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Bioenergia

no Estado de São Paulo

Situação atual,
Perspectivas,
Barreiras e Propostas

José Goldemberg
Francisco E. B. Nigro
Suani T. Coelho

São Paulo, setembro de 2008

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Goldemberg, José
Bioenergia no estado de São Paulo : situação atual,
perspectivas, barreiras e propostas / José Goldemberg,
Francisco E. B. Nigro, Suani T. Coelho – São Paulo : Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, 2008.
152p. : il.

Bibliografia.

Bioenergética I. Nigro, Francisco E.B. II. Coelho, Suani T.


III. Título
CDD 333.79

Índice para catálogo sistemático:


1. Bioenergética 333.79

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CURRÍCULO DOS AUTORES

Prof. José Goldemberg: físico, doutor em física pela Universidade de São


Paulo, professor do Programa Interunidades de Pós-graduação do IEE/USP, pre-
sidente do Conselho Consultivo do CENBIO – Centro Nacional de Referência
em Biomassa, ex-Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, ex-Se-
cretário de Ciência e Tecnologia do Governo Federal, ex-Ministro da Educação,
ex-Reitor da USP.
Prof. Francisco E. B. Nigro: engenheiro mecânico, doutor em engenharia
mecânica pela Universidade de Waterloo, Canadá, pesquisador do IPT – Ins-
tituto de Pesquisas Tecnológicas, professor da EPUSP – Escola Politécnica da
USP, atualmente assessor da Secretaria de Desenvolvimento, ex-Diretor Téc-
nico do IPT.
Profa. Suani T. Coelho: engenheira química, doutora em energia pela Uni-
versidade de São Paulo, professora do Programa Interunidades de Pós-gradu-
ação do IEE/USP, secretária executiva do CENBIO, ex-Secretária Adjunta do
Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

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PREFÁCIO

O uso do álcool em grande escala como substituto da gasolina no Brasil


teve início quando o presidente Geisel anunciou no dia 9 de outubro de 1975,
a criação do Programa Nacional do Álcool – Próalcool e definiu como meta
uma mistura obrigatória de 20% de álcool na gasolina que só foi alcançada na-
cionalmente em 1983. No Brasil, o álcool é produzido da cana-de-açúcar desde
o século 16.
Quando o Próalcool foi criado, o Brasil produzia somente 160 mil barris
de petróleo por dia, o que representava 20% do consumo do produto no País,
sendo altamente dependente da importação de petróleo, que consumia na
época, cerca de metade dos recursos em dólares das exportações brasileiras.
A crise dos preços do petróleo, elevados significativamente no inicio da década
de 1970, é considerada como um fator importante na criação do programa,
mas não foi o único. A expansão da agricultura e os interesses da indústria de
açúcar também foram importantes na criação do programa, porque os preços
do açúcar no mercado internacional eram baixos na ocasião.
O que motivou a criação do Próalcool, portanto, foram razões econô-
micas e estratégicas. Considerações de caráter ambiental e social não tiveram
um papel significante na decisão do governo Geisel. A expansão da produção
do etanol da cana-de-açúcar fez com que essas considerações tivessem um
peso crescente nas preocupações das autoridades governamentais, sobretudo
no Estado de São Paulo, de onde mais de 60% de toda a produção nacional de
etanol se origina.
O aspecto mais visível dos problemas sociais é decorrente da colheita
manual da cana que é precedida de “queimadas”. Cerca de 700 mil “bóias-
frias” foram envolvidos nesse processo nas décadas dos anos 1980 e 1990. As
“queimadas” se tornaram um sério problema ambiental, bem como os resíduos
das destilarias lançados em cursos d’água, sobretudo no Rio Piracicaba, e que
provocou sérios danos ambientais.
Com o correr do tempo ficaram claras as vantagens do uso de cana
para a produção de etanol em comparação com o uso do milho como matéria
prima, o que é feito em grande escala nos Estados Unidos. Na produção de
álcool do milho nos Estados Unidos as usinas “importam” energia (quase toda
ela produzida com carvão) para o processo industrial. No Brasil toda a energia
necessária vem do bagaço, que até gera excedentes de eletricidade que são
“exportados” para a rede elétrica.
O que isso significa é que, ao usar milho para produzir etanol, o que se
faz é converter carvão em etanol. Já no Brasil, o que ocorre é que a luz solar

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é capturada pela cana-de-açúcar e convertida em álcool. Em outras palavras, o
etanol brasileiro é renovável, enquanto o etanol do milho não o é. O significa-
do deste fato para a redução das emissões de gases do efeito estufa é muito
grande.
Com a recente expansão do uso do etanol no mundo como combustível
mais limpo do que a gasolina, a cultura da cana-de-açúcar no Estado de São
Paulo está crescendo rapidamente. O aumento de produtividade na produção
de etanol (em litros por hectare) tem sido superior a 3% ao ano nos últimos
30 anos.
O que o governo do Estado deseja é que essa produtividade continue a
aumentar e que a expansão seja feita de forma pouco agressiva, tanto do ponto
de vista social como ambiental. Por isso, incentivou a colheita mecanizada e o
reaproveitamento da vinhaça, que há muito não é mais lançada nos rios. Além
da cana-de-açúcar, o Estado de São Paulo conta ainda com outros tipos de
bioenergia, como madeira, biogás e biodiesel, que também são relevantes para
sua matriz energética.
A Comissão de Bioenergia do Estado de São Paulo foi criada para es-
tudar a situação atual da produção de bioenergia no Estado, suas perspectivas,
barreiras e propostas para removê-las. Fundamentada nos resultados de oito
seminários técnicos que contaram com mais de 500 participantes, nos quais
foram debatidos quatorze termos de referência previamente preparados por
especialistas, a Comissão coordenou e recomendou diversas ações, sendo este
o relatório dos seus trabalhos.

São Paulo, 1o de setembro de 2008

Alberto Goldman
Vice-Governador e Secretário de Estado de Desenvolvimento

José Goldemberg
Coordenador da Comissão Especial de Bioenergia

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SUMÁRIO EXECUTIVO

O Estado de São Paulo é líder na produção de bioenergia no País. Do


ponto de vista tecnológico, a maior parte da pesquisa e desenvolvimento de
conhecimento se dá nas instituições públicas e privadas existentes no Estado.
Além disso, São Paulo conta com a quase totalidade das indústrias de bens de
capital para a produção de bioenergia.
Do ponto de vista de capital humano, São Paulo é o líder na formação de
profissionais nas áreas de ciências agrárias e biológicas. A agricultura paulista se
caracteriza por dispor de cadeias completas e diversificadas.
O Estado de São Paulo produz 60% do álcool do país, além de outras
biomassas de importância significativa, tais como biodiesel, biogás e florestas
energéticas, em que a bioenergia representa 30% da oferta total de energia no
Estado. É também relevante destacar a importância dos aspectos sócio-econô-
micos relacionados à bioenergia, a sua contribuição para a melhoria do meio
ambiente, bem como a necessidade de planejamento e compatibilização das
ações de governo necessárias ao seu desenvolvimento.
Em vista da importância estratégica da bioenergia para o Estado, foi cria-
da a Comissão Especial de Bioenergia do Estado de São Paulo, pelo Decreto no
51.736, de 4 de abril de 2007, pelo governador José Serra.
A fim de embasar suas recomendações a Comissão decidiu que seriam
elaborados, por diferentes especialistas, 14 Termos de Referência (TR´s), cada
um sobre uma área fundamental da produção e utilização da bioenergia, nos
quais foram analisadas as barreiras existentes em cada área e apresentadas pro-
postas de políticas públicas para o Estado de São Paulo suplantá-las.
Todos os relatórios foram amplamente debatidos em reuniões realiza-
das na Federação das Indústrias do Estado – FIESP , no Instituto de Pesquisas
Tecnológicas - IPT, na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Pau-
lo - FAPESP e nas Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e da Agricultura e
Abastecimento, estando disponíveis para consulta dos interessados.
O texto aqui apresentado foi extraído em grande parte dos referidos
TR’s, porém a responsabilidade do seu conteúdo final é dos autores deste do-
cumento.
Além de uma Introdução Geral, este documento é constituído dos se-
guintes capítulos:
• Panorama Geral da Bioenergia;
• Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia;
• Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bioenergia;
• Sugestões de Políticas Públicas.

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• Conclusões
• Um olhar sobre o futuro
No capítulo referente ao Panorama Geral da Bioenergia é apresentada
e discutida a situação atual da bioenergia no Estado de São Paulo, particular-
mente nos casos de etanol, biodiesel, florestas energéticas e biogás. Além disso,
são abordados os seguintes tópicos específicos pertinentes ao tema: cogeração
e geração de energia com biomassa e biogás, recursos humanos e relações de
trabalho na bioenergia, meio ambiente, tributação, normalização, logística e pes-
quisa e desenvolvimento.
Em seguida, no capítulo referente a Cenários e Perspectivas da Evolução da
Bioenergia, o tema é analisado enfatizando-se os aspectos referentes a etanol,
biodiesel, florestas energéticas, cogeração e geração de energia elétrica a partir
de biomassa e biogás, além de serem apresentadas as perspectivas de evolução
dos recursos humanos e relações de trabalho, de meio ambiente, de tributação,
de recursos logísticos, e de pesquisa e desenvolvimento.
O capítulo Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bioenergia
aborda os seguintes tópicos:
• Melhoria da Sustentabilidade Social e Ambiental na Produção e Uso da
Bioenergia;
• Planejamento e Adequação das Cadeias dos Biocombustíveis para
Atender à Expansão da Demanda;
• Aperfeiçoamento e Expansão do Mercado Doméstico de Bioenergia;
• Criação e Desenvolvimento do Mercado Internacional;
• Desenvolvimento e Aplicação de Tecnologias para Manutenção da
Competitividade Nacional.
No capítulo Sugestões de Políticas Públicas são analisadas as sugestões
apontadas nos Termos de Referências e nos Seminários, após terem sido con-
densadas e reordenadas segundo os macrodesafios apontados acima.
Por último, os capítulos Conclusões e Um Olhar para o Futuro resumem as
ações que já vêm sendo e as que serão realizadas.

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ÍNDICE

I INTRODUÇÃO GERAL.................................................................................................. 15

II PANORAMA GERAL DA BIOENERGIA.............................................................. 21


II.1 Etanol................................................................................................................................ 24
II.2 Biodiesel.......................................................................................................................... 31
II.3 Floresta energética.................................................................................................... 35
II.4 Cogeração e geração de energia com biomassa e biogás................ 39
II.5 Recursos humanos e relações de trabalho na bioenergia................. 41
II.6 Bioenergia e meio ambiente............................................................................... 46
II.7 Tributação no uso de biocombustíveis......................................................... 49
II.8 Normalização de biocombustíveis................................................................... 52
II.9 Logística de transporte de biocombustíveis.............................................. 56
II.10 Pesquisa e desenvolvimento................................................................................ 62

III Cenários e Perspectivas DA EVOLUÇÃO DE BIOENERGIA... 71


III.1 Etanol................................................................................................................................ 73
III.2 Biodiesel.......................................................................................................................... 84
III.3 Florestas energéticas................................................................................................ 88
III.4 Cogeração..................................................................................................................... 91
III.5 Recursos humanos e relações de trabalho................................................ 99
III.6 Meio ambiente............................................................................................................ 102
III.7 Tributação...................................................................................................................... 103
III.8 Logística........................................................................................................................... 104
III.9 Pesquisa e desenvolvimento................................................................................ 110

IV Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento


da Bionergia.................................................................................................................... 115
IV.1 Melhoria da sustentabilidade social e ambiental na produção
e uso da bioenergia.................................................................................................. 115
IV.2 Planejamento e adequação das cadeias dos biocombustíveis
para atender à expansão da demanda.......................................................... 121
IV.3 Aperfeiçoamento e expansão do mercado doméstico de
bioenergia...................................................................................................................... 126
IV.4 Criação e desenvolvimento do mercado internacional...................... 127
IV.5 Desenvolvimento de tecnologias incrementais e radicais
para manutenção da competitividade nacional........................................ 131

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V SUGESTÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS............................................................. 133
V.1 Aumentar a sustentabilidade social e ambiental na produção
e uso dos biocombustíveis no Estado de São Paulo............................. 133
V.2 Planejar e adequar a cadeia produtiva para atender à
expansão da demanda............................................................................................ 134
V.3 Aperfeiçoar e expandir o mercado doméstico de
biocombustíveis.......................................................................................................... 134
V.4 Criar e desenvolver o mercado internacional.......................................... 135
V.5 Desenvolver tecnologias incrementais e radicais para manter
a competitividade nacional................................................................................... 135
V.6 Coordenar as ações dos atores relacionados com a cadeia............ 136

VI CONCLUSÕES...................................................................................................................... 137
VI.1 Meio ambiente............................................................................................................ 137
VI.2 Agricultura..................................................................................................................... 138
VI.3 Recursos humanos................................................................................................... 139
VI.4 Energia............................................................................................................................. 139
VI.5 Pesquisa, desenvolvimento e inovação.......................................................... 140
VI.6 Transportes................................................................................................................... 140

VII Um olhar sobre o futuro.............................................................................. 141

VIII REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 143

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Tabela 1. Principais produtores, exportadores e importadores de petróleo...... 15
Figura 1. Preço anual médio do petróleo...................................................................... 16
Figura 2. Fluxograma da estrutura produtiva da agricultura paulista............. 18
Figura 3. Curva do aprendizado brasileiro na produção de etanol................ 23
Figura 4. Investimento global em energia sustentável............................................. 23
Figura 5. Evolução da produção de cana no Estado de São Paulo................. 27
Figura 6. Produção de álcool no Brasil............................................................................ 27
Figura 7. Evolução da oferta de álcool em São Paulo............................................ 28
Figura 8a. Cana plantada no país.......................................................................................... 29
Figura 8b. Localização das usinas na região Centro-Sul........................................... 29
Tabela 2. Disponibilidade interna de óleos vegetais no Brasil em 2006*.... 33
Figura 9. Capacidade instalada de produção de biodiesel em SP-2006
(m3/ano)........................................................................................................................ 34
Figura 10. Evolução das áreas de vegetação nativa no Estado de São Paulo.. 36
Figura 11. Evolução da cobertura vegetal e do reflorestamento no
Estado de São Paulo.............................................................................................. 36
Figura 12. Evolução do consumo final por energético............................................. 37
Figura 13. Consumo estimado de produtos florestais no Estado de São Paulo. 38
Figura 14. Produção, demanda e déficit madeireiro no Estado de São Paulo..... 38
Figura 15. Número de empregos gerados por fonte de energia....................... 42
Figura 16. Investimentos necessários para geração de empregos nos
diversos setores industriais................................................................................ 42
Figura 17. Contratações mensais dos cortadores de cana no Estado
São Paulo...................................................................................................................... 43
Figura 18. Contratações mensais de diferentes categorias no setor
sucroalcooleiro no Estado de São Paulo................................................... 44
Tabela 3. Distribuição das ocupações (%) por grau de instrução no
setor sucroalcooleiro, Estado de São Paulo, 2007................................ 45
Tabela 4. Alíquotas de IPI......................................................................................................... 50
Figura 19. ICMS sobre combustíveis para veículos leves......................................... 51
Figura 20. Índice de não-conformidade dos combustíveis no Brasil................. 55
Figura 21. Cadeia de produção e comercialização do etanol............................... 56
Figura 22. Localização das usinas de etanol no Estado de São Paulo.............. 57
Figura 23. Distribuição de etanol no Brasil...................................................................... 58
Tabela 5. Porte e localização da frota de automóveis do Estado de
São Paulo...................................................................................................................... 59
Tabela 6. Extensão da malha rodoviária do Estado de São Paulo, 2006...... 59
Figura 24. Infra-estrutura rodoviária do Estado de São Paulo............................. 60
Figura 25. Rede estrutural Petrobras de distribuição de combustíveis........... 61
Figura 26. Frota de veículos leves e motocicletas no Brasil, cenário otimista..... 74

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Figura 27. Consumo de combustíveis por automóveis e motocicletas
no Brasil........................................................................................................................ 75
Figura 28. Fração da frota de veículos flexíveis operando com AEHC
em função da relação de preços entre o AEHC e a gasolina C,
nos postos, em cada unidade da Federação.................................................. 75
Tabela 7. Fração da frota de veículos flexíveis que utilizam AEHC,
para dois cenários de preço de etanol e de petróleo....................... 76
Figura 29. Comparação entre a produção, a exportação e o consumo
interno de AEHC................................................................................................... 77
Figura 30. Estimativa de área da cana-de-açúcar para indústria no Brasil...... 78
Figura 31. Estimativa da área de cana para indústria para produção de
álcool e açúcar em São Paulo.......................................................................... 79
Tabela 8. Projeção da produção de etanol na União Européia para 2012.... 81
Figura 32. Produção de milho nos EUA de 1980 a 2006....................................... 82
Tabela 9. Estimativa da demanda por biodiesel por região geográfica
– Brasil, 2008 a 2011............................................................................................. 85
Tabela 10. Capacidade de produção das usinas de biodiesel, por região
geográfica e para o Estado de São Paulo, julho/2008........................ 86
Figura 33. Esquema de uso múltiplo da floresta........................................................... 90
Tabela 11. Projeção da demanda por madeira no Estado de São Paulo
em 2032....................................................................................................................... 91
Tabela 12. Parâmetros utilizados e resultados da simulação com queima
de bagaço e palha................................................................................................... 93
Tabela 13. Bioeletricidade considerando a venda nos leilões de energia e
o comercializado até 2007................................................................................. 93
Tabela 14. Potencial de geração de excedentes para o Estado nas safras
2006/2007 e 2012/2013 utilizando apenas bagaço como
combustível................................................................................................................. 95
Tabela 15. Potencial de geração de excedentes para o Estado nas
safras 2006/2007 e 2012/2013 utilizando bagaço e palha
como combustível................................................................................................... 95
Figura 34. Rotas e avanços no potencial da cogeração no setor
sucroalcooleiro em São Paulo até 2013 (estimativa-limite)........... 96
Tabela 16. Resumo do parque atual de usinas de São Paulo................................ 97
Tabela 17. Potencial de geração elétrica por biogás e biomassa
(exceto cana) no Estado..................................................................................... 97
Tabela 18. Cronograma de eliminação da queima da cana-de-açúcar no
Estado de São Paulo, segundo Lei no 11.241/2002.............................. 100
Tabela 19. Cronograma de eliminação da queima da cana-de-açúcar no
Estado de São Paulo, segundo o Protocolo Agroambiental........... 101
Figura 35. Produções e fluxos de álcool carburante em 2016
(bilhões de litros/ano)........................................................................................... 105
Figura 36. Rede Paulista de Polidutos.................................................................................. 109
Tabela 20.  Investimentos Previstos para a infra-estrutura do setor rodoviário..... 125

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ABREVIAÇÕES

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


AEAC – Álcool Etílico Anidro Carburante
AEHC – Álcool Etílico Hidratado Carburante
ANP – Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis
BIRD – Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento
(Banco Mundial)
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
Caged – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
Cenbio – Centro Nacional de Referência em Biomassa, Instituto de
Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo
Cetesb – Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo
Conab – Companhia Nacional de Abastecimento
CQNUMC – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas
Cofins – Contribuição para Financiamento da Seguridade Social.
Etecs – Escolas Técnicas
EUA – Estados Unidos da América
Faesp/Senar/SP – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo/Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural
Fatecs – Faculdades de Tecnologia
Fiesp – Federação das Indústrias do Estado
Finep – Financiadora de Estudos e Projetos
GEF – Global Environmental Facility (Banco Mundial)
IAC – Instituto Agronômico de Campinas
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IEA – Instituto de Economia Agrícola
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.
Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização
e Qualidade Industrial
IPEF – Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais
IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MP – Ministério Público

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MTE – Ministério do Trabalho e Emprego
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Orplana – Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul
do Brasil
PCH´s – Pequenas Centrais Hidroelétricas
PIS – Programa de Integração Social
PNPB – Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel
RMSP – Região Metropolitana de São Paulo
Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SAA – Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento
Sefaz – Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo
Sindicom – Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis
e Lubrificantes
SMA – Secretaria de Estado do Meio Ambiente
SSP – Secretaria de Estado da Segurança Pública
TR – Termo de Referência
UE – União Européia
UDOP – União dos Produtores de Bioenergia
UNICA União da Indústria de Cana de Açúcar
Unicamp – Universidade Estadual de Campinas
UTE – Usina Termoelétrica
ZEE – Zoneamento Ecológico-Econômico

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I  INTRODUÇÃO GERAL

Atualmente, o sistema energético internacional é fortemente dependen-


te de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás): cerca de 80% do consumo
mundial de energia se originam dessas fontes, consumo este que apresentava
um crescimento anual de cerca de 2% (média em 20 anos), e que nos últimos
cinco anos cresceu em média 3,1% ao ano.
Esta é uma situação que não pode perdurar não só pela exaustão grada-
tiva das reservas de combustíveis fósseis como também pelos efeitos negativos
ao meio ambiente que resultam do seu uso, entre os quais o aquecimento
global.
Problemas relacionados à segurança no suprimento de energia têm
também um papel relevante. A segurança energética está ligada ao fato de
a produção de petróleo estar concentrada em poucos países, e dos EUA,
Japão, China, Coréia e outros da União Européia estarem entre os maiores
importadores, conforme Tabela 1. Além disso, os preços do petróleo e seus
derivados atingiram recordes históricos e não há perspectivas, mantido o
crescimento econômico mundial, de que declinem sensivelmente nos próxi-
mos anos.

Tabela 1.  Principais produtores, exportadores e importadores de petróleo

Produtores Mt Exportadores Mt Importadores Mt


Rússia 487 Arábia Saudita 358 Estados Unidos 587
Arábia Saudita 483 Rússia 248 Japão 203
Estados Unidos 310 Iran 130 China 145
Iran 218 Nigéria 119 Coréia 120
China 188 Noruega 109 Índia 111
México 173 Emirados Árabes 106 Alemanha 110
Canadá 157 México 99 Itália 94
Venezuela 138 Canadá 93 França 82
Kuwait 136 Venezuela 89 Espanha 61
Emirados Árabes 131 Kuwait 88 Reino Unido 59
Resto do Mundo 1.516 Resto do Mundo 764 Resto do Mundo 713
Mundo 3.937 Mundo 2.203 2285
Fonte: International Energy Agency, 2008

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16 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 1.  Preço anual médio do petróleo


120
US$  Corrente
100
US$  (2007)
US$/  Barril

80

60

40

20

0
1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

Ano
Fonte: BP Statistical Review – 2007

Conseqüentemente, entende-se que as condições econômicas estão de-


finidas, de forma estrutural, para a viabilização da agroenergia como elemento
relevante ao dinamismo do agronegócio. As pressões sociais (emprego, renda,
fluxos migratórios) e ambientais (mudanças climáticas, poluição) apenas refor-
çam e consolidam essa tendência.
O Brasil é o país do mundo que reúne mais vantagens comparativas
para liderar a agricultura de energia. A primeira vantagem comparativa que se
destaca é a perspectiva de incorporação de novas áreas à agricultura de energia,
sem ocorrer competição com a agricultura de alimentos, problema este que
vem sendo enfrentado por alguns países, a exemplo dos Estados Unidos. No
Brasil, existe grande disponibilidade de terras com pastagens degradadas, nas
quais a inserção da cana-de-açúcar e de algumas culturas necessárias à rotação,
tais como soja e amendoim, contribui para a ampliação não só da produção de
álcool, como também da produção de açúcar e de proteína vegetal. A expansão
da cana sobre pastagens é capaz de beneficiar também o pecuarista, que pode
verificar um aumento na rentabilidade de sua propriedade rural e, ainda, melho-
rar a condição de fertilidade do solo, em relação ao que existia originalmente.
O segundo aspecto observado no Brasil, a ser considerado é a possibilidade de
múltiplos cultivos dentro do ano agrícola.
Além disso, ocorre no Estado de São Paulo o cultivo de oleaginosas
como soja, girassol e amendoim para produção de biodiesel, bem como a utili-
zação de gordura animal.

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Introdução Geral 17

No nosso Estado, além de suas características socioeconômicas e edafo-


climáticas favoráveis, o aperfeiçoamento genético, a introdução de novas tecno-
logias e a crescente mecanização, dentre outros, contribuíram para conduzi-lo à
condição de grande produtor agrícola e com grande potencial de ser um pólo
nacional na produção de biocombustíveis.
O Estado de São Paulo é líder na produção de bioenergia no País. Do
ponto de vista tecnológico, a maior parte da pesquisa e desenvolvimento de
conhecimento se dá nas instituições públicas e privadas existentes no Estado.
São Paulo também detém a quase totalidade das indústrias de bens de capital
para a produção de bioenergia.
Do ponto de vista de capital humano, São Paulo é o líder na formação de
profissionais nas áreas de ciências agrárias, biológicas e de alimentos, e a agricul-
tura paulista se caracteriza por contar com cadeias completas e diversificadas.
Dessa forma, o elemento interessante do agronegócio paulista é que
o Estado tem a maior base industrial do País. A integração entre o produtor
rural, o processador de alimentos, os distribuidores, o atacado, o varejo e os
exportadores é especialmente forte. A ligação entre os elos da cadeia confere
o poder de rápida assimilação do progresso tecnológico que permeia todos os
agentes envolvidos no processo. Além disso, São Paulo tem a maior estrutura de
pesquisa sobre produção e aplicação de bioenergia no Brasil.
Esse conjunto de estruturas produtivas confere ao Estado um forte
dinamismo agrícola que, desse ponto de vista ainda há muito que avançar. Em
especial, merece destaque a integração do sistema de produção de grãos à pas-
tagem e ao setor de cana-de-açúcar. A fim de desenvolver melhor esse conceito
de integração lavoura-pecuária, torna-se relevante avaliar a estrutura produtiva
do Estado, considerando a produção de alimentos e de agroenergia.
A Figura 2, reproduzida do “Estudo sobre o Desenvolvimento da Cadeia
Produtiva Agrícola para Biocombustíveis no Estado de São Paulo” (TR 2, 2007),
ilustra a estrutura de produção do Estado. O primeiro ponto a ser notado é
que existe ampla possibilidade de integração entre as áreas de pecuária (com
base em pasto) e a área agrícola. De acordo com dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) e do IEA (Instituto de Economia Agrícola),
São Paulo tem 10 milhões de hectares de pastos nativos (cerca de 1,5 milhão)
e plantados (cerca de 8,5 milhões). Essa área de pastagem convive com uma
área agrícola que envolve a produção de grãos (arroz, feijão, milho, soja e trigo
com 1,7 milhão de hectares), cana-de-açúcar (4,2 milhões de hectares), laranja
(800 mil hectares), madeira (1 milhão de hectares) e café (220 mil hectares),
dentre outras. Ocorre que as áreas de pastagem têm baixa produtividade e,
estão sendo substituídas por cana-de-açúcar. Esse processo de avanço da área
agrícola leva à elevação da produtividade do pasto e permite, ainda, a expansão
da área de grãos do Estado.

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18 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 2.  Fluxograma da estrutura produtiva da agricultura paulista

Pastagem Agricultura

Grãos Cana Outros

Carnes, leite Alimento Bioenergia

Petróleo

O Estado apresenta ainda grande mercado consumidor e excelente lo-


gística, se comparado ao restante do país. Do ponto de vista climático as princi-
pais características são uma boa precipitação média e a presença de veranicos
(com risco para culturas anuais).
Em suas diversas formas, a bioenergia respondeu por 28,6% da oferta
total de energia em São Paulo em 2006 (SSE, 2007), distribuindo-se principal-
mente entre produtos da cana-de-açúcar (88%) e lenha, como uso direto (5%)
ou como lixívia celulósica (4%), um subproduto da indústria de papel e celulose.
O segmento outros resíduos de biomassa correspondeu à parcela restante (3%)
e compreende os aproveitamentos de pó de serra, briquetes de madeira e ca-
vacos não utilizados no setor de papel e celulose, além de resíduos agrícolas e
industriais como a palha de arroz e a borra de café.
A incerteza quanto às reservas petrolíferas e o aumento das cotações
de petróleo, como mencionado, associados às questões ambientais e sociais,
impõem a premência de se alterar as bases do desenvolvimento econômico e
de modificar a matriz energética mundial. A produção de biocombustíveis surge,
portanto, como importante opção estratégica, quer para emprego como pro-
duto complementar, quer como substituto aos derivados do petróleo.

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Introdução Geral 19

Neste contexto, foi criada a Comissão Especial de Bioenergia do Estado


de São Paulo, pelo Decreto 51.736, de 4 de abril de 2007, pelo governador José
Serra, com os seguintes objetivos:
I – elaborar o Plano de Bioenergia do Estado de São Paulo;
II – definir as ações de governo necessárias ao pleno desenvolvimento
das atividades de geração de energias renováveis;
III – avaliar a contribuição das formas renováveis de energia para o de-
senvolvimento sustentável;
IV – avaliar e indicar as ações necessárias ao desenvolvimento do conjun-
to das cadeias produtivas de biodiesel e etanol no Estado de São Paulo;
V – avaliar e propor ações de estudo e pesquisa científica e tecnológica
necessárias ao pleno desenvolvimento das atividades de bioenergia no Estado
de São Paulo;
VI – subsidiar o governador do Estado e as secretarias estaduais nas
ações relativas ao desenvolvimento da bioenergia.
Os integrantes da Comissão são os seguintes:
• José Goldemberg, coordenador;
• Alberto Goldman, Secretário de Desenvolvimento;
• Francisco Vidal Luna, Secretário de Economia e Planejamento;
• Dilma Seli Pena, Secretária de Saneamento e Energia;
• João de Almeida Sampaio Filho, Secretário de Agricultura e Abasteci-
mento;
• Mauro Guilherme Arce, Secretário dos Transportes;
• Francisco Graziano Neto, Secretário de Meio Ambiente;
• Carlos Henrique de Brito Cruz, representante da FAPESP;
• José Roberto Mendonça de Barros, representante da USP;
• Isaías Macedo, representante da Unicamp;
• Roberto Rodrigues, representante da Unesp.
A fim de embasar suas recomendações a Comissão decidiu que seriam
elaborados 14 Termos de Referência (TR´s), cada um sobre uma área funda-
mental da produção e utilização da bioenergia, nos quais foram analisadas as
barreiras existentes em cada área e apresentadas propostas de políticas públi-
cas para o Estado de São Paulo suplantá-las. As principais questões analisadas
nos TR’s e as visões de seus coordenadores foram amplamente discutidas em
reuniões realizadas na Fiesp, IPT, FAPESP, Secretaria da Agricultura e Secretaria
de Meio Ambiente.
Os Termos de Referência em questão, bem como seus respectivos coor-
denadores, são os seguintes:
I – Mercados interno e internacional para biocombustíveis – Airton Ghi-
berti;

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20 Bioenergia no Estado de São Paulo

II – Desenvolvimento da cadeia produtiva agrícola – Roberto Rodrigues;


III – Cadeia industrial e de serviços – etanol e bioenergia – João Furtado;
IV – Impactos ambientais na cadeia de biocombustíveis – Oswaldo dos
Santos Lucon;
V – Tecnologia e ciência para o desenvolvimento sustentável da bioenergia
em São Paulo – Isaías de Carvalho Macedo e Luiz Augusto Horta Nogueira;
VI – Qualificação dos trabalhadores na cana-de-açúcar – Airton Ghiberti;
VII – Relações de trabalho no setor sucroalcooleiro e de oleaginosas no
Estado de São Paulo – Marcio Pochmann;
VIII – Geração de eletricidade a partir de biomassa e biogás – João Car-
los O. de Mello;
IX – Logística e transporte multimodal na cadeia produtiva de biocom-
bustíveis – Antonio Galvão Álvares de Abreu;
X – Tributação: regimes diferenciados de ICMS, tributos federais e outros
– Carlos Américo Pacheco;
XI – Instrumentos de normalização e qualidade dos biocombustíveis
– Antonio Bonomi;
XII – Floresta energética – Eduardo Castanho;
XIII – Biogás gerado pela deposição de resíduos sólidos urbanos em
aterros sanitários e pelo tratamento anaeróbio de efluentes, resíduos rurais e
vinhaça – João Wagner Alves;
XIV – Zoneamento socioeconômico e agrícola de São Paulo – Airton
Ghiberti.
Nesse contexto, o presente documento reúne os resultados principais
dos TR’s produzidos pelos diferentes especialistas, que merecem os créditos
pelo trabalho realizado. O texto aqui apresentado foi extraído em grande
parte dos referidos TR’s, porém a responsabilidade do seu conteúdo final é dos
autores deste documento.
Embora o Brasil exerça a liderança mundial inequívoca na produção
econômica e uso de combustíveis renováveis, vale lembrar que essa situação
foi assegurada por desenvolvimentos tecnológicos e investimentos realizados
persistentemente, com grande participação pública, durante as últimas três dé-
cadas. Os principais desafios identificados, tanto pelos autores dos TR’s como
nos debates organizados, à manutenção dessa liderança são: melhorar a susten-
tabilidade social e ambiental da produção e uso dos biocombustíveis, inclusive
para justificar a sua inserção no mercado internacional; planejar e adequar a
cadeia produtiva para atender à expansão da demanda, com atenção especial
aos gargalos em bens de capital e logística; aperfeiçoar e expandir o mercado
doméstico; criar e desenvolver um mercado internacional; difundir e desenvol-
ver tecnologias incrementais e radicais em prazos apropriados e coordenar as
ações dos atores relacionados com a cadeia.

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II  PANORAMA GERAL DA BIOENERGIA

Os estudos científicos dos últimos 30 anos demonstraram de maneira


clara que o aumento da concentração dos gases responsáveis pelo efeito estufa,
principalmente CO2, resultado da combustão de combustíveis fósseis, provoca-
rão um aumento na temperatura média do planeta entre 1,4°C e 5,8°C nos
próximos 100 anos (IPCC, 2007). Para enfrentar este problema, as Nações
Unidas promoveram em 1992 a Convenção – Quadro das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), cujo documento final foi aberto para
assinatura em junho do mesmo ano no Rio de Janeiro, durante a Conferência
Rio – 92.
Os países que ratificaram a Convenção, denominados Partes, vêm rea-
lizando conferências tentando encontrar soluções para o problema. A terceira
dessas conferências, conhecidas como Conferências das Partes, realizada em
Quioto, no Japão, em dezembro de 1997, é considerada uma das mais impor-
tantes pois estabeleceu o Protocolo de Quioto, que definiu metas de redução
das emissões dos gases de efeito estufa. O Protocolo entrou em vigor no dia 16
de fevereiro de 2005, ratificado por 171 países e totalizando 61,6% das emis-
sões de CO2 das Partes do Anexo I (países industrializados).
Os países do Anexo I se comprometeram conjuntamente, no primeiro
período do Protocolo (2008 – 2012), a reduzir suas emissões de gases de efeito
estufa em 5,2%, com relação aos níveis de 1990.
A bioenergia não é uma alternativa capaz de solucionar totalmente o
problema energético, mas tem o potencial de substituir parcialmente os com-
bustíveis fósseis nos meios de transporte. Observe-se que, nesse trabalho, o
termo bioenergia não inclui a biomassa dita tradicional, isto é, aquela derivada
de madeira/lenha catada, para uso doméstico, nem a biomassa proveniente de
desmatamento. Nessa área de bioenergia destaca-se o etanol para uso em ve-
ículos. O Brasil é pioneiro e apresenta reconhecida vantagem comparativa no
mercado internacional, construída pela intervenção do poder público a partir da
criação do Próalcool em 1975. Embora nem sempre com a mesma intensidade,
o governo brasileiro deu continuidade ao programa de estímulo ao emprego
do álcool de várias formas, desde a própria produção do combustível até o
comércio de automóveis a álcool com redução de impostos.
O domínio da tecnologia agrícola em ambiente tropical permitiu que a
natural abundância de solo, luminosidade, temperatura e água pudessem ser
utilizadas a fim de elevar a produtividade da agricultura. Em poucas palavras,
o desenvolvimento tecnológico permitiu ao Brasil fazer uso de suas vantagens
comparativas na agricultura.

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22 Bioenergia no Estado de São Paulo

O País possui um volume expressivo de área potencialmente agricultá-


vel. Existem diferentes estudos referentes à disponibilidade de terra que, em
geral, tendem a convergir para uma área potencial superior a 100 milhões de
hectares na região do cerrado. Existe, ainda, uma enorme área de pastagem
caracterizada por baixa produtividade das forragens e que atualmente come-
ça a ser integrada ao sistema de grãos, configurando um inovador sistema de
rotação. Em trabalho recente, Brandão et al (2005)1 concluem que cerca de
80% do aumento da área cultivada com lavouras nos últimos 10 anos no Brasil
deu-se em antigas áreas de pasto. A área total de pastagem no país é de quase
200 milhões de hectares. A área agrícola atualmente cultivada no Brasil está
num patamar de 60 milhões de hectares, o que permite dar a dimensão do
enorme potencial produtivo do país.
A produção de álcool combustível em larga escala no Brasil trouxe a
oportunidade (e a necessidade) de um grande desenvolvimento tecnológico
para o setor de agroindústria da cana. De modo simplificado, é possível identi-
ficar três fases no desenvolvimento e implantação de tecnologia nesse período:
inicialmente uma ênfase em produtividade, entre 1975 e 1985, para atender
aos aumentos de demanda (aumentos de capacidade nos sistemas de moagem
e destilação; grandes ganhos na produtividade das fermentações; crescimento
constante da produtividade agrícola). A partir de 1980 os programas foram
direcionados para a obtenção de maior eficiência de conversão, tendência re-
forçada com o advento da estabilização da produção, desde 1985 (os melhores
exemplos são os ganhos em rendimento da fermentação e extração). Por volta
de 85, a implementação de ferramentas tecnológicas para o gerenciamento da
produção agroindustrial passou a ter importância crescente. Exemplos são os
programas para otimização da reforma de canaviais, para o acompanhamento
da safra; para o controle operacional de processos e os controles mútuos agrí-
colas e industriais, entre outros.
Essas três fases ainda coexistem, em parte, em muitas unidades produtoras.
Indicadores medidos numa expressiva amostra de usinas, compreendendo cerca
de 700 mil hectares (Copersucar, 2000) mostram que na área industrial havia uma
diferença constante de quase 10 pontos porcentuais entre os valores máximos pra-
ticados para a eficiência total de conversão e os valores médios, ambos crescentes
no tempo, indicando a grande margem para a transferência interna de tecnologia.
Diferenças da mesma ordem podem ser observadas na produção agrícola.
Em conseqüência desse fato, a curva de aprendizado brasileira constitui
um notável exemplo das possibilidades que se oferecem ao desenvolvimento

1. Brandão et alii. (2005). Crescimento agrícola no período 1999-2004, explosão da área plantada com soja e
meioambiente no Brasil. Texto para discussão 1.062, Ipea/Dimac.

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Panorama Geral da Bioenergia 23

sempre que existe um nível (minimamente aceitável) de continuidade das orien-


tações e das ações. Assim, o etanol brasileiro é economicamente competitivo
com a gasolina desde 2004 sem necessidade de subsídios, conforme figura 3.

