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Do latim ao nosso português

Sônia Costa

O português é uma das línguas resultantes de mudanças do latim


falado que, levado à Península Ibérica pelos romanos, aí prevaleceu sobre
as línguas dos povos dominados. Nossa língua provém do noroeste da
Península, onde povos germânicos expulsaram os romanos e variadas
mudanças vieram a produzir o galego-português. Em data ainda incerta,
mas seguramente após o século XI, época de fundação do reino de
Portugal, o galego e o português se diferenciaram.

A partir desse século a língua nascida no norte começa a sua descida,


margeando o Atlântico, levada por exércitos que combatiam invasores
muçulmanos ( no centro-sul da península desde o século VIII ), enquanto
preservavam seu território do domínio castelhano, a leste. Em 1249,
Portugal chega ao extremo sul e estabelece suas fronteiras, mantidas até o
presente. Assim, em meados do século XIII, o português já incorporara
elementos do contato com línguas germânicas e com o árabe. Embora a
língua escrita oficial fosse o latim, o mais antigo documento em galego-
português data de 1214, e, em 1290, D. Diniz tornou o português a língua
oficial do reino. Mas não existiam meios de controle da língua escrita,
como regras ortográficas ou gramáticas normativas: a normatização do
português iniciou-se no século XVI, quando Portugal já começara sua
expansão ultramarina e cuidava de fixar sua norma padrão, refletindo,
possivelmente, a fala prestigiada da região em torno de Lisboa, sua capital.
É interessante observar que à época em que o português foi trazido para o
Brasil, surgiam em Portugal as primeiras gramáticas ( 1536 e 1540 ).

É incerto o número de línguas indígenas que entraram em contato, no


Brasil, com o português. Uma delas, o tupinambá, foi a escolhida em
grande parte para a catequese. Entraram também no cenário lingüístico
brasileiro muitas línguas africanas, trazidas pelos escravos desde 1536.
Características próprias à escravidão no Brasil dificultaram o uso
generalizado dessas línguas, mas podemos imaginá-las convivendo com
línguas indígenas e com o português, a língua da elite, a língua da escola,
mas não a língua materna da grande maioria da população. Até o século
XVIII, línguas gerais indígenas e provavelmente alguns falares de base
africana generalizaram-se em muitas partes do Brasil. O português só
começou a tornar-se língua majoritária a partir de 1757, em decorrência de
medidas adotadas pelo Marquês de Pombal.
Como toda língua natural e em decorrência de sua história, o
português brasileiro falado e o europeu se diferenciam, assim como ocorre
no próprio território brasileiro ( diferenças devidas à região, ao grau de
escolaridade e idade do falante, à maior ou menor formalidade da situação,
etc. ). A expressão escrita também varia, com menor intensidade. A norma
padrão que se pretende ensinar na escola distancia-se bastante da realidade
da língua falada, o que esclarece o paradoxo de ser necessário estudar
aquilo que todos sabemos, a língua que falamos todo o tempo. Vamos à
escola para aprender o padrão estabelecido para a escrita formal, moldado,
na maior parte dos casos, por usos ou muito antigos, ou próprios de
Portugal, ou próprios de escritores que, naturalmente, fazem da língua um
instrumento estético, longe da praticidade do dia-a-dia. Muitos
pesquisadores se preocupam com a dificuldade de ensinar esse padrão a
falantes que não o reconhecem como a sua língua natural. Já que o domínio
de um padrão escrito formal é necessário numa sociedade como a nossa, a
tendência tem sido tentar adaptar essa norma padrão, aproximando-a da
fala de indivíduos considerados cultos e de uma norma escrita que figura,
por exemplo, em jornais, revistas e textos científicos de circulação
nacional.

Para os que conhecem a história da língua e os processos de


produção lingüística, as variações não assustam: são vistas como inerentes
a qualquer produção sócio-histórica e como desafios não só para a sua
compreensão, como para a busca do necessário equilíbrio entre a criativa
expressão cotidiana dos falantes e a expressão normatizada, nunca
homogênea nem castradora, mas necessariamente, geral.

Sônia Bastos Borba Costa é professora de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da


UFBA, mestre em Língua Portuguesa , pesquisadora do grupo PROHPOR / UFBA e
autora de "O aspecto em Português" ( Ed. Contexto, São Paulo, 1990 ).
(Publicado no suplemento Vestibular de A TARDE,
27.11.99)

Fonética histórica

Introdução

As chamadas leis fonéticas, proclamadas pelos linguistas da escola Neo-Gramática do século XIX, são
mudanças regulares que se observam na evolução de todas as línguas, motivadas pela configuração
fonética das palavras. Não sendo, como se julgava inicialmente, maciças e inobserváveis, acabam, aos
poucos, por afectar a quase totalidade do léxico de cada língua em determinada secção de tempo. São
eventos históricos, sujeitos às mesmas contingências regionais, políticas, culturais e sociais dos outros
eventos que atingem a vida de uma comunidade, o que significa que têm uma actuação limitada a um
passo da história daquela mesma comunidade. Na evolução do latim falado no início do Império para o
falado na România Ocidental (Norte de Itália, Gália, Récia e Hispânia) e desse para o romance galego-
português, verificaram-se consideráveis mudanças regulares, determinadas pelo contexto fonético e que
são, resumidamente, estas:

