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EPANAPHORAS
DE VARIA HISTORIA *******
A
P O RTV G VEZA -
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AO EXCELLENTISSIMO SENHOR
D O M IOAO DA SYLVA
MAR 2UEZ DE GOUVEA, CONDE DE PORTALEGRE,
Prefidête do Dezembargo do Paço, do Cófelho de Eftado,cº Guer
ra, Mordomo Mor da Cafa Real,órc.
E M.
C IN C O R E L A C, O E N S
De face/ os pertencentes a este Reyno.
QUE conTEM NEGOCIOS PUBLIcos,
2OLITICOS, TRAG I COS, A M O ROSOS,
TBelicos, Triunfantes.
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"… AO EXCELENTISSIA4o SENHOR
DOM IOA AM DA SILVA, .
MARQUEZ DE GOUVE ACON DE DE
Tortalegre, Prefidente do Dezembargo do Paçº, do Confe
lho de Estado,õGuerra, Mordomo Môr
da Ca/a Real,&c.
# Ontinúo em dedicar a V. E.
\# minhas impretoês; porq he
"divida de hú criado daCafà
Real em q V.E. he Mordomo Mór:
a generofidade de V. E. a terá por
ferviço em mundo onde tão poucos
pagão o q devem. O q ofereço não
he defempenho da obrigaçaô, mas
só da vontade,pois naõ tenho mais;
quífera ter muito para V. E, o ter a
feus pès: mas a falta procuro fuprir
como defejo de que Deos de a V.
E. as felicidades que merece. Lis
boa 11. de Dezembro, 675.
Criado de V.E.
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A L T E RAC, O EN S
D E E V O R A.
- Anno 1.637.
E P A N A PH O R A POLITICA
P R I M E I R A.
# DO M FRANCISCO MANUEL,
1). F. M.
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# Ofiumavão os premios, quando os havia no
$# mundo,manter os homés diligentes, & ainda
A2 foberbos,
ALTERAço ENS DE Evo RA
foberbos, contra o perigo das coufas arduas ; po
rém aquelles da virtude, fem palavras prometidos,
& fem mentira logrados,não com menor eficacia os
fazem animofos, para emprenderem difficultofas ac
çoés; que ou lhes fervem, confeguidas de gloria, ou
fruftradas de defculpa. Afi foi: mas eu direi agora, á
não fó fem algúa efperança,de jufta recompenfa, fe
não quafi certificado do inconveniente,me ponho a
legre a efte longo trabalho, de recolher noflas memo
rias, como fetão fatalmente foffe arrebatado á fatif>
fação,como me vejo ir ao defagradecimento.
Tres autorizados Confelheiros, me perfuadem o
Confelho,o Ocio,& a Inclinaçaô. Façolhe à Patria
barato,de não nomear o zelo,pela não deixar obri
gada ao beneficio,ou á injuria, fatisfazendo, ou def>
prezando a fadiga, átomo por ella, ao mefmo tépo,
á ela toma cuidado, por acrecentar minhas fadigas.
Poré,como efte queixume tenha a idade do mundo,
naõ faltão exéplos,q afinos pofaó miniftrar alivio,
como vaidade; porq falir inteiro das batalhas,donde
os melhores foraó feridos, tambem parece defgra
$a.
Mais vezes os homens incitados da ambiçaõ,j da
miferia, fe aventuraô a navegar os remotos mares,
bufcando feus interefes por mãos do perigo. Porém
outros não defprezando, mas proporcionando o tra
balho, fem fahirem de feu proprio campo cultivão
cõ louvavel moderação a terra em que naftèraõ.
Poffo fem vaidade dizer,que da mefma forte me
+- fucc
E PANAPRORA Por ITICA I.
fuccdeo neta obra; porque já que os referidos afe
dos me inclinão ao oficio hiftorico, efcufandome
agora de obtervar os movimentos dos efiranhos [vi
fio que nelles periga de ordinario a verdade do Au
tor por ignorancia, ou incerteza] procuro efcrever
fem artificio a Relação de aquelles fuceflos que ha
pocos annos paflâraõ na Cidade de Evora, & quafi
toda a Provincia d'Alentejo,como o Algarve; dos
quaes he força tenha por teftemunhas os homés de
fetempo. Coufa por certo afsâzrigurofa, & que sò
pôde foportar aquelle que fizer da cóciencia, pena,
& da verdade, tinta. |-
- º cº
E»ANAngoRA Ponrrca º I. 57
como pay,& irmão, fe achavão com a Coroa Cate
lha. A terceira o modo diferente porã fe havia na
quella ocurrencia, naõ fe valendo de outra algúa
pefoa,q nella o ajudafe; porq ou tudo temia dos
outros, ou tudo fiava de fi. Todavia os Inquietos mo
vídos da grande autoridade de Fr. João, & do total
poder que lhes infinuava,vieraõ facilmente em ou-.
vilo; & como a queixa de nova carga de dereitos,
que não querião receber,era a mais urgente caufa de
feu movimento; porifo mefm o allegárão, que a fe
guiãça do alivio defe novo pefo,devia fera primei
tacoufa fobre que fe conferife,& que antes della
fatisfeita, fenão havia de tratar o remedio de outra
algúa coufa. •
--
Haº
6o AtrERAçoENS DE EvoRA" •
-)
44°
34 , " ALTERAçoess Dz EvoRÃ , , …
cabeça refonderiaporel.Que le/uplicoyo, no malgº "
empeñoni trate COM! Religiofos,cõ que no {{ menefter
tyútá":
--*
EPANAPHoRA PoLIrICA I. 65
Tambien advierto a vue/apaternidad, que elprofipueffo
que have, de que espor quatro años elrealde agua, J. elei:
vegon,es equivocacion,como confia de los papeles:pero nº ºfi?
me/toelpunto,fino enqueno espor el huevo,fino por elfue
roy que fiel fuerº fe ajufia,elhuelyoyolo tºmo a micagº.
Por um filo Zios,que nofe derrame/angre, aunque me cue/
tela vida. Dios guarde avue/apaternidad, como de/eo. E
de fua propria mão acrecentava etas palavras. Se
normio,vue/la paternidad me crea,q fifu Padre refucitára,
abra/ira efe lugar,yle bicicraftbrar de/al Suplicº ayuef
Japaternidad,le obedefca afu Magºfady repõga loh chº.
Finalmente foffe,qual foffe,o principio de aquel
lenovo accidente; quando as coufas de Evora efia
vaõ cóforme referimos,apareceo fubitaméte naquel
la Cidade húa ordem, para que Frey.João, deixãdo
tudo nos termos cm qeftava, sé mais avifo fe paflaf
fe logo a Lisboa;& que a Junta de S. Antão, profe
guife na forma,que atè a chegada do Enviado o ha
via feito,difpondo, & avifando dos negocios:o que
fecumprio logo,defpedindofe Frey João da Cida
de,taõ pouco obrigado do Rey, como do Povo, &
não feife defobrigado da Nobreza.
Dife atégora sòmente das alteraçoés da Cidade
de Evora; & por naõ quebrar o fio principal da hif
toia, me fui por ellas adiantãdo aos outros rumores
femelhantes,ã pafavão pelo Reyno, dos quaes ferá
razaó dar algúa noticia, para fazer mais clara a infor
maçaõ de todo efte grãde fucefo, e foi, defla forte,
Entretanto que em Evora fe procedia com a va
|- - * riadade,
66 |- ALTERAçoENSDE EvoRA ,
riadade,& cautela que referimos, toda a Provincia
de Alentejo,a quem Evora ferve de coração, ou ca
beça,participou de feus proprios efeitos, em cujos
lugares,com pouca diferença,foraõ femelhantes os
excefos, fegundo elles eraõ mais, ou menos capa
zes da multidaô,porque eftes movimentos feminif
travaõ. Todavia as Cidades de Beja,& Elvas ainda
que de oufados moradores guardáraó inefperada
moderaçaõ; mas por etes dous Povos de Alentejo,
que faltàrão de feguir a opiniaõ da toda a Provin
cia, Abrantes, & Santarem, deta parte do nofo
Rio,& em nada aos outros inferiores; mais vefinhos
a Lisboa,& porifo de mayor confequencia, come
çâraõ a motrar vontade de grande revolução. Com
tudo,a propria vefinhança,q os fazia mais ocafiona
dos,fervio de lhes impedir mais cedo o movimento:
porq procurandofe por bons meyos feu focego, &
fazendo q para dar calor à juftiça, fe premudaffe a
Santarem,Tancos,& Abrantes,o quartel denofia In
fantaria, que alojava em Cafcais, houve de confe
guitfe a quietação pretédida; a qual fépre feria fa
cil de cófervar, em quáto Lisboa etava firme; aqué
em todos feus intereffes havião propofo de feguir,
não sô as Cidades,e Villas mais proximas a ella,mas
as Provincias da Beira, Minho,& Tras os Montes.
