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D I S C I P L I N A Análise Real

Números reais

Autores

André Gustavo Campos Pereira

Viviane Simioli Medeiros Campos

aula

Material APROVADO ((conteúdo e imagens)


g ) Data: ___/___/___
03
Nome:______________________________________
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Reitor
José Ivonildo do Rêgo

Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância


Vera Lucia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância – SEDIS

Coordenadora da Produção dos Materiais Arte e Ilustração


Vera Lucia do Amaral Adauto Harley
Carolina Costa
Coordenador de Edição
Ary Sergio Braga Olinisky Heinkel Hugenin
Leonardo Feitoza
Projeto Gráfico
Diagramadores
Ivana Lima
Joacy Guilherme de A. F. Filho
Revisora de Estrutura e Linguagem José Antonio Bezerra Junior
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
Adaptação para Módulo Matemático
Revisoras Tipográficas Joacy Guilherme de A. F. Filho
Adriana Rodrigues Gomes
Margareth Pereira Dias
Nouraide Queiroz

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Pereira, André Gustavo Campos.

Análise real / André Gustavo Campos Pereira, Viviane Simiolli de Medeiros


Campos. – Natal, RN: EDUFRN, 2009.

196 p.

ISBN:

Conteúdo: Aula 01 – Revisando a linguagem matemática e o conceito


de funções; Aula 02 – Conjuntos finitos e enumeráveis; Aula 03 – Números reais;
Aula 04 – Sequências de números reais; Aula 05 – Desigualdades, operações com
sequências e limites infinitos; Aula 06 – Séries numéricas; Aula 07 – Limite de funções;
Aula 08 – Funções contínuas; Aula 09 – Funções deriváveis; Aula 10 – Máximos e mínimos.

1. Análise matemática. 2. Enumerabilidade. 3. Limite. 4. Continuidade. 5.


Derivadas. I. Campos, Viviane Simiolli de Medeiros. II. Título.

CDD 515
RN/UF/BCZM 2009/66 CDU 517

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida
sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
VERSÃO DO PROFESSOR

Apresentação
a aula 02 - Conjuntos Finitos e Enumeráveis estudamos várias propriedades dos

N conjuntos , e , por exemplo, que eles são infinitos e enumeráveis. Nesta aula
iremos estudar o conjunto dos números reais . Vamos entender o que significa
ser um corpo ordenado completo. Será que , e também são corpos ordenados
completos? E é infinito e enumerável? Resumindo, qual a diferença e qual a relação entre
esses conjuntos?

Objetivos
Esperamos que ao final desta aula você seja capaz
de argumentar o que significa ser um corpo ser
ordenado completo. Saiba demonstrar e aplicar al-
gumas propriedades dos números reais bem como

Aula 03 Análise Real 1


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Definições e operações
No conjunto dos números reais, que indicaremos por estão definidas duas oper-
ações:
1. Adição: Que a cada par de elementos x, y ∈ faz corresponder x + y ∈ .
2. Multiplicação: Que a cada par de elementos x, y ∈ faz corresponder x.y ∈ .

E estas operações definidas em satisfaçam aos seguintes axiomas:

Associatividade: Para quaisquer x, y, z ∈ tem-se:

(x + y) + z = x + (y + z) e (xy)z = x(yz);

Elementos neutros: Existem em dois elementos distintos 0 e 1 tais que:

x+0=x e x.1 = x;

Comutatividade: Para quaisquer x, y ∈ , tem-se:

x+y =y+x e x.y = y.x;

Inversos: Todo x ∈ possui inverso aditivo −x ∈ tais que x + (−x) = 0 e se x = 0,


existe também um inverso multiplicativo x−1 ∈ tal que x.x−1 = 1.

Distributividade: Para quaisquer x, y, z ∈ , tem-se x(y + z) = xy + xz.

A todo conjunto que tem bem definida estas duas operações satisfazendo todas as pro-
priedades acima chamamos de corpo, sendo assim, é um corpo.

Atividade 1
Verifique se no conjunto dos números naturais as operações de adição e multiplicação
estão bem definidas e conclua se N é um corpo ou não.

Atividade 2
Verifique se o conjunto dos números inteiros Z é um corpo.

Atividade 3
Verifique se o conjunto dos números racionais Q é um corpo.

2 Aula 03 Análise Real


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Vamos demonstrar, nos exemplos a seguir, usando o fato de que é um corpo, várias
propriedades dos números reais, todas conhecidas e muito utilizadas.

Exemplo 1
Mostre que x.0 = 0, ∀x ∈ .
Seja x ∈ . Temos x = x.1, pela existência do elemento neutro na multiplicação, e
x.1 = x(1 + 0), pela existência do elemento neutro na adição. Pela distributividade, temos
x(1 + 0) = x.1 + x.0 = x + x.0 ⇒ x = x + x.0. Somando (−x) em ambos os membros,
temos x + (−x) = x + (−x) + x.0 ⇒ 0 = x.0. Logo, x.0 = 0, ∀x ∈ .

Exemplo 2
Mostre que se xy = 0, então ou x = 0 ou y = 0.
Suponhamos y = 0. Assim, ∃y −1 ∈ tal que yy −1 = 1. Logo,

xy = 0 ⇒ (xy)y −1 = 0y −1 ⇒ x(yy −1 ) = 0 ⇒ x = 0.

O caso é análogo para x = 0.

A soma x + (−y) será indicada por x − y e chamada diferença entre x e y. Se y = 0,


o produto xy −1 será representado por xy e chamado quociente de x por y.

