de um ângulo em que o bem-estar comum não pennite lugar para paixões
partidárias, os personalismos e o entrechoque de ambições.
Isso tudo cresce de importância e assume significação maior se considerarmos que a formação dos dirigentes
locais condiciona o surgimento dos futuros dirigentes da nacionalidade, cujo agrupamento intelectual não pode
prescindir dos sólidos ensinamentos da vida municipal.
Num momento em que o progresso das ciências físicas coloca nas mãos do homem um poder jama~s imaginado,
é preciso que a solidariedade humana e o espírito de cooperação entre os administradores se desenvolvam também
de tal forma que~aquêle poder seja predominantemente utilizado no interêsse do bem comum e da verdadeira paz
social. O Congresso Nacional aos Municípios, fomentando a solidariedade fraternal entre os seus componentes,
serve pois, além do mais, a êsse grande propósito social de concórdia.
Nós, os representantes de Goiás, escolhidos para falar em nome do Brasil Central, regressamos a nossos
postos impregnados dêsse espírito salutar e recolhemos a impressão particularmente grata do rumo que êste Con·
gresso traçou no sentimento da verdadeira Marcha para o Oeste, que não poderá jamais ser efetivada sem o passo
inicial e decisivo da mudança da Capital da República para o interior do País, diretriz que o Congresso fixou
em impressionante unanimidade, sem a manifestação da mais leve discordância. Goiânia, aliás, que tenho a
honra de representar, é um documento vivo e um exemplo eloqüente do grande alcance de uma medida desta
natureza. As repercussões da mudança da capital goiana, na vida econômica, administrativa e até social do Es·
tado representam um ponto menos, os incalculáveis benefícios que empreendimento idêntico, no âmbito federal,
acarretaria para a estruturação da vida nacional em bases amplas e mais diretamente ligadas às necessidades
de conjuntura econômico·social do País.
Como representantes da região central do País, desincumbindo-nos, finalmente, do gratíssimo dever de con-
gratularmo-nos com o plenário dêste conclave pela feliz e acertada escolha de Recife, para sede do III Congresso
Nacional dos Municípios."

DISCURSO DO SR ULISSES M BRAGA JÚNIOR

Em nome do Govêrno de Alagoas, o Sc. ULISSES .rvr. BRAGA JúNIOR, secretário do Interior, pronunciou o
seguinte discurso:

"Em nome do Govêrno de Alagoas, que tenho a honra de representar neste magnífico certame, quero dirigir,
no momento em que se encerra o li Congresso Nacional dos Municípios, uma palavra de saudação aos convencionais
aqui reunidos durante êstes oito dias de intensos trabalhos e expressar meu entusiasmo pelos resultados colhi-
dos no transcorrer dos debates e votações.
Não exprimo aqui uma saudação formal, de simples cortesia, mas a impressão calorosa de uma observação
constante, tomando conhecimento de trabalhos apresentados, assistindo e participando de debates, ouvindo
delegações de Municípios do sul, do norte e do centro do País, pesando reações e comentários das mais diversas
procedências.
Nem interpreto neste instante as aspirações de um Govêrno indiferente aos problemas municipais, aos reclamos
mais imediatos da gente do interior do meu Estado, pobre e como nenhuma outra carecente da mais completa
e urgente assistência da administração pública. Ao contrário, realiza em Alagoas o Governador ARNON DE
MELO uma obra administrativa tôda voltada aos interêsses do povo das cidades, vilas e zona rural do interior
do Estado, quer lhe provendo de condições de segurança da sua vida, do seu patrimônio e da sua honra, quer
lhe dando assistência técnica, médica e escolar. Ou de outro modo, fomentando a produção agrícola, assegurando
o crédito através da rêde de cooperativas, construindo um sistema de comunicações modelar com estradas asfal·
tadas, vias definitivas de acesso às Comunas do norte, sul e sertão do Estado.
Os princípios e as soluções que aqui se debateram encontram fácil ressonância no meu Estado, no qual os
problemas da vida municipal estão na primeira ordem das preocupações dos seus dirigentes. E a prova disto
é a compreensão que os seus homens públicos tiveram na magnitude dêste conclave, acorrendo em número
elevado a êste local para cooperar, não como meros espectadores, mas como estudiosos e partícipes ativos
nos trabalhos que ora concluímos. E nenhum tema aqui abordado apaixonou menos os delegados de
Alagoas a esta convenção, pois que todos giraram na mesma ordem de idéias, aquelas que se dirigem à gran-
deza e à prosperidade do Município como célula primária da Nação. A idéia municipalista, que encontrou
audacioso eco da reunião de Petrópolis, em abril de 1950, aqui transbordou em afirmações mais positivas,
de natureza mais prática, de que é índice consagrador o voto de confiança que ontem aqui aprovamos ao
Instituto Brasileiro de Administração Municipal, que tomou a si o grave encargo de órgão executor da política
municipalista da Associação Brasileira de Municípios. Voto mais expressivo porque não foi conferido em at-
mosfera de indiferença, mas ao calor dos mais vivos debates e mais profundas advertências.
A delegação de Alagoas grata ao acolhimento aqui recebido, regressa ao seu Estado, revigorada no seu en·
tusiasmo pelos problemas das suas Comunas, depois de viver os dias inesquecíveis dêste Congresso n.1unicipalista
de São Vicente, e disposta a se empenhar ainda com maiores esforços pela causa que aqui nos consagrou como
brasileiros, quase como irmãos. Irmãos reunidos em uma só família, comungando um só ideal, abrigados sob
a mesma bandeira, que nos atraiu ontem a Petrópolis, hoje a São Vicente e amanhã ao Recife.''
Dois ilspectos dn sessão de encerramen to: a mesa e o p/enán'o

DISCURSO DO SR. Au·REDO GOMES )ÚLIO

O Sr. ALFR&OO GOMES JúLIO falou. em seguida, representand o o Estado de São Paulo:

HDesignados pela ilustre C omissão Organizadora do li Congresso NaC'ional dos Munidpios Brasi leiros,
ca.be-nos, nesta oportunidade, a honra !mpar e desvanecedo!'a, de dirigir a palavra na solene sessão de encerra -
mento d ês te me mor!.tvel conclave, em nome dos delegad os do Estad o d e São Pauto aos nobres C on gressistas d os
demais Estados da União. ·
A justificativa da nossa indicatão , reside, exd usivan'lente, no fato de sermos integrantes da r epresentação
de Campinas, Meca dQ República e um d os berços dessa nova santa cruzada nacional, o Municipalismo.
Tôda honra, pois, que nos poderia ser atribuída. nós as transferimos à nossa mui querida terra, pelo muito
que tên1 feito no passado e certamente farão no futuro os seus filhos, em defesa das causas justas c patrióticas
da nossa nacionalidade.
De fato, em Campinas, ern 1948, nasceu a idéia fecunda e feliz dn reali:z:aç5o de Congressos Munic ipalistas:
na Câmara Municipal, RRNÉ. PENA CHAVES, NÉLSON 0MEGNA e JOÃO DE SOUSA COELHO, ent ão Vereadores,
dcsfraldacam a bandeira que seria o estandarte d e uma campanha mcritóda e gr a ndiosa. que de etapa em etapa
tem propiciado excelentes frutos em prol da grandeza da terra brasileira.
Não vo u, meus se nhores , aqui relembrar os resultados dos C ongressos MunicipaHstas E staduais, em 1948
em Campinas, 1949 em Ribeirão Prêto, donde partiu a decisão generosa e extraordinária da realização de Con~
r.re~-sos Municipalistas Nacionais .
De seu alcance nacional, de seu valor, melhor nos diz a sua tão cur ta vida de poucos anos quão volumosa
roesse de benefícios prod uzi<!os .
O I Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros, re~.:.tizado em Petrópolis em 1950, mar cou época na evo~
tução cultura-l e adn1inistrativa da Nação, pelo seu aspecto fundamen talmente doutrinário, pela disseminação
do sentimento de autonomia., arrai~ado na consciência do povo, porém, adormecido e quase abandonado à vista
dos entraves opostos pelas Leis Magnas vigentes que regulavam e orientavam a vida da Nação.
Com o advênto da Constituição de 1946, onde se inscreveram princípios básicos de autonomia c fortalecimento
da vida municipal, o sentin)ento municipalista, ina t o no espírito do po vo brasileiro, acordou do letargo em que
jazia, se agigantou naquele memorável c onclave de Petrópolis, divulgand o a idéia de que no Município é que
se assenta a verdadeiro. estrutura de base da nacionalidade.
Até essa época., a orientação administrativa da vida municipal a int.la emanava ele princípios e d ispositivos
da era colonial o que significa dizer não ter a v ida municipal se beneficiado do progresso da m oderna concepção
do direito administrativ o, dos novos e constantes tn elhoramentos rnateria is, do avanço da ciência, e , sobretudo,
das conquistas sociais , o que no conjunto s ignifica o progresso e a felicidade.
Através, pois, dessa cruzada redentora, de verdadeira salvação nacional, procuraram os governos municipais,
sen1 distinção, tom:ados por êsse sentimento, orientar· se com um espírit o novo e progressista, em busca da solução
d os seus problemas locais, planejand o obras, codificando leis, realizando um surto d e trabalho fecundo e produtor
alicerce da felicidade do seu próprio povo.
l!:ste l i Congresso N acional dos Municípios Brasileiros, que hoje se encerra, depois de i n tensos e vibrantes
trabalhos, se caracterizará do municipalismo nacional pelo seu aspecto pragmático, pela proc ura d e s oluções
imediatas para os problemas cruciais,. s e nã o de todos, de quase todos os Municípios brasileiros - a produção
farta, pelo crédito e pelo financiamento, geradora do bem~estar coletivo; o transporte abundante, fácil e barato,
q u e facilita a circulaçã o das riquezas; a energia elétrica , fonte do progresso e do desenvolvimento; águas e esgotos,
fatôres decisivos da saúde e da higiene, tão indispensáveis ao hotnem como o ox igênio que respira; o ensino pri·
mário, difundido, eficiente e capaz de plasmar o caráter d o cidadão, consciente do se u d ever c do seu valor.
Para a realização desta o bra, mínima, mas verdadeiramente ciclópica, necessária se torna a descentralização
administrativa, dando-se ao Município, na partilha das responsabilidades c dos r ecursos, uma parcela mais subs-
tancial, a fi m de que possam oS governos municipais a tender aos peculiares inter êsses dos seus muníc-ipes cum·
prindo, concon1itantemente, os seus mais comcz:inhos deveres .
O II CoNGREsso NACIONAL nos MuNICÍPIOS BRASILEIROS 553

E aqui neste recinto 0 Brasil está presente pelos delegados das Prefeituras e das Câmaras Municipais de
todos os qu~drantes do PaÍs, lutando por essa esperança de hoje, que será a realidade certa do futuro e da grandeza
da nossa Pãtria. _ .
Srs. Congressistas, êste trabalho imenso e sublime só foi possível J?~l~ cooperaçao destnteressada, pela alta
sabedoria, pela experiência comprovada, que ~em medir esforç...os e sac~tf;ctos_, troux..e~am de todos os lug~res da
Pátria, desde as longínquas florestas do lendáno Amazonas ate. as mendtonats plantctes onde s?pra o mtnuano,
desde as plagas onde se espraia 0 verde-mar bravio até aquelas dtstantes e fecundas terras do Brasll Central.
Sim, foram V.Ex.ns, Srs. Delegados dos Municípios bra~ileiros! os fa~ôres decis~vos dêste trabalho d~.gigantes,
assistidos pelo ideal que não morre, pela esperança que antma e u~centtva, pel.a. fe que fortalece e ep.rtJece, pela
certeza radiosa de que, como recompensa pelo lab.or tngente !: glonoso, transr~u.ttremo~ !los nossos pos.teros, uma
Pátria una, indivis!vel, forte, respeitada no concetto das naçoes, pelo seu esptnto pac1f1co e progress1sta, berço
de um povo culto, nobre e humanitário.
A solução pois dos problemas vitais que afligem os Municípios s6 será possível, dentro de algum tempo,
se fôr abando~ada ~ vigente política adrninistrativa centralizadora, responsável pelo depauperamento do País
em seus setores de produção; a solução dêsses problemas urgentes da vida nacional, só será encontrada, Srs.
Congressistas, quando, vencedora essa luta municipalista, se puder fixar no Município um pouco mais da fortuna
pública, a fim de que, assim, se eleve o nível de vida das populações interioranas, melhor servidas por melhor
aparelhamento dos governos locais, como resultado criando~se núcleos culturais e econômicos de acentuada,
real e positiva autonomia.
Não podemos encerrar estas palavras, que se alongam menos por culpa minha do que pelo desejo de deixar
falar o coração neste momento de despedidas, sem agradecer sinceramente, em nome dos delegados de todos os
Municípios de São Paulo aos seus irmãos dos demais Estados da Federação a cooperação sincera, desinteressada
e eficiente que prestaram para o brilho dêste certame, numa demonstração cívica que deve servir de exemplo a
quantos se interessam pelo prestígio do Município na vida nacional.
Srs. Congressistas, ao partirem de volta em demanda de suas terras, levem a certeza de que aqui, neste rincão
brasileiro, que é São Paulo, ficarão morando a saudade imorredoura dêstes dias gloriosos de nossa vida, a lem~
brança indelével da generosidade, da cordialidade, da amizade, atributos inseparáveis da gente brasileira; que
aqui ficará pulsando firmemente no peito de cada Congressista paulista um coração forte, esperando com fé pelo
dia feliz, não muito distante, em que empunhando a nossa bandeira de luta, comemoraremos emocionados a grande
vitória da nossa causa, que será a da redenção da nossa Pátria, pela felicidade do nosso povo e pe1a grandeza
do Brasil."

DISCURSO DO SR ÜSÉAS MARTINS

Damos a seguir o discurso do Sr. OsÉAS MARTINS:

"Eu quero nesta bonita noite de hoje em que, às côres da despedida, cada soldado da grande brigada do mu~
nidpaiismo brasileiro toma uma folga para o reinício da peleja, olhando mais claro e mais límpido o caminho a
percorrer, e, voltando ao lar para matar a saudade curtida, leva como flama cada vez mais viva no pensamento
a encarnação animadora da vitória, eu quero nesta noite que tem a côr e a forma de aleluia, antes de fazer uma
prestação de contas e um pedido de escusas, falar com a palavra do coração a essa extraordinária figura de irmão
que o destino como prêmio fêz com que encontrássemos em São Vicente, complementando a candura estonteante
de sua paisagem, fremindo em sintonias revôltas, nesse movimento tão contagiante do municipalismo, com a
vibração que não pára, que não cessa, que não cansa, do gigante verde de águas salgadas, que num sorriso de
espuma, e num terno delíquio beija voluptuosamente os lábios molhados da bela São Vicente
Eu quero, nesta hora em que o cansaço tem a beleza de tôdas as ternuras e é uma promessa do reencontro
de amanhã, entregar a CHARLES FoRBES, como oblata inconsumível pelo tempo, a mensagem da nossa gratidão
profunda, a êle que, dono da casa, a n6s nos disse, na hora em que o mapa vivo do Brasil cobriu esta cidade:
"irmãos essa casa é vossa e aqui eu estou para servir-vos!" Se assim disse, assim o cumpriu Muito obrigado
CHARLES FORBESI Muito obrigado na voz do Rio Grande do Sul e do Amapá, do Mato Grosso e de Pernambuco:
Muito obrigado, CHARLES FORBES, na voz cosmorâmica do Brasil
Plasmado no fenômeno que eu considero singular para o anuviado século de incompreensões em que vivemos,
vem o municipalismo cantando a canção enternecedora de esperança, ruflando em todos os caminhos os seus
tambores de luta, fincando marcos de perene existência, que afrontarão todos os séculos!
E eu me pennito a mim mesmo, ainda neste preâmbulo fazer uma moção de agradecimento, e citar
na ordem-do~cHa da noite de hoje, com o carinho todo especial da alma municipalista, a: CÉLIA DE SousA
SIQUEIRA, ALICE SANTOS, LUCINDA TOLEDO PIZA, STELA TAVARES, SÍLVIA MULLER SOARES, JOÃO
FLORÊNCIO CAMARGO, CÍCERO DE OLIVEIRA, ALFREDO GONÇALVES, JosÉ PEREIRA DA COSTI\, AN~
DRELINO MUNIZ, SEIXAS SANTOS, RUBENS BARROS, ANTÔNIO BUENO CAMPELUPO, à brigada brilhante
do I.B.G.E., aos funcionários da Câmara de São Vicente, funcionários dos correios e telégrafos, ao cativante
Prefeito de Santos, aos brilhantes Vereadores da Câmara de São Vicente, aos dirigentes da poderosa organização
Philips, honra da transmissão do pensamento Nacional, a Fracaroli e seus diligentes auxiliares a quem devemos
a esplendência maravilhosa dessa festa, a mais brasileira das festas brasileiras! E, em especial destaque, acentuo
o valor do trabalho construtivo e eficiente, do manipulador e arquiteto incansável do II Congresso Municipalista,
que dedicou tôdas as fôrças, tôdas as energias, tôda a bravura patriótica ao II Congresso de Municípios Brasilei-
ros, NABOR RODRIGUES MANGA, o subchefe do estado-maior do grande RAFAEL XAVIER, e, enfim exaltar,
agradecer e louvar a cooperação tão profícua e profunda dos companheiros da altiva imprensa brasileira, honra
e glória da cultura do jornalismo da grande Pátria nossa, a MANOEL FERRAZ, o singular Chefe do Protocolo.
Congresso que arregimentou, além do Primeiro Magistrado da Nação, o Presidente de todos os brasileiros,
GETÚLIO VARGAS, Ministros de Estado, elementos de alta expressividade como LUCAS GARCEZ, ERLINDO
SALZANO, o municipalista de elevaào porte que conhece o Brasil e que o Brasil admira, que ao grande São Paulo
deu um govêrno de exemplo, ADEMAR DE BARROS; Congresso que contou com o contingente fulgurante de um
talentoso e culto RUI RAMOS, CUNHA BUENO, NÉLSON ÜMEGNA, ARÍZIO VIANA, NÉLSON CARNEIRO,
CELSO PEÇANHA, e tantos outros nomes estelares dÓ Parlamento Nacional, e que firmou bem certo em documento
de subida valia9 marcando um ponto redoirado de patriotismo e compreensão num dos capítulos mais belos da
hist6ria do Brasil.
Já o disse e com exponencial propriedade o general desta grande batalha de pacifismo, fraternidade e cons·
t.:ução, RAFAEL XAVIER, que o municipalismo não é um fato isolado e casual no presente momento brasileiro.
Ele se liga não s6 a recuados antecedentes históricos, mais ainda e intimamente, à conjuntura social, às particulares
disposições de espírito de nosso povo, nos dias que correm, articulado com o passado. E foi aqui nesta casa,
onde o calor do sangue brasileiro ferveu, fremiu, nas discussões acaloradas de teses e tnemórias, oriundas de
todos os pontos cardeais do País, e foi aqui nesta casa que o próprio Brasil copstatou a reafirmação decidida a
apontar~ lhes a segura diretriz para um luminoso caminho do futuro, reavivando cada vez mais a fôrça da convicção
de que somos capazes de caminhar para a frente pelos nossos pés.
E a prova dos fatos a nós todos nos proclama que o Municipalismo não é uma obra de ficção, nem uma revo-
lução em marcha, é sim, uma vitória.
E agora, companheiros, a mim me desculpai, nesta hora em que me apresento ao vosso julgamento, irmãos
do Norte e do Sul, do Oeste e Leste, a nüm me desculpai o rigor com que conduzi, por alta honra que vós
me concedestes, os trabalhos desta casa e os meus erros também, que os tive muitos, com o desejo acalentado,
de acertar, a mim me desculpai o rigor, que jamais êle partiu do coração! De mim eu me declaro compensado
e orgulhoso da grande cooperação que me prestastes.
Companheiros de Mesa, um abraço fraternal para v6s todos. Municipalistas do Brasil, até logo, até um
novo encontro, se Deus quiser!"
5.54 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

DiscuRso DO SR OsÓRIO NuNES

A seguir, o discurso do Sr OsÓRIO NUNES:

u Ai dos povos que constroem sua vida sôbre a areia! O Homem imprevidente das Escrituras.
Ai dos que levantam a sua existência sôbre bases frágeis! Sobrevirão ventos e a casa cairá, porque estava
sôbre a areia.
Chegamos a uma fase em que a precisão do sentimento e das reivindicações do Municipalismo vencem tôdas
as resistências.
Sinto que se alterou a consciência dêste País, e que os homens, que aqui se reuniram por oito dias, não vieram
apenas proferir palavras vãs. Êles vieram expressar as suas reivindicações, os seus sentimentos, e procurar
acertar a forma mais adequada de bem exercitar os seus direitos.
Hoje não é mais possível perder o que foi conquistado. XAVIER, o profeta do Municipalismo, passou todos
êsses anos exercendo uma pregação e a muitos afigurou que talvez aconselhasse para nós, para nossa cidade, um
regime de gafanhotos e leões silvestres. Na verdade, RAFAEL XAVIER, como expressão e intérprete do pensaM
menta municipalista, não pregava isso para nossas cidades. :Êle pregava a revitalização do Interior, a reorganiM
zação da vida rural, sem as quais é impossível esperar que essas nossas cidades tão grandes, tão surpreendentemenM
te grandes para uma base ainda tão reduzida, continuem a viver.
Acredito que, neste Congresso de Municípios, já se avançou bastante. No plano doutrinário, conseguimos
aqui sistematizar a Carta de Princípios, Direitos e Reivindicações Municipais, formulando o pensamento e con ..
ceituando os direitos do Município. No campo técnico, trouxemos o Instituto Brasileiro de Administração
Municipal. Veremos, assim, que estamos procurando o pensamento e a ação, em favor de um Município melhor.
De um Município melhor organizado, de um Município melhor estruturado, de um Município em condições
de prestar serviço para as comunidades governamentais do Brasil. Encontramo-nos em nova fase. EncontraM
mo"nos na fase do Municipalismo ativo, porque as palavras não valem por si mesmas. Nós, que possivelmente
vivemos da palavra, dizemos que a palavra não vale por si mesma. Êstes congressos seriam apenas uma
reunião de psitacídios se amanhã tivéssemos esquecido o que aqui se disse e não se procurasse o que aqui se pe-
diu e o que aqui se prometeu.
Se na verdade nós devemos ponderações aos Municípios do Interior, se não procuramos consultar os in"
terêsses dos Municípios das Capitais, que também são ponderáveis, teremos falhado em nossa missão.
Como Presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira dos Municípios, eu sei que é muito
grande a responsabilidade da diretoria que foi ontem eleita neste plenário. Na verdade eu sei que todos vós
nutris anseios para que vossos desejos se convertam em causa efetiva, se convertam em fatos. Nós não iremos
prometer que êsse desejo se corporificará de imediato, mas posso dizer que com o mesmo patriotismo com que
nós até agora sustentamos a Associação Brasileira dos Municípios, estaremos convosco, vos defendendo e lutando
para que vossas ponderações e reivindicações se positivem em fatos, em atos e leis de interêsse do Município.
Veremos, então, que como resultado principal dêste Congresso teremos como ponto de particia nossa lide para
a instituição do sábio pronunciamento dêste plenário quanto à modificação de capitais e à discriminação de renda,
modificação essa que muito nos inquietou durante o ano de 1951, ainda nos inquieta e inquietat"á neste quase
final de 1952.
Saímos daqui, meus Senhores, com um compromisso. Todos nós temos de atender e de ouvir; de unir
nossos esforços, nosso coração e nosso pensamento para o que aqui se resolveu, porque se nós esquecêssemos o
que se pediu o que se postulou em São Vicente, se nós não fizemos a nossa Carta de acôrdo com os sentimentos
municipalistas dos Prefeitos e Vereadores que aqui falaram, então, de nós se poderia dizer como o Cristo disse
daqueles homens que o cercavam e o adulavam interessadamente: "êsses homens me falam com sua bôca, mas seu
coração está ausente de mim". Não podetnos ficar ausentes do coração do Município, porque nêle há muito
que nós estamos presentes. Procuraremos organizar a vida brasileira com base no seu Município, porque se nós
conseguirmos dar essa consciência ao Brasil, então o País crescerá e prosperará novamente.
Então veremos que a casa não cairá. Sobrevirão ventos, sobrevirão tempestades, mas a casa não cairá,
porque está construída sôbre nós próprios."

DISCURSO DO SR CHARLES DANTAS FORBES

Falou também o Sr DANTAS FORBES, que pronunciou as seguintes palavras:


"Termina hoje o II Congresso dos Municípios Brasileiros e nada mais seria necessário dizer, para mostrar
o que foi êste grande conclave, pois o Brasil inteiro acompanhou o seu desenvolver, e, dia a dia, hora a hora,
milhões de co~patriotas estiveram ao nosso lado, empolgados pelos mesmos sentimentos de entusiasmo, sinceridade
e patriotismo que formaram o clima dentro do qual os trabalhos se desenvolveram.
Como Presidente dêste imortal Congresso, estou autorizado por todos os membros da Mesa a dizer aos
Senhores Congressistas do orgulho que nos domina pela honra que tivemos de dirigir os trabalhos dêste Congresso,
onde os mais notáveis homens públicos do País compareceram, e, o que é mais, onde os representantes máximos
da cultura de cada um dos Municípios brasileiros estiveram presentes, nutna demonstração viva da potência
de nossa gente e numa amostra sensacional do que fatalmente seremos, desde que unidos, como estivemos, dentro
do ideal de trabalhar por uma Pátria mais rica e um povo mais feliz.
Tudo isso, no entanto, meus Senhores, só foi possível se realizar como conseqüência do esfôrço anônimo, mais
eficiente, constante e permanente dos organizadores do Congresso. Foi graçaR à direção do incomparável
NABOR MANGA, da Secretaria do Congresso, com todos êsses auxiliares atenciosos, incansáveis e sempre bem
humorados, não obstante o tremendo encargo que despejamos sem dó nos seus ombros, que possibilitou o sucesso
do Congresso que hoje se encerra. lt justo, portanto, que aqui se destaque a contribuição incomensurável
que êles nos deram, a todos os Congressistas.
Mas, Senhores, houve um outro fator - e creio, o principal - , que possibilitou a grandiosidade do li
Congresso Nacional dos Municípios. ~sse fator foi o devotamento dessa plêiade de jornalistas, radialistas e
fotógrafos, que num desdobramento sôbre-humano, acompanharam cada minuto do Congresso, desde a hora
zero até êste momento. Incansáveis e atenciosos, viveram a vida do Congresso, colaborando ativamente na soM
lução de todos os nossos problemas de mttnicipalistas, pois, auscultando a opinião de cada um e do povo, publi~
cando pareceres e noticiários os mais amplos, permitiram que os Congressistas não se isolassem durante tôda
esta semana das relações públicas, e também, proibindo que o público se isolasse dos Congressistas, que para
êles aqui trabalhavam àrduamente. Mais uma vez, meus Senhores, ficou demonstrado que sem a imprensa
e sem o rádio é impossível o sucesso de qualquer empreendimento, seja êle qual fôr. Os jornalistas, e os homens
de rãdio, foram dos maiores congressistas que aqui estiveram e todo o sucesso alcançado deve-se, sem dúvida
ou favor algum, a êsses nossos grandes e eficientes companheiros.
Como Prefeito de São Vicente, queria novamente agradecer a grande honra que foi concedida ao meu Mu-
nicípio e ao meu povo, com a minha escolha para Presidente dês te li Congresso Nós, de São Vicente, com"
preendemos tôda a grandiodisidade da delicadeza de nossos bons irmãos de todo o Brasil. Podemos interpretar
muito bem, que a escolha recaiu sôbre nós, não porque vislumbrassem em um Prefeito qualidades para bem
presidir os trabalhos, mas, sim, porque na pessoa dêle estavam sendo homenageados todos os vicentinos. Foi
por isso que, para não diminuir o valor dessa homenagem, decidimos unânimente, nós de São Vicente, retribuir
êsse dignificante gesto dos Senhores Congressistas, passando a Presidência efetiva pai a êsse valoroso e brilhante
representante do Norte e do Brasil, que é OSÉAS MARTINS. Só esperamos que os Senhores tenham com"
preendido o nosso gesto, ditado pelo coração que estava transbordando de bons sentimentos para todos aquêles
que se mostraram amigos de São Vicente.
Em nome do meu povo, dou a todos votos de boa viagem, de feliz retôrno, na certeza de que, quando chega-
rem aos lares, possam dizer que são portadores de um pedaço do coração dos vicentinos, que isso é o que de
mais caro, na realidade, que podemos lhes oferecer e que ora oferecemos."
O II CoNGREsso NACIONAL nos MuNICÍPIOS BRASILEIROS 555

DISCURSO DO SR CANUTO MENDES DE ALMEIDA

O Sr CANUTO MENDES DE ALMEIDA, representante do Governador do Estado de São Paulo, pronunciou,


a seguir, êste discurso:

"Trago a mensagem do Sr. Governador de São Paulo, o Sr. LUCAS NOGUEIRA GARCEZ, aos idealizadores
e realizadores dêste Congresso dos Municípios Brasileiros.
S. Ex.n reafirma o que disse na sessão de abertura dêsse certame. Reafirma, já agora satisfeito com os mag-
níficos resultados desta reunião em que predominou, sobretudo, o espírito cívico do povo brasileiro, representado
por todos aquêles que aqui se fizeram delegados dos mais distantes rincões da Pátria, no coração da terra de
São Paulo, em São Vicente, nascedouro de nossa gente.
Uma constante verificou-se, neste Congresso, em tôdas as teses postuladas, em tôdas as conclusões a que
chegaram aquêles que as discutiram. Sob uma ou outra forma se firmou, sem dúvida e sem opiniões d!scordantes,
a única realidade imutãvel: a realidade de que é preciso restituir conteúdo à idéia da. autonomia municipalista.
A idéia de autonomia municipalista tem sofrido na história das nossas instituições jurídicas e pollticas as
n1esmas injunções que a idéia de liberdade.
A liberdade política que se instituiu no mundo com o regime constitucionalista, a liberdade do regime liberal
foi durante mais de um século vazia de conteúdo de sentido negativo, e ainda está escrito em nossa atual Cons ..
tituição como estava escrito nas Constituições anteriores, como está escrito na Constituição de todos os países
civilizados: "Ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer qualquer coisa, senão em virtude de lei".
:É essa a liberdade jurídica, é êsse o sentido político de liberdade no Estado liberal. Verifica-se no decurso
das realizações do Estado liberal, que esta idéia de liberdade vazia de conteúdo, porque é deficiente e negativa,
não era suficiente para fazer a felicidade do homem. Impunha-se que se lhe desse o conteúdo substituindo-a
pelas novas idéias e que obtiveram várias nas instituições do passado.
Essa reestruturação tem sido feita ao mundo pelas idéias socialistas; tem feito escrever nas constituições
modernas tôda sorte de ajuda à ordem social e econômica, porque a liberdade, política e justiça vazias não bastam-
sem a assistªncia do Estado que deve dar ao mais fraco, ao trabalhador em face do patrão, e ao pobre em face
dos ricos. E preciso disciplinar a riqueza; é preciso que o Estado intervenha na ordem econômica. A admiw
nistração pública, não é daí por diante, de sentido estritamente político, de sentido jurídico, mas tambén1 de
sentido administrativo; é preciso administrar, é preciso promover justiça e não deixar um, usando da própria
liberdade, fazer aquêle pouco de justiça que os pobres são capazes, na vida, de fazer a si próprio.
Essas considerações, feitas de passagem a propósito da evolução do conceito de liberdade, aplicam-se também
à evolução do conceito de autonomia municipal.
Houve tempo em que a autonomia municipalista consistia numa só: que se elegesse o conselho da localidade
para a realização da justiça. O Conselho Administrativo realizava tôdas as funções sociais que hoje cabem
aos Ministérios e Secretarias de Estado como sua finalidade social; regulamentava os preços, disciplinava a
• iqueza, cuidava do abastecimento e, segundo o atraso ou o progresso da época, cuid.ava da higiene e da edu-
cação.
Com o advento do estado liberal, a autonomia municipalista ficou reduzida a quase nada. O nosso País,
que nasceu no ano de 1500, viu nascer o municipalismo quando em Portugal começou a nascer.
Portugal foi uma federação de Municípios, porque, à medida que os cristãos reconquistavam a terra dos
infiéis mouros, o regime que se estabelecia na península ibérica não era o regime dos gôdos, dos barões, dos
abades, o regime feudal, mas sim o regime democrático local, que submetia o Munidpio ao Conselho de Ve-
reança, que tinha tôdas as atribuiçõesj atribuição de polícia, atribuição de justiça, atribuição de adminis-
tração em todo o amplo sentido que hoje se empresta à palavra "administração pública". Foi êsse municipa-
lismo que passou ao Brasil.
Entretanto, o Brasil nasceu sob o signo do estado liberal e ao mesmo tempo o Município adquiriu a autonomia
política, a autonomia municipal do sentido jurídico vazio de conteúdo, porque o signo era do estado liberal, a ad-
ministração púhlica concentrava-se na ação do govêrno central, em detrimento cada vez maior das possibilidades
de progresso do Município. E quando novas idéias vieram tirar do poder central tôda a sua fôrça para dividir
com a Província, transformando em Estado os Municípios, havia fenecido, havia morrido no Município todo
aquêle sentido que era a permanente razão de ser do poder político do Conselho de Vereança.
Só recentemente com o desenvolvimento das preocupações municipais de dar conteúdo às formas políticas
e jurídicas, base do estado liberal, é que a autonomia municipal no Brasil está reconquistando seu antigo pres-
tígio.
Por isso falava eu da constante que se verificou nos postulados, nas teses e nas conclusões a que chegou
êste Congresso. Não se limitaram tais teses e conclusões a afirmar a forma jurídica, a forma política dos reclamos
dos ideais do municipalismo moderno brasileiro. Foi além O Congresso tratou de mostrar tudo quanto deve
pleitear e obter o município, não s6 do Poder Municipal, do Conselho de Vereança, mas também, meus Senhores,
e sobretudo, do Poder Central e do Poder Provincial, do Govêrno da União e do Govêrno do Estado. O que aqui
se afirmou foi a necessidade de uma harmonia entre tódas as três esferas do poder nacional: a esfera federal, a esfera
estadual e a esfera municipal.
Estas idéias, que foram as do Congresso, aqui manifestadas por todos, têm sido as idéias afirmadas e reafir-
madas a tôdas as Secretarias de Estado pelo Governador LUCAS NoGUEIRA GARCEZ, de que tem as suas vistas
voltadas com predominância para a Capital, mas tem seus olhos e coração voltados para o Interior, onde vive o
Município, que tanto necessita do amparo, não só do próprio Govêrno, como do Estado e da Untão também.
Essas mesmas idéias do nosso Governador, que é um homem prático, é um homem realizador, não ficaram
no terreno teórico: quis S. Ex.a que um órgão centralízasse as aspirações, as necessidades de todos os rincões
do Estado, tudo quanto deve ser feito, tudo quanto pode ser feito, tudo quanto deve ser feito por necessidade, tudo
quanto deve ser feito por conveniência política do Estado de São Paulo, por conveniência política do Brasil, tendo
em vista os supremos ideais da unidade nacional, porque o Município, fortalecido, estabelece o equilíbrio entre
o Estado, o Município e a União, e se o Município enfraquece, como aconteceu no princípio da República, a uni-
dade nacional se enfraquece também, porque a fraqueza d.e uns virá em detrimento de outros, prejudicando o
desenvolvimento geral.
Pois bem, Srs. Congressistas, sob o influxo de tais idéias, foi que o Professor LUCAS NoGUEIRA GARCEZ
determinou â Secretaria do Governo que en1preendesse estudos apurados, em cooperação com as demais Secretarias
de Estado, daí a criação do Departamento Estadual de Assistência aos Municípios de São Paulo, notícia essa que
já foi dada a êste Congresso, por ocasião da primeira mensagem de S. Ex. a., notícia que é hoje reafirmada.
:Êsse organismo coordena as atividades das demais Secretarias de Estado; não substitui tais atividades, pois
que são insubstituíveis. Elas, então, continuam a ser exercidas pelos titulares das diferentes pastas e pelos or-
ganismos das diferentes Secretarias; entretanto, a unificação, a coordenação entre os serviços de uma e outra Se-
cretaria, a distribuição de todos os serviços reclamados pelo Município, segundo a sua natureza, trará possibi-
lidades de grande desenvolvimento às atividades concernentes à assistência técnica dos Municípios, maior ordem,
e, por isso mesmo, maior expansão a tudo quanto o Estado pos::a fazer em favor dos Municípios de São Paulo.
Foi essa a mensagem que o Sr. Governador de São Paulo pediu que - aqui presente a êste Congresso o
Secretário do Govêrno ~ reafirmasse, com as saudações de S. Ex. a aos Srs. Congressistas, e com os cumprimentos
aos empreendedores e realizadores dêsse grande certame, que tanto orgulho nos trouxe e que tantas glórias dá
ao povo brasileiro."
556 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

A MARGEM DO II CONGRESSO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

o I.B.G.E E o CoNGREsso

A Assembléia-Geral do Conselho Nacional de Estatística, reunida no Rio de Janeiro de 1 o a 11 de julho


de !952, por sua Resolução no 514, expressou sua adesão ao II Congresso Nacional de Municípios Brasileiros,
nos seguintes têrmos:

"A Assembléia-Geral do Conselho Nacional de Estatística, usando das suas atribuições e


Considerando que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística tem proclamado a indispensabilidade
da revitalização municipal como fundamento à obra de renovação nacional;
considerando que a Assembléia-Geral do Conselho Nacional de Estatística, através da Resolução n.o 324,
de 20 de julho de 1946, deixou "expressamente consignado o interêsse do Instituto pelo Movimento Municipalista,
assim compreendido o conjunto de esforços que visem ao reerguimento e ao progresso do Município brasileiro,
tm todos os seus aspectOs";
considerando, ainda, que o Instituto se obrigou, nos Convênios Nacionais de Estatística Municipal, a "pres-
tar assistência moral e a colaboração que estiver ao seu alcance a todos os movimentos sociais, econômicos ou
culturais que visem a interêsses coletivos ou ao progresso da comunidade municipal";
considerando que êsses Convênio~ não devem ser interpretados apenas à luz de fatôres administrativos,
de alta relevância, é certo, mas como uma realização da maior sig~ificação patriótica e de profundo sentido sócio-
cultural, porque permitem ao Instituto manter em cada Município brasileiro uma Agência de Estatística à qual
se atribuem pesadas responsabilidades na obra de soerguimento e valorização da vida comunal;
considerando que os compromissos solenemente assumidos pelo Instituto perante os Municípios têm sido
satisfatOriamente cumprido~, embora a entidade reconheça que deve am91iar cada vez mais a política de vita-
lização municipal, consoante idéias consubstanciadas em diversas Resoluções do Conselho Nacional de Estatís-
tica;
considerando, finalmente, que a realização, êste ano, em São Vicente, do II Congresso Nacional dos Muni·
cípios Brasileiros oferecerá oportunidades ao planejamento de medidas de alta relevância para a política muni ..
cipalista,
RESOLVE:
Art. 1. 0 - Fica expressamente consignada a adesão do Conselho Nacional de Estatística ao II Congresso
Nacional dos Municípios Brasileiros.
Parágrafo único- O Conselho, por sua Secretaria-Geral, dará decidido apoio às iniciativas tendentes a pres-
tigiar o referido certame.
Art. 2.o - É recomendada à Secretaria-Geral a publicação de monografia especial do Município de São
Vicente, como contribuição do Conselho ao Congresso e as festividades comemorativas do 420.0 aniversário da-
quela Municipalidade paulista
Art. 3.o- O Conselho Nacional de Estatística formula caloroso apêlo ao II Congresso Nacional dos Muni·
cípios Brasileiros, no sentido de que recomende aos Poderes Municipais integral apoio moral e material à execução
dos Convênios Nacionais de Estatística Municipal."

EM SÃo VICENTE

O Presidente do IBGE , Desembargador FLORÊNCIO DE ABREU, presente à sessão de instalação do Con-


gresso, enviou à Mesa a seguinte moção:

"Exm.o Sr. Presidente e demais membros do II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros:
Expressando a adesão do Conselho Nacional de Estatística ao II Congresso Nacional dos Municípios Brasi-
leiros, "ex-vi" da Resolução n.o 514, de 16 de julho de 1952, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
por seu Presidente abaixo firmado, apresenta cordiais saudações aos Srs. Representantes dos Municípios Brasi-
leiros ora reunidos em Congresso na cidade de São Vicente e formula efusivos votos pelo pleno êxito dos seus
importantes trabalhos.
Unidade originária e primária da organização administrativa e política do Estado - verdadeira célula da
democracia-, é no Município que primàriamente se efetivam as pesquisas e as coletas para a obtenção dos resul-
tados estatísticos globais e finais. Reitera, portanto, o I.B.G .E., os seus aplausos e reafirma o seu concurso
moral e a sua colaboração à feliz iniciativa e à realização dos Congressos de Municipalidades, no seu meritório
esfôrço em prol do desenvolvimento e progresso do Município, como supedâneo do desenvolvimento e progresso
de nossa Pátria.
Formula finalmente os seus votos o I.B.G.E. para que cada vez mais se estreitem e desenvolvam os vínculos
de recíproca assistência entre as suas Agências locais e os Municípios, no interêsse da fecunda política de vitali:.
zação municipal.
a) Desembargador FLORÊNCIO DE AI3REU, Presidente do I.B.G.E."

As duas alas da entidade - a geográfica e a estatística - enviaram representantes seus ao Congresso de


São Vicente. Foi a seguinte a delegação do Conselho Nacional de Geografia: Professor JORGE ZARUR, Diretor
da Divisão de Geografia; JoÃo Luiz DE LA RocQUE GUIMARÃES, Chefe da Seção de Cálculos; ELofsA DE CAR-
VALHO, Chefe da Seção de Estudos Geográficos; e ROBERTO FLÁVIO CRISTÓFARO, Geógrafo-Auxiliar.
O Conselho Nacional de Estatística fêz-se representar pelo Sr. AFONSO Ar.MIRO, Diretor do Serviço de Esta-
tística Econômica e Financeira e membro da Junta Executiva Central, e pelo Sr. LINEU MARIA VIEIRA, Chefe
de Serviço da Secretaria-Geral.

