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ANAIS

XIX Encontro Nacional da ABRAPSO

Democracia participativa, Estado e laicidade:

Psicologia Social e enfrentamentos em tempos de exceção

Caderno de Resumos

2017
REALIZAÇÃO

ORGANIZAÇÃO

APOIO
Comissão Responsável

Comissão Organizadora Nacional Comissão Científica

Dolores Cristina Gomes Galindo, UFMT Allan Henrique Gomes, ACE


Emerson Fernando Rasera, UFU Apoliana Regina Groff, Núcleo Fpolis ABRAPSO
Flavia Cristina Silveira Lemos, UFPA Cleci Maraschin, UFRGS
Marco Antonio Torres, UFOP Deivis Peres Bispo dos Santos, UNESP
Marcos Ribeiro Mesquita, UFAL Dolores Cristina Gomes Galindo, UFMT
Marília dos Santos Amaral, CESUSC Edio Raniere da Silva, UFPel
Maristela De Souza Pereira, UFU Eduardo Augusto Tomanik, UEM
Eduardo Pinto e Silva, UFSCar
Comissão Organizadora Local
Emerson Fernando Rasera, UFU

Ana Flávia Nascimento Manfrim, UFU Fellipe Coelho Lima, UFRN


Flavia Cristina Silveira Lemos, UFPA
Anabela Almeida Costa e Santos Peretta, UFU
Cirlei Evangelista Silva Souza, UFU Francisco Teixeira Portugal, UFRJ

Ederglenn Nobre Vieira, UFU Joao Batista Martins, UEL

Eliane Regina Pereira, UFU Leandro Passarinho Reis Junior, UFPA


Leandro Roberto Neves, UFRR
Emerson Fernando Rasera, UFU
Juçara Clemens, UFU Luciana Kind do Nascimento, PUC MINAS
Marcelo Dalla Vecchia, UFSJ
Luciana Guimarães Pedro, UFU
Marineia Crosara de Resende, UFU Marco Antonio Torres, UFOP

Maristela de Souza Pereira, UFU Marcos Ribeiro Mesquita, UFPAL

Paula Cristina Medeiros Rezende, UFU Marcos Vieira Silva, UFSJ

Pedro Pablo S. Martins, USP Marília dos Santos Amaral, CESUSC

Renata Fabiana Pegoraro, UFU Maristela de Souza Pereira, UFU

Ruben de Oliveira Nascimento, UFU Neuza Maria de Fatima Guareschi, UFRGS

Silvia Maria Cintra da Silva, UFU Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, UFRJ
Raquel Farias Diniz, UFRN
Tayná Portilho, UFU
Viviane Prado Buiatti, UFU Rodrigo Lages e Silva, UFRGS
Diretoria Nacional da ABRAPSO
Gestão 2016-2017
Presidente: Emerson Fernando Rasera - UFU
Primeira Secretária: Maristela de Souza Pereira - UFU
Segunda Secretária: Dolores Cristina Gomes Galindo - UFMT
Primeiro Tesoureiro: Marco Antônio Torres - UFOP
Segundo Tesoureiro: Marcos Mesquita - UFAL
Primeira Suplente: Marília dos Santos Amaral – CESUSC
Segunda Suplente: Flávia Cristina Silveira Lemos - UFPA

ABRAPSO Editora
Cleci Maraschin
Neuza Maria de Fatima Guareschi
Ana Lídia Campos Brizola

Conselho Editorial ABRAPSO


Ana Maria Jacó-Vilela – UERJ
Andrea Vieira Zanella - UFSC
Benedito Medrado-Dantas - UFPE
Conceição Nogueira – Universidade do Minho - Portugal
Francisco Portugal – UFRJ
Lupicinio Íñiguez-Rueda – UAB - Espanha
Maria Lívia do Nascimento - UFF
Pedrinho Guareschi – UFRGS
Peter Spink – FGV

Sobre a ABRAPSO

A ABRAPSO é uma associação sem fins lucrativos, fundada durante a 32 a Reunião da SBPC, no Rio
de Janeiro, em julho de 1980. Fruto de um posicionamento crítico na Psicologia Social, desde a sua
criação, a ABRAPSO tem sido importante espaço para o intercâmbio entre estudantes de graduação
e pós-graduação, profissionais, docentes e pesquisadores. Os Encontros Nacionais e Regionais da
entidade têm atraído um número cada vez maior de profissionais da Psicologia e possibilitam
visualizar os problemas sociais que a realidade brasileira tem apresentado à Psicologia Social. A
revista Psicologia & Sociedade é o veículo de divulgação científica da entidade.
www.abrapso.org.br
Ficha Catalográfica elaborada por Juliana Frainer CRB 14/1172

E562
Encontro Nacional da ABRAPSO: Democracia participativa, Estado e laicidade: Psicologia
Social e enfrentamentos em tempos de exceção (19., 2017: Uberlândia, MG)
Anais do XIX Encontro Nacional da ABRAPSO / Comissão organizadora: Dolores
Cristina Gomes Galindo ... [et al.]. – Porto Alegre: ABRAPSO Editora, 2017.
1748 p.
Caderno de Resumos.

Tema: Democracia participativa, Estado e laicidade


Evento realizado no período de 01 a 04 de novembro de 2017 na Universidade
Federal de Uberlândia
Modo de acesso: internet
ISBN: 1981-43211

1. Democracia participativa. 2. Estado. 3. Laicidade. 4. Mobilização social. 5.


Psicologia social. 6. Rasera, Emerson Fernando. 7. Lemos, Flavia Cristina Silveira. 8.
Torres, Marco Antonio. 9. Mesquita, Marcos Ribeiro. 10. Amaral, Marília dos Santos. 11.
Pereira, Maristela De Souza. I Título.

CDU – 316.6
CDD – 302
Apresentação

O XIX Encontro Nacional da ABRAPSO - Democracia Participativa,


Estado e Laicidade: Psicologia Social e enfrentamentos em
tempos de exceção tem lugar em um momento de crucial
importância, tendo em vista a necessidade de se criar redes de
enfrentamento e formas estratégicas de resistência em face às
perdas de direitos e ao levante neoliberal que o Brasil atravessa.
A temática do encontro busca discutir as relações entre o Estado e
a Democracia, tendo em consideração o golpe político de 2016,
que repercute de maneira direta em todas as instâncias sociais,
objetivas e subjetivas, e que atravessa e delimita as formas de
viver das brasileiras e brasileiros no contexto atual.
Propõe ainda resgatar a laicidade enquanto marco central para
viabilização do diálogo plural e de reflexões calcadas no respeito
às diferenças e às várias formas de pensamento, aspectos esses
fundamentais em tempos de ondas reacionárias e
conservadoras como temos presenciado.
Esperamos que esse encontro possa potencializar mobilizações e
fomentar propostas e ações coletivas que se posicionem contra as
ameaças e façam frente ao autoritarismo vigente, promovendo a
consolidação de esforços de vários segmentos e atores sociais em
prol de uma sociedade mais justa, equânime e democrática.

Comissão organizadora
Sumário
Categoria Comunicação Oral - GTs ...................................................................................................... 1
GT 01 | A afetividade ético-política na construção de processos democráticos e participativos ...................... 2
A Psicologia entre o afeto e a emoção: considerações críticas à uma práxis transformadora do espaço
educacional ...........................................................................................................................................................4
Adaptação em Piaget, Cotidiano em Heller e Maffesoli: para compreender um sujeito crítico, afetivo e
transformador ......................................................................................................................................................5
Adolescentes Acolhidas e seus Afetos: o que temos com isso? ...........................................................................7
As estratégias da educação popular na atuação da ITCP-USP em uma cooperativa de catadoras de materiais
recicláveis .............................................................................................................................................................9
Fomentação de grêmios escolares: por um Teatro Social dos Afetos................................................................11
Instituições Participativas como mecanismo de despolitização da democracia brasileira ................................13
Juventude e Cidade: Relação Entre Territorialidades e Subjetividade ...............................................................15
O CORPO SOLTINHO: Considerando lacres instituídos pela sociedade de controle sobre o movimento dos
corpos .................................................................................................................................................................16
Os afetos a partir de uma perspectiva da Psicologia Social ...............................................................................18
Participação grupal em uma comunidade afetiva: possibilidades para a construção e/ou ressignificação de
projetos de vida de idosos ..................................................................................................................................20
Práticas Participativas e Afetividade Ético-Política: Construindo uma Agenda de Pesquisa .............................21
Relações Dialógicas e suas implicações na vida de crianças acolhidas: um relato de experiência ....................23
GT 02 | A práxis que apreendem as determinações históricas na dialética da relação entre psiquismo e
sociedade: contribuições para a psicologia social ........................................................................................ 24
A constituição das emoções para Vigotski e Rubinstein baseado no materialismo histórico-dialético ............26
A Impotência da Subjetividade: sobre o papel da desigualdade social na dialética consciência-inconsciente .27
Abuso psicológico contra a mulher: dialética consciente-inconsciente na condição social ..............................29
Apontamentos sobre saúde mental no Brasil a partir das contribuições de Martín-Baró.................................30
Arte sob uma perspectiva classista como ampliação da consciência ou reprodução ideológica ......................31
O Inconsciente é social e histórico - Porque é cultural ......................................................................................37
O problema do inconsciente na psicologia soviética: uma análise a partir do marxismo .................................39
Psicologia e o Trabalhador em situação de Desemprego: em busca de ações possíveis ...................................41
GT 03 | A Psicologia Social além das fronteiras disciplinares ....................................................................... 51
A Interdisciplinaridade no Atendimento à Violência Contra a Mulher - Um olhar da Psicologia ......................53
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher e os pequenos municípios: O caso de Corumbataí
............................................................................................................................................................................54
As CEBs e o reconhecimento das potencialidades comunitárias: uma leitura a partir da perspectiva da
psicologia social ..................................................................................................................................................56
Gênero, sexualidade e relações étnico-raciais: diálogos feministas na extensão universitária.........................58
Identidades Sociais, Diversidade e Inclusão Social em famílias contemporâneas na cidade de São Paulo .......60
Laço a organização estudantil como prática política: afeto, resistência e transformação social ......................61
O domicilio como local de parto e as lutas por políticas/programas de saúde inclusivos .................................62
Os argumentos acerca da inconstitucionalidade da criminalização do aborto no STF: uma leitura crítica .......63
Políticas de resistência: experiências sociais no âmbito da política pública de saúde mental ..........................65
Práticas discursivas midiáticas e musicais sobre e das mulheres na música sertaneja .....................................66
Psicologia no SUS - Trabalho em equipe e em rede: potencialidades, anseios e limitações .............................67
Relações de gênero e processos pedagógicos: vivências no cotidiano universitário.........................................68
Ruralidade, violência e gênero: a diversidade dos sujeitos políticos do campo, cerrados e águas e os desafios
para a pesquisa social .........................................................................................................................................69
Violência contra meninas em situação de rua: exclusão e invisibilidade ...........................................................71
Visita domiciliar: construindo narrativas a partir do encontro com as famílias em suas residências................73
GT 04 | A Psicologia Social na Saúde: práxis, interfaces e perspectivas para a democracia ............................ 74
A experiência de interdisciplinaridade a partir da imersão no programa Vivências e Estágios na Realidade do
Sistema Único de Saúde (VER-SUS) ....................................................................................................................76
A práxis (trans)formativa dos profissionais de psicologia na Residência em Saúde da Família do Ceará .........78
Aspectos contextuais e relacionais que influenciam a construção da gestão compartilhada ...........................80
Clínica Ampliada e Psicologia: os caminhos controversos da intervenção psicossocial ....................................81
Direitos humanos e saúde mental: desejos de manicômios e práticas de liberdade na Rede de Atenção
Psicossocial .........................................................................................................................................................82
Familiares responsáveis pelo cuidado de pessoa com transtorno mental em um município de pequeno porte
............................................................................................................................................................................83
Familismo, proteção social e saúde mental: contradições da política nacional sobre drogas ..........................84
Formação em humanização da saúde e humanização da formação em saúde .................................................85
Formação em serviço: psicologia social e interprofissionalidade ......................................................................86
Gênero e saúde: práticas educativas para o enfrentamento da violência doméstica .......................................87
Implantação da Rede de Humanização do Parto e Nascimento em Uberlândia (MG) ......................................88
Os olhares sobre o território: a experiência de um diagnóstico comunitário participativo em uma UBSF de Rio
Grande-RS ...........................................................................................................................................................90
Os papéis e fazeres profissionais no atendimento dos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial .........92
Saúde mental e atuação em rede (s): desafios e potencialidades no olhar de trabalhadores ..........................93
Uma análise crítica sobre a culpabilidade familiar nos Centros de Atenção Psicossocial ..................................94
GT 05 | Adesões e resistências à mercantilização da educação: aspectos psicossociais e sócio-institucionais95
A dialética como método e sua aplicação na mediação da transformação do trabalho de professores ..........98
A política de precarização do Ensino Superior e a formação do Psicólogo ........................................................99
Além do observável: coanálise da atividade docente ......................................................................................101
Como me percebi um professor medíocre: reflexões e análises sobre a prática docente em ensino superior
..........................................................................................................................................................................103
Cursos preparatórios para vestibulares/Enem/concursos e a desigualdade no ensino ..................................104
Emancipação, Saúde e Resistência: processos grupais com professores na escola.........................................106
Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV) de Santa Maria/RS: outro modelo de universidade é possível .......107
Mercantilização do Ensino Superior sob a perspectiva de professores de cursos de Graduação em Psicologia
..........................................................................................................................................................................109
O conhecimento da unidade afetivo-cognitiva como componente da mediação pedagógica: uma análise
Histórico-Cultural..............................................................................................................................................110
O processo de gerencialismo nas universidades públicas portuguesas e as formas de resistências dos
docentes ...........................................................................................................................................................112
Reflexões acerca das propostas de formação de competências socioemocionais nas políticas educacionais
brasileiras..........................................................................................................................................................114
Resistências na formação acadêmica: relato sobre um grupo de apoio psicossocial à estudantes de Medicina
..........................................................................................................................................................................115
Responsabilidade Social Universitária: mera exigência legal ou possibilidade de contraposição à lógica
privatista? .........................................................................................................................................................117
Sentidos e significados atribuídos ao trabalho docente de professores de uma escola técnica estadual de
nível médio (ETEC) ............................................................................................................................................119
Território em Disputa: Uma Escola como Ponto de Resistência e Articulação da Rede de Garantia de Direitos
..........................................................................................................................................................................121
GT 06 | Ciência, ativismo e outras artes sobre gênero e sexualidade em tempos de golpe .......................... 122
Casamento juvenil: a constituição da feminilidade e as implicações de uma Psicologia Feminista ................124
Componentes Ideológicos do Preconceito Contra Homossexuais ...................................................................126
Concepções e práticas da Psicologia com pessoas LGBT: uma revisão de literatura .......................................128
Feminismo digital em tempos fascistas: problematizando o termo "feminazi" ..............................................130
O Aborto Legal em um serviço de saúde na cidade de Belém/Pará: os discursos da maternidade compulsória
e a medicalização do corpo feminino ...............................................................................................................132
Eu, mulher periférica, existo .............................................................................................................................134
Notas sobre o dispositivo patriarcal e as técnicas do corpo: o vôo de fuga da mariposa ...............................136
GT 07 | Círculo de Bakhtin e a Psicologia Social: Ética, Pesquisa e Política ................................................. 137
A resistência nasce no interior: o papel da Associação Morcegos em Ação na construção da independência
para cegos em Ubajara, Ceará ..........................................................................................................................140
A {Des[In(Formação)]} Acadêmica: relato de experiência de uma ação-crítica de acolhimento no ensino
superior.............................................................................................................................................................142
Análise Institucional e Qualidade da Democracia:possibilidade políticas da psicologia na Assembleia
Legislativa do RN...............................................................................................................................................144
Biopolítica das amizades: subjetividade, corpo e capitalismo .........................................................................146
Carnavalização e Estigmatização da Homossexualidade no discurso de memes veiculados no Instagram ....148
Contribuições de Bakhtin para uma visão de processo grupal: Caminhos de uma dissertação de mestrado .149
PROFESSORA primária: SEUS problemas, SEUS DEVIRES... ..............................................................................150
Reflexões acerca do caráter emancipatório da Psicologia brasileira e o seu compromisso social ..................151
GT 08 | Crítica Social, Direitos Humanos e Psicologia Social ....................................................................... 153
Abordagem psicossocial da criança e do adolescente: um relato no contexto de formação em Psicologia ...155
Adolescer no território: da vulnerabilidade social à efetividade do acesso aos direitos constitucionais ........157
Análise de políticas públicas para além do Estado: um estudo sobre a ação pública de assistência social no
município de São Paulo ....................................................................................................................................159
Intervenção em Comunidade Terapêutica: desafios, enfrentamentos, transformação e possibilidades.......161
Justiça Participativa-Reconhecitiva e Movimentos Feministas: Uma Abordagem sob a Ótica Fraseriana ......163
Medicalização e Governamentalidade nos Relatórios do UNICEF sobre Crianças e Adolescentes Usuários de
Drogas ...............................................................................................................................................................164
O adolescente em conflito com a lei e a reinserção escolar: a visão dos professores .....................................166
O relato de uma vivência de sensibilização em prol da luta pela visibilidade e pelo protagonismo das pessoas
com deficiência .................................................................................................................................................167
Pessoas em Situação de Rua e a Busca por Reconhecimento ..........................................................................169
Projeto Diálogos: Psicologia Social na formação de graduandos, presos e profissionais de estabelecimento
prisional ............................................................................................................................................................171
Psicologia política e os caminhos reflexivos para o diálogo com os povos originários ....................................173
Sobre a simbolização da injustiça: contribuições de Sennett e Bourdieu para a teoria do reconhecimento ..174
Subjetividades radicalizadas numa era de espetáculo: Heterogeneidade e justiça social no éthos da
democracia .......................................................................................................................................................175
Terreiros de candomblé, políticas de subjetivação e psicologia: encontros possíveis ....................................176
Futuro roubado: banalização da injustiça e do sofrimento social e ambiental na construção de hidrelétricas
..........................................................................................................................................................................178
GT 09 | Relações étnico/raciais: Violação de direitos na democracia, enfrentamentos, memórias, trajetórias
sociais e legado negro .............................................................................................................................. 179
A mobilidade das mulheres negras com deficiência física, cadeirantes e moradoras da periferia .................181
A Violência do Inexistir e a construção de uma Clínica Política Decolonial em Psicologia ..............................183
A vivência das estudantes negras estrangeiras da UFMG ................................................................................184
As políticas de inclusão no Ensino Superior e o processo de democratização da universidade ......................185
Construção da identidade da mulher negra: Uma revisão de literatura ..........................................................186
Educação das relações étnico- raciais: um estudo sobre as políticas educacionais no município de Nova
Iguaçu e Mesquita ............................................................................................................................................187
Emoções na formação acadêmica de estudantes de psicologia ingressos na graduação mediante políticas de
inclusão .............................................................................................................................................................188
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E PRECONCEITO RACIAL: a demonização das religiões afro-brasileiras. Um estudo
de caso ..............................................................................................................................................................190
Memórias de uma outra História: Resistência e relações étnico-raciais na cidade de Araras.........................191
Mulheres negras em Goiás: trajetória politica a dilemas contemporâneos ....................................................193
Políticas de segurança pública brasileira: uma análise interseccional .............................................................195
Psicologia e genocídio da juventude negra no Brasil .......................................................................................196
Tribunal Popular pelo fim dos genocídios das juventudes negras, indígenas, pobres e periféricas ................197
As balas também nos levaram junto: sofrimento psíquico das mães das vítimas do genocídio negro ...........198
O mundo começa na cabeça: (re)construção da identidade negra de mulheres quilombolas de Santarém ..199
GT 10 | Psicologia critica e Políticas Públicas: desafios teórico práticos em tempos de golpe ..................... 201
A importância da criação de vínculo para o acompanhamento de famílias em situação de vulnerabilidade .205
A polícia como produtora de subjetividades nas políticas sociais....................................................................207
A Psicologia crítica no Poder Legislativo Municipal: educação política e cidadania ........................................209
Acolhimento às Famílias na Socioeducação e processos contemporâneos de reconstrução dos Direitos Sociais
..........................................................................................................................................................................211
Análise Institucional da Assistência Social como Política Pública: dever do Estado e direito dos cidadãos ....213
Assistência estudantil na UFRJ: um olhar para a relação entre atravessamentos sociais e produção subjetiva
..........................................................................................................................................................................215
Atuando na interface da Psicologia com a política pública de Assistência Social: formando psicólogos
psicossociais......................................................................................................................................................217
Contribuição psicossocial à resistência ao golpe..............................................................................................219
Controle Social é lugar para a Psicologia: relato de experiência sobre a participação do CRP 20 no
CMAS/Manaus ..................................................................................................................................................220
Criança Feliz? Experiência de mobilização contra retrocessos na política de assistência social .....................221
EJA e PIBID: Um olhar crítico sobre o contexto educacional e seus processos formativos .............................222
No centro da periferia ou na periferia do centro? Direito à cidade e as políticas de atendimento à população
em situação de rua na América Latina .............................................................................................................224
O que você veio fazer na minha casa? Narrativas de famílias sobre o acompanhamento familiar.................226
Os sentidos da ocupação: processos de consolidação da comunidade Esperança na região do Izidora (MG)228
Saúde Mental e Economia Solidária: perspectivas emancipatórias no campo do trabalho coletivo e
autogestionário.................................................................................................................................................229
GTà à|àDi logosàe t eàaàPsi ologia,àaà uest oà a ial àeàaàsaúde:à eflex esàso eàp ti asàdeà uidadoàeàoà
lugar da psicologia ................................................................................................................................... 231
A aldeia e a cidade: identidade e devir entre jovens terena da Terra Indígena de Araribá .............................235
A Psicologia na Formação e na prática do Profissional da Nutrição ................................................................236
As Diversidades Sócio-Culturais no Cuidado em Saúde Mental .......................................................................237
As iniquidades em Saúde da População Idosa Negra no Brasil: como enfrenta-las? .......................................238
As Publicações das Revistas de Psicologia: Uma Análise da Abordagem na Temática Negra e no Pensamento
Social Brasileiro.................................................................................................................................................240
Awre: uma cartografia dos encontros entre o cuidado dos terreiros e a Psicologia .......................................242
Estratégias de ensino-aprendizagem de professores de disciplinas de psicologia social na abordagem do tema
das relações étnico-raciais em sala de aula ......................................................................................................244
Grupo de Trabalho Relações Raciais na Psicologia/CRP-MG como prática de cuidado ...................................245
Mulher, Negra e psicóloga: de Candaces a Maria Bonita .................................................................................247
O silenciamento também mata ........................................................................................................................249
Os impactos do racismo na saúde mental ........................................................................................................250
Raça e degeneração na imprensa carioca dos anos 1920: o caso Febrônio Índio do Brasil ............................251
Racismo na Saúde Pública: Os Mecanismos da Exclusão .................................................................................252
Reflexões no campo da saúde sobre racismo e branquitude...........................................................................254
Resistência! .......................................................................................................................................................255
GT 12 | Ecologias e Políticas Cognitivas .................................................................................................... 257
O dispositivo-formação em psicologia e as práticas medicalizantes................................................................259
Pesquisando com(o) o GIP - Em favor de novas políticas cognitivas................................................................261
Políticas cognitivas, produtivismo acadêmico e fotografia ..............................................................................263
Privacidade e Visibilidade: algumas questões articuladas com os dispositivos tecnológicos no mundo do
trabalho ............................................................................................................................................................265
Problematizando o ato de ensinar a partir de oficinas com um jogo digital....................................................267
Psicologia Social, Ecologia, Transformação e Espiritualidade: Em busca de um novo paradigma ético
socioambiental no pensamento de Leonardo Boff ..........................................................................................268
Seguindo a Teoria Ator-rede em ação: primeiros apontamentos para uma cartografia de controvérsias .....269
Uma densa história de transição: a implementação dos caps no rio de janeiro na perspectiva de suas práticas
e dispositivos cotidianos ...................................................................................................................................271
Psi logosà oàgosta àdeà edi a e tos :àPes uisa doàoà o su oàdeà edi a e tosàpsi ot pi os ........272
GT 13 | Ecologias Outras: traçados poéticos, estéticos e políticos .............................................................. 273
Bicicletas, cidade, imagens, escritas: desLOUcamentos de pesquisa tecida em trânsito ................................275
C uza e tosàe t eàaài o po aç oàdaàop ess oà olo ialàdeàg e oà asàá i asàeàaào aà “ilhuetas àdeàá aà
Mendieta ..........................................................................................................................................................277
Devir-mulher do tambor: arte e política na criação estética do coletivo La Clínica .........................................279
ECOLOGIAS DO MONSTRO:Narrativas de luta e autonomia no movimento de universitários em uma
Universidade pública no ano de 2016: políticas do desejo e linhas de fuga frente ao Golpe..........................281
Escola de Pais: um desafio para a formação de professores............................................................................282
O psicólogo no cotidiano escolar: limites e possibilidades de enfrentamento aos desafios da inclusão .......284
O que pode o corpo em cena na cidade? .........................................................................................................286
Poética da resistência: desdobramentos de um diálogo artístico-político ......................................................287
Psicologia Social Multiespécie: narrativas de dança/pesquisa com cavalos ....................................................289
RITMOS DE PENSAMENTO: movimentos ecologistas de pensar educação e vida ...........................................291
ECO Concerto para Ensemble, Galho de Árvore, Vozes e Pios .........................................................................293
Entre poderes. O que se pode? ........................................................................................................................294
Hiroshima e Nagasaki: reverberações de uma viagem ....................................................................................296
Instrumentos Musicais Alternativos: Provocando Outras Ecologias ................................................................297
Resistir para Existir ...........................................................................................................................................298
GT 14 | Educação do campo e Psicologia Social: vivências, resistências e modos de subjetivação no contexto
escolar campesino.................................................................................................................................... 299
A Atuação da Psicóloga Social no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) Voltado para a
Juventude do MTST no Extremo Sul da Bahia ..................................................................................................301
A questão agrária e o messianismo no Brasil: os impactos do populismo na formação de populações rurais
..........................................................................................................................................................................302
Criança pantaneira: representações sociais de uma escola em regime de alternância...................................303
Educação do Campo e Violência: o que dizem os sujeitos campesinos sobre a violência no campo brasileiro?
..........................................................................................................................................................................304
Educação do Campo: identidade em Construção.............................................................................................305
Formação em Psicologia para assentados da Reforma Agrária .......................................................................307
MULHERES DO CAMPO: entre Existências, Resistências e Provações..............................................................309
O efeito da Educação do Campo no processo de subjetivação da criança: um ensaio metapsicológico ........311
projeto de intervenção na formação de professores no AJA ...........................................................................313
GT 15 | Espaço, Tempo e Trabalho: a Mútua Interpenetração Subjetividade-Objetividade na Fragmentação
Entre Indivíduo e Gênero em Condições Históricas de Exceção .................................................................. 315
A (In)visibilidade no Trabalho: um estudo de caso em uma Santa Casa de Misericórdia no Interior do Estado
do Rio de Janeiro ..............................................................................................................................................320
A emancipação feminina: uma consideração teórica acerca das políticas públicas de redistribuição e
reconhecimento................................................................................................................................................321
Apontamentos sobre Psicanálise e Teoria Crítica: mimese e pulsão de morte em Adorno, Horkheimer e Freud
..........................................................................................................................................................................323
Capitalismo global e cultura virtual: produção de subjetividades em tempos de sociedade em rede............325
Compreendendo a relação entre patrão e empregada: uma perspectiva social .............................................326
Moedas inexistentes: Notas sobre criptomoedas no capitalismo imaterial ....................................................328
SAÚDE DO TRABALHADOR E DOCÊNCIA: estudo de caso com professoras da Rede Municipal de Educação 329
Trabalho Imaterial e Qualificação Profissional: a realidade como fetiche .......................................................330
GT 16 | Ética na pesquisa e intervenção em Psicologia Social: impasses teóricos, metodológicos e políticos331
A metodologia clínico-política do Acompanhamento Juvenil: um exercício ético no encontro com jovens e
socioeducação ..................................................................................................................................................334
Desafios e potencialidades da intersetorialidade nas políticas públicas: interfaces entre assistência social,
saúde e educação .............................................................................................................................................336
Ética e Psicologia Social Comunitária: formação e práxis profissional .............................................................338
Impasses da pesquisa-intervenção: a cidade como espaço de tensão a partir de oficinas com jovens ..........339
Mapa de Rede Social como caminho inexplorado de acesso e apoio às usuárias do CRAS .............................341
Memórias da favela: reflexões metodológicas sobre uma pesquisa-intervenção ...........................................343
PAEFI: espaço social para coprodução de autonomia dos usuários em situação de violação de direitos? .....345
Percalços e potencias na atuação profissional da psicologia na universidade: narrativa de um processo .....347
Pesquisar o trabalho trabalhando: desafios éticos e metodológicos ...............................................................348
Pobreza, Psicologia e Assistência: um debate ético-político ............................................................................349
De a daàDep i ida :àest at giasàdeàa olhi e toàe à asosàdeà o flitosàfamiliares no contexto de um
CREAS/SUAS......................................................................................................................................................350
N sà ue e osà eito esà eg os,àsa a? :àt ajet iasàdeàu i e sit iosà eg osàdaà lasseà édia na UFMG........352
Práticas Teatrais e Estética do Oprimido ..........................................................................................................353
GT 17 | Gênero, Feminismos e Interseccionalidades: entre saberes e fazeres em tempos de retrocesso,
perdas de direitos e exceção .................................................................................................................... 354
A violência conjugal em contextos de ruralidades: a mulher rural em pauta ..................................................356
Depressão pós-parto e o contexto familiar: medidas preventivas e o papel da rede de saúde ......................357
Enquadramentos transfóbicos: sobre o deixar morrer e fazer morrer nas vidas de pessoas transexuais e
travestis ............................................................................................................................................................358
Estado de exceção para quem? Questionamentos de jovens mulheres MCs sobre o contexto do golpe ......360
Estudos interseccionais e a formação em psicologia: há uma nova face da Psicologia? .................................362
Gênero e invisibilidade: um olhar sobre as meninas em cumprimento de medida socioeducativa de privação
de liberdade ......................................................................................................................................................363
Mulheres em situação de violência e a caracterização do masculino no discurso: uma perspectiva relacional
..........................................................................................................................................................................365
O papel de moderadoras feministas frente o Ciberfeminismo e a Violência Contra Mulheres ......................367
O saber psicológico e a adolescência: a necessidade em considerar interseccionalidades .............................368
Os desafios dos saberes e fazeres em saúde no enfrentamento da violência contra as mulheres .................369
Problematizações da Violência: A Casa da Mulher Brasileira...........................................................................371
Psicologia e Políticas Públicas: a violência contra as mulheres no cenário do sudoeste goiano .....................372
Representações sociais do aborto: diante da angústia do desconhecido quem decide? ................................373
Um projeto feminista frente à sociedade das opressões: crítica às noções de democracia, autonomia e
igualdade ..........................................................................................................................................................375
O muro que em nós habita: Retratando a violência contra as mulheres na contemporaneidade ..................377
GT 18 | Gênero, sexualidades e interseccionalidades ................................................................................ 378
A produção acadêmica em psicologia sobre o tema maternidade: uma revisão bibliográfica sistemática de
trabalhos publicados entre 2012 e 2016 ..........................................................................................................380
Além dos limites da pele: performance drag e identidade ..............................................................................382
Discursos sobre a saúde da população LGBT entre médicos(as) da Estratégia Saúde da Família ...................383
Elas dão muito trabalho! Analisando o encarceramento feminino no sistema socioeducativo ......................385
Experiências linguísticas e sexuais não hegemônicas: um estudo das narrativas de surdos homossexuais ...387
Gênero e produção de sentidos na literatura infantil ......................................................................................388
Gênero, sexualidade e processo de rualização na trajetória de vida de travestis e transexuais em situação de
rua e na Política Municipal de Assistência Social de Belo Horizonte ...............................................................389
Investigando o Fenômeno do Assédio Sexual no Contexto Universitário ........................................................391
Militância trans: a luta pelo acesso e permanência no Ensino Superior brasileiro ..........................................392
O trabalho do care nas instituições de acolhimento : Implicações ao trabalho Feminino ..............................394
O sexo nervoso: doenças mentais de mulheres em Fortaleza durante a Belle Époque ..................................396
O(s) feminismo(s) enquanto campo teórico-político: Reflexões sobre a intersecção entre Gênero, Geração e
Raça ..................................................................................................................................................................397
Privilégios, vantagens e direitos: mulheres brancas assumindo sua racialidade no contexto feminista.........399
Reflexões sobre a história dos estudos psicológicos da homossexualidade (1890-1970) ...............................400
Relatos de idosos sobre sexualidade no envelhecimento: intersecções entre gênero e geração ...................402
GT 19 | História Social da Psicologia ......................................................................................................... 404
(De)Formações: da constituição histórica de um curso de psicologia à formação profissional do psicólogo .406
A Histórias das diferentes concepções de história em Psicologia Social..........................................................407
A louca e o santo de Jacarepaguá: uma análise das narrativas sobre a vida e a obra de Stela do Patrocínio e
Arthur Bispo do Rosario....................................................................................................................................408
A presença da Psicologia na formação de pastores batistas (Rio de Janeiro, décadas de 1950-1990): uma
análise histórica ................................................................................................................................................410
A Psicologia Sócio-Histórica e o ciclo democrático-popular .............................................................................412
Análise sobre ações coletivas: contribuições e limites teóricos na produção científica da psicologia social
brasileira ...........................................................................................................................................................414
Caminhos da Psicologia Clínica no Rio de Janeiro ...........................................................................................416
Intervenções construcionistas sociais na América Latina: caminhos de difusão e reflexões...........................417
Notas sobre a história da psicologia comunitária na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) na década de
1970 ..................................................................................................................................................................418
O conceito de Círculo de Vigotski e seus desdobramentos para uma nova historiagrafia da Psicologia
Histórico-Cultural Ana Carolina de Lima Bovo Gisele Toassa Universidade Federal de Goiás ........................418
O posicionamento político-ideológico de Eliezer Schneider e as articulações em Psicologia Social ...............420
O projeto construcionista social na obra de Keneth Gergen: Da crítica à construção de alternativas para o
fazer científico ..................................................................................................................................................422
Práticas comunitárias em uma comunidade quilombola .................................................................................424
GT 20 | Identidade ................................................................................................................................... 425
(Bio)políticas de reconhecimento: problemáticas às lutas identitárias ...........................................................427
A identidade e o gênero no campo da psicologia: diálogos e abstenções .......................................................428
Das (im)possibilidades da juventude no Brasil contemporâneo ......................................................................430
Desenraizamento e Construção de Identidades de Adolescentes Migrantes ..................................................432
Do discurso da proteção à autonomia: Políticas de identidade da personagem social "criança sujeito de
direitos" ............................................................................................................................................................434
Grupos de reflexão com funcionários de um abrigo: a subjetividade e vulnerabilidade social .......................436
Identidade Metamorfose: A História de Vida de Adolescentes Abrigados ......................................................438
O desvendar identitário em psicologia social: o que pulsa no cotidiano dos estudantes de psicologia? ........440
O Processo de Identidade de jovens que viveram em abrigo ..........................................................................441
O processo de Metamorfose na Identidade de indivíduos Bariátricos: A morte simbólica, o deixar de ser um
para ser outro ...................................................................................................................................................443
Persona, identidade e metamorfose Um diálogo entre a Psicologia social crítica e a Psicologia Analítica ....444
Práticas Narrativas Coletivas como Possibilidade de Ampliação das Identidades ...........................................445
Segredos de Alice: relatos de uma mulher presa em um corpo masculino .....................................................446
Sentidos do Grafite: um estudo sobre a identidade do jovem do Vale do Paraíba .........................................447
Vicissitudes do diagnóstico psiquiátrico para a identidade: uma pesquisa sobre Coisas Frágeis ....................448
GT 21 | Intervenções no campo do trabalho formal e informal, a partir da Psicologia Social ....................... 449
A Formação no Trabalho em Atenção Psicossocial: relato de uma experiência colaborativa entre instituições
públicas .............................................................................................................................................................451
A fotografia como formação profissional e pessoal entre os recuperandos da APAC, Santa Luzia .................453
A pesquisa como intervenção: O método de história de vida na Associação de Proteção e Assistência ao
Condenado........................................................................................................................................................455
A Roda de Conversa como um processo de reflexão do trabalhador na compreensão do cotidiano .............457
Acompanhamento e Intervenção: uma experiência no atendimento a adolescentes nas medidas
socioeducativas de meio aberto .......................................................................................................................458
Análise do trabalho no tráfico de drogas: o Método de História de Vida como dispositivo de intervenção
psicossocial .......................................................................................................................................................460
Do trabalho no tráfico de drogas ao ofício de florista: um estudo de psicologia do trabalho em situações
marginais ..........................................................................................................................................................462
Educação de presos para a Economia Solidária: possibilidade de resistência social .......................................464
Intervenção em Saúde do Trabalhador no Serviço Público: uma experiência psicossocial .............................466
Intervenção em um Grupo de Trabalhadores: Reflexões sobre o Processo de Saúde-Doença Relacionado ao
Trabalho ............................................................................................................................................................468
O trabalho do educador musicista ...................................................................................................................469
Promoção de Direitos Humanos no Cárcere: uma Inviabilidade......................................................................470
TRABALHO, GÊNERO E ECONOMIA SOLIDÁRIA: subjetividades, (sobre)vivências e desigualdades de gênero e
raça/cor.............................................................................................................................................................472
GT 22 | Movimentos Sociais e luta de classes: em busca de uma práxis transformadora ............................ 474
A dimensão psicossocial da saúde dos atingidos pela Barragem da Samarco (Vale/BHP Billiton) ..................477
A práxis da psicologia no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos .................................478
Arte das Periferias, territorialidades e transformação social: análise psicossocial dos afetos no Teatro
Mutirão, do Coletivo Dolores Boca Aberta.......................................................................................................480
Comunicação sindical e condição de classe expressão da consciência e diálogo nas redes sociais do Sindicato
dos Comerciários do Rio de Janeiro .................................................................................................................481
Conhecimento e união: a política espinosana como norte ..............................................................................483
Consciência de classe entre o passado, presente e o futuro: O que pensam jovens sobre o socialismo diante
da conjuntura atual?.........................................................................................................................................484
Educação Popular e Economia Solidária: a experiência na UNIVENCE- Rancharia, interior de São Paulo ......485
Fortalecimento Da Identidade Militante Entre Jovens Do Movimento Sem Terra Do Agreste De Alagoas ....487
Memória política e memória militante: Estudo da participação política a partir do relato de uma mulher
zapatista............................................................................................................................................................490
Relações entre o Movimento Feminista e o processo da Reforma Sanitária no Brasil – 1975 a 1988 ............492
Representações Sociais de Gênero e o Movimento Feminista ........................................................................493
Ocupação CDC Vento Leste ..............................................................................................................................494
GT 23 | Mulheridades não hegemônicas: epistemologias negras, trans e gordas sobre o corpo da mulher .. 495
A construção social do peso a partir de repertórios de saúde de mulheres adolescentes: implicações de
gênero, controle dos corpos e estigmas...........................................................................................................497
Descolonizar os afetos da branquitude no feminismo hoje .............................................................................499
Mulher negra e subjetividades: produzindo sentidos a partir da dança afro ..................................................501
Sobre a enunciação de mulheres não brancas na ciência: uma análise da produção intelectual de Gloria
Anzaldúa e Bell Hooks.......................................................................................................................................503
Análise do Discurso da patologização da transsexualidade .............................................................................504
Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual do CRP-04: construindo ações, expandindo fronteiras
..........................................................................................................................................................................505
Compromisso social da Psicologia e a evasão escolar da adolescente-mãe na educação básica no município
de Ladário-MS ...................................................................................................................................................507
O limite da norma - mulheres transexuais e travestis; estudos sobre exclusão social ....................................509
Violência Obstétrica: Precisamos avançar nas práticas de assistência humanizada ao parto para enfrentá-la
..........................................................................................................................................................................510
GT 24 | Narrativa, experiência e verdade: encontros intempestivos entre experimentações poéticas e
psicologia social ....................................................................................................................................... 511
A arte como passagem e encontro na formação em psicologia ......................................................................515
A ética da memória nos trilhos da ferrovia: Narrativas poéticas de um processo de pesquisa ......................516
Abrindo caixas-pretas de nós: locuções do Eu na contemporaneidade...........................................................517
Autodestruição e ficções de si como práticas formativas em atuação ............................................................519
Como escrever uma vida? Sobre produções escritas e de subjetividades .......................................................520
Corpoterritorializações: cidade e subjetividade narradas a um só tempo.......................................................522
Entre confissões e narrativas: exercícios de escrita em tempos de perigo ......................................................524
Escrita de testemunho ou sobre as narrativas em carne-viva .........................................................................526
Forjando gênero no sertão Norte-Mineiro sob os arquétipos do Circo e da Igreja .........................................527
Fotografia e pesquisa-intervenção: possibilidades metodológicas e estético-políticas ..................................529
Geladoteca: a experiência de uma biblioteca comunitária como fortalecedora de laços ...............................531
Memórias Inventadas: A Ficção e o Delírio Como Métodos na Pesquisa em Psicologia Social .......................533
Silêncios que cortam.........................................................................................................................................535
Vidas Infames e Narrativas Fantásticas ............................................................................................................536
Arquivo em Movimento: O Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro ................537
GTà 5à|à O upa àeà esisti :à odosàeàse tidosàdasà o ilizaç esàpolíti asàjuve isà o te po eas ............ 539
OCUPSI: Psicologia e transformação social ......................................................................................................542
2016, o ano que não terminou: resistências e ocupações na Unifei ................................................................544
ATIVISMO JUVENIL E POLÍTICAS PÚBLICAS: o caso do Centro de Referência da Juventude de Belo
Horizonte/MG ...................................................................................................................................................545
Cartografia de um movimento estudantil: experiência, militância e produção de sentido .............................546
Desocupa já! Eu quero aula: aspectos psicossociais do movimento Desocupa ...............................................547
Entre o protagonismo juvenil e a tutela da juventude: possibilidades da participação e subjetivação política
..........................................................................................................................................................................549
Juventude e participação política: interseções no enfrentamento à violência................................................550
O facebook e o espelho: atualizações do movimento de ocupação das escolas públicas ...............................552
Ocupação estudantil no interior de Goiás: Resistência em busca de Democracia Participativa .....................554
Ocupar e reexistir: da insurgência das ocupações secundaristas à micropolítica da prática de psicólogos ....556
Psicologia Social Comunitária: a criação de um Grêmio Estudantil na construção de sentidos de
pertencimento no contexto escolar .................................................................................................................558
Que formas de resistências produzem os jovens estudantes universitários frente ao contexto brasileiro
educacional atual? ............................................................................................................................................560
Viu como deu errado? O desejo revolucionário e o futuro das mobilizações políticas na contemporaneidade
..........................................................................................................................................................................562
GT 26 | O potencial político das microconvers(ações) cotidianas ............................................................... 564
Construindo a clínica ampliada em conversas com famílias em saúde mental ...............................................566
Empeiro e Ousadia - costuras dialógicas para uma nova política de drogas....................................................567
Espaço de conversas na Maré: dando voz ao cotidiano em contextos diversos da favela ..............................568
Momentos críticos num processo de Educação Permanente junto a profissionais de saúde mental .............570
Narrativas de resistências cotidianas dos que vivem às margens e nas margens dos manguezais capixabas 572
O brilho do fuzil refletiu o lado ruim do Brasil .................................................................................................574
O trabalho social por vir: insurgências em meio às capturas do capital ..........................................................575
Pesquisando comentários online a partir da psicologia social discursiva ........................................................577
Reverberações em meio a tormenta ................................................................................................................579
GT 27 | O que é trabalho no esporte? ....................................................................................................... 580
A psicologia do esporte e o Futebol: Uma realidade social a ser discutida .....................................................582
Condições de trabalho de Equipes de Saúde da Família do Pará .....................................................................583
Entre a vigilância e o cuidado: a atividade de agentes de segurança penitenciários em um hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico de Minas Gerais .......................................................................................584
Formação dos atletas de futebol: o que a psicologia tem a ver com isso? ......................................................585
P ojetoàdeàE te s oà Jo e à oàFutu o:àCo àI se ç oàaoàMu doàP ofissio al àeàsuasà ola o aç es .............586
Transição de carreira no cenário esportivo: A vivência do encerramento da carreira de atletas profissionais
brasileiros .........................................................................................................................................................587
GT 28 | Poéticas Insurgentes: Hospitalidades entre Arte e Psicologia Social diante de uma Democracia por Vir
................................................................................................................................................................ 589
A arte como dispositivo de (re)existência no fazer político .............................................................................591
A Experiência-Limite da Escrita de Max Martins e Maurice Blanchot: Uma vida de imanência ......................592
A política do Texto e seus combates no universo da pesquisa acadêmica ......................................................593
Ainda era confuso o estado das coisas percursos entre palavra e imagem ...................................................594
BRTRANS: Análises sobre gênero, performatividade e abjeção .......................................................................596
Cinema documentário, ética e o campo psi: a produção da diferença entre imagens e representações .......597
Escuta e subjetividade na contemporaneidade: qual o som do silêncio?........................................................599
Esgotar o Possível, Criar um possível: experiência ética em meio ao colapso de uma democracia ................601
Gesto-espaço-imagem: resistências dos corpos na cidade ..............................................................................603
Hotel dos Viajantes: A Cidade Escrita e a Escrita em Imagens .........................................................................605
Intervenções estético-políticas em psicologia e a resistência da vida na universidade...................................607
O estado da arte da Arte e as formas de luta na psicologia social ...................................................................608
Para além de um manual: notas nietzscheanas sobre os fluxos de um setor público .....................................609
Performance, Corpo e Silêncio em La casa de la fuerza , de Angélica Liddell ..................................................611
Sentidos e aspectos terapêuticos na intervenção de palhaços visitadores .....................................................612
GT 29 | Políticas de Desobediência: Juventude, Direitos e Violências ......................................................... 613
Das grades da cisheteronorma e suas articulações na privação de liberdade de adolescentes infratoras .....615
Desobedientes: a subversão como instrumento de luta contra a dissolução da identidade periférica nas
escolas ..............................................................................................................................................................617
Fronteiras da Laicidade: políticas de normalização entre o político e o religioso ...........................................619
Indisciplina e violência ou resistência? – Um estudo sobre processos de marginalização e criminalização da
juventude ..........................................................................................................................................................620
Interface entre saúde mental e justiça: percursos do cuidado para o adolescente autor de ato infracional .622
Jovens na pegada do Besouro: movimentos de esquivas e enfrentamentos à criminalização e ao extermínio
..........................................................................................................................................................................624
Juventude e violência: regimes de verdade e a produção do jovem perigoso ................................................626
Juventudes e Tráfico de Drogas: Modos de Subjetivação de Jovens que Vivem nas Margens Urbanas .........628
Oficina de Ideias: elaborando desobediências à vontade de imputar .............................................................630
Redes de significados sobre o jovem nem nem brasileiro em pesquisas de juventude e nas experiências de
jovens pobres....................................................................................................................................................632
Redução da maior idade Penal: o que dizem os adolescentes.........................................................................633
Rolezinho como aposta metodológica para pensar o governo da juventude e a produção de conhecimento
..........................................................................................................................................................................635
Um paralelo entre os liquidáveis de Agamben e o gozo público doutrinado pela mídia.................................636
Elesà oà ue e à adaà o àoà“iste aàdeàGa a tiaàdeàDi eitos :àso ioedu aç oàeàsaúdeà e tal ..................638
Mi haà aio à i ga çaà à o ti ua :à esist iaàeài su g iaàdeàjo e sàdoà‘ioàdeàJa ei oàe àsuasà
experiências nas subculturas ............................................................................................................................640
GT 30 | Políticas públicas de saúde para LGBT: experiências democráticas de participação, provocações e
desafios ................................................................................................................................................... 642
A construção da cultura escolar de prevenção e autocuidado: efeitos de intervenções curriculares.............644
Andarilhos de estrada e as políticas públicas de assistência: exclusão social ou estratégias de gestão dos
riscos .................................................................................................................................................................645
Contribuições da Psicologia sócio histórica para a Saúde no brasil: uma revisão narrativa ............................646
Investigando possibilidades de intervenções clínicas com grupos marginalizados a partirdo plantão
psicológico ........................................................................................................................................................648
O que os usuários/as nos falam sobre o cuidado ofertado pelo Espaço de Acolhimento e Cuidado para
Pessoas Trans e Travestis .................................................................................................................................650
Política de Atenção à Saúde da Mulher e Processo Transexualizador: Questões de Gênero Possíveis ..........652
Protagonismos e embaraços de redes nas articulações de práticas emancipatórias na saúde das mulheres 653
Representações sociais de masculinidades na campanha do Ministério da Saúde sobre Prevenção Combinada
(2016)................................................................................................................................................................654
Violência Sexual, questões de gênero e possíveis lacunas nas políticas públicas ............................................655
GT 31 | Práticas Cotidianas e Saberes Locais na Construção de Espaços Democráticos ............................... 657
Construção de eventos: instaurando percursos intersetoriais no âmbito da Assistência Social .....................659
Educação tutorial por uma práxis alternativa de formação de psicólogas ......................................................661
Entre a laicidade e a democracia: contrapondo a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental -
ADPF N. 54/DF ..................................................................................................................................................663
Entre telas e cenas da rua: a mediação audiovisual no encontro com vidas outras nas cidades ....................665
Experiências de Resistências no Carnaval em Belo Horizonte .........................................................................666
Os sentidos da água como bem público para jovens da região de M'Boi Mirim e da Zona Oeste da cidade de
São Paulo ..........................................................................................................................................................668
Psicologia e cotidiano escolar: saberes e intervenções na construção de um espaço político e democrático
..........................................................................................................................................................................671
Psicologia social e escolar: o conhecer no cotidiano e práxis resistênciais de desterritorialização ................673
Psicologia Social e Políticas Públicas de Juventude: entre a atuação profissional e a militância social ..........674
GT 32 | Práticas e saberes da psicologia: olhares sobre gênero, interseccionalidade e resistência .............. 675
"Nós resistiremos": mulheres muçulmanas, sexualidade e islamofobia..........................................................677
A mulher e sua tripla jornada de trabalho: uma discussão de gênero.............................................................678
As Epistemes feministas e a política de escrita nas produções discursivas da Psicologia Social .....................680
Gênero e câncer de próstata ............................................................................................................................682
Hipermasculinidade, juventude e violência na cidade de Fortaleza: uma leitura a partir das discussões de
gênero ...............................................................................................................................................................684
Menina e menino, há diferença? Representações sociais de pais residentes do Rio de Janeiro.....................686
Mulheres aprisionadas: a potência de histórias de vida para a subversão da colonialidade ..........................688
O Cutting e a mulher: Análise de uma captura subjetiva .................................................................................689
Políticas públicas de enfrentamento às violências contra as mulheres: problematizações na atuação em rede
..........................................................................................................................................................................691
Profissionais do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS e Relações de Gênero ............................692
Rede de Atenção no Combate à Violência de Gênero: Reflexões a respeito da Participação da Psicologia
Social na Construção da Política de Atendimento a Agressor, no Estado de Sergipe ......................................694
Resistir em grupos: as Oficinas em Dinâmica de Grupo no enfrentamento à violência de gênero .................696
Universo feminino e Universo masculino: uma Análise do Discurso de pais de meninos e meninas..............698
GT 33 | Psicologia, desigualdade social e dominação................................................................................. 699
A dimensão subjetiva da desigualdade social – um estudo na cidade de São Paulo .......................................701
A Psicologia frente à violência contra mulheres: um compromisso ético-político? ........................................703
Aceleração social, experiência e depressão: repercussões subjetivas na sociedade de consumo ..................704
ATO INFRACIONAL, FRACASSO ESCOLAR, CONTEXTO SOCIO-FAMILIAR: analisando o histórico de alunos em
processos judiciais ............................................................................................................................................705
Crítica, Descolonização e Africanização da Vida na prática da Capoeira Angola .............................................706
Desigualdade social: Organização Popular e Políticas Sociais ..........................................................................707
Dimensão Subjetiva da Desigualdade Social: Vivências, Afetos e Significações da Formação em Psicologia da
PROUNISTA da PUCSP.......................................................................................................................................709
Educação das elites, desigualdade social e práticas curriculares .....................................................................710
Intervenções junto à crianças abrigadas: a clínica ampliada e o processo de (des)institucionalização ..........711
O compromisso social da psicologia: um projeto crítico em movimento ........................................................712
Participação Vazia: Formação, Traços e Resultados - Um Estudo sobre o Programa Minha Casa Minha Vida
..........................................................................................................................................................................714
Psicólogas brancas e relações étnico-raciais: em busca de uma formação crítica sobre a branquitude .........716
Psicologia Crítica e estágio em políticas públicas - um fazerresistente ...........................................................717
Três cenas de Helena: memória, identidade e militância feminista no enfrentamentos da humilhação social
..........................................................................................................................................................................719
Uma nova ciência para velhos condenados?Psicólogos e autores de crimes sexuais na República (1889-1984)
..........................................................................................................................................................................720
GT 34 | Psicologia Comunitária: interlocuções entre Assistência Social, Sistema Prisional, Relações Etnico-
Raciais e Assessoria a Sindicatos ............................................................................................................... 721
A prática da psicologia nas políticas públicas de ressocialização em Pernambuco .........................................723
Além do paradoxo socioeducativo: a construção de sentidps coletivos ..........................................................724
Análise da Política Nacional de Assistência Social pelos critérios da Psicologia Comunitária Latino-americana
..........................................................................................................................................................................726
Da Invisibilidade ao Fortalecimento de Si e de Nós: Experiência em um CRAS de Itajaí/SC ............................727
Inserção social em Sindicatos e Sistema Prisional: Desafios metodológicos para a Psicologia Social
Comunitária ......................................................................................................................................................728
Mulheres Encarceradas: A Construção de um Projeto para a Vida de Futuras Egressas do Sistema Prisional em
Curitiba .............................................................................................................................................................729
O sujeito encarcerado e a reincidência penitenciária: uma relação entre condições institucionais e
subjetividade ....................................................................................................................................................730
O Trabalho como Pena Alternativa: Relato de uma pesquisa/intervenção .....................................................732
Os desafios do profissional da psicologia na unidade prisional de Catalão-Goiás ..........................................734
Programa de Distensionamento no Local de Trabalho ....................................................................................736
Psicologia Social e formação de presos para o exame crítico do trabalho sob o capitalismo .........................737
Psicologia social e sistema prisional: entre grades e possibilidades ................................................................739
Uma passagem pelas teorias criminológicas, suas relações com o estado e a criminalização da miséria ......741
GT 35 | Psicologia Social Comunitária: Práticas e Formação ....................................................................... 743
As metodologias de rede como estratégias de ação coletiva no trabalho comunitário ..................................745
As práticas em Psicologia Comunitária: Os desafios da supervisão de estágio em comunidades carentes ....746
Atuação do psicólogo no terceiro setor: intervenções em uma ong que atende pessoas com deficiência ....748
Desafios para um país que envelhece: reflexões sobre o atendimento ao idoso asilado provido pelo Estatuto
do Idoso ............................................................................................................................................................749
Direitos dos idosos e concepção de envelhecimento: cotidiano e administração de Instituições de Longa
Permanência para idosos .................................................................................................................................750
Estágio básico de psicologia em contextos comunitários: o CRAS como via de acesso à comunidade ...........751
Formação de policiais militares: reflexões a partir da Psicologia Social Comunitária......................................753
In(ter)venções: Práticas clínico-institucionais tecendo novas conexões no território.....................................755
O processo de constituição de um grupo de pesquisa e extensão em psicologia social-comunitária: teoria,
consolidação de redes, desafios e estratégias de intervenção ........................................................................756
Observação Participante em Instituição Assistencial para Pessoas que Vivem com HIV.................................757
Oficinas Psicossociais como práticas Educativas na Prevenção do Abuso Sexual com Crianças e Adolescentes
..........................................................................................................................................................................758
Projeto InterAções: Intervenção comunitária por meio de metodologia participativa ...................................759
Refugiados e Migrantes: a práxis da Psicologia em um projeto de extensão universitária .............................761
Serviço de proteção e atendimento integral á família (PAIF) e pesquisa participativa: um relato de
acompanhamento familiar ...............................................................................................................................762
Transformando percursos na Psicologia através da inserção acadêmica em um Núcleo de Apoio à Saúde da
Família...............................................................................................................................................................763
GT 36 | Psicologia Social do Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho e os processos organizativos ......... 764
A política de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora na Sociedade dos Adoecimentos no Trabalho: um
relato de experiência de estágio num CEREST .................................................................................................766
Avaliações Psicossociais no Trabalho: a Psicologia comprometida com quem e com o que afinal? ...............768
Cadernos de Psicologia Social do Trabalho: metassíntese da produção publicada em suas duas décadas de
existência ..........................................................................................................................................................769
Clínica da Atividade: investigação das apropriações e usos da autoconfrontação no Brasil ...........................770
Desejo, resistência e produção em empreendimentos de economia solidária ...............................................771
El Trabajo Autogestionario Complejo en un Movimiento Urbano Popular .....................................................772
Família-empresa e acidente de trabalho na indústria automobilística: a história de João ..............................774
Ideologia e significado do trabalho: o caso dos trabalhadores por conta própria ...........................................776
Narrativas de estudantes do IFBA sobre experiências de trabalho e formação ..............................................778
Narrativas de resistência no mundo do trabalho: um estudo em andamento sobre a Economia Solidária
brasileira ...........................................................................................................................................................780
Os sentidos atribuídos ao trabalho: relatos de pesquisas produzidas em um curso de Administração ..........782
Os sentidos do trabalho e da educação na percepção de jovens universitários: Desafios profissionais .........783
Por novos Paradigmas de Gestão das Relações de Trabalho para Empresas Autogestionárias: Formação
Integral e Continuada .......................................................................................................................................785
Saúde Mental em Moçambique: Percepção dos Professores do Ensino Fundamental da Rede Pública de
Angoche sobre os Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho Docente ..........................................................787
Trabalho Intensificado: um estudo sobre as representações sociais de gerentes de logística........................788
GT 37 | Psicologia Social e Ruralidades ..................................................................................................... 790
A Transversalidade do Currículo das Escolas da Zona Rural de Seropédica ...................................................792
Contribuições da Psicologia Para a Pela Emancipação do Campo ...................................................................793
Entre sonhos desejos e incertezas: cartografia de subjetividades de jovens rurais ........................................794
Gênero e ruralidade: cartografando resistências .............................................................................................795
História de vida e violência vividas por jovens rurais: enfrentamentos e táticas de resiliência ......................797
Infâncias do Campo-Educação e cuidado compartilhados em acampamentos e assentamentos rurais ........799
Juventude rural do Brasil e da Espanha: projetos e possibilidades de realização na formação profissional ..800
Juventude rural e rural quilombola: uma pesquisa bibliográfica sobre a produção discente na pós-graduação
..........................................................................................................................................................................801
Memória Social em um contexto Rurbano: Análise da religião protestante em Paracambi ...........................802
Mulheres e ruralidade(s): nomeações e sentidos em Movimento ..................................................................804
O Comportamento antissocial na escola:representações das violências entre o rural e o urbano .................805
O que significa articular o passado e o presente na comida caipira? ..............................................................807
Os desafios de manter o uso comum da terra: perspectivas dos/as jovens faxinalenses sobre as comunidades
..........................................................................................................................................................................809
Vivências do trabalho camponês: o cultivo do tabaco na região Sul ...............................................................811
GT 38 | Psicologia Social e Saúde: os desafios das práticas profissionais na atenção à saúde de populações em
situação de vulnerabilidade social e na execução de políticas de saúde em contextos neoliberais .............. 813
A Atuação do Psicólogo nos Programas de Redução de Danos - Internveções para a Cidadania....................815
As redes de atenção às crianças vítimas de violência intrafamiliar no município de Uberlândia ....................816
Construindo sentidos: profissionais da saúde da família e o trabalho em equipe...........................................818
Consultório na rua e efetivação de direitos: avanços e desafios na perspectiva de trabalhadores ................819
Crianças e adolescentes em situação de violência sexual - identificação e notificação dos casos na ESF.......820
Desafios da atuação de psicólogos/as na atenção a pessoas com ideações e tentativa de suicídio ...............822
Educação Popular em Saúde no contexto das comunidades Quilombola e Indígena de Piripiri/PI ................823
Excelencia en la acogida: las fronteras de las emociones en el cuidado de quien cuida .................................825
Formar-se psicólogo em uma Residência Multiprofissional em Saúde da Família no Rio de Janeiro: um relato
de experiência ..................................................................................................................................................827
O desenvolvimento do poder de agir em profissionais do programa Consultório na rua: considerações
preliminares ......................................................................................................................................................829
O que a atenção à saúde da população em situação de rua tem a ensinar à psicologia? ...............................831
O trabalho no Dispositivo de Cuidado no atendimento a População em situação de Rua ..............................833
Práticas de cuidado para mulheres parturientes: desafios da humanização em um hospital no Pará ...........834
Uma leitura sobre as mulheres ribeirinhas no portal do ministério da saúde .................................................836
VISIBILIDADE E CONTROLE: efeitos da noção de vulnerabilidade na atenção básica à saúde .........................838
GT 39 | Psicologia Social Jurídica: experiências, desafios, especificidades éticas e políticas em interface com a
Justiça ..................................................................................................................................................... 840
A atuação das/os psicólogas/os no serviço PAEFI na região da grande Florianópolis (SC) ..............................842
A inobservância dos direitos dos reclusos no Sistema Penitenciário brasileiro: um projeto político? ............844
A invasividade jurídico-penal sobre as relações humanas na contemporaneidade ........................................846
A reintegração social de egressos do Método Penal APAC: diálogo entre psicologia social e justiça .............848
Afinal, o que é "proteção" no método do Depoimento Especial? ...................................................................850
Caleidoscópio da violência intrafamiliar: relato de intervenção grupal com pais e cuidador@s autor@s de
violência ............................................................................................................................................................851
CREAS/PAEFI e Sistema de Justiça: interfaces na rede de proteção à criança e ao adolescente.....................853
Espaço de vivências em Socioeducação ...........................................................................................................855
Família acolhedora e Reintegração familiar: impasses e reflexões sobre a medida protetiva para
crianças/adolescentes ......................................................................................................................................857
Honoris Causa: Gênero e sexualidade na jurisprudência dos Tribunais de Justiça do sudeste brasileiro .......859
Para além das grades e prisões: Por uma psicologia crítica frente ao encarceramento em massa.................860
P ti asà otidia asàdosà o selhosàtutela es:àp o le atiza doàoà u doàdasà faltas ....................................862
Proteção I teg alà àadoles iaà oàestadoàdoà‘ioàdeàJa ei o:àe àa liseàasà p io idadesàa solutasà oà itoà
do Poder Judiciário ...........................................................................................................................................863
Protege-RS: relações entre justiça, segurança e direitos humanos .................................................................864
Relatos de experiência sobre a formação e a atuação do(a) psicólogo(a) social no Sistema Único de
Assistência Social em interface com a Justiça ..................................................................................................865
GT 40 | Psicologia Social, História e Poder: entre a reprodução e a ruptura................................................ 866
A análise de Dante Moreira Leite acerca do caráter nacional brasileiro..........................................................868
A psicologia e o percurso brasileiro para as políticas de saúde mental infantil ...............................................869
Articulações entre psicologia e educação no início do século XX: Manoel Bomfim e Isaías Alves ..................871
Infância e Consumismo na Contemporaneidade: Um diálogo entre teoria crítica e psicanálise .....................873
Por aventuras mais estranhas: abolicionismo penal e desinstitucionalização dos manicômios judiciários ....874
Reflexões sobre o trabalho dos psicólogos com famílias na política de assistência social ..............................876
Relato de experiência de trabalho articulado entre o Serviço de Acolhimento e CREAS em Manaus ............878
Subjetividade e subjetivação em Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault: contribuições à Psicologia
..........................................................................................................................................................................879
GT 41 | Psicologia social: história, subjetivação, insurgências .................................................................... 881
A produção de subjetividades de adolescentes em Medida de Liberdade Assistida .......................................883
Foucault, Marxismo e Psicanálise: uma análise histórica sobre os usos de Foucault na Psicologia Social no
Brasil .................................................................................................................................................................884
Gênero e saúde em 1990: uma análise da mídia impressa gaúcha .................................................................885
Lourenço Filho: o diálogo entre psicologia e educação para um novo projeto nacional de sociedade...........887
Missão Lapassade-1972: coincidências analisadoras .......................................................................................889
O argumento da historicidade na Psicologia & Sociedade: da crise da psicologia social à crise do tempo .....891
Os atravessamentos nas construções de grupos nos CRAS .............................................................................893
Por uma Psicologia Social morena: contribuições do pensamento de Darcy Ribeiro ......................................894
Psicologia Social nas tramas: Possibilidade de subversão social ou conformação com a ordem estabelecida?
..........................................................................................................................................................................896
Violência, juventude e medo: apontamentos sobre a política carioca de extermínio dos jovens pobres ......898
GT 42 | Psicologia, desigualdade social e lutas para além do capital: análises desde o Marxismo ............... 900
A ética neoliberal do poliamor e o mito da desconstrução do amor romântico .............................................902
Apropriações do Marxismo pela História da Psicologia ...................................................................................904
As teses marxistas sobre a relação indivíduo e sociedade na revista Psicologia & Sociedade ........................905
Conscientização e Transformação Social: Impasses e exigências para a Psicologia Social Comunitária .........907
Experiências: termos e sujeitos ausentados na apreensão dos conflitos da sociedade brasileira ..................909
Homofobia e desigualdade social: de que maneira o marxismo pode contribuir para ações psi? ..................911
Ideologia, individualismo e Psicologia: modernização capitalista e experiência subjetiva ..............................912
Psicologia Social Comunitária e questão social: algumas reflexões na ótica da emancipação humana ..........914
Questão social, pobreza e o papel do psicólogo: reflexões a partir do estudo com a população em situação de
rua .....................................................................................................................................................................915
GT 43 | Psicologia, Promoção de Saúde e Cuidado Integral ........................................................................ 917
As oficinas de intervenção psicossocial como estratégia de educação permanente e produção de
conhecimento ...................................................................................................................................................920
Benzedeiras no Triângulo Mineiro: a concretização da integralidade do cuidado nos territórios da saúde ...922
Construindo intervenções de promoção à saúde com adolescentes: relato de experiência de uma UBS ......923
Cuidado de si e promoção da saúde: a leitura literária no cotidiano de jovens na Cidade de São Paulo........925
Cultura de avaliação na atenção básica e processos de subjetivação .............................................................926
De que Prevenção Estamos Falando? Sexualidade, marcadores sociais da diferença e 'políticas do medo' em
um Programa Municipal de combate ao HIV em uma cidade do interior de Minas Gerais .............................927
Estudo sobre as implicações subjetivas e socioculturais para sujeitos com sequelas de queimaduras ..........928
IRDI (Indicadores de Risco ao Desenvolvimento Infantil) e o mercado da doença ..........................................929
O cuidado em saúde mental: limites e possibilidades da rede de atenção psicossocial .................................931
O dominó como mediação semiótica no resgate da vida: relato de experiência de estagiários de psicologia no
NASF..................................................................................................................................................................932
O Luto e a Função da Escuta Junto às Famílias que Perderam seus Filhos ......................................................933
Produções artísticas no processo terapêutico em saúde mental: produtos e efeitos da subjetividade em
movimento .......................................................................................................................................................934
Promoção e Manutenção da Saúde em Idosos na Comunidade ......................................................................936
Rodas de conversa com idosos: prática de um estágio básico em contexto comunitário ...............................938
Saúde mental de estudantes universitários: do atendimento individual à proposta de ajuda colaborativa de
pares .................................................................................................................................................................940
GT 44 | Psicologia, Travestilidades, Transexualidades e Intersexualidades ................................................. 942
A subjetivação da beleza a partir do concurso Miss T Brasil ............................................................................944
A testosterona pensada a partir das leituras neomaterialistas em relação às transmasculinidades ..............945
Análise de Discurso de gênero em Silicone Blues ............................................................................................947
Cisnormatividade e passabilidade: (re)posicionamentos epistêmicos frente as regulações de gênero nas
experiências trans .............................................................................................................................................948
Corpos Trans e Acesso às Redes de Saúde Pública em Divinópolis, MG ..........................................................950
Da patologização ao direito à saúde de travestis e transexuais em documentos nacionais e internacionais .951
Desafios éticos na pesquisa com travestis: reflexões de um filme documentário...........................................952
História de vida de uma estudante intersexual ................................................................................................953
Inserção na política como estratégia de poder para travestis e transexuais: candidaturas nas eleições
municipais de 2016 ...........................................................................................................................................954
Intersecções entre Psicologia, Direitos Humanos e a despatologização das identidades travestis e trans: um
diálogo possível?...............................................................................................................................................956
Movimentos trans e os homens trans: questões sobre (in)visibilidade e participação política ......................957
Processo Transexualizador: Reinvenção e Regulação dos Corpos Trans .........................................................959
Psicologia e despatologização das transexualidades e travestilidades: a experiência das oficinas de orientação
realizadas pelo CRP-12 no estado de Santa Catarina .......................................................................................961
Psicologia, poder e sexualidade: a figura contemporânea do intersex e novas práticas de subjetivação ......963
Sexualidade e poder: algumas considerações sobre o filme Dzi Croquettes e a Psicologia ............................964
GT 45 | Reflexões sobre ações em saúde para pessoas que fazem uso problemático de substâncias
psicoativas ............................................................................................................................................... 965
A gestão "das drogas" dos indesejáveis: fragmentos acerca da saúde mental no contexto do Estado do Pará
..........................................................................................................................................................................967
A Laicidade como direito no tratamento para usuários de álcool e outras drogas .........................................968
A toxicomania como efeito paradoxal do Discurso Capitalista ........................................................................969
Acompanhamento Terapêutico: prática interventiva em centro de atenção psicossocial para álcool e outras
drogas ...............................................................................................................................................................971
Dependência química e violência na percepção do usuário de substâncias psicoativas .................................972
Gestação e Crack: Percepções de Profissionais do Consultório de Rua de Jundiaí ..........................................973
Intervenções psicossociais na drogadição ........................................................................................................975
O dispositivo das drogas nas políticas públicas: um relato de experiência de estágio em CAPS-AD ...............976
Percepção dos familiares sobre sua participação no desenvolvimento, tratamento e recuperação de
dependentes químicos .....................................................................................................................................978
Perfil dos moradores de rua e sua dinâmica familiar .......................................................................................979
Perfil e Conjugalidade de Mulheres Dependentes Químicas em Tratmento no CAPS AD. Cibele Alves
Chapadeiro -Universidade Federal do Triângulo Mineiro ................................................................................980
Prevalência de práticas manicomiais no funcionamento institucional do CAPSad ..........................................981
Prevenção e promoção de saúde dos filhos de pessoas que fazem uso problemático de álcool ....................982
PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR: a importância da escuta ativa na construção dos cuidados em saúde...983
Substâncias psicoativas, vulnerabilidade social e laços familiares: um estudo de caso ..................................984
GT 46 | Reflexões sobre atuação da psicologia com populações indígenas, quilombolas e povos tradicionais –
descolonização e encontro de saberes. ..................................................................................................... 985
Aldeia urbana no sagrado afro-brasileiro: memória social e transformações identitárias de remanescentes
indígenas, ribeirinhos e quilombolas ................................................................................................................989
Colonialidade e subjetivação política: problematizações quanto aos movimentos decoloniais .....................991
Dimensões da inserção de mulheres ribeirinhas na geração de renda comunitária .......................................993
Encontros e agenciamentos na construção de estratégia de luta para retomada de área ancestral Mbya
Guarani .............................................................................................................................................................994
Grupo de identidade indígena com Crianças Xucuru-Kariri em Palmeira dos Índios Alagoas .........................996
Identidade Coletiva e Indígenas em Contexto Urbano: Uma revisão de literatura .........................................997
Integralizando saberes populares e especializados em saúde: Promoção da saúde na atenção primária em
uma Comunidade Quilombola..........................................................................................................................999
Memória, participação e o diálogo intergeracional numa comunidade quilombola .....................................1001
Memórias de um Povo Trajado de Rei: Arte e Recriação do Cotidiano .........................................................1002
Prisioneiras invisiveis: mulheres indígenas nos estabelecimentos prisionais de Mato Grosso do Sul ..........1003
Saberes Populares no Cuidado à Saúde no Quilombo: Descolonização de Saberes ......................................1005
Sobre modos de beber entre os kaiowá e guarani no Mato Grosso do Sul ...................................................1007
GT 47 | Relações de Gênero e Educação: desafios na promoção da equidade .......................................... 1008
A escola como espaço para construção e desconstrução de gêneros: reflexões para a psicologia escolar ..1010
Assimetrias na aprendizagem verificadas na avaliação do Pisa sob a ótica do gênero .................................1011
Coletivos feministas, minorias ativas: estudantes em foco ...........................................................................1013
Educação e gênero: representações sociais de professores de uma escola particular do Rio de Janeiro .....1014
Educação sexual e ensino superior: realidade contemporânea e avanços necessários ................................1015
Educação, Diversidade e Cultura: Estratégias de Intervenção .......................................................................1016
Enfrentando a heterossexualidade compulsória: reconhecer as diferenças para reduzir desigualdades .....1017
Espaços de fala sobre gênero e sexualidade: O impacto na prevenção e revelação da Violência Sexual .....1018
Vale teàN oà à iole to :ài te e ç esàso eàasàl gi asàdaà iol iaàdeàg e oà aàes ola ...........................1020
GT 48 | Relações pessoa-ambiente: territorialidades e produção de espaços de resistência ..................... 1021
(In) visíveis e loucos pela cidade: encontros entre saúde mental e população em situação de rua .............1023
A Comunidade local na pratica do licenciamento ambiental da mineração: Estudo de caso em Mariana ..1024
Arte e cultura como possibilidades de resistência e apropriação do território: a comunidade do Jardim
Pedramar ........................................................................................................................................................1026
As cidades dos (in)visíveis: uma etnografia sobre pessoas em situação de rua e sem abrigo .......................1028
Enfrentamentos, resistências e sobrevivências nos raps do Grupo Realidade Negra do Quilombo do
Campinho da Independência ..........................................................................................................................1030
Identidade psicossocial e práticas de resistência em um território quilombola no sul do Estado de São Paulo
........................................................................................................................................................................1032
O resgate das ruralidades em contextos urbanos e o compromisso pró-ecológico ......................................1033
O uso da cidade por adolescentes em situação de rua no centro de São Paulo ............................................1035
Relação Idoso-Ambiente e Qualidade de Vida em Ambientes Residenciais ..................................................1037
Sociabilidades e subjetividades juvenis periféricas em contexto de violência urbana: significados e
enfrentamentos ..............................................................................................................................................1039
Uma Índia em Território Espírita ....................................................................................................................1040
GT 49 | Saberes e fazeres da Psicologia no campo da Justiça e dos Direitos ............................................. 1041
A bissexualidade na jurisprudência: as engrenagens do discurso monossexual ...........................................1043
A experiência do estágio supervisionado em Psicologia Social e Jurídica: poderes, potências e provocações
........................................................................................................................................................................1045
A socioeducação nas medidas socioeducativas: (re) produção da (des)igualdade social? ............................1047
Construções Discursivas de Transgeneridade e Travestilidade na Jurisprudência ........................................1049
Encontros psi-jurídicos na Defensoria Pública paulista: o entreprofissional e seus efeitos na formação .....1050
Judicialização de Maternidades Vulneráveis: caso Mães Órfãs em Belo Horizonte ......................................1051
Justiça Restaurativa: reflexões sobre intervenções alternativas com adolescentes envolvidos em conflitos
........................................................................................................................................................................1053
Juventudes e Violência Urbana: Histórias de Vida de jovens em cumprimento de medida socioeducativa na
cidade de Fortaleza (CE) .................................................................................................................................1055
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E ATO INFRACIONAL: lançando luzes sobre a relação entre conflitos familiares e
atos infracionais por filhos adolescentes .......................................................................................................1056
Notas sobre o proibicionismo de drogas e o racismo institucional: Efeitos para a Juventude Negra ...........1058
O duplo estigma: louco e infrator, reflexões sobre a Medida de Segurança no Brasil ..................................1060
Problematizando as práticas da Psicologia na Vara da Infância e da Juventude em Belém-PA ....................1062
Psicologia e direito: relações entre alienação parental, família e poder no ordenamento jurídico brasileiro
........................................................................................................................................................................1064
Uma experiência em instituição socioeducativa: reflexões sobre os direitos da criança e do adolescente..1065
Quem decide é o juiz: o (des)empoderamento familiar frente as demandas do judiciário...........................1067
GT 50 | Saúde e processos participativos ................................................................................................ 1068
Agente comunitário de saúde: a potência transformadora no território ......................................................1070
Análise psicológica da escolha pelo parto domiciliar .....................................................................................1072
Atividades interdisciplinares junto às adolescentes gestantes usuárias da UBS Dr. João Fernandes e suas
mães, no município de Ladário - MS, com foco na gravidez sucessiva ..........................................................1073
Clínica das formas-de-vida no trabalho: tessituras do entre .........................................................................1074
Família e paciente oncológico: considerações sobre o lugar do psicólogo na produção de cuidado ............1075
Mitos e Barreiras à psicoterapia: a percepção da prática do psicólogo e seus efeitos ..................................1076
Na Escola, o mundo se movimenta. Trocas Interculturais entre Crianças do Brasil e da França através de seus
Desenhos ........................................................................................................................................................1078
O Dispositivo Equipe e o Fazer Entre Profissões em um Centro de Saúde Mental ........................................1080
Produção de Saúde e Participação com usuários de um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil....1081
Psicologia, processo terapêutico e produção de subjetividades....................................................................1083
Relato de Experiência com Adolescentes do CAPS IA, Ênfase em Clínica Ampliada em Gestalt-Terapia ......1085
Saúde mental e inclusão social do estudante de graduação..........................................................................1086
Saúde Mental, Discurso Midiático e Representações Sociais: aproximações entre a Psicologia Social e a
Fenomenologia ...............................................................................................................................................1088
Tenda Paula Freire ..........................................................................................................................................1090
Um estudo de campo sobre a exposição exacerbada de adolescentes nas redes sociais .............................1091
GT 51 | Sexualidades minoritárias, gêneros locais: questões aos processos de generalização, universalização
e homogeneização sobre as maneiras de desejar .................................................................................... 1092
A produção de subjetividade de mulheres vítimas de violência intrafamiliar em Rondonópolis- MT ..........1095
Comendo mulher e dando pra homem: os desejos subvertendo a lógica identitária ...................................1096
Gênero bicha? uma a[na(l)]rqueologia da diversidade sexual no Brasil ........................................................1098
Igrejas inclusivas: territórios de resistência e luta pelo direito à fé e à diversidade sexual...........................1099
O armário entreaberto: experiência de ocultamento homossexual, uma revisão da literatura ...................1101
O Estado da Arte sobre juventude rural homossexual em pesquisas Psi no nordeste brasileiro ..................1102
Pegação Masculina na Cidade: Politicas de extermínio de sexualidade minoritárias e práticas de resistência
através de territórios homoeróticos infames .................................................................................................1104
Ma ifestoàpo àu à o poà ual ue :àaàa liseàdeà o po alidadesàe àes ui aàdeà o ati asàeàp oduç oàdeà
singularidades a partir do método cartográfico .............................................................................................1106
GT 52 | Subjetividade e Processos formativos: crítica da política, cultura e educação na América Latina .. 1107
A ideologia da qualificação como ente subjetivador dos jovens pobres contemporâneos: apontamentos
iniciais de pesquisa .........................................................................................................................................1110
A Psicologia na Educação Inclusiva na Rede Pública de Belo Horizonte/MG: a percepção dos professores .1111
Análise da construção da ITES-FIBE: um relato de experiência da Psicologia do UNIFAFIBE .........................1113
Estudo sobre a vivência prática e idealizações do papel da professora na educação infantil .......................1115
Funk, identidade e cultura: os diferentes modos de produção de si no cotidiano escolar ...........................1116
Grades curriculares e amarras: A (in)ade uaç oà u i ula àdosà u sosàdeàPsi ologiaàf e teà à uest oàso ial
........................................................................................................................................................................1117
O Horror sobrenatural na literatura: Reflexões sobre arte, educação, subjetividade e violência .................1119
O trote universitário na Universidade Federal de Roraima: reflexões sobre indivíduo, grupo e sociedade .1121
Políticas de Acesso a Mães Universitárias na Universidade Federal de Roraima ..........................................1123
Políticas Públicas de Acesso na Universidade Federal de Roraima: Permanência e Qualidade de formação
........................................................................................................................................................................1125
Políticas públicas e intervenção no contexto escolar: desafios e práticas .....................................................1127
Reflexões sobre as noções de formação humana e desenvolvimento em Jean Piaget com base na teoria
crítica ..............................................................................................................................................................1129
Reflexões sobre diversidade sexual e políticas públicas em educação ..........................................................1131
Roda de conversa sobre evasão: a psicologia escolar no ensino superior .....................................................1133
Uma experiência de implantação de oficinas na EJA em uma escola municipal ...........................................1135
GT 53 | Subjetividades, ciborgues, híbridos e redes sociotécnicas :pulsações intermitentes entre o mecânico e
o maquínico ........................................................................................................................................... 1137
A imersão em realidades simuladas como dispositivo de experimentação estética .....................................1139
A Indústria Cultural na Era da Internet – Teoria Crítica, Consumo e Tecnocultura: Felicidade/Sofrimento .1141
O coletivo Uerj nas suas múltiplas redes de (res)existência ..........................................................................1142
O uso do Facebook como plataforma colaborativa no desastre ambiental da Região Serrana em 2011 .....1144
Participação Política na Era Informacional .....................................................................................................1146
Pedro e a Responsabilidade: notas para uma cartografia socioeducativa .....................................................1147
Performances e redes sociotécnicas e ecosofia : a cartografia do social e a posição da ciência em um
laboratório de resíduos contaminantes .........................................................................................................1149
Processo de Extitucionalização: Outras Formas de Organizaçao Social .........................................................1151
GT 54 | Territorialidades, subjetividades e Psicologia Social .................................................................... 1153
A MÍDIA E AS MORTES DE JOVENS DA PERIFERIA: uma análise a partir do jornalismo impresso .................1155
Biopolíticas da vida urbana: subjetivações, exclusões e violências ...............................................................1157
Cartografias político-afetivas em situação de rua no Norte do Brasil ............................................................1159
Circulação, Cidade e Poder .............................................................................................................................1160
Corpos arruínados pela história: memórias vulneráveis ................................................................................1162
Da Cultura de Paz ao Tecnobrega: reflexões sobre juventudes urbanas e práticas culturais ........................1164
Discursos de medo e insegurança como produtores de exclusão e segregação no espaço urbano .............1166
ONG Pós- Cris: reflexões sobre as forças normativas.....................................................................................1167
Programa Minha Casa Minha Vida – Do sonho da casa própria ao governo das vidas..................................1169
Prostituição e territórios: Efeitos e transformações em Belo Horizonte .......................................................1170
Psicologia e Cidade: intervenções interdisciplinares para desnaturalização da cidade enquanto espaço de
privilégios........................................................................................................................................................1171
Saúde Mental e Atenção Básica: o fio da navalha entre autonomia e tutela ................................................1172
Táticas do cotidiano: Acompanhamento terapêutico, narrativas e construção de territórios ......................1173
Territorialidade e Subjetividade: desafios para a população em situação de rua .........................................1175
Malu osàdeàEst ada :àp oduç oàdeàte it iosàdeàe ist iaàe àte s oà o àosà odelosài stitu io aisà
hegemônicos...................................................................................................................................................1177
GT 55 | Territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações da Psicologia Social ................. 1179
Adolescência em situação de precariedade social: das fronteiras no processo de constituição subjetiva e
identitária .......................................................................................................................................................1181
Desafios, tensões e enfrentamentos vivenciados por profissionais nos Centros de Referência em Assistência
Social ...............................................................................................................................................................1183
Devir-cidade e o poder comum de agir: subjetividades – histórias de comunidade .....................................1185
Diálogos audiovisuais da Psicologia na relação pessoa-ambiente: sala de aula como espaço de criação.....1187
Espaços de fazer viver e do deixar morrer da população masculina no município do Rio de Janeiro: uma
análise da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde dos Homens .........................................................1189
Famílias à margem: vivências em um processo judicial de remoção e reassentamento ...............................1191
Modos de viver e habitar de uma comunidade em situação de vulnerabilidade social no município de Santo
Ângelo - RS ......................................................................................................................................................1192
O efeito do trabalho agente comunitário de saúde na pólis e o efeito da pólis nos modos como são
produzidos o cuidado em saúde .....................................................................................................................1194
Quem caça jeitos cata ventos: uma cartografia da Casa dos Cata-Ventos ....................................................1195
Relato de experiência em psicologia no território de medidas socioeducativas ...........................................1197
Serviços públicos de atendimento psicológico para pessoas com deficiência e produção de subjetividade 1199
Sobre aposta na disponibilizaç oàdeàes utaàpsi a alíti aàe àu aà ue ada à o otidia oàdifí il" ........1200
Subjetivação Política e Máquina de Guerra: impedimentos e potencialidades dos CRAS em ações coletivas
........................................................................................................................................................................1202
Territórios e juventudes: sobre a construção de subjetividades ...................................................................1204
Lá e cá histórias e projetos de vida de sorveteiros ítalo-brasileiros na Alemanha ........................................1206
GT 56 | Territórios que forjam sujeitos: poder, identidade, processos de subjetivação e políticas de ocupação
.............................................................................................................................................................. 1207
FotografAndando: uma experiência de apropriação da cidade com usuários da Saúde Mental ..................1210
Meio ambiente, atuação política e constituição de identidade no movimento ambientalista do Norte e
Nordeste do Brasil ..........................................................................................................................................1212
Meu corpo não te pertence: território de risco para mulheres adultas jovens .............................................1214
Pelo olhar dos adolescentes: contribuições do 'photovoice' para a apreensão dos desafios e dos potenciais
dos territórios no empoderamento dos sujeitos............................................................................................1215
Surdez com Recorte Racial: Estado da Arte no Brasil de 2002-2017..............................................................1216
Trajetórias no Risco: reflexões sobre questões de gênero no contexto das emergências e desastres .........1218
UMA RUA, UM PRÉDIO, UMA PRAÇA: Decolonizando durações em Pelotas ................................................1219
Exposição fotográfica FotografAndando: uma experiência de apropriação da cidade com usuários da Saúde
Mental ............................................................................................................................................................1221
GT 57 | Trabalho e Precarização: Adoecimento e Resistências ................................................................. 1223
A terceirização na UFF: enfrentamentos em tempos de precarização do trabalho.......................................1225
A vida do/a professor/a universitário/a: o produtivismo acadêmico como processo de precarização do
trabalho ..........................................................................................................................................................1227
Considerações acerca da organização de trabalho em um hospital público .................................................1228
Doà t a alhoàsujo à à elaào a:àOà ueà àt ia à ate iaisà e i l eis? .............................................................1230
Intervenções em saúde do trabalhador: reverberações nos sujeitos, instituições e na formação em Psicologia
........................................................................................................................................................................1232
O desgaste docente na educação pública superior brasileira: questões emergentes ...................................1234
Reflexões acerca da organização de trabalho do setor bancário através do Organidrama ...........................1236
Saúde do trabalhador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: compreensões de assistentes sociais .........1238
Saúde e Saúde do Trabalhador: compreensões de trabalhadores de Unidade de Referência do SIASS .......1239
Sofrimento No Trabalho: O Cuidado Com A Saúde Do Agente Penitenciário Do Sistema Prisional Do Estado De
Minas Gerais ...................................................................................................................................................1241
Trabalho docente flexível: riscos à vulnerabilidade de professores ..............................................................1243
Trabalho e saúde de docentes universitários: um estudo de caso ................................................................1245
UM MAL SILENCIOSO OU SILENCIADO?: representações sociais para graduandos em Administração sobre o
assédio moral no trabalho ..............................................................................................................................1247
Violência relacionada ao trabalho e adoecimento psíquico ..........................................................................1249
Façoà aisàdoà ueàde oàeà e osàdoà ueàp e iso :àt a alhoàdo e teàeàsaúde...............................................1251
GT 58 | Trocas interdisciplinares em percursos metodológicos inventivos: pesquisa narrativa e escrita
acadêmica ............................................................................................................................................. 1252
As narrativas autobiográficas de Vanete Almeida: as marcas de gênero, raça e classe ..............................1255
Cartagrafar: possibilidades entre escrever e cuidar, acolher e pesquisar.....................................................1256
Ciência do Rastreio: Territorialização no campo da Assistência Social ..........................................................1258
Elucidando processos investigativos em formatos de pesquisa-ação colaborativa .......................................1260
Fotografia e Pesquisa: a produção de narrativas e dados visuais em Psicologia Social .................................1262
Mapeamento sobre saudade: um objeto de pesquisa que exige novas estratégias metodológicas .............1263
Não morri assim como você, mas minha vida desde este dia ficou congelada: um estudo de narrativa sobre
os efeitos da violência obstétrica na vida de uma mulher violada no parto ..................................................1264
Narrativas audiovisuais para uma abordagem história da luta contra a aids em Belo Horizonte .................1266
Narrativas da rede intersetorial de saúde sobre atendimento psicossocial e mortes em vida no caso do
desastre tecnológico de Mariana/MG ............................................................................................................1268
Narrativas de estudantes universitários, habitus familiar e competência discursiva ....................................1270
Narrativas ficcionais coconstruídas com jovens vivendo com HIV/aids.........................................................1272
Processos de subjetivação em vivencias do pós-operatório tardio da cirurgia bariátrica .............................1273
Teoria Ator-Rede e o Trabalho de Campo: condições de fazer e ser o movimento #UERJRESISTE ...............1274
Transferência textual: A produção teórica na psicologia ...............................................................................1276
Uma pesquisadora narrativa vivendo possibilidades criativas na escrita acadêmica ....................................1277
GT 59 | Violação de direitos na área de gênero e raça: analisando e diagnosticando o presente ............... 1278
"QUERO LANÇAR UM GRITO DESUMANO": Vivências de travestis e transexuais encarceradas em Caruaru-PE
........................................................................................................................................................................1281
A Terceira Margem do Rio: os Direitos Humanos das Pessoas Trans ............................................................1282
AGRESSORES: relato de experiência sobre o acompanhamento de um grupo de homens envolvidos em
situações de violência doméstica ...................................................................................................................1283
Atendimento Psicológico no CREAS aos Meninos Vítimas de Violência Sexual .............................................1285
Desconstruindo relacionamentos abusivos: um olhar crítico acerca da sociedade patriarcal ......................1287
Entre saúde e segurança pública: homens marcados pela violência nos serviços de emergências de saúde
........................................................................................................................................................................1289
Homicídios de adolescentes em Fortaleza: uma discussão a partir das variáveis raça e pobreza .................1290
Inclusão perversa e violação de direitos de LGBT's negros sob a perspectiva da Psicologia Social ...............1291
Incursões no universo da violência de gênero: experiência com oficinas temáticas .....................................1293
Promoção de igualdades no âmbito da Universidade: mapeando os perfis étnico-raciais, de gênero e
diversidade sexual ..........................................................................................................................................1295
Relatos de vivências: estudo de caso de travestis negras em situação de rua na cidade de Uberaba/MG...1296

Categoria Pôster ........................................................................................................................... 1297


Eixo 01. Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais .............. 1298
A atuação dos profissionais em procedimentos de apuração de ato infracional de jovens estudantes .......1299
A prática da psicologia social em um trailer itinerante Projeto Circolando (Instituto Padre Haroldo,
Campinas/SP) ..................................................................................................................................................1301
A representação social da reforma do ensino médio para os estudantes .....................................................1303
Acolhimento institucional para adolescentes com trajetória de vida nas ruas: Vivências de um estágio
curricular.........................................................................................................................................................1304
Adoção de crianças maiores, adolescentes e construção de vínculos familiares: uma revisão da literatura
científica .........................................................................................................................................................1306
Análise das práticas de cuidado com usuários de álcool e outras drogas na Atenção Básica .......................1308
Análise sobre a implantação da Rede de Atenção Psicossocial na em Fortaleza...........................................1309
As "manicomializações" em ILPI's e a urgente discussão das internações sob novas roupagens .................1310
As medidas socioeducativas em adolescentes e sua efetividade: uma revisão integrativa da literatura
científica .........................................................................................................................................................1311
Atendimento a indivíduos em cumprimento de medida socioeducativa por uso indevido de drogas: uma
postura de atuação .........................................................................................................................................1313
Bolsa-família e a possibilidade de uma vida mais vivível ...............................................................................1314
Contextualizando a personalização do menor infrator no Brasil: uma revisão narrativa ..............................1315
Da marginalidade à inclusão: Perspectivas do egresso do sistema prisional que participa do Programa de
Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (PrEsp) ...............................................................................1316
Democracia, Garantia De Direitos e Juventude: Demandas E Embaraços .....................................................1317
Desafios e possibilidades para o trabalho das (os) psicólogas (os) do CRAS em tempo de crise...................1318
Desafios na atenção psicossocial de crianças e adolescentes usuários de álcool e drogas. ..........................1319
Dia Mundial de luta contra a aids: importância da prevenção e do combate ao preconceito ......................1320
Discurso e ideologia: a violação do direito à vida em três momentos políticos do Brasil .............................1321
Expectativa dos profissionais da ESF em relação a atuação do psicólogo na RAPS .......................................1322
Família e adoção: perspectivas para o trabalho em rede ..............................................................................1323
Família, gênero e políticas de assistência: uma perspectiva da teoria crítica. ...............................................1324
Formação acadêmica tecnicista e discursos especialistas: Engrenagens (re)produtoras de exclusão social?
........................................................................................................................................................................1326
Internação involuntária, família e o abuso de substâncias psicoativa: revisão sistemática da produção
científica nacional. ..........................................................................................................................................1327
Levantamento e análise dos programas sociais governamentais para juventude no Brasil ..........................1328
Mapeamento da produção científica latino-americana de Psicologia sobre política social ..........................1329
Matriciamento em saúde mental: articulação entre atenção primária e Centros de Atenção Psicossocial .1331
O imaginário social relativo à adoção de crianças maiores e a construção dos vínculos familiares..............1332
O PAIF como estratégia para politização de crianças de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família .1333
O Programa Saúde na Escola: possibilidades e limites na perspectiva da Residência Multiprofissional em
Saúde ..............................................................................................................................................................1335
O psicólogo na Assistência Social interlocuções entre teoria e prática .........................................................1337
Os sujeitos egressos prisionais: o retorno à liberdade e a (re) inserção social ..............................................1339
Política Pública de Segurança, Juventude, Prevenção à Criminalidade e atuação da Psicologia ...................1340
Práticas discursivas de educadores sociais junto a adolescentes em situação de vulnerabilidade social .....1341
Processos de empoderamento de pessoas portadoras de doenças estigmatizadas negligenciadas: análise
crítica da literatura nacional ...........................................................................................................................1342
Projeto Dignidade: Garantindo Direitos no Centro de Ressocialização de Cuiabá ........................................1344
Psicologia e EJA: Uma Construção De Saber Escolar, Social e Político. ..........................................................1345
Relato de experiência de estágio em um Centro de Recepção ao Adolescente Infrator ...............................1347
‘elatoàdeàE pe i iaà oàC‘á“:àOàG upoà ásàVioletas . ................................................................................1348
Sentidos construídos com equipes de saúde mental sobre o cotidiano da internação psiquiátrica compulsória
........................................................................................................................................................................1349
Sujeito adolescente e ato infracional: leituras sobre o desamparo e a posição do campo jurídico ..............1350
Trabalho e Justiça Social no Brasil da Constituição Cidadã: discurso jurídico sobre política urbana e assistência
social ...............................................................................................................................................................1351
Um relato de experiência em instituição de acolhimento para crianças e adolescentes ..............................1353
Violência doméstica: Experiência com grupo reflexivo ..................................................................................1354
Vivência prática: atuação da Psicologia na atenção terciária.........................................................................1356
Eixo 02. Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência .................................... 1357
"O que os adolescentes querem saber sobre sexualidade" ...........................................................................1358
A família homoafetiva e a contemporaneidade: desafios e conquistas.........................................................1359
A Influência da Visão Social, Histórica e Psicanalítica sob a Mulher e a Subjetivação do Corpo Feminino ...1360
A maternidade enquanto escolha da mulher .................................................................................................1362
As repercussões da revelação da homossexualidade na família: revisão integrativa da literatura científica
........................................................................................................................................................................1364
Construção do objeto a partir das categorias gênero e raça: Notas introdutórias de uma pesquisa............1365
Corpos dissidentes: experiências de pessoas transexuais da infância à vida adulta .....................................1366
Criação do conhecimiento em contexto de luta: O caso do Nucleo juvenil de pesquisas comunitaria.........1367
Despatologização da Transexualidade, uma revisão integrativa da literatura nacional ................................1369
Diversidade sexual: Preconceito e discriminação na universidade. ...............................................................1371
Experiências do "sair do armário" e relações de poder: processos de constituição da subjetividade e
identidade de jovens lésbicas e gays ..............................................................................................................1373
Gênero e prisão: os impactos do sistema prisional sobre a desigualdade social e invisibilidade da mulher
encarcerada no estado de Alagoas.................................................................................................................1375
Gênero, subjetividade e psicologia: a importância do debate emergente na contemporaneidade .............1376
Homossexualidade e família de origem: a perspectiva de homossexuais masculinos ..................................1377
Impactos causados pelo grupo de atendimento a homens autores de violência de gênero contra mulher.1378
Investigações sobre o envelhecimento LGBT .................................................................................................1380
Junt@s: Elaboração de estratégias acerca das experiências de conjugalidade de homens autores de violência
........................................................................................................................................................................1381
Labirintos da violência de gênero: Conhecendo a agressão Psicológica e moral contra as mulheres...........1383
Mulheres e o enfrentamento da violência: perspectivas históricas e a afirmação de políticas públicas ......1384
O MERCADO DE TRABALHO: A percepção de um grupo de homossexuais de Uberlândia-MG ....................1386
O Ninho Vazio: Análise da vivência de um grupo de pais de Uberlândia no momento da saída do último filho
de casa. ...........................................................................................................................................................1387
O que a mulher fez de errado para apanhar? Uma análise crítica dos trabalhos brasileiros ........................1388
Os Sentidos do Ser/Estar Trans ......................................................................................................................1390
Quando a batalha acabar: uma análise do direito ao nome social dos não-humanos ..................................1392
Repetição da g a idez na adoles ia e o contexto familiar ....................................................................1393
Representações Sociais sobre a velhice em lideranças LGBT .........................................................................1395
Sexualidade e preconceito na universidade: a vivência de estudantes LGBTs ..............................................1397
Travestis e Mulheres Trans no Sistema Prisional Brasileiro: uma análise do discurso acadêmico no Brasil .1398
Po detrás das o ti as : relato de experiência com mulheres profissionais do sexo .................................1400
Eixo 03. Psicologia Social, Comunicação e Mídias: hegemonias e resistências táticas ................................ 1402
A vulnerabilidade das crianças e adolescentes no uso das redes sociais e a mediação parental ..................1403
Gênero e espaço midiático. Como desenhos infantis são analisados na identificação e discussão de gênero.
........................................................................................................................................................................1404
Representações Sociais do Nordeste e do nordestino ...................................................................................1405
Sexualidade, Violência e Etnia na mídia: o que pensam os adolescentes de Coletivos ProJovens? ..............1406
Uma nova mulher (?): gênero feminino na filmografia contemporânea da Disney ......................................1408
Eixo 04. Insurgências ético-estético-políticas: artes, tecnologias e subjetivação ....................................... 1410
Andanças do pensamento, delírios e outros modos de pesquisar.................................................................1411
As Representações Subjetivas através das Tatuagens no Contexto Prisional ................................................1412
BRECHÓ-BRECHA: produção de subjetividade pela roupa e pela moda em grupo de escambo ...................1413
Entre sentir e transformar: a potência da experiência estética na academia................................................1414
O significado de fé para adolescentes em conflito com a lei .........................................................................1415
Os Velhos e a poesia: Cartografia de um asilo. ..............................................................................................1417
Poder e tecnologia nos modos de subjetividade: uma perspectiva histórico-cultural. .................................1419
Poeticagens no cotidiano de uma sala de aula: experiência Estético-Político-Ético......................................1421
Poéticas em conflito com a lei: a arte como dispositivo de resistência e criação no contexto das medidas
socioeducativas ..............................................................................................................................................1423
Potências transformadoras para além do óbvio: A arte como intervenção psicossocial no contexto da saúde
mental .............................................................................................................................................................1425
Eixo 05. Psicologia Social, processos de trabalho em contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento
.............................................................................................................................................................. 1426
A Individualidade Humana na Sociabilidade Capitalista: uma analise centrada em O Capital de Karl Marx .1427
A velhice em meio à sociedade de produção: de qual modo ser? .................................................................1428
A vulnerabilidade do estresse no trabalho em um grupo de bombeiros na cidade de Uberlândia-MG .......1429
Adoeci no trabalho: identidade do trabalhador contemporâneo ..................................................................1431
Aspectos do processo de trabalho em saúde mental com trabalhadores de CAPS .......................................1432
Assédio moral acidentário: a dupla perversidade do mal como causa e consequência de adoecimento no
trabalho ..........................................................................................................................................................1434
Da ideia da empresa capitalista à regulação de uma norma geral de vida por meio do trabalho: do que fala o
trabalhador informal?.....................................................................................................................................1435
Fatores Facilitadores e Limitantes da Inserção no Mercado de Trabalho com um Grupo de Universitários de
Uberlândia/MG ...............................................................................................................................................1436
Fatores relacionados á exclusão social: uma revisão sistemática ..................................................................1438
História de vida de pacientes psiquiátricos em período de internação .........................................................1439
Impacto de curso de capacitação na ressignificação de compreensões e experiências relacionadas à
Economia Solidária .........................................................................................................................................1440
Impacto do trabalho em três turnos na saúde mental em professores do ensino médio. ............................1441
IMPáT‘IáÇÃOàEà MáI“àMÉDICO“ :àt ajet iasàeài pli aç esà osàp o essos de subjetivação de médicos
cubanos...........................................................................................................................................................1442
Jovem trabalhadora em situação de trabalho informal e uma experiência traumática ................................1444
Jovens Universitários em Situação de Desemprego: As implicações de voltar a depender financeiramente dos
pais ..................................................................................................................................................................1446
O controle do tempo do trabalho docente e o uso do ponto eletrônico: lutas e resistência no IFBA – Campus
Vitória da Conquista .......................................................................................................................................1447
O trabalho contemporâneo e suas consequências na subjetividade do trabalhador ....................................1449
O trabalho da mulher agente de segurança penitenciária e seus impactos psicossociais. ............................1451
O trabalho na prisão: o campo da precarização .............................................................................................1452
Organização do trabalho de psicólogos da atenção básica ............................................................................1453
Popularização da ciência entre professores: elaboração de cartilha sobre saúde/adoecimento mental dos
docentes do RS ...............................................................................................................................................1455
Psicologia no Sistema Único de Assistência Social: Reflexões sobre o lugar do estagiário no Serviço de
Proteção e Atendimento Especializada as Famílias e Indivíduos (PAEFI) .......................................................1457
Sofrimento Físico e Mental das Professoras da Educação Infantil .................................................................1458
Subjetividade, representações sociais e o trabalho na economia solidária: uma revisão teórica .................1459
Trabalho (do) menor: o Sentido do Trabalho Protegido para jovens aprendizes ..........................................1461
Trajetória e Atuação do Psicólogo Organizacional: Impasses e Dificuldades.................................................1463
Transtorno de Ansiedade: um estudo sobre a identificação de sinais de ansiedade nos estudantes da
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora de Macaé na busca por uma colocação no mercado de trabalho...1464
Uma visão sobre a organização do processo de trabalho da equipe da CIHDOTT.........................................1466
Vivências do Desemprego entre Mulheres: Adoecimento Psíquico e Social .................................................1468
Eixo 06. Estado, Democracia e Movimentos Sociais face à mundialização e neoliberalismo ...................... 1469
Mídia burguesa e comunicação mediada: a invenção da verdade, identidade e subjetivação .....................1470
Ocupação estudantil: As representações sociais de estudantes de uma universidade federal.....................1472
Eixo 07. Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou
intervenções .......................................................................................................................................... 1473
A Construção do Conceito de Self na Obra de Kenneth Gergen ....................................................................1474
A dinâmica familiar na prostituição e as interfaces com o contexto social ...................................................1475
A experiência de um grupo reflexivo - PAEFI - de mulheres no município de Brejinho/RN ..........................1477
A identidade PROVAR: o discurso do não-lugar dentro de uma universidade pública. .................................1478
A Produção Científica Sobre Políticas Sociais: Uma Análise Da Autoria Latino-Americana ...........................1480
A produção de A. N. Leontiev em relação à ciência soviética entre 1940 e 1959..........................................1481
A psicologia no campo da Atenção Básica: uma revisão sistemática .............................................................1482
Atuação do/a Psicólogo/a na Proteção Especial nos Órgãos da Assistência Social .......................................1484
Compreendendo o papel da educação escolar em práticas psicológicas na saúde: por uma formação crítica
........................................................................................................................................................................1486
Concepções de mães de usuários de drogas sobre a própria maternidade ..................................................1488
Educação inclusiva: transformação (in)clusiva ou (ex)clusiva? ......................................................................1489
Epidemiologia da Violência Auto Infligida/Suicídio e Políticas Públicas do SUS ............................................1490
Experiência de atuação em CREAS de um município de pequeno porte no RN ............................................1491
Infância(s) e Psicologia(s) Socia(is): multiplicidade, performatividade e efeitos. ..........................................1493
Medicalização do fracasso escolar .................................................................................................................1494
Modulações da verdade e processos de subjetivação com Foucault. ...........................................................1495
O projeto epistemológico moderno em face das histórias das mulheres: problematizando práticas jurídicas e
psicológicas. ....................................................................................................................................................1497
Os efeitos da convivência em famílias acolhedoras no desenvolvimento de bebês .....................................1499
Prática de estágio em Psicologia social: Desafios na mediação indivíduo trabalho.......................................1501
Promoção de saúde e integração em um grupo de dança comunitário. .......................................................1502
Significado e Sentido de Maternidade Analisados Numa Perspectiva Histórico-Cultural..............................1504
Sobre construir-se militante na formação em Psicologia: intervenções contra situações de violência de
gênero .............................................................................................................................................................1505
Super Trunfo Cidadania: Combinações entre o lúdico e o político na criação de uma tecnologia
socioassitencial ...............................................................................................................................................1506
Tornar-se Psicólogo: Compreender as transformações de sentidos no decorrer da graduação de estudantes
de Psicologia. ..................................................................................................................................................1507
Uma Psicologia contra a ordem: faces da Psicologia Política na América Latina ...........................................1509
Eixo 08. Políticas de igualdade racial e étnica no Brasil: histórico e desafios contemporâneos .................. 1511
As interfaces da inclusão no âmbito educacional ..........................................................................................1512
Centro de Referência de Assistência Social e as Comunidades Tradicionais de Matriz Africana: reflexões sobre
possíveis intervenções psicossociais junto aos povos de terreiros. ...............................................................1514
Empoderamento e protagonismo negro a partir da análise de músicas brasileiras ......................................1515
NosàBatu uesàdosàQui tais:àC uzadasà o t aàosà I i igosàdeàC isto ...........................................................1516
Parentalidade quilombola: etnografia centrada na pessoa ...........................................................................1517
VidasàNeg asài po ta ! àU àEstudoà íti oàso eàasà at izesàdoàpe sa e toàpsi ol gi o ......................1518
Eixo 09. Ética, violências e justiça em tempos de retrocessos mundial e nacional dos direitos humanos ... 1519
A Contribuição da Mídia para a Legitimação da Violência de Estado e Criminalização da Pobreza ..............1520
A Multiparentalidade nos tribunais: reflexões sobre o reconhecimento da socioafetividade no recasamento
........................................................................................................................................................................1522
Acompanhando pais, assistindo filhos: a prática do psicólogo no acompanhamento de visitas nos tribunais
........................................................................................................................................................................1523
Alienação parental e guarda compartilhada nas varas de família: judicialização em debate ........................1525
Aprisionado na mais complexa liberdade: pequena cartografia sobre adolescentes em situação de rua na
cidade de Pelotas/RS ......................................................................................................................................1526
As relações homoafetivas à luz dos direitos humanos na jurisprudência brasileira ......................................1528
Atuação da Psicologia diante da Violência Obstétrica: Uma discussão a partir da produção de documentários.
........................................................................................................................................................................1530
Construção de Vínculos e Acompanhamento a Egressos das Medidas Socioeducativas na FUNDAC Bahia .1532
Construção dos afetos, vínculos e rupturas no acolhimento familiar de crianças e adolescentes em situação
de violência. ....................................................................................................................................................1533
Controle Social e a Violência Praticada Contra Jovens no Brasil ....................................................................1535
Denúncias de abuso sexual infantil no contexto do litígio conjugal: atuação dos psicólogos nos tribunais .1537
Diálogos entre Psicologia e Direito: contribuições de uma prática interdisciplinar.......................................1538
Direitos Humanos em diálogo com a Psicologia: historicidade e ascensão no Brasil ....................................1539
Família e prisão: desafios para a produção novos saberes ............................................................................1541
Infância, migração e processos de subjetivação: experiências de um projeto de extensão universitária.....1542
Jovens em conflito com a lei: uma revisão sistemática de literatura.............................................................1543
Justiça Restaurativa e construcionismo social................................................................................................1545
Justiça Restaurativa pela mediação dialogada dos conflitos e repactuação social ........................................1546
Liga Acadêmica de Psicologia Jurídica: Uma experiência formativa em Psicologia Jurídica ..........................1548
Mulheres em situação de Violência Doméstica, a Psicologia e estratégias de enfrentamento. ....................1550
O uso estratégico do escopo de justiça na legitimação do conflito intergrupal ............................................1552
Perícia Psicológica Judicial em Saúde do Trabalhador ...................................................................................1553
Prestação de Serviços à Comunidade no Brasil: reabilitação como modelo conceitual faz sentido?............1554
Processo de construção de diálogo na diferença de opinião sobre o Programa Bolsa Família .....................1555
Psicologia escolar:Estudos sobre relações entre psicologia, didática e direitos humanos ............................1556
Refletindo sobre o preconceito: vivenciando a deficiência física ..................................................................1557
Reflexões sobre o Sistema Socioeducativo e suas práticas. ...........................................................................1559
Relato de experiência: os desafios políticos frente à institucionalização de adolescentes ...........................1561
Representação Social da Violência da Polícia Militar: Relato de Experiência em Pesquisa ...........................1562
Retroceder jamais! A Psicologia como luta politica contra violências no SUAS .............................................1564
Usando a Abordagem de Capacidade para Examinar Experiências Masculinas Brasileiras de Violência ......1566
Violência doméstica e Psicologia: Um olhar sobre os agentes policiais de uma DEAM .................................1567
Violência Doméstica ou Violência Intrafamiliar: análise dos termos .............................................................1569
Eixo 10. Práxis da Psicologia Social na Saúde em contextos neoliberais .................................................... 1570
(Sub) Notificação da violência contra a mulher nos serviços de saúde: alguns desafios ...............................1571
A discussão atual sobre psicologia e práticas de gestão, presente na literatura latino-americana e do Caribe
em ciências da saúde ......................................................................................................................................1573
A Experiência no Campo de Estágio em Saúde Mental como Importante Contribuição na Formação do
Profissional Psicólogo .....................................................................................................................................1574
A formação de psicólogos para o trabalho com grupos em uma universidade pública ................................1575
A formação multiprofissional em Saúde Coletiva na construção coletiva do Planejamento Estratégico ......1576
A Hemodiálise como Campo de Formação do (a) Psicólogo (a) .....................................................................1578
A implantação da Saúde do Trabalhador em Uberlândia: elementos históricos e atuais .............................1580
Acompanhante terapêutico e sua função social no contexto dos CAPS Infantis. ..........................................1582
Aprendizados (com) partilhados: extensão universitária em saúde mental ..................................................1583
As dificuldades encontradas no atendimento psicoterápico para surdos .....................................................1584
Atendimento em domicílio: reflexão sobre a prática do psicólogo ...............................................................1585
Atuação do Psicólogo no aconselhamento multiprofissional à mulher que deseja realizar Laqueadura Tubária.
........................................................................................................................................................................1587
Atuação do psicólogo no Núcleo de Apoio à Saúde da Família: revisão da literatura ...................................1589
Caracterização dos atendimentos em CAPS AD III Infantojuvenil ..................................................................1590
Desafios e Possibilidades dos Profissionais Envolvidos na Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante ..1592
Desafios e Potencialidades: vivencias da Residência Multiprofissional em Saúde da Família .......................1593
Desafios psicossociais em Unidade de Acolhimento Infanto Juvenil .............................................................1594
Doce Vida: trabalhando o cuidado com o diabetes por meio da atenção psicossocial .................................1595
Identificação da sintomatologia depressiva em um grupo de mulheres do presídio de Uberlândia - MG....1596
Inclusão de Pessoas com Síndrome de Down no Mercado de Trabalho Brasileiro .......................................1598
Itinerário terapêutico de pessoas em sofrimento psíquico segundo as famílias ...........................................1599
Memórias de Luta: Reforma psiquiátrica em Uberaba-MG. ..........................................................................1601
Núcleo de Apoio à Saúde da Família: desafios na atenção em saúde mental ...............................................1602
O processo de tutoria e as possibilidades na Atenção Primária em Saúde....................................................1603
O psicólogo na atenção básica: percepção dos usuários sobre a atuação deste profissional .......................1605
Olhares e saberes dos residentes de psicologia em Rondonópolis- MT. .......................................................1606
Panorama das atividades grupais desenvolvidas em Centros de Atenção Psicossocial (2006-2016) ............1607
Perspectivas de Profissionais do Saúde da Família Sobre a Prática de Psicólogos no Contexto Comunitário
........................................................................................................................................................................1608
Porta de entrada no Sistema Único de Saúde (SUS): Protocolo de Manchester e subjetividade ..................1609
Psicologia e Promoção da Saúde: Intervenções com Gestantes em Barreiras, Bahia....................................1611
Psicologia Sócio-Histórica, Emergências e Desastres .....................................................................................1612
Representações sociais do Zika vírus por mães afetadas durante a gestação no Rio de Janeiro ..................1614
Residência Multiprofissional em saúde na atenção à população refugiada na cidade de São Paulo ............1615
Sentidos de Saúde, Doença e Autocuidado para pacientes com diabetes ....................................................1617
Significados da Rede de Atenção Psicossocial Para Pessoas em Situação de Rua .........................................1619
Território e Estratégia de Saúde da Família: Experiência de Estágio Básico em Psicologia ...........................1620
Um relato de experiência: visitas à psiquiatria de um hospital-escola ..........................................................1622
Uso de tecnologias digitais no suporte social e enfrentamento a pessoas vivendo com HIV/aids. ..............1623
Violência Intrafamiliar: considerações psicossociais sobre a rede de proteção à infância e à adolescência 1624
Eixo 11. Políticas educacionais e lógica privatista: reflexões e enfrentamentos ........................................ 1625
A adolescência: Fase critica do desenvolvimento humano para constituição da identidade ........................1626
A relação da afetividade no processo de aprendizagem ................................................................................1628
Contar e Recriar: A engenhosidade infantil ....................................................................................................1629
Estagio em Psicologia Educacional e as Dificuldades diante do Modelo Escolar Tradicional ........................1630
Possibilidades de atuação em Psicologia Escolar: Relato de Experiência ......................................................1631
Rodas de conversa: vamos falar sobre o nosso cotidiano? ............................................................................1633
Um olhar sobre as diferentes formas de educar na educação do campo ......................................................1634
Eixo 12. Territorialidades e modos de vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo
.............................................................................................................................................................. 1635
A produção da identidade de um estudante do ensino médio de uma escola do campo .............................1636
A transversalidade da Redução de Danos (RD) como dispositivo agenciador de processos de subjetivação no
contemporâneo ..............................................................................................................................................1637
Adolescer no território e efetivação de direitos: experiências instituintes no campo da extensão ..............1639
Contribuição das Representações Sociais para a pesquisa geográfica: Uma revisão conceitual ...................1640
Narrativas de Imigrantes Latino-Americanos: suas vivências na Região Metropolitana de Campinas..........1642
Promoção da apropriação do espaço pelas novas gerações no distrito de Bonfim Paulista (SP) ..................1643
Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosa-experiência em comunidade rural
........................................................................................................................................................................1644
Psicologia e Políticas Públicas na Assistência Social: Desafios e Implicações da Prática ...............................1645
Reflexões de gênero para a sustentabilidade: avanços e desafios ................................................................1646
TERRITÓRIOs: DO CONCEITO, DA INVENÇÃO, DO PEDAÇO DE TERRA Experimentações da Psicologia na
Atenção Primária ............................................................................................................................................1647
Eixo 13. Laicidade, Estado e fundamentalismos: enfrentamentos contra a restrição dos direitos .............. 1649
O que há de errado com a psicologia cristã?..................................................................................................1650
Os retrocessos da educação dia teàdaà o àlai idadeàdoàestado ................................................................1651

Categoria Minicurso ..................................................................................................................... 1653


A desigualdade de gêneros no esporte ..........................................................................................................1654
A Violência contra as Mulheres Desde a Psicologia Histórico-Crítica ............................................................1656
As contribuições de Nise da Silveira para a clínica das psicoses em caráter antecipatório à
desinstitucionalização: uma leitura psicanalítica. ..........................................................................................1660
Autocrítica e crítica social na adolescência: estudo à luz das ideias de L.S. Vigotski .....................................1662
Contribuições do feminismo descolonial para uma escuta psicológica na atenção humanizada ao
abortamento ...................................................................................................................................................1665
Diálogos entre a Psicologia e a Criminologia: Reflexões Sobre a História da Psicologia do Testemunho no
Brasil ...............................................................................................................................................................1670
ECONOMIA SOLIDÁRIA: enfrentamento e crítica do capital em direção a uma laboralidade criativa e livre1673
Enredar para cuidar e transformar: articulações em direitos humanos, e psicologia para crianças e
adolescentes. ..................................................................................................................................................1676
Entre o espetáculo e simulacros: impactos psicossociais da espetacularização no mundo contemporâneo
........................................................................................................................................................................1678
Exploração sexual e pedofilização: tensionando os limites entre violação e proteção a crianças e adolescentes
........................................................................................................................................................................1682
Grupo como dispositivo e tecnologia na atenção psicossocial: pratica de cuidado em saúde mental. ........1686
Justiça Restaurativa: práticas insurgentes e democracia no campo da Justiça .............................................1689
Mídia Hegemônica e Poder Simbólico: notas para a compreensão da adesão ao autoritarismo no Brasil
contemporâneo ..............................................................................................................................................1691
O Feminsmo Classista como Estratégia de luta contra o machismo: partindo do Coletivo Feminista Classista
Heleiet Saffioti ................................................................................................................................................1693
Os atos da fala: uma proposta de análise de dados em pesquisas em Representações Sociais....................1695
Prácticas intelectuales indígenas, afrodiaspóricas y campesinas: decolonialidad del ser, del saber y del poder
........................................................................................................................................................................1697
Práticas comunitárias: subsídios para a garantia da pluralidade, diversidade e dos direitos humanos ........1699
Psicologia e questões trans: implicações ético-políticas diante de interpelações (cis)normativas ...............1701
Psicologia Social e Criminologia Radical: contribuições críticas .....................................................................1704
Reflexões sobre a humanização do parto ......................................................................................................1706
Resistir e re-existir: a práxis de psicólogas na mediação de presos para o exame crítico da realidade ........1712
Sobre os internamentos contínuos e estratégias ético-políticas de enfrentamento em tempos de exceção
........................................................................................................................................................................1714
Territorialidades e Vínculos: Articulações entre os estudos pessoa-ambiente e a psicologia social comunitária
........................................................................................................................................................................1716
ádoe i e toà ti oàeà otidia oàdeàe eç o:à uptu asà e ess iasàpa aàe f e ta e tosàde t oàeàfo aàdeà s
........................................................................................................................................................................1718
Categoria Comunicação Oral - GTs

1
GT 01 | A afetividade ético-política na construção de processos democráticos e participativos

Coordenadores: Eduardo Augusto Tomanik, UEM | Israel Rocha Brandão, UVA | Zulmira Áurea Cruz Bomfim, UFC

Objetivos do Grupo de Trabalho: a proposição deste Grupo de Trabalho realiza-se com o fim de promover a
integração de estudos e estudiosos da afetividade, oriundos dos mais diversos campos do conhecimento, na
construção de processos psicossociais orientados em direção a uma sociedade mais participativa e efetivamente
democrática.
Tendo como base uma concepção positiva dos afetos, este Grupo de Trabalho pretende também oportunizar um
espaço para que sujeitos sociais que protagonizam investigações e ações nos vários campos da atividade humana, e
que consideram a relevância dos afetos nestas iniciativas, possam apresentar e discutir suas construções teórico-
metodológicas, de modo a possibilitar os esperados avanços no conhecimento e na compreensão de processos
participativos e inovadores, capazes de interferir em diferentes aspectos da vida em sociedade tais como, mas não
apenas, a as deliberações éticas e a participação política.
Relações do Grupo de Trabalho com o Tema do Encontro: o ponto de partida desta proposta assenta-se sobre o
pressuposto de que a participação e a democracia constituem formas legítimas de expressão do ser humano.
Assumindo-se esta pressuposição é que se pode pensar que os espaços sociais verdadeiramente democráticos não
podem ser construídos, senão sob o alicerce da participação social efetiva dos cidadãos.
De modo complementar, tais práticas participativas envolvem, inexoravelmente, os afetos construídos entre os
sujeitos, pois, como bem o sabemos desde Espinosa (2008), as disposições afetivas estão presentes em todos os
processos humanos voltados para a construção da liberdade ou da servidão.
Assim é que Bodei (1995) sustenta que toda tentativa de luta emancipatória é inócua se não se desbloqueiam as
forças reprimidas da subjetividade, em direção ao fortalecimento da alegria de viver e da potência de existir dos
indivíduos. A afetividade emerge neste plano como constituidora e constituinte do sujeito e, por este motivo,
entendida como processo humano indissociável do agir e do pensar.
Imbuída dessa mesma compreensão, Bomfim (2010) salienta que, além da indissociabilidade entre pensar, sentir e
agir, é necessário compreender-se que os afetos emergem como verdadeiros orientadores do comportamento. Uma
compreensão ampla dos afetos é, cada vez mais, necessária em nosso tempo e, para tanto, é preciso considerá-los não
isoladamente, mas como fundantes da história e da individualidade dos sujeitos (Tomanik, Pavão e Coelho, 2015).
Afetos, emoções ou sentimentos, como quer que sejam definidos ou classificados, são a base e o resultado das ações,
intenções e interações humanas. Assim, os estudos sobre as manifestações e vivências afetivas são essenciais para a
compreensão de cada um dos demais processos psicossociais.
Eles constituem, por exemplo, a fonte para a elaboração de reflexões e de decisões sobre o que é certo e o que
errado, o que deve e o que não deve ser feito, aceito, tolerado e permitido. Autores como La Taille (2002) vêm
destacando que os se ti e tosà s oà e o e e teà ele a tesà oà agi à eà oà pe sa à o ais .à Noà a poà daà filosofia,à
Ba osà Filhoà e à Co tellaà eà Ba osà Filhos,à ,à p.à à afi aà ueà aà ti aà te à ueà se à t atadaà po à u à p is aà deà
pai es,àdeàe oç esàeàdeàse saç es .
Por este motivo é que Sawaia (2003, citada por Brandão, 2012) considera que os afetos, longe de reduzirem-se a
experiências pessoais, são também fenômenos ético-políticos que podem agir favorecendo ou inibindo os processos
de autonomização dos sujeitos e que vêm sendo utilizados, de forma perversa, na composição do que a autora
de o i aàpolíti asàdeàafeti idadeàg açasà sà uaisà asàpessoasàs oà oisifi adasàeàaàdo i aç oà àlegiti adaà oàta toà
pelo uso da força, mas pela produção simbólica de sentimentos que se transformam em e ado ias... à B a d o,à
2012, p. 182).
Assim, as reflexões, preocupações e os encaminhamentos de ações sobre a intervenção e a pesquisa na área social
devem, por assim dizer, considerar a busca da compreensão dos processos afetivos que orientam as ações dos atores
sociais e dos grupos envolvidos nestas iniciativas.
Relações com o Eixo Temático: a ênfase deste Grupo de Trabalho é, por um lado, a busca do aprofundamento nos
aspectos conceituais e teóricos relacionados à afetividade nas práticas psicossociais, e, por outro, na integração
orgânica destas iniciativas, de modo que possam contribuir mais fortemente para se pensar uma sociedade mais
participativa e democrática.
Deste modo, a inserção deste GT no eixo que inclui as perspectivas teórico-metodológicas em Psicologia Social, bem
como a construção de conhecimentos e intervenções neste campo e as devidas implicações epistêmico-metodológicas
das mesmas torna-se quase inevitável.
2
Em que pese esta ênfase, nada impede que trabalhos de cunho teórico-prático inscritos neste Grupo de Trabalho
tenham partido da adoção de pressupostos teóricos sobre os processos afetivos para estudar processos psicossociais
que poderiam ser incluídos em outros Eixos Temáticos, como a Saúde, a Educação, o mundo do trabalho, os processos
discriminatórios ou as preocupações ambientais.
Serão aceitos trabalhos tanto de cunho teórico quanto teórico-prático que tomem como ponto de partida a discussão
em torno dos afetos, bem como aqueles que possam contribuir para a compreensão dos processos afetivos, de seu
papel nas diferentes esferas da vida social ou de perspectivas de sua utilização como instrumento de ação. Esta ênfase
na busca por contribuições para a compreensão do fenômeno indica que projetos ou trabalhos ainda não concluídos
não serão aceitos, a menos que haja fortes razões em contrário.
Quais as discussões que o Grupo de Trabalho pretende promover? O interesse central do Grupo de Trabalho será o
aprimoramento das compreensões teóricas a respeito dos processos afetivos. Evidências e discussões quanto às
relações desses fenômenos com outros processos e condições psicossociais serão também incentivadas e
consideradas complementares àquele interesse.
Uma possibilidade a ser considerada e buscada, além daquele aprimoramento, é a constituição do embrião de uma
rede de pesquisadores e de pesquisas sobre os processos afetivos.
Referências
Brandão, I. R. Afetividade e transformação social: sentido e potência dos afetos na construção do processo
emancipatório. Sobral: Edições Universitárias, 2012.
Bodei, Remo. Geometria de las pasiones: medo, esperanza, felicidad: filosofia y uso político. México: Fondo de Cultura
Econômica, 1995.
Bomfim, Z. A. C. Cidade e afetividade: estima e construção dos mapas afetivos de Barcelona e de São Paulo. Fortaleza:
Edições UFC, 2010.
Espinosa, B. Spinoza. Ética (T. Tadeu, Trad., 2ª ed.). Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.
Cortella, M. S. e Barros Filho, C. de. Ética e vergonha na cara!. Campinas: Papirus/ 7 Mares, 2014.
González Rey, F. Sujeito e Subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. São Paulo: Pioneira Thompsom Learning,
2003.
La Taille, Y. de. O Sentimento de Vergonha e suas Relações com a Moralidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2002,
15(1), pp. 13-25.
Tomanik, E. A., Pavão, A. C. e Coelho, G. G. A afetividade limitada: tendências nos artigos atuais da Psicologia sobre as
emoções. ANAIS do XVII Encontro Nacional da ABRAPSO: práticas sociais, políticas públicas e direitos humanos.
Florianópolis: ABRAPSO, 2015.

3
A Psicologia entre o afeto e a emoção: considerações críticas à uma práxis transformadora do espaço educacional
Autores: André Gustavo Imianowsky, FURB; Carla de Almeida Vitória, FURB-Blumenau
E-mails dos autores: agiwsky@gmail.com,psicarlavitoria@gmail.com

Resumo: Dos encontros semanalmente realizados na disciplina de Psicologia Educacional II do 7º semestre de


Psicologia da Universidade Regional de Blumenau, iniciou-se a discussão quanto à formação do profissional da
Psicologia e os desafios da atuação no âmbito escolar. Na ocasião, construiu-se a proposta de um trabalho que
contribua à reflexão do contexto escolar no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Como um ambiente de
constante interação e construção de vínculos, insere o infante e o adolescente numa rede de singularidades que
permite o contato com a adversidade humana, aportando, ainda, o constructo psicológico no encontro com a
transformação intelectual, social e cultural. Acredita-se desta forma, que o Grupo de Trabalho A afetividade ético-
política na construção de processos democráticos e participativos, seja o espaço que permite a discussão e
compreensão dos estudos da afetividade e a contribuição quanto às manifestações vivenciais afetivas no contexto
escolar. Objetivo: Desse modo, o trabalho proposto busca problematizar as experiências vividas, influenciadas pela
afetividade e pelas emoções e o modelo de educação conservadora, voltada apenas à realidade exterior como
habilidades e técnicas , perdendo de vista os efeitos nocivos de uma prática ausente de afetos no espaço escolar.
Considera-se, ainda, a urgência de se pensar a potência de vida, conforme referencial exposto abaixo, atrelada aos
processos de desenvolvimento cognitivo, social e cultural. Compreendemos a necessidade de demarcar com rigor
metodologias e teorias que subsidiam o fazer de uma Psicologia que possa efetivar-se como prática transformadora.
Método: Partindo do levantamento de artigos publicados na plataforma SciELO e relatos das experiências de
educadores, notamos que existe uma lacuna quanto a importância da percepção acerca das emoções e da afetividade
enquanto aspectos de transformação das atividades de imaginação e criação e como fator de mediação na apreensão
da dinâmica e desenvolvimento humano na educação. Para tanto, o estudo se deu através do método histórico-
dialético e recuperou-se o referencial teórico de dois autores: a) Lev Vigotsky num cenário de mudanças propôs a
construção de uma Psicologia para atender um mundo em transformações. Na obra Imaginação e criação na infância,
o autor recupera a urgência de se pensar que, imaginação e criação, fundamentais para a existência humana, se
alicerçam sobre as experiências vividas pela criança e que são influenciadas pelas emoções; b) Num outro momento e
outra época, Espinosa lança sua obra intitulada Ética, na qual supera o dualismo cartesianoda divisão corpo-mente,
com a reflexão de um Ser de afetações, no qual este afeta e é afetado pelas relações no mundo. Discute-se nessa
intersecção, o espaço escolar como um lugar de possibilidades interdisciplinar entre o fazer e o saber psicológico e
pedagógico, atrelado ao desenvolvimento humano, relações sociais, visão de mundo e sociedade, sob o prisma
histórico-dialético entre o sentido e o vivido, trilhando novas significações da construção da subjetividade. Conclusão:
O diálogo entre Vigotsky e Espinosa, permitiu a reflexão sobre as experiências e os encontros como a criação da
condição humana e reconhecer que tais fatores desdobram o modo de ser no mundo por meio da alteridade, da
dialética, das emoções e afetações. Assim, este trabalho visa contribuir para o debate ético-político da formação de
profissionais psicólogos compromissados com a constituição do psiquismo entre o sentido e o vivido. Também
observa a contribuição para a formação de pedagogos acerca da apropriação desta importante parcela do
conhecimento, desde uma práxis que esteja voltada à superação das práticas normativas de uma educação como
mercadoria até o exercício diário em criar condições e possibilidades de integração e formação de constructos junto
às crianças.

4
Adaptação em Piaget, Cotidiano em Heller e Maffesoli: para compreender um sujeito crítico, afetivo e
transformador
Autores: Elizabeth Lima, UEM
E-mail dos autores: elima@uem.br

Resumo: O presente trabalho socializa as reflexões iniciais de uma pesquisa desenvolvida na Universidade Estadual de
Maringá PR, na área da educação e psicologia, e nos estudos do desenvolvimento humano e seus processos
cognitivos.
De fundamentação metodológica hermenêutica psicológica, busca apreender os conceitos de adaptação de Jean
Piaget, e de cotidiano de Agnes Heller e de Michel Maffesoli e, se/e como - podem ser articulados entre si e com as
possibilidades de se pensar um sujeito crítico, afetivo e transformador.
Um estudo de fundamentação metodológica hermenêutica de acordo com Jose Antônio Damásio Abib é aquele que
visa esclarecer, interpretar o sentido do texto e busca revelar possíveis outros significados.
A partir de um corpus teórico delimitado, realizamos aproximações entre os autores, evidenciando os diferentes
referenciais epistêmicos e sóciohistóricos.
O conceito de adaptação representa o núcleo da teoria construtivista de Jean Piaget sobre o conhecimento humano, e
o processo de equilibração; é um aspecto da epigênese; de base biológica, que depende do meio, do social para sua
própria realização. O conceito de início significa inter-ação sujeito-meio e, como em uma espiral é reelaborado, a ação
material é espacializada em mental reversível e móvel (operações) e o real espacializado em virtual, torna-se um
dentre os possíveis. A adaptação alcança níveis de equilibração mais complexos e rigorosos, é a lógicaformal, mas
compreende estados mais gerais da consciência, de menos controle e rigor com relações de implicações significantes.
O conceito de organização é a adaptação em curso, é a função reguladora do intelecto: em termos estruturais faz a
relação entre totalidade/ partes; em termos dinâmicos, é energia e afeto regula a relação ideal/valores. O
conhecimento não se constrói independente da rede de significações e valores do meio.
O conceito de cotidiano de Agnes Heller corresponde às atividades do dia-a-dia, o rotineiro, o pensamento e
conhecimento mais espontâneos, realizados sem grandes reflexões por parte do sujeito. Tem a característica da
heterogeneidade, generalização, praticidade, opera por analogia às experiências anteriores e por probabilidade, tem
como princípio estar correto e ser verdadeiro. Presta-se à adaptação do sujeito a sociedade: na assimilação do
manuseio dos instrumentos produzidos pela cultura; na assimilação das próprias relações sociais, da linguagem, da
comunicação, dos valores. É a esfera que mais se presta à alienação, mas não é só alienação. O sujeito nasce na
cotidianidade, numa muda unidade vital de particular e genérico humano. Os grupos, as integrações e não o indivíduo
sozinho representa o humano genérico; entretanto, as necessidades humanas são sempre sentidas e conscientes
como necessidades do eu, que é único e irrepetível. Na sociedade moderna o indivíduo é relativamente livre para a
escolha, o saber ligado à ação, ou seja, a práxis, vai possibilitar ao indivíduo a condução da vida, apropriar-se a seu
modo da realidade e impor a ela a marca de sua personalidade.
Michel Maffesoli considera a aura de cada época remetendo à coletiva que ultrapassa a atomização individual: a
teológica na Idade Média, a política no século XVIII, a progressista no século XIX, a estética na contemporaneidade,
possibilitando ou sugerindo encontros diversos de elementos que remetem à pulsão comunitária, à perspectiva
mística e à ecológica. A centralidade subterrânea informal, que existe aquém e além das formas instituídas na
sociedade, constitui o cotidiano, pode ser dominante, e assegurar a perdurância da vida em sociedade. A despeito do
narcisismo e individualismo dos tempos pós-modernos, destaca a necessidade de prestar atenção na potência
subterrânea, na rede de relações, nos agrupamentos, nas tribos, que caracterizam as massas, seu modo de ser e viver,
que revela o que lhe é próprio: a socialidade, a perdurância, a resistência. Existe uma união e uma indiferenciação
entre o sujeito e o grupo e destes com a natureza e a forma dessa relação em pontilhado, não necessariamente
individualizante, própria da modernidade; expressa a forma relacional da massa; a lógica da fusão.

5
Esse apelo aos pequenos grupos, essa forma de relacionarse pela fusão, é a forma intuitiva que a massa, o povo
encontrou para se proteger, se preservar? É a necessidade de proteção, afeto, que o homem pós-moderno, no seu
cotidiano, intuitivamente está buscando? Qual o valor do afeto na sociedade hoje? Qual o valor dado ao afeto nas
práticas educativas, nas práticas escolares para a construção do conhecimento? A despeito das diferenças que devem
ser aprofundadas, os estudos pregam: a não cisão de cotidiano e não cotidiano, de adaptação para a conservação e
para a resistência e a transformação social; a integração das diferentes formas de conhecimentos e seus diferentes
aspectos, social e afetivo teórico e prático; a necessidade de se considerar as diferentes linguagens que constituem e
dão expressão ao conhecimento, contextualizar o saber as vivências do contexto do aluno, recreativas, artísticas,
ampliando o universo das significações.

6
Adolescentes Acolhidas e seus Afetos: o que temos com isso?
Autores: Laura Ferreira Lago, UEM; Ana Céli Pavão, UEM; Eduardo Augusto Tomanik, UEM; Regiane Cristina de Souza,
UEM
E-mail dos autores: lalago@hotmail.com, anacelipsicologa@hotmail.com, rcsouza.psicologia@gmail.com,
eatomanik@gmail.com

Resumo: As práticas em instituições que trabalham pela proteção integral de crianças e adolescentes levaram-nos a
conhecer e questionar as vivências dos adolescentes em situação de acolhimento institucional que, ao completarem a
maioridade, são desligados da instituição e devem estar preparados para uma vida independente. Observamos que os
adolescentes quando desligados não tinham lugar para morar, apresentavam dificuldades de relacionamento e
socialização e não estavam preparados financeira, profissional e emocionalmente para a vida autônoma. Em busca de
conhecer melhor estes adolescentes utilizamos como base teórica as noções de desenvolvimento e afeto elaboradas
por Vigotski (1934/2001, 2000), Heller (1993) e Maturana (1998/2001) que convergem na ideia de que o
desenvolvimento humano é possibilitado pelas interações sociais e influenciado pelos afetos vividos. Heller (1993)
ressalta como são importantes as informações contidas na construção dos afetos. O objetivo de nossa pesquisa foi
investigar os afetos vividos por adolescentes em vias de serem desligadas do acolhimento institucional no município
de Londrina/ PR, tendo como principal fonte suas histórias de vida. Considerando que os conhecimentos sobre as
manifestações e vivências afetivas são fundamentais para a compreensão dos demais processos psicossociais,
relacionamos este relato ao Grupo de Trabalho (GT) A afetividade ético-política na construção de processos
democráticos e participativos. O mesmo motivo direciona nossa comunicação ao Eixo Temático Psicologia Social:
questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções. Na fase de campo da
pesquisa realizamos a análise qualitativa de informações coletadas por meio de entrevistas semidiretivas. Os
encontros com as adolescentes e o contato com suas histórias de vida possibilitaram o estabelecimento de conexões
entre suas vivências individuais e eixos analíticos como: afetos e situações, afetos e relações, afetos e convenções
sociais; vivências afetivas e experiências de vida. Por meio dessas conexões constatamos a complexidade do campo
dos afetos e sua multidimensionalidade, o que nos leva a considerar que a compreensão daqueles processos só se
torne possível se considerarmos não apenas a individualidade mas também a realidade cotidiana e sociocultural de
cada sujeito, além das representações individuais e sociais que ele desenvolve, adota e compartilha sobre sua
realidade. Os afetos são situacionais, isto é, produzidos e vivenciados a partir do que o mundo oferece, das
circunstâncias e das condições efetivas podendo, por isto, ser alterados e transformados. São, ao mesmo tempo,
relacionais, constituídos a partir dos contatos e vivências que estabelecemos com os outros. Além disso, são
convencionalizados, uma vez que sua construção passa pelas normas sociais que regem cada cultura, que são
aprendidas e compartilhadas. Muitas vezes, os afetos tal como convencionalizados nos parecem ou são considerados
como mais reais ou aceitáveis que aqueles que vivenciamos. Com isso, nossos repertórios afetivos vão sendo
marcados pelas condições concretas que vivemos e pelos vínculos que tecemos, podendo ser transformados por
intermédio daquilo que aprendemos e vivenciamos. Além das precárias condições econômicas e sociais em que
vivem, as jovens que participaram de nossa pesquisa são afetadas também por limitações afetivas e relacionais.
Acolhidas, as instituições conseguem suprir suas necessidades materiais e sociais, porém não vêm conseguindo alterar
o quadro de suas limitações afetivas e relacionais, já que encontram dificuldades em proporcionar relações que lhes
permitam vivenciar e assim aprender a compartilhar afetos positivos e mais variados. Precisamos admitir, antes de
mais nada, que pessoas como nossas entrevistadas e seus familiares foram e continuam sendo socializados de acordo
com os saberes, os modos de agir, sentir e relacionar-se próprios de uma parcela numericamente muito ampla de
nossa sociedade, que nós insistimos em não reconhecer como produto de uma construção coletiva da qual fazemos
parte.
Além disso, insistimos em imaginar que eles são muito diferentes de nós. Relutamos em aceitá-los como nossos
iguais, contra todas as evidências, por várias razões. Entre outras, porque isto nos permite lançar sobre eles as
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responsabilidades sobre suas condições e sobre tudo o que parece, para nós, como inadequado; por que isto nos livra
do desprazer de ter que admitir que, como membros da mesma sociedade, somos coprodutores e mantenedores
daquelas condições e daqueles hábitos e, talvez acima de tudo, por que tratando-os como diferentes, criamos uma
divisão imaginária que nos permite não encarar o fato de que muitas das condições que atribuímos a eles, como o
imediatismo, o individualismo e as relações puramente instrumentais são, talvez, a marca maior de toda a cultura
atual, a nossa marca. Foram afetos negativos os que mais apareceram nas entrevistas e os que se repetem e se
ampliam em suas histórias de vida. Rejeição, abandono, desamparo, vivências que se reiteraram a cada nova relação
que experienciavam. Para transformar essas vivências em afetos positivos, potência de vida, precisamos falar sobre
eles, visando proporcionar relações que permitam ao sujeito aprendê-los, vivenciá-los e compartilhá-los.

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As estratégias da educação popular na atuação da ITCP-USP em uma cooperativa de catadoras de materiais
recicláveis
Autor: Danilo de Carvalho Silva
E-mail: contateodanilo@gmail.com

Resumo: Desde sua criação, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP (ITCP-USP) propõe a
educação popular como base metodológica de suas práticas. Por isso, este trabalho tem como objetivo apresentar
estratégias da educação popular presentes na atuação da ITCP-USP a partir da sistematização de experiências vividas
durante as formações e vivências realizadas em uma cooperativa de catadoras de materiais recicláveis da zona leste
do município de São Paulo no período de 2014 a 2015. A metodologia da sistematização em educação popular foi
proposta por Oscar Jara, pela qual a teoria deve servir para organizar as experiências de intervenção em um campo.
Para a realização da sistematização foram escolhidas três estratégias dos trabalhos em educação popular: o
fortalecimento da organização coletiva dos trabalhadores; o reconhecimento dos saberes oriundo da experiência de
trabalho; e a compreensão das necessidades e interesses dos trabalhadores. A partir da contextualização histórica
dessas três estratégias foram escolhidas cenas vividas durante a atuação da ITCP-USP em uma Cooperativa de
Reciclagem que expressam a presença dessas estratégias da educação popular na atuação da ITCP-USP. Como efeito
do fortalecimento da organização coletiva quando propusemos a formação de um regimento interno as cooperadas
tocaram na questão das faltas. Naquele momento uma das cooperadas começou a desabafar em tom de revolta. Por
ser uma cooperada que encontrava dificuldades de estar presente na cooperativa em função das tarefas domésticas e
da necessidade de cuidar dos filhos, suas constantes faltas levaram outra das cooperadas, incomodada com as
dificuldades pelas quais a cooperativa passava, a afirmar que se ela continuasse faltando teria que deixar a
cooperativa. No entanto, por ter uma longa história dentro da cooperativa, aquilo a deixou ofendida, ainda que
reconhecesse que seu compromisso estava aquém do esperado. Percebíamos que durante a formação que, em
função da nossa presença, se sentiu confortável para se abrir e falar sobre seu incômodo. No que diz respeito ao
reconhecimento dos saberes oriundos da experiência de trabalho a nossa convivência com as cooperadas nos
proporcionou o aprendizado sobre o processo de separação de resíduos. Dessa forma, aprendemos, por exemplo, que
o plástico canela remete a origem do material, cuja liga do material é produzida pela canela. Outro exemplo é a
variedade de materiais plásticos, tais como PET, PEAD, plástico duro, dentre outros, cujas classificações estavam para
além dos produtos com os quais estamos familiarizados, tais como sacolas e garrafas, configurando um saber técnico
que, em muitos momentos, passa despercebido, inclusive, para as catadoras. A compreensão das necessidades e
interesses das catadoras se fez presente, por exemplo, na formação sobre remuneração em cooperativas, propondo
uma formação a partir dos conhecimentos que traziam sobre valores dos sacos de resíduos e as quantidades que
precisavam vender para alcançar as metas que almejavam. Concluindo, a conquista da adesão a participação, seja no
exercício da cidadania e no governo da cidade, seja na administração de uma cooperativa, envolve uma das principais
necessidades subjetivas do ser humano que é o sentimento de reconhecimento. Esse reconhecimento está no
sentimento de visibilidade enquanto garantia de participação no grupo, como vimos com a cooperada que frente a
possibilidade de expulsão reivindica o reconhecimento da história que construiu na cooperativa. Por isso, a educação
popular traz a compreensão de que ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em
comunhão. Se o sindicalismo apareceu até meados da década de 1980 como principal meio de organização coletiva, a
partir do final da década de 1980 o cooperativismo aparece como forma de organização de trabalhadores cuja
marginalização do desemprego não lhes permitia nem a adesão aos sindicatos. Nesse sentido, educação popular traz
estratégias para promover essa visibilidade, apresentando vias de reconhecimento dos saberes decorrentes da
própria experiência de trabalho, em vez de um reconhecimento que se volta para o saber formal. Observamos ao
longo dos trabalhos na cooperativa que as formações e a convivência, como em momentos na separação de resíduos
ou em momentos em que ajudávamos na arrumação da cooperativa, elas nos ensinavam sobre o processo de
separação. Desta forma, o processo formativo se deu tanto durante as formações quanto em momentos que
deixávamos o lugar de educadores para estar e aprender com o cotidiano de trabalho das catadoras. A contribuição
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da atuação da ITCP-USP no processo de emancipação da cooperativa pode ser visto pelo diálogo com as cooperadas
menos participativas. Quando levávamos nossas dúvidas sobre os processos de gestão da cooperativa elas passaram a
assumir uma postura mais ativa ao trazerem respostas e se mostrarem mais conscientes sobre os processos. Quando
se compreende o empreendimento econômico solidário como aquele que considera outros aspectos para além dos
meramente econômicos, o cooperativismo social aparece como ferramenta para a criação de espaços de socialização
das questões referentes ao cotidiano de trabalho. Esse movimento de discussão pública dessas questões fortalece a
busca e a concretização de objetivos comuns.

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Fomentação de grêmios escolares: por um Teatro Social dos Afetos
Autora: Kelly Cristina Fernandes, PUC-SP
E-mail: kellydibertolli@gmail.com

Resumo: A proposta é debater sobre a utilização do teatro como instrumento de mobilização e emancipação através
da experiência de estimular a criação de grêmios nas escolas públicas da periferia de São Paulo. Atividade solicitada
pelo governo do município, com o objetivo de enfrentar o alto índice de violência nas escolas, entre os alunos e entre
seus professores, por meio do estimulo a participação social e política.
O grêmio escolar é um espaço dentro das escolas de construção de uma gestão democrática, sendo conduzido de
maneira que estes exerçam sua cidadania e protagonismo de forma crítico-reflexiva.
No projeto, durante quatro anos, participaram 23 escolas públicas e 45 professores, cada escola desenvolveu alguma
atividade utilizando o teatro como fomentador de discussões. Em cada escola havia um grupo composto de 6 a 30
jovens.
Os jogos e exercícios praticados tinham como objetivo desmecanizar ações, emoções e pensamentos, inclusive
aqueles proporcionados por traumas. Os temas das cenas surgiam coletivamente no trabalho. Os temas recorrentes
eram: bullying, violência, abuso sexual, assédio, homofobia, abandono e rejeição por parte dos pais e violência
doméstica envolvendo drogas.
Ficou perceptivel o ciclo das opressões dentro do ambiente escolar, onde os opressores e os oprimidos não
ocupam lugares fixos, mas se misturam e se transmutam. Muitas vezes uma pessoa que era opressora em uma
situação, era oprimida em outra. O mesmo garoto que é acusado de bullying na escola, sofre violência de
diferentes formas fora dela. Os traumas, rejeições e abandonos de origens diversas afetam emocionalmente os jovens
que descobrem a linguagem da violência como uma maneira de se proteger e de extravasar a raiva que explode
dentro de seus corpos. As escolas para esses sujeitos surgem não como um espaço para a elaboração desses conflitos,
mas muitas vezes como um espaço também de exclusão.
Nesse contexto, esta prática teatral configurou-se como um espaço transgressor, uma outra linguagem afetiva para
discutir questões silenciadas no cotidiano escolar e potencializar a criação de novos espaços dentro da escola, onde
outras formas de vínculos foram possíveis, tirando os jovens do lugar de aluno problema. Foi possível constatar que
os jovens que praticavam atos opressores nas escolas sentiram-se acolhidos nos grupos, instituindo-o como um
espaço onde podiam criar vínculo, sentir-se importante, pertencer a um coletivo, ao mesmo tempo que podiam
refletir sobre suas vidas e emoções. Isso nos levou a refletir sobre os erros que as formas clássicas de controlar
conflitos cometem. Não se trata de punir ou normatizar o agressor ou de proteger o agredido, mas de oferecer
acolhimento e escuta afetiva a todos e tira-los desses lugares para possibilitar a busca de ideias adequadas e
estratégias de superação de conflitos. Ficou claro, também que é fundamental não cultivar a raiva que a comunidade
escolar sente dos agressores e nem a raiva que toma conta dos jovens agressores, uma vez que esses afetos motivam
atitudes violentas. E o que é também importante , o teatro favoreceu o diálogo entre diversos atores da escola. O
teatro aparece como instrumento que coloca em foco os conflitos, em lugar de encobri-los, e permite compreende-
los como questões subjetivas e objetiva, paralelamente. Também coloca os participantes como singularidades que
independente de serem protagonistas ou antagonistas estão envolvidas em um questão que tem contexto histórico,
que tem uma gama de personagens que representam atores sociais envolvidos. As discussões advindas dessa prática
teatral buscam os aliados e as potencias envolvidas na questão de maneira que sejam imaginadas alternativas para
transformar o conflito.
A palavra afeto presente no título do nossos trabalho tem muitos significados, porém para nós afeto é uma palavra da
ordem do encontro, da interação, da experiência e da relação entre seres com o mundo e no mundo. Nosso
referencial para o conceito de afeto é Espinosa, o qual compreende por afeto (...) as afecções do corpo, pelas quais
sua potencia de agir é aumentada ou diminuída, estimulada ou refreada, e ao mesmo tempo, as ideias dessas
afecções. (2009, p.98) As afecções do corpo e da mente não são representações cognitivas desinteressadas, pois se

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fossem seriam experiências dispersas e sem sentido. Nesta prática as questões sócio históricas se relacionam com a
teia de afetividades que tecem o cotidiano da comunidade escolar.
Em suma, o teatro social dos afetos se trata de um manejo do teatro do oprimido que busca superar as dicotomias
das relações expressas entre oprimido e opressor. A atuação em grupos com esta metodologia busca superar as
dicotomias entre razão/emoção, mente e corpo, social e subjetivo. Se trata de dialogar sobre uma prática teatral que
se destina ao trabalho com comunidades e grupos, que pretendam através da estética criar espaços de diálogo que
objetivem o protagonismo dos participantes em um ambiente democrático.

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Instituições Participativas como mecanismo de despolitização da democracia brasileira
Autora: Telma Regina de Paula Souza, UNIMEP
E-mails: trpsouza@uol.com.br

Resumo: Em um percurso de estudos de mais de três década, por meio de pesquisas acerca dos sentidos da
participação social no Brasil, temos problematizado a experiência democrática no contexto da instituição do Estado
brasileiro como uma república democrática de direitos, em tese, uma democracia plural que deveria conjugar a
representatividade parlamentar com a participação social semi-direta, nomeada como democracia participativa,
estreitamente articulada com o Poder Executivo. Entendíamos que os espaços públicos que foram se constituindo
para o exercício dessa democracia participativa representavam uma grande conquista dos movimentos sociais e
institucionais ativos na década de 80 do século XX, que conseguiram levar suas demandas para a Constituição
Brasileira. Naquele momento, sem dúvida, a abertura democrática estava posta e o Estado se ajustou aos princípios
internacionais que orientavam as normativas para a garantia dos direitos humanos por meio de declarações, tratados,
cartas, convenções e pactos, formulados por instituições criadas para esse fim. Espaços públicos para o diálogo da
sociedade civil organizada e o Estado foram criados e, gradativamente, foram se formatando na lógica gerencial que
legalizou esses espaços como Instituições Participativas (IP) e contribuiu para que representantes da esquerda política
assumissem lugares nas esferas do poder executivo e legislativo, primeiro em âmbito mais local, nos municípios, e
depois no governo federal, com a eleição de Lula para presidência do país. Apesar dos limites na efetivação das
normativas para a garantia dos direitos humanos, parecia que tudo estava caminhando como deveria ser: os
representantes das partes atuando nos parlamentos e nas IP para a garantia dos interesses das partes; até que parte
das partes não aceitaram mais compartilhar. O que ocorreu para chegarmos onde estamos? Esse é o desafio analítico
que temos que enfrentar e trazemos para o debate algumas questões nessa direção. Primeiro é necessário entender o
desenho democrático brasileiro pós Constituição de 1988, para podermos entender os significados da participação
social nesse contexto. Na dimensão da democracia representativa, efetivada pelo direito político de poder eleger e
ser eleito, que não é o foco de nossa discussão nesse momento, destacamos que tivemos sim a experiência da
inclusão de outros personagens nos cenários legislativo e executivo, além dos tradicionais representantes da elite
brasileira, mas, numericamente, nunca foram a maioria e podemos entender que sofreram o fenômeno conhecido
como aculturação, assimilaram as práticas históricas da elite governante, representando interesses das partes, mais
propriamente, interesses privados e não públicos, por meio de processos de identificação com o inimigo ou pela
sedução de se manterem em lugares de poder. Nesse contexto também destacamos a presença de elites de outra
natureza, não só a colonial e patrimonial, as elites intelectuais, muito necessária para a produção de uma linguagem
refinada, sociologicamente crítica e ajustada a linguagem normativa internacional dos direitos humanos, também
ocupando lugares de assessoria para diversas finalidades, inclusive para capacitar a participação social e para criar
mecanismos para a institucionalização dos espaços públicos, transformando-os em IP. Isso implicou na seleção velada
dos que deveriam ocupar tais espaços e é essa questão que nos interessa e que temos discutido em diversos
contextos, o que entendemos como um fenômeno de despolitização da democracia brasileira, por meio da própria
democracia. Dos espaços participativos, legitimados na ordem democrática brasileira, não fazem parte os
desqualificados, que inclui múltiplas características (de anomia a criminal), e esses nem reivindicam a parti(cip)ação,
pois não se reconhecem como parte. Os que querem parti(ci)par devem se ajustar ao desenho institucional das IP ou
se contentarem em significarem uma metáfora da democracia liberal, sem terem consciência disso. As IP, em que
pese articuladas ao Executivo, caminham ao largo dos espaços de efetiva tomada de decisão, o que implica em, além
de não produzirem impacto significativo na democratização do Estado e da própria sociedade, também não produzem
impacto significativo nas políticas públicas que, no capitalismo, são estratégicas para a manutenção dos interesses
econômicos da elite sem a produção de antagonismos. Até pouco tempo atrás, relativizávamos essas questões,
entendidas como paradoxos superáveis em um processo de fortalecimento da sociedade civil organizadas, tratado
como empoderamento social; mas hoje parece cada vez mais forte a ideia de que as conquistas pós 1988 foram

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frágeis, pois não estão resistindo aos golpes que a tradicional elite vem promovendo no país. Entendemos que esse
momento exige o aprofundamento de duas dimensões da política: a das instituições políticas, sejam as tradicionais
(dos partidos aos poderes públicos) ou as IP; e das organizações sociais (dos movimentos sociais antagonistas às
manifestações de massa que eclodiram a partir de 2013, comportando múltiplos sentidos) Parece que os modelos que
estruturaram a participação social em todas essas dimensões se esgotaram e nos desafiam a ressignificá-los,
enquanto isso, os que foram contados apenas como estatísticas (das vítimas aos criminosos) denunciam o fracasso
dos modelos e a luta de todos contra todos.

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Juventude e Cidade: Relação Entre Territorialidades e Subjetividade
Autores: Rafael do Nascimento Monteiro, UFF-Volta Redonda; Adriana Eiko Matsumoto, UFF; Israel Oliveira Fialho,
UFF-Volta Redonda
E-mails: raflmiar@gmail.com,drieiko@hotmail.com,israelo.fialho@gmail.com

Resumo: O artigo tem como objetivo discutir sobre as subjetividades que se constituem a partir de territorialidades,
tentando entender a dinâmica que perpassa a vida dos jovens moradores de locais periféricos e sua relação com a
cidade. A pesquisa foi feita em uma escola de Ensino Fundamental II de Volta Redonda na qual se realiza estágio com
de psicologia com alunos da UFF/VR, sendo proposta como uma das atividades de estágio para os estudantes (de 11 a
14 anos) que participam do grupo estabelecido pelos estagiários. O bairro tem uma população majoritariamente
negra que é sujeita a negligência estatal, sendo que apenas na criação do mesmo e por meio da luta dos
trabalhadores por moradia houve efetiva participação do estado.
Compreendendo cidade como movimento constante de reinvenção que engendra distintas formas de vida, não
consideramos a separação que ela tem com a subjetividade pois há uma afetação constante que sempre será política.
Nesse sentido, a subjetividade é sempre um movimento, sempre um vir-a-ser, uma constante relação que se constrói
no território. Ter processos de subjetivação colocados em sua relação com o espaço e instituições nos demonstra uma
construção de limites e mobilidades que se constituem sócio-historicamente, o que não significa sua estagnação, mas
sim que dentro desses limites podem ser criadas relações de pertencimento ao grupo que não colocam em questão
tais limitações. Para investigação nos utilizamos de metodologias intercruzadas que nos ajudam a compreender a
relação dos jovens com a cidade em sua dimensão afetiva, significativa e circulatória. A primeira delas é a do
mapeamento afetivo que tem como objetivo tornar os afetos, categoria que ultrapassa a compreensão cognitiva,
tangíveis a partir do instrumento gerador de mapas afetivos, tendo a elaboração de desenhos como uma forma
discursiva potencializadora da elaboração verbal da relação que se dá com o espaço. O segundo procedimento
utilizado foi Minhas Bases de Apoio, que nos deu uma noção da circulação geográfica que os jovens têm no território,
além dos vínculos que eles estabelecem no espaço em questão. No centro tem sua casa e em volta se tem quatro
quadrantes (família, instituições, amigos e lazer) e esses se dividem em três, localizando o nível de proximidade.
Modificamos as metodologias a fim de complementa-las e como a pesquisa aconteceu num grupo já iniciado que
debatia questões levantadas pelos estudantes o processo necessitou de adaptações. Já se tinham algumas respostas
para a pesquisa, porém, essa demonstrou sua importância por aprofundar o olhar para o campo, além de ser um
analisador das possíveis intervenções planejadas no estágio.
Ao se pensar em cidade para aqueles jovens, temos uma cidade que não é categoria abstrata colocada em
comparação com o campo, mas sim, a cidade vivida ou desejada. O território se traduz nos locais onde moram ou
gostariam de morar, pois neles se localizam as redes de afeto. Todos tem amigos que moram próximos e a maioria
dos familiares também se encontra por perto. Quando não é esse o caso, tem-se o desejo de mudança a fim de ficar
mais próximo dessa rede. É importante ressaltar, também, que mesmo em atividades realizadas em bairros mais
distantes eles vão em grupo, por mais que seja tranquilo sair de noite sozinha para ir na rua ao lado sempre andam
em grupo, só alguns rapazes não o fazem. A imagem de um ambiente tranquilo entra em contraste com a violência
retratada imageticamente como uma arma e com o incômodo trazido pelo comércio tornado ilegal de substâncias
consideradas ilícitas em espaço público.
Concluímos, então, que apesar do confinamento produzido pelas pressões externas eles se mantém no bairro
também pela conexão afetiva, existindo um senso de comunidade marcante na subjetividade dos mesmos, que se
movimentam e encaram a cidade coletivamente. Isso tem efeitos geracionais, pois aqueles que saem de casa ao
chegar à vida adulta ou por outros motivos acabam morando ao lado ou no bairro vizinho, mantendo um vínculo que
constrói a dinâmica daquele local.

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O CORPO SOLTINHO: Considerando lacres instituídos pela sociedade de controle sobre o movimento dos corpos
Autora: Jéssica Schuster Pereira, UFPel
E-mail: jessischus@gmail.com

Resumo: Fala-se muito sobre um período entre o nascimento e a morte: a vida. O que faz existir essa delimitação de
tempo é a existência de um corpo vivo: batimentos cardíacos, respiração, sangue circulando. O queridinho desta
pesquisa é o corpo. O que é possível a um corpo sentir? Como é um sentimento? Como é a experiência de voltar a
habitar o território do corpo pelo exercício de levá-lo para brincar? A partir de uma sensação de travamento que se
reafirmava em meu corpo, de obstrução do movimento corporal, de vergonha, apareceu em mim o interesse de me
sentir soltinha. Por que existem obstruções? O que é que pede passagem, mas é reprimido?
O objetivo deste registro cartográfico é discutir sentimentos, sensações e percepções contatados a partir do meu
próprio corpo, experimentando os limiares do movimento e os limiares das possíveis nuances sensoriais, o fluir do
sangue e as suas possíveis obstruções. A exposição de ideias no meio acadêmico pela escrita cartográfica parece
ampliar o espectro do potencial poético. O que esse escrito quer é ser um canal condutor de afetos. Segundo Barros e
Kastrup o objetivo da cartografia é justamente desenhar a rede de forças à qual objeto ou fenômeno em questão se
encontra conectado, para elas, cartografar é acompanhar processos e não um simples representar de objetos. Quero
conhecer e explorar o mundo vivido de Heidegger, o registro do inconsciente expresso no corpo. Esse trabalho pode
ser dado por terminado, visto que já transcrevi e registrei corporal e fotograficamente algumas experiências que já
são gigantescas em conteúdo. Trago um estudo que não se finaliza, mas cuja função é a de trazer questionamentos
infinitesimais. Aquela história de rizoma.
Um local de muita força instituinte para me alimentar e criar novos caminhos corporais/neurais é a OCA Ocupação
Coletiva de Arteirxs. Para se ir ao desconhecido é necessária muita coragem, muita energia vital. Falar sobre energia
vital parece misticismo, mas energia vital é simplesmente o nível de saúde do corpo, a quantidade de tempo que ele
ainda pode funcionar plenamente. A potência de vida para Nietzsche. Talvez libido ou pulsão de vida para a
psicanálise. Sentir-se vivo para o senso comum. Sentir o coração batendo, sentir-se corajoso, sentir-se energizado.
Rebolar, relaxar, alongar. Já para o trabalho e a organização do tempo de vida (tempo de corpo): corpo dócil, de
Foucault. E os modos de vida que permeiam a OCA são bem curiosos para o que eu entendo por senso comum. Quem
anda por lá parece ser um pouco mais soltinho. Wilhelm Reich fala sobre processos bioenergéticos e sobre o
encouraçamento do corpo. Interessante notar que as pesquisas e o próprio corpo de Reich foram perseguidos. Reich
morreu numa prisão. E a OCA tem livros sobre esses assuntos, sobre anarquismo, sobre sexualidade, sobre tabus,
sobre espiritualidade. E eu questiono: o que é tabu?
Vários territórios estão sendo percorridos nestes experimentos: praças, faixas de segurança e sinaleiras, salas de aula,
qualquer local em que meu corpo se encontra, aeroportos, aviões, a OCA - meu quartel general, enquanto meu
quarto e a mesa do computador são o berço do meu sacro ofício filosófico. Os instrumentos dispositivos variam:
bolinhas de malabares, clave, argolas, tecido acrobático, trapézio, bambolê, tintas para o rosto, muita coragem,
pessoas soltinhas e companheiras. Os registros partem de um diário de campo, de algumas fotos, até de entrevistas
com algumas pessoas que frequentam a OCA falando sobre o local, sobre o tema do corpo e sobre o que mais pedir
passagem. Comecei a frequentar a OCA em maio de 2017 através do projeto Multiversidade de Aprendizagens Livres
da OCA, em que faço estágio pela UFPel. O projeto oferece atividades como oficinas de performance, dança Butôh,
oficinas de cerâmica, rodas de conversa, grupos de estudo, oficina de circo, apresentações musicais e culturais,
BiblietOca (biblioteca da OCA), herbário e o que quiser ser proposto por pessoas que queiram compartilhar
conhecimento sem pagar por isso, sem transações burocráticas, sem certificações.

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Esse trabalho faz parte do grupo de pesquisa TELURICA (Territórios de Experimentação em Limiares Urbanos e Rurais:
In(ter)venções em Coexistências Autorais). O TELURICA é um grupo de pesquisa que produziu um projeto guarda-
chuva intitulado Problematizações Limiares Psicossociais no Ensino, Pesquisa e Extensão da Psicologia e áreas afins na
UFPel. Este projeto prioriza por convergir as inquietudes de graduandos em suas práticas de ensino e extensão,
propondo investigações e in(ter)venções em limiares urbanos e rurais.

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Os afetos a partir de uma perspectiva da Psicologia Social
Autores: Eduardo Augusto Tomanik, UEM Elizabeth Lima, UEM
E-mails: eatomanik@gmail.com, elima@uem.br

Resumo: Este relato não envolve o desenvolvimento de um projeto específico de pesquisa, mas um esforço mais
amplo que visa a produção de avanços teóricos sobre o campo dos afetos, visando instrumentar a atuação de
profissionais da Psicologia ou não em busca de modos de estabelecimento de melhores relações inter e intrapessoais.
Por esta busca de aprimoramento teóricos, o relato pode ser enquadrado no Eixo Temático: 7. Psicologia Social:
questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções. Já pelo tema central
dos estudos, o relato pretende ter espaço no Grupo de Trabalho sobre a Afetividade ético-política na construção de
processos democráticos e participativos.
Um projeto de longo prazo, denominado Psicologia Social dos Afetos vem sendo desenvolvido essencialmente mas
não apenas por profissionais e estudantes ligados à Universidade Estadual de Maringá, reunidos no coletivo
denominado Hera Grupo de Estudos em Psicologia Social dos Afetos. Este projeto amplo tem a intenção de abrigar e
de dar origem a vários outros projetos específicos que, em seu conjunto, possibilitem a construção de novos
conhecimentos e sugestões de ação dentro do campo amplo dos afetos.
Diante da profusão de concepções teóricas sobre os processos afetivos, o Grupo vem efetivando a promoção de
comparações, aproximações e confrontações entre diferentes abordagens teóricas já elaboradas sobre aqueles temas
na Psicologia, em Ciências afins e na Filosofia, partindo da suposição de que estas aproximações devem possibilitar a
elaboração de sínteses ou de críticas que resultem em aprimoramentos ou refinamentos teóricos. Além desta
abordagem de cunho mais especificamente teórico e visando uma aproximação entre aspectos teóricos e empíricos, o
Grupo vem incentivando e desenvolvendo também trabalhos que visam a obtenção de informações e a elaboração de
análises sobre as formas como as emoções e sentimentos vêm sendo conhecidos, reconhecidos e vivenciados por
grupos diferentes ou mesmo em épocas diferentes, partindo da suposição de que estes conhecimentos podem nos
auxiliar a compreender o papel que os afetos vêm desempenhando e poderiam desempenhar em diferentes
contextos sociais. Eventualmente, podem nos auxiliar também a perceber e a compreender se e como os processos
afetivos estão sendo direcionados e os possíveis resultados atuais ou futuros destes direcionamentos.
Partindo deste delineamento básico, o Grupo vem elaborando e efetivando pesquisas enquadradas em duas
vertentes complementares. A primeira delas, denominada Espeleologia dos Afetos, envolve projetos de cunho mais
teórico, que visam o aprofundamento dos conhecimentos sobre os processos afetivos, a partir da análise,
comparação, combinação e/ou confrontação de diferentes abordagens teóricas, tanto na Psicologia quanto em outras
áreas do saber. Estes projetos vêm envolvendo e/ou envolverão a realização de leituras, análises e sínteses de obras
de diferentes autores sobre o campo das emoções; a produção de textos, por autores convidados de diferentes áreas,
sobre a temática geral ou sobre aspectos específicos dos afetos e a realização de análises comparativas entre as
diferentes abordagens, visando o aprimoramento e o aprofundamento de aspectos conceituais e teóricos.
A segunda vertente, voltada para a promoção de interações dos aspectos teóricos e empíricos, vem abrigando
projetos que visam basicamente conhecer e compreender as Representações Sociais sobre os afetos elaboradas e
compartilhadas por diferentes grupos sociais. Estes estudos envolvem a realização de levantamentos sobre os
conjuntos de afetos conhecidos, as concepções sobre estes afetos e as práticas a ele associadas, em grupos sociais
diferentes, na atualidade e mesmo em outros momentos históricos; a busca de mapeamentos e de compreensões
sobre os nexos existentes entre os conhecimentos, concepções e perspectivas de ação contidos naquelas
Representações Sociais e o contexto de vida do grupo, além da busca de compreensão das correlações entre os
conhecimentos e concepções afetivos dos participantes do grupo e as relações que estes estabelecem entre si e com
os demais componentes de seu ambiente social e físico.

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De modo breve, os estudos efetivados até o momento vêm mostrando que, longe de processos simples e individuais,
os afetos são complexos e multidimensionais. Envolvem tanto componentes individuais (experiências, caraterísticas,
expectativas pessoais), circunstanciais (relacionados aos momentos e condições de suas ocorrências), grupais (os
afetos conhecidos, admitidos e as representações sociais que o grupo compartilha sobre os mesmos) e culturais (que
se expressam e são compartilhados através da linguagem e que ao mesmo tempo, delimitam os conjuntos e
características dos afetos reconhecidos, possibilitam e direcionam o reconhecimento, as vivências, os momentos e os
modos de expressão dos mesmos).
Além disso, os afetos são sempre relacionais e resultantes de processos de aprendizagem e aprimoramento, tal como
as denominadas capacidades e atividades cognitivas. Assim, necessitam e podem ser desenvolvidos a partir de
interações sociais, o que abre perspectivas para sua transformação.

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Participação grupal em uma comunidade afetiva: possibilidades para a construção e/ou ressignificação de projetos
de vida de idosos
Autores: Fernanda do Nascimento Pereira, UFSJ; Marcos Vieira Silva, UFSJ
E-mails: fernandanp@outlook.com,mvsilva@ufsj.edu.br

Resumo: Considerando importante estudos sobre o envelhecimento, investiga-se as possibilidades de construção


e/ou ressiginificação de projetos de vida em idosos, tendo a afetividade como norteadora desse processo. Levando
em conta os aspectos que afligem o idoso em seu processo de envelhecimento, bem como o preconceito e
dificuldades diante suas limitações, Goldfarb, Barbieri, Gotter e Peixeiro (2009), afirmam que muitos idosos se
defrontam com um grande vazio quando envelhecem, diante a sua impotência perante às perdas obtidas no decorrer
da vida. Nesse contexto, uma posição de inércia, dificulta a mudança e uma possível perspectiva de futuro, levando o
idoso a um vazio existencial, que reflete um vazio de significações e de novos sentidos para a vida. Muitas vezes, esse
vazio também ocorre com a perda de um lugar social, pois não há a aceitação do lugar que a sociedade atribuiu ao
idoso, ocasionando assim um sentimento de desamparo e vazio. Conforme Celich, Creutzberg, Goldim e Gomes
(2010), há uma grande importância dos idosos desenvolverem relações sociais com os outros, sendo isso importante
para o seu desenvolvimento pessoal, e sua existência. Para eles, é por meio do afeto e do carinho, que se sustenta
uma amizade e se amplia uma relação, contribuindo para o seu sentimento de pertença a um grupo, podendo dar e
receber apoio emocional, significativos para o processo de envelhecimento. Observando alguns idosos participantes
de grupos em um programa da Universidade, percebeu-se que o seu perfil destoava de demais idosos da mesma
geração, sendo que o vínculo que se formava nos grupos, desencadeava uma relação de cumplicidade, afeto e
amizade. Será que participar de grupos que constitui uma comunidade afetiva, influenciaria na construção e/ou
ressignificação de projetos de vida dos idosos? Para Halbwachs (2006), as lembranças compartilhadas com outros
participantes do grupo, é que levam a uma pertença grupal, nomeada como comunidade afetiva. Sendo que,
conforme Brandão (2008), é por meio do relato e partilha de experiências, que se observa uma nova comunidade
afetiva, com possibilidades de uma reavaliação de projetos de vida. Assim, conforme Brandão (2012), a afetividade só
é possível de ocorrer nos sentimentos ativos produzidos no bom encontro entre sujeitos, se tratando de uma
afetividade ética e política, inconcebível sem a presença do outro. Para ele, há uma importância de se construir
espaços sociais, que possibilitem uma construção subjetiva e de fortalecimento da individualidade e da sociabilidade.
Objetivos: Compreender se e como a participação grupal em uma comunidade afetiva determina modos de
construção e/ou ressignificação de projetos de vida de idosos. Método: Pesquisa qualitativa, que serão convidados
sujeitos de uma cidade do interior de Minas Gerais, que tenham disponibilidade e vontade de participar da pesquisa.
Critérios de inclusão: ambos os sexos; idade acima de 60 anos; idosos sem maiores perdas cognitivas identificadas;
participantes frequentes aos grupos. Os grupos convidados a participar serão: um que realiza atividades físicas e
psicológicas em uma universidade desse município; um grupo de universidade para a terceira idade, da mesma
universidade. Após o envio e aceite da pesquisa pelo Comitê de Ética, a pesquisadora informará aos grupos sobre sua
pesquisa e seus objetivos, e os idosos serão convidados para realizar uma entrevista individual semi-estruturada, na
própria universidade, ou em locais de seus interesses. Em seguida, será realizada a transcrição das entrevistas, para
uma análise de conteúdo. Resultados: Até o presente momento de submissão do resumo, a pesquisa encontra-se em
andamento, sendo as entrevistas e suas análises realizadas em breve. Conclusão: Busca-se com esse estudo, auxiliar a
população idosa na reflexão sobre possibilidades para essa etapa da vida, além fornecer subsídios para políticas
públicas na consideração da ampliação de espaços, nos quais possam ser implantados projetos e perspectivas de vida,
e serem discutidas novas possibilidades de inserção social por meio de projetos que envolvam os grupos de idosos,
em que a afetividade possa aparecer de forma a agregar sentido para as possibilidades da vida.

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Práticas Participativas e Afetividade Ético-Política: Construindo uma Agenda de Pesquisa
Autores: Ana Paula Paes de Paula, UFMG; Marcia Prezotti Palassi, UFES; Rogério Zanon da Silveira, UFES
E-mails: appp.ufmg@gmail.com, mprezotti@hotmail.com, rogerio.silveira@ufes.br

Resumo: Nessa comunicação de pesquisa, pretendemos apresentar o escopo do Observatório de Práticas


Participativas (OPP), descrevendo sua construção e intenções científicas e políticas, bem como assinalando uma
significativa lacuna nas pesquisas abordadas: a ausência da afetividade ético-política como dimensão privilegiada nas
investigações sobre a participação social.
O OPP é um projeto em andamento, que buscar sistematizar do ponto de vista teórico e empírico, iniciativas que
envolvem participação no âmbito da gestão pública, da sociedade civil e dos movimentos sociais, enfatizando sua
importância no contexto da construção da esfera pública. Além disso, o projeto tem um caráter de acumulação e
disseminação de conhecimento teórico e prático para o público acadêmico e leigo, pois tem um banco de dados de
experiências participativas residente no site no Núcleo de Estudos em Participação e Subjetividade (NEPS)
(www.nespufmg.com.br), que está aberto à consulta, além de ter entre seus propósitos a exposição de conteúdos
sobre participação social em seu blog, abrangendo textos, artigos, entrevistas, documentários e vídeos curta-
metragem.
Do ponto de vista epistêmico e metodológico, o objetivo do OPP é sistematizar e analisar os elementos teóricos e
empíricos relacionados às práticas participativas engendradas no âmbito da gestão pública, da sociedade civil e dos
movimentos sociais, avaliando suas implicações para a construção das identidades grupais e para a subjetividade dos
envolvidos.
A primeira etapa do OPP, que abrangeu o período de julho de 2015 a julho de 2017, foi dedicada à construção de um
banco de experiências participativas, elaborado a partir das pesquisas realizadas em âmbito nacional. Para selecionar
qualitativamente os artigos consultados, utilizamos como critério, a partir do que foi constatado na literatura, as
seguintes temáticas: participação social, orçamento participativo, conselhos, fóruns, conferências, audiências públicas
e políticas públicas participativas setoriais (saúde, educação, habitação, meio ambiente, desenvolvimento local, entre
outras).
Partindo desse critério, durante este período realizamos um levantamento dos artigos em periódicos revisados por
pares no Portal Capes, utilizando as seguintes palavras-chave: Participação Cidadã, Participação Comunitária,
Participação Política, Cidadania, Democracia, Participação Social e Participação. Esse levantamento foi encerrado em
20/05/2016 e resultou em 603 artigos que foram lidos e categorizados para alimentação do banco de experiências, e
estará disponível para consultas no link https://www.nepsufmg.com.br/banco-de-experiencias, contando com 233
experiências catalogadas. Além disso, também levantamos 75 artigos de cunho teórico, obtidos com as mesmas
palavras-chave. Com a leitura preliminar desses artigos, constatamos também que o marco teórico da participação é
interdisciplinar e tem um caráter de constructo em constante elaboração.
Na segunda etapa do OPP, que abrangerá o período de agosto de 2017 a julho de 2019, pretendemos atualizar o
banco de experiência e também nos dedicar aos aportes teóricos-analíticos que nos chamam atenção, em especial
àqueles que têm efeitos nas perspectivas de mudança social no âmbito da Psicologia Social, como as identidades
coletivas e a questão da subjetividade, recorrendo principalmente à abordagem histórico-cultural de Gonzalez Rey
(2003).
Nesse contexto, a afetividade ético-política como elemento que interfere na construção de processos democráticos e
participativos, emerge de forma privilegiada, pois como aponta Brandão (2012), o homem modifica o mundo na
medida em que confere significado a tudo que constrói coletivamente, com a mediação da comunicação
intersubjetiva. Nesse sentido, a subjetividade é fruto de uma relação entre história, cultura e psique, que resultam em
ações que se situam em um horizonte de sentido, permeadas pela afetividade e pela ética. Assim, ...revolucionário é o
agir consciente e afetivo de sujeitos que transformam as suas realidades, não apenas em um momento político de
ruptura, mas cotidianamente, através do encontro com outro (BRANDÃO, 2012, p. 178).
O banco de experiências construído, que abrange as pesquisas empíricas, bem como os artigos teóricos obtidos com
as mesmas palavras-chave, evidenciam que a afetividade ético-política é uma dimensão pouco explorada nas atuais
investigações. Dessa forma, pretendemos nessa nova etapa do OPP, voltar nossas atenções para tal dimensão,
buscando compreender porque a mesma vem sendo negligenciada nos trabalhos e construindo uma agenda de
pesquisa para essa questão. À primeira vista, a afetividade se revela ainda como um tabu: na década de 1960,
Adorno (2006) já admitia que a formação cultural requer amor, mas colocava isso com ressalvas, temendo ser
interpretado equivocadamente como um sentimental.
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Uma vez que estamos em um momento de delineamento da pesquisa e o OPP ainda se encontra na fase de
desenvolvimento e implementação, não temos ainda conclusões, pois o nosso propósito é debater, expondo nossas
principais ideias, subsídios teóricos e metodologias aplicadas, permanecendo receptivas para acolher sugestões e
realizar parcerias que possam enriquecer e expandir nossas iniciativas.
Referências:
Adorno, T. A filosofia e os professores (1965). In ADORNO, T. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2006.
Brandão, I. R. Afetividade e transformação social: sentido e potência dos afetos na construção do processo
emancipatório. Sobral: Edições Universitárias, 2012.
González Rey, F. Sujeito e Subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. São Paulo: Pioneira Thompsom
Learning, 2003.

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Relações Dialógicas e suas implicações na vida de crianças acolhidas: um relato de experiência
Autores: Mariana Silva Gomes, UNIFRAN; Thais Silva Cintra, UNIFRAN
E-mails: m.hopian@gmail.com, thais_cintra@hotmail.com

Resumo: A institucionalização de crianças e adolescentes tem estado presente durante toda a história da
humanidade. No Brasil, a princípio, uma das formas em que se delineou foi através das rodas dos expostos ou
enjeitados, onde os recém-nascidos eram abandonados na porta de santas casas e conventos, estendendo-se como
orfanatos, caracterizando assim o cuidado delegado a instituições filantrópicas. Atualmente, com as políticas de
proteção e cuidado orientados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, passou a ser dever do Estado e o mesmo
executa esses serviços através das instituições de acolhimento no modelo de casas lares, ou aldeias. No entanto,
pouco se fala sobre as consequências dessas práticas e a forma como se promove saúde e qualidade de vida, de forma
a contribuir de maneira integral para o desenvolvimento dessas crianças e adolescentes. Este trabalho foi
desenvolvido à partir da experiência de alunos do quinto ano de psicologia, que realizam o estágio de Psicologia da
Saúde na Comunidade. O objetivo é discutir a importância das relações afetivas constituídas no convívio entre
educadoras sociais, equipe técnica, estagiários de psicologia e crianças na casa lar e, como estas relações podem
contribuir para a promoção de saúde e desenvolvimento psicossocial das crianças acolhidas. Como recurso teórico-
prático foi utilizado o construcionismo social, propondo que as relações são o lócus de construção do mundo.
Segundo esse paradigma pós-moderno o ser humano é um constructo de suas relações, sendo à partir destas que
sentidos e significados são produzidos, assim, as formas de compreender o mundo são estabelecidos na ação
conjunta. Desta forma, entendemos que cada relação tem sua dinâmica, favorecendo o acolhimento e os afetos
inerentes a relação, de forma colaborativa e democrática, onde ambos os sujeitos contribuem para estabelecer a
negociação de seus sentidos e significados. Como metodologia, foram feitos encontros semanais com as crianças
entre oito e onze anos de idade na própria casa lar onde residem, realizando intervenções grupais, visando construir,
a princípio, o vínculo entre os estagiários e as crianças. À partir da construção do vínculo, trabalhamos com temáticas
disparadoras aliados às habilidades de vida, as atividades foram coordenadas consensualmente pelas próprias
crianças, a partir das verdades, valores e sentidos atribuídos por elas. O resultado demonstrou a importância da
construção colaborativa e o quanto a postura de curiosidade e não-saber dos estagiários possibilitaram um processo
de diálogo entre todos. Foi fundamental alicerçar as vozes e sentidos atribuídos pelas crianças e o significado que essa
prática em grupo tinha para elas. A forma dos estagiários se relacionar com as crianças possibilitou a ampliação de
novas formas de relacionamentos, sendo estes embasados na negociação e importância de todas as verdades, assim,
naquele contexto específico, as crianças se respeitavam, ouviam umas às outras e acordavam o tipo de atividade a ser
feita. Destacamos que no início do grupo havia ausência de uma postura colaborativa, o que contribuía para a
perpetuação de antigas narrativas, já legitimadas, uma vez que as crianças se relacionavam com hostilidade e
violência e, posteriormente, ao trazer essas ações ao contexto relacional do grupo de maneira dialógica, houve a
negociação de sentidos e novos significados foram atribuídos a essas práticas. Concluímos então, que relacionar-se
também passa pelo crivo do autoconhecimento, assim como a promoção de saúde passa pelo crivo da
autopercepção, que possibilita a busca pela própria qualidade de vida, uma vez que é apenas reconhecendo
comportamentos, padrões e significados, que já foram constituídos em outros momentos e relações, que se pode
questionar e, à partir daí descristalizar esses posicionamentos e ampliar sentidos para novas possibilidades.
Compreendemos assim que o vínculo afetivo é essencial para a construção de recursos de enfrentamento e conquista
de autonomia das crianças e adolescentes em contexto de acolhimento institucional.

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GT 02 | A práxis que apreendem as determinações históricas na dialética da relação entre psiquismo e
sociedade: contribuições para a psicologia social

Coordenadores: Cecília Pescatore Alves, PUC-SP | Inara Barbosa Leao, UFMS | Jeferson Renato Montreozol, PUC-SP

Neste XIX Encontro da ABRAPSO nos propomos a dar continuidade aos diálogos iniciados na edição anterior deste
evento, quando o GT discutiu sobre as implicações da configuração das bases infra e superestrutural da sociedade
promovida pela atual reorganização do Capitalismo para as consciências individuais. Orientados pelo pensamento de
Vigotsky e outros psicólogos soviéticos, queremos enfatizar as causas sociais e históricas da formação do inconsciente
individual e a sua minimização pela apreensão da cultura de seu grupo social. Sabemos que estes movimentos
inerentes ao psiquismo decorrem das exigências de construções e alterações no psiquismo, suas funções, processos,
sistemas e na relação dialética entre os conjuntos das funções psicológicas e de seus motivos tanto conscientes como
inconscientes. Para tanto, vimos nos dedicando a ampliar a capacidade explicativa das proposições de algumas Teorias
Psicológicas que consideram a dialética materialista e histórica como um critério de verdade para a ciência psicológica,
tal como se expressam nas teorias de Vigotsky, Leontiev, Luria, Lane, Martín-Baró e outros. Especificamente sob esta
base epistemológica, aprofundaremos sobre a importância da mediação dos processos de pensamento e da emoção
na constituição das instâncias conscientes e inconscientes. Na perspectiva de utilizarmos os desenvolvimentos das
teorias psicológicas materialista históricas e dialéticas para a ações psicossociais que visam a superação de
consciências pouco desenvolvidas, a manutenção e ampliação de conteúdos inconscientes a partir da realidade
histórica e cultural. Em nossas pesquisas vimos entendendo o pensamento e a emoção, nas suas manifestações
conscientes e inconscientes, como processos ligado essencialmente à atividade e à situação dos homens, e como
modo de estruturação pelo qual se oculta ou se falsifica a ligação entre o modo como aparece ao homem na sua
consciência os processos e seus produtos, representados como indiferentes, independentes ou superiores aos
homens, seus criadores. Destacamos este aspecto porque, imediatamente, faz sobressair o fato de todos os homens
demonstrarem não entender algum ou vários aspectos dos seus contextos social e particular, findando em um
processo que para orientarem as suas atividades acatam um discurso ideológico articulado para remeterem aos
individuos, às suas características pessoais as causas de tais dificuldades. Serão as consequências destas condições que
os integrantes deste GT devem abordar e que gostaríamos de aprofundar com outros que se dedicam as teorias
psicológicas não tradicionais. Entretanto, queremos ressaltar o fato desta base epistemológica sustentar uma práxis
que faz com que as análises e suas conclusões sofram alterações constantes devidas às tentativas de irmos
aprofundando os achados psicológicos e darmos continuidade ao desenvolvimento da metodologia que temos
utilizados. Portanto, queremos destacar, brevemente que nossos trabalhos estão sustentados por alguns pressupostos
dentre os quais sobressaem: (a) O entendimento que a história do psiquismo humano e dos conjuntos de funções e
processos como atividade, identidade e emoção que constituem as instancias conscientes e inconscientes, está
relacionada ao modelo de desenvolvimento do modo de produção capitalista, que surge na Europa em meados do
século XVIII. Desde então a psicologia dos sujeitos surge como resultado da contradição do modo de produção
capitalista, que ao mesmo tempo em que cria condições de produção para suprir as necessidades mais complexas dos
seres humanos, inventa os modos que impossibilitam que todos sejam atendidos e que entendam tal dialeticidade,
gerando assim o movimento dialético entre consciência e inconsciente; (b) a concordância com a explicação que a
separação dos meios de produção da força de trabalho humana, resultante das relações sociais no capitalismo, fez
com que esta força se transformasse em mais uma mercadoria e, portanto, sujeita às leis do mercado.
Deste modo, as determinações impostas pelos meios de produção aumentam seu poder, o que possibilita que estes
exerçam maior controle tanto sobre os processos psicológicos e suas formas de constituição pela intervenção das
instituições sociais; (c) as análises que a atividade é o processo eficiente na superação dos antagonismos da vida social
e do desenvolvimento do psiquismo humano. Portanto, reconhecemos que as mudanças constantes de ações que
medeiam as relações entre a sociedade e o homem têm sua origem no trabalho, mas concretizadas em instrumentos
como as mídias sociais, sendo este a condição fundamental de toda vida humana e (d) que a vida em sociedade está
baseada em sua produção material, que é resultante do trabalho dos homens que a integram. Através do trabalho o
homem pode alterar a estrutura dos grupos que por sua vez podem alterar a superestrutura do mesmo. Assim,
pretendemos manter a lógica de tomarmos a Psicologia Social como um aspecto da história social dos homens, que
sempre é a história dos seus desenvolvimentos individuais, mesmo quando não tem consciência disso. Daí que
interessará a este GT todos os trabalhos que, necessariamente, tomarem as relações materiais como a base de todas

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as relações humanas, mas também como as formas necessárias nas quais se realizam as vontades materiais e
individuais. As mudanças no plano das ideias acompanham as de ordem material. Por tais determinações, tomamos
como o ponto principal que inclui a proposta do nosso GT no eixo: Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas
na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções, a ser explorado nesse Encontro o reconhecimento da
política como inerente ao pensamento que busca analisar as relações entre os seus integrantes como mutuas
determinações destes e a sociedade. Na especificidade da sociedade capitalista, pensamos que a Psicologia Social
deve contemplá-la tal como apresentada por Marx e Engels na sua teoria do Estado. Nesta, indicam que por ser a
sociedade dividida em classes antagônicas as instituições políticas têm como função primeira garantir à classe
dominante a manutenção do seu domínio. Mas, dada estrutura social de classes antagônicas, esse domínio só será
mantido pelo controle eficaz por coerção da força e das consciências. O estudo de desafios éticos e políticos devem
ser compreendidos a luz de como o movimento contrário das classes as posiciona em seu conflito, o que tem uma
dimensão histórica própria na psicologia social da América latina e dos pressupostos que fundamentaram a fundação
da ABRAPSO. Na qual a validade epistêmica do conhecimento passa a ser a partir da não neutralidade do
conhecimento, e da clareza dos pressupostos da concepção de homem e de indivíduo que possibilite a busca para a
emancipação. Assim, objetivou-se construir um conhecimento que possa ser crítico de todos os modelos teóricos
reducionistas e desvinculado das questões sociais em que estão imersos. Só assim, tomando lado nesta confrontação,
é que a psicologia consegue colocar a questão de como a sua atuação pode construir possibilidades de superação
desta condição. Outro ponto que podemos ressaltar é que, embora seja uma discussão antiga, muitos não consideram
que o papel da psicologia, enquanto ciência, não é a exclusiva produção de conhecimento teórico. Não há coerência
na separação entre ciência e realidade, uma vez que não entendemos o homem fora de seu contexto histórico e
cultural.
Portanto, discutiremos o compromisso da psicologia e seus conhecimentos na transformação da realidade do país. E,
como o eixo Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou
intervenções, se concretizará nas reuniões de trabalhos que discutam as diferentes perspectivas históricas e teóricas
da Psicologia Social, pressupostos epistemológicos e metodológicos, pretendemos contribuir com as pesquisas que
analisam epistêmica e metodologicamente as teorias psicologia social que se baseiam no materialismo histórico
dialético. Isso porque sabemos que a história se mostra como fundamento epistêmico e condição essencial para o
conhecimento da realidade, assim como mostra os limites e as possibilidades para a sua transformação. Também nos
orientou para este Eixo temático o fato de a psicologia social que se constituiu, a partir da ABRAPSO visa o diálogo com
outras áreas do saber que contribuem para a crítica social e a desnaturalização das desigualdades sociais. Propõe-se
discutir aqui o tema proposto a partir do caráter epistêmico- ético e ético político - que sustentou a fundação da
ABRAPSO – ao propor um compromisso com a realidade social, na busca do saber que orienta ações psicológicas.
Destaca-se essa questão porque o compromisso social da psicologia tem sido assunto recorrente na maioria das
instâncias que a produzem e a representam – inclusive nos encontros da ABRAPSO. Por mantermos uma rede de
estudo e pesquisa integrada por outros psicólogos além dos que se apresentam como autores da presente proposta,
apresentamos outros coautores como proponentes que se responsabilizam pela produção e discussão do apresentado
para este Encontro Nacional e se mantém, efetivamente, vinculados à ABRAPSO.

