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à Gramática do Kimbundu
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4
Uma Abordagem
à Gramática do Kimbundu
Fernando Cerqueira
5
6
Índice
Resumo ................................................................................................... 9
As línguas bantas .................................................................................. 11
As línguas bantas em Angola ............................................................ 21
Primeiras publicações em línguas bantas .......................................... 25
O kimbundu .......................................................................................... 27
As classes no kimbundu ..................................................................... 33
Classes I e II ..................................................................................... 34
Classes III e IV .................................................................................. 35
Classes V e VI ................................................................................... 36
Classes VII e VIII ............................................................................... 37
Classes IX e X ................................................................................... 38
Classe XI ............................................................................................ 40
Classe XII ........................................................................................... 41
Classe XIII .......................................................................................... 42
Classe XIV .......................................................................................... 43
Classe XV ........................................................................................... 45
Quadros comparativos das gramáticas de Heli Chatelain, Gram-
matica Elementar do Kimbundu, de José Luiz Quintão, Gramática
de Kimbundo, dos Missionários do Vicariato Geral de Malange,
Elementos da Gramática de Quimbundo e do padre António da
Silva Maia, Gramática de Kimbundo ................................................ 48
7
O alfabeto ............................................................................................... 61
A constituição silábica do kimbundu ................................................ 65
O tom ..................................................................................................... 69
Comentário ............................................................................................. 73
Bibliografia .............................................................................................. 77
ANEXOS
Concordâncias ......................................................................................... 81
Misoso (contos) ..................................................................................... 83
Jisabu (provérbios) ................................................................................ 87
FIGURAS
8
RESUMO
9
10
As línguas bantas
11
http://www.nationsonline.org/oneworld/african_languages.htm
Afro-Asiática
Nilo-Sahariana
Cordofânia
Níger-Cordofânia
Níger-Congo
Khoisan
Austronésia
Indo-Europeu
Figura 1
Famílias linguísticas existentes em África
e os dois sub-ramos da Níger-Cordofânia
12
vale central Benue, a Leste da Nigéria) e os seus descen-
dentes espalharam-se por toda a África sub-equatorial (v.
fig. 2).
Andrade, 2007: 23
Figura 2
Origem e difusão das línguas bantas.
Proposta de Heine, Bloff e Vossen (1977)
13
vários povos ao qual pertencem, segundo uma classifica-
ção feita pela semelhança da linguagem. Portanto não
devemos falar em língua banta e sim em línguas bantas,
ou civilizações bantas, porque inúmeras são as línguas e
as civilizações ou povos que estão enquadrados neste
grupo, tendo em comum o elo do parentesco da lingua-
gem que sugere, pela grande semelhança, um tronco
comum de origem, mas que apresentam no entanto
diversidades sociais, culturais e políticas, mudanças
essas ocorridas provavelmente ao longo do tempo. Esta
semelhança da linguagem faz supor evidentemente uma
língua (proto-bantu) e até mesmo um lugar comum de
origem desses povos, que acabou por dar, devido a cir-
cunstâncias históricas, os diversos grupos com a sua
cultura e língua diferentes (embora identifiquemos o
parentesco linguístico).
Desde o início do século xx os linguistas têm vindo a
classificar as línguas bantas. Em 1971, Guthrie apresen-
tou uma proposta (v. fig. 3) de classificação e codifica-
ção, baseada sobretudo em critérios geográficos e de
parentesco, que mais tarde é revista por Tervuren e SIL,
acrescentando-lhe a zona J. (v. fig. 4)
14
http://www.bantu-languages.com/zones.html
Figura 3
Classificação proposta por Guthrie
15
Figura 4
Classificação das línguas bantas com a inclusão da zona J
16
A estrutura silábica das línguas bantas baseia-se em
CV, VCV, CVCV, VCVCV. Muitas línguas bantas têm em
posição inicial NC, podendo a N ser silábica ou não.
a)
Ataque Rima
Núcleo
m b a
b)
Núcleo Núcleo
Ø m j i
17
A principal característica das línguas bantas é o uso
generalizado de prefixos. Cada substantivo pertence a
uma classe e cada língua pode ter um total de dezanove
classes. A classe a que corresponde é indicada pelo pre-
fixo do substantivo. Os adjectivos e os verbos concor-
dam com aquele, apresentando um prefixo concordante.
O plural é indicado pela mudança de prefixo.
Na página seguinte apresentamos a lista de classes
segundo Guthrie e a sua caracterização semântica.
Fazemos desde já notar que as classes 20-23 são
raras, sendo que a classe 20 na maior parte dos casos é
aumentativa, embora, possa ser diminutiva em algumas
línguas. A classe 21 designa aumentativo e pejorativo. A
classe 22 só se encontra em ganda, e é o plural da classe
20 e de alguns nomes da classe 5. A classe 23 é um
locativo. (Andrade, 2007: 31)
18
Classes e a sua caracterização semântica segundo Guthrie
CLASSE PREFIXO NÚMERO VALOR SEMÂNTICO
11 mu - Singular de 2
Seres humanos e objectos personificados.
12 ba- Plural de 1
13 mu- Singular de 4 Árvores e plantas; partes do corpo; alguns substantivos derivados; alguns emprés-
14 mi- Plural de 3 timos do árabe.
15 i- Singular de 6
Partes do corpo pares; frutos; alguns líquidos; coisas colectivas; noções abstractas.
16 ma- Plural de 5
17 ki- Singular de 8 Artefactos de utilidade geral; nomes de línguas; pessoas com defeitos físicos.
18 bi - Plural de 7
19
19 N- Singular de 10
Animais; grande quantidade de empréstimos do árabe, inglês, português, hindi, etc.
10 N- Plural de 9 e 11
11 du- Singular de 11 Objectos compridos e delgados.
12 ka- Singular de 13
Categoria para diminutivos.
13 tu- Plural de 12
14 bu- Nomes abstractos (qualidades).
15 ku- Substantivos verbais (infinitivos).
16 pa- Situacional
17 ku- Diferentes tipos de locativos. Direccional
18 mu- Interioridade
19 pi - Diminutivos.
