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Introdução À Ecologia Comportamental PDF
Introdução À Ecologia Comportamental PDF
ECOLOGIA
COMPORTAMENTAL
um manual para o estudo do comportamento animal
Kleber Del-Claro
Kleber Del-Claro
Kleber Del-Claro
INTRODUÇÃO À
ECOLOGIA
COMPORTAMENTAL
um manual para o estudo do comportamento animal
1ª edição
TB
Technical Books Editora
Rio de Janeiro
2010
Introdução à Ecologia Comportamental:
um manual para o estudo do comportamento animal
Copyright © 2010
Technical Books Editora Ltda.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-61368-12-8
CDD 591.51
TB
Technical Books Editora
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Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20.050-030
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Dedicado aos meus amores,
Gonçalves Dias
Aos sonhadores,
com estima,
Kleber
Sumário
Kleber Del-Claro
P
A
R
T
História e E
definições básicas
1
Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
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Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
era esmagada, prensada e secada para dar origem ao papiro, que era usado
para documentar negócios do Estado, em grande parte, relacionados com a
comercialização de animais. Nos documentos antigos das mais diversas re-
ligiões, há inúmeros relatos sobre o comportamento e características de ani-
mais domésticos e selvagens. Esse interesse pelos animais e seu comporta-
mento pode ser, em grande parte, explicado também pela zoolatria, isto é,
adoração aos animais, que era comum à grande maioria das religiões polite-
ístas. Os próprios egípcios tinham um vasto panteão de divindades antropo-
zoomórficas, ou seja, parcialmente humanas, parcialmente animais.
Assim, se você pensa que foi um pioneiro, ao observar um pardal no
seu quintal, está muito enganado. Nós, humanos, observamos o comporta-
mento animal desde que surgimos. Mas uma coisa não mudou desde o prin-
cípio e, provavelmente, é a grande razão de nosso enorme desenvolvimento
científico e intelectual. Observamos o comportamento dos animais para saber
como, quando e do que podemos nos alimentar; para domesticar os animais;
para evitar a ação de predadores; para aprendizado; mas, principalmente, por
curiosidade. A curiosidade é uma característica peculiar que ressalta a inteli-
gência humana. Em sendo curioso sobre tudo a sua volta e, em especial, sobre
a natureza, o homem se tornou o ser dominante que hoje é.
A tradição oral, ou seja, a transmisão do conhecimento de uma geração
a outra através da fala, contação de histórias, lendas e músicas, foi durante
muito tempo o principal modo de perpetuação do conhecimento adquirido
a partir da observação animal para o grande público. Este modo simples de
transmisão do conhecimento, foi muito útil e eficaz, principalmente se consi-
derarmos que, ainda hoje, grande parte da população mundial é analfabeta
ou tem pouco domínio da leitura. A partir do século XVI, com as grandes
navegações e a descoberta das rotas marítmas para África e Ásia, assim como
a redescoberta do Novo Mundo, o ser humano passou a experimentar uma
explosão de informações sobre a vida e o comportamento animal. Médicos e
pintores de bordo, missionários, cartógrafos e um, pouco mais tarde, os pri-
meiros naturalistas, passaram a descrever, primeiramente em suas cartas e
depois em livros e artigos científicos, o comportamento de espécies nunca
antes vistas. Um dos documentos mais preciosos desse período data de 1526
e foi escrito por Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés, intitulado Sumario
de la Natural Historia de las Indias. Enviado ao Novo Mundo pelo rei Fernando
da Espanha, Valdés fez a primeira descrição elaborada, rica em exemplos e
detalhes específicos da flora e fauna da América Espanhola, principalmente
da região do México. O documento continha não apenas a descrição de com-
portamento animal, mas também humano, o que atraía muito a atenção do
público europeu ávido em conhecer as novas terras, sua gente, seus costumes,
novos alimentos e possíveis medicamentos.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
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Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
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Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Biologia – aquela xereta que entra em toda festa, e que, sem cerimônia nenhu-
ma, põe o dedo no glacê do bolo. O ecólogo comportamental de hoje equi-
vale ao naturalista do século XIX, porém revestido de todo o conhecimento
acumulado pela Biologia, nos últimos dois séculos, da genética à ecologia,
passando pela fisiologia, zoologia e botânica. Hoje, ele utiliza os mais moder-
nos equipamentos eletrônicos para documentação e análise, incluindo aí tudo
que é pacote estatístico, mas... sem dispensar uma boa cadernetinha, lápis e
borracha, além de uma confortável roupa de campo e um boné.
A B
Figura 1.2. A. Zebra (Equus burchelli) pastando em uma área de savana. B. Pe-
rereca (Hyla geografica) fingindo-se de morta (tanatose) nas mãos
de um pesquisador.