Símbolos

1. A mudança ocorrida entre duas formas separadas pelo tempo indica-se inscrevendo entre elas o
parêntese angular >.

2. As formas latinas, para imediato reconhecimento, escrevem-se em caracteres maiúsculos.

3. Quando uma vogal acentuada latina é longa, a sua notação vem seguida do sinal : e, quando é breve,
não é assinalada.

4. Recorre-se aos parênteses rectos para incluir, no seu interior, uma letra, ou letras que interessa
considerar pelo seu valor fonético. Se estiver em causa o seu valor fonológico, ou seja, a entidade
abstracta a que correspondem no sistema de uma língua, já se recorre às barras oblíquas.

5. O hífen no final de uma forma latina indica que naquela posição esteve uma desinência (normalmente
-m para os substantivos e adjectivos, -t para as formas verbais) que caiu muito cedo em latim vulgar e da
qual não guardam memória as línguas românicas.

Exemplificação: AMA:RE>amar PIRA->pera

À esquerda dos parênteses angulares estão as formas latinas e à sua direita as formas portuguesas
resultantes. No primeiro caso, a palavra latina tem [a] longo na sílaba tónica e, no segundo, um [i] breve.
Estas vogais, na mente dos falantes são, respectivamente, /a:/ e /i/, ao passo que nas suas bocas são [a:]
e [i].

Assimilação

Por assimilação, entende-se a modificação de um som por influência do som vizinho que com ele passa a
partilhar traços articulatórios (i.e. torna-o foneticamente parecido ou igual a ele). Esta é uma mudança
sintagmática, assim chamada por ocorrer entre elementos de uma cadeia sintagmática (sons articulados
sucessivamente na pronúncia das palavras). A assimilação de um som pode verificar-se por influência do
som anterior (será uma assimilação progressiva), do som seguinte (uma assimilação regressiva), por
influência simultânea dos sons anterior e seguinte (assimilação dupla) e por influência de um som não
contíguo (assimilação à distância). Os contextos fonéticos (i.e. palavras concretas onde ocorrem as
mudanças fonéticas) mais propícios à assimilação são os nasais, os anteriores e os intervocálicos.

Contextos nasais: - Uma vogal vizinha de [m] e [n], sons que são consoantes nasais, tem tendência para
deixar de ser vogal oral e passar a ser vogal nasal. Isto ocorre universalmente na história das línguas e, no
caso do português, verificou-se na passagem do latim hispânico para o romance galego-português
(séculos VI-VII), talvez por influência das línguas celtas que na Península se chegaram a falar. As vogais
que antecediam o [n] passaram a ser vogais nasais (ex: PONTE->p[õ]te, LU:NA->l[ũ]a, NON>n[o~]), pelo
que se diz que foram nasalisadas por assimilação regressiva. Na época nossa contemporânea, observam-
se nasalizações, já de sentido progressivo, sempre que os falantes pronunciam, na primeira sílaba da
forma muito, um ditongo nasal e, na primeira sílaba de mesa, uma vogal nasal (esta última nasalização
progressiva apenas ocorre dialectalmente, mas a primeira é geral em português europeu, brasileiro e
africano, pelo que deve ser bastante antiga, mas não anterior ao século XVI, já que Camões rimava muito
com fruito).

Contextos anteriores ou palatais: - Outras assimilações podem dar-se junto de vogal anterior,
tradicionalmente chamada palatal [i] ou [e], ou junto de semivogal anterior, ou palatal, [j]. Estas mudanças
chamam-se palatalizações e podem também ser regressivas ou progressivas. Em latim vulgar, a língua
falada no Império Romano do Ocidente entre os séculos III a.C. e V d.C., ter-se-á iniciado, no século I da
era Cristã, uma palatalização regressiva que afectou as consoantes não contínuas, [-cont],
tradicionalmente chamadas oclusivas, [k] e [t], antes de som anterior. Nos contextos [ke], [ki], [kj] e [tj] as
consoantes evoluíram para uma sequência com iode (a semivogal anterior) [tj] e mais tarde, só na
România Ocidental, para a africada dental [ts], forma antepassada daquelas consoantes que hoje em
português se escrevem <c, ç,> ou então <z> (este último num contexto especial, intervocálico, que
possibilitou a evolução [ts]> [dz]). Assim, temos CENTU->[tj]ento>[ts]ento>cento,
FACERE>fa[tj]ere>fa[ts]er>fa[dz]er>fazer, CISTA->[tj]esta>[ts]esta>cesta, FACIE->fa[tj]e>fa[ts]e>face.
Mais antiga, foi a evolução de [tj]: FORTIA->for[ts]a>força.