Moftravafe o cuidado dos Miniftros de Madrid
repartido, como feu efcandalo, por todos os luga
res, que afectavaõ a liberdade; mas os verdadeiros
temores, & obfervaçoens, mais fe
• • ·#
•Villa 2
*EPANAPHoRA Polirica I. 67
Villa-viçofa,como jà difemos, Era pequeno feu Po
vo,mas reprefentavalho o temor opulêto da Nobre
za;armas,& defignios,grãdes em fua mefina difimu
lição:como hemais temerofo o pego do rio, donde
aagua recolhida età em grãde ferenidade,que o la
go donde fe efpraya,ou bate na pedra inquietamé
te.Por outra parte, a frefca memoria das pretéçoés
q aquelles Principes haviaôtido á Coroa,o defcon
tentaméto com q os Portuguezes paflavaõ fua fo
geiçaõ,como de cativeiro;o amor que nelles florece
afeu Rey natural,fazia de importante reparo, qual
quer acçaõ publica de Villa-viçofa,fendo neftes ca
fos dificultofo de definguir,qual feja a vontade do
Povo,& qual a do fenhor delle. -
----
EPANAPRORA Poliricº I. 83
Cöftava efte exercito de Cátabria, de varios ter
ços de Infãtaria Catelhana,quafitoda forçada para
a guerra; a qual entre a afpereza dos montes de
Guepuzcua, agora detida dos frios, agora dificul
tada do aperto dos pafos , fe confervava , mas
fempre com vivo defejo de liberdade. Eftimava
fefeu numero, dentro dos quarteis, em oito mil
Infantes,que marchando foltos, & por terras lar
gas, & conhecidas, fe diminuiraó de forte, que
antes de arribarem á Eftremadura, eraõ menos de
quatro mil,& menos os que chegàrão ao novo aloja
mento. A mais rigurofa parte de aquellas armas,
confiftia em hum Regimento de Dragoens: nova
milicia entre nôs, & que de Alemanha trouxera
a feu cargo Dom Pedro de Santa Cizilia, de quem
no livro primeiro de nofa Catalunha, fazemos
particular menção. Foi nomeado por General
dete exercito, o Duque de Bejar, moço de defafe
te annos;havendofe fua riqueza, & etado por fufi
ciencia,diferaõ: Queperfer o mayor fenbor da Estre
madura, donde o exercito/ejuntava, lhe competia oposto.
Era pretexto, mas duas as caufas interiores. Apri
meira, porque defejava o Conde Duque, que o
Cabo de aquella guerra, fe governaffe só por fuas
leys,& não pellas da milicia; cuja difciplina em feus
profeflores malfe dobra aos expediétes politicos. A
fegúda, porã para húa emprefa aparente,não fe acha
ria em Efpanha hú General verdadeiro: fupriofe
então o defeito da idade, & efperiêcia do Duque
- - -- -- F2
#
C
84 ALT ERAçoENS DE EvoRA" *
Bejar,dádofelhe por adjútos os Meftres de Campo
Graneros, & Bocanegra. Ambos do Confelho de
guerra; em os quaes não avia mais fuficiécia,á a dos
annos,de q o Bejar era falto.Sépre as cãs faõ indicio :
da fabeduria, mas nem fépre defépenho della. E
porq os prefidios do Reyno,não efavão providos de
Metre de Cápo General,auféte D. Fernãdo de To #
*:
ledo, fe avia nomeado nefte pofio, a D. Diogo de *
-- # haha
••••••••
EPANAPHoRA PoEITICA I. 87
hallará exemplar,que ajufe a ella, enninguma historia anti
ga,nimoderna;ynofoloque no ajufte de todo, pero com cien
mil legaasipues enun Reyno tamfertil,tam leno de Noble
Rayquieram defcalços,defarmados, bazer cuerpo, & mante
nefeypretender capitular confu Rey; fin tenergyreffeto,
nia la luficia,nia la Nobleza,nia la piedad defu Mage/-
tady queforçadamente nos quieranohlgar a derramarfim
gre de Va/allos proprios.ypomer nota en la fidelidad F/pa
hola. Ele correo de/pacho de pura piedad, & fin ordem,co
mo Cristianoy como Cavallero; entretanto que fe firma la
com/ulta de anotheyfube a fu Magºfad(que no efia aqui))
hazen los de/pachos della. A/egurando a V. Señoria, que
uma hora mas de dilacion, no espo/sible,mi convenientey que
los cuidados de afuera, obligam a no dexar effo imperfeto.
Terof he de recebir de V.Señoria alguma merced, fea que
fe obre fin/angre, y que fios dos dias, º tres,fe reduzga e/>
/agente a conocer/aperdicion forço/a,aunque tuvie/em quã
to, fucº/os do/ean, y quan impo/sibles fon. Pero yo querta que
mientra llega la orden de fu Magºflad, y la re/alucion de la
Con/ulta,ellos reconocie/en lo que ha defer el dia fºguinte,
Jfe pongam a los pies defa Magºfadyen fu obediencia,yfe
reduzgan los tributos alefiado em que fiavam./fife ponêem
e/otroem que fevem,por li nece/sidad4 padecê; yo/algoper
fiador de V.Señoria que nopa/arán nece/Sidad, J foy de
fiar por la fangre com que naci,y tambien lºfº),por el lugarem
que fu Magefiad(Dios leguarde)aunque indgnamente,me
tiene.Queyaye V.S.fi/u Mogeitad nece/sita dedos,6 tres
mil ducados,$paga el ca/co de Evora enefios tributos,º em
los otros; perº vale aJu Magºftad eu fio, los de
- - F4
*# Cy
38 ALTERAçoENS DE EvoRA *
Reynosenteramente,nofolo de Portugal,fino de todafi, Ma
narquia,em todas partes; que alexemplo de quedar e/os re
belados fin otro titulo ninguno,libres de los tributosy confe
guiendulopor e/e camino,no abria Lugar, Província,o Rey
mo,queno intenta/elo mifino,yfalie/le com ello;conrazon, y
juficia,fifu Magestad lobuvie/e defimulado. Ay, fabe
Zios,q acofia de quanta/angre tengo em las venas, tomára
que e/oferemediara/infangre. •
# - dem
• *EPANAPHoRA Pol IricÁ I. 89
dem dos Fidalgos, à da gente Nobre,fe difpoz, que
tambem fe convocafe, toda a que em Madrid con
corria,a fim de q védofeos de aquela clafe avétaja
dos cõ efte favor,o pagafem logo, côformandofe cõ
as demoftraçoens mais rigurofas, contra o Reyno
prevenidas;como finalmente fucedeo, porque be
neficiados de efta vangloria, muitos dos circuftan
tes feguiraó com tanto aplaufo o di&ame do Conde
Duque,que naõ sò o aprovavaó publica; & fecreta
mente,mas comunicandofe aos amigos,& parentes,
que tinhaó em Portugal, derão grande reputaçaõ
de Clemencia a aquellas mefmas acçoens donde a
Irafe moftrava mais defcuberta.
Vi,& experimentei,que entre nòs foi a convoca
ção de fumo cuidado; porque como todos ignora
vão o fegredo de aquelle negocio,cujas partes cor
riaõ tão incertas, que apenas os mefimos que o ma
nejavaó,o comprendião,não havia inocencia que fe
defe por fegura, à vita do que fe podia efperar do
poder,& fimulaçaõ,entre cujas mãos nos viamos to
davia.Outros ajudados,ou do melhor difcurfo,ou(o
que he mais certo)de melhor noticia, fe moftravaé
fem algum pejo do chamamento, certificando aos
mais temerofos,de que aquella novidade,fenão pre
venira,em prejuizo particulár,antes por comum be
neficio, , "., .
º
difera)havia por bem,que a Nobreza do Reynº toma/e a {
*
..
feu cargº,a redução de aquellagente vil; com tal condiçãº, 1!!!
•
/**
----
EPANAPHoRA Polirica I. I o3
fito da vingança; da qual parecia que o mais con
veniente pafo, era apartar o Linhares da Corte;
porque fua grandeza, contrapefava a induftria, &
graça do Secretario. Achavafe o Linhares, já do in
verno antecedente, nomeado com grandes venta
gens de titulos,& mercès, General da empreza, &
reftauraçaõ de Pernambuco; lugar,que fobre gran
de,fora infauto em aquella Monarquia:porque nel
lehavia perdido a vida,& libcrdade,Dom Fradique
de Toledo, mayor Capitaõ do Mar, que em feus
tempos vira Efpanha:& da me{ma forte, fenão a vi
dahavia tambem perdido nelle a graça de feu Prin
cipe,Dom Antonio de Avila, & Toledo, Marquez
de Valleda:que fucedeo a Dom Fradique, na elei
çaõ da empreza;por cujo defvio entrou nella, com
femelhante forte aos predecefores, o Conde de Li
nhares,que agora a obtinha. A dificuldade da guer
ralonge,com inimigos vencedores, detros,& pode
rofos,perfuadia a todos,a cujo mando fe encomen
dava,que procurafem levar configo, as forças com
petentes a húa empreza tão ardua. Porèm,ou que ef>
tas forças por então não fofem fuficientes, ou que
os Miniftros, como he ordinario, méção com mais
curta vara,que os Capitaés,as acçoens militares,tan
to no rifco,como no merecimento, o Toledo, o A
vila,& o Linhares,todos fe conformátaõ com húas
proprias petiçoens; fem embargo de ver cada qual
por ellas mefimas,a ruina de feu anteceflor. Fluótua
vanetas negoceaçoens o Linhares,antes
G4
dos nego
C1OS
I o 4. ALTERAçoENS DE Evo RA •\
----- - - - - - - - - - - --- -- Ao
-
E PANAPHoRA Pol IT IcA I. 1o7
Ao aplaufo, ou fimulaçaõ, com que o Valido
ouvia as informaçoens contra o Conde,feguiaõ va
rios, & profundos arteficios; de que elle avifado,
fiou(em feu defprezo)mais do que devia, da ino.
cencia,& da grandeza. Bem creyo, que tambem foi
complice nefta defregrada confiança,aquella que fa
zia no animo do Conde Duque; muitas vezes decla
rada em feu beneficio: quando nos pofios que ha
via ocupado,& calumnias que felhe opuzeraõ,acer
ca delles,dera grandes provas de fua afeiçaõ, fupe
rando as criminaçoens contrarias. Tanto mais ou
fadas,ou maliciofas, foraõ eftas fegúdas! Salvo fe a
contece ao favor dos poderofos, o que ás efpadas,
porá a que melhor provou em húa batalha,fica mais
difpoña para faltar na que fe lhe fegue,por razaõ de
efa me{ma experiencia.
Donde primeiro fe começáraõ a ver os efeitos
do poder contrario,foi em fe tornar a praticar, com
infancia,a jornada do Brazil;a qual atè então def
pois de diverfos acontecimentos, efiava irrefoluta,
como dependente de outros fuce{fos da Monarquia.