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A constituição das emoções para Vigotski e Rubinstein baseado no materialismo histórico-dialético
Autores: Vitória Regina de Almeida Correia, UFMS; Alexandre Pito Giannoni, UFMS; Jéssica Apacite Bonifácio, UFMSS
E-mail do(a) autor(a): carlotapsi@gmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir, sob a perspectiva de classe, alguns aspectos da pesquisa sobre arte para
a psicologia, como técnica social da emoção que possibilita a ampliação da consciência. Compreendendo que a divisão
de classes se constitui pela contradição entre grupos que se opõem pela posição que ocupam dentro do sistema de
produção econômica. Essa diferenciação medeia a constituição psíquica dos indivíduos, por meio dos limites e
possibilidades de apreensão da cultura pelos sujeitos de classes distintas. Para a teoria sócio-histórica, o
desenvolvimento do psiquismo está relacionado às apropriações feitas pelo sujeito por meio de sua atividade no
mundo. A condição inerentemente social dos indivíduos da espécie humana permite que tenhamos a possibilidade de
nos apropriar das realizações históricas do gênero humano, tudo que a humanidade produziu durante sua história e
que foi acumulado como cultura por ter sido favorável aos homens, apreensão esta que depende das condições sócio-
históricas de produção da vida material. Assim podemos afirmar que o psiquismo dos seres humanos
contemporâneos encontra sua gênese, processos e conteúdos oriundos do modo de produção capitalista, que tem
como base a contradição entre a produção capaz de suprir necessidades mais complexas da sociedade e a
impossibilidade de uma grande maioria ter acesso a essa produção. A arte é uma atividade humana que perpassa
todos os estágios da hominização durante a filogênese da espécie, assumindo características dos períodos nos quais
foi produzida. Para o presente trabalho, consideramos a arte sob a perspectiva da psicologia sócio-histórica, como
produto da atividade humana pela transformação da natureza, possui técnica e linguagem específicas e objetiva
aspectos da realidade social, capaz de reorganizar o campo das emoções permitindo o desenvolvimento da
consciência. De acordo com Vigotski, a arte é capaz de proporcionar novas organizações psíquicas, possibilitando ao
homem a elevação da condição individual ao gênero humano universal. Isso se dá porque a arte é uma técnica social
das emoções, permitindo sínteses psicológicas através da catarse. A arte carrega as características da classe na qual
ela é produzida, é composta pelos significados e visão de mundo de determinada classe de onde o artista se origina.
Essa qualidade possibilita que sentimentos sociais sejam encarnados nas obras de arte. Nas produções artísticas, os
homens objetivam aspectos psicológicos complexos produzidos na sociedade. Assim possibilita uma duplicação do
real no psiquismo, permitindo aos indivíduos entrarem em contato com emoções de uma forma que não estão
habituados em seus cotidianos. De acordo com Vigotski, a catarse provocada pela arte é capaz de oportunizar nos
indivíduos a elaboração de novos sentidos para suas vivências, sentimentos e emoções cotidianas, assim o efeito da
arte não é apenas momentâneo, mas passa a fazer parte do psiquismo dos sujeitos, se objetivando na atividade.
Como uma linguagem específica, a arte deve passar por um processo de apropriação mediado, através
principalmente, da possibilidade do contato de todos os indivíduos de determinada cultura com essa ferramenta
social. Em uma sociedade dividida em classes, onde as condições materiais diferem sobremaneira entre indivíduos de
classes distintas, os significados presentes nas obras de arte produzidas pela classe que detém o poder econômico e
político carregam elementos de sua própria realidade, em forma de ideologia. Esses conteúdos ao serem apropriados
pela classe popular não encontram referência na realidade cotidiana que essas pessoas vivem, não produzem sentidos
adequados para uma ampliação de consciência, atuando como ideologia. Assim, para compreender a consciência dos
indivíduos em relação à arte por uma perspectiva classista, devemos nos orientar pela arte produzida por essas
pessoas, arte essa que encarna as características sócio-históricas inerentes às vivências desses indivíduos, na maioria
das vezes permeadas por injustiças e falta de possibilidades. Dessa forma a arte se apresenta como potência criativa,
possibilitando a ampliação da consciência dos sujeitos para uma atividade transformadora. Um exemplo de arte
popular, ou arte de rua, é o grafitte e o pixo que se caracterizam principalmente pela execução das obras em muros e
espaços coletivos, presentes praticamente no mundo todo. Poderíamos citar outras formas de expressão artística
como o rap e o funk, este último atualmente com proposta de ser criminalizado por lei. Assim, o objetivo do presente
trabalho, em conformidadeà o à oà G upoà deà T a alhoà ásà p isà ueà ap ee de à asà dete i aç esà hist i asà aà
dial ti aàdaà elaç oàe t eàpsi uis oàeàso iedade:à o t i uiç esàpa aàaàpsi ologiaàso ial à àdis uti àasà o se ü iasàeà
implicações da mediação de classe, em relação à arte, nos processos da emoção para a constituição da consciência
dos indivíduos. Nosso aporte teórico se encontra nos trabalhos de Vigotski, que trouxe em suas pesquisas a
importância da arte para a humanização dos indivíduos e sua relação com a emoção, permitindo uma ampliação de
consciência, e Silvia Lane, que discute a presença da ideologia como condição a ser observada na análise do psiquismo
humano.

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A Impotência da Subjetividade: sobre o papel da desigualdade social na dialética consciência-inconsciente
Autores: Matheus Rodrigues de Oliveira, Faculdade UNIGRAN Capital; Ana Paula Benites Gama, Faculdade UNIGRAN
Capital; Edenir Padilha Dias, Faculdade UNIGRAN Capital; Felipe Correa Verardo, Faculdade UNIGRAN Capital; Jânio
Rodrigues Miranda Junior, Faculdade UNIGRAN Capital; Jeferson Renato Montreozol, Faculdade UNIGRAN Capital;
João Pedro Vilar Nowak de Lima, Faculdade UNIGRAN Capital; Luana de Moura Vareiro, Faculdade UNIGRAN Capital;
Riverson Junior Gomes Tavares, Faculdade UNIGRAN Capital; Rodrigo Batista Torraca, Faculdade UNIGRAN Capital
E-mail do(a) autor(a): : matheus_rodrigues_deoliveira@hotmail.com

Resumo: A proposta aqui apresentada versa sobre a impotência da subjetividade na relação com a desigualdade
social, considerando para tanto o movimento dialético entre consciência-inconsciente. Para tanto, nos pautamos na
seguinte questão central: será que a desigualdade social despotencializa a subjetividade em relação ao movimento
consciente e inconsciente do sujeito na compreensão e organização da realidade? Isso porque no que tange a
realidade da sociedade brasileira, sabemos que está havendo grandes mudanças no contexto político e ideológico.
Diante dessas transformações, fica evidente o que Marx (2015) diz a respeito da divisão de classes, entre os
trabalhadores e donos de meios de produção. O referido pensador diz que o estado é o principal órgão a regularizar e
sustentar estas diferenciações de classes, com leis, decretos e propostas de emendas constitucionais, favorecendo
assim apenas uma parte dela. Através disto, notamos a desigualdade entre classes e a dominação de uma classe
minoritária sob outra. Outro ponto fundamental que o autor destaca é o trabalho, pois o compreende como condição
de existência dos homens, mediação esta entre o ser e a natureza, e, por conseguinte, suposição para a existência
humana. É a partir desta mediação que os homens desenvolvem historicamente as condições de produção e
reprodução social. Seguindo essa premissa, pode-se dizer que a sociedade está baseada na produção material, que é
resultante de uma integração entre atividade dos sujeitos. A partir daí, podemos entender a subjetividade do sujeito,
através do materialismo histórico e dialético que se fundamenta no marxismo. Nesse sentido, o homem torna-se ativo
em seu processo de transformação, uma vez que a visão histórica do fenômeno psicológico não segue o
tradicionalismo de outras linhas teóricas, na qual define a subjetividade como uma instância que toma conta do
individuo em certos momentos sem chance de ter a possibilidade de controlar, e que o mesmo possui segredos que
nem mesmo a pessoa tem consciência, ou seja, torna o sujeito passivo em suas emoções e ao que pensa. Assim,
tomar como base a psicologia sócio-histórica permite compreendermos que Vigostki, em suas publicações sobre a
reflexologia, apresenta criticas ao reducionismo e incentiva a produção de uma psicologia dialética. Feito isso, começa
a ter uma nova concepção de sujeito, onde a sociedade é vista como produção histórica, através da atividade do
homem, e as ideias como representações da objetividade material. Compreender estes aspectos que envolvem tanto
o sujeito como o modo de organização social permite integrarmos, pela dialeticidade, os processos psicológicos à suas
estruturas determinantes, isto é, compreendendo o psiquismo e a subjetividade não como meras abstrações, mas
como processos organizados e desenvolvidos de acordo com a realidade em que se encontram. Entretanto,
consideramos ainda que tais elementos resguardam tanto os conteúdos consciências quanto conteúdos inconsciente,
aspectos já elencados por Vigotski em seus trabalhos, e que a organização desta relação depende, em grande medida,
do domínio que o sujeito tem da cultural na realidade social. Assim, se partimos do princípio de que nossa sociedade,
capitalista, se mantém somente pela divisão social, pela desigualdade entre os dois polos da relação, pensamos
também que determinados aspectos só se manterão (ou se tornarão) consciente se a estrutura social demandar.
Assim, a desigualdade social originária do próprio modelo capitalista de produção e existência finda por resignificar
processos sociais, mantendo uma ruptura nos elementos da consciência dos sujeitos, pois se estes tivesse consciência
de suas potencialidades poderiam desorganizar o sistema e, consequentemente, ocasionar a virada qualitativa na
relação social. Então, pensamos que a desigualdade funciona como um mecanismo não apenas social, mas também
psicológico: mantém inconsciente determinados elementos para que, assim, possa despotencializar a subjetividade
humana. Como método, a natureza da pesquisa foi qualitativa, bibliográfica, pois foram feitas análises de artigos
publicados e disponibilizados referentes ao tema. E nosso interesse por manter esta discussão no GT 2 do
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ENABRAPSO (A práxis que apreendem as determinações históricas na dialética da relação entre psiquismo e
sociedade: contribuições para a psicologia social) se pauta justamente pelo fato de que este espaço permitirá
aprofundarmos algumas questões ainda em aberto, principalmente na dinâmica entre consciência-inconsciente a
partir da realidade objetiva.

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Abuso psicológico contra a mulher: dialética consciente-inconsciente na condição social
Autores: Luana de Moura Vareiro, Faculdade UNIGRAN Capital; Ana Paula Benites Gama, Faculdade UNIGRAN Capital;
Edenir Padilha Dias, Faculdade UNIGRAN Capital; Felipe Correa Verardo, Faculdade UNIGRAN Capital; Jânio Rodrigues
Miranda Junior, Faculdade UNIGRAN Capital; Jeferson Renato Montreozol, Faculdade UNIGRAN Capital; João Pedro
Vilar Nowak de Lima, Faculdade UNIGRAN Capital; Riverson Junior Gomes Tavares, Faculdade UNIGRAN Capital;
Rodrigo Batista Torraca, Faculdade UNIGRAN Capital
E-mail do(a) autor(a): : luanavareiro@outlook.com.br

Resumo: A violência contra a mulher é um fenômeno muito antigo, produzido a partir de toda uma construção
histórica em que tem prevalecido o poder do homem. Desde a Grécia antiga, as mulheres eram tratadas como um ser
inferior, que serviam apenas como procriadoras, e eram colocadas no mesmo lugar que crianças e escravos. Na
religião não foi diferente, pois aqui ainda hoje se mantém a ideia de que a mulher tem que ser submissa ao homem. A
medicina também não deixou de ter sua participação, acreditando primariamente apenas na existência do corpo
masculino e que, pelo corpo da mulher ser uma espécie de corpo não desenvolvido, era inferior. Assim, podemos
perceber que realmente existe historicamente toda uma cultura machista, e que apenas com a revolução francesa a
mulher passou, pela primeira vez, a participar junto com os homens da vida social, acreditando que ali estaria o início
de uma igualdade entre homens e mulheres. Entretanto, quando percebeu-se que isso não iria acontecer, as
mulheres que já tinha certo conhecimento passaram a protestar reivindicando seus direitos como ser humano,
indagando o porquê de não ter o mesmo direito que os homens. Com a chegada do sistema capitalista, algumas
mulheres passaram a trabalhar nas fábricas saindo assim da esfera privada que sempre foram submetidas pelos
homens, e passando a fazer parte da esfera pública, o que acabou dando mais força para suas indagações sobre os
direitos iguais. Neste cenário, o presente trabalho tem como objetivo principal buscar respostas através da psicologia
social para a questão do abuso psicológico sofrido historicamente por pessoas do gênero feminino, onde estas não
têm sido capazes de compreenderem suas reais condições de existência, fazendo com que esse abuso seja mantido na
organização de elementos e processos inconscientes. Por isso, esta pesquisa resguarda os pressupostos da dialética,
particularmente na relação consciente-inconsciente, visando compreender a questão da vivência em um
relacionamento onde ocorre abuso psicológico do homem sobre a mulher. Isso porque temos percebido que nestas
relações, é muito difícil que a pessoa abusada perceba o que está acontecendo, pois não temos a agressão física
enquanto elemento materializando da violência. Este estudo utiliza os pressupostos da teoria psicológica sócio-
histórica para pensar sobre o desenvolvimento da consciência da mulher abusada, e como alguns conteúdos não
chegam à esfera da consciência, isto é, mantém-se inconscientes. E pensamos que tal fator ocorre devido à conduções
dadas na cultural machista, na forma como determinados elementos da realidade social são apropriados pelas
mulheres, mas também na intensidade que o tônus emocional toma na organização da dialética psíquica da vítima do
abuso. Portanto, pensamos que nossas discussões se enquadram no que o GT 2 (A práxis que apreendem as
determinações históricas na dialética da relação entre psiquismo e sociedade: contribuições para a psicologia social)
tem proposto, pois temos nos dedicado a ampliar a capacidade explicativa das proposições de algumas teorias
psicológicas que consideram a dialética materialista e histórica, e a importância de alguns processos psicológicos
como pensamento e emoção. Esta pesquisa assume a organização de uma pesquisa bibliográfica, utilizando
produções pautadas na Psicologia Sócio-Histórica no que concerne aos conceitos sobre violência de gênero e violência
contra a mulher para obter um entendimento de como se procedeu o abuso dentro dos relacionamentos ao longo da
história, e também acerca da história da violência contra a mulher dentro de relação consciente e, ainda,
inconsciente.

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Apontamentos sobre saúde mental no Brasil a partir das contribuições de Martín-Baró
Autores: Marçal Pereira Machado, UFMS; Carlota Aparecida Coelho Philippsen, UFMS
E-mail do(a) autor(a): : marcalpm85@hotmail.com

Resumo: Pensar em saúde mental a partir da teoria Psicológia Sócio-Histórica, principalmente da contribuição teórica
e metodológica de Ignacio Martín-Baró, nos remete imediatamente a analisar para a dimensão da relação entre
pessoas e grupos, considerando sua classe social, atividade e história; e não para um estado individual interno, cujo
funcionamento está calcado nos seus próprios traços de personalidade ou caraterísticas psicológicas. Ou seja, este
movimento deve ser entendido de fora para dentro, e não o contrário. Nesta perspectiva, a saúde mental e os
transtornos mentais são a materialização, na pessoa ou no grupo, do caráter humanizador ou alienante das relações
sociais e históricas. A partir análise psicossocial de Martín-Baró das consequências da guerra civil salvadorenha na
década de 80 do século passado, este autor apresenta apontamentos epistemológicos e categorias de análise que
permitem avançar no entendimento da saúde e doença mental e sua relação com o caráter das relações humanas. Ao
voltarmos nosso olhar científico orientado pela teoria psicológica Sócio-Histórica, cujos pressupostos estão
fundamentados no materialismo histórico-dialético e, portanto, são capazes de compreender a concreticidade destas
relações, para o nosso contexto político e econômico atual do Brasil, podemos verificar que as três qualidades da
guerra apontadas pelo autor - a violência, a polarização e a mentira – estão presentes, e algumas inclusive se
explicitando cada vez mais acentuadamente. A violência sob a forma de criminalização e repressão de movimentos
sociais, a polarização que causa a produção de fissuras nos marcos de convivência e uma separação radical entre
eles àeà s ,àeàaà e ti aài te io alàp ese teà oàdis u soà ep oduzidoàpelosà eiosàdeà o u i aç oàdeà assa,à ue
servem de verdadeiros instrumentos ideológicos para se ocultar as verdadeiras raízes dos problemas econômicos,
políticos e, também, de saúde mental. Se analisarmos, poderemos identificar todas estas qualidades presentes e em
plena ascensão na nossa sociedade. Mas além destas qualidades da guerra que Baró nos apresenta, também temos
nas principais coordenadas apontadas pelo autor para analisar as consequências da guerra sobre a saúde mental
relações semelhanças trágicas. A mais importante categoria de análise destas consequências é a classe social, pois são
os mais afetados nãos somente pelos mecanismos de repressão e impacto direto do conflito bélico, mas também pelo
aumento do custo de vida e crescente desemprego. Com isso, fica evidente que a discussão feita por ele há cerca de
trinta anos encontra-se, infelizmente, atualizada ao nosso período histórico e político. Assim, neste trabalho
buscamos contribuir para a reflexão de nosso atual contexto social e histórico, marcado por um aprofundamento de
uma crise política decorrente de um golpe que colocou um governo que está empenhado em reprimir movimentos
sociais, retirar direitos da classe trabalhadora e assegurar privilégios da classe burguesa por meio da efetivação de
uma agenda conservadora e elitista. Também buscamos a elaboração de uma Psicologia Social crítica, que, segundo
Baró, deve ser um campo que busca ampliar a liberdade humana oferecendo explicações sobre a dimensão ideológica
da ação humana, ou seja, sobre a relação entre interesses sociais gerados em uma sociedade divida em classes. Com
isso, a psicologia não pode estar alheia às lutas sociais, deve rever seus conceitos que servem de instrumentos à
reprodução do status quo, e o seu compromisso deve estar calcado na transformação da realidade.

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Arte sob uma perspectiva classista como ampliação da consciência ou reprodução ideológica
Autores: Carlota Aparecida Coelho Philippsen, UFMS; Marçal Pereira Machado, UFMS
E-mail do(a) autor(a): : carlotapsi@gmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir, sob a perspectiva de classe, alguns aspectos da pesquisa sobre arte para
a psicologia, como técnica social da emoção que possibilita a ampliação da consciência. Compreendendo que a divisão
de classes se constitui pela contradição entre grupos que se opõem pela posição que ocupam dentro do sistema de
produção econômica. Essa diferenciação medeia a constituição psíquica dos indivíduos, por meio dos limites e
possibilidades de apreensão da cultura pelos sujeitos de classes distintas. Para a teoria sócio-histórica, o
desenvolvimento do psiquismo está relacionado às apropriações feitas pelo sujeito por meio de sua atividade no
mundo. A condição inerentemente social dos indivíduos da espécie humana permite que tenhamos a possibilidade de
nos apropriar das realizações históricas do gênero humano, tudo que a humanidade produziu durante sua história e
que foi acumulado como cultura por ter sido favorável aos homens, apreensão esta que depende das condições sócio-
históricas de produção da vida material. Assim podemos afirmar que o psiquismo dos seres humanos
contemporâneos encontra sua gênese, processos e conteúdos oriundos do modo de produção capitalista, que tem
como base a contradição entre a produção capaz de suprir necessidades mais complexas da sociedade e a
impossibilidade de uma grande maioria ter acesso a essa produção. A arte é uma atividade humana que perpassa
todos os estágios da hominização durante a filogênese da espécie, assumindo características dos períodos nos quais
foi produzida. Para o presente trabalho, consideramos a arte sob a perspectiva da psicologia sócio-histórica, como
produto da atividade humana pela transformação da natureza, possui técnica e linguagem específicas e objetiva
aspectos da realidade social, capaz de reorganizar o campo das emoções permitindo o desenvolvimento da
consciência. De acordo com Vigotski, a arte é capaz de proporcionar novas organizações psíquicas, possibilitando ao
homem a elevação da condição individual ao gênero humano universal. Isso se dá porque a arte é uma técnica social
das emoções, permitindo sínteses psicológicas através da catarse. A arte carrega as características da classe na qual
ela é produzida, é composta pelos significados e visão de mundo de determinada classe de onde o artista se origina.
Essa qualidade possibilita que sentimentos sociais sejam encarnados nas obras de arte. Nas produções artísticas, os
homens objetivam aspectos psicológicos complexos produzidos na sociedade. Assim possibilita uma duplicação do
real no psiquismo, permitindo aos indivíduos entrarem em contato com emoções de uma forma que não estão
habituados em seus cotidianos. De acordo com Vigotski, a catarse provocada pela arte é capaz de oportunizar nos
indivíduos a elaboração de novos sentidos para suas vivências, sentimentos e emoções cotidianas, assim o efeito da
arte não é apenas momentâneo, mas passa a fazer parte do psiquismo dos sujeitos, se objetivando na atividade.
Como uma linguagem específica, a arte deve passar por um processo de apropriação mediado, através
principalmente, da possibilidade do contato de todos os indivíduos de determinada cultura com essa ferramenta
social. Em uma sociedade dividida em classes, onde as condições materiais diferem sobremaneira entre indivíduos de
classes distintas, os significados presentes nas obras de arte produzidas pela classe que detém o poder econômico e
político carregam elementos de sua própria realidade, em forma de ideologia. Esses conteúdos ao serem apropriados
pela classe popular não encontram referência na realidade cotidiana que essas pessoas vivem, não produzem sentidos
adequados para uma ampliação de consciência, atuando como ideologia. Assim, para compreender a consciência dos
indivíduos em relação à arte por uma perspectiva classista, devemos nos orientar pela arte produzida por essas
pessoas, arte essa que encarna as características sócio-históricas inerentes às vivências desses indivíduos, na maioria
das vezes permeadas por injustiças e falta de possibilidades. Dessa forma a arte se apresenta como potência criativa,
possibilitando a ampliação da consciência dos sujeitos para uma atividade transformadora. Um exemplo de arte
popular, ou arte de rua, é o grafitte e o pixo que se caracterizam principalmente pela execução das obras em muros e
espaços coletivos, presentes praticamente no mundo todo. Poderíamos citar outras formas de expressão artística
como o rap e o funk, este último atualmente com proposta de ser criminalizado por lei. Assim, o objetivo do presente
trabalho, em conformidade com oà G upoà deà T a alhoà ásà p isà ueà ap ee de à asà dete i aç esà hist i asà aà
31
dial ti aàdaà elaç oàe t eàpsi uis oàeàso iedade:à o t i uiç esàpa aàaàpsi ologiaàso ial à àdis uti àasà o se ü iasàeà
implicações da mediação de classe, em relação à arte, nos processos da emoção para a constituição da consciência
dos indivíduos. Nosso aporte teórico se encontra nos trabalhos de Vigotski, que trouxe em suas pesquisas a
importância da arte para a humanização dos indivíduos e sua relação com a emoção, permitindo uma ampliação de
consciência, e Silvia Lane, que discute a presença da ideologia como condição a ser observada na análise do psiquismo
humano.

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Educação e mediação: apontamentos teóricos e metodológicos para o debate sobre constituição de consciência
Autores: Sandy Lira Ximenes Lima, PUC-SP; Cecília Pescatore Alves, PUC-SP
E-mail do(a) autor(a) : sandyx3030@gmail.com

Resumo: Esta reflexão propõe-se, a partir da atual reorganização do Capitalismo, do papel mediador da escola pública
contemporânea e da concepção hegemônica de cultura que permeia as relações vividas cotidianamente nas
instituições escolares, discutir a constituição identitária individual. As recentes transformações sociais decorrentes da
globalização e das políticas neoliberais atingiram o cenário político brasileiro educacional, seus projetos de educação
e o modo como a instituição escolar lida com suas ações educacionais. Assim, entende-se que, hoje, todo estudo que
investigue o escopo das mudanças que afetam a escola deve reconhecer os nexos reais e conceituais que imbricam a
realidade escolar com a concretude da vida social, na forma de novos condicionamentos sociais. Sustentado pelo
conceito de identidade, desenvolvido por Ciampa e pelo de mediação sistematizado por Raymond Williams, o
presente estudo tem como objetivo caracterizar um quadro teórico sobre a constituição de consciências.
Especialmente sob a base epistemológica do materialismo histórico e dialético, pretende-se contribuir com o debate
p opostoà peloà GTà áà p isà ueà ap ee dem as determinações históricas na dialética da relação entre psiquismo e
sociedade: o t i uiç esà pa aà aà psi ologiaà so ial .à Nestaà pe spe ti aà p ete de-se adensar a reflexão sobre a
importância da mediação dos processos de pensamento e da emoção na constituição das instâncias conscientes e
inconscientes, a partir do complexo tema das políticas educacionais em sociedades em desenvolvimento. Paradoxos
produzidos nas relações efetivadas no interior da escola: fracasso versus sucesso, cultura comum versus cultura de
massa e a questão da hegemonia ganham sentido, como argumento teórico, para a compreensão da constituição da
identidade com a qual o presente estudo está preocupado. Neste contexto, discutem-se alguns resultados de
pesquisa realizada com alunos do ensino fundamental de uma escola pública estadual da cidade de São Paulo. A
investigação fundamentou-se em narrativas de quatro alunos sobre suas histórias de vida e projeto de futuro. A
análise das narrativas obedeceu ao critério dialético, tendo como partida as manifestações de desejos, emoções,
experiências e identificações contidas na representação do eu. Além das interligações entre as diferentes
manifestações buscou-se identificar as condições sociais e historicamente engendradas que são reunidas em torno do
indivíduo que revelam aspectos da realidade vivida no interior das escolas públicas. Ao analisar as narrativas expostas
pelos alunos foi possível apreender a função de mediação que a escola faz na constituição de identidade, uma vez que
por meio das narrativas se deu a apreensão da escola como local que marcou de distintas maneiras as histórias de
vida aqui apresentadas, de forma que ora se fez colonizadora e ora se fez emancipatória. O caráter meritocrático está
presente nos depoimentos de suas conquistas atuais e futuras reproduzindo, assim, a lógica capitalista vigente em
nossa sociedade. De modo que, a escola muitas vezes ao desenvolver projetos pedagógicos que, seguem às demandas
do mercado de trabalho acaba por passar tarefas que se tornam sem significado para os alunos, e não possibilitam a
transformação da realidade sócio-histórica, não os fazendo se sentir sujeitos ativos capazes de transformar sua
realidade e história. O papel da escola como mediadora da sociedade e como espaço que propicia relacionamentos
interpessoais, entre os alunos, pode contribuir no processo de aquisição de uma identidade que não consegue pensar
sobre os diferentes papéis impostos na sociedade e abstrair tal pensamento para além das normas e regras sociais.
Contudo, as narrativas também identificam que, os questionamentos levantados pelo grupo de amigos, no convívio
na escola, possibilitam o jovem começar a pensar criticamente sobre a escola e outras relações de sua vida. Desta
maneira, entende-se que o relacionamento com outros alunos da escola pode contribuir para o processo de
emancipação do aluno, ou seja, a capacidade de pensar criticamente sobre o nosso tempo sócio-histórico, a fim de ter
consciência das desigualdades e contradições presentes em nossa sociedade, assim como sua urgência de superação.
Ao se pensar o modo como o poder público tem tratado a educação brasileira ao longo da história, é possível afirmar
por meio de pesquisas relativas às políticas de identidade, que se manifestam no contexto escolar, que o projeto
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educação tem sustentado a instituição escolar como mediadora de uma política de identidade que prioriza a
colonização em detrimento da emancipação. As políticas educacionais criam projetos de ensino que não incentivam
ações transformadoras, mas sim, são pautadas na lógica do consumo e não no questionamento da realidade sócio-
histórica brasileira.

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Identidade masculina na contemporaneidade: novas sínteses dialéticas
Autores: João Pedro Vilar Nowak de Lima, Faculdade UNIGRAN Capital; Ana Paula Benites Gama, Faculdade UNIGRAN
Capital; Edenir Padilha Dias, Faculdade UNIGRAN Capital; Felipe Correa Verardo, Faculdade UNIGRAN Capital; Jânio
Rodrigues Miranda Junior, Faculdade UNIGRAN Capital; Jeferson Renato Montreozol, Faculdade UNIGRAN Capital;
Luana de Moura Vareiro, Faculdade UNIGRAN Capital; Riverson Junior Gomes Tavares, Faculdade UNIGRAN Capital;
Rodrigo Batista Torraca, Faculdade UNIGRAN Capital
E-mail do(a) autor(a): : pedro_nowak@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho discorrerá sobre a identidade sexual masculina na contemporaneidade e seus
movimentos dialéticos. Para tanto, utilizamos a perspectiva sócio histórica, onde o indivíduo é produto e produtor de
sua história, uma vez que o conhecimento produzido ao longo da história lhe fornece recursos que funcionam como
mediadores das ações humanas. Logo, embasamo-nos em teorias que expressam a dialética materialista e histórica
como critério de verdade da ciência psicológica. Nosso método de trabalho constituiu-se em pesquisas de artigos e
livros que tinham como tema a sexualidade, assim como a masculinidade, para, deste modo, chegarmos ao objetivo
de compreender os movimentos que o personagem masculino desempenha. Ao utilizarmos a psicologia sócio-
histórica como base desta interpretação, carregamos a criticidade em nossa base epistemológica, ou seja:
entendemos o ser masculino dotado da criticidade e das ferramentas que alteram sua realidade social e, portanto,
não nos incumbimos de enquadrá-lo. Assim, discussões semióticas são feitas no decorrer do trabalho, uma vez que
utilizamos o conceito de consciência em Vigotsky, entendendo-a como um sistema flexível, que funciona como
processo e produto: não é estanque, e se relaciona ao desenvolvimento da conduta voluntária. Por consequência,
entendemos o indivíduo inserido em um alicerce social que o constrói, enquanto ainda detém criticidade sobre sua
base: a objetividade e subjetividade são consideradas em um dialeticismo. Portanto, a linguagem e o discurso
masculino, que estão imbricados na questão da identidade sexual, implicam em comportamentos e traços que
configuram o indivíduo a nível psicológico, o que torna necessária a análise das bases que regem a cultura masculina,
a fim de compreender o sujeito em sua totalidade. Então, focamo-nos no arranjo masculino pareado com as
dinâmicas apresentadas na objetividade enquanto constituintes da sexualidade humana, assim como dentro do
próprio gênero masculino e nas formas que este será apropriado pelo sujeito. Trata-se de uma análise em que polos
aparentemente opostos são apresentados e relacionados a fim de obter-se uma síntese dialética, considerando assim
o constante devir humano. Isto é, a masculinidade, enquanto representação subjetiva, resguarda também a esfera
social objetiva enquanto polo dialético de contradição. Também versarmos sobre as relações sociais que o
personagem está inserido, discorrendo sobre sexo, gênero e sexualidade, pois estes funcionam como base para o
funcionamento psíquico do sujeito. Entretanto, tais assuntos implicam em outra trama dialética que engloba a
produção subjetiva: o masculino e o feminino. Dentro deste trabalho, consideramos o feminino e o masculino de
maneira correlacionada, sendo que os instrumentos e mecanismos utilizados na constituição humana são inerentes
aos dois conceitos. Uma vez que conceituamos o masculino e o feminino sendo inerente aos humanos, portanto,
correlacionados, pautamos os movimentos feministas e sua relação com a identidade sexual masculina. A organização
feminista, de maneira geral, prega a igualdade política entre os gêneros e isto afeta a constituição do sujeito
masculino. Também nos atentamos ao processo de tomada de consciência contemporânea do sujeito masculino,
observando perspectivas que podem se seguir a partir da relação dialética para com os movimentos feministas, assim
como o (novo) posicionamento que lhe é colocado pela estrutura social. A partir deste dinamismo surgem novas
formas de manifestar a masculinidade e, por vezes, apresentam-se contradições dentro dos papéis que devem ser
desempenhados, o que infere em uma não coincidência do sujeito consigo mesmo. Entretanto, discorremos também
sobre (novos) ajustamentos que surgem sucintamente nos discursos masculinos. O presente trabalho se relaciona ao
GT inscrito, pois abarca os discursos ideológicos da identidade masculina que, por vezes, tem o objetivo de findá-lo
em um polo da dialética, produzindo um sujeito cindido em sua base social. Logo, abordamos as consequências dessa
condição ao personagem masculino, assim como os discursos que tentam retirá-lo deste posicionamento. Ainda nos
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relacionamos, pois englobamos em nossa discussão a relação que o homem contemporâneo faz com os meios de
produção. Observamos também um novo nicho de mercado ao analisarmos o sujeito masculino inserido na
objetividade, onde este deve ser mais vaidoso e, portanto, consumir mais produtos relacionados à estética e seus
derivados. Portanto, o personagem está sujeito às leis do mercado, das quais ditam comportamentos e pensamentos
e, logo, criam condições de produção para suprir necessidades do indivíduo masculino. Então, nosso escrito não tem a
finalidade de limitar ou patologizar condições do personagem masculino, pelo contrário: entendemos as mudanças,
que são cunhadas no contexto geográfico, histórico, político e educacional, como fonte de análise e compreensão de
(novos) processos de identificação.

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O Inconsciente é social e histórico - Porque é cultural
Autores: Inara Barbosa Leao, UFMS; Jeferson Renato Montreozol, Faculdade UNIGRAN Capital; Lívia Gomes dos
Santos, UFG
E-mail do(a) autor(a): inarableao@hotmail.com

Resumo: Neste XIX Encontro da ABRAPOS nos propomos a dar continuidade aos diálogos iniciados na edição anterior
deste evento, quando o GT discutiu sobre as implicações da configuração das bases infra e superestrutural da
sociedade promovida pela atual reorganização do Capitalismo para as consciências individuais. Orientados pelo
pensamento de Vigotsky e outros psicólogos soviéticos, queremos enfatizar as causas sociais e históricas da formação
do inconsciente individual e a sua minimização pela apreensão da cultura de seu grupo social. Sabemos que estes
movimentos inerentes ao psiquismo decorrem das exigências de construções e alterações no psiquismo, suas
funções, processos, sistemas e na relação dialética entre os conjuntos das funções psicológicas e de seus motivos
tanto conscientes como inconscientes. Para tanto, vimos nos dedicando a ampliar a capacidade explicativa das
proposições de algumas Teorias Psicológicas que consideram a dialética materialista e histórica como um critério de
verdade para a ciência psicológica, tal como se expressam nas teorias de Vigotsky, Leontiev, Luria, Lane, Martín-Baró e
outros. Especificamente sob esta base epistemológica, aprofundaremos sobre a importância da mediação dos
processos de pensamento e da emoção na constituição das instâncias conscientes e inconscientes. Na perspectiva de
utilizarmos os desenvolvimentos das teorias psicológicas materialista históricas e dialéticas para a ações psicossociais
que visam a superação de consciências pouco desenvolvidas, a manutenção e ampliação de conteúdos inconscientes
a partir da realidade histórica e cultural. Em nossas pesquisas vimos entendendo o pensamento e a emoção, nas suas
manifestações conscientes e inconscientes, como processos ligado essencialmente à atividade e à situação dos
homens, e como modo de estruturação pelo qual se oculta ou se falsifica a ligação entre o modo como aparece ao
homem na sua consciência os processos e seus produtos, representados como indiferentes, independentes ou
superiores aos homens, seus criadores. Destacamos este aspecto porque, imediatamente, faz sobressair o fato de
todos os homens demonstrarem não entender algum ou vários aspectos dos seus contextos social e particular,
findando em um processo que para orientarem as suas atividades acatam um discurso ideológico articulado para
remeterem aos individuos, às suas características pessoais as causas de tais dificuldades. Serão as consequências
destas condições que os integrantes deste GT devem abordar e que gostaríamos de aprofundar com outros que se
dedicam as teorias psicológicas não tradicionais. Entretanto, queremos ressaltar o fato desta base epistemológica
sustentar uma práxis que faz com que as análises e suas conclusões sofram alterações constantes devidas às
tentativas de irmos aprofundando os achados psicológicos e darmos continuidade ao desenvolvimento da
metodologia que temos utilizados. Portanto, queremos destacar, brevemente que nossos trabalhos estão sustentados
por alguns pressupostos dentre os quais sobressaem: (a) O entendimento que a história do psiquismo humano e dos
conjuntos de funções e processos como atividade, identidade e emoção que constituem as instancias conscientes e
inconscientes, está relacionada ao modelo de desenvolvimento do modo de produção capitalista, que surge na
Europa em meados do século XVIII. Desde então a psicologia dos sujeitos surge como resultado da contradição do
modo de produção capitalista, que ao mesmo tempo em que cria condições de produção para suprir as necessidades
mais complexas dos seres humanos, inventa os modos que impossibilitam que todos sejam atendidos e que
entendam tal dialeticidade, gerando assim o movimento dialético entre consciência e inconsciente; (b) a concordância
com a explicação que a separação dos meios de produção da força de trabalho humana, resultante das relações
sociais no capitalismo, fez com que esta força se transformasse em mais uma mercadoria e, portanto, sujeita às leis
do mercado. Deste modo, as determinações impostas pelos meios de produção aumentam seu poder, o que
possibilita que estes exerçam maior controle tanto sobre os processos psicológicos e suas formas de constituição pela
intervenção das instituições sociais; (c) as análises que a atividade é o processo eficiente na superação dos
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antagonismos da vida social e do desenvolvimento do psiquismo humano. Portanto, reconhecemos que as mudanças
constantes de ações que medeiam as relações entre a sociedade e o homem têm sua origem no trabalho, mas
concretizadas em instrumentos como as mídias sociais, sendo este a condição fundamental de toda vida humana e (d)
que a vida em sociedade está baseada em sua produção material, que é resultante do trabalho dos homens que a
integram. Através do trabalho o homem pode alterar a estrutura dos grupos que por sua vez podem alterar a
superestrutura do mesmo. Assim, pretendemos manter a lógica de tomarmos a Psicologia Social como um aspecto da
história social dos homens, que sempre é a história dos seus desenvolvimentos individuais, mesmo quando não tem
consciência disso. Daí que interessará a este GT todos os trabalhos que, necessariamente, tomarem as relações
materiais como a base de todas as relações humanas, mas também como as formas necessárias nas quais se realizam
as vontades materiais e individuais. As mudanças no plano das ideias acompanham as de ordem material. Por tais
determinações, tomamos como o ponto principal que inclui a proposta do nosso GT no eixo: Psicologia Social:
questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções, a ser explorado nesse
Encontro o reconhecimento da política como inerente ao pensamento que busca analisar as relações entre os seus
integrantes como mutuas determinações destes e a sociedade. Na especificidade da sociedade capitalista, pensamos
que a Psicologia Social deve contemplá-la tal como apresentada por Marx e Engels na sua teoria do Estado. Nesta,
indicam que por ser a sociedade dividida em classes antagônicas as instituições políticas têm como função primeira
garantir à classe dominante a manutenção do seu domínio. Mas, dada estrutura social de classes antagônicas, esse
domínio só será mantido pelo controle eficaz por coerção da força e das consciências. O estudo de desafios éticos e
políticos devem ser compreendidos a luz de como o movimento contrário das classes as posiciona em seu conflito, o
que tem uma dimensão histórica própria na psicologia social da América latina e dos pressupostos que
fundamentaram a fundação da ABRAPSO. Na qual a validade epistêmica do conhecimento passa a ser a partir da não
neutralidade do conhecimento, e da clareza dos pressupostos da concepção de homem e de indivíduo que possibilite
a busca para a emancipação. Assim, objetivou-se construir um conhecimento que possa ser crítico de todos os
modelos teóricos reducionistas e desvinculado das questões sociais em que estão imersos. Só assim, tomando lado
nesta confrontação, é que a psicologia consegue colocar a questão de como a sua atuação pode construir
possibilidades de superação desta condição. Outro ponto que podemos ressaltar é que, embora seja uma discussão
antiga, muitos não consideram que o papel da psicologia, enquanto ciência, não é a exclusiva produção de
conhecimento teórico. Não há coerência na separação entre ciência e realidade, uma vez que não entendemos o
homem fora de seu contexto histórico e cultural. Portanto, discutiremos o compromisso da psicologia e seus
conhecimentos na transformação da realidade do país. E, como o eixo Psicologia Social: questões teóricas e
metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções, se concretizará nas reuniões de trabalhos
que discutam as diferentes perspectivas históricas e teóricas da Psicologia Social, pressupostos epistemológicos e
metodológicos, pretendemos contribuir com as pesquisas que analisam epistêmica e metodologicamente as teorias
psicologia social que se baseiam no materialismo histórico dialético. Isso porque sabemos que a história se mostra
como fundamento epistêmico e condição essencial para o conhecimento da realidade, assim como mostra os limites e
as possibilidades para a sua transformação. Também nos orientou para este Eixo temático o fato de a psicologia social
que se constituiu, a partir da ABRAPSO visa o diálogo com outras áreas do saber que contribuem para a crítica social e
a desnaturalização das desigualdades sociais. Propõe-se discutir aqui o tema proposto a partir do caráter epistêmico-
ético e ético político - que sustentou a fundação da ABRAPSO – ao propor um compromisso com a realidade social, na
busca do saber que orienta ações psicológicas. Destaca-se essa questão porque o compromisso social da psicologia
tem sido assunto recorrente na maioria das instâncias que a produzem e a representam – inclusive nos encontros da
ABRAPSO. Por mantermos uma rede de estudo e pesquisa integrada por outros psicólogos além dos que se
apresentam como autores da presente proposta, apresentamos outros coautores como proponentes que se
responsabilizam pela produção e discussão do apresentado para este Encontro Nacional e se mantém, efetivamente,
vinculados à ABRAPSO.

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O problema do inconsciente na psicologia soviética: uma análise a partir do marxismo
Autores: Alexandre Pito Giannoni, UFMS; Inara Barbosa Leao, UFMS
E-mail do(a) autor(a) : apgiannoni@hotmail.com

Resumo: O inconsciente na psicologia encontra-se explicado – aparentemente – na teoria freudiana e, também em


outras doutrinas que seguem a teoria psicanalítica. Contudo, não apenas Freud e os psicanalistas estudaram e
descreveram o inconsciente como manifestação do psiquismo humano. A psicologia soviética, que se desenvolveu
após a Revolução de Outubro de 1917, também se dedicou a explicar esse fenômeno. Portanto, esse trabalho surge a
partir de uma pesquisa bibliográfica, com o objetivo de apresentar o entendimento e as explicações do inconsciente
que a teoria soviética da psicologia desenvolveu ao longo do século XX. Para cumprir nosso objetivo trabalharemos
com seis autores distintos dessa teoria: A. V. Petrovski, F. V. Bassin, S. L. Rubinstein, I. M. Rozet, Y. A. Ponomarev e L. I.
Bozhóvich. A escolha por estes autores se deu pela facilidade dos materiais encontrados e, também para que no
decorrer desse trabalho demonstremos por meio de uma comparação com o psicólogo soviético L. S. Vigotski, como
as explicações acerca desse fenômeno encontram-se mais próximas, objetivas e explicativas do que na psicanálise. É
de conhecimento de historiadores ou profissionais da psicologia a importância teórica e prática da teoria psicológica
de Vigotski, destacando sempre a importância da práxis para o desenvolvimento da psicologia e para as explicações
elaboradas por essa ciência. Neste sentido, consideramos importante a inserção desta pesquisa no grupo de trabalho:
A práxis que apreendem as determinações históricas na dialética da relação entre psiquismo e sociedade:
contribuições para a psicologia social. Todavia, partimos aqui da lógica de que a psicologia soviética não se limitou
apenas a Vigotski. Existiram uma gama imensa de homens e mulheres que desenvolveram a ciência psicológica no
regime soviético, tendo como principal objetivo: desenvolver o novo homem e a nova mulher socialista. Vigotski,
portanto, é mantido nesse trabalho como modelo de análise e comparação com os demais teóricos que
desenvolveram explicações sobre a relação entre consciência e inconsciente. No decorrer de nosso estudo teórico,
descobrimos que o inconsciente se caracteriza nesta teoria psicológica como oposição a consciência, diga-se de
passagem, apenas em Petrovski, que o inconsciente não apareceu como oposição, mas, como uma particularidade do
psiquismo humano que possui seu desenvolvimento também no meio social, assim como, os fenômenos que se
encontram conscientes. Descobrimos também grandes semelhanças entre as explicações de Rubinstein e Vigotski,
não apenas nas descrições do problema do inconsciente, mas também, da consciência. Tanto para Rubinstein, como
para Vigotski, o inconsciente não se caracteriza por aquilo que não foi vivenciado pelo sujeito, mas, justamente o
contrário. É aquilo que foi vivenciado, entretanto, não foi ainda correlacionado com um objeto ou acontecimento do
mundo objetivo, neste sentido, a atividade do sujeito encontra-se ainda com ações que também são inconscientes.
Todavia, as semelhanças não estão apenas nas explicações acerca do inconsciente, mas também da consciência.
Tanto Vigotski como Rubinstein, elegem a vivência/experiência – perijivanie – como unidade de análise da
consciência. Neste sentido, a vivência/experiência, são unidade de análise da consciência, mas também atuam em seu
desenvolvimento. Devemos lembrar de que nessa teoria não é a consciência que determina a vida, mas sim, o
contrário. Também encontramos neste resgate teórico das explicações sobre o inconsciente na psicologia soviética,
que muitos foram os pesquisadores que dirigiram críticas as concepções psicanalíticas e freudianas do entendimento
desse fenômeno. Desde Bozhóvich, Rozet, Bassin e, o que avaliamos como mais importante em suas críticas, Uznadze.
Sobre sua teoria, podemos destacar que foi o primeiro teórico soviético na psicologia a dirigir suas críticas as
explicações acerca do inconsciente freudiano. Para isso Uznadze, realiza várias séries experimentais demonstrando
objetivamente o desenvolvimento do inconsciente e a relação com a atividade do sujeito, criando assim o que
chamou de psicologia da atitude. Contudo, o que apenas possuímos sobre Uznadze, são trabalhos de comentadores,
continuadores ou críticos de suas pesquisas na União Soviética. Portanto, encerramos esse trabalho, demonstrando e
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levantando a necessidade, ainda, de se estudar o inconsciente em outros teóricos da psicologia soviética. Por fim, vale
ainda escrever que devemos nos atentar ao acumulo de materiais ao longo da história em diversas áreas como a
filosofia, a economia política e a literatura, concluindo que este último campo do saber humano nos fornece dados e
fatos de grande riqueza nas exemplificações da oposição entre consciência e inconsciente.

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Psicologia e o Trabalhador em situação de Desemprego: em busca de ações possíveis
Autores: Veridianna Oliveira de Queiroz, UFMS; Lívia Gomes dos Santos, UFG
E-mail do(a) autor(a): : veridianna.queiroz@gmail.com

Resumo: O presente trabalho buscou identificar as possibilidades de atuação com trabalhadores desempregados, com
base na Psicologia Sócio Histórica. Objetivamos participação no GT A práxis que apreendem as determinações
históricas na dialética da relação entre o psiquismo e a sociedade: contribuições para a psicologia social, haja vista
que, este trabalho é fundamentado a partir dos pressupostos do materialismo histórico e dialético, assim compreende
o sujeito em sua totalidade a partir da materialidade histórica em constante transformação. Compreendemos que
através do trabalho o homem transforma a natureza e neste processo modifica a si mesmo; nessa direção, ele está
ontologicamente ligado ao processo de constituição humana. Já o emprego é uma forma específica de trabalho, que
sustenta a organização da produção no sistema capitalista e que se caracteriza fundamentalmente pela venda da
força de trabalho, ou seja, é resultante da transformação da força de trabalho em mercadoria como outra qualquer,
que passa a ser vendida em troca de um salário. O desemprego é parte da estrutura mantenedora do sistema
capitalista, inerente ao processo de acumulação de capital, uma vez que mantém o trabalhador vinculado a empregos
precários, constantemente ameaçado de perder seu posto caso haja contravenções; mantém um exército de reserva
de força de trabalho (de desempregados), que nesta condição de dificuldades materiais e psíquicas extremas se
colocam a disposição a assumir qualquer tipo de emprego e passa a regular salários para baixo, diante da acirrada
competição por emprego. Considerando que a realização do trabalho está engendrada na construção da subjetividade
do ser humano e na orientação de sua existência, diante da ausência de trabalho fica declarado o estado de
sofrimento para o trabalhador na condição de desemprego. O sujeito na ausência de realização do trabalho através
do emprego perde seu papel social, e reconhecimento dos sujeitos que compõe suas relações sociais como a família e
amigos, e também passa a não reconhecer a si próprio como integrante da sociedade que compõe. Portanto, para o
sujeito desempregado, seus processos de significações do mundo passam a se organizar de outra forma. Partindo do
pressuposto de que a consciência é objetivada na atividade social, a impossibilidade da realização desta altera a sua
subjetividade. São modificados os vínculos interpessoais, a organização de suas emoções bem como sua percepção da
realidade. Baseados nisto, nos propusemos a compreender as possibilidades de atuação do psicólogo frente a esse
trabalhador. Em um levantamento bibliográfico constatamos que, nas raras vezes que a Psicologia olha para o
trabalhador desempregado é predominante a tendência evidenciar um sofrimento que seria inerente a essa situação
e, sob essa perspectiva, a única atuação possível seria de forma individual, para lidar com algumas das consequências
subjetivas da situação de desemprego. Nesta direção, lembramos que a Psicologia se constitui enquanto ciência e
profissão por vezes corroborando com a manutenção do sistema capitalista, passando a obter reconhecimento social
utilizando de suas técnicas para justificar a responsabilização do indivíduo por estar fora do mercado de trabalho, e
assim se mantém em diversos espaços; nesta perspectiva, ela sequer olha para o desemprego – salvo via sofrimento,
responsabilização ou, no máximo, nos processos de seleção para empregos. Para compreender como essa situação se
evidencia na realidade, buscamos compreender a atuação realizada pelos profissionais da área da Psicologia na
Fundação de Trabalho (FUNTRAB) em Campo Grande/MS, e as implicações dos mesmos frente a trabalhadores (as)
em situação de desemprego e constatamos que mesmo nesse espaço o desemprego não é tomado como uma
questão central – na verdade é a busca pelo emprego que os caracteriza – e, mais importante que isso, não existe
uma clareza das possibilidades de atuação do psicólogo com esses trabalhadores. Concluímos o trabalho, reiterando
que se faz necessário contrapor a naturalização dos fatos históricos, e entender a materialidade concreta em que
estamos inseridos para uma atuação comprometida com os trabalhadores que promovam a reorganização de
significados e sentidos, e o fortalecimento da estrutura psíquica para a ação dos sujeitos na realidade. Atuar por meio
de técnicas não tradicionais, que estejam vinculadas a realidade social dos sujeitos, e permitam mediações grupais
como nos aponta Ignácio Martin-Baró para construção de possibilidades de superação de sua condição. Através de
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discussões vivenciados no Grupo de Estudos e Pesquisas Sobre Aspectos Psicossociais da Educação e do Trabalho –
UFMS, relacionamos os resultando também ao Inconsciente Sócio Histórico, em condição dialética a consciência se
apresenta na ausência de significado e sentido, impossibilitando o sujeito a ação consciente, entretanto este aspecto
deverá ser explorado em futuros trabalhos.

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Psicopata: o lócus da cultura e sociedade
Autores: Riverson Junior Gomes Tavares, Faculdade UNIGRAN Capital; Ana Paula Benites Gama, Faculdade UNIGRAN
Capital; Jeferson Renato Montreozol, Faculdade UNIGRAN Capital; Luana de Moura Vareiro, Faculdade UNIGRAN
Capital
E-mail do(a) autor(a): : gibiverson@hotmail.com

Resumo: Este estudo apresenta uma análise sobre a psicopatia a partir da psicologia social, em específico da teoria
psicológica sócio-histórica. Buscamos compreender como determinadas características permeiam o desenvolvimento
da personalidade psicopata e como tais características sofrem os determinantes da realidade social a qual o sujeito
está em interação e desenvolvimento. Para tanto, compreendemos que por mais que durante anos a palavra
psicopatia tenha sido utilizada para designar qualquer doença mental, a psicopatia em si não é exclusivamente uma
patologia, mas sim uma organização psíquica dada na relação entre a realidade material (corpo) e o
desencadeamento provindo do ambiente social e cultural. Isto é, compreendemos que não se adquire psicopatia; o
individuo nasce com uma predisposição biológica que, a partir das relações que estabelece com o meio, podem (ou
não) levar ao desenvolvimento de determinadas características em sua personalidade. Isto porque por mais a palavra
psicopatia, etimologicamente, signifique doença da mente, esta não se encaixa na visão tradicional de doenças
mentais uma vez que se diferencia de outros transtornos. Portanto, nosso trabalho objetiva realizar uma análise sobre
a psicopatia mantendo os pressupostos da dialeticidade entre sujeito e sociedade, isto é, visamos compreender como,
a partir da realidade material – cultura e sociedade, o sujeito pode desenvolver em sua personalidade traços e
características típicas da configuração psicopata. Para tanto, buscamos aprofundar os conhecimentos em relação a
uma temática que muito se fala, mas que também se deixa muitas dúvidas e mitos, tornando este assunto quase
sempre fantasioso e cinematográfico. Buscamos então trazer esse tema para a realidade, mostrar suas facetas e
esclarecer que nem sempre a psicopatia está em níveis tão elevados como são mostrados em filmes ou anunciados
em jornais, e que eles podem e estão mais próximos que imaginamos, mesmo que muitas vezes não pareçam reais.
Assim, acreditamos que nosso trabalho mantenha relação com a GT 02 (A práxis que apreendem as determinações
históricas na dialética de relação entre psiquismo e sociedade: contribuições para a psicologia social), pois
investigamos quais os meios que possibilitam o surgimento e/ou desencadeamento da psicopatia como características
de personalidade, mantendo para tanto os pressupostos da dialética entre sujeito e realidade, entre materialidade e
desenvolvimento da subjetividade. Em nossa pesquisa utilizamos a abordagem teórica da Psicologia Sócio-Histórica
como elementos norteadores para o pensamento, pois acreditamos que a relação psiquismo e meio social está
intrinsecamente organizada, sem que tomemos apenas as discussões ora subjetivistas, ora objetivistas, como algumas
teorias tradicionais da ciência psicológica tem mantido. Para o desenvolvimento do trabalho, utilizamos o método
exploratório, buscando informações em livros e artigos científicos, e o método descritivo, pois tem como intenção
informar o leitor sobre a temática, para que o mesmo possa adquirir conhecimento sobre a área trabalhada e
também esclarecê-la. Temos que o desenvolvimento da subjetividade ocorre em íntima relação com as condições
sociais e históricas nas quais os sujeitos estão circunscritos, e que tais condições determinam quais elementos
comporão o processo dinâmico do psiquismo destes. Assim, determinadas características que a literatura tem
elencado como típicas do sujeito psicopata já aparecem na organização social enquanto elementos primários da
cultura humana, os quais, pela mediação das instituições sociais, podem ser incorporadas pelo indivíduo e passarem a
compor características suas, próprias. E quando tal apropriação resguarda a relação com uma base corporal já
predisposta a determinadas questões, a síntese dada no sujeito enquanto personalidade apresenta cristalizadas estas
condições que afetam sua interação social (manipuladores, calculistas, egocentrismo, falta de empatia, hostilidade,
impulsividade), transformando a psicopatia em uma forma mais severa da sociopatia. Ao fim deste, temos
conhecimento que é um tema vasto e complexo, sendo assim com muitas variáveis ainda a desbravar. Isso porque
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sabendo das constantes mudanças culturas e sociais que todo e qualquer povo estão sujeitos, é inevitável ao passar
dos anos que as fontes e causas ditas como verdadeiras possam vir a ser alteradas conforme tais condicionantes. Por
esta razão, acreditamos que sempre haverá a necessidade de novos estudos para se confirmar ou refutar estes e
outros ditos científicos, em busca de novas verdades sintéticas.

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Transgêneros: a vida para além da identidade
Autores: Rodrigo Batista Torraca, Faculdade UNIGRAN Capital; Ana Paula Benites Gama, Faculdade UNIGRAN Capital;
Edenir Padilha Dias, Faculdade UNIGRAN Capital; Felipe Correa Verardo, Faculdade UNIGRAN Capital; Jânio Rodrigues
Miranda Junior, Faculdade UNIGRAN Capital; Jeferson Renato Montreozol, Faculdade UNIGRAN Capital; João Pedro
Vilar Nowak de Lima, Faculdade UNIGRAN Capital; Luana de Moura Vareiro, Faculdade UNIGRAN Capital; Riverson
Junior Gomes Tavares, Faculdade UNIGRAN Capital
E-mail do(a) autor(a): : rodrigo.torraca@hotmail.com

Resumo: Todo mundo nasce com o sexo determinado. Os brinquedos, as escolhas dos temas das festas infantis
embalam a nova rotina dos pais em orientar as escolhas das crianças de acordo com o que a sociedade determina.
Logo se dá o momento em que a criança começa a andar com as próprias pernas, mostrar os primeiros sinais de sua
personalidade e desenvolvimento. Quando o menino diz então que não gosta de bola e prefere brincar com bonecas,
começa o drama familiar. Isso porque a nossa sociedade incentiva algumas orientações e identidades sexuais
enquanto discrimina outras, e assim os pais de uma criança costumam incentivar ou reprimir as manifestações de
sexualidade a partir das normas culturais das quais eles concordam. Portanto, o que entendemos por identidade de
gênero está na maneira que você se enxerga entre homem, mulher, e nada tem a ver com o sexo biológico,
orientação sexual, saias ou calças; somente com quem você é quanto a sua construção social como pessoa, e sobre
como tudo isso tem impacto sobre você e o papel que você ocupa na sociedade. Porém, a identidade de gênero está
pautada primariamente sobre o sexo biológico, enquanto que gênero é social, é construído pelas diferentes culturas.
Assim, podemos compreender que o que importa na definição do que é ser homem ou mulher não são apenas os
cromossomos ou a conformação genital, mas a auto-percepção e a forma como a pessoa se expressa socialmente pois
o gênero vai para além do sexo. Na nossa sociedade, pessoas com identidade destoante do gênero associado ao seu
sexo sofrem discriminação e violência, e quem não é heterossexual ou com uma identidade coerente com o gênero
relacionado ao seu sexo vivem em um mundo muito hostil. E isso ocorre porque tanto orientação sexual quanto
identidade de gênero não são meras escolhas; uma pessoa pode disfarçar seus sentimentos ou tentar obedecer a
certo padrão de sexualidade para ser mais aceito ou até mesmo evitar punições, o problema é que isso muitas vezes
leva a anos de sofrimento, frustração e até mesmo suicídio. Entendemos então que expressar a sexualidade é uma
parte fundamental do desenvolvimento psicológico saudável de qualquer pessoa pois a sexualidade humana há muito
vem demonstrando as suas inúmeras formas de manifestação, embora estas sejam, muitas vezes, vetadas pelas
normas e determinantes morais da sociedade. Sendo assim, o primeiro ponto a ser ressaltado é o de que o sexo é um
nome dado às coisas diversas que aprendemos a reconhecer como sexuais de diversas maneiras. Certas coisas sexuais
podem ser mostradas, como, por exemplo, as descrições médico-fisiológicas do aparelho genital. Outras, como
descrições de sensações corporais, são reconhecidas pela experiência e pelas interpretações, como o orgasmo, que
aprendemos que é algo sexual. O gênero é uma categoria historicamente determinada que não apenas se constrói
sobre a diferença de sexos, mas, acima de tudo, uma categoria que serve para dar sentido a esta diferença. Levando
em conta essas definições, em termos gerais, gênero é uma categoria usada para pensar as relações sociais que
envolvem homens e mulheres, relações historicamente determinadas e expressas pelos diferentes discursos sociais
sobre a diferença sexual. Porém, quando pensamos a identidade de gênero especificamente de sujeitos que
transcendem seu gênero sócia, isto é, transgêneros, nos indagamos sobre como estes sujeitos constroem e percebem
essa identidade? Como a sociedade lida com esses novos conceitos? Portanto, este trabalho tem como objetivo
principal demonstrar como é a construção do ser social quando transgênero, os desafios, as frustrações, expectativas
e superação destes. Para tanto, utilizamos os pressupostos materialista histórico-dialéticos, especificamente na forma
como estão organizados pela Psicologia Sócio-Histórica, visando analisar e discutir como a Psicologia contribui para a
modificação da realidade onde a pessoa transgênero se encontra. Este trabalho se configura como uma pesquisa
bibliográfica no momento em que se fez uso de materiais já elaborados: livros, artigos científicos, revistas e
documentos eletrônicos na busca e abstração de conhecimento sobre os assuntos abordados: sexo, gênero,
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sexualidade e transgêneros. Assim, pensamos que as discussões aqui engendradas permitem uma conexão com o GT
2 (A práxis que apreendem as determinações históricas na dialética da relação entre psiquismo e sociedade:
contribuições para a psicologia social) justamente por buscar nas construções teóricas de base materialista, histórica e
dialética, não apenas na ciência psicológicas como também nas ciências sociais.

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Vida e cotidiano de haitianas migrantes: Diálogos com a Psicologia Sócio-Histórica
Autores: Krisley Amorim de Araujo, UCDB; Luciane Pinho de Almeida, UCDB
E-mail do(a) autor(a): : krisley_araujo@hotmail.com

Resumo: O aumento no número das migrações contemporâneas aponta para a necessidade de olhar para esse sujeito
que migra e as condições eliciadoras de tais processos. Em meio a isso, o Brasil tem entrado na rota das migrações,
recebendo um considerável número de haitianos, venezuelanos, bolivianos, sírios, africanos, dentre outras
comunidades. A entrada da população haitiana no país revelou a fragilidade das políticas migratórias brasileiras,
porém, é preciso ir além de diretrizes que regulamentam a entrada e a saída de migrantes, faz-se necessário pensar
em políticas públicas que garantam o acesso desses migrantes à bens materiais e simbólicos, facilitem o processo de
integração e garantam a efetivação de seus direitos durante todo o processo migratório, retirando-os de condições
precárias e vulneráveis, que a condição de migrante os coloca. A partir disso, na história da Psicologia verifica-se um
distanciamento do político e a não incorporação de dados histórico-sociais na compreensão de seu objeto de estudo,
tendo ao longo de seu desenvolvimento um caráter positivista e tradições com enfoques biologicistas e
individualizantes, tomando o indivíduo apenas como um organismo que interage com o ambiente. Tal visão
reducionista torna a ciência reprodutora da ideologia dominante da sociedade (LANE, 1987). Logo, destaca-se a
necessidade de uma Psicologia comprometida com a realidade e a transformação social, com esse objetivo
destacamos os deslocamentos humanos e a entrada de haitianos no estado de Mato Grosso do Sul. Partindo da
compreensão que o cotidiano é local onde nascemos, vivemos e como indivíduos reproduzimos de modo particular as
características básicas da sociedade (LANE; SAWAIA, 2006). Desse modo o cotidiano limita as potencialidades do
indivíduo ou o aliena de acordo com determinantes sociais impostas pelo capital. Com isso, a proposta relaciona-se ao
GTà à áà p isà ueà ap ee de à asà dete i aç esà hist i asà aà dial tica da relação entre psiquismo e sociedade:
o t i uiç esà pa aà aà psi ologiaà so ial ,à aoà us a à de ate à asà o figu aç esà daà aseà daà i f aà eà supe est utu aà doà
capitalismo, seus efeitos nas condições de vida dos indivíduos e dialogar com a mesma orientação teórica a ser
apresentada na proposta, olhando para os aspectos psicossociais de constituição do sujeito, assim como, partilha da
concepção sócio-histórica de constituição do psiquismo humano. De igual modo, a proposta relaciona-se com o Eixo
Te ti oà à Políti asàpú li as,àdi eitosàso iaisàeàp ti asàdeàe a ipaç oàe à o te tosà eoli e ais ,à aà edidaàe à
que também se interessa em aprofundar conhecimentos e práticas no âmbito das políticas públicas e sociais diante de
cenários de desigualdade, vulnerabilidade e violação de direitos, visto o retrocesso que o atual cenário político e
econômico do país desperta. Desse modo, é mútuo o olhar para a garantia de direitos e o compromisso que a
Psicologia possui com a transformação da realidade com o sujeito. Desse modo, a orientação teórica que sustentará
as discussões concernentes ao tema exposto é a Psicologia Sócio-História, a qual está ancorada nos pressupostos do
materialismo-histórico dialético desenvolvido por Karl Marx e, compreende o processo histórico humano a partir das
determinações da base material em relação à superestrutura, em um movimento dialético (KAHHALE; ROSA, 2009),
assim como, a presente teoria busca superar a dicotomia entre o subjetivismo e o objetivismo, por meio da apreensão
da concretude, suas relações e movimento (KAHHALE; ROSA, 2009), visualizando o homem como produto e produtor
da História, ser concreto e manifestação de uma totalidade histórico-social (LANE, 1987) a fim de superar concepções
idealistas e biologicistas. A partir disso, a metodologia utilizada constituiu-se por meio da realização de entrevistas
não estruturadas com pessoas vinculadas a trabalhos voluntários de atuação e convivência com as migrantes
haitianas em Campo Grande a fim de compreender os contextos de vida e cotidiano das mulheres migrantes. Os
resultados apontam para falta de oportunidade de emprego formal e o baixo poder aquisitivo das migrantes, o que
faz com que muitas morem em grupos, por não possuir condições de adquirir moradia. As mulheres em sua maioria
possuem pouca escolaridade e migraram com auxílio do marido, em relação ao trabalho, destacam-se serviços
domésticos, como camareiras e trabalho em restaurantes. Os dados ainda apontam que as migrantes sentem-se
exploradas no trabalho e encontram dificuldades relacionadas à língua portuguesa e conhecimento das leis
trabalhistas. Diante disso, conclui-se que há uma falta de reconhecimento dos direitos das mulheres haitianas
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migrantes, deixando-as em condições vulneráveis e desiguais, logo, é urgente a elaboração de políticas públicas
pautadas pela igualdade de gênero, visto as dificuldades enfrentadas em seu cotidiano, as quais limitam suas
possibilidades em território estrangeiro. Nisso, urge a necessidade de intervenções pautadas nos direitos humanos e
no respeito à dignidade humana e a Psicologia pode contribuir nesse processo por meio da oferta de atendimento
humanizado no acolhimento ao migrante, participação na construção de políticas públicas e realização de
intervenções multiprofissionais, pensando no lugar da Psicologia em um cenário marcado pela constante mobilidade.

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Vygotsky e Bruner: uma análise das dissonâncias teóricas acerca do conceito de aprendizagem
Autores: Juliana Chioca Ipolito, UFT
E-mail do(a) autor(a): : juipolito@uft.edu.br

Resumo: Este estudo traz parte das análises da pesquisa acerca do conceito de aprendizagem para Vygotsky e
Jerome Bruner. O objetivo desta é enfatizar os fundamentos marxistas da obra vygotskyana e contrapor às teorias
que tendem a aproximá-lo de concepções construtivistas e culturalistas, como a de Jerome Bruner, diferenciando-os
no que tange ao entendimento de ambos sobre aprendizagem. Utilizamos como procedimento metodológico a
pesquisa bibliográfica em algumas obras de Vygotsky e Bruner sobre a categoria aprendizagem, além de
considerarmos trabalhos que os analisaram. O método para conhecimento da realidade aqui utilizado é o
materialista histórico e dialético da Psicologia sócio-histórica, por nos oferecer uma visão mais ampla acerca do
aprendizado, entendido como multideterminado pelas relações infra e superestruturais. Somos um corpo biológico,
mas ao rompermos a escala filogenética, avançamos qualitativamente no processo de desenvolvimento cognitivo,
adquirindo as funções psicológicas superiores, sendo uma das principais aquisições a linguagem. A partir desses
fundamentos, entendemos que a aprendizagem é a capacidade de mudar em função da experiência. Partimos,
então, de uma concepção de aprendizagem ativa, construtora de significados. Isso porque o homem ao interagir
com o mundo físico e social se apropria dos significados culturais que o circundam, passando de uma condição
eminentemente biológica para social. Deste modo, ao se apropriar da cultura ele se modifica e cria condições para
que mais aprendizado ocorra. Esse processo é dialético, pois ao mesmo tempo em que o sujeito interage com o
meio e o modifica é por ele também modificado. É importante ressaltar que todo esse processo é mediatizado pelos
signos sociais. Por meio da atividade em processos de interação com o ambiente social, as funções psicológicas vão
se transformando, evoluindo, provocando um gradativo domínio dos significados culturais, e um avanço dos modos
de raciocínio realizados pelo sujeito. Ao nascermos possuímos funções psicológicas elementares como memória
imediata, atenção não voluntária, percepção natural (não mediada), que vão evoluindo até se transformarem em
funções psicológicas superiores. A linguagem, que é uma função psicológica superior, é elemento de mediação na
apropriação da cultura pelos sujeitos e surgiu, segundo a perspectiva sócio-histórica, a partir da necessidade de
desenvolver ferramentas no processo de trabalho para modificar o meio e satisfazer a sua necessidade de
subsistência. Assim como Vygotsky, Jerome Bruner, um dos principais expoentes da Psicologia Cognitiva Cultural,
aponta a influência da cultura como uma das dimensões mais importantes no processo educativo. Sua teoria é
visivelmente influenciada pelos pressupostos vigotskianos (ainda que com diferenças substanciais), principalmente
acerca de como se processa o desenvolvimento e o aprendizado. Para Bruner a linguagem também é um importante
mediador na apropriação da cultura. Sua concepção de desenvolvimento passa por uma evolução na forma de
representar a experiência, que é o que medeia a nossa relação com o mundo. Este ocorre em níveis de abstração
que vai desde aquele baseado na motricidade, evoluindo para formas perceptivas (gráficas e de imagens mentais),
para, finalmente, assumir um caráter simbólico (lógico-científico). Um dos conceitos desenvolvidos por Bruner, que
tem bastante similaridade com o de zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky, é o de scaffolding. Este é uma
metáfora de andaime que preconiza o papel da mediação de um adulto ou criança mais experiente para construção
do conhecimento. Apesar da similaridade verificamos que o conceito de zona de desenvolvimento proximal é mais
amplo que o de scaffolding, na medida em que considera as condições infra e superestruturais sob as quais a
atividade que gera aprendizado ocorre, além de valorizar o caminho de construção do conhecimento. Assim, a partir
da investigação de como ocorre a aprendizagem para Vygotsky e Bruner pudemos compreender suas similaridades e
discrepâncias. Entre outros resultados, concluímos que, apesar de ambos partirem de uma concepção de sujeito
ativo no processo de aprendizagem, diferem-se principalmente no que tange ao conteúdo ideológico de suas obras.
Enquanto Vygotsky propôs uma psicologia para o homem socialista e, portanto, visando à transformação da
sociedade, através do viés epistemológico materialista histórico e dialético, Bruner propõe uma psicologia afinada
com o pragmatismo americano, ou seja, objetiva e reprodutora, que não visa à transformação. Este fato pode ser
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constatado na análise de uma de suas categorias fundamentais para compreensão de como ocorre o aprendizado, o
scaffolding. Ademais, ressaltamos que pela amplitude da temática que nos propusemos a investigar, nossas
conclusões ainda estão em desenvolvimento. Esperamos que as discussões aqui realizadas contribuam para
construção de uma psicologia comprometida com a transformação das relações sociais alienantes próprias do modo
de produção capitalista.

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GT 03 | A Psicologia Social além das fronteiras disciplinares

Coordenadoras: Claudia Mara Pedrosa, UNB | Jacqueline Isaac Machado Brigagão, USP | Lenise Santana Borges, PUC-
GO

Oà G upoà deà t a alhoà aà áà Psi ologiaà “o ialà al à dasà f o tei asà dis ipli a es à se à oo de adoà pelasà p ofesso asà
doutoras Claudia Mara Pedrosa, Lenise Santana Borges e Jacqueline I. M. Brigagão, as três atuam no campo da
psicologia social e realizam diálogos com outras áreas de conhecimentos nas atividades de pesquisa, e extensão e na
docência O objetivo deste grupo de trabalho é discutir as contribuições da psicologia social nas atividades de
formação, pesquisa e extensão de psicólogas/os e outros profissionais, bem como, as interlocuções com as
epistemologias feministas, os movimentos sociais e a saúde coletiva.
Esperamos congregar trabalhos que busquem discutir abordagens teóricas e metodológicas tanto de pesquisa como
de intervenções realizados em diálogos e parcerias com outros campos de conhecimento, como os grupos socialmente
organizados em movimentos sociais, a saúde coletiva, a parteria, a medicina, a pedagogia, a administração pública, a
fonoaudiologia, entre outros. Entendemos que as pesquisas e intervenções possibilitam aprendizagens e encontros
que tem potencial para transformar os modos de pensar e de viver. Nesse sentido os conhecimentos são produzidos, a
partir das ideias que compartilhamos, dos vínculos afetivos que estabelecemos e das posições que assumimos. Assim é
fundamental pensar a multiplicidade de relações que estabelecemos, as expectativas e demandas que construímos
quando colocamos um tema na pauta de conversação num determinado contexto.
As epistemologias feministas alertam para a importância de reconhecer a centralidade do lugar que o/a pesquisador/a
ocupa ao planejar, executar e escrever os relatos da pesquisa. Nesse sentido, trazem contribuições fundamentais para
a psicologia social, já que apontam que não há neutralidade e que, não é possível produzir conhecimentos
imparciais. Assim a objetividade nas pesquisas e intervenções somente é possível a partir da explicitação das posições
que o/a pesquisador/a ocupa nas diversas etapas, bem como, da clareza acerca da finalidade, dos objetivos que
orientam as nossas ações. Assim, assumimos a perspectiva de que o conhecimento é local e situado. Porém, no
cotidiano das pesquisas e intervenções nem sempre é fácil e tranquilo rever nossos posicionamentos, porque, de certo
modo, a ciência moderna e seus pressupostos fazem parte de nosso processo de formação como profissionais e
pesquisadoras e ainda encontra eco em muitas de nossas ações. Daí a importância de ampliar essas discussões nesse
grupo de trabalho e de buscar ouvir as vozes de profissionais de diversas disciplinas. Ao localizarmos as teorias que
estamos fazendo uso e nossas respectivas localizações, podemos usar este saber como instrumento científico e
político de produção de conhecimento. Assim é importante que os/as pesquisadores/as compreendam que as
interseccionalidades de raça, classe social, gênero atravessam não somente os campos em que realizamos as
pesquisas, mas também os/as pesquisadores/as. Ou seja, parece-nos que é fundamental estar atento para as nossas
condições de classe, raça, gênero, bem como para os nossos preconceitos e as possíveis influências que esses exercem
nas nossas ações, ao pesquisar, ao analisar e relatar nossas pesquisas. Concordamos com o argumento de Harding, de
que ciência e política sempre estiveram relacionadas de forma íntima e intensa. Fechar os olhos para as implicações
políticas sobre as escolhas que fazemos ao longo do caminho e que modelam o projeto, os métodos, os textos não os
isenta da política, na verdade, somente promove a ignorância sobre a política que se está fazendo. Trata-se de uma
perspectiva crítica às noções de conhecimentos universais, que constroem modelos gerais aplicáveis para todos. Nós
partimos do princípio de que o conhecimento é local e socialmente construído.
Assim, convidamos para dialogar nesse grupo de trabalho pessoas que realizam intervenções e/ou pesquisas que
focalizam os modos como às pessoas e grupos se organizam, produzem conhecimentos e práticas e, e encontram
respostas para os problemas vividos no cotidiano. Nesse sentido, propomos também uma reflexão sobre as questões
metodológicas, e levantamos algumas questões que podem nos ajudar a problematizar as abordagens tradicionais de
pesquisa, vejamos: a)Em que medida os métodos que utilizamos permitem exercer a reflexividade, tanto nos
processos de desenvolvimento das pesquisas e intervenções, quanto nos relatos e artigos que escrevemos? b) Qual é
o grau de flexibilidade das estratégias metodológicas que adotamos, já que métodos desenhados a priori, muitas vezes
tornam-se aprisionadores? c) Em que medida a noção de que é necessário iniciar o trabalho a partir de métodos pré-
estabelecidos não é mais um eco da perspectiva positivista de ciência, ou ainda um modo de garantir a cientificidade
de nossas práticas?d) Quais são as dimensões éticas implícitas nos posicionamentos que assumimos? Outras
abordagens que discutam a ampliação das fronteiras da psicologia social numa perspectiva crítica também serão
aceitas.

51
Oà g upoà deà t a alhoà est à oà ei oà Psi ologiaà “o ial:à uest esà te i asà eà etodol gi asà aà pes uisaà p oduç oà deà
o he i e tos,àe/ouài te e ç es àpo ueàespe a osàpode à o t i ui à oàde ateàsobre o diálogo interdisciplinar na
produção de conhecimentos e na construção de intervenções e projetos que possibilitam o enfrentamento das
questões sociais e políticas do cotidiano. Esperamos também problematizar as limitações impostas pelas divisões
disciplinares, bem como a importância de reconhecer a ética que orienta os trabalhos coletivos. Esse GT está
intimamente relacionado ao tema do encontro já que busca reunir pessoas de diversas áreas que utilizam a psicologia
social para dar respostas aos desafios que temos vivenciado no Brasil ao longo do tempo. Em nosso país temos
acompanhado uma exacerbação do conservadorismo e do liberalismo político e econômico que amplia as
desigualdades e os processos de exclusão, onde a ênfase está na regulação dos indivíduos, na prescrição de
o po ta e tosàso ial e teàa eitos àeàe àest at giasàpa aàfo e ta àoàli eàà e adoà ueàest oà uitoàasso iadasàaà
manutenção dos ciclos de consumo.
Propomos buscar teorias e métodos que reconheçam, a importância de ações coletivas para garantir o respeito a
diversidade, a multiplicidade de formas que os problemas assumem no cotidiano, as sociabilidades e materialidades
que estão presentes nos locais que atuamos. Acreditamos também que as teorias e métodos possam fortalecer e
ampliar os diálogos entre os diversos saberes, bem como fomentar o empoderamento e a auto-organização de
pessoas, grupos e comunidades e contribuir na construção de um país menos desigual e mais justo. Nesse contexto
esperamos que esse grupo de trabalho seja um espaço de construção coletiva de conhecimentos.

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A Interdisciplinaridade no Atendimento à Violência Contra a Mulher - Um olhar da Psicologia
Autores: Eduardo Francisco Corrêa Lancelotti, UFRJ; João Batista de Oliveira Ferreira, UFRJ
E-mail: eddylancelotti@gmail.com, ferreira.jb@gmail.com

Resumo: As políticas públicas de atenção à violência contra a mulher são uma conquista que provém do encontro de
demandas sociais, esforços acadêmicos e da judicialização, tendo como importante momento a assinatura do Plano
Nacional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, que consolidou diversos instrumentos no objetivo de
produzir vidas menos carregadas de violência. Suely Souza de Almeida - acadêmica e personagem fundamental na
solidificação dessas medidas - diz, em 2003, que a violência necessita, incontestavelmente, de abordagem
interdisciplinar, devido a enorme complexidade do fenômeno. O objetivo deste trabalho é, assim, iluminar a
interdisciplinaridade - esta principalmente como uma cooperação e coordenação entre o Direito, o Serviço Social e a
Psicologia, no presente campo - em um dos instrumentos de atendimento à violência doméstica e familiar contra a
mulher, o Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa (CRMM-CR), realizando a) análise dos diários
de campo - produzidos a partir da experiência como aluno da graduação e bolsista de extensão - e b) pesquisa
epistemológica - baseada em autores como Japiassu e Gusdorf, para tratar do tema da interdisciplinaridade em sua
raiz, e Minayo e Sinaceur, que o relacionam à história da educação -; para assim destilar desafios e benefícios
identificados nessa interação, compreender sua importância para o atendimento integral dessas mulheres e analisar
as diretrizes gerais da educação no Brasil, a fim de elucidar a gênese das dificuldades encontradas na relação
interdisciplinar. Em autores como Ellen Wood e Mészaros, podemos compreender a vigente configuração da
educação, uma de fragmentação do saber e radicalização do pluralismo liberal, como uma estratégia clássica, que
denuncia a agenda política do governo atual como uma de dominação e docilização das estratégias de resistência
popular. A partir da minha análise transversal (histórica e pessoal) das possibilidades, fracassos e sucessos da
construção de uma interface interdisciplinar diante da demanda de atendimento psicossocial e jurídico de mulheres
em situação de violência, posso chegar a resultados que mais são como pistas para compreendermos de que formas
podemos potencializar este campo e atender a necessidade de uma intervenção tão complexa quanto o fenômeno
em foco. Fica explícito que, embora seja fundamental que haja uma contestação das relações provocadas pelo saber-
poder dentro do próprio campo de trabalho, pelos próprios membros da equipe; a luta pela interdisciplinaridade é
uma que não pode ser descolada de uma luta política mais ampla. A contestação de medidas que promovam a
fragmentação e hierarquização do saber, como a reforma trabalhista e principalmente a do ensino médio, ambas do
atual governo, é medida fundamental para estabelecer a base da construção de um ambiente de trabalho fértil para o
correto atendimento das demandas sociais. Negligenciar a importância (e as dificuldades) da interdisciplinaridade é
condenar as políticas públicas a um funcionamento insuficiente, precário e que bloqueia os caminhos de resistência
de uma população já subjugada a violências estruturais, como a de gênero, doméstica e familiar. Na presente
pesquisa, é fundamental que todos esses pontos sejam tomados como formas de entrada neste tema tão presente e
essencial.

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A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher e os pequenos municípios: O caso de Corumbataí
Autor: Mariana De Gea Gervasio, Elizabete Franco Cruz, USP
E-mail: marianaggervasio@gmail.com,betefranco@usp.br

Resumo: Apesar da existência de uma proposta integral da saúde da mulher desde meados da década de 80, ainda há
muitos desafios a serem superados no campo do cuidado à saúde da mulher. Pouco se trabalha com questões
contraceptivas ou questões relacionadas ao climatério, menopausa, saúde mental, saúde ocupacional, entre outros.
Dessa forma, tendo em vista a disparidadeque a realidade brasileira apresenta em relação à saúde da mulher, vemos
claramente o quão dificultoso continua tirar o foco da saúde da mulher do ciclo gravídico puerperal e pensar nas
mulheres de modo integral. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) tem como objetivo
ampliar as ações no que se refere à saúde da mulher, buscando incorporar a perspectiva da integralidade, gênero,
raça e outros marcadores socias na melhoria da atenção à saúde da mulher. Nesse contexto, é fundamental estudar
como os pequenos municípios brasileiros tem implementado as diretrizes da PNAISM no cotidiano dos serviços. Nessa
pesquisa focalizamos o município de Corumbataí que possui uma população de 3.874 habitantes, com pouco menos
de 50% residindo na zona rural (IBGE, 2010). A estimativa populacional para o ano de 2016 foi de 4.045 pessoas,
colocando Corumbataí na posição de 564º em relação a quantidade de residentes de um total de 645 cidades no
estado de São Paulo e quando comparado a outras cidades no Brasil, fica na posição 3886 de 5570 (IBGE, 2016).
Dadas as devidas circunstancias e perspectivas qualitativas do trabalho, entendemos que nosso estudo não busca
universalizar ou definir verdades, mas pode trazer pistas sobre a forma como se materializam políticas públicas em
cidades pequenas e ajudar na construção de conhecimentos sobre municipios que, apesar de serem pequenos, suas
populações apresentam demandas e necessidades de saúde que precisam ser respondidas e respaldadas pelas
políticas públicas de saúde.
Esse trabalho teve como objetivo discutir e problematizar o processo de implementação da PNAISM no munícipio de
Corumbataí. A discussão teorica foi orientada pela perspectiva da psicologia social e da saúde coletiva sobre as
políticas públicas.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa e as ferramentas utilizadas para a produção de informações foram: a análise de
documentos sobre a política e a gestão de saúde e as entrevistas semiestruturadas com gestores municipais e
estaduais. Esse trabalho foi desenvolvido inicialmente como parte da dissertação de mestrado intitulada: "Saúde das
Mulheres na perspectiva de profissionais e gestores de saúde de Corumbataí".
A estrutura de saúde de Corumbataí é composta por uma unidade básica de saúde de caracteristica mista que oferece
pronto atendimento e ambulatório. Situações de urgência e emergência são atendidas pelo SAMU e frequentemente
transferidas a outros munícipios com mais recursos, assim como os casos de média e alta complexidade são atendidos
em outras cidades. No cotidiano da saúde de Corumbataí há uma grande diferença entre a proposta das políticas
públicas de saúde e os serviços de fato implementados. Destacamos três pontos para disussão: 1) o investimento
financeiro é em atendimentos ambulatoriais de especialidades médicas e não há oferta de serviços de Estratégia
Saúde da Família (ESF), sendo as ações de promoção da saúde pontuais e realizadas principalmente através de
campanhas, na maioria das vezes orientadas por uma lógica medicalizada e biomédica; 2) a dimensão da rede ainda
está restrita a referencia e contra-referencia, com foco na lógica de hierarquia e níveis de atenção e a "regulação
informal", bem distante da proposta da PNAISM; e 3) a organização do serviço está orientada pelo que chamamos de
política de saúde nas estradas, ou seja, ambulâncias que transportam as pessoas para as outras cidades para que
sejam atendidas.
Através da análise das entrevistas, dos documentos e no diálogo com a literatura, foi possível identificar muitas
dificuldades em trabalhar questões do ambito da atenção básica, principalmente aquelas relacionadas a promoção à
saúde das mulheres. Percebe-se que o referencial norteador de todas as ações de saúde dirigidas as mulheres está
fortemente associado à maternidade, com foco numa perspectiva biomédica. A saúde nas estradas se configura como
uma questão importante no cotidiano das relações e nos modos de produção da saúde no município como um todo.
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Trabalhar com temas transversais articulados aos determinantes sociais da saúde apresenta-se como um desafio para
os/as gestores/as da saúde no município e na região. Além disso, parece-nos que fortalecer ações interdisciplinares e
intersetoriais poderia trazer maior abrangência para as ações de saúde desenvolvidas no município.

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As CEBs e o reconhecimento das potencialidades comunitárias: uma leitura a partir da perspectiva da psicologia
social
Autor: Jose Hercilio Pessoa de Oliveira, PUC-SP
E-mail: hercilio.pessoa@uol.com.br

Resumo: Nesta pesquisa discorro sobre a importância da teologia da libertação e das comunidades eclesiais de base
(CEB), associadas à igreja católica, que deram origem ou engrossaram os movimentos sociais de lutas em defesa das
necessidades do povo. As CEB foram o berço onde boa parte dos movimentos sociais da década de 1970 se originou.
Destaco também a ação desses movimentos na transformação da sociedade. Fecho o capítulo com o exemplo de Dom
Paulo Evaristo Arns, um ator social que fez a diferença nas periferias da cidade de São Paulo.
Início contextualizando o que chamo de igreja no panorama da ação libertadora das comunidades eclesiais de base.
Neste texto estou me referindo a uma forma de ser igreja que se diferencia da instituição igreja. Há encontros e
desencontros entre a igreja da base e a institucional. A de base se reinventa o tempo todo, cuidando do humano e do
espiritual, enquanto a instituição questiona a fidelidade dogmática.
O projeto pastoral da teologia da libertação inspira e envolve as comunidades eclesiais de base, mas não é a origem
delas. As CEB são um organismo da igreja católica que tem seu modelo nas primeiras comunidades cristãs. Nessa
mesma perspectiva, outras pastorais sociais se fortaleceram no período de 1970 a 1990, como a Pastoral da Terra e a
Pastoral Operária, além dos movimentos comunitários e dos clubes de mães.
Pedro Jacobi e Edson Nunes (apud Calderón, 1995) dizem que as comunidades eclesiais de base são [...] uma das
poucas, senão a única, alternativa para as classes populares, a partir da discussão sobre as condições de vida dos
moradores, propiciando assim o desenvolvimento de formas democráticas de participação de base e a formação de
lideranças locais (p. 67).
Na Conferência de Medellín, em 1968, a igreja católica iniciou um modelo de pastoral com base na teologia da
libertação. Essa mesma linha teológica foi amadurecida em Puebla, 1979, com ataques diretos às causas da pobreza,
considerando-as como sendo produzidas por processos de exploração econômica em toda América Latina. Nesse
cenário nasceu a igreja popular, assentada na organização de grupos e associações como expressão de uma
religiosidade voltada à defesa dos pobres e excluídos da sociedade e do engajamento nas questões sociais. Destaca-
se, nesse contexto, o surgimento das comunidades eclesiais de base.
Uma CEB surge tipicamente pela proximidade geográfica, agrupando pessoas em seus territórios. Esse agrupamento
tem como principal intuito cuidar dos pobres reunidos em comunidades, considerando suas necessidades acima das
instituições (igrejas, partidos e sindicatos).
As comunidades eclesiais de base surgiram no Brasil como um meio de evangelização que pudesse responder aos
desafios de uma prática libertária, no contexto sociopolítico dos anos da ditadura militar (1964-1985) e, ao mesmo
tempo, como uma forma de adequar as estruturas da igreja às resoluções pastorais do Concílio Vaticano II, realizado
de 1962 a 1965.
As comunidades de base, desde 1966, representaram prioridade pastoral para tornar a igreja mais viva, mais
corresponsável e mais integrada socialmente. Buscava-se um novo jeito de ser igreja, organizando comunidades como
formas associativas. Eram grupos familiares avizinhados que, aos poucos, se reuniam e formavam uma comunidade.
Geralmente, o lugar dessas pequenas comunidades era marcado por problemas sociais diversos. Esses grupos se
sustentavam atuando em nome de causas com grande legitimidade, como a defesa da vida e da justiça social.
O trabalho das lideranças era e é sempre gratuito, sem interesse material. Gabriela dos Anjos (2008) afirma que essa
ação voluntária pode ser tomada como uma militância, se considerarmos como tal a adesão à determinada causa e o
engajamento continuado em nome dela. A autora destaca, ainda, a atuação feminina nos espaços públicos como uma
forma socialmente consagrada de militância desinteressada. A liderança das mulheres é uma realidade nessas
comunidades; o processo democrático é disseminado e vivido no cotidiano, contrastando, é claro, com a igreja
instituição, onde a patrística domina as relações. Os grupos sociais se multiplicam na igreja popular. Uma CEB se
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formava para discutir soluções para os problemas enfrentados pelos moradores. As pessoas se encontravam para
organizar as reivindicações.
Naquele tempo, final da década de 1970 e início dos anos 1980, faltava tudo e as comunidades de base contribuíram
para o surgimento de lideranças locais. Estas foram, aos poucos, encabeçando outras lutas, inclusive nos partidos
políticos.
Nesse sentido, as comunidades eclesiais de base nasceram como uma possibilidade de redescoberta do aspecto
libertador da leitura bíblica que, semelhante à caminhada dos povos de Deus que experimentaram o Êxodo e a
libertação do faraó, assumem sua luta por justiça como realização do profetismo na sociedade atual. Com suas
lideranças promoveram, assim, um debate acerca da necessidade de unir fé e vida.

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Gênero, sexualidade e relações étnico-raciais: diálogos feministas na extensão universitária
Autor: Cristina Vianna Moreira dos Santos, UFT; Bruna Andrade Irineu, UFT; Ismael Barreto Neves Junior, UFT
E-mail: cristina.vianna@uft.edu.br,brunairineu@gmail.com,ismaelbarretto@gmail.com

Resumo: O presente trabalho relata a experiência do curso de extensão destinado a estudantes e comunidade com o
tema Diálogos sobre gênero, sexualidade e relações étnico-raciais desenvolvido pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e
Extensão em Sexualidade, Corporalidades e Direitos na Universidade Federal do Tocantins, Câmpus de Miracema,
entre março e maio de 2017. O núcleo integra inciativas de educação em direitos humanos com especial atenção para
gênero, sexualidade, raça/etnia e interseccionalidades. O debate em torno dos direitos sexuais e reprodutivos
constitui uma agenda de ações e práticas educativas que fomentam a reflexão crítica feminista na formação
interdisciplinar e multiprofissional. O objetivo do curso de extensão foi proporcionar um espaço de debate plural
sobre diversidade e diferença no ambiente acadêmico, bem como disseminar conhecimento em diversidade sexual,
questões de gênero e relações étnico-raciais, articulando com os diferentes campos do conhecimento,
instrumentalizando estudantes, agentes públicos e militantes para o enfrentamento do racismo, do sexismo e da
homofobia. Acredita-se que o presente trabalho tem relação com o eixo temático Psicologia Social: questões teóricas
e metodológicas na pesquisa e produção de conhecimentos, e/ou intervenções, por meio da produção de
conhecimento em uma ótica feminista, que valoriza o lugar de fala das pesquisadoras pensando o conhecimento
como local e situado. Levando em conta que o objetivo do grupo de trabalho A Psicologia Social além das fronteiras
disciplinares é valorizar abordagens teóricas e metodológicas tanto de pesquisa como de intervenções, discutindo as
contribuições da psicologia em atividades de formação, pesquisa e extensão de psicólogas/os e outros profissionais
sob um enfoque feminista, acreditamos que a proposta do curso de extensão pode ser dialogada neste espaço. A
oportunidade de ampliar a interlocução com as epistemologias feministas, os movimentos sociais e a saúde coletiva
justifica nosso interesse pelo presente GT. A orientação teórica que norteou a proposta do curso de extensão foi a
compreensão e a ética feminista. Os Estudos Feministas pós-estruturalistas apoiaram a discussão dos conceitos de
gênero e de sexualidade na perspectiva debatida por Butler, Rubin e Louro; de direitos sexuais e direitos reprodutivos
apontados por Corrêa e Ávila; de relações étnico-raciais a partir dos feminismos de mulheres negras produzidos por
Davis, Carneiro e Adichie; e de interseccionalidades a partir de Creshawn, Hirata e Puar. O método deste trabalho
refere-se a proposta do curso de extensão que foi distribuído em 40 horas de atividades, contou com a presença de
40 cursistas entre acadêmicas/os, professoras/es da rede municipal, agentes de saúde e estudantes secundaristas,
durante 20 encontros, ao longo de três meses. Os temas do curso foram organizados em quatro módulos conduzidos
em encontros semanais. Os diálogos construídos a partir das conversações sobre feminismos e gênero, sexualidade,
relações étnico-raciais e interseccionalidades foram articulados a partir de aulas expositivas dialogadas, debate sobre
documentários e filmes, rodas de conversa, discussão de textos teóricos e palestras com convidadas/os. Cada
encontro foi planejado utilizando recursos bibliográficos, audiovisuais, tarefas em grupos e técnicas grupais. As
facilitadoras do curso, professoras dos cursos de Psicologia e Serviço Social, apostaram em uma metodologia
feminista de trabalho que incluiu recursos voltados para o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo em
uma perspectiva interdisciplinar. Os resultados da pesquisa direta sobre o perfil das/os cursistas apontaram que 72%
das pessoas se identificaram como sendo do sexo feminino e 28% do sexo masculino. A orientação sexual mostrou
que 70% se identificaram como heterossexuais, e as demais 30% se atribuíram vinculações identitárias sexuais fora da
heterossexualidade homossexual, pansexual, bissexual, lésbica, caracterizando uma diversidade sexual. Nesta
amostra, 42% das/os cursistas se consideram da raça/etnia negra e 40% sem consideram pardas. Acerca da
participação em cursos de extensão, 85% das/os cursistas nunca havia participado, e dos 15% que já participou de
cursos, ninguém havia participado de algum curso sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual. Este dado sugere
um indicador de escassez de oferta na formação e existência de demanda, caracterizada pela alta procura de cursistas
pelo presente curso de extensão. Outros indicadores como a frequência e adesão ao curso, baixa evasão das aulas,
boa qualidade dos diálogos construídos, relatos de vivência compartilhadas, feedback positivo de cursistas,
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professoras/es e técnicas/os sobre o trabalho proposto, diversidade das atividades envolvidas e compromisso ético e
político de participantes e facilitadoras apontaram o êxito do curso em sua proposta de constução do conhecimento
feminista em um espaço relacional plural e interdisciplinar. O encerramento do curso incluiu uma programação lúdica,
comemorativa e avaliativa no formato de um Sarau Cultural que envolveu estudantes e comunidade com a retomada
das temáticas do curso, resultando em trocas críticas e reflexivas, de forma educativa em forma de confraternização,
marcando a extensão como lugar científico e político de produção do conhecimento.

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Identidades Sociais, Diversidade e Inclusão Social em famílias contemporâneas na cidade de São Paulo
Autor: Dariane Doria Ribera Vidal, UNIP-SP; Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento, UNIP-SP
E-mail: darianedoria@gmail.com,vanda_nascimento@uol.com.br

Resumo: Esta pesquisa qualitativa, de Iniciação Científica-Cnpq, inserida no campo da Psicologia Social, teve por tema
de estudo a construção de identidades sociais no cotidiano das famílias contemporâneas. Entendemos que as
primeiras interações sociais de um indivíduo se dão no âmbito familiar; as primeiras apresentações sociais recebidas
por ele na infância são por meio da família, o que irá contribuir de forma marcante na constituição de sua identidade.
Esse processo se dá por meio da socialização que introduz o indivíduo na sociedade. A socialização primária tem o
valor mais importante para o indivíduo, pois a estrutura básica foi definida a partir dela. Esse processo é bem
dinâmico e inclui a socialização secundária, portanto, podemos dizer que não apenas nossas interiorizações são
dinâmicas, mas o mundo onde estamos expostos também apresenta novos conceitos que necessitam de novos
aprendizados. Neste caso, estamos falando especificamente da diversidade e da inclusão social, destaque para a
compreensão desse estudo. Nessa linha, o objetivo principal foi entender como são constituídas as identidades sociais
no cotidiano das famílias contemporâneas, no âmbito da saúde, no que se refere à diversidade e inclusão social.
Buscou-se, assim, problematizar e proporcionar reflexões acerca das identidades sociais e de suas relações com a
diversidade e inclusão social, como também contribuir para os estudos no campo da Psicologia Social. Como
abordagem teórico-metodológica, fundamentou-se no construcionismo social, utilizando-se da metodologia de
análise das práticas discursivas que propiciaram as condições para o surgimento de um material narrativo produzido a
partir da interação dialógica entre entrevistados e entrevistadora. Participaram desse estudo oito casais, de
orientação heterossexual, com idade entre 30 e 48 anos, com um ou mais filhos no ensino infantil ou fundamental,
residentes na zona norte da cidade de São Paulo. O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Psicologia (CEP) da Universidade Paulista, submetido via Plataforma Brasil, cumprindo-se as Resoluções Nº 466/2012
e Nº 510/2016, do Conselho Nacional da Saúde. Todos foram convidados e indicaram conhecidos, com base na
técnica de Snowball. A coleta de informações foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas. As entrevistas
ocorreram na residência dos casais entrevistados. Para análise dos dados utilizamos a transcrição sequencial, a
transcrição integral e as anotações do diário de campo. A análise dos resultados levou, por meio da transcrição
sequencial, a seis eixos predominantes nas vivências dos casais entrevistados: a) concepções sobre inclusão social e
diversidade; b) necessidade de inclusão social na atualidade; c) vivências na infância do casal sobre diversidade e
exclusão social; d) vivencias atual da família sobre diversidade e exclusão social; e) educação dos filhos: pais versus
escola; f) sociedade: inclusiva versus exclusiva. Concluiu-se que as identidades sociais no cotidiano das famílias
contemporâneas são constituídas de formas diferentes, marcadas por experiências anteriores de cada um dos pares,
mas configuradas na relação familiar, influenciadas pelas relações de gênero e pelas possibilidades, ou não, de
negociações e mediações. De modo geral, observa-se que as famílias demonstraram conviver bem com as
diversidades humanas, com a inclusão social e a diversidade, tendo a escola como parceira principal. Entretanto, no
processo de construção estão presentes dilemas e incompreensões com relação a sociabilidades intolerantes e não
inclusivas. É relevante que sejam realizados novos estudos que possibilitem entender melhor alguns fenômenos (não)
inclusivos a partir das relações familiares. Como o objetivo principal desse estudo foi entender e levantar reflexões
acerca da formação das identidades sociais e suas repercussões com relação à diversidade e inclusão social
acreditamos que esse tema poderá contribuir e gerar novos questionamentos com os Grupos de Trabalho escolhidos.

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Laço a organização estudantil como prática política: afeto, resistência e transformação social
Autores: Jomara Oliveira Costa, CES/JF; Lara Brum de Calais, UFJF; Marcos Vinícius Lucas da Silva, CES/JF; Matheus
Henrique Silva, CES/JF
E-mail: jomaracosta@live.com,matheus_psi@outlook.com,marcos15.lucas@gmail.com,laracalais@hotmail.com

Resumo: O presente resumo tem por finalidade contextualizar e apresentar a formação da Liga Acadêmica de
Psicologia Social e Comunitária (LAÇO) e problematizar as possibilidades de articulação entre teoria e prática na
formação em psicologia. A Laço tem sua constituição marcada pela união de estudantes que, de certa forma, se
incomodavam com práticas naturalizantes e descontextualizadas da realidade social reproduzidas pela Psicologia e
pautam a busca de um saber/fazer com criticidade e responsabilidade social. Sob a ótica da perspectiva Sócio-
Histórica, a LAÇO foi criada visando o comprometimento com a realidade social e superação dos engessamentos
muitas vezes sustentados pela academia, se colocando a entender os aspectos que constroem os contextos sociais,
assim como os processos culturais e políticos que estão entrelaçados nesta formação. A analogia feita com a sigla da
liga foi proposital, vide que desde o primeiro momento de sua criação, o afeto e os laços entre estudantes
potencializaram a nossa resistência mediante as opressões e silenciamentos engendrados nas práticas cotidianas. A
LAÇO tem como objetivo a troca de saberes e a promoção de ações em contextos marcados por uma história de
negligência e por situações de vulnerabilidade. Tais ações se pautam, principalmente, em atividades culturais,
artísticas, esportivas e discussões críticas que possam contribuir para essa transformação. Neste sentido, a liga
acadêmica em questão aposta na potência das construções coletivas e na mobilização através do afeto, ou seja,
compreende que é no encontro coletivo que somos afetados pela realidade e possibilitamos a emergência de
diferentes modos de existência. Considerando o tripé ensino, pesquisa e extensão, a Laço estimula também o
fortalecimento das bases curriculares da graduação em Psicologia, no que se refere à Psicologia Social e Comunitária,
que são disciplinas que contribuem para uma formação profissional crítica, ética e política frente ao contexto social.
Assim, encontra estreita relação com o GT 03 A Psicologia Social além das fronteiras disciplinares, por problematizar a
formação e buscar ações estratégicas para as problemáticas sociais. Cada ação elaborada pelo coletivo de estudantes,
seja a nível institucional ou comunitário, tem sempre como intenção a troca com o outro, impulsionando as
contribuições para uma prática psicológica voltada para as reflexões e conscientização. Neste sentido, se apóia nos
referenciais de metodologias participativas que têm em sua construção, o necessário exercício da participação social.
Sustentando uma gestão participativa, os estudantes reúnem-se quinzenalmente no formato de assembléias que, em
si, já funcionam como espaços coletivos de produção política. Operacionalmente, a liga possui Comissões de Gestão,
Comunicação e Científica. Juntamente a elas, organiza-se nos seguintes eixos temáticos: Gênero e Sexualidades;
Esporte e Território; Arte e Cultura; e Relações Raciais e Direitos Humanos, articulando teoria e prática em psicologia
social. Durante um semestre realizamos práticas com intuito de incentivar o pensamento crítico e promover
autonomia e emancipação. Realizamos durante o início deste ano: O Trote Social que tinha como meta arrecadação
de livros; Acolhida dos calouros do curso de Psicologia pautada no afeto e mediado pela arte; Mural da Visibilidade
Trans; Túnel Sensorial; Ação Literária com inauguração da Biblioteca Comunitária. O enlace dos/as estudantes se deu
como forma de resistência e mudança da realidade social, compreendendo a reciprocidade das relações e o
compromisso ético-político que assumimos. Sendo assim, acreditamos na expansão desse laço, partindo do
pressuposto de que a construção da realidade social é um processo constante e que, por isso, fomentar ações que
promovam o exercício da cidadania, conscientização e autonomia dos sujeitos é também potencializar diferentes
modos de ser-humano.

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O domicilio como local de parto e as lutas por políticas/programas de saúde inclusivos
Autores: Jacqueline Isaac Machado Brigagão, USP; Lilian Godinho Hokama, LUMIAR; Roselane Gonçalves, USP
E-mail: oselane@usp.br,jac@usp.br,lilian.hokama@gmail.com

Resumo: A assistência ao parto no Brasil é predominantemente hospitalar e todas as políticas e programas dirigidos
para o recém-nascido estão organizados e baseados nessa premissa. Porém, muitas mulheres, a partir de uma
perspectiva crítica em relação às restrições ao uso de tecnologias, muitas vezes desnecessárias para o cuidado no
parto e nascimento no contexto hospitalar, têm escolhido o domicilio como local para viver esta experiência com a
assistência de profissionais capacitados/as. Atualmente, apenas em Belo Horizonte/MG há um grupo de parto
domiciliar vinculado ao SUS, nos demais estados e municípios, esses serviços são privados. Assim, a escolha pelo
parto domiciliar, em geral, impõe à mulher, à sua família e aos profissionais que assistem ao parto e nascimento a
necessidade de desenvolver estratégias para superar as inúmeras dificuldades de acesso a programas e políticas de
saúde relacionadas à saúde do bebê no período pós-natal, como por exemplo o direito de: ter a declaração oficial de
nascimento (declaração de nascido vivo-DNV) preenchido pela/o profissional que assistiu ao parto; ter acesso aos
exames da triagem neonatal (Teste das Emissões Otoacústicas Evocadas - teste da orelhinha; Teste do Reflexo
Vermelho - teste do olhinho; Teste para identificar Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Anemia Falciforme e
demais Hemoglobinopatias, Fibrose Cística, Deficiência de Biotinidase e Hiperplasia Adrenal Congênita - teste do
pezinho) e vacinação. Estas dificuldades colocam em evidência a necessidade das/os profissionais, e todas as pessoas
que defendem os partos domiciliares, lutarem para incluir nas políticas/programas de saúde para a criança, os fluxos
que permitam o acesso das pessoas que escolheram o domicilio como local do parto/nascimento. O objetivo desse
trabalho foi o de refletir sobre a experiência de intervenção nos municípios de Mogi das Cruzes e Guararema, ambos
situados na região do Alto Tietê no Estado de São Paulo, para a criação dos fluxos necessários para que as/os
profissionais que assistem a partos domiciliares possam obter a DNV junto a secretaria de saúde do município e que,
após o parto, as mulheres com os seus bebes possam ter acesso às políticas de saúde especificadas. Metodologia: A
discussão desses dois casos foi realizada a partir da narrativa das autoras sobre todo o processo de intervenção junto
às secretarias de saúde dos dois municípios e dos resultados obtidos e se deu à luz das perspectivas da ação pública
(SPINK, 2016) e feminista sobre o papel das mulheres na luta pela ampliação das políticas públicas. Resultados e
Conclusões: Os dois casos ilustram a importância da incorporação de atitudes que incluam estas perspectivas na
atuação profissional daqueles que assistem a partos domiciliares e que assumam a concepção de que todos os atores
são responsáveis e legítimos interlocutores no processo de elaboração e implementação das políticas públicas de
saúde. Ou seja, são capazes de acionar os dispositivos públicos para criar programas e ações que beneficiem a
população e despertem os gestores para importância da ampliação dos direitos e obrigações de todos os envolvidos
no processo de cuidado em saúde. Para isso é necessário que se disponham a realizar reuniões de articulação técnico-
políticas nos muncipios em que atuam visando pactuar ações que permitam o acompanhamento do processo
envolvido nos partos e nascimentos planejados, que ocorrem no âmbito dos domicilios, pelo sistema de saúde local
(vigilância epidemiológica) garantindo o acesso às políticas/programas de saúde específicas para esta fase do ciclo
vital humano. Desse modo, a ação pública é uma noção potente que permite a leitura de que os programas e ações
governamentais são resultado das lutas empreendidas por todos os interessados em resolver uma determinada
situação de saúde que se apresente e que tenha impacto na saúde das pessoas.

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Os argumentos acerca da inconstitucionalidade da criminalização do aborto no STF: uma leitura crítica
Autor: Priscila Kiselar Mortelaro, PUC-SP
E-mail: priscilamortelaro@gmail.com

Resumo: As normas legais para a interrupção da gestação no Brasil foram elaboradas na década de 1940 e são
vigentes desde então, salvo discretas alterações. No Código Penal brasileiro estão previstos como crimes contra a vida
o aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento, no artigo 124; e o aborto provocado por terceiros sem
ou com o consentimento da gestante, nos artigos 125 e 126, respectivamente. No dia 29 de novembro de 2016, a
primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF) firmou entendimento de que o aborto voluntário durante o
primeiro trimestre, ou seja, até a décima segunda semana de gestação não deve ser considerado crime. De acordo
com o voto-vista do Ministro Luís Roberto Barroso que fora acompanhado na íntegra pela Ministra Rosa Weber e
pelo Ministro Edson Fachin , no julgamento do Habeas Corpus 124.306, a criminalização da prática é incompatível
com a garantia de direitos fundamentais das mulheres. Desse modo, seria preciso examinar a constitucionalidade do
tipo penal imputado aos pacientes e corréus, pois a conduta ou prática a ser incriminada não deve constituir exercício
legítimo de direito fundamental. Neste caso, revisar a constitucionalidade do tipo penal imputado aos pacientes
coincide com a constitucionalidade da criminalização da prática. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é situar a
questão do aborto no âmbito judiciário, a partir da análise dos argumentos que justificam o posicionamento acerca da
questão da constitucionalidade da criminalização do aborto expresso no voto do Ministro. A aproximação que
buscamos com tais argumentos se dará a partir da análise de documentos de domínio público como método de
pesquisa, uma vez que compreendemos que estes nos permitem acessar sentidos em circulação, refletindo as
transformações lentas em posições e posturas institucionais que permeiam o cotidiano ou pelos agrupamentos e
coletivos que dão forma ao informal. Para tanto, partiremos de uma postura crítica na psicologia social expressa
através de uma abordagem construcionista associada a posturas feministas, principalmente no âmbito do debate
acerca dos direitos sexuais e reprodutivos e do direito ao corpo. Tendo em vista nosso posicionamento teórico-
epistemológico e o contexto de dissolução de certas fronteiras disciplinares no qual se encontra este trabalho,
escolhemos o GT A Psicologia Social além das fronteiras disciplinares.
A partir da análise do voto do Ministro Barroso, observamos que os argumentos apresentados se organizam em torno
de 5 eixos temáticos: dos direitos fundamentais; dos riscos à integridade da mulher; do princípio da
proporcionalidade; da controvérsia sobre a vida; e da defasagem do Código Penal. Buscando delinear sua linha
argumentativa a fim de constituir a criminalização do abortamento como temática cuja constitucionalidade deve ser
problematizada, o Ministro destaca que a incriminação da prática fere diversos direitos fundamentais das mulheres,
ressoando na própria dignidade humana dessa categoria e afetando sua autodeterminação reprodutiva por meio da
coerção exercida por parte do Estado. Em segundo lugar, de acordo com a arguição do Ministro, a criminalização afeta
a integridade física e psíquica da mulher, interferindo no direito à saúde e à segurança, também fundamentais. Em
relação à controvérsia moral acerca do início da vida, o texto do Ministro admite que não há solução jurídica.
Entretanto, declara que, exista ou não vida a ser protegida, não cabe dúvida em relação à impossibilidade de o
embrião subsistir fora do útero materno na fase inicial de sua formação, o que ressalta a centralidade da mulher. Em
quarto lugar, a criminalização do abortamento não contempla suficientemente o princípio da proporcionalidade, por
gerar custos sociais superiores aos seus benefícios. Por fim, o considera a defasagem do Código Penal, que data de
1940, sugerindo que a questão deve ser pensada à luz dos valores constitucionais trazidos pela Constituição de 1988.
Tais resultados, entretanto, são parciais e estão sujeitos a alterações e aprofundamentos para serem apresentados no
grupo de trabalho.
A partir dos resultados apresentados acima, notamos que a constitucionalidade da criminalização do abortamento é
contestada por meio do uso de princípios caros ao Estado Democrático de Direito. Tal razão baseia-se em uma
concepção específica de liberdade, que contempla a autodeterminação individual, de modo que se busque a garantia
da possibilidade de ação de acordo com princípios morais que se deseja seguir. Nessa perspectiva, de acordo com o
63
Ministro Barroso, a criminalização da interrupção da durante o primeiro trimestre fere o núcleo essencial do conjunto
de direitos fundamentais femininos, sendo, portanto, uma restrição que ultrapassa os limites constitucionalmente
aceitáveis. Apesar da consonância entre o posicionamento do Ministro e a base das reivindicações feministas,
destacamos que os sentidos do direito ao corpo e à autonomia podem ser fontes de descontinuidade entre tais
reivindicações e o posicionamento do Ministro, cuja origem está em determinada razão governamental. Ou seja, as
reivindicações feministas parecem ir além, transformando o direito ao corpo e à autonomia em uma luta pelo direito
à uma outra vida: uma vida além das normatividades impostas.

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Políticas de resistência: experiências sociais no âmbito da política pública de saúde mental
Autor: Ana Paula Müller de Andrade, UNICENTRO
E-mail: psicopaulla@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho objetiva discutir experiências singulares no âmbito da reforma psiquiátrica brasileira, que
podem ser reconhecidas como políticas de resistência. Para Foucault (2003), nas relações de poder estão implicadas
est at giasà deà lutaà eà esist ia.à “ oà lutasà t a adasà o t aà u à giga tes oà apa ato,à t i asà eà p o edi e tosà
desenvolvidos para conhecer, dirigir e controlar as vidas das pessoas, seus estilos de existência, suas maneiras de
se ti ,à a alia ,à pe sa . à Fou ault,à .à ássi ,à asà políti asà deà esist iaà o juga à est at gias,à p ojetosà eà lutasà
cotidianas que possibilitam a produção de subjetividades singularizadas e a subversão de regimes psiquiatrizantes.
A pesquisa que subsidia as discussões aqui apresentadas teve como objetivo analisar os desdobramentos da
transformação cultural em relação à loucura na produção de subjetividades de usuários e usuárias dos serviços de
saúde mental. A transformação cultural com relação à loucura segue sendo um dos maiores desafios do processo de
reorientação da assistência psiquiátrica( Andrade e Maluf, 2014 e 2016), especialmente na conjuntura atual brasileira,
em que os direitos e as liberdades se encontram ameaçados. Entende-se que a produção de subjetividade, tal como
apresenta Foucault, está relacionada a um campo de possibilidades permeado por relações de poder e regimes de
verdade emergente de determinados contextos históricos.
O recurso teórico-metodológico utilizado na pesquisa foi a etnografia, desenvolvida durante quinze meses, nos anos
de 2015 e 2016, tendo como interlocutores/as pessoas que frequentavam um dos Centros de Atenção Psicossocial da
cidade de Pelotas – RS, na condição de usuárias. Tal abordagem permitiu refletir sobre os modos de produção de
subjetividades presentes nos processos de desinstitucionalização e sobre as articulações de práticas e discursos
construídos nos diferentes planos em que tal política se constitui.
A consolidação da reforma psiquiátrica tem instituído transformações importantes na vida das pessoas que acessam
os serviços de saúde mental para alívio de seus sofrimentos bem como da sociedade como um todo. As
transformações desencadeadas podem ser reconhecidas tanto no plano institucional quanto no plano das
e pe i iasàsi gula es.à Estesàpla osàest oài te ligados,àseà o e ta àdeàdisti tasà a ei asàeàseà ost a à ele a tesà
pelos deslocamentos e perspectivas que permitem vislumbrar sobre a complexidade da reforma psi ui t i a .à
(Andrade e Maluf, 2014, p. 36)
Destacou-se aqui a experiência de e com uma das interlocutoras que, através da participação intensa no
desenvolvimento do trabalho de campo, foi responsável pelo desenvolvimento da ideia de que a conjugação de
práticas de resistência desenvolvidas no plano das experiências sociais no âmbito da política pública de saúde mental
se configurariam como políticas de resistência. Na interlocução e na produção conjunta de um livro com esta
interlocutora, aliadas com outras interlocuções, foi possível perceber práticas de resistência que se faziam presentes
na subversão dos diagnósticos psiquiátricos e as respectivas prescrições, e nas relações estabelecidas por tais pessoas
em suas experiências cotidianas. Foi possível identificar pequenas rupturas com o regime psiquiatrizante presente no
contexto investigado, através de práticas, estratégias e projetos singulares.
As experiências sociais dos/as interlocutores/as indicam algumas possibilidades produzidas pelas transformações
socioculturais desencadeadas pela política pública de saúde mental. Como aponta Lavrador (2012, p.411), tal política
pa e eàte àp oduzidoà out asàfo asàdeàlida à o àaàlou u a,àa olhe doàsuaàalte idade,àa i doàpo tasàe àtodosàosà
sentidos e desobstrui doàaàpot iaàdeà i e ç oàdeàpossí eis .àásàe pe i iasàso iaisàta àde o st a à ueàaà
reforma psiquiátrica, como apontado por Maluf e Andrade (2017), vai além da atuação do Estado.
Por fim, tal como apontam as análises desenvolvidas até então, se no âmbito institucional a política pública e a
reorientação da assistência psiquiátrica possam ser ameaçadas por contextos políticos, econômicos e jurídicos
manicomiais, no âmbito das experiências sociais se constituiu um conjunto de experiências que pode ser reconhecido
como uma política de resistências.
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Práticas discursivas midiáticas e musicais sobre e das mulheres na música sertaneja
Autor: Flávia Martins dos Santos, UFG/PUC-GO; Nagilla Martins de Britto, Brasicor Corretora de Seguros
E-mail: flaviamartins21@gmail.com
Resumo: O estilo musical sertanejo é o mais popular do Brasil. No ano de 2012, em pesquisa realiza pelo o
IBOPE(Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística), o sertanejo obteve uma representatividade de 58% dentre os
ritmos que dominam o país. Percebe-se que a mulher sempre foi tema das canções sertanejas. Mas apesar disso, a
interpretação e a composição dessas músicas sempre teve a maior predominância de homens como os cantores e
autores. A parcela de cantoras no estilo sertanejo obteve pouca representatividade desde que o estilo foi criado.
Fatores como dificuldade de locomoção para shows, maternidade, o cuidado com o lar e principalmente o
preconceito, foram determinantes para as mulheres decidirem não entrar para o mercado artístico da música
sertaneja. Aparentemente, esse cenário está mudando. Cantoras como Maiara e Maraísa, Marília Mendonça, Paula
Mattos, Simone e Simaria e Naiara Azevedo, tem apresentado carreiras promissoras. Tendo em vista a crescente
presença feminina na música sertaneja, este trabalho tem como temática as práticas discursivas relativas às mulheres
nesse estilo musical, a partir da mídia e de músicas sertanejas, tendo como objeto de estudo a dupla Maiara e
Maraísa. Motivaram essa pesquisa veiculações recentes na grande mídia que tem destacado a maior presença das
mulheres na música sertaneja, bem como ligado seus posicionamentos e letras a um suposto movimento feminista.
Entretanto, pode-se suspeitar que o fato de uma maior abertura de espaço para as mulheres nesse mercado não
necessariamente significa uma mudança nos discursos veiculados na música sertaneja, historicamente machista.
Tendo em vista os conteúdos midiáticos e as composições feitas e gravadas pela dupla Maiara e Maraísa, o problema
que impulsionou a produção desse trabalho foi: a partir de uma perspectiva feminista, como se dá o discurso
midiático sobre e das mulheres na música sertaneja no caso Maiara e Maraísa? Desse modo, o objetivo geral deste
trabalho é analisar os discursos midiáticos e musicais das e sobre as mulheres na música sertaneja a partir de uma
perspectiva feminista. E os objetivos específicos são: investigar o contexto das mulheres na música sertaneja;
identificar as principais características do feminismo e suas possibilidades de leitura no cenário musical; compreender
as práticas discursivas midiáticas sobre as mulheres; analisar as práticas discursivas nas falas das cantoras Maiara e
Maraísa; e investigar a presença da perspectiva feminista nas letras musicais de Maiara e Maraísa. A metodologia teve
abordagem qualitativa, utilizando as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental para discussão teórica e coleta
de materiais de análise, bem como a utilização da técnica ligada à psicologia social das Práticas Discursivas e Produção
de Sentido, definida por Spink (2010), para a análise do conteúdo coletado. A pesquisa contou também com
abordagem socioconstrucionista e feminista, unindo olhares das áreas da comunicação e psicologia social. Para o
embasamento teórico, foram utilizados autores que tratam dos temas linguagem, poder simbólico e práticas
discursivas, podendo ser citado Bakhtin (1999), Foucault (1996) e Bourdieu (1998), dentre outros. Sobre o feminismo,
explorou-se o papel social da mulher e suas lutas para a busca de espaço na sociedade, tendo como aporte teórico as
autoras Alves e Pitanguy (1981), Piscitelli (2002) e Nogueira (2005). As análises sobre a dupla Maiara e Maraísa
mostraram o crescimento da música sertaneja relacionada às mulheres, bem como das abordagens midiáticas que
ressaltam o sucesso da dupla. A suposta perspectiva feminista aparece no discurso quando se refere ao mercado
feminino e a conquista de espaço feita por Maiara e Maraísa. Já pelas músicas, o avanço encontrado refere-se a
mudança das interpretes e, mais timidamente, de conteúdo relacionado à música sertaneja. Ao que se relaciona ao
contexto das mulheres na música sertaneja, notou-se que elas são apresentadas de maneira mais igualitária, se
comparado com os conteúdos veiculados sobre e pelas as mulheres em períodos históricos anteriores. Recentemente
tem sido criado um percurso de mudança para a representação das mulheres, ligando-as a fatos que antes eram
mostrados e interpretados apenas por homens, como por exemplo, o consumo de bebidas alcoólicas e as relações
sexuais. Além disso, notou-se também uma ênfase midiática quanto a representatividade da mulher envolvendo o
consumo alcoólico e os momentos de lazer em bares e baladas.

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Psicologia no SUS - Trabalho em equipe e em rede: potencialidades, anseios e limitações
Autor: Eduardo Kilian Santos da Silva, UNIVALI; Raquel Ghizoni Argenta, UNIVALI; Thiago Costa, UNIVALI
E-mail: duca_kilian@hotmail.com

Resumo: Introdução: O presente trabalho consiste no relato de experiência de três acadêmicos de psicologia de uma
universidade do litoral catarinense, imersos no Programa de Estágios e Vivências na Realidade do Sistema Único de
Saúde (VER-SUS) nos anos 2016-2017. O VER-SUS tem como proposta realizar vivências no Sistema Único de Saúde
(SUS) possibilitando conhecer quais espaços compõem a rede, qual o papel de cada profissional, discutir saúde como
conceito ampliado, assim como possibilitar a prática multidisciplinar. Sendo este também um espaço para refletir
acerca das determinações sociais no processo de saúde-doença. Objetivos: Refletir e descrever as contribuições na
formação em psicologia, resultantes da imersão no programa VER-SUS, sendo este um dispositivo promotor de
estratégias de enfrentamento dos desafios no campo da saúde coletiva. Orientação teórica: Fomos impulsionados a
buscar essa vivência a partir do contato com autores que são atravessados pela concepção de saúde contra
hegemônica, pautada no princípio da integralidade, que rompe com o modelo biomédico e compreende
determinação saúde. Que pensam a clínica tradicional como não suficiente para suprir as necessidades do sujeito que
é atravessado por práticas cotidianas concretas, resultantes dos emaranhados de relações estabelecidas e mantidas
através da sua cultura. Como aponta Mattos (2008) a atuação dos profissionais da saúde deveria se pautar pelo
esforço de alargar os limites nos quais a vida é possível. Também fomos guiados pelos pressupostos da Psicologia
Histórico-Cultural que compreende o sujeito como essencialmente social (VYGOSTKY, 1998) Método: O estágio de
vivência ocorreu nos municípios de Blumenau (2017) e Chapecó e Itajaí (2016), localizados no estado de Santa
Catarina. Foram quatro e sete dias, respectivamente, de total imersão em serviços ligados ao SUS em todos os seus
níveis de atenção, em que os viventes participavam de inserções nos mais diversos cenários, tendo a oportunidade de
contemplar, e até mesmo auxiliar, em práticas do cotidianas dos profissionais da saúde pública. Após isto, os viventes,
estudantes, gestores de saúde, profissionais e usuários dos serviços (todos estes de variadas áreas de estudo e/ou
atuação profissional da saúde) discutiram sobre os desafios encontrados nas visitas, e possíveis resolutividades.
Resultados: A nossa vivência configurou-se como um espaço de troca de saberes, uma vez que os estudantes
estiveram em contato com a realidade social, com o dia a dia do trabalho no SUS, com os profissionais e com os
gestores e os usuários. Dessa maneira, pudemos construir conhecimentos e práticas que ultrapassam a formação
específica de cada curso, chegando a um terreno interdisciplinar, ético e político. Passamos a enxergar a nossa
formação com outros olhos e a nos questionar dos saberes que são impostos por meio de uma matriz curricular que
pouco possibilita reflexão sobre o SUS, sendo apenas duas ou três disciplinas as que têm em suas ementas conteúdos
relacionados à saúde pública. Conclusão: Através das vivências geradas em nossa imersão no VER-SUS, tivemos
encontros com outros corpos que foram atravessados com os mesmos anseios e questionamentos, e isso nos gerou
uma ressonância, entendida como a capacidade que temos de soar juntos, de amplificar ideias, valores e discursos,
intensificar movimentos. Conhecemos as fragilidades e os desdobramentos do SUS, e o mais importante: conhecemos
as suas inúmeras potencialidades. Na formação em psicologia as leituras foram outras, para além das psicopatologias,
aproximando de uma atuação voltada ao território, aos sujeitos e as suas vicissitudes, capaz de despertar para um
processo reflexivo acerca de uma prática com um compromisso ético-político com o outro.

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Relações de gênero e processos pedagógicos: vivências no cotidiano universitário
Autor: Natália R. Salim, UFSCar
E-mail: nat.salim@gmail.com

Resumo: A Secretaria de Ações Afirmativas-Diversidade e Equidade (SAADE) da Universidade Federal de São Carlos e é
responsável pelo estabelecimento e implementação de políticas de ações afirmativas no contexto da Universidade. A
Secretaria nasce diante das demandas presentes no cotidiano universitário. Tem por objetivo combater práticas
discriminatórias, violentas por meio de suas ações, com o propósito de eliminar desigualdades e perdas provocadas
pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e por deficiências.
A Secretaria possui três Coordenadorias: Coordenadoria de Relações Étnico-Raciais; Coordenadoria de Inclusão e
Direitos Humanos e a Coordenadoria de Diversidade e Gênero. Essa proposta tem como objetivo discutir as vivências
que têm sido possibilitadas através da atuação especificamente da Coordenadoria de Diversidade de Gênero.
Propomos aqui um diálogo nas perspectivas teóricas de gênero e da produção de sentidos para compartilhar as
experiências de intervenções no campo da diversidade de gênero. Através de parcerias com coletivos a
Coordenadoria tem promovido ações de prevenção e enfrentamento das violências de gênero na sociedade; combate
à homofobia e transfobia; garantia dos direitos e da promoção de políticas. As intervenções vêm sendo construídas
através de processos coletivos e tem repercutido no contexto universitário e fora dele. A necessidade de
problematização das relações de gênero tem instigado mudanças curriculares dentro dos cursos de graduação, como
por exemplo, no curso de graduação em enfermagem. No cenário das festas universitárias a Coordenadoria proveu a
campanha: Respeite a Diversidade(1) que contou com a parceria da atlética, ouvidoria, comissão de direitos humanos
da USP entre outros. Essa intervenção resultou na produção de um material especifico para a campanha e ações de
coletivos para a divulgação através de rodas de conversas. A Coordenadoria também tem acolhido relatos e denuncias
de violência e articulado ações em diferenças esferas da universidade para a proteção, acolhimento e fortalecimento
de vitimas. Outra ação foi a elaboração de um mapa de apoio para as vitimas de violência. As intervenções têm se
constituídos como processos pedagógicos que tem promovido mudanças de discursos e assim mudanças no cotidiano.
Essas mudanças tem se concretizado na garantia dos direitos, como por exemplo, do uso do nome social em todas as
esferas da universidade. No contexto da formação em saúde debates vem ocorrendo para mudanças nos currículos.
Um exemplo é o curso de graduação de enfermagem da UFSCar que através de processos dialógicos passou
incorporar questões de gênero nas disciplinas de saúde da mulher e processo de cuidar. Essa reflexão tem sido
transformadora na forma de pensar e ensinar as boas práticas de cuidado em saúde. É essencial que se reconheça as
situações de vulnerabilidade social que tem como causa as desigualdades e violências de gênero. Nesse pensamento,
é importante reconhecer a pluralidade das identidades de gênero de forma não classificatória, porque toda
classificação que possa ser adotada faz com que outras tantas identidades sejam excluídas das discussões(2).

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Ruralidade, violência e gênero: a diversidade dos sujeitos políticos do campo, cerrados e águas e os desafios para a
pesquisa social
Autor: Claudia Mara Pedrosa, UnB
E-mail: pedrosaclaudia@gmail.com

Resumo: Oà G upoà deà t a alhoà aà áà Psi ologiaà “o ialà al à dasà f o tei asà dis ipli a es à se à oo de adoà pelasà
professoras doutoras Claudia Mara Pedrosa, Lenise Santana Borges e Jacqueline I. M. Brigagão, as três atuam no
campo da psicologia social e realizam diálogos com outras áreas de conhecimentos nas atividades de pesquisa, e
extensão e na docência O objetivo deste grupo de trabalho é discutir as contribuições da psicologia social nas
atividades de formação, pesquisa e extensão de psicólogas/os e outros profissionais, bem como, as interlocuções com
as epistemologias feministas, os movimentos sociais e a saúde coletiva. Esperamos congregar trabalhos que busquem
discutir abordagens teóricas e metodológicas tanto de pesquisa como de intervenções realizados em diálogos e
parcerias com outros campos de conhecimento, como os grupos socialmente organizados em movimentos sociais, a
saúde coletiva, a parteria, a medicina, a pedagogia, a administração pública, a fonoaudiologia, entre outros.
Entendemos que as pesquisas e intervenções possibilitam aprendizagens e encontros que tem potencial para
transformar os modos de pensar e de viver. Nesse sentido os conhecimentos são produzidos, a partir das ideias que
compartilhamos, dos vínculos afetivos que estabelecemos e das posições que assumimos. Assim é fundamental
pensar a multiplicidade de relações que estabelecemos, as expectativas e demandas que construímos quando
colocamos um tema na pauta de conversação num determinado contexto. As epistemologias feministas alertam para
a importância de reconhecer a centralidade do lugar que o/a pesquisador/a ocupa ao planejar, executar e escrever os
relatos da pesquisa. Nesse sentido, trazem contribuições fundamentais para a psicologia social, já que apontam que
não há neutralidade e que, não é possível produzir conhecimentos imparciais. Assim a objetividade nas pesquisas e
intervenções somente é possível a partir da explicitação das posições que o/a pesquisador/a ocupa nas diversas
etapas, bem como, da clareza acerca da finalidade, dos objetivos que orientam as nossas ações. Assim, assumimos a
perspectiva de que o conhecimento é local e situado. Porém, no cotidiano das pesquisas e intervenções nem sempre
é fácil e tranquilo rever nossos posicionamentos, porque, de certo modo, a ciência moderna e seus pressupostos
fazem parte de nosso processo de formação como profissionais e pesquisadoras e ainda encontra eco em muitas de
nossas ações. Daí a importância de ampliar essas discussões nesse grupo de trabalho e de buscar ouvir as vozes de
profissionais de diversas disciplinas. Ao localizarmos as teorias que estamos fazendo uso e nossas respectivas
localizações, podemos usar este saber como instrumento científico e político de produção de conhecimento. Assim é
importante que os/as pesquisadores/as compreendam que as interseccionalidades de raça, classe social, gênero
atravessam não somente os campos em que realizamos as pesquisas, mas também os/as pesquisadores/as. Ou seja,
parece-nos que é fundamental estar atento para as nossas condições de classe, raça, gênero, bem como para os
nossos preconceitos e as possíveis influências que esses exercem nas nossas ações, ao pesquisar, ao analisar e relatar
nossas pesquisas. Concordamos com o argumento de Harding, de que ciência e política sempre estiveram
relacionadas de forma íntima e intensa. Fechar os olhos para as implicações políticas sobre as escolhas que fazemos
ao longo do caminho e que modelam o projeto, os métodos, os textos não os isenta da política, na verdade, somente
promove a ignorância sobre a política que se está fazendo. Trata-se de uma perspectiva crítica às noções de
conhecimentos universais, que constroem modelos gerais aplicáveis para todos. Nós partimos do principio de que o
conhecimento é local e socialmente construído. Assim, convidamos para dialogar nesse grupo de trabalho pessoas
que realizam intervenções e/ou pesquisas que focalizam os modos como às pessoas e grupos se organizam, produzem
conhecimentos e práticas e, e encontram respostas para os problemas vividos no cotidiano. Nesse sentido, propomos
também uma reflexão sobre as questões metodológicas, e levantamos algumas questões que podem nos ajudar a
problematizar as abordagens tradicionais de pesquisa, vejamos: a)Em que medida os métodos que utilizamos
permitem exercer a reflexividade, tanto nos processos de desenvolvimento das pesquisas e intervenções, quanto nos
relatos e artigos que escrevemos? b) Qual é o grau de flexibilidade das estratégias metodológicas que adotamos, já
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que métodos desenhados a priori, muitas vezes tornam-se aprisionadores? c) Em que medida a noção de que é
necessário iniciar o trabalho a partir de métodos pré-estabelecidos não é mais um eco da perspectiva positivista de
ciência, ou ainda um modo de garantir a cientificidade de nossas práticas?d) Quais são as dimensões éticas implícitas
nos posicionamentos que assumimos? Outras abordagens que discutam a ampliação das fronteiras da psicologia
so ialà u aàpe spe ti aà íti aàta àse oàa eitas.àOàg upoàdeàt a alhoàest à oàei oà Psi ologiaà“o ial:à uest esà
teóricasà eà etodol gi asà aà pes uisaà p oduç oà deà o he i e tos,à e/ouà i te e ç es à po ueà espe a osà pode à
contribuir no debate sobre o diálogo interdisciplinar na produção de conhecimentos e na construção de intervenções
e projetos que possibilitam o enfrentamento das questões sociais e políticas do cotidiano. Esperamos também
problematizar as limitações impostas pelas divisões disciplinares, bem como a importância de reconhecer a ética que
orienta os trabalhos coletivos. Esse GT está intimamente relacionado ao tema do encontro já que busca reunir
pessoas de diversas áreas que utilizam a psicologia social para dar respostas aos desafios que temos vivenciado no
Brasil ao longo do tempo. Em nosso país temos acompanhado uma exacerbação do conservadorismo e do liberalismo
político e econômico que amplia as desigualdades e os processos de exclusão, onde a ênfase está na regulação dos
i di íduos,à aàp es iç oàdeà o po ta e tosàso ial e teàa eitos àeàe àest at giasàpa aàfo e ta àoàli eà e adoà
que estão muito associadas a manutenção dos ciclos de consumo. Propomos buscar teorias e métodos que
reconheçam, a importância de ações coletivas para garantir o respeito a diversidade, a multiplicidade de formas que
os problemas assumem no cotidiano, as sociabilidades e materialidades que estão presentes nos locais que atuamos.
Acreditamos também que as teorias e métodos possam fortalecer e ampliar os diálogos entre os diversos saberes,
bem como fomentar o empoderamento e a auto-organização de pessoas, grupos e comunidades e contribuir na
construção de um país menos desigual e mais justo. Nesse contexto esperamos que esse grupo de trabalho seja um
espaço de construção coletiva de conhecimentos.

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Violência contra meninas em situação de rua: exclusão e invisibilidade
Autor: Alana Anselmo Carneiro, UFPE; Itamar Sousa de Lima Junior, CRP02-PE
E-mail: alana-only@hotmail.com

Resumo: Introdução
Este trabalho parte da experiência prático-teórica de uma equipe multiprofissional (Assistente Social, Educador Social
e Psicólogo) com vistas a problematizar as diversas formas de violências sofridas por meninas em situação de rua na
Cidade do Recife. Partimos da noção que é de crucial importância garantir um mínimo necessário para a dignidade
humana, observando as situações que podem configurar violência, como é o caso de crianças e adolescentes em
situação de rua, à margem de qualquer proposta digna de subsistência cultural e material: a situação de rua para
meninos e meninas, em si. Uma forma cruel de violência, na maioria das vezes invisibilizada pela sociedade.
A violência como um produto histórico de toda humanidade, perpassando todas as classes sociais, reflete a
construção desigual das relações humanas e sociais; violência não entendida, como ato isolado, psicologizado pelo
descontrole, pela doença, pela patologia, mas como um desencadeador de relações que envolvem a cultura, o
imaginário, as normas, o processo civilizatório.
Consequentemente é importante observar os impactos da persistência dos casos de violência, em primazia, ao
retratar a violência ao gênero feminino, arraigada pela cultura patriarcal e exacerbada pelos processos de exclusão
social. Assim, nas ruas os direitos das crianças e adolescentes são mais precários, acabam privadas de seus mais
básicos direitos, estão mais suscetíveis à violência contra si como o uso das substâncias psicoativas, às agressões
físicas, ao abuso sexual e a problemas de saúde decorrentes da dura sobrevivência. Desta feita, na rua a rotina, a
família, o espaço, a alimentação, os pares das jovens mudam de sentido e de forma. A trajetória destas meninas
geralmente se inicia na mendicância, passa pelas pequenas vendas nos sinais de trânsito, até chegar à exploração
sexual. Neste contexto, as crianças e adolescentes em situação de rua, especificamente as meninas, tornam-se mais
suscetíveis a se transformarem em mercadoria, propiciadas às diversas formas e manifestações da violência que ainda
predomina até os dias atuais.
A exploração, então, se constitui para estas crianças e adolescentes como uma alternativa de fonte de renda para
conseguirem sobreviver nas ruas das cidades brasileiras, que vem acompanhada de outras problemáticas como o
crescente consumo de drogas, intensificando o fenômeno de exploração sexual destas garotas, pois à medida que vão
se tornando usuárias de drogas, o que ganham com a exploração serve para sustentar o uso dos entorpecentes, ou
seja, um sistema que se retroalimenta e perpetua o circuito da violência sexual desse público específico.
Partindo da percepção da equipe, percebemos a rua como palco de variadas expressões de violências que se
encontram entranhadas no cotidiano das meninas, denunciando um Estado descumpridor da garantia de direitos; e
promotor das fragilidades da rede de proteção que deveria prestar serviço integralizado e intersetorial; mas que ao
invés disso parece desconhecer que por trás de cada uma destas meninas exploradas existe uma família desamparada
em suas condições de subsistência e segurança.
Apesar de tal cenário temos encontrado poucas discussões sobre a temática, o que nos faz avaliar que os níveis de
exclusão são estruturantes, reverberam mais no gênero feminino e na extrema pobreza.
Objetivo geral: Compreender a experiência de violências contra meninas em situação de rua.
Objetivos específicos: Colher e tecer as narrativas das meninas em situação de rua; refletir sobre violações frente a
crianças e adolescentes em situação de rua.
Metodologia
Partindo de uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo pesquisa intervenção, são realizadas intervenções
socioeducativas, facilitadas por atividades lúdico-pedagógicas com meninas atendidas por uma ONG da cidade do
Recife. Onde impressões são colhidas em diários e debatidas em equipe multiprofissional.
Resultados

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Os relatos colhidos e as reflexões em equipe desvelam uma violência estruturante da condição das crianças e
adolescentes em situação de rua; temos percebido a rua como mais um agente violador, mas não como o gerador da
exclusão. Crianças e adolescentes e suas famílias são vítimas de um Estado de exceção.
Conclusões
As observações revelam que algumas adolescentes na cidade do Recife vivenciam diversas formas de violência, com
mais frequência a doméstica, depois o abandono, a exploração, entre outras; tornando-as vítimas da violência
estrutural, delineada na falta de condições mínimas de sobrevivência no seio familiar e comunitário. Uma vez na rua,
e as meninas são vitimizadas na exploração sexual, ainda que o corpo seja apenas uma estratégia de sobrevivência
para atender às necessidades básicas e do uso de drogas; dentro de um cenário marcado pela mais desumana
violência: a invisibilidade advinda do capitalismo.
Cabe-nos salientar que, sem o controle social e a efetivação de uma política de Estado condizente com as garantias
instituídas em leis como o ECA, os desafios serão insuperáveis no enfrentamento desta realidade brasileira, trazendo
por consequências nódoas que permanecerão vivas nas vidas das meninas vítimas da subjugação dos seus corpos e
almas.

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Visita domiciliar: construindo narrativas a partir do encontro com as famílias em suas residências
Autor: André Lemos de Souza, UFU; Paula Cristina Medeiros Rezende, UFU
E-mail: lemosandrepsi@gmail.com

Resumo: As visitas domiciliares são utilizadas por diversos profissionais da saúde e objetivam ampliar a visão e a
escuta dos profissionais a fim de criar proximidade entre os mesmos e as famílias. A visita possibilita acessar o
contexto cotidiano daquele para quem está sendo oferecido o serviço e seus familiares, ademais, abre caminhos para
intervenções junto à rede social dos envolvidos, na medida em que o profissional que visita passa a conhecer também
o contexto de vida de seu paciente. Assim, há diversas maneiras de se realizar uma visita domiciliar e se deixar
sensibilizar para detalhes que produzem desdobramentos importantes. Um olhar cuidadoso e atento pode dar realce
ao entorno do domicílio, as singularidades das histórias, os afetos que perpassam a estrutura do lugar, a composição
dos móveis, os espaços vazios, os cheiros, sons e iluminação. Esse conjunto de pormenores compõe um estilo de vida
próprio, aponta significados e revela contradições e confirmações sobre as narrativas que produzem esses sujeitos.
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre os registros escritos por psicólogos, a partir da experiência de uma visita
domiciliar, analisando as diferentes narrativas e seus desdobramentos. A residência visitada pertencia à família de
duas crianças, irmãos que frequentavam uma ONG localizada em um bairro de periferia da cidade de Uberlândia, que
recebe crianças e adolescentes, entre sete e dezesseis anos, no contra turno da escola, oferecendo diversas atividades
artísticas e esportivas. O objetivo da visita era, inicialmente, compreender os sentidos produzidos pelas famílias sobre
a ONG. Após a realização da visita efetuada por dois psicólogos, cada um deles registrou os caminhos percorridos e as
observações singulares sobre a prática. A análise dos dois relatos possibilitou reflexões sobre como construímos
realidades a partir das nossas descrições.
Nessa perspectiva, várias histórias podem ser contadas sobre um mesmo acontecimento, construindo diversas
verdades. A apropriação dos registros de maneira reflexiva enfatiza especialmente que não é neutro o lugar escolhido
por um profissional de psicologia, quando se decide realizar uma visita, atendimento, intervenção. Perceber este lugar
de não neutralidade impulsiona a reflexão: o que está sendo construído quando se escolhe contar uma determinada
estória? Porque se escolhe narrar alguns fatos em detrimento de outros? Quem se beneficia? Quem perde? Como os
relacionamentos que são produzidos com um determinado sujeito se transformam quando contamos sobre ele uma
história diferente? Um dos relatos, em formato de poesia, traduz os sentimentos e afetações vivenciadas por um dos
autores do trabalho no contato com aquela família. Esse formato ganha relevância, pois realça a multiplicidade de
formas de se narrar uma experiência, acentuando características diferentes das que aparecem em um relato formal.
Outro ponto interessante é discutir sobre a utilização dos relatos como forma de interlocução junto à instituição.
Juntamente com outras avaliações e intervenções os registros puderam compor um conjunto de disparadores que
alimentaram uma conversa transformadora junto à equipe. Deste modo, ressalta-se a importância e o cuidado que
devem ser tomados ao escrever sobre algo ou alguém e atentar-se para a relevância e a força que possui nossas
construções narrativas é um caminho para construir pesquisas, relatos e reflexões mais responsáveis.

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GT 04 | A Psicologia Social na Saúde: práxis, interfaces e perspectivas para a democracia

Coordenadores: Maria Isabel Formoso Cardoso e Silva Batista, UFSCar | Raphaella Pizani Castor Pinheiro, Hospital
Geral de Palmas | Sérgio Seiji Aragaki, UFAL

Este grupo de trabalho inicia sua proposta reconhecendo que um marco fundamental para a Psicologia Social
brasileira foi o seu reposicionamento teórico e metodológico realizado em consonância com a emergência de
perspectivas críticas nas Ciências Sociais e Humanas.
Assim, nos anos 1980, alinhadas às discussões sobre a necessidade e importância de uma Psicologia Social que tivesse
compromisso com a realidade dos países latinoamericanos, em nosso país temos a criação da Associação Brasileira de
Psicologia Social (ABRAPSO). Esta, desde a sua fundação, tem agregado profissionais de diferentes áreas do saber e foi
crucial para o fortalecimento de movimentos em prol de mudanças profundas na formação e na atuação de psicólogas
e psicólogos. O posicionamento foi de questionamento da produção de conhecimento e da atuação e intervenção
dessas/desses profissionais, de modo a promover rupturas com os valores e perspectivas de cunho positivistas
predominantes e que embasavam suas reflexões e ações haja visto que o apontamento preponderante até então era
de que a Psicologia Social estava, dentre outras coisas, a serviço da manutenção da ordem social estabelecida,
colaborando no alijamento da população de seus direitos de cidadania. Assim, a urgência era a de afirmar a
necessidade de ela participar ativamente do enfrentamento das injustiças e das desigualdades presentes na
sociedade. Destacamos que essa tradição aqui relembrada continua se ratificando no contexto brasileiro
contemporâneo. A Psicologia Social brasileira, de um modo geral, tem se colocado compromissada com a afirmação da
democracia e do Estado democrático de direito. Busca, assim, recuperar e reafirmar o caráter histórico e social das
práticas humanas, ressaltando também a importância de reconhecermos e lidarmos com as relações de saber e de
poder que estão em constante disputa no cenário social. Alinha-se, portanto, à defesa de um Estado laico, inclusivo e
cuidador/protetor, que respeite e faça respeitar os direitos de quem em nosso país está (brasileiras/os,
estrangeiras/os, moradoras/es, visitantes, refugiadas/os etc.). Tem podido, dessa maneira, colaborar com as reflexões
críticas sobre a realidade social e com o aprimoramento das práticas, não somente de profissionais da Psicologia, mas
também de outras áreas do saber e do viver, a fim de promover o bem-estar social e a consequente melhoria na vida
das pessoas.
No campo da saúde, a Psicologia Social tem trazido contribuições significativas na defesa do Sistema Único de Saúde -
SUS e de seus princípios. É importante recordar que, apesar de todo o contexto sócio-político autoritário (marcado por
eleições indiretas; por escolhas de representante da elite e do pensamento hegemônico; pela negação do acesso da
população a serviços assistenciais básicos durante muitos governos; por fechamento do Congresso Nacional etc.) que
caracterizou a história do Brasil desde a instauração da República, a instauração/restauração dos direitos humanos e a
conquista de direitos sociais pela população brasileira demarcaram o estabelecimento de um Estado democrático,
materializado na Constituição Federal de 1988. O SUS, como resultado direto de todo esse processo democrático,
representa a conquista da universalidade do acesso à assistência em saúde e a equidade como imperativo ético de
maneira a considerar e buscar superar as vulnerabilidades de pessoas e grupos sociais. Sua precarização, portanto,
significa um enorme retrocesso frente a essa conquista de direitos da população.
Na sociedade atual, assentada sobre a lógica neoliberal, as práticas autoritárias, privatistas e de diminuição e extinção
de direitos têm sido ampliadas e aprofundadas; diante delas, entretanto, a defesa do SUS, da vida e da democracia
torna-se ainda mais imprescindível, uma vez que tal defesa representa o compromisso com a democratização e a
universalização do acesso à saúde, ou seja, a defesa da saúde como direito de todas e todos, e não como produto a ser
vendido e a ser comprado. Desse modo, Psicologia Social inscreve-se na defesa intransigente da democracia e de um
SUS de qualidade, resolutivo e promotor de saúde, provocando, por exemplo, o questionamento acerca de certos
mecanismos sociais e psíquicos que visam o ajustamento e a adaptação dos sujeitos a condicionalidades e
o alidades à i postasà pelosà pad esà so ial e teà hege i osà eà ejeita doà aà atu alizaç oà deà desigualdadesà
sociais em saúde. Nesse sentido, a Psicologia Social no campo da saúde tem atuado contra os reducionismos
(biológico, psicológico e social) e as fragmentações disciplinares, denunciando o quanto eles têm resultado em
culpabilizações e exclusões de pessoas e grupos sociais. Ao mesmo tempo, tem defendido e fortalecido a participação
e controle social, o protagonismo e a autonomia de pessoas e grupos sociais, promovendo assim a sua participação
ativa na produção do cuidado de seu processo de saúde.
Assim, dado o cenário histórico, político e social em que nos encontramos na atualidade, o objetivo deste GT é discutir
as potencialidades, as possibilidades, os limites e as contribuições da Psicologia Social na saúde, a partir das práxis
74
realizadas por suas/seus profissionais, nas interfaces com diferentes pessoas, disciplinas, setores de atuação e
profissões, buscando refletir sobre as perspectivas presentes e futuras no campo da saúde. Considera-se, aqui, como
práxis, as diversas experiências e intervenções profissionais no âmbito da saúde, além de pesquisas teóricas ou de
campo, bem como as discussões e debates de cunho metodológico acerca do trabalho; da assistência, da gestão e da
formação em saúde, que tenham como premissa o posicionamento crítico frente ao desmantelamento da saúde no
Estado neoliberal, o qual se concretiza na contramão da Reforma Sanitária e de seus desdobramentos nos diversos
setores e serviços de saúde.
Colaborando com a abertura do diálogo e com a circulação de saberes e poderes, de maneira a produzir práticas
democráticas na saúde, este GT acolherá todas as pessoas interessadas em dialogar a respeito da temática da saúde
em seus mais variados âmbitos, interfaces e temáticas (raça/etnia, gênero, sexualidades, urbanidades e ruralidades,
saúde mental, saúde do trabalhador etc.). Tendo como base o compartilhamento dos diálogos e o acolhimento a
respeito de suas práxis, alinhados a posturas críticas e propositivas, teóricas e/ou vivenciais, buscar-se-á, neste GT,
portanto, acolher trabalhos produzidos a partir de experiências profissionais e/ou em atividades de formação,
pesquisa e extensão das/dos diversos profissionais que atuam na área da saúde e/ou na interlocução com outras áreas
do saber. É claro, portanto, que estarão presentes pessoas de diferentes áreas do saber e do viver, sejam profissionais,
estudantes, docentes, pesquisadoras/es ou usuárias/os da saúde. Afinal, todas/os somos usuárias/os do SUS (seja
porque nos beneficiamos dos serviços prestados nas unidades básicas ou especializadas, porque adoecemos menos e
obtemos mais saúde devido às ações das vigilâncias -epidemiológica, sanitária, ambiental e de saúde da/o
trabalhador/a) e/ou porque o SUS regula e fiscaliza os planos privados de saúde etc. Importante também será a
presença de representantes de movimentos sociais ou de grupos socialmente excluídos que poderão compartilhar
suas reflexões, experiências, inquietações e proposições, reconhecendo-se a importância de seus saberes e fazeres na
produção de suas vidas e do conhecimento científico.
Em síntese, este GT propõe-se a agregar contribuições para o diálogo e para a colaboração na constituição e no
fortalecimento de redes e metodologias críticas e propositivas, nos diversos campos do conhecimento que dialogam
com a Psicologia Social, e que têm dado base para o questionamento e superação das desigualdades em saúde. O
trabalho interdisciplinar/interprofissional e a intersetorialidade, os saberes científicos e populares serão, portanto, as
bases dos trabalhos que comporão o GT e que fortalecerão estratégias de resistência para o enfrentamento da
estigmatização e exclusão de pessoas e grupos sociais, da desvalorização e adoecimento de trabalhadoras e de
trabalhadores, e da precarização e da privatização da saúde brasileira. E sendo assim, o momento oportunizado pelo
GT, será de vital importância para a Psicologia Social reafirmar princípios e valores pautados nos princípios do SUS,
bem como seu compromisso com democracia e com a vida.

75
A experiência de interdisciplinaridade a partir da imersão no programa Vivências e Estágios na Realidade do Sistema
Único de Saúde (VER-SUS)
Autores: Mônica Simon Viecili, UNIVALI; Eduardo Kilian Santos da Silva, UNIVALI; Raquel Ghizoni Argenta, UNIVALI;
Samira Tellecher Riquelme, UNIVALI; Thiago Costa, UNIVALIE-mail dos autores: monicaviecili@gmail.com,
duca_kilian@hotmail.com, thiiagoc92@yahoo.com.br, raquelg.argenta@gmail.com, samiratellecher01@gmail.com

Resumo: "Introdução: O presente trabalho discorre acerca das vivências no Sistema Único de Saúde brasileiro a partir
da imersão de quatro acadêmicos de Psicologia, no programa Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de
Saúde (VER-SUS), desenvolvido pelo Ministério da Saúde. Este programa visa proporcionar conhecimento e
aprendizado na realidade do SUS, além de oportunizar, aos estudantes de diversas áreas da saúde, momentos de
reflexão e discussão, com o intuito destes poderem conhecer os desafios que se encontram na prática de atuação.
Objetivos: Discutir a importância da interdisciplinaridade em programas de vivências nas realidades do Sistema Único
de Saúde para acadêmicos, em sua formação profissional e nas formas de atuação, a partir da experiência de duas das
edições do VER-SUS. Orientação teórica: O programa VER-SUS tem como principal característica aproximar o
acadêmico, que se encontra apenas em sala de aula, aos princípios e realidades do SUS, assim, como discute Mendes
et. al. (2012), permitindo a construção de um compromisso entre os participantes do programa com a luta pelo SUS,
fazendo com que estes busquem desenvolver seu papel como profissional e cidadão na construção em movimentos a
favor do mesmo e também amplia o olhar dos acadêmicos, reforçando práticas profissionais interdisciplinares e
intersetoriais. Além disso, este projeto permite a ampliar a formação do acadêmico, propiciando a aplicação de
saberes adquiridos na inserção e em sala de aula, em um contexto de trocas horizontais com os demais envolvidos.
Método: As vivências ocorreram na cidade de Blumenau e na região da Foz do Rio Itajaí, no estado de Santa Catarina,
tendo a duração de quatro e sete dias, com a imersão total em todos os níveis de atenção de serviços ligados ao SUS.
Inicialmente houve uma espécie de formação, a fim de se familiarizar mais com a proposta, por meio da participação
no Conselho Municipal de Saúde de Itajaí e a visita ao grupo do MST existente na região, possibilitando o primeiro
contato com uma realidade distinta da inserção em questão, que é muitas vezes esquecida nas práticas de saúde
pública. Em seguida, foram divididos grupos contendo graduandos de distintas áreas de atuação em saúde, entre
outras, que eram inseridos em múltiplos cenários e contextos do SUS. As vivências ocorriam por toda a manhã e tarde,
sendo que à noite aconteciam trocas de experiências entre os grupos, que relatavam a realidade observada e
problematizada, bem como seus déficits e principais pontos positivos encontrados, por meio de dinâmicas de grupo e
produções artísticas. Dessa forma, todos os participantes puderam, de certa modo, conhecer os locais de vivências,
seja pela sua própria experiência ou pelos relatos dos demais. Resultados: Percebe-se que o VER-SUS estimula seus
participantes a se organizarem social e politicamente, pois ao se deparar com sujeitos que possuem formas distintas
de perceber, significar, ressignificar e apreender as vivências, através de suas próprias, o debate e construção não
apenas profissional, mas também pessoal, se torna presente. Percebeu-se também, que a apropriação sobre o
funcionamento do SUS se fez presente em diversos participantes das imersões, pois possibilitou o rompimento de
percepções pré-estabelecidos acerca desse Sistema, e a melhor compreensão da importância da participação em
movimentos sociais em prol do mesmo. Conclusão: A atuação em programas de vivências contribui para a formação
de forma ética, política e técnica, pois auxilia a derrubar estereótipos e possibilita a realização de crítica e autocrítica
entre os envolvidos. Além disso, influencia as práticas presentes e futuras dos profissionais das áreas que contempla, o
que se reflete pelo comprometimento com a saúde pública, e acima disso, coletiva. Atualmente percebe-se que
diversas formações de áreas da saúde estão voltados à saúde pública, porém apenas isto não garante a formação de
profissionais competentes e dispostos a atuarem nesta área, desafiadora e ainda fragilizada. Assim, tendo em mente a
interdisciplinaridade, vale ressaltar que a necessidade de sua existência neste contexto deve ir além de uma imposição
a ser cumprida em resposta às resoluções que orientam as ações no SUS. Com isso, intenciona-se tal prática de modo
a poder, de forma mais condizente, abranger as necessidades, realidades e complexidades dos usuários. Para tal,
dividir o mesmo espaço físico com profissionais de diferentes formações não necessariamente torna um serviço de
saúde interdisciplinar, sendo que para tal, uma relação não-hierárquica de saberes, a abertura à diversidade, a atuação
a partir de uma visão crítica, mas também, autocrítica, percebendo e reconhecendo possíveis reproduções de
discursos e práticas que reforçam ações institucionalizantes e hospitalocêntricas no Sistema se fazem necessárias.
Assim, propicia-se a criação de uma cultura de trabalho interdisciplinar e intersetorial, objetivando um SUS cada vez
mais fortalecido e ampliado.

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Referência: MENDES, Flavio Martins de Souza et al. Ver–Sus: Relato de Vivências na Formação de Psicologia.
Psicologia: Ciência e Profissão, Online, v. 32, n. 1, p.174-187, jan. 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pcp/v32n1/v32n1a13>. Acesso em: 12 jul. 2017."

77
A práxis (trans)formativa dos profissionais de psicologia na Residência em Saúde da Família do Ceará
Autores: Esequiél Pagnussat, UFRN; Fernanda Cavalcanti de Medeiros,UFRN; Pedro Renan Santos de Oliveira, UECE;
Thais Helena Ramos Queiroz Mourão, UECE
E-mail dos autores: esequiel.pagnussat@yahoo.com.br, pe_renan@yahoo.com.br, thais.helena1401@gmail.com,
fernandacmedeiros@gmail.com

Resumo: "A partir da criação, abertura e aumento de serviços e programas no campo das políticas sociais
principalmente na saúde e assistência social, os profissionais de psicologia puderam se inserir. Contudo, esse ingresso
revelou algumas contradições acerca da profissão, como os métodos e técnicas historicamente construídos e
empregados. Além disso, questionou-se as formações em psicologia pelo seu deslocamento com a realidade das
políticas sociais e descontextualização com as necessidades da população. Dentre as possibilidades teórico-
metodológicas e técnico-práticas no campo da APS, observa-se que os aportes da Psicologia Social possuem afinidade
com os pressupostos do SUS.
A Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) pode ser considerada a principal experiência que modificou a
formação-atuação alinhadas as diretrizes do SUS. Sua proposta educativa tem como objeto as necessidades de saúde
da população nos seus contextos locais e regionais, que propendem a transformação da realidade, metodologias,
práticas, profissões e paradigmas em saúde. Além disso, questiona-se práticas e saberes cotidianos, que através de
diferentes estratégias pedagógicas intersecciona formação e trabalho. A Residência Integrada em Saúde (RIS) da
Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), destaca-se por ser o maior programa de RMS do estado e um dos maiores
do país. O programa possui 11 ênfases e desde 2014 oferta 347 vagas por turma. Entre 2013 e 2017, formou-capacitou
pelo trabalho em ato, 133 profissionais de psicologia.
As categorias trabalho e prática, remete ao conceito de práxis. O entendimento de práxis, sustenta-se na concepção
dialética de mundo (ontologia) da teoria e epistemologia marxista, ou seja, do princípio explicativo utilizado para
orientar o processo de conhecimento da realidade, de sua axiologia (teoria da ação) e da sua antropologia (noção de
homem), em que a realidade é uma totalidade movida por contradições que expressa a síntese entre ser-pensar,
objetivo-subjetivo, sujeito-objeto, estrutura-superestrutura.
O objetivo do estudo foi analisar a práxis formativa dos psicólogos da Saúde da Família (2015-2017) da RIS. Utilizou-se
a metodologia baseada na sociopráxis, centrando-se num posicionamento crítico, dialético, implicativo e participativo.
A efetivação ocorreu através de observações e Grupo Focal (GF) com nove participantes. Os áudios do GF foram
transcritos na integra e seguindo o processo analítico histórico-crítico-dialético, emergiram dois temas: os seres sociais
em atuação no campo da saúde e (trans)formação à partir da(s) práxis e das territorialidades.
No primeiro tema observa-se a graduação em Psicologia prioritariamente centrado na clínica clássica, adaptativa-
normativa dos sujeitos, de atendimento individual e uniprofissional e voltado ao setor privado. Destaca-se a
contradição formação-atuação, pois todos os participantes possuem a primeira experiência profissional nas políticas
sociais, seja na Residência, ou trabalhando no NASF, CRAS ou CREAS anterior ao ingresso na RIS.
Outro tema evidencia a (trans)formação de sujeitos e territórios, através da diretriz político-pedagógica da RIS, da
(trans)formação pelo trabalho em ato, de atividades coletivas no território de base integral, interprofissional e
intersetorial. Entendemos o território como expressão da práxis social e histórica do humano sobre determinado
espaço geográfico e temporal. Ou seja, o território entendido como processo, como territorialidade, para além do
espaço meramente geográfico. Além disso, observa-se a importância da educação permanente, gestão do cuidado,
educação popular e participação política para (trans)formação da profissão. O cuidado expresso como particularidade
histórica das práxis sociais fundadas pelo trabalho, isto é, processo de cuidado como uma função social que constitui o
ser humano expressa-se de maneira distinta no decorrer da história. Segundo Souza e Mendonça (2017), no modelo
capitalista ocorreu a transformação do cuidado geral para o cuidado particular-técnico-cientifico, além da subsunção
da subjetividade humana (por saberes e práticas reducionistas, tecnicistas, biologicistas) pela objetividade alienante
do capital (assalariamento, especialidades, trabalho morto, instrumental). Ou seja, a produção de cuidado transforma-
se em mercadoria, e os sujeito envolvidos em compradores (usuários) e vendedores a partir de um cardápio de
ofertas.
Outra questão apontada remete as fragilidades materiais, logísticas, financeiras e estruturais, a nível municipal,
estadual e federal, prejudicaram diretamente as populações atendidas, formação e execução das atividades. Assim,
revela-se a contradição do sistema capitalista, que a partir das crises busca manter sua lógica de reprodução, afetando
e precarizando grande parcela da população, trabalhadores e políticas sociais. Apesar das crises estruturais, políticas e
institucionais, o ingresso nas territorialidades e atividades práxicas coletivas em saúde, possibilitaram que a crisálida
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que fixava a psicologia em seu casulo de saberes e práticas fosse rompida. Nessa metamorfose paradigmática pessoal-
profissional, marcada por histórias, afetos e contradições, transformaram-se em sanitaristas especialistas em saúde da
família e comunidade.
Por fim, como todo processo histórico em determinado período espaço-temporal específico, não almejamos
generalizações abstratas e extrapolações fora desse contexto. Buscamos evidenciar a práxis como possibilidade de
desvendar o mundo problemático, complexo e contraditório. Além disso, retomamos algumas premissas marxista para
análise crítica do campo da saúde e articulação com a psicologia, possibilitando romper com processos alienantes e
promover a emancipação política, econômica e humana."

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Aspectos contextuais e relacionais que influenciam a construção da gestão compartilhada
Autores: Giovanna Cabral Doricci, USP; Carla Guanaes Lorenzi, USP
E-mail dos autores: dorigica@gmail.com, carlaguanaes@gmail.com

Resumo: Introdução: A Política Nacional de Humanização possui como uma de suas diretrizes a Gestão Compartilhada,
ou Cogestão. Essa diretriz objetiva transformar os modelos de gestão das Unidades de Saúde de forma a construir
maior participação dos profissionais e usuários, além dos gestores, no que concerne às decisões locais. A participação
busca fomentar maior autonomia, protagonismo, corresponsabilidade, transversalidade das ações e percepção da
indissociabilidade entre atenção e gestão, os quais correspondem aos princípios norteadores da Política de
Humanização. Dentre as propostas para se colocar a cogestão em prática, destaca-se a construção das rodas, espaços
coletivos de conversa e tomada de decisão conjunta. A literatura aponta que a construção de espaços coletivos não é
suficiente para construir uma cultura de participação, pois, muitas vezes, o modo como esses espaços funcionam
mantém a lógica que se pretende superar. Objetivo: A partir de pesquisa empírica realizada buscamos descrever
recursos contextuais e relacionais que influenciam na construção grupal participativa. Relação com o eixo temático: A
proposta deste trabalho é apresentar uma discussão, a partir da Psicologia Social, sobre a construção de espaços
políticos e participativos que objetivem democratizar a gestão das Unidades de Saúde em nível local. Orientação
teórica: O delineamento teórico-metodológico da pesquisa fundamenta-se no movimento construcionista social em
Psicologia. Essa perspectiva tem como foco de análise as relações sociais e a linguagem, dando visibilidade à
construção de práticas que se fundamentam no processo de produção de sentidos, valorizando ainda os
conhecimentos e práticas locais. Método: A construção do corpus foi realizada em duas Unidades de Saúde do interior
de São Paulo, uma tradicional e uma com Estratégia de Saúde da Família (ESF), a partir de duas etapas: imersão no
campo por quatro meses, com registro de observações em notas de campo, e entrevistas grupais ou individuais (total
31 participantes), áudio-gravadas e transcritas na íntegra. A proposta deste trabalho decorre da análise dos diários de
campo, a qual foi guiada pela seguinte questão: quais são os aspectos contextuais e relacionais que favorecem ou
dificultam a construção de uma cultura participativa? Resultados e Conclusões: O modelo de gestão e atenção de cada
Unidade carrega consigo facilitadores ou delimitadores para a construção de espaços coletivos de cultura participativa.
Assim, na Unidade tradicional não é prevista reunião semanal da equipe, o que dificulta essa construção. Além disso,
por não haver acompanhamento das famílias composta por equipe multiprofissional, a posição do médico se destaca
mantendo o modelo de atenção centrado nela, e a gestão da unidade na figura do gestor. Esses aspectos dificultam a
construção de uma cultura participativa. Já na ESF a composição da equipe multiprofissional como responsável pelas
famílias cria um contexto em que as reuniões de equipe passam a ser fundamentais, o que pode, a depender do modo
como a equipe se relaciona, deslocar o médico da figura central para o cuidado, e o gestor da figura central para a
gestão. Ao discutir em equipe, a indissociabilidade entre a atenção e gestão fica clara para os profissionais que podem
passar a se sentir protagonistas e corresponsáveis pelas demandas que atendem. Para além das diferenças contextuais
próprias da estrutura organizacional, apontamos ainda aspectos relacionais que facilitam a participação, por exemplo:
ter uma liderança que valorize o trabalho conjunto e que faça convites individuais de participação, os quais funcionam
como uma preparação prévia para as reuniões de equipe; acolher novos profissionais e suas propostas de melhoria
quando estes se colocam nas reuniões; apresentar as demandas e esperar que os profissionais opinem e se organizem
como considerarem mais adequado; ter espaços de conversa sobre as relações interpessoais e conflitos; acolher
necessidades pessoais dos profissionais, dentre outros aspectos. Com base nesses resultados concluímos que a
organização estrutural é fundamental, porém, o modo como as relações funcionam influencia, da mesma forma, a
possibilidade de construção de espaços participativos. Considerando o aspecto relacional, o papel do líder, ou de
facilitador do trabalho conjunto (o qual pode ser assumido por qualquer membro da equipe) se mostrou
imprescindível no início da construção dos espaços coletivos. Contudo, a cogestão prevê a participação dos usuários
nesses espaços, o que notamos não haver em ambos os contextos. Essa não participação gera um funcionamento
grupal em que profissionais e usuários passam a compor grupos opostos e em disputa. Ao invés de se reconhecerem
como cidadãos, os grupos passam a culpar o seu oponente pelas dificuldades que encontram. Esperamos com este
trabalho sensibilizar os profissionais de saúde a olharem para a atuação da equipe que compõem, incluindo suas
relações, além da importância de se posicionarem como parceiros da população na luta pelo Sistema Único de Saúde
(FAPESP).

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Clínica Ampliada e Psicologia: os caminhos controversos da intervenção psicossocial
Autor: Adriano de Sousa Barros, UNICAP
E-mail do autor: adriano.dsbarros@gmail.com

Resumo: O presente trabalho visa discutir a categoria Clínica Ampliada em sua relação com as práticas de intervenção
realizadas por psicólogos/as no Sistema Único de Assistência Social – SUAS, especificamente nos Centros de Referência
Especializada em Assistência Social – CREAS. Para tanto, foi realizada um revisão sistemática preliminar junto às
plataformas BVS-PSI, Scielo e Banco de Teses e Dissertações da CAPS no período de abril a junho de 2017, objetivando
compor o corpus da tese de doutorado que vem sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Clínica da Universidade Católica de Pernambuco, especificamente ligada ao trabalho da Linha de Pesquisa
em Práticas Psicológicas Clínicas em Instituições dentro do projeto Práticas Institucionais: possibilidade de intervenção
na perspectiva Psicossocial. O interesse pelo tema também foi fomentado a partir da nossa experiência docente na
supervisão de estágio em Psicologia Social da Saúde, especialmente estimulado pelo relato dos alunos acerca das
dificuldades metodológicas, dos limites de atuação e da forte influência da Psicologia Clínica tradicional na prática dos
profissionais que atuam na Assistência Social, reproduzindo uma clínica dita social, mas, atrelada ao paradigma
biomédico, distanciando-se de uma intervenção focada na perspectiva psicossocial facilitadora de um diálogo com as
questões sócio-históricas da população atendida. A Clínica Ampliada, enquanto conceito e práxis, ganha espaço a
partir da primeira década do século XXI, principalmente quando passa a ser utilizada pelo Plano Nacional de
Humanização (Humaniza SUS), no qual representaria uma abordagem que objetiva dar suporte ao trabalho
multiprofissional, construtor de um projeto terapêutico fomentador de vínculos e de empoderamento dos
sujeitos/usuários, elaborado com base na vulnerabilidade constituidora do processo saúde-doença. Neste sentido, a
Psicologia passa a dialogar com tal proposta a partir da sua inserção nas Políticas Públicas, exigindo da área, enquanto
ciência e profissão, a produção de olhares diferenciados sobre os fenômenos psicológicos, voltando-se agora para um
público que lida com sofrimentos ancorados na falta de equidade das relações sociais. Dessa forma, a complexidade
do contexto social, envolvendo as desigualdades, a pobreza, as discriminações, as questões familiares, de gênero,
etnia e tantas outras, torna a função do psicólogo/a permeada de interferências que atingem diretamente seu papel
social. A possibilidade, portanto, de uma Clínica Psicológica Ampliada remete justamente a origem da palavra Clínica
(do grego kline): procedimento observacional direto e minucioso, do qual se exploram os significados ligados às ações
dos sujeitos e grupos, permitindo compreender os diversos elementos que constituem as chamadas relações
intersubjetivas. Este significado possibilita, portanto, pensar a constituição de uma clínica nas ciências humanas, a qual
desenvolveria uma abordagem de intervenção, promoção e prevenção em saúde direcionada à melhoria das
condições psicossociais por meio um olhar crítico, de novas perspectivas de teórico-metodológicas e de uma atuação
engajada politicamente. Neste sentido, este trabalho busca problematizar o fazer do/a psicólogo/a no campo da
Assistência Social a partir de elementos que constituem a chamada Clínica Ampliada, entendida como um espaço de
intervenção que se constitui não necessariamente a partir de abordagens teóricas tradicionais, mas, que se legitima a
partir de demandas emergentes e/ou cristalizadas nas relações subjetivas e intersubjetivas emergentes, o contexto
sócio-histórico e político no qual se propõe intervir.

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Direitos humanos e saúde mental: desejos de manicômios e práticas de liberdade na Rede de Atenção Psicossocial
Autores: Rafael Silvério Borges, UFTM; Rosimár Alves Querino, UFTM
E-mail dos autores: rosimar.querino@uftm.edu.br, rosimarquerino@hotmail.com

Resumo: Introdução: Historicamente, a assistência psiquiátrica baseada no modelo manicomial produziu perdas
significativas nos âmbitos estruturais, psicossociais bem como nos aspectos sociais inerentes ao cuidado de pessoas
com transtornos mentais severos e persistentes. O aparato manicomial, a loucura como anormalidade e as práticas de
exclusão do sujeito de direito permaneceram por quase dois séculos. Passados quase quinze anos do reconhecimento
dos direitos da pessoa com transtornos mentais pela Lei 10.216/ 2001, fica evidente o surgimento de iniciativas e
diretrizes políticas para a superação das estruturas manicomiais e para a estruturação da Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS), definida pela Portaria 3.088/2011. Contudo, os trabalhadores da RAPS defrontam-se cotidianamente com os
resquícios da lógica manicomial e com os desejos de manicômios, além de toda sorte de preconceitos, violação de
direitos humanos e falta de condições para o trabalho. De outro modo, é no cotidiano dos serviços que (re) inventam
práticas de efetivação de direitos humanos. Objetivos: A presente comunicação objetiva analisar o modo como
trabalhadores de diferentes instituições da RAPS de município mineiro compreendem os avanços e desafios para a
atenção humanizada à pessoa com transtornos mentais. Os objetivos específicos consistiram em: identificar ações
consideradas como violação de direitos humanos e compreender aquelas avaliadas como práticas de humanização.
Metodologia: A metodologia qualitativa conduziu a coleta de dados por meio de grupo focal (GF) com 15
trabalhadores. Além disso, os participantes responderam ao questionário autoaplicável voltado ao delineamento de
seu perfil sociodemográfico e de trabalho na área da saúde. Na análise temática do GF emergiram duas categorias:
violação de direitos humanos (DH) e atenção humanizada (AH). Resultados: A RAPS do município mineiro possui
diferentes instituições e a implantação dos serviços substitutivos ocorreu desde a década de 1990. Atualmente há:
equipe de matriciamento em saúde mental, consultório na rua, dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) II adulto
(um filantrópico), um CAPS álcool e drogas (AD) III, um CAPS infantil, quatro serviços de residência terapêutica (dois
municipais), hospital psiquiátrico filantrópico com oitenta leitos credenciados ao Sistema Único de Saúde (SUS), seis
leitos em hospital geral (privado conveniado ao SUS) e urgências psiquiátricas atendidas em Unidades de
Prontoatendimento (UPA). O estudo revelou violações de DH como violência física, contenção inadequada, problemas
no atendimento às urgências psiquiátricas, constantes (re) internações (porta giratória), falta de acessibilidade aos
vários pontos da rede e aos direitos sócioassistenciais e reprodução de preconceitos. Os avanços em direção à AH
centram-se na abordagem ampliada da saúde e das necessidades dos usuários, na diversidade de dispositivos
ofertados, acessibilidade, vínculos no território, atividades de inserção comunitária e trabalho em equipe. Conclusões:
Os trabalhadores dialogaram com facilidade sobre a multiplicidade de formas de oferecer cuidado, em comum acordo
ao pensamento de celebração de vida, produção de arte, cultura, música e resgate de singularidades, uma vez
entendido que a construção da autonomia do usuário está sempre ligada a produção do cuidado oferecido nos
serviços que compõe a rede. Mesmo assim é importante atentar-se ao fato de que a produção de cuidados
exclusivamente dentro dos serviços de saúde mental onde a loucura circula é insuficiente para a efetivação das
propostas da reforma psiquiátrica. Urge a valorização das atividades de inserção e circulação nos territórios e a
garantia da ampliação do atendimento em toda a Rede SUS, além do acesso aos demais direitos socioassistenciais.

82
Familiares responsáveis pelo cuidado de pessoa com transtorno mental em um município de pequeno porte
Autores: Luiz Guilherme Mafle Ferreira Duarte, PUC/MG; João Leite Ferreira Neto, PUC/MG
E-mail dos autores: lgmafle@yahoo.com.br,jleite.bhe@terra.com.br

Resumo: "Esta pesquisa realizou um estudo misto (quantitativo e qualitativo) em uma unidade de saúde mental
localizada em um município de pequeno porte na região metropolitana de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais,
Brasil. O município em que foi realizada a pesquisa encontra-se na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a 61 km
da capital. Tem uma população estimada pelo IBGE de 29.873 habitantes e uma área de 302.589 km2, segundo dados
de 2014. O município reúne, além da região central, mais três distritos que se encontram distantes do centro da
cidade em 8 km, 14 km e 16 km. O objetivo foi investigar as transformações de vida experimentadas pelos familiares
de pessoas com transtorno mental severo. A partir de questionários, realizou-se a caracterização dos responsáveis
pelo cuidado. Foram identificados 95 cuidadores familiares responsáveis pelo cuidado de 71 usuários. Desses 95
cuidadores, 64 (67,27%) eram mulheres e 31 (32,63%) eram homens. Apesar de a variação do arranjo familiar no
cuidado à pessoa com transtorno mental grave ser bem variada (19 variações), a família chamada nuclear (genitores,
irmãos e cônjuges) é a composição mais frequente no cuidado. Em seguida, investigou-se a vida dos familiares
responsáveis pelo cuidado, tendo como suporte os pressupostos da Teoria Fundamentada. Os resultados mostram a
existência de um familiar responsável pelo cuidado assumindo essa função. Em geral, ao assumir sozinho o cuidado, o
familiar acaba se sentindo sozinho e precisando mediar suas relações com o parente enfermo, para que não seja
abandonado também, sendo os vizinhos um apoio nesse momento. Porém, essa sensação de solidão não é tão
intensa, ou até mesmo é inexistente, quando os familiares dividem a tarefa de cuidar. Também precisa lidar com
desperdício de recursos e com os comportamentos instáveis do paciente. A presença do aumento de gastos, devido
tanto à perda de emprego quanto ao desperdício de recursos financeiros e materiais por parte da pessoa com
transtorno mental, aumentam a preocupação de quem cuida e, consequentemente, a sobrecarga.
Apesar da presença da agressão nos relatos dos cônjuges de pessoas com transtorno mental, não se pode concluir que
a violência seja uma característica preponderante na relação entre a pessoa com transtorno mental e seu familiar.
Apesar das dificuldades prefere que a atenção ao paciente seja em meio aberto ao invés da internação, mas ainda
entende que tratamento é apenas o medicamentoso. As internações em hospital psiquiátrico portam uma dimensão
angustiante para os familiares. As internações interferem na rotina da família de forma a sobrecarregar de tarefas o
familiar responsável pelo cuidado, além da preocupação dele em saber se a pessoa está bem durante a internação.
Porém, a percepção dos familiares responsáveis é restrita em relação às possibilidades de tratamento. O transtorno
mental é visto como um problema apenas para a psiquiatria, e a medicação é a estratégia principal. Eles não
conhecem outras ações que possam ser úteis para a atenção em saúde mental. Por fim, o familiar responsável pelo
cuidado busca adaptar sua vida à de seu parente com transtorno mental. Ao se deparar com a doença de seu parente,
o familiar responsável intensifica seu cuidado. Contudo, em alguns casos, esse cuidado se torna exagerado, levando-o
a realizar a atividade pelos outros. Nessa condição, ocorrem também situações de adoecimento psíquico no familiar
responsável pelo cuidado. Embora tenha havido avanços nas discussões sobre a atenção ao portador de transtorno
mental severo e persistente em municípios de pequeno porte, a oferta de serviços neles ainda é escassa e centralizada
no atendimento médico. Não há atividades de convivência e lazer organizadas. Distância e ausência de transporte são
complicadores no acesso aos serviços. Há também ausência de ações sanitárias e intersetoriais que ofereçam apoio a
esses pacientes e familiares. Essas são limitações na rede de serviços e de contatos sociais que segregam o familiar
responsável pelo cuidado do parente adoecido, exigindo dele adaptações em sua rotina, a fim de estar mais próximo
do familiar. Se o cuidado fosse compartilhado com outros membros da família e a dependência do poder público fosse
menor, a sobrecarga e solidão pesariam menos."

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Familismo, proteção social e saúde mental: contradições da política nacional sobre drogas
Autores: Ana Rosa Salvalagio, UNIOESTE; Maria Isabel Formoso Cardoso e Silva Batista, UNIOESTE
E-mail dos autores: arolagio@hotmail.com, miformoso@hotmail.com

Resumo: A discussão sobre drogas na atualidade requer uma reflexão sobre a Reforma Psiquiátrica brasileira, que
constitui parte integrante da construção democrática do país, pois, a partir dela a relação da sociedade com a loucura
ganhou novos contornos, delimitados, dialeticamente, por avanços e retrocessos. Na atual conjuntura neoliberal, o
Estado ausenta-se, cada vez mais, de sua função de proteção social e a família passa a ser responsabilizada pelo
cuidado em saúde. No campo da Saúde Mental, e em especial na Política sobre Drogas, o cuidado torna-se
reponsabilidade familiar. Diante disso, este trabalho objetiva discutir familismo e proteção social relacionado à Política
sobre Drogas. A Reforma Psiquiátrica, ao desconstruir os conceitos de saúde em geral e os de práticas em psiquiatria,
vem reafirmando os princípios do Sistema Único de Saúde-SUS (defesa da saúde coletiva; equidade na oferta dos
serviços; instituição/regulamentação de novos serviços em Saúde Mental; superação da violência asilar etc.). Destaca-
se a Lei 10.216/2001, que estabelece que os tratamentos devem ser realizados, preferencialmente, em serviços
comunitários de saúde mental e ter, como finalidade primordial, a reinserção da pessoa com transtorno mental e/ou
transtorno decorrentes do uso de substâncias psicoativas, na família e na comunidade. Assim, atenção atual às
pessoas e às famílias que enfrentam problemas com o uso/abuso de álcool e outras drogas está baseada nesses
princípios, que pressupõem tratamentos ambulatoriais, programas de redução de danos e estruturação de uma rede
intersetorial de cuidados, respeitando a diversidade e a complexidade dos usuários e de suas famílias. Além dessas
questões, essa política atrela-se à existência de um grupo familiar que protagonize o cuidado e possa garantir
segurança, saúde e a própria vida de seus membros. Para além de sua importância no cuidado, no contexto neoliberal,
com a desresponsabilização do Estado e a valorização da solidariedade, tal protagonismo gera, na realidade,
sobrecarga à família, pois, devido às mudanças macroeconômicas e à falta de aporte das políticas sociais, ela não
consegue exercer a contento seu papel de provimento de cuidado (ROSA, 2002). Tal sobrecarga não é decorrente do
cuidado em si, mas das demandas contemporâneas que atingem a família (ausência de cuidadores em tempo integral,
com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, as transformações urbanas e a redução das redes de apoio;
redução do tamanho das famílias; fragilidade de renda, de proteção pública e vulnerabilidade) e que reduzem sua
capacidade de cuidado. Além disso, a ausência e a inoperância do Estado – que, no neoliberalismo, deixa de assumir a
função de principal agente de proteção social, mas mantém a execução das políticas sociais seletivas e volta-se para os
mecanismos tradicionais de solidariedade social, como meio de assegurar a proteção social – tem levado a família a
assumir suas funções. Segundo Sartori e Garcia (2012), desde a crise econômica mundial que teve lugar em fins dos
anos 1970, a família vem sofrendo transformações e sendo reconhecida como um importante agente privado de
proteção social, sobre a qual recaem expectativas diversas, quanto às funções de integração social, proteção de seus
membros, socialização, educação e como lugar de cuidados. Essa centralidade da família na proteção social tem sido
chamada de familismo, prática comum nos países da América Latina, nos quais a família, com suas estratégias de
sobrevivência, apoios e cuidados, constitui fonte ativa de proteção social diante de um sistema pouco desenvolvido,
ou de retração do Estado (TEIXEIRA, 2016). Para Mioto (2010), na política de Saúde, a referência da família abre
espaço às práticas que reforçam a lógica do controle estatal sobre elas, por meio de práticas disciplinadoras. Em
relação ao uso de drogas, é recorrente a disseminação de visões que reforçam a culpabilização da família, valorizando-
se os aspectos subjetivos (conflituosos) da dinâmica familiar como impulsionadores diretos do uso de drogas. Assim, o
uso/abuso de drogas é deslocado de seu contexto social, passando a figurar como questão individual/moral das
famílias. Porém, a questão da drogadição deve transcender a dicotomia individual-coletivo, sendo compreendida
como modos de ser, significar e conviver no tempo presente, como fenômeno social, cultural e histórico. Nesse
sentido, família, ao invés de ser culpabilizada e responsabilizada, deve assumir cada vez mais a relevância nas
discussões na política sobre drogas, sobretudo pela via do acesso a um sistema público e universal de proteção social,
sendo acolhida/esclarecida/estimulada à participação nos serviços de saúde; sendo fortalecida como um sujeito de
direitos, pois ela não é apenas um espaço de cuidados, mas também um espaço a ser cuidado. Quanto à drogadição, é
preciso compreendê-la como uma categoria transversal presente em vários contextos da vida cotidiana e que se
apresenta com múltiplas facetas. Assim, família e droga se entrelaçam como aspectos da mesma realidade,
tensionados por discursos pautados em vários referenciais de análise, tendo a política de saúde, como eixo de
conexão.