Outras palatalizações regressivas, desencadeadas no latim vulgar da mesma época pela presença da
semivogal anterior [j], afectaram consoantes contínuas (ou fricativas), líquidas e nasais:

CASEU->queijo, VINEA->vinha, FILIU->filho.

Mais tardias, foram as palatalizações regressivas típicas do romance galego-português, ocorridas pelo
século VI, que modificaram a articulação das consoantes não contínuas, ou oclusivas, [p], [k] e [t], antes da
líquida [l]; esta evoluiu para a semivogal anterior [j] e, a partir daí, palatalizou em africada [tS] a consoante
precedente, a qual, a seu tempo, simplificou na consoante contínua anterior [S], sempre escrita com <ch>:
PLORA:R(E)>[tS]orar>chorar,CLAMA:R(E)>[tS]amar> chamar, FLAGRA:R(E)>[tS]eirar>cheirar.

Mas este tipo de assimilação também pode ser progressivo, o que se vê igualmente no latim, mas já só na
Hispânia, pelo que terá ocorrido mais adentro da era Cristã: CAPSA->ca[j]sa>caixa, COXA- ou seja
['koksa]>co[i]sa>coixa>coxa, ACUC(U)LA->agu[j]la>agulha.

Contextos intervocálicos: - Aqui já se observa a assimilação dupla. Por assimilição dupla entende-se
aquele tipo de influência simultânea que as vogais exercem sobre uma consoante que ocorra entre elas na
cadeia sintagmática. Este contexto, chamado intervocálico e simbolizado VCV (vogal+consoante+vogal), é
extremamente debilitante para a consoante, a qual ora é fricatizada, se for uma consoante oclusiva
(segundo uma terminologia mais moderna, passa de não contínua a contínua), ora é sonorizada se for
surda (passa de não vozeada a vozeada), ora, se for já de si mais instável (uma contínua, uma líquida ou
uma nasal), pode deixar totalmente de ser articulada (fenómeno que tem o nome de assimilação total).
Esta é a tendência universal da mudança e, em galego-português, pelo século VII, ocorreu uma
assimilação dupla que muito caracteriza esta língua medieval de origem latina (este romance). Com efeito,
só em galego-português é que o [l] simples intervocálico latino deixou de ser articulado e só em galego-
português (e gascão) é que o [n] simples, no mesmo contexto, deixou também de ser articulado:

PALA->paa>pá, DOLO:RE->door>dor, BONU->bõo>bom, ANELLU->ãelo>elo

(Repare-se que a assimilação dupla de [n] simples intervocálico foi precedida de uma assimilação
regressiva, em que a mesma consoante nasalizou a vogal anterior; note-se também que o [l_G] de anel
ainda persiste porque tem origem numa líquida latina geminada [ll])

Outras assimilações duplas, anteriores a estas, afectaram consoantes do latim vulgar a partir do início da
era Cristã, mas raramente culminaram no respectivo desaparecimento porque foram travadas por factores
sistemáticos, neste caso, fonológicos (ver Fonologia Histórica do Português). Entre os séculos I e V d. C.,
uma assimilação dupla provocou, na România Ocidental, aquilo a que tradicionalmente se chama
sonorização, ou seja, vozeamento das consoantes não vozeadas intervocálicas. As vozeadas
intervocálicas também foram atingidas por este processo de assimilação dupla, tendo começado por
passar a consoantes contínuas, e acabando duas delas por deixarem de ser articuladas. Da mesma forma,
as geminadas sofreram simplificação. O português conservou o resultado deste latim vulgar já evoluído:

APICULA->abelha MUTU->mudo LACU->lago

FABA->fava NU:DA->nua STRI:GA->estria

CIPPU->cepo GUTTA->gota PECCA:RE>pecar

ABBA:TE>abade ADDUCERE>aduzerarc

O facto de o mesmo tipo de assimilação ter ocorrido entre vogal e consoante líquida /r/ conduz a uma
reflexão sobre o estatuto particular das consoantes líquidas que, em certos aspectos, se aproximam dos
segmentos vocálicos. Exemplos: PATRE->padre, MA:TRE->madre, LACRIMA>lágrima.

Dissimilação

Por dissimilação entende-se a modificação de um som por influência de um som vizinho, articulatoriamente
próximo que, com ele, e por sua influência, deixa de partilhar traços articulatórios (i.e. torna-se
foneticamente diferente). Esta é também, tal como a assimilação; uma mudança sintagmática, que envolve
elementos da mesma cadeia sintagmática (i.e. sons da mesma palavra), mas é muito menos regular,
ocorrendo apenas esporadicamente, pelo que é difícil também calcular uma data precisa para a sua
ocorrência.