Efta pratica,como refucitada fòra de tempo, foi lo
go conhecida do Linhares; o que fe confirmava á
vita das forças que hia tomando, & no aplaufo que
achou em todos os Minitros da parcialidade opof
ta.Com tudo,o Conde canfado já da contenda,afi
gido de achaques,& por outra parte proximo a con
feguir feus aumentos,aquella eficacia que antes pu
nha no bom efeito do negocio,& caufa publicº,fºi
1o8 ALTERAçoENS DE Evor.A
convertendoa a feus particulares.Parecendolhe:Que
de hãafortuna já mordida da enveja,não faria pouco,fe lhe
fºi/edas mãos com honra, 6 utilidade. As quaes em as
fortes dos mais,pacificamente ditofos(feha alguns)
fejuntaõ poucas vezes. Do proprio parecer eraõ fe
as contrarios, porque de todos os modos julgavaõ
conveniente fua aufencia; & lhes era mais facila
partallo da Corte,grande,que temello nella, quei
xofo.Deta maneira,eu fofle que para o comprimé
todas mercès,efperafem novas cavilaçoés,ou que a
troco de feu defvio(como difemos)qualquer pre
mio lhes pareceffe moderado,vimos então praticada
húa nova politica da emulaçaõ,ou da fortuna: por
que na mayor profperidade,não pudera, nem efpe
rára,o Linhares fertaõ ditofo,como quando come
çou a cahir na defgraça. Foraó grandes, & exquifi
tas, as mercés que lhe concedèraõ; as quaes fe de an
temão(como alguns querem)eraõ já fimuladamente
feitas,com afaz ofenfa do Principe, compràraó os
Vafallos fua vingança. Todavia julgava(& naõ
mal)Diogo Soares:Que o Conde: acomodado defuas con
veniencias, trataria logº de partirfe, por não perder a boa
monção defeus intere/es, que expunha a qualquer mudança,
detendofe na Corte. Porque havendo feito particular obfer
Vação dos intentos do contrario,via tratando antes, nada de
fi,&
prezatudo
nada.da: empreza, agora tudo tocava defi, & da em
•
1 16 ALTERAçoENS DE EvoRA
em que feme deu a exercitar, parte de minha comif
faó;paflando a Villa-viçofa,& propõdo as côveniê
cias de aquelle Congrefo, tam importante ao bem
dos Povos, que nelle fe havia de ajutar fuperior
mente(nôs affi o entendiamos)o modo da univer
fal concordia. Foi qual fe efperava, o efeito da jor
nada,& qual devia fer: porque refplandecendo al
li húa fingular benignidade, naõ era menor a parte
do decoro, & da politica, com que as vitas fe exe
cutâraó; em tal modo, que a autoridade ficou real
çada,honrado o hofpede,& o acordo feito. Enten
di,ã entaõ fe difcorréra: ZDa callidade, & jufificação da
queixa comum dos Povos,& de quanto delles,& nelles/epo
dia temer,é confiar. Qualera bem,que fo/e o remedio. O
mais, generalidades, & noticias de alguns pontos,
tocantes à boa adminiftraçaõ da Republica Portu
gueza; que em quanto não teve os Principes de Bra
gança,por páys, os teve por tutores: donde Deos,
parece,que moftrava, quanto em feu cuidado fecõ
fervou a pofe do nofo Imperio.Pedio o Linhares a
autoridade de Bragança,para poder obrar, & alcan
çou Que a tudo o q convie/e/ua interveção, não faltaria;nê
os Povos,nê os Va/Sallos de aquelle Efiado,farião menos, ou
menores demo/traçoens de arrependimentº, das que fiRefem
os Va/fallos,ês Povos de elRey. •
| os
13o A LTERAçoENS DE Evo RA
os intereffes de meu aumento, fui defpedido de fua
preféça,& da intervéçaõ,q tive em todo ete nego.
cio,fendo o q manifeto;em o qual,fuppoto que atè
feu fim não tornei a fer ocupado,nem por efe defvio
me efcuzei a fua obfervaçaõ: tanto pelo julgar im
portantifimo á Naçaõ Portugueza, quanto porá ti |
nha eu nelle,mais que a parte comú, os pafos, peri
gos,& difpendios,que já me havia cultado. |
|
Recebido em Madrid efte ultimo defengano, fe
depuzeraõ de todo aquelas negoceaçoés, q não fof
fé encaminhadas a rigurofo caftigo. A efte fim,fedef.
pacharaó ordens,para q os exercitos femoveffé, de
tal maneira,que de todo fe motrafe aos Inquietos, |
quaõ vizinha, & inexcufavel tinhaõ jà fua ruina. E º
porquete tempo, os Populares achãdofe interior
méte Reos,da inteireza, cõ que fe haviaõ efcufado {
I
E PANAPHoRA Poltr1cA I. 133
fºcauterkando aquelle erpe interior,que lavra) apellocorpo
da nação Portuguesa,primeiro que chega/e ao coraçõ,e fé
fiReje mortal,decepandoo da união da Monarquia.Que o re
medio;continha duaspartes:a prefente de cafgº,que/eba.
via de executar logo, & afutura de prevençaõ que tambem
defde logo,fe avia de ir introduzindo. Mas que medidas am
bas,não eraõ de tãia importancia a primeira,como afegãqa.
Haviafe ordenado pelo Confelho de Portugal,
á Princefa Margarida, enviafle a Evora, hum Corte
gedor da Corte(cargo preminente aos mais do Rey
no,em todas as materias crimes)& afi foi feito:paf
fando a Evora,Diogo Fernandes Salema, com toda
aquella companhia de miniftros inferiores, & gente
} que o acompanhava, quanta era conveniente para
fua fegurança,& autoridade.
Porèm,os Populares de Evora,inconfiderada
mente, naõ tinhaõ até entaõ entendido, como ou de
que,deviaõ temerfe:defcuidandofe de fua conferva
çaõ,remedio,ou defenfa,em quanto naõ viaõ,que o
exercito Caftelhano batia feus muros.Entaõ achan
dofe fubitamente vificados da Juftiça, que animada
do mefmo exercito,não motrava algum receyo em
obrar o neceffario; começaraó todos a defordenar
fe,cófufos,& temerofos, femfaber que meyo fegui
riaõ: porque o medo,cõ o perigo já era igual em os
que punhaõ as mãos,ou entendimento na prefiften
cia da revolução publica. A Juftiça foi profeguindo
em fuas averiguaçoens,até profcrever, como Reos
de fediçaõ,& cabeças de amotinados, a Sefinando
- - - - - I3 Ro
I 34 A LTERAçoENS DE EvoRA
Rodrigues,& Joaõ Barradaspelo qual crime,foraó
condenados à morte,& em etatua jutiçados, com
horrédos pregoês,& bandos,prometedores de grã
de honra,& intereffe,a qualquer pefoa, que vivos,
ou mortos,os entregaffe nas mãos da Juftiça. Algús
outros dos que na alteraçaõ tiveraõ menor parte, &
porifo menos advertidos fe confiaraó,foraõ tábem
prefos,& condenados, huns à forca, outros a galês, {
& deterros perpetuos; mas todos homés vis, & fem {
cluida
/ •
DA ARMADA PORTVGVEZA
EM FRANC, A. Anno 1627.
E P A N.A.P HORA TRA G I CA
Segunda,de Dom Franci/co Manoel,Efrita a hum
Amigo.
#EVEM os homens amantes da razão(Ami.
#) go N.)guardar em fuas acçoens húa tal or
dem,que a propria armonia dellas, moftre fe
rem guiadas pela luz racional:não sô efcolhendo as
obras dignas,mas as competentes.
Toda efia propofição, parece que ignoro,ou que
branto,convidandovos agora,& de tão longe, a let |
húa Relaçaõ, que nem pela materia, nem pelo efta e
do,nem pelo tempo,fe julga em algúa parte,confor.
me à precifa obfervação,que vos tenho propoto.
Porque quanto à materia:eu fenhor, vos convido |
a ouvirdes a hiftoria de hum fucefo lamentavel, cu-|
ja lembrança, tão longe eftà de fer grata aos ouvi
dos dos homens, que antes lhes poderia fer molefta,
fegundo as tragedias que refere. -
- - - - - - - - - - --- ** - Eis
–- ••• •
NAv FRAGIo DA ARMADA 163
Lisboa para o aprºfio, & de/pacho das Armadas, a 4 obri
gava a taõ continua affiencia;mas aprofunda política de a.
quellamaçaõ,que /empre a infligou a viver com no/co preve
mida: porque naõ ha mayor eftimulo em a guarda da
coufa,que fe poflue, que o efcrupulo interior com
que felogra como alhea. Efia propria defconfiança
havia feito,que contra a liberdade do Reyno,fe def
fe o governo de fuas galés a Cafielhanos; como foy
primeiro,ao Côde de Elda,& defpois ao Marques de
Barcarrota:bem que como ainda não eftava defém
buçada a violencia,que andãoo mais os annos, acre
centou o filécio comum, & interefle particular; ho
nefáraó efia força, pondo os dous Generaes referi
dos:que o primeiro era filho de Portugueza,& ofe
gundo com tanto fangue, afinidade, & vifinhança de
Portugal,que juflamente fe efperava fofem ambos
(como o foraó)gratos a toda a Nobreza. Ufaraó affi
com nofco,os primeiros Minitros Cafielhanos co
mo o defiro cavaleiro, que unta de melo duro fre
yo,com que efpera domar"o potro, de que preten
de fervirfe em guerra, & paz. Alguns tempos def
pois,quando jà efia Armada de galês, por unirfe có
as de Efpanha, e havia extinguido,tornou a refuci
tar; mas sòmente em fua vazia dignidade,com o pre
minente titulo de General, das galés de Portugal,
que foi dado a Dom Jorge de Catro,Filho de Dom
Martim Afonfo de Catro,Viforrei que fora da In
dia;por cuja morte,fucedida em Genova, na ultima
guerra de aquella Republica, & Carlos Emanuel
… L2 Du
.
