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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU


CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
DEPARTAMENTO DE DIREITO
PLANO DE AULA
(Aula nº 01 2010-2)

Identificação:

Disciplina: Direito Penal I


Departamento: Direito
Curso: Direito
Professor: Antoniel Lobo Cardoso

Carga Horária:
90 minutos.

Bibliografia utilizada:
- Capez, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1; parte geral (arts 1º a 120). 11ª.
ed. Rev. e atual. – São Paulo; Saraiva, 2007.
- Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, volume 1 – 11ª. ed.
Atual. – São Paulo; Saraiva, 2007.
- Prado, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro, parte geral: arts. 1º a 120. 8ª ed.
rev. atual. e ampl. – São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2008. Vol. 1.
- Greco, Rogério. Código Penal comentado, 2ª ed. – Niterói – RJ. Ímpetus, 2009.

Ementa:

Direito Penal. Conceito. Subsidiariedade. Fragmentariedade. Finalidade.

Objetivos:

Capacitar o aluno a identificar conceitos básicos relacionados com o Direito Penal,


particularmente a parte geral do Código Penal;
Instruir e capacitar o aluno a identificar e resolver problemas relacionados com a
matéria sob análise;
Oferecer ao aluno uma visão ampla, clara e, tanto quanto possível, integral da
interpretação e aplicação dos institutos referidos na ementa aos casos concretos;
Exercitar o aluno na análise dos fatos e circunstâncias relevantes para o Direito Penal,
especialmente a parte geral do Código Penal.
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CONTEÚDO:

1. INTRODUÇÃO;

2. PERGUNTAS FREQÜENTES:

01. O que significa a subsidiariedade do Direito Penal?

02. O que significa a fragmentariedade do Direito Penal?

3. NOTAS PRELIMINARES:

3.1 Conceito de Direito Penal;

3.2 Função (ou finalidade) do Direito Penal;

3.3 Objeto do Direito Penal;

3.4 Caracteres do Direito Penal;

3.5 Denominação da matéria;

3.6 Direito Penal Objetivo (positivo) X Direito Penal Subjetivo

3.7 Direito Penal Material (ou Substantivo) X Direito Penal Formal (ou Adjetivo);

3.8 Direito Penitenciário;

3.9 Direito Penal Comum X Direito Penal Especial X Legislação Penal Especial
(Extravagante);

3.10 Política Criminal;

3.11 Subsidiariedade do Direito Penal;

3.12 Fragmentariedade do Direito Penal (ou essencialidade do Direito Penal,


ou caráter mínimo do Direito Penal);

4. CÓDIGOS PENAIS DO BRASIL;

5. REVISÃO
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1. INTRODUÇÃO

O fato que contraria a norma de Direito, ofendendo ou pondo em perigo um bem alheio
ou a própria existência da sociedade, é um Ilícito jurídico, que pode resultar em
algumas conseqüências.

Assim é que se podem dividir os ilícitos jurídicos em:

- Ilícitos Administrativos;
- Ilícitos Civis;
- Ilícitos Penais.

Os ilícitos administrativos pertencem à área de estudo do Direito Administrativo, que


podem resultar, apenas, em uma sanção de natureza administrativa.

Já o ilícito Civil poderá acarretar àquele que o praticou uma reparação civil, por
exemplo, indenizar, consertar, devolver, dar, não fazer, etc. Sua diretriz geral está
disciplinada pelo CC, 927, caput1.

Muitas vezes, porém, essas sanções civis (ou administrativas) se mostram insuficientes
para coibir a prática de ilícitos jurídicos graves, que atingem não apenas interesses
individuais, mas também bens jurídicos relevantes, em condutas profundamente lesivas
à vida social.

São os ilícitos penais (que é o que nos interessa) que são tratados por um segmento do
ordenamento jurídico que detém a função de selecionar os comportamentos humanos
mais graves e prejudiciais à coletividade, capazes de colocar em risco valores
fundamentais para a convivência social, e descrevê-los como infrações penais,
cominando-lhes, em conseqüências, as respectivas sanções.