A operação que a cada par x, y ∈ associa x−y será chamada subtração, e a operação
x
que a cada par x ∈ , y ∈ − {0} associa será chamada divisão.
y

Observação 1
x x
Note que só fará sentido se y = 0, pois = xy −1 , e só existe y −1 para y = 0.
y y

Exemplo 3
Mostre que o inverso aditivo de um número real é único.
Suponha que x ∈ possua dois inversos aditivos y, z ∈ . Logo, x + y = 0 e
x + z = 0. Assim,

x + y = 0 = x + z ⇒ (x + y) + y = (x + z) + y
⇒ 0 + y = (x + y) + z = 0 + z
⇒ y = z.

∴ o elemento inverso aditivo é único.

Aula 03 Análise Real 3


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Exemplo 4
Mostre que o inverso multiplicativo de um número real é único.
Seja x ∈ , x = 0 e y, z ∈ tais que xy = 1 e xz = 1. Assim,

xy = xz ⇒ (xy)y = (xz)y ⇒ y = xyz = z.

∴ o elemento inverso multiplicativo é único.

Exemplo 5
Mostre que x(−y) = −(xy).
xy + x(−y) = x(y + (−y)) = x0 = 0, ou seja, xy + x(−y) = 0. Logo, pela unicidade
do elemento inverso, temos x(−y) = −(xy).

Exemplo 6
Mostre que −(−x) = x.
Note que −(−x) é o inverso aditivo de −x. Como −x + x = 0, temos x = −(−x),
pela unicidade do inverso aditivo.

Exemplo 7
Mostre que x = y ⇔ −x = −y.
Inicialmente, mostremos que x = y ⇒ −x = −y.
x + (−x) = 0 ⇒ y + (−x) = 0 ⇒ y + (−y) + (−x) = 0 + (−y) ⇒ −x = −y.
Para mostrar que −x = −y ⇒ x = y, basta observar que
−x = −y ⇒ −(−x) = −(−y) ⇒ x = y.

Exemplo 8
Mostre que (x − y)(x + y) = x2 − y 2 .
x2 − y 2 = xx − yy = xx + xy − xy − yy = x(x − y) + y(x − y) = (x − y)(x + y).

Exemplo 9
Mostre que se x2 = y 2 , então x = y ou x = −y.
x2 + (−y 2 ) = y 2 + (−y 2 ) = 0 ⇒ x2 − y 2 = 0 ⇒ (x − y)(x + y) = 0.
Disso, temos (x − y) = 0 ⇒ x = y ou (x + y) = 0 ⇒ x = −y.

4 Aula 03 Análise Real


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Ordenação
No conjunto dos números reais existe um subconjunto, que denotaremos por + chama
conjunto dos números reais positivos que cumpre as seguintes condições:

i. A soma e o produto de números reais positivos são positivos, ou seja, se x, y ∈ +,

então x + y ∈ + e xy ∈ + .

ii. Dado x ∈ , exatamente uma das três situações abaixo ocorre:


1. x = 0;
2. x ∈ +;

3. −x ∈ +.

Indicando − = {−x ∈ |x ∈ + } = {x ∈ | − x ∈ + }, pela propriedade 2 temos


= − ∪ + ∪ {0}, e essa união é disjunta. − é chamado conjunto dos números reais
negativos, ou seja, os números y ∈ − são chamados números reais negativos.

Exemplo 10
Mostre que todo número real x = 0 tem quadrado positivo.
x∈ − {0} ⇒ x ∈ + ou x ∈ −.

Se x ∈ +, então x.x ∈ +, ou seja, x2 ∈ +.

Se x ∈ −, então −x ∈ + e, conseqüentemente, (−x)(−x) = x.x = x2 ∈ +.

Garantida a existência de +, temos bem definida em a seguinte relação de ordem:

Dizemos que x é menor que y e escrevemos x < y quando x − y ∈ + , isto é, quando


existe z ∈ + tal que y = x + z; neste caso, escreveremos também y > x e dizemos que y
é maior que x.
Em particular,x > 0 significa que existe z ∈ + tal que x = 0 + z = z ∈ + ,
isto é, se x > 0, então x é positivo, enquanto x < 0 significa que ∃z ∈ + tal que
0 = x + z ⇒ 0 + (−z) = x + z + (−z) ⇒ −z = x + (z + (−z)) = x + 0 = x, isto é, se
x < 0, então x é negativo.

Valem as seguintes propriedades da relação de ordem x < y em :

Transitividade: Se x < y e y < z, então x < z.

Aula 03 Análise Real 5


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Tricotomia: Dados x, y ∈ , ocorre exatamente uma das seguintes alternativas: x = y,
x < y ou x > y.

Monotonicidade da adição: Se x < y, então, para todo z ∈ , tem-se x + z < y + z.

Monotonicidade da multiplicação: Se x < y, então, para todo número real z > 0, tem-se
xz < yz; porém, se z < 0, tem-se xz > yz.

Vamos demonstrar duas dessas propriedades:


Monotonicidade da adição
Demonstração
Se x < y, então, para todo z ∈ , tem-se x + z < y + z.

Hipótese: x < y ⇒ ∃w ∈ + tal que y = x + w.


Tese: z ∈ ⇒ x + z < y + z ⇔ ∃z  ∈ tal que y + z < x + z + z  .
Por hipótese, temos x < y, ou seja, ∃w ∈ + tal que y = x + w. Assim, y + z =
x + w + z ⇒ y + z = x + z + w ⇒ x + z < y + z.

Monotonicidade da multiplicação
Demonstração
Se x < y, então, para todo número real z > 0, tem-se xz < yz; porém, se z < 0,
tem-se xz > yz.

