Você está na página 1de 2

Colégio Estadual Agostinho Neto

Disciplina: Filosofia
Professora: Ana Carolina
Estudante:
Turma: 2001
Data:

Introdução
No livro VII de A República, um dos textos principais de Platão, o filósofo
desenvolve sua teoria das ideias através de uma exposição metafórica que nos permite
compreender melhor a definição do mundo das ideias, a condição do mundo sensível, a
relação entre ambos e, por fim, a posição do ser humano em seu interior.

1. A alegoria da caverna
A narrativa expressa dramaticamente a imagem de prisioneiros que desde o
nascimento são acorrentados no interior de uma caverna, de modo que olhem somente
para uma parede iluminada pelo sol de dia e por uma fogueira à noite. Essa ilumina um
palco onde estátuas dos seres como homem, planta, animais etc. são manipuladas, como
que representando o cotidiano desses seres. No entanto, as sombras das estátuas são
projetadas na parede, sendo a única imagem que aqueles prisioneiros conseguem
enxergar. Com o correr do tempo, os homens dão nomes a essas sombras (tal como nós
damos às coisas) e também à regularidade de aparições destas. Os prisioneiros fazem,
inclusive, torneios para se gabarem, se vangloriarem a quem acertar as corretas
denominações e regularidades.
Imaginemos agora que um destes prisioneiros é forçado a sair das amarras e
vasculhar o interior da caverna. Ele veria que o que permitia a visão era a fogueira e que
na verdade, os seres reais eram as estátuas e não as sombras. Perceberia que passou a
vida inteira julgando apenas sombras e ilusões, desconhecendo a verdade, isto é,
estando afastado da verdadeira realidade. Mas imaginemos ainda que esse mesmo
prisioneiro fosse arrastado para fora da caverna. Ao sair, a luz do sol ofuscaria sua visão
imediatamente e só depois de muito habituar-se com a nova realidade, poderia voltar a
enxergar as maravilhas dos seres fora da caverna. Não demoraria a perceber que aqueles
seres tinham mais qualidades do que as sombras e as estátuas, sendo, portanto, mais
reais. Significa dizer que ele poderia contemplar a verdadeira realidade, os seres como
são em si mesmos. Não teria dificuldades em perceber que o Sol é a fonte da luz que o
faz ver o real, bem como é desta fonte que provém toda existência (os ciclos de
nascimento, do tempo, o calor que aquece etc.).
Maravilhado com esse novo mundo e com o conhecimento que então passara a
ter da realidade, esse ex-prisioneiro lembrar-se-ia de seus antigos amigos no interior da
caverna e da vida que lá levavam. Imediatamente, sentiria pena deles, da escuridão em
que estavam envoltos e desceria à caverna para lhes contar o novo mundo que
descobriu. No entanto, como os ainda prisioneiros não conseguem vislumbrar senão a
realidade que presenciam, vão debochar do seu colega liberto, dizendo-lhe que está
louco e que se não parasse com suas maluquices acabariam por matá-lo.
A alegoria da caverna é uma metáfora muito significativa da filosofia platônica,
indicando a variedade de questões contempladas pelo filósofo e, sobretudo, o universo
conceitual em que esses temas são propostos. Adotando-a como referência,
mencionaremos o dualismo ontológico, a paideia platônica – em suas necessárias
relações com a teoria do conhecimento – e a cidade ideal – incluindo a dimensão ética.
2. O dualismo ontológico platônico
Na alegoria destacam-se dois mundos rigorosamente distintos, aquele percebido
inicialmente pelos prisioneiros no fundo da caverna e o outro, muito mais amplo,
alcançado pelo personagem que sai da caverna. Pode-se dizer que os dois mundos são
reais, embora os níveis de realidade sejam incomparáveis.
A alusão aqui é justamente o dualismo ontológico, ou seja, aos dois níveis de
realidade, o mundo das ideias e o mundo sensível. O plano sensível remete ao mundo
das sombras, da caverna, que é o mundo que, de fato, vivemos em que existimos com
nossas paixões e com nossa racionalidade segundo nossas tradições diferentes, hábitos
diferentes, culturas diferentes, valores e as leias que regulam nossas vidas.
O mundo das ideias, representado na metáfora pelo prisioneiro que sai da
caverna é o mundo real, que para Platão é o mundo inteligível por possuir formas ou
ideias que guardam consigo uma identidade indestrutível e imóvel, garantindo o
conhecimento dos seres sensíveis. O inteligível é o reino das matemáticas que são o
modo como apreendemos o mundo e construímos o saber humano.
No mundo das ideias, o bem é a ideia suprema, definindo-se como o fim para o
qual tendem todos os modos de vida, a condição do conhecimento e da verdade, a causa
primeira de tudo o que existe. O bem está para as ideias e para a razão assim como o Sol
está para as coisas sensíveis e para a visão. Na ausência do Sol não se veem com clareza
os objetos ao redor, na mesma perspectiva em que, na ausência do bem, as ideias se
tornam obscuras ao pensamento.

3. Os estágios do conhecimento e a paideia platônica


Os estágios do conhecimento propostos por Platão são quatro, sendo os dois
primeiros pertencentes ao mundo sensível e os dois últimos, ao mundo das ideias.
O primeiro estágio do mundo sensível é preenchido por imagens, sombras e
reflexos de corpos nas águas ou em superfícies compactas. O nível de conhecimento é a
suposição – aqui definida como sinônimo de imaginação ou ilusão.
O segundo estágio consiste nos seres que formam o mundo animal e vegetal,
assim como nos objetos fabricados pelos homens, sendo a crença o tipo de
conhecimento peculiar a este estado. Prevalece em ambos o conhecimento envolvido
pelos sentidos, a opinião.
O terceiro é ocupado por objetos matemáticos, sendo o momento em que se dá a
transição do conhecimento sensível ao conhecimento inteligível. Aqui, procede-se com
o raciocínio por meio de hipóteses.
O último estágio, finalmente, pertence às ideias, e o conhecimento nesse nível é
absoluto, pois transcorre no encontro do pensamento com os seres em si. É o
conhecimento que não sofre qualquer intercorrência dos sentidos, verificando-se apenas
pela via da intelecção.
Os prisioneiros da caverna são, na verdade, uma clara alusão de Platão à
condição humana, pois os homens encontram-se absorvidos pelas opiniões, formadas
simultaneamente pelas convenções sociais e pela confiança depositada nas sensações.
Estão um tanto acima da ignorância absoluta, mas, principalmente, muito longe da
sabedoria. Aquele que se libertou dos sentidos e alcançou o conhecimento absoluto é a
concretização da excelência humana, o homem em sua areté.

Atividade de Reflexão
01. O que representa a alegoria da caverna para você?
02. Onde observamos nesta alegoria “o mundo sensível” e o “mundo inteligível”?
03. Explique os quatro estágios do conhecimento propostos por Platão.

Você também pode gostar