84
Formação em humanização da saúde e humanização da formação em saúde
Autor: Sérgio Seiji Aragaki, UFAL
E-mail dos autores: sergioaragaki@gmail.com

Resumo: O presente trabalho tem como propósito compartilhar reflexões e debater a respeito da importância da
formação de profissionais da saúde no tema da humanização, de maneira a fortalecer e fazer operar os princípios do
SUS. O autor afirma que é imprescindível que tal formação seja feita de maneira que, concomitantemente, produza
humanização nos processos de formação de saúde. Para tanto, embasa seu discurso em pilares teóricos e práticos. Do
ponto de vista teórico: a) a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (PNH - também conhecida
como HumanizaSUS), política formulada e ofertada pelo Ministério da Saúde; b) a abordagem teórica das Práticas
Discursivas e Produção de Sentidos, de Spink. Em relação à prática: a) a experiência vivenciada em disciplinas da
graduação e pós-graduação na saúde; b) cursos realizados junto a gestorxs, trabalhadorxs e usuárixs do SUS; c)
participação na Câmara Técnica de Formação e Pesquisa/Frente Formação e Pesquisa da PNH-MS. Tal discussão torna-
se importante principalmente no cenário político e econômico brasileiro atual, em que rápida e intensamente tem
sido fragilizados e desmontados direitos sociais conquistados historicamente, registrados na Constituição de 1988. As
diferentes compreensões a respeito da saúde, tensionadas principalmente entre dois polos: a saúde como direito e a
saúde como produto a ser vendido e comprado, têm produzido ações e atividades díspares tanto no campo da gestão,
quanto no do cuidado e da formação no SUS. É fundamental lembrar que o sistema de saúde brasileiro, desde a sua
criação está inserido em um cenário de lutas, sendo que nos posicionamos ao lado daquelxs que visam afirmar,
defender e produzir a democracia, por meio do incentivo ao protagonismo, autonomia e participação ativa das cidadãs
e dos cidadãos de nosso país e dxs estrangeirxs que nele estão (temporariamente ou não). O SUS não está pronto,
está em permanente processo de construção, assim como toda realidade, dado o seu caráter histórico e social. É um
ideal produzido por práticas discursivas na carta constitucional, em diversas leis e outros documentos, no dia-a-dia dos
serviços de saúde e também nos demais espaços sociais, e que não é irrealizável, como muitos dizem. A existência de
um SUS que dá certo é atestado por diversos registros, dentre outros, aqueles feitos pela PNH, de práticas cotidianas
de um SUS que acolhe as diversidades, as dores, os prazeres, as dúvidas e os saberes e que produz resolubilidade dos
problemas e promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos, inserção e reinserção social (compartilhados, por
exemplo, na Rede HumanizaSUS – www.redehumanizasus.net). Porém, é importante enfatizar que muitos são os
sentidos presentes a respeito do SUS e da humanização da saúde cabendo explicitar qual(is) o(s) adotado(s) por quem
fala. Assim, a humanização da saúde aqui defendida se traduz pela análise e mudança das práticas na atenção, na
gestão e na formação em saúde ainda hoje presentes na saúde brasileira e tão distantes do ideário do SUS,
colaborando na criação de estratégias para que ele seja produzido tal como formulado e desejado. É necessária,
portanto, uma formação que embase esse processo – e essa é a proposta da PNH. Porém, não basta transmitir e
compartilhar conteúdos a respeito de humanização da saúde. É indispensável que esse ensino seja realizado de
maneira a proporcionar a humanização nessa formação, ou seja, com valorização dos saberes e experiências de todxs
participantes, com o exercício de relações menos hierarquizadas e mais democráticas. O trabalho que temos
presenciado e realizado desde 2008, nos diversos campos listados no início desse texto, nos dão base para os
argumentos defendidos. Por meio da humanização da formação em saúde e da formação em humanização da saúde
tem havido uma significativa melhoria da saúde e da vida de trabalhadorxs, gestorxs, usuárixs, estudantes e
professorxs do SUS. Ao mesmo tempo, temos presenciado um aumento da satisfação e da valorização do sistema de
saúde, reafirmando a possibilidade de sua existência concreta e municiando-nos contra os interesses privatistas,
individualistas, corporativistas e neoliberais.

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Formação em serviço: psicologia social e interprofissionalidade
Autor: Nelson Eduardo Estamado Rivero, UNISINOS
E-mail do autor: rivero@unisinos.br

Resumo: Esta comunicação apresenta uma experiência que acontece desde 2015 referente à inserção da formação em
psicologia na prática de assistência na atenção básica em saúde junto à um território sanitário de São Leopoldo RS.
Através da pactuação realizada entre Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e Secretaria Municipal da
Saúde, os Cursos de Psicologia, Fisioterapia, Enfermagem e Nutrição desenvolvem atividades de estágio profissional e
de extensão na modalidade de acompanhamento de famílias no território através de equipes interprofissionais. Tem
seus objetivos em duas direções. Em relação à formação trata-se de uma experiência interdisciplinar e
interprofissional que tem como objetivo construir uma metodologia de formação dos profissionais baseada no
compartilhamento e ação integrada em saúde. Em relação à assistência à população busca constituir intervenções
dirigidas à promoção e prevenção em saúde, assim como práticas especializadas junto às famílias acompanhadas com
base em Projeto Terapêutico Singular (PTS) construído pelas equipes. Este trabalho vincula-se com o eixo Práxis da
Psicologia Social na Saúde em contextos neoliberais e com o GT A Psicologia Social na Saúde: práxis, interfaces e
perspectivas para a democracia também de diferentes e importantes formas. A práticas de formação de profissionais
para trabalhar no SUS é, por si, uma proposta que resiste aos avanços do neoliberalismo e enfrenta hoje um
recrudescimento de estratégias e modelos reacionários nas práticas de saúde. Promover um espaço de
desacomodação e inserção dos futuros profissionais no contato direto com a população, seus territórios e formas de
vida, comprometendo-os eticamente com a produção de saúde nas relações que empreende no seu cotidiano de
trabalho é um desafio constante. Ao afirmar, para além do sistema de saúde, os princípios que sustentam esta política,
também provoca movimentos necessários na população atendida como sujeitos de direitos e fortalecimento da
autonomia, movimentos nos orientadores e cursos que necessitam repensar-se como formação inserida na práxis da
atenção e movimentos até mesmo na equipe da rede municipal na medida que vai lidar com a produção de uma
demanda criada pela inserção da prática no território que desacomoda estratégias mais reativas de atenção. A base
teórica conceitual tem como forte base as definições presentes no SUS e na Política nacional de Humanização sobre a
práxis na Atenção Básica em Saúde com destaque para o processo de acolhimento, interdisciplinaridade e Projeto
Terapêutico Singular(PTS). No âmbito da saúde coletiva os conceitos de campo e núcleo de saberes e práticas em
Gastão W. de S. Campos assim como Tecnologias em Saúde segundo o trabalho de Emerson Merhy estão presentes no
trabalho. Por último, mais especificamente como referência para a psicologia, a base conceitual e teórica utilizada são
as referências da Psicologia Social visitando desde os conceitos da psicologia social comunitária e saúde (H. Scarparo,
M.J. Spink)) passando pela psicologia institucional (H.C.de B Rodrigues, R. Benevides, E. Passos) e afirmando-se nas
produções sobre subjetividade e produção do sujeito (N. Guareschi, K. Prado Filho, M. Dimenstein, entre outros). A
metodologia de trabalho tem como proposta os seguintes passos: formação conceitual compartilhada e construção
das equipes interdisciplinares (encontros com todos os alunos e orientadores); conhecimento do território e da UBS
(rotinas e equipe); levantamento de demandas de acompanhamento e distribuição das famílias, construção do PTS,
execução das intervenções, avaliação do processo e produção de relatório final de cada acompanhamento. Durante
todo o processo as abordagens, visitas domiciliares, intervenções diretas, construção de rede de apoio,
encaminhamentos e contatos institucionais são acompanhados em campo pelos orientadores e discutidos
semanalmente. Como efeitos diretos da inserção foi possível perceber melhorias nas situações de saúde,
especialmente em quadros prevalentes como diabetes, hipertensão e transtornos decorrentes de acidentes
vasculares. Também destaca-se a acolhida e encaminhamento de situações vinculadas à saúde mental. Ainda sobre as
pessoas acompanhadas se pode destacar o fortalecimento do vínculo com a equipe de saúde da rede (UBS), assim
como a ampliação do cuidado em saúde. Na direção dos acadêmicos em formação a avaliação realizada destacou a
vivência do trabalho em equipe interdisciplinar e o desafio em construir ações conjuntas. Inserir-se em um território
ampliou a noção de saúde e as políticas públicas. Sobre as reflexões geradas: a experienciação do caráter político da
relação interprofissional que faz com que a compreensão conceitual teórica sobre interprofissionalidade seja potente
somente como ferramenta, quando intervêm no real; a constatação de que os dispositivos de aprendizagem - seja do
aluno, seja da população - de novas formas de relacionar-se com a saúde passam pela desnaturalização e
desestabilização de práticas instituídas, ou seja, o processo de cuidado é um movimento de transformação tanto do
usuário quanto do cuidador. Ainda se pode destacar a vivência formativa de afirmação da política pública do SUS onde
ficam claras as dificuldades em relação ao cuidado produzidas pela presença do ideário liberal tanto na
responsabilização individual dos sujeitos quanto na falta de investimento na rede de saúde.
86
Gênero e saúde: práticas educativas para o enfrentamento da violência doméstica
Autora: Aquila Bruno Miranda, UFMG
E-mail da autora: aquilabruno@ymail.com

Resumo: "Este estudo analisou as práticas de educação em saúde nos serviços de atenção primária à saúde para as
mulheres em situação de violência de gênero. Diversos estudos têm apontado as questões de gênero como fator
determinante para a elaboração de estratégias de cuidado voltadas à saúde da mulher, contudo, constata-se que as
práticas de cuidado, presentes nos serviços de Atenção Primária à Saúde, insistem em enquadrar a saúde da mulher
dentro de um modelo médico hegemônico centrado, restringindo o olhar para os órgãos e funções reprodutivas.
Posição que exclui as implicações dos fatores sociais, políticos e econômicos na saúde da mulher e que por isso,
invisibiliza os impactos da violência contra a mulher no campo da saúde. De acordo com os dados do Mapa da
Violência 2015: homicídios de mulheres no Brasil a taxa anual de assassinatos de mulheres era de 2,3 vítimas por 100
mil em 1980 e passou para 4,8 em 2013, registrando um aumento de 111,1%. A Agência Patrícia Galvão, com base em
estatísticas arroladas por outros órgãos (Fundação Perseu Abramo, Anúário de Segurança Pública, IPEA, Balanço Ligue
180) estabeleceu um cronometro da violência contra a mulher no Brasil (2010-2015): 5 espancamentos a cada dois
minutos; 1 estupro a cada 11 minutos, 1 feminicídio a cada 90 minutos, 179 relatos de agressão por dia. Nesse sentido,
apesar de estudos revelarem que, em muitas realidades, a violência não é compreendida como um objeto típico da
assistência à saúde, sabe-se que tal ato provoca inúmeros problemas para a saúde dos sujeitos envolvidos, como
lesões, danos físicos e emocionais. Além disso, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher aponta que a
vulnerabilidade feminina frente a certas doenças tem maior relação com as situações de discriminação social do que
com determinantes biológicos. Diante desse cenário, os psicólogos da saúde apresentam-se como uma possibilidade
para a escuta das narrativas das mulheres em situação de violência de gênero, além da criação de práticas de
educação em saúde com vistas ao fortalecimentos de ações para enfrentamento de situações de opressão e espaços
onde essas narrativas tornem-se pontos de resistência. A presente pesquisa orienta-se por três conceitos centrais:
gênero, violência de gênero e educação em saúde. Para Scott (1989) o conceito de gênero é entendido como
resultado de uma construção social e histórica, assim, os símbolos, normas, e instituições sociais tornam-se
fundamentais para a definição de padrões de masculinidade e feminilidade. Partindo desse pressuposto, o gênero
delimita os espaços de atuação para cada sexo, sendo a primeira significação de poder sobre a subjetividade dos
sujeitos. Diversas autoras têm apontado que as concepções de feminilidade e masculinidade são constituídas a partir
de disputas simbólicas, nesse sentido, a violência de gênero evidencia as relações desiguais entre homens e mulheres.
Ressalta-se que diante da complexidade que envolve a violência contra as mulheres é fundamental analisá-la para
além dos aspectos individuais que cercam esta problemática, ou seja, é necessário refletir sobre o impacto das
sobreposição ou intersecção das diversas opressões: de gênero, raça e classe social. Outro aspecto que deve ser
destacado é o papel das instituições políticas, de saúde, de educação e outras organizações para a manutenção de
lógicas pautadas na misoginia. Por fim, o conceito de educação em saúde é entendido como uma prática educativa,
que visa romper com a perspectiva da educação sanitária, que compreende o usuário como carentes de informações
de saúde, e passa a privilegiar o saber contextualizado pelas experiências e crenças do sujeito social. Desse modo, as
equipes de saúde têm como desafio desenvolver ações que proponham um diálogo permanente entre os diversos
atores envolvidos com o processo educativo, a partir de uma escuta cuidadosa e atenta, com vista à construção
compartilhada de estratégias que contribuam para a melhora da qualidade de vida. Os dados revelam, que embora
estudos apontarem a violência como fator determinante para a saúde da mulher, constata-se que as práticas de
cuidado, presentes nos serviços de Atenção Primária à Saúde, insistem em enquadrar a saúde da mulher dentro de um
modelo médico hegemônico centrado na doença, restringindo o olhar para os órgãos e funções reprodutivas, fato que
tem contribuído para o silêncio da violência de gênero. Ao mesmo tempo, vemos que os grupos de educação são
importantes alternativas para o enfrentamento da violência."

87
Implantação da Rede de Humanização do Parto e Nascimento em Uberlândia (MG)
Autores: Alessandra Araújo, UFU; Mônica Martins de Oliveira, UNICAMP; Nilton Pereira Júnior, UFU
E-mail dos autores: alegaia@yahoo.com, oliveira.moniquinha@gmail.com, niltonpereirajunior@gmail.com

Resumo: "Introdução
A Humanização do Parto e Nascimento tem sido um tema atual e significante dentre as pautas do Ministério da Saúde.
A Rede Cegonha, criada em 2011, configura-se uma rede de cuidados que visa criar condições políticas, institucionais e
técnicas para mudanças de processos de trabalho, tendo em vista a qualificação da gestão e da atenção materno-
infantil, a humanização do cuidado, a garantia de direitos e a redução das taxas de morbi-mortalidade maternas e
infantis. Desde sua constituição, está alinhada com a Política Nacional de Humanização e, consequentemente, com
alguns princípios e metodologias fundamentadas no Método Paidéia. A utilização desse referencial teórico e a
inserção da figura do apoiador para fomentar a cogestão, a articulação da rede e a reformulação dos processos de
trabalho, justifica-se por ser um modelo de gestão democrático, que contempla o diálogo e a construção conjunta das
políticas com todos os atores envolvidos.

Objetivo
Em 2014, iniciou-se um trabalho de integração dos dispositivos que compunham as Redes de Atenção à Saúde de
Uberlândia-MG (Saúde da Mulher, Saúde da Criança, Saúde Mental, Atenção Básica e os Hospitais Públicos) para a
implantação das diretrizes e recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde para a
Humanização do Parto e Nascimento.

Metodologia
Foram desenvolvidas ações voltadas tanto a gestores como a trabalhadores e gestantes provenientes de diversos
pontos da rede de Atenção à Saúde. Foram formados coletivos para construir, de modo participativo, protocolos e
fluxos organizacionais para a articulação de redes. Buscou-se a parceria com o Conselhos Municipais e com a
Superintendência da Mulher. Foram realizados Encontros Temáticos de sensibilização do assunto para todos os
profissionais, gestores e usuários interessados, Cursos de Capacitação e, ainda, sistematizada a Visita das Gestantes à
uma das maternidades de referência. A prática cotidiana como Apoiadora da Rede de Humanização do Parto e
Nascimento exigiu flexibilidade quanto ao desempenho das funções, alternando metodologicamente entre o apoio
institucional ou o matricial, de acordo com as ações desenvolvidas.

Resultados e discussão
Abrir espaços de escuta e construção coletiva com os(as) usuárias, os(as) profissionais e os(as) gestores(as) possibilitou
compreender a realidade e expectativas de quem está gestando e parindo, compartilhar dificuldades, interesses e
conhecimentos e reconhecer as limitações e entraves do sistema. Em todos os encontros ficou evidente a carência de
espaços de diálogo e o poder das Rodas de Conversa para aproximar, envolver e engajar as pessoas para a temática. E
acima de tudo, o maior aprendizado foi compreender que as mudanças mais significativas acontecem nas micro-ações
do dia-a-dia.
Na assistência, os resultados já podem ser visualizados: I) melhora nos índices de partos normais; II) mudanças no
modelo de assistência, com maior adesão de recursos não farmacológicos de alívio da dor, partos em posições
verticalizadas e diminuição de episiotomias; III) elaboração de um novo protocolo de assistência no pré-natal, com
ênfase no grupo de gestante multiprofissional; IV) discussão da temática nos espaços de controle social e políticos,
contribuindo para a aprovação de duas Leis Municipais em 2015.

Conclusão
O trabalho do apoio em humanização do parto e nascimento mostrou consistir eminentemente em encontrar pontos
de diálogo entre profissionais, gestão, mulheres e familiares e criar coletivamente possibilidades de melhorias na
assistência à gestação e ao parto. Neste processo, a utilização do Método Paideia mostrou-se um dispositivo potente,
na medida em que constituiu uma metodologia participativa para produzir mudanças nos serviços, nas estruturas de
poder e nas relações entre as pessoas.

88
BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador
das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Trabalho e redes de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento. Fortaleza: Universidade Estadual do
Ceará/Brasília: Ministério da Saúde, 2014 (Cadernos HumanizaSUS, v.4).
CAMPOS, G.W.S.; CUNHA, G.T.; FIGUEIREDO, M.D. Práxis e Formação Paideia: apoio e cogestão em saúde. São Paulo:
Huitec, 2013
CAMPOS, G.W.S.; FIGUEIREDO, M.D.; PEREIRA JUNIOR N.; CASTRO C.P. A aplicação da metodologia Paideia no apoio
institucional, no apoio matricial e na clínica ampliada. Interface (Botucatu). 2014; 18 Supl 1:983-95.
OLIVEIRA, M.M.; CAMPOS, G.W.S. Apoio matricial e institucional: analisando suas construções. In: Ciências e Saúde
Coletiva, 20(1): 229-238, 2015"

89
Os olhares sobre o território: a experiência de um diagnóstico comunitário participativo em uma UBSF de Rio
Grande-RS
Autores: Raysha Thereza Nery, FURG; Bárbara Coelho Nunes, FURG; Bianca Araujo Marandini Nunes, FURG; Egeu
Gomez Esteves, FURG; Thavane de Llano Leal, FURG
E-mail dos autores: raysha_nery@hotmail.com, biancamarandini@hotmail.com, egeu.esteves@gmail.com,
thavanellano@hotmail.com, barbara-coelho-nunes@hotmail.com

Resumo: "Introdução
A Residência Multiprofissional em Saúde da Família é uma modalidade de ensino de pós-graduação lato sensu
caracterizada pela formação em serviço, a partir da atuação de quatro profissionais residentes (duas enfermeiras, uma
educadora física e uma psicóloga) em uma Unidade Básica de Saúde da Família, com objetivo de participarem e
empenharem-se na criação e implementação de alternativas estratégicas inovadoras no campo da atenção e gestão
em saúde, imprescindíveis para as mudanças necessárias à consolidação do SUS.
Assim, este trabalho busca relatar a experiência de um diagnóstico comunitário participativo, realizado nos primeiros
quatro meses de inserção na UBSF e no território, pensando a importância de compreender o contexto social, político,
econômico e cultural da população, principalmente seus agenciamentos com as questões de saúde, para proporcionar
e aprimorar práticas condizentes com o desejo e a necessidade da comunidade.
Tivemos como objetivo do diagnóstico conhecer o contexto no qual a comunidade está inserida, identificando
aspectos ambientais, culturais e sociais envolvidos no processo saúde-doença do território; levantar dados
demográficos da população junto à equipe da unidade; identificar as instituições, as dinâmicas sociais e os espaços
comunitários no território; identificar quais são as principais queixas e demandas da comunidade e levantar os
serviços de saúde que a UBSF disponibiliza para a comunidade.

Metodologia
Utilizamos como referencial metodológico a pesquisa participante, que pretende falar de comunidades humanas
concretas e cotidianas e pressupõe que compreender uma realidade social envolve conhecer os processos inter-
determinantes e a dinâmica dessa realidade, sempre a partir da perspectiva dos próprios sujeitos sociais e suas
significações. Assim, essa metodologia pressupõe um compromisso político, ideológico e social com a práxis coletiva,
visando não somente o desenvolvimento de determinado aspecto, mas a transformação de toda a realidade social em
que esse aspecto se encontra (FALS-BORDA & RAHMAN, 2013).
Sendo assim, o presente diagnóstico foi composto por quatro momentos, o levantamento de dados, três oficinas e
três entre-momentos, denominados pontes, que consideramos espaços essenciais de problematização e construção
coletiva, oportunizando a reflexão do momento anterior e a elaboração das etapas seguintes.
Na etapa de levantamento de dados foi buscado dados demográficos, através de um questionário, junto às ACS. Após
os resultados, percebemos que esses dados não eram suficientes para compreender a realidade da comunidade em
sua complexidade relacional.
Realizamos, então, a oficina Um olhar sobre o mapa para refletir e discutir aspectos culturais, sociais e ambientais
produtores de saúde e adoecimento presentes na comunidade, buscando as percepções e significados das ACS sobre a
realidade local, através da utilização de um mapa produzido por elas.
Nessa ocasião, surgiram relatos históricos sobre o surgimento da comunidade, o que motivou a realização de uma
próxima oficina denominada Um olhar sobre a história, que buscou, através de relatos dos moradores mais antigos e
lideranças comunitárias, um resgate histórico sobre a constituição do bairro pelo olhar e vivência de cada participante,
que inclusive trouxeram fotos que ilustraram seus relatos.
Por fim, realizamos uma oficina devolutiva com o objetivo de proporcionar um espaço de reflexão sobre os resultados
e acolher as perspectivas e significações da equipe sobre os mesmos, por isso a denominamos Outro olhar sobre o
território.

90
Resultados
Gostaríamos aqui de pontuar as questões mais relevantes produzidas durante o diagnóstico, a começar pelos aspectos
sociais da comunidade que mais preocupam a equipe, como a crescente violência associada ao tráfico, prostituição,
vulnerabilidade de crianças e adolescentes, carência de cuidado familiar e a percepção de uma cultura individualista,
sobre os quais alegam não saber como atuar para resolvê-los.
Durante a oficina Um olhar sobre a história se colocou que a comunidade, em sua maior parte, foi formada da
realocação de famílias de outro bairro de forma autoritária e sem diálogo. Essas famílias foram colocadas em um
espaço sem o mínimo de estrutura, como saneamento básico, transporte, abastecimento de água, atenção a saúde e a
educação. Percebeu-se, então, uma forma de violência estatal aqui presente, que afeta o modo de vida dessa
comunidade e tem suas ramificações até os dias atuais.
Ademais, duas outras questões se referem às condições de trabalho da equipe e o estresse subsequente,
principalmente devido a extensa burocratização dos sistemas de informação do SUS e da falta de recursos físicos e
humanos para o atendimento à demanda, e a complexificação dessa demanda, ou seja, a dificuldade de resolução
desta devido à sua articulação com aspectos sociais, como violências, tráfico, uso de substâncias psicoativas.

Considerações Finais
Podemos afirmar que os momentos proporcionados por este diagnóstico foram imprescindíveis para conhecermos a
equipe e a comunidade, bem como para planejar ações a partir das necessidades apontadas durante o processo.
Principalmente pelo seu caráter participativo foi possível a escuta, o acolhimento e o exercício de um ethos
democrático. Acreditamos que estes últimos são ferramentas essenciais para a constante construção de um SUS com
equidade e participação social e para o fortalecimento da democracia."

91
Os papéis e fazeres profissionais no atendimento dos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial
Autores: Ana Carolina Becker Nisiide, UNIOESTE; Maria Isabel Formoso Cardoso e Silva Batista, UNIOESTE;
E-mail dos autores: acnisiide@gmail.com, miformoso@hotmail.com

Resumo: Esta pesquisa é um fragmento de uma dissertação de mestrado, que surge do desejo de refletir sobre a
relação contraditória de compartilhamento de responsabilidades entre a família e o Estado na tarefa de proteção do
sujeito em sofrimento psíquico. Buscou-se, neste estudo, discutir o protagonismo familiar, analisando as
responsabilidades familiares e as do Estado, lançando-se o olhar sobre a relação da família com a Política de Saúde
Mental. Para se compreender essa problemática, elegeu-se um CAPS do município de Toledo/PR para ser investigado e
um dos objetivos elencados pela pesquisa foi identificar a concepção dos familiares e funcionários sobre as funções do
CAPS na atenção aos usuários do serviço. A metodologia utilizada para responder a esse objetivo foi: a) a análise de
bibliografias já disponíveis e publicadas; b) a pesquisa documental para levantamento do perfil dos usuários; c) nove
observações dirigidas, sendo cinco observações do Grupo de Familiares que acontece uma vez por mês na instituição,
três observações esporádicas em outros momentos de rotina da instituição e uma observação da reunião da
Associação de Pacientes Familiares e Funcionários do CAPS; d) e, por fim, entrevista semiestruturada com seis famílias
do serviço e dois funcionários que atuam de forma mais direta com essas famílias. Essa metodologia de coleta de
dados forneceu os elementos necessários para o desvelar dessa realidade, elementos que foram analisados a partir
dos fundamentos da Reforma Psiquiátrica e da Política Nacional de Saúde Mental, trazendo como guia uma
perspectiva materialista e histórica para apreender criticamente o movimento dessa realidade. A partir dos dados
coletados, chama a atenção a forma como as famílias compreendem a função dos trabalhadores no CAPS pesquisado.
Com a reorganização da Política de Saúde Mental no Brasil, coloca-se um desafio para as equipes de saúde mental: a
reconstrução de papéis e fazeres profissionais. Esse trabalho de reconstruir as formas de pensar e de atuar com a
Política de Saúde Mental, pode transformar a equipe interdisciplinar em um espaço de arena de disputa de poderes e
de saberes ou de construção de algo novo e significativo para os usuários e para equipe, elaborado a partir de
diferentes olhares e práticas (ROSA; MELO, 2009). O que se observou no campo pesquisado e nos discursos das
famílias e trabalhadores foi que o saber médico psiquiátrico e a medicação ainda ocupam papel central no
atendimento do sujeito em sofrimento psíquico, que o diagnóstico, muitas vezes, carrega o peso de um rótulo,
determinando um lugar onde esse sujeito deve se colocar, imobilizando-o nesta situação, e que, em alguns momentos,
esses saberes colocados nos serviços de saúde mental chocam-se, sendo necessário o diálogo e a construção de um
caminho que ainda não está plenamente sedimentado. Além disso, observou-se um esvaziamento da participação dos
usuários nas atividades ofertadas pelo serviço, o que também foi citado por uma das funcionárias entrevistadas.
Conjectura-se, assim, se esse fato não está relacionado ao lugar que a medicação e a consulta ocupa no imaginário
desses usuários, dos familiares e da equipe, os quais, apesar de reconhecerem as atividades que o serviço oferta,
podem não estar valorizando as demais práticas psicossociais como fundamentais para o tratamento. Portanto, como
pontua uma das entrevistadas, trabalhar com saúde mental também implica em um desejo. Essa funcionária toca em
uma questão central: a necessidade do protagonismo da equipe, não apenas dos usuários e familiares, na luta para
que a Política de Saúde Mental avance e, para tanto, é necessária uma equipe articulada e fortalecida para que seja
possível construir no coletivo novas possibilidades para o atendimento em saúde mental que contemple a (re)inserção
familiar e social do sujeito em sofrimento psíquico.

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Saúde mental e atuação em rede (s): desafios e potencialidades no olhar de trabalhadores
Autores: Rosimár Alves Querino, UFTM; Ana Luiza Rosa Lucas, UFTM; Paulo Fernando Guarato de Morais, UFTM;
Pedro Henrique Misson Milhorim, UFTM; Rafael Silvério Borges, UFTM
E-mail dos autores: rosimarquerino@hotmail.com, analulucas9@hotmail.com, rosimar.querino@uftm.edu.br,
pedro_misson@hotmail.com, pfguarato@gmail.com

Resumo: Introdução: A estruturação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), preconizada em 2011, é um


desdobramento das lutas sociais e políticas para a ampliação da atenção à saúde mental de modo a atender as
pessoas com transtornos mentais de modo integral, equânime e universal. Representa o reconhecimento da
pluralidade das instituições de saúde mental e a proposta de seu fortalecimento graças à atuação em rede. Consoante
com as propostas do Movimento de Luta Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica, reconhece a importância de
ampliação do atendimento envolvendo os diversos níveis de serviços com ênfase no cuidado territorializado, integral e
com inserção comunitária. A RAPS, seus avanços e desafios em município mineiro foram o tema de pesquisa
desenvolvida com trabalhadores da saúde mental. Objetivos: O objetivo geral é compreender a avaliação da RAPS feita
pelos trabalhadores. Além disso, explora-se as potencialidades da técnica do grupo focal (GF) para fomentar o diálogo
entre os trabalhadores e incitá-los a pensar a rede. A abordagem proposta vincula-se à abordagem crítica das políticas
de saúde e à defesa dos direitos humanos. Neste sentido, cumpre problematizar o modo como os trabalhadores tem
sido envolvidos na avaliação da RAPS e as potencialidades de sua participação para ensejar a defesa intransigente de
direitos humanos neste momento de claro retrocesso político. Método: Trata-se de pesquisa desenvolvida com
triangulação de métodos. Na coleta de dados foram empregados: questionários autoaplicáveis para a descrição do
perfil socioeconômico e trajetória dos profissionais na RAPS e duas sessões de grupos focais. Participaram do estudo
dezesseis trabalhadores das diferentes instituições que compõem a RAPS: equipe de matriciamento em saúde mental,
consultório na rua (CR), centro de atenção psicossocial (CAPS) II, CAPS – AD (alcoolistas e dependentes químicos),
CAPSi (infantil), serviço de residência terapêutica (SRT) e hospital psiquiátrico. Resultados: O município estudado
iniciou a implantação dos serviços substitutivos no início da década de 1990. Até a primeira década dos anos 2000, os
serviços estavam circunscritos aos CAPS, urgências psiquiátricas em unidades de prontoatendimento e internação em
hospital psiquiátrico (criado na década de 1930). A partir de 2010, foram implantados novos dispositivos - CR,
matriciamento, leitos em hospital geral, habilitação de CAPS-AD III e SRT municipais – e diretoria especializada em
saúde mental. Os nós da RAPS, descritos com maestria pelos participantes do GF, mobilizaram a compreensão da luta
e da trajetória da reforma psiquiátrica no município. Dentre os desafios os participantes destacaram: urgência
psiquiátrica, ausência de dispositivos como centro de convivência, plano de carreira, educação permanente, frágil
articulação intersetorial, ausência de investimentos em infraestrutura e recursos para trabalho. As potências
destacadas foram a criação de diretoria especializada, diversidade de dispositivos e o fato de os atuais coordenadores
das instituições municipais serem trabalhadores com carreira na RAPS. Outra dimensão importante a ser destacada diz
respeito à técnica do GF que promoveu rica interação entre os trabalhadores e ensejou o (re) conhecimento dos
sujeitos, das instituições e resultou numa compreensão ampliada do sentido de somos rede, unidade na
multiplicidade. Conclusões: O estudo evidenciou os movimentos históricos constitutivos da RAPS, a persistência de
preconceitos e estigmas em relação às pessoas com transtornos mentais e a ocorrência de violação de direitos
humanos evidenciados na negação de acesso às instituições de saúde, agressões físicas, contenção física inadequadas
e cultura da porta giratória da internação em hospital psiquiátrico. A RAPS mostra-se potente no acolhimento dos
usuários, mas defronta-se cotidianamente com os desafios para o acesso aos direitos socioassistenciais e na
acessibilidade à rede SUS e não somente aos serviços especializados. O acesso aos direitos e a defesa do SUS e da
RAPS demandam mobilização coletiva. Neste sentido, urge investimentos para a articulação das redes, especialmente
as de saúde e assistência social, e ampla divulgação junto à comunidade das instituições, serviços prestados e formas
de acesso.

93
Uma análise crítica sobre a culpabilidade familiar nos Centros de Atenção Psicossocial
Autores: Angela Dall´Oglio, Prefeitura Municipal de Medianeira; Maria Isabel Formoso Cardoso e Silva Batista,
UNIOESTE
E-mail dos autores: angedalloglio@yahoo.com.br, miformoso@hotmail.com

Resumo: A Reforma Psiquiátrica Brasileira propôs uma mudança no modelo de atenção na assistência psiquiátrica,
fazendo surgir os serviços extra-hospitalares e, dentre eles, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os quais são
referência para o tratamento em Saúde Mental, atualmente. Assim, o rompimento com a lógica tradicional de atenção
centrada no hospital e na internação psiquiátrica permitiu uma nova forma de cuidado, de base comunitária, pautada
na reabilitação psicossocial. Nesse panorama, a família ganha um papel de destaque e os CAPS reforçam a importância
da participação da família, como necessária ao cuidado e ao tratamento do sujeito em sofrimento psíquico. A família,
tornou-se, assim, referência para o tratamento no campo da assistência psiquiátrica, protagonista no processo de
cuidado e o eixo central das políticas sociais relacionadas à Saúde Mental, sendo co-responsável pelo tratamento do
sujeito em sofrimento psíquico. A construção de estratégias visando a aproximação e a criação de laços sociais com a
família vem sendo incentivada pelo processo de desinstitucionalização, e os CAPS, componentes da rede de atenção
psicossocial, têm se configurado como espaços nos quais a família deveria receber o suporte e auxílio para o cuidado
do sujeito em sofrimento psíquico, tendo-se em vista que um dos objetivos principais do CAPS é a reinserção social do
sujeito em sofrimento psíquico e, para isso, a família torna-se fundamental. No entanto, nem sempre a família
consegue dar conta de ofertar um cuidado imposto a ela. Assim, pretende-se realizar uma discussão teórica sobre a
importância de se compreender a família como um espaço multideterminado, exposto às vulnerabilidades sociais e
econômicas que interferem em sua capacidade de cuidado e que, nem sempre, são levadas em conta pelos
profissionais que atuam dentro dos CAPS. As famílias estão permeadas por dificuldades materiais (dificuldades
econômicas, precarização do trabalho, carência de políticas sociais direcionadas a elas, dificuldade de acesso aos
direitos sociais, dentre outras) que obstam sua capacidade de exercer uma função protetiva. É importante que os
CAPS consigam identificar as origens das dificuldades familiares, levantar as possibilidades de mudanças e os recursos
necessários para que as famílias consigam melhorar sua qualidade de vida. Ou seja, é necessário delimitar as
características singulares das famílias atendidas, que permitam uma proximidade com a realidade social destas, e que
possibilitem uma análise das vulnerabilidades sociais a que estão expostas. Essa detecção é fundamental para a
equipe, principalmente frente à construção de estratégias, pois as condições objetivas e subjetivas das famílias
interferem em suas possibilidades de cuidado. As mudanças necessárias podem representar transformações tanto nos
padrões de relações internas da família, como dos padrões de relações com outras esferas da sociedade. Sendo assim,
torna-se necessário discernir as mudanças capazes de serem alcançadas nos atendimentos familiares, daquelas que
exigem o envolvimento em processos sociais mais amplos, que remetem a mudanças em nível estrutural. Para isso, é
necessário o investimento em recursos humanos nos CAPS, pois a equipe deve receber o devido preparo teórico,
metodológico e ético para realizar esse trabalho com as famílias. A intervenção profissional deve dar conta de ofertar
respostas que visem a transformação social e não apenas que ofertem resultados paliativos. Nesse sentido, no
trabalho com as famílias, em especial com aquelas em situação de pobreza, é necessária a construção de estratégias
visando fortalecê-las frente ao cuidado do sujeito em sofrimento psíquico, antes de culpá-la pela dificuldade em
ofertar um cuidado adequado ao sujeito em sofrimento psíquico. É importante levar em conta a sobrecarga familiar ao
cuidar de um sujeito em sofrimento psíquico, principalmente a sobrecarga relacionada à questão financeira, visto que
a maioria dos sujeitos em sofrimento psíquico não possui uma fonte de renda e seu cuidador, devido à dedicação
exclusiva que o cuidado exige, especialmente em casos de cronificação, não pode comprometer-se com uma atividade
sistemática de trabalho. Assim, é fundamental que a equipe apreenda criticamente o modo como o processo de
responsabilização familiar tem sido construído e imposto pelas políticas sociais às famílias, desonerando o Estado de
suas responsabilidades para com a população e, em particular, para com o sujeito em sofrimento psíquico. É essa
apreensão crítica que poderá favorecer e viabilizar ações também críticas que consigam ir além dos muros dos CAPS e
impulsionem mudanças concretas na atuação com as famílias.

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GT 05 | Adesões e resistências à mercantilização da educação: aspectos psicossociais e sócio-
institucionais

Coordenadores: Deivis Perez, UNESP | Eduardo Pinto e Silva, UFSCar | Evaldo Piolli, UNICAMP

O aprofundamento da crise econômica mundial e a reconfiguração do perfil e papel do Estado, no Brasil e no mundo,
implicam em mudanças profundas na esfera pública e nas políticas sociais. Objetiva-se, neste Grupo de Trabalho,
discutir, debater e examinar as mudanças ocorridas nas políticas educacionais no contexto de aprofundamento da
crise econômica mundial e de acentuada ingerência da lógica privatista nas instituições republicanas, de modo a
analisar a dialética de adesões e resistências à mercantilização da educação, considerando seus aspectos psicossociais
e sócio-institucionais.
Compreende-se que um processo de mercantilização no campo da Educação Básica e Superior públicas implica na
adoção dos princípios do gerencialismo e de práticas típicas do setor privado. Sob o discurso da eficácia, da eficiência e
do apelo à otimização dos recursos públicos e humanos engendra-se uma série de práticas que colocam em risco a
função social das instituições educacionais e da formação humana.
O processo de empresariamento da educação e de inscrição da lógica privatista nas políticas educacionais se fortalece
na medida em que se naturaliza e se legitima o discurso gerencialista e sua pretensa neutralidade e objetividade.
Desse modo, se produz adesões ao ideário ideológico que se apresenta como apolítico, racional e funcional. Mas tal
processo não ocorre sem contradições e contraposições.
Os atores do campo são incitados a cair nas redes de um poder disciplinar sedutor e persuasivo, mas o encanto se
desfaz diante de situações objetivas de precarização e intensificação do trabalho, afastamento da função crítica e
social das instituições educacionais e disseminação de uma panóplia de instrumentos de medidas do desempenho
laboral dos professores, diretores de escola, coordenadores, supervisores educacionais, pesquisadores, coordenadores
dos cursos de graduação e dos programas de pós-graduação, dentre outros. Escolas e universidades públicas são
submetidas aos mesmos instrumentos de avaliação quantitativistas e quantofrênicos que forjam a falsa noção de ser
possível gerenciar e promover, por intermédio de tais mecanismos, uma educação pública de qualidade. Esse rol de
instrumentos avaliadores cuja insignificância e divórcio com o trabalho real e substantivo são inevitáveis, se por um
lado provocam influências psicossociais e sócio-institucionais que forçosamente se adaptam aos seus ditames, por
outro lado engendram contraposições e resistências.
O fetiche da qualidade e as promessas do gerencialismo não se concretizam no cotidiano das instituições escolares e
universitárias e a percepção de sua falácia não é impedida pelos discursos que apregoam inovações, autonomia,
democracia, mas que materializam, na realidade concreta, uma série de retrocessos em termos de direitos sociais e do
trabalho e de agenciamento das instituições e do fundo público em prol dos interesses do capital e do setor privado.
As práticas sedutoras e fictícias são contrapostas por microrresistências cujas potencialidades devem ser analisadas
tanto em suas limitações face ao peso das mudanças macroestruturais como de suas possibilidades subversivas e
criadoras.
Os antagonismos e oposições de certa forma adormecidos em contextos de regulação de conflitos por parte do Estado
se reavivam e se recrudescem no contexto no qual o Estado assume a forma quase mercadoria e as políticas
gerencialistas se impõem de forma insana, exigindo metas e resultados que são impedidas pelas próprias condições
objetivas de trabalho e de contingenciamento de recursos. A inviabilidade dos preceitos neoliberais que fomentam e
formatam o gerencialismo e suas práticas não obscurecem nem cegam os atores que, no plano ontológico, são por
eles atingidos.
Os efeitos de subjetivação e psicossociais são um tanto contraditórios e não se reduzem na produção estanque de
tipos puros, adeptos ou resistentes, apoiadores ou críticos, do empresariamento e mercantilização da educação. As
mesclas de posições e reações e suas relações dialéticas produzem zonas cinzentas que somente a reflexão teórica e
prática da realidade sócio-institucional no campo educacional pode vir a clarificar.
A presente proposta se articula ao tema e objetivo geral do encontro, uma vez que defende práticas de
enfrentamentos dos tempos de exceção nos quais se insere o país e as políticas privatistas do Estado e de governos
(federal, estaduais e municipais) que adotam, progressivamente, o discurso do apolitismo e da prática gestora. Tão
somente o resgate de uma concepção democrática radical e da assunção da condição do ser social político, ativo e
histórico, presente na Psicologia Social, podem se contrapor à avalanche de retração de direitos e à violência do
processo de mercantilização de todas esferas da vida, e da educação em particular. É preciso explicitar e construir

95
formas de enfrentamento. Ensejar atores sociais a práticas que possibilitem a criação de novas formas de resistência
no cenário regressivo. E a Psicologia Social nos oferece possiblidades de debates e discussões nessa direção. Debates e
discussões que serão tão mais profícuos quanto melhor se articularem ao que se desenvolve, com tal intuito, na
sociedade civil, nos movimentos sociais e nos âmbitos próprios da área (prática profissional; pesquisa; ensino).
áàp opostaàseàa ti ulaàespe ifi a e teàaoàei oà Políti asàedu a io aisàeàl gi aàp i atista:à efle esàeàe f e ta e tos .à
Como exposto, pretende-seàp o o e à dis uss esàso eàoàge e ialis oàeàaà e a tilizaç oàdaàedu aç o ,à a liseà
doà otidia oà es ola à eà deà suasà elaç esà o à oà o te toà a osso ial ,à aà formação e o trabalho em educação nos
dife e tesà í eisà deà e si oà oà atualà o te toà deà e a tilizaç o ,à osà ata uesà à gest oà de o ti aà es ola à eà aà
fi a ei izaç oà doà e si o à eà asà p ti asà deà esist iaà eà íti aà à l gi aà p i atistaà aà Edu aç o ,à aspe tos estes
contemplados na ementa do referido eixo.
Pretende-se ensejar debates relativos à Educação Básica e Educação Superior. Compreende-se, porém, que se faz
necessário ressaltar alguns aspectos específicos da universidade pública no Brasil. Isto porque esta se constitui como
uma das pontas de lança da Reforma Gerencial do Estado e instituição privilegiada da correia de transmissão da lógica
privatista que assola a educação de modo geral. A pós-graduação e a área de Ciência & Tecnologia, em particular, são
fatores de fundamental relevância para a perpetuação dos interesses do capital e para estancar e driblar a sua crise. A
reprodução ampliada do capital necessita da apropriação do fundo público e, sob a mediação do trabalho do
professor-pesquisador desta área, se efetivam, consolidam e naturalizam as parcerias público-privadas, prototípicas
do empresariamento da Educação Básica. Faz-se necessário apontar para a comercialização e transferência de
tecnologia do setor público para o setor privado. E a total dependência do conhecimento tecnológico produzido na
universidade pública, com o fundo público, para a sobrevivência do setor empresarial em crise.
O processo de reconfiguração da identidade e da universidade é tão contraditório como os aspectos psicossociais
antes referidos na mercantilização da educação. As novas formas de acesso a jovens antes alijados da Educação
Superior e a ampliação recente de cursos e matrículas e de fortalecimento da pós-graduação são um fato. Mas há
retrocessos que intensificam outra dimensão, hegemônica, da reconfiguração da instituição universitária. As ditas
novas formas de gestão e de avaliação do trabalho, produção e ensino ensejam a consolidação do que se denomina
capitalismo acadêmico. As referidas práticas e valores gerencialistas adentram o espaço público e universitário e nele
se naturalizam. A ideologia gerencialista, fundamentada na perspectiva funcionalista e pragmática implica em inédita
mercantilização dos saberes universitários. Forjam professores e alunos a se adaptarem a uma insana busca por metas
e índices de produtividade como um fim em si mesmo. Impinge uma naturalização e adesão aos valores da eficácia e
eficiência, de forma a se distanciar do ideal de transformação social e da constituição do conhecimento como
elemento de reflexão e crítica da realidade social e da própria estrutura institucional universitária.
A adesão forjada ao produtivismo acadêmico e ao capitalismo acadêmico engendra movimentos de resistência e não
somente adesão, tal como já argumentamos em termos mais gerais de análise do campo educacional. As contradições
entre adesão e resistência se expressam tanto em professores como alunos. O movimento estudantil protagoniza
práticas e críticas ao capitalismo acadêmico e encontra respaldo e se fortalece com grupos de docentes que se opõem
à reconfiguração privatista e gerencialista da universidade pública e que analisam os processos de precarização e
intensificação do trabalho sob a égide do pragmatismo gerencialista e de sua quantofrenia (doença da medida).
Portanto, a presente proposta tem como base a critica ao projeto societário e de educação historicamente construído
no país e seus recrudescimentos na atualidade. Como procuramos explicitar, nos contrapomos à forja de adesões aos
princípios privatistas em detrimento de práticas críticas e emancipatórias. Propomos a construção de reflexões e
enfrentamentos às políticas educacionais neoliberais, naturalizadas e divorciadas dos interesses públicos e de cariz
mercantil.
Tendo como referência o acima exposto e as transformações operadas desde as últimas décadas no campo
educacional, no sentido de sua mercantilização e assunção da lógica privatista, elencamos algumas das possíveis
contribuições de trabalhos a serem indicados para compor a presente proposta de GT:
- Trabalhos que contemplem o diálogo entre Psicologia Social e políticas educacionais em diferentes níveis e
modalidades.
- Discussões sobre as contradições, adesões e resistências, de distintos atores institucionais, à assunção da lógica
privatista nas instituições escolares e universitárias.
- Pesquisas sobre processo de empresariamento e mercantilização das instituições educacionais públicas.
- Efeitos de subjetivação e aspectos psicossociais do desmonte do papel social e formativo das instituições
educacionais.

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- Significados, sentidos e conflitos das construções identitárias no campo educacional e nas atuais formas de
sociabilidade do/no trabalho docente.
- Processos de exclusão e relações de poder no campo educacional.
- Organizações e configurações sócio-institucionais alternativas ao modelo de gestão e organização do trabalho
docente.
- Críticas e contraposições aos discursos e práticas das estratégias quantofrênicas de gestão e de controle dos/as
trabalhadores/as.
- Reflexões sobre o papel do psicólogo social nas instituições educacionais.
- Dimensões ético-politicas do trabalho no campo educacional.
- Investigações e relatos de experiências sobre a formação e o trabalho de profissionais para o campo da educação
pública na perspectiva do enfrentamento à lógica privatista e gerencialista.

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A dialética como método e sua aplicação na mediação da transformação do trabalho de professores
Autores: Deivis Perez, UNESP; Luiz Carlos da Rocha, UNESP; Ruchelli Stanzani Ercolano, UNESP
E-mail dos autores: prof.deivisperez2@hotmail.com,lcrocha@assis.unesp.br,ruchelliercolano@hotmail.com

Resumo: A pesquisa ora apresentada foi dedicada, num primeiro movimento, ao exame da dialética como método
acadêmico-científico e de atuação da pessoa na sociedade, concebida como um instrumento rigoroso para a
compreensão da realidade em sua complexidade e capaz de ensejar a ação humana. Em seguida, identificamos e
procuramos patentear uma leitura de um dispositivo metodológico, a instrução ao sósia, que pode representar
atualizações contemporâneas e possibilidades de aplicação da dialética materialista enquanto enfoque que pode
garantir a apreensão da totalidade dos fenômenos e, principalmente, como estratégia de produção de saberes e
potencialização das movimentações e atividades de transformação da concretude por indivíduos em situação de
trabalho, considerando que a atividade laboral pode ser tomada como experiência humana privilegiada para fazer
emergir processos que permitem à pessoa desenvolver a si mesma e, simultaneamente, alterar o seu meio em
movimentações realizadas em articulação e acordo com os seus pares. Vale notar que procuramos desenvolver um
entendimento da instrução ao sósia em suas aplicações a uma categoria profissional particular, os professores. Isto
porque acreditamos que os docentes constituem uma categoria profissional que possui inegável centralidade no
contexto laboral contemporâneo, dada a sua proeminência sobre outras esferas ocupacionais, em face de a quase
totalidade dos profissionais da nossa sociedade terem sido submetidos, antes de assumirem as suas ocupações, a
processos educativos conduzidos por professores. Em face do exposto foi realizada uma revisão da literatura
especializada que apontou que no bojo do materialismo marxiano a dialética tem como centro a decifração dos
relacionamentos, desacordos e coincidências das partes do todo, as quais formam a unidade, de modo que não sejam
desconsideradas as partes ao se examinar o todo e nem que se ignore o todo ao se investigar cada parte de um objeto.
Esta unidade, o todo e as partes do objeto, é em si contraditória, entretanto, este caráter não denota a falha de
raciocínio, mas o princípio elementar do movimento característico da realidade e dos seres. Especificamente o
dispositivo nomeado instrução ao sósia emergiu no quadro deste estudo como um método indireto de acesso ao
psiquismo humano capaz de contribuir para que um trabalhador ou um coletivo de trabalhadores, mediado por um
analista ou pesquisador do trabalho, se torne capaz de (re)conhecer, examinar e, hipoteticamente, ampliar a sua
capacidade de agir sobre a sua atividade laboral, potencializando a reconfiguração ou transmutação do trabalho
conduzida pelo próprio indivíduo e por seus pares. Cumpre notar que a instrução ao sósia foi criada no âmbito da
Psicologia do Trabalho por Ivar Oddone e, nas últimas décadas, tem sido apropriada e desenvolvida no quadro teórico
da Clínica da Atividade, pela equipe do Laboratório de Psicologia do Trabalho do Conservatoire National de Arts e
Metiers de Paris (CNAM), que tem raízes epistemológicas na Psicologia Histórica-Cultural ou Psicologia Sócio Histórica
Cultural de Lev Semenovich Vigotski. A instrução ao sósia pode ser aplicada ao trabalho docente, conforme
defendemos, visando (re)conectar o professor à sua realidade e, numa perspectiva dialética materialista marxiana,
permitir à coletividade docente promover a socialização entre os pares de trabalho das estilizações pessoais, das formas
de agir individuais e da atividade grupal, para conservar a plasticidade, a fluidez e a liberdade do movimento humano
em situação ocupacional escolar, a fim de tornar o trabalho educativo e os processos de desenvolvimento individual e
da coletividade de professores objetos de reflexividade, produção de movimentações, transmutações e de
potencialização da vida, desde que exista acordo entre os trabalhadores.

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A política de precarização do Ensino Superior e a formação do Psicólogo
Autores: Daisy Niedziekcik, ABRAPSO Bauru-SP; Antonio Euzébios Filho, UNESP Bauru; Ariane Vieira de Souza, ABRAPSO
Bauru-SP; Ariela Cursino Lanfranchi, UNESP; Erika Frossard Teixeira, ABRAPSO Bauru-SP; Lucas Vieira Crepaldi, ABRAPSO
Bauru-SP; Marília Alves dos Santos, UNESP Bauru; Victor dos Santos Lourenço, USC
E-mail dos autores: daisyniedziekcik@gmail.com, arielalanfranchi@outlook.com, victorlourenco94@gmail.com,
souza_ariane@hotmail.com, lucasvcrepaldi@gmail.com, aeuzebios@hotmail.com, erika_frossard@hotmail.com,
mari_alves40@yahoo.com.br

Resumo: Esse trabalho é fruto do acúmulo de discussões promovidas entre estudantes de uma universidade pública e
privada, que compõe o núcleo da ABRAPSO de Bauru, e tem como objetivo promover o debate teórico acerca das
consequências negativas da precarização do ensino superior na formação crítica do psicólogo. Para tanto, buscamos
compreender a relação entre a precarização do ensino e a formação do psicólogo dentro do contexto neoliberal.
Atualmente evidencia-se um avanço de políticas neoliberais que favorecem a manutenção do capitalismo em nossa
sociedade. Tais políticas atuam de forma a precarizar o acesso público a direitos básicos, que funcionam por lógicas
privatistas sobre planos de acesso, o que também afeta o sistema educacional. Neste sentido, muito se deve pensar
sobre o papel da educação na sociedade, especificamente o ensino superior brasileiro, que sai do plano social e passa
então para o plano mercantil, o que Chauí (1999) define como universidade operacional, cuja lógica diz respeito a
produtividade e autogestão, de modo que a universidade reforça seu papel como uma organização que atua no
mercado; o que diverge dos objetivos de universidade enquanto instituição social, cuja referência para sua atuação é a
sociedade, com base na formação crítica, autônoma e transformadora.
Afetada por essa lógica neoliberal e voltada para a produção, as universidades têm sofrido um processo de
sucateamento, que de acordo com Chauí (1999) tem se manifestado pela flexibilização de currículos, programas e
atividades, desvalorização e sobrecarga do corpo docente, avaliação quantitativa do ensino e corte de verbas para a
infraestrutura. Esse processo de sucateamento se apresenta aos sujeitos ou consumidores, como a própria ideia de
organização privada sugere, de maneira atrativa, uma vez que o acesso ao ensino superior público foi expandido com a
implementação de programas como o REUNI, por exemplo. Entretanto Leda (2006) define essas estratégias como uma
massificação que se apresenta como uma política de democratização, quando, na verdade, não garante permanência
estudantil e qualidade de ensino.
O mesmo acontece nas universidades particulares, que também vem sendo afetadas por supostos programas de
inclusão, como o PROUNI, que na prática tem como objetivo ocupar vagas ociosas sem compromisso com a
permanência estudantil e, igualmente no que ocorre com as públicas, com a qualidade de ensino pautada por
indicadores quantitativos, com uma educação tecnicista voltada para o mercado, sem preocupação em formar cidadãos
críticos como anunciado nos projetos políticos pedagógicos. Desta maneira, indaga-se como a precarização pode afetar
a formação dos profissionais, sobretudo do psicólogo, tendo em vista que esse profissional possui um compromisso
social, político e ético. Neste sentido Martín-Baró (1996) propõe que o horizonte da psicologia deve ser a desalienação
dos sujeitos a partir da conscientização do saber crítico sobre si próprias e sobre sua realidade. A psicologia deve
compreender os sujeitos na sua totalidade, articulando essa singularidade ao contexto sócio histórico e cultural em que
estes estão inseridos, como defende Bock (1997).
Por conseguinte, é importante que a formação do psicólogo seja crítica, pois como esclarece Yamamoto (2012), toda a
ação profissional possui uma dimensão política, uma vez que está envolvido em relações sociais de poder, quer o
psicólogo seja ciente ou não dessa dimensão.Todavia, a universidade operacional vem na contramão dessa proposta de
uma prática contextualizada capaz de promover a transformação da realidade em que atua.
Esse fenômeno da mercantilização da educação em que as universidades são operacionais e voltadas para si própria,
não há espaço para uma formação crítica que dialogue com a realidade; não há espaço para uma apropriação dos
conteúdos em que os estudantes sejam protagonistas; não há espaço para uma criação coletiva e cooperativa, mas uma
criação individualizada e centralizada; não há espaço ou tempo para discussões que vão além do conteúdo
99
programático; não há um cuidado com o bem estar dos discentes e docentes que são atropelados pela alta
produtividade. Dentro dessa perspectiva, a formação do psicólogo fica deficitária uma vez que alienado da realidade em
que atua, o profissional reproduz ao invés de criar e transformar. Entretanto, para que o psicólogo cumpra com seu
objetivo político e social é fundamental que esteja comprometido com a sociedade, cultura e o tempo histórico em que
está inserido, promovendo a saúde e a qualidade de vida nos contextos em que atua.
Desta maneira, é preciso investir na formação de um profissional cidadão, bem como é fundamental que os agentes
educativos enfrentem a mercantilização e sucateamento do ensino superior com a mobilização e resistência, na luta
pela educação enquanto um direito fundamental do cidadão; destaca-se aqui o importante papel desempenhado pelos
movimentos sociais, sobretudo do movimento estudantil no confronto a ordem que alimenta a precarização do ensino e
na exigência de uma educação de qualidade, desde o acesso até o ensino, reivindicando que os direitos educacionais
sejam garantidos e ampliados, embora estes movimentos sofram constantes desafios e a retaliação dos agentes
neoliberais.

100
Além do observável: coanálise da atividade docente
Autores: Matheus José Cuzato Mancuso, UNESP; Deivis Perez, UNESP
E-mail dos autores: matheusmancuso@gmail.com,prof.deivisperez2@hotmail.com

Resumo: Autor: Matheus José Cuzato Mancuso. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/FCL-
Campus Assis). Departamento de Psicologia Social e Educacional. Assis-SP-Brasil. Coautor: Deivis Perez Bispo dos Santos.
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/FCL-Campus Assis). Departamento de Psicologia Social e
Educacional. Assis-SP-Brasil. Eixo temático: Políticas educacionais e lógica privatista: reflexões e enfrentamentos. Grupo
de Trabalho: Adesões e resistências à mercantilização da educação: aspectos psicossociais e sócio-institucionais.

Introdução
Esta pesquisa visa o exame das percepções de professoras da educação fundamental acerca da própria atividade
ocupacional. Ao se fazer a proposta de ir além do comportamento que se possa observar, é necessário sinalizar que se
pretendeu dar ênfase ao esforço explicativo das profissionais em relação à própria atividade. Dessa maneira, a temática
geral enunciada está sendo estudada por meio da coanálise com foco na investigação do trabalho de duas professoras
que atuam em atendimento a crianças que frequentam o ensino fundamental I.

Objetivos
Ao propor ir além do observável, por meio da reflexão acerca da atividade de trabalho, o que se pretendeu foi
identificar e analisar: a) os elementos concretos e semióticos constituintes do trabalho das professoras na perspectiva
das próprias profissionais; b) os principais aspectos potencializadores e dificultadores da atividade laboral docente; c) as
percepções pessoais e o sentido atribuído ao trabalho pelas educadoras, de forma a fazer emergir o real da atividade,
conforme a delimitação deste conceito elaborada por Yves Clot.

Metodologia
A definição da amostra se constituiu por 02 (duas) professoras, que atuam numa escola pública municipal do interior do
Estado de São Paulo, em atendimento a crianças que frequentam entre o 1º ao 5º ano da educação fundamental I. Os
processos de coleta, examinação e discussão dos dados da pesquisa estão sendo realizados considerando os aportes
teórico-metodológicos da Clínica da Atividade (CLOT, 2007; 2010), vertente da Psicologia Social do Trabalho que tem
suas raízes epistemológicas na Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski e nos estudos sobre o mundo do trabalho de
Wisner, Odonne, Le Guillant, Dejours e outros. Neste estudo foi adotado um dispositivo metodológico nomeado
autoconfrontação simples, que tem sua origem associada aos estudos produzidos na década de 1970 por Michael Von
Cranach, no âmbito da Etologia Cultural, e que na mesma década, foi apropriado por ergonomistas, como Theureau e
Spinky. A partir de meados dos anos 1990, este dispositivo foi apropriado e passou a ser aperfeiçoado no contexto da
Clínica da Atividade, por se caracterizar como uma ferramenta de intervenção e pesquisa, que permite, primeiramente,
a coanálise de um ofício pelos próprios trabalhadores mediados por um pesquisador e, num segundo movimento,
durante a dinâmica de transformação da laboralidade e do desenvolvimento dos trabalhadores, favorece a recolha das
informações que comporão a base de dados de uma investigação (CLOT, FERNÁNDEZ, 2007). Então, nesta investigação
está sendo estudado o tema trabalho das professoras, com uso de um dispositivo de coleta, coanálise e examinação dos
dados, a autoconfrontação simples, que se efetiva por meio da gravação em áudio e vídeo, com uma câmera
apropriada, da atividade laboral das docentes voluntárias do estudo, para posteriormente, por intermédio da exibição
de trechos do vídeo (autoconfrontação) e do diálogo entre o pesquisador e as trabalhadoras, provocar a coanálise do
trabalho (análise em conjunto). Portanto, já que à Psicologia cabe entender e atuar mediante o impacto produzido pelo
trabalho contemporâneo na saúde dos trabalhadores e contribuir de maneira expressiva sob diferentes formas de
atuação para auxiliar na promoção da saúde e prevenção de doenças provenientes da relação homem e trabalho
(SCHMIDT et al, 2010), e por este estudo valorizar o ponto de vista do profissional que está sendo pesquisado e seus
101
aspectos potencializadores e dificultadores, pode vir a contribuir para uma reflexão acerca das políticas educacionais,
promovendo maneiras de se pensar modos de enfrentamento à mercantilização iminente em nossa sociedade.

Resultados
Até o momento podemos sinalizar que o exame da teoria norteadora da investigação associada ao esforço de análise
dos dados coletados em campo, nos permitiu construir uma percepção preliminar sobre os aspectos ocupacionais
próprios do trabalho docente que vão além do comportamento observável dos profissionais, notados em sala de aula
ou nas tarefas de gabinete. Além disso, a realização das autoconfrontações, utilizadas para a coanálise da atividade das
professoras, pôde nos fornecer alguns indícios acerca dos aspectos que potencializam e/ou o que impedem/dificultam o
exercício da profissão docente, partindo da visão de quem está inserido no contexto e, também, as percepções pessoais
e o sentido atribuído ao trabalho pelas educadoras.

Conclusões
É relevante destacar que já se conseguiu explorar as dimensões concretas do trabalho, sinalizadas pelo trabalho
prescrito (sobre a tarefa que deve ser feita, que é prescrita em documentos produzidos pelas instituições, que dão
instruções, modos de emprego, programas, etc.), e o trabalho real, aquele que é concreto - no momento do registro das
imagens.

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Como me percebi um professor medíocre: reflexões e análises sobre a prática docente em ensino superior
Autores: Marcello Furst de Freitas Accetta, UNISUAM/UFRJ
E-mail dos autores: marcelloaccetta@yahoo.com.br

Resumo: A prática docente ser professor vem sendo construída como desejo e realidade desde o último ano de minha
graduação em psicologia em 2010. Sete anos se passaram e percebo que um problema que me colocava permanece
presente, mas repleto de novos elementos decorrentes da prática profissional desempenhada e desenvolvida: como, o
que é, e onde aprender a ser um bom professor? Longe de responder à essa questão, mas guiado por ela, trago como
diversos acontecimento - interpretados a partir de uma concepção foucaultiana onde interrogar a atualidade é
questioná-la como acontecimento na forma de uma problematização - na minha trajetória profissional podem ser
analisadas em direção à uma análise dos limites e possibilidades da prática docente em instituições de ensino superior.
O trabalho se orienta assim por uma análise de acontecimentos na relação com temas relacionados a formação, ensino,
políticas públicas tendo como base teórica de análise os pensamentos desenvolvidos por Michel Foucault, Félix Guattari
e Paulo Freire. Ao selecionar os acontecimentos para análise priorizou-se as narrativas vivenciais que correlacionavam
as demandas internas, passíveis de serem reconhecidas e comumente identificadas como oriundas do indivíduo, com as
demandas externas, quais os eventos ou solicitações que interpelavam o sujeito. Esses acontecimentos então
submetidos à uma análise crítica problematiza as possibilidades e os limites de exercício de uma prática docente. Essa
análise não se poderia ingenuamente limitar aos efeitos individuais produzidos no e pelo indivíduo em questão, sendo
necessária uma ampliação da discussão para a conjuntura política e econômica que determina os ideais sobre educação
vigentes no país. Partindo desse movimento de expansão do e de retorno ao indivíduo cartografou-se e estabeleceu-se
uma relação entre os efeitos micro e macropolíticos que permeiam a prática docente e as linhas de força que
atravessam o campo. Os resultados e análises desenvolvidas evidenciam uma clara relação e necessidade da discussão
sobre educação e a mercantilização da mesma, partes de uma crítica social aos modelos vigentes de formação e
produção científica em pós-graduação dissociadas ou distantes de uma reflexão docente. Percebe-se que ao se discutir
educação e pesquisa/ pós-graduação de maneiras dissociadas não permite uma reflexão ou formação docente
preparada e crítica para o ensino superior que lida diariamente com uma demanda crescente por preparação de uma
entidade nomeada mercado de trabalho e da precarização das relações profissionais e da infraestrutura material.
Demanda-se uma produção em série de profissionais e de conhecimento, massificando todos em um mundo guiado e
medido pela técnica. As formalidades, rotinas, burocracias e estrutura universitária pública e privada domesticam o
pesquisador/docente em direção a um comportamento mecanizado e irrefletido. Exigindo cada vez mais um nível de
especialização e dedicação que restringem os horizontes de possibilidade criativa os métodos de vigilância, avaliação e
medição produzem para além do controle uma desumanização das relações através do medo que produz a passividade
com a qual o profissional deve se submeter ao sistema para a ele pertencer. Conclui-se que para pensar em práticas
educativas promotoras de liberdade, voltadas para a responsabilidade social e política deve buscar sua solução não em
modelos e técnicas formativas ou de ensino, mas primeiramente na aceitação da sua realidade e na solução objetiva de
seus problemas. Para além de um pessimismo e de uma revolta contra o sistema que move e forma essa máquina da
educação em que o docente opera, devemos direcionar nossos esforços por uma retomada das relações de cuidado
propostas por Foucault. Que a mediocridade aparente seja não pela precarização e limitações disciplinares e
exploratórias, mensuradas por metodologias a desserviço de um processo educador libertário, mas sim através da
modéstia com que se opera nas nano e micropolíticas apesar delas.

103
Cursos preparatórios para vestibulares/Enem/concursos e a desigualdade no ensino
Autores: Jacqueline Danielle Pereira, UFSJ; Celso Francisco Tondin, UFSJ; Deruchette Danire Henriques Magalhães; UFSJ
E-mail dos autores: jacquelinedaniellepereira@hotmail.com,deruchettedhm3@gmail.com,ctondin@gmail.com

Resumo: Este trabalho aborda o surgimento e consolidação dos exames de acesso à Educação Superior e a carreiras
públicas e a consequente instituição de cursos preparatórios, em sua maioria pertencente a redes privadas, cujo caráter
propedêutico pretende compensar enunciadas defasagens que o Ensino Médio apresenta em relação às exigências
tanto dos processos seletivos (Enem e vestibulares) de acesso aos cursos de graduação quanto dos concursos para
acesso a carreiras públicas, de tal modo que os conhecidos cursinhos têm cada vez mais sido considerados como parte
dos anos escolares. Objetiva-se identificar o perfil dos estudantes que frequentam estes estabelecimentos de ensino,
conhecer as suas práticas pedagógicas e as condições em que se dá o processo de ensino-aprendizagem, procurando
analisar os efeitos delas na relação professor-aluno. A base teórica é a Psicologia Escolar Crítica, cujos fundamentos da
Psicologia sócio-histórica e da Pedagogia histórico-crítica nos ensinam que a educação deve ser tomada como
instrumento mediatizado de transformação social e do homem como sujeito histórico inserido dialeticamente na trama
social (Meira, 2003). Trata-se de um trabalho didático proposto pela disciplina de Psicologia Escolar e Educacional I do
Curso de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei desenvolvido em um curso particular preparatório para
vestibulares e concursos para carreira militar de uma cidade mineira. Como técnicas foram utilizadas: observações
participantes, com registro em diário de campo, realizadas nas salas de aula de duas turmas do noturno, uma
denominada Enem Intensivo Medicina e a outra voltada para o concurso de acesso ao Curso de Formação de Oficiais do
Corpo de Bombeiros; e aplicação de questionário, em meio eletrônico, aos 41 alunos destas turmas, contendo questões
sobre dados socioeconômicos deles e de suas famílias, escolhas profissionais e projetos de carreira. A partir de 31
respondentes, concluiu-se que há preponderância de adolescentes e jovens de nível socioeconômico médio e alto. Nas
observações, constatou-se que as práticas pedagógicas se caracterizam como transmissivas, nas quais ocorre
basicamente a exposição de conteúdos permeada por alguns momentos de interação dinâmica. O número de alunos em
sala aula, as condições ambientais do espaço físico escolar e os recursos didáticos são favoráveis ao ensino e à
aprendizagem. Em cada uma das turmas são ensinadas as matérias voltadas exclusivamente para as provas que
concernem a cada uma das escolhas: Medicina ou carreira de bombeiro militar. A interação entre professores e alunos
tem como foco os conteúdos a serem transmitidos e assimilados e há atenção e respeito mútuos. Mesmo que não se
tenha atentado para o fato de, no questionário, relacionar o nível socioeconômico com a turma frequentada no
estabelecimento de ensino, a observação indica que nele se reproduz uma divisão social, do seguinte modo: os de maior
poder aquisitivo participam da turma que se prepara para o Enem (Medicina) e os de menor poder aquisitivo da turma
que pretende a carreira de bombeiro. Estes dados indicam que a histórica elitização da educação é ratificada através do
acesso de segmentos populacionais de poder aquisitivo médio alto aos cursinhos, na medida em que esses alunos é que
estarão melhor preparados e obterão sucesso em processos seletivos para ingresso em cursos mais concorridos, como o
da Medicina, no caso dos alunos de maior poder aquisitivo (aqui denominado de segmento alto); e, em carreiras
militares, no caso dos alunos de menor poder aquisitivo (segmento médio). Essa divisão por si só já é classificatória e
discriminatória, mas ao se considerar os segmentos de baixa renda, constata-se que estes nem chegam a acessar
cursinhos privados, sendo geralmente excluídos do acesso às vagas que os segmentos médio e alto ocupam. Como
possibilidade de enfrentamento a esse processo de mercantilização da educação, opina-se pela discussão, numa
perspectiva ético-político inclusiva, acerca da relação entre o que é trabalhado no Ensino Médio nas escolas públicas
brasileiras e o que é cobrado nos exames de seleção para ingresso na Educação Superior, de modo que guardem mais
coerência entre si e aumentem as possibilidades de acesso a vagas na graduação para os setores historicamente
excluídos desse nível de ensino. Além disso, indica-se a implementação cada vez mais ampla de políticas
compensatórias, como a de cotas. Enfim, propõe-se, tal como Meira (2003), que a relação educação e sociedade seja
analisada no interior do processo de reprodução do capital, o que evidencia que a divisão entre as duas carreiras, no
cursinho em análise, explicita as contradições sociais e indica que a socialização do conhecimento historicamente
104
acumulado não é igualitária, contribuindo para o alargamento das injustiças e desigualdades no acesso à educação
escolar e aos resultados desse investimento nas futuras carreiras profissionais dos estudantes. A Psicologia Escolar
crítica, num contraponto, pode contribuir para que sujeitos desenvolvam consciência sobre os fenômenos e assumam
um papel ativo de transformação social no processo histórico.

105
Emancipação, Saúde e Resistência: processos grupais com professores na escola
Autores: Luciete Valota Fernandes, UFG-Regional Jataí
E-mail dos autores: lucietevalota@yahoo.com.br

Resumo: A literatura pertinente aponta que as organizações e as condições de trabalho docente são geradoras de
estresse, sofrimento, adoecimento e alienação. Essa ideia é também corroborada pela leitura dos índices de
afastamento de trabalho do professor da escola pública nos últimos anos, que tem indicado uma prevalência dos
transtornos mentais e emocionais. Por outro lado, os pesquisadores reiteram a importância do processo grupal para a
promoção de saúde psicológica do indivíduo, bem como ferramenta de reflexão sobre os determinantes sociais,
econômicos e ideológicos constitutivos do indivíduo. Este trabalho objetivou investigar se e como o processo grupal
pode ser um instrumento de resistência ao sofrimento, ao adoecimento e à alienação na relação com o trabalho
docente. Apresenta como referenciais teóricos basilares a psicologia histórico-cultural e a perspectiva histórico-dialética
dos grupos humanos, representada primordialmente pelos autores Silvia Lane, Martín-Baró e Arthur Petrovski. Uma
abordagem materialista e dialética de grupo busca explicá-lo em sua historicidade, movimento e síntese de
multideterminações sociais, logo, como processo grupal. O estudo abrange, como métodos investigatórios, uma
palestra interativa sobre a Saúde do Professor, entrevistas de esclarecimento e principalmente o processo grupal com
professores da rede estadual paulista. No percurso ontológico do grupo, os educadores primaram pela discussão e
reflexão de temas substanciais em torno da realidade singular-particular da escola e do cenário da educação pública do
estado e país, tendo como centralidade o trabalho docente em seus nexos essenciais com os processos de saúde, de
sofrimento psicossocial e de adoecimento. As categorias da dialética materialista de totalidade, contradição e mediação
balizaram o método aproximativo de captação do grupo como objeto real e concreto via mediação das abstrações
teóricas forjadas a partir das representações empíricas obtidas. As principais categorias psicossociais extraídas nesse
procedimento analítico e interpretativo foram a Atividade Grupal, a Afetividade Grupal e a Identidade Grupal. Estas
iluminaram a análise das situações singulares, cuja dinâmica resultou em um conjunto de sínteses teórico-empíricas
apreendidas nas complexas interconexões entre os professores e o grupo. A reflexão coletiva sobre os elementos
singulares e gerais da negatividade e da positividade do trabalho docente produzem contradições e avanços nas
consciências pedagógicas. As dimensões negativas predominantes baseiam-se no poder autocrático imediato e mediato
da administração escolar, na desvalorização financeira e social do magistério, na crescente precarização das condições
de trabalho, que impossibilitam a concretização plena da atividade educativa e o contato permanente com as
produções humano-genéricas. As dimensões positivas estão atreladas fundamentalmente às análises grupais acerca das
perspectivas tênues de objetivação de uma atividade de ensino potencialmente geradora de sentido pessoal, que
reavivam ideais de uma educação superadora da particularidade alienada e ensejam afetos positivos. O processo grupal
engendra a satisfação de múltiplas necessidades humanizadoras que se transformam em motivos estimuladores das
atividades individuais, quais sejam: motivos terapêuticos, motivos reveladores das dificuldades docentes, motivos de
aprendizagem, motivos do trabalho coletivo, motivos reflexivos do processo saúde-doença e motivos afetivo-
emocionais. A satisfação das necessidades humanizadoras, obliteradas no plano concreto da realidade escolar e social,
geram afetos positivos nos participantes. O grupo adquire uma nova qualidade na hierarquia motivacional da estrutura
da consciência/atividade de determinados professores, revelada pelas análises da discrepância entre as Aulas de
Trabalho Pedagógico Coletivo da escola e o grupo consolidado. Uma identidade coesa entendida como momento
importante para o desenvolvimento ulterior e superior de uma identidade menos institucionalizada e mais emancipada
foi detectada na produção grupal.

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Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV) de Santa Maria/RS: outro modelo de universidade é possível
Autores: Pamela Kenne, UFSM; Raquel Cadona de Souza, UFSM
E-mail dos autores: pamelakenne@hotmail.com,RAQUICADONA@HOTMAIL.COM

Resumo: O EIV é um projeto de extensão articulado por estudantes junto ao MST, que desenvolve o conhecimento a
partir da vivência na realidade de assentamentos rurais, do estudo teórico e da troca de saberes entre estudantes,
produtores/as rurais e os movimentos sociais do campo. O estágio relatado aqui é organizado na Universidade Federal
de Santa Maria, e ocorre em áreas de assentamentos da Reforma Agrária do Rio Grande do Sul. Trata-se de parte de um
projeto nacional de extensão que surgiu em 1989, na cidade de Dourados-MS, devido a discussões no movimento
estudantil focalizadas nos cursos das agrárias sobre a necessidade de ter outro modelo de ensino: crítico, dialético e
popular; com articulação com os movimentos sociais e trabalhadoras/es do campo; que apresentasse as contradições
sociais do sistema capitalista e ao mesmo tempo trabalhasse com o conhecimento de modelos de produção que a
universidade não abordava (como a agricultura familiar).
A relevância do projeto, além da experiência em si, está na reflexão e debate acerca do modelo de educação vigente e a
sua superação. Esse modelo de educação, consolidado a partir da Reforma Conservadora de 1968, implementou a
estrutura departamental, os créditos curriculares, o modelo de avaliação produtivista e normativos, contribuindo para
fragmentar e hierarquizar o conhecimento nas universidades, e afastá-lo da pertinência social da produção científica.
Neste último ponto, cabe enfatizar que a produção da pesquisa e da extensão ocorre hegemonicamente a partir do
financiamento de grandes empresas privadas. Em contrapartida, o financiamento público é insuficiente para garantir a
autonomia universitária de modo a efetivar a sua função social, e contribuir com o desenvolvimento da soberania
nacional e com distribuição justa das riquezas econômicas, culturais e científicas.
O estágio tem como objetivo aproximar a formação profissional da sua função crítica e social, a partir da compreensão
das contradições da realidade, principalmente a desigualdade social reproduzida dia após dia pelo atual modelo de
produção no que se refere ao setor agrário voltado à concentração de terras e ao agronegócio, que deixa homens e
mulheres sem terra de trabalho. Outros objetivos que o estágio cumpre é de proporcionar a experiência da formação
interdisciplinar, da participação de um processo em que o ensino, a pesquisa e a extensão são realmente indissociáveis,
e da experiência da extensão como parte do processo de aprendizagem, com potencial de desenvolvimento crítico e
verdadeiramente produtivo de conhecimento.
Os e as estudantes, de diversas áreas do conhecimento, reúnem-se em um espaço cedido por algum assentamento da
região centro do RS, e participam de espaços de formação por uma semana, com professores/as, integrantes de
movimentos sociais e trabalhadores/as, sobre a questão agrária, introdução a econômica e reflexão acerca da educação.
Esta prática permite que os problemas do campo - que vão além da falta de terra, mas perpassam por questões de
saúde, cultura e educação - sejam discutidos de forma interdisciplinar, e que o cenário da questão agrária seja
apresentado de forma integral, permitindo que cada estudante perceba o papel da sua profissão dentro de um todo e,
ao mesmo tempo, como um agente histórico capaz de intervir naquela realidade e transformá-la. Em um segundo
momento, os/as estudantes são direcionados a assentamentos por todo o estado, de forma articulada com o MST, e
durante uma semana vivenciam a realidade rural para perceber suas contradições, o modelo de produção local e outras
questões presentes no campo, como gênero, juventude, negritude, etc. No retorno ao local do início do estágio, as e os
estudantes finalizam-no com uma troca das percepções sobre o que vivenciaram em cada assentamento, e sobre o seu
papel enquanto estudante e futuro/a profissional.
Compreende-se a necessidade de reflexão sobre o papel da universidade na formação profissional e na produção
científica. Esta reflexão perpassa por temas como a terra e o modelo produtivo, principalmente quando as políticas de
ensino, pesquisa e extensão hegemônicas nas universidades são voltadas para o desenvolvimento do mercado, na
perspectiva lucrativa, e tem a meritocracia individualista como o principal norte de formação.
Por fim, a universidade pode gerar respostas sobre as dificuldades no campo, como a desvalorização da agricultura
familiar, o trabalho escravo, a recente Reforma Trabalhista Rural e a falta do direito básico da terra para viver e
107
trabalhar. A formação profissional deve abordar os temas necessários ao desenvolvimento do Sistema Único de Saúde,
universidades e escolas, assistência social, locais públicos de cultura e esporte, e políticas públicas necessárias no
território rural. Essas são questões que o EIV tem buscado desenvolver desde a sua construção.

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Mercantilização do Ensino Superior sob a perspectiva de professores de cursos de Graduação em Psicologia
Autores: Marcelo Alves dos Santos, Universidade Presbiteriana Mackenzie; Rilma Bento, PUC/SP
E-mail dos autores: marcelotadashi@yahoo.com.br,rilmabento@gmail.com

Resumo: Os programas e as ações do Ministério da Educação denotam uma busca frenética pela ampliação e
democratização de acesso ao Ensino Superior. Contudo, temos no decreto 2.306/1997 assinado pelo então presidente
da República Fernando Henrique Cardoso a descrição normativa sobre a distinção entre instituições de ensino não
lucrativas e empresas educacionais, sendo esta, em sua maioria a explicitação da mercantilização do ensino brasileiro,
disfarçada em democratização. Nesse sentido, é possível entender esta mercantilização, pois mesmo não havendo mais
a isenção de impostos para tais empresas educacionais, o governo federal lhes oferece uma forma de reduzirem custos,
por meio da adesão ao Programa Universidade para Todos (ProUni). A partir daí os governantes seguintes, Luiz Inácio
Lula da Silva e Dilma Rouseff mantiveram e ampliou o fortalecimento do empresariamento, a privatização e a
mercadorização da educação superior.
Com a elaboração de políticas educacionais, passa-se a instituir a criação de programas de assistência estudantil e
elaboração de instrumentais para mensuração da qualidade do ensino, com isso é possível sua regulação e supervisão.
Todavia, tendo também como objetivação política, ampliar o acesso à educação por meio da concessão de bolsas de
estudos em instituições privadas para alunos de baixa renda e do financiamento estudantil.
Outro ponto a ser destacado, mas que antecede ao decreto citado, estabelecido na lei máxima de nosso país, a
Constituição Federal de 1988, no artigo 207 é posto que as universidades gozam de autonomia didático-científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial. Além disso, deverão obedecer ao princípio da indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão. Com isso, cabe algumas reflexões sobre a financeirização e mercantilização do ensino
superior, considerando o tripé ensino, pesquisa e extensão como um dos princípios que rege o ensino superior.
Partindo da perspectiva atual de uma expansão do ensino superior, em que a realidade demonstra uma inclinação para
um ensino de massa sob a égide de ditame mercadológico, o que se pretende é investigar a percepção dos docentes e o
impacto nas concepções pedagógicas desses profissionais do ensino superior em relação a este contexto. A realidade
aponta para salas super lotadas, pouco investimento na formação tanto do aluno como deste professor com possíveis
reflexos no princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Nesse sentido, se justifica a preocupação com a educação superior e temos nos cursos de Psicologia uma preocupação
adicional, tendo em vista que tal profissional terá como parte exigida de sua atuação o compromisso com a
transformação político-social, mas também, com a promoção da cidadania e justiça-social. Além do que nos Projetos
Pedagógicos dos cursos de Psicologia há um conjunto amplo e articulado de habilidades, princípios e compromisso que
deverão compor está formação. A problematização que se estabelece neste trabalho está pautada na contradição entre
o que se apresenta como idealizado e o factível.
A metodologia consiste na coleta de informações obtidas em artigos científicos que dialogam com a temática e em
pesquisa exploratória com uma abordagem qualitativa, realizada com professores do ensino superior do curso de
Psicologia de uma instituição privada, administrada por uma empresa holding. A coleta dos dados será realizada por
meio de entrevistas semi estruturadas. Posteriormente as respostas serão analisadas com a finalidade de compreender
o problema elencado na pesquisa.

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O conhecimento da unidade afetivo-cognitiva como componente da mediação pedagógica: uma análise Histórico-
Cultural
Autores: Natana Boletini, UNESP-Assis
E-mail dos autores: natana.boletini@gmail.com

Resumo: Introdução
Este é um relato de pesquisa de iniciação científica que decorre da necessidade de compreender em que medida as
funções afetivas se inserem no processo de mediação docente e como se relacionam à importância historicamente
atribuída às funções cognitivas no cotidiano escolar. Pensar o sujeito por meio de uma concepção que integra os
processos afetivos e cognitivos é um desdobramento dos estudos que tem início no final do século XX e contrapõe o
paradigma científico-racional que elege a razão em detrimento da emoção - fruto de uma trajetória do pensamento
marcada pelo positivismo da ciência moderna e notadamente constitui os processos de subjetivação, revelando-se
ainda presente no contexto educacional. A Psicologia, sobretudo, a vertente Histórico-Cultural, em sua interface com a
Educação, tem se debruçado sobre a temática dos processos afetivos nas práticas escolares e, a partir de uma
concepção de totalidade psíquica considera a unidade afetivo-cognitiva como centro do processo de aprendizagem e
significação dos conhecimentos.
Esta pesquisa teve como objetivo identificar de que forma o tema da unidade entre os processos afetivos e cognitivos é
compreendido pelos professores do ciclo básico do Ensino Fundamental da Rede Pública, tendo em vista a relação
estabelecida por eles com os alunos e com o conhecimento escolar que propiciam, analisando, sobretudo, como tal
compreensão se revela, ou não, em sua mediação pedagógica.

Relação com o GT
A partir do macro contexto neoliberal, observa-se o esvaziamento da função social e política da escola enquanto política
pública frente ao caráter mercadológico e reduzido compromisso estatal, adotados pelo capitalismo avançado e sua
configuração produtivista. Recai sobre o funcionamento escolar uma demanda voltada à formação para o mercado de
trabalho, desprovida de conteúdo crítico e político, que converge com a lógica vigente.
Nesse sentido, se faz necessário resgatar a função social escolar e seu impacto na formação política e subjetiva do
indivíduo, adotando a reflexão e adesão a práticas focadas em uma nova perspectiva que contemple o sujeito na sua
integralidade, colocando-o como centro desse processo, e, ainda, possa lhe conferir emancipação e autonomia frente à
realidade social. Considerar o aluno como uma pessoa que integra, dialeticamente, funções cognitivas e funções
afetivas ao longo de seu desenvolvimento, pode conferir à mediação pedagógica a preocupação em estabelecer entre
sujeito e conhecimento uma relação que crie o interesse em direção ao conteúdo e, por outro lado, constitua sentido
(unidade de afeto e cognição) na apreensão deste. Quando os processos afetivos são desconsiderados, ou tratados
como um fator negativo à aprendizagem, o caráter potente da relação pedagógica pode ficar comprometido.
Assim, privilegiar a unidade afetivo-cognitiva como preceito pedagógico confere à educação a oportunidade de ensejar
vivências mais significativas com o conhecimento, podendo motivar o desejo de aprender e potencializar a relação com
as pessoas e a forma de o indivíduo se situar e expressar no mundo contrariando este paradigma racional ainda muito
arraigado, que privilegia a razão em detrimento da dimensão afetivo-emocional, retirando do indivíduo parte de sua
potência.

110
Teoria/Método
Foi adotada como perspectiva teórico-metodológica a vertente Histórico-Cultural da Psicologia, que tem se debruçado
sobre o tema da unidade afetivo-cognitiva e contribuído para pensar o desenvolvimento humano a partir de uma
concepção de sujeito que integra funções cognitivas e afetivas e inserido num contexto histórico, cultural e político.
Este é um estudo qualitativo e consistiu na entrevista de cinco professores dos diferentes anos do primeiro ciclo do
Ensino Fundamental, tendo como procedimento metodológico de interpretação das entrevistas e análise dos núcleos de
significação (AGUIAR & OZELLA, 2006; 2013).
Resultados e Conclusão
A pesquisa se encontra em fase final de coleta dos dados. Todas as entrevistas foram efetivadas e estão sendo
transcritas. Ao término desta etapa e a partir da leitura sistemática de cada uma das entrevistas, serão identificados os
pré-indicadores e indicadores para posterior organização em núcleos de significação, com base em temas que apareçam
longo de cada fala e que possuam carga emocional significativa, conforme a metodologia proposta por Aguiar e Ozella
(2006; 2013).
Frente ao atual processo de mercantilização da educação e esvaziamento de sua função social, valorizar práticas que
questionem o ideário coletivo fortemente estabelecido por ações que privilegiam a dimensão racional-cognitiva pode
ser uma das estratégias de enfrentamento da lógica mercadológica que precariza a vida humana, inclusive no sentido
afetivo. Uma educação orientada para o desenvolvimento integral do sujeito, comprometida com sua cidadania e
formação política, é capaz de produzir reflexões críticas da realidade e conferir ao indivíduo autonomia e ferramentas
de enfrentamento do contexto macrossocial. Explicar e compreender a unidade afetivo-cognitiva na educação, e o
consequente processo de subjetivação, revela-se como uma estratégia que pode auxiliar no entendimento do sujeito e
da relação que o mesmo mantém com o conhecimento de maneira integral, de modo a questionar a aceitação do
paradigma científico-racional que, ainda, prevalece orientando a constituição da subjetividade no contexto capitalista
moderno.

111
O processo de gerencialismo nas universidades públicas portuguesas e as formas de resistências dos docentes
Autores: Catharina Marinho Meirelles, UFF
E-mail dos autores: catme@uol.com.br

Resumo: A compreensão das reformas empreendidas na educação superior brasileira pressupõe a análise das
transformações em andamento no sistema capitalista mundial e suas decorrências nas formulações de políticas públicas
para a educação. Neste sentido, tendo em vista a primazia do capitalismo financeiro e o avanço das políticas neoliberais,
observa-se, como tendência internacional, a reconfiguração das universidades públicas a partir do paradigma privatista
(DALE, 1994; LIMA, 2006; 2012; 2013; MANCEBO, 2009; 2012; SILVA JR.; OLIVEIRA; MANCEBO, 2006). Tendo como
propósito discutir o contexto em que as reestruturações nas Instituições de Ensino Superior (IES) têm sido forjadas, este
trabalho relata elementos da pesquisa realizada nas universidades públicas portuguesas que, à guisa do que tem sido
preconizado por organismos supranacionais, vivenciam um franco processo de empresariamento da educação e reforço
do caráter gerencialista em seus processos decisórios (AMARAL; TEXEIRA; ROSA, 2008; LIMA, 2011). A partir do
diagnóstico sobre o sistema de ensino superior português e do conjunto de recomendações elaborados por peritos da
OCDE (2006) e com a perspectiva de aumentar a eficiência da gestão, reorganizar e racionalizar a rede de IES, de acordo
com os princípios da Nova Gestão Pública, o Parlamento português aprovou a Lei nº 62/2007, que consagrou o novo
Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES). Entre as principais transformações trazidas pelo RJIES, a
partir das orientações da OCDE, destacam- se: a nova configuração para os conselhos gestores das universidades
(Conselho Geral, Reitor e Conselho de Gestão), a constituição das fundações públicas de direito privado, a organização
racional da rede de estabelecimentos por meio de fusão, integração, cisão, extinção e transferência de instituições de
ensino superior, entre outros. Segundo Lima (2011), a legislação representou apenas uma fase de transição para
modalidades mais avançadas de empresarialização, pois a autonomia instrumental, que já vinha se mostrando incapaz
de contribuir para a democratização da gestão das instituições, assumiu um novo impulso com a aprovação do RJIES. O
modelo gerencialista foi se instalando nas universidades por meio da substituição de um projeto político por uma gestão
financeira, na qual cortes orçamentais significativos sitiaram a autonomia das instituições, por meio do reforço do poder
central entregando-as aos ditames do mercado, às medidas de racionalização e de downsizing. Por meio da pesquisa
com os acadêmicos portugueses foi possível perceber que o processo de gerencialismo das universidades trouxe
alterações profundas para estas instituições e são vivenciadas por seus protagonistas de formas diferenciadas, tendo,
inclusive, a aceitação, por parte de alguns destes sujeitos, da adoção dos modelos propostos. A pesquisa, que teve como
objetivo analisar as formas de resistências dos docentes do ensino superior português diante das reestruturações das
universidades públicas, foi realizada por meio da triangulação metodológica (MANION; COHEN, 1990) que incluiu os
seguintes procedimentos: Pesquisa Bibliográfica, Pesquisa Documental, Observação Participante e Entrevistas. Os
dados, levantados por meio de diversos instrumentos, forneceram elementos significativos sobre como os docentes
percebiam e resistiam aos processos de gerencialismo em suas instituições. A análise dos dados levantados demonstrou
que a assunção do paradigma gerencialista tem se dado de forma naturalizada, inclusive por parte dos protagonistas da
comunidade acadêmica que a ele já não se opõem, antes buscam alternativas para, a partir dele, construírem suas
carreiras. Diante das extremas restrições orçamentais e da forçada inclusão no cenário europeu de competição, parece
que a preocupação destes protagonistas não é mais a de reagir ou questionar tais transformações, mas sim de como
torná-las mais eficazes. Apesar da naturalização da retórica da inevitabilidade das mudanças impostas, ainda há os que
resistem e problematizam, por meio da participação em espaços formais (ainda que mitigados) de colegialidade, e
acabam por propulsionar algum tipo de reflexão sobre o processo. Via de regra, entretanto, o que se observa é a
assunção de tais modelos e reformas como sendo os únicos capazes de contribuir para o reposicionamento das IES
portuguesas no ranking internacional de universidades ou até, em alguns casos específicos, como uma forma de
sobrevivência destas universidades. Neste quadro de indústria do ensino superior, conforme Seixas (2003), o poder da
estrutura administrativa se sobrepõe ao poder tradicional da estrutura acadêmica, levando ao que Ball (1998) considera
como proletarização do trabalho docente. A pesquisa realizada em Portugal revelou características da subjetividade do
112
docente do ensino superior que, respeitando as diferenças históricas, geográficas, culturais, sociais e afetivas, não
destoam do que a literatura demonstra ser uma tendência dos docentes do ensino superior em nível global. Cabe
questionar se o que foi identificado em Portugal pode ser encontrado, em menor ou maior intensidade, em qualquer
outro país em que a hegemonia do capital, a expropriação da mais valia, a exacerbação das políticas neoliberais estejam
transformando em mercadoria tudo o que encontram pela frente. Os resultados podem ainda proporcionar a reflexão
sobre o potencial de enfrentamento dos docentes brasileiros frente ao avanço da velha direita e da ferocidade do
capitalismo no país.

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Reflexões acerca das propostas de formação de competências socioemocionais nas políticas educacionais brasileiras
Autores: Marcio Magalhaes da Silva, UNESP Araraquara
E-mail dos autores: marxcism@hotmail.com

Resumo: Desde 2011 o Instituto Ayrton Senna (IAS), em parceria com agências governamentais, não governamentais e
organismos multilaterais, tem realizado eventos e outras ações visando garantir a incorporação das chamadas
competências socioemocionais aos currículos e legislação educacional no Brasil. Como resultado dessas ações, em 2014
a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) lançou o Programa de Apoio à
Formação de Profissionais no Campo das Competências Socioemocionais e publicou um edital para selecionar dez
projetos de pesquisa-ação que se propusessem a criar estratégias para o desenvolvimento de competências
socioemocionais aliadas à formação de profissionais do magistério, bem como a melhoria da educação básica na rede
pública. Ainda em 2014 o Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro (CEE/RJ) determinou, por meio da sua
Deliberação 344/2014, que as escolas estaduais de ensino médio daquele Estado incorporassem aos seus currículos os
saberes socioemocionais que, juntamente com os cognitivos, são necessários para o exercício da cidadania, o sucesso na
escola, na família, no mundo do trabalho e nas práticas sociais atuais e da vida adulta. Neste ano, a reforma do ensino
médio (Lei 13.415/2017) estendeu às escolas de todo o Brasil a obrigatoriedade de incorporar as competências
socioemocionais, nesse nível de ensino, aos seus currículos. Além disso, também a versão mais recente da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) estabeleceu objetivos políticos, éticos e estéticos de formação para a educação infantil e o
ensino fundamental que remetem às competências socioemocionais, embora não faça menção explícita a esse conceito.
Diante desses fatos, entendeu-se necessário analisar o papel específico que a formação dessas competências vem
desempenhar na educação escolar e na sociedade de um modo geral, considerando-se o contexto atual de crise do
capitalismo, precarização da educação e desmonte das políticas públicas. Foram identificadas as competências
socioemocionais que se espera formar, as justificativas apresentadas, os referenciais teóricos e as recomendações
didático-metodológicas das propostas de formação de competências socioemocionais disponíveis, dentre as defendidas
pelo IAS e pelos organismos multilaterais e as selecionadas pela CAPES. Como justificativa, de maneira geral, parte-se do
princípio de que as escolas têm se preocupado exclusivamente com a formação intelectual de suas alunas e seus alunos,
visando produzir pontuações elevadas em medições individuais do quociente intelectual (QI) e avaliações padronizadas
de estudantes, escolas e sistemas educacionais inteiros, e se advoga em favor da necessidade de se oferecer uma
formação integral que desenvolva intencionalmente as competências socioemocionais. Como referenciais teóricos se
utiliza o modelo pentafatorial de personalidade, também conhecido como modelo dos cinco grandes fatores (CGF), Big
Five ou OCEAN (Openness, Consciousness,Extraversion, Amability, Neuroticism), os chamados pontos fortes de caráter e
virtudes descritos por Seligman e Peterson e as formulações teóricas da psicologia positiva. Dentre as recomendações
didático-metodológicas, destacam-se propostas de treinamento (coaching) que se aproximam da pedagogia das
competências e da pedagogia dos projetos. A análise proposta foi realizada com base nas formulações da psicologia
histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica, as quais permitiram denunciar a artificialidade da cisão que as
competências socioemocionais, também tratadas como não cognitivas, estabelece entre cognição e afeto (pensamento
e emoção ou sentimento), a serviço do esvaziamento da formação nas escolas públicas brasileiras e como estratégia da
burguesia para exercer o controle sobre emoções e sentimentos da classe trabalhadora e, ao mesmo tempo,
responsabilizar os indivíduos pela desigualdade social e por sua própria pobreza.

114
Resistências na formação acadêmica: relato sobre um grupo de apoio psicossocial à estudantes de Medicina
Autores: Amanda Pertile, UFSC; Marcela de Andrade Gomes, CESUSC; Rômulo Lubenow Delavy, UFSC
E-mail dos autores: amandafpertile@gmail.com,marceladeandradegomes@gmail.com,romulodelavy@gmail.com

Resumo: Diversos estudos apontam para uma estreita relação entre adoecimento psíquico e vida universitária,
especialmente, nos cursos de medicina por sua configuração pedagógica, histórica e simbólica bastante peculiar. Esta
configuração passou a ser questionada por um grupo de alun@s que se organizam em torno de um coletivo político que
busca fissurar a lógica capitalista e individualista que invade, cotidianamente, suas vidas universitárias.
Nesse sentido, o presente trabalho resulta da execução de um projeto de extensão que teve início em agosto de 2016,
quando o coletivo Humaniza Medicina procurou a Pró-Reitoria de Apoio Estudantil da Universidade Federal de Santa
Catarina (PRAE) demandando um apoio psicológico por vivenciarem, cotidianamente, diversas situações de violações,
estresse e desrespeitos nas relações alun@-alun@ e alun@-professor, geradoras de sofrimento psíquico. As demandas
giravam em torno de questões como: o estresse do cotidiano acadêmico, o volume de atividades, o nível de exigência
dos professores e alunos, situações de humilhação e autoritarismo por parte d@s professor@s, relações desrespeitosas
e violadoras por parte d@s colegas, uso abusivo de álcool e outras drogas, apatia, desânimo e depressão, tentativa de
suicídio, entre outras situações de sofrimento.
Diante deste cenário de vulnerabilidades subjetivas, a PRAE, juntamente com o grupo de pesquisa Psicologia, Políticas
Públicas e Direitos Humanos, sugeriram um grupo de apoio psicossocial a est@s estudantes, com o intuito de inscrever
um espaço de escuta e acolhimento destas situações, de modo com que @s alun@s conseguissem não apenas
expressar, mas também elaborar e ressignificar estas vivências.
Além de se configurar como um espaço onde afetos e experiências são trocadas e elaboradas, este grupo também
possui uma função politizadora na medida em que traz para os encontros temas e debates que permitam problematizar
e desnaturalizar as relações de opressão e assujeitamento inerentes aos avanços do neoliberalismo. Sendo assim,
partimos da ideia de que esse grupo possui uma função psicológica e política, na medida em que possibilita o encontro
com a alteridade e a produção de novos posicionamentos subjetivos e éticos, norteados pelos princípios que sustentam
uma formação crítica, humanizada e voltada às transformações sociais.
Desde então, o grupo tem se encontrado semanalmente durante estes 2 semestres, coordenado por três estudantes do
curso de Psicologia que recebem orientação semanal da professora coordenadora do projeto. A equipe optou pelo
dispositivo grupal enquanto ferramenta de trabalho, pois aposta na ideia de que o grupo fornece um lugar de apoio,
afeto, trocas, aprendizagens e identificações que podem potencializar o sujeito a construir estratégias de
enfrentamento frente às situações de vulnerabilidades, conseguindo criar novas formas de se relacionar consigo mesmo
e com o outro.
Além disso, o grupo tem ocupado um caráter político-pedagógico para @s estudantes, pois neste espaço emergem
muitas críticas relativas à própria formação acadêmica institucional. Em tom de denúncia, @s estudantes apontam que,
em grande medida, recebem uma formação eminentemente organicista, voltadas para a prática de consultório privado
e pouco contextualizada com as demandas sociais da realidade brasileira. Dessa forma, por meio destes encontros
grupais, temos elaborado atividades, oficinas e debates de modo a fazer resistência a este modelo privatista,
mercadológico e mercantilista que acaba por ferir integralmente a função social da educação universitária,
desumanizando a formação daquel@s que irão cuidar, futuramente, da saúde humana.
Em termos de resultados, notamos que est@s estudantes têm se percebido mais fortalecidos para lidar de forma mais
saudável com as diferentes situações de sofrimento vivenciadas no cotidiano universitário, contestando, mesmo fora do
grupo, diversas situações que expressem violências, autoritarismos e posicionamentos meritocráticos. Há relatos, ainda,
que expressam uma redução do nível de angústia e a criação de uma postura mais criativa e propositiva por parte de
alguns integrantes que frequentam o grupo desde seu início no ano passado. Alguns dispositivos coletivos têm se
formado no cotidiano também influenciados por reflexões e encontros possibilitados pelo desenvolvimento do grupo. É
possível destacar, ainda, que o fato de o grupo permanecer como projeto vigente e a demonstração de interesse por
115
continuar participando desta atividade, em meio a tantos compromissos que o curso de medicina impõe a estes alunos,
revela o quanto eles estão desejosos em continuar participando deste espaço, demonstrando os impactos positivos que
este grupo vem trazendo para suas vidas.
Por fim, apostamos que a inserção da apresentação deste relato de experiência neste Grupo de Trabalho seja profícua
pois trata-se de um trabalho que vem problematizar o atual afastamento das formações universitárias face às
desigualdades sociais, colocando em risco a função social da educação e da formação humana. Em uma tentativa de
fissurar a lógica hegemônica privatista, individualista e mercadológica que impera neste curso, este grupo tem operado
como um sujeito político que denuncia e desnaturaliza as hierarquias e interesses neoliberais presentes na formação em
Medicina.

116
Responsabilidade Social Universitária: mera exigência legal ou possibilidade de contraposição à lógica privatista?
Autores: Cristina Fioreze, UPF; Clenir Maria Moretto, UPF; Silvana Ribeiro, UPF
E-mail dos autores: cristinaf@upf.br,clenir@upf.br,silvanaribeiro@upf.br

Resumo: Esta comunicação tematiza a responsabilidade social universitária brasileira no contexto da mercantilização da
educação superior. Faz parte de uma pesquisa que objetiva identificar as potencialidades e limites existentes na
responsabilidade social universitária no atual contexto. A pesquisa, de caráter qualitativo, apoia-se em fontes
bibliográficas e documentais e utiliza-se da hermenêutica na análise dos dados. Ancora-se na teoria das capabilities
(SEN, 2010; NUSSBAUM, 2010), trabalhada por Walker e McLean (2013) a partir do conceito de public good
professionalism, o qual trata da contribuição das universidades para uma educação perpassada pelo bem público, o que
requer preparar os estudantes para fazer avançar a justiça social. Segundo Nussbaum, a formação de cidadãos aptos a
viver numa sociedade democrática requer o investimento em uma educação humanista, mais ampla que o ensino da
dimensão técnica e direcionado ao êxito no mercado de trabalho. Empregando este referencial no campo da
responsabilidade social universitária, essa pode ser entendida como relacionada à promoção de uma formação capaz de
desenvolver nos estudantes a capacidade de reflexão, criticidade e disposição para oferecer respostas à crise global e
fazer enfrentamentos às injustiças sócio-econômico-culturais. No Brasil, a responsabilidade social universitária passou a
ser exigida a partir de 2004, com a lei do Sinaes, o que, todavia, se deu em um cenário contraditório, pois marcado por
um galopante processo de expansão privada mercantil. Segundo a lógica privatista, que ganhou força no ensino superior
brasileiro a partir do final dos anos 1990, o ensino universitário entendido como um bem privado faz parte de um
regime de produção do conhecimento designado por Slaughter e Rhoades de capitalismo acadêmico (2004). Observa-se
que, para a lei do Sinaes (BRASIL, 2004) a responsabilidade social universitária é tudo aquilo que a universidade faz que
contribua na inclusão social, no desenvolvimento econômico e social, na defesa do meio ambiente, da memória cultural,
da produção artística e do patrimônio cultural (BRASIL, 2004). O Instrumento de Avaliação Institucional (INEP, 2014), por
sua vez, identifica a responsabilidade social em ações comunitárias voltadas à inclusão social, desenvolvimento
econômico, qualidade de vida e inovação social, contribuindo para uma sociedade justa e sustentável. Como resultados,
a pesquisa evidencia a fragilidade existente nestas normativas nacionais, pois a definição utilizada em ambos os
documentos não esclarece suficientemente a dimensão epistemológica do conceito, que é amplo e contraditório em si
mesmo, podendo-se, por exemplo, questionar: todo o desenvolvimento econômico guarda sintonia com uma
perspectiva socialmente responsável? Ainda, observam-se orientações distintas nos documentos quando os temas da
memória, produção artística e patrimônio sequer são mencionados no conceito do Instrumento de Avaliação, embora
presentes no Sinaes. Esta fragilidade conceitual-orientativa coloca-se como um risco num contexto de competição
mercantil entre as instituições, pois deixa espaço para que a responsabilidade social seja tomada superficialmente e
utilizada apenas como estratégia de marketing institucional. A pesquisa também evidencia em um olhar para as
concepções presentes nos documentos à luz da perspectiva teórica adotada, considerando o atual contexto da
educação superior o desafio de formar cidadãos que promovam desenvolvimento humano e social em um modelo
mercantilizado de educação, em que aumentam os índices de acesso, mas não se promove a qualificação desse acesso.
Como formar cidadãos que promovam justiça social em instituições que vendem a educação como mercadoria, que
produzem e sustentam a crise de legitimidade na formação democrática das instituições de ensino? Tais
questionamentos vinculam-se a um campo de tensões e contradições que coloca em lugares opostos a ciência, a
economia e o conhecimento, em relação ao desenvolvimento humano e social vinculado aos processos formativos e
emancipatórios. Perguntando-se sobre qual a responsabilidade da universidade, Derrida (1988, p. 42) apresenta
questionamentos que balizam este estudo, ao pontuar: onde estamos nós? E quem somos na Universidade em que
aparentemente estamos? O que representamos? Quem representamos? Somos responsáveis? Do quê e perante
quem?. Se existe uma responsabilidade universitária, ela começa pelo menos no instante em que se impõe a
necessidade de ouvir essas questões, de assumi-las e de responder a elas. Esse imperativo da resposta é a primeira
forma e o requisito mínimo de responsabilidade. Frente a essas questões, o estudo em curso nos permite refletir que a
117
existência de um marco legal é, sim, uma potencialidade em um contexto em que a educação superior ganha
proeminência como bem privado, já que representa, contraditoriamente, uma possibilidade de formação de cidadãos
comprometidos com o bem público, abrindo frestas para práticas contra-hegemônicas. Porém, os desafios residem nas
dificuldades concretas de se enfrentar a lógica privatista num cenário em que os sujeitos das universidades, tanto
públicas quanto privadas, são tomados pelo ethos do capitalismo acadêmico. Daí a conclusão de que o papel a ser
desempenhado pela responsabilidade social universitária também é uma questão de cunho eminentemente político,
pois condicionada pela capacidade mobilização e resistência daqueles identificados com a ideia de educação superior
como bem público.

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Sentidos e significados atribuídos ao trabalho docente de professores de uma escola técnica estadual de nível médio
(ETEC)
Autores: Danielle Freitas, UNESP
E-mail dos autores: freitas_dany@hotmail.com

Resumo: Esta pesquisa, que está em andamento, pretende investigar, num processo de coanálise, mediado pela
pesquisadora, as atividades docentes de dois professores, um licenciado e um bacharel e/ou tecnólogo, da Escola
Técnica Estadual (ETEC) Jacinto Ferreira de Sá, da cidade de Ourinhos-SP, instituição do Centro de Educação Tecnológica
Paula Souza (CEETEPS). O objetivo maior é identificar, examinar e compreender, de modo colaborativo, os sentidos e
significados atribuídos ao trabalho docente desses professores. Cabe aqui, salientar, inicialmente, a noção de sentido,
em sintonia com Vygotsky (1934/2000), compreendida como a interpretação de um signo, de uma situação ou de um
momento vivido, realizada por uma pessoa historicamente situada em seu contexto econômico, político e sociocultural.
De acordo com Perez e Oliveira (2015) o sentido tem a ver com as sensações, afetos e sentimentos mobilizados por uma
pessoa em relação a uma situação ou momento.
Quando falamos da construção identitária do trabalho docente no campo educacional, surgem algumas questões como:
Qual a formação que o professor possui para adentrar no campo da docência? Quais as responsabilidades atribuídas a
um professor? Quais são seus conflitos (internos e externos) no trabalho? Quais as razões da escolha dessa profissão?
Como o professor está utilizando seus saberes docentes? Qual a importância da formação específica em suas atividades
profissionais?
Tais questões subjetivas, comumente são negligenciadas diante da potência da rotina profissional dos professores, que
é envolvida por todo sistema ao qual estão inclusos, e tal sistema, considera superior os números, os dados, as
estatísticas e as constantes reformas no âmbito educacional, onde o professor vive em torno de avaliações
quantitativas. É exatamente através dessa perspectiva, que buscamos examinar a atividade dos docentes por
intermédio do estudo e discussão dos elementos concretos e semióticos constituintes do trabalho dos professores de
escolas técnicas de nível médio, sob o olhar dos próprios profissionais somados aos principais aspectos
potencializadores e dificultadores desta atividade laboral. De modo complementar, esperamos construir uma
compreensão e estabelecer nexos entre o trabalho docente e as percepções destes profissionais sobre os conflitos
(internos e externos) que vivenciam no espaço ocupacional, a sua formação para o exercício laboral e uma visão dos
sentidos/significados que atribuem a essa profissão.
Para isso, propomos que essa coanálise seja realizada por meio de um aporte da Clínica da Atividade denominado
autoconfrontação simples. Tal metodologia foi desenvolvida por Yves Clot e se baseia na produção de dados, através de
filmagens audiovisuais, de sequencias de trabalho realizadas pelos professores, para que posteriormente, haja uma
reflexão através de diálogos entre a pesquisadora e os voluntários num momento de observação dos vídeos.
A principal contribuição da Clínica da Atividade é compreender a abordagem do trabalho em profundidade, Yves Clot é
um filósofo e psicólogo francês que iniciou suas contribuições literárias por volta de 1998. Em parceria com
trabalhadores, escrevia artigos e analisava os acidentes de trabalho a partir da Clínica da Atividade. Sua maior finalidade
é a transformação da ação trabalho e os trabalhadores são os protagonistas que deixam de ser observados e passam a
ser observadores da própria atividade.
O método de confrontação do trabalhador com seu próprio trabalho, tende, ora a uma avaliação comportamental que
busca uma verdade para os problemas do trabalho, e ora uma avaliação subjetivista que busca uma interpretação
desses problemas no mundo psicológico inconsciente do sujeito. Entretanto, os dois modos se aproximam ao conceber
que as respostas dos problemas do trabalho residem no próprio trabalhador.
Esse dispositivo leva o trabalhador, ao se ver em atividade, a refletir sobre a imensa complexidade de realizar uma ação
aparentemente simples. É um instrumento executado por intermédio de uma sucessão de passos procedimentais, como
entrevistas semidiretivas, filmagem de sequências de atividades de trabalho dos docentes voluntários e análise dos

119
registros audiovisuais realizada pela pesquisadora e pelos profissionais participantes da pesquisa em situação de
entrevista na presença do vídeo anteriormente registrado.
É preciso investigar fatores que impulsionam e que coíbem o trabalho docente, considerar os saberes, a formação e o
trabalho em educação e a preparação acadêmica que os professores construíram em sua trajetória. Sabe-se que
trabalho docente tem o discente como objeto central, além da escola, do sistema e dos resultados. Diante disso, a
presente pesquisa busca observar o que não é dito pelos professores, para, a partir daí, dialogar com informações
recolhidas, e assim concluir a pretensão de apresentar medidas restaurativas que elucidem conflitos na tentativa de
contribuir para a compreensão e para a redução dos efeitos nocivos às condições funcionais dos professores.

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Território em Disputa: Uma Escola como Ponto de Resistência e Articulação da Rede de Garantia de Direitos
Autores: Israel Oliveira Fialho, UFF; Adriana Eiko Matsumoto, UFF; Alice Pereira Tavares, UFF; Rafael do Nascimento
Monteiro, UFF
E-mail dos autores: israelo.fialho@gmail.com,tavaresalice@id.uff.br,drieiko@hotmail.com,raflmiar@gmail.com

Resumo: O presente trabalho visa apresentar o estágio curricular em andamento realizado por estudantes de Psicologia
da UFF/Volta Redonda numa escola de Ensino Fundamental situada em um bairro periférico, num território conquistado
por trabalhadores numa luta pela habitação. Como na maioria das comunidades periféricas brasileiras, grande parte da
população ali residente é negra e sofre ético-politicamente com a negligência do Estado. A inserção no campo por uma
rede de estágio que visa repensar a atuação do psicólogo junto às produções de cidade, cultura e coletivos, permite
tomar a subjetividade como um campo de invenção das vivências em sua dimensão política.
Isso posto, o movimento de entrada e reconhecimento do território em questão nos forneceu estratégias e
posicionamentos que orientam nossa prática. Inicialmente as visitas institucionais, o acompanhamento de atividades
escolares, as entrevistas com representantes de todos os segmentos da escola, a participação em reuniões da rede de
políticas públicas do território em questão e por fim, as mais recentes intervenções grupais com alunos de diferentes
anos do Ensino Fundamental II - única modalidade de ensino da escola após o fim do Ensino de Jovens Adultos (EJA) -
tiveram a finalidade de levantar demandas para construção coletiva de projetos de intervenção. No decorrer desse
processo, deflagrou-se no território uma disputa entre dois grupos pelo controle do comércio tornado ilegal de
substâncias consideradas ilícitas, o que se desdobra em acirramentos de ações policiais e expressões cotidianas de
violências, as quais têm atravessado o cotidiano escolar. Compreendemos a exigência prática de uma intervenção
psicológica que potencialize a Escola como ponto de referência de garantia de direitos, articulada com outras
instituições públicas. Embora não haja uma rede consolidada de serviços de saúde, educação e assistência no território,
estabelecemos comunicação com tais serviços e o contato que há apontou-nos a prática em rede como promissora de
ser a primordial orientação na devida e possível realização destes trabalhos. Além disso, verificamos a necessidade de
intervir junto aos discentes e trabalhadores da escola, a fim de garantir processos de humanização e da produção de
relativa autonomia no lide com as situações vivenciadas.
Para dar conta desses objetivos, adotamos a processualidade grupal como método potencializador e mobilizador de
afetos e práticas transformadoras dos sujeitos da intervenção, uma vez que possibilita a superação das situações-limite
a partir da elaboração coletiva que os afirma como protagonistas de suas histórias. Por tal estratégia, os adolescentes
integrantes do grupo apresentaram a necessidade de discutir temas concernentes às suas vivências que inevitavelmente
reverberam na experiência escolar. Deste modo, a elaboração e execução de atividades abordou, num primeiro
momento, questões como o racismo que acomete grande parte da população residente nas áreas periféricas da cidade,
bem como a atuação violenta da Polícia no bairro. Posteriormente, realizaram-se ações de afirmação da identidade
negra pelas discussões em grupo e pela construção coletiva de uma oficina e de uma roda de capoeira na escola.
O momento atual do estágio é de execução e constante elaboração de projetos que possibilitem a construção desse
espaço de articulação da rede de políticas públicas no território, bem como ações internas na escola junto aos
trabalhadores da educação e estudantes.

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GT 06 | Ciência, ativismo e outras artes sobre gênero e sexualidade em tempos de golpe

Coordenadores: Benedito Medrado Dantas, UFPE | Maria Lucia Chaves Lima, UFPA | Viviane Melo de Mendonça,
UFSCar

Este Grupo de Trabalho visa acolher produções que articulem ou rompam com a categoria de gênero, e suas inerentes
estratégias de poder, assim como problematizem a normatização da sexualidade. Visa, assim, reunir relatos de
experiência de pesquisa ou outras formas de produção de conhecimento que focalizem ativismo e demais estratégias
de intervenções político-culturais e/ou artísticas no campo dos direitos sexuais e da promoção da equidade de gênero.
A partir do compartilhamento de experiências, ideias e questões, pretendemos criar um espaço de interlocução sobre
desafios e perspectivas atuais, considerando avanços, mas também (e especialmente) as ameaças e retrocessos
recentes neste campo no Brasil, em tempos de governo ilegítimo, e que impõem novos/outros desafios. Convidamos,
assim, pesquisadorxs e/ou ativistas que tenham interesse em compartilhar relatos de experiências e de estudos e
pesquisas sobre sexualidade, tendo por base matrizes disciplinares, interdisciplinares ou transdisciplinares diversas.
Serão privilegiados trabalhos que se proponham a discutir, problematizar e criticar as universalizações que
essencializam gênero e sexualidade nos corpos, sempre de forma binária e oposicional, tais como homem/mulher,
heterossexual/homossexual, cisgênero/transexual, normal/patológico etc. Do ponto de vista do conteúdo, esperamos
que os relatos apresentem estratégias e modos de fazer pesquisa e/ou intervenção, explorando menos os resultados
al a çadosà eà aisà asà difi uldades,à atalhosà eà alte ati asà aà o duç oà doà t a alhoà deà a po à e/ouà defi iç oà deà
objeto e estratégias de investigação e ação. Essas questões se coaduna ao tema geral do evento ao objetivar a criação
de modos de resistência aos crescentes ataques às discussões de gênero e sexualidade no contexto atual de
fragilidade democrática e obscurantismo conservador.
O presente GT insere-se na discussão do eixo "Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de
resistência", sendo uma forma de interrogar as performatividades de gênero e produzir deslocamentos nas
hegemonias sexuais.
SOBRE AS PROPOSTAS: Na submissão dos resumos, recomendamos que, além de objetivos, metodologia, conceitos
centrais e resultados (parciais ou finais), as propostas devem apresentar, necessariamente, respostas a quatro
questões? 1) Como o conceito de gênero (ou conceito correspondente) contribuiu para seu trabalho? 2) Que
obstáculos e ajustes foram vivenciados no desenvolvimento de seu trabalho? 3) Quais as principais contribuições que
seu trabalho pode oferecer ao campo de estudos sobre gênero e sexualidade? 4) Que questões foram suscitadas em
sua experiência que dialogam com o campo do ativismo em direitos sexuais?
áLGUN“àPONTO“àDEàPá‘TIDáàPá‘áà‘EFLEXÃO:àIa àHa ki g,àe àseuàli oà Co st uç oàso ialàdeà ue? ,àpu li adoàe à
2001, afirma que é necessário entender a historicidade (condições de possibilidades) de nossas práticas, inclusive
político-culturais, bem como as teorias que construímos sobre elas, situando-as como produtos, histórica e
socialmente localizados. Mas, embora possa parecer, essa não é uma tarefa simples. Requer questionar e abrir mão do
realismo, entendendo nossas vidas como construções que são tornadas acontecimento em função de processos
sociais que competem a nós, cientistas sociais e ativistas no campo dos direitos, estudar, produzindo formas diversas
de intervenção. Requer, ainda, romper com a dualidade mente-corpo que sustenta a mais poderosa metáfora de
nosso fazer em ciência em geral e em psicologia, de modo particular: a existência de uma mente (interior) que pensa o
mundo (exterior). Requer, finalmente, que rompamos com outras dicotomias secundárias, como a que cinde o mundo
social e natural, situando um na esfera das trocas simbólicas e o outro na objetividade da matéria. E, obviamente,
nesses processos de desfamiliarização daquilo que foi instituído como verdade a linguagem tem um lugar importante.
Nesse sentido, leituras que propõe uma ruptura radical com a noção tradicional de sujeito também nos têm sido
bastante úteis. Cabe aqui destaque ao uso do conceito de performatividade, originalmente proposto por John Austin,
aàpa ti àdeàe pa s oàdaà oç oàdeà atosàdeàfala ,àposte io e teàap op iadaàpo àauto asà o oàá e a ieàMolàeàJudithà
Butler. Como argumenta Miguel Vale de Almeida, com perfomatividade, Butler rompe com a noção tradicional de
sujeito e apostaà aà p oduç oàdeàsi ,à o st uídaà oàdis u soàeàpelosàatosà ueài duz/p oduz/pe fo a.à“egu doàesseà
autor, a produção de verdades (sobre si e sobre o mundo) é uma sequência de atos, na qual não existe um
pe fo e àouà ato àp ee iste teà ueàfazàosàatos ;àdaíàaài po t iaàdeàseàfaze àaàdisti ç oàe t eàpe fo a eà ueà
pressupõe a existência de um sujeito) e performatividade (não pressupõe um sujeito, antes o faz).
Assim, os trabalhos a serem apresentados neste Grupo de Trabalho podem gerar diálogos sobre substratos e
tecnologias de uma rede simbólica complexa que favorece a negociação (nem sempre consensual) de versões sobre a
realidade, que envolve falas, mas também a materialidade dos documentos, salas, equipamentos etc. que produzem
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efeitos performativos de verdade. Em nossas discussões, pretendemos focalizar os jogos de linguagem, de base
et i a,à o ie tadosà peloà pode ,à ouà seja,à e à jogosà deà e dade ,à ueà situa ,à a a te iza à eà i s e e à sujeitos,à
instituições e práticas, afirmando possibilidade e, concomitantemente, restringindo outras.
Oà o eitoà deà jogosà deà e dade ,à o oà e à des e eà Bi a à ,à foià dese ol idoà po à Fou aultà aà pa ti à doà
o eitoà deà jogosà deà li guage à p opostoà po à Wittge stei à ,à aà o aà I estigaç esà filos fi as .à Po ém,
segundo Birman, essa mudança não se configurou apenas como substituição de termos, por sinonímia. Essa mudança
marca um importante deslocamento que visa trazer para primeiro plano de análise a dimensão do poder (nexo crucial
para a constituição dos jogos de verdade) nas relações que produzem/ legitimam/ regulam verdades e modos de ser,
nas sociedades. Ou seja, para Foucault, a verdade não pré-existe à linguagem ou ao sujeito; ela se inscreve em
relações entre as pessoas, mediadas por jogos de poder e como efeito produz práticas de si, regulando possibilidades.
Nesteàse tido,àFou aultà à osà uestio a:à E à uaisàjogosàdeà e dade,àoàho e à[si ]àte à o diç esàdeàpe sa à
seu próprio ser, quando se percebe como louco, doente, ou como ser vivo, falante e laborioso? E como criminoso? E
at a sàdeà ueàjogosàdeà e dadeàeleàde eàseà e o he e à o oàho e à[si ]àdeàdesejo? à p.à .
Portanto, em sua obra, Foucault preocupa-se menos em definir o que é verdade, se ela existe, se é uma ficção,
intangível ou absoluta. Sua preocupação recai, sobretudo, no questionamento sobre os processos de legitimação de
egi esà deà e dade à eà osà efeitos/ o e es/se tidosà dessesà egi esà e à p o essosà deà su jeti aç o,à ouà seja,à aà
verdade se legitimaria e se inscreveria nos corpos dos indi íduosà pelaà ediaç oà deà p o essosà deà su jeti aç o à
(Birman, 2002).
U aà defi iç oà deà jogosà deà e dade à uitoà útilà aosà p op sitosà desseà GTà à ap ese tadaà po à Ca oli aà Masse aà eà
‘osa eà Cast oà :à Jogosà deà e dadeà s oà oà o ju toà deà eg asà deà p oduç oà deà verdade, o conjunto de
procedimentos que conduzem a um determinado resultado, que pode ser considerado – em função de seus princípios
e de suas regras de procedimento - como válido ou não. (...). É também lugar de enfrentamento social e debate
político, en a adoàso àaàfo aàdeà lutasàideol gi as ,à adaàladoàdefe de doàseuàpo toàdeà istaàse àseài te oga e à
so eà o oà adaà dis u so,à ladoà doà de ateà p.à .à áà pa ti à dessaà defi iç oà eà dasà o t i uiç esà deà Bi a à ,à
entendemos que a análise das práticas discursivas que se produzem uma oficina, em uma entrevista, na análise de um
do u e to,à de aà i idi à essesà jogos,à pelaà leitu aà íti aà eà i siste teà deà suasà odalidadesà deà fo aç o,à deà
cristalização e de enraizamento nas individualidades, para que possa enu ia àout osàjogosàdeà e dade à p.à .
Nasàap ese taç es,àesti ula e osàdis uss esà ueàpossa àdialoga à o àpossí eisà jogosàdeà e dade àso eàosà uaisàaà
pes uisaàe/ouài te e ç oàp ete deàafeta ,à e à o oàosà jogosàdeà e dade à ue,àdeàalgu à odo,àessasàexperiências,
produzem ou deslocam. Deste modo, pretendemos abrir um espaço de troca de experiências e conhecimentos,
favorecendo uma aproximação entre o fazer acadêmico e a atuação em defesa dos direitos humanos.

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Casamento juvenil: a constituição da feminilidade e as implicações de uma Psicologia Feminista
Autores: Camila Maria Figueiredo Malcher, UFPA; Carolina Messeder Zahluth, UFPA; Jéssica Modinne de Souza e Silva,
UFPA; Maria Lucia Chaves Lima, UFPA
E-mail dos autores: camila_malcher@hotmail.com, modinnejessica@gmail.com, marialuciacl@gmail.com,
carolzahluth@gmail.com

Resumo: Este trabalho traz como tema central o Casamento Juvenil. Conforme o censo de 2010 do IBGE, no Brasil, há
aproximadamente 90 mil meninas de 10 a 14 anos e quase meio milhão de adolescentes entre 15 e 17 anos casadas,
sendo consideravelmente menor o número em relação aos meninos nestas mesmas faixas etárias. O Brasil aparece
como o primeiro país na América Central e Latina com maior ocorrência de casamentos na infância e adolescência,
sendo São Luiz e Belém as cidades que se destacam pela maior incidência. Em Belém, lócus deste estudo, meninas se
enlaçam em uniões consensuais e de maneira informal com jovens homens, geralmente até 9 anos mais velhos do que
elas. Estes dados gerais se presentificam na pesquisa chamada Ela vai no meu Barco, ocorrida entre os anos de 2013 e
2015, realizada pela Promundo, organização não governamental cujo principal foco de atuação é na promoção de
igualdade de gênero, em parceria com a Plan (São Luís) e a Universidade Federal do Pará (Belém), despontando como
a primeira do gênero no Brasil. A pesquisa buscou analisar as atitudes e práticas envolvendo o casamento juvenil e sua
prevalência em comunidades de baixa renda nas capitais destes dois estados, Pará e Maranhão, assim como os fatores
de risco e de proteção, a fim de contribuir para programas e políticas públicas. Dentre as participantes, 54% possuía
até o nível fundamental incompleto, eram negras (84%) e se encontravam na faixa etária entre 15 a 17 anos (44%),
sendo identificado os principais fatores que levam ao casamento: a proteção da reputação da menina ou família
diante de uma gravidez, controle da sexualidade e segurança financeira. Esta pesquisa se tornou um disparador para
lançar atenção à temática, principalmente, porque foi constatado a quase inexistência de pesquisas que abordem
diretamente o tema no Brasil. Desse modo, o objetivo do presente trabalho é problematizar o casamento de meninas
adolescentes por meio de uma discussão teórica sobre suas causas e traçando algumas formas de resistências a essa
realidade. A noção de gênero aparece como uma categoria analítica, principalmente no que se refere à crítica a uma
construção de feminilidade hegemônica. Logo, O GT pretendido Ciência, ativismo e outras artes sobre gênero e
sexualidade em tempos de golpe, relaciona-se ao trabalho por ter como cerne o questionamento de uma suposta
hegemonia feminina, bem como da vulnerabilidade em que essas meninas vivem. Como resultados preliminares da
pesquisa, lançamos o olhar para os diversos dispositivos que atravessam a vida das meninas que "escolhem" o
casamento como forma de emancipação através de três categorias de análise: gênero, raça, classe, pois, para além das
opressões de gênero, classe e raça se entremeiam constituindo algo mais complexo. Podemos notar que o casamento
é imposto muito mais às mulheres do que aos homens: nas brincadeiras, nos contos de fadas, etc. e em outras
camadas sociais, de mulheres rurais e de periferias, por muitas vezes nem sequer existe outra possibilidade ou
perspectiva. Devemos pensar e problematizar o quanto isso às levam a recorrerem ao casamento para si e para suas
filhas. Essa crença em volta do casamento e do papel da mulher envolve a construção de uma feminilidade com um
discurso que acontece nas mídias, revistas, novelas, religiões, escolas, sendo repassado por gerações. Nesse contexto,
propomos uma análise sob a ótica da Psicologia Feminista por buscar valorizar as mulheres como objetos de estudo
legítimo que não necessita de comparação com o gênero masculino para se definir , a teoria e a prática psicológica é
explicitamente influenciada pelos objetivos políticos do movimento feminista, construindo um espaço de contestação
e desafios. A Psicologia Feminista é constituída de perspectiva política nas ciências, mostrando-se frutífera em
problematizar e solucionar questões de forma construtiva e através de abordagens inovadoras, agregando um ponto
de vista crítico sobre as relações de gênero e suas implicações na sociedade. No caso específico das meninas que
casam, a psicologia feminista propõe que nos debrucemos ao contexto social em que elas vivem, à construção de
feminilidade que permeia os destinos delas e a forma que encontram de fugir de situações que lhes tornem párias
(como engravidar antes de casar e situação financeira precária). É, portanto, necessário tornar as vivências dessas
meninas algo visível, implicando-nos sobre o que está sendo construído enquanto verdade e questionar se não
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participamos realmente da autoria dessas histórias; histórias essas que perpetuam a suposta condição inferior das
mulheres, relegando-as ao papel infinito de esposas, mães e donas de casa. Logo, uma Psicologia atenta às questões
sociais que envolvem o casamento juvenil, configurando-se como uma estratégia de enfrentamento à precarização da
vida das meninas envolvidas, assim como uma força de subversão à naturalização de uma feminilidade hegemônica.
Advoga-se, então, por uma Psicologia feminista, uma Psicologia em defesa dos direitos humanos.

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Componentes Ideológicos do Preconceito Contra Homossexuais
Autores: Alisson Juan Marcondes dos Santos, Anhanguera São José dos Campos
E-mail dos autores: alissonjuanms@hotmail.com

Resumo: O trabalho objetiva expor os componentes ideológicos do preconceito contra homossexuais, a partir do
levantamento das representações sociais da equipe técnica de uma instituição socioeducativa, sem fins lucrativos,
voltada para o atendimento de crianças e adolescentes, de 6 a 18 anos, em risco de vulnerabilidade social.
Essa equipe é formada por psicólogas, pedagogas, psicopedagogas e assistentes sociais, tendo como função realizar a
gestão de todas as inter-relações na sede e nas unidades da instituição, executando o trabalho de intervenção, de
prevenção e de remediar conflitos no que se refere às relações humanas.
No entanto, a princípio o objetivo era trabalhar com educadores e preconceito, mas em uma reunião com as
representantes da instituição foi elucidados os seguintes problemas: 1) primeiramente, não é um tema emergente na
instituição. 2) Depois, é um tema entendido como bastante complexo e que poderia atrair muitas controvérsias, 3)
além de não ser trabalhada a questão no que se refere aos valores pessoais dos membros pertencentes a instituição, e
por fim, 4) não se quer consequências negativas no corpo de educadores devido a incitação do tema.
Logo, com a recusa do projeto inicial com os educadores, aceitou-se a proposta de aplicar o projeto com a equipe
técnica, pois esta estaria mais apta a trabalhar o assunto, e então, foram feitos ajustes no projeto para atender ao
novo público.
Deste modo, foi elaborado um questionário semiestruturado e aplicado em entrevistas com 10 membros dessa
equipe, todos do sexo feminino, contemplando todas as formações acima citadas. Decorrente das entrevistas foi feito
um estudo teórico sobre o preconceito, as representações sociais, a ideologia, o heterossexismo e o conceito de
normalidade.
Assim, ao analisar as entrevistas fica evidente a presença do discruso heterossexista, que constrói e reconstrói as
relações sociais no ambiente educativo de forma desigual, ou seja, promove uma ideia de realidade, em que os
homossexuais são tidos como grupos minoritários, diferenciados, e, por conseguinte, legitima a heterossexualidade,
dada por natural pelas participantes, caracterizando assim, a função ideológica de promoção da realidade assimétrica
e a ocultação das contradições.
Nesse sentido os discursos ideológicos, ao apresentarem as características psicossociais que organizam os processos
afetivos e cognitivos, justificam as diferenças sociais existentes (BILLING, 1985, 1991; Van Dijk, 1988) e dão suporte
aos processos de exclusão social (CAMINO,1998) (PEREIRA, C.; TORRES, A.; ALMEIDA, S. 2003). Ou seja, a ideologia
como prática nas relações sociais da equipe técnica, expressa-se na representação social sobre o homossexual como
percepção de um grupo minoritário, também como se adentrasse num processo de naturalização social, em que se
submete aos padrões heteronormativos, e mais, como ideologia, o que afirma Chauí (2008), sustenta a ocultação das
contradições que se apresentam no material histórico das classes.
Então, precisa-se compreender como a ideologia compromete as relações, e isso acontece através do preconceito,
definido como atitude composta pelo componente afetivo, cognitivo e comportamental.
Na equipe, pode-se perceber que existe a inibição do componente comportamental do preconceito, no entanto, a
dimensão cognitiva e afetiva estão comprometidas com o heterossexismo que assevera a homossexualidade como
minoria, instaurando uma relação de poder entre as classes, sendo submetidos aos diferentes, os não legitimados o
padrão heteronormativo de comportamento.
A esses sujeitos, principalmente alunos, por proteção é incitado o padrão heteronormativo, justificando assim a
prática assimétrica em que as relações estão subjugadas. E por outra via, também é elucidado que a expressão de
comportamentos homoafetivos é negada, devido à ideia de respeito mútuo, como se o ser homossexual fosse aceito,
mas a expressão desse ser fosse desrespeito a uma entidade concebida, a priori, como natural, clara e socialmente
legitimada como o padrão de relação.

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Essa ideia de naturalidade/normalidade nas relações é um dos mecanismos da ideologia que integra a representação
social da equipe para ocultar a contradição existente na relação entre o ser e o expressar da sexualidade. Ou seja, se
existe uma forma normal, já concebida e legitimada, toda forma desviante de expressão deve ser subjugada a ela,
assim, o trabalho contribui para o desenvolvimento dos estudos da sexualidade e do gênero, pois expressa as
desigualdades que historicamente determinam a extensão das possibilidades vividas pelos indivíduos.
Desigualdades expressas principalmente na afirmação da contradição em que o indivíduo pode ser homossexual desde
que não se expresse de forma desrespeitosa, e minha experiência pessoal de fragmentação das possibilidades, entre
ser e expressão clarifica que essa quebra se refere a um rompimento dos direitos que envolvem a sexualidade, uma
vez que, se é entendido tal fenômeno a partir da história, ou seja, um total de determinações de certo período, de
certa estrutura política/econômica, de certa cultura, em determinada classe, e que no movimento histórico dialético
concretizam a realidade junto às possibilidades dos indivíduos na produção e compreensão de seus mundos.

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Concepções e práticas da Psicologia com pessoas LGBT: uma revisão de literatura
Autores: Daniele Trindade Mesquita, UFJF; Juliana Perucchi, UFJF
E-mail dos autores: dani.t.mesquita@gmail.com,jperucchi@gmail.com

Resumo: Atualmente, as principais organizações e documentos nacionais e internacionais vinculados à saúde não
consideram mais a homossexualidade como uma psicopatologia, e sim como uma das possibilidades de vivência
afetiva e sexual humanas. No que tange à identidade de gênero, os manuais de classificação de doença ainda
diagnosticam pessoas transgêneras com o que é denominado de disforia de gênero que, embora patologize as
vivências trans também possibilita o acesso aos recursos tecnológicos que auxiliam na transição corporal. No Brasil, o
Conselho Federal de Psicologia se posicionou sobre a atuação de psicólogos/as com a população LGBT, através de dois
documentos, a resolução 001 /99, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da
orientação sexual e a Nota técnica sobre processo transexualizador e demais formas de assistência às pessoas trans.
Ambos os documentos advogam uma atuação psicológica que não patologize a homossexualidade e transexualidade,
rompendo, inclusive com a concepção médica, que ainda concebe esta última como transtorno. Entretanto, diversos
psicólogos/as e políticos cristãos passaram a reivindicar o retorno da Psicologia a esta atuação de cura da
homossexualidade, através de projetos de lei que pretendem sustar a resolução 001/99. Dessa forma, é possível
constatar posturas antagônicas entre o Conselho e parte dos/as profissionais de Psicologia, suscitando dúvidas a
respeito de como têm sido conduzidas as atuações em relação à população LGBT. Este trabalho objetiva fazer um
levantamento bibliográfico acerca das concepções e práticas no âmbito da Psicologia sobre os temas da
homossexualidade e da transexualidade. O trabalho se insere nas discussões propostas pelo GT 06-Ciência, ativismo e
outras artes sobre gênero e sexualidade em tempos de golpe, à medida que as problematizações aqui propostas visam
discutir a ciência e prática psicológicas no que concerne às diversidades sexual e de gênero. O arcabouço teórico
metodológico utilizado pelas autoras se baseia no construcionismo social e nos estudos de sexualidade e gênero
concebidos a partir dos estudos pós-estruturalistas, feministas, queer e da Psicologia Social Crítica. A revisão de
literatura foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde , que é uma base de referência do Ministério da Saúde. Foram
utilizados na busca os seguintes descritores: homossexualidade e psicologia; transexualidade e psicologia. Os critérios
de inclusão para o refinamento e análise do material foram: textos publicados em língua portuguesa, que dissertassem
sobre as concepções e práticas de psicólogos no contexto brasileiro; delimitação do período de pesquisa a partir do
ano de 1999, quando foi publicada a resolução do Conselho até 2016. Após a etapa de refinamento, leitura de títulos e
resumos foram considerados como aptos para análise 9 textos. Em termos estatísticos, foram recuperados 9 artigos,
dos quais 7 estavam relacionados à homossexualidade e psicologia e 2 à transexualidade e psicologia. No que se refere
às concepções e práticas da Psicologia em relação à homossexualidade, em contraposição à resolução do Conselho,
os/as psicólogos/as, principalmente psicanalistas conceberam a homossexualidade como um desvio, uma perversão,
uma defesa contra a angústia ou um problema com a identidade de gênero. Em uma pesquisa realizada com
formandos de Psicologia sobre adoção de crianças por casais homoafetivos ideias como a de que pessoas
homossexuais influenciariam na orientação sexual das crianças, que haveria ausência de referencial materno/paterno
importante para o desenvolvimento delas e de que as mesmas poderiam desenvolver distúrbios psicológicos foram
recorrentes. Em contrapartida, alguns estudos mostraram também que psicólogos têm atuado a partir de uma
perspectiva despatologizante, mesmo utilizando referenciais teóricos mais antigos, como Freud, Reich e Lower. Assim,
estes profissionais recorrem a estudos mais recentes para embasar suas práticas e situam as teorias em seus
momentos histórico-culturais. No que se refere às relações entre Psicologia e transexualidade, os temas mais
recorrentes foram a saúde mental de pessoas travestis e transexuais, a clínica psicológica com pessoas que estavam
passando pelo processo transexualizador e a reivindicação pela despatologização das identidades trans por parte da
Psicologia. De modo geral constatou-se concepções antagônicas em relação à função da Psicologia na vida de pessoas
trans, pois se, por um lado existe um movimento de despatologização dessas identidades e a crítica aos modelos
normativos que enrijecem e classificam as vivências, em uma tentativa de adequação identitária aos modelos binários
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concebidos como saudáveis; por outro lado existe uma defesa pela profissão da necessidade de acompanhamento
psicológico de uma forma quase que compulsória, tornando lugar comum a associação entre vivência trans e
sofrimento mental. Assim, foi possível observar a escassez de estudos que versam sobre a atuação da Psicologia com
pessoas homossexuais e, principalmente transexuais. Embora o CFP tenha documentos específicos que orientam as
posturas dos/as profissionais de Psicologia com o público LGBT, as práticas e interpretações teóricas dos/as
profissionais ainda são permeadas por crenças religiosas e valores morais, que desqualificam as experiências LGBT e
tentam enquadrá-las em modelos hetero/cisnormativos. Assim, torna-se urgente discutir as práticas profissionais,
levando em consideração os aspectos éticos, científicos e socioculturais.

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Feminismo digital em tempos fascistas: problematizando o termo "feminazi"
Autores: Jéssica Modinne de Souza e Silva, UFPA; Maria Lucia Chaves Lima, UFPA
E-mail dos autores: modinnejessica@gmail.com,marialuciacl@gmail.com

Resumo: Este trabalho faz parte da pesquisa de mestrado Antifeminismo em rede: uma análise feminista do programa
de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará. O tema abordado engloba discursos antifeministas
na rede social Facebook e pergunta-se de que forma eles influenciam na imagem da mulher feminista em nossa
sociedade. Foi utilizado como disparador para a temática o termo feminazi que faz alusão comparativa entre o
movimento feminista e o nazismo em comentários e postagens de páginas antifeministas do Facebook. Apesar das
redes sociais representarem um espaço fértil para os avanços feminista, nelas também se proliferam ferozes ataques
cibernéticos à imagem da militante feminista. As redes sociais também podem se tornar ferramenta de violência e
opressão contra o movimento feminista, com distorções ideológicas e falsas informações que se propagam por meio
de homens e mulheres. Nesse cenário, o antifeminismo se faz perceber nas redes sociais e, enquanto discurso de ódio
contra o movimento feminista, multiplica-se no ciberespaço, principalmente em redes sociais que seguem o mesmo
estilo do Facebook, com comentários baseados em postagens ofensivas e que desvalorizam as mulheres que se
assumem feministas. É neste contexto este trabalho objetiva analisar o discurso antifeminista inserido no termo
feminazi como forma de problematizar a imagem equivocada que o movimento feminista assume em discursos
fascistas. Assim, este trabalho se relaciona diretamente com o GT Ciência, ativismo e outras artes sobre gênero e
sexualidade em tempos de golpe em virtude de abordar não apenas as questões de gênero que engendram padrões
performativos sobre as mulheres feministas através de uma feminilidade estanque e absoluta, mas também pela carga
militante em olhar para o outro que não se propõe a dialogar (ou o sujeito de práticas fascistas). Dessa forma, este
estudo contribui não apenas para desmistificações de mulheres feministas, mas também com denúncia às violências
que estas mulheres sofrem por escancararem seu estandarte político. Portanto, tal estudo se enquadra em uma
perspectiva ativista quando se propõe como pesquisa feminista devido aos atributos aqui citados. Para tanto, o
método proposto para analisar tais discursos é o de captura de comentários em postagens de uma página
antifeminista do Facebook. A análise das informações produzidas pela presente pesquisa contará com a abordagem
construcionista social como base, perspectiva que tem como pressuposto que os acontecimentos são construídos
sócio-historicamente, circulando sob inúmeras versões. Além disso, conta com a imersão do/a pesquisador/a em
produções de sentidos por meio de práticas discursivas. Sendo assim, este estudo pretende discutir as implicações
político-sociais inseridas em discursos antifeministas na internet fazendo-se valer de print screens de postagens de
uma página com esta temática. Como resultados preliminares, podemos apontar para a necessidade de diálogo entre
interlocutores com diferentes opiniões. As distorções em relação ao feminismo ocorrem na tentativa de construir
falsos ideais acerca de seus princípios e objetivos, buscando descaracterizar a figura feminista e deslegitimar sua
autenticidade. O termo feminazi, bastante cruel para ser relacionado à luta por direitos iguais, acaba por representar
este não-diálogo que dificulta a promoção de democracia para as mulheres no Brasil. Feminazi, como o próprio nome
já declara, é uma comparação grosseira e, portanto, ofensiva, entre feminismo e nazismo regime totalitário conhecido
pelo brutal assassinato de cerca de 11 milhões de pessoas na Europa. Este rótulo cai por terra se compararmos o
significado de feminismo e de nazismo: enquanto o primeiro se propõe a lutar por direitos iguais entre mulheres e
homens, servindo para o avanço social, o segundo propõe exatamente o oposto e não só quando a questão é sobre
relações de gênero, mas também de raça, religião, nacionalidade, saúde mental etc. A figura da feminazi é
caracterizada de extremismo e luta para a sobreposição das mulheres em relação aos homens, pauta inexistente nas
agendas feministas do mundo todo. O cerne do movimento feminista não é ditatorial, pois a visão de que mulheres e
homens deveriam ter direitos iguais perante as instituições sociais não é opressora. Ao contrário, é democrática.
Frequentemente usado para designar radicalismo, o termo procura deslegitimar a luta das mulheres feministas sem
um argumento consistente e que remeta a reformas necessárias aos feminismos. Conclui-se que diante deste
panorama, os discursos antifeministas em rede crescem mediante os avanços de discursos fascistas no Brasil,
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sobretudo após as manobras de tomada de poder da extrema direita política. As práticas reacionárias desta extrema
direita atacam as resistências de minorias na luta por direitos iguais no país. No caso do movimento feminista
brasileiro, vê-se um contra-ataque bastante incisivo à figura da militante feminista, a qual é reduzida a adjetivações
negativas, como suja, mal-amada, assassina etc. É necessário que esta figura de feminazi seja problematizada diante
das lutas legitimamente feministas; tal análise pode proporcionar não apenas a desmistificação da figura repulsiva que
discursos fascistas tentam vestir as militantes feministas, mas também serve de ponte que promove diálogo entre
interlocutores cujas posições políticas divergem.

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O Aborto Legal em um serviço de saúde na cidade de Belém/Pará: os discursos da maternidade compulsória e a
medicalização do corpo feminino
Autores: Larissa Sales Pereira, UFPA; Crissia Roberta Pontes Cruz, UNAMA
E-mail dos autores: larisales@gmail.com,crissiacruz@yahoo.com.br

Resumo: São vários os discursos que atravessam e buscam aprisionar as mulheres e seus corpos. Discursos como o da
maternidade compulsória e a medicalização do corpo feminino tem produzido efeitos problemáticos para as mulheres.
De acordo com Vieira (2002), o corpo feminino ao longo da história da humanidade tem sido considerado como
ameaçador para a estabilidade moral e social, sendo, portanto, um corpo que precisa ser regulado, controlado. Desta
forma, a medicina se apresenta como uma das disciplinas que regula esse corpo e estabelece o "melhor" e o
"adequado" para ele. Nesse contexto em que se busca regular o corpo feminino conduzindo-o a uma maternidade
obrigatória e idealizada, ele parece pertencer cada vez menos à mulher. Desta forma, a prática do aborto é condenada
e em países, como no Brasil, constitui-se como crime. É diante da proibição e criminalização do aborto que surge a
necessidade de um programa de aborto legal. De acordo com o Código Penal Brasileiro, a interrupção da gestação é
aceita legalmente em três casos: risco de morte para a mulher, gravidez decorrente de violência sexual e feto portador
de anencefalia. Essa regulamentação foi uma conquista de direitos que aconteceu mediante processo histórico e
engajamento dos movimentos sociais, especialmente movimento feminista. No contexto da presente pesquisa, vale
destacar a importância do movimento de mulheres paraenses para a implantação do Programa de Abortamento
Previsto em Lei, na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP), em 1998. É neste cenário que este trabalho
se constrói com o objetivo de problematizar a assistência à saúde da mulher no Programa de Abortamento Previsto
em Lei da FSCMP. O método utilizado é o de relato de experiência das autoras como psicólogas e residentes no
referido hospital. O relato tem como foco as atuações no Programa de Abortamento da instituição e os
questionamentos e inquietações suscitados por esta experiência. Este estudo tem como base a perspectiva
construcionista da Psicologia Social, para o qual o conhecimento é concebido como construído entre as pessoas e não
algo que elas possuem. Portanto, as concepções que circundam o aborto no serviço de referência para sua prática
legalizada não são naturais, verdades inquestionáveis; mas sim, estão atravessados por diferentes discursos e foram
construídos socialmente. O olhar das residentes diante dos diferentes serviços oferecidos pela FSCMP e especialmente
do programa de aborto legal foi um olhar de estranhamento, pois tanto a rotina hospitalar quanto o contato com um
programa como esse eram novidades. Este olhar ainda não naturalizado pelo cotidiano do hospital possibilitou, entre
outras coisas, reconhecer a importância de um serviço como este, único no Estado, assim como a necessidade de
fortalecê-lo, potencializá-lo para que ele seja de fato um serviço de saúde à mulher e não mais um espaço de
produção de violência contra a mulher. Tal preocupação é embasada nas várias dificuldades encontradas no serviço,
tais como o fato de não haver um espaço específico para o atendimento das mulheres que procuram o aborto legal,
pois elas dividem o espaço e ordem de atendimento com as pacientes da urgência e emergência obstétrica. Outro
ponto é que a assistência funciona de forma segregada, com uma equipe multiprofissional que não atua de maneira
interdisciplinar. É necessário ainda refletir sobre os discursos de ordem moral, religiosa, social que atravessam os
profissionais e a gestão do serviço. Além desses profissionais, muitas vezes, demonstrarem desconhecimento sobre
aspectos da Norma Técnica que regula o serviço exigindo da mulher, por exemplo, o Boletim de Ocorrência (que não é
necessário). Isto caracteriza, inclusive, uma relação de dominação em razão da figura do médico representar o saber-
poder, em virtude da sua posição (responsável pelo procedimento de interrupção). Dessa forma, ressalta-se a menção
que Louro (1995) faz sobre Foucault (1988) em se tratando da relação de poder que atua sobre o corpo ou sobre
coisas em uma correlação de violência: força, submete, quebra, ou seja, uma relação de poder irá se articular sobre
dois elementos, ambos indispensáveis para ser justamente uma relação de poder. Conforme menciona Deslandes
(2006), a influência de crenças e ideologias morais que atravessam os profissionais levam ao constrangimento da
usuária, posturas sexistas, e até a inabilidade do profissional em prestar assistência às mulheres que procuram o
aborto legal. Desse modo, conclui-se que a ideia de mulher enquanto ser cuja função é a reprodução ainda se mostra
132
presente mesmo em um serviço que possibilita um direito que resiste a essa lógica. É o corpo feminino medicalizado,
ainda submetido a discursos que distanciam o direito da mulher ao próprio corpo. Em tempos de golpe, em que
nossos direitos estão cotidianamente ameaçados, debater sobre o aborto, sobre os direitos sexuais e reprodutivos, o
direito das mulheres sobre seus corpos e defender uma conquista social como o referido programa é uma forma de
resistência e combate ao avanço de um poder conservador que assola o Brasil.

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Eu, mulher periférica, existo
Autores: Viviana Martins da Silva, Associação Vida Jovem
E-mail dos autores: viviana_martins2006@yahoo.com.br

Resumo: AUTO BIOGRAFIA


No beco em que nasci
No meio da favela
Um Orixá disse assim: vida, ensina pra ela
Desde então eu cresci
Fortaleci
Fui heroína
Fui cocaína
Vivo em auto-chacina
Tácita e violenta
Novos morros subo aos poucos, morte lenta
Enfrentei bens e maus e agora eu sou o caos
Caindo e levantando do chão
Cortando e cravando a mão
O mundo correndo e eu não
Eu, não
No beco em que nasci
No meio da favela
Um Orixá disse assim: vida, ensina pra ela
SORVETE DE PISTACHE
Eu queria te encontrar daqui uns anos. Eu queria te encontrar daqui uns anos, eu vestida de madame e você me
pedindo pão, eu queria, daqui uns anos, chegar perto de você e sentir um cheiro ruim na sua roupa mal passada
enquanto você elogiasse meu perfume. Eu queria te encontrar daqui uns anos, você sozinho e eu com um rapaz
bonito, 15, não, 20 anos mais novo que eu, daqueles de dar inveja, daqueles que o dinheiro sustenta, porque eu quero
ver você daqui uns anos e poder comprar tudo o que é feito pra vender. Mas eu quero ver você daqui uns anos e eu
ser feliz, feliz correndo na praia, sorrindo sem motivo, aceitando meu corpo, meus defeitos, minhas origens, aceitando
o que vem de bom, o que vem de ruim, aceitando. Quero ver você daqui uns anos e te encontrar na sarjeta, infeliz,
sujo e coitado, desgraçado e fudido. Eu quero ver você daqui uns anos e voar enquanto você está a pé, no maior
trânsito da sua vida. Mas eu quero ver você. Quero ver você daqui uns anos, você vazio e eu cheia de planos, eu quero
cuspir na sua cara, te olhar com indiferença, amaldiçoar os dias de sua existência, te pisar, te chutar, maltratar, fazer
você sentir meu gozo enquanto você não sente nada.
Eu quero ver você daqui uns anos, porque quando eu te encontrar daqui a pouco, sei que vai me dar um soco,
reclamar do cheiro de mofo das minhas mãos ardidas, vai me implantar tantas outras feridas, me gozar e dizer que se
deitou com perdidas, vai desejar que ninguém no mundo me ame, passar na minha cara que sou escrava de madame,
que eu preciso tomar banho de cloro e é por isso, meu amor, que eu oro, para que depois de tantos desenganos, eu
possa ver você daqui uns anos...
**Ambos os textos são de autoria de Viviana Martins
A apresentação será composta por uma encenação dramática, onde estará em cena uma mulher, de 28 anos,
moradora de uma das maiores periferias de São Paulo, formada em Psicologia, filha de nordestinos, de mãe e pai
trabalhadores e que sempre atuou na área da educação. Elaborada poéticamente a partir de inquietações e vivências
pessoais e relatos coletivos compostos por recortes de histórias e fatos que permeiam a vida da mulher periférica.
Para além da teoria da Psicologia (Social), a apresentação tratá inquietações e (in)conclusões vindas de experiências
134
com o outro, aliás, com a outra, meninas e mulheres que foram suas amigas, que foram suas alunas, meninas e
mulheres que caminham também no trajeto do ônibus até o trabalho, do trabalho até a casa, da casa até mais um dia,
sem muitas previsões utópicas ou políticas de mudança.
O que se propõe em cena são as misturas das mulheres que estão entre Silvia Plath, Clarisse Lispector e Carolina Maria
de Jesus, que orientaram meus trabalhos enquanto arte educadora, ainda mesmo que distante das nomenclaturas e
atuação acadêmica universitária, mas perto de algumas dezenas de crianças e adolescentes na expectativa de uma
educação libertadora, empoderadora e igualitária, perto das mulheres e de seus inúmeros papéis sociais que habitam
a minha comunidade e minha cidade, que cruzam o meu caminho.

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Notas sobre o dispositivo patriarcal e as técnicas do corpo: o vôo de fuga da mariposa
Autores: Franklin Costa Marques Filho, PUC-SP
E-mail dos autores: franklin.marques@gmail.com

Resumo: Virgínia Wolf (2014) anuncia o diagrama das técnicas do corpo de modo muito sutil. Uma mariposa faz um
voo diurno e a partir disso desponta uma irregularidade; uma fuga de padrão corporal que, consequentemente,
registra uma rota diferente na rotina das mariposas. Após essa despadronização, ela quebra a expectativa diante seu
corpo e passa a compor um diferente espaço para ser vista, sentida e vivida. Essa aventura que enuncia a volubilidade
entre a vida e a morte se encerra radicalmente pela finitude.
Essa alegoria remete à demonstração de Mauss (2003) a respeito dos homens aborígenes que morrem devido uma
infração às expectativas do clã que estão inseridos. O controle metafísico dos corpos é demonstrado em ambos, tal
como uma lembrança à força da finitude diante uma ação que escapa ao movimento naturalizado.
Flávio de Carvalho, tal como a mariposa, tal como os homens aborígenes, comete um ato fugidio, todavia ele não
morre. Absorto, ele continua a alçar outros voos, sua potência criadora é ativada e aumentada, de modo que é
possível inquirir sobre a diferença que seus gestos produzem que o permite fugir da iminência de morte. Ele resume:
[...] durante minha experiência sobre uma procissão de Corpus Christi em 1931, havia eu observado esse fenômeno: o
povo enfurecido e aos gritos de pega, lincha, e agitando velas, crucifixos, tocos de lenha, etc.... corria ao meu encalço.
Uma hora depois, refugiado numa leiteria e protegido por pelotão de guardas-civis armados, ouvia os cânticos que
recomeçavam ao longe e fui informado por um guarda-civil que o poder do cântico havia de novo congregado os
crentes. (CARVALHO, 2005, p. 59).
A expressão de dança/performance que se pretende desenvolver segue esta mesma linha, promover um gesto
resistência apresente uma forma de fuga ao que Mauss descreve enquanto técnica, a saber toda técnica propriamente
dita tem sua forma. Mas o mesmo vale para toda atitude do corpo. Cada sociedade tem seus hábitos próprios..
(MAUSS, 2003, p. 403). A partir de um corpo mascarado (aqui máscara tanto objeto, quanto persona grega),
irreconhecível, identificável em gestos; um corpo que se contorça, se remodele, que seja, ainda, desprovido de face
humana, livre de um tempo ou espaço pretende-se fazer uma resistência ao óbvio do que se espera do corpo.
Tomando como partida e contaminação as experiências de Flávio de Carvalho, bem como outras performances atuais,
a dança será o jogo cênico. A proposição é que através desse corpo, de imagens projetadas e de músicas, se crie
durante aproximadamente 15 minutos uma atmosfera possibilidades para que um corpo que não aguenta mais
(Lapoujade, 2011) ser ele mesmo possa escapar. Os movimentos serão improvisados, mesmo havendo ensaios prévios,
bem como propõe uma performance, pois desse modo é possível acompanhar e acolher o que se apresenta no
momento.
O intuito, então, é questionar o que pode ser e fazer um corpo, procurando, assim, pela força do imaginário que
permita que a imagem nesse caso o gesto, o corpo seja um ato de criação. Na construção de um corpo
anómalo/fronteiriço (Deleuze e Guatarri, 1997/Anzaldúa, 2016 resp.) pretende-se questionar essa capacidade de
criação, visando (trans)formar o ato da morte figurada no começo da experiência em potência de vida, em meio de
fuga. Tais debates podem ser feito via as discussões de corpo, gênero, modos de viver, territorialidades, cuidado de si,
entre tantos.

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GT 07 | Círculo de Bakhtin e a Psicologia Social: Ética, Pesquisa e Política

Coordenadores: Apoliana Regina Groff, ABRAPSO Florianópolis | Jardel Pelissari Machado, UFSC | Josiele Bené
Lahorgue, UFSC

O atual contexto político no Brasil tem exigido das/os psicólogas/os e pesquisadoras/es da Psicologia Social,
desafiadoras leituras acerca dessa complexa realidade, bem como ações coletivas de enfrentamento. As instituições,
que deveriam ter como princípio a democracia participativa e a justiça, tem produzido em nosso país um verdadeiro
Estado de exceção. Direitos sociais e políticos duramente conquistados pela população estão sendo retirados
cotidianamente por vias autoritárias e ancoradas em interesses privados neoliberais. Neste contexto, o compromisso
ético-político das/os psicólogas/os e pesquisadoras/es da Psicologia Social com a garantia de direitos, com a defesa
das políticas públicas e com a construção de uma sociedade sem desigualdades e violências, nos responsabiliza a
produzir enunciados fundamentados em uma leitura crítica e dialógica da realidade, pois como diria Bakhtin (2010b),
não há álibi para nossa existência. Com a certeza da responsabilidade ética da Psicologia Social na produção de
enunciados é que compreendemos a importante contribuição da Filosofia da Linguagem do Círculo de Bakhtin (FLCB)
na produção de estudos, pesquisas e práticas profissionais resistentes às perspectivas autoritárias, reacionárias e
conservadoras que tem ressurgido no contexto político brasileiro nos últimos anos, fortemente representadas pelos
pacotes de reformas (trabalhista, previdenciária, do ensino médio, etc) que entraram em debate ou até mesmo foram
aprovadas no Congresso Nacional desde abril de 2016.
Círculo de Bakhtin foi como se convencionou chamar um grupo de intelectuais russos - dentre os quais estão Mikhail
Bakhtin, Pavel Medvedev e Valentin Voloshinov - que produziu um trabalho filosófico e um conjunto de obras, entre os
anos de 1920 e 1970, em constante diálogo com a realidade social, científica, cultural e com suas transformações. O
Círculo reunia filósofos e estudiosos da linguagem, da música e da literatura. A FLCB produziu uma série de rupturas e
tensões com as principais correntes de sua época, em especial com o estruturalismo linguístico e literário, abrindo a
possibilidade também de reflexão no campo da pesquisa em Ciências Humanas. As obras do Círculo têm sido utilizadas
como referência por pesquisadoras e pesquisadores de diversas áreas como: literatura e outras artes, linguística,
educação e psicologia.
Dentre as rupturas e contribuições da FLCB às pesquisas e ao pensamento contemporâneo estão: a compreensão de
linguagem e da constituição da consciência a partir da teoria do signo ideológico; a centralidade da relação alteritária
eu-outro que implica a necessidade ética e estética do outro nos processos de produção de subjetividade; o
dialogismo como princípio filosófico e linguístico; o ato responsável como categoria para pensar a ética com base na
materialidade, nas relações concretas e situadas. Por isso, os esforços do Círculo de Bakhtin em problematizar o papel
da linguagem nos mais diversos acontecimentos da existência humana.
Para o Círculo de Bakhtin, a linguagem é um acontecimento social, histórico e dialógico. Ela é pensada, portanto, com
base na teoria do signo ideológico, sendo que o domínio dos signos e o domínio ideológico coincidem. Não há palavra
ou signo que não expresse uma dimensão avaliativa, ou seja, um posicionamento. O domínio dos signos, pois, coincide
com o domínio ideológico - todo signo carrega em si um índice de valor constituído por um determinado grupo
humano, num determinado lugar e tempo. Portanto, a linguagem não é um sistema de códigos neutros, como
caracterizados pelas perspectivas formalistas e estruturalistas; trata-se de uma arena política e não de um sistema
abstrato. A linguagem constitui a realidade material concreta, as relações em suas múltiplas dimensões e, deste modo,
o próprio mundo imanente. Nossas relações, com os outros e com o mundo, se dão sempre mediadas pelos signos, a
partir de uma semiotização valorativa da realidade. Essa semiotização constitui grandes complexos valorativos com os
quais diferentes grupamentos humanos dizem e constituem o mundo; esses complexos são denominados na FLCB
como vozes sociais. Todo enunciado (unidade real da comunicação), portanto, está inserido e posicionado
axiologicamente numa grande e contínua trama constituída pelos diálogos entre essas vozes sociais, entre esses
índices de valores - sejam enunciados cotidianos (conversas com familiares, conhecidos ou não; diálogos em redes
sociais; etc) ou em enunciados formais (legislação; textos acadêmicos e científicos; textos midiáticos, etc).
As vozes sociais estão em constante tensão, em constante jogo de forças. Nessas relações de poder e força, algumas
vozes ocupam posições centrais, enquanto outras constituem-se como resistências a esses movimentos de
centralização. Todo discurso, seja ele midiático, cotidiano ou científico, sempre responde a enunciados anteriores e
suscita novas respostas, isto é, novos posicionamentos em uma realidade que é ao mesmo tempo sustentada por uma
materialidade já dada (não se produzem novos signos e valores do nada, ou de uma consciência individual), mas que é
infinitamente móvel, em constante reconstrução, dado o caráter situado e irrepetível de todo ato. Um enunciado, ao
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resgatar e reproduzir uma materialidade, um conjunto de valores já dados, também cria novas realidades e
possibilidades de significação (pela irrepetibilidade, o caráter situado do ato), mantendo-se assim o constante devir do
u i e soà se i ti o.à ássi ,à oà h à u aà pala a que seja a primeira ou a última, e não há limites para o contexto
dial gi oà esteàseàpe deà u àpassadoàili itadoàeà u àfutu oàili itado à Bakhti ,à a,àp.à -414). Nesse contexto
dialógico, em constante produção de respostas e de novas contrapalavras, algumas vozes sociais, buscam impor-se às
demais, a constituírem-se como únicas e moralmente verdadeiras, utilizando para isso de recursos autoritários e de
silenciamento, tendo como efeito de sentido a monologia como uma tentativa de apagamento do outro. Esse
constante e incessante fluxo de tensão e força constitui o dialogismo, categoria central no conjunto filosófico
produzido pelo Círculo de Bakhtin. O dialogismo se apresenta como importante contribuição para analisarmos ou
refletirmos sobre as diversas vozes sociais que constituem as tensões do atual cenário brasileiro. Exemplo dessa
disputa nas relações de força são os contextos políticos brasileiros que se tornaram claros no pós eleições
presidenciais de 2014. Além dessa tensão, evidenciou-se também que a luta por discursos é sempre desigual em um
país cujos meios de comunicação de massa, comandados por grandes corporações e empresários, não permite a
multivocalidade, o enunciar de diversos posicionamentos, mas de apenas um, silenciando oposições e formas outras
de ler e compreender a realidade, enfim, inviabilizando o pensamento crítico.
O agir no mundo, portanto, é sempre um agir posicionado nessa imensa trama de ideias e forças. A ética, pois, não é
um conjunto abstrato de valores, mas sim situada e sustentada na materialidade concreta de um lugar e tempo. O
caráter situado (tempo e espaço), responsivo (nas teias dialógicas) e responsável (assumir, inevitavelmente, um
posicionamento) do ato nos encaminha a refletir sobre as vozes, seus lugares de poder e mecanismos de resistência,
que constituem o atual cenário político e social brasileiro - processos democráticos ou de cerceamento, restrição e
silenciamento - e de que forma temos nos posicionado no devir desses processos. A perspectiva dialógica nos auxilia a
compreender como essas vozes constituem lugares possíveis (ou não) às pessoas, permitindo ou não o enunciar de
determinadas vozes; possibilita-nos analisar quais são as vozes que têm ganhado visibilidade e audibilidade e quais
tem sido abafadas; quais enunciam suas verdades e quais as desestabilizam; quais possuem lugar central e quais
denunciam opressões e se constituem como resistência; quais são as vozes nesse debate e que efeitos de sentido
produzem às possibilidades de existir, aos processos de produção de subjetividades (ou de consciência, nas palavras
de Bakhtin e Voloshinov). Assim, o arcabouço teórico produzido pelo Círculo, constitui-se como uma possibilidade de
leitura das forças políticas em embate pela manutenção ou transformação de realidades. Para além da leitura
dialógica, nos convoca a refletir também sobre nosso posicionamento nessas tramas enquanto ciência e profissão.
A realidade desta disputa por discursos apresenta, portanto, um aspecto que à Psicologia Social faz-se necessário
problematizar, a saber: a força de enunciados que se pretendem monológicos, que intentam apreender um sujeito ou
um coletivo em um conceito, como se fosse possível nomear o outro como coisa. Esta visão polarizada da vida abre
uma grande fenda para produção de uma linguagem que só sabe se efetivar por meio de binômios sociais, políticos,
culturais e morais: homem-mulher, feio-bonito; violento-pacífico, vítima-algoz, bem-mal, normal-anormal, etc.. Nesta
arena política que é a linguagem, problematizá-la desde a sua concretude nos enunciados, é uma responsabilidade
social, pois os olhares que construímos acerca da realidade têm a ver, sobretudo, com a capacidade de instituir
sentidos ao que existe. Nosso corpo e aquilo que nos acontece são as condições de possibilidade de leitura sobre a
textualidade do mundo. Cabe sempre afirmar, nesta direção, que o sujeito não é isto ou aquilo, ele devém povoado de
infinitas vozes, afetos e suas diferentes forças. Há em cada sujeito a passagem de muitos (con)textos que devem ser
lidos a partir de perspectivas dialógicas, polissêmicas e plurais. Há sentimentos, pensamentos, sensações e percepções
sempre em curso e, neste percurso da vida, somos constituídos por meio de enunciados históricos, culturais, políticos,
morais. Reconhecemos, pois, esta constituição como dialógica. A dialogia, neste sentido, é o modo como as
subjetividades operam e se efetuam, assim como operam as leituras e reescritas do mundo - subjetividades que se
constituem enquanto processos dialógicos e que constituem a dialogia do mundo (Machado, 2015) . Podemos dizer
então que a realidade é um grande texto operando vozes em relação. Do mesmo modo somos seres dialógicos e
ideológicos, pois em nossas práticas e discursos se relacionam diferentes ideias-força, imiscíveis ou não (Groff;
Maheirie, 2015).
O sujeito, em constante devir, permanece sempre inacabado, condição que lhe permite constante agir no mundo. No
constante e aberto fluxo da vida, o sujeito tem a necessidade estética do olhar do outro, de sua posição exotópica a
pa ti àdaà ualàpodeà o stitui àa a a e tosà ueàs oàse p eàp o is ios.àái da,à asàpala asàdeàBakhti à ,à Vi oà
no universo das palavras do outro. E toda a minha vida consiste em conduzir-me nesse universo, em reagir às palavras
doàout o (Bakhtin, 1997b, p. 383). Tudo que diz respeito a determinado sujeito vem sempre das palavras dos outros,
o àseusà alo esàeàe to aç es.àOàsujeitoàte à o s i iaàdeàsiàat a sàdosàout os,à delesà e e oàaàpala a,àaàfo aàeà
138
o tom que servirão para a formaç oào igi alàdaà ep ese taç oà ueàte eiàdeà i à es o à Bakhti ,à ,àp.à .àOà
outro, portanto, constitui com acabamentos provisórios, a partir de seu lugar externo, de sua posição exotópica, o
sujeito em constante processo, em devir.
Existimos em lugares de enunciação, situados nas tramas dialógicas. Ao reconhecê-lo, somos convocados a refletir
sobre nossa responsabilidade ao habitar certos lugares nos enunciados científicos e cotidianos. Nossa
responsabilidade enquanto leitores/as e autores/as da textualidade do mundo. Somos nós também uma voz na
grande rede dialógica da existência. Povoados pela palavra alheia que tornamos nossas (Bakhtin, 2010a), nossos
enunciados carregam múltiplas vozes que não são originariamente nossas, mas pelas quais e nais quais assumimos
uma responsabilidade, nelas deixamos nossas assinaturas pela singularidade de nosso existir (Bakhtin, 2010b). Assim,
temos ressoado os questionamentos feitos por Bakhtin à ciência estruturalista e positivista, que ainda ocupam
posicionamento central no âmbito da produção de conhecimento. O Círculo, ao construir sua filosofia da linguagem,
constrói também um movimento epistemológico de resistência às principais vertentes do campo científico
(questionando seus métodos, a objetificação e monologização do sujeito, a forma de compreensão da constituição da
consciência), possibilitando uma reflexão não apenas por um outro método (dialógico), mas principalmente por um
questionamento ético, no sentido de resgatar a responsabilidade da pesquisadora e do pesquisador em seu ato, em
seu posicionamento (que sempre é valorado) nas tramas dialógicas.
Diante das reflexões colocadas sobre as contribuições da FLCB à Psicologia Social, o objetivo desta proposta de Grupo
de Trabalho é promover discussões sobre estas contribuições à: pesquisas em psicologia social em seus diversos
âmbitos/campos de atuação; escritos que tratem de processos de constituição de pesquisadoras e pesquisadores;
debates sobre a construção de metodologias em Psicologia Social; desconstrução de teorias que colonializam as
análises dos fenômenos estudados pela psicologia social no Brasil e na América Latina; aspectos éticos da produção de
conhecimento em psicologia social; diálogos teóricos. Nesta direção, situamos este GT no Eixo Psicologia Social:
questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções, por considerarmos que
a obra do Círculo de Bakhtin oferece uma perspectiva ética e política aos olhares e investigações da Psicologia Social,
bem como questionamentos sobre desde que lugar produzimos conhecimento e como vamos nos constituindo
pesquisadoras e pesquisadores (Groff; Maheirie; Zanella, 2010); acena para a construção de estratégias de análise dos
fenômenos psicossociais de modo singular, inventivo e com o compromisso ético-político de produzir conhecimentos
que acolhem a existência em sua potência de diferenciação constante, desnaturalizando tudo aquilo que parece dado
ou impossível de ser transformado (Groff; Maheirie, 2015).
Nesta proposta de GT serão acolhidos trabalhos que contribuam às discussões propostas, sejam elas sobre aspectos:
epistemológicos, diálogos com a ciência e outras formas de produção do conhecimento; metodológicos,
impactos/efeitos da FLCB na produção de pesquisas no campo da Psicologia e suas interseccionalidades; compreensão
de processos sociais e de constituição de subjetividades, formas de ler e construir o mundo; relatos de experiências
profissionais e de pesquisas que se sustentem ou que dialoguem com a FLCB nos diversos campos da psicologia social
(educação, trabalho, instituições, etc.).
Referências:
Bakhtin, M. (2010a). Problemas da Poética de Dostoiévski (5 ed.). (P. Bezerra, Trad.) Rio de Janeiro: Forense
Universitária.
Bakhtin, M. (2010). Para uma filosofia do ato responsável (2 ed.). (V. Miotello, & C. A. Faraco, Trads.) São Carlos: Pedro
& João Editores.
Bakhtin, M. (1997a). Observações sobre a epistemologia das ciências humanas. In M. M. Bakhtin (Org.), Estética Da
Criação Verbal (pp. 399–414). São Paulo: Martins Fontes.
Bakhtin, M. (1997b). Apontamentos 1970-1971. In M. Bakhtin (Org.), Estética da Criação Verbal (pp. 369–397). São
Paulo: Martins Fontes.
Groff, A. R., Maheirie, K., & Zanella, A. V. (2010). Constituição do(a) pesquisador(a) em Ciências Humanas. Revista
Arquivos Brasileiros de Psicologia, 62(1), pp. 97-103.
Groff, A. R., Maheirie, K. (2015). Análise Dialógica de uma Formação Continuada na Modalidade a Distância:
compartilhando um percurso teórico-metodológico.Informática na Educação, Porto Alegre, v. 18, n. 2, jul./dez.
Machado, J. P. (2015). Sobre o sujeito e subjetividade: contribuições do Círculo de Bakhtin à Psicologia. In: Grupo
ATOS-UFF, Miriam Borba; Marisol Barenco de Melo (Orgs.). Amorização: porque falar de amor é um ato
revolucionário. São Carlos: Pedro e João Editores, pp. 799-808.

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A resistência nasce no interior: o papel da Associação Morcegos em Ação na construção da independência para
cegos em Ubajara, Ceará
Autores: Maria Clara Prado Vasconcelos, UFC; Bruna Clézia Madeira Neri, UFC-Campus Sobral; Italo Jorge Souza da
Silva, UFC
E-mail dos autores: claraprado2@gmail.com,italo.souza89@gmail.com,brunaclezia@gmail.com

Resumo: O empoderamento de pessoas com deficiência visual é um processo muito importante para possibilitar uma
vida autônoma e completamente diferente dos estereótipos relacionados à deficiência. O presente trabalho se propõe
a discutir a importância da articulação política e social da Associação Morcegos em Ação na busca por autonomia e
independência de pessoas cegas na região norte do Ceará. O objetivo deste trabalho é compreender a relevância das
ações feitas pelo grupo e analisar o papel da Psicologia Social na produção de caminhos para melhorar a qualidade de
vida das pessoas com deficiência.
A Associação Morcegos em Ação é um grupo articulado por pessoas com deficiência visual que tem como principal
objetivo fornecer formação capaz de emancipar seus membros. O grupo possui uma Escola Preparatória para Crianças
e Jovens com Deficiência Visual, onde são desenvolvidas atividades que visam ensinar essas crianças e jovens, além do
Sistema Braille, comunicação em inglês e português, bases da matemática, uso de bengala em ambientes conhecidos e
estratégias para orientação em novo ambiente, Atividades da Vida Diária adequadas à idade das crianças (higiene
pessoal, compras, comer, tarefas em casa, etc), esporte, artes, música e outros meios criativos para desenvolver a
autoconfiança e expressão das crianças, atividades para desenvolver a compreensão e aceitação da deficiência visual
como desafio positivo e para enfrentar atitudes negativas. O grupo possui sede no Sítio Moitinga, zona rural de
Ubajara, cidade do interior do Ceará que possui cerca de 30.000 habitantes. O grupo atende jovens de várias cidades
do estado, fazendo um importante trabalho na vida dessas pessoas.
Esta produção se encaixa no Grupo de Trabalho A Psicologia Social além das Fronteiras Disciplinares por explorar e
discutir uma intervenção de outro campo de conhecimento realizada por um movimento social articulado, o que nos
possibilita conhecer novas formas de inclusão e repensá-las sob o viés da psicologia social. Também adequa-se ao que
é proposto nos Grupos de Trabalho Crítica Social, Direitos Humanos e Psicologia Social e Psicologia crítica e Políticas
Públicas: desafios teóricos práticos em tempos de golpe por tratar sobre a busca por direitos e igualdade para uma
minoria que, no caso, são as pessoas com deficiência visual. Dentro destes grupos de trabalho, é possível pensar as
estratégias de luta da Associação Morcegos em Ação pela conquista e garantia de direitos de pessoas com deficiência,
e discutirmos qual o papel da Psicologia no combate à discriminação e na emancipação desse grupo social.
Seguimos a perspectiva do modelo social de deficiência, que rompe com o modelo biomédico, em que historicamente
a deficiência vinha sendo tratada, tirando o foco da deficiência como uma lesão e possibilitando uma leitura social e
política das questões que a envolvem. Com isto, adotamos uma postura onde devolvemos à sociedade a
responsabilidade pela existência de opressão e desigualdade social contra pessoas com deficiência. Como propõe
Marivete Gesser (2012), tomamos aqui a deficiência como objeto de análise da Psicologia Social, a fim de
compreender as questões levantadas por este grupo social, auxiliando na construção de novas possibilidades de
efetivação das políticas públicas voltadas a esta parcela da população. Concordamos com Mariza Montero (2004) por
compreender que os membros da Associação são os sujeitos construtores da sua realidade, que buscam a mudança
das situações de opressão e de desigualdade enfrentadas por pessoas com deficiência visual.
Este trabalho é fruto de uma intervenção psicossocial realizada na disciplina de Psicologia Política e Movimentos
Sociais. Utilizamos como ferramentas de pesquisa a entrevista semiestruturada com alguns participantes do projeto e
a observação participante. Nossa questão inicial era se os moradores do município sabiam da existência de um grupo
articulado de pessoas com deficiência visual e qual a perspectiva delas sobre a realidade de pessoas cegas em Ubajara.
Nossa intervenção foi feita vendando voluntários que enxergam e colocando-os para serem guiados por pessoas cegas
no centro da cidade. Gravamos um minidocumentário para expor o resultado. Na intervenção, selecionamos
transeuntes e fizemos algumas perguntas sobre suas perspectivas acerca da vida de uma pessoa que não enxerga.
140
Como resposta, apareceram sempre noções negativas, de dependência e de dificuldade. Por meio da intervenção, foi
possível perceber que é sim possível que uma pessoa cega tenha sua independência e que a cultura exerce um papel
de discriminação desses indivíduos.
Como resultados deste trabalho, percebemos que a Associação tem dado conta do seu principal objetivo, que é
emancipar seus membros para uma vida independente, e destacamos a importância do grupo na busca por direitos de
pessoas com deficiência, na reconstrução da realidade vivida por essas pessoas e na transformação da comunidade em
que estão inseridos, uma vez que mostram à população que pessoas com deficiência visual podem sim ser
independentes e, com isto, conseguem minimizar os efeitos de estereótipos provocados pelo preconceito sobre
pessoas com deficiência.

141
A {Des[In(Formação)]} Acadêmica: relato de experiência de uma ação-crítica de acolhimento no ensino superior
Autores: Jonas Cardoso Lomba, UFPR; Michelle Tomassini Jacques, UFPR; Miriam Aparecida Graciano de Souza Pan,
UFPR; Patricia Moreira Ribeiro, UFPR
E-mail dos autores: jonaslomba@gmail.com, miriamagspan@yahoo.com.br, michellejacquesg@gmail.com,
patricia16892@outlook.com

Resumo: Ao ingressar na universidade o estudante sente ter alcançado seu sonho, sem contudo imaginar a infinidade
de barreiras que irá encontrar nesse novo mundo: novas linguagens, uma nova cultura, configurados em forma de um
discurso oficial repleto por siglas, mapas, instruções e manuais que vão para muito além dos conteúdos a serem
dominados/decifrados dentro dos cursos. São barreiras comunicacionais impensadas até então, e difíceis de serem
decifradas. E não conseguir acessar ou saber o significado dessas informações/mensagens e o modo de operar dessas
linguagens, equivale não ter as ferramentas de comunicação básicas e necessárias para completar essa odisseia
acadêmica, problema essencial que acompanha o processo de transição ao ensino superior. A Universidade Federal do
Paraná (UFPR), com as demandas e efeitos observados entre seus alunos, se abre na busca e na realização de políticas
que não só diminuam os índices de evasão, mas melhorem e promovam a qualidade da permanência nos seus cursos.
Mas há uma característica peculiar à universidade em questão: sua configuração geográfica. Ela se divide em diversos
campi, o que culmina na dispersão dos órgãos que promovem as políticas de assistência ao estudantil por toda a
extensão da cidade, e até do estado. Tal dispersão física tem seus efeitos na (des)orientação dos estudantes e requer
um cuidado especial com a qualidade da informação. O Projeto PermaneSENDO: Intervenção da Psicologia nas
Políticas de Permanência da Universidade, se abre em diversas atividades de pesquisa, ensino e extensão para os
alunos do curso de Psicologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR). É um campo de estágio com a proposta de,
em acordo com o que se apresenta como demanda pelos alunos dos diversos cursos, se realizar a tutoria por pares. No
caso, as atividades consistem nos serviços de Plantão de Acolhimento, Rodas de Conversa e Oficinas de diferentes
modalidades. Com uma perspectiva pluridiscursiva da linguagem e fundamentada pelos teóricos do Círculo de Bakhtin,
cria-se espaços para se pensar o lugar do estudante e as preocupações institucionais dialogicamente, as tensões
presentes nesta arena discursiva, repleta de sentidos que se sobrepõem numa disputa acirrada por poder, cujos
efeitos implicam diretamente a dimensão subjetiva dos estudantes. Realiza-se assim, o relato de experiência
(formativa?) de uma oficina que elegeu pelo segundo ano consecutivo como temática o modo como a informação, sua
circulação e efetiva orientação acontece, e/ou não, no meio acadêmico. Especificamente em 2014, foi criada a Oficina
de {Des[In(Formação)]} Universitária com o objetivo de reunir alunos para refletirem sobre o conteúdo, a forma e
acesso à informação necessária para o cotidiano na vida acadêmica. Como forma de divulgação das oficinas foram
elaborados questionários com base nas queixas ouvidas nos plantões de acolhimento e rodas de conversa nos
diferentes cursos, o que fazia com que os enunciados dos alunos ali presentes proporcionassem uma identificação
com os mesmos. Também foi criada uma fanpage sobre o projeto contendo informações na linguagem que compõe o
cotidiano dos universitários, contidos num manual de sobrevivência do aluno UFPR elaborado pelo projeto no ano
anterior. Nesta fanpage também são divulgados os serviços e eventos do projeto. Tais ações fazem convergir método
e resultado, num modelo de pesquisa-intervenção, além de ser a própria representação de uma análise crítica à não-
circulação da palavra nos canais oficiais da instituição e da distância entre a linguagem oficial e a linguagem dos
estudantes. A oficina permitiu O projeto permite uma reflexão constatar sobre a importância da forma em que se
disponibiliza as informações para os estudantes. O site possibilitou acesso rápido às informações desejadas, pois
poderiam ser consultadas, via conexão wi-fi da própria instituição, por computadores e smartphones. Permear uma
rede social ou a criação de uma página dentro de um ambiente tão frequentado pelos universitários com, por
exemplo, um Manual de Sobrevivência do Aluno quebra as barreiras das siglas; aproxima e aponta as rotas necessárias
nas suas jornadas particulares; apresenta-se como uma prática emergente na maneira como o psicólogo pode
contribuir nos espaços da educação no nível superior. Assim, acolher é também cuidar da qualidade e efetividade dos
processos de comunicação, com uma linguagem acessível, com a qual o estudante se identifique. Abre espaço para
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que o próprio aluno se implique e se posicione dentro dessa arena, protagonizando o processo de
transformação/apropriação das linguagens e do gênero acadêmico em suas múltiplas possibilidades de acentuação;
não só buscando o projeto como fonte de informação, mas sendo também mais uma perspectiva, mais um olhar a ser
acrescentado às produções do projeto. Por fim, a linguagem do cotidiano dos estudantes, ao circular em forma de site,
manual de orientação e acolhimento, consolidou as marcas de alteridade na cultura oficial.

