Professor Autor
Hugo Bulhões Cordeiro
Design Instrucional
Deyvid Souza Nascimento
Maria de Fátima Duarte Angeiras
Renata Marques de Otero
Terezinha Mônica Sinício Beltrão
Catalogação e Normalização
Hugo Cavalcanti (Crb-4 2129)
Coordenação
Annara Perboire
Coordenação Executiva
George Bento Catunda
Coordenação Geral
Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra
Maio, 2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISDB
S586c
Braz, Marcia Ivo.
Comunicação e Produção Textual: Curso Técnico em Multimeios Didáticos: Educação a
distância / Hugo Bulhões Cordeiro. – 2.ed. – Recife: Escola Técnica Estadual Professor Antônio
Carlos Gomes da Costa, 2019.
81 p.: il.
CDU – 657
2.2.1.1.2. Substituição.................................................................................................................................... 39
2.2.1.1.4.2. Condicionalidade......................................................................................................................... 40
2.2.5. Informatividade.................................................................................................................................... 49
3.3.2.2. Componentes de uma dissertação argumentativa para uma redação nota máxima ...................... 64
4.4.2. Competência II – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas do
conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo
........................................................................................................................................................................ 71
4.4.3. Competência III – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e
argumentos em defesa de um ponto de vista ............................................................................................... 72
4.4.5. Competência V – Elaborar proposta de solução para o problema abordado, respeitando os direitos
humanos ........................................................................................................................................................ 74
4.4.6 Correção comentada de texto dissertativo- argumentativo (ENEM) ................................................... 75
Conclusão ............................................................................................................................................. 79
Referências ........................................................................................................................................... 81
Introdução
Olá, querido estudante!
A partir dos conceitos de língua, linguagem e signo linguístico, você será convidado a
perceber como ocorre a relação de cada língua (seus falantes) com o mundo à sua volta, de forma
singular e motivada por necessidades específicas de cada comunidade de falantes. Será mostrado
que tudo que é constituído por linguagens possui um valor simbólico, que é constituído social e
historicamente.
9
Através da Competência 02, buscaremos o debate sobre o que realmente constitui um
texto, que fatores e elementos fazem parte dessa complexa forma de comunicação, presente em
todas nossas interações sociocomunicativas.
Quais conjunções operam e como operam nas relações sintático-semânticas entre termos
e orações, a fim de períodos bem conectados e, logicamente, coesos, serão elencadas
detalhadamente. Mas será que apenas existe coesão quando o texto possui elementos verbais
explícitos? Conjunções, por exemplo? Enfim, em uma perspectiva sociointeracionista, dialógica da
língua, você será convidado, durante todo material, a intervir pessoalmente sobre conceitos e textos,
podendo, ao final, registrar seu conhecimento e debater com seu professor e colegas de turma os
conhecimentos motivados.
A Competência 03, nos proporcionará trazer o debate da produção textual, não como algo
mecânico e por modelos totalmente prontos a seguir, mas através da perspectiva dialógica de
interação verbal. Acreditamos que estabelecemos relações interpessoais por meio da linguagem e
por meio de textos como produtos de práticas sociais orais ou escritas, naturais e espontâneas.
10
Dentro dessa perspectiva, percebemos que os textos se materializam, efetivamente, mais
por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades linguísticas
e estruturais. Não se pretende, nesse material, um manual artificial de produção com regras
estanques e completas por si só. Os atos comunicativos perpassam a escolha do tipo textual e do
gênero textual, já que não há como interagir linguisticamente fora dessa perspectiva. Assim, será
debatido que, antes de definir o gênero textual que desejamos produzir, deve estar clara a forma
como queremos dizer, como queremos agir: o tipo textual.
Durante todo o percurso didático do material, serão debatidos dois tipos textuais
diferentes: narrativo e dissertativo, pelo fato de serem mais comuns na produção textual do dia a dia
escolar. Estratégias, características, tipos e dicas serão demonstrados para que haja uma
sistematização do conteúdo, mesmo partindo do pressuposto que cada autor tem um estilo próprio
e específico. De infindos gêneros textuais que circulam na sociedade, escolhemos o conto e o texto
dissertativo-argumentativo para propor técnicas de produção textual.
11
tudo, de que há mecanismos de revisão e reescrita textuais. Em um texto, o discurso progride, vai
além dos aspectos apenas formais da adequação às normas gramaticais; ele é argumentação, é
discurso, é argumentação – em todas suas possibilidades.
12
Competência 01
Guarde esses conceitos por enquanto e vamos para uma discussão de algo que coopera
para o conceito de comunicação! Para instigar a curiosidade e o debate inicial, vejamos esse vídeo
introdutório:
O que é comunicação?
https://www.youtube.com/watch?v=xSI8LguRjT8
13
Competência 01
No dia a dia, no trato direto com a língua, deparamo-nos com diversas linguagens as quais
deverão ser lidas nas mais amplas possibilidades de interpretação. As linguagens são sistemas de
sinais empregados para que nos expressemos por meio da fala, da escrita, de imagens, da dança, da
mímica, de gestos, de sons, sinais etc. Nós utilizamos cada meio desse para provocar reação no outro,
buscando a interação – compreendermos e sermos compreendidos. Não é verdade?
Segundo Ferdinand Saussure (2006), pai da Linguística, mesmo que essa relação com os
signos seja arbitrária, como já foi dito, eles são acordados e aceitos socialmente. Vejamos esse quadro
explicativo:
14
Competência 01
SIGNIFICANTE SUPORTE
SIGNO LINGUÍSTICO
SIGNIFICADO CONCEITO
Por exemplo,
SIGNIFICANTE SIGNIFICADO
GATO (Português)
Котка (Búlgaro)
CHAT (Francês)
KISSA (Finlandês)
KOT (polonês)
Figura 1 – Gato
Fonte: https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn
:ANd9GcQrfICx85jdwu7-
1ISI5Phqo1MChDL4qHYu3JJUHf
b8rYAknhTM6w
Descrição: Gato malhado,
sentado, com as patas
encolhidas
15
Competência 01
Como já foi dito anteriormente, usamos diversas formas de interação através do que
chamamos de linguagens. Se ocorrer através do código de uma língua, no nosso caso, a portuguesa,
iremos denominá-la de linguagem verbal; caso não, se por meio de outros meios, serão denominadas
de linguagem não verbal. Como assim? Mas esses meios são realmente constituídos como
linguagens? E podemos nos comunicar sem ser através das palavras?
Figura 3 – Silêncio
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-
ihn1a6FSBS8/UU_PoWBZ7iI/AAAAAAAAAIs/pUDPk3TFqpQ/s1600/enfermeira+silencio.jpg
Descrição: enfermeira com o dedo indicador frente à boca, pedindo silêncio.
16
Competência 01
Figura 5 - Semáforo.
Fonte: https://static8.depositphotos.com/1013408/864/i/950/depositphotos _8643538-stock-photo-four-sided-traffic-
light-with.jpg
Descrição: semáforo de trânsito com as cores vermelha, amarela e verde.
Figura 6 - Mímico.
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/--fWHxVqg-yQ/TmYFnQUg4aI/AAAAAAAAAH8/fGE-
_dMDego/s1600/219805_43010.jpg
Descrição: artista expressivo fazendo mímica com as duas mãos, simulando uma tela.