164 E PANAPHoRA TRAGICA"
Duque, de Saboya, pelos annos de 1625;pafou a
D. Affonfo de Lencatre, filho do Duque de Avei
ro,D. Alvaro:que tábem,fem já mais meter feu car
go em exercicio,faleceo,naó ha muito, em Cafiel
la,cujas partes feguio nas prefentes alteraçoés: de
maneira, q foube achar aquella Coroa, por conve
niencias de feu ferviço,dous Caftelhanos,que pare
ciaõ Portuguezes, & dous Portuguezes, que pare
ciaô Caftelhanos:donde fe ocafionou a extinçaõ da
Armada de galèstaõ antiga,nobre,& util,para a de
fenfa de nofos portos,& meneyo das frotas,que en
traõ,& faem nelles: a qual a juízo de muitos prati
cos: Se tem por igualmente nece/aria a Armada de alto
bordo, que todavia fe conferva: fuppoto que pelo
defprezo, que havemos vito fazer deta adverten
cia,nem os Principes,nem os Miniftros devem cô
fiderar efte modo de defenfa taõ importante,como
efes praticos o ponderaõ. *
M Fo
178 EPANAvaoRA TRAcrca II.
"Foraó os Portuguezes os ultimos, q abraçáraõ as
regras deta milicia,q ainda hoje, cõ graviffimo da
no da guerra do Oriéte,{enaô póde introduzir. Era
a razaõ,porque nas guerras particulares de noff gê
te,que fe reduziaõ a conquitas da India, & praças
de Africa,naõ parecia de grande conveniencia, mu
dar a forma primeira, com a qual ellas fe ganharaõ,
& foraó confervadas.O mefmo fe podera entender
na India,em quanto naõ foy invadida das Nafçoés
Setétrionaes,que com fua entrada, praticaraõ logo
todos as ordens, & riguroza difciplina de Europa;
a cuja defenfa, quafi inutilmente, fe opoem nofo
valor,regulado pelos antigos preceitos, & effes mal
obfervados;os quaes com facilidade(como vemos)
contrafia a milicia moderna,defprezando a vaidade,
com que naquella parte, prefite na defordé da guer
ra antiga,nofa Nafçaõ.
Porém,defpois de unidos os Portuguezes, & os
Catelhanos,naõ herazaó, negarlhes a gloria, de os
havermos tido por Metres, da nova fciécia militar;
em que nos pagaraó outros bons ufos, que de nòs a
prenderaõ: felevantaraó em Portugal alguns Ter
ços regulares, de Infantaria Portugueza, fupofto
que volantes, & naõ de firme pè de exercito: dos
quaes,naquelles primeiros annos, foraó Mefires de
Campo, Gafpar de Soufa(defPois Governador do
Brazil,& do Confelho de Etado do Reyno)& Dom
Jorge Mafcarenhas, que em ambos os lugares igua
lou?..o primeiros & em outros guitos Potos,& #
{tl}OS
NAvFRAG1o DA ARMADA. I
----
2es
192 EPANAPEoRA TRAgica!
zes(primeiro por fua propria vigilancia, que pelas
rondas,& oficiaes do navio)mandoufe puzefle em
ordem de guerra; o que fe fez com tal preteza, que
affi por efia ordé,como pelas forças de aquella grã
de Capitana(que foy a melhor náo, q em feus tem
pos navegou no Mundo)ella sò,parcce que prome
tia a vitoria de mayores emprezas: taõ foberba, &
fofrega fe motrava da batalha. Antonio Monis,
quanto ainhabilidade defua Almiranta, lhe deu lu
gar, reduzio os mais navios a forma de peleja. Po
rèm declarandofe o dia,jà de todo, forão, reciproca
mente conhecidos ambos os Eftendartes de Por
tugal,& Caftella. .
Efia
•
NAvFRAG1 o DA ARMADA 2O I
……… O2
2 12 EPANAPheRA TRAGIcA. II. -
43
2 18 EPANAPHoRA TRAc ICA.
hña vez por mãos de outros Mi nistros,(e menea/e o negºcio
do Oriente,era elle taõ/uave, que a troco de qualquer pre
texto,lhes ficaria em nºfo dano e/e Comercio. O /gundo,
que como em º cofre da pedraria não tem os Reys mais que
/eus direitos(porque o cabedal Real vem em pimenta
sómente)era/obre injufio inpraticavel, que au/entes os do.
nos de tanta riqueza,ela fe distribui/e pelo arbitrio degê
te incerta,ºu imperita na pratica do valor de aquellas cou/as,
O terceiro, quefe os direitos pertencentes à Coroa de Portu
gºlfendo hia boa parte das rendas do Reyno,º todo o prin:
cipal,de que fe torna a aprestar a Armada da India; não a
acudifem com tempo a Lisboa,/eficava impo/gibilitando a
futura frota, que em Marçºfeguinte havia de fazer viagê.
O quarto, que a experiencia tinha enfinado, que jamais a
quelles negºcios/e difyiaraõ da primeira ordem em que mo/
fos Reys os haviaõ pofio,que naõ fo/e para/uaruina. Quinto,
que querêdo ElRey fervir/e das joyas, em que/efallava,def
de Lisboa/e remeterião os diamantes e/colhidos, ou li.
vrados,pelos mais excellentes ártifices, que ali concorrem;
por
cariadonde ElRey/em
melhor fervido. queixa particular, ou dano publico,fi-
•
{
ras que fe opuzeã). He porque a cobiça tendo prefen
te,o que defeja,nunca fe acobarda,em procurar feu
logro,âcuta dos mayores inconvenientes. Afirmo
que havia razão,para que temefem aquelles Mini
tros; fupoto q a naõ houveffe para taõ fobeja cau
tela. Quantas diligencias fe fizeraõ por homés,& té
pos pela confervaçaõ de aquelle tefouro, podemos
dizer:Que foraõ enxadadas, que lhe abriraõ em meyo das
agoas,miferavel/epultura.
O General,avifado da jornada, que felhe man
dava fazer,em beneficio do cõgref>,partio por mar
a aquella Cidade, levando configo algúas pefoas
particulares,além dos oficiais deputados para a con
ferencia, . * *
•
por4
NAvFRAG1 o DA ARMADA. 225
fºra em º Summº Pontifice, cabeça da Igreja. Pelo quena?
feria raçaõ, abater/e hãainfignia quafi/agrada, & ecdefi
ºfica, ante as infgnias, pº/loque/oberanas, meramentefe
culares. •
•
234 EPANAPHoRA TRAGICA.
defviar por naõ incorrer fabidamente, no inefcuf
vel naufragio,a que já via entregues os cópanheiros;
dos quaes,aquella noute, feapartàtão, atè o ultimo
dia.De tal forte encarregou Deos ao homem, a vida
ue lhe deu,que como coufa fua, o obrigou, a guar.
dalla,contra todo o interefe da alheya confervaçaõ,
dandonos cuidado sò da propria,fem ofenfa da hu
manidade.
Etemefmo dia, ao pór do Sol, houve a Capita
na vita de húa náo grande, que fe entendeo, fera
Capitana da India, a qual já com determinada for.
ça,ou impaciencia,navegava,a bufcar a terra, em que
fe perdefe. Foy fama, que entendendo a tinha mais {
defpojo.
Defta maneira achou a vida, Vicente de Brito de
Menezes,Capitaõ mór das náos da India, em idade
de fetenta annos, muitos delles gaftados em ferviço
delRey,no mefmo Eftado,&em varias partes;& naõ
poucos,em os perigos,que tras configo a idade juve
nil;principalmente em aquelles,que fem temperan
ça fe entregaõ à fua liberdade;dos quaes,Vicente de
Brito
NAvFRAGIo DA ARMADA 235
Brito diferaó, haver fido hum de efles, vivendo in
temperadamente,boa parte de feus annos, mas fem
pre com valor empregados, que lhe póde fervir de
honrofa defculpa, aos impetus da mocidade. Nefia
propria não acabou a vida, naõ fendo larga, Dom
Francifco Manoel,filho de Dom Rodrigo Manoel,
que viveo em Evora:o qual Dom Francifco, achan
dofe na India Capitaõ de Dio,cafado,& com filhos,
fem haver acabado o trienio de feu governo, o dei
xou generofamente, por fe ir embarcar aventureiro
com o General Nuno Alvarez Botelho(famofo de
nofos ultimos Herôes de aquelle Eftado)em cuja
companhia fe achou, na batalha do Poço de Gurra
te,que nas cotas de Perfia,deu,& ganhou Nuno Al
varez,aos inimigot de Europa: da qual batalha, fain
do Dom Francifco mortalmente ferido, fe embar
cou para o Reyno, com pouca convalecencia; don
de,por falta de cura, fiftulandofe a chaga, nem por
taógrande ocafiaô; nem o fer paflageiro, além das
perfuaçoés dos medicos,& amigos,fe quis voltar por
terra,a Lisboa,conforme as ordés, que recebéra elle,
& Jorge de Albuquerqne, filho de Fernaõ de Al
buquerque,Governador que fora da India, que na
não tambem vinha;& obedeceo logo. Mas D. Fran
cifco,chamado da voz da opiniaõ, às potas da mor
te,contra todas as mais, que lhe advertiaõ feu peri
go,correo para elle,deixando aos fuceflores mais no
bre,que felice exemplo,nada premiado,nem de to
do conhecido;razaõ que me fez dilatarefas regras
Cill
•
homens. •
DESCO2
27o
DESCO B R IMENTO
DA I L HA
DA MAD E IRA. Anno 141o.
E PA NA P HORA A MORO SA. |
COilº
DEsco BRIMENTo DA ILHA DA MAD. 325
contentamento,fe defcobrio diftintamente; vendo
fe húa ponta de terra, não muyto alta, a quem João
Gonçalves,logo chamou: Ponta de S. Lourenço; por
que como he ufo, hia invocando o favor defte glo
riofo Martyr, para que lhe confervafe profpero o
vento que levava. -
– #
DzscoBRIMENTo DA ILHA DA MAD. 335
em audiencia publica, para que os Embaxadores,
& Efrangeiros, que frequentavaõ a Corte Portu
gueza, pudefem fazer mayor conceito defla acçaõ,
comunicandoa a feus Principes, & naçoens: arte que
entre os grandes Monarcas, fempre foi obfervada:
difimular igualmente, as ruins novas de feus fucef.
fos, & inculcar as boas. Da qual arte não devia de
ter noticia, certo miniftro, de papeis de nofo tem
Po, que com importuna cifra, remetia a relaçaõ das
profperidades do Eftado, ao Embaxador, q afiftia
na Corte do Rey,de quem efiava mais depédente.