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Análise Institucional e Qualidade da Democracia:possibilidade políticas da psicologia na Assembleia Legislativa do
RN
Autores: Rodrigo da Costa Bezerra, Assembléia Legislativa RN
E-mail dos autores: rodrigopsicologia@yahoo.com.br

Resumo: A comunicação apresenta-se como uma contribuição preliminar de uma leitura institucional da prática do
analista legislativo psicólogo(a) na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN) traçando o relevo das formas
instituídas e convocando processos instituintes de aperfeiçoamento do controle social e qualidade democrática da
instituição do Legislativo Estadual.
Partimos da prática clínica considerando-a como uma instituição clínica, ou seja, interrogando o exercício clínico
enquanto produção social e impulsionadora de processos de subjetivação. Trata-se de uma perspectiva política a
incluir-se no cotidiano das práticas em que a análise institucional e política encontram-se imbricadas. Nesse sentido
abrem-se alguns pontos interrogantes:
O que é reconhecido por clínica e prática clínica do analista legislativo da psicologia? Que documentos norteiam as
práticas dos psicólogos e que discursos sustentam sua legitimidade? O que pode favorecer de processos
transformadores a partir da prática clínica ampliando um índice de transversalidade da atuação da psicologia para
utilizar um conceito da Análise Institucional Sócio Analítica? Que processos de subjetivação podem ser promovidos no
contexto da cultura política do Poder Legislativo Estadual e que análise do contexto socio-histórico pode ser favorável
às mudanças institucionais? E, finalmente, como a psicologia, no papel de analista legislativo, pode contribuir para
uma melhor qualidade da democracia nestes tempos de grave crise de representatividade política?
O campo da Análise Institucional é polissêmico e promove aportes interdisciplinares para atuação no campo da
psicologia social e a psicologia política no espaço privilegiado do Legislativo Estadual do RN.
Estabelecemos três níveis de leitura institucional que abrem objetivos e coordenadas para uma pesquisa-intervenção:
a) o primeiro nível é o documental que abarca os regimentos e resoluções do funcionamento do Legislativo
Estadual além do próprio edital do primeiro concurso da ALRN para analista legislativo psicólogo, ocorrido em
setembro de 2013. Nesse sentido vale a pena cotejar outros editais para psicólogo no legislativo no intuito de
estabelecer como o instituído configura este campo de saber/atuação profissional.
b) Em um segundo movimento, cabe reconstruir criticamente a história da atuação profissional que remonta a um
período anterior da criação do setor de psicologia, no momento em que era apenas um serviço de assistência
psicológica prestada a assessoria jurídica da ALRN, atendendo a população nos casos que envolviam o direito de
família. Partindo de outro ângulo, torna-se necessário apontar os impasses de algumas propostas de intervenções
psicossociais na Assembleia Cidadã (Itinerante) e no Parlamento Jovem;
c) Estabelecer aportes para uma redefinição da atuação profissional da psicologia, sobretudo em ações para além
do campo da clínica tradicionalmente instituída, avançando práticas como a consultoria legislativa nos assuntos para
audiências públicas, comissões de direitos da Casa Legislativa, entre outras instâncias integradoras para a atividade fim
da ALRN que é a elaboração de projetos de lei e fiscalização do poder executivo.
A comunicação sente-se convocada, no espaço privilegiado de uma Assembleia Legislativa, a contribuir com o grande
tema da ENABRAPSO 2017- Democracia participativa, Estado e Laicidade : Psicologia Social e enfrentamentos da
psicologia social em tempos de exceção.
Análise Institucional da escola francesa tendo como expoentes René Lourau e George Lapassade e a relação entre
formas instituídas e processos instituintes servem como pontos de partida dessa investigação no GT Ética na pesquisa
e intervenção em Psicologia Social: impasses teóricos, metodológicos e políticos para se pensar a atuação política do
analista legislativo psicólogo inscrevendo a Psicologia Social e Política como campo de luta pela garantia dos direitos
de cidadania e democratização da sociedade relacionada aos processos histórico-sociais e políticos em construção. Por
fim, orientamos nossa análise das práticas seguindo um questionamento crucial sinalizado pelo grupo de trabalho
acima citado: Como produzir conhecimentos com e para os sujeitos com vistas a transformação social?
144
Estabelecemos a Análise Institucional com a metodologia pesquisa-intervenção que subverte as noções de sujeito e
objeto, de pesquisador e campo de pesquisa são colocadas em análise num plano de imanência, não havendo
determinações casuais de uns sobre os outros. É a emergência do dispositivo da análise de implicação colocando em
questão o lugar do especialista.
O analisador percorre pelo menos dois níveis, atravessando o campo de análise e o campo de intervenção. Ele pode
ser tomado tanto como o evento que denuncia, quanto aquele portador da potência da mudança, superando o lugar
de especialista e os riscos de um insulamento profissional. A escassez de trabalhos nesta área da psicologia no
legislativo contrasta com o lócus privilegiado de atuação profissional, sendo esta análise institucional primordial para
construir algumas sugestões e, sobretudo, provocações para os desafios desta prática profissional da Psicologia.
Estimulados a diagnosticar contextos estéreis e de burocratização do saber-fazer profissional da psicologia e lançados
ao desafio de, nesse momento preliminar, lançar, através de ideias-forças, ferramentas de investigação preparando o
campo para novas propostas e intervenções que considerem as especificidades e potencialidades do Poder Legislativo.

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Biopolítica das amizades: subjetividade, corpo e capitalismo
Autores: Diogo de Lima Muniz Barroso, UFF; Caio Augusto Ramos de Castilho, UFF; Clara Sym Cardoso de Souza Costa,
UFF; Danichi Hausen Mizoguchi, UFF; Júlia Virginio Câmara, UFF; Marcelle da Silva Freitas; UFF
E-mail dos autores: D-ogo@hotmail.com, caio_castilho@yahoo.com.br,j ulia.vcamara@gmail.com,
freitas.celle@gmail.com, danichihm@hotmail.com, clarasym@hotmail.com

Resumo: Autores: Caio Augusto Ramos de Castilho, Clara Sym, Danichi Hausen Mizoguchi, Diogo Muniz, Júlia Câmara,
Marcelle Freitas
Instituição: Universidade Federal Fluminense
Introdução: O presente trabalho é um dos resultados finais de um processo de pesquisa que perpassa o movimento da
dúvida, de uma tese à proposta de um grupo de iniciação científica. Um movimento atento pelo socius composto de
curiosidades e estranhamentos a respeito das tramas subjetivas de constituição do atual que convocam a amizade a
participar de suas frentes. A vinculação enunciativa entre amizade, saúde e capital faz do corpo uma mercadoria
sempre a ser aprimorada para e pelo consumo. Nossas andanças, desde o início se esquivando de estabilidades ou
finalizações, propõe iluminar o atual abrindo espaço para outros possíveis, apostando na possibilidade de construção
de outros mundos. Nesse recorte final o aspecto da saúde é privilegiado por sua importância ao amarrar os conceitos
de enunciado e biopolítica de maneira especialmente esclarecedora.
Objetivo: Michel Foucault foi a quem demos as mãos para esse percurso, relembrando de uma questão que é
moderna por excelência: o que ajudamos a fazer de nós mesmos? Desse modo, não em busca de uma matriz
primordial de ordenação das questões de interesse do presente, mas entendendo a amizade ao lado de tantas outras
problemáticas profícuas e necessárias, nos colocamos duas perguntas que se sobrepõem: o que o presente faz das
amizades e o que as amizades podem fazer do presente?
Relação com o GT/eixo temático: O GT Círculo de Bakhtin e a Psicologia Social: ética, pesquisa e política , apesar de
inicialmente díspar em termos mais óbvios no que tange composições teóricas, coloca como questão algo que
reverbera intimamente com o proposto durante essa caminhada não há álibi para nossa existência, assim como nos
relembra Foucault se tudo é perigoso, então temos sempre algo a fazer colocando a radicalidade do responsabilizar-se
e inventar-se como tarefa ética da busca e disposição por fazer da vida uma obra de arte. Desse modo, apostamos que
se faça apropriado a recepção de percursos como o nosso que buscam identificar, reconhecer e questionar as forças
sutis, nas mídias de consumo de massa, que parecem convidar ao enrigecimento das multiplicidades. Ditos sob os
títulos certos, os discursos de verdade conectam ciência e subjetividade reafirmando a base da episteme moderna que
colocou o ser humano como sujeito e objeto dos enunciados científicos. Isso posto coloca a criação de um padrão
externo, ajustado a partir dos benefícios financeiros e de saúde que são vendidos pelas mídias como verdades únicas.
A amizade, nesse entremeio, parece perder seu potencial de resistência e ao colocarmos uma luz sobre os modos
capitalísticos atuais apostamos no agir inventivo frente a essas tramas de forças a fim de reativar outros modos de
amizade que possam constituir-se como exercícios de resistência.
Orientação teórica: A arqueologia foucaultiana foi o terreno principal nesse trajeto e dele depreenderam-se o
enunciado, como ferramenta primordial de análise e pesquisa que permitiu a aproximação com estranheza das
relações entre saber e poder e a inserção da ética no jogo de forças e verdades pela vida. Deleuze também foi
importante já que sua explanação a respeito das sociedades de controle se mostrou absolutamente potente para se
pensar o presente. Seguindo, a próxima ferramenta, o conceito de biopolítica foi sempre balizador da análise,
contrapondo-se com o modo da vida como obra de arte que esteve sempre no horizonte de nossos questionamentos
e pelo qual, enquanto aposta na potência de transformação do presente é o direcionamento ético que nos colocamos.
Método: Andar. É andando que vivenciamos o mundo e é nele que podemos reafirmar a força da resistência. Apostar
na multiplicidade foi apostar na potencialidade dos espaços, buscando implodir os fixos lugares. Quase cínico, esse
caminhar não buscou colocar em xeque determinados discursos a fim de sobrepujá-los por outros, nossa aposta
metodológica foi fazer falar o estranhamento por detrás de falas que se propõe a-históricas e neutras para remoer a
146
responsabilidade inventiva pela criação de mundo, em última análise, refazer daquelas falas-enunciados forças
políticas e assim reafirmar outras possibilidades.
Resultados e conclusões: Partindo do meio e sem direção específica de caminhada, chegamos ao fim de um passeio.
Fim, entretanto, não coloca a necessidade de finalizações e chegadas já que o campo de embates do presente está
sempre a se atualizar. A percepção que se construiu um pouco mais atenta ao jogo de forças a partir do qual
entendemos o mundo. O embate constante entre poder e cuidado de si, e nesse caso específico a amizade convocada
também à linha de frente. Uma amizade que ganha força política capturada como pílula de saúde, mas também aqui
como aposta na potência de uma ética e estética relacional que possam subverter as dobras capitalísticas desse
sistema que mais do que econômico é produtor de subjetividades.

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Carnavalização e Estigmatização da Homossexualidade no discurso de memes veiculados no Instagram
Autores: Alan Eugênio Dantas Freire, UnP
E-mail dos autores: alanfilosofia@yahoo.com.br

Resumo: Compreendendo a estigmatização como um processo constituído socialmente e através do qual a


categorização da sociedade culmina na classificação de pessoas como normais (que estigmatizam) ou estranhas (as
estigmatizadas), percebe-se, nos memes, um habitat adequado para sua profusão, como também resiste a
necessidade de o profissional psicólogo compreender suas dimensões. A análise do perfil @hetero_orgulhoso, no
Instagram, permite-nos uma possibilidade de encontrar marcas da carnavalização bakhtiniana e da teoria do estigma,
o que indica o objetivo geral deste trabalho, que se detém a analisar de que maneira se dá a estigmatização da
homossexualidade através dos memes compartilhados pela página em suas características de riso e dialogismo.
Compreender os memes em sua singularidade, onde o riso habita, remete-nos à carnavalização proposta por Bakhtin
(2010c). Nos memes, de modo bastante emblemático, o riso é, por um lado, uma condição para sua configuração
enquanto gênero e, por outro, o elemento que o torna tão emergente e popular nas redes. Metodologicamente,
utilizamo-nos de uma pesquisa bibliográfica e da abordagem qualitativo-interpretativista no tratamento do corpus,
constituído por 04 (quatro) memes compartilhados pelo perfil, com capital social relevante para a pesquisa. A análise
do discurso veiculado tem apoio teórico de estudiosos de três áreas, a saber: a) cibercultura, capital social nas redes
sociais digitais e memes (LEVY, 1999; RECUERO, 2006, 2010; BLACKMORE, 1999, 2002; DAWKINS, 1979; DENNET,
1995; TYLER, 2010), b) a concepção dialógica do discurso e sua característica de carnavalização (BAKHTIN, 2010a,
2010b, 2010c); c) estigma enquanto processo social (GOFMAN, 1988; AINLEY, BECKER & COLMAN, 1986; CROCKER &
MAJOR, 1989; MELO, 2000). Os memes compartilhados pela página @hetero_orgulhoso tendem à classificação dos
indivíduos enquanto normais e não-normais, atribuindo normalidade ao heterossexual e não-normalidade ao
homossexual. Veiculada na rede Instagram, a página conta com cerca de 24 mil seguidores, número que só aumenta
com o passar dos dias, contando com mais de 1000 publicações que oscilam entre homossexualidade, papel da mulher
na sociedade, violência contra os criminosos, conceito de família, entre outros. Trata-se de um perfil público, não
necessitando de aprovação do mediador para visualização das postagens, o que aumenta o número de nós dentro da
rede (RECUERO, 2016). Em sua descrição, a página se autoclassifica como CAUSA, descrevendo-se como perfil oficial
da página Homens com H Maiúsculo e Hetero Orgulhoso no Facebook .
Na quase totalidade das postagens, seus autores versam sobre a dualidade entre os normais e os não-normais,
caracterizando a construção do estigma proposto por Goffman (1986). O processo de estigmatização é conferido com
o destaque dos atributos desqualificadores dos homossexuais em diversos âmbitos, focados na distinção entre os
machos (os ditos normais da teoria de Goffman) e os frescos, bichas ou simplesmente homossexuais (enquadrando-os
nas características dos indivíduos estigmatizados, segundo a teoria analisada). Percebe-se, na página, uma orientação
do padrão normal como sendo heterossexual, cristão e de direita. Para seus divulgadores, o que sai desse perfil é
classificado como estranho, utilizando-se de imperativos na elaboração de um grupo tido como perfeito, com
comportamento que se deve aderir por seus seguidores. O uso do estigma nas redes sociais digitais tem colaborado na
manutenção e no incentivo de padrões de comportamento que segregam a teia social, através da proposição de
discursos de ódio. Os memes compartilhados pela página @hetero_orgulhoso tendem à classificação dos indivíduos
enquanto normais e não-normais, atribuindo normalidade ao heterossexual e não-normalidade ao homossexual,
citados neste trabalho sob a perspectiva de Goffman (1988) do que seria normal e estigmatizado, respectivamente. A
essas consequências, a Psicologia, enquanto área do conhecimento ligada às subjetividades, precisa relacionar-se, na
compreensão de seu papel no construto social e nos processos psicológicos diversos que permeiam o cotidiano dos
indivíduos. A construção de estigmas no discurso online, especialmente em redes de longo alcance, como o Instagram,
sedimenta o preconceito e a discriminação que assolam indivíduos estigmatizados que, como bem coloca Goffman
(1988), acabam por terem reduzidas suas chances de vida no entorno social.

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Contribuições de Bakhtin para uma visão de processo grupal: Caminhos de uma dissertação de mestrado
Autores: Barbara Maria Turci, UFU; Eliane Regina Pereira, UFU; Emerson Fernando Rasera, UFU
E-mail dos autores: babiturci@hotmail.com,pereira.elianeregina@gmail.com,emersonrasera@gmail.com

Resumo: Nossa proposta é apresentar os caminhos já percorridos na pesquisa e escrita da dissertação de mestrado
cujo objetivo geral é de construir uma visão de grupo baseada em conceitos centrais de Mikhail Bakhtin. De forma
específica, buscamos compreender como alguns conceitos bakhtinianos auxiliam na compreensão do processo grupal.
Aproximamo-nos de uma perspectiva de grupos referente aos atravessamentos das relações e da estrutura social do
mundo em que vivemos, tratando-os em dialética, considerando a realidade social e histórica em que estão inseridos.
Assim, optamos pela nomenclatura Processo Grupal, em que a existência e a ação grupal são pensadas de acordo com
as marcas da inserção do grupo na sociedade, com todas as suas determinações econômicas, políticas, institucionais e
ideológicas. A escolha de Mikhail Bakhtin e de seus conceitos acontece, principalmente, por acreditarmos que a visão
dialógica da linguagem, da constituição do sujeito e de sua existência no coletivo podem ampliar as pesquisas sobre os
processos grupais, incluindo a estrutura social como intrínseca a esses processos, ressaltando, ao mesmo tempo, a
alteridade dos sujeitos ao agir no mundo que os constitui. As obras de Bakhtin, bem como de outros autores que
estudam os conceitos bakhtinianos foram de fundamental importância para ajudar a trilhar o caminho dessa pesquisa,
com destaque à Beth Brait, que nos levou a uma análise em que consta uma breve definição de cada conceito
escolhido, bem como uma relação entre eles e entre a constituição dos sujeitos e a importância do coletivo. Enfim
relacionamos os conceitos de Bakhtin ao processo grupal, para construir uma visão de grupo. Para pensar os conceitos
que seriam escolhidos, diante da gama de possibilidades oferecidas antes por Bakhtin e agora por Brait, situamos o
que consideramos importante pensar sobre os grupos. Chegamos à conclusão de que seriam necessários conceitos
que se conectassem com a noção de constituição do sujeito como processo histórico e cultural, associada ao contexto
social em que vivemos, bem como à importância da coletividade, de suas múltiplas vozes, e das relações nela
estabelecidas. Escolhemos, assim, os conceitos de Ato/Atividade, Tom Emotivo-Volitivo, Evento, Enunciado, Excedente
de visão/Exotopia, Polifonia, Dialogismo, Autor/ Autoria. Para definição desses conceitos partimos das obras do
próprio Bakhtin e fomos auxiliados, para aprofundamento, por diversos autores conhecidos pelas pesquisas que fazem
a respeito do autor. Ao seguir com a análise, percebemos a profunda relação que esse autor estabelece entre o sujeito
como ativo no processo de sua constituição e a importância da presença do coletivo nesse mesmo processo,
possibilitando uma discussão que permita a busca da construção de uma visão de grupo enquanto processo. A partir
da definição dos conceitos selecionados, trazemos a reflexão de como cada conceito auxilia no entendimento da
relação entre a constituição do sujeito e o coletivo, relação que fica clara no modo como Bakhtin encara a existência
dos sujeitos de forma contextualizada socialmente, culturalmente e historicamente, sem desconsiderar a
singularidade de cada um, mas pelo contrário, apostando no quão ativo o sujeito é em seu próprio processo de
constituição, em suas ações, criações, discursos, pensamentos. Ao considerar a importância do coletivo na
constituição dos sujeitos, portanto, e na própria condição de percepção de sua atividade nesse processo, passamos a
pensar em como o espaço do grupo se mostra potente nesse mesmo processo.

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PROFESSORA primária: SEUS problemas, SEUS DEVIRES...
Autores: Silvia Cavalcante Lapa Lobo
E-mail dos autores: silvialobo1962@hotmail.com

Resumo: A profissão docente tem sido objeto de estudos tanto de especialistas e pesquisadores em formação de
professores, em diversas áreas de conhecimento, tanto de escritores, na tentativa de descrever quais seriam as
habilidades necessárias para um bom fazer pedagógico. No entanto, apresentam-se lacunas ainda no tocante a uma
reflexão mais profunda e específica dos problemas enfrentados por essas profissionais, desde a formação inicial até a
práxis cotidiana; seja por desorientação, alienação ou como resultado de fortes pressões psicológicas, sociais, culturais
e político-educacionais. Portanto, pretende-se com este artigo – inscrito na comunicação oral no GT: 20. Identidade e
eixo: Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais e que é parte de reflexões
realizadas na escrita de uma tese, desenvolvida e defendida na Universidade de Sorocaba (2017), que entrelaçou
histórias de vida e reflexões do cotidiano escolar, na busca de reflexões e questionamentos sobre discursos de
verdades, encontrando uma ação para resistência e reinvenção revolucionária, nas ideias prontas em Educação
escolar, ao revelar que tais discursos de verdade na e para a formação docente, geralmente são pensados e
articulados com o objetivo de en(formar), forma(atar), moldar, dirigir, controlar e direcionar o fazer pedagógico e,
assim, obter um perfil de profissional uniforme, com ações padronizadas para pensar e seguir direções que levam a
repetição do isto, não propondo ou promovendo uma reflexão na e para a descontinuidade das antigas proposições
teóricas, tão necessário na realização do trabalho pedagógico - refletir sobre os processos de formatações de uma
professora primária, formatada para obedecer e não para refletir a cerca da sua prática pedagógica, prática esta
entendida como a que descreve Paulo Freire (2014): educativo-crítica. A construção dos argumentos reflexivos da
temática investigativa resulta dos estudos realizados nos escritos de Foucault, pistas para elaborar argumentos e
possibilidades para a resistência/desistência que se fez necessário, tendo como apoio nessa caminhada, os conceitos
foucaultianos: disciplinamento e as tecnologias do eu e de autores como: Lucia Helena Cavasin Zabotto Pulino (2010),
Silvio Gallo (2008), Margareth Rago (2013), ajudando a pensar sobre os sentidos que a professora primária – objeto de
estudo da tese; mulher e profissional atuante numa sociedade patriarcal, machista, neoliberal e, até então, obediente
aos mandos e desmandos de uma ordem econômica capitalista – dá à própria experiência. Olhar (xeretando);
conhecer (pesquisando, ouvindo e escrevendo narrativas); questionar e refletir. Esse é o caminho proposto nesse
trabalho, o de entrelaçar histórias de vidas e reflexões do cotidiano escolar, arriscando apresentar uma ação desejada
– esperanças - para os Devires na profissão docente, com e para as infâncias, saindo da ignorância, afastando o
pensamento nós- massa, reconhecer que a escola ainda ancora-se em modelos de educação de séculos passados,
promovendo uma cultura a serviço de um currículo formatado para e pelo poder das classes dominantes para a
manutenção de um povo dominado, disciplinado e docilizado, promovendo o aniquilamento daquilo que há de
singular em cada um: nossos desejos e modos de viver e ser no e para o mundo. Seres rebanhados são mais fáceis de
controlar e serem conduzidos para uma forma(atação) e manutenção de uma sociedade homogeneizada e excludente.

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Reflexões acerca do caráter emancipatório da Psicologia brasileira e o seu compromisso social
Autores: Lucas Germano, FACED
E-mail dos autores: lucasg.ermano@yahoo.com.br

Resumo: Temos por objetivo provocar uma reflexão sobre o caráter emancipatório da Psicologia brasileira, assim
como problematizar qual seria o papel do psicólogo diante do sujeito social e político. Para tal, utilizamos o método de
revisão bibliográfica, recorrendo ao Código de Ética Profissional do Psicólogo sempre que necessário. Pretendemos
que, ao final, reconheça-se o quão importante deve ser a atuação profissional do psicólogo baseada na ética e nos
Direitos Humanos. Reflete-se sobre três pontos, sendo eles:
a) A caracterização histórica da Psicologia brasileira.
Durante os últimos anos da Ditadura Militar Brasileira (1964-1985), os psicólogos começam a se organizar de forma
institucional em torno das questões que tangiam a política que vivia o país naquela época. De forma que foi possível
construir uma prática mais progressista, atuando diretamente nos movimentos de Diretas Já. Do mesmo modo, a
Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) desde sua criação em 1979 se opôs à ditadura militar brasileira ao
apoiar a realização de eleições diretas com o movimento Diretas Já. E aqui precisamos salientar que compreendemos
a Psicologia Social como campo integrante das demais psicologias visto que não podemos falar de psicologia desligada
do campo social. No Brasil, a Psicologia Social esteve mais alinhada às críticas sociais realizadas por autores dos vieses
de uma teoria e práxis crítica. É compreensível dizer que a psicologia social brasileira surge comprometida com a
realidade social do nosso país, e que se responsabilizava pelo compromisso social.
b) A Psicologia como ferramenta democrática.
Percebemos que cabe ao psicólogo potencializar o empoderamento dos sujeitos com quais desenvolve o seu trabalho.
Seja esse trabalho através de uma clínica – no sentido do consultório particular –, seja na aplicação em intervenções
psicossociais ou nos diversos campos das políticas públicas. De modo que o sujeito aprende e se empodera durante os
contatos que tem com o psicólogo, ao refletir sobre o que falou e toma decisões baseadas em seu próprio discurso –
discurso que de maneira alguma se desliga do discurso da sociedade como um todo, tendo em vista que é uma relação
dialógica onde ambos se constroem, desconstroem e reconstroem. Esse empoderamento é, antes de mais nada, a
conscientização de si mesmo como sujeito social inserido em estruturas de uma sociedade e o reconhecimento de si
como agente transformador, seja numa esfera individual ou numa esfera social. Nesse sentido, quando tornamos os
sujeitos em pessoas agentes, estamos possibilitando que elas reivindiquem seu direito a participar democraticamente
do sistema político brasileiro.
c) A questão da neutralidade ou imparcialidade do psicólogo diante das questões políticas.
Há os que advogam por uma suposta neutralidade da Psicologia diante de questões políticas. A premissa de que é
possível que o psicólogo se mantenha neutro pode mostrar-se falsa a partir do momento que compreendemos que o
psicólogo também é um sujeito sócio-histórico inserido em contextos, estruturas e discursos sociais e que justamente
por isso todo conhecimento, saber e posicionamento do psicólogo é ideologicamente orientado. Nessa questão, é
preciso que se separe a imparcialidade da neutralidade. A imparcialidade, ao nosso ver, requer que o psicólogo não
assuma nenhum posicionamento sem de antes realizar avaliações críticas sobre a situação, e o proíbe de assumir esses
posicionamentos em favor de si mesmo ou de um grupo mais favorecido de forma que ele mesmo se beneficiará disso.
A neutralidade, por outro lado, requer que o psicólogo não assuma posição alguma mesmo que esteja diante de uma
situação de injustiça. Pode-se pensar que a neutralidade é conivente com a hegemonia – que se consolida através de
normatizações e naturalizações das relações de poder, violência e marginalização daqueles que não se encaixam na
norma dominante, por isso a neutralidade não é condizente com a profissão da psicologia.
Concluímos que a Psicologia brasileira tem envolvimento direto e indireto na política brasileira, através de manter e
apoiar posicionamentos perante os Três Poderes Públicos ou através de políticas públicas e da própria clínica.
Esperamos que, com as reflexões escritas e propostas nesse trabalho, todos nós enquanto categoria de profissionais
da psicologia repensemos nossas teorias e nossas práticas sociopolíticas. Por fim, consideramos necessário que o
151
trabalho do psicólogo seja pautado em pelo menos uma premissa fundamental: o que deve nos motivar politicamente
enquanto psicólogos é a vontade de ver um sujeito no momento em que ele reivindica seu próprio direito inalienável
de uma vida vivível, sem que precise de autorizações prévias de uma hierarquia social. Que os sujeitos sejam sujeitos
de si mesmos ao exercerem suas coletividades, diferenças, igualdades, alteridades e que alcancem um bem comum.

152
GT 08 | Crítica Social, Direitos Humanos e Psicologia Social

Coordenadores: Carlos César Barros, UESF | Débora Cristina Fonseca, UNESP | Luis Guilherme Galeao-Silva, USP

Objetivos do GT:àoàGTà C íti aà“o ial,àDi eitosàHu a osàeàPsi ologiaà“o ial à as euàdoàGTà à ásàpsi ologiasàso iaisàdoà
e o he i e toà eà doà oà e o he i e toà daà dig idadeà eà deà di eitos à doà E o t oà Na io alà daà áB‘áP“Oà deà .à
Pretende discutir a relação das psicologias sociais com as lutas sociais que têm como pauta o reconhecimento de
direitos à dignidade, à diversidade e à igualdade por pessoas socialmente vulneráveis, criminalizadas e supostamente
incluídas, mas de forma excludente. Consideramos que a psicologia social tem um papel importante no conhecimento
e engajamento em propostas de resistência a situações de não-reconhecimento que se caracterizam como a
criminalização de jovens, a negação de direitos sociais e humanos. A luta por reconhecimento recíproco configura
ações de resistência e insurgência contra a inclusão precária, marginal e instável na consideração da dignidade por
parte do Estado e das Hegemonias Culturais e Simbólicas. Essas resistências e insurgências vêm sendo pesquisadas e
sistematizadas pela Psicologia Social brasileira e latino-americana, sendo um de nossos objetivos reunir os resultados
de tais pesquisas em debates que fortaleçam as pesquisas na área e possam desdobrar-se em uma agenda de pesquisa
e intervenção da Psicologia Social na colaboração pelo protagonismo dos movimentos sociais e dos sentimentos de
injustiça que possam mobilizar a sociedade. O engajamento da psicologia social na transformação social que visa a
emancipação é indispensável como compromisso ético-politico de psicólogas e psicólogos sociais atuantes em
universidades, movimentos sociais, trabalho, serviços públicos e sociedade civil.
Relação com o tema do encontro: diante dos impasses das mudanças sociais e dos conflitos sociais na
contemporaneidade, dentre a unidimensionalidade da globalização capitalista e dos diversos fundamentalismos, as
perspectivas políticas liberais e comunitaristas, os maniqueísmos esquerdistas ou direitistas, a inclusão ou exceção
jurídica, parece-nos adequado voltar a atenção para os sentimentos e a consciência de injustiça sobreviventes neste
ainda iniciante século ou milênio. Os atuais enfrentamentos em tempos de exceção apontam para condições
controvertidas do protagonismo da população a partir de suas identidades, movimentos sociais e anseios por
dignidade e representação nas políticas públicas e efetivação de seus direitos sociais e humanos. Ao mesmo tempo,
surgem outros atores sociais que defendem retrocessos nos direitos sociais, na dignidade e usam o respeito à sua
liberdade como farsa para defender o conservadorismo nas políticas públicas de saúde, educação, assistência,
segurança e cultura. Representa um desafio ético e político retirar essas importantes dimensões do vivido da
abstração, que favorece o conservadorismo e, por outro lado, reconhecê-las como forças de transformação que visam
a emancipação. Valorizar a ocupação dos espaços da cidade, do labor e da potencialidade da humanidade como
formas de insurgência contra a opressão e efetivação dos direitos é um dos caminhos que este GT encontra como
consonância com o tema geral do encontro.
Relação com o eixo 1: o eixo Políticas Públicas, Direitos Sociais e Emancipação nos parece o lugar pertinente para os
debates de pesquisadoras e pesquisadores, reunidos por um engajamento enraizado nas lutas sociais para transformar
as políticas públicas, efetivar os direitos sociais e visar a emancipação em relação às diversas barbáries estruturais e
cotidianas. Nem as políticas públicas nem os direitos são por si suficientes para alcançar a superação da desigualdade
e do desrespeito à dignidade. Entretanto, são campos de engajamento de atores e atrizes sociais e psicólogas e
psicólogos sociais comprometidos com a emancipação social. Consideramos que essas lutas são articuladas a partir de
lugares sociais que também são identificados com espaços geográficos (o bairro, a rua, a favela, a periferia, a ocupação
irregular) e institucionais (a escola, o trabalho e a comunidade). Deste modo, as lutas por direitos sociais passam pela
ocupação e insurgência no uso desses espaços por aquelas e aqueles que são relegados à invisibilidade, à
naturalização e à humilhação social.
O Estado não é um ente neutro ou universal na sociedade capitalista extremamente desigual. As leis são parte de um
processo político que exclui da sua formulação e dos seus atores parte substancial da população latino-americana. A
desigualdade da sociedade também é perpetuada por ações do Estado como: a criminalização dos movimentos
sociais, dos jovens das periferias e das ocupações de espaços ociosos no seu uso. Deste modo, as políticas públicas são
tomadas criticamente como espaços de disputa entre movimentos e identidades questionadoras da iniquidade e da
não efetivação de direitos por parte das ações concretas dos agentes do Estado. Consideramos as ações de controle
social e popular das politicas públicas como uma força de resistência ao aparelhamento do estado por interesses
dominantes e capitalistas. Bem como nos preocupamos com os sofrimentos dos trabalhadores em politicas públicas.
Estes trabalhadores e trabalhadoras em políticas sociais se veem em contradição com seus princípios éticos, pois lhes
faltam condições para atuarem e lhes sobram procedimentos inadequados à garantia de direitos.
153
Que tipo de trabalho será acolhido e quais as discussões que o GT pretende promover?
Pretendemos promover o debate entre pesquisadoras e pesquisadores, militantes, atores e atrizes de políticas
públicas e da sociedade civil sobre a contribuição da psicologia para protagonistas que combatem a desigualdade, o
desrespeito à dignidade humana e à diversidade em diferentes contextos e com diferentes gramáticas sociais, na
defensa dos direitos humanos e sociais . Almejamos um diálogo que respeite a diversidade de abordagens teóricas e
metodológicas. Os três proponentes deste GT têm abordagens diversas, sobre teorias do reconhecimento, da
identidade e da emancipação. Estamos discutindo estes temas a partir da perspectiva da Psicologia Social por meio de
conceitos da Teoria Crítica da Sociedade (Habermas, Honneth) e da Teoria Sócio-Histórica (Vigotski). Deste modo,
consideramos ser pertinente um debate na psicologia social sobre a desigualdade e a injustiça contemplar a
diversidade teórica e metodológica da luta por reconhecimento da juventude, da igualdade de gênero, de raça e etnia,
da orientação sexual, de respeito à diversidade cultural, de identidade e do trabalho. Gostaríamos também de
destacar as contribuições teóricas no campo da psicologia social e política ao sistematizar teorias ainda pouco
conhecidas na psicologia brasileira e, por outro lado, apresentar a literatura internacional sobre reconhecimento e
estudos de casos brasileiros, representativos das diversas regiões dos participantes. Trata-se, portanto, de produzir
material de pesquisa que possa ser útil a uma interação digna entre nossas instituições, ações governamentais e lutas
inerentes ao nosso povo em sua diversidade.

154
Abordagem psicossocial da criança e do adolescente: um relato no contexto de formação em Psicologia
Autores: Eliza do Amaral Silva Ferreira, UFAM; Andreza Cristina da Costa Silva, UFAM; Claudia Regina Brandão
Sampaio, UFAM; Rosangela Porfírio Bastos, UFAM
E-mail dos autores: eliza.as.ferreira@gmail.com, rosareis1284@hotmail.com, claudiasampaioufam@hotmail.com,
andrezacristina.psico@yahoo.com.br

Resumo: O presente relato tem por objetivo apresentar as concepções de estudantes de psicologia sobre criança e
adolescente, buscando através de nossa vivência de estágio em docência e como ouvintes da disciplina, possibilitar
refletir e questionar sobre a evolução dos acadêmicos em relação às concepções de crianças e adolescentes, o
contexto sócio- histórico de produção da legislação pertinente a esse público e acerca dos limites e possibilidades de
inserção e atuação do profissional da psicologia nos diversos espaços e contextos de vulnerabilidade. Tais atividades
foram cumpridas na disciplina Abordagem Psicossocial da Criança e do Adolescente do curso de graduação em
Psicologia da Universidade Federal do Amazonas/UFAM. Diante disso, é pertinente que nos localizemos quanto aos
marcos regulatórios que construíram relações e conceitos de crianças e adolescentes que perduram até os dias atuais.
O Código Melo de Matos e o Código de Menores, inicialmente, foram instrumentos vinculados à crianças e jovens em
situação irregular, atuando de forma doutrinária enquadrando e reprimindo através de medidas que não os viam
como seres legítimos, mas como menores em situação de não direitos. Com o advento do Estatuto da Criança e do
Adolescente em 1990, essa maneira de olhar transformou-se, abrindo espaço para uma legislação que se direciona a
toda criança e adolescente entre zero aos dezoito anos, percebidos como sujeitos de direito. Apesar desses avanços na
literatura e dos aportes jurídicos que sustentam um novo olhar, ainda é perceptível uma concepção de criança e
adolescente idealizada e carregada de influências dos antigos marcos regulatórios, assim como nota-se práxis
engessada e ideologizante/patologizante sendo compartilhada não somente por profissionais de infinitas áreas, mas
sobretudo pelo psicólogo. Assim, uma postura mais interventiva na formação desses profissionais a fim de que
instrumentalizados possam propiciar práticas mais efetivas e voltadas para a proteção desses jovens. Com isso, ao
organizar o plano de curso da disciplina, buscamos contemplar a pluralidade e os diversos olhares acerca da infância e
da adolescência, oferecendo um aprofundamento de conhecimentos concernentes a esse público a partir de várias
temáticas e contextos de inserção/atuação do psicólogo. Utilizamos como procedimentos rodas de conversas
temáticas, dinâmicas de grupo, exibição de vídeos, trechos de filmes, estudos de caso, bem como a realização de
visitas técnicas aos equipamentos que integram a rede de proteção da criança e do adolescente conforme as políticas
públicas pertinentes. A partir das atividades iniciais, identificamos que as concepções de criança e adolescente partiam
de um referencial universalizante, essencialista e fundamentada nas teorias desenvolvimentistas. Os resultados
demonstravam que em relação à criança predominava a imagem de uma infância romantizada, onde a criança
evidenciava-se como um ser que necessitava de cuidados, atenção e afetos por sua fragilidade e inocência. A criança
em situação de vulnerabilidade não foi evidenciada de início nas falas dos acadêmicos. Ao adolescente é impresso uma
imagem ligada a conflitos com expressões do tipo aborrecente, produzido um limbo que determina um lugar de
transição e conflito (construído histórico e socialmente) onde o sujeito ainda não é livre e responsável e precisa ser
controlado. Assim, também predominou uma perspectiva desenvolvimentista, sem a ligação com necessidade do
cuidado como em relação à criança, onde a expressão sujeito de direito não foi relacionada a sua imagem, como se o
adolescente necessitasse apenas conhecer e cumprir os deveres para se adaptar às normas e regras socialmente
aceitas. Vale salientar que as concepções de criança e adolescente emergiram nos discursos descolados da dimensão
social, histórica e cultural e que as situações de vulnerabilidades de início foram poucas mencionadas. O estudo de
caso relacionada ao atendimento psicossocial em situação de vulnerabilidade possibilitou que os participantes
problematizassem o fazer do psicólogo nesse contexto, identificando as lacunas de informações, rotulações e o
predomínio do modelo biomédico em encaminhamentos entre órgãos e equipamentos da política pública em
educação, saúde e assistência social. Dos relatos orais e escritos sobre as visitas técnicas aos equipamentos da
assistência social (CRAS E CREAS) descreveram as impressões e sentidos produzidos acerca do observado nesses locais:
155
relações entre profissionais, demandas sociais, bem como os desafios e limites do fazer do psicólogo nesses espaços,
questionando sobre o efetivo olhar psicossocial desse profissional. Em síntese, embora os acadêmicos apresentassem
um resquício de influência dos moldes teóricos da Psicologia em seus discursos, houve um processo saliente de
desconstruções teóricas e concepções universalizantes acerca de jovens e crianças, além de tentativas estratégicas de
intervenção que propusessem a autonomia dos sujeitos. Destarte, concluímos a necessidade de trazer para o espaço
da academia discussões e questionamentos sobre o papel da psicologia na atuação profissional, tendo em vista que
um grande quantitativo dos psicólogos formados em universidades públicas irão atuar em espaços com demandas de
jovens e crianças que fogem às teorizações da formação, necessitando ter ciência dos instrumentos e aportes teóricos
que contemplem essa população.

156
Adolescer no território: da vulnerabilidade social à efetividade do acesso aos direitos constitucionais
Autores: Gabriela Alves Martins Guimarães Lyrio Todo, UFTM; Ailton de Souza Aragão, UFTM; Fernanda Sousa Bastos
de Moraes, UFTM; Maria Lopes dos Santos, UFTM; Rosimár Alves Querino, UFTM
E-mail dos autores: gabrielaglyrio@gmail.com, ailtonaragao74@gmail.com, rosimarquerino@hotmail.com,
lopezinha2011@hotmail.com, nandasbm@gmail.com

Resumo: Em meio ao processo Constituinte, nos anos 1980, a demanda por direitos sociais irrompe enquanto crítica
ao status quo de base privatista, obedecendo a lógica neoliberal. Ao instituir constitucionalmente os direitos sociais
como dever do Estado e direito dos cidadãos, o Estado expõe suas próprias contradições na relação capital-trabalho
enquanto proponente de políticas públicas. Pois o enfrentamento de demandas geradas pela desigualdade social
evidencia outras formas de violação de direitos. Nesse cenário, a instituição do Sistema Único de Assistência Social,
por meio da Política Nacional de Assistência Social, previu a organização e oferta dos serviços socioassistenciais. Na
lógica organizativa dos serviços está a Proteção Social Básica que instituiu os Centros de Referência de Assistência
Social (CRAS). Nesses espaços funcionam vários programas sociais que visam o fortalecimento de vínculos e
convivência, dentre estes estão os ProJovens Adolescentes, que pretendem contribuir com a participação cidadã de
adolescentes em seus territórios. Em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Prefeitura
Municipal (Uberaba, MG) a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) desenvolve a experiência de extensão
denominada Adolescer no Território que, com interface em pesquisa, está em seu 5º ano e está presente em 8 CRAS.
Sob a lógica de interação multiprofissional, os discentes extensionistas realizam atividades com grupos de
adolescentes que integram os Coletivos do ProJovem. Objetivos. Fomentar a discussão e analisar como os
adolescentes de um Programa Federal de convivência e fortalecimento de adolescentes apreendem os Direitos
Fundamentais, contidos no ECA, de modo a potencializar o empoderamento dos mesmos. Metodologia. O Adolescer
no Território tem como metodologia o estímulo à participação, mediada por ações lúdicas e problematizadoras,
destas: teatro, música, dinâmicas de grupo, fotos jornalísticas e jogos. Participam das atividades nos 8 Coletivos, em
média, 12 adolescentes por CRAS, de ambos os sexos. Os debates mediados por Rodas de Conversa foram registrados
em Caderno de Campo dos discentes para discussão/avaliação das ações de extensão e devolutiva para os
adolescentes. A construção da pesquisa primou pela realização de Grupo Focal, Redação Autobiográfica, Questionário
sócio participativo e Photovoice. Os registros oriundos de cada método foram transcritos e analisados na modalidade
de conteúdo temático por meio da construção de banco de dados quantitativo e qualitativo. Resultados. As
experiências de extensão e de pesquisa revelaram, sobremaneira, a violência do tráfico de drogas e a insegurança
produzida no território, que afetam principalmente os adolescentes os sexo masculino; a redução ou a limitação do
uso dos espaços públicos de sociabilidade, pois as escolas ficam fechadas aos fins de semana e as praças são tomadas
por usuários de drogas; a violência policial, seja pelo assédio às adolescentes, seja pela omissão aos chamados; o lixo
em terrenos baldios, que proliferam animais peçonhentos, servem de esconderijo de drogas e de locais de possíveis
estupros às meninas; as violências sexuais são praticadas por padrastos, tios, vizinhos e estranhos e afetam em
especial as meninas, essa forma de violência é agravada quando os laços intrafamiliares fragilizaram-se. A violência
física e a psicológica reforçam a vulnerabilização dos/das adolescentes nos territórios dos CRAS. Considerações Finais.
A experiência e os resultados da pesquisa evidenciam o paradoxo dos Direitos Fundamentais, previstos no ECA: de um
lado se inscrevem como alternativa instituída para adolescentes historicamente vulnerados; de outro, expõe suas
limitações estruturais no enfrentamento dos determinantes promotores da mesma vulnerabilidade. Assim, o desafio
das políticas públicas para adolescentes em situação de vulnerabilidade reside na fragmentação das forças coletivas de
resistência, um sintoma da biopolítica, onde cada sujeito, institucional e/ou individual criam seus próprios métodos de
enfrentamento a esse estado de coisas, reforçando o paradigma do acesso privado aos serviços assistenciais, de
saúde, de educação, sob a ótica conservadora do mercado. Aliado aos estudos propostos no Grupo de Trabalho, os
157
esforços devem ser aglutinados para o acolhimento dos sujeitos alijados dos direitos constitucionais e humanos
enquanto potência na elaboração de estratégias interdisciplinares e multiprofissionais, na qual a Psicologia pode
compor com seu arcabouço teórico para a avaliação crítica das políticas públicas em vigor no Brasil destinadas aos/às
adolescentes.

158
Análise de políticas públicas para além do Estado: um estudo sobre a ação pública de assistência social no município
de São Paulo
Autores: José Fernando Andrade Costa, UNISA
E-mail dos autores: josefernando.ac@hotmail.com

Resumo: O ponto de partida dessa comunicação será uma reflexão crítica sobre uma importante lacuna nos estudos
em psicologia social sobre análise de políticas públicas. Ocorre que, a despeito do crescente interesse por esse objeto
de estudo, podemos perceber certa limitação quanto aos instrumentos analíticos disponíveis. Qual a compreensão
que temos do que sejam as tais políticas públicas? Esta pergunta não é nada trivial quando notamos que o debate
setorial prevalece sobre as análises globais do ciclo de política pública. A explicação imediata para isso seria o fato dos
estudos decorrerem da necessidade de compreender melhor a inserção e atuação profissional das/os psicólogas/os
em setores específicos como, por exemplo, na Saúde, Educação e Assistência Social. Tomando especificamente o caso
da Assistência Social, quando recorremos à literatura disponível percebemos a repetição de estudos que descrevem
diversos fatores que limitam ou dificultam a realização adequada do trabalho, sendo um deles a distância existente
entre as normativas oficiais e as condições concretas para realização do trabalho no cotidiano. Isto nos faz pensar que
para ir além da mera descrição e aprofundar a compreensão desses processos, talvez seja o momento de assumirmos
uma perspectiva interdisciplinar que inclua referências do campo da Administração Pública, da Ciência Política e da
Sociologia.
O objetivo desta comunicação é caminhar nesse sentido, trazendo para discussão algumas contribuições da Sociologia
da Ação Pública para o âmbito da análise de políticas públicas pela Psicologia Social.
Para tanto, serão apresentados resultados de uma pesquisa empírica, de abordagem qualitativa, sobre a
implementação de serviços socioassistenciais no município de São Paulo. Metodologicamente, o estudo compreendeu
revisão de literatura e pesquisa de campo (observação participante e entrevistas) em um território considerado em
situação de alta vulnerabilidade social. Além disso, para os propósitos desta comunicação, é importante incluir os
debates acadêmicos realizados ao longo da pesquisa em centros de pesquisa de outras áreas (Gestão de Políticas
Públicas, Ciência Política, Sociologia etc.).
Neste sentido, este trabalho relaciona-se diretamente com o eixo Políticas Públicas, Direitos Sociais e Emancipação,
sendo mais adequado para fazer o debate o Grupo de Trabalho Crítica Social, Direitos Humanos e Psicologia Social,
tendo em vista a orientação teórica ora assumida.
O referencial adotado para análise dos resultados da pesquisa empírica foi a Teoria Crítica de Axel Honneth, cuja
categoria central de análise são as relações intersubjetivas de reconhecimento recíproco. Além disso, para
compreender melhor a dinâmica da implementação dos serviços sociassistenciais na metrópole paulistana, foi
utilizada a literatura da Sociologia da Ação Pública de Pierre Lascoumes e Patrick Le Galés. Por ação pública, portanto,
estamos nos referindo aqui a um novo paradigma de análise que vai além dos limites do Estado como o único ator
responsável pelas políticas públicas.
Dentre os achados da pesquisa, convém introduzir aqui a mudança de perspectiva analítica quando ampliamos o foco
do Estado como ator central no processo de implementação dos serviços públicos e passamos a incluir outros atores e
interesses que compõem uma verdadeira teia de relações que pode ser definida como ação pública. Nesta perspectiva
entram as organizações da sociedade civil (OSC) que compõem formal ou informalmente a rede de proteção social
disponível. Por exemplo: quando olhamos para a rede de proteção social básica do município de São Paulo, notamos
que cerca de 94% dos serviços são executados através de convênios entre OSC e o Estado. São centenas de
organizações diferentes, que executam serviços diferentes. Isto gera uma enorme complexidade analítica e uma
miríade de atores, atividades e interesses nas diferentes arenas de decisão sobre os caminhos que realmente são
traçados pelos serviços no cotidiano. Um exemplo observado foi o uso dos termos convênio e parceria com
conotações distintas pelos burocratas de médio escalão da prefeitura e os representantes das OSC. Enquanto para os
primeiros convênio refere-se a uma relação contratual hierarquizada e pautada por resultados, para os segundos
159
parceria indicava o exercício de somar esforços e coordenar ações para estabelecer um trabalho em conjunto. Outro
exemplo é a margem de exercício da discricionariedade pelos burocratas do nível da rua, onde as práticas e estilos de
interação com a população usuária são moduladas por fatores organizacionais e institucionais, ou seja, enquanto no
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), equipamento da administração direta, costuma-se utilizar
predominantemente a linguagem da administração pública e os argumentos legais, em um serviço administrado por
uma OSC religiosa e com maior enraizamento histórico no território a linguagem é predominantemente baseada em
valores morais e missionários.
Buscou-se trazer para o debate sobre a Ação Pública no campo da Psicologia Social, lançando uma nova luz sobre os
pressupostos contidos nas pesquisas sobre as políticas públicas. A tarefa agora consiste em refletir sobre o que
entendemos por política pública? Qual a concepção de Estado? Quem e como são analisados os atores envolvidos
nessas políticas? Essas questões podem dar pistas promissoras para debates futuros sobre esse tema.

160
Intervenção em Comunidade Terapêutica: desafios, enfrentamentos, transformação e possibilidades
Autores: Marcelo Vinicius Costa Amorim, UFG; Fernando Cesar Paulino-Pereira, UFG; Libna Raquel Barbosa de Sousa,
UFG; Lucas Horácio Zacura, UFG
E-mail dos autores: m.viniciuh@gmail.com, libnaraquel383@gmail.com, lucaszacura@gmail.com,
epifania.cps@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é resultado da experiência do projeto de extensã denominado Psicologia na


Comunidade que consiste em um grupo de estudo, supervisão e intervenção, de alunos do Curso de Psicologia, que
atuam no município de Catalão. O projeto em questão possui diferentes frentes de trabalho, compreendendo atuação
social e comunitária da Psicologia. Fomentando a atuação em campo, está a reflexão sobre a relação entre teoria e
prática em processos grupais na dimensão terapêutico-educativa. Propõe a discussão sobre o fazer do psicólogo e a
atuação profissional com a comunidade. Ressalta as ações norteadoras para trabalhar com processos grupais no
âmbito educativo tendo como categoria de análise três dimensões - Campos: Afetivo, Valorativo e Operativo. Um dos
campos de atuação do projeto é uma comunidade terapêutica (CT) da cidade de Catalão/GO, que atende cerca de 30
pessoas em situação de internação, sendo todos do sexo masculino. Existe uma grande quantidade de comunidades
terapêuticas na cidade, consequência da ausência de políticas públicas redirecionadas à dependência de álcool e
outras drogas. De acordo com o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas de álcool e outras
drogas (CREPOP, 2013) o movimento de reforma psiquiátrica instituiu novos dispositivos de cuidados psicossociais a
dependentes químicos, como o Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras drogas (CAPS AD), no entanto
mesmo com demanda suficiente (possui mais de 100.000 habitantes) ainda não conta com um CAPS AD, necessário
em cidades com 70.000 a 200.00 habitantes, além disso, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da cidade não
atende o público em questão. Diante dessa realidade, a família que muitas vezes não conhece estes dispositivos
enxergam nas CTS a única forma de tratamento. A CT alvo deste trabalho, conta com uma equipe composta por 1
médico e 1 psicólogo, e três alunos de Psicologia atuando como extensionistas por um período de duas horas
semanais. O objetivo do presente trabalho é enunciar a importância da atuação e prática da Psicologia como fomento
potencial de transformação subjetiva no tratamento de dependentes químicos, em uma comunidade terapêutica.
Como referencial teórico, este serviço prestado usa de autores da Psicologia Social Latino-americana, que visualizam e
trabalham o homem como ser político, histórico e dialético, reconhecendo o sujeito como produto e produtor de sua
história bem como da sociedade. Para Lane (1984 apud Reboredo, 2003) é necessário resgatar o indivíduo na
intersecção com sua história e a história da sociedade, consequentemente enxergando os sujeitos para além da
dependência química. Vale ressaltar que a inserção nesta instituição também viabiliza caminhos que impeçam a
cristalização e estigmatização dos papeis em que os internos se encontram. Segundo Paulino-Pereira (2012) a
identidade não é estática, portanto está em construção assim como as ações e pensamentos do sujeito. O individuo
muda conforme passa por diferentes vivências em um processo de construção da cultura e de si. O grupo terapêutico
educativo acontece uma vez na semana e tem duração aproximada de noventa minutos. Posteriormente, é realizado o
acolhimento individualizado dos internos que manifestarem o desejo de serem ouvidos, seja sobre angústias de sua
internação ou sobre algo que desejou dizer e não o fez durante o processo grupal. Para o desenvolvimento do
trabalho, utiliza-se o método da pesquisa- ação, que visualiza o ser humano como ser dialético ativo e passivo. A
pesquisa-ação somada ao método materialista histórico dialético, compõem teoricamente as intervenções na
instituição. As técnicas grupais utilizadas, são vivências que visam trabalhar variados temas como: gênero, política,
preconceitos, opções de lazer e prazer,união do grupo, resolução de problemas grupais, dentre outros. Para as
vivências são utilizadas diferentes ferramentas, podendo ser colagens, teatros, músicas, cinema, jogos e discussão de
textos usados para o lúdico. Após a operação da oficina, abre-se espaço para conversa, partilha e debate de ideias,
referentes ao tema proposto para a atividade em questão. No momento da escuta individual acontece o acolhimento
de demandas particulares e outras questões que os internos não se sentem a vontade de expor na roda de conversa.
Após o trabalho na instituição é confeccionado diário de campo, posteriormente os resultados são discutidos em
161
supervisão, a fim de ressalvas e orientações para futuras intervenções. Através das intervenções práticas percebemos
que os internos consideram o momento das reuniões como um espaço de fala, onde podem tratar questões pessoais e
grupais que comumente não são trabalhadas no cotidiano da instituição, visto que, a rotina é majoritariamente
baseada em atividades de cunho evangélico-protestante. Destarte, têm-se atuação pautada na ética profissional,
visando promover o bem estar psíquico dos usuários em situação de internação, através de grupos terapêuticos
educativos e acolhimentos individuais que proporcionem possibilidades de enfrentamento às injustiças da realidade
social. Segundo o CREPOP (2013) os profissionais inseridos nesses espaços devem estar atentos às práticas de violação
dos Direitos Humanos, fazendo cumprir os princípios do código de ética da(o) psicóloga(o).

162
Justiça Participativa-Reconhecitiva e Movimentos Feministas: Uma Abordagem sob a Ótica Fraseriana
Autores: Poliana Gomes dos Reis, UNIUBE
E-mail dos autores: polianagdrs@gmail.com

Resumo: A presente investigação e seus resultados surgiram durante pesquisas de iniciação científica com a temática
da construção da cidadania através da efetivação de políticas públicas pautadas no princípio constitucional basilar da
dignidade da pessoa humana. A problemática principal gira em torno da questão do reconhecimento dos movimentos
feministas modernos como manifestações válidas para a busca da integração da mulher enquanto ser social e que
possui todos os direitos humanos a ela inerentes acordante com os diplomas legais, nacionais e internacionais, que
assim preconizam. Objetivou-se demonstrar que os feminismos, em suas várias formas, histórica e ideologicamente,
permanecem sendo movimentos imprescindíveis para a construção supracitada, uma vez que, conforme se
desenvolveu a análise psicossocial acerca da situação sócio-política atual da mulher, ficou claro que o trabalho de
quem luta e defende tal causa ainda está longe de terminar.
A pesquisa aborda questões fundamentais como a desigualdade perpetuada entre o feminino e o masculino na
patriarcalidade e suas consequências psíquico-jurídicas nas vidas das mulheres. Tal desigualdade é relatada nos mais
diversos campos sociais: trabalho, estudos, legal, sociocultural e pessoal. Para demonstrar o papel destes feminismos
no que concerne a modificação da visão social inferiorizada da mulher, utilizou-se como abordagem teórica os
ensinamentos de Nancy Fraser acerca da justiça e do reconhecimento. Tem-se, segundo Fraser, um quadro de
necessidade latente de reconhecimento, de um teor essencialmente provindo da moral, das lutas dos grupos
minoritários, através do que ela denomina de paridade participativa, ou, a participação destes grupos de forma
igualitária na construção estatal da cidadania intrínseca a todos. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do
trabalho foi exclusivamente bibliográfica, com profunda análise dos escritos teóricos fraserianos conjuntamente com
disposições legais que abordam o objeto da pesquisa, pensando em sua aplicação prática inserida na temática aqui
discutida.
Foi possível observar, durante e ao final da produção do presente trabalho, que, como acima transcrito, a luta por
reconhecimento dos movimentos das mulheres ainda está longe de seu fim, e que este reconhecimento não deve
acontecer dissociado das ideias de justiça. Cunha-se, assim, a ideia de justiça participativa-reconhecitiva, um ideário
edificado com fundamentação nas soluções para os problemas de desigualdade citados, que podem ser encontradas
na amplificação e real efetivação de políticas públicas voltadas para a emancipação social da mulher em nossa
sociedade. Observa-se, portanto, que: 1) para melhor compreender o movimento social feminista como um todo,
deve-se analisar as variáveis do conhecimento acerca do processo de seu surgimento e difusão, bem como a
criminalização que qualquer movimento social semelhante tem sofrido nos últimos tempos para que, desta forma,
inicie-se a aplicabilidade da ideia de reconhecimento dos grupos feministas enquanto grupos válidos de reivindicação
política e jurídica; 2) tal reconhecimento se dá através da participação destes grupos sob condições paritárias
econômicas e não-discriminatórias, em todos os setores e espaços públicos nos quais cabem manifestações cidadãs,
acordante com o embasamento teórico fraseriano; 3) a ideia de justiça participativa-reconhecitiva é uma propositura
de abordagem visa abarcar todas as pontuações referentes à problemática, desde o próprio entrave da mulher (e dos
movimentos) na vida pública (em todos os sentidos) à validade destes neste mesmo setor; e 4) o sustentáculo da
busca por reconhecimento, justiça e validade da mulher (em seus movimentos) é, indubitavelmente e inegavelmente,
a condição de humanidade digna de direitos inerente à sua própria existência, devendo tais direitos humanos,
preconizados nos diplomas legais citados no trabalho, servirem como instrumentalidade a estes movimentos.

163
Medicalização e Governamentalidade nos Relatórios do UNICEF sobre Crianças e Adolescentes Usuários de Drogas
Autores: Joyce Costa Moreira, UFPA; Flávia Cristina Silveira Lemos, UFPA
E-mail dos autores: joycemoreirapsi@gmail.com,flaviacslemos@gmail.com

Resumo: A medicalização se configura como um processo que não se limita apenas à prática da medicação, mas
abrange toda forma de submeter a vida ao que o saber médico e aqueles a ele associados consideram como normal ou
anormal, saudável ou doente, dessa forma, preconiza práticas preventivas em busca daquilo que o saber médico
considera como risco para a saúde e pode ser utilizada como argumento científico que embasa formas de controle
social, como a disciplina e a biopolítica, pelo oferecimento e maximização de vida e de saúde (CAPONI, 2013). O tema
do uso e abuso de drogas na infância e na adolescência é de patente relevância na esfera da proteção e garantia de
direitos e do pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes. O UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a infância)
é uma agência da ONU (Organização das Nações Unidas) que atua no Brasil desde 1946, apresentando-se como
organismo protetor e cuidadoso, voltado para defesa, proteção e promoção dos direitos de crianças e adolescentes
em países em desenvolvimento. Com este trabalho, tivemos o objetivo de problematizar as práticas de medicalização,
explicitadas em relatórios do UNICEF voltados para o tema do uso e abuso de drogas legais e ilegais no Brasil, de 1990
a 2015. Este trabalho alia-se às pesquisas em psicologia social como campo de lutas por políticas públicas que efetivem
os direitos de pessoas consideradas em situação de vulnerabilidade e que muitas vezes não têm reconhecidos seus
direitos à diversidade, à dignidade e à igualdade, sendo comumente excluídas e criminalizadas por políticas que se
dizem inclusivas. Nesta perspectiva, esta pesquisa teve como base teórica principal os estudos e construtos teóricos de
Michel Foucault, por isso utilizamos conceitos como os de medicalização, biopolítica, disciplina e governamentalidade,
assim como sua perspectiva histórica não linear e descontínua. Dessa forma, o método utilizado neste trabalho parte
da perspectiva histórica de Foucault, qual seja, uma história descontínua e não linear, que não busca origens que
ocorrem no decorrer do tempo, mas as descontinuidades nas formações discursivas (MACHADO, 2016). Assim,
utilizamos os métodos da arqueologia e da genealogia de Foucault para análise dos discursos de relatórios do UNICEF
publicados em português, acerca da realidade Brasileira, ao longo dos anos 1990 a 2015, que traçam diretrizes
específicas para o tema uso e abuso de drogas por e entre crianças e adolescentes brasileiros. Na perspectiva histórica
utilizada nesta pesquisa, os documentos analisados foram tomados enquanto documentos-monumentos. O
documento-monumento é um conceito que surgiu a partir de uma visão crítica e não tradicional da história e do fazer
do historiador, leva em conta que documentos não podem ser reduzidos apenas e puramente a seus textos, mas
devem ter sua análise expandida para as suas condições externas de produção, ou seja, o documento-monumento é o
documento tomado da perspectiva de que nenhum documento é inócuo, mas algo que de fato é construído não com
neutralidade, e sim com a intencionalidade de algo a se dizer, ou de práticas a fazer, utilizado pelo poder (LE GOFF,
1990). A partir da metodologia e dos critérios de seleção de documentos descritos, nos relatórios analisados foi
possível verificar que as prescrições de práticas preventivas do UNICEF, que associam vulnerabilidade e uso de drogas,
assim como a diversidade como fator favorecedor para o consumo de drogas por e entre crianças e adolescentes,
visam à normalização de crianças e adolescentes e suas maneiras de viver, de sentir, de pensar, de cuidar de si, de
construir um projeto de vida, por meio da disciplinarização de seus corpos e da biopolítica de crianças e adolescentes
como segmentos da população, logo, uma governamentalidade que se faz nas práticas de uma agência multilateral
que influencia e atua em políticas públicas e outros programas e ações voltados para a infância e adolescência
brasileiras, em parceria com o Estado, empresas, organizações governamentais e não governamentais, e que explicita
uma instrumentalização de direitos de crianças e adolescentes brasileiros.
REFERÊNCIAS

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CAPONI, S. Classificar e medicar: a gestão biopolítica dos sofrimentos psíquicos. In: CAPONI, S.; VALENCIA, M. F. V.;
VERDI, M.; ASSMANN, S. J. (Orgs.). A medicalização da vida como estratégia biopolítica. 1. ed. São Paulo: LiberArs,
2013. p. 99-118.
MACHADO, R. Por uma genealogia do poder. In: MACHADO, R. (Org.) Microfísica do Poder. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2016.
LE GOFF, J. Documento/monumento. In: LE GOFF, J. História e memória. Campinas, SP: Unicamp, 1990.
*Este trabalho é fruto de pesquisa orientada pela Profa. Dra. Flávia Cristina Silveira Lemos e financiada pelo CNPq.

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O adolescente em conflito com a lei e a reinserção escolar: a visão dos professores
Autores: Débora Cardoso de Campos, UNESP-Rio Claro; Débora Cristina Fonseca, UNESP; Vanessa Petermann Bonatto;
UNESP-Rio Claro
E-mail dos autores: deborarc9@gmail.com,vanessapbonatto@hotmail.com,dcfon10@gmail.com

Resumo: Essa pesquisa teve (tem) como objetivo principal compreender, na visão do professor, como é a relação
professor-aluno no ambiente escolar na perspectiva da socialização de adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa. Para isso, entramos em contato com professores da EJA (Educação de Jovens e Adultos) de duas
escolas de uma cidade do interior de São Paulo que costumam receber adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa em meio aberto. A proposta, portanto, foi a de saber como os professores têm contribuído, (positiva
ou negativamente) para o processo de reinserção escolar desses jovens que já apresentam problemas de defasagem
escolar. Entende-se que refletir sobre as práticas neste contexto escolar implica discutir os processos contemporâneos
de construção dos direitos sociais nesses espaços, refletir como se produzem e se executam as políticas públicas
voltadas à juventude em conflito com a lei, fato que articula a proposta desse trabalho do eixo 1, Políticas públicas,
direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais e o GT Crítica Social, Direitos Humanos e
Psicologia Social. Para alcançar os objetivos, fundamentados na Teoria Sócio-Histórica, realizamos dois Grupos Focais
(um em cada escola) e quatro entrevistas individuais semiestruturadas com os professores. Para a apresentação deste
trabalho pretendemos focar mais nas falas dos professores sobre a visão que eles possuem do adolescente autor de
ato infracional. As análises preliminares apontam para um primeiro aspecto interessante pôde ser observado durante
uma conversa que ocorreu entre duas pessoas antes de iniciarmos, de fato, o grupo focal, onde uma professora,
comenta com outro professor quem era um dos alunos em Liberdade Assistida dentro de sua sala. Para ela, isso era
algo que tinha que ser claro para o professor, pois as ações desse jovem deviam estar demonstrando tal situação.
Outro momento foi durante uma entrevista em que uma das professoras disse não saber quem eram os adolescentes
em cumprimento de medida, mas que desconfiava. Observamos, portanto, que se havia essa desconfiança, que pode
significar que ela esperava desses adolescentes certas atitudes que não esperaria de um adolescente que não está em
conflito com a lei. Assim, parece evidenciar-se uma expectativa de quem seja o aluno criminalizável, sem a
comprovação do fato. Percebemos também algumas contradições nos discursos dos professores, quando expressam
que o adolescente da EJA é completamente diferente do adolescente do ensino regular. Nesse segmento, pudemos
perceber a presença nas falas de uma concepção negativa de adolescência, enquanto, uma doença que tem cura,
como uma fase conflituosa. A presença dessa concepção se intensifica na fala dos professores ao se referirem aos seus
alunos, especialmente os adolescentes em conflito com a lei, em que ressaltam a percepção de que as características
negativas são mais intensas e problemáticas para esses jovens, atribuindo isso a altos índices de vulnerabilidade social
a que esses jovens estão sujeitos.
Constatamos, ainda que preliminarmente, que apesar de as políticas públicas trazerem em seu bojo a concepção de
adolescente enquanto um sujeito de direito, destacando sua potencialidade participativa e buscando emancipação e
sendo reconhecidas pelos professores, estas por si só não são suficientes para alcançar a superação da desigualdade,
reconhecimento de direitos à diversidade e à igualdade a adolescentes socialmente vulneráveis, criminalizados e
supostamente incluídos, mas de forma excludente. Aspecto que aproxima as reflexões deste trabalho com a discussão
proposta pelo GT Crítica Social, Direitos Humanos e Psicologia Social. Acrescenta-se que longe de culpabilizar esses
profissionais, há uma preocupação sob que pressupostos as relações entre professores e os adolescentes em
cumprimento de medida socioeducativa estão sendo construídas no ambiente escolar, que contraditoriamente a
perspectiva de potencializar a socialização desses jovens, reproduz lógicas e procedimentos contraditórios à garantia
de direitos.

166
O relato de uma vivência de sensibilização em prol da luta pela visibilidade e pelo protagonismo das pessoas com
deficiência
Autores: Mônica Rodrigues Cardoso; Marineia Crosara de Resende, UFU
E-mail dos autores: monica_rodriguesc@hotmail.com,marineia@ufu.br

Resumo: A função da arte/1


Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na
frente de seus olhos. E foi tanta imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
– Me ajuda a olhar!
(Galeano, 2015, p.15)
Quando nos encontramos com o universo das pessoas com deficiência, pudemos sentir a complexidade do humano.
Contamos a vocês que reconhecer essa imensidão e abarcar o seu fulgor é um caminho de dunas altas, que demanda –
além de muito caminhar – uma boa dose de empatia, conhecimento e sensibilidade. E nesse sentido propomos o
caminho dos diferentes, pois ao passo que lutamos pelos direitos das pessoas com deficiência, lutamos também por
uma sociedade equânime – que respalda todas as diferenças do humano e que garante os seus direitos e liberdades
fundamentais. Trilhar o caminho dos diferentes é reconhecer que diferentes somos todos nós, e que compreender e
militar pelos direitos das pessoas com deficiência é um processo que visa respeitar as diferenças, lutar pela igualdade
de acesso e pelo bem comum da sociedade.
No percurso do relato, fazemos breve retomada histórica a fim de compreender as suas influências a respeito das
questões da deficiência, pautado teoricamente na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Convenção sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Mobilizadas por encontros durante a caminhada acadêmica, o presente relato vem contar sobre oficinas realizadas em
Uberlândia/MG, intituladas Vivenciando a Deficiência: (Des)educando para (re)significar. Tais oficinas têm como
objetivo incitar reflexões acerca das questões relacionadas à deficiência e sensibilizar os participantes para o convívio
com a diferença, facilitando o processo de inclusão. Nela, paramentamos os participantes com faixas, vendas, muletas,
bengalas, cadeira de rodas, entre outros; para que pudessem vivenciar – temporariamente – a sensação de se ter
alguma deficiência. Em seguida, os presentes visitaram estabelecimentos próximos à instituição de realização das
oficinas e também utilizaram os sanitários e bebedouros dos locais.
Após transitarmos pelos espaços propostos, retornamos à instituição e iniciamos um momento de partilha, no qual
cada participante – caso se sentisse a vontade – descrevia em uma palavra a sua experiência. Palavras como: cansado,
dificuldade, dor, empatia, medo, respeito e superação foram as mais recorrentes. Utilizamos também esse espaço de
diálogo para dar voz a importantes questões sobre a temática da deficiência, para apresentar os princípios que
norteiam a nossa luta, bem como para promover a visibilidade e o protagonismo dessa população.
Acreditamos que a educação é um instrumento potente de alcance e continuidade no que tange a discussão sobre
deficiência, nos ajudando a conhecer mundos novos, mais sensíveis, justos e diversos. Somente com lutas individuais e
coletivas serão possíveis mudanças nas atitudes em relação à diversidade humana, entendendo que a valorização e o
respeito por esta causa será em benefício de todos.
Uma sociedade inclusiva pauta-se no reconhecimento das necessidades específicas dos diversos segmentos sociais
que advém da diversidade humana – onde se incluem as pessoas com deficiência, e promove o desenvolvimento de
ações que visam adaptar as inadequações e garantir que todos tenham as mesmas condições e oportunidades de
167
exercerem os seus direitos e liberdades fundamentais. A sensibilização Vivenciando a Deficiência: (Des)educando para
(re)significar é um importante instrumento para construirmos essa sociedade inclusiva. Por fim, gostaríamos de
ratificar a nossa gratidão aos que lutaram antes de nós, aos que lutam ao nosso lado e aos que virão.

168
Pessoas em Situação de Rua e a Busca por Reconhecimento
Autores: Killian Cristina Cardoso de Souza, UNIANCHIETA; Ingrid Matzembacher Stocker Taffarello, USP
E-mail dos autores: killian_cris@hotmail.com,ingridstocker@gmail.com

Resumo: Esta pesquisa visa aprofundar os estudos a respeito da realidade vivenciada pela população em situação de
rua. Pretendemos dimensionar quais são os fatores que legitimam as estratégias de reconhecimento deste grupo. Por
isso, acreditamos que este trabalho se insere no GT Crítica Social, Direitos Humanos e Psicologia Social, eixo Políticas
Públicas, Direitos Sociais e Emancipação, já que busca evidenciar o reconhecimento como estratégia de resistência
daqueles que vivem nas ruas. Observamos que, embora existam muitas pesquisas acadêmicas voltadas a população
em situação de rua, tratam-se de estudos que apresentam maior interesse em analisar os motivos que levam as
pessoas a estarem na rua. Os principais motivos são: desemprego, pobreza, violência, perda da autoestima, busca por
liberdade, contextos econômicos desfavoráveis, uso de drogas lícitas ou ilícitas, doenças mentais, rupturas de vínculos
familiares, dentre outros. Trata-se de uma população submetida a condições extremamente precárias que configuram
um sofrimento psicossocial vinculado a vulnerabilidade e a desigualdade social. (Paugam, 2003; Canônico et al.
2008;Andrade, Costa & Marquetti, 2014; Farias, Rodrigues, Nogueira & Marinho, 2014). Contudo, observamos que são
poucas as publicações que abordam a questão do reconhecimento e da luta por direitos desta população. Nesta
perspectiva, buscamos compreender as diretrizes da Política Nacional para Inclusão Social das Pessoas em Situação de
Rua, criada em 2008, que objetiva orientar as ações voltadas aqueles que sempre estiveram à margem dos privilégios.
(Serafino & Luz, 2015) Desta forma, identifica-se que a política preconiza o desenvolvimento de ações intersetoriais
para proporcionar o acesso pleno aos direitos fundamentais constitucionais, ou seja, a garantia do mínimo existencial,
baseado na segurança de renda, autonomia, convivência familiar e comunitária (Brasil, 2015). Segundo Serafino e Luz
(2015), a intersetorialidade produz a união entresaberes e fazeres como fundamentais no enfrentamento de
problemas estruturais da sociedade. Entretanto, observa-se que as pessoas em situação de rua vivenciam diariamente
a violação de seus direitos. Para o Ministério Público, os direitos são violados quando não são assegurados o acesso à
saúde, segurança, moradia, cultura, trabalho, educação e direitos humanos (Brasil, 2015). Neste sentido, observa-se
que ao mesmo tempo em que as políticas públicas voltadas a esta população concentram-se em propor modelos de
intervenção restritos a sua retirada das ruas, não se propõe iniciativas pessoais e coletivas de transformação (Andrade,
Costa &Marquetti, 2014). Nesta perspectiva, para compreender este contexto de desigualdades produzidos pelo
neoliberalismo, esta pesquisarespalda-se em autores da teoria crítica e da psicologia social, fundamentando-se no
conceito de reconhecimento desenvolvido por Honneth. Segundo o autor, as experiências de desrespeitosgeram as
lutas sociais, ou seja, as experiências de injustiças sociaismobilizam uma busca por reconhecimento. Nesta
perspectiva, os não reconhecidos vivenciam o desrespeito ao amor, compreendido como maus tratos e a violação, que
atinge a integridade física e psicológica. Dessa forma, o desrespeito ao direito e a exclusão são degradações e ofensas
que ferem a honra e a dignidade (Honneth, 2003). Enquanto metodologia, este estudo configura-secomo uma
pesquisa exploratória qualitativa que busca evidenciar a realidade do fenômeno por meio da obtenção de dados
descritivos mediante o contato direto com a situação estudada. Embora esta seja uma pesquisa em andamento,
realizamos observação participante das plenárias do movimento Voz da Rua e entrevistas semi-estruturadas
individuais. Os critérios de participação das entrevistas foram: dois participantes do Movimento Estadual da População
em Situação de Rua de São Paulo, duas pessoas residentes da moradia e abrigo Casa Santa Marta de Jundiaí - SP e
duas pessoas em situação de rua, que no momento, não buscam abrigo em instituições de acolhimento. Os dados
coletados, por meio das entrevistas e registros em diário de campo, foram descritos e analisados, considerando os
discursos carregados de expressões cotidianas pautadas em ideologias que norteiam nossas concepções sobre o
mundo que nos cerca. (Orlandi, 2000). Como resultados preliminares, observamos que, os processos de desigualdade
social, que estruturam as condições precárias de vida de grande parte da população brasileira foram naturalizados.
Neste sentido, embora existam políticas públicas específicas para atenderem as demandas da população em situação
de rua, tratam-se de discursos que não se efetivam na prática. Analisa-se que, opondo-se a uma preocupação em
169
garantir os direitos ao eliminar as vulnerabilidades, busca-se enquanto estratégia, eliminar os vulneráveis. No entanto,
as ações de resistência e participação política vivenciada por pessoas que estão em situação de rua evidenciam uma
luta por reconhecimento, contrapondo-se a invisibilidade social que estigmatiza e oprime. Neste contexto,
compreende-se que a busca por reconhecimento e efetivação dos direitos humanos promove uma possibilidade de
ressignificação dos sentidos atribuídos ao estar na rua, contribuindo, portanto, para redimir os estigmas e os
preconceitos vivenciados por esta população.

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Projeto Diálogos: Psicologia Social na formação de graduandos, presos e profissionais de estabelecimento prisional
Autores: Laura de Moraes Murari, UNESP Assis; Deivis Perez, UNESP
E-mail dos autores: laura.murari@terra.com.br,prof.deivisperez2@hotmail.com

Resumo: Introdução
Temos encontrado, em diversos segmentos da nossa sociedade, uma preocupação com os direitos do cidadão, com a
superação das desigualdades e com a integração socioeducacional e cultural dos segmentos populacionais
vulnerabilizados e vitimizados.
Tais preocupações nos rementem à questão prisional no país e a necessidade de elaboração e implantação de
processos educacionais capazes de apoiar: a) o incremento da formação dos funcionários dos estabelecimentos
penais; b) a abertura, por parte dos presos, de zonas de desenvolvimento potenciais nas dimensões cognitiva, afetiva
e social, as quais encorajem o autoplanejamento e possibilidades de metamorfoses pessoais voltadas para a adequada
reintegração social.
Em face do exposto, foi elaborado o projeto Diálogos, que desde o ano de 2016 dedica-se à realização de cursos de
extensão universitária e processos formativos voltados para os internos e os profissionais da Penitenciária de Assis-SP.
A referência à noção de dialogia, observada no título, diz respeito à importância deste projeto para formação de
presos e funcionários da penitenciária bem como para graduandos do curso de Psicologia da UNESP. Isso pois, trata-se
da ampliação do estímulo à capacitação de futuros psicólogos para planejar, mediar e avaliar atividades educativas e
de desenvolvimento humano.

Objetivo
O objetivo do projeto é oferecer aos participantes processos educativos geradores de uma compreensão crítica sobre
temáticas ligadas ao contexto prisional, ao cenário sociocultural e do mundo do trabalho contemporâneos.
Especificamente, para cada subgrupo participante do projeto, tivemos como objetivos:
a) Funcionários - favorecer o estudo e a compreensão das suas ações laborais, visando o aprimoramento das
capacidades funcionais do corpo de trabalhadores.
b) Presos - colaborar para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e sociocultural das pessoas recolhidas à penitenciária
de Assis. Houve ênfase em temáticas voltadas para a reinserção no mundo do trabalho, alternativas de geração de
renda, e ainda na compreensão da história e estratégias discursivas dos veículos de comunicação, visando a leitura
crítica do papel da mídia acerca da realidade e da cultura na contemporaneidade.
c) Graduandos do curso de Psicologia da UNESP - a participação de alunos nos processos de mediação das palestras e
cursos, tiveram a intenção de fortalecer o perfil do discente-egresso, em acordo com indicações disponíveis no Projeto
Pedagógico do curso: "[...] o egresso deverá reunir as características de um profissional com sólida formação
humanista, possuidor de uma consciência crítica capaz de promover a equidade e a justiça social. A atuação foi [...]
marcada por princípios éticos essenciais ao exercício da profissão e promoção da cidadania [...]"

Metodologia
Os cursos e ações formativas apresentam alternância e diversidade de estratégias de ensino, visando atender as
diferentes necessidades e formas de aprender dos participantes. Inclui: exposição dialogada; dinâmicas de grupo,
exibição e discussão de material audiovisual; leitura e análise de textos; jogos educativos, etc.
Relação com o GT e Eixo Temático
Este trabalho apresenta sintonia com o eixo temático 1 "Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação
em contextos neoliberais" na medida em que focaliza o acesso de presos a um direito social fundamental, que é a
educação de qualidade e, ainda, tem sido dedicado a promoção de ações extensionistas desenvolvidas em contexto
prisional fortemente relacionado a exclusão e marginalização de grupos vulnerabilizados socialmente.

171
A opção pelo Grupo de Trabalho "Crítica Social, Direitos Humanos e Psicologia Social" pareceu apropriada para
promover o debate com pares sobre teorias e práticas da Psicologia Social considerando experiências, como o projeto
Diálogos, dedicadas ao respeito dos direitos e à dignidade de pessoas socialmente vulneráveis e criminalizadas.

Abordagem Teórica
A perspectiva teórico-metodológica norteadora do Diálogos é a Histórico-Cultural, baseada na Psicologia russa de
Vigotski. Nesta abordagem a qualidade do trabalho pedagógico está associada ao estímulo da construção solidária e
colaborativa dos saberes pelos participantes, e à constante busca de referências significativas entre o contexto social e
as vivências dos alunos.
Outro aspecto orientador da formação, refere-se ao modo como foi estruturado o processo de aprendizagem do
grupo, uma vez que foi desenvolvido um intenso processo de identificação prévia dos saberes que os aprendizes-
presos possuíam e das aprendizagens que deveriam construir acerca dos temas desenvolvidos ao longo dos cursos.
O objetivo foi garantir uma mediação educacional capaz de incidir sobre a Zona de Desenvolvimento Próxima (ZDP) de
cada participante. Visto o fato de, segundo Vigotski, a qualidade do trabalho pedagógico estar associada à sua
capacidade de promoção de avanços no desenvolvimento discente.

Resultados
Ao final, é possível afirmar que o conjunto de atividades realizado no âmbito deste projeto tem favorecido a
apropriação, pelos participantes, de saberes acerca das temáticas trabalhadas, como Psicologia e trabalho, Economia
solidária, Fundamentos da atuação da mídia, A história não contada do Brasil, Convivência, tolerância e gestão de
conflitos, Penitenciarismo e Saúde pessoal e do trabalhador. No tocante a dimensão quantitativa, foram atendidos 70
presos e 120 funcionários penitenciários.
Apoio: Pró-Reitoria de Graduação e Pró-Reitoria de Extensão da UNESP

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Psicologia política e os caminhos reflexivos para o diálogo com os povos originários
Autores: Antônio André Valécio de Jesus, USP
E-mail dos autores: andrevalecio@usp.br

Resumo: Mediante o crescimento da crise econômica no Brasil nos últimos anos, concomitantemente com o
enfraquecimento do governo e sua governabilidade, criaram-se lacunas para muitos dos adeptos da bancada ruralista
e apoiadores reivindicarem para si a demarcação das terras indígenas através da PEC 215, gerando impacto no modus
vivendo indígena. Esse cenário vem gerando uma zona de conflito entre indígenas e desenvolvimentistas, acarretando
uma crise política da terra pela qual o Estado e os povos originários tentam dialogar a respeito do presente-futuro dos
sistemas ecológicos brasileiros e dos seus territórios tradicionais. Assim, o presente estudo visa perquirir a atual crise
das políticas voltada às questões da terra no Brasil e as suas consequências para os povos indígenas, infringindo os
direitos humanos. Atualmente, o número de suicídios entre os Guarani Kaiowa encontra-se 6 vezes acima da média
nacional, de 65 indígenas por cada 100 mil habitantes, contra 4,7 pessoas a cada 100 mil em todo o Brasil. Para os
guarani, a terra é a Tekoa, que significa que sem terra não há cultura. Portanto a crise política envolvendo esses
grupos étnicos vem retirando não apenas as terras, mas a cultura desses povos, impactando diretamente na saúde
mental dessas pessoas, como é visto pelo alto índice de suicídios. O desenvolvimento da saúde mental entre indígenas
e ocidentais se diferencia em consequência de estarem inseridos em aspectos culturais distintos. Retirar a terra é
retirar a vida dos índios, é matar essas pessoas pela essência (Sandro Tuxá, relato pessoal) Inclusive o governo no ano
de 2015 no recurso destinado para Delimitação, Demarcação e regularização dos territórios dos povos indígenas,
foram liquidados, R$ 2 milhões e 600 mil dos R$18 milhões previstos. No quesito indenização para os possuidores de
títulos referentes às áreas que foram demarcadas como território indígena, nenhum pagamento foi realizado dos R$ 5
milhões, nem dos R$ 30 milhões referentes a indenizações para solucionar os conflitos envolvendo terras indígenas. As
consequências acarretadas por esse comportamento do Estado têm impactado profundamente os povos indígenas.
Através da etnopsicologia, foi realizada uma reflexão crítica, sobre o lugar dessas pessoas, e os possíveis impactos
psicológicos acarretados pela dialógica da inclusão para exclusão realizada pelo Estado de direito, discurso esse,
respaldado pela suposta necessidade de desenvolvimento do país. O estudo passou por uma dimensão
multidisciplinar, utilizando da antropologia, psicologia social e também da disciplina do direito, para refletir sobre as
diferentes perspectivas nas quais essas pessoas se encontram. O que se tem observado é que a crise da política
indígena no Brasil encontra-se num processo cíclico, dividida claramente em três momentos, mas com a mesma
estrutura e falhas para que se possam retornar. E na atualidade, onde os povos indígenas esperavam uma
transformação significativamente em consequência de uma mudança de posição filosófica do governo,
aparentemente tem se tornado uma das maiores violências e crises de tempos na política indigenista. Inclusive foi o
governo no qual menos demarcou terras indígenas durante toda história. A violência gerada na atualidade demonstra
a incapacidade de fiscalização e de medidas voltadas as políticas indigenistas, gerando um sofrimento e impacto
profundo na vida desses povos diferenciados.

173
Sobre a simbolização da injustiça: contribuições de Sennett e Bourdieu para a teoria do reconhecimento
Autores: Stefanie Macêdo, UEFS; Carlos César Barros, UEFS
E-mail dos autores: stefanieamacedo@gmail.com,carlosbarros@uefs.br

Resumo: Esta comunicação apresenta resultados de reflexões realizadas em pesquisas de iniciação científica sobre a
teoria do reconhecimento de Axel Honneth, especificamente sobre a consciência e os sentimentos de injustiça e sua
relação com a simbolização estética. Seu objetivo é o de apresentar a correlação entre a teoria do reconhecimento de
Honneth e as sociologias de Richard Sennett e Pierre Bourdieu, que abordam os aspectos simbólicos de uma sociedade
de classes. Defendemos a apresentação da noção de sentimentos de injustiça, nos idos de 1980, como o marco teórico
da virada para o reconhecimento na teoria crítica da sociedade. Estes sentimentos decorrem da conformação desigual
da sociedade de classes e dizem respeito à manifestação das experiências de injustiça fora do campo de expressão
dominante e institucionalizado. As resistências e insurgências às hegemonias culturais e simbólicas apresentam as
respostas das lutas simbólicas por reconhecimento às experiências de desrespeito social. Com a devida elaboração
psíquica e condições políticas dignas, o sofrimento decorrente destas experiências pode conduzir à ação social
mobilizadora. A expressão dos sentimentos de injustiça desvela a sutileza da dominação no capitalismo tardio por
meio de dois mecanismos: individualização e dessimbolização. A individualização, segundo a sociologia de Richard
Sennett apresentada em As Injustiças Ocultas do Sistema de Classes, decorre de uma internalização do conflito de
classe que faz com que cada sujeito se sinta particularmente responsável por suas habilidades e capacidades no
contexto social. A dessimbolização, de acordo com Pierre Bourdieu em A Distinção, é a impossibilidade de se expressar
de acordo com os símbolos dominantes na hierarquia social. Neste contexto, as diferentes formas de expressão
simbólica desembocam em uma percepção social de diferentes tipos de sujeitos e, também, em diferentes formas de
constituição moral. Os signos da distinção social, operando sob a forma de injustiças ocultas, acabam por inferir
diretamente na constituição identitária do sujeito moderno, principalmente pela marca negativa das experiências de
humilhação e invisibilidade, que silenciam a linguagem do sofrimento. Estas diferenças fundamentam a corporificação
dos processos sociais de produção e reprodução das diferenças. Também constituem a fonte das lutas simbólicas que
se operam no campo social. O gosto cotidiano, assim como a arte, é capaz de expressar a consciência da miséria social
em uma sociedade desigual. A produção estética é um caminho alternativo à visibilização e comunicação do
sofrimento, silenciados na linguagem hegemônica. Aqui, a questão do prestígio e respeito social encontram-se com o
reconhecimento e com a estética, oferecendo elementos para o que vem se convencionando denominar de estética
do reconhecimento, concepção que revela o caráter simbólico da dominação e da desigualdade no capitalismo tardio.
Assim sendo, a interação comunicativa, a luta de classes e o desenvolvimento social convergem em uma análise
psicossociológica que leva em consideração as diversidades e as possibilidades de luta no cenário contemporâneo. Em
decorrência de sua perspectiva e fundamentação teórica, esta proposta relaciona-se com o eixo temático das Políticas
Públicas, Direitos Sociais e Emancipação. Especificamente, sua proposta coaduna com a do grupo de trabalho Crítica
Social, Direitos Humanos e Psicologia Social, a partir do qual é possível relacionar o trabalho da psicologia com as lutas
sociais por reconhecimento de direitos e dignidade.

174
Subjetividades radicalizadas numa era de espetáculo: Heterogeneidade e justiça social no éthos da democracia
Autores: Alberto Melquizedek Samucuta, ACE/FGG
E-mail dos autores: albertopsicologia21@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é resultado das discussões da Disciplina de Filosofia Política IV, na area de Ética e
Filosofia Política, para o Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. O texto
procura analisar e oferecer, por meio de Rainer Forst, um esquema crítico de problematizações, que por um lado
expõe a estrutura desumanizante e atomizada da radicalização das subjetividades individuais na contemporaneidade,
e por outro, a corrosão das relações sociais mediadas pela imagem e pelo fetiche na sociedade do espetáculo. De
carácter teórico, a presente pesquisa tem como orientação a Teoria Crítica (Escola de Frankfurt), de enfase político-
filosófica, sendo subsidiada pelo método da reconstrução teórica, na medida em que procura averiguar os desafios
presentes nas sociedades democráticas, a quando da radicalização das individualidades, da espetacularização das
relações e dos modos de se produzir subjetividades alheios à diversidade nelas contidas. Para tal, articula-se, numa
primeira fase, a teoria de Rainer Forst, pertencente a mais nova geração da teoria crítica, em sua obra Contextos de
justiça: Filosofia politica para além de liberalismo e comunitarismo (1964), que pretende esquematizar uma noção de
justiça como equidade, capaz de transpor os condicionamentos habituais dos debates entre liberais e comunitaristas.
Paralelamente, adicionar-se-á o diagnóstico do crítico cultural Guy Debord a respeito da Sociedade do espetáculo
(1997), cuja lógica do consumo arquiteta um tipo de relação falseada das imagens e dos fetiches, colocando os afetos
na ordem da aparência e portanto desprovidas de qualquer tipo de reconhecimento legítimo. Ora, no intento de fazer
um diálogo com variadas perspectivas de ambos os extremos do pensamento político, Forst encara, via Hegel, o
desafio dos Estados modernos, em nossas sociedades democráticas, de lidar com a radicalização das subjetividades, a
satisfação imediata dos próprios interesses a despeito de outrem. Contrastando, Forst enxerga a justiça social como
significado de uma comunidade política cujas relações sociais são mediadas pelo reconhecimento e pelo sentimento
de pertencimento e Debord infere que a relação falseada é o impedimento para possibilidade de real afetação na
esferea pública. Se o éthos da Democracia trata da maneira como os cidadãos se entendem como membros de uma
comunidade política, quais as coisas que têm em comum e quais suas responsabilidades, a justiça social diz respeito ao
significado e às implicações do princípio de pertença plena, indispensável numa comunidade democrática. A esta
altura, entretanto, colocala-se a seguinte questão: como pensar então tal condição social, numa era de radicalização
de subjetividades, de um extremar de posições, e um estado de relações sociais mediadas por imagens, configurando,
uma era de consumo, descaso e espetáculo? Por meio da formulação de uma teoria normativa de justiça fiel a
heterogeneidade social que atravessa os Estados modernos, Forst nos ajuda a perceber a lógica interna destes Estados
e articular uma crítica da insuficência nas noções tradicionais de justiça e a elaborar então um universo de contextos
de Justiça, que leva muito mais a sério a diversidade dos sujeitos e a identificação dos grupos que emergem na esfera
pública requerendo reconhecimento. Por outro lado, este esquema crítico ajudou-nos na fundamentação de uma
denúncia dos modos aparentes e espetaculares – inclusive midiáticos – de (falso)reconhecimento e
concomitantemente, reclamar por um tratamento que assuma a vulnerabilidade e a diversidade por meio do
pertencimento.

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Terreiros de candomblé, políticas de subjetivação e psicologia: encontros possíveis
Autores: Flavio Lopes Guilhon; UFF
E-mail dos autores: guilhon.flavio@gmail.com

Resumo: Tomaremos o candomblé enquanto uma reorganização religiosa e cultural que se constitui a partir de
variadas concepções de mundo vindas de diferentes partes do continente africano a partir do século XVI. No século
XIX ocorreu a implantação de um complexo cultural vindo da África, cujo aspecto religioso se mantém vivo e se renova
através do culto aos ancestres africanos divinizados, em roças que ocupam determinados terrenos denominados de
terreiros, configurando-se enquanto comunidades com características especiais e constituidoras de novas formas de
relações familiares e de práticas de cuidado. Os terreiros de candomblé, ao congregar indivíduos, integra-os a uma
hierarquia sócio religiosa, a partir do qual ficam ligados por laços de parentesco mítico, passando a estar unidos não
apenas pela prática religiosa, mas, em especial por uma estrutura sociocultural cujos conteúdos recriam a herança
legada por seus ancestrais africanos.
Estes espaços, cotidianamente têm recriado e mantido vivos importantes aspectos culturais, religiosos, linguísticos e
sociais, a partir dos cultos à ancestralidade negra, que chegaram ao Brasil com a diáspora africana. Neste sentido, o
candomblé, com toda a diversidade que a constitui, especificamente no que concerne aos modos de organização
social e concepção de universo, tem produzido processos de subjetivação e criado formas heterogêneas de existir,
forjando, deste modo, novos mundos e, consequentemente, novas formas de habitá-los.
Neste contexto, os terreiros de candomblé se constituem como espaços que recriam a herança cultural, histórica e
mítica legada pelos ancestrais africanos, cujas práticas litúrgicas e coletivas produzidas se alicerçam em uma
cosmovisão particular alicerçada em valores tradicionais que orientam o modo de ser e de agir de seus integrantes.
Importante considerar que estes espaços se constituem enquanto uma reorganização religiosa e cultural de resistência
negra, que possibilitam outros modos de subjetivação, além de terem criado um modelo de atenção e promoção de
saúde cujas perspectivas e intervenções se alicerçam sobre seus saberes tradicionais, que, inclusive, antecedem as
políticas públicas vigentes no país.
Considerando escassez de produção acadêmica, especificamente no âmbito da psicologia, acerca dos saberes e
cotidiano dos terreiros de candomblé, a presente pesquisa tem se constituído a partir do encontro e diálogo da
psicologia com a antropologia, as ciências sociais e os saberes desses espaços. Estudar os processos de subjetivação
nos terreiros de candomblé, a partir da psicologia, que historicamente tem se mantido distante dessa discussão,
justifica-se, neste contexto, tanto pela necessidade de se ampliar a discussão acerca dos terreiros de candomblé,
enquanto espaços de promoção da saúde e de produção de subjetividades; quanto pela necessidade de se discutir os
aspectos sociais, culturais e subjetivos presentes nestes espaços, visto carregarem importantes memórias e saberes
ligados ao processo de construção do Brasil.
O objetivo desta pesquisa de doutoramento é se debruçar sobre os processos de subjetivação produzidos nos terreiros
de candomblé e sobre o modo como estes atrelam-se à construção de outros territórios existenciais para sua
população. Diante da importância de se romper com a escassa bibliografia da psicologia no que se refere às pesquisas
junto aos saberes tradicionais dos terreiros de candomblé, da necessidade de se debruçar sobre saberes que
historicamente tem cuidado de significativa parcela da população brasileira e da urgência de pensar e potencializar os
caminhos da psicologia social no Brasil, este trabalho dialoga diretamente com questões relacionadas com os Direitos
Humanos, uma vez que discute a importância dos terreiros de candomblé na produção de outras subjetividades,
afirmação de uma identidade e como forma de resistência negra.
Para sua realização, tenho me utilizado dos pressupostos teóricos propostos pela Cartografia Psicossocial,
especialmente a partir de Gilles Deleuze, Félix Guattari, Suely Rolnik, Regina Benevides de Barros e Laura Pozzana. Na
perspectiva cartográfica o que se faz é acompanhar as linhas que se traçam, para marcar os pontos de ruptura e de
enrijecimento, de modo a analisar os cruzamentos dessas linhas diversas que funcionam ao mesmo tempo. A
cartografia psicossocial se fundamenta a partir da possibilidade de apreensão de realidade a partir de diferentes, não
176
mais a partir de uma teoria única, mas a partir de conexões, de cartografias provisórias e parciais, considerando-se as
multiplicidades do que se pesquisa.
Entendo e aposto que os resultados de uma pesquisa voltada aos terreiros de candomblé - espaços de promoção de
cuidado em saúde e de produção de subjetividade, afirmam, por um lado, a importância dos saberes tradicionais e
ancestrais legados pelos povos africanos escravizados no Brasil e, por outro lado, possibilita à psicologia social a
produção de intervenções mais engajadas, reinventando seu campo de atuação, a partir da reconstrução de sua
potência política e do fortalecimento de suas práticas.

177
Futuro roubado: banalização da injustiça e do sofrimento social e ambiental na construção de hidrelétricas
Autores: Carmem Regina Giongo, FEEVALE; Jussara Maria Rosa Mendes, UFRGS
E-mail dos autores: ca.aiesec@gmail.com,jussaramaria.mendes@gmail.com

Resumo: Milhares de barragens foram construídas em todo o mundo nas últimas décadas, afetando significativamente
os recursos ambientais e sociais existentes. Pelo menos 19% de toda a energia produzida mundialmente advém das
mais de 45.000 barragens existentes, que comprometeram cerca de 60% de todos os rios do planeta. Estima-se que
esses empreendimentos tenham sido os responsáveis diretos pelo deslocamento de 40 a 80 milhões de pessoas nos
últimos anos. Considerando-se os atingidos indiretos pelos alagamentos, esse número pode variar entre 400 e 800
milhões, o que representa 10% da população mundial. Implantadas sob a prerrogativa do desenvolvimento e da
produção de energia limpa, as hidrelétricas têm se apropriado de vastos territórios rurais e indígenas, em que as
comunidades atingidas são tidas como empecilhos do progresso. Diante disso e tomando-se como foco a hidrelétrica
de Itá, localizada no sul do Brasil, o objetivo central desta investigação foi analisar a construção social da banalização
da injustiça e do sofrimento vivenciado pelas populações atingidas pela construção de hidrelétricas e as interfaces
deste processo com os modos de vida e de trabalho desses sujeitos. O estudo, de cunho qualitativo, fundamentou-se
na pesquisa participante. A coleta de dados iniciou em fevereiro de 2016 e foi concluída em dezembro do mesmo ano.
Foram entrevistadas 43 pessoas atingidas pela construção da barragem de Itá e realizadas análises documentais da
legislação vigente, dos estudos ambientais e dos materiais publicitários da hidrelétrica investigada. Os dados obtidos
foram submetidos à análise temática. No decorrer da pesquisa, foi desenvolvido o documentário Atingidos Somos Nós,
que se apresentou como importante estratégia de intervenção e sensibilização política e social frente à temática
investigada. Os resultados da pesquisa apontaram que, no caso da hidrelétrica de Itá, após 17 anos do enchimento do
reservatório, a população investigada encontra-se abandonada e não tem minimamente seus direitos básicos
garantidos. Aspectos como a morte do rio, a extinção do trabalho rural, os prejuízos no acesso à água potável, à
energia, aos meios de transporte, à infraestrutura, à saúde, à educação, ao lazer e ao trabalho, a falta de apoio, de
reconhecimento e de visibilidade política e social geram um intenso processo de sofrimento, que se apresenta através
do desânimo coletivo, da tristeza, da solidão, do medo, da insegurança e da perda da identidade. Essas vivências
mostraram-se diretamente atreladas à depressão, ao suicídio e ao estabelecimento de mortes súbitas. Concluiu-se
que, sob a égide do capital, o processo de banalização da injustiça na construção de hidrelétricas está atrelado ao
modelo de desenvolvimento vigente, no qual imperam a omissão da legislação, a fragilidade dos estudos ambientais e
a construção de uma história oficial que exclui a perspectiva dos atingidos. Esse processo gera o sofrimento social e
ambiental, levando à destituição dos modos de vida tradicionais e à própria morte dos atingidos. Diante disso, o
Estado apresenta-se, historicamente, como cúmplice e legitimador da degradação e do descarte dessas populações, a
partir da permissividade legal e da intensificação de programas e de políticas desenvolvimentistas que priorizam o
fator econômico em detrimento da proteção social e ambiental tornados estratégias encobridoras da injustiça e da
banalização desse processo.

178
GT 09 | Relações étnico/raciais: Violação de direitos na democracia, enfrentamentos, memórias,
trajetórias sociais e legado negro

Coordenadores: Carlos Eduardo Mendes, USP | Isabel da Silva Amaral, ABRAPSO - Núcleo ABC | Ivani Francisco de
Oliveira, PUC-SP

Ainda que com muita insistência e esforços na produção teórica produzida por muitos pesquisadoras (es), em especial,
por mulheres e homens negros no manejo de negritar a situação de desigualdade social, violência e genocídio, mas
também, o processo de elaboração de sofrimento, memória social, luta por reconhecimento e pela manutenção da
vida que impele as populações negras, não só daquelas nascidas, como também daquelas que têm migrado para o
Brasil em dias atuais, continua necessária e urgente a responsabilidade da psicologia em todos seus campos de
atuação, desse modo, também no âmbito da psicologia social e psicologia comunitária refletir como a negritude
contemporânea: praticamente sem representação nas várias estâncias do nosso Estado, pode encontrar caminhos de
emancipação e participação plena na sociedade brasileira. Neste sentido a proposta deste GT é de dialogar sobre a
representação da população negra nos planos: social e politico; material e simbólico; de experiência do tempo e
memória; expressão religiosa e cultural, territoriedade; intersecionalidade; reconhecimento; gênero; genocídio;
violência; racismo; movimentos sociais e coletivos; contribuição e resistência.
Dito de outra maneira, este GT se propõe reunir estudos e pesquisas dentro e fora da psicologia (interdisciplinares)
que discutem raça e etnia em diálogo com as contribuições da Psicologia Social, por considerarmos que diálogos de tal
magnitude são valiosas ferramentas para ampliar na Psicologia e na sociedade como um todo reflexões e prática onde
raça e etnia não representem temáticas preteridas.
Com base na proposta de diálogo, cujos detalhes supramencionados apontam para a ideia de reunir estudos e
pesquisas que compreendem e refletem as relações de raça e etnia que mantêm diálogo com aportes da Psicologia
Social, pode-se asseverar que este GT está em sintonia com a pauta do 19º Encontro Nacional da ABRAPSO.
Pretendemos, com essa proposição reunir pessoas interessadas em discutir a violência organizada e sistemática que,
mesmo na democracia formal que ora vivemos, e que poderia ser nomeada como autocracia burguesa
institucionalizada, dirige-se a alvos definidos com base na raça, no gênero e na orientação sexual. O genocídio da
juventude negra, o perverso sistema prisional e socioeducativo, as violências racistas e/ou machistas, a tortura e a
violência policial, são exemplos concretos e atuais dessas violências, que vêm sendo exercidas e experimentadas, sem
serem reconhecidas como tais, pois, devido ao seu caráter estrutural, transformaram-se em algo normal, banal e até
aceito socialmente. São violências que se expressam, também, na desigual distribuição do poder e,
consequentemente, resultam em oportunidades desiguais, na discriminação e na injustiça social.
A afirmação se respalda nas páginas da história brasileira pouco referenciada que nos contam que a democracia do
Brasil vigente está longe de se achegar à participação plena e efetiva dos povos negros que o compõem. Como já
mencionado, negras e negros de ontem e de hoje, de dentro e de fora da psicologia vêm investindo seus esforços, suas
vidas em dizer que as raízes escravista por mais de trezentos anos, sob qualquer ponto de vista é criminosa! Mais que
isto, que cunhou o Estado Republicano brasileiro estruturado sob conceitos excludentes, que impôs e propagou, ao
longo da história, conceitos de nacionalidade que contem no seu DNA a violência, o genocídio, a amplitude do
racismo, o encarceramento em massa, a baixa escolarização, a saúde mental vinculada a preguiça, a delinquência
como determinantes de um discurso cultural que justifica a desigualdade e a baixa mobilidade social da população
negra.
Há desse modo na contemporaneidade brasileira, a memória implantada a partir de uma leitura política branca da
es a id o,àeàdaàideiaà itol gi aàdaàde o a iaà a ialà ueàs àofe e eàu àú i oà elatoàso eàoàpassadoàdeà u àpo oàdeà
o àaàespe aàpassi aà doàseuàdesti oàse àgl ria entre a casa grande e a senzala. Malevolente e deletéria se ensina
sobre os povos negros no Brasil sem o que lhes foram essencialmente marca de resistências, valores humanos e
o uistas.à Male ole teà eà delet iaà aà hist iaà ofi ial à egaà asà o t i uiç es do povo negro na memoria social
brasileira, nega-lhes inteligência, nega-lhes humanidade na negritude da pele. Assim, este GT está sintonizado com a
proposta do 19º encontro Nacional da ABRAPSO porque quer discutir democracia e participação sob o enfoque de
uma parcela majoritária do povo brasileiro que continua tendo que lutar contra as forças da desmemoria, do
sofrimento mental sem assistência, do cárcere e das garras do desemprego, do subemprego, da baixa remuneração,
do infortúnio da morte desgraçada.

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O eixo temático Políticas de igualdade racial e étnica no Brasil: histórico e desafios contemporâneos se fez pertinente
para abrigar este GT porque propõe juntar estudos e pesquisas que discutem raça e etnia em diálogo com aportes da
Psicologia Social sob um dialogo interdisciplinar o que possibilita ampliar a discussão sobre raça e etnia na atuação e
na produção de saberes psicossociais que orbita a necessidade de promover visibilidade à população negra para que
possamos, como sugere a descrição do próprioàei oàte ti o:à ia àespaçosàout osà aàPsi ologiaà“o ialà osà uaisà açaà
eàet iaà oàseja àte ti asà a gi aisàsiste ati a e teà eglige iada
Tendo em mente que as relações de raça e étnica implicam reflexões critica e complexa, principalmente quando
considerado o contexto sociopolítico contemporâneo fortemente embasado na lógica que priva direitos, que restringe
a participação popular de decisões fundamenteis para país fazendo com que conquistas históricas sejam extintas ou
estejam em risco de não mais vigorar urge refletirmos sobre as diversas formas de resistência e enfrentamento que
contribuam para trilharmos caminhos de transformação social e valorização da vida. Neste sentido, uma efetiva práxis
em psicologia social passa pela discussão de saberes e fazeres construídos pelos coletivos e movimentos sociais que
lutam pela defesa de direitos, das políticas públicas, da democracia e contra toda opressão e forma de silêncio e morte
das quais a população negra vem sendo submetida.
Ressalta-se, por tanto, que esperamos aglutinar uma pluralidade de trabalhos de orientação teórico-metodológica
diversa, mas que estejam relacionados com a questão da ação psicossocial e dos direitos da população negra. Isto
significa que acolheremos relatos de pesquisa e extensão ligados a temas como: representação da população negra
nos planos social e politico; material e simbólico; de experiência do tempo e memória; expressão religiosa e cultural,
territoriedade; intersecionalidade; reconhecimento; gênero; genocídio; violência; racismo; movimentos sociais e
coletivos; contribuição e resistência; direitos humanos, políticas públicas; saúde; educação, assistência social;
orientação sexual.

180
A mobilidade das mulheres negras com deficiência física, cadeirantes e moradoras da periferia
Autores: Paula Nadja Chaves Gomes; Renata Miranda Lima, UNISA
E-mail dos autores: paula-nadja@hotmail.com,renatamirandalima@yahoo.com.br

Resumo: Introdução
Nossa pretensão, na comunicação oral para o XIX Encontro Nacional ABRAPSO, é refletir as questões das mulheres
negras moradoras da periferia com deficiência física, de modo específico, cadeirantes. A intensão é transmitir como
estas vêm, historicamente, resistindo às dificuldades que lhes são impostas diariamente. Trata-se de resultados
preliminares alcançados por duas pesquisadoras que também são mulheres negras e moradoras da periferia. A
presente proposta é resultado da junção de pesquisas distintas em andamento, que trabalham assuntos de
Mobilidade urbana e Deficiência física que, encontra-se em desenvolvimento no Núcleo Juvenil de Pesquisa
Comunitária criada pelo CDHEP (Centro de Direitos Humanos e Educação Popular Capão Redondo- SP) em integração
com as universidades PUC/SP - Pontifícia Universidade Católica, USP Universidade de São Paulo, FGV Fundação
Getúlio Vargas e a comunidade.

Objetivos
O objeto desta pesquisa se debruça sobre mobilidade das mulheres negras com deficiência física, cadeirante,
moradoras das periferias Jardim Ângela e Jardim São Luís. Nesse cenário, analisaremos possíveis violências que as
atravessam e condições de mobilidade no bairro.
Nossa pesquisa se relaciona com o Grupo de Trabalho ora inscrito, por que estudamos relações étnicas raciais de
mulheres da periferia com recorte em Direitos Humanos que trabalha as questões de deficiência física assim, como
territorialidade, reconhecimento e emancipação no enfrentamento de violências cotidianas.
Método
A inquietação que fomenta a pesquisa é a de compreender como é ser mulher deficiente, negra e moradoras dos
territórios supracitados, mas sob a ótica da própria pessoa que colaborará com esta pesquisa. Para tanto,
pretendemos realizar entrevistas semiestruturadas com o intuito de compreender discriminações, violências e
dificuldades enfrentadas pelas mulheres na mobilidade dentro desse território. Assim, usaremos como método o
estudo de caso e análise bibliográfica.
Resultados
As mulheres com deficiência constituem porcentagem expressiva da população brasileira conforme dados (IBGE,
2010). Entretanto, poucas conseguem ter seus direitos assegurados e garantidos por lei. Portanto é presente na vida
dessas mulheres um estado de negligência e violação de direitos, além das discriminações por suas deficiências, pela
questão de gênero, raça, sexo e classe.
Inúmeras dificuldades perpassam a vida dessas mulheres, mas há dificuldades que afetam direitos mínimos, tais como
trabalhar, estudar, passear, fazer compras e ir ao hospital, que para concretiza-los encontra como primeira barreira à
mobilidade dentro do próprio bairro, que inviabiliza a concretização do direito à cidade. Conforme prevê a Carta
Magma, artigo 5° caput e o Plano Diretor Estratégico, artigo 5°, inciso V, deveríamos ter direito de deslocar pela cidade
de modo adequado as nossas necessidades, ou seja, a cidade deveria ser feita e pensada para todos.
A mobilidade tem importante função na cidade, uma vez que é crucial à realização da cidadania. É através dela que os
indivíduos podem atender suas necessidades e desenvolver aptidões. Contudo, ela só pode ser efetiva e real, quando
se atenta ás necessidades particulares dos grupos sociais. (SPECIE et al, 2016)
Ferreira Filho trabalha o direito a liberdade de ir e vir, para tanto, desenvolve sua ideia dizendo que, a liberdade de
locomoção, assim impropriamente chamada, pois é o direito de ir e, vir e também ficar (...) é primeira de todas as
liberdades, sendo condição de quase todas as demais. (1996, p, 255).

181
Por tais razões é importante trabalhar as questões de mobilidade, porque vai além de criar mecanismo de equidade
social, garante cidadania, diminui desigualdades sendo instrumento de mobilidade social (OLIVEIRA JÚNIOR, 2011, p,
63).
Conclusões Preliminares
Dessa forma, pode-se concluir que: Mobilidade urbana efetiva os direitos a educação, saúde, trabalho e laser.
Entretanto, urgem políticas públicas desenhadas e implantadas com a participação mais plural da população, no caso
em estudo, dessas mulheres na construção do espaço cidade. Pois somente assim, haverá real equacionamento das
dificuldades impostas à mobilidade de mulheres negras, com deficiência física cadeirante, moradoras da periferia.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. DF: Senado Federal, 1988. Disponível no site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 23/06/2017.
BRASIL. Plano diretor Estratégico do Município de São Paulo lei n° 16.050 de 2014. Disponível no site:
http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/PDE_lei_final_aprovada/TEXTO/2014-07-31%20-
%20LEI%2016050%20-20PLANO%20DIRETOR%20ESTRAT%C3%89GICO.pdf. Acessado em 12/06/2017
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves da Silva. Curso de direito constitucional. 23 ed. São Paulo: Saraiva 1996.
IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível no site:
<http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=sp&tema=censodemog2010_defic>Acesso em 12/07/2017.
OLIVEIRA JUNIOR, João Alencar de. Direito a mobilidade urbana: a construção de um direito social. Revista dos
transportes públicos. ANTP. [S.I]. N° 33. P 63-75. 1° quadrimestre/2011. Disponível no site:
https://www.almg.gov.br/export/sites/default/acompanhe/eventos/hotsites/2013/mobilidade_urbana/docs/ANTP_di
reito_a_mobilidade_urbana.pdf. Acesso em 23/06/2017.
SPECIE, Priscila; VANETI, Vitor César; MOUALLEM, Pedro Salomon Bezerra. A mobilidade das mulheres na cidade de
São Paulo. Informe urbanos nº 25 - Novembro 2016, Prefeitura de São Paulo. Disponível no site:
http://www5.each.usp.br/web/prof/oipp/noticias/?32/informe-urbano-a-mobilidade-das-mulheres-na-cidade-de-sao-
paulo. Acessado em 12/06/2017.

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A Violência do Inexistir e a construção de uma Clínica Política Decolonial em Psicologia
Autores: Míriam Cristiane Alves, UFPel
E-mail dos autores: oba.olorioba@gmail.com

Resumo: A presente pesquisa integra uma das ações do Núcleo de Estudos e Pesquisa É LÉÉKO Uma Psicologia Política
Decolonial, do curso da psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). A violência do inexistir é compreendida
como consequência das assimetrias e iniquidades edificadas pela hierárquica relação de poder produzida pela
modernidade\colonialidade, que por sua vez produz humanidades de concessão e subjetividades subalternas. A
humanidade de concessão se expressa na negação de direitos, na dominação e exploração de povos e grupos
subalternizados, cujo olhar e prática racista, misógina, homofóbica, transfóbica lançados a eles produz subjetividades
subalternas. Humanidade de concessão que é evidenciada na invisibilidade, no não acesso, na falta de oportunidades
aos subalternizados. Humanidade edificada mediante ações de violência e brutalidade que, por sua vez, produzem a
desagência como fator de vulnerabilidade dos grupos subalternizados, que consequentemente leva ao sofrimento
psíquico. Nessa perspectiva a pesquisa objetiva visibilizar a existência de humanidades subalternizadas pelos
processos de colonialismo e colonialidade a partir da construção de uma Clínica Política Decolonial, ou seja, uma
metodologia de atendimento engajada e politizada para sujeitos/as em sofrimento psíquico produzido por violências
civilizatória, étnico-racial, de gênero e sexualidade. O referencial teórico-metodológico da pesquisa parte dos estudos
pós-coloniais e decoloniais, cujas principais categorias de análise são: diferença colonial, colonialidade do poder,
colonialidade do ser e colonialidade do gênero. A metodologia é aqui compreendida como o conhecimento crítico
sobre os caminhos do processo científico que, por sua vez, deve indagar-se, a todo tempo, a cerca de seus limites e
possibilidades. Trabalhamos com pesquisas-in(ter)venções insurgentes ao status quo, desencadeadoras de
movimentos de resistir, (re)existir e (re)viver mediante a construção de um outro lugar de escuta e fala às
humanidades subalternizadas. Pesquisas-in(ter)venções que pressupõe a participação e o protagonismo dos/as
sujeitos/as na construção do conhecimento e a imersão da pesquisadora no campo de estudo. Buscamos a subversão
às práticas psicológicas que a partir dos pressupostos da ciência da modernidade estão mergulhadas nos propósitos de
controle e domínio colonial, a partir de suas teorias, métodos e modelos de análises que deram sustentabilidade a
reivindicação da psicologia ao status de cientificidade. As produções sobre a interface Psicologia e Decolonialidade
ainda se encontram incipientes em nosso país, de modo que as dimensões teórica, epistemológica e prática dessa
pesquisa têm a potência de construir no campo psi um caminho de pensamento crítico de fronteiras, capaz de
produzir questionamentos e respostas epistemológicas a partir do subalterno; de provocar alguns desafios
epistêmicos para a investigação em psicologia; e de construir outras perspectivas de atuação para a clínica política. As
violências de gênero, sexualidade e raça têm produzido a mais completa conturbação existencial, cujas subjetividades
e existências outras só são possíveis na invisibilidade e subterraneidade das relações humanas em que a alteridade se
constitui como lampejo sazonal. Assim, a decolonização de subjetividades subalternas passa pela por decolonizar o
conceito de humanidade, de humano. Ou seja, faz-se imprescindível o abandono da ideia universal de humanidade
imposta pelo pela modernidade/colonialidade, cuja noção de humano está calcada no ideal de homem, branco,
heterossexual e cristão. O conceito de humanidade necessita ser reconstruído na magnitude e imprevisibilidade da
vida e dos saberes que constituem a pluriversidade humana.

183
A vivência das estudantes negras estrangeiras da UFMG
Autores: Camila Rodrigues Francisco; UFMG
E-mail dos autores: cfmilarodrigues@gmail.com

Resumo: Em um evento realizado em parceria com estudantes de graduação e membros da comunidade externa,
pessoas foram convidadas para falar de suas experiências de estigmatização, discriminação e/ou exclusão social
durante a V Semana de Saúde Mental da UFMG. O evento se chamou Livro Vivo, estes convidados eram livros e o
diálogo com outras pessoas os leitores - teve como o objetivo proporcionar a reflexão destes sobre seus próprios
preconceitos, estereótipos, entre outros. Neste contexto, dois estudantes negros estrangeiros da Costa do Marfim e
Haiti estiveram presentes, contando das situações de racismo que vivenciaram desde que chegaram ao Brasil,
inclusive dentro da Universidade. O que o relato dos estudantes evidencia é mais uma das facetas pela quais a
violência a partir da questão racial se apresenta, o que dialoga diretamente com a proposta do Grupo de Trabalho
Relações étnico/raciais: Violação de direitos na democracia, enfrentamentos, memórias, trajetórias sociais e legado
negro dentro do eixo Políticas de igualdade racial e étnica no Brasil: histórico e desafios contemporâneos conforme
apontaremos a seguir. Na busca pela literatura disponível sobre a experiência dos estudantes estrangeiros no Brasil,
aparece a problemática do racismo como um dos fatores dificultadores de sua vivência no país. Ao mesmo tempo, se
faz muito pouco uma reflexão crítica sobre a questão racial local que essa problemática denuncia. Todos se
concentram em estudantes africanos, provenientes do programa PEC-G acordo brasileiro com países em
desenvolvimento para cursar a graduação no Brasil. Em nenhum deles faz-se uma menção ou abordagem diferenciada
sobre a experiência das estudantes mulheres: em alguns são minoria em relação aos homens, e em alguns não são
apontadas, falando-se em estudantes de maneira generalizada. Segundo Mayorga (2014), a partir do debate sobre a
interseccionalidade que nasce dentro do feminismo, o que as mulheres que estavam à margem das discussões que
eram levantadas pelo feminismo hegêmonico, sobretudo as mulheres negras, latinas, entre outras, tensionam é que,
as pautas até então reinvindicadas o sufragismo, o direito à vida pública, entre outros não eram universais; defendê-
las de maneira exclusiva silenciava e inclusive permitia a opressão de outra grande parcela de mulheres. A proposta é
então de que a intersecção de certas categorias sociais possibilita um olhar mais aprofundado sobre as diversas
formas de opressão, permitindo também uma maneira de atuar sobre tais realidades que não seja novamente
opressora. Trata-se então de pensar a intersecção de determinadas categorias sociais, situando que relações se quer
analisar e aprofundando cada vez mais tal análise em cada uma delas, buscando perceber como as relações se dão,
sem suposições prévias. Sendo este trabalho um esboço do projeto a ser desenvolvido durante um mestrado, o
objetivo deste estudo é então, refletir sobre a vivência das estudantes estrangeiras negras na UFMG, partindo da
noção de que a intersecção entre território, raça e gênero permite um olhar mais aprofundado sobre as opressões que
sobre aí se incidem de forma muito particular, mas também sobre as formas de resistência que aí se articulam. Para
acessar esta realidade, utilizaremos a análise de documentos que podem situar a historia do programa, buscando
verificar, em diálogo com a literatura, se houve mudanças nos países de origem, na escolha de cursos e nos estudantes
(a presença de mais mulheres, entre outros); entrevistas com responsáveis e envolvidos no ingresso destes estudantes
na Universidade, que tem ocorrido atualmente como um mapeamento do campo (que inclusive auxiliará na escolha
dos possíveis interlocutores da pesquisa); pretende-se ainda utilizar-se da observação participante em espaços
institucionais como os eventos de recepção dos alunos, mas também, não institucionais que apareceram a partir do
encontro com o campo - para apreender as particularidades desta vivência que temos aqui especificado. O
aparecimento de algumas tensões dicotômicas como a questão do sofrimento e saúde mental e, como já citado,
opressões e resistências, é esperado de maneira muito particular a partir da ótica das mulheres. Porém, pensando a
partir de uma inclinação etnográfica, faz-se necessário um olhar sensível para esta realidade que seja capaz também
de perceber e abordar outros tipos de relações.

184
As políticas de inclusão no Ensino Superior e o processo de democratização da universidade
Autores: Natália Silva Colen, UFMG
E-mail dos autores: naty.colen@hotmail.com

Resumo: A presente pesquisa é resultante do trabalho de conclusão de curso da Especialização em Políticas Públicas
realizada na UFMG em 2016. Possuiu caráter bibliográfico, documental e qualitativo com o objetivo de compreender
as interações entre os posicionamentos políticos dos gestores da UFMG e o processo de democratização da
universidade. Para tanto procuramos compreender de que modo os discursos e posicionamentos dos reitores acerca
dos debates sobre as políticas de inclusão impacta na implementação das políticas/programas de democratização. Os
dados coletados nesta pesquisa foram oriundos de declarações e entrevistas concedidas pelos ex-reitores(as) da
UFMG, que ocuparam mandatos nos período de 2002 a 2014, acerca do tema de políticas de ações afirmativas e de
inclusão na universidade. O site oficial da UFMG foi utilizado como espaço de pesquisas acerca dos discursos dos
reitores sobre o tema estudado. Além disso, utilizamos os documentos de Relatório de Gestão de cada uma das
gestões estudadas. Os dados encontrados nas declarações dos reitores foram articulados com os relatórios de cada
uma das gestões a fim de compreender em que medida os discursos dos gestores em relação à temática de políticas
de inclusão se articulam com a política implementada por eles. Importante destacar que o contexto e o momento em
que a política se encontrava foram levados em conta nas análises, entendendo que a ação política está estritamente
vinculada ao momento histórico e político. O período selecionado foi de 2002 a 2014 tendo em vista o
aprofundamento das discussões acerca do tema no debate político nacional, bem como na emergência dessas
questões no interior das universidades públicas brasileiras. Na análise do trabalho não foi possível fazer uma
articulação direta entre os discursos dos reitores e a implementação da política por meio dos relatórios de gestão, por
estes apresentarem poucos dados e não terem uma padronização, o que dificultou a análise. Os discursos dos reitores
demonstraram que estes reconhecem que as políticas de inclusão de acesso e permanência podem favorecer a
democratização da universidade e do Ensino Superior. Contudo, no decorrer do trabalho encontramos pontos que
revelam que tal debate ainda encontra tensões e contradições que acabam se conflitando. A ideia de meritocracia, por
exemplo, está muito presente na universidade e nas concepções dos diversos atores políticos. A questão racial foi por
diversas vezes inviziblizada, e os reitores apresentaram maior ênfase às questões sociais para pensar a relação das
desigualdades com as dificuldades de inserção e permanências de determinados grupos no Ensino Superior. De modo
geral, os reitores se mostraram mais favoráveis às cotas sociais do que às raciais. A discussão sobre inclusão trouxe à
tona a preocupação dos reitores de que as políticas de inclusão colocariam em questão a qualidade da universidade.
Percebeu-se que durante o período de análise a política de inclusão de modo geral teve vários avanços, possibilitando
a maior presença de sujeitos negros e também pobres no Ensino Superior. A implementação do REUNI em 2007 e a
promulgação da Lei de Cotas em 2012 representam uma grande conquista. Entretanto, há ainda muito a se caminhar.

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Construção da identidade da mulher negra: Uma revisão de literatura
Autores: Andreza Cristina da Costa Silva, UFAM; Claudia Regina Brandão Sampaio, UFAM
E-mail dos autores: andrezacristina.psico@yahoo.com.br,claudiasampaioufam@hotmail.com

Resumo: Os estudos da Psicologia com um olhar crítico acerca das relações étnico raciais, sobretudo da identidade da
mulher negra, ainda são produções tímidas em face a um cenário imerso na plurietnicidade brasileira. Outras áreas do
conhecimento como história, antropologia e filosofia, são as que produzem de forma mais assídua essas temáticas.
Entretanto, cabe evidenciar que os assuntos relacionados a população negra fizeram parte da constituição da
psicologia enquanto profissão. Como apontam alguns autores críticos da Psicologia, as produções realizadas no fim do
século XIX e início do século XX baseavam-se numa postura colonizadora e hierarquizada, de olhar os sujeitos
enquanto objetos destoantes e desviantes, atravessada por uma ideologia de enquadre e melhoramento da raça
nacional que foi estruturada por um racismo cientifico muito difundido pelo mundo. A identidade desses sujeitos não
era vislumbrada, até porque não eram vistos como sujeitos totais na imbricada relação com os não negros, mas como
uma espécie de objetos de pesquisa passivos, sem atuação legítima. Apesar dos avanços da ciência em novas
epistemologias, metodologias e da postura mais crítica tomada pela psicologia a partir dos anos 60 com a crise da
Psicologia Social, ainda encontramos limitações no que tange a presença dessa temática no espaço acadêmico e
profissional. Quando apresentada, na maioria das vezes, revela-se com uma rasa leitura crítica resultando em poucas
possibilidades de reflexão e transformação social. Dessa forma, o presente trabalho tem por intuito apresentar um
panorama das produções cientificas que abordaram a identidade da mulher negra enquanto conceito central de forma
relacionada com a Psicologia Sócio-Histórica. Para isso, foi realizado um levantamento bibliográfico com estudos
realizados no período entre 2007-2017 nas bases da Scielo, CAPES e BVS. Os critérios de inclusão consistiram em
possuir no título e/ou no resumo as palavraschaves contidas com os seguintes descritores: identidade da mulher
negra, identidade étnico-racial, relação racial e de gênero e mulher negra, como também produções cientificas
realizadas no período de 10 anos. Para que se alcançasse uma amostra hábil de análise na base de dados CAPES, foi
realizada a filtragem na grande área do conhecimento como psicologia. Dessa forma, 19 artigos foram encontrados e
classificados em onze produções teóricas e oito pesquisas de campo. Os artigos estão divididos nas seguintes áreas do
conhecimento: psicologia, sociologia, antropologia, história, ciências sociais, letras, artes e literatura. Nesse sentido, a
fim de compartilhar e discutir de forma recíproca essa temática, o grupo de trabalho que dialoga em função desses
questionamentos é o de relações étnico/raciais: violação de direitos na democracia, enfrentamentos, memórias,
trajetórias sociais e legado negro, com o eixo temático políticas de igualdade racial e étnica no Brasil: histórico e
desafios contemporâneos, tendo em vista contemplarem em seus objetivos a articulação e discussão de raça e suas
interseccionalidades. Como se pôde perceber as pesquisas nesta temática, sobretudo na área da psicologia, aparecem
de forma escassa em comparação com outras produções cientificas tomadas enquanto assunto especifico da
psicologia. Pode-se concluir a partir destes dados, que o estudo de identidade da mulher negra pensada para a
realidade brasileira contemporânea, tem sido pouco pesquisado, e quando realizado, aparece fora dos parâmetros de
compreensão da psicologia, sobretudo, da psicologia histórico cultural. Em síntese, pode-se perceber a relevância do
estudo do processo identitário da mulher negra na contemporaneidade brasileira, de modo à compreender esta
construção de identidade atravessada por fatores sócio-culturais que demarcam lugares, subjetividades e modos de
ser com o outro.

186
Educação das relações étnico- raciais: um estudo sobre as políticas educacionais no município de Nova Iguaçu e
Mesquita
Autores: Fabiane Regina Chaves Pinto da Silva, UFRRJ
E-mail dos autores: fabianenina@gmail.com

Resumo: Este trabalho propõe apresentar uma reflexão sobre as politicas e ações implementadas no município de
Nova Iguaçu e Mesquita, ambos na baixada fluminense no Estado do Rio de Janeiro, em relação ao que determina a
LDB 9394/03 em seus artigos 26 A e 79 B. Quais são as inciativas para implementação desta legislação por parte das
secretarias municipais de educação? E como tais políticas públicas chegam no chão da escola? Entendemos que o
Brasil foi uma nação escravocrata por quase 400 anos, onde a população negra era vista e tratada como seres
inferiores. Mesmo após a abolição da escravatura negra no Brasil, a população afrodescendente foi relegada a um
papel subalterno, tendo negados seus direitos de cidadania, inclusive o direito à educação, sendo condenada ao
fracasso escolar e uma baixa escolaridade. Esse cenário foi apenas lentamente sendo minimizado, e durante o
processo de redemocratização do país, após 21 anos de ditadura civil-militar, o movimento negro toma corpo
trazendo para a sociedade brasileira a questão da superação do racismo, sob a forma de uma legislação que
criminaliza a discriminação racial. Nesse processo temos como marcos da garantia de direitos a todos sem
discriminação a CF 88 e o ECA 1990, a par da democratização do acesso à escolarização fundamental.
Com o Governo Lula, vimos, nos últimos anos, a adoção de algumas medidas em busca de uma educação antirracista,
dentre elas, a promulgação da Lei 10.639/03 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana
e Afro-brasileira, fruto de luta do movimento negro e de pesquisadores envolvidos com a temática das relações
étnico-raciais.
No entanto, sabemos que colocar a legislação em prática não tem sido uma tarefa fácil, apesar de ser considerada um
avanço para a educação. Assim, somente a legislação não consegue dar respostas para todas as ações necessárias para
promover a igualdade e nem assegura um efetivo trabalho que atenda a uma educação das relações étnico-raciais.
Cabe ainda destacar que a legislação citada faz parte do esforço do Governo Federal, durante o Governo Lula, de
diminuir as enormes desigualdades sociais que marcam a sociedade brasileira, assim como práticas preconceituosas
como o racismo, hoje considerado crime. Entretanto, o sucesso da implantação da lei depende de como, nos mais de
cinco mil municípios brasileiros, esta legislação está sendo adotada.
É importante compreender a lei 10639/03, não como uma legislação específica voltada para a população negra, mas
sim como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que foi alterada através da inserção dos artigos 26 A e 79 B. Sendo
assim, a legislação é nacional, devendo ser implementada por todas as escolas públicas e privada de todo país.
Pesquisas realizadas no ambiente escolar, tem apontado para a questão de que em muitas escolas públicas a
diversidade racial não costuma ser vista e nem apresentada como um aspecto importante para a formação dos alunos.
É na rotina diária que muitas vezes ocorre a difusão de valores, crenças comportamento e atitudes de hostilidades em
relação ao grupo negro, muitas vezes inconscientes, involuntárias, naturalizadas e muitos professores, não
perceberem os conflitos raciais presentes nesse ambiente.
Portanto, garantir uma escola solidária que garanta os direitos de todos, não dependem exclusivamente da existência
de um texto legal, mas sim de ações e iniciativas na busca de superação das desigualdades sociais e raciais.

187
Emoções na formação acadêmica de estudantes de psicologia ingressos na graduação mediante políticas de inclusão
Autores: Karin Juliana Daffinyn da Silva, UFPR; Norma da Luz Ferrarini, UFPR
E-mail dos autores: julianakaju@gmail.com,normadaluz@ufpr.br

Resumo: Introdução: Diversos pesquisadores têm discutido sobre as políticas de ação afirmativa também conhecidas
como políticas de inclusão no ensino superior brasileiro (DIAS, 2004; FERRARINI, RUPPEL, 2013; SILVA, TEIXEIRA,
PACÍFICO, 2013; SILVA, TRIGO, DIAS, 2014), principalmente com a implementação do sistema de cotas outorgado pela
Lei Nº 12. 711/2012 (BRASIL, 2012). Porém, a abordagem de questões referentes à subjetividade, ou mais
especificamente sobre a afetividade, é visivelmente secundária ou inexistente nas produções científicas dos últimos
anos, como é possível perceber em revisões de literatura sobre o tema (SILVA - TOBIAS, 2016; GUARNIERI , MELO-
SILVA, 2007). Dos variados aspectos levantados nestas revisões, destacam- se questões sobre a vivência acadêmica
tais como a constituição da identidade étnico racial ou a progressão acadêmica. Neste cenário, as emoções, aspecto
importante da afetividade, tem sido tratada de forma secundária, imersa nos temas gerais encontrados no estado da
arte levantado. E no que se refere às ciências humanas, a abordagem das emoções tem sido um tema controverso e
negligenciado mesmo no campo da Psicologia (GONZALEZ REY,1999; 2003; 2004; 2004; 2005), onde espera-se que seja
abordada a constituição do ser humano em todas as suas dimensões psicológicas. Diante do exposto, e considerando
os aspectos subjetivos da vivencia acadêmica de estudantes que ingressaram no Ensino Superior via políticas de
inclusão, pergunta- se: como estes estudantes tem vivenciado suas emoções nas diferentes instituições de ensino
superior e de que forma a vivencia destas emoções influencia na formação acadêmica? Objetivos: Este excerto refere-
se a uma pesquisa de mestrado desenvolvida entre 2017 e 2019, na qual se objetiva de modo geral analisar a
influência das emoções no processo de formação acadêmica de estudantes de psicologia ingressos no ensino superior
via políticas de inclusão a partir do enfoque nas relações étnico- raciais. Os objetivos específicos são: 1. Caracterizar a
vivência de emoções de estudantes de graduação considerando as relações étnico- raciais; 2. Comparar a vivencia de
emoções em diferentes instituições de ensino e segundo as diferentes políticas de inclusão. 3. Analisar os significados
e sentidos que o público de pesquisa atribui às emoções vivenciadas. 4. Discutir os aspectos da formação acadêmica
em Psicologia destacados pelos participantes de pesquisa a partir da análise das emoções. Relação com o GT,
orientação teórica e método: Autores clássicos das relações étnico- raciais como Frantz Fanon e Bell Hooks, expoentes
brasileiros como Virgínia Bicudo, Lélia González e contemporâneos como Sueli Carneiro apontam para os correlatos
psicológicos dos processos de exclusão social sobre a população negra, propondo novos horizontes para o
enfrentamento do racismo institucional e o racismo presente nas teorias em ciências humanas. Dessa forma, a
presente investigação foi composta na ideia de que o estudo de processos psicológicos considerando as relações
étnico- raciais é importante para o desenvolvimento de uma psicologia que considere o homem como ser social em
sua totalidade. A fundamentação teórica utilizada foi a Psicologia Histórico Cultural a partir da Teoria da Subjetividade
e Epistemologia Qualitativa de Fernando Gonzalez Rey (1999; 2003; 2004; 2004; 2005). Os instrumentos elencados
para esta investigação foram, além da discussão da revisão de literatura sobre o tema, grupos de discussão e
entrevistas individuais com estudantes de Psicologia, matriculados a partir do 3º ano em instituição pública ou
privada, que se autodeclarem pretos, pardos ou negros e que tenham ingressado na graduação mediante políticas de
inclusão social. Resultados: O contato com alguns estudos como os de Tadei (2002) e Zamora (2010) afetaram o
percurso de pesquisa no que se refere a maior atenção ao impacto do racismo na constituição e vivencia das emoções.
Conforme se percebe nestes estudos, pessoas negras estiveram historicamente associadas ao descontrole emocional e
diversas formas de exclusão social foram explicadas pela psicologização dos conflitos raciais. Os autores indicaram a
presença de dicotomia entre razão e emoção, além de um lugar da não- razão como pertencente a população negra
nas representações sociais sobre este grupo. Nesse sentido, estas informações promoveram uma mudança de
percepção em relação ao momento inicial da pesquisa, no qual até então não eram considerados indicadores tão
expressivos de racismo no tema sobre as emoções. Outra mudança no percurso desta investigação está associada ao
aprofundamento sobre o conceito de sofrimento ético- político proposto pela autora Bader Sawaia (2009),
188
possibilitando o avanço na compreensão dos efeitos da exclusão social na constituição das emoções. O conceito de
sentido subjetivo proposto pelo autor Gonzalez Rey (2007) também surgiu como possibilidade para melhor
compreensão de como os sentidos da formação acadêmica estão imbricados com os processos emocionais
constituídos e vivenciados pelos estudantes ao longo da graduação. Conclusão: A consecução da pesquisa tem
indicado que a análise das emoções pode informar sobre a vivência acadêmica dos estudantes pesquisados na medida
em que se relaciona com a compreensão dos processos históricos de exclusão social da população negra, imbricados
na história de vida e constituição da identidade.

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INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E PRECONCEITO RACIAL: a demonização das religiões afro-brasileiras. Um estudo de caso
Autores: Ligia Ferreira Galvao, UFU
E-mail dos autores: ligiafgalvao@gmail.com

Resumo: Contando com mais de um século de existência, o Candomblé, na forma como o conhecemos hoje, é
formalmente reconhecido como uma religião. Sua origem tem lugar junto ao imenso grupo de negros trazidos ao
Brasil na condição de escravos. Sua difusão, a partir das casas-matrizes localizadas principalmente na Bahia, se deu por
meio essencialmente oral, disseminado nos territórios pela presença maior ou menor de escravos e, posteriormente,
pelo deslocamento de seus fiéis ao longo do território brasileiro. Dentro do próprio Candomblé há divisões na forma
de culto, língua e rituais (nações), representando a diversidade de cultos que chegaram com os africanos escravizados,
oriundos de tribos, cidades, localidades africanas distintas. Assim como a Bahia, o estado do Rio de Janeiro, também
sedia grande quantidade de terreiros. Da mesma forma, ao longo do tempo, a existência desses terreiros só fez se
ampliar por todo o país. Religião de negros, sempre associada à ideia de uma religião de resistência, o Candomblé
cedo passou a ser estigmatizado e rotulado de magia, ou de conjunto de práticas mágicas, por aqueles que ou não
entendiam seus princípios e as formas de culto que o caracterizam ou não desejavam sua propagação, por motivos
outros. Destes, o de maior destaque vincula-se ao fato de que o culto é herdeiro direto de práticas religiosas trazidas
da África. E estas, por sua vez, carregadas de simbolismo pouco compartilhado com o branco, cristão, passam a
representar a ameaça de rebelião, de subversão da norma social e de sublevação de uma raça que, como se ainda não
estivéssemos suficientemente distantes de 1888, ainda é tratada como subalterna e tem seus direitos repetidamente
violados. A pesquisa, realizada com a participação de um sujeito, cujo depoimento oral foi tomado por meio de
entrevista gravada, transcrita e depois analisada por meio do método de análise institucional do discurso, partiu da
hipótese de que a intolerância religiosa encontra sua maior condição de afirmação na relação com as religiões de
matriz africana, do mesmo modo como tem seu assento no preconceito racial exercido contra os afrodescendentes e
suas manifestações culturais. O objetivo primordial era configurar, por intermédio da metodologia citada, o campo
interdiscursivo que permite ao preconceito racial ser reproduzido e legitimado nas práticas cotidianas. Como objetivos
específicos, a finalidade foi a de identificar, a partir da análise de um caso e do âmbito institucional em que ele se
inseria (uma universidade pública), os modos de dizer próprios dos atores envolvidos na cenografia e as formas de
ocupação, por esses atores, dos lugares institucionais relativos aos episódios narrados. A escolha do método utilizado
ocorreu em função da especificidade que o mesmo permite, quando se utilizam seus operadores analíticos
fundamentais, quais sejam: as concepções de sujeito, discurso, análise e instituição, a sustentar que o discurso deve
ser tomado na vertente que o considera em sua materialidade e opacidade, a exemplo do recorte foucaultiano. As
conclusões a que se chegou reafirmam que é pelo discurso entendido como matriz e produto das relações
interpessoais, que jamais se dão fora do âmbito das instituições que fazemos e que nos fazem que se reproduzem as
práticas que, ao menos parte de nós, desejamos que já não existissem. Resta entender, à luz do estudo encetado e
pela indispensável contribuição do método eleito, em que medida nós próprios, ao naturalizarmos um conjunto de
práticas no bojo das instituições, reproduzimos o preconceito e a intolerância que pretendemos combater. E com que
armas o fazemos.

190
Memórias de uma outra História: Resistência e relações étnico-raciais na cidade de Araras
Autores: Amanda de Castro, UNIARARAS; Bárbara Michelly Silva dos Santos, UNIARARAS; Nathália Drago Ribeiro,
UNIARARAS; Rafael Eduardo de Sá, UNIARARAS; Thiago Peixoto de Moura, FHO/UNIARARAS; João Paulo Pitoli,
UNIARARA; Simone Aparecida Ramalho, FHO/UNIARARAS
E-mail dos autores: rafaeleduardodesa@hotmail.com, barbaramichellyss18@gmail.com,
nathalia.drago@hotmail.com, amanda.castro99@icloud.com, thiagopeixoto1@hotmail.com,
simone.ramalho10@gmail.com, jppitoli@hotmail.com

Resumo: Este trabalho é resultado de uma pesquisa de iniciação científica realizada no Centro Universitário FHO-
UNIARARAS, e se debruça sobre memórias de pessoas pertencentes a comunidades tradicionais afrodescendentes e
atuantes no movimento de resistência negra no município de Araras (SP), nos âmbitos sociopolítico e cultural. Parte
do entendimento de que esta cidade, assim como muitas outras do território nacional, carrega as marcas de um
passado escravista cujas consequências históricas incluem processos de discriminação e produção de invisibilidade
social para a população negra e afrodescendente. Além disso, entende que o processo de construção da identidade
nacional brasileira foi construído com base na institucionalização da desmemória das origens étnico-raciais das
populações negra e afrodescendente, por meio da negação coletiva do nosso passado colonial e escravista. Assim, o
presente trabalho tem como objetivo investigar, registrar e dar visibilidade às memórias de pessoas negras da cidade
de Araras, cujas histórias pessoais e coletivas ainda estão, muitas vezes, apartadas das representações oficiais das
histórias das cidades brasileiras. Uma vez que este trabalho busca o resgate da memória em um município específico,
objetiva ainda investigar e produzir conhecimento sobre a subjetividade ararense na interface com as relações étnico-
raciais presentes, ainda não exploradas. Relaciona-se, por isso, diretamente com o eixo temático Políticas de
igualdade racial e étnica no Brasil: histórico e desafios contemporâneos, bem como com o Grupo de Trabalho Relações
étnico/raciais: Violação de direitos na democracia, enfrentamentos, memórias, trajetórias sociais e legado negro, pois
este trabalho também discute raça e etnia em diálogos com referenciais da Psicologia Social, e insiste na produção de
um conhecimento científico que resgate a memória social das populações negras. A pesquisa orienta-se teoricamente
a partir das considerações de Marilena Chauí a respeito da constituição da sociedade brasileira, das discussões feitas
sobre racismo e a história dos negros na sociedade brasileira por Eliane Silvia Costa, bem como por Priscila Elisabete
da Silva e seus estudos acerca de um projeto de nação pretensamente branco e homogêneo. No eixo da memória, a
pesquisa apoia-se nos estudos de Ecléa Bosi e Samir Perez Mortada, além de utilizar-se de documentos públicos a
respeito da abolição da escravatura na cidade, encontrados na Biblioteca Municipal e na Câmara Municipal, bem como
de livros diversos a respeito da história do município. Para a coleta de dados, foram entrevistadas quatro pessoas
negras, com idade superior a 50 anos, sendo três mulheres e um homem, três destas pessoas atuantes em
movimentos sociais, políticos e culturais, e uma delas a primeira mulher negra empreendedora da cidade. Os relatos
foram colhidos por meio de entrevistas semiestruturadas, pensadas de modo a propiciar que alguns temas pudessem
emergir no diálogo; as entrevistas foram, sobretudo, guiadas pelos estudos de Ecléa Bosi, para que o trabalho de
memória dos depoentes fosse estimulado e privilegiado. No que se refere ao tratamento dos dados, foi feita uma
interlocução, e não propriamente uma análise, entre as narrativas, os eixos temáticos emergentes e os principais
referenciais teóricos, no intuito de respeitar o protagonismo dos recordadores sem deixar de fomentar reflexões e
discussões sobre a subjetividade ararense e as relações étnico-raciais no município. Os resultados obtidos nessa
pesquisa abordam temáticas como racismo, questões políticas e, principalmente, os modos de resistência em
consonância com os temas da memória, da velhice e da negritude, e nos depoimentos fica evidente que estes eixos
estão interligados. No que se refere à resistência negra, podemos considerar que, na cidade de Araras, o
enfrentamento ao racismo tem ocorrido em diversos eixos, a saber: por meio da cultura, do trabalho, da religiosidade
enquanto uma manifestação de preservação da cultura negra e suas origens, do engajamento em movimentos
políticos na luta pela efetivação de direitos, e da luta pelo acesso e permanência na terra. Conclusões possíveis até o
momento atual da pesquisa permitem afirmar que a cidade de Araras é constituída por um imaginário de
191
representações fundamentalmente brancas, além de desvelar o contraste entre a história oficial do município, uma
história hegemônica contada por grupos historicamente privilegiados, e a história apresentada nas entrevistas,
apartada dos relatos oficiais da cidade. Do lugar de atores na produção da ciência, a pesquisa ainda nos oferece
elementos para pensar a relação da população negra e afrodescendente com o lugar e o papel que a universidade tem
ocupado, além de possibilitar futuros desdobramentos devido a riqueza e a potência de produção das narrativas.

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Mulheres negras em Goiás: trajetória politica a dilemas contemporâneos
Autores: Elaine de Moura Correa, PUC-GO
E-mail dos autores: elainemoura2009@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho intitulado MULHERES NEGRAS EM GOIÁS: de sua trajetória política a dilemas
contemporâneos Tem por objeto a trajetória de vida de mulheres negras ativistas em Goiás a transformação de
interseccionalidades em organização política, meu objetivo é contribuir para a recuperação da História de mulheres
negras em Goiás e, como ativista integrante do movimento de mulheres negras entender o processo de configuração
das interseccionalidades que recaem sobre nós mulheres negras, visando produzir conhecimento que contribua para a
alteração desde quadro de desigualdades.
O movimento feminista negro tem construído e provocado um debate capaz de perceber como as opressões
relacionadas às questões de gênero, raça e classe se apresentam em diferentes formas e nuances, sem
necessariamente que uma se sobreponha a outra, porque, na verdade se intercalam. Podemos pensar em diversas
intelectualidades negras nacionais e internacionais que voltaram seu olhar de pesquisadora para essas diversas
opressões que se entrecruzadas, entre elas Angela Davis, Bell Hooks, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, entre outras. Mas
essas obras são pouco conhecidas e divulgadas na academia, por ele também ser um espaço estruturado pelo racismo
eurocentrado, contribuindo para o que explica Sueli Carneiro um verdadeiro epistemicídio do pensamento de
intelectualidades negras.
Com vistas a responder as questões propostas neste trabalho e resgatar a história e trajetória das mulheres negras
ativistas em Goiás será, utilizado a história oral como uma opção epistemológica que fornece sustentação para uma
investigação politicamente comprometida com a valorização e a recuperação das maneiras diversas de viver a história,
conforme o gênero, o pertecimento racial, idade, a sexualidade, a classe, possibilitada pelo testemunho oral.
A proposta hora apresentada é de fundamental relevância para resgatar a história e trajetória das mulheres negras
ativistas em Goiás, na medida em pretende saber como a identidade política foram construídas pelas mulheres negras
ao longo de suas trajetórias de vida.
Falar sobre feminismo negro, em uma sociedade construída sobre um ideário de que existe uma democracia racial e
não admite que o racismo posiciona as pessoas exclusivamente pela cor da pele, e essa estrutura de poder somada
ao sexismo, tem reservado as mulheres negras o ultimo degrau na escala social, ou seja, em uma sociedade capitalista
com legado da escravatura, nós somos a mais exploradas, recebemos os menores salários e estamos em postos
precarizados.
Ao explicar meu lugar de fala, nosso lugar de fala, peço licença e permissão para não ser apenas mais um objeto de
estudo, neutro e eurocêntrico, que tem silenciado e negligenciado o meu direito de falar, e de evidenciar o lugar social
no qual você me colocou e tenta impedir que me desloque dele. Mas não falarei por mim, este trabalho dará voz as
subalternas, em razão destas vozes, por vezes, o eu se mescla com o nós, na tentativa de estabelecer um dialogo que
consiga construir outros cenários e roteiros que representem a emancipação de todos.
Todas as áreas de conhecimento tem produzido e construído conhecimentos relevantes sobre a questão racial, nas
ciências sociais Oracy nogueira, na filosofia, Sueli Carneiro, na psicologia Neusa Santos, entre outros. O serviço social
que lida diretamente com as politicas públicas permanece distante dessa realidade, meu entendimento e de outras
tantas autoras, entre elas Angela Daves, de que não há luta emancipatória e anticapitalista sem as lutas estruturais
contra o machismo e o racismo. A existência de uma sociedade totalmente emancipada não é possível sem a
libertação das mulheres negras.
O interesse em investigar a trajetória de vida de mulheres ativistas negras em Goiás, se deu mediante minha inserção
em movimentos sociais, mas especificamente o movimento feminista, onde agucei para o que de fato significa ser
mulher e posteriormente, mulher negra nesta sociedade.
Foram nesses movimentos que me reconheci mulher e negra, esses momentos de busca pelo auto- reconhecimento
marcaram a minha trajetória de vida, as experiências compartilhadas por outras mulheres, me tocou profundamente,
193
sobretudo historias de resistência aos processos de opressão a que somos submetidas em função de raça, gênero,
classe e sexualidade.
Esse espaço organizado contribuiu para a construção de minha identidade étnico/racial, onde todas as violências
provocadas pelo racismo foram transformadas e afirmação.
Vale ressaltar que as organizações de mulheres negras tem significativa relevância ao meu ativismo, minha descoberta
de sujeito politico, através da participação no movimento feminista negro, estruturei minha visão de mundo, e
evidenciei o compromisso com a comunidade negra, e com a mudança social coletiva.
Busca-se contribuir para a recuperação da História de mulheres negras em Goiás e, como ativista integrante do
movimento de mulheres negras entender o processo de configuração das interseccionalidades que recaem sobre nós
mulheres negras, visando produzir conhecimento que contribua para a alteração desde quadro de desigualdades.

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Políticas de segurança pública brasileira: uma análise interseccional
Autores: Mariana Amaral Queiroz, UFSC
E-mail dos autores: mariqueiroz0@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é uma proposta de realizar um exercício de análise interseccional acerca das políticas de
segurança pública brasileiras. O conceito de interseccionalidade é cunhado a partir do trabalho de Kimberley
Crenshaw (1991) que coloca em questão a necessidade de pensar de forma articulada as diferentes dinâmicas de
opressão, tendo em vista que pensados de forma isolada levam ao apagamento de sujeitos que tem suas existências
situadas na interação destas dinâmicas, como é a situação das mulheres negras. No entanto ele se constitui
anteriormente no bojo das discussões do Feminismo Negro. Patricia Hill Collins, em seu emblemático trabalho Black
Feminist Thought, com a primeira edição em 1948, já enuncia que é apartir das interconexões de gênero, raça e classe
que considera possível pensar a condição da vida de mulheres negras, a partir de diferentes tradições históricas, mas
tendo como base o pensamento de intelectuais afro americanas. Angela Davis, (1944) também enuncia através das
categorias mulheres, raça e classe e tenciona alguns discursos feministas ao propor um novo parâmetro para pensar
a questão da mulher o legado da escravidão. No livro de 2016, "Freedom is a constant Struggle. Ferguson, Palestine,
and Foudantions of a Movement" retoma o histórico do termo interseccionalidade para além da academia,
enfatizando esta categoria a partir de sua construção em um histórico de lutas. Aponta assim, para este termo como
uma abordagem para além do corpo e da experiência e a aposta em reconhecermos na interseccionalidade uma
abordagem que nos permita pensar diferentes questões juntas e nos organizar em relação a elas também de forma
cojunta (p.19) A proposta de Davis, de situar as análises sociais e críticas a partir do legado escravocrata, também se
dá em suas reflexões acerca do que se vem chamando de projetos democráticos e na luta dos direitos humanos. Nesse
sentido Davis tem se debruçado sobre a questão do encarceramento em massa cunhando a ideia de pensa-lo
enquanto um complexo carcerário industrial e a ponta a necesssidade da construção de uma Democracia da Abolição.
Colocar em análise as políticas de segurança pública em especial a questão carcerária e policial implica em evidenciar
o caráter do Estado Penal do país. Se, atualmente, evidência se um quadro de Estado de Exceção, em especial a partir
de 2013, faz-se necessário considerar que a excepcionalidade do Estado vem atuando concomitante ao que para
muitos se configurava como um Estado Democrático de Direitos em construção, de forma seletiva. As marcas desta
seletividade do Estado Penal expressam-se de forma racializada e generificada, firmando os pilares de supremacia
branca, capitalista e heterocispatriarcais que sustentam tanto a ordem quanto o progresso da nação. Discutir os
atravessamentos de raça, classe e gênero possibilita elucidar as dinâmicas de poder que envolvem as ações e discursos
ligados à ação policial e o a política de encarceramento na tentativa de colocar em questão a violência de Estado
brasileira. A leitura interseccional nos possibilita pensar nas relações de continuidade entre o período escravista e o
sistema penal, o genocídio simbólico e físico do povo negro, e os atravessamentos das relações de gênero expresso
tanto no aumento do encarceramento feminino (Angela Davis 1997; 2003; 2016, Ana Flauzina, 2006 e Enedina Alves;
2015), como nos modos de resistência, como as organizações coletivas de mães e familiares das vítimas de violência
de Estado.

195
Psicologia e genocídio da juventude negra no Brasil
Autores: Giselle Eckmann, Rede Criança
E-mail dos autores: geckmann.ge@gmail.com

Resumo: A violência e a humilhação sofridas pelos negros no Brasil desde a escravidão, os séculos de exploração e
violações, resultaram e continuam reafirmando as diferenças socioeconômicas entre brancos e negros,
potencializando cada vez mais o racismo. Mesmo após a promulgação da Lei Áurea em 1888, a situação não mudou,
pois não houve políticas públicas para que se pudesse contribuir com a inclusão social e ascensão econômica da
população negra. Foram colocados na rua sem perspectiva de como conseguiriam manter suas necessidades básicas,
de moradia e alimentação, desta forma continuaram a ser visto como escória da sociedade. Atualmente há algumas
políticas de ações afirmativas, visando corrigir tais desigualdades e danos para com essa população, que ainda
continua sendo criminalizada e subjugada sofrendo os resquícios da escravidão. O objetivo da pesquisa foi analisar a
violência contra jovens negros e afrodescendentes no Brasil, refletindo sobre o genocídio dessa população e a
contribuição das ciências, como a psicologia, nesses fatores, através do movimento de Eugenia que defendia a ideia da
soberania dos brancos sobre os negros e um ideal de embranquecimento da população, que ainda hoje é estabelecido
através das mídias sociais e do padrão de beleza que estas impõem. É uma pesquisa bibliográfica/documental, com
análise qualitativa dos dados, em uma perspectiva sócio-histórica, recolhendo artigos científicos, teses e sites
confiáveis das áreas da Antropologia, História e Psicologia. Poucos foram os dados históricos achados referente a
população mais jovem, devido a estes não serem considerados, ainda, crianças e adolescentes em desenvolvimento
peculiar e também pela queima de arquivos que aconteceu após a abolição da escravidão, numa tentativa de apagar
da historia os atos cruéis que a população negra sofreu. Foram considerados, nesta pesquisa, jovens os indivíduos
entre 12 a 29 anos de idade, período indicado pelo Mapa da Violência contra jovens no Brasil e demais documentos
governamentais. Entretanto, os registros demonstram que esta idade era a mais requisitada para o trabalho escravo,
onde os homens ficavam responsáveis pelos ofícios brutos, de força manual, e as mulheres jovens, muitas das vezes
eram usadas como objetos de prazer, através da violência física e sexual do senhorio. Violência esta que continua
sendo observada atualmente, mostrando os resquícios da época da escravidão, caracterizando-se, o Brasil, em um país
racista e preconceituoso. No entanto, estes são negados pela sociedade, devido à construção social e a forma como tal
tema sempre foi abordado, pois é defendida a teoria de meritocracia que é pautada em cima do sistema de capital em
que vivemos em que a população branca não consegue reconhecer os privilégios que veem tendo desde a época das
colonizações, tendo acesso à educação básica, superior, terrenos, moradia e aos cargos de confiança e liderança
dentro das grandes empresas. Mesmo após mais de cem anos da libertação dos escravos no Brasil, os negros
continuam sofrendo as consequências de uma história de humilhações e enfrentando diversos tipos de preconceito e
segregação muitas vezes praticados de forma implícita que não deixam de ser evidenciados sutilmente trazendo danos
psicológicos a essa população que escutam sua história e construção através de um olhar eurocêntrico e branco,
interferindo em sua representatividade e construção social, fazendo com que a população internalize-as e reafirme a
inferioridade da população negra.

196
Tribunal Popular pelo fim dos genocídios das juventudes negras, indígenas, pobres e periféricas
Autores: Roberth Miniguine Tavanti, PUC-SP; Carlos Eduardo Mendes, USP
E-mail dos autores: robertopsico@hotmail.com,bentoinacio16@gmail.com

Resumo: A análise dos dados divulgados através do atual Atlas da Violência é mais um dos subsídios que possibilitam
apontar o cenário de homicídios que atingiram recorde histórico em 2014/15. De forma assombrosa, parte
significativa de jovens negros, indígenas e pobres vem sendo sistematicamente exterminados (IPEA e FPSP, 2016). De
acordo com o texto da descrição do GT - Relações étnico/raciais: Violação de direitos na democracia, enfrentamentos,
memórias, trajetórias sociais e legado negro genocídio da juventude negra, o perverso sistema prisional e
socioeducativo, as violências racistas e/ou machistas, a tortura e a violência policial, são exemplos concretos e atuais
dessas violências, que vêm sendo exercidas e experimentadas, sem serem reconhecidas como tais, pois, devido ao seu
caráter estrutural, transformaram-se em algo normal, banal e até aceito socialmente. Contudo, verificamos nesses
últimos anos, em contato com integrantes dos movimentos sociais e coletividades em áreas diversas (arte e cultura,
gênero, étnico-raciais), que um esforço comum de mobilização popular e posicionamento de resistência têm se
organizado na cidade de São Paulo no intuito de responsabilizar o Estado brasileiro e exigir imediatamente a
erradicação de tal barbárie. Neste sentido, o objetivo deste trabalho visa problematizar as ações do Tribunal Popular:
pelo fim dos genocídios das juventudes negras, indígenas, pobres e periféricas realizado entre os meses de julho a
novembro de 2016, na região do Jardim Ângela, Jardim São Luiz e Capão Redondo, zona Sul, do município de São
Paulo, como um importante mecanismo de sensibilização, enfrentamento político e mobilização popular em torno das
denúncias e responsabilização do Estado diante as centenas/milhares de mortes e demais violações de direitos
humanos e de cidadania atrelados às juventudes moradoras das periferias da metrópole. Considerando que a
proposta deste GT é de promover um diálogo sobre a representação da população negra nos planos social, politico,
material e simbólico diante do genocídio, violência, e movimentos sociais e coletivos, a problematização e reflexão
sobre as ações dessa iniciativa popular que resultaram no julgamento público onde o Estado brasileiro aparece como
réu pelos genocídios das juventudes negras, indígenas, pobres e periféricos a proposta desta comunicação tem
pertinência e encontra plena consonância com o GT em questão. Partindo dos pressupostos do construcionismo social
e da abordagem teórico-metodológico de práticas discursivas e produção dos sentidos no cotidiano (SPINK, 1999),
pretendemos, de modo a cumprir com o objetivo desta comunicação oral, trazer uma exposição decorrente da
sistematização e análise dos documentos de domínio público (SPINK, P. 1999) relacionados às diversas ações
vinculadas ao Tribunal Popular (3 encontros temáticos durante as reuniões do Fórum em Defesa da Vida, 3 rodas de
conversa com familiares e serviços de Medida Sócio Educativa, 2 oficinas com adolescentes e jovens, 21ª Caminhada
pela Vida e pela Paz e o Julgamento) se possível fazer uso de vídeos e/ou fotos (reportagens da TVT sobre as ações do
TP - previsão 7 min) no intuito de resgatar e valorizar os/as atores e demais participantes envolvidos. Como resultado
podemos concluir que, se por um lado, as ações desta iniciativa se deram em meio a um difícil e por vezes
fragmentado diálogo com o poder público ali convocado (Secretarias de Segurança do estado e do município de São
Paulo, Secretaria de Direitos Humanos, Ministério Público, Defensoria Pública e demais órgãos da Justiça), entre outras
dificuldades identificadas durante os processos de articulação e definição das estratégias por parte dos diversos atores
e coletividades envolvidas na organização dessas atividades; por outro lado, é possível sugerir que novas articulações e
estratégias de luta, mobilização popular e reivindicação estão em construção na cidade em conexão com outras
periferias (zona leste, norte, noroeste, etc.) tendo como foco a pauta dos genocídios e o fortalecimento entre as
coletividades, organizações de base e movimentos sociais.

197
As balas também nos levaram junto: sofrimento psíquico das mães das vítimas do genocídio negro
Autores: Thayna Miranda da Silva, UFRGS; Ana Paula Moreira Ferreira, UFRGS; Henrique Caetano Nardi, UFRGS;
Raquel da Silva Silveira, UFRGS
E-mail dos autores: thaynamirandas@gmail.com, hcnardi@gmail.com, raquelsilveira43@gmail.com, ana-
paulamoreira@hotmail.com

Resumo: O caráter estrutural das diversas violências racistas cometidas cotidianamente no Brasil vem permitindo a
naturalização e a banalização de uma série de atos desumanizantes. Nesse contexto de tantas negligências em relação
às pessoas negras do país, se é insuficiente a produção acerca do genocídio da juventude negra, mais invisíveis ainda
são os efeitos dessa agressão à vida de quem tem o filho como vítima dela. As balas não atravessam diretamente o
corpo dessas mães, mas certamente deixam marcas que afetam intensamente as suas vidas.
O presente trabalho está vinculado ao projeto Racismo, relações de saber-poder e sofrimento psíquico, desenvolvido
pelo Centro de Referência em Direitos Humanos, Relações de Gênero, Diversidade Sexual e Raça (CRDH/NUPSEX), do
Departamento de Psicologia Social e Institucional, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nosso
objetivo é discutir de que maneira o aumento de mortalidade por causas externas e a perseguição policial à população
jovem negra brasileira afeta a saúde psíquica das mães das vítimas desse tipo de violência, e como essa questão vem
sendo tratada no meio acadêmico e no campo da saúde.
Trata-se de uma revisão narrativa analisada a partir do referencial teórico de Aparecida Sueli Carneiro cuja tese
dialoga com a perspectiva teórica de Michel Foucault utilizando os conceitos de dispositivo de racialidade, biopoder e
epistemicídio e compreendendo como eles operam na manutenção do racismo como condição para tirar a vida de
alguém. Inicialmente, foram levantados dados relevantes presentes no Mapa da Violência de 2016 e foi realizada
pesquisa de artigos e publicações nas plataformas Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Scielo, a partir dos descritores
genocídio negro, homicídio, jovens, violência policial e mães, sendo selecionados para análise textos que continham os
termos em conjunto ou separadamente. Também foram consultados fatos cotidianos registrados pela imprensa sobre
a temática, discursos representativos do movimento negro brasileiro, além da bibliografia pertinente já presente no
projeto de pesquisa.
O Mapa da Violência apontou que enquanto o número de homicídios por arma de fogo, no Brasil, cometidos contra
pessoas brancas teve uma queda de 26,1% de 2003 a 2014, esse número teve um aumento de 46,9% em relação às
vítimas negras durante o mesmo período. Esses dados também destacam que, em 2003, a vitimização negra era de
71,7% indicando que, proporcionalmente, morriam 71,7% mais negros do que brancos no Brasil e que esse número
teve um salto para 158,9%, em 2014. Os artigos apresentaram dados semelhantes quando explicitaram o marcador
social raça/cor. Contudo, a pesquisa nas plataformas não obteve resultados para publicações que relacionassem o
sofrimento psíquico das mães ao genocídio da juventude negra. Já os relatos registrados pela mídia indicaram a
existência de um imenso sofrimento que afeta intensamente a vida das mães cujos filhos foram levados pelo deixar
morrer associado à racialidade. Ao mesmo tempo, evidenciou-se que são extremamente escassas medidas que
demonstrem preocupação com essa realidade na saúde e na academia destacando também os efeitos do
epistemicídio.
Trazer para a academia a discussão sobre o quanto a saúde psíquica dessas mulheres vem sendo prejudicada pelos
riscos a que estão submetidos os seus filhos cotidianamente, por sua raça/cor e por sua classe social, tem a potência
de gerar visibilidade para uma realidade ainda tão negligenciada. A partir desse processo, podemos pensar estratégias
que, além de prevenirem e aliviarem esse tipo de sofrimento, criem também possibilidades de espaços outros em que
as vidas negras e as problemáticas que as envolvem não estejam à margem e outras vidas quaisquer.

198
O mundo começa na cabeça: (re)construção da identidade negra de mulheres quilombolas de Santarém
Autores: Ingrid Sabrina Batista Costa, Fundação Esperança; Lívia Cristinne Arrelias Costa, IESPES/ABRAPSO-Santarém
E-mail dos autores: ingridsab.costa@gmail.com,liviacristinne@gmail.com

Resumo: A formação da sociedade brasileira segue uma lógica de negação e invisibilidade dos povos negro e indígena
que, apesar de, juntos, formarem a maioria numérica da população, tem sido os mais discriminados com práticas
racistas historicamente construídas. Para se manter, o racismo se faz presente e se fortalece nos mais diferentes
segmentos da sociedade, como a escola, a família, o local de trabalho, as mídias sociais, dentre outros. A sua
institucionalização dificulta, quando não, impede a visibilidade das contribuições e demandas específicas da população
negra na história do Brasil. Contudo, existem produções teóricas que vem preenchendo estas lacunas (CARNEIRO,
2003; RAIMUNDO; GEHLEN; ALMEIDA, 2013; XAVIER; FARIAS; GOMES, 2012), apresentando a história de lutas e
diferentes formas de resistência de mulheres negras brasileiras, ainda no tempo da escravidão. Trata-se de uma
maneira de inserir, para além da escravidão, a atuação das mulheres negras, que continuam resistindo às várias
formas de violência a que tem sido submetidas. Contudo, a população negra amazônica tem permanecido fora,
mesmo enquanto objeto de estudo, destas produções, que tradicionalmente se ocupam da realidade do centro-sul do
país. Salles (1971), Azevedo e Castro (1999), Sampaio (2011), Bentes (2013), Campelo, Jesus e Deus (2014), dentre
outras produções teóricas, vem cobrindo esta lacuna, descrevendo diferentes maneiras de participação da população
negra na região amazônica, mais especificamente nos estados do Pará e do Amazonas. Estes trabalhos pioneiros tem
permitido aprofundar as pesquisas sobre a contribuição e os desafios específicos apresentados pela população negra
na região, inclusive com recortes como o de gênero e territorial, apresentando uma importante contribuição
conceitual que dialoga com a Psicologia Social e a Psicologia Comunitária, ampliando as possibilidades de intervenção.
As mulheres negras possuem um histórico de exploração física de sua força de trabalho doméstico, sexual e nas
lavouras, além da negação de sua estética em detrimento de caraterísticas europeias reconhecidas socialmente como
mais belas delicadas e que merecem ser cuidadas. Estes mesmos estereótipos atravessam o tempo e chegam até os
dias atuais, incidindo também sobre as mulheres quilombolas de Santarém. Reconhecendo esta situação, foi realizado
um projeto conjunto entre o núcleo Santarém da ABRAPSO e a coordenação de Educação Quilombola da Secretaria
Municipal de Educação que teve por objetivo combater o racismo institucionalizado a partir do desenvolvimento de
uma visão positiva da estética negra para docentes das escolas das comunidades quilombolas do município. Entende-
se que assumir os cabelos naturais pode ajudar no fortalecimento da autoestima, da identidade negra e de uma rede
de apoio comunitária que se retroalimenta, além de possibilitar a produção de outros discursos e imagens, mais
positivos, sobre as mulheres negras. O âmbito escolar é um lugar por excelência para a difusão deste tipo de atividade,
inclusive com possibilidade de modificação de suas próprias práticas cotidianas, tal como proposto pela Lei
10.639/2003. Apresentar um relato de experiência de intervenção com tranças nagô, realizado em uma comunidade
quilombola rural do município de Santarém é o objetivo deste trabalho. A oficina teve duração de oito horas, foi
realizada na comunidade quilombola do Bom Jardim e iniciou com a pergunta O que o cabelo significa para você?. As
participantes, mulheres e professoras quilombolas, compartilharam suas historias, dizendo que não deixavam seu
cabelo natural por não saberem cuidar, fazer penteados ou que não gostam de seus cabelos. Uma das participantes
relatou que se sentia incomodada quando seu cabelo começava a enrolar, outras disseram que estão começando a ter
coragem para assumir seus cabelos crespos. Uma professora quilombola fez o seguinte relato: o cabelo é sua
identidade e que aos poucos esta deixando voltar ao normal; todo cabelo é bonito, mas é preciso que gostem de si
mesmas, se achar bonita. O uso do cabelo crespo natural tem sido encarado como um ato politico de resistência ao
racismo. Assumir os crespos permite estabelecer formas diferenciadas, inovadoras, de constituição intersubjetiva
(segundo o conceito cunhado por Merleau-Ponty) de mulheres negras, dando visibilidade, como forma de denuncia,
ao racismo sexista que estrutura a sociedade brasileira. Além disso, trazer uma experiencia vivenciada em comunidade
quilombola da Amazônia, a partir do olhar da Psicologia social, permite explicitar a presença da população negra em
uma região do Brasil, que estigmatiza e estereotipiza sua população tradicional. Estes são processos que provocam
199
uma construção identitária que tende a ser negada por si, ao mesmo tempo em que é negada pela/o outra/o,
causando prejuízos que incidem na oferta inadequada e insuficiente de serviços públicos que atendam as demandas
especificas desta população, além de promover uma autoimagem e autoestima deturpadas. Dialogar com produções
teóricas de áreas que possuem mais tradição nesta temática, possibilita à Psicologia Social ampliar seu olhar e atuar
em consonância com o que já vem sendo explicitado por saberes afins.

200
GT 10 | Psicologia critica e Políticas Públicas: desafios teórico práticos em tempos de golpe

Coordenadoras: Andréa Moreira Lima, UNA | Marcia Mansur Saadallah, CRP MG | Paula Angela de Figueiredo e Paula,
PUC Minas

Uma das manifestações contemporânea mais importantes da questão social na América Latina e, em especial, no
Brasil é a desigualdade social. Souza (2003, 2009) tem produzido análises nas quais pretende explicar alguns processos
de produção de subjetividade que não são evidentes por si mesmos: busca explicitar como se dá a construção social e
su jeti aàdaà su idada ia ,à o diç oàdeà idaà ueàse iaàp p iaàdoà ueàeleàde o i aàdeà al à asilei a .
Aprendemos com Marx que todo modo de produção engendra a subjetividade necessária ao funcionamento e
manutenção do sistema. A discussão sobre subjetividade na atualidade tem valorizado o esforço pessoal como forma
de obter sucesso, ou seja, um modelo de subjetividade individualista e meritocrática. Por isso, há pouco engajamento
teórico-político com a proteção, o respeito e a solidariedade com as diferentes expressões de alteridade. É um
indivíduo com valores notadamente liberais que não vê importância na política e nem no Estado e não concorda com
política assistencial, pois está sobre determinado por um "dever ser" mercadológico, excluindo tudo o que "parece"
sem sentido ao modo de vida neoliberal.
As recentes ações do prefeito de SP no que diz respeito a assistência ao usuário abusivo de álcool e outras drogas é o
exemplo de uma política de ampliação da marginalização social pela restrição de espaços, asilamento e coerção. Em
nome de uma suposta eficiência de gestão, aplica-se um programa em que apenas são "cidadãos" os que estão aptos a
concorrer como agentes econômicos plenos. Vemos retornar gestores eleitos no último pleito que começam a
implementar uma política higienista que é paradigmática em tratar o empobrecimento crescente na era neoliberal
como problema de segurança pública. Outro exemplo da lógica conservadora e criminalizadora da pobreza pode ser
visto no caso de Belo Horizonte, na Portaria da Vara de Infância e Juventude de Belo Horizonte que traz a exigência de
notificação dos casos de gestantes usuárias de drogas que se encontram em pré-natal ou durante a internação em
maternidades. A problemática central das discussões se encontra na capacidade ou incapacidade das mulheres
usuárias ou dependentes de prover cuidado para o filho após o nascimento. Ela reproduz, em sua concepção, as
práticas e procedimentos que tem na criminalização dos pobres sua sustentação. Em nome da proteção, do cuidado e
da segurança, pensa-se e decide-se o destino das pessoas a partir de estratégias normatizadoras, totalizadoras e
reguladoras, que se tornam legítimas a partir do discurso disciplinador, normatizador do corpo e do exercício da
maternidade.
A sociedade neoliberal tende a transformar o sucesso em valor individual supremo e o discurso hegemônico justifica
porque uns são ricos e outros não. A pobreza aparece como símbolo do fracasso social e, frequentemente, se traduz
na existência humana por uma degradação moral na vida social. (PAUGAM, 2003). Essas formas de desumanização se
somam a outras condições reiteradoras da desigualdade, tais como gênero, sexualidade, raça, etnia, classe,
procedência, etc., expressando, assim, modos de operar das relações de dominação, de opressão e de exclusão
vigentes na sociedade neoliberal.
Uma das maneiras de lutar contra as desigualdades, sempre foi a de efetivar políticas sociais, tanto como discursos
quanto como práticas oficiais do Estado, na tentativa de materializar os chamados direitos sociais. Segundo a
Constituição Brasileira de 1988, no artigo 6º, os direitos sociais assegurados aos cidadãos seriam os seguintes: a
educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância e a assistência aos desamparados (BRASIL, 1988).
ásà políti asàpú li as às o,àpo ta to,àaç esàdoàEstadoà o à elaç oàaoà ueàseàde o i aàdeà uest oàso ial ,àte oà ue
inclui os múltiplos efeitos do funcionamento estrutural do Modo de Produção Capitalista (MPC), tais como a pobreza e
todo o seu corolário, gerada pelo desemprego, pela exploração e dominação exercidas pela elite sobre a classe
trabalhadora e por práticasà deà e lus oà so ial.à Osà di e sosà p o le asà so iais à pode à se à apazesà deà o iliza à osà
membros da sociedade civil organizada, que passam também a pressionar agências estatais, cobrando
encaminhamentos e soluções para tais dificuldades (BENELLI; COSTA-ROSA, 2013).
Neste momento de nossa história, o debate sobre a reforma da Previdência vem sendo apresentado pelo governo
Michel Temer e pela mídia com ele alinhada, como parte de um ajuste econômico das contas do Estado. Este,
entretanto, não é um problema técnico e diz respeito ao modelo de sociedade que vamos adotar e ao tipo de
proteção social que nela haverá para as pessoas. Assim, estamos diante de um problema ético-político de primeira
ordem. Quando analisamos o sistema de proteção social neoliberal adotado a partir das perdas com estas reformas

201
(do Ensino médio, trabalhista e previdenciária), vemos que nem Estado nem sociedade assumem responsabilidade
coletiva pela vulnerabilidade das pessoas, seja ela temporária ou advinda de necessidades especiais permanentes.
No Brasil, de acordo com o artigo 194 da Constituição Federal, a seguridade social abrange saúde, assistência e
previdência. As duas primeiras são independentes de contribuição. Enquanto o atendimento à saúde é universal, a
assistência é voltada para quem dela precise, isto é, para necessidades específicas e especiais (artigos 196 e 203).
Embora tenha sido pouco notificado, a reforma da Previdência (PEC 287/2016) também incidirá sobre a LOAS no que
diz respeito a proteção de crianças e adolescentes em situação de risco, deficientes, idosos, penalizando,
sobremaneira, as mulheres. Segundo dados da PNAD/IBGE, em 2014 25,4% das pessoas (21,5% dos homens e 30,6%
das mulheres) tiveram rendimento médio mensal proveniente do trabalho inferior a 1 salário mínimo. Esta população
de baixa renda também tem menor expectativa de vida e menores condições de envelhecer com o acesso adequado a
cuidado, medicamentos e alimentação. Além disso, as trabalhadoras rurais, as mais pobres e as negras, são as mais
prejudicadas nesse processo. Trata-se como todos sabemos, de privilegiar o capital financeiro para aprofundar a
privatização da responsabilidade pela velhice, criminalizando a pobreza e desmontando a já frágil estrutura de
assistência pública.
Para efetivar os direitosà o stitu io ais,à oà Estadoà i i a e teà so ial à de e iaà p o e à osà e u sosà fi a ei osà
necessários para a execução das políticas garantindo, ao menos, o atendimento às necessidades básicas da população,
sobretudo, dos mais pobres. Sempre soubemos da necessidade de lutar para garantir um financiamento justo e
suficiente para efetivação destas políticas, questão que sempre foi altamente problemática em tempos de capitalismo
globalizado e neoliberal. Entretanto nossas dificuldades parecem que vão se agravar depois da aprovação da PEC
/ àe àdeze oàdeà .àáàPECà o he idaà o oà doàfi àdoà u do ,à o gelaàosài esti e tosàpú li osàpo à à
anos, ameaçando os diretos sociais estabelecidos na constituição de 1988. As medidas do governo executam uma
modalidade sofisticada de restrição da democracia, pois retira do jogo político por um tempo significativo a disputa
sobre os investimentos do Estado na seguridade social.
OàEstadoà eoli e alàa a aàe o t a doà e a is osàpa aàte ei iza àpa aàaà ha adaà so iedadeà i ilào ga izada ,à ueà
i lui iaàasàONG s,àasàO“CIP sà oà o he idoà te ei oàseto .àEsteà à u à a poà otada e teàdoàe p ee dedo is oà
social, bem de acordo com os tempos de Parceria Público – Privado, instituídas desde o governo de Fernando
Henrique Cardoso (MONTAÑO, 2007).
A história da Psicologia brasileira se sustenta em dois movimentos importantes. Um no campo da ciência rejeitando
referenciais teóricos tradicionais e criticando as teorias psicológicas que, em última instância, contribuem para a
naturalização, justificação e individualização de contradições sociais. O outro advindo especialmente do crescente
processo de assalariamento de profissionais da Psicologia que estão, cada vez mais, inseridos em organizações que
trabalham com as diversas refrações da uest oàso ial .àássi ,à àpossí elàdize à ueàaà a ifestaç oàdeàp eo upaç esà
sobre como a Psicologia responde aos problemas postos pela desigualdade social é acompanhada pela crescente
i se ç oàdaàPsi ologiaàe àe uipa e tosà oltadosàaoà e -esta àso ial .
Além disso, estamos em momento peculiar de discutir os limites e as possibilidades da Psicologia já que com a
diminuição de orçamento para investimentos públicos, as ações de voluntariado se proliferarão e as psicólogas e
psicólogos encontrarão empregabilidade no Terceiro Setor. Isso coincide com a visada da terceirização irrestrita posta
pelaà‘efo aàT a alhistaàe à u soà oàB asil.àOàfe e oàdeà pejotizaç o ,àouàseja,à ua doàtodosàso osàe p es iosà
de nós mesmos e nos constituímos como pessoa jurídica (CNPJ) para sermos contratados pelos patrões, atingirá
também o trabalho das psicólogas e psicólogos.
Essa compreensão nos coloca desafios ético, políticos, teóricos e práticos, na medida em que exige refletirmos
detidamente sobre concepções distintas relativas aos princípios democráticos de igualdade e de liberdade e à
coexistência da pluralidade de formas de vida que fundamentam as estratégias políticas do presente. Nesse sentido,
um aspecto central é problematizarmos tanto as estratégias de movimentos sociais ou outras formas de ação coletiva
que lutam pela expansão de direitos democráticos, quanto a ofensiva conservadora construída na negatividade a essas
lutas, bem como as articulações de ambos os sujeitos políticos com os espaços estatais, institucionais e com a
formulação de políticas públicas.
Quaisàs oà ossosàpo tosàdeàpa tida?àCo side a doàaàte ti aàdoàXVIIIàENáB‘áP“O,à De o a iaàpa ti ipati a,àEstadoà
eà lai idade:à Psi ologiaà “o ialà eà e f e ta e tosà e à te posà deà e eç o ,à oà p ese teà G upoà deà T a alho pretende
reunir trabalhos que apresentem pesquisas, análises e relatos que, de alguma forma, articulem Psicologia, Políticas
públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais.
Neste GT queremos abrir discussões que avaliem as teorias e práticas psicológicas e suas interfaces com a
desigualdade social a partir da perspectiva da emancipação humana. Entendemos que emancipação humana é a
202
resolução da contradição, no caso, entre capital e trabalho, que opõe a existência objetiva de condições sociais que
possibilitam o livre e multilateral desenvolvimento das capacidades humanas à permanência de relações sociais que
bloqueiam a realização das possibilidades reais criadas no interior da sociedade capitalista. Possivelmente, a
manifestaç oà aisà i po ta teà dessaà o t adiç oà à aà pe a iaà eà aà i te sifi aç oà daà uest oà so ial à oà
capitalismo, isto é, do conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos postos pela emergência da classe
trabalhadora no capitalismo. Entendemos, contudo, que diante das formas de organização, refuncionalização e
reprodução do capital, a perspectiva da emancipação subjetiva e social se coloca como possibilidade, apenas, com a
superação dessa ordem vigente.
Já sabemos que a Psicologia não admite mais pensar a subjetividade sem uma teoria social, mas estamos
considerando que seja importante definir uma teoria do sujeito que nos permita compreender a dialética entre a
concretude da subjetividade e a objetividade da História. Sabemos o quanto é difícil ter uma identidade profissional
que não se apoie em significantes identificatórios (sejam eles quais forem, inclusive quando se trata do significante
Direitos Humanos), mas estamos buscando algo que possa ser universalizável na defesa dos direitos de cidadania, sem
desconsiderar as particularidades das lutas dos diferentes grupos de minorias e sujeitos sociais. Assim, quanto menos
identificações tivermos, mais teremos uma identidade que se distinga, pela diferença, do modelo imposto pela elite
dominante como sendo o único legítimo, o qual gera as hierarquias sociais e a subalternidades de uns sobre outros.
Além de vislumbramos uma teoria do sujeito que esteja alinhada com a perspectiva da emancipação humana é preciso
nos perguntarmos: as condições objetivas existentes à emancipação política é o limite da prática ético-política das
psicólogas e psicólogos? É possível falar em ideias e práticas psicológicas que promovem emancipação subjetiva e
social? Em que medida as teorias e práticas psicológicas contribuem para mistifi a à ouà iti a à aà uest oà so ial ?à
Quais são as possíveis parcerias entre a Psicologia e os movimentos sociais que buscam direitos sociais e
transformação psicossocial? Como a Psicologia tem contribuído com a defesa dos direitos humanos de minorias
sociais? Quais as possibilidades e os limites da Psicologia no Estado e no terceiro setor? Quais são as possibilidades de
articulação e diálogo entre a Psicologia e o Marxismo?
Co side a doà oà ei oà te ti oà e à ueà situa osà esteà GT,à Políti asà pú li as,à di eitos so iaisà eà e a ipaç o ,à ujoà
escopo é o de discutir os trabalhos que inscrevem a Psicologia Social como campo de luta pela garantia dos direitos de
cidadania e democratização da sociedade, receberemos trabalhos de estudantes, profissionais, pesquisadores e
ativistas preocupados em problematizar o papel da Psicologia Social na sociedade contemporânea e fortalecer as lutas
por emancipação humana, tendo como perspectiva imediata a emancipação política. Em síntese, esse Grupo de
Trabalho pretende incitar discussões que, ao mesmo tempo, analisam criticamente o direcionamento ético-político da
Psicologia como ciência e profissão, sinalizam perspectivas de futuro para a profissão na direção do enfrentamento
das desigualdades provocadas pela contradição capital-trabalho e com vistas à eliminação da sociedade regida pelo
capital.
Conforme a própria lógica da teoria e da prática em Psicologia Social, almejamos um diálogo que respeite a
interdisciplinaridade de saberes que possa contribuir para a compreensão e a intervenção no âmbito dos processos
psicossociais. As três proponentes deste GT têm abordagens teóricas diversas a partir de conceitos da Teoria Crítica da
Sociedade (Foucault, Zizek, Badiou e Agamben), da Teoria Sócio-Histórica (Marx, Vygotsky, Lane, Bock, B.S.Santos,
Touraine, Melucci, Laclau e Mouffe) e da Psicologia Social Latino Americana (M. Baró, B. Sawaia e M. Montero) dentre
outros teóricos e conceitos afins. Deste modo, consideramos ser pertinente contemplar a diversidade teórica e
metodológica, tendo como eixo de interlocução a luta em prol do respeito às diferenças e à igualdade de
oportunidades, as questões identitárias e socioeconômicas, a luta pela garantia de direitos sociais, o reconhecimento e
a redistribuição, voltado, prioritariamente, para as minorias sociais, isto é, para os grupos sociais que são
subalternizados nas relações de poder devido a marcadores de hierarquias sociais, tais como, gênero, sexualidade,
raça e etnia, classe, geração, territorialidade, dentre outras.
Referências
BENELLI, S. J.; COSTA-ROSA, A. Dispositivos institucionais filantrópicos e socioeducativos de atenção à infância na
Assistência Social. Estudos de Psicologia, v. 30, n. 2, p. 283-301, 2013.
BOCK, A. M. B. (org.). Psicologia e compromisso social. São Paulo: Cortez, 2009.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS Anotada.
Brasília: Secretaria Nacional de Assistência Social, 1993/2009.

203
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social. Brasília:
Secretaria Nacional de Assistência Social, 2004.
BRASIL. Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Norma Operacional Básica Nob/Suas: Construindo as bases para a
implantação do Sistema Único de Assistência Social. Brasília, 2005.
MONTAÑO, C. E. Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente de intervenção social. São Paulo: Cortez,
2007.
PAUGAM, S. A desqualificação social: ensaio sobre a nova pobreza. Porto: Porto Editora, 2003.
SOUZA, J. A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. Belo
Horizonte, Editora da UFMG, 2003.
SOUZA, J. Ralé brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

204
A importância da criação de vínculo para o acompanhamento de famílias em situação de vulnerabilidade
Autores: Débora Nascentes Martins, PUC Minas; Gabriel Miranda de Souza, PUC Minas; Luisa Leite Coelho, SEDESE;
Nicolli Villaverde Santos, PUC Minas
E-mail dos autores: gabriel.souza21@hotmail.com, nicollivillaverde@outlook.com, debora.nascentes@gmail.com,l
uisaleitecoelho@gmail.com

Resumo: Este trabalho tem como objetivo relatar as experiências do estágio curricular Psicologia e Políticas Públicas,
da Faculdade de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUC-MG, realizado em parceria com o
Centro de Referência Especializado em Assistência Social CREAS da Regional Norte de Belo Horizonte, com enfoque no
estabelecimento e rompimento do vínculo criado entre o profissional e a família atendida.
O CREAS é um equipamento do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, que permite compreender o elo entre a
teoria aprendida dentro da academia e a prática realizada em uma política pública. O Serviço de Proteção e
Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos - PAEFI, serviço obrigatório a ser ofertado pelo CREAS, preconiza o
acompanhamento familiar e atende crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência em situação de violação
de direitos, seja por agressões psicológicas e/ou físicas, abandono, negligência, entre outras situações de violação.
O estágio possibilita a construção de competências necessárias à uma prática que seja transformadora e
empoderadora dos sujeitos em seus contextos sociais. Ao mesmo tempo propicia uma experiência crítica acerca do
fazer psicológico dentro dos parâmetros de uma política pública.
Neste sentido, nos deparamos com as potencialidades e as limitações do vínculo criado entre profissionais e famílias
em acompanhamento. Vale ressaltar que vínculo aqui remete a relação estabelecida entre os usuários do serviço e os
profissionais.
A partir disso temos por objetivos expor as experiências de estágio, através de uma roda de conversa e debater os
limites éticos para o estabelecimento do vínculo e discutir como lidar com o vínculo constituído no encerramento do
acompanhamento, estabelecendo assim uma discussão sobre as potencialidades e as limitações do vínculo enquanto
relação.
O tema exposto busca pensar e repensar as práticas em Psicologia Social, enquanto um mecanismo que pode auxiliar
na garantia de direitos sociais. Considerando as grandes derrotas que a população brasileira vem sofrendo desde as
mudanças na conjuntura política do país e mais recentemente com a aprovação da Reforma Trabalhista, as práticas
em defesa, garantia e efetivação de direitos humanos e sociais se fazem urgente e repensar novas estratégias para
garanti-los é fundamental na construção de uma sociedade igualitária e justa, com famílias e indivíduos empoderados.
No desenrolar das práticas de estágio, foi possível perceber que o investimento em tempo e paciência, característico
em estagiários, faz diferença e funciona como algo fundamental para o estabelecimento de vínculos.
Mais que isto, através da prática foi possível notar que o elo e proximidade da família surgem após este grande
investimento e bom estabelecimento de rapport. Diante disto, o trabalho desenvolvido neste campo de estágio
demanda tempo, interesse, paciência e disposição dos estagiários em aproximar e romper com os receios e
preconceitos da família.
Sabe-se, conforme Viegas e Penna (2013), que uma boa relação com o paciente possui efeitos positivos na satisfação
dos usuários e exerce grande influência sobre o estado e vivência dos mesmos. Além disso, de acordo com as autoras,
o vínculo possibilita a troca de saberes popular e técnicos, bem como evidencia as sutilezas e especificidades de cada
indivíduo.
O vínculo e proximidade com família possibilitam um olhar sensível diante da situação, vivência e história da família.
Como agente facilitador da interação, a proximidade pode instrumentalizar autonomia e dar algumas possibilidades de
superação de vulnerabilidades.
Para isto, é necessário considerar cada família como única e com sua subjetividade específica, conforme Viegas e
Penna (2013) afirmam, para isso, é necessário dedicação do profissional que se implique e conheça a realidade e

205
necessidades da família. Por fim, vale dizer que o estabelecimento de vínculo também depende do usuário e que este
favorece a horizontalização das práticas entre família-profissionais, Viegas e Penna (2013).
Através da prática foi possível analisar que o vínculo funciona como impulsionador de mudança e possibilita a entrada
do profissional para reflexões e análise de situações junto à família. Além disso, a proximidade do profissional com a
família acarreta confiança e segurança indispensáveis ao atendimento, acompanhamento familiar e até mesmo
superação de alguns fatores de risco, bem como vulnerabilidades.