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Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
A B
Figura 1.4. Gavião caracará (Caracara plancus) pousado (A) e levantando voo (B)
a partir de um termiteiro na Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil.
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Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
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P
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R
T
Guia introdutório ao E
comportamento animal
2
Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Figura 2.1. Contraste entre o céu noturno e a sombra das copas das árvores.
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
bauri (Ponerinae), notaram que toda vez que uma operária saía do ninho pa-
recia parar e olhar para o alto, na direção do observador. Intrigados com isso,
eles tiveram a ideia de testar esta hipótese e conseguiram comprová-la3.
Outro exemplo. Diga que você não ficaria assustado ao observar ou
tomar conhecimento de casos de infanticídio entre mamíferos? Em 1977, a
pesquisadora Sarah Hrdy4 publicou os resultados de seus estudos pioneiros
feitos na Índia com macacos langurs (gênero Presbytis). O estudo se iniciou
quando ela evidenciou que após as disputas entre machos pelos haréns, que
os vencedores matavam todos os jovens filhotes do bando. Intrigada com suas
observações iniciais, Sarah Hrdy passou a uma longa fase de estudos obser-
vacionais de campo, testando diferentes hipóteses para explicar o fenômeno,
o qual acabou relacionando com seleção sexual, embora seja um assunto con-
troverso até hoje.
Exemplos como estes que acabo de comentar aguçam sua curiosidade?
Mexem com você? Você se sente motivado a estudar este tipo de assunto?
Se você se sente inseguro em responder a essas questões é bom saber
que um conhecimento básico sobre Zoologia, Botânica, Ecologia e Evolução
pode ajudar muito quando a gente quer decidir se vai gostar ou não de estu-
dar comportamento. É importante que você tenha muita capacidade de leitu-
ra, que goste de estudar, que goste de ir ao campo e seja capaz de observar,
com muita paciência e calma, detalhes mínimos, muitas vezes ocultos pela
própria natureza. Veja, por exemplo, as fotos da figura 2.2.
A B C
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
gine só, se a pessoa não tem paciência, não tem a curiosidade de olhar dentro
de uma flor, de escutar um barulhinho, de respirar os diferentes aromas...
Imagine se, no campo ou no laboratório, essa pessoa vai conseguir encontrar
algo realmente estimulante, que seja capaz de fazer com que ela se apaixone
pelo estudo da Zoologia, Botânica ou Ecologia?
A primeira foto (figura 2.2A) foi feita na transição entre o Pantanal e a
Amazônia, na fronteira entre Brasil e Bolívia. Foi uma tremenda sorte obser-
var e fotografar este evento de predação na natureza. Esta observação surgiu
de um barulho. Na floresta, sempre caminho lentamente, quase em câmera
lenta, tentando ouvir, cheirar, perceber o que acontece a minha volta. Esta
serpente estava na beira de um riacho, no meio de folhas amareladas caídas
no chão da floresta, e foi o barulho de seu bote sobre o sapinho que revelou
sua presença.
O ninho de joão-de-barro (figura 2.2B) é comum no Brasil, mas a maio-
ria das pessoas quando a ele “apresentadas”, costumam mostrar surpresa.
Será que é porque não olham para cima? Dê vez em quando, é bom nos preo-
cuparmos com as coisas que vem do alto.
As libélulas fotografadas na Mata Atlântica (figura 2.2C) pareciam que
estavam brigando. Se enrolavam uma na outra, subiam alto e sumiam entre
as árvores, na beira de um pequeno lago natural. O grupo que estava comigo
foi todo à frente. Eu e alguns alunos paramos e, dois minutos depois, elas
pousaram a nossa frente e ali ficaram por alguns minutos, permitindo que
observássemos, detalhadamente, o bombeamento do esperma do macho para
a fêmea.
O que quero dizer a você é que existem inúmeros exemplos e situações
estimulantes para se estudar comportamento animal. No mundo todo isto se
repete – na floresta tropical, na tundra, no deserto, nos recifes de corais – e
oportunidades não irão faltar, mas você tem que gostar do que faz, tem que
sentir prazer e felicidade fazendo isto.