Chegado o dia da audiencia,&prefentes todas as
pefoas Reais, & os primeiros fenhores do Reyno,
q então concorriaõ na Corte de Lisboa. Os Emba
xadores,Miniftros,& Criados;com toda a põpa decê
te, entrou na falla, Joaõ Gonçalves, acompanhado
das pefoas de mayor conta de fua Armada;&pcfio
de joelhos diante delRey(fegundo nofo antigo ufo)
lhe beijou a mão, com os mais q o feguião; & feito
ao Infante Dom Henrique, o acatamento cóveniête,
fédo por elRey nãdado alçar, falou defia maneira.
Contarvos, Senhor poderoffmo, os trabalhºs q "fºfa
mos nefta perigrinaçaõ proluxa, ainda que breve, por mares
nunca vifos,é terras nunca difcubertas,fora em algum mo
do prezar os ferviços, que nella vos fizemos; mas eles,p Ho
que grandes,jánaã tem valia, junto da mercè, que nos fais
fazendo, folgando de nos ver, & ouvir em veja realprefn
gathonrainos menos poderemos dizer mais. Agoratado pare
cerà infrior anº/a cbrigação,ainda que/ asa,ºu/**fine
por
338 EFANAPHoRA A MorosA III.
Pouco defpois foi ordenado, que no veraõ fe
guinte (porque o prefente etava já no fim:)Tornaje
Joao Gonçalves à Ilha da Madeira, com título de Capitaõ,
ts povoador dela. Ao qual hoje acrecentaõ, o de Con
des, aquelles que potuem feu môrgado. Houve a
jornada efeito, em Mayo de 1421. Concedendolhe
elRey: Pude/e levar dº Reyne, alem da pe/oas que lhe
pareceffe, que com elefo/em voluntaris, todos os crimino
fos, ºs os condenados que houve/e. Porêm, Joaõ Gon.
çalves, com nobre advertencia, naõ admitio a fua
companhia, neta (egunda viagem, algum homem, |
que de culpa ou acufaçaõ fea, etivefle notado.Def
ta forte apercebido, com fua mulher, Confiança
Rodrigues de Sà, aquem outros dizem, de Almei
da, & Joaõ Gonçalves, feu filho herdeiro. Elena,&
Beatris fuas filhas, que defpois cafaraó nobremente
faio de Lisboa, & chegou em breves dias á Ilha, já | |-
3#
&###
CON.
co NFLITo "
DO CA NA L DE INGLATER R A
Entre as armas Efpanholas, & Olandezas.
Anno 1639.
EPANAPHORA BELICA QUARTA DE D.
Franci/co Manuel.E/crita a hum amigo.
# AVENDO eu comunicado cõ homés dou
# tos, o intento que tinha, de efcrever algüas
Relaçoens hiftoricas, dos fuceffos grandes,
de nofa nação Portugueza, & dandolhes parte dos
afuntos dellas; quando cheguei a efia, que agora
vos ofereço, houve quem a julgafe quafincompe
tente, ou defviada do fogeito propofio: não fendo
elle outro,q referir para engrãdecer os feitos de me
us naturaes. Iuftifiqueime cntão com boas razoés,
entre as quaes eta muyto valia: Que grande parte das
armas, ocupadas naquelle congre/o, forão regidas porno/os
Lufitanos. Forças,navios,ês difendios de Portugal, nos fa
vião proprio feu emprego. Quanto mais, que eu não entendia
wfupar a gloria de algãa alhea nação, repartindo por outras,
a lembrança de tañgrande perda. A mefma loftima,eu cem
fura,que lhe re/ulta dife/ucefo,deixo expºfia a cauf dele:
pillo que, nem os amigos, nem os emulas, ficaõ em algia con
Veniencia defraudados; para que feus historiadores, me de
mandem de/pois a utilidade da honra,cu fama,que lhes tiro,
tomando para nós, a parte que nos couber do e/carmento, ou
da confiancia.
Z4 Mas
446 E PANAPHoRA BELICA IV.
Mas fe em aquelle tempo, tivera eu ja a grãde ra
zão, que hoje tenho, para dar aos críticos, fó defa
ufara. Diferalhes: Que achandovos no manejo dos negocios
de 14gliterra;em cuja Corte,vos faReis taõ benemerito, como
aplaudido por Prudencia, Fidelidade, & Luzimento,ba/-
tante/borno, me feria para obrigarme a referirvos negºcios
tam arduos, que me/ propria Corte/epa/arão; donde por
ventura, may is vezes havereis encontrado/uas noticias, &
nam duvido, que feus exemplos.
Refta que a memoria me focorra, com todo o ca
bedal neceffario, para duas grandes obras. A pri
meira ferá húa incorrupta informação da verdade.
A fegunda, húa fuficiente força, para refutar os in
certos efcritos, que fobre efte cafo publicàraõ Ef>
panhoes, & Etrangeiros. •
"-.- - • Com
\* *
. CoNFLIT o Do CANAL. 47 r
Com tudo,menos que algús Grãdes,houve muy.
tos naquella ocafiaô, q louvavelmente fe defapega
raõ das delicias de Madrid, & vieraõ animofos, em
bufcadas moletias da guerra;porq nunca vimos té
po taõ miferavel, em que a virtude naõ fofefegui
da de alguns,permitindoo affi Deos,por fenão per
der no mundo feu exercício. Outras pefoas de me
noreftado, mas todas poucas em numero, & menos
em difciplina, acodiraó à praça de Armas. Muytos
diferaó:Que fua chegada, embaraçára, mais com a práti
ca dificil de preminencias, que lºgº/e excitou entre todºs,do
que foravtil 4 defen/a, Por outra parte, eftes Grandes,
faltos então de cabedal, pela univerfal penuria de
Efpanha a efte tempo, naõ obráraó efas gentilezas
antigas,que delleslemos,& fe efperavão;como fem
pre deve ferufo dos fenhores na guerra, quando fe
difpoema darem feu lado aos foldados; cuja irman
dade não fôlhes deve ferhonrada,mas util. "
Nefta maneirafe achava a Corunha, quando em
defafeis de Junho, felhe motràraô formidaveis, de
fenrolados os eftendartes de França, fazendo toda
fua Frota,força da vela,por dobrar o Cabo de Priou
lo, feis legoas diftante da Cidade, pelo rumo do
Nornoroete.
Repartiraófelogo os pòtos,com tanta confufaõ,
como fempre acontece, aos que guardão para a pre
fença defeus inimigos, as prevençones contra elles.
Não poderaõ, com tudo, queixarfe os Portuguezes
de que a confufaõ lhes fofe contraria, faltando
|- Aa
••••• •
-
\*
lhes
472 EPANAPHoRA BELICA IV.
lhes por ella, os lugares de reputação: & menos (e
poderàó queixar os Galegos,de que os Portugueles
lhes faltafem a elles na defenfa dos pòftos, que lhes
cófiarão. As trincheiras de toda a marinha,foraó en
carrégadas ao meuTerço,&do me{mo modo a guar
nição do principal forte do mar, que he o de S. An
tão, onde confifte a mais importante defenfa de a
quelle porto. A D.Geronimo de Aragam, fe enco
mendaraó alguns pafos, donde podia defembarcar
o inimigo. O Bahamôde guarneceo a muralha da
capaz de refitécia,fegundo o modo antigo.O Sarfia
havia paflado de pouco tempo, ao governo de Bay
ona: praça forte, vifinha ás fronteiras de Portugal,
& para elle, não de dificultofa vitoria, mas de facil
confervação, & importante capacidade, pela dif:
po{ição de feu porto,& terreno.Palomino,& outras
tropas,fe repartíraõ convenientemente pellas etan
cias que rodeavão a praça: a qual jas fitiada em húa
Peninfula breve, que o mar quafitem cortado, def
de a praya que dizem Organ, & demóra ao Loefte
da Cidade, á marinha interior que olha á levante,
donde corre o burgo externo,que chamão: Pe/cada
ria, entre os quaes lugares, pouca terra intrepota
impede o braço de húas,& outras ondas,quafi sépre
furiofas, em cuja area confifte fua mayor defenfa.
A cavallaria do partido de Bargantinhos, pouca,
& mal armada. Como lhe era pofivel fazia a Patru
lha da campanha;có tal nome,q funda em algúa ori
gem de lingoa efirangeira quizeraó os militares, no
t45.
CoNFLIT o Do CANvl. 473
tar a diferença da ronda da cavallaria, à dos Infátes,
Paflavão de fetentavellas as de que fe compunha
a Armada inimiga,entre ellas algüas de extraordia
naria grandeza, como o Galeão Almirante da Frota
chamado: Reyna,& fabricado, cm obfequio da Ra
inha Máy Dona Anna de Auftria; porém quafilin
capaz, por fua disformidade, do ufo pratico da na
vegação.Os navios fe motravão tam foberbos, co
mo fejà principiàrão a vitoria,& não a batalha.
Convem à grandeza dos Reys, o adorno,& pom
pa de fuas armas,que muitos tiveraõ, pro obferva
ão conveniente a boa difciplina. He a razão,porq
o lutro das coufas,produz húa certa alegria,em que
fe funda a confiança dos amigos,& defcôfiança dos
inimigos.Os q a gozão,fe côfirmão,os q a invejaõ,
a temê, dõde vemos q muitas vezes o contrario, pe
la fantatica oufadia concebe, temor, que faz o fu
cefo menos contingente, fendo menos difputado.