Caso 1: z > 0.
Hipóteses: x < y e z > 0.
Tese: xz < yz.
De x < y, existe w ∈ + tal que y = x + w, e de z > 0, existe p ∈ + tais
que z = 0 + p. Assim, y − x ∈ + e z ∈ + , que implicam z(y − x) ∈ + , isto é,
zy − zx ∈ + ⇒ zy − zx > 0 ⇒ zy > zx.

Caso 2: z < 0.
Hipóteses: x < y e z < 0.
Tese: xz > yz.
De x < y e z > 0, temos y − x ∈ R+ e −z ∈ + ⇒ (y − x)(−z) ∈ + ⇒
−yz + xz ∈ + ⇒ xz − yz ∈ + ⇒ xz > yz.

6 Aula 03 Análise Real


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Atividade 4
Mostre que a relação de ordem x < y é transitiva.

Atividade 5
Mostre que vale a tricotomia da relação de ordem x < y.

Exemplo 11
Mostre que se x < x e y < y  , então x + y < x + y  .
De x < x e y < y  , temos x − x ∈ + e y − y ∈ +. Assim,

x − x + y  − y ∈ +
⇒ x + y  − (x + y) ∈ +
⇒ x + y  > x + y.

Exemplo 12
Mostre que se 0 < x < x e 0 < y < y  , então xy < x y  .
Por hipótese, temos as seguintes informações:

De x ∈ + e y  − y ∈ +, temos x(y  − y) ∈ +, e de y  ∈ + e x − x ∈ +,

temos y  (x − x) ∈ + . Logo,

x(y  − y) + y  (x − x) ∈ +
⇒ xy  − xy + y  x − y  x ∈ +

⇒ y  x − xy ∈ +
⇒ y  x > xy.

Exemplo 13
1
Mostre que se x > 0, então > 0.
x
Sabemos que x > 0 ⇒ x = 0 ⇒ x2 ∈ +. Assim,

x 1 1
x−1 = 1.x−1 = xx−1 x−1 = x(x−1 )2 ∈ +
⇒ ∈ +
⇒ ∈ +
⇒ > 0.
x2 x x

Atividade 6 1
Mostre que se x < 0, então < 0.
x

Aula 03 Análise Real 7


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Exemplo 14
1 1
Mostre que se 0 < x < y, então 0 < < .
y x
De x > 0, temos x−1 > 0, ou seja, x−1 ∈ +. Analogamente, de y > 0, temos
y −1 ∈ + . Assim, x−1 y −1 ∈ + .

Como x < y, por hipótese, temos:

x(x−1 y −1 ) < y(x−1 y −1 ) ⇒ (xx−1 )y −1 < (yy −1 )x−1 ⇒ y −1 < x−1 .

Vamos mostrar que o conjunto dos números reais contém outros conjuntos numéri-
cos conhecidos.

O exemplo 10 afirma que o quadrado de qualquer número real diferente de zero é posi-
tivo portanto 1 = 12 ∈ + , ou seja, 1 é positivo. Note que 1 < 1 + 1 < 1 + 1 + 1 < · · · ,
ou seja, 1 + 1 ∈ + , 1 + 1 + 1 ∈ + ,... , e podemos concluir que ⊂ + . Mas + ⊂ ,
portanto ⊂ .

Sabemos que 0 ∈ e acabamos de ver que todo número natural é um número real, ou
seja, n ∈ implica em n ∈ . Como é um corpo, temos que n possui um inverso aditivo
−n ∈ e podemos concluir que ⊂ .

m 
Também podemos afirmar que = | m ∈ , n ∈ − {0} ⊂ . Acabamos de
n
ver que todo número inteiro também é um número real, portanto, m ∈ . Como n ∈ −{0},
m
então n ∈ − {0}; assim, ∃n−1 ∈ e mn−1 ∈ o que implica em ∈ . Logo, para
n
m
todo q = ∈ , temos q ∈ , isto é, ⊂ .
n

Com isso, concluímos que   ⊂ . Mais adiante veremos que  .

Exemplo 15
Desigualdade de Bernoulli
Para todo número real x ≥ −1 e todo n ∈ , tem-se (1 + x)n ≥ 1 + nx.
Seja x um número real qualquer tal que x ≥ −1, ou seja, x = −1 ou x > −1.

Inicialmente, mostremos por indução que, para x = −1, a desigualdade é verdadeira,

8 Aula 03 Análise Real


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isto é, para todo n ∈ , tem-se:

(1 + (−1))n ≥ 1 + n(−1) ⇒ 0 ≥ 1 − n.

Para n = 1, temos 1 − 1 = 0 ≤ 0, isto é, a desigualdade é verdadeira. Suponhamos


que para n = k a desigualdade é verdadeira, ou seja, 0 ≥ 1 − k. Para n = k + 1, temos:

1 − (k + 1) = 1 − k − 1 < 1 − k ≤ 0 ⇒ 1 − (k + 1) ≤ 0.

Logo, a desigualdade também vale para n = k + 1 e, portanto, 0 ≥ 1 − n, ∀n ∈ .

Agora, mostremos a desigualdade para x > −1, também por indução.

Para n = 1, temos (1 + x)1 = 1 + x = 1 + 1.x, ou seja, a desigualdade é válida.


Suponhamos que a desigualdade é válida para n = k, isto é, (1 + x)k ≥ 1 + kx. Para
n = k + 1, temos:

(1 + x)k+1 = (1 + x)k (1 + x) ≥ (1 + kx)(1 + x)


= 1 + x + kx + kx2 = 1 + (k + 1)x + kx2
> 1 + (k + 1)x.

Logo, (1 + x)k+1 ≥ 1 + (k + 1)x, ou seja, a desigualdade também é válida para


n = k + 1. Assim, para x > −1, tem-se (1 + x)n ≥ 1 + nx, ∀n ∈ .