Uma coisa que chama a atenção nesses casos é que os estudos anterior-
mente citados e relatados podem ter começado com uma simples observação
na natureza ou em laboratório, anotada com lápis em uma caderneta de cam-
po, fazendo as devidas correções com uma mera borrachinha branca. Este é
outro fator muito relevante no estudo do comportamento animal. Você não
precisa de grandes e caros materiais para se tornar um ótimo etólogo. Isto
motiva muito, especialmente no início da carreira, ou para um leigo que quer
ter esta atividade como uma simples forma de lazer. Então, quais seriam as
ferramentas básicas, mínimas, para se estudar comportamento? Como posso
evitar um investimento financeiro grande em um tipo de estudo que ainda
não tenho certeza se vou gostar de fazer? Quais os cuidados iniciais que todo
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Material de Registro:
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Dicas importantes:
Dicas importantes:
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Dicas importantes:
Material de Observação:
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Material de Orientação:
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Dicas importantes:
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Dica importante:
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Figura 2.3. Para construir um puçá, pegue um cabo de vassoura (1) e um peda-
ço de arame firme (2). Dobre o arame para formar um aro com ele,
com um diâmetro (x) de 20 a 25cm. Recorte o tecido nas dimensões
e formato indicados na figura. Faça uma dobra no meio (linha pon-
tilhada) e costure (A + B), a fim de formar um saco. Ponha a boca
do saco sobre o arame e costure novamente para prender o saco
ao arame. Agora é só amarrar o arame no cabo de vassoura e está
pronto o seu puçá.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Figura 2.4. Para fazer seu frasco coletor ou aspirador basta pegar um pote de
vidro com uma tampa ou rolha. Faça dois furos na tampa ou ro-
lha. Passe um tubo flexível por cada furo. Ponha uma pequena tela
sobre o furo no qual você vai por sua boca, a fim de impedir que
engula os insetos. Está pronto! Agora é só "chupar" os bichinhos
para dentro do vidro.
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Dica importante:
Vestuário:
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Dica importante:
Dicas importantes:
Dica importante:
► Embora isto nada tenha a ver com o vestuário, se você for traba-
lhar nos trópicos, é bom reservar dinheiro para comprar muito
protetor solar (FPS de 30 para cima).
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Há uma grande diversidade de materiais que podem lhe ser úteis, des-
de produtos químicos até pequenos utensílios domésticos.
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Dicas importantes:
iluminação
areia
Cascalho fino
Manta acrílica
Figura 2.6. Esquema geral para montagem de um aquário simples, básico. Mo-
delo para estudos com água doce.
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Neste capítulo, vou continuar chamando sua atenção para alguns pon-
tos muito básicos, mas que muita gente esquece e acaba, desnecessariamente,
passando por dificuldades, quando vai realmente iniciar seu estudo. Um des-
ses pontos básicos é que, após escolher qual será seu objeto de estudo, animal
ou grupo de animais, você precisa se familiarizar com a anatomia e também
com comportamentos comuns do grupo a ser estudado. Como você pretende
descrever o comportamento de um animal se você não sabe os nomes corretos
das diferentes partes do corpo desse animal? Vejamos a seguinte descrição:
“Um Diptera, Sepsidae, pousou sobre o ramo mais apical da planta, tocando
com os tarsos do primeiro par de pernas nos nectários extraflorais. A seguir,
o animal dobrou as tíbias anteriores e apoiou o clípeo sobre a base do nec-
tário”. Muito bem, o problema já começa se eu não sei o que é um Diptera
(moscas, mosquitos, pernilongos). Se não sei como é um espécime da família
Sepsidae, pode complicar, pois há moscas enormes, de mais de 7 centímetros
de comprimento, e um Sepsidae pode ser menor que um pernilongo. Tenho
que saber também o que é um trocanter, uma tíbia, um tarso, um clípeo etc.
Tenho que estar familiarizado com os nomes das partes do corpo do animal,
para poder descrevê-lo (figura 2.7).
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
ou confirmações definitivas para suas questões. Por isso, é bom ter a men-
te aberta para a possibilidade de explorar um local de trabalho no qual, a
princípio, não se sinta muito confortável. Muitos alunos que já foram para
excursões de campo comigo abominando a ideia de ir ao campo, acabaram
gostando. Muitas vezes, esqueceram as dificuldades e se admiraram com as
belezas a sua volta (figura 2.8). Mas o oposto também ocorre e até com certa
frequência.
A B C
D E F
Uma coisa muito importante é você não trabalhar com limitações pes-
soais. Se não gosta mesmo de trabalho de campo, ajuste seu interesse às con-
dições de estudos manipulativos em laboratório. Se não tolera ir ao campo
à noite, fica com sono, ou tem receio, fobias, não lute contra suas limitações
individuais, se elas forem fortes. Isso só lhe trará sofrimento e problemas para
seu estudo (possivelmente falhas). Se não sabe nadar, evite os rios, lagos e o
alto mar.
As mesmas ponderações que faço em relação ao ambiente de trabalho
também valem, ainda com mais propriedade, para o objeto de estudo. Veja as
fotos a seguir (figura 2.9).
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A B C
Você imagina que tem gente que morre de paixão pela caranguejeira
da foto central? Pois é, tem maluco pra tudo nesse mundo, não tem? Mas se
você é como eu, e tem medo só de olhar para a foto, porque vai inventar de
trabalhar justamente com o comportamento dessas aranhas? Esta aí era maior
que a minha mão! Tirei a foto para um aluno que queria muito. Ao me deitar
ao lado da aranha, pedi que ele ficasse com um pedaço de pau na mão, pronto
para evitar que ela se virasse para mim. Eu disse a ele: “Se ela pular em mim,
eu mato você depois!”.