CONTRII3UIÇÃO DO INSTITUTO

As Agências Municipais de Estatística de Santos e São Vicente participaram ativamente da organização


do Congresso, tendo o seu pessoal se empenhado em serviços de mimeografia de teses, contrôle de credenciais,
preparação e entrega de distintivos etc,
De par com essa contribuição direta ao certame, o I B.G.E. montou na Ilha Porchat um "stand" de divul-
gação, onde foram distribuídas publicações aos congressistas, dentre elas a Sinopse Estatística do Município
de São Vicente, trabalho constante de dados históricos e estatísticos, apresentando, ainda, excelentes aspectos
fotográficos do Município~sede do li Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros. Cêrca de 2 500 exemplares
dessa monografia foram colocados à disposição dos congressistas e visitantes interessados.
O Conselho Nacional de Geografia, por seu turno, distribuiu o trabalho Áreas Municipais - 1950, execu·
tado pela Seção de Cálculos.
O II CoNGREsso NACIONAl" nos MuNicÍPIOS BRASILEIROS 557

IRRADIAÇÃO DOS TRABALHOS

A Philips do Brasil S A. instalou na sede do Congresso uma estação emissora de ondas curtas, a fim de
levar aos mais distantes recantos do País o desenrolar dos trabalhos efetuados ria Ilha Porchat
A emissora mesmo funcionou em onda de 25 metros e freqüência de 11 855 quilociclos, com a participação
de uma equipe da Rádio Clube de Santos. Numerosas emissoras dos Estados retransmitiram as suas irradiações,
entre elas as seguintes: PRB-2, Rádio Clube Paranaense, de Curitiba; ZYD-4, Rádio Emissora, de Londrina,
Paraná; PRI-9 e ZY0-21, de Vitória, Espírito Santo; Rádio Difusora de Alagoas; Rádio Clube Iracema, Forta-
leza; Rádio Borborema, de Campina Grande, Paraíba; PRC-5, Rádio Clube do Pará; ZYR-8, de Birigüi, PRI-5,
de Presidente Prudente e Rádio Difusora, de Catanduva, São Paulo
Além do serviço de transmissão de noticiário, de boletins oficiais e comunicados, ou seja, a cobertura prQ.
priamente dita do Congresso, a estação da Philips prestou-se ainda para enviar mensagens individuais dos con-
gressistas de todos os Estados Afora essas atividades, a emissora promoveu mesas-redondas, por iniciativa
do Professor RIBAS DA CosTA, com a participação de elementos de vários Estados, tendo sido debatidos, nessas
reuniões, importantes problemas municipais
Várias palestras foram proferidas através do microfone da Philips do Brasil por técnicos de administração
e pessoas de destaque na vida pública do País, tais con1o os Srs CLEANTHO DE PAIVA LEITE, Assessor da Presi-
dência da República; RAFAEL XAVIER, Diretor-Executivo da Fundação Getúlio Vargas e Presidente da A B M;
JosÉ CIRILO, Presidente da Associação Paulista de Municípios; Deputado NÉLSON OMEGNA; IvEs TITO ORLANDO
DE OLIVEIRA, fundador do Instituto Técnico de Administração Municipal, da Bahia; DELORENZO NETO, ex-
Prefeito de Guaranésia; Deputado CUNHA BuENO; e AFONSO ALMIRO, membro da Junta Executiva Central do
C. N E.

CONCURSOS E PROGRAMAS ESCOLARES

O Serviço Municipal de Educação, Saúde, Cultura e Assistência Pública (S M.E S C.A.), do Municlpio
de São Vicente, elaborou provas e programas escolares em homenagem ao II Congresso Nacional dos Municípios
Brasileiros
No decorrer da semana que precedeu a instalação do Congresso, realizou-se o concurso intitulado "São Vi~
cente- Cellula mater", promovido peloS ME S.C A., ao qual concorreram 394 alunos das 3 a e 4 a séries das es-
colas municipais e particulares.
Consistiu a prova no desenvolvimento do tema que deu nome ao certame, sendo as cinco melhores provas
de cada uma das quatro categorias constantes do concurso entregues a comissões julgadoras para apresentação
do resultado final Aos vencedores em cada categoria foram conferidos prêmios pelo Sr CHARLES FoRBES, Pre~
feito Municipal de São Vicerite, pelo Vereador LOURIVAL AMARAL, pelo Sr SÍLVIO CoRRÊA DA SILVA, Diretor
do S M.E S C.A , e pela Divisão de Educação e Cultm:a
A êsse concurso precedeu um programa escolar orientado pelo Serviço Municipal de Educação, Saúde, Cultura
e Assistência Pública.
Aproveitando a oportunidade para desenvolver na criança o amor à sua terra e o espírito de solidariedade
nacional, as professôras locais, no decurso da semana antecedente ao Congresso, fizeram preleções sôbre a honra
que coube a São Vicente ao ser escolhido para sede daquela Reunião, e sôbre a razão de ser o Mufiicípio anfitrião
chamado "cellula mater,; sôbre aspectos das diferentes regiões brasileiras, seus usos e costumes; e, finalmente,
sôbre a união de todos pelo interêsse comum do Brasil, pela história, pelas tradições, pela língua
Após essa preparação, os alunos das 2.a e 3 a séries escreveram textos e cartas nas quais expressaram o que
gostariam de dizer ou de contar às crianças de outras partes do País.
Selecionados os melhores trabalhos, foram êstes encaminhados à Divisão de Educação e Cultura do
S ME S C.A., que fêz redigir, com uma coletânea dessas frases, uma saudação da criança vicentina a seus irmãos
de todo o Brasil. Em reunião festiva, uma aluna procedeu à leitura da saudação, finda a qual foram entregues
aos congressistas dos Estados presentes à sessão, as cartas dos estudantes de São Vicente.

PALESTRAS, CONFERÊNCIAS E EXPOSIÇÕES

Várias personagens de projeção nos meios políticos e administrativos da Nação foram convidadas especial-
mente a tomar parte no II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros. Os Técnicos de Administração, por
fôrça mesmo da especialidade em que são doutos, foram os mais visados pelos organizadores do certame, em face
dos benefícios que os congressistas poderiam haurir das conferências e palestras que os ditos técnicos se dispu-
sessem a pronunciar,
Dentre aquêles que se fizeram ouvir no decorrer dos trabalhos do Congresso, a REVISTA registrou a pre-
sença do Sr ARízto DE VIANA, Diretor-Geral do DAS P., pronunciando uma conferência que prendeu a atenção
do auditório durante quarenta minutos; JosÉ DuARTE, Delegado do S.A P S no Estado de São Paulo, que apre-
sentou interessante conferência, sendo bastante aplaudido; Professor WAGNER ESTELITA CAMPOS, o festejado
autor de Problemas de Chefia e atual titular da Secretaria de Administração da Prefeitura do Distrito Federal;
BENEDITO SILVA, representante do Brasil no Departamento de Assistência Técnica das Nações Unidas, discorrendo
sôbre assuntos de adminisbação; HARVEY WALKER, Professor da Universidade Ohio e da Escola de Administração
Pública da Fundação Getúlio Vargas, o qual se apresentou com o trabalho sob o título Prefeitos Profissionais
("City Mana!Jers") nos Estados Unidos 1 especialmente preparado para ler perante o Congresso; e LILY CUN-
NINGHAM, representante do Programa do Ponto IV, do Instituto de Negócios Interamericanos e da Comissão
Mista Brasil-Estados Unidos.

R B.M -4
558 REVISTA BnASILEIRA nos MuNICÍPIOS

O Sr. CLEANTHO DE PAIVA LEITE, oficial-de-gabinete da Presidência da República, fêz uma exposição sôbre
o auxílio financeiro que será prestado às Municipalidades, para a instalação dos serviços de abastecimento d'água
e rêde de esgotos, a que se referira o Chefe do Govêrno em sua oração na sessão inaugural do conclave
Esclareceu o porta-voz do Presidente da República que a medida se processará através de quatro etapas:
a solicitação, que deve ser encaminhada à Secretaria da Presidência da República pelos Prefeitos que pretenderem
obter o auxílio financeiro para a. instalação dos serviços mencionados; a efetuação de estudos preliminares, com
a finalidade de conhecer o tipo provável de abastecimento que deverá ser instalado, bem como o total dos gastos
com as obras~ entrega, pelo Govêrno Federal, da elaboração do projeto dos serviços a um escritório técnico de
engenharia sanitária; as~ínatura de um convênio entre o Município beneficiado com a execução das obras e o Go-
vêrno da União.
Ao encaminhar seu pedido -esclareceu ainda o Sr PArVA LEITE-, cada Prefeitura deverá anexar uma planta
cadastral da cidade, dados sôl:>re o número de habitantes, um resumo da vida financeira da Comuna nos últimos
10 ou 15 anos, elementos acêrca das possibilidades de desenvolvimento econômico nos 5 ou 10 anos vindouros:
ben1 ainda indicação das fontes d'água cuja utilização possa ser feita em proveito do abastecimento do Município.
Os recursos financeiros para o atendimento dêsse auxílio prometido pelo Sr GE'rÚLIO VARGAS provirão do
Banco de Desenvolvimento Econômico, do Banco do Brasil, ou dos Institutos de Previdência, Caixas Econômicas
Federais e Companhias de Seguros.
Os financiamentos para as obras de maior vulto serão feitos através dos referidos bancos e das companhias
de seguros, à taxa de 8%. Para financiamentos destinados a obras de menores proporções, far-se-ão empréstimos
mediante pagamento de juros de 6 a 7 1/2%
Outro informe prestado pelo Sr. CLEANTHO DE PAIVA LEITE prende-se ao limite mínimo de população da
sede municipal, para que seja concedido o empréstimo. De conformidade com os estudos preliminares sôbre
o assunto, foi sugerida a concessão do benefício Unicamente aos Municípios com mais de 5 000 habitantes na vila
da sede Todavia, desde que as Municipalidades estejam em condições de suportar o ônus, êsse índice demo-
gráfico não deverá prevalecer.

CoNTRIBUIÇÃO DA C.O.F A P E DA C A N

A Comissão Federal de Abastecimento e Preço3 e a Comissão de Abastecimento do Nordeste apresentaram


algumas teses ao II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros, dentre as quais se destacaram ''Armazéns
Frigoríficos", ''Abastecimento de Carne dos Grandes Centros Consumidores" e "Instituto Nacional do Leite".
Além disso a C O F.A P. realizou uma exposição, no salão do C9.ssino da Ilha Porchat, de dez grandes conjun-
tos, com mais de cem cartogramas, mostrando a produção industrial e agropecuária, bem como a situação dos
transportes, do financiamento e dos investimentos no Brasil

MENSAGEM DA A B.M.

A Associação Brasileira de Municípios comunicou-se, através de uma carta circular, com todos os prefeitos
e presidentes de Câmaras Municipais que se fizeram representar no Il Congresso, agradecendo a presença e a
colaboração prestada
São os seguintes os têrmos dessa circular:

''Encerrados os trabalhos do II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros, apresso-me, em nome da


Associação Brasileira de Municípios, em vir trazer-vos e aos ilustres membros dessa Câmara, os nossos mais calo-
rosos agradecimentos pela cooperação que êsse órgão deu à realização daquele certame. Foi, sem dúvida, mais
uma expressiva demonstração de vitalidade do movimento municipalista, oferecendo à Nação o admirável espe-
táculo que presenciamos em São Vicente, com o debate e a fixação de conclusões referentes a problemas de funda-
mental interêsse para o Município e o País.
2 É oportuno agora empenharmos todos os nossos esforços para que os resultadas do II Congresso tenham
execução prática, de efeitos benéficos para as administrações municipais, ao mesmo tempo que se abram novas
perspectivas para o incremento de nossa campanha. A Associação Brasileira de Municípios recebeu, no Congresso,
inequívoca comprovação do apoio que lhe emprestam as administrações municipais, correspondendo assim à
confiança que nêle foi depositada.
3 Necessário se faz, portanto, empreendermos um trabalho permanente e ativo, através do qual se obtenham
resultados proveitosos para uma colaboração mais estreita entre a A.B .M. e os governos municipais. De acôrdo
com o aprovado pela Assembléia Geral foram reformados os Estatutos de nossa entidade, passando a A. B. M.
a ser custeada pela contribuição das Prefeituras. Essa contribuição será uma quota anual mínima de Cr$ 1 500,00
(um mil e quinhentos cruzeiros). É claro que as Prefeituras de maiores recursos desejarão contribuir com uma
quota proporcional às suas receitas, tendo sido lembrada por muitos congressistas a percentagem de 0,5% da
receita tributária.
4 A fim de que, em 1953, já possamos contar com êsse auxílio, venho solicitar o interêsse dessa Câmara
no sentido de que se inclua no orçamento para aquêle exercício o quantitativo correspondente à quota dêsse Muni-
cípio Já me dirigi ao Prefeito Municipal, encarecendo a inclusão da verba na proposta orçamentária, e agora
não me resta senão contar com o apoio dessa digna Câmara para que no orçamento a ser aprovado figure a quota
devida à A.B.M. É indispensável que isso suceda, de maneira que possa a A B.M., a partir de 1953, contar com
os recursos necessários não sõmente para sua manutenção, como órgão representativo das municipalidades brasi·
leiras, mas tambêm para atender a despesas diversas nas suas relações com os governos municipais.
5 Acresce que, de acôrdo com os novos Estatutos, o Instituto Brasileiro de Administração Municipal
foi constituído órgão técnico executivo da A B.M., cabendo-lhe, dentro das diretrizes que por esta lhe forem tra-
çadas, realizar trabalhos técnicos, e assistindo, quando solicitado, aos governos municipais em problemas de natu-
reza administrativa. Êste fato é sobremodo animador, porque tornará possível uma colaboração mais intensa
com as administrações dos municípios brasileiros, sobretudo aquêles que dispõem de menores recursos técnicos
e financeiros, proporcionando-lhes, quando necessário, elementos indispensáveis à realização dos respectivos
planos do govêrno.
O II CoNGREsso NAciONAL nos MuNICÍPIOS BRASILEIROS 559

6 Agradeço-vos e a essa ilustre Câmara a atenção com que possam atender ao apêlo aqui formulado, de
modo que no orçamento de 1953 figure a quota dêsse Município para a A.B M., com o que poderemos dar maior
desenvolvimento às atividades do 6rgão máximo do movimento municipalista brasileiro.
Reitero-vos e à Câmara dos Vereadores as expressões do meu alto aprêço e distinta consideração.
a) RAFAEL XAVIER, Presidente da A.B.M"

INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

Aos Prefeitos e Vereadores de todo o País dirigiram os fundadores do Instituto Brasileiro de Administração
Municipal o seguinte manifesto de apresentação:

"A esta altura da vida brasileira, resultante da própria expansão das novas necessidades da República, é
imprescindível a organização da assistência técnica das novas necessidades da República, é imprescindível a
organização da assistência técnica ao Município, como elemento decisivo à campanha de revitalização das 1 894
administrações locais instaladas no País, principalmente do Interior. São concordes todos os estudiosos da orga-
nização nacional em que, sem o influxo de uma nova corrente de poderosas energias, que se desloquem em favor
dos Municípios, é impossível esperar o crescimento harmonioso da Nação brasileira.
O Brasil é a reunião de todos os seus Municípios. Encarada como órgão vivo, esta Nação crescerá tortuosa-
mente, com hesitações e contra-marchas, se qualquer das partes que a constituem estiver enfêrma, anquilosada ou
impedida de acompanhar o metabolismo das demais O extraordinário desnível entre as Capitais e os outros
Municípios, expresso na riqueza e na concentração de vantagens naquelas e na pobreza e abandono de quase todos
os outros, representa uma das feridas do organismo brasileiro, que é imperativo curar, através de métodos ade~
quados.
O histórico papel desempenhado pelo Município na formação do Brasil estava pràticamente sacrificado pelas
sucessivas Constituições, do Império à República 1 no instante em que a Constituição de 1946, acolhendo a pro ..
clamação da Campanha Municipalista, iniciada por tantos homens ilustres, em gerações sucessivas, e brilhante~
mente coroada naquele ano pela Associação Brasi.leira dos Municípios, empreendeu o primeiro passo para a res~
tauração do Município na plenitude de seu poder político, na extensão de sua responsabilidade como base do pro ..
gresso nacional.
Era o primeiro passo. Os demais cumpre a nós levã-los avante, a todos os patriotas, a todos os homens
que não perderam a noção de seu vínculo indissolúvel à terra, ao seu Município. A caminhada em prol dos
Municipios é a caminhada no sentido do ben1-estar de cada um, de seu lar, de seu trabalho, do seu grupo social,
dêste País
Não devemos entretanto marchar às cegas, querer simples, lírica e contemplativamente o bem-estar do Muni~
cípio. É preciso articular a vontade, emprestar-lhe formas capazes de garantir ao Município o destino que êste
reclama e que temos a obrigação de assegurar-lhe
Eis por que um grupo de estudiosos, observadores e homens que lidam quotidianamente com os problemas
brasileiros, após demorada análise e debate em consecutivas reuniões, resolveu fundar, nesta data, o Instituto
Brasileiro de Administração Municipal (I.B.A M ).
Oriundo das fontes mais puras do Municipalismo, inspirado no mais alto propósito de servir à Pátria, com
reconhecimento de nossas fraquezas e vero desejo de ajudar o nosso povo a afirmar vigorosamente a sua voz no
mundo, apresentamos aqui êste organismo, que se propõe a executar uma tarefa difícil em nossa vida pública
~ a de prestar assistência técnica a todos os Municípios brasileiros, colaborando no estudo e solução de seus pro-
blemas, desde os que se referem diretamente à máquina administrativa, até os mais delicados, que dizem respeito
aos processos para fixação do trabalhador rural e valorização do homem brasileiro, dentro da comunidade onde
ne.s:eu e onde vive.
Os trabalhos de estruturação do I.B A.M. tiveram a participação direta do eminente municipalista RAFAEL
XAVIER e o apoio de elementos destacados da Associação Brasileira dos Municípios, de cuja doutrina espera vir
a ser o órgão executivo
O projeto, elaborado pelo grupo que resolveu fundá-lo, é a corporificação de várias idéias e proposições de
Prefeitos, Vereadores e estudiosos dos problemas do Município Portanto, o I B A.M. encara com simpatia
tôdas as entidades do mesmo tipo, de âmbito regional ou estadual, já existentes ou que venham a se constituir.
Agirá o l.B A.M. sempre por solicitação dos Municípios. _
O I B.A.M. não é uma repartição pública nem uma autarquia E uma sociedade civil, com sede no Rio de
Janeiro, fundada por homens com responsabilidade definida na vida pública do País, desinteressados, de boa-
vontade, que há longos anos vêm trabalhando em benefício dos Municípios do Brasil.
De acôrdo com seus estatutos, estudará a organização administt ativa e a organização dos serviços públicos
municipais, tendo em vista o seu constante aperfeiçoamento: promoverá divulgação de idêias e mêtodos capazes
de contribuir para o desenvolvimento progressivo da administração municipal; p.çestará aos Prefeitos e âs Câ-
maras Municipais a assistência técnica necessária à solução de problemas específicos dos Municípios; articular-se-á
com instituições especializadas nacionais e estrangeiras para efeito de intercâmbio de informações e experiências,
no campo da administração municipal, e manterá Cursos de Administração, desenvolvendo outras atividades
que visem à formação de profissionais competentes.
Diversas modalidades de cooperação e auxílio técnico se propõe o I.B.A.M. a prestar aos Municípios do País
-quando êstes o julgarem conveniente e solicitarem seus serviços~ tais como: elaboração de projetos para abas-
tecimento de água e serviço de esgotos; formulação e execução de planos urbanísticos; planejamento econômico~
radonalização administrativa e outras que o desdobramento da assistência permitir. Poderá, ainda, representar
os Municípios junto à União e aos Governos dos Estados, para o fim de promover o recebimento, em tempo útil,
da percentagem constitucional sôbre o impôsto de renda, de subvenções, auxílios e partes de outros impostos.
Os corpos têcnicos do Instituto, compreendendo especialistas dos diversos ramos~ atenderão a todos êsses trabalhos.
Assim, as dramáticas necessidades dos Municípios, em sua quase totalidade abandonados ao esfôrço heróico
e único de seus grupos dirigentes, na hora em que necessitam de auxílio, de esclarecimento, de práticas modernas
para solucionar desde os mais simples aos mais complexos problemas, serão atenciidas com eficiência e disposição
de bem servi-los.
Não estarão mais sOzinhos na sua luta quotidiana, pois o Municipalismo ativo, levado à prática pelo I.B.A M .•
constituirá um instrumento de seu progresso, um coadjuvante do seu desenvolvimento.
Eqüidistantes de grupos políticos partidários, será um órgão essencialmente técnico Receberá bem todo
e qualquer apoio, desde que vise ao ideal comum de elevação do nível administrativo, econômico e cultural do
Município.
Esta é a nossa contribuição para solucionar alguns problemas básicos brasileiros que têm sua origem no aban-
dono do Município. Quando tivermos vencido a desorganização da vida local, quando tivermos ultrapassado
e substítuido os mêtodos obsoletos que ainda sacrificam a evolução de maior parte das Comunas, teremos conse-
guido, também por uma ação reflexa inevitável, a reforma e melhoria dos padrões administrativos da União e
dos Estados. Pela preservação das características democráticas de nossas in!>tituições municipais, teremos obtido,
igualmente, a guarda da boa moral do povo brasileiro, apoiada na pureza dos costumes e na tradição de dignidade
das comunidades locais. Esta é a nossa contribuição no sentido de que a vida brasileira se organize em bases
modernas e eficientes. Para ela pedimos a compreensão dos Prefeitos, Vereadores, das elites dirigentes e dos
Municípios de todo o Brasil, a fim de que o I B.A.M. possa proporcionar uma assistência técnica capaz de levar
aos Municípios brasileiros as novas formas de administração e de organização econômico~social.
Assim seja compreendido o Instituto Brasileiro de AdministraçãO Municipal, para que, com seu auxílio,
o Brasil possa prosperar, respirando, ampla e poderosamente, pelos pulmões vivificados de todos os seus Muni~
cípios.
560

A Comiuào NaC'i"ru.l Or~anízadora do Instituto


Brasileiro de Adminialraçio Mun,~ipol

RAFAEL XAVI&It, Presidente <la Aa1ociaçà o Br~•·


silC"ira do. l\1untdp101; VENERANDO Dlf. FWKITAS
Boaors. Prereito Mun1c1pal de Goi6n••· Goi.. : E"fLIO
ABoos PóvoA, Prde1to Mumcopal de São Lourenço.
Minao o .... ais: ]OÃO O>: PAULA TF.IXEIRA FILHO, Ve-
rt!atlor A CAmura Municipal Jc: c .. ,anitt, Go'á':
CLÃUOIO o.: PAI\'A LElTII, Veread<w 6 CAmara Mu·
nicopal de João Pns001, Para:ba: CLitASTHO DI: PAIVA
LJ!ITE. Pre"''ident~ em C":\C·rC'ido da Comiuào N11c-ional
de Aaaoatb\cia Ttcnoca e membro do Conselho de
Admononrac:ão do Banco Nacional d.- Deaenvolvimen·
to EeonOmico: RO"IJLO 011 ALM&IDA, Economiata e
membro do Con•elho f"ooc:al do Banco Nacional de
Crtdito Coo""ratívo; OTIION StRVULO DI: VASCON·
CELOS. Tknoco de Adminiatracllo do Govtmo Fede·
ral e ex·Monistro onterino da A11ricuJtura: ]OAQUIW
NEVES PEREIRA, T~çnico de AdmiDIStração do Gov~­
no Federal e Auistente do Secrctl\rio·Geral de
Administração da Prcre1tura do Diotrito Federal;
ARAÚJO CAVALCASTI, Tkmco de Adminiatraçilo do
G overno Federal e Sc<:retltrio-Geral do l natituto In-
ternacional de Cienclaa Adminiatrativaa (Seçilo Bra-
sileira); OsóRio N uNES, Jornaliata e escritor, Cherc
do Serviço do Secretaria-Gero! de Agricultura, lo·
d6strio e Comérdo da Prereiturn do Distrito Federal:
FRANCISCO B URJ<INSI<I, Tknico de Adminislraçilo do
Gov~mo Federal e tntadiata de Adminaatroçilo
Municipal: CARLOS EDUARDO DI! 0LtVBIRA VALE,
Profeuor de Adminiatraçilo P6blica e Chere do
Serviço Legal da Prereitura do Diatroto Federal;
MOACIR MALRKIROS FER.NANDII:I SILVA, Consultor-
Técnico do Minist~rio da Viaçlo e Obraa P6blicoa e
membro da Junta Exe.:utivo CentrAl do C.N .E. /I .B.O.
E. ; GiRSON AuouSTo DA SILVA, do Conaelho Tkn1co
de Economia e Finançaa e Prore ..or de Finanças P6bh·
caa; MANUEL DliOUitS jÚ:'<IOR, Jornalitla e eacritor,
e membro da Auocia~Jo Bra1ileira d.,. Municlpioa;
Eov CosTA La1 r11:, Aaoi•tente Social e Chefe do Ser-
viço de Vioitaçllo Alimentar do S.A.P.S e CAUDY
Cllnrlt-" Al~xat1d~r df! Sousa Dnntss Forb~~ BRASILF.IRO, Acad~mico de Dtrcito C (uncionlrio do
Prc-~idc-nte do Cnns:tr~o Banco do BrasiL"
O MUNICÍPIO NA AMÉRICA*
OSÓRIO NUNES
(Presidente do Conselho Deliberativo da
Associação Brasileira dos Municípios)

R
EUNIU-SE, em São Vicente, o II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros
Apresentamos o testemunho de nossa admiração pelo esfôrço que está sendo realizado
no interior do Brasil, através das dificuldades próprias de um país em crescimento. Ao
mesmo tempo, desejamos fazer um exame da evolução do Município na América, assim compre-
endida tôda a extensão de terra que Colombo revelou à civilização, a posição presente do direito,
da conceituação e dos deveres da administração local, suas prerrogativas e as perspectivas que os
responsáveis pelas comunas têm de entreabrir, para aperfeiçoar os métodos de convivência,
melhorando as condições de vida e assegurando o bem-estar dos Municípios do Brasil
Em primeiro lugar, devemos congratular-nos pelas felizes condições em que se verificou a
implantação do Município no Novo Mundo Quanto ao Município ibérico, por sua auspiciosa
origem, vinculada ao tronco da civilização ocidental, o Império Romano, tivemos uma instituição
primitivamente votada à defesa e, posteriormente, por desenvolvimento natural, destinada à
salvaguarda de todos os direitos e vantagens dos grupos sociais reunidos no Município

0 MUNICÍPIO ANGLO-SAXÔNIO E O MUNICÍPIO IBÉRICO

Em The British City, HowE demonstra que "a cidade é a instituição mais democrática da
Grã-Bretanha. A muitos respeitos, é a única demonstração de democracia daquele país". O
regime político inglês, segundo MUNRO e JENNINGS, surge como regime de "self-(j,ove1nment" e
de subordinação ao direito. Transplantado para a América do Norte, o Município anglo-sa-
xônio veio a constituir a mais sólida base da democracia e da organização da sociedade norte-
americana Sob aquela esfera político-jurídica, a Municipalidade inglêsa se impõe como uma
comunidade distinta, definida Êsse espírito foi trasladado para a América do Norte, com o
emigrante inglês Ê fato consumado, a conquista dos munícipes no sentido de governar o Muni-
cípio americano por si mesmos. Isso, ao lado do grande favor das rendas, permitiu a estruturação
dos serviços públicos locais em forma modelar para o resto da América A participação do Mu-
nicípio no total da arrecadação cobrada pela União, Estados e Municípios, é uma das afirmações
da inteligência com que o povo norte-americano organizou o seu país
O Município ibérico, transplantado para a América, possuía também foros de autonomia,
como o anglo-saxônio. Ê conhecida a participação das câmaras municipais, à época da colônia,
na condução da política e dos negócios de cada cidade O Município ibérico, como fundamento
da defesa das liberdades públicas, é umSJ. expressão que atravessa os séculos.
O Município, como fenômeno social natural, na expressão de um dos estudiosos brasileiros do
assunto, surge nas primeiras formas originárias dos agrupamentos humanos, quando a cidade era a
própria expressão política do Estado, pois se confundia com êste. A organização municipal romana
manteve a característica do Município, assim compreendido, uma vez que semelhante organização
constituía uma prerrogativa da cidade, dela excluído o campo Somente a algumas das cidades
que entravam para o domínio de Roma era concedido o privilégio de constituir os municipia,
faculdade que lhes era propiciada em caráter absoluto ou com algumas limitações, inclusive o
direito de cidadania romana, conservando, porém, as suas instituições próprias Tais privilégios
eram dados a povoações que não opunham resistência aos dominadores, não significando isso,

* Tese apresentada ao II Congresso de Municípios.


562 REVISTA BRASILEIRA Dos MuNICÍPIOs

entretanto, que as cidades mantivessem a sua integral independência. Facultado lhes era apenas
conservar a administração local, em consonância com a orientação e a política romana. Quando
se generalizou o sistema, segundo as conveniências do Império, a autonomia era definida pelo
govêrno próprio e pelo direito de organizar a polícia e a justiça, com sujeição às leis da metrópole.
A organização municipal, instaurada pelos romanos, representava alicerces tão seguros, fun-
dava-se em leis e disposições tão racionais, que, nem os bárbaros visigodos, nem os árabes conse-
guiram modificá-las substancialmente na Península Ibérica. Com a introdução de algumas mo-
dificações, as linhas gerais do Município romano foram preservadas e assim chegou na Ibéria, até
a expulsão dos mouros. Surgido o Condado Portucalense, fulcro do reino de Portugal, a adminis-
tração local continuou mantendo as mesmas prerrogativas, bastante dilatadas, durante a domi-
nação visigótica, pelas atribuições conferidas às assembléias populares.
Os mouros não puderam, apesar de certa tendência centralizadora, diminuir o prestígio das
instituições municipais. Diz o escritor português ALEXANDRE HERCULANO, acentuando o fato:
"É que existia um princípio, um impulso moral, que ajudavam os instintos de liberdade a dar
novo vigor às instituições municipais". Tanto na Espanha, como em Portugal, onde o Município
precedeu a própria Monarquia, o Conselho tem a mesma raiz. De um lado, procede do conci-
lium, a assembléia com poder jurisdicional, e do conventus publicus dos bárbaros De
outro, procede do Município romano, ou seja, do conjunto de habitantes de uma aglomeração.
A estruturação do Município português compreendia uma série de funcionários e servidores,
exercendo uma multiplicidade de funções, que iam desde a Justiça até a inspeção dos edifícios
e logradouros públicos, verificação de pesos e medidas, fixação dos preços dos gêneros alimentícios
e tudo que fôsse objeto de uso da comunidade
Manteve o Município português o seu prestígio, até o surgimento das Ordenações, - có-
digos do Govêrno central, que tomaram o nome dos monarcas que os outorgaram-, começando a
declinar com as Ordenações Afonsinas, em 1446. Após as Ordenações Manuelinas, as Ordenações
Filipinas, aparecidas em 1603, reduziram ainda mais o âmbito do poder municipal, deixando-lhe
quase exclusivamente funções administrativas, não indo as judiciais além das questões de pouca
importância.
Olham os brasileiros com especial cuidado o Município norte-americano, em virtude de sua
origem, o Município inglês, de vocação e tradição democrática, assim como pelo exemplo de orga-
nização político-administrativa, e pelo sistema federativo dos Estados Unidos, igual ao existente
no Brasil. Preocupam-nos menos outros tipos de Cidades-Municípios, como alemãs, francesas,
italianas e espanholas, onde os países da América do Sul, nos primórdios, foram buscar os tipos de
organização político-administrativa, pois que êstes obedecem à orientação centralizadora. E os
países da América do Sul, em sua maioria, inspiraram-se no modêlo anglo-saxônio ou norte-ame-
ricano.
Por que essa atenção ao município anglo-saxônio? Devido à forte consciência localista, que
assinala o Município inglês, tão forte que "um dos princípios não inscritos da Constituição inglêsa,
característico do govêrno inglês, dispõe que os assuntos locais devem ser administrados pelos re-
presenlantes locais". Conforme diz ADOLFO PoSADA, em seu Tratado de Direito Político,
como o pressuposto de autonomia política é a existência de uma consciência coletiva, capaz de
ferir uma vida social, segundo exigências morais - o regime inglês não se reduz a um puro sistema
de garantias exteriores, pois que é, antes de tudo, uma questão de tendência instintiva, de atmos-
fera, de pressão social, irredutível a preceitos legislativos.

IMPORTÂNCIA DA VIDA LOCAL NA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES DO CONTINENTE

Transplantado para a América do Norte, o Município anglo-saxônio produziu o Município


norte-americano, com seu extraordinário avanço em relação às diversas técnicas do Govêrno local.
Do mesmo modo que, implantado na América Latina, o Município ibérico veio se juntar àquele,
como base da organização das nações soberanas. Encontramos, assim, ao Norte e ao Sul do Hemis-
fério, o Município como célula fundamental da sociedade, plataforma das aspirações populares,
cadinho onde se elaboram os processos de autonomia, de independência e de capacidade de govêrno
próprio, que vão ter seu corolário no Estado soberano. Encarado de qualquer prisma, o papel
do Município é decisivo para a articulação dos grupos sociais, no sentido dos ideais comuns de
aperfeiçoamento, quer na cidade, quer no campo. O seu desempenho, como unidade aglutinadora
dos esforços dos indivíduos espalhados pelo país, jamais será suficientemente ressaltado e nunca ha-
o MUNICÍPIO NA Al'.IÉRICA 563

verá gratidão suficiente para testemunhar o reconhecimento das gerações de agora aos avós pionei-
ros que plantaram suas linhas-mestras, dando-nos os traços da nossa organização atual.
Os Municípios norte-americanos vieram gradualmente ascendendo a excelente posição. As
rendas de que dispõem, a competência para executar, controlar os serviços de caráter tipicamente
local, funcionam como um elemento de progresso harmonioso de todo o gigantesco organismo da
Federação. É satisfatório comprovar êsses desenvolvimentos da nação norte-americana, com base
na vida das suas comunidades, pois, por via destas, surgiu a reforma nos métodos administrativos,
hoje instaurada nos setores da administração federal e regional dos Estados Unidos, com reflexos
no mundo inteiro, particularmente no Brasil.
Com efeito, das idéias lançadas pelos estudiosos congregados no Bureau of Municipal Re-
search, instalado em New York,•nos primeiros anos do século, surgiram os lineamentos principais
que ora norteiam a racionalização das atividades-meios e o planejamento das atividades-fins do
Estado Moderno Aquêle grupo de pioneiros buscou tornar mais proveitosos os trabalhos da
administração municipal, partindo, notadamente, da concepção do orçamento como plano de
govêrno, da disciplinação da receita e das despesas públicas, da instituição do sistema do mérito
no serviço civil, da subordinação da administração à organização e planejamento, e da centra-
lização das aquisições do govêrno municipal hum órgão de compras. Promoveram a introdução
das teorias de TAYLOR na administração local; tiveram em mira a separação das atividades-fins
das atividades-meios. A conseqüência foi a transformação de organização empírica em orga-
nização científica da administração, tendo como alicerce a formação e funcionamento de um estafe
para o chefe executivo.
Tais concepções estenderam-se do Município para outras esferas administrativas e nelas se en-
contra a matriz das profundas reformas que modificaram o govêrno da União, vindo também ger-
minar no Brasil, cujo Departamento Administrativo do Serviço Público, órgão da Presidência da
República, é a corporificação avançada dêsses princípios de aperfeiçoamento das funções de go-
vêrno.

Ü MUNICÍPIO NO BRASIL - A CONSTITUIÇÃO MUNICIPALISTA BRASILEIRA


PECULIARIDADES DO DISTRITO FEDERAL

O Município brasileiro organizou-se no século da Descoberta, sob as Ordenações Manuelinas,


com tôdas as características de Município português. Sob as Ordenações Filipinas, 100 anos
mais tarde, começou o seu descenso como unidade de govêrno. Mesmo assim, grande era o poder
das Comunas representadas nas Câmaras Municipais. O estudioso brasileiro CASTRO NUNES, em
seu ensaio "Do Estado Federado e sua organização Municipal", diz relativamente a essas enti-
dades: "Tinham a administração dos bens do Conselho, faziam obras, estabeleciam posturas,
marcavam taxas, impunham fintas. Em virtude de outras ordenações e leis posteriores, nomeavam
os juízes, almotacés, os recebedores de sisa, os depositários públicos, os avaliadores dos bens
penhorados, e alcaides, quadrilheiros, capitães-mores de ordenanças, sargentos-mores, capitães-
-mores de estradas e assaltos, também chamados capitães-do-mato, os juízes de vintena e os te-
soureiros-mores. Intervinham nos julgamentos das injúrias verbais e arrogavam-se outras atri-
buições, além das mencionadas na lei. Assim é que promoviam a guerra e a paz com os gentios,
decretavam a criação de arraiais, convocavam juntas do povo para discutir e deliberar sôbre inte-
rêsses da capitania, exigiam que os Governadores comparecessem aos seus paços, para tratarem
com êles dos negócios públicos e, mais de uma vez, suspenderam, dando-lhes substitutos até que
a metrópole providenciasse a respeito!"
A Constituição de 1824, elaborada após a Independência do Brasil, reforçou êsses poderes,
dando às Câmaras Municipais "o govêrno econômico e municipal das cidades e das vilas". Em
seguida, o Ato Adicional à Constituição, datado de 18"4, organizou as províncias do Império com
tal independência do poder central que foram quase erigidas em "províncias federadas", marcando
a tendência brasileira para o Estado Federativo. A Lei n." 105, de 12 de maio de 1840, concebida
para tornar exeqüível o Ato Adicional, fortificou ainda mais a província, em detrimento do Muni-
cípio. Proclamada a República, em 1889, iniciou-se um regime de rígida centralização, continuação
daquele iniciado no Império unitário.
Hoje, uma Constituição de tendência municipalista rege a vida legal do Brasil. Não se
chegou até ela sem que o Município houvesse bastante sofrido em sua estrutura de autonomia.
A República, sob o regime federativo, congregando as antigas províncias numa União Federal,
564 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNiciPIOS

assegurou aos Municípios autonomia para organizar-se e aplicar as suas rendas, "segundo os seus
peculiares interêsses". Mas, por falta de recursos tributários, atingidos pela centralização exces-
siva, os Municípios brasileiros não puderam prosperar por aí. Acompanharam apenas o cresci-
mento geral da Nação, comandado pelo Estado Federal e, principalmente, concentrado nas Ca-
pitais dos Estados-Membros. Em 1946, o forte movimento municipalista ecoou na Assembléia
Constituinte e o Município saiu favorecido na Carta Magna
Mas ainda é pouco. Precisamos de apreender e fazer muito Tomemos como exemplo a
capital do País. Se bem que o Município do Rio de Janeiro seja, virtualmente, na prática, um
Estado de pequeno território e grande concentração demográfica, com 1 356 quilômetros quadrados
e uma população de dois milhões e meio de habitantes, com uma receita anual de quatro bilhões e
meio de cruzeiros, que as discussões de São Vicente sejam também úteis à administração da Metró-
pole, como a todos os demais Municípios do País
"A cidade, como unidade sociológica, - enuncia PosADA, na obra já aludida, - realiza em
alto grau a vida intensa, e ao tomar consciência de si mesma, e na medida em que isso se dá dentro
de um Estado, sente a necessidade de resolver os problemas de seu regime, segundo a política do
seu tempo. Porém, o problema de regime próprio interno, da cidade, envolve um suposto que,
por sua vez, vem a ser a condição para a solução adequada pela índole sociológica da cidade. A
afirmação política desta índole supõe um estado emocional, de vibração coletiva, gerador do senti-
mento do regime: o civismo. O problema da cidade-moderna, é sobretudo de civismo e se impõe
sob formas, através do desenvolvimento de urbanismo, o qual reclama aplicação eficaz de espírito
municipal cívico, ou melhor, a formação de uma consciência municipalista, com responsabilidade
coletiva, e por fôrça dela o indivíduo membro da cidade considera que êsse regime é obra que exige
de si uma constante vigilância, uma ação pronta como produtor da opinião pública local"
É partindo dessas premissas que verificamos os problemas da administração municipal do Rio
de Janeiro, cujas peculiaridades são várias, como Município singular entre os mil e novecentos Mu-
nicípios do Brasil e, por isso mesmo, devem ser recordadas num Congresso Nacional de Municipa-
lidades
Município-Capital do Govêrno da República, o Distrito Federal não se acha enquadrado na
órbita administrativa de qualquer Estado-membro. É êle próprio, uma unidade da Federação. A
circunstância de ser a sede da República, sem perder as características de Município, deu-lhe uma
conformação político-administrativa "sui-generis".
Como Município, seu campo tributário compreende tôdas as rendas discriminadas na Cons-
tuição em favor das administrações locais. Como unidade federada, recolhe os impostos que, por
lei, são de competência dos Estados-membros. Ésse fato confere excepcional vigor às suas finanças
públicas. Depois do Estado de São Paulo, é o membro da Federação que maior porte tributário
apresenta. Administrado por um prefeito nomeado pelo Presidente da República, como delegado
de sua confiança, e por uma Câmara Municipal, eleita em sufrágio popular direto, o Distrito Fede-
ral nesse regime misto, apesar de sua receita, sofre as conseqüências de sérios problemas de admi-
nistração local, ligadas principalmente ao relêvo acidentado de sua topografia. Os morros e vales,
que constituem a atração de turistas de tôda parte e onde a civilização e a floresta se encontram
a todo instante, numa das mais extensas concentrações demográficas do mundo, representam,
entretanto, para a população de fato, sérios obstáculos à circulação, às comunicações, à regula-
ridade dos serviços públicos, às soluções urbanísticas projetadas. Desde sua fundação, o Rio de
Janeiro sempre foi a cidade mais rica e importante do Brasil. Continua a ser a mais próspera e
populosa, renovando-se diàriamente, funcionando como um grande entreposto, que seu vasto
pôrto de mar, situado sôbre uma das baías mais largas e favoráveis da terra, auxilia extraordinà-
riamente. Longe está de atingir o limite de crescimento. Sua população aumenta na média de
75 mil indivíduos em cada ano

A ADMINISTRAÇÃO LOCAL -BASE DA PRESERVAÇÃO DA CULTURA

Congregado o clã, a família e um grupo de famílias afins nos interêsses de ocupação e apro-
veitamento de uma determinada área, o Município constituiu-se um penhor do progresso dos futu-
ros Estados, ao lado da preservação dos hábitos, usos, costumes, disseminação das crenças, danças,
histórias, mitos e abusões das comunidades, marcando-as com a sua côr tipicamente local. Pelos
limites mesmo de sua jurisdição, o Município tornou-se, também, fiador da integridade dos costu-
o MUNICÍPIO NA AMÉRICA 565

mes, de resguardo da coletividade nacional contra os vícios, defendendo a unidade da família e a pu-
reza dos costumes sociais.
Assim se explica por que, conforme afirma PosADA, "desde que o homem social se fixa sôbre
o solo e converte o espaço ocupado em meio para convivência com seus semelhantes, e constrói vi-
venda, formando, ao lado de um núcleo da atração, uma população concentrada, ou dispersa em
pequenos grupos, porém entre si relacionada, por causa mais da proximidade ou continuidade espa-
cial do que mesmo de parentesco, surge, embora de feitio elementar ou rudimentar, um sistema de
preocupações geradoras de serviços comuns que, de modo amplo, formam a matéria de um regime,
o qual, ao diferenciar-se de outras manifestações da vida em comum - territorial e espacial -
chega a constituir-se em regime de polícia e, por fim, em regime local ou municipal".
Como dizia MAUNIER, citado pelo mesmo autor, "a cidade, com sua fisionomia geográfica e so-
cial, é uma forma diferenciada do viver humano coletivo; um centro ou núcleo de fôrças ou
energias convergentes; é também, fenômeno de integração e desintegração, de concentração e de
expansão".
No Novo Mundo ou em nosso país tais conceitos se afirmaram de maneira vigorosa, fazendo
com que êsses fatôres funcionassem no sentido de congregar os homens para o bem comum, tor-
nando o Município a estrutura basilar na qual assenta a indestrutibilidade da família e da pátria,
a fonte perene de alimentação das nossas tradições espirituais, o fiador multiplicado da preser-
vação da cultura.

