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EXERCÍCIOS SOBRE OS REPRESENTANTES DA GERAÇÃO DE 45

1. (Unaerp-SP) Leia o fragmento:


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço do arroz
não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás


a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

A sua é uma poesia de protesto, principalmente em Poema sujo. Participou da fase concretista.
Exímio jornalista, privilegia o social.
Falamos de:
a) Carlos Nejar
b) João Cabral de Melo Neto
c) Ferreira Gullar
d) Moacyr Scliar
e) Gonçalves Dias

2. (Puccamp-SP) Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte
do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso.
Pelo fragmento acima de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, percebe-se que neste
romance, como em outros regionalistas do autor,
a) O conflito entre o eu e o mundo se realiza pela interação entre as personagens e o sertão que
acaba por ser mítico e metafísico.
b) O sertão é um lugar perigoso, onde os habitantes sofrem as agressões do meio hostil e adverso
à sobrevivência humana.
c) Não existe uma região a que geograficamente se possa chamar de sertão: ele é fruto da projeção
do inconsciente das personagens.
d) A periculosidade da vida das personagens está circunscrita ao meio físico e social em que vivem.
e) Há um conceito muito restrito de sertão, reduzido a palco de lutas entre bandos de jagunços.

3. A seguir, encontram-se demarcados dois poemas, um de Carlos Drummond de Andrade e o outro


de João Cabral de Melo Neto. Dessa forma, após analisá-los (ainda que sejam apenas
fragmentos), procure responder ao que se pede:

A lição de poesia
1.
Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.
Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:
nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.
2.
A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.
A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.[...]
João Cabral de Melo Neto

Procura da Poesia
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro


são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.


O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
[...]
Carlos Drummond de Andrade

Há alguma relação de semelhança entre os discursos ora produzidos? Se sim, comente.


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4. Os representantes da geração de 1945, sobretudo fazendo menção à Clarice Lispector e
Guimarães Rosa, conceberam à arte um nova roupagem – manifestada muito mais pelo culto à
forma do que pelo apego ao conteúdo, à temática em si. Sob essa perspectiva, ela, Clarice, de
forma magnífica, partiu para o aprofundamento introspectivo a partir de uma consciência
individual, como bem “denuncia” uma de suas obras, “A hora da estrela”. Dada essa razão, analise
alguns fragmentos, abaixo descritos, registrando os comentários acerca dos posicionamentos
ideológicos assumidos pela escritora:
[...]
“Maio, mês das borboletas noivas flutuando em brancos véus. Sua exclamação talvez tivesse sido
um prenúncio do que ia acontecer no final da tarde desse mesmo dia: no meio da chuva abundante
encontrou (explosão) a primeira espécie de namorado da sua vida, o coração batendo como se ela
tivesse englutido um passarinho esvoaçante e preso. O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e
se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara
enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente
sua goiabada-com-queijo.[...]

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http://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-literatura/exercicios-sobre-os-representantes-
geracao-45.htm

RESPOSTAS
1. Não há como duvidarmos de que o poema citado no enunciado da questão diz respeito à Ferreira
Gullar, demarcando-se, assim, como correta a letra “C”. Ele, por sua vez, a partir do início dos
anos 60, havendo rompido com as correntes vanguardistas, começou a entrar em contato com as
correntes sociais que tanto assolavam a realidade brasileira da época vigente. Dessa forma,
imbuído nesse propósito, passou a fazer poesia de cunho participante, cuja proposta era voltada
para os aspectos da sociedade de uma forma geral.

2. A alternativa que melhor se aplica aos traços norteadores da obra de João Guimarães Rosa se
refere à demarcada pela letra “C”, haja vista que, como expresso, o sertão não se limita ao espaço
geográfico, ao contrário, em vez de se limitar, ele faz uma abrangência ainda maior, abarcando,
sobretudo, questões de ordem metafísica a que se encontram submetidos os seres humanos
de uma forma geral. Dessa forma, ele aponta o homem, considerado como ser universal, vivendo
em meio às situações conflitantes de seu tempo, demarcadas pelas oposições existentes entre o
bem o e mal, o amor e a violência, a existência ou não de Deus e do Diabo.

3. Ao nos interagirmos mediante a leitura de ambas as criações, notamos que elas se assemelham
no tocante ao laborioso exercício da escrita, considerado não como um simples ato espontâneo,
mas sim como fruto de um trabalho paciente e, muitas vezes, árduo com a linguagem. Tais
premissas podem perfeitamente ser evidenciadas por meio de algumas estrofes, tais como:
A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.
A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.[...]

Comparadas a estas:

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro


são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Principalmente por meio desse último verso (O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.) em
que o emissor deixa evidente não se tratar de um trabalho resultante de uma habilidade natural,
mas sim de um sério manejo com as palavras.

4. Ao satisfazermos a proposta preconizada pelo enunciado da questão, não há como não nos
reportarmos às palavras proferidas pela própria Clarice, nas quais ela aponta acerca de um fato
bem interessante: “Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras
as entrelinhas”. Assim, partindo dessa prerrogativa, o primeiro ponto a que devemos nos ater diz
respeito à passagem demarcada por “no meio da chuva abundante encontrou (explosão) a primeira
espécie de namorado da sua vida, o coração batendo como se ela tivesse englutido um passarinho
esvoaçante e preso”.
Ainda que por meio das entrelinhas, bem ao gosto lispectoriano, constatamos a denúncia dessa
condição de ser e estar no mundo em que vivemos, ou seja, esse modo “esvoaçante preso ao
mesmo tempo” simboliza as intempéries, os dissabores, os quais a própria vida nos proporciona,
ou seja, ao mesmo tempo em que desejamos ser livres, sentimo-nos presos a algum pormenor que
nos impede de algo.
Outra passagem, que tão bem retrata esse denunciar feito pela autora, sobretudo no que diz
respeito aos problemas sociais de uma forma geral, diz respeito ao seguinte trecho:
O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da
mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos.
Lendo-o, identificamos que Clarice está se referindo às condições de miséria, uma vez levadas às
últimas consequências, condições essas em que viviam os retirantes nordestinos na época em que
a obra foi escrita. Expressão melhor não contemplaria tal intento do que “bichos da mesma espécie
que se farejam”.

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