Todo aquelle efcandalo, que recebeo Efpanha,
vendo que hum Varaõ fagrado, qual era, o Arcebif
po de Burdeos, fe intermetia, em dirigir exercitos
contra Catolicos,fe declarou logo, em fatisfação, &
grande credito da divina Providencia; porque fe de
aquella emprefa foffe encarregado outro algum Ca
pitão experto, os negocios da guerra tomâraô dife
rente caminho: por fer coufa, fem duvida, que lan
çando em terra o General Francés(na propria ho
ra que furgio no porto) á gente velha, à fombra do
horror, & fumo de fuas baterias, fe apofára com
2aA pouca
474 E PANAPHoRA BELtcA IV.
pouca refiftencia da cidade; porque fendo oslo
dados,que a defendiaõ,bifonhos, & achandofeno
fos Terçostam faltos de muniçoés, que por ordem
exprefa,& bem advertida(defpois falfaméte intre
pretada)fe guardáraõ para o ultimo conflito, era |
quafiinexcutavel o dano.
O Deos! E que coufastam varias, & fem fun- |
damento ouvimos dizer, & clamar, a aquelle rudo,
& medrofo povo,quando vendo feu inimigo presê
te,poderofo,& aftuto, não virão logo,como defeja
vão, que intantemente foffe rebatido. Não havia |
treição que não crefem, & que não imputafem,pre f
filhandoa aos Cabos, fegúdo o o dio q delles tinhão |
concebido. Efta fofpeita brevemente pafada do co
ração á lingoa, fe divulgou logo em queixas, & ala
ridos disformes. Jà não havia injuria, cõ que os ca
pitães,& fua gente não fofem vituperados. Certo
aquella gloria, que fe adquire pela fortuna das ar
mas,ella he a mais propria dos homens: porque he a
que mais cara lhes cuta,entre todas as que fe alcan
ção; não tanto, pelo immenfo trabalho que fopor
taô de cótinuo, nem pelo urgente rifco da vida, a 4
fe expoem, quanto pela facil perda da honra, que
os età fempre ameaçando;havendo de fer julgadas
fuas acçoens por pefoas,que de todo as ignórão:
infelicidade, que nenhüa outra profifaõ igualmen
te padece. Conheço fer fublime a fama dos capi.
taés iluftres, mas tam cercada de defcontos de
grande pezo, que ainda não fey determinadamente
fe
CoNFL tro Do CANvb. 475
pezo, que ainda não fey determinadamente,fe for
tuna porpremio,ou por caftigo, os levanta a grãdes
emprezas. -
{
interiormente certificado,de que o General Oqué
do era taó violento, que feu proprio excefolhear {
CoNFLITo Do CANAL. 49 I
particulares. Com tudo,os Mefires de Campo mo
dernos, aconfelhados ainda com os mefmos antigos,
fe defendèraõ de aquella compofiçaõ; por fer affen
tado, que húa das mayores prerrogativas de feu po{-
to, era não poder receber ordem de pefoa, que não
feja hum dos Generais do exercito. Dom Martim
Afonfo de Sarria, & tu fomos os que mais pugna
mos contra o exemplo; que defpois nos agradecê
rão, & aplaudirão alguns dos proprios, que fe nos
opunhão. Os nofos Portuguefes, entre as armas
defte Reyno, tomâraõ louvavel méte novo parecer,
por acabaré entre fyhüa contéda, q foy perjudicial
a todas as Provincias, q a padeçeraõ: cujo louvor, &
noticia he a razaó de o haver aqui expofto.
O Marques fe havia empenhado com elRey defe
ordenadamente, como fará qualquer que prometer
pellas vontades alheas: Prometera de prefazer para
} a jornada, o numerº de oito mil infantes, com que pude/em
fer/ocorridos os Eftados;acudindo cã algüas levas do Kono
para /uprir a copia dos que falta/em, dos fenhores de Cafiel
la, & Portugal. E porque em ordé aos ruins alojamé
tos, & baftimentos peores,os foldados adoeciaô ca
da hora, & faltavão muitos, fe havia minorado tan
to o numero dos outo mil, que neceflitava o Mar
ques de mais que a quarta parte de efe nume
ro, para fatisfazer fua promefa; pafou da in
duftria á força, & repartindo pelos lugares
circunvizinhos miniftros de juftiça, & guerra,
prendéraó em poucas horas,
- • Bb 3& a húa só hora
COITA
422 E PANAPHoRA BELtcA IV.
com notavel horror, & efcandalo,grande cantidade
de innocentes. Não febufcava, como devia, o ocio
fo, criminal ou defobrigado; mas em lugar deftes,
foraõ trazidos aquelles, que mais confiadamête po
dião viver feguros em fua Republica, & eraó dig
nos de ferpellos outros defendidos, & fuftentados;
por ganharem no cápo, & cidade, para fi, & para os
outros ácuta de feu trabalho, o comum fuftento.
Com tal exceffo,& defordem fe fez a execução,que
fe póde afirmar: foi ete hum dia de mayores lati
mas, & lagrimas, que fe vio em Efpanha ha muytos
annos, quati prometedores de aquellas, a que efas
ferviraõ de miferavel preludio. As cadeas, & gri
lhoés,que arraftavão os prefos, fazião temerefifimo
etrondo; porém os alaridos, & prantos das máys,
mulheres, & filhos, que os cercavão, excedia o uni
verfal queixume, dos á fe viaõ cativos de feus pro
prios naturaes, & por feus mefmos irmãos tiraniza
dos. Nem para os ultimos abraços da perpetua def
pedida, fe lhes concedera aquella licença, que a
morte não nega em feu mayor curfo. Juntamente
parecia, que o ceo, & a terra,fe haviaõ enfurdecido;
mas muyto mais os homens, de quem dependia o
immediato remedio. Todos os Cabos da Armada,
feretiráraõ a fuas cafas, por não darem com a pre
fença, algúa fombra de aprovaçaõ, a tão latimofo
cípectaculo: porque juntos aos dous mil prifionei.
ros, eraó mais de feis mil pefoas de fraco fexo, as q
fomíniftravão eta tragica reprefenteção. *
O Mar
1. CeNFL1 ro no CANAL. 493
O Marques,pofto que homem de afpero natural,
moftrando defprazer das execuçoens,que via,fe ef
cufava de fua violencia, com a que lhe davão as or
dens delRey, Procurou então livrarfe da pena pre
fente,& deu logo em outra mayor, por ferruim cô
dição dos exceflos, que para desfazer huns, he ne
cefario fabricar outros de novo. Mandou: Que/em
pa/ar a noute na cidade, f/im aquela tarde embar
cados os prefôs todos; donde fe renovou o dilu
vio das magoas,à vita das incomodidades. Ningué
eftranhe a demafia com que refiro efia acção; por
que fendome encarregado o ultimo golpe della,có
a embarcação que ordenei a efia mifera gente, te
nho ainda nos ouvidos o eco de fuas queixas, & no
coração a fombra de fua trifteza.Não pude efcufar
me de fer hum dos inftrumentos defla tyranha, ofe
recendo minha indifpofição por difculpa. Era tal o
trabalho, que aos faôs podia cuflar a vida, quanto
mais,aos convalecétes a faude;fcm embargo fisem
barcar em dous dias, nove,para des mil homens; do
qual trabalho,fe me originâraõ outras largas doen
ças,que padeci por mais de tres annos fucefivos.
O Cardeal Efpinola (filho do grande Marques
Ambrofio de Efpinola) que então ocupava a Ca
deira de Sant-Iago em Compoftella,informado das
miferias, com que os Galegos, & mais foldados do
focorro, fe embarcavão, fes acodir feus efmoleres
com dinheiro, mantimentos, regalos, & roupas,que
repartião liberal,& Bb4
• • • •
prudentemente, com necefis
•
os mais
494 EFANAPHoRA BELICA IV.
neceffitados. Aos enfermos haviajà o Cabido en
viado por feus Conegos, algúns efmolas de grande
magnificencia,dando a todos lauvado, & louuavel
exemplo; porq do pingue,& opuléto Paó de Chrifº
to,que no tefouro da Igreja fe encerra,faõ os pobres
os primeiros acrèdores. Mas parece que he tempo de
dar razão da falda da Armada, & lifta della, para que
fe façaõ mais proprios,&agradaveis,os termos defa
Relação.
O dia vinte&fete de Agofto, feitos os ordinarios
finais, largou a véla a Capitana Real de Efpanha,
Sant-Iago, com feu Almirante General, Dom An
tonio de Oquendo, & o Governador Miguel de
Orna,a qué tirou da Capitana de Dunquerque,cuja
efquadra lhe obedecia; a fim de q elle lhe governaf
fe a Real de Efpanha.Logo foi feguido da mefma de
Dunquerque, S. Salvador, a quem mandava Dom
Geronyno de Aragão. Junto a eta fua Almiranta,
N. Senhora de Monte Agudo, donde fe embarcou
o Metre de Campo,D.Martim Afonfo de Sarria,&
por Capitão della, Mathias Rombau de nação Fra- ,
mengo. Seguiafe o Galeão S. Francisco da propria
Armada Dunquerqueza, a cargo de Salvador Ro
drigues Portuguez, & natural de Almada; o qual de
grumete, & marinheiro em nofas nãos da India(dó
de foy prezo dos Ingrezes na batalha do Poço de
Currate )fubio antes de 4o annos de idade,porfeu
valor, & induftia, nas coufas da navegação,ao pol
to de Almirante de Dunquerque; nete navio,pelo
nome>
CoNFLIT o Do CANAL 495
nome, & pelo Capitão, fis eu viagem, governádoo
fegundo a fuperioridade do oficio,ã exercia. Logo
São Vicéte Ferrer,em q embarcou Belchior Correa
da Franca,& por feu Capitão, Gafpar Ferreira,tam
bem Portuguez, & natural de Argra, cabeça das
Ilhas dos Aflores. Ao navio S.Vicéte, feguião todos
os mais Dunquerquezes de aquella Armada;defpois
a efquadra de São Jofcf, de que atrás havemos feito
menção, governada de feu Almirante Francifco Sã
ches Guadalupe, com doze navios os melhores da
Frota, debaxo de fua códuta; E defpois deta efqua
dra, a de Mafibradi, à ordem do Almirante Mateo
Esfrondati, com nove navios.Na retaguarda defes,
navegava a Tereza, que fora para Capitana defte
Reyno, fabricada por Bento Francifco, homem no
tavel entre os nofos; cujo nome he bem que ande
em memoria, pelos poderofos,& excellétes navios,
que fes neta idade: pois affi como o pay natural de
filhos nobres, & grandes,he digno da veneração da
pofteridade, não menos o deve fer, aquelle, q artifi
cialméte gèrou obras, não fó iluftres por fua magef
tade, mas utilifimas profua fortaleza à Republica,
em aqual virtude não fabemos outro, q atè o pre
fente,mayor lembrançahaja merecido.