0 EQUILÍBRIO ENTRE A CIDADE E O CAMPO - DESENVOLVIMENTO HARMONIOSO DO


MUNICÍPIO E EXPANSÃO ACELERADA DA VIDA LOCAL NO BRASIL

Vêm de muito longe os problemas que preocupam os administradores dos Municípios, go-
vernantes de cidades. Êles já se apresentavam, sem nenhuma dúvida com tôda intensidade, ao
tempo dos assírios. Conforme se verifica de observação de suas ruínas, Nínive "era um grupo de
cidades que cobriam uma área mais extensa do que a Paris moderna e protegida por cuidadoso
sistema de defesa". (MUNRO, Municipal Government and Administration)
A cidade moderna destruiu uma sociedade rural à qual pertenceu a Humanidade desde a queda
de Roma, diz RowE. O homem, com a cidade moderna, entrou para a idade urbana.
Ê compreensível, portanto, que as populações rurais pressionem os governantes da cidade
em busca de maior cor.fôrto, maior segurança, que lhes dê a sensação de que não se encontram rou-
badas em uma série de vantagens, pelo fato de permanecer no campo. Daí, quando não atendidas
em tempo, buscarem a cidade ingurgitando-a, ampliando seus problemas No Brasil, busca-se,
neste momento, o equilíbrio entre a cidade e o campo, através da melhoria do interior, do aper-
feiçoamento da vida local, representada nas administrações municipais. Há um grande movimento
doutrinário nesse sentido e, se bem que não tenha produzido o que seria de esperar, a União o tem
ajudado, inclusive realizando obras e prestando serviços de caráter rigorosamente comuna!. Hoje,
não se compreende mais o Município funcionando com tôdas as atividades do passado, notada-
mente da Idade Média. Os serviços públicos das cidades e os problemas de economia agrária
chamam os dirigentes municipais para outros caminhos. Os problemas se avolumam e em tudo,
o que importa, é o aceleramento do metabolismo do órgão vivo que é o Município. Dinamizá-lo
é uma imposição do século, inclusive descentralizando a sua administração, onde se fizer necessário.
Eis por que nos ocorre, ao ensejo de tão oportuna reunião, sugerir que se estabeleça uma
assistência técnica organizada para solução dos problemas dos Municípios do Brasil. Institutos
de assistência técnica, formados ou inspirados pelos próprios Municípios, estarão aptos ao inter-
câmbio de práticas avançadas e à introdução de métodos de planejamento, assim como de raciona-
lização, destinados a enfrentar, com êxito, as dificuldades da administração local.
Empenhamo-nos no Rio de Janeiro para que progridam harmoniosamente os Municípios do
Interior, pois o Brasil é a soma de todos os seus Municípios. O equilíbrio entre o crescimento de-
mográfico e a capacidade de prestação de serviço do Distrito Federal, assim como das demais ci-
dades brasileiras, depende, diretamente, da saúde econômica e social dos Municípios do Interior.
Ê, portanto, um imperativo da organização do nosso povo assegurar todos os meios à ex-
pansão acelerada da vida local no Brasil.
MENSAGEM DO D.A.S.P. AOS PREFEITOS
E VEREADORES DO BRASIL*
ARÍZIO VIANA
(Diretor-Geral do D.A.S P )

C
ONSTITUI para mim honra excepcional dirigir-vos algumas palavras ao ensejo dêste
magno Congresso em que os Municípios Brasileiros - representados pelas figuras ex-
ponenciais dos responsáveis pelos seus destinos - se reúnem e se abraçam numa exemplar
demonstração de cordialidade.
Brasileiros de todos os recantos acudiram ao apêlo desta tradicional e gloriosa Municipalidade
de São Vicente, para um encontro de irmãos nestas paragens de beleza sem par onde, por assim
dizer, o Brasil deu os primeiros passos e balbuciou as primeiras palavras.
Um sentimento de profundo respeito e singular emoção domina os bJ:asileiros - qualquer
que seja a sua procedência geográfica, origens étnicas ou situação social - ao pisarem êste sa-
grado pedaço da Pátria onde MARTIM AFONSO DE SousA, no princípio do século XVI, lançou
as bases das nossas instituições municipats.
De 1502 a 1532 viveu São Vicente a epopéia da conquista, desbravamento, posse efetiva
da terra e formação da nacionalidade.
A pouco e pouco foram surgindo - com o Conselho dos homens bons, a pregação dos
apóstolos e evangelizadores jesuítas, o pelourinho e os juízes do povo, meirinhos, alrnotacés e
colonos - os contornos da civilização brasileira.
Em meio ao tumulto do século, na luta contra corsários e flibusteiros que infestavam os
mares e no esfÇ>rço pelo domínio e assimilação dos Tamoios, fundou-se, então, em São Vicente,
o 1. 0 engenho de açúcar do Brasil- fato significativo, configurando a capacidade realizadora,
a energia, a tenacidade e o espírito progressista dos nossos maiores, Engenho que era, na ver-
dade, um empreendimento de pioneiros ousados predeterminando o destino industrial de São
Paulo.
Nesse período épico de nossa história, estabeleceram-se as bases em que se apóia hoje a ex-
traordinária expansão e desenvolvimento do Brasil
São Vicente, ao longo das vicissitudes de sua história incomparável, tem-se revelado digno
do glorioso passado de Piratininga
É um Município à altura dos ancestrais que o fundaram - arrojado, acolhedor e simpático
- lançado na rota dos grandes destinos.
A pujança atual de São Vicente enquadra-se na sugestiva moldura de sua paisagem encan-
tadora corno prenúncio da incomensurável prosperidade que lhe reserva o futuro.
Saúdo, na pessoa do ilustre Prefeito, dignos Vereadores e habitantes de São Vicente, as
autoridades e populações municipais do Brasil inteiro.

CoNGRESSOS DE MUNICÍPIOS

São Vicente é, portanto, o cenário ideal para esta concentração dos homens de bem que
efetivamente trabalham pela grandeza e prosperidade da Nação brasileira.
Aliás, já por ocasião do I Congresso dos Municípios levado a efeito em abril de 1950, em
Petrópolis, puderam sociólogos e estudiosos das chamadas realidades brasileiras pressentir a
significação e as repercussões das iniciativas desta ordem,

* Discurso pronunciado em São Vicente, no II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.


MENSAGEM DO D. A. S. p. AOS PREFEITOS E VEREADORES DO BRASIL 567

A reunião dos líderes e dirigentes autênticos de 1 894 Municípios, para investigação, reexame
e discussão dos respectivos problemas, é acontecimento de conseqüências decisivas - tanto
na órbita federal como no âmbito dos governos locais.
A periódica realização de Congressos de Municípios é, talvez, de agora em diante, o acon-
tecimento fundamental na vida política da Federação, legítimo ato de consciência, de fé, de es-
tímulo da ação positiva.
Sente-se em cada Congresso de Municípios o próprio Brasil que se redescobre, num esfôrço
para conhecer e dominar suas condições peculiares, angústias e perspectivas.
Os Municípios estabelecem ligações mais estreitas uns com os outros; efetuam proveitoso
intercâmbio de idéias, técnicas, ensinamentos e experiências; empreendem uma avaliação mais
exata de suas deficiências, recursos e potencialidades.
O esfôrço conjugado de quase 2 mil entidades d~ govêrno local pesquisando as anomalias
estruturais e funcionais da Federação equivale a uma desapaixonada busca de soluções
razoáveis ou mais convenientes para os problemas locais, regionais e nacionais;
Surgem como resultados imediatos: o conhecimento aprofundado da composição política,
econômica, administrativa e social de cada Município; uma noção mais segura de suas necessi-
dades é possibilidades; a fixação de novos rumos ao desenvolvimento local através da utilização
adequada dos recursos humanos, materiais e institucionais da comunidade
O I Congresso de Municípios foi uma demonstração bastante convincente das transformações
que se operam na mentalidade dos Prefeitos e Vereadores do Brasil, - todos pugnando pela
descentralização geofuncional, pelo fortalecimento econômico-financeiro, pela ampliação da
capacidade de atuação dos respectivos Municípios mediante reivindicação de encargos para-
lelos aos novos recursos pleiteados
Retoma agora êste l i Congresso, com redobrado vigor, a boa orientação contida na Carta
de Declaração de Princípios, Direitos e Reivindicações Municipais ou em pronunciamentos aná-
logos inspirados nas indicações decorrentes da própria experiência de vida das comunidades.
Há uma aspiração generalizada no sentido da formulação de planos e sistemas mais con-
cretos de administração, bem como de um melhor entrosamento entre os órgãos governamentais
que possam- sem o sacrifício das prerrogativas específicas dos Municípios - ajudá-los a exe-
cutar os encargos que lhes foram conferidos.
É todo um conjunto de delicadas relações intergovernamentais e interadministrativas
decorrentes da articulação de interêsses entre a União, os Estados e os Municípios, êstes últimos,
todavia, ainda relegados a uma situação por vêzes aflitiva em face da precariedade e insigni-
ficância de sua participação na partilha tributária.
Um dos resultados mais importantes dêsses Congressos é que Prefeitos e Vereadores ajustam
pontos-de-vista concretos em tôrno de um denominador comum de aspirações e procuram, ao
regressar aos Municípios de origem, dar cumprimento às recomendações ou sugestões porven-
tura aprovadas. Renovam esperanças e retemperam energias na busca de melhores níveis de
bem-estar para os seus munícipes.
Os Congressos de Municípios contribuem para identificar Prefeitos e Vereadores no exame
ponderado de questões ligadas à própria sobrevivência das Comunas, e por isto mesmo revelam
o meio onde se forjam verdadeiros estadistas.
Sendo o Município o agrupamento antropogeográfico fundamental - onde se faz sentir
com mais intensidade o impacto dos problemas cotidianos - é perfeitamente compreensível
serem os Prefeitos e Vereadores os homens capazes de traduzir com objetividade as aspirações
das massas populares do País.
São êles, efetivamente, os melhores intérpretes dos interêsses nacionais.
Por êsse motivo, cumpre-nos aguardar com sincero júbilo os resultados dos estudos, dis-
cussões e entendimentos entre Congressistas oriundos de todos os pontos de nosso Território,
- em sua quase totalidade, homens afeitos aos rudes trabalhos dos currais, campos e fábricas
-fazendeiros, agricultores, comerciantes ou industriais que pretendem assenhorear-se do próprio
destino e sugerir, nos têrmos da respectiva experiência profissional, as providências reclamadas
pelas comunidades que representam.
Nenhuma oportunidade melhor para amplo, corajoso e exaustivo exame das ;,edidas que
visam às soluções em profundidade, de modo a transportar doutrinas e técnicas de desenvol-
vimento municipal para o plano das realizações concretas
568 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

Uma das principais funções dos Congressos de Municípios é contribuir para introdução em
nosso Brasil das modernas práticas da administração local, tecnicamente dirigida, imune a in-
junções de natureza partidária
O povo do Interior, através das suas administrações locais, aguarda com justificada ansiedade,
assistência e orientação técnica na correção dos fatôres que coarctam o desenvolvimento dos
Municípios- fatôres que agravam o desânimo e precipitam a fuga das populações rurais sedu-
zidas pela miragem das cidades.
Os homens de responsabilidades definidas em qualquer dos níveis de govêrno encontram-se,
Srs Prefeitos e Vereadores, justamente apreensivos com a fuga das populações do Interior para
núcleos urbanos já saturados Afigura-se-me o despovoamento do Interior um índice extrema-
mente grave de crises latentes, e nunca se profligarão suficientemente os seus nefastos efeitos
sôbre a estrutura social e econômica da Nação.
Não se deve encobrir a realidade ameaçadora com paliativos côr-de-rosa, nem ignorar a
existência de um problema que é bem o diagrama de uma situação anormal.
Com o desaparecimento das oportunidades de trabalho no interior do País, sentem-se as
massas rurais fascinadas pela miragem de empregos mais bem remunerados nas Capitais e sedes
municipais.
Impõe-se deter, de qualquer maneira, silenciando o apoio insidioso e artificial das cidades,
êsse esvaziamento dos campos e estancamento das fontes de produção. Nenhum planejamento
elaborado para os Municípios pode ignorar ou menosprezar a conveniência de radicação das
massas rurais que constituem mais de 3/4 da população brasileira.
Deve ser também examinada em todos os seus detalhes a perigosa canalização dos recursos
arrecadados nas zonas rurais para aplicação por vêzes desastrosa nas Capitais privilegiadas.
O revigoramento da vida local, a restauração do prestígio do Município pelo fortalecimento
de suas finanças, uma criteriosa redistribuição de encargos, a reorganização da administração
municipal em função das tradições e realidades do meio-ambiente, constituem de fato provi-
dências dignas de cuidadoso exame. Nas condições atuais tais problemas serão resolvidos me-
diante conjugação dos recursos disponíveis nas 3 órbitas de Govêrno.
As medidas porventura tomadas serão todavia materializadas no âmbito municipal.

DIAGRAMA DE UMA SITUAÇÃO ANORMAL

Continuam os Municípios sofrendo as conseqüências da imperfeita distribuição das rendas


públicas, a despeito das tendências favoráveis aos seus interêsses, manifestados na Constituição
de 1946, e de um ligeiro desafôgo da situação financeira proporcionado pelas cotas do Impôsto
de Renda que lhes foram atribuídas.
Todos êles carecem de auxílios substanciais e adequada proteção contra as mutilações de
que são vítimas, tanto em sua área geográfica, como no seu patrimônio demográfico e tribu-
tário.
Nunca é demais insistir sôbre o estrangulamento das iniciativas locais, em virtude dos ex-
cessos de uma centralização levada a limites incompatíveis com o desenvolvimento orgânico
do Município.
É unânime a exigência de uma reação imediata contra absorções paralisantes, gerando a
passividade, a apatia, a perigosa tendência de tudo esperar do Govêrno Central.
Velho mal cujas origens remontam ao primitivismo de uma organização agrária superada
e as tradições centralizadoras das oligarquias sustentadas pelo patriarcado político.
O paradoxo é que no texto das leis estão consubstanciados postulados de cunho eminente-
mente liberal, desde o Ato Adicional de 1834 à nossa atual Carta Magna, passando pela Consti-
tuição de 1891, a qual, sôbre instituir o sistema federativo, pretendeu assegurar a plenitude da
autonomia municipal. Mas essa autonomia, no entanto, é puramente jurídica e formal, por
isto que desprovida de conteúdo econômico e meios de ação.
OLIVEIRA VIANA acentuou com propriedade "o idealismo utópico das nossas elites", o di-
vórcio entre; a realidade nacional e os textos legais.
TAVARES BASTOS, SÍLVIO ROMERO, DOMINGOS jAGUARIBE, CARNEIRO MAIA, jOÃO BARBALHO
e Rui BARBOSA - entre outros - já fizeram, em seus conhecidos trabalhos, o julgamento dêsse
bovarismo político e propugnaram pela descentralização político-administrativa da organização
MENSAGEM DO D . A. S . p . AOS PrmFEITOS E V EREADOrms DO BRASIL 569

nacional - instrumento capaz de levar aos mais afastados rincões do Brasil as vantagens dos
serviços prestados pelos poderes públicos, a onipresença do Estado.
Descentralização que estimula e dignifica as Câmaras Municipais, restaurando-lhes o pres-
tígio e a capacidade de ação desde os primórdios da colonização.
Não é possível, por outro lado, substituir, da noite para o dia, o panorama da vida municipal
brasileira, marcado a fundo pelas absorventes e esterilizantes preocupações das querelas parti-
dárias
A pulverização das facções que se entredevoram, o personalismo, os "arranjos", abusos
de autoridades policiais e privilégios de clãs enquistados, até mesmo nos mais prósperos Muni-
cípios, são dados imediatos da própria fisionomia brasileira.
Como erradicar do complexo sócio-cultural da Nação os "capangas", os "cabos eleitorais",
"correligionários", "compadres", demais comparsas da nossa pitoresca política de campanário,
que urge, todavia, modificar ?
Os textos legais são impotentes para tal empreendimento. Impõem-se corretivos educa-
cionais, esclarecimento da opinião popular e, sobretudo, reorientação da política, no sentido
da execução planejada de obras a longo prazo com estabelecimento de prioridades inadiáveis.
É no Município que o Povo vê e sente de perto a atuação dos órgãos integrantes da máquina
governamental, contemplando, por assim dizer, a transformação dos dispositivos legais em
fatos positivos.
É no âmbito geográfico dos 1 894 Municípios e 5 427 Distritos que os integram que os
serviços públicos se materializam com maior nitidez, realizando os fins do Estado, tocando de
perto homens, mulheres e crianças. Abastecimento d'água, rêde de esgotos e serviços sanitários,
energia elétrica, escolas, proteção de vidas e bens, alimentação, transportes, diversões - em re-
sumo, todos os elementos indispensáveis a uma existência digna.
Neste sentido é que se pode falar na Municipalidade como ponto de apoio e base geofísica
do Estado, fundamento e unidade elementar da organização nacional.
Por tudo isto é que urge facultar aos Municípios os recursos de que carecem e aparelhá-los
para eficiente desempenho dêsses encargos vitais. A fôrça, opulência e prosperidade do Estado só
encontram justificativa na medida em que se restaurar o prestígio do Município e liberar a
capacidade de trabalho dos homens do Interior. Se, como dizia Rur BARBOSA, a Patria é a fa-
mília amplificada- os Municípios são, em última análise, grupos de famílias organizadas, ex·
piorando determinados espaços geoeconômicos, usufruindo certa capacidade de autodetermi-
nação política
Êles são, portanto, algo mais do que um simples produto da técnica organizatória do Estado,
como afirmava PONTES DE MIRANDA.
O soerguimento dos Municípios está na razão direta da assistência dispensada aos que, na
lavoura, na criação do gado, no artesanato, no comércio e nas indústrias locais, no exercício
das profissões liberais e nos serviços públicos, plasmam o destino da nacionalidade e constroem
a grandeza matéria! do País.
Tais objetivos dependem, contudo, de uma ampla renovação estrutural a ser executada,
simultâneamente, de baixo para cima e de cima para baixo, partindo dos Municípios para atingir
o Govêrno Central e, ao mesmo tempo, descendo do Govêrno Federal aos últimos povoados da
República.
Aos Prefeitos e Vereadores do Brasil cabem responsabilidades definidas nessa obra de reno-
vação nacional, somente possível com o saneamento da administração municipal, onde se encon-
tram - nas Prefeituras e Câmaras locais - as melhores fontes para o recrutamento de líderes
e quadros dirigentes do país.
Nenhum programa do Govêrno Federal tem possibilidades de êxito nestes dias pontilhados
de crises e sobressaltos, sem o apoio decisivo das administrações municipais saneadas, imunes
ao perigo de improvisações, corrupção ou disputas facciosas.
Permiti, Senhores, que vos reafirme esta minha crença irredutível na contribuição dos
Municípios à grande reforma de base que o Presidente VARGAS pretende levar a efeito em bene-
fício do Brasil.
Justifico a minha fé no valor da participação das administrações municipais, porque, homem
do Interior precisamente e modéstia à parte, como diria RUBEM BRAGA, de Cachoeira do !tape-
mirim - conheço de perto a perenidade e singular beleza das instituições locais, a boa fé, a tenaz
operosidade dos munícipes.
570 REVISTA BRASILEIRA Dos MuNICÍPIOS

Perdoai-me, mais uma vez, uma ligeira referência pessoal.


Distinguido pela confiança do Presidente GETÚLIO VARGAS, vejo-me dobrado sob a respon-
sabilidade da Direção-Geral do D.A.S.P. e Administração do Plano Salte. Encontro-me, porém,
num singular pôsto de observação que me permite assistir ao funcionamento do mecanismo
estatal brasileiro.
Se alguma mensagem posso transmitir-vos é a de que urge descentralizar, simplificar, aper-
feiçoar, eliminar instâncias interlocutórias, reduzir ou queimar etapas, transferir para os demais
níveis ou órbitas da ação administrativa do Estado, grande parte das atribuições de natureza
executiva.
Cumpre desenvolver a ação supletiva, orientadora e coordenadora do Govêrno Federal,
estimulando, do mesmo passo, a atuação das autoridades locais - tanto mais úteis quanto mais
conscientes de seus deveres.
É preciso utilizar as potencialidades contidas na capacidade de iniciativa dos Governos
Locais, descentralizando e descongestionando, de maneira que homens e órgãos não atinjam o
perigoso ponto de saturação e esgotamento de suas virtualidades.
Nos diferentes níveis de govêrno há espaço para aplicação maciça das técnicas de coope-
ração, acordos, combinações ou convênios, destinados ao ataque sinérgico aos problemas mais
cruciantes das municipalidades. Exatamente alguns problemas arrolados no Temário dêste
vosso Congresso, questões de índole jurídica, econômica, social, administrativa ou puramente
técnica.
O emprêgo mais intenso dos métodos e fórmulas da cooperação intergovernamental como
recurso descentralizador de emergência é particularmente aconselhável na esfera administra-
tiva.
Eis uma área de aperfeiçoamento potencial em que se fazem mister providências imediatas,
quanto à organização e métodos, orçamento, administração de pessoal e material, relações com
o público, documentação e divulgação.
Os dados da experiência universal demonstram que o êxito de quaisquer reformas sanea-
doras da administração depende das medidas tomadas neste campo, aparentemente secundário.
Cumpre encarecer, antes de tudo, providências que objetivem a simplificação de normas e mé-
todos de trabalho, a elevação da produtividade e do rendimento dos serviços, a definição das
responsabilidades individuais, a luta contra tôdas as formas de desperdício.
Esperar do Govêrno Federal a solução de todos os problemas é índice de senilidade precoce.
Nem os governos regionais ou locais podem aceitar o estigma da incapacidade.
O refôrço aos processos e métodos de colaboração técnica, financeira, administrativa, em
tudo quanto se refere à organização da vida rural, à intensificação dos programas de auxílios
e subvenções em bases racionais, ao aparelhamento e funcionamento regular dos mecanismos
ou instrumentalidades realizadoras da Política e da Administração adequadas à vida local pode
servir como ponto de partida.
A êste respeito, o Orçamento adquire novo e relevante sentido como instrumento decisivo
para correção dos desequilíbrios e desníveis verificados no espaço geográfico da União.
Aplicações maciças de recursos em energia, estradas, equipamento, fomento agropecuário
e industrial, luta contra flagelos climáticos e calamidades bio-sociais, desenvolvimento de áreas
retardadas, são alguns aspectos que bastam para realçar a importância da hierarquização das
despesas públicas, a decisiva participação das técnicas de Organização e do Orçamento no apro-
veitamento geral dos espaços econômicos, instituições ou grupos demográficos a serviço do
Brasil.

0 VERDADEIRO MUNICIPALISMO

A Carta de Declaração de Princípios, Direitos e Reivindicações elaborada em abril de 1950,


por ocasião do I Congresso dos Municípios em Petrópolis, contém no seu bôjo - permiti que
vo-lo diga com franqueza de um capixaba - notórias omissões, excrescências e imperfeições.
Não é êste, porém, o momento oportuno para análise das impropriedades ou méritos de um
documento que foi considerado em estudo recente o "Livro de Horas", o "Breviário" da Cam-
panha Municipalista.
Desejo, entretanto, chamar a vossa atenção para•o fato de que a CARTA de Petrópolis
traçou as linhas definidoras de um municipalismo dinâmico, consignando algumas sugestões
MENSAGEM DO D. A. S. p. AOS PREFEITOS E VEREADORES DO BRASIL 571

e indicações sumárias em que se poderá apoiar uma teoria da administração municipal adaptada
às conveniências nacionais.
O Municipalismo legítimo- de TAVARES BASTOS aos nossos dias- restabelece as tradições
de prestígio moral e fôrça política que as Câmaras Municipais gozavam nos primórdios de nossa
história.
(A êste respeito, seja-me permitido observar que infelizmente Câmaras há, neste País, ainda
divorciadas do padrão ideal de compostura, austeridade e espírito público de que justamente
se orgulha a quase totalidade dos nossos Vereadores).
Municipalismo legítimo é o que reage contra a atrofia das iniciativas locais, promovendo
o ressurgimento das potencialidades multifuncionais do Município.
É o reconhecimento da descentralização administrativa como único tipo de organização
compatível com as necessidades de um País de características continentais como o Brasil.
É a luta contra o congestionamento dos centros de decisão do que só pode resultar, neces-
sàriamente, uma divisão mais racional do trabalho mediante redistribuição dos encargos e
responsabilidades diretivas ou executivas.
O Municipalismo verdadeiro encara a autonomia local e suas prerrogativas como impera-
tivo de sobrevivência democrática, mas estabelece, com objetividade, conforme acentua a Carta
de Petrópolis - "a conveniência de uma justa e ponderada distribuição de encargos e deveres
públicos entre as 3 esferas da organização administrativa da República".
O Municipalismo verdadeiro repele a demagogia inoperante; não constitui uma finalidade
em si, apesar da opinião em contrário de alguns patriotas delirantes; é uma atitude do espírito,
uma mentalidade, um estilo de conduta política, um meio de obter, com providências concretas,
a valorização da nossa Terra e da nossa Gente.

Os Novos RUMOS DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

Em sua quase totalidade carecem os Municípios da assistência técnica indispensável ao


planejamento e execução de programas racionais de obras ou serviços de utilidade pública.
Orçamentos reduzidos e deficiência de pessoal especializado são males crônicos que os Es-
tados e a própria União ainda não puderam corrigir, quiçá por motivos idênticos e pela reconhe-
cida obsolência de um aparelhamento governamental incapaz de socorrer as administrações
locais.
Por isso mesmo é que se cogita, no momento, da criação de entidades especializadas, ca-
pazes de assegurar aos Municípios, com a flexibilidade peculiar às emprêsas privadas, a assis-
tência técnica que reclamam.
A Associação Brasileira de Municípios já projetou um organismo dêsse tipo, - o Instituto
Brasileiro de Administração Municipal - ao qual possam as Prefeituras recorrer nos casos,
por exemplo, de reorganizações administrativas, administração financeira e orçamentária, implan-
tação de reformas tributárias e de pessoal, elaboração de planos diretores para sedes municipais
e distritais, serviços de água, luz, esgotos, transportes urbanos, produção, armazenagem, distri-
buição de mercadorias e similares, sempre que não houver possibilidade de obtenção de ajuda
no âmbito dos Estados e da União.
A Assistência Técnica e baixo custo de serviços são uma constante preocupação dos nossos
Prefeitos e Vereadores, como instrumento necessário à restauração do prestígio e elevação dos
níveis de bem-estar das populações e localidades do interior.
Poder-se-ia, talvez, afirmar que os "melhoramentos" urbanísticos concentram grande parte
das preocupações dos Municípios, monopolizando, via de regra, o interêsse de administradores
nem sempre atentos aos perigos de aplicações desastradas ou dissipação dos parcos recursos
disponíveis. Poucas são as cidades brasileiras que dispõem de planos diretores bem elaborados.
Já se percebe, no entanto, uma tendência favorável à aceitação de agências de planejamento
ou Comissões de Desenvolvimento destinadas ao preparo dos planos diretores, coordenação com
outras atividades específicas das municipalidades, dentre as quais não devem ser esquecidas as
de abastecimento d'água, luz e fôrça, postos assistenciais, escolas. Nesse, como nos demais casos
referentes aos interêsses peculiares dos Municípios, o papel a ser desempenhado pela Câmara
é sempre fundamental como um imperativo da própria democracia Municipal.
572 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

A prestação de serviços de assistência técnica aos Municípios vem pôr em evidência o pro-
nunciamento e as aspirações do povo brasileiro no sentido de uma Reforma Administrativa
tão ampla quanto profunda.
Uma reforma ligada à estruturação e funcionamento do mecanismo governamental por
intermédio do qual o Estado realiza os fins que a Carta Magna lhe preestabeleceu.
Reforma tecnicamente planejada e orientada no sentido de uma cautelosa e gradativa exe-
cução.
As razões de ser dessa indispensável reforma foram expostas com lucidez e admirável con-
cisão pelo Presidente GETÚLIO VARGAS em discurso de repercussão nacional Permiti, Senhores
Prefeitos e Vereadores, que vos exponha a síntese dêsse memorável pronunciamento do Primeiro
Magistrado da Nação, na parte em que consagra - êste é o têrmo - e recomenda algumas
providências que de há longa data constituem aspirações generalizadas dos Municípios bra-
sileiros.

REFORMA DA ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DO BRASIL

"Entretanto, para que nos seja possível levar avante todos êsses empreendimentos, que
são de relevante importância para o bem-estar e a felicidade da Nação, para conduzir tantas
tarefas de grande vulto que estão a reclama!" os esforços da administração, é indispensável que
esta seja provida de uma estrutura condizente com a extensão e a complexidade dos problemas
que reclamam a cada hora a iniciativa e a ação governamentais. Desejo hoje, com particular
insistência, chamar a atenção de todos os brasileiros, e de todos os setores da opinião pública,
para a necessidade de uma extensa remodelação dos instrumentos do Estado, de modo a dar-lhes
maior mobilidade, flexibilidade e eficiência no interêsse do país e ao serviço do povo. A estru-
tura administrativa de que dispomos data de uma época inteiramente diversa da realidade com-
plexa e mutável que hoje vivemos, e não acompanhou o curso dos tempos de modo a adaptar-se
às condições agora prevalecentes.
"Em todos os setores, apesar da dedicação e da operosidade da maioria dos servidores, uma
anacrônica maquinaria burocrática e métodos de trabalho já obsoletos estão a retardar e a
comprometer, pela sua reduzida eficiência, o esfôrço de recuperação nacional, protelando a
execução de projetos de relevante interêsse público e cerceando a cada passo a ação do Govêrno.
Governar é sobretudo administrar; é através da administração que o povo sente os benéficos
efeitos àa atividade governamental, assim como, inversamente, as iniciativas do Govêrno podem
ser frustradas pela inércia ou pelo entorpecimento de serviços públicos mal organizados ou ine-
ficientes. A duplicação de serviços, as competições paralisantes, o desperdício dos recursos
da receita pública, tudo está a impor uma reforma que consolide as atividades e as funções de
natureza similar na mesma fôrça de autoridade e na mesma unidade de objetivo. A Nação
paga um ônus pesado por essa falta de ordem administrativa, e o povo já manifesta a impaciência
e a descrença que o assaltam ante as delongas, a morosidade e a ineficiência do aparelhamento
governamental. (GETÚLIO VARGAS)."
O Presidente GETÚLIO VARGAS caracterizou, assim, em traços enérgicos o panorama geral
da administração pública.
A reforma nos têrmos preconizados por Sua Excelência tem para os Municípios do Brasil
interêsse vital como preliminar indispensável à descentralização tão ansiosamente desejada.
Qualquer que seja a reforma preconizada, a experiência de 14 anos de funcionamento do
D.A S.P. inclina-se no sentido de um procedimento por etapas, procurando-se resolver um pro-
blema de cada vez sem, contudo, desligá-lo de uma inevitável articulação com os demais.
A reforma poderá ser conduzida para os objetivos estabelecidos pela Lei, tendo-se em vista,
principalmente, conforme recomendam os mais autorizados especialistas:
"a) estrutura dos órgãos 2-dministrativcs e distribuição de ccmpetências;
b) a organização do pessoal - seleção, manutenção e aperfeiçoamento de pessoal bem
qualificado;
c) práticas administrativi:ts - reforma dos processos gerais da atuação administrativa;
d) modernização, simplificação;
e) elucidação e clareza dos textos legislativos."
MENSAGEjV.f DO D. A. S. p. AOS PREFEITOS E VEHEADORES DO BRASIL 573

Tudo isso representa para os nossos Municípios interêsses vitais, constituindo, mesmo,
constante preocupação de todos os cidadãos esclarecidos que há tantos anos aguardam, com a
descentralização funcional, a vitória da causa municipalista.
Vamos porém concluir. Nem seria possível, nos limites de uma singela palestra, esgotar temas
como os que nos foram dado examinar.
Comparecendo ao li Côngresso Nacional dos Municípios Brasileiros, não venho apenas
transmitir os meus calorosos aplausos aos Prefeitos e Vereadores aqui reunidos. A presença
do D.A.S.P. neste magnífico Congresso de São Vicente tem outro significado profundo.
Não consiste em reafirmar, apenas, o propósito de cooperar e de reiterar a declaração de
que êsse órgão se acha sempre à disposição dos Governos Municipais.
Todos quantos nos têm honrado com um contato mais íntimo, podem testemunhar a sin-
ceridade da nossa atitude.
Não venho, portanto, oferecer o que todos têm o direito de exigir e reclamar.
Venho, humildemente, pedir. Sinceramente convencido da fôrça indestrutível da vossa
união e dos elevados ideais que vos congregam, de aperfeiçoamento das instituições republi-
canas.
Permiti, Senhores Prefeitos e Vereadores do Brasil, que vos faça, neste momento, um ve-
emente e solene apêlo: venho solicitar o vosso encorajamento, e o vosso apoio para a obra -
tanto mais necessária quanto mais difícil - de racionalização da administração pública bra-
sileira.

R R.M.- 5
GOVÊRNO RURAL*
RUI RAMOS
(Deputado Federal)

ISITANDO recentemente os Estados Unidos da América do Norte e procurando ter

V urna idéia geral daquela Civilização, realizamos lá alguns estudos, com a rapidez e a
intensidade possíveis a um curto prazo de seis meses. Para isso freqüentamos duas Uni-
versidades, a primeira no Sul, na Louisiana, em Bâton Rouge, e a segunda em Washington.
Por intermédio desta última - a Universidade Americana - encarnir:harnos o nosso inquérito
para o Departamento Nacional de Agricultura, através do qual desejávamos conhecer corno
conseguiram os Americanos do Norte superar os seus problemas rurais e resolver as sempre
intrincadas relações do Homem com a Terra. Fizemos, então, nesse Departamento o curso
rápido para estrangeiros que é ministrado lá, com a extensão, a liberdade e os recursos que aquêle
povo privilegiado sabe dispensar a assuntos dessa relevância
Há ali um Departamento de Relações Agrícolas Internacionais que ocupa todo um andar
do imenso edifício, o 3. 0 do Mundo. Os estrangeiros, interessados em informações e estudos
agrícolas, inscrevem-se nos assuntos da sua preferência e, mediante horário estabelecido, passam
de secção em secção, e discutem com os técnicos diante de mapas, gráficos e dados estatísticos,
tudo o que possa satisfazer a ânsia de conhecer os problemas indicados na inscrição do visitante.
Nós inscrevemos cinco assuntos capitais: Educação Rural, Saúde Rural, Crédito Agrícola,
Ambiente Rural e Govêrno Rt!ral. Êste último era o assunto da nossa imediata curiosidade,
tão diferente e tão eficiente êle nos tinha parecido, nas visitas que fizéramos às Zonas do Interior
daquele país.
Queremos fazer agora dêste importante assunto a tese da nossa proposição a êste ilustre
Congresso
Diremos, inicialmente, que pelas observações procedidas no país do Norte, tivemos a im-
pressão de que no tipo de Govêrno rural dêles reside um dos segredos do êxito econômico-social
da democracia norte-americana
A princípio não nos foi fácil entender aquêle mecanismo. Em relação aos Estados
Unidos, nunca é possível generalizar-se urna definição ou estabelecer conceitos categóricos e
uniformes relativamente a qualquer problema ou qualquer fenômeno. A liberdade lá é tão
vasta e tão prática, que tudo varia, em tôda parte, ao sabor da vontade soberana dos grupos
locais. A formação do país é tão diversa, de origens tão múltiplas, com tantas raças e costumes
e sistemas políticos que, para preservar a unidade nacional e possibilitar o regime democrático,
a sabedoria e a experiência daquele povo aconselharam permitir o máximo de autonomia às
várias regiões e cidades para se organizarem corno melhor entendessem. Assim, é comum entre
êles os mais variados tipos de govêrno, incluindo mesmo nos Estados da Nova Inglaterra os cha-
mados "town-rneetings" em que se exercita a democracia direta, em plena rua.
Mas, de um modo geral, o ponto capital do segrêdo a que nos referimos reside na diferenciação
entre o Govêrno da cidade e o Govêrno do campo. A essa bipartição, que nós não temos, pode ser
atribuída urna grande parte dos surpreendentes resultados daquela civilização.
No Brasil, de ponta a ponta, a cidade comanda o campo. Vivem as Zonas Rurais corno cau-
datárias do quartel-general da Zona Urbana. O campo, não obstante a prosa lírica com que
lhe tecem ditirambos os intelectuais das avenidas, continua sendo, no Govêrno e na Política do
País, o LÁZARO que vive das migalhas da mesa da minoria citadina. Reduzindo os dois setores a
números exatos, ternos neste sentido o seguinte quadro:

*Tese apresentada ao II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.