Figura 3.  Curva do aprendizado brasileiro na produção de etanol


900
Preço  da gasolina  (US$ 2004 / m³)
Preço do etanol aos produtores; 

2000 2004
800
700 1980
1990
600
500
400
1980 2000
300 2005
1990
200
100
0
0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000

Produção  Acumulada  de Etanol (milhares m³)


Preço Etanol BR Preço gasolina  BR Preço gasolina  Rotterdam

Fonte: Golbemberg, Coelho, Nastari e Lucon, (2004)

Nos últimos anos o mundo se envolveu no esforço de desenvolver ener-


gia sustentável e os investimentos com esse propósito vêm crescendo em ritmo
acelerado, praticamente dobrando a cada ano, conforme apresentado em recente
relatório da ONU (UN, 2008). Os investimentos mundiais novos (sem considerar
incorporações e aquisições) alcançaram US$ 117,7 bilhões em 2007.

Figura 4.  Investimento global em energia sustentável


140
África
120 Índia
outros não  OCDE
100 Brasil
bilhões

80 Outros  OCDE
US$

China
60 USA
UE - 27 
40

20

0
2004 2005 2006 2007

Fonte: adaptado, SEFI, New Energy Finance

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24 Bioenergia no Estado de São Paulo

A figura 4, que mostra a distribuição dos investimentos em energia sus-


tentável por diferentes regiões, é uma evidência da importância relativa dos EUA
e UE nesse setor: eles responderam por mais de 60% do valor investido entre
2004 e 2007. Em 2006 e 2007, China e Brasil aumentaram significativamente suas
participações nos investimentos, que passaram a representar 10% e 5% respecti-
vamente. Para o ano de 2007, o relatório também mostra que 93% dos recursos
investidos foram destinados a quatro tipos de tecnologia: energia eólica (43%),
energia solar (24%) biocombustíveis (17%) e biomassa/resíduos (9%).
No Estado de São Paulo, assim como no Brasil, a principal fonte de bio-
energia é a cana-de-açúcar, da qual o Estado é o principal produtor no país.
A participação da bioenergia na matriz energética de São Paulo é significativa
(cerca de 30% da oferta total de energia em 2007) e baseia-se principalmente
no etanol produzido de cana-de-açúcar, mas também na energia proveniente de
resíduos florestais e de biogás. Nesse capítulo apresenta-se um panorama geral
da situação da bioenergia no Estado, com os seus dados mais importantes.

II.1  Etanol

Esta seção reúne considerações contidas principalmente no TR 1 – “Mer-


cados Interno e Internacional para Biocombustíveis” , no TR 2 – “Estudo sobre o
Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Agrícola para Biocombustíveis no Estado
de São Paulo”, no TR 3 – “Cadeia industrial e de serviços – Etanol e bioenergia”
e no TR 5 – “Tecnologia e Ciência para o Desenvolvimento Sustentável da
Bioenergia em São Paulo”.
Uma das críticas freqüentes aos biocombustíveis é que eles substituem
as culturas de alimento. Entretanto, no caso do setor sucroalcooleiro paulista,
seu avanço tem impulsionado a produção de alimentos. Parte do total plantado
em São Paulo fica disponível a cada ano para a rotação de cultivos, em função
da renovação dos canaviais, o que representa milhões de hectares que podem
ser destinados à plantação de soja, amendoim e outros cultivos destinados à
produção tanto de alimentos, quanto de combustível.
Na região paulista de Ribeirão Preto, por exemplo, a plantação direta,
sem remoção nem limpeza do solo, é cada vez mais usada quando os canaviais
são renovados. Entre outubro e fevereiro, os produtores plantam e colhem va-
riedades precoces de soja e de amendoim sobre os resíduos de cana, antes de
iniciar uma nova plantação.
O principal indicador técnico relacionado à produção brasileira de etanol
é a relação entre a quantidade de energia renovável produzida por unidade de

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Panorama Geral da Bioenergia 25

energia fóssil consumida. O indicador brasileiro para cana tem um valor apro-
ximadamente 5 vezes maior do que o do etanol de milho dos Estados Unidos.
Essa enorme vantagem deve elevar-se ainda mais, se persistirem as rotas atuais.
O avanço da mecanização da colheita, o recolhimento da palha e a produção de
energia elétrica com o bagaço e a palha deverão elevar ainda mais o quociente
entre a energia renovável e a não renovável (Macedo, 2005).
Ao lado desse indicador convém salientar pelo menos mais um, de gran-
de importância para a sustentabilidade do etanol brasileiro no contexto da
agroindústria e do padrão de consumo de combustíveis brasileiros. Ele diz res-
peito à quantidade de terras utilizadas para produzir a quantidade de etanol
– hoje, aproximadamente 4 milhões de hectares2, contra algo em torno de 21
milhões para a soja e 200 milhões de hectares para as pastagens (IBGE, 2007).
O principal indicador econômico da liderança brasileira em etanol refe-
re-se a seus custos de produção, muito inferiores aos que existem em todos
os demais países. Pode-se argumentar, contra essa liderança, que ela se baseia
em custos não contabilizados – ambientais (as queimadas) e sociais (trabalho
em condições pouco edificantes). A despeito dessas práticas remanescentes, que
estão sendo eliminadas, é necessário reconhecer que a sustentação dos custos
de produção baixos não depende da prática das queimadas (Lei estadual no
10.547/00, reformulada pela Lei no 11.241 em 2002) ou do sobreesforço huma-
no. Com a supressão das queimadas e a eliminação daquele sobreesforço (pela
mecanização) ter-se-ia uma redução adicional dos custos de produção médios,
além do aumento de receitas gerado pela energia produzida pela queima da
palha em caldeiras.
Até meados da década de 1970, o álcool não tinha muita importância
econômica no país e sua produção era considerada complementar à produção
de açúcar, sendo, portanto, este produto o que impulsionava a expansão cana-
vieira, principalmente para o atendimento da demanda externa.
Após o primeiro choque do petróleo e o problema no mercado inter-
nacional de açúcar decorrente de superprodução, em 1975 foi introduzido o
Próalcool. A crise subseqüente do petróleo, associada à localização do parque
industrial automotivo brasileiro no Estado de São Paulo, deu impulso à produ-
ção paulista de etanol e incentivou a modernização e consolidação do setor.
Até o final dos anos 80, os veículos movidos exclusivamente a álcool
hidratado representavam 85% dos veículos novos na frota nacional. No entanto
nessa época, problemas de logística no abastecimento, redução dos preços do
petróleo e recuperação dos preços do açúcar no mercado internacional torna-

2. Cerca de 3,2 milhões de hectares adicionais são usados para produção de açúcar.

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26 Bioenergia no Estado de São Paulo

ram o etanol pouco competitivo, o que levou à estagnação do Próalcool. Nos


anos 1990 ocorreu, ainda, a desregulamentação estatal dos mercados de açúcar
e álcool no país, o que aumentou a incerteza sobre o uso do etanol como
combustível.
A retomada da importância do etanol na matriz brasileira de com-
bustíveis teve início a partir de 2003 com o lançamento dos veículos flex-
fuel3, em meio à nova alta do preço do petróleo e ao interesse dos países
desenvolvidos em soluções que minimizem o impacto poluidor dos veículos
automotores na atmosfera. A ampliação das unidades industriais e constru-
ção de novas usinas resultam, especialmente, de decisões da iniciativa privada,
a partir da atual visão mundial sobre a importância do combustível verde
na matriz energética. Esse impulso na produção de etanol, no entanto, não
permite que a análise da oferta desse produto seja desvinculada do merca-
do de açúcar, visto que ainda prevalece o modelo de usinas de açúcar com
destilarias anexas.
A produção de cana-de-açúcar tem crescido sistematicamente no Bra-
sil, alcançando uma produção de 556,8 milhões de toneladas no ano-safra de
2007/08 em 343 usinas (IBGE e Conab, 2008)4 e com uma produtividade de
77.200 kg de cana-de-açúcar por hectare, na área plantada de 7,2 milhões de
hectares, sendo aproximadamente 45% destinada para açúcar e 55% para álcool,
segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar5.
Se a cana-de-açúcar fosse totalmente destinada à produção de etanol, a
produtividade média seria de 6.540 litros por hectare. No período de 2000/01 a
2006/07 a produção de cana cresceu à taxa média de 8,4% ao ano. A análise por
região produtora mostra que nesse período houve um aumento de 5,4% na
Região Norte-Nordeste, 80,0% na Região Centro-Sul, enquanto que no Estado
de São Paulo o acréscimo foi de 78,3%.
A figura 5 apresenta a evolução da produção de cana para indústria
neste Estado, onde 4,8 milhões de hectares foram ocupados com cana em
2007, dos quais cerca de 1,4 milhão correspondem a cana produzida por
fornecedores.

3. Flex fuel – veículo flexível que opera com gasolina C (gasolina com 20-25% de etanol anidro), álcool etílico
hidratado ou qualquer mistura desses combustíveis.
4. Realizado em novembro de 2007, o segundo prognóstico das áreas plantadas contempla as Regiões Sudes-
te, Sul e Centro-Oeste e os Estados de Rondônia, Maranhão, Piauí e Bahia. As informações da pesquisa do
prognóstico representam 85,6% da produção nacional prevista. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/
presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1050&id_pagina=1. Acesso em 19/1/2008.
5. http://www.unica.com.br

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Panorama Geral da Bioenergia 27

Figura 5.  Evolução da produção de cana no Estado de São Paulo

350
Milhões
o de  cana (t)

300

250

200

150
Produção

100

50

Ano safra
Fonte: Canaplan

Na safra 2007/2008 foram produzidos 31 milhões de toneladas de açú-


car e 22 milhões de m3 de etanol no país (figura 6). O Brasil é o maior produtor
mundial de cana e de açúcar, o segundo de etanol e também o maior expor-
tador de açúcar e etanol. Cerca de 40% da produção de açúcar e 85% da de
etanol são destinados atualmente ao mercado interno. Em 2008, o volume total
de etanol utilizado como combustível da frota de veículos leves no país ultra-
passou o volume de gasolina.

Figura 6.  Produção de álcool no Brasil


25

20
milhões de m³ /ano

15

10

Ano - Safra

Fonte: Elaborados pelos autores a partir de dados da Unica (2007)

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28 Bioenergia no Estado de São Paulo

Como já foi mencionado, o etanol de cana é um produto estratégico


para o Estado de São Paulo. Em 2007, foram produzidos quase 12 bilhões de li-
tros desse combustível (figura 7), cerca de 62% do total nacional e 26% do total
mundial6. Os produtos da cana-de-açúcar – etanol e bagaço – são responsáveis
por mais de um quarto da energia primária total no Estado.

Figura 7.  Evolução da oferta de álcool em São Paulo


16
Etanol  Anidro
14
Etanol Hidratado
12
milhõ es  de  m³

10

Ano - safra
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da UNICA (2008)

O Estado de São Paulo respondeu por 69% da cana moída na safra 07/08,
na Região Centro/Sul. Mesmo com o crescimento dos outros Estados, SP deverá
responder por 67% a 68% da safra 08/09, em curso no Centro/Sul. Em termos
dos produtos obtidos, São Paulo respondeu por 73% do açúcar produzido na
região; a produção de etanol paulista correspondeu a 66% do total do Centro/
Sul, sendo diferente a proporção entre os tipos: o anidro respondeu por 69% do
obtido na região, e o hidratado por 63%. Da área total ocupada com cana, 3,9
milhões de hectares foram colhidos para a produção de açúcar e álcool.
Na verdade, justificam-se as preocupações com a expansão da cultura da
cana-de-açúcar no Estado. O aumento da área cultivada foi de 7% ao ano em
média nos últimos seis anos.

6. UNICA (http://www.portalunica.com.br/portalunica/?Secao=referência) e US RFA (http://www.ethanolrfa.


org/industry/statistics/#E)

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Panorama Geral da Bioenergia 29

Figura 8a.  Cana plantada no país

Fonte: IBGE/Sidra (2005)

Figura 8b.  Localização das usinas na Região Centro-Sul

Fonte: TR 2

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30 Bioenergia no Estado de São Paulo

A figura 8a ilustra a área da cana plantada no território nacional. A figura


8b ilustra a expansão de cana na Região Centro-Sul, em particular a localização
das usinas.
A expansão da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo tem-se dado, em
maior proporção, sobre as áreas de pastagem. São Paulo tem cerca de 8,5 mi-
lhões de hectares de pastagem plantada e 1,5 milhão de hectares de pastagem
nativa. O rebanho paulista, de acordo com o IBGE (2005), era de 13 milhões de
cabeças, o que corresponde a uma lotação média de 1,3 cabeça por hectare,
que é um índice baixo, apesar de maior que a média brasileira (menor que 1
cabeça por hectare).
Do ponto de vista da agroenergia é possível notar que o sistema paulista
é bastante interessante. De um lado, o Estado é o maior produtor de etanol
de cana-de-açúcar do Brasil. Ou seja, a maior parte da agroenergia gerada em
SP é oriunda de cana, e não de grãos como ocorre nos Estados Unidos. Além
disso, há um potencial a ser explorado na produção de biodiesel que se origina
no plantio de soja na rotação de cana-de-açúcar. É interessante notar que a ex-
pansão da área de cana oferece a oportunidade de aumento da área de grãos,
quando considerado este processo de rotação.
Observa-se que o padrão climático de boa parte do Estado, em especial
no novo pólo de expansão do setor sucroalcooleiro que é a Alta Paulista, é
marcado por forte presença de veranicos, o que eleva sobremaneira o risco da
produção de lavouras anuais e é responsável pela boa competitividade da cana.
Por essa razão, o plantio dessas lavouras nunca apresentou grande densidade
geográfica, como ocorre no Paraná e Mato Grosso.
O avanço da cana permite mudar esse cenário por carregar consigo o
capital necessário para a recuperação das economias de municípios, os quais
perderam o dinamismo econômico, e por reduzir o risco climático de plantar
grãos em área dedicada exclusivamente a esses cereais ou plantá-los em área
de reforma de cana-de-açúcar.
Por outro lado, a fabricação de equipamentos para a indústria sucroalco-
oleira reúne uma centena de empresas, tanto na parte industrial quanto na agrí-
cola. Mas, se uma característica deve ser ressaltada nesse universo empresarial é
precisamente a sua heterogeneidade.
A indústria está estruturada em torno de dois pólos principais: Piracicaba
e Sertãozinho, mas existem fábricas e empresas em outras cidades. A expan-
são da atividade para o oeste de São Paulo, e em direção a Minas Gerais e ao
Centro-Oeste, deverá contribuir para o nascimento de novas empresas nessas
regiões, bem como para a criação de novas unidades das empresas existentes.
A crise do setor industrial produziu oscilações no nível de emprego, in-
clusive no corpo técnico das principais empresas (Dedini, Zanini, Renk-Zanini,

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Panorama Geral da Bioenergia 31

DZ e outras), e ensejou inúmeras tentativas de estabelecimento de novos em-


preendimentos para o setor ou para atividades complementares. Foi assim que
surgiram empresas como, num caso muito bem-sucedido, a TGM, fabricante de
turbinas a vapor. Como resultado das características do próprio setor, sujeito
a oscilações pronunciadas, e das próprias atividades de fabricação de equipa-
mentos, cujos produtos podem ser destinados a outros segmentos industriais
(mesmo que com projetos específicos ou adaptações), muitas dessas empresas
são, desde a sua origem, diversificadas com relação aos mercados de destino
dos seus produtos. Por isso, a consolidação dos resultados econômicos do setor
de fabricação de equipamentos para o setor sucroalcooleiro é impraticável.
Tal como outros equipamentos para essa cadeia industrial, também as
colheitadeiras são produzidas principalmente nos pólos tradicionais dessa in-
dústria. A fabricação das colheitadeiras está situada em unidades localizadas
em Piracicaba (Case) e Ribeirão Preto (Santal), além de Catalão, em Goiás
(John Deere).
Com relação a outros equipamentos agrícolas, a DMB Máquinas e Imple-
mentos Agrícolas Ltda., fundada em 1964, em Sertãozinho, produz implementos
para a cultura de cana-de-açúcar. A empresa fabrica equipamentos para todas as
fases da cultura da cana-de-açúcar: subsoladores, sulcadores, cobridores, cultiva-
dores para cana crua e queimada, carretas para distribuição de torta de filtro,
adubadeiras de superfície, reboques e sistemas de transbordo para cana picada.
Também desenvolveu e lançou plantadoras de cana, além de uma linha de pro-
dutos florestais. Dessa forma, no segmento de máquinas e implementos para a
atividade agrícola se constata uma diversificação dos mercados de atuação das
empresas.

II.2  Biodiesel

No que se refere ao biodiesel, é fundamental estabelecer a diferença


conceitual entre biodiesel e óleos vegetais. O termo óleo vegetal significa o óleo
in natura, sem submetê-lo a nenhum processo químico; por sua vez o biodiesel
é o éster (mono-alquil éster) de ácidos graxos provenientes de diversas fontes
(óleos vegetais, óleos residuais ou sebo animal).
Desde 1920 surgiram iniciativas para promover no Brasil o uso de óleo
vegetal nos motores a diesel, com resultados limitados. Os programas mais im-
portantes, propostos quase simultaneamente com a adoção do etanol, foram
o Pró-óleo e o Programa OVEG em 1980 (Ministério da Indústria/ Secretaria
de Tecnologia Industrial, 1985). Foram realizados ensaios dinamométricos em

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32 Bioenergia no Estado de São Paulo

motores e ensaios de campo com ônibus e caminhões, com biodiesel metílico


e etílico de óleo de soja. Nos testes de campo foram utilizados biodiesel puro
(B100) e misturas de 30% de biodiesel em óleo diesel (B30). Embora os resul-
tados técnicos tenham sido satisfatórios, no final dos testes de campo o preço
do petróleo já havia recuado para valores que inviabilizavam economicamente o
uso do biodiesel e o programa foi interrompido. Além disso, o seu custo energé-
tico era pouco competitivo quando comparado ao do etanol, o que estimulou
o desenvolvimento de alternativas utilizá-lo como combustível para motores
diesel, via etanol aditivado ou sistema de dupla injeção.
Conforme descrito e discutido em maiores detalhes nos TR’s 1 e 2, o
tema biodiesel foi retomado em 2002, sendo constituída a Rede de Pesquisa
e Desenvolvimento Tecnológico (Probiodiesel), coordenada pelo Ministério de
Ciência e Tecnologia que começou a articular interesses e a discutir a especifi-
cação do biodiesel para o Brasil. Encontrar sucessores renováveis para o diesel
mineral é importante para o país, já que esse combustível é o mais consumido
entre os derivados do petróleo, com uma demanda de aproximadamente 41
milhões de m3 em 2007 (ANP, 2007a), dos quais 12% importados, e basica-
mente utilizado no setor de transporte (82%) e geração elétrica em sistemas
isolados, geralmente na Amazônia.
Em meados de 2003, o governo federal criou um grupo interministerial
encarregado de estudos sobre a viabilidade de utilização de óleos vegetais e
biodiesel, para fins energéticos.
Em dezembro de 2004 foi lançado o Programa Nacional de Produção e
Uso do Biodiesel (PNPB)7. A Lei no 11.097/05 estabeleceu que, a partir de 2008,
todo o óleo diesel comercializado no Brasil deveria conter 2% de biodiesel (B2),
e que em 2013, ao óleo diesel dever-se-ia adicionar 5% deste combustível8 (B5).
Entretanto, ainda em 2008, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE)
tornou mandatório o uso de 3% de biodiesel a partir de 1o de julho de 2008.
Em 2006 foram produzidos 70 milhões de litros de biodiesel, em 2007 a
produção alcançou 402 milhões de litros e nos primeiros sete meses de 2008
já haviam sido produzidos 558 milhões de litros, segundo os dados da ANP. A
participação do Estado de São Paulo na produção de biodiesel tem sido de
12%, embora o Estado congregue 25% da capacidade industrial instalada.
A produção brasileira das principais oleaginosas totalizou 60,6 milhões de
toneladas na safra 2006/07, das quais 95% referentes à soja. A parcela restante

7. Disponível em: www.mct.gov.br


8. Segundo essa mesma lei, esse prazo poderá ser antecipado de acordo com a capacidade produtiva do
Brasil.

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Panorama Geral da Bioenergia 33

compreende caroço de algodão, amendoim, mamona e girassol (Conab, 2007).


Quanto ao dendê (palma), a produção foi de 903,5 mil toneladas em 2005
(IBGE, 2005) e, considerando-se este mesmo volume em 2007, tem-se uma
participação de 1,5% dessa oleaginosa no total.
A tabela 2 apresenta uma estimativa da disponibilidade brasileira de óle-
os vegetais, calculada com base na disponibilidade de cada grão (excetuando-se
exportação do grão) e no respectivo teor de óleo. A essa produção de óleo
foram acrescentadas as importações e deduzidas as exportações. Estima-se,
portanto, que a disponibilidade brasileira interna de óleos vegetais seja de 4,4
milhões de toneladas ou 4,8 milhões de metros cúbicos, para uma exportação
líquida de 1,4 milhão de toneladas.

Tabela 2.  Disponibilidade interna de óleos vegetais no Brasil em 2006*


Oleaginosa Teor de Produção (t) Importação Exportação1 Disponibilidade Densidade Volume
óleo(%) (t) (t) (t) (kg/ m3) (1000m3)
Amendoim 48 67.632 16 16.376 51.273 914 56
Algodão 18 303.431 0 25.838 277.594 918 302
Girassol 44 41.756 5.598 0 47.354 918 52
Mamona 45 37.958 10 4.343 33.625 960 35
Soja 19 5.417.492 24.846 1.688.110 3.754.228 919 4.085
Dendê 22 198.770 17.080 22.859 192.991 891 217
Babaçu 66 78.560 0 72 78.489 914 86
Copaíba - 479 - - 479 1.000 0
Cumaru - - - - - - -
Licuri - - - - - - -
Oiticica 54 745 - - 745 1.000 1
Pequi 50 2.545 - - 2.545 1.000 3
Tucum - - - - - - -
Total         4.439.322   4.836

Fonte: Conab (2007), IBGE (2005) e MDIC/Secex (2007); dados trabalhados pelos autores do TR 1
*Os itens produção, importação, exportação e disponibilidade referem-se a tonelada de óleo
1 Referem-se às exportações de óleo bruto

Ressalte-se que, embora seja ampla a lista de fontes de óleos vegetais


para alimentar o PNPB, na prática, apenas sete delas têm produção significativa.
As demais, embora com potencial, na realidade são utilizadas na medicina po-
pular e na indústria de cosméticos, constituindo-se em nichos de mercado com
preços finais elevados. A maioria das oleaginosas extrativas ainda não dispõe de
estudos técnicos e mercadológicos para sua exploração comercial.

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34 Bioenergia no Estado de São Paulo

No Estado de São Paulo, em 2006, as produções mais significativas de


oleaginosas foram soja (1,7 milhão de toneladas de grão) e amendoim (210 mil
toneladas de grão), embora o amendoim esteja sendo utilizado principalmente
para alimentação.
Em termos de produção de oleaginosas, São Paulo apresenta um quadro
deficitário, o que implicará na necessidade de importações dessas matérias-pri-
mas e/ou de óleos. Isso já ocorre com o óleo de soja para consumo alimentar.
Além disso, o fato de São Paulo ser o maior exportador de carne
vermelha do país e ter um relevante parque de frigoríficos, possibilita a uti-
lização do sebo animal para produção de biodiesel. Entretanto, com essa
demanda adicional, seu preço tem apresentando significativa tendência de
crescimento.
A figura 9 a seguir apresenta a localização das plantas de biodiesel no
Estado (no estágio em que se encontravam em 2006), as quais têm uma capa-
cidade total instalada para produzir 650 milhões de litros anuais.

Figura 9.  Capacidade instalada de produção de biodiesel em SP-2006 (m3/ano)

Usina Piloto

Em planejamento
4500
4501 - 15000 Paraíso
Catanduva
15001- 40000
40001- 60000
Lins São Simão
60001- 227000
Tupã
Em construção
600
601 - 100000 Charqueada

Construída, sem produção Piracicaba Sumaré


Ourinhos Campinas
16800 Saltinho Taubaté

16801- 24000 Mairiporã


24001- 35000 Mairinque Guarulhos

35001- 60000 Taboão da Serra

60001- 120000

Construída, produzindo
750
751 - 6000
6001 - 17000
17001- 60000

Fonte: TR 2

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Panorama Geral da Bioenergia 35

Assim sendo, no Estado, as melhores oportunidades para biodiesel se


concentram no uso da terra correspondente à rotação de cultura de cana e ao
uso de subprodutos como sebo animal.

II.3  Floresta energética


Excetuando-se o setor de papel e celulose, a utilização da madeira e
seus resíduos como fonte de energia em São Paulo é pequena e tem um perfil
tradicional. No entanto, apresenta um potencial de crescimento interessante
seja pelo desenvolvimento ou pela adoção de novas tecnologias, seja pelo custo
baixo de produção de uma unidade energética comparativamente a outros
produtos bioenergéticos, conforme exposto no TR 12 – “Florestas Energéticas”,
no qual esta seção está baseada.
Atualmente, em termos mundiais, os índices de cobertura florestal de
territórios nacionais, para serem considerados satisfatórios, devem estar, no mí-
nimo, entre 25 e 30% (Ab’Saber, 1990).
A cobertura vegetal nativa do Estado de São Paulo está ao redor de
16,7% da sua extensão territorial (Castanho Fo, 2006). Há mais de cem anos, as
formações vegetais nativas com características florestais cobriam cerca de 70%
do território. Desse remanescente, o poder público declarou quase um terço,
cerca de 990 mil hectares (Castanho Fo, 2006), como unidades de conservação
criadas para preservar esse patrimônio para o futuro.
Numa análise preliminar fica evidente que, apesar das áreas com matas e
capoeiras terem até se recuperado nos últimos anos, as áreas de campo prati-
camente desapareceram (figura 10).
Em 2006, além da superfície coberta por vegetação nativa, existiam 932
mil hectares reflorestados (963 mil hectares segundo a Abraf, 2006).
A figura 11, a seguir, ilustra a composição florestal e sua evolução no Es-
tado de São Paulo nos últimos 30 anos, na qual se observa uma leve mudança
na tendência de redução das florestas nativas, e que foi confirmada em levan-
tamentos posteriores.
Entre os vários aspectos da demanda geral por produtos florestais no
Estado, cuja quantificação está detalhada no TR 12, vale ressaltar aqui a parcela
dedicada à energia.
A demanda por produtos florestais energéticos foi determinada a partir
dos dados de consumo de carvão e lenha que são apresentados na figura 12.
Esses dados envolvem uma gama de setores, com destaque para os usos in-
dustriais e, entre esses, para os setores de papel e celulose (29% do consumo),
alimentos e bebidas (11%), química (10%) e cerâmica (8%), com a demanda
para cocção no setor doméstico estimada em 31% (SERHS, 2006).

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36 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 10.  Evolução das áreas de vegetação nativa no Estado de São Paulo

3
1973
2,5
1989
hectares

2 2000
milhões de h

1,5

0,5

0
Mata Capoeira Cerradão Cerrado  Campo

Fonte: modificado de PDFS, 1993, conforme TR 12.

Figura 11.  Evolução da cobertura vegetal e do reflorestamento no Estado de São Paulo

5
4,5 Nativa
4 Plantada
e hectares

3,5
3
2 5
2,5
milhões  de

2
1,5
1
0,5
0
1973 1989 2000 2006

Ano

Fonte: modificado de PDFS, 1993, conforme TR 12.

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Panorama Geral da Bioenergia 37

Tal estrutura setorial para o uso de lenha é bastante distinta da obser-


vada no restante do Brasil, onde a maior parte da biomassa (43%) é usada
como insumo para produção de carvão vegetal, destinado a fins siderúrgi-
cos, e emprega uma parcela ponderável de recursos florestais nativos (Brito,
2007; Uhlig, 2008).

Figura 12:  Evolução do consumo final por energético


120
Lenha
100 Carvão  Vegetal
milhares de m³ stereos

80

60

40

20

0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fonte: Secretaria de Saneamento e Energia, 2006, conforme TR 12.

A demanda geral por produtos florestais madeireiros pode ser dividida


em, basicamente, três grandes grupos, (figura 13):
• Matéria prima para processamento físico-químico (celulose e chapas);
• Insumo energético (lenha, carvão)
• Matéria prima para processamento mecânico (serrarias, laminadoras).
Para atender a esta demanda, o parque florestal produtivo paulista deve-
ria ter, teoricamente, 1,266 milhão de hectares (para uma produtividade média
de 30m3/ha/ano), embora seja de 933 mil hectares, quase todo ele referente a
madeira serrada e energia, produzidas por 38 mil produtores (figura 14). Isto
implicaria em aumentar a área coberta por florestas plantadas no Estado em
333 mil hectares.

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38 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 13.  Consumo estimado de produtos florestais no Estado de São Paulo

25

1991
milhões  de  m³ stereos 

20 2005

15

10

0
Indústria Energia Serrada

Fontes: Fundo Florestar, Bracelpa, Abima, Abracave, SSE, conforme TR 12

Figura 14.  Produção, demanda e déficit madeireiro no Estado de São Paulo

40

35

30
milhões de m ³ stereos

25

20

15
10
Outros  usos
5 Energia
0 Indústria

Consumo
Produção

38000 Produtores
Fonte: modificado de PDFS, 1993, conforme TR 12.

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Panorama Geral da Bioenergia 39

II.4  Cogeração e geração de energia com biomassa e biogás

Conforme apresentado em maiores detalhes no TR 8 – “Geração de


Eletricidade a Partir de Biomassa e Biogás”, o Estado de São Paulo tem atual-
mente uma capacidade instalada de geração de energia elétrica de cerca de 18
GW, dos quais 80% são provenientes de aproveitamentos hidráulicos. Entretan-
to, o potencial hidráulico do Estado já está totalmente exaurido. Praticamente
100% do potencial de grande porte já foi aproveitado, restando apenas algumas
PCH´s (pequenas centrais hidroelétricas) novas e outras unidades existentes
sujeitas à repotencialização.
Atualmente, São Paulo responde por 30% do consumo de energia elétri-
ca do país; mas, apenas parte desse total é produzido localmente. A geração no
Estado corresponde a cerca de 60% a 70% da energia consumida.
Assim sendo, no balanço nacional de energia elétrica, o Estado de São
Paulo é o grande importador, com algo em torno de 50% do volume das tran-
sações, com uma tendência crescente, com previsão de atingir 65% em 2015.
Essa fragilidade da segurança energética do Estado é inequívoca. Dessa forma,
São Paulo precisa urgentemente identificar novas fontes de geração de eletri-
cidade para assegurar o suprimento de energia, mantendo a oferta necessária
para acompanhar seu crescimento econômico e reduzindo o risco de déficit do
setor elétrico nacional.
O setor sucroalcooleiro tem esse potencial, pelo processo de cogera-
ção9, com a produção de excedentes de eletricidade para venda à rede. Até
o final dos anos 1990, o bagaço da cana foi considerado um resíduo indese-
jável pelo setor, sendo queimado de forma ineficiente ou comercializado de
maneira limitada. Essa caracterização representava o perfil das indústrias do
setor do Estado de São Paulo que, por falta de estímulos para comercializa-
ção de excedentes de energia elétrica, não investiam em eficiência. Essa situ-
ação começou a mudar no final da década de 1990, foi reforçada em 2002
com o Proinfa10 e, posteriormente, com os leilões de energia, quando o setor
vislumbrou as possibilidades de comercializar a energia excedente a preços
mais vantajosos. Atualmente, estão em operação 146 usinas de cogeração,
perfazendo uma potência total instalada de 1.712 MW, correspondendo a

9. Cogeração é o processo de produção simultânea de energia elétrica e térmica a partir de uma mesma
fonte, no caso o bagaço da cana.
10. Proinfa – Programa, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), estabelece a contratação de
3.300 MW de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), produzidos por fontes eólica, biomassa e
pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), sendo 1.100 MW de cada fonte.

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40 Bioenergia no Estado de São Paulo

70% do segmento de cogeração no país. Em 2007, o total de energia vendida


no mercado foi cerca de 900 MWmédio11.
A quantidade de excedentes em eletricidade que pode ser oferecida à
rede depende da tecnologia adotada para conversão, do consumo de vapor
no processo produtivo de açúcar e álcool e da quantidade de fibras (bagaço)
contida na cana. Dentre esses parâmetros, uma melhoria substancial poderia ser
obtida adotando-se uma tecnologia de conversão mais eficiente para a geração,
combinada com a eletrificação do processo e redução da demanda de vapor.
O primeiro passo na evolução da tecnologia de cogeração, dado prin-
cipalmente durante o início do Próalcool, visava à auto-suficiência energética
da usina, com um sistema capaz de suprir a demanda eletromecânica de vapor,
com uma quantidade limitada de excedentes. Essa auto-suficiência era atingida
com turbinas de contrapressão e caldeiras de até 22 bar. As quantidades redu-
zidas de excedentes de energia elétrica ou de bagaço eram comercializadas na
região. O passo seguinte na evolução da cogeração foi um aumento na pressão
do vapor gerado para patamares em torno de 40 bar, mantendo-se ainda a
tecnologia de turbinas de contrapressão, e realizando-se uma substituição par-
cial dos sistemas de geração existentes, o chamado retrofit. Esse incremento na
geração, que ocorreu para algumas usinas no final dos anos 1990, foi motivado
pelos contratos com a Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL e o baixo
preço do bagaço excedente.
Recentemente, as usinas iniciaram a mudança na tecnologia utilizada, pas-
sando de turbinas de contrapressão para turbinas de condensação e elevando a
pressão das caldeiras para patamares maiores, atingindo 60 bar ou mais.
Por outro lado, a participação do Estado de São Paulo, no caso da bio-
massa florestal (licor negro e resíduos florestais), ainda é tímida. Enquanto no
Brasil a potência instalada com esse tipo de energético está na faixa de 800
MW, São Paulo tem apenas quatro empreendimentos significativos, totalizando
pouco mais de 100 MW de energia. Este é um número reduzido, quando se
considera que existem dez empresas de papel e celulose no Estado.
Além dessas, uma outra opção para geração de energia renovável é o uso
de biogás de aterros sanitários, tratamento de efluentes, resíduos rurais e biogás
de vinhaça (subproduto da destilação do álcool). O biogás é um composto pro-
duzido pela biodigestão anaeróbia de resíduos orgânicos com elevado teor de
metano. Considerando o elevado impacto de metano no aquecimento global é
importante a sua queima, convertendo-o em dióxido de carbono, com menor
potencial de geração do efeito estufa. Esta é, assim, uma grande oportunidade

11. MWmédio refere-se à energia total fornecida no ano (MWh) dividida pelo número total de horas do ano.

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Panorama Geral da Bioenergia 41

para geração de energia elétrica nesses setores, conforme discutido no TR 13


– “Biogás Gerado pela Deposição de Resíduos Sólidos Urbanos em Aterros Sani-
tários e pelo Tratamento Anaeróbio de Efluentes, Resíduos Rurais e Vinhaça”.
O Estado abriga uma das maiores usinas de energia a partir de biogás do
mundo, a UTE (usina termoelétrica) Aterro Bandeirantes, com capacidade para
gerar 20 MWmédio de energia elétrica até 2018. Além desse, existe outro aterro
em São Paulo, cuja usina (UTE São João) entrou em operação em janeiro de 2008,
gerando 20 MWmédio pelo período de 15 anos. Com a finalidade de utilizar o bio-
gás de aterros sanitários para geração de energia, torna-se necessário, por parte
do Estado, avaliar melhor a situação e criar mecanismos ou obrigações para o seu
aproveitamento, principalmente focado na geração de energia elétrica.
No caso do biogás de tratamento de esgoto, o único projeto existente
no Estado é um piloto na Sabesb - Companhia de Saneamento Básico do Es-
tado de São Paulo - de Barueri, executado pelo CENBIO e co-financiado pela
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos. Este é um projeto-piloto e incluí a
geração de energia elétrica a partir de biogás de tratamento de efluentes numa
microturbina de 30 kW (CENBIO, 2005a).
Com relação ao biogás de vinhaça, existe no Estado de São Paulo apenas
uma usina (São Martinho) que o processa para a produção de biogás, o qual é
usado como combustível auxiliar nas caldeiras da usina ou na secagem de leve-
duras sangradas do processo de fermentação em dornas.

II.5  Recursos humanos e relações de trabalho na bioenergia

Embora a produção de biomassa energética seja baseada em monocultu-


ras extensivas, que requerem um nível relativamente baixo de empregos quan-
do comparadas a culturas de alimentos, na realidade, a bioenergia é responsável
por um aumento na geração de empregos na área rural porque a produção de
alimentos é obrigatoriamente mantida para atender à demanda.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE cap-
tou para 2004 um contingente de 251 mil empregados permanentes e 242 mil
temporários, ocupados na cultura da cana-de-açúcar no Brasil(TR 6).
De fato, a geração de empregos tem sido reconhecida como uma das
maiores vantagens das energias renováveis, em especial a biomassa, quando
comparada às de origem fóssil. Além de gerar empregos na zona rural, a pro-
dução de biomassa é uma atividade que envolve baixos investimentos por em-
prego gerado quando comparados com outros setores industriais, conforme as
figuras 15 e 16 (Goldemberg, 2002).

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42 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 15.  Número de empregos gerados por fonte de energia

Etanol 152

Petróleo 1

Hidroeletricidade 3

Carvão 4

0 50 100 150 200

Empregos/energia  (petróleo=1)
Fonte: Goldemberg (2002)

Os temas desta seção, discutidos no TR 6 – “Recursos Humanos na Área


de Biocombustíveis” e no TR 7 – “Relações de trabalho no setor sucroalcoo-
leiro e de oleaginosas no Estado de São Paulo” em detalhes, são de particular
importância no âmbito da bioenergia, pela geração de empregos na zona rural.