Na Tereza, como em fua Capitana propria,
navegava Dom Lope de Offis, fem bandeira, nem
flamula, nem outra algúa infignia, que fua grande
za. Servia de Capitão dete notavel navio, o Al
mirante Dom Thomas de Chabuiú, Bifcainho,
• - - & bem
- •
496 E PANA PHoRA BELICA IV.
|
& bem prático na difciplina nautica, feffentaca
nhoés grofos, & feifcentos mofgueteiros a guarne.
cião. Porfua popa navegava em o Galeão S. Jofef;o
Metre de Campo da Armada Real, Dom Gafpar
de Carvajal. A feu lado em o Galeão S. João,o Sar
gento mòr Dom João Afcencio. Seguiafe a efqua
dra de Napoles, conduzida de Dom Pedro Velez
de Medrano, em a nào Orfeo. Júto deta Saõ Pedro
o Grande, a cargo do Metre de Campo D. Anto.
nio de Ulhoa. Em o ultimo troço da retaguarda, a
Capitana de Galiza, que por aufencia do General
Dom Andres de Catro(o qual como difemos,paf
fou a fazer o oficio de Almirante General)gover
nava feu proprietario, Almirante Francifco Feijó,
a quem feguião os navios de feu cargo. E defpois
delle, nove nàos Ingrezas, recebidas a foldo, para
conduzir Infantaria a Flandes; das quaes fes affento
Duarte Chapel, mercador Ingrez,& com elle inad
vertidamente os oficiaes delRey; ignorando toda
via, o fucefo referido,de Dom Simão Matcarenhas,
Rematava,como he ufo, a Almiranta Santo Agofti
nho, Capitana que foi de Napoles eta fermofa re
fenha: a qual (egúdo difemos mandava por mayor
o General Dom Andres de Catro,& por menor o
Almirante Dom Etevaõ de Olite. Era finalmen
te a Frota de tal maneira, que conforme aos livors
da Vedoria geral,fe davão cada dia em toda ellavin
te & cinco mil raçoés, entre gente de mar, fogo, &
guerra, afim a pretencente á guarnição de húas &
O UltraS
CoNFLIT o Do CANAL. 497
outras efquadras,como às companhias do focorro.
Noventa & fete Capitaés de Infantaria, cincoenta
& tres de mar, tres Generais, feis Meftres de Cam
po, feis Almirantes,quatro Confelheiros de guerra;
muniçoés em abundancia, & dinheiro para as pa
gas do verão feguinte: o qual fobre fe haver em
barcado fecretamente,havia quem fubife a quanti-,
dade do contante, a numero de outocentos mil cru
zados. -
Cc InCO$
304. EPANAPHoRA BELIcA IV.
neos,nas coufas da navegação,té defpois de cometi
dos, dificultofo remedio: por onde aos Generais
do mar, mais comven olhar para os amigos, do que
para os inimigos, no tempo da peleja; contentando
fe com ferem caufa dos acertos dos uotros como cá
em o faó dos erros, quando lhes não poem o reme +
dio, que devem.
O General Tromp, cujo propria nome era: Mar.
tim Herps, com título de Tenente General do mar
(porque feu governo, e n propriedada, pertencia ao
Principe de Oranje) não era informado inteiramé
te do poder das armas de Efpanha; fendo certo,que
os Eftados gerais, ou que não vieffem por feus con
fidentes a alcançar a vinda da Armada de Italia, ou
que lhes parecefe diffinular a ventagem,que cõ ela
os Efpanhoes lhes fazão, fempre certificàraõ a fe
us Cabos, era fó o braço de Dom Lopo de Offisa.
quelle, a quem fe havião de opor, reprefentandolhe
a batalha. E como para com etas forças, as de Olan
da etavaõ fuperiores,a fim de que tão honrofo com |
bate lhes não faltaffe,fes dividir o General Olandes,
em tres efquadras os navios,com que fe achava: húa |
que fe fizeffe na volta do mar do Norte, a cargo #
Capitão Ban Karth, fe acafo foffe certa,(como fe
dizia ) a vinda por fôra de Inglaterra, conforme a
principio tentárão fazer os Efpanhoes; outra, #
rondaffe todos os portos de aquella ilha, encomen:
dada ao Almirante Viten Viticen; & aquella qu:
comfigº trazia, fobre a cota de Flandes o me>
II10.
CoNFLIT o Do CANAL. 505
momelhores
as General;dos
queEftados.
não paflava de onze náos, porém•
{
Afi navegava fobre eles a Armada de Efpanha,
quafi como em montaria fucede, em húa fermofa
ala, q algúas vezes,mais, ou menos fe eftende; quan
do o Ceo, q tinha detinado em outro modo, o fim
de a quella obra, por fecretos juizos de Deos, per
mitio que o General Oquendo, engeitafe a gloria
de aquelle dia. Differão muytos: Que por não com/entir
ferepartiffe della com os émulos; porque lhe nãoffeo o co
ração altivo,& defafeiçoado,que quando ele nãopodia pele
jar, efine/em eles vencendo. Indigno refpeito,por cer
to, de entrar em hum coração grande: reprehenfi
vel em o de hum igual, & condenavel em o de hum
fuperior; que em todas as acçoens de feus fuditos,
tem herança de gloria, ou vituperio.
Refolveofe Dom Antonio de Oquendo,a voltar
pello contrario rumo que levava. Dife: Que por dous
fins: ambos aparêtes. O primeiro,porque temerofo da volta
do inimigo, era proceder como prudente, fazer os rifcos dos
yencidos, atalays dos vencedores; o fegundo, que voltando,
não poderia perderavitoria,antes a a/egurava mais util,re
cebendo por melhor modo aquellas fermo/as mãos, que cami
nhavão afer de/pojos das ondas no parcelvífinho.Se faltou
no difcurto, dirà o fuceffo;porque voltandofe,como
he ufo, o vento pela tarde, & aproveitandofe do
terral, foi cofteando o Tromp a terra de França,
femalgú perigo nella em tal maneira, que ao outro
• dia
12° EPA NA PHoRA BELtcA IV.
dia eftava fora da enfeada, & do inevitavel dano, &
já a barlavento da Armada Efpanhola.
A todos cutou húa melencolica trifteza, ver def
pediríe por aquelle modo, da boa fortuna que fua
vemente os conduzia a hum prezado triunfo. Doze
horas ferião do dia, & feis da batalha,quando a Real
rendeo o bordo, mas em duas mais fenão refolveraõ
a feguilla os outros Cabos, atè que repetindo o
General os ordinarios finais de retirada, com multi
plicadas pefas, fes recolher a todos, levantando ao
Tromp (podemos dizer ) a menagem da prifad,em
que jà o tinha como prefo.
Navegaraó a tarde toda ambas as Armadas; com
que a Olandeza houve defe melhorar em fitio, for
ças, & vento, faindo do eftreito mar, em que come
çou a batalha.Pouco defpois felhe ajuntou a fegú
da efquadra de quinze náos boas, do cargo de feu
Almirante Viten, cuja pefoa não montava menor
focorro, que elas. Ja refpirava o ar por fuas popas,
& refpiravão jà os oprimidos Olandezes, do gran
de perigo, em que pouco antes fe havião vito. Por
efta caufa em fabulas, & fimbolos mifteriofos, de
buxârão os antigos aos olhos do corpo, & efpiritu,
algúas doutrinas de grande utilidade: donde aquel
la virgem, chamada Occafiaõ, pintàraõ com a revería
parte da cabeça defpovoada da fermofa melena, que
diáte enriquece, & adorna fua fronte; motrando
fabiamente,como fempre ficará efcarnecido,aquelle
que topandofe cometa varia donzella, fe defcuida
de
CoNFLIT o Do CANAL. - 51
!
de a prender pelas primeiras trãças, que ella lhe o
ferece, efperando detela pelas ultimas,
A noute do dia, deza feis de Setembro, & o dia
todo feguinte, fe gaftou de ambas as partes, em cu
rar feridos, aparelhar as armas, & reparar os navios.
Porém Tromp, paflando a mayores intentos, fe oc
cupava em difpor a batalha feguinte, Affi por não
efcorrer a boa paragem donde fe achava, levado da
violencia da marè, que aly defce impetuofamente.
Deu fundo, & com elle fua frota; o que vito pella
de Efpanha, fes como, alguns navios della fe
guifem feu exemplo: & pouco defpois a Real, re
conhecendo o defvio, a que fe expunha navegando,
Porèm a Tereza, que entre fuas perfeiçoens, não
havia ainda confeguido o dote da ligeireza(não por
defeito da fabrica, mas do aparelho) fem lançar
ferro, como os mais, gaftou toda a noute,& dia com
pouco pano largo em fe adiantar ao refio dos Efpa
nhoes; por cuja boa diligencia fe achou na diantei
ra o dia defouto, & junto della, alguns Galeoés dos
mais pefados, & fortes, que todos ferviraõ de forta
lecer o combate, como veremos.