GovÊHNO RuHAL 575

Vivem nas Capitais brasileiras 8 314 767 habitantes. Vivem nas sedes dos Municípios
9 092 393 habitantes, o que soma 17 407 160 moradores urbanos. Nas Zonas Rurais, em plena
luta agro-pastoril, vive a massa da nossa população, ou sejam, 35 238 319 habitantes.
Não é o volume populacional que fala em favor do campo. É a produção, a renda e o grupo
da nossa economia básica: o café, o gado, o arroz, o trigo, o cacau, o algodão, a cana-de-açúcar,
a mineração, a madeira, a fruta, a caça, a pesca etc. etc.
É uma verdade fora de discussão: a cidade não vive sem o campo. E o campo sempre viveu
sem a cidade. É o campo que alimenta e possibilita a formação e o desenvolvimento das cidades.
Enquanto que a cidade é para o campo um mero instrumento parasitário de exploração. Re-
sulta disto um fenômeno muito original: a cidade já se habituou a êsse predomínio, que tem
incorporado às suas vantagens, e o campo, por mais estranho e absurdo que pareça, não reage.
Já se conformou com a posição secundária em que vive e, de certo modo, até a explica e justi-
fica.
Há um velho ditado popular que diz que "Deus criou os campos e o diabo inventou as
cidades''..
Entre nós, porém, já nos acostumamos a considerar boas e belas as cidades, e más, tristes
e pobres as campanhas, onde tudo é difícil.
No meu Estado - o Rio Grande do Sul - por exemplo, a palavra "campanha" assumiu,
neste sentido, uma dupla significação, que é largamente usada. Campanha significa campo
mas também quer dizer dificuldade, tão grande é a relação entre o campo e a idéia de luta
para viver nêle. Os gaúchos dizem, comumente: "É uma campanha encontrar-se casa".
"Foi uma campanha para achar carne ou leite". "Temos andado numa campanha de doenças ... "
O próprio ensino das escolas do campo, feito nos mesmos mold,es e pelos mesmos pro-
fessôres de formação urbana, tem contribuído para estabelecer êste conformismo e fortalecer
essa errônea convicção na mentalidade da população camponesa. A professôra que vem da
cidade, suspirando por ela, contando as belezas da praça, do cinema e do carnaval, envenena
a infância rural e cria nela o desejo de ir gozar, também, algum dia, o encanto da cidade.
Tudo isto é, em última análise, o efeito do não govêrno. Tôdas estas deficiências resultam
da inexistência de Govêrno no campo. Para falar em administração e usar os têrmos adequados,
nós só poderíamos dizer que as Zonas rurais no Brasil são subadministradas.
Antes de passar adiante, desejamos frisar que o Brasil é uma civilização de Govêrno, feita
de cima para baixo. Aqui tudo se espera do Govêrno, o pai todo-poderoso, que tudo tem e tudo
pode dar... A nossa formação política, de fundo ditatorial, criou no Povo essa mentalidade de
expectativa, que nos faz olhar para cima à espera do maná que caia do Govêrno ..
Primeiro, fomos uma Colônia de Portugal, e tudo vinha da Metrópole. Depois fomos divi-
didos em Capitanias hereditárias e os Donatários dispunham livremente de vida e bens. Tudo
descia dêles. Depois tivemos Côrte e o povo de tôdas as Províncias esperava pela última palavra
dela.
A nossa Economia foi feita à base dos senhores de engenho, dos grandes fazendeiros lati-
fundiários, que eram outros pequenos Governos locais, todo-poderosos.
Éste fenômeno se generalizou em nossa organização política, de tal modo que, ainda hoje,
em pleno florescimento do regime democrático, o Povo não toma por si as iniciativas mas espera
que o Govêrno faça. Há entre nós uma fronteira nítida entre o interêsse privado e o interêsse
público.
O homem do Distrito está sempre pensando em providência do prefeito. O homem do Mu-
nicípio aguarda que o Govêrno do Estado determine providências. O homem do Estado volta
os seus olhos sempre ao Govêrno federal. Há, invariàvelmente, em todos os níveis, uma transfe-
rência de responsabilidade na ação do interêsse público.
Nos Estados Unidos o Povo faz. Localizado um problema de interêsse coletivo, cria-se logo
um comitê. Discutem-se as causas e as possíveis soluções. Adota-se a melhor solução e toma-se
a iniciativa do empreendimento. O Povo não espera e não gosta de iniciativas do Govêrno.
Considera sempre que as coisas do Govêrno são as piores. Tem tamanha desenvoltura de
atitudes, que faz tudo, em todos os campos do interêsse público, sem depender de qualquer
autorização oficial.
Na Educação, por exemplo, é tão vasta a influência e a contribuição privada e local, que
o Govêrno não tem nem Ministério de Educação, como nós, nem Plano Nacional de Educação,
como nós.
576 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

Tudo é permitido, livremente, à iniciativa das Instituições, não só nos Estados, mas até
nos Distritos Rurais.
As chamadas Juntas de Educação Rural - as "Boards" - têm tal soma de poder e
autoridade que, não só estabelecem programas de ensino, contratam e despedem professôres,
como, não raro, recusam auxílio financeiro do Govêrno, se isso importar em alteração dos seus
próprios planos educacionais para o Distrito.
0 Govêrno, por sua vez, sàbiamente, vai abrindo mão de muitas das suas prerrogativas
e transferindo à iniciativa privada tudo aquilo que ela pode solucionar por si.
Se 0 Govêrno norte-americano fechasse as portas, a vida interna daquele país continuaria
normalmente, quase sem alteração.
Se 0 nosso Govêrno deixasse de funcionar, o nosso País entraria em colapso em quase todos
os campos de atividade.
Em resumo, pode-se dizer que os Estados Unidos da América do Norte são uma Nação
feita pelo Povo, com o auxílio do Govêrno. E o Brasil é uma Nação feita pelo Govêrno, com o
auxílio do Povo. Lá o Povo é o principal. Aqui o principal é o Govêrno.
Se isto é indiscutivelmente certo, se êsse traço representa uma constante da nossa formação,
não podemos nem devemos abrir mão do poder de Govêrno para qualquer empreendimento
novo ou qualquer reforma que se pretenda no campo político-administrativo.
O assunto do momento histórico no Brasil é a Reforma Agrária, sôbre a qual já se tem usado
e abusado da imprensa, do livro e da palavra Agora mesmo, como síntese das idéias em tôrno
da matéria, o Ministério da Agricultura acaba de lançar um grosso volume, reunindo e estudando
as tendências das reformas agrárias no Mundo e no Brasil.
O centio de interêsse do nosso Homem rural está na cidade: a Escola dos filhos, o Médico
da família, o Advogado, a Justiça, o Banco dos seus negócios, as Exatorias onde paga impostos,
a Carteira de Crédito Agrícola onde obtém financiamentos, as Cooperativas, a Farmácia, o
Dentista, tudo. Tôdas as grandes decisões de sua vida, os grandes atos e fatos do seu destino,
são tomados na cidade.
Um dos sonhos mais comuns do homem rural é comprar casa na cidade a pretexto de educar
os filhos. Logo que se considera velho, o homem do campo tende a transferir-se para a cidade.
Como CRISTO disse, em Religião, que onde estivesse o tesouro do homem aí estaria também
o seu coração, nós podemos dizer, em sociologia, que onde estiver o centro de interêsse do
Homem, aí estará êle todo, o seu coração, o seu pensamento, o seu esfôrço.
A Reforma Agrária precisa criar no meio rural brasileiro o centro de interêsse do homem
camponês. E para isso só há um caminho: é Govêrno rural. É instalação de govêrno próprio
nos Distritos rurais, que submeta o Homem do Campo ao Campo e o liberte do jugo secular
da Cidade.
À proporção que o homem rural norte-americano se educou e se desenvolveu e adquiriu
consciência política, começou a reagir contra a influência do homem urbano e a recusar a sua
liderança.
Os interêsses da cidade são tão absorventes, o destino dos problemas dela são tão restritos e
especiais, que não é possível mesmo exigir e esperar que o Prefeito da Cidade ainda tenha tempo
e idéia para cuidar do Campo e planificar e executar medidas tendentes ao seu progresso.
Tenho para mim que chegou a hora de darmos liberdade ao campo, através de autonomia
administrativa e Govêrno próprio, de eleição direta.
A situação de dependência urbana em que vive o camponês é de conseqüências muito mais
sérias do que nos poderá parecer.
Discutimos êste problema longamente, no Departamento de Agricultura de Washington,
com o Dr. TAYLOR, velho e notável sociólogo, professor e autor de obras, conhecedor de todos
os países sul-americanos, onde fêz detidas observações. Disse-nos êle que a ausência de Govêrno
próprio nos meios rurais, criou no camponês sul-americano um "deficit" de mentalidade que é
comum a tôda América do Sul e que consiste no seguinte:
"O homem rural não sabe pensar para querer."
Habituou-se de tal modo a depender de alguém distante, fora do seu meio, que não tem
capacidade de pensar para querer por si mesmo alguma coisa de interêsse coletivo.
O Dr. TAYLOR formulou a mesma pergunta a camponeses de vários dos nossos países:"Que
você faria para melhorar o seu ambiente?" - Ninguém sabia responder. Mas todos, invariàvel-
GovÊnNo RunAL 577

mente, diziam que tinham ouvido dizer que o Govêrno estava para fazer êste ou aquêle melho-
ramento. O tom das respostas era mais ou menos êste, após alguns instantes de hesitação:
"Diz que os homens vão fazer urna estrada ou vão construir urna escola ou urna ponte ou
estão pensando nisto ou naquilo".
O camponês, êle mesmo, não estava presente. Era figura estranha ao futuro empreen-
dimento Ficava, corno sempre, à margem das deliberações e iniciativas. O Govêrno é que
ia fazer, sem êle, alguma coisa para êle, que êle nem sabia bem o que era. Não quer isto
dizer que não tenhamos líderes rurais, homens do Campo que pensem. Existem poucos mas
bons, homens muito inteligentes e capazes, de grande intuição pública. Apenas não são usados
nem ouvidos e por isso não podem exercitar nunca a sua liderança natural no meio ambiente.
Os problemas municipais, quer políticos, quer administrativos, se resolvem na Cidade, entre
os líderes urbanos. Os camponeses já recebem as coisas mastigadas e resta-lhes apenas engolir.
Os Distritos Rurais nem sequer têm, por lei, representação nas Câmaras de Vereadores dos Muni-
cípios. Os subprefeitos dos Distritos, salvo no Estado de Pernambuco, não são eleitos pelo
Povo da Zona Mas apenas nomeados pelo exclusivo critério e interêsse político do Prefeito
da Cidade.
Os impostos e taxas rurais são arrecadados pela e para a Cidade e, rara e escassamente,
voltam à sua origem em serviços públicos. O tributo do camponês vai aumentar os jardins
da praça principal...
Ainda não tivemos, até hoje, um Presidente rural da República, que se dispusesse a go-
vernar com e para os 70% da nossa população que vivem distribuídos, sofrendo o Brasil, ao
longo das nossas imensas extensões interiores.
No dia em que isso acontecesse, mudaríamos a paisagem econômico-social do Brasil no curto
período de 5 anos. Seria então possível e rápida a transferência da Capital da República, a maior
e mais urgente necessidade nacional.
Ter-se-ia a interiorização, a reversão político-administrativa, a estruturação lógica e natural
do País, e em lugar de começar tudo, artificialmente, de cima para baixo, da Nação para o Dis-
trito, como temos vivido até aqui; começaria, então, de baixo para cima, na célula distrital,
que é o germe primário do País Veríamos que em vez de vivermos com os olhos voltados para
a miragem das cidades, estas se voltariam para os campos, sede das riquezas nacionais, fonte
da produção de tôdas as matérias-primas.
Reconhecemos que não será fácil, entre nós, a separação instantânea e uniforme, em Go-
vêrno urbano e Govêrno rural.
Parece-nos, entretanto, que os embaraços a essa solução não serão de grande relevância.
Em primeiro lugar há que considerar os aspectos legais e constitucionais do problema.
A Constituição Federal, em seu Artigo 28, assegurando a autonomia dos Municípios, esta-
beleceu a eleição de Prefeito e Vereadores, bem corno administração própria no que concerne
ao peculiar interêsse do Município.
Quer por êsses têrmos constitucionais, quer pela tradição das nossas Cartas anteriores,
o espírito dêsses dispositivos se orientou no sentido de estabelecer a "eletividade da administra-
ção local".
Salvo melhor juízo, ao nosso espírito não repugna, em face do Artigo 28 da atual Consti-
tuição, a possibilidade de coexistência de um Govêrno urbano e outro rural no Município, por
eleição direta da cidade e do campo, bem como a imposição de taxas e impostos num e noutro
setor.
Comentando precisamente o Artigo 28, diz o eminente jurista PoNTES DE MIRANDA em
seus "Comentários à Constituição de 1946", vol. I, pág. 485:
"Os atuais Municípios brasileiros são demasiado grandes e atingem cidades, vilas, vilarejos,
povoados e fazendas. Os Municípios, quando heterogêneos, devem repartir-se em secções,
que retenham verbas para aplicação local e entreguem outras ao Município ou Comuna. Outra
necessidade é a de separarem-se a administração de certas cidades e das zonas longínquas, nos
atuais municípios. A vigilância pela Província e pelo Estado ê indispensável. Mas dêem-se-
lhes rendas" ...
Parece claro que o eminente jurista, neste trecho, não deixa dúvida sôbre a admissibilidade
da tese que defendemos da instituição bipartida do Govêrno municipal.
As Constituições estaduais variam muito em relação à organização política e administrativa
do Município.
578 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

Quase tôdas dão ao Estado a atribuição de promulgar a Lei orgânica das Comunas.
O Estado do Rio Grande do Sul procedeu com mais acêrto jurídico, neste passo, transferindo
totalmente aos Municípios a faculdade de estabelecer as suas próprias Leis orgânicas.
De qualquer modo, temos a impressão de que, em rigor, apenas essas Leis orgânicas muni-
cipais é que terão de sofrer revisão e reforma se se decidir a instituição do Govêrno Rural sugerido
nesta tese.
Por outro lado, há zonas rurais brasileiras, de população escassa e de possibilidades tribu-
tárias mínimas, que talvez não possam assumir, desde logo, as responsabilidades de uma orga-
nização administrativa própria.
Não obstante isso, a maioria das zonas distritais, em muitos Estados, já está em con-
dições de assumir o seu papel no quadro da vida política do País.
Para execução do nosso plano talvez fôsse aconselhável o estabelecimento de dois tipos de
Município. As cidades de população igual ou superior a 3 000 habitantes teriam Govêrno Urbano,
com taxas e impostos sôbre os habitantes do respectivo perímetro. A Zona rural, compreendendo
os vilarejos e povoados menores, se constituiria em Govêrno Rural, com taxas e impostos próprios
e autoridades de sua livre e direta eleição.
Ninguém poderá duvidar do êxito desta transformação, porque nunca a exercitamos, e o
exemplo dos Estados Unidos, neste sentido, é altamente estimulante. Em muitas zonas rurais
daquele país, êles elegem Govêrno próprio, pelo voto direto dos camponeses. Estabelecem taxas
rurais de educação, de saúde, de estradas, de irrigação etc.
O que lhes falta em recursos, é suplementado pelo Estado.
Lá o Município, propriamente dito, é constituído pela Cidade autônoma.
Assim, situam-se nas vilas da zona rural a sede do Govêrno, as Escolas Consolidadas - as
melhores que se podem ver no país, superiores às da Cidade - a Igreja rural, a Unidade sanitária,
a Agência do Crédito Agrícola, a Côrte de Justiça, visto que o Juiz também é eleito pelo Povo
rural; e ali estão localizadas Agências de Bancos, de Cooperativas e de vários departamentos
do Govêrno, Farmácias, Clínicas dentárias, Casas de Comércio, Clubes Recreativos, para que o
camponês opere no seu próprio meio e sinta nêle o centro dos seus interêsses.
É esta experiência que estamos propondo para o Brasil.
O Movimento Municipalista Brasileiro tem como seu grande alvo a conquista de uma melhor
discriminação de rendas, de maneira a aumentar as receitas municipais e, em conseqüência,
as possibilidades de desenvolvimento dos Municípios
É muito precário, entretanto, êsse objetivo do municipalismo, porque a simples aplicação
de maiores recursos nas Municipalidades importaria apenas em aumentar as condições de
bem-estar das cidades do Interior. O campo, sem Govêrno próprio, continuaria nas mesmas
condições de atraso e subdesenvolvimento, recebendo restos e migalhas.
As novas verbas que fôssem acrescidas aos orçamentos municipais seriam retidas e absor-
vidas pelas sedes e jamais passariam aos Distritos
Estamos insistindo por uma solução mais profunda, de mais forte repercussão do destino
do Homem rural brasileiro.
Cabem transcritas aqui as felizes expressões de GusTAVO LESSA, outro irmão que vem
sofrendo no Brasil a agonia das populações rurais:
"Quando a solução dos problemas relacionados com os interêsses elementares de uma loca-
lidade (seja Distrito ou o que fôr) fica dependente de um Govêrno distante, tal localidade passa
a ser mera expressão geográfica. Os seus habitantes, ainda que coloquem periodicamente cédulas
nas urnas, têm uma cidadania consideràvelmente mutilada. Entorpece-se assim o desenvol-
vimento da solidariedade social, e sem esta a vida local e a nacional definham."
Os norte-americanos da zona rural têm-se inclinado de preferência pela eleição de um grupo
de "Comissioners" - Comissionados rurais.
O Presidente TRUMAN começou a sua carreira política num dêsses cargos.
Éstes constituem como que uma Câmara Distrital de Vereadores, que toma a si o cui-
dado da administração rural, estabelece e cobra taxas e impostos, executa programas e
obras, por intermédio de funcionários de sua livre escolha.
Ésse tipo de Govêrno ou qualquer outra fórmula poderia ser experimentada aqui, desde
que êste Congresso aceitasse a tese preliminar da Constituição de Govêrno Rural no Brasil.
É estranhável e inexplicávei que o nosso eleitorado rural seja convocado, de tempos em
tempos, para eleger o Presidente da República e os seus representantes no Congresso Nacional;
GovÊuNo RuRAL 579

o Governador dos Estados e os Deputados estaduais; o Prefeito dos Municípios e os membros


das Câmaras de Vereadores das Cidades. E só não tenha o privilégio de eleger o seu Govêrno,
do seu Distrito que é a sua casa, o centro natural do seu interêsse.
Nós estamos querendo apenas que se institua, afinal, essa prerrogativa do Distrito, que se
tornará, então, como não pode deixar de ser, a base da pirâmide da nossa organização política.
Em face do. exposto, propomos:
I - que o 11 Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros, entre as suas Resoluções,
adote a instituição da forma primária de Govêrno distrital no Brasil, por sufrágio direto das
populações rurais.
11 - que designe uma Comissão de juristas constitucionalistas para proceder ao exame
do que possa existir colidente com essa forma de Govêrno, nas Constituições Federal e Estaduais
e nas Leis orgânicas dos Municípios.
SERVIÇO SOCIAL RURAL*
RUBENS ASSUNÇÃO MIRANDA
(Do Departamento de Assistência aos
Municípios, do Estado do Paraná)

N UMA tentativa para encontrar a feição real dos problemas sociais do nosso Estado, reali-
zamos elaboração estatística, visando a determinar a importância relativa dos diversos
grupos de assistidos pelo Departamento Social do Estado do Paraná.
Êsse trabalho revelou as seguintes peculiaridades:
a) 88,4% dos casos de assistência são constituídos por elementos oriundos de zonas rurais
do Estado;
h) 62% dêsse contingente apresenta como causa evidente de desajustamento a incapaci-
dade financeira, conseqüência da sua inadaptação ao meio urbano, já que não possuem o mí-
nimo de condições - seja o domínio de profissão urbana, a alfabetização, os hábitos normais
de vida e mesmo a apresentação geral - indispensáveis para a integração efetiva do elemento
ao novo meio social;
c) 31% dos casos da alínea a apresentam como razão do desajustamento as doenças,
embora, pela grande incidência de tuberculose e sífilis, possamos ser conduzidos novamente ao
problema econômico, causa da subnutrição, da falta de agasalho, de horário para refeições e re-
pouso etc;
d) finalmente, 7% dos casos são produzidos por razões especificamente morais, isto é,
pelo abandono do lar.
Dessa forma, verificamos que apenas 11,6% dos 4 000 casos fichados no DA S. são consti-
tuídos por pessoas integradas no meio urbano.
Isso evidencia, acima de qualquer dúvida, que o clímax de nossa Questão Social reside
no interior do Estado.
Assim, apesar do maravilhoso movimento de populações, em direção ao Norte do Paraná,
podemos constatar que o problema do êxodo para os centros urbanos, notadamente a Capital
do Estado, existe, e com intensidade alarmante.
A hipertrofia demográfica do Norte do Estado, se desejável do ponto-de-vista econômico,
traz consigo o grave inconveniente de iniciar a avalanche do êxodo - pois as massas rurais que
não encontram oportunidade de fixação no Norte do Paraná, permanecem em estado flutuante,
deslocando-se continuamente, até atingirem os centros urbanos, onde, não podendo ser assimi-
ladas, caem na dependência do Estado ou de particulares e, sobretudo, concorrem para aumentar
consideràvelmente os índices de delinqüência.

11

Apesar de o problema não ser novo, a solução adotada até agora pelo DA. S. vinha sendo
ineficaz e obsoleta.
Com efeito, adotando-se o critério de amenizar os efeitos do desajustamento, sem lhes co-
gitar das causas, elegeu-se o verdadeiro princípio normativo de serviço a manutenção, aliás,
precaríssima, dos assistidos, seja pela concessão de irrisórias quantias mensais, seja fornecendo
alimentos e fazendas.

Tese apresentada ao II Congresso Nacional dos :rv:'Iunicípios Brasileiros.


SERVIÇO SociAL RuRAL 581

Os resultados dessa orientação não se fizeram esperar: a nova categoria de dependentes,


incentivada no hábito da inatividade por anos seguidos, passou a considerar-se como categoria
de verdadeiros "aposentados" com direitos adquiridos Compreendem-se as dificuldades que
êsse estado de causas veio trazer, quando foi iniciado com firmeza o trabalho penoso de repor
o processo terapêutico em seus verdadeiros têrmos.
A primeira providência adotada, quando constatada a sistemática dos assistidos, por cate-
goria e por natureza, foi criar o Serviço de Assistência Psicotécnica, aliás o único no País; ana-
lisando o assistido do ponto-de-vista médico, de conhecimentos específicos e gerais e sobretudo
de sua capacidade e aptidões - é o mesmo incluído em determinada categoria profissional.
O ponto seguinte tem sido o contato com as firmas empregadoras, revelando os resultados,
o acêrto da providência, pois consegue-se reajustar média de 60 a 80 casos mensalmente.

UI

O processo mencionado em o item anterior é passível de crítica. Com efeito, se tal sistema
é indispensável nos centros urbanos, como órgão cooperador do mercado do trabalho e, sobre-
tudo, como trabalho de profilaxia de desajustamentos sociais, pela colocação ou readaptação
profissional - no caso presente, em que, como vimos, a grande maioria dos assistidos é formada
por elementos do interior, não é o melhor, pois o desajustamento pelo menos afetivo permanece
e, acima dêle, o problema social econômico da diminuição da produção rural por falta de braços.
Sentindo a gravidade dêsse aspecto, foi adotada paralelamente a providência de estimular
os assistidos a retornarem às lidas rurais
Para isso, na ordem de complexidade, enquadramos os seguintes casos:
a) fornecimento de homens ou famílias a fazendeiros, asseguradas por parte dêstes con-
dições razoáveis de habitações e salário;
b) recolocação de indivíduos proprietários de pequenas áreas, com o auxílio da Carteira
de Crédito Agrícola do Banco do Brasil;
c) recolocação de arrendatários.
Esta última categoria, constituída por pessoas que não possuem propriedade alguma, é
a que exige trabalho mais complexo.
Com efeito, por não apresentarem o mínimo de garantias para transacionar com o Banco do
Brasil, o financiamento pela respectiva Carteira só pode ser feito pela modalidade de safra
pendente; depois de devidamente localizado o arrendatário, o contrato de arrendamento em per-
feita ordem e a safra em curso, é que o Banco do Brasil financia na base de 1/3 do valor da
produção provável, estimada por funcionário técnico daquela entidade bancária.
Compreendem-se, entretanto, as dificuldades para levar o assistido até essa fase, compatível
com o financiamento
Entretanto, existem já 21 casos dêsses em pleno trabalho rural
A técnica tem sido a seguinte:
a) despertar a cooperação moral e o entusiasmo do assistido pela nova orientação;
b) estudar qual a região do Estado em que maiores possibilidades de adaptação e sucesso
podem oferecer-lhe, já por condições climáticas, já pelo conhecimento maior que êle possa ter
das culturas que nessa região se implantem;
c) localizar terras em condições de arrendamento, o que não tem sido difícil graças à pro-
verbial solidariedade dos proprietários brasileiros;
d) elaborar, face à área e condições de mercado, o plano de produção;
e) firmar, com o assistido, compromisso legal, em que o mesmo se comprometa a reembolsar
o Serviço de Assistência Social Psicotécnica no que lhe fôr dado, por ocasião da colheita e, mais,
instalar uma privada com fossa, organizar pequena horta e seguir outras recomendações que
lhe forem sugeridas pela orientadora doméstica, visando à higiene e estética do lar;
f) assistir o cidadão com alimentos, regularmente, algumas ferramentas indispensáveis
e o pagamento dos emolumentos contratuais quando existirem.
g) germinadas as sementes, entra a produção na fase de "safra pendente" e transfere-se,
com tôda a assistência jurídica necessária, o caso para a alçada do Banco do Brasil.
Acreditamos que os resultados, quer como recuperação social, quer como providência vi-
sando ao reequilíbrio de nossa produção rural, sejam plenamente satisfatórios.
582 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

Entretanto, o simples estudo das nossas dotações orçamentárias Indica limitação irremo-
vível.
Se é possível operar, como se faz, com número reduzido de assistidos, a generalização do
processo, necessária por todos os títulos, torna-se impossível, por falta de recursos.

IV

Apesar de nossa larga expenencia, como homem do Interior, procuramos estudar como 0
problema é tratado em São Paulo e em Minas Gerais.
Foi-nos dado a conhecer o trabalho que representa, comprovadamente, o ponto mais alto
da experiência internacional no setor da recuperação do homem rural.
Com base nesse estudo, tomamos a liberdade de elaborar um esbôço de Plano.
Antes, porém, convirá considerar-se alguns pontos que nos parecem fundamentais:
a) nenhum trabalho técnico poderá ser levado a efeito prescindindo-se do elemento hc.mano
especializado e experiente:
h) a formação dêsse elemento técnico demanda tempo e gastos, devendo constituir mesmo,
tal trabalho, fase preliminar de ação, sendo de todo inconveniente iniciar-se a execução com
elementos não especializados ou imaturos;
c) por outro lado, essa formação não pode ser feita em cursos e locais que apenas exibam,
na denominação, palavras que façam supor correlação direta ou remota com a atividade em
cogitação. É indispensável que essa operação cumpra-se através da orientação de técnicos
cuja vida profissional mesma seja o atestado de eficiência do seu trabalho;
d) o ideal, dadas as condições de urgência do problema, seria dispor a Fundação de uma
equipe experimentada, que, paralelamente ao próprio trabalho de instalação e execução de ser-
viços, fôsse formando novos contingentes de especialistas;
e) o contrato, porém, de equipe nessas condições seria por demais oneroso, bem como o
mercenarismo de sua condição faria supor a inexistência daquele interêsse vital que deve carac-
terizar trabalhos sociais.
Como resolver, pois, da melhor forma, o problema em discussão?
Pensando prestar real serviço ao Brasil e em particular ao Paraná, tomamos a liberdade
de estudar diversas soluções possíveis, dentro daquelas premissas, cujo esquema é o seguinte:
1 Por motivos de ordem sociológica e sobretudo como medida de preservação racional
de nossa filosofia de vida, os EE.UU conceberam um programa de ação, dentro do qual destaca-
se o que todos conhecemos por Ponto IV.
2 Dentro dêle, e com a cooperação, na América Latina, do Sr. NÉLSON ROCKFELLER,
está o Govêrno Americano invertendo grande soma, aplicada em pagamento de técnicos e em
equipamento especializado.
3 A experiência de quase quatro anos, em São Paulo e em Minas Gerais, demonstra
à saciedade o acêrto e a conveniência, para nós, dos planos adotados.
4 Os trabalhos, em referência, são feitos em colaboração com os Governos ou entidades
particulares nacionais, contribuindo a American International Association for Economic and
Social Development (A.I.A.) com técnicos largamente experimentados em trabalhos congê-
neres, neste e demais continentes, e também com equipamentos, pràticamente gratuitos, pois
são pagos com seu numerário próprio, bastando, para tanto, que a entidade nacional contratante
contribua com certa quantia para a complementação dos serviços.
5. Em Minas Gerais, por exemplo, para a constituição da A. C A.R., a contribuição do
Govêrno mineiro foi, inicialmente, menor do que a da A.I.A. para ir crescendo, visando a
autarquia completa, com o crescimento de suas possibilidades próprias, principalmente de ordem
técnica.
6. Apesar dos insistentes pedidos de diversas partes do Brasil, e de outros países da Amé-
rica, a A.I.A. só concordou em atuar, até agora, nos dois Estados citados, no Paraguai e em Cuba.
7. Entretanto, os responsáveis americanos aquiesceram em estudar com a Fundação
Paranaense de Assistência ao Trabalhador Rural um Plano de Prestação de Serviços, que, sem
nenhum compromisso, sugerimos nós obedecesse às seguintes linhas mestras:
SERVIÇO SociAL RuRAL 583

v
I - A F.A.T.R. e a A.I.A. efetuarão acôrdo, com duração inicial de dois anos, visando
a, independente das demais atribuições da Fundação, criar a Associação de Crédito Rural Edu-
cativo Supervisionado (A.C.R.E.S.).
II - A A C.R.E.S. será órgão exclusivamente técnico, integrado por profissionais ame·
ricanos e brasileiros mantidos por verba constituída pelas participações da A.I.A. e da F.A.T.R.
III - A participação da A.I.A. será em cada período menor, ao passo que crescerá a da
F.A.T.R., tendendo para forma em que a entidade (A.C.R.E S.) seja exclusivamente paranaense,
podendo, dêsse modo, empregar a A.I.A, os seus recursos financeiros e os seus técnicos em outros
locais que o necessitem.
IV - A A.C.R.E.S. terá objetivos preponderantemente educativos, operando sôbre indi-
víduos ou sôbre grupos, de duas formas distintas:
a) - Prestando assistência e dando crédito.
h) - Prestando exclusivamente assistência.
V - Em qualquer caso os trabalhos da A.C.R.E.S. visarão sempre ao assistido em seu
múltiplo aspecto moral, financeiro, técnico, rural e higiênico.
VI - A A C R E S. será administrada, dentro do seu regulamento próprio, da seguinte
maneira:
a) Junta Administrativa, composta de 4 membros, sendo dois americanos e dois parana-
enses. O presidente da Junta será brasileiro.
h) Diretoria Técnica, constituída por um Diretor americano e um subdiretor paranaense.
c) Subordinados diretamente à Diretoria Técnica existirão dois serviços:
Serviço de Contabilidade.
2. Serviço de formação do pessoal técnico, funcionando, sob orientação da A C.R.E.S.,
em acôrdo com estabelecimentos de ensino superior técnicos.
d) A A. C R.E.S. funcionará em um escritório central, situado em Curitiba, comandando
Escritórios Regionais de Instalação progressiva, em acôrdo com o estudo da Região e que, por
sua vez coordenam o trabalho dos escritórios locais, permanentes, situados nas zonas de operação
direta.
e) No Escritório Central existirão, além da Diretoria Técnica, 3 divisões:
1 Divisão de Higiene e Educação Doméstica.
2 Divisão de Crédito Supervisionado
3 Divisão de Organização da Comunidade.
f) Nos Escritórios Regionais existirão um técnico em crédito, extensão e fomento, uma
Orientadora doméstica e uma Escriturária.
g) Nos Escritórios Locais existirão um Agrônomo, Supervisionador, uma Orientadora do-
méstica e uma Escriturária.
h) O processo de financiamento ou de assistência iniciado por petição do interessado,
ao Escritório Local, mediante formulário próprio acompanhado de procuração se o peticionário
fôr analfabeto.
i) A concessão do financiamento (já que a assistência será prestada em qualquer caso)
dependerá da aprovação do Conselho Local. Êste é integrado, via de regra, pelo padre, o médico,
o farmacêutico, o tabelião etc., os quais não fazem jus a qualquer gratificação. A função prin-
cipal do Conselho é reforçar os liames morais que gravam o compromisso assumido pelo mutu-
ário, já que nêle estão representadas a autoridade moral e outras consideradas sempre como
moralmente preponderantes, pelo cidadão rural.
j) Aprovado pelo Supervisionador Local - após estudo minucioso das condições da
propriedade e da melhor orientação do trabalho, visando não apenas a aumentar a renda do
mutuário, mas sobretudo elevar o seu padrão moral higiênico e material de vida- DESLOCA-SE
o Supervisor Regional até o Escritório Local, para evitar o entrave burocrático e ao mesmo tempo
para confirmar "de visu" a interpretação do Supervisor Local, apondo a sua aprovação.
Em seguida é o processo de financiamento integrado por todos os formulários necessários
encaminhado ao Escritório Central, onde é preparado o contrato com a entidade de crédito.

NOTA - Cada divisão será dirigida por técnico americano, assessorado por paranaense, tendo, além do
pessoal técnico respectivo e necessário, uma Escriturária.
584 REVISTA BRASILEIHA DOS MUNICÍPIOS

k) Aprovado nessa última instância, abre-se ao mutuário uma conta-corrente podendo


as retiradas, até o limite previsto, serem feitas livremente, por meio de cheques que, entretanto,
devem levar, obrigatoriamente, visto do supervisor local.
O estudo que efetuamos no funcionamento da A C A.R., em Minas Gerais, revelou fatos
surpreendentes: por exemplo, enquanto os atrasos e falta de pagamento dos mutuários da Car-
teira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil, atinge às vêzes, 41%, recorrendo os mesmos a leis
especiais e moratórias, como é do conhecimento geral - a "delinqüência", na terminologia
americana, foi em Minas Gerais, sôbre um total de Cr$ 11 684 395,00 em três anos, apenas de
1,49% sôbre os vencidos até maio de 1952.
Acrescente-se, outrossim, que, pelo conhecimento pessoal do Supervisor Local, acredita
a A C.A R. que nem um dos mesmos deixará de ser pago, embora em alguns casos seja necessário
recorrer-se à reforma e suplementação do empréstimo.
Igualmente, são singulares os dados estatísticos elaborados com as fichas destinadas ao
registro do progresso do mutuário.

CONCLUSÕES

Finalizando, tomamos a liberdade de submeter à discussão dêste egrégio Congresso as se-


guintes proposições:
1) - Que seja complementado o regulamento da Carteira de Crédito Agrícola do Banco
do Brasil, no sentido da transformação do atual crédito financeiro, em crédito sobretudo educa·
tivo, nos têrmos da justificação desta tese.
2) - Que os Governos federal, estaduais e municipais, incentivem a criação, por entidades
particulares de Associações de Crédito Educativo Supervisionado.
--
CONCEITUAÇAO DE BENEFICIO -
DE ORDEM RURAL*
ULYSSES BRAGA JÚNIOR
(Presidente da Comissão Preparatória da
Representação Alagoana ao II Congresso
Nacional dos Munícipios Brasileiros)

A
CONSTITUIÇÃO de 1946, no parágrafo 4. 0 do Artigo 15, dispôs que "a União entregará
aos Municípios, excluídos os das Capitais, dez por cento do total que arrecadar do impôsto
de que trata o n. 0 IV, feita a distribuição em partes iguais e aplicando-se, pelo menos,
metade da importância em benefícios de ordezn tural".
O dispositivo não encontra similar nas Constituições anteriores e surgiu duma emenda
do constituinte MÁRIO MAZAGÃo ao anteprojeto da Constituição, que mandava o Estado
subsidiar o Município até a concorrência da metade do que a arrecadação estadual, no respectivo
território, excedesse dos tributos e rendas municipais.
O anteprojeto, assim, beneficiava o Município com sacrifício do Estado, já tão alcançado
na partilha tributária, e o encargo era transferido à União pela emenda MAZAGÃo.
Vitoriosa na Comissão Constitucional, o plenário apenas a aperfeiçoou acentuando as ten-
dências dos constituintes para levar a ajuda dos Poderes Públicos ao interior do Pais. E com
excluir da liberalidade as Capitais, o legislador acrescentou que metade da importância seria
empregada em benefícios de ordem rural.
Pouco se fêz até hoje, porém, para disciplinar a aplicação do auxílio nos têrmos do que
rezava a Constituição. Para o autor da emenda a conceituação do benefício de ordem rural
se entendia com o homem: abrir escolas, estradas, hospitais.
A Lei número 305, de 18 de julho de 1948, regulando a distribuição da quota do impôsto
de renda aos Municípios, quase nada contribuiu para melhor cumprimento da exigência da Lei
Magna, senão que "no ano seguinte ao do recebimento da respectiva quota, ca,da Município
enviará ao Congresso Nacional e ao Ministério da Fazenda, um relatório acêrca da aplicação
que lhe houver dado, para comprovação de que foi observada a parte final do parágrafo 4. 0
do Artigo 15 da Constituição Federal" (Art. 5. 0 ).
O Decreto número 25 252, de 22 de julho de 1948, baixado também para regular o assunto,
insere apenas digno de nota que "o relatório a que alude o Artigo 5. 0 da Lei n. 0 305, acima referida,
deverá ser remetido à Diretoria das Rendas Internas", no que há a assinalar apenas que como
decreto executivo revoga disposição de lei aprovada pelo Congresso...
Um Convênio interadministrativo celebrado entre o Govêrno Estadual e os Governos
Municipais do Espírito Santo em 1949 entendeu como benefícios de ordem rural "aquêles que
correspondem às necessidades do campo, compreendendo-se como tais o amanho da terra, o
fomento da produção, a saúde, a educação, o saneamento, a construção e conservação de es-
tradas de rodagem, a execução de obras para confôrto e diversões sadias das populações rurí-
colas etc."
E a Carta de Declaração de Princípios, Direitos e Reivindicações Municipais, promulgada
pelos representantes dos Municípios brasileiros reunidos no I Congresso Nacional, em Petrópolis,
em abril de 1950, entendeu "como características de benefício de ordem rural, para fins do es-
tabelecido no parágrafo 4. 0 do Art. 15 da Constituição Federal, as despesas realizadas com a
execução de obras ou a prestação de serviços que atendam às necessidades de natureza coletiva

Tese apresentada ao II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.


586 REVISTA BnASILEIRA nos MuNICÍPIOS

da zona rural, sem obrigar, contudo, os Municípios ao pagamento de qualquer impôsto, taxa
ou contribuição especial pelo gôzo de tais benefícios" (Item VI).
últimamente, porém, o ilustre Deputado PESSOA DE ARAÚJO, em Projeto de lei apre-
sentado à Câmara Federal, n. 0 1 814, visou definir ao que se deve entender por benefício de
ordem rural para efeito da aplicação das quotas do impôsto sôbre a renda de que trata o Art. 15,
parágrafo 4.o da Constituição Federal. Segundo o autor do projeto, como tal se entendem as
aplicações feitas exclusivamente em atividades reprodutivas da agricultura, pecuária e indústrias
rurais. E enumera como atividades reprodutivas na agricuitura: a) aquisição de material
agrícola, arame farpado, grampos, veículos, maquinaria em geral, sementes, mudas, inseticidas,
fungicidas, parasiticidas, material para irrigação, inch1sive bombas e motores destinados à assis-
tência do agricultor, mediante empréstimo, revenda ou cessão a título gratuito; h) construção
de silos e armazéns para guarda e conservação da produção municipal; c) construção de açudes
e poços profundos de utilidade pública; d) criação e manutenção de escolas ou cursos espe-
cializados de capatazes e técnicos agrícolas e cursos ambulantes de ensino rural; e) pagamento
de pessoal destinado aos serviços agrícolas, inclusive agrônomos e tratoristas; f) abertura de
estradas que visem ao escoamento da produção dos distritos para a sede ou para rodovias pró-
ximas. As atividades reprodutivas na pecuária se distinguem; a) aquisição de material de
defesa sanitária animal como vacinas, seringas, material apícula e de avicultura, instrumentos
cirúrgicos e remédios destinados à assistência dos rebanhos, sua revenda, locação ou cessão a
título gratuito; h) aquisição de reprodutores de boa raça, adaptados às peculiaridades de clima
e condições locais, para melhoria dos rebanhos; c) construção de silos e aguadas; d) criação
e manutenção de escolas ou cursos destinados à preparação de pessoal especializado em pecuária;
e) pagamento de veterinários e pessoal destinado aos serviços de pecuária. Como atividades
reprodutivas na indústria o projeto discrimina: a) aquisição de máquinas destinadas à transfor-
formação ou beneficiamento de matéria-prima de produção local, como moinhos, fábricas de
laticínios, beneficiadores de produtos agrícolas ou pastoris, de preferência para atender a or-
ganizações cooperativistas de produtos rurais, ou a sua revenda aos industriais; h) aquisição
e revenda, de máquinas e instrumentos para o incremento de indústrias domésticas ou sua cessão
mediante locação. O projeto admite que as Prefeituras criem serviços especializados de fomento
à produção ou façam convênios com serviços similares federais ou estaduais:
Embora não se possa censurar a preocupação essencialmente reprodutiva do projeto em
relação à aplicação da quota do impôsto de renda, é de considerar que a intenção do legislador
constituinte visou mais ao aspecto social da assistência ao homem do Interior, pois que da parte
da produção agrícola, pecuária ou industrial há serviços públ~cos a cuidar. O autor da emenda
conceituava o benefício como se entendendo em relação ao homem: abrir escolas, estradas,
hospitais.
Não é de outra maneira que se expressa em relação ao Projeto 1 814 da Câmara dos De-
putados a Comissão Nacional de Política Agrária, ouvida a respeito, quando afirma: "O pro-
jeto estabelece como "benefícios de ordem rural" o que chama "atividades reprodutivas na
agricultura, pecuária e indústrias rurais" e na especificação do que como tal deve ser considerado,
inclui principalmente equipamento técnico, em seu amplo sentido, bem como ensino pro-
fissional. Evidentemente, tais aspectos já constituem considerável campo de atividade no
meio rural, parecendo, todavia, que deveriam abranger, de igual modo, obras ou prestações
de serviços que dissessem respeito ao bem-estar do homem rural. Saúde pública, higiene,
saneamento, habitação, recreação são também benefícios de que necessita o homem do campo.
As nossas populações rurais reclamam justamente benefícios desta natureza, que lhes valorizem
não só as condições físicas, mas ainda lhes dêem condições de sociabilidade e de gregarismo".
Esta tese, que é a do autor da emenda constitucional, teve um defensor na Comissão de
Economia da Câmara, o Sr. ÍRIS MEINBERG, quando se discutiu o projeto, afirmou que na sua
opinião "o objetivo do constituinte foi dirigir a aplicação dos recursos não às atividades rurais
que cada um desenvolve, mas ao próprio homem rural, o rurícola, que tanto carece de assis-
tência médica, higiênica e social".
Uma vez que o II Congresso Nacional dos Municípios está sendo anunciado como devendo
ter feição mais objetiva do que o anterior, que se preocupou mais com os princípios doutrinários,
parece que é êste o momento próprio para se recomendar normas no tocante à aplicação da quota
do impôsto de renda destinada a benefícios de ordem rural, tomando a orientação daqueles que
a destinam ao próprio homem e não às atividades que desenvolve.
CoNCEITUAÇÃo DE BENEFÍCIO DE ÜRDEM RuRAL 587

Conceituada assim a medida constitucional, devemos considerar a impossibilidade de o


Município, com a máquina administrativa de que dispõe, realizar alguma causa de realmente
útil e duradoura em relação à assistência social de que o homem do Interior carece. O lógico
seria admitir a hipótese de concertarem os Municípios convênios com órgãos nacionais já vol-
tados a essa tarefa, que pela amplidão e perfeição dos métodos utilizados pudessem executar
uma tarefa que não constituísse puro esbanjamento do dinheiro que a Nação exige que se aplique
em benefício de ordem rural em favor do homem do campo. Êste órgão parece-nos que será o
futuro Serviço Social Rural, prestes a ser criado e do qual se espera um plano nacional em bene-
fício das "populações rurais. O S.S.R. tem por fim a prestação de serviços sociais no meio rural,
visando à melhoria das condições de vida de sua população, especialmente no que concerne à
alimentação, ao vestuário, à habitação, à saúde, à educação, à assistência sanitária, ao incentivo
à atividade produtora e a quaisquer empreendimentos, de molde a valorizar o ruralista e fixá-lo
à terra. Destina-se ainda o S.S.R.: a) promover a aprendizagem e o aperfeiçoamento das
técnicas de trabalho adequadas ao meio rural; b) a fomentar no meio rural a economia das
pequenas propriedades e as atividades domésticas; c) a incentivar a criação de comunidades
cooperativas ou associações rurais; d) a realizar inquéritos e estudos para conhecimento e
divulgação das necessidades sociais e econômicas do homem do campo.
Dentro dêsse vasto campo de ação alcançado pelo Serviço Social Rural, os Municípios po-
deriam retirar a oportunidade de realização de uma obra devidamente planejada, sobretudo
aquêles que não disporem de técnicos suficientes para a realização de trabalhos ou serviços que
beneficiem a população rural.
Assim propomos:
~ que o II Congresso N acionai dos Municípios conceitue como sendo benefício de ordem
rural, a que se refere o parágrafo IV do Art. 15 da Constituição Federal, aquêles que
se entendam não só com as atividades que desenvolva, mas sobretudo com o próprio
homem do campo;
- que seja recomendado aos Municípios deleguem ao Serviço Social Rural, mediante
convênio, ~ompetência para aplicar dentro do plano nacional a ser estabelecido, metade
da quota do impôsto de renda obrigatõriamente destinada a emprêgo em benefícios
de ordem rural.
A ESCOLA RURAL NO MUNICÍPIO*
JOSÉ STÊNIO LOPES
(Da A.B.M. - Seção do Ceará)

U
M país adulto tem sempre graves problemas a embaraçar o seu avanço. Além daqueles
que vieram sem solução do passado, acrescentam-se os que são criados pelas novas con-
dições de vida que chegam.
O Brasil de hoje tem agravados velhos problemas que êle arrasta consigo, embaraçando o
seu desenvolvimento, através de mais de cem anos de autonomia política. E novos problemas
àqueles se ajuntaram, apresentando atualmente o País um imenso conglomerado de entraves
ao seu progresso humano e material.
Há sempre o perigo de ficarmos demais impressionados com o problema do momento, que
procuramos resolver isoladamente, esquecendo-nos de que não há problemas isolados numa
Nação. Verifica-se a uma observação mais detida de nossas causas que as nossas deficiências
provêm de fatôres primários que não levamos bastante em conta, quando determinamos dar
solução imediata e direta a tal ou qual problema.
Vimos, por eJ<emplo, como se preocuparam os brasileiros, de alguns anos a esta parte, com
a industrialização do País. Fizemos todos os esforços possíveis neste sentido. E não conseguimos
realizar plenamente os nossos objetivos Havia fatôres primários que entravavam o surto
industrial do País. Faltava-nos uma vida rural organizada, a um tempo como fonte de matérias-
-primas indispensáveis e como mercado consumidor.
Voltamo-nos agora para a reforma da vida rural. Pregamos a mecanização da lavoura.
Esquecemo-nos de algumas das causas fundamentais da debilidade de nossa economia rural.
E assim por diante.
Passamos o tempo a recomeçar. Se olharmos o setor político, não se passam diferentemente
as causas Fêz-se a revolução de 1930, porque muitos sentiram que nossa vida pública estava
perigosamente alterada, ameaçando a própria integridade nacional Mas uma outra revolução
se seguiu (o "estado novo") que, por sua vez, foi repelida, para voltarmos a fórmulas políticas
possivelmente mais adulteradas do que as de 1930.
No meio de tôdas essas indecisões e tentativas descontínuas para vencermos a marcha e co-
locarmos o País numa trilha segura, como o avião que se alça sôbre a tempestade para voar
num céu tranqüilo, se nos detivermos em analisar em profundidade as causas do nosso atraso,
encontraremos certos problemas de base sôbre os quais vamos passando, como se fôsse possível
esperar que êles se anulassem por si mesmos, sem a nossa intervenção direta e decidida. Há
uma fórmula vaga que tem servido, admiràvelmente, para a indolência nacional, e válida quer
se trate de problemas individuais, quer de coletivos. "Demos tempo ao tempo" - parece
que tem sido a nossa norma de ação.
Mas o tempo não resolve nada por si mesmo. E a velocidade dos nossos dias já não admite
uma fórmula que há cem anos poderia iludir. Com efeito, olhemos o que ocorre nesta metade
de século. As invenções se sm ;dem num ritmo de alarmante aceleramento, quando antes de
1850 feliz era o lustro, o decênio, o próprio meio-século que assistia a qualquer invenção que
revolucionava a técnica e a própria vida humana.
A técnica toma cada vez lugar mais saliente na vida humana e no domínio que o homem
deve exercer sôbre o meio. E técnica não é fruto de improvisação. Não se incorpora a uma so-
ciedade por simples aproximação. Tem que ser assimilada num aprendizado vivo e funcional
E êsse aprendizado exige do homem uma base de conhecimentos elementares e fundamentais
que lhe são dados pelo que se convencionou chamar de "escola primária".
Tese apresentada ao II Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.
A EscoLA RúRAL NO MuNICÍPIO 589

A REALIDADE ESCOLAR NO MUNICÍPIO

Vejamos que espécie de "escola" têm os Municípios cearenses, a fim de podermos ressaltar
a importância das conclusões a que chegaremos. Vamos tomar por base dos nossos argumentos
o que se observa, primeiramente, no setor estadual.
Em principio, o Estado tomou a seu cargo a direção, a organização e a distribuição do ensino
primário.
Na sede do Município existe, geralmente, um grupo escolar estadual. Êste é, via de regra,
mal aparelhado e funciona em prédio apertado, sem o mobiliário adequado e suficiente, sem
o material didático indispensável.
A única cousa que se aproveita nesses grupos, é o pessoal. Não falamos do ponto-de-vista
técnico, porque, em geral, as escolas normais cearenses não fornecem o tipo de professôra para
a qualidade de escola necessária ao Interior. Abrimos uma honrosa exceção para a formação
ministrada pela Escola Normal Rural de Juàzeiro.
Falamos sob o aspecto da capacidade intelectual e disposições para o trabalho educativo
que revela o professorado primário do Ceará. A professôra cearense pode ser considerada ex-
celente. Mal paga, sem estímulo e sem ajuda técnica, ela vem realizando sozinha o pouco que
se tem conseguido na educação primária do nosso povo.
Afora o grupo escolar da sede do Município, o Estado mantém escolas isoladas nas sedes
dos Distritos. São as chamadas escolas "elementares", providas por professôras "auxiliares"-
moças esforçadas, dedicadas, mas raramente diplomadas. O Estado conta atualmente com
cêrca de 2 400 professôras, das quais menos da metade se constitui de normalistas diplomadas!
Isto não vem, aliás, muito ao caso, porque, como dissemos, as normalistas não são,
via de regra, preparadas para a tarefa educativa no campo.
A existência dessas escolas isoladas nos Municípios varia imensamente. Tomemos como
significativos os índices seguintes: o Município mais bem servido de escolas estaduais é Crato
com 1 professôra para cada 147 crianças em idade escolar; e o Município pior servido por escolas
estaduais é Nova Russas com 1 professôra para 1 132 crianças em idade escolar.
Num documento oficial, o Govêrno do Estado publicou êste ano esta confissão bastante
grave: "Quando se examina, ainda que superficialmente, a estatística da situação do ensino
primário no Ceará, a impressão que se experimenta é de desolação e angústia, embora o quadro
se reproduza pelo Brasil em fora como um imenso problema nacional".
"Considere-se ainda, para completar êste quadro doloroso, que as escolas estão localizadas
em prédios impróprios, sem instalações convenientes, sem o material mínimo indispensável,
e ministram um ensino incompatível com as exigências e peculiaridades do meio cearense".
("Campanha de Educação Rural - 1.• etapa: Vale do Cariri" - Iniciativa do Govêrno do
Estado - Imprensa Oficial, 1952, pág. 24).
O mal maior, porém, reside na falta de fiscalização e de orientação para as escolas primárias
do Estado. Há no Ceará 15 Delegacias Regionais do Ensino Primário. Os Delegados de Ensino
não são gente especializada. Ültimamente, nem concursos públicos se fazem para sua escolha.
E alguns dêles não residem em suas sedes, quando as suas regiões são próximas da Capital.
O ordenado dos Delegados de Ensino (Cr$ 2 200,00) não atrai pessoal competente. E
não existe nada que se possa chamar de equipamento de uma delegacia de ensino. Existem
somente os cargos e as pessoas que os ocupam. Um Delegado de Ensino não possui máquina de
escrever, fichário, mesa, arquivo, material de expediente, sede alugada, nada numa palavra
que possa evocar a idéia de uma repartição pública.
Uma vez por ano, passa o Delegado de Ensino pelas escolas de sua jurisdição. Escolas
isoladas mais distantes da sede vivem anos sem a passagem apressada, esporádica e, por muitos
motivos, inútil, do Delegado de Ensino.
Inútil, porque essa autoridade, presumivelmente técnica, não exerce nenhuma função válida
na região. Seu trabdho se reduz à função burocrática de mandar à Secretaria de Educação,
distante e indiferente, a lista das escolas visitadas no mês, com ligeiras observações comple-
mentares, eventualmente com pedidos de material que não podem ser atendidos.
Função pedagógica, de orientação? Nenhuma. A maior parte dos Delegados de Ensino
não entende disto. Muitos dêles nunca foram sequer professôres, de qualquer grau.