Esses valores fundamentais são chamados de bens jurídicos, pertencem a cada um de


nós e sua origem encontra fundamento, principalmente, no texto constitucional.

A agressão a um bem jurídico instaura um desconforto, uma desarmonia no seio da


sociedade, já que, de um lado, há o agressor a um bem tutelado pelo Direito Penal, e, do
outro, o titular desse bem jurídico que quer ver seu direito reparado.

Essa agressão merece ser apurada e, se for o caso, o agressor responsabilizado. Quem
faz isso é o Estado.

O faz através de um poder-dever que se chama ‘jus puniendi’. (ou seja, o poder-dever de
punir).

Ora, o titular do bem jurídico exige a responsabilização do agressor e, se for o caso, a


reparação de seu direito. Já o agressor, deverá usar de todos os meios disponibilizados
pelo ordenamento jurídico para manter o seu ‘status’ libertatis.

1
CC, 927: „Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo‟.
4

Quando temos dois interesses, um querendo submeter o outro, tem-se um conflito


qualificado por uma pretensão resistida (que se chama „lide‟ ou „litígio‟).

Quem resolve é o Estado-juiz.

Para tanto, serão utilizados conceitos, definições e institutos de Direito Penal.


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2. PERGUNTAS FREQÜENTES:

2.1 O que significa a subsidiariedade do Direito Penal?

2.2 O que significa a fragmentariedade do Direito Penal?

2.3 O que significa a expressão „ius puniendi‟?

2.4 No Brasil, podem os Estados Federados legislar sobre Direito Penal?


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3. NOTAS PRELIMINARES

3.1 Conceito de Direito Penal

A vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras que estabeleça as


regras indispensáveis ao convívio entre os indivíduos que a compõem. O conjunto
dessas regras, denominado direito positivo - de direito posto – que deve ser obedecido
e cumprido por todos os integrantes do grupo social, prevê as conseqüências e sanções
aos que violarem seus preceitos.

À reunião das normas jurídicas pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob
ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para
a aplicação das penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de Direito Penal.

Portanto, nas palavras de Magalhães Noronha, Direito Penal é o conjunto de normas


jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza
criminal e as medidas aplicáveis a quem os pratica.

3.2 Função (ou finalidade) do Direito Penal

A finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes e necessários


para a própria sobrevivência da sociedade, ou seja, bens jurídicos essenciais ao
indivíduo e à comunidade.

Portanto, a missão do Direito Penal é proteger os valores fundamentais para a


subsistência do corpo social, tais como a vida, a igualdade, a liberdade, a segurança, a
propriedade.

Como vimos, esses valores fundamentais são denominados bens jurídicos e sua origem
encontra fundamento, principalmente, no texto constitucional2.

Com o Direito Penal objetiva-se tutelar os bens que, por serem extremamente valiosos,
não do ponto de vista econômico, mas sim político, não podem ser suficientemente
protegidos pelos demais ramos do Direito.

Quando dissemos ser político o critério de seleção dos bens a serem tutelados pelo
Direito Penal, é porque a sociedade, dia após dia, evolui.

Em virtude dessa constante mutação, bens que outrora eram considerados de extrema
importância, e, por conseguinte, carecedores da especial atenção do Direito Penal, hoje,
já não merecem ser por ele protegidos.

Como exemplo, pode-se citar a Lei 11.106/05, que derrogou, excluiu a expressão
“mulher honesta” da redação dos artigos 2153 – posse sexual mediante fraude - e
2164 – atentado ao pudor mediante fraude - do CP.
2
CF, 5º: „Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)‟.
3
CP, 215; „Ter conjunção carnal com mulher, mediante fraude: pena – reclusão de 1 a 3 anos‟. (redação
anterior: „ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude: pena – reclusão de 1 a 3 anos).
7

Mas, o que se entende (ou entendia) pela expressão “mulher honesta”?