206
A polícia como produtora de subjetividades nas políticas sociais
Autores: Antonio Reguete Monteiro de Souza, UNIGRANRIO
E-mail dos autores: tonimonteiro@hotmail.com

Resumo: Introdução
A presente comunicação traz reflexões acerca da construção histórica das políticas de assistência social. Discutiremos
ainda o modo como foi arquitetada a subjetividade sobre esta polícia que se tornou hegemonia e foi internalizada nas
concepções políticas, teóricas e práticas que passaram a nortear a atuação do Psicólogo na assistência social.
Debateremos estes aspectos abalizado no conhecimento empírico do autor, que atua como Psicólogo, desde 1994 nas
políticas de assistência social e, nos estudos realizados na construção de sua tese, que lhe conferiu o grau de Doutor
em Serviço Social.
Demonstraremos a importância da reconstrução histórica e análise do papel da polícia na institucionalização de
práticas e discursos relacionados a assistência social, de modo a compreende-la como um mecanismo de poder estatal
que atingiu certa eficiência no modo de incorporar de forma subalterna aqueles que dela necessitam. Para além de
toda ajuda, apoio e diretos sociais, que se constituem hoje as políticas de assistência social, há a sofisticação e o
aperfeiçoamento das práticas administrativas do Estado de Polícia: conhecer, sistematizar, territorializar, para
controlar e disciplinar as populações, nas epidemias, nas catástrofes, na pobreza, no cotidiano das relações sociais e
na organização do mundo do trabalho.
As práticas e discursos das instituições policiais acerca da assistência, no período estudado constituíram-se em
representações sociais sobre a pobreza que contribuiu na formação da ordem burguesa e na estruturação de um
discurso oficial do Estado sobre as desigualdades. As ações de assistência social da polícia eram parte do modo
burguês de organização do Estado, onde não havia o interesse em incluir os subalternos, mas controlá-los e discipliná-
los humanisticamente. Neste sentido, buscava-se pela ideia de assistência, de algum modo, humanizar as práticas
estatais de controle e disciplinamento da pobreza urbana.

Objetivo
A presente comunicação visa demonstrar o papel da polícia na construção histórica das políticas sociais, com ênfase
para de assistência social, evidenciando como as práticas de polícia do final do século XIX estão atualizados nas
políticas de assistência social. E, deste modo refletir sobre a posição ético-política do Psicólogo na assistência social.
Orientação teórico-metodológica
As conclusões aqui apresentadas basearam-se nas análises dos relatórios do Ministério da Justiça, no período de 1870
a 1930, o que representa cerca de 25.000 páginas estudadas, além de matérias jornalística. Este material foi
interpretado à luz da teoria sócio histórica e confrontado com conhecimento empírico do autor sobre a assistência
social.

Resultados
Ficou demasiadamente comprovado que as instituições policiais têm o mesmo peso dramático e que protagonizaram,
tal e qual, a filantropia e a caridade a cena da construção histórica da assistência social. Apontamos que determinadas
práticas das instituições policiais no controle e disciplinamento dos comportamentos na cidade, se configurou em
superestrutura capaz de forjar a continuidade destas práticas nas políticas atuais de assistência social. Ficou
demonstrado que a assistência é historicamente uma prática de polícia na administração das cidades e na regulação
do trabalho, fora do mundo do trabalho.

207
Conclusões
A assistência social incorporou ao longo de sua história na cidade do Rio Janeiro, parte das funções e papeis que antes
era da alçada das instituições policiais. A organização do mundo do trabalho era do que se tratava, na medida em que
devia a polícia e deve hoje a assistência dar conta de conhecer, classificar e capacitar os pobres válidos, moralmente
aptos, que estão fora do mundo do trabalho, de modo a não criminalizar os que ainda fazem jus a proteção social.
Atendendo aos interesses da reprodução do capital, da exploração do trabalho e do controle da circulação de pessoas
e mercadorias. As práticas de assistência social, mais do que proteger funcionam como acionadores que legitimam a
desigualdade e contribuem decisivamente para a construção de representações sociais que naturalizam o processo de
produção e reprodução da pobreza no Brasil. Tal qual a polícia, mas agora em lugar diferente, a assistência social faz
parte da gestão da desigualdade social sem a busca de sua superação, talvez este seja esta a maior permanência do
século XIX, atualizada nas politicas atuais de assistência social.
Fica evidente que as atuais políticas de assistência social têm sua genealogia composta muito mais por uma linha de
continuidade das ações estatais no século XIX executadas pela polícia, do que propriamente por uma ruptura advinda
da caridade e/ou da filantropia. Podemos claramente identificar que as ações de assistência social no século XIX e as
atuais políticas sociais do século XXI se constituem como respostas em perspectiva liberal que busca interferir na
questão do trabalho, alheio ao próprio trabalho, de modo a reeditar a cada dia a epifania republicana de fazer da não
inclusão o meio eficaz de dominação.
Como fica evidenciado, é direta a associação como o Eixo Temático Políticas públicas, direitos sociais e práticas de
emancipação em contextos neoliberais e com os GTs escolhidos.

208
A Psicologia crítica no Poder Legislativo Municipal: educação política e cidadania
Autores: Luana Santos de Oliveira, UFSC
E-mail dos autores: luanasanton@gmail.com

Resumo: O Brasil é um dos 31 países do mundo que adota o voto obrigatório. Sendo assim, é fundamental que o
Estado promova a educação política dos cidadãos. Neste trabalho buscamos refletir quais os espaços em que a
Psicologia crítica poderia promover a emancipação política e psicossocial conjugando a educação para a cidadania.
Pretende-se apresentar a experiência de uma acadêmica de Psicologia em uma intervenção no programa de educação
para a cidadania promovida pelo poder legislativo municipal num contexto de interface com a política e a educação.
Tendo em vista os impactos da aprovação das reformas constitucionais, buscam-se outros espaços tanto para o
exercício profissional quanto para a promoção da psicologia como um instrumento de transformação social.
Coadunando com a perspectiva de Martín-Baró (1997) segundo a qual o trabalho profissional do psicólogo deve ser
definido em função das circunstâncias concretas da população a que deve atender.
A relação deste trabalho com o tema do GT está na discussão de como a atuação da Psicologia crítica pode contribuir
no cenário democrático tendo em vista a luta pela garantia dos direitos em busca da emancipação política através da
educação para a cidadania em tempos de reformas constitucionais. Considerando que para a efetivação dos direitos
sociais primeiramente os cidadãos necessitam conhecer em que consistem esses direitos e quais as formas de
exercício da cidadania que fazem parte do quotidiano. Sendo assim, se estabelece a relação com o eixo temático
políticas públicas, direitos sociais e emancipação através da reflexão proporcionada pela experiência deste trabalho.
A orientação teórica baseou a prática da atividade seguiu a perspectiva da psicologia sócio-histórica como norteador
da atuação que entende que o aprendizado envolve a interação entre aquele que aprende e aquele que ensina em um
processo de interdependência (Koll, 2010). Sendo assim, nota-se a importância da interação social para o
desenvolvimento do ser humano. Dessa forma, o envolvimento com os conceitos e as práticas políticas é essencial
para o desenvolvimento crítico dos cidadãos que possuem uma relação dialética com a sociedade.
Salientam-se neste resumo quatro experiências que aconteceram em escolas públicas e particulares do município
como também em ocupações estudantis nos institutos federais de ensino. Utilizou-se uma vivência grupal para
estimular a reflexão e o debate em sala de aula. Para iniciar, a facilitadora escreveu no quadro a palavra "política" e
pediu para que os alunos evocassem as primeiras palavras que eles associam a política. A partir destas palavras, inicia-
se um diálogo sobre o significado da política como também uma reflexão da construção social da ideia do que é ser
político. Depois de explanar a forma de governo, forma de estado, forma de poder e sistema de governo, a facilitadora
inicia a vivência propondo que os alunos considerem que toda a sala seja encarada como um município, então separa
três grandes grupos. Cada grupo sorteia um bairro da cidade que irá representar e um problema do local que varia
desde falta de medicamentos, falta de alimentação escolar até o uso de celular na sala de aula. Então, alguns alunos
assumem a representação do Poder Legislativo (três alunos/as), do Poder Executivo (um/a aluno/a) e do Poder
Judiciário (um/a aluno/a). A partir dos encaminhamentos feitos pelos moradores dos bairros dialoga-se sobre a função
de cada representante público e também importância da participação dos cidadãos.
No total cento e oito alunos participaram das atividades desenvolvida durante o segundo semestre do ano de dois mil
e dezesseis. Destacam-se nos resultados os termos corrupção, roubo e Dilma nas evocações primárias da palavra
política. Existe ainda a polêmica em torno da existência do vocábulo presidenta por parte de professores e alunos.
Algumas reações variam entre a dúvida de um aluno expressa na pergunta: quem julga o juiz? buscando solucionar
uma contradição sistema de governo que apareceu na vivência. E a manifestação coletiva com um coro uníssono de
uma turma em resposta a aprovação de um projeto de lei sancionado na vivência. A grande maioria dos alunos
afirmou desconhecer a Constituição Federal como também os direitos sociais que estão elencados.

209
Enfim, foi possível fazer uma reflexão envolvendo a política, a educação e a prática psicológica sob uma perspectiva
dialética. Sendo assim, a função da facilitadora durante a realização da atividade vai além da aplicação de uma técnica,
mas também está no papel de ajudar na compreensão das regras do jogo político, explicitando as incoerências,
desnaturalizando das formas de dominação e propondo reflexões sobre a democracia representativa em busca da
emancipação política.

Referências
KOLL, Marta de Oliveira. Vygotsky, aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione,
2010. Disponível em: <http://www.birigui.sp.gov.br/educacao/site/admin/arquivos/texto_marta_koll.pdf> Acesso em:
13 jul. 2017.
MARTÍN-BARÓ, Ignácio. O papel do Psicólogo. Estudos de Psicologia. Natal, v.2 n.1, p7-27. Junho 1997. Disponível
em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X1997000100002&lng=en&nrm=iso >Acesso
em: 13 jul. 2017.

210
Acolhimento às Famílias na Socioeducação e processos contemporâneos de reconstrução dos Direitos Sociais
Autores: Vanda Vasconcelos Moreira, CRP-RJ; Leila Mayworm Costa, DEGASE; Viviane Siqueira Martins, Observasuas
E-mail dos autores: vandavasconcelos@uol.com.br,venelin@bol.com.br,leilamayworm.smas@hotmail.com

Resumo: A construção do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à
Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC, 2006), constitui um marco nas políticas públicas no Brasil, que busca
romper com a cultura da institucionalização de crianças e adolescentes e propõe ações que promova a centralidade da
família nas políticas públicas, contribuindo para a construção de uma prática humanizadora, tendo como eixo a
promoção da cidadania e a justiça social, através das luta pelos Direitos Humanos, ética e compromisso social.
Potencializa o paradigma da proteção integral, da preservação dos vínculos familiares e comunitários preconizados
pelo Estatuto da Criança e do adolescente do Brasil (ECA - Lei 8.069 de 13 de julho de 1990). Em especial, para os
adolescentes em conflito com a lei, em situação de risco, vulnerabilidade, com restrição e privação de liberdade,
ingressos nas instituições socioeducativas, na busca de investimentos nas políticas públicas para a atenção às famílias,
acessando direitos sociais. Ações emergentes e necessárias, interrompidas no atual contexto social por políticas
neoliberais, que de forma crescente, nos deparamos com os desmonte e perdas de direitos sociais, conquistados
através de muitas lutas coletivas durante anos. Registramos nos últimos meses muitos retrocessos nas políticas de
atendimento aos adolescentes no sistema socioeducativo, referente ao aumento do tempo de internação, ameaças de
redução a maioridade penal e diminuição nos investimentos para a prevenção à reincidência ao ato infracional, com os
desmonte nas políticas do SUAS Sistema Único da Assistência Social. Essas medidas atingem aos serviços de
cumprimento de medidas socioeducativas no meio aberto, de liberdade assistida nos CREAS e que refletem na
superlotação das unidades de internação e na segurança pública. Assim como o desmonte e sucateamento em toda a
rede de serviços, que contribuem para o acesso a direitos sociais referentes aos adolescentes em conflito com a lei e
suas famílias. O presente trabalho propõe o debate e instiga possíveis soluções criativas com a comunidade científica e
a sociedade em relação a esses desafios impostos, para darmos prosseguimento aos trabalhos de reconstrução dos
vínculos familiares juntos aos adolescentes em conflito com a lei. Destacamos algumas situações desafiadoras, como
implementação de Políticas Públicas e os seus efeitos sobre os corpos, grupos e sociedades; garantir cidadania plena
aos adolescentes e aos seus familiares, com convivência familiar e sócio comunitária, com acesso à moradia, saúde,
educação, empregabilidade, transporte, entre outras necessidades essenciais; melhorar a comunicação entre o
Sistema da Segurança Pública, Judiciário e unidades socioeducativas para noticiar à apreensão do adolescente às suas
famílias e cuidar de forma integrada de todo o processo da socioeducação; facilitar o acesso às famílias ao sistema
socioeducativo, com apoio financeiro; melhorar a construção de redes intersetoriais junto ao Sistema de Garantia de
Direitos; facilitar a entrada nas unidades de atendimentos, familiares com novas configurações em sua composição,
não restringindo à tradicional família oficial mãe ou mãe e exigência de documentação legal; difusão de uma cultura
de acesso a Direitos, em que as famílias, a comunidade e as Instituições com fins sociais conheçam e valorize os
referidos Direitos Sociais; superação de padrões marcados pelo autoritarismo, que admite a imposição da punição
como educação. Contribuir na desconstrução da invisibilidade das famílias dos adolescentes em conflito com a lei,
apreendidos pelo Estado. Formar frentes de resistências junto às equipes de trabalhadores socioeducativos às
concepções ideológicas neoliberais e ao acolhimento as mudanças societárias que trazem novas configurações à
formação ao conceito de família e suas subjetividades. Desafios que sendo alcançados, contribuem para a prevenção
a reincidência ao ato infracional com inclusão social. O trabalho proposto está embasado nas legislações do Plano
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes a Convivência Familiar e Comunitária
(Brasília, 2006), aliado ao Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (LEI 8.069/1990), ao Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo/ SINASE (LEI Nº 12.594, de 18 de Janeiro de 2012) e a teóricos com abordagem social,
que permitem realizar análise crítica da realidade. Tais legislações são consideradas entre as mais avançadas do
mundo, porém, enfrentamos muitos desafios em sua implementação e garantia de sua efetivação, neste campo de
ação socioeducativa, marcado por estigmas e preconceitos. Concluo ressaltando a importância em potencializar e
211
ressignificar o lugar da família historicamente na função da proteção, dos afetos, no cuidado de seus membros, na
elaboração de conflitos, proteção, defesa, construção da identidade social de pessoas e grupos sociais. Como também
a propagação das práticas em Psicologia Social, que discutam os processos contemporâneos de construção dos
direitos sociais e políticas públicas.

212
Análise Institucional da Assistência Social como Política Pública: dever do Estado e direito dos cidadãos
Autores: Fernanda de Andrade Proença, UNESP-Assis; Silvio José Benelli, FCL/UNESP
E-mail dos autores: fernandadeandradeproenca@gmail.com,benelli@assis.unesp.br

Resumo: Introdução: Neste trabalho pretendemos apresentar um estudo, em andamento, da dinâmica histórica do
processo de institucionalização da política pública de Assistência Social a partir do referencial teórico da Análise
Institucional (AI). Objetivo: Pretendemos estudar a Assistência Social, seu processo de formação, como política pública
de dever do Estado e direito dos cidadãos. Propomo-nos explicar a história da formação da política de Assistência
Social brasileira, através de uma revisão bibliográfica pertinente, buscando verificar, por meio da análise do discurso
oficial, se houve transformações efetivas na consistência institucional da política de Assistência Social no Brasil entre
1993 e 2017. GT e Eixo temático: O eixo temático ao qual compreendemos que este trabalho se relaciona é Políticas
públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais, por incluir estudos sobre a produção de
políticas públicas, bem como discussões a respeito da execução dessas políticas; sendo o GT Psicologia crítica e
políticas públicas: desafios teórico-práticos em tempos de golpe, por entendermos que este trabalho alinha-se com o
pressuposto pelo GT, é um trabalho que articula Psicologia, Políticas públicas, direitos sociais e práticas de
emancipação. Orientação teórica: Distinguimos teoria, método e técnicas de investigação, como aspectos
suplementares e articulados que compõe um trabalho científica. A teoria diz respeito ao lugar teórico, político e ético
adotado pelo pesquisador. O método, de um modo geral, deriva e está intimamente articulado com a perspectiva
teórica. No caso particular da AI, cujos pilares são o materialismo histórico e a psicanálise freudiana, teoria e método
se distinguem apenas didaticamente. Método: Na realização desta pesquisa partimos da perspectiva da AI
considerando ser essa teoria apropriada para pensarmos o processo de formação da política de Assistência Social em
sua complexidade, bem como realizar uma leitura problematizadora dessa política, tomando-a como uma instituição,
como uma lógica que inclui leis, orientações técnicas normativas, estabelecimentos, atores, institucionais diversos,
discursos, práticas e efeitos éticos que podem ser descritos e devidamente analisados. Estamos realizando uma
revisão tanto de literatura documental, incluindo leis relativas à política pública de Assistência Social, ou seja, os
discursos oficiais que explicitam essa política; quanto de bibliografia acadêmica, por meio de teses, dissertações, livros
e artigos científicos que abordam a temática pesquisada. Tendo em vista tais procedimentos, estamos produzindo
uma análise e uma discussão sobre o material obtido por meio da revisão da literatura. Para tanto, entendemos que a
AI consiste em uma teoria que apresenta conceitos consistentes e que ela também permite operar com tais conceitos
enquanto ferramentas técnicas; possibilitando a produção de uma AI de papel, ou seja, uma análise de cunho teórico
sobre o campo de análise, aqui recortado como sendo a instituição Assistência Social. Resultados parciais: Como
conclusões preliminares, podemos destacar que as legislações referentes à Assistência Social como política pública
surgiram posteriormente a Constituição Federal de 1988, que estabeleceu um conjunto de direitos aos cidadãos,
independentemente de contribuição à Seguridade Social. Mas foi apenas no ano de 1993, com a lei nº 8.742, que se
especificou esses direitos sociais. Em seu artigo primeiro, apresenta a Assistência Social como um direito do cidadão e
dever do Estado, sendo uma política da Seguridade Social que não exige contribuição prévia para que os cidadãos
tenham direito, a qual é realizada por um conjunto integrado de ações de iniciativas públicas e da sociedade,
buscando garantir o atendimento às necessidades básicas dos sujeitos. A Assistência Social teria como objetivos a
proteção social, garantia à vida, à prevenção da ocorrência de riscos e redução de danos. A vigilância socioassistencial,
que visaria considerar, territorialmente, as famílias e as possíveis ocorrências de vulnerabilidades e de capacidade
protetiva, e a defesa de direitos, buscando assegurar seu pleno acesso. Tendo como bases organizacionais a
matricialidade sociofamiliar, a descentralização político-administrativa e a territorialização das ações. A Assistência
Social é uma das três políticas integrantes do tripé da Seguridade Social, juntamente com a Saúde e a Previdência
Social, sendo a última, a única que tem como pré-requisito a contribuição monetária. Uma importante ressalva a ser
feita, diz respeito aos usuários aos quais se destinam essa política, na Constituição Federal de 1988, evidencia-se a
frase quem dela necessitar, e muitas visões buscam restringir a necessidade à condição financeira, necessidade
213
monetária. Entretanto, pensando a partir das leis que instituem tal política e até mesmo a partir da própria
Constituição, fica claro que a necessidade refere-se a algo mais amplo, não apenas financeiro, mas sim auxílios (leia-se
materiais e imateriais) para assegurar os direitos correspondentes aos sujeitos e prescritos nas legislações, seriam as
pessoas que necessitam de auxílios para terem seus direitos assegurados. Conclusões: Podemos concluir, até o
momento, que a história de desenvolvimento dessa instituição, a Assistência Social, possui processos
inventivos/instituintes, mas também, retrocessos; tratando-se de um processo histórico de formação de uma política,
que culminaram no instituído plasmado nos discursos legais e técnicos que regulamentam tal política atualmente.

214
Assistência estudantil na UFRJ: um olhar para a relação entre atravessamentos sociais e produção subjetiva
Autores: Simone Aparecida de Castro, UFRJ; Maria de Fátima Carneiro Dysman Gomes, UFRJ
E-mail dos autores: psimonecastro@gmail.com,fdysman@gmail.com

Resumo: O Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), criado em 2008 objetiva a permanência de estudantes
de baixa renda matriculados em cursos de graduação presencial das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) e
tem como critério de seleção o perfil socioeconômico. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) adotou desde
2012 o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) em substituto ao tradicional vestibular e possibilitou a inserção de
estudantes de diferentes estados do país. Esses estudantes, longe da família, sua primeira instituição de origem, a
reboque, trazem consigo conhecimentos de mundo e ao chegarem à universidade, precisam lidar com novas
possibilidades e desafios apresentados, inclusive a falta de recursos financeiros. Os aspectos econômicos, culturais,
sociais e as histórias pessoais influenciam a vivência acadêmica e estão inter-relacionados constituindo subjetivações.
Subjetivação entendida aqui como processo galgado pelas múltiplas relações construídas pelos estudantes ao longo de
suas vidas sendo essas histórias desprestigiadas pela academia.
Partindo dessa perspectiva o trabalho pretende apresentar alguns aspectos sociais e (inter) subjetivos que atravessam
a relação entre a universidade e os estudantes beneficiários da assistência estudantil por meio dos atendimentos
individuais realizados na Divisão de Saúde do Estudante (DISAE/UFRJ).
Por se tratar de um trabalho envolvendo Políticas públicas de assistência estudantil é pertinente reforçar o quão
importante é a luta pela manutenção, garantia e melhoria dessas políticas. Tais políticas são um direito e esse está
fragilmente garantido dado o atual cenário político afinado com a lógica neoliberal. Urge a emancipação, a autonomia
e a conscientização dos extratos sociais envolvidos na bandeira da luta contra quaisquer violações de direitos
adquiridos. A educação é um direito, logo uma questão social e não deve ser tida como um privilégio de classe. Sendo
assim, apostamos ser o Eixo temático 1 Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos
neoliberais substancial ao presente trabalho. Da mesma forma, o diálogo com o Grupo de Trabalho 10 Desafios
teórico-práticos da Psicologia Crítica em tempos de reformas constitucionais por apontar para o mesmo público do
presente trabalho: as minorias sociais marginalizadas.
O público em questão são os estudantes marginalizados e excluídos socialmente 1-pela opção sexual 2- pela cor 3-
pelo corpo que não está dentro dos padrões socialmente aceitos e definidos. 4- por pertencerem à classe econômica
desfavorecida e alijada de direitos básicos. Logo, para a discussão desse tema elegemos como referencial teórico
autores da Educação, como Paulo Freire e da Psicologia Social, Martin Baró apoiados a partir da noção de
conscientização. Essa noção está voltada para a práxis engajada politicamente e atravessada pelo contexto social em
oposição à neutralidade. O não reconhecimento pela universidade das múltiplas questões sociais que atravessam os
estudantes, implica a negação de seus valores, conhecimentos e visões de mundo, produzindo sofrimento e
dificultando a emancipação política e econômica destes.
Para isso foi realizada uma análise qualitativa dos relatos de sete estudantes em atendimento na Divisão de Saúde do
Estudante. Os materiais utilizados para o levantamento dos aspectos psicossociais são os relatos dos estudantes
usuários do serviço, os relatórios e um diário de campo do estágio. As observações partem das experiências, enquanto
estagiária bolsista do projeto e também beneficiária dos programas de assistência estudantil. Para a elucidação do
tema realizamos levantamentos bibliográficos sobre a assistência estudantil, Educação e Psicologia Social.
Emergiram, nos atendimentos, questões sociais tais como homofobia, racismo e gordofobia. Esses motes
discriminatórios são opressivos a esses estudantes dentro da universidade. Além disso, outra característica social
surgida, porém em comum, é o que tange o aspecto econômico. Esses estudantes com baixa renda são excluídos das
possibilidades e aspirações necessárias para a formação, pois a academia demanda recursos materiais inexistentes a
muitos deles. Atribuíram a falta de recursos financeiros como um dos obstáculos à sua trajetória acadêmica em várias
facetas tais como baixo desenvolvimento acadêmico, evasão, adoecimento e perda de oportunidades dentro da
academia.
215
Enfim, estamos passando por um momento em que esse silêncio está sendo quebrado dentro e fora da universidade e
por isso a enunciação desse trabalho. Apostamos na Psicologia Social crítica, pois, essa tem um caráter mais sensível às
classes marginalizadas e se desafinada da lógica meritocrática em que o sujeito é responsável pelo seu sucesso ou
fracasso. É papel da Psicologia se dispor a debruçar sobre essas questões no que tange à realidade popular e os
atravessamentos sociais que interferem na vida acadêmica dos estudantes. Por isso, a noção de conscientização
trazida por Paulo Freire e Martin Baró, apontando não apenas para uma escuta qualificada, todavia para a necessidade
de posição do profissional sobre o que está à sua volta e visibilizar esses processos em prol de efetiva transformação
social. Estamos amadurecendo e (re)pensando os encaminhamentos desses processos a serem visibilizados. Temos
como sugestão a formação de coletivos ou grupos de discussão com os estudantes usuários dentro da própria DISAE,
local onde existe uma crescente demanda.

216
Atuando na interface da Psicologia com a política pública de Assistência Social: formando psicólogos psicossociais
Autores: Silvio José Benelli, FCL/UNESP
E-mail dos autores: benelli@assis.unesp.br

Resumo: A Psicologia, enquanto ciência e profissão, está se inserindo de modo crescente ao universo da Assistência
Social, juntamente com os assistentes sociais e vários outros profissionais, sobretudo da área das ciências humanas,
atuando na implementação do SUAS. Isso representa um interessante conjunto de complexas questões que precisam
ser apresentadas, estudadas e discutidas pelos estudantes de graduação e de pós-graduação em Psicologia.
A interface entre a Psicologia e a Assistência Social está acontecendo no campo social concreto da realidade brasileira,
com atravessamentos os mais diversos, de ordem política, econômica, social, acadêmica e subjetiva. Participamos
ativamente desse movimento, situados na universidade, pesquisando, ensinando, orientando pesquisas de Iniciação
Científica, de Mestrado e de Doutorado, supervisionando estágios de graduação, projetos de extensão, organizando
eventos acadêmicos, ministrando palestras, etc. Pesquisamos, escrevemos e publicamos desde dentro do campo,
implicado e procurando contribuir com uma inflexão particular nesse movimento histórico e social, com a intenção
deliberada de imprimir outras aberturas e produzir efeitos distintos nesse âmbito da realidade, alinhados com a
perspectiva do GT Desafios teórico-práticos da Psicologia crítica em tempos de golpe.
O conjunto de trabalhos que desenvolvemos na formação de psicólogos é baseado numa abordagem complexa que
inclui a Análise Institucional (AI), ampliada de modo potente pela visada genealógica de Foucault, com atenção aos
processos de produção de subjetividade no contemporâneo. Contrariando os especialismos disciplinares e os recortes
artificiais e simplificadores da realidade, se considerarmos que os diversos fenômenos com os quais se ocupam os
psicólogos são de alta complexidade e que exigem, portanto, uma compreensão complexa e também uma abordagem
transdisciplinar, podemos encontrar na perspectiva institucionalista, importante ferramenta transdisciplinar, tanto
para a reflexão quanto para a atuação prática.
Entender a Assistência Social como um campo institucional complexo permite utilizar um conjunto de conceitos-
ferramentas bastante operatórios, tanto para o pensamento, como para a ação: o conceito de instituição (nos planos
universal, particular e singular), de autoanálise e autogestão, processo de institucionalização, a dinâmica do instituído-
instituinte, a função e o funcionamento, o atravessamento e a transversalidade, o fenômeno dos analisadores, a
implicação, dentre outros.
Atuamos na formação de alunos de graduação e de pós-graduação em Psicologia por meio de disciplinas nas quais
apresentamos criticamente o discurso oficial e as práticas institucionais da PNAS, situando-a como instituição social no
contexto das políticas públicas sociais, buscando problematizar seus aspectos mais pedagógicos psicologizantes
(orientação, vínculos, convivência, grupos socioeducativos) e também detectar suas possibilidades emancipatórias
(formação política, direitos sociais, cidadania). Com base em Foucault, podemos explicitar tanto as dimensões mais
disciplinares, vigilantes, corretivas e normalizadoras bem como as brechas que poderiam ser ocupadas de modo
instituinte, na busca de subverter práticas e discursos na direção da produção de efeitos éticos singularizantes.
Alunos estagiários e extensionistas e alunos pesquisadores de IC, de mestrado e de doutorado se inserem em
entidades assistenciais públicas e privadas, tanto no nível da Proteção Social Básica quanto no da Proteção Social
Especial, em conselhos municipais e tutelares, em secretarias municipais, com a intenção de conhecer, estudar,
aprender com as equipes de trabalhadores, contribuir com elas, buscando produzir intervenções psicossociais
precavidas e avisadas pelo referencial teórico crítico e metodológico operatório da AI.
Esse amplo conjunto de trabalhos que são realizados por meio da docência, grupos de pesquisa, publicações,
supervisão, orientação e inserção institucional implicada e militante, tanto pelos alunos quanto pelo professor, é
realizado com a finalidade de promover a formação de psicólogos psicossociais. Também problematizamos as
possibilidades, limites e efeitos disciplinares da Psicologia, na sua interface com a Assistência Social.
O psicólogo psicossocial tem clareza sobre o que não pode fazer e conhece os limites de sua ação: sabe, sobretudo,
que não pode tomar o outro como objeto, não pode fazer para ele e por ele e, sobretudo, não pode saber por ele. Ele
217
atua como um co-adjuvante fundamental num processo no qual o outro é o protagonista principal, único capaz de
produzir um saber sobre seus próprios impasses e um fazer singular, encontrando os meios de equacioná-los. O outro
não é súdito, nem educando, nem paciente, nem usuário, nem consumidor, o outro é sujeito, tanto no sentido social
quanto político.
Trabalhamos na superação de uma modalidade de produção de conhecimento que promove uma subordinação
objetificadora e coisificante do outro, bem como as hegemônicas cisões entre ciência e política, saber e poder, pensar
e fazer, teoria e prática, planejadores e executores, sujeito e objeto, normal e anormal, neutralidade e implicação,
objetividade e subjetividade (que aparece apenas como variável interveniente, problemática, que deve ser abolida).
Nosso engajamento pedagógico, científico, ético, político vem obtendo importantes resultados: inserimos a
Assistência Social de modo crítico e sólido na formação dos psicólogos, fomentando a formação de diversos
profissionais que estão atuando na área, munidos de referenciais teóricos e técnicos psicossociais, de modo a
contribuir para a consolidação de um projeto de SUAS alinhado com os interesses e necessidades das classes
populares.

218
Contribuição psicossocial à resistência ao golpe
Autores: Luiz Carlos da Rocha, UNESP; Deivis Perez, UNESP
E-mail dos autores: lcrocha@assis.unesp.br,prof.deivisperez2@hotmail.com

Resumo: Em 2016, a democracia brasileira sofreu um golpe. Sob o olhar atônito dos que consideravam impossível
ocorrer por aqui um golpe ao estilo paraguaio, um governo legitimamente eleito foi abruptamente derrubado por
uma manobra parlamentar. A deposição do governo constitucional foi preparada por massacrante campanha midiática
que levou às ruas, além de néscios, hipócritas e acumpliciados, um sem número de pessoas de boa fé levadas a fazer
da presidente e de seu partido o bode expiatório das mazelas da crise econômica e de seculares vícios da política
brasileira. Mas os que investiram alguma esperança de que a manobra recuperasse a economia, sustasse o
desemprego e moralizasse a política não tardaram a ver baldadas as expectativas que a instrumentalização política do
judiciário e a manipulação midiática lhes inculcaram. Tão logo tomado o poder, uma enxurrada de medidas
profundamente antipopulares e lesivas aos interesses nacionais, acompanhada por formidável recrudescimento da
violência repressiva, veio mostrar que as diferenças entre o governo legítimo e o empossado poder golpista estavam
na contramão de qualquer esperança respeitável. Então fazemos nossas as palavras de Raduan Nassar (2017) quando
agraciado pelo Prêmio Camões de 2016: "O golpe está dado e não há como ficar calado".
Com essa motivação, o objetivo deste trabalho é trazer ao debate dois episódios do desenvolvimento do golpe aqui
examinados sob a perspectiva de noções de inspiração foucaultianas já incorporadas ao repertório da reflexão
psicossocial.
Em 1976 Michel Foucault apresentou, em seu curso no Collège de France, a inversão da célebre aforismo de
Clausewitz, propondo que a política, normalmente entendida como espaço regrado de disputa de poder, possa ser
pensada como a continuação da guerra desenvolvida por outros meios. A ponderação foucaltiana propõe que o poder,
tomado como exercício de uma relação de força, em vez de ser analisado sob o parâmetro do contrato legal ou da
funcionalidade das relações de produção, possa ser examinado como um combate ou um confronto de guerra. Essa
proposta adverte que poder é uma relação de força que pode impor regras e delas se utilizar mas, por mais que
pareça, como nas ações de guerra, nunca se submete ou se limita a elas.
O primeiro episódio examinado refere-se à caracterização jurídica das chamadas pedaladas como crime de
responsabilidade. Como se sabe, a caracterização das chamadas pedaladas fiscais como crime de responsabilidade foi
formalmente decisiva para o processo de impeachment. O artifício contábil foi comum a todos os exercícios
presidenciais pelo menos desde FHC e fora utilizado por pelo menos uma dúzia de governadores recentes, entre eles o
próprio personagem que, no Senado, desempenhou o papel de relator do "crime". Nosso exame busca demonstrar
que constituição da caracterização criminal das pedaladas do governo que viria a ser deposto, bem ao contrário de um
procedimento regrado por normas judiciais e político-administrativas, pode melhor ser compreendido como uma
prática conspirativa de guerra perpetrada para o estrito fim por personagens acumpliciados à manobra golpista.
O segundo episódio recupera a tramitação judicial do Mandado de Segurança contra a posse de Lula como ministro da
Casa Civil. Como se sabe, o prestígio e a habilidade política do ex-presidente poderia cindir as forças golpistas,
inviabilizando a obtenção dos dois terços necessários para a autorização da tramitação do impeachment na Câmara
dos Deputados. Nosso exame mostra que, bem longe da regular tramitação judicial, o episódio evidencia-se como a
utilização das práticas judiciárias instrumento de guerra para a produção de efeitos jurídicos adequados aos fins
políticos da manobra golpista.
O exame dos episódios permite concluir que a atual conjuntura política nacional, até a pouco tempo analisada nos
termos das disputas pautadas pela ordenação legal do estado de direito e das normas republicanas que regem as
democracias, requer exames sociopolíticos apropriados aos movimentos mais típicos dos enfrentamentos de guerra.
E a apresentação deste trabalho visa contribuir para os debates em nossa Abrapso para que nossa prática possa
fortalecer as iniciativas de resistência e luta que se contraponham às medidas das forças golpistas, que hoje buscam
nos impor a submissão a valores absolutamente incompatíveis com os ideais de vida que compartilhamos.
219
Controle Social é lugar para a Psicologia: relato de experiência sobre a participação do CRP 20 no CMAS/Manaus
Autores: Polyana Peixoto Pinheiro, CRP 20ª região; Adriane Andrade Costa, UFAM
E-mail dos autores: polyanapp@hotmail.com, adrianepsi.costa@gmail.com

Resumo: A Constituição Federal de 1988 instaurou um período de construção e afirmação da cidadania social no Brasil
apresentando um sistema de proteção social democrático onde a assistência social assume-se como política pública
que visa garantir condições e escolhas dignas de viver como um direito à pessoa humana. A Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS/1993) e a Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) referenciam o processo de consolidação
abarcando as pessoas, as circunstâncias e as famílias, bem como estruturando a oferta dos programas e serviços sob a
lógica da matricialidade sócio familiar, do controle social, das novas bases para a relação entre Estado e Sociedade
Civil, do monitoramento e avaliação e da territorialização. O controle social é realizado pelo cidadão a partir de sua
vivência em seus territórios: as conferências, os fóruns e os conselhos apresentam-se como espaços que impulsionam
essa participação. Os Conselhos de Assistência Social constituem-se como lugares de debate e deliberação
democrática, onde diversas representações apresentam diferentes convicções em constantes disputas. Essa atuação
implica em acompanhar, debater, argumentar, articular em favor da construção de uma política pública que visa
possibilitar o acesso aos direitos sociais constitucionalmente garantidos através da oferta de serviços, programas e
benefícios prestados pela rede socioassistencial. O Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) de Manaus/AM
constitui-se como órgão superior de deliberação colegiada, permanente, de composição paritária entre governo e
sociedade civil, que efetiva o controle social do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no município conforme
dispõe a Lei nº 2.234 de 19 de julho de 2017. Entre a composição da sociedade civil, encontra-se o Conselho Regional
de Psicologia 20ª Região (AM/AC/RO/RR) como uma das representações dos trabalhadores do SUAS. Ao assumir este
lugar nesta política pública e constituir como suas representantes trabalhadoras do próprio SUAS esta autarquia
federal destinada a orientar, fiscalizar e disciplinar o exercício da profissão assume seu papel político de participação
ativa, fundamentado num compromisso ético e na defesa intransigente dos direitos humanos bem como na garantia
dos direitos e condições de trabalho. Desta forma, a Psicologia dialoga com outras categorias profissionais ocupando
espaços que historicamente não lhe eram reconhecidos. A Psicologia enquanto ator neste contexto viabiliza e
potencializa espaços de expressão e protagonismo, dentro da proteção social, aos seus usuários e trabalhadores que
se engajam política e socialmente através do controle social. Diante do atual contexto de enfraquecimento da
democracia participativa e da radicalização do projeto neoliberal que aprofunda desigualdades e processos de
exclusão social, a Psicologia acolhe o desafio de inserir-se direta e horizontalmente na sustentação da política pública
de Assistência Social principalmente junto aos sujeitos que usufruem desta, permitindo circular processos de
empoderamento e autonomia, sentidos de envolvimento, intencionalidade, responsabilidade e contribuição. O
controle social do SUAS/Manaus como espaço de mediação tem oportunizado expressões das subjetividades
individual e social e potencializado ações de seus atores sociais na busca de soluções para os problemas do cotidiano:
compartilhar afetos relacionados aos processos de exclusão e a perspectiva de transformação da realidade direcionam
para caminhos de emancipação e autonomia. (Sawaia, 1999; Nasciutti apud Campos, 1996). O presente relato de
experiência refere-se a uma reflexão sobre aproximações e desafios das psicólogas inseridas no controle social através
da representação do Conselho Regional de Psicologia - CRP20 no Conselho Municipal de Assistência Social
CMAS/Manaus tendo sua a atuação no controle social como espaço de transformação social, bem como da própria
autarquia. Busca-se problematizar e aprofundar conhecimentos e referenciais sobre a atuação da psicóloga e do
psicólogo nesse lugar, considerando as singularidades dos diversos contextos, em especial o amazônico, produzindo
encontros interdisciplinares (Fadul; Afonso apud Romagnoli; Moreira, 2014) que impulsionem às práticas libertadoras
e transformadoras como a materialidade da regulamentação legal do SUAS/Manaus.

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Criança Feliz? Experiência de mobilização contra retrocessos na política de assistência social
Autores: Deborah Akerman, SUBAS- SEDESE-PBH; Samantha Fernandes Silva, PUC Minas
E-mail dos autores: deborahakerman@yahoo.com.br, f.samantha.s@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre o impacto do movimento de resistência pela sociedade
civil, referente ao Programa Criança Feliz instituído pelo Governo Federal, por meio do Decreto Nº 8.869, de 5 de
outubro de 2016, lançado pela primeira dama Marcela Temer. Este programa tem por objetivo explicitado o
acompanhamento de famílias com gestantes e crianças de 0 a 6 anos que estão em situação de vulnerabilidade social
e recebem Bolsa Família ou Benefício de Prestação Continuada (BPC). A proposta do programa é capacitar visitadores
de nível médio e/ou superior para acompanhar as famílias para a promoção do desenvolvimento infantil. No entanto,
a concepção deste programa traz as características tradicionais, histórica da assistência social, tais como
fragmentação de ações, desprofissionalização do trabalho, primeiro damismo, assistência social como subsidiária da
saúde, relação disciplinar e de controle com famílias pobres entre outros aspectos. Uma determinada linha da
psicologia do desenvolvimento apresentada nos manuais publicados pelo programa, é chamada a corroborar com a
ideologia do programa, se baseando em uma teoria positivista, linear e universal que desrespeita as particularidades
e os contextos culturais e sociais das famílias. Além disso, o programa ao prever que profissionais de nível médio
possam ser capacitados para serem os orientadores das famílias, pressupõe um conhecimento da psicologia, passível
de treinamento. Desde seu lançamento, movimentos sociais protagonizados por psicólogas (os) se posicionaram
contrário ao programa e esta mobilização culminou em um movimento de resistência pela não adesão de municípios e
do estado de Minas Gerais ao programa. O Conselho Regional de Psicologia, a Frente Mineira de Defesa do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS) e outras instituições realizaram eventos públicos e se posicionaram com notas de
repúdio. Observou-se que estas ações impactaram na decisão final do Conselho Estadual de Assistência Social (CEAS)
pela não adesão ao programa. A princípio, o colegiado de gestores municipais de assistência social acreditava poder
fazer uma resistência a alguns princípios do programa, buscando corrigir os principais problemas apontados pelo
Programa. O Conselho Estadual de Assistência Social propôs uma oficina para debater o tema da resistência e este
momento foi emblemático para a incidência da mobilização de fóruns, frentes de defesa, conselhos profissionais,
universidades na decisão final do CEAS. Um aspecto importante, observado neste processo foi verificar que os
argumentos contrários à adesão ao Programa, com ênfase no financiamento insuficiente proposto, foi o mais
convincente para que os gestores e conselhos municipais de assistência social municipais não aderissem ao programa.
Mediante o cenário atual de retrocessos na concepção da política de assistência social, pautado na garantia de direitos
e equidade, é possível dizer que há uma incidência de um discurso crítico evocado pelos movimentos sociais e
instituições da psicologia com compromisso social, que conseguiram influenciar a não adesão de municípios e do
Estado de Minas Gerais ao programa, mas ainda não são suficientes para alcançarem um consenso e uma organização
política capazes de enfrentar os retrocessos que este programa traz para a consolidação do Sistema Único de
Assistência Social. Se faz necessário pensar em estratégias mais eficazes de resistência, capaz de disseminar uma
reflexão crítica sobre o desmonte conceitual que este programa representa para a atuação da psicologia no SUAS. .
Sendo assim, o Eixo temático 1 Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais
introduz um importante debate que contempla o cenário político, as contribuições da psicologia e a importância da
luta dos movimentos e instituições envolvidos nesta pauta. Este trabalho pontua questões que se alinham com o
grupo de Trabalho Psicologia crítica e Políticas Públicas: desafios teórico práticos em tempos de golpe. que contempla
as discussões de lutas e resistências necessárias ao debate atual de desmonte das políticas públicas.

221
EJA e PIBID: Um olhar crítico sobre o contexto educacional e seus processos formativos
Autores: Carlos André Nunes Lopes, UFG; Angela Maria Pereira, UFG; Fernando Cesar Paulino-Pereira, UFG; Janaína
Rodrigues Rocha, UFG; Jóice Macedo Vinhal, UFG Regional Catalão
E-mail dos autores: nunislopes@hotmail.com, epifania.cps@gmail.com, joicemacedo_@hotmail.com,
angelamariavenda@hotmail.com, janarodriguespsi@gmail.com

Resumo: Todos sabem que, em nosso país, há tempos, observa-se um declínio da educação pública e um desprestígio
da figura docente. Contudo, hoje em dia, pode-se observar alguns projetos desenvolvidos nas universidades como o
PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), por exemplo, que surge como proposta de valorização
do magistério e de aprimoramento do processo de formação de docentes para a educação básica. Este trabalho se
constitui de relatos de experiências que obtivemos na execução do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
à Docência) do curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, nas turmas de EJA (Educação
de Jovens e Adultos) do ensino médio.
Portanto, os objetivos deste trabalho se basearam na exploração da situação e dos conhecimentos que os alunos
possuíam, levando em conta seus significados, sua história de vida, suas concepções, e a partir disto pensar a
promoção de discussões que visavam a descristalização dos papeis sociais, reflexão sobre temas, denominados de
transversais, temas estes que vão de encontro ao saber que o aluno carrega consigo, almejando através do trabalho
grupal a tomada de consciência oriunda das vivencias em sala de aula.
Para balizar nossa atuação pautamos nossa compreensão em como Paulo Freire, apreende o ser humano em
Pedagogia da Autonomia, como ser de possibilidades. Segundo Freire: apesar de saber que o ser humano é um ser
condicionado, [...] há sempre possibilidades de interferir na realidade a fim de modifica-la. (Freire, 1996, p 161). Nesse
contexto, o PIBID aparece como um excelente meio de intervir positivamente na qualidade do ensino básico e
formação para a cidadania, convidando a psicologia social com a compressão de processos grupais como condição
necessária para conhecer as determinações sociais que agem sobre o indivíduo. (Lane,1981, p 80). Levando-se em
consideração esses aspectos vivenciais dos encontros realizados com estes alunos.
As atividades foram realizadas em parceria com o Colégio Estadual Maria Das Dores Campos, localizado no Bairro
Ipanema, da cidade de Catalão/Goiás, no sudeste Goiano, no período de março a julho de 2017. As turmas com as
quais trabalhamos foram os 3º e 4º anos da EJA. Ao todo foram realizados 10 encontros que duraram cerca de 40
minutos, e posteriormente cada aluno elaborava seu diário de campo referente à atividade. Nos encontros foram
realizadas vivencias grupais seguidas de rodas de conversa que visavam incitar o diálogo e a reflexão crítica acerca dos
temas oriundos das demandas dos próprios estudantes. Além do trabalho realizado na escola, o programa prevê
supervisões semanais as quais envolviam os alunos do programa, o professor orientador e a professora supervisora da
instituição. Nestas reuniões eram discutidos o referencial teórico da Psicologia Social, Políticas Públicas, as práticas
realizadas, e a partir das falas dos alunos selecionávamos as próximas intervenções juntamente com o supervisor. Os
temas trabalhados foram, preconceitos, projeto de vida, comunicação, relação com mercado de trabalho, discussão de
gênero, relações interpessoais.
Com estas vivências através da compreensão processos grupais, promovemos juntamente com os alunos reflexões
acerca de si, das relações de trabalho, da importância da educação, da percepção da autoconsciência sobre os
sentidos do aprender e como estes sentidos perpassam a vida cotidiana dos alunos, foi trabalhado também as relações
interpessoais entre os alunos.
Portanto, com a realização deste trabalho, podemos visualizar na prática educativa dentro da EJA que a educação é
tanto formadora do homem, quanto o homem é produto desta formação e se manifesta no modo de viver e pensar de
cada um de nós de um modo dialético. Freire,1996, p 23 afirma: Não há docência sem discência, pois quem forma-se
se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado em outras palavras, as atividades
realizadas na EJA, propiciaram tanto uma aprendizagem de apreensão a priori do homem formado, relativo a nós
graduandos da licenciatura em Psicologia quantos os alunos do EJA.
222
Dessa forma, as nossas concepções pré-formadas e a dos alunos diante de tais reflexões, problematizações
vivenciadas em sala de aula se concretiza como capacidade de construção e reconstrução de si de um modo dialético e
dialogante.

223
No centro da periferia ou na periferia do centro? Direito à cidade e as políticas de atendimento à população em
situação de rua na América Latina
Autores: Fernanda Cavalcanti de Medeiros, UFRN; Anna Carolina Vidal Matos, FACEP; Esequiél Pagnussat, UFRN; Isabel
Maria Farias Fernandes de Oliveira, UFRN
E-mail dos autores: fernandacmedeiros@gmail.com, fernandes.isa@gmail.com, annacarolvidal@yahoo.com.br,
esequiel.pagnussat@yahoo.com.br

Resumo: A desigualdade social é um fenômeno basilar ao modo de produção capitalista, e apresenta contornos
perversos nos países do hemisfério sul. A história da América latina é marcada por exploração e violência desde os
processos de colonização impostos pelos europeus sobre os povos nativos, gerando exclusão socioeconômica e
político cultural, concentrações de terras, renda, além da expulsão, escravização e massacre de indígenas e africanos.
Dentre as diversas expressões da questão social que marcam a vida nas cidades latinoamericanas, periferias do
capitalismo, encontra-se o fenômeno da População em Situação de Rua (PSR), grupo populacional que vive em
condição de extrema pobreza e vivencia uma série de violências e violações de direitos sociais em seu cotidiano. Este
trabalho apresenta reflexões acerca do uso dos espaços urbanos pela população em situação de rua e os processos de
higienização social direcionado a este segmento populacional nos países da América Latina. Tal problematização
compõe um projeto de doutorado que busca analisar o atendimento à população em situação de rua através de
políticas sociais públicas. Os dados que serão apresentados são oriundos de pesquisa de revisão de literatura, que
buscou informações acerca do que vem sendo produzido cientificamente sobre as políticas sociais de atendimento à
população em situação de rua na América Latina. Foram selecionados artigos científicos em duas bases de dados
(Lilacs e Scielo) a partir da busca pelas palavras-chaves população em situação de rua e políticas sociais. Após as
buscas nas referidas bases, foram encontrados 138 artigos, provenientes de quatro países latinoamericanos
(Argentina, Brasil, Chile e Colômbia), e com a aplicação dos critérios de exclusão foram selecionados 40 artigos, que
foram lidos e analisados. Apesar de existirem algumas ações filantrópicas voltadas ao atendimento da PSR desde a
colonização dos países latinoamericanos, o atendimento a tal segmento por políticas executadas pelo Estado a partir
de uma perspectiva de reconhecimento dos mesmos como sujeitos de direitos é recente. No mesmo sentido, são
recentes as pesquisas e estudos acerca de tais políticas. Os estudos acessados apontam a concentração de pessoas em
situação de rua em regiões centrais das capitais e cidades de médio e grande porte, estabelecendo nesses espaços
culturas e estratégias próprias de sobrevivência, inclusive o uso compartilhado de substâncias psicoativas ilícitas,
sendo permeados por repressão e estigmas. Os principais fatores que atraem as pessoas que vivem em situação de
rua para o centro das cidades se relacionam às condições de sobrevivência, uma vez que em tais espaços, onde o
comércio é intenso, existem maiores possibilidades de bicos e oportunidades de trabalho. Outro fator importante é
que os centros das cidades possuem prédios abandonados e sem uso social, sendo estes muitas vezes ocupados pela
PSR. Além disso, a maior parte dos serviços socioassistenciais voltados para este segmento social, como abrigos e
Centros Pop, também estão nas regiões centrais. Os artigos apontam para o controle desta população a partir dos
interesses do capital, sendo a degradação urbana e social dos espaços atribuída às pessoas em situação de rua que os
habitam, e a partir daí são planejadas e executadas políticas públicas que reforçam estigmas negativos, práticas
repressivas, de criminalização e apartação. Dentre tais práticas se encontram as políticas de remoções, em que
operadores de segurança pública recolhem colchões, objetos e até documentos da população em situação de rua.
Também foram destacadas nas pesquisas as ações de choque de ordem, que retira compulsoriamente a PSR da cidade
e a envia para abrigos superlotados a partir de métodos violentos, sobretudo em períodos de megaeventos. Estas
práticas explicitam os conflitos e disputas sobre os usos adequados e os usuários legítimos dos espaços públicos, e
giram em torno da cidade como mercadoria e do direito à cidade. Um dos principais processos relacionados à
mercantilização das cidades é a gentrificação, que se refere à expulsão dos setores de baixos recursos de áreas
centrais e nobres, gerando segregação socioespacial e processos de guetização. A cidade, concebida como mercadoria,
precisa ser atrativa para novos investimentos, e para isso deve ser moderna, cosmopolita e esconder para debaixo do
224
tapete seus problemas sociais. Nesse sentido, as políticas focalizadas para a população em situação de rua constituem
novas modalidades de higienização das cidades para invisibilizar a miséria, condição essa produzida e reproduzida na
sociedade capitalista, sendo que não há preocupação em resolver os problemas sociais, mas apenas em camuflá-los.

225
O que você veio fazer na minha casa? Narrativas de famílias sobre o acompanhamento familiar
Autores: Samantha Fernandes Silva, PUC Minas; Anna Claudia Eutropio Batista d'Andrea, PUC Minas
E-mail dos autores: f.samantha.s@hotmail.com,annaclaudiab@gmail.com

Resumo: Este estudo teve como objetivo investigar o que as famílias que são acompanhadas pelo serviço de
assistência social entendem sobre o fazer do psicólogo. A maior presença da psicologia na assistência tem suscitado
nos pesquisadores um interesse referente a este campo e, com isso, tem-se ampliado as publicações teóricas que
dizem respeito ao trabalho do psicólogo nas políticas de assistência social. Como exemplo, pode-se citar que em 2015,
foi lançada a coleção Práticas sociais, políticas públicas e direitos humanos (ACCORSSI et al., 2015), que reuniu textos a
partir dos grupos de trabalho (GT s) do XVII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO).
Outra obra que se relaciona a este assunto é o livro O psicólogo e as políticas públicas de assistência social, que foi
organizado por Cruz e Guareschi em 2014. Ximenes, Paula e Barros (2009), publicaram na revista Psicologia Ciência e
Profissão o artigo Psicologia comunitária e política de assistência social: diálogos sobre atuações em comunidades.
Essas publicações são apenas uma amostra do amplo referencial teórico que vem se desenvolvendo nesse campo, que
demonstra a relevância desse tema. Nesta ótica, a psicologia deve tomar como base suas teorias e saberes
particulares e, também, tomar conhecimento sobre esse campo de atuação e observar as regulações e leis envolvidas
nesta política pública. A Política Pública de Assistência Social é um direito de todo cidadão que dela necessitar e um
dever do Estado (BRASIL, 1993). Neste sentido, os profissionais que executam esse trabalho requerem um saber
técnico e também uma escuta qualificada para encaminhar e favorecer a autonomia das famílias. No caso do
profissional da psicologia, se faz necessário conhecer não apenas a Política, mas também se apropriar da psicologia
social que subsidia o trabalho com famílias em situação de vulnerabilidade (BOCK, 2003). A proposta deste estudo foi
desenvolver uma pesquisa narrativa com quatro mulheres que são mães de pessoas com deficiência e que estão
sendo acompanhadas pelo serviço há pelo menos um ano. Para isso foram elaborados tópicos disparadores que
permitissem a fala da história vivida dessas famílias, levando em consideração a deficiência na família e sua inserção
no serviço socioassistencial, somado a influência do trabalho do psicólogo e outros profissionais no cotidiano, assim
como a intervenção dessa política dentro da própria casa. Para tanto, realizou-se as entrevistas em locais escolhidos
pelas participantes permitindo o contato direto da pesquisadora com a família das pessoas com deficiência e suas
singularidades. Através da proposta de trabalho do eixo temático 1 Políticas públicas, direitos sociais e práticas de
emancipação em contextos neoliberais é possível destacar a importância representativa de um estudo que retrata a
voz das famílias que são acompanhadas pela política pública de assistência que bem expressam críticas em relação às
intervenções do Estado (FOUCAUT, 2008). Nossos dados demonstram o protagonismo familiar e o processo de lutas
diárias como mães de pessoas com deficiência no contexto de vulnerabilidade social. Nesta perspectiva, a escolha do
GT Desafios teórico-práticos da Psicologia critica em tempos de reformas constitucionais contempla uma discussão
voltada para a autonomia dos sujeitos e uma necessidade de se politizar e problematizar as ações verticalizadas que
afetam principalmente as camadas populares. Os resultados dessa pesquisa a partir das narrativas evidenciaram que o
serviço no domicílio é aceito de forma satisfatória, pois proporciona acesso aos direitos e benefícios socioassistenciais,
encaminhamentos à rede, escuta qualificada e suporte a problemas cotidianos. Entretanto, há críticas referentes ao
modo como essa Política entra na casa das famílias e de uma falha no que tange as necessidades de atender um maior
número de pessoas com deficiência pelo fato de ser uma equipe reduzida. Ainda nesta perspectiva se faz necessário
que os profissionais estejam atentos para não reproduzirem o discurso hierarquizado e fundamentado no saber
absoluto sem ao menos considerar a realidade e história de vida das pessoas que recebem esses equipamentos
públicos. Em relação ao controle que o Estado tem sobre as populações, é algo que já está instituído e é uma forma de
enxergar o que está acontecendo. No entanto, cabe a própria população, profissionais da área e usuários da rede
socioassistencial também acompanhar o governo e apontar suas falhas nas próprias conferencias, redes sociais, e
outros espaços que são destinados a participação e a racionalizar pensamentos críticos e provocativos. De modo geral,
o recorte desta pesquisa contemplou o olhar desse público que é acompanhado pela política de assistência sobre a
226
própria política. Os questionamentos continuam e é preciso pensar em outras maneiras de dar voz a essas famílias,
seja em futuras pesquisas ou outros dispositivos que possam embasar a atuação profissional, pois as pessoas que
recebem o serviço também precisam ser consultadas, uma vez que escutar as famílias e considerar suas perspectivas
no planejamento e execução das políticas é sempre uma necessidade.

227
Os sentidos da ocupação: processos de consolidação da comunidade Esperança na região do Izidora (MG)
Autores: Fabiana de Andrade Campos, PUC-SP; Humberto Mauro Gonçalves Mariano de Souza Castro, PUC Minas;
Pedro Andrade Ruger
E-mail dos autores: fabiana.andrade.campos@gmail.com,pedro.ruger@hotmail.com,humberto.mauro1@gmail.com

Resumo: O problema da habitação no Brasil reflete uma desigualdade social profunda, os atingidos são as famílias
mais pobres do país. Para os militantes sem teto, essa lógica só pode ser mudada a partir de uma transformação na
cidade. É nesse contexto de luta por moradia, ocupação de território e construção de novos modos de vida que se
insere nossa pesquisa. Buscamos acompanhar e fortalecer os processos de consolidação da comunidade Esperança,
que em conjunto com Rosa Leão e Vitória compõem a ocupação Izidora, localizada entre os municípios de Belo
Horizonte e Santa Luzia (MG), considerada, atualmente, a maior ocupação urbana da América Latina, com cerca de
oito mil famílias. A demanda foi explicitada pelo Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-04) e faz parte
de um projeto maior composto por professores de quatro Instituições de Ensino Superior, sendo que a proposta é
abranger todas as três comunidades. O objetivo desta pesquisa é produzir memória histórica, a partir da construção
de processos grupais, com vistas a compreender o processo de luta por moradia e explicitar os motivos inerentes
dessa ação política, assim como possibilitar a reelaboração dos sentidos de forma a propiciar diferentes pontos de
partida que podem ter a potencialidade de modificar tanto o significado do passado, quanto do presente e do futuro.
Consideramos que essa pesquisa dialoga diretamente com o GT: Psicologia critica e Políticas Públicas: desafios teórico
práticos em tempos de golpe, cujo eixo gira em torno do papel da Psicologia Social na sociedade contemporânea e o
fortalecimento das lutas por emancipação humana, na direção do enfrentamento das desigualdades provocadas pela
contradição capital-trabalho e com vistas à eliminação da sociedade regida pelo capital. Assim, inspirados na Psicologia
Sócio-Histórica, na Psicologia da Libertação e nos pressupostos da Análise Institucional, nossa pesquisa busca refletir
sobre metodologias de intervenção em situações de ocupação urbana. Trataremos neste trabalho tanto das dinâmicas
comunitárias quanto das dimensões afetivo-políticas. Para tanto, pretendemos apresentar o contexto da ocupação, a
partir da perspectiva de reconstrução da memória histórica. Apresentaremos uma breve revisão da literatura sobre os
estudos e intervenções psicossociais em ocupações e sobre a política de produção de afetos. A metodologia é baseada
nos pressupostos da pesquisa participante e a análise de sentido e significado é baseada na teoria vigotskiana.
Pudemos verificar que, do ponto de vista dos moradores, é fundamental tematizar os motivos inerentes dessa ação
política, ou seja, coadjuvar para a reelaboração dos diferentes sentidos e formas do ir ocupar, assim como ampliar a
concepção inerente a tal ação politica, fortalecendo assim a comunidade e os vínculos ali presentes. Assim sendo,
parte substantiva do nosso trabalho vem sendo realizada em diferentes espaços, sendo eles: espaços coletivos da
comunidade, tais como a Assembleia, mutirões, o plantio, e por fim, visitas domiciliares. Nos relatos tem sido revelada
uma relação entre conflitos intensos no interior da família e contexto sócio histórico. Em alguns casos, esses conflitos,
somados à falta de condições de se estabelecerem em outros locais, os levaram para as ruas. Outro motivo
determinante tem sido o alto valor do aluguel, que compromete a baixa renda familiar. Toda essa experiência nos faz
pensar em como desenvolver uma pesquisa que sirva, ao mesmo tempo, para o fortalecimento da comunidade, para
seu desenvolvimento. De imediato, foi revelada a necessidade de escuta terapêutica, os relatos iniciais são carregados
de sofrimento ético-político, de violências, abusos físicos e sexuais. Compreendemos que essa experiência potencializa
o campo de construção da memória histórica e traz legitimidade para a investigação, além de fortalecer os vínculos
grupais ali presentes. Em relação aos resultados, a análise dos dados nos revelou que os narradores tiveram a
possibilidade de tecer uma rede dialética de significações ao confrontarem fatos e experiências, singulares e gerais.
Puderam se repensar no mundo e, ao mesmo tempo, colocar-se no mundo de uma nova forma. Além disso, afirmaram
e reviram suas posições, seus aprendizados e suas ações dentro da comunidade como um todo. Para mais, esse
confronto de experiências trouxe à tona a formação do grupo do qual fazem parte, a classe social em que estão
inseridos, seus sentimentos e paixões e a ideologia que perpassa a manutenção do status quo.

228
Saúde Mental e Economia Solidária: perspectivas emancipatórias no campo do trabalho coletivo e autogestionário
Autores: Márcia Campos Andrade, UEM
E-mail dos autores: maringa2008@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho tem como tema a relação entre loucura e trabalho no intercâmbio entre Saúde Mental e
Economia Solidária, tendo como problema de pesquisa a questão da inclusão social no trabalho com foco na
constituição de coletivos de trabalho autogestionário pelos (as) usuários (as) dos serviços de Saúde Mental. Na
realidade brasileira, a constituição de iniciativas de inclusão social no trabalho como uma prática clínica, social, política
e produtiva, acontece no contexto do mundo da assistência no âmbito do Estado Brasileiro através de dispositivos
como as Unidades Básicas de Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial e os Centros de Convivência; mas, também,
nas Associações de usuários, familiares e trabalhadores e nas experiências fora dos espaços específicos da Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS), embora estando interligadas. Mais recentemente estão nas feiras promovidas pelas
Redes de Saúde Mental e Economia Solidária e em empreendimentos econômicos solidários independentes. Dessa
forma, os desafios envolvidos nesta ação têm como principais atores sociais e políticos os sujeitos da experiência da
loucura e seus familiares, a equipe de trabalhadores dos serviços de Saúde Mental, os que compõem o mundo da
produção pela via da Economia Solidária, as Universidades, a comunidade e a cidade como território. Além de outros a
serem acionados a partir das demandas produzidas pela própria ação desses sujeitos. O objetivo deste trabalho é
discutir e contribuir com a produção de conhecimento sobre o trabalho coletivo e autogestionário de sujeitos da
experiência da loucura no contexto da articulação entre as políticas de Saúde Mental e Economia Solidária. Trata-se de
um relato de pesquisa que produziu uma experiência de realização de um processo de pré-incubagem de
empreendimentos econômicos solidários no contexto do intercâmbio entre Saúde Mental e Economia Solidária no
Brasil. A escolha pelo eixo temático Psicologia crítica e Políticas Públicas: desafios teórico práticos em tempos de golpe
se deve à aproximação com o tema proposto, seus objetivos e perspectiva teórica. A escolha teórica, metodológica e
ética é a Psicologia Social Crítica em Lane e Sawaia com os conceitos de emancipação e sofrimento ético-político; as
contribuições de Guattari, Costa-Rosa e Rotelli com os conceitos de agenciamento coletivo de enunciação, dispositivo
intercessor, práxis e empresa social; e pelo paradigma de sociedade na perspectiva das Epistemologias do Sul em B.S.
Santos. Referências importantes para compreendermos a contemporaneidade e nela intervirmos no horizonte das
possibilidades concretas, mas também no plano da utopia ativa. O método realizado foi a intercessão-pesquisa tendo
como recurso metodológico o Dispositivo Intercessor em suas duas inscrições: como práxis de intercessão (DI) e como
Meio de produção de conhecimento (DIMPC). A práxis de intercessão foi realizada em um Centro de Atenção
Psicossocial I em um município do Noroeste do Paraná. O campo de intercessão foi constituído por quatro sujeitos da
experiência da loucura, interessados em participar das oficinas de geração de trabalho e renda (OGTR), que definiram
produzir coletivamente ganchos para lona de caminhão, a serem comercializados no território fora do CAPS.
Construindo, assim, uma práxis produtiva no âmbito do Arte em Oficina um projeto em ação coletiva. Entretanto, o
conhecimento produzido não se refere ao campo de intercessão em si, mas sim à intercessão operada por mim como
intercessora encarnada junto a este campo. O conhecimento construído se refere à produção de uma práxis de pré-
incubagem de coletivos de trabalho autogestionário no contexto do intercâmbio Saúde Mental e Economia Solidária.
Lembrando que se trata aqui de processos de constituição de grupos que podem ou não virem a ser coletivos que
tenham como tarefa o trabalho autogestionário, sua causa a ser. É importante considerar que a inclusão no trabalho
produtivo pela via do intercâmbio Saúde mental e Economia Solidária não restaura a normalidade e não garante o
bem-estar, tendo em vista as complexas redes de vinculação social que lhe são inerentes e as implicações dessas na
vida subjetiva dos sujeitos da experiência da loucura. Melhor dizendo, a produção de autonomia pela via do trabalho
autogestionário não se traduz em busca e realização de cura, mas sim, de possibilidades de emancipação. Em tempos
229
de golpe e de desmantelamento da esfera pública e de retrocesso da democracia, os impactos estão sobre o processo
de gestão democrática e repasse de verbas para as políticas públicas. No tocante ao tema do presente trabalho, os
impactos estão acontecendo na Secretaria Nacional de Economia Solidária, na Rede de Atenção Psicossocial e nas
Universidades, colocando em risco o pacto social construído pela Constituição Federal de 1988.

230
GT à|àDi logosàe t eàaàPsi ologia,àaà uest oà a ial àeàaàsaúde:à eflex esàso eàp ti asàdeà uidadoàeàoà
lugar da psicologia

Coordenadores: Alline Aparecida Pereira, ABRAPSO Núcleo Juiz de Fora | Claudia Carneiro da Cunha, UERJ |
Hildeberto Vieira Martins, UFF

Nos últimos anos os Encontros da ABRAPSO têm se constituído como um território capaz de funcionar como espaço
para a elaboração crítica de uma série de debates que giram em torno do problema da questão racial no Brasil. Mais
ainda, esses Encontros têm possibilitado que os profissionais de nossa área discutam como a psicologia pode ser usada
como ferramenta analítica de desconstrução das armadilhas criadas pela reprodução e manutenção de práticas
discriminatórias e excludentes voltadas para uma determinada parcela da população brasileira. Diante dessa
constatação, consideramos pertinente e fundamental dar prosseguimento ao que vem sendo construído ao longo dos
últimos Encontros da ABRAPSO, e é por isso que nós apresentamos esta proposta, em que a temática racial mais uma
vez é pensada como um vetor fundamental para construção de uma reflexão sobre as nossas ideias e práticas acerca
das relações políticas e sociais no Brasil. O nosso objetivo principal é consolidar esse espaço contínuo de troca entre os
psicólogos sociais e a formação de um posicionamento crítico sobre o seu papel na produção de estratégias que
coloquem cada vez mais a importância de tratarmos os problemas gerados pela desigualdade racial e social presente
na sociedade brasileira, e que são ainda pouco problematizados em nossa área, como aponta a ainda incipiente
produção acadêmica no campo da psicologia brasileira. Acreditamos que se tal objetivo for fomentado continuamente
poderemos em um futuro próximo elaborar coletivamente cada vez mais propostas e estratégias que coloquem em
xeque ideias e práticas excludentes que ainda hoje produzem efeitos psicossociais negativos na população negra
brasileira. Tendo como objetivo aprofundar o debate sobre essa questão, gostaríamos de propor e discutir a forma
como são elaboradas as políticas públicas que tratam da saúde da população negra. Tomamos isso como uma
estratégia para pensar e criar alternativas que possam produzir a diminuição do sofrimento psíquico e social dessa
população. O descaso em torno dessa questão resulta de um longo processo de formação histórico e social no Brasil e
ueà ti haà o oàho izo teàaà us aà doà ha adoà est gioà i ilizat io à asilei o.àIssoàa a ouàp oduzi doàu à olha à
desqualificador e excludente a respeito de determinadas formas de compreender a saúde (e, consequentemente, das
técnicas ligadas a essa cosmovisão). É isso que pretendemos discutir e compartilhar nas sessões do nosso GT.
Oà G.T.à Di logosà e t eà aà Psi ologia,à aà uest oà a ial à eà aà saúde:à efle esà so eà p ti asà deà uidadoà eà oà luga à daà
psi ologia à p etende aglutinar trabalhos e pesquisas brasileiras que abordem a questão das relações raciais, das
políticas saúde (práticas de cuidado) em suas várias perspectivas e do papel da psicologia para a construção de
alternativas que diminuam os problemas gerados pela desigualdade social e racial presente em nossa sociedade.
Consideramos que refletir sobre a produção das práticas em psicologia nos permite desenvolver uma maior
compreensão sobre as suas inter-relações com a questão racial brasileira, assim como pensar estratégias para eliminar
ou minimizar os seus efeitos deletérios (racismo, discriminação, desigualdade racial etc.). Neste sentido, a proposta do
G.T. está ligada às temáticas do XIX Encontro da ABRAPSO - De o a iaàpa ti ipati a,àEstadoàeàlai idade: Psicologia
“o ialà eà e f e ta e tosà e à te posà deà e eç o .à Oà fatoà deà e isti à esteà E o t oà oà ei oà te ti oà .à Políti asà deà
igualdade racial e étnica no Brasil: histórico e desafios contemporâneos, no qual este GT se insere, aponta para a
relevância, atualidade e adequação da sua proposição. O G.T tem como proposta acolher trabalhos que versem sobre
o contexto histórico, social e político de certas produções presentes no campo psicológico (e psiquiátrico) a respeito
das relações raciais brasileiras e sua interface com o campo da saúde. Como dito anteriormente, acreditamos que a
constituição desse espaço favorece a problematização da questão da formação e da atuação do psicólogo e da
psicologia na produção e reprodução de certos modos de pensar o sujeito e as suas práticas de construção de seus
modos de existir e viver (cosmovisão). Acreditamos que a troca de ideias em torno desses eixos norteadores
(psicologia, raça e saúde) favorecerá a construção de uma rede de pesquisadores voltados para essa questão no
âmbito da psicologia social. Para que esse objetivo seja alcançado, o GT contará com a exposição inicial de três campos
de investigação e pesquisa realizados pelos seus proponentes.
Hildeberto Vieira Martins abordará, a partir de uma perspectiva histórica, aà p oduç oà deà u à olha à ie tífi o à
produzido no campo dos saberes psicológicos sobre a compreensão e as práticas de saúde produzidas pelo elemento
negro no Brasil. Intenta-se demonstrar como certas práticas de saúde da população negra vinculadas a uma
cosmovisão religiosa afro-brasileira foram motivadoras de um discurso racializador sobre tais práticas. Essa análise
toma como base a produção científica de dois expoentes da área médico-psicológica brasileira: Raimundo Nina

231
Rodrigues e Arthur Ramos. O próprio Arthur Ramos se autodefiniu discípulo de Nina Rodrigues, que no início do século
XX era visto como o principal representante das explicações de cunho lombrosiano acerca da inferioridade dos negros
brasileiros. Com a implantação do Código Penal de 1890, os rituais religiosos afro-brasileiros serão tachados como atos
criminosos sujeitos a penalização (pagamento de multas ou até a pena de prisão). Nas primeiras décadas do século
passado Arthur Ramos procurou registrar em suas obras as manifestações culturais do negro no Brasil, em um período
no qual o debate científico sobre o tema culturalista ainda era incipiente. Esse autor é fundamental para o
entendimento do modo como a ciência da época trata a questão da religião afro-brasileira por conta do seu debate
sobre a cultura africana e a sua relação com a possessão e o espiritismo e como esses fenômenos estariam ligados a
certos fatores religiosos que definiam as concepções de cura/saúde dessa população. Apresentaremos como tais
autores pensaram o elemento negro,àsuasàp ti asà eligiosasàeà o oàissoàafeta aàaàsuaàsaúdeàeàaà saúde àdoà estoàdaà
sociedade brasileira. Estabelecendo como eixo de discussão o levantamento das características do tratamento
dispensado às religiões afro-brasileiras e aos seus praticantes nas primeiras décadas do século XX. Discutiremos como
a criminalização de certas práticas (rituais de cura/saúde), taxadas pelos cientistas da época como práticas de
charlatanismo e exercício ilegal de medicina foram produzidas a partir das coordenadas medicalizantes baseadas em
u aà supostaà e tezaà ie tífi a .à Oà o jeti oà à o p ee de à o oà histo i a e teà essaà p oduç oà ie tífi aà foià
desenvolvendo certas ideias sobre a saúde e o corpo do elemento negro no Brasil e como isso também foi produtor de
um debate sobre raça e racismo nos saberes psicológicos brasileiros.
Cláudia Carneiro da Cunha pretende discutir o lugar da cor/raça nas políticas de identidade no campo da AIDS ao longo
dos últimos anos. A categoria interseccionalidade (Piscitelli, 2008) será acionada nesse processo, a fim de
compreender a articulação entre raça, classe e gênero em contextos sociais marcados pelo racismo e desigualdade
social, como o caso brasileiro. Como forma de exemplificar a importância desse debate a autora aborda a associação
o st uídaàe àu aàsupostaà elaç oàe t eàaà populaç oà eg a àeàoàfe e oàdaàáID“à oàpaísà F àetàal.,à .àEssaà
supostaà asso iaç o,à e t eta to,à esta iaà ela io adaà à o st uç oà doà a poà daà saúdeà daà populaç oà eg a à eà aà
processos mais amplos de inter-relação entre ativismo político e Estado, para além da área da saúde. Se o recurso
(retórico) da pobreza tendia a não racializar a epidemia, ela foi decisiva para uma mudança nos discursos a divulgação,
em 2004, do Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros – B asilàáf oátitudeà−àu aàpa e iaàe t eàoàPN-
DST/AIDS, a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, a Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e a Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação. Ao
longo dos anos observa-se que o Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros – Brasil AfroAtitude foi
es ue ido,àju toà o àaàideiaàdeàu aàasso iaç oà aisài ediataàe t eàáID“àeà aça .àCo tudo,à i gou àaàpolíti aàdeà
direitosà oltadaà aà sujeitosà espe iais.à E e gi a à dife e tesà odosà deà faze à políti a à o à aseà e à ide tidadesà
definidas a partir de marcadores sociais da diferença tais como geração, classe, cor/raça/etnia, gênero, entre outros. A
autora aponta que o movimento de jovens vivendo com HIV/AIDS, por exemplo, em meio à sua estruturação, de 2006
aà ,à efletiuà essaà o daà deà políti asà ide tit ias .à Ha iaà osà dis u sosà u aà us aà pelaà afi aç oà deà luga esà
especiais de fala a partir da soma de marcadores sociais da diferença, ressaltando-seàasà azelas à ueà e ae àso eàoà
jovem que, além de soropositivo, é negro, homossexual e morador de periferia. Neste sentido, a autora buscará
dialoga à o àt a alhosàa o de àaàte ti aàdaà populaç oàLGBT àe/ouàso eàasàp ti asà ho osse uais à as uli asàeà
femininas, que articulam marcadores sociais da diferença, como a raça e o gênero; esse diálogo ainda se desdobra
também com trabalhos que discutam o papel ocupado pelos movimentos sociais, o Estado e as políticas públicas de
saúde no Brasil que coloquem a questão racial como horizonte de análise e explicação da realidade social brasileira.
Alline Aparecida Pereira pretende abordar a questão do racismo através da análise da produção jurídico-legislativa das
últimas décadas que está voltada para a politica de assistência da população negra. A grande questão que a autora
sugere é a seguinte: se foram formuladas e promulgadas um conjunto de leis que tentam eliminar a desigualdade
racial por que essas leis e resoluções são dificilmente cumpridas ainda hoje no Brasil? Segundo a autora, a Psicologia
apresenta um arsenal de possibilidades para combater e promover o enfrentamento ao racismo, principalmente no
âmbito das políticas públicas. A autora apresenta como exemplo algumas estratégias apontadas pelo Crepop (2013,
p.42), tais como: 1) A inclusão do quesito cor, segundo IBGE, em todos os documentos de registros da/o profissional
psicóloga/o, onde as/os atendidas/os se autodeclarem, objetivando, visualizar o perfil desta população; realização da
a liseàdesseàpe fil,àal àdeài te uza àosàdadosàso eàg e o,àidadeàeàes ola idade,àpoisà áoàfaze àesseà o i e to,à
diferenças significativas podem emergir, diferenças que permaneceriam invisibilizadas caso a raça/cor não fosse
le adaàe à o side aç o. ;à àáàse si ilizaç oàdeàgesto es/asàeàp ofissio aisàe àge alàpa aà ueà [...]àfaça àaà efle oà
sobre si próprios, como sujeitos constituídos em uma sociedade cujo imaginário social demarca a(o) negra(o) em um
lugar inferior, oprimido e menos valorizado ocupa doàsu e p egosàouà est itosàaàa teàeàespo te. ,àe,àta ,àdeà ueà
232
[...]àessaà es aàso iedadeà alo izaàso ial e teàaàpopulaç oà a a,àto a doà o oà atu alàaà elho àposiç oàso ialà
o upadaàpo àesteàg upo à op.à it.,àp. .àDestaà a ei a,àaàauto aà o sidera que se faz urgente a necessidade no campo
da Psicologia de uma reflexão que nos tire do lugar cômodo e pacífico sobre essas questões raciais, produzindo um
impacto que seja transformador da realidade social e institucional. É imprescindível termos o exercício pleno da
compreensão das relações étnico-raciais e das formas de produção da vida, como fatores responsáveis pela produção
de uma psicologia social crítica. Por meio desse viés, ao fazermos frente às ações políticas, compreenderemos que
atuação de profissionais psicólogas/os se sustenta em algumas competências, todas de suma importância, as quais
duas merecem destaque: a articulação, que permeia as conexões entre os diferentes setores da sociedade, criando
oç esà deà ede,à o ple e ta iedadeà eà i te seto ialidade ,à ujoà desejoà à oà deà p o o e à possi ilidadesà deà
solida iedade ;à e,à aà i fo aç oà eà o u i aç o,à ueà est à oà esteioà daà p oduç oà deà pes uisasà eà oletasà deà
i fo aç es àso eàoàp p ioàa essoàaài fo aç esàeàdi eitos,à oà esgateàdaàhist iaàdaà omunidade, dos grupos, [...]
daà ide tidadeà eà ultu aà lo ais ,à esta doà di eta e teà i uladoà aoà fo tale i e toà deà autoesti aà oà se ti e toà deà
pe te i e to à “ááDáLLáH,à ,àp. .
Para nós é simbólico constatar que passados 129 anos da abolição da escravatura o mito da democracia racial ainda
vigora no Brasil. E por isso finalizamos nossa exposição com um questionamento: quais são os possíveis caminhos, em
meio a tantos descaminhos, para a construção de um real comprometimento da psicologia com as questões étnico-
raciais brasileiras? Responder a essa questão é um dos objetivos da proposta desse GT, para que com isso possamos
discutir, conhecer e reconhecer diferentes propostas em psicologia e a partir disso construir possibilidades de
transformação, seja no âmbito acadêmico e/ou profissional. Contribuir com o campo transdisciplinar de estudos da
psicologia social, da intervenção em psicologia nas políticas públicas numa perspectiva que não separe a relevância
teórico-metodológica da relevância política e psicossocial é urgente (Santos, 2002). Partimos da ideia que ao
analisarmos as dinâmicas envolvidas nos processos de constituição das desigualdades étnico-raciais no Brasido
poderemos entender melhor as modalidades de enfrentamento mantidas pelo Estado e o papel e o lugar da atuação
das/os psicólogas/os, buscando com isso criar alternativas práticas que nos auxiliem na busca permanente por justiça
social.
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233
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Ciências Sociais, 2002, 63, 237-280.

234
A aldeia e a cidade: identidade e devir entre jovens terena da Terra Indígena de Araribá
Autores: Leonardo Zaiden Longhini, USP; José Francisco Miguel Henriques Bairrão, FFCLRP
E-mail dos autores: l.z.longhini@gmail.com,bairrao@usp.br

Resumo: A seguinte exposição se refere a uma pesquisa de mestrado em psicologia ainda em andamento, realizada
pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto -
Universidade de São Paulo.
As questões indígenas no Brasil revolvem aspectos sociais, éticos e psicológicos,
permeados pela relação desigual histórica entre indígenas e não-indígenas desde o período colonial, envolvendo a
escravidão e o extermínio, além de estigmas sociais ante a um processo de marginalização. A história das populações
indígenas no estado de São Paulo não foi diferente. Registros sobre a colonização mostram como
indígenas foram destituídos ou realocados de seus povoamentos e seus modos de vida cotidianos constringidos pela
tutela do Estado. Foram acusados de serem povos aculturados, que abandonaram suas tradições e não possuem
traços dignos de suas identidades. Contrárias a isso, contribuições da antropologia e teorias da etnicidade apontam
para um modo de ser e de se tornar próprio dessas etnias. O entendimento da identidade indígena, suas mudanças e
possibilidades de sobrevivência ante o futuro ainda é um campo de investigação para a psicologia. O presente estudo
elege a experiência dos indígenas como campo empírico em que se busca investigar a identidade e seu devir no
contexto da juventude indígena, na aldeia Kopenoti da Terra Indígena de Araribá, um território próximo a grandes
centros urbanos onde o contato com o mundo não indígena é histórico e crescente. O objetivo do estudo é a
construção de conhecimento sobre identidade e devir dos terena através do contato colaborativo com jovens
indígenas da aldeia localizada na Terra Indígena de Araribá SP. A coleta de dados se dá através de convívio e
entrevistas sobre planos, desejos e expectativas de futuro, como outros temas que apareceram conforme o campo de
pesquisa foi explorado. A metodologia envolvida no trabalho etnográfico é a da escuta participante, com referenciais
na psicanálise lacaniana aplicada a contextos sociais e comunitários, enquanto a análise dessa escuta também é
amparada pela análise conotativa proposta pelo psicólogo cultural Ernest Boesch. Esse contato é realizado por visitas
ao menos quinzenais. Visa-se com este estudo contribuir para que o conhecimento de ambas as origens, a psicologia
e a sabedoria nativa, se aproximem em benefício da sociedade brasileira de forma a desvincular da psicologia um
papel político etnocentrico, permeado por categorias de conhecimento não-indígenas. Os resultados iniciais fizeram
destacar as inquietações mais gerais do povo como um todo, vinculadas a processos históricos e atuais de necessária
relação com não indígenas. Como discussão, se relevou a tensão entre o ser e deixar de ser indígena, enquanto
identidade e enquanto temor sobre o futuro da comunidade e das novas gerações. Em contraste a isso, foram
apontadas possibilidades de transformação dessa identidade como também de apropriação do conhecimento do não-
indígena a partir de uma perspectiva ameríndia, como a dificuldade observada pelo não reconhecimento desses
aspectos por parte dos não indígenas e sua consequente introjeção por parte dos indígenas estudados. Nesse sentido,
é possível fazer refletir sobre os riscos da prática psicológica diante de questões raciais com que a psicologia trata,
sendo possível objetivar a importância de uma escuta psicológica para questões étnicas específicas que por vezes só
podem ser abordadas no campo da multidisciplinaridade e na construção conjunta de conhecimento entre psicólogos
e interlocutores representativos das comunidades atendidas, envolvendo o compromisso ético e político com a
qualidade de vida indígena. Observou-se como uma abordagem sanitarista ou que parta de um conhecimento
etnocêntrico da psicologia poderia fazer passar invisíveis as questões de sobrevivência física, étnica e identitária
implicadas no campo da presente pesquisa.

235
A Psicologia na Formação e na prática do Profissional da Nutrição
Autores: Marta Fuentes-Rojas, UNICAMP
E-mail dos autores: marta.fuentes@fca.unicamp.br

Resumo: A compreensão do comportamento e do estilo alimentar e os aspectos que lhe são subjacentes tornam-se
elementos relevantes na definição de estratégias com vistas à promoção de hábitos alimentares saudáveis. Cabe
refletir sobre o papel da psicologia no domínio da nutrição e as relações entre o comportamento alimentar e a saúde,
assim como, na adoção de estratégias de prevenção primaria e educação em saúde. O objetivo de esta pesquisa foi
identificar e discutir as contribuições das disciplinas de psicologia para os alunos de graduação do curso de nutrição e
para os profissionais da área que se encontram no serviço. Buscamos compreender as necessidades dos profissionais
não psicólogos ao lidar com fatores emocionais e comportamentais que influenciam diretamente na atitude e na
saúde das pessoas. Estudo de caráter qualitativo e documental. Num primeiro momento foram identificadas 62
instituições de ensino superior do Estado de São Paulo públicas e privadas, que formam os profissionais da Nutrição.
Destas foi observado que 19 não oferecem nenhuma disciplina da área da psicologia no curso de nutrição. A maioria
oferecida no primeiro ano, como uma disciplina de formação básica, com uma carga horaria entre 30 e 60 h/a. dentro
da carga total do curso (entre 3.240 e 4.428h/a.), representando 1.1% da matriz curricular. Percebe-se pela presença e
carga horária da disciplina de psicologia, concepções distintas, conforme foi observado nas nomeações da disciplina
dentro da grade horária, tais como: psicologia, psicologia das relações humanas, psicologia aplicada a nutrição,
psicologia aplicada à saúde, psicologia da saúde, psicologia do desenvolvimento, psicologia das relações interpessoais,
psicologia geral e desenvolvimento, psicologia aplicada à dimensão do cuidado. Foram aplicados questionários através
do Google Forms com coordenadores do curso, professores das disciplinas de psicologia, estudantes de último ano, e
profissionais em serviço. Nos depoimentos conseguimos identificar que os cursos continuam apontando para uma
linha mais biológica e os conteúdos da psicologia são pouco valorizados. De acordo com os dados os Coordenadores
avaliam a psicologia como um conteúdo relevante na formação humanista dos alunos e contribui para uma melhor
compreensão na prática profissional. Destacam que a psicologia pode contribuir no preparo psicológico do
profissional. Uma psicologia aplicada que possa mostrar aos alunos o que pode fazer o e como identificar um
problema psicológico. É ressaltada a necessidade de uma instrumentalização, capacitando os alunos para o manejo de
grupos, além de ensiná-lo a conduzir dinâmicas, atividades motivacionais. Ressaltam a necessidade de manter o foco
nos aspectos emocionais que envolvem a alimentação. Já os alunos de último ano relatam que a psicologia contribuiu
de maneira efetiva, auxiliando-os na identificação de alguns transtornos, na relação com a pessoa em cuidado,
entender aspectos comportamentais e refletir sobre o que motiva ou induz o paciente em suas escolhas e hábitos
alimentares. No entanto, destacaram baixa carga horária e a duração limitada de apenas uma disciplina da grade
curricular, que não contempla a abordagem de todo o conteúdo. Para os profissionais em serviço, descrevem a
formação como deficiente em alguns tópicos, básica, generalista, teórica, técnica e pouca prática, ênfase no biológico
e pouco no humano e social. Apontam que na formação não são abordados assuntos pertinentes à realidade
encontrada quando se exerce a profissão. As disciplinas com estes conteúdos não são valorizados, despertam pouco
interesse, são ministradas de forma isolada, e são pouco exploradas pelos docentes, oferecida de forma insuficiente e
deveria ter como foco a atuação do profissional da nutrição e não somente conteúdos históricos e teóricos da
psicologia. A maioria aponta ter procurado conteúdos da psicologia depois de formado, por solicitação da própria
prática. Podemos concluir que a Psicologia é um conteúdo relevante na formação e na pratica e deve ser oferecido em
um dialogo entre as áreas da formação do nutricionista, para que sua contribuição seja realmente efetiva e ofereça
aos profissionais da nutrição uma formação mais humana, assim como instrumentos e/ou estratégias que contribuam
com um atendimento condizente com o contexto e a realidade da população.

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As Diversidades Sócio-Culturais no Cuidado em Saúde Mental
Autores: Bruna Berger Roisenberg, UFSC; Magda do Canto Zurba, UFSC
E-mail dos autores: brunapc@gmail.com,macanzu@gmail.com

Resumo: É cada vez maior o número de pessoas de minorias étnicas e de diferentes culturas que buscam cuidados em
saúde mental. O contexto sócio-cultural possui influência e relevância em todos os comportamentos relacionados à
saúde. Deste modo, a sensibilidade às diferenças sócio-culturais se torna uma habilidade essencial para os serviços e
os trabalhadores de saúde mental. Diante dessa variedade de sistemas sócio-culturais, nos perguntamos se este
aspecto já é abordado pela legislação de saúde mental do SUS e qual dispositivo clínico devemos conceber para que as
diferenças culturais sejam abordadas, e para que o tratamento oferecido possa ser integral e resolutivo? Esta pesquisa
se trata de um estudo qualitativo, exploratório que utiliza o método de investigação e análise documental, e tem como
objetivo analisar o conteúdo dos documentos fornecidos pelo Ministério da Saúde de modo a investigar o que dizem
sobre os serviços de saúde que atendem às diversidades sociais e culturais. Como resultados, encontramos que alguns
aspectos da legislação do SUS ainda aparecem de forma contraditória ao modelo de atenção psicossocial, como o
decreto 7.508 de 2011, que regulamenta a lei 8.080/90, e prevê que o protocolo clínico e a diretriz terapêutica da rede
de atenção deve oferecer tratamento preconizando o uso de medicamentos. O mesmo acontece na legislação de
saúde do Brasil, como mostra a Medida Provisória nº 1.911-8, de 29 de julho de 1999, que visou à implantação dos
DSEIs (Distritos Sanitários Especiais Indígenas) e transferiu a responsabilidade da gestão da saúde indígena
exclusivamente para a FUNASA, criando-se um subsistema de atenção à saúde indígena, que se propõem a oferecer
uma atenção diferenciada. Porém ainda não se definiu o que é essa atenção diferenciada na prática, e após dezoito
anos da implantação do atual modelo de saúde indígena, não existe uma avaliação global sobre seu êxito em satisfazer
os princípios da Política de Saúde Indígena brasileira, particularmente em referência ao respeito às especificidades
culturais e a atenção diferenciada. Além disso, apesar de haver uma legislação que abarque as especificidades da
atenção à saúde indígena, a legislação brasileira não trata do cuidado culturalmente sensível às diversas outras
culturas e tradições de cuidado à saúde que integram o território brasileiro. Deste modo, na realidade brasileira, a
atenção à saúde prestada nos serviços públicos de saúde acaba por neutralizar as origens sociohistóricas dos
pacientes, que são representados como um conjunto amorfo de indivíduos que recorre ao serviço em busca de
solução para seus males. O atendimento recebido funda-se na assimetria e na subordinação, cunhadas pelas normas e
rotinas dos espaços de atenção à saúde. Da mesma forma, há o desconhecimento das conciliações entre os saberes
biomédicos e as produções culturais da clientela. Isto encobre o entendimento das apropriações e ressignificações das
atividades de atenção básica em geral e das transformações históricas dos sistemas culturalmente diferenciados de
saúde, enfermidade e cuidados. Neste sentido, apesar das reformas e das lutas para implementar uma atenção
psicossocial que leve em conta um tratamento e uma visão de sujeito integral, e uma atenção culturalmente sensível,
ainda permanece uma visão baseada em modelos biomédicos de cura com foco na doença, que não dão conta de
abordar as especificidades sócio-culturais. Com isto, torna-se importante conhecer mais a fundo as legislações de
saúde mental do SUS de modo a problematizar as políticas já implantadas no Brasil, para assim poder apresentar
novas possibilidades de cuidado que se caracterizem pela sensibilidade para abordar as diferenças e particularidades
sociais e culturais.

237
As iniquidades em Saúde da População Idosa Negra no Brasil: como enfrenta-las?
Autores: Natália Vargas Patrocinio de Campos, Ministério da Saúde
E-mail dos autores: natvpc@yahoo.com.br

Resumo: A população brasileira está passando por um processo acelerado de envelhecimento, em 2004 a esperança
de vida ao nascer era de 71,7 anos e passou para 75,2 anos em 2014. A população idosa do Brasil é de
aproximadamente 27,8 milhões, o que corresponde a cerca de 13,7 % do total da população brasileira, conforme
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2014 (PNAD 2014). Deste total de idosos, 12,8 milhões são
negros, o que equivale a 46% do total da população idosa. A população negra no Brasil é maior que a população
branca no grupo etário de 0 a 59 anos, a partir dos 60 anos a população negra diminui. No grupo etário
correspondente a população idosa, quanto maior a idade, menor é a proporção da população negra. Estes dados
mostram que a população negra vive menos.
A análise de indicadores da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 (PNS/2013) - percentual de pessoas que procuraram
atendimento de saúde nas duas últimas semanas anteriores à data da pesquisa e percentual de pessoas que se
internaram em hospitais por 24 horas ou mais nos 12 meses anteriores à pesquisa - nos permite afirmar que a
população idosa é a que mais utiliza os serviços de saúde. No entanto, a saúde da pessoa idosa não é medida pela
ausência ou presença de doenças, mas sim pela capacidade funcional, ou seja, pelo grau de preservação da autonomia
e da independência para a realização das atividades da vida diária (AVD). A PNS/2013 e diversas outras pesquisas
evidenciam que a capacidade funcional da pessoa idosa tem forte correlação com anos de estudos e com a atividade
laboral que a pessoa desenvolveu ao longo da vida. Quanto mais anos de estudo a pessoa tem, maior é a preservação
de sua capacidade funcional. Quanto à atividade laboral, se a pessoa desempenhou atividades que exigiam mais
esforço físico ao longo da vida, maior é a probabilidade de apresentar algum comprometimento funcional na velhice.
Tomando como base estes determinantes sociais de saúde e doença, buscou-se compreender se além de viver menos
a população idosa negra vive com maior incapacidade funcional, o que resultaria em menor qualidade de vida.
Analisar o impacto destes determinantes sociais na saúde da população idosa utilizando o recorte racial é essencial
para construir uma política de saúde equânime, integral e universal, conforme estabelecido pela Constituição
Brasileira. Para atender a este objetivo foram analisados dados sobre funcionalidade da população idosa presentes na
PNS/2013 desagregando-os por raça/cor.
Conforme a PNS/2013, no Brasil, 6,8% da população idosa tem alguma limitação funcional para realizar as Atividades
de Vida Diária (AVD). Analisando estes dados desagregados por raça/cor, constatou-se que 7,9% da população idosa
preta possui alguma limitação funcional para realização das AVD, já para a população idosa parda este percentual foi
de 6,8%, enquanto para a população idosa branca foi de 6,7%. Segundo a Pesquisa, 84% da população idosa brasileira
com limitação funcional precisa de ajuda para realizar as AVD. Ao analisar estes dados conforme os diferenciais de
raça nota-se que 90,9% da população idosa preta com limitação funcional precisa de ajuda para realizar as AVD, na
população idosa branca na mesma situação 84,5% necessitam de ajuda, enquanto para a população parda esta
proporção é de 81%. A pesquisa constatou ainda que 10,9% da população idosa com limitação funcional pra as AVD
que precisam de ajuda não as recebem. Desagregando estes dados por raça/cor constata-se que 13,6 das pessoas
idosas pretas que precisam de ajuda não recebem, para a população parda esta proporção é de 12,8%, enquanto para
a população branca a proporção é de 9,0%.
Constata-se assim, que além de viver menos, a população idosa negra apresenta maior proporção de limitação
funcional para realização das AVD, maior proporção de pessoas com limitação funcional que precisam de ajuda para
realizar as AVD, no entanto é a que, proporcionalmente, menos recebe ajuda para realiza-las. Esses dados mostram
não só os diferenciais raciais na condição de saúde da população idosa, mas também no acesso ao cuidado em saúde.
O processo de envelhecer é heterogêneo, tendo em vista que gênero, raça, situação socioeconômica influenciam ao
longo dos anos na qualidade de vida das pessoas e em suas condições de saúde. Desse modo, para a construção de

238
políticas públicas de saúde equânimes para a população idosa é necessário considerar estes marcadores sociais da
diferença.
Trabalhar os dados de saúde desagregados por raça/cor é uma importante estratégia para o enfrentamento do
racismo institucional no Sistema Único de Saúde (SUS), pois esta prática fomenta o debate sobre raça e cria um
contexto favorável à compreensão dos processos sociais que produzem e mantém as diferenças étnico-raciais em
saúde. Por sua vez, conhecer os mecanismos de produção e manutenção das diferenças étnico-raciais é essencial para
a construção de políticas públicas que combatam as iniquidades raciais em saúde.

239
As Publicações das Revistas de Psicologia: Uma Análise da Abordagem na Temática Negra e no Pensamento Social
Brasileiro
Autores: Abrahão de Oliveira Santos, UFF; Davi Akintolá Ferreira de Oliveira, IBMR; Eduardo Sousa de Castro, UFF
E-mail dos autores: edu7castro@outlook.com,abrahaosantos@hotmail.com,akintola8@yahoo.com.br

Resumo: O Jornal do CRP (2014) constata que o Brasil tem um dos maiores números de psicólogos do mundo. Desde
os anos 80, com o processo de democratização em curso, a Psicologia adquiriu diversidade e compromisso com as
urgências brasileiras, com atuação em vários setores da sociedade: fábricas, empresas e cooperativas de trabalho;
hospitais e Sistema Único de Saúde (SUS); na assistência social. No campo psiquiátrico a Psicologia é antiga parceira,
como também nas escolas do ensino fundamental e médio; a Psicologia elabora estratégias de ensino com
trabalhadores da educação e atende os alunos diretamente. Intervém também no sistema prisional e nas
comunidades em situação de violência das cidades brasileiras. Atuam na produção de bem-estar social e saúde junto
às crianças, adolescentes e idosos; intervêm na dimensão da socialidade das crianças e juventude, no envolvimento da
família na formação dos jovens e todos os problemas de conduta que aí se encontram. Nas mais diversas políticas
públicas o profissional da Psicologia está presente na atenção às singularidades das pessoas, no desenvolvimento das
comunidades e dos indivíduos e contribui na construção da equidade social.
Certamente, de 1960 aos dias de hoje, cresceu na categoria dos psicólogos o interesse e o compromisso pelos
problemas sociais causadores de sofrimento psíquico ou o contexto da promoção de bem-estar e saúde, e por isso
mesmo é patente que a psicologia voltou-se para o mundo ao seu redor (FERRARI, 2011, p. 123). Entretanto, a questão
negra é esquecida ou tratada como algo menor e a diversidade cultural jamais é considerada nas pesquisas e na
formação do psicólogo. Estamos a estudar e entender os motivos da exígua simpatia dos psicólogos pela questão racial
e a se afastar de um dos maiores problemas sociais do Brasil causadores de sofrimento psíquico. De fato, a
complexidade político-histórica desse problema, que dura mais de 500 anos e envolve a base da acumulação
capitalista mundial, pode dissuadir qualquer um a encará-lo. Mas a afirmação da diversidade das práticas e o
compromisso com as urgências brasileiras, a atenção louvada na aproximação da categoria para a defesa aos direitos
humanos, o direito à diferença e a promoção de processos de singularização, não se concretizam sem o enfoque na
diversidade cultural e étnica, colocada em pauta pelos movimentos negros.
O projeto de pesquisa As Publicações das Revistas de Psicologia: Uma Análise da Abordagem da Temática Negra e do
Pensamento Social Brasileiro é uma pesquisa bibliográfica e crítica, com aspectos quantitativos e qualitativos, na qual
se faz um levantamento e mapeamento do número de publicações sobre a temática étnico-racial (temática negra) e
social, analisando a publicação de artigos dos periódicos brasileiros de Psicologia, classificados como Qualis A1 e A2,
entre 2010 e 2015, e verificando qual a tendência apresentada pelas revistas em relação à temática negra, bem como
a maneira a que as pesquisas divulgadas dialogam com o pensamento social brasileiro e de que modo os objetos de
pesquisa são contextualizados na ordem social local.
No que se refere às publicações das revistas brasileiras Qualis A1 e A2, no ano de 2010, a pesquisa apresenta dois
conjuntos de resultados parciais. Um dos resultados se trata das publicações no que tange as relações étnico-raciais ou
a questão negra. Os dados aí revelam que, em um universo de 750 artigos coletados, apenas 1,5% aborda a questão
negra e problematiza as relações raciais; 7,1% dos artigos envolve a população negra por categorias como população
pobre ou vulnerável, entre outras, e não problematiza as relações raciais; por outro lado, 91,4% dos artigos não
aborda a questão negra.
O outro conjunto de dados é sobre as publicações que abordam a questão social. Nele, 21,2% dos artigos aborda a
questão social e apresenta a singularidade histórica e social brasileira; 23,1% dos artigos abordam a questão social,
isto é, cita uma questão social, mas não traz a singularidade histórica brasileira; e 55,8% dos artigos não aborda a
questão social. Somando as duas últimas categorias, podemos dizer que 78,9 % dos artigos estudados não trazem
nenhuma problematização da realidade histórico social brasileira. Levando-nos a crer que, diante desse material, suas
pesquisas não tiveram necessidade de trazer o contexto social para compreender o objeto dos seus estudos.
240
Os dois conjunto de dados parecem, inicialmente, separados e sem relação um com o outro, entretanto, ao fazer a
discussão dos dados vemos uma linha de conexão entre eles. A problemática das relações raciais são excluídas das
pesquisas aqui consideradas e com esta exclusão revela-se o esquecimento e o desconhecimento da Psicologia na
questão mais traumática da história de formação do que chamamos Brasil e do mundo ocidental moderno, que é o
regime escravista e as consequências da exclusão dos negros na constituição da República. Devemos nos perguntar se
aí não aparece a continuidade dessa marca do modo do embranquecimento no modo de ver a população brasileira.

241
Awre: uma cartografia dos encontros entre o cuidado dos terreiros e a Psicologia
Autores: Luiza Franklin Salas, UFF
E-mail dos autores: luizasalas@yahoo.com.br

Resumo:
Cartografar as práticas de cuidado produzidas em terreiros de candomblé demanda iniciar uma viagem que revela
aspectos da diáspora africana no Brasil, cotidianamente recriada através dos cultos aos ancestrais, onde aspectos
culturais, religiosos, linguísticos, sociais e rítmicos se afetam e se reinventam produzindo novos processos subjetivos, e
outras formas de estar no mundo. Essa viagem à África Ancestral foi realizada no cruzar da Rodovia Presidente Dutra,
até a Baixada Fluminense, onde se encontra o terreiro de Mãe Beata de Yemoja. Neste pequeno grande pedaço da
África Ancestral, cartografei os percursos das práticas de cuidado, seguindo as pistas da comida, da figura da ekede, do
cuidado com o corpo, com o Orixá, com as vestimentas e objetos sagrados.
Os Candomblés constituem-se historicamente como espaços de resistência, de promoção de saúde e cuidado, a partir
de uma perspectiva pautada na coletividade. Esse conceito coletivo de saúde não se circunscreve à ausência de
enfermidades: é entendido como equilíbrio físico, mental, espiritual e social. A filologia da palavra indica que cuidar é
um modo pelo qual o indivíduo se estrutura e se relaciona no mundo. Dessa maneira, é importante pensar o cuidado,
como um modo de vida dos terreiros. Cuidado esse, que também se apresenta centrado nas práticas de acolhimento e
escuta, comuns às práticas psi e às diretrizes do Humaniza SUS, levantando a questão: o que os saberes de terreiro
têm a contribuir com a psicologia?
Para responder essa questão, recorro a Exu, Orixá responsável pela comunicação, pela ligação entre homens e Orixás,
Senhor dos Caminhos. Exu é o primeiro a ser reverenciado, e também foi protagonista de um preconceito histórico, do
qual, colhemos frutos até hoje. Associado ao diabo ajudou a pulverizar no imaginário social a associação das religiões
de matrizes africanas com magia negra, feitiçaria bárbara. Os princípios de eugenia, darwinismo e evolucionismo
social, que impregnaram as ciências do século XIX, serviram para legitimar o racismo, postulando a inferioridade do
povo negro, e a incivilidade de seus cultos, ajudando a disseminar essa crença, e fortalecendo as bases de um Brasil
racista, e que se forma às custas do embranquecimento e extermínio da população negra e indígena, que se segue até
hoje. Alicerçados no racismo que nos estrutura, seguimos inventando maneiras de extermínio, onde a chamada
intolerância religiosa, que chamarei de violência religiosa, têm sido um forte braço.
Violência religiosa que destrói terreiros, que ofende adeptos, que leva à morte de sacerdotes (como o falecimento de
Mãe Gilda de Ogum, após agressão perpetrada pela Igreja Universal do Reino de Deus), se fundamenta no ódio ao
legado negro, e por isso pode ser entendida como manifestação racista. Ela se evidencia com a expansão das igrejas
evangélicas, que tem como fundamento a evangelização. Prática que conversa com a antiga catequese implementada
pelos colonizadores europeus, e se fundamenta no entendimento de que a religião em questão é a única capaz de
trazer a salvação. Esse pressuposto, etnocêntrico e violento, desconsidera outras formas de fé, por se considerar a
única fé portadora do verdadeiro sagrado, opondo-se às outras religiões, consideradas caminhos desviados do
verdadeiro sagrado por culpa do diabo. A chegada desses valores ao Legislativo, encarnada na Bancada Evangélica
fomenta o atual cenário de grande ameaça aos direitos humanos, principalmente no que concerne às religiosidades
negras.
O trabalho que se segue pretende apresentar o plano das forças que constituem a rede de cuidados e afetos do Ilê
Axé Omiojuaro, apostando na ciência como construção estético-política, buscando nas palavras de Mãe Beata de
Yemoja, desmistificar o Candomblé. Não no sentido do conceito marxista, mas no sentido apontado pela sacerdotisa,
de afirmar e divulgar suas práticas de cuidado, entendendo a importância do discurso científico para a construção de
um cenário social de mais igualdade, e defendendo a construção de uma Psicologia Brasileira, que se deixe afetar e
reinventar pelas questões de raça, que marcam as relações e práticas de poder/saber em nosso país. Assim, vai ao
encontro dos objetivos propostos pelos Grupos de Trabalho: Diálogos entre a Psicologia, a questão racial e a saúde:
reflexões sobre práticas de cuidado e o lugar da psicologia; Relações étnico/raciais: Violação de direitos na
242
democracia, enfrentamentos, memórias, trajetórias sociais e legado negro; Crítica Social, Direitos Humanos e
Psicologia Social e os eixos: Políticas de igualdade racial e étnica no Brasil: histórico e desafios contemporâneos; e
Políticas Públicas, Direitos Sociais e Emancipação. Colaborando com a formação de um posicionamento crítico sobre o
papel da psicologia na produção de estratégias para combatermos os problemas gerados pela desigualdade racial
presentes na nossa sociedade, e que são ainda pouco problematizados em nossa área.

243
Estratégias de ensino-aprendizagem de professores de disciplinas de psicologia social na abordagem do tema das
relações étnico-raciais em sala de aula
Autores: Gabriel Rodrigues Mardegan, USP
E-mail dos autores: gabriel.r.mardegan@gmail.com

Resumo: Autor: Gabriel Rodrigues Mardegan, graduando em Psicologia na Universidade de São Paulo.
Orientador: Alessandro de Oliveira dos Santos, docente do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do
Instituto de Psicologia da USP.
As relações étnico-raciais configuram um tema marginal na graduação em psicologia, circunscrito à área de psicologia
social e cuja abordagem profícua tem dependido da vontade e compromisso de professores responsáveis por
disciplinas afins a esta área de conhecimento. Tal fato revela uma lacuna na formação dos psicólogos brasileiros em
um país cuja metade da população é negra, ou seja, de cor de pele parda ou preta e faz com que muitos psicólogos
que atuam em serviços de saúde mental nunca tenham tido acesso a informações, estudos ou discussões sobre esse
tema. Isso tem contribuído para que tais profissionais, no âmbito da saúde, em geral compactuem com a
invisibilidade, o não reconhecimento e a deslegitimação dos efeitos psicossociais do racismo (preconceito,
discriminação e humilhação social) que produzem e/ou amplificam o sofrimento psíquico da população negra
brasileira. Logo, para mudança desse cenário é fundamental que professores dos cursos de graduação em psicologia,
além de incorporar o tema como conteúdo de suas disciplinas, desenvolvam estratégias de ensino-aprendizagem
capazes de sensibilizar e abrir os universos de locução dos estudantes acerca da complexidade das relações étnico-
raciais no Brasil e dos efeitos psicossociais do racismo sobre a saúde mental, fornecendo subsídios teóricos e práticos
para atuação profissional nesse campo. Este estudo, de cunho qualitativo descritivo, discute as estratégias de ensino-
aprendizagem utilizadas por professores de disciplina afins a área de psicologia social na abordagem do tema das
relações étnico-raciais em sala de aula. Para isso foram entrevistados 9 professores de diferentes Faculdades de
Psicologia do município de São Paulo. Em seguida, foi feita uma análise de conteúdo do material coletado de modo a
identificar e descrever as principais estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas. O estudo foi aprovado em Comitê
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto de Psicologia da USP e faz parte de uma pesquisa maior sobre
atuação de psicólogos no tema das relações étnico-raciais, coordenada pelo professor Alessandro de Oliveira dos
Santos, orientador deste trabalho. A análise de conteúdo das entrevistas mostrou que dentre as estratégias de ensino-
aprendizagem utilizadas pelos entrevistados para abordagem das relações étnico-raciais em sala de aula destaca-se o
uso de materiais de IEC (Informação, Educação, Comunicação) como, por exemplo, exibição de filmes e documentários
e leitura de cartilhas, folhetos e livros produzidos por organizações do movimento negro, organizações da sociedade
civil e organizações governamentais. Também merece destaque a utilização de dinâmicas de grupo e grupos
operativos na abordagem do tema, como por exemplo, realização de dramatizações sobre situações de preconceito e
discriminação étnico-racial e de debates sobre adoção de cotas raciais no ensino superior. Além disso, outra estratégia
de ensino-aprendizagem bastante mencionada pelos entrevistados foi o convite para que lideranças do movimento
negro e de organizações governamentais e não governamentais de promoção dos direitos humanos ministrem
palestras sobre racismo, saúde da população negra e ações afirmativas, dentro das disciplinas. Segundo a maioria dos
entrevistados as relações étnico-raciais são um tema de difícil manejo em sala de aula e que exige versatilidade dos
professores, devendo ser discutido prioritariamente a partir das histórias de vida e experiências prévias dos
estudantes. Conclui-se que as estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas pelos professores entrevistados
favorecem a visibilidade, a sensibilização e a abertura dos universos de locução dos estudantes para o tema das
relações étnico-raciais, podendo contribuir para formação de profissionais sensíveis a compreensão dos efeitos
psicossociais do racismo na vida de crianças, jovens e adultos negros e capazes de identificar e reconhecer o
sofrimento psíquico derivado desses efeitos sobre os processos de saúde-doença mental dessa população.

244
Grupo de Trabalho Relações Raciais na Psicologia/CRP-MG como prática de cuidado
Autores: Alline Aparecida Pereira, UFF; Ana Carolina Bustamante Dias Souza, UFJF; Emmanuella Marlene Calazans Lino
Clarindo Nascimento da Silva, UNESA; Fabiana Lemos Sant' Ana, UFJF; Flávia de Paula Carvalho, Prefeitura de Juiz de
Fora; Sarah Zigler de Oliveira Silva, UFJF
E-mail dos autores: alline__pereira@hotmail.com, carolbustamanted@hotmail.com, flaviapc2011@oi.com.br,
emmanuellacalazans@hotmail.com, fabianalemos@rocketmail.com, sarah-ziegler@live.com

Resumo: Para inspirar nossa escrita, segue este trecho: "Uma das minhas fantasias quando eu tinha 6 ou 7 anos, era
que, de repente, alguém diria "Shazam!", e eu viraria branca. E eu não seria olhada com tanta aversão quando andasse
na parte branca da cidade, algo que eu tinha que fazer. Você realmente deseja ser capaz de murchar naquele
momento, e de se encolher. E, em vez disso, eu erguia a cabeça e caminhava, cerrava os dentes. Eu sobreviva, mas
meu Deus, QUE TIPO DE CICATRIZES ISSO DEIXA EM VOCÊ? Eu nem tento examiná-las. E quando eu pegava a caneta...
para escrever... Eu tinha que raspá-la nas cicatrizes para afiar a ponta." (Maya Angelou) (Grifos nossos).
Integramos o Grupo de Trabalho Relações Raciais (GTRR) na Psicologia, da Subsede Sudeste, do Conselho Regional de
Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG). Somos, neste contexto, experiência pioneira no Estado. Com oito meses
completados no momento em que tecemos esta escrita, o GTRR se faz vida. Nós, quem lhes enuncia, mulheres negras
diversas, (re) existimos a cada encontro dele/nele. Como nos alude Souza (1983, p.18) "Saber-se negra é a experiência
de ter sido mascarada em sua identidade [...]. Mas é também, e sobretudo, a experiência de comprometer-se a
resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades". Neste sentido, acreditamos no diálogo como encontro,
potência para transformação, não reduzindo-se a um depositar ideias umas nas outras, nem tampouco apenas trocar
ideias a serem consumidas, mas sim na possibilidade de (re) significarmos histórias, trajetórias. E é justamente a partir
destas nossas (re) existências as quais queremos exprimir o caminho, dentre os vários que poderíamos seguir, que
escolhemos construir: o da prática de cuidado, antes com nós mesmas, enquanto potência promotora de saúde.
Assim, pretendemos, através deste nosso relato, compartilhar a nossa experiência a fim de contribuirmos, e também,
nos (re) energizarmos no/com o debate em prol do compromisso ético-político da Psicologia para com as relações
étnico-raciais no Brasil. É no movimento de entrelaçamos nossas experiências e vivências, por meio da compreensão
do processo de nos tornamos pessoas negras (SOUZA, 1983), é que subsidiadas por uma perspectiva afrocentrada, o
GTRR se baseia em uma praxis orientada por valores civilizatórios-afrobrasileiros (NOGUEIRA, 2013). Acreditamos
como nos diz Freire (1992, p.39) que, a nossa opção política, através de nossa prática, também política, nos encaminha
para determinação de nossos métodos de ação, sendo uma "ingenuidade pensar num papel abstrato, num conjunto
de métodos e de técnicas neutros para uma ação que se dá em uma realidade que também não é neutra." Ainda como
na proposta de Freire (1982, p.37) "Para o ponto de vista crítico que aqui defendemos, a operação de mirar implica
noutra: a de ad-mirar. Ad-miramos e ao adentrar-nos no ad-mirado o miramos de dentro e desde dentro, o que nos
faz ver." Assim, acreditamos que temos construído, coletivamente, novos conhecimentos em Psicologia, por então
dizer descolonizadores, tomadas pelo exercício constante da (auto) reflexividade. Desta maneira, a qual temos
aprendido a ver, temos tido estratégias de ação para sensibilizar e alcançar a categoria; Possibilitado visibilidade e
reconhecimento dos efeitos psicossociais do racismo como promotores de sofrimento e adoecimento psíquico;
Realizado eventos-temáticos como rodas de conversas, encontros e mostras; Divulgado e dado continuidade das ações
em Direitos Humanos do Sistema Conselhos que visam combater o preconceito e a humilhação social; Realizado
levantamento de produção científica no campo da Psicologia sobre a temática; Bem como estabelecido contato e
parcerias com instâncias públicas locais/estaduais que atuem no combate ao racismo e na promoção da igualdade
racial.

245
Referências
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. ª Ed, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 8ª Ed, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980.
NOGUEIRA, Simone Gibran. Psicologia critica africana e descolonização da vida na pratica da capoeira de Angola. 2013.
236 f. Tese de doutorado em Psicologia Social. Instituto de Psicologia. Pontífica Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo. 2013.
SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro. Graal, 1983.

246
Mulher, Negra e psicóloga: de Candaces a Maria Bonita
Autores: Gilmara Santos Mariosa, UFMG; Alline Aparecida Pereira, UFF
E-mail dos autores: gilmaramariosa@yahoo.com.br,alline__pereira@hotmail.com

Resumo: Pensar gênero, classe e raça interseccionados em tempos contemporâneos tem sido um desafio constante
para profissionais de diversas áreas, e para psicologia não é diferente. Vivenciar esse campo de atuação através da
experiência de movimentos sociais negros nos fortalece, pois esses espaços se constituem como referências que
valorizam e empoderam seus sujeitos frente aos embates sociais, profissionais e educacionais que travamos durante
toda a nossa existência tatuada pela cor preta (MIRANDA, 2014), um marcador social de extrema importância na
história brasileira. A inserção no debate da militância para com essas questões favorece e possibilita a (re) significação
cada vez mais de nós, negras psicólogas, pois via apropriação de leituras que não nos apresentam ao longo de nossa
passagem pela academia e da história que nos é negada, criamos, pois, a possibilidade de resistência quando a
transformação da realidade nos é tomada: organizações de eventos relacionados à temática, a nossa própria
formação/conscientização que, outrora oprimida, vai permitir a libertação através do fortalecimento dos laços sociais
das/nas identidades negras, autoestima, autoimagem, bem como o (re) conhecer se, em meio às sociabilidades, as
relações das memórias, dos afetos e das afetividades, ao nos vermos representadas umas nas outras. Nessa sociedade
marcada pelo racismo e pelo sexismo, nós, mulheres negras, estamos no último patamar da pirâmide social,
aglutinamos esses três atributos, ser negra, ser mulher e ser pobre. Somos as que têm os piores empregos, recebemos
os mais baixos salários, sofremos a maior parte das violências, especialmente as de gênero e raça, e temos os piores
índices de maus tratos nos atendimentos de saúde, de mortalidade materna dentre outros. Audre Lorde (2014) nos
declara a importância do cuidado através da ruptura com o silêncio, por meio do exercício da fala, segundo ela a cada
palavra proferida para uma oura mulher se registra a possibilidade de aproximação. Podemos aprender a trabalhar e
a falar apesar do medo, da mesma maneira que aprendemos a trabalhar e a falar apesar de cansadas. (LORDE, 2014, p.
25). Assim, esse trabalho, por meio de nossos saberes localizados (Haraway,1995), pretende refletir e apresentar
nossas experiências militantes, enquanto um exercício de produção acadêmica, a partir do pertencimento e da
atuação em uma organização de mulheres negras, Candaces, o que levou, posteriormente, a formação do Coletivo
Maria Bonita de Psicólogas Negras, experiências essas em Juiz de Fora MG. Ocupamos posições subalternas e, de
maneira geral, somos criadas para cuidar dos outros, tal como nos relata Bell Hooks, O sexismo e o racismo, atuando
juntos, perpetuam uma iconografia de representação da negra que imprime na consciência cultural coletiva a ideia de
que ela está neste planeta principalmente para servir aos outros. (BELL HOOKS,1995, p. 468). Com base em todas
essas discussões nos preocupa muito que todo esse histórico de dificuldades e enfrentamento, por parecer solitário,
seja causa de adoecimento para as mulheres negras, nesse sentido Giane Almeida (2012), discute como o exercício de
compartilhamento das memórias são importantes nesse processo de construção da identidade das mulheres negras.
Portanto, pretendemos apresentar como por meio desses grupos nos foi possibilitada a experiência de cuidado mútuo
e, perante todas as formas de adoecimento que o racismo nos proporciona, encontramos a possibilidade de uma
experiência de promoção de saúde.

247
Referências
ALMEIDA, Giane Elisa Sales. Entre Palavras e Silêncios: Memórias da Educação de Mulheres Negras em Juiz de Fora
1950/1970. 2009. 286 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Fluminense, Programa de pós graduação em
educação. 2009.
HARAWAY, D. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial.
Cadernos Pagu (5), 1995, p.07-41.
HOOKS, Bell, Intelectuais Negras. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 464, 1995.
LORDE, Audre. A transformação do silêncio em linguagem e ação. Disponível em:
<https://www.dropbox.com/s/3q9u19p8tjkbk6m/Textos%20escolhidos%20de%20Audre%20Lorde.pdf> Acesso em 08
de março de 2014.
MIRANDA, Sheila Ferreira. Discutindo o racismo acadêmico sob a égide da psicologia social. In: BENTO, Maria
Aparecida da Silva. SILVEIRA, Marly de Jesus. NOGUEIRA, Simone Gibran. (Orgs). Identidade, branquitude e negritude,
contribuições para a psicologia social no Brasil: novos ensaios, relatos de experiência e de pesquisa. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2014, p.231-p.244.

248
O silenciamento também mata
Autores: Juliane do Nascimento Loreto, UFSM
E-mail dos autores: julianeloreto@gmail.com

Resumo: A ideia ao submeter este resumo é de contribuir para as reflexões sobre o papel que a Psicologia tem
cumprido neste processo de invisibilização do povo negro no meio acadêmico.
Há anos que o genocídio epistêmico vem sendo denunciado pelo Movimento Negro, como uma das formas de
manutenção do mito da democracia racial existente em nosso país. Em todas as áreas do conhecimento, é possível
perceber a euro centralização do saber, usando como ponto de partida um sujeito que, na maioria das vezes, é
homem, branco e heterossexual. Partindo disso, qualquer outra subjetividade possível acaba encontrando espaço
apenas nas descrições de transtornos, ou em históricos de famílias desestruturadas, condicionando esse ao lugar do
patológico, e/ou do não-normal.
Com o aumento de jovens negros, em especial das mulheres negras, no ensino superior, foi possível perceber uma
diferença nos trabalhos acadêmicos produzidos recentemente. Cada vez mais, cresce o número de produções sobre a
temática da etnicidade, não mais restritos aos debates setoriais, mas sim, proporcionando o debate afro-centrado.
Na área da saúde, podemos perceber o aprofundamento teórico em problemáticas específicas, como por exemplo, o
alto índice de hipertensão na população negra, oriunda da grande quantidade de sal consumida pelos escravizados. Já
na psicologia, tem crescido o número de trabalhos de conclusão de curso que falam do sujeito negro como ocupante
do espaço da alteridade na sociedade, uma vez que o negro é visto e tratado como o outro do branco, e a mulher
como o outro do homem, sobrando assim para a mulher negra o lugar de outro do outro. Esse movimento é essencial
para compreendermos o processo de formação da identidade de subjetividades fora do padrão, produzindo uma
identidade positiva para esses sujeitos historicamente marginalizados.
Partindo do ponto que os negros são a maioria da população brasileira, segunda censo do IBGE de 2011, admitir a
negligência da psicologia com esses sujeitos é constatar que a nossa área tem sido negligente com a maioria da
população do nosso país. Não há escrita de grandes autores sobre o ser negro, exigindo dos graduandos(as) uma
postura autodidata, acrescentando ainda mais obstáculos no caminho até o tão sonhado diploma. Professores mal
preparados também são um empecilho durante a formação, pois muita vezes o debate trazido é visto como fuga dos
temas centrais, sendo desconsiderado ou escanteado. A falta de materiais didáticos que abordem a temática também
é uma das principais queixas de estudantes negros em processo de graduação.
Sendo assim, é imprescindível reconhecer a importância de políticas públicas como as ações afirmativas, o Prouni e o
Reuni, como marcadores temporais na história das produções acadêmicas em nosso país. Os mais de 150 mil jovens
negros que acessaram a universidade através destas políticas serão verdadeiros instrumentos na mudança do cenário
do mercado de trabalho, cada vez mais representativo. É essencial que as produções do conhecimento acadêmico
brasileiro passem a ser cada vez mais afro-centrado, com protagonismo e legitimidade no lugar de fala, crucial para
acabar com as deduções e probabilísticas, e aumentar as produções que sejam fieis a realidade vivida por esses
setores da população.
Esses são alguns dos desafios encontrados no processo de enegrecimento de uma universidade que ainda se encontra
nos seus moldes primários, como um lugar restrito apenas para poucos. Em tempos de golpe, é preciso que saibamos
de onde vieram nossas conquistas, para poder garantir que os retrocessos sejam barrados, retrocessos esses que
serão custosos para o povo, em especial, ao povo negro.

249
Os impactos do racismo na saúde mental
Autores: Raquel da Silva Silveira, UFRGS; Henrique Caetano Nardi, UFRGS; José Ricardo Kreutz, UFPel; Míriam Cristiane
Alves, UFPEl
E-mail dos autores: raquelsilveira43@gmail.com,oba.olorioba@gmail.com,jrkreutz@gmail.com,hcnardi@gmail.com

Resumo: O racismo é uma determinação social em saúde que atravessa a produção de subjetividade contemporânea,
contudo, apesar da existência de uma produção científica consistente no campo biomédico sobre a relação entre
racismo e saúde mental, esses conhecimentos não têm sido incorporados nas práticas de atenção à saúde. No campo
das políticas públicas, os impactos das práticas racistas na saúde da população negra foram foco de investimentos e
diretrizes internacionais para eliminação do racismo. Foi nesse contexto que se estruturou, em 2007, no Brasil, a
Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Importante salientar que esses avanços foram conquistas dos
movimentos negros que lutaram pela elaboração das ações afirmativas para enfrentamento do racismo na sociedade
brasileira. Assim o objetivo deste trabalho é discutir os efeitos do racismo na saúde mental da população negra entre
usuários/as das Unidades de Saúde nas cidades de Porto Alegre e de Pelotas. No campo dos estudos da psicologia e da
saúde coletiva, pode-se definir a saúde mental como a tensão entre forças individuais (comportamento do indivíduo,
herança genética, adaptação) e ambientais (educação, rede de saúde, raça, etnia, cultura) que determinam o estado
de equilíbrio psíquico das pessoas. Nessa perspectiva, compreende-se que o racismo altera os processos de
subjetivação e de autoconceito da pessoa negra, desvalorizando a sua autoimagem devido à interiorização de um eu
ideal branco e europeu, provocando um sentimento de inferioridade. Aliado a isso, as práticas do racismo institucional
obrigam a população negra a um maior esforço para conseguir uma oportunidade de trabalho. Essa situação causa nas
pessoas negras frustrações psíquicas e emocionais, podendo gerar, com maior facilidade, um estado de tensão
permanente, angústia, ansiedade, distúrbios de conduta e de pensamento, bem como culpabilização individual diante
das discriminações vivenciadas nos diversos âmbitos da vida. Desta forma, o racismo produz a negação dos atributos
humanos das pessoas negras, impedindo-as de exercitar plenamente a sua cidadania. Neste trabalho, o referencial
teórico-metodológico embasa-se nas teorias das relações raciais da psicologia social crítica e nos estudos decoloniais.
Assim, compreende-se a subjetividade como uma categoria analítica que possibilita a compreensão da dinâmica e da
estrutura social a partir da indissociabilidade do individual e do coletivo. A noção de sujeito a partir da produção de
subjetividade analisa as relações de saber-poder que atravessam as relações sociais. O sujeito não é visto como uma
unidade psicológica autônoma, mas como um ser inscrito numa trama histórica que lhe oferece as condições para a
construção de si no registro do social. Trata-se de uma pesquisa quanti-qualitativa que pretende contribuir para a
construção de indicadores epidemiológicos e analíticos que fortaleçam as práticas de cuidado em saúde mental para a
população negra. Esta pesquisa é fruto de um trabalho em rede entre o Departamento de Psicologia Social e
Institucional/UFRGS, o Curso de Psicologia da UFPEL, a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre e a Secretaria
Municipal de Pelotas. Propõe-se a articular informações quantitativas e qualitativas, por entendermos a força política
das análises epidemiológicas para proposição e efetivação das políticas públicas. Utiliza-se dois instrumentos de
avaliação da saúde mental: o SRQ-20 (Self-Reporting Questionnaire), instrumento de rastreamento psiquiátrico para
transtornos mentais na sua versão brasileira e um questionário sobre condições de saúde e percepção sobre
experiências de racismo. Na perspectiva qualitativa, propõem-se a realização de grupos de discussão com usuárias/os
e profissionais das Unidades Básicas de Saúde das duas cidades. Até o momento foram realizadas 400 entrevistas e
saídas de campo em quilombo rural e Charqueadas na cidade de Pelotas. A análise das informações quantitativas
demonstra uma diferença significativa entre pessoas brancas e negras em relação à percepção do racismo, sendo a
vivência de situações de discriminação algo constante na vida das pessoas negras. Essas informações corroboram os
estudos sobre racismo institucional e a necessidade de produção de conhecimentos para seu enfrentamento.

250
Raça e degeneração na imprensa carioca dos anos 1920: o caso Febrônio Índio do Brasil
Autores: Hugo de Nilson Damasceno, UERJ
E-mail dos autores: hugodamasceno@id.uff.br

Resumo: Durante os anos 1920 a imprensa carioca se debruçou sobre Febrônio Índio do Brasil (1895-1984), um
indivíduo natural de São Miguel de Jequitinhonha (MG) e que havia chegado ao Rio de Janeiro quando contava cerca
de 14 anos de idade. A literatura a seu respeito informa que abandonou o lar devido aos maus tratos infligidos por seu
pai, reconhecido como alguém violento e que frequentemente agredia aos membros de sua família. Ao passar pela
Praça Tiradentes (RJ) e se envolver em um jogo de azar, Febrônio esgotou seus recursos financeiros e, este evento,
marcou o início de sua passagem composta por crimes de diversas ordens. No decorrer de sua passagem pela então
capital da República, Febrônio roubou, cometeu assassinatos, exerceu ilegalmente algumas profissões, como as de
médico e dentista, além de outras infrações. Sendo reincidente nos crimes que cometeu, atraiu a atenção de médicos
e juristas, interessados em compreender as razões que levam alguém a cometer crimes contra a ordem social vigente,
despertando também o interesse dos noticiários daquele período (1920 1929). Foram investigados três jornais:
Correio da Manhã, A Noite e O Paiz. O acesso a estes periódicos foi possível através da Hemeroteca Digital da
Biblioteca Nacional (http://memoria.bn.br/). Inicialmente realizou-se uma busca minuciosa em todos os números
destes jornais entre os anos citados. Após identificar as matérias, foram transcritos os principais trechos preservando a
linguagem ali presente. Levantou-se uma série de informações importantes à compreensão do caso: detenções,
crimes, vítimas, a posição das autoridades com relação a Febrônio. Paralelamente a estes dados, foi observado que os
noticiários, em especial O Paiz, muito utilizaram o termo degenerado ao se referirem a Febrônio. O termo
degeneração teve sua formulação mais acabada com o psiquiatra austríaco Bénédict Morel (1809 - 1873), em meados
do Século XIX. Antes de Morel, o termo era utilizado para designar variações étnicas e raciais da espécie. Este
psiquiatra formulou o termo degeneração reconhecendo-o enquanto alteração do biotipo do Homo Sapiens, mas, em
sua perspectiva, esta variação foi relacionada à patologia mental. Quase um século mais tarde, o termo degeneração
foi utilizado pelo psiquiatra brasileiro Heitor Carrilho (1890 1954) ao diagnosticar Febrônio como portador de uma
psicopatia constitucional. Segundo o relato de Carrilho e outros especialistas (médicos e juristas), Febrônio era um
indivíduo mestiço e, o debate acerca deste, ocorreu no início do século XX. O médico Leonídio Ribeiro (1893-1976), um
dos primeiros a estudar Febrônio, estabeleceu o componente racial como determinante, ao enfatizar que Febrônio era
um indivíduo mestiço, razão possível de seus crimes. O debate em torno da cor de Febrônio foi outro assunto muito
presente nas matérias daqueles jornais que, além de entrevistarem os especialistas, também dedicavam parte de suas
matérias aos depoimentos das vítimas e das testemunhas dos crimes. Nestes últimos, foram encontradas muitas
menções a mestiçagem de Febrônio. Peter Fry (1941 -), antropólogo inglês e comentador do caso, relatou que as
testemunhas e vítimas depunham como se trouxessem uma lição memorizada. Isto permite visualizar como a
sociedade do século passado percebia os indivíduos mestiços, apontando o preconceito racial como presente há muito
tempo e reforçado pela imprensa. A partir do que foi dito acima, pretende-se discutir como o debate racial foi sendo
enfatizado pela imprensa carioca no decorrer de suas manchetes sobre Febrônio e como a degeneração foi sendo
articulada a este debate. As manchetes, até meados dos anos 1920, pouco descreveram o protagonista dos crimes por
meio de termos alusivos a sua mestiçagem. A cor passou a ser enfatizada ao final dessa década, após Febrônio ter sido
acusado de exercer ilegalmente as profissões de médico e dentista e, também, identificado como assassino de dois
menores na Ilha do Ribeiro, um matagal próximo a estrada da Tijuca (RJ).

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Racismo na Saúde Pública: Os Mecanismos da Exclusão
Autores: Mônica Mendes Gonçalves, USP
E-mail dos autores: goncalvesmm@hotmail.com

Resumo: A raça é um fator estruturante das desigualdades e iniquidades em saúde. Os dados que apontam as
disparidades no perfil de adoecimento, mortalidade e acesso à saúde entre brancos e negros, emblemas das
discrepâncias nas condições de vida entre esses grupos raciais, evidenciam que os mecanismos que sustentam a
continuidade do racismo, da estrutura racializada e das diversas manifestações de discriminação e segregação racial
no Brasil seguem vigentes e atuam como era de se esperar também neste campo.
O presente trabalho aborda situações de racismo no sistema público de saúde. Parte-se do entendimento de racismo
como todo ato, pensamentos e o conjunto de manifestações, práticas (individuais ou coletivas) ou fatos sociais que
tenham como fundamento ou norma a ideia de inferioridade racial dos negros em qualquer ordem (física, moral,
estética, cognitiva, civilizatória, cultural, etc), mesmo quando a raça está implícita ou negada.
As situações, extraídas dos relatos de profissionais de saúde, são parte dos dados de pesquisa que investigou relações
raciais na saúde. O objetivo de trazê-las é discutir e entender de modo mais preciso os mecanismos através dos quais
se operacionalizam e concretizam comportamentos e condutas discriminatórias na saúde, uma demanda acadêmica e
científica importante no campo.
Nos orientamos pela perspectiva Sócio-Histórica para construir o entendimento do que seja raça, como fenômeno
social construído nas relações sociais, que carregam em si o marco da História. Seus desdobramentos no campo da
saúde, à mesma medida, são observados a partir da dialética universalparticularsingular. Com ênfase na relação
profissional de saúde-usuário no espaço na Atenção Básica, certa de que essa relação particular daria pistas das
relações raciais em esfera mais abrangente, analisou-se o discurso dos profissionais de saúde em relação a usuários
negros.
A análise do discurso, ferramenta metodológica através da qual examinam-se os casos, torna inteligíveis as metáforas,
eufemismos, metonímias e comparações que aludem à raça, direta ou indiretamente. A partir do pedido aos
profissionais que se lembrassem de um paciente negro que tivessem atendido na última semana, estabeleceram-se
diálogos. Destes, emergiram as seguintes cenas: um homem negro é internado, sofre maus tratos e sai da internação
desnutrido; crianças brancas são desabrigadas da mãe negra depois de uma única visita do conselho tutelar; é dada
alta a um paciente bipolar em crise, alegando-se que não poderia ser administrada nenhuma medicação contra sua
vontade; um jovem negro de 23 anos morre de suicídio depois de ter chegado no serviço há 5 anos com uma queixa
de insônia, tendo passado pela UBS/NASF, CAPS Adulto e CAPS Ad sem nunca ter sido assistido por nenhum desses
dispositivos; por fim, um homem branco em situação de rua passa por cirurgia sem passar pela fila. Em todos os casos
relatados há omissão, negligência, preterimento ou recusa no atendimento no atendimento a usuários que são
negros.
Por fim, as falas dos entrevistados dão um horizonte acerca dos modos como o racismo opera no campo da saúde, que
aqui podem ser sistematizados jamais normatizados em cinco elementos que parecem compor a totalidade dos casos
nesta amostra: 1) o racismo acontece sob pretexto retórico técnico-teórico. Os casos mostram haver regularmente um
argumento técnico teórico em que a discriminação se apoia, que fundamenta a ação racista; 2) o racismo opera dentre
falhas do sistema que não pertinem à raça, mas que ameaçam de maneira mais incisiva os sujeitos negros em função
de como sua racialidade os inscreve numa ordem social racista; 3) o racismo opera em rede, de forma
interinstitucional e intersetorial. Seu sucesso depende da atuação de diferentes atores e agentes dentro de uma
mesma instituição e, sobretudo, da atuação intersetorial desses agentes, em diferentes instituições e áreas de cuidado
e proteção. É a ação conjunta desses sujeitos e instituições que acaba tecendo barreiras de exclusão aos negros; 4) a
discriminação às vezes opera em negativo, ou seja, pelo seu reverso que é uma discriminação positiva. Trata-se da
discriminação indireta do negro pela eleição dos brancos, que são preferencialmente acolhidos pelo sistema de saúde;

252
5) são necessários pactos de silêncio e omissão para que a discriminação seja bem-sucedida: é preciso um pacto, nos
moldes como nos fala Bento, para que a discriminação possa acontecer.
Os casos relatados apontam a peculiaridade da formação social brasileira, na qual o racismo opera dentro de uma
política genérica e universal não concernente a raça, mas que opera em razão dela o tempo todo. Temos neles o
exemplo do que aqui nomeamos uma política em reverso e em negativo, criando espaços de poder ou privilégio para
os brancos ao invés de segregar explicitamente os negros. Operando de forma implícita e silenciosa, inscrita no campo
do não-dito, atua dificultando sua percepção, elaboração e enfrentamento. Sob recortes raciais invisíveis, impede ou
dificulta o acesso a direitos e a possibilidade do exercício de cidadania.

253
Reflexões no campo da saúde sobre racismo e branquitude
Autores: Henrique Caetano Nardi, UFRGS; Míriam Cristiane Alves, UFPel; Raquel da Silva Silveira, UFRGS; Sabrina
Gomes Nunes, UFRGS
E-mail dos autores: hcnardi@gmail.com, raquelsilveira43@gmail.com, sah.nunes@yahoo.com.br,
oba.olorioba@gmail.com

Resumo: O racismo constitui as relações de saber-poder de forma global, apresentando configurações singulares de
acordo com o país e a região. No Brasil, os estudos das relações raciais têm apontado especificidades que dificultam o
enfrentamento do racismo brasileiro, dos quais se destacam: o mito da democracia racial, as políticas de
branqueamento, o discurso da mestiçagem. No campo da saúde, políticas públicas têm focalizado o racismo como
uma determinação social em saúde, a partir de pesquisas que demonstram as iniquidades raciais que assolam nossa
sociedade. Importante destacar a contribuição fundamental dos movimentos de homens e mulheres negras na
consolidação de agendas nacionais e internacionais de enfrentamento ao racismo. A produção intelectual negra e
latino-americana tem visibilizado a necessidade de pesquisas que explicitem as relações de poder racializadas
presentes nos espaços acadêmicos e institucionais. Nesse contexto, o conceito de branquitude começa a ser
legitimado como um operador conceitual importante. O fenômeno da branquitude é caracterizado como os privilégios
de se ser branco/a numa sociedade racista. Aliado ao mito da democracia racial, às políticas de branqueamento que
impactaram nos modos de subjetivação do país e à distribuição desigual nas relações de poder que constitui a
produção de subjetividade brasileira, os efeitos da branquitude potencializam práticas de discriminação indireta e
negligência no reconhecimento de situações de racismo. Nesta direção, este trabalho tem o objetivo de discutir de
que forma o conceito de branquitude tem sido incorporado, ou não, nas pesquisas que abordam racismo e atenção à
saúde. O referencial teórico embasa-se na analítica foucaultiana das relações de saber-poder e nos estudos das
relações raciais no Brasil e no mundo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que propõe uma revisão narrativa dos
trabalhos encontrados nas bases de dados BVS e Scielo, a partir da publicação da Política Nacional de Saúde Integral
da População Negra. Destaca-se que este trabalho insere-se na articulação entre o Núcleo de Pesquisa em
Sexualidade e Relações de Gênero (Nupsex) e o Centro de Referência em Direitos Humanos, Relações de Gênero,
Diversidade Sexual e Raça (CRDH/NUPSEX) do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Partimos de uma perspectiva teórico-metodológica crítica que busca aproximar os estudos no campo das relações de
saber-poder da produção de subjetividade contemporânea (Michel Foucault, Donna Haraway, Maria Lugones) com os
estudos nacionais e internacionais no campo das relações raciais (Frantz Fanon, W.E.B. Du Bois, Guerreiro Ramos,
Albert Memmi, Patrícia Hill Collins, Sueli Caneiro, Maria Aparecida Bento). Esses e essas autoras convocam à produção
de conhecimentos situados, cientes das relações de saber-poder que atravessam qualquer pesquisa acadêmica. A
abordagem aqui apresentada integra a pesquisa intitulada Racismo, relações de saber-poder e sofrimento psíquico,
que foi concebida e está sendo desenvolvida em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde de Porto Alegre e de
Pelotas, com apoio do CNPq, no período de 2015 até o momento. Acredita-se que a produção de conhecimentos que
visibilize os impactos da branquitude na perpetuação do racismo seja fundamental para tensionamento das formações
acadêmicas que reproduzem de forma acrítica a concepção de universalidade e abstração do sujeito de direitos.

254
Resistência!
Autores: Emmanuella Marlene Calazans Lino Clarindo Nascimento da Silva, UNESA; Alline Aparecida Pereira, UFF; Ana
Carolina Bustamante Dias Souza, UFJF; Fabiana Lemos Sant' Ana, UFJF; Flávia de Paula Carvalho, Prefeitura de Juiz de
Fora; Sarah Zigler de Oliveira Silva, UFJF
E-mail dos autores: emmanuellacalazans@hotmail.com, carolbustamanted@hotmail.com,
alline__pereira@hotmail.com, fabianalemos@rocketmail.com, flaviapc2011@oi.com.br, sarah-ziegler@live.com

Resumo: "Mulher negra é problema, é intensa, é dilema./Carrega nas costas filhos, marido, estudos, trabalho, casa, o
mundo./Lava, passa, cozinha, todo dia na lida./Vai, vem, entra e sai sem ser percebida./Quem se importa com a sua
rotina? Com a sua estória de vida?/Quem nota por trás do sorriso a dor?/Quem percebe por trás da risada frouxa a
agonia entalada na garganta? /O seguir em frente sem esperança!/O medo de não ser respeitada!/Ahhh! Negra
metida, tá achando que o diploma te tornará alguém na vida?/Pode até ser; mais dia, menos dia./Mas antes de querer
aparecer, vem cá, vai lá, limpa a casa, cuida de tudo, faz o almoço, prepara a marmita./Faz a tarefa com as crias, leva
pra escola, vai pro trabalho, limpa esse chão direitinho./Almoça rápido, pode ser pelo caminho./Pega os filhos na
escola, leva pra vizinha olhar, bora, não se enrola, na hora de fazer não reclamou. Corre pra não se atrasar, senão o
patrão vai te dispensar./Se esconde no banheiro e chora baixinho, tem relatório, projeto, prova a caminho./Não tem
jeito, não vai dar tempo./Vai correndo, pega o busão lotado, cheio de nego suado, que não foi agraciado com aquilo
que pra você as vezes é fardo./Estuda, estuda, não dorme na aula./Não faz como sua amiga branca, que mata aula e
não se importa com a nota./O futuro dela já tá garantido, seja pela herança do pai ou pelo dinheiro do marido./O seu
ainda será sofrido./Não enrola./Não vai nessa de um "chopp" depois da aula./Anda, vai embora, teus filhos já estão
dormindo e teu marido te esperando aflito na cama./Tem que relaxar e te aguarda pra satisfazer o prazer dele na
cama./Fica mansa, não reclama./Lá fora tem um monte de mana querendo ter um homem como esse na cama./Não
faz drama./Foi você que inventou esse lance de diploma./Agora não adianta./Ou larga tudo ou segue em frente,
resiliente./Daqui a pouco o despertador te chama e aí tu já sabe qual é o programa./Não banca a inconformada, a
revoltada./Foca nos seus filhos, no futuro./Um dia você vai dar risada disso tudo, e pendurar na parede esse bagulho,
que fará seus filhos de ti sentir orgulho.
Aqui se encontra uma manifestação cultural em forma de poema. Eis o lugar de fala, onde o eu-lírico se confunde com
muitas de nós, pretas mulheres! Nos apresentamos, pois, a vocês: pretas, acadêmicas, graduandas em Psicologia,
Psicólogas, Pedagoga e Geógrafa. Unidas, demos início a nossa caminhada, onde estamos (re) escrevendo a nossa
história, nos (re)conectando com as guerreiras que existem em nós. "Eu sempre tenho dito que a minha condição de
mulher negra marca a minha escrita, de forma consciente inclusive. Faço opção por esses temas, por escrever dessa
forma" (EVARISTO, 2005). Escrevemos, assim, aqui, sobre o que vivemos; antes em conflito; vivíamos em solidão, hoje
experienciamos a coletividade, a representatividade, um conflito menos doloroso: Ubuntu ("Eu sou porque nós
somos")! E assim, a possibilidade da promoção de saúde, a partir de práticas de cuidados que construímos entre nós,
nos permite "encontros", construção de reflexões. "Essas escritoras buscam na história mal-contada pelas linhas
oficiais, na literatura mutiladora da cultura e de dos corpos negros, assim como em outros discursos sociais elementos
para comporem as suas escritas.". (EVARISTO 2005). Fanon (1975, apud PEREIRA, 2001) ao discursar sobre como a
criação do imaginário dos negros tende a interferir na formação de uma imagem de nós mesmos e nossos próprios
corpos, já que esse é construído de forma a reforçar a desumanização e abjeção dos mesmos, ajuda-nos a
compreender como o olhar racista lançado sobre nós, acaba nos aprisionando através de estereótipos que nos
apresentam como figura suspeita e estranha ao contexto cultural e social . A escrita nesse sentido pode servir como
arma de libertação, pois a partir dela é possível que nos expressemos naturalmente, sem os grilhões das projeções que
são incorporadas à linguagem e forma como nós negros somos representados.

255
Referências:
BALISA, Fernanda Francisca; DAVID, Nismária Alves. A violência urbana e a mulher no conto de "Maria" de Conceição
Evaristo. Universidade Estadual de Goiás - UEG - Câmpus Posse. 9-Mar-2017.

EVARISTO, Conceição. Gênero e etnia: uma escrevivência de dupla face. In: BARROS, Nadilza Martins de,
SCHENEIDER, Liane (Orgs.). Mulheres no Mundo: Etnia, Marginalidade e Diáspora. João Pessoa: Idéia, 2005.

PEREIRA, Edimilson de Almeida; GOMES, Núbia Pereira de Magalhães. Ardis da Imagem. Belo Horizonte: Mazza
Edições, Editora PUCMinas, 2001.

LUZ, Natália da. Ubuntu: filosofia africana que nutre o conceito de humanidade em sua essência. Disponível em :
http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/ubuntu-filosofia-africana-que-nutre-o-conceito-de-humanidade-em-sua-
essencia . Acesso em: 9 Jul, 2017.

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GT 12 | Ecologias e Políticas Cognitivas

Coordenadores: Arthur Arruda Leal Ferreira, UFRJ | Carlos Baum, UFRGS | Rafael Diehl, UFPE

O GT Ecologias e políticas cognitivas foi criado em 2013 por ocasião do XVII Encontro Nacional da Abrapso realizado
em Florianópolis/SC. Naquela oportunidade acolheu 18 trabalhos de pesquisadores de diferentes regiões do Brasil.
Como resultados desse primeiro encontro temos a proposta de dar continuidade ao grupo de trabalho nos próximos
en o t osà daà á apsoà eà aà pu li aç oà deà doisà dosà t a alhosà ap ese tadosà oà li oà P ti asà eà sa e esà psi:à osà o osà
desafiosà à fo aç oà doà psi logo ,à olet eaà deà te tosà sele io adosà doà E o t oà e à Flo ia polis.à Ca eà salie ta à
também que esse GT tomou como base para sua proposição inicial o Grupo de Pesquisa, de mesmo nome, registrado
no diretório do CNPq. Este Grupo de Trabalho tem como objetivo constituir um espaço de acolhimento e de trocas de
saberes para aqueles que, de alguma maneira em seus interesses de ensino, pesquisa, extensão e criação, enfocam os
diversos âmbitos dos fazeres coletivos na instauração de modos de conhecer e suas implicações éticas, técnicas e
políticas.
O GT Ecologias e políticas cognitivas tem como um de seus pressupostos epistemológicos a concepção do conhecer
como processo corporificado e localizado. Tal ponto de partida exige a consideração da condição de observador e a
decorrente noção de políticas cognitivas, no sentido de que nossas práticas de formação, produção e divulgação de
conhecimento engendram diferentes formas dos sujeitos articularem os jogos de verdade, as normas e procedimentos
e as experiências de si mesmo. Nesse desenho, a questão da técnica se torna crucial porque, muito além de saber se
determinados mecanismos funcionam ou não, precisamos descrever e problematizar os efeitos e produtos de tais
mecanismos na criação de espaços comuns (públicos) e na produção de subjetividades.
A proposta do GT dialoga com o tema do Encontro na medida em que se propõe a pensar a Psicologia Social como
campo de saber e sua relação com os desafios ético-políticos atuais. Essa abordagem reforça a pergunta sobre o que
fazemos nos variados espaços institucionais que nos levam a esse Encontro e de que maneira temos conseguido, com
nossos dispositivos de pesquisa, extensão e de criação, abarcar tais desafios. A centralidade da questão da técnica e da
ação permite que nos aproximemos do conceito de dispositivo, aqui entendido no sentido de configuração
heterogênea que modula a relação entre seres viventes e o caráter técnico das diversas instituições e mecanismos que
compõem nossa vida social. Entendemos que tal conceito é abrangente o bastante para acolher diversas discussões e
questões sobre os modos de produção de saberes/conhecimento nos diversos espaços institucionais ou não.
Dessa forma, este GT se relaciona com o eixo temático Insurgências ético-estético-políticas: artes, tecnologias e
subjetivação, porque toma a articulação entre saberes, tecnologias e organização social como um eixo privilegiado de
discussão de diversas temáticas atuais, principalmente quando consideramos as tecnologias de informação e
comunicação e as novas formas de publicação e de interação instituídas na internet e novas redes sociais. A intenção é
avaliar como os novos dispositivos tecnológicos, que passam pelas novas tecnologias de informação, mas tomam
outras redes sóciotécnicas geram novas formas de subjetivação num modo de produção não apenas passivo, mas que
incluem formas singulares de apropriação e resistência. A modalidade de oficinas tem espaço neste GT, na medida em
que é entendida como metodologia de trabalho em pesquisas e intervenções. O estudo e a proposição de
metodologias participativas abre um campo de análise de encontros humanos que tem ao menos dois eixos técnicos:
o primeiro enfoca os corpos humanos e sua representatividade, entendida aqui como uma intersecção do cognitivo
com o político, e o segundo se refere aos objetos que servem de suporte para nosso domínio simbólico, tais como
artefatos técnicos digitais e analógicos e suas operatividades na organização de encontros e instituições humanas.
Nessa direção, localizamos a problematização dos dispositivos grupais na relação entre os diversos âmbitos
institucionais nos quais interagimos e com os quais podemos propor desenhos de experimentação na extensão,
pesquisa e ensino. Tais metodologias coletivo-participativas se mostram bastante fecundas quando desenhamos
propostas de ensino, pesquisa, intervenção e criação que sejam efetivas na aproximação dos públicos das
comunidades de abrangência das universidades para a discussão do acesso e participação nos domínios de
compartilhamento como a produção científica, o âmbito social legislativo e representativo e as mídias. O ponto
comum dessa articulação são os fazeres compartilhados e a função da técnica, que podem modular o grau de
protagonismo e participação nas esferas de conhecimento, regulação e expressão. Um dos desafios nesse contexto é
conseguir apontar de que maneira as configurações dos dispositivos modulam o que podemos chamar de eixo
dominação-práticas de liberdade.

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Tendo isso em vista, o GT acolhe trabalhos que de alguma maneira coloquem a questão da técnica relacionada aos
desenhos de dispositivos de extensão, pesquisa, ensino, criação e suas relações com as políticas públicas, atentando
para os efeitos nos três eixos em que os dispositivos podem ser pensados: um eixo ético que se refere à relação
consigo mesmo, ou seja, um eixo privilegiado de produção de subjetividade que coloca em questão como cada um faz
a experiência de si frente às normas e jogos de verdade estabelecidos; um eixo de relações de poder que abarca as
técnicas de gestão, possibilidades de participação e tecnologias de governo; e um eixo relacionado aos saberes, no
sentido dos regimes de visibilidade e enunciabilidade, abarcando o que podemos chamar de uma ecologia de saberes.
De maneira geral, podemos exemplificar algumas possibilidades:
- Trabalhos que problematizem a relação teoria e prática no âmbito da formação e na construção de dispositivos de
extensão, pesquisa, ensino e criação.
- A atual discussão sobre os mecanismos regulatórios da ética em pesquisa e a particularidade das ciências humanas e
sociais.
- Integração de tecnologias de informação e comunicação em diversos campos, com uma problematização das
implicações éticas, políticas e efeitos numa ecologia de saberes.
- Dispositivos grupais e metodologias participativas em seus variados desenhos.
- Oficinas como metodologia de extensão, pesquisa, ensino, criação.
- Projetos de intervenção urbana através de dispositivos tecnológicos e participativos.
- A cidade como ecologia cognitiva e vivencial e suas implicações frente às esferas pública e privada.
- Mídias, participação e expressão de segmentos vulneráveis da população e suas relações com as políticas públicas

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O dispositivo-formação em psicologia e as práticas medicalizantes
Autores: Geise do Socorro Lima Gomes, UFPA
E-mail dos autores: geise.gomes@hotmail.com

Resumo: os processos de medicalização vêm passando por modulações em diferentes esferas da vida, produzindo
subjetividades e práticas de poder que ora incitam e operam regulações tanto em termos individuais quanto
populacionais. Assim, não só as doenças, mas os diferentes modos de produzir saúde tem sido alvo de práticas
medicalizantes e essas intervenções têm ajudado a construir a sociedade em que vivemos, nossos modos de ser e de
sermos governados. Os efeitos de saber e de poder oriundos desses processos, bem como a generalização dos saberes
médicos em diferentes espaços da vida tornaram-se temas investigados pelo filósofo francês Michel Foucault ao
ampliar seus estudos acerca das modulações do poder e ao incluir as práticas de medicalização como estratégias de
governamentalidades. No campo educacional temos visto alguns trabalhos sendo desenvolvidos questionando o uso
dessas práticas, sobretudo, na educação infantil e críticas lançadas à psiquiatria, a algumas correntes teóricas
psicológicas, às pedagogias etc. A partir das inquietações advindas desses estudos, resolvemos transformar essa
preocupação em tema de pesquisa para doutorado, que foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em
Educação na Universidade Federal do Pará. A pesquisa consistiu em investigar a formação em psicologia oferecida pela
Universidade Federal do Pará, concentrando-se nos modos como os processos medicalizantes incidiam sobre o
currículo materializado no Projeto Político Pedagógico reelaborado em 2010. Desse modo, tomamos como questão
norteadora: de que modo se constitui o dispositivo-formação em psicologia a partir de documentos que engendram
as relações de saber, poder e subjetivação incitando práticas medicalizantes? A relação que esse trabalho encontra
com o GT Ecologias e Políticas Cognitivas é a preocupação com as práticas e saberes produzidos pela formação em
psicologia na atualidade. Apesar de focarmos em um caso específico de formação, a pesquisa traz elementos que são
levantados por outras pesquisas no âmbito nacional, fazendo reverberação com as problematizações suscitadas no
desenrolar dessa pesquisa. Ressaltamos o uso da pesquisa como elemento de intervenção tanto nos documentos
escolhidos para análise: os documentos de domínio público, os documentos produzidos pelas entrevistas e rodas de
conversas quanto à maneira em que fizemos essa pesquisa circular em diferentes locais, não só nos eventos
científicos, mas nas atividades desenvolvidas com o grupo de pesquisa Transversalizando em parceria com o Conselho
Regional de Psicologia PA/AP, ampliando as conversas e debates sobre o tema estudado e as análises de implicação da
pesquisadora durante esse processo.
O referencial teórico-metodológico utilizado para perscrutar esses objetivos concentrou-se na produção teórica
arquegenealógica do pensador francês Michel Foucault, utilizando como principais operadores analíticos os conceitos
de: dispositivo, saber, poder, governamentalidade, norma, medicalização. Na temática do currículo, alinhamos esse
referencial aos estudos curriculares que tomam essa mesma perspectiva como disparador analítico, tais como
encontramos nos autores: Veiga-Neto, Silvio Gallo, Sandra Corazza, Tomaz Tadeu e Thomas Popkewitz.
O estudo se pautou em análise documental proveniente de documentos de domínio público e documentos produzidos
a partir de rodas de conversas e entrevistas individuais com professores e estudantes. Logo, o estudo se desenvolveu
em dois momentos: 1) Dispositivos-formação I: a) documentos que compõem a esfera nacional que ajudaram na
construção do Projeto e b) documentos que compõem a esfera local na construção do Projeto Pedagógico. E 2)
Dispositivos-formação II: análise dos currículos lattes dos professores dos professores da faculdade de psicologia da
UFPA e análise dos documentos orais a partir das rodas de conversas: 1 roda mista com professores e estudantes e
duas com apenas os estudantes; e entrevistas individuais com 7 professores. Conclui-se com a pesquisa que a
formação em psicologia atuando na configuração de um dispositivo tem seus pontos de sedimentação, mas também
lugares de fraturas. Desse modo, reverbera na formação em psicologia da UFPA, elementos heterogêneos que durante
a história da formação das psicologias no Brasil pontuaram e atualizaram práticas medicalizantes. Na multiplicidade
das relações de poder essas práticas também são questionadas, ampliando o foco das práticas médicas para as
práticas da psicologia dentro do campo das governamentalidades. Contudo, um dos efeitos redutores dos processos
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de diferença nessa formação na UFPA tem sido visualizado na pouca incidência dada aos aspectos regionais, que
poderiam trazer a especificidade da produção de conhecimento a ser desenvolvida na Região Amazônica. As
resistências às práticas de medicalização ganharam visibilidades nos movimentos de contrapoderes destacados nos
enunciados discursivos sobre a crítica aos efeitos de algumas dessas práticas; às interferências do capitalismo e da
mídia; na crítica da inserção de disciplinas das áreas de biomédicas que não dialogam com a psicologia; na implicação
de professores que tentam pensar essas práticas no cotidiano das aulas e demais atividades acadêmicas.

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Pesquisando com(o) o GIP - Em favor de novas políticas cognitivas
Autores: Rosimeri de Oliveira Dias, UERJ; Heliana de Barros Conde Rodrigues, UERJ
E-mail dos autores: rosimeri.dias@uol.com.br,helianaconde@uol.com.br

Resumo: Embora o nome Michel Foucault esteja associado, no campo psi, a inúmeras reflexões em variadíssimos
campos de atuação – saúde, saúde mental, educação, políticas públicas, justiça, movimentos sociais etc. –, é ainda
raro que suas propostas epistemológico-metodológicas recebam uma atenção mais singular, ou seja, menos
declaratória de princípios abstratos. Quanto a isso, cumpre lembrar que não há livro ou curso de Michel Foucault em
que este não dedique um capítulo ou aula a seus procedimentos metodológicos . Nem por isso, é claro, o filósofo se
torna um mero metodólogo , conforme a aguda crítica do sociólogo Howard Becker a essa figura científico-
profissional; mas, justamente por isso, os que costumam armar-se de ferramentas foucaultianas deveriam estar
atentos àquilo que Michel Foucault efetivamente praticou em suas pesquisas, já que tais práticas são inseparáveis do
que se costuma designar como seu pensamento .
Neste trabalho, nossa atenção se voltará para um campo dito da militância de Foucault e, por isso mesmo, ainda
menos explorado metodologicamente do que aqueles considerados mais acadêmicos: referimo-nos à criação do
Grupo de Informação sobre as Prisões e aos modos de ação desenvolvidos via tal dispositivo. Ao contrário do que
possa parecer à primeira vista, as pesquisas e ações do GIP foram sempre acompanhadas de uma discussão
metodológica estrita, o que nos leva a pensar que sua análise possa contribuir para o engendramento de novas
políticas cognitivas, sendo, consequentemente, de interesse para o GT ao qual submetemos o trabalho.
Como resumo da discussão que desejamos propor, trazemos aqui parte do publicado na primeira brochura de autoria
do GIP. Em maio de 1971, a contracapa de Pesquisa sobre 20 prisões afirma: São intoleráveis: os tribunais, os
policiais, os hospitais, os asilos, as escolas, o serviço militar, a imprensa, a TV, o Estado e principalmente as prisões . O
miolo do texto acrescenta a esta lista a medicina do trabalho e as universidades.
Após vincular as chamadas pesquisas-intolerância àquelas realizadas sobre a condição operária pelos próprios
operários no século XIX, L intolérable nr. 1 as caracteriza mediante quatro pontos, jamais abandonados pelo GIP e que
constituíram a única forma de adesão necessária para quem desejasse integrar-se ao grupo.
Primeiro ponto: as pesquisas-intolerância não se destinam à atenuação de um poder mediante melhorias
organizacionais, mas a atacar tal poder onde ele se exerce sob outros nomes (justiça, técnica, saber, objetividade).
Esse anti-reformismo confere a cada uma das investigações do GIP o caráter de ação direta.
Segundo: as pesquisas-intolerância visam alvos precisos, instituições com nome e lugar, gestores, responsáveis,
dirigentes. Elas dizem quem fez o que, como e quando, tornando-se assim o primeiro episódio de uma luta,
eventualmente prolongada, mas desde sempre luta.
Terceiro: as pesquisas-intolerância agrupam camadas que o jogo das hierarquias sociais e dos interesses econômicos
procura manter separadas. Buscam, portanto, derrubar as barreiras entre prisioneiros, advogados e magistrados; ou
entre médicos, doentes e pessoal hospitalar, como será tentado pelo Grupo Informação Saúde (GIS) pouco tempo
depois. Cada pesquisa deve ser um front de ataque.
Quarto ponto: as pesquisas-intolerância não são feitas a partir do exterior por um grupo de técnicos. Os pesquisadores
são os próprios pesquisados, aos quais cabe tomar a palavra, derrubar os tabiques, dizer o que é intolerável e não
mais o tolerar.
Como se pode perceber, nem esta primeira brochura nem qualquer das outras publicadas pelo GIP se confundirá com
um relatório de pesquisa – de pesquisa-curiosidade , como a sociológica ou psico-sociológica, por exemplo. Não há
coleta de dados , pois estes (que por sinal nunca são dados ) não emergem somente depois do processo, no texto-
relato do pesquisador, mas no próprio ato, aliás não-oficial, de fazer entrar questionários nas prisões, com todo o risco
implicado nessa indocilidade.
Tudo isso nos leva novamente a afirmar a adequação de nossa proposta ao GT Ecologias e Políticas Cognitivas, dado o
interesse que este revela por temas como a atual discussão sobre os mecanismos regulatórios da ética em pesquisa.
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Pois justamente por nos impressionar o caráter processual-ativo-conflitual das investigações desenvolvidas pelo GIP –
inspiradas, vale lembrar, naquela desenvolvida por Marx sobre a condição operária – é que desejamos indagar se
práticas como essas são ainda possíveis (ou mesmo pensáveis) dentro do quadro ético (ou seria moral?) hoje
proposto para as pesquisas que envolvam seres humanos.
Por fim, cumpre apontar para a codificação que Michel Foucault virá a fazer, no curso Em defesa da Sociedade (1976),
das investigações levadas a efeito pelo GIP, associando o documento nunca antes lido – uma erudição inútil ,
blocos de saberes históricos a cargo do acadêmico – ao saber das pessoas – saberes locais, desqualificados pelas
hierarquias científicas, incapazes de unanimidade. Quando o filósofo chama tal acoplamento de genealogia, divisamos
um saber histórico das lutas; melhor dizendo, saberes clandestinos ou desacomodados, aptos a nos desprender de
pesquisas e universidades que eventualmente se querem sem partido . Novas políticas cognitivas frente aos desafios
ético-políticos da atualidade?

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Políticas cognitivas, produtivismo acadêmico e fotografia
Autores: Luana Schmitz, UFRGS; Larissa Bello Guedes, UFRGS; Vanessa Maurente, UFRGS
E-mail dos autores: luanaxmt@gmail.com,larissa.bello.guedes@hotmail.com,vanessamaurente@yahoo.com.br

Resumo: O atual modo de produção de conhecimento acadêmico no Brasil aponta para um cenário de crescente
competição entre programas de pós-graduação e pressão por parte de agências financiadoras. Ao adotar
determinados indicadores e métricas objetivas para a avaliação da produção científica, a CAPES objetiva fomentar a
qualidade e a transparência na utilização dos recursos públicos. No entanto, é possível que tais critérios acabem por
moldar o trabalho acadêmico, constrangendo-o a seus parâmetros sem obter tais garantias, além de indicarem
atravessamentos de uma lógica utilitarista e meritocrática.
A partir da discussão sobre políticas cognitivas proposta por Kastrup (2001), podemos considerar que este modo de
produção acadêmico reproduz a abordagem cognitivista característica da política recognitiva. Isto porque, ao
condicionar o repasse de recursos à produção de resultados, institui uma lógica que toma a cognição como processo
de solução de problemas, e sujeito e objeto como pólos dicotômicos. Na política inventiva, a aprendizagem é um
processo que se dá a partir da experiência de problematização pela capacidade da cognição de diferir de si mesma e
cujos produtos não podem ser totalmente previstos. Ela se dá no plano da produção de subjetividade, no qual sujeito
e objeto são efeitos da invenção.
Assim, levando em conta a condição política inerente à produção de conhecimento, esta pesquisa-intervenção intenta
o acionamento de formas inventivas de conceber, expressar e compartilhar práticas invisibilizadas no atual contexto
de produção acadêmica. Utilizamos a fotografia como dispositivo de análise e problematização de práticas na ciência.
Devido a sua hibridicidade epistemológica, situada semioticamente como ícone, símbolo e índice, consideramos que a
fotografia ocupa uma posição estratégica nos regimes de verdade, pois, embora seja comumente compreendida como
representação da realidade, também pode produzir torções em discursos instituídos.
Dez estudantes de pós-graduação participaram da pesquisa. Destes, duas eram doutorandas da área da Educação, em
processo de produção de suas teses, que tinham como referencial teórico autores da filosofia da diferença. Ambas
tomavam a si mesmas como objeto de estudo, utilizando criações artísticas próprias. Em nosso primeiro encontro,
discutimos práticas acadêmicas, bem como a epistemologia e as possibilidades de expressão pela fotografia. As
participantes relataram vivenciar e perceber sofrimento psíquico relacionado ao trabalho acadêmico, bem como
dificuldade em legitimar suportes menos convencionais, como a fotografia ou o desenho. Foi solicitado a elas que
fotografassem aquilo que, do seu trabalho, não era reconhecido pelas políticas de avaliação atuais.
Uma das estudantes demonstrou preocupação com a possibilidade de que as imagens não fossem aquilo que a
pesquisadora queria , evidenciando tanto efeitos de autoridade desta quanto um processo de subjetivação baseado
na lógica de resultados, inerente à política recognitiva. A estudante também encaminhou, junto às fotografias, um
artigo acadêmico e uma dissertação de sua autoria. Tal encaminhamento nos permitiu analisar sua experiência em
relação ao discurso acadêmico hegemônico, no qual a produção verbal deve legitimar outros tipos de produções,
como as estéticas; além disso, tem relação com o regime recognitivo naquilo que toma a linguagem verbal como meio
de apreensão de uma realidade a ser reconhecida pelo pesquisador, constrangendo de antemão a produção de
sentidos múltiplos.
As estudantes buscaram trazer para a discussão a dimensão processual de seu trabalho denotando o fora de suas
pesquisas: momentos de pausas, devaneios, encontros e impasses. São situações que não encontram lugar no texto
acadêmico, marcado menos pelo processo e mais pelo certo ou errado teóricos. Podemos pensar que a
experiência de si do pesquisador se atualiza na produção da pesquisa e a produção da pesquisa desdobra efeitos no
pesquisador, de modo que a separação entre o âmbito da pesquisa e o âmbito da vida parece bastante artificial.
Considerando que as pesquisas das estudantes em questão se produziram a partir do campo teórico da filosofia da
diferença, o rompimento com noções de verdade e neutralidade com a pressuposição de que a experiência do
pesquisador possa passar invisível torna-se ainda mais evidente. Por outro lado, tomar o próprio corpo enquanto
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objeto de pesquisa também produz aproximações com regimes de trabalho neoliberais, que engolfam o tempo e o
espaço do trabalhador, borrando as bordas entre trabalho e ócio.
Encontramos, nas fotografias, uma virtualidade que sustenta possibilidades inventivas, na medida em que se deslocam
da racionalidade e do formato acadêmico e atentam para o invisível dos processos. A fotografia foi um dispositivo de
problematização ao possibilitar torções na temporalidade narrativa e nas lógicas instituídas, ao capturar elementos do
cotidiano das pesquisadoras para produzir novos sentidos e relações.
Entretanto, tal afirmação não aponta para uma homogeneidade do trabalho com fotografia. As imagens produzidas
expõem práticas recognitivas e experiências inventivas relacionadas aos processos de produção das teses e das
pesquisadoras, e indicam diferentes atravessamentos. Ainda é necessário complexificar o entendimento sobre as
formas como se dão as relações entre paradigmas científicos, regimes de trabalho e políticas cognitivas na instauração
de modos de conhecer e na produção de subjetividade.

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Privacidade e Visibilidade: algumas questões articuladas com os dispositivos tecnológicos no mundo do trabalho
Autores: Ana Paula da Cunha Rodrigues, UFRJ; Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro, UFRJ
E-mail dos autores: apcunhar@gmail.com,rosapedro@globo.com

Resumo: O campo problemático dessa pesquisa se articula em torno do mundo do trabalho, a partir de seu
atravessamento pelas tecnologias, buscando explorar as dinâmicas de visibilidade e suas ressonâncias nos processos
de subjetivação, com foco no tema da privacidade. Nossas reflexões se fazem em interlocução com os estudos CTS, em
especial com a Teoria Ator-Rede, além de se apoiarem em pesquisa de campo em andamento, tomando como porta
de entrada a rede LinkedIn – uma rede social de relacionamentos profissionais.
Quando nos voltamos especificamente para os dispositivos tecnológicos disponíveis hoje no mundo do trabalho,
podemos afirmar que, por um lado, a tecnologia surge como facilitadora para os profissionais em seu dia a dia,
possibilitando o acesso à informação em tempo real, aproximando distâncias geográficas, permitindo a conexão 24h, e
o trabalho remoto. Nesse sentido, é possível afirmar que as tecnologias acabaram por cumprir, pelo menos
parcialmente, a promessa de devolver ao trabalhador parte do seu tempo livre .
Por outro lado, ou do mesmo lado, essas mesmas tecnologias acabam por engendrar constantes rearranjos no modo
como esse trabalhador experimenta o seu cotidiano, exigindo uma reorganização constante e em tempo real de
agenciamentos como flexibilidade, tensão e prazo (LÉVY, 1993). Assim, os profissionais desse novo mundo do
trabalho passam a incorporar os valores do mundo corporativo aos seus modos de ser e existir na atualidade,
delineando contornos próprios aos processos de subjetivação contemporâneos.
Dentro desse quadro, um aspecto que vem chamando a atenção são os modos pelos quais as tecnologias vem
operando cada vez mais como ferramenta de controle e monitoramento. Isso tanto pelas organizações – pelo uso de
crachás eletrônicos, ou biometria que registram o horário de entrada e saída dos profissionais nos escritórios, ou
mesmo através do controle virtual, pela possibilidade de monitoramento do acesso remoto, uma vez que os
computadores estão interligados a rede corporativa –, como pelo próprio mercado, uma vez que os chamados
headhunters cada vez mais se utilizam das redes sociais para identificar candidatos.
Uma dessas redes, o LinkedIn, se configura especificamente como uma rede de relacionamentos profissionais e se
destina a estimular o networking. Nessa rede, os usuários registram os dados de sua trajetória profissional, como
formação acadêmica, experiência profissional, contemplando datas de entrada e saída na empresa, cargos ocupados,
realizações profissionais, principais competências, conhecimentos, domínio de idiomas, dentre outros. Assim, ao
visibilizar ao máximo as competências e habilidades dos usuários, bem como suas conexões com outras redes, o
LinkedIn possibilita que se problematizem questões acerca das temáticas da privacidade e da visibilidade nos modos
de subjetivação contemporâneos. Encontramos no campo algumas pistas de como a gestão corporativa que opera no
LinkedIn põe em cena o tema da privacidade, o que nos levou a outras questões, tais como o uso de dados pessoais
(BAUMAN, Z., LYON, 2013), a responsabilidade, o controle e, sobretudo, a naturalização da visibilidade como algo
inerente aos novos dispositivos tecnológicos.
Ao questionarmos os entrevistados sobre o uso que as empresas fazem de nossos dados pessoais ao acessarmos a
internet ou uma rede social, alguns entrevistados consideram a ausência de privacidade como inerente ao uso dessas
ferramentas, apontando para uma espécie de naturalização desse uso.
Partilhamos com os estudos CTS e com a Teoria Ator-Rede a diretriz de que, para compreender esses processos, é
preciso atentar para as associações entre os actantes humanos e não humanos, pois também estes estabelecem
conexões e participam do curso da ação. Assim, nossa proposta, orientada pela TAR, é rastrear as associações
reforçando a importância das conexões, dos atores, dos mediadores (LATOUR, 2012).

265
Referências:
BAUMAN, Z., LYON, D. (2013). Vigilância Líquida: diálogos com David Lyon/Zygmunt Bauman. (tradução Carlos Alberto
Medeiros, Org.). Rio de Janeiro: Zahar.
LATOUR B. (2012). Reagregando o Social: uma introdução à teoria do ator rede. Salvador, BA; Bauru, São Paulo:
Edufba; Edusc.
LÉVY, P. (1993). As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na área da informática. (tradução Carlos Irineu
da Costa, Org.) (2a (2010)). Rio de Janeiro, RJ: Editora 34.

266
Problematizando o ato de ensinar a partir de oficinas com um jogo digital
Autores: Póti Quartiero Gavillon, UFRGS; Erika Neres Markuart, UFRGS
E-mail dos autores: poti.gav@gmail.com,emarkuart@gmail.com

Resumo: Existe um pressuposto largamente aceito entre as/os professoras/es que saber ensinar constitui a garantia
de uma aprendizagem significativa e que uma boa didática se expressa no controle da turma. O presente trabalho
busca problematizar o ensinar a partir de uma experiência com professoras em oficinas com um jogo digital baseado
em localização. Nossa aposta é que a experiência com uma situação inusitada de aprendizagem pode suscitar questões
sobre a relação ensinar-aprender, ao deslocar as professoras do lugar de ensinante para o de aprendente. Como
estratégia metodológica realizamos uma pesquisa-intervenção com a realização de duas oficinas, uma com 05
professoras no exercício da profissão (2014) e uma com 04 professoras em formação (2016). As participantes têm
experiência com turmas de educação infantil até os primeiros anos do ensino fundamental. Durante as oficinas, elas
jogaram Um Dia no Jardim Botânico, que se trata de um jogo baseado em localização, no qual percorrem fisicamente
determinadas regiões do Jardim Botânico, utilizando um tablet para coletar e combinar itens digitais, para que seja
possível plantar digitalmente determinadas mudas de árvores e flores, no intuito de ajudar o Jardim Botânico, e assim
acumular pontos. As jogadoras são representadas por um ponto azul que se movimenta no mapa do Jardim Botânico
no tablet. Ao longo do jogo, encontram-se personagens, também virtuais, que auxiliam no desenvolvimento das
atividades ditando objetivos ou fornecendo itens ou dicas para as jogadoras. As participantes jogaram em duplas e
foram acompanhadas por oficineiros que eram responsáveis em filmar e observar sua performance. Foram realizadas
intervenções pelos oficineiros buscando auxiliar na performance do jogo e não necessariamente induzir o sucesso no
mesmo. Isto foi feito principalmente através de intervenções não diretivas, como chamar a atenção para determinado
componente do jogo com perguntas. Um dos objetivos destas intervenções era incitar a exploração do jogo pelas
jogadoras, para que pudessem construir suas estratégias de jogo. Quando questionadas sobre como seria sua
participação, se estivessem jogando junto com os alunos, as professoras citaram palavras como responsabilidade,
postura e controle, ao mesmo tempo, outras professoras falaram que seria interessante fazer perguntas que
instigassem os alunos a pensar. Durante as oficinas algumas professoras expressaram desconforto com as
intervenções não diretivas, questionando qual seria o papel dos oficineiros. Demonstraram que a experiência da
oficina as levou a problematizar que a distância que a professora fica em relação aos alunos na sala de aula interfere
no ato de ensinar. Colocar-se ao lado do aluno modifica seu lugar e, consequentemente, permite observar melhor a
performance da turma e de cada aluno. Foi realizada uma roda de conversa no final de cada oficina e, neste momento,
algumas professoras traçaram um paralelo entre a experiência da oficina com práticas em sala de aula e comentaram
que assim como os oficineiros, que não deram a resposta direta, a professora pode fazer o mesmo. Esse modo de
operar permitiria acompanhar a aprendizagem dos alunos e poderia auxiliá-los a responder seus próprios
questionamentos mesmo quando estiverem sozinho. Este posicionamento desconstrói a ideia de que apenas a
professora tem todas as respostas e abre a possibilidade para formas diversas tanto de ensinar como de aprender.

267
Psicologia Social, Ecologia, Transformação e Espiritualidade: Em busca de um novo paradigma ético socioambiental
no pensamento de Leonardo Boff
Autores: Mauricio Tavares Pereira, Universidade Kennedy; Illyushin Zaak Saraiva, Universidade Kennedy
E-mail dos autores: mauriciotav1@gmail.com,illyushin.saraiva@ifc.edu.br

Resumo: O teólogo e filósofo brasileiro Leonardo Boff (1938) desempenhou um papel central na teologia da libertação
- movimento religioso surgiu na América Latina na década de 1970 e que teve uma profunda influência sobre os
movimentos sociais e pensamento progressista - e depois de sofrer medidas persecutórias pelo Vaticano, como
silêncio obsequioso (ou censura), Boff expandiu seu campo de pesquisa para questões relacionadas com a ética
ambiental, especialmente após a conclusão da conferência do clima chamado ECO 92, no Rio de Janeiro, quando
escreveu seu primeiro livro sobre o assunto, "Ecologia, Globalização e Espiritualidade: A emergência de um novo
paradigma" (1993). Desde então Boff, junto com outros autores como Fritjoff Capra, Edgar Morin, Felix Guattari,
James Lovelock, entre outros, se tornou um dos maiores nomes da investigação da relação entre a humanidade e a
natureza na era industrial. Devido aos grandes acidentes ambientais ocorridos nos anos 1970, 1980 e 1990 e
influenciadas pelo Clube de Roma (1972), os governos, empresas e sociedade civil em vários nações industrializadas
começaram a ser manifestar efetivamente em questões como o esgotamento dos recursos naturais e a poluição
ambiental, e desde então foram realizadas diversas conferências e acordos ambientais internacionais. Alguns desses
eventos, especialmente voltadas para a educação ambiental, atribuído às escolas um papel central como um agente
de dispersão de educação ambiental, especialmente para os países em desenvolvimento - como o Brasil -, porque,
entre outras razões, elevado prestígio social das escolas públicas dentro das comunidades carentes, e o elevado valor
que a instituição escolar detém nessas comunidades como um lugar de excelência, especialmente entre as populações
pobres e excluídos. No Brasil Existem vários programas de educação ambiental nos sistemas de ensino, mas alguns
autores têm questionado a eficácia de tais programas para mudar os paradigmas ambientais em mentes juvenis. Uma
das críticas é que através da criação de disciplinas específicas de ambientalismo, a escola gera na mente dos
estudantes uma reação negativa associada à necessidade de mais testes e avaliação, bem como limitar a natureza
interdisciplinar da educação ambiental. Este trabalho, que investiga os efeitos do trabalho de Boff em educação
ambiental, é concebido para medir o impacto da filosofia de ensino e ética ambiental na "visão de mundo" ou
"paradigma ambiental" dos alunos no ensino secundário no município de Alvorada, Brasil. A hipótese apresentada
neste estudo é que a teoria revolucionária de Leonardo Boff também chamado Cosmologia de Transformação, é capaz
de permitir uma profunda mudança na visão de mundo dos jovens em idade escolar em relação à relação do homem
com a natureza. No contexto deste trabalho, e para medir o impacto da filosofia de ensino e ética ambiental na "visão
de mundo" dos alunos do ensino secundário, são observados os estudantes na cidade de Alvorada, Brasil, em duas
etapas diferente: antes e depois da aplicação de um programa de educação ambiental com base nos conceitos de
novo paradigma ecológico e pós-antropocêntrica Leonardo Boff. Foi elaborado um instrumento de pesquisa
semiestruturado como ferramenta para ser aplicado em uma amostra de estudantes no âmbito do programa, e a
partir das respostas destes é desenvolvido, um banco de dados a partir do qual as análises e reflexões do são
realizadas.

268
Seguindo a Teoria Ator-rede em ação: primeiros apontamentos para uma cartografia de controvérsias
Autores: Jéssica da Silva David, UFRJ; Irme Salete Bonamigo, UNOCHAPECÓ; Maisa Rocha de Carvalho, UFRJ; Rosa
Maria Leite Ribeiro Pedro, UFRJ
E-mail dos autores: jessicasdavid@gmail.com, rosapedro@globo.com, bonamigo@unochapeco.edu.br,
maisa.rocha2@gmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho é tecer uma cartografia das controvérsias que permeiam nossas práticas de
pesquisa em Psicologia. Para isso, nos pusemos a seguir uma cientista ator-rede em ação. Ao acompanhar uma
pesquisa orientada pela própria Teoria Ator-Rede, pretendeu-se descrever suas trajetórias, tensionamentos e
composições, desde a proposição do projeto de pesquisa até a devolutiva aos participantes e a produção de relatos e
relatórios sobre os resultados produzidos.
Para John Law (2004) os métodos de pesquisa em ciências – tanto humanas quanto naturais – têm sido marcados pelo
realismo euro-americano , segundo o qual um sujeito do conhecimento asséptico pode abordar o real sem misturar-
se a ele, obtendo um conhecimento pleno, preciso e anterior a qualquer intervenção. Entretanto, muitas vezes nos
deparamos em nossas práticas com realidades múltiplas, heterogêneas, híbridas, que escapam ao realismo euro-
americano. Como lidar metodologicamente com o fugidio? Qual lugar destinar àquilo que resiste a nós, a nossas
perguntas e a nossas hipóteses? Insistir em obedecer a lógica do realismo euro-americano é excluir sistematicamente
tudo aquilo que escapar aos nossos quadros referenciais.
Para a TAR, pesquisar implica acompanhar os processos através dos quais se fazem e desfazem conexões entre
entidades que incluem atores humanos e entidades não humanas. É através dessas conexões que a ação se torna
possível, e que são definidos tanto a direção quanto os resultados dessa ação, em particular a estabilização (ou não)
das conexões. Seguir os atores em ação (LATOUR, 2000, p.169) aparece, assim, como uma das principais diretrizes
metodológicas da TAR. E, nessa direção, cartografar as controvérsias parece-nos uma tarefa decisiva para apreender a
rede tal como ela se faz (p. 169).
A nossa abordagem metodológica, inspirada nas formulações teórico-metodológicas, tanto da Teoria Ator-Rede (ANT),
(LATOUR, 2006, 2005a, 2005b, 2002), quanto do Método Cartográfico (DELEUZE e GUATTARI, 1995) tenta caminhar
numa direção alternativa àquela do realismo euro-americano. Cada um dos autores, a seu modo, preconiza que a
produção de conhecimento e o trabalho de campo não devem ser tratados como instâncias estanques. Pelo contrário,
precisam se articular formando um todo que seja capaz de doar vitalidade, tanto aos processos de pesquisa, quanto
àqueles vividos no campo.
Para acompanhar processos, lançamos mão, então, de um método igualmente processual: produzir uma cartografia
sobre uma pesquisa cartográfica na prática. Para isso, acompanhamos uma cientista ator-rede em ação. Em sua
investigação, nossa pesquisadora-sujeito-de-pesquisa dedicou-se a cartografar de que modo actantes humanos e não-
humanos se agenciam nas controvérsias que surgem sobre as concepções de segurança pública em torno dos
dispositivos de controle, vigilância e videomonitoramento em espaços urbanos contemporâneos. Para isso, ela se
enredou em um centro de segurança pública local e lá, com eles, pôs-se a construir sua pesquisa e a decidir que pistas
seguir, a quem entrevistar, o que observar, aonde ir. Assumindo que os participantes de sua pesquisa eram capazes de
formular questões interessantes sobre si mesmos, a pesquisadora propôs dispositivos de pesquisas nos quais suas
perguntas puderam ser deslocadas e outras questões puderam ser colocadas.
Acompanhando as idas, vindas, negociações, costuras e desvios que compuseram esse processo de pesquisar foi
possível discutir os conceitos de recalcitrância, docilidade e mal entendido promissor para pensar a produção do lugar
de especialista, buscando articular esses conceitos com as discussões travadas contemporaneamente acerca da
produção de resistências.
Nossa aposta é, na emergência da recalcitrância na pesquisa, não buscar escondê-la como o que deve ser expurgado,
mas apostar em sua potência criadora, como resistência. Sustentar uma política de pesquisa que siga as controvérsias
e inclua as resistências é apostar em um método que acompanha movimentos mais do que apreende estruturas e
269
estados de coisas. Nesse sentido, produzir uma pesquisa mais polifônica cria espaços para a construção de um mundo
mais comum e mais heterogêneo.
Referências Bibliográficas:
DELEUZE, G. e GUATTARI, F.. Mil Platôs. Capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.
LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: UNESP, 2000.
LATOUR, B. Reagregando o Social: uma introdução à teoria do Ator-Rede. Salvador: EDUFBA; Bauru: EDUSC, 2012.
LAW, J. After method. Mess in social science research. London: Routledge, 2004.