:R B M . - 6
590 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

Dentro dêste quadro sombrio, porém real, da situação do ensino público estadual no Ceará,
os Prefeitos municipais são obrigados a atender a reivindicações dos moradores das aldeias,
povoados, sítios e fazendas por escolas para a criançada de cada lugar.
Em Municípios como Frade, Campos Sales e Saboeiro, a densidade de escolas estaduais é
de uma por 517, 484 e 423 quilômetros quadrados!
São então criadas e mantidas pelas Prefeituras "escolas municipais" que não têm nada que
ver com a fiscalização (ineficiente) nem com a orientação (inexistente) da Secretaria de Estado
para os negócios da educação pública.
Essas escolas municipais têm sido malsinadas, combatidas, depreciadas. Em alguns casos,
procedem as críticas contra elas. Eram nomeadas moças sem condições para exercer a tarefa
alfabetizante. Atendia-se sobretudo a injunções partidárias para a sua nomeação. Considerava-se
o emprêgo de professôra municipal simples maneira de contentar um correligionário de sítio,
fazenda ou povoado.
Mas já se pode, hoje em dia, fazer justiça a muitos Prefeitos do Interior. Com o avanço
dos princípios municipalistas e com a compreensão que já se alarga e aprofunda no Interior,
entre os administradores das comunas, de suas responsabilidades diante da opinião pública
e em relação com os problemas do povo brasileiro, muitos dêles procuram acertar.
O que é irremediàvelmente falho, é a organização, é o sistema que êles continuam, em geral,
a praticar. Escolas municipais fixas em fazendas e sítios pouco têm produzido em benefícios
para a alfabetização do povo.
Não se estranhe estarmos falando sempre em "alfabetização". Procurou-se no Brasil, por
influência de idéias educativas de importação, argüirem-se grandes defeitos e até mesmo males
incontáveis à conta da alfabetização do povo. Estamos cada vez mais convencidos de que o
primeiro passo é realmente alfabetizar. O mal é ficar-se aí ou pensar-se que a alfabetização é
mais do que um caminho ou um meio. Claro que não nos podemos contentar com isto, nem
são as nossas escolas aparelhos eficientes para a própria tarefa alfabetizante. Realmente, passam
as crianças, via de regra, três, quatro anos nas escolas, às voltas com as cartilhas, sem conse-
guirem dominar as técnicas rudimentares da leitura e da escrita.
Mas, que a alfabetização seja indispensável, não temos dúvida, sobretudo quando o nosso
contacto com o ensino profissional para adolescentes nos veio demonstrar que, mais da metade
dos candidatos a êsse tipo de aprendizagem, não pode ser aceita por falta de conhecimento da
parte dêles em leitura, escrita e aritmética
O panorama do analfabetismo no Ceará apresenta os seguintes índices bastante esclare-
cedores: o recenseamento de 1950 revelou que nas cidades, entre pessoas de 10 anos e mais,
62,97% eram alfabetizadas, enquanto no quadro suburbano cearense o índice de alfabetização ficou
na ordem de 47,57%, descendo na zona rural para a cifra deprimente de 22,50%!
Em outras palavras: o campo cearense não tem merecido a atenção devida dos Poderes Pú-
blicos. Enquanto nas cidades, onde se concentram as escolas primárias, em 100 pessoas apenas
28 são analfabetas, nos campos, nas fazendas e nos povoados, em 100 pessoas 78 não sabem
ler nem escrever.
Ora, qualquer programa de renovação dos quadros de nossa vida rural vai depender também
da faculdade de adquirir as normas técnicas da mecanização e racionalização da lavoura, que
puderem apresentar as populações rurais.
Daí o nosso pensamento de que a ação educativa dos Municípios deve fazer-se sentir prin-
cipalmente no setor rural, propriamente dito. As escolas municipais seriam de preferência
localizadas nos povoados, sítios e fazendas que se encontram num grande atraso em relação
ao progresso da alfabetização nos quadros urbano e suburbano.
O sistema praticado atualmente, de escolas localizadas em pontos fixos, não será provàvel-
mente o melhor. A escola assim cai na rotina, a professôra se adapta à própria lentidão da vida
rural, as crianças voltam todo ano, sistemàticamente, à aula, até que, mais taludinhas, sejam
retiradas para o trabalho. Dentro dêsse esquema, não há eficiência na escola. Não há ritmo
de esfôrço e real trabalho educativo. Tem-se tempo demais!
Possível e prático seria então as professôras municipais fazerem um rodízio pelos sítios e
fazendas do Município, alfabetizando intensivamente crianças, adolescentes e adultos. Nem
tôdas estariam de pronto em condições para a tarefa. Mas sempre se poderia adaptá-las para
o mister, mediante cursos de férias e através de uma orientação técnica possível dentro de con-
vênios intermunicipais.
A EscOLA RuHAL NO j'vfuNrdPro 591

Reservar-se-iam escolas fixas apenas para os povoados. Mas seria aí evitada a aglomeração
de alunos nos mesmos turnos, dando-se maior flexibilidade e maleabilidade à escola que nunca
prejudicaria os próprios trabalhos agrícolas dos adolescentes.

As EscoLAS TÍPICAs RuRAIS

Não prepararíamos as crianças das zonas rurais, alfabetizando-as, senão para a Escola
Rural, isto é, um organismo vivo e funcional de integração do jovem rurícola em seu meio, ar-
mado, porém, para ser mais próspero e feliz na terra de seus avós.
O Município precisa da Escola Rural. Não dessa escolinha de canteiros ao lado que já vai
passando por "escola ruralista". Mas de uma verdadeira organização de preparo profissional,
pelo menos pré-profissional dos adolescentes do campo.
Resta saber o que se pretende conseguir por meio da Escola Rural. Ao invés de nos determos
na consideração de um assunto já muito discutido entre nós, limitaremos o nosso objetivo a
fixar o Plano de Escola Rural, que constitui a razão de ser desta tese.

PLANO DE EsCOLA RURAL

1 Localização - A Escola Rural deverá ser situada em local habitado (vila, povoado,
fazenda, trngação de açude) onde a população se dedique à faina agrícola. Terrenos férteis,
servidos de água. A Escola deverá possuir um mínimo de 5 hectares de terra boa para culturas
diversas.
2. Prédio - Uma sala de aula para 30 ou 40 alunos. Uma sala para atividades extra-
escolares. Um galpão para máquinas e instrumentos agrícolas. Um pequeno armazém. (As
residências das professôras e dos capatazes deverão ser previstas).
3 Organização - A Escola Rural será organizada como uma unidade de vida econômica
e social. Os alunos constituirão uma pequena comunidade rural. O autogovêrno será garantido
através de um grêmio escolar orientado pelas professôras. As esc.alas para trabalhos práticos e
aulas serão organizadas pela direção do grêmio, sempre com a assistência das professôras. Tudo
deverá fazer-se como na vida comum da população, apenas dentro do planejamento educativo
da Escola.
4. Hm ários - A Escola Rural funcionará de 7 h. da manhã às 17 h. da tarde. Das
7 às 11: Campo par? a turma A, aulas teóricas para a turma B. Das 11 às 17: Campo para
a turma B, aulas para a turma A.
Recreio para merenda, pequenos intervalos para descanso etc., serão estabelecidos conforme
as necessidades locais. Almôço: 11 i)s 13 h.
5 Programas - A fixar posteriormente. Note-se, porém, desde já, que nas aulas
teóricas se estudarão Português, Aritmética, Geometria, Desenho, Noções de História e Geo-
grafia, Noções de Contabilidade, Ciências Físicas e Naturais, Legislação do Trabalho. A Agri-
cultura Racional será, entretanto, o ponto principal do programa. As outras matérias serão a
ela subordinadas. Linguagem, aritmética etc., não serão estudadas como fins, porém terão em
vista as necessidades dos futuros lavradores em sua vida habitual.
6 Trabalhos práticos - Serão estabelecidos cuidadosamente, de acôrdo com a
zona em que estiver localizada a Escola Rural. Deverão, porém, constar de: agricultura peculiar
à região, criação, aviários, apicultura, criação do bicho-da-sêda, horticultura, fruticultura etc.
7 Duração do curso - Dois anos, cada ano dividido em dois períodos de 5 meses
de trabalho escolar.
8. Regime de férias - Cada turma terá 2 meses de férias ao ano, 1 mês depois de
cada periodo de 5 meses de aulas. Mas as duas turmas não entrarão em férias simultâneamente:
enquanto uma tem férias, a outra permanece na Escola e vice-versa. Como são duas professôras
e dois capatazes, elas e êles também terão férias em períodos diferentes, conforme a turma.
9. Tipo de aluno - Serão matriculados na Escola Rural alunos entre 12 e 16 anos,
já alfabetizados.
10 Material agrícola - Arados a tração animal e mecânica. Todos os utensílios
accessórios necessários para a lavoura mecanizada. Vale a pena não esquecer que Escola Rural
592 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

deve ser escola de trabalho real. Será necessário ainda ter uma oficina de reparos e fabricação
de objetos de utilização comum na vida rural.
11. Cooperativa - Tôda Escola Rural será sedimentada à base do cooperativismo.
Os produtos da exploração agrícola dos alunos reverterão à pequena comunidade rural de que
fazem parte. Para isto é necessário que os alunos tenham noções de contabilidade rural, orga-
nização de vendas, distribuição, consumo etc.
12 Pessoal - Duas professôras, dois capatazes, um mestre-ferreiro (com conheci-
mentos de solda, latoaria, marcenaria etc ), e auxiliares na medida das necessidades.

ALGUNS ESCLARECIMENTOS

Estamos certos de que é necessário passar do plano idealista, abstrato, literário, para a rea-
lização prática e concreta. Bem sabemos que é penosa a transição entre os dois planos, - o
dos literatos e o dos homens práticos. Mas é impossível continuar-se a falar em Escola Rural
num Estado de predominante atividade agrícola e pastoril, sem se dar cunho objetivo a tais
perlengas que já encheram livros, fizeram objeto de congressos e enfeitaram mensagens de gover-
nadores um atrás do outro.
Escola Rural deve ser, antes de tudo, instrumento de preparação do homem do campo.
Deve ser, antes de tudo, núcleo de trabalho concreto, centro de atividades educativas, sim,
mas socializantes, integrativas do indivíduo na sociedade em que precisa viver.
Somente a Escola Rural com sentido profissional, isto é, preparando o lavrador, o sertanejo,
tecnicamente para as atividades da lavoura e da criação, poderá constituir o objetivo precípuo
do ensino rural. Se se trata de elevar o nível de vida e de produção dos homens do campo, nada
se fará neste setor de positivo sem prepararmos o elemento capaz de ocupar o seu lugar no novo
sistema econômico pretendido.
Advogamos a escola, não como a célula risonha dos poetas, mas como a oficina de trabalho,
como o núcleo social primário em que deverão começar a viver. os adolescentes sôbre que re-
pousam as únicas esperanças de salvação dêste País.
Somos um País de pobretões que querem sobreviver à custa de "golpes". A filosofia do
sucesso fácil, dos "expedientes", de qualquer cousa que signifique vitória e êxito sem trabalho,
está demais enraizada em nossa gente para que não cuidemos de educar os adolescentes nas
normas do trabalho digno, do esfôrço construtivo, da atitude honesta diante da vida. Somente
o trabalho faz a prosperidade dos povos. E o que as nossas escolas têm conseguido, sobretudo,
é a proliferação da mandriagem e do desapêgo ao labor honesto.
"Caixeiro de loja" ou "empregado público" têm sido o resultado mais notório da alfabetização
prolongada e mal orientada das escolas comuns do Interior.
"Homens da lavoura" é o que deve formar a Escola Rural. Não para viverem como párias
afastados dos benefícios da civilização, mas para serem capazes de receber e fazer frutificar o
progresso.
É claro que a Escola Rural, sozinha, não pode transformar essa face negativa de nossos
sistemas social e econômico. Mas os homens por ela formados se tornarão, dentro de breves
anos, capazes de realizarem por si mesmos a revolução necessária.
A Escola Rural que pregamos, funciona como uma célula social e econômica modelar na
comunidade rural. O cooperativismo, a organização da produção pelos próprios alunos e em
seu proveito, o espírito de iniciativa criando uma vida progressista dentro da rotina do meio
rural, o trabalho efetivo no campo, na criação, nas pequenas indústrias, centralizando a neces·
sidade de ação dos adolescentes, viriam dar um sentido dinâmico a êste tipo de escola.
A Escola Rural funcionaria num período contínuo, sem interrupção de suas atividades.
Uma Escola Rural é diferente de uma Escola Profissional de artesãos, nisto que a atividade
agrícola exige permanentemente a presença atuante do homem. Por isto é que supusemos que
em cada Escola Rural, composta de duas turmas de alunos, uma destas entraria em férias (um
mês depois de cada período letivo de 5 meses), enquanto a outra continuaria a cuidar dos
vários setores e departamentos a constituírem o centro de interêsse da Escola.
Cada turma teria, portanto, a sua professôra e o seu capataz. Capataz treinado em educação,
capaz de ensinar os garotos a trabalharem dentro de normas científicas, porque uma profes-
sôra ruralista ou não, mesmo competente, não estaria normalmente apta a desempenhar a
função essencial do capataz.
A EscoLA RunAL NO MuNICÍPIO 593

Não se pode prescindir do material agrícola - instrumentos diversos que seriam delimi-
tados por especialistas. E por isto não se poderiam matricular na Escola Rural menores abaixo
de 12 anos, sendo incompatível a sua pouca idade com a natureza e duração dos trabalhos prá-
ticos do programa traçado.
Os gastos do Poder Público com a Escola Rural não se limitariam aos ordenados das profes-
sôras e capatazes. Essas unidades de trabalho teriam que ser aparelhadas dos requisitos indis-
pensáveis em máquinas e acess6rios, capazes de transformar a Escola num modêlo vivo do
que o progresso e as conquistas da técnica criaram para o confôrto e bem-estar, assim como
para facilitar o trabalho do homem do campo, tanto quanto do homem da cidade.
Luz elétrica, rádio, cinema, biblioteca, esportes e outras conquistas modernas não poderiam
estar ausentes da Escola Rural.
Quanto à questão dos programas, é claro que "pontinhos" de Português, Aritmética,
Ciências, Agricultura, seriam o pecado mortal da Escola Rural. Ali seriam ensinados, ao
contrário, os instrumentos essenciais de que deve servir-se o homem civilizado para elevar-se cul-
tural, econômica e socialmente, no meio rural.
Contabilidade Rural, Sistema de Vendas, Organização da Produção, Geometria Aplicada
às Necessidades Rurais, Higiene e Prevenção de Doenças, Socialização, Civismo, Legislação do
Trabalho teriam seu lugar entre as matérias mais necessárias, como agricultura, aritmética e
linguagem. Não se aceitariam, aliás, analfabetos, o que viria facilitar grandemente as tarefas
fundamentais da Escola Rural. A missão de alfabetizar ficaria a cargo das escolas comuns que
seriam verdadeiras subsidiárias da Escola Rural, com um programa mais conforme aos seus
objetivos.

CoNCLUSÃo

1 - A tarefa da alfabetização dos habitantes das zonas rurais exige um tipo de escola
mais flexível, "escolas m6veis" de um a outro sítio, e de ação mais rápida, ao lado das unidades
fixas nos povoados e vilas.
2 - A tarefa educativa do Município não pode ser limitada à alfabetização. O pr6ximo
objetivo deve ser a Escola Típica Rural, com sentido profissional, para adolescentes alfabetizados,
que prepare o homem do campo para os encargos da mecanização da lavoura e da agricultura
racional.
3 - Seriam aconselháveis os convênios intermunicipais ou com o Estado para a realização
de um programa de Escolas Rurais no maior número possível de Comunas no Interior.
ASPECTOS SOCIAIS DA HABITAÇÃO
POPULAR*
NELSON CORRÊA MONTEIRO e LUÍS CARLOS MANCINI
(Da Comissão Nacional de Bem-Estar Social)

PROBLEMA de habitação, de caráter nacional, é dos mais complexos envolvendo

O aspectos sociais e econômicos de tal vulto que contrastam, de modo alarmante, com os
recursos técnicos e financeiros existentes em nosso País.
Só o aumento da população requer, anualmente, numa base de 6 pessoas por habitação,
mais de 200 000 novas casas, ou sejam, cêrca de 500 000 novos dormitórios, se tomarmos uma mé-
dia de 2,5 por quarto. Se computarmos a substituição das casas de mais baixo padrão por novas
unidades, em vez de 500 000 dormitórios teríamos que pensar em 600 ou 700 000 visando a erradicar
num prazo de apenas alguns lustros a massa de casas anti-higiênicas no Brasil.
Por outro lado, se examinarmos os planos de habitação popular e os projetos que já têm sido
executados pelas Instituições de Previdência Social e de outras entidades, verificamos que, apesar
do grande esfôrço desenvolvido e do vulto dos capitais investidos, as soluções estão muito aquém
do quadro crítico observado.
De um modo geral, os conjuntos residenciais pelas mesmas construídos, não chegam a bene-
ficiar as classes sociais mais necessitadas, em virtude do custo da construção e dos processos
clássicos utilizados, além de estarem limitados a uma ínfima percentagem da população.
É de se assinalar, outrossim, que o bom aproveitamento dêsses conjuntos está estreitamente
condicionado à eficiente utilização dos métodos de serviço social, desde a pesquisa social de conhe-
cimento do meio e de seleção de candidatos, até a integração dos mesmos na vida da comunidade,
estimulada e organizada por elementos devidamente habilitados. É de se observar que a grande
maioria dos conjuntos residenciais não dispõe dêsses serviços, o que contribui para a má utilização
da casa e, freqüentemente, para um alto custo da conservação da mesma, além dos graves proble-
mas de ajustamento familiar e de vizinhança que decorrem da sua ausência. Entretanto, os
conjuntos residenciais que dispõem de serviço social, se, por um lado, gozam de um melhor teor
social, por outro são, também, dispendiosos, reduzindo e até, algumas vêzes, anulando a rentabi-
lidade dos mesmos, o que dificulta a generalização do sistema. Isso, provàvelmente, em virtude
de deficiente planejamento e da imobilização de aluguéis em período de contínua desvalorização
da moeda e alta de salários.
Verificam-se, outrossim, dois outros fatos da mais alta importância que devem ser regis-
trados:
a) a circunstância de que as instituições encarregadas de promover o desenvolvimento
de programas de habitação popular, funcionem como compartimentos estanques, na mais total
desarticulação, sem sequer intercambiarem informações a respeito de suas experiências, não
conjugando os seus já parcos recursos técnicos e financeiros na execução de programas de habitação.
Acresce notar que os conjuntos residenciais pelo sistema vigente no Brasil, são reservados a cate-
gorias homogêneas (comerciários, industriários etc.), o que constitui grave inconveniente do
ponto-de-vista social e concorre para absorver os já irrisórios recursos de pessoal especializado,
existentes em cada instituição.
b) a circunstância de que êsses programas em sua maioria estejam circunscritos ao
Distrito Federal e a algumas Capitais, desprezando o Interior e agravando o êxodo rural.

* Tese apresentada ao li Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.


ASPECTOS SOCIAIS DA HABITAÇÃO POPULAR 595

Em face do panorama, ligeiramente esboçado nos itens anteriores, acreditamos que algumas
recomendações devam ser feitas:
a) necessidade de íntimo entrosamento entre tôdas as instituições públicas e autárquicas
relacionadas ao problema da casa, a fim de que sejam estabelecidas normas básicas de ação e
executados programas conjuntos de habitação popular;
h) necessidade de descentralização, de modo a atribuir a instituições locais, idôneas, pú-
blicas ou particulares, mediante convênios, responsabilidade no planejamento, na execução e na
administração de programas locais;
c) necesstdade imperiosa de incentivar a iniciativa local através de organizações regionais e
municipais e a participação do interessado na construção de sua própria casa, segundo o sistema
de ajuda mútua dirigida. Experiências dessa natureza apresentam consideráveis vantagens,
principalmente quando aplicadas no Interior, entre as quais: a do baixo custo da obra, notada-
mente, quando são utilizados materiais locais e a do alto valor educativo que representa, inte-
grando, desde logo, o morador na vida da casa;
d) necessidade de adequada formação de pessoal para promover a mobilização, orientação
e boa utilização dos recursos locais. Nesse sentido poder-se-ia recrutar entre outros elementos, o
próprio funcionalismo das entidades especializadas e o de entidades locais interessadas;
e) necessidade de maior simplificação dos projetos de habitação popular, bem como de
estandardização de tipos e dos materiais de construção - facilitando-se o estudo dos mesmos
e a sua industrialização -com vistas na redução do seu preço de custo e na execução de programas
maciços;
f) necessidade de se iniciar, já em coordenação com as instituições acima mencionadas,
projetos-pilôto, e construção pelo sistema de ajuda mútua dirigida, com o objetivo de se estudar
as reações locais e de se examinar as qualificações necessárias ao pessoal encarregado de orientar
êsse tipo de construção;
g) necessidade de que todo o trabalho de habitação se funde no prévio conhecimento das
condições sociais do meio, no estudo dos moradores e na educação dos mesmos para a vida comu-
nitária, ressalvada, sempre, a participação ativa do interessado no próprio reajustamento. Êsse
trabalho, para melhor segurança técnica, se processaria através de instituições idôneas, públicas ou
privadas, de âmbito nacional, estadual ou municipal, com as quais seriam estabelecidos convênios.
AS COOPERATIVAS E A SOLUÇAO
- -
FINANCEIRA DA HABITAÇAO*
AUGUSTO LUIZ DUPRAT
(Da Fundação da Casa Popular)

- É NOSSO prop6sito no presente trabalho demonstrar que a solução mais humana, sob

l o ponto-de-vista econômico, financeiro e social, para o problema da habitação, é a da


adoção do sistema cooperativista.
Dada a situação atual em que as massas adquiriram a consciência do seu valor, mais do que
nunca é necessário que todos tenham as mesmas oportunidades, é necessário que a sociedade seja
organizada de tal modo que possamos:
1. 0 dar a cada um os meios de assegurar sua subsistência.
2. 0 produzir o máximo de riquezas consumíveis com uma despesa mínima para a coleti-
vidade.
3. 0 distribuir esta riqueza de um modo equitativo, entre todos aquêles que contribuíram
para a sua produção, quer pelo seu trabalho físico, quer pelo seu trabalho intelectual,
e espírito de organização.
(BERTRAND THOMPSON - Le systême TAYLOR)

O preenchimento destas três condições, indispensáveis à Paz Social, s6 pode ser conseguido
pelas cooperativas.
O cooperativismo não é apenas um meio para realizar certas melhorias, mas é, sobretudo,
o meio de realizar um programa de renovação social.
Quer se trate de cooperativas de consumo, de produção, de crédito, rurais, de construção
etc., têm todos traços comuns que as caracterizam e que permitem a orientação de um programa
social (CHARLES GIDE).
1. 0 - Tôdas têm por fim a emancipação econômica de determinadas categorias de pessoas
a fim de que dispensem os intermediários e se bastem a elas mesmas. A sociedade de consumo
permite aos consumidores de dispensarem o padeiro, o armazeneiro, ou qualquer negociante,
fazendo suas compras diretamente aos produtores ou, melhor ainda, fabricando êles mesmos
tudo o que lhes é necessário. A sociedade de crédito permite aos que necessitam dêle de fugir às
garras dos usurários, facilitando-lhes diretamente os capitais necessários ou mesmo lhes permi-
tindo criar os capitais por meio de combinações de economia e mutualidade. A sociedade de
produção permite aos operários dispensarem os patrões, produzindo pelos seus pr6prios meios
e por sua pr6pria conta e vendendo diretamente ao público.
2. 0 - Tôdas têm por fim substituir a competição pela solidariedade, e o lema individualista
cada um por si pelo lema cooperativista cada um por todo~>. Os indivíduos não se fazem mais
concorrência, pelo menos em princípio, de vez que êles se associam entre si para suprirem suas
necessidades; e estas associações, por sua vez, têm como princípio se federarem para constituírem
organizações de maior amplitude..
3. o - Tôdas têm por fim não o de abolir a propriedade individual, mas generalizá-la
tornando-a acessível a todos sob a forma de pequenos lotes, e também criar, ao lado e acima da
propriedade individual, uma propriedade coletiva sob a forma de fundos impessoais que serão
empregados para o desenvolvimento da sociedade e de obras de utilidade social.

* Tese apresentada ao !I Congresso N acionai dos Municípios Brasileiros.


As CooPEHATIVAS E A SoLuçÃo FINANCEIHA DA HABITAÇÃo 597

4. 0 - Tôdas têm por fim não o de suprimir o capital, mas sim retirar-lhe seu papel dirigente
na produção, como também retirar-lhe a parte que aufere a título de poder dirigente, sob a forma
de lucro e dividendos. A supressão do lucro sob tôdas suas formas já era o ponto essencial do sistema
ÜWEN. Muitas sociedades são proibidas pelos seus estatutos de terem qualquer lucro, ou o trans-
fel"irem para o fundo de reserva. Aquêles que os obtêm, os restituem aos seus membros, propor-
cionalmente, seja às suas compras, se são consumidores; seja ao seu trabalho, se êles são operários,
mas nunca proporcionalmente às suas ações, isto é, ao capital que inverteram. O serviço do
capital-ações, como do capital obtido por empréstimo, paga-se somente por meio de um juro
módico, jamais por um dividendo: e mesmo algumas sociedades não' pagam nenhum juro ao
capital. Se pensarmos que na sociedade anônima, cujo desenvolvimento é tão grande nos nossos
dias, é o capital que aufere todo o lucro da emprêsa juntamente com sua direção reduzindo o
trabalho à condição de assalariado, compreender-se-á que o sistema cooperativo constitui uma ver-
dadeira revolução social de vez que inverte a situação atual, e é o capital que fica reduzido à si-
tuação de assalariado.
5. 0 - Tôdas, enfim, têm um valor educativo considerável e ensinando a todos os que dela
fazem parte - não a sacrificar uma parte qualquer de sua individualidade, de seu espírito de
empreendimento- mas ao contrário a desenvolver suas energias para auxiliar a outrem, auxili-
ando-se a si mesmo a orientar o escôpo da atividade econômica no sentido da satisfação das ne-
cessidades e não no encalço do lucro, a moralizar as relações econômicas pela supressão do reclame,
da fraude, da falsificação dos produtos etc., a suprimir tôdas as maneiras de exploração do homem
pelo homem e tôdas as causas de conflito. Pode-se mesmo afirmar que tôdas as grandes formas de
associação cooperativa têm como característica a abolição de um conflito qualquer, de um duelo
de interêsses antagônicos: a associação de consumo suprime o conflito entre o vendedor e o
comprador; a de construção o conflito entre proprietário e locatário; a de crédito o conflito
entre credor e devedor; a de produção, o conflito entre o patrão e o assalariado.
Ainda de CHARLES GIDE são os seguintes conceitos: "Em todo caso, admitindo mesmo que um
tal programa não possa ser realizado integralmente, o cooperativismo teria pelo menos a vantagem
de não ter comprometido o futuro, fundindo as sociedades humanas num molde uniforme e pre-
viamente determinado. A maior superioridade do regime social que se pretende instituir é de
ser facultativo, de não recorrer a fôrça, nem revolucionária nem mesmo legal, mas, para suprimir
a organização econômica existente, de se servir somente contra esta, de suas próprias armas que
são a concorrência e a liberdade".
Ainda as cooperativas, dada a sua forma democrática, constituem um meio para a educação
coletiva, aumenta o sentimento de solidariedade entre os homens, afirma a personalidade e per-
mite uma maior utilização dos capitais disponíveis e possíveis de serem invertidos em construção.
Permite, também, o aumento da produtividade e o levantamento do nível de vida, o que, dado
o crescimento da nossa população, é um dos problemas mais importantes para nós, de vez que a
maior fôrça de uma Nação se encontra nos seus homens.

2 - DEFINIDA assim a Cooperativa e as conseqüências que advirão do seu uso, examinemos


a situação geral do Brasil relativamente ao problema da habitação.
Até hoje se tinha encarado o problema, entre nós, como um mero problema de construção,
sem nenhum exame da situação econômica dos futuros usuários e atribuía-se ao Govêrno a obri-
gação da sua solução.
É ponto pacífico que um Govêrno, por mais rico que seja, não pode arcar sozinho com a
responsabilidade de um empreendimento dêste vulto; é necessário que a Nação tôda, de um
modo integral, contribua, e, sobretudo, que cada um se esforce para conseguir o bem de que carece.
Deve-se estabelecer a Política da Habitação de tal modo que auxilie-se o indivíduo que ne-
cessita de auxílio, a prescindir dêle.
Com outras palavras, o estabelecimento de uma Política de Habitação deve ser feito de tal
modo que se possa obter da "Casa" um rendimento financeiro humano e social que possibilite
dar a cada um condições tais que "facilitando sua integração nas comunidades de que venha a
ser chamado a fazer parte: Família, Profissão, Cidade, favoreça, no máximo, a expansão da sua
personalidade".
Dada a extensão territorial do nosso País e as suas diversas condições ecológicas, não pode o
Govêrno Federal atender, de um modo eficiente, às necessidades, é necessário que o movimento
venha da periferia para o centro, isto é, é necessário que cada Município se organize para atacar
598 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNicfPIOS

o problema, em estreita colaboração com o Estado e o Govêrno Federal, obedecendo a um plane-


jamento pré-estabelecido.
Cada Município deverá, a exemplo da organização existente no Rio Grande do Sul, estabelecer
seus pré-planos, de acôrdo com suas necessidades atuais e prevendo seu futuro desenvolvimento,
sempre tendo em vista o plano estabelecido pelo Estado, que por sua vez, obedecerá a diretrizes
gerais traçadas pela União.
Em cada Município se deverá proceder ao levantamento dos dados necessários ao conheci-
mento do padrão-de-vida que lhe é peculiar, e ao levantamento estatlstico dos seus recursos finan-
ceiros em materiais, indústrias e mão-de-obra, utilizáveis em construção. Só assim se poderá,
tendo um perfeito conhecimento das situações e recursos municipais, estabelecer um plano de
ataque ao problema e estabelecer as prioridades necessárias.
No presente trabalho não cabe um estudo detalhado do assunto; é apenas um esbôço do
programa que nos parece mais aconselhável.

3 - No ATAQUE ao problema encontramos duas grandes dificuldades; uma é o baixo poder


aquisitivo da nossa gente, outra é o alto custo das construções e dos terrenos.
Quando não conhecíamos a realidade brasileira nos ensinaram a repetir o que continha o
"Por que me ufano do meu País"; caímos na realidade e verificamos que a situação é bem díferente,
o que de nenhum modo traduz descrença no seu desenvolvimento e expansão.
Examinando conclusões de estudos e dados estatísticos verificamos que a nossa gente não é
indolente por natureza, mas sim por doença e falta de nutrição: "Só assoalha que o brasileiro é
preguiçoso quem nunca o viu trabalhar; quem é tão ignorante que, tendo sob os olhos um des-
graçado compatriota, analfabeto, verminando, subalimentado, abandonado dentro de uma
miserável palhoça sôbre a terra encharcada, confunde esta miséria e êsse abandono com a :Preguiça.
Nenhum ser humano seria capaz de fazer mais do que êle faz, ainda assim. É prodigiosa,
apesar de tudo, a capacidade do nosso trabalhador, só comparável ao seu espírito de sacrifício
mourejando subalimentado sob as terçãs, parasitado pelo necátor, hipoêmico, ulcerado, no mais
absoluto desconfôrto". (CASTRO BARRETO - Estudos brasileiros de população).
Se examinarmos as nossas estatísticas constataremos que o nosso homem não ganha nem
mesmo para se alimentar, quanto mais para adquirir casa onde possa abrigar-se, dentro das
condições atuais.
Analisando o Censo dos Comerciários, realizado em 1948 e tomando como base de salários
o salário médio nas Capitais, constataremos que na Região Norte, em média, só 6% dos segurados
estão em condições de pagar o aluguel mínimo; 8,6 % têm condições para adquirir casa e 85,4 %
não têm condições nem para alugar nem para comprar Examinando as disponibilidades para
atender às despesas de alimentação e o seu custo, constatamos que em média s6 6,75% dos se-
gurados estão em condições de se alimentar convenientemente.
Na Região Nordeste encontramos as seguintes percentagens médias: 5,57% podem alugar casa,
8,75% têm condições para comprar e 85,67% não têm condições econômicas nem para alugar nem
para comprar, e apenas 8,18% podem pagar as despesas com alimentação.
Na Região Leste encontramos as seguintes percentagens médias: 6% podem alugar casa, 9,1%
podem comprar e 84,9% não têm condições econômicas nem para alugar nem para comprar e ape-
nas 17,7% podem pagar as despesas de alimentação em média.
Na Região Centro-Oeste, encontramos as seguintes percentagens médias: 6,85% podem alu-
gar casa, 15,3% podem comprar e 77,85% não têm condições econômicas nem para comprar nem
para alugar e apenas 9,67% em média podem pagar as despesas de alimentação.
Na Região Sul, encontramos as seguintes percentagens médias: 13,58% podem alugar casa,
20,47% podem comprar e 65,95% não têm condições econômicas nem para comprar nem para alu-
gar e apenas 22,9% em média podem pagar as despesas de alimentação.
Considerando o salário mínimo nas Capitais, acrescido de 33%, constataremos que só no
Distrito Federal e em São Paulo é que pode o operário pagar as despesas com alimentação, nos
outros estados há "deficits", sendo que no Maranhão a verba disponível para a rubrica alimenta-
ção é de Cr$ 430,10 e a necessária é de Cr$ 1 57 5,30, havendo pois um "deficit" de Cr$ 1145,20.
CASTRO BARRETO, analisando a nossa "economia retardada" cita o que se passava com a pro-
dução de laranjas: "numa caixa de fruta que chega ao centro do Rio de Janeiro ou ao pôrto de
embarque, o produtor só recebe lO% do preço: impostos e transportes 32%; colheitas, emba-
lagem, materiais e lucro dos intermediários, 58%".
As CooPERATivAs E A SoLuçÃo FINANCEIRA DA HABITAçÃo 599

Quanto ao custo das construções e dos terrenos, constatamos que sobem vertiginosamente,
numa desproporção assustadora com o aumento da renda individual.
O aumento do custo das construções resulta, em parte, da falta de produtividade e em parte
de uma inflação conseqüente à lei do inquilinato; não se constrói mais para alugar, só se constrói
para vender.
O aumento do custo dos terrenos resulta em parte de uma real valorização decorrente de sua
melhor utilização e em parte ainda pela inflação .resultante da depreciação da moeda; todos
procuram comprar terrenos, pois seu preço varia na razão inversa da depreciação do cruzeiro;
além do mais ainda muito contribui para êste fato o abandono das terras pelos rurícolas, que de-
mandam as cidades e centros de economia mais adiantada em busca de melhores condições devida
Os três fatos acima citados revelam uma estrutura econômica deficiente e conseqüentemente
anti-social, que seria corrigida com a adoção do regime cooperativista
Não constitui a Cooperativa, de um modo geral, nenhuma novidade entre nós, de vez que é
grande o movimento que se observa no País, desde os bancos escolares; falta-nos o incremento
das cooperativas de construção.

4 - As SOCIEDADES cooperativas de crédito para a construção, cujo número, no mundo,


atinge a 11 315, com um total de 7 298 512 mutuários, são verdadeiras sociedades cooperativas
de crédito especializado e, em muitos casos, não seguem estritamente os princípios reconhecidos
pelas organizações cooperativas.
Estas sociedades se desenvolveram principaimente nos países de língua inglêsa e também na
Bulgária, Alemanha, Suíça e outros países, sendo que tomaram o nome de "Buildings Societies"
na Inglaterra e "Building and Loan Association" nos Estados Unidos
Várias foram as fases por que passaram estas sociedades durante o seu desenvolvimento
Inicialmente eram pequenos clubes, cujos membros recolhiam suas contribuições mensais e
iguais a uma caixa comum, calculada para que se construísse uma casa por mê&
Mensalmente se procedia a um sorteio e ao sócio contemplado era feita a entrega do numerário
para compra ou construção de sua casa, que ficava hipotecada ao clube.
As contribuições dos sócios não rendiam juros nem êstes os pagavam. Quando todos os só-
cios recebiam sua casa, a sociedade se dissolvia.
Na segunda fase foi adotado o sistema de quotas, podendo o sócio que quisesse uma casa melhor
contribuir com maior quantia - sendo então adotado o abono de juros recíprocos, justificado e
propagado pela experiência posterior.
Na terceira fase, foram aceitos depósitos de terceiros que não pretendiam obter casa, mas
apenas juros do seu capital.
Êste sistema deu um grande incremento às sociedades de construção, porque, como se verá
adiante, permitiu diminuir o prazo de espera.
Na quarta fase foram introduzidos os planos seriados; isto é, em vez de liquidar-se a sociedade
quando todos os sócios tivessem sido contemplados, esta foi constituída em grupos ou séries, o
que prolongava a sua existência enquanto houvesse pretendentes em número bastante para cons-
tituir novas séries.
Finalmente a adoção do plano DAYTON veio melhorar a situação de vez que permite ao can-
didato inscrever-se em qualquer tempo, sem necessidade de abertura de novas séries e ao mutuário
liquidar seu débito quando lhe aprouver.