Portanto, concluímos que

(1 + x)n ≥ 1 + nx, ∀n ∈ , x ≥ −1.

Agora que sabemos o que significam x > 0 e x < 0, podemos definir o valor absoluto
(ou módulo) de um número real:


⎨ x, se x > 0;
|x| = 0, se x = 0;


−x, se x < 0.

Note que |x| = max{x, −x}, pois:

a. se x > 0, então −x < 0 e max{x, −x} = x = |x|;

b. se x < 0, então −x > 0 e max{x, −x} = −x = |x|;

c. se x = 0, então −x = 0 e max{x, −x} = 0 = |0|.

Aula 03 Análise Real 9


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Proposição 1
Para x ∈ , tem-se −|x| ≤ x ≤ |x|.

Demonstração
De |x| = max{x, −x}, temos:

|x| ≥ x e |x| ≥ −x ⇒ |x| ≥ x e − |x| ≤ x ⇒ −|x| ≤ x ≤ |x|.

Exemplo 16
|x| é o único número maior que ou igual a zero tal que |x|2 = x2 .
Que |x| ≥ 0 segue da definição. Para mostrar que |x|2 = x2 , basta observar que

xx, se x ≥ 0;
|x|2 = |x||x| =
−x(−x), se x < 0.

De qualquer maneira, temos |x|2 = x2 , ∀x ∈ .

Agora, suponha que exista y ≥ 0, tal que y 2 = x2 . Logo,

y 2 = x2 ⇒ y 2 = x2 = |x|2 ⇒ y 2 = |x|2 ⇒ y = |x| ou y = −|x|.

Não pode ocorrer y = −|x| ≤ 0 (para y = 0) pois y ≥ 0. Portanto, y = |x|, ou seja,


|x| é o único número maior que ou igual a zero tal que |x|2 = x2 ´.

Atividade 7
Mostre que se x, y ≥ 0 e x2 = y 2 , então x = y.

Teorema 1
Se x, y ∈ , então |x + y| ≤ |x| + |y| e |xy| = |x||y|.

Demonstração
Sejam x, y ∈ . Sabemos que |x| = max{x, −x} ⇒ |x| ≥ x e que |y| = max{y, −y}
|y| ≥ y. Assim, |x| + |y| ≥ x + y. De modo análogo, temos |x| ≥ −x e |y| ≥ −y, e também
|x| + |y| ≥ −x − y = −(x + y). Logo,

|x| + |y| ≥ x + y e |x| + |y| ≥ −(x + y) ⇒ |x| + |y| ≥ max{x + y, −(x + y)} = |x + y|.

10 Aula 03 Análise Real


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Agora, vamos mostrar que |xy| = |x||y|. Note que |x| ≥ 0 e |y| ≥ 0 ⇒ |x||y| ≥ 0 e
que |xy| ≥ 0. Sabemos também que:

|xy|2 = (xy)2 = (xy)(xy) = x2 y 2 = |x|2 |y|2 = (|x||y|)2 ⇒ |xy| = |x||y|.

Teorema 2
Sejam a, x ∈ eδ∈ +. Tem-se:

|x − a| < δ ⇔ a − δ < x < a + δ.

Demonstração
Parte 1. |x − a| < δ ⇒ a − δ < x < a + δ.

Hipóteses: a, x ∈ ,δ∈ + e |x − a| < δ.


Tese: a − δ < x < a + δ.

Da hipótese, temos:

|x − a| < δ ⇒ max{x − a, −(x − a)} < δ


⇒ x − a < δ e − (x − a) < δ
⇒ x − a < δ e x − a > −δ
⇒ x<δ+aex>a−δ
⇒ a − δ < x < a + δ.

Parte 2. a − δ < x < a + δ ⇒ |x − a| < δ.

Hipóteses: a, x ∈ ,δ∈ + e a − δ < x < a + δ.


Tese: |x − a| < δ.

Da hipótese, temos:

a−δ <x<a+δ ⇒ a−δ <xex<a+δ


⇒ x − a > −δ e x − a < δ
⇒ −(x − a) < δ e x − a < δ
⇒ max{x − a, −(x − a)} < δ
⇒ |x − a| < δ.

Aula 03 Análise Real 11


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Atividade 8
Mostre que se a, x ∈ eδ∈ +, então
|x − a| > δ ⇒ x < a − δ ou x > a + δ.

Usaremos as seguintes notações para representar tipos especiais de conjuntos de númer


reais chamados intervalos:
1. [a, b] = {x ∈ |a ≤ x ≤ b}.
2. (a, b] = {x ∈ |a < x ≤ b}.
3. [a, b) = {x ∈ |a ≤ x < b}.
4. (a, b) = {x ∈ |a < x < b}.
5. (−∞, b] = {x ∈ |x ≤ b}.
6. (−∞, b) = {x ∈ |x < b}.
7. [a, +∞) = {x ∈ |x ≥ a}.
8. (a, +∞) = {x ∈ |x > a}.
9. (−∞, +∞) = .

Os intervalos 1, 2, 3 e 4 são limitados com extremos a e b: [a, b] é um intervalo fechado,


[a, b) é fechado à esquerda e aberto à direita, (a, b] é fechado à direita e aberto à esquerda, e
(a, b) é aberto. Os intervalos 5, 6, 7, 8 e 9 são ilimitados. Quando a = b, o intervalo fechado
[a, b] = {a} é chamado intervalo degenerado.

Com relação aos intervalos, o teorema 2 diz que x fatisfaz |x − a| < δ se, e somente
se, x satisfaz a − δ < x < a + δ, ou seja, x ∈ (a − δ, a + δ).

Interpretação geométrica de
Imagine como uma reta e cada elemento x ∈ como um ponto desta reta.