Para concebermos sentido a esses símbolos e ações, os quais não foram decodificados
através de nenhuma palavra, traduzimos cada representação através de um conhecimento de mundo
17
Competência 01
apreendido no convívio social com outros sujeitos que partilham da mesma simbolização. Isso quer
dizer que mobilizamos saberes que não os relacionados aos conhecimentos linguísticos e, sim, a
especificidades de cada modalidade de linguagem.
A linguagem dos sinais de trânsito, por exemplo, como na figura 1, permite-nos ler que o
desenho de uma bicicleta dentro de um círculo de contornos vermelhos traçado por uma linha da
mesma cor significa que é proibido bicicletas num determinado local em que haja essa placa. Na figura
2, essa ação promovida por uma enfermeira é comumente conhecida como um pedido de silêncio no
ambiente hospitalar, sem a necessidade de palavras. Na seguinte, apenas conhecendo minimamente
a linguagem do esporte futebol, podemos reconhecer o ato da expulsão de um jogador, através da
apresentação visual de um cartão da cor vermelha.
Porém essas mesmas ações poderiam ser promovidas através de palavras (linguagem
verbal), do código linguístico, com efeitos de sentido semelhantes – impossível afirmar que de forma
igual, ou por meio de imagens/símbolos e de palavras (linguagem mista).
18
Competência 01
Você, com certeza, já deve ter ouvido ou lido a palavra texto desde que começou a
estudar ou mesmo antes disso. Será que texto é algo que é escrito com muitas linhas, como muitos
pensam? Ou um conjunto de palavras aleatórias?
19
Competência 01
Realmente é difícil elaborar uma definição, pois é tão natural produzirmos textos, que
não são necessários conceitos para agir em língua através deles. Isso se justifica também porque no
ato da comunicação procuramos sempre nos fazer entender e sermos coerentes, através de qualquer
materialização de linguagens. Mas, teoricamente, o que é realmente um texto?
• Um texto verbal não é um conjunto de frases soltas. Pode ser apenas uma palavra ou um
conjunto de frases organizadas, ambos portadores de sentido;
• Um texto verbal é sempre delimitado e organizado, ou seja, tem início, meio e fim. Por
exemplo, em um texto escrito há os espaços em branco entre as palavras que “delimita”
o texto; já no texto oral, há o silêncio que marca essa entonação que faz a mesma função;
• Qualquer texto é sempre material, no entanto, não precisa ser verbal.
A cada situação comunicativa específica que você vive, que nós vivemos, há um ato
também singular de comunicação que chamamos de contexto. Quaisquer enunciados que não
partam de interlocutores definidos, espaços e tempo situados historicamente, que não se realize em
um ato significativo e dialógico, não se configura como texto. Dessa forma, não há efeito de sentido
que se configure, já que não há contexto que o valide. Porém, vale ressaltar que nem sempre ele é
resgatado facilmente, pois pode ser explícito, quando é expresso por palavras (o texto em que se
encontra a frase ou a frase em que se encontra a palavra), ou implícito, quando está embutido na
situação específica em que o texto é produzido.
20
Competência 01
Isso permitiu que você entendesse que a personagem pobre usou a palavra “peixe”
através da gíria, como vocativo; já o político por sua questão valorativa, já que o tubarão é mais forte
e, nesse contexto, conceberia a ele um status de superioridade. Além disso, dependendo do nível de
aproximação que você tenha com uma das leituras da expressão “peixe”, você poderia inferenciar,
por exemplo, o sentido de alguém que tem vantagens de qualquer grau, através de um “peixe”, ou
seja, alguém que tem poderes para exercê-las de maneira privilegiada.
Analise até que ponto sua interpretação foi suficiente para compreender a situação
comunicativa da tirinha!
21
Competência 01
Todos esses conceitos vistos até aqui são consequências teóricas que foram se
desenhando através de diversas teses e formas de encarar o ato comunicativo e suas possibilidades.
Vejamos, abaixo, a perspectiva dialógica e multimodal da comunicação, por José Angelo Giarsa:
Com Reich começamos a ampliar a noção de que o corpo fala tanto quanto a palavra. Na
verdade, sem este contexto, não-verbal, sem esta cara e gesto, sem este tom de voz, sem esta situação
e personagens, a frase não terá sentido – este sentido. A análise da comunicação verbal feita levando-
se em conta exclusivamente as palavras é tão inócua como estudar aerodinâmica na Lua – onde não
há atmosfera e não pode existir avião como nós o conhecemos.
Primeiro o que eu disse ou pensei – e que pode ser escrito. Depois o meu tom de voz e/ou
a música da frase, que é inteiramente outra coisa, a revelar o tempo inteiro minha disposição
emocional.
Quando tristes, com raiva, interessados ou ressentidos, nossa voz revela, o tempo todo,
os sentimentos que acreditamos secretos – ou que nem percebemos! Além da letra e da música da
palavra, temos a encenação ou a dança gestual – as caras, as poses e gestos que acompanham a
frase. Qualquer pronunciamento envolve todos esses elementos, e a alteração de qualquer um deles
altera o sentido do que pretendemos comunicar. Sabemos todos que é assim, mas arrastados pelo
sentido das palavras, quase nunca lembramos que é assim. Nem usamos – intencionalmente – o que
22
Competência 01
sabemos. (GAIARSA, José Ângelo. O que é corpo. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 14 – 25. Coleção
Primeiros Passos).
De acordo com esse modelo, em um ato comunicativo, uma pessoa (emissor) envia uma
mensagem a outra (receptor) de acordo com um código (conjunto de possibilidades de escolha e
23
Competência 01
O vídeo a seguir, em relação a esse modelo que Jakobson propôs, pode mostrar o que foi
denominado de funções da linguagem. Vale a pena assistir!
Teoria da Comunicação
https://www.youtube.com/watch?v=0msSv6pco1o
24
Competência 01
Figura 13 – Doril
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_AHLeUisAV-M/SutPEOQtXBI/AAAAAAAAAMI/KHXW0axZXfc/w1200-h630-p-k-no-
nu/doril011.jpg
Descrição: propaganda da DORIL. Com os dizeres: “TOMOU DORIL, A DOR SUMIU.”
25
Competência 01
Figura 14 – Activia
Fonte: https://s-media-cache-ak0.pinmg.com/236x/43/aa/6e/43aa6e4d308ee7ab9f44f542c4b47529.jpg
Descrição: propaganda da ACTIVIA. Com os dizeres: BOM QUANDO ENTRA, MELHOR QUANDO SAI.
26
Competência 01
Essa função tem como foco o canal, ao testá-lo, a fim de um ato comunicativo eficaz. A
intenção é, também, iniciar um contato através de cumprimentos com uma abordagem coloquial –
mais objetiva e rápida. Como exemplo, podemos citar a música Sinal Fechado de Paulinho da Viola:
“Olá, como vai? / eu vou indo, e você, tudo bem? Tudo bem, eu vou indo, correndo /
pegar meu lugar no futuro. E você? [...]”
27
Competência 01
Figura 17 – Dicionário
Fonte: http://wwweducacionalcombr3.cdn.educacional.com.br/aurelio/imagens/images/01_ 07_.gif
Descrição: página de um dicionário. A palavra (código) conceituando a própria palavra (código).
28
Competência 01
Você consegue perceber que para responder as perguntas sobre essa história em
quadrinhos, apenas identificar os elementos da comunicação e suas funções de acordo com a Teoria
da Comunicação não basta para uma compreensão da construção dos sentidos do texto. E o que, na
verdade, seria necessário para atingir uma interpretação eficaz?