20
As línguas bantas em Angola
21
Figura 5
As línguas bantas em Angola
22
• a maior parte das línguas é tonal, isto é, para
além do acento, existe um determinado tom;
• não há diferença entre masculino e feminino;
• o sistema vocálico é simétrico, quer dizer
que este sistema comporta uma vogal central
(a) e um número idêntico (2) de vogais ante-
riores (i, e) e de vogais posteriores (u, o);
• algumas consoantes orais não aparecem de
forma isolada por serem sempre pré-nasa-
lizadas, quer dizer, precedidas de consoantes
nasais;
• não existem artigos.
23
24
Primeiras publicações em línguas bantas
25
Figura 6 Figura 7
26
O kimbundu
27
pelas letras, ou syllabas iniciaes, como succede no
singular, e plural dos nomes, e nas differentes vozes,
e inflexões dos verbos.» (Cannecattim, 1804: XVIII)
Figura 8
28
bunda,’ ao passo que entre os brancos de Angola é
mais conhecida como ‘o ambundo’. Scientifica-
mente, porém, nem uma nem outra d’estas denomi-
nações é admissível: a primeira por ser quasi um
termo obsceno na lingua que pretende designar, a
segunda porque significa ‘os pretos’ e não a sua lin-
guagem, ambas por não serem usadas pelos indige-
nas que fallam a lingua em questão. ‘Kimbundu’
pelo contrario, é o termo vernaculo, dizendo os pre-
tos d’Angola, os a-mbumdu: o kimbundu, em kim-
bundu, fallar kimbundu, mas nunca: fallar ambundo
ou bundo ou bunda. Os vocábulos mu-mbundu, um
preto, ou uma preta, a-mbundu, pretos ou pretas e
ki-mbundu, linguagem de pretos constam como base
commum mbundu e dos prefixos mu-, a-, ki-, signi-
ficando mu- pessoa, a- pessoas e ki- linguagem. Concor-
da com isto com o que se nota nas linguas da familia
bantu, á qual peretence também o nosso kimbundu,
sendo o prefixo ki- o que mais s’emprega n’ellas para
designar linguagem. Algumas tribus pronunciam-o
txi- (tyi), xi-, si-, isi-, se-, outras preferem-lhe os
prefixos u- ou lu-, outras, mais raras, contentam-se
com a base sem acrescentamento de prefixo algum.
Assim, sem sahirmos da Provincia de Angola, os
Conguezes ou Exi-Kongo chamam á sua lingua
ki-xikongo, os habitantes do Bailundo e do Bihe, os
I-mbundu, á sua u-mbundu, ao passo que os Akua-
-Mbamba denominam o seu dialecto simplesmente
‘mbamba’. É pois nossa opinião que, se quizermos
fallar correctamente, devemos dizer ‘o kimbundu’,
29
‘o umbundu’, mas não ‘a língua ki-mbundu ou
u-mbundu’, porque ki- e u- já significam língua. Não
recommendamos tampouco o uso de ‘lingua
mbundu’ a não ser que se lhe junte: d’Angola ou de
Benguella (=Bangela) para obviar á confusão que,
de outra forma, seria inevitavel.» (Chatelain, 1889:
XI-XII)
• Niger-kongo
• Atlântico-kongo
• Volta-kongo
• Benué-kongo
• Bantóide
• Bantóide meridional
• Bantu estreito
• Bantu central
• H
• Mbundo (H.20)
30
O grupo etnolinguístico Ambundu ocupa uma área
que se estende desde o interior para o litoral e domina
as províncias do Bengo, Kuanza Norte, Norte da provín-
cia do Kuanza Sul, Malanje e Luanda, tendo como lín-
guas vizinhas o kikongo, a Norte, o kioco, a Este, e, a
Sul, o umbundo e o ganguela. Na fig. 9 podemos ver a
distribuição geográfica do kimbundu e quais as provín-
cias de Angola onde se fala esta língua.
1 2
Luanda 4
Malanje 7 Henrique de Carvalho
5 8
6
Elaborado pelo autor a partir de Fernandes, 2002: 57
Novo Redondo
Luso
Benguela
Nova Lisboa
Figura 9
31
32
As classes no kimbundu
33
Mulume (marido) Mukaji (esposa)
Tata (pai) Mama (mãe)
Rikolombolo (galo) Sanji (galinha)
Kisutu (bode) Hombo (cabra)
CLASSES I e II
SINGULAR PLURAL
Mona = filho, criança
1
Ana = filhos, crianças
Mudiakimi = velho sábio Adiakimi = velhos sábios
Muhatu = mulher Ahatu = mulheres
Mukongo = caçador Akongo = caçadores
Muloji = feiticeiro Aloji = feiticeiros
Musuri = ferreiro, forjador Asuri = ferreiros, forjadores
Mutabi = carreteiro d’água Atabi = carreteiros d’água
Mutambi = pescador de an- Atambi = pescadores de an-
zol zol
Mutona = pescador de rede Atona = pescadores de
redes
1
Mona que tem o prefixo mo- tem como radical ana, ao juntar-se-lhe
o prefixo mu-, o encontro da vogal u + a origina a vogal o.