Os sons que preferentemente sofrem dissimilação são os vocálicos, orais e nasais, e os consonânticos
que constituam líquidas ou nasais.

Dissimilação entre vogais:

LOCUSTA->lagosta ROTUNDA->redonda

VENTA:NA->ventãa>venta CAMPA:NA->campãa>campa

Dissimilação entre consoantes:

MEMORA:RE>nembrar>lembrar ANIMA->alma LOCA:LE->logar>lugar

Metátese

Tal como a dissimilação, a metátese, que é a transposição de sons dentro de uma mesma cadeia
sintagmática, é irregular, de difícil datação e muito frequentemente envolve consoantes líquidas, aquelas
que menos estabilidade têm. Também pode envolver semivogais postónicas que, por metátese, passam a
ocorrer junto da vogal tónica. O padrão silábico parece aqui funcionar como um rastilho para este tipo de
mudança.

Metátese de semivogais: O latim vulgar sofreu em época bastante recuada, uma vez que a generalidade
das línguas românicas a testemunha, a metátese de semivogal anterior nos sufixos -A:RIU>airo,
-A:RIA>aira. Em português, as formas herdeiras desses sufixos revelam ainda uma assimilação para -eiro,
-eira, que deverá ter ocorrido em latim hispânico, já que em castelhano as formas paralelas são -ero, -era.

DIA:RIA->jeira PRIMA:RIU->primeiro

Metátese de consoantes: Como se disse, são sobretudo as consoantes líquidas [l] e [r] que sofrem o
processo da metátese. É uma tendência universal que pode testemunhar-se pelo destino de uma forma
latina ARBORE-, a qual em português não deu origem a metátese (árvore), mas em italiano e castelhano
provocou duas diferentes soluções de metátese envolvendo as mesmas consoantes, respectivamente,
alberoit e árbolcast. Para exemplificar metáteses com líquidas portuguesas, podem observar-se as formas
FLO:RE->frolmedieval ou TENEBRAS>teevras>trevas

Epêntese

Este é um fenómeno contrário ao da assimilação total, uma vez que consiste na adição de sons no interior
da cadeia sintagmática. Tutelado pela estrutura da sílaba, que tende frequentemente para o padrão
universal CV (consoante+vogal), o fenómeno da epêntese consonântica reestruturou notoriamente as
sílabas do português medieval que continham o hiato (encontro de duas vogais) -i~o, -i~a e que, a partir
dos séculos XIV-XV, passaram a terminar em -inho, -inha, com epêntese da consoante nasal [J]:

VI:NU->vi~o>vinho GALLI:NA->gali~a>galinha

Quando diz respeito à inserção de vogais, a epêntese tem o nome mais particular de anaptixe, e observa-
se frequentemente no português do Brasil, que reestruturou sílabas com grupos consonânticos, sílabas
CCV, em sucessões de sílabas obedecendo ao padrão universal CVCV:

opção>opição ritmo>ritimo pneu>pineu~peneu

Bibliografia

Gramáticas históricas

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ATENÇÃO - Para o valor das convenções fonéticas, consulte

http://www.phon.ucl.ac.uk/home/sampa/x-sampa.htm

http://www.phon.ucl.ac.uk/home/sampa/portug.htm

Metaplasmos

Metaplasmos ontem e hoje: usando o


passado para entender o presente
As transformações fonéticas do latim para o português
que originam as variações na forma de falar
continuam a ocorrer até hoje.

por Edmilson José de Sá*

No meio das palavras também ocorreram eliminações de fonemas na passagem do latim


para o português, conforme vemos em calidu para caldo; littera para letra; viride para
verde, apicula para abelha. Além disso, as paroxítonas já eram percebidas
diacronicamente no latim vulgar. Tal fenômeno é chamado de síncope . Os exemplos
oculus que reduziu para oclus; altera para altra; socerus para socrus também são
encontrados na Gramática Histórica. Segundo estudos sobre a sincronia da língua
preconizados por Câmara Jr., os vocábulos portugueses de acentuação na antepenúltima
sílaba raramente provêm da evolução no latim vulgar. É possível também verificar que
as proparoxítonas no português decorrem do empréstimo em massa de palavras do latim
clássico, de maneira mais acentuada a partir do séc. XVI. Vale salientar ainda a inserção
de vocábulos do grego que o latim adaptou a sua estrutura. Um linguista brasileiro
chamado Antenor Nascentes (1886- 1972), em seu estudo sobre a linguagem carioca,
reforça que a síncope das postônicas se deu na passagem do latim para o português, mas
continua atuando na classe inculta com grandes alterações na estrutura da palavra. Deste
modo, não é de se estranhar que encontremos horóscopo > horospo; bêbado > bebo;
cócegas > coscas; padrinho > padinho; também > tamém; mesmo > memo; murcho >
mucho; negro > nego; compadre > cumpade; e experimento > expremento.