29
Competência 01
Para além da Teoria da Comunicação defendida por Jakobson, e mais do que a simples
expressão do pensamento ou instrumento de comunicação, a linguagem expressa, cria e institui a
identidade dos falantes. Podemos perceber isso na HQ em questão, em que, embora animais, os
personagens apresentam características humanas. O Sabiá, que pretendia conversar com o Papagaio,
logo constata que o interlocutor apenas conseguia repetir as palavras ditas por ele. No final da
história, o Sabiá percebe que havia sido enganado. Ao mesmo tempo em que interagem, as
personagens se revelam para o outro, e também para o leitor do texto, produzindo o efeito de humor
da história em quadrinhos.
A linguagem, assim, jamais pode ser separada dos sujeitos que a utilizam, e vice-versa. Ela
insere-se no universo das unidades humanas, que a todo momento reavaliam e ressignificam
posições, ideias, emoções e intenções; nada ocorre através dela de forma mecânica e automática,
como se fosse um processo artificial.
Já que é uma forma de interação viva e real entre sujeitos em constante transformação,
a linguagem cria sentido nem sempre previsíveis. As várias leituras e possibilidades semânticas e
pragmáticas da atitude verbal em relação ao outro, faz com que a linguagem construa realidades
outras, ultrapasse o universo factual de referências. Mais do que isso, o próprio termo comunicação
é restrito e insuficiente para denominar as infinitas possibilidades de interação humana. Na verdade,
ao interagir com o outro, promovemos atos de fala diversos, já que o homem é capaz das mais
diversas ações sobre o outro através das linguagens, além de comunicar-se. Xinga-se, aconselha-se,
ensina-se, desmente-se, julga-se, engana-se, entusiasma-se, amedronta-se.
30
Competência 01
31
Competência 02
É ou não verdade? Mas o que é coesão e coerência mesmo? Será que a interpretabilidade
de um texto permeia unicamente esses fatores? Você, como falante nativo da língua, proficiente no
seu trato diário com seus interlocutores diversos, é capaz de definir se um texto é coerente ou se está
coeso?
É simples! Leia o que está escrito a seguir. Trata-se de um trecho do conto de Ricardo
Ramos intitulado Circuito Fechado. Através do conhecimento do conteúdo trabalhado na
32
Competência 02
competência anterior, reflita se ele pode ser considerado um texto. Após isso, pelo seu conhecimento
prévio como leitor proficiente da língua, considere se ele é coerente e coeso.
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme
de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme
para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira,
níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal.
Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro,
fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco
de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro,
fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales,
cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras,
esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz,
lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras,
copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de
dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo,
telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro,
fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro,
fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo,
revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo.
Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos,
meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água.
Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. [...]
33
Competência 02
Guarde esses conceitos por enquanto e vamos para uma discussão de algo que coopera
para o conceito de comunicação!
Há um conjunto de características que fazem com que um texto seja considerado como
tal, e não como um amontoado de palavras e frases. Para fundamentar o que se entende por esse
termo, é que se desenvolveu o conceito de textualidade. Ela é compreendida como a característica
estrutural das atividades sociocomunicativas (logo, também, linguísticas) realizadas entre os
interlocutores da comunicação.
Seja em que língua, seja em que situação de interação verbal, o modo de manifestação
da atividade de comunicação é a textualidade, que se concretiza, toma forma, em algum gênero
textual previamente selecionado para uma ação linguística específica e bem delimitada. Ou seja,
nenhuma ação de linguagem acontece fora da textualidade ou independe dela – assim que alguém
age através da língua, começa automaticamente um texto.
Dois blocos de sete fatores, segundo Beaugrande e Dressler, são os responsáveis pela
textualidade de qualquer discurso:
34
Competência 02
FATORES DE TEXTUALIDADE
COESÃO INTENCIONALIDADE
ACEITABILIDADE
COERÊNCIA
SITUCIONALIDADE
NFORMATIVIDADE
INTERTEXTUALIDADE
2.2.1. Coesão
35
Competência 02
As ligações linguísticas podem ocorrer tanto no nível semântico, referentes aos sentidos
veiculados, como no nível sintático, relativas às questões de ordenação desses constituintes.
2.2.1.1.1. Referência
A referência exofórica diz respeito à situação comunicativa, em que o referente está fora
do texto.
“A gente era pequena NAQUELE tempo. E AQUELE era um tempo em que ainda se
apregoava nas ruas. Não em todas as ruas, mas NAQUELA onde vivíamos. NAQUELA
rua, que tinha por nome a data de um santo, o tempo passava mais lentamente do
que no resto da cidade de Porto Alegre.”
(Trecho inicial de uma crônica, postada no site http://revistagloborural.globo.com, por
Letícia Wierzchowski)
Qual tempo? Que rua? Perceba que o resgate de sentido não está expresso
linguisticamente em nenhuma parte do texto, mas depende de inferências promovidas fora do texto.
36
Competência 02
REFERÊNCIA ENDOFÓRICA
ANÁFORA CATÁFORA
37
Competência 02
Você percebe que os pronomes demonstrativos fazem referência a termos que estão
presentes no texto, linguisticamente representados? “Isso” e “isto” referem-se ao ato da professora
da personagem de ter dado “péssimo” como nota na escola. Mais simples, não é?
Para manter a progressão textual, seja em textos orais ou escritos, utilizamos nossas
referências, endofóricas e exofóricas, mesmo sem perceber.
a) Anáfora
Retomada que ocorre por precedência, a fim de garantir a unidade temática dos textos
ao promoverem a manutenção dos sentidos referidos.
b) Catáfora
Sob um sol escaldante, ELE chega impecável (...) ao acampamento dos guerrilheiros (...) No
Camboja, território minado e onde nenhum diplomata havia pisado antes. Como prova de
confiança, os guerrilheiros pedem que ELE nade num rio. Sem titubear, ELE entra na água. Era
o ano de 1992. Negociava-se diplomaticamente a intrincada e difícil tarefa de repatriar 370
cambojanos, muitos vivendo na vizinha Tailândia. A repatriação aconteceu sem uma única
vítima. Esse é apenas um dos tantos méritos de SÉRGIO VIEIRA DE MELLO, Comissário de
Direitos Humanos da
38
Competência 02
2.2.1.1.2. Substituição
Graças a Deus eu não experimentei a força e eficiência do AIR BAG, pois nunca fui vítima de
um acidente. Mas sou totalmente a favor do EQUIPAMENTO. Jamais soube de casos em que
pessoas que dirigiam um carro com esse dispositivo tiveram ferimento mais grave. (...)
Na compra de um automóvel, o brasileiro deve levar em conta os diversos parâmetros de
segurança, e não somente a disponibilidade do AIR BAG. Esse último ITEM, sozinho, não pode
ser considerado o “salvador da pátria.” (Isto É, 1996)
2.2.1.1.3 Elisão
Conseguiu resgatar as palavras ou expressões omitidas pelas elipses acima? Que tal
tentar?
2.2.1.1.4. Conjunção/Conexão
39
Competência 02
2.2.1.1.4.1. Causalidade
a) COMO o sol não costuma dar trégua, as praias são sempre uma ótima
opção. (Anúncio de uma agência de viagens)
2.2.1.1.4.2. Condicionalidade
40
Competência 02
2.2.1.1.4.3. Finalidade
2.2.1.1.4.4. Alternância
Essa relação pode ocorrer de duas maneiras: em primeiro lugar, sendo sinalizada pelo ou
exclusivo, implica os elementos em alternância se excluem mutualmente.