A penas feria rendido meyo quarto da terceira
guarda, quando o General Tromp, começou a mo
verfe. Efta vigia, coflumão chamar os que vèlão de
noute, com vulgar nome, a nofo parecer: Modorra,
por fer mais que os outros, ocafionado ao pefo do
fono,mas fe revolvermos a erudição,acharemos que
Por morros em Grego,que os latinos dizem morio,Il OS
&
16 E PANAPHoRA BE LICA IV.
vimos, & foubemos, que nas Dunas,povo de Ingla
terra, cinco legoas diftantes do lugar do combate,
tremeo de tal maneira a terra, que a gente fe (ahio
ao campo, por quafi todas as horas da peleja. Em
Calés de Fráça, que por mais de fete legoas fe apar
tava de aquelle fitio, forão rotas quafitodas as vi
drafas das janellas;& contandofe do mefmo lugar a
Cambray, vinte & duas legoas, fe contavão em a
quella graó Cidade, os tiros dos canhoés, diftinta
inente.
Ee 3 cfte
54o EPANAPHoRA BELICA IV.
efte com razoens de melhor difciplina, que urbani
dade.Naõ afi pafava entre o Tromp, & Pininton,
que varias vezes fe viaõ,& convidavaõ,contra o pa
recer de aquelles que entendiaó, naõ dava a neutra
lidade do Porto,lugar a fe declarar a afeiçaõ, por al
gum dos dous opoftos partidos. Mas os Ingrezes fe
defendéraó deftaleve calumnia, dizédo: Que os vin
culos da Religiaõ,eraõ mais fortes,que os da amifade:S que
afemelhança,ou uniaõ de crenças, entre Ingrezes, & Olá
dezes,naõ permitia/er perturbada de algum refpeito politi
co,em ofen/a da confraternidade e/piritual,que entre aquel
las duas maçoens/e contrabia.
Ao mefmo tempo,que o Enviado,Dom Martim
Garcia,partio de Flandes a Inglaterra,foi defpacha
do outro femelhante, de Amfterdam a Paris, pretê
dendo os Olãdezes perfuadir a elRey Chriftianifi
mo:Quanto intere/e/ua Coroa receberia, cºm o efiragº da
Armada Efanhola,que já tinhaõ/egura, quafi debaxodº
chave defeu poder:porque fendo taócõmuns os interejes de
França,é Olanda,que quafi/ejulgavaõ indivifiveis, naõ fe
dava caufa,para que a França deixa/e de fergrata, & util
efia empreza;& com mayor razao,quando a fortuna lhe vi
nha rogar éporta,com tal vitoria, como metendolha pelas
portas dentro Que º bom mercador,/empre deve comprar, ou
vender,quando be rogado: é que as prevençoens de Olanda,
aliviavaõ agora os di/pendios,8dilaçoens de França,º quem
só convidavaõ ao banquete de aquella ventura; a qual lhes
cuflaria pouco mais,que querer aceitallo: achãdo/e as coufas
………………………………………;
- - túll!
------
|- |- •
••••• •**
552 E PANA PHoRA BELICA IV.
tro de E/panha,meu opofio,para que,prefentes ambos, dife
ta/semos da validade de/uas razºens,& das minhas; viria:
quão abatida ficava diante da jufiiça dos Bátavos,a arrogan.
cia dos Ca/telhanos. Alf volo regàra eu, fe pretende/emos
que vós pelas cau/as quenos tocam,vos move/eis a deliberar
ne/tecafo. Num queremos,nam pedimos,/enhor, que vos lem
breis de no/a amifade,deno/a conformidade;fendo que com
vinculos de alma,& corpo,estam unidos; só defejamos, que de
vá mºfnovos lébreis. De/cuidai embra da có/ervação,é dº
aumento de Olanda,mas porque defuedareis do aumento,$
da confervação de Iglaterra º Zºmbe que os E/panhoes vos
perfuadão,4/enhor,que nam contribuais com alg㺠diligencia
importante ano/a grandeza,metèdovos em receyo della,comº
/e fora menor perigo,deixar crecer h㺠potencia grandi/ima,
até fazer/eformidavel,que có/entir na melhora de outra, que
quando a muyto chegue,nunca lhe fráigual. Zºke lhe quenos
deixem fertam grandes,como eles/am,ou comº vá/ois;&#
para je tempo guardem as inculcas dos ciumes, a que vesin
duvem,com mº/afelicidade. Quem viojamais no mundo, te
mer com mayor exce/O a enchente de hum rio, que º fluxo in
contrafiavel do mar Occeano? Ainda cà,tam apartados, nos
não quer deixar em fè fle temerofo Neptuno?Se pela guar
da de feus mares,& portos,fiRera demafias, fermo/pretex
to tinha nas prºprias leys naturais, que mam/? acom/elham,
mas obrigam á confervação no/a,& dono/lo,mas porque nam
efará elRey de E/panha,pella/Etêça do Altufino,4 posni/?
liberdade,no fios denº/as armas, & afes delles depêdente?
Jºgºra quer apel ir defe decreto, de/pois q có/entio por tãtos
anno, em nºja kºyam?Que importãopaves,ou treguas, 6 Si.
, **º
CoNFLIT o Do CANAL. 553
re, cõ aquele que não reconhece outra palavra,q a q tem dado
a /ua conveniencia: /e/omente em quanto lhe não for pofivel,
ob/ervará os tratados 4 com vo/co täfeito? Aefletal, melhor
he 4/empre o tenhamos nece/itado;porque a/fifeverifica a sê
tença do Polytico,que afirmou : convinha mais aos Principes,
•
EP ANAPH o RA TRIvNFANTE. V.
Zºe D. Francifco Manuel, Efritta a hã Amigº.
*#### M quanto, fenhor. N. vos preparais paº
# ramotrardes em Africa, aquelle valor,
* # que em Europa,& America tendes mof
trado, igual ao que na Azia vos propu
zeram vofos Antecefores, não efper
diçareis o tempo, que derdes á liçam defia miº
\
72 RE sr.AURAÇAM DE PERNAMBuco.
nha breve hiftoria; por fer dito dos fabios: Que as hj…
rias do mundo/imbuns e/pelhos clariffiimos,donde,vendo nê:
retratadas as famo/is acçoens,que não vimos, nos atendemos
utilmente no amor delas. Como fucedeo muytas vezes,
que os retratos de fermofuras excelentes,cativaraó as
vontades dos homens.
Entre as modernas acçoens de nofos Lufitanos; +
**
#-
Que o fenhor Metre de Campo General afliftirà com feu exercito,on.
de lhe parecer melhºr:mas farà que os vafalos dos fenhoresEft dºs gera
is de nenhuã pefloa Portugueza fejam moleftados, né avexados, antes fe
ram tratados com muyto refbeito & cortezia, & lhes conced. que nos di
tostres mefes,que ham de etar na terra, polam decidir os pleitos,& que!-
toens, que tiverem , huns com os outros, diante desfeus Miniftros da
jutiça. •
#
Que concede aos ditos Vaffalos dos fenhores Efiados gérais, levem to
dos os papeis, que tiverem de qualquer forte, que fejam, & levem tem
: bem todos os bens móveis, que lhes tem otolgados no terceiro artigo, a
fenhor Metre de Campo General. -
Artigos Militares.
VE todas as ofenfas, & hotilidades, quanto aos fenhores Eftados
- gérais,& Va falos,que fe tem cometido, fe efquecem na conformi
dade acima referida.
Que o fenhor Metre de Campo General concede,que os foldados af
fiftentes no Arrecife,& Cidade Mauricéa, & feus Fortes, fayaó com fuas
armas, mecha acefa, balla em boca,bandeiras largas, com condiçam, que
paffindo pelo nofo exercito Portuguez apagaràm logo os murroens,&
tiraràm logo as pedras das efpingardas,& cravinas, & meteràm as ditas ar
mas na cata, ou almazem, que o fenhor Metre de Campo General lhes
nomear,das quaes elle mandara ter cuidado,paralhas entregarem, quan
do fe embarcarem & fö ficarám com ellas, todos os oficiaes de Sargento
para cima.E quando fe embarcarem,feguirám direitamente a viagem,que
pedem,aos portos de Nantes, Arrochella,ou outros das Provincias vnida%
fem tomarem porto algum da Coroa de Portugal. Para firmezado que,
deixaram os Vaffalos dos ditos fenhores Eftados gérais, em refens,ues
pefoas;a faber:hum Oficial mayor de guerra, outra pefoa do Confelho
fupremo,& outra das mayores Vafalos dos fenhores Eftados gerais.E que
os oficiais de guerra,foldados deta praça do Arrecife,& mais portos jun
to a elete embarcarám todos juntos, em companhiado fenhor General
Sigfmundo Van Scop.com condiçam, que fe entregarâm primeiro á or
dem do fenhor Metre de Campo General, as praças, & forças do Rio
Grande Paraíba,Itamaracá,Ilha de Fernam de Noronha,& Cearà 5 para
comprimento,de tudo o referido nete capitulo,deixando as pefoas que lê
pedem em refens.
Que concede ao fenhor Sigifmundo Van Scop, que depois de entre
guesas ditas praças & forças acima referidas, com a artilharia que tinham,
atè a hora que chegou a Armada á vita do Arrecife, leve vinte pefas de
artilharia debronze,ºrteadas de quatro até defouto livraridealêmdaspeí
--------------—-- as
—
EPANAPHoRA TRIvNFANTE V. 623 |-
fas de ferro, que feram neceffarias para defenía dos navios, que forem em
fua companhia;com as quaes lhe darâm fuas carretas,& muniçoens necel
farias; o mais Treym fé entregará à ordem do lenhor Metre de Cam
po General. |-
FIM:
L I (º E E S A S
Odefe tornar a imprimir o livro de que o fup
"plicante faz mençam. E imprefo torna à para
fe conferir, & fe dar licença para correr, & fem ella
naõ correrá. Lisboa 2o.de Abril de 674.
Fr. Pedro de Magalhaës. Atanoel de Magalh4ês de
Menezes.
Manoel Pimentelde Soufa. Pedro Mecia de 3tagalhaes.
Odefe imprimir. Lisboa 15. de Setembro de
1675.
Fr.C 21/po de Martyria.
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