No final, mais comum ainda, são as eliminações chamadas de apócope. No latim, esta
mudança ocorreu em exemplos do tipo centum > cento > cem; dominu > dono > dom;
mille > mil; multum > muito > mui e hoje ocorrem mudanças do tipo bobagem >
bobage; quer > qué; saber > sabê; passar > passá; parênteses > parentes; furúnculo
> furunco; lâmpada > lampa; rapaz > rapá; pôr > pó; e licença > cença.

O advento do latim e os idiomas provenientes dessa língua inicial:


como o português se formou e evoluiu a partir de sua raiz

O latim é o ancestral mediato do português. O ancestral imediato da língua


portuguesa é o galego-português. Não se deve, no entanto, cair na falácia de
afirmar-se que o português é oriundo do galego, nem que este o é daquele, já que
são línguas que caminharam em comunhão, sim, tendo gênese comum no latim,
mas completaram seu processo de separação total no fim do século XIII
(VASCONCELOS, 1970, 12), ou mesmo, para alguns autores, no século XII (início
do chamado português histórico), sendo galego e português, portanto, línguas
completamente autônomas e diferentes desde então.

O latim era o idioma usado na região do Lácio (daí o poema de Bilac aludir à
“última flor do Lácio”, embora o português não tenha sido o último idioma a se
originar da região romana aludida ou mesmo do latim imperial, deflagrado por
grande parte do mundo conhecido de então), região aquela que constitui a atual
Itália. Há registros de sua ocorrência desde o século VII a.C. até o século III d.C.
Se fizermos, pois, uma conta ligeira, veremos que, de sua remotíssima raiz até
hoje, o português possui o cômputo de quase 3000 anos de existência filológico-
etimológica, sendo bastante aceita a divisão abaixo proposta:

1) Latim vulgar imperial - até séc. IV


2) Romanço-Lusitânico – séc. IV a séc. IX
3) Protoportuguês – séc. X a séc. XI
4) Português arcaico – séc. XII a séc. XV
5) Português moderno – séc. XVI em diante

(CAETANO, 2009a, 20)

Há outras subdivisões notáveis em relação estritamente à língua portuguesa,


devendo-se citar a proposta por Said Ali (que é bastante simples, mas não
simplista) e, mais recentemente, a cuidadosa proposta de Evanildo Bechara
(BECHARA, 1985)

Já no século IV d.C., o latim era um conglomerado de dialetos espalhados


pelas regiões outrora conquistadas (em que muitas vezes havia aculturação ou
enculturação dos conquistadores em relação aos povos conquistados, que, não
raro, como ocorreu na Grécia, deu aos romanos significativa parte de sua cultura e
de suas instituições em geral, como religião, direito, família, política, artes etc.,
sendo conhecidos aforismos como “a Grécia rude conquistou o nobre
conquistador”), e essa desagregação contínua e irrefreável do idioma latim (sem
mencionarmos os costumes igualmente assimilados) costuma ser chamada de
“Latim imperial tardio” (cf. MATTOSO CÂMARA, 1978: 153), idioma fortemente
influenciado pela língua falada nas regiões do império denominada, a título
filológico, de România.

Na Idade Média, convém ressaltar, esse idioma, fragmentário e sujeito a um


sem-número de analogias dialetais locais, chamava-se “Baixo Latim”, e não
passava, amiúde, de corruptelas e falsas percepções e adaptações dos já formados
idiomas a supostas palavras de origem (quase sempre equivocada, como se disse)
latina. Esse vezo permaneceu ativo até o período chamado pseudoetimológico da
língua portuguesa, quando se aventavam hipóteses, quase sempre infundadas, de
etimologias prováveis a inúmeros vocábulos do léxico português. Deve-se salientar,
ademais, que o baixo latim era a língua eclesial, paralela aos idiomas locais, usada
na Idade Média.

Aqueles idiomas locais, formados, como se viu, com a convergência de várias


culturas diferentes, recebem o título filológico de românicos, romances, romanços,
neolatinos, novilatinos e alguns outros. Quando da formação de tais dialetos ou
idiomas, o latim foi passando paulatinamente à categoria de língua morta. Não foi
extinto, como o foi seu grupo de origem, o indo-europeu, que só pode ser
conhecido e reconhecido mediante suposições arqueológicas e antropológicas em
paronomásia com suas línguas oriundas, uma vez que o latim, desde seu início até
seu fim, deixou documentos escritos de literatura e mesmo registros de
manifestações orais, em inscrições achadas em muros, lápides, igrejas, estradas,
paredes caseiras etc. Os romances, no entanto, não provêm do latim literário, que
era artificial e excessivamente pejado de figuras retóricas e poéticas, mas da língua
falada, ou latim vulgar (falado pelos plebeus, não pelos patrícios), e foram
disseminados na região que, anteriormente, fora parte integrante do outrora
florescente império romano. Essa região abrangeu