Como mulher honesta entende-se não só a de conduta moral sexual irrepreensível, com
também aquela que ainda não rompeu com o minimum de decência exigido pelos bons
costumes (Nelson Hungria).

Outro exemplo foi a ab-rogação do CP, 2175. Seja porque o legislador entendeu que a
virgindade não mais merece a proteção do Direito Penal, seja por que entendeu que a
integridade da mulher deverá ser protegida de outra forma.

Por fim, cita-se, também, como exemplo, a ab-rogação do CP, 240 (adultério), que tinha
como objeto jurídico a organização jurídica da família e do casamento.

3.3 Objeto do Direito Penal

O Direito Penal somente pode dirigir os seus comandos legais, mandando ou proibindo
que se faça algo, ao homem, pois somente este é capaz de executar ações com
consciência do fim.

Disso resulta a exclusão do âmbito de aplicação do Direito Penal de seres como os


animais, que não têm consciência do fim de seu agir.

Assim, o objeto das normas penais é a conduta humana, ou seja, a ação ou omissão
dirigida a uma determinada finalidade.

3.4 Caracteres do Direito Penal

O Direito Penal possui alguns caracteres peculiares que o distinguem, marcadamente de


outros ramos do Direito. Vejamos:

Tem finalidade preventiva: antes de punir o infrator da ordem jurídico-penal, procura


motivá-lo para que dela não se afaste, estabelecendo normas proibitivas e cominando as
sanções respectivas, visando evitar a prática do crime, é a prevenção genérica, voltada
para todo o grupo social. Uma vez transgredida a norma penal, a sanção prevista, atua
concretamente sobre a pessoa do infrator e torna-se efetiva. É a prevenção especial.
Voltada para o indivíduo.

É ciência normativa: ou seja, tem por objeto o estudo da norma, da lei, do Direito
positivo, como dado fundamental e indiscutível em sua observância obrigatória. Não se
preocupa, portanto, com a verificação da origem do crime, dos fatos que levam à

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CP, 216: „Induzir alguém, mediante fraude, a praticar ou submeter-se á prática de ato libidinoso diverso da
conjunção carnal: Pena, reclusão de 1 a 2 anos‟. (redação anterior: Art. 216 - Induzir mulher honesta, mediante
fraude, a praticar ou permitir que com ela se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: pena, reclusão
de 1 a 2 anos).
5
CP, 217: „Seduzir mulher virgem, menor de 18 (dezoito) anos e maior de 14 (catorze), e ter com ela
conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança: Pena - reclusão, de 2 (dois) a
4 (quatro) anos‟.
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criminalidade ou dos aspectos sociais que podem determinar a prática do ilícito,


preocupações próprias da Criminologia, Sociologia Criminal, etc.

É Valorativo: isso porque tutela os valores mais elevados da sociedade, dispondo-os em


uma escala hierárquica e valorando os fatos de acordo com a sua gravidade. Quanto
mais grave o crime, mais severa será a sanção aplicável ao seu autor.

Tem caráter finalista: é dizer, visa a proteção de bens jurídicos fundamentais, como
garantia de sobrevivência da ordem jurídica.

É predominantemente sancionador: já que protege a ordem jurídica cominando


sanções. Ou seja, em regra, não cria bens jurídicos, mas acrescenta a sua tutela penal aos
bens jurídicos regulados por outras áreas do Direito.

3.5 Denominação da matéria

Talvez a primeira indagação que venha à mente do leitor quando inicia o estudo do
Direito Penal seja a propósito de sua própria denominação.

Por que Direito Penal e não Direito Criminal ou outra denominação qualquer?

O Brasil, desde que se tornou independente, em 1822, somente utilizou a expressão


Direito Criminal uma única vez, em seu Código de 1830 (Código Criminal do
Império).

Nos demais, passou a adotar a denominação Código Penal.