Não lute contra suas limitações individuais, quando elas são muito for-
tes – não vai dar certo. Você vai ter medo, receio, ou nojo e não vai conseguir
registrar os dados com a mesma facilidade, paciência e determinação que fa-
ria com um animal que não lhe causa nenhum transtorno, ou pelo contrário,
que lhe cause prazer. Isto é o que você deve procurar. Se você sente atração ou
curiosidade pelas cascavéis (figura 2.9), vá em frente! Devem ser animais fan-
tásticos. O importante é que você se sinta bem, confiante, que goste do animal
e do ambiente no qual estuda. Isto é fundamental para o desenvolvimento de
um bom estudo.
Problemas físicos e limitações pessoais também têm que ser bem tra-
balhados. Se você tem problemas na coluna, como vai ficar sentado por muito
tempo, em uma mesma posição? Você deve procurar um trabalho de campo
ou laboratório que não tenha esta exigência, ou que, de tempo em tempo, per-
mita uma pausa. Se você não enxerga bem, ou não escuta bem, vá ao médico,
procure resolver o assunto antes de iniciar seu estudo. Em geral, para tudo
há uma saída, na maioria das vezes, mais simples do que imaginamos. Seja
flexível em suas escolhas: a vara que verga mas não se parte é a que perdura.
Para poder fazer um bom estudo, você deve examinar previamente as
condições climáticas do ambiente natural onde vai trabalhar. Procure saber
se há condições que exijam algum cuidado especial. Características simples
do clima, comuns, como uma brusca virada de tempo, com queda de tempe-
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Agora, vamos começar a entrar em uma fase mais técnica do livro. Da-
qui para frente, vamos começar a orientá-lo no sentido de aprender a como
elaborar um projeto de pesquisa em comportamento e ecologia comporta-
mental.
Ao longo de todo o desenvolvimento do estudo do Comportamento
Animal, biólogos, psicólogos, naturalistas, veterinários e médicos têm
buscado por métodos e técnicas comuns que permitam principalmente a
padronização e a comparação entre estudos. Na sequência, vou descre-
ver e exemplificar as quatro técnicas de amostragem de comportamento
mais comumente indicadas 6: amostragem de todas as ocorrências, amos-
tragem de sequências, amostragem instantânea e amostragem do animal
focal.
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Tabela 2.1. Quadro resumido dos tipos de amostragem e seu uso mais comum em
Comportamento Animal.
Tipo de
Situação em que pode ser usada
amostragem
● Início de um estudo;
● Fase de familiarização com o animal;
Todas as ● Para qualificação de comportamentos;
ocorrências ● Para comportamentos raros ou fortuitos;
● Para padronização de metodologia
interobservadores.
● Quando interessa a sequência do comportamento;
Sequências ● Quando um comportamento pode ser dividido
em fases ou etapas.
● Para estudo de animais muito lentos;
Instantânea ● Para estudo de animais em grandes populações;
● Para etogramas de insetos sociais em laboratório.
● Para grupos, quando se pode identificar cada um
dos membros do grupo;
Animal focal ● Animais que podem ser individualmente
observados com pouca dificuldade na natureza e/
ou no laboratório.
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Onde quer que você esteja, a maioria dos animais será formada por
invertebrados e mais de dois terços dos animais existentes serão artrópodes.
Esta é uma estimativa que, a cada dia mais, se torna confiável. Devido a esta
enorme abundância, há inúmeras espécies e muitos gêneros e famílias, to-
talmente, ou quase completamente, desconhecidas da ciência. A diversidade
representada pelo número de espécies irá refletir em uma diversidade pro-
porcional de diferentes tipos de comportamentos exibidos por esses animais,
com a finalidade de solucionar os três problemas básicos de todo organismo:
crescer e se desenvolver (figura 2.12A), sobreviver (figura 2.12) e se reproduzir
(figura 2.12C).
A B C
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Vantagens Desvantages
● São muito abundantes e muito ● Devido à grande diversidade, há
diversos. Há sempre um perto muitos problemas taxonômicos,
de você. muitas espécies novas com caracte-
rísticas totalmente desconhecidas.
● Há maiores chances de encon- ● A maioria dos invertebrados possui
trar novos comportamentos, hábitos crípticos.
coisas diferentes e estimulan-
tes para estudar.
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A B C
A B
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
a plateia, que imaginava que algo ruim fosse ocorrer, o animal simplesmente
acariciou os cabelos da pesquisadora, que ficou paralisada. Metade da plateia
de etólogos que assistia a esta palestra caiu em lágrimas de emoção.