[a] Romênia, como região isolada, a Itália (compreendendo a borda do Adriático


com o Trieste e toda a Dalmácia), parte da Suíça, a França com parte da Bélgica e
finalmente a Península Ibérica. Para o linguista, todo esse domínio constitui a
România (SAID ALI, 1964: 17)

Devemos lembrar, também, que os idiomas neolatinos, por várias razões,


foram levados à África, à Ásia e, posteriormente, com o advento das grandes
conquistas ultramarinas, a partir do século XVI, às Américas, aportando em países
como o Brasil (português), Peru, Equador, Venezuela, Argentina, México etc.
(espanhol). Em resumo, de acordo com Meyer-Lübke, as línguas românicas se
dividem em “romeno, dalmático, rético, italiano, sardo, provençal, francês,
espanhol e português” (apud SAID ALI, idem, ibidem). Não se deve dizer, a priori,
que alguma dessas línguas é proveniente de outra delas, senão, sim, em vez disso,
deve-se afirmar que todas tiveram uma origem comum, como foi mostrado, que é
o latim.

Além dos idiomas neolatinos mencionados, há uma série de dialetos que,


esses sim, advêm das línguas citadas. Tais dialetos, hoje, são preferentemente
chamados igualmente, em muitos casos, de idiomas, colocando-se em parelha com
aqueles de que se originaram, pois já apresentavam, frequentemente, morfologia,
sintaxe e léxico bastante diferentes dos achados em sua gênese, o que torna
impróprio serem considerados, hodiernamente, meros entroncamentos de suas
línguas matrizes.

Devemos notar, também, que, outrora, dava-se a tais idiomas a


denominação, hoje completamente obsoleta, de “línguas crioulas”, como é o caso
de alguns idiomas falados em Cabo Verde, em Moçambique, na Índia etc. Também
se chamava “dialetos” às línguas que não pertenciam à urbanidade de determinado
país, a chamada língua oficial, de chancelaria, a presente na Gramática Normativa;
por isso, era frequente que se denominasse de “dialetos” várias línguas aborígines,
como o tupi-guarani, no Brasil. Reiteramos que esses critérios classificatórios são
desusados atualmente, e dá-se a denominação de “dialeto”, hoje, seguindo as
orientações da Sociolinguística Variacionista, simplesmente às variantes diatópicas
(encontradas em regiões geográficas diferentes), ou mesmo diafásicas (de estilo),
diastráticas (de nível sociocultural), diacrônicas (cronológicas), etárias, profissionais
(jargões), de gênero etc. de determinada língua. Portanto, é lícito falar-se, por
exemplo, em dialetos tupi-guaranis espalhados no tempo ou na disposição
geográfica americana, ou no dialeto do Rio de Janeiro do século XIX e assim por
diante. Há bastantes comprovações empíricas para essa nova diretriz ao tratar-se
do critério dialetal de classificação, sendo a dialetologia, hoje, parte importante da
citada Sociolinguística (mas não exclusivamente dela). Nessa esteira,
frequentemente a noção de dialeto, hoje, confunde-se à de registro.

Sobre a questão literária do latim, deve-se observar que, na própria


literatura, a partir, aproximadamente, do fim do século I d.C., houve gradativo
predomínio do idioma vulgar (falado) sobre o outrora escrito (clássico ou então
literário), ou do idioma de base oral mas então também escrito, ainda que não
necessariamente literário. Como se disse, essa afluência se deu em dizeres
grafados em muros, estradas etc., além de em obras de cunho proeminentemente
populares, sobretudo as comédias, que agradavam mais à índole do povo, como é o
caso de Satiricon, de Petrônio (século I d. C.), das Comédias de Plauto, O asno de
Ouro, de Apuleio (século II d.C) (cf. MATTOSO CÂMARA, 1978, 154). Também se
observam generosamente essas assimilações em escritos de pessoas incultas ou
não eruditas que faziam espécies de “diários de bordo” ou “crônicas de viagem”,
como foi o caso da freira espanhola Silvia ou Etéria (Aetheria), que escreveu a
Peregrinatio ad Loca Sancta, também conhecida como Peregrinatio Aetheriae (q.v.
DO VALLE, s.d), além das correções que os gramáticos faziam aos “erros”
cometidos pelo vulgo, como é o caso do Appendix Probi (século III ou IV d.C), de
autoria provável de um gramático de origem africana. (MATTOSO CÂMARA, id., ib.).

Com todas essas fontes, e muitas outras, que ultrapassam, portanto, o


estatuto de mera suposição ou insinuação, pode-se perceber a raiz da língua
portuguesa fincada no latim falado, que, não obstante, como se mostrou, foi
fartamente apreendido em várias matrizes escritas por toda parte e em vários
registros.