270
Uma densa história de transição: a implementação dos caps no rio de janeiro na perspectiva de suas práticas e
dispositivos cotidianos
Autores: Arthur Arruda Leal Ferreira, UFRJ; Laiz Rangel Barbosa, UFRJ
E-mail dos autores: arleal1965@gmail.com,laizrb@gmail.com

Resumo: Desde os anos 1980, a Reforma psiquiátrica brasileira, em consonância com diversos processos reformistas
em um plano global, tem posto em questão o asilo como mola mestra do tratamento, assim como a assimetria entre
psiquiatras e pacientes, trazendo à cena uma análise política dos dispositivos de atenção à saúde mental. De forma
mais propositiva os diversos processos reformistas abriram espaço para conceitos anteriormente incompatíveis com
as práticas psiquiátricas: liberdade , cidadania e direitos humanos . Igualmente se articulou com territórios até
então impossíveis para os pacientes: as ruas, as assembleias, o trabalho livre, o consumo, a responsabilidade e o
autogoverno. E por fim, novos personagens ganham destaque em cena: psicólogos, sociólogos, psicanalistas,
servidores sociais surgem como protagonistas. Estas transformações se articularam em instituições de portas abertas,
leis e políticas governamentais. Em poucas décadas a psiquiatria pôde se transformar de forma bastante radical em
diversos cenários: o asilo praticamente desapareceu como dispositivo-chave e o psiquiatra perdeu seu protagonismo
diante de pacientes e equipes terapêuticas. Em geral, este processo, apesar de cunhado de reforma, é celebrado como
uma espécie de revolução que libertou a loucura das cadeias da velha psiquiatria. Para tal, se produziram grandes
narrativas históricas com estilo quase-épico ou quase-hagiográfico na luta contra as forças conservadoras da
psiquiatria. No entanto, pensamos que outras abordagens como a dos Estudos Sociais da Ciência, assim como da
arqueologia e genealogia foucaultianas possam fornecer narrativas mais interessantes e finas para estes processos.
Primeiro, correlacionando o processo de reforma a uma variedade mais ampla de aspectos, como práticas
governamentais, modos cotidianos de gestão, discussões legais e análises de controvérsias. Segundo, ao abrir espaço
para problematização e análise de novos problemas presentes nos processos reformistas. O objetivo deste trabalho é
analisar historicamente os trânsitos nas práticas cotidianas de gestão na área de saúde mental a partir da
implementação dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) na cidade e no estado do Rio de Janeiro. Os CAPS,
enquanto dispositivo central da Reforma Psiquiátrica brasileira, são planejados como uma instituição de atenção
psicossocial de portal abertas cujo objetivo maior é substituir progressivamente as formas asilares com suas práticas
de enclausuramento. Como destacado há uma farta literatura histórica, especialmente de caráter celebratório, que
toma esta implementação a partir de leis, normativas, textos de autores reconhecidos, movimentos sociais e grandes
personagens históricos. O que gostaríamos de tentar é a narrativa histórica a partir de uma região mais cinzenta,
considerando uma série de dispositivos cotidianos como prontuários, atas de reunião e relatórios. Como ferramentas
conceituais utilizaremos o conceito de governamentalidade proposto por Foucault e retrabalhado por outros autores
como Nikolas Rose, assim como a proposta de uma História-Construção da Teoria Ator-Rede e posicionamentos da
Nova História (ou História dos Annales) quanto ao trabalho histórico. Tendo sua implementação inaugurada em 1996,
buscaremos em alguns CAPS na cidade e no Estado do Rio de Janeiro esta história de passagem, que envolve a
formação gradual de equipes transdiciplinares (e de novos especialistas como os técnicos de referência), além de uma
série de dispositivos complementares como Lares Abrigados (posteriormente Residências Terapêuticas), Consultórios
de Rua, programas como De volta para a Casa, Oficinas de Geração de Renda e outros. Diante deste processo de
implementação, nos perguntamos: Em que estas transformações implicam nos modos cotidianos de gestão dos casos?
Que formas de gestão surgem diante da recusa à internação e ao enclausuramento? Quais são os personagens
elencados neste processo? Que controvérsias, impasses e tensões são formadas a partir daí? Estão são questões que
buscaremos na análise deste material histórico referente ao funcionamento cotidiano de alguns CAPS na cidade e no
Estado do Rio de Janeiro.

271
Psi logosà oàgosta àdeà edi a e tos :àPes uisa doàoà o su oàdeà edi a e tosàpsi ot pi os
Autores: Cristiana de Siqueira Gonçalves, UFRJ; Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro, UFRJ
E-mail dos autores: cristianasiqueira@yahoo.com.br,rosapedro@globo.com

Resumo: Geralmente, as discussões acerca do consumo de medicamentos psicotrópicos se tecem a partir de


posicionamentos pró ou contra. Nas ciências humanas e mais especificamente na psicologia, o posicionamento crítico
prevalece como ponto de análise. Assim, partindo da objeção de que os psicólogos não gostam de medicamentos ,
feita no momento da realização de nossa pesquisa de campo acerca do consumo de medicamentos para o
aprimoramento cognitivo, pretendemos discutir o fazer pesquisa dentro dessa temática, a partir de uma ótica que não
estabelece a priori uma crítica a esse consumo, mas busca compreender como nós, seres humanos, temos nos
articulado com os medicamentos psicotrópicos na atualidade. Buscando refletir também, como tal pressuposto pode
enviesar nossa pesquisa não abrindo espaço para o aparecimento da novidade e da recalcitrância.
Para tanto, usamos o referencial teórico e metodológico da teoria ator-rede e da cartografia das controvérsias, tal
como desenvolvido por Bruno Latour. A partir desse referencial, entendemos que para compreender o fenômeno de
aumento do consumo de medicamentos psicotrópicos, tais como a Ritalina, os antidepressivos e os ansiolíticos,
precisamos seguir os atores presentes nessa rede. Assim, não apenas a psiquiatria e a indústria farmacêutica
aparecem como importantes atores, como também os consumidores desses medicamentos, a mídia, os manuais
diagnósticos - tal como o DSM V -, os medicamentos. Além disso, as exigências contemporâneas por performance,
produtividade, associadas a uma lógica do bem-estar, são situações que vão constituindo uma dada relação que temos
estabelecido com essas tecnologias biomédicas.
Como destacado por Latour (2008) no texto Como falar do corpo? A dimensão normativa dos estudos sobre a
ciência , ter um corpo é aprender a ser afectado, ou seja, «efectuado», movido, posto em movimento por outras
entidades, humanas ou não-humanas. (p. 39, 2008), logo, é também na articulação com não-humanos que vamos
adquirindo um corpo. Existem boas e más articulações, mas não podemos saber de antemão, logo cabe ao
pesquisador não fechar o campo prematuramente, mas sim, seguir os atores permitindo que os mesmos possam
desdobrar as controvérsias na qual estão envolvidos (Latour, 2012).
Foi buscando fazer isso, que em nossa pesquisa acerca do consumo de medicamentos para o aprimoramento da
performance cognitiva, mais especificamente da Ritalina, procuramos seguir os atores envolvidos com esse consumo e
cartografar essa rede, utilizando tal viés teórico e metodológico. Na mesma, entrevistamos médicos psiquiatras,
consumidores desses medicamentos e representantes da indústria farmacêutica. Também utilizamos fontes diversas,
como publicações de vulgarização científica e bulas de medicamentos e escrevemos um pouco da história desse
medicamento, desde a sua sintetização, até o momento atual, com o intuito de tecer como essa rede se constitui na
atualidade.
E se por um lado, os posicionamentos dos entrevistados muitas vezes se pautassem em termos de prós ou contras a
esse consumo, percebemos que tal consumo carrega muitas controvérsias – que na pesquisa rondaram em torno da
segurança e dos efeitos desses medicamentos no aprimoramento cognitivo -, e aponta para uma busca por responder
à questões presentes na atualidade, tais como o individualismo, a competitividade, a exigência de boa performance e
a busca por caminhos mais fáceis. Porém, como destacado por um dos psiquiatras entrevistados, uma busca que
sempre existiu e que na atualidade a indústria farmacêutica busca atender. Do que podemos depreender que esta é
uma demanda que se inscreve em uma dada situação e que diz respeito ao tempo em que estamos inseridos.
Tudo isso demonstra um consumo que ainda não está consolidado, um campo em movimento, que só conseguiremos
seguir se estivermos colados ao terreno, como um formiga, tal como ressalta Latour (2012). Nesse sentido, importante
se faz pensarmos nesse fazer pesquisa que não parte de um a priori critico, mas busca mapear como uma dada
realidade é tecida a partir de diversas práticas e discursos que podemos seguir. Entendendo por fim, que se ela é
produzida de uma dada maneira, ela também pode ser diferente.
272
GT 13 | Ecologias Outras: traçados poéticos, estéticos e políticos

Coordenadoras: Adriana Rosmaninho Caldeira de Oliveira, UFAM | Maria Auxiliadora Teixeira Ribeiro, UFAL | Marta
Bastos Catunda, UNISO

Este GT foi criado para acolher estudos, pesquisas e intervenções sensíveis que problematizam agenciamentos entre
arte, tecnologias, psicologia social e política e com este objetivo vem se pautando nas ultimas edições e eixos
escolhidos. Este ano o eixo escolhido é 4.Insurgências ético-estético-políticas: artes, tecnologias e subjetivação
pretendendo reunir reflexões sobre as mais diversas expressões artísticas situadas e processos de subjetivação,
criação poética e resistência política na conexão com de Grupos Estudos, dentro e fora das IES, com Coletivos de Arte,
Permacultura, de Psicologia Social entre aqueles processos insurgentes que problematizam, tiram da invisibilidade, ou
das margens a dinâmica cotidiana dos referidos grupos. Assim pretende-se contemplar as diversas formas de
expressão, Artes Cênicas, Artes do Corpo, Artes Visuais, Cinema, Literatura, Estudos de Ecologia Sonora e demais
manifestações. Os trabalhos acolhidos devem contemplar aportes teórico-metodológicos em conexão com a
Psicologia Social destacando os seguintes autores: da educação, Paulo Freire, Silvio Gallo, Michel Foucault, Felix
Guattari, Gilles Deleuze, das conexões tecnológicas Donna Haraway, Bruno Latour, André Lemos, das Ciências Sociais e
temáticas sobre o Antropoceno, Isabel Stengers, Eduardo Viveiros de Castro entre outros, no sentido de efetuar
conexões inéditas de interesse da Psicologia Social.
Em especial o tema desse ano sobre os enfrentamentos ético/políticos ganha uma enorme potencia com o
florescimento de outras redes relacionais, dentro e fora das universidades, seus Grupos de Estudo com demais
Grupos, Coletivos de Arte, entre outros grupos não instituídos formalmente cujo ativismo revela uma outra interface
insurgente mais horizontalizada no sentido da abrangência de questões diversas que lidam diretamente com a vida e
sua qualidade, saúde, lazer, educação que vão entretecendo um outro espectro relacional no tecido social devido as
emergências contrapostas por uma politica estatal para o canto do cisne de mercadorias. Assistimos uma proliferação
de falas sem lugar como uma insurgência politica inevitável anulando a insistência do estado como único lugar de fala
e as falas sem nenhum lugar vão incorporando na experiência genérica da exclusão uma outra demanda politica. A
desigualdade econômica gera zonas de indicernibilidade das diferenças, fomentando demandas de reconhecimento
dessas diferenças que não são sequer ouvidas ou consideradas pelo pode público. Impacto devastador do sistema
avançado no tempo real de comunicação, que é rizomático, caótico, circuitos que se criam e descriam e obedece a
outra configuração social. Nesse bojo vemos a extrema direita ressurgir das cinzas tal qual a fênix, porque neste outros
circuitos comunicacionais ela reconstrói seu lugar de fala, a Internet colocou a direita deletéria em cena novamente. A
politica em certa medida está sendo sugada para a linguagem matemática das redes comunicacionais. A democracia
não é sinônimo de instituições fortes mas, a existência do poder instituinte em si. Neste sentido a própria ideia
democracia não tem mais um espaço garantido neste panorama politico. A relação com o tempo do mundo em
permanente aceleração é pura fragmentação, a invasão da imagem do outro (esquizoparanóica) como projeção
alucinatória, impõem o esmagamento do eu, as pressões de medo e ódio e perseguição apontam um desenho
paranoico, como ocorre no facebook por exemplo. Não há mais governo, isso fica claro com os partidos sociais
democratas sucumbiram porque numa sociedade de livre escolha para além do supermercado, não há mais escolha.
Neste contexto de mundo em suspensão o Brasil está na frente, algo desabou e o mundo como conhecíamos não vai
mais recolocar as coisas no lugar.
O GT proposto vem por isso se pautando pelo fortalecimento do seu cunho político. Apesar de decorridos 70 anos do
evento atômico das bombas de Hiroshima e Nagasaki sobre a população civil, os riscos de conflitos armados, está
presente. O Brasil perfila com indicadores drásticos de assassinatos de jovens, negros, índios, mulheres, viciados,
homossexuais, LGBTs, moradores de rua, numa assepsia ou, extermínio silencioso. Conflitos sociais e ambientais em
torno da Usina de Belos Monte, a Transposição do Rio São Francisco e inúmeros outros empreendimentos para a
geração de energia não renovável, a crise hídrica no sudoeste do país que já se desenha como fato, entre outros
acontecimentos climáticos ocasionais tais como os tornado em Xanxerê, a incidência de crimes ambientais como
ocorreu em Mariana, provocando insurgências de toda ordem desalojando e desarranjando a vida de centenas de
milhares de habitantes.
A exemplo do que ocorreu com a 32 Bienal sobre a temática da Incerteza a proposta é acolher conversas, ações,
artivismos como vimos perfilar inúmeros artistas, agentes culturais, antropólogos, pesquisadores, ativistas que
passaram pela Oca Tapera Terreiro, obra de Bené Fonteles (2016), nas Conversas para Adiar o Fim do Mundo como
sugestão do líder indígena Airton Krenak.
273
O GT quer então abrir espaço em torno dessas problematizações, compreender melhor as possibilidades éticas e
políticas que se interpõem às Psicologias Sociais. Como que, nas brechas dos logramos encontrar, rupturas mínimas ao
que se convencionou chamar de Antropoceno que abrem às práticas de criação? Que contribuições ou experimentos
mesclando saberes locais, ciências e artes, que ecologia inventiva podemos obter, como a tecnologia pode ser
utilizada como processo de horizontalização política, quais enfoques provocam outros ritmos de pensamento, outros
lugares de fala? são questões que esperamos contemplar nas sessões de trabalho.
Espera-se contribuições experimentais, artísticas de Grupos de Estudos ou, Coletivos atuantes que atualizam e
disseminam vieses criativos de teorias para o estudo da educação, dos fazeres artísticos, das interações tecnológicas e
suas interfaces como insurgências entretecendo matizes diferenciados de processos de subjetivação. Os trabalhos
serão acolhidos levando em conta pesquisas diversas, experimentações, narrativas de atuação desses coletivos de
arte, grupos de estudos universitários, entre outras formas de expressão insurgentes e como estas atuações vem se
conectando e contribuindo para reconfiguração cidadã no panorama onde se inserem e os respectivos processos em
curso.
Estes processos ensejam uma motivação micropolítica que leva em consideração a inserção de outros éticas, estéticas,
como indicação de um florescimento subjetivo pouco compreendido e até mesmo não identificado, são os/as
invisíveis à margem, porém tematizam e vivem a cidade, a zona rural e seus espaços de convívio compondo um
artivismo de interesse da psicologia social, por elaborar a reexistência, a partir do exercício da ecologia relacional,
como ressignificação do elo comunal, aliança, devir.

274
Bicicletas, cidade, imagens, escritas: desLOUcamentos de pesquisa tecida em trânsito
Autores: Sheila Hempkemeyer, UFSC
E-mail dos autores: she.hempke@gmail.com

Resumo: Uma pesquisa que se encerra inacabada. Outra pesquisa que se inicia entrelaçada, pelo caminho. Pesquisas
conectadas, num emaranhado, coexistindo. Experimentos de escrita, com fotografias, com o corpo, pedalante, da
cidade. Urbanidades em cena. Capturas afetivas de experiências errantes, perdidas. Gambiarras pesquisatórias que
ganham corpo no Coletivo TECENDO, grupo de pesquisa que estuda cultura arte educação. Um doutorado em curso
que se propõe investigar a criação de uma cidade sensível através da bicicleta.
As cidades, em seus primórdios, eram espaços de convivência onde a troca temporal era completamente outra. Pouco
se refletia em relação ao direito de acesso e/ou de permanência. Com fenômenos como o da globalização e a
revolução industrial, o mundo se torna um grande e rápido mercado competitivo. O papel da cidade se renova e se
fragmenta. Delimitam-se os espaços de convívio e impõem-se regras para circulação. Priorizando motorizados ao invés
das pessoas, pressa ao invés da pausa. A cidade ganha um corpo que produz medos e afastamentos. Mas também
potencialidades, oportunizando-se como um campo profuso e plural de experiência. Como aproximar cotidianos
difusos e antagônicos, em meio a tanta analgesia? Como transformar passagens efêmeras em encontros? Como criar
superfícies corpóreas urbanas heterogêneas, singulares e estéticas, em meio a tanta asfixia?
Há uma necessidade de reinventar as cidades. Há incômodos compartilhados e coletivos emergindo em busca de
diferentes formas de experimentá-la. Desacelerar. Flanar por esquinas e encruzilhadas, vagarosamente, renovando
movimentos e recriando histórias. Ao pausar inicia-se um processo de reflexão sobre si mesma(o), sobre o ambiente e
práticas cotidianas. Os caminhos prontos aos poucos se transformam em rotas afetivas, em permanentes mudanças.
Relações afetivas emergem no encontro entre sujeitos marginais e a urbe. Processos educativos que afloram
audaciosamente no ambiente, disseminando criações, reinventando padrões que permitam com que a sensibilidade
pulse, brotando reexistências. Jogos de aprendizagem que perpassam intrinsecamente pela experiência sensível.
A bicicleta incita múltiplos efeitos. Metamorfoseando pessoas e cidades, compondo diversos formatos urbanos e
ativismos, favorecendo micropolíticas de resistência. A concepção de uma cidade sensível através dela, com ela,
envolve processos éticos, estéticos, políticos, tornando-se necessário a problematização. Seria a bicicleta protagonista
ou coadjuvante destas potências pedalantes? Como este artefato incita/conduz/produz determinadas formas de
pensar, ser e compor a cidade? Quais seus efeitos estéticos? Por que lugares/ambientes operam? Que saberes estão
em circulação? Que intencionalidades pedagógicas estão produzindo?
Este trabalho pretende alargar o olhar acerca da bicicleta para além de si mesma, vislumbrando a criação de outras
perspectivas para ela, perceber sua potência estética na ressignificação das cidades. Almeja-se apresentar práticas
sociais, pedagógicas, culturais, estéticas que contribuem para pensar uma cidade sensível através da bicicleta, por
meio de pedagogias móveis e dançantes, e da percepção corpográfica de memórias afetivas com e na cidade.
A proposta de trabalho se insere no GT Ecologias outras: traçados poéticos, estéticos e políticos, no eixo 4.
Insurgências ético-estético-políticas: artes, tecnologias e subjetivação, refletindo sobre diversas expressões estéticas
envolvendo a cultura da bicicleta bicicultura e processos de subjetivação contemporânea, estratégias de resistência e
expressão na cidade. Além disso evidencia e propõe diálogos em torno dos diversos modos de trânsito urbano,
revelando práticas educativas e comunicativas com a urbe, produzindo subjetividades, elencando também outras
ecologias.
Pensar esse emaranhado urbano, relacionando o ambiente da cidade, por meio da bicicleta e o movimento dos corpos
pedalantes, possibilita outras formas de interação com o meio, costurando múltiplas afetações. Contribui para pensar
outros atravessamentos contemporâneos e, portanto, não tem a pretensão de (re)produzir e dizer verdades , mas de
experimentar e provocar sensações, aproximando cotidianos.
Os pressupostos teóricos apoiam-se nos Estudos Culturais e em conceitos sobre cultura, subjetividade, processos de
pesquisa, corpografia, escritas ficcionais/imagéticas, narrativas, urbanidades. Autores como Michel Foucault, Rosane
275
Preciosa, Paola Berenstein Jacques, Pablo Fernandéz Christlieb, Suely Rolnik, Félix Guattari participam profundamente
da tematização proposta.
A cartografia afetiva, o diário de campo estão presentes na pesquisa, visto ser modos de operar intensamente na
investigação do campo. Um pedalar pesquisatório que tem intuito de projetar olhares outros sobre a pesquisa em
Psicologia Social e Educação. Ziguezagueando e dialogando com imagens, percepções, experiências sensíveis que da
ação pedalante reverberam na urbe e na vida das pessoas. Provando de vivências pedagógicas que pulsam, vibram,
desLOUcam e tremem nos becos, ruelas, praças e demais espaços citadinos. Pesquisar processos de escritas, suas
inconclusões, (re)conhecendo a grafia urbana nos corpos, suas contradições, conflitos, potencialidades, reexistências.

276
C uza e tosà e t eà aà i o po aç oà daà op ess oà olo ialà deà g e oà asà á i asà eà aà o aà “ilhuetas à deà á aà
Mendieta
Autores: Melina Garcia Gorjon, UNESP; Dolores Cristina Gomes Galindo, UFMT
E-mail dos autores: gorjon.melina@gmail.com,dolorescristinagomesgalindo@gmail.com

Resumo: A partir do estudo da artista Ana Mendieta em sua série intitulada Silhuetas, buscamos aliar a questão da
colonização, expropriação da terra e do corpo da mulher, a partir de reflexões de Cusicanqui e Federici. Utilizamos a
questão da caça às bruxas nas Américas, a qual Federici narra a violência ao corpo e aos modos de vida das mulheres
nativas.
Ana Mendieta (1948-1985), foi uma artista visual e performer cubana exilada nos EUA. Nasceu em Havana, no dia 18
de novembro de 1948. Seu pai Ignácio era atuante na revolução cubana e no partido comunista, contudo, quando a
revolução toma o poder em 1959, Ignácio passa a ser investigado sob a acusação de envolvimento com as forças
contrarrevolucionárias patrocinadas pelos Estados Unidos. Acreditando que sua família corria perigo, seu pai enviou
Ana e sua irmã clandestinamente, com 11 anos idade, para os Estados Unidos, por meio da Operação Peter Pan, na
qual governo norte americano, corporações e a Igreja Católica arranjavam vistos para as crianças cubanas irem morar
nos EUA (LÓPEZ-CABRALES, 2006). Em seguida, Ana, passa por casas de adoção no estado de Iowa, neste momento, já
começa a carregar uma identidade racial nova, pois passou a ser marcada como uma mulher de cor, vivendo
preconceito racial e machismo (LÓPEZ-CABRALES, 2006). Graduou-se em Artes pela Universidade de Iowa em 1972. Na
série Siluetas (1973-1985), a artista marca diferentes tipos de solos com a silhueta do seu corpo, algumas dessas
silhuetas eram preenchidas com fogo, folhas e flores; outras a artista apenas deitava-se no solo e se cobria com lama.
Ana Mendieta também era envolvida ativamente com o movimento feminista dos anos 70.
A misoginia vem com a colonização, assim, as sociedades nativas das Américas foram se reestruturando, por meio de
incursões violentas e disciplinares, a supremacia dos homens (FEDERICI, 2004). O fato da maioria dos que foram
violentados e mortos por essa associação ao diabo serem mulheres não é mera coincidência, além disso, nos grupos
de resistência à colonização as mulheres eram a maioria (FEDERICI, 2004). As discussões sobre colonização sempre
passam por um cercamento das terras, um afastamento para com a natureza e os animais, posto que, essas últimas
estariam próximas a ideia selvagens . Sendo assim, a mudança no modo de se relacionar com a natureza caminhou
junto com o modo como as mulheres foram perdendo autonomia e sofreram com as opressões de gênero, ao longo da
colonização. O antropocentrismo e androcentrismo caminham juntos, os movimentos nativos são os que mais
contribuem epistemológicamente para o reconhecimentos de outros sujeitos, como os animais, vegetais, a
pachamama, e superando o antropocentrismo (CUSICANQUI, 2016). Por isso o trabalho de Ana Mendieta com forte
ancoragem na questão da terra e da natureza nos ajuda a pensar as assimetrias de gênero e a questão
antropocêntrica, passando por uma leitura descolonial.

Objetivo
2.1 Estudamos a questão da descolonial proposta por Cusicanqui partindo das silhuetas de Mendieta
2.2 Aliamos a questão da caça às Bruxas com o resgate que Mendieta faz à cultura asteca e sua relação com a
natureza, produzindo silhuetas nesses territórios marcados pela violência contra as mulheres que resistiram à
colonização.

Método
Fizemos uma revisão bibliográfica do tema descolonial e a partir de algumas obras de Ana Mendieta, fizemos análises
tendo por base alguns textos de Federici e Cusicanqui.

Reflexões

277
O trabalho de resgate da cultura asteca feito por Mendieta em suas silhuetas, na relação com a natureza como um
espirito ancestral, além de ser uma aliança potente para o cuidado reciproco entre humanos e não humanos é uma
importante crítica à colonização e a toda a destruição de culturas diferentes, tidas como menores, barbaras,
demoníacas ou selvagens. Ana Mendieta fez muitas performances em El Yagul, Oaxaca, uma das mais instigantes, para
o tema deste estudo, foi Flowers on Body (1973). Tal silhueta foi feita em uma tumba em sítios arqueológicos, ela
deita nua e cobre o corpo de flores. Podemos perceber a partir da descrição de Federici (2004) que esse lugar, Oaxaca,
era um território sagrado, na qual as mulheres tinham grande força e importância, pode ser que a escolha de
Mendieta tenha seguido tais ideias, principalmente pelos seus estudos da cultura Asteca, nessa busca por um lugar
ancestral ligado à Mayahuel. Tal trabalho nos ajuda a pensar a questão patriarcal em movimentos de minorias, como o
movimento nativo. O patriarcado, é um "complexo de centralizações", ele é responsável por centralizar o
conhecimento, o direito e o pensamento na Europa, além de centralizar a noção de cultura e de civilização no
colonizador (CUSICANQUI, 2016). Cusicanqui(2016) chama esse movimento de androcentrismo e diz que é um
movimento que participa do complexo colonial.

278
Devir-mulher do tambor: arte e política na criação estética do coletivo La Clínica
Autores: Leandro Almir Aragon, UFSC; Jéssica Janine Bernhardt Fuchs, UFSC; Katia Maheirie, UFSC; Marcelo Felipe
Bruniere, UFSC
E-mail dos autores: leandrorgn@gmail.com,maheirie@gmail.com, marcelo2x2@hotmail.com,
jessicab.fuchs@gmail.com

Resumo: Este trabalho é parte do projeto de pesquisa Criação Musical e Experiência Estético-Política , que objetivou
estudar os processos de criação no fazer musical, suas implicações e potências no campo do político. Propomos, nesta
comunicação, discutir a potência política do coletivo La Clínica, articulando seu fazer artístico e implicação ético-
política aos conceitos de espaços lisos e estriados em Deleuze e Guattari e política e partilha do sensível em Rancière.
O trabalho deste coletivo dirige-se ao alisamento em ato dos espaços e partilhas dos lugares e capacidades, em
especial no que diz respeito ao lugar da mulher na música, e à construção de outros modos existenciais e outras
formas de estar junto.
Teoricamente, procuramos articular dois eixos conceituais: espaço liso e estriado a partir de Deleuze e Guattari, e
política e partilha do sensível a partir de Rancière. Liso e estriado designam formas de distribuição e ocupação do
espaço. Enquanto espaço estriado é aquele distribuído por uma lógica organizadora para depois ser ocupado, dizendo
respeito às linhas métricas. O espaço liso é ocupado antes de ser organizado, isto é, o espaço das linhas de fuga. Em
última instância, um espaço não é homogêneo: movimentos se sedentarizam e forças revolucionárias se tornam
reacionárias, ao mesmo tempo em que é atravessado linhas de fuga e máquinas de guerra.
Chamamos partilha do sensível o sistema de evidências (estéticas) da distribuição do comum. Ela aponta para a
existência de um ordenamento dos lugares em que se produz uma lógica de linearidade entre o ser e o poder, em que
se designa quem pode falar o que e onde, que modos existenciais estão aptos a determinada atividade. A política é a
atividade que põe em questão esta partilha, consistindo no encontro de duas lógicas: a lógica da polícia (organização
dos poderes, distribuição dos lugares e legitimação dessa distribuição) e a lógica da igualdade (a evidência de que não
há fundamento legítimo para a distribuição desigual do comum). No contexto dessa pesquisa, é importante destacar
que duas formas de distribuição do comum articulam-se. A colonialidade estética e o sexismo produzem uma estética
em que a mulher e o tambor são colocados, de diversas maneiras, como ruídos.
A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma leitura da cartografia esquizoanalítica, entendida como uma pesquisa em
processo e sobre processos, que acompanha as linhas de determinado campo da experiência. Dessas linhas, interessa
especialmente distinguir, encontrar e acompanhar as linhas de fuga enquanto potência disruptiva. Foram realizadas
observações participantes e uma entrevista aberta com um roteiro norteador com o coletivo. Também buscamos
informações nas redes sociais e sites. Acompanhamos três apresentações, uma intervenção urbana, um ensaio e uma
viagem do coletivo. As observações foram registradas em vídeo e em diário de campo, enquanto a entrevista foi
registrada em áudio e transcrita. O material foi então organizado em categorias e unidades de análise a posteriori para
serem analisadas.
O coletivo La Clínica foi criado em 2012 como um grupo de estudos, formado exclusivamente por mulheres, de ritmos
oriundos da África Ocidental. As mulheres que viriam a constituir este grupo de estudos e o coletivo La Clínica,
participavam de um grupo de dança e percussão africana de Florianópolis. Entretanto, percebiam que, no grupo, era-
lhes destinado o lugar da dança, ramente o da música. Assim como o Maracatu Estrela de Recife, a estratégia
encontrada por essas mulheres foi produzir um território em que o gênero feminino não tenha lugares pré-
determinados, como a dança, ou percussões musicais consideradas inferiores.
A partir do grupo de estudos, o coletivo passou a ser chamado para realizar apresentações tanto em festas quando em
ações coletivas de cunho político. As performances do grupo, ao mesmo tempo em que colocam em questão a
distribuição dos lugares na música, através do próprio ato de tocar, também revelam a contingência dessa
distribuição. Desse modo, articula dois momentos de uma subjetivação política: a desidentificação - a afirmação da
contingência da relação que determina um modo existencial a um lugar de enunciação, a mulher à dança - e a
279
dramatização - o ato de estas mulheres se reunirem e tocarem os tambores, instrumento que, dentro desta tradição é
quase que exclusivamente tocado por homens. Neste ato, o coletivo dramatiza um processo de subjetivação política
que articula-se ainda ao conteúdo e à forma das músicas e performances.
Neste sentido o coletivo busca afirmar uma potência de desvio como projeto de empoderamento da mulher e de
valorização de elementos musicais de estéticas não europeias. Isto se dá, entre outros, pela reapropriação da
categoria nosográfica da histeria - enquanto recaptura do desvio e dos tambores africanos em um sentido positivo:
enquanto delírio criador de novas possibilidades. Esta reapropriação articula, por fim, arte, gênero e loucura em um
devir-revolucionários, que chamamos devir mulher do tambor, que passa a transcender o coletivo.

280
ECOLOGIAS DO MONSTRO:Narrativas de luta e autonomia no movimento de universitários em uma Universidade
pública no ano de 2016: políticas do desejo e linhas de fuga frente ao Golpe
Autores: Fabio Henrique Martins da Silva, UNESP
E-mail dos autores: martinsfabiohs@gmail.com

Resumo: Nosso trabalho busca estudar os modos de criação nos coletivos de discentes de uma universidade pública
do Estado de São Paulo, que questionam e reivindicam a ocupação do espaço público da universidade por meio dos
equipamentos coletivos insurgentes. A tematização das insurgências nos coletivos da universidade pública nos estudos
estéticos e políticos é uma área emergente para o diálogo com a Psicologia Social e a clínica ampliada, partindo do
ponto de vista que toda análise, toda clínica é política, porque problematiza os lugares instituído, as dicotomias
naturalizadoras, porque pergunta sobre os modos de constituição das instituições. Ao aproximarmos de novas
ecologias, evocamos a figura do monstro, para reflexão sobre a produção política de ativismos juvenis que se pautam
por conexões entre insurgências estéticas e linhas de fuga políticas, alinhavadas por práticas de subjetivação
emergentes cuja diagramática requer uma analítica do presente. Haraway, busca criar outros mundos possíveis fora
dos eixos de dominação, assumindo o compromisso com as diferentes formas de viver e morrer que atravessam as
histórias das quais passamos a compartilhar. Em nosso trabalho, compartilhamos os afetos evocados nos processos de
permanência no campus acadêmico e a manifestação das práticas coletivas dentro do espaço público que a cada dia se
torna mais restrito. Os modos de ocupação reinventados dentro desta ecologia, são as linhas de fuga para o que
chamamos de desejo ciborgue. O trabalho apresenta e discute os modos de incorporação do desejo contemporâneo
trabalhados entre composições e evocações ciborgue apresentadas por Donna Haraway em seu manifesto. Para
Haraway o ciborgue significa fronteiras transgredidas, potentes fusões e perigosas possibilidades elementos que
incorporados no desejo podem explorar como um dos componentes de um necessário trabalho político. Abordamos o
desejo ciborgue a partir das insurgências coletivas que estão localizadas no campus universitário e nas experiências
produzidas em dada informática de dominação. A tessitura do presente trabalho, costura uma relação tatual com o
modo desejante que cria para si as estratégias de jogos de sobrevivência entre um circuito de linha de fuga e a
micropolítica dos desejos. Ao Pesquisarmos com narrativas coletivas de universitários da rede pública e estadual de
São Paulo, propomos uma pesquisa/intervenção ao passo que são recolhidas as memórias afetivas de conexão real
com campus Universitário. Reforçamos assim nosso posicionamento epistêmico e compomos pesquisas que ousam
intervir em zonas implodias, pelo CIStema patriarcal, frente a política empregada aos usos e costumes das práticas
coletivas e as implosões cotidianas que ameaçam exterminar as expressões éticas- estéticas e políticas no
contemporâneo das Universidades Públicas Brasileiras. Para isto, compomos nossas articulações tecnocientíficas em
dimensões molares e moleculares, acompanhadas da análise diagramática proposta por Felix Guattari, sobretudo em
seus livros Lineas de Fuga e Micropolítica , para que possamos deste tecer com os fluxos de intensidades estéticas
e políticas no ano de 2016, marcado por uma crítica de resistência dos movimentos sociais atribuídas ao GOLPE do
qual diversas ocupações afetivas se inscrevem como locais de memória por meio de dada revolução molecular.
Revolução epistemológica, ecológica, social, econômica que também apresentará em suas discussões o movimento
autônomo de universitários local, caracterizado pelo investimento em experimentações estéticas e políticas, e aqui
entendidas como linhas de fuga insurgentes, ou seja, transformações moleculares que se dão não porquê elas ponham
em marcha um programa político, mas porque elas colocam em andamento devires-revolucionários

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Escola de Pais: um desafio para a formação de professores
Autores: Verônica Martins Hoffmann, UNISO
E-mail dos autores: veronicamartinshoffmann@gmail.com

Resumo: Verônica Martins Hoffmann - Universidade de Sorocaba / UNISO


O interesse em participar deste GT advém da necessidade de ampliar o diálogo com artes, tecnologias e processos de
subjetivação na aplicação com grupos operativos uma vez que esta metodologia implica em inúmeras práticas éticas,
estéticas e políticas. Essa proposta de comunicação oral tem como tema a Escola de Pais na perspectiva da relação
família-escola. Vem sendo desenvolvida numa dissertação de mestrado na Linha de Pesquisa Educação Superior, do
Programa de Pós-Graduação da Universidade de Sorocaba/UNISO. Surgiu das dificuldades identificadas em pais na
orientação da conduta de seus filhos, na seguinte premissa: educar com base nos valores, definir limites e garantir
que eles fossem respeitados. A pesquisa situou-se na interface entre psicologia e educação, além de tratar de
situações advindas de múltiplas questões sociais, culturais, econômicas, estéticas e políticas. A intensão, no alcance da
psicologia social, foi construir subsídios para formação de professores que atuam na educação infantil e no ensino
fundamental, com atenção a essas questões. O objetivo geral foi apontar um conhecimento, a partir do trabalho
realizado, sobre como professores podem atuar na Escola de Pais. Para tanto, buscou-se identificar as competências,
habilidades e atitudes que os professores precisam para atuar na Escola de Pais, considerando: a escuta sensível, a
comunicação, a argumentação e a sensibilidade. O conhecimento produzido e evidenciado nas vivências da Escola de
Pais pode fazer parte do conteúdo a ser estudado nos cursos de formação inicial de professores, como as diversas
licenciaturas e, especialmente, a Pedagogia. O aporte teórico baseou-se na teoria de grupos operativos (PICHON-
RIVIÈRE, 1982; 2000), (GAYOTO, 1995) na formação de professores (SOARES; CUNHA, 2010), na técnica da autoscopia
(SADALLA; LAROCCA, 2004), na metodologia da pesquisa-ação (BARBIER, 2002) e BHERING; BLATCHFORD,1999;
CAVALCANTI, 1998; OLIVEIRA; MARINHO,2010). Os resultados e conclusões apontam para as formas de se inserir a
discussão sobre Escola de Pais nos cursos de formação de professores. Considera-se que os cursos de formação
necessitam atender às demandas por práticas pedagógicas, artísticas, entre outras para professores, que
correspondam a uma conjuntura dinâmica e bastante específica, que envolve as novas configurações familiares; as
relações de gênero; os modos de viver e de trabalhar; e as relações interpessoais e as vivências estéticas. Entre os
anos 2012 a 2016 desenvolvemos o projeto Escola de Pais, no Centro de Referência Especializada de Assistência Social
(CREAS), na cidade de Itapetininga e nos deparamos com uma realidade: a cada ano, o número de adolescentes e
jovens em medida socioeducativa aumentava. Enquanto avançávamos nas conversas durante os encontros
organizados pelo referido projeto, os pais/responsáveis aumentavam sua conscientização sobre a importância do
investimento na relação afetiva emocional com seus filhos, sendo que, na maioria dos casos, constatavam que havia
fragilidade nos laços afetivos emocionais em seus núcleos familiares. Essa aproximação, facilitava uma variável
importante no processo de ressocialização e reintegração, tanto no próprio campo familiar quanto no campo social,
trazendo benefícios à coletividade. Na atualidade, família e escola compartilham parte significativa da educação das
crianças, ou seja, instituições familiares e escolares são coparticipantes do processo de ensino-aprendizagem.
Observamos que muitas famílias delegam a formação de seus filhos para a escola, e esta não se propõe a assumir um
papel principal, e sim, o de compartilhamento. A partir do progresso obtido com pais/responsáveis na Escola de Pais,
propomos uma ampliação deste projeto, realizando a intervenção como medida preventiva, ou seja, investindo de
modo preciso e em larga escala na primeira infância. Levar este projeto para as escolas, atendendo às famílias, ainda
quando suas crianças são pequenas, oportunizaria a aproximação nas relações afetivo-emocionais. Um movimento
que a longo prazo resultaria em benefícios sociais de grande valia. Os desdobramentos que se apresentaram nos
levaram a pensar em um investimento na Educação, qual seja, a inserção do projeto Escola de Pais nas redes de
282
escolas públicas, municipais e estaduais, como uma possibilidade de mudança na condição de vida das crianças,
adolescentes e jovens e, por conseguinte, as famílias poderão ser beneficiadas - um trabalho preventivo, que poderia,
em alguns anos, contribuir para diminuição na demanda das aplicações de medidas socioeducativas. Uma pequena
mudança com impacto significativo para o futuro.

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O psicólogo no cotidiano escolar: limites e possibilidades de enfrentamento aos desafios da inclusão
Autores: osangela Porfírio Bastos, UFAM; Claudia Regina Brandão Sampaio, UFAM
E-mail dos autores: rosareis1284@hotmail.com,claudiasampaioufam@hotmail.com

Resumo: A educação, como um direito social, inspira-se na noção de igualdade e, como um direito fundamental
especial da criança e do adolescente, orienta-se pela condição peculiar de desenvolvimento desses sujeitos. Esse
relato objetiva partilhar as experiências do psicólogo em equipe multiprofissional, no contexto escolar. Espaço este,
ainda, não totalmente assegurado nas escolas da rede municipal de ensino da cidade de Manaus. Por isso, as
demandas escolares são encaminhadas ao Centro Municipal de Atendimento Sociopsipedagógico que atende alunos
com dificuldades de aprendizagem, queixas comportamentais, negligência e infrequência escolar, entre outros. Para
além da queixa manifesta, os motivos dos encaminhamentos trazem implícito o caráter complexo e dinâmico que
caracteriza cada realidade escolar, evidenciando que o trabalho do psicólogo na escola é marcado pela dialética
limites/possibilidades, pois essa instituição reflete os conflitos de valores, moral, ideologia, etc., que coeexistem na
sociedade. Se por um lado as políticas públicas sinalizam para a implementação de diretrizes educacionais
fundamentadas no Paradigma Inclusivo, por outro lado identificamos no cotidiano escolar o reflexo de ações
governamentais que se baseiam em princípios neoliberais tais como: produtividade, desempenho, qualidade total,
eficiência, eficácia, etc. Em nossa prática cotidiana, observamos a urgência de propostas de enfrentamento aos
desafios que a inclusão da diversidade tem evidenciado e que relacionam-se, em geral, com a falta de profissionais de
apoio; precarização do trabalho; condições insuficientes de acessibilidade; vivências de fracasso escolar nos
educandos, gerando sofrimento ético-psiquíco nos docentes, entre outras situações que demandam atenção do
psicólogo e da equipe multiprofissional. Ao contextualizarmos, identificamos que esses desafios geram, não raro,
conflitos entre a cultura da escola e as demandas sociais endereçadas à escola, através de ações/programas e projetos
que, não raro, não são viáveis de serem colocados em prática. Nesse cenário, o psicólogo necessita de conhecimentos
para além da técnica, ou seja, que configure um suporte teórico crítico que o possibilite problematizar o contexto de
cada escola e sua comunidade. Deste modo, consideramos pertinentes as contribuições teóricas de Paulo Freire sobre
a Educação Libertadora articuladas ao Paradigma Inclusivo fundamentado nos Direitos Humanos, as propostas de
Gonzaléz Rey sobre os processos complexos de produção da subjetividade e, por fim, as concepções latino-americanas
sobre resiliência que se configuram na relação com outro. Algumas escolas mostram-se mais resilientes que outras e
estudar as condições que fortalecem essa instituição e a pessoa dos alunos é um insumo crítico para promover o
melhoramento da qualidade educativa e combater o fracasso escolar nos contextos sociais mais vulneráveis
(MURTAGH, 2005). .Acreditamos que o trabalho do psicólogo na escola deve orientar-se pelas demandas identificadas
na comunidade escolar, proporcionando atividades participativas que promovam o espaço público para a circulação da
fala dos sujeitos, bem como o reconhecimento de si e das condições desiguais e excludentes em que, muitas vezes,
nossas crianças/adolescentes estão inseridas. Seja com as famílias, com a equipe pedagógica ou com os educandos, o
psicólogo não pode prescindir da escuta, porém deve ocorrer no processo dialógico-reflexivo, abdicando de uma
postura de superioridade em relação ao outro. Assim, trabalhamos com oficinas temáticas, durante as quais
realizamos o trabalho de sensibilização e orientação junto aos alunos e suas famílias e equipe pedagógica escolar
partindo da demanda identificada no processo de trabalho da equipe multiprofissional. Não raro, identificamos a
necessidade da realização de visitas domiciliares com o intuito de conhecer a dinâmica familiar em que a
criança/adolescente encontra-se inserido e, assim, melhor intervir no caso específico. Também são realizados
encaminhamentos dos educandos e suas famílias aos serviços de saúde, assistência social, etc., para que sejam
atendidos em suas necessidades e dificuldades e que implicam no processo de escolarização. A ênfase da ação deve
prevalecer sobre o aspecto da integralidade do sujeito/comunidade, ou seja, o foco deve ser no potencial criador, com
o intuito de promoção da resiliência diante aos desafios que marcam o cenário do trabalho educativo na escola
pública. Deste modo, entendemos que o saber/fazer do psicológo no contexto da escola pública deve orientar-se em
direção de um compromisso ético-político com a transformação de condições desiguais e excludentes de acesso e
284
permanência dos educandos, visando proporcionar experiências/vivências mais significativas para todos os envolvidos
no processo educativo, que sejam promotoras de resiliência e superação das dificuldades educativas manifestadas
pelos alunos em sua relação com o instituído e cristalizado no cotidiano da escola que, por sua vez, tem sido alvo de
demandas para além de sua capacidade formativa dentro das condições em que encontra-se organizada e atravessada
por conflitos intensificados pela crise política e econômica que tem afetado, sobretudo, a população mais vulnerável
no último ano pós-impeachment. O que sinaliza uma urgência por espaços não só de reflexão crítica, mas de
mobilização em prol de uma escola reinventada para o real acolhimento da diversidade e suas necessidades
educacionais.

285
O que pode o corpo em cena na cidade?
Autores: Antônio Vladimir Félix da Silva, UFPI
E-mail dos autores: wladyfelix@hotmail.com

Resumo: A produção de cidades subjetivas por artistas que fazem arte de e/ou na de rua expressam modos de vida
precária (Butler, 2015; Agamben, 2008, Pelbart, 2013), marcados pela coexistência de invisibilidades e micropolíticas
do desejo de ocupar a cidade por meio da arte (Rolnik, 2006; Guattari & Rolnik, 2010; Guattari, 2012) e da invenção
ético-estético-política das forças da vida que resistem (Deleuze & Guattari, 2012; Pelbart, 2013). Cuidado de si e
estética da existência são analisadores que emergem em torno dessa problemática Arte e processos de subjetivação
de artistas nas ruas, praças e estações a partir do problema de pesquisa O que pode o corpo em cena na cidade?
Trata-se do resultado de uma pesquisa realizada entre 2016 e 2017, em uma cidade do litoral piauiense, com o
objetivo de cartografar processos de subjetivação de artistas nas ruas, praças e estações. A cartografia (Rolnik, 2006;
Barros & Kastrup, 2009; Kastrup & Passos, 2014) se configura como um modo de fazer pesquisa-intervenção que se
constitui do encontro entre pesquisador e participante na arte de afetar e deixar-se afetar com os processos de
subjetivação e produção de subjetividades contemporâneas. Para cartografar os processos de subjetivação enunciados
no objetivo da pesquisa, compomos paisagens psicossociais da cidade com vinte participantes, utilizando-se da
cartografia do corpo em cena na cidade, da arte e de objetos relacionais (Rolnik, 1998, 2013): teatro, dança, vídeos,
cenas curtas, elementos do hip-hop e poesia; considerando, arte relacional também o modo de fazer arte de cada
participante. Durante a pesquisa, mapeamos cinco espetáculos de teatro de rua e compomos com um grupo de teatro
local três cartografias do corpo em cena na cidade e três encontros com um grupo de jovens do movimento hip hop da
cidade. Acompanhamos nas ruas, praças e estações, um estrangeiro que vive há 17 anos em cidades brasileiras e uma
coquista e cirandeira do Distrito Federal, envolvidos em movimentos e processos artísticos de rua e na rua, assim
como algumas pessoas que, ao transitarem por esses espaços, em geral, acabaram se deparando com o trabalho
desses artistas e se relacionando com sua obra. Na pesquisa, utilizamos diários cartográficos (EPS em Movimento,
2014) para registro da produção das informações. Para análise desses dados, utilizamos a esquizoanálise (Deleuze &
Guattari, 2012a; 2012b), especificamente, um dos componentes dessa caixa de ferramentas e afecções, a saber: o
estudo das multiplicidades de devir arte e dos agenciamentos dos processos de subjetivação dos artistas,
agenciamentos que efetuam as máquinas abstratas [Instituições] (2012a, p. 111), incidindo em lineamentos, que
atravessam tanto os grupos quanto os indivíduos (2012b, p. 85), e que apontam tanto para dispositivos (Foucault,
citado por Agamben, 2010) quanto para analisadores (Monceau, 2013; Rodrigues, 2013; L Abbate, 2013; Nascimento
& Tedesco, 2013), haja vista que a esquizoanálise é imediatamente prática, imediatamente política, quer se trate de
um indivíduo, de um grupo ou de uma sociedade (Deleuze & Guattari, 2012b, p. 85). A análise e os resultados dessa
cartografia apontam para a coexistência de processos de territorialização e desterritorialização em trono dos
analisadores cuidado de si e estética da existência (Foucault, 1982/2014, Deleuze, 2009). Mostra também que as
forças que compõem a micropolítica do desejo de fazer arte de rua e na rua aponta para a arte relacional como
dispositivo de produção de territórios existências e de espaços heterotópicos (Foucault, 2013) que se inscrevem com o
corpo em cena entre cidades, pontes, rios, asfalto, calçadas, ruas e impressionante arquitetura de um patrimônio
histórico enclausurado por muros, grades e proibições que tratam de limitar o direito à cidade (Lefebvre, 2011), o
direito de ir e vir e experimentar-se na cidade. Essa politização do corpo em cena é uma tradução de resistência ética,
estética e política que potencializa sonhos e desejo de mundo; fala da liberdade e do desejo de fazer da vida uma obra
de arte.

286
Poética da resistência: desdobramentos de um diálogo artístico-político
Autores: Wallace Araujo de Oliveira, UERJ; Debora Emanuelle Nascimento Lomba, UERJ; Monique Araújo de Medeiros
Brito, UERJ
E-mail dos autores: wallacearaujo1982@hotmail.com,debora_lomba@yahoo.com.br,monique_brito@yahoo.com.br

Resumo: Dentre as muitas formas de se fazer ciência, o presente trio de pesquisadores e propositores objetiva traçar
uma discussão a partir do trabalho final da disciplina Teoria ator-rede e trabalho de campo , do Programa de Pós-
graduação em Psicologia da UERJ, como um dos modos de experimentação prática do referencial metodológico da
Teoria Ator-Rede (TAR). Como resultado, apostamos na criação de um site, fruto de uma sessão de fotos na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Campus Maracanã, ou seja, um conteúdo que vai além de uma escrita
acadêmica, dialogando com uma manifestação estética e poética em meio a ações de mobilização em prol de nossa
universidade que sofre com o descaso de seus governantes. Um diálogo artístico, cujos conteúdos e discussões
rompem as paredes de sala para maior comunicabilidade e compartilhamento digital. Denominamos Poética da
Resistência este desdobramento da interlocução de diários de campo, sensíveis intervenções e manifestos
compreendidos como políticos, ricas conexões com atores não-humanos, percepções artísticas cultivadas e
desenvolvidas com a fotografia.
A disciplina mencionada ocorreu no primeiro semestre do ano de 2017, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), a qual tem vivido um cenário conturbado de luta e resistência de suas/seus funcionárias/os e alunas/os. Assim,
desencadeando processos singulares de interação e resistência, estes verdadeiros ativistas da educação são
convocados ao mesmo tempo que convocam para este campo de manifestação, muito além dos muros institucionais
com participações das mais diversas, seja como proposta educativo-científica ou exercício pleno de cidadania. Neste
contexto, a professora titular da disciplina nos fez o convite para nos juntarmos aos manifestantes que convocaram
uma aula pública na frente do Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A proposta era que
participássemos desta aula pública, ou melhor, que fizéssemos nossa aula neste espaço escolhido como campo de luta
e resistência aos desgovernos que têm nos atingido.
A partir desta vivência, surgiu a proposta da produção de um diário de campo. Inicialmente uma produção individual,
posteriormente a sugestão de trabalharmos em pequenos grupos. Assim, houve o entrelaçamento de testemunhos e
protagonismos, a sensibilização aos atores humanos e não humanos, compondo narrativas desta aula pública, cuja
potência identificada desperta a configuração fotográfica, bibliográfica, empírica e documental da presente pesquisa.
Como resultado, dentro dos embaraços transformadores do crítico quadro da UERJ, relações, influências e
ressignificações de uma prática estudantil cidadã consolidaram elos de fortalecimento que entendemos poeticamente
como fios condutores de uma perspectiva influenciada pela teoria em questão e nos levando a assumir papéis e
lugares em meio aos conflitos e à defesa de nossos direitos.
Para essas reflexões, fomos atingidos pelos atravessamentos teóricos da Teoria Ator-Rede, além do devir-
questionador que a Filosofia da Diferença suscita em nossos corpos. Portanto, as noções de ator/actante, rede,
rizoma, linhas de fuga, encontros alegres e tristes, agenciamentos coletivos, dentre outros, habitam essa produção.
Outro importante aliado nessa construção foi a leitura e discussão do livro Modes of knowing resources from the
baroque, de organização de John Law, uma vez que encontrou-se a proposta de pensar outros modos de conhecer,
despertando para a proposta atual de comunicar através de imagens a poética de resistência vivenciada neste
semestre letivo.
Dessa forma, esta proposição se conecta ao GT Ecologias Outras: traçados poéticos, estéticos e políticos , bem como
ao eixo temático 4.Insurgências ético-estético-políticas: artes, tecnologias e subjetivação ao explicitar uma versão
ética-estética-política da experiência vivida corporalmente pelos seus proponentes. Situada formalmente no âmbito
de uma disciplina, mas ultrapassando seus limites espaço-temporais para localizar-se nas ruas da cidade do Rio de
Janeiro, que vive uma situação de crise político-econômica, convocando trabalhadoras e cidadãos para a luta pelos
seus direitos. A forma como a aula-intervenção foi vivida por este trio de alunos, conectados aos diversos atores
287
humanos e não humanos, gerou uma potência que, pela forma leve, porém densa, transmutou-se em uma versão
visual e digital, que busca levar aos olhares atentos à potência que estes encontros produziram.
Nas impactantes contradições que evidenciam a problemática do Estado e, como estratégia para consubstanciar a
continuidade da educação, uma proposta crítico-reflexiva se faz necessária como parte de sensibilização da sociedade
como um todo, acompanhando configurações em meio às práticas sociais e reiterando a importância da UERJ para a
formação acadêmica e sociocultural do Rio de Janeiro e do Brasil. Isto posto, a produção do site a ser apresentado
neste GT, juntamente com a explanação do processo de construção do mesmo contribui para a visibilidade das
questões que atravessam todos os sujeitos envolvidos com esta Universidade. Enquanto uerjianos e uerjianas que
ocupam seus lugares e participam desta luta, trazemos em nosso trabalho a possibilidade de apresentar um modo de
construir conhecimento através do entrelaçamento entre estas questões político-econômicas e a produção
acadêmica, legitimando uma produção artística, imagética, conceitual e poética da resistência.

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Psicologia Social Multiespécie: narrativas de dança/pesquisa com cavalos
Autores: Danielle Milioli, UNESC; Dolores Cristina Gomes Galindo, UFMT
E-mail dos autores: daniellemilioli@gmail.com, dolorescristinagomesgalindo@gmail.com

Resumo: A atual demanda contemporânea relativa aos processos de desalojamento e morte de milhares de pessoas
em função das grandes catástrofes ambientais, conduz a Psicologia Social a atentar cada vez mais a indissociabilidade
entre natureza e cultura, humano e não humano. Os trabalhos de Vinciane Despret e Donna Haraway, situados nos
Estudos Multiespécies, propõe um escopo ampliado de investigação em Ciências Humanas e Sociais, o qual abre a
compreender modos de viver como ecologias nas quais humanos e não humanos partilham significados, interesses e
afetos. Nesta pesquisa, a partir de Doma - um experimento de dançar/pesquisar com o mundo dos cavalos -
propomos que relações com estes animais efetuam corpos coafetivos e contribuem para pesquisas em Psicologia
Social Multiespécie. Ao mobilizar a dança como experimento de pesquisa em Psicologia Social, assumimos o recurso à
ficção como possibilidades de construção de saberes especulativos repletos de potência de pensamento e ação no
mundo. Na dança, lidamos com a qualidade do figurável; um saber nem sempre atualizável, mas que traduzido à
pesquisa possibilita amarrações narrativas capazes de fazer visualizar as relações multiespécies que florescem as
margens do conhecimento científico. (HARAWAY, 2016: AGAMBEN, 2008; COSTA, 2014). A dança-pesquisa Doma foi
realizada principalmente no projeto Cavalarices, coordenado por Juliana Dorneles, que na época estava alocado em
rancho localizado no município de Palhoça, Santa Catarina. Realizamos ainda visitas a uma escola de equitação e a um
Centro de Tradições Gaúchas (CTG). Também foram realizadas pesquisas sobre trabalhos artísticos com cavalos,
cavalos no cotidiano urbano e pesquisa de movimentos de dança a partir de memórias de nossas relações com
cavalos. No Cavalarices, durante sete dias, imergimos num convívio intenso (manhã, tarde e noite) com cavalos que
abarcou participação e/ou observação de todas as atividades realizadas pela coordenadora, que envolviam desde
passeios turísticos, atividades de cuidado direto como escovação, lavagem, alimentação, treinamentos dos animais
para equitação, aulas de equitação (que aconteciam na escola, localizada em município vizinho) e colocação dos
aparatos para montaria, bem como em conversas com criadores, domadores, cavaleiros e cavaleiras que transitavam
pelo rancho e professores de equitação. Por último, realizamos experimentos de dança de Contato de Improvisação
(CI) com o cavalo Eragon no CTG. Tivemos oportunidade de conviver com diferentes práticas, que vão desde as
consideradas mais subalternas, delegadas aos cuidadores aos quais é atribuído, por exemplo, o ofício de limpar fezes,
até as práticas nas escolas de equitação, nas quais aos cavaleiros lidam com os cavalos limpos e alimentados. O foco
da pesquisa, no entanto, concentrou-se nas práticas de domesticação e treinamento, considerando os diferentes
ambientes e seus modos de domesticar e treinar. Na dança/pesquisa com cavalos exercitamos o olhar para um tipo de
relacionamento no qual humanos e cavalos desenvolvem processos de codomesticação; relações entre agências
distintas, entre corpos em processos de mútua subjetivação (MAURSTAD; DAVIS; COWLES, 2013; DESPRET, 2011). Para
Haraway (2008) treinamentos com animais mobilizam técnica, cálculo e método. Porém, estes não são a resposta à
situação de treinamento, que é irredutível a qualquer cálculo. Resposta é compreender a conexão que produz a
decisão real a cada situação. Resposta é a face-a-face na zona de contato de uma relação emaranhada. Humanos
relacionam-se com as possibilidades de desempenho reais dos animais na situação de treinamento,
independentemente de suas projeções sobre suas habilidades: um tipo de relação que escapa a funcionalidade
biopolítica. A partir desta proposição, dançar/pesquisar com cavalos não refere à busca por afirmação de animais
como artistas, mas ao interesse de investigar se humanos e cavalos são capazes, juntos, de criarem corpos coafetivos
numa situação de dança (DESPRET, 2016). Neste sentido, processos de codomesticação são situações que possibilitam
repensar ainda o tema dos afetos, preocupação constante na pesquisa em Psicologia Social. Estes processos
problematizam o estudo dos afetos como forma de subjugá-los a racionalidade relativa ao humano civilizado
(logocentrismo) (DESPRET, 2008, 2011). Dançar/pesquisar com cavalos requer o que Despret (2008a) chama de
disponibilidade que, diferente da ideia de interesse sentimental ou responsabilidade moral pelos animais, indica que
práticas de domesticação podem ser experimentadas como arranjos relativos ao que o outro o faz fazer . A
289
dança/pesquisa com cavalos exige atenção plena à situação, a abertura ao imprevisto e o compartilhar de interesses:
mais do que treinar, era preciso aprender a se comunicar, a observar ativamente o corpo do animal, a criar condições
para uma doma leve , ou seja, uma doma que abre as desterritorializações dos modos de viver nos quais os afetos
devem ser intensificados ao invés de controlados; nos quais o movimento de antropomorfizar o disruptivo é fatal as
relações. Uma tentativa de dar vasão à pesquisa em Psicologia Social como efetuação de convivência multiespécie,
afim de que possamos assumir com responsividade os diferentes modos de viver que podem dar continuidade a vida
na Terra.

290
RITMOS DE PENSAMENTO: movimentos ecologistas de pensar educação e vida
Autores: Alda Regina Tognini Romaguera, UNISO
E-mail dos autores: aldaromaguera@gmail.com

Resumo: Ritmos de Pensamento se propõe a estabelecer conexões entre a pesquisa acadêmica e diferentes áreas de
cultura, arte e conhecimento, de modo a sintonizá-las num ritmo próprio com várias combinações. Tal ritmo deseja
pensamentos em composições líteromusicais, em combinações da imagem com a teatralidade, em expressões
possíveis do corpo que dança e canta e gestualiza e resinifica subjetividades. Pretende ressaltar a potência estética
dessas combinações, criando zonas de vozes com artistas, pensadores, críticos, psicanalistas, educadores, para
imprimir outras conexões afetivas. Este projeto surgiu de um esforço de produção artística de grupos de pesquisa e de
coletivos de arte e perspectivas ecologistas, grupos de estudos acadêmicos, grupos de psicologia e/ou psicanálise que
vêm buscando o uso de diversas linguagens artísticas, para abordar questões socioambientais, culturais e psicológicas
que são latentes no cotidiano. Por isso pensa em um formato, ou epistemologia diferenciada, para reunir as diversas
experiências em conexões a partir de Ritmos de Pensamento. A conexão proposta entre várias expressões artísticas,
estudos filosóficos, educativos, psicanalíticos, vem ocorrendo na cidade de Sorocaba desde 2016 e se amplia para
outros municípios em 2017. Pretende-se pensar uma metodologia de problematizar espaçostempos (Alves, 2003) de
diversidades e transformações socioambientais e culturais, em conexões com a Educação, tematizando conceitos
inerentes aos estudos da subjetividade no corpo, na palavra, criando interfaces com a poesia, a literatura, a música, a
ecologia, a psicanálise, entre outros. Surge da reunião e confluência de várias áreas de pensamento e criação, aqui
representadas pelo meio artístico e acadêmico e, por perspectivas ecologistas que enfatizam a cidadania em relação
ao ambiente pela via eco-estético-política. Está em conexão com o conceito de Ecologia Inventiva (PREVE;
GUIMARÃES; BARCELOS; LOCATELLI, 2012) que, por sua vez, se caracteriza pela produção de sentidos no cotidiano
escolar através e com artefatos e expressões culturais; reúne-se em torno da atuação de coletivos, de grupos de
pesquisa e de profissionais que desenvolvem atividades ligadas aos temas propostos. Esta proposta nasce do desejo
de ampliar o acesso aos conhecimentos que são produzidos nestes coletivos e grupos, que ficam restritos aos meios a
que pertencem. Pretende disseminar conceitos contemporâneos pela cidade, em espaços públicos, para multiplicar as
mais diversas potências da arte, da cultura e do pensamento que conversam com o conceito de incerteza viva, como a
exemplo da 32a. Bienal de Arte de São Paulo. Tal epistemologia toma por referências autores contemporâneos, tais
como Agamben (2004); Bauman (2001, 2008); Deleuze (1988, 1996, 2008); Deleuze e Guattari (1999, 2004); bem como
as epistemologias do sul de Boaventura Souza Santos (2012; 2016), a Gaia de Bruno Latour (2014), e os artistas e
poetas da cena nacional: Luiz Serguilha, Tetê Espíndola, Marta Catunda, Bené Fonteles, dentre outros e outras. A
nossa proposta é a de criar um movimento proliferante, abrindo espaços capazes de inspirar e motivar tanto os
artistas, de todas as linguagens, quanto os pesquisadores, que possam reunir e divulgar expressões éticoestéticas e
manifestações líteromusicais, performáticas, imagéticas produzidas na e com a cidade. Pretende-se problematizar o
uso de diferentes linguagens em conexão com diversas mídias e múltiplos recursos literários, em espaços
educacionais; oportunizar a pesquisadores e professores possibilidades de pensar a multiplicação de experiências no
contato com diferentes linguagens; liberar a escrita e as práticas educacionais de um regime escolarizante, que reduz
o contato com a língua a uma função meramente comunicacional. Para além de uma subjetividade tecnicista, abre-se
espaço para a produção de um indivíduo criador, capaz de transversalizar as experiências; capaz de extrair do mundo a
criatividade e a singularidade que transformam a processualidade em auto referência (GUATTARI, 2008). Como
objetivos específicos, propõe-se a trabalhar junto à comunidade escolar e acadêmica enfocando a experimentação
com imagens, escrita, música, e outras linguagens artísticas. Realizar, em local público escolhido, Encontros Temáticos
singulares com quatro filósofos, poetas, educadores; com musicistas, dançarinos, atores no formato proposto de
combinações e conexões onde/quando os conceitos e temas e expressões artísticas conversem. Registrar o processo
em um artefato de divulgação em meios especializados e em sites, redes sociais, para reverberar resultados. Ressoam
nessa diversidade de experiências metodológicas e expressões de pensamento, as inquietações socioambientais e
291
culturais de um contexto conturbado e complexo, que se convencionou chamar de crise de civilização. Estas
manifestações, por si só, promovem a reunião nas ruas, em diversos locais das cidades de um público diverso. Este
fenômeno contemporâneo ressalta a necessidade de metodologias de integração dessa diversidade de públicos e
formas de coagulação nos espaços coletivos de expressão artística e cultural vivas. O objetivo é o de reunir a potência
éticoestética, da arte e da cultura, e as perspectivas ecologistas, criando combinações que possibilitem ampliar a visão
de mundos nascentes.

292
ECO Concerto para Ensemble, Galho de Árvore, Vozes e Pios
Autores: Rodrigo Reis Rodrigues, UNESP
E-mail dos autores: rodrigoreisr@gmail.com

Resumo: A proposta de exibição da gravação áudio-visual de ECO (duração 30 minutos), está em conexão com o GT
Ecologias Outras: traçados poéticos, estéticos e políticos, criado para acolher estudos, pesquisas e intervenções
sensíveis que problematizam agenciamentos entre arte, tecnologias, psicologia social e política, e com o eixo escolhido
4. Insurgências ético-estético- políticas: artes, tecnologias e subjetivação que pretende reunir estudos sobre as mais
diversas expressões artísticas e processos de subjetivação, criação poética, resistência política na conexão com Grupos
Estudos, de dentro e fora das IES, com Coletivos de Arte, Permacultura, de Psicologia Social entre aqueles processos
insurgentes que problematizam, tiram da invisibilidade, ou das margens a dinâmica cotidiana dos referidos grupos.
Os quatorze anos de implicação com o Grupo de Estudos e Ações em Ecosofia culminaram na composição orquestral e
na produção do concerto ECO (Disponível em <www.youtube.com/watch?v=oGYQmtC5B5E>), um fazer que marca a
conclusão da graduação em Composição e Regência no Instituto de Artes da UNESP em São Paulo, entre 2010 e 2016.
Para além de obra autoral, Eco tem relação com a autopoiese, obra autopoiética. Trata-se da ocupação de um
território com intento de criar e compor um ecossistema vivo e potente, de produção de subjetividade, um campo de
afecções eco-políticas e com isso, de contribuição com a pesquisa acadêmica. Território onde o termo compor é
subvertido e se torna por com, por em comum e o papel do compositor é fomentar um ambiente composicional, onde
composição se torna compositura (como em tessitura), e a sala de concerto propicia condições para hospedar um
ecossistema sonoro vivo.
O concerto para ensemble, percussão sinfônica, apitos ornitológicos e um coro glossolálico com 18 vozes, é
estruturado em quatro seções e tem duração de 30 minutos. É resultado de uma extensa pesquisa científica sobre
biofonia e glossolalia, registrada no trabalho acadêmico ECO Processos Composicionais e Autopoiese, que foi
premiado pelo IA-UNESP por sua excelência. O concerto também ganhou um longa documental dirigido pela cineasta
Tania Campos, estreado em julho de 2017, onde o compositor detalha as pesquisas e processos composicionais
implicadas na sua criação.
A obra articula musicalmente conceitos de Nietzsche, Deleuze e Guattari, sobretudo os Últimos Homens, Rostidade,
Devir e Ecosofia; e conceitos de Artaud, especialmente o Corpo-sem-Órgãos e a Glossolalia.
O coro glossolálico de 18 vozes foi composto um grupo heterogêneo de pesquisadores atores, terapeutas e artistas do
corpo, que se investiram em 5 meses de laboratórios de pesquisa e criação no que chamei Glossolalia Intensiva. A
proposta foi explorar ampla e minuciosamente a musculatura fonatória tendo como suporte expressivo e roteiro para
esta prática, os pontos de articulação e os modos de articulação constantes no quadro do Alfabeto Fonético
Internacional.
ECO é um processo transdisciplinar, território fértil e prenhe de potencialidades que certamente movimentou todos os
que o compuseram: cerca de 50 pessoas entre docentes, pesquisadores, performers, instrumentistas e técnicos de
dentro e de fora do Instituto de Artes da UNESP. Um fazer micropolítico social, subjetivo, ambiental; ação ética-
estética em devir-revolucionário; processo de ressingularização e reconquista da autonomia criativa, solidária e cada
vez mais diferente; um meio minúsculo ode à Ecosofia de Felix Guattari.

293
Entre poderes. O que se pode?
Autores: Juliana Soares Bom-Tempo, UFU
E-mail dos autores: ju_bomtempo@yahoo.com.br

Resumo: ASFALTO: do latim ASPHALTUM ou do grego ASPHALTOS, desmembrando-se em A-SPHALLEIN no sentido de


"não fazer cair", "não falir". Um tipo de aderência que funciona como tessitura pavimentada, impermeabilizando as
transições e construindo bordas opacas. Solo para andar: o tecido da cidade. Um pavimento se constrói enquanto
espaço de toques e trocas. O grupo "Asfalto - texturas entre artes e filosofias" realiza pesquisas prático-teóricas com a
urbanidade, tendo na ideia de "asfalto" as estriagens que direcionam os trânsitos e os modos de perceber, estar e
viver uma cidade. Destarte, somos movidos pelas questões: como se dão as tramas sociais, políticas, linguísticas,
arquitetônicas e corporais que organizam os fluxos do espaço urbano? Além disso, como intervir e ensaiar
procedimentos para fissurar os "asfaltos" e as linhas que endurecem a cidade? Para tanto, nos interessa as concepções
filosóficas de Gilles Deleuze e de Félix Guattari, bem como as estratégias ligadas às Artes do Corpo e Visuais e a
Literatura.
Assim, propomos uma Manifestação Cultural no encontro ABRAPSO de 2017 que opere enquanto intervenção
performática, no sentido de problematizar os modos de relação e as forças visíveis e invisíveis que operam
ordinariamente nos corpos. Além disso, temos com intento potencializar as linhas de afeto e os encontros, afim de
produzir uma clínica poética no e com o cotidiano. O que nos move é o desejo de agenciar linhas que nos possibilitem
escapes diante dos intoleráveis - insurreições. Nas palavras de Deleuze e Guattari no livro "Mil Platôs: capitalismo e
esquizofrenia". Volume 3 de 1996:
"O desejo é sempre agenciado, ele é o que o agenciamento determina que ele seja. No próprio nível das linhas de
fuga, o agenciamento que as traça é do tipo máquina de guerra. As mutações remetem a essa máquina, que
certamente não tem a guerra por objeto, mas a emissão de quanta de desterritorialização, a passagem de fluxos
mutantes (toda criação nesse sentido passa por uma máquina de guerra)".

Sinopse
Fazer vazar as forças do Estado, escapar por dentro. No encontro, ativar os afectos. Habitar o entre , o intermezzo. O
que se pode no entre [os intoleráveis e as insurreições] dos poderes?

Descrição
Frente aos intoleráveis e às insurreições, vivemos entre poderes os poderes do Estado; os poderes dos encontros; os
poderes dos afectos. O que pode um corpo? A pergunta espinosista nos convoca ao combate, à sabotagem, à
insubordinação. Propomos três intervenções que diagnosticam, cultivam e proliferam as forças que nos atravessam,
nos amortizam e, também, nos abrem a outros possíveis. Tais intervenções operam enquanto ervas daninhas, se
espraiam em sentidos variados; ora despotencializam, ora potencializam os corpos em jogo.
- Primeira intervenção: Diagnóstico das Forças O Estado.
COM-Tensões
Presenças violentas inundam, invadem, comandam. Atingem os corpos fazendo o Estado funcionar como caixa de
ressonâncias. A precariedade efetivada da vida, não é o mais temido, mas sim aquilo que já está aqui, operando
cotidianamente.
Intervenção Urbana 14 corpos encoleirados conduzidos por um poder central, um corpo feminino bem vestido e sem
rosto. (Trajetória a definir).
- Segunda Intervenção: Cultivo das Forças o Encontro.
Oficina Ata-me em teus braços coletivos
Como se dá o encontro do corpo e da cidade a partir das epidermes pele e chão? Quais dramaturgias de um corpo-
cidade são criadas nesse encontro? Quais devires são produzidos? Uma contaminação por superfícies. Oficina de
294
Criação Realização de laboratórios de rolamento e pesquisas de encaixes corporais; ou seja, formas de encaixar dois
corpos de maneira a dar mobilidade no rolamento de um sobre o outro. (Qualquer espaço aberto). ABERTA AO
PÚBLICO INSCRIÇÕES PRÉVIAS.
- Terceira Intervenção: Proliferar as Forças o Afecto.
Ata-me em teus braços coletivos
Acompanhar as dramaturgias de corpos/cidade criados junto a um processo performático que têm a horizontalização
como estratégia poética. Os afectos produzidos num abraço que une peles e as misturam com o chão. Chão pensado
também como uma epiderme da cidade. Na quebra dos padrões corporais que ditam o como ocupar o espaço da
cidade, tirar os corpos dos modos verticalizados de estar sob e colocar-se em um estar com . Atar-se como modo de
re-existir.
Intervenção Urbana Intervenção decorrente da Oficina de Criação. Em uma praça, em duplas, corpos chegam um em
frente ao outro e se abraçam. Atados pelos abraços, lentamente, deitam-se juntos no chão. Rolam um sob e sobre o
outro até encontrarem um obstáculo intransponível. Levantam-se e cada um vai para um lado. Voltam a caminhar pela
praça, encontram outro corpo, abraçam e recomeçam a ação. Várias duplas realizando a ação ao mesmo tempo.
(Espaço Aberto).

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Hiroshima e Nagasaki: reverberações de uma viagem
Autores: Eder Rodrigues Proença, UNISO
E-mail dos autores: eder.proenca1@gmail.com

Resumo: A presente proposta de manifestação cultural nasce de um trabalho desenvolvido com alunos e alunas do 5º
ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Professora Maria Domingas Tótora de Góes, em Sorocaba SP. A partir
de uma série de eventos que entrelaçam o professor Marcos Reigota com o cotidiano dessa escola uma foto de sua
autoria doada para a escola após a exposição depois do fim, o cotidiano , realizada em 2015 no Museu da Escola
Catarinense da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), em Florianópolis, e em 2016, na Biblioteca Aluísio
de Azevedo da Universidade de Sorocaba (UNISO); o livro Hiroshima e Nagasaki (2015), também de sua autoria; e sua
visita à escola para dialogar com as crianças e professores envolvidos no trabalho. O livro originou a exposição e
contém a foto que se encontra na Sala de Leitura da escola , mais que um relato de viagem realizada por Reigota, em
2000, às cidades de Hiroshima e Nagasaki, por ocasião do 55º aniversário das bombas atômicas lançadas sobre essas
cidades japonesas, a leitura é um convite a pensar as questões ecológicas, econômicas, a produção e uso da energia
nuclear, além das relações de poder e a necessidade de cada um assumir, em seu cotidiano mais particular, um
ativismo político e cidadão em vista da construção, mesmo que utópica, de uma sociedade mais justa, ecológica, ética
e pacífica. No encontro com o autor, além de questões levantadas pelo grupo, pudemos ouvir outros relatos de sua
recém visita novamente ao Japão. Foi um momento em que pudemos ampliar nossa reflexão transdisciplinar sobre
meio ambiente, culturas, poder, guerra e paz. A partir desses eventos passamos a investir na produção de artes
plásticas e fotografias que revelam os atravessamentos causados aos alunos e alunas que buscaram outras
informações sobre as cidades atingidas pelas bombas atômicas em 1945 e os efeitos destrutivos dessas e outras
armas. A motivação para o presente trabalho parte da ideia de educação menor, construída por Silvio Gallo (2003) a
partir da leitura de Deleuze e Guattari , possibilitando a nós educadores extrapolar o currículo oficial e investir em
práticas cotidianas marginais e que não estão contempladas na chamada educação maior. Também perseguimos a
força do artivismo de Bené Fonteles, que com suas instalações, manifestos, performances, composições e rituais
simbólicos como na OcaTaperaTerrero (2016), criada para a 32ª Bienal de Arte de São Paulo, nos impele a inventar
novos espaços para o diálogo e, dessa forma, adiar o fim do mundo, proposta que nasceu a partir de uma ideia do líder
indígena Ailton Krenak. Em suma, o trabalho é fruto da pedagogia do subterrâneo, conceito que temos explorado em
nossa tese de doutorado em educação na Universidade de Sorocaba e busca evidenciar aquilo que se passa nas
brechas dos espaçostempos do cotidiano escolar (ALVES, 2008) e que não se solidifica ou engessa, pois é vista com
desconfiança ou não é compreendida por parte dos educadores que acreditam que tal prática não deve ser/estar no
interior da escola. O resultado é uma produção que se conecta com a proposta do GT Ecologias Outras: traçados
poéticos, estéticos e políticos , enquanto ação coletiva e pedagógica que apresenta o olhar singular das crianças para
temas complexos e que todos estão envolvidos à medida que precisamos assumir nossa cidadania planetária,
revitalizando, recriando, inspirando outros fazeres e investindo em forças contrárias às sujeitações que a mídia
empreende sobre os corpos, em vista de formatá-los para o mundo do consumo desenfreado e a não criticidade do
sistema que quer abater a todos como um rolo compressor. Das margens, produzimos poéticas de resistência e, dessa
forma, novas possibilidades e espaços para o ser-em-grupo (GUATTARI, 2001).

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Instrumentos Musicais Alternativos: Provocando Outras Ecologias
Autores: Mauro Tanaka Riyis, Ritmos de Pensamento; Alda Regina Tognini Romaguera, UNISO
E-mail dos autores: musicaserveparaisso@gmail.com,aldaromaguera@gmail.com

Resumo: Esta proposta parte da seguinte questão: Pode a construção de instrumentos musicais provocar outras
ecologias? Tal indagação busca em Felix Guattari (2001) o conceito de ecologia relacional para provocar, a partir dos
objetos do cotidiano, a produção de novas subjetividades que possam dar vazão a processos criativos com objetos
sonoros. Tal processo caracteriza-se por sua multidimensionalidade. Uma primeira característica deste processo é a de
quebrar um paradigma político-social do consumo no qual se privilegia a ideia de que só é possível produzir música a
partir de instrumentos já prontos, e de que quanto mais caro, mais musical, desfocando a música vinda do ser humano
e transferindo-a a objetos de pouco acesso. Outra esfera de discussão relaciona-se às questões educativo-ambientais,
tanto pela proposta de reuso de materiais, quanto pela retomada do fazer musical e a produção de objetos a partir do
que encontramos na natureza . Os instrumentos musicais historicamente foram descobertos a partir do que o
homem encontrava ao seu redor, como galhos, ossos, peles de animais, cascos, pedras, etc. através da exploração
sonora desses objetos. Com a evolução das tecnologias, chegamos aos instrumentos musicais já consagrados. Na
atualidade, os recursos naturais estão cada vez mais escassos e a produção de lixo é cada vez maior, mas as pessoas se
deparam, nos centros urbanos, com outros materiais na natureza . Torna-se necessário despertar a curiosidade a
respeito da exploração das possibilidades sonoras desses novos objetos com os quais tropeçamos nas ruas
diariamente. Que sons podem ser extraídos das garrafas PET, dos tubos de PVC, das sacolas plásticas, etc.? Um
importante conceito colocado no livro de Andrés Ribeiro (2004) com o Uakti: Um Estudo Sobre a Construção de Novos
Instrumentos Musicais Acústicos, resume bem os caminhos que guiam este trabalho: Os instrumentos já consagrados
e estabelecidos dão voz à música que já existe, são ótimos para reproduzirmos a música dos também já consagrados
compositores. Porém, se quisermos dar asas à criação de uma música nova, precisamos inicialmente repensar os
instrumentos musicais que darão vazão a essa nova música. Reunindo as contribuições da construção dos
instrumentos musicais a partir dos objetos do cotidiano citadas anteriormente com a frequente desculpa dada pelas
instituições púbicas de ensino básico de que não há recursos para a aquisição de instrumentos musicais deixando de
explorar questões importantíssimas no desenvolvimento global do indivíduo, como a escuta sensível, a curiosidade, a
exploração do ambiente, as questões estético-artísticas tanto musicais quanto plásticas, este trabalho considera de
suma importância uma aproximação maior da cultura musical com a cultura escolar pela possibilidade de exploração
sonora dos objetos, o que pode ser compartilhado com outras disciplinas além das artes. A proposta que segue, é a de
uma intervenção artística através de uma instalação sonoro-interativa, onde os instrumentos-escultura construídos a
partir de materiais reutilizados do cotidiano sejam um disparador da curiosidade da exploração das possibilidades
sonoras dos objetos expostos. Os instrumentos expostos foram utilizados nas gravações de um comercial e de um
disco (em andamento), demonstrando o potencial de utilização artística, facilidade de acesso e utilização por qualquer
pessoa.

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Resistir para Existir
Autores: Carmem Silva Machado, UNISO Sorocaba
E-mail dos autores: karmemmachado@yahoo.com.br

Resumo: Resistir para existir - eixo


Ms. Carmem Machado
Universidade de Sorocaba
A proposta da manifestação cultural se dará por meio da performance Resistir para Existir que trará a tona reflexões
a partir de uma pergunta que Carlos Rodrigues Brandão (2008) lançou em seu livro intitulado: Minha Casa, O Mundo -
O que cada um de nós podemos fazer em favor do mundo onde vivemos?
A performance trata-se de uma mulher Artivista, pesquisadora e professora que assume um cargo político na
secretaria de cultura de uma cidade do interior do Estado de São Paulo e se propõe a diminuir a distância entre o
poder público e a Comunidade Quilombola Cafundó. Mas o encontro acabou gerando um (des)encontro, ao retornar
para a cidade, a Artivista sentiu na pele-corpo a rejeição, o racismo e a intolerância do próprio poder público em
relação ao quilombo, e foi terminantemente proibida de frequentar o lugar enquanto estivesse assumindo o cargo na
secretaria de cultura. A Artivista entrega o cargo, porém o seu comportamento subversivo como diziam, jamais foi
esquecido na cidade. Ela retoma a sala de aula e tem a parede pichada : Professora Carmem Macumbeira.
Continua trabalhando na escola tentando diminuir a distância entre o quilombo e os estudantes. Quatro anos depois,
é novamente convidada a assumir a secretaria de cultura e novamente ela propõe a dona Regina um novo encontro.
Dona Regina é uma mulher ativista, guerreira e uma das responsáveis pelo quilombo e também uma das
colaboradoras para a retomada da posse das terras. Mas desta vez, a Artivista chama o poder público, os docentes, os
artistas os estudantes, a comunidade local e convida Bené Fonteles(2017) para acolher a conversa entre eles.
Bené Fonteles inicia o encontro pedindo para que as pessoas fechem os olhos e escutem o lugar. A Ativista se lembra
das palavras de Paulo Freire(1996) preciso aprender a compreender a significação de um silêncio. Ali, na sombra da
da grande copa da árvore, mais de oitenta pessoas estavam presentes e atentas naquele terreiro. Viemos aqui para
ouvir Dona Regina , diz Bené Fonteles. A arte do encontro de Bené Fonteles (2008) obriga-nos a pensar com a emoção
inteligente, nunca com a inteligência racional. Para o artista, cada trabalho, cada encontro possui a importância de
uma mensagem, de uma troca de energias entre o criador e o receptor. Segundo o artista (2015) quando ele encontra
algo que o alumbra é como se aquilo sempre tivesse sido parte de sua história, ele deixa o momento vivido guardado
na memória afetiva, até que amadureça e possa ressignificar-se e ressignificar uma situação vivida intensamente e que
precisa transmutar .
O quilombo cafundó é tomado por uma atmosfera que despertou as memórias flácidas que estavam dentro da
Artivista e aos poucos foram sendo possuídas pelas memorias de um desejo adormecido e que despertavam a medida
em que a aproximação se dava cada vez mais intensa entre o que ela dizia em sala de aula, e o que estava fazendo ali
sentada naquele terreiro. Entre o que ela parecia ser e o que realmente estava sendo ( Freire 1996).
Dona Regina diz que energia da artivista há muito tempo já estava presente na Comunidade Quilombola, e que agora
era o momento de firmar parcerias. É dona Regina que fala da origem do quilombo, das lutas pelas terras, dos
enfrentamentos para a sobrevivência em meio a violência, do preconceito, das discriminações sofridas, das crianças
que são humilhadas na escola dizendo que elas vivem de recurso do governo, das armas que tiveram que usar para
sobreviver, da luta para resistir, da dificuldade em manter o do interesse dos jovens para que se apropriem do dialeto,
da religião, da festa, da capoeira , do jongo, e das dificuldades em manter o interesse dos jovens por seus costumes e
tradições, além da retomada das terras e do desejo de ter uma escola dentro da comunidade.
Ao final da conversa abre-se uma roda e somos chamados para o jongo. A língua materna cupópia está sendo
resgatada pelos jovens da comunidade Quilombola que participam formam o grupo de jongueiros. Na roda de jongo,
a Artivista se embala ao som da música e se une junto de suas ex-alunas, as professores e professores e aos
pesquisadores para saudar o encontro deste dia pisando com os pés no chão daquele terreiro.
298
GT 14 | Educação do campo e Psicologia Social: vivências, resistências e modos de subjetivação no
contexto escolar campesino

Coordenadores: Luiz Paulo Ribeiro, UNI-BH | Marcelo Loures dos Santos, UFOP | Maria Isabel Antunes Rocha, UFMG

Esta proposta de Grupo de Trabalho tem correlação com as discussões sobre a atuação da psicologia social nos
contextos educativos junto às populações campesinas. Para tanto, tem por objetivo apresentar e discutir propostas e
ações psicossociais no âmbito educação, com foco na atuação junto aos movimentos sociais, nas práticas de educação
popular e, principalmente, da Educação do Campo, ou seja, este grupo de Trabalho se atenta para como se tem
produzido modos de subjetivação e socialização no âmbito da educação nos contextos campesinos, além de
questionar quais ações em psicologia social se tem feito como propostas para o enfrentamento contra-hegemônico
junto às populações campesinas, populações tradicionais, quilombolas, remanescentes, ribeirinhos etc. Este se torna
uma possibilidade de reconhecer o que se tem produzido e executado em psicologia social com foco nas práticas
educativas com estes povos. Parte-se do pressuposto que estas populações, ao propor e executar práticas educativas,
estão lutando pela aquisição de direitos, por uma escola que seja para todos e que garanta uma educação pública,
gratuita e de qualidade. Há que se ter em mente também que por vezes os povos do campo, ao longo da história da
colonização, império e república no Brasil, foram marcados pela violência e pela negação de direitos; neste contexto, a
escola no campo – implantada sob a marca de educação rural – propunha uma educação urbano-centrada, focada na
fixação do homem ao campo, de forma a não possibilitar o desenvolvimento para estas populações, estagnando-as.
Por sua vez, a Constituição da República, promulgada em 1988, criou as condições institucionais para a luta por
direitos ao dar suporte às reivindicações de diferentes grupos sociais.
Nesse âmbito, alguns grupos sociais ocuparam lugar de relevância, como é o caso dos movimentos campesinos que
lutam por terra, educação, trabalho e pela garantia de que possam permanecer no campo como um espaço
sustentável para produzir e reproduzir suas existências. Ao longo de quase 30 (trinta) anos, esses movimentos vêm
empreendendo conquistas e instaurando modos diferenciados de lidar com a terra, com as águas, com as florestas
(agroecologia), de sociabilidade (formas coletivas de trabalho, de propriedade, de comercialização, de lazer, dentre
outros) e de fazer a educação escolar. Ao colocar a educação como pauta de luta, os sujeitos campesinos demandam
um projeto que seja construído por e com eles, isto é, colocam-se como protagonistas. Uma educação que se vincule a
projetos de vida, alinhados com um projeto de campo e de sociedade. O que chama atenção é que ao longo da história
os atos de resistência foram criando uma crescente extinção dos povos camponeses no Brasil. Mas os movimentos
sociais de luta pela terra emergentes conseguiram se organizar em um formato que lhes permitiu manter uma curva
ascendente em termos de ampliação numérica, de ocupação territorial e de avanço na compreensão de que a luta é
al àdaàte a ,àistoà ,àaàlutaà o p ee deàga a ti àoàdi eitoàaàedu aç o,àaàsaúde,àaoàlaze ,àaà ultu a,àaàu à odoàdeà
trabalhar e produzir que seja compatível com as possibilidades de produção e reprodução do modo de vida
camponesa. Nessa perspectiva, a experiência com a violência emerge como uma questão central, visto que a luta
volta-se para a superação das condições que historicamente impediram os camponeses de produzir e reproduzir suas
vidas com dignidade. Essas condições dizem respeito aos modos de reação adotados pelos povos do campo, ora
migrando para os centros urbanos, ora reagindo.
Assim, a educação do campo possui a marca dos movimentos sociais campesinos e desvela em si ações de resistência
e coletividade em busca de direitos, uma proposta de escola e de sociedade, ambas democráticas, que visam um
desenvolvimento do campo sem vinculação com o agronegócio. Nessa trajetória os camponeses buscam caminhos e
instrumentos para ampliar e fortalecer a luta. A educação assume, então, um lugar de centralidade. A criação do
Movimento Pela Educação do Campo envolve, além da luta pela criação de escolas e de oferta da Educação Básica e
Superior, o questionamento em torno da elaboração de projetos pedagógicos que atendam as demandas em torno
das questões relativas a uma formação vinculada ao projeto de vida que os camponeses estão construindo. Sendo
assim, um dos pontos centrais a serem discutidos pela escola diz respeito às condições concretas de produção da vida
das populações camponesas. Ao buscar o desenvolvimento em outras bases, a Educação do Campo demonstra a
possibilidade de fortalecimento de um povo que já foi subjugado e violentado pelo capital, resistindo. Pergunta-se a
partir das discussões deste Grupo de Trabalho o que tem feito a psicologia social diante destes contextos de luta pela
aquisição de direitos e avanços da Educação do Campo? Por esse caminho, vemos o lugar da Psicologia, notadamente
da Psicologia Social, como uma contribuição para essa compreensão. Isso porque os movimentos de luta pela terra
priorizam o protagonismo, a coletividade e a produção de relações sociais não pautadas apenas no consumismo e

299
individualismo. Essa bandeira de procurar saídas onde não há portas é, por vezes também, o compromisso da
Psicologia no Brasil, ou seja, um compromisso de contribuir para a criação de processos de fecundação da vida para
criar novas vidas. A partir disso este grupo de trabalho se vincula com o tema deste encontro da Associação Brasileira
de Psicologia Social quando se propõe a analisar por intermédio do referencial teórico da Psicologia Social como ações
as em educação tem buscado, através da participação social, proporcionar a democracia, neste caso a democracia e
acesso a direitos dos povos do campo.
Po à suaà ez,à esteà GTà seà i ulaà o à oà ei oà .à Estado,à De o a iaà eà Mo i e tosà “o iaisà fa eà à u dializaç oà eà
eoli e alis o àpo àlo aliza àsuaàa liseàe àfa eàaàatuaç oàdosà o i e tosàso iaisàdoà a po, frente às investidas do
capital, materializadas no campo pelo agronegócio, expansão da fronteira agrícola e exploração da mão de obra dos
trabalhadores rurais. Para contribuir com a discussão serão aceitos trabalhos nas seguintes áreas: a) atuação de
psicólogos sociais na educação em contextos campesinos; b) atuação de educadores em contextos campesinos a partir
de referenciais da psicologia social; c) atuação e pesquisas em psicologia social sobre movimentos sociais e educação;
d) pesquisas e ações sobre formação de professores para atuar em contextos campesinos; e) pesquisas sobre
representações sociais de sujeitos, problemáticas e questões campesinas no contexto educativo etc. na correlação
educação e campesinato; f) experiências de psicólogos e educadores em contextos comunitários-campesinos com foco
em ações democráticas; g) fortalecimento e resistência de povos campesinos através da educação; h) estudos sobre a
superação da violência em contextos campesinos enfatizando o potencial da educação na transformação social; i)
demais estudos que contemplem as correlações entre educação, psicologia social e democracia. A partir destas áreas
pretende-se conhecer e discutir como se tem feito psicologia social em outros contextos educativos, na educação do
campo, junto dos movimentos sociais em resistências aos avanços do capital.

300
A Atuação da Psicóloga Social no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) Voltado para a
Juventude do MTST no Extremo Sul da Bahia
Autores: Silmara Montejano, Prefeitura Municipal de Porto Seguro
E-mail dos autores: silmara.montejano@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho se propõe a apresentar o processo da expansão do Serviço de Convivência e


Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do CRAS Vera Cruz, distrito rural do município de Porto Seguro/BA no
Assentamento Milton Santos, integrante do Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MTST). Em 2016 Foi implantado
um grupo de convivência voltado para a juventude da comunidade sem terra na qual as demandas dos jovens e suas
famílias ganharam voz.
A luta pela terra e a defesa da reforma agrária permeiam todo o processo de oferta do SCFV no assentamento, pois
para desenvolver atividades com esse público foi necessário se aproximar do contexto histórico de luta pela terra e os
modos pelo qual o país foi se desenvolvendo ao longo dos anos com essas questões. Entende-se que no Brasil desde
sua história de invasão e constantes processos envolvendo a perseguição aos povos tradicionais e exploração em
massa das forças de trabalho e da terra propriamente dita fomentou-se uma dívida histórica do país para com as
questões de terra, de modo que é muito clara a existência de desigualdade social no país e, portanto, de concentração
da terra. Nota-se que uma política consolidada de reforma agrária caminha a passos lentos no Brasil, intensificando
conflitos e deixando milhares de famílias camponesas em situações precárias e com poucas oportunidades de
melhoria de sua qualidade de vida.
Tendo em vista esse panorama a aproximação com os assentamentos e seus habitantes, pôde ocorrer respeitando as
particularidades do movimento sem terra e seus assentados, a partir disso isso foi possível interagir com as lideranças
e delinear de que modo o grupo comunitário seria criado e de que forma ele se sustentaria, pois em virtude da
ocorrência do encontro do coletivo somente 1 vez ao mês (tal frequência foi estabelecida em virtude da possibilidade
encontrada pelo CRAS para estar na localidade com a estrutura disponível ao serviço: carro e recursos humanos) o
apoio das lideranças na articulação dos grupos foi primordial para a eficácia do SCFV.
A partir da inserção da psicóloga social no assentamento, foi possível observar a vinculação da comunidade ao serviço
nos relatos de pertencimento e reconhecimento comunitário associadas as políticas públicas de assistência social
apresentadas nos coletivos. Foi possível fomentar um espaço de discussão e produção de vínculos entre os jovens
estimulando o protagonismo dos mesmos em todo o processo de concepção, planejamento e execução do grupo
demonstrando a aplicabilidade da implicação do jovem em seu processo socioeducativo transformando as temáticas
do grupo efetivas na convivência comunitária.
Verifica-se a aplicabilidade dos grupos do SCFV, pois demonstrou-se que o recurso grupal, integrante das politicas
públicas de assistência social, é profícua em seu papel de componente do processo de formação da consciência
política do jovem possibilitando espaços de discussão comunitária e como lugar possível de vinculação dos jovens em
seu território. Foi possível identificar um movimento particular no MTST de formação dos jovens para continuidade do
movimento, bem como um processo de identificação e fortalecimento de lideranças entre a juventude no intuito de
politizar os mesmos e manter a consciência de luta/valorização da terra. Desde a escolarização no assentamento os
jovens tem acesso a disciplinas específicas como sustentabilidade, agroecologia, história do movimento em uma
perspectiva de ensino embasada por Paulo Freire na qual a autonomia é ferramenta essencial na luta contra a
opressão. As práticas da psicóloga foram analisadas, a partir dos debates da psicologia da libertação, bem como
demais literaturas sobre o movimento sem terra, socioeducação e as politicas públicas de assistência social
proporcionando o embasamento necessário na construção das práticas em psicologia e a efetividade da inserção na
comunidade.

301
A questão agrária e o messianismo no Brasil: os impactos do populismo na formação de populações rurais
Autores: Ivan Ducatti, UFF
E-mail dos autores: ivanducatti@id.uff.br

Resumo: A questão agrária no Brasil é tema central dos estudos em história do Brasil na formação do educando da
Educação do Campo. Tal tema se desmembra em vários outros da formação econômica do latifúndio às vivências
culturais das comunidades rurais. Entre esses vários assuntos, destaca-se o messianismo. Produto da religiosidade
popular, o messianismo tem como característica porém não única a presença comunitária de um líder, cuja
personificação se configura pelo fato de esse ente histórico se tornar uma presença política que advoga a vontade
popular de sua comunidade, em nome de uma salvação divina, da qual o messiânico é o portador. Daí o caráter
profético desse fenômeno. Em geral, a vontade popular significa a conservação do status quo da vida societal em que
a comunidade rural se encontra, tentando impedir, não raras vezes à força, as inovações tecnológicas, as novas formas
de regime político, a presença do latifúndio e comportamentos considerados modernos para a época em questão. O
poder messiânico é de resistência, porém conservadora. Elementos como a luta contra o republicanismo ou contra o
centralismo político são constantes. O messiânico é um líder que aponta para o anticapitalismo romântico na vida
comunitária. Obviamente que suas lutas e discursos carregam o fator de resistência contra a expansão indelével do
latifúndio, com o timbre do Estado, seja este na ordem federal ou mesmo regional. Porém, a proposta messiânica não
é uma proposta de incorporação, para sua superação, das novas configurações da organização societal. O messiânico é
um populista, pois o carisma lhe cerca graças à sua habilidade de oratória entre o povo humilde do campo. Mas não há
um tipo apenas de messianismo, mas vários, que oscilam da resistência radical da defesa de uma comunidade
ameaçada pelos novos e considerados decadentes tempos (Canudos e Contestado), passando pelo conchavo político
de Padre Cícero e a revolta do cangaço, tendo como expoente Lampião. Com exceção da vida política e religiosa de
Padre Cícero, que desenvolve um catolicismo próprio, que irá se tornar um problema de seu relacionamento com a
Santa Sé, Canudos, Contestado e o cangaço também analisado como fenômeno do banditismo são lutas contra o
domínio do latifúndio, o que implica num domínio político local ou regional. Entra-se, aqui, num campo delicado de
análise, uma vez que o messiânico encontra-se, de um lado, entre a manutenção de um mundo quase feudal,
antiliberal e extremamente fechado em pequenas comunidades e, de outro, e a necessidade de agir e resistir aos
imperativos emergentes do grande capital no campo. Tanto que tal fenômeno é historicamente datado: surge no final
do século XIX no Brasil e arrasta-se até a década de 1950, período este compreendido entre o início da industrialização
e a subsunção do latifúndio a esta nova forma de produção. Isso cria, inevitavelmente, fraturas no campo político e da
formação da nova sociedade proposta pela industrialização nascente, alterando o quadro de organização que
desestruturará a vida no campo. Assim, esses fatores formam comunidades e atuam na subjetividade comunal rural.
Questiona-se até que ponto, na história, esses fenômenos messiânicos ainda sobrevivem nas comunidades. A partir
daí, cabe ao educador conhecer essa dinâmica e estabelecer propostas de ensino-aprendizado para essas populações.
Como este Encontro Nacional da Abrapso se propõe a discutir vivência, resistência e modos de subjetivação, a
discussão ora proposta vai ao encontro do objetivo almejado.

302
Criança pantaneira: representações sociais de uma escola em regime de alternância
Autores: Rigoberto Borges de Abreu, UFMS/CPAN
E-mail dos autores: rigoberto.borges@gmail.com

Resumo: OBJETIVOS
Conhecer as representações sociais da criança ribeirinha pantaneira sobre a escola em regime de alternância e suas
especificidades socioculturais e psicossociais.
RESUMO
No Pantanal, muitas das crianças necessitam lidar com um calendário escolar diferenciado, pois devido ao isolamento
causado pela cheia dos rios, a vida do pantaneiro é determinada ao longo de todo o ano pelo ciclo das águas. Dessa
maneira, estudar se torna uma luta que muitas vezes exige a separação da família e sacrifícios constantes.
Reconhecendo esta peculiaridade nossa pesquisa propõe investigar as representações sociais da criança ribeirinha,
pantaneira de Corumbá MS, em uma escola em regime de alternância. A instituição escolar eleita para a realização do
estudo é a Escola Jatobazinho do Instituto Acaia, localizada na região da Serra do Amolar, na qual só se tem acesso
pelas vias fluviais, isto é, só se chega de barco. A pesquisa será realizada com os estudantes de Ensino Fundamental
pois, segundo Martins (1993) os pesquisadores têm desprezado as crianças em seus estudos. Para alguns, elas são
desconsideradas e, nas entrevistas, nem chegam a ser sujeitos das pesquisas, como diz o autor, são os mudos da
história.
O levantamento bibliográfico preliminar infelizmente comprovou tal fato. Assim, considerando que pouco se tem
produzido sobre crianças a partir delas mesmas, torna-se de suma relevância conhecer as representações sociais que
os alunos dessa escola ribeirinha têm sobre o ambiente escolar em regime de alternância; o efeito a separação familiar
e as primeiras impressões por elas vivenciadas no momento de sua acolhida na instituição escolar, com o objetivo de
compreender os impactos psicossociais decorrentes desses processos.
Pretende-se, desta maneira, propor ações com finalidade de melhorar o desempenho pedagógico e fomentar políticas
públicas que atendem a real necessidade e anseios das crianças nessa realidade escolar tão peculiar.
A hipótese que norteia este estudo é que as crianças explicam a escola por elementos que podem ser observados
diretamente no contexto escolar e que as representações que elas constroem sobre a escola sofrem influencias do
ambiente escolar, social, cultural e histórico.
Essas representações sociais se dão dentro da cultura que cada criança está inserida, e assim sendo, não se pode
esperar que as representações da escola sejam coletivas e universais, ou que sejam iguais em lugares e culturas
diferentes. Tal como a cultura que se regionaliza, de igual modo a criança cria e recria suas representações, que são
diretamente influenciadas pelo seu contexto sócio histórico cultural.
Por este motivo escolhemos a Teoria das Representações Sociais, em busca de categorias de pensamento através das
quais se expressa a realidade. Essas categorias não são dadas a priori, mas surgem ligadas aos fatos sociais, como
explica Minayo (2002). Entende-se, portanto, que a representação social permite ao sujeito interpretar o mundo, além
de facilitar a comunicação e orientar as ações e comportamentos (Crusoé, 2004).
Ainda segundo Nogueira, (2011) a escola é um espaço onde sujeitos, com diferentes concepções de mundo
relacionam-se, deixando fluir representações sociais que influenciam nessa dinâmica e que acarretam consequências
para o desenvolvimento da convivência no ambiente escolar, e é neste contexto que as representações permeiam a
realidade educacional por isso a necessidade de conhecer e identificar tais representações, por entender que as
mesmas colaboram com a análise dessa realidade fornecendo subsídios para novas propostas.

303
Educação do Campo e Violência: o que dizem os sujeitos campesinos sobre a violência no campo brasileiro?
Autores: Luiz Paulo Ribeiro, UniBH; Maria Isabel Antunes Rocha, UFMG
E-mail dos autores: luizribeiro@live.com,isabelantunes@ufmg.br

Resumo: Esta pesquisa versa sobre as representações sociais sobre a violência para graduandos do curso de Educação
do Campo da Faculdade de Educação da UFMG. Trata-se dos resultados de uma pesquisa de doutoramento na qual o
referencial epistemológico se estruturou a partir do Materialismo Histórico Dialético e da Teoria das Representações
Sociais. Assim buscou-se identificar a partir das narrativas de agentes sociais - futuros professores de escolas do
campo, alunos da UFMG - as transformações nas formas de pensar, sentir e agir sobre a violência no campo. Foram
aplicados 108 questionários e 17 entrevistas semi-estruturadas. O modelo de análise seguiu a proposta do Grupo de
Estudos em Representações Sociais da FaE-UFMG, que verifica que há um movimento das representações sociais em
alguns contextos em que os sujeitos são pressionados à inferir sobre suas realidades materiais. Dessa forma, foi
utilizada a análise de trajetórias a fim de compor os movimentos das representações sociais dos sujeitos entrevistados
em relação à vivência e as formas de pensar, sentir e agir destes frente à violência no campo em que vivem. Ao
analisar as entrevistas houveram evidências de que a formação em educação do campo foi um grande impulsionador à
mudança das representações sociais, se de um lado há um extenso registro de violências junto às populações
campesinas e suas formas de pensar, sentir e agir históricas são reeditadas na atualidade, vê-se por outro lado que a
resistência desses povos é feita pela luta por direitos sociais, principalmente por uma educação pública, gratuita e de
qualidade que leve em consideração a potencialidade do campesinato e da coletividade como forma organizativa de
desenvolvimento. Assim, foram evidenciadas cinco representações sociais vinculadas à violência no campo que
revelam formas de ação diante desta: a) se submeter para sobreviver à violência no campo é necessário aceitar as
mesmas , b) fugir diante da violência a única possibilidade é sair do campo, considerando o campo como um lugar
sem desenvolvimento e potencialidades , c) naturalizar a violência considerando-a como algo comum a qual todos do
campo sofrem, como um destino, um flagelo sem forma de superação , d) assistir à violência de outros esta como
uma forma de ação que não percebe a violência sofrida por si, foi verificada em sujeitos que não se consideram
campesinos, mas que possuem um vínculo com o campo e que não veem que sofrem de violência, sendo passível
apenas a ajuda aos sujeitos do campo que são violentados, nesse caso, o sujeito do campo é representado como
destituído de direitos e possibilidades, restando a ele ser ajudado e, por fim, e) a representação social de resistência,
que diante da violência no campo é necessário lutar, por terra, por direitos e pela consideração do campo como um
lugar de possibilidades e de vida sustentável. Nota-se somente a representação social de resistência foge de uma
lógica reprodutora de sentidos que desvalorizam o campo, seus sujeitos e sua história. Neste caso averígua-se que o
fortalecimento das identidades campesinas, pela participação nos movimentos sociais, engajamento nas lutas sociais
dos movimentos campesinos e a participação no curso de Licenciatura em Educação do Campo tem feito com que os
sujeitos campesinos assumam a postura e uma representação social de resistência frente a violência. Fica mais
evidente a partir dos dados a necessidade de mais ações que possam trazer a toda a fortificação das identidades,
assim como possibilitem a tomada de consciência dos povos campesinos. Muito embora isso já seja feito pelos
movimentos sociais do campo há alguns anos, principalmente quando depararam o esvaziamento das escolas rurais e
a necessidade de um novo paradigma educacional, a qual chamaram de Educação do Campo.

304
Educação do Campo: identidade em Construção
Autores: Tiago Gonçalves Corrêa, UFG; Karina Pereira da Silva, UFG; Natália Barbosa Oliveira, UFG; Vanessa Arruda
Pires, UFG
E-mail dos autores: tiagocorrea1996@gmail.com, nataliabo11@hotmail.com, karinapereiradasilva7@gmail.com,
vanessaarrudapires@gmail.com

Resumo: Baseado no artigo 28 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), esse ensaio tem como
objetivo apresentar aspectos referentes a importância da Educação do Campo e de Escolas Rurais, pois estas estão
sendo pensadas para preservarem e desenvolverem as potencialidades dos alunos da zona rural sem deslocá-los desse
contexto, conservando assim, a identidade cultural de tal comunidade, compreendendo que tais alunos são produtos
e produtores da história e da região, é extremamente importante o modo como a Educação do Campo foi e está sendo
pensada.
O art. 5º da Resolução do Conselho Nacional de Educação / Câmara Educação Básica (CNE/CEB), nº 01/2002 postula
também que as propostas pedagógicas das escolas do campo devem obrigatoriamente contemplar a diversidade do
contexto camponês em todos os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia.
Pautados em ambos os documentos observamos que as práticas educacionais desenvolvidas em instituições de ensino
rural, devem edificar-se no mesmo nível das escolas urbanas, levando em consideração que é imprescindível a
apropriação dos aspectos que circundam a realidade da população camponesa.
Considerando o exposto, e a perspectiva da psicologia social, sobretudo da Psicologia Histórico-Crítica, temos que o
ser humano é produto das relações que trava com o cotidiano que está inserido. Destarte, nada mais racional e
sensato do que pensar a educação no campo diferente da educação da zona urbana, pois mesmo com todos os
avanços tecnológicos que vivemos no século XXI, a dinâmica e os fatores inerentes ao cotidiano rural, de certo modo,
divergem do contexto urbano. Desta forma, é extremamente louvável o movimento pensado na LDB e no CNE, no
sentido de considerar as peculiaridades do cenário onde cada aluno se encontra.
A Educação do Campo, pode ser pensada e conceituada como um referencial teórico e prático que visa a transposição
e superação existente entre a dicotomia dos conceitos de cidade e campo, objetiva conscientizar que ambos são de
igual valor e complementares. Rompe com a lógica da hegemonia urbana, possibilitando flexibilidade e organização do
espaço escolar e educacional. Cumpre ainda um papel fundamental no que diz respeito a universalização da educação,
somada aos projetos de sustentabilidade, ecologia, desenvolvimento social atrelados a ideia de economia justa.
(BRASIL, 2007).
Um dos objetivos de tal educação é o de agregar valor ao homem e mulher do campo. Devem pautar-se em práticas
pedagógicas voltadas e vinculadas ao meio rural, não deve ser um espaço de cristalização dos aspectos. É necessário
que orientem-se pela utilização de elementos locais para a valorização da realidade e para facilitar o processo ensino-
aprendizagem, além de estar voltado a finalidade da promoção dos processos de subjetivação dos discentes de tal
contexto, essa educação deve estimular o exercício da cidadania de tal população, apresentando-lhes que possuem os
mesmos direitos que a população urbana.
É importante salientar que essa educação não tem a finalidade de reafirmar que o local da comunidade camponesa é
no campo, mas sim apresentar uma educação condizente com a realidade local, de qualidade e que possa auxilia-los
na garantia de seus direitos.
Essa prática volta-se ao processo de tomada de consciência deste indivíduo, possibilitando assim que ocorra a
emancipação deste indivíduo frente conceitos já existentes subjacentes ao cotidiano do campo, levando-o a
compreender sua possibilidade como um cidadão capaz de auxiliar e atuar no processo de desenvolvimento social,
econômico e cultural na comunidade que está inserido.
É uma escola que acima de tudo deve estar comprometida com conscientização e valorização do indivíduo do campo,
rompendo com práticas excludentes e segregacionistas, assim como as demais. É convocada e convoca a pensar e
problematizar a identidade destes jovens, apresentando que existem possibilidades reais de manutenção da vida no
305
campo, no intuito de instrumentalizar e empoderar esses jovens com recursos existentes ali, demonstrando que há
meios de subsistências que podem ser conseguidos no contexto que está inserido, propiciando uma boa qualidade de
vida.
Desmistifica a ideia que o sucesso e progresso estejam no cenário urbano, através da apropriação de elementos que
demonstrem que é possível o convívio ali, valorizando sua identidade e localidade atual, possibilitando ainda a noção
de que a educação urbana tem seu valor, mas sobre tudo afirmando a importância da vida no campo e de seu
processo identitário enquanto morador do campo e produtor da história da localidade em que vive.
Destarte, quando se pensa uma educação direcionada e adaptada a essa realidade, um dos objetivos que se busca
defender, afirmar e reafirmar é a identidade do estudante do campo, possibilitando que esse aluno se sinta
pertencente ao espaço que está inserido, e o não contrário. O movimento é no sentido de amparar esse ser humano
em construção e evidenciar que no campo existem possibilidades, prevenindo e capacitando-os a entender a
importância deste espaço e suas infinitas peculiaridades culturais e sociais.

306
Formação em Psicologia para assentados da Reforma Agrária
Autores: Mírian Toshiko Sewo, UFMT; Amailson Sandro de Barros, UFMT; Jane Teresinha Domingues Cotrin, UFMT;
Vanessa Clementino Furtado, UFMT
E-mail dos autores: miriansewo@gmail.com,amailsonbarros@gmail.com, furtado.vc@gmail.com,
janecotrin@gmail.com

Resumo: O presente resumo relata o trabalho de construção de uma proposta de formação em psicologia, em nível
de graduação, destinado aos assentados da Reforma Agrária. O referido projeto foi construído por professores do
curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e por militantes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com o objetivo inicial de formar 60 psicólogos para atuar nas áreas de Reforma
Agrária em seus aspectos organizativos, comunitários, educativos, de saúde entre outros.
A proposta desse curso de Psicologia se insere no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA),
instalado no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). O PRONERA, criado em 1998, é uma política
pública de Educação do Campo, instituída através do Decreto 7.352 de 04 de novembro de 2010, cujo objetivo é
desenvolver projetos educacionais de caráter formal, a serem executados por instituições de ensino, para
beneficiários do Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), do Crédito Fundiário, e dos projetos feitos pelos órgãos
estaduais, desde que reconhecidos pelo Incra (PRONERA, 2016, p.13). Desde a sua criação já foram formados 82.895
mil alunos, sendo 72.280 no ensino fundamental, 4.900 no ensino médio e 2.188 no ensino superior nos cursos de
Pedagogia, Veterinária, Agronomia, Serviço social, Direito, História, Geografia, Sociologia, Ciências naturais e cursos de
especialização (IPEA, 2015).
Entendemos que temos algumas realidades distintas no país, dentre elas, a realidade urbana e a do campo, sendo esta
bastante negligenciada em ações e políticas que possam contribuir para a emancipação das pessoas que aí vivem.
Nesse sentido, a educação da população que vive no campo tem se configurado como uma questão complexa e
desafiadora. Em 2012, o Censo do IBGE revelava a existência de cerca de 13,2 milhões de analfabetos no Brasil, ou
seja, 8,7% da população brasileira não sabia ler e nem escrever. Dos que viviam no campo, mais de 30% eram
analfabetos, o que confirma a necessidade de elaboração e implementação de políticas públicas específicas para a
realidade do campo, que constitui um cenário de características culturais, políticas, econômicas e comportamentais
que se diferenciam e ao mesmo tempo se inserem na sociedade mais ampla.
O modelo de desenvolvimento econômico-social adotado no Brasil tornou a atividade agropecuária uma espécie de
alavanca do processo de industrialização, subordinando o rural ao urbano, segregando e privando os sujeitos do
campo do acesso aos direitos sociais básicos, entre eles a educação, a saúde e a assistência social. Nesse sentido, a
realização de um curso de graduação em Psicologia específico para a população assentada beneficiária de projetos de
Reforma Agrária se justifica por atender uma demanda reprimida e negligenciada de formação em nível superior, mas
também por ser uma iniciativa que aproxima a Psicologia a essa realidade e a implica no movimento de construção
desse território como um espaço que possibilite melhores condições de vida aos seus.
Para lograr essa proposta o projeto pedagógico do curso está estruturado em duas ênfases: Psicologia e processos
comunitários e educativos e Psicologia e processos de promoção da saúde. Com essas duas ênfases, para além das
exigências formativas presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais, o curso assume uma identidade e um
compromisso em formar profissionais de psicologia que demonstrem competências mais próximas às práticas
coletivas que são capazes de envolver a comunidade na busca das soluções dos seus problemas e na construção de um
local de vida em que as pessoas possam se sentir mais integradas em suas atividades cotidianas.
Os assentamentos de Reforma Agrária apresentam fatores que sustentam a escolha dessas ênfases, pois em seu
processo organizativo como assentamentos produtivos de uma agricultura familiar realizada no campo estão imersos
em uma realidade que demanda organização coletiva para a produção que os possibilite sobreviver de seu trabalho, e
para discutir e realizar seus projetos de construção de um espaço de vida que contemple as diversas necessidades
humanas de educação, saúde, lazer e integração. Acrescenta-se a esse cenário, o fato de que os assentamentos, em
307
sua maioria, estão distantes dos centros urbanos e quase sempre alijados das políticas públicas de saúde e assistência
social e outros projetos sociais. Essa realidade reforça ainda mais a necessidade de se fortalecer a prática de uma
Psicologia que contribua para os processos de emancipação e conquista coletiva de condições concretas para a
construção da vida comunitária na qual as pessoas, em solidariedade, realizam a sua humanidade.
Esperamos com essa proposta atender as especificidades da população campesina e das lutas travadas
cotidianamente no campo como parte do contexto mais amplo da luta de classes. E, ao mesmo tempo, contribuir para
o contínuo processo de crítica e construção da Psicologia.

308
MULHERES DO CAMPO: entre Existências, Resistências e Provações
Autores: Elizabeth Moreira Gomes-Barroso, UFMG; Luiz Paulo Ribeiro, UniBH
E-mail dos autores: emg_bethgomes@yahoo.com.br,luizribeiro@live.com

Resumo: Este artigo se propõe a analisar trajetórias de vida de duas mulheres do campo (jovens de 23 e 22 anos,
respectivamente) a fim de evidenciar suas formas de resistências em um lugar cujas condições de vida geralmente não
alcançam uma qualidade em nível adequado para as suas existências. Esses sujeitos são oriundos de duas localidades
de Minas Gerais: Comunidade Quilombola Santa Cruz (Ouro Verde) e Comunidade Rural de Lajes (Grão-Mogol). Tais
localidades apresentam um baixo IDH-M (0,6), e altos índices de analfabetismo, sendo também por isso, consideradas
como regiões pobres, como lugares de atraso, deixando entrever a existência de uma violência no que tange ao
descumprimento de direitos civis básicos, bem como o não reconhecimento dessas populações como cidadãos.
Entretanto, os sujeitos desta pesquisa fizeram uma opção de permanência em suas localidades de origem. Tais
posturas são denominadas como posicionamentos de resistências , os quais consolidam a permanência dessas pessoas
nessas regiões, embora tenham conhecimento de sua qualificação pelo senso comum. Tem-se como suposto que a
permanência desses sujeitos no campo origina-se de alterações que redirecionam os olhares sobre si mesmos e sobre
seus locais de moradia, a partir de outras concepções/definições em relação ao que constitui uma vida de qualidade.
Assim, considera-se nas discussões a serem apresentadas nesta pesquisa a etimologia das palavras: existir/resistir,
visto que tais apresentam a mesma origem. No Pequeno Dicionário Escolar Latino-Português, (Editora Globo, 1960, p.
299) é atribuída à palavra resistência a seguinte etimologia: «re »= prefixo- repetição e «sistere »= continuar a existir;
enquanto a palavra existir é registrada segundo o Dicionário da Porto Editora como existir vem «do latim
exsist&#277;re», e significa «ter existência; viver; ser; estar; haver; subsistir; durar». Importa, pois, neste trabalho,
realçar a etimologia dessas palavras em suas semelhanças, enfatizando o campo semântico possibilitado por sua
etimologia para formas de ser e de estar em algum lugar de modo a possibilitar a existência, isto é, de modo a
possibilitar a vida . Por outro lado, também se optou pela palavra provação , cuja etimologia advém do Grego, tendo
em seu campo semântico o significado de prova , mas exigindo daqueles que a vivem a fidelidade a alguém ou a algo,
enfatizando que tal palavra é significativamente ligada a preceitos religiosos, essencialmente cristãos. Feitas essas
considerações acerca da etimologia das palavras, cabe, pois, estabelecer as relações entre os objetivos delimitados
para a escrita deste artigo e os aspectos que se quer aqui realçar na trajetória de vida dessas mulheres; busca-se
objetivar, a partir da análise de suas entrevistas narrativas como as populações do campo lidam com as questões de
suas existências/resistências apesar de serem submetidas a um conjunto de provações . A questão norteadora deste
artigo pode, pois, ser enunciada: como as populações do campo constroem processos de resistências que lhes
possibilitam a existência em lugares que as submetem a um conjunto de provações ditadas por questões econômicas,
sociais e/ou educacionais relativas ao desconhecimento/descumprimento de seus direitos que as caracterizaria como
cidadãs, em uma sociedade que se pretende democrática. A metodologia utilizada se refere a estudo de caso,
embasado em duas entrevistas narrativas com jovens campesinas de duas localidades mineiras, ambas alunas de
cursos de Licenciatura em Educação do Campo, considerados os pressupostos da Análise de Discurso. Nota-se que, no
discurso das entrevistadas há a enunciação de submissões iniciais em suas vidas, passando por enfrentamentos,
conseguindo aos poucos a superação dos mesmos até a entrada no curso de Licenciatura em Educação do Campo. O
contato com as possibilidades, a discussão e a fortificação da mulher campesina, nestes espaços, principalmente os
educacionais, perfaz uma tomada de consciência sobre si mesmas como mulheres, como campesinas, bem como
sujeitos individuais/coletivos aos quais têm sido negados direitos cidadãos. Evidencia-se ainda, que a escolha por se
formar em Educação do Campo ressalta a vontade de não sair do seu lugar de origem, comprometendo-se com o
avanço social de outras mulheres da mesma comunidade, do compromisso de continuar resistindo, passando a se
reconhecerem como sujeitos de direitos, diante de vivências que requerem provações. Acredita-se, que os
movimentos sociais ligados ao campo contribuam para a alteração de concepções,colaborando com a aquisição de
posicionamentos de resistências, que, a partir de um coletivo de sujeitos tem buscado redirecionar olhares dos
309
indivíduos e da sociedade, para que o campo passe a ser visto como um lugar a ser construído, reconhecendo suas
populações como sujeitos de direitos, como cidadãos. O artigo se desenvolve em dois grandes eixos: um primeiro em
que se evidenciam os movimentos de re-organização do campo, buscando incluí-lo na pauta da cidadania,
consideradas as lutas de movimentos sociais, suas provações e resistências; e, um segundo eixo em que são analisadas
as entrevistas narrativas de dois sujeitos do campo, evidenciando o lugar de sujeitos individuais/coletivos que adotam
posicionamentos de resistência.

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O efeito da Educação do Campo no processo de subjetivação da criança: um ensaio metapsicológico
Autores: Deborah Resende Alves, UFMT
E-mail dos autores: deborah_sacto@hotmail.com

Resumo: Introdução
A população rural brasileira sempre fora excluída enquanto produtora de saberes e marginalizada nas políticas
públicas educacionais. Na década de 90, a partir das pressões de movimentos sociais, educacionais e sindicais ligados à
luta pelo direito à terra e à educação, consolidou-se uma proposta de Educação do Campo, e não para o campo,
realizada pelos seus [próprios] sujeitos sociais, em consonância com a [sua] realidade.
Segundo Kupfer (2011) o ato de educar está no cerne da visão psicanalítica de sujeito, e enquanto ato de cultura, é
uma das formas que o discurso social assume, tornando a criança capaz de produzir discurso e de dirigir-se ao outro
fazendo laço social. Para Lacan (2013) a criança assume uma imagem, através do processo de identificação, ligando o
eu a situações socialmente elaboradas, buscando a mediação do desejo do Outro, que acontece a por meio de uma
intermediação cultural, uma delas, a educação.
Kamers (2013) alerta que a escola tem se tornado o dispositivo regulador da inclusão/exclusão da criança no processo
de medicalização da infância, que a apaga em sua dimensão psíquica, histórica e social. Finco e Gobbi (2013) apontam
que pouco se sabe sobre o modo de ver, ser e de significação do cotidiano das crianças do campo, por serem
tradicionalmente negligenciadas e pouco percebidas tanto pelo Estado, quanto pela sociedade.
O tema crianças do campo apresenta-se de forma mínima na pesquisa científica. O silêncio das análises do
pensamento acadêmico a cerca do assunto, segundo Silva, Silva e Martins (2013), pode estar vinculado a alocação da
criança no universo privado do lar, pouco reconhecido em ser passível de estudos e muito menos reconhecido
enquanto integrante das relações estruturais da sociedade.
Assim, o presente trabalho encontrou seu caminho no método psicanalítico de investigação, que permite a produção
de conhecimento por meio da analise de qualquer expressão que aconteça por meio da linguagem, investigando a
Educação do Campo enquanto discurso social, que segundo Lacan (2003) nada mais é que o inconsciente e o habitat
do Ser.

Objetivo
O presente estudo teve como objetivo investigar o efeito (termo referente ao conceito de significante em Lacan) da
Educação do Campo, enquanto discurso social, no processo de subjetivação da criança aprendiz/fazedora desta
proposta educacional.
Orientação teórica
A discussão do tema foi realizada sob a luz da Psicanalise freudiana e lacaniana, com foco na Psicanalise em extensão,
também chamada extramuros, que se define por uma prática psicanalítica que aborda o sujeito enredado nos
fenômenos sociais e políticos. Os principais conceitos que guiaram este estudo foi o de discurso social, uma das formas
do discurso do Outro, e o Estádio do Espelho, referente ao processo de identificação da criança, ambos conceitos de
Lacan.

Método
Em primeiro momento foi realizado uma revisão da literatura científica produzida acerca do tema. Os dados
encontrados foram selecionados e apresentados de forma expositiva, e posteriormente analisados e discutidos por
meio da construção de um ensaio metapsicológico.

311
Resultados
O discurso da Educação do Campo se mostrou subversivo quando comparado ao discurso do modelo educacional
brasileiro vigente, fazendo oposição ao movimento de normatização e padronização da criança que a escola bancária
faz. Quando preza pela valorização da cultura dos povos do campo e sua diversidade, possibilita que o processo de
identificação da criança aconteça por meio da pluralidade, do diálogo e da permissão à ambiguidade, abrindo espaço
para que a diferença do outro possa ser oportunidade de encontro e não de ódio e intolerância.
Quando se concebe enquanto proposta que acontece com o envolvimento da família nos assuntos escolares através
de uma organização escolar descentralizada e coletiva, devolve o papel norteador do saber familiar na constituição
subjetiva da criança, o que faz oposição à invasão do terceiro social medicalizante. A criança aparece no discurso da
Educação do Campo, não como sintoma ou objeto de disputa de poder, mas como sujeito que se dirige ao grande
Outro fazendo também oposição a ele, subvertendo a lógica capitalista de que o mal-estar não deve estar presente
nas relações, abrindo possibilidades para que a angústia possa ser elaborada e promotora de vontade de potência
(referente à Nietzche), e de ato criativo.

Conclusões
A Educação do Campo parece se consolidar em uma vivência potencializadora para criança, se emergindo como
alternativa de redirecionamento e escape do lugar que o discurso dominante e medicalizante realoca a criança,
apresentando-se por meio dos seus potenciais, como uma proposta que oferece possibilidade para que o processo de
subjetivação da criança possa ser pautado na sua emancipação enquanto sujeito que é atravessado pelo discurso do
Outro, mas que também pode atravessa-lo e inclusive fazer-lhe oposição.

312
Projeto de intervenção na formação de professores no AJA
Autores: Maicon Alves Garcia, UFMS
E-mail dos autores: maicon_ms@hotmail.com

Resumo: Este documento apresenta o Projeto de intervenção na formação de professores no Projeto AJA que vem
sendo desenvolvido pela escola Riachuelo com o objetivo de Estagio Obrigatório I no curso de Psicologia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, realizado em 2017, com orientação da professora Sonia da Cunha Urt. O
trabalho foi realizado através de entrevistas e observação dos professores do Projeto AJA (Avanço do Jovem no Ensino
e Aprendizagem de Mato Grosso do Sul), implementado pela SED-MS (Secretaria de Educação de Mato Grosso do Sul).
Para que este levantamento fosse possível foram realizadas entrevistas, por meio de roteiro direcionado com
professores da Escola Riachuelo atuantes no Projeto AJA, com o intuito de conhecer o processo de formação desses
profissionais ate a sua chegada ao Projeto e como o processo de ensino aprendizagem se da neste contexto. Esse
projeto é dividido em três blocos, para atender a heterogenia de idades e necessidades escolares respectivas. As
escolas oferecem oficinas de música, grafite, dança e praticas esportiva e os estudantes têm acompanhamento de
diretores, coordenadores, professores, psicólogos e assistentes sociais. Este é o único Projeto, no viés educativo,
voltado para atender os jovens em situação de vulnerabilidade social. Este projeto foi desenvolvido com a supervisão
da professora Sonia da Cunha Urt com a colaboração de seu mestrando Aldenor Batista.
O Pré-projeto foi levado para correção em supervisão, depois de acertadas as duvidas com interlocução da professora
Sonia Urt, fizemos nosso primeiro contato com a coordenação da escola Riachuelo, onde o Projeto AJA é desenvolvido.
Nesse primeiro contato marcamos a visita onde apresentaríamos nossa proposta para a semana seguinte
Após a visita que foi supervisionada, demos inicio as entrevistas, que será o principal instrumento metodológico, a
qual no âmbito da pesquisa qualitativa de cunho histórico-cultural e compreendido como produção de aprendizagem.
Estas foram pré-agendadas com os professores do AJA, respeitando os horários se Planejamento de Aula (PL) e a
disponibilidade dos mesmos, com roteiros pré-estabelecidos e aprovados pela supervisora.
Com os dados em mãos e com a bagagem teórica adquirida, fizemos a analise de cada categoria criada a partir das
falas dos professores e discorremos acerca destas, inter-relacionando a educação com a psicologia e as possíveis
variáveis envolvidas. O Projeto AJA em Campo Grande, é realizado na Escola Riachuelo e conta com dez salas de aula,
biblioteca, sala de mídia e de computação, refeitório e cozinha, quadra de esportes, coordenação e direção. Conta
com uma metodologia de problematização que vai além das aulas didáticas tradicionais, utilizando de oficinas de
artesanato, esportes, horta, que contribuem para o desenvolvimento social e individual do adolescente. Podemos por
meio de este projeto conhecer novas possibilidades de ensino, inclusão social e educacional de jovens antes afastados
do meio escolar e das oportunidades de aprendizagem que respeitassem suas individualidades e os diversos contextos
em que estão inseridos.
Conhecemos ligeiramente o processo de formação de professores, por meio de suas falas, nos possibilitando maior
conhecimento dos profissionais e dos métodos por eles empregados. O que nos forneceu base teórica para
compreensão de alguns fenômenos. Percebemos a necessidade e a imensa vantagem do contato com o campo
pratica. Ao fazer a autocrítica sobre os modelos e praticas da atuação da Psicologia no campo da educação, Souza
(2009), entra em crise e perde espaço no setor educacional, principalmente nos públicos, justificando assim como o
afastamento e resistência a ideia do psicólogo na educação e principalmente na escola.
Conhecer o Projeto AJA nos trouxe força para lutar por nosso lugar nas escolas, pois percebemos que não estamos
sozinhos nessa luta. O psicólogo, assim como o professor, não é mais o detentor do saber técnico e sim peça
constituinte e mediadora do processo de ensino aprendizagem.

313
No que se refere ao compromisso político do psicólogo com a luta por uma escola democrática e de qualidade social.
Souza (2009) destaca a importância da função social da escola em uma perspectiva histórico - critica que remete a
uma formação do pensamento cientifico e da formação de um cidadão critico que amplie sua socialização na direção
de uma sociedade democrática.
O conhecimento do psicólogo na área da Educação precisa ser constantemente construído, superado, criticado e
ampliado, buscando sempre o bem estar e a melhoria na formação do sujeito.

314
GT 15 | Espaço, Tempo e Trabalho: a Mútua Interpenetração Subjetividade-Objetividade na
Fragmentação Entre Indivíduo e Gênero em Condições Históricas de Exceção

Coordenadores: Angela Teberga de Paula, UCS | Gilberto Oliveira Jr., UFAC | Rosãngela Viana Vieira, UFMG

O existir do capital na qualidade de momento histórico no movimento do existir social se encontra fundado nas
determinações ontológicas da esfera social do ser, com o ineliminável modelo a conformar o mover social da matéria,
que conserva eliminando como determinação ineliminável do existir. Essas determinações ontológicas são moventes
do existir que determinam, sendo conservadas e eliminadas - logo, superadas -, mas igualmente movidas pela
existência jamais imóvel pois a permanência da mudança pelo movimento se conserva enquanto permanência
contraditoriamente eliminada, reposta em condições históricas nunca redutíveis ao momento precedente pois
expressão da existência e da forma de ser da superação.
O capital irrompe nas relações sociais em manifestações principiadas na singularidade e, portanto, incipiente perante
o predomínio da generidade. O impulso necessário ao existir do capital fomenta o desenvolvimento e a
complexificação dos indivíduos e do gênero humano, distanciando os condicionantes naturais que se conservam
subordinados aos processos sociais.
Contudo, a existência do capital se condiciona pela necessidade de satisfação das carências humanas e se afirma ao
negar as condições de carência, logo das próprias condições de existir. A conservação do capital se manifesta na
conservação nos indivíduos de diferentes funções específicas mutuamente interpenetradas para conservar a
existência biológica subordinada ao existir da condição social de integração do indivíduo com o conjunto das relações
sociais.
O capital, ao superar limites da natureza biológica do homem necessita forjar novas carências humanas nas relações
sociais, esvaziando o sentido da relação entre os homens para preservar uma carência insuperável de humanidade
supostamente saciável pelo acúmulo de objetos, a resultar em aprofundamento do vazio. As consequências se
manifestam nos indivíduos e, na fragmentação entre indivíduo e gênero, se atribui ao indivíduo incapacidade de
integrar as relações sociais que não comportariam necessidades de mudanças. A degradação do sentido do existir nos
indivíduos é expressão da inexistência de sentido das finalidades que orientam a integração dos indivíduos ao gênero.
A negação da generidade no extremo individualismo é expressão da desumanidade produzida pela própria sociedade.
A regularidade da própria regularidade resulta do acúmulo e da síntese do movimento progressivo de aproximação do
singular ao genérico expressa a unitaridade quantitativa e qualitativa de ampliação e aprofundamento da concepção
teórica da prática da produção material da riqueza social.
Nesta rota, a existência teórica e prática da concepção da realidade irrompe na simplicidade do estritamente singular
enquanto atividade humana, restrita ao âmbito econômico e, neste, restrita ao processo de circulação, e enquanto
expressão espacial das relações sociais, restrita aos territórios específicos do urbano e restrita aos territórios
apropriados pelas relações de poder integrantes das partes instauradoras das primeiras rotas comerciais a confrontar
o novo singular com a generidade feudal nas atividades políticas, ideológicas, jurídicas, afetivas, comportamentais,
territoriais etc.
A apropriação e o acúmulo de excedentes na distribuição da riqueza socialmente produzida particular da burguesia
enquanto classe social, se origina no controle da circulação de mercadorias no território e se acentua a partir do
século XVI com as grandes navegações e o domínio territorial do continente americano. O progressivo incremento da
acumulação de riquezas que resultam do controle da circulação consolida um conjunto de condições reais para a
burguesia exercer o controle da produção de mercadorias. Para tanto, a forma típica de riqueza definida na
propriedade fundiária, tornando a imobilidade a característica central da estrutura social e das ideias que apreendem
a realidade social.
A riqueza resultante da produção de mercadorias pela burguesia se integra ao movimento da circulação de
mercadorias e conforma a mobilidade da riqueza como destituição da riqueza imobilizada na propriedade fundiária e
desestruturar a ordem política e jurídica estabelecida.
Nesse contexto, o caráter enciclopédico do conhecimento da realidade como estrutura do conhecimento teológico a
estruturar a apreensão da realidade feudal é destituído de validade e se promove a fragmentação do conhecimento e
da realidade em objetos de campos de conhecimento integrantes da ciência. Essa divisão do trabalho intelectual se
dirige a finalidade de construir resultados práticos para o crescimento da atividade industrial como forma de produção
e acumulação de riquezas controladas teórica e praticamente pela burguesia, que controlam a circulação e a produção

315
da riqueza social. Decorre, portanto, conformidade da fragmentação do conhecimento com a divisão social do
trabalho e os campos do conhecimento com maior adequação ao propósito de transposição do conhecimento em
tecnologia constituem maior valoração econômica e, na sociedade burguesa, igualmente resulta maior valoração
social.
A existência real, teórica e prática, compulsa aos indivíduos o confrontar a realidade social enquanto objetividade
manifestada na imediaticidade sensível, o que consubstancia a sociedade com indistinta exterioridade, insubordinação
e irredutibilidade atribuídas à natureza na idealização concebida pelo sujeito. O método positivista, ao destituir de
validade científica a apreensão da realidade por meio de procedimentos incompatíveis com o aferir na realidade
afirmada aos sentidos, constitui na dicotomia sujeito-objeto uma relação de identidade qualitativa entre natureza e
sociedade.
O movimento da abstração nega a imediaticidade sensível que afirma a existência do objeto e, para superar os limites
iniciais da apreensão, reafirma determinações negadas pela manifestação do objeto mas constituintes da existência e
da manifestação pois condições para o movimento de abstração. Nesta direção, o movimento de abstração depende
da existência do objeto que, diversamente, independe da existência do movimento de abstração.
O objeto existente contém a síntese de determinações mas não manifesta ao conhecimento imediato advindo dos
sentidos a integralidade do concreto existente, sendo uma condição ao conhecimento o esforço de abstração com
progressivas aproximações ao concreto afirmado, no âmbito das ideias, na sua negação. A existência real de relações
espaciais e temporais sintetizadas na manifestação do objeto não se expressam integralmente na imediaticidade
sensível. Essa, contudo, permite ao movimento abstrato o reconstituir concreto das relações determinantes no objeto.
A apreensão da realidade enquanto negação da restrição momentânea do movimento histórico resulta na debilidade
equivocadamente concebida e irreconhecível, com limites a condicionar o recurso ao ahistórico e metafísico para
atribuir verdades imutáveis a respeito do movimento da realidade.
A concepção de imutabilidade se conforma na naturalidade das condições históricas na imediaticidade sensível e
apreendida na qualidade de regularidade, causalidade indeterminada e individualizada na abstração formal em
variáveis que, constatadas quando manifestadas, predizem o resultado manifestado na realidade em momento
subsequente a oportunizar a produção, a apropriação e o valorar do conhecimento pela qualidade pragmática e/ou
utilitária imanente ao próprio conhecimento.
O predomínio da atividade teórica do valorar a prática restrito ao mensurar quantitativo dos resultados consolida as
o diç esà hist i asà daà es a izaç o à doà i di íduoà aoà utilita is oà e à elaç oà aoà o e e à e ao viver o trabalho a
partir da finalidade de autoavaliação e enquadramento aos critérios da regularidade objetiva mais profícua ao capital.
Propicia, nesta direção, a supressão das possibilidades e capacidades de desenvolvimento da subjetividade do
indivíduo que trabalha, pois o próprio indivíduo procura repreender a manifestação da própria subjetividade, dos
aspectos singulares da própria personalidade. Ocorre a reprodução/realização de uma ruptura entre a prática e a
teoria, a consciência e a execução, o pensar e o fazer, contribuindo para a apreensão do desconhecimento e/ou da
irracionalidade da atividade de trabalho, condição ao experienciar o estresse. O estresse advém do cansaço provocado
pela fragmentação da consciência (teoria) e da prática, um cansaço resultante do reconhecimento do
desconhecimento da finalidade da atividade pratica, e a consciência se encaminha para a negação da atividade
efetivamente praticada, resultando em exaustão por esgotar os aspectos físicos, mentais e emocionais. Portanto, o
repouso é insuficiente pois ao retornar ao trabalho a permanência da forma de praticar o trabalho torna consciente a
mesma fragmentação.
Apesar das condições do ambiente de trabalho e da cultura organizacional, se apresenta equivocadamente na
qualidade de tendência, a interpretação que define como primeira causa e atributo indissociado do esgotamento
substanciado por desrealização no trabalho a debilidade do sujeito na apreensão das reais condições da atividade com
a consagração de expectativas fundada em resultados irrealizáveis, imputando a qualidade de idealismo a provocar o
estado de saúde.
Nessa orientação, o esgotamento a reduzir a capacidade para o trabalho expressa um estado de adoecimento psíquico
engendrado por uma expectativa idealizada, logo um estado subjetivo adoecido que possui como origem um estado
subjetivo inadequado, absolvendo as condições objetivas, naturalizadas e destituídas de motivos para
problematização. A própria regularidade constitui qualidade atribuída à objetividade e justificativa para o rigor
metodológico enquanto instrumento de controle da subjetividade, sendo coerente a problematização orientada para
as condições objetivas socialmente postas. Condições reproduzidas e realizadas na atividade prática cotidiana dos
indivíduos singulares integrados ao movimento da generidade objetiva do conjunto das relações sociais em momento
do desenvolvimento e complexificação historicamente determinados.
316
No momento hodierno o desenvolvimento subjetivo se encontra mutuamente interpenetrado à condição objetiva que
confronta para a mediação das relações sociais, com a reprodução da subjetividade realizada na reprodução do
aprofundamento da apropriação do trabalho impelida na convergência integrada das dimensões qualitativas
biológicas e subjetivas do trabalhador. Desprovido da pretensão reducionista do comportamento e da personalidade
humana aos aspectos biológicos e da tentação precipitada de sugerir analogias mecânicas, pertinente considerar
aspectos dos resultados de investigação na área de neurobiologia a respeito do estilo de enfrentamento de situações e
ambientes estressores por peixes em criatórios, recentemente publicada em Castanheira et al. (2017). Desenvolvida
por um grupo de pesquisadores de 10 (dez) instituições situadas em Portugal, França, Espanha, Reino Unido, Noruega
e Dinamarca, o objetivo era apresentar a alternativa mais adequada para evitar prejuízos à produtividade, constatados
pela existência de peixes que desenvolvem comportamento típico de estado depressivo, com alimentação irregular
e/ou incipiente e perda de peso.
Os pesquisadores constataram que os conflitos e agressões entre os peixes por domínio territorial constituem as
causas do comportamento e dos prejuízos à lucratividade dos produtores. Constataram que modificar o
comportamento do indivíduo para anular o estado depressivo estimula o indivíduo a restaurar os conflitos por
domínio territorial e causa, com essa insistência, uma disputa que resulta na morte de um ou mais peixes. O problema
para o resultado mais produtivo, portanto, não se encontrava no indivíduo mas no ambiente das relações entre os
indivíduos, sendo necessário intervir para a prevenção das condições ambientais mais propícias aos conflitos que
decrescem a produtividade.
Nas tentativas para elevar a produtividade do trabalho humano, o processo de intensificação quantitativa alicerçada
nas condições tecnológicas e na tipificação comportamental, enceta diversos experimentos orientados ao definir
padrões de personalidade profícuos ao maximizar os resultados do trabalho. Padrões que devem ser estimulados para
resultar na generalização do que se constata inicialmente como fonte singular de maior quantitativo de mais-valia,
atribuindo como necessidade ao ingresso no mercado pelo trabalhador qualidades subjetivas determinadas e
progressivamente tornadas regularidades.
A personalidade do trabalhador passa a ser valorada pelo potencial de subordinação a finalidade do incremento do
lucro, muitas vezes plasmada com a coerção das práticas de assédio moral para impor resultados regulares. O
processo de admissão no mercado de trabalho redefine os requisitos de empregabilidade para além da qualificação do
trabalhador para as características particulares a determinada atividade profissional, delimitando exigências de âmbito
comportamental, emocional e afetivo. O discurso reducionista que atribui ao utilitarismo o critério ajuizador absoluto
para a finalidade da educação, a consagrar a formação humana subordinada às prescrições conjunturais da dinâmica
econômica. A constante imputação de normatizações a coagir obrigatórias (re)composições das estruturas curriculares
progressivamente naturaliza e integra a formação às demandas da acumulação e da reprodução material da riqueza
social.
Decerto, a psicologia adquire expressiva potencialidade para o aprofundamento e a ampliação da reprodução e da
realização teórica e prática da produção ideal e material do capital, no movimento objetivo e subjetivo da relação
entre indivíduos e gênero no desenvolvimento e complexificação da existência social. O dilatar da oferta de vagas para
a formação acadêmica e no mercado de trabalho corresponde ao incremento de prestígio atribuída a atividade
profissional pela organização da gestão da produção, circulação e consumo, prezando pela adequação do trabalhador
aos aspectos cognitivos, comportamentais e emocionais padronizados.
Inicialmente, prática singular da cultura organizacional da gestão de qualidade total com maior êxito no setor
produtivo do Japão pós-segunda guerra, progressivamente a subsumir a totalidade dos setores econômicos e a
transferir o máximo dos custos de seleção e treinamento de pessoal à atividade educacional pública e privada. A
produção-distribuição-circulação-consumo da subjetividade just in time define critérios e condições de acesso,
permanência e ascensão no trabalho mercado de trabalho. O desenvolvimento e a formação humana na educação
formal se reduz ao desenvolvimento as condições materiais de complexificação da apropriação progressiva da
subjetividade. Por conseguinte, educação orientada para a finalidade de reduzir os desperdícios de produtividade na
produção da mercadoria força-de-trabalho e maximizar as taxas de lucratividade ao maximizar o esgotamento físico e
mental do trabalhador.
A naturalização das condições materiais historicamente determinadas conformando a mensuração do sentido e da
realização da existência de cada indivíduo por meio da maximização da subordinação teórica e prática aos padrões
predefinidos e profícuos ao capital e a centralidade dos aspectos da personalidade estabelece a elevação da
concorrência pela integração do trabalhador ao mercado. A concorrência se eleva quantitativamente com a elevação
da produtividade subjetiva e objetiva e a necessidade de integrar o mercado de trabalho como condição de
317
apropriação privada de quantidade de riqueza material socialmente produzida torna naturalizada a violência física e
psicológica enquanto prática instintiva da conservação da existência.
O debate a respeito do currículo se anula de potencialidade efetiva quando aparta e inverte a concepção e a
orientação da finalidade do debate para o aspecto formal e abstrato dos discursos lógicos e gnosiológicos que
aprofunda a separação das fronteiras disciplinares e enceta o conflito pelo prestígio social e a expressão econômica
correspondente.
A reflexão da proposta de sociedade pretendida se inviabiliza pois a necessidade fundante da atividade prática e
teórica se constitui na redistribuição quantitativa mensurável no acrescer ou subtrair do espaço e do tempo dos
conteúdos disciplinares enquanto expressão ideal do real conflito material, imbuído da finalidade de redistribuição da
riqueza socialmente produzida para apropriação privada. O idealismo fundante da inversão da realidade e preservada
pela prioridade da finalidade realizável com a preservação da realidade, subordina a formação e humanização dos
indivíduos na apreensão e apropriação crítica do gênero humano ao restringir a afirmação da transformação da
realidade ao inexistente, por afirmar a negação expressa no aprofundamento da conservação da alienação da
finalidade teórica e prática do indivíduo e da sociedade na individualidade concorrencial pela adição da apropriação
privada da riqueza socialmente produzida.
Nesta direção, a finalidade da educação se conserva enquanto constituição da humanidade dos indivíduos humanos
fundada na fragmentação disciplinar que limita a relação de apreensão e desenvolvimento do indivíduo e do gênero
humano ao não reconhecimento das alternativas existentes nas condições históricas para a potencialidade de uma
distinta orientação da finalidade teórica e prática da reprodução e da existência social. Reafirma-se a preservação dos
caracteres basilares da sociabilidade burguesa reduzindo o reconhecimento das alternativas de transformação aos
ritos da disputa política de redefinições na pactuação jurídica como garantia da mudança da redistribuição da
apropriação individual da riqueza socialmente produzida. A escola tem por objetivo construir o Estado-nação
enquanto uma legitimidade, identidade, pertencimento a uma forma jurídico-política do gênero humano nas
condições históricas existentes. A escola é expressão que a base nacional comum já existe.
Os conteúdos se fundam gnosiologicamente na concepção ontológica da apreensão da realidade e da integração do
gênero humano nessa realidade. A educação visaria promover na escala do lugar e de uma temporalidade limitada a
uma fase da vida humana a apreensão do espacial e temporal do desenvolvimento e complexificação do gênero
humano enquanto processo social de humanização do indivíduo como internalização dos fundamentos do
pertencimento do indivíduo às condições históricas do desenvolvimento da totalidade social.
A vida cotidiana torna naturalizada a fragmentação entre indivíduo e gênero reafirmando as fronteiras territoriais em
novas condições de mútua interpenetração escalar, a exemplo dos regionalismos, dos nacionalismos, das raízes
étnicas, dos fundamentalismos religiosos. Realidade espacial movida e movente da realidade historicamente
determinada na unicidade da existência social, plasmada na afirmação da fronteira enquanto negação da ética nas
relações sociais com o extremo transcender do narcisismo de expressão psíquica de particularidade a generidade
social, tornando o narcisismo regularidade e expressão objetiva manifestada na imediaticidade enquanto
característica natural da existência social.
O pressuposto da regularidade mecânica a priori, concebido enquanto determinação ontológica irrevogável por
qualquer mutabilidade historicamente constituída, atribui ao permanente a definição de regras que conferem a
racionalidade imanente e movente da realidade. Por conseguinte, as regras lógicas impostas ao validar o movimento
do pensamento na apreensão verdadeira dos conteúdos da realidade transcendem as limitações indubitavelmente
inerentes ao caráter transitório dos condicionantes e interesses históricos.
Os instrumentos e procedimentos aprofundam a subordinação do sujeito ao objeto, com a profilática finalidade de
preservar o conhecimento das determinações subjetivas que depreciam qualitativamente a objetividade com
propriedades historicamente condicionadas e ideologicamente fundadas. A racionalidade indeterminada do objeto
prescreve ao constructo de um rigoroso modelo de validação do conhecimento o alicerçar de procedimentos dotados
da apreensão em fragmentos despidos de determinações que violem a expressão de relação de identidade com o
estritamente afirmado aos sentidos como objetividade plena. O ajuizar de validade do conhecimento se funda na
supressão de propriedades que neguem a integral conformação positiva com a objetividade.
A necessidade de definir com inequívoca clareza a identidade positiva plena da apreensão com a objetividade justifica
a pertinência da fragmentação da realidade em campos com direito privativo de construir, no âmbito da ciência,
conhecimentos a respeito de um objeto. A imposição objetiva e naturalizada da gestão orientada para a tarefa de
maximizar a qualidade, no entanto, encarcera a qualidade nos limites dos indicadores quantitativamente mensuráveis
que definem uma padronização de resultados e, por conseguinte, resulta na padronização dos comportamentos, dos
318
sentimentos e dos interesses. Decerto, padronização não realizada de modo súbito mas, progressivamente, a
conformar determinações de ajustes definidos por ajuizar estranho ao indivíduo e por meio de constantes avaliações a
estabelecer os índices da regularidade ideal valorada enquanto necessidade a ser perseguida pelos indivíduos.
Nesta direção, a regularidade se instaura na qualidade de naturalidade irrevogável, dotada da potência
condicionadora da afirmação do reconhecimento do valorar individual estritamente na negação do individual, no
regular. A subjetividade do trabalhador é progressivamente dilacerada na subordinação inquestionável à objetividade
a dominar os sentimentos, as emoções, a finalidade teórica e prática e, igualmente, o sentido da atividade e da vida do
indivíduo.
Considerando as condições materiais historicamente determinadas pela generidade social ao constituir e ao
reproduzir dos indivíduos e das suas capacidades subjetivas na integração ao movimento de (re)produção da
totalidade social, o Grupo de Trabalho "Espaço, Tempo e Trabalho: a Mútua Interpenetração Subjetividade-
Objetividade na Fragmentação Entre Indivíduo e Gênero em Condições Históricas de Exceção" objetiva tratar das
temáticas relacionadas ao trabalho a partir da naturalização da celeridade do movimento do/no espaço e do/no
tempo e as consequências para a existência, a reprodução e a realização dos homens condicionados ao experienciar o
viver na celeridade hodierna.

319
A (In)visibilidade no Trabalho: um estudo de caso em uma Santa Casa de Misericórdia no Interior do Estado do Rio
de Janeiro
Autores: Ana Paula Todaro Taveira Leite, UFF
E-mail dos autores: atodaro_leite@hotmail.com

Resumo: Nesta pesquisa buscou-se compreender como se processa o trabalho de produção de refeições e sua
distribuição aos pacientes-usuários internados em um Hospital Geral privado de um município do interior do estado
do Rio de Janeiro. Entende-se que o serviço então prestado, representa um momento incontornável, especialmente
relevante da restauração da saúde. O que pareceu configurar-se foi que as trabalhadoras da cozinha apostavam no
processo de pesquisa e nele se investiram, ao menos o suficiente para a investigação ter, nesse campo empírico,
algum sucesso. Percebia-se demonstrações claras de constrangimentos, de várias ordens, sofridos por todas as
trabalhadoras da cozinha. Mas, malgrado o que veio a caracterizar como precarização, enigmaticamente, dia após dia
aquelas mulheres continuavam a colaborar para fazer funcionar aquele hospital, a partir da cozinha, ajudando na luta
pela vida dos doentes internados, - que tanto necessitavam desse tipo de restauração -em qualquer caso clínico. Como
método, foi utilizada uma pesquisa&#8596;intervenção, visando co-construir um espaço de circulação dialógica tendo
como principal inspiração a atividade de trabalho que envolve de forma comum seus participantes. Para tanto,
buscou-se operar com o que a Ergologia denomina dispositivo dinâmico de três polos DD3P, um encontro sinérgico
entre o polo dos conceitos, gerado por diversas disciplinas científicas, e campos de conhecimento a respeito do
trabalho com um segundo polo no qual os trabalhadores trazem saberes e valores gerados pela sua experiência
prática patrimonializada, encarnada ao longo da realização de suas atividades. A partir desse encontro profícuo,
mediado pela presença de um terceiro polo ético e epistêmico, tem-se procurado realizar um diálogo efetivo,
respeitoso e produtivo, entre os dois polos anteriores, permitindo que ambos se desenvolvam mutuamente. Diversas
questões que foram se apresentando, desde a análise global, reapresentando nas conversas, assim como nos diálogos
nos Encontro sobre o Trabalho, sinalizaram para uma atividade exercida sob diversas formas de grande pressão
(tempo de preparo, horário de liberação da refeição, qualidade do prato, respeito à dieta, medo de errar ao distribuir
as refeições, entre outras), desenvolvido em um ritmo bastante acelerado, na execução de diversas tarefas ao mesmo
tempo. O desafio esteve todo o tempo em como colaborar para a emergência na rede dialógica das vozes que
desafinam, das formas de protagonismo que operam essas mulheres, nos meios profundamente contraditórios em
que vivem e trabalham. O desafio era colaborar para que, na comunidade dialógica que se instaura na comunidade
ampliada de pesquisa que se encontra para discutir o trabalho, operasse as aberturas, a indeterminação e
potencialidade dos processos de subjetivação no trabalho. Foi possível uma experiência conjunta de diálogo e
discussão sobre o que seria trabalhar na Cozinha de um hospital com aquelas características, levando-se em
consideração todo tipo de infidelidades reproduzidas naquele meio: obstáculos, imprevistos, constrangimentos,
equívocos da prescrição, panes etc. Na medida em que foram acontecendo esses Encontros, pode-se perceber que se
configuravam como espaços para se dialogar sobre o trabalho e a vida. Considera-se que os Encontros tenham se
constituído em verdadeiros espaços de deliberação, onde se pode expressar livremente opiniões sobre a vida e o
trabalho.

320
A emancipação feminina: uma consideração teórica acerca das políticas públicas de redistribuição e reconhecimento
Autores: Kristianne Veloso, FASA
E-mail dos autores: kika.veloso@hotmail.com

Resumo: Introdução: O presente trabalho tem como propósito fazer uma análise da condição histórica de exclusão das
mulheres no âmbito do trabalho a partir de uma revisão bibliográfica sobre o tema. Dessa forma, pretende seguir a
uma apreciação a partir do conteúdo exposto por Nancy Fraser sobre o reconhecimento cultural e redistribuição
socioeconômica. Segundo a autora, para acabar com a exploração, marginalização e privação especificamente
marcadas pelo gênero é preciso abolir a divisão sexual do trabalho. E nesse aspecto, a analise que se faz e
especificamente da divisão sexual do trabalho e da característica do desemprego feminino. Objetivo: Compreender a
relação das mulheres com o trabalho em outros tempos para que assim possa ser entendido qual os efeitos dessa
condição histórica nos dias atuais a partir disso analisar a teoria crítica da Nancy Fraser e a relação com as políticas
públicas empregadas no Brasil atualmente. Discussão: Até o século XIX a relação de gênero que se estabelecia com o
trabalho era entre público e privado, fato que fez com que homens possuíssem um papel politico de tratar a respeito
da vida pública enquanto as mulheres, o papel de cuidar do lar e dos afazeres domésticos. O efeito que essa relação
teve nos dias atuais contou com índices altíssimos de desemprego feminino e exceção e apreciação do trabalho que
poderia ser oferecido por elas. Considerando que de acordo com o IBGE, no Brasil, o desemprego feminino ainda é
superior ao masculino, e mesmo assim, há mais mulheres do que homens com idade para trabalhar, o que faz com
que esses dados se tornem cada vez mais assustadores. As mulheres ainda têm de se preocupar com os afazeres
domésticos logo que a participação dos homens nesse tipo de atividade é bem pontual, quando acontece é a titulo de
colaboração. Além de também terem que cuidar dos filhos, considerando que nem todas as mulheres conseguem
vagas em creches inclusive as que trabalham e acabam contando com uma dupla jornada, pois, em muitos casos não
possuem nenhuma ajuda para cuidar dos filhos. Assim, a taxa de ocupação feminina aumenta com o crescimento do
acesso a creche. E mesmo com essa rotina abusiva as mulheres continuam recebendo menos que os homens. A
política de redistribuição se faz necessária justamente por dar uma nova expectativa a essas mulheres que acabam
marginalizadas. Por certo, a emancipação econômica e social é um grande passo para que essas mulheres comecem a
se afastar dessa realidade a qual estão condicionadas, porém, este não é o único caminho logo que sem o
reconhecimento cultural a desigualdade de gênero ainda perpetua. Para se falar em políticas públicas,
preferencialmente programas sociais, é inevitável falar nas necessidades basilares que uma população necessita, ou
seja, diversas demandas que são aferidas após estudos sociais. Após o entendimento dos fatos aqui colocados a
respeito das mulheres no mercado de trabalho, assim como, a dupla jornada enfrentada por elas que dificulta ainda
mais o acesso e permanência no trabalho. E apreciando a teoria da Nancy Fraser no entendimento de que a
redistribuição de renda é um passo para a emancipação, o evidente trabalho tem o objetivo de apresentar alguns
desses programas que facilitam na redistribuição dessa renda ou propriamente a distribuem. Essas politicas sociais são
baseadas na proteção da família do mesmo modo que na prevenção de eventuais conflitos ou danos. As mulheres
foram as mais beneficiadas com esse tipo de programa, tendo em vista que são as chefas de maior parte das famílias
inscritas no programa. O programa que aqui ganha ênfase é o PBF (Programa Bolsa Família) responsável pela
distribuição de renda, e com maior impacto nesse tipo de desenvolvimento. Método: A metodologia utilizada é de
caráter qualitativo, quantitativo e exploratório, utilizando de análise bibliográfica dos textos da Helena Hirata acerca
da história da divisão sexual do trabalho e do conceito da nova divisão sexual do trabalho. O presente trabalho elucida
e se embasa no texto da Nancy Fraser Da redistribuição ao reconhecimento: Dilemas de justiça em uma era pós-
socialista . Resultados: Tem-se como resultados parciais o entendimento da relação da mulher com o trabalho como
relação de gênero, considerando a história das mulheres acerca do tema e entendendo que essas ainda se encontram
em uma posição desfavorável para que obtenha sua emancipação, este estudo entende o programa Bolsa Família
321
como um programa de redistribuição de renda que possui reais efeitos na vida dessas mulheres em uma posição
hipossuficiente consiga alcançar recursos para mudar sua realidade. Conclusões: Por fim, este trabalho com
apreciação engrenada no âmbito dos estudos jurídicos e sociais projetou a teoria da Nancy Fraser na realidade
encontrada no Brasil, buscando um diálogo na busca por efetivas mudanças sociais que busquem por essa
emancipação feminina e capture uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento econômico.

322
Apontamentos sobre Psicanálise e Teoria Crítica: mimese e pulsão de morte em Adorno, Horkheimer e Freud
Autores: Edson Guilherme de Souza, UFSJ; Kety Franciscatti, UFSJ
E-mail dos autores: edguisouza@gmail.com,kety.franciscatti@gmail.com

Resumo: Esta pesquisa é orientada pela Professora Doutora Kety Valéria Simões Franciscatti. O conhecimento só é
possível pelo contato sensível com os objetos, sendo tal processo também constitutivo da formação externa da cultura
e da formação interna do ser humano. Se são os sentidos que tornam possível o conhecimento, eles pressupõem um
momento de entrega ao todo em que o sujeito está inscrito, nesse momento é possível tatear o mundo circundante.
Mas para conhecer de fato, o homem teve que ir além do mero contato com os objetos e ser capaz de refletir o que se
estava tocando, dotando o mundo de sentido e, com isso, produzindo a cultura em camadas mais emaranhadas. Para
superar essa entrega (alienação) irrefletida à natureza e investir energia em suas atividades produtivas, o homem teve
que superar o medo que a ameaça da natureza provoca: em vez de se paralisar diante do perigo, como fazem os
outros animais, ele construiu meios para elaborar esse medo e ir além da luta pela sobrevivência. No entanto, para
exercer poder sobre a natureza, o homem passou a dominá-la e, nessa progressão, a sociedade conservou a
dominação como molde de todas as relações. Na dominação, o medo é apenas postergado e, por isso, ele se conserva,
sem a modificação de seus determinantes. Em seu tatear, o homem encontra impedimentos que levam à
impossibilidade do conhecimento sua formação se enrijece. No lugar onde devia haver conhecimento, fica apenas a
marca da tentativa, que se traduz em uma repetição impensada, em uma compulsão, pois a pulsão não é satisfeita e
ainda pressiona o homem a continuar tentando, sem sucesso. O capitalismo incorpora esse esquema compulsivo e,
em sua instrumentalização, o ativa como uma forma de facilitar a entrega impensada do indivíduo a forças externas e
à técnica. Em suma, o progresso do conhecimento tende a enredar e ao mesmo tempo anular o sujeito do
conhecimento. Os filósofos frankfurtianos Horkheimer e Adorno movimentam o conceito de mimese para pensar
sobre esse processo, um conceito que carrega em si um paradoxo, pois a mimese, na entrega (alienação) à experiência
com o outro, pode levar à diferenciação, mas em sua forma regredida, como uma entrega irrefletida, é um momento
de paralisia que converte a formação em seu contrário ao se defender da natureza ameaçadora, o ser humano se
iguala ao inorgânico, se enrijecendo. Assim, o progresso cultural, em especial na intensificação do fetichismo e da
reificação no capitalismo, ainda não superou as ameaças que levam ao medo frente à natureza, o que solicita uma
reativação do impulso mimético em seu movimento regredido, na entrega impensada, alienada. Os filósofos
aproximam a mimese ao conceito freudiano de pulsão de morte. Para Freud, a pulsão de morte procura dissolver o Eu
e reincorpora-lo à natureza e se manifesta como repetição compulsiva. Dessa forma, a partir do tensionamento entre
o mecanismo da pulsão de morte para Freud e o conceito de mimese em Adorno e Horkheimer, investiga-se se a
anulação do Eu que Freud atribuiu à pulsão de morte é uma constatação da anulação do sujeito no progresso da
sociedade, que solicita um sujeito em relação unilateral com o todo, que apenas se entrega sem gastar essa energia na
reflexão. Segundo Sérgio Paulo Rouanet, a Teoria Crítica e a Psicanálise freudiana possuem uma relação de imanência,
pois a primeira se constituiu com o pensamento de Freud ao mesmo tempo em que fazia uma crítica contra Freud.
Dessa forma, a Psicanálise é uma interioridade da Teoria Crítica, contribuindo para o esclarecimento dos
determinantes do sofrimento humano, na medida em que, ao se ater à subjetividade humana, Freud se defrontou
com a objetividade da cultura. No entanto, Rouanet aponta que a teoria psicanalítica e sua prática foram incorporadas
à ordem vigente, encobrindo o sofrimento humano e adaptando este último ao meio que o violenta. A
desconsideração do caráter histórico-social da subjetividade, da dinâmica entre a configuração psíquica e a
organização social, negligencia os processos que levaram ao sofrimento. A pulsão de morte é uma das categorias que,
usadas de forma acrítica, justificam o sofrimento: ao naturalizá-la, sua ativação perde o potencial crítico e contribui
para uma estagnação da teoria psicanalítica. Dessa forma, deveria ser tarefa da Psicanálise procurar entender o
323
porquê da ativação da pulsão de morte nas condições atuais. Procura-se, assim, resgatar esse potencial crítico próprio
da Psicanálise, o qual levou à apropriação das categorias freudianas pela Escola de Frankfurt, restabelecendo, assim, o
diálogo entre os autores Adorno, Horkheimer e Freud. Ao movimentar suas formulações sobre a ativação de
manifestações de destruição no gênero humano, busca-se contribuir para a compreensão dos impasses da
emancipação humana e as implicações de tal compreensão para um posicionamento ético-político no campo da
Psicologia. CNPq.

324
Capitalismo global e cultura virtual: produção de subjetividades em tempos de sociedade em rede
Autores: Evandro Salvador Alves de Oliveira, UNIUBE/UNIFIMES; Sálua Cecílio, UNIUBE
E-mail dos autores: evandro@fimes.edu.br,salua.cecilio@uniube.br

Resumo: Na era do capitalismo global e sociedade em rede, as subjetividades são colocadas em suspenso em razão de
atravessamentos políticos, econômicos e culturais que ocorrem no mundo do trabalho do sujeito neoliberal. Discutir
subjetividades e o universo da cultura virtual implica explorar, em seu aspecto qualitativo, suas interfaces com as
tecnologias e mídias eletrônicas em uma cultura administrada pelo capitalismo em sua fase de acumulação flexível
que atinge a todos, na vida e no trabalho, e cada vez mais em extensão e intensidade consideráveis. É a cultura do
capitalismo global em seus desdobramentos econômicos, sociais e psíquicos, na ordem coletiva e individual. Nesse
sentido, a ênfase recai em problematizar a configuração de subjetividades e sujeitos na sociedade conduzida pelo
capitalismo neoliberal que se estabelece, cada vez mais e para muitos, como a nova razão no mundo (DARDOT;
LAVAL, 2016), que tem na cultura virtual uma estratégia especial de veiculação e direcionamento de objetivos,
relações e sociabilidades úteis à expressão e reprodução do modelo hegemônico. O objetivo é abordar as relações
presentes na cultura do capitalismo global, no que tange à produção de subjetividades, considerando a presença de
tecnologias digitais que habitam a sociedade e ajudam a compor a cultura das mídias. Pela revisão de literatura, não se
pretende responder à questão apresentada do título, mas provocar reflexões. A tessitura do texto é composta por um
tripé com as seguintes discussões: no primeiro aspecto a ênfase recai em abordar o capitalismo global e produção de
subjetividades; na segunda parte o mote principal consiste em discorrer sobre tecnologias, realidade/cultura virtual e
subjetividade, e, na terceira parte, ser sujeito neoliberal na nova razão do mundo é a premissa a ser explorada. Para
desenvolver uma análise das relações entre sociedade, capitalismo e globalização, que desembocam em reflexões que
permeiam a produção de subjetividades, as teorias de Guattari e Rolnik (1999), Chagas (2013), Alves (2014) e Valencia
(2016) são exploradas. Para compreender um pouco mais sobre abordagens teóricas que fundamentam e norteiam os
estudos relacionados a tecnologias, cultura/realidade virtual e subjetividade, consideram-se as análises de teóricos
como Levy (1999), Kerckhove (1997), Santaella (2003), Kenski (2013) e Costa, Duqueviz e Pedroza (2015). E com intuito
de identificar questões conceituais, bem como inter-relações subjacentes às temáticas das tecnologias digitais, à nova
razão do mundo, neoliberalismo e subjetividade, de forma a compreender seus fundamentos e consequências nos
planos teórico e existencial, as contribuições de Dardot e Laval (2016), Lipovetsky (2007) e Piolli, Silva e Heloani (2015)
são referências importantes. E, para além de conhecer os significados de era digital em tempos de cultura midiática,
cultura de um novo sistema de capitalismo, e uma nova razão do mundo que redireciona a sociedade, distinguindo
seus conteúdos e implicações para a configuração da subjetividade contemporânea, tem-se como desafio
problematizar tais decorrências e construir alguns apontamentos que objetivam dar visibilidade aos aspectos
condicionantes e possíveis conexões entre as dimensões da ação coletiva e individual, de modo a compreender a
dialética que as rege em seu desenvolvimento e expressões, considerando a cultura da virtualidade e das mídias. De
modo geral o estudo aponta que o sujeito neoliberal, na cultura do consumo e da competitividade, cada vez mais se
torna um empresário de si, à medida em que passa a gerenciar sua vida como um produto e de modo a perseguir
incansavelmente resultados elevados.

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Compreendendo a relação entre patrão e empregada: uma perspectiva social
Autores: Thayane Coimbra Sena, UFU; Maristela de Souza Pereira, UFU
E-mail dos autores: thayanecsena@gmail.com,maristela.ufu@gmail.com

Resumo: O presente trabalho buscou compreender, através de uma perspectiva social, as interações simbólicas que
tangem a relação entre patroas e empregadas domésticas. Baseado na teoria Esturuturalista Construtivista de Pierre
Bourdieu, assume que as interações simbólicas no interior de qualquer grupo não dependem somente das relações
nas quais elas se consumam, mas fundamentalmene das estruturas sociais em que os agentes se encontram inseridos.
Assim, compreende que as relações entre patroas e empregadas, como focalizado nessa pesquisa, são demarcadas
pelas posições distintas que essas ocupam no campo social. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), em 2014, 14% das brasileiras ocupadas eram trabalhadoras domésticas, um total de 5,9 milhões.
Sabe-se que essa profissão é em sua maioria feminina: segundo dados do Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), 94% dos trabalhadores domésticos são mulheres. Dentro da categoria trabalho doméstico, se diferenciam duas
categorias: empregadas domésticas, que trabalham na mesma casa todos os dias da semana; e diaristas, que
trabalham em casas diferentes ao longo da semana. Sendo um trabalho predominantemente feminino, nota-se a
divisão sexual do trabalho, podendo referir-se que também porta uma divisão social do trabalho, já que as tarefas
domésticas são desvalorizadas em relação às demais modalidades de trabalho, sendo subestimadas e até mesmo não
serem consideradas como um trabalho. Assim, o trabalho doméstico é por vezes referido como uma atividade natural
da mulher, como um prolongamento das obrigações femininas ou como um ato de amor , argumentos que promovem
uma visão subalterna da mulher e possuem uma forte carga ideológica. Dessa forma, o estabelecimento de uma
condição social de inferioridade das mulheres que trabalham como empregadas domésticas não só diz respeito à
natureza do trabalho em si, mas também à própria condição de gênero, onde a colocação do lugar doméstico no
âmbito privado ou de trabalho tem relação com o espalhamento do patriarcado por todas as esferas sociais. O
interesse por essa pesquisa veio devido ao fato das empregadas domésticas serem personagens centrais da história e,
de maneiras muito importante e pouco óbvia, ajudarem a construir a sociedade atual, onde têm acesso ao mais íntimo
das realidades familiares, como efeito histórico das relações escravagistas do nosso País. Isso se faz claro segundo
dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), levantados em 2013, os quais apontam que o Brasil foi
classificado como o país com maior número de trabalhadores domésticos do mundo. Com relação ao estudo ora
apresentado, trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada através de entrevistas com oito mulheres que
desempenham atividades domésticas remuneradas. O objetivo principal é compreender as interações simbólicas que
tangem a relação entre patrão e empregada, levando em consideração a influência das questões sociais sobre os
comportamentos dos sujeitos. A pesquisa está em fase final de análise e os resultados evidenciam que há uma
hierarquia claramente visível nas relações estabelecidas entre patroas e empregadas. Desse modo, é comum na fala
das entrevistadas, ao se referirem aos critérios para decisão permanecerem ou não trabalhando em uma residência,
quando do início da atividade laboral, o requisito nomeado por elas como ser tratada como ser humano . Fica claro
nas entrevistas que esse termo é usado no sentido de ser tratada com respeito e educação, algo que deveria ser
básico em todas as relações sociais, mas que ainda se mostra como um tipo de concessão no caso das trabalhadoras
domésticas. Ilustrando essa questão, aparece entre as entrevistadas a expressão ser tratada como lixo , onde elas
exemplificam situações em que se sentiram desrespeitadas e humilhadas. Dentre as entrevistadas que já
desempenharam funções de empregada e diarista, vão sendo citadas as vantagens e desvantagens para cada uma das
categorias. Outros fatores que surgiram nas entrevistas são relacionados ao ingresso na profissão, muitas vezes
relacionado a dificuldade de encontrar emprego ou busca por um serviço que possibilite mais tempo em casa, para
cuidar dos filhos. Voltando ao objetivo da pesquisa, no que diz respeito a relação com a patroa pode-se dizer que de
acordo com as entrevistadas, na maioria das vezes a relação é considerada boa por ter um tratamento por parte da
patroa que envolva respeito onde a empregada não se sinta humilhada. Ainda dentro dessa categoria se encaixa o fato
de que cada casa apresenta juntamente com cada patroa uma relação singular e única, onde de acordo com as
326
entrevistadas é preciso ter um manejo para se adaptar as diferenças, seja elas relacionadas a relação, ao ritmo da
família ou a forma que é feito a limpeza. O trabalho se encaixa na temática do GT escolhido por abarcar as questões
relacionadas ao trabalho, levando em conta que as empregadas domésticas são maioria de mulheres, onde se
encontra uma questão forte de gênero que pode ser discutida e os aspectos relacionados a singularidade de cada
trabalhadora, mas que também deve ser visto pelo social.

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Moedas inexistentes: Notas sobre criptomoedas no capitalismo imaterial
Autores: Emanuel Messias Aguiar de Castro, UFC; Amanda Gabriella Borges Magalhães, UFPA
E-mail dos autores: emanuel_messias.adc@hotmail.com,amandagabriella_@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho visa analisar os impactos na Economia política do nascimento da critptomedas. Moedas
digitais que funcionam, ainda, de maneira paralela ao mercado especulativo financeiro. O atual valor de um bitcoin é
de pouca mais de 9000 reais o que concerne a está moeda exclusivamente digital o atributo de mode mais valorizada
no mundo contemporâneo. Fundados em 2009, os bitcoins a principio eram parte integrantes do mercado
especulativo financeiro. Era necessário tanto a compra de um bom hardware quanto um bom software através de
cartões de crédito para que se pudesse minerar bitconis pela internet. Minerar é o termo usado para o software que
busca essas moedas através de algo similar a uma rede social de usuários desta criptomoeda. Em alguns anos adquiri o
próprio material para buscar bitcoins (minerar) é possível através dos próprios bitcoins. O que temos é possivelmente
uma nova face do capitalismo aquilo que ZIzek diz que seria o triunfo máximo do capitalismo, ou seja, o fim do papel
moeda. O presente trabalho faz um usa-se do processo especulativo imaginativo para pensar os impactos dessas
criptoemdas na nova Economia política do dinheiro. Questionamos-nos se não estaria diante de uma nova promessa,
no dizer de Giorgio Agamben, oikonômica do capitalismo de o empresário Bill Gates denominou de capitalismo "sem
atritos". Não seria esse o triunfo final do capitalismo no processo de alineação do trabalho? A completa virtualização
do trabalho é um processe meramente especulativo digital que transpõe a barreira do espaço e do tempo uma vez
que os softwares de mineração trabalham incessantemente 24 horas por dia 7 dias por semana? Para além de todos
esses questionamentos abstratos já é possível ver os impactos dessas criotomedas no mercado da economia política
do dinheiro. Segundo o site Infomoney já existem pelo menos 14 itens peculiares que podem ser adquiridos com uso
de bitcoins. Descatam-se entre eles uma mansão na Cidade de Barcelona, Espanha, no valor de 10000 bitcoins, algo
em torno de 930 mil Euros na época da cotação do anúncio. Mas, esse trabalho não tem o intuito de analisar somente
os impactos econômicos do surgimento desse mercado para-estatal no sistema-mundo capitalista. A complexidade
reside nas consequências dessa análise ou no surgimento do que Zizek chamou de "capitalista de si". Cada minerador
de bicoins é uma empresa em forma de pessoa física produzindo constantemente lucro, dividas e cossumo. Entramos
aqui nas analise feitas por Vladimir Safatle, Slavoj Zizek, Michael Hardt e Antônio Negri. Temos uma sociedade de
consumo, um amontoado de capitalistas de si que, em última instância, são gerenciadores de suas próprias dívidas.
Bitcoins são moedas especulativas com o intuito de consumo. Ainda segundo o site infomeney já é possível alugar
quartos em hostels em São Paulo ou mesmo comprar bicletas para viagens a longa distância. Desta maneira, esse
trabalho se divide em duas parte: 1) uma análise do que Andrew Feenberg denomina "código técnico" da Economia
Política do bitcoins, ou seja, compreender seu funcionamento técnicos e 2) compreender os impactos dessa nova-
forma dinheiro pautada em um laço-social de confiança exclusivamente pautado no poder de endividamento dos
possuidores dessas criptomoedas. A final alguém que possui 10 mil bitcoins para comprar uma mansão em Barcelona
realmente possui 970 mil euros para realizar tal intento?

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SAÚDE DO TRABALHADOR E DOCÊNCIA: estudo de caso com professoras da Rede Municipal de Educação
Autores: Patrícia Ferreira Marassi, UFMS-CPAN; Ilidio Roda Neves; UFMS
E-mail dos autores: patriciamarassi@hotmail.com,ilidiorneves@gmail.com

Resumo: O trabalho docente vem sofrendo com a influência das reestruturações contraditórias do sistema produtivo e
com as novas exigências de gestão na educação, decorrentes da flexibilização e precarização ocorridas na conjuntura
atual. Fundamentados em autores marxistas e com base nos processos, ontológico e histórico da sociedade nos
contextos de ação humana laborativa, buscamos entender esse delineamento no mundo laboral a partir da categoria
trabalho e como atua na vida destes profissionais. Partindo desses pressupostos, compreendemos esta categoria
como autocriação da humanidade e como condição fundante dos seres humanos e das classes sociais, no qual o
processo ontológico é dado como a autogênese humana, em que ocorre um seguimento simultâneo de transformação
dos indivíduos e da natureza através da relação dialética com o meio em que vive, em que mulheres e homens não
apenas edificam a materialidade da sociedade mas também se desenvolvem como indivíduos. Dessa maneira, com um
olhar holístico buscamos apreender a realidade subjetiva e objetiva concatenadas uma à outra e que se constituem
mutuamente, isso quer dizer que, ao construir o mundo objetivo, os humanos constroem conjuntamente a sua
subjetividade. Em razão da atividade objetiva e concreta do mundo vivido, a construção histórica, na qual o trabalho
humano é a condição de subordinação ao capital, em que ao mesmo tempo que se valoriza a mercadoria, se
desvaloriza o ser humano, quanto mais valores o trabalhador cria mais sem-valor ele se torna, evidencia-se o caráter
expansionista do sistema do capital e sua capacidade de autorreprodução que são revelados nas condições de
opressão, controle, alienação e mercantilização da força de trabalho. Esse processo social de reprodução caracteriza o
capitalismo, no momento em que a força de trabalho assume a forma de mercadoria com o desenvolvimento das
relações sociais que beneficiam somente o possuidor do capital, e o trabalhador livre é reduzido a sua capacidade
laboral. No âmbito educacional essas relações de dominação e desigualdades resultantes das reorganizações
produtivas e do desenvolvimento do sistema econômico vigente, acarretam na precarização das relações de trabalho e
influenciam o cotidiano laboral no processo de saúde e adoecimento em torno do exercício da docência.
Correspondente a essas reorganizações e o que elas têm causado a esta classe, foi percebido a necessidade de uma
reflexão teórica e crítica no âmbito escolar. Portanto, esta investigação objetivou analisar relatos de professoras com
algum tipo de vínculo de trabalho junto à rede Municipal de Educação, sobre as condições de trabalho e saúde
presentes em seu ambiente ocupacional, como também compreender a perspectiva dos professores acerca das suas
condições de trabalho e ampliar a compreensão da realidade do trabalho docente e as possibilidades de
transformação nesse contexto escolar, provocando nos profissionais envolvidos a autonomia de problematizar e
converter a posição de impotente sobre o processo de saúde/adoecimento, ressignificando o sentido do trabalho e
potencializando o poder da luta de classes. Foi realizado nessa investigação exploratória e qualitativa, um estudo de
caso, onde foram ouvidos três professores com tipos diferentes de vínculo de trabalho junto a prefeitura local, por
meio de entrevistas abertas onde foram coletados dados pessoais e coletivos sobre a realidade do trabalho docente.
No decorrer das entrevistas, foi utilizado relatos gravados e um diário de campo, como ferramentas para registrar e
potencializar a compreensão dos movimentos e a diversidade cultural inscrita no ambiente laboral. A análise dos
participantes foi pautada no materialismo histórico-dialético e na estruturação dos núcleos de significações,
possibilitando o desenvolvimento da pesquisa para além do empírico e envolvendo as práticas e implicações da
categoria trabalho como mediadora das relações sociais, bem como também a narrativa de vida, a atividade laboral e
as condições de trabalho e saúde presente na instituição. Buscamos dessa maneira, compreender a historicidade deste
processo investigativo, as múltiplas amarrações presentes na dinâmica constitutiva e destrutiva de reprodução do
capitalismo contemporâneo, considerando a dialética do movimento dinamizado pelo trabalho e do processo de
adoecimento dos docentes.

329
Trabalho Imaterial e Qualificação Profissional: a realidade como fetiche
Autores: Mario de Souza Costa, Instituto Sedes Sapientiae
E-mail dos autores: mariopsi@gmail.com

Resumo: Neste trabalho procuramos relacionar as discussões sobre trabalho imaterial e a qualificação profissional
como ideologia. O processo de reestruturação produtiva em curso desde os anos de 1980 provocou profundas
transformações no mundo do trabalho, que resultou em modificações intensas na relação do trabalho com a produção
com a significativa redução da ocupação no setor da produção de bens e um crescimento no setor de serviços. Isto
veio a configurar uma nova realidade no sistema econômico, o que teria produzido uma mudança em seu eixo
dinâmico: a indústria, a produção de bens, estaria perdendo sua centralidade na produção do valor, a velha economia
industrial estaria dando lugar a uma nova economia baseada no setor dos serviços. Esta nova economia indicaria o
nascimento da sociedade pós-industrial como superação da sociedade industrial, na medida em que a implementação
da automação e da informatização da produção resulta na redução drástica do trabalho vivo na produção de bens.
Nesta nova fase do capitalismo em que estaríamos vendo nascer o fim da produtividade física e sua substituição por
uma produtividade imaterial, o trabalho passou a ser realizado fora do local de trabalho, mantendo o trabalhador
conectado permanentemente ao seu trabalho. Haveria, então, uma identidade entre a nova economia calcada nos
serviços, cuja produção é imaterial, e a constituição desta nova sociedade pós-industrial, que eleva o conhecimento à
posição de ativo estratégico em termos de geração de renda e riqueza. Esta tese sobre o trabalho imaterial aponta
para o desenvolvimento da sociedade-fábrica, uma vez que o processo de trabalho deslocou-se para toda a sociedade:
o consumo e a produção se integraram ao ponto de o consumo gerar a produção e, assim, tornar-se ele mesmo
produtivo, o que promove uma identidade absoluta entre sociedade e capital a sociedade-fábrica. Neste trabalho
buscamos apontar o caráter ideológico e fetichista destas teses e reflexões acerca da sociedade pós-industrial e do
trabalho imaterial baseadas no pensamento e nas proposições de Michael Hardt e Antonio Negri e apoiada por outros
autores, como André Gorz. Buscamos demonstrar, a partir da perspectiva marxista, que ao centrarem suas
observações no caráter concreto do trabalho e na manifestação material ou imaterial de seu produto, caem em
posições fetichistas, uma vez que deduzem daí as qualidade inerentes ao processo de trabalho e terminam por extrair
do resultado material do processo de produção o caráter da produtividade do trabalho. A importância de relacionar
esta visão que se refere às transformações produtivas em curso como uma nova economia, a entrada em uma novo
período, o pós-industrial, fundada nos serviços e na centralidade do trabalho imaterial na produção, à discussão sobre
a qualificação profissional reside, ao menos em dois aspectos centrais: de um lado, a grande penetração que alcançou
junto aos meios acadêmicos por conta mesmo de seu caráter fetichista, que facilita por meio da manifestação objetiva
dos múltiplos trabalhos a identificação das categorias apresentadas por esta corrente teórica o trabalho imaterial
pode ser visto, apesar da imaterialidade dos produtos que produz e mesmo por conta dela no momento mesmo em
que se realiza e a adesão à ela de importantes setores políticos e econômicos; e, por outro lado, pela equivalência que
propõe entre trabalho imaterial e saberes e inteligências: a produtividade resulta da nova e verdadeira força produtiva
que é o conhecimento o chamado capital humano. Tomadas em conjunto, ambas resultaram na disseminação pela
sociedade brasileira de um modelo de trabalho e de trabalhador de qualificação elevada, apto a contribuir para a
produção social e para a valorização do valor não apenas com a sua técnica, mas com os seus saberes e habilidades
cognitivas, o que tem servido de paradigma para os debates sobre a qualificação profissional e elevação da
escolaridade, que de resto, não corresponde plenamente à realidade.