12 Aula 03 Análise Real


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Vimos que = + ∪ − ∪ {0}, que x > 0 ⇒ x ∈ + e x < 0 ⇒ x ∈ − .
Utilizaremos a relação de ordem para representar os pontos na reta, dizendo que x < y
significa que a posição ocupada por y é à direita de x. Assim, os intervalos são segmentos
dessa reta e |y − x| representa a distância do ponto x ao ponto y.

distância = |y-x|

x y

Atividade 9
Mostre que se a distância de x a y é δ, então a distância de −x a −y também é δ. Como
corolário, conclua que a distância de x a 0 é a mesma que de −x a 0.

Pelo teorema 2, temos que x ∈ (a − δ, a + δ) é equivalente a |x − a| < δ, ou seja, o


intervalo (a − δ, a + δ) é formado pelos elementos cuja distância até a é menor que δ.

|x-a|

x
a –s a a +s

|(a +δ) –a| = |s| = s

Até o momento, vimos que quaisquer que sejam x, y ∈ , temos x < y, x > y ou
x = y. A um corpo com esta propriedade chamamos corpo ordenado, isto é, somos ca-
pazes de dizer quem é maior que quem. Em outras palavras, existe uma relação de ordem
bem definida entre seus elementos.

Aula 03 Análise Real 13


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Atividade 10
Podemos concluir que é um corpo ordenado?

O conjunto é um corpo ordenado completo


Quando estudamos os números naturais vimos que X ⊂ é limitado se existe b ∈
tal que x ≤ b, para todo x ∈ X. Não nos preocupávamos, até então, com a parte inferior, já
que o 1 é o menor elemento de e, portanto, 1 ≤ x, para todo x ∈ X ⊂ . No conjunto
não existe um menor elemento, pois se x ∈ , então x − 1 ∈ e x − 1 < x (pois existe
1 ∈ + tal que x = x − 1 + 1).

Atividade 11
Mostre que não existe y ∈ tal que x ≤ y, ∀x ∈ .

Para falar de limitação em , precisamos falar de dois tipos de limitação: superior e


inferior.
Dizemos que X ⊂ é limitado superiormente se existe b ∈ tal que b ≥ x, ∀x ∈ X.
Neste caso, b é dito ser uma cota superior de X.

Exemplo 17
O conjunto X = (−∞, 7) é limitado superiormente?
Sim, pois existe 8 ∈ tal que x ≤ 8, ∀x ∈ X. Logo, 8 é cota superior de X. Note que
10 também é cota superior de X, já que x ≤ 10, ∀x ∈ X.

Atividade 12
Seja X ⊂ limitado superiormente. Mostre que se b é cota superior de X, então
qualquer número real c ≥ b também é cota superior de X.

Se c é cota superior de X ⊂ , então podemos afirmar que qualquer número real b < c
também é cota superior de X? Não! Considere X = (−∞, 4] = {x ∈ |x ≤ 4}. O número
4 é cota superior de x, mas 2 < 4 não é cota superior de X, pois existe 3 ∈ X tal que 2 < 3.

14 Aula 03 Análise Real


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Definição 1
Seja X ⊂ limitado superiormente e não-vazio. Chama-se supremo de X ao número
b ∈ que é a menor das cotas superiores de X, e denota-se b = sup X. Mais explicita-
mente:

S1. b é cota superior de X, ou seja, para todo x ∈ X, tem-se x ≤ b.

S2. Se c ∈ é tal que x ≤ c, ∀x ∈ X, então b ≤ c. Isso significa que qualquer outra cota
superior de X é, obrigatoriamente, maior que ou igual a b.

Podemos escrever a condição S2 da seguinte maneira:

S2 . Se d < b, então d não é cota superior de X, ou seja, existe x ∈ X tal que x > d. Isso
significa que nenhum número menor que b pode ser cota superior de X.

Podemos ainda reescrever S2 da seguinte maneira:

S2 . Qualquer que seja ε > 0, b − ε não é mais cota superior de X, ou seja, ∃x ∈ X tal que
x > b − ε.

Dizer que é completo significa dizer que todo subconjunto X de limitado superior-
mente possui supremo.

Exemplo 18
Considere X = (−∞, 4]. Encontre b = sup X.
Note que X = ∅ e X é limitado superiormente, pois existe 10 ∈ tal que x ≤ 10, ∀x ∈
X. Mostremos que b = 4 satisfaz S1 e S2.
Para todo x ∈ X, temos x ≤ 4. Assim, 4 é cota superior de X, isto é, 4 satisfaz S1.
Seja c ∈ tal que c ≥ x, ∀x ∈ X. Temos c ≥ 4, pois 4 ∈ X. Logo, c ≥ b, isto é, c satisfaz
S2. Portanto, b = 4 = sup X.

Podemos também mostrar que 4 satisfaz S2 e S2 , e o faremos a seguir.


d+4
Seja d < 4 e considere x = . Assim, d < x < 4 e x ∈ X. Como d < 4 foi
2
qualquer, para todo d < 4 existe x ∈ X tal que x > d. Logo, 4 satisfaz S2’.
ε
Seja ε > 0. Tome x = 4 − . Note que:
2
ε ε ε
ε>0⇒ > 0 ⇒ 4 − < 4 ⇒ 4 − ∈ X.
2 2 2

Aula 03 Análise Real 15


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Também:
ε ε ε
ε> ⇒ −ε < − ⇒ 4 − ε < 4 − = x.
2 2 2
Logo, 4 − ε não é mais cota superior de X.

Como ε > 0 tomado foi qualquer, 4−ε não é mais cota superior de X, para todo ε > 0.
Portanto, 4 satisfaz S2 .

Atividade 13
Seja X = (1, 2) ∪ (2, 4] ∪ [7, 9]. Encontre b = sup X.