3: Algumas acomodações e adaptações linguísticas do latim que


ajudaram na formação do idioma português

Como teve de se adaptar ou acomodar às pronúncias diferentes das regiões


aonde ia, muitas pronúncias foram sendo geradas, e, aos poucos, vários idiomas
iam nascendo. Por muito tempo, a preocupação primordial (senão única) dos
filólogos era exatamente as mudanças fonéticas do latim aos idiomas modernos. A
esse tipo de fazer filológico se dava o nome de “estudos neogramáticos”, e foi essa
a diretriz unânime até o início do século XX. Deve-se dizer, sobre esse período,
ainda, que

[e]sse modo de fazer Linguística, comparando as línguas na busca de semelhanças


e verificando a história de cada uma delas à procura de origens comuns, foi o
método dominante da Linguística do século XIX, o chamado método histórico-
comparativo. (PIETROFORTE, 2002, 77)

No início do século XX (o marco é a data da publicação do Cours de


Linguistique générale, em 1916), Ferdinand de Saussure ajudou a revogar essa
preocupação idiomática, substituindo-a por um conhecimento baseado nas noções
de sistema e estrutura linguística, que prescindiam completamente das exegeses
baseadas em pesquisas de cunho etimológico, já que, para o mestre de Genebra, a
recém-criada Linguística tinha como objeto a língua sincrônica (falada e usada
naquele momento histórico específico), uma vez que, para ele, querer abarcar a
diacronia (estudo histórico, etimológico), em Linguística, seria como “querer
abraçar um fantasma” (SAUSSURE, s.d., 107).

No entanto, embora não seja mais, absolutamente, a forma atual de se fazer


ciência no campo da filologia, muito das pesquisas dos neogramáticos permanece
como legado comprobatório das afiliações e origens dos idiomas românicos.
Há vários romanistas que seguiram aquela orientação (Frederico Diez, Carolina
Michaëllis de Vasconcelos, Meyer-Lübke, Ismael de Lima Coutinho etc.), deixando-
nos importantes compilações sobre o assunto.

Podemos citar como principais inovações ou acomodações do latim,


evidentemente entre muitas outras ora não catalogadas, a tendência a criações
analógicas e a pronúncias relaxadas, que muitas vezes encurtavam os vocábulos ou
lhes substituíam consoantes surdas por sonoras (mais suaves do ponto de vista da
fonética articulatória). Mattoso Câmara (1978, 153) resume essa transição a pontos
capitais, ora por mim parafraseados, como:

1) Desordens e simplificações nas flexões nominais e verbais; 2) termos


populares e analógicos, evitados por homens cultos; 3) na sintaxe,
predomínio da ordem direta e desrespeito à tradição gramatical normativa
de então (daí Bilac ter chamado a língua portuguesa de “inculta”); 4) na
fonética, como se mencionou, pronúncia relaxada e repleta de
contaminações e assimilações.

Voltando ao caso específico das origens da língua portuguesa, aponta-se,


com grande convicção, entre os filólogos, que os então dialetos falados no norte do
país forjaram, pouco a pouco, o idioma português. Citam-se, amiúde, os falares de
Entre-Douro e Minho e, para alguns incerto, o já citado galécio ou galego-
português, idioma falado às margens do Minho, que, para outras correntes
filológicas, é o ponto pacífico, como foi dito acima, da origem imediata da língua
portuguesa, conforme a maioria dos documentos escritos comprova, tese por mim,
portanto, agasalhada sem maiores percalços.

Deve-se observar, também, que o idioma português não é fruto exclusivo da


língua latina vulgar, uma vez que várias ocupações posteriores à romana na
Península Ibérica legaram traços culturais, entre os quais o idioma desponta com
grande importância, à língua portuguesa nascitura (grande foi a influência, por
exemplo, dos árabes na região), língua que, uma vez migrada para a América,
ainda pôde ver-se enriquecida por giros de origem africana, indígena e aborígine
em geral. Há, inclusive, consenso em apontar-se, não obstante a constituição de
uma única língua, a língua portuguesa da Europa, a da África, a da América
(português brasileiro) e a da Ásia.

Desse aglomerado de falares, pois, foi sendo criada a língua portuguesa, que
encontra sua manifestação denominada de “moderna” no século XVI, notadamente
(ou canonicamente) com João de Barros, o “Tito Lívio português” (com suas
Décadas), Camões, para alguns o criador da norma portuguesa moderna (com seus
Lusíadas), entre outros. Observe-se que se trata exclusivamente de autores de
origem europeia, o que, como foi mostrado acima, não constitui, hoje, a realidade
da língua portuguesa.