Pois é, não espere isso de uma borboleta! Mas, por outro lado, embora
esta cena seja realmente emocionante, ela não faz parte do cotidiano de nosso
trabalho, infelizmente. Muito poucos zoológicos dão condições ideais para
trabalhos de observação e menos ainda para manipulações. Em situação de
campo, avistar o objeto de estudo pode demorar horas, dias, ou meses como
é o caso de colegas que trabalham com baleias jubartes. Inúmeras teses co-
meçam com a Ecologia do comportamento do macaco fulano de tal e terminam
com Fenologia das plantas utilizadas pelo macaco fulano de tal ou Germinação das
sementes encontradas nas fezes do macaco Tião e assim por diante. Não quero
desanimá-lo, mas quero apenas alertá-lo para a realidade de que seus estudos
não serão mil maravilhas. Mas os persistentes, os estudiosos, os verdadeiros
amantes da história natural terão sua recompensa (figura 2.15).
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Bom, pela dica número 9, você pode estar pensando agora: “Poxa,
esse cara quer que eu trabalhe com gato, galinha, cachorro!”. Não é má ideia
para treinar, antes de escolher um animal silvestre. Mas acredite em mim,
há muitos animais silvestres, especialmente nos trópicos, que vivem dentro
dos ambientes das cidades, que atendem a todos os pré-requisitos do item 9
e são praticamente desconhecidos da ciência, no que diz respeito a ecologia e
comportamento. Aqui no Brasil, há desde sapos, até serpentes, lagartos, aves
e mesmo alguns macacos que se encaixam nestas exigências.
Eu aconselho muito que você faça um curso de fotografia, básico, pelo
menos para aprender a usar direito os recursos de sua câmera ou filmadora.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Quem trabalha com vertebrados vai ter a chance de fazer fotos incríveis e,
até mesmo, ganhar algum dinheiro com isso. Então, esteja preparado para
não falhar na hora certa. É muito bom também fazer parte de uma equipe,
poder se revezar nas observações ou ter companhia de campo. Além disso,
um mesmo animal pode fornecer material para diversas dissertações e teses
distintas. Muitas vezes, os dados podem ser colhidos simultaneamente. Esta
é uma das grandes, ou melhor, uma das enormes vantagens de trabalhar com
vertebrados. Devido à convivência de campo entre os colegas, amizades de
uma vida inteira podem surgir. Um pode querer matar o outro também, mas
nem é bom falar nisso! Pense positivo!
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
A B
C D
Figura 2.16. Após capturar uma libélula (A), podemos verificar seu sexo e me-
di-la com um paquímetro (B), além de marcá-la com uma caneta
para escrita em plástico, vidro ou tecido (C, D).
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
2.8.2. Peixes
Bem, você não vai poder pintá-los não é? O que fazer então? Uma técni-
ca barata, de sucesso garantido e comprovado, consiste em ampolas plásticas,
contendo um pedaço de papel com a identificação do animal em seu interior.
Essas ampolas podem variar de tamanho, dependendo do peixe, mas, geral-
mente, são um pouco maiores do que uma cápsula de remédio. Cada uma
dessas “etiquetas” é presa na nadadeira dorsal do animal capturado, usando
para isso uma agulha com linha de náilon. O animal não fica retido por muito
tempo, toda a manipulação demora um ou dois minutos, sendo o peixe devol-
vido ao seu habitat em boas condições.
Embora essa técnica tenha alguns inconvenientes (por exemplo, não
pode ser empregada em animais pequenos), ela pode ser muito eficiente na
medida em que, nas etiquetas, você pode fazer constar um número de telefo-
ne. O ecólogo José Sabino testou, com relativo sucesso, uma técnica baseada
em fotografar uma folha com números, recortar os números do negativo e
implantá-los sob as escamas de peixes. O tecido parece não rejeitar o filme,
que permanece por um bom tempo no animal. Este colega e alguns outros
têm me informado que estão em teste alguns tipos especiais de tintas e outros
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
tipos de papéis e filmes que podem ser implantados nos animais. Pesquisa-se,
até mesmo, o uso de microchips para um futuro próximo.
2.8.3. Anfíbios
Como marcar um animal que não pode ser pintado nem etiquetado e
que apresenta poucas marcas naturais notáveis? Pobres rãs, sapinhos e pe-
rerecas. O leitor pode imaginar o que é ter pedaços de seus dedos (artelhos)
cortados, em diferentes porções, para indicar o seu número através de uma
combinação? Pois é, essa técnica de mutilação é muito usada em anfíbios e,
até mesmo, em roedores. E pior: por incrível que pareça, esta é a única técnica
que realmente permite ao pesquisador ter certeza do animal marcado e a que
dura mais tempo (toda a vida do animal), na maioria dos casos.