Em segundo lugar, a alternância pode ser inclusiva, ou seja, por ela os elementos não se
excluem; pelo contrário, somam-se.
41
Competência 02
a) A gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por
acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo OU com a sua vida de
cada dia. (Rubem Braga)
2.2.1.1.4.5. Conformidade
Estabelece-se quando um segmento expressa que algo foi realizado de acordo com o que
foi pontuado em um outro. Os conectores que sinalizam essa relação são: conforme, consoante,
segundo, como.
2.2.1.1.4.6. Complementação
Ocorre sempre que um segmento funciona como termo complementar de outro, isto é, quando uma
oração é sujeito, é complemento ou é aposto de outra. Essa relação vem sinalizada por conectores
como que, se, como.
42
Competência 02
Manifesta-se quando uma oração delimita ou restringe o conteúdo de outra. Essa relação
é sinalizada pelo pronome relativo.
2.2.1.1.4.8. Adição
Estabelece-se quando mais um item é introduzido num conjunto ou, do ponto de vista
argumentativo, quando mais de um elemento é acrescentado a favor de uma determinada conclusão.
Operam pelas expressões: e, ainda, também não só... mas também, além de, nem.
43
Competência 02
2.2.1.1.4.10. Conclusão
b) Escola pública não tem os mesmos recursos de uma escola privada para
se manter. POR ISSO, se você trabalha ou estuda em uma escola pública,
cuide dela como se fosse sua.
(Anúncio publicitário da Agência Criativa)
44
Competência 02
O conector de conclusão, como qualquer outro, pode vir subentendido e, assim, o elo
entre os segmentos não aparece na superfície. Sua interpretação é legitimada pelos nossos
conhecimentos prévios, nesse contexto, mais diretamente mobilizados. Veja esse exemplo:
2.2.1.1.4.11. Oposição
2.2.1.1.4.12. Temporalidade
Expressa o tempo a partir do qual são localizadas as ações ou os eventos em foco. Essa relação pode
envolver: tempo anterior, tempo posterior, tempo simultâneo, tempo habitual, tempo proporcional.
Os segmentos que sinalizam essa relação são iniciados pelos conectivos quando, enquanto, apenas,
mal, antes que, depois que, logo que, assim que, sempre que, até que, desde que, logo que, assim
que, sempre que, até que, desde que, todas as vezes que, cada vez que.
45
Competência 02
2.2.2. Coerência
Leia o texto abaixo, a fim de sua interpretação. Pela sua leitura e seu conhecimento de
mundo, ele é coerente?
Tudo porque
Ele me deu um beijo de boa noite...
(AUTOR ANÔNIMO)
Você consegue promover sentido a esse texto? Ou seja, consegue recuperar um mínimo
de sentido ou intenção clara? Diz algo? Como se pode explicar que são construções dentro de uma
gramaticalidade da língua, linear e possível, mas não possuem sentido aparente? Fechamos escadas?
Recitam-se sapatos? Desligam-se camas? Ou será que essa visível desarrumação foi proposital? Será
que também não tem a ver com o texto Circuito Fechado do início desse caderno? Os dois seriam
incoerentes?
46
Competência 02
local e global – dando-lhe uma unidade de sentido. Ela vai além dos componentes propriamente
linguísticos da comunicação verbal, ou seja, existem outros fatores além daqueles puramente
linguísticos, fatores que estão implicados na situação em que acontece a situação verbal. Ou seja, há
outros elementos constituintes da situação comunicativa, que denotam uma percepção de contexto,
intencionalidade, pressupostos, propósitos comunicativos, conhecimento partilhado e prévio, dentre
outros. O sentido não está apenas nas palavras, é bem mais amplo!
Gerativismo e Gramaticalidade
http://www.professores.uff.br/eduardo/artigos_arquivos/manualdelinguistica_
2008.pdf
Voltando ao texto em análise, o que faz dele coerente? Depois da explicação acima,
mudou sua posição em relação a ele? Ele é coerente exatamente porque o “sentido” do poema não
está nos “sentidos” de uma interpretação explícita. Ele está na forma como as coisas foram ditas –
ou melhor – está na desorganização da forma como as coisas foram ditas. O eu lírico consegue dizer,
de forma bem particular, que quem ama vê tudo além das aparências das coisas; tudo tem sua ordem
(ou desordem) própria, a ordem natural das coisas é subvertida.
Por ser um texto poético é que consideramos que nele podemos exercitar os limites
lexicais e de sentido impostos pela realidade e pela lógica, fugir às convenções da gramática, sem
fugir ao coerente, fazendo sentido. Logo, a coerência pode claramente ser determinada por um texto
coeso através dos recursos linguísticos, mas também do que é extralinguístico – está fora dele, mas
pertence à construção de seus sentidos.
47
Competência 02
Para que seu texto tenha nexo, elementos e sentidos bem interligados, é imprescindível
que você saiba que existem tipos de coerência, elementos que colaboram para a construção da
coerência global de um texto:
a) Coerência genérica: para cada ato linguístico, deve haver a escolha adequada do gênero
textual, que deve estar de acordo com o conteúdo pretendido do enunciado. Em um
anúncio de classificados, a prática social exige que ele tenha como objetivo ofertar algum
serviço, bem como vender ou comprar algum produto, e que sua linguagem seja concisa
e objetiva, pois essas são as características essenciais do gênero.
d) Coerência semântica: para que a coerência relacionada aos sentidos possíveis esteja
presente em um texto, é preciso, antes de tudo, que o texto não seja contraditório,
mesmo porque a semântica está relacionada com as relações de sentido entre as
estruturas. Para detectar uma incoerência, é preciso que se faça uma leitura cuidadosa,
ancorada nos processos de analogia e inferência.
e) Coerência pragmática: refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala. Os
textos, orais ou escritos, são exemplos dessas sequências, portanto, devem obedecer às
condições para a sua realização. Se o locutor ordena algo a alguém, é contraditório que
ele faça, ao mesmo tempo, um pedido. Quando fazemos uma pergunta para alguém,
48
Competência 02
esperamos receber como resposta uma afirmação ou uma negação, jamais uma
sequência de fala desconectada daquilo que foi indagado.
2.2.3. Aceitabilidade
2.2.4. Situcionalidade
2.2.5. Informatividade
49
Competência 02
informatividade, que fale de informações que tragam novidades, mas que venham ligadas a dados
conhecidos.
2.2.6. Intertextualidade
2.2.7. Intencionalidade
50
Competência 03
A utilização da língua de forma oral ou escrita produz significados sobre “alguma coisa”
para alguém, num determinado contexto e em determinadas situações de interlocução – isso se dá
porque não falamos nem escrevemos aleatoriamente, para ninguém, não é verdade? Expressamos e
estabelecemos relações interpessoais por meio da linguagem e por meio de textos como produtos
de práticas sociais orais ou escritas, assim uma palavra dita só é entendida dentro de um contexto
dialógico.
Assim, antes de pensar que os textos que escrevemos seguem um manual de regras
estanques, que definem a produção textual como algo mecânico e artificial, devemos pensar que os
gêneros são entidades sociodiscursivas e formas de ação social presentes em qualquer situação
comunicativa. São materializados por sujeitos, em situações reais de interação, partem de uma
subjetividade, de marcas sociais e individuais, pois, os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-
se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. Para saber mais sobre a teoria dos gêneros
textuais, leia:
51
Competência 03
No entanto, antes de definir o gênero que desejamos produzir, deve estar clara a forma
como queremos dizer, como queremos agir – narrando ou dissertando, por exemplo. Esses são os
tipos textuais, que não são muitos como os gêneros, mas são reconhecidos pela forma que se
apresentam os textos e pela função comunicativa exercida pelo uso da linguagem. Entendeu? Ainda
não? Por exemplo, antes de produzir o gênero fábula, você deve escolher narrar e depois seguir as
características típicas do gênero textual, já que a tipologia textual é como se designa a natureza
linguística dos textos.