Não entrarei, por ora, nas divisões apontadas para o português já formado
como idioma, porque tal apontamento fugiria do escopo do presente artigo, que
visa à transição do latim ao português, e não ao caminhar do português
propriamente dito, caminho que deixarei para outro artigo. Indico, apenas, que
muitos textos nos chegaram do português arcaico e antigo, sendo obras de maior
fôlego, já completamente em língua portuguesa, só para citar algumas, a Demanda
do Santo Graal (que se acreditava ter sido escrita apenas em espanhol, o que,
hoje, não é mais considerado fidedigno), o Cancioneiro Geral de Espanha, os
Cancioneiros em geral, a História de Santo Amaro, e mais

[a] lenda de S. Barlão e S. Josafate, o Livro de Esopo, o Livro da Corte Imperial, o


da Virtusa Benfeitoria, o Livro da Montaria de D. João I, o Leal Conselheiro e Arte
de Cavalgar de D. Duarte, a Crônica dos Frades Menores, as Crônicas de Fernão
Lopes, Zurara e Rui de Pina e várias outras obras. (SAID ALI, 1964, 18)

4: Língua portuguesa: do passado ao futuro, sempre presente

Enfim, recebendo o legado primevo da tradição escrita (não literária), mas


predominantemente oral, do latim, a língua portuguesa foi seguindo por outros
vergéis e deixou-se afluir de inúmeras outras influências idiomáticas, enriquecendo-
se até os dias de hoje, quando sói assimilar palavras estrangeiras de cunho
tecnológico, sobretudo dos idiomas francês e, mais recentemente, inglês. Ainda
assim, como língua histórica de fortíssima personalidade e índole, o português não
se deteriora, nem sequer apresenta supostos sinais de degradação por causa dos
citados empréstimos ou estrangeirismos, como alardeiam alguns, baseados em
poucas ou nenhumas provas e em parcimoniosos dados que em nada fundamentam
a hipótese apocalíptica. Em vez disso, o que temos é a visão sincrônica de um
idioma que, como todos os demais que compõem a Babel contemporânea, não
param no espaço e no tempo, mas evoluem em direção ao suprimento e à provisão
das necessidades emergentes, como ocorreu, aliás, conforme se demonstrou
acima, já na mais remota origem da língua portuguesa, que tem seu ponto seminal
há quase 3000 anos.

Por isso, podemos dizer que a língua continua viva e, exatamente por essa
razão, mantém seu fluxo de mudanças, evoluções, empréstimos, assimilações,
analogias, importações, exportações, trocas. Toda língua pertence ao presente do
povo que dela lança mão a fim de comunicar-se e expressar-se, e pertence,
também, ao futuro, às gerações incumbidas de, ao receber uma língua já formada,
adaptá-la às premências de seus tempos e de seus coetâneos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECHARA, Evanildo. As fases históricas da língua portuguesa (tentativa de proposta


de nova periodização). Niterói, UFF: 1985

BILAC, Olavo. Língua Portuguesa. In:


<http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/flor.htm> Acessado em 14 de novembro de
2009

CAETANO, Marcelo Moraes. Gramática reflexiva da língua portuguesa. 1. ed., Rio de


Janeiro: Editora Ferreira, 2009a

--------------- Línguas Indo-Europeias. 2009b In:


<http://www.gostodeler.com.br/materia/9798/linguas_indo-europeias.html>
Acessado em 14 de novembro de 2009

DO VALLE, Rosalvo. Considerações sobre a Peregrinatio Aetheriae. In.


<http://www.filologia.org.br/rosalvo_cd_rom/index.htm> Acessado em 14 de
novembro de 2009

GIORDANI, Mário Curtis. História de Roma. Antiguidade Clássica II. 12. ed.,
Petrópolis: Editora Vozes, 1997

MATTOSO CÂMARA, Joaquim. Dicionário de Linguística e Gramática. 8. edição,


Petrópolis: Editora Vozes, 1978

PIETROFORTE, Antonio Vicente. A língua como objeto da Linguística. In. FIORIN,


José Luiz (org.) Introdução à Linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto,
2002

SAID ALI, Manuel. Gramática histórica da língua portuguesa. São Paulo: Edições
Melhoramentos, 1964

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 9. ed., São Paulo, Cultrix:
s.d.

VASCONCELOS, José Leite de. Textos arcaicos. 5. ed., Lisboa: Livraria Clássica,
1970

Marcelo Moraes Caetano é Professor de Português e Literatura; Gramático; Crítico literário; Tradutor de
Alemão, Inglês, Francês e Italiano; Estudioso de Latim, Grego e Mandarim. Escritor, jornalista e poeta, com 12
livros publicados, e várias premiações (Academia Brasileira de Letras, ONU, UNESCO, Fundação Guttenberg,
XIII Bienal Internacional de Literatura do Rio de Janeiro, Litteris, Sesi, Firjan). Especialista em Educação pela
Universidade Federal Fluminense. Mestrando em Estudos da Linguagem pela PUC-RIO. Pesquisador com
dedicação exclusiva pelo CNPq. E-mail: mmcaetano@hotmail.com

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