No meu primeiro livro (Uma Orientação ao Estudo do Comportamento Ani-
mal), critiquei esta técnica, provocando nossos colegas a fornecerem outra so-
lução. O Prof. Dr. José Peres Pombal Jr., do Museu Nacional no Rio de Janeiro,
referência internacional em anfíbios, me procurou e me garantiu que esta,
além de ser a melhor saída, é a técnica que causa menor sofrimento e risco
aos animais. O professor Pombal conta também que, segundos após terem
os artelhos cortados, os machos já voltam a coaxar, como se nada houvesse
ocorrido. Bom sinal?
A opção menos agressiva para este grupo consiste em prender, entre os
membros anteriores e posteriores do anuro, uma fita de tecido macio conten-
do as informações necessárias. Sugere-se usar fitas parecidas com a coloração
da pele do animal para não afetar drasticamente a história de vida de seu
objeto de estudo. Porém, essas fitas não podem ficar nem folgadas, nem aper-
tadas. Sempre que recapturar o animal, troque a fita. Uma fita folgada pode
se prender em algum objeto do meio e provocar a morte do animal. Uma fita
apertada e que não se desfaça com o tempo pode estrangular a cintura do sa-
pinho, provocando sua morte. Se for fita de algodão, ela logo se desfaz e você
perde o animal. Se for de material sintético, vai ferir a pele do sapinho, cau-
sando infecções por bactérias e fungos. Linhas com miçangas têm os mesmos
problemas. Assim sendo, parece que o melhor mesmo é evitar experimentos
que exijam a marcação individual desses animais. Mas se tiver que recorrer a
isso, lembre-se que, nesse caso, o que parece ser pior, na verdade, pode ser o
caminho “menos ruim”.
2.8.4. Répteis
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
casos (lagartos, por exemplo), da mesma forma que os anfíbios. Jacarés e cro-
codilos podem receber plaquetas ou etiquetas costuradas nas escamas. Ser-
pentes podem ser identificadas através de muitas marcas naturais, incluindo
variações em seu padrão de coloração. Jararacas podem ser reconhecidas in-
dividualmente através de fotografias. Esses animais são extremamente poli-
mórficos – o padrão de cores de um indivíduo jamais se repete. Minha amiga
Christine Strüsmann, no pantanal, identificava sucuris através de cicatrizes,
tais como dentadas de jacarés. Nesse caso, o inconveniente é a troca de pele,
que pode modificar as características dessas cicatrizes. Cágados e tartarugas
podem receber placas de identificação em suas carapaças ou serem pintados
com números, como fazemos para insetos (figura 2.17). Mais recentemente,
tenho recebido informações sobre tintas especiais, subcutâneas, ou implantes
plásticos, que talvez possam vir a ser utilizados em breve.
Figura 2.17. Tartaruga de água-doce marcada com numeração feita com tinta
automotiva de secagem rápida.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
2.8.5. Aves
Figura 2.18. Anilhas metálicas de vários diâmetros usadas pelo Centro Nacio-
nal de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE).
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
2.8.6. Mamíferos
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Mesmo que você vá para o deserto, é bom saber nadar. Isto é sem-
pre útil e vai lhe dar grande segurança. Tenha bom preparo físico.
Você não precisa ser um atleta, correr dois quilômetros em dez mi-
nutos. Nada disso! Mas precisa aguentar, sem problemas, uma boa
caminhada de cinco a dez quilômetros.
Esteja preparado para eventualidades. Leve água, alimentos leves
e de grande durabilidade, como barras de cereais. Se você for para
algum lugar muito distante, não deixe de levar um vidrinho com
cloro para pingar algumas gotinhas em cada litro de água (espere
um pouco antes de beber). Se sua água acabar, evite remansos – dê
preferência à água corrente e cristalina. Se for possível, ferva a água
antes de beber.
Leve material para produzir luz e fogo. Há muito tempo, as lan-
ternas são ferramentas básicas de campo, assim como um GPS,
nos dias de hoje – saiba como usá-lo. Para produzir fogo, isquei-
ros, fósforos ou uma pederneira podem ser muito úteis. Filtro so-
lar e repelente de insetos são garantia de tranquilidade. Porém,
há ainda uma coisa básica, fundamental: não se esqueça de levar
consigo seu bom senso! Evite fazer movimentos desnecessários:
saltar sobre pedras e riachos, correr pela floresta..., pois você pode
facilmente se acidentar. Uma simples torção de tornozelo pode
por tudo a perder. Não se pendure em galhos nem balance cipós
– um amigo meu fez isso e lançou toda uma colmeia de abelhas
africanizadas sobre nós. Os galhos também podem cair e ferir
gravemente alguém da equipe. Evite revirar troncos e pedras sem
os equipamentos próprios para isso, como ganchos e bastões, pois
uma serpente pode saltar de lá e picar você. Muito cuidado ao
tocar em folhas de plantas e em insetos. Muitos me perguntam
o que eu mais temo na floresta. Se temo encontrar uma onça, ser
picado por cobra etc. Obviamente, tudo isso é preocupante, mas
acredite em mim, é muito mais fácil você se complicar sendo pi-
cado por abelhas ou vespas, ou tocando em plantas urticantes e
lagartas de borboletas. Fuja, a todo custo, do contato com lagartas
de mariposas, como as Megalopigidae. Algumas são tão tóxicas
que podem até matar (figura 2.20).