34
CLASSES III e IV
SINGULAR PLURAL
35
CLASSES V e VI
SINGULAR PLURAL
Riala = homem Mala = homens
2
1
A este propósito Cannecattim anotava a existência do prefixo ri- e
não di-, considerando Riala e não Diala (Cannecattim, 1805: 8). Já antes
escrevia: «Os Ambundos confundem no principio da palavra a letra r com
a letra d, [...] umas vezes parece que pronunciam Riála, o homem; outra
Diála, porém a verdadeira pronunciação he Riála, mas não se deve
carregar muito a lingua sobre a letra r, ou a syllaba ri, como se faz no
Portuguez, a pronuncia deve ser mais branda, o que se deve observar em
todas as palavras que principião com a syllaba ri, como são todos os
nomes da quarta declinação na voz do singular.» [...] «Eu que varias vezes
examinei este particular, me tenho servido da mesma letra R porque
parece que a pronunciação se aproxima mais á letra R do que a D, se
bem que não seja hum R aberto e claro, mas hum R sumido e brando,
proferido com a ponta da lingua junta aos dentes no acto da pronun-
ciação.» (Cannecattim, 1805: 2 e 152) «Por seu lado Quintão (1934: 12)
36
CLASSES VII e VIII
SINGULAR PLURAL
Kiala = unha Iala = unhas
Kimbanda = curandeiro Imbanda = curandeiros
Kimbungo = lobo Imbungo = lobos
Kinama = perna Inama = pernas
37
CLASSES IX e X
SINGULAR PLURAL
Fundu = feira, mercado, Jifundu = feiras, mercados,
praça praças
Imbia = panela Jimbia = panelas
Imbua = cão Jimbua = cães
Inzo = casa Jinzo = casas
Ixi = terra, naturalidade Jixi = terras, naturalidades
Mama = mãe Jimama = mães
Mvula = chuva, maré Jimvula = chuvas, marés
Ndandu = parente, primo, Jindandu = parentes, primos,
abraço abraços
Ndenge = pequeno, inferior, Jindenge = pequenos, infe-
criança riores, crianças
Ngangula = ferreiro Jingangula = ferreiros
Ngiji = rio, riacho, conhecido Jingiji = rios, riachos, conhe-
cidos
Ngombe = boi Jingombe = bois
38
Ngombo = umbigo, adivi- Jingombo = umbigos, adivi-
nho, fugitivo nhos, fugitivos
Nguzu = força, vigor Jinguzu = forças
Nhoka ou Nioka = cobra Jinhoka ou Jinioka = cobras
Nhoki ou Niiki = abelha Jinhoki ou Jiniiki = abelhas
Njila = caminho, pássaro Jinjila = caminhos, pássaros
Pambu = atalho, encruzi- Jipambu = atalhos, encruzi-
lhada, fronteira lhadas, fronteiras
Pange = irmão Jipange = irmãos
Poko = faca Jipoko = facas
Sanji = galinha Jisanji = galinhas
Tata = pai Jitata = pais
39
CLASSE XI
SINGULAR PLURAL
Lubambu = corrente Malubambu = correntes
Lukuaku = mão Malukuaku = mãos
Lumbu = muro Malumbu = muros
Lumuenu = espelho Malumuenu = espelhos
40
CLASSE XII
SINGULAR PLURAL
Kakuria = bocado de comida Tumakuria = bocados de
comida
Kamona = filhinho Tuana = filhinhos
Ka’nzo = casinha Tu’nzo = casinhas
Kauta = arma pequena Tumauta = armas pequenas
41
CLASSE XIII
SINGULAR PLURAL
Tubia = fogo, lume Matubia = fogos
Tuji = excremento Matuji = excrementos
Tujola = tesoura Matujola = tesouras
Tuxinha = toucinho Matuxinha = toucinhos
42
CLASSE XIV
SINGULAR PLURAL
Uanda = rede, tipóia Mauanda = redes, tipóias
Uanza = esperma Mauanza= espermas
Uenji = negócio Mauenji = negócios
Uhaxi = doença Mauhaxi = doenças
Uina = toca, buraco Mauina = tocas, buracos
Ulungu = canoa Maulungu = canoas
Usuku = noite, escuridão Mausuku = noites, escuridões
Uta = espingarda, arma Mauta = espingardas, armas
Utokua = cinza, cisco Mautokua = cinzas, ciscos
43
unjinji — a avareza; ufusa — a ingratidão; unzambi —
a divindade; ungana — a realeza; undenge — a infân-
cia.» (1944: 12)
44
CLASSE XV
SINGULAR PLURAL
Kufua = morte Makufua = mortes
Kuinhi = dezena Makuinhi = dezenas
Kunua = bebida Makunua = bebidas
Kuria = comida Makuria = comidas
Kutunga = costura Makutunda = costuras
45
CLASSE PREFIXOS
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
1 2 mu a
3 4 mu mi
5 6 di ma
7 8 ki i
14 6 (+ 14) u ma+u
11 6 (+ 11) lu ma+lu
13 6 (+ 13) tu ma+tu
15 6 (+ 15) ku ma+ku
9 10 Ø–i ji
12 13 ka tu
46
especialmente o primeiro, tive de, frequentemente, con-
sultar e compulsar para uma coordenação mais ade-
quada e atingir o fim a que me propuz.» (1934: 1) Na
verdade as divergências de Quintão com Chatelain
resumem-se ao uso dos prefixos ri- ou di- na classe IV
e ao prefixo i- na classe IX. Entre os Missionários e
Chatelain não há qualquer divergência, entre o padre
Maia e os restantes autores os contrastes são maiores.
11.a
mu – a mu – a mu – a mu/u – ma/a
12.a mu – mi mu – mi mu – mi mu/u – i
13.a ki – i ki – i ki – i ki/e – î
14.a ri – ma di – ma ri – ma o/i/e – ma
15.a u – mau u – mau u – mau u – mau
16.a lu – malu lu – malu lu – malu m/n/o – o la 1
17.a tu – matu tu – matu tu – matu lu – malu
18.a ku – maku ku – maku ku – maku ku – maku
19.a Ø – ji i; Ø – ji Ø – ji ka – aka/maka
10.a ka – tu ka – tu ka – tu ka – u
1
Hoje há uma grande tendência para mudar o prefixo do plural o la (6.a classe)
em a; ex.: angombe, os bois — por o langombe. (Maia, 1957: 14)
47
MISSIONÁRIOS
PADRE ANTÓNIO
HELI CHATELAIN JOSÉ LUIZ QUINTÃO DO VICARIATO GERAL
DA SILVA MAIA
1888-1889 1934 DE MALANGE
1957
1943
À primeira classe (I ) pertencem A esta classe pertencem os O prefixo do singular Pertencem à Primeira Classe
todos os nomes de entes racionaes nomes de entes racionais da 1.a classe é mu- e o do os substantivos, que ordinà-
(pessoas), que começam no (pessoas) cujos prefixos do plural é a-. riamente designam pessoas.
sing. por mu-. Ex.: mubika. singular e plural são: mu-; a-, Para a formação do plu- Singular mu-/u-, plural ma-/
Estes formam o seu plural, ex.: mutu; atu, pessoa; ral basta substituir o a-. (p. 13)
mudando o pref. mu- em a-. mubika, abika, escravo. prefixo do singular pelo
I
Ex.: mutu, pessoa, pl. atu pessoas. Mona, filho, pertence à 1. a do plural.
Excepções aparentes: mona per- classe, pois é contração de Pertencem à l. a classe,
48
tence á cl. I por ser contrac- muana (u+a=o), e faz no pl. ordinàriamente, os subs-
ção de muana (u+a=o), e faz ana, contração de aana tantivos que designam
CLASSE
plur. ana contracção de aana (a+a=a), Muiii, ladrão, tem o pessoas.