Figura 16.  Investimentos necessários para geração de empregos nos diversos


setores industriais

Química/Petroquímica 220

Metalurgia 145

Bens de Capital 98

Automobilística 91

Intermediária 70

Bens de Consumo 44

Etanol (agro+ind) 11

0 50 100 150 200 250

1000 US$/  Emprego
Fonte: Goldemberg (2002)

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Panorama Geral da Bioenergia 43

No Estado de São Paulo a atividade canavieira é a principal empregadora


tanto no setor agrícola como no conjunto das agroindústrias (Vicente, 2002,
e Belik; Bolliger; Graziano Da Silva, 1999, apud Veiga Filho et al., 2003). Mesmo
considerando que toda cana fosse colhida crua, o que deve ocorrer no Estado
de São Paulo no longo prazo, o número de empregos por unidade de energia
seria de aproximadamente 50 empregos/energia (petróleo=1), ainda assim mui-
to acima dos índices para as outras fontes energéticas (Figura 15).
A incorporação da lógica empresarial industrial pelo setor agropecuá-
rio paulista, especialmente no sucroalcooleiro e no de oleaginosas, permitiu
a expansão das culturas industriais no meio rural. Esse crescimento impactou
consideravelmente as relações de trabalho, afastando-as das condições mais
tradicionais de emprego da mão-de-obra no campo.
A partir do final do século 20, percebe-se, cada vez mais, a emergência
da reestruturação produtiva no meio rural, com efeitos não desprezíveis no
padrão de uso e remuneração dos trabalhadores. A crescente mecanização das
culturas industriais no interior de São Paulo tem conseqüências importantes nas
relações trabalhistas, pois provoca um aumento do emprego assalariado formal,
permitindo ao novo trabalhador do campo o pleno acesso aos direitos sociais
e trabalhistas garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho. Ao mesmo
tempo, pressiona os trabalhadores a aceitarem condições de negociação me-
nos favoráveis ou a se qualificarem, para permanecer na mesma região. Nesse
contexto, as figuras 17 e 18, a seguir, indicam as contratações mensais no setor
sucroalcooleiro, no Estado de São Paulo.

Figura 17.  Contratações mensais dos cortadores de cana no Estado São Paulo
60.000

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

0
Jan/03 Jul/03 Jan/04 Jul/04 Jan/05 Jul/05 Jan/06 Jul/06 Jan/07

Fonte: Elaborado pelo TR 6 com base nos dados do Caged, MTE

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44 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 18.  Contratações mensais de diferentes categorias no setor


sucroalcooleiro no Estado de São Paulo

18000

16000
14000

12000
10000

8000
6000

4000

2000

0
Jan/03 Jul/03 Jan/04 Jul/04 Jan/05 Jul/05 Jan/06 Jul/06 Jan/07

Tratoristas e Operadores de Máquinas Supervisores


Outras Ocupações Agrícolas Outras Ocupações Não Agrícolas

Fonte: Elaborado pelo TR 6, com base nos dados do Caged, MTE

Conforme os dados da Canaplan, 2007 (TR 2), 31% da área colhida em São
Paulo foi realizada com máquina, sendo que 76% dela foi mecanizada sem queima12.
Após o Decreto federal no 2.661/98, o Estado de São Paulo editou a Lei estadual
no 10.547/00, reformulada pela Lei no 11.241 em setembro de 2002, estabelecendo
um cronograma para erradicar a queima da cana no Estado com fins de proteção
ambiental (conforme discutido adiante, no capitulo III.5.) e mitigar a emissão de gases
poluentes emitidos. Segundo esta legislação, a área mecanizável a ser colhida crua,
deve atingir 50% em 2010. Na realidade, em nota do Protocolo Ambiental da Secre-
taria de Meio Ambiente (TR 4), estes índices atingiram 47% em 2007. Apesar disso,
conforme figuras 17 e 18, não houve redução no número de empregos no setor, por
causa da elevada taxa média de crescimento da área colhida no Estado nos últimos
5 anos, da ordem de 8% a.a. (Lora, 2006). Note-se que, de 2007 para 2008, a área de
cana colhida cresceu 17%, conforme a Secretaria de Meio Ambiente do Estado.
Vale mencionar, também, que o Estado de São Paulo ainda recebe traba-
lhadores de outros Estados para o corte da cana-de-açúcar (55 mil migrantes do
norte de Minas Gerais e dos Estados do Nordeste, segundo os sindicatos rurais).

12. Informações da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo mostram que na safra 2006/2007
a colheita mecanizada de cana correspondeu a 34% da cana colhida e que, em 2007/2008, esta fração
passou para 47%. Estes dados indicam, inclusive, uma redução da área de cana queimada.

29170003 miolo.indd 44 10/29/08 6:02:40 PM


Panorama Geral da Bioenergia 45

Quanto ao grau de instrução dos trabalhadores no setor sucroalcooleiro,


conforme Tabela 3, ele é maior para os não-cortadores de cana quando com-
parados com os cortadores e outros trabalhadores agrícolas, fato que reforça a
necessidade de treinamento.
Conforme notícias veiculadas na imprensa de São Paulo, já existe falta de
trabalhadores qualificados para operar as colheitadeiras de cana crua, enquanto
informações do setor relatam que, dentro do cumprimento da legislação para
redução na queimada de cana, as usinas vêm desenvolvendo programas de
treinamento dos trabalhadores. O Programa Cana Limpa tem por objetivo a
capacitação de mão-de-obra para oferecer serviços com qualidade, segurança e
produtividade. Segundo o boletim informativo Faesp-Senar/SP13 de 2005, cerca
de 70 mil cortadores de cana já teriam participado do programa.

Tabela 3.  Distribuição das ocupações (%) por grau de instrução no setor
sucroalcooleiro, Estado de São Paulo, 2007

Tratoristas e Outras Outras


Cortadores
Ocupações operadores Supervisores ocupações ocupações
de cana
de máquinas agrícolas não-agrícolas
Analfabeto 0,1 0,7 3,7 2,5 0,5
4a Série 8,5 16,3 31,7 34,0 7,2
Incompleta
4a Série 19,4 19,7 26,7 25,4 15,8
Completa
8a Série 22,1 19,6 20,2 14,7 16,4
Incompleta
8a Série 21,3 15,0 10,0 18,2 15,6
Completa
2o Grau 8,1 5,0 3,3 2,2 7,9
Incompleto
2o Grau 20,1 21,4 4,2 2,9 31,6
Completo
Superior 0,3 0,6 0,1 0,1 1,8
Incompleto
Superior 0,2 1,8 0,0 0,0 3,3
Completo

Fonte: TR 6, com base nos dados do Caged, MTE

13. Federação da Agricultura do Estado de São Paulo/Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

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46 Bioenergia no Estado de São Paulo

No mesmo sentido, outra ação de qualificação importante é a da Udop14,


que está capacitando para suas associadas, 100 mil trabalhadores nas áreas agrí-
cola, industrial e administrativa.
Já o Centro Paula Souza, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento do
Estado, administra 138 Escolas Técnicas (Etec´s) e 33 Faculdades de Tecnologia
(Fatec´s), em 116 cidades do Estado, com significativo porcentual dirigido ao
agronegócio.

II.6  Bioenergia e meio ambiente

Este tema foi apresentado com maiores detalhes no TR 4 – Aspectos


ambientais na cadeia de biocombustíveis, com ênfase ao etanol e biodiesel e no
TR 14 – “Zoneamento Sócio-Econômico e Agrícola de São Paulo”, de onde
grande parte desta seção foi extraída. O tema é de particular importância para
o setor de bioenergia, porque tem pela frente um desafio extraordinário: o de
garantir e comprovar sua sustentabilidade ambiental. Por ser referência mundial
em biocombustíveis, cabe a São Paulo liderar esse processo, tanto para assegu-
rar as condições do agronegócio como para difundir boas práticas em escalas
nacional e global.
Dentre os diferentes tipos de bioenergia, altamente eficiente e com bai-
xo custo de produção, o etanol de cana-de-açúcar é uma das melhores opções
para mitigar as emissões de gases de efeito estufa decorrentes da queima de
combustíveis fósseis. Além disso, a cogeração de energia a partir do bagaço de
cana é uma alternativa às termelétricas fósseis, aos riscos da energia de origem
fóssil e nuclear – e até às hidrelétricas mais complexas.
As emissões veiculares de poluentes regulamentados pelo uso de etanol
são comparáveis e até inferiores às de gasolina e diesel. Os impactos ambientais
também foram consideravelmente reduzidos ao longo das cadeias produtivas
agrícola e industrial. Destaca-se nesse ponto a fertirrigação com a vinhaça, o
reúso de água e o gerenciamento de embalagens de agroquímicos. Contudo,
não se pode ignorar as pressões causadas pela vigorosa expansão da cultura da
cana-de-açúcar no Estado, ainda que isso esteja ocorrendo predominantemente
sobre áreas de pastagem pouco aproveitadas.
Ainda no que se refere à sustentabilidade, um fato importante foi a apro-
vação da Lei estadual no 11.241/2002, já mencionada, que estabelece o uso de

14. União dos Produtores de Bioenergia

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Panorama Geral da Bioenergia 47

máquinas nas áreas mecanizáveis15 para o ano de 2021 e a partir de 2031 nas
áreas atualmente não-mecanizáveis. O prazo maior pressupõe que a tecnologia
do maquinário de corte será adaptada para o atendimento de áreas com maior
declividade. A legislação também estabelece a instituição gradual da mecaniza-
ção antes desses prazos; por exemplo, até 2016, 80% das áreas de pouco declive
devem estar mecanizadas e 10% das áreas atualmente não mecanizáveis devem
ser mecanizadas.
Além disto, conforme já mencionado na seção II.5, visando um acordo
entre usineiros e ambientalistas, foi assinado o Protocolo Agroambiental em 2007.
Este antecipa para 2014 o fim da queima da palha da cana-de-açúcar nas la-
vouras mecanizáveis do Estado de São Paulo e, para 2017, nas áreas atualmente
não-mecanizáveis. Este protocolo que tem caráter voluntário apresentava ade-
são, em março de 2008, de 85% das usinas do Estado e também da Associação
dos Fornecedores de Cana. Para as áreas mecanizáveis, a previsão é que 70%
do total esteja mecanizado até 2010.
Como resultado prático, observa-se que, apesar do aumento da área
colhida de cana na última safra em 548 mil hectares (17%), houve redução da
área queimada em 108 mil hectares e já foram declarados aproximadamente
117 mil hectares de matas ciliares para proteção ambiental.
Por sua vez, o biodiesel é uma proposta promissora, que deve ser bem
estudada e equacionada, quanto a balanços energético e de carbono, emissões
em motores e efluentes líquidos (principalmente os que contenham metanol).
Conforme ensaios realizados no IPT (Nigro, 2007), as emissões em mo-
tores representativos da frota nacional mostram um acréscimo de 1,9% nas
emissões de NOx e reduções de 3% nas emissões de CO, 4% nas de hidrocar-
bonetos e 2,5% nas de material particulado, para cada 10% de biodiesel (etílico
ou metílico de mamona ou de soja) adicionado ao diesel. Além disso, por ser um
combustível derivado da biomassa (renovável), apresenta balanço de carbono
mais favorável do que o diesel. Os dados atualmente disponíveis, para o biodie-
sel de soja, nas condições brasileiras, indicam um balanço energético (baseado
na análise do ciclo de vida) de 2,7:1, conforme estudo do CENBIO/USP com o
IPT para o Ministério de Ciência e Tecnologia em 2007.
Quanto ao biogás, produzido a partir de aterros sanitários, efluentes líqui-
dos e resíduos rurais, ele oferece uma interessante oportunidade para gerenciar
corretamente os resíduos orgânicos, simultaneamente à geração de energia,
conforme já discutido anteriormente. A recuperação de biogás é uma forma

15. Áreas com declividade menor que 12%.

29170003 miolo.indd 47 10/29/08 6:02:41 PM


48 Bioenergia no Estado de São Paulo

eficiente de mitigação de emissões de gases de efeito estufa, tornando-se um


dos tipos de projeto preferidos pelos investidores no Mecanismo de Desen-
volvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto. A degradação anaeróbia
da matéria orgânica contida nos resíduos emite para a atmosfera biogás con-
tendo entre 50 a 80% de metano. Este, 21 vezes mais potente que o dióxido
de carbono em termos de potencial de aquecimento global, se for destruído
por combustão ou por processo de produção de energia, pode gerar créditos
de carbono, de acordo com o que prevê o artigo 12 do Protocolo de Quioto.
Além disso, a geração de energia agrega valor ao tratamento de resíduos em
geral, colaborando para a viabilização do saneamento básico.
Também as florestas energéticas apresentam perspectivas promissoras
para a produção de energia renovável em São Paulo, principalmente para a
indústria, além de garantirem o suprimento de matérias-primas para vários se-
tores. A substituição de carvão siderúrgico pelo carvão vegetal gera créditos
pelo MDL. Entretanto, seus eventuais impactos ambientais negativos merecem
atenção: uso da água, transporte em rodovias, as emissões não controladas em
caldeiras e fornos, o uso de agroquímicos para o controle de pragas e a substi-
tuição de florestas nativas pela monocultura.
Nesse contexto ambiental, a necessidade de um zoneamento ecológico-
econômico (ZEE) do Estado é um fato, em particular considerando a pressão
para expansão de monoculturas. Atualmente a maior parte do Estado é utili-
zada para fins agrícolas. Segundo o IBGE, a área territorial é de 24,8 milhões
de hectares e, desse total, 87,5% destinados ao uso agrícola, dos quais mais da
metade (44,7%) ocupados com pastagens. Dos 8,8 milhões de hectares preen-
chidos com culturas, 25,2% referem-se a cultivos anuais, 11,8% a perenes, 50% a
semiperenes e 12,9% a reflorestamento. Deve-se destacar que, entre as culturas
semiperenes, a cana-de-açúcar para indústria é a que tem maior expressão.
O ZEE permite determinar quais culturas são sustentáveis em determi-
nados tipos de clima e solo. Com este zoneamento, aliado ao estudo de riscos
climáticos, pode-se definir os melhores locais e quais as culturas mais adaptadas
a essas condições, permitindo o estabelecimento de políticas públicas adequa-
das. Além disso, pode-se orientar adequadamente o seguro agrícola, com aplica-
ção de menores taxas em épocas ou áreas de menores riscos para plantio.
Atualmente o Estado tem experiência no manejo ambiental com o
Programa de Microbacias Hidrográficas, mas a única região com ZEE é o litoral
norte do Estado (Decreto estadual 49.215, de 7 de dezembro de 2004). Os
últimos zoneamentos agrícolas para culturas energéticas no Estado datam
de 1994, com complementação em 1997, numa época em que o número
de estações meteorológicas estava em torno de 20 (hoje são cerca de 450,
de diversas instituições) e em que o sensoriamento remoto por satélites era
praticamente inexistente. Quanto às características de solo, o Estado de São

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Panorama Geral da Bioenergia 49

Paulo tem hoje duas principais fontes de informação: o mapa dos solos, com
baixa intensidade (1:500.000), que cobre toda a superfície do Estado; e o
mapa em escala 1:100.000, que cobre cerca de 15% da área nas regiões cen-
tral, leste e em torno do município de Marília, e que é uma escala compatível
com o zoneamento ecológico-econômico do Estado.
No dia 18 de setembro de 2008 as secretarias de Meio Ambiente e de
Abastecimento e Agricultura do Estado editaram a Resolução conjunta SMA-SAA
N 004 que dispõe sobre o Zoneamento Agroambiental para o setor sucroalcoo-
leiro no Estado, a qual será discutida em maiores detalhes no capítulo III.

II.7  Tributação no uso de biocombustíveis

A competitividade econômica dos biocombustíveis, face aos derivados de


petróleo que pretendem substituir, pode ser significativamente influenciada pelos
tributos incidentes tanto sobre os combustíveis como sobre os veículos que os
utilizam, bem como sobre os equipamentos usados no processo produtivo.
No Brasil, os tributos sobre os combustíveis compreendem o ICMS (Im-
posto sobre Circulação de Mercadoria e Serviço) de competência estadual, a
PIS/Cofins (Contribuição para o Programa de Integração Social/Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social) e a CIDE – Contribuição de Inter-
venção no Domínio Econômico, de competência federal.
O etanol anidro é compulsoriamente misturado à gasolina A (gasolina
pura), para dar origem à gasolina C, que é a única comercializada nos postos
de abastecimento, a qual contém entre 20-25% de etanol anidro em volume,
conforme especificação vigente da ANP. Sobre o etanol anidro incide PIS/Cofins
de 3,65% no produtor, sendo diferidos o ICMS e a PIS/Cofins, no restante da
cadeia, para a gasolina C, sobre a qual incide 9,25% de PIS/Cofins e um ICMS
que varia conforme o Estado, entre 25 e 31%.
Sobre a gasolina A incidia um valor de CIDE de R$ 0,28/litro desde janei-
ro de 2004, e que foi reduzido para R$ 0,18/litro a partir de maio de 2008 para
possibilitar que o acréscimo no preço do petróleo ocorrido no último ano não
fosse repassado aos consumidores.
Já sobre o álcool etílico hidratado carburante (AEHC), até o ano de
2007 incidiam alíquotas cumulativas de PIS/Cofins de 3,65% no produtor e
8,2% no distribuidor. O governo federal, por meio Medida Provisória 413
(janeiro de 2008), alterou esta incidência, de modo que os tributos não mais
atingissem distribuidores e postos, mas ficassem restritos ao produtor (ou
importador), com alíquotas de 3,75% e 17,25%, respectivamente, para a PIS e
para a Cofins. Após extensas discussões entre os produtores, os distribuidores

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50 Bioenergia no Estado de São Paulo

e o poder legislativo, foi aprovada a lei federal no 11.727, de 26 de junho de


2008, a ser aplicada a partir de 1o de outubro de 2008, que estimula os pro-
dutores e distribuidores a adotarem uma alíquota específica por unidade de
volume (ad rem), que incide sobre esses dois elos da cadeia, e que não pode
superar 9,25% do preço médio de venda do AEHC ao consumidor brasileiro
nos últimos 12 meses. Atualmente, tal legislação implica um valor referente a
PIS/Cofins de R$ 120,00/m3 de AEHC, conforme regulamentado pela Receita
Federal em setembro de 2008. O valor da CIDE sobre o AEHC tem sido
mantido nulo desde maio de 2004.
O AEHC compete diretamente com a gasolina C e com o gás natural
como combustível para veículos com motores de ignição por centelha (ciclo
Otto), que são utilizados quase que exclusivamente no país para transporte
individual (automóveis, comerciais leves e motocicletas).
Quanto aos veículos leves, conforme detalhado na tabela 4, há alíquotas
diferenciadas de IPI. Verifica-se, a partir desses dados, que os veículos a álcool
ou flexíveis apresentam menores valores de IPI do que veículos a gasolina para
motores com cilindrada acima de 1000 cc.

Tabela 4.  Alíquotas de IPI

Automóveis Caminhões

Tratores de Rodas
Comerciais Leves

+ de 1000 cc a
Tributos

Ônibus
+ de 2000 cc
Caminhão-

Caminhão-

Ano 1000 cc 2000 cc


Chassi

Trator

Gás/Álc/
Flexfuel Gasolina Álc/ Álc/
Gasolina
Flexfuel Flexfuel

IPI 9,0 15,0 13,0 25,0 20,0 10,0 5,0 5,0 0,0 5,0
2002 ICMS 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 7,0
e
2003 PIS/Cofins16 8,26 8,26 8,26 8,26 8,26 8,26 5,77 4,29 4,29 4,29
% no preço total 27,9 34,2 31,7 26,0 20,4 19,2 15,5 14,3
IPI 7,0 13,0 11,0 25,0 18,0 8,0 5,0 5,0 0,0 0,0*
2004
ICMS 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 7,0
a
2007 PIS/Cofins17 11,60 11,60 11,60 11,60 11,60 11,60 8,10 6,02 6,02 6,02
% no preço total 27,1 30,4 29,2 36,4 33,1 27,3 22,2 20,6 20,6 12,0*
Fonte: Anfavea
Posição em 31 de dezembro de cada ano
(*)Nova posição a partir de 1o/1/2006, em virtude do decreto federal 5.618/2005 (DOU de 13/12/2005},
que reduziu de 5% para 0% a alíquota do IPI. Antes, a participação no preço, com IPI de 5% era de 15,6%.

16 . A partir de 1o/11/2002, recolhimento de PIS e Cofins dos fornecedores e concessionárias pelos fabrican-
tes por substituição tributária - Lei federal no 10.485 de 3/7/2002.
17. A partir de 1o/7/2004, recolhimento de PIS e Cofins pelo sistema não-cumulativo. Lei federal no 10.865
de 30/4/2004.

29170003 miolo.indd 50 10/29/08 6:02:41 PM


Panorama Geral da Bioenergia 51

O gráfico da figura 19 apresenta as diferentes alíquotas de ICMS entre


os combustíveis nos diversos Estados brasileiros. Observa-se que, embora as
alíquotas sobre AEHC sejam menores que as sobre gasolina C em alguns Esta-
dos, as alíquotas sobre GNV (gás natural veicular) são as mínimas em todas as
unidades da federação.

Figura 19.  ICMS sobre combustíveis para veículos leves


0,35
Álcool Hidratado
0,3 Gasolina C
GNV
0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0
MG
GO
AM

MA

MS
AC

RO
RN
MT

TO
SC
BA
CE

PA
AP

DF

RS

SE
ES

RR
AL

PB

SP
PR
PE

RJ
PI

Fonte: Elaboração dos autores a partir de dados do Sindicom

Para o álcool, a menor alíquota é 12% (SP) e a maior 30% (PA), com uma
média de 24%. No caso do Estado de São Paulo, a alíquota de 12% para o álcool
hidratado (contra 25% para gasolina C) faz com que o álcool seja economica-
mente mais competitivo com a gasolina do que em outros Estados. Entretanto,
esse tipo de benefício impõe limitação à expansão do etanol em outros Estados
porque não permite tratar uniformemente o mercado brasileiro.
Para o biodiesel, que é misturado obrigatoriamente ao diesel na pro-
porção de 3% em volume, há incidência monofásica de PIS/Cofins no produ-
tor industrial com desoneração total ou parcial da tributação, em função do
tipo de produtor, região e oleaginosa, com alíquotas menores para Norte e
Nordeste e para os produtos que apresentem o selo social. Este selo é con-
cedido pelo governo federal para produtores que adquirem uma quantidade
de matéria-prima de agricultores familiares (no Nordeste e semi-árido, a
quantidade mínima é de 50%, no Sudeste-Sul é 30% e no Norte e Centro-
Oeste é 10%).
Nesse caso, os incentivos ou reduções variáveis nas alíquotas de PIS/Pa-
sep e Cofins dependem da origem da matéria-prima e da região do país: a taxa
cobrada é de R$ 0,22/l para os produtores que não têm o selo e que compram
todo tipo de matéria-prima em qualquer região do país; de R$ 0,15/l para os

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52 Bioenergia no Estado de São Paulo

que não têm o selo, mas utilizam palma e mamona originárias das Regiões
Norte e Nordeste; de R$ 0,07/l para os que foram certificados com o selo,
mas adquirem matéria-prima de qualquer região; e nula para os que têm o selo
e utilizam palma e mamona vindas do Norte e do Nordeste (Moreira e Vilela,
2007, apud Gorren, 2008).
As alíquotas de ICMS também variam conforme a Unidade da Federação,
para o caso do biodiesel, indo de 12% (RS) até 19% (Rio de Janeiro), sendo a
média igual a 17%.

II.8  Normalização de biocombustíveis

Segundo o TR 11 – “Instrumentos de Normalização e Qualidade dos Bio-


combustíveis” , o arcabouço regulatório existente hoje, apesar das imperfeições,
garante a possibilidade da construção de um marco regulatório e metrológico
que dê sustentação ao papel de destaque que o País assume, no contexto mun-
dial, na área dos biocombustíveis.
Três entidades federais constituem o alicerce deste arcabouço regulató-
rio. São elas:
• ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
– responsável pela definição das especificações dos biocombustíveis e
pelo controle da sua qualidade, em todas as etapas da cadeia de produ-
ção e comercialização;
• INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qua-
lidade Industrial – responsável pelos padrões metrológicos do País e
que, neste momento, é o organismo incumbido pelo Brasil do processo
de levantamento das necessidades metrológicas no âmbito do acordo
Brasil – Estados Unidos em etanol;
• ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – responsável pela
emissão de normas técnicas atualizadas e sintonizadas com a tecnologia
e com as especificações e regulamentos nacionais vigentes.
Cabe ao Estado de São Paulo, líder na área dos biocombustíveis, criar as
condições institucionais necessárias para que as três entidades possam atuar de
forma coordenada e ágil no âmbito do Estado.
Neste contexto, especificação é um conjunto mínimo de regras, diretrizes
ou definição de características e seus respectivos limites, que tem por finalidade
garantir que determinados materiais, processos ou serviços sejam adequados
ao fim a que se destinam.
Atualmente, são importantes as diferenças entre as especificações brasi-
leiras e internacionais para os biocombustíveis. Visando a comercialização (im-

29170003 miolo.indd 52 10/29/08 6:02:41 PM


Panorama Geral da Bioenergia 53

portação e exportação) desses combustíveis, é essencial a harmonização delas.


Esta harmonização encontra dificuldades devido a diferentes realidades tecno-
lógicas de uso dos biocombustíveis como, por exemplo, a proibição de veículos
diesel leves no Brasil e a defasagem do nível de emissões da legislação brasileira
em relação às legislações norte-americana e européia. Por outro lado é funda-
mental o aprimoramento contínuo dessas especificações.
Em 2007, foi criado um Grupo de Trabalho composto por especialistas
da Comunidade Européia, Brasil e Estados Unidos para harmonizar as espe-
cificações de etanol e biodiesel. Pelo lado brasileiro o grupo foi coordenado
pelo Ministério de Relações Exteriores e teve a participação de representan-
tes da ANP, Petrobrás, Inmero, ABNT e UNICA; seus resultados estão discu-
tidos adiante.
Além disso, Brasil e Estados Unidos vêm discutindo a viabilização do au-
mento da utilização do etanol no mundo. A idéia é transformar o etanol em
uma commodity mundial, isto é, um produto padronizado que tem comercializa-
ção internacional regular, como é o caso do petróleo, do milho e do café, entre
outros produtos. Os Estados Unidos planejam aumentar o consumo de etanol
em mais de seis vezes nos próximos anos e, por esse motivo, buscam vias de
cooperação com o Brasil.
Quanto ao biodiesel, a atual especificação brasileira apresenta várias di-
ferenças em relação à especificação européia e à norte-americana no que se
refere às características e aos limites especificados.
Algumas das diferenças estão relacionadas ao tipo de matéria-prima uti-
lizada na produção do biodiesel, que é uma característica de cada país/região
e também ao tipo de processo utilizado. Atualmente, tanto a especificação eu-
ropéia quanto a norte-americana contemplam somente a rota metílica para a
produção do biodiesel, enquanto a rota etílica aparece como a mais desejável
para a futura realidade brasileira, apesar de que no momento a metílica apre-
senta vantagens técnicas e econômicas.
As normas técnicas são documentos emitidos por organismos reco-
nhecidos, nacional e internacionalmente, que estabelecem diretrizes e res-
trições à elaboração de uma atividade, serviço ou produto. No Brasil, o or-
ganismo oficial para emissão de normas técnicas é a ABNT.  Cada país tem
uma ou mais entidades equivalentes à ABNT, e essas entidades dialogam por
intermédio da International Organization for Standardization (ISO). A ABNT foi
escolhida para secretariar o Comitê de Normalização da ISO sobre biocom-
bustíveis.
A normalização nacional para o etanol se resume, no momento, a 14
normas brasileiras sobre as características do produto e de suas misturas com
água e mais duas normas para características do etanol industrial. Sobre o bio-

29170003 miolo.indd 53 10/29/08 6:02:41 PM


54 Bioenergia no Estado de São Paulo

diesel existem cinco normas brasileiras em vigor, uma delas aplicável apenas ao
biodiesel de mamona. Além das normas nacionais, no contexto dos biocombus-
tíveis também são amplamente utilizadas as normas norte-americanas emitidas
pela American Society for Testing Materials (ASTM).
A necessidade de garantia e controle da qualidade das medições quími-
cas, a importância de se diminuir custos e evitar duplicação de análises, conferem
uma importância crescente à utilização de Materiais de Referência Certificados
– MRC’s, que são rastreados a referências nacionais ou internacionais, e que são
utilizados na validação e controle da qualidade de métodos e na calibração de
instrumentos analíticos.
Embora o Brasil seja há muito tempo, um dos maiores produtores mundiais
de álcool etílico e de ter adotado um conjunto extenso de ações por parte do go-
verno federal com o objetivo de pôr em prática um grande programa de produção
de biodiesel, é fato que ainda não está disponível no Brasil qualquer material de
referência certificado específico para esses produtos. Entretanto o Inmetro e o IPT
vem trabalhando nesta área e devem apresentar em breve seus resultados.
Neste contexto, os MRC’s tornam-se estratégicos no sentido de vencer
as barreiras comerciais fortemente regulamentadas no fórum da Organização
Mundial do Comércio OMC e, principalmente, as técnicas interpostas pelos países
desenvolvidos que, geralmente, querem proteger sua própria produção.
Mediante o acordo de cooperação Brasil – Estados Unidos na área de eta-
nol, o Inmetro junto com o NIST (National Institute for Standards and Technology),
sua contraparte norte-americana, ficaram incumbidos de realizar um levantamen-
to das necessidades metrológicas dos dois países no âmbito das suas relações
técnicas e comerciais específicas. Um dos itens de pauta é o de MRC’s de etanol,
que está em discussão entre essas instituições. Além deste item, outros temas
também são abordados, como o das especificações de etanol, compatibilidade
de normalização, entre outros, contando com diferentes parceiros em cada caso
específico, tais como ASTM e ABNT, nas questões de normalização.
Para que seja garantida a qualidade dos combustíveis comercializados no
Estado de São Paulo, atualmente existem programas de monitoramento e fiscali-
zação de amostras, promovidos pela ANP e pela Secretaria de Estado dos Negó-
cios da Fazenda de São Paulo e alguns controles realizados pelo Ministério Público
e Delegacias de Segurança Pública – geralmente baseados em denúncias.
A ANP, desde 1999, por meio de convênios estabelecidos com institu-
tos de pesquisas e universidades, tem avaliado a qualidade dos combustíveis
comercializados no Estado de São Paulo, mapeando as não-conformidades e
direcionando as ações de fiscalização desta agência. A partir de junho de 2006,
a mistura óleo diesel/biodiesel (B2) comercializada nos postos revendedores,
passou, também, a ser avaliada por este monitoramento.

29170003 miolo.indd 54 10/29/08 6:02:41 PM


Panorama Geral da Bioenergia 55

O controle do biodiesel (B100) e do etanol (AEAC e AEHC) pro-


duzidos no país, são atualmente controlados diretamente pela ANP por
Certificados de Qualidade fornecidos pelos produtores. Por meio deste
monitoramento e fiscalização, observou-se um decréscimo no índice de
não-conformidades dos combustíveis comercializados em todo o Brasil,
conforme figura 20.

Figura 20.  Índice de não-conformidade dos combustíveis no Brasil


14
Gasolina  C
12
midades  (%)

Diesel
10
AEHC
8
Não - conform

0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007       jan - jul
2008

Ano
Fonte: ANPc

O documento mencionado anteriormente da Comissão Tripartite, Co-


munidade Européia, Brasil e Estados Unidos para harmonizar as especificações
de etanol e biodiesel, denominado White Paper on Internationally Compatible
Biofuels Standards, foi apresentado pelos governos em 30/1/2008.
O relatório compara e discute as especificações em similares, com di-
ferenças significativas, mas que podem ser alinhadas, e aquelas com diferenças
fundamentais que impossibilitam unificação em futuro próximo. No caso do
etanol, nove das dezesseis especificações já estão praticamente alinhadas e
atualmente, nenhuma das especificações existentes é apresentada como im-
peditiva ao comércio internacional. No caso do biodiesel destinado ao uso
em motores veiculares, a comissão identificou divergências significativas nas
especificações. Seis especificações foram identificadas como compatíveis, oito
com diferenças que podem ser eliminadas e dez na categoria diferenças não
alinháveis atualmente.

29170003 miolo.indd 55 10/29/08 6:02:41 PM


56 Bioenergia no Estado de São Paulo

Este relatório será encaminhado para consideração e decisões do


International Biofuels Forum, que reúne produtores e consumidores de bio-
combustíveis, composto de vários países (Brasil, China, Índia, África do Sul,
EUA e UE).
As perspectivas de homogeneização das especificações demandarão tra-
balhos dedicados aos diversos itens apontados no relatório.

II.9  Logística de transporte de biocombustíveis


O tema da logística foi analisado em detalhes no TR 9 – “Logística e
Transporte Multimodal na Cadeia Produtiva de Biocombustíveis”, de onde fo-
ram extraídas as informações a seguir.
Na cadeia dos biocombustíveis, o suporte logístico estende-se desde a
origem primária dos insumos agrícolas até a entrega do biocombustível no dis-
tribuidor, no ponto de consumo principal ou no porto. Ele abrange as atividades
– devidamente coordenadas no tempo e no espaço – de transporte por dife-
rentes modos, transferência modal, armazenagem e os correspondentes fluxos
de informações e procedimentos administrativos. Neste tópico, por sua rele-
vância, será analisada apenas a logística do etanol de cana-de-açúcar. Admite-se
que os demais bioenergéticos não impactarão significativamente a logística de
transporte do Estado de São Paulo.
Apresenta-se a seguir (figura 21) uma representação esquemática da res-
pectiva cadeia de produção e comercialização do etanol.

Figura 21.  Cadeia de produção e comercialização do etanol

ROTA 1
Serviços
Fluxo
Base de Fluxo de Entrega
Primário
distribuição Revendedores/
e/ou Base no Exterior
Mistura

Fertilizantes e Produção de Produção de Fluxo de Entrega


outros insumos cana-de-açúcar álcool

Central de coleta
Base de distribuição/
B.de Distribuição
Grandes Clientes/
Fluxo ou Mistura
Fluxo de
Porto
Primário
Transferência
Equipamentos
ROTA 2

Fonte: TR 9

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Panorama Geral da Bioenergia 57

Para os segmentos de maior interesse neste projeto, podem ser iden-


tificadas duas rotas típicas, assinaladas no diagrama acima. A rota 1 refere-se
à interligação da usina com mercados próximos a ela, utilizando basicamente
conexões rodoviárias. Na rota 2 os mercados estão mais distantes – no Estado,
em outros Estados e países – e as conexões envolvem vários modos de trans-
porte no fluxo de transferência. Os fluxos de transferência envolvem distâncias
usualmente longas e poderão ser realizados em um único lance, ou em mais de
um, mediante transferências em outras bases de distribuição.
A formação de estoques e a função de armazenagem ocorrem basica-
mente nas usinas, nas centrais de coleta e bases de distribuição ou de mistura
do anidro com gasolina.
A figura 22, a seguir, ilustra a localização das usinas no Estado de São
Paulo e, portanto, as origens do etanol.
Segundo a UNICA e a ANP, o Estado produziu, em 2007, 5,7 bilhões de
litros de etanol hidratado e 5,3 bilhões de litros de etanol anidro, sendo que o
consumo interno foi de 3,7 bilhões de etanol hidratado e 1,8 bilhão de etanol
anidro. O restante, ou seja, 5,5 bilhões, foram exportados para outros Estados
e para o exterior.

Figura 22.  Localização das usinas de etanol no Estado de São Paulo

Fonte: Superintendência de Planejamento de Transportes – ST-SP

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58 Bioenergia no Estado de São Paulo

Em termos gerais, utilizando-se dos dados do consumo estadual de


combustíveis levantados pela ANP e os de produção de etanol fornecidos
pela UNICA, observa-se que 11 Estados foram exportadores em 2006
(para outros países ou Estados), com grande destaque para São Paulo. As
outras 16 unidades da federação foram importadoras, como ilustrado na
figura 23, apresentada a seguir.

Figura 23.  Distribuição de etanol no Brasil


6
Milhões

5
Superávit anual de  e tanol (m³)

-1

Fonte: Dados da ANP e UNICA trabalhados pelos autores

A partir de tabulação de dados da Fundação Seade, a tabela 5 a seguir


ilustra a grande concentração de veículos (quase 82%) na macrometrópole
paulista, a região que tem a RMSP ao centro e as cidades de Sorocaba, Campi-
nas, São José dos Campos e Santos nos vértices.
O consumo de etanol no Estado de São Paulo, portanto, está concentra-
do principalmente nessas regiões, nas mesmas proporções.
No seu componente de montante, o fluxo primário (ver figura 21,
anterior), é essencialmente rodoviário e o arcabouço físico é composto ba-
sicamente pelo sistema rodoviário do Estado, com destaque para o comple-
xo de rodovias vicinais e estaduais. Já os fluxos de transferência fazem uso,
principalmente, da infra-estrutura rodoviária e subsidiariamente das linhas
ferroviárias, aquaviárias e dutoviárias. As bases de distribuição e/ou mistura
e centrais coletoras conectam esses elementos entre si e com os seus des-
tinos a jusante, sejam eles a rede de revendas no mercado nacional ou os
portos exportadores.
Conforme sintetiza a tabela 6, o Estado de São Paulo tem uma malha
rodoviária pavimentada da ordem de 33.000 km, dos quais 20.500 km sob ju-

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Panorama Geral da Bioenergia 59

risdição estadual, vindo a seguir a malha de vicinais pavimentadas com cerca de


11.700 km e, finalmente, menos expressiva em termos de extensão, a malha de
rodovias federais com cerca de 1.000 km. Como se observa na figura 24, esta
malha está distribuída por todo o território paulista. Os principais eixos de pista
dupla irradiam-se da RMSP para o interior, tanto na direção norte quanto na
direção oeste, atendendo adequadamente os fluxos inter-regionais do Estado,
especialmente aqueles usados nas transferências das usinas para as bases de
distribuição.

Tabela 5.  Porte e localização da frota de automóveis do Estado de São Paulo

Localidade Frota de Automóveis (2006) %


Região Metropolitana de São Paulo 5.491.331 53,11
Região Administrativa de Santos 252.237 2,44
Região Administrativa de São José dos Campos 473.540 4,58
Região Administrativa de Sorocaba 562.255 5,44
Região Administrativa de Campinas 1.666.924 16,12
Subtotal 8.446.287 81,69
Estado de São Paulo 10.340.007 100,00
Fonte: Seade

Tabela 6.  Extensão da malha rodoviária do Estado de São Paulo, 2006

Total
Tipo DER Concessões DERSA Estadual Federal Municipal Total

Terra 948 948 164.121 165.068


Pista 10.965 1.111 42 12.118 424 11.687 24.230
Eixo simples
Pista 1.115 2.440 317 3.871 631 4.502
dupla
Subtotal 13.028 3.551 359 16.937 1.055 175.808 193.800
Terra 271 271 271
Pista 2.327 2.327 2.327
Acessos simples
Pista 120 120 120
dupla
Subtotal 2.719 2.719 2.719
Dispositivos 1.157 714 125 1.996 1.996
Total 16.903 4.265 484 21.652 1.055 175.808 198.515
Fonte: DER

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60 Bioenergia no Estado de São Paulo

A malha de vias estaduais apresenta boas condições de conservação.


