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O poema “Os ombros que suportam o mundo” foi escrito no início da década de 40, pelo autor

Carlos Drummond de Andrade e foi publicado pela primeira vez no livro “Sentimento do
Mundo”. O texto em análise, apesar de não ter a presença de rimas e um padrão no número
de versos, ele transmite a visão do autor de uma época que foi marcada pela aflição e angústia
dos indivíduos que vivenciaram um período caótico, fruto da guerra, da desigualdade e das
injustiças.

O assunto principal do poema é o tempo presente. Nesse sentido, o autor precisou olhar um
pouco mais fundo para o momento e projetar um cenário completo das suas emoções. O
poema se torna ainda mais simbólico pelo fato de que, mesmo sendo feito há anos,
independente da época em que ele for lido, ainda vai ser possível entender e sentir todo o
sentimento que Drummond colocou ao escrevê-lo.

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.


Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Na primeira estrofe temos uma marcação temporal na parte em que diz “Chega um tempo”,
após isso é explicado que é um tempo sem amor e sem Deus. Sem Deus por causa da falta de
esperança. E sem amor porque o amor foi insuficiente, já que a guerra novamente devastou a
humanidade.

Também é possível perceber nos três últimos versos da primeira estrofe, que eles apenas se
conformaram com a situação, já que não eram capazes de mudar o que estava acontecendo.
Como na parte em que diz “E os olhos não choram”, que mostra que estão cansados de se
lastimar, e no verso “E as mãos tecem apenas o rude trabalho” mostrando que eles apesar de
tudo, eles seguiram suas vidas, fazendo o que era necessário, como trabalhar.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.


Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Na segunda estrofe, o sentimento que fica é o de exílio: “Ficastes sozinho”. Mesmo assim, o
eu-lírico não se mostra preocupado com esse fato, pois a um certo desapego seu em relação a
sua vida social e suas amizades. No verso “És toda certeza, já não sabes sofrer”, percebe-se
que esse isolamento é uma forma do eu lírico se proteger das decepções e atribulações.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?


Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Na última estrofe, é onde encontramos o vínculo entre o “eu” e o mundo, principalmente no
segundo verso “Teus ombros suportam o mundo”, que é a mesma frase que dá nome ao
poema. Pois isso significa que a mudança depende sobretudo do homem, já que todos os
problemas como guerras, desigualdades e tudo mais, também estão ligados a ele.

Nessa mesma estrofe, também é perceptível que o eu-lírico não se importa com a chegada da
velhice, já que ele não tem expectativas para o futuro, pelo fato de os problemas mostrarem
que só existe um momento: o presente. Nos versos “As guerras, as fomes, as discussões
dentro dos edifícios; provam apenas que a vida prossegue; e nem todos se libertaram ainda”,
Drummond também faz uma comparação entre os conflitos de guerra e os desentendimentos
em edifícios, como se essas duas situações tivessem as mesmas proporções e fossem tão
corriqueiras como qualquer outra.

Também percebemos que a sensibilidade é um sentimento que não tem lugar, como é
perceptível neste verso “Alguns, achando bárbaro o espetáculo; prefeririam (os delicados)
morrer.”, pois ele levaria as pessoas a terem ainda mais consciência sobre o horror que assola
o mundo, dessa forma o fim da existência seria algo bom em comparação ao que elas estavam
vivendo.

Nos versos finais, o autor fala sobre um tempo em que não adianta mais morrer, a vida se
tornou uma ordem, ou seja, não existia mais prazer em nada, as pessoas só buscavam
sobreviver, existindo de um jeito simples e no automático. Com base em todo o poema, fica
nítido a crítica que gira em torno do momento vivido.

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