5 - REFERINDO-SE às "Building Societies" assim se expressa DANIEL PARKER na sua obra


- Le Logement - Probleme Social n. 0 1; As "Building Societies" criaram na Inglaterra
uma mística da habitação familiar, uma mística do Lar. De um modo geral, elas foram
dirigidas por homens tendo um ideal muito elevado e espírito de desinterêsse. Elas tiveram no
conjunto um êxito extraordinário. Que o julguemos por alguns dados. O "haver" no balanço
das "Building Societies" era, no fim de 1936, de mais de 98 bilhões de francos. Mais de 2 800 000
casas f01am construÍdas de 1920 a 1936, graças a sua inte1venção. Em 1935, 298 079 casas
foram construídas com sua assistência e somente 1 139 com a do Estado Em 1936, 286 202 casas
foram construídas com a assistência das "Building Societies" e somente 222 casas com a assistência
do Estado. Em período de crise mundial, em 1933 as "Building Societies" permitiram a construção
de 140 000 casas e deram trabalho a 750 000 operários. As "Building Societies" criaram na
Inglaterra, de um modo absoluto, uma classe média. De 1920 a 1939, 2 800 000 casais puderam
600 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

obter uma habitação graças ao seu auxílio. Êles teriam ficado, na sua maioria, simples locatários
se aquelas sociedades não existissem. Êstes 2 800 000 casais, que representam de 9 a 10 milhões
de pessoas, cessaram de ser proletários, tornaram-se agora pequenos proprietários. Estão esta-
bilizados. Sua mentalidade de hoje em diante é completamente diferente. De uma atitude
reivindicadora, êles passaram ao estado de homens e mulheres conscientes de sua dignidade.
Êles têm uma casa, um teto; êles não são mais párias. Sir HAROLD BELLMANN declarou, com
justa razão: as "Building Societies" fizeran:: "the silent revolution".
Na sua obra "La Technique Moderne du Crédit Mutuel", assim descreve ]EAN ANTONINE
RoQUEPLO as "Building Societies" ou Sociedades de Economia Coletiva. "Os criadores das Socie-
dades de Crédito Mútuo, partiram de uma idéia simples e sã: reunir, num fundo comum, a econo-
mia de um sem número de pessoas, na medida da sua criação, e distribuir estas mesmas economias,
de um modo comum, sob a forma de empréstimos. O princípio é o seguinte: pequenas economias,
disseminadas, são improdutivas, enquanto que reunidas em porções mais importantes permitem
aos beneficiários fazê-las frutificar. Coletar a economia e distribuí-la é a finalidade de todo o
organismo de crédito, não havendo, nesta operação, nenhuma característica que distinga o crédito
mútuo; mas a característica original desta instituição e que justifica êste objetivo, é que o bene-
ficiário em questão não pode ser escolhido senão entre os prestamistas, que contribuíram para o
fundo comum. Cada prestamista não contribui para a alimentação dêste fundo, senão, precisa-
mente, com o fim de ser um dia beneficiado por um crédito".
Estas sociedades, além de representarem uma segura inversão de capitais de vez que são
sociedades de crédito real, fomentam ainda a economia, habituando os indivíduos a "poupar",
continuadamente, com a finalidade de obter sua casa.
A segurança é tanta que, durante a crise financeira de 1931 nos Estados Unidos, sôbre 22 071
bancos, 1 561 faliram (seja 7%) enquanto que, no mesmo ano, sôbre 11 442 cooperativas para
construção de casas, não houve senão 126 falências (seja 1, 1%).
Ainda apresentam a vantagem de poderem os financiamentos ser feitos a juros muito baixos,
apenas o suficiente para pagar a administração, de vez que o capital é dos próprios mutuários,
que não procuram lucros
Escrevendo sôbre a "Cooperação na Habitação" disse o Engenheiro BATY: "A paz social e a
paz dos corações, que é uma conseqüência, reina nos países onde o movimento cooperativista tem
a primazia; nos países onde os poderes públicos compreenderam que era seu dever ajudar êste
movimento, de vez que êle é a salvaguarda de nossas liberdades".
Para que estas sociedades possam funcionar com eficiência necessitam ser financiadas, o que
poderá ser feito com a criação de um fundo social, constituído pelas contribuições dos Governos
Federal, Estadual, Municipal, Caixas Econômicas, Previdência Social e particulares.
Em memorando apresentado à Comissão de Estudos Econômicos da Europa, pela Aliança
Cooperativa Internacional, lê-se: "As sociedades cooperativas de Habitação constituíram,
sempre, um meio eficaz para combater a carência de Habitação, como a existente desde o fim da
guerra. Depois do primeiro conflito mundial, já um grande número destas sociedades se criou,
na maior parte dos países da Europa, para solucionar o problema da habitação, conseqüente ou
agravado pelo período das hostilidades. O seu desenvohrimento foi rápido e elas representaram
um papel considerável no que diz respeito à construção de novas habitações, pois que, segundo os
países ou localidades, elas participaram numa percentagem de 30 a 40%, naquele propósito. A
questão principal que as cooperativas de Habitação devem resolver para preencher sua
finalidade é a do financiamento".
Além de outras vantagens, como bem acentuou o atuário J. LOISEL, a contribuição cooperativa
permite uma economia de 50% do capital destinado ao financiamento.
Estas sociedades já funcionaram entre nós e são regidas pelo Decreto 24 503, de 29 de junho
de 1934, e diversas circulares da Diretoria de Rendas Internas. Por falta de financiamento de suas
operações não puderam prosseguir na sua maioria.
Ainda funcionam a Caixa Construtora de Santos e as Caixas Construtoras dos Ministérios
da Guerra e Marinha.

6 - No CASO do financiamento para construções, o financiado necessita de juros baixos e


prazos longos, enquanto que o financiador, como decorrência da desvalorização da moeda, neces-
sita de juros altos e prazos curtos. O denominador comum a êstes dois interêsses antagônicos é a
cooperativa.
As CooPERATIVAS E A SoLuçÃo FINANCEIRA DA HABITAÇÃO 601

Muito se fala a respeito dos financiamentos feitos pelos Institutos e Caixas de Previdência
Social; é necessário que se esclareça mais uma vez que a finalidade dêstes órgãos é a de dar aos
seus segurados assistência médica, aposentadoria e pensão. Os financiamentos para cons-
trução constituem uma de suas modalidades de aplicação de fundos.
Para que uma aplicação de fundos corresponda à sua finalidade é necessário que tenha:

1 - Segurança
2 - Exeqüibilidade
3 - Rentabilidade
4 - Finalidade Social.

Ora, dada a constante desvalorização da nossa moeda, pouca eficiência de fiscalização técnicaj
lei do inquilinato e forma de execução dos financiamentos, não são atingidas as finalidades acima.
Transcrevemos o que a respeito diz a Fundação Getúlio Vargas, na sua revista "Conjuntura
Econ6mica" de fevereiro de 1951, a respeito das hipotecas, em face da desvalorização da moeda:
"Se tomarmos como ponto de partida o ano de 1912, verificaremos que o poder aquisitivo da nossa
moeda veio diminuindo de tal modo que a taxa média, anual, de depreciação é de 5,5%. Isto
significa que: "todos os investimentos em moeda nacional produziram um rendimento real so-
mente quando: 1. 0 - a taxa nominal do rendimento, -isto é, juros, dividendos ou qualquer
outra forma- foi suficientemente elevada para compensar a perda do poder aquisitivo; 2. 0 -
o aumento do valor venal, no caso de imóveis ou títulos - foi compensador.
No caso das hipotecas, a longo prazo, resultantes de financiamentos, há um prejuízo real
para o financiador.
Ültimamente, o rendimento real das hipotecas com 3 anos de duração - juros nominais
de 12%- foi de 9,6% para as realizadas em 1937; 4,2% para as iniciadas em 1947 e 11,7% para as
referentes a 1947.
Os empréstimos com 10 anos de prazo- taxa nominal de 10%- renderam efetivamente
2,1%, desde que tenham principiado em 1932 e 7% se subscritas em 1937.
Quando os pagamentos são feitos pela Tabela PRICE, melhora um pouco a rentabilidade, de
vez que: "as amortizações periódicas de frações crescentes da dívida nominal primitiva, deter-
minam condições diversas, quanto ao coeficiente de compensação que corresponde à depreciação
do saldo, e, em conseqüência, também quanto à taxa aparente de juros". Na aplicação dos pa-
drões de juros, atualmente em vigor, às hipotecas amortizáveis em 20 ou mais anos, teria resultado
uma remuneração insignificante ou nula do capital."
Com relação aos Institutos de Previdência Social, assim se expressa a "Conjuntura Eco-
n6rnica" de fevereiro de 1951: "Os Institutos de Previdência Social empregam apreciável
parte de suas disponibilidades em empréstimos a longo prazo, geralmente a juros de 6 ou 7%.
São os apenas suficientes para contrabalançar a depreciação. Não há o menor juro real".
Fica, assim, demonstrada que não há rentabilidade nestas inversões, quando feitas em hipo-
tecas e, quando o capital é investido em prédios com a finalidade de renda, a lei do inquilinato, no
fim de alguns anos, faz com que desapareça ou diminua a rentabilidade, pela impossibilidade de
reajustamento dos aluguéis; não há segurança, porque, mesmo admitindo que a construção tenha
sido bem feita, o segurado, via de regra, não dispõe de meios para conservá-la; não há exeqüi-
bilidade porque, dado o caráter "paternalista" dêstes financiamentos, é muito díficil a execução
de uma hipoteca; não há finalidade social porque, sendo permitido o pagamento de juros e amor-
tizações - até o limite de 50% do salário, fica o segurado sem meios para alimentar-se a si e à sua
família e sem meios para educar seus filhos. Ainda no caso da construção de conjuntos residenciais,
apresenta-se o inconveniente da segregação das famílias, num meio constituído por uma determi-
nada classe da sociedade, criando verdadeiros quistos dentro da cidade.
As cooperativas eliminariam os males apontados e, ainda mais a criação do fundo social para
seu financiamento, faria com que revertesse à sua origem uma parte do capital arrecadado pela
Previdência Social.

7 - DENTRE as Instituições de capitalização, as únicas que ainda poderiam, dentro de certos


limites, arcar com os ônus da depreciação da moeda, em financiamentos a longo prazo, seriam as
Caixas Econômicas e as Companhias de Seguro e Capitalização.
Estas recebem o dinheiro dos depositantes segurados e mutuários, em depósito ou pagamento
de prêmios e mensalidades e quando os devolvem o fazem pelo valor nominal.
602 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

A êste propósito assim se pronunciou o Atuário J. LOISEL em ''L'Epargne Collective lmmobiliêre,


formule de financement de la construction": "A despeito destas diversas limitações destinadas a
salvaguardar a segurança dos investimentos das companhias de seguro e de capitalização, estamos
pessoalmente convencidos que êste setor poderia dar uma contribuição das mais apreciáveis ao
financiamento em fundos exteriores, das emprêsas de crédito mútuo e, conseqüentemente, aos
problemas imobiliários, de capital importância, para cuja solução elas contribuem".

8 - A CONTRIBUIÇÃo patronal para o Fundo Social poderá ser obtida através da constitui-
ção de Comitês Interprofissionais Locais, a exemplo do que se verifica na França.
É ponto pacífico que quanto maior o bem-estar de que desfruta um homem, maior é a sua
produtividade, quer êste bem-estar provenha da habitação, da alimentação ou de qualquer outra
causa.
Assim se justifica que os patrões no seu próprio interêsse contribuam para o bem-estar dos
seus empregados, do qual auferirão um lucro.
Éstes Comitês agrupariam as emprêsas e indústrias de uma Cidade, de um Distrito, de um
Município ou de um Estado, com o fim de empreender a realização de um programa de construções
de habitações, não para atender a uma determinada emprêsa, mas sim em benefício do pessoal das
emprêsas que constituíssem o Comitê.
Os princípios constituindo as bases dêste tipo de organizações são os seguintes:
1. 0 - afirmar o papel de iniciativa privada no quadro interprofissional e no plano local
ou regional. A iniciativa privada deve retomar seu lugar normal sob o contrôle e com o auxílio do
Estado e das coletividades locais;
2°. - separar nitidamente "Trabalho" e "Habitação" e afastar as soluções "Paternalistas",
assegurando o financiamento parcial da construção por meio de uma cotização interprofissional
de compensação paga por tôdas as emprêsas;
3. 0 - associar empregados e empregadores num esfôrço comum, tendo em vista a cons-
trução de habitações populares.
4. 0 - estabelecer o equilíbrio entre os aluguéis necessários e o poder aquisitivo do locatário
por meio de um abono-locação, de modo a assegurar às' famílias numerosas um espaço vital indis-
pensável.
5. 0 - edificar habitações de boa qualidade a um justo preço.
Os recursos de base dêstes Comitês seriam as cotizações interprofissionais, calculadas
sôbre o montante dos salários pagos e que variam de 1 a 2%, com a vantagem do montante obtido
ser empregado na própria região e em seu benefício.

9 - DADA A carência de habitações, de materiais, de mão-de-obra e de fundos, muitos países


têm se socorrido da mão-de-obra dos próprios interessados. É um velho costume das nossas popu-
lações - o mutirão - ou muxirão, isto é, o auxílio gratuito que se prestam uns aos outros para a
prestação de um determinado serviço ou execução de determinada tarefa.
Éste processo tem sido ultimamente muito empregado, sendo que a maior experiência foi
feita em Pôrto Rico. Consiste na formação de uma verdadeira cooperativa de mão-de-obra,
sendo que os materiais são fornecidos a prazo, também por uma cooperativa.
Na França, atualmente estão em construção 5 000 casas sob êste regime.
Os financiamentos para construção de casas feitos na base de 100% de garantia são anti-
-econômicos e anti-sociais - isto é, não permitem obter da casa um rendimento financeiro, hu-
mano, social.
Todo o financiamento deverá ser feito na base de 70% do valor da garantia, os 30% restantes
deverão ser fornecidos pelo interessado. Acontece, porém, que temos que realizar o programa de
construção de casas no Brasil onde o poder aquisitivo das massas não dá nem mesmo para sus-
tentar a família. Esta é a realidade. Consultando as estatísticas, verificaremos que em média
40% dos brasileiros habitam em casa própria, isto é, abrigam-se sob o teto próprio-diremos teto,
em vez de "casa" porque a maioria das casas é feita de pau-a-pique, e cobertas de palha. Ora,
êstes abrigos foram construídos pelos próprios interessados, com o auxílio de suas famílias e muitas
vêzes de seus vizinhos. Uma vez que lhes seja fornecido o terreno a preços reduzidos, financiada
a compra de materiais, por meio de cooperativas, e dada a assistência técnica necessária, êles
As CooPERATIVAS E A SoLuçÃo FINANCEIRA DA HABITAÇÃO 603

mesmos poderão construir suas casas, como aliás o vêm fazendo, porém fazendo mal e isolada-
mente.
Será êste o meio de suprir a deficiência do capital inicial e fazer face à carência de mão-de-
· obra.

10 - A EXPOSIÇÃo feita teve por finalidade mostrar como podem e devem as Municipalidades
atacar o problema local da habitação popular, em estreita cooperação com os Governos Estadual e
Federal, Fundação da Casa Popular, Previdência Social, Caixas Econômicas, Companhias de
Seguro e Capitalização e com a iniciativa privada.
Não basta, porém, que se procure solucionar apenas o lado financeiro do problema; não
devemos esquecer que o problema da habitação é, antes de mais nada, um problema de educação,
que exige um esfôrço de todos, a colaboração dos homens de boa vontade e que só pode ser atacado
em coordenação com os elementos de que já dispomos. Atacar o problema num Município sem
que os outros o façam, seria agravar a situação do primeiro, bem como atacá-lo apenas nas zonas
urbanas e suburbanas sem procurar fixar o rurícola à terra, é agravar o problema das aglomerações
urbanas.
Tendo em vista o que foi exposto, sugerimos que as Municipalidades adotem a seguinte
orientação:
1. 0- Em estreita colaboração com a Fundação da Casa Popular, organizar, dentro dos
moldes estabelecidos por êste organismo, as Comissões Municipais de Habitação e Urbanismo,
subordinadas aos Conselhos Regionais de Urbanismo e Habitação, para o planejamento do de-
senvolvimento urbano, suburbano e rural do Município, estabelecendo para êste seus pré-planos,
tendo em vista as suas condições sócio-econômicas.
2. 0 - Proceder a inquéritos para o levantamento do padrão-de-vida municipal, nas zonas
urbana, suburbana e rural, em estreita colaboração com o I.B.G.E.
3. 0 - Fomentar o desenvolvimento de cooperativas de habitação, de crédito, de materiais
de construção e de mão-de-obra.
4. 0 - Fomentar o desenvolvimento do sistema de construção pela ajuda própria, criando
órgãos de assistência técnica a serviço dos interessados.
s.o - Estabelecer nos Municípios uma política de terrenos, quer nas zonas urbana, subur-
bana ou rural, de modo a poder controlar o mercado imobiliário para permitir a venda de lotes a
preços razoáveis e a criação de colônias agrícolas.
6. 0 - Fomentar a indústria de materiais de construção, apro~reitando os elementos locais,
e concedendo facilidades fiscais à iniciativa privada.
7. 0 - Fomentar o desenvolvimento da educação por meio de missões rurais e de educação
de adultos em estreita colaboração com os Ministérios da Agricultura e Saúde e Educação, pro-
curar desenvolver os serviços de Ação e Serviço Social, em estreita colaboração com os organismos
nacionais que se dedicam ao assunto, bem como procurar desenvolver, de acôrdo com o S.A.P S.,
campanhas no sentido de ensinar nossa gente como se deve alimentar.
OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS E O
MODERNO URBANISMO*
STÉLIO EMANUEL DE ALENCAR Roxo
(Da Prefeitura do Distrito Federal}

N
ÃO É FÁCIL começar a falar sôbre Urbanismo. (Em compensação também não é fácil
acabar. . ). A dificuldade inicial está em que, ao tentarmos defini-lo, não encontramos
um ramo do conhecimento ou de atividade humana em que situá-lo. Ciência? Arte?
Técnica? Posso assegurar-vos, correndo talvez o risco de parecer um tanto obscurantista que
se trata de um humanismo. E também ciência, arte, técnica, política, administração etc ....
Se por um lado não é assunto de exclusiva competência dos administradores, não pode, por outro
lado, permanecer mero objeto de especulação para doutrinadores idealistas. Donde, trabalho
comum que visa ao bem-estar das coletividades mal organizadas. Aproximamo-nos, assim, de
uma definição: "organização das coletividades humanas onde quer que elas se encontrem". Mas
é preciso evitar o risco de fazer do Urbanismo uma espécie de •ciência oculta ou panacéia uni-
versal. Trata-se tão somente de procurar, de uma maneira mais racional, distribuir os homens
e zonear as suas atividades sôbre os espaços disponíveis adequados, a fim de que os organismos
sociais, desembaraçados dos entraves que surgem sempre que se dá um crescimento desorde-
nado, possam funcionar melhor, num ambiente de maior felicidade.

Ponto de partida.

O têrmo "urbs" quer dizer cidade. Mas Urbanismo não quer dizer somente renovação do
traçado das cidades, a qual nunca chegará a resolver os problemas da vida comuna!. Uma
cidade só pode ser planejada em função da zona circunjacente que a abastece. Daí tiramos
uma direção para o nosso programa de trabalho: partiremos dos centros de produção da matéria
básica da alimentação para chegarmos aos de consumo da mesma. É a ordem natural: as ci-
dades não se formam por geração espontânea, não nascem do nada. São conseqüências de cru·
zamentos de rotas, as quais lhes garantem de antemão a existência, como vias de acesso para
gêneros e utilidades. E quando crescem e se hipertrofiam caoticamente, sem que aumentem
as suas possibilidades de abastecimento, transformam-se em problemas muitas vêzes insolúveis.
É quando as cidades maravilhosas começam a perder a maioria dos seus encantos ..

O Municipio como unidade de planejamento urbanístico

Em nosso País é o Município a célula administrativa, o que nos leva a considerá-lo como
sendo a "unidade de planejamento urbanístico". Está claro que em muitos casos torna-se
necessário o planejamento de tôda uma região, onde se localizam vários Municípios vizinhos,
de modo que seja possível a exploração de tôdas as riquezas locais, bem como a fixação da rêde
de distribuição. Mas, de qualquer modo, é fora de dúvida que cabe aos Poderes municipais a
tarefa de estabelecer critérios urbanísticos visando a um Plano Diretor que subordine o cres-
cimento das cidades aos recursos e à situação geográfica do Município e que recondicione as suas
áreas rurais. Outras, aliás, não foram as conclusões do I Congresso Nacional dos Municípios,
resumidas na Carta de Princípios, Direitos e Reivindicações Municipais. Assim, no seu item
XV, lê-se: "Os Municípios brasileiros reconhecem a necessidade do planejamento e consideram-no

* Tese apresentada ao li Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.


Os MuNicÍPIOs BRASILEIROS E o MoDERNO UnBANrsMo 605

como ponderável fator de bem-estar, segurança e progresso geral indispensável à melhor parti-
cipação da administração municipal nas atividades econômicas, sociais e culturais desenvol-
vidas em benefício da comunidade local.
A ausência de planejamento bem elaborado reduz a capacidade econômica dos Municípios
e compromete o êxito de providências destinadas a assegurar aos Municípios estabilidade social,
ao mesmo tempo que agrava, consideràvelmente, a situação de precariedade em que se encontra
a maioria dos Povoados, Vilas, Cidades e Municípios brasileiros.
Constitui o planejamento elemento de modernização e aperfeiçoamento da administração
local, e através de sua elaboração, torna-se possível aos Municípios promoverem melhor utili-
zação dos recursos humanos, naturais e institucionais da comunidade.
Nesse sentido, todos os Municípios devem proceder a rigoroso levantamento, que, como
preliminar básica à elaboração de um plano para a solução dos problemas locais, compreenda
não somente os exames e providências vinculados à melhoria do padrão-de-vida das populações,
mas também os estudos pert:nentes à exploração, aproveitamento, conservação e fomento da
produção de recursos minerais, florestais, agropecuários e industriais".
Acredito que tenhamos herdado, no Brasil, a tradição de autonomia do sistema municipal
ibérico, de origem medieval. E, hoje, encontramo-nos em plena fase de reivindicações muni-
cipais, em plena campanha municipalista, desenvolvida por um grupo de brasileiros esclarecidos,
do qual emerge a figura de RAFAEL XAVIER, o grande líder e teórico do municipalismo no Brasil.
Conhecemos todos o significado dêste movimento de redenção econômica e social das Comunas
de nossa terra.
Vivemos uma época de gigantismos, de alucinação pelo grandioso, pelo imenso, pelo des-
mesurado. Acreditamos, porém, que a esperança dessa nossa época de desproporções deve
residir nas pequenas comunidades que crescem lenta mas harmônicamente, unidades estáveis,
porque indivisíveis, cuja sobrevivência, cuja organização funcional e cujo desenvolvimento
determinam o grau de progtesso da União. É nelas que o homem tem a verdadeira noção de
sua função na vida coletiva. Porque nelas, o seu trabalho, as suas posses, a sua família e o seu
credo são proporcionais ao todo comuna!; o que faz nascer nêle um sentimento de pal"ticipação,
que empresta à sua atividade um sentido tantas vêzes perdido para os que vivem nas cidades
hipertrofiadas, caóticas e tentaculares. Repetimos com MAURICE BARRET: "Ce sera le but
du nouvel urbanisme et la tâche du 20ême siêcle de s'attaquer au gigantisme urbain, meurtrier
de la personnalité humaine. C'est par une politique démographique de décentralisation (à
l'échelle nationale) el de re-concentration (á l'échelle regionale) que seront créées des villes à
l'écheiie humaine".
Por fôrça da Constituição de 1946, foram os Municípios brasileiros dotados de maiores dispo-
nibilidades financeiras, que embora não representando por certo uma participação como a que
era de desejar, na receita da União, constituem, de qualquer modo, um fator ponderável de me-
lhoria dos recursos administrativos dos municípios. A aplicação destas verbas não deve, no
entanto, redundar em pura perda, pela ausência de planos que estabeleçam uma ordem racional
de prioridades para a execução das obras necessárias, bem como para o estabelecimento de ser-
viços públicos É chegada, e não sem algum atraso, a hora de se criar uma mentalidade urba-
nística, ou se quiserdes, uma mentalidade de planejamento.

O êxodo rural e o crescimento das cidades

Já nos referimos à necessidade de ser a cidade planejada em função de suas áreas perifé-
ricas e, num sentido mais amplo, em função da região em que está situada. O urbanista não
pode ignorar os campos; é nêles que começa o seu trabalho,
O desejável equilíbrio demográfico entre as populações urbanas e rurais somente será alcan-
çado se forem previstas melhores condições de vida para o trabalhador rural. E note-se, a pro-
pósito, que o item VIII da Carta de Princípios assinala que "o combate ao êxodo rural e as me-
didas tendentes a fixar o homem à terra, têm como campo, por definição, o Município".
Podemos assegurar, sem exagerada ênfase, que êste combate e estas medidas constituem
matéria de salvação nacional. As nossas cidades estão sofrendo uma agravação sistemática
e progressiva de seus problemas básicos como conseqüência de uma verdadeira inoculação de
-populações que se deslocam das zonas rurais. É típico o caso da Capital do País, por cujas vias
de acesso passam, dia e noite, caminhões super!otados de famílias que vêm tentar uma exis-

R B.M -7
606 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

tência menos precária, atraídos pelas vantagens um tanto ilusórias que oferece o trabalho numa
indústria mal localizada ou na construção civil, cujo surto tem sido ultimamente a conseqüência
de uma desenfreada especulação imobiliária.
No entanto, esta gente que chega todos os dias para criar um sem número de problemas
urbanos, esta gente que se espalha pelos morros, forrando-os de um casario estranho, meio pito-
resco, meio macabro, esta gente que o carioca da classe média, em geral tão paciente e generoso,
começa a olhar com hostilidade, porque êle mesmo não tem transporte, não tem água, e não
tem alimentos, esta gente está simplesmente exercendo o elementar direito de locomoção, contra
o qual não se podem fazer leis, principalmente quando se tem em vista que êstes deslocamentos
são em demanda de lugares onde a vida é, na realidade e apesar de tudo, um pouco menos difícil.
A crise, em linl:)as gerais, consiste no fato de que a cidade se acresce justamente daquelas
populações cuja permanência r..os campos se torna cada vez mais indispensável a fim de que o
abastecimento acompanhe êsse aumento da população urbana.
Trata-se de um fenômeno típico da era mecanic}sta em que vivemos, a qual sucedeu à revo-
lução industrial do século XIX. O súbito desenvolvimento dos meios de transporte em alta
velocidade veio abolir em menos de cem anos a milenar estabilidade dos campos Tornou-se
fácil, para o camponês, trocar o trabalho da terra que é duro e solitário, pelo das cidades que
foram a princípio centros comerciais de troças, circundados por núcleos de habitações, mas que
o advento da grande indústria e as novas possibilidades da técnica de construção transformaram
em monstros tentaculares onde cotidianamente se desnaturam as funções específicas do indivíduo
e se aniquila a sua personalidade.

Uma solução total: os três estabelecimentos humanos.

A nosso ver, a solução de tais problemas deve ser total. Deve partir das causas que o deter-
minaram- o advento da máquina e a revolução industrial- e atingir em cheio as conseqüências
que acarreta o abandono dos campos, as crises do abastecimento, as moradias insalubres e depri-
mentes - e, como última conseqüência, uma espécie de infelicidade coletiva. Aliás, os próprios
recursos técnicos, responsáveis pela maioria dos males de nosso tempo, trarão, quando cana-
lizados e devidamente aproveitados, as possibilidades que procuramos entrever.
Fiéis à ordem que estabelecemos para o nosso programa, começávamos pelo recondicio-
namento da vida rural, para passarmos à localização das indústrias e chegarmos a estabelecer
as bases de uma cidade, centro de trocas, de pensamento e de administração.
Estas três etapas de planejamento municipal correspondem ao famoso esquema dos "três
estabelecimentos humanos", cuja implantação coordenada é preconizada por LE CoRBUSIER
nesse longo apostolado que é a sua obra, no qual a sua palavra traumatizante e o seu lápis verti-
ginoso concitam o homem moderno a inaugurar uma "civilização do trabalho", reformando
a vida de suas comunidades, na base do planejamento urbanístico.
Estudando a ocupação do solo que se vem processando desordenadamente nestas últimas
décadas de súbitas e radicais transformações- donde os grandes vazios e os insuportáveis estran-
gulamentos - êle se propõe reconsiderar a distribuição dos aglomerados de população, reconhe-
cendo na arquitetura e no urbanismo os meios materiais que fornecerão à humanidade aquela
civilização do trabalho.
Passemos ao primeiro estabelecimento humano - a unidade de exploração agt ícola.
Já vimos que a possibilidade do transporte em velocidade e atração pela vida artificial
acarretaram o abandono das terras da lavoura e criação e a conseqüente hipertrofia das cidades
em que a indústria se instalou indevidamente. Mas êsses meios de transporte também perfazem
o caminho inverso: vão da cidade para o campo; e então se tornam fatôres de melhoria para os
centros produtores e para a vida agrária em geral. Êles modificam os métodos de importação
e exportação auxiliando a produção, as trocas e o consumo. Assim também as comunicações
- o rádio, os jornais, o telefone, o telégrafo - que trazem ao camponês uma visão do mundo
que até há pouco êle não tinha. E ainda os recursos vários da mecanização que permitem o
abandono dos métodos coloniais de lavoura e criação.
Chegamos aqui ao ponto nevrálgico do problema agrário. Porque em face destas novas
possibilidades, os lotes individuais se tornam por demais pequenos. Impõe-se a adoção do
critério que distribui por grandes unidades as culturas reconhecidamente úteis.
Os j'v!uNrcÍrros BHASILEIROS E o MüDEHNO UnBANIS"-IO 607

Encarando o problema de um ponto-de-vista puramente técnico e sem entrar em conside-


rações de ordem política, diz GASTON RoUPNEL: "Em um todo compôsto de vários lotes, a pro-
priedade pode permanecer parcelada; basta que a exploração seja unificada, quer dizer, assegu-
rada pelas máquinas e por uma mão-de-obra ao serviço da coletividade. A povoação tenderá
a se tornar, assim, uma associação de produtores e uma cooperativa de produção. Voltar-se-á
aos tempos da exploração coletiva; voltar-se-á aos tempos de origem em que cada um estava ao
serviço de todos .. "
Êste critério vem permitir o aproveitamento integral da terra, pela redistribuição das cul-
turas deslocadas em virtude das limitações decorrentes da exploração individual. Cada lote
de terra será destinado, segundo a sua natureza, ao tipo de cultura mais adequado. Evitar-se-á
o desperdício que representa a utilização, por alguns agricultores, das máquinas agrícolas que
trabalham somente para êles, e somente alguns dias por ano. E a policultura passará do plano
individual ao plano associativo.
Esta é a reforma agrária tal como a entendemos. Não cogitamos, nestas considerações,
de uma possível modificação no critério da posse da terra; mas sim de uma imperiosa modificação
no critério de sua utilização.
(Na Europa encontram-se alguns exemplos dessa exploração coletiva da terra, herança
dos antigos métodos da Idade Média. Tal é o caso dos vinhateiros franceses. por exemplo).
Não há dúvida alguma de que, se levarmos em conta os recursos da mecanização, conclu-
iremos que o trabalho do campo é o mais irracional de todos, o que acarreta um rendimento muito
aquém de suas possibilidades reais, além de grandes desperdícios.
A base em que repousa a nova organização social da vida agrária é o centro cooperativo.
Êste centro se compõe de cooperativas de três tipos: de produção, de distribuição e de
consumo.
Às primeiras está afeta a organização dos centros de exploração mecanizada e a criação
da pequena indústria de complemento: ensilagem, beneficiamento, empacotamento, pasteu-
rização, conservação etc. Elas fornecerão não somente as matérias-primas e o equipamento
para cada gênero de cultura, como também a mão-de-obra especializada. Pois os nossos lavra-
dores e criadores, por falta de uma tradição agrária não têm o tirocínio profissional que o cam-
ponês deve ter (como tem na Europa). Ê indispensável cuidar-se dessa formação, à semelhança
do que já se faz nas cidades por meio dos serviços de aprendizagem, tanto no comércio como
na indústria., (S.E.S.C. e S.E SI.).
Faltam escolas patronais, faltam granjas-escola e faltam escolas primário-profissionais
que recebam crianças e adolescentes nos regimes de internato ou semi-internato, conforme o
caso. Mas é preciso que a rêde de educação rural ao ser criada, o seja em íntima ligação com
o centro cooperativo, a fim de que sejam garantidos a todos os munícipes, os benefícios dela
decorrentes.
A cooperativa de produção deve ser aparelhada no sentido de fornecer métodos novos de
cultivo, que permitam o abandono das formas coloniais. Ela tornará possível a progressiva
alfabetização, a formação profissional e a conseqüente elevação da mentalidade da gente do
campo.
Ainda em tôrno da cooperativa de produção devem gravitar as populações 'móveis que se
dedicam às atividades cíclicas da agricultura. Elas devem ser equipadas de maquinaria, cuja
sede fique de preferência situada em pontos que sejam os mais centrais em relação aos sítios
de suas atividades, de forma a facilitar os seus deslocamentos.
O segundo tipo será o das cooperativas de distribuição que muitas vêzes se poderão fundir
às primeiras e que visam a fazer escoar o excedente para outros mercados consumidores,
reservada a parte da produção necessária ao consumo local.
Por fim, vêm as cooperativas de consumo, cuja função é aprovisionar as populações não
só com aquela parte da produção local destacada como vimos anteriormente, como de tudo o
que fôr necessário importar.
O critério da exploração unificada na base de cooperativas, permite, pela exploração plane-
jada do solo, a reserva de áreas destinadas ao reflorestamento, visando à proteção dos manan-
ciais, à produção organizada de madeiras, à cultura da fauna e da flora da região e ao combate
à erosão, essa terrível ameaça que começa a se concretizar em vários pontos do País. (Outra
causa da erosão, o abuso da terra, será também afastada pelo nosso critério). Sob a forma de
hortos florestais, estas áreas poderão constituir, em muitos casos, fator de interêsse turístico.
608 REVISTA BRASILEmA vos MuNICÍPIOS

Permitirá também o nosso critério a adoção de um zoneamento econômico do Município


que surgirá do levantamento e do estudo da geografia da região, os quais indicarão possibili-
dades de novas explorações de riquezas minerais, bem como de aproveitamentos hidrelétricos,
com a conseqüente construção de reprêsas, açudes e canais para irrigação e talvez navegação.
Decorre de tudo o que vimos a organização da vida gregária nos campos. A cidade dei-
xará de representar para o campônio o único centro de interêsse econômico e a única possibili-
dade de distração, essa sedutora ilusão que cerca, para os que a contemplam de fora, a vida arti-
ficial que o homem criou para si, provando com isto ser o único animal que não possui instinto
de conservação. Pois o centro cooperativo será também um centro de interêsse comunitário
que visará a combater a natural monotonia da vida na roça. Será uma oportunidade de con-
vívio social fora das cidades, pois êle se localizará sempre em pontos o quanto possível eqüidis-
tantes das áreas de cultura a êle ligadas. Êle terá a sua sala de reuniões ou clube, destinada
às sociedades agrícolas (sociedades de crédito, sindicatos etc.), bem como à realização de bailes,
palestras e espetáculos; e terá também instalações para a prática de esportes: ginásio, campos,
piscina etc. Por outro lado, o sistema cooperativo tal como o preconizamos, acarretará a eli-
minação de um certo sentimento de temor que se origina, para o camponês, na incerteza do
dia de amanhã. Pois será assegurado trabalho produtivo a todos os lavradores e criadores da
unidade, e para êle uma remuneração mais estável e, sem dúvida, maior; do que decorre uma
elevação do padrão-de-vida do camponês aliado àquela possibilidade de desenvolvimento pessoal
com que êle jamais sonhou, em nosso País
Estabelecidas as bases sôbre as quais cremos possível a recuperação do homem do campo,
passemos ao segundo estabelecimento: o desenvolvimento linear das indústrias.
Já nos referimos ao papel que representou, como fator de modificação nas distribuições
demográficas, o advento da grande indústria, a qual veio romper aquela espécie de equilíbrio
que havia entre as populações urbanas e rurais; pois o seu desenvolvimento foi por demais rápido
para que a sua localização se pudesse condicionar àquela lógica natural que, através dos tempos,
distribuiu as atividades do homem por campos, povoações e centros de comércio.
A revolução industrial, nós o sabemos, encontrou ambiente propício no regime da economia
liberal. A era industrial é a era da livre iniciativa, do "laisser-faire". E é também a era da
imaginação dirigida. Fizeram-se os maiores progressos no sentido dos menores objetivos.
E aí está, a nosso ver, a causa de todo o mal. Enquanto as possibilidades técnicas cresceram
ilimitadamente, enquanto se fabrica cada vez mais e melhor, enquanto as indústrias por meio
da organização do trabalho, aumentam progressivamente o seu rendimento, vai sendo perdido
o contrôle dessa produção, tão organizada individualmente, mas tão caótica no seu conjunto.
Essa falta de visão de conjunto é, aliás, um sinal do caráter transitório do nosso tempo.
Ela se verifica, quer no domínio da ciência, abalada pela dúvida relativista, quer no da política,
quer mais simplesmente no das crenças fundamentais do homem.
O urbanista, muito embora não possa deixar de tomar conhecimento das causas que deter-
minam os males que êle combate e muito menos das conseqüências de ordem social que as soluções
por êle propostas vão acarretar, tem a sua atuação limitada, como já acentuamos, ao estudo
e à implantação de uma técnica de ocupação do solo.
No caso das indústrias, interessa aqui, principalmente, a sua localização; pois é fato que
elas invadiram as cidades e atraíram os trabalhadores do campo, que preferem as favelas e a
monotonia regulamentada aos casebres perdidos nessas outras grandes favelas que são, por
exemplo, os campos no Brasil e a uma outra espécie de monotonia, em ritmo lento e solitário,
que é a do trabalho da terra.
Cumpre libertar as cidades da indústria sem que esta seja privada, em sua nova localização,
dos meios de acesso para matérias-primas e de escoamento para produtos manufaturados A
solução que se impõe, então, consiste em localizar as indústrias linearmente, ao longo das vias
de transporte que constituem a rêde de rotas fundamentais, formada pela conjugação de
funções da fenovia, destinada aos transportes pesados de velocidade média, da rodovia, desti-
nada aos transportes de todos os gêneros, de velocidade alta e reduzida, e da hidtovia, destinada
aos transportes pesados de material imperecível e de baixa velocidade.
A criação do conjugado ferrovia-rodovia-hidrovia implica uma possível modificação da
rêde ferroviária existente; no traçado de rodovias de alta velocidade acompanhando as ferrovias,
e no das de baixa velocidade, de interêsse local; e na retificação de rios (tornados navegáveis)
e construções de canais, de molde a que as hidrovias também corram paralelas às outras duas.
Os MuNICÍPIOs BRASILEIROS E o MonEHNO UHBANIS:I-IO 609

Ao conjugado se fará a ligação dos aeroportos, cuja localização independe do traçado das rotas
fundamentais.
A rêde assim constituída estabelecerá a divisão dos campos e a ligação entre os centros de
administração, comércio e distribuição que são constituídos pelas vilas e povoados. A locali-
zação das indústrias deverá ser feita, não na periferia daqueles centros, como até hoje se tem feito,
mas sim, ao longo de uma das margens do conjugado, segundo uma faixa de terra onde também
se localizarão os conjuntos residenciais.
Êste critério não só dotará a faixa de indústrias de melhores possibilidades de transporte,
como também permitirá a criação das vias de trânsito local, independentes das de longa distân-
cia. Achando-se em uma das margens do conjugado, as instalações industriais, devidamente
circundadas por bosques, cuja função é, não só de reflorestamento, como de proteção contra
resíduos gasosos, que as fábricas e usinas possam desprender, ter-se-á a outra margem destinada
aos campos de lavoura e criação, com os respectivos conjuntos residenciais. Com essa disposição,
poder-se-á ainda e Jitar os cruzamentos de nível de trânsitos heterogêneos.
A cidade linear das indústrias terá dimensões tais, que um corte transversal fará aparecer
distâncias percorridas a pé: habitação-oficina, habitação-escola etc. Serão eliminados assim
os deslocamentos cotidianos a que estão sujeitos os trabalhadores da indústria nas grandes ci-
dades Por outro lado, um corte longitudinal alinhará atividades que se desenvolvem na depen-
dência de grandes distâncias a serem percorridas em velocidade elevada, sôbre auto-estradas (L. C.).
O desenvolvimento linear das indústrias dará lugar a uma transformação no ambiente
hoje depressivo em que elas vivem A possibilidade de reserva de áreas para reflorestamento
e para parques, a localização conveniente das habitações, os campos de esporte e as facilidades
de abastecimento, farão com que a indústria fique diretamente ligada à natureza, eliminando
as desvantagens que oferecem essas verdadeiras "zonas malditas" que são as zonas industriais
que se têm formado nestes cem primeiros anos de civilização maquinista.
Um sentido de proporção há de orientar a cidade industrial a fim de que, também ela, cresça
ordenadamente Cada tipo de fabricação se estabelecerá segundo uma ordem de grandeza que
lhe é própria. E tudo se processará segundo leis orgânicas, quase biológicas. A cidade linear
diz LE CORBUSIER, não concentra, mas também não dispersa: ela digere. As populações ligadas
à indústria, dotadas de recursos de assistência social, de possibilidades de educação e de condições
de trabalho e habitabilidade que para elas não existem atualmente, viverão ao longo dêste
grande tubo digestivo, uma vida mais higiênica e, certamente, mais feliz.
Caracterizadas, assim, as funções dos dois primeiros estabelecimentos e feito, em conse-
qüência, o zoneamento do Município, com a previsão das áreas destinadas à localização dos
mesmos, podemos voltar-nos para os aglomerados urbanos, encarando-os como centros de inte-
rêsse mercantil-administrativo e cultural. Êstes aglomerados se situam nos pontos de cruza-
mento das grandes vias de transporte. A sua localização, portanto, é determinada por uma
fatalidade geo-econômica. De centro de trocas de mercadorias, a cidade passou a centro admi-
nistrativo e a centro cultural. Não cabe aqui o estudo da origem das cidades; cabe, no entanto,
repetir que nestas antigas aglomerações de crescimento lento e ordenado, instalou-se a indústria,
porque nelas encontrou ambiente propício e todos os recursos que oferecem as concentrações
humanas. Ela é responsável pelo caos que reina nas cidades, pelo seu clima depressivo, des-
umano e alucinatório. Ê verdade que o problema, para r.ós brasileiros, restringe-se a um pe-
queno número de grandes cidades. Tanto melhor. Cumpre, porém, não perdê-lo de vista
quando se tratar de proceder ao recondicionamento econômico dos Municípios e ao estudo de
um plano diretor para as suas cidades. Como sempre, é melhor prevenir do qhe remediar.
Constituem, portanto, as cidades o nosso último estágio de planejamento. A elas se limita-
ram até há pouco os urbanistas que se preocuparam unicamente com a revisão de seus traçados,
a qual tinha em vista, principalmente, o descongestionamento do triífego e o embelezamento.
Chegou-se, porém, aos poucos, à conclusão de que é impraticável o planejamento urbano que
faz da cidade um núcleo demográfico isolado e independente da região em que ela se encontra.
Poderia citar vários exemplos que bem caracterizam a falência de um tal tipo de urbanismo,
o qual pode, às vêzes, acarretar problemas de solução mais difícil do que a daqueles inicial-
mente enfrentados.
Em pouco tempo as distâncias diminuíram de tal modo que se deu um inevitável entrela-
çamento de interêsses urbanos, agrários e industriais. Torna-se, portanto, cada vez menos
possível resolver isoladamente os problemas de uma comunidade, de uma classe ou de uma zona.
610 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

Já vimos que as grandes cidades, desafogadas pelo afastamento das indústrias, terão resta-
belecido o desenvolvimento natural de suas funções, historicamente determinadas. Ê preciso
então trazer para elas as vantagens que oferecem as pequenas comunidades rurais, o que se con-
seguirá pela aproximação das habitações dos locais de trabalho, pela descentralização do comércio
varejista e pela presença da natureza. Esta última supõe a reserva de espaços livres e, por-
tanto, uma menor taxa de ocupação do solo. A possibilidade de construir em altura vem tornar
possível diminuir essa taxa e ao mesmo tempo elevar a densidade de população. Por outro lado,
os recursos técnicos, possibilitando a construção sôbre colunas ou pilotis, vêm liberar o solo
ao tráfego de pedestres e de veículos, ao estacionamento dêstes últimos e à vegetação. Ao nível
do solo deverão ficar somente aquelas instituições de caráter coletivo: o centro religioso, a escola,
a praça de esportes etc. A rêde de vias carroçáveis, destinada ao tráfego de alta velocidade,
deve ser criada de tal modo que estas vias se situem sempre na periferia das áreas de habitação,
onde só haverá trânsito de pedestres.