Para conhecer mais sobre a relação entre língua e discurso, acesse essa página, a fim de
facilitar o entendimento desse assunto.
52
Competência 03
Discurso e Ideologia
http://www.filologia.org.br/revista/artigo/6(17)47-53.html
3.2.1. A narração
A narração, como um tipo textual, é dotada de algumas estratégias para assegurar sua
principal função comunicativa, que é a de contar algo – nesse caso o interlocutor tem uma principal
função nessa tipologia textual. Geralmente, quando estamos em uma roda de amigos, em uma
situação do dia a dia ou em uma conversa, é bem comum que, ao lembrarmos experiências vividas,
comecemos a contá-las como uma forma de relembrar. Exatamente a esse processo chamamos de
narração, pois ela se configura pela apresentação de um fato que envolve personagens que estão
situados em um determinado espaço e tempo.
Como qualquer outra tipologia, o texto narrativo, possui um conjunto de gêneros que
compartilham da mesma função comunicativa, mas que se diferem pela sua organização estratégica.
Textos como fábulas, contos, romances, notícias, piadas, entre outros possuem, muitas vezes, esse
mesmo objetivo textual, mas se distinguem pelas suas características próprias – isso é o que os
consolidam como gêneros textuais diferentes. A construção da narrativa passa tanto pelo estudo dos
elementos que devem se fazer presentes nela, tais como os personagens, o espaço, o tempo, o
discurso, assim como pelo momento que a compõe, como por exemplo a introdução (onde os
elementos serão apresentados), o desenvolvimento da narrativa, o clímax, o desfecho.
53
Competência 03
Conscientes de que não há fórmulas prontas para a produção de textos, sejam orais ou
escritos, estão elencadas abaixo algumas estratégias para se construir textos da tipologia narrativa:
• Recursos que podem ser utilizados nesse tipo textual: Verbos de ação, discursos: direto,
indireto e indireto livre.
TRAGÉDIA BRASILEIRA
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira na Lapa,
prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
54
Competência 03
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista,
manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou
logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez
nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado,
Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria,
Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez
no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência, matou-a
com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
(Manuel Bandeira)
Vejamos como Manuel Bandeira usou essas estratégias no seu texto narrativo, Tragédia
Brasileira:
55
Competência 03
3.2.2. A dissertação
O texto dissertativo é um tipo de texto que se preocupa em falar sobre algum tema, por
meio de uma argumentação lógica, coerente e coesa.
Conclusão: O próprio nome já supõe que é necessário encerrar o texto. Ou seja, esse é
um momento de fechamento das ideias. A tese é retomada e é mostrado como as ideias ao longo do
texto se ligam.
Nesse tipo, a intenção é persuadir o leitor, convencê-lo da relevância da sua tese (ideia
central) a partir de uma argumentação coerente, exemplificada e segura. Exemplo:
56
Competência 03
Ao despontar como potência econômica do século XXI, o Brasil tem cada vez mais atraído
os olhares do mundo, chamando a atenção da mídia, de grandes empresas e de outros países.
Contudo, é outro olhar, não menos importante, que deveria começar a nos sensibilizar mais: o olhar
marginalizado e cheio de esperança daqueles que não têm dinheiro, dos famintos e desempregados
ao redor do globo. São pessoas com esse perfil que majoritariamente contribuem para o crescente
volume de imigrantes no país, e o que se vê é uma ausência de políticas públicas eficientes para
receber e integrar essas pessoas à sociedade.
Não parece que a solução seja simplesmente deixar que imigrantes pouco qualificados
continuem entrando no país de forma irregular e esperar que eles, sozinhos, encontrem um ofício
para se sustentar. O governo ainda não percebeu que a regularização desses imigrantes e a inserção
dos mesmos no mercado de trabalho formal poderiam servir como oportunidades para o país
arrecadar mais impostos e possíveis futuros cidadãos, ou seja, novos contribuintes para a deficitária
Previdência Social.
Visando aproveitar tais benefícios, o governo poderia começar a implantar, nas regiões
por onde chegam os imigrantes, mais órgãos e agências que oferecessem serviços de regularização
do visto e da carteira de trabalho, posto que ainda há muita deficiência de controle nesse setor. Além
disso, nos destinos finais desses imigrantes poderiam ser oferecidos cursos de português e cursos
qualificantes voltados para os mesmos. Isso facilitaria muito a inserção dessas pessoas no mercado
de trabalho formal e poderia inclusive suprir a alta demanda por mão de obra em setores como o da
construção civil, por exemplo.
Nesse sentido, é preciso que atitudes mais energéticas sejam tomadas a fim de que o país
não deixe escapar essa oportunidade: a de transformar o problema da imigração crescente em uma
solução para outros. A questão merece mais atenção do governo, pois não deve ser a toa que o Brasil,
além de ser conhecido pela hospitalidade, também o é pelo modo criativo de resolver problemas.
Prestemos mais atenção aos olhares que nos cercam; deles podem vir novas oportunidades.
57
Competência 03
Exemplo: Os Relatórios das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre a gestão e
desenvolvimento dos recursos hídricos alertam para a preservação e proteção dos recursos naturais
do planeta, sobretudo da água. Sendo assim, as estatísticas apontam para uma enorme crise mundial
da falta de água a partir de 2025, de forma que atingirá cerca de 3 bilhões de pessoas, e que pode
provocar diversos problemas sociais e de saúde pública.
Um dos maiores problemas apresentados pela ONU é a “escassez de água” que já atinge
cerca de 20 países no mundo, ou seja, 40% da população do planeta. Os estudos completam que a
água doce do planeta está em risco visto as mudanças climáticas registradas nas últimas décadas.
3.3.1. O conto
Características:
• É uma narrativa linear e curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa;
• A linguagem é simples e direta, não se utiliza de muitas figuras de linguagem ou de
expressões com pluralidade de sentidos;
• Todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho;
• Envolve poucas personagens e, as que existem se movimentam em torno de uma única
ação;
• As ações se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito.
Exemplo:
58
Competência 03
Eu já contei esse caso do papagaio Zé Augusto algumas vezes, mas ninguém acredita.
Felizmente, tenho testemunhas. Não somente a família toda é testemunha, como alguns amigos, que
tiveram a oportunidade de ver Zé Augusto depois que ele chegou aos paroxismos do vício, por assim
dizer. É uma história triste. Lá em casa, sempre tivemos bichos doidos. Uma vez, por exemplo, quando
a gente morava perto de Cotinguiba, em Sergipe, meu pai pegou um torrão de barro pequeno e o
jogou num pinto já meio frangote, que estava ciscando uma plantinha de estimação.