330
GT 16 | Ética na pesquisa e intervenção em Psicologia Social: impasses teóricos, metodológicos e políticos

Coordenadores: Fernando Santana de Paiva, UFJF | Luciana Ferreira Barcellos, UFSJ | Pedro Henrique Antunes da
Costa, Faculdade Machado Sobrinho

O objetivo do presente Grupo de Trabalho (GT) é discutir a dimensão ética, a partir de relatos de pesquisa e/ou
intervenção no âmbito da Psicologia Social, desenvolvidos nos diferentes espaços públicos, como as políticas sociais na
saúde, educação, assistência e defesa social, bem como em contextos sociocomunitários e em interface com os
movimentos sociais. O referido GT é consonante com a temática do evento, haja vista que a democratização das
relações sociais no campo do Estado brasileiro prescinde de uma profunda discussão ética sobre o quefazer
profissional, com uma série de implicações para a práxispsicossociológica. Nesse sentido, consideramos oportuno,
tendo em vista o próprio contexto histórico em que estamos inscritos, empregarmos esforços reflexivos em relação à
ética que perpassa os trabalhos realizadosno âmbito da pesquisa com os mais variados sujeitos e grupos sociais e
políticos, e, mesmo as intervenções colocadas em prática cotidianamente nos espaços das políticas públicas,
comunidades e em interface com os movimentos sociais.
De modo geral, desde sua constituição como campo científico, a Psicologia tem sido empregada como um instrumento
de manutenção de estruturas de exploração, contribuindo na (re)produção e manutenção de relações sociais de
alienação, dominação e opressão, essenciais ao sistema capitalista mundial. Trata-se, portanto, de um campo de
conhecimento e prática profissional que tem sido funcional, como explicita Parker (2007), ao modo de vida liberal-
burguês, sendo, portanto, caudatário deste modelo de sociedade. Adota um conjunto de perspectivas filosóficas e
ético-políticas que coaduna com um projeto societário conformado em meio à opressão de determinados sujeitos e
grupos sociais, situados em posições de subalternidade na ordem sócio-política vigente, tais como mulheres, jovens,
negros, sujeitos LGBTTI, majoritariamente oriundos da classe trabalhadora (Martín-Baró, 1996, 1998; Freitas, 2015a).
Em contraposição, e referente ao eixo elegido, consideramos que a Psicologia Social tem um papel crucial na
consolidação de um patamar de igualdade, liberdade e justiça social em nosso país. Ademais, trata-se de uma área
historicamente atrelada à luta em prol dos direitos humanos e em busca da emancipação política e humana de nosso
povo, em detrimento das perspectivas psicológicas tecnicistas, descontextualizadas e que carecem de um
compromisso com a transformação das condições de vida das maiorias populares. Indubitavelmente, a discussão
sobre diferentes maneiras de intervir no âmbito social tem culminado forçosamente a um questionamento sobre a
dimensão ética envolvida no desenvolvimento de intervenções psicossociais, considerando a pluralidade de sujeitos e
grupos sociais, bem como suas inúmeras necessidades concretas (pobreza, criminalização, violências etc.) e
implicações subjetivas, que passaram a ser de interesse e responsabilidade da Psicologia Social, assim como de outras
áreas da Psicologia.
Nessa direção, a ética envolvida no processo de produção de conhecimento e intervenção profissional torna-se um
elemento central na conformação de umapráxis que tenha como horizonte a transformação da realidade a partir da
superação das desigualdades econômicas, políticas e sociais em nosso país. Para tanto, a participação social é um
elemento importante, que deve também levar a uma crítica sobre como temos produzido nossos conhecimentos e
nossas práticas. Ou seja, em que medida temos assegurado a participação dos sujeitos e grupos sociais nos processos
de investigação e intervenção profissional? Até que ponto não temos reproduzido relações de subalternização e
opressão a partir de nossas intervenções? Como produzir conhecimentos com e para os sujeitos com vistas a
transformação social? Nesta direção, Freitas (2015a; 2015b) salienta que os inúmeros problemas estruturais e
conjunturais, ainda presentes em meio à sociedade moderna, impõem à PC, a necessidade de uma constante reflexão
sobre seu horizonte ético, na proposição de pesquisas e intervenções que realmente estejam voltadas para a
transformação social. Portanto, a formação dos futuros profissionais na área ganha relevância, sendo pertinente uma
revisão constante sobre as dimensões de ordem teórico-conceitual, metodológica, técnica e de posicionamento ético
e político de psicólogas e psicólogos.
Logo, denota-se a necessidade de se refletir não somente acerca das dimensões ontológica, epistemológica e
metodológica existentes, como se restringe grande parte das pesquisas e intervenções no âmbito acadêmico, mas
também considerar outros dois âmbitos de igual relevância, mas, portanto, frequentemente desconsiderados ou
minimizadas: a dimensão ética e a política (Montero, 2004). Isso significa pensar nos horizontes e nas possíveis
implicações/reverberações existentes deste processo de contato ou inserção em uma dada realidade, ou com
determinado fenômeno, com o intuito de compreendê-los e/ou modificá-los. Assim,os questionamentos postos
orientam a uma reflexão sobre a dimensão ética e política presente em nosso trabalho, e certamente, o presente GT
331
poderá configurar-se como um espaço profícuo de análise, discussão e reflexões críticas sobre os rumos de nossas
produções e ações nas mais variadas áreas perpassadas pela Psicologia Social.
Não obstante, há que se ressaltar as inúmeras dificuldades impostas para se assegurar uma formação eticamente
orientada nos termos anteriormente propostos, tanto no Brasil como em outros países latino-americanos. Ainda
observamos persistir um cenário formativo que privilegia a dimensão tecnicista, com vistas a atender o mercado
capitalista (Freitas, 2015b). Em se tratando da Psicologia, identificamos algumas questões particulares, como aponta
Prilleltensky (2001), ao considerar que a formação nesta área ainda privilegia aspectos relacionados a métodos,
estatísticas, bem como uma pretensa cientificidade que almeja a neutralidade, mas que não investe adequadamente
na discussão acerca dos valores que orientam a vida em sociedade. Cumpre salientar que a própria ênfase em
aspectos metodológicos e na produção de um conhecimento tido como científico esconde em si um conjunto de
valores que orientam a leitura sobre a realidade social.
Portanto, implicam em posicionamentos e orientações éticas que deveriam ser apreciadas pelos profissionais do
campo da Psicologia, o que raramente ocorre. Por conseguinte, a despeito do avanço numérico observado nos últimos
anos em relação à formação em Psicologia no Brasil, no âmbito da graduação e pós-graduação, Freitas (2015a)
considera que ainda nos deparamos com inúmeras barreiras para assegurarmos uma formação que favoreça a atuação
profissional ética e socialmente comprometida com os sujeitos e grupos sociais em situação de exploração e
dominação. Tais fatores atrelam-se com as críticas postuladas por Martín-Baró (2015), no âmbito da ética profissional
em Psicologia, em razão dos preceitos filosóficos e científicos em disputa neste campo, conformou-se um tipo de ética
considerada artificial, que funcionaria como uma espécie de anexo ao saber técnico-científico, uma vez que não
estaria relacionada aos processos histórico-sociais e políticos em construção.
O resultado observado é a dissociação entre ciência e valores, com um elevado apelo à subjetividade de cada sujeito,
só havendo sentido em uma ética aplicada, e, portanto, relegada a um comportamento técnico e protocolar de cada
indivíduo. Por outro lado, o autor ainda sinaliza uma dimensão idealista a respeito da ética corrente em Psicologia,
vinculada a valores absolutos e universais, que teriam aplicação em qualquer época e lugar, desconsiderando o caráter
histórico-social e prático do fazer humano. Estas características destacadas por Martín-Baró (2015) serviram muito
mais para a manutenção de um falso status de ciência, do que propriamente uma possibilidade de ampliar a
capacidade dos psicólogos em compreender os fenômenos com os quais se deparam, e, consequentemente,
construírem possibilidades de mudança na vida das pessoas e grupos sociais. Logo, tal concepção asséptica sobre o
direcionamento ético na profissão pode colaborar no papel desempenhado pela Psicologia na produção e reprodução
de valores morais que legitimam padrões de desigualdade e sofrimento ético-político, conforme anteriormente
salientado. Portanto, a ética, em conformidade com Martín-Baró (2015), deve ser entendida como um horizonte que
deli itaàoà a i hoàe t eà oà ueàest àeà oà ueàpodeàse àu aàp isà ueàp ete deàaàt a sfo aç oàdoàho e ,àdaà
sociedade e da própria história. Cumpre salientar que partimos do pressuposto que a prática científica se realiza em
meio a um modo de produção econômica e social que se reproduz a partir da exploração e dominação. Isto significa
que o conhecimento e prática profissional podem ser utilizados para a manutenção do status quo e não a sua
superação, a partir da reificação de preceitos ideológicos que terminam por obscurecer a capacidade de compreensão
das contradições presentes na realidade social (Löwy, 1998).
Portanto, a investigação e prática profissional apresentam importantes implicações éticas e políticas na sociedade,
sendo fundamental nos questionarmos acerca das conseqüências históricas concretas produzidas por estas ações
(Martín, Baró, 1996; Florián, 2015). A partir do apresentado anteriormente, o presente GT encontra-se disponível para
a submissão de trabalhos que abordem a dimensão ética nos processos de produção de conhecimento e intervenção,
considerando a variedade teórico-conceitual e metodológica presente na Psicologia Social. São encorajados,
especialmente, trabalhos ancorados na utilização de metodologias participativas (MP) e/ou que se proponham a
questionar os processos de investigação e prática profissional sob a perspectiva ética. Assim, esperamos receber
trabalhos que possam contribuir com inquietações e reflexões críticas acerca dos processos de investigação que se
tem realizado na Psicologia Social e ciências humanas em geral, tendo em comum o horizonte de transformação das
condições de vida em sociedade. Cabe esclarecer que as MP são caracterizadas sob variadas alcunhas, tais como:
pesquisa-ação, pesquisa-intervenção, pesquisa-participante, investigação-ação-participante etc.
Em suma, elas possibilitam o estabelecimento de uma nova relação entre a ciência e a realidade social, assim como
entre a academia e a sociedade em geral, concebendo-os relacional e dialeticamente imbricados, ao invés de
instâncias fragmentadas e dicotômicas. Além disso, objetivam modificar a visão clássica de ciência, tomando-a como
uma prática social, juntamente com reversão da tradicional separação importada das ciências naturais da relação
entre sujeito-objeto, onde inicialmente pesquisamos determinados fenômenos para depois agir sobre eles (Fals Borda,
332
2001). Por fim, por meio da perspectiva participativa referente aos diferentes atores que fazem parte da realidade
social, possibilita-se não apenas oportunidades destes tomarem parte dos processos de construção, decisão e ação,
mas também de se materializar as premissas da concepção de ética apregoada, ao potencializare contribuir para a
apropriação e conscientização destes sujeitos acerca de suas próprias condições de vida com vistas a sua
transformação.
Referências
Fals Borda, O. Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o significado e o papel da ciência na
participação popular. In: Brandão, C.R (Org.). Pesquisa participante. São Paulo: Editora Brasiliense. 2001
Florián, C.J.P. Disciplina, saber y poder: una reflexión crítica sobre la construcción de la psicología como disciplina,
campo y práctica social. Teoría y Crítica de la Psicología 6, pp. 26–39. 2015.
Freitas, M.F.Q. Desafios éticos na prática em comunidade: (des)encontros entre a pesquisa e a intervenção. Revista
Pesquisas e Práticas Psicossociais,10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015.
Freitas, M.F.Q. Práxis e formação em Psicologia Social Comunitária: exigências
e desafios ético-políticos. Estudos de Psicologia, Campinas, 32(3), 521-532 I julho – setembro. 2015.
Löwy, M. As Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen: marxismo e positivismo na sociologia do
conhecimento. 6ª edição. São Paulo: Editora Cortez. 1998.
Martín-Baró, I. Psicología de la Liberación. Editorial Trotta: Madri. 1998.
Martín-Baró, I. Ética en psicologia. Teoría y Crítica de la Psicología, v( 6), pp. 491-531. 2015.
Martín-Baró (1996d). Toward a liberation psychology (A. Aron, Trad.). In A. Aron & S. Corne (Eds.), Writings for a
liberation psychology (2ª ed., pp. 17-32). Cambridge: Harvard University Press. (Reimpresso de Boletín de Psicologia,
5(22), 219-231, 1986).
Montero, M. El paradigma de la psicologia comunitária y su fundamentación ética y relacional. In: (Montero, M.).
Introducción a la Psicología Comunitaria: desarrollo, conceptos y procesos. Paidós: Buenos Aires. 2004.
Parker, I. Revolution in Psychology. Alienation to Emancipation. London. 2007.
Prilleltensky, I. Value-Based Praxis in Community Psychology:Moving Toward Social Justice and Social Action. American
Journal of Community Psychology, Vol. 29, No. 5, Outubro. 2001.

333
A metodologia clínico-política do Acompanhamento Juvenil: um exercício ético no encontro com jovens e
socioeducação
Autores: Ana Paula Genesini, UFRGS; Jaqueline Tittoni, UFRGS
E-mail dos autores: anagenesini@gmail.com, jatittoni@gmail.com

Resumo: O trabalho na socioeducação nos confronta com durezas e aridez. Estamos ali: posicionados enquanto
agentes no funcionamento de uma estratégia de governo, que opera tanto a bio, quanto o anatomopolítica e que
mantém um modelo histórico tutelar e punitivo atualizado nas práticas de trabalho e relações institucionais. Nesse
contexto, a criminalização, judicialização e medicalização parecem se corporificar na vida de jovens que são apenas
mais um : mais um favelado, mais um marginal, mais uma ameaça à ordem, mais uma narrativa de vida que não
carece de ser ouvida em singularidade; afinal, toda sua história, tudo o que ele é e pode ser, se traduz e se mistura ao
caldo indiscernível da massa.
Saberes e discursos com valor de verdade insistem em operar o controle das diferenças, de modo a produzir
adaptação, mas algo não cessa em escapar. As relações e trocas com jovens em cumprimento de medida
socioeducativa vão rachando a massa nos mais diversos enunciados. As vidas se abrem em mapas complexos,
desfazendo o nó da individualização e homogeneidade e apontando para o tracejar de linhas de ruptura e resistência,
para uma potência afirmativa de si, que urge por tomar forma.
Nossa escuta, nos espaços de intervenção e relação com os adolescentes, reconhece demandas de existir em
diferença, na constituição e ampliação de um território, composto por caminhos a serem percorridos no mesmo passo
em que se vislumbram e se constroem. Como isso é possível? Como isso se dá num contexto cujo próprio mecanismo
depende de práticas de governo?
Compreendemos que a trama de instituições que perpassam as vidas desses jovens - como a justiça, educação,
assistência, saúde tanto podem vir a compor uma rede de apoio, que possibilite movimentos e potencialize escolhas,
quanto pode cercear exercícios de afirmação de diferença. É nesse contexto paradoxal, entre práticas de governo e a
possibilidade de exercícios de si, que a metodologia de intervenção clínico-institucional do Acompanhamento Juvenil
se produz, agenciada pelo encontro com os jovens, que (nos) atualizava em um exercício ético.
O objetivo de acompanhar jovens, a partir da atenção à complexidade e multiplicidade de seus modos de vida,
encontrou na ferramenta do Acompanhamento Terapêutico (AT) pistas para construção de uma metodologia que se
relacionasse com a especificidade do campo socioeducativo. É através do Programa Interdepartamental de Práticas
com Adolescentes e Jovens em Conflito com a Lei (PIPA), núcleo de extensão e pesquisa da UFRGS, que atua com
adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, bem como, com egressos desse contexto; e que tem por
composição o Grupo de extensão Estação Psi, do Instituto de Psicologia, o Programa de Prestação de Serviços à
Comunidade, da Faculdade de Educação e o G10 Grupo de Assessoria à Juventude Criminalizada, da Faculdade de
Direito, que se configura um campo de intervenção e problematização de práticas.
Nossas inquietações, engendradas pela experiência com jovens, acionam uma metodologia que busca deslocar a
dicotomia indivíduo-sociedade, reposicionando a demanda juvenil em um campo de forças do qual fazem parte
adolescentes, profissionais e instituições, os quais afetam e são afetados mutuamente, nessa trama que compõe. A
oferta de um espaço de escuta e de um estar com coloca o acompanhante ao lado dos jovens, para buscar expandir
territórios, tensionar lugares e articular redes, em um exercício ético-político, que aponte para existências em
multiplicidade "o verbo no infinitivo (estar com) implica abertura para conjugar o eu, o ele, o nós, em diferentes
exercícios de escolhas e responsabilidades (LAZZAROTTO, p.133, 2013). Nesse sentido, experimentar-se na circulação
e na imaginação de outros caminhos e perspectivas possíveis, ampliam narrativas, sentidos e formas de falar de si
através da sensação de pertencimento, do reconhecimento da capacidade inventiva e da produção de discursos outros
e próprios que descolem de enunciados marcados pelo ato infracional e pelas equipes, que em seus diferentes
posicionamentos tendem a se orientar mais pela execução da medida e menos pela análise de sentido desta medida
como analisador na vida que ultrapassa o tempo medido.
334
Nossos ensaios com uma metodologia gestada pela experiência e atravessada pelos saberes da psicologia, da
educação e do direito e pelo percurso de quem acompanha e é acompanhado, anunciavam um exercício reflexivo
acerca de uma interdisciplinaridade que compõe nossa prática: quanto esses saberes se atravessam? que arranjos
formam entre si? quanto são capazes de fluir um pelo outro na invenção de um plano comum, constituído de
hibridez?
Narramos. Registrar encontros, ensaiando com afetos e inquietudes se faz necessidade de exercitar o pensamento de
uma produção de si em relação, que nos reposiciona quanto à instituições, práticas, saberes e a nós mesmos.
Ensaiamos, em nossas narrativas, uma ética do comum: tentativa de construir um campo que aponta para um
reordenamento da relação de forças através do coletivo, superando a disciplina e os saberes de origem, no
compromisso com a ampliação de condições de possibilidades de vida dos jovens.

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Desafios e potencialidades da intersetorialidade nas políticas públicas: interfaces entre assistência social, saúde e
educação
Autores: Roberta Carvalho Romagnoli, PUC Minas; Bruna Coutinho Silva, PUC Minas
E-mail dos autores: robertaroma1@gmail.com,bcoutinho.psi@gmail.com

Resumo: Este trabalho apresenta a pesquisa Intersetorialidade, famílias e processos de subjetivação (CNPq e PUC
Minas), cujo objetivo é analisar a intersetorialidade a partir das relações estabelecidas no NIR Técnico de uma regional
da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. A intersetorialidade pode ser entendida como a articulação de saberes e
experiências com vistas ao planejamento, para a realização e a avaliação de políticas, programas e projetos, com o
objetivo de alcançar resultados em situações complexas (INOJOSA, 2001). Analisando a intersetorialidade, Monnerat &
Souza (2011) apontam para a necessidade de um enfrentamento intersetorial, através da conformação de uma rede
de proteção social com a construção de interfaces entre setores e instituições governamentais (e não
governamentais), em uma sociedade como a do Brasil, com grandes limites estruturais e desigualdades sociais. Essa
rede tem como propósito enfrentar os complexos problemas sociais, correspondendo à articulação de saberes e
experiências. Este estudo se insere na linha de pesquisa-intervenção, que propõe romper com as dicotomias teoria-
prática, sujeito-objeto, articulando pesquisador e campo de pesquisa. Caracteriza-se por um estudo que é realizado
em conjunto com a população pesquisada, visando à geração de conhecimento e ação, para uma atuação
transformadora da realidade. Essa modalidade de pesquisa utiliza uma metodologia participativa, cuja transformação
é processual e se dá por intervenções de ordem micropolítica nas situações cotidianas, que são em si complexas, em
uma dimensão em que o estudo se transforma de acordo com os acontecimentos do campo, na interface entre o
saber e o fazer. Conhecer/intervir é rastrear os processos cotidianos, desarticular as práticas e os discursos instituídos
e as relações que dificultam a criação, para que surjam outras formas de lidar com as tensões presentes na prática
intersetorial. A partir dos encontros, das observações, dos afetamentos, da análise da implicação, dentre outros,
busca-se micropoliticamente colocar em análise os efeitos das práticas no cotidiano institucional, desconstruindo
territórios cristalizados e facilitando a criação de novas práticas. Romagnoli (2014) destaca a necessidade de estar
atento aos efeitos que as instituições provocam nos pesquisadores e sustentá-los nos possibilita acessar a instituição
através da análise da implicação. Utilizamos a metodologia da pesquisa intervenção cartográfica, a partir do marco
teórico da Esquizoanálise, de Deleuze e Guattari. Trabalhamos com dois eixos concomitantes de ação: um campo de
análise estudos do marco teórico e temas concernentes aos objetivos da pesquisa e um campo de intervenção com a
equipe: contatos informais; participação nas reuniões mensais do NIR Técnico; grupo de estudos; oito entrevistas
semiestruturadas individuais; com as famílias: a ser constituído em 2017. Os dados produzidos nesse estudo foi
realizada em conjunto com a equipe do NIR Técnico através da restituição, ferramenta essencial nessa modalidade de
pesquisa. Monceau (2012) atesta que a restituição nos possibilita fazer uma revisão das interpretações que fazemos
como pesquisadores, além de manter ativo o pacto do trabalho conjunto com o campo. Esse procedimento permite
aos participantes expressarem suas percepções, e que estas sejam usadas como suporte para a reflexão coletiva e
possível transformação. Questionar pressupostos acadêmicos e intervenções através do coletivo coloca em análise as
instituições e as ações que constroem seu cotidiano. A produção de dados até o momento foi feita a partir de cinco
observações das reuniões do NIR Técnico, três restituições, quatro entrevistas com a equipe fixa e seis com a equipe
volante. Os resultados parciais apontam para dois planos de forças que se atravessam a todo instante (DELEUZE;
GUATTARI, 1995): a) plano de organização, que assegura a organização e reprodução do mesmo, através de: não
entendimento e/ou descrença da proposta do NIR-T; falta de comunicação e seguimento dos casos; pouco
conhecimento dos fluxos das políticas setoriais; limites e ausências de políticas públicas no território, em níveis
federal, estadual e municipal; condições de trabalho precárias; postura de lamentação/cronificação; dificuldade de
avaliar os efeitos dessa ação para as famílias; necessidade de maior articulação com o Conselho Tutelar; entre outros;
b) plano de consistência, da ordem da complexidade, em que as relações e afetamentos produzem indeterminações e
conexões expansivas, que agenciam: envolvimento, fortalecimento e aprendizado dos profissionais; potência para
336
resolutividade de casos complexos via estratégias conjuntas de intervenção; visibilidade para a família, que passa ser
investida; maior envolvimento de gerentes; importância da clínica ampliada. Cabe salientar que esses dois planos o
plano de organização e o plano de consistência , encontram-se justapostos de forma imanente. Concluindo,
consideramos a intersetorialidade carece de uma produção sistemática de conhecimento sobre a qual se possa fundar
um marco de análise para pesquisas e avaliação. Nesse contexto, torna-se necessário estudos/intervenções sobre o
tema, para tentar dar conta tanto da complexidade que atravessa a intersetorialidade. Além disso, acreditamos que a
produção de conhecimento nesse campo pode apontar caminhos de inserção profissional dos psicólogos em pareceria
com outras profissões e atores sociais.

337
Ética e Psicologia Social Comunitária: formação e práxis profissional
Autores: Fernando Santana de Paiva, UFJF; Amata Xavier Medeiros, UFJF; Kíssila Teixeira Mendes, UFJF; Mariana de
Almeida Pinto, UFJF; Pedro Henrique Antunes da Costa, UFJF
E-mail dos autores: fernandosantana.paiva@yahoo.com.br, Amata.medeiros@gmail.com, dap.mariana@gmail.com,
phantunes.costa@gmail.com, kissilamm@hotmail.com

Resumo: A Psicologia Social Comunitária latino-americana representou a possibilidade concreta de construção de uma
práxis comprometida com a transformação social, tendo a comunidade como sujeito central e privilegiado de ação,
reorientando as intervenções em Psicologia. Indubitavelmente, a discussão sobre diferentes maneiras de intervir no
âmbito social tem culminado forçosamente a um questionamento sobre a dimensão ética envolvida no
desenvolvimento de intervenções psicossociais, considerando a pluralidade de sujeitos e grupos sociais, bem como
suas inúmeras necessidades concretas (pobreza, criminalização, violências etc.) e implicações subjetivas, que passaram
a ser de interesse e responsabilidade da PC, assim como de outras áreas da Psicologia. Os inúmeros problemas
estruturais e conjunturais, ainda presentes em meio à sociedade moderna, impõem à PC, a necessidade de uma
constante reflexão sobre seu horizonte ético, na proposição de pesquisas e intervenções que realmente estejam
voltadas para a transformação social. Portanto, a formação dos futuros profissionais na área ganha relevância, sendo
pertinente uma revisão constante sobre as dimensões de ordem teórico-conceitual, metodológica, técnica e de
posicionamento ético e político de psicólogas e psicólogos. No âmbito da ética profissional em Psicologia, em razão
dos preceitos filosóficos e científicos em disputa, conformou-se um tipo de ética considerada artificial, que funcionaria
como uma espécie de anexo ao saber técnico-científico, uma vez que não estaria relacionada aos processos histórico-
sociais e políticos em construção. O resultado observado é a dissociação entre ciência e valores, com um elevado
apelo à subjetividade de cada sujeito, só havendo sentido em uma ética aplicada, e, portanto, relegada a um
comportamento técnico e protocolar de cada indivíduo. Por outro lado, o autor ainda sinaliza uma dimensão idealista
a respeito da ética corrente em Psicologia, vinculada a valores absolutos e universais, que teriam aplicação em
qualquer época e lugar, desconsiderando o caráter histórico-social e prático do fazer humano. Essas características
serviram muito mais para a manutenção de um falso status de ciência, do que propriamente uma possibilidade de
ampliar a capacidade dos psicólogos em compreender os fenômenos com os quais se deparam, e, consequentemente,
construírem possibilidades de mudança na vida das pessoas e grupos sociais. Logo, tal concepção asséptica sobre o
direcionamento ético na profissão pode colaborar no papel desempenhado pela Psicologia na produção e reprodução
de valores morais que legitimam padrões de desigualdade e sofrimento ético-político, conforme anteriormente
salientado. Portanto, a ética, deve ser entendida como um horizonte que delimita o caminho entre o que est e o
que pode ser , uma práxis que pretende a transformação do homem, da sociedade e da própria história. A partir do
exposto, o objetivo do trabalho foi analisar como se dá a inserção da dimensão ética na formação em Psicologia
Comunitária (PC). Entendida como elemento central na intervenção profissional, a ética é considerada como categoria
relacional, com finalidade transformadora. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, havendo
sido realizadas seis entrevistas com docentes e três grupos focais com estudantes de Psicologia, oriundos de
Instituições de Ensino Superior públicas e privadas de Minas Gerais. A ética é abordada de maneira transversal no
processo formativo, não havendo clareza teórico-conceitual a seu respeito. A inserção da PC no âmbito da Psicologia
impõe dificuldades em se estabelecer as possíveis especificidades da discussão sobre ética neste campo. Além disso,
as noções de tica do código e tica do cuidado emergiram como contrapontos na formação. Consideramos a
necessidade de aprofundarmos o debate sobre a inserção da ética no processo formativo em PC, assim como em toda
a Psicologia.

338
Impasses da pesquisa-intervenção: a cidade como espaço de tensão a partir de oficinas com jovens
Autores: Renan De Vita Alves de Brito, UFSC
E-mail dos autores: renanbrito4@yahoo.com.br

Resumo: O foco da discussão do presente trabalho se refere a um acontecimento que emergiu a partir das atividades
de campo de pesquisa de mestrado. Pesquisa esta desenvolvida junto ao programa de pós-graduação na Universidade
Federal de Santa Catarina.
As atividades da pesquisa-intervenção são realizadas com jovens que frequentam uma ONG (Centro Cultural Escrava
Anastácia) na cidade de Florianópolis/SC. O grupo é composto por uma média de vinte jovens, encaminhados à ONG
por diversos programas de inclusão em assistência social, um coordenador responsável pela pesquisa e um
cinegrafista responsável pelo registro das atividades.
Estruturada com base no projeto ArteUrbe: oficinas estéticas com jovens na cidade, em que participei como bolsista
de iniciação científica durante o período de março de 2010 a novembro de 2013, a referida pesquisa tem como
objetivo principal problematizar as relações dos jovens com a cidade pautada nos temas: arte, jovens e cidade. A
cidade como espaço principal das atividades, ainda que não o único; os jovens, público a quem são dirigidas as oficinas
artísticas; e a arte urbana (graffiti, estêncil, lambe lambe) como principal dispositivo para tensionar as relações dos
jovens com o espaço urbano.
Nas atividades de campo da pesquisa, são ofertadas oficinas estéticas para jovens para, via intervenções artísticas no
espaço urbano, construir com eles novas maneiras de viver a cidade; transformar a urbe e suas relações.
Considerando que, segundo Costa (2004, p. 181), na cidade prevalece a centralização de práticas, construções sólidas
que ordenam os corpos no seu deslocamento, fixando-os em lócus lógicos de um quadro classificatório , pretende-se,
com as oficinas estéticas, estabelecer no espaço urbano relações outras que escapem às triviais; construir, a partir de
intervenções estéticas, um coágulo em meio ao fluxo urbano que permita que as pessoas desacelerem seus ritmos,
se esbarrem, se olhem, pois na urbe,
As vias e desobstruções evitam os coágulos, não apenas em prol da circulação saudável , mas também temendo a
articulação subversiva da multidão em movimento, fazendo com que esta escorra sempre. (COSTA; FONSECA;
MIZOGUCHI, 2004, p. 181).
O acontecimento que se apresenta como foco de discussão deste trabalho, ocorreu em meio a uma das oficinas
estéticas da linguagem artística denominada estêncil, cuja produção compreende dois momentos distintos.
No primeiro momento, com o auxilio de estiletes, são recortadas chapas de radiografias e transformadas em moldes
vazados, que uma vez aplicada tinta em spray, imprimem a determinadas superfícies a ilustração recortada; no caso
das oficinas da pesquisa, as ilustrações são aplicadas nas superfícies da cidade.
No segundo momento o grupo dirige-se à rua para escolher os locais em que serão inscritas suas produções. No dia do
acontecimento, foco da discussão desse trabalho, o grupo escolhera uma praça pública consideravelmente degradada
para realizar a intervenção. Havia muitos bancos espalhados pelo local, o que fez com que a maioria dos jovens
escolhesse os encostos desses assentos como principal alvo de suas intervenções.
Durante o processo, algumas pessoas que transitavam pelo local se demonstraram descontentes com as intervenções
dos jovens e após se dirigirem ao grupo com bastante hostilidade, agressões verbais e irritação, acionaram as
autoridades policiais. Passados alguns minutos, os policiais chegaram à praça e abordaram o grupo, que na medida do
possível dialogava para explicar os objetivos das intervenções artísticas.
Apesar da tensão e do alvoroço causado pela presença policial e, da aparente interrupção ao trabalho, foi possível
enxergar a abordagem como acontecimento que contribuía com a atividade, fazendo com que esta não cessasse ali.
Ao grupo foi necessário responder pelas intervenções, assumir posições, dialogar, se responsabilizar pelos
desdobramentos, escutar e construir em processo coletivo uma cidade diferente, uma cidade possível.
Se as possibilidades de transitar e participar da (re)construção dos espaços urbanos demonstraram-se, por um lado,
demasiadamente restritas, por outro apresentaram-se passíveis de serem resignificadas e transformadas em abertura
339
à continuidade no processo a que se propõem as atividades da pesquisa em questão: a formação ética, estética,
política dos participantes.
Foi possível problematizar as possibilidades de transitar a cidade de maneiras outras que escapem aos modos
dominantes, pensar modos de ampliar as estéticas que nos colocam em contato com os espaços urbanos e estabelecer
trocas e diálogos na constituição da urbe.
Ficou evidente que a reprodução e subordinação às normas estão invisivelmente enraizadas nos corpos, fazendo com
que os próprios cidadãos assumam o papel das autoridades quando essa não se faz presente.
A abordagem e as decisões dos policiais, assim como a interferência dos pedestres, não significaram o encerramento
da atividade; ao contrário, possibilitaram abertura a trabalhos outros junto com os jovens, dando continuidade às
atividades nos espaços urbanos.

340
Mapa de Rede Social como caminho inexplorado de acesso e apoio às usuárias do CRAS
Autores: Gabriel Fernandes de Oliveira, USP
E-mail dos autores: gabriel.fernandes.oliveira@usp.br

Resumo: A inserção da/o psicóloga/o no centro de referência de assistência social (CRAS) é recente. A/O profissional
da Psicologia carece de referenciais sobre como atuar nesse campo e isso implica no desafio de reconhecer os limites e
possibilidades de atuação nesse contexto. Da mesma forma, a produção de conhecimento nesse campo necessita de
cuidados éticos e metodológicos especiais, visto que o público desse serviço tem pouco contato com participação em
pesquisa e são atravessados por relações de poder e de necessidades materiais, muitas vezes entrando em contato
com o CRAS somente quando necessitam de apoio assistencial urgente. Fazer pesquisa com as usuárias do CRAS
coloca o desafio de entrar em contato com esse público de uma forma nova, menos burocrática e mais acolhedora.
Realizamos uma pesquisa com usuárias do CRAS com o objetivo de descrever e analisar os sentidos produzidos com
usuárias do CRAS sobre suas redes de apoio social utilizando o mapa de rede social mínima como recurso dialógico de
acesso a essas usuárias. Diante dos desafios teóricos e metodológicos no percurso envolvendo o contexto de pesquisa
e o próprio fazer-pesquisa, entendemos que esse projeto se alinha a proposta do grupo de trabalho 16: Ética na
pesquisa e intervenção em Psicologia Social: impasses teóricos, metodológicos e políticos, e no eixo temático 7:
Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções.
Nosso objetivo neste trabalho é refletir sobre as possibilidades e desafios do contexto de pesquisa no CRAS. Tivemos
como orientação teórico-metodológica o discurso construcionista social, que nos convida a: 1) Compreender a
pesquisa como uma produção de conhecimento local e histórica, 2) Produzir novos sentidos nas descrições negociadas
entre pesquisador e participante acerca das realidades narradas, 3) Entender as participantes como co-pesquisadoras,
e portadoras de uma voz tão valorizada quanto a do pesquisador. O convite à participação na pesquisa foi realizado
seguindo as seguintes etapas: 1) as funcionárias do serviço realizavam uma convocação para as beneficiárias a fim de
resolver alguma pendência relacionada ao benefício, 2) Diante da resolução da pendência comentava da presença dos
pesquisadores na unidade e realizava o convite à pesquisa frisando que a não-aceitação não acarretaria em prejuízo
algum, 3) Ao aceitarem participar, nos apresentávamos, explicávamos a pesquisa e o TCLE e, confirmado o interesse
em participar, iniciávamos a entrevista para confecção dos mapas na sala de acolhimento. Enquanto pesquisadoras/es,
fizemos um esforço para nos aproximar do campo e nos apresentarmos às usuárias como pessoas que estavam lá para
conhece-las melhor sem que isso implicasse na perda de algum benefício do programa e com benefícios
especificamente para a pesquisa, para as profissionais do serviço e para as próprias usuárias. Então fomos diretos na
abordagem às usuárias, sem fazer uma anamnese e dando um teor informal à entrevista para que as beneficiárias do
serviço se sentissem à vontade. Tal postura permitiu que as participantes compartilhassem situações íntimas de
dificuldade que as profissionais do serviço não conseguiam acessar em sua rotina de trabalho, como o relato verbal de
violência doméstica de uma das participantes. No entanto, mesmo com o esforço por parte das/dos pesquisadoras/es,
muitas usuárias não demonstravam abertura e interesse em ir até a unidade do CRAS e confeccionar os mapas
conosco, sendo que acabaram participando da pesquisa aquelas que estavam no CRAS por outras demandas,
especialmente aquelas que estavam sob risco de perder algum benefício por alguma razão. Ainda assim, nessas
situações, compareciam à unidade, resolviam esse problema, e iam embora apressadas, pois tinham seus trabalhos,
seus deveres familiares e sua sobrecarga diária para lidar, atividades relacionadas com sua situação de
vulnerabilidade. Esse contexto se mostrou desafiador diante da proposta de uma pesquisa participativa. Algumas
participantes chegavam hesitantes à sala da entrevista e balbuciavam os relatos iniciais. Porém, conforme a
construção dos mapas avançava, as participantes ficavam mais à vontade e agradeciam às reflexões sobre o mapa.
Outras participantes entravam apressadas e economizavam no relato, pois tinham que pegar até dois ônibus para
retornar às suas residências e voltar à rotina com urgência. Ao longo do processo foi desafiador posicionar as
beneficiárias como pessoas autônomas, para além de uma posição de alguém que pede ajuda. Além disso, tornou-se
importante refletir sobre como a inteligibilidade da utilidade da pesquisa era própria dos pesquisadores e não
341
necessariamente das usuárias. Mesmo com essas dificuldades o espaço de pesquisa foi entendido pelas usuárias como
uma oportunidade de desabafo e acolhimento ao invés de um trabalho que visava produção de conhecimento e
refinamento da assistência oferecida a elas e a confecção dos mapas se mostrou uma via de acesso não só às usuárias,
mas às profissionais que se reuniam com os pesquisadores depois de cada confecção dos mapas para compartilhar
observações sobre as beneficiárias e compreender melhor sua situação através de nosso relato da entrevista.

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Memórias da favela: reflexões metodológicas sobre uma pesquisa-intervenção
Autores: Cíntia de Sousa Carvalho, UNIFIMES; Danilo Marques da Silva Godinho, UNIFIMES
E-mail dos autores: psi.cintiacarvalho@gmail.com,danilomgodinho@gmail.com

Resumo: Esta pesquisa-intervenção teve por objetivo analisar as questões metodológicas que atravessaram a
produção conjunta de um trabalho desenvolvido pelo Museu de Favela (MUF) em parceria com o Núcleo
Interdisciplinar de Memória, Subjetividade e Cultura (NIMESC/PUC-Rio), em torno das memórias das moradoras das
favelas Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. Estas favelas, situadas na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, possuem pouco
mais de cem anos de história e seus fundadores começaram, nos últimos anos, a morrer. Tal fato indicou a emergência
de um trabalho de escavação das memórias locais empreendido pelas instituições supracitadas. Num contexto de
extrema marginalização destas comunidades no discurso oficial da cidade maravilhosa , tornou-se imperioso produzir
outras narrativas acerca destes territórios, através das vozes de seus moradores.
Partindo do diálogo com autores que se afiliam a uma perspectiva sócio-histórica e crítica da cultura especialmente
Walter Benjamin, Ecléa Bosi, Maurice Halbwachs e Mikhail Bakhtin (tendo como foco as ideias contidas nos conceitos
de memória social, história, narrativa, testemunho e alteridade) buscamos realizar um trabalho colaborativo, por
meio de uma pesquisa feita com o outro e não sobre o outro. Nesta perspectiva, o interlocutor da investigação é
entendido como um parceiro e coautor das decisões metodológicas. Isto porque o pesquisador não decanta sozinho o
saber sobre o campo, mas insere-se numa complexa rede de forças na qual é mais um ator, ainda que não deixe de
ocupar o seu lugar de investigador, o que determina a sua outridade no campo de pesquisa.
A base teórica de todo trabalho converge para a compreensão de que a memória possui uma base social, isto é, não é
uma produção individual e íntima, descolada da cultura. A memória é coletiva, pois se constitui em profundo diálogo
com os grupos dos quais fazem parte os sujeitos, grupos estes que oferecem as referências para a composição das
lembranças. A memória é ainda um trabalho de reconstrução, de articulação dos fatos de outrora no tempo presente
(Benjamin, 1994; Halbwachs, 2006).
Imbuídos das reflexões acima apontadas, nós, da equipe NIMESC, acompanhamos o Prêmio Mulheres Guerreiras, uma
atividade anual realizada pelo MUF, cujo objetivo é homenagear mulheres que possuem um valor social para a favela.
Observamos as entrevistas de memória realizadas pelo museu com as candidatas de 2012 e, a partir dessas
observações, implementamos junto ao MUF uma Formação das Escutadoras de Memória, no ano de 2013.
Para participar da formação, foram convidadas moradoras das favelas citadas. O objetivo da proposta foi sensibilizá-las
em relação à importância da memória coletiva no fortalecimento da identidade social da comunidade, fomentando
com isso o desejo de escuta e o (re)conhecimento das histórias de vida. Foram discutidos ainda aspectos
metodológicos que atravessam uma entrevista de memória, bem como os modos de dar materialidade às histórias
escutadas.
Nas entrevistas do Prêmio de 2013 que foram realizadas pelas escutadoras formadas as memórias coletivas que se
destacaram foram aquelas relacionadas às experiências vividas ao longo da constituição da comunidade, em meio à
precária infraestrutura da favela. Destacaram-se ainda as memórias traumáticas ligadas à violência, bem como aquelas
referentes à experiência de ser mãe de favela.
Por fim, este trabalho apontou para o fato de que os percursos metodológicos ganham força ético-política quando são
compartilhados, na sua radicalidade, com nossos interlocutores. Com isso, apostamos no trabalho de escavação das
memórias como um caminho que visa fortalecer a identidade social, através da afirmação de uma experiência coletiva
que é produzida a partir da articulação do emaranhado de fios que conectam as histórias de vida dos moradores da
favela junto à sociedade mais ampla.
Dentro desta perspectiva, a valorização e o reconhecimento das biografias passam a se tornar ferramentas de
resistência aos processos de exclusão, os quais perseveram em compreender o morador de favela como antítese do
cidadão. Afinal, um grupo que se cala, que não se engaja coletivamente e que não (re)conhece as raízes de sua própria
história, muito possivelmente está mais vulnerável face aos mecanismos opressores.
343
Referências bibliográficas
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BENJAMIN, W. Magia e Técnica, Arte e Política. Obras Escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
__________. O Tempo Vivo da Memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

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PAEFI: espaço social para coprodução de autonomia dos usuários em situação de violação de direitos?
Autores: Júnia Lúcia Pena de Andrade, UFMG
E-mail dos autores: andrade.junia30@gmail.com

Resumo: No Brasil, a década de 1980 foi marcada por uma conjuntura social de redemocratização do país com a
ampliação dos direitos sociais e da cidadania, a ampliação da discussão sobre intervenções sociais alicerçadas na
promoção de transformações sociais reais e uma redefinição da noção de sujeito e de sua relação com o social. A
chamada Constituição cidadã inaugurou uma nova concepção vinculando políticas sociais aos direitos sociais;
promovendo a universalização dos direitos e o exercício pleno da cidadania pelo controle social e participação
(Pereira, P., 2008a e 2008b). A proteção social institucionalizou as políticas públicas da Seguridade Social e as
apresentou como espaços sociais que podem possibilitar transformações sociais nos sujeitos através de intervenções
e, concomitantemente, serem transformados por eles.
A política de Assistência Social (AS) estrutura-se em uma concepção ampliada de cidadania e de sujeito e formaliza
uma concepção de sujeito social participante da construção e das decisões que acarretam em transformações sociais.
Como política pública social, a AS apresenta-se como ferramenta de promoção de acesso aos direitos sociais e
resolução de problemas sociais (Pereira, P. 2008; Lacerda, 2015).
O PAEFI é um dos serviços previstos na PNAS (2004) e definido na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais
(2009). Nesta política a autonomia se apresenta como elemento essencial para superação da situação da violação de
direito, bem como exercício da cidadania e acesso a direitos, objetivos principais do serviço. Entretanto, embora a
autonomia seja definida pela política como elemento importante para transformação do sujeito e da sociedade, ela é
muitas vezes referida como uma conquista individual e ligada ao autocuidado e autogestão.
Compreende-se que a autonomia diz da capacidade de ação e transformação do sujeito na sociedade (Castoriadis,
1992), sendo corolária do conceito amplo de cidadania, referido anteriormente (Dagnino, 1984). Para o autor os
projetos de autonomia individual e coletiva são indissociáveis e constituem um projeto sócio-histórico. Para esse
projeto revolucionário são necessárias instituições que possibilitem às pessoas participarem e que as incentive.
O objetivo é apresentar reflexões concernentes às intervenções profissionais, dentre eles psicologia, no PAEFI no que
tange a coprodução de autonomia dos usuários.
Este trabalho relaciona-se ao GT16 Ética na pesquisa e intervenção em Psicologia Social: impasses teóricos,
metodológicos e políticos no eixo 07 Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de
conhecimento e/ou intervenções , pois, compreende-se a potencialidade das políticas públicas como espaços sociais
para possibilitar transformações sociais a partir de práticas que promovam emancipação e a psicologia como
ferramenta importante para a promoção e acesso a direitos sociais através de práticas transformadoras e promoção
de novas formas de subjetivação que emancipem os sujeitos sociais. A práxis de uma psicologia social no âmbito
política pública fomenta essas transformações no sujeito e no contexto social dele através também de sua ação
reflexiva. Uma intervenção baseada em uma concepção de sujeito estática, individualista promove, ao contrário, uma
estagnação e alienação do sujeito e, claro, assujeitamento do ator social.
A psicologia enquanto prática de promoção e garantia de direitos no contexto em questão é ferramenta essencial para
transformação da realidade e exercício da cidadania. É crucial refletir sobre as práticas da psicologia no contexto das
políticas sociais, especificamente da AS, na medida em que esses espaços sociais possam contribuir acerca da prática
profissional no PAEFI e fomentar intervenções psicossociais que busquem a autonomia e a participação social dos
sujeitos. Entende-se que a instituição é executada através de equipamentos e pelos trabalhadores através da prática.
Assim, considera-se o saber profissional como um saber que deve ser utilizado em e pelas políticas públicas de
garantia de direitos e promoção da cidadania, visando intervenções coproduzidas com os sujeitos sociais ativos e que
permitam, portanto, transformações no sujeito e no social (práxis). Como método, os grupos focais serão realizados
com profissionais do PAEFI acerca da temática da autonomia.

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Conclusão e resultados: A pesquisa intervenção em questão é uma ferramenta para análise crítica das intervenções
que acontecem no contexto do PAEFI. O grupo focal apresenta-se como um dispositivo analisador através do
favorecimento do diálogo e produções cooperativas (Rocha & Aguiar, 2003), que possibilita abordar com os
profissionais o trabalho executado e as relações que estabelecem com os usuários e as vivências que produziram
durante as intervenções realizadas pelos profissionais no contexto do PAEFI e da situação de violação de direitos.
Compreender e problematizar a autonomia enquanto transformação pode promover práticas que, através da reflexão
crítica, desnaturalizem os elementos excludentes e fomentem lacunas para eclosão do novo que pode ser
transformador e libertador.

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Percalços e potencias na atuação profissional da psicologia na universidade: narrativa de um processo
Autores: Jardel Pelissari Machado, UFPR/UFSC
E-mail dos autores: machado.jardel@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar potencialidades e dificuldades enfrentadas por profissionais da
psicologia que atuam no contexto da educação quanto ao reconhecimento de sua atribuição profissional para além da
prática clínica individual. Para tal, tomo como base a narração de uma experiência profissional, que é também uma
etapa de uma pesquisa de doutorado em Psicologia, processo que ocorre em uma universidade federal, na qual atuo
como psicólogo da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis. Constituindo o projeto de pesquisa intitulado Estudantes na
UniverS/Cidade: imagens dos espaços cotidianos na formação universitária , que tinha por objetivo investigar os
modos como os estudantes se inserem e dialogam com os tempos-espaços da UniverS/Cidade, foi desenvolvida uma
oficina de fotografia com dois grupos de estudantes de graduação da universidade. As oficinas ocorreram como uma
atividade de extensão. A realização das oficinas, porém, não foi trajeto fácil de ser trilhado. Entre a aprovação da
proposta pelo Comitê Assessor de Extensão (órgão responsável pela avaliação) e a exposição dos trabalhos produzidos
pelos estudantes participantes, vários percalços estiverem presentes: questionamento da realização das oficinas como
atividade profissional do psicólogo; a ausência de divulgação, por órgão de comunicação institucional, das inscrições
para a oficina e da existência da exposição a ser visitada/vista; dificuldades para reserva de salas para os encontros das
oficinas; dificuldades para reserva de hall para a realização das exposições. No mesmo processo, porém, foi possível
perceber a abertura e incentivo por parte da Pró-Reitoria da qual faço parte como profissional: abertura, apoio e
defesa da proposta feita pela coordenadora da unidade; abertura e incentivo da Pró-Reitora e coordenadora para que
diversas atividades profissionais das equipes de Psicologia, Pedagogia e Serviço Social fossem executadas/realizadas
como atividades de extensão. Com base na Filosofia da Linguagem do Círculo de Bakhtin, principalmente nos conceitos
de voz social (complexos semântico-axiológicos com os quais diferentes grupos humanos produzem sentido sobre o
mundo, sobre as relações e sobre si) e dialogismo (princípio filosófico que representa o processo de constante e
infindável diálogo e relação de forças entre as vozes sociais), analiso a atuação do psicólogo e da psicóloga na
instituição universitária enquanto uma instituição de educação. Assim, discuto sobre como essa instituição é
constituída e atravessada por diversas vozes sociais buscando lançar luz sobre as tensões, resistências e relações de
poder na universidade e seus impactos às possibilidades e limites de atuação dos profissionais da psicologia no campo
da educação. Do mesmo modo, com base na literatura no campo da psicologia escolar de base materialista sócio-
histórica, analiso e discuto sobre as principais dificuldades dos psicólogos e psicólogas na elaboração e execução de
propostas de atuação coletivas e que questionem modos de ser da instituição universitária, valores e vozes sociais que
sustentam lógicas individualistas que fragmentam a coletividade e produzem fracasso e sofrimento acadêmico. Por
fim, discuto sobre a dificuldade do enfrentamento solitário do psicólogo e da psicóloga às lógicas que os remetem
exclusivamente ao atendimento clínico individual e sobre a necessidade de apoio coral (outras vozes que possam
somar à sua) dentro da instituição para conseguir executar atividades outras, divergentes/diferentes das que se
constituíram como tradicionais na história da Psicologia e que ainda produzem a imagem social do psicólogo e da
psicóloga.

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Pesquisar o trabalho trabalhando: desafios éticos e metodológicos
Autores: Daniela Tonizza de Almeida, UFMG; Vanessa Andrade de Barros; UFMG
E-mail dos autores: danielatonizza@gmail.com,vanessa.abarros@gmail.com

Resumo: Este estudo pretende discutir os desafios ético-metodológicos em situações nas quais o pesquisador também
se posiciona no campo como trabalhador, bem como as estratégias possíveis para que a familiaridade com o contexto
não comprometa a validade da pesquisa. Trata-se de uma discussão teórica a partir do percurso metodológico de uma
pesquisa de doutorado em andamento que pretende investigar, em linhas gerais, como os afetos são mobilizados nas
situações de trabalho, como interferem no potencial para agir e sua relação com os saberes e valores que orientam as
atividades dos técnicos de referência em um Centro de Atenção Psicossocial. Nesse percurso, pode-se considerar a
escolha do método como um primeiro desafio. Enquanto participante das ações que se desenrolam num espaço
compartilhado, o pesquisador-trabalhador está submetido ao mesmo fluxo de acontecimentos, à mesma
materialidade e às mesmas normas, compartilhando valores comuns no cotidiano, embora sua percepção da realidade
não seja necessariamente a mesma dos outros atores. Daí a necessidade de assumir-se como parte de um processo
continuo de negociação, resistência e imposição de sentidos coletivos, como um entre muitos de dada comunidade,
buscando arguir e agir para sua melhoria (Spink, 2008). Nessa perspectiva, optou-se por desenvolver uma pesquisa
participante, partindo dos pressupostos de que conhecer e transformar o mundo são ações indissociáveis e de que a
confiabilidade de um saber produzido depende diretamente de uma vivência de partilha entre os atores (Brandão &
Streck, 2006). Caracterizada como uma proposta metodológica inserida em uma estratégia de ação que envolve os
beneficiários na produção do conhecimento (Gabarrón & Landa, 2006), a pesquisa participante mostra-se consonante
com a perspectiva teórica-epistemológica das Clínicas do Trabalho, que orienta a pesquisa. No escopo do método,
dispositivos múltiplos têm sido utilizados, desde registros periódicos em diário de campo das situações que
interpelaram a pesquisadora de maneira afetiva, à anotações de conversas espontâneas com os sujeitos no cotidiano
de trabalho, em encontros situados, atentando às repercussões diárias das intervenções, quando se leva o saber
epistêmico ao diálogo com a experiência. A pesquisa bibliográfica e documental e as entrevistas em profundidade com
os técnicos de referência tendem a complementar os dados, oferendo outras perspectivas para as mesmas questões.
Analisar o grande volume de dados produzidos, sem reduzi-los a categorizações mutilantes da realidade, mostra-se
como mais um desafio. A inserção prévia no campo como trabalhadora permitiu um longo período de imersão, onde
foi possível a elaboração das questões da pesquisa conjuntamente com os demais trabalhadores, com os quais
estabeleceu-se um forte vínculo de confiança. Por outro lado, transformar as angústias do trabalho em questões de
pesquisa, impõe outro desafio que é garantir certo distanciamento. Se as questões que o encontro com o outro
trabalhador no campo coloca são também do pesquisador, é necessário ser capaz de olhá-lo a partir de sua alteridade,
de sua singularidade e não de identificações e projeções. A análise da implicação apresenta-se um potente dispositivo
psicossociológico que pode favorecer uma implicação bem temperada (Amado, 2005), partindo do princípio de que,
no processo de pesquisar, a própria subjetividade e as das pessoas junto às quais se intervém são consideradas como
dados fundamentais que não podem ser negligenciados, mas incorporados nas análises (Lapassade, 2005). Ao invés de
negar o envolvimento afetivo, busca-se reconhecê-lo como inevitável, desejável e imprescindível para a construção do
conhecimento, uma vez que pode oferecer uma perspectiva privilegiada para compreensão dos significados que se
referenciam às estratégias compartilhadas entre os sujeitos para lidar com as vivências que afetam seus sentidos
(Gonsalves, 2006). Um desafio ético nesse processo refere-se ao limite do que revelar, como garantir o sigilo das
identidades, como não deixar de apontar as fragilidades e contradições e, ao mesmo tempo, preservar a integridade
dos sujeitos e/ou da instituição pesquisados. Avaliar a relevância social e o uso político que poderá ser feito dos
resultados da pesquisa e como sua divulgação pode contribuir para a melhoria do trabalho requer um certo cálculo
que é fundamental na pesquisa em contextos precarizados e excludentes ou em instituições que intervém junto às
populações desses contextos.

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Pobreza, Psicologia e Assistência: um debate ético-político
Autores: Camila Borges Machado, UFJF; Fernando Santana de Paiva, UFJF
E-mail dos autores: camilabm.01@gmail.com,fernandosantana.paiva@yahoo.com.br

Resumo: O objetivo do presente trabalho é investigar o posicionamento ético da Psicologia ao lidar com a dimensão
da pobreza no âmbito da Assistência Social, sinalizando como a Psicologia tem se relacionado com a temática e seu
compromisso ético em relação aos processos de subalternização e opressão da ordem sócio-política. Trata-se,
portanto, de um exame a partir da literatura atrelada à adoção de uma perspectiva crítica em Psicologia Social para
compreender as formas pelas quais a profissão, situada no campo da política social, intervém junto aos sujeitos em
contato com as políticas de assistência.
A expectativa é promover reflexão das (des)contribuições da Psicologia, bem como os objetivos e limites de uma
práxis com vistas a fortalecer processos de emancipação e libertação social. Para tal, torna-se necessário analisar os
modos de enfrentamento e combate a pobreza, bem como o desenvolvimento das políticas sociais. Sendo assim,
compreende-se a pobreza como produto das relações vigentes na sociedade, que (re)produzem as desigualdades e
que parte de um fenômeno estrutural, complexo e multidimensional como expressão direta das próprias contradições
do sistema capitalista. Não se pretende esgotar as possibilidades de conceituação da pobreza, uma vez que é uma
noção abrangente e que usualmente vem sendo delimitada por parâmetros de medição, no entanto, torna-se
necessário situá-la de modo amplo na lógica societária, contribuindo, assim, no desanuviar de possibilidades e ações.
Os resultados apontam que a busca de maior igualdade social brasileira tem resultado em políticas sociais de caráter
seletivo para os mais pobres dentre os mais pobres (a exemplo o Programa Bolsa Família), políticas compensatórias
que concebem o pauperismo como um problema pessoal e ajudam através da transferência de renda. Consideramos
a pobreza como par dialético da acumulação, dessa forma, as políticas de enfrentamento da pobreza direcionadas a
complementação de renda e fornecimento de bens são serviços paliativos, pois, são estratégias que não enfrentam a
acumulação de riqueza e não faz outra coisa senão ampliar o capital e, dialeticamente, o empobrecimento.Tal relação
marca todo o debate sobre as políticas de assistência social da qual a Psicologia se insere, onde, historicamente, tem o
processo formativo caudatário com a legitimação e reprodução das desigualdades que fortalece a caracterização de
um indivíduo isolado de seu contexto social.
A Psicologia, ao lidar com a pobreza e não tocar nas contradições inerentes do sistema, se traduz em uma perspectiva
funcionalista que atribui causas individuais e psicológicas a pobreza, passíveis de serem remediadas diante do
ajustamento do pobre à ordem do Estado e do mercado. Desse modo, desconsidera os resultados da exploração
econômica e favorece a responsabilidade individual ou coletiva, assumindo, assim, um desserviço ético. Por essa
razão, o posicionamento ético da Psicologia apresenta lacunas de articulação com a pobreza, marcado pelos limites
estruturais da sociedade que necessitam ser compreendidos para promover avanços de uma prática próxima a
realidade da maioria da população brasileira.Assim, compreende-se como imprescindível o debate da dimensão ética
nos processos de intervenção, sendo capaz de nortear uma reflexão crítica acerca do posicionamento da Psicologia
diante de um cenário marcado pela pobreza e profundas desigualdades sociais, em que princípios hegemônicos
redundam em uma prática de caráter ortodoxo, acrítico e aclassista.
Diante do exposto, consideramos que trabalhar com o fenômeno da pobreza exige inúmeros desafios teóricos,
metodológicos e políticos. Significa, portanto, debater o modo de produção capitalista e questionar sobre o modelo de
atuação e formação com as demandas de uma população cada vez mais empobrecida, na tentativa de ações que
oriente processos contínuos de desalienação e conscientização, fomentando uma compreensão crítica sobre a
realidade social e comprometida com as necessidades concretas da população.

349
De a daàDep i ida :àest at giasàdeàa olhi e toàe à asosàdeà o flitosàfa ilia esà oà ontexto de um CREAS/SUAS
Autores: Ana Carolina Jerônimo Oliveira, ACE-FGG; Allan Henrique Gomes, UNIVILLE
E-mail dos autores: anacarolinajoliveira@gmail.com,allanpsi@yahoo.com.br

Resumo: O presente texto apresenta uma síntese de trabalho realizado no contexto do Sistema Único de Assistência
Social (SUAS), especificamente no âmbito da política de proteção social especial de média complexidade, em um
Centro Especializado de Assistência Social (CREAS) na cidade de Joinville SC. As práticas desenvolvidas foram possíveis
por conta da realização do Estágio Curricular Supervisionado em Práticas de Ensino de Psicologia e Processos
Educacionais, que tem como objetivo inserir os acadêmicos do quarto ano de Psicologia em instituições públicas ou
privadas de modo a contribuir com as práticas já existentes nestas e, também, tentando construir novos olhares. A
equipe (estagiárias e supervisores) estão vinculados ao Laboratório de Psicologia Social e Comunitária da Associação
Catarinense de Ensino da Faculdade Guilherme Guimbala (ACE/FGG).
O projeto de estágio se deu, inicialmente, a partir de reuniões entre o grupo de estagiárias e trabalhadores do CREAS,
onde foi levantada a necessidade de atenção à demanda reprimida, ou seja, casos em que o serviço não conseguia
inserir as famílias e indivíduos em atendimento, gerando fila de espera. Com o intuito de oferecer acolhimento as
situações, fez-se um levantamento dos casos em espera, onde se constatou que estes, em boa medida, configuravam
conflitos familiares envolvendo adolescentes. Partindo desse viés, criou-se a proposta de dois grupos para
atendimento dessa demanda: um grupo com os filhos (adolescentes) e outro com os pais.
No âmbito da proteção social especial, existe uma discussão relevante com respeito ao que realmente se configura
violação de direitos; e o conflito familiar é uma dessas situações que levanta dúvidas. Por conta disso, priorizam-se os
casos onde a violação é evidente, fazendo com que as situações de aparente conflito fiquem na chamada demanda
reprimida . Estudando os casos, verificamos que o conflito era a confluência de situações como vulnerabilidade social,
violência física e sexual, negligência, entre outros, o que levou entre nós ao trocadilho Demanda Deprimida , uma
expressão que os trabalhadores do serviço onde realizávamos o estágio também utilizavam para se referir ao casos de
conflito familiar, simbolizando através do termo suas afetações, visto que percebemos não a falta de interesse nesses
casos, mas sim falta de subsídios para acolher essa demanda.
Para a realização deste trabalho, nos pautamos em procurar novas práticas e intervenções, pois o que estava sendo
feito não abrangeria todos os casos. Assim, tivemos que reinventar as práticas normativas do serviço, afetando
diretamente na nossa formação como futuros psicólogos, o que nos levou a escolha deste eixo e deste GT
especificamente. Nossas intervenções são baseadas na realidade atual da Psicologia, que pede por uma atenção
diferenciada, ou seja, práticas emergentes para atender as novas configurações subjetivas.
A partir dos escritos de Sawaia (2007), podemos compreender que não é por viver em estado de miséria que estes
indivíduos devem ser reduzidos a uma sobrevida biológica, pois devem ser reconhecidos em seu sofrimento,
alcançando direitos como a dignidade e liberdade. Butler (2015), também citará direitos à proteção, à sobrevivência e
à prosperidade, fazendo-se necessário perceber uma nova ontologia corporal, reconhecendo nessas vidas precárias,
sujeitos e vidas que antes não eram reconhecidos como tais. Portanto, quando Sawaia (2009) cita Lane para falar das
relações entre psicologia, desigualdade social e práticas emancipadoras, dirá que o sujeito deve ser reconhecido como
tal em sua independência, ou seja, um homem em movimento.
Após delimitar qual seria o plano de ação, começamos a busca pelas famílias a partir de contatos telefônicos com
esses usuários que compunham a Demanda Deprimida . Aqueles com quem não foi possível a busca pelo meio
telefônico, procuramos através de visita domiciliar. Após o primeiro contato, agendamos acolhimento no serviço para
encontrar usuários que possuíam perfil para o grupo em objetivo.
Pelos acolhimentos, pudemos observar que devido ao tempo de espera na Demanda Deprimida , muitas famílias se
encontravam em situações ainda mais agravadas. Estes conflitos familiares, apesar de não configurarem como
violação de direitos na tipificação utilizada para atendimento das situações, em muitos casos evoluíram , tornando-se
possível a identificação de violências. Outro resultado desta experiência com os casos de conflitos foi que no
350
decorrer dos acolhimentos, percebeu-se que muitas famílias não compareciam nos horários marcados, deduzindo-se
que seja por falta de esclarecimento do que o serviço poderia fazer por elas, não entendendo que o mesmo é um
direito.
Neste processo de trabalho foi sendo desenhado possíveis estratégias de atendimento, um tanto mais imediato e com
foco na mediação destes conflitos e na prevenção, no sentido de evitar que conflitos maiores possam surgir,
dificultando ainda mais uma intervenção pensada na totalidade dos sujeitos.
REFERÊNCIAS
BUTLER, Judith. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto. Civilização Brasileira, 2015.
SAWAIA. Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social. PUC SP. 2009.
O sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética inclusão/exclusão. Sawaia. As artimanhas da
exclusão: uma análise ético-psicossocial da desigualdade. 2007.

351
Nós queremos reitores eg os,àsa a? :àt ajet iasàdeàu ive sit iosà eg osàdaà lasseà diaà aàUFMG
Autores: Ricardo Dias de Castro, UFMG
E-mail dos autores: ricardodiascastro@gmail.com

Resumo: A atmosfera racial contemporânea, no Brasil, não pode ser comparada com o que era o cenário racial há
trinta anos. Ainda que o racismo seja um elemento estruturador da dinâmica social brasileira, os dilemas em torno das
relações raciais não estão mais, apenas, na subalternização, violência e opressão do povo negro. De fato, ampliaram-
se os debates e a mobilização para reversão das desigualdades raciais, institucionalizando-se, por exemplo, as Ações
Afirmativas e demais políticas de inclusão e valorização da população negra no país. Junto a esse cenário, a partir de
mudanças que foram efeito da distribuição de renda, da diminuição de pobreza e do crescimento do emprego e da
formalidade no mercado de trabalho; a última década trouxe melhorias significativas para uma grande parte da
população brasileira, o que tem sido capaz de elevar os rendimentos e o poder de consumo de muitas famílias. Nesse
sentido, há negros, que nos últimos anos, têm ocupado as classes econômicas médias ou, até mesmo, de
estratificações superiores e, nesse sentido, têm circulado em espaços de poder e privilégio onde há uma maior
circulação de sujeitos reconhecidos brancos e a restrição de negros era limitada, ou até mesmo, negada. Como
desdobramento, podemos identificar um novo imaginário social acerca dos negros em ascensão, o que torna a
pergunta sobre esses sujeitos um conflito para o pensamento social brasileiro Nessa direção, os estudos sobre os
negros da classe média têm-se tornado um campo de investigação amplo e complexo para construirmos ferramentas e
práticas que ajudem no descortinamento do racismo brasileiro e na consolidação de estratégias para o seu combate.
Nessa pesquisa, realizamos a construção de um campo-tema que intencionou compreender as trajetórias de
universitários negros de classe média da UFMG a partir de quatro objetivos específicos: 1) Elencar elementos das
trajetórias familiares (aspectos educacionais, financeiros, escolaridade e perfil laboral da família, hábitos de estudo)
que im(possibilitaram) a entrada no ensino superior público de negros universitários da classe média da UFMG 2)
Analisar experiências de preconceito e discriminação experenciadas por negros universitários de classe média da
UFMG 3) Nomear as estratégias e negociações de construção do (des)pertencimento racial de negros universitários de
classe média da UFMG 4) Investigar quais as concepções e percepções que negros universitários de classe média da
UFMG (re)produzem acerca da democratização do ensino superior público. A articulação entre a discussão da
dinâmica da branquitude/branqueamento, dos processos de ascensão dos negros, dos dilemas da classe média negra
e das ações afirmativas junto ao uso das narrativas de oito universitários negros de classe média nos possibilitou
algumas importantes reflexões acerca da complexa relação entre privilégios econômicos e a experiência do racismo.
Isso porque essa interseção rompe com a incompatibilidade histórica entre ser negro e o poder de desfrutar dos bens
associados à modernidade. Esses sujeitos apontam para o fato de ser, em sua grande maioria, a segunda geração de
negros da classe média em suas famílias, o que, por conseguinte, tem lhes possibilitado o acesso a uma educação de
base que garanta a entrada no ensino superior público e uma série de privilégios que tem lhes permitido o acúmulo de
bens econômicos e culturais. Eles denunciam, também, como a universidade tem sido um espaço, cotidianamente,
ressignificado pela presença de negros e pelo debate antirracista a partir da ação de movimentos políticos e culturais
que reverberam dentro dos muros no ensino superior público. O que se percebe, fundamentalmente, é que, ainda
com a existência de práticas de preconceito e discriminação nos espaços em que estão, esses jovens têm se esforçado
na tentativa de ressignificar os valores da classe média brasileira, tornando-a mais ampla e democrática a partir de
referenciais negros. A universidade e a classe média se tornam, para esses universitários, lugar estratégico de poder
para ação e intervenção, de modo a interpelar a branquitude, o consumo e a elitização como norma única de
organização da sociedade. Definitivamente, a politização racial afirmativa no Brasil parece ter saído do terreno das
periferias, das margens e das comunidades segregadas, para disputar os espaços e locais de reprodução de ideologias
dominantes e médias

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Práticas Teatrais e Estética do Oprimido
Autores: Ronan Lobo de Paula, CESJF; Lia Oliveira Terra, CESJF; Marina Menezes Ferreira; Rafael de Lima Oliveira,
CESJF; Vitória Barbosa Mancini, CESJF
E-mail dos autores: ronanlobodepaula@gmail.com, vitoria.mancini@hotmail.com, rafaellimaol@outlook.com.br,
liaoterra@gmail.com, marina_menezessd@hotmail.com

Resumo: A esquete/exposição é o resultado dos encontros do projeto de extensão realizado na faculdade de


Psicologia CESJF (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora) que tem por base as vivências dos jogos teatrais propostos
pelo Teatro do Oprimido de Augusto Boal. Os Jogos reúnem características essenciais da vida social e ainda ajudam na
desmecanização do corpo e da mente, sempre tão ambientado ao cotidiano, podendo despertar-se para a arte e
assim, estar pronto para os enfrentamentos quotidianos na busca de uma transformação social, eles são parte do
processo teatral desenvolvido pelo autor.
Augusto Boal, nasceu no Rio de Janeiro em 1931, foi um dos maiores diretores do teatro
contemporâneo. Exilado por motivos políticos entre 1971 e 1986, passou os quinze anos idealizando e desenvolvendo
experiências teatrais por diversos países, como India, Perú, Bolívia e França, dentre outros. Hoje é reconhecido pela
UNESCO como o Embaixador Mundial do Teatro. Ele salienta: Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que
vive em sociedade: é aquele que a transforma! . Em sintonia com o autor, buscamos nas técnicas de Teatro de
Jornal e do Teatro Imagem , construir um trabalho estético que possa despertar uma visão crítica em relação às
opressões impostas pela sociedade, como: racismo, xenofobia e homofobia dentre outras, nunca perdendo de vista
que os comportamentos de exclusão não estão isolados de uma estrutura burguesa, capitalista, ao contrário servem a
este sistema. Esta estrutura se alimenta das opressões e mantém uma grande parcela da sociedade como Humanidade
Residual, afim de dar continuidade a exploração dos vulneráveis.
A partir dos jogos realisados nos encontros semanais a esquete e exposição fotográfica propostas, reúne as
experiências do grupo de discentes de psicologia, que busca refletir e problematizar a realidade. Convocados a refletir
sobre o que é opressão, cada integrante produziu fotografias que julgaram ser reveladoras das diversas opressões,
estas fotografias disparam uma esquete que explora as possibilidades das imagens e sua relação com a mídia, a arte, o
mercado, o capital, a psicologia. Sua estrutura de apresentação é simples em conformidade com a proposta teatral de
Augusto Boal, que procura ocupar espaços não convencionais e atingir todas as camadas da sociedade. É importante
salientar que a ruptura com o teatro hierárquico que separa atores da plateia e ainda separa as plateias em classes
sociais é fundamental, o palco italiano é dispensado para que a ação ocupe praças, ruas, metrôs, salas de aula,
associações de bairros e outros espaços possíveis.
Neste processo, procuramos sensibilizar alunos de graduação apresentando possibilidades de atuação na sociedade
comprometidas com a libertação dos oprimidos e afim de lutar contra os opressores, buscando uma leitura da
realidade que reflita no ofício do psicólogo e proporcione a compreensão do processo sócio-histórico e suas
implicações. O Teatro do Oprimido se compromete com uma visão mais profunda das relações de opressão e convoca
a uma reorientação da ação do futuro profissional combatendo uma visão simplista do ser humano e de suas relações,
assim como desperta para a possibilidade do opressor que está dentro de cada um e que precisamos combater para
extirpar. Uma mesma pessoa pode ser oprimida e opressora, porém, devemos sempre estar do lado do oprimido.

353
GT 17 | Gênero, Feminismos e Interseccionalidades: entre saberes e fazeres em tempos de retrocesso,
perdas de direitos e exceção

Coordenadores: Jorge Lyra, UFPE | Juliana Vieira Sampaio, UFC | Telma Low Silva Junqueira, UFAL

Qual o objetivo deste grupo de trabalho? Nossa proposta é tecermos debates e problematizações a partir dos
trabalhos e temas pesquisados/apresentados e assim pensarmos acerca dos desafios e estratégias de enfrentamento
das desigualdades sociais, especialmente no contexto brasileiro atual marcado por tantos retrocessos e perdas de
direitos. Com vistas a garantirmos o fomento à construção de uma Psicologia Social comprometida com a democracia
participativa, a laicidade, a (r)existência e permanência dos feminismos em nossos fazeres e saberes como
pesquisadores e pesquisadoras e profissionais. Este grupo de trabalho visa se constituir como um lugar de
apresentação de estudos, pesquisas e relatos de experiências e de construção de diálogos acerca das questões de
gênero, feminismos, violências e interseccionalidades, entre elas: sexo-gênero, orientação sexual, identidade de
gênero, ruralidade, territórios de existência, deficiência, raça-etnia, idade-geração, direitos sexuais e direitos
reprodutivos, conjugalidades entre outras.
Qual a relação deste grupo de trabalho com o tema do encontro? O grupo de trabalho se propõe e (re)pensar como a
Psicologia Social vem se construindo como uma Psicologia crítica e ético-politicamente comprometida com as
questões sociais, com a democracia participativa, com destaque para o fomento da laicidade e garantia dos direitos
dasàpopulaç es/seg e tosà o side adosà i o ias ,àe/ouà ueàest oàe à o diç es/àposiç esàdeàdesigualdades como
a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis, Transexuais, Transgêneros e Intersex, população negra,
mulheres cis, população jovem, homens em situação de vulnerabilidades entre outras. O momento atual do Brasil,
marcado por contradições que vão, por um lado, desde a perseguição a pesquisadores e pesquisadoras que discutem
gênero e feminismos nas universidades, por Leis que proíbem o debate sobre gênero nas escolas, o desmonte dos
serviços e programas de prevenção à saúde, e por outro, mobilizações em espaços públicos e em redes sociais que
denunciam casos de violências de gênero, de racismos, de crimes de ódio contra a população LGBT, entre outros,
apontam para a relevância de debatermos no grupo de trabalho acerca dos posicionamentos ético-políticos que
assumimos como psicólogos e psicólogas sociais, das contradições e desafios que permeiam nossas práticas e das
possibilidades de incidência e resistência em uma sociedade ainda tão marcada pelas desigualdades de sexo/gênero,
raça/etnia, classe, geração entre outras.
Qual a relação com o eixo temático escolhido?
Este grupo de trabalho se relaciona com o eixo temático 2 – Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas
de resistência – ao abarcar pesquisas/estudos e relatos de experiências que discutam as questões de gênero,
feminismos e interseccionalidades com foco na análise das relações de poder, no questionamento e superação de
dicotomias e reducionismos, na problematização da realidade brasileira atual de modo crítico, complexo e situado.
Fomentando, inclusive, a construção e fortalecimento de redes que promovam o compartilhar de ideias, experiências,
aprendizados, saberes, práticas e vínculos que potencializem estratégias ético-políticas que garantam a (r)existência
dos corpos, subjetividades e vidas que parecem valer menos.
Que tipo de trabalho será acolhido e quais as discussões que o grupo de trabalho pretende promover?
Serão aceitos os trabalhos que discutam questões relacionadas aos temas de gênero, feminismos e
interseccionalidades de modo crítico e situado. Favorecendo um intercâmbio de experiências e de conhecimentos que
ampliem nossa compreensão e análise dos mesmos, com destaque para os aspectos contraditórios, desafiadores,
permanentes e provocadores que nos ajudem a refletir sobre nossos posicionamentos e práticas como profissionais
que pensam, (re)inventam e intervêm no social.
Princípios norteadores
Inspirados em Rubin (1986), Barbieri (1992) e Izquierdo (1994), consideramos os temas de interesse para este GT, a
partir do sistema sexo/gênero, que abarca prescrições e práticas sociais atribuídas, incorporadas e naturalizadas por
homens e mulheres, com base nas suas marcações de gênero e orientadas para a heterormatividade.
Por outro lado, destacamos a dimensão relacional do conceito de gênero, o qual não pode ser pensado como uma
entidade ontologi¬camente autônoma, mas como efeito de relações sociais entre ho¬mens, entre mulheres e entre
homens e mulheres, ainda que isso não implique frequentemente complementaridade, ao contrário, mais
frequentemente em assimetria de poder, o que exige sublinhar o uso feminista do conceito como uma estratégia

354
política para problemati¬zar o modo como diferenças sexuais se constituem como desigualda¬des (BARBIERI, 1992;
SARTI, 2004; SCOTT, 1995)
Nosso esforço parte, assim, do constante exercício de tentar transpor lógicas binárias entre masculino e feminino, o
que, do ponto de vista conceitual, exige também a articulação com outros marcadores sociais, demarcando gênero
como necessariamente interseccional.
A interseccionalidade, segundo Bilge (2009), busca compreender a complexidade das identidades e desigualdades
sociais a partir de um enfoque integrado, reconhecendo tanto a multiplicidade das for-mas de opressão que operam a
partir de diferentes marcadores sociais como suas interações nas produção de desigualdades.
Em aliança com uma perspectiva foucaultiana, a dimensão rela¬cional e o carácter interseccional do gênero evocam a
noção de dis¬positivo de poder como tecnologia de sujeição operada a partir de redes e mecanismos discursivos que
controlam corpos na medida em que lhe conferem inteligibilidade. Inescapáveis, na medida em que abarcam todas as
formas de relação humana, porém capazes de produzir resistências, rupturas do modelo binário e fixo de homem e de
mulher no nível da política, das instituições e das organizações sociais (MEDRADO; LYRA, 2008).
Referências
BARBIERI, Teresita. Sobre la categoría género: una introducción teórico-metodológica. In: RODRÍGUES, R. (Ed.). Fin de
siglo: genero y cambio civilizatorio. Santiago: Isis Internacional, 1992, p. 111-128.
BILGE, Sirma. Théorisations féministes de l´intersectionnalité. Diogène, n. 225, p. 70-88, jan./mar. 2009.
IZQUIERDO, Maria Jesus. Uso y abuso del concepto de gênero. In: VILANOVA, M. (Org.). Pensar las diferencias.
Barcelona: Promociones y Publicaciones Universitarias, 1994, p. 31-53.
MEDRADO, Benedito; LYRA, Jorge. Por uma matriz feminista de gênero para os estudos sobre homens e
masculinidades. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 16, n. 3, p. 809-840, set./dez. 2008.
RUBIN, Gayle. El tráfico de mujeres: notas sobre la economía política del sexo. Nueva Antropología, Cidade do México,
v. VIII, n. 30, p. 157-209, nov. 1986.
SARTI, Cintia. O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma trajetória. Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, v. 12, n. 2, p. 35-50, 2004.180.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-
99, 1995.

355
A violência conjugal em contextos de ruralidades: a mulher rural em pauta
Autores: Aline Gomes Martins, UFMG
E-mail dos autores: alinepsicomartins@gmail.com

Resumo: A violência conjugal é o tipo de violência mais frequente no mundo, sendo o homem o principal agressor. No
Brasil, 85,5% dos casos de violência física contra mulheres urbanas, tem o cônjuge como principal agressor. Esse
quadro se repete na zona rural, sendo que as mulheres rurais são mais submetidas a agressões físicas, psicológicas,
sexuais, exclusão econômica e de acesso às políticas públicas se comparadas às mulheres urbanas. O Brasil ocupa o
décimo lugar no ranking dos países com maior índice de violência doméstica contra a mulher, sendo os índices dos
contextos rurais maiores do que os urbanos. Na zona rural as relações de gênero são ainda mais desiguais se
comparadas com a zona urbana. A estrutura familiar patriarcal contribui por acentuar o lugar de submissão da mulher
e de supremacia do homem, o que geralmente é aceito sem questionamentos e muitas das vezes reforçado pela
postura que a mulher assume. Algumas peculiaridades da zona rural precisam ser consideradas, pois influenciam no
acesso aos casos e na manutenção da violência, como: distância entre as casas e geografia do território; cultura de
submissão feminina; rigidez dos papéis sociais; falta de acesso a informações; cultura da violência; precariedade dos
serviços oferecidos. Apesar da existência de algumas ações feministas nas zonas rurais, ainda não são suficientes a
ponto de representar mudanças significativas nesse cenário. Diante da complexidade do tema em questão e da
escassez de pesquisas na área, foi desenvolvido o presente estudo que teve como objetivo geral compreender os
significados da violência conjugal e as práticas a ela relacionadas segundo mulheres moradoras de diferentes
comunidades rurais de duas cidades do interior de Minas Gerais. Para acessar os sujeitos do estudo foi feito contato
com as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) que dão cobertura às zonas rurais, das duas cidades contempladas. As
Agentes Comunitárias de Saúde (ACSs) forneceram informações sobre casos de violência conjugal existentes nas
comunidades rurais consideradas e atuaram como importantes mediadoras no processo de acesso do pesquisador ao
campo e aos sujeitos pesquisados. Após seis meses de imersão em campo e visitas realizadas em trinta e uma casas
foram realizadas entrevistas com doze mulheres. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra e submetidas à
análise de conteúdo. A Teoria das Representações Sociais norteou o estudo e principalmente a discussão dos
resultados. Observou-se que: as mulheres entrevistadas significaram a violência como o extremo do prejuízo
produzido ao outro, relacionando a ideia de violência à morte e agressão física; a violência psicológica e física
destacaram-se dentre os tipos de violência sofrida; o álcool e o ciúme do agressor foram apontados pelas mulheres
como fatores associados à violência; a mãe foi mencionada como o principal apoio das mulheres; todos os filhos
presenciavam e sofreram a violência vivida pelas mulheres, em suas diferentes formas de manifestação. Além disso,
observou-se que as mulheres desenvolveram diferentes estratégias de sobrevivência diante das experiências de
violência que vivenciam cotidianamente. No que concerne às estratégias existentes para os casos de violação dos
direitos dessas mulheres, é possível afirmar que a rede de atenção à mulher vítima de violência ainda não alcança as
demandas dos contextos rurais e muitas mulheres rurais desconhecem a existência dessa rede e do que prevê a lei nº
11.340. Ademais, ainda que a lei responsabilize o agressor por seus atos, ela não trata de ações de enfrentamento à
violência no campo e pode contribuir por gerar outras situações de violência, visto que não existem na zona rural
serviços para acolher a mulher que se sente desprotegida após a denúncia (Scott et al., 2010).
Desse modo, para a efetivação dos direitos políticos das mulheres rurais faz-se necessário a construção e
implementação de políticas públicas capazes de contemplar a violência contra a mulher a partir dos contextos nos
quais ela se processa, em uma perspectiva que extrapole o âmbito punitivo e considere também aspectos preventivos.
Além disso, o fortalecimento dos movimentos sociais em prol da mulher rural pode representar o caminho para a
construção de uma perspectiva crítica e reflexiva que produza deslocamentos e mudanças de paradigmas nas
mulheres e em toda a sociedade.

356
Depressão pós-parto e o contexto familiar: medidas preventivas e o papel da rede de saúde
Autores: Bruna Leão Prado, UFU; Anamaria Silva Neves, UFU; Bárbara Martins Pontes Rodrigues de Oliveira, UFU;
Débora Maria Teixeira de Araújo, UFU; Isabela Monteiro Jorge Gomide, UFU; Jeane Fontinele Ribeiro de Sousa, UFU;
Lidiane Cecília Rodrigues de Paiva, UFU; Nathalia Alves Fernandes, UFU
E-mail dos autores: brunaleaoprado@hotmail.com, anamaria.neves@ufu., debora21_araujo@hotmail.com,
jeane_1993@hotmail.com, isabelamonteirojg@gmail.com, lidianececilia2007@yahoo.com.br,
nathaliaafernandes@hotmail.com, barbara-pontes@hotmail.com

Resumo: O presente resumo se refere a um trabalho desenvolvido em uma disciplina da graduação do curso de
Psicologia de uma universidade pública. O objetivo central foi analisar as diferentes esferas de apreensão da
depressão pós-parto (DPP), uma condição que afeta de 10% a 15% das mulheres, com sentimentos de tristeza, solidão,
incapacidade, irritabilidade, queixas somáticas e a dinâmica familiar, buscando entender o sofrimento puerperal da
mulher, assim como aspectos da epidemiologia, representações acerca da maternidade, a idealização do filho,
amamentação, herança psíquica e o movimento realizado pela família em relação à mesma. Interessou ainda acessar o
papel dos profissionais da área da saúde e desenvolver um trabalho de mobilização junto à sociedade, tentando
minimizar fatores que possam levar essa mãe ao processo de depressão pôs parto, diante das cobranças, julgamentos
sobre sua forma de cuidados com o filho. A orientação teórica do trabalho esteve guiada pelo diálogo entre a
Psicanálise e a Psicologia Social. Buscamos analisar a mulher e a função materna sob o viés social, econômico e
cultural, assim como, também, a sua constituição como sujeito singular, com vistas a elucidar como esses fatores,
associados, auxiliam a compreender a depressão pós-parto. A metodologia envolveu a pesquisa bibliográfica
sistematizada e realização de entrevistas semiestruturadas com seis puérperas participantes de um projeto e a
terapeuta idealizadora do mesmo; além de entrevistas semiestruturadas com um psiquiatra, uma doula, uma
professora de Psicologia e um agente comunitário de saúde do Programa de Saúde da Família (PSF). Salienta-se que o
exercício teórico e prático realizado foi exposto em um Grupo de Discussão (GD) aberto aos alunos da disciplina e todo
o processo foi supervisionado pela docente responsável pela disciplina. As descobertas neste estudo apontam que a
mulher vivencia a maternidade na contingência de uma posição idealizada, em que a maternidade é exaltada numa
ordem que romantiza o período gestacional e também o puerpério, apontando o amor materno, a amamentação, o
cuidado e dedicação que a mãe deve ter com o recém-nascido como condição inata à mulher. Contudo, é relevante
resgatar a discussão de como a mulher vivencia sua feminilidade, compreende e exerce o seu direito de tornar-se mãe
na sociedade contemporânea. As pesquisas apontaram que a depressão pós-parto carece ser analisada para além de
fatores excludentes, perpassando questões familiares, sociais e individuais da mulher. Outro aspecto destacado, diz
respeito à importância da atuação da rede de saúde e de medidas preventivas que abarquem a mulher e a rede
familiar que a circunda. É imprescindível o acesso da gestante à saúde pública em projetos específicos que a acolham;
ainda, profissionais qualificados que contemplem a escuta especializada no âmbito interdisciplinar para que sejam
traçados projetos de intervenção específicos à demanda dos casos analisados. Por fim, o presente trabalho está
vinculado ao Grupo de Trabalho (GT) 17, Gênero, Feminismos e Interseccionalidades: entre saberes e fazeres em
tempos de retrocesso, perdas de direitos e exceção, pois se propõe a refletir a temática sexualidade e as questões de
gênero dentro de uma perspectiva contextual. Ainda, faz relação ao eixo temático 2, Gênero e sexualidades: modos
de subjetivação e políticas de resistência, uma vez que retoma direitos sexuais e reprodutivos e as conjugalidades,
envolvidas no âmbito da DPP.

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Enquadramentos transfóbicos: sobre o deixar morrer e fazer morrer nas vidas de pessoas transexuais e travestis
Autores: Ana Paula Silva Hining, UFSC; Maria Juracy Filgueiras Toneli, UFSC
E-mail dos autores: anahining@gmail.com, juracy.toneli@gmail.com

Resumo: Nesse trabalho, me proponho a pensar sobre os enquadramentos (cis)normativos que permitem a não
comoção diante das mortes de pessoas travestis e transexuais no Brasil, e como esses enquadramentos regulam quais
vidas são merecedoras de luto e quais não. A partir de duas situações disparadoras vividas em um estágio de
Psicologia em uma ONG de Direitos Humanos focada em pessoas trans, discuto como se faz morrer e como se deixa
morrer vidas de pessoas transexuais e travestis no Brasil. Dois eventos marcaram o início de 2017 nessa ONG: o
assassinato de uma mulher trans muito próxima e a ameaça de despejo da sede por parte da gestão municipal. Tomo
essas duas situações como alegorias das operações de poder que fazem morrer e deixam morrer.
Diante da não-comoção com relação às violências que acometem a população trans, trago essas questões bio-
necropolíticas para discutir seu estatuto ontológico dentro na norma cisgênera, como a cisnormatividade opera de
maneira a tornar mais difícil, ou impossível, a inteligibilidade de identidades dissidentes. E como essa condição de não-
reconhecimento, de não-humanidade, personifica-se facilmente em uma ameaça àquilo que entendemos por uma
vida, por aquela vida que, dentro do sistema biopolítico, queremos produzir.
Judith Butler, em sua obra, vem colocando, insistentemente e de diversas maneiras, a questão do que constitui uma
vida. O que conta como uma vida? e as vidas de quem contam como vidas? são questões frequentes e fundamentais
em sua teoria. Essas perguntas são questões eminentemente biopolíticas, contudo, elas abrem caminho para
discussões potencialmente do campo da necropolítica. Michel Foucault, em seu trabalho, centrou-se em como a vida é
introduzida nas tecnologias do poder e como ela é governada. A meu ver, embora Butler pouco mencione Foucault ou
Achille Mbembe em suas obras, me parece que em suas discussões sobre o problema ontológico do ser da vida, ela
adentra nesse outro lado das biopolíticas que não o gerenciamento da vida, mas o da morte. Quando se trata da
população trans, a máxima foucaultiana fazer viver, deixar morrer parece insuficiente para compreender a
administração política desses corpos, não só se deixa morrer, faz-se morrer.
O que penso ser interessante na teoria de Judith Butler, é a explicitação dos mecanismos normativos pelos quais uma
vida é produzida como uma vida. A separação arbitrária da população entre grupos que podem viver e grupos que
devem morrer é fundada em esquemas normativos que atuam de maneira a tornar certos humanos mais
reconhecíveis do que outros. Há uma distribuição diferencial do reconhecimento que confere a alguns sujeitos o
estatuto de humano, enquanto outros, não inteligíveis do ponto de vista normativo, não são sujeito possíveis, não são
humanos.
Enquanto sujeitos generificados que somos, a possibilidade de apreensão epistemológica de nossas vidas como vidas
que valem à pena, como vidas passíveis de luto, está condicionada à possibilidade de nosso reconhecimento dentro da
cisnorma como humanos viáveis. O ideal de humano é, além de outros atravessamentos, generificado, nesse sentido,
uma vida só é reconhecida como vida se inteligível dentro do enquadramento cisnormativo. Na topografia do humano,
as vidas trans aparecem como mera espectralidade passível de ser eliminada, suas existências não são lidas como
vidas, mas sim como uma ameaça à vida.
As discussões apresentadas nesse trabalho, de fato, não dizem diretamente de práticas psicológicas. Porém, meu
objetivo é apresentar um continuum de violências advindas das constrições cisnormativas e propor pistas teóricas
para a Psicologia Social pensar as questões contemporâneas que nos chegam.
As normas de gênero são violentas para os corpos trans e travestis na medida em que não lhes conferem o estatuto de
humano. Entretanto, essa multidão abjeta, longe de ser passiva, é politicamente potente desde suas próprias
anormalidades e monstruosidades que produzem insurreições a nível normativo. Em suas lutas, quando demandam
amparo estatal, quando demandam condições de subsistência, quando produzem movimentos de luto público pelas
vidas trans perdidas e assassinadas, o que se coloca em jogo é a distribuição diferencial de reconhecimento do
humano, e logo, nos convocam a pensar sobre essas linhas divisórias do normal/anormal sobre as quais nos movemos.
358
Proponho, então, junto com Dolores Galindo, que queerizar a noção de humano seja parte da agenda política da
Psicologia Social, de modo a inserir o debate sobre as normativas de gênero nas políticas ontológicas que
circunscrevem os limites do humano. O que nós, especialistas do campo psi, podemos fazer, é, sobretudo, continuar
disputando o conceito de humano, mantê-lo em suspensão para questionamento permanente de modo a
desestabilizar as normativas que produzem sujeitos inviáveis, des-universalizar a categoria humano e expor suas
contradições, torcê-lo o quanto for necessário para que as exclusões sistemáticas vindas dessas operações normativas
se tornem cada vez mais absurdas.

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Estado de exceção para quem? Questionamentos de jovens mulheres MCs sobre o contexto do golpe
Autores: Heloísa Petry, UFSC; Katia Maheirie, UFSC; Maria Juracy Filgueiras Toneli, UFSC
E-mail dos autores: helo.floripa@gmail.com,maheirie@gmail.com,juracy.toneli@gmail.com

Resumo: O ano de 2016, marcado por um contexto sócio-político bastante agitado, produziu fraturas significativas no
ideário compartilhado sobre democracia: nele vivenciamos o impeachment da presidenta Dilma Rousseff,
convencionado por diversos grupos sociais como um golpe parlamentar de Estado. Durante este período, estávamos
realizando pesquisa na Batalha das Mina, batalha de rap construída por jovens mulheres em Florianópolis – SC. Tanto
os duelos de rimas como as rodas de conversa realizadas nesta cena, evidenciaram que as condições turbulentas da
política institucional deste contexto expuseram a pluralidade dos posicionamentos existentes, compondo um campo
bastante tensionado e polifônico.
Embora a maioria das integrantes da Batalha das Mina tenha se posicionado de forma contrária ao cenário por elas
denominado como golpe, sobretudo explicitando o caráter misógino e sexista nele envolvido, tampouco se
identificavam com as demandas dos movimentos sociais e manifestações existentes na cidade naquele momento.
Assim, constituindo-se como um recorte da pesquisa de mestrado, a proposta desta exposição é problematizar os
enunciados trazidos pelas jovens mulheres MCs acerca deste contexto político. Partimos da compreensão de que as
concepções existentes sobre o político e a política são contingentes e relacionais, atravessadas por experiências
transversalizadas por diversos fluxos de opressão, como propõem as contribuições teóricas do feminismo
interseccional, com o qual dialogamos.
Como procedimentos da pesquisa, utilizamos a observação e participação na Batalha das Mina no decorrer de mais de
um ano, registros em diário de campo, registros audiovisuais, entrevista semiestruturada e rodas de conversa. As oito
participantes da pesquisa são jovens mulheres MCs de 18 a 24 anos, em sua maioria moradoras de bairros periféricos
da cidade que trabalham em serviços informais diversos sem vínculo empregatício; três delas possuem filhos, duas
estudam na universidade, cinco delas identificam-se como negras, duas como brancas e uma não definiu sua
identidade racial.
As jovens mulheres MCs entrevistadas compreendem que o rap, por ser um gênero musical de contestação, instaura a
inevitabilidade de posicionar-se politicamente. Apontam, por exemplo, que as políticas públicas produzem efeitos em
suas vidas cotidianas e que as mudanças instauradas nos últimos anos colocaram em risco, ainda que minimamente, o
sistema de dominação que historicamente prevaleceu na sociedade brasileira. Porém, segundo elas, o golpe na
periferia já vem sendo dado há muito tempo, remetendo ao fato de que a experiência de ter os seus direitos violados
– ou de sequer dispor dos mesmos – ter sua voz inaudível ou silenciada e a cidadania como uma abstração, é uma
constante nos contextos periféricos, onde o autoritarismo, o racismo e a violência arbitrária apresentam sua expressão
máxima.
Se a tradição autoritária predomina no Brasil à revelia das transições democráticas, é sobretudo nas periferias que as
violações dos direitos fundamentais persistem sistematicamente e se coadunam a um padrão de violência exercido
pelos aparelhos repressores do Estado, configurando um constante estado de exceção nestes territórios. Sendo assim,
a descrença nas instituições democráticas produzida por quem vivencia tais experiências instaura significativas
ressalvas perante lutas que possuem o Estado como mote central de suas narrativas reivindicatórias.
Considerando que as relações de poder estão inscritas em uma dada historicidade, as relações de dominação entre
Estado e sociedade explicitam e atualizam legados históricos que remontam ao regime colonial e a ordem
escravocrata brasileira. Tais legados podem ser intensificados em regimes governamentais autoritários e
conservadores, criando-se novos rearranjos subservientes à lógica capitalista. No entanto, as relações de poder não
estão concentradas no centro da cena política estatal, mas ramificadas nos microcontextos, nas relações sociais
cotidianas, de modo que as decisões políticas não estão isoladas e encontram eco em segmentos da sociedade que as
legitimam.

360
Neste sentido, a batalha das Mina enquanto movimento estético-político consolida seu engajamento em ações que
possibilitem a atuação direta e o fortalecimento entre pares. Assim, a circulação dos saberes e o compartilhar das
experiências cotidianas criam vínculos e agenciam lutas contra diversas formas de opressão através do fazer artístico.
Longe de extraordinários propósitos de transformação social contra adversários declarados, as MCs batalham pela
inclusão em posições sociais que historicamente lhes foram negadas ou desqualificadas, buscando o reconhecimento e
legitimação de suas existências como mulheres negras, rappers, lésbicas, transexuais e periféricas, ante a uma
sociedade racista e sexista que as violenta cotidianamente.
Tendo isto, é possível compreender que o espanto causado em muitos brasileiros perante a configuração de um golpe
parlamentar de Estado, tendo assistido bestializados a uma série de decisões políticas arbitrárias e acometidos por
sentimentos de revolta e impotência, não foi vivenciado da mesma maneira e com a mesma intensidade, ainda por
aqueles que também legitimaram a situação como golpe. O mesmo cenário produziu uma miríade imprevisível de
experiências diferenciadas e inúmeras possibilidades de interpretações, sentidos e formas de luta que dialogam com
posições de sujeitos e subjetividades marcadas por eixos diferenciados de opressão que incidem sobre os corpos,
conforme as distintas condições nas quais se inserem.

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Estudos interseccionais e a formação em psicologia: há uma nova face da Psicologia?
Autores: Claudia Lopes Perpétuo, UNIPAR; Danielle Jardim Barreto, UNIPAR
E-mail dos autores: clauperpetuo@prof.unipar.br,danibarreto@prof.unipar.br

Resumo: Este trabalho se enunciou a partir de questionamentos das autoras, acerca dos constantes embates
vivenciados em sala de aula ao trazermos a temática de outras sexualidades, outros prazeres e de outras expressões
de gênero, outras classes, outras etnias e cores humanas, ditas dissidentes dos modelos identitários, brancos, classe
média, cristãos, heteronormativos, em nosso cotidiano universitário. Destes tensos encontros, anunciaram-se
indagações como: - Que Psicologias estamos ensinando? - Que psicólogo/as estão se formando atualmente? E mais
uma indagação ainda: - Há uma identidade psi? Para estes questionamentos, buscamos em nossas pesquisas trabalhar
o conceito de interseccionalidade e seus efeitos na produção das relações humanas e o pleno acesso aos direitos de
vida e de viver. O conceito de interseccionalidade, tem proporcionado discussões nas produções acadêmica atuais, no
intuito de compreender a dinâmica da dominação social, trazendo como ideia básica a possibilidade de explicar como
normas, valores, ideologias e discursos afetam e compõem tanto as estruturas sociais, quanto a constituição de
subjetivações, além de visibilizar como que estes processos de subjetivação podem ou não ser capturados em
identidades fixas, com demandas e com estigmas específicos. Este conceito ajuda a compreender a complexidade da
situação de pessoas e grupos, afirmando a coexistência de diferentes fatores como: vulnerabilidades, violências,
discriminações; também chamados como eixos de subordinação, que acontecem de modo simultâneo na vida das
pessoas. A perspectiva da interseccionalidade traz então a possibilidade de pesquisar e viabilizar a existência ou não
de desvantagens produzidas pela sociedade sobre as vidas, permitindo ainda compreender e enfrentar de forma mais
precisa a articulação entre as questões de gênero raça, classe social, moradia, idade, orientação sexual, corpo,
escolaridade, território, entre outras categorias, visto que estas não se desenvolvem de modo isolado, nem afastam
outros fatores passíveis de produzir desigualdades e injustiças da vida cotidiana. Chama a atenção de como estas
categorias sociais, longe de serem naturais ou biológicas, são construídas e estão inter-relacionadas e ainda como
estes estruturam a vida dos sujeitos (MÉNDEZ, 2014, pg. 56). Assim sendo a interseccionalidade traz a conceituação do
problema que busca capturar as conseqüências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais destes
chamados eixos de subordinação, tratando especificamente da forma pela qual os sistemas discriminatórios criam
desigualdades básicas que estruturam posições sociais e como as ações e políticas específicas geram opressões que
circulam ao longo de tais eixos constituindo aspectos dinâmicos ou ativos da falta de empoderamento. A abordagem
interseccional possibilita a realização de estudos mais precisos a respeito de possíveis causas e efeitos das
desigualdades sociais em suas diversas combinações, Pocahy (2011, p.28) nos aponta que podemos pensar a
interseccionalidade como um modo de problematizar o que nos faz humanos ou não. As problematizações
anunciadas através das conceituações trazidas, destacam o necessário agenciamento de novos contratos éticos -
estéticos e políticos nos territórios da formação em Psicologia, para a produção de outras Psicologias e que produzam
outros modos de estar psicólogo/as, através de desterritorizalizações das teorias tradicionais e de procedimentos de
mensuração das vidas, com claras e pouco ingênuas, intenções de desconstrução das estratégias enrijecidas
construídas e validadas pelas Psicologias de pastoreio, em prol da emancipação das experimentações dos corpos nas
práticas sexuais, afetivas políticas e éticas de Psicologias e psicólogo/as.

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Gênero e invisibilidade: um olhar sobre as meninas em cumprimento de medida socioeducativa de privação de
liberdade
Autores: Michele de Castro Caldeira, PUC Minas
E-mail dos autores: michelecastrocaldeira@gmail.com

Resumo: Este trabalho tem como objetivo problematizar como o sistema socioeducativo incorpora as diferenças e as
diversidades de gênero nos seus pressupostos e nas suas práticas na medida privativa de liberdade feminina. Nesse
sentido, tem-se observado que há muito desconhecimento acerca da vida de meninas que recebem a medida
socioeducativa de internação. O envolvimento da menina no mundo do crime é uma temática que choca a sociedade,
uma vez que contraria o imaginário socialmente construído para as mulheres: passivas, dóceis e submissas aos
homens, sendo reservado a elas o espaço doméstico e a educação dos filhos. Assim como outras práticas sociais, o
crime também foi tradicionalmente associado à figura masculina e a mulher assume um papel secundário, pouco
evidenciado. Considerando as mulheres distantes do universo do crime e dos criminosos, o desenvolvimento da
ciência da criminologia se deu de forma a centralizar seu objeto na figura do homem como aquele que comete o ato
criminoso. De forma análoga, a invisibilidade das mulheres adultas no sistema prisional se reproduz no âmbito das
adolescentes em privação de liberdade talvez de forma ainda mais intensa. O número de meninas é bastante inferior
ao número de adolescentes do sexo. Segundo dados da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do
Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, houve em 2013 uma pequena alteração
na proporção de adolescentes do sexo masculino e do sexo feminino em relação a 2012, configurando uma redução de
5% para 4% de meninas em relação ao universo de adolescentes. O total de adolescentes e jovens do sexo feminino
sofreu uma pequena redução entre 2012 e 2013: de 997 para 985, respectivamente (BRASIL, 2013). Nesse contexto,
faz-se necessário destacar que por mais que o crime esteja associado ao comportamento masculino, as adolescentes
também cometem atos criminosos. Assim reconhecer essa realidade e compreender a criminalidade como um
elemento socialmente construído (VYGOTSKY, 1998), pressupõe ampliar a discussão sobre diversidade de gênero no
sistema socioeducativo. Nesse sentido, inquietações tendem a surgir como por que (e desde quando as mulheres são
invisíveis como sujeitos históricos? (SCOTT, 1995, p. 93); e de forma mais específica tendo em vista os objetivos desse
ensaio: qual é a realidade da aplicação da medida de privação de liberdade para adolescentes do sexo feminino? Há
uma preocupação por parte dos operadores da justiça e dos responsáveis pela execução desta medida em incorporar
as diferenças e diversidades de gênero em suas práticas? Sabe-se que a situação das meninas adolescentes apresenta
particularidades em relação aos adolescentes do sexo masculino no contexto da medida de privação de liberdade.
Cabe destacar que a distinção sexual e a hierarquia de gênero têm sido utilizadas para que a mulher receba um
tratamento inferior aos homens em diversos setores da sociedade, e com as adolescentes que cumprem a medida de
privação de liberdade esse tratamento não tem sido diferente (MELLO, 2015; ASSIS & CONSTANTISNO, 2001). As
relações de poder a que as meninas institucionalizadas são submetidas reforçam estereótipos que descriminam e
violentam as mulheres pelo fato de serem mulheres, situações de desigualdades que permeiam também o contexto
socioeducativo. Nesse trabalho, especificamente, interessa compreender o contexto de produção de subjetividades na
unidade socioeducativa de privação de liberdade feminina no Brasil. Desta forma, buscar-se-á apresentar um retrato
dessa realidade por meio dos dados encontrados em pesquisa bibliográfica realizada entre março e junho de 2017 no
Banco de Teses e Dissertações da Capes, para a produção do estado da arte da minha tese de doutorado em
psicologia na PUC Minas, com a orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Ignez Costa Moreira. O grupo de trabalho, dentro do
qual o presente ensaio se enquadra, refere-se ao GT 17: Gênero, Feminismos e Interseccionalidades: entre saberes e
fazeres em tempos de retrocesso, perdas de direitos e exceção, que tem como proposta discutir trabalhos e pesquisas
que dialogam acerca das questões de gênero, feminismos, violências e interseccionalidades. Em suma, é importante
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reconhecer as desigualdades das relações de gênero que existem e se reproduzem no ambiente socioeducativo, sendo
essa realidade pouco explorada pela literatura de uma forma geral. Considerando a relevância desse conhecimento
para compreender e subsidiar políticas públicas de atendimento das adolescentes, no sentido do reconhecimento e
fortalecimento da cidadania das meninas que se encontram em privação de liberdade.

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Mulheres em situação de violência e a caracterização do masculino no discurso: uma perspectiva relacional
Autores: Danielle Rodrigues de Jesus Assumpção, UNIMEP
E-mail dos autores: drjassumpcao@gmail.com

Resumo: Assim como as diversas violências sociais, a violência contra a mulher não é a-histórica e, em certa medida, é
naturalizada socialmente. Essa naturalização é oriunda de um processo de construção de gênero, ou seja, aquilo
estipulado como adequado aos papéis de homens e mulheres – ainda pautados no binarismo de gênero. A violência
contra a mulher é uma violação aos direitos humanos e, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), está
presente em todos os países do mundo. A ocorrência dessa violência se dá na maioria das vezes no âmbito familiar e
doméstico. Dessa maneira, com o escancaramento dessa problemática social, linhas de intervenções surgiram tanto
no sentido da responsabilização daqueles que cometeram os atos violentos, quanto no atendimento as mulheres em
situação de violência, os chamados CRAM (Centro de Referência de Atendimento à Mulher). Este serviço, pensado
como um espaço constituído de mulheres para o atendimento de mulheres, fornece atendimentos psicossociais e
jurídicos, além de espaços coletivos de reflexão acerca de questões relacionadas à essa violência, conforme prevê
Norma Técnica de Uniformização (2006). O referido trabalho é um recorte de análise a partir de uma pesquisa-ação
realizada em estágio-obrigatório que teve como campo de atuação um Centro de Referência de Atendimento à Mulher
de um município do interior do estado de São Paulo. O intuito do trabalho foi capturar, a partir da escrita dos diários
de campo, relatos de mulheres em situação de violência de gênero, a fim de identificar a caracterização e o lugar
ocupado pela figura masculina na percepção dessas mulheres – fossem esses homens companheiros ou não delas.
Para tal, três mulheres atendidas pelo Serviço, que passaram por uma situação de violência doméstica – que nos
referidos casos caracterizavam-se também como violência de gênero –, e que foram encaminhadas pela DDM
(Delegacia de Defesa da Mulher), foram escolhidas para terem seus relatos analisados, garantindo o anonimato e
respeito ético as mesmas. A ferramenta utilizada para obtenção dos dados foram os diários de campo, enquanto que o
recurso utilizado para se obter as informações contidas nos diários de campo foi a atuação da estagiária, e seu
acompanhamento nas atividades do Serviço, que proporcionou um processo de escuta das mulheres atendidas – fosse
em contexto individual ou grupal. É importante destacar que os diários de campo não contemplam falas literais das
mulheres, tendo em vista que nenhuma gravação foi feita, implicando nos registros uma interpretação daquela que
ouvia. Os relatos contidos nos diários de campo foram destacados, no que se referem a falas que relatavam as
violências sofridas por elas, e foram analisados hermeneuticamente. A análise identifica que as mulheres atendidas
relatavam descritivamente os episódios de violência, havendo o enfoque nas ações e atos violentos, mas sendo quase
inexistente a presença de xingamentos ou um discurso de raiva delas em relação aquele que cometeu ato de violência
contra elas. A ausência de um discurso de ódio para com os homens que cometeram atos violentos nos indica que a
figura masculina não está atrelada, necessariamente, a uma imagem negativa do homem para a mulher, ou seja, para
a mulher em situação de violência, o homem não se reduz a representação de agressor. Conforme apontam Ribeiro e
Lima (2012), exigir esse discurso da mulher, desconsidera os laços afetivos existentes na relação, e faz com que seja
reproduzida uma situação de violência a partir da coação, já que se espera que a mulher decida pela punição do
homem. É fundamental, portanto, que a escuta dos serviços não esteja dicotomizada nas figuras vítima e agressor,
pois deixa de ser um cuidado, para se caracterizar como uma violência ética, tendo em vista que atribui uma única
identidade ao homem autor de atos violentos – calcado apenas no ato violento – além de retirar a perspectiva de que
a situação pode ser superada sem a ruptura da relação, rompendo-se apenas com a violência. Mas, por outro lado,
retornando aos relatos descritos em diários de campo, se as mulheres não reduzem a identidade masculina apenas à
representação de agressor, elas ainda compreendem o masculino sob uma ótica identitária globalizante que reforça, e
principalmente naturaliza, os papéis de gênero. É justamente essa fixação que faz com que haja uma construção
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identitária estereotipada dos homens como agressores e das mulheres como vítimas. Essa produção de masculinidade
e feminilidade, assim como se coloca hoje, culmina em consequências para toda e qualquer relação humana, sendo a
violência parte integrante dessas relações. Dessa forma, é necessário compreender a violência de gênero a partir de
um caráter relacional em que reposiciona os lugares sociais ocupados por homens e mulheres, os retirando do limbo
agressor e vítima, compreendendo a violência como algo decorrente de uma relação. Por fim, não é possível pensar
uma rede de proteção à mulher que não seja intersetorial, e dessa maneira, que não envolva também o cuidado aos
homens.

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O papel de moderadoras feministas frente o Ciberfeminismo e a Violência Contra Mulheres
Autores: Tatiana Machiavelli Carmo Souza, UFG; Letícia Mendes Paiva, UFG
E-mail dos autores: tatimachiavelli@yahoo.com.br,leticiamendesp@hotmail.com

Resumo: O surgimento das redes sociais inaugurou novas formas de relações, comunicações e organizações das
atividades humanas, bem como criou espaço para a produção de violências. A comunicação proporcionada pelas redes
sociais pode ser utilizada como instrumento para militância de movimentos sociais e culturais, como o feminismo. É
utilizada como recurso de militância no sentido de romper com a censura existente em diversos governos e mídias de
comunicação, tendo em vista que assegura a transmissão de dados instantaneamente e favorece a organização de
eventos que fortalecem os feminismos. Nesse contexto, as páginas feministas tem se constituído em lócus favorável às
pautas feministas e agido no empoderamento e conscientização das mulheres e no combate à violência contra
mulheres (VCM). O ciberfeminismo surge como caminho para reunir milhares de mulheres, que podem curtir,
comentar e compartilhar publicações relacionadas aos feminismos, realizando então, a cibermilitância, que é o uso das
redes sociais para reivindicações e protestos de enfrentamento dos discursos dominantes. Partindo desses aspectos, o
presente estudo buscou investigar o papel de moderadoras de páginas feministas frente ao contexto de VCM.
Realizou-se pesquisa de campo com epistemologia qualitativa. A amostra foi composta por sete participantes:
moderadoras de páginas do Facebook ou blogs feministas nacionais, do sexo feminino, com idade igual ou superior a
18 anos; no caso do Facebook, com no mínimo 20 mil seguidores. Para a obtenção de dados, foi utilizado formulário
do Google Docs, a fim de levantar os dados sociodemográficos e entrevistas semidirigidas via Skype. Foi realizada
análise qualitativa de conteúdo. Todas as participantes já haviam sofrido VCM, tanto nas relações cotidianas quanto
nas relações em rede. As motivações para a criação de páginas feministas perpassavam a experiência em
relacionamentos abusivos, o desejo de auxiliar outras mulheres em situação de violência e a difusão de conhecimento
dos feminismos. Verificou-se que as páginas atuavam na conscientização e empoderamento das seguidoras,
promovendo o incentivo à denúncia em casos de VCM, entretanto, essa ação não transcendia a perspectiva da
informação. Dentre as limitações para o enfrentamento da violência, notou-se que exceto a Lei Maria da Penha e as
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, parte das entrevistadas desconhecia outras políticas públicas de
enfrentamento à VCM. Percebeu-se o potencial do ciberfeminismo na aproximação das mulheres em suas discussões,
dando voz à resistência feminina e fomentando o debate entre as militantes. É notório o alcance político que ele
possibilita, principalmente, quanto à mediação das redes sociais envolvendo mulheres de diversas classes sociais,
idades e localidades. Em decorrência da globalização de conteúdos feministas, o ciberfeminismo permite que as
mulheres se organizem no formato online e alcancem as ruas, ou seja, a vida pública auxiliando na propagação de
acontecimentos locais, facilitando a organização de reivindicações e fortalecendo o vínculos entre as militantes. O
empoderamento das mulheres foi sinalizado como importante tarefa das páginas feministas, contudo, é conveniente
que se problematize o uso do termo, pois, ainda que uma mulher consiga se empoderar, no sentido de modificar as
opressões vivenciadas em seu cotidiano, somente por meio da dimensão coletiva será possível transformar as relações
de gênero e suas desigualdades.

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O saber psicológico e a adolescência: a necessidade em considerar interseccionalidades
Autores: Isadora Oliveira Rocha, UnB
E-mail dos autores: isadora.oliveirarocha@gmail.com

Resumo: O processo da adolescência é diverso. É equivocado considerar o adolescer como um padrão. Desconsiderar
as múltiplas influências que afetam o modo de cada um/a vivenciar este período é um risco. O objetivo deste trabalho
é promover a discussão entre as interseccionalidades que perpassam o período da adolescência. Este estudo faz parte
de uma Dissertação de Mestrado em processo de conclusão, nomeada Perspectivas de adolescentes do sexo
feminino sobre gênero e violência: um estudo feminista, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Clínica e Cultura, da Universidade de Brasília. A presente pesquisa é desenvolvida a partir de uma perspectiva de
gênero e feminista. Os feminismos auxiliam a iluminar as ideias de que ser mulher não é uma categoria global.
Acredita-se que esta metodologia de pesquisa também pode acrescentar aos conceitos plurais de ser adolescente. A
motivação é chamar a atenção para a tendência em naturalizar o adolescer, principalmente em pesquisas científicas. A
naturalização da adolescência influencia até mesmo as concepções do senso comum em relação a este período.
Comumente estereótipos são vinculados à imagem das/os adolescentes, sem que sejam consideradas as vivências
singulares destas/es. Há interesse em desmitificar a ideia de uma adolescência global e sempre problemática que nos
é apresentada através da cultura. Aspectos como: orientação sexual, a inserção no sistema sexo-gênero, raça,
nacionalidade, etnia, condição socioeconômica, religião, entre tantos outros, tendem a ser ignorados. Na pesquisa, a
inserção no sistema sexo-gênero é vista como o elemento fundamental que diferencia as adolescências. Revela a
importância das adolescências serem consideradas através de olhares distintos. A adolescência feminina não é vivida e
construída da mesma maneira que a adolescência masculina. Os papéis de gênero ensinados desde a infância
merecem destaque, porque são reforçados e constituem fatores determinantes na construção da identidade durante
o adolescer. Cada modo de viver a adolescência é singular. Elementos culturais, sociais, históricos, econômicos e
relacionais precisam ser considerados, pois geram maneiras distintas de viver a adolescência. Estes elementos são
determinantes e influenciam também na construção da identidade ao longo deste período. As relações da/o
adolescente com o seu núcleo possuem destaque na pesquisa. O relacionamento familiar apresenta influência única
na construção identitária e na estruturação psíquica de adolescentes. A presença de violências no dia-a-dia familiar
constitui um elemento importante a ser identificado e problematizado, principalmente no que concerne às
repercussões dessas violências na saúde mental de adolescentes. O núcleo familiar não pode ser visto apenas como
um lugar pacífico e amoroso. É preciso buscar a compreensão, através de um olhar sistêmico, dos contextos familiares
marcados pela violência e suas complexidades. É constatado que discussões sobre a adolescência ocorrem dentro de
um modelo geral do que deve consistir este período do desenvolvimento. A visão generalizadora do adolescer tende a
promover certa homogeneização deste processo. As particularidades, singularidades e interseccionalidades
vivenciadas de diferentes maneiras pelas/os jovens que se encontram neste momento da vida, tendem a ser ignoradas
ou negligenciadas. O compromisso ético da Psicologia é valorizado no presente trabalho. São ressaltadas as
pluralidades na discussão sobre a(s) adolescência(s), ao mesmo tempo em que é adotada uma visão crítica e
contextualizada ao discorrer sobre este período do desenvolvimento humano.

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Os desafios dos saberes e fazeres em saúde no enfrentamento da violência contra as mulheres
Autores: Telma Low Silva Junqueira, UFAL
E-mail dos autores: telmalow@gmail.com

Resumo: Alagoas e Maceió ocupam um lugar de destaque no que se refere ao alto índice de Violência Contra as
Mulheres (VCM). Os dados do último Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres no Brasil – (WAISELFISZ,
2015), apresentam o estado como o 4º que mais mata mulheres no país e Maceió como a 2ª capital. Em contrapartida,
as políticas públicas voltadas ao enfrentamento da VCM ainda parecem muito incipientes, precarizadas e restritas. No
momento atual, por exemplo, não há um Centro de Referência para atendimento a mulheres em situação de violência
funcionando, a notificação compulsória obrigatória continua sendo negligenciada por parte da maioria das unidades
de saúde e os movimentos sociais de mulheres e movimentos feministas enfrentam o desafio de visibilizar o tema e
exigir políticas públicas voltadas para o enfrentamento da VCM de modo intersetorial. Se 13 mulheres são
assassinadas a cada dia no nosso país, dados do IPEA (2016), e se muitas que estão vivas se encontram em situação de
violência, são atendidas nas unidades de saúde e não têm a questão das violências consideradas, tem sido cada vez
mais relevante discutir sobre esse tema na formação de profissionais de saúde, tanto para fortalecer os princípios do
Sistema Único de Saúde (SUS), entre eles o da universalidade, equidade e integralidade da atenção, quanto para
garantir às mulheres o direito a uma vida sem violências. A Política Nacional de Atenção Integral a Saúde das Mulheres
(PNAISM, 2004), uma conquista histórica dos movimentos de mulheres e movimentos feministas, aponta, em um de
seus objetivos específicos, a relevância da saúde Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação de
violência doméstica e sexual: – organizar redes integradas de atenção às mulheres em situação de violência sexual e
doméstica... (p. 70). Diante desse contexto, justificamos nosso interesse pelos estudos e pesquisas que abordam a
questão de gênero e VCM na interface com a saúde, de modo que este trabalho visa apresentar os resultados de uma
pesquisa qualitativa realizada em Maceió/AL, no contexto da atenção básica em saúde (ABS), que visou analisar os
sentidos produzidos por mulheres e homens usuárias/os, profissionais de uma Unidade de Saúde da Família (USF) e
gestoras/es vinculadas/os a setores estratégicos da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió/AL (SMS), acerca de
como pensam a VCM e seu enfrentamento no contexto da ABS. Utilizamos o referencial teórico-metodológico da
perspectiva feminista de gênero e das Práticas discursivas e produção de sentidos, de modo que fizemos alguns
processos formativos no sentido de aproximar o grupo de estudantes pesquisadores/as do curso de graduação em
psicologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) dos pensamentos de teóricas e teóricos como Scott, Safiotti,
Rubin, Medrado, Lyra, Dimenstein, Spink, Schreiber etc. O percurso metodológico da pesquisa envolveu: a)
levantamento bibliográfico e pesquisa documental (Ano I); b) articulação e construção de parceria com a SMS; c)
identificação de uma Unidade de Saúde para realização da pesquisa; d) observação no cotidiano do serviço; e)
realização de 16 entrevistas com representantes dos três segmentos que compõem o Sistema Único de Saúde (SUS),
04 trabalhadoras/es, 04 mulheres usuárias, 03 homens usuários e 05 gestoras/es; f) análise dos discursos produzidos a
partir da construção de categorias consideradas mais relevantes de acordo com as entrevistas por segmentos. A
observação no cotidiano que, de acordo com Cardona, Cordeiro e Brasilino (2014), aponta para um processo de co-
construção do/a pesquisador/a com as pessoas que estão em interação com ele/a nas cenas cotidianas. Assim, de
modo geral, os resultados da observação no cotidiano destacaram uma ausência sobre os debates de gênero e VCM
em todas as atividades desenvolvidas no contexto da USF, com exceção de uma realizada pela equipe do NASF, junto a
profissionais da rede, e de residentes multiprofissionais, em uma sala de espera, ambas no marco do dia 25 de
novembro, ao mesmo tempo que apontaram para a pouca participação e presença de homens usuários no serviço, os
quais parecem mais confortáveis em aguardar suas companheiras, que geralmente estavam indo para o pré-natal, do
lado de fora da unidade de saúde. Os resultados das entrevistas destacaram, entre tantas questões relevantes, para:
369
1) o pouco re-conhecimento sobre o debate de gênero e de VCM e a reprodução de discursos machistas que
culpabilizam as mulheres pela situação de violência, especialmente por parte da maioria das profissionais; 2) um certo
desconforto por parte dos homens usuários ao falarem sobre o tema; 3) a pouca autonomia de gestoras/es dos
setores e coordenações no sentido de levar adiante ações e programas sobre o tema, posto que a VCM não aparece
como uma prioridade para o secretario de saúde, o prefeito etc.; e 4) a constatação, por parte das mulheres usuárias,
da relevância da saúde considerar e trazer para o interior dos serviços e assistência essa temática.

370
Problematizações da Violência: A Casa da Mulher Brasileira
Autores: Giovanna Liz Oliveira Mantovani, UFMS
E-mail dos autores: gi_mantovani7@hotmail.com

Resumo: Toma-se, aqui, um estudo em andamento, tendo como lócus a Casa da Mulher Brasileira (CMB), no
município de Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul, que se organiza pelo movimento arquegenealógico,
postulado por Michel Foucault. Enquanto foco de problematização é uma das instituições de governo dos outros,
parte integrante de uma rede de políticas públicas destinadas ao combate a violência contra a mulher. Por meio de
atendimento humanizado e integral em rede, reúne serviços especializados como: apoio psicossocial, delegacia
especializada de atendimento à mulher (DEAM), defensoria pública, promotoria especializada, juizado de violência
doméstica e familiar, brinquedoteca, central de transportes, alojamento de passagem e serviço de promoção de
autonomia econômica. Os serviços e atendimentos efetuados na CBM estão fundamentados nas premissas legais da
Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha). Os subsídios iniciais apontam para os altos índices da judicialização no período de
20l5 -2016 conforme dados fornecidos pelo Órgão, de 31.210 mulheres atendidas no setor psicossocial, destas,
aproximadamente, 40% registraram boletins de ocorrência. Estes dados parciais indicam elevados índices de violência
contra a mulher e adentram as questões pertinentes a retração do Estado social e o aumento do Estado penal,
explicitando as condições políticas, culturais, sociais e econômicas de um tempo histórico. Na tentativa de buscar uma
visão de exterioridade, acerca dos modos que são realizados os atendimentos, que visam o cuidado de si, por
intermédio dos enunciados contidos nas práticas discursivas envolvendo as mulheres e as práticas efetivas do setor
psicossocial. Fundamentada por uma rede de saber-poder, toma-se como referência as análises dos discursos oficiais,
marcados pelas condições de acontecimentos, respaldados por intervenções de caráter de assistência e proteção,
como medidas de enfrentamento à violência, e compreender os processos de institucionalização de discursos e de
práticas naturalizadas e seus elementos compõe a subjetivação, como bases da verdade de si. Para proceder nossos
propósitos – na tentativa de explicitar as práticas efetivas, foram realizadas observações participantes, a fim de
verificar quais os efeitos das mesmas na condução dos outros – isto é, como os profissionais envolvidos na referida
Instituição fazem a abordagem da problemática que envolve o público alvo. Os atendimentos prestados estão sendo
averiguados in loco, possibilitando assim conhecer a dinâmica de acolhimento e triagem e possíveis encaminhamentos
realizados aos demais setores existentes na Instituição e da rede de saúde, além de permitir apreender a variedade de
casos e situações que mulheres são submetidas. Concomitantemente está sendo realizado um inventário nas fichas de
atendimento, do período de fevereiro de 2015 a maio de 2017, sendo possível identificar o número de mulheres
assistidas pela Casa, o tipo de violência sofrida, vínculo com o autor da agressão, idade, escolaridade, raça/etnia entre
outros. Os resultados iniciais apontam que mesmo com as ferramentas existentes na CMB para enfrentamento da
violência, as agressões continuam ocorrendo, sendo difícil acabar com o seu ciclo, pois acontecem em ambiente
familiar com atuais companheiros, em sua maioria. Muitas mulheres buscam atendimento e retornam após um
período para relatar novos casos de agressão ou para pedir revogação das medidas protetivas, tendo em vista que se
arrependeu e perdoou o autor da agressão. Há indícios que é possível que os serviços oferecidos pela Instituição não
sejam suficientes para atender os objetivos e as finalidades de responsabilidade social a qual se destina, devido ao fato
do atendimento ser apenas emergencial – setor de serviço psicossocial, reforçado pela falta de profissionais,
considerando a alta demanda de atendimentos. O fenômeno da violência é complexo e dificilmente mulheres
conseguem se libertar desse ciclo sem o apoio de profissionais qualificados e acompanhamento contínuo, além de
tentar estabelecer outras relações com os cuidados si.

371
Psicologia e Políticas Públicas: a violência contra as mulheres no cenário do sudoeste goiano
Autores: Maria Clara Guimarães Souza, UFG-Jataí; Tatiana Machiavelli Carmo Souza, UFG
E-mail dos autores: mariaclarags.psi@gmail.com,tatimachiavelli@yahoo.com.br

Resumo: A violência contra mulheres (VCM) advém das relações de desigualdade de gênero e poder, fruto de
construção histórica, social e cultural do papel feminino e masculino. No contexto brasileiro, por ser considerada um
problema social e crescente, a VCM demanda ações do Estado e dos movimentos sociais para empoderamento das
mulheres e sua consequente erradicação nas esferas públicas e privadas. Na realidade do sudoeste goiano, há carência
de recursos, programas, profissionais, adesão do público aos serviços e espaços físicos inadequados nos Centros de
Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e Delegacia Especializada Atendimento à Mulher (DEAM) para
atendimento de mulheres em situação de violência. Essa problemática exige da Psicologia repensar suas práticas e
modelos de intervenção para o enfrentamento da VCM, logo a pesquisa se relaciona com o eixo temático 2 - Gênero e
sexualidades: os modos de subjetivação e políticas de resistência e com o GT 17 - Gênero, Feminismos,
Interseccionalidades: entre saberes e fazeres em tempos de retrocesso, perdas de direitos e exceção. Dessa forma, o
presente estudo teve por objetivo investigar a atuação da psicologia no que tange a violência contra a mulher (VCM) e
seus desdobramentos nas políticas públicas de saúde, assistência social e justiça. Tratou-se de uma pesquisa de
campo, realizada em um município do sudoeste goiano, com caráter exploratório, partindo das premissas da
Psicologia Sócio-histórica e das Teorias Feministas como referenciais de análise. Fundamentada nos apontamentos
feitos pelas Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Política Nacional de Assistência Social
(PNAS), Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) e a Lei Maria da Penha. Investigou-se a
atuação dos estudantes de psicologia da Universidade Federal de Goiás/Regional Jataí no que refere-se a VCM nos
seguintes contextos: assistência social (Centros de Referência de Assistência Social/CRAS) e (CREAS); saúde (Centro
Médico Municipal Dr. Serafim de Carvalho); e justiça (Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher).
Participaram da pesquisa dez estudantes de psicologia. Para obtenção de dados, foram realizadas entrevistas
semidirigidas, de forma presencial, registradas por meio de áudio gravação e, posteriormente, transcritas na íntegra.
Os dados deram origem a três categorias: Conceitos e tipologias sobre gênero e VCM; Políticas Públicas: práticas,
atuações e intervenções no enfrentamento da VCM; Formação em psicologia no enfrentamento da VCM. Verificou-se
que houve confusão e dificuldade por parte das participantes em conceituar e explicar as categorias gênero e políticas
públicas. No cenário das políticas públicas para mulheres no sudoeste goiano constatou-se falta de comunicação entre
os profissionais e escasso conhecimento sobre a rede intersetorial de atendimento à mulher; inexistência de
capacitação nas instituições e disciplinas obrigatórias sobre gênero no curso de psicologia. Com a criação das políticas
públicas específicas para o enfrentamento da VCM, abriu-se espaço para que as relações de gênero fossem abordadas
em diversas áreas, contudo, há muitos obstáculos ideológicos, políticos, institucionais, sociais, econômicos e culturais
em relação a concepções e práticas sobre os problemas de gênero por parte dos profissionais de saúde, justiça,
assistência social que dificultam sua atuação, reconhecimento e intervenção frente a VCM.

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Representações sociais do aborto: diante da angústia do desconhecido quem decide?
Autores: Rachel do Nascimento Barcelos, UNESA; Renata Vetere, UNESA; Tricia Vieira de Ataide, UNESA
E-mail dos autores: rnb.psi@gmail.com,vetere.renata@gmail.com,triciaataide@yahoo.com.br

Resumo: Recentemente a epidemia de casos de infecção pelo vírus Zika impôs a intensificação do cuidado da gestante
durante o acompanhamento pré-natal, devido a associação com os casos de microcefalia em recém-nascidos.
Mulheres em diversos momento da gravidez foram infectadas e convivem com a possiblidade de terem seus bebês
afetados por alguma complicação. Trata-se de uma doença nova, com estudos ainda iniciais, portanto, há muitas
dúvidas e poucas certezas. Em função dessas dúvidas e das associações já comprovadas entre a infecção e as sequelas
nos bebes, as mulheres que foram infectadas pelo vírus durante a gestação vivenciam diversas emoções negativas
como angústia, medo, insegurança e impotência. Tais emoções e dúvidas vivenciadas por essas mulheres enquanto
gestantes, podem suscitar nelas questionamentos acerca da interrupção da gravidez. Diante disso, é urgente avançar
no debate e implementação de políticas públicas para garantia dos direitos reprodutivos das mulheres no Brasil.
Especialistas argumentam que o direito à saúde, de forma ampla, deve estar no topo das prioridades do
enfrentamento à epidemia, e apenas as mulheres podem construir esta perspectiva, como protagonistas do debate
público. Assim, o objetivo desta investigação consiste em analisar as representações sociais do aborto construídas por
10 mães infectadas pelo vírus durante a gestação residentes no Rio de Janeiro. Trata-se, de um estudo exploratório e
descritivo de cunho qualitativo, realizado através de entrevistas semi-estruturadas. Os dados foram coletados no
Ambulatório de Hepatites Virais da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) em parceria com outros pesquisadores da
FIOCRUZ. Metade das mães relatou que em nenhum momento passou pela cabeça delas realizar a interrupção da
gestação, especialmente em função das suas crenças religiosas. Essas participantes relataram ser contra a realização
do aborto em qualquer circunstância alegando que a interrupção da gestação não deveria ser direito de nenhuma
mulher independente da vontade dela. Todas as respostas contrárias à mulher poder ter liberdade em escolher o que
deseja fazer estão ancoradas em fortes crenças religiosas, em argumentos como Deus é o dono da vida e só ele que
tira. Respeitamos essas crenças, entretanto enquanto psicólogos devemos nos perguntar: quem está no centro desse
processo, Deus ou a mulher? Quem será afetada diretamente por essa gravidez indesejada e permeada de forte
angústia diante da possibilidade de comprometimento do seu bebê é a mulher, e por isso é ela quem deve decidir isso,
livre de pressões religiosas e sociais. Deveria existir uma autonomia nesse processo de decisão liderado pela
protagonista dele: a mulher. Percebe-se que a religião exerce muito poder na vida dessas mulheres, que acabam por
atribuir à Deus as rédeas de suas vidas. As outras mães relataram que elas e seus parceiros pensaram sim na
possibilidade de interromper a gestação, uma delas tendo relatado inclusive ter sido incentivada não só pelo marido,
mas por outros familiares. Relataram como se tivesse sido somente um pensamento rápido, que logo foi esquecido.
Parece que os discursos foram camuflados por pressões sociais e morais do que seria esperado que respondessem, na
maioria das vezes ficando subentendido seu verdadeiro desejo. Quando inquiridas acerca do direito da mulher à
realização do aborto, se gostariam de ter esse direito, todas disseram que sim, gostariam de ter esse direito. Essas
respostas favoráveis à mulher ter o direito de liberdade de escolha na interrupção da gestação estão relacionadas aos
possíveis sofrimentos que ambos – mãe e bebe – iriam vivenciar em decorrência de preconceito, falta de políticas
públicas, dificuldade financeira, possível rejeição ao filho que não é o ideal, enfim do estigma social em decorrência
das possíveis anomalias congênitas. Conclui-se que a maioria das mulheres se mostrou com medo do desconhecido ao
encontrarem-se gestando e tendo sido infectadas pelo zika vírus, e por isso, muitas pensaram em interromper a
gravidez e todas gostariam de ter o direito de fazê-lo caso desejasse. A problemática do aborto não se desvencilhou
das questões ético-morais que decorrem de valores universalmente reconhecidos de que a vida humana é inviolável.
A escolha moral tem como influencia a família, o matrimonio, a religião. Embora a mídia venha realizando um trabalho
satisfatório ao repassar os resultados das pesquisas médicas para a população, o debate sobre direitos reprodutivos,
intrínseco à epidemia, está ausente. Está ausente nos meios de comunicação a necessidade de respeitar os direitos
reprodutivos da mulher, tanto no acesso à contracepção quanto, expandir a discussão sobre a permissão para o
373
abortamento. Esse silêncio vem de uma conjunção de fatores, parece-nos que um deles é que alguns meios de
comunicação estão nas mãos de instituições religiosas. Mas, mesmo os veículos que não estão nas mãos dessas
instituições também vêm adotando a mesma atitude. Estamos paralisados nessa discussão. Precisamos debater as
questões dos direitos reprodutivos, livres dos discursos morais e religiosos, discutindo-o como um problema de saúde
pública ao invés de um caso de polícia.

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Um projeto feminista frente à sociedade das opressões: crítica às noções de democracia, autonomia e igualdade
Autores: Jéssica de Souza Carneiro, UFC; Aluísio Ferreira de Lima, UFC; Kevin Samuel Alves Batista, UFC
E-mail dos autores: jessiscarneiro@gmail.com,aluisiolima@hotmail.com,kevin.sab@gmail.com

Resumo: Quando o(s) feminismo(s) entram em discussão a tendência é trazer a categoria mulher ao centro do
debate, de forma a tentar criar e subverter formas de relação e sociabilidade no que tange às questões de gênero. De
fato, o debate é urgente e precisa ganhar novos territórios que se estendam para além dos muros da universidade.
Todavia, pensar no(s) feminismo(s) implica em compreendê-los enquanto outra epistemologia possível, enquanto
novo projeto de sociedade, fato que repercute, não apenas na situação das mulheres, mas, sobretudo em um
deslocamento pessoal e coletivo diante dos ideários democracia, autonomia e igualdade, tão caros a nós e, por
vezes, não questionados. Esse tripé tem sido base fundante de muitos grupos e coletivos (ditos) minoritários para
reivindicar pertencimento e equanimização das desigualdades. A partir da suposição de uma sociedade democrática,
da autonomização do sujeito e de uma pretensa igualdade pela supressão das hierarquias seja de classe, raça ou
gênero, mira-se em reivindicações políticas que vão ao encontro da democracia, autonomia e igualdade. Grande parte
das vezes, os movimentos sociais e os ativismos reclamam a extinção da misoginia, do racismo e do classismo ao
reivindicar um território democrático onde exista um estado de suspensão destes tipos de opressão/exclusão, em que
se possa pensar uma emancipação do sujeito pela via política e, em última instância, que as assimetrias sociais deem
lugar à igualdade. Todavia, neste pleito no campo político, de um lugar em que se privilegiem a democracia, a
autonomia e a igualdade, pouco se põe em questão o que é tomado por democracia, autonomia e igualdade. Em
outras palavras, parte-se de categorias filosóficas que são passíveis de questionamentos no que diz respeito à sua
pretensa totalidade e alcançabilidade e que, por muitas vezes, escondem enunciados de verdade e racionalidades
univalentes, androcêntricas e colonizadoras. O que pretendemos com este trabalho é pôr em questão as categorias
democracia, autonomia e igualdade, pensando-as a partir de uma análise do(s) movimento(s) feminista(s), no
intuito de tensioná-las para pensar quais podem ser, de fato, suas contribuições ao campo político e em que medida
podem contribuir para reiterar sistemas de não-reconhecimento, exclusão e extermínio. Para isso, tomamos como
referencial teórico as ativistas e pensadoras Angela Davis (2009/2016) e Judith Butler (2003/2016), as quais, a partir de
reflexões sociológicas e filosóficas, trazem ao cenário do(s) feminismo(s) questões imprescindíveis a uma crítica social
contundente alinhada às propostas de transformação do cenário político mundial. Neste sentido, feminismo(s),
desigualdades e crítica às noções contemporâneas de democracia e autonomia são os caminhos traçados pelas
autoras em suas diversas obras. Ambas manejam a noção de interseccionalidade para pensar ações feministas que
considerem os vários marcadores e os diversos contextos que atravessam a vida das pessoas. Desta forma, pensar
interseccionalmente é perceber como mulheres, negros, pessoas LGBT, índios, imigrantes, refugiados e outros grupos
sociais hostilizados e oprimidos historicamente são atravessados por diferentes e simultâneas formas de
opressão/exclusão, e como a própria composição dos sistemas político, econômico e social não apenas contribuíram,
mas criaram condições para que estes grupos fossem submetidos à condição de inferiores e subalternizados. Ao
questionar a composição desses sistemas, trazemos ao centro do debate o tripé que introduzirmos para pensar: i) de
que maneira o racismo e as subalternizações étnicas foram/são possíveis e constituintes de modelos societários
democráticos; ii) como é possível conceber um estado de autonomização e de igualdade – e aqui, pensamos o
feminismo não só como um projeto para mulheres, mas para uma nova sociedade – que não levem em conta os
diferentes contingenciamentos e situações a que estes sujeitos estão resignados, levando-nos a questionar a própria
validade destes termos; iii) de que forma é possível conceber a igualdade em um modelo de sociedade
eminentemente excludente, falocêntrica, branca e colonizadora. A partir disso, pensamos em discutir um projeto
feminista de sociedade não para deslocar os homens da centralidade, colocando as mulheres em seu lugar; antes, um
projeto que pretende repensar e subverter as concepções de gênero e suas relações, as quais produzem modelo de
masculinidades e feminilidades pautadas na hierarquia, violência e subjugação. Tais modelos de sociabilidade não só
permitem, mas subsidiam a democracia para poucos, paradoxal em concepção e execução. Faz-se oportuno, então,
375
afirmar que o ideal de democracia, tomado por absoluto em si, reitera práticas excludentes, forja uma suposta
autonomia que não leve em conta as contingências, e em nome de uma igualdade, suprime e aniquila as diferenças.
Para promover, portanto, lutas condizentes com práticas revolucionárias - consideramos práticas revolucionárias
como práticas de superação do sistema atual- é preciso revolucionar os conceitos, mas não só estes, a práxis do
mesmo modo. Trata-se, portanto, de construir uma nova democracia, sob novos ideais e parâmetros.

376
O muro que em nós habita: Retratando a violência contra as mulheres na contemporaneidade
Autores: Alice Carvalho da Silva dos Santos, UNIFRA; Monise Gomes Serpa, UNIFRA
E-mail dos autores: anarrchique@gmail.com,monise.serpa@gmail.com

Resumo: O presente trabalho foi concebido como produto final de uma disciplina lecionada no Centro Universitário
Fransiscano-UNIFRA, no segundo semestre do ano de 2016, chamada Psicologia e a prevenção da violência. Com a
participação de 23 alunas e 2 alunos, ao longo da discussão dos textos sobre o tema da violência e das sensibilizações
realizadas a partir de música, desenhos, construção de fanzines, mosaicos e filmes, decidimos ao final da disciplina
realizar uma intervenção artística no pátio da instituição, tendo como estratégia dois momentos: uma instalação e
uma performance artística sobre a violência. Apesar da amplitude desse tema, a sensibilização maior desse trabalho se
deu pelo contexto vivenciado pelas mulheres, tendo como pano de fundo a invisibilidade, o silenciamento e o
sofrimento, mas também a capacidade de resistência e enfrentamento a esse problema. Partindo dessa experiência, a
proposta dessa intervenção artística se dará em dois momentos. O primeiro consiste na instalação de um muro como
um marco simbólico para sinalizar essa necessidade ainda presente em demarcar, separar, segregar povos, fronteiras,
os/as diferentes, os/as que fogem da norma. Ao mesmo tempo, a simbologia do muro carrega a ideia de proteção e de
algo que se anseia defender. Trabalhando com essas concepções e suas dualidades, o muro que em nós habita traz
consigo as marcas das violências sofridas pelo gênero feminino traduzidas em frases, dados estatísticos, desenhos, no
intuito de não deixar dúvidas sobre o cenário dessa violência. Por outro lado, o muro carrega consigo os traçados da
resistência, da luta de mulheres com ou sem deficiência, as negras, hétero, bissexuais, lésbicas, trans e o seu anseio
em ser respeitada e reconhecida nos seus direitos. A presença do muro habitando no espaço de convivência do evento
da Abrapso pretende trazer para a cena o desejo de separar, segregar, deixar do outro lado como um ato de violência.
Ao mesmo tempo, o muro que em nós habita é um ato de resistência ao que cala, silencia a dor dessas mulheres.
Partindo dessa concepção, a segunda parte da intervenção consiste numa performance com 6 participantes realizada
no espaço de conivência onde se encontra o muro. As participantes se deslocarão individualmente por esse espaço,
com marcas em seu corpo e sons retratando essa violência, até quando se encontram e decidem caminhar juntas, em
marcha, entoando sons e cânticos, até a chegarem à presença do muro onde lá qualquer silenciamento é quebrado.
Seguindo a concepção artística dessa obra em tensionar a perspectiva da violência contra a mulher considerando as
especificidades de cada grupo, como a raça/etnia, gênero, classe social, geração e os processos de desigualdade e
subalternidade advindas desses marcadores, o eixo escolhido é o Grupo Temático-GT 17. Além das questões
apontadas, a simbologia do muro, eixo central dessa obra, traz a tona o momento atual no qual ele ressurge como
estratégia para invizibilizar e aniquilar o outro, quando antes a sua derrubada foi vista como uma conquista aos
direitos humanos e da cidadania. Perante a isso, essa obra denuncia o estado atual de retrocesso e perdas de direitos
na perspectiva das mulheres, ao mesmo tempo, que a sua dinâmica possibilita o encontro desses sentimentos e abre
espaço para a sensibilização dessa realidade, fortalecendo os movimentos de resistência. Para alcançar o seu objetivo,
a atividade necessita ser realizada no espaço maior de confluência e convivência das/os participantes do evento. Além
disso, para preparação dos materiais que compõe o muro e a performance, necessitamos de um ambiente coberto e
que permita o trabalho manual com tintas, recortes, colagem e maquiagem.

377
GT 18 | Gênero, sexualidades e interseccionalidades

Coordenadores: Amana Rocha Mattos, UERJ | Juliana Perucchi, UFJF | Marcos Roberto Vieira Garcia, UFSCar

OàG upoàdeàT a alhoà G e o,àse ualidadesàeài te se io alidades àp ete deà eu i ,à oà a poàdaàPsi ologiaà“o ial,à
pesquisas que analisem as articulações de gênero e sexualidades com diferentes marcadores sociais da diferença, a
partir de um referencial teórico e metodológico interseccional. No campo dos estudos feministas, de gênero e de
sexualidades, as perspectivas interseccionais têm produzido epistemologias que localizam e interrogam corpos e
saberes em contextos de opressões e privilégios, bem como discutem as percepções sociais que atravessam e
constituem as subjetividades. No que diz respeito à pesquisa em Psicologia Social, tais perspectivas permitem analisar
as relações de poder e de (in)visibilização de marcadores sociais, questionando referenciais e narrativas
universalizantes, bem como promover o desenvolvimento de metodologias participativas e atuantes nos contextos
sociais investigados.
ás/oàp opo e tesàdesteàGTà o p e àdesdeà àoàGTà Psi ologia,àPolíti aà eà“e ualidades ,à i uladoà àásso iaç oà
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), que tem por objetivo a reflexão sobre as diferentes
formas de pensar as sexualidades, a política e a ciência, além de compreender como as transformações relativas às
práticas, aos discursos e aos códigos morais as configuram em distintos contextos. O trabalho do nosso GT nos
encontros científicos da ANPEPP orienta-se pela reflexão sobre as diferentes formas de pensar as sexualidades e busca
compreender como as transformações relativas às práticas, aos discursos e aos códigos morais as configuram em
distintos contextos socioculturais e intersubjetivos, produzindo, assim, identidades sexuais e de gênero, bem como
uma hierarquização dos corpos sexuados e dos discursos e práticas a eles relacionados. No campo profissional, aponta
para uma relação entre pesquisa e formação em Psicologia marcada pela prática interdisciplinar e pelo
posicionamento político em defesa dos direitos sexuais. É a partir dessa perspectiva que trazemos a proposta deste
Grupo de Trabalho para o 19º. Encontro Nacional da ABRAPSO.
Entendemos que a Psicologia Social configura-se como um campo em disputa, mas que, no Brasil e na América Latina,
tem se posicionado historicamente a serviço das resistências contra processo de subjetivação atrelados à
normatização dos comportamentos e resistentes às estratégias de abjeção dos sujeitos, no campo de gênero e das
sexualidades. Nesse sentido, a discussão do cissexismo e da heteronormatividade em perspectivas interseccionais
contribui para que a proposta deste GT esteja em consonância com o que se espera de um debate crítico acerca dos
campos em questão, privilegiando-se a desconstrução dessas normatividades e o incentivo à inventividade na
pesquisa e nas intervenções, de forma atrelada às discussões em andamento nos movimentos sociais de gênero e
sexualidades.
As discussões que pretendemos promover no âmbito deste GT inserem-se num movimento mais amplo de resistências
e lutas que a Psicologia Social vem promovendo face ao atual contexto de retrocessos políticos e avanço do
ultraconservadorismo em diferentes âmbitos da sociedade brasileira. Ao aprofundarmos reflexões críticas e
interseccionais sobre gênero e sexualidades neste GT, propomos reflexões sobre os diferentes campos nos quais essas
questões têm ganhado materialidade: espaços de educação formal e informal; serviços públicos de saúde;
movimentos sociais e coletivos, etc.
Entendemos que o conhecimento produzido a partir de nossas perspectivas de trabalho, historicamente, tem se dado
de forma dialogada com os movimentos sociais - esta também é uma perspectiva a ser considerada nas propostas
enviadas a este GT. Uma vez que as produções nesse campo vêm se fazendo no tensionamento e nas reflexões
travadas nas lutas dentro e fora da academia, por meio da contribuição de pesquisadoras/es e ativistas de diferentes
áreas. Nesse sentido, a discussão sobre a atuação popular e a ação coletiva por meio da democracia participativa
encontra-se contemplada na presente proposta, como forma de se exigir do Estado o reconhecimento e ampliação
dos direitos sexuais e reprodutivos, considerando-se a diversidade nos processos de produção subjetiva, em função
dos diferentes marcadores sociais articulados. Ainda nesse contexto, a questão da laicidade tem importância central
nas discussões sobre gênero e sexualidades, especialmente quando pensada a partir de uma perspectiva
interseccional. O crescimento de movimentos conservadores na esfera pública, em especial, o crescimento de grupos
ligados a religiões cristãs, tem levado ao crescimento também de pautas ultraconservadoras nos campos de gênero e
sexualidades. Tal retrocesso vem impedindo a ampliação de direitos para mulheres e pessoas LGBTTI e, em muitos
casos, tem promovido perdas significativas de direitos já conquistados. Podemos citar como exemplo o avanço de
movimentos nacionais de oposição e criminalização de discussões de gênero e sexulidades nas escolas, que tem feito
com que diversos municípios e estados referendem posicionamentos conservadores em seus Planos Municipais e
378
Estaduais de Educação, excluindo tais temáticas das salas de aula - temáticas que, em maior ou menor grau, tinham
espaço nas discussões escolares. Também se faz perceber, no atual contexto do país, o retorno de propostas ultra-
conservadoras na própria psicologia, como alguns grupos ligados a religiões cristãs que têm proposto equivocada e
irregularmente, do ponto de vista ético, a "cura gay" ou violações outras aos direitos humanos, muitas vezes, inclusive,
em práticas da própria psicologia. Interessa-nos, portanto, no âmbito deste GT, reunir trabalhos que considerem as
experiências das vidas precárias, tornando-se mediação para resistir e superar tais condições de precariedade.
Neste sentido, serão aceitos trabalhos que discutam questões de gênero e/ou sexualidades em articulação com outros
marcadores sociais da diferença, tais como raça, classe, regionalidade, religião, geração e outros. Daremos prioridade
a trabalhos que abordem a interseccionalidade em perspectivas não-essencialistas, utilizando-se para isso de
referenciais do campo da Psicologia Social e das Ciências Humanas, em especial dos estudos feministas, de gênero e
de sexualidades. Serão privilegiados os trabalhos que contemplem a discussão da cisheteronormatividade em uma
perspectiva interseccional em consonância com o que se espera de um debate crítico acerca destes campos,
privilegiando-se a desconstrução dessas normatividades e o incentivo à sua inventividade, sobretudo, no âmbito das
metodologias de pesquisa e de ação, resultando em trabalhos que articulem ética e politicamente a pesquisa e a
prática social, e que sejam marcados pela interdisciplinaridade e pelo posicionamento político crítico em defesa dos
direitos sexuais como direitos humanos, contribuindo para a construção de olhares plurais no tocante às questões de
gênero, de sexualidade, de raça, de classe e dos demais marcadores sociais da diferença, que problematizem os
binarismos e as normatividades naturalizadas. Por fim, pretendemos estabelecer e consolidar redes de intercâmbio e
troca acadêmica entre as/os pesquisadoras/as participantes e suas respectivas equipes de pesquisa, contribuindo para
a difusão de trabalhos de relevância política e científica no debate do campo do gênero e das sexualidades em
perspectivas interseccionais, mediando o diálogo entre pesquisadores e pesquisadoras atuantes no Brasil.

379
A produção acadêmica em psicologia sobre o tema maternidade: uma revisão bibliográfica sistemática de trabalhos
publicados entre 2012 e 2016
Autores: Fabiana Soares de Andrade, FPM; Guilherme Bessa Ferreira Pereira, FPM
E-mail dos autores: fabisoares103@hotmail.com,gbessafp@gmail.com

Resumo: A maternidade é uma temática que implica reflexão de várias áreas do saber exatamente por configurar
como um fenômeno complexo relacionado a diversas experiências tanto sociais e culturais quando individuais e
subjetivas. A psicologia se interessa em estudar a maternidade desde os primórdios das pesquisas dentro desta
disciplina, e pode contribuir de diferentes formas para a(s) compreensão(ões) contemporânea sobre a maternidade. O
interesse de estudo neste tema continua em voga especialmente pelas diversas implicações que a experiência da
maternidade tem com outras experiências individuais e sociais, resultando em perspectivas até mesmo contraditórias
e em constante tensão, tanto no âmbito acadêmico, quanto no social. A partir de meados do século XX, autores
feministas passaram a debater sobre esta tensão, que aponta a maternidade tanto como uma experiência
fundamental e libertadora para a mulher, quanto como uma experiência que também reproduz opressão contra as
mulheres por demarcar uma dinâmica nas padronizações/obrigações de gênero. Assim sendo, percebe-se que é
importante acompanhar e analisar o que tem sido pesquisado e produzido no âmbito acadêmico dentro da disciplina
da psicologia sobre a maternidade: como as pesquisas têm compreendido e trabalho com o tema maternidade; quais
problemas sobre a maternidade são debatidos; quais as propostas interventivas relacionadas a esta temática; etc.
Assim o objetivo deste trabalho é fazer uma revisão bibliográfica sistemática de modo a apresentar um panorama da
produção científica em psicologia que relaciona os temas psicologia e maternidade. Acreditamos que o trabalho tem
conexão com o grupo de trabalho x pois, analisa a maternidade e a produção científica/psicológica a partir de um
debate sobre gênero que transpassa a forma corrente de estudo do tema dentro da disciplina psicológica.
Historicamente, a psicologia, enquanto regime disciplinar de um saber, contribuiu para as formas hegemônicas de
explicar a maternidade como algo parte da essência de ser mulher, o que implicou em prerrogativas limitantes e
opressivas para as mulheres. Portanto, é necessário para o debate atual analisar a produção acadêmica a partir de
uma perspectiva histórica e de gênero, entendendo a produção de saber não só dentro do universo disciplinar onde
este foi produzido, mas também em todo o contexto cultural, econômico, político, social e linguístico que organiza
esta disciplina e este saber. Para tanto, realizou-se uma busca nas bases de dados SCIELO, LILACS, PePSIC e BVS;
selecionando materiais disponibilizados virtualmente na íntegra e de forma gratuita. Durante o levantamento, pôde-se
constatar o quanto o assunto é explorado na literatura científica. Para a busca usou-se a correlação entre as palavras
psicologia e maternidade, selecionado os artigos publicados entre 2012 e 2016 na língua portuguesa. Para tratar o
universo extenso de trabalhos relacionados usamos os seguintes critérios de exclusão: trabalhos que fugiam ao tema
maternidade, pesquisas feitas por profissionais de outras áreas que não a psicologia, pesquisas cujos dados foram
obtidos fora do contexto brasileiro. Ao final, esta revisão analisou trinta e cinco artigos. Sobre o método de pesquisa
os artigos consistiam em trabalhos com delineamento de estudo descritivo-qualitativos e estudos de caso, nos quais
tinham como participantes: gestantes, mães, mulheres inférteis, mulheres que praticaram aborto, mães adolescentes,
mulheres em tratamento de fertilização e mulheres que optaram pela não maternidade. Dentre as pesquisas de
revisão sistemática e revisão teórica da literatura, observaram-se estudos que exploravam a relação mãe-bebê; a
relação entre médicos e mulheres de classe média e seus respectivos ideais de maternidade; reflexões histórico-
culturais sobre os valores sociais atrelados à maternidade; correlações entre maternidade e depressão; maternidade e
aborto; gestantes em situação de rua; e o exercício da maternidade na psicose. A organização analítica destes artigos
consistiu em separá-los em categorias a partir de análise do discurso, explicitando também a compreensão epistêmica
e linguística sobre a maternidade que os trabalhos adotaram. Desta maneira, pode-se compreender o que tem sido
pesquisado em psicologia sobre a maternidade, e o como estas pesquisas são planejadas e realizadas. Constatou-se,
portanto, que na realização destes trabalhos há tanto pesquisadores comprometidos em fazer um debate sobre a
maternidade que se aproxime das tensões contemporâneas que envolvem o tema, demonstrando que se trata de um
380
fenômeno não apenas biológico e médico, mas também cultural histórico político, econômico e linguístico, como
aqueles que partem de perspectivas essencialistas da maternidade, concebendo-a como um fenômeno biopsíquico e
atuando a partir desta perspectiva. O trabalho mostra que as tensões no cenário público e político envolvendo os
debates sobre a maternidade também estão presentes no cenário acadêmico, e que nem sempre há debate entre
estas diferentes compreensões, o que resulta em trabalhos que abordam o tema de maneira isolada.

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Além dos limites da pele: performance drag e identidade
Autores: Antônio Augusto Lemos Rausch, UFMG
E-mail dos autores: altoniolemos@gmail.com

Resumo: A expressão drag queen faz referência, na maioria das vezes, às manifestações artísticas e performáticas de
artistas masculinos que utilizam dos elementos da feminilidade para entretenimento, diversão, fins profissionais e
artísticos. Entretanto, os limites entre a personagem e a identidade do artista não são claros, e os elementos
performáticos que caracterizariam inicialmente a drag queen se mostram presente no cotidiano destas artistas. Por
este motivo, se faz necessário repensar os conceitos ao redor da identidade; o presente trabalho pretende analisar
criticamente como os diálogos sobre as diferentes identidades queer tem dificultado a compreensão das
performances de gênero, e como o conceito de identidade precisa ser entendido enquanto um processo fluido, em
constante construção.
Foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com duas artistas drag queens de Belo Horizonte, onde estas foram
perguntadas sobre suas experiências fora e dentro do palco, suas trajetórias de vida, o momento de estreia, e sobre
seus diferentes estilos, pensando em suas experiências subjetivas e como elas aparecem em suas personagens. Sendo
que, uma das entrevistadas se identifica enquanto uma pessoa trans não-binária.
É possível observar que as teorizações acerca das identidades de gênero e da orientação sexual deslocam o objeto do
desejo, a percepção da identidade e os elementos performáticos para lugares distintos para compreender de forma
didática como estes processos são relativamente independentes entre si. Diversos autores caracterizam drag queen
enquanto artista (na maioria das vezes do gênero masculino) que se veste, de maneira estereotipada, conforme o
gênero feminino para fins de entretenimento, e argumentam que esta sua personagem não tem relação com a
identidade de gênero ou orientação sexual. Contudo, apesar desta separação conceitual ajudar a compreender como
desejo, identidade e expressão são dimensões diferentes da subjetividade, ela tem pouco uso para pensar como estes
três processos que, em teoria distintos, operam sobre os sujeitos.
As drag queens são produto de um processo de produção de um cenário urbano homossexual, do surgimento das
redes e locais de convivência queer (também referidos como gays), principalmente bares, a partir da metade do século
XX, majoritariamente nos Estados Unidos. Assim, apesar de a performance artística não definir necessariamente como
as drags se identificam, ou se relacionam sexualmente, a origem delas não pode ser dissociada do contexto
homossexual. Portanto, elas não são somente personagens presas aos palcos, aos bares e a vida noturna, mas se
inserem na grande dimensão performática da vida dentro dos centros urbanos. Da mesma maneira, seus atores
carregam seus elementos não somente nas suas apresentações, mas em sua vida cotidiana.
Se a identidade pode ser pensada enquanto uma apropriação de diversos elementos e relações sociais, de trabalho,
econômicas e raciais, e como um processo em constante construção, a percepção da performance drag como um
conjunto de elementos temporários e externos aos processos identitários não é consistente. O trabalho destas e
destes artistas não pode ser deslocado para fora de seus corpos, e não pode ser visto unicamente como uma
expressão de suas interioridades através da simples feminilidade estereotipada. Se a tinta que cobre o rosto escreve
sobre a subjetividade deste artista, esse então é um processo onde há reciprocidade. Os corpos que anteriormente
pareciam impermeáveis, de artistas que projetam suas identidades em seu trabalho, são construídos no próprio
processo de se "montar", onde não somente "se monta de drag", mas também "a drag te monta".

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Discursos sobre a saúde da população LGBT entre médicos(as) da Estratégia Saúde da Família
Autores: Danilo Borges Paulino, UFU; Emerson Fernando Rasera, UFU; Flavia do Bonsucesso Teixeira, UFU; Gustavo
Antonio Raimondi, UFU
E-mail dos autores: dbpaulino@ufu.br,emersonrasera@gmail.com,flavia.teixeira@ufu.br,gustavo_raimondi@ufu.br

Resumo: A população LGBT experiencia múltiplas disparidades no cuidado em saúde e tem menos acesso aos serviços
e cuidados em saúde. A atuação médica em questões que envolvem a saúde sexual se mostra limitada para o
atendimento integral e humanizado em situações de saúde geral para a população LGBT. Atualmente, o discurso
médico contribui para a patologização de identidades e práticas sexuais socialmente discordantes da norma, o que
legitima e reproduz processos discriminatórios. São objetivos deste trabalho identificar os discursos sobre o acesso e a
qualidade da atenção integral à saúde da população LGBT entre médicos(as) da Estratégia Saúde da Família de
Uberlândia-MG e Belo Horizonte-MG, analisar as justificativas dos(as) médicos(as) para a forma de atender a
população LGBT realizada por eles(as) e refletir sobre os desafios vividos pela população LGBT no que se refere ao
acesso e à qualidade na atenção em saúde. São participantes desta pesquisa os(as) médicos(as) que atuam nas
Unidades Básicas que operam na lógica organizativa da Estratégia Saúde da Família dos municípios de Uberlândia e
Belo Horizonte, em Minas Gerais. Foram realizadas 5 (cinco) entrevistas em Uberlândia e 10 (dez) entrevistas em Belo
Horizonte. A análise das entrevistas seguiu os pressupostos teóricos do Construcionismo Social, teoria para a qual
nossas práticas de pesquisa devem ter a linguagem como foco de interesse, uma vez que os usos e efeitos da
linguagem são de central importância para a construção da realidade, sendo a desconstrução como uma estratégia
privilegiada para realizar essa análise, onde os discursos são transindividuais por não estarem alocados em pessoas
particulares, mas por existirem em uma comunidade linguística. Os temas abordados na entrevista foram: o papel da
Unidade de Saúde da Família na Rede de Atenção à Saúde do município, a Unidade de Saúde da Família e o
Atendimento à População LGBT, a organização e qualidade da atenção à saúde da população LGBT e a Política
Nacional de Saúde Integral LGBT. Este estudo deriva da pesquisa Análise do Acesso e da Qualidade da Atenção Integral
à Saúde da População LGBT no Sistema Único de Saúde coordenada pelo Núcleo de Saúde Pública da Universidade de
Brasília e financiada pelo Ministério da Saúde. O estudo é de abrangência nacional, contempla as cinco regiões e está
de acordo com as normas éticas em pesquisa. Foram construídas três categorias de análise, unidas por um mesmo
eixo, o qual foi denominado de Discursos do Não. As três categorias criadas foram intituladas Discurso da não-
diferença, Discurso do não-saber e Discurso do não-querer. O Discurso da não-diferença é utilizado pelos(as)
médicos(as) de família e comunidade ao afirmarem que não há diferenças entre a população LGBT e as demais
populações atendidas por eles(as). O Discurso da não-diferença parece ser usado como uma estratégia para afastar a
mensagem do preconceito que, na sua dobra, denuncia o aspecto moral presente nas construções discursivas. Assim,
a tentativa é de minimizar a diferença, sob o argumento de uma suposta igualdade. Contudo, um dos efeitos dessa
fala é a negação do outro. A igualdade não permite que a diferença se expresse. Trata-se da contradição não
percebida. Aqui, a ideia é a de que igualdade faz desaparecer (ou mesmo impede que surja) o preconceito, em uma
equação aparentemente simples, lógica e socialmente correta e aceitável, e que cumpre a função de apagar o próprio
sujeito.O Discurso do não-saber foi identificado quando os(as) entrevistados(as) afirmavam que não sabem quais são
as demandas da população LGBT. Esse discurso também compreende as falas desses(as) médicos que, quando
interpelados por algum assunto relacionado às questões de saúde da população LGBT, dizem não saber sobre ou
mesmo não ter conhecimento desse tema. O Discurso do Não-Querer reúne elementos que justificam a ausência da
população LGBT nos serviços de saúde em razão de uma associação de negativas que se articulam a partir de decisões
individuais. O impacto desse discurso produz um apagamento das demandas em saúde da população LGBT, bem como
tende a desqualificar a necessidade de ações específicas voltadas para essa população. Com essa pesquisa, foi possível
refletir sobre que lugar é esse da Atenção Básica para a população LGBT. Há que se considerar que as transformações
das redes de saúde para o melhor atendimento da população LGBT também dependem das transformações no modo
de pensar e de agir dos profissionais de saúde, uma vez que as questões culturais informadas pela norma
383
heterossexual influenciam o atendimento dos profissionais da saúde a essa população. Foi possível perceber com esse
estudo a necessidade de maiores investimentos nesse campo, com debate e inserção dessas temáticas nos currículos
médicos para além da questão biomédica. Esperamos que a análise realizada permita o debate crítico e reflexivo,
inspire mais pesquisas sobre essa temática, e que contribua para desencadear as mudanças necessárias em prol do
SUS que defendemos e queremos, também para a população LGBT.

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Elas dão muito trabalho! Analisando o encarceramento feminino no sistema socioeducativo
Autores: Aline Monteiro Garcia, UFRJ; Fernanda Borges Soutto Mayor, TRJR; Hebe Signorini Gonçalves; UFRJ
E-mail dos autores: alinegarcia.psic@gmail.com,fernandab.souttomayor@gmail.com,hebe@globo.com

Resumo: O presente trabalho visa lançar luz às especificidades do encarceramento feminino, com enfoque no sistema
socioeducativo do Rio de Janeiro. Por isso, pensamos que nossa contribuição seria pertinente ao GT Gênero,
sexualidades e interseccionalidades, já que este propõe articulações de gênero e sexualidades com diferentes
marcadores sociais da diferença, a partir de um referencial teórico e metodológico interseccional, questionando
referenciais e narrativas universalizantes, bem como promover o desenvolvimento de metodologias participativas e
atuantes nos contextos sociais investigados. Partiremos de uma breve análise histórica acerca do tratamento dado à
criminalidade feminina, e posteriormente discutiremos estudos que se dedicaram a evidenciar as questões presentes
no cotidiano das adolescentes internadas em alguns estados brasileiros. Traremos análises dos diários de campo
produzidos a partir de grupos realizados pelo projeto Parcerias (UFRJ), no ano de 2011, com as adolescentes da única
unidade de internação feminina do estado do Rio de Janeiro, bem como dados da observação assistemática e
participante de uma das autoras, que atualmente trabalha nessa unidade. Esse método de observação foi utilizado
também na produção dos diários de campo. O material será discutido à luz dos conceitos da Análise institucional e da
revisão bibliográfica. Tal metodologia nos trouxe à tona dados que revelam o quanto questões de gênero ainda
embasam as práticas com as adolescentes, referidas aos papéis sociais que se espera delas, demarcando um campo de
intervenção permeado por concepções que historicamente endereçaram à mulher as características de pacífica,
recatada, cuidadora, caseira, honesta, dentre outras. Em pesquisa realizada no ano de 2013 no sistema socioeducativo
em cinco estados (Pará, Pernambuco, Distrito Federal, São Paulo e Rio Grande do Sul), Montenegro (2015) verificou
muitos aspectos que mostraram que o olhar para a adolescente em conflito com a lei é muito diverso daquele que era
direcionado ao adolescente, em termos de expectativas de papéis sociais. Nos discursos dos funcionários, aparecem
queixas que inferiorizam as adolescentes por não executarem tarefas domésticas, elencando isso como um fator
dificultador do trabalho com elas. Porém, tais julgamentos não recaem sobre o garoto em cumprimento de medida,
não emergindo como aspecto maculador da sua imagem. O viés religioso também foi encontrado, quando a autora
traz a fala de uma técnica de Brasília, que diz o seguinte: nós esperamos receber as adolescentes Maria mãe de Deus,
mas elas estão mais para Maria Madalena (p.95). Em Porto Alegre, Fachinetto (2015) evidencia que no projeto
lavanderia, as internas lavam as roupas de funcionários e outros clientes da unidade, além das roupas dos internos da
unidade masculina. Além disso, os meninos podem fumar na instituição, e as meninas não; elas não podem jogar
futebol, somente vôlei, por ser o futebol considerado esporte muito violento. O processo de estigmatização da mulher
no Brasil, segundo Braustein (2007), tem como característica um triplo estigma, o de ser inferior, submissa e pecadora.
Ainda hoje é possível perceber as forças instituídas desse recorte de gênero no Rio de Janeiro, onde são comuns as
falas que adjetivam o trabalho com as adolescentes como muito árduo, difícil, geralmente em comparação com os
garotos, ressaltando que elas são menos disciplináveis e mais questionadoras. Esse discurso geralmente vincula o ato
infracional às questões da sexualidade feminina. No entanto, é possível ver forças instituintes atuando nesse campo e
gerando desvios ao que parecia tão naturalizado. Podemos citar que as adolescentes jogam futebol na unidade, bem
como praticam lutas, como o judô e o karatê. Os cursos ofertados são os mesmos para meninos e meninas, e as
atividades internas são diversificadas, o que permite a inserção da adolescente conforme seu interesse. Encontramos
outras forças instituintes nas expressões da sexualidade de forma mais livre que os garotos, pois as relações
homoafetivas que elas estabelecem durante o período da internação não são um problema como para eles, onde até
se tornam motivos para agressões e mortes. No entanto, as relações entre elas evidenciam a força do instituído
heteronormativo, ao nos depararmos com as constantes expressões da violência de gênero entre as internas,
perpetuando o machismo. Um instituído que foi modificado recentemente se refere à visita de namoradas/os, que
antes não era autorizada pela equipe técnica, e sim feita judicialmente, o que gerava entraves burocráticos e
inviabilizava muitas delas. No ano de 2016 a equipe se posicionou e defendeu que é papel técnico, tendo em vista que
385
tal judicialização sequer se encontra no SINASE, e desde sempre é a equipe técnica que autoriza as visitas de
namoradas dos garotos internados. Então, concluímos que, apesar das forças instituintes presentes na internação, o
caminho a ser percorrido permanece longo. Devemos estar atentas para perceber e modificar as práticas de sujeição
que privilegiam a masculinidade e reforçam o olhar da mulher como pecadora e inferior, impedindo a expansão da sua
potência.

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Experiências linguísticas e sexuais não hegemônicas: um estudo das narrativas de surdos homossexuais
Autores: Fabrício Santos Dias de Abreu, UnB
E-mail dos autores: fabra201@gmail.com

Resumo: ste trabalho, que tem como base os fundamentos teórico-metodológicos da Perspectiva Histórico-Cultural,
propõe articular discussões sobre o desenvolvimento humano atípico e a diversidade sexual a partir de uma pesquisa
com surdos homossexuais. A produção de conhecimento sobre a sexualidade das pessoas surdas é escassa e muitas
vezes não problematiza assuntos voltados às orientações afetivo-sexuais destoantes do padrão hegemônico. As raras
iniciativas de abordagem do tema focam a dimensão biológica e preventiva, voltada para a heterossexualidade,
deixando de lado uma série de fatores relacionados à amplitude conceitual de sexualidade. Tais questões apontam
para a necessidade de ampliação das investigações sobre essa temática, bem como sua interface com as políticas
públicas de assistência e educação ofertadas pelo Estado. O foco desta investigação se ateve em analisar o que narram
jovens surdos homossexuais masculinos proficientes em Língua Brasileira de Sinais sobre suas experiências afetivas e
sexuais em uma trajetória linguística não hegemônica. O percurso metodológico foi traçado segundo o materialismo
histórico-dialético, e a composição de narrativas por meio de entrevistas semiestruturadas foi o recurso utilizado para
a construção dos dados. Participaram do estudo três homens surdos, entre 20 e 26 anos, cisgêneros, pertencentes à
classe média e residentes na região Centro-Oeste do Brasil, que assumem uma identidade bilíngue e se autodeclaram
homossexuais. Com base na transcrição e no agrupamento temático dos dados, foram definidas duas categorias
analíticas em resposta aos objetivos do estudo: a) narrativas sobre a primeira experiência sexual e b) a configuração
(dramática) das trajetórias afetivo-sexuais de surdos homossexuais. As análises apontam que na relação eu-outro,
marcada por regulações e parcerias, os sujeitos vão coconstruindo sua orientação sexual e suas dinâmicas afetivas.
Para o estabelecimento de tais dinâmicas, a língua ocupa lugar central. Dessa forma, os surdos homossexuais
preferem viver relações afetivas e sexuais com parceiros que comungam o mesmo sistema linguístico. Contudo,
quando a relação afetivo-sexual ocorre com ouvintes, os surdos precisam traçar estratégias comunicativas
particulares. Nessa linha, o uso de recursos tecnológicos se configura como um meio que facilita a comunicação e as
aproximações iniciais entre surdos e ouvintes até o momento em que a surdez é revelada. Após a revelação, o ouvinte
tende a se afastar do surdo e rompe o vínculo virtual estabelecido. Essa situação evidencia que esse grupo minoritário
ainda é visto sob a lógica do defeito — alguém que precisa ser normal, respondendo a um modelo hegemônico que
tende a padronizar os sujeitos dentro de categorias fixas de desenvolvimento humano, língua e expressão sexual. Os
sujeitos entrevistados, ao narrarem suas memórias, foram impulsionados a se colocar como autores de suas histórias,
(re)criando a si próprios no contato com o pesquisador e o intérprete. Por meio do relato biográfico, o passado foi
resgatado e (re)significado no momento das entrevistas. Ao propormos aos entrevistados o exercício enunciativo de
pensar e narrar a própria história, criamos condição para a emergência das suas vozes, que denunciam formas de
subalternização específicas pelo entrelaçamento dramático da surdez com a homossexualidade. A composição das
biografias narradas por esse grupo minoritário permitiu, portanto, colocar em relevo trajetórias subjetivas esquecidas
e, comumente, apagadas do discurso hegemônico. Surdos e homossexuais têm lutado historicamente contra o
preconceito e a exclusão, e este trabalho, na sua dimensão político-social, documenta esse percurso.

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Gênero e produção de sentidos na literatura infantil
Autores: Ana Carolina Weselovski da Silva, URI/FW; Eliane Cadoná, URI/FW; Heloísa Derkoski Dalla Nora, URI/FW
E-mail dos autores: eliane@uri.edu.br,cadonaeliane@gmail.com,elianecadona@yahoo.com.br

Resumo: Livros de literatura infantil costumam ser muito presentes na vida das crianças, interferindo nos processos de
subjetivação de seus/as leitores/as. Levando em conta essa questão, objetivamos, com este trabalho, problematizar os
sentidos de gênero produzidos por livros voltados ao público infantil, levantando hipóteses de como poderiam
impactar no cotidiano e na forma de dar sentido ao mundo de quem os lê. Para isso, analisamos - com base nos
Estudos de Gênero de caráter Pós-estruturalista e no Construcionismo Social - os livros mais utilizados durante o
primeiro ano do Ensino Fundamental em todas as escolas municipais de uma cidade localizada na região do Alto
Uruguai do Estado do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma pesquisa documental e qualitativa, cujo trato dos dados se
deu por intermédio da Análise de Discurso proposta por Mary Jane Spink. Ao todo, fizeram parte do corpus da
presente pesquisa cinco livros de literatura infantil, apontados pelo corpo docente de cada escola como os mais
utilizados pelos/as professores/as no primeiro ano do Ensino Fundamental. Com essa pesquisa, podemos concluir que
há a presença de certos estereótipos de gênero nos livros em análise, a começar pelo fato de que as personagens
femininas, em sua grande maioria, adotam uma postura passiva e, aquelas que fogem desse padrão de passividade,
são tidas como más ou como loucas, personificadas na clássica figura da bruxa. Podemos notar que as personagens
femininas são usualmente associadas ao ambiente doméstico, das relações familiares, do casamento, da sexualidade
reprodutora e a masculina, caracterizada no âmbito das relações públicas, de trabalho, força e tomada de decisão.
Também evidenciamos em nossas análises que animais, em muitos casos, são os protagonistas das histórias. Descritos
de forma humanizada, a partir de um sistema binário de gêneros presente no contexto macrossocial no qual a obra foi
redigida, (re)posicionam homens e mulheres, de forma lúdica, em meio a afazeres que demarcam a forte presença do
patriarcado como lógica de existência. Como exemplo, a aranha, identificada como sendo do gênero feminino, tece,
costura. A joaninha, por sua vez, tem como principal objetivo o casamento, na ideia de que a completude de sua
existência está atrelada a esse acontecimento. Em nosso corpus de pesquisa, notamos a presença de livros muito
antigos – editados entre os anos 70 e 80 – retratando um contexto sociopolítico e cultural pertencente a outro
cenário, que, por conta disso, ainda influencia e serve de modelo para a contemporaneidade. Todos os livros
analisados trazem, de uma forma ou de outra, uma noção de masculinidade e feminilidade ainda muito presos a
lógicas binárias, sexistas e de divisão do trabalho, (re)afirmando o lugar de passividade feminina e de força e virilidade
ao masculino. Esse contexto, por sua vez, é atravessado por diversas instituições que ditam o que é certo e o que é
errado, o que é aceitável e o que é inaceitável, e é a partir dessas regras – muitas vezes excludentes e preconceituosas
– que os sujeitos guiam seus comportamentos e atitudes. Entretanto, o que está instituído e cristalizado pode ser
modificado, dando espaço para práticas mais emancipatórias e inclusivas. Assim, movimentar o pensamento crítico e
desacomodar formas cristalizadas de perceber o gênero foi o que nos motivou a realizar essa pesquisa, e de mostrar,
por intermédio de publicações científicas, como a linguagem acaba reafirmando posturas há muito questionadas pela
Psicologia Social.

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Gênero, sexualidade e processo de rualização na trajetória de vida de travestis e transexuais em situação de rua e
na Política Municipal de Assistência Social de Belo Horizonte
Autores: Leonardo Tolentino Lima Rocha, UFMG
E-mail dos autores: leonardotolentino@gmail.com

Resumo: Esse trabalho se refere a pesquisa em andamento no doutorado em Psicologia na UFMG (início em 2017).
Desse modo, trata-se de um projeto ainda em construção, cuja apresentação tem como objetivo produzir condições
de interlocução com outros/as atores sociais.
A população em situação de rua ainda é pouco estudada e conhecida no Brasil. De modo geral, as pesquisas censitárias
oficiais partem do domicílio como unidade básica de análise, deixando de fora aquelas pessoas que não possuem
endereço fixo. Pesquisadores/as afirmam que a ausência de investigações é decorrente das complicações conceituais
e metodológicas envolvidas com a definição e mensuração dessa população (Ferreira, 2005; Ferreira & Machado,
2007a, 2007b).
A compreensão da situação de rua como processo e não como estado é uma questão central para esses/as autores/as.
Trata-se de considerar que viver no espaço da rua é uma situação contingente, que pode contar com a perspectiva do
movimento de superação. Nesse sentido, o termo processo de rualização parece fornecer elementos que nos
permitam compreender os fatores e vivências dessa população. Diferentemente da noção de estado, o processo de
rualização se refere ao movimento de aproximação/vinculação com a rua, um continuum de imbricação nesse espaço
tornando-o elemento importante de referência, para constituição de identidade, o que acontece progressivamente
(Prates et al, 2012, p. 05).
Para além dos aspectos mais formais para definição dessa população, a Política Nacional para Inclusão Social da
População em Situação de Rua (PNISPSR) (Brasil, 2008) reconhece essa população como aquela que faz das ruas seu
espaço principal de sobrevivência e de ordenamento de suas identidades (Brasil, 2008, p. 03). A dimensão da
constituição da subjetividade é impactada pelo processo de rualização, devendo ser levado em consideração nas
pesquisas, no processo de construção das políticas públicas e das intervenções psicossociais com essa população.
O processo de rualização, desse modo, é constituído pela interseccionalidade de marcadores sociais que permitem o
ordenamento identitário. O processo de subjetivação deve ser entendido pelos atravessamentos de múltiplos
pertencimentos sociais: de raça, de classe, de gênero, de orientação sexual, de território, de capacitismo etc.
No entanto, o que se pode perceber nas pesquisas sobre sujeitos em situação de rua é uma negligência cúmplice com
as questões relacionadas às identidades de gênero de travestis e transexuais. As pesquisas versam sobre aspectos de
classe e conjunturas socioeconômicas, mas são reticentes quanto as interlocuções entre gênero, sexualidade e
trajetória de vida nas ruas.
O projeto que apresentamos se propõe a investigar essas interlocuções na trama urbana da cidade de Belo Horizonte.
Pretendemos investigar como as categorias de gênero e sexualidade e o processo de rualização se articulam na
trajetória de vida de travestis e transexuais em situação de rua e no serviços, programas e projetos de Média e Alta
Complexidade da Proteção Social Social Especial da Política Municipal de Assistência Social de Belo Horizonte.
De modo a construir respostas ao problema de pesquisa, os seguintes objetivos específicos são apresentados: 1.
Traçar a trajetória de vida de travestis e transexuais em situação de rua no município de Belo Horizonte tomando
como analisadores o processo de rualização e as categorias de gênero e sexualidade; 2. Analisar, a partir das
perspectivas de gênero e sexualidade, os documentos oficiais que regulamentam e operacionalizam os serviços de
Média e Alta Complexidade da Proteção Social Especial da Política de Assistência Social no Brasil (Constituição Federal
de 1988, Lei Orgânica da Assistência Social, PNAS, Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, NOB-SUAS, NOB
RH-SUAS); 3. Investigar e analisar, a partir da perspectiva de gênero e sexualidade, os processos de trabalhos dos
serviços, programas e projetos da Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade da Política Municipal de
Assistência Social, principalmente no tratamento das questões pertinentes às travestilidades e transexualidades.
Para realizar os objetivos propostos nesse anteprojeto, propõe-se uma pesquisa realizada em dois eixos:
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O primeiro eixo consiste na trajetória de vida de travestis e transexuais em situação de rua em Belo Horizonte. De
modo a imergir no cotidiano de vida e se aproximar das travestis e transexuais em situação de rua, propõe-se a
participação do pesquisador nos espaços de militância e ativismo dessa população, principalmente do Movimento
Nacional da População em Situação de Rua e o registro dessa participação em diário de campo. Para acessar a
trajetória de vida, optou-se pelo método de História de Vida, por se caracterizar: pela preocupação com o vínculo
entre pesquisador e pesquisado, pela produção de sentido tanto para o pesquisador quanto para o sujeito; pela
história contada da maneira própria do sujeito; pela ponte entre o individual e o social (Haguette, 1992; Silva, Barros,
Nogueira, Barros, 2007).
O segundo eixo consiste na descrição e análise dos processos de trabalho dos serviços, programas e projeto de Média
e Alta Complexidade da Política Municipal de Assistência Social, a partir da perspectiva de gênero e sexualidade.

390
Investigando o Fenômeno do Assédio Sexual no Contexto Universitário
Autores: Izabela Assis Rocha, UFG; Tatiana Machiavelli Carmo Souza, UFG
E-mail dos autores: izabelarv@hotmail.com,tatimachiavelli@yahoo.com.br

Resumo: A universidade, por excelência, é lócus do conhecimento científico e ético. Espera-se, portanto, que o ensino
superior seja um espaço de ampla discussão sobre os fenômenos sociais atuais. Entretanto, como parte da sociedade
que é, as questões sociais, como o assédio sexual, se incidem sobre a universidade. O assédio sexual, segundo o
Código Penal, é todo ato que sexualmente explícito que constranja ou humilhe alguém e que vise favores sexuais. Com
a grande inserção feminina dos locais públicos, ocorrida a partir dos movimentos feministas, as mulheres passaram a
ser vítimas de assédio sexual, uma forma de violência que visa à subjugação do corpo feminino através de
constrangimento e humilhação principalmente verbal. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo investigar
o fenômeno do assédio sexual no contexto universitário. O estudo se insere dentro do eixo temático de Gênero e
Sexualidades: modos de subjetivação políticas de resistências, uma vez que discute como as diferenças de poder
socialmente construídas para os gêneros afeta o modo de viver das mulheres no contexto da universidade. Ademais,
também fomenta as possíveis formas de resistência e enfrentamento às violências de gênero no âmbito acadêmico. A
metodologia utilizada foi quanti-qualitativa. A amostra foi composta por 175 participantes que foram contatadas
através de um convite enviado e-mail a todas as coordenações com solicitação de redistribuição entre as
estudantes.Um questionário online foi utilizado com a finalidade de obter informações sobre as modalidades de
assédio sexual vivenciada, bem como os autores dessa violência. Posteriormente, foram realizadas entrevistas com 05
participantes que se disponibilizaram para essa etapa da pesquisa. O objetivo das entrevistas foi aprofundar os
conhecimentos sobre as vivências e percepções em relação à temática, assim como conhecer as formas de
intervenção e enfrentamento consideradas relevantes. Os resultados obtidos através do questionário foram
analisados estatisticamente e as entrevistas passaram por análise de conteúdo. A análise de dados qualitativos foi
realizada a partir dos pressupostos da Psicologia Sócio-Histórica, que possui perspectiva crítica frente às contradições
sociais e sua superação Foi possível notar que o assédio sexual no contexto universitário é predominantemente da
ordem do simbólico, ou seja, perpetrado através de comentários e verbalizações sexualmente explícitas, como
cantadas e fofocas. Por ser uma violência simbólica e naturalizada socialmente, parcela considerável das participantes
não conseguiu reconhecer-se enquanto vítima, até 12%. Essa informação foi reiterada pelas respostas obtidas pelas
entrevistas, pois a definição sobre o que é assédio sexual dada era vaga e incompleta. Verificou-se, também, que a
visão em relação a ações de enfretamento do assédio sexual das participantes, era em suma, de descrédito. A
universidade foi posta em dúvida quanto a sua posição de justiça. É de extrema importância o fomento de discussão
sobre as formas de violência contra a mulher não somente no âmbito acadêmico, como também na sociedade. Não é
possível que haja o enfrentamento do assédio sexual se as estudantes não conseguem identificar quais situações se
configuram como crime. Ademais, a universidade possui fragilidades no que tange o enfrentamento do assédio sexual.
Essas fragilidades precisam ser enfrentadas e discutidas, pois seu objetivo maior é a disseminação de conhecimento e
isso é impossível enquanto houver violência dentro dela.

391
Militância trans: a luta pelo acesso e permanência no Ensino Superior brasileiro
Autores: Fausto Delphino Scote, UFSCar-Campus Sorocaba
E-mail dos autores: faustoscott@gmail.com

Resumo: Esta pesquisa procurou investigar as condições de acesso e permanência de populações trans no ensino
superior no país. Procurou-se investigar a partir de narrativas de jovens/estudantes/trans quais estratégias produziram
para subverter a abjeção e os preconceitos relacionados a expressão de gênero no espaço universitário. Buscou-se
compreender também por meio de minhas/meu interlocutoras/r: o que dificulta o acesso e permanência dela/e na
universidade; como constroem suas experiências de transexualidades dentro da comunidade universitária (tendo-se
em vista que a universidade ainda é predominantemente um espaço de modelos cis-heterosexuais de existências e
comportamentos); que movimentos incitam no interior das universidades para modificar o histórico de negação das
existências transexuais. A metodologia da pesquisa científica foi pautada pela perspectiva pós-estruturalista em
consonância com os estudos queer, cujos saberes são constituídos de modo interdisciplinar, dialogando com outras
áreas científicas como a antropologia, filosofia, psicologia social e as ciências sociais em geral. Acredita-se que a
construção dos sujeitos a partir destas perspectivas, desdobra-se na noção de identidade, pois segundo essa visão
metodológica, ela não é fixa, mas fluída, nômade e perpassa por relações de poder. O trabalho de campo envolveu a
realização de seis entrevistas com mulheres trans e uma com um homem trans, de diferentes raças/etnias, classes
sociais e universidades. A descrição do campo realizado envolve a apresentação das/do participantes da pesquisa por
meio de um quadro sintético e posteriormente uma breve exposição das narrativas, contribuindo assim, para melhor
compreensão de suas singularidades. Em seguida busca-se refletir sobre as narrativas propriamente ditas a partir de
quatro eixos: No primeiro serão apresentadas as narrativas iniciais das histórias das/do interlocutoras/r, primeiras
experiências de expressão de suas sexualidades diferentes, a frequente influência religiosa que tende a contribuir para
sua não-aceitação nos contextos familiares. Em seguida serão narrados os processos iniciais da descoberta da
transexualidade e a transição de seus corpos no espaço escolar, gerando maior visibilidade e sentimento de não-
pertencimento a esse espaço, provocando situações de expulsão e repulsa daquele local de convivência coletiva. No
segundo eixo, será discutida a precarização do trabalho gerado pelo preconceito relacionado às pessoas trans em
geral, levando-as/o a buscar no emprego informal a possibilidade de sobrevivência. Em seguida serão abordados os
processos iniciais de intenção de cursar uma universidade, de ter o direito e reconhecimento de serem consideradas/o
iguais e respeitadas/o enquanto futuras/o profissionais. No terceiro eixo será enfocado o acesso à universidade das/do
minhas/meu interlocutoras/o, que está relacionado às perspectivas históricas das políticas atuais de democratização
do acesso e ampliação no Ensino Superior no Brasil – discutindo os limites e objetivos existentes na consolidação do
Prouni e no ENEM como sistema avaliativo de seleção universal para o acesso universitário. Também serão discutidos
os problemas gerados pela burocratização das universidades em relação à documentação para a utilização do nome
social, além da falta de qualificação profissional de alguns de docentes. No quarto será explorado o tema das vivências
e experiências das minhas/meu interlocutoras/r em seus cursos escolhidos, bem como o do contato com as pessoas
cisgêneras e transgêneras. Também será debatida neste momento a importância da militância na busca de mudanças
sociais e na ampliação de direitos e sobre a proteção legal continuada que garanta não somente o acesso universitário,
como também sua permanência e finalização, incluindo seus projetos futuros. Finalizando, no quinto e último eixo
realizarei as considerações finais. Os resultados obtidos apontam que o acesso à universidade foi facilitado por
conquistas específicas do movimento trans, mas também por outras mais amplas, entre as quais destacam-se : a
implementação legal e o direito de utilização do nome social para travestis e transexuais em instituições de ensino que
aderiram à legislação e nas avaliações nacionais como o ENEM; as políticas de inclusão governamentais de acesso à
minorias étnicas e raciais de baixa renda pelo oferecimento de vagas em universidades públicas federais e estaduais
pelo SISU e o oferecimento de bolsas de estudos em universidades privadas e confessionais pelo PROUNI. Foi
fundamental também o acesso dessa população a projetos sociais do tipo cursinho preparatório, voltados a travestis e
transexuais. Por outro lado, ainda são isolados as políticas públicas de permanência estudantil relacionadas a
392
população trans, sem a existência de especificidade no oferecimento e manutenção de políticas públicas que
contribuam para isso. Foram relatadas dificuldades relativas ao pagamento de matrícula e mensalidades da
universidade, à utilização de banheiro segundo o gênero de identificação, o acesso à moradia estudantil e a bolsas de
auxílio-alimentação, além da falta de trato adequado por parte de docentes e funcionárias/os não-capacitadas/os para
lidar com pessoas trans. A participação na militância trans dentro do contexto universitário apresentou-se como
importante para a transformação do ambiente que habitam, contribuindo para a mudança de paradigmas, a aceitação
de suas subjetividades, o reconhecimento de direitos e o respeito à diversidade humana.