Cerca de 3.500 km de rodovias estaduais são mantidos e conservados por
empresas privadas sob o regime de concessão, o que garante qualidade e segu-
rança nos deslocamentos.
No que tange ao atendimento dos fluxos de suprimento às usinas, as es-
tradas vicinais desempenham um papel essencial. Esta malha de cerca de 11.700
km tem como função permitir a veiculação de fluxos locais de curta distância e
de natureza capilar. A malha de vicinais existente, embora de jurisdição municipal,
foi construída pelo Estado, em razão da baixa capacidade dos orçamentos das
municipalidades de investir na infra-estrutura rodoviária. Em termos de extensão,
embora represente cerca de 1/3 da malha rodoviária estadual pavimentada (figu-
ra 24), ela está aquém da necessidade de demanda de transporte do Estado.
Quanto aos fluxos de transferência, além dos 11 bilhões de litros produzi-
dos no Estado, soma-se 1,1 bilhão de litros de outros Estados, que transitam por
São Paulo ao demandar portos exportadores. A maior parte dessa movimenta-
ção atualmente é realizada por via rodoviária. Excetua-se uma porção minoritária,
que é movimentada por ferrovia entre centrais coletoras e bases, pela hidrovia
Tietê-Paraná e pela dutovia que interliga Paulínia à Refinaria Duque de Caxias
– Reduc, no Rio de Janeiro, e daí para o Terminal Marítimo da Ilha D’Água (RJ).

Figura 24.  Infra-estrutura rodoviária do Estado de São Paulo

Fonte: Superintendência de Planejamento de Transportes – ST-SP

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Panorama Geral da Bioenergia 61

A capacidade total dos terminais em operação no país em 2006 era de 3,6


bilhões de litros/ano, sendo 2 bilhões/ano a capacidade total instalada da Transpe-
tro e 1,6 bilhão/ano a dos grupos privados Crystalsev, Cosan, Nova América, Car-
gill e Plínio Nastari (TEAS) e Decal (Suape)18. Essa capacidade estava virtualmente
esgotada, pois a exportação brasileira em 2006 atingiu 3,4 bilhões de litros. Inves-
timentos públicos e privados, em Paranaguá e Santos, aumentaram a capacidade
de exportação do Centro-Sul em pelo menos 1,5 bilhão de litros para 2008, mas
a capacidade continua muito próxima de seu limite.
No conjunto, o arcabouço físico da malha de etanol deve incluir as conexões
com as bases intermediárias e o sistema de distribuição operados pelas distribuido-
ras, Petrobrás BR,Texaco, Shell, Esso. O mercado onde estas últimas se situam opera
numa atmosfera competitiva com prevalência da Petrobras BR que combina sua
poderosa rede logística com a da Transpetro, esquematizada na figura 25 a seguir.
Na Região Centro-Sul, mostrada na figura 25, a rede é polarizada por
oito centros coletores relativamente próximos às destilarias, que recebem o
combustível pelo modal rodoviário e, para efeito de exportação, transferem-no
pelo modal ferroviário aos Terminais Marítimos de Paranaguá (PR) para navios
de até 40.000 tpb (tonelada de porte bruto) e TEAS (Terminal Exportador de
Álcool de Santos) para navios de até 40.000 tpb. O Terminal de Paulínia (Re-
plan) recebe o combustível diretamente das destilarias pelo modal rodoviário
ou dos centros coletores pelo modal ferroviário e escoa o etanol pela malha
dutoviária da Transpetro de 520 km de extensão, para a Reduc e o Terminal
Marítimo da Ilha D’Água (RJ), para navios de até 130.000 tpb19.

Figura 25.  Rede estrutural Petrobras de distribuição de combustíveis

Fonte: Transpetro

18. Plano Decenal de Expansão de Energia 2007/2016 – MME- Capítulo VII, pág. 770
19. Plano Decenal de Expansão de Energia 2007/2016 – MME - Capítulo VII, pág. 769 e 770.

29170003 miolo.indd 61 10/29/08 6:02:45 PM


62 Bioenergia no Estado de São Paulo

II.10  Pesquisa e desenvolvimento


Tendo em vista sua grande importância e maturação, bem como os di-
ferentes estágios de evolução e as perspectivas imediatas de expansão da pro-
dução bioenergética em São Paulo, a cadeia do etanol da cana-de-açúcar foi
tratada separadamente das demais cadeias associadas aos outros vetores bioe-
nergéticos (madeira, resíduos e produtos oleaginosos). Assim sendo, esta seção,
em grande parte extraída do TR 5 – “Tecnologia e Ciência para o Desenvol-
vimento Sustentável da Bioenergia em São Paulo”, contempla separadamente
diferentes políticas para promover a evolução tecnológica da cana-de-açúcar e
dos outros vetores bioenergéticos.
A produção de álcool combustível em larga escala no Brasil trouxe a
oportunidade (e a necessidade) de um grande desenvolvimento tecnológico
para o setor de agroindústria da cana. De modo simplificado, é possível identifi-
car três fases no desenvolvimento e implantação de tecnologia nesse período.
Inicialmente, ocorre uma ênfase na produtividade, entre 1975 e 1985,
para atender aos aumentos de demanda (aumentos de capacidade nos sistemas
de moagem e destilação; grandes ganhos na produtividade das fermentações;
crescimento constante da produtividade agrícola).
A partir de 1980, os programas foram dirigidos para a obtenção de maior
eficiência de conversão, tendência reforçada com a estabilização da produção,
desde 1985 (os melhores exemplos são os ganhos em rendimento da fermen-
tação e extração).
Por volta de 1985, a implementação de ferramentas tecnológicas para o
gerenciamento da produção agroindustrial passou a ter importância crescente.
Exemplos são os programas para aprimorar a reforma de canaviais; para o
acompanhamento da safra; para o controle operacional de processos e os con-
troles mútuos agrícolas e industriais, entre muitos outros.
Essas três fases ainda coexistem, em parte, em muitas unidades produ-
toras. Indicadores medidos em expressiva amostra de usinas, compreendendo
cerca de 700 mil hectares (Copersucar, 2000), mostram que na área industrial
havia uma diferença constante de quase dez pontos porcentuais entre os valo-
res máximos praticados para a eficiência total de conversão e os valores médios,
ambos crescentes no tempo, indicando a grande margem para a transferência
interna de tecnologia. Diferenças da mesma ordem podem ser observadas na
produção agrícola.
O aperfeiçoamento dos processos de fabricação de etanol exigiu extenso
desenvolvimento tecnológico (geração, importação, adaptação e transferência de
tecnologias) na produção agrícola e industrial, na logística e nos usos finais, nos
últimos 30 anos (Macedo, 2007). Além disso, ele impôs legislação específica, subsí-

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Panorama Geral da Bioenergia 63

dios iniciais e permanente negociação entre os setores envolvidos: os produtores


de etanol, os fabricantes de veículos, os setores reguladores governamentais e a
indústria do petróleo, em um importante processo de aprendizagem.
Dentre os principais avanços tecnológicos neste período devem ser
citados os seguintes.
• Período 1980–1990: Introdução em larga escala de variedades de cana
desenvolvidas no Brasil (principalmente pelos programas do CTC-
Copersucar e do Planalsucar); o desenvolvimento do uso integral da
vinhaça na fertirrigação; controles biológicos na produção da cana; de-
senvolvimento do sistema de moagem com quatro rolos; tecnologia
para operação de fermentações abertas de grande porte; aumento na
produção de energia elétrica na industria (auto-suficiência); uso final:
especificações do etanol; motores a álcool; transporte, mistura e arma-
zenamento do álcool.
• Período 1990–2000: Otimização do corte, carregamento e transporte
da cana; mapeamento do genoma da cana; transformações genéticas;
mecanização da colheita, obtenção de excedentes de energia elétrica e
venda para a concessionária; avanços em automação industrial; avanços
no gerenciamento técnico (agrícola e industrial); introdução dos moto-
res flexíveis.
Os agentes do desenvolvimento tecnológico foram tanto do setor priva-
do (grupos como a Copersucar, com o CTC20, a Cooperativa de Alagoas, com
o NATT, e grande número de empresas fornecedoras de equipamentos, como
a Dedini, Zanini, Smar, etc., em São Paulo), quanto de áreas do setor público (ins-
titutos governamentais e universidades: o Planalsucar/Ridesa, o Instituto Agro-
nômico de Campinas-IAC, a Esalq, o IPT, Unicamp e muitos outros) (FAPESP,
2007). No setor público, destacou-se a atuação do Planalsucar (variedades de
cana) que após seu fechamento em 1990, foi continuada pela Ridesa (rede de
oito universidades federais, e parceiros privados). Em São Paulo, o IAC mantém
um programa na área agronômica; aliás, a pesquisa agronômica também foi
constante em diversas unidades das universidades no Estado.
O setor privado também investiu muito, principalmente em desenvol-
vimentos para médio prazo (melhorias contínuas nos processos industriais e
agrícolas), mas também em projetos de maior alcance (plásticos biodegradáveis,
o projeto de mapeamento do genoma, em conjunto com o setor público, gasei-
ficação da biomassa, hidrólise da biomassa). O CTC chegou a ter orçamentos

20. Hoje, Centro de Tecnologia Canavieira

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64 Bioenergia no Estado de São Paulo

anuais de US$ 30 milhões; após um período de redução, volta hoje para cerca
de US$ 20 milhões. Em média, cerca de 60% desse orçamento foi dedicado ao
desenvolvimento de variedades de cana. O CTC teve uma característica impor-
tante, a de ter trabalhado muitos anos nas áreas agrícola e industrial. Atualmente
existem investimentos privados adicionais importantes em transformação gené-
tica da cana e bioinformática.
Ainda em São Paulo, a FAPESP investiu cerca de US$ 6 milhões em
programas relacionados ao etanol de 1992 a 2005 (FAPESP, 2007). Deste total,
26% foi usado em bolsas de estudo (formação de pessoal), 11% em programas
regulares (pequenos projetos de pesquisa) e 63% em projetos especiais (entre
os quais o mapeamento genético da cana, com o CTC e o processo de hidrólise
rápida, com a Dedini).
Conforme o CNPq, em 2004 havia no Brasil pelo menos 42 grupos de
pesquisa trabalhando na agricultura da cana-de-açúcar (com cerca de 255 douto-
res) (FAPESP 2007), sendo os principais no IAC e na ESALQ. Também o nível da
tecnologia brasileira para produção de etanol combustível é considerado o melhor
do mundo (como atestam os custos de produção e as eficiências de conversão).
Por tudo isso, na área de pesquisa em cana-de-açúcar, o Brasil mostra o maior
número de publicações técnicas no mundo entre 2001 e 2005 e, em pesquisa de
etanol combustível, aparece em terceiro lugar (etanol de milho incluído).
Observe-se que a atuação cientifica é reduzida (assim como nossos re-
sultados publicados) quando se trata de tecnologias radicais, que serão as cha-
ves para o sucesso de nossa produção/uso de etanol no futuro: hidrólise de
celulose, células de combustível a etanol e gaseificação de biomassa.
Esses dados, juntamente com a quase nula participação do Brasil em
patentes relativas à cana-de-açúcar, etanol combustível ou hidrólise (como
exemplo de tecnologia disruptiva) (FAPESP, 2007), mostram que nossa posição
competitiva pode ser abalada no futuro se não houver muito mais pesquisa e
desenvolvimento na área de transformação industrial da cana.
O estágio de evolução tecnológica da produção e uso do etanol em São
Paulo tem sido extensamente discutido e é bem conhecido. A evolução entre
1975 e 2000 pode ser indicada por:
• acréscimo de 33% na produtividade agrícola (t cana / ha);
• acréscimo de 8% no teor de sacarose na cana;
• acréscimo de 14% no rendimento de conversão industrial para etanol;
• acréscimo de 130% na produtividade da fermentação.
Isto levou a produção no Centro-Sul do Brasil a apresentar parâmetros
como abaixo (Seabra, 2006):
• produtividade: 82,4 toneladas de cana por hectare (tc/ha), sem irrigação;
• teor de sacarose (pol) na cana de 14,5%;

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Panorama Geral da Bioenergia 65

• teor de fibra na cana de 13,5%;


• porcentagem de cana colhida sem queimar: 35%;
• produtividade industrial (conversão de cana-de-açúcar em etanol): 85
litros de etanol por tonelada de cana, levando a uma produtividade
total de 7.000 litros de etanol por hectare de cana;
• energia elétrica excedente: em média 2,1 kWh de energia elétrica por
tonelada de cana moída (kWh/tc), atingindo valores de até 60 kWh/tc;
• mix de produção: 49,4% etanol;
• emissões de gases de efeito estufa (GEE) na produção de etanol, 2005:
0,38 toneladas de CO2 equivalente por metro cúbico de etanol anidro;
• relação entre energia renovável e energia fóssil usada igual a 8,9:1.
É muito importante notar que esses valores são médios (para amostras
muito significativas, e realizadas principalmente com dados de controles mútuos
do CTC, considerados confiáveis). No entanto, as variações de usina para usina
são grandes; os dados envolvem usinas onde a escala de produção varia por um
fator de dez, por exemplo; distâncias médias de transporte estão entre 10 e 36
km, afetando o uso de energia fóssil; produtividades agrícolas podem variar de
65 a 110 tc/ha e assim por diante.
Os Estados Unidos correspondem ao único país com produção de
etanol na escala do Brasil; para comparar parâmetros importantes de uso do
solo, substituição de combustíveis fósseis e emissões de gases de efeito estufa
foram usados os valores médios da produção norte-americana (etanol de
milho) em 2005:
• produção por área: 4.700 litros por hectare;
• relação entre energia renovável e energia fóssil usada igual a 1,3 a 1,6;
• emissões de GEE na produção de etanol, 2005: 1,9 toneladas de CO2
equivalente por metro cúbico de etanol anidro.
Comparando esses dados com o etanol da cana-de-açúcar observa-se as
significativas vantagens deste último.
É bastante diversificada a gama dos outros vetores bioenergéticos. Esta
inclui os biocombustíveis sólidos (lenha, briquetes, carvão vegetal, etc.) asso-
ciados à madeira de reflorestamento, os subprodutos do processamento de
produtos agrícolas (como arroz e café) e do seu processamento agroindustrial
(como efluentes líquidos da indústria de alimentos e bebidas), resíduos urbanos
sólidos (lixo) e líquidos (esgoto), que podem ser valorizados para fins energé-
ticos mediante o processo de biodigestão anaeróbia. Além disso, há o biodiesel
em suas diversas vertentes, com destaque no contexto paulista para o uso do
sebo bovino e das sementes oleaginosas como soja e girassol. Nos parágrafos
seguintes serão comentados a evolução tecnológica e seus agentes no contexto

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66 Bioenergia no Estado de São Paulo

paulista, abordando sucessivamente os biocombustíveis associados à silvicultura,


ao processamento de resíduos por biodigestão e ao biodiesel.
Os biocombustíveis sólidos, especialmente a lenha, são empregados numa
ampla gama de setores, conforme mencionado no capítulo II.3.
É preciso deixar claro que, de uma forma quase absoluta, em São Paulo
se consome lenha oriunda de silvicultura, geralmente de eucalipto, sem compro-
meter as formações florestais naturais, que inclusive se expandiram nos últimos
anos. Apesar do importante uso da madeira como fonte de energia em São
Paulo, um levantamento do Instituto Florestal indicou uma cobertura remanes-
cente total de 3.457 mil hectares, superior em 3,8% ao valor constatado em
1990 – 1991 (Instituto Florestal, 2004). Desse modo, desde uma perspectiva de
fomento ao desenvolvimento do uso da bioenergia sustentável em São Paulo,
faz sentido considerar a lenha plantada e os resíduos sólidos agroindustriais, por
sua efetiva importância e possibilidade em expandir sua contribuição com o
adequado suporte da pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Como instituições de pesquisa, no âmbito dos produtos florestais desta-
cam-se o Instituto Florestal, órgão vinculado à Secretaria do Meio Ambiente e
o IPEF, Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais, localizado no Departamento
de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da
Universidade de São Paulo, Esalq, que desenvolve diversos estudos e pesquisas
aplicadas, incluindo oito programas cooperativos com empresas no âmbito da
silvicultura (IPEF, 2007). Entre as pesquisas neste campo podem ser mencio-
nados os trabalhos com genética de melhoramento, hibridação e genômica,
nutrição e manejo florestal, ecofisiologia florestal, proteção florestal e seqüestro
de carbono (Stape, 2007).
No campo da dendroenergia, envolvendo as tecnologias de uso direto
da madeira ou mediante processos de conversão para fins energéticos, deve
ser mencionado o IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, instituição vinculada
à Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo que, por meio dos
Centros de Tecnologia para Produtos Florestais e de Tecnologias Ambientais e
Energéticas, desenvolve estudos e pesquisas aplicadas em temas como queima
direta e gaseificação de resíduos lignocelulósicos.
Também devem ser mencionadas as empresas atuantes na produção de
painéis de madeira e papel e celulose, que promovem o fomento florestal e
desenvolvem estudos aplicados, difundindo novas tecnologias para silvicultura,
sendo notável a expansão das formações de eucalipto empregando clones de
alta produtividade. O estudo Ciência e Tecnologia no Setor Florestal Brasileiro: Diag-
nóstico, Prioridades e Modelo de Financiamento informa que, em 2002, existiam
em São Paulo 21 instituições envolvidas de alguma forma com pesquisa florestal,

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Panorama Geral da Bioenergia 67

dentre as quais cinco eram empresas privadas: Duratex, Eucatex, Ripasa, Suzano
e VCP (IPEF, 2002). De todo modo, convém ressaltar que apenas parte dessas
atividades apresentava alguma relação direta com temas energéticos.
Por conta da adoção de novas tecnologias, a silvicultura de interesse para
as aplicações energéticas evoluiu de forma expressiva nas duas últimas décadas,
levando o incremento médio anual (IMA) das formações de eucalipto a se
elevar de 25 para 50 m3st/ha.ano21 nas florestas comerciais bem administradas
(Bacha, 2006).
Esse valor é bastante superior ao alcançado nos países de clima tempera-
do, cujas condições climáticas têm limitado tal incremento em níveis inferiores a
10 m3st/ha.ano. Esses números são suficientes para indicar o potencial brasileiro
e os avanços já conseguidos. Do ponto de vista da utilização da biomassa lenho-
sa, especialmente para geração de calor em fornos e caldeiras, equipamentos
em geral produzidos pelos mesmos fabricantes que atendem o setor canavieiro,
as tecnologias convencionais estão disponíveis no Brasil e apresentam boa efi-
ciência, podendo incorporar sistemas de limpeza de gases e controle automa-
tizados. Processos inovadores para essas aplicações, como combustão em leito
fluidizado, já estão em fase de comercialização.
As tecnologias com gaseificação de biomassa têm sido pouco utilizadas;
entretanto é importante mencionar a empresa localizada em Campinas, Termo-
quip, fundada em 1981 e detentora de tecnologia própria, que oferece gasei-
ficadores de diversas concepções (co-corrente, co-corrente de duplo estágio,
com fluxo cruzado e com leito fluidizado) com bom desempenho e capacidade
entre 0,5 a 5 Gcal/h (Termoquip, 2007).
O quadro tecnológico no exterior é similar: os sistemas de combustão
direta de biomassa para aplicações industriais mostram uma tecnologia madu-
ra, enquanto os sistemas com gaseificação ainda estão em desenvolvimento,
visando ampliar o campo de combustíveis utilizados e aperfeiçoar os projetos
térmicos, especialmente nos procedimentos de alimentação de combustível e
controle operacional, buscando uma operação estável, com baixas emissões e
boa conversão energética.
Com relação aos processos de biodigestão anaeróbia que permitem re-
duzir o potencial poluidor e valorizar energeticamente, pela produção de biogás,
o material orgânico contido em efluentes líquidos e resíduos urbanos, três ver-
tentes principais devem ser consideradas: os biodigestores rurais, os biodigesto-
res de fluxo ascendente com manto de lodo (Upflow Anaerobic Sludge Blanket
- UASB) e os sistemas de coleta e tratamento de biogás em aterros sanitários.

21. Metro cúbico stereo por hectare por ano.

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68 Bioenergia no Estado de São Paulo

Os biodigestores rurais, cujo maior requisito é a simplicidade e a segurança na


operação, têm progressivamente se consolidado como uma alternativa viável,
em particular utilizando os chamados biodigestores de bolsa plástica em PVC,
processando esterco oriundo de suinoculturas de médio e grande porte. Em
São Paulo, o principal centro de estudos nesse campo é o Departamento de
Engenharia Rural da Unesp em Jaboticabal, com um bom histórico de atividades
no tema.
Os biodigestores de fluxo ascendente permitem processar altas car-
gas orgânicas, com tempos reduzidos de retenção e elevado desempenho;
entretanto são mais exigentes quanto ao controle operacional, impondo per-
manente recirculação do efluente e eventualmente operando acima da tem-
peratura ambiente. Por esses motivos, essa tecnologia tem sido recomendada
para unidades de maior porte, por exemplo para o tratamento de lodos de
plantas de tratamento de esgoto e efluentes industriais com elevada DBO
(demanda bioquímica de oxigênio), como vinhaça e manipueira (efluente
líquido da industrialização da mandioca) ou mesmo efluentes de atividades
pecuárias em grande escala. Ainda nos anos oitenta, o IPT e a CETESB acu-
mularam significativa experiência com essa tecnologia, que atualmente é ofe-
recida por algumas empresas de engenharia e consultoria direcionadas para
o tratamento de efluentes.
As três tecnologias associadas à biodigestão anaeróbia podem ser con-
sideradas disponíveis para implementação, com boas perspectivas de serem
adotadas de forma mais ampla; entretanto, têm um forte nexo com as questões
ambientais e dependem diretamente da forma como a legislação nessa área e
os sistemas de saneamento se desenvolvam. Nesse sentido, visando a orientar
as políticas públicas, além das pesquisas e atividades de desenvolvimento tecno-
lógico, são oportunos os estudos de potencial e de monitoramento das instala-
ções existentes, onde a produção de energia será um dos benefícios, junto com
a melhoria ambiental.
Além dos modelos para uso rural que têm sido crescentemente utiliza-
dos nas granjas de suínos, as demais tecnologias comentadas no tópico anterior
têm sido utilizadas no Brasil e particularmente em São Paulo de forma ainda
limitada frente às possibilidades. Por exemplo, nos países europeus a tecnologia
dos biodigestores de fluxo ascendente (UASB) tem se difundido bastante nas
últimas décadas, apresentando boas possibilidades de uso nas condições brasi-
leiras, em especial para as aplicações convencionais como o processamento do
lodo de estações de tratamento de esgoto urbano. Nesse contexto, a tecnolo-
gia básica está disponível, com perspectivas de melhorias associadas à adoção
de sistemas eletrônicos para instrumentação e controle, permitindo processar
cargas orgânicas diárias superiores a 10 kg de DQO (demanda química de oxi-

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Panorama Geral da Bioenergia 69

gênio) por m3 de digestor, com uma redução de 70% a 80% do DQO (Prosab,
2003). Para os aterros sanitários, o reduzido número de sistemas demonstra
que cabe ainda fomentar seu estudo e efetiva difusão. Reitere-se que apesar da
possibilidade de produzirem energia, tais unidades vêm se justificando principal-
mente por motivos ambientais e, em muitos casos, o biogás gerado é queimado
em flares sem qualquer uso.
Para todas as tecnologias de biodigestão comentadas, a utilização do bio-
gás produzido é de grande interesse mas relativamente incipiente, sobretudo
considerando as possibilidades de uso em motores e turbinas de combustão
interna e eventual geração de energia elétrica. Excetuando-se os estudos ex-
perimentais realizados pelo CENBIO nesse sentido (CENBIO, 2005a e 2005b ),
praticamente não se dispõem de trabalhos dirigidos para implementar o uso do
biogás, inclusive considerando as condições e implicações para seu emprego em
mistura com outros gases combustíveis, como o gás natural.
São Paulo tem uma boa base de recursos nesse sentido, com diversas
instituições atuantes em bioenergia, em suas múltiplas acepções, podendo se
destacar entre elas duas unidades no âmbito da Universidade de São Paulo: o
CENBIO, já mencionado acima, e o Pólo Nacional de Biocombustíveis, localiza-
do na Esalq em Piracicaba. Na Unicamp deve ser mencionado o Nipe – Núcleo
Interdisciplinar de Planejamento Energético, que tem realizado diversos estudos
para os biocombustíveis. Essas unidades têm se aplicado no estudo dos biocom-
bustíveis, com ênfase no etanol de cana-de-açúcar, mas também têm efetuado
estudos sobre biodiesel e outras formas de bioenergia.
O mais consolidado e abrangente desses centros é o CENBIO, que reali-
za principalmente estudos técnico-econômicos e desenvolve diversos projetos-
piloto de sistemas bioenergéticos, utilizando biogás de plantas de tratamento de
esgotos, óleos vegetais no contexto amazônico, sistemas de gasificação de resí-
duos agroindustriais, entre outros22. O Pólo Nacional de Biocombustíveis foi ins-
talado recentemente e tem se dedicado aos estudos de viabilidade e potencial
de biocombustíveis líquidos. Especificamente direcionado ao biodiesel e com
menor número de pesquisadores, o Ladetel, Laboratório de Desenvolvimento
de Tecnologias Limpas, situado no Departamento de Química da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP informa ter desenvolvido
tecnologia própria para plantas de transesterificação, que foi exportada para
duas unidades construídas nos Estados Unidos (FAPESP, 2007).
Finalmente, quanto ao biodiesel e como observado anteriormente, trata-
se de um programa bioenergético em seus primeiros estágios e seria equivoca-

22. http://cenbio.iee.usp.br

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70 Bioenergia no Estado de São Paulo

do afirmar que já existe uma tecnologia estabelecida que forneça sustentabilida-


de econômica. De todo modo, o grande empenho com que diversos grupos de
pesquisa e algumas empresas se dedicam a esse biocombustível deverá condu-
zir a cultivos mais adequados, processos com melhor recuperação de produtos
e qualidade final, com custos mais reduzidos. No campo agronômico há todo
um universo de questões por enfrentar, centradas em alcançar maiores produti-
vidades e menor demanda de insumos e energia, bem como incorporando téc-
nicas de gestão e práticas conservacionistas. Além das espécies tradicionalmente
empregadas para a produção de óleos e gorduras, podem apresentar potencial
para produção de biodiesel diversas plantas exóticas e nativas ainda pouco
conhecidas, como é caso do pinhão manso, que a própria Embrapa expressa-
mente não recomenda que seja adotado comercialmente antes que pesquisas
mais detalhadas mostrem sua adequação como matéria prima para produção
de biocombustível (Embrapa, 2007). Quanto às atuais tecnologias agronômicas,
os indicadores de produtividade de biodiesel variam cerca de 10 vezes entre as
diferentes alternativas de matérias-primas disponíveis.
Com relação ao processo de produção do biodiesel, apesar de existirem
fornecedores brasileiros de usinas de transesterificação com tecnologia própria,
as unidades de maior porte têm empregado engenharia de processo importada.
Para as fábricas com capacidade para 50, 100 ou 200 mil toneladas de biodiesel
por ano, a Dedini contratou a tecnologia básica com a empresa italiana Desmet
Ballestra S.P.A, utilizada nas cinco unidades fornecidas, como para a Agropalma
(10 mil t/ano de biodiesel de óleo de palma) e Frigorífico Bertin (100 mil t/ano
de biodiesel de gordura animal) (Dedini, 2007). Além do aporte da empresa
italiana e da experiência própria em unidades agroindustriais, a Dedini contou
com a colaboração da UFRJ, que ajudou no desenvolvimento do conceito da
hidroesterificação, processo que emprega a hidrólise na separação dos ácidos
graxos previamente ao processo de esterificação, ampliando o rendimento e
melhorando os custos (Aranda, 2007).

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III Cenários e Perspectivas DA
EVOLUÇÃO DA BIOENERGIA

Este capítulo aborda os cenários e perspectivas da bioenergia para


o Estado de São Paulo, sendo que, para o etanol de cana-de-açúcar, são
apresentados os resultados de um modelo simulador de demanda interna
desenvolvido pelos autores deste documento, o qual se baseia em cenários
de crescimento do PIB do país (e de produção de veículos) e de preços do
barril de petróleo.
Períodos de forte prosperidade não são novidade na indústria sucroal-
cooleira, mesmo se considerarmos o seu período recente, desde a adoção do
programa de incentivo à produção do álcool carburante iniciado nos anos 1970.
A principal novidade parece ser uma percepção muito mais forte da susten-
tabilidade da trajetória da demanda – local e internacional – e dos preços do
petróleo (em alta prolongada).
É possível argumentar que o petróleo já apresentou preços elevados –
em termos reais até mais elevados – em outros períodos, e esse movimento de
alta foi interrompido de forma repentina e brutal, com efeitos negativos sobre a
economia do setor. Mas é preciso levar em conta, no quadro atual, a existência
de pelo menos três fatores novos, de importância destacada, que estabelecem
uma diferenciação importante com relação a períodos anteriores.
O primeiro desses fatores é a percepção de que a expansão chinesa colo-
ca sobre todos os mercados de matérias-primas uma fonte de demanda adicional
de grandes proporções. Essa procura é muito mais importante no mercado de
energia e de matérias-primas ligadas ao petróleo do que em outras indústrias e
mercados. Enquanto as economias desenvolvidas já montaram as suas infra-estru-
turas intensivas em recursos naturais e os seus padrões de consumo apresentam
índices progressivamente maiores de serviços e de produtos com reduzido con-
teúdo material, elas ainda dependem fortemente de energia, para a vida familiar,
o transporte e a produção. Por isso, em vários mercados de matérias-primas a
demanda chinesa concorre menos com os usos anteriores. Isso se passa diferen-
temente no mercado de energia e, sobretudo, no de petróleo, onde a demanda
chinesa passa a rivalizar diretamente com o aprovisionamento dos países que o
consomem mais vorazmente (simplificadamente, a OCDE).
Este fator repercute sobre um segundo, que vai adquirindo autonomia, na
forma de uma preocupação crescente dos Estados Unidos e dos países desenvolvi-
dos em geral com a sua segurança energética. Esta preocupação, fundada também
em motivações ambientais, vai criando espaço para uma série de iniciativas de apoio
ao consumo e à produção de energias renováveis, principalmente combustíveis.

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72 Bioenergia no Estado de São Paulo

Apesar de todas as dúvidas existentes quanto à eficiência da substituição


da gasolina pelo etanol de milho produzido nos Estados Unidos (em particular
a questão do reduzido balanço energético do etanol de milho), é inegável que o
estímulo ao seu consumo e à sua produção deverão produzir aperfeiçoamentos
que, em prazo maior ou menor, colocarão a eficiência da solução num outro
patamar. Dito de outra forma, a sustentação do apoio à substituição de gasolina
por etanol nos Estados Unidos deverá elevar o quociente produção de energia
renovável/consumo de energia não renovável. Isso será feito pela via incremen-
tal, como ocorreu no Brasil, ao longo dos 30 anos de trajetória de aprendizado,
mas também pela via das mudanças de ruptura. Basta atentar para as dimensões
ousadas e ambiciosas do programa de energia renovável dos Estados Unidos.
O terceiro fator relevante diz respeito aos padrões urbanos e ao avanço
das preocupações ambientais, traduzidas – simbolicamente – na cruzada mun-
dial do ex-vice presidente dos EUA, Al Gore, contra as teses do aquecimento
global e pelo convencimento de que algo de significativo precisa ser feito sem
demora para evitar um desastre planetário de grandes dimensões.
Esses três fatores concorrem para tornar a trajetória (tanto a presen-
te como a de um futuro próximo) da economia do etanol no Brasil muito
promissora – muito mais do que em outras épocas. Entretanto, mesmo se as
perspectivas de médio e de longo prazo são promissoras, o ciclo de curto pra-
zo reveste-se sempre das mesmas habituais incertezas. Enquanto os mercados
para o etanol não se abrirem e o mercado brasileiro não crescer mais significa-
tivamente, sob o impulso da demanda de carros flexíveis, mas sem mecanismos
de regularização dos preços entre os períodos de safra e de entressafra, a va-
riação cíclica de preços deverá persistir, lembrando aos produtores que existem
bonança e crise, margens elevadas e preços gravosos (TR 3).
O mercado dos Estados Unidos é, por enquanto, uma oportunidade para
poucos e uma miragem para quase todos. A Europa (excetuada a Suécia) per-
manece fechada, taxando o etanol e subsidiando implicitamente o consumo de
petróleo, apesar das preocupações ambientais23. E o Japão parecia uma promes-
sa reservada à Petrobras até o recente acordo da Odebrecht com uma trading
japonesa (Sojitz, fusão da Nissho Iwai e da Nichimen). Os produtores apostam
no consumo da frota renovada e nas exportações, que um dia – acredita-se
– deslancharão; mas, por enquanto, o que se tem é uma realidade mais modesta.
Analogamente, as perspectivas gerais para os outros bioenergéticos seguem a
mesma lógica, com uma defasagem significativa com relação ao etanol.

23. Muito curiosamente, ao mesmo tempo em que o petróleo é livremente importado, o seu substituto
ambiental sofre toda sorte de restrições, incluindo a proibição de substituir o MTBE.

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 73

III.1  Etanol

No contexto de elaboração de cenários para a evolução da produção


de etanol no país, é fundamental avaliar o crescimento do consumo interno e
discutir as perspectivas de aumento das exportações. Para estimar o consumo
futuro de etanol no país, as seguintes possibilidades foram selecionadas pelos
autores:
• Cenário otimista: crescimento do PIB de 4,5% ao ano, crescimento da
venda interna de veículos leves de 6% a.a. a partir de um volume de 2,7
milhões de unidades em 2009 e crescimento da venda de motocicletas
de 10% a.a. a partir de 2 milhões de unidades em 2009.
• Cenário moderado: crescimento do PIB de 3% ao ano, da venda de veí-
culos leves de 4% a.a. e de motocicletas de 7% a.a., a partir dos mesmos
volumes de vendas, em 2009, utilizados para o cenário anterior.
Após o lançamento de veículos flexíveis e sua ampla aceitação pelos
consumidores, todos os cenários apresentados supõem que 92% dos veículos
leves a serem produzidos poderão operar a etanol hidratado, ou seja, que a
participação atual dos veículos flexíveis nas vendas internas será mantida.
Além disso, foram considerados dois cenários de preço de petróleo,
o que afeta diretamente a competitividade interna de preços entre etanol e
gasolina, e termina por definir a fração dos veículos flexíveis que opera com
etanol. Foram assim, adotados os valores de R$ 220,00 por barril de petróleo
(aproximadamente o valor máximo atingido em meados de 2008) e R$ 120,00
por barril (um valor considerado baixo pela maioria dos analistas). Quanto aos
tributos, admitiu-se que os valores de ICMS, PIS/Cofins e CIDE praticados no
período 2005-2007 seriam mantidos constantes.
O modelo de simulação desenvolvido considera os seguintes aspectos
principais: a participação relativa do AEHC e da gasolina C no consumo dos
veículos flexíveis é função da relação de preços entre esses combustíveis; o
consumo energético total da frota é associado à variação do PIB; os autos e
motos têm taxas de sucateamento diferentes; e ocorre redução do consumo
anual com a idade dos veículos. Os resultados obtidos são ilustrados nas figuras
26 a 29 e na tabela 7, a seguir.
Na figura 26 apresenta-se a evolução da frota de veículos leves e moto-
cicletas no país, para o cenário otimista mencionado. Observa-se o crescimento
significativo da frota de automóveis flexíveis e da frota de motocicletas, bem
como a redução das frotas de autos a etanol e gasolina, por causa do sucatea-
mento.

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74 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 26.  Frota de veículos leves e motocicletas no Brasil, cenário otimista


60 Moto - Flex
Milhões

50 Moto - Gasolina

40 Auto - Flex

30
Auto - Etanol

20
Auto - GNV

10
Auto - Gasolina

0
Vendas  de  autos  exp.
 
6%  a.a.  e  de  motos 
10%  a. a

Fonte: Cálculo dos autores

Na figura 27 são apresentados os consumos de gasolina C, gás natural e


AEHC pela frota de veículos com motores de ciclo Otto, conforme simulados
pelo modelo, para o cenário otimista de crescimento econômico. As curvas
contínuas referem-se a um uso de AEHC por 60% da frota de veículos flexíveis,
valor esse que ajusta razoavelmente bem os dados históricos da ANP24 marca-
dos no gráfico. A taxa anual de conversão de veículos para uso de gás natural
foi mantida constante a partir de 2007. As curvas tracejadas indicam como
evoluiriam os consumos dos combustíveis para diferentes frações da frota de
veículos flexíveis usando AEHC.
Para determinar qual a fração efetiva da frota de veículos flexíveis de cada Es-
tado que está operando com etanol hidratado, foram utilizados os dados estaduais
de consumo de AEHC, conforme levantados pela ANP, com dados de frota obtidos
no Denatran25. O consumo de AEHC pela frota existente de veículos a álcool, bem
como sua redução pelo envelhecimento e sucateamento dessa frota, foi obtido pelo
ajuste da curva no período anterior à existência dos veículos flexíveis.
A figura 28 apresenta a fração média (ponderada pelo número de veícu-
los) da frota de veículos flexíveis em cada Estado, em função da razão média dos
preços dos combustíveis na bomba, obtidos a partir dos levantamentos mensais
de preços da ANP no período 2005-2007. Observa-se que ocorre uma grande
variação tanto na razão de preços como na fração de veículos que usam AEHC.

24. Agência Nacional de Petroleo, Gás Natural e Biocombustíveis.


25. Departamento Nacional de Trânsito

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 75

Figura 27.  Consumo de combustíveis por automóveis e motocicletas no Brasil

40
AEHC
Milhões

35 Gasolina lex
60% F
30 GNV/10³
40% Flex
Volume Anual (m³)

25
20% Flex
20

15

10

Ano
Fonte: Cálculo dos autores

Figura 28.  Fração da frota de veículos flexíveis operando com AEHC em função da
relação de preços entre o AEHC e a gasolina C, nos postos, em cada unidade da
Federação.

100%

90% outros
80% BA
CE
70%
DF
60%
GO
Fração Flex a AEHC

50% MG
40% PR
PE
30%
RJ
20% RS
10% SC
0% SP
40% 50% 60% 70% 80% 90%

Razão de Preços AEHC/GasolinaC


Fonte: Cálculo dos autores

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76 Bioenergia no Estado de São Paulo

A curva contínua corresponde à função que melhor representa o com-


portamento brasileiro médio de usar o AEHC em veículos leves, em resposta à
relação dos preços dos combustíveis. A curva tracejada indica a curva ideal que
corresponde a um uso de AEHC por 50% da frota flexível quando a razão de
preços por litro entre o AEHC e a gasolina C for a de equilíbrio de autonomia,
ou seja, 70%.
O ponto correspondente ao Estado de São Paulo é o único que se
encontra sobre esta curva, que poderia ser denominada de curva de resistência
zero ao uso de etanol em veículos flexíveis. Observe-se que o país tem em mé-
dia uma resistência ao uso de etanol de cerca de 9% da razão de preços, o que
significa ser necessário que o preço do AEHC seja 61% do preço da gasolina C
para que 50% da frota de veículos flexíveis usem AEHC. Dentre os Estados mais
significativos em termos de consumo de combustíveis, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Bahia apresentam resistência ao uso de etanol maior que a média do
país, no período estudado.