Aconteceu que o torrão pegou na cabeça do bicho e ele ficou maluco, deu muito trabalho
depois. Para comer era uma dificuldade, porque ele partia para a comida de marcha a ré e considerava
necessário fazer umas piruetas antes de bicar o milho. E ele sempre errava de milho, era uma
produção muito grande dar comida a esse frango. Mas cresceu, ficou um belo galo e se dava muito
bem com toda a família. Todo mundo gostava dele, apesar do problema que ele tinha na ideia. Até
com as galinhas ele se dava bem, embora errasse bastante (meu pai dizia que não era erro, era porque
o bicho era inovador) e tivesse sido, provavelmente, responsável por vários escândalos naquele
galinheiro. Morreu de velho. Segundo minha mãe, muito feliz, porque não sabia que ia morrer e até a
última hora ficou dançando aquelas dancinhas dele, ninguém dizia que já estava nas últimas.
Desta forma, não se estranhou Zé Augusto. Zé Augusto era um papagaio azul que deram
de presente a meu pai e que só falava “Zé Augusto”. A gente mostrava esse papagaio a todo mundo
que aparecia, porque ele tinha um ar muito inteligente e, quando se perguntava como era o nome
dele, ele respondia “Zé Augusto”. Mas depois não dizia mais nada e a pessoa ficava decepcionada.
Minha irmã hoje acha que era um problema de temperamento difícil mais do que propriamente
limitação de recursos, embora não se possa ter certeza, a esta altura. O fato é que Zé Augusto vivia
ali, na dele, num poleiro instalado junto do tanque de lavar roupa, onde havia uma tomada para
máquina de lavar roupa, sem máquina de lavar roupa.
59
Competência 03
— Minha mãe, Zé Augusto está tomando choque. Já peguei uma ou duas vezes. Minha
mãe pediu esclarecimentos. Aconteceu que o papagaio roeu a tomada e agora, assim umas três ou
quatro vezes por dia, olhava para um lado, olhava para o outro, e enfiava a língua no fio descoberto,
para tomar choque. O choque devia ser um grande barato, porque ele ficava arrepiado, se tremia
todo, largava o fio e passava os próximos cinco minutos agitadíssimo, percorrendo nervosamente o
poleiro de ponta a ponta. No começo, minha mãe teve uma certa tolerância. Houve pelo menos uma
vez em que eu quis levar uns amigos para mostrar o truque do “como é seu nome”, e ela mandou que
eu esperasse.
— Espere mais uns quinze minutos, eu acho que está na hora do choque dele. E, de fato,
ele ficava acanhado, no começo, em tomar o choque na frente de visitas, ou mesmo de alguém da
família que estivesse observando muito de perto. Só quando a pessoa não desistia mesmo é que ele
acabava não aguentando e tomava o choque de qualquer jeito, mas ficava de péssimo humor,
ameaçava bicar quem estivesse por perto e dava até uns gritos, coisa que, justiça seja feita, ele só
fazia quando o chateavam demais.
O problema, entretanto, surgiu quando ele passou a tomar um número cada vez maior de
choques. Nos últimos dias, era praticamente um choque de cinco em cinco minutos, uma coisa triste
de se ver. As penas começaram a cair, nem mesmo “Zé Augusto” ele falava mais, comia pouco,
suspirava, interrompia qualquer tentativa de aproximação com um novo choque, e assim por diante.
Minha mãe tentou recuperá-lo, conversava com ele, tinha paciência, mas nada adiantava.
Quando a gente tentou cobrir o fio com fita isolante, ele só faltou botar a casa abaixo com
a gritaria que fez, além de ter reduzido a picadinho a pouca fita isolante que conseguimos botar. Era
um caso perdido. Num belo domingo, lembro como se fosse hoje, minha mãe comunicou à hora do
60
Competência 03
almoço que ia dar Zé Augusto, já tinha encontrado quem quisesse e essa pessoa já sabia do problema
dele.
— Eu, particularmente — disse minha mãe —, acredito que não adianta afastar Zé
Augusto dos choques muito repentinamente. Ele pode ter um trauma. Então eu expliquei que devem
fazer a coisa com cuidado, gradualmente. Mas o que eu não posso é ter um animal viciado em casa,
é um péssimo exemplo para as crianças.
— Principalmente porque não fala nada — disse meu pai, e nunca mais nós vimos Zé
Augusto.
João Ubaldo Ribeiro
A situação não precisa ser uma história completa, basta ser um acontecimento, como, por
exemplo: uma flor no quintal do vizinho, uma batida de carro, um susto. Enfim, um momento no
tempo; um recorte do tempo.
b) Apresente o evento
É neste ponto que sua narrativa deixa de lado os fatos reais para entrar numa realidade
totalmente diferente do evento observado, onde ganhará um personagem e um ambiente. Nesse
momento, portanto, é a hora que sua individualidade vai permitir você criar realidades diferentes. A
descrição pode ajudar tanto o leitor quanto o escritor.
c) Fuja do óbvio
61
Competência 03
um fato ou uma visão curiosa sobre o que aconteceu, por isso seu texto deve chamar a atenção do
leitor.
d) Desenvolvimento da narrativa
Agora que você já apresentou seu personagem, já situou ele no tempo e no espaço, vem
a parte que mais exige da sua imaginação, ou seja, a criação da narrativa, propriamente dita. Nessa
parte você deverá narrar os acontecimentos posteriores à situação inicial.
e) Use diálogos
Os diálogos são essenciais para apresentar o personagem. Com ele, você pode abusar de
erros gramaticais, caso queira representar a oralidade como um retrato fiel da fala do personagem,
através disso você pode demonstrar que o seu personagem é mais introspectivo, mais extrovertido,
mais brincalhão. Enfim, é uma forma de ajudar na elaboração do personagem, deixando a cargo do
leitor a criação psicológica do personagem, por exemplo.
Por mais simples que possa parecer, escolher uma situação não garante a continuidade
do conto, causando-nos o tão preocupante “bloqueio mental” e suas consequências. O maior
problema ao escrever um conto não está no começo, nem no desenvolvimento, mas no final, pois, se
ele tem que surpreender de alguma forma o leitor, encontrar essa surpresa poderá demorar bastante,
causando cansaço ao escritor que, misturado com o bloqueio causado pela insegurança, impedirá a
continuidade da história. Portanto, uma forma de evitar isso é manter as suas ideias sempre
anotadas, mesmo as mais absurdas.
g) O Final
O final de um Conto deve trazer uma euforia, uma excitação, algo que instigue o leitor.
Não precisa ser rebuscado, basta ser inesperado, algo que o leitor não estava esperando ou, pelo
62
Competência 03
menos, que não fosse tão óbvio. Essa estrutura cativa o leitor, deixando-o pensativo e ávido para
deixar seu comentário.
Características:
A diferença desse modelo para um texto narrativo, por exemplo, é que o texto narrativo
descreve uma história, contendo alguns elementos importantes como personagens, local, tempo
(intervalo no qual ocorreram os fatos), enredo (fatos que motivaram a escrita). O texto dissertativo,
por outro lado, tem como objetivo defender um ponto de vista usando argumentos.
1. Qual o problema?
2. Por que se trata de um problema?
3. Quais as causas e consequências do tal problema?
4. Quais os exemplos que podem comprovar minha opinião?
5. Qual o percurso que devo traçar para convencer meu leitor?
6. Esse problema tem solução? Qual? Como executar?
63
Competência 03
Todas essas perguntas fazem parte do que chamamos de tempestade de ideias. Uma vez
respondidas essas questões, construa um projeto de texto e defina com mais detalhes a tese a ser
defendida.
Dicas!
• Primeiramente, anote suas ideias em uma folha de rascunho; isso servirá para selecionar
suas ideais posteriormente;
• Tome cuidado para escolher uma tese que você conheça profundamente e possa
defender com bom desempenho, e para que não torne seu texto subjetivo demais, como
se suas ideologias e crenças fossem a única forma de enxergar os problemas da sociedade.