(a+a=a). pl. eii, contração de aiii Quando se encontra um
Muiii, ladrão, tem o pl. eii por (a+i=e). (p. 14) nome que principia por
contracção de aiii (a+i=e). (p. 1) mu e que designa um
ente racional sabe-se
logo que pertence à
l.a classe. (p. 10)
MISSIONÁRIOS
PADRE ANTÓNIO
HELI CHATELAIN JOSÉ LUIZ QUINTÃO DO VICARIATO GERAL
DA SILVA MAIA
1888-1889 1934 DE MALANGE
1957
1943
À cl. II pertencem os nomes A esta cl. pertencem os O prefixo do singular Pertencem à Segunda Classe
de entes inanimados (coisas) que nomes de entes inanimados da 2.a classe e mu-, como os nomes que geralmente
têem no sing. o pref. mu-. (coisas), cujos prefixos do na l.a classe, mas o pre- designam coisas.
Excepç.: mundele, o branco pl. sing. e pl. são: mu-; mi-. fixo do plural é mi-. Singular mu-/u-, plural î-.
II
mindele. Esta cl. abrange quási todos Para a formação do plu- (p. 13)
Esta cl. abrange quasi todos os os nomes de árvores e plantas. ral basta substituir o
nomes de arvores e plantas (vida (p. 15) prefixo do singular pelo
vegetativa). do plural.
49
CLASSE
Forma o seu pl., mudando o Pertencem, geralmente,
pref. sing. mu- em mi-. a esta classe os nomes
Ex.: mukanda pl. mikanda. (p. designativos de coisas.
2) (p. 10)
MISSIONÁRIOS
PADRE ANTÓNIO
HELI CHATELAIN JOSÉ LUIZ QUINTÃO DO VICARIATO GERAL
DA SILVA MAIA
1888-1889 1934 DE MALANGE
1957
1943
À cl. III pertencem os nomes A esta cl. pertencem todos os O prefixo do singular Singular ki-/e-, plural î-.
que no sing. têem o pref. ki- nomes, cujos prefixos do da 3.a classe é ki- e do (p. 13)
. Forma o seu pl., mudando sing. e pl. são: ki-; i-. plural é i-.
o pref. sing. ki- em i-. Abrange todos os aumentati- Para a formação do plu-
Abrange todos os augmentati- vos, ex.: kihatu = mulherona ral basta substituir o
vos. Ex.: kihatu = mulherona (de muhatu, mulher). prefixo do singular pelo
III
(de muhatu, mulher). Para a for- As regras para a formação do plural.
mação do pl. d’estes veja-se dos aumentativos, são as Pertencem a esta classe
50
no N.o 17* a formação analoga mesmas que para a formação os substantivos que
do pl. dos diminutivos, cujas dos diminutivos na X cl. Anti- principiam por ki- e
regras são tambem applicaveis gamente era a cl. dos objec- todos os aumentativos.
CLASSE
aos augmentativos. tos inanimados; hoje con- (p. 10)
Antigamente era a cl. dos tém também pessoas e
objectos inanimados; hoje animais. (p. 15)
inclue tambem pessoas e
animaes. (p. 3)
À cl. IV pertencem os nomes A esta cl. pertencem todos O prefixo do singular Singular o-/i-/e-, plural ma-
que têem no sing. o pref. ri- os nomes, cujos prefixos do da 4.a classe é ri- e o do . (p. 13)
. No plur. o pref. ma- toma o sing. e pl. são: di-; ma-. plural é ma-.
IV
logar do pref. sing. ri-. Quando o pref. sing. desta Para a formação, do plu-
Ex.: ritari pl. matari. cl. aparece noutra parte da ral basta substituir o
Quando o pref. d’esta cl. oração, concordando com o prefixo do singular pelo
apparece n’outra parte da ora- nome, êste deixa muitas do plural.
CLASSE
ção que concorda com o vezes de levar o seu pref. (p. Pertencem a esta classe
51
nome, este muitas vezes care- 15) os nomes que, no singu-
ce do seu prefixo. (p. 4) lar, começam por ri-.
(p. 10)
MISSIONÁRIOS
PADRE ANTÓNIO
HELI CHATELAIN JOSÉ LUIZ QUINTÃO DO VICARIATO GERAL
DA SILVA MAIA
1888-1889 1934 DE MALANGE
1957
1943
A cl. V tem por pref. sing. u-, A esta cl. pertencem todos os O prefixo do singular Singular u-, plural mau-.
e por pref. pl. mau-. nomes, cujos prefixos do da 5.a classe é u- e o do (p. 13)
Ex.: uta pl. mauta. sing. e pl. são: u-; mau-. plural é mau-.
O pref. u- serve pra a forma- Nesta cl. e nas VI, VII e VIII, o Para a formação do plu-
ção de nomes abstractos, que pref. do pl. ma-, antepõe-se ao ral basta substituir o
significam a qualidade caracteris- do sing., ficando: mau-, malu-, prefixo do singular pelo
tica ou o officio do ente repre- matu-, maku-, no pl. O pref. do plural.
sentado pelo nome concreto mau- pode contrair-se em mo-, Pertencem a esta classe
52
de que o abstracto se deriva. ex.: mölungu = maulungu os nomes que, no singu-
Ex.: haxi, o doente, uhaxi, doença, (a+u=o). Também se diz mata lar, principiam por u-, e
Nzambi, Deus, unzambi, divin- ou möta em lugar de mauta. todos os nomes abstrac-
CLASSE V
dade. (p. 5) O pref. u, serve para a for- tos. (p. 11)
mação de nomes abstratos,
sevindo-lhes de base outros
nomes, ex.: haxi, o doente;
uhaxi, doença; Nzambi, Deus,
unzambi, divindade; ndandu,
parente, undandu, parentesco.