Tabela 7.  Fração da frota de veículos flexíveis que utilizam AEHC, para dois cenários
de preço de etanol e de petróleo

Com resistência atual ao Com resistência zero ao


Preço AEHC uso de AEHC uso de AEHC
sem tributos em Preço do Petróleo Preço do Petróleo
São Paulo
R$ 120/barril R$ 220/barril R$ 120/barril R$ 220/barril
R$ 0,70/litro 49% 79% 69% 93%
R$ 0,90/litro 30% 54% 40% 75%

Fonte: Cálculo dos autores

A tabela 7 apresenta os valores calculados da fração da frota brasileira


de veículos flexíveis usando AEHC (baseados nas simulações das razões de
preço e frações das frotas de veículos flexíveis em cada unidade da federação),
considerados dois cenários de preços do AEHC, sem tributos, ao produtor em
São Paulo e dois cenários para o preço do petróleo importado, tanto para os
valores atuais de resistência ao uso do AEHC em veículos flexíveis como para o
caso desses valores serem anulados.
Observe-se que o preço médio anual do AEHC igual a R$ 0,70 por litro,
apresentado na tabela 7, é considerado baixo pelo setor produtor, embora du-
rante o período de janeiro de 2007 a junho de 2008 o preço médio do AEHC
tenha sido de R$ 0,71 por litro e o do petróleo importado pela Petrobras de R$
157,00 por barril. Embora o modelo indique uma respeitável variação na fração

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 77

da frota que usa AEHC com as alterações de preço, é particularmente significa-


tivo o impacto da resistência dos consumidores ao uso de AEHC. A eliminação
desta resistência permitiria um aumento de preço de R$ 0,7 para R$ 0,85 por li-
tro, sem redução do consumo.Vale reforçar que os resultados da tabela 7 foram
calculados admitindo-se que a tributação dos combustíveis é a mesma do perí-
odo 2005-2007, assim como os diferenciais dos preços nos vários Estados em
relação aos preços em São Paulo. Isso implica aumentos nos valores porcentuais
da tabela à medida em que melhora a logística de distribuição do etanol ou que
outros Estados passem a produzí-lo e reduzam alíquotas de ICMS. A alteração
recente no valor da CIDE sobre a gasolina A, de R$ 0,28 para R$ 0,18 por litro,
foi considerada como uma mudança temporária emergencial para controlar a
inflação, e que seu valor retornará para R$ 0,28 assim que o preço do petróleo
se estabilizar. Esta redução no valor da CIDE de R$ 0,10 por litro neutraliza um
acréscimo de cerca de R$ 16,00 por barril de petróleo.

Figura 29.  Comparação entre a produção, a exportação e o consumo interno de AEHC


50
Milhões

Produção  expandindo
  8,5%
  a.a.
45
40 Vendas  de autos  exp. 6%  a.a.  e de 
motos 10%  a.a.
35 Exportação  expandindo  14%  a.a.
volume  Anual (m³)

30
25
20
15
10
5
0

Ano
Fonte: Cálculo dos autores

A figura 29 ilustra a evolução da produção, do consumo e da expor-


tação de etanol total (medido em volume equivalente de álcool anidro) para
o cenário otimista de evolução da economia. Tanto a curva de produção
como a de exportação seguem aproximadamente as estimativas da UNICA
(Jank, 2008). A evolução do consumo interno de etanol foi simulada para
diferentes frações da frota de veículos flexíveis utilizando AEHC. O preço

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78 Bioenergia no Estado de São Paulo

de equilíbrio interno do AEHC aos produtores depende fortemente do


volume disponível no mercado (produção – exportação). Por este motivo,
justifica-se um esforço especial para aumentar as exportações, por parte
dos empresários do setor.
Além desses cenários de consumo interno, são apresentadas a seguir
as perspectivas de produção e de mercado externo que afetam o etanol,
conforme discutidas no TR 1, e as perspectivas das cadeias industrial (TR 3) e
agrícola (TR 2).
Com relação às perspectivas para expansão da cultura de cana-de-açúcar,
estimativa realizada no Instituto de Economia Agrícola – IEA mostra que a área
para a cana-de-açúcar para o ano-safra de 2015/16 deverá ser de 12,2 milhões
de hectares no Brasil (figura 30). Isso permitirá a produção de mais de 900
milhões de toneladas de cana-de-açúcar para indústria, o suficiente para gerar
cerca de 36 bilhões de litros de álcool, sob a hipótese de emprego de 52% da
matéria-prima para a fabricação de etanol, hipótese que tem se mostrado con-
servadora, pois em 2007 esta proporção foi de 55%. A UNICA trabalha com
uma hipótese de 66% da cana direcionada para o etanol em 2015 (Jank, 2008).
A expansão da área cultivada se dará de forma contínua e linear porque, da
incorporação do uso da terra até sua produção, são decorridos pouco mais de
dois anos (Torquato, 2006).

Figura 30.  Estimativa de área da cana-de-açúcar para indústria no Brasil

14

12
milhões de  ha

10

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 79

Novamente de acordo com o IEA, o crescimento de área previsto para o


Estado de São Paulo no período 2006/07 – 2015/16, apresentado na figura 31,
não será suficiente para assegurar a atual participação paulista na composição
da área total de cana-de-açúcar para indústria no país. A participação, que foi de
61% em 2006, deverá ser de aproximadamente 55% em 2015 devido, principal-
mente, à maior disponibilidade e ao menor preço da terra em outras regiões do
país. Além disso, poderá contribuir para a expansão da cana no Centro-Oeste
brasileiro a melhoria da logística de escoamento da produção, com a anunciada
construção pela Transpetro de dutos que interligariam o terminal em Senador
Canhedo – Goiás passando pela Refinaria de Paulínia, e que chegariam ao Porto
de São Sebastião em São Paulo.
Maiores detalhes sobre esta questão de logística na sessão III.8.

Figura 31.  Estimativa da área de cana para indústria para produção de álcool e açúcar
em São Paulo

6
milhões de ha

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Observe-se que em trabalho do Ministério de Agricultura, 200727 a pro-


dução de etanol na safra de 2017/2018 deverá atingir 41,6 bilhões de litros e a
produção de açúcar 31,3 milhões de toneladas. Estudos da Empresa de Pesquisa

26. Projeções do Agronegócio: Mundial e Brasil, 2006/07 a 2017/18

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80 Bioenergia no Estado de São Paulo

Energética do Ministério de Minas e Energia (EPE, 2008), divulgados em setem-


bro de 2008, apontam para uma demanda de etanol no país de 63,9 bilhões
de litros em 2017, muito acima das previsões dos demais órgãos do governo
federal.
Conforme mencionado, o equilíbrio produção – exportação – mercado
interno é fundamental para a manutenção econômica do setor. Nesse contexto
é importante discutir o mercado internacional.
No caso da UE, sua política de biocombustíveis é parte de um plano que
pretende aumentar o uso de energia renovável, iniciado em 1997, por meio de
um documento oficial (white paper) que estabeleceu como meta utilizar 12%
de energia renovável em 2010. A Diretiva 2003/03 do Parlamento Europeu e
do Conselho relativa à promoção e utilização de biocombustíveis ou de outros
combustíveis renováveis para transportes, estabeleceu que os Estados Mem-
bros deveriam assegurar a proporção mínima de 2% até 31/12/2005 e 5,7% até
31/12/2010. A meta para 2020 é 10%.
Em relação a este plano, a Comissão Européia estabeleceu, como parte
das reformas da Política Agrícola Comum (PAC), o pagamento de 45 €/ha para
produção de energéticos nas áreas em descanso. Ainda em 2003, a Directive on
Taxation of Energy Products autorizou os Estados Membros a isentar, total ou
parcialmente, produtos que contêm substâncias renováveis, como o etanol e o
biodiesel.
Assim, para atingir a mistura de 6,6% de biocombustíveis no total de
combustíveis líquidos, o consumo de etanol deverá atingir 9,2 bilhões de litros
em 2012 e os produtos que serão usados, com maior probabilidade, são trigo,
beterraba e milho. A partir da tabela 8, reproduzida a seguir, Jank et al (2007)
concluem que a UE não deve precisar importar etanol, pois a produção local
estimada é de 10,1 bilhões de litros para 2012, que na verdade parece pouco
provável.
Por sua vez, os EUA são os maiores consumidores mundiais de petróleo,
utilizando 322 bilhões de litros (840 milhões de galões) de derivados por dia e com
quase metade deste valor correspondendo à gasolina, toda ela consumida por 200
milhões de veículos. Embora também produzam petróleo, os EUA importam 64%
do volume consumido no país. Em agosto de 2005 o governo dos EUA assinou o
Energy Policy Act, que criou o programa Renewable Fuels Standard (RFS), estabele-
cendo meta de utilização de 28,4 bilhões de litros de biocombustível em 2012, que
representa 5% da gasolina consumida. Entretanto, no final de 2007, foi aprovado
o Energy Independence and Security Act (EISA) que emenda o RFS e eleva a meta
de 2022 para 136 bilhões de litros de combustíveis renováveis e alternativos. Esse
volume substituiria 15% do consumo de gasolina projetado para a ocasião. O RFS
baseia-se inicialmente no etanol produzido a partir do milho e o estabelecimento

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 81

das metas criou um mercado garantido para o produto, até um máximo de 57


bilhões de litros anuais. O volume restante é reservado para outros biocombustí-
veis que apresentem uma redução mínima de 50% nos gases de efeito estufa ou
derivem da celulose. Como essas metas foram reforçadas por grandes incentivos
fiscais, elas estimularam investimentos maciços no desenvolvimento da indústria de
etanol e, como conseqüência, a demanda por milho cresceu.

Tabela 8.  Projeção da produção de etanol na União Européia para 2012

2006 2012
Produção de Produção de
Produção de etanol Produção de etanol
matéria-prima matéria-prima
milhões Participação Total Para milhões Participação Total Para
litros (Mt) etanol litros (Mt) etanol
(Mt) (Mt)
Trigo 504 32,3% 109,3 1,4 4.034 40% 135,9 11,2
Cevada 440 28,2% 53,6 1,1 440 4% 46,1 1,1
Milho 200 12,8% 44,6 0,5 1.291 13% 51,9 3,2
Centeio 200 12,8% 7,8 0,5 200 2% 9,1 0,5
Beterraba 88 5,6% 141,7 0,8 3.864 38% 120,7 35,2
Vinho 128 8,2% - - 256 3% - -
Total 1.560 100% 357 4,3 10.085 100% 363,7 51,2
Fonte: Jank et al, 2007

Entretanto, a produção de milho, que atingiu 300 milhões de toneladas em


2004, caiu para perto de 280 milhões em 2005 e 2006. Como neste último ano a
demanda para etanol chegou a 55 milhões de toneladas, praticamente 20% da pro-
dução total, o preço do milho atingiu o ponto mais alto de sua história (figura 32).
Entre 2002 e 2006 a produção de etanol27 nos EUA aumentou em média
23% ao ano. No mesmo período o consumo cresceu 27%, absorvendo 20,4
bilhões de litros e elevando a mistura do etanol na gasolina de 1,5% para 3,8%
(Jank, 2007). A capacidade instalada já é mais do que suficiente para atender as
metas. Embora se espere que o consumo supere as metas, não há indícios de
maior aumento da capacidade instalada por causa dos efeitos que esta medida
teria sobre o preço do milho.

27. A produção de biodiesel nos Estados Unidos é mínima, relativamente ao etanol: em 2005 produziu 290
milhões de litros contra 15 bilhões de litros, respectivamente (Unctad, 2006).

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82 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 32.  Produção de milho nos EUA de 1980 a 2006


350

Produção
300
Etanol

250
milhões  de  ton eladas

200

150

100

50

Fonte: Earth-Policy.org

A demanda tem sido fortemente estimulada por políticas públicas. Além


do RFS, os EUA criaram o Reformulated Gasoline Program que requer certo
nível de oxigenados na gasolina vendida em determinadas áreas como meio de
combater a poluição do ar. Inicialmente foi empregado o MTBE (Metil-terc-bu-
til-éter) como aditivo, mas, por problemas de contaminação do solo quando a
gasolina é derramada ou quando ocorrem vazamentos nos postos, este come-
çou a ser substituído pelo etanol. Isso provocou aumento no preço do etanol e
abriu oportunidade para países, como o Brasil, que possuem excedentes expor-
táveis. As vendas brasileiras para os Estados Unidos cresceram de US$ 77,5 mi-
lhões em 2005 para US$ 882,4 milhões em 2006. Em 2007 essas exportações
diretas alcançaram US$ 272 milhões de um total de US$ 1,29 bilhão expor-
tado. O aumento da produção norte-americana resultou em queda no preço
do produto; este fator, somado à tarifa de importação de US$ 0,143 por litro,
reduziu a competitividade brasileira e o ritmo de exportações para aquele país
em 2007. Em 2008, as exportações dirigidas aos Estados Unidos, diretamente
ou via países do Caribe, (que importam etanol hidratado do Brasil, produzem
etanol anidro e re-exportam para os EUA sem a tarifa de importação) devem
ultrapassar 2 bilhões de litros. Vale ressaltar que no máximo 7% do volume de
etanol produzido pelos EUA no ano anterior pode ser importado por meio da
Caribbean Basin Initiative, fato que limita essa via.
Para 2012 espera-se, no máximo, que 10% do volume da gasolina con-
sumida seja substituída por etanol, o que representaria 56,6 bilhões de litros do
produto. Consumo maior dependeria de adaptação da frota norte-americana
para aumentar a participação do álcool na mistura. As projeções da capacidade

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 83

instalada indicam 45,2 bilhões de litros em 2009. Com uma capacidade ociosa
de 10%, os EUA seriam capazes de produzir 41,7 bilhões de litros em 2012
(47% a mais do que as metas do RFS), demandando 107 milhões de toneladas
de milho. Isto representa 7,4% da demanda por gasolina.
No Brasil, conforme analisado no TR 3, a capacidade instalada no setor
industrial tem respondido ao grande crescimento dos últimos anos. Embora o
modelo tradicional seja o fornecimento de usinas completas (chave na mão ou
turn-key), apenas algumas poucas unidades foram vendidas completas pela Dedi-
ni, sendo as demais implantadas com participação (elevada) da empresa.
Esta lógica dos investimentos das novas usinas em instalação, em conti-
nuidade a um modelo tradicional, ressalta uma percepção, pelos investidores,
de que o fornecimento da usina completa, chave na mão, custa mais caro e
não oferece vantagens significativas que compensem os custos de investimento
adicionais. Correta ou não, esta percepção contribui para explicar os patamares
diferenciados de produção e eficiência que existem no setor.
Uma alternativa – em contraposição ao modelo chave na mão – é o EPC
– Engineering, Procurement and Construction – baseado na parceria entre forne-
cedores (especializados) de equipamentos, firmas de engenharia (uma dezena
de empresas especializadas e bastante competentes), prestadores de serviços e
a usina (em formação ou em expansão). Uma das principais vantagens do EPC,
segundo os seus defensores, é a flexibilidade de aquisição de equipamentos, por
abrir a possibilidade de compra de vários fornecedores, permitindo uma análise
das condições de preço e prazo de entrega. É possível argumentar que a princi-
pal vantagem seja a condição que ela abre aos fabricantes de equipamentos par-
ciais de participarem do fornecimento de soluções integradas, sem perderem o
seu foco e a correspondente especialização no respectivo segmento.
Com relação à cadeia agrícola, conforme apresentado no TR 2, o setor
apresenta boas perspectivas de continuar a ser adequadamente estruturado,
com tendência de aumento na produtividade agrícola.
A expansão da cana-de-açúcar continuará dependendo de três fatores
principais: qualidade do solo; precipitação pluviométrica e logística. Determinado
por investimentos intensificando a logística no campo, e reduzindo a distância
econômica entre as várias importantes áreas de escoamento para os portos, é
esperado um aumento no valor da terra. Isto deve ocorrer na região do Triân-
gulo Mineiro e porção sul do Estado de Goiás, com investimentos em rede de
alcooldutos, atualmente em análise pela Petrobras e com grande possibilidade
de ocorrer em razão de compromissos assumidos pelo governo de Goiás.
A cana-de-açúcar não é uma cultura prejudicial ao solo, com razoável
adaptação aos terrenos com fertilidade média e alta porosidade ou permea-
bilidade, isto é, solos arenosos. Obviamente, uma terra com maior fertilidade

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84 Bioenergia no Estado de São Paulo

implica maiores níveis de produtividade, e/ou menor demanda por fertilizantes


e produtos para correção; entretanto, essas são áreas onde o custo da terra é
mais alto.
O elemento mais crítico é a precipitação, porque a cultura da cana-de-
açúcar demanda um mínimo de 1.200 mm de chuva concentrados na prima-
vera/verão. As áreas que necessitam recursos financeiros para propósito de
irrigação são mais problemáticas, sob o ponto de vista de investimento inicial e
da energia utilizada em irrigação.
As áreas de expansão da cana-de-açúcar com maiores potenciais futuros
são aquelas que combinam as três condições mencionadas acima, com perspec-
tivas de uma evolução positiva em termos de logística. Dentre as áreas promis-
soras em curto prazo estão o Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, o noroeste
de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e norte do Espírito Santo. No médio
prazo, existe potencial para desenvolvimento nas áreas oeste da Bahia, sul do
Maranhão e sul do Tocantins.
Com 62 milhões de hectares de área cultivada em 2007, dos quais 6,5
milhões foram dedicados para suprir o setor industrial da cana-de-açúcar, a agri-
cultura brasileira ainda mostra um significante potencial de crescimento. Existe
um contingente de 100 milhões de hectares sem uso disponível para incorpora-
ção, e outros 200 milhões de hectares ocupados por pastagens, com uma larga
porção que pode ser utilizada para fins agrários, se a pecuária se tornar menos
extensiva.

III.2  Biodiesel

No caso do biodiesel, o principal desafio para sua viabilização se refe-


re aos aspectos econômicos conforme discutidos nos TR’s 1 e 2. O custo da
matéria-prima é o item mais importante na formação do preço do biodiesel. Os
óleos vegetais possíveis de serem utilizados (principalmente soja, mamona e pal-
ma/dendê) apresentam outras opções com maior valor agregado, o que torna
necessário subsidiar os produtores de biodiesel para torná-lo economicamente
competitivo com o diesel. Quanto ao biodiesel de gordura animal, o preço da
matéria-prima era inicialmente reduzido mas teve grande elevação por causa
da limitação na oferta.
Entretanto, o uso do biodiesel tem, além das vantagens ambientais, a es-
tratégia de reduzir o consumo de diesel no país, principalmente porque parte
deste combustível ainda é importada, para atender a demanda. Em 2007, o
Brasil consumiu 41,5 bilhões de litros de óleo diesel (12% deste volume foi

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 85

importado). Nos últimos anos, cerca de 82% do total destinou-se ao setor de


transporte, 15% à agricultura e 2% à indústria e outros segmentos.
A adição obrigatória de 2% de biodiesel ao óleo diesel, a partir de janeiro
de 2008, gera um mercado interno de 848 mil m3/ano, sendo que somente o
Estado de São Paulo consome 24% desse volume (tabela 9).

Tabela 9.  Estimativa da demanda por biodiesel por região geográfica – Brasil, 2008 a 2011

Demanda (m3)
Região por B5 (m3) (m3) (m3)
B2 - 2008 B3 - 2009* B5 - 2011
Norte 80.000 123.000 210.000
Nordeste 124.000 192.000 329.000
Sudeste 375.000 577.000 986.000
São Paulo 200.000 308.000 526.500
Sul 170.000 263.000 451.000
Centro-Oeste 99.000 153.000 263.000
Brasil 848.000 1.308.000 2.237.000

Fonte: Projetada pelo TR 1 e adaptada pelos autores, com base em dados do Balanço Energético Nacional de 2007
Nota: * B3 a partir de 1° de julho de 2008

Os investimentos em unidades produtoras de biodiesel foram realizados


pela iniciativa privada e fomentados por linhas de crédito especiais, das quais se
destacam as do BNDES.
Atualmente, as usinas autorizadas a operar têm capacidade para produzir
2,6 milhões de metros cúbicos anuais (tabela 10). Comparando-se as tabelas 9
e 10, conclui-se que a atual capacidade de produção das usinas em operação
já suplanta o consumo estimado para a mistura B5 (2,24 milhões de metros
cúbicos) permitindo a antecipação do prazo em que a adição de 5% de bio-
diesel ao diesel se torne obrigatória, conforme previsto na Lei no 11.097/05. O
Plano de Aceleração do Crescimento (PAC, 2007) já prevê a antecipação da
obrigatoriedade do B5 de 2013 para 2010, fato que é apresentado na tabela 9
como consolidado no ano de 2011. O Conselho Nacional de Política Energética
(CNPE) , em março de 2008, tornou mandatório o uso de 3% de biodiesel a
partir de 1o de julho deste ano, aspecto que também é representado na tabela
9 como ocorrendo integralmente em 2009.

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86 Bioenergia no Estado de São Paulo

Tabela 10.  Capacidade de produção das usinas de biodiesel, por região geográfica e
para o Estado de São Paulo, julho/2008.

Regiões geográficas Capacidade (m3/ano)

Norte 137.100
Nordeste 525.700
Sudeste 716.440
São Paulo 646.740
Sul 733.100
Centro-Oeste 483.300
Brasil 2.595.640
Fonte: ANP

A atual capacidade das instalações para a produção de biodiesel está


aquém da demanda por B5 apenas nas Regiões Norte e Sudeste (tabelas 9 e
10), embora a capacidade instalada no Estado de São Paulo esteja além de sua
demanda por B5.
Conforme já apresentado no item II.2, a produção brasileira das principais
oleaginosas totalizou 60,6 milhões de toneladas na safra 2006/07, das quais 95%
se referem à soja.
A disponibilidade brasileira de óleos vegetais foi apresentada na tabela 2,
atingindo cerca de 4,8 milhões de metros cúbicos, dos quais cerca de 85% são
provenientes da soja, 6% do caroço de algodão e 4% do dendê. O restante é
dividido principalmente entre amendoim, girassol, mamona e babaçu.
Os mercados de oleaginosas têm características próprias, aspecto que
conduz a análises diferenciadas quanto à disponibilidade dessas matérias-primas
para a produção de óleo a ser destinado à fabricação de biodiesel.
O mercado de amendoim passou por grandes mudanças, pois, de maté-
ria-prima para esmagamento, o grão passou a ser destinado principalmente à in-
dústria confeiteira e ao consumo in natura, mais exigente em qualidade (Freitas
e Amaral, 2002). A adoção de tecnologia na produção e na etapa pós-colheita
possibilitou a melhoria da qualidade do produto paulista em consonância com
as exigências do mercado externo do grão, face às crescentes exportações de
amendoim descascado nos últimos anos (Martins e Perez, 2006). Desse modo,
considera-se pouco provável que haja constância na oferta que possibilite par-
cela expressiva da produção de amendoim para biodiesel.
A oferta de algodão é regida pelo mercado da fibra, principal produto de
valor econômico da cultura. O comércio externo realizado pelo Brasil ocorre na

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 87

forma de pluma e/ou manufaturados têxteis. Assim, considera-se que praticamen-


te toda a produção de caroço possa ser processada para a produção de óleo.
O óleo de dendê (palma) é amplamente utilizado na indústria alimen-
tícia, em virtude de suas propriedades que facilitam a hidrogenação. Apesar
de ter a grande vantagem de apresentar a maior produtividade de óleo por
unidade de área (hectare) dentre as oleaginosas conhecidas, a palma é cultiva-
da exclusivamente na região setentrional do país e apresenta, como principal
problema, a logística para distribuição nos grandes centros de consumo, além
de possível impacto ambiental adverso, caso a cultura seja permitida na região
da floresta amazônica.
O girassol é uma cultura em franca expansão no País, embora ainda
pouco representativa no segmento de oleaginosas. O óleo tem grande aceita-
ção para uso doméstico, face ao apelo nutricional. Freitas, Ferreira e Tsunechiro
(1998) constataram crescimento da demanda no segmento varejista, em função
da redução do diferencial de preço em relação ao de soja. Tem havido significa-
tiva importação da Argentina. Assim, é pouco provável que o óleo de girassol
seja utilizado como matéria-prima para biodiesel.
Na mamona, ainda há entraves de natureza técnica e econômica para a
viabilização de seu óleo na matriz energética brasileira. A oferta é insuficiente
e a baixa produtividade no nordeste requer investimentos em pesquisas agro-
nômicas. Sob o aspecto econômico, o óleo de mamona é o segundo mais bem
cotado no mercado internacional, superado apenas pelo de tungue (Freitas e
Fredo, 2005), o que pode inviabilizar seu uso como combustível.
A disponibilidade de óleo de soja corresponde à quase totalidade da
oferta de óleos vegetais no Brasil (tabela 2). O volume produzido em 2006
(cerca de 4 bilhões de litros) é superior ao necessário para suprir a demanda
por B5, em 2010. Por esta razão, atualmente mais de 85% da produção brasileira
de biodiesel é feita com esse óleo.
A soja tem seu mercado vinculado à demanda protéica – farelo – além
de ser um dos óleos comestíveis mais consumidos no mundo. A produção
brasileira de óleo tem apresentado crescimento proporcionalmente menor
que o do grão, em virtude da tendência decrescente da relação processamen-
to/produção agrícola e do aumento nas exportações do grão. Esse comporta-
mento está relacionado à Lei Kandir de 1996 que desonerou as exportações
do complexo soja do ICMS e a adoção do mecanismo de escalada tarifá-
ria nos países importadores. O fim da incidência diferenciada que garantia o
abastecimento interno trouxe o acirramento da disputa pela matéria-prima
entre tradings e indústrias, conforme Lazzarini e Nunes (1998). A esse fator
soma-se a crescente demanda pela soja e a política de importações por par-
te da China, em virtude da escalada tarifária praticada naquele país, salienta

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88 Bioenergia no Estado de São Paulo

Pereira (2004). O mercado chinês tem sido o destino da maior parte das
exportações brasileiras de soja em grão28.
O Estado de São Paulo tem pequena participação na oferta da maioria
das oleaginosas, com exceção do amendoim, do qual o Estado é o maior produ-
tor. Entretanto, conforme mencionado, o grão passou a ser destinado principal-
mente à indústria confeiteira e ao consumo in natura. Em termos de oleaginosas
o Estado apresenta um quadro deficitário que possivelmente se manterá para
o biodiesel. A melhor perspectiva para o Estado, em termos de produção de
biodiesel, é a utilização de gorduras animais, em decorrência da grande concen-
tração de frigoríficos e abatedouros, que poderiam responder por cerca de 200
milhões de litros por ano.
Pelo acima exposto e pela pouca competitividade com o óleo diesel
(uma vez que a mesma tendência de elevação dos preços internacionais do
petróleo tem sido acompanhada pelos preços das oleaginosas), as perspectivas
futuras de utilização de biodiesel ficarão restritas ao porcentual mandatório da
legislação. Enquanto o sistema de ciência e tecnologia não desenvolver varieda-
des de oleaginosas que sejam produtivas em solos com pouca aptidão para cul-
tura de alimentos e, portanto, de menor valor econômico, o biodiesel manterá
a necessidade de subsídios.

III.3  Florestas energéticas

Diferentemente das sessões anteriores, nas quais os aspectos econômi-


cos tiveram um papel primordial no estabelecimento dos cenários apresenta-
dos, nesta seção, em grande parte reproduzida do TR 12, trabalha-se com um
cenário ideal de sustentabilidade ambiental combinado com um cenário de
atendimento integral, pelo próprio Estado, da demanda interna por madeira
energética nos próximos 25 anos.
O Estado detém mais de 24,8 milhões de hectares, dos quais 4,1 milhões
com formações florestais e vegetação nativa. Conforme mencionado anterior-
mente, para se atingir um índice conhecido internacionalmente como de equi-
líbrio florestal nos diferentes países, ou seja, de 25% a 30% do território, seria
necessário florestar e reflorestar de 2,1 a 3,3 milhões de hectares.
Em que pese o grande número de leis, decretos, resoluções e porta-
rias referentes à questão florestal no Estado de São Paulo, não existe ainda

28. A
 s aquisições da China passaram de apenas 0,41% para 29,5% das exportações brasileiras de soja entre
1996 e 2004, conforme Perez e Barbosa (2005).

29170003 miolo.indd 88 10/29/08 6:02:48 PM


Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 89

consenso no que se refere à adoção de uma política florestal com objetivos


e metas definidos, abrangendo o Estado como um todo, visando atingir esse
índice. O exemplo mais típico é o estabelecimento do porcentual fixo de
20% de cada imóvel como Reserva Florestal (Código Florestal, 1965), inde-
pendentemente de suas características, principalmente quanto à aptidão de
seus solos.
No dia 16 de junho de 2006, foi assinado o Decreto no 50.889, estabele-
cendo critérios para facilitar a recomposição da reserva legal nas propriedades
onde não havia o cumprimento da lei, mas ele permanece em discussão e tem
sido objeto de pesadas críticas do setor industrial.
Quando se considera a aptidão dos solos do Estado de São Paulo, pode-
se dizer que eles, por suas características, são apropriados aos seguintes usos,
lembrando que a área de infra-estruturas urbana, energética e de transportes
deverá ser abatida do total:
• Agropecuária 60%
• Reflorestamento ou pastagens 20%
• Florestas de proteção e reflorestamento 20%
Com base no critério de aptidão dos solos para florestas, a área mínima
deveria ser de 20% do território o que demandaria cerca de 0,8 milhão de
hectares adicionais.
A introdução do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, inseri-
do no âmbito do Protocolo de Quioto, e as limitações ao consumo de combus-
tíveis fósseis tendem a favorecer as florestas plantadas, fornecendo à biomassa
uma nova relevância.
Os plantios florestais estarão condicionados tanto pela demanda de
produtos florestais stricto sensu como por novos produtos, principalmente os
ambientais, incluídos no MDL. A área plantada com florestas pode vir a ser
negociada como sumidouro de carbono constituindo-se numa nova fonte de ren-
dimentos para o setor rural. A substituição de madeira nobre, vinda principal-
mente da Amazônia para processamento mecânico, dará ensejo a plantios desse
tipo de produto em áreas específicas do Estado.
Assim, o conceito de uso múltiplo da madeira dessas florestas plantadas
pode dar um novo perfil à atividade em São Paulo. A floresta pode ter tanto fun-
ções ambientais como produtivas. A questão do uso múltiplo está associada tanto
ao uso funcional da floresta quanto ao uso produtivo das árvores (figura 33).
No processo de produção de toras para serraria ou laminação, há gera-
ção de matéria-prima para os demais usos. Além disso, o processamento nas
serrarias e laminadoras de madeira gera resíduos utilizáveis para celulose ou
para energia.

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90 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 33.  Esquema de uso múltiplo da floresta

Funções ENERGIA
Ambientais

PROCESSO

Florestas ENERGIA

SERRARIA
Funções
Produtivas ENERGIA

Fonte: TR 12

Para a determinação da área a ser reflorestada com essências comerciais


para fins energéticos, foram consideradas duas situações, com base em pro-
jeções de crescimento da demanda, utilizando uma metodologia semelhante
à da Matriz Energética do Estado (SSE, 2007). Uma lacuna importante nessa
estimativa refere-se à inexistência de informações sobre a substituição de fon-
tes energéticas em função de preços relativos e a evolução dessas tendências.
Mesmo assim, numa primeira abordagem foram adotadas duas taxas anuais de
crescimento (vegetativo e otimista) da demanda total de madeira e o prazo de
25 anos para a instalação final do parque florestal necessário. Foram adotados
como parâmetros que a participação energética no final do período será de
35% do total do consumo de madeira e que a produtividade média atingirá um
valor de 40 m3/ha/ano (tabela 11).
Estipulou-se esse prazo em 25 anos porque é o período médio de ro-
tação de uma floresta, que permite a manutenção de um potencial produtivo
auto-sustentado, garantindo o índice de cobertura florestal indefinidamente. É
também um tempo em que é previsível algum tipo de mudança tecnológica, em
se tratando de atividade de silvicultura. Além disso, imposições de ordem legal
prescrevem recuperações florestais num prazo entre 20 e 30 anos.

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 91

Tabela 11.  Projeção da demanda por madeira no Estado de São Paulo em 2032

1% a.a. 3% a.a.
Crescimento da demanda (vegetativo) (otimista)
Demanda total (em 106 m3 c/ casca) 48,7 79,6
Demanda energética(em 10 m c/ casca)
6 3
17,0 27,8
Área reflorestada (em 106 hectares) 1,21 1,99
Fonte: TR12

Numa primeira aproximação, após 25 anos e levando-se em conta o


estoque de terras aptas, a cobertura de florestas necessária para o Estado para
os diversos fins estaria entre 1,21 e 1,99 milhão de hectares, povoados com
essências exóticas ou nativas comerciais. Vale mencionar que o consumo ener-
gético atual representa 29% do consumo total de madeira no Estado (ver figura
14). Portanto, supondo um crescimento de 3% a.a. na demanda energética (com
a demanda total crescendo 2,5%), a área reflorestada necessária seria de 1,7
milhão de hectares.
Considerando a existência de um estoque atual de 4,14 milhões de hec-
tares de florestas e vegetação nativa, dos quais 0,93 milhão de hectares reflo-
restados e que deverão continuar em produção, as necessidades efetivas de
reflorestamento serão de no mínimo 1,7 milhão de hectares, durante os pró-
ximos 25 anos, para atender à demanda energética e parcialmente ambiental
(20% do território).
Tendo em conta essas premissas, para um ciclo de 25 anos e o crescimen-
to otimista da demanda energética, haveria necessidade de um plantio extra de
780 mil hectares, dos quais o equivalente a 270 mil supririam a demanda ener-
gética tradicional. É importante destacar que, durante esse período, o cenário
pode ser bastante modificado. Por exemplo, a produção de energia elétrica, por
cogeração feita por cavacos de madeira nas usinas de cana-de-açúcar durante o
período da entressafra, poderia redundar em demanda adicional que implicaria
acréscimo de área de 110 mil hectares (Rozov, 2007).

III.4  Cogeração

Nesta seção, em grande parte extraída do TR 8, é feita uma avaliação do


potencial de expansão de geração de energia elétrica a partir de biomassa no
Estado de São Paulo, com base na expectativa de aumento de moagem de cana
e na disponibilidade de palha para a geração, supondo diferentes tecnologias de

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92 Bioenergia no Estado de São Paulo

conversão. São também avaliados os potenciais de geração de energia elétrica


a partir de biogás e de biomassa florestal.
A queima da cana para a colheita tem como objetivo aumentar a eficiên-
cia do processo, tanto para o corte de cana manual como para o mecanizado.
No caso da colheita manual, o corte de cana verde é muito mais difícil e peri-
goso, o que praticamente inviabiliza sua utilização.
A colheita mecanizada em São Paulo vem crescendo principalmente
pelas pressões ambientais para o fim das queimadas e à legislação existente,
conforme mencionado na seção II.6. No contexto do Protocolo Agroambiental
assinado com grande parte dos produtores, verifica-se importante perspectiva
de aumento de excedentes de eletricidade.
Para estimar o máximo potencial realizável do setor sucroalcooleiro, ad-
mite-se o aproveitamento integral de bagaço e palha com as melhores tecnolo-
gias aplicáveis e subtrai-se tanto a energia excedente gerada atualmente, como
a já vendida nos Leilões de Energia Nova29.
Para tanto, foram realizadas simulações supondo queima em caldeira tan-
to de bagaço, como de uma mistura de 20% de palha e 80% de bagaço, admitin-
do-se: produtividade total da palha (base seca) de 14% da cana produzida; palha
disponível de 40% do total de palha, sendo utilizáveis 95% (5% para estoque);
conteúdo de bagaço (base seca) de 25% da massa da cana limpa, sendo utilizá-
veis 95% do total de bagaço (5% para estoque); fator de capacidade de 50% e
período de operação efetiva de 180 dias.
Com base nessas hipóteses, foram simulados aproveitamentos com duas
diferentes tecnologias, a saber: turbina de extração-condensação operando com
vapor a 65 bar e a 92 bar. A tabela 12 apresenta os resultados das simulações e
os parâmetros utilizados.
O excedente comercializado até o início de 2008 era estimado em 875
MWmédio que, somados aos 218 MWmédio comercializados nos três leilões de
energia nova e no leilão de fontes alternativas no Estado de São Paulo, permitia
estimar que o mínimo de excedentes a serem oferecidos pelo setor até 2011
seria de 1.093 MWmédio, devendo-se ressaltar que a maioria dessa energia ven-
dida é proveniente de investimentos em tecnologias e otimização de processo,
e não de usinas novas (tabela 13)30.

29. Esses leilões são organizados pela Aneel, visando a compra de energia de produtores
independentes.
30. No leilão realizado em setembro de 2008 foram comercializados 184 MWmédio de
energia gerada por usinas do Estado de São Paulo.

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 93

Tabela 12.  Parâmetros utilizados e resultados da simulação com queima de bagaço e palha

Parâmetro Unidade Bagaço Bagaço e palha


Pressão do vapor Bar 65 92 65 92
Temperatura do vapor °C 510 520 510 520
Demanda de vapor kWh/tcana 342 – 402 342 – 402 342 - 402 342 - 402
processo
Consumo eletricidade kWh/tcana 32 32 32 32
(processo eletrificado)
Eficiência nominal % 85 85 85 87
Turbina Vapor
Eficiência nominal das % 88 88 88 88
caldeiras
Geração específica de kWh/tcana 60 – 70 70 – 80 125 – 130 132 –145
excedentes
Fonte: TR 8

Tabela 13.  Bioeletricidade considerando a venda nos leilões de energia e o comercia-


lizado até 2007

Montante comercializado
Total a ser
Ano comercializado (MWméd) nos leilões de energia Leilão em São Paulo
(MWméd)
2007 875 - -
2008 891 16 1° Leilão de Energia Nova
2009 980 89 1° Leilão + 2° Leilão
2010 1.054 74 Leilão de Fontes Alternativas
2011 1.093 39 3° Leilão de Energia Nova

Fonte: TR 8

Em função do crescimento dos mercados interno e externo de açúcar e


etanol, o setor sucroalcooleiro experimenta desenvolvimento acelerado. Na safra
2006/2007, nas unidades produtoras do Estado de São Paulo, foram processadas
264 milhões de toneladas de cana31 e, na safra 2007/2008, cerca de 296 milhões.
Considerando-se a safra 2006/2007, as hipóteses acima descritas e somente a
utilização de bagaço como combustível, tem-se as seguintes possibilidades:

31. UNICA

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94 Bioenergia no Estado de São Paulo

• se todas as usinas do Estado de São Paulo investissem em tecnologia


para turbinas de extração-condensação operando com vapor a 65 bar
e 510°C, o Estado teria como incrementar os 875 MWmédio atualmen-
te comercializados em aproximadamente 1.125 MWmédio, atingindo um
total de aproximadamente 2.000 MWmédio de excedentes;
• se for considerado um investimento na mesma tecnologia, aumentando
a pressão do vapor para 92 bar e a temperatura para 520°C, o incre-
mento poderia ser de cerca de 1.425 MWmédio atingindo o valor total
de 2.300 MWmédio para exportação.
Ainda considerando a safra 2006/2007 e as hipóteses anteriormente
descritas, com queima de palha juntamente com o bagaço (20% palha e 80%
bagaço), obtém-se:
• se todas as usinas do Estado de São Paulo fizessem investimentos em
tecnologia para turbinas de extração-condensação operando com vapor
a 65 bar e 510°C, o Estado teria como incrementar os 875 MWmédio
atualmente comercializados para aproximadamente 3.700 MWmédio de
excedentes32;
• se for considerado um investimento na mesma tecnologia, aumentando
a pressão do vapor para 92 bar e a temperatura para 520°C, o incre-
mento poderia ser de cerca de 3.225 MWmédio atingindo o valor total
de 4.100 MWmédio para exportação.
Segundo estimativas da UNICA, na safra 2012/2013 serão processadas
cerca de 387 milhões de toneladas de cana no Estado de São Paulo. Tendo
como base as hipóteses descritas anteriormente para o cálculo de exceden-
tes gerados e a utilização apenas de bagaço de cana como combustível, será
possível atingir um potencial de geração de excedentes de energia elétrica de
aproximadamente 2.900 MWmédio, quando considerada a turbina de extração-
condensação operando com vapor a 65 bar e 510°C. Se considerarmos vapor
a 92 bar e 520°C o Estado poderia atingir em 2013 cerca de 3.300 MWmédio de
excedente.
Utilizando-se as estimativas para a safra 2012/2013 e as premissas an-
teriormente descritas, agora considerando a queima de palha juntamente com
bagaço (20% palha e 80% bagaço), será possível atingir uma geração de exce-
dentes de energia elétrica de aproximadamente 5.500 MWmédio, quando con-
siderada a turbina de extração-condensação operando com vapor a 65 bar e
510°C. Se considerarmos vapor a 92 bar e 520°C, o Estado poderá atingir, na
safra 2012/2013, cerca de 6.000 MWmédio de excedente.