Os conjuntos t·esidenciais auto-suficientes

Nestas áreas serão localizados, então, os conjuntos residenciais auto-suficientes.


Cada um dêsses conjuntos - espécie de pequenos bairros autônomos - se compõe das habi-
tações para população homogênea, escola primária, centro de saúde, serviço de assistência social,
centro religioso, empório, mercado, cinema, biblioteca, clube com instalações para esporte, par-
que infantil etc.
A base para fixação do número de habitantes do conjunto e, em conseqüência, de suas di-
mensões, é a escola primária-padrão ideal. Êste é o critério adotado pelos urbanistas inglêses
que elaboraram o plano de Londres e de várias outras cidades atualmente em reconstrução.
O sistema de conjuntos residenciais que preconizamos para as cidades, aqui apenas deli-
neado, pois seria exaustivo aprofundar o seu estudo, deve estender-se aos dois outros estabe-
lecimentos. As populações serão, assim, alojadas em conjuntos residenciais auto-suficientes
de três tipos, que se localizarão nas proximidades das indústrias, nos campos e nos centros ur-
banos. Então teremos:
a) Conjuntos t·esidenciais de zona industrial. Serão desenvolvidos linearmente,
ao longo do conjunto das vias de transporte, ligados à faixa de indústrias. Nesse gênero de
conjuntos, a Educação e o Ensino serão orientados no sentido da formação de industriários.
A necessidade de tornar compactos os conjuntos dêsse tipo, condicionará a edificação a um nú-
mero mais elevado de habitantes por hectare;
b) Conjuntos tesidenciais de zona agl"Ícola. Localizar-se-ão junto aos centros de
cooperativas, construindo com êles as unidades de exploração agrícola ou pecuária. Quanto
à Educação e Ensino, já tivemos ocasião de expor o nosso ponto-de-vista. Para êste caso é con-
veniente que a edificação seja prevista na base de baixa densidade de população;
c) Conjuntos tesidenciais de zona urbana. A adoção dos mesmos como já dissemos,
permitirá a reurbanização total dos aglomerados de população existentes. O critério de fixação
de densidade de população obedecerá a condições locais.
O problema da habitação é o problema básico do Urbanismo. Da habitação e de seus pro-
longamentos: a escola, a igreja, o clube, o comércio varegista, os meios de acesso aos locais
de trabalho etc. Ê um problema que o urbanista encara de um modo diferente do arquiteto.
Êste se ocupa da habitação individualmente. Aquêle se ocupa do conjunto, dos núcleos de
habitação, de sua localização que deve estar em função de topografia, do clima, dos espaços
verdes, bem como dos locais de trabalho e dos índices demográficos da região.

As quatz·o funções do homem

Em 1933 reuniu-se em Atenas o IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, C.I.A.M.


De seus trabalhos resultou a famosa "Carta de Atenas" que "formulou os princípios de
um desenvolvimento harmonioso, racional e sobretudo humano das cidades, nos seus aspectos
fundamentais: habitação, circulação, trabalho e Jazeres". A êstes quatro aspectos fundamentais
correspondem as quatro funções essenciais do homem, em que se enquadram tôdas as suas ati-
vidades:
Os MuNICÍPios BRASILEmos E o MoDERNO URBANISMO 611

habitar
trabalhar
cultivar o corpo e o espírito
circular
A moderna doutrina de Urbanismo estabelecida pelo C.I.A.M visa a atender às quatro fun-
ções que, no dizer de LE CoRBUSIER, foram separadas e desnaturadas pelo desenvolvimento
de fenômeno maquinista.
Estas quatro funções são interdependentes e guardam entre si relações de espaço e de tempo.
Assim, a habitação depende do trabalho no que se refere à sua localização; o cultivo do corpo
e do espírito exige locais próximos às habitações e horas disponíveis, donde relação de tempo
com o trabalho. Por fim, a circulação varia com as distâncias, que devem ser reduzidas a fim
de que sobre tempo para o exercício das três primeiras funções

Conclusão

A exposição que acabamos de fazer, pelo seu caráter sucinto e genérico deixou, possivel-
mente, uma impressão um tanto esquemática. Não é possível, porém, fazer de outro modo,
quando não se está enfrentando um problema particular, com os seus dados específicos, na posse
dos quais deve o urbanista penetrar profundamente na vida de uma aglomeração.
Afirmamos, de início, ser o Urbanismo, antes de tudo, um humanismo. Já agora podemos
repeti-lo com mais segurança. De fato, êle será eficaz e será vivo, na medida em que, resolvendo
problemas coletivos, não deixar de ter em vista o homem comum, êste nosso irmão de quem muito
já se falou, de quem já se disse até, ser o senhor dêste século de contradições.
Na verdade, porém, a Técnica, sob cujo signo vive a nossa civilização, pouco fêz pelo homem
comum. Êle a viu hipertrofiada, criando os problemas de produção, e depois, dilatando a guerra
no espaço e trazendo-a até a sua própria casa. E se é verdade que algum acréscimo de confôrto
material foi obtido, não cremos que êle chegue a compensar os sacrifícios imensos que custou.
Acreditamos porém que é na própria Técnica que muitos dos males de nossa época vão encontrar
sua solução.
E para o recondicionamento da vida dos aglomerados urbanos e rurais, há uma técnica que
pelo seu caráter apolítico, realista e eminentemente humano pode representar uma grande espe-
rança. E é no plano municipal que deve começar êste recondicionamento, e não no estadual
ou no federal. Êle é de recuperação rápida e altamente remunerador.
Os Poderes municipais ainda podem enxergar de perto aquêle homem comum, os seus sonhos,
os seus sofrimentos. Mas, como já dissemos, não basta a ação do Govêrno. A tarefa é de todos.
E é de todos uma certa vigilância sem a qual não podemos admitir que "a esperança no futuro
seja pelo menos tão racional quanto o temor". Pois hoje como no passado, e sempre, os lôbos
hão de rondar os arraiais onde labutam, descansam e amam os homens.
.-
TRIBUTAÇAO E HABITAÇAO* -
HEITOR LIMA RoCHA
(Da Confederação Nacional da Indústria)

SUBCOMISSÃO de Habitação e Favelas, da Comissão Nacional de Bem-Estar Social,

A pelos estudos e debates até aqui realizados, parece ter aceito o ponto-de-vista, segundo
o qual teria ocorrido e ainda ocorre no País uma distorção nos investimentos imobiliários.
Essa distorção não se manifesta apenas em relação à distribuição demográfica, ou seja, excesso
de inversões imobiliárias em um núcleo demográfico e insuficiência em outros; manifesta-se
também, e principalmente, em função da estrutura de rendas do País Isto é, a oferta de
novas habitações não se ajusta à procura normal que deveria ocorrer se levarmos em conta o
poder aquisitivo dos grupos de renda médios e inferiores, que constituem a grande maioria da
população. As novas habitações pelas suas características e pelo seu custo, estão em despro-
porção com as possibilidades efetivas de pagamento da grande clientela dos grupos de renda
mais carentes de habitação.
O resultado, que se observa, é que essas classes de rendas médias e baixas são forçadas a
solucionar seu problema habitacional sempre em forma inadequada: seja pela ocupação compul-
sória de residências de padrão mais elevado do que permitiriam suas posses, sacrificando, assim,
irremediàvelmente, suas outras necessidades fundamentais, como alimentação, vestuário, cui-
dados médicos, educação etc.; seja submetendo-se à sublocação de cômodos, sacrificando o seu
padrão habitacional e criando problemas sociais insanáveis, dada a promiscuidade; ou seja pelo
aviltamento total do padrão habitacional, procurando ocupar casas "substandard" infetas,
nos aglomerados tipo "favelas" etc.
As causas do fenômeno são complexas, não podendo deixar de ser ressaltada a responsabi-
lidade do decantado processo inflacionário, o qual provocando distorções na própria estrutura
de renda das várias classes teria forçosamente de ocasionar os referidos desajustamentos na pro-
cura e oferta de habitações nos seus vários níveis. Mas, o problema não é apenas circunstan-
cial, simples decorrência de uma fase de instabilidade financeira; à parte essa causa evidente,
deve-se ter em conta a própria natureza de nossa economia, em sua fase de expansão, que pos-
sibilita uma extraordinária mobilidade vertical à sociedade. Isto é, como vivemos numa eco-
nomia em franco desenvolvimento e numa sociedade em formação, não possuímos uma estra-
tificação de classes, quer do ponto-de-vista econômico, quer do ponto-de-vista do "status social",
há, por isso, uma intercomunicação muito rápida entre os vários níveis, da mesma forma que
nos Estados Unidos nos fins do século passado e princípios dêste, e diferentemente das econo-
mias da Europa Ocidental e dos Estados Unidos atualmente, onde tanto o processo de cresci-
mento econômico quanto a estratificação social tendem a uma estabilização.
Em face daqueles dois fatôres, é natural que se verifique no País, por fôrça do consumo
conspícuo, uma forte propensão a gastos imoderados com habitações de alto padrão. Tal fato,
porém, dado os limitados recursos totais da economia para investimentos, determina uma carência
de recursos para habitações destinadas à população em geral. Por isso, a Subcomissão lembrou,
em trabalhos anteriores, entre outras providências de caráter social para solucionar êsse problema,
a necessidade de um estudo detalhado do sistema tributário atual incidente sôbre a habitação,
de modo a procurar um meio de desencorajar as inversões em prédios de alto custo, e, ao contrário,
de estimular aquelas destinadas aos prédios de mais baixo custo, acessíveis a um maior nú-
mero. A modalidade aventada seria a adoção de uma progressividade no ônus fiscal sôbre

Tese apresentada ao li Congresso Nacional dos Municípios Brasileiros.


TRIBUTAÇÃO E HABITAÇÃO 613
--~--------------------~=

a habitação, partindo da isenção total para certos tipos - "standard" e crescendo até uma
taxa que tornassem proibitivas certas inversões em habitações suntuárias.
Evidentemente, não poderíamos sugerir aqui uma solução definitiva para o problema, não
só porque nos faltam no momento muitas das informações necessárias para um estudo acurado,
como também porque a premência do prazo impediu o exame da matéria em tôda a sua comple-
xidade; procuramos somente fornecer certos esclarecimentos essenciais para encaminhar as fu-
turas discussões do tema, e aventurar duas sugestões que, a rigor, estão ainda em fase inicial
de maturação nos nossos estudos.
A bem da verdade, devemos desde logo informar que não conhecemos ainda tôdas as moda-
lidades de tributos das órbitas federal, estadual ou municipal que, direta ou indiretamente,
recaiam sôbre a propriedade imobiliária ou mais especialmente sôbre os imóveis residenciais.
Para uma primeira abordagem da matéria podemos considerar apenas os principais:
1. Impôsto Predial;
2 Impôsto Territorial Urbano, ambos de competência municipal;
3. Impôsto de Renda - Cédula E - sôbre os rendimentos de Capitais Imobiliários;
4. Impôsto sôbre lucros imobiliários de competência federal.

1 - Imp6sto Predial - Êsse tributo incide sôbre os proprietários de prédios alugados


ou não, medindo-se pelo valor locativo, real ou presumido do imóvel. As taxas não são uni-
formes nos numerosos Municípios brasileiros e obedecem a critérios diferentes. Algumas Pre-
feituras cobram numa base fixa de 8% ou de 10%, na maioria; outras cobram um impôsto vari-
ável de acôrdo com critérios diversos: quanto à localização, quanto ao destino (para renda ou
para residência própria) e quanto à natureza (nestes casos têm caráter primitivo quando os pré-
dios desobedecem às posturas municipais).
Corno se vê, o sistema não prevê qualquer progressividade de taxa em função do valor loca-
tivo. Em geral, êsse tributo tem apenas finalidades fiscais e urbanísticas. Tal irnpôsto, embora
venha paulatinamente perdendo seu valor corno base de rendimentos dos municípios, pois apenas
nos grandes centros corno o Rio e São Paulo, êle atinge a sornas substanciais, constituiria, não
obstante, a melhor base para a aplicação do sistema almejado por esta Subcomissão Isto
porque, além de possibilitar uma melhor administração do impôsto, permitiria a consideração
de condições regionais e locais, dando assim u'a maior flexibilidade ao sistema. O seu aprovei-
tamento para o objetivo em vista apresenta, todavia, os inconvenientes seguintes:
- a imposição de uma progressão com a gravosidade desejada sôbre o valor locativo terá
efeitos retroativos, isto é, vai recair sôbre prédios de alto valor já existentes, aumentando os
aluguéis vigorantes; tal medida, além de não beneficiar em nada as futuras construções de baixo
custo, poderia agravar o problema, pois que não aumentar.do a oferta poderia estimular a pro-
cura de residências de menor valor locativo;
- se bem que pudesse ser administrada nos grandes centros, seria de mais difícil aplicação
nos centros menores. A atual arrecadação, considerando-se as taxas vigorantes, é decepcionante,
o que indica uma enorme evasão ao impôsto, tanto mais fácil quanto menores os conhecimentos
técnicos para uma adequada avaliação dos prédios ocupados pelos proprietários e quanto maiores
as influências políticas dos interessados.
Como a finalidade de tributação procurada é a de evitar futuros gastos excessivos em resi-
dências de elevado padrão, o impôsto deve ser prévio à aplicação dos recursos. Neste caso,
a melhor modalidade seria um impôsto predial progressivo a ser pago no ato do pedido de li-
cença para construção. Êsse impôsto, cujos detalhes jurídicos e de técnica tributária deveriam
ser estudados mais minuciosamente, poderia ser baseado numa tabela progressiva como a que
abaixo apresentamos a título exemplificativo.
- Isenção para os prédios que forem classificados, segundo uma definição esboçada pela
Subcomissão de Habitação como Casa Popular ou Casa padrão-mínimo, ou seja aquela cujo
custo atual calculando-se de 10% a. a., em 20 anos, roão apresente um valor locativo anual superior
à metade do salário mínimo da região;

Taxa de 1/2% para aquêles cujo valor locativo anual ultrapasse aquêle limite até lO%;
Taxa de 1% para os que ultrapassem de 10 a 20% o limite;
Taxa de 1/2% para 20 a 40%;
Taxa de 2% para 40 a 80%;
614 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

Taxa de 2 1/2% para 80 a 160%;


Taxa de 3% para 160 a 300%;
Taxa de 4% para 300 a 500%;
Taxa de 5% para 500 a 800%;
-Taxa de 6% para 800 a 1 vOO%;
-Taxa de 8% para 1 000 a 1 500%;
e assim por diante.

Tendo em vista os padrões do Distrito Federal teríamos atualmente a seguinte tabela:


Cr$
Até 50 000 ••• o. o •••••••• isento
de 50 a 55 ••••• o •• 1/z% 250,00 275,00
de 55 a 60 1% 550,00 600,00
de 60 a 70. 11/z% 900,00 1 050,00

500 a 700 ••••••••• o ••• o ••••• 6% 30 000,00 45 000,00


---

1 000 a 1 500 lO% 100 000,00 150 000,00

2 - lmpôsto territorial urbano Êsse tributo tem oferecido possibilidades fis-


cais limitadas e o seu aproveitamento tem sido principalmente como um instrumento
de objetivos urbanísticos. As suas modalidades e as formas de taxação são as mais variadas.
Um especialista em tributos (GÉRSON AUGUSTO DA SILVA- "O Sistema Tributário Brasileiro")
resumiu essas modalidades em cinco grupos:
1. 0 ) segundo a base ou medida do impôsto:
a) valor venal
h) metro linear de testada
c) áreas
2. 0 ) segundo a localização;
3. 0 ) segundo as condições do logradouro;
4. 0 ) segundo a forma de utilização;
5. 0 ) segundo as condições de fechamento de terreno, existência ou não de passeios etc.
Não há, segundo pudemos apurar pelas informações disponíve1s, qualquer incentivo para
a construção de habitações, nem muito menos para habitações populares.
Neste caso, todavia, poderia ser muito bem aproveitada a base tributária já existente para
tentar ou experimentar um novo sistema comparável ao "drawback", instituto aplicável na
tarifa aduaneira.
Em primeiro lugar, seria criada uma taxa adicional, cujo ônus deve ser estudado isolada-
mente para as várias localidades, mas de um montante suficiente para induzir a sua utilização
em zonas residenciais. Essa taxa seria totalmente ou em parte restituída a quem utilizasse
aquêles terrenos urbanos para a construção de habitações. Neste caso, organizar-se-ia uma
tabela de restituição, segundo o exemplo abaixo:
1 °) Aproveitamento com a construção de casas definidas como de tipo popular, resti·
tuição total da taxa adicional dobrada;
2. 0 ) Aproveitamento com a construção de casas definidas como tipo submédio, restituição
de 75% da taxa adicional arrecadada;
3. 0 ) Aproveitamento com a construção de casas definidas como de tipo médio, restitui-
ção de 50% da taxa adicional e assim por diante.

3 - Impostos Fede1·ais sôb1·e a Renda e sôbre Lucros Irrwbillálios


Êsses impostos, desde logo, não apresentam as vantagens dos impostos municipais, por
não poderem contemplar as peculiaridades locais. Sabemos que o tipo de casa "standard" e os
seus níveis superiores - "popular" e "médio"- devem\ ariar, em custo, de região para região.
TRIBUTAÇÃO E HABITAÇÃO 615

Não podemos distingui-lo, para efeitos de taxação sôbre a renda, pelos rendimentos dela aufe-
ridos pelos financiadores ou construtores; mesmo que êsse admita teoricamente possível,
a inclusão de diferenciações de taxas para as várias re&iões; tais complexidades na Cédula E do
impôsto, seria, com certeza, contra-indicado do ponto-de-vista da técnica tributária. Além
disso, a progressividade no impôsto sôbre rendimentos da Cédula E, atualmente fixado em 3%,
apresentaria os mesmos inconvenientes mencionados para o impôsto predial; isto é, oneraria
diferencialmente rendimentos provenientes de prédios já existentes sem nenhum proveito para
os objetivos visados, ou seja, estabelece uma retroatividade à medida, sem razões fundamentais
para tal procedimento. Ainda poder-se-ia lembrar que, sendo êsse impôsto incidente apenas
sôbre os rendimentos de propriedades imobiliárias, não oferece êle a universalidade indispen-
sável para os efeitos que se poderia esperar; os imóveis não alugados ou ocupados pelos pro-
prietários ou suas famílias não seriam taxados, fôssem êles suntuários ou não.
O a pro\ eitamento do impôsto sôbre lucros de transações imobiliárias, atualmente a uma
taxa única de 10%, embora não seja aparentemente suscetível de proporcionar todos os efeitos
almejados, poderia, talvez, sofrer certas alterações que viessem auxiliar outras medidas já su-
geridas para desviar recursos para habitações de menor custo. Parece fora de dúvida que,
quando se refere a prédios residenciais, as preferências especulativas recaem sôbre prédios ou
apartamentos de custo elevado, que proporcionam maiores ágios; a diminuição ou eliminação
de jôgo especulativo sôbre tais imóveis vem desestimular em grande medida as construções dêsses
tipos, intencionalmente empreendidos para aquêle fim. Bastaria para isso, talvez, estabelecer
três escalas de taxas. Por exemplo, 8% para os lucros obtidos em transações de prédios de valor
de 100 000 a 500 000 cruzeiros; 10% para os de prédios de valor de 500 000 a I 000 000
de cruzeiros; e 15% para os prédios de mais de 1 000 000.
Outra observação que se poderia acrescentar a respeito dêsse impôsto é que, apesar de ser
sua incidência sôbre o vendedor do imóvel, o ônus tributário é fàcilmente trasladado para o com-
prador, no todo ou em parte. Na fase atual, em que se verifica, de um modo geral, no mercado
imobiliário uma virtual situação de "mercado vendedor", o ônus tributário muito provàvel·
mente recai totalmente sôbre o comprador. Poder-se-ia, pois, estabelecer nesse impôsto a sua
restituição ao comprador ou a sua isenção total no caso de imóveis com valor inferior a
Cr$ 100 000,00. No caso de terrenos também poder-se-ia adotar a restituição do produto do
impôsto ao comprador do terreno, desde que fôsse êle utilizado, dentro de um determinado prazo,
na construção de casas "standard", populares, ou médias. Uma vez que o tributo não tem
finalidades fiscais mas apenas anti-especulativas, a aplicação dêsse sistema de "drawback"
parece que poderia propiciar bons t;esultados de interêsse social.
São estas as observações que, a um primeiro exame perfunctório, nos ocorreram sôbre o
tema, as quais ofereço a título exploratório. É evidente que serão necessários estudos poste-
riores minuciosos sôbre os prováveis efeitos econômicos de alterações hipotéticas em impostos
vigentes ou de novas modalidades de impôsto, tarefa essa que deve ser incumbida a uma equipe
de especialistas.
LEGISLAÇAO FEDERAL -
Emmtá1io das Leis promulgadas no pe1Íodo outubro-dezembro de 1952

LEI No 1 676, de 26 de setembro de 1952 pedal de Cr$ 156 900,00, para atender às des-
- Faculta a contribuição para diversos Insti~ pesas feitas com a observação do eclipse solar
tutos de Previdência e dá outras providências no dia 20 de maio de 1947. (Diálio Oficial de
(Diário Oficial de 2 de outubro de 1952) 7 de outubro de 1952)
LEI N ° 1 677, de 26 de setembro de 1952 LEI No 1 684-A, de 1 o de outubro de 1952.
-- Autoriza o Poder Executivo a abrir, ao Poder - Altera a redação ao item XIII do Artigo 43
Judiciário, o crédito especial de Cr$ 6 575,20, do Plano dos Uniformes para Ut->O dos Oficiais e
a fim de ocorrer às despesas com o pagamento Praças da Aeronáutica (Diário Oficial de
de diferença de vencimentos ao Suplente de 9 de outubro de 1952 )
Presidente da Junta de Conciliação e julgamento LEI No 1 685, de 2 de outubro de 1952.
de Vitória (Diário Oficial de 2 de outubro - Prorroga, até 31 de dezembro de 1953, as
de 1952) disposições da Lei no 641, de 27 de fevereiro
de 1949, com as modificações introduzidas pela
LEI N ° l 678, de 26 de setembro de 1952.
Lei no 1 243, de 25 de novembro de 1950 (Diário
- Isenta do pagamento dos impostos de im-
Oficial de 7 de outubro de 1952)
portação e taxas aduaneiras maquinarias usadas,
LEI No 1 686, de 2 de outubro de 1952.
destinadas ao fabrico de sabão, gordura e pro-
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
dutos similares (Diário Oficial de 2 de ou-
Ministério das Relações Exteriores, o crédito
tubro de 1952)
especial de Cr$ 161 460,00, para atender ao
LEI N ° 1 679, de 1 o de outubro de 1952
pagamento da contribuição do Brasil à Confe~
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
rência Internacional de Materiais, no exercício
Ministério da Justiça e Negócios Interiores, o
de 1952 (Diário Oficial de 7 de outubro de
crédito especial de Cr$ 480 000,00, para paga-
1952)
mento de pensão especial aos veterano3 da Re-
LEI 687, de de outubro de 1952.
volução Acreana (Diário Oficial de 7 de ou-
- Concede pensão especial à menor MARIA
tubro de 1952 )
EDITE DE OLIVEIRA, filha de JoÃO RODRIGUES
LEI N ° 1 680, de 1.o de outubro de 1952. DE 'OLIVEIRA, extranumerário diarista da Es-
- Autoriza o Poder Executivo a construir e trada de Ferro Central do Piauí, falecido em
pavimentar o trecho Itumbiara~Monte Alegre conseqüência de acidente no trabalho (Diário
de Minas, da BR-14, do Plano Rodoviário Oficial de 7 de outubro de 1952)
Nacional, e a ligação Monte Alegre-Uberlândia LEI N o 1 688, de 2 de outubro de 1952.
(Diário Oficial de 7 de outubro de 1952.) - Conce:le pensão especial de Cr$ 273,00
LEI N.o 1 681, de }.o de outubro de 1952. mensais a HONORINA CAVALCANTI DE MOURA,
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, ao Poder genitora de FRANCISCO CAVALCANTI DE MOURA,
Judiciário, o crédito especial de Cr$ 11 400,00, servidor público, falecido no exercício de suas
para atender ao pagamento de despesas na Jus- funções (Diá1 ia Oficial de 7 de outubro de
tiça do Trabalho, 1 a Região (Diário Oficial 1952.)
de 7 de outubro de 1952) LEI 689, de de outubro de 1952
LEI N °1 682, de 1 o de outubro de 1952. - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, ao Tri- Ministério da Educação e Saúde, crédito especial
bunal de Contas, o crédito especial de Cr$ para pagamento de prêmios e aquisição de
17 854,60, para ocorrer ao pagamento de venci- quadros prenliados no Salão Nacional de Belas
mentos, acréscimo e diferença de vencimentos Artes e Salão Nacional de Arte Moderna. (Diário
e salários-família, relativos a 1951 (Diário Oficial de 7 de outubro de 1952)
Oficial de 7 de outubro de 1952) LEI No 1 690, de 3 de outubro de 1952.
LEI N ° 1 683, de 1 o de outubro de 1952 -- Estende aos Médicos Sanitaristas do Minis-
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo tério da Educação e Saúde, as vantagens e os
Ministério da Viação e Obras Públicas, o cré- direitos concedidos pela Lei n o 488, de 15 de
dito especial de Cr$ 5 000 000,00, para regula- novembro de 1948. (Diá1io Oficial de 7 de
rizar despesas de pessoal na Estrada de Ferro outubro de 1952)
de Goiás (Diário Oficial de 7 de outubro de LEI No 1 691, de 3 de outubro de 1952.
1952) - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
LEI N ° 1 684, de 1 o de outubro de 1952. Ministério da Viação e Obras Públicas, crédito
-- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo especial para pagan1ento de salário-família.
Ministério da Educação e Saúde, o crédito es- (Diário Oficial de 9 de outubro de 1952)
LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA 617

LEI N° 1 692, de 3 de outubro de 1952. LEI No 1 702, de 15 de outubro de 1952.


~ Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
Ministério das Relações Exteriores, o crédito Ministério das Relações Exteriores, o crédito
especial de Cr$ 700 000,00, para as despesas especial de Cr$ 303 674,26 para atender ao
decorrentes da participação do Brasil na expo- pagamento das despesas efetuadas pelo Govêrno
sição retrospectiva concernente à vida de Santos dos Estados Unidos da América, com a repa ..
Dumont, organizada em Paris pelo Govêrno da triação de brasileiros que se encontravam na
França. (Diário Oficial de 9 de outubro de 1952) Asia. (Diário Oficial de 18 de outubro de
LEI N ° 1 693, de 3 de outubro de 1952. 1952)
- Autoriza a abertura, pelo Ministério da Edu- LEI N. 0 1 703, de 18 de outubro de 1952
cação e Saúde, de crédito especial como contri- - Modifica a alínea a do Artigo 32 da Lei
buição do Govêrno Federal às despesas com a Orgânica do Ensino Secundário. (Diá1 i o Oficial
construção do monumento a J. J. SEABRA, no de 18 de outubro de 1952.)
Estado da Bahia (Diário Oficial de 9 de LEI N ° 1 704, de 15 de setembro de 1952.
outubro de 1952 ) - Concede uma subvenção extraordinária de
LEI N,o 1 694, de 3 de outubro de 1952 Cr$ 100 000,00 ao Museu Santos Dumont, em
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo Minas Gerais (Diáz i o Oficial de 20 de outubro
Ministério da Fazenda, crédito especial desti~ de 1952)
nado à construção do edifício para a Delegacia N,o 1 705, de 22 de outubro de 1952.
LEI
do Tesouro Nacional e demais repartições fe- - Autoriza a abrir, pelo Ministério da Fazenda,
derais no Estado de São Paulo ( Diá1 i o O f ida] o crédito especial de Cr$ 1 492 174 391,20, para
de 9 de outubro de 1952) despesas de exercícios encerrados e suprimentos
LEI No 1 695, de 7 de outubro de 1952 de fundos até Cr$ 2 492 174 391,20, à conta do
- Cria um cargo isolado de provimento efetivo, saldo apurado no exercício de 1951. (Diázio
padrão ''M", de Cônsul Privativo, no Quadro Oficial de 25 de outubro de 1952 )
Permanente do Ministério das Relações Exteriores LEI No 1 706, de 22 de outubro de 1952
e dá outras providências (Diá1 i o Oficial de - Autoriza o Poder Executivo a imprimir as
11 de outubro de 1952) obras do naturalista patrício ALEXANDRE Ro~
LEI N,o 1 695, de 7 de outubro de 1952 DRIGUES FERREIRA (Diário Oficial de 25 de
~ Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo outubro de 1952)
Niinistério da Viação e Obras Públicas, crédito LEI N, 0 1 707, de 23 de outubro de 1952
especial para atender, no exercício de 1952, à - Altera dispositivo do Decreto-lei n,o 3 832,
obrigação prevista no têrmo aditivo ao Convênio de 18 de novembro de 1941, que dispõe sôbre a
firmado entre a União e o Estado do Rio Grande situação perante o Instituto de Aposentadoria e
do Sul. (Diátio Oficial de 11 de outubro de Pensões dos Marítimos, dos armadores de pesca
1952) e dos pescadores e empregados em profissões
LEI No 697, de 10 de outubro de 1952 conexas com a indústria da pesca. (Diário Oficial
-- Autoriza o Poder E ecutivo a abrir o crédito de 27 de outubro de 1952)
especial de Cr$ 16 200,00 para atender ao paga-
LEI No 1 708, de 23 de outubro de 1952.
mento de diferença de aluguéis, relativos a
- Prorroga até 31 de dezembro de 1954 a Lei
1950, das salas em que funciona a 2 a Junta
no 1 300, de 28 de dezembro de 1950 (Lei do
de Conciliação e Julgamento de Niterói (Diário
Inquilinato). (Diário Oficial de 27 de outubro
Oficial de 16 de outubro de 1952 )
de 1952)
LEI N ° 1 698, de 10 de outubro de 1952.
LEI No 1 709, de 24 de outubro de 1952.
- Abre ao Poder Judiciário - Tribunal Fe-
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
deral de Recursos - , o crédito suplementar de
Ministério da Educação e Saúde, o crédito es-
Cr$ 2 197 924,50, para atender às despesas de-
pecial de Cr$ 6 718 219,60, para ocorrer ao pa-
correntes da Lei no 1 441. de 24 de setembro de
gamento de despesas realizadas no exercício de
1951 (Diátio Oficial de 16 de outubro de 1952)
1949. (Diário Oficial de 30 de outubro de
LEI No 1 699, de 10 de outubro de 1952.
1952)
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
Ministério da Viação e Obras Públicas - Depar- LEI No 710, de 24 de outubro de 1952
tamento de Estradas de Ferro -- Estrada de - Organiza o quadro do Conselho Nacional de
Ferro de Goiás - , o crédito especial de Cr$ Economia, autoriza o Poder Executivo a abrir ao
2 897 727,00 para pagamento de dívidas contraí- tnesmo Conselho o crédito especial de Cr$
das pela Estrada de Ferro de Goiá:; (Diá1 i o 4 628 400,00 e dá outras providência~ (Diário
Oficial de 16 de outubro de 1952) Oficial de 27 de outubro de l952.)
LEI N ° 1 700, de 15 de outubro de 1952 LEI N.o 1 710-A, de 24 de outubro de 1952.
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo - Abre ao Poder Judiciário - Justiça do Tra-
Ministério da Justiça e Negócios Interiores, o balho ~, o crédito suplementar de Cr$
crédito especial de Cr$ 600 000,00, destinado à 7 207 810,00, em refôrço de dotaçces para o
regularização de despesas efetuadas no exercício exercício de 1952. (Diádo Oficial de 31 de
de 1950 pela Polícia Militar do Di3trito Federal outubro de 1952)
(Diário Oficial de 18 de outubro de 1952) LEI N ° 1 710-B, de 27 de outubro de 1952
LEI No 1 701, de 15 de outubro de 1952 - Autoriza o Poder Executivo a abrir ao Poder
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo Judiciário - Tribunal de Justiça do Distrito
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Federal - o crédito suplementar de Cr$
o crédito especial de Cr$ 1 200 000,00 para 1 615 950,00, em refôrço da Verba 1 - Pessoal,
atender às despesas com o comparecimento do Tribunal de Justiça, do Anexo 26 do Orçamento
BrasH à 35 a Conferência Internacional do Tra· vigente (Diá1io Oficial de 4 de novembro
balho (Diário Oficial de 18 de outubro de 1952) de 1952)
618 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

LEI N ° 1 711, de 28 de outubro de 1952. LEI N.o 1 720-C, de 3 de novembro de 1952


- Dispõe sôbre o Estatuto dos Funcionários - Revigora o prazo a que se refere o Artigo 4,o
Públicos Civis da União. (Dlárlo Oflcial de da Lei n, 0 1 239-A, de 20 de novembro de 1950.
1 ° de novembro de 1952.) (Dlárlo Oficial de 7 de novembro de 1952.)
LEI N ° 1 712, de 29 de outubro de 1952. LEI N.0 1 721, de 4 de novembro de 1952.
~ Autoriza o Poder Executivo a promover a - Dispõe sôbre as carreiras de contínuo e ser-
liquidação e o pagamento de despesas com a vente do Serviço Público Federal, e dá outras
execução de obras na Secretaria do Ministério providências (Dlárlo Oficial de 5 de novembro
da Educação e Saúde. (Dlárlo Oficial de 17 de 1952.)
de novembro de 1952 ) LEI N.o I 722, de 6 de novembro de 1952.
LEI N,o 1 713, de 29 de outubro de 1952 - Autoriza o Poder Executivo a abrir ao Poder
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, ao Mi- Judiciário - Tribunal de Justiça do Distrito
nistério da Educação e Saúde, o crédito especial Federal - o crédito especial de Cr$ 489 440,00,
de Cr$ 429 200,80, para pagamento de gratifi- para ocorrer ao pagamento de gratificação adi-
cações de magistério. (Diário Oficial de I 0 de cional a desembargadores em disponibilidade do
novembro de 1952.) extinto Tribunal de Apelação do Território do
LEI N ° 1 714, de 29 de outubro de 1952. Acre. (Diário Oficial de 11 de novembro de
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo 1952)
Ministério da Viação e Obras Públicas, o crédito LEI N ° 1 723, de 8 de novembro de 1952.
especial de Cr$ 13 799 805,20, correspondente a -Modifica o Artigo 461, do Decreto-lei n. 0 5 452
cota a que fizeram jus as Companhias carbo- de 1 ° de maio de 1943 (Consolidação das Leis
níferas que especifica, pela quantidade de carvão do Trabalho). (Diário Oficial de 12 de no-
"lavador" fornecida, de julho de 1949 a dezembro vembro de 1952)
de 1950, à Companhia Siderúrgica Nacional. LEI N ° 1 724, de 8 de novembro de 1952
(Diário Oficial de 1 ° de novembro de 1952) - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
LEI N ° 1 715, de 29 de outubro de 1952 Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio,
- Autoriza a abertura, pelo Ministério da Fa- o crédito especial de Cr$ 1 969 650,00, para
zenda, do crédito especial de Cr$ 8 ISO 000,00, atender às despesas com a Quinta Conferência
para regularização de despesa efetuada em favor dos Estados da América) Membros da Organi~
da Casa da Moeda (Diário Oficial de 1 ° de zação Internacional do Trabalho. (Diálio Ofi-
novembro de 1952) cial de 12 de novembro de 1952)
LEI N ° 1 716, de 29 de outubro de 1952 LEI No 1 725, de 8 de novembro de 1952.
- ~ Dispõe sôbre a concessão dos favores pre- - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
vistos no Decreto n,o 12 944, de 30 de março Ministério da Guerra, o crédito especial de
de 1918 e no Decreto n o 4 246, de 6 de janeiro Cr$ 6 080,00, para atender às despesas com o
de 1921, à Con1panhia de Usinas Metalúrgicas pagamento de honorários, por exercícios findos,
(Dlárlo Oficial de 4 de novembro de 1952.) aos Professôres ALCIDES FONSECA e VIRGÍLIO
LEI N.o 1 717, de 30 de outubro de 1952 JosÉ ATHAYDE FERNANDES PINHEIRO (Diário
- Abre ao Congresso Nacional - Câmara dos 0/lcial de 12 de novembro de 1952)
Deputados - o crédito especial de Cr$ LEI No 1 726, de 8 de novembro de 1952
220 000,00, para atender às despesas desta Casa - Concede pensão mensal de Cr$ 3 620,00 a
do Congresso na 35 ,a Conferência Internacional VERA VIEIRA GARCIA, viúva do Agrônomo
do Trabalho, em Genebra, Suíça (Diário Ofi- MURILO GERALDO GARCIA, morto em virtude de
cial de 4 de novembro de 1952 ) agressão em serviço, e dá outras providências.
LEI N,o 1 718, de 31 de outubro de 1952. (Diário Oflcial de 12 de novembro de 1952.)
---- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo LEI N, 0 1 727, de 8 de novembro de 1952.
Ministério da Justiça e Negócios Interiores, o - Dispõe sôbre o concurso de provas para o
crédito especial de Cr$ 7 361 531,20, para atender ingresso na magistratura vitalícia (Diário Ofi-
a despesas com o Corpo de Bombeiros do Dis- cial de 12 de novembro de 1952)
trito Federal. (Diário Oficial de 4 de novembro LEI N ° 1 728, de 10 de novembro de 1952.
de 1952) - Dispõe sôbre a forma de pagamento das
LEI N.o 1 719, de 1 o de novembro de 1952. dívidas dos criadores e recriadores de gado bo·
- Amplia o prazo de execução da Lei n,o 1 003, vino, e dá outras providências. (Diário Oficial
de 24 de dezembro de 1949, relativa a finan- de 13 de novembro de 1952)
ciamento da lavoura de café. (Diário Oficial LEI N.0 1 729, de 11 de novembro de 1952.
de 5 de novembro de 1952.) - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
LEI N.o 1 720, de 3 de novembro de 1952. Ministério da Fazenda, o crédito especial de
- Exclui da classificação declarada no artigo 1. 0 Cr$ 155 167,70, para atender ao pagamento de
da Lei n,o 121, de 22 de outubro de 1947, o indenização à Companhia Ferro-Carril do Jardim
Município de São Paulo, Estado de São Paulo. Botânico. (Dlárz'o Oflclal de 14 de novembro
(Diário Of;clal de 5 de novembro de 1952.) de 1952.)
LEI N,o 1 720-A, de 3 de novembro de 1952. LEI N ° 1 730, de 11 de novembro de 1952
- Dispõe sôbre a contagem de tempo de serviço - Autoriza o Poder Executivo a abrir ao Poder
Prestado à União pelos servidores do Conselho Judiciário - Tribunal Federal de Recursos -
Técnico de Economia e Finanças do Ministério o crédito suplementar de Cr$ 100 000 000,00
da Fazenda. (Dlárlo Oficial de 7 de novembro para pagamento de sentenças judiciárias. (Diário
de 1952) Oficial de 17 de novembro de 1952)
LEI N,o 1 720-B, de 3 de novembro de 1952. LEI No 1 731, de 13 de novembro de 1952,
- Modifica o Artigo 609 do Código do Processo - Autoriza o Poder Executivo a abrir ao Con~
Penal. (Dlárlo Oficial de 7 de novembro de selho Nacional do Petróleo os créditos suple-
1952.) mentar de Cr$ 574 016 700,00 e especial de
LEGISLAÇÃO E JuRISPRUDÊNCIA 619