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Diga! Que tipo de estímulo esta imagem lhe traz! Olhe para ela nova-
mente e pense em algumas questões que gostaria de responder. (...) Pensou?
(...) Mais um tempinho? (...) Talvez a primeira questão que nos venha à mente
seja:
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
A B
Figura 2.22. Detalhe (seta) das glândulas de óleo pares das sépalas (A) de
Peixotoa tomentosa (Malpighiaceae), do cerrado, e da escopa de
uma abelha Centridini (B).
Levantamento Material
Observações
Bibliográfico &
Preliminares
Questão Métodos
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Tudo isto será melhor compreendido, mais uma vez, recorrendo à lite-
ratura específica. Lembra-se do levantamento bibliográfico inicial? Ele será
importante em todas as fazes de seu estudo. Os livros, os trabalhos já publi-
cados e uma boa orientação vão ajudá-lo a definir seus números amostrais, a
sanar muitas das dúvidas, como as exemplificadas acima.
Mas, para ter confiança no que está fazendo, para aumentar a con-
fiabilidade intraobservador, ou seja, aquela confiança em si mesmo... Ah!
Somente o treino, o exercício, a familiarização com o animal, com o am-
biente de estudo, o bom conhecimento e o domínio da maior parte possí-
vel de variáveis é que lhe darão essa confiança. Estude, estude e estude!
Lembre-se de que, segundo Albert Einstein: “Um gênio é, na verdade, o
resultado de muita paciência e dedicação; um gênio é uma enorme paciên-
cia!”. Então, na busca da autoconfiabilidade, podemos lembrar de seguir
alguns passos:
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
þ Não seja apressado, mas seja humilde. Peça ajuda, sempre que neces-
sário. Lembre-se de zelar pelo seu nome. Em ciência, ele tem muito
valor ou valor nenhum! Depende de você!
“Você não pode ensinar nada a um homem. Você pode apenas ajudá-lo
a encontrar as respostas dentro dele mesmo.” Galileu Galilei
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Então, você diz: “Ah! Eu não vou errar!” Doce ilusão... todo mundo erra!
Devemos fazer todo o possível para minimizar nossos erros, mas todos nós
erramos. Sendo assim, descarte os dados ruins, aqueles com possíveis erros,
repita observações para as quais tem dúvida. Manter a atenção na hora das
observações comportamentais, evitar conversas paralelas e estar realmente
focado em seu trabalho são as melhores formas de reduzir erros.
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
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Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
Categorias
Colônias
comportamentais
Atos comportamentais 1 2 3 4 TOTAL
EXPLORAÇÃO 24,090 16,800 15,440 5,780 9,154
Parado fora do ninho 10,850 2,440 3,110 1,160 2,170
Andando dentro do
5,330 11,490 8,070 3,020 4,540
ninho
Andando
(explorando) fora do
7,910 2,880 4,250 1,600 2,000
ninho
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Guia introdutório à E
ecologia comportamental
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A B
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Parte 3 ♦ Guia introdutório à ecologia comportamental
Ecologia pode ser entendida como o estudo das relações dos or-
ganismos vivos entre si e com o ambiente. Entendendo-se estas relações
como de duplo sentido, ou seja, organismos afetam e são afetados uns
pelos outros, assim como afetam o ambiente e são por ele afetados. É uma
verdadeira negociação, cheia de trocas, de pressões seletivas, o que, em
1870, Ernest Haeckel chamou de a “economia da natureza”. A Ecologia
Comportamental aplica esta visão ao comportamento animal, buscando as
causas evolutivas para a existência de cada comportamento. Assim sen-
do, com ela, vemos o impacto de um comportamento sobre populações,
comunidades e espécies (figura Quadro 3.1).