(p. 16)
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HELI CHATELAIN JOSÉ LUIZ QUINTÃO DO VICARIATO GERAL
DA SILVA MAIA
1888-1889 1934 DE MALANGE
1957
1943
A cl. VI tem no sing. o pref. A esta cl. pertencem todos O prefixo do singular Singular m-/n-/o-, plural o
lu-, que no pl. se muda em os nomes, cujos prefixos do da 6.a classe é lu- e o do la-. (p. 13)
malu-. Ex.: lumbu pl. sing. e pl. são: lu-; malu-. plural malu-.
malumbu. No Sertão, muitos nomes Para a formação do plu-
No sertão muitos nomes que que começam por lu-, não ral basta substituir o
VI
começam por lu- não for- formam o pl. como esta cl., prefixo do singular pelo
mam o pl. como esta cl., mas mas sim como a cl. IX; são os do plural.
sim como a cl. IX: são os que que se derivam de um nome Pertencem a esta classe
53
se derivam de um nome colectivo e indicam um os nomes que, no singu-
CLASSE
collectivo e indicam um objecto único, separado da lar, principiam por lu-.
objecto unico, destacado da colectividade, ex.: lundemba = São muito poucos os
collectividade. Ex.: lundemba um cabelo, pl. jindemba; substantivos que perten-
= um cabello, pl. jindemba. lünguba, um amendoim, pl. cem a esta classe. (p. 11)
(p. 5) jinguba; lumbozo, uma batata,
pl. jimbozo. (p. 16)
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A cl. VII tem no sing. o pref. — O prefixo do singular Singular lu-, plural malu-.
tu-, e no pl. matu-. São da 7.a classe é tu- e o do (p. 13)
rarissimos os nome d’esta plural é matu.
classe. Para a formação do plu-
Em muitos nomes que ral basta substituir o
começam por tu-, esta syllaba prefixo do singular pelo
faz parte do radical, e estes do plural.
VII
nomes pertencem à cl. IX. Ex.: Pertence a esta classe
54
tulu, peito, pl. jitulu. (p. 6) um ou outro nome que,
no singular principia
por tu-.
CLASSE
A esta classe devem per-
tencer apenas umas três
palavras. As palavras
tuku, cauda; tulu, peito;
tumba, naco; tumbu,
umbigo pertencem à 9.a
classe. (p. 11)
MISSIONÁRIOS
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HELI CHATELAIN JOSÉ LUIZ QUINTÃO DO VICARIATO GERAL
DA SILVA MAIA
1888-1889 1934 DE MALANGE
1957
1943
A cl. VIII tem no sing. o pref. A esta cl. pertencem todos O prefixo do singular é Pertencem à Oitava Classe os
ku- e no pl. maku-. Quasi os nomes, cujos prefixos do ku- e o do plural é nomes geralmente verbais.
todos os nomes d’esta cl. são sing. e pl. são: ku-; maku-. maku-. Singular ku-, plural maku-.
infinitivos, nomes verbaes. Só Todos os nomes desta cl. Para a formação do plu- (pp. 13-14)
admittem o plur., quando o são infinitivos, (substantivos ral basta substituir o
VIII
uso lhes dá uma significação verbais. Só admitem o plur., prefixo do singular pelo
concreta. quando o uso lhes dá uma do plural.
As cl. IV, V, VI, VII, VIII, têem o significação concreta. (pp. Pertencem a esta classe
55
mesmo pref. pl. ma-; porém 16-17) os nomes verbais. (p. 11)
CLASSE
na cl. IV este pref. pl. substitue
o pref. sing., enquanto que
nas cl. V, VI, VII, VIII lhe fica
anteposto. (p. 6)
MISSIONÁRIOS
PADRE ANTÓNIO
HELI CHATELAIN JOSÉ LUIZ QUINTÃO DO VICARIATO GERAL
DA SILVA MAIA
1888-1889 1934 DE MALANGE
1957
1943
A cl. IX carece de prefixo no Esta cl. carece de prefixo de O prefixo do plural da Singular ka-, plural aka-.
sing., e forma o plur., ante- sing.; ou se o tem, deve estar 9.a classe é ji-. O prefixo (p. 13)
pondo ji- no sing. Ex.: hoji representado nas nasais n ou do singular não existe.
pl. jihoji. m. A letra i, inicial de alguns Para a formação do plu-
Reconhecem-se os nomes nomes é eufónica e prefixa- ral basta acrescentar o
d’esta cl. pela ausencia de qual- se aos nomes, que doutra prefixo do plural ao
quer dos pref. das outras classes. forma, seriam monossílabos, nome.
IX
Os nomes da cl. IX podem ter ex.: inzo, inji, ingo, imbua. Êste Pertencem a esta classe
56
por inicial qualquer das letras i, cai igualmente quando o os nomes que princi-
seguintes: h-, p-, j-, x-, s-, f-, n-, nome é precedido de vogal, piam por m- ou n- e um
a-, e-, i-, o-, m-. (Exc.: sing. como, o’nzo. ou outro que começa
CLASSE
mu- e pl. mi-), t- (Exc.: sing. Reconhecem-se os nomes por tu-, bem como os
tu- cl. VII e pl. tu- cl. X), k- desta cl. pela ausência de nomes de origem
(Exc.: ki-, ka-, ku-), l- (Exc.: lu-). qualquer dos pref. das outras estrangeira.
Pode haver alguma duvida só cl. Nota: Os substantivos
quando um nome começa Antigamente era esta, a classe com o prefixo próprio
por tu-, ku-, lu-. N’esse caso dos animais, hoje contém desta classe podem ficar
basta perguntar a um indi- também para pessoas e coi- sempre no singular,
gena o pl. do nome. sas. quando tiverem alguma
Todos os que têem ji- no pl. Quási todas as palavras palavra com que con-
pertencem á cl. IX. estrangeiras, sem embargo cordem, excepto se fôr
Antigamente era esta a cl. dos da sua formação inicial, for- um pronome. Ex.:
animaes; hoje usa-se tambem mam o pl. como esta cl., ex. ngombe jiiari, dois bois;
para pessoas e coisas. kabalu, cavalo, pl. jikabalu. jingombe j’ami, os meus
Quasi todas as palavras estran- Quando um nome tem por bois. (pp. 11-12)
(cont.)
geiras, sem embargo da sua i- ilide-se êste i- no pl., ex.
forma inicial, formam o pl. inzo, pl. jinzo (i+i=i).
como esta cl. Ex.: kabalu, No pl. os nomes desta cl.
cavallo pl. jikabalu. podem omitir o prefixo ji,
Quando um nome tem por quando são seguidos de ja
C L A S S E IX
letra inicial um i- elide-se (genitivo), ex.: ndandu ja
57
este i- no pl. Ex.: inzo, casa, mundele = jindandu ja mundele.