Cr$ 231 350 000,00, para atender dotações do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, o
Orçamento de 1952. (Diário Oficial de 20 crédito especial de Cr$ 500 000,00, para insta-
de novembro de 1952) lação da Primeira Conferência Regional das
LEI N ° 1 732, de 14 de novembro de 1952 Nações Unidas na América Latina. (Diário
- Revigora o Artigo 1 o da Lei n.o 1 116, de Oficial de 25 de novembro de 1952)
30 de maio de 1950 (Diário Oficial de 19 de LEI N ° 1 741, de 22 de novembro de 1952.
novembro de 1952) - Assegura ao ocupante de cargo de caráter
LEI N.o 1 733, de 19 de novembro de 1952 permanente e de provimento em comissão, o
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo direito de continuar a perceber o vencimento do
Ministério da Fazenda, o crédito suplementar de mesmo cargo (Diário Oficial de 25 de no-
Cr$ 252 440,00, em refôrço da Verba 3, Anexo 19 vembro de 1952.)
- Auxílios aos Municípios do Qrçamento de LEI No 1 742, de 22 de novembro de 1952.
1952. (Diário Oficial de 19 de novembro de 1952) - Estende os favores concedidos pelo Artigo 11,
LEI N ° 1 734, de 14 de novembro de 1952 item 20, do Decreto-lei n. 0 300, de 24 de feve-
- Abre ao Congresso Nacional - Senado Fe~ reiro de 1938, à importação do material que
dera! e Câmara dos Deputados - , os créditos especifica (Diário Oficial de 25 de novembro
especiais de Cr$ 560 000,00 para cada uma destas de 1952.)
Casas do Poder Legislativo, a fim de atender às LEI N. 0 1 743, de 26 de novembro de 1952
despesas das respectivas Delegações à Confe- - Exclui da classificação constante do Artigo 1 o,
rência da União Interparlamentar que se reuniu da Lei no 121, de 22 de outubro de 1947, o Mu-
em Berna, Suíça. (Diário Oficial de 20 de no~ nicípio de Santos, no Estado de São Paulo, e o
vembro de 1952.) de Natal. no Estado do Rio Grande do Norte.
LEI N ° 1 734-A, de 17 de novembro de 1952 (Diário Oficial de 28 de novembro de 1952)
- Modifica os Artigos 142, 153 e 188 do De- LEI N. 0 1 744, de 26 de novembro de 1952.
creto-lei no 8 527, de 31 de dezembro de 1945 - - Dispõe sôbre o provimento de cargos da
Código de Organização Judiciária do Distrito carreira de Escrivão de Polícia do Quadro Per~
Federal- e autoriza o Poder Executivo a abrir, manente do Ministério da Justiça e Negócios
pelo Ministério da Justiça, o crédito especial de Interiores. (Diário Oficial de 28 de novembro
Cr$ 165 500,00. (Djálio Oficial de 22 de no- de 1952)
vembro de 1952) LEI No 1 745, de 26 de novembro de 1952.
LEI N ° 1 734-B, de 17 de novembro de 1952 -- Altera, sem aumento de despesa, o Anexo
- Abre ao Congresso Nacional - Senado Fe~ n ° 21 - Miaistério da Justiça e Negócios
deral e Câmara dos Deputados -· os créditos Interiores - para o exercício de 1952 (Lei
especiais de Cr$ 460 000,00 para cada uma dessas n. 0 1 487, de 6 de dezembro de 1951 (Diá1 ia
Casas do Poder Legislativo, a fim de atender à~ Oficial de 28 de novembro de 1952 )
despesas das respectivas Delegações que foram LEI N ° 1 746, de 26 de novembro de 1952
a Londres, em julho de 1952, a convite do Par· - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
lamento da Grã-Bretanha. (Diário Oficial de Ministério da Fazenda, o crédito especial de
22 de novembro de 1952) Cr$ 4 500,00, destinado a ocorrer ao excesso de
LEI N ° 1 735, de 18 de novembro de 1952 despesas, verificado no exercício de 1951, com
- Acrescenta um parágrafo ao Artigo 459) da iluminação, fôrça motriz e gás, na Alfândega de
Lei Orgânica do Distrito Federal (Diário Ofi· Sergipe e na Delegacia Fiscal do Maranhão
cial de 22 de novembro de 1952) (Diário Oficial de 28 de novembro de 1952)
LEI N ° 1 736, de 18 de novembro de 1952 LEI N. 0 1 746-A, de 26 de novembro de 1952
-- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo - Abre ao Congresso Nacional - Senado Fe-
Ministério da Fazenda, o crédito especial de deral - os créditos especiais de Cr$ 89 623,50
Cr$ 194 33 C80, para regularização de despesas e Cr$ 1 691 848,90 e suplementar de Cr$
orçamentárias de dezembro de 1949 feitas pelas 2 347 059,30, para pagamento de despesas de
Delegacias Fiscais do Tesouro Nacional nos pessoal e material da Secretaria daquela Casa.
Estados do Maranhão e do Amazonas (Diário (Diário Oficial de 28 de novembro de 1952)
Oficial de 22 de novembro de 1952.) LEI N ° 1 747, de 28 de novembro de 1952.
LEI N.o 1 737, de 20 de novembro de 1952. -· Altera o Decreto-lei n. 0 4 655, de 3 de setembro
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo de 1942, que dispõe sôbre o Impôsto do Sêlo
Ministério da Educação e Saúde, o crédito es- (Diádo Oficial ue 28 de novembro de 1952)
pecial de Cr$ 30 000 000,00, para auxiliar os LEI No 1 748, de 28 de novembro de 1952.
festejos comemorativos do quarto centenário da - Altera dispositivos da Consolidação das Leis
fundação da Cidade de São Paulo. (Diário Ofi- do Impôsto de Consumo (Diário Oficial de
cial de 24 de novembro de 1952) 28 de novembro de 1952)
LEI N,o 1 738, de 20 de novembro de 1952. LEI N ° 1 749, de 28 de novembro de 1952.
- Abre ao Congresso Nacional - Câmara dos - Estabelece o regime de impôsto único, que
Deputados - o crédito suplementar de Cr$ incide sôbre lubrificantes e combustíveis líquidos,
3 235 000,00, em refôrço de dotações do Orça- dispõe sôbre aplicação da receita dêle resultante,
mento de 1952'. (Diálio Oficial de 24 de no- e dá outras providências. (Diário Oficial de
vembro de 1952) 28 de novembro de 1952.)
LEI N ° 1 739, de 21 de novembro de 1952. LEI N. 0 1 750, de 4 de dezembro de 1952.
- Concede a pensão especial de Cr$ 1 145,30 -- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
mensais à viúva do Engenheiro JosÉ MAIA l'vlinistério da Agricultuta, o crédito especial de
FruiO. (Diá1 ia Oficial de 25 de novembro Cr$ 20 000 000,00, destinado à aquisição, para
de 1952.) revenda, de inseticidas e distribuição gratuita
LEI N ° 1 740, de 21 de novembro de 1952 de sementes selecionadas ao pequeno agricultor,
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo (Diário Oficial de 5 de dezembro de 1952)
620 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

LEI N ° 1 751, de 4 de dezembro de 1952 as despesas com a Delegação da Cruz Vermelha


- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo Brasileira à 18 a Conferência Internacional
Ministério da Fazenda, o crédito de Cr$ (Diário Oficial de 18 de dezembro de 1952)
14 000 000,00 à Verba 2 -Material do Anexo LEI N ° 1 762-A, de 16 de dezembro de 1952
n ° 19, do Orçamento da União de 1952, (Lei - Autoriza a designação de Assistentes Jurí~
no 1 487, de 6 de dezembro de 1951). (Diá· dicos do Ministério da Justiça e Negócios Inte~
rio Oficial de 9 de dezembro de 1952) riores para servirem junto ao :rv:Iinistério Públicc
LEI N.o 1 752, de 4 de dezembro de 1952. Federal. (Diário Oficial de 22 de dezembro
- Concede auxílio ao Capítulo Brasileiro do de 1952)
Colégio Internacional de Cirurgiões, em São LEI No 1 763, de 17 de dezembro de 1952.
Paulo, e dá outras providências. (DÍârio Ofi- - Abre ao Congresso N acionai os créditos su-
cial de to de dezembro de 1952) plementares de Cr$ 252 000,00 e Cr$ 500 000,00
LEI N,o 1 753, de 4 de dezembro de 1952. destinados, respectivamente ao refôrço da Ver-
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo ba I, Consignação I, Subconsignação 03, item 02
Ministério da Educação e Saúde, o crédito es- e Verba 1, Consignação III, Subconsignação 11,
pecial de Cr$ 13 127 430,40, para pagamento à item 01-01, da Lei n ° 1 487, de 6 de dezembro
Universidade do Brasil dos saldos verificados no de 1951. (Diário Oficial de 17 de dezembro
Orçamento relativo aos exercícios de 1946 a 1949 de 1952 )
(Diário Oficial de 10 de dezembro de 1952)
LEI N,o 1 764, de 17 de dezembro de 1952
LEI No 1 754, de 4 de dezembro de 1952.
- Cria, na Terceira Região da Justiça do Tra-
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, ao Poder
balho, uma Junta de Conciliação e julgamento.
Judiciário - Justiça do Trabalho - os créditos
(Diário Oficial de 19 de dezembro de 1952)
especiais na importância de Cr$ 986 298,30 para
LEI No 1 765, de 18 de dezembro de 1952
atender às despesas correspondentes a dotações
dos Orçamentos de 1950 e 1951 (Diário
- Concede abono de emergência aos servidores
civis do Poder Executivo e dos Territórios, e
Oficial de 10 de dezembro de 1952)
dá outras providências (Diário Oficial de
LEI No 1 755, de 5 de dezembro de 1952
18 de dezembro de 1952)
- Concede pensão especial à viúva e filhos
menores do ex-investigador LuciANO MAciEL. LEI No 1 766, de 18 de dezembro de 1952
(Diário Oficial de 10 de dezembro de 1952) - Altera, sem aumento de despesas, o Anexo
LEI No 1 756, de 5 de dezembro de 1952 no 25, do Orçamento Geral da República para
- Estende ao pessoal da Marinha Mercante o Exercício de 1952. (Diário Oficial de 22 de
Nacional, no que couber, os direitos e vantagens dezembro de 1952.)
da Lei n ° 288, de 8 de junho de 1948 (Diário LEI No 1 767, de 18 de dezembro de 1952.
Oficial de 11 de dezembro de 1952.) - Exlcui da classificação constante do Artigo I o,
LE! N ° 1 757, de 10 de dezembro de 1952 da Lei n ° 121, de 22 de outubro de 1947, o
- Estima a Receita e fixa a Despesa da União Município de Corumbã, no Estado de Mato
para o exercício de 1953 (Diário Oficial de Grosso (Diário Oficial de 23 de dezen1bro
13 de dezembro de 1952) de 1952.)
LEI No 1 757-A, de 10 de dezembro de 1952 LEI N,o 1 768, de 18 de dezembro de 1952.
-- Modifica o salário-família (Diário Oficial - Altera o Artigo 141, e o item li, do Artigo 134,
de 13 de dezembro de 1952) do Código Civil Brasileiro (Diário Oficial de
LEI No 1 758, de 12 de dezembro de 1952 23 de dezembro de 1952)
- Retifica a Lei número 1 487, de 6 de de- LEI No 1 769, de 18 de dezembro de 1952.
zembro de 1951, que estima a Receita e fixa a -- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
Despesa da União para o Exercício de 1952, e Ministério da Fazenda, o crédito especial de
dá outras providências. (Diário Oficial de Cr$ 26 750,00 destinado ao pagamento de sa-
12 de dezembro de 1952) lário-família aos servidores da Comissão do Vale
LEI N,o 1 759, de 12 de dezembro de 1952. do São Francisco. (Diário Oficial de 23 de de~
- Dã nova redação à letra b, do § 2.0 do Art 31 zembro de 195 2 )
do Decreto-lei n ° 1 190, de 4 de abril de 1939, LEI N.o 1 770, de 18 de dezembro de 1952.
n10dificado pelo Decreto-lei no 8 195, de 20 de -- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
novembro de 1945 (Diário Oficial de 16 de Ministério da Marinha, o crédito suplementar
dezembro de 1952) de Cr$ 300 000,00, em refôrço de verbas do Anexo
LEI N ° 1 760, de 15 de dezembro de 1952 relativo àquele Ministério, do Orçamento Geral
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo da União para 1952 (Lei n. 0 1 4b7, de 6 de de-
Ministério da Fazenda, o crédito especial de zembro de 1951) (Diário Oficial de 19 de de-
Cr$ 900 000,00 destinado à regularização de zembro de 1952)
despesas cora o serviço da Comissão Mista LEI No 1 771, de 18 de dezembro de 1952.
Brasil-Estados Unidos (Diário Oficial de - Aut01 iza o Poder Executivo a abrir, pelo
15 de dezembro de 1952) Ministério da Educação e Saúde, o crédito es-
LEI No 1 761, de 15 de dezembro de 1952. pecial de Cr$ 20 000 000,00 como contribuição
-- Autoriza o Instituto Nacional do Sal a pro~ da União às con1emorações do primeiro cente-
move1 a construção, adaptação e aparelhagem nário da emancipação política do Estado do
de armazéns para depósito de sal nos principais Paraná (Diázio Oficial de 23 de dezembro
centros de consumo e dá outras providências de 1952)
(Diário Oficial de 18 de dezembro de 1952) LEI No 1 772, de 18 de dezembro de 1952
LEI N ° 1 762, de 15 de dezembro de 1952. - Prorroga o prazo estipulado nos parágrafos 2 o
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo e 3 o, letra b, do Artigo 1 °, da Lei n. 0 1 474,
Ministério da Educação e Saúde, o crédito es- de 26 de novembro de 1951. (Diário Oficial de
pecial de Cr$ 200 000,00 destinado a auxiliar 22 de dezembro de 1952).
LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA 621
---------------------------
LEI No 1 772-A, de 18 de dezembro de 1952 suplementares ele Cr$ 117 320,00 em refôrço ela
- Autoriza o Poder Executivo a abrir ao Poder dotação do Anexo 26 do Orçamento de 1952, e
Judiciãrio - Superior Tribunal Militar - o o especial de Cr$ 429 427,30 para pagamento de
crédito suplementar de Cr$ 24 700,00, em re- despesas correspondentes ao exercício de 1951.
fôrço de dotações do Orçamento de 1952; e o (Diário Oficial de 24 de dezembro de 1952)
especial de Cr$ 317 448,60, para pagamento de LEI No 1 779, de 22 de dezembro de 1952
despesas relativas aos exercícios de 1949, 1950 -- Cria o Instituto Brasileiro de Café, e dá
e 1951. (Diário Oficial de 23 de dezembro de outras providências (Diário Oficial de 23
1952.) de dezembro de 1952)
LEI N ° 1 773, de 19 de dezembro de 1952 LEI No 1 780, de 23 de dezembro de 1952.
-- Modifica o Artigo 1 o, e a letra b, do Artigo 3.0 1 - Reajusta os proventos dos inativos do De-
da Lei n ° 1 024, de 28 de dezembro de 1949. partamento dos Correios e Telégrafos (Diáz io
(Diário Oficial ele 23 de dezembro de 1952 ) Oficial de 24 de dezembro de 1952)
LEI No 1 774, de 19 de dezembro de 1952. LEI N.0 1 781, de 23 de dezembro de 1952.
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo - Abre ao Congresso Nacional - Câmara dos
Ministério das Relações Exteriores, o crédito Deputados - , o crédito especial de Cr$
especial de Cr$ 124 209,10, para pagamento das 101 780,60, para pagamento aos herdeiros do
despesas efetuadas pelo Govêrno da Suécia com a ex-funcionário desta Casa do Congresso, Dr.
proteção dos interêsses brasileiros na Rumânia. LEÔNIDAS RESENDE, e dá outras providências.
(Diário Oficial de 23 de dezembro de 1952.) (Diário Oficial de 26 de dezembro de 1952.)
LEI N.o 1 775, de 1~ de dezembro de 1952. LEI N. 0 1 782, de 24 de dezembro de 1952
- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo -~ Dispõe sôbre promoção ao pôsto de 2. 0 s Te-
Ministério das Relações Exteriores, o crédito nentes dos Subtenentee, Suboficiais e Sargentos
especial ele Cr$ 1 942 911,50, para atender ao do Exército e da Aeronáutica na Itália, como
pagamento da contribuição do Brasil, em favor integrantes da Fôrça Expedicionária Brasileira,
do Comitê Provisório Intergovernamental, para que possuíam até o término da guerra o Curso
os movimentos nligratórios da Europa {Diário de Comandante de Pelotão, Seção ou equiva-
Oficial de 23 de dezembro de 1952) lente, ou o Curso de Especialista da Aeronáutica.
LEI N,o 1 776, de 19 de dezembro de 1952 (Diário Oficial de 26 de dezembro ele 1952.)
- Concede a pensão especial de Cr$ 1 507,80 LEI N ° 1 783, de 24 de dezembro de 1952.
mensais a ALDA MouRÃO MoTA REIS, ANA - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo.
MARIA MOURÃO MoTA REIS e ROGERIO MOURÃO Ministério da Viação e Obras Públicas, o crédito
MOTA REIS, viúva e filhos do Doutor JoRGE especial de Cr$ 146 974,90, para pagamento ele
LESSA MOTA REIS (Diário Oficial de 23 de de- gratificação a funcionários daquele fviinistério,
zembro ele 1952) nos exercícios de 1950, 1951 e 1952. (Diári<b
LEI N ° 1 777, de 19 de dezembro de 1952. Oficial de 26 de dezembro de 1952.)
- Inclui a Faculdade de Filosofia, Ciências e LEI N" 1 784, de 27 de dezembro de 1952.
Letras, do Instituto "Sedes Sapientire", de - Concede o auxílio especial ele Cr$ 6 000 000,00
São Paulo, na categoria de estabelecimentos à Academia Nacional de Medicina para constru-
subvencionados pelo Govêrno Federal. {Diário ção do seu edifício-sede, e dá outras providências.
Oficial de 23 ele dezembro ele 1952) (Diário Oficial de 31 de dezembro de 1952.)
LEI N,o 1 778, de 19 de dezembro de 1952. LEI N ° 1 785, de 27 de dezembro de 1952.
-- Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo ~- Exclui os Municípios de Niterói e Angra dos
Mini~te .. io da Fazenda, o crédito especial de Reis, no Estado do Rio de Janeiro, do Artigo 1 o
Cr$ 60 130 000,00, para despesas com o apa- da Lei n ° 121, de 22 de outubro de 1947. (Diário
relhamento da Casa da Moeda. (Diário Oficial Oficial de 31 de dezembro de 1952.)
de 22 de dezembro de 1952.) LEI N,o 1 786, de 30 de dezembro de 1952.
LEI N,o 1 778-A, ele 19 d~ dezembro de 1952. - Inclui o Instituto Eletrotécnico de Itajubá
- Concede o auxílio ele Cr$ 300 000,00 à Fede- entre os estabelecimentos subvencionados pelo
ração Nacional de Odontologistas, para ocorrer Govêrno Federal (Diário Oficial de 30 de de-
às despesas com o 1 o Congresso Odontológico zembro de 1952.)
realizado em julho de 1952, na cidade do Sal- LEI N ° 1 787, de 30 de dezembro de 1952.
vador, Estado da Bahia. (Diário Oficial de -- Amplia o programa de Primeira Urgência,
23 de dezembro ele 1952.) constante dos Artigos 21 e 22 da Lei n ° 302, ele
LEI No 1 778-B, ele 20 de dezembro de 1952. 13 de julho de 1948. (Diá11'o Oficial ele 31 de de-
--- Aumenta para Cr$ 1 000 000,00 o valor da zembro de 1952)
subvenção concedida pela Lei n.o 720, de 28 de LEI N ° 1 788, de 30 de dezembro de 1952.
maio de 1949, ao Instituto Históricm e Geogrã- - Autoriza o Poder Executivo a abrir, pelo
fico Brasileiro. (Diário Oficial de 24 de de- Ministério da Justiça e Negócios Interiores, 0
zembro de 1952.) crédito suplementar de Cr$ 6 200 000,00 à elo.
LEI No 1 778-C, de 20 de dezembro de 1952. tação atribuída à Verba 1 do Anexo 21 ela Lei
- Autoriza o Poder Executivo a abrir ao Poder n.o 1 487, de 6 de dezembro de 1951. (Diário
Judiciário - Justiça do Trabalho -~ os créditos Oficial ele 31 de dezembro de 1952.)

R B M.- 3
ÁREAS MUNICIPAIS 1950
Concluímos, neste número, a publicação das áreas municipais, iniciada no número anterior
da REVISTA BRASILEIRA DE MUNICÍPIOS. Êsse trabalho foi elaborado peia Secção de
Cálculos, do Conselho Nacional de Geografia. As áreas foram medidas de acôrdo com a divi-
são municipsl vigorante na data do Recenseamento Geral de 1950, não computadas as águas
internas.

ÁREAS MUNICIPAIS 1950

-~~~M_u_l\_··_,~c_c_íPro~------ J_ c_!_~-e~_l_L__ _ --~UNICÍP~~-S-----~~ r!~~)


-

SERRA DOS AIMORÉS (1) ESPÍRITO SANTO (conclusão)

Serra dos Aimorés . 10 137 Santa Teresa. 1 005


São José do Calçado 387
ESPÍRITO SANTO São Mateus (7) 4 965
Sorra 559
Afonso Cláudio 2 090 Vitória 70
Alegre 1 376
Alfredo Ch3.ves 644 ESTADO (8) 39 567
Ametista (2)
Anchieta 451 RIO D'i: JANEIRO
A.racruz 1 331
Baixo Guandu (3) 845 Angra dos Reis 802
Barra de São Francisco 45 Araruama 615
Cachoeira de Itapemirim 532 B01rra do Piraí 672
Cariacica 264 Blrra Mansa 994
Castelo 1 049 B:>m Jardim 479
Co latina (4) 4 685 B:>m Jesus do Itabapoana 576
Conceição da Barra (5) 3 000 Cabo Frio 516
Domingos M3.rtins 1 318 Cachoeiras de lVIacacu 1 052
Espírito S9.nto 217 Cambuci 702
Fundão 301 Campos 4 407
Guaçuí 787 Cantagalo. 778
Guarapari 595 Carmo . 337
Ibiraçu . 687 Casimira de Abreu 660
Iconha .. 278 Cordeiro 242
Itaguaçu 915 Duas B9.rras 337
Itapemirim 1 205 D..1que de Caxias 464
Itapoama 192 It3.boraí 565
Iúna. 937 Itaguaí . 667
Jabaeté . 288 Itaocara 434
Joeirana (6) Itaperuna 1 442
Linhares 4 049 Itaverá 871
Mimoso do Sul 1 068 M9.caé 2 368
Muniz Freire 646 M3.gé .. 626
Muqui 347 M3.ngaratiba 350
Santa Leopoldina 439 Maricá 348

(1) ferritório em litígio entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. - (2) O Município está
situado inteiramente na zona litigiosa com o Estado de Minas Gerais. Sua área, segundo a divisão territorial
estabelecida pelo Estado do Espírito Santo, é de 1 942 km2. - (3) Exclusive 2 158 km2 compreendidos na
zona litigiosa com o Estado de Minas Gerais. - (4) Exclusive 682 km2 compreendidos na zona litigiosa
com o Estado de Minas Gerais. - (5) Exclusive 1 629 km2 compreendidos na zona litigiosa com o Estado
de Minas Gerais. - (6) O Município estã situado inteiramente na zona litigiosa com o Estado de Minas Gerais.
Sua área, segundo a divisão territorial estabelecida pelo Estado do Espírito Santo, é de 3 271 km2. - (7) Ex·
clusive 455 km2 compreendidos na zona litigiosa com o Estado de Minas Gerais. - (8) Exclusive 10 137 km2
compreendidos na zona litigiosa com o Estado de Minas Gerais.
624 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNicfPIOS

ÁREAS MUNICIPAIS 1950

Área MUNICÍPIOS Área


MUNICÍPIOS (km2) (km2)

SÃO PAULO (continuação) SÃO PAULO (continuação)

Cerquilho .. 126 lpuã 456


Chavantes .. . 233 lrapuã .... 253
Colina ......... . 417 ltaberá. 1 004
Concha!. .. . 207 lt'l.Í ...... . 1 145
Conchas 455 ltajobi ..... . 613
Cordeirópolis. . 162 ltanhaém. 1 051
Coroados .... 718 ltapecerica da Serra 1 154
Corumbataí. . 296 ltapetininga ... . 2 029
Cosmópolis ... . 187 ltapeva .... . 2 445
Cosmorama . . . . 542 ltapira .. . 557
Cotia .......... . 578 ltápolis 993
Cravinhos .. 312 ltaporanga. 1 347
Cruzeiro ... 330 ltapuí .. . 257
Cubatão . . 160 Itararé ...... . 1 184
Cunha ............ . 1 335 ltariri .. . 293
Descalvado . . . 792 ltatiba . . . 424
Dois Córregos .. 595 ltatinga .. 985
Dourado .... 208 ltirapina .. 560
Dracena .. 802 ltirapuã .... . 160
Duartina .. . 458 ltu ....... . 638
Echaporã ... . 534 Ituverava .. 725
Eldorado ...... . 1 716 Jaborandi 253
Elias Fausto 208 Jaboticabal 805
Estréia d'Oeste .. . 913 Jacareí ....... . 462
Fartura ........... . 573 Jacupiranga .. . 1 477
Fernandópolis .... . 1 971 Jales ........ . 2 818
Fernando Prestes .. . 199 Jambeiro .... . 199
Flórida Paulista .. . 505 Jardinópolis .. 551
Franca ........... . 1 471 Jarinu ........ . 203
Franco da Rocha 289 Jaú .. . 716
Gália .......... . 462 J oanópolis . . . . . 342
Garça ........ . 781 José Bonifácio .... 1 044
General Salgado ... . 1 706 Júlio Mesquita .. 134
Getulina ..... 833 Jundiaí . . . . . . . 732
Glicério.... . . 652 J unqueirópolis. . .. 498
Gracianópolis . 686 Juquiá ........... . 869
Guaíra ........ . 1 198 Laranjal Paulista .. . 379
Guapiara . . . . 315 Lavínia . . . . . . . . . . 565
Guará ... . 347 Lavrinhas . . . . . . . 170
Guaraçaí. .. 492 Leme . . . . . . . . . . . . 424
Guaraci ..... . 982 Lençóis Paulista .... . 1 169
Guarantã .. . 466 Limeira . . . . . . . . . . . . . 686
Guararapes ... . 912 Lindóia .. 91
Guararema .... . 235 Lins .... 1 118
Guaratinguetá ... . 823 Lorena .... . 451
Guareí. . . . . . . . . . . . 592 Lucélia . . . . 493
Guariba ....... . 435 Lutécia . . . . . . . 473
Guarujá .......... . 138 Macatuba .... . 236
Guarulhos .... . 340 Macaubal. ...... . 339
Herculândia .. . 242 Mairiporã . . 309
Iacanga ...... . 559 Manduri. ....... . 172
Ibirá .......... . 273 Maracaí. .......... . 986
Ibirarema .... . 242 Marília . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 438
lbitinga.... . . . . 647 Martinópolis. . . . . . . . . . ..... . 1 073
lbiúna ......... . 1 029 Matão ..........•. 695
lepê ....... . 1 031 Miguelópolis. . . . . . . . . . 835
Igarapava .. 896 Mineiros do Tietê . . . . 168
lguape .......... . 2 156 Miracatu ............ . 1 033
Ilhabela ...... . 332 Mirandópolis ..... . 1 005
lndaiatuba .. . 296 Mirassol. ............ . 723
Indiana ........... . 105 Mococa ............ . 859
lpauçu ....... . 190 Mogi das Cruzes. . . .. . 1 230
lporanga ........... . 2 131 Mogi-Guaçu. . . . . . . . . .. . 957
EsTATÍSTICA MuNICIPAL 625

ÁREAS MUNICIPAIS - 1950

Área Área
MUNICÍPIOS MUNICÍPIOS (km2)
(km2)

SÃO PAULO (continwwão) SÃO PAULO (continuação)

Mogi-Mirim ..... 727 Porangaba . 365


Monte Alegre do Sul ... 137 Pôrto Feliz 557
Monte Alto . . . . 467 Pôrto Ferreira . 238
Monte Aprazível ..... 918 Potirendaba .... 313
Monte Azul Paulista 250 Presidente Alves ..... 287
Monteiro Lobato ... 326 Presidente Bernardes 1 301
Monte Mor.. . 219 Presidente Epitácio .. 2872
Morro Agudo . . . 1 347 Presidente Prudente 819
Natividade da Serra 846 Presidente Venceslau 3 083
Nazaré Paulista .... 418 Promissão 800
Neves Paulista. 215 Quatá .. 1 004
Nhandeara ... 1 187 Queluz . . 242
Nova Aliança 669 Quintana. 352
Nova Granada 730 Rancharia 1 704
Novo Horizonte. 1 220 Redenção da Serra 318
Nuporanga . . . 340 Regente Feijó 1 063
Óleo 188 Reginópolis 417
Olímpia ... . 1 301 Registro 1 642
Oriente ..... . 195 Ribeira . . . 836
Orlândia 304 Ribeirão Bonito 480
Oscar Bressane 189 Ribeirão Branco 757
Osvaldo Cruz .. 597 Ribeirão Prêto 1 142
Ourinhos ... 278 Ri faina 158
Pacaembu .. 869 Rincão . 273
Palestina . . 707 Rinópolis. 345
Palmital.. . . 851 Rio Claro 708
Paraguaçu Paulista .. 1 005 Rio das Pedras 224
Paraibuna ..... . 712 Rubiácea . . 250
Paranapanema . 838 Sales Oliveira 292
Parapuã ....... . 403 Salesópolis 413
Patrocínio Paulista 603 Salto . 168
Paulicéia ........... . 900 Salto Grande 372
Paulo de Faria. 1 652 Santa Adélia . 325
Pederneiras . . . . . ..... 741 Santa Bárbara d'Oeste .. 281
Pedregulho . . . . 725 Santa Bárbara do Rio Pardo. 845
Pedreira.... . ...... . 114 Santa Branca 269
Pedro de Toledo ...... . 629 Santa Cruz das Palmeiras 311
Penápolis . . . . . . . 1 018 Santa Cruz do Rio Pardo 1 354
Pereira Barreto . . . 3 221 Santa Gertrudes .. 92
Pereiras ... , . . . . . . 214 Santa Isabel 737
Piedade ...... . 1 436 Santana de Parnaíba 411
Pilar do Sul. . . . . 695 Santa Rita do Passa Quatro 754
Pindamonhangaba ....... . 717 Santa Rosa de Viterbo 288
Pindorama ...... . 206 Santo Anastácio 2 045
Pinhal 496 Santo André .. 403
Piquerobi. . . . . . . . 508 Santo Antônio da Alegria 305
Piquête ........ . 166 Santos .. 723
Piracaia ..... . 409 São Bento do Sapucaí 375
Piracicaba 1 617 São Bernardo do Campo 445
Piraju .. . 959 São Caetano do Sul. . 24
Pirajuí .. . 1 064 São Carlos . . . 1 413
Pirangi .. 367 São João da Boa Vista 499
Pirapôzinho 1 425 São Joaquim da Barra 396
Pirassununga 856 São José da Bela Vista 285
Piratininga. 387 São José do Rio Pardo .. 630
Pitangueiras 527 São José do Rio Prêto ... 1 026
Planalto 595 São José dos Campos 1 115
Poá .. 53 São Luís do Paraitinga . 949
Pompéia .. 1 134 São Manuel . 963
Pongaí. 168 São Miguel Arcanjo 1 024
Pontal . 393 São Paulo . 1 593
626 REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS

ÁREAS MUNICIPAIS - 1950

Área MUNICÍPIOS Área


MUNICÍPIOS (km2) (km2)

SÃO PAULO (conclusão) PARANÁ (continuação)

São Pedro .......... . (1) 861 Campo Largo ..... 1 736


São Pedro do Turvo .. . 806 Campo Mourão 16 249
São Roque ..... 724 Carlópolis .. 432
São Sebastião. . . . . . ..... 519 Castro ...... . 3 100
São Sebastião da Grama .. 218 Cêrro Azul. .. . 2 135
São Simão ... . 1 269 Cinzas ....... . 311
São Vicente .. . 316 Clevelândia .... . 9 736
Sarapuí. ..... . 344 Colombo .... . 157
Serra Azul. .. . 278 Congoinhas ....... . 829
Serrana ........ . 128 Cornélio Procópio .. . 1 486
Serra Negra ... . 186 Curitiba ... . 431
Sertãozinho .. 538 Curiúva ... . 1 051
Silveiras .. 426 Foz do Iguaçu ... . 29 401
Socorro ... 445 Guarapuava ... . 8 994
Sorocaba .. 910 Guaraqueçaba. 1 883
Suzano ... . 167 Guaratuba . 1 262
Tabapuã ... . 473 Ibaiti ..... . 950
Ta?,atinga .. . 602 lbiporã ... . 298
Tamva .... 102 Imbituva .. . 1 067
Tambaú . 585 Ipiranga .. 1 546
Tanabi. ... 797 Irati ... 947
Tapiratiba ... 228 Jacarêzinho ... 702
Taquaritinga .. 785 Jaguapitã. 2 539
Taquarituba. 405 Jaguariaíva ..... . 2 866
Tatuí .... . 936 Jataizinho. 291
Taubaté ... . 653 Joaquim Távora. 529
Terra Roxa .. 222 Lapa. 2 907
Tietê .... . 450 Laranjeiras do Sul. 7 455
Timburi. .. . 201 Londrina .... . 2 326
Torrinha ... . 308 Mallet ..... . 1 085
Tremembé .. 174 Mandaguari .. . 14 241
Tupã .... . 1 208 Mangueirinha .. 4 294
Ubatuba ... . 746 Morretes .... . 677
Ubirajara .. 293 Palmas ... . 5 465
Uchoa ..... . 212 Palmeira .... . 1 755
Urupês ..... . 296 Paranaguá .... . 879
Valentim Gentil. . . 176 Piraí do Sul. . 1 341
Valparaíso ........... . 753 Piraquara .. . 784
Vargem Grande do Sul. .. 248 Pitanga ..... . 11 590
Vera Cruz. 260 Ponta Grossa .. . 1 741
Vinhedo .... . 128 Porecatu .... 1 324
Viradouro .. . 195 Pôrto Amazonas .. 191
Votuporanga ..... . 512 Prudentópolis .. 2 601
Quatiguá .... 117
ESTADO 247 222 Rebouças .. 501
Reserva .......... . 5 093
PARANÁ Ribeirão Claro .... . 624
Ribeirão do Pinhal. .. 392
Abatiá. 267 Rio Azul. ........... . 625
Andirá .. 429 Rio Branco do Sul 1 110
Antonina .. . 739 Rio Negro .. . 1 413
Apucarana . . . . . . 4 264 Rolândia ........ . 583
Araiporanga .... . 1 520 Santa Mariana .......... . 415
Arapongas .. . 2 039 Santo Antônio da Platina . 664
Araucária .. . 560 São João do Triunfo ... . 710
Assaí... . 737 São José dos Pinhais .... . 2 285
Bandeirantes ........... . 507 São Mateus do Sul. . 1 295
Bela Vista do Paraíso .. 595 Sengés .......... . 1 493
Bocaiúva do Sul 3 235 Sertanópolis ..... . 963
Cambará ...... . 382 Siqueira Campos 500
Cambé .. 220 Teixeira Soares 1 350

(!) Inclusive a área do Municlpio de Águas de São Pedro.


ESTATÍSTICA MUNICIPAL 627

ÁREAS MUNICIPAIS - 1950

Área Área
MUNICÍPIOS MUNICÍPIOS
(km2) (km2)

PARANÁ (conclusão) SANTA CATARINA (conclusão)

Tibagi. .. 7 167 Tubarão ... 1 639


Timoneira 495 Turvo .... 1 886
Tomazina .. 1 399 Urussanga ... 756
União da Vitória. 2 685 Videira ...... 1 074
Uraí .. .. 320
Venceslau Braz .. 1 023 ESTADO (2) 94 280

ESTADO. .. (1)200 300 RIO GRANDE DO SUL

SANTA CATARINA Alegrete ...... . 7 862


Antônio Prado ..... . 453
Araquari. 750 Aparados da Serra .. . (3) 3 668
Araranguá 1 136 Arroio do Meio . 494
Biguaçu 620 Arroio Grande .... . 3 022
Blumenau .... 678 Bagé .......... . 7 084
Bom Retiro 2 405 Bento Gonçalves ... 478
Brusque 1 292 Bom Jesus do Triunfo . 833
Caçador .. 1 400 Caçapava do Sul 4 592
Camboriú. 198 Cacequi . . . . . . . . 2 463
Campo Alegre ... 477 Cachoeira do Sul. . 5 980
Campos Novos. 3 165 Caí 1 370
Canoinhas . . 4 048 Camaquã.... 2 712
Capinzal. . 630 Candelária. 894
Chapecó 14 071 Canela .. 179
Concórdia .. 2 241 Cangussu. 3 767
Criciúma 916 Canoas . . . . 364
Curitibanos .... 5 093 Caràzinho 2 924
Florianópolis .. 422 Caxias do Sul. . 1 072
Gaspar. 378 Cruz Alta ..... 6 110
Guaramirim 789 Dom Pedrito. 5 099
Ibirama. 1 762 Encantado 1 033
Imaruí .. . 642 Encruzilhada do Sul 5 078
Indaial .. . 1 055 Erechim 4 167
I taiópolis . 1 928 Erva! ... 2 828
Itajaí. ...... . 1 066 Estréia 585
ltuporanga .. . 1 004 Farroupilha 337
Jaguaruna .. 381 Flores da Cunha .. 415
Jaraguá do Sul 1 102 Garibaldi ....... . 372
Joaçaba .. 4 426 General Câmara .. 1 046
Joinvile 1 112 General Vargas 1 353
Laguna 540 Getúlio Vargas 1 239
Lajes .. . 10 353 Gravataí 873
Mafra .. . 1 788 Guaíba. 1 912
Nova Trento ... 594 Guaporé 1 927
Orleães 1 326 Ijuí. .. 2 169
Palhoça .. 2 438 Iraí.. 1 601
Piratuba .... . 398 Itaqui .... 5 060
Pôrto Belo .. . 208 Jaguarão . 2 140
Pôrto União ... . 2 656 Jaguari . 934
Rio do Sul .. 1 862 Júlio de Castilhos 3 624
Rodeio ..... 887 Lagoa Vermelha . 5 731
São Bento do Sul 953 Lajeado ... 1 395
São Francisco do Sul . 1 141 Lavras do Sul . 2 599
São Joaquim . . 3 608 Livramento ...... . 6 942
Sã?, José . 1 127 Marcelino Ramos 843
Tato .... 1 690 Montenegro 1 365
Tangará . 624 Nova Prata ..... . 1 322
Tijucas . 856 Novo Hamburgo . . 226
Timbó 689 Osório . 2 609

(1) O Estado do Paraná compreende ainda 557 km2 de águas internas, o que perfaz o total de 200 857
km2.- (2) O Estado de Santa Catarina compreende ainda 518 km2 de águas internas, o que perfaz o total
de 94 798 km2. - (3) Antigo Município de Bom Jesus.
628 REVISTA BRASILEIRA DOS MuNICÍPIOS

ÁREAS MUNICIPAIS - 1950

Área Área
MUNICÍPIOS MUNICÍPIOS (km2)
(km2)

RIO GRANDE DO SUL (concluEão) MATO GROSSO (conclusão)

Palmeira das Misi!ões 5 439 Coxim 29 313


Passo Fundo 4 906 Cuiabá 181 563
Pelotas ... 2 992 Diamantino 133 823
Pinli~iro Machado 3 196 Dourados . 20 306
PiraÜni 3 393 Guiratinga 14 711
P6rto Alegre 482 Maracaju . 5 387
Quaraí . 3 008 Mato Grosso 63 271
Rio Grande .. 2 617 Miranda .. 8 013
Rio Pardo 3 132 Nioaque 4 585
Rosário do Sul 4 466 Nossa Senhora do Livramento 6 182
Santa Cruz do Sul. 2 034 Paranaíba 23 114
Santa Maria 3 462 Poconé 17 828
Santa Rosa . . 4 049 Ponta Porã 7 908
Santa Vitória do Palmar 4 774 Pôrto Murtinho 17 455
Santiago . 3 993 Poxoreu 24 377
Santo Ângelo . 6 367 Ribas do Rio Pardo. 20 872
Santo Antônio 1 775 Rio Brilhante. 20 866
São Borja 7 090 Rochedo 7 239
São Francisco de Assis .. 3 756 Rosário Oeste. 28 678
São Francisco de Paula .. 6 168 Santo Antônio do Leverger 23 233
São Gabriel . . . . . . . 6 113 Três Lagoas . . 37 947
São Gerônimo. . . . . 3 243 Várzea Grande 223
São José do Norte ..... . 3 934
São Leopoldo . 1 106 ESTADO 1 254 821
São Lourenço do Sul 2 299
São Luís Gonzaga 6 238 GOIÁS
São Pedro do Sul 883
São Sepé 3 157 Anápolis 2 121
Sarandi 3 471 Anicuns 1 680
Sobradinho 1 494 Araguacema 25 815
Soledade . 5 933 Araguatins 8 208
Tapes. 1 796 Arraias 4 296
Taquara 1 069 Aurilâ.ndia. 2 683
Taquari . 741 Baliza. 4 185
Tôrres 971 Buriti Alegre 709
Três Passos 4 438 Caiapônia 16 141
Tupanciretã 4 095 Caldas Novas 2 630
Uruguaiana 6 579 Catalão . 5 045
Vacaria . 6 253 Cavalcante . 14 156
Venâncio Aires 850 Chapéu . 4 040
Veranópolis 717 Corumbá de Goiás 4 904
Viamão 1 832 Corumbaíba 2 053
Cristalina .. 5 350
ESTADO (1)267 456 Cumari 769
Dianópolis 6271
MATO GROSSO Edéia 2 066
Filadélfia 14 041
Alto Araguaia 18 067 Firminópolis 1 114
Amambaí . . 16 278 Formosa 14 085
Aparecida do Taboado 2 473 Goiandira 902
Aquidauana 21 253 Goiânia . 1 505
Aripuanã 143 799 Goiás . . 31 649
Barra do Bugres 17 620 Goiatuba 4 409
Barra do Garças 179 507 Guapó 1 189
Bela Vista 11 272 Hidrolândia 1 287
Bonito . 5 459 In h umas 721
Cáceres. 40 905 Ipameri 5 901
Camapuã 13 821 !porá .. 2 829
Campo Grande .. 21 620 ltaberaí 2 129
Corumbá 65 853 Itaguatins 7 870

(1) O Estado do Rio Grande do Sul compreende, ainda, 15 024 km2 de ãguas internas, o que perfaz
o total de 28?. 480 km2.
EsTATÍSTICA MuNICIPAL 629

ÁREAS MUNICIPAIS - 1950

Área Área
MUNICÍPIOS MUNICÍPIOS
(km2) (km2)

GOIÁS (continuação) GOIÁS (conclusão)

Itapaci .. 18 078 Pires do Rio ..... 1'483


Itauçu . 529 Planaltina .. 6 068
Itumbiara .... 4 185 Pontalina 2 107
Jaraguá 5 074 Porangatu 19 695
Jataí . 25 555 Pôrto J'.l acionai 79 170
Leopoldo de Bulhões 859 Posse .... 4 266
Luziânia . . . . . . . . . . . 10 503 Quirin6polis. 5 578
Mineiros 11 183 Rio Verde .... 13 112
Miracema do Norte 11 329 Santa Cruz de Goiás 1 027
Morrinhos .. 2 856 Santa Helena de Goiás 1 151
Natividade 13 233 São Domingos .. 8 160
Nazário 362 Silvânia 2 396
Ner6polis 319 Sítio da Abadia 7 449
Niquelândia .. 12 510 Suçuapara 1 860
Orizona ... 1 668 Taguatinga 8 661
Palmeiras de Goiás .... 4 227 Tocantin6polis 7 460
Paranã .... . 15 122 Trindade 1 260
Paraúna . . . . . . . 7 220 Uruaçu 21 131
Pedro Afonso ... . 40 630 Uruana 905
Pei~ ........ . 28 065 Urutaí 874
Pei:rolina de Goiás . 532 Vian6polis 1 730
Piracanjuba 3 730
Piren6polis. . . 6 590 ESTADO .... (1)622 555

(1) Goiás compreende ainda 357 km2 de águas internas, o q\le perfaz o total de 622 912 km2.

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