Criticava-se a expressão Direito Penal porque esta dava ênfase à pena, reclamando-se da
carga eminentemente repressiva trazida pela expressão. Ora, dizem os críticos, o infrator
não deve apenas sofrer uma repressão, mas, também, o Estado deve preocupar-se em
recuperá-lo para restituí-lo ao convívio social.

Para outros, a expressão Direito Criminal seria mais adequada, já que seria mais
abrangente (nem tanto, pois não abrange as contravenções penais), relacionada que está
com o principal objeto de estudo da matéria, ou seja, o crime, alongando-se a seus
efeitos jurídicos, um dos quais é a pena.

Qual a expressão mais utilizada no Brasil?

A resposta pode ser encontrada na Constituição Federal6 quando confere à União


competência privativa para legislar sobre Direito Penal.

Mas os Estados também poderão fazê-lo (desde que na forma do parágrafo único7, do
mesmo artigo).

6
CF, 22, I: „Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho‟.
7
Parágrafo único do CF, 22: „Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo‟.
9

(((Já podemos responder a pergunta 2.4)))

Utilizaremos, portanto, a denominação tradicional de Direito Penal, em consonância


com a legislação pátria e o currículo oficial dos cursos de Direito.

Sem embargo, não se descarta o uso do vocábulo Criminal em nosso sistema jurídico.

Por exemplo: o local onde tramitam ações de natureza penal chama-se Vara Criminal;
o recurso interposto em virtude de uma decisão proferida por um juízo monocrático é
dirigido e submetido ao crivo de uma Câmara Criminal; o advogado que milita na
seara penal é conhecido como advogado criminalista, etc.

Por fim, ressalta-se que o Direito Penal é ramo do Direito Público.

3.6 Direito Penal Objetivo (positivo) X Direito Penal Subjetivo

Direito Penal Objetivo é o conjunto de normas editadas pelo Estado definindo crimes
e contravenções, isto é, impondo ou proibindo determinadas condutas sob a ameaça de
sanção, bem como todas as outras normas que cuidam de questões de natureza penal,
v.g., excluindo o crime, isentando de pena, explicando determinados tipos penais.

O poder de criar ou de reconhecer eficácia a tais normas é um atributo da soberania, e


sua positividade depende de um ato valorativo da vontade soberana, que garanta seu
cumprimento coercitivamente. O Direito positivo recebe esse nome exatamente pelo
fato de que é “posto” pelo poder público.

Nestes termos, evidentemente que o Direito Penal é Direito positivo, na medida em que
a sua obrigatoriedade não depende da anuência dos destinatários, mas da vontade estatal
soberana que o impõe, e o seu cumprimento está garantido pela coerção, aliás, com a
sua forma mais eloqüente, que é a pena.

Direito Penal Subjetivo é a possibilidade que tem o Estado de criar e fazer cumprir
suas normas, executando as decisões condenatórias proferidas pelo Poder Judiciário. É o
chamado Jus Puniendi, ou seja, o poder de punir. Se determinado agente praticar um
fato típico, antijurídico e culpável, abre-se ao Estado o dever-poder de iniciar a
Persecutio criminis in judicio, visando alcançar um decreto condenatório.

(((Já podemos responder a pergunta n 2.3))).

Mesmo que em determinadas ações penais o Estado conceda à suposta vítima a


faculdade de ingressar em juízo com uma queixa-crime, permitindo-lhe, com isto, dar
início a uma relação processual penal, caso o querelado venha a ser condenado, o Estado
não transfere ao querelante o seu ius puniendi. Ao particular, como se sabe, só cabe o
chamado ius persequendi ou o ius accusationis, ou seja, o direito de vir a juízo e pleitear
a condenação de seu suposto agressor, mas não o de executar, ele mesmo, a sentença
condenatória, haja vista ter sido a vingança privada abolida de nosso ordenamento
jurídico.
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Assim, podemos considerar o Direito Penal Objetivo e o Direito Penal Subjetivo como
duas faces de uma mesma moeda. O primeiro, como o conjunto de normas que, de
alguma forma, cuida de matéria de natureza penal; o segundo, como o dever-poder que
tem o Estado de exercer o seu direito de punir caso as normas por ele editadas venham a
ser descumpridas.