A Ecologia Comportamental é um tipo de abordagem que revela as
bases ecológicas e evolutivas dos comportamentos, demonstrando expe-
rimentalmente a ação de um determinado ato sobre o valor adaptativo de
um indivíduo. Assim, passamos a questionar as vantagens adaptativas
dos gafanhotos em imitar as vespas, ou das formigas em construir trilhas
de cheiro, mas tudo isso fazendo uso de manipulação experimental no
campo e em laboratório para testar predições, corroborando ou não nos-
sas hipóteses. Certamente, você poderá compreender isso melhor através
de um exemplo onde ficam claras as hipóteses e premissas, também de-
nominadas pressupostos, previsões ou predições.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Interações com o
ambiente e outros
organismos
Comportamentos
(Mecanismos Psicológicos)
Aptidão individual
(sucesso reprodutivo)
Modelam os mecanismos
fisiológicos do organismo
Define os mecanismos de
desenvolvimento e crescimento
do organismo
Contribuição ao
Pool gênico da
próxima geração
Carga Genética Individual
Indivíduo
Espécie
Populações
Figura 3.3. Toda espécie é composta por um conjunto de populações que, por
sua vez, se dividem nas suas unidades básicas funcionais: os orga-
nismos ou indivíduos. Cada indivíduo tem sua própria carga gené-
tica, modeladora de seu desenvolvimento, fisiologia e psicologia.
O modo como um animal se comporta e interage no ambiente
natural dirá muito de seu sucesso reprodutivo individual. Desse
sucesso, ou seja, do valor adaptativo individual (prole viável) resul-
tará a composição final do pool gênico da próxima geração.
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A B
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Com este exemplo, espero ter esclarecido o que são hipóteses e premis-
sas, além de sua importância. Também espero que você tenha compreendido
o que é Ecologia Comportamental:
Uma parte da ciência do comportamento animal que busca as cau-
sas evolutivas (históricas) dos comportamentos, fazendo uso de mani-
pulação experimental, para testar premissas que comprovem ou refutem
hipóteses.
E por falar em comportamento, no exemplo descrito, a análise do
comportamento dos dois besouros foi fundamental para a comprovação
da hipótese mimética. Os besouros-modelo (Alticinae saltadores) têm, no
salto, uma importante defesa contra predadores visualmente orientados,
como aves, por exemplo. Quando perturbados, os serra-paus não podem
saltar das plantas e cair por entre a vegetação, como fazem os modelos
saltadores, pois não têm o terceiro par de pernas modificado para pular.
Mas, como bons mímicos, eles imitam este comportamento. Quando per-
turbados, esses besouros levantam vôo e fecham as asas em pleno ar, si-
mulando um salto, caindo por entre a vegetação, exatamente como fazem
seus modelos. Na natureza, toda ação passa por uma análise de custo e
benefício, sendo que, em geral, os animais tomam decisões nas quais os
benefícios sobrepujam os custos da ação, caso contrário há uma perda em
valor adaptativo. Assim sendo, tentar pegar uma presa pequena, de baixo
valor energético e difícil captura, pode não ser economicamente viável.
Há um gasto energético em algo que simplesmente não traz um retorno
satisfatório.
Vamos a outro exemplo, um pouco mais elaborado.
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Bibliografia
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A seguir, cito alguns livros e artigos que podem ser úteis para esquentar
os motores em seu aprendizado.
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Parte 4 ♦ Bibliografia
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
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Parte 4 ♦ Bibliografia
Reis, N.R., Peracchi, A.L. & Santos, G.A.S.D. Ecologia de morcegos, Technical
Books, Rio de Janeiro, 2008.
● Livro introdutório, porém muito interessante. Embora trate
basicamente de ecologia, abre o caminho para quem quer estudar o
comportamento e a ecologia comportamental dos quirópteros.
Ross, K.G. & Mathews, R.W. The social biology of wasps. Cornell University
Press, New York, 1991.
● Livro interessante para quem quer estudar comportamento de vespas
e abelhas.
Tinbergen, N. The study of instinct. Oxford University Press, New York, 1951.
Tinbergen, N. Curious naturalists. Doubleday, Garden City, New York, 1958.
● Acima, dois artigos clássicos no estudo do comportamento, escritos
por um dos homens que deram a grande arrancada na ecologia
comportamental, no século XX. Ver também Lorenz e von Frisch.
Trivers, R. Social evolution, Benjamin Cummings, Menlo Park, 1985.
● Uma clara, estimulante e instigante discussão sobre sociobiologia.
von Frisch, K. The dance language and orientation of bees. Harvard University
Press, Cambridge, 1967.
● Um dos artigos clássicos no estudo do comportamento, escrito
por um dos homens que deram a grande arrancada na ecologia
comportamental, no século XX. Ver também Lorenz e Tinbergen.
von Matter, S. et al. Ornitologia e conservação: ciência aplicada, técnicas de
pesquisa e levantamento, 2010.
● Excelente livro para quem quer se iniciar no estudo da ornitologia e
do comportamento de aves. Básico, essencial.
Zar, J.H. Bioestatical analysis, 2nd edition. Prentice-Hall, Englewood Cliffs,
New Jersey, 1984.
● Um clássico da bioestatística mundial, que traz tudo bem explicado,
claro, com desenvolvimentos etc.
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Glossário
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