pl. jinzo (i+i=i). (p. 7) (p. 17)
MISSIONÁRIOS
PADRE ANTÓNIO
HELI CHATELAIN JOSÉ LUIZ QUINTÃO DO VICARIATO GERAL
DA SILVA MAIA
1888-1889 1934 DE MALANGE
1957
1943
A cl. X tem no sing. o pref. A esta cl. pertencem todos O prefixo do singular Pertencem à Décima Classe
ka- e no pl. o pref. tu-. os nomes, cujos prefixos do da 10.a classe é ka- e o especialmente os diminuti-
Compehende esta cl. todos sing. e pl. são: ka-; tu-. do plural é ti-. vos.
os nomes diminutivos. Estes for- Compreende todos os dimi- Para a formação do plu- Singular ka-, plural u-. (pp.
mam-se, prefixando ka- ao nutivos e formam-se, ral basta substituir o 13-14)
nome que se quer diminuir. perfixando ka ao nome que prefixo do singular pelo
A formação do pl. dos dimi- se quer diminuir (no sing.). do plural.
X
nutivos apresenta alguma A formação do pl. dos dimi- Pertencem a esta classe,
58
difficuldade, porque deixa nutivos, apresenta alguma sobretudo, os diminuti-
subsistir em muitos casos o dificuldade, porque em mui- vos. Os nomes que
pref. plur. da classe do nome tos casos, o pref. plur. da principiam por ka- são
CLASSE
diminuido, como se vê nos classe do nome diminuido, muito poucos. (p. 12)
exemplos. Note-se: 1) que na subsiste, como se vê nos
cl. IX sempre se omitte o seu pref. exemplos.
pl., 2) que nas cl. I e III o seu Note-se que na cl. IX, sempre
pref. sing. e pl. se elimina se omite o seu pref. pl., e
algumas vezes ao passo que nas que nas cl. I e III, o seu pref.
outras cl. sempre se conserva. sing. e pl. se ilimina algumas
Cada vez porém, que o pref. vezes, ao passo que nas
da classe desapparece na for- outras classes sempre se
mação do diminutivo sing. conserva.
tambem não apparece no pl. Quando o prefixo da cl.
(cont.)
Ex.: kahatu pl. tuhatu (de desapparece, na formação
kamuhatu). Kaulungu pode do diminutivo sing. também
contrahir-se em kolungu não aparece no pl., ex.: kahatu
(a+u=o). pl. tuhatu (de kamuhatu).
Kaulungu pode contrahir-se
CLASSE X
em kolungu (a+u=o).
59
Nota: As descrições apresentadas nas pp. 48-59 estão grafadas conforme as edições consultadas.
CHATELAIN, Heli (1889). Grammatica Elementar do Kimbundu, 2.a ed., 1964, New Jersey: The Gregg Press Incorporated.
QUINTÃO, José Luiz (1934). Gramática de Kimbundo, Lisboa: Descobrimento.
MISSIONÁRIOS DO VICARIATO GERAL DE MALANGE (1944). Elementos da Gramática de Quimbundo, Malange.
MAIA, padre António da Silva (1957). Gramática de Kimbundo, 2.a ed., 1964, Cucujães.
60
O alfabeto
61
Consoantes: b, d. f, j, k, l, m, n, p, t, v, z, como em
portuguez.
Obs.: m e n não nazalizam a vogal antecedente, mas
sim a consoante immediata. Ambos representam o nasal:
m ante as labiaes b, v, no sertão tambem ante p e f
(mb, mv, mp, mf).
n ante as dentaes brandas d, z, j, e a guttural branda
g (nd, nz, nj, ng).
g é sempre duro e nasal = ng; nge e ngi = ngue e ngui
em portuguez.
h é sempre aspirado, nunca mudo.
r ou ri (nunca sem i) equivale em Loanda a ri bran-
do, com approximação a di, no interior sôa como
di, com approximação a ri brando.
s é sempre = ç, nunca = z.
x é sempre = x e ch em xaque, cheque.
62
como o e de medo, quando seguidos das consoantes n ou
m, contanto que não sejam puras. Ex.: — menha água;
henda amor.»
No que diz respeito às consoantes /m/ e /n/ cabe
acrescentar que são nasais homorgânicas que se arti-
culam no início da sílaba com outras consoantes. Aque-
las não possuem o valor real de consoante, mas servem
como sinais gráficos (como se fossem um til), e represen-
tam o som nasal, isto é, as consoantes que são por elas
precedidas têm o som nasalado e são proferidas numa só
emissão de voz. O /m/ ante as labiais /b/ e /v/ «no
sertão tambem ante p e f» Chatelain (1889: XXIII )
(Mbengu [mÉbeNÉgu], Imvo [imÉvo]) e o /n/ antes de
/d/, /g/, /j/ ou /z/ (Ndombe [nÉdomÉbe], Nganga
[NÉgaNÉga], Njibiri [nÉZibiri], Nzumbi [nÉzumÉbi].
Constata-se também a existência de variedades dia-
lectais em que as consoantes são trocadas — /r/ por /
d/ (kitari ou kitadi — dinheiro).
Na sua gramática, Chatelain (1889: XXIII) deixa claro
que a sílaba tónica recai como regra geral na penúltima
sílaba, sendo esta sílaba, portanto, a que tem maior força
na pronúncia. Alguns autores, como é o caso de Cor-
deiro da Matta, destacam a sílaba tónica com o uso do
acento gráfico, sendo que Chatelain dispensa o uso do
mesmo; uma vez que considera que já está implícito que
esta sílaba é a que tem maior intensidade na pronúncia.
Para Chatelain e outros autores, os acentos servem
somente para as excepções à regra geral.
Segundo Mingas (2000: 36) «o quimbundo tem cinco
vogais (duas anteriores, duas posteriores e uma central),
63
com quatro graus de abertura. Esta língua não apresenta
nenhuma vogal nasal. Interessa, entretanto, sublinhar
que as vogais que seguem uma consoante pré-nasal rea-
lizam-se nasalizadas, quando pronunciadas por locutores
da variante.
As consoantes comportam sete séries, nomeada-
mente: labial, dental, pré-palatal, palatal, apical, velar e
glotal.»