3.7 Direito Penal Material (ou Substantivo) X Direito Penal Formal (ou Adjetivo)

A validade e utilidade desta diferenciação é muito discutida pelos doutrinadores, uma


parte aceita a distinção, outra parte a considera inútil.

Para os que aceitam a diferença, Direito Penal Material, ou substantivo, é aquele


composto por normas que gravitam em torno do crime, sujeito ativo e sujeito passivo,
localizadas no Código Penal. É o Direito Penal propriamente dito.

Por sua vez, o Direito Penal Formal (ou Adjetivo), é aquele composto por normas
procedimentais que permitem a aplicabilidade do Direito Penal Material, ou seja, serve
de instrumento de aplicabilidade do Direito Material. É o Direito Processual Penal.

As expressões „substantivo‟ e „adjetivo‟ são tomadas emprestadas da gramática, onde o


adjetivo tem uma função secundária, acessória e qualificadora em relação ao
substantivo.

3.8 Direito Penitenciário

É o ramo do Direito que trata da execução das penas aplicadas pelo Judiciário. Também
referenciado por alguns doutrinadores com a denominação de Direito de Execução
Penal.

Previsão: CF, 24, I.

3.9 Direito Penal Comum X Direito Penal Especial X Legislação Penal Especial
(Extravagante)

A diferença entre Direito Penal Comum e Direito Penal Especial surge na doutrina com
sentidos diversos.

Uma primeira diferenciação diz que o Direito Penal Comum refere-se à parte Geral8 do
CP enquanto que Direito Penal Especial refere-se à parte Especial9 do CP.

A outra diferença que se estabelece é em razão da natureza do órgão judiciário que


deve aplicar jurisdicionalmente a norma penal. Assim é que, no Direito Penal Especial,
as normas devem ser aplicadas por órgãos da Justiça Especial – ou especializada (não
confundir com juizados especiais) - que são: Justiça Eleitoral, Justiça Militar e Justiça

8
Que vai do artigo 1º ao 120 do Código Penal.
9
Que vai do artigo 121 ao 361 do Código Penal.
11

Trabalhista. Já no Direito Penal Comum, a norma não demanda aplicação por órgãos da
Justiça Especial, mas sim por órgãos da Justiça Comum (Federal ou Estadual).

A Legislação Penal Extravagante, por sua vez, é constituída por aquelas normas que não
estão contidas no corpo do Código, mas que dispõem, também, de matéria penal.

3.10 Política Criminal

Por esta expressão procura-se determinar a crítica das instituições vigentes e preparo de
sua reforma, consoante os ideais jurídicos que se vão formando à medida que o
ambiente histórico-cultural sofre modificações.

A política criminal examina o Direito em vigor, apreciando sua idoneidade na proteção


aos bens penalmente tutelados e, em resultado dessa crítica, sugere as reformas
necessárias.

É, na verdade, critério orientador da legislação penal.

Por exemplo, tem a presença de critério de política criminal quando se discute a


redução da menoridade penal; a eficácia das penas privativas de liberdade; a
aplicabilidade/positivação do princípio da insignificância, etc.

Para uns, a Política Criminal é ciência. Para outros (maioria), no entanto, não é ciência
autônoma, é apenas uma técnica ou método de observação e análise crítica do Direito
Penal. Um método de trabalho.

É um modo de raciocinar e estudar o Direito Penal, fazendo-o de modo crítico, voltado


ao Direito Posto, expondo seus defeitos, sugerindo reformas e aperfeiçoamentos, bem
como com vistas à criação de novos institutos jurídicos que possam satisfazer as
finalidades primordiais de controle social.

3.11 Subsidiariedade do Direito Penal

É da diferença entre solidariedade e subsidiariedade, emprestadas do Direito Civil,


que tomaremos conceitos para melhor entendimento do tópico.