Dizemos que X ⊂ é limitado inferiormente se existe d ∈ tal que, para todo


x ∈ X, tem-se d ≤ x. Neste caso, d é dito ser uma cota inferior de X.

Se d é cota inferior de X ⊂ , então qualquer número real c ≤ d também é cota


inferior de X. De fato, temos d ≤ x, ∀x ∈ X. Como c ≤ d, por transitividade, temos
c ≤ d ≤ x, ∀x ∈ X. Logo, c é cota inferior de X. Porém, não podemos afirmar que
qualquer número real c > d é cota inferior de X. De fato, considereX = (0, ∞). −1 é cota
1 1
inferior de X, mas 1 > −1 não é cota inferior de X, pois existe ∈ X tal que < 1.
2 2

Definição 2
Seja X ⊂ limitado inferiormente e não-vazio. Chama-se ínfimo de X ao número
d ∈ que é a maior das cotas inferiores de X, e denota-se d = inf X. Em outras palavras,
ao número d ∈ que satisfaz:

I1. d é cota inferior de X, ou seja, para todo x ∈ X, tem-se d ≤ x.

I2. Se c ∈ é tal que c ≤ x, ∀x ∈ X, então c ≤ d. Isso significa que qualquer outra cota
inferior de X é, obrigatoriamente, menor que ou igual a d.

Podemos escrever a condição I2 da seguinte maneira:

I2 . Se c > d, então c não é cota inferior de X, ou seja, existe x ∈ X tal que x < c. Isso
significa que nenhum número maior que d pode ser cota inferior de X.

Podemos ainda reescrever I2 da seguinte maneira:

I2 . Qualquer que seja ε > 0, d + ε não é mais cota inferior de X, ou seja, ∃x ∈ X tal que
x < d + ε.

16 Aula 03 Análise Real


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Exemplo 19
Seja X = (−3, 7). Encontre d = inf X.
d = −3 é cota inferior de X, pois x ∈ X ⇒ x > −3 ⇒ x ≥ d, ∀x ∈ X. Agora
vamos mostrar que −3 é a maior das cotas inferiores de X. Seja c uma cota inferior de X,
ou seja, c ≤ x, ∀x ∈ X. Temos duas possibilidades para tal c: ou c ≤ −3 ou c > −3. Caso
ocorresse c > −3 (c ≤ 7), teríamos:

c + (−3) c + (−3)
−3 < <c⇒x= ∈ X e x < c,
2 2
isto é, c não seria cota inferior de X. Logo, c ≤ −3 e, portanto, d = −3 = inf X.

Atividade 14
Mostre que se X é limitado superiormente, então −X = {y ∈ | − y ∈ X} é limitado
inferiormente.

Atividade 15
Mostre que se b = sup X, então −b = inf(−X).

Os próximos teoremas 3 e 4 a seguir serão utilizados no teorema 5, o qual garante que


não é enumerável.

Teorema 3
São verdadeiras as seguintes afirmações:
1. ⊂ não é limitado superiormente;

1
2. Se X = |n ∈ , então inf X = 0;
n
3. Dados a, b ∈ +, existe n ∈ tal que na > b.

Demonstração
Item 1.
Hipótese: ⊂ .
Tese: não existe cota superior para .

Demostraremos este item por contradição.


∼Tese: existe cota superior para , isto é, ∃c ∈ tal que n ≤ c, ∀n ∈ .

Aula 03 Análise Real 17


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Sabemos que = ∅ e ⊂ . Logo, pela completude de , existe d ∈ tal que
d = sup . Assim, d − 1 não é supremo de , ou seja, ∃x ∈ tal que x > d − 1. Pela
monotonicidade de “ > ”, temos x + 1 > d − 1 + 1 = d, o que é absurdo, pois x + 1 ∈
pelos axiomas de Peano (x + 1 é o sucessor de x).

Portanto, é ilimitado superiormente.

Item 2.

1 1 1
Hipótese: X = ,n ∈ = 1, , , ... .
n 2 3
Tese: inf X = 0.

Inicialmente, devemos mostrar que 0 é cota inferior de X. Sabemos que n > 0, ∀n ∈


1
⇒ > 0, ∀n ∈ ⇒ x > 0, ∀x ∈ X. Logo, 0 é cota inferior de X.
n

Agora, mostremos que para todo c > 0, c não é cota inferior de X. Dado c > 0, temos
1 1
> 0, isto é não é cota superior de , pois é ilimitado superiormente. Assim,
c c
1 1 1
∃n ∈ tal que n > ⇒ nn−1 c > n−1 c ⇒ c > ,
c c n
1
ou seja, existe x ∈ X, x = , tal que x < c. Logo, c não é cota inferior de X.
n

Como c > 0 tomado foi qualquer, temos que, para todo c > 0, c não é cota inferior de
X. Portanto, inf X = 0.

Item 3.
Hipótese: a, b ∈ +.

Tese: existe n ∈ tal que na > b.

Dados a, b ∈ + , temos a−1 , b−1 ∈ + . Também a−1 b ∈ + e a−1 b não é cota


superior de , pois é ilimitado superiormente. Assim, ∃n ∈ tal que n > a−1 b, isto é,
na > a−1 ba, que implica na > b.

Atividade 16
Demostre a equivalência entre os itens do teorema anterior, ou seja, mostre que 1 im-
plica 2, 2 implica 3 e 3 implica 1.

18 Aula 03 Análise Real


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VERSÃO DO PROFESSOR
Teorema 4
Intervalos encaixados
Dada uma seqüência decrescente I1 ⊃ I2 ⊃ · · · de intervalos fechados [an , bn ] = In ,

então existe pelo menos um número real e tal que e ∈ In , ∀n ∈ , isto é, e ∈ In .
n

Demonstração
Hipótese: I1 ⊃ I2 ⊃ · · · .