32. Coerente com estimativa COGEN Novembro 2005 – cerca de 3300 MW em 144 usinas.

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 95

Nas tabelas 14 e 15 são apresentados os valores de energia excedente


total para as safras 2006/2007 e 2012/2013, para as diversas possibilidades an-
teriormente descritas.

Tabela 14.  Potencial de geração de excedentes para o Estado nas safras 2006/2007 e
2012/2013 utilizando apenas bagaço como combustível

Potencial 65 bar Potencial 92 bar


Cana1 (MWméd)3 (MWméd)3
Cana utilizada2
Safra (t cana processada/
(t cana/safra) 60 70 71 80
safra)
kWh/tc kWh/tc kWh/tc kWh/tc
2006/2007 264.000.000 250.800.000 1.700 2.000 2.020 2.300
2012/2013 387.000.000 367.650.000 2.500 2.900 2.980 3.300
Fonte: TR 8
Notas:
1
Safras 2006/2007 e 2012/2013 → dados da UNICA
2
Cana utilizada = 95% do total de cana processada
3
Fator de capacidade = 0,5

Tabela 15.  Potencial de geração de excedentes para o Estado nas safras 2006/2007 e
2012/2013 utilizando bagaço e palha como combustível

Potencial 65 bar Potencial 92 bar


Cana1 (MWméd)3 (MWméd)3
Cana utilizada2
(t cana processada/
Safra (t cana/safra) 125 132 135 145
safra)
kWh/tc kWh/tc kWh/tc kWh/tc
2006/2007 264.000.000 250.800.000 3.500 3.700 3.800 4.100
2012/2013 387.000.000 367.650.000 5.200 5.500 5.600 6.000
Fonte: TR 8
Notas:
1 Safras 2006/2007 e 2012/2013 → dados da UNICA
2 Cana utilizada = 95% do total de cana processada
3 Fator de capacidade = 0,5

A figura 34 ilustra algumas das possíveis rotas de avanço da cogeração


no setor sucroalcooleiro no Estado de São Paulo, considerando como estágio
atual a energia comercializada no Estado mais a já comprometida nos leilões do
MME. Evidentemente, nem todas as variáveis do processo estão presentes neste
quadro e algumas rotas necessitariam de investimentos imediatos para cumprir
os prazos estipulados.

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96 Bioenergia no Estado de São Paulo

Figura 34.  Rotas e avanços no potencial da cogeração no setor sucroalcooleiro em


São Paulo até 2013 (estimativa-limite)

Acréscimo
é
Tecnologias MWmédio

vel Avanço com Tecnologia + 900


b ust í + Adotada
Com
Bagaço Avanço com Nova
+1200
Tecnologia
Safra
Atual

Cenários Máximos Possíveis


Estado de SP até 2013
Estágio
Atual

Avanço com Tecnologia


+ Adotada +1800
~1100
Bagaço

Avanço com Nova


Safra Prevista Tecnologia +2200
2012/2013

Avanço com Tecnologia


+ Adotada +4400
Bagaço+Palha

Avanço com Nova


Tecnologia +4900

Fonte: TR 8

Na tabela 13 observa-se que o incremento mínimo já comercializado até


2011 com origem em São Paulo é cerca de 220 MWmédio nos Leilões de Energia
Nova. Como ilustrado na figura 34, o segmento de bioeletricidade no setor su-
croalcooleiro no Estado de São Paulo está longe de seus limites. No entanto, os
preços praticados nos últimos leilões não têm atraído adequadamente o setor
e, por isso, políticas de incentivo e amadurecimento serão necessárias para a
consolidação parcial dos potenciais aqui apresentados.
Até aqui, somente os potenciais limites foram avaliados com base no
volume total de insumo. Uma prospecção baseada na realidade física de cada
usina seria necessária para estabelecer que fração dos potenciais limites seria
factível a cada ano.
A tabela 16 apresenta uma visão resumida do parque atual de usinas,
capacidade de moagem e potência instalada.

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 97

Tabela 16.  Resumo do parque atual de usinas de São Paulo


Número de Moagem (Mt/ Potência instalada
Classificação usinas safra) (MW)
Usinas com cogeração original 100 170 547
Usinas sem cogeração 15 5 -
Usinas com retrofit 35 89 1.146
Totais 150 264 1.693
Fonte: TR 8

Estes números deixam claro o grande potencial de crescimento da


cogeração no Estado, uma vez que grande parte do volume de cana moída
corresponde a menos da metade da cogeração instalada, o que significa uma
capacidade de revitalização do parque (retrofitting) expressiva. Numa primeira
avaliação, se apenas aquelas usinas que ainda têm a cogeração original estives-
sem submetidas a retrofitting com o emprego de uma tecnologia mais avançada
(condensação e 65 bar com 70 kWh/tc de excedentes), este parque seria capaz
de produzir cerca de 1.400 MWmédio de excedentes.
Com relação ao potencial de geração de energia elétrica por biogás e
biomassa no Estado de São Paulo, este foi calculado considerando apenas in-
formações seguras (embora não tenham sido levadas em conta restrições de
ordem econômico-financeira) e está apresentado na tabela 17. No entanto,
analogamente ao caso da cogeração no setor sucroalcooleiro, mesmo parte
desse potencial limite somente será factível com políticas públicas adequadas.

Tabela 17.  Potencial de geração elétrica por biogás e biomassa (exceto cana) no Estado
Alternativas Potencial (MWmédio)
Aterro sanitário 250
Biogás 250
Processo térmico n.a.
Esgoto 100
Resíduos rurais n.a.
Vinhaça 1000
Biomassa florestal 1500
Licor negro 1500
Outros resíduos n.a.
Total 2850
Fonte: TR 8
Obs.: (n.a.) significa não avaliado por falta de
informações mais precisas

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98 Bioenergia no Estado de São Paulo

No caso do setor de papel e celulose, o aproveitamento energético mais


eficiente do licor negro e dos resíduos florestais, atualmente, não se viabiliza
economicamente em virtude das baixas tarifas de compra de energia elétrica
nas concessionárias (Velásquez, 2006).
Quanto ao biogás de aterros sanitários, como apresentado na tabela 17,
o Estado de São Paulo tem um bom potencial para ser aproveitado, tanto de
aterros em operação como desativados. Em 2005, os ministérios da Cidade e da
Ciência e Tecnologia selecionaram um total de 200 municípios para a realização
de uma avaliação inicial do potencial de biogás de aterros sanitários no Brasil.
No Estado de São Paulo foram selecionadas as cidades de Americana, Santos,
Guarulhos e Santo André. É importante destacar que algumas cidades, como
São Paulo, não se interessaram por este apoio do governo federal, preferindo
adotar soluções próprias para o aproveitamento do biogás de seus aterros,
como tem sido feito (discutido na seção II.4)
O Estado de São Paulo, de forma geral, ainda abriga muitos lixões a céu
aberto para o descarte dos resíduos sólidos urbanos e quase todos são admi-
nistrados pelas próprias prefeituras, que não dispõem de competência técnica
para realizar o aproveitamento do biogás gerado. Entretanto, existem no Esta-
do alguns aterros sanitários monitorados, ambientalmente corretos e operados
pela municipalidade ou pela iniciativa privada.
Esses poucos projetos de aproveitamento de biogás, com as exceções
apontadas na seção II.4 que produzem 40 MWmédio de potência elétrica, estão
orientados para a sua captação e queima, visando apenas as receitas com as
vendas de crédito de carbono. Isto se justifica em função do baixo investimento
necessário para a captação e queima do biogás e da expectativa com as vendas
de créditos de carbono a partir de 2008. Neste ano iniciou-se a vigência do
Protocolo de Quioto, quando os países desenvolvidos terão que efetivamente
comprovar a redução das emissões de carbono. Estima-se que o preço de cada
certificado (uma tonelada de carbono) deverá estar entre 15 e 20 € no período
coberto pelo Protocolo – 2008 a 2012.
Para que se possa dinamizar o uso do biogás de aterros sanitários, geran-
do energia elétrica, torna-se necessário, por parte do Estado, avaliar melhor a
situação e criar mecanismos de incentivo ou mesmo de penalização.
As grandes estações de tratamento de esgoto, como as da Sabesp ge-
ram quantidade elevada de biogás que deveria ser aproveitada na produção de
energia elétrica para o consumo na própria unidade. Essa condição de autopro-
dução, pela não incidência de impostos e encargos do setor elétrico, reduziria
de forma significativa os custos com energia nessas estações.

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 99

III.5  Recursos humanos e relações de trabalho

Conforme detalhado nos TR’s 6 e 7, as perspectivas de evolução do tra-


balho e das relações trabalhistas no setor de biocombustíveis são determinadas
principalmente pelas mudanças estruturais pelas quais passa o setor agropecu-
ário brasileiro e pelo atendimento das legislações ambientais.
As mudanças estruturais implicam em transformação de parcela das pro-
priedades rurais em empresas agrícolas, cada vez mais relacionadas à lógica in-
dustrial. Por sua dependência dos insumos industriais (mecanização e utilização
de produtos químicos) e dedicação à produção de matérias-primas cada vez
mais industrializadas, o setor sucroalcooleiro e de oleaginosas contribui para
estabelecer uma nova ordem de relação com o trabalho.
As culturas temporárias como soja e cana-de-açúcar, por exemplo, res-
ponsáveis até a década de 1980 por ampla ocupação de mão-de-obra, passaram
a conviver com mão-de-obra menos intensiva, porém com maior número de
trabalhadores com contrato de trabalho formal. Assim, a fração de assalariados
na zona rural vem ganhando importância, sobretudo pelas formas de contrata-
ção temporárias extensivas, em sua maioria, no período de safra.
No Estado de São Paulo, em especial, o aumento dos índices de assala-
riados e da formalização do emprego deu vazão ao surgimento de entidades
sindicais (sindicato e federação estadual) dirigidas aos empregados assalariados.
As demais formas de trabalho não-assalariadas (autônoma, em cooperativas e
familiar) seriam função do sindicalismo tradicional, caso houvesse acordo entre
os dois tipos de organização dos interesses de trabalhadores.
De maneira geral, as transformações nas relações de trabalho no Estado
parecem ocorrer mais rapidamente do que no restante do país. Assim, percebe-
se como a situação dos trabalhadores paulistas submetidos às atividades tem-
porárias no setor sucroalcooleiro perde participação no total de empregados
temporários de todo o país nos últimos 20 anos.
Hoje, o ponto que fomenta ainda mais o debate sobre a geração de em-
pregos no setor sucroalcooleiro é o atendimento das questões ambientais. A lei
estadual para eliminação da queimada de cana no Estado (Lei no 11.241/2002),
estabelecendo um cronograma para erradicar a queima da cana em SP com
fins de proteção ambiental (tabela 18), tem como conseqüência a adoção de
máquinas colheitadeiras para a cana crua, o que pode levar à correspondente
redução de postos de trabalho.

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100 Bioenergia no Estado de São Paulo

Tabela 18.  Cronograma de eliminação da queima da cana-de-açúcar no Estado de São


Paulo, segundo a Lei no 11.241/2002

Área mecanizável onde não se pode efetuar a queima da cana-de-açúcar


Ano Porcentagem de eliminação
1 Ano (2002)
o
20% da queima eliminada
5o Ano (2006) 30% da queima eliminada
10o Ano (2011) 50% da queima eliminada
15 Ano (2016)
o
80% da queima eliminada
20 Ano (2021)
o
Eliminação total da queima

Área não-mecanizável, declividade superior a 12% e/ou com queima menor que 150 ha
Ano Porcentagem de eliminação
1 Ano (2011)
o
10% da queima eliminada
5 Ano (2016)
o
20% da queima eliminada
10o Ano (2021) 30% da queima eliminada
15 Ano (2026)
o
50% da queima eliminada
20 Ano (2031)
o
Eliminação total da queima

Fonte: Lei no 11.241 de 19 de setembro de 2002

Em junho de 2007, como já mencionado, foi assinado o Protocolo Agroam-


biental (tabela 19), entre o governo do Estado de São Paulo, por meio das Secre-
tarias de Agricultura e Abastecimento e de Meio Ambiente, e a União da Indústria
da Cana-de-Açúcar (UNICA). Esse protocolo antecipa o cronograma em mais
de dez anos, tanto para áreas mecanizáveis quanto para áreas atualmente não-
mecanizáveis em função da tecnologia disponível. Em março de 2008, o mesmo
protocolo foi assinado pela Orplana33, associação que congrega 13.000 pequenos
fornecedores de cana, o que reforça a eliminação da queimada até 2017.
Assim como a Lei no 11.241 impõe a erradicação em prazos determina-
dos, o Protocolo também estabelece um cronograma evolutivo para erradica-
ção total e, além disso, define a adesão voluntária às normas e critérios estabe-
lecidos, implicando na emissão de Certificado de Conformidade Agroambiental
emitido pela Secretaria do Meio Ambiente.

33. Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (www.orplana.com.br)

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 101

Tabela 19.  Cronograma de eliminação da queima da cana-de-açúcar no Estado de São


Paulo, segundo o Protocolo Agroambiental

Área mecanizável onde não se pode efetuar a queima da cana-de-açúcar


Ano Porcentagem de eliminação
2010 70% da queima eliminada
2014 Eliminação total da queima
Área não-mecanizável, declividade superior a 12% e/ou com queima menor que 150 ha
Ano Porcentagem de eliminação
2010 30% da queima eliminada
2017 Eliminação total da queima

Fonte: Protocolo Agroambiental, 2007

A antecipação do fim das queimadas retoma a discussão sobre o trei-


namento específico para os trabalhadores que serão substituídos pelo siste-
ma mecanizado de corte de cana e sobre o contingente de trabalhadores
volantes que poderão vir a representar um aumento no número de desem-
pregados. A formulação de políticas públicas que visem a qualificar esses con-
tingentes de trabalhadores poderá atenuar um cenário de desemprego. Aliás,
considerando a expansão da área de cana plantada no Estado, conforme
discutido na seção II.5, verificou-se até 2007 um tênue aumento do número
de empregos.
Em documento da UNICA transparece a necessidade de capacitação do
trabalhador de outras funções dentro da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, ao
afirmar que “o desenvolvimento do setor exigiu um grande avanço da indústria
de equipamentos, tanto para o setor agrícola quanto para o industrial; o nível
tecnológico dessa indústria tem sido constantemente atualizado, liderando no
nível mundial em algumas áreas. Isto se traduz internamente na geração de em-
pregos e renda” (Macedo, op. cit., 2005).
Estimativas recentes pelo IEA e pela UNICA (Jank, 2008) indicam que o
setor sucroalcooleiro em São Paulo, tomando por base a safra 2006/07, deverá
criar cerca de 57 mil empregos mais qualificados, ao mesmo tempo em que
reduz cerca de 190 mil postos de trabalho de cortadores de cana até a safra
2015/16, com a eliminação total da queimada.
Assim sendo, configura-se claramente a necessidade de aumento de
oferta de treinamento e fortalecimento de programas sociais.

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102 Bioenergia no Estado de São Paulo

III.6  Meio ambiente

Em termos de perspectivas na área de meio ambiente, além da redução


de emissões progressivas devida à Lei da Eliminação da Queimada de Cana e do
Protocolo Agroambiental, já discutidos anteriormente, há o chamado decreto
das Bacias Aéreas (Decreto estadual 50.753/2006). Este decreto estabelece as
regras para licenciamento de indústrias no Estado de São Paulo, com base nos
requisitos da qualidade do ar nas bacias aéreas e na possibilidade de compen-
sações de emissões poluentes dentro de cada bacia. Isto significou um avanço
ambiental importante no Estado que pode influenciar a instalação de novas
unidades produtoras.
O Decreto 52.469, de dezembro de 2007, alterou parcialmente o decre-
to anterior, especialmente nos seguintes tópicos:
a) O programa relativo ao controle de indústrias existentes teve sua data
de início alterada de 2009 para 2012;
b) Ampliações de sistemas industriais passaram a ser permitidas sem
necessidade de compensação, desde que usada a melhor tecnologia
disponível.
Em setembro de 2008, foram publicadas duas resoluções referentes ao
Zoneamento Agroambiental para o setor sucroalcooleiro no Estado de São
Paulo (Ambiente, 2008) que reúnem os requisitos agronômicos e ambientais a
serem seguidos pelo setor.
a) A Resolução conjunta das secretarias SMA-SAA no 004 (18/9/2008)
que dispõe sobre o zoneamento em questão, definindo quatro áreas
no Estado, com a seguinte classificação:
- adequada (sem restrições ambientais específicas), correspondendo a
aproximadamente 3,9 milhões de hectares;
- adequada com limitações ambientais, correspondendo a 8,6 milhões
de hectares;
- adequada com restrições ambientais (5,5 milhões de hectares);
- inadequada (6,7 milhões de hectares).
b) A Resolução SMA no 067 (18/9/2008) que define as diretrizes técnicas
para o licenciamento dos empreendimentos em cada área mencionada.
Os critérios adotados para esse Zoneamento Agroambiental incluíram:
aptidão edafoclimática para cultura de cana, áreas de restrição à colheita me-
cânica (declividade), disponibilidade de águas superficiais e vulnerabilidade das
águas subterrâneas, unidades de conservação, proteção integral, biodiversidade
e qualidade do ar nas bacias aéreas.
Atualmente a grande discussão que ocorre em termos de perspectivas
sócio-ambientais do setor sucroalcooleiro se refere à competição de biocom-

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 103

bustíveis (em particular o etanol de cana-de-açúcar) com alimentos, mudança no


uso da terra, desmatamento, balanço global das emissões de gases efeito estufa
e à necessidade (ou não) de certificação ambiental de biocombustíveis, como
vem sendo defendida pela União Européia e outros países desenvolvidos.
Na realidade, estas são barreiras apresentadas como ambientais, mas
que correspondem a interesses comerciais. A competição com alimentos não
está ocorrendo no Estado de São Paulo, como já discutido anteriormente, com
a expansão da área plantada com cana-de-açúcar sobre áreas anteriormente
destinadas a pastagens e o adensamento da pecuária (aumento do número de
cabeças de gado de 1 para 1,4 por hectare).
Se esta experiência for estendida para o restante do país, os 200 milhões
de hectares de pastagens existentes podem se reduzir a 140 milhões de hec-
tares, deixando outros 60 milhões para aumento das áreas destinadas à agri-
cultura de alimentos e biocombustíveis. Na verdade, verifica-se que no Estado,
apesar da expansão da cana-de-açúcar, ocorreu uma significativa expansão na
produção de alimentos, sem necessidade de desmatamento.
Quanto ao balanço global de gases efeito estufa, estudos – como já
mencionado – indicam um balanço altamente favorável para o etanol de
cana-de-açúcar quando comparado com qualquer outro biocombustível
(Goldemberg, 2008).
Ainda com relação a esses temas, devem ser ressaltadas as iniciativas do
governo federal, com a instituição de um zoneamento agrícola para o país pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem como a introdução de
certificação voluntária dos biocombustíveis, pelo Inmetro34. Entretanto, cada vez
mais os aspectos ambientais devem ser monitorados, evitando impactos negati-
vos ao desenvolvimento do etanol e garantindo a sua sustentabilidade.

III.7  Tributação

Como já mencionado no item II.7, a alíquota de ICMS no Estado de São


Paulo sobre a gasolina C é de 25% sobre o preço presumido ao consumidor
final, enquanto a alíquota sobre o etanol hidratado é de 12%.
O crescimento previsto do consumo de etanol hidratado como principal
combustível dos veículos flexíveis, conforme discutido nos cenários do item III.1,
implica em redução da arrecadação de ICMS por quilômetro rodado no Estado.

34. Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (www.inmetro.gov.br)

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104 Bioenergia no Estado de São Paulo

Embora o crescimento da frota de veículos leves e seu subseqüente


consumo energético possam produzir um aumento na arrecadação global de
impostos, qualquer redução na taxa de crescimento da frota pode refletir em
uma redução de arrecadação, tornando vulnerável a manutenção desse benefí-
cio ao etanol no Estado.
No que se refere a PIS/Cofins, a aprovação da Lei Federal no 11. 729/08
estimula os produtores e distribuidores a optarem pelo pagamento de alíquotas
específicas por unidade de volume (ad rem), a serem estabelecidas pela Secretaria
da Receita Federal, com base no preço médio de venda do AEHC ao consumidor
final no país. As alíquotas específicas não poderão ser superiores a 1,6% do preço
estabelecido para o PIS e a 7,6% para o Cofins, assegurando uma alíquota total
igual à da gasolina C. A partir de 1o/10/2008, a alíquota total (não-cumulativa)
representa R$ 48,00/m3 no produtor e R$ 120,00/m3 no distribuidor.
A redução do valor da CIDE incidente sobre a gasolina de R$ 0,28/litro
para R$ 0,18/litro em maio de 2008 diminuiu a vantagem do AEHC (valor da
CIDE igual a zero), aumentando a competitividade da gasolina no país.
De qualquer maneira, a competitividade econômica dos biocombustíveis
com os derivados de petróleo deverá continuar dependendo de tributação di-
ferenciada, a qual deverá privilegiar os benefícios sociais e ambientais dos com-
bustíveis renováveis.

III.8  Logística

Esta seção, extraída do TR 9, trata da concepção estratégica dos recursos


logísticos que deverão integrar o sistema de produção e comercialização de
biocombustíveis no Estado de São Paulo, considerando os sub-setores agrícolas
e industriais pertinentes.
O horizonte cronológico adotado no estudo foi o ano de 2016, admitin-
do-se que apenas os produtos álcool carburante (anidro e hidratado) e biodiesel,
terão impactos na infra-estrutura de transporte do Estado no período coberto.
Em se tratando do etanol, a concepção visou o sistema logístico situado
entre a produção nas usinas e a chegada do álcool nas bases de distribuição e
portos, bem como na articulação desses últimos com o transporte marítimo
intercontinental. Admite-se que o suporte logístico a montante da lavoura de
cana será provido de forma não especializada, em particular pela infra-estrutura
público-privada de transporte contemplada no PDDT (Plano Diretor de De-
senvolvimento de Transportes). A logística – entre a lavoura e as usinas – recebe
um tratamento mais simples, pois embora as quantidades sejam muito grandes

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 105

(a safra 07/08 paulista de cana alcançou 292 milhões de toneladas, sendo parte
direcionada para a produção de açúcar e outras finalidades de menor expres-
são), as distâncias são de menor porte.
Segundo os autores do estudo em questão, um cenário conservador
para o potencial de produção e consumo interno do álcool combustível no
Estado de São Paulo, para 2016, seria o de uma produção de 20,9 bilhões de
litros, dos quais 8,4 bilhões são previstos para consumo no Estado, 5 bilhões
seriam destinados à exportação e 7,5 bilhões de litros a outros Estados. Vale
destacar que a expansão da cultura da cana vem ocorrendo principalmente na
região oeste do Estado.
Por sua vez, o potencial de exportação de álcool do sistema Sul/Sudeste,
passando por São Paulo, em 2014, estaria entre 7 bilhões (cenário conservador)
e 12 bilhões de litros (cenário otimista) conforme estudo realizado pela Secre-
taria dos Transportes e pela UNICA, em 2006, sobre alcoolduto.
A Figura 35 adiante apresenta as produções e fluxos de etanol para 2016.

Figura 35.  Produções e fluxos de álcool carburante em 2016 (bilhões de litros/ano)

Fonte: TR 8

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106 Bioenergia no Estado de São Paulo

A logística de distribuição do etanol no Estado prevê a utilização de:


• estradas vicinais para o transporte da cana até a usina;
• sistema rodoviário estadual tanto para o transporte de cana até a usina
como suporte para os fluxos primário de entrega e de transferência;
• e de ferrovias, hidrovias, dutovias, bases de transferência e estocagem e
portos, para os fluxos de transferência em maiores distâncias.
Os 19,4 bilhões de litros produzidos em São Paulo e não-consumidos no
interior do Estado estão previstos para serem conduzidos, em 2016, para bases
ou centrais de coleta, para alimentar os fluxos de transferência que os levarão
a destinos mais remotos, no próprio Estado ou fora dele. A essa quantidade
somam-se 2,3 bilhões de litros de outros Estados que deverão transitar por São
Paulo para alcançar os portos exportadores.
O sistema de transporte atual, excessivamente carregado no modo ro-
doviário, não terá capacidade para escoar os fluxos nos próximos anos, com o
nível de serviço requerido, esgotando-se bem antes de 2016. Há insuficiência
de oferta de hidrovia, ferrovia e dutovia, bem como existem gargalos localizados
em todos os modos, além de faltas ou deficiências em terminais intermodais.
Problema análogo ocorre com os portos. Sua capacidade está virtual-
mente esgotada, tendo a exportação brasileira em 2006 atingido 3,4 bilhões de
litros de álcool.
Os problemas apontados no parágrafo anterior evidenciam a necessida-
de de providências, algumas em caráter de urgência, para equacionar os proble-
mas apontados. Sem essas medidas pode-se ter como certo que a logística será
fator inibidor do programa do etanol. A questão vem merecendo a atenção de
agentes públicos e privados que desenvolvem iniciativas para expandir e mo-
dernizar a infra-estrutura logística.
As perspectivas para as vias estaduais, como apontadas em estudos em
desenvolvimento na Secretaria dos Transportes sobre a concessão de novos lo-
tes de rodovias na região oeste do Estado, indicam a viabilidade da ampliação da
malha concedida naquela região. Isto implicará no aumento da capacidade de
alguns trechos e na modernização dos sistemas de controle, monitoramento e de
prestação de serviços aos usuários da infra-estrutura rodoviária da região. Em ter-
mos de manutenção, está sendo executado um programa de investimento focado
prioritariamente na recuperação de estradas vicinais do Estado, o que certamente
contempla uma significativa parcela da malha de vicinais da região oeste.
Com relação aos fluxos primários, as iniciativas cabem quase exclusiva-
mente ao governo do Estado de São Paulo. Entre seus planos e projetos em
andamento pode ser citado o Programa de Pavimentação e Recuperação de
Estradas Vicinais do Estado de São Paulo que está sendo executado até 2010. O
financiamento está sendo negociado com o Banco Internacional de Reconstru-

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 107

ção e Desenvolvimento – BIRD (Banco Mundial) e com o Banco Interamerica-


no de Desenvolvimento – BID. O objeto do programa constitui-se na execução
de ações mais focadas na recuperação de cerca de 7.600 km de rodovias vici-
nais distribuídas em três etapas. A primeira que está se encerrando (outubro de
2008), recuperou 2.117 km de vias com investimento total de R$ 457 milhões,
correspondentes à contrapartida do Estado. As duas outras etapas prevêem
ações em cerca de 5.500 km, a um custo de R$ 1,39 bilhão com financiamento
dos referidos bancos. Uma quarta etapa está em planejamento.
Em termos gerais, as perspectivas para a expansão e modernização da
infra-estrutura que escoará os fluxos de transferência até 2016 envolvem:
• providências do governo de São Paulo, em parceria com associações e
empresas do setor sucroalcooleiro, para estudar e colaborar na cons-
trução de um alcoolduto entre Paulínia e o Porto de Santos (ou São
Sebastião);
• o programa de investimentos dos governos estadual e federal e de
outros agentes na hidrovia Tietê-Paraná;
• o programa de modernização da logística do etanol da região Sul/Su-
deste empreendido pela Transpetro, que inclusive prevê o aproveita-
mento das faixas de servidão de polidutos de derivados de petróleo
para instalar alcooldutos;
• a ampliação e adaptação das facilidades portuárias, linhas de recebi-
mento/expedição e tancagem; e
• a expansão da capacidade de armazenagem e melhoria no sistema de
descarga e expedição nos centros de coleta.
No que se refere às dutovias, há um complexo logístico proposto pela
Transpetro para escoamento dos fluxos de transferência, formado pelos seguin-
tes elementos35:
• ampliação do sistema atual – Paulínia – Terminal Ilha d´Água, com in-
vestimentos da ordem de R$ 100 milhões e ampliação da capacidade
de exportação de etanol de 600 milhões litros/ano para cerca de 2,9
bilhões de litros/ano;
• duto Paulínia – Guararema, com investimentos da ordem de R$ 580
milhões e aumento subseqüente da capacidade de exportação do Ter-
minal Ilha d´Água para 4 bilhões litros/ano;
• poliduto Conchas – Paulínia, para transporte de álcool no sentido hi-
drovia – Paulínia e de diesel ou gasolina no sentido oposto, com capa-
cidade para 4 bilhões de litros/ano (2 bilhões em cada sentido);

35. Plano Decenal de Expansão de Energia 2007/2016 - MME - Capítulo VII, pág. 772.

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108 Bioenergia no Estado de São Paulo

• duto Guararema/São Sebastião, com investimentos de R$ 315 milhões


e elevação da capacidade de exportação para 8 milhões de m³/ano; e
• duto aproveitando a faixa do poliduto de derivados de petróleo Osbra
(Senador Canedo/Uberaba/Ribeirão Preto/Replan), com investimentos
previstos da ordem de R$ 2,1 bilhões.
Observe-se que, em adição a essas infra-estruturas, de interesse mais dire-
to de São Paulo, a Petrobras analisa o projeto de um poliduto que, além do álcool,
transportará derivados de petróleo entre Cuiabá (MT) e o Porto de Paranaguá
(PR), com extensão prevista de 1.410 km e investimentos de R$ 2,25 bilhões.
Por ocasião da elaboração deste documento, outro alcoolduto, de in-
teresse do Grupo Brenco, interligando a região do Alto Taquari, fronteira dos
Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso, passando por São José
do Rio Preto e São Paulo, chegando até o porto de Santos está sendo discutido,
tendo sido solicitada autorização à ANP.
Em 2008, o governo do Estado editou o Decreto no 53.048 (2/6/08) que
criou um Grupo de Trabalho Intersetorial (GT) composto por representantes
das secretarias estaduais com afinidade ao tema para estruturar e desenvolver
um plano de criação de uma rede de dutos no Estado de São Paulo.
O GT está elaborando estudos para avaliação da viabilidade técnica, eco-
nômica, ambiental e jurídica da concessão de faixas de domínio e servidão
integrantes dos próprios do Estado de São Paulo, por onde seria instalado um
poliduto e seus potenciais ramais.
A Figura 36 apresenta as faixas de domínio correspondentes ao poliduto
planejado pelo grupo de trabalho e os projetos dutoviários da Petrobras, assim
como a localização das usinas de álcool.
A hidrovia Tietê-Paraná, atravessando o coração do sistema produtivo
paulista de álcool, tem papel central na veiculação dos fluxos aí gerados, bem
como daqueles originários das porções meridionais dos Estados de Mato Gros-
so do Sul, Goiás e Minas Gerais e ainda do oeste do Paraná. Os estudos do
Convênio ST – UNICA indicam que a hidrovia pode transportar até 3,7 bilhões
de litros em 2014. Esta capacidade, entretanto, possivelmente terá que ser subs-
tancialmente aumentada no futuro, caso se configure um cenário de crescimen-
to significativo das exportações.
O programa de investimentos do Departamento Hidroviário do Estado de
São Paulo para o período 2008 a 2011 prevê recursos da ordem de R$ 150 milhões,
destinados especialmente a ações que visam o aumento da capacidade da hidrovia.
Na visão da Transpetro, os investimentos no sistema Tietê – Paraná de-
verão alcançar cerca de um bilhão de reais, compreendendo a construção de
quatro terminais, sendo um nas proximidades de Conchas e os demais em
Araçatuba, Presidente Epitácio e São Simão, com opção de mais um em Foz
do Iguaçu.

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 109

Figura 36.  Rede Paulista de Polidutos

REDE PAULISTA DE POLIDUTOS Legenda


GOIÁS
USINAS
M ATO G R O S S O - Em operação
- Em montagem
CUIABÁ BRASÍLIA DF - Em projeto
GOIÂNIA
CÁCERES FAIXA DE DOMÍNIO - POLIDU
RONDONÓPOLIS

SENADOR CANEDO
Projetos dutoviários da Petrob

Coletor Álcool (Hidroviário)

Coletor Álcool (Rodo-ferroviár


ITUMBIARA
MINAS GERAIS
M ATO G R O S S O DO SUL
Base de distribuição (Gasolin
Barragem Itumbiara UBERLÂNDIA
SÃO SIMÃO

a íb
nraa
R.
Pa
HIDROVIA TIETÊ-PARANÁ
BELO HORIZONTE Projeto de expansão hidroviá
Barragem Água Vermelha
nd
e UBERABA
APARECIDA DO TABOADO
R.
Gra

CAMPO GRANDE Ponte Rodoferroviária RODOVIA


Canal PereiraBarreto
- principal
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - secundária
Terminal Três Lagoas

ra
Pa

RIBEIRÃO PRETO
R.

RODOANEL
ARAÇATUBA
R.
Titêe
- Existente (Trecho Oeste)
BATAGUAÇU PRES EPITÁCIO - Em construção (Trecho Sul)
PRES PRUDENTE RIO DE JANEIRO - Projeto (trechos Norte e Leste
BAURU
STA MARIA DA SERRA
PAULÍNIA FERROVIA
PIRACICABA CAMPINAS RIO DE JANEIRO
OURINHOS
S. JOSÉ DOS CAMPOS RIO DE JANEIRO FERROANEL
SEPETIBA ILHA D´ÁGUA - Trecho Norte
LONDRINA
MARINGÁ SÃO PAULO - Trecho Sul
SÃO SEBASTIÃO
SANTOS Cidade
PERUIBE
PA R A N Á
Porto
á
P ran
R. a

O C E A N O AT L Â N T I CO

GUAÍRA CURITIBA
ARAUCÁRIA Escala aproximada: 1 cm = 50 km
PARANAGUÁ

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento


ULISTA DE POLIDUTOS Legenda
GOIÁS
USINAS
M ATO G R O S S O - Em operação
CUIABÁ Com relação ao biodiesel, a meta cor- BRASÍLIA DF
- Em montagem
- Em projeto

RONDONÓPOLIS respondente ao B5 implicará consumo de 2,2 GOIÂNIA


FAIXA DE DOMÍNIO - POLIDUTO
SENADOR CANEDO
bilhões de litros por ano de biodiesel em 2010. Projetos dutoviários da Petrobras

Coletor Álcool (Hidroviário)


Tendo em vista o horizonte cronológico do pre- Coletor Álcool (Rodo-ferroviário)
MINAS GERAIS
M ATO G R O S S O DO sente
SU L trabalho e um possível aumento do por- ITUMBIARA
Base de distribuição (Gasolina e Diesel)
Barragem Itumbiara UBERLÂNDIA

centual de biodiesel no diesel mineral (B7) em


SÃO SIMÃO
a íb
nraa

HIDROVIA TIETÊ-PARANÁ
Pa
R.

2016, projeta-se uma demanda de 11,7 milhões


BELO HORIZONTE Projeto de expansão hidroviária
Barragem Água Vermelha
nd
e UBERABA
APARECIDA DO TABOADO
R.
Gra

CAMPO GRANDE RODOVIA


de litros/dia ou 4,2 bilhões de litros/ano.
Ponte Rodoferroviária

Canal PereiraBarreto
- principal
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - secundária
Terminal Três Lagoas

Quando se considera as unidades pro-



ra
Pa

RIBEIRÃO PRETO
R.

RODOANEL
ARAÇATUBA
- Existente (Trecho Oeste)
dutoras de biodiesel atualmente aprovadas pela
R.
Titêe

BATAGUAÇU PRES EPITÁCIO - Em construção (Trecho Sul)


PRES PRUDENTE RIO DE JANEIRO - Projeto (trechos Norte e Leste)

ANP, a participação do Estado seria de cerca BAURU


STA MARIA DA SERRA
PAULÍNIA FERROVIA
PIRACICABA CAMPINAS RIO DE JANEIRO

de 24% desse volume. Além disso, como o con-


OURINHOS
S. JOSÉ DOS CAMPOS RIO DE JANEIRO
SEPETIBA ILHA D´ÁGUA
FERROANEL
- Trecho Norte
LONDRINA

sumo de óleo diesel no Estado de São Paulo é


MARINGÁ SÃO PAULO
SÃO SEBASTIÃO
- Trecho Sul

SANTOS Cidade
aproximadamente
PA R A N Á 23% do consumo brasileiro, PERUIBE
Porto
á
P ran

supõe-se que a participação do Estado na pro-


R. a

O C E A N O AT L Â N T I CO

GUAÍRA CURITIBA

dução do biodiesel em 2016 será cerca de 23%. ARAUCÁRIA Escala aproximada: 1 cm = 50 km


PARANAGUÁ

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110 Bioenergia no Estado de São Paulo

Isto equivaleria a pouco mais de 900 milhões de litros de biodiesel por ano. Essa
cifra corresponde a 4,3% da produção de etanol, prevista para 20,9 bilhões de
litros nesta data, de maneira conservadora.
Esses números denotam a pequena influência do biodiesel na demanda
agregada de suporte logístico no conjunto do programa. Por outro lado, em-
bora a situação do Brasil como importador de diesel possa se alterar, não se
devem esperar fluxos expressivos de exportação de biodiesel até 2016. Não
haverá, portanto, pressões adicionais sobre os sistemas portuários e respectivas
linhas de abastecimento.
Tudo considerado, é de se supor que os sistemas rodoviário e ferroviário
venham a desempenhar o papel mais importante na logística do biodiesel sem,
entretanto, demandar novos projetos.