Como já se observou é das necessidades humanas decorrentes da vida em sociedade que


surge o Direito visando garantir as condições indispensáveis à coexistência dos
elementos que compõem o grupo social.

Muitas vezes, porém, essas sanções civis se mostram insuficientes para coibir a prática
de ilícitos jurídicos graves que atingem não apenas interesses individuais, mas também
bens jurídicos relevantes, em condutas profundamente lesivas à vida social.

Arma-se o Estado, então, contra os respectivos autores desses fatos, cominando e


aplicando sanções severas por meio de um conjunto de normas jurídicas que constituem
o Direito Penal.
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Justificam-se as disposições penais quando meios menos incisivos, como os de Direito


Civil ou Direito Público, não bastam ao interesse de eficiente proteção aos bens
jurídicos. Daí dizer que o Direito Penal é subsidiário.

Portanto, a proteção de bens jurídicos não se realiza só mediante o Direito Penal, senão
que nessa missão cooperam todo o instrumental do ordenamento jurídico.

O Direito Penal é, inclusive, a última dentre todas as medidas protetoras que devem ser
consideradas, quer dizer que somente se pode intervir com o Direito Penal quando
falhem outros meios de solução social do problema – como a ação civil, os
regulamentos de polícia, as sanções não penais, etc.

Por isso se denomina a pena como a „ultima ratio da política social‟ e se define sua
missão como proteção subsidiária de bens jurídicos.

Resumindo, vale dizer que o Direito Penal deve ser o último recurso, um remédio
último, cuja presença só se legitima quando os demais ramos do Direito revelarem-se
incapazes de dar a devida tutela a bens de relevância para a própria existência do
homem e da sociedade.

(((Agora, já podemos responder a pergunta 2.1))).

3.12 Fragmentariedade do Direito Penal (ou essencialidade do Direito Penal, ou


caráter mínimo do Direito Penal)

Além de atuar somente quando os demais ramos do Direito não foram suficientes para
reprimir e/ou corrigir a conduta ilícita, o Direito Penal somente irá proteger
determinados bens jurídicos.

De outra sorte, nem tudo interessa ao Direito Penal, mas tão-somente uma pequena
parte, uma limitada parcela de bens que estão sob sua proteção, e, dentre estes, por
vezes, ainda não os tutela de todas as lesões; intervém somente nos casos de maior
gravidade, “protegendo um fragmento” dos interesses jurídicos. Por isso é fragmentário.

Assim, não é a totalidade dos bens jurídicos que merecem a proteção do Direito Penal,
mas sim, a penas fragmentos, parcelas, desta totalidade. Aqueles bens jurídicos que não
toleram agressão, posto que considerados essenciais ao convívio em sociedade.

Dito de outra forma, o ordenamento jurídico se preocupa com uma infinidade de bens e
interesses particulares e coletivos. Como ramos desse ordenamento jurídico temos o
Direito Penal, o Direito Civil, o Direito Administrativo, o Direito Tributário, etc.

Contudo, nesse ordenamento jurídico, ao Direito Penal cabe a menor parcela no que diz
respeito à proteção desses bens. Ressalta-se, portanto, sua natureza fragmentária, isto é,
nem tudo lhe interessa, mas tão-somente uma pequena parte, uma limitada parcela de
bens que estão sob a sua proteção, mas que, sem dúvida, pelo menos em tese, são os
mais importantes e necessários ao convívio em sociedade.
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Exemplos:

- CP, 12910, tutela a integridade física ou fisiopsíquica da pessoa, ou seja, através do


artigo, procura o Código Penal proteger a integridade corporal e a saúde das pessoas
tanto de ataques dolosos como culposos.

- Já o CP, 16311, que protege o patrimônio, somente o faz se houver uma agressão
dolosa, deixando que as agressões culposas que causem dano ao patrimônio de outrem
sejam resolvidas de outra forma, em geral, pelo Direito Civil.

(((Agora, já podemos responder a pergunta 2.2))).

