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Introdução

Moçambique possui uma rica e longa tradição cultural de coexistência de diferentes raças,
grupos étnicos e religiões, ora isto reflecte a diversidade de valores culturais que em conjunto
criam as identidades do Moçambique moderno. Apesar de possuir uma diversidade cultural e
religiosa diferente de outros lugares raramente serve de razão para gerar conflitos entre os povos
de Moçambique. Com o objectivo de criar uma identidade nacional, o Português foi adoptado
como língua oficial depois da independência.

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Conceito de etnia
Historicamente, a palavra etnia significa “gentio”, proveniente do adjectivo grego ethnikos. O
adjectivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nação estrangeira. É um
conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida em: parentesco,
religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência física

Um grupo étnico é um grupo de indivíduos que têm uma certa uniformidade cultural, que
partilham as mesmas tradições, conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e comportamento.

A sociologia Africana, considera que uma etnia ou um grupo étnico é grupo de pessoas que têm
uma herança sociocultural comum, como uma língua e tradições comuns.

Encontramos uma diferença enorme entre Etnia, Tribo, Clã e Linhagem. A sua diferença com a
Tribo, surge no facto de que a Tribo referir-se a um conjunto humano que reúne várias famílias
sob a autoridade de um mesmo chefe e num espaço territorial dado. A Etnia difere do Clã, visto
que este último refere-se a um grupo de pessoas que têm um ancestral comum. Finalmente difere
de linhagem, uma vez que esta é uma descendência.

Noutras palavras, os povos ou as populações de ascendência comum constituem etnias; as etnias


subdividem-se em tribos, as tribos em clãs e os estes em linhagens. Em todos os países, cada
pessoa tem origens étnicas, tribal, clânica e de linhagem.

Formação de grupos étnicos das línguas moçambicanas


Os povos que habitam actualmente Moçambique são incluídos no grande grupo dos Bantu, que
povoa quase toda a África a Sul do Sahara. Dentro deste grupo há muitas sub-divisões, ou etnias.
Vejamos algumas noções elementares das principais etnias de Moçambique, divididas, segundo
muitos autores, em mais de oitenta sub-grupos.

Principiais grupos étnicos de Moçambique e a sua linguística


Em Moçambique, existem diversos agrupamentos humanos com características socioculturais
específicas. Ainda não há unanimidade no que se refere a uma designação genérica desses

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grupos. Por razões óbvias, durante o período colonial esses grupos eram designados por tribos,
etnias ou grupos étnicos. O termo povo, embora fosse utilizado por alguns antropólogos e
historiadores, não teve um uso sistemático referido a essas entidades.

De acordo com essa informação (MINED, 1986:36), os povos de Moçambique agrupar-se-iam


de acordo com uma característica cultural que se apresenta mais ou menos comum em algumas
regiões do País: os regimes de parentesco. O rio Zambeze constitui-se numa fronteira natural
desses regimes em Moçambique.

A norte daquele rio localizam-se os povos matrilineares: Makonde, Yao, Makhuwa, Nyanja e
outros localizados no Zambeze superior, como os Nsenga e os Pimbwe, por exemplo. A sul,
encontram-se os povos patrilineares congregados nos seguintes grupos: Shona, Tsonga, Chope e
Bitonga. Entre os povos patrilineares figura também o grupo Nguni, cujos núcleos se encontram
espalhados pelo País.

No Vale do Zambeze, uma zona de transição, situam-se povos de simbiose das influências
matrilinear e patrilinear, dos quais se destacam: Chuwabo, Sena e Nyungwe. Para além dos
grupos identificados, existem outros localizados na costa norte, cuja característica particular é a
influência patriarcal islâmica que apresentam: são os Mwani.

Descrições de línguas moçambicanas (pronúncias e exemplos nas línguas moçambicanas)


As inovações que caracterizam a língua portuguesa em Moçambique abrangem múltiplas
dimensões, que incluem aspectos fonético-fonológicos, morfo-sintácticos, semântico-
pragmáticos e retóricos. Os exemplos que se seguem ilustram alguns casos de características
linguísticas que indiciam a nativização do português em Moçambique e são fornecidos como
uma indicação das tendências que a língua está a tomar, sem nenhuma intenção de dar uma
sistematização exaustiva ou de fazer uma análise linguística extensiva, pois ambos os exercícios
estão para além do âmbito deste trabalho, para além de há estudos de outra natureza que
exploraram estes aspectos com mais detalhe e profundidade.

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Traços fonético-fonológicos
Um aspecto evidente que dá um carácter único ao português falado em Moçambique é a variação
do sotaque, que muitas vezes surge em conexão com uma transferência de propriedades das
línguas autóctones. Entre os traços que mostram este tipo de transferências incluem-se os
seguintes:

a) Ensurdecimento das oclusivas sonoras, típicas dos falantes nativos do emakhuwa.

O sistema fonológico do emakhuwa só contém oclusivas surdas e, por isso, não contempla uma
distinção fonológica entre oclusivas sonoras e surdas, como o português faz.

Ex. Gato [gatu]> [katu].

b) Fricativização da oclusiva velar sonora, típica dos falantes nativos do Gitonga.