III.9  Pesquisa e desenvolvimento


Nesta seção são apresentadas as perspectivas de evolução dos aspectos
tecnológicos da produção e uso dos biocombustíveis, extraídas do TR 5 – Tecno-
logia e Ciência para o Desenvolvimento Sustentável da Bioenergia em São Paulo.
Nos próximos anos, deve-se por em prática as tecnologias já disponíveis
e atualmente ainda em uso parcial, generalizando as melhores práticas agronô-
micas, industriais e de gestão. A evolução tecnológica contínua dos processos
em uso poderá levar também a ganhos relevantes de produtividade, incluindo
a agricultura de precisão, melhores variedades (particularmente para as novas
áreas), maior integração da colheita/ carregamento/ transporte, novos proces-
sos de separação do etanol e automação industrial, entre outros.
Em médio prazo (5 a 10 anos), intensa atividade de pesquisa poderá levar
ao desenvolvimento de diversos co-produtos derivados da sacarose (alguns já
em exploração) e novos sub-produtos, principalmente do bagaço e palha, como
a energia elétrica excedente (já iniciado) e o etanol obtido a partir do proces-
so de hidrólise. Também em médio e longo prazo, há perspectivas favoráveis
para o desenvolvimento e difusão de variedades geneticamente modificadas de
cana-de-açúcar, mais produtivas e resistentes.
Os ganhos com os primeiros itens podem ser muito expressivos, mas há
boas perspectivas de que ocorram importantes saltos tecnológicos associados
às variedades transgênicas de cana, aos avanços em co-produtos e à instalação
de bio-refinarias com utilização mais eficiente da sacarose e dos resíduos da
cana (bagaço e palha).
A partir do mapeamento do genoma da cana, hoje há no Brasil diversos
grupos trabalhando com dezenas de variedades transformadas com expectativas

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 111

de melhorias na resistência às doenças, precocidade, sacarose, biomassa total, etc.


É difícil estimar o tempo necessário para esse trabalho, mesmo porque não se
trata apenas de um problema técnico, pois a liberação dessas variedades (mesmo
para testes de campo) depende de autorizações. Os grupos trabalhando na área
são tanto privados (CTC, Allelyx) como instituições de pesquisas públicas (univer-
sidades). De certa forma pode-se dizer que o trabalho nessa área, no Brasil, segue
a mesma linha de pesquisa em melhoramento genético convencional, mas o volu-
me da produção de cana brasileira induz direcionamentos, em termos mundiais.
A utilização mais eficiente da sacarose e dos resíduos da cana (bagaço e
palha), com importantes saltos tecnológicos previstos, pode ser um fator deci-
sivo para a competitividade do etanol brasileiro no futuro. O Brasil pode passar
a utilizar grandes volumes de biomassa pré-preparada, nas usinas, com a recu-
peração da palha e o aumento dos excedentes de bagaço; os custos previstos
são muito menores que os de biomassa de plantações energéticas, no exterior
(Macedo, 2007). Dois processos e suas muitas variantes são considerados cha-
ves para a promoção dessas biorrefinarias do futuro, particularmente para a
valorização energética dos materiais lignocelulósicos; ambos estão ainda em
desenvolvimento, com perspectivas de atingir viabilidade nos próximos anos,
dependendo de tecnologias mais eficientes e biomassa de menor custo:
• hidrólise da biomassa: permite a conversão da celulose em açúcares e a
partir daí a produção de etanol e outros produtos. Espera-se que as pri-
meiras unidades estejam operando comercialmente entre 2010 e 2020;
• gaseificação da biomassa: permite obter combustíveis adequados para a ge-
ração eficiente de energia elétrica e/ou a síntese de combustíveis líquidos.
As expectativas para viabilidade comercial situam-se entre 2015 e 2025.
Há grandes esforços em pesquisa e desenvolvimento tecnológico na Euro-
pa, Estados Unidos e Ásia nessas duas opções, imaginadas como soluções para a
conversão de diversas biomassas em energia comercial, principalmente combustí-
veis líquidos. É possível, no caso da cana, que esses processos possam levar a mais
de 60% de aumento na recuperação de energia comercial da biomassa.
No Brasil destacam-se há alguns anos os trabalhos em hidrólise ácida
liderados pela Dedini (com recursos parcialmente da FAPESP e participação do
CTC) e, mais recentemente (nos últimos dois anos), projetos em grupos uni-
versitários em hidrólise enzimática e alguns no setor privado. Na recuperação
de biomassa e investigações em gaseificação destacam-se o trabalho do CTC
(com a TPS Termiska Processser AB, da Suécia) financiado pelo GEF36 e alguns
estudos em institutos.

36. Global Environmental Facility (Banco Mundial).

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112 Bioenergia no Estado de São Paulo

Por outro lado, essas biorrefinarias poderão incorporar outros co-pro­­


du­­tos dos açúcares, inclusive outros combustíveis líquidos, que podem vir a con­
cor­­rer com etanol ou biodiesel. As tecnologias podem ser, em muitos casos, já
existentes, precisando adaptação, ou inteiramente novas. Processos importados
(produção de aminoácidos como a lisina, MSG – glutamato monossódico, ácido
cítrico, e outros) ou de desenvolvimento interno (PHB- polihidroxibutirato, plás-
tico biodegradável) e reativação de processos modernizados (eteno) da antiga
alcoolquímica estão operando ou em instalação no país.
O volume de recursos utilizados hoje no desenvolvimento dessas opções
(maior eficiência no uso da biomassa, outros produtos da sacarose) é muito
pequeno se comparado com o que se investe no exterior. É muito possível que
a produção de etanol no mundo seja futuramente dominada por processos a
partir da celulose. O Brasil poderia manter a liderança no setor em função de
vantagens naturais e da produção crescente da cana. No entanto, nas condições
atuais isto só ocorrerá com a importação de tecnologia externa (em hidrólise
e gaseificação).
Na fase atual de desenvolvimento mundial nessas áreas, os investimen-
tos deverão ser direcionados, principalmente, para projeto, montagem e tes-
tes em plantas piloto pré-comerciais. Esses investimentos são relativamente
elevados, ultrapassando os valores normalmente liberados para pesquisa no
Brasil, e exigirão envolvimento conjunto do setor privado e de agências de
fomento do governo.
Pelo aspecto da aplicação, é importante voltar a concentrar esfor-
ços no principal uso final: os motores para veículos. O aperfeiçoamento do
motor bicombustível e as tecnologias para motores de combustão interna
(CI) operando com etanol são essenciais para o cenário dos próximos anos
no Brasil; de fato, um dos pontos onde a ação governamental pode ser im-
portante é no direcionamento de uso de motores CI movidos a etanol no
transporte urbano.
Comparadas à cana, as expectativas para as demais fontes de bioe-
nergia configuram cenários bem mais modestos e sujeitos a incertezas, seja
pelas limitações inerentes às tecnologias consideradas, ou pelas condições
de contorno, definidas pelo mercado energético, a legislação ambiental e
as disponibilidades de área para cultivo. De toda maneira, e ainda sem uma
prospectiva definida dos cenários futuros, a produção e o uso da bioenergia
mostram uma tendência positiva. É razoável esperar uma consolidação do
emprego da lenha de reflorestamento, uma expansão do uso da biodigestão
anaeróbia e, com menor clareza, a progressiva inserção do biodiesel na ma-
triz energética estadual. Diferentemente do caso do etanol, as perspectivas

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Cenários e Perspectivas da Evolução da Bioenergia 113

tecnológicas para essas fontes bioenergéticas necessitam de investigações


que indiquem as rotas a serem seguidas.
Alguns setores industriais são quase cativos do emprego de lenha,
constituindo a parcela preponderante do consumo desse vetor bioener-
gético em São Paulo. As plantas de papel e celulose, as cerâmicas (espe-
cialmente a cerâmica vermelha) e as indústrias de bebidas e alimentos, por
sua escala e proximidade das fontes de suprimento, devem manter essa
demanda e seu perfil tecnológico e não se prevêem significativas alterações
em curto e médio prazo.
Por sua vez, a desejável expansão dos sistemas de tratamento de esgo-
tos e efluentes agroindustriais, decorrente de uma maior preocupação com
o meio ambiente e das disponibilidades tecnológicas com bom desempenho,
indica favoravelmente o incremento do número de biodigestores anaeróbios e
conseqüente produção de biogás.
Quanto ao biodiesel, atualmente sustentável economicamente apenas
em configurações limitadas, como empregando sebo bovino e óleos residuais,
espera-se que nos próximos anos sejam conseguidas as condições mínimas de
viabilidade, que dependem obrigatoriamente do desenvolvimento tecnológico
agronômico e dos processos agroindustriais associados.
Nos próximos parágrafos são comentadas as necessidades de pesqui-
sa e desenvolvimento tecnológico para esses vetores bioenergéticos, incluindo
os estudos fundamentais e os trabalhos no campo da gestão e planejamento.
No âmbito dos estudos básicos, que poderão ser de interesse também para a
agroindústria da cana, são oportunos os estudos básicos de fisiologia vegetal:
caracterização dos ciclos fotossintéticos, mecanismos de utilização de água, eva-
potranspiração e comportamento em condições de reduzida disponibilidade
térmica e hídrica.
Também são necessários trabalhos para avaliação do volume disponível e
da caracterização de resíduos agrícolas e agroindustriais, especialmente para as
culturas do milho e arroz e para as agroindústrias da madeira, de processamen-
to de grãos e produção de bebidas:
• identificação de volumes disponíveis;
• determinação de propriedades;
• avaliação dos impactos da utilização dos resíduos de colheita que so-
braram como matéria orgânica no solo.
Mais especificamente para as cadeias agroenergéticas associadas à lenha,
além das atividades de suporte ao desenvolvimento tecnológico da silvicultura,
são mencionados diversos temas de pesquisa (TR 5), entre os quais são consi-
derados prioritários:

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114 Bioenergia no Estado de São Paulo

• estudos visando à expansão da cogeração na indústria de papel e celulose;


• estudos sobre as tecnologias para a produção de pellets e briquetes
com resíduos agrícolas.
No âmbito da aplicação da biodigestão anaeróbia, os temas mais rele-
vantes são:
• estudos do processamento de lodos utilizando digestores UASB em
sistemas integrados de geração de potência elétrica e térmica;
• pesquisas para a valorização energética de resíduos urbanos, em rotas
térmicas e por biodigestão anaeróbia em aterros sanitários;
• estudos sobre a aplicação de biogás.
Para o biodiesel, as linhas de estudos de maior interesse são:
• estudos para seleção dos cultivos com potencial para a produção de
biodiesel;
• estudos sobre algas marinhas de interesse energético;
• desenvolvimento de sistemas de cogeração na produção de biodiesel;
• desenvolvimento de rotas termoquímicas para produção de biocom-
bustíveis.
De interesse geral, mais alguns temas podem ser executados:
• estudos de melhoria da malha de transportes e da cadeia logística para
os biocombustíveis em São Paulo;
• estudo das externalidades da bioenergia, quantificando custos e be-
nefícios sociais, econômicos e ambientais associados à produção de
biocombustíveis e bioeletricidade;
• estudos de competitividade da bioenergia face aos desenvolvimentos
dos biomateriais, procurando estabelecer as condições tecnológicas e
de contorno, bem como as sensibilidades aos fatores exógenos (preços,
investimentos, limites de produção, etc.);
• estudos dos impactos da exportação de bioenergia (biodiesel e eletri-
cidade) em diferentes cenários tecnológicos para São Paulo, conside-
rando o mercado brasileiro e mundial.
Essas linhas de estudos e temas de pesquisas abrem um leque de possibi-
lidades, que se impõe ordenar de acordo com as perspectivas de obtenção de
resultados relevantes em prazos não muito extensos.

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IV Principais Barreiras e Desafios ao
Desenvolvimento da Bionergia

A liderança mundial brasileira na produção e uso economicamente viável


de combustíveis renováveis foi assegurada por desenvolvimentos tecnológicos
e investimentos realizados persistentemente, com grande participação pública,
durante as últimas três décadas. Os principais macrodesafios identificados à
manutenção dessa liderança são: melhorar a sustentabilidade social e ambiental
da produção e uso dos biocombustíveis, inclusive para defendê-los no mercado
internacional; planejar e adequar a cadeia produtiva para atender à expansão
da demanda, com atenção especial aos gargalos em bens de capital e logística;
aperfeiçoar e expandir o mercado doméstico; criar e desenvolver o mercado
internacional; desenvolver e difundir tecnologias incrementais e radicais em pra-
zos apropriados para manter a competitividade nacional e ter coordenadas as
ações dos vários atores relacionados com a cadeia.

IV.1  Melhoria da sustentabilidade social e ambiental


na produção e uso da bioenergia
Os critérios ambientais e sociais aplicados à bioenergia são inúmeros,
principalmente os europeus conforme discutido nos TR’s 4, 6, 7, 12 e 14. Dentre
os mais freqüentes questionamentos aos biocombustíveis em todo o mundo
estão as questões sociais, a competição por terra com alimentos, a segurança
hídrica e a indução ao desmatamento pela expansão insustentável da fronteira
agrícola.
A competição por terras agricultáveis é um argumento freqüentemente
invocado para o estabelecimento de barreiras técnicas à exportação de biocom-
bustíveis, o qual recentemente ganhou notoriedade pelo aumento do preço dos
alimentos, muito embora a área ocupada pelos biocombustíveis seja menor que
1% da área agricultável do planeta. Em países onde não há espaços de terra para
expansão de cultura e que incentivam a produção interna de biocombustíveis,
existe esta possibilidade, a exemplo do que ocorreu nos EUA com a utilização
de milho para produzir etanol e seu impacto sobre países como o México.
No caso brasileiro isto está longe de ocorrer pela grande quantidade
de terras agricultáveis. No caso específico do Estado São Paulo, que responde
por 60% da produção de cana-de-açúcar do país, os dados consolidados dos
últimos 20 anos mostram que é possível simultaneamente produzir energia e

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116 Bioenergia no Estado de São Paulo

aumentar significativamente a produção de alimentos, beneficiando-se dos re-


cursos do desenvolvimento econômico decorrente da produção de bioenergia
para incorporar tecnologia e aumentar a produtividade agrícola. No mesmo
período ocorreu uma intensificação da pecuária, o que liberou área para cultivo.
A pecuária brasileira utiliza hoje uma área superior a 200 milhões de hectares
com uma ocupação média de uma cabeça de gado por hectare. Extrapolando
a ocupação média do Estado de São Paulo de 1,4 cabeça por hectare para o
restante do país, ter-se-ia uma área disponível para agricultura de cerca de 60
milhões de hectares, mais de oito vezes a área plantada total de cana (açúcar e
álcool). Entretanto, este fato não parece ser do conhecimento dos organismos
internacionais, o que requer uma política de divulgação dirigida.
O setor sucroalcooleiro vem apresentando uma vigorosa expansão e,
como conseqüência, recebe pressões de ordem ambiental sob muitos aspectos,
principalmente com relação à perda de biodiversidade por causa da mono-
cultura em larga escala. O Zoneamento Agroambiental recentemente editado
no Estado de São Paulo, conforme mencionado na seção III.6, visa a orientar o
licenciamento no setor sucroalcooleiro e corresponde a um passo importante
na melhoria da sustentabilidade ambiental.
Em São Paulo, uma das prioridades é a proteção dos remanescentes
florestais.
A reserva legal para São Paulo de 20%, prevista no Código Florestal
de 1965 é freqüentemente descumprida por fornecedores e arrendatários de
terras de cultivo de cana. O controle por parte dos órgãos ambientais é muito
difícil. Visando o cumprimento dessa legislação, o governo do Estado de São
Paulo editou o Decreto no 50.889/06, que, porém, encontrou muita resistência
por parte do setor industrial. Em seguida foi editado o Decreto no 51.006/06
que criou grupo de trabalho para sua aprimoração.
Mais recentemente, em julho de 2008, foi publicado o Decreto federal no
6.514/08, obrigando a averbação da reserva legal das propriedades.
Ainda na parte agrícola, apesar da legislação em vigor, a emissão de poluen-
tes (principalmente particulados) pela queima da palha da cana antes da co­­lheita
ainda preocupa, apesar dos esforços de redução das queimadas conforme a
legislação estadual e o Protocolo Agroambiental já mencionados. A fiscalização
do atendimento destes instrumentos ainda requer aperfeiçoamento. A colheita
de cana crua manual pode ocorrer, mas a fiscalização difusa em campo é com-
plexa e muitos defendem o monitoramento por meio de imagens de satélites,
com penalidades aos infratores detectados.
O aumento da mecanização da colheita traz outros desafios ao setor
sucroalcooleiro paulista. Novas tecnologias de colheita estão sendo propostas,
e nelas a parte da palha que é deixada no campo atua como proteção e adu-

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Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bionergia 117

bação orgânica do solo e a rotação de culturas desempenha uma estratégia


importante de regeneração. Entretanto, apesar da mecanização da colheita da
cana permitir uma maior produtividade, ela exige uma mínima uniformidade no
terreno. Atualmente as máquinas não cobrem áreas com declividades acima de
12%, o que leva ao abandono da cultura da cana nessas áreas ou induz a quei-
ma da palha da cana, autorizada ou clandestina. Isso deve ser equacionado por
autorizações prévias e fiscalização. A redução progressiva da queima da palha
da cana pré-colheita permitirá, também, reduzir a incidência de incêndios não
controláveis. É necessário desenvolver novas tecnologias de mecanização da
colheita que atinjam terrenos com maior declividade. Além disso, há também a
questão da colheita mecanizada em áreas de pequenos produtores, que neces-
sitam de máquinas de porte adequado.
As tecnologias de cultivo de cana-de-açúcar baseadas no uso de defensi-
vos agrícolas podem acarretar, no longo prazo, problemas de difícil previsão, em-
bora a decomposição natural da palha funcione como um herbicida. Ainda que
a colheita mecânica equacione grande parte dos impactos ambientais, é preciso
definir uma política de ocupação territorial nas áreas de alta vulnerabilidade,
como aqüíferos e regiões de abrangência das plumas de emissões das chaminés
das usinas, que podem conter traços dos defensivos. Quanto à disposição das
embalagens usadas, sua fiscalização é difícil, o que causa passivos ambientais que
requerem remediação.
Quanto à exploração de águas subterrâneas, há fatores que agravam a
situação, como a tímida aplicação dos regulamentos existentes, o estágio inci-
piente de produção de normas e diretrizes técnicas, a insuficiência de pessoal
técnico habilitado e a falta de aplicação do conhecimento hidrogeológico dis-
ponível.
Já o destino da vinhaça e efluentes não está definitivamente equacionado
com a prática da fertirrigação, mas grandes avanços foram obtidos. A CETESB
emitiu a norma orientadora (P 4.231/06 – Vinhaça – Critério e Procedimentos
para Aplicação no Solo Agrícola), às usinas e destilarias que produzem vinhaça,
requerendo a apresentação de um Plano Anual de Fertirrigação com uma série
de exigências de procedimentos para aplicar a vinhaça nos solos, com base na
Legislação Ambiental em vigor. Por questões econômicas, o lançamento, em
geral, se concentra num raio de 15 a 30 quilômetros da usina, potencialmente
trazendo riscos de contaminação por nitratos em regiões de recarga de lençol
freático. Tanques não-impermeabilizados são potenciais hotspots de contamina-
ção. Até o momento não há indícios de salinização ou saturação do solo pela
fertirrigação.
No setor industrial, muitas usinas antigas emitem quantidades consi-
deráveis de poluentes atmosféricos sem controle final. O licenciamento dos

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118 Bioenergia no Estado de São Paulo

empreendimentos cabe à SMA/ CETESB e, em sua renovação, pode-se exigir


ganhos ambientais ao longo do tempo, às vezes até na segunda renovação
da licença. Falta ainda estabelecer um instrumento de gerenciamento que
conecte a emissão da fonte e a qualidade do ar e, dados de saúde pública. A
rede de monitoramento da qualidade do ar da CETESB é insuficiente e ainda
não cobre a região das usinas de forma sistemática. Se localizadas em áreas
consideradas saturadas, as emissões das usinas novas ou a ampliação das
antigas acima de linhas de corte preestabelecidas estão sujeitas às exigências
de compensação de poluentes locais. Isso deve ocorrer com emissões de
óxidos de nitrogênio (NOx), quando a cober tura da rede de monitoramen-
to da CETESB atingir essas regiões. No caso, os processos deverão reduzir
ou procurar compensar as emissões, e a colheita da cana crua pode ser con-
siderada uma opção para a compensação. O Decreto de Bacias Aéreas pode
ser importante vetor de modernização das usinas existentes, mas precisam
ser vencidas várias barreiras políticas para criação de um mercado de cré-
ditos de poluentes. Por outro lado, as resoluções referentes ao zoneamento
Agroambiental do setor sucroalcooleiro no Estado de São Paulo, mencionadas
anteriormente, passam a considerar diretamente as “Bacias Aéreas” no licen-
ciamento de empreendimentos específicos.
No caso do biodiesel, apesar de sua menor produção relativa ao etanol,
e da utilização de insumos que vêm predominantemente de fora de São Paulo,
ele apresenta questionamentos de ordem ambiental. A produção descentraliza-
da e a diversidade de insumos e rotas tecnológicas de produção podem levar
a questões ambientais. A produção de biodiesel à base de metanol, que atual-
mente corresponde à quase totalidade do biodiesel produzido no Brasil, pode
provocar problemas ambientais se o descarte de águas utilizadas no processo
contiver o contaminante, que é bastante tóxico.
Há impactos positivos a considerar, como, por exemplo, no caso do bio-
diesel à base de gordura animal, que permite um bom aproveitamento de re-
síduos. Algumas variedades de oleaginosas podem potencialmente recuperar
áreas degradadas, caso do pinhão-manso (jatropha curcas), o que ainda requer
investigação.
Quanto aos outros bioenergéticos, eles enfrentam pressões muito me-
nos intensas. Um caso pontual se refere às florestas energéticas, especificamente
à plantação de eucaliptos que drenaria água dos aqüíferos locais.
Há uma iniciativa em andamento para a certificação ambiental do carvão
vegetal produzido em São Paulo. Contudo, há consumo de carvão produzido
em outros Estados, sem controle. O setor é marcado por alto índice de clandes-
tinidade e por uma imagem associada a más condições de trabalho e destruição
ambiental. É necessário intensificar a fiscalização.

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Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bionergia 119

Com relação ao biogás, as barreiras ambientais se referem principalmen-


te ao fato de que grande parte dos resíduos sólidos urbanos é depositada em
lixões e não em aterros. Este fato, além de impedir a captação do biogás para
produção de energia, acarreta inúmeros problemas ambientais. Outra barreira
recente, que pode afetar a geração de eletricidade por fontes renováveis em
São Paulo, é a incerteza gerada pelos fatores de emissão para projetos po-
tencialmente elegíveis ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no
âmbito do Protocolo de Quioto. A proposição da Comissão Interministerial
sobre Mudança Global do Clima (CIMGC), sugerindo um novo fator de emissão
baseado na subdivisão do sistema elétrico brasileiro, prejudica sobremaneira os
projetos de bioeletricidade a bagaço e a gás de aterro em São Paulo e necessita
ser revista. Como o subsistema Sul tem maior proporção de termeletricidade
de origem fóssil, a separação reduz a linha de base dos projetos MDL.
Os aspectos sociais da bioenergia têm seus desafios detalhados nos TR’s
6 e 7. Na verdade, o rápido crescimento da agricultura brasileira ocorreu a par-
tir de um sistema privado, em que o Estado tem participação reduzida, até mes-
mo no financiamento agrícola. A expansão dos últimos anos veio acompanhada
de forte concentração nos mercados de insumos agrícolas, comercialização e
processamento.
Uma das principias conseqüências do avanço da reestruturação produ-
tiva, que evolui para as culturas industriais, tem sido a profunda alteração nas
relações de trabalho. Esta mudança manifestou-se sobre os trabalhadores por
meio de novos requisitos contratuais, controles e intensificação da jornada de
trabalho, condições de trabalho (metas diárias de produção), remuneração va-
riável, programas de qualidade total, entre outros. O resultado final foi uma
reestruturação da produção, com ganhos significativos de produtividade.
Diante das alterações mais recentes na composição dos empregados
assalariados formais no setor sucroalcooleiro paulista, verificam-se também im-
plicações diretas sobre o nível de escolaridade. Em dez anos, por exemplo,
constata-se a maior presença de trabalhadores com maior escolaridade e, por
conseqüência, a rápida redução dos ocupados com baixa escolaridade e de
menor idade.
Por sua vez, a sazonalidade da colheita da cana-de-açúcar provoca alta
taxa de rotatividade do emprego no setor, conforme as informações disponibi-
lizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, tendo atingido 60% no ano de
2005, muito acima da taxa de rotatividade do emprego formal do país (43%).
Em função disso, a instabilidade contratual termina por inibir a ampliação
da formação dos empregados, seja por parte das empresas que podem ver o
investimento se tornar custo com a saída do trabalhador de maior qualificação,
seja do trabalhador que não sabe qual qualificação valorizar tendo em vista a

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120 Bioenergia no Estado de São Paulo

rotina de oscilação nos empregos. Simultaneamente, a rotatividade nas ocupa-


ções favorece o achatamento salarial, com a substituição dos trabalhadores de
mais alta remuneração pelos de salário inferior.
O desenvolvimento das atividades agrícolas, especialmente nas culturas
industriais, aponta para uma nova dinâmica de concentração da propriedade
rural. Com base no censo agropecuário do IBGE, pode-se perceber a presença
de uma estrutura fundiária fortemente concentrada no Estado de São Paulo.
De certa forma, a combinação de uma estrutura fundiária concentrada
com a modernização nas culturas industriais tem provocado redução de postos
de trabalho, gerando vulnerabilidades e tensões no meio rural. Nesse sentido,
as inseguranças sociais que resultam da concentração fundiária, destruição de
postos de trabalho e instabilidade dos contratos de emprego constituem fato-
res que não devem ser preteridos pelas políticas públicas.
Uma vez que a tendência de mecanização da cultura de bioenergéticos
é irreversível em termos ambientais e econômicos, há que se discutir o destino
dos trabalhadores rurais que serão deslocados.
O TR 6, que discute a área de recursos humanos, apresenta os desafios
a seguir discutidos.
Há falta de motivação do trabalhador, que é uma das etapas mais impor-
tantes de todo o processo, em sua requalificação. Uma solução possível seria
um aumento na eficiência do acompanhamento dos programas sociais. Nesse
sentido, o papel do Estado torna-se ainda mais importante, por sua inserção
no estabelecimento de políticas educacionais no meio rural. Sem a aderência
do Estado aos programas, estará no mínimo comprometida a formação dos
trabalhadores.
Por sua vez, a sazonalidade do emprego no setor sucroalcooleiro exige
o deslocamento contínuo dos chamados bóias-frias, o que dificulta sua inclusão
na totalidade dos programas sociais. Sua fixação no território, desenvolvendo
outras atividades no período de entressafras, é condição sine qua non para a
integração como trabalhador e cidadão. Esta situação vale também para os
migrantes, o que exige políticas de Estado que visem o desenvolvimento rural
(local) de onde se originam as longas jornadas desses trabalhadores. Isso aponta
para a necessidade de uma ação conjunta entre governos federal e estadual, a
fim de qualificar esses trabalhadores (do Estado de São Paulo ou migrantes)
que deverão, conforme políticas públicas adequadas, encontrar possibilidades
de emprego em seus locais de origem.
Apesar do atual aumento da demanda por trabalhadores mais qualifica-
dos pelo setor sucroalcooleiro, é necessário ainda alfabetizar o trabalhador rural
e sua família, uma vez que o processo de qualificação fica prejudicado pela falta
de pré-requisitos básicos.

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Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bionergia 121

Por fim, verifica-se uma insuficiência de centros de capacitação e de um


levantamento das escolas técnicas ativas e inativas no Estado de São Paulo, a fim
de constatar se elas estão aderentes às necessidades regionais. Cabe ressaltar
que esta recomendação não se aplica apenas ao setor sucroalcooleiro, mas tra-
ta-se de uma necessidade relativa a qualquer outra atividade agrícola, incluindo
sua extensão ao setor agroindustrial.
Como já foi analisado anteriormente, verifica-se no Estado de São Paulo
uma concentração da cultura de cana-de-açúcar nas mãos de grandes pro-
prietários rurais, ao contrário da situação no Paraná, onde a cana-de-açúcar é
principalmente produzida por cooperativas de pequenos produtores. Apesar
das implicações sociais, verifica-se que a plantação em grande escala apresenta
menores custos de produção devido ao aumento de produtividade agrícola.
Este aumento se deve não apenas à maior escala, mas também à incorporação
da mecanização e ao uso de subprodutos da usina (vinhaça e torta de filtro) na
fertirrigação, os quais substituem os fertilizantes convencionais que necessitam
ser adquiridos pelos produtores não associados às usinas.
No caso das oleaginosas para produção de biodiesel, as principais vantagens
do ponto de vista social se concentram na agricultura familiar de pequeno porte,
o que favorece a mamona, o pinhão manso e outras. Apesar dessas vantagens
sociais para as pequenas propriedades, essa organização impede que sejam al-
cançadas produtividades mais elevadas, implicando custos de produção maiores
e na necessidade de subsídios. No caso do Estado de São Paulo, esta situação
é pouco significativa, pois na maior parte dos casos o biodiesel é produzido a
partir de soja e de gordura animal pela sua maior competitividade econômica.

IV.2  Planejamento e adequação das cadeias


dos biocombustíveis para atender
à expansão da demanda
O crescimento do setor de bioenergia do Estado de São Paulo, neces-
sário para atender a demanda prevista nos cenários apresentados no capítulo
III, enfrenta diversas barreiras nas várias etapas de sua cadeia de produção e
comercialização. Os desafios referem-se tanto aos aspectos de produção com
eficiência energética como aos de viabilidade econômica. Estes desafios são
abordados em diversos TR’s, conforme a perspectiva específica de cada tema.
No TR1 são analisadas as barreiras e desafios ao suprimento do mercado
nacional de biocombustíveis, de forma ampla. Abordando inicialmente a cadeia
produtiva do etanol, verifica-se que o seu mercado interno atingiu uma fase

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122 Bioenergia no Estado de São Paulo

adiantada de consolidação com a entrada dos veículos bicombustíveis a partir


de 2003. Isso concedeu ao consumidor liberdade de escolha de combustível
por ocasião de cada abastecimento e criou um mercado competitivo entre o
etanol e a gasolina. Desse fato decorre também o principal desafio da cadeia
produtiva: a viabilidade da produção econômica do etanol passou a depender
fortemente do preço do petróleo.
Como as principais cadeias componentes do agronegócio brasileiro estão
integradas ao mercado internacional, a criação de um mercado externo para o
etanol pode afetar o suprimento interno caso haja diferenças significativas entre
as taxas de importação de biocombustíveis e de alimentos.
Por ser a cana-de-açúcar um produto agrícola cultivado em larga escala,
há os riscos climático e sanitário correspondentes. Especial atenção deve ser
dada às técnicas de manejo e de genética que minimizem as perdas relativas às
variações climáticas (ocorrência de veranicos).
Um outro aspecto importante para a consolidação do mercado interno
diz respeito à capacidade de estocagem de álcool para estabilizar o equilíbrio
entre a oferta e a demanda, principalmente na entressafra. A flutuação do
preço relativo etanol/ gasolina tem provocado perda temporária do mercado
consumidor, que reage mais lentamente à queda do preço do etanol do que
à sua elevação.
No que diz respeito à qualidade dos biocombustíveis, embora existam
iniciativas diversas por parte da ANP, Sefaz, SSP e MP37 para garantir que a
qualidade praticada nos postos de revenda esteja em conformidade com as
especificações, a falta de integração dessas ações é uma barreira à otimização
dos resultados.
Com relação a desafios na área industrial, vale mencionar que o setor su-
croalcooleiro e seus principais fornecedores atravessaram períodos de grande
instabilidade, incluindo uma prolongada crise, há menos de dez anos, quando o
petróleo esteve cotado a menos de US$ 20 o barril. Muitas empresas ainda se
ressentem dessa crise nos seus balanços ou nas condições cadastrais. Um dos
resultados desses dois fatores limitantes é a baixa propensão ao investimento
por parte das empresas fornecedoras para o setor sucroalcooleiro. As barreiras
na capacidade de produção da indústria nacional, com forte presença no Estado,
não foram diretamente relatadas pelos fabricantes. Entretanto, como discutido
no TR 8, é fato que o mercado comprador está vivendo um boom de demanda

37. ANP Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis, Sefaz Secretaria da Fazenda do Estado de São
Paulo, SSP Secretaria de Estado da Segurança Pública, MP Ministério Público.

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Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bionergia 123

global por equipamentos de infra-estrutura, e os investidores manifestam algum


descontentamento com alongamentos de prazos e custos a maior. Os investi-
dores relatam esses contratempos na aquisição de equipamentos como uma
barreira para entrar mais rápido com os projetos e ganhar competitividade.
Um dos aspectos fundamentais da adequação da cadeia produtiva de
etanol, para continuar atendendo à demanda de maneira competitiva, é a ele-
vação da sua eficiência energética. O principal desafio no curto prazo é como
aumentar a cogeração de energia elétrica, aspecto que apresenta barreiras eco-
nômicas, estruturais e institucionais e regulatórias a serem transpostas, confor-
me detalhado no TR 8. Entre elas, destacamos:
• Há necessidade de melhorias nas condições de financiamento como
incentivo à cogeração. O perfil de garantias corporativas para um seg-
mento dependente de outras áreas (plantação, logística, planta indus-
trial), e a agilização do processo de liberação de recursos, é uma ca-
rência percebida nas condições do BNDES em relação ao padrão de
investidores no ramo. Embora a securitização dos recebíveis dos con-
tratos de energia da cogeração seja adequada para o regime perma-
nente, o start-up tem sido difícil, o que está impedindo a aceleração dos
projetos e impactando itens estruturais para a sua viabilidade, como a
encomenda antecipada firme de equipamentos. Não há diferenciação
entre as tecnologias mais eficientes no momento da definição do finan-
ciamento (existem incentivos para caldeiras acima de 60 bar, mas não
há incentivos diferenciados para sistemas ainda mais eficientes);
• O Estado de São Paulo tem enorme tradição no setor sucroalcooleiro e
a cogeração sempre foi um processo coligado. O aumento da eficiência
do processo, a atratividade dos preços da energia e suas condições de
venda estão motivando o setor a reformar suas instalações. Este modo
de recuperação das plantas, denominado retrofit é menos competitivo
do que o de construção nova (greenfield). O preço da energia passível
de ser obtido no modelo retrofit é cerca de 30% a 40% superior ao do
modelo novo. As razões para tal condição são as mais diversas, e vão
desde a troca de caldeiras seminova ainda não depreciadas até a alo-
cação do investimento, e seus benefícios, no processo como um todo.
Tal fato se apresenta como uma barreira significativa para a competiti-
vidade das instalações no Estado. O equilíbrio das condições financeiras
entre os retrofit e greenfield é primordial;
• A questão de regulação do back up junto à Aneel precisa ser aperfeiço-
ada visando a sua adequação às necessidades do cogerador, principal-
mente por ocasião das interrupções por condições climáticas (parada
da usina por motivo de chuva);

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124 Bioenergia no Estado de São Paulo

• As tarifas oferecidas para a compra de eletricidade gerada a partir de


cana-de-açúcar, no âmbito do Proinfa, não foram consideradas atra-
entes pelo setor, o que teve como conseqüência uma baixa oferta de
energia para venda neste segmento. Entretanto, no leilão de reserva
realizado em setembro de 2008, como já mencionado, foram comer-
cializados 548 MWmédio para todo o Brasil, a um preço médio de R$
154,80/MWh.
Um dos principais desafios para atender à expansão da demanda interna
de etanol é a inadequação da infra-estrutura de distribuição no país como um
todo. Portanto, será necessário melhorar a logística, investindo em ferrovias, du-
tos e terminais líquidos. Conforme apresentado na seção III.8, mesmo o Estado
de São Paulo que tem a melhor infra-estrutura de transportes do país, deverá
realizar investimentos significativos para aumentar e adequar sua capacidade.
A tabela 20 apresenta os valores estimados de investimentos necessários para
o setor rodoviário. Analogamente, estão previstos investimentos na Hidrovia
Tietê-Paraná da ordem de 400 milhões de reais e nas ferrovias no Estado
cerca de 3,4 bilhões de reais até 2013. Para duas dutovias que atravessariam o
Estado de São Paulo e para a ampliação de terminais e da disponibilidade de
tanques de armazenamento, seriam necessários investimentos estimados em
4,6 bilhões de reais.
Embora, no seu conjunto, a operação dos serviços de transportes e a
conseqüente exploração dos negócios logísticos de qualquer natureza no Brasil
seja hoje realizada quase que totalmente pelo setor privado, um grande desafio
é a coordenação das várias ações, com participação efetiva do governo estadual
em defesa dos interesses logísticos, ambientais e de geração de empregos no
Estado, conforme Decreto no 53.648/08 discutido na seção III.8.
No que se refere ao biodiesel, os óleos vegetais correspondem a 80% /
85% do seu custo de fabricação, sendo que os de palma (dendê) e de soja são
os que recebem menores cotações, no mercado internacional. Os outros óleos
vegetais (como por exemplo, a mamona) apresentam usos finais de maior valor
agregado e, portanto, maiores preços. Devido à escala de produção, o PNPB
– Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel começou a vigorar utili-
zando o óleo de soja. Ainda hoje essa matéria-prima atende a 85 % da produ-
ção brasileira de biodiesel. Correspondendo a uma área plantada de cerca de 2
milhões de hectares (10% da área total de soja).

38. Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais

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Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bionergia 125

Tabela 20.  Investimentos Previstos para a infra-estrutura do setor rodoviário

Investimento 2008 2009 2010 Sub-Total Após 2010 TOTAL


Concessões Existentes 751 564 467 1.782 2.298 4.080
Novas Concessões 739 702 616 2.057 4.081 6.138
Trecho Oeste do Rodoanel 174 58 53 285 296 581
Dom Pedro I 175 200 177 552 982 1.534
Ayrton Senna/Carvalho Pinto 50 104 94 248 258 506
Raposo Tavares 109 109 94 312 1.006 1.318
Rondon Leste 87 87 75 249 935 1.184
Rondon Oeste 144 144 123 411 604 1.015
Corredor Tamoios - 279 279 558 1.923 2.481
Tamoios Planalto - 49 49 98 400 498
Tamoios Serra - - - - 1.000 1.000
Contornos - 140 140 280 190 470
Porto de São Sebastião - 90 90 180 333 513
Obras Rodoviárias 4.180 2.771 2.485 9.436 8.460 17.896
Malha Rodoviária Estadual 2.466 1.752 1.505 5.723 6.880 12.603
Vicinais 1.714 1.019 980 3.713 1.580 5.293
Rodoanel 1.590 1.000 165 2.755 2.800 5.555
Trecho Sul 1.590 1.000 165 2.755 - 2.755
Trecho Leste - - - - 2.800 2.800
TOTAL 7.260 5.316 4.012 16.588 19.562 36.150
Fonte: Superintendência de Planejamento de Transportes – Secretaria dos Transportes de São Paulo. TR 9

Mello et al. (2007), tendo por base estudo da Abiove38, indicam que a
produção de biodiesel é viável apenas a uma cotação do óleo de soja abaixo
de US$ 480/t no mercado internacional. No início do programa, a soja estava
cotada em US$ 420 a tonelada. Com o aumento do preço já verificado dos
óleos vegetais e da sua tendência futura de crescimento, esta se configura como
a principal barreira ao biodiesel de soja.
Por sua vez, a produção em pequena escala de óleos vegetais como a
mamona, produzida no sistema de agricultura familiar, apresenta custos eleva-
dos, apesar das vantagens sociais já mencionadas.
Com relação ao sebo bovino, sua disponibilidade para biodiesel não é su-
ficiente para atender o mercado e suas cotações têm crescido com o aumento
da demanda.

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126 Bioenergia no Estado de São Paulo

É também um grande desafio, o desenvolvimento de alternativas de cul-


turas de alta produtividade de oleaginosas que possam ser usadas em condições
de aptidão de solo que não concorram com a produção de alimentos.
Com relação ao biogás para geração de energia, a grande barreira é a
reduzida viabilidade econômica dos processos de conversão, o que requer polí-
ticas públicas e fiscais adequadas. Além disso, a gestão intermunicipal de aterros
poderia ser aperfeiçoada, reduzindo-se os impactos ambientais e adequando-os
à legislação existente.
O mesmo problema ocorre no aproveitamento das florestas energéticas,
onde se verifica a falta de viabilidade econômica no processo de geração de
energia elétrica. Este processo só é viável quando se utilizam os resíduos da
madeira aproveitada para outros usos, tais como produção de papel e celulose,
móveis, etc.

IV.3  Aperfeiçoamento e expansão do mercado


doméstico de bioenergia
Apesar da frota de veículos flexíveis já ter atingido praticamente 7 mi-
lhões de unidades, um fator a ser considerado como barreira à expansão do
mercado interno, no caso do etanol, é a desconfiança do consumidor quanto
à eficiência do motor flex-fuel, por causa da diferença na taxa de compressão
ideal para gasolina e para álcool, e à falta de conscientização dos benefícios am-
bientais advindos do uso do combustível renovável, entre outros. Na verdade, a
fração da frota de veículos flexíveis utilizando etanol hidratado – e não gasolina
– em muitos Estados brasileiros (conforme apresentado na seção III.1.) ainda é
significativamente menor do que aquela esperada pela relação de preços entre
eles, o que indica alguma resistência ao uso do etanol.
Há também a questão das diferenças de ICMS entre as várias unidades
da Federação o que, aliado aos diferentes custos de transporte desde as regiões
produtoras até os centros consumidores, faz com que o preço final do etanol
não seja competitivo com a gasolina em muitos estados, porque o preço da
gasolina é mais uniforme em termos de localização geográfica.
Outra barreira é a competição do gás natural veicular que teve cresci-
mento significativo enquanto o preço do GNV foi mantido competitivo. A frota
de veículos a gás atingiu cerca de 1.600.000 veículos em 2007, com uma média
mensal de conversões de aproximadamente 7.000 veículos.
O fator mais importante a ser considerado como uma barreira à ex-
pansão do mercado interno de etanol é o preço da gasolina no Brasil. Há uma

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Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bionergia 127

tendência de crescimento da oferta de gasolina internamente, por causa do


aumento da produção de petróleo doméstico e da capacidade de refino, que
deverá igualar o preço (sem impostos) de venda da gasolina para as distribuido-
ras ao preço líquido de exportação. A incidência dos tributos sobre a gasolina
é atualmente maior que sobre o etanol, o que pode significar uma barreira
futura, porque a substituição do consumo de gasolina pelo etanol pode implicar
redução da arrecadação.
Por sua vez, o mercado doméstico de biodiesel é assegurado pelo PNPB,
que prevê (como já analisado) a mistura obrigatória de 2% de biodiesel a partir
de 2008 e 5% a partir de 2013, para uso em todo o território nacional. Em
março de 2008, o Conselho Nacional de Política Energética CNPE – antecipou
a mistura obrigatória de 3% de biodiesel no diesel para início a partir de julho.
Há capacidade de produção adequada para atender esta demanda; en-
tretanto, os preços não são competitivos com o preço do óleo diesel. Um mer-
cado adicional para o biodiesel seria obtido com o aumento na porcentagem de
mistura ao diesel, próximo às regiões produtoras, para aproveitamento da re-
dução dos custos de transporte, que são significativos no caso de combustíveis.
Para tal, há necessidade de que o biodiesel seja competitivo economicamente
com o diesel ao menos nessas regiões produtoras. Note-se que a ANP autoriza
o uso de porcentagens maiores em frotas cativas, porém, sem assumir maiores
responsabilidades sobre o desempenho desses motores.
Um outro desafio é a maior utilização de etanol para produção de bio-
diesel. Note-se que já existe um exemplo dessa aplicação, a empresa Fertibom,
de Catanduva. O uso de etanol possibilita o esmagamento do grão em conjunto
com este álcool. Este processo apresenta vantagens ambientais, em particular
porque permite o uso da torta na ração animal, o que não ocorre quando é
usado o metanol (altamente tóxico).

IV.4  Criação e desenvolvimento do mercado internacional

Conforme detalhado no TR 1, de onde foi extraída boa parte deste tex-


to, existem diversas barreiras ao desenvolvimento do mercado internacional
dos biocombustíveis. A primeira a ser destacada é que tanto o etanol quanto o
biodiesel ainda não são commodities reconhecidas: falta padronização, certifica-
ção, escala, transação de grandes volumes em bolsas, etc., que possibilitem a ne-
gociação ampla com esses produtos. Se dentro do Brasil a logística é insuficiente
para transferir essas mercadorias do produtor ao consumidor final, o problema
é ainda mais grave no mercado externo.

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128 Bioenergia no Estado de São Paulo

Outro impedimento importante decorre das regras e exceções no âmbi-


to da OMC39, cuja simples leitura permite concluir que os países-membros têm
plena liberdade para proteger seus mercados de bioenergia, respaldados em
diversos termos dos acordos. Maior liberdade de proteção ocorre com relação
ao etanol, pela sua classificação como produto agrícola.
Finalmente, observa-se que razões de segurança energética e/ou ambien-
tal orientam as estratégias adotadas pelos principais atores na produção e uso
de biocombustíveis, o que pode resultar em importantes barreiras ao comércio
internacional, conforme será apresentado a seguir.
Os Estados Unidos, atualmente o maior produtor de etanol mundial, com
produção de 25 bilhões de litros em 2007, significativamente subsidiada, apre-
sentam barreiras comerciais à importação, compreendendo uma tarifa de 2,5%
ad valorem, acrescida de US$ 0,54 por galão. Para países do Caribe, a tarifa é
zero até o limite de uma quota anual de 120,3 milhões de galões, ou até o vo-
lume equivalente a 7% da produção doméstica norte-americana. No caso do
biodiesel, a tarifa de importação é de 1,9% ad valorem, mas a produção domés-
tica é fortemente subsidiada. A tarifa é também zero aos produtos importados
do México e Canadá, parceiros do Nafta40.
Enfim, a agricultura norte-americana é altamente subsidiada; mas, no caso
específico do biocombustível, o grau de subsídio é ainda maior. O governo age,
pressionado pelos produtores domésticos de álcool de milho, cuja produção é
concentrada nas mãos de poucos. Apenas sete grandes grupos são responsáveis
por 71% da produção, mas apenas um – Archer Daniels Midland – responde
por 46% do mercado.
A União Européia (UE) é a maior produtora de biodiesel (5,7 bilhões
de litros em 2007) tendo a colza como matéria prima predominante; produz
pouco etanol (1,7 bilhão de litros em 2007) de cereais e beterraba. Como
estímulo à produção de biocombustíveis, os estados membros devem aplicar
isenções ou reduções de impostos (EBIO, 2006). Há também um prêmio
de € 45 por hectare para lavouras de energia até o limite de 1,5 milhão de
hectares. Como barreiras comerciais ao etanol, há uma tarifa específica de
€ 0,102 por litro para álcool etílico desnaturado e de € 0,192 por litro para
o não-desnaturado. Para o biodiesel a tarifa é de 6,5% ad valorem. Acordos
preferenciais permitem livre ingresso do etanol produzido por países menos
desenvolvidos.

39. Organização Mundial do Comércio


40. North American Free Trade Agreement – Tratado Norte-americano de Livre Comércio

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Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bionergia 129

O protecionismo europeu aos biocombustíveis é bastante elevado, com-


posto de barreiras à importação, subsídios e isenções de impostos. O Brasil
é o único país capaz de exportar para a UE grandes quantidades de etanol
submetido à tarifa normal de importação. Os acordos preferenciais possibi-
litam importação livre de tarifas dos paises menos desenvolvidos, desde que
a exportação seja inexpressiva. Paquistão e África do Sul foram excluídos por
exportarem demais.
O Japão é um pequeno produtor de biocombustíveis, mas pretende utili-
zar 10% de combustíveis renováveis nos seus automóveis em 2030. As barreiras
comerciais compreendem uma tarifa de importação para etanol de 27,2% ad
valorem, que deve se reduzir ano a ano até 10% em 2010. Para o biodiesel a tarifa
é de 4,6% ad valorem. Enfim, o Japão produz muito pouco biocombustível e, para
cumprir as metas, prevê importação significativa, pretendendo reduzir sua depen-
dência quando a produção de etanol a partir de celulose se tornar viável.
A China é o terceiro maior produtor mundial de etanol. Em 2005 pro-
duziu 1,2 bilhão de litros e 20% da gasolina comercializada continha etanol. Há
uma meta de produção de 2 milhões de toneladas de etanol para 2010, com
um subsídio de US$ 0,14 por litro aos produtores e isenção do imposto de 5%
sobre o consumo de etanol. Além disso, se o preço do petróleo cair abaixo de
determinado limite haverá incentivo adicional para os produtores de biocom-
bustíveis. A principal barreira comercial ao etanol é uma tarifa de importação
ad valorem de 30%. O biodiesel que ainda está em fase de testes é isento de
imposto de consumo.
O Canadá teve uma produção de etanol de 240 milhões de litros em
2005, e pretende se tornar um líder global na produção de biocombustíveis,
atingindo 5% de energia renovável no consumo de gasolina em 2010 e 2% de
energia renovável no consumo de diesel em 2012. No ano fiscal de 2007 o go-
verno federal alocou US$ 1,8 bilhão para apoiar a produção de combustíveis re-
nováveis. Entre as principais barreiras comerciais ao etanol pode-se mencionar
uma tarifa de importação de US$ 0,043 por litro para as nações consideradas
mais favorecidas e de US$ 0,10 por litro para as demais. No caso do biodiesel,
a tarifa é de US$ 0,10 por litro.
A Índia produz etanol a partir de melaço e biodiesel de pinhão manso
(jatropha curcas) e de outras matérias-primas não comestíveis. Há uma meta de
curto prazo para mistura de 5% de etanol na gasolina e de biodiesel no óleo
diesel e, no longo prazo, para mistura de 10% de etanol e de 20% de biodiesel.
Para estimular usinas de etanol, há empréstimos subsidiados em até 40% do
valor do projeto. As principais barreiras comerciais à importação compreendem

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130 Bioenergia no Estado de São Paulo

tarifas de 253% a 605% sobre o preço CIF41 do etanol não desnaturado e tarifa
de 52,24% sobre o preço CIF do etanol desnaturado. No caso do biodiesel a
tarifa é de 36,82% sobre o preço CIF.
Além das barreiras comerciais mencionadas, há também barreiras técni-
cas, como por exemplo, as exigências referentes à especificação do biodiesel,
face às diferenças entre os padrões técnicos do biodiesel de colza (utilizado na
Europa) e o biodiesel fabricado no Brasil (de soja, mamona e palma).
O tipo de matéria-prima utilizada atualmente na produção do biodiesel brasi-
leiro faz com que este produto não atenda por completo às especificações européia
e norte-americana, em particular no caso da mamona. Deverão ser realizadas altera-
ções nos limites especificados, o que pode tornar necessário misturar matérias-pri-
mas na produção para adequar o biodiesel nacional aos padrões internacionais.
Ainda no contexto do comércio exterior, os países estão atentos à cria-
ção de barreiras técnicas, por meio de regulamentos considerados tendenciosos,
que impeçam o livre comércio. A OMC42 mantém um painel de notificações de
criação de barreiras técnicas enviadas pelos países da comunidade internacional,
com o objetivo de dar tratamento justo às contendas.
Para os biocombustíveis está havendo um aumento no número de noti-
ficações relacionadas à demonstração da qualidade, particularmente quanto ao
atendimento de especificações dos produtos.
Se não houver nenhuma manifestação contrária por parte dos países in-
teressados, este procedimento pode vir a causar importantes dificuldades para
a futura comercialização dos biocombustíveis.
Além das barreiras técnicas sobre a qualidade dos biocombustíveis, exis-
tem diversas outras barreiras que poderão ser criadas. Atualmente acredita-se
que há uma tendência de criação de novas barreiras relacionadas aos aspectos
da produção dos biocombustíveis e associadas às exigências de demonstração de
relações adequadas com a mão-de-obra envolvida e de ausência de agressão am-
biental. Essas barreiras poderão vir a ser aspectos fundamentais na viabilidade dos
negócios direcionados à exportação de biocombustíveis. O problema em relação
às exigências é que sua posição ainda não foi negociada dentro da OMC.
No caso do álcool, o Brasil pode ser alertado em relação ao seu pro-
cesso produtivo, pelo uso da queimada na colheita da cana-de-açúcar, além de
problemas em relação a questões trabalhistas. Por não serem questões regula-
mentadas dentro da OMC, o Brasil deve dar grande atenção em relação ao seu
tratamento, principalmente pelo fato do biocombustível ter sua comercialização
associada à preservação do meio ambiente. Neste trabalho, as barreiras e desa-
fios à sustentabilidade foram detalhados no item IV.1.

41. CIF- Coast Insurance Freight - Frete por conta do destinatário


42. OMC, Organização Mundial do Comércio

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Principais Barreiras e Desafios ao Desenvolvimento da Bionergia 131

IV.5  Desenvolvimento de tecnologias incrementais e radicais


para manutenção da competitividade nacional
Conforme discutido nos TR’s 5, 12 e 13, para manter a competitividade
nacional na produção e uso de biocombustíveis, há necessidade de manter as
linhas de P&D43 dirigidas para as melhorias contínuas de processos e de investir
em muito maior escala (em volumes de recursos) nas tecnologias disruptivas.
Os setores ligados à produção de cana (tecnologias agrícolas, incluindo o me-
lhoramento de cana) têm sido relativamente bem supridos de recursos tanto
pelos programas privados quanto pelas instituições públicas, como se observa
nos resultados e número de publicações.
Portanto, embora todos os programas a seguir sejam importantes, uma
recomendação seria dar mais ênfase aos programas ligados à transformação
industrial, principalmente os que poderiam levar a saltos tecnológicos.
Neste sentido, os principais desafios são:
• Desenvolvimento de processos para recuperação e uso da palha e ba-
gaço excedentes (hidrólise para etanol, gaseificação para produção de
energia elétrica ou para síntese de biocombustíveis)
• Desenvolvimento de variedades transgênicas de cana (com resistência
à broca e ao estresse hídrico, variedades de cana para produção de
energia).
Como priorização intermediária, temos:
• Seleção de cultivares (melhoramento convencional para novas áreas)
• Desenvolvimento dos equipamentos e processos mais eficientes para a
extração do caldo, tratamento, fermentação e separação do etanol.
• Agricultura de precisão, controles biológicos, níveis de cultivo para a
cana de colheita mecânica, equipamentos mais eficientes para colheita
e plantio.
• Desenvolvimento de novos processos de sucro e alcoolquímica.
• Aperfeiçoamento de processos para o uso final: avanços na tecnologia de
motores bicombustíveis, células a combustível operando com etanol.
Para desenvolver as tecnologias mencionadas, as três principais bar-
reiras são:
• Falta de capacitação de recursos humanos para as novas tecnologias
(segunda geração);

43. Pesquisa e Desenvolvimento

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132 Bioenergia no Estado de São Paulo

• Falta de recursos alocados suficientemente para pesquisa nessas tecno-


logias mais avançadas;
• Falta de recursos para plantas piloto e de demonstração.
Quanto aos outros vetores bioenergéticos, é recomendável que não se-
jam descontinuados os programas de suporte existentes e que, no caso da
silvicultura, mostram resultados consolidados e um claro envolvimento com o
setor produtivo. Para os demais vetores bioenergéticos com perfil mais inova-
dor, como o biogás e biodiesel, considerando a menor densidade de informa-
ções e a diversidade de possibilidades, é mais difícil estabelecer prioridades. De
toda maneira, partindo do conjunto de temas apresentado para as atividades
de P&D e selecionando aquelas com maior potencial para apresentar resultados
relevantes, devem ser priorizados:
• Estudos visando à expansão da cogeração na indústria de papel e celu-
lose;
• Levantamento do potencial de aproveitamento de diferentes espécies
florestais, inclusive nativas;
• Estudos sobre seus impactos ambientais;
• Estudos sobre as tecnologias para a produção de pellets e briquetes
com resíduos agrícolas;
• Estudos do processamento de lodos utilizando digestores UASB em
sistemas integrados de geração de potência elétrica e térmica;
• Pesquisas para a valorização energética de resíduos sólidos urbanos,
principalmente incineração
• Estudos sobre algas marinhas de interesse energético;
• Desenvolvimento de sistemas de cogeração na produção de biodiesel;
• Desenvolvimento de rotas termoquímicas para produção de biocom-
bustíveis.

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V SUGESTÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS

As sugestões de políticas públicas apontadas nos termos de referência


mencionados e nos seminários realizados são apresentadas a seguir, após te-
rem sido condensadas e reordenadas segundo os macrodesafios aos quais são
dirigidas.
Algumas sugestões mais relevantes já foram implementadas pelo gover-
no, conforme discutido na seção Conclusões.

V.1  Aumentar a sustentabilidade social e ambiental


na produção e uso dos biocombustíveis no
Estado de São Paulo
• Promover o trabalho coordenado de equipes multidisciplinares para
avançar no zoneamento edafoclimático e ambiental do Estado, em par-
ticular contemplando a criação e manutenção de APP´s44 e RPPN´s45.
• Desenvolver mecanismos de estímulo direcionados à eficiência energé-
tica e sustentabilidade ambiental, incluindo a aceleração do cronograma
de supressão de queimadas de cana-de-açúcar, com o aproveitamento
energético da palha e pontas, proteção aos remanescentes florestais e
ripários e sinergia cana-floresta nas áreas não-mecanizáveis.
• Criar um fundo especial para qualificação e requalificação de mão-de-
obra que será dispensada com a mecanização da cana e um selo social
que valorize o trabalhador da cultura canavieira.
• Executar um Plano de Florestas Energéticas, cuja meta seja o plantio de
cerca de 780 mil hectares com florestas de finalidades energéticas nos
próximos 25 anos.
• Conceder estímulos fiscais para unidades produtoras de biogás, inclusi-
ve a partir da fermentação anaeróbia da vinhaça.
• Investir no processamento de imagens de sensoriamento remoto e
desenvolver sistema de informação baseado em imagens.
• Aprimorar a fiscalização ambiental no Estado.

44. Áreas de proteção permanente.


45. Reservas particulares de patrimônio natural

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134 Bioenergia no Estado de São Paulo

V.2  Planejar e adequar a cadeia produtiva para


atender à expansão da demanda

• Qualificar, em campo, a resposta de variedades de cana aos atributos de


solo e clima.
• Criar uma fundação público-privada para acompanhamento e adoção
de medidas dirigidas à sanidade do canavial.
• Apoiar o setor de equipamentos na disponibilização de novas tecnolo-
gias e incentivar o segmento de serviços para o setor sucroalcooleiro,
de modo a acelerar a modernização deste último.
• Desenvolver mecanismos para promover o aumento da exportação de
energia elétrica cogerada no setor sucroalcoooleiro, de 900 MWmédio
para 3.000 MWmédio, nos próximos quatro anos, por meio do incentivo a
maiores pressões das caldeiras e à modernização dos sistemas, redução
de tributos na eletricidade cogerada e adaptação da regulamentação de
interconexão à rede elétrica.
• Investir na infraestrutura viária para facilitar os fluxos primários, de
transferência e de entrega dos biocombustíveis.
• Estimular o cultivo de oleaginosas nas áreas de renovação da cana, in-
clusive pelo impacto ambiental favorável e estimular a construção de
unidades de processamento integrado biodiesel-cana.
• Revisar a grade curricular de escolas técnicas para incrementar a forma-
ção de técnicos em biocombustíveis.

V.3  Aperfeiçoar e expandir o mercado doméstico


de biocombustíveis

• Uniformizar as alíquotas de ICMS entre os Estados.


• Atuar na formação e regulação de estoques de biocombustíveis no
Estado.
• Melhorar a logística de distribuição interna aumentando investimentos
na Hidrovia Tietê-Paraná, promovendo a construção de alcooldutos no
Estado, incentivando a Transpetro a modernizar a rede de distribuição
de etanol na Região Sul-Sudeste e a expansão da capacidade de arma-
zenagem e dos sistemas de descarga nos coletores.

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Sugestões de Políticas Públicas 135

V.4  Criar e desenvolver o mercado internacional

• Dar ênfase à assinatura de acordos bilaterais para exportação.


• Promover campanha de marketing internacional.
• Executar projetos de logística direcionados à exportação, como a cons-
trução do alcoolduto Paulínia-Santos ou São Sebastião e a ampliação e
adaptação das facilidades portuárias.
• Trabalhar para a harmonização internacional das especificações dos
biocombustíveis.
• Fortalecer o sistema de garantia de qualidade dos biocombustíveis, es-
tabelecendo Laboratórios Metrológicos de Referência no Estado e in-
centivando a produção e uso de Materiais de Referência Certificados.

V.5  Desenvolver tecnologias incrementais e radicais


para manter a competitividade nacional
• Estudar a freqüência de ocorrência de veranicos, para avaliação de ris-
cos das culturas face ao cenário de aquecimento global.
• Desenvolver o uso de cavacos para a geração elétrica na entressafra de
cana-de-açúcar.
• Aplicar maior volume de recursos de pesquisa nos próximos anos para:
- processos para recuperação e uso da palha e excedentes da cana;
desenvolvimento de variedades transgênicas de cana-de-açúcar; se-
leção de cultivares para novas áreas; desenvolvimento de equipa-
mentos para extração, tratamento, fermentação e filtração do caldo;
agricultura de precisão, controles biológicos e níveis de cultivo para
cana de colheita mecânica; novos processos de sucro e alcoolquímica;
processos para uso final de etanol, inclusive avanços na tecnologia de
motores flexíveis, células a etanol, etc.
- estudos visando à expansão da cogeração na indústria de papel e
celulose;
- estudos do processamento de lodos utilizando digestores UASB em
sistemas integrados de geração de potência elétrica e térmica; pes-
quisas para a valorização energética de resíduos urbanos, em rotas
térmicas e por biodigestão anaeróbia em aterros sanitários; estudos
sobre a aplicação de biogás;
- estudos para seleção dos cultivos com potencial para a produção de
biodiesel; estudos sobre algas marinhas de interesse energético; de-

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136 Bioenergia no Estado de São Paulo

senvolvimento de sistemas de cogeração na produção de biodiesel;


desenvolvimento de rotas termoquímicas para produção de biocom-
bustíveis.
• Aumentar a formação de pessoal em nível de pós-graduação para ace-
lerar o desenvolvimento tecnológico.
• Valorizar as estruturas existentes de P&D com reequipamento e arti-
culação.
• Promover programas de unidades piloto para validação de novas tec-
nologias em bioenergia.
• Apoiar iniciativas industriais em novos materiais e produtos renováveis
derivados da cadeia da cana.
• Criar observatório para monitorar desenvolvimento de outros países e
antecipar mudanças.

V.6  Coordenar as ações dos atores relacionados


com a cadeia
• Estabelecer gestão coordenada das atividades de Ciência & Tecnologia.
• Promover seminários e discussões de alinhamento estratégico entre os
vários componentes da cadeia.

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VI  CONCLUSÕES

Como já mencionado no início deste documento, a importância estraté-


gica da bioenergia para o Estado foi a razão da criação da Comissão de Bioe-
nergia do Estado de São Paulo.
Como foi visto, o Estado de São Paulo, em termos de bioenergia, é res-
ponsável por 60% do álcool produzido no país, além de incluir outras biomassas
de importância significativa, tais como biodiesel, biogás de aterro e florestas
energéticas. É também relevante destacar a importância de seus aspectos socio-
econômicos e sua contribuição para a melhoria do meio ambiente, bem como a
necessidade de planejamento e compatibilização das diversas ações de governo
necessárias ao seu desenvolvimento.
A fim de embasar suas recomendações a comissão decidiu que seriam
elaborados, por diferentes especialistas, 14 Termos de Referência (TR’s), cada
um sobre uma área fundamental da produção e utilização da bioenergia, nos
quais foram analisadas as barreiras existentes em cada área e apresentadas pro-
postas de políticas públicas para o Estado de São Paulo suplantá-las.
Todos os relatórios foram amplamente debatidos em reuniões realizadas
na FIESP, IPT, FAPESP e secretarias estaduais do Meio Ambiente e da Agricultura
e Abastecimento e estão disponíveis para consulta dos interessados.
O texto aqui apresentado, incluindo as propostas de políticas discutidas,
foi extraído em grande parte dos referidos TR’s, porém a responsabilidade do
conteúdo final é dos autores deste documento. Considerando a natural rapidez
na evolução dos diferentes assuntos, as conclusões apresentadas se referem às
ações realizadas até setembro de 2008.
Durante os trabalhos da comissão, algumas ações e atividades na área de
bioenergia em São Paulo foram inicializadas e dinamizadas nas várias secretarias
e órgãos do Estado.
As principais são:

VI.1  Meio ambiente


• Foi assinado o Protocolo Agroambiental, em termos voluntários, para
o setor sucroalcooleiro no Estado, incluindo medidas de antecipação
dos prazos legais da eliminação da queimada de cana de açúcar46, bem

46. Prevendo a antecipação da proibição da queima da palha de cana no Estado para 2014 em áreas com
declividade até 12% e para 2017 em áreas com declividade superior

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138 Bioenergia no Estado de São Paulo

como medidas de proteção e recuperação de matas ciliares e áreas de


nascentes, combate à erosão, uso racional dos recursos hídricos, ma-
nuseio de agroquímicos e minimização das emissões atmosféricas em
caldeiras a bagaço.
- Firmado inicialmente pela SMA, SAA e a UNICA em abril de 2007, já
tem a adesão de 145 das 177 usinas no Estado, cobrindo 89% de toda
a moagem.
- O mesmo Protocolo foi também assinado pela Orplana, associação que
congrega 13.000 pequenos fornecedores de cana, em março de 2008,
comprometendo a cadeia completa com a eliminação dos transtornos
ocasionados pela queima de cana no Estado de São Paulo.
- Como resultado prático, observa-se que: apesar do aumento da área
colhida de cana no último ano em 548 mil hectares (17%), houve redu-
ção da área queimada em 108 mil hectares; e já foram declarados para
proteção aproximadamente 117 mil hectares de matas ciliares.

VI.2  Agricultura

• Foi emitido o Decreto no 52.284 de 22/10/07 estabelecendo a criação


do Banco de Dados sobre Bioenergia no Instituto de Economia Agrí-
cola da Apta/ SAA, objetivando: a organização e o gerenciamento da
base de informações estratégicas dos negócios ligados à bioenergia; o
fornecimento de subsídios para a elaboração de estudos e projetos e
o processo de tomada de decisões, que visem a sustentabilidade socio-
econômica e ambiental do setor; a manutenção de elevado padrão de
qualidade das informações; a estruturação e o gerenciamento da rede
de disseminação de informações; e o fornecimento de relatórios e de
outras informações solicitadas.
• Foi publicada, em setembro de 2008, a Resolução conjunta SMA-SAA
No 04/08, referente ao Zoneamento Agroambiental para o setor sucro-
alcooleiro no Estado de São Paulo, considerando aspectos econômicos
e ambientais, visando o melhor aproveitamento das áreas agricultáveis
no ESP e proteção ambiental das áreas remanescentes. O Zoneamento
levou em consideração os vários aspectos econômicos e ambientais,
originando procedimentos específicos de licenciamento para o setor,
no Estado. Foram definidas quatro categorias, a saber: áreas adequadas
para cana-de-açúcar; áreas adequadas com limitações ambientais; áreas

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Conclusões 139

adequadas com restrições ambientais e áreas inadequadas. Maiores de-


talhes são apresentados na seção III.6.

VI.3  Recursos humanos

• Criação de Fatecs em Sertãozinho com habilitação em Mecânica-sol-


dagem e em Jaboticabal, Araçatuba e Piracicaba com habilitação em
Bioenergia Sucroalcooleira.
• Oferecimento de formação técnica pelas Etecs na habilitação Análise e
Produção de Açúcar e Álcool em quatro municípios e na habilitação “Téc-
nico em Açúcar e Álcool” em 22 municípios do Estado de São Paulo.
• Oferecimento de Mestrado Profissional em Agroenergia pela FGV em
parceria com Embrapa e Esalq(USP) em Piracicaba.
• Estudo para oferecimento de graduação em Bioenergia pela Unesp em
Dracena.

VI.4  Energia

• Foram firmados convênios entre a Secretaria de Saneamento e Energia


e a FIESP e a EPE – Empresa de Planejamento Energético para promo-
ver o aumento da geração e comercialização de eletricidade produzida
por meio da queima do bagaço. No âmbito desses convênios, as princi-
pais ações foram:
- Mapeamento detalhado das instalações das usinas do Estado, para afe-
rição do potencial real de cogeração;
- Levantamento dos pontos de interligação e avaliação do impacto da
nova energia na rede elétrica de média tensão no Estado;
- Proposições dirigidas à Aneel para revisão de procedimentos e regula-
ção de acesso, de modo a transferir a decisão de conexão para a ONS
e padronização dos custos da interligação;
- Estimativa da renúncia fiscal necessária para desoneração do ICMS nos
investimentos;
• Emissão do Decreto no 53.158, de 23/6/08, que difere o lançamento
de ICMS nas saídas de bagaço, água e vapor da usina para o momento
de saída da energia elétrica da cogeradora e o lançamento de ICMS
nas saídas de energia elétrica e energia térmica da cogeradora para o
momento em que a usina comercializa seus produtos.

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140 Bioenergia no Estado de São Paulo

• Emissão do Decreto n° 53.205, de 3/7/08, que reduz o preço cobrado


para expedição de Licenças Ambientais de Instalação e de Operação
para cogeradoras de energia.

VI.5  Pesquisa, desenvolvimento e inovação

• Contratos firmados pela FAPESP para financiamento conjunto de tra-


balhos de inovação e pesquisa com empresas como a Dedini, Oxiteno
e Braskem.
• Criação de Parque Tecnológico de Biocombustíveis de Piracicaba.- Pro-
jeto em andamento em parceria com Esalq (USP), IAC, IPT, CTC, Cena,
UNICA, MDIC, APL do álcool e prefeitura para atrair empresas de base
tecnológica para pesquisa nas áreas de biocombustíveis e bioenergia.
• Lançamento do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia – Bioen
no dia 3/7/08, que deverá apoiar tanto a pesquisa básica como aplicada
sobre biocombustíveis, em colaboração com empresas. As primeiras
três Chamadas de Propostas de Pesquisa do Bioen tem valor total de
R$ 73 milhões.

VI.6  Transportes

• Assinatura de protocolo de intenção firmado pela Secretaria de Trans-


portes com a Transpetro para realizar estudos sobre alcoolduto no
Estado.
• Assinatura de protocolo de intenção firmado pela Secretaria dos Trans-
portes com a UNICA para realizar estudos sobre alcoolduto no Estado.
• Emissão do Decreto n° 53.048, de 2/6/08, que institui Grupo de Traba-
lho para elaborar plano de implantação de Rede Paulista de Dutos e dá
providências correlatas.

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VII  Um olhar sobre o futuro

A cultura da cana-de-açúcar no Estado, que ocupou em 2007 4,3 mi-


lhões de hectares e elevou a produção de açúcar a 19 milhões de toneladas e
a de etanol a 13 bilhões de litros, gera cerca de 300.000 empregos e contribui
com 21 bilhões de reais ao PIB paulista.
O sólido desempenho deste setor agrícola industrial não só tem condi-
ções de continuar como também de expandir significativamente nos próximos
anos, dentro de padrões sociais e ambientais adequados. A sustentabilidade da
produção de etanol, de açúcar e de cana-de-açúcar em São Paulo é o grande
problema a enfrentar, para que o setor atinja e mantenha padrões mínimos
como os que estão sendo exigidos pelos países que eventualmente venham a
importar o etanol do Brasil.
O governo do Estado está consciente dos desafios que esta expansão
pode provocar e da necessidade de manter a liderança do país na produção de
etanol.
Por esta razão, a Comissão de Bioenergia identificou as seguintes áreas
como mais significativas para ações do governo e que foram amplamente docu-
mentadas neste trabalho.
a. Zoneamento ecológico-econômico;
b. Logística de escoamento do etanol;
c. Certificação da qualidade dos biocombustíveis;
d. Cogeração de eletricidade;
e. Pesquisa cientifica e tecnológica.
Para tal, o governo pretende investir nos próximos dois anos cerca de
160 milhões de reais (100 milhões de dólares) e a maioria desses recursos se
destinará à criação de um Centro de Pesquisa sobre Bioenergia de classe inter-
nacional. Tal esforço visa a preparar o país para a transição mundial em curso
em tecnologias de 2a e 3a geração e ao mesmo tempo garantir os ganhos de
produtividade em tecnologias de 1a geração obtidos nos últimos 30 anos.

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VIII  REFERÊNCIAS

Termos de Referência

TR 1 – Mercados Interno e Internacional para Biocombustíveis


Elaboração: IEA/Apta/SAA
Pesquisadores:
Airton Ghiberti
Valquíria da Silva
César Roberto Leite da Silva
Maria Auxiliadora de Carvalho
Marisa Zeferino Barbosa
Raquel Castellucci Caruso Sachs
Sebastião Nogueira Jr.
Sérgio Alves Torquato
Silene Maria de Freitas.

TR 2 – Estudo sobre o Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Agrícola para


Biocombustíveis no Estado de São Paulo
Elaboração: FGV-IPT
Pesquisadores:
Alexandre Lahóz Mendonça de Barros
Luiz Carlos Correa de Carvalho
Antônio Carlos A. Gheller
Euro Roberto Detomini
Margarida Garcia de Figueiredo

TR 3 – Cadeia industrial e de serviços – Etanol e bioenergia


Elaboração: Epusp
Pesquisador:
João Furtado

TR 4 – Aspectos ambientais na cadeia de biocombustíveis, com ênfase ao


etanol e biodiesel
Elaboração: SMA
Pesquisador:
Oswaldo Lucon

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144 Bioenergia no Estado de São Paulo

TR 5 – Tecnologia e Ciência para o Desenvolvimento Sustentável da Bioenergia


em São Paulo: Cana-de-açúcar e outros vetores bioenergéticos
Elaboração:
Isaias de Carvalho Macedo
Luiz Augusto Horta Nogueira

TR 6 – Recursos Humanos na Área de Biocombustíveis


Elaboração: IEA/Apta/SAA
Pesquisadores:
Airton Ghiberti
Valquíria da Silva
Carlos Eduardo Fredo
Celma da Silva Lago Baptistella
José Eduardo Rodrigues Veiga
Maria Carlota Meloni Vicente

TR 7 – Relações de trabalho no setor sucroalcooleiro e de oleaginosa no


Estado de São Paulo
Elaboração: Marcio Pochmann

TR 8 – Geração de Eletricidade a Partir de Biomassa e Biogás


Elaboração: Fundação Centro Tecnológico Juiz de Fora
Pesquisadores:
João Carlos de Oliveira Mello
Mônica Rodrigues de Souza
Elaine Dinorah Antunes de Oliveira
Andrea Alexandra Liao
Felipe Bazzo Tomé
Fátima Regina Vaz Moreira
Leandro Mello de Angeles
Evandro Gonçalves Pizeta
Soichi Koza
Loretti Portofe de Mello
Gilberto Veronese
Marcelo Camargo
Luis Fernando Manzano
Carlos Roberto Silvestrin
Celso Procknor

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Referências 145

TR 9 – Logística e Transporte Multimodal na Cadeia Produtiva de


Biocombustíveis
Elaboração: Secretaria dos Transportes
Pesquisadores:
Antonio Galvão Álvares de Abreu
Milton Xavier
Mário Eduardo Garcia
Adriano Murgel Branco

TR 11 – Instrumentos de Normalização e Qualidade dos Biocombustíveis


Elaboração: IPT
Pesquisadores:
Antonio Bonomi
Eduardo L. Machado
Heloisa Burkhardt Antonoff
Ricardo R. Zucchini

TR 12 – Florestas Energéticas
Elaboração: Eduardo Pires Castanho Filho

TR 13 – Biogás Gerado pela Deposição de Resíduos Sólidos Urbanos em


Aterros Sanitários e pelo Tratamento Anaeróbio de Efluentes, Resíduos
Rurais e Vinhaça
Elaboração: SMA/CETESB
Pesquisador:
João Alves

TR 14 – Zoneamento Socioeconômico e Agrícola de São Paulo


Elaboração: Apta
Pesquisadores:
João Paulo Feijão Teixeira
Ana Maria Montragio Pires de Camargo (IEA)
Angélica Prella (IAC)
Denise Viani Caser (IEA)
Glauco de Souza Rolim (IAC)
Isabella C. De Maria (IAC)
Jansle Vieira Rocha (FEAGRI/Unicamp)
Jener Fernando Leite de Moraes (IAC)
Orivaldo Brunini (IAC)

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146 Bioenergia no Estado de São Paulo

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Créditos

Autores José Goldemberg
Francisco E. B. Nigro
Suani T. Coelho
Colaboradores Regiane C. Gorren
Vera Sá
Gráficos e Mapas Vitor Molina
Capa Robson Minghini
Projeto gráfico e editoração Marli Santos de Jesus
Revisão de texto Amancio do Vale

Ficha Técnica

Formato 160 x 230 mm


Tipologia Futura e Gill Sans
Papel miolo | reciclato 90g/m2
capa | cartão 250g/m2
Número de páginas 152
Tiragem 2000

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