Tese: ∃e ∈ tal que e ∈ In , ∀n ∈ , ou equivalentemente, ∃e ∈ tal que e ∈ In .
n

I1 ⊃ I2 ⊃ · · · ⇒ [a1 , b1 ] ⊃ [a2 , b2 ] ⊃ · · · ⇒ a1 ≤ a2 ≤ · · · e b1 ≥ b2 ≥ · · · .

Será que aj ≤ bk , ∀j, k ∈ ? Note que aj > bk não ocorre para nenhum j, k ∈ .
Caso ocorresse, teríamos j > k, pois para j ≤ k temos a1 ≤ a2 ≤ · · · ≤ aj ≤ ak ≤ bk .
Entretanto, se aj > bk para algum j > k, então bj ≥ aj ≥ bk , e isso é absurdo, pois da
hipótese temos bj ≤ · · · ≤ bk ≤ · · · ≤ b2 ≤ b1 . Logo, aj ≤ bk , ∀j, k ∈ .

Considerando X = {bj |j ∈ }, temos X = ∅, X ⊂ e X é limitado inferiormente.


Assim, ∃e ∈ tal que e = inf X.

Considerando Y = {aj |j ∈ }, temos Y = ∅, Y ⊂ e X é limitado superiormente.


Assim, ∃f ∈ tal que f = sup Y .

Note que f ≤ e, pois como já vimos aj ≤ bk , ∀j, k ∈ . Fixando j, temos aj ≤


bk , ∀k ∈ . Logo, aj é cota inferior de X ⇒ aj ≤ e = inf X. Note também que isso vale
para todo j ∈ , ou seja, aj ≤ e, ∀j ∈ . Logo, e é cota superior de Y ⇒ sup Y = f ≤ e.


Observe que [f, e] ⊂ In . De fato,
n

x ∈ [f, e] ⇒ f ≤ x ≤ e
⇒ aj ≤ sup Y = f ≤ x, ∀j ∈ , e
x ≤ e = inf X ≤ bj , ∀j ∈
⇒ aj ≤ x ≤ bj , ∀j ∈
⇒ x ∈ [aj , bj ], ∀j ∈

⇒ x∈ In .
n

Note que [f, e] = ∅, pois no mínimo [f, e] = {e} é um intervalo degenerado. Portanto,
∃e ∈ tal que e ∈ In , ∀n ∈ .

Aula 03 Análise Real 19


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Teorema 5
não é enumerável.

Demonstração
Mostraremos que não existe uma função f : → sobrejetiva e, conseqüentemente,
f : → bijetiva.

Hipótese: f : → é uma função.


Tese: f não é sobrejetiva.

De fato, considerando f (1) ∈ , podemos construir um intervalo [a1 , b1 ] tal que


/ [a1 , b1 ] = I1 . Para f (2), temos duas prossibilidades: f (2) ∈
f (1) ∈ / I1 ou f (2) ∈ I1 .

Se f (2) ∈
/ I1 , temos I2 = I1 .

Se f (2) ∈ I1 , temos:


⎪ a1 + f (1)
⎨ a1 , , se f (2) = a1 ;
2
[a2 , b2 ] = I2 =

⎪ f (1) + b1
⎩ , b1 , se f (2) = a1 .
2

/ I2 ou f (3) ∈ I2 .
Para f (3), também temos duas possibilidades: f (3) ∈

Se f (3) ∈
/ I2 , temos I3 = I2 .

Se f (3) ∈ I2 , temos:


⎪ a2 + f (2)
⎨ a2 , , se f (3) = a2 ;
2
[a3 , b3 ] = I3 =

⎪ f (2) + b2
⎩ , b2 , se f (3) = a2 .
2

Note que I1 ⊇ I2 ⊇ I3 ⊇ · · · . Logo, existe x ∈ In . Se x ∈ In , então
n
f (1), f (2), ..., f (n) ∈
/ In e, conseqüentemente, f (1), f (2), ..., f (n) = x. Como x ∈ In ,
n
temos x = f (n), ∀n ∈ . Portanto, f não é sobrejetiva, demonstrando o teorema.

O próximo resultado nos dá uma infinidade de exemplos de conjuntos não enumeráveis.

20 Aula 03 Análise Real


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Corolário 1
Todo intervalo não-degenerado é não-enumerável.

Demonstração
Hipótese: I é um intervalo não-degenerado, isto é, I = {c}.
Tese: I é não-enumerável.

Sabemos que se X é enumerável e Y ⊂ X, então Y é enumerável. Assim, se Y ⊂ X


é não-enumerável, então X é não-enumerável. Também,

I não-degenerado ⇒ ∃a, b ∈ I, a < b tais que (a, b) ⊂ I.

Considere
ϕ : (−1, 1) −→ (a, b)
1
x −→ [(b − a)x + a + b]
2
Note que ϕ é bijetiva.

Considere também
ψ: −→ (−1, 1)
x
x −→
1 + |x|

Vamos mostrar que ψ é bijetiva.

Note que x > 0 > y ⇒ ψ(x) > ψ(0) > ψ(y). Considere, agora, ψ(x) = ψ(y) (x e y
tem o mesmo sinal e x, y = 0).
Se x, y > 0, temos:
x y
ψ(x) = ψ(y) ⇒ = ⇒ x(1 + |y|) = y(1 + |x|)
1 + |x| 1 + |y|
⇒ x + x|y| = y + y|x| ⇒ x + xy = y + yx
⇒ x = y.

