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Avaliação da Aprendizagem
. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação da Aprendizagem - Práticas de Mudança: por uma práxis
transformadora. São Paulo: Libertad, 2003.
Avaliar aprendizagens é um sério problema educacional há muito tempo. Desde a década de 60, no entanto, a grande
crítica são os enormes estragos da prática classificatória e excludente: os elevadíssimos índices de reprovação e
evasão, aliados a um baixíssimo nível da qualidade da educação escolar, em termos de apropriação do conhecimento
ou de formação de uma cidadania ativa e crítica. Recentemente, a avaliação está também em pauta como decorrência
das várias iniciativas tomadas por mantenedoras, públicas ou privadas, no sentido de reverter este quadro de fracasso
escolar. A discussão sobre avaliação não deve ser feita de forma isolada de um projeto político-pedagógico, inserido
num projeto social mais amplo.
Ultimamente, tem se analisado o papel político da avaliação, tem se criticado muito as práticas avaliativas dos professores,
tem se indicado uma alternativa mais instrumental, mas não se apontaram caminhos mais concretos na perspectiva crítica.
Marcados pelo medo de cair no tecnicismo, deixamos para um plano secundário a dimensão técnica de nosso trabalho. O
professor quer sugestões, propostas, orientações para tão desafiadora prática; muitos gostariam até de algumas "receitas";
sabemos que estas não existem, dada a dinâmica e complexidade da tarefa educativa. Nós temos clareza da não existência
de "modelitos prontos e acabados", entendemos que é necessário ao educador desenvolver um método de trabalho para não
ficar apenas nos modismos.
Ao trabalharmos com a dimensão das mediações visamos, de um lado, a apresentar algumas possibilidades, tiradas da
própria prática das instituições de ensino e dos educadores que estão buscando uma forma de superação da avaliação
seletiva, e, de outro, refletir sobre possíveis equívocos que se incorre na tentativa de mudar ações tradicionais.
Fazendo uma análise das dificuldades observadas para a mudança da avaliação, parece que o que tem mais força na prática
da escola são coisas que não estão escritas em lugar algum (currículo oculto), quase que uma espécie de tradição
pedagógica disseminada em costumes, rituais, discursos, formas de organização; dá-se a impressão que isto determina mais
a prática do que as infindáveis manifestações teóricas já feitas.
Ao indicar mudanças, remete-nos à necessidade de envolvimento de todos com tal processo; para haver mudança, é
preciso compromisso com uma causa, que pede tanto a reflexão, a elaboração teórica, quanto a disposição afetiva, o
querer. No entanto tão logo emerge esta compreensão, vem também a ponderação de que a mudança não depende apenas
do indivíduo, dado que os sujeitos vivem em contextos históricos que limitam suas ações em vários aspectos.
Mudança é criar possibilidades: numa sociedade tão seletiva, num sistema educacional marcado pelo autoritarismo, seria
possível avaliar de outra forma num contexto social assim contraditório e competitivo? A resposta a estas perguntas, antes
de ser uma questão lógica ou teórica, é histórica: objetivamente, "apesar do sistema", ou seja, constatamos que os
educadores estão fazendo. Como veremos no decorrer deste trabalho, o que visamos não é simplesmente fazer uma ou
outra mudança, mas construir uma autêntica práxis transformadora. A tarefa que se coloca, a partir disso, aponta para três
direções:
- Fortalecimento: valorizar as práticas inovadoras existentes para que não sejam efêmeras.
- Avanço: criar novas práticas.
- Crítica: não baixar a guarda em relação à presença e influência da avaliação tradicional.
No cotidiano escolar, muitas vezes, nosso empenho se concentra na mudança das idéias (nossas e dos colegas) a
respeito da avaliação. Esta estratégia, embora importante, é insuficiente se não atentarmos para as estruturas de
percepção e de pensamento: pode haver simples mudança de conteúdos num arcabouço equivocado. Nossa grande
preocupação é a mudança da prática do professor. Toda ação humana consciente, toda prática é pautada por algum nível
de reflexão. As idéias que nos habitam - assim como a maneira como operamos com elas - têm conseqüências práticas;
a forma corno agimos sobre o mundo, seja o mundo educacional, político ou econômico, é em parte determinada pela
forma como o percebemos (Apple, 1989:84). Qualquer inovação, antes de existir na realidade, configura-se na
imaginação do sujeito. Fica claro, pois, o desafio de sermos criativos para imaginar novas formas de arranjo da prática
educativa em geral, e da avaliativa em particular, e delas tirarmos transformação, aliada à fruição e alegria.
As formas de mediação que traremos representam a sistematização de iniciativas que já vêm ocorrendo. Nossa contribuição
vai no sentido de:
a) Aprender com as práticas de mudança, procurar tirar lições e princípios;
b) Ajudar a socializar, valorizar, validar práticas;
c) Criticar, superar contradições;
d) Explorar possibilidades ainda encobertas.
O que está em pauta não é a mera existência de um rol de sugestões ou opções de o que fazer. O caminho para se chegar a
uma prática transformadora é bem mais complexo: é a criação de um novo plano de ação do sujeito, que é fruto tanto da
percepção de uma necessidade quanto da clareza de uma finalidade (dialética necessidade - finalidade - plano de ação). O
problema não é apenas “ter o que fazer”, “saber” o que deve ser feito, e sim, interiorizar, entrar no movimento conceitual e
no movimento histórico da atividade educativa. Por isto enfatizamos a questão do método de trabalho para o professor.
Para mudar a avaliação, precisamos, obviamente, mudar seus elementos constituintes (exemplo: conteúdo e forma).
Contudo,, embora necessário, isto não é suficiente, uma vez que a prática avaliativa não depende apenas dela mesma. Ora,
no caso da avaliação, a partir do trabalho de análise sobre o material empírico, registrado dos discursos dos educadores e da
observação da prática, nestas duas classes - Avaliação e Relações - emergem seis grandes categorias:
- Avaliação: intencionalidade; forma; conteúdo.
- Relações: prática pedagógica; instituição; sistema.
Isto significa que a mudança da avaliação, para ser efetiva, deverá estar atenta a estes seis vetores; para se criar uma nova
ecologia avaliativa, um novo ambiente cultural no campo da avaliação será preciso se dar conta, em alguma medida, destas
seis dimensões.