A mesma autora apresenta-nos para as vogais (Min-
gas, 2000: 36):
ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR
1. o
grau [i] [u]
2.o grau [e] [o]
3.o grau [E] [ç]
4.o grau [a]
PRÉ-PALATAL
BILABIAL
PALATAL
GLOTAL
APICAL
VELAR
Orais Fortes (surdas) [p] [f] [t] [s] [S] [k] [h]
Fracas (sonoras) [b/B] [v] [d] [z] [Z]
64
A constituição silábica do kimbundu
65
a) observamos sílabas de Ataque vazio como em
i.mba.nda;
Ataque Rima
Núcleo
Ø i
Ataque Rima
Núcleo
m u
66
c) observamos sílabas de Ataque ramificado como
em mbu.lu
Ataque Rima
Núcleo
m b u
Ataque Rima
Núcleo
n i a
67
O kimbundu apresenta três tipos de Ataque: ramifica-
do quando domina duas posições do esqueleto que cor-
respondem a duas concoantes; não ramificado simples
quando domina uma posição no esqueleto que corres-
ponde a uma consoante ou nenhuma (vazio):
simples
não ramificado
vazio
Ataque
ramificado
não ramificado
(Vogal)
Rima não ramificada = Núcleo
ramificado
(Vogal e Glide)
68
O tom
69
Mesmo hoje uma pesquisa in loco seria dificultada pela
assimilação de outras línguas, o português e vizinhas,
por parte dos falantes. A língua portuguesa, à época das
descrições existentes do kimbundu, devia ser «falada
correctamente por quem desejar candidatar-se à cidada-
nia portuguêsa», assim estava escrito nos Estatutos dos
Indígenas da Guiné, Angola e Moçambique.
«A forma mais usual de indicar os tons mais comuns
consiste em sobrepor à vogal os símbolos: ´ (tom alto),
` (tom baixo), ‡ (tom ascendente) e fl (tom descendente).
Na grande maioria das línguas tonais são os núcleos silá-
bicos as unidades portadoras de tom.» (Andrade, 2007:
93)
Em Quintão os acentos «Servem para indicar as excep-
ções à regra geral e para distinguir um vocábulo de outro
seu parónimo. [...] na penúltima: entoação particular de
parónimo.» (Quintão, 1934: 13) Para Maia «As sílabas (sons
pronunciados com uma só emissão de voz) das palavras do
Quimbundo são pronunciadas todas com tal clareza que à
primeira vista parece nenhuma estar acentuada.
Há, porém, sílabas acentuadas dentro das palavras —
o que só se aprende a fazer e a distinguir com o uso e
a prática da Língua.» (Maia, 1964: 6)
As línguas tonais valem-se da duração, ou seja, da
oposição entre vogais longas e vogais breves. Normal-
mente as vogais longas ocorrem de uma elisão. Se os
tons são iguais, permanecem e inversamente combinam-
se em ascendente-descendente, descendente-ascendente,
etc. Certos pares de palavras, caso dos parónimos, só se
distinguem pelos tons: ex.: kubanga (fazer), e kubánga
70
(pelejar); hama (cama) e háma (cem); kuloua (enfeitiçar)
e kulóua (pescar); njila (caminho) e njíla (pássaro), etc.
o que mostra que fonemas aparentemente iguais, mas
diferentes em tons são também eles diferentes nos seus
significados independentemente do contexto em que se
encontram.
O acento agudo com que está marcada a sílaba tónica
«não é tonico, não existe na pronuncia de uma lettra
particular, mas na entoação de toda a palavra. [...] de
modo que a antepenultima e a ultima ou esta só soam
mais claras e que na emissão da ultima a expiração vogal
fica como que suspendida.» (Chatelain, 1899: 153)
71
72
Comentário
73
Nos séculos XIX e XX surgem estudiosos do kimbundu,
de onde destacamos Héli Chatelain. A este sucedeu-lhe
José Luiz Quintão cujas diferenças com Chatelain são
anotar o prefixo di- em lugar de ri- no singular da classe
4, a organização da obra por ter agrupado todos os exer-
cícios no final e finalmente ter acrescentado uma parte de
vocabulário. É ainda de salientar o anotar das «Diferenças
principais entre o dialecto do Sertão e o de Luanda»
(Quintão, 1934: 200) que se apresentam de seguida e que
já estavam expostas em Chatelain (1889: 150):
74
— Em muitas palavras há uma pequena diferênça, ex:
L. mungaa, sal, S. mongua; L. nhiki, ou nhoki, S.
nhuki, abelha; L. kindala, agora, S. kindaula; L.
diju, S. dizu, dente: etc.
— Em vários pontos do Sertão conta-se assim: moxi,
kadi, tatu, uana, tana, samanu, sambuadi, dinake,
divua, dikumi (de 1 a 10); makumi a ladi, (20)
makumi a tatu (30), etc.»
75
76
Bibliografia
77
Janeiro: 2006.
FERNANDES, João; Zavoni Ntondo (2002). Angola: Povos e
Línguas, Luanda: Editorial Nzila.
GORDON, Raymond G., Jr. (ed.), (2005). Ethnologue:
Languages of the World, Fifteenth edition. Dallas, Tex.:
SIL International. Versão on-line em http://
www.ethnologue.com/ (acedido em 30-12-2008).
M AIA , padre António da Silva (1957). Gramática de
Kimbundo, 2.a ed., 1964, Cucujães.
MATTA, J. D. Cordeiro da (1893). Ensaio de Diccionario
Kimbúndu-Portuguez, Lisboa: Casa Editora António
Maria Pereira.
MINGAS, Amélia A. (2000). Interferência do Kimbundu no
Português Falado em Lwanda, Lisboa: Campo das Letras.
MISSIONÁRIOS DO VICARIATO GERAL DE MALANGE (1944).
Elementos da Gramática de Quimbundo, Malange.
QUINTÃO, José Luiz (1934). Gramática de Kimbundo, Lis-
boa: Descobrimento.
http://www.bantu-languages.com (acedido em 30-12-
2008).