Se x, y < 0, temos:
x y
ψ(x) = ψ(y) ⇒ = ⇒ x(1 + |y|) = y(1 + |x|)
1 + |x| 1 + |y|
⇒ x + x|y| = y + y|x| ⇒ x − xy = y − yx
⇒ x = y.

Logo, ψ é injetiva.

Aula 03 Análise Real 21


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Para mostrar a sobrejetividade de ψ, devemos mostrar que ∀y ∈ (−1, 1), ∃x ∈ tal
que ψ(x) = y.

0
Se y = 0, então existe 0 ∈ tal que = ψ(0) = 0 = y.
1−0

Se y > 0, procuremos x ∈ , x > 0 tal que ψ(x) = y. Assim,


x x
=y ⇒ = y ⇒ x = (1 + x)y ⇒ x = y + xy
1 + |x| 1+x
y
⇒ x − xy = y ⇒ x = .
1−y

Se y < 0, vamos procurar x ∈ , x < 0 tal que ψ(x) = y. Assim,


x x y
=y⇒ =y⇒x= .
1 + |x| 1−x 1+y

Logo, ψ é sobrejetiva.

Portanto, ψ é bijetiva ⇒ (−1, 1) é não-enumerável ⇒ (a, b) é não-enumerável (pois ϕ


é bijeção). Como I ⊃ (a, b), então I é não-enumerável.

Exemplo de um número irracional



Vamos encerrar esta aula mostrando que 3 não é um número racional, ou seja, é irra-
cional e assim estaremos mostrando que Q  .

√ √ m
Suponha que 3 é racional, isto é, existem m ∈ e n ∈ − {0} tais que 3 = .
√ n
Assim, 3n = m ⇒ 3n2 = m2 ⇒ m|3n2 ⇒ 3|m2 . Isto significa que 3 é fator primo de
decomposição de m2 . Logo, 3|m e, conseqüentemente, a quantidade de 3 na decomposição
de m2 é par. Temos então duas possibilidades para 3: (a) 3 é fator primo de n ou (b) 3 não é
fator primo de n.

Se (a) ocorre, então a quantidade de 3 na decomposição de n2 também é par. Logo,


3n2 tem uma quantidade ímpar de 3. Isto é absurdo, pois 3n2 = m2 .

Se (b) ocorre, então a quantidade de 3 na decomposição de 3n2 é 1, e isto também é


absurdo.


Portanto, 3 é irracional.

22 Aula 03 Análise Real


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Resumo
Nesta aula aprendemos que é um corpo ordenado completo e não enumerável. Apli-
camos vários dos axiomas de corpo e a relação de ordem para demonstrar propriedades
interessantes e bem conhecidas dos números reais. Estudando a completeza de aprende-
mos os conceitos de supremo e ínfimo de conjuntos.

Autoavaliação
Usando o fato de ser um corpo, prove:
1) a unicidade do elemento neutro da adição, ou seja, se x + a = x para todo x ∈ então
a = 0.

2) a unicidade do elemento neutro da muliplicação, ou seja, se x.u = x para todo x ∈


então u = 1.

3) a unicidade do elemento inverso aditivo, ou seja, se x + y = 0 então y = −x.

4) a unicidade do elemento inverso multiplicativo, ou seja, se x.y = 1 então y = x−1 .

Usando o fato de ser um corpo ordenado, prove que:


5) para quaisquer x, y, z ∈ vale: |x − z| ≤ |x − y| + |y − z| .

6) para quaisquer x, y ∈ vale: ||x| − |y|| ≤ |x − y|.

Usando o fato de ser um corpo ordenado completo, prove que:


7) se A e B são subconjuntos limitados de , satisfazendo A ⊂ B então supA ≤ supB e
inf A ≥ inf B. Construa um exemplo que ilustre essas afirmações

8) Dados A e B subconjuntos limitados de ec∈ . Mostre que:

a) o conjunto A + B = {x + y; x ∈ Aey ∈ B} é limitado.

b) sup(A + B) = sup(A) + sup(B)

Aula 03 Análise Real 23


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c) inf (A + B) = inf (A) + inf (B)

d) sup(cA) = c.sup(A) se c ≥ 0

e) inf (cA) = c.inf (A) se c ≥ 0

f) sup(cA) = c.inf (A) se c ≤ 0

g) inf (cA) = c.sup(A) se c ≤ 0


10) Mostre que 2 não é um número racional.

Referências
FIGUEIREDO, Djairo Guedes de. Análise I. Rio de Janeiro: LTC, 1996.

IEZZI, Gelson; MURAKAMI, Carlos. Fundamentos de Matemática Elementar 1. São Paulo:


Atual, 1993.

LIMA, Elon Lages. Análise Real, Volume 1.Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e
Aplicada, Coleção Matemática Universitária, 1989.

MORAIS FILHO, Daniel Cordeiro de. Um convite à Matemática. Campina Grande: EDUFCG,
2007.

24 Aula 03 Análise Real


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Análise Real – MATEMÁTICA

EMENTA

Conjuntos finitos, enumeráveis e não-enumeráveis. Números reais. Cortes de Dedekind. Sequências e séries
de números reais. Topologia da reta. Limites de funções. Funções contínuas. Sequências e séries de funções.
Panorama histórico.

AUTORES

> André Gustavo Campos Pereira

> Viviane Simiolli de Medeiros Campos

AULAS

01 Revisando a linguagem matemática e o conceito de funções

02 Conjuntos finitos e enumeráveis

03 Números reais

04 Sequências de números reais

05 Desigualdades, operações com sequências e limites infinitos

06 Séries numéricas

07 Limite de funções

08 Funções contínuas

09 Funções deriváveis

10 Máximos e mínimos
Impresso por: Gráfica

12
2º Semestre de 2009

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