10
CP, 129, caput: „ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1
(um) ano‟.(...); §6º- Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.
11
CP, 163: „destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou
multa‟.
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4 CÓDIGOS PENAIS DO BRASIL

Após a proclamação da Independência, em 1822, e depois de ter-se submetido às


Ordenações Afonsinas, Manoelinas e Filipinas, o Brasil editou, durante a sua história, os
seguintes Códigos:

a) Código Criminal do Império do Brasil de 1830;

a) Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (Decreto nº. 847/1890);

b) Consolidação das leis penais (Decreto nº. 22.213/1932);

c) Código Penal (Decreto-Lei nº. 2.848/1940);

d) Código Penal (Decreto-Lei nº. 1.004/1969) – que permaneceu por um


período aproximado de nove anos em vacatio legis, tendo sido
revogado em 1978 sem sequer ter entrado em vigor.

e) Lei nº. 7.209/1984 – com esta lei foi revogada, tão-somente, a parte
geral do Código Penal de 1940.

O nosso atual Código Penal é composto por duas partes:

a) Parte Geral (do Art. 1º ao Art. 120);


b) Parte Especial (do Art. 121 ao Art. 361).

A parte geral do Código é destinada à edição das normas que vão orientar o intérprete
quando da verificação da ocorrência, em tese, de determinada infração penal.

Enfim, por força do CP, 12, a parte geral ocupa-se de regras que são aplicadas não só
aos crimes previstos no próprio Código Penal, como também, a toda legislação
extravagante, isto é, àquelas normas que não estão contidas no corpo do Código, mas
que dispõem, também, de matéria penal.

A parte especial do Código, embora contenha normas de conteúdo explicativo, como,


v.g., aquela que define o conceito de funcionário público, (CP, 327), ou mesmo causas
que excluam o crime ou isentem o agente de pena, é destinada, precipuamente, a definir
os delitos e a cominar as penas.
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5 REVISÃO

01. Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do
Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicáveis a
quem os pratica;

02. A função (finalidade) do Direito Penal é tutelar os bens jurídicos mais


importantes para a sociedade;

03. O objeto do Direito Penal é a conduta humana;

04. O Direito Penal é; preventivo; normativo; valorativo; finalista;


predominantemente sancionador;

05. A Constituição Federal denomina a disciplina de Direito Penal;

06. O Direito Penal é ramo do Direito Público;

07. O Direito Penal objetivo é o conjunto de normas editadas pelo Estado definindo
crimes e contravenções, bem como todas as outras normas que cuidam de
questões de natureza penal;

08. O Direito Penal subjetivo é o poder-dever de punir do Estado. Também chamado


de jus puniendi.

09. Direito Penal Material (ou substantivo) é aquele composto por normas que
gravitam em torno do crime, sujeito ativo e sujeito passivo, localizadas no
Código Penal. É o Direito Penal propriamente dito.

10. Direito Penal Formal (ou Adjetivo), é aquele composto por normas
procedimentais que permitem a aplicabilidade do Direito Penal Material, ou seja,
serve de instrumento de aplicabilidade do Direito Material. É o Direito
Processual Penal.

11. O Direito Penal deve atuar somente quando os demais ramos do Direito não
foram suficientes para reprimir e/ou corrigir a conduta ilícita, daí seu caráter
subsidiário;

12. Não são todos os bens jurídicos que estão sob a proteção do Direito Penal,
somente os considerados mais importantes e necessários ao convívio em
sociedade, daí o caráter fragmentário (ou mínimo) do Direito Penal;

13. A Lei nº. 7.209/1984 reformou a parte geral do Código Penal;

14. O Código Penal é dividido em duas partes: parte geral e parte especial;

15. A competência para legislar sobre Direito Penal pertence, privativamente, à


União;
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16. Por força do CF, 22, § único, os Estados poderão legislar sobre Direito Penal,
desde que sejam autorizados por lei complementar federal e sobre questões
específicas.

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