78
ANEXOS
79
80
Concordâncias
11.a
mu – a mu – a mu – a mu/u – ma/a
12.a mu – mi mu – mi mu – mi mu/u – i
13.a ki – i ki – i ki – i ki/e – î
14.a ri – ma di – ma ri – ma o/i/e – ma
15.a u – mau u – mau u – mau u – mau
16.a lu – malu lu – malu lu – malu m/n/o – o la 1
17.a tu – matu tu – matu tu – matu lu – malu
18.a ku – maku ku – maku ku – maku ku – maku
19.a Ø – ji i; Ø – ji Ø – ji ka – aka/maka
10.a ka – tu ka – tu ka – tu ka – u2
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PREFIXOS CONCORDANTES
11.a ua – a ua – a ua – a ua – a
12.a ua – ia ua – ia ua – ia ua – ia
13.a kia – ia kia – ia kia – ia kia – ia
14.a ria – ma dia – ma ria – ma/a lia – a
15.a ua – ma ua – ma ua – ma/a ua – a
16.a lua – ma lua – ma lua – ma/a ia – ia
17.a tua – ma tua – ma tua – ma/a lua – a
18.a kua – ma kua – ma kua – ma/a kua – a
19.a ia – ji ia – ja ia – ja ka – a
10.a ka – tu ka – tua ka – tua ka – ua
11.a
Mubika uami uakala umoxi Abik’am iakala atatu
O meu escravo era um Os meus escravos eram três
12.a
Mukolo uami uakala umoxi Mikolo iami iakala itatu
A minha corda era uma As minhas cordas eram três
13.a
Kialu kiami kiakala kimoxi Ialu iami ikala itatu
A minha cadeira era uma As minhas cadeiras eram três
14.a
Rilonga riami riakala rimoxi Malonga mami makala matatu
O meu prato era um Os meus pratos eram três
15.a
Uta uami uakala umoxi Mauta mami makala matatu
A minha arma era uma As minhas armas eram três
16.a
Lumbu luam iluakala lumoxi Malumbu mami makala matatu
O meu muro era um Os meus muros eram três
17.a
Tubia tuam ituakala tumoxi Matubia mami makala matatu
O meu fogo era um Os meus fogos eram três
18.a
Kuria kuami kuakala kumoxi Makuria mami makala matatu
A minha comida era uma As minhas comidas eram três
19.a
Mbiji iami iakala imoxi Jimbiji jami jakala jitatu
O meu peixe era um Os meus peixes eram três
10.a
Kamona kami kakala kamoxi Tuana tuami tuakala tutatu
A minha criança era uma As minhas crianças eram três
82
Misomo
Contos
83
uixi: «Ngiia mu tamba,» anga acabado, disse: «Vou pescar,»
utakula o uanda. Luarianga e lançou a rede. A primeira
kakuateriê kima, lua kaiari vez não apanhou nada, a
kiomuene, o lua katatu anga segunda o mesmo, a terceira
uivua uanene anga uivua vez então sente(a) pesada e
moxi a menia muixi: ouve dentro da agua dizendo:
«Kinga, mbata mukuenu «Espera, porque o teu amigo é
mukua-mona.» Kia azubile o pai de familia.» Tendo já espe-
kukinga anga uivua ringi rado então ouve outra vez,
muixi: «Sunga kiá!» Anga usunga dizendo: «Puxa já!» E puxou
kimbiji kionene anga u ki ta um peixão grande e pôl-o na
muhamba anga umateka o muhamba e começou a
kuenda. Maji o jimbiji joso andar. Porém os peixes todos
jakexile mu kaiela o kimbiji eki, estavam a seguir o peixão este,
o riala anga rivua-jinga ngó o homem e ouve continuam só
mu iangu: ualalá! ualalá! — no capim: ualalá! ualalá! —
Ki akexile kiá mu bixila ku Estando elle já para chegar em
bata, o muhatu uendele ku mu casa, a mulher foi ao seu
kauirila ni akua-riembu riê. encontrocom os vizinhos d’ella.
Ki abixirile ku bata, Tendo chegado em casa, o
o riala anga ribana o mbiji homem então deu o peixe
pala ku i banga. O muhatu pe para ser feito. A mulher
anga anga uambela o riala, uixi: porém disse ao homem, disse:
«Banga-iu!» O riala uixi: «Escama-o tu!» O homem disse:
«Nguami.» O muhatu anga «Não quero.» A mulher pois
umateka o ku i banga. Maji o começou a escamal-o. Mas o
mbiji iakexile mu kuimba, peixe estava a cantar,
ixi: «Ki u ngi banga, ngi dizendo: «Escamando-me tu,
bang’ami kiambote.» Ki azubile escama-me bem.» Tendo acabado
anga u i ta mu ’mbia, então ella o pôz na panella,
84
maji o mbiji iakexirilê hanji mas o peixe estava ainda a
mu kuimba. O mbiji ki iabile, cantar. O peixe estava
o muhatu anga uririka prompto, a mulher então
malonga matanu anga arranjou pratos cinco e convi-
ukuvitala o riala ni akua dou o marido e os vizinhos
riembu riâ; ene anga a ri tunâ. d’elles; elles porém recusaram.
Muene anga uria k’ubeka uê. Ella pois comeu sósinha.
Ki azubile anga ukatula o Tendo acabado então tirou a
rixisa ni pexi iê anga u ri zala esteira e o cachimbo seu e
mu kanga, anga uivua mu extendeu-a no chão, e ouviu na
rivumu uixi: «Ngitundila barriga dizendo: «Sahirei por
kué?» O muhatu uixi: onde?» A mulher disse:
«Tundila ku makanda me «Sahe pelas plantas dos
’nama.» O mbiji ia mu pés.» O peixe lhe respondeu:
kumbuile: «Ku inama ié, ku «Pelos pés teus, com que costu-
uenioriatela o matuji, kuene mas pizar as porcarias, por ahi
ku ngitundila!» — O muhatu hei-de sahir!» — A mulher
uixi: «Tundila mu kanu.» — disse: Sahe pela bocca.» —
«Mu kanu, mu ua ngi miniina, «Pela bocca, em que tu me
muene mu ngitundila?» enguliste, por ahi hei-de sahir?»
O muhatu uixi: «Sota buoso A mulher disse: «Procura onde
bu uandala. O mbiji ixi: quer que desejes.» O peixe disse:
«Eme ze ngitund’ ó!» anga o «Eu pois saio lá!» e a
muhatu ubaza bu ’axaxi. O mulher rebentou no meio.
mbiji anga iiê. O peixe porém foi-se embora.
85
II
86
Jisabu
Provérbios
87
88