O sistema fonológico do Gitonga não contém a oclusiva velar sonora é raro. O som
correspondente é uma fricativa velar sonora.

Ex. Golo [golu]> [γolu].

Traços lexicais
Observam-se em falantes do Português em Moçambique vários tipos de inovações lexicais que
resultam de uma aplicação de diferentes processos, em que se incluem os seguintes:

a) Empréstimos das línguas autóctones.

Ex. Khanimambo, „obrigado‟, do Xironga e Xichangana.

Ex. Navelar, „desejar ou ansiar por alguma coisa‟, de «ku-navela», em Xironga e Xichangana. A
palavra foi transformada num verbo português pela adição do sufixo verbal português «-ar»

Ex. Dumba-nengue, que literalmente significa „confie nas suas pernas‟, uma expressão usada
em referência a um tipo de mercado informal. A palavra é uma combinação de «ku-dumba»,
„confiar‟ e «nengue», „pé/perna‟. Indica o facto de que os mercados informais são ilegais e, por
isso, os vendedores têm que fugir constantemente da Polícia, confiando nas suas pernas.

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Ex. Tchova-xitaduma, que literalmente significa „vá empurrando, que vai pegar‟, usada em
referência a um tipo de carroça que é empurrada por um homem. A palavra é uma combinação
de «ku-tchova», „empurrar‟, e «ku-duma», „o pegar de um motor‟.

Todas estas palavras são largamente conhecidas e/ou empregues por muitos falantes do
Português em Maputo, independentemente de saberem ou não as línguas locais.

b) Neologismos morfológicos, que são derivados através de uma sobre generalização de


processos morfológicos existentes na língua. Exemplos:

Ex. Bichar, „formar bicha‟.

No exemplo, um substantivo, bicha, foi verbalizado através da adição do sufixo de terminação


verbal «-ar». Este processo ocorre em Português em pares como «ficha/fichar», «caça/caçar», ou
«canto/cantar». O verbo «bichar» porém, não é conhecido no Português europeu.

Ex. Confusionar, de confusão.

No exemplo, há uma sobre-generalização de um padrão que pode ser reconhecido na língua, tal
como no par «adição/adicionar». Os nomes que terminam em «-ão» podem ser verbalizados
através da substituição desta terminação por «-ionar». Tal regra é aplicada em «confusionar».

Ex. Bisinisseiro, „homem de negócios, contrabandista‟, do Inglês business.

No exemplo, um sufixo tipicamente português «-eiro» é adicionado a uma palavra inglesa


«business». O sufixo «-eiro» indica uma relação com um lugar ou uma actividade, como em
«caseiro» („uma pessoa que gosta de ficar em casa‟) ou «mineiro» („trabalhador da mina‟). A
palavra «businisseiro» é, porém, usada apenas no Português moçambicano, provavelmente como
consequência dos contactos com a África do Sul

c) Neologismos semânticos, que são derivados através de mudanças semânticas em


elementos lexicais existentes na língua, quer por via da substituição dos valores originais,
querem por via da sua expansão.

Ex. Barraca, usada em referência a um tipo de quiosque existente em Maputo, geralmente


construído com material precário, como o caniço.

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Ex. Mola, usada com o significado de dinheiro, como em «Estou sem mola».

Ex. Abrir, também usada com o significado de „fugir‟, „ir-se embora‟, ou „partir‟, como em «Ele
abriu para a África do Sul», ou «Ele já abriu para a casa».

Ex. Batedor, usada com o sentido de „ladrão‟, como em «batedor de carros». Deriva do verbo
«bater», que no Português informal moçambicano pode também significar „roubar‟.

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Conclusão
As línguas são, também, um factor de manifestação, preservação e manutenção das identidades
culturais e étnicas, como já estudou neste capítulo. Assim, o uso de línguas moçambicanas na
educação responde à necessidade de valorização da língua da criança e do adulto para o
desenvolvimento da sua afirmação, auto-estima, identidade, justiça e uma forma de cultivar
atitudes mais positivas em relação ao valor da educação.

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Bibliografia
CUNHA, C., e CINTRA, L. (1984), Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá
da Costa.

FERREIRA, Manuel (1988), Que Futuro para a Língua Portuguesa em Africa? Linda-AVelha,
ALAC (Edições A Preto e Branco).

GONÇALVES, Perpétua (1990 [1983]), Situação Actual da Língua Portuguesa em


Moçambique, in Actas: Congresso Sobre a Situação Actual da Língua Portuguesa no Mundo,
Lisboa, ICALP.

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Índice
Introdução ....................................................................................................................................... 3

Conceito de etnia............................................................................................................................. 4

Formação de grupos étnicos das línguas moçambicanas ................................................................ 4

Principiais grupos étnicos de Moçambique e a sua linguística ....................................................... 4

Descrições de línguas moçambicanas (pronúncias e exemplos nas línguas moçambicanas) ......... 5

Traços fonético-fonológicos ........................................................................................................... 6

Traços lexicais ................................................................................................................................ 6

Conclusão........................................................................................................................................ 9

Bibliografia ................................................................................................................................... 10

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