Seja sensato! A partir desse momento, você começa a colocar “a mão na massa”;
• Seu principal objetivo deve ser o conteúdo. Então, dê mais importância para a
organização de seus argumentos. Suas ideias devem fazer sentido e se conectarem com
o tema, então, selecione-as e organize-as bem para que seu texto seja progressivo e
coerente;
• Apresente seus argumentos de forma sequenciada para que a leitura do texto seja fluida,
ou seja, fácil de ler e de compreender. Seja objetivo, claro e seguro nos posicionamentos;
• A coerência e a organização vão valorizar cada ponto de seus argumentos. Quanto mais
fácil for para o leitor entender seu texto, maiores as chances de garantir uma boa nota;
• Crie propostas de intervenção em que sujeitos possíveis colaborem efetivamente para
solucionar a problemática proposta; detalhe o que vai ser feito e quem (ou quais
entidades) irá promover essas ações;
• Respeite os direitos humanos, mesmo que seu posicionamento ideológico fira, de alguma
forma, algum de seus pontos!
• Introdução
64
Competência 03
• Desenvolvimento
• Conclusão
Para saber mais como produzir um texto dissertativo satisfatório, há algumas dicas e
estratégias descritas e analisadas nos vídeos abaixo! Vamos assistir aos dois? É já!
65
Competência 03
66
Competência 04
Assim, quanto mais o ato de reescrever acontecer, mais o produtor irá notar que todo o
texto poderá ser transformado, que não é uma construção de dimensões significativas acabadas no
próprio ato de escrever. E, assim, vai captando condições de domínio da escrita, porque vai
internalizando e compreendendo regras de composição de gêneros textuais, e consequentemente,
67
Competência 04
melhorando seu desempenho na construção dos textos e compreendendo, aos poucos, o mundo dos
textos escritos e suas estratégias.
A seleção de critérios avaliativos é uma questão delicada e é importante frisar que o que
será discutido a seguir não pode nem deve ser tomado como regra, como a única ou a mais correta
forma de corrigir um texto, embora se tenha mostrado um procedimento eficaz na correção do
gênero dissertativo-argumentativo, especialmente por atender às expectativas dos alunos para
resolver os problemas do texto, conforme indica o seguinte registro:
Quanto à correção de texto na escola, a tradição escolar mostra que a prioridade tem sido
dada aos aspectos formais/gramaticais que aparecem na superfície textual, tais como ortografia,
pontuação, concordância, acentuação, entre outros. Vale salientar que isso é apenas um ponto, uma
competência de correção gramatical. E o resultado desse trabalho, em geral, tem se mostrado
desanimador aos professores e aos alunos. Para os professores, o desânimo está relacionado com o
fato de que, à medida que os alunos avançam na escolarização, seus textos, além de perderem a
qualidade, vão encurtando de tal modo que escrever mais que dez linhas se torna um suplício.
68
Competência 04
o que corrigir no texto. Já que a correção é um ato sistemático e planejado, visando à avaliação de
competências de produção de textos específicas e bem definidas.
Uma das maiores complicações e dificuldades dos professores de Língua Portuguesa está
no ensino da produção textual, mais especificamente, na hora da correção e posterior avaliação. Você
já se perguntou como corrigir? O que corrigir? Para que corrigir? Essas são perguntas que os
professores muitas vezes fazem, justamente por se sentirem diante de uma situação complicada de
correção textual dos seus alunos. Além disso, há uma sensação apenas punitiva em relação ao ato da
correção textual, como se o propósito fosse o de avaliar negativamente, como se o texto fosse um
material capaz de ser corrigido como um objeto mecânico e automático. Muito pelo contrário, ele é
significação, é resultado de uma ação linguística que vai além da superficialidade corretiva.
Com isso, é imprescindível postular definições de correção que vise contemplar a noção
de proporcionar a autonomia ao aluno para analisar o próprio discurso. É um processo, além de tudo,
de significação e apreensão dos critérios avaliativos – devem fazer sentido para quem escreve. Caso
contrário, nada mais serão que indicativos irrelevantes de intervenção na produção textual. Para isso,
faz-se necessário que a prática da correção leve de fato o aluno à reflexão sobre seu próprio texto e
sobre os possíveis efeitos de sentido que seu enunciado textual produzirá no interlocutor.
A intervenção da revisão deve, então, ser diagnóstica e instrutiva, pois esse processo
inicia-se na percepção das “falhas” e itens a serem “melhorados” no texto, para que assim haja a
colaboração do professor quanto aos mecanismos da língua e organização das ideias. Nessa
perspectiva, o texto ganha outras dimensões que extrapolam os limites de uma redação escolar e
passa a ser compreendido como uma unidade significativa que produz conhecimento, que revela
opiniões, ideologias, pontos de vista, enfim, que se constitui por meio de um sujeito produtivo e ativo
através de um fenômeno linguístico real.
69
Competência 04
Partindo dessa elucidação, o Guia tem por objetivos tornar mais transparente a
metodologia de correção da redação e informar o que se espera do participante em cada uma das
competências da sua matriz de referência. Sobre essa expectativa, detalharemos cada uma dessas
competências. A partir daí, você terá embasamento teórico para o processo de revisão e reescrita,
porque não, reescritas, da sua produção textual.
70
Competência 04
que passam pela ortografia, pontuação, concordância, acentuação e assim por diante. Além disso, o
candidato que recebe essa qualificação apresenta no texto muitas gírias e marcas de oralidade.
O candidato que possui um bom nível nessa competência traz no texto poucos desvios
gramaticais leves. Até por isso se há uma falha ou outra de concordância verbal ou nominal na prova
de redação, é dado um peso menor, por entender que o aluno compreendeu o conteúdo e trata-se
de uma falha eventual. No caso de um desempenho ótimo, o estudante demonstra um excelente
domínio da Língua Portuguesa, com pouco ou nenhum desvio gramatical (são aceitos em caso de
excepcionalidade, ou seja, quando não há reincidência do erro no mesmo texto).
Esse critério avalia bem a capacidade de interpretação do texto que o candidato possui,
pois ao fugir do tema ele demonstra um indício de não ter conseguido compreender a proposta da
prova. Pelo fato de terem textos de apoio na exposição do tema, mesmo que não tenha domínio
sobre o assunto, o aluno em tese tem condições de atender a esse pré-requisito.
71
Competência 04
quando o inscrito apresenta o tema, mas tangencia o assunto. Trocando em miúdos: fica numa
superficialidade que beira o desconhecimento do tema (um forte indício de que faltaram condições
de interpretação). Outra característica da redação enquadrada nesse nível é apresentar traços
constantes de outros tipos textuais (tais como narração ou descrição, por exemplo).
72
Competência 04
A nota zero é atribuída à prova de redação do candidato que apresenta informações, fatos
e opiniões não relacionados ao tema, sem que haja defesa de ponto de vista. O desempenho precário
do inscrito é percebido quando há pouca relação dos dados apresentados com o tema e, ainda,
opiniões incoerentes, que levam o autor a não defender um ponto de vista. O nível insuficiente é
entendido pelos examinadores quando há exposição de informações e fatos sobre o tema, mas de
maneira desorganizada e contraditória. Outro elemento percebido é que o conhecimento
apresentado se restringe aos dados trazidos nos textos motivadores.
Um dos pontos fortes do texto dissertativo, a argumentação recebe uma atenção especial
nessa competência. Os candidatos devem apresentar uma excelente capacidade de estruturar o texto
e apresentar, de maneira coesa e fundamentada, os argumentos. Esses requisitos facilitarão no
processo de defesa de ponto de vista.
A nota zero é atribuída ao texto que não dispõe de marcas de articulação e com ideias
totalmente fragmentadas, sem apresentar uma ordem lógica e clara. O desempenho precário é
percebido nas redações cujos autores apresentam as informações um pouco mais coesas, mas ainda
bem fragmentadas. Já o nível insuficiente desta competência é notado em textos que apresentam
inadequações na formatação e pouco conhecimento de recursos de coesivos (conjunto de
mecanismos linguísticos que ajudam a estabelecer relações de sentido no texto).
73
Competência 04
Essa competência é a que tem, nas últimas edições do ENEM, apresentado o pior
desempenho na média dos inscritos. A expectativa é a de que o candidato proponha alguma ideia
para solucionar um problema relacionado do tema. Nesse quesito, os examinadores redobram as
exigências para fazer com que as propostas estejam em concordância com os direitos humanos,
considerando valores universais de cidadania, liberdade e diversidade sociocultural.
Os textos que têm nota zero nessa competência não apresentam proposta de intervenção
ou a que é trazida pelo autor não faz relação nenhuma ao tema tratado. É encaixada no nível precário
a redação que apresenta uma proposta de intervenção vaga ou muito abrangente, relacionada
apenas ao assunto central. Já no item insuficiente, o candidato traz uma proposta que não está
articulada com a discussão desenvolvida no texto.
74
Competência 04
Por fim, apresentamos duas recomendações: para potencializar o conhecimento dos seus
alunos, é fundamental investir em práticas de texto (trouxemos um post que pode ajudá-lo nessa
caminhada). Essa atitude demanda tempo, tanto pela preparação quanto para a correção dos textos
produzidos pelos alunos. E sobre este último aspecto, sabemos que o extraclasse para o corpo
docente não é tarefa fácil, por conta da demanda pesada de preparação das aulas e análise dos textos
produzidos pelos alunos. Para ajudá-lo nisso, a “Imaginie” possui a maior plataforma de correção,
contando com professores especializados nas competências do ENEM que tratamos acima.
REDAÇÃO
O fluxo imigratório para o Brasil vem se acentuando desde a década de noventa, devido a
melhorias nos campos sociais e econômicos, os quais eram os principais fatores de emigração, ou seja,
de saída do país. Apesar de estimular o respeito à diversidade cultural, além de outros benefícios, a
imigração exige atenção, pois caso negligenciada, poderá ocasionar problemas sociais.
A principal causa para tal movimento é o progresso econômico do Brasil, confirmado pela
liderança do bloco financeiro sulamericano, o Mercosul. Além disso, como consequência do
crescimento econômico, as condições sociais melhoraram, como a expectativa de vida, as quais
também são resultado das políticas assistenciais do governo, como o Bolsa-família. Com isso, grande
parte da população que emigrava, em busca de melhores condições de vida, permanece no país.
Paralelamente, as dificuldades econômico-sociais de outros países, como o Haiti, abalado pelo
terremoto ocorrido em 2010, estimulam a entrada de estrangeiros no Brasil.
75
Competência 04
Contudo, apesar de tais benefícios, o fluxo imigratório pode ser prejudicial. Um exemplo,
verificado principalmente na fronteira com a Bolívia, é o tráfico de drogas, o qual é facilitado. Além
disso, doenças podem ser trazidas, vitimando brasileiros. Outra questão problemática é a adaptação
à língua portuguesa, o que pode dificultar a garantia de trabalhos dignos. Com isso, pode aumentar
a informalidade, bem como a criminalidade. Tal situação se agrava quando a imigração é ilegal, pois
dificulta a atuação do Estado brasileiro.
Desse modo, percebe-se que boa parte de tais problemas pode ser solucionada a partir da
integração do migrante à sociedade, de forma plena. No caso da sociedade civil, faz-se importante
recepcionar bem os estrangeiros, o que pode ser conseguido com festas ou encontros públicos, que
facilitam a interação e o aprendizado da língua portuguesa. Quanto ao Estado, é importante garantir
a dignidade dos empregos, aplicando as dirigências da Consolidação das leis do trabalho (CLT), além
de fiscalizar regiões de fronteiras, combatendo o tráfico de drogas.
O texto revela excelente domínio da modalidade escrita formal e não apresenta sérios
problemas linguísticos. Há falta de uma vírgula na quarta linha, após “pois”, há ausência de hífen em
“sul-americano” e o uso do neologismo “dirigências”. Revela também domínio seguro do tipo
dissertativo-argumentativo, pois o texto é objetivo, impessoal e claro.
76
Competência 04
A redação organiza-se em cinco parágrafos bem construídos e articulados entre si. O texto
desenvolve a tese de que o Brasil vive um excelente momento econômico, destacando-se no
panorama sul-americano, e essa estabilidade econômica atrai muitos imigrantes em busca de
melhores condições de vida.
77
Competência 04
sentido”, “Contudo”, “Outra questão”, “Desse modo”, “Isso”, “assim como”, “a esses”, “Feito isso”.
Assim, emprega largamente os recursos linguísticos necessários à construção da argumentação.
Segue um link do manual de redação completo do ENEM 2016, para que você conheça
todas as sugestões para uma boa produção textual:
78
Conclusão
Ao fim do nosso curso, a partir dos conceitos de língua, linguagem e signo linguístico, você
foi convidado a perceber como ocorre a relação de cada língua (seus falantes) com o mundo à sua
volta, de forma singular e motivada por necessidades específicas de cada comunidade de falantes.
Tudo que é constituído por linguagens possui um valor simbólico, que é constituído social e
historicamente. Pois, ao interagirmos com o nosso interlocutor, mobilizamos saberes que,
relacionados aos conhecimentos linguísticos, determinam a especificidade de cada modalidade de
linguagem.
Durante toda a discussão, foi demonstrado como todo ato comunicativo perpassa a
escolha do tipo textual e do gênero textual, já que não há como interagir linguisticamente fora dessa
perspectiva. Assim como, no percurso didático do material, foram debatidos tipos e gêneros textuais
diferentes: suas estratégias, características, objetivos discursivos, a fim de uma sistematização do
conteúdo. E esse conhecimento é essencial para que você possa agir socialmente com a língua através
de formas e estruturas relevantes, sempre buscando a interação que se efetiva eficazmente.
Você, cursista, deve ter percebido que no processo de escrita, de produção textual, os
sujeitos agem linguisticamente através de suas ideologias e visões de mundo. Ao escrever,
consolidamos um fenômeno social através de atos linguísticos bem planejados e definidos. No
entanto, além da subjetividade criativa do interlocutor, existem vários processos e estratégias que
compõem a dimensão da redação de um texto, um deles é o de reescrita. Numa prática de escrita e
reescrita, o autor percebe o quanto seu texto pode ser melhorado, e consequentemente, o indivíduo
79
passa a refletir sobre os objetivos alcançados, sua adequação vocabular, suas proposições e ideias,
por exemplo.
80
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
GAIARSA, José Ângelo. O que é corpo. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 14 – 25. (Coleção Primeiros
Passos).
GEIGER, Paulo (org.). Dicionário Novíssimo Aulete: Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa.
Rio de Janeiro: Editora Lexikon, 2011.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguísica Geral. São Paulo: Ed. Cultrix, 2006.
81