393
O trabalho do care nas instituições de acolhimento : Implicações ao trabalho Feminino
Autores: Rafaela Assis de Araujo Sales, CAASHA
E-mail dos autores: assis.rafaela1@gmail.com

Resumo: O termo care não tem uma tradução exata para o português, tendo uma aproximação com a definição de
cuidar, difundida e vinculada ao cuidado, que possui diversos significados (GUIMARÃES; HIRATA; SUGITA, 2011).
Segundo Hirata (2010) o care seria uma forma de relação social, que abrange uma multiplicidade de ações
direcionadas a um (a) outro (a) sujeito (a). Estaria vinculado às necessidades básicas humanas, tanto individuais como
sociais, sendo essencial para o desenvolvimento da vida. Tendo sua especificidade demarcada pela mercantilização do
cuidado que opera na formação, remuneração e condições de trabalho. Salienta-se que o trabalho do cuidado
propiciou que questões, anteriormente restritas a esfera privada, fossem discutidas e trazidas para esfera pública.
Possibilitando que na esfera da produção, fossem problematizadas questões restritas ao espaço reprodutivo,
transformando o trabalho doméstico em trabalho mercantil (HIRATA, 2009, p. 32).
Circunstanciando esse cuidado às práticas das instituições de acolhimento para crianças e adolescentes, essa tarefa
torna-se ainda mais complexa, considerando as especificidades do público atendido. Com a promulgação do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) os direitos relativos a essa parcela populacional passam a ser assegurados. Nessas
instituições de acolhimento os (as) profissionais responsáveis pelo exercício do cuidado são denominados (as) de
cuidadores (as), entretanto, existem outras nomenclaturas que designariam a função: educador (a) social, pai /mãe
social e monitor (a). Parecendo haver falta de consenso quanto ao papel desempenhado por esses (as) profissionais,
suas responsabilidades e competências (MORÉ; SPERANCETTA,2010). Além disso, observa-se uma precarização desse
trabalho, colocado em lugar de subalternidade em relação a outras profissões. Sendo expresso no baixo nível de
remuneração, escasso reconhecimento social, insuficiência de formação e precárias relações de formalização. Nessa
perspectiva, objetivou-se realizar uma contextualização histórica sobre a divisão sexual do trabalho, que subsidia a
discussão sobre o cuidado enquanto atividade feminina e sua aproximação com o conceito de care representado no
cotidiano de práticas das cuidadoras na instituição de acolhimento. Guimarães, Hirata e Sugita (2011) apontam que
mesmo com a inserção feminina no mercado produtivo, as funções relacionadas ao âmbito reprodutivo (trabalho
doméstico e cuidado) ainda permanecem relacionadas ao gênero feminino.O termo divisão sexual do trabalho é
aplicado a partir de duas concepções: existe uma distribuição diferencial entre homens e mulheres no mercado de
trabalho, de ofícios e profissões. O outro ponto é a utilização, pela sociedade, dessas diferenciações para criar um
sistema de gênero, sobre o qual o capitalismo se perpetua, justificando a exploração desigual do capital,
subalternizando o trabalho executado pelas mulheres (HIRATA; KERGOAT,2007, p. 596). As profissões do care,
passaram a ser regulamentadas de forma recente aqui no Brasil, sendo incluídas na nova Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO) nos anos 2000. As ocupações são: Babá, Cuidador de Idosos; Mãe Social e Cuidador em Saúde. Na
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) o (a) cuidador (a) é descrito (a) como os que: Cuidam de bebês, crianças,
jovens, adultos e idosos, a partir de objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis diretos,
zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida.
Segundo a CBO, a formação necessária para os cuidadores de crianças, jovens, adultos e idosos é de cursos livres com
carga horária de 80/160 horas, com idade mínima de 18 anos e ensino fundamental completo. Um ponto a ser
destacado é que dentre as descrições da profissão de cuidador(a), existe um item destacado como competências
pessoais, neles exige-se que o cuidador(a) : Demonstre preparo físico; capacidade de acolhimento; capacidade de
adaptação; empatia; respeite a privacidade da cjai (criança, jovem, adultos e idoso); paciência; capacidade de escuta;
capacidade de percepção; manter a calma em situações críticas; demonstre discrição; capacidade de tomar decisões;
capacidade de reconhecer limites pessoais; preparo emocional e que transmita valores a partir do próprio exemplo e
pela fala ( BRASIL , 2002). Partindo da análise dessas exigências percebe-se uma aproximação significativa entre o
processo de trabalho e as atribuições pessoais, correspondendo uma característica peculiar da profissionalização do
cuidado. Existe uma linha muito tênue, em parte confusa, entre habilidades que seriam adquiridas pelo processo de
394
profissionalização e capacitação e as possíveis qualidades (inatas, pessoais) exigidas desses (as) profissionais. Assim,
observa-se a complexidade e amplitude da atribuição dessa ocupação, mas em contrapartida são poucos os
instrumentais técnicos e formativos oferecidos para essas cuidadoras na promoção de um dado cuidado, que passa
então a ser exercido de acordo com as qualidades e atributos que seriam específicos do gênero feminino (AZEVEDO;
PASSOS, 2015, p.200).
As discussões e análises apontam sobre a importância e as dificuldades do trabalho das cuidadoras, que ainda ocupam
um lugar desvalorizado e invisibilizado no âmbito social. Desse modo, considera-se importante mais estudos que
visem a compreender melhor essa realidade para que se possa ressignificar o lugar dessas cuidadoras, produzindo
novos sentidos para suas práticas.

395
O sexo nervoso: doenças mentais de mulheres em Fortaleza durante a Belle Époque
Autores: Beatriz Oliveira Santos, UFC; Idilva Maria Pires Germano, UFC
E-mail dos autores: beatrizsantos.ufc@gmail.com,idilvapg@gmail.com

Resumo: Encontramo-nos, atualmente, em um clima sociocultural que facilita o esquecimento ou a censura da


memória, o que tende a enfraquecer a consciência crítica dos sujeitos. Walter Benjamin (2012) assinalou a importância
de se recuperar o passado, uma vez que insistir na história significa, também, ter atenção precisa ao presente,
sobretudo ao que se repete, pois não se trata apenas de não esquecer o passado, mas de um agir sobre o presente. É
nesse sentido, considerando a importância de se conhecer o passado, que essa investigação de mestrado, em curso,
caminha. Desejamos compreender como as doenças mentais nas mulheres foram sendo construídas e legitimadas na
cidade de Fortaleza, Ceará, durante o período da Belle Époque (1850-1925). Esse período de análise tem se mostrado
bastante relevante pelas práticas e discursos de modernização e progresso, embelezamento da cidade, bem como de
higienização de corpos e mentes, seguindo a tendência de imitação da cultura europeia e seus padrões civilizatórios.
Tais transformações resultaram na difusão de uma gama de saberes médicos acerca do normal e do patológico na
capital do Ceará, com efeitos particularmente mais intensos sobre as mulheres, rotuladas de sexo nervoso. Ao estudar
a natureza feminina e sua especificidade sexual, os obstetras e ginecologistas do século XIX construíram um modelo de
normalidade extremamente restrito para as mulheres. De modo geral, os fenômenos fisiológicos relacionados à
sexualidade feminina e à capacidade de reprodução foram considerados como predisponentes às condições
patológicas, de forma mais acentuada, às doenças mentais. Os médicos afirmavam, por exemplo, que sob a influência
da menstruação as mulheres podiam ficar loucas, cometer atos insensatos e até suicídio. (MARTINS, 2010). Portanto,
adotando a perspectiva da Psicologia Social Critica, investigamos, mediante livros, manuais, notícias, entre outras
fontes, como os saberes médicos colaboraram para a construção das doenças mentais nas mulheres nesse período.
Buscamos apresentar ainda as principais instituições de cuidado da loucura construídas nesse período em Fortaleza,
como asilos, hospícios, entre outras, e analisar os impactos sociais das formas de reconhecimento da loucura para as
mulheres diagnosticadas. As análises documentais, em diálogo com a literatura crítica contemporânea sobre a
regulação social dos corpos femininos, fundamentam muitas discussões na interface entre gênero, reconhecimento, e
identidade, bem como permitem debater as diferentes articulações entre saber e poder que constroem o feminino no
período em análise. A metodologia utilizada para analisar os documentos baseia-se no modelo proposto por Ian
Hacking (1998) sobre as doenças mentais transitórias, de modo a observar e descrever os quatro vetores propostos
por Hacking que seriam necessários para a legitimação da doença mental: vetor linguístico-taxonômico, vetor da
polaridade cultural, vetor da observação e o vetor da liberação-agregação. Essas discussões condizem com o que o
Eixo Temático Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência e o Grupo de Trabalho Gênero,
sexualidades e interseccionalidades propõem, visto que as discussões, para além da Saúde Mental, se pautam em
gênero, saberes e poderes, adotando uma perspectiva crítica e não-essencialista. Com uma discussão de caráter mais
histórico, buscamos contribuir com a construção de olhares plurais no tocante às questões de gênero,
problematizando os binarismos instituídos e as normatividades naturalizadas. Pretendemos, ainda, recuperando a
história e fortalecendo a memória, contribuir com as resistências e para uma sociedade mais igualitária.

396
O(s) feminismo(s) enquanto campo teórico-político: Reflexões sobre a intersecção entre Gênero, Geração e Raça
Autores: Ana Cecília Ramos Ferreira da Silva, UFAL; Marcos Ribeiro Mesquita, UFAL
E-mail dos autores: ana_ceciliaramos@hotmail.com,marcos.mesquita@ip.ufal.br

Resumo: Os temas de gênero, geração e raça, no contexto do Brasil, podem ser discutidos sob o ponto de vista de
várias abordagens. Na psicologia, quando discutidas isoladamente, percebemos a existência de uma tradição que
trata, por diferentes ângulos, essas temáticas. No entanto, quando se propõe a interseccionalidade desses temas, há
ainda um campo a se percorrer e aprofundar na medida em que só muito recentemente a produção de pesquisas com
base nessa perspectiva ganha destaque. O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa de mestrado, ainda em
andamento, intitulada As trajetórias de vida e militância das jovens feministas negras da cidade de Maceió: um estudo
sobre a intersecção entre gênero, geração e raça. Trata-se, portanto, da sistematização e revisão de literatura
realizada na primeira etapa, que objetivou contextualizar historicamente como o(s) feminismo(s) se
consolidou/consolidaram enquanto um projeto teórico-político de grande importância na vida das mulheres –
focalizando especificamente em como a intersecção desses três marcadores sociais impactou a experiência das jovens
mulheres negras no campo político feminista; e como elas disputaram com e no feminismo o seu lugar na esfera
pública como sujeito político. Para tanto, privilegiamos essa discussão a partir da leitura de obras importantes de
autoras como Angela Davis, Bell Hooks, Donna Haraway, Chantal Mouffe, Judith Butler, Sueli Carneiro e Lélia Gonzalés.
Em termos teóricos-metodológicos, essa pesquisa enquadra-se no âmbito da Psicologia Social Crítica e orienta-se
teoricamente com base no conceito de interseccionalidade apoiado na perspectiva feminista. Nesse sentido, lançamos
mão dessa concepção como ferramenta de análise para compreender os sistemas de dominação formados a partir da
intersecção de diferentes marcadores sociais. Partimos do pressuposto que, ao compreender a vivência das mulheres
negras jovens, é necessário considerar que suas experiências dentro e fora do campo feminista são marcadas por
questões que vão além do machismo; posto que há outras formas de discriminações e preconceitos por conta do
racismo e do adultocentrismo que assinalam subjetivamente suas trajetórias. De acordo com a literatura, ainda há
pouco investimento em estudos que focalizem a experiência de gênero a partir das jovens periféricas –
majoritariamente negras –, visto que na discussão realizada na academia ainda prevalece a experiência das mulheres
brancas, adultas e heterossexuais. Em parte dos estudos, as hierarquias sexuais seguem desracializadas, sem classe e
alheias a geração. A origem branca e ocidental do feminismo estabeleceu a hegemonia das mulheres brancas e
universalizou suas experiências como sendo reflexo de todas as mulheres. Esse quadro começa a ser alterado quando
a discussão sobre a universalidade da categoria das mulheres começa a ganhar força nos estudos pós-coloniais,
feministas e de gênero. Nessa configuração, mulheres que não correspondiam ao ideal identitário que o feminismo
hegemônico insistia em (re)produzir, passaram a questionar teórica e politicamente esse discurso representacional do
movimento feminista que forjava uma sujeita estável ao compreender essa categoria como una. Nesse cenário, os
debates feministas sobre o essencialismo colocam de outra maneira a questão da universalidade da identidade
feminina e da opressão masculina. Essa universalização gera crítica por parte das pesquisadoras que afirmam ser a
categoria das mulheres, ainda que no plural, problemática, pois é normativa e excludente, invocada enquanto as
dimensões não marcadas do privilégio de classe e raça, por exemplo, permanecem intactos. No Brasil, questões como:
saúde reprodutiva, trabalho e sexualidade seguem marcadas por experiências sociais diferentes para mulheres
brancas e negras, resultado de mais de 300 anos de dominação racial e de gênero, que não acabou pós-abolição. Ser
mulher e ser negra no Brasil ainda significa estar inserida num contexto de marginalização e discriminação,
consequência do processo histórico de formação da sociedade brasileira. Os resultados da pesquisa ainda são parciais,
dado que se referem ao levantamento bibliográfico que foi realizado. Contudo, acreditamos que realizar este tipo de
trabalho significa fortalecer a produção de um debate mais qualificado sobre o tema; corroborando com a afirmação
dos estudos sobre as diversas mulheres que vêm destacando a centralidade que a perspectiva interseccional deve
ocupar nas investigações feministas, tanto no que toca ao seu uso enquanto conceito teórico, quanto ao que refere a
uma prática metodológica. Entender a experiência de gênero a partir da intersecção com os marcadores de raça e
397
geração é um modo de contribuir para que em nível acadêmico e/ou em nível de militância, as mulheres negras jovens
tenham suas especificidades consideradas nas elaborações das políticas públicas para as juventudes e na construção
de pautas e bandeiras de luta feministas e anti-racistas.

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Privilégios, vantagens e direitos: mulheres brancas assumindo sua racialidade no contexto feminista
Autores: Georgia Grube Marcinik, UERJ/DEGENERA; Amana Rocha Mattos, UERJ
E-mail dos autores: georgia_marcinik@hotmail.com,amanamattos@gmail.com

Resumo: Muito se tem discutido, recentemente, acerca das diversas formas de ativismo nos movimentos feministas e
de como as infinitas possibilidades de subjetivação de mulheres geram tensionamentos de pautas e agendas nesta
prática e organização política. Este trabalho apresenta uma análise parcial da pesquisa de mestrado, em andamento,
da autora – com orientação da co-autora – e tem como intuito a investigação e análise da branquitude nos
movimentos feministas através da intersecção, principalmente, de raça e gênero. Neste sentido, assume-se a
necessidade de pensar a branquitude constitutiva nas discussões dominantes das produções e práticas feministas,
presente nas construções sobre o ser mulher – visto que tal condição produz efeitos e divergências dentro de uma
estrutura racializada do gênero dentro dos movimentos feministas e suas ramificações – sendo imprescindível uma
reflexão sobre os trânsitos raciais que se fazem presentes nesse campo de debates. Partindo da inquietação de como a
branquitude se apresenta nos movimentos feministas e de como tal conceito ajuda a pensar as lógicas hegemônicas
raciais intragênero destes contextos, objetivamos através deste estudo compreender como se dá a constituição e
subjetivação da racialização da pessoa branca e, consequentemente, qual é o lugar da mulher feminista e branca na
luta antirracista nos feminismos. Nosso campo de pesquisa está sendo construído através da participação nos diversos
eventos e espaços feministas – sejam eles institucionalizados e academicistas ou não, com suas diversas formas de
acesso – e que assumem o compromisso de luta antissexista, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Ao mesmo
tempo, faz-se uma análise através de entrevistas semi-estruturadas, com mulheres que se identificam como feministas
e brancas – dispostas a dialogar e refletir raça a partir da branquitude – na tentativa de entender quais são os
(des)dobramentos e (des)encadeamentos que ocorrem quando estas mulheres assumem racialmente sua condição de
privilégios, vantagens e direitos socialmente e, inclusive, dentro das práticas feministas (e suas epistemologias) e
quais são as repercussões disso. Tal problematização vem do diálogo e aproximação com as epistemologias dos
feminismos que se localizam como marginais, sendo os principais o feminismo negro, o interseccional e o decolonial;
concomitantemente com os estudos críticos da branquitude e sua importante articulação com o campo da Psicologia
Social – pensando-a como prática e ação política que está diretamente ligada à construção e entendimento das
relações sociais, suas subjetividades e seus agentes. Discutir a questão de como racializar o feminismo a partir de uma
discussão sobre branquitude, nos faz perceber o quão não se tem uma noção de que há um apagamento dessa
categoria racial branca no movimento feminista. É, no mínimo preocupante, pensar que feministas se dedicam em
visibilizar as opressões de gênero universalizantes que sofrem, mas que ao mesmo tempo são tão intransigentes aos
apontamentos sobre o racismo estrutural presente também nos espaços e teorizações feministas. A invisibilização das
interseccionalidades raciais em debates de pautas caras ao feminismo (como aborto, violência obstétrica, objetificação
da mulher pela mídia, divisão sexual do trabalho, para citar alguns exemplos) tem sido uma das principais críticas de
mulheres marginalizadas (feministas ou não) ao feminismo branco. Entender e refletir sobre esse desconforto coloca-
se como um grande desafio para feministas brancas, pois ele explicita as dificuldades (ou mesmo impossibilidades) de
aproximações de pautas entre feministas brancas e não brancas. As interpelações feitas a respeito do lugar racial
privilegiado ocupado por feministas brancas precisam ser elaborada de maneira a sermos capazes de incorporar
interseccionalmente a questão racial em nossos estudos e análises sobre opressões de gênero, localizando-nos
também em marcadores raciais, e não apenas de gênero.

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Reflexões sobre a história dos estudos psicológicos da homossexualidade (1890-1970)
Autores: Henrique Araujo Aragusuku, USP
E-mail dos autores: henriquearagusuku@gmail.com

Resumo: Este trabalho tem como objetivo a apresentação dos resultados da pesquisa realizada ao longo da
Especialização em Psicologia Política, da EACH-USP, que buscou levantar algumas reflexões sobre a história dos
estudos da Psicologia sobre a homossexualidade, com um recorte central nos anos de 1950 a 1970. Entretanto,
visualizamos também os estudos pioneiros do período de fins do século XIX à década de 1940.
Sobre sua condução metodológica, foram buscadas as contribuições de Michel Foucault, mais especificadamente, sua
Arqueologia do Saber e sua Genealogia do Poder, de forma a pensar nas articulações entre saber e poder, e no
discurso enquanto uma categoria de análise sociopolítica. As contribuições teóricas do campo do construcionismo
social no estudo da sexualidade, assim como descrito por Jeffrey Weeks e Carole Vance, amparam
epistemologicamente a condução da pesquisa.
Para o desenvolvimento da análise, foi realizado uma amplo levantamento documental e bibliográfico, se atentando
para a diferenciação entre fontes primárias (ainda não analisadas por pesquisa posteriores) e secundárias de pesquisa
histórica. Como corpus central da análise, selecionamos artigos presentes em periódicos de psicologia dos anos 50 a
70, período em que a psicologia se consolidava enquanto uma ciência e profissão autônoma a outas áreas do
conhecimento, como a pedagogia, a filosofia, a sociologia e a medicina. O fechamento ocorre nos anos 70 por dois
motivos principais, que conduziram a uma ruptura na discursividade sexual dentro do campo da psicologia: (1º) a
diminuição gradual das produções psicológicas que compreendiam a homossexualidade enquanto uma patologia, ou
um desvio de conduta sexual, muito provavelmente como efeito da despatologização da homossexualidade pela
American Psychiatric Association, em 1974, e pela American Psychological Association, em 1975; e (2º) as mudanças
no cenário sociocultural e político-sexual que marcaram os anos 70, com a consolidação dos movimentos de
contracultura, feministas e homossexuais, no Brasil a partir do fim dessa década e no início da década posterior (anos
80).
É proposta a divisão da história dos estudos que interseccionavam psicologia e homossexualidade em três grandes
períodos, dentro do grande período histórico de fins do século XIX a meados do século XX: de 1890 a 1920, com o
surgimento dos pioneiros da ciência sexual brasileira, influenciados sobretudo por autores europeus, no qual a
psicologia se encontrava pulverizada enquanto um saber dentro de campos científicos já consolidados; de 1930 a
1950, momento em que a psicologia dava seus primeiros passos para a autonomização, com a consolidação de um
campo institucional de pesquisa científica, o surgimento dos primeiros centros de formação e o desenvolvimento da
atuação profissional; de 1960 a 1970, momento de reconhecimento estatal e regulamentação da psicologia enquanto
ciência e profissão, aparecimento de um contribuição original da psicologia ao estudo da homossexualidade,
principalmente a partir das vertentes psicotécnica - com o desenvolvimento de pesquisas envolvendo testes
psicológicos - e clínica, sobretudo psicanalítica, de tratamento e reversão das perversões sexuais.
Dessa forma, chegou-se à conclusão que a Psicologia, enquanto um campo científico, ao longo deste período,
fundamentou as prerrogativas sociopolíticas heteronormativas a partir de um discurso de delimitação do normal e do
patológico, e do desenvolvimento de tecnologias de controle e reversão das condutas sexuais desviantes. Entretanto,
havia uma multiplicidade de discursividades interagindo (ou mesmo se antagonizando) nas discussões científicas da
época, como exemplo, o entendimento da homossexualidade como uma condição patológica congênita, como fruto
das teorizações da Medicina Legal, ou adquirida ao longo do desenvolvimento psíquico-social, principalmente a partir
das contribuições da psicanálise. É importante também salientarmos que o período posterior (pós anos 70) foi
marcado por uma relativa reversão desse cenário no Brasil, quando surgiram discussões teóricas dentro do campo da
psicologia alinhadas com a perspectiva das lutas sexuais e do questionamento da heteronormatividade.
A pesquisa, a partir desse amplo levantamento histórico, buscou atuar sobre um campo praticamente esquecido pelos
atuais estudos LGBT em psicologia, de influência sobretudo pós-estruturalista. Tais estudos pouco se debruçam sobre
400
a sua "pré-história", ou seja, sobre os estudos anteriores que enfocaram sobre o mesmo objeto de pesquisa
(sexualidade) dentro do mesmo grande campo (psicologia) a partir de uma perspectiva ético-político-sexual e
epistemológica diferente. Trabalhar sobre a história e o passado, assim como discorre Foucault, envolve
inevitavelmente as discussões em torno das políticas do presente, e é sobre este postulado que tal pesquisa se
concretiva.

401
Relatos de idosos sobre sexualidade no envelhecimento: intersecções entre gênero e geração
Autores: Izabella Lenza Crema, UFTM; Rafael De Tilio, UFTM
E-mail dos autores: izabellalenza@gmail.com,rafaeldetilio.uftm@gmail.com

Resumo: O envelhecimento corresponde a um processo dinâmico influenciado por aspectos como gênero,
sexualidade, classe, raça, geração, os quais acarretam diferenças entre os idosos. A sexualidade está presente e é
reelaborada ao longo de todo o desenvolvimento, englobando aspectos biológicos, subjetivos, culturais, políticos e
sociais. Ressalta-se a significativa participação da cultura na expressão da sexualidade, uma vez que esta atrelada a
execução de papeis de gênero. Tais papéis não são unicamente determinados pelas diferenças biológicas, mas são
resultados de uma lógica social heterossexual propagada pelos discursos hegemônicos, processos educativos e
expectativas sociais que estabelecem padrões de normalidade. Desse modo, socialmente são atribuídos rígidos papéis
a homens e mulheres, os quais reforçam diferenciações, relações de poder e geram impactos para a vivência da
sexualidade. Assim, exclusões e concepções errôneas são propagadas em relação à sexualidade dos idosos, como sua
inexistência, inadequação e a restrição da mesma às modificações biológicas. Aspectos como esses podem prejudicar a
vivência da sexualidade ao longo do envelhecimento. Observa-se, portanto, a relevância da investigação sobre os
significados e experiências atribuídos por idosos à sexualidade, visto que tanto o envelhecimento como a sexualidade
são fenômenos socialmente construídos que influenciam o modo como os idosos atribuem significados a essas
vivências. O objetivo desse estudo foi investigar a partir de relatos de idosos os significados e práticas vivenciadas
sobre sexualidade ao longo do envelhecimento. Utilizou-se o referencial teórico de autores como Michel Foucault e
Judith Butler, além de pesquisas recentes com perspectivas interseccionais. Assim, os conceitos: dispositivo da
sexualidade; performatividade; gênero; heteronormatividade; interseccionalidade e geração embasaram este estudo,
a fim de propor uma visão crítica a respeito da sexualidade no envelhecimento, das diferenças de gênero nesse
processo e dos fatores que perpassam a subjetividade desses sujeitos. Tais aspectos coadunam com as propostas do
Eixo Temático 2 e do Grupo de Trabalho 18. Trata-se de um estudo exploratório, de caráter qualitativo e delineamento
transversal. Foram realizadas entrevistas individuais com roteiro semiestruturado com dez idosos (seis mulheres e
quatro homens) frequentadores da Universidade Aberta à Terceira Idade de uma cidade da região do Triângulo
Mineiro, cujos resultados foram organizados e analisados por meio da Análise de Conteúdo Temática proposta por
Turato. A média de idade dos participantes é de 71 anos; oito são casados e residem com seus parceiros e a média de
tempo de casamento/união estável é de 42,5 anos. Seis participantes relataram que atualmente mantém relações
sexuais, definindo o coito como vida sexual ativa. Foram identificadas duas categorias temáticas a partir do critério
semântico: (1) Tradicionalismos de Gênero e (2) Problematizações Sobre Envelhecimento e Sexualidade. Os
participantes relataram concepções atreladas ao modelo de constituição familiar padrão (ou idealizada) baseado na
família nuclear heterossexual, monogâmica e com papéis distintos para homens e mulheres. As duas categorias
ressaltam concepções tradicionais de gênero e sexualidade, sendo as mulheres inseridas na esfera privada como
cuidadoras dos filhos e do marido, responsáveis pela satisfação sexual dos parceiros e pelas atividades domésticas e os
homens destinados ao trabalho na esfera pública e sustento da família, com necessidades de relações sexuais
frequentes. A sexualidade feminina foi associada à reprodução biológica e a maternidade. Para os homens, as relações
sexuais foram caracterizadas positivamente como uma necessidade biológica independente da idade e que influencia
o humor e a qualidade de vida, devendo ser satisfeita para manter a saúde geral. Já a maioria dos participantes
apontaram as vivências da sexualidade das mulheres atreladas ao sacrifício, desgaste e diminuição drástica, quando
não a ausência de desejo sexual, devido à obrigatoriedade das relações sexuais com seus parceiros. Evidencia-se nos
relatos concepções distintas e desiguais entre homens e mulheres que são reflexos de relações de poder (sociais e
sexuais) historicamente constituídas, da educação rígida recebida e da moralidade religiosa dos participantes. Além
disso, parcela expressiva dos idosos limitou a noção de sexualidade às relações sexuais, precisamente à penetração
vaginal. Todavia, relataram alguns questionamentos e ampliação de sentidos da sexualidade no envelhecimento (em
contraposição às concepções que a caracterizam como assexuada ou inativa), apontando a manutenção da virilidade
402
masculina e para as mulheres a obtenção de outros prazeres não originários das relações sexuais, como voluntariado,
artesanato, atividades de cuidado e relações de afeto. Destacaram-se ainda relativizações de certas crenças e sentidos
sobre a sexualidade, por exemplo: o cotidiano e as relações sexuais passaram a envolver maior e mais frequente
carinho, respeito e diálogo entre o casal e que as experiências prazerosas (para-além do coito) independem da idade.
Em suma, concluiu-se que a intersecção entre gênero e geração (envelhecimento) replica a lógica heteronormativa e a
desigualdade entre homens e mulheres idosos. Os relatos corroboram com a literatura científica, pois a maioria dos
participantes abordou uma concepção de sexualidade quase que reduzida às relações sexuais heterossexuais pautadas
em papéis dicotômicos; a pertinência da heterossexualidade compulsória e da dupla moral sexual na vida do casal e da
família.

403
GT 19 | História Social da Psicologia

Coordenadores: Frederico Alves Costa, UFAL | Julio Cesar Cruz Collares-da-Rocha, UCP | Lurdes Perez Oberg, UFF

O Grupo de Trabalho (GT) História Social da Psicologia é composto por membros do GT da Associação Nacional de
Pesquisa em Psicologia (ANPEPP) que apresenta este mesmo nome. O objetivo do GT agora proposto para o Encontro
Nacional da ABRAPSO é discutir criticamente a produção de conhecimento e/ou intervenções na história da psicologia
social, problematizando esta produção em termos teórico, metodológico, ético e político. Além disso, também
objetiva debater diferentes modos de se fazer história e historiografia no campo de conhecimento interdisciplinar da
psicologia social. Este campo visa construir conhecimentos e práticas que apresentem o compromisso de compartilhar
valores ético-políticos, almejando problematizar questões urgentes da realidade sócio-política.
O GT apresenta clara relação com o tema do XIX Encontro Nacional da ABRAPSO – Democracia participativa, Estado e
Laicidade: Psicologia Social e Enfrentamentos em Tempos de Exceção – uma vez que discutir criticamente a produção
de conhecimento e/ou intervenção na história da psicologia social implica refletir sobre como esta produção tem
contribuído para a expansão da democracia ou para a legitimação de condições de exceção em termos dos direitos
democráticos. Deste modo, espera-se contribuir para o fortalecimento da democracia participativa, da laicidade no
Estado e para a desnaturalização de ideias fixas e fatos estabelecidos presentes em Tempos de Exceção.
Diferentes campos de conhecimento das ciências humanas e sociais têm demonstrado como a ciência moderna, desde
sua emergência, serviu e tem servido para a reprodução de desigualdades sociais, desmistificando a dicotomia entre
ciência e política. No Brasil a fundação da ABRAPSO, em 1980, é um exemplo importante de posicionamento crítico
quanto à história da produção de conhecimento e/ou intervenção em psicologia social e comprometida com a
realidade concreta da população. Os debates abordados na psicologia social a partir dos encontros da ABRAPSO
evidenciam a preocupação com saberes psicossociais e, portanto, com a articulação entre a produção de
subjetividades e aspectos históricos, políticos e culturais da sociedade brasileira, que visam a democratização social.
Esta referência construída na psicologia social crítica é primordial em momentos de intensos retrocessos. Destacamos,
ainda, nas discussões que emergem com a ABRAPSO, o diálogo com as epistemologias, a ética e a política.
Nos tempos hodiernos, mais de três décadas depois da fundação da ABRAPSO, golpes parlamentares, a expansão de
discursos totalitários, a criminalização de lutas sociais evidenciam mais uma vez a importância de refletirmos sobre as
contribuições da produção em psicologia social numa vertente crítica para enfrentamentos em tempos de exceção.
Ao concebermos a produção científica como uma prática social, constituída a partir da disputa por modos de
significação da realidade, devemos enfatizar que os enfoques teóricos que sustentam a produção da psicologia social
encontram-se embasados em concepções de sujeito e de sociedade que implicam disputas pela própria concepção de
democracia e de Estado. Nestes tempos de exceção nos deparamos com um cenário que enaltece o capital e incita o
ódio as diferenças. A consideração por um Estado Laico e por uma democracia participativa tornam-se relevantes para
a emergência de formas críticas de produção de conhecimento e/ou intervenção.
A relação do GT ora proposto com o Eixo Temático Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa,
produção de conhecimento e/ou intervenções diz respeito a abarcar trabalhos que buscam historiar e problematizar a
produção de conhecimento e/ou intervenções em psicologia social.
Para tanto, coerentemente com a proposta do Eixo Temático, compreende-se a história como a possibilidade de
construção de narrativas a partir de sinais que nos chegam do passado – subentendendo-se que nunca temos acesso
di etoà aà este,à e à o oà ueà oà e isteà u à p og esso à e à di eç oà aà u à o he i e toà e dadei o.à áli s,à seà esteà
último fosse possível, estaríamos afirmando a busca por uma homogeneidade da psicologia social, o que contraria
nossas perspectivas e a própria história da ABRAPSO. Ao contrário, concebe-se que jogos de poder são constitutivos da
produção cientifica, buscando-se evidenciar, através da discussão crítica sobre a história da psicologia social, as
heterogeneidades e disputas presentes no interior deste campo do conhecimento, as condições de emergência e de
consolidação de determinados modos de se fazer ciência e as implicações desta construção do saber para processos
de democratização social.
Deste modo, o GT situa-se como um espaço de debate que visa articular as epistemologias e a política na
compreensão da produção de conhecimento e/ou intervenção em psicologia social, contribuindo para desnaturalizar
os saberes e práticas da psicologia social e afirmar uma posição no interior deste campo de conhecimento: a
construção de saberes orientada para a expansão dos direitos democráticos.
O GT pretende: a) Divulgar estudos contemporâneos e inéditos da História da Psicologia Social no Brasil; b) Criar
espaço de trocas e intercâmbio entre pesquisadores da área; c) Problematizar e apresentar contribuições da História
404
da Psicologia Social para os diversos campos das ciências humanas e sociais; d) Debater os diferentes papéis e as
diversas políticas da psicologia social na história, pensando suas articulações com os desafios enfrentados pela
psicologia social contemporânea.
Diante desta proposta, o GT pretende acolher trabalhos referentes: a) aos projetos políticos que a psicologia social
sustentou por meio de seus saberes e práticas; b) às implicações destes projetos políticos na produção de
subjetividades e na construção da democracia; c) aos enfoques teóricos e metodológicos presentes na produção de
conhecimento e/ou intervenção em psicologia social; d) às disputas políticas na própria história da psicologia social; e)
aos modos de se fazer história e historiografia no campo de conhecimento interdisciplinar da psicologia social.
No que tange à dimensão temporal, são admitidos distintos recortes históricos, que focalizem distintas etapas da
trajetória dos saberes e práticas psicossociais. Quanto à dimensão espacial, é nosso objetivo acolher tanto quanto
possível narrativas regionais que lancem luz sobre os caminhos históricos de inserção e apropriação dos saberes e
práticas psicossociais em diferentes contextos brasileiros. Trabalhos que contemplem os saberes psicossociais sob
uma perspectiva latino-americana ou transcontinental são igualmente bem-vindos.
Assim, resultados de pesquisa historiográfica concluída ou em andamento e trabalhos teóricos acerca das distintas
perspectivas epistemológicas e metodológicas referentes aos saberes e práticas da Psicologia Social são contemplados
no escopo deste GT.
O GT não prevê a tradicional apresentação expositiva de trabalhos, uma vez que visa uma maior e melhor
possibilidade de trocas e discussões entre os seus membros. Após a aprovação dos resumos, será solicitado que cada
autor/a envie um texto entre cinco (5) e dez (10) páginas, com referências. Estes textos serão distribuídos para leitura
prévia para todos os participantes do GT inscritos no Encontro. Nas sessões, cada autor fará uma apresentação breve
(no máximo de 10 minutos) de seu trabalho, somente para auxiliar aos demais participantes na contextualização de
seu tema. Os debates ocorrerão após cada apresentação ou após a apresentação de um conjunto de trabalhos com
temática comum. Tal formato visa justamente enfatizar os momentos de debate propriamente dito e propiciar
oportunidades efetivas de articulações entre os temas de pesquisa e a ação desenvolvida pelos distintos membros do
GT. Integrará ainda as atividades do GT, durante o Congresso, a produção de possíveis sínteses dos conteúdos
discutidos. Como resultado do GT, espera-se a publicação de alguns artigos em comum entre seus participantes.

405
(De)Formações: da constituição histórica de um curso de psicologia à formação profissional do psicólogo
Autores: Juliane de Oliveira Silva, UFU; Luiz Carlos Avelino da Silva, UFU
E-mail dos autores: julianeos.psi@gmail.com,luizavelino@yahoo.com.br

Resumo: Esta pesquisa se insere nos estudos sobre a historiografia da Psicologia no Brasil, tentando fazer sua
contribuição ao resgatar a história de um dos primeiros centros de formação em psicologia no interior de Minas
Gerais. Trata-se de um estudo exploratório, que parte da constatação de que ao completar 40 anos de existência, um
curso de psicologia teve três gerações de professores, sendo que cada uma delas é marcada por um nível de titulação:
a primeira foi praticamente constituída por graduados e especialistas, a segunda por professores mestres e a terceira
por professores doutores. Considerando que o pensamento tem suas determinantes histórico-sociais e a existência
dos efeitos não previstos das experiências didáticas, o chamado currículo oculto, entendemos que o conhecimento é
produzido a partir de suas determinações históricas, sociais e culturais, e que contribuições docentes diferentes
convergem em ressonâncias singulares ao longo da formação profissional dos alunos. Nesse sentido, este estudo visa
investigar a relação da constituição histórica de um curso de graduação com a formação profissional de seus alunos, a
partir das contribuições da formação acadêmica docente. Assim, construído em duas partes, esse trabalho mostra na
primeira uma reconstrução histórica institucional realizada a partir de análise documental. Na segunda, uma pesquisa
quanti-qualitativa que tem como objetivo investigar como a formação acadêmica dos docentes influenciou a
construção do curso e a formação profissional dos psicólogos diplomados por essa instituição, respondendo às
seguintes perguntas: O que acontece com a formação de psicólogos em um curso na medida em que seu corpo
docente é capacitado? E qual a importância da capacitação docente na formação de psicólogos e determinação de
suas diretrizes curriculares?. Para tanto, foram aplicados questionários em 197 graduandos e realizadas entrevistas
semiestruturadas com três docentes e três egressos, em um total de 203 sujeitos. Os dados foram analisados através
de estatística descritiva nos questionários e por análise de conteúdo nas entrevistas, em uma apropriação pessoal das
proposições de Bardin. Os resultados mostram que os participantes consideram importantes para a formação os
mesmos elementos: a formação, capacitação e experiência do docente, a relação estabelecida entre professor e aluno,
a dedicação à docência e a didática. Sobre a constituição do curso, assinalam que este estava mais direcionado para
atuação em consultório durante o primeiro momento, seguido pela fundação e extinção da área de Psicologia Social e
Comunitária e por uma grande expansão dos setores organizacionais durante a segunda geração, e na terceira geração
marcou-se o amadurecimento da tradição extensionista e de pesquisa. Por outro lado, egressos e graduandos
pontuam que a oferta de atividades práticas é reduzida, o que os leva a se voltarem para a pesquisa e extensão em
busca de um maior contato com a práxis. Conclui-se que a partir da constante capacitação do corpo docente a
estruturação do curso caminhou para uma formação mais abrangente e generalista, oferecendo elementos para uma
maior diversidade de atuação profissional, embora ainda se aponte uma defasagem em relação às demandas do
mercado de trabalho. Entendemos que as contribuições docentes acarretam em ressonâncias singulares na formação
dos discentes e na constituição dos currículos, explícito e oculto. Além disso, consideramos que a construção de
alternativas para pensar o psiquismo passa necessariamente pela produção historiográfica da Psicologia brasileira e
pelo contato dos psicólogos, formados ou em processo de formação, com esta produção, que voltada à
contextualização de seus objetos de estudo, trará valiosos elementos para a compreensão da subjetividade produzida
ao longo da história brasileira.

406
A Histórias das diferentes concepções de história em Psicologia Social
Autores: Renato Sampaio Lima, UFF
E-mail dos autores: renatosampaio@id.uff.br

Resumo: História das Diferentes Concepções de História em Psicologia Social


Renato Sampaio Lima (Prof. Associado do Departamento de Psicologia)
Universidade Federal Fluminense – Volta Redonda
Se nos dias atuais, o estudo da história da Psicologia não exige a apresentação preliminar de argumentos que
convençam alunos da graduação e da pós-graduação sobre a sua necessidade, estes mesmos grupos, no entanto,
desconhecem, muitas vezes, as diferentes perspectivas teóricas presentes na produção do conhecimento histórico em
Psicologia. Considerando o nosso interesse pela Psicologia Social, formulamos a pergunta: que história(s) fizemos e
fazemos? A partir de uma pesquisa preliminar afirmamos que além da historiografia tradicional, a perspectiva marxista
da história, a Nova História e as contribuições de Michel Foucault foram usadas para historicizar este mesmo campo.
Nosso objetivo neste trabalho será refletir sobre o modo como a historiografia da Psicologia Social tem sido
construída, sobre as teorias históricas em jogo nesse processo, sobre os desdobramentos que elas produziram nas
pesquisas, historiográficas e não historiográficas, em Psicologia Social. No Brasil, a produção do conhecimento
histórico na Psicologia e, mais especificamente, na Psicologia Social é muito recente. Os primeiros núcleos ou grupos
de História da Psicologia tiveram início nos anos de 1980. Desse período aos dias atuais, outros grupos se formaram,
eventos e publicações sobre a história da psicologia ocorreram. As primeiras publicações em Psicologia Social no Brasil
foram de manuais norte-americano e europeus. O aumento da tradução de livros estrangeiros ocorre nos anos de
1960. Na década seguinte, estas traduções e publicações permanecem em alta, no entanto, já percebe–se a circulação
de textos em análise institucional, em Psicologia da comunidade e metodologia em Psicologia Social. Somente a partir
dos anos de 1980 que ocorrerá uma diminuição de traduções no campo da Psicologia Social e é neste mesmo período
que tem início uma profusão de dissertações neste campo e, consequentemente, de produções nacionais. Uma
pequena parte destas publicações em Psicologia Social, do período das traduções, apresenta em suas introduções uma
síntese histórica deste campo. De um modo geral, os autores constroem a ideia de continuidade entre um período do
passado e o presente, além da apresentação dos precursores deste campo. A apresentação histórica não era comum
nas edições de Psicologia. Então não é surpreendente que muitos livros introdutórios à Psicologia Social não
apresentassem uma história deste campo. Além da historiografia tradicional, a Nova História, a concepção marxista de
história e as contribuições de Michel Foucault vão ser usados, na produção das histórias da Psicologia Social no Brasil.
Na Nova História, dois livros publicados nos anos de 1978 e 1980, ambos de historiadores franceses e representantes
da terceira geração da Escola dos Annales, passariam a ser usados, nas décadas seguintes, como referências nos
cursos de Psicologia Social. O primeiro, História Social da Criança e da Família, de Philippe Ariès; o segundo, A Polícia
das Famílias, de Jacques Donzelot. Nesse mesmo período, a Psicologia Social no Brasil passava pela crise, que os
Estados Unidos e a Europa conheceram entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970. Esta mesma
crise gerou, entre nós, reflexões teóricas e metodológicas, que permitiu o surgimento de teorias discordantes em
relação à Psicologia Social norte-americana. As contribuições da arqueologia/genealogia de Foucault também foram
importantes para novas reflexões no campo da historiografia da Psicologia Social, bem como a teoria história marxista,
que gerou, decididamente em São Paulo, com Silvia Lane e seu grupo uma leitura crítica do campo social no Brasil.
Muitas publicações em Psicologia Social, mais recentes são fruto de reflexões de grupos que pesquisam a história da
Psicologia Social. No Brasil, refletem, certamente, o trabalho de pesquisa em pós-graduações e das produções
realizadas pelo grupo de trabalho (GT) História da Psicologia da ANPEPP, criado no ano de 1996. Buscaremos
apresentar o uso das diferentes teorias históricas na historiografia da Psicologia Social no Brasil, com o intuito de
contribuir na discussão sobre a formação de pesquisadores neste mesmo campo.

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A louca e o santo de Jacarepaguá: uma análise das narrativas sobre a vida e a obra de Stela do Patrocínio e Arthur
Bispo do Rosario
Autores: João Henrique Queiroz de Araújo, UERJ; Ana Maria Jacó Vilela, USP
E-mail dos autores: joaohenrique.qa@gmail.com,jaco.ana@gmail.com

Resumo: Na antiga Colônia Juliano Moreira (CJM), instituição psiquiátrica localizada no bairro de Jacarepaguá, no Rio
de Janeiro, viveram Stela do Patrocínio e Arthur Bispo do Rosário, diagnosticados como esquizofrênicos. Naquele
depósito de indigentes, eles conseguiram não só manter suas identidades preservadas, como também tiveram suas
histórias de vida e suas obras conhecidas para além dos muros do hospital. A biografia de Stela do Patrocínio ainda
possui muitas lacunas, mas os poucos registros realizados de sua fala têm despertado interesses múltiplos nos campos
da história da psiquiatria, da filosofia e da poesia. Sabe-se que nasceu em 9 de janeiro de 1941 e que foi internada em
1962, no antigo Centro Psiquiátrico Pedro II, sendo transferida para a CJM em 1966. Em 1986, seu falatório chamou a
atenção das artistas Neli Gutmacher e Carla Guagliardi, que trabalhavam em um ateliê no Núcleo Teixeira Brandão. A
partir do encantamento pela forma peculiar com que Stela do Patrocínio discursava, as artistas decidiram registrar sua
fala, o que resultou na gravação entre os anos de 1986 e 1988 de duas fitas cassetes. Ainda em 1988, algumas dessas
falas foram transcritas em pequenos quadros e apresentadas na exposição Ar do subterrâneo, montada no Paço
Imperial, no Rio de Janeiro. Após 30 anos vivendo internada na CJM, Stela do Patrocínio faleceu em 1992. Anos depois,
ao ter contato com estas fitas, a filósofa e poeta Viviane Mosé decidiu transcrever e organizar aquelas falas no livro
Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, publicado em 2001, revelando a poesia presente em Stela do
Patrocínio. Já Arthur Bispo do Rosario, foi internado no hospício da Praia Vermelha em dezembro de 1938 e
transferido para a CJM um mês depois, permanecendo lá por 50 anos não consecutivos. Ex-marinheiro e pugilista,
Bispo do Rosário conquistou certos privilégios na instituição por auxiliar os enfermeiros a conter outros pacientes. Foi
desta forma que conseguiu guardar em sua cela objetos do cotidiano do hospital e outros recolhidos pelos pátios da
instituição. Ao longo de sua vida, estes objetos foram usados para cumprir a missão que lhe foi dada por anjos naquela
noite de dezembro que terminou com sua reclusão em um hospício: reconstruir o mundo para apresentar a Deus no
dia do juízo final. No espaço de sua cela, pôde produzir e guardar centenas de objetos que chamariam a atenção de
curiosos, artistas e críticos de arte. Porém, foi em 1989, poucos meses após a sua morte, que Bispo do Rosário foi
alçado ao patamar de artista, consagrado por meio da exposição Registros de minha passagem pela Terra, realizada no
Parque Lage, no Rio de Janeiro. O reconhecimento da qualidade artística de sua obra levou seus trabalhos a
representar o Brasil na Bienal de Veneza, já em 1995. As duas histórias trazem casos excepcionais de pessoas que
passaram pelo internamento quando a estrutura médico-manicomial ainda estava fortemente presente no Brasil, mas
que, todavia, conseguiram receber algum reconhecimento social por meio da arte. No entanto, assim como eram
múltiplos os saberes psis que, até então, na instituição psiquiátrica, organizavam e ofereciam sentidos aos modos de
existir das pessoas sob a sua tutela, levantamos a hipótese de que a arte, enquanto campo discursivo, também
operaria de modos diversos e complexos, o que, a partir de sua introdução no meio em que era domínio privilegiado
da psiquiatria, pode ter culminado em novas formas heterogêneas de lidar e representar a loucura. Este trabalho traz
em seu título uma menção ao livro A louca e o santo, escrito pela filósofa Catherine Clement e pelo psicanalista Sudhir
Kakar, onde os autores realizam um estudo sobre dois personagens do final do século XIX que apresentaram sintomas
semelhantes, mas interpretados de modos particulares por viverem em culturas diferentes: Madeleine, uma paciente
do psiquiatra Pierre Janet, foi considerada louca e o místico bengali conhecido como Hamakrishna um santo.
Inspirados neste estudo, pretendemos verificar por meio do levantamento e análise de textos sobre a biografia e a
obra de Stela do Patrocínio e Arthur Bispo do Rosário se, neste contexto, existiram diferenças na forma de lidar com a
esquizofrenia, levando-se em consideração a Reforma Psiquiátrica e a apropriação da linguagem da loucura pela arte.
Ou seja, haveria diferenças nos discursos que circunscrevem a vida e a obra destes personagens? A princípio, a
valorização da estética presente na linguagem delirante de Stela do Patrocínio se contrapõe à visão da linguagem
como forma de organização do mundo presente na missão religiosa imposta a Arthur Bispo do Rosário, aproximando-
408
os momentaneamente do sentido dicotômico suscitado pelas palavras louca e santo (a consagração de Bispo do
Rosário veio com o rótulo de artista genial). Desta maneira, ao analisarmos textos sobre Stela do Patrocínio e Arthur
Bispo do Rosário, buscaremos compreender se haveria aqui outras diferenças de visões sobre a loucura.

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A presença da Psicologia na formação de pastores batistas (Rio de Janeiro, décadas de 1950-1990): uma análise
histórica
Autores: Filipe Degani Carneiro, UERJ/UNISUAM
E-mail dos autores: filipe.degani@gmail.com

Resumo: O presente trabalho consiste em uma investigação historiográfica sobre a constituição do investimento
evangélico pela Psicologia no Brasil – isto é, as mútuas apropriações entre o campo religioso evangélico/protestante e
a Psicologia que se expressam no número cada vez maior de profissionais e instituições que articulam estes discursos
acadêmico/profissional e religioso. Trata-se de fenômenos ainda insuficientemente analisados pela literatura
acadêmica, mas que podem ser verificado de diversas formas. De um lado, podemos observá-lo na vasta incorporação
de discursos e princípios teóricos dos saberes psi em literatura cristã voltada especialmente para autoajuda e para
aconselhamento psicológico sobre temas emocionais e relacionais (casamento, criação de filhos, sexualidade, além de
depressão, ansiedade e outras formas de sofrimento psíquico). De igual forma, verifica-se este investimento através
da utilização destas ferramentas psi em práticas eclesiásticas direcionadas ao aconselhamento sobre estes temas,
especialmente em grupos específicos (crianças, adolescentes, jovens, casais). Adicionalmente, observa-se ainda o
maciço interesse de líderes e fieis evangélicos em realizar o curso de Psicologia (fato que pode ser observado, por
exemplo, em qualquer turma de calouros em instituições públicas e privadas). Este interesse está voltado tanto para o
exercício profissional laico como, por vezes, para subsidiar ou capacitar seu engajamento em atividades religiosas –
como as descritas acima – e no próprio sacerdócio. Uma das faces mais visíveis desta articulação são as atividades de
ensino teológico, ministradas por seminários mantidos por igrejas evangélicas, em cujos currículos é comum encontrar
disciplinas de temáticas relativas à Psicologia da Religião, Aconselhamento Psicológico e Psicologia da Educação,
dentre outras. Entretanto, indagamo-nos sobre em que período e em quais condições históricas e culturais conteúdos
psicológicos começaram a circular nos currículos de formação teológica evangélica no Brasil. Desta forma, esta
pesquisa objetiva compreender os processos de apropriação do saber e prática psicológicos pelo campo evangélico no
Brasil dentre as décadas de 1950-1990, com ênfase no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB). A adoção
deste recorte temático se justifica porque os seminários evangélicos são centros de formação de líderes, além de
concentrarem em seus corpos docente e discente os segmentos do campo evangélico mais voltados ao estudo do
saber acadêmico e ao estabelecimento de diálogos com o saber teológico e à prática pastoral. Os métodos
empregados foram pesquisa bibliográfica, documental e entrevistas com ex-alunos/professores do STBSB. Tal pesquisa
se propõe à utilização da metodologia histórica como forma de compreensão do presente, de problemas de pesquisa
relevantes na contemporaneidade, qual seja os limites entre a apropriação de saberes psicológicos por contextos
religiosos. A vinculação com o GT História Social da Psicologia se justifica pelo enfoque adotado na pesquisa histórica
do campo religioso, qual seja a compreensão das práticas religiosas como produções históricas e culturais concretas.
Interessa-nos notadamente investigar de que formas, sob quais condições e com quais objetivos institucionais ocorreu
a apropriação da Psicologia no STBSB, bem como relacionar tais práticas com o cenário histórico do período,
notadamente com o contexto político-social brasileiro e com as transformações no campo evangélico. Dentre os
resultados identificados, localizamos a presença de disciplina de Aconselhamento Pastoral, já na década de 1950,
ministrada por Antônio Dutra Jr., um pastor batista que realizara formação psicanalítica na Inglaterra. Dutra integrou o
corpo de analistas didatas da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, criada em 1955. Outro personagem relevante
cuja atuação foi encontrada é José Novaes Paternostro (1916-1997), psicólogo com destacada atuação no campo da
psicotécnica e da psicologia aplicada ao trabalho, que foi membro da Academia Paulista de Psicologia. Paternostro era
um membro de uma igreja batista em São Paulo e realizou dentre as décadas de 1950-1970 a aplicação de testes
psicológicos para orientação vocacional e avaliação de personalidade nos candidatos ao ingresso no STBSB. Na década
de 1970, ocorreu no STBSB um investimento voltado à capacitação de seminaristas e pastores na utilização de
conhecimentos psicológicos em suas práticas pastorais: a criação da Clínica de Aconselhamento Psicológico, criada
pelos pastores batistas José Roberto Pereira de Britto e James Musgrave Jr., ambos com formação em psicologia
410
obtidas em seminários norte-americanos. Desta forma, é possível observar a multiplicidade de enfoques que teve a
apropriação dos saberes psi pelos batistas. Enfoques estes que são articulados com o contexto geral do saber
psicológico no Brasil ao longo do recorte temporal adotado: a inserção inicial da Psicologia em cadeiras/cátedras de
ensino superior; a psicotécnica e a hegemonia do modelo psicométrico nas décadas de 1940 a 1960; a substituição de
tal modelo pelo clínico psicoterápico, que se torna hegemônico a partir da década de 1970.

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A Psicologia Sócio-Histórica e o ciclo democrático-popular
Autores: Marianna Paula da Cruz Martins, UFG; Filipe Milagres Boechat, UFG
E-mail dos autores: mariannapcruz@gmail.com,filipeboechat@gmail.com

Resumo: O presente trabalho, que expõe os resultados parciais de uma pesquisa ainda em curso, examina a história
da psicologia sócio-histórica, variante brasileira de psicologia crítica desenvolvida a partir da década de 1970 nas
dependências do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Particularmente, examinamos sua trajetória no curso do ciclo democrático-popular. Buscamos compreender de
que maneira, e sob o peso de que condicionamentos sociais, políticos e econômicos, deu-se seu processo de
metamorfose ou, em termos gramscianos, seu transformismo. Esse processo de transformismo resultou em seu
progressivo afastamento do coração da teoria social marxista: a luta de classes e a perspectiva da revolução social.
Nesse sentido, damos prosseguimento à pesquisa realizada por Carvalho, que nos mostrou de maneira o giro
ideopolítico e o movimento de acomodamento da psicologia social da Escola de São Paulo aos estreitos limites da
ordem do capital estiveram marcados pela adesão de boa parte de seus intelectuais ao neomarxismo (Habermas e
Heller, em particular), às ideologias do fim do trabalho, do fim da luta de classes, do fim da história e da própria
ideologia. Conquanto Carvalho tenha demonstrado os fundamentos sociomateriais ou as condições histórico-objetivas
do surgimento do neomarxismo, em sua tese não se ocupou de investigar os fundamentos sociomateriais de sua
apropriação pela Escola de São Paulo de psicologia social. Afinal, cumpre notar que a incorporação do neomarxismo
pelos intelectuais da psicologia sócio-histórica deu-se em contexto inteiramente diferente daquele que o viu nascer na
Europa. Enquanto o neomarxismo foi o fruto ideológico do período de expansão econômica dos países centrais no
pós-guerra, sua apropriação deu-se, no Brasil, em tempos de neoliberalismo selvagem, com todos os impactos sociais
sobre a classe trabalhadora que tão bem conhecemos. A flexibilização das relações de trabalho, a desregulamentação
financeira e as privatizações, sob o mito liberal do Estado mínimo, distavam radicalmente das condições
sociomateriais de abundância que justificaram, na Europa do Welfare State, a difusão das ideias de Habermas e Heller.
Seja como for, fato é que, desse movimento de amoldamento, decorre a insistência da psicologia sócio-histórica na
limitada busca pela promoção de cidadania, expressa no lema do compromisso social, ainda mais limitada quando se
considera as particularidades da formação social brasileira. A ideologia do compromisso social circunscreve a
emancipação humana aos limites da emancipação política e, portanto, aos limites da ordem burguesa. Alicerçada
sobre os conceitos de cidadania, democracia, inclusão social, justiça social, participação social, solidariedade, insiste na
defesa da conquista e ampliação de direitos mediante a organização e o fortalecimento da sociedade civil,
compreendida num sentido marcadamente liberal, e na construção de políticas públicas e sociais não-assistencialistas,
como via privilegiada para a emancipação social. Seguindo Lacerda Jr., interrogamo-nos em que medida a
preocupação dessa psicologia com as políticas públicas e sociais não é expressão de interesses corporativistas (defesa
de mercado de trabalho) e resultado do processo de acomodamento de seu pensamento crítico ao clima ideológico
conservador instituído pela ofensiva neoliberal. O programa neoliberal, no território latino-americano, serviu para
acentuar as desigualdades, migrando a responsabilidade do Estado para o chamado terceiro setor. Lacerda Jr. e
Yamamoto mostraram-nos que as políticas sociais não respondem ao problema substancial instaurado da contradição
capital-trabalho, mas sim das refrações da chamada questão social, expressão da contradição capital-trabalho no
cotidiano da vida social. Considerando que a história da psicologia encontra-se intimamente ligada à luta de classes e
que as lutas nacionais não se desvinculam das lutas em âmbito internacional, o presente trabalho pretende relacionar
a transformação sofrida pela psicologia sócio-histórica às derrotas socialistas no Leste Europeu, à reestruturação
capitalista dos processos e relações de trabalho, ao advento do discurso pós-moderno e pós-estruturalista, com
especial atenção para seus impactos sobre o pensamento social e psicológico brasileiros. Sendo assim, nosso interesse
412
está em compreender a história concreta da psicologia sócio-histórica, no entendimento de que ela não aflora em um
vácuo social e ideopolítico, mas vinculada às lutas de classes dentro e fora de nosso país. Em nossa pesquisa, partimos
de uma concepção metodológica fundada na tradição marxista, o que implica entendermos o marxismo não como
uma doutrina, mas como uma teoria social composta, como assinalou Netto, por vertentes diferenciadas e alternativas
de uma já larga tradição teórico-política.

413
Análise sobre ações coletivas: contribuições e limites teóricos na produção científica da psicologia social brasileira
Autores: Lívia Barbosa Lima, UFAL; Amanda Layse de Oliveira Feitosa, UFAL; Frederico Alves Costa, UFAL
E-mail dos autores: liviaabarbosa@gmail.com,feitosa.lamanda@gmail.com,fredericoalvescosta@gmail.com

Resumo: Desde a emergência da pluralidade dos movimentos sociais, nos anos 60, e da emergência da crise da
psicologia social, nas décadas 70 e 80, a psicologia social brasileira tem construído análises, a partir de perspectivas
críticas, sobre diferentes relações de dominação presentes no país e sobre estratégias políticas de enfrentamento a
estas relações. Estas análises não concebem ciência e política como campos dicotômicos, visto que a produção do
conhecimento é articulada ético-politicamente a processos de democratização social.
A partir desta perspectiva crítica, este trabalho objetiva discutir o modo como pesquisadoras/es do campo da
psicologia social brasileira têm analisado o tema ação coletiva, focalizando-nos as teorias utilizadas por eles/as. Esta
discussão possibilita reflexões sobre contribuições e limitações destas teorias para a democratização da sociedade.
Este trabalho relaciona-se com o GT História Social da Psicologia e com o eixo temático Psicologia Social: questões
teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções porque busca problematizar a
produção do conhecimento em psicologia social no intuito de articular a análise desta produção com o debate sobre a
expansão da democracia. Partimos de uma concepção ontológica e epistemológica que entende a realidade como
construção social e a ciência como produtora de significações sobre a realidade, de modo que escolhas teóricas
realizadas pelos/as pesquisadores/as para a análise de temas políticos, mais especificamente neste trabalho sobre as
ações coletivas, encontram-se localizadas no interior da disputa pela delimitação da sociedade.
Este trabalho é fruto de uma pesquisa mais ampla, na qual construímos um mapeamento de pesquisadores/as
brasileiros/as que identificam a psicologia social como área de atuação e que investigam temas políticos. Entendemos
temas políticos como aqueles que estão relacionados com a manutenção de determinada ordem social e/ou a
construção de alternativas a essa ordem. Nesse sentido, referem-se a práticas, institucionais ou não, que visam
reproduzir ou desconstruir relações de dominação; a compreensões sobre essas relações por parte dos indivíduos; a
constituição dos indivíduos por discursos políticos (processos de subjetivação política).
A partir da leitura dos resumos de artigos sobre temas políticos publicados pelos/as pesquisadores/as mapeados/as,
construímos algumas categorias temáticas. Neste trabalho, focamos a categoria ação coletiva, que engloba produções
que se referem às dinâmicas dos movimentos sociais ou de outras formas de comportamento coletivo que visam
enfrentar ou reproduzir relações de dominação. Selecionamos artigos escritos em português e publicados entre 2003
e 2014. O ano de 2003 refere-se ao início do Governo Lula, a partir do qual se observou o aumento do estreitamento
da relação entre Estado e movimentos sociais. O ano de 2014 decorre de termos realizado o mapeamento neste ano.
Foram selecionados 13 artigos, que tratam sobre obstáculos, possibilidades e repercussões da participação em
diferentes movimentos sociais utilizando teorias distintas.
A partir da leitura dos artigos, construímos duas categorias analíticas que se referem a conceitos centrais utilizados nas
análises – gênero e identidade –, as quais orientam a discussão sobre contribuições e limitações das perspectivas
teóricas para a compreensão do processo de democratização social.
Na categoria analítica gênero, composta por artigos fundamentados nos estudos de gênero, observamos como
contribuição a compreensão do gênero como construção social. Noção que, ao descontruir argumentos essencialistas,
contribui para a transformação de relações de dominação. Como limitação, verificamos nas análises um foco na
distinção entre mulheres e homens, o que pode acabar por invisibilizar a pluralidade de posições de sujeitos no
interior destas duas categorias, contribuindo para a reprodução de essencializações que estes estudos pretendem
combater.
Na categoria analítica identidade, composta por artigos que se fundamentam em debates sobre a noção de identidade
a partir de proposições de Alain Touraine, Alberto Melucci, Chantal Mouffe, Félix Guatarri, Axel Honneth, uma das
contribuições é o reconhecimento da luta política como não restrita à esfera institucional e à luta de classes. A
compreensão dos elementos culturais como constitutivos das ações coletivas permite a construção de análises
414
psicossociais sobre processos de democratização, e assim, a busca pelo rompimento com a dicotomia entre agência e
estrutura. Há também limitações nas análises presentes nos artigos, podendo-nos destacar o debate entre o particular
(identidades/subjetividades) e o universal (articulação entre lutas particulares) como central no que tange a estas
limitações.
A discussão realizada permitiu refletir sobre modos de análise sobre as ações coletivas na psicologia social brasileira,
indicando a permanência de aspectos que ganharam visibilidade desde a emergência da crise da psicologia social –
relação entre ciência-política, agência-estrutura -, mas também a presença de limitações referentes às teorias
utilizadas, as quais, ao serem discutidas, auxiliam-nos a atentarmos para a importância de descontruir outras
dicotomias no campo da psicologia social como a entre particular e universal. Um último aspecto a se salientar é que,
diferente do que esperávamos, os artigos abordados não discutem diretamente impactos dos governos Lula e Dilma
nas análises sobre as ações coletivas.

415
Caminhos da Psicologia Clínica no Rio de Janeiro
Autores: Ana Maria Jacó Vilela, USP
E-mail dos autores: jaco.ana@gmail.com

Resumo: Considera-se que a psicologia, como campo de conhecimentos e de práticas denominadas científicas,
começou a se desenvolver no país no final do século XX. Isto ocorreu principalmente por meio da recepção de
trabalhos estrangeiros, notadamente da França, recepção esta realizada sobretudo pelos médicos, uma categoria
profissional que fazia parte da elite intelectual da época, juntamente com os advogados, os literatos, os jornalistas. Os
médicos começaram a falar de psicoterapia, muitas vezes associada à hipnose. No século XX, com a psiquiatria
estabelecida como especialidade médica, seus atores começam a utilizar testes psicológicos como ferramenta para o
diagnóstico diferencial no Hospicio Nacional de Alienados. O começo deste novo século é fértil nas propostas
higiênicas, voltadas para a população em geral, mas enfocando principalmente a criança. Foi com a atuação junto à
infância que a psicologia pode consolidar-se como um campo independente. Desta forma, a utilização dos testes nas
escolas primárias e secundárias, bem como o conhecimento sobre as características do processo de ensino e
aprendizagem e dos processos psicológicos do aluno permitiu que a psicologia se convertesse em base para a
educação nos anos de 1930. Da atuação com crianças nas escolas foi só um pequeno passo para começar a atuação
em clínica. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar a constituição da psicologia clínica no Rio de Janeiro desde os
anos de 1940 até o final do século XX. Considero que esta proposta se adequa ao GT História Social da Psicologia, visto
pretender narrar a trajetória de um campo profissional da Psicologia em conjunção com as condições sócio-políticas e
econômicas do país no período., utilizando-me para isto de conceitos próprios da história das ciências, como recepção,
apropriação, história policêntrica, história local. A metodologia utilizada é interpretativa, com utilização de fontes
documentais para o levantamento de instituições, publicações e personagens relevantes. Como resultados,
observamos que a prática clínica estava inicialmente em instituições públicas de saúde dedicadas à observação,
diagnóstico e tratamento de crianças com dificuldades na escola. Mas ao final da década de 1950 já era possível
encontrar uma prática em consultório particular, que vai se caracterizar como a forma de ser do psicólogo nas
décadas seguintes, período de ditadura militar e de forte ênfase na esfera privada. Apesar de receber muito
rapidamente o enfoque de Rogers, é a psicanálise que atrai os jovens profissionais, principalmente as grandes mestras
da psicanálise infantil. Ao final da ditadura militar nos anos de 1980, outros enfoques começam a ocupar seu espaço,
colocando em relevo as diferentes teorias humanistas, as terapias corporais e o lacanismo. Mais recentemente, as
terapias cognitivo-comportamentais também competem pelo espaço da clínica. Por outro lado, as práticas em
instituições de saúde (física ou mental) são comumente conhecidas como Psicologia da Saúde, e se tornaram um
grande campo de trabalho para o psicólogo desde o advento do SUS. Como conclusões, observa-se um forte
crescimento da psicologia clínica, que segue sendo a forma como o psicólogo está presente no imaginário social.
Observa-se que naquele campo denominado de Psicologia da Saúde, é comum encontrar psicólogos que o
transformam em sua clínica privada.
Financiamento: CNPq, Faperj, Uerj.

416
Intervenções construcionistas sociais na América Latina: caminhos de difusão e reflexões
Autores: Ana Flávia Nascimento Manfrim, UFU; Emerson Fernando Rasera, UFU
E-mail dos autores: ananmanfrim@gmail.com,emersonrasera@gmail.com

Resumo: Inserido em uma lógica pós-moderna de se pensar ciência e intervenção, o movimento construcionista social
está interessado na maneira pela qual as pessoas descrevem e explicam o mundo e a si mesmo, e como estes
discursos constroem a realidade social. A premissa básica do movimento se refere à ideia da construção social do
mundo, a partir dos acordos e coordenações de ações entre pessoas em relação social, e dentre os seus pressupostos
centrais se destacam: a) a especificidade cultural e histórica das formas de conhecermos o mundo; b) a ênfase nos
relacionamentos; c) a ênfase na linguagem e seu caráter performático; d) a interligação entre conhecimento e ação e
e) a valorização de uma postura crítica e reflexiva. Iniciado principalmente no campo epistemológico da psicologia
social, a partir de autores localizados principalmente nos Estados Unidos, Noruega, Inglaterra, dentre outros países
considerados hegemônicos e dominantes, ao longo dos anos esse discurso se expande para diversas áreas, dentre as
quais se destacam o campo organizacional, da psicoterapia e mais recentemente da educação. Além disso, à medida
que esse discurso se expande, atinge práticas e países diversos ao redor do mundo. Neste sentido, o presente trabalho
investiga como se apresenta o Construcionismo Social entre profissionais de países da América Latina. Assim, se insere
como um recorte sobre a difusão do construcionismo social nesta região e por um lado, busca dar visibilidade para a
produção de países mais periféricos. Por outro lado, se o construcionismo embora preveja uma ênfase na ação ainda é
criticado por seu engajamento majoritário no discurso, nosso trabalho busca investigar se nestes locais há uma prática
comprometida com a ação e transformação dos contextos nos quais está inserida. Para tanto, sua metodologia
consiste no mapeamento de quem são os profissionais e autores presentes nesta região orientados a este discurso e
como se caracteriza sua produção, a partir dos associados latino-americanos presentes no Taos Institute, comunidade
que reúne os construcionistas sociais. Ao todo nesta região somam 90 associados, representando os países: Argentina,
Bermuda, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Guatemala, Jamaica, México, Paraguay, Peru e Porto Rico. A partir da
identificação destes profissionais e da escolha de quais seriam analisados, tomando como critérios a presença de
produção sobre a prática e a atuação, a análise busca caracterizar suas trajetórias e temas trabalhados, analisar as
publicações e produções referentes às suas práticas e identificar particularidades dessa produção referente ao seu
contexto, investigando o lugar da América Latina nessas produções. Os resultados parciais da pesquisa mostram a
centralidade do Brasil, México, Colômbia e Argentina na presença de associados e produções; a importância de
grupos, associações e cursos/certificados nos intercâmbios entre países – como o caso da Rede de Diálogos Produtivos
e o Certificado Internacional em Práticas Colaborativas –; e a presença de temas como: questões de gênero, vítimas do
conflito armado, violência contra a mulher, juventude e conflitos, investigação generativa e criatividade em terapia,
parecendo haver uma sensibilidade à questões importantes nos países em que estão inseridos. Ao final deste trabalho,
espera-se que o diálogo entre prática e teoria aqui proposto possa gerar questionamentos importantes tanto para o
desenvolvimento do próprio construcionismo, quanto a partir de exemplos da própria prática gere reflexões que
retroalimentem o trabalho dos profissionais sensíveis a este discurso. Dessa forma, apresenta relação com o GT
História Social da Psicologia ao buscar ao mesmo tempo, realizar um entendimento de como esse discurso se expande
na área da Psicologia Social e afins, ao mesmo tempo que procura discutir a produção de conhecimento e de práticas
que estejam comprometidas com a realidade política e social desses locais, e do papel da psicologia nestes contextos.
Financiamento: CNPQ/FAPEMIG

417
Notas sobre a história da psicologia comunitária na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) na década de 1970
Autores: Julio Cesar Cruz Collares-da-Rocha, UCP
E-mail dos autores: juliopsicorocha@hotmail.com

Resumo: A psicologia comunitária no Brasil, apesar de possuir uma história relativamente recente, conseguiu ocupar
seu lugar não apenas na Academia, mas também em entidades profissionais, como a Associação Brasileira de
Psicologia Social (ABRAPSO) e a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), pela
criação de Grupo de Trabalho Psicologia Comunitária, em 1990. Nosso objetivo foi apresentar uma história da
psicologia comunitária na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na década de 1970. Iremos introduzir a criação do
Mestrado em Psicologia, que possuía uma área de concentração em psicologia comunitária e as atividades
desenvolvidas no Mestrado e na Graduação de Psicologia. Quanto ao método, trabalhamos com a história oral híbrida,
realizando entrevistas com Genaro Ieno Neto, que foi gravada e transcrita e, com Leoncio Camino, cuja a gravação não
foi autorizada, restando fazer anotações e analisando documentos diversos (relatórios, anais, artigos, capítulos de
livros, pautas de disciplinas, programas de disciplinas, dissertações etc). A partir de 1976, a psicologia comunitária
passou a ser ensinada no Mestrado de Psicologia da UFPB que tinha uma área de concentração de psicologia
comunitária e podemos reconhecer duas orientações no ensino da disciplina: (1) a orientação norte-americana,
voltada para pesquisa básica e saúde mental preventiva que era conduzida e ministrada por Maria Alice D Amorim; e
(2) a orientação latino-americana, voltada para a mudança social e baseada na educação popular que era conduzida e
ministrada por Dirceu Malheiro (egresso da Graduação de Psicologia da PUC-SP). Durante a visita à UFPB, realizamos
buscas nas bibliotecas e na sala da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social de dissertações e
documentos relativos ao Mestrado em Psicologia (planos de ensino e registros de presença). Encontramos na busca
um total de treze dissertações, sendo: seis em que figurava tratar-se de trabalho na área de concentração de
psicologia comunitária (duas delas constavam apenas no banco de dados da biblioteca); e sete dissertações em que
não foi informada a área de concentração. Quanto ao uso dado para a pesquisa na UFPB, a maioria das investigações
do Mestrado era utilizada para diagnosticar a realidade social, mas sem o objetivo de produzir intervenção, por tratar-
se de pesquisa básica, logo, era realizado levantamento de informações junto às populações de baixa renda, sem que
os resultados e análises produzidos oferecessem benefícios às comunidades informantes. Ainda assim, foram
realizados trabalhos comunitários junto a comunidades de trabalhadores rurais e trabalhadores da construção civil, e
estiveram envolvidos nestas atividades: Leoncio Camino, Genaro Ieno Neto, Vanderlei Amado e Dirceu Malheiro. A
participação deles aconteceu, tanto a partir da atuação na universidade, como em face da militância em movimentos
sociais. A criação do Mestrado em Psicologia da UFPB, em 1976, com a área de concentração de psicologia
comunitária foi a primeira vez que a psicologia comunitária ganhou destaque num Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, no Brasil. Apesar da tradição em psicologia comunitária na UFPB, o fechamento da área de concentração,
em 1980, pareceu ter interrompido a ascensão da área na instituição e a produção relacionada ao mestrado foi
resignificada como pertencente a outras áreas, como a psicologia social, psicologia política, psicologia dos movimentos
sociais e afins.
O conceito de Círculo de Vigotski e seus desdobramentos para uma nova historiagrafia da Psicologia Histórico-
Cultural Ana Carolina de Lima Bovo Gisele Toassa Universidade Federal de Goiás
Autores: Ana Carolina de Lima Bovo, UFG; Gisele Toassa, UFG
E-mail dos autores: caroll.bovo@gmail.com,gtoassa@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho em história das ciências foi realizado durante a iniciação científica, vinculado ao projeto
"O campo conceitual da síntese psíquica: análise teórica e gênese histórica na psicologia histórico-cultural". A pesquisa
foi realizada considerando o período de 1924 à 1941, em especial na tese Vygotsky Circle during the decade of 1931-
1941: Toward an integrative science of mind, brain, and education e no livro Vygotski revisitado: una historia critica de
su contexto y llegado de Anton Yasnitsky. Adota-se uma perspectiva crítica da produção de conhecimento em ciências
418
humanas como determinada social e historicamente. Nesse sentido, discutir o contexto histórico de produção do
conhecimento se torna uma tarefa fundamental. Essa empreitada tem sido levada à cabo em relação à psicologia
soviética, numa perspectiva revisionista da hagiografia hegemônica acerca da "Escola de Vigotski". Este movimento é
de extrema relevância considerando a influência desta perspectiva para a apropriação conceitual dos autores na
psicologia e na educação contemporânea. Assim, os estudos revisionistas da histo&#769;ria da psicologia vigotskiana
empreendidos atualmente se justificam com base em algumas constatac&#807;o&#771;es enumeradas por Yasnitsky,
como a subestimação da importa&#770;ncia do grupo de pesquisadores que trabalharam com Vigotski para o
desenvolvimento do pensamento do autor, e que parte de seu projeto foi desenvolvido por seus colaboradores
mesmo apo&#769;s a sua morte, fato pouco representado na literatura acade&#770;mica nacional. Diante da ideia
exposta, discutiu-se, nesta pesquisa, o conceito de Círculo de Vigotski em oposição a ideia de Escola contida em artigos
brasileiros, evidenciando as consequências desta apropriação no país. A pesquisa teve por objetivos, portanto,
pesquisar as relac&#807;o&#771;es de aproximac&#807;a&#771;o e distanciamento entre a produc&#807;a&#771;o
vigotskiana e o trabalho de colaboradores do Ci&#769;rculo de Vigotski no contexto histo&#769;rico da URSS. Além
disso, também investigou-se a estruturac&#807;a&#771;o do Ci&#769;rculo de Vigotski na psicologia científica entre
1924 e 1941 e a influência histórica e política na produc&#807;a&#771;o de conhecimento em psicologia na URSS até
1941. Como método, realizou-se um estudo bibliogra&#769;fico acerca do Círculo de Vigotski, na obra de Yasnitsky e
do contexto histo&#769;rico da URSS, além de uma revisão bibliogra&#769;fica em artigos do Google
Acade&#770;mico, com os descritores: Escola de Vigotski, Escola de Vygotsky, com mais de cinquenta citações ou em
consonância direta com o tema pesquisado. Conclui-se, com base nesses estudos, que o conceito de Círculo de
Vigotski, construído por Yasnitsky, sustentado pela noção de rede de pesquisadores, vem numa tentativa de
evidenciar essa dimensão dialógica, colaborativa e polifônica da pesquisa cintífica na psicologia soviética. Esse termo é
contrastado com a ideia de Escola de Vigotski, tendo por referência a troika Vigotski, Leontiev e Luria, que sugere uma
hierarquia na produc&#807;a&#771;o do conhecimento. Também, essa terminologia acentua a ideia de que haveria
uma continuidade direta entre os trabalhos de Vigotski e Leontiev, o que, para Martins, seria uma
concepc&#807;a&#771;o erro&#770;nea do trabalho desses autores, que tem um impacto fundamental na prática e
na pesquisa educacional. Desse modo, este trabalho soma-se a empreitada revisionista da perspectiva histórica da
psicologia na URSS, alegando que o processo de produção de conhecimento é socialmente determinado e
determinante, e que o conhecimento produzido por esses pesquisadores diz de sua própria prática de pesquisa,
enquanto um processo de formação de conceitos científicos.

419
O posicionamento político-ideológico de Eliezer Schneider e as articulações em Psicologia Social
Autores: Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos, UERJ; Ana Maria Jacó Vilela, USP
E-mail dos autores: allucham@yahoo.com.br,jaco.ana@gmail.com

Resumo: Eliezer Schneider (1916-1998) é um personagem reconhecido pela historiografia da Psicologia principalmente
por suas contribuições no âmbito da Psicologia Social. Um dos seus pressupostos era o de que os processos históricos,
culturais e políticos se configuram como elementos essenciais na constituição da prática psicológica. Diante disso,
tendo em vista que a proposta do GT História Social da Psicologia é discutir a produção do conhecimento em
Psicologia Social e suas articulações históricas e políticas, o objetivo deste texto é apresentar algumas considerações
acerca da repercussão e impacto do posicionamento ideológico de Eliezer Schneider em relação ao seu percurso
profissional no campo da Psicologia. Embora Schneider tenha se graduado em Direito em 1939, nunca exerceu a
profissão. Iniciou sua atuação na Psicologia em 1941 após ingressar no Instituto de Psicologia da antiga Universidade
do Brasil (atual UFRJ) através de um concurso para Técnico de Assuntos Educacionais, exercendo então o cargo de
psicologista. Dentre as instituições que trabalhou podemos destacar sua atuação no Instituto de Seleção e Orientação
Profissional (ISOP) e no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho. Ao longo de sua carreira contribuiu para a criação dos
primeiros cursos de Psicologia no Rio de Janeiro na década de 1960, lecionando em diversas Universidades, dentre
elas a UFRJ, a UERJ e a Universidade Gama Filho. Sua curiosidade inicial pela Psicologia era de cunho teórico, pois
queria compreender o que chamavam de natureza humana. Neste campo unia a disposição para a Psicologia Social e
para a Psicologia Jurídica, pois considerava que poderia refletir sobre a criminalidade e a personalidade criminosa ao
estudar como a estrutura social e os determinantes econômicos, sociais e políticos interferiam no comportamento
humano. No Brasil, foi um dos primeiros a realizar uma formação acadêmica em Psicologia, tendo defendido o
mestrado em Psicologia em 1947 na Universidade de Iowa nos Estados Unidos. Pretendia continuar sua formação
fazendo doutorado nesta mesma universidade. Entretanto, em tempos de macarthismo na década de 1950, foi
impedido de ingressar nos Estados Unidos em função da sua ligação com os ideais comunistas na juventude. Sua
militância também trouxe outras dificuldades na época da ditatura: ao se inscrever para um concurso de Professor
Adjunto na Universidade Federal Fluminense lhe foi exigido o atestado de ideologia do DOPS. Entretanto, tal
documento só foi entrege a Schneider após o encerramento das inscrições. Nos Arquivos da Polícia Política há
documentos processuais referentes a absolvição de Schneider que era suspeito de realizar atividades de caráter
subversivo. Dentre estes documentos consta um artigo que escreveu para o Correio da Manhã (RJ) em 1939 com o
título de Sciencia e Dogma. Neste texto, Schneider faz críticas ao marxismo, socialismo e comunismo, concluindo que
para a ciência os fenômenos socias não tinham mais um caráter de depedência e sim de interdependência, sendo
dogmático aceitar a sobrevivência total do marxismo. Em seu livro Psicologia Social – histórica, cultural, política (1978),
Schneider já esboça no título a importância desta tríade de conjunções para o entendimento e articulação dos
processos macro e microssociais. Entende também que, neste contexto, o psicólogo é um elemento substancial para o
desenvolvimento social do país. Para ele, sua obra tinha como pretensão explicar os eventos e processos
macrossociais analisando o comportamento humano na interação com o social e o ambiente sócio-político-econômico.
Considerava que as constâncias e mudanças históricas são reveladoras, e desse modo a ciência psicológica deveria
lançar mão da compreensão das tensões sociais que delineavam o comportamento político e ideológico. Da mesma
forma, afirmava que por meio da história é possível constatar que o macroambiente político, social e cultural
influencia diretamente no microambiente e no comportamento humano. Em um artigo publicado originalmente em
1980 no Jornal do Brasil, em um período em que o país ainda estava sob o regime militar e enfrentava uma grave crise
econômica, Schneider discorre sobre o quanto os grupos minoritários são afetados num período de turbulência
política. Para ele, nas campanhas políticas e ideológicas dos sistemas autoritários havia uma metodologia difamatória
que, por meio da manipulação da massa, entorpecia capacidade humana de raciocinar, questionar e de duvidar.
Diante disso, o papel do cientista social, do cientista político e do psicólogo seria o de desmistificar os dogmas e
ideologias dominantes. Na perspectiva de Schneider o psicólogo deveria se valer também da História, atuando como
420
um psico-historiador a fim de desvendar o comportamento humano e transformar os corpos inertes em pessoas
capazes de operar com senso crítico e transformador na sociedade. Podemos concluir que embora Schneider tenha
abandonado sua militância política, sua convicção de que a Psicologia Social não deveria se desvincular da Psicologia
Política esteve presente em parte de sua produção. Além disso, sua militância na Juventude Comunista teve impacto
nos desdobramentos da sua carreira profissional.

421
O projeto construcionista social na obra de Keneth Gergen: Da crítica à construção de alternativas para o fazer
científico
Autores: Ederglenn Nobre Vieira Júnior, UFU; Emerson Fernando Rasera, UFU
E-mail dos autores: nobrevieira@hotmail.com,emersonrasera@gmail.com

Resumo: As últimas décadas foram palco de importantes transformações no modo de se compreender a ciência.
Diversos autores e movimentos intelectuais têm contribuído para mostrar como a história, o social e a cultura são
importantes para a constituição e desenvolvimento das práticas científicas, principalmente ao problematizarem a
organização das comunidades de cientistas, seus relacionamentos internos e com o mundo não acadêmico. Essas
mudanças têm influenciado grande parte da Psicologia impulsionado alguns de seus autores e pesquisadores a cada
vez mais questionar os seus limites, funcionamento e potencialidades. O americano Kenneth Jay Gergen ocupa um
lugar de destaque entre aqueles que, suspeitando das bases que historicamente sustentaram a Psicologia Social como
ciência, passaram a buscar por alternativas para o seu fazer científico. Nas últimas quatro décadas, suas obras
ajudaram a liderar debates que colaboraram para reorientar as teorias e as práticas de pesquisa no interior da
disciplina, inspirando um número cada vez maior de pesquisadores e profissionais a desafiarem os limites pré-
estabelecidos de suas atividades e campos de estudo. Gergen também tem sido identificado como um dos principais
articuladores de um discurso construcionista social na Psicologia, sustentando uma perspectiva social do processo de
produção de conhecimento. Apesar da importância de Gergen para essas transformações, existe certa escassez de
estudos na literatura sobre suas propostas teóricas e o desenvolvimento de seu pensamento ao longo de sua obra,
sobretudo no contexto brasileiro. Nesse sentido, faz-se necessária uma investigação sistemática sobre essa crítica e
sobre a proposta científica construída pelo autor ao longo de sua obra. Uma tarefa nessa direção poderá contribuir
não só para fomentar a constante análise do funcionamento da Psicologia Social, como ampliar os entendimentos
sobre o lugar ocupado pela obra do autor, suas possibilidades e limites. Desse modo, nesse trabalho propomos uma
investigação cujo objetivo geral é analisar o discurso sobre a ciência na obra de Gergen, e buscamos, especificamente,
compreender a crítica à ciência aí construída, identificando as diferentes propostas para a ciência psicológica
desenvolvidas pelo autor. Para a realização dessa tarefa, nos orientamos por uma perspectiva qualitativa de se
produzir conhecimento, sustentada pela epistemologia construcionista social. A epistemologia construcionista
colabora com a pesquisa qualitativa no sentido de reafirmar a crítica à tradição positivista e ao redimensionamento de
critérios como de objetividade, rigor metodológico e, sobretudo, do modo de se compreender o processo de produção
do conhecimento. Metodologicamente, essa pesquisa se baseia na noção de crítica interna proposta pelo próprio
Gergen, que se organiza a partir da avaliação e reflexão das descrições e práticas propostas, buscando, por meio de
uma postura de desconstrução, tornar explícito seu caráter construído. Nessa proposta, o pesquisador se volta para
um conjunto de textos específicos, colocando-se atento às metáforas, construções narrativas e processos por meio
dos quais os conceitos que sustentam o conhecimento produzido foram sendo desenvolvidos. Para a análise,
priorizou-se a escolha de livros e artigos publicados por Gergen que se voltam para a construção do projeto
construcionista social, e, consequentemente, para a produção da crítica sobre o caráter da investigação psicológica, da
natureza da ciência em geral e do projeto científico que foi sendo constituído a partir daí. A realização do estudo
possibilitou identificar a centralidade e importância da proposta do construcionismo social para o autor, permitindo-
nos, inclusive, a identificação de algumas das características de seus antecedentes e também os desenvolvimentos
posteriores. Entre os antecedentes identificamos um período no qual Gergen se posicionou criticamente frente à
epistemologia empírico-positivista, desafiando as metodologias experimentais que dominavam a Psicologia Social
americana. A proposta do construcionismo social apresenta um divisor de águas na obra do autor, ao apontar para a
possibilidade de reconstrução das bases sobre as quais a disciplina se pavimentava. As obras mais recentes, por sua
vez, serviram para delinear o caminho em direção a construção de uma ciência social performática, representando,
inclusive, certa falta de interesse do autor em oferecer uma gama específica de ideias teóricas a partir das quais a
realidade social possa ser investigada, mas, marcadas por uma notável excitação em relação às consequências de uma
422
orientação artística para essas práticas científicas. A investigação aponta ainda para o fato das obras não
apresentarem grandes rupturas teóricas entre si, sugerindo a noção de um grande projeto de ciência que vem sendo
construído e lapidado ao longo do tempo pelo o autor, caracteristicamente marcado por uma lógica que acompanha o
formato: análise crítica, oposição e proposição. Diante dessas reflexões torna-se inegável a importância de Gergen
para a história da Psicologia Social, bem como para a própria construção de uma noção de ciência psicológica. Espera-
se que esses resultados da pesquisa possam fomentar o debate nesse campo convidando a novas investigações sobre
os modos de se fazer e pesquisar a história da disciplina.
Financiamento: CNPQ/FAPEMIG

423
Práticas comunitárias em uma comunidade quilombola
Autores: Lurdes Perez Oberg, UFF; Ana Luiza Garcez Guimarães Anacleto, UFF; Beatriz Corsino Pérez, UFF; Marcello
Alves da Silva Aguilera, UFF
E-mail dos autores: lurdes.oberg@gmail.com, biacorsino@gmail.com, marcelloaguilera_9510@hotmail.com,
analuiza_soudecristo@hotmail.com

Resumo: Na sociedade brasileira atual presenciamos um contexto de redução dos direitos no âmbito geral do
cotidiano da população, atingindo, de forma mais impetuosa, as comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas,
ribeirinhas, entre outras). Considerando o território de abrangência da cidade de Campos dos Goytacazes, a inserção
deste projeto na comunidade quilombola de Cafuringa pode promover a valorização e o acesso às políticas públicas
desta população, reconhecendo as especificidades de gênero, de geração, de raça/cor, de etnia e de orientação
sexual, conforme preconiza a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta. Nossa
aproximação com a comunidade partiu da sinalização da Comissão da Pastoral da Terra (CPT) da urgência de uma
intervenção em psicologia comunitária em Cafuringa. Buscamos, neste estudo, conhecer modos de vida que resistem à
lógica do capitalismo globalizado. Porém, conforme discutido na Psicologia da Libertação de Martin-Baró, o fatalismo
é, então, pregnante nas comunidades quilombolas locais, garantindo a reprodução da dominação social. A escolha
deste referencial teórico é pertinente para o rompimento de posturas fatalistas inseridas em formas de subjetividades
oprimidas por poderes dominantes. Enfatizam-se redes de solidariedade entre os seus pares no território e aposta-se
na valorização de práticas tradicionais, bem como no reconhecimento da dimensão subjetiva, coletiva e social destas
práticas. O objetivo geral desta pesquisa é refletir sobre as condições de emergência das práticas comunitárias,
visando contribuir para uma história social da psicologia. Uma história que tem como propósito problematizar a
historiografia da psicologia, considerando que esta deve ser epistemológica e metodologicamente situada. A
articulação entre produção de subjetividade e processos sociais, históricos e políticos é fundamental para a construção
de práticas profissionais que rompam com posições psicologizantes e/ou patologizantes no seu contexto de atuação.
Destacamos os seguintes objetivos específicos: valorizar a expressão dos saberes psicossociais, realizar pesquisa
histórica sobre os quilombolas da região, fazer análise socioespacial e demográfica, e confeccionar verbetes sobre
pessoas assassinadas em conflitos com a terra. O estudo socioespacial e demográfico será realizado com a
participação da população local na elaboração e na aplicação dos questionários, estando prevista a construção de um
mapa com os marcadores territoriais e de uma árvore genealógica da comunidade. Dessa forma, os moradores deixam
de ser apenas objeto da pesquisa e passam a ser também pesquisadores do lugar onde vivem, considerando os
cuidados ético-políticos. A metodologia trabalhada também envolverá outros atores sociais nas intervenções poéticas,
rodas de conversa e entrevistas semiestruturadas. Os resultados, até o presente, sinalizam uma dificuldade de
inserção do grupo de pesquisa na comunidade, a referência predominante dos valores urbanos na vida dos
moradores, a favelização e a evangelização do campo e a patologização das atividades culturais. Conclui-se que os
retrocessos constatados neste cenário confirmam a urgência de práticas que reconheçam o processo histórico das
comunidades quilombolas e possam relacioná-lo à construção da subjetividade individual e coletiva dos sujeitos. A
parceria da Comissão da Pastoral da Terra com a universidade é primordial para o fortalecimento de sujeitos políticos,
contribuindo para uma história local construída a partir da ótica dos próprios moradores.

424
GT 20 | Identidade

Coordenadores: Aluísio Ferreira de Lima, UFC | Antonio da Costa Ciampa, PUC-SP |Juracy Armando Mariano de
Almeida, Núcleo Mogi das Cruzes da ABRAPSO

Relação do GT Identidade com o tema do encontro e o eixo – Políticas públicas, direitos sociais e práticas de
emancipação em contextos neoliberais
A identidade tem sido o mais urgente e, ao mesmo tempo, o mais disputado, tema da literatura e das ciências
humanas e há quase quatro décadas, tem sido o foco central no debate psicanalítico, pós-estruturalista e do
materialismo histórico, principalmente para os estudos que envolveram a questão pós-colonial, os estudos étnicos,
feministas e teoria queer. Para o campo da Psicologia Social, a identidade, assim como Self, é uma categoria central
tanto para a tradição psicológica quanto para a tradição sociológica. Na tradição psicológica, até os anos de 1960, o
conceito de self era quase inexistente ou tornado invisível pela Psicologia Social mainstream, dominada pelo método
experimental e perspectivas comportamentais. Nessa tradição, o fenômeno do self era considerado muito subjetivo,
inacessível e irrelevante para a Psicologia Social experimental, sobretudo até a crise de relevância (conhecida como
também como crise da Psicologia Social), nos anos de 1960. Período em que o interesse teórico e empírico nos
p o essosàdeà o st uç oàdaàide tidadeà esulta a à aàp olife aç oàdeà o asà teo iasàdeàself àeàp og a asàdeàpes uisa.
Na tradição sociológica, o interesse pelos estudos da identidade e do self foram associados, em geral, ao
interacionismo simbólico. Os escritos de George Herbert Mead, Charles Cooley e William James, focaram na
importância das interações sociais, na comunicação e na relação intrínseca entre self e sociedade e impulsionaram a
adoção das posturas pós-positivistas do interacionismo simbólico, a teoria dos papéis, labeling theory, situated
identity theory etc. E ambas as tradições, as primeiras produções foram extremamente criticadas, uma vez que uso de
concepções sociais e culturais de identidade como base para as ações políticas eram extremamente incoerentes e
problemáticas. E, não por acaso, muitos pesquisadores e militantes de movimentos sociais se voltaram para a
deslegitimização e em alguns casos eliminação de concepções ontológicas, essencialistas e cristalizadas.
No Brasil, os primeiros estudos focavam na descrição da identidade pessoal e coletiva ideal para o povo brasileiro,
indicando e receitando formas de administração das massas consideradas perigosas e criminosas. De forma exemplar,
os trabalhos de Nina Rodrigues e Arthur Ramos, entre os anos de 1886 a 1956, acerca do desenvolvimento da
identidade e sua relação com a sociedade rapidamente se tornaram referências para o direito e para a medicina social,
justificando e fortalecendo a implementação do eugenismo, do alienismo e do higienismo no Brasil. A preocupação
com o desenvolvimento de uma identidade adaptada e ajustada à ordem social vigente fez com que Aroldo Rodrigues
desenvolvesse leituras das expressões identitárias não convencionais, movimentos coletivos e problemas sociais que
hoje são facilmente percebidas como preconceituosas e excludentes. Arthur Ramos, por sua vez, não mediu esforços
para que as teorias da Psicologia Social fossem aplicadas politicamente como referência na construção de
instrumentos pedagógicos capazes de prevenir condutas que poderiam ir contra as normas sociais. Essa forma de
produção científica somente passou a ser questionada a partir das transformações paradigmáticas advindas da crise
que as ciências humanas sofreram em meados dos anos 1960 e durante os anos de 1970. Tais tranformações
culminaram na assunção de uma postura crítica frente ao positivismo científico, ao isolacionismo e ao atomismo
etodol gi oà dasà i iasà eà fi a a à o he idasà o oà iseà daà Psi ologiaà “o ial ,à ujaà e p ess oà u dialà esta aà
relacionada diretamente à crítica da crescente transformação do teórico em tecnólogo, que havia perdido a
capacidade de envolver sua produção científica em um contexto globalizado. Nesse sentido, categorias como:
identidade nacional, personalidade, papel, identidade coletiva e identidade social, tão presentes nos textos utilizados
como referência no Brasil, também foram entendidas como problemáticas para descrever as diferentes formas de
expressão da identidade e políticas de reconhecimento dos brasileiros.
Assim, o tema da Identidade tem atraído ao longo dos últimos anos a atenção de um sem número de pesquisadores
nacionais e internacionais, provocando a realização de inúmeros estudos voltados para as suas interconexões com
questões que afetam a existência de indivíduos e grupos e a superação de situações de injustiça, dominação e
alienação presentes na realidade social, enfocando principalmente o reconhecimento de identidades e de direitos, e
enfocando processos de dominação de sujeitos e grupos. as coordenadas de pesquisa sejam reorientadas e passem a
considerar que o estudo das identidades devem seguir uma lógica negativa, ou seja: a) estudar identidade deve ser
mais do que uma descrição de características identificatórias, não sendo suficiente compreender só a história de um
indivíduo ou de um grupo, sendo necessário apreender a não-identidade; b) estudar identidade é analisar os processos
de individuação-socialização e/ou alienação-emancipação, buscando compreender a sociedade e a política em que o
425
indivíduo está inserido; c) estudar identidade é identificar como ocorrem os modos de reconhecimentos dos
indivíduos submetidos às (bio)políticas de identidades; d) estudar identidade é procurar nas narrativas a expressão de
fragmentos de resistência, de emancipação. A tensão existente entre as políticas de identidade e as identidades
políticas tem se apresentado como um proble aàpa aàaào ga izaç oàdeàu à eu àf e teàaàu aà ealidadeàe à ueàasà
identidades não;o podem mais contar com parâmetros universais, rígidos ou imutáveis, mas que, ao contrário, devem
se organizar frente a polissemia de significados, choques de temporalidades, virtualidades e tradições. Do mesmo
modo, as formas de vida presentes na esfera pública tem evidenciado cada vez mais a dificuldade de reconhecimento
em um mundo de desigualdades materiais extremas; onde problemas de exceção como renda e propriedade, trabalho
assalariado, educação, saúde etc., assim como o consumo de drogas lícitas e ilícitas, produtos transgênicos, poluição
ambiental, epidemias e mortalidade, se tornaram a regra geral e estrutural de nossa sociedade.
Essa perspectiva crítica dos estudos de Identidade adotada pelo GT se dedica: a) ao estudo de personagens situados
histórica e socialmente, b) à análise de processos de construção e mudança de identidades pessoais e coletivas, c) aos
aspectos regulatórios e emancipatórios presentes na realidade social e suas interconexões com políticas de
identidade. Essas investigações suscitam um repertório rico de pesquisa empírica que justificam por si só a formação
do Grupo Temático Identidade, uma vez que além de serem congruentes com o eixo temático escolhido e com o tema
central do Encontro.
Diante do exposto e reconhecendo a importância de se discutir essas produções nos espaços da ABRAPSO propomos
com o GT a constituição de um lugar destinado a apresentação e a discussão de pesquisas sobre a questão da
identidade e suas contribuições para a compreensão dos problemas contemporâneos ligados Políticas públicas,
direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais contando para tanto com a participação de
pesquisadores de diferentes instituições (nacionais e estrangeiras) e regiões, com suas diferentes perspectivas teórico-
metodológicas.
Objetivos
Congregar estudiosos interessados em a) pesquisar o tema da Identidade, b) analisar as interconexões dos estudos de
Identidade com os problemas da realidade social, enfatizando as questões das Práticas Sociais, das Políticas Públicas e
dos Direitos Humanos, d) promover os estudos de Identidade em suas respectivas áreas de atuação e, e) promover o
intercâmbio entre pesquisadores e interessados na área estabelecendo as bases para o desenvolvimento de futuros
trabalhos conjuntos.
Tipos de trabalhos que serão acolhidos e discussões a serem promovidas pelo GT Identidade
Interessam-nos no GT Identidade as investigações relacionadas a questão da identidade de indivíduos, grupos e
instituições. Isso significa que acolheremos propostas de pesquisa de identidade que estejam voltadas para a
compreensão dos problemas contemporâneos ligados as Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação
em contextos neoliberais. Além dessas, também acolheremos pesquisas que tenham refletido acerca das
consequências de nossas investigações para a produção de políticas de identidade (muitas vezes segregadoras e
excludentes) na contemporaneidade. Entre as diferentes questões e discussões que pretendemos promover no GT
estão: a) Como têm ocorrido os processos de socialização e individuação de diferentes sujeitos em nossa sociedade?
b) Como o discurso neoliberal tem influenciado os processos de socialização e individuação das identidades? c) Quais
as contribuições das pesquisas de identidade para Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em
contextos neoliberais d) Existem contribuições significativas, intervenções potencializadoras da alteridade e
inspiradoras de novas formas de reconhecimento, capazes de criar um horizonte emancipatório?

426
(Bio)políticas de reconhecimento: problemáticas às lutas identitárias
Autores: Vinicius Furlan, UFU
E-mail dos autores: vinicius_baum@hotmail.com

Resumo: Esta comunicação está alinhada a nosso projeto de doutoramento, o qual emerge desde o mestrado e tem se
desdobrado na atual pesquisa. Neste sentido, pretendemos apresentar as problemáticas e preocupações que
orientam a pesquisa e discuti-las coletivamente.
A problemática central da política de nosso tempo, afirma Safatle (2016), se aloca em como construir estruturas
institucionais universalizantes capazes de dar conta de exigências de reconhecimento de sujeitos não-substanciais que
tendem a se manifestar como pura potência disruptiva e negativa? (s. p.).
Esta problemática tem sido preocupação de autores alinhados a filosofia do reconhecimento, como Taylor (1993),
Honneth (2003) e Fraser (2006), ao demarcarem que na sociedade contemporânea o reconhecimento passa a tornar-
se indispensável na esfera política, tendo de ser institucionalizado na dimensão do direito e da política pública, na
medida em que os déficits de reconhecimento implicam formas de desrespeito, rebaixamento e injustiça.
Não obstante a isso, nos alerta Agamben (2007) que contrariamente ao processo que leva ao reconhecimento dos
direitos e das liberdades formais está ainda o corpo do homem sacro, com sua vida insacrificável, porém, matável.
Deste modo, em que pese o reconhecimento tenha se tornado indispensável no cenário social de nosso tempo,
enquanto problema político ele também pode operar como um dispositivo da biopolítica (compreendida na
perspectiva de Agamben, 2007), conformando, portanto, (bio)políticas de reconhecimento.
Podemos ver, por exemplo, o reconhecimento operando enquanto um dispositivo biopolítico no trabalho de Lima
(2010), na medida em que ele se dá de modo perverso, enquanto forma de administração identitária, fazendo com
que os indivíduos fiquem aprisionados a personagens fetichizadas, e, por conseguinte, ao mundo da mesmice.
O reconhecimento, em sua dimensão perversa (LIMA, 2010), deste modo, pode conformar-se como um dispositivo da
biopolítica quando cooptam as diferenças de sujeitos não substanciais na tentativa de administração identitária
(SOUZA, 2012), buscando reduzir o sentido anamórfico das identidades (ALMEIDA, 2005), isto é, sua potência
emancipatória.
Assim, nas sociedades transculturais de nosso tempo, na medida em que emergem diferentes identidades coletivas
em lutas por reconhecimento de suas diferenças identitárias, ao não se reconhecerem e se enquadrarem aos quadros
normativos e pedagógicos de homem, precisam lidar com a problemática do reconhecimento perverso enquanto
representantes de suas novas formas de ser no mundo.
Nesta esteira, uma vez em que negam e rompem com os quadros normativos e pedagógicos do homem e não se
reconhecem em natureza e determinações substanciais, o processo de metamorfose (Ciampa, 2009), que comportou
sentido emancipatório da identidade (Ciampa, 1997), enquanto potência anamórfica (Almeida, 2005), pode ser
cooptado pela lógica das (bio)políticas de reconhecimento na tentativa de regulação e controle das identidades,
portanto, das lutas identitárias, e, como critica Safatle (2016), o reconhecimento perde sua real potência - que impele
a metamorfose -, e seu significante se confunde a recognição.
Assim, as lutas identitárias tem de lidar com tal ambiguidade do reconhecimento: quando se coloca como paralaxe ou
como perverso. Enquanto potência paralática, inscreve-se em seus diferentes aspectos - amor, direito e solidariedade
como possibilidade de impulsionar os indivíduos numa luta pela construção de sua autonomia e reconhecimento de
suas diferenças. Em sua dimensão perversa, o reconhecimento opera como ponto nodal operandis da biopolítica,
implicando na busca pela captura da anamorfose e seu aprisionamento a políticas identitárias e personagens
fetichizadas.

427
A identidade e o gênero no campo da psicologia: diálogos e abstenções
Autores: Brenda Fischer Sarcinelli Pacheco, UFRJ; Hebe Signorini Gonçalves, UFRJ
E-mail dos autores: brendafspacheco@outlook.com,hebe@globo.com

Resumo: Este texto é um recorte de pesquisa de doutorado em psicologia sobre as relações teóricas, metodológicas e
práticas do avanço dos estudos no campo de gênero sobre o conceito de identidade em psicologia. Trazendo uma
leitura crítica pautada na psicologia social e no feminismo interseccional, apresentaremos o resultado parcial da
análise do levantamento bibliográfico realizado para o desenvolvimento da pesquisa. Utilizando os indexadores
identidade, gênero e psicologia, nas bases SCIELO e PEPSIC, no período de 2012 a 2016, foram levantados 32 artigos
que foram postos em análise. O encontro dos estudos sobre a identidade e o campo de gênero conforme desenvolvido
pelo feminismo é destacado por Stuart Hall, que afirma que o feminismo faz parte dos grupos que emergiram na
segunda metade do século passado, estando relacionados entre si a partir dos eventos ocorridos no ano de 1968.
Segundo o autor, o feminismo apelava para a identidade social de seus sustentadores, o que permitiu a emergência do
que ficou conhecido como política de identidade. Mais diretamente que os outros movimentos, o feminismo
contribuiu para o descentramento do sujeito por questionar a distinção entre privado e público, o que ficou
evidenciado pelo slogan do movimento: O pessoal é político. O feminismo trouxe para a arena de discussão política
questões tidas até então como privadas, como família e sexualidade. Hall (2005) reconhece a influência do feminismo
na discussão política e social sobre o tema da forma como somos formados e produzidos como sujeitos generificados,
politizando a subjetividade, a identidade e o processo de identificação. "Aquilo que começou como um movimento
dirigido à contestação da posição social das mulheres expandiu-se para incluir a formação das identidades sexuais e de
gênero" (Hall, S. 2005:45-46). Entendemos que o gênero um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas
diferenças percebidas entre os sexos (SCOTT, 1995: 86). Além disso, o gênero é uma forma primária de dar
significado às relações de poder (SCOTT, 1995: 86). Para Judith Butler (2012), o gênero seria a estilização repetida do
corpo, um conjunto de atos repetidos no interior de uma estrutura reguladora altamente rígida, a qual se cristaliza no
tempo para produzir a aparência de uma substância, de uma classe natural de ser (BUTLER, 2012: 59). A esta
repetição de atos que produzem a ilusão de uma substância para o gênero, a autora refere-se como a característica
performativa do gênero, que tem uma determinada expressão e manifestação, sendo que sua aparência se confunde
com o signo de sua verdade inerente. A identidade de gênero poderia ser então apreendida como um modo de
produção de subjetividade que engendra sujeitos masculinos ou femininos dentro da lógica heteronormativa e binária
de nossa sociedade. Ser sujeito é estar submisso ao outro pelo controle e pela dependência (FOUCAULT, 2014,
p.123), ao mesmo tempo que é estar ligado à sua própria identidade pela consciência ou pelo conhecimento de si
(Ibidem). Ser sujeito implica posicionar-se diante dos demais e poder reconhecer-se dentro de um certo espectro de
possibilidades socialmente construído, naquilo que Foucault denominou dispositivo da sexualidade. A sexualidade, a
relação entre sexo, gênero e desejo, que faz parte desse dispositivo, produz sujeitos e os distribui hierarquicamente
criando espaços de inteligibilidade e precarização das vidas, sempre em relação ao modelo exemplar heteronormativo.
Entendida como performatividade a identidade de gênero não é estática, mas constrói-se no seu exercício cotidiano,
reforçando ou desestabilizando o campo do gênero e as relações de poder que sustentam o ordenamento social. O
trabalho de leitura e análise dos artigos levantados trouxe como primeira questão a ausência de diálogo entre os
campos de estudo da identidade e as produções teóricas do campo de gênero. A identidade profissional, a identidade
nacional, a identidade na clínica psicológica, estudos teóricos sobre a identidade e a identidade como possível
produtora de campos de exclusão social foram temas relavantes na amostra. Todavia, os únicos textos que
propunham o diálogo entre os campos de gênero e dos estudos da identidades eram os que discutiam questões
relacionadas com as identidades LGBTT. As políticas de gênero estão diretamente relacionadas com os campos de
inteligibidade e os processos de precarização da vida. Para a psicologia, dialogar com a produção ativista e teórica dos
feminismos e outros movimentos sociais que adotam plataformas identitárias de reivindicação política permite

428
questionar onde nossa produção acadêmica e teórica reifica lugares de exclusão e propicia força para movimentos
emancipatórios e de reconhecimento e garantia de direitos.
Referências
BUTLER, J. Problemas de Gênero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
FOUCAULT, M. O Sujeito e o Poder (1982). In: MOTTA, M, B, da (org.) Ditos e Escritos, Vol. IX: genealogia da ética,
subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro. Forense Universitária, 2014.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, DP&A Editora, 2005.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Educação e Realidade, v.20(2):71-99, 1995.

429
Das (im)possibilidades da juventude no Brasil contemporâneo
Autores: Juliana Cavicchioli de Souza, UNESP-Rio Claro; Caroline Polido, UNESP-Rio Claro; Débora Cristina Fonseca,
UNESP; Vanessa Petermann Bonatto, UNESP-Rio Claro
E-mail dos autores: juliana.cavicchioli@uol.com.br, vanessapbonatto@hotmail.com, caroline_poli@hotmail.com,
dcfon10@gmail.com

Resumo: Este trabalho objetiva refletir acerca das concepções de adolescência contidas nas políticas públicas
brasileiras e suas consequências para os processos de constituição da identidade do jovem, em especial da juventude
historicamente situada às margens da sociedade. Propõe questionamentos sobre as políticas públicas como
instrumentos facilitadores das condições reais dos jovens brasileiros no percurso desafiador de virem a ser adultos.
Trata-se de uma discussão teórico conceitual, fundamentada na perspectiva sócio histórica de Vigotski, que define que
a partir dos processos de objetivação, ou seja, de produção e reprodução da cultura humana, bem como dos
processos de apropriação da mesma, o homem vai transformando o mundo e sendo transformado por ele
simultaneamente em uma relação dialética. À partir daí, a adolescência é considerada enquanto conceito
historicamente construído,conforme discutido por Ozella (2008).Desta forma, não basta discutir o tema da juventude.
É preciso ter clareza das representações e significações culturais construídas em cada lugar físico, social e simbólico
nos quais estão inseridos os jovens. Tais lugares, construídos historicamente são absolutamente determinantes no que
se refere à constituição da identidade. Vargas (2004) sugere pensar a juventude como um fenômeno em curso. E
destaca os processos de construção das identidades que, mergulhados em um ritmo acelerado requerem adaptação e
flexibilidade ao mesmo tempo em que passam por um processo de redefinição das formas de sociabilidade, marcadas
pela tecnologização do mundo e das relações humanas. Entendemos que refletir sobre esses processos, sobre essas
concepções que afetam a existência desses jovens pode ser um exercício para a promoção de reconhecimento desses
adolescentes como sujeitos de direitos, discussão que se aproxima da proposta do GT Identidade . Nesse sentido,
segundo Rosa et al (2011), nos corpos dos jovens pobres se inscreve um imaginário vinculado à delinquência e à
violência (ROSA et al, 2011, p.78). Os riscos sociais que o jovem pobre coloca à sociedade têm produzido prática de
fragmentação e fixação dos adolescentes e jovens a espações de exclusão e controle na mesma medida da redução
das políticas sociais a eles dirigidas . (ROSA et al, 2011, p. 79). A associação entre as palavras juventude e
periculosidade torna-se cada vez mais frequente, principalmente no âmbito das políticas públicas. A noção jurídica de
perigo alia-se à noções de saúde mental, através da produção de diagnósticos e enquadres patologizantes,
incentivando as políticas punitivas (ROSA et al, 2011). Capturada pelas armadilhas do sistema neoliberal que coloca a
responsabilidade pelo sucesso e pelo fracasso como inerentes ao sujeito, a juventude vem sendo culpabilizada. Além
de eleita a principal fatia do mercado de consumo, também torna-se alvo do mercado de trabalho. Para Frigotto
(2004), na atual conjuntura, há uma necessidade emergente de políticas públicas que se atentem à particularidade e
diversidade dos grupos precocemente inseridos no mundo do trabalho, discriminando reformas estruturais que se
configurem como produtoras da desigualdade social. Desamparada pela figura mediadora do adulto e entregue à
imprevisibilidade de seu próprio processo, a juventude caminha em meio a uma multidão de impossibilidades que
ampliam as sensações de vazio, incapacidade e insegurança que refletem de maneira considerável nos processos de
constituição e subjetivação do homem contemporâneo. Com base nas reflexões propostas por este trabalho, espera-
se aprimorar discussões sobre os processos de socialização e individuação dos sujeitos (jovens) na sociedade brasileira
contemporânea, além de prosseguir com reflexões que possibilitem pensar as influências do discurso neoliberal nos
processos de socialização e individuação das identidades, promovendo o intercâmbio entre pesquisadores e
interessados na área estabelecendo as bases para o desenvolvimento de futuros trabalhos conjuntos, conforme a
proposta do GT Identidade .

Referências

430
OZELLA, S.; AGUIAR, W. M. J.Desmistificando a concepção de adolescência.Cadernos de Pesquisa [online]. vol 38, n.
133, p. 97-125, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v38n133/a05v38n133.pdf.> Acesso em: 09. Jul.
2017
ROSA, M.D.; VICENTIM, M.C.; BROIDE, J. Direitos Humanos e interfaces psi-jurídicas: uma pauta ético-política para a
questão dos adolescentes periogosos . In: Conselho Reginal de Psicologia da 6a. Região (org.) Psicologia, violência e
Direitos Humanos. São Paulo: CRP SP, 2011, p. 78-94.
VARGAS GIL SOUZA, C. Z. Juventude e contemporaneidade: possibilidades e limites. In: Última década [online]. vol.12,
n.20, p.47-69, 2004. Disponível em:< http://www.scielo.cl/pdf/udecada/v12n20/art03.pdf> Acesso em: 09. Jul. 2017

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Desenraizamento e Construção de Identidades de Adolescentes Migrantes
Autores: Luana Cristina Silveira Gomes, UFTM; Ailton de Souza Aragão, UFTM
E-mail dos autores: luana.csgomes@outlook.com,ailtonaragao74@gmail.com

Resumo: Introdução: Adolescer é um processo marcado por uma pluralidade de demandas remetendo a, por exemplo,
necessidade de identificação, assim como também a conflitos identitários que emergem desse contexto.
A adolescência é o prisma que os adultos olham o adolescente e o próprio adolescente se percebe, podendo gerar
variados sentimentos. Esses sentimentos podem oferecer a ilustração de desejos adultos, ou então de seus temores,
servindo tanto de promoção como de descrença em relação forma cultural que se faz o processo adolescer. (Calligaris,
2000)
Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pela Lei nº8.069, de 13 de Julho de 1990, prevê-se
investir ao adolescente um papel ativo dentro da sociedade, enquanto sujeito, estabelecendo deveres e promovendo
a possibilidade de seguridade de direitos aos mesmos.
O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) desenvolve o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM),
desenvolvidas dentro dos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), na proteção social básica; e surge como
alternativa governamental para remanejar os direitos dos adolescentes violados nos territórios de vulnerabilidade e
protegendo-os de uma estrutura social que rompeu com a efetivação dos seus direitos ao bem-estar social, almejando
o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (Brasil, Secretaria Geral da Presidência da República,
Secretaria Nacional da Juventude, 2005).
A efetivação de direitos é fundamental para a constituição da subjetividade e identidade do adolescente em
construção. Partimos do pressuposto de que essa elaboração identitária é permeada e influenciada pelas relações no
território vivido e pela sociedade (Brasil, Secretaria Geral da Presidência da República, Secretaria Nacional da
Juventude, 2005; Ayres et al., 2006; Ciampa, 2002).
A identidade pressupõe e representa movimento, processo dinâmico, repleto de contradições. Por isso, justifica-se a
construção de identidade como um ciclo que não se finda, logo, permanece incompleto ao longo da vida. É a dita
metamorfose do ser; e se constitui nesse movimento composto de personagens , em um movimento metamórfico
e de possibilidades emancipatórias, estabelecendo e afirmando a identidade política como conceituado na Psicologia
Social Crítica (Ciampa, 2002). Objetivos: O estudo objetiva compreender a influência do desenraizamento e da
repercussão das vulnerabilidades na construção da identidade de adolescentes migrantes. Método: Trata-se de estudo
empírico de abordagem qualitativa. Adotamos a estratégia da produção audiogravada da História Oral de Vida e
analisados seus conteúdos temáticos de modo hermenêutico-dialético. Resultados: Emergiram quatro categorias
empíricas: vulnerabilidades, territórios de vida e violências; identidades políticas e políticas de identidade;
desenraizamento (memórias e migração); e projetos de vida. Evidencia-se os limites estruturais dos territórios e seus
impactos sobre o sintagma identidade-metamorfose-emancipação dos adolescentes migrantes. O desenraizamento
impõe a adoção de novos personagens, sempre em processo de metamorfose. As políticas de identidade podem
aprisionar ou emancipar os sujeitos na direção da acomodação política ou no enfrentamento coletivo das
vulnerabilidades.
Conclusões: A história dos sujeitos apresenta a emancipação a partir de seus pais. Pois por meio da migração
buscaram alternativas para a realização de suas vontades e autonomia e muito além da superação, traduzidas na
postura desses adolescentes e de seus pais, se apresenta o enfrentamento, diante das vulnerabilidades dos territórios
e as adversidades que esse processo de mudança sugere.
O adolescente migrante é, então, personagem. O desenraizamento enquanto processo de metamorfose em busca de
ser, é determinado por políticas de identidade cujo enfrentamento das situações de vulnerabilidades almeja sua
superação, sua emancipação.
No território atual estão as oportunidades para a consecução de seus projetos de vida. Percebe-se, contudo, que não
existem políticas públicas que se preocupem com a problemática referente aos sujeitos abordados nesse estudo.
432
Mesmo com as limitações estruturais de uma sociedade desigual que não garante seus direitos e a equidade
necessária, é possível compreender que seus projetos se refarão, novas identidades se afirmarão em novos
personagens e metamorfoses, com novas possibilidades emancipatórias.

433
Do discurso da proteção à autonomia: Políticas de identidade da personagem social "criança sujeito de direitos"
Autores: Thalita Catarina Decome Poker, USP
E-mail dos autores: catarinadecome@gmail.com

Resumo: Tenho por finalidade nesta apresentação analisar as políticas de identidade presentes nos dois discursos
atuais, antagônicos e predominantes quanto ao reconhecimento social da criança como sujeito de direitos. Tendo
como pressuposto as políticas de identidade como categoria de análise para grupos socialmente estigmatizados, que
sofrem algum preconceito, ou ainda, que estão em desvantagem política na representação plena dos seus direitos no
conceito de Estado Moderno. Na leitura de Ciampa (2004), as políticas de identidade, nos jogos linguísticos e de
interação social, seriam uma constante tensão entre as auto-atribuições do sujeito e as atribuições dos grupos tanto
do intragrupo como do exogrupo. Para Goffmann (1982), estaria envolvido nesta categoria de análise o alinhamento
do eu pelos grupos. Ao adotar uma linha compreendida como correta a pessoa em desvantagem ou estigmatizada
terá um self estranho, e que fala por meio do grupo. Do ponto de vista do materialismo histórico, as políticas de
identidade estão intimamente ligadas a questões da estrutura social, no nível das sobre-determinações, e envolvem a
discussão sobre a autonomia e heteronomia. No caso desta discussão, as políticas de identidade podem ser
concebidas como linhas ideológicas impingidas às crianças pelos adultos podendo tanto coloniza-las quanto emancipa-
las. Essas atribuições, predominantemente adultas, são vistas na construção da realidade social pelas relações
objetivas do senso comum, no modo como as políticas públicas e documentos oficiais predicam a vida de crianças e
adolescentes; ou, nas técnicas empregadas por especialistas para uso no sistema de garantia de direitos. Sendo que, a
epistemologia da palavra sujeito de direitos é entendida como: a válida manifestação do seu ser e da sua ação
(Castro, 2001). No entanto, do ponto de vista jurídico e das teorias tradicionais sobre desenvolvimento e socialização
por inculcação predominantes na Psicologia, Sociologia e Antropologia tanto a criança como o adolescente são vistos
como seres humanos incompletos e inacabados uma vez que a noção de idade é concebida de modo hierárquico
(Rosemberg e Mariano, 2010). De modo que não possam se representar integralmente, necessitando de um adulto
(que, nesse caso, pode ser os seus pais, parentes ou especialistas) que as represente. Esta condição, no modo como a
sua cidadania é concedida, coloca este grupo em desvantagem em relação a outros posta a ausência de condições
para a auto-representação pressuposta e união com seus pares para reinvindicação e negociação da sua imagem
social. Dada esta contradição, a partir das políticas públicas atuais, o exogrupo, ou seja, os atribuídos representantes
das crianças tem como divisão o discurso da defesa á proteção ou da autonomia. Para acepção, a premissa sustentada
no discurso de proteção, atende ao establishment pelas teorias tradicionais da infância, tento sua redação com viés
universal, mais especificamente na Declaração dos Direitos da Criança de 1959: a criança, em razão de sua falta de
maturidade física e intelectual, precisa de uma proteção especial e de cuidados especiais, especialmente de proteção
jurídica apropriada antes e depois do nascimento . Já o discurso da autonomia, é defendido com mais solidez nos
documentos oficiais, a partir da nova redação na convenção de 1989, sob uma perspectiva mais liberacionista
(autonomista), visa afirmar o direito de participação da criança nos cenários sociais e o entendimento dela como
ator/atriz social pois sua apropriação da realidade mobiliza os setores econômicos, culturais, educacionais e até
mesmo do trabalho. Neste tipo de posicionamento político-filosófico, a criança ou adolescente poderiam escolher
como serem educadas, a necessidade de se ter um religião ou até mesmo se tem interesse de viver com os
pais/responsáveis. Do ponto de vista crítico, ou seja, da admissão das contradições advindas de um processo de
interação da infra-estrutura e da super-estrutura, posso entender que ambos os discursos atuais sobre a criança como
sujeito de direitos são anamórficos. No entendimento de que abordam a condição da criança como sujeito de direitos
com certa binaridade, mas não entram em contato com a sua totalidade. Proteger apenas reforça a ideologia de
incompletude da criança, como um ser desprovido e tábula rasa da sociedade a criança é vista apenas como produto
da sociedade. Entretanto, conceder unicamente a autonomia, em alguns casos, poderia colocar a criança em uma crise
e ausência de sentido, quanto ao respaldo que a sua comunidade poderia lhe conferir posicionando-a somente como
protagonista. Posto isso, ambas as posições, negam a dialética da personagem social criança sujeito de direitos , pois
434
falam por ela, negando sua complexidade, e não com ela. Diante disto, com base na defesa da busca por fragmentos
da sociedade, penso que a inclusão dos saberes, da cultura, do espaço, do tempo e da apropriação da experiência da
criança e adolescente nesta busca da construção da sua cidadania pode auxiliar na construção da personagem social
sujeito de direitos e de políticas de identidade que de fato contemplem esta população.

435
Grupos de reflexão com funcionários de um abrigo: a subjetividade e vulnerabilidade social
Autores: Lígia Gonçalves Dias Pedrosa, UNIFRAN; Gisele Cestari Anibal, UNIFRAN; Liliana Scatena, UNIFRAN; Matheus
Colombari Caldeira, UNIFRAN
E-mail dos autores: ligiagd@bol.com.br, mmatheuscaldeira_@hotmail.com, liliana_scatena@hotmail.com,
giselecestarianibal@hotmail.com.br

Resumo:
Introdução: Este trabalho é fruto de um projeto de Iniciação Científica com financiamento próprio que atravessa a
relações de saúde dos funcionários de um abrigo que trabalham diretamente com os abrigados, sendo crianças e
adolescentes. Transpõe uma relação de fatores que vai das dificuldades diretas como o acolhimento/ desacolhimento,
violência, vulnerabilidade social, espaço físico e organizacional do abrigo, para as indiretas como as políticas públicas,
o investimento financeiro, críticas da sociedade a respeito do próprio serviço fornecido, ou seja, o trabalho é
articulado entre a compreensão do cotidiano da assistência a partir do olhar do funcionário e como isso reflete em sua
saúde e no fato de promover a saúde dos abrigados.
Objetivos: Estudar os obstáculos à realização do trabalho em equipe, suas relações de conflitos, influências diretas,
indiretas e subjetivas, procurando levantar dados a respeito da precarização do trabalho e está voltado ao olhar da
saúde do funcionário que tem por função o cuidar, a partir do conteúdo extraído de entrevistas e grupos de reflexão.
Compreender a realidade da assistência social, sua precariedade em apoios, sejam financeiros, políticos,
administrativos ou técnicos e como isso pode contribuir para o adoecimento, tanto do funcionário como dos usuários
do serviço.
Relação com o eixo temático escolhido: A necessidade social e atual de atendimento à crianças e adolescentes em
situações de vulnerabilidade, nos direciona a compreender como é a saúde do funcionário que os acolhe, muito pela
ambiguidade do fato deste estar vinculado à instituição por um fator trabalhista e emocional. É necessário pautar o
assunto, pois é a saúde daquele que cuida que está no eixo de um bom trabalho em um abrigo, fazendo emergir um
olhar de que quem abriga, observamos a necessidade do mesmo em ser abrigado , também acolhido, mesmo que o
sistema neoliberal não propicie a aplicação dessas políticas. Observar que para uma boa prática profissional, realizada
com ética e pautada em valores, está muito além da atuação profissional, atravessa o ser humano, demandando dele a
própria subjetividade e moralidade.
Referencial teórico: Foram utilizados o referencial teórico das Representações Sociais para a compreensão de como o
grupo de funcionários de maneira coletiva e individual se apreende, a teoria da Psicanálise e das Configurações
Vinculares, utilizando a técnica de entrevista e de organização de dados de núcleos de sentido, para compreender
sentimentos, pensamentos e situações compartilhadas e como isso promove a saúde mental.
Métodos: A pesquisa configurou-se como qualitativa, adotou-se a entrevista semiestruturada e observação
participante como técnica para a construção de dados. Para tal foram realizados grupos reflexivos e entrevistas
individuais com funcionários que possuem atuação direta com crianças e adolescentes em situação de abrigamento
em uma cidade do interior do estado de São Paulo. Os grupos eram fechados e foram realizados em cinco encontros,
com periodicidade semanal e duração de uma hora, sem finalidade terapêutica. As entrevistas individuais foram
realizadas com seis funcionários após o término dos cinco encontros dos grupos, com objetivo de obter dados
relevantes e mais singulares sobre as configurações vinculares e a prática profissional. Eram nove mulheres e um
homem, com idades entre 18 e 60, onde cinco cuidadoras e uma auxiliar possuem nível superior completo, porém não
houve capacitação para exercer tal função. Todos com menos de um ano de serviço no local que foi o campo de
estudo. Resultados: Nos dados obtidos das reflexões grupais emergiram conteúdos relativos ao estresse emocional
devido a falta de orientação para o trabalho, de alta complexidade e que através dos grupos de reflexão foi possível
436
promover a saúde mental dos funcionários e também com as entrevistas o contato mais singular a respeito da própria
subjetividade em congruência com a saúde individual e coletiva dos funcionários. Conclusões: Através do espaço
grupal criado e das investigações a respeito saúde mental dos funcionários e de suas próprias percepções, produzimos
soluções para os obstáculos da prática profissional e compreendemos como os fatores neoliberais podem influenciar
na relação interpessoal profissional e na saúde mental dos funcionários.

437
Identidade Metamorfose: A História de Vida de Adolescentes Abrigados
Autores: Júlia Loren dos Santos, UFSJ
E-mail dos autores: julialoren12@hotmail.com

Resumo: A inscrição do hábito do abandono de crianças e adolescentes no mundo civilizado alcançou ao longo da
história uma considerável aceitação social, sendo que acrescido a esse costume foram instaurados diferentes modelos
e práticas de institucionalização. Frente à observação desse fenômeno no Brasil, a historiadora Maria Luíza Marcílio
pontua que parece haver uma cultura de institucionalização , na qual essa praxe é admitida como uma saída fortuita
que a sociedade encontrou para (des)proteger àqueles que se encontram em uma situação de vulnerabilidade social
e/ou econômica. Atualmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente é o principal documento para a estruturação e
orientação dos serviços de acolhimento institucional, sendo que nessa lei é postulado como competência/obrigação
dessas instituições preservar a identidade dos indivíduos abrigados. Diante dessa exigência legislativa, surgem
algumas questões, como: Quem são os adolescentes abrigados? Quais são as suas histórias? Nota-se que essas
indagações ainda possuem respostas simplórias, geralmente formuladas por meio da expressão de dados estatísticos
gerais sobre esses sujeitos. Compreende-se, todavia, que é necessário recusar o exercício e a aceitação de uma
postura contemplativa perante as contradições da sociedade. Urge atuar, lutar e promover possibilidades de
emancipação das amarras que limitam e classificam ser, sufocando seu devir. A partir dessa pontuação, é expressa a
consonância desse estudo com as pesquisas sobre identidade orientadas pela perspectiva da Psicologia Social Crítica.
Visto que nelas, essa categoria é admitida considerando o homem situado, permeado por relações sociais,
econômicas, culturais e históricas que são transformadas por ele e que também o transformam. Nesse sentido, a
presente pesquisa busca investigar como são constituídas as identidades desses adolescentes, atentando-se para as
relações institucionais, os determinantes sociais e o reconhecimento do outro como fenômenos imbricados a esse
processo. Pontua-se que a investigação identitária que se pretende realizar difere-se de análise quantitativas que
visam compreender quem são esses indivíduos por meio de dados numéricos e categoriais, como faixa etária e gênero
predominante, principal motivo que os levaram para o abrigo, entre outros. Desse modo, orientando-se por uma
análise qualitativa, busca-se compreender a identidade a partir do olhar da Psicologia Social Crítica. Sobretudo, a partir
das contribuições e desenvolvimentos teóricos realizados por Antônio da Costa Ciampa e Aluísio Ferreira Lima.
Admite-se, então, a identidade como metamorfose, considerando as (im)possibilidades de emancipação e as
(re)constituições das personagens. Identidade é, assim, um movimento dialético, expresso pela articulação entre
igualdades e diferenças, sendo fundamental entendê-la como um aspecto real e material que se manifesta pela
atividade humana. Para acessar e analisar a identidade recorrer-se-á ao método da narrativa das histórias de vida,
realizando entrevistas abertas e possibilitando ao indivíduo relatar livremente como se tornou quem ele é hoje. As
participantes dessa pesquisa serão meninas e adolescentes que vivem em unidades de acolhimento institucional em
uma cidade interiorana do estado de Minas Gerais. As narrativas dessas adolescentes serão analisadas a luz da teoria
de identidade desenvolvida por Ciampa, sendo que também serão acolhidas produções transversais que dialogam com
a perspectiva da Psicologia Social Crítica e que versam com os conteúdos que surgirão ao longo das histórias narradas.
Esta pesquisa ainda está em fase de desenvolvimento. Contudo, apresentam-se como resultados iniciais algumas
percepções admitidas nos primeiros contatos com a instituição e pela realização de aprofundamentos teóricos acerca
do tema. Notou-se a existência de impedimentos simbólicos para que as adolescentes participem da pesquisa. Com
isso, conjectura-se que permanece uma lógica de instituição total, visto que , a fachada do abrigo possui portas e
janelas que estão constantemente fechadas e a saída das crianças e dos adolescentes para contextos comunitários
externos é sempre atravessada por inúmeras burocracias que a dificultam e, por vezes, a impedem. A hipótese que se
levanta é a de que, mesmo buscando exercer uma política de garantia de direitos, parece haver uma confusão entre o
exercício do controle e da proteção. Recorrendo-se à análise do desenvolvimento das políticas públicas para o
atendimento de crianças e adolescentes que ao longo da história foram afastados do convívio familiar observou-se
que esses sujeitos foram nomeados de diferentes formas. Inicialmente, como abandonados , desvalidos e expostos ,
438
enunciando a condição seres renegados pela sociedade e encarados como um incômodo . Depois, como menores ,
objetos de tutela , que demandavam por um controle rígido. E, hoje, considerando como marco a publicação do
Estatuto da Criança e do Adolescente, são reconhecidos como sujeitos de direitos, que devem ser protegidos pelo
Estado, sociedade e família. Portanto, considerando o contato inicial com o abrigo local e a reconstituição da história
brasileira do abandono e institucionalização de crianças e adolescentes, defende-se a necessidade de dar voz a esses
sujeitos e fazer com que eles sejam ouvidos. De modo que, para alcançar esse propósito, permanecem como questões
de investigação e reflexão: Quem são esses sujeitos que habitam nesse espaço? Como eles transformam e são
transformados por essas relações políticas e sociais?

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O desvendar identitário em psicologia social: o que pulsa no cotidiano dos estudantes de psicologia?
Autores: Selene Regina Mazza, ESTÁCIO/FIC-CEARÁ
E-mail dos autores: selene_mazza@yahoo.com.br

Resumo: Espera-se que um estudante de psicologia, ao término da disciplina de Psicologia Social, possa compreender
as interações humanas enquanto redes de significações históricas e socialmente construídas a partir da realidade
psicossocial e cultural na qual as pessoas encontram-se inseridas, assim como diferenciar perspectivas e campos de
aplicação e pesquisa da psicologia social. Fundamental a práxis de psicologia, o próprio conceito de social apresenta
equívocos a aqueles que já empreenderam uma jornada no campo profissional da área de psicologia, ocasionando
sentidos diversos, provavelmente oriundos da formação acadêmica vivenciada pelo mesmo. Ainda impregnada por
uma formação de base positivista e comportamentalista, alguns cursos de graduação (principalmente nas IES privadas)
ainda reverberam a compreensão redutiva sobre o fenômeno social. Neste contexto, o saber na graduação em
psicologia abstrai a concepção de indivíduo como ser social, que constrói a si próprio, ao mesmo tempo em que
constrói, com outros indivíduos, a sociedade e sua história. Assim, a vida cotidiana, pode descrever aspectos comuns e
incomuns de histórias e vivências, com multiplicidades expressivas, onde se contextualizam e ancoram sentidos que
são construídos rotineiramente, visto que a regulação ocorre pela própria realidade, estruturando práticas e saberes
que mitificam a vida de forma homogênea. Diante desta perspectiva, uma questão surge a partir da experiência na
docência em psicologia: como o social se revela no cotidiano de estudantes de graduação em psicologia? Como isto
se traduz no processo de formação identitária profissional em psicologia? Então se faz necessário descrever a
realidade, no intuito de apontar os diversos aspectos observados, com o propósito de demonstrar cenários que
permitam compreender de modo mais apropriado o sentido da totalidade investigada, pois isto estabelece a
estruturação de um contexto que é descrito através dos modos de vida de quem está relacionado a estes
acontecimentos, permitindo novas apreensões sobre a realidade. E, é através de modos de vida que o sentido
identitário pode ser construído, pois a partir de banalidades do cotidiano surge o processo mediador decorrente de
imposições dilemáticas, oriundas da confrontação do passado com o futuro, pois a reflexividade não atua em certezas,
mas sim em dúvidas. Explorar os modos de vida envolve traçar trajetórias trilhadas através das histórias que
contextualizam rotinas, rupturas e interações da realidade que circunda a vida e a identidade dos indivíduos. Neste
contexto, o objetivo deste trabalho é compreender a reflexividade sobre a psicologia social no processo formativo
identitário do estudante de psicologia e de que forma isto alicerça seus modos de vida e sua práxis profissional. Esta
investigação, de natureza qualitativa e compreensiva, teve como campo de estudo principal os conceitos relacionados
à psicologia social, reflexividade e modos de vida. A contextualização decorreu de relatos e observações em sala de
aula e estágio curricular supervisionado. A partir disto, identificam-se modos de vida e de pertencimento grupais
significativos, possibilitando conhecimentos que integram um posicionamento identitário que entrelaçam aspectos
comuns e incomuns de histórias e vivências típicas da psicologia, ou seja, hoje, ainda há uma reprodução teórica que
fragmenta a práxis nos cursos de graduação, especificamente em IES privada, respingando em conceitos que se
formatam em um contexto redutivo, mais enfaticamente no que se refere à inserção do psicólogo no campo social.
Isto reverbera a pertinência de estudos deste porte que possibilitam apresentar respostas para novos objetos e temas
que possam articular diversas posições teóricas e práticas, essenciais ao papel político e social do profissional de
psicologia envolvido no atendimento as demandas do campo social, principalmente no que se refere a sua identidade
profissional.

440
O Processo de Identidade de jovens que viveram em abrigo
Autores: Maristela Sousa e Freitas, PUC-SP
E-mail dos autores: maristela.soufreitas@gmail.com

Resumo: Este estudo pretende discutir a identidade humana através das narrativas de história de vida de jovens que
viveram em abrigamento na infância e adolescência à luz do Sintagma Identidade-Metamorfose-Emancipação
desenvolvido pelo prof. Dr. Antonio Ciampa. Objetivos: Identificar nas suas narrativas como foi passarem pela
experiência do abrigamento, compreender e perceber este movimento de identidade metamorfose bem como captar
se houve ou não reconhecimento social neste percurso. Pretende-se entender pelas narrativas de histórias de vida,
enquanto método que permite o desvelar da trajetória do narrador da história, convidando-o a lembrar e narrar sua
história de vida, pela regressão ao passado, com perspectivas e projeção para o futuro, trazer para o presente através
da narração (fala) os pressupostos identitários de suas formas de pensar e apreender seu contexto sócio histórico,
bem como da interação estabelecida com os outros neste processo de ir e vir. Metodologia escolhida: Narrativas de
história de vida porque entendemos que as mesmas estabelecem um canal de comunicação, que o sujeito ao narrar o
agir e interagir nesse contexto histórico social de ir e vir permite ao narrador chegar a ter consciência de si,
questionando os papeis quanto a suas determinações, alterar sua identidade social, bem como refletir sobre os
contextos sócio históricos aos quais estabelecem relações, permitindo ao pesquisador captar como se processa o
movimento de metamorfose e como surgem possíveis fragmentos de resistência e emancipação. O problema da
pesquisa vem de um trabalho desenvolvido no ano 2000, quando fizemos um primeiro contato com crianças
adolescentes, que se encontravam em situação de abrigamento, vivendo em um abrigo na zona leste da cidade de São
Paulo. Da época ficaram alguns questionamentos de como eles seguiriam suas histórias e constituiriam suas
identidades. Destas inquietações chegamos à pergunta problema que nos conduziu a pesquisar com estes jovens o
processo de identidade: Como se constitui o processo de identidade de jovens que passaram pelo abrigamento
durante a infância e/ou adolescência? Pretende-se com esse estudo não só identificar e compreender os sentidos
identitários desvelados no conteúdo das narrativas diante de sua realidade social, como dar voz a expressarem suas
lutas por reconhecimento de direitos frente aos processos de dominação e de resistência aos aspectos regulatórios
das políticas de identidade presentes nesses espaços. Objetiva-se apreender fragmentos de emancipação ou
resistência bem como oferecer material para posteriores estudos sobre identidade de ex-abrigados. Relação com o
eixo temático. Entendemos que as relações estabelecidas entre os adolescentes e/ou crianças com os espaços ao qual
conviveram por certo tempo, na medida em que freqüentaram mais de um abrigo revelam características destas
relações, seja do ponto de vista dos confrontos estabelecidos com as políticas de identidade desses locais, como dos
movimentos de resistência e/ou lutas por reconhecimento, mesmo sendo submetidos às biopolíticas de identidade de
uma sociedade estratificada no capitalismo e no lucro. Neste sentido, encontramos afinidades com o eixo temático (2)
Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência. Nossa orientação teórica segue o Sintagma-
identidade-metamorfose-emancipação que tem como referências a orientação sócio histórica e referências teóricas
importantes a compreensão do movimento metamorfose da identidade através: (1) da socialização no olhar dos
sociólogos Berger e Luckmann; (2) da linguagem no olhar do filósofo e sociólogo George H. Mead; (3) do processo de
identidade no olhar de Antonio da Costa Ciampa; (4) da ação comunicativa do filósofo e sociólogo Jünger. Resultados
preliminares/Conclusões: Da coleta de 4 narrativas, todas mulheres, estamos pensando em dar prioridade a uma delas
em particular porque entendemos que a mesma nos fornece maior número de elementos com características de
resistência, questionamentos às políticas presentes nos abrigos, momentos de reflexão e possíveis fragmentos
emancipatórios. Esta jovem de nome Sofia, apresentou-nos nas narrativas várias reflexões sobre as ações e interações
com as pessoas que conviveu, questionamentos e discordâncias com as regras presentes dentro dos abrigos,
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valorização pela busca de melhores condições de vida e luta pelos seus sonhos de futuro, ter independência
financeira, estudar na busca de realizar seus sonhos, se coloca como vencedora por tudo o que passou, diante de seu
contexto de vida e por ser a única na família que estará concluindo uma universidade (se formará na universidade no
final deste ano), caminha em busca de estabelecer-se financeiramente na vida, se esforçando para tal, estabelecendo
metas de onde pode gastar o seu dinheiro (economizar) para ter sempre recursos a atingir o que sonha. Pesquisa em
andamento.

442
O processo de Metamorfose na Identidade de indivíduos Bariátricos: A morte simbólica, o deixar de ser um para ser
outro
Autores: Lara Gabriella Alves dos Santos, UFG
E-mail dos autores: laragabriellapsi@hotmail.com

Resumo: As cirurgias bariátricas ou cirurgias antiobesidade surgiram como uma possibilidade para indivíduos obesos.
O emagrecimento gerado pela cirurgia bariátrica dá inicio a uma serie de transformações que afetam as relações do
indivíduo consigo mesmo e suas representações sociais. Após a cirurgia, enquanto o corpo está emagrecendo
rapidamente, dá se também o inicio do processo de construção de uma nova identidade. A identidade pressuposta é
eliminada para que surja o outro, que também sou eu , havendo a negação da negação de mim, superando, então, a
identidade pressuposta, desenvolvendo uma identidade posta como metamorfose. Antônio Ciampa (2002) afirma que
a identidade é composta pela articulação de vários personagens através dos papéis sociais atribuídos. Concebe a
identidade através da dialética morte-e-vida possibilitando desvelar seu caráter de metamorfose. Os estudos a cerca
da identidade tem se mostrado fecundos para o conhecimento de processos de mudança nas formas como os
indivíduos se situam no mundo e em suas relações a partir de redefinições pessoais e da adoção ou manutenção de
modos autônomos de gerir a vida. Tendo em mente o interesse emancipatório, a identidade afigura-se uma
ferramenta importante para dar conta, por um lado, dos processos que induzem a conformidade e a mesmice e, por
outro lado, dos processos de autorreflexão e entendimento que estão na base da autonomia e da assertividade
pessoal. As representações sociais individual ou sociais fazem com que o mundo seja o que pensamos que ele é ou
deve ser. Mostram-nos que, a todo instante, alguma coisa ausente se lhe adiciona e alguma coisa presente se
modifica. (MOSCOVICI, 1978) A identidade é vida que supera a morte. Enquanto ator, o indivíduo obeso está sempre
em busca de novos personagens, e quando novos não são possíveis, repeti as mesmas. Quando se tornam impossíveis,
tanto novas quanto velhas personagens, o ator caminha para a morte, simbólica (nesse caso a cirurgia bariátrica) e, ou
biológica. A construção da identidade é, por assim dizer, uma tarefa complexa para qualquer pessoa. Desde influências
culturais à repentinas mudanças sociais, bem como a diversificação de conceitos e mudanças no ritmo de vida do
mundo globalizado, cooperam por transformar o processo de construção da identidade numa tarefa árdua para cada
um. Este processo de diferenciação, e consequentemente de metamorfose, possibilita ao indivíduo bariátrico assumir-
se ao mesmo tempo como um ser diferente e igual aos demais. Torna-se diferente, pois se distinguiu da identidade
pressuposta (como obeso), e ao mesmo tempo torna-se igual, pois na antítese da identidade pressuposta, no
movimento de negação da negação, o bariátrico desenvolve uma nova realidade que fundamentalmente partiu da
representação social, tornando-se espectro da própria humanidade. Sendo dialeticamente ele um e todos ao mesmo
tempo o bariátrico é ele mesmo, transformando-se (CIAMPA, 2005, p. 84). Este trabalho pretende realizar um
estudo em nível de doutoramento as cerca das novas identidades produzidas em indivíduos bariátricos, investigando
de que forma a cirurgia se configura como morte simbólica de um personagem (obeso) e possibilidade de construção
de outro (não obeso ou a volta diferente do personagem anterior ao obeso.). Levando em conta que compreender a
identidade é compreender a relação indivíduo-sociedade, e que cada um encarna as representações sociais
configurando uma identidade pessoal.

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Persona, identidade e metamorfose Um diálogo entre a Psicologia social crítica e a Psicologia Analítica
Autores: Wilton Bezerra Silva Filho, ESTÁCIO-Ceará; Selene Regina Mazza, ESTÁCIO/FIC-CEARÁ
E-mail dos autores: wilton.silva.psi@gmail.com,selene_mazza@yahoo.com.br

Resumo: Compreender o homem como um movimento constante que se metamorfoseia no tempo ainda é para
muitas vertentes de pensamento um ir contra a direção que vai ao encontro do ato de definir, categorizar e explicar o
homem. Isto significa dizer que ainda se pensa no conceito de identidade em algumas abordagens e escolas da
psicologia como algo estático e imutável haja vista que o homem tende a categorizar e enquadrar o mundo e sua
natureza cujo a própria natureza é sempre mutável e está em constante transformação. No percurso histórico, raros
autores se detiveram a ideia deste homem em movimento e tão poucos estes que levaram tal discussão, considerando
a identidade, elevando-a a um pensar onde o homem não é, mas sim está. Neste sentido pensamos o homem sempre
como uma totalidade que tem em si diversas possibilidades, transformações que ocorrem a partir de sua relação com
o mundo em seu percurso histórico, o que por sua vez possibilita um reconhecimento e consequentemente uma
construção de seu eu hoje, de seu personagem, que este por sua vez pode na relação com o mundo proporcionar
outro personagem. A partir desta perspectiva este trabalho tem por objetivo apresentar um outro olhar acerca da
identidade enquanto metamorfose apresentando um diálogo entre saberes no intuito de ampliar a gama teórica para
uma compreensão em paralaxe do conceito de identidade humana, neste escrito considerando o olhar da Psicologia
social crítica sobre identidade apresentada por A. F. Lima e A. C. Ciampa contribuindo com o sintagma Identidade
metamorfose emancipação que por sua vez dizem respeitos ao processo identitário do homem no mundo no que diz
respeito a sua identidade e seus personagens, conceito inspirado e orientado por uma postura marxista,
especificamente uma orientação materialista, histórica e dialética aportada numa perspectiva de homem enquanto
produto e produtor de sua própria história. O outro viés que pauta este aporte teórico e que aqui pretende dialogar
com a Psicologia Social crítica trazendo uma perspectiva psicológica é a Psicologia analítica de C. G. Jung,
corroborando com a ideia de psique a partir da dinâmica com a persona, conceito que se refere diretamente aos
papeis sociais no mundo vivido que aqui pode ser compreendido como parte fundamental para uma estruturação das
personagens que por sua vez possibilitam uma constituição da nossa identidade onde tais conceitos corroboram com a
ideia do sintagma proposto por A. C. Ciampa elaborando um diálogo entre duas matrizes de pensamento com suas
aproximações e divergências. Desta maneira, este escrito justifica-se pela sua premência de cunho epistemológico no
que tange a ampliação da compreensão do significado de Identidade Humana enquanto metamorfose. O aporte
teórico aqui apresentado busca também historiar e problematizar a história da produção de conhecimento e/ou
intervenções em Psicologia Social com as contribuições deste olhar psicológico pelas lentes da psicologia analítica. O
método escolhido para elaboração deste escrito foi à revisão bibliográfica haja vista o caráter exploratório deste
escrito considerando a relativa novidade em termos de discussão no que tange a aproximação de teorias que até
então não tinham sido aproximadas, o que por sua vez gera material para pesquisas futuras e consequentemente uma
ampliação do conhecimento no que diz respeito ao que se propõe este aporte. Podemos então dizer que este escrito
traz uma quebra com a até então estatização do conceito de impossibilidade de transformação da identidade, uma
escrito que quebra com os modelos antigos de entendimento do homem no mundo, desta forma não o explicando,
mas sim compreendendo-o como possibilidade e transformação no mundo quebrando com os paradigmas de
definição e redução do homem. A provocação reflexiva de tal estudo se dá no ponto em que se considera que ainda há
muito a se produzir em termos acadêmicos e reflexivos quanto ao humano para compreender o ser humano, ou pelo
menos parte considerável deste haja vista o caráter de transformação constante. Sempre haverá algo novo, algo que
possibilite a transformação no mundo, algo que nos leve com certa paixão a uma compreensão em paralaxe das
dinâmicas e dos processos eu nos rodeiam na qualidade de pessoa, na qualidade de possibilidade.

444
Práticas Narrativas Coletivas como Possibilidade de Ampliação das Identidades
Autores: Camila Martins Lion, USP; Aglaia Ruffino Jalles, USP; Laura Vilela e Souza, USP
E-mail dos autores: camilamlion@usp.br,lauravilelasouza@gmail.com,aglaia.jalles@usp.br

Resumo: A fim de agregar às discussões do XIX Encontro Nacional da Abrapso 2017, mais especificamente ao Grupo de
Trabalho Identidade , propomos a reflexão acerca das contribuições das Práticas Narrativas Coletivas para a
compreensão da identidade, tendo em vista que essa prática têm seu uso reconhecido e valorizado em outros países,
contudo é ainda pouco estudada no Brasil. Estas práticas rompem com a concepção essencialista do self, uma vez que
o entendem como em constante transformação, por meio das relações estabelecidas com o outro. A Terapia
Narrativa, desenvolvida por Michael White e David Epston, estimula a busca por narrativas alternativas em contextos
saturados por dilemas, abrindo espaço para descrições de recursos e potencialidades para a pessoa enfrentar as
adversidades da vida. Segundo tais autores, a vida é compreendida como sendo multihistoriada e são essas histórias
que compõem os sentidos das nossas experiências e identidades. Elas são construídas socialmente e aos poucos vão
sendo apropriadas em nossas narrativas. Quando se narra uma história com descrição estreita geralmente ela é
limitante e depreciativa, por não apresentar muitas possibilidades para o indivíduo que acaba não reconhecendo suas
habilidades e possibilidades de construir um futuro diferente do que está vivendo. É como se ele estivesse em contato
mais com suas fragilidades do que com suas potencialidades. Dessa forma, a Terapia Narrativa serve como um
antídoto em resposta aos discursos patologizantes e normativos da Psicologia, externalizando o problema da pessoa,
devolvendo a pessoa a autoria de sua própria história. Com esse olhar, uma multiplicidade de identidades sociais
podem ser construídas e valorizadas. Ampliando os horizontes da Terapia Narrativa, David Denborough enriquece
estas ressignificações do self através de práticas coletivas que entrelaçam a voz individual com possibilidades de
entendimento coletivo do sofrimento e de seu enfrentamento; assim, a pessoa deixa o lugar de passividade,
assumindo uma posição de agente de transformação, fazendo de sua história de sofrimento uma nova versão de
possibilidades para o grupo. Ao conectar as narrativas de uma pessoa ao coletivo, é como se houvesse, o que Paulo
Freire chama de unidade na diversidade , a pessoa deixa de estar sozinha em sua experiência e começa a conhecer o
que há de comum na diversidade que contempla o contexto das relações sociais. Nesse sentido, nota-se o caráter
político das práticas narrativas coletivas de redescrição dos problemas individuais em termos de problemas coletivos e
no caráter ético de um fazer com o outro e não para o outro. Tal prática rompe com a noção dicotomizante das
linguagens individual e coletiva, visto que reconhece a dialética existente entre elas, pois toda linguagem é composta
de discursos individuais e coletivos que se sobrepõem e complementam mutuamente. Sendo, por isso, importante o
cuidado em não privilegiar apenas uma forma de linguagem em relação à identidade, buscando o interesse em
identificar as contribuições das partes e do todo. Como, por exemplo, ocorrerá neste Grupo de Trabalho, em que cada
comunicação oral trará suas vozes para a construção do diálogo a respeito dos selves, enriquecendo as possibilidades
de compreensão das identidades e de si, abrindo espaço para transformações individuais e coletivas. Entende-se que
quando contribuímos para uma coletividade mais ampla, nossa noção de individualidade se amplia e ressignifica. Ao
reconhecer a presença da linguagem individual na coletiva e vice versa, as Práticas Narrativas Coletivas convidam à
corresponsabilização das pessoas frente às adversidades no âmbito macrossocial, uma vez que estas se percebem
inseridas em um contexto passível de mudanças e posiciona os facilitadores dessa prática na reflexão constante sobre
quais condições estão criando para que movimentos sociais locais aconteçam. Portanto, aposta-se no potencial das
práticas narrativas coletivas para favorecer transformações sociais e reconstruções das descrições de si.

445
Segredos de Alice: relatos de uma mulher presa em um corpo masculino
Autores: Anna Maria Soares de Brito, FACED; Nayara Santos Oliveira, FACED
E-mail dos autores: brito.annam@gmail.com,nayaraoliveirapsi@gmail.com

Resumo: O presente trabalho objetiva desenvolver, a partir da análise sobre as mudanças do papel desempenhado
pela posição sexual perante a sociedade, as novas formas em se pensar nos modos de ser homem e ser mulher para o
individuo. Pensar que um menino que nasce no corpo de menino não diz respeito de nada quanto ao posicionamento
que posteriormente cada sujeito terá enquanto ao que é ser homem e ao que é ser mulher em relação a sua
identificação e ao seu desejo. Sobre sua identificação enquanto sujeito social o Decreto Nº 8.727, de 28 de Abril de
2016 Dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e
transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional .
Tal Decreto prevê o reconhecimento do nome social nos documentos sendo necessário constar o nome de registro, ou
seja, o Decreto trás um ganho, mas ao mesmo tempo ainda exige que o nome de registro apareça, o que em muitos
casos não é o desejo de algumas pessoas, uma vez que no documento irá constar dois nomes. Alguns
questionamentos são levantados: se a função do nome social é trazer caráter identificatório do sujeito biológico com
o subjetivo, qual a real necessidade da utilização dos dois nomes em um documento, visto que esse processo pode se
tornar ainda mais constrangedor? O cenário social apresenta possibilidades medicamentosas e cirúrgicas para
legitimar a identificação subjetiva e biológica, então por qual motivo o documento de identidade não garante o
mesmo direito? Faz-se, então, relevante refletirmos quanto aos ganhos obtidos junto ao Decreto Nº 8.727, sem
desconsiderar o aprimoramento visando de fato a garantia dos direitos das pessoas transexuais e travestis e não uma
maior segregação.
O objetivo do trabalho é questionar e refletir sobre a política vigente sobre o nome social a fim de garantir os direitos
constitucionais, uma vez que a Constituição Federal brasileira de 1988 dispõe como objetivo fundamental a promoção
do bem estar de todos, sem preconceitos de sexo e ou quaisquer forma de descriminação, visando assegurar a todos
os direitos de saúde, educação, social, ou seja, delibera a igualdade para todos.
Como método de realização deste trabalho, utilizamos a revisão bibliográfica sobre questões de gênero, identificação
e subjetivação, bem como revisões da Resolução CFP nº 014/11 e do Decreto de Lei nº 8.080/1990. Entrevistamos
Alice Jane Satorno Silveira, que autorizou revelarmos sua identidade, conforme documento anexo, 22 anos, solteira,
graduanda do 2º período do curso de Cinema e Artes Visuais pela UNA/Belo Horizonte, que apenas com três anos de
idade se identificava como mulher.
Alice se identificava com a mãe e as primas e detestava coisas de menino , foi aos 19 anos que ela se assumiu mulher
e comunicou para a família, mas sua mãe disse que preferia que a filha continuasse como um homem gay para que
não precisasse passar por transformações corporais. No entanto, em relação ao sexo, ela se descreve como assexuada
e que seu desejo é encontrar uma pessoa que, independentemente do sexo, a faça se sentir amada e desejada do jeito
e do modo como ela é e se expressa. Alice utiliza o nome social na faculdade e no círculo de amizades, no entanto,
seus documentos ainda não foram alterados e isso não a incomoda tanto quanto o seu registro corporal, uma vez que
a cirurgia de mudança de sexo é uma marca na construção de sua identidade.
Portanto, frente ao cenário contemporâneo é possível percorrer pelas diversidades de posições em relação ao
sentimento de identificação que cada sujeito irá se reconhecer enquanto individuo. Transformando o nome social
em, de fato, o nome de registro, uma vez que a permanência do nome de registro aponta para uma identificação
binária e biológica. Assim como, as possibilidades que a ciência/medicina vem proporcionando como medicamentos e
procedimentos cirúrgicos visando atingir as demandas das pessoas. Quando pensamos nos sujeitos transexuais temos
de considerar tais recursos da ciência, uma vez que para essas pessoas mudar o sexo biológico significa legitimar no
corpo o que no psiquismo é estabelecido, unir corpo e mente, sendo assim, o documento de identidade com apenas o
nome é o registro social e identificatório do cidadão.

446
Sentidos do Grafite: um estudo sobre a identidade do jovem do Vale do Paraíba
Autores: Lais Claro Oliveira, PUC-SP
E-mail dos autores: lais.clarooliveira30@gmail.com

Resumo: O território e suas características e especificidades geográficas, demográficas, históricas, econômicas e


culturais invariavelmente marcam a construção identitária e as relações sociais entre as pessoas e o ambiente. A partir
de dados obtidos em meu trabalho de conclusão de curso da graduação em Psicologia em 2015 foi possível perceber
que na região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, o grafite por essas particularidades, vem assumindo novos e
múltiplos sentidos aos jovens, sem, contudo perder as concepções de resistência originárias do movimento. Na
vivência do grafite os jovens se reconhecem e sentem-se reconhecidos, se engajam e, principalmente, criam novos
espaços de lazer e de trabalho, transformando suas relações e o meio em que vivem. Dessa análise surgiram novos
questionamentos, como em compreender melhor o processo de construção identitária do jovem no cenário
sociopolítico atual considerando as novas relações com a arte e o espaço urbano, e o papel do capital e suas
contradições nessas leituras. E porque apesar do grafite ter sido descriminalizado em 2011, diferenciando-o do
vandalismo (LEI Nº 12.408), ele ainda é tido como uma produção marginalizada e que carrega diversos estigmas a
quem o faz. Assim, no presente estudo em curso no mestrado busca-se compreender como se dá o processo de
identificação e metamorfose do jovem por meio grafite diante dos aspectos regulatórios dos quais o universo do
grafite é permeado, a fim de problematizar sobre os desdobramentos desse movimento na sociedade contemporânea.
Este estudo é guiado a partir dos aportes da Psicologia Social Crítica, do materialismo histórico dialético e, mais
especificamente, pelo Singtama Identidade-Metamorfose-Emancipação, proposto por Ciampa (1987) que se refere a
um conjunto de ideias e conceitos que representam o ser humano em suas determinações e possibilidades, sendo a
Identidade dessa forma entendida como integral, dinâmica e em relação constante com o meio social. O estudo
também se pautará nas noções de movimentos sociais e tribos urbanas propostas por Fochi (2007). E da
serialização e totalização , próprias da dialética dos grupos, descritas por Sartre (2002). Visto que o grafite pode
compartilhar de aspectos da série , como a formação de um coletivo de pessoas que se forma por uma necessidade
do meio e que se dispersa tão logo a atividade tenha sido realizada ou do total , como a constituição nas lutas
contínuas para superar os fatores da serialidade, e compor relações que na realização dos desejos e necessidades
singulares configurem objetivos em comum. Elegeu-se para coleta de dados o método de apreensão e análise das
narrativas de história de vida, e ainda, observação participante e registros fotográficos, sendo todo o material
analisado à luz da teoria da Identidade, proposta por Ciampa (1987). Nos encontros com os participantes, pedir-se-á
ao depoente para fazer a narrativa da sua trajetória convidando-os à lembrança dos aspectos mais profundos e
essenciais que constituíram a sua identidade em um processo de regressão ao passado e projeção para o futuro (LIMA,
2014). Posteriormente, buscar-se-á dentre os participantes aquele que se configura como um sujeito emblemático ,
ou seja, aquele que materializa em seu discurso a ideia de que o singular pode materializar o universal , ou seja, o
sujeito da história que enquanto identidade pressuposta e performática, indicada pelos seus personagens narrados,
que possa chegar a desvelar a ideologia do local onde a história se constitui e como sujeito emblemático, contradizer
esta ideologia, podendo, assim, revelar um sentido emancipatório (CIAMPA, 1987). Sendo importante destacar que
esta forma de escolha do participante não configura esta pesquisa como um estudo clínico. A pesquisa está em
andamento, mas a partir dos resultados preliminares pode-se perceber que o grafitar não se encerra em si mesmo, ou
seja, nas inscrições e figuras feitas com spray nos muros, mas revela-se como uma insurgência política potente e
transformadora dos espaços e relações sociais por meio de seus atores e autores e do que problematizam através de
suas práticas.

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Vicissitudes do diagnóstico psiquiátrico para a identidade: uma pesquisa sobre Coisas Frágeis
Autores: Aluísio Ferreira de Lima, UFC; Indirah Rabelo Granja, UFC; Laura Nissey Maciel Costa, UFC; Milena Assunção
Procópio, UFC; Sarah Monteiro Araújo, UFC; Stephanie Caroline Ferreira de Lima, UFC; Thais Nunes Forte, UFC; Vicente
Emanuel Ribeiro Macêdo Alves, UFC
E-mail dos autores: aluisiolima@hotmail.com, stephaniecarolinelima@hotmail.com, indirahrab@gmail.com,
nisseilaura@gmail.com, smonteiro_@hotmail.com, assuncaoprocopio@gmail.com, vincent-e13@hotmail.com,
thaisnforte@hotmail.com

Resumo: O objetivo desse trabalho é apresentar a forma de trabalho e os resultados preliminares das análises de
narrativas de histórias de vida de pessoas que vivem na cidade de Fortaleza (Ceará/Brasil) e que em algum momento
de suas vidas foram submetidas ao diagnóstico psiquiátrico. Essas análises fazem parte da pesquisa Coisas Frágeis:
narrativas sobre os efeitos do diagnóstico psiquiátrico para a identidade , registrada na Plataforma Brasil (CAAE:
53338416.0.0000.5054), aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e
que conta com bolsa de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico CNPq. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cuja metodologia tem focado nas entrevistas de
profundidade. A adoção desse tipo de entrevista se justifica por permitir abordar, de modo privilegiado, o universo
subjetivo dos(as) entrevistados(as), assim como as questões e acontecimentos que fazem parte de sua história. O
marco teórico que tem orientado o estudo e subsequente análise das diferentes narrativas de história de vida, de
modo a permitir compreender, os modos como se constroem as identidades e ocorrem os processos de
reconhecimento, tem respondido ao interesse pela articulação entre teoria e práxis, está alinhado à Psicologia Social
Crítica, sobretudo às contribuições da Teoria Crítica contemporânea (identificada aqui como composta sobretudo pela
Escola de Frankfurt, mas incorporando a produção contemporânea de Judith Butler, Slavoj Žiž ek e Giorgio Agamben) e
da literatura. Esse marco teórico tem permitido dizer que, atualmente, o diagnóstico de doença mental, assim como
todas as suas derivações apresentadas nos manuais psiquiátricos, diz muito sobre os efeitos dessa submissão ao
progresso técnico nos processos de reconhecimento da identidade. Ele é algo sobre o qual não sei absolutamente
nada e com o qual e a partir do qual não posso, em nenhum caso, identificar-me ou distanciar-me: o diagnóstico fala
de quem sou a partir da redução das infinitas possibilidades da minha identidade a uma personagem fetichizada
(LIMA, 2010), que anula toda história individual e coletiva a uma condição puramente biológica, processo que
Agamben (2002) chamou de redução à vida nua. Os resultados preliminares da pesquisa tem demonstrado que as
narrativas de história de vida evidenciam uma sucessão de contextos e de personagens, onde o que é relatado não só
afeta os próprios contextos, como também transformam os próprios narradores. Em outras palavras, ao contar-se os
participantes apresentam performaticamente suas identidades, reconstruindo o passado, revelando conflitos,
rupturas e pactos que fizeram com outros sujeitos e com eles mesmos. As narrativas de história de vida oferecem a
possibilidade da compreensão de como o reconhecimento ideológico da identidade pode ser utilizado para a
implementação das novas formas de controle, ao contrário do que pregam os discursos politicamente corretos das
políticas públicas, e para a administração biopolítica por meio de estigmas, da violência ética e da medicalização,
sobretudo em um cenário complexo, tal como o que presenciamos na cidade de Fortaleza (Ceará/Brasil), a
implementação tardia (em relação as demais capitais brasileiras e ao próprio estado) e desestruturada da rede
substitutiva de saúde mental tem feito com que os profissionais não consigam de fato trabalhar com as orientações
para a desinstitucionalização da loucura, o que dificulta a redução significativa das reinternações psiquiátricas e reduz
suas ações terapêuticas à prescrição massificada de drogas.

448
GT 21 | Intervenções no campo do trabalho formal e informal, a partir da Psicologia Social

Coordenadoras: Maristela de Souza Pereira, UFU | Teresa Cristina Carreteiro, UFF | Vanessa Andrade de Barros,
UFMG

Vivenciamos na atualidade um cenário produtivo altamente deletério para os sujeitos, que são impactados de diversos
modos, a partir de sua inserção (ou sua falta) no processo produtivo. São características centrais do modo de
produção capitalista mundializado o acirramento da competitividade, a flexibilização das relações e dos direitos
trabalhistas, a precarização das condições de trabalho, as formas de terceirização e sub-contratação, a intensificação e
extensificação das jornadas possibilitadas pela utilização das tecnologias de informação e comunicação. Todas essas
situações ampliam a super-exploração dos trabalhadores e trabalhadoras em busca de sua maior produtividade, como
forma de extração máxima de mais valor, objetivo central do processo capitalista. Verifica-se ainda que tais
características estão inseridas dentro de um projeto de mundo e de relações identificado como neoliberalismo, o qual
se constitui como uma racionalidade que busca governar a tudo e a todos, abrangendo um conjunto de intenções, de
práticas, discursos e dispositivos que moldam as condutas e as subjetividades de indivíduos e coletividades. Em tal
cenário, constroi-se a concepção de que este sistema de funcionamento global contemporâneo é o único possível e a
mundialização do capital, acompanhada da homogeneização da vida humana, torna-se a ordem que predomina e
orienta a organização social. No contexto do trabalho formal as exigências, obrigações e responsabilidades que são
infligidas aos trabalhadores passam a constituir as maneiras de viver e de existir que doravante são orientadas pelas
ordens do mercado.
São processos produtores do que podemos chamar de subjetividades capitalísticas contemporâneas, que aderem a
valores apresentados como absolutos, verdadeiros e universais pelo pensamento hegemônico e fazem funcionar os
dispositivos de controle desta sociedade neoliberal globalizada, tais como o culto da excelência e o ser produtivo.
Podemos destacar também que tais subjetividades são marcadas pela noção de indivíduo, que é o modo de
subjetivação característico do processo de produção capitalista. Disso decorre que são imputadas aos sujeitos
individuais, todas as responsabilidades por sua inserção no processo produtivo, presente no discurso da necessidade
de qualificação, bem como a responsabilidade por manter-se vinculado a esse, através das noções de desempenho,
p oduti idade,àe el iaàeàdoà esti àaà a isa àdaàe p esa.àDoà es oà odo,à ua toàalgoà oà o eà e ,àsejaàe à
virtude do adoecimento ou da perda do emprego, a culpa é atribuída exclusivamente ao sujeito, sendo ignorados os
determinantes sociais que atuam nesses processos.
No campo da informalidade encontramos aqueles que não seguem a receita da nova ordem, que resistem e que
provocam alguma ruptura em relação à norma imposta. Sobrevivem de pequenas ocupações informais e de atividades
consideradas ilícitas. Há que se considerar também o grande contingente de pessoas que estão fora do mercado de
trabalho, movimento esse previsto pelo próprio sistema, que promove uma exclusão regulada, com vistas a manter
um exército de reserva como forma de ameaça e controle sobre aqueles que encontram-se ocupados. As graves
mazelas que decorrem deste modo de funcionamento social global, que podemos sintetizar como a degradação da
vida e do planeta, tendem a ser invisibilizadas, ignoradas e naturalizadas, uma vez que são impostas como norma,
mas especialmente no campo concreto do trabalho trazem graves consequências para os trabalhadores e
trabalhadoras, formais e informais. Tais conseqüências são representadas por múltiplas formas de sofrimento,
adoecimento físico e mental, desfiliação e isolamento social.
Outro ponto importante a ser mencionado é que a lógica neoliberal apregoa a retirada dos benefícios sociais e o
ausentismo do Estado das ações regulatórias sobre as relações de trabalho, deixando os sujeitos que compõem a
classe trabalhadora abandonados à própria sorte. Entendendo que a Psicologia Social não pode se furtar ao debate
sobre essas questões, que possui um compromisso com a crítica e a denúncia dos modos de existência que se
constroem sob formas de opressão e que deve trabalhar em prol do empoderamento dos sujeitos e da transformação
da realidade social em direção a um mundo mais justo, equânime e igualitário, a proposta desse GT visa pensar
possibilidades concretas de intervenção sobre o mundo do trabalho, formal e informal, guiadas por um horizonte de
mudança social.
Compreende-se que é papel da Psicologia Social elucidar os mecanismos que promovem a dominação concreta e
simbólica dos sujeitos e atuar no sentido da desmistificação do mito do indivíduo cuja ação se dá de forma
independente do contexto social. Assim, acreditamos que os psicólogos sociais, e demais profissionais que atuam com
foco nas relações dos sujeitos com as realidades concretas de trabalho, devem buscar problematizar tais questões
com os trabalhadores, trabalhadoras, coletivos e instituições, com vistas a buscar uma compreensão mais ampliada
449
sobre as estruturas e processos macrossociais que criam constrangimentos de diversas ordens, inclusive o
constrangimento da culpabilização pelo desemprego e pelo adoecimento decorrente do trabalho.
Diante destas colocações, situamos como objetivo do GT propiciar um espaço para compartilhamento de ações
colocadas em prática e direcionadas para mudanças no campo do trabalho e das relações aí estabelecidas, que visem à
novas compreensões dos homens e mulheres trabalhadores sobre sua atividade laboral e sobre o mundo, à mudanças
no contexto e nas formas de trabalho, e a possibilidades concretas de enfrentamento das ofensivas neoliberais (e da
omissão do Estado), em nossos dias. Tal proposta se articula com a temática geral do encontro, ao promover a crítica
ao momento histórico, político, econômico e social que vivenciamos, e ao mesmo tempo buscar formas de resistência.
A escolha pelo eixo de processos de trabalho em contextos neoliberais é ressaltada pelo interesse explícito do GT em
discutir ações voltadas para o campo do trabalho, que se traduzam em formas de combate às práticas opressoras,
adoecedoras, segregadoras e aprisionadoras que nele tomam forma.
Desse modo, o GT espera promover debates ricos a partir das experiências compartilhadas, que possam ser
inspiradoras para novas ações que venham a promover efeitos sobre os sujeitos e mudanças, no âmbito do trabalho e
na realidade social. O GT acolherá relatos de experiências e de pesquisas-intervenções que tenham resultado em
novas configurações para os contextos de trabalho formal e informal, e para os participantes envolvidos, seja a partir
de demandas originadas do meio social, ou criadas no encontro dos pesquisadores sociais com os sujeitos/agentes
com os quais esses travam contato.

450
A Formação no Trabalho em Atenção Psicossocial: relato de uma experiência colaborativa entre instituições
públicas
Autores: Daniene Cassia dos Santos, FHEMIG
E-mail dos autores: danienesantos@gmail.com

Resumo: Introdução
Transformações decorrentes da Reforma Psiquiátrica, incluindo a atenção aos usuários de drogas, precisam estar
presentes na prática dos profissionais no campo da saúde mental. É premissa o compromisso com os sujeitos,
usuários, trabalhadores, com práticas voltadas para o cuidado, para o acolhimento, para a construção de espaços de
escuta, de sociabilidade, de produção de subjetividade, de vida 1. A dimensão técnica que sustenta estas práticas são
influenciados pelos valores e formação dos trabalhadores, usuários e gestores que, não raro, reproduzem práticas com
as quais se buscou romper com a Reforma 2.
Diante da necessidade de discutir estas questões relativas ao atendimento, à prática cotidiana dos profissionais do
campo da saúde mental, criou-se um curso que possibilitasse espaço de reflexão sobre o trabalho no campo da
Atenção Psicossocial, aos trabalhadores de nível médio e superior das unidades de saúde mental da FHEMIG, tendo
como parceira a Escola de Saúde Pública (ESP). Destaca-se a relação com este GT, ao se constituir como uma forma de
intervenção no campo do trabalho, buscando resistir às práticas opressoras, adoecedoras, segregadoras e
aprisionadoras que nele tomam forma, tanto em relação aos trabalhadores, quanto em relação aos usuários do
serviço.

Objetivos
Ofertar ação educacional no campo da Atenção Psicossocial a 280 trabalhadores, através de espaço reflexivo,
problematizando aspectos técnicos, éticos e políticos do cotidiano do trabalho em Saúde Mental.
Orientação teórica
Referenciais da Educação Permanente (metodologia), Atenção Psicossocial e Redução de Danos (fundamentação), e
Ergologia (reflexão da experiência de intervenção, os processos de trabalho e Atividade).

Metodologia
Privilegiou-se a construção do conhecimento no coletivo, a partir da problematização das questões, impasses e
dificuldades da prática. Nomeado Atualização em Saúde Mental - Diálogos sobre princípios, práticas e saberes, o curso
é realizado de forma colaborativa entre as instituições: enfrentamento à imposição de processos burocráticos e
suposta ausência de recursos, justificativa para o que não interessa aos interesses do capital. São cinco módulos
abordando questões relacionadas à Dimensão Cuidadora do Trabalho em Saúde Mental. Ao final os alunos precisam
escrever uma reflexão, a partir de sua prática.

Resultados e Discussão
Ainda em andamento, foram realizadas 04 turmas de 20H. Os trabalhadores participaram nas discussões, que
refletiram no trabalho na rede. Houve dificuldades na aceitação do convite a um lugar diferenciado, do não estar
somente no lugar de depositário do conhecimento. Foi desafiador o exercício da reflexão sobre e a partir da prática,
havendo certa espera da transmissão de informações, desafio para trabalhadores e professores. Em especial neste
trabalho, é necessário desconstruir estigmas arraigados na cultura e reproduzidos por trabalhadores e usuários, que
não estão desconectados do contexto em que estamos inseridos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, técnicos
de enfermagem, médicos, atendentes.
Não se propõe a culpabilização dos trabalhadores. Direcionamo-nos à organização de um sistema criado para atender
interesses outros que não os dos trabalhadores ou dos usuários. Além disso, o que se espera dos trabalhadores não é
ensinável, estará sempre para além das prescrições.
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Houve ainda debates acalorados que possibilitaram aos trabalhadores compartilhar seu saber fazer, dificuldades
vividas, paradoxos institucionais e do trabalho, a forma como cada trabalhador construía seu modo de lidar com estes
impasses, sua Atividade.
Houve também importante contribuição não planejada: os trabalhadores, que frequentemente atendiam os mesmos
usuários puderam se conhecer, entender mais o trabalho e dificuldades vivenciadas pelos colegas. Puderam conhecer
estratégias que os outros foram construindo, tanto nos impasses institucionais, como discussão dos casos em comum.
O curso possibilitou aproximação dos trabalhadores e, especialmente, tornou o trabalho menos árido, possibilitando
novas construções de sentido. Enquanto professora e trabalhadora, também foi enriquecedor compartilhar deste
momento.

Conclusão
Intervir a partir da formação é função do SUS. Ainda que haja um sistema estruturado que reproduz uma forma
serializada e acrítica de formação e de cuidado, nos cabe intervir, em nosso âmbito de atuação. Ao psicólogo cabe o
repensar sua prática e contribuições no campo institucional, seja na assistência, seja na área da formação. É
fundamental repensar nosso papel na intervenção e luta pelas condições de vida de uma população já discriminada, e
não somente a reprodução de um modelo clínico, elaborador de pareceres ratificadores de exclusão e instrumentos
de violência do Estado. Não podemos ser partícipes deste projeto de desconstrução do que foi alcançado com muitas
lutas, alienados em nossas práticas, sem compreendê-las em um contexto ampliado, a que e a quem interessam.

Referencias
1 AMARANTE, P. D. C. Saúde Mental, Desinstitucionalização e Novas Estratégias de Cuidado. In: GIOVANELLA, L., et al.
(Orgs.). Políticas e Sistema de Saúde no Brasil. 2ª reimpressão. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2011. P. 756
2 MORAES, M. O modelo de atenção integral à saúde para tratamento de problemas decorrentes do uso de álcool e
outras drogas: percepções de usuários, acompanhantes e profissionais. Ciência & Saúde Coletiva, 13(1):121-133, 2008.
< http://www.scielo.br/pdf/csc/v13n1/16.pdf>

452
A fotografia como formação profissional e pessoal entre os recuperandos da APAC, Santa Luzia
Autores: Anevston Magalhães Lima, UFMG
E-mail dos autores: netunlima@gmail.com

Resumo: introdução
A presente apresentação objetiva colocar à apreciação e discussão oficina de fotografia realizada na APAC, Associação
de Proteção e Assistência ao Condenado, unidade localizada em em Santa Luzia, MG, que busca fazer a ressocialização
de cidadãos em cumprimento de pena.

Objetivo
Pensando a partir da perspectiva abordagem sócio-clínica do trabalho, desenvolvida durante o estágio curricular nesta
mesma instituição, realizamos um curso de introdução à fotografia profissional com objetivo de formação inicial de
fotógrafos entre os recuperandos. Trabalhamos com o regime semiaberto, no qual é possível exercer atividade laboral
externa, e os que estavam prestes a receber o alvará de soltura, pois desse modo a fotografia poderia ser, além de
instrumento de ampliação do mundo simbólico, mais uma opção de profissão e de engajamento no processo de
ressocialização do egresso.

Relação com o GT
A fotografia, como laborterapia, vem se juntar ao GT para discutir e pensar ações voltadas para o campo do trabalho
como forma de expansão da subjetividade e de combate às práticas opressoras, adoecedoras, segregadoras e
aprisionadoras que nele tomam forma.
orientação teórica
A fotografia e o ato de fotografar, devidos a sua polissemia no imaginário popular e mesmo como prática cotidiana,
proporcionam uma riqueza e plasticidade nas operações simbólicas subjetivas dos atores envolvidos em uma
intervenção com ela. Para Barros e Carreteiro, Toda intervenção convoca saberes múltiplos, tanto das teorias
encarnadas, as que não são puros discursos, mas têm reflexos sobre as práticas e auxiliam na intervenção, quanto dos
diversos trabalhadores envolvidos, individualmente ou em grupos. Tais saberes podem ser científicos, oriundos de
praticas profissionais ou construídos a partir do senso comum de forma que o a fotografia com sua técnica de base
simples, mas com potencialidades quase infinitas de desdobramentos dessa técnica, desperta silenciosamente, de
forma quase imperceptível, apesar de forte, no participante uma potencialidade interna na lida com sua vida, sua
possibilidades e seus saberes, sejam eles que origens tiverem.

Método
A intervenção pretendeu engajar todos os atores presentes e para tal lançou mão de diversos dispositivos desde a
elaboração de uma apostila didática, adequada às condições apresentadas, um formato das oficinas através de
apresentação em PowerPoint para que o conteúdo fosse apresentado e trabalhado em pequenos textos, sempre
ilustrados e comentados pelo professor, de modo que a diferença de escolaridade entre os alunos não fosse fator
prejudicial à aprendizagem, ao engajamento e ao interesse. O curso foi pensado com um conteúdo modular num nível
crescente de complexidade, gradativamente mais elaborado, porém com liberdade de tempo em cada módulo para
fixação das técnicas necessárias ao aprendizado da fotografia, o que seria determinado a posteriore pelo ritmo de
aprendizagem dos alunos. Realizamos um total de 30 horas, nas quais preferimos focar e fortalecer o aprendizado das
técnicas fundamentais de fotografia e assim deixamos em aberto a possibilidade de outros módulos do curso para
diferentes conteúdos virem a ser realizados num futuro próximo. Os alunos puderam manusear câmeras de última
geração porém, com conhecimento da trajetória do conceito daquele equipamento e assim evitar o estranhamento e
resistência que o contato com o equipamento, alienado de sua história, provocaria neles.

453
A partir da assimilação da câmera, conhecimento de seus elementos componentes e suas possibilidades passamos
para a parte prática. Tínhamos 10 alunos e 3 equipamento; essa adversidade foi revertida em fator de implicação ao
adotarmos uma didática em que determinada técnica era ensinada a um aluno e esse deveria ensinar a seu
subsequente usuário do equipamento. As técnicas eram introduzidas uma a uma em sequência durante os 5 dias de
prática e a partir dos segundo dia, as imagens do dia anterior eram analisadas de forma a observarmos os erros e
acertos a assim direcionarmos o foco do ensino para as partes que não estavam seguras no aprendizado.

Conclusões e resultados
O Objetivo do curso seria formação iniciante para um fotógrafo, apresentar ao recuperando o mundo da fotografia,
seu desenvolvimento, técnicas básicas e a seara de possibilidades existentes neste campo. A evolução na produção das
imagens ao longo da oficina não é somente decorrência do conhecimento técnico adquirido mas também da operação
simbólica ocorrida através do labor e da ruminação com a fotografia, esse privilegiado campo localizado entre as artes,
tecnologia, subjetividade e pragmatismo.
É possível visualizar claramente a evolução de forma consciente na produção das imagens ao longo da oficina, desde o
primeiro até o quinto dia de aula prática, reflexo do estímulo à atitude de engajamento durante o trabalho, de
coparticipação nas hipóteses analíticas e na proposição de ações, e do incentivo ao interesse por um novo universo
que se descortina; no caso, o da fotografia.

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A pesquisa como intervenção: O método de história de vida na Associação de Proteção e Assistência ao Condenado
Autores: Thays Cristhine da Costa Santos, Maryana Pereira Jácome, Raíssa Natália Pereira Raimundo
E-mail dos autores: costasthays@gmail.com,raissa.npr@gmail.com,maryana.jacome22@gmail.com

Resumo: Os sujeitos que vivenciam o cárcere na APAC, uma unidade prisional de administração e método próprio que
visa a recuperação e reintegração social dos indivíduos submetidos à pena privativa de liberdade, estão inseridos no
contexto de apagamento de suas histórias. A prisão é uma instituição total e independente do discurso humanizado e
religioso que algumas unidades possam adotar, a privação de liberdade de um indivíduo sempre será um processo de
perda dos direitos fundamentais e de desumanização. O recolhimento de histórias de vida daqueles que cumprem
pena na APAC do município de Santa Luzia-MG foi iniciado em 2006 como atividade de pesquisa do Laboratório de
Estudos sobre Trabalho, Cárcere e Direitos Humanos da UFMG e como atividade de estágio supervisionado a
estudantes de psicologia participantes do laboratório. Tratam-se de pessoas que, por possuírem trajetória dentro do
sistema prisional comum, foram submetidos a processos de desumanização e violência, contaminados pelo estigma
relativo às pessoas encarceradas, sofrendo os males da prisão, em um lastimável processo de apagamento de suas
próprias histórias. A pesquisa-intervenção busca compreender os impactos psicossociais do encarceramento,
resgatando junto aos recuperandos seus relatos pessoais, histórias estas que muitas vezes se encontram omitidas pela
institucionalização e desumanização do contexto prisional. No discurso dos sujeitos o trabalho está presente: seja no
campo da informalidade no momento anterior à pena, seja na atividade laboral praticada intramuros, que reduz o
tempo de cumprimento de pena. Avalia-se assim que o eixo do trabalho possui destaque recente nas intervenções
psicossociais e está presente em toda a dinâmica do cárcere. Nos orientamos pelos referenciais da psicossociologia
clínica e do método de história de vida. A psicossociologia assume papel central nas análises das organizações,
instituições e grupos, estruturas essas que são essenciais na relação dos indivíduos com a sociedade. As intervenções
pautadas na psicossociologia são caracterizadas pelas transformações sociais e construção de formas de emancipação,
e em conjunto com o método de história de vida proporcionam uma ressignificação e apropriação pessoal de suas
histórias, pelos sujeitos que cumprem pena privativa de liberdade. A história de vida busca abranger todos os
aspectos da vida do indivíduo, como suas vivências afetivas, emocionais e pessoais, interseccionando com seu
contexto socioeconômico, ideológico e cultural, a fim de refletir o indivíduo em sua totalidade. A metodologia se
baseia na presença semanal em uma unidade masculina da APAC, em encontros com aproximadamente 1 hora de
duração. Todos os sujeitos que participam da pesquisa-intervenção são voluntários e o método é explicado em um
primeiro encontro. O método da história de vida tem como núcleo central a dimensão do contar e diz sobre fluidez da
narrativa. Esse método proporciona aos estagiários de psicologia oportunidade de aprender o vivido social e o sujeito
em suas práticas, da forma como que ocorrem suas negociações das condições sociais únicas e como constrói sua
consciência subjetiva e ao mesmo tempo é construída por ela. Estes estagiários se propõem a exercitar a escuta e por
meio das reflexões produzidas e memórias recuperadas dos participantes produzem um compilado dessas narrativas
em forma de um livro. Esse livro é entregue no final do projeto para cada recuperando, de forma que somente ele
possa ter acesso ao material. O método pressupõe que ao final haja uma mudança nas percepções daquele que fala e,
também, daquele que ouve. A história de vida busca não somente o relato, mas a realidade da condição humana a
partir de histórias singulares. Quando essa realidade se encontra soterrada ou limitada a atividade do pesquisador se
torna de intervenção. O processo para construção da história de vida se torna doloroso para alguns participantes. As
memórias tanto do encarceramento, quanto com o envolvimento com a criminalidade podem acarretar em uma
barreira que só é rompida com a criação de um vínculo com o pesquisador/estagiário e com a internalização do
método. Há experiências no projeto de recuperandos que só trouxeram à memória fatos da infância nos últimos
encontros, o que evidencia o papel essencial do tempo para a efetivação do método. Outros, no entanto, possuem
como barreira a institucionalização e a necessidade de falar o que supõem que o estagiário quer ouvir, com isso,
formulam um discurso repetitivo e ressocializador que oculta suas verdadeiras histórias. Cabe ao pesquisador então a
sensibilidade de proporcionar o tempo necessário e construir um vínculo de solidariedade e confiança, tendo em vista
455
como essa relação irá influenciar no resultado de ressignificação das histórias. É importante trazer à tona discussões
sobre o trabalho, que perpassa praticamente todos os relatos e nos fazer perceber que tem uma função significativa
no processo de construção das subjetividades, o que muitos falam é o medo de saírem da prisão e não conseguirem
um trabalho formal, além disso o início da vida no crime significa, muitas vezes, o esgotamento de possibilidades em
conseguir um trabalho rentável dentro dos modos de produção capitalista.

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A Roda de Conversa como um processo de reflexão do trabalhador na compreensão do cotidiano
Autores: Erlandia Silva Pereira, Prefeitura Municipal de Uberlândia
E-mail dos autores: erlandiapereira@hotmail.com

Resumo: Diante da sociedade em que vivemos, estruturada pelo sistema capitalista, a carga de sofrimento a que ficam
submetidos os trabalhadores nos contextos de precarização do trabalho, em que ocorre a retirada de direitos sociais
por meio da flexibilização de leis trabalhistas e a supressão do trabalho vivo, permeiam de forma profunda as diversas
relações profissionais, exigindo daqueles que se envolvem com a temática da saúde do trabalhador, estratégias que
façam pensar de forma crítica os problemas entre os trabalhadores e o mundo capitalista. Sendo assim, este trabalho
apresenta os resultados de uma pesquisa ação desenvolvida junto a trabalhadores do Centro de Controle de Zoonoses
(CCZ), cujo objetivo principal é o de avaliar a eficácia da intervenção de rodas de conversa na compreensão da
qualidade de vida dos trabalhadores. O CCZ é um setor da Secretaria Municipal de Saúde que tem como finalidade a
gestão das ações de controle de doenças comuns aos homens e animais, dentre elas o combate à dengue. Por sua vez,
as rodas de conversa são construídas a partir de Paulo Freire, pensador pernambucano que com a Pedagogia do
Oprimido, 1987 resgata o sujeito no processo de ensino. Indo para além da alfabetização, sua proposta de ação e
reflexão pela palavra busca a partir da cultura uma experiencia de autonomia do sujeito com o diálogo no coletivo. As
Rodas pretendem criar um ambiente reflexivo em que os sujeitos, em grupo, relacionam as suas experiências
cotidianas associando-as à Qualidade de Vida estimulados por uma ideia geradora de diálogos. Assim, os relatos
dialógicos são característica fundamental dessa prática, possibilitadora de um movimento que favorece a permuta de
experiências coletivas, que produz reflexões nos sujeitos sobre a compreensão de suas situações vivenciais. O
processo reflexivo e a assimilação cognoscente sobre as várias histórias contadas provoca um deslocamento das
posições imobilizantes do sujeito em relação à complexidade que envolve seus problemas cotidianos, em relação à
cultura em que estão inseridos. Ao longo da pesquisa é perceptível que a técnica das Rodas mobiliza uma reflexão
criando alternativas críticas, apesar de inicialmente isso não ter sido percebido de forma individual, mas sim a partir
do enriquecimento proporcionado pelos diálogos, inventores de caminhos despercebidos anteriormente. Neste
sentido, com base em Vygotsky, tem-se a condição de sujeito como fundamental no processo de construção da
autonomia e deslocamento da alienação imobilizadora. A constituição dos sujeitos passa pelas mediações que a
pessoa vivencia, capazes de transformar o seu contexto social e se apropriar de suas significações, no que é chamado
de atividade mediada. Isto é, o ser humano só o é em relação, dado que a sua entrada no universo da comunicação
humana (Universo semiótico) é sempre mediada pelo outro (Vygotsky, 1930). Outro sentido das rodas de conversa
está no empoderamento do sujeito pela via da comunicação, que rompe com a destrutividade da competição, pois o
coloca numa condição horizontalizada favorecendo uma ampliação da percepção que este sujeito tem dos universos
contraditórios em que vive. Por isso, Paulo Freire enfatiza várias vezes que ninguém educa ninguém, mas os homens
se educam uns com os outros (Freire, 1997). Analisando os dados após o desenvolvimento de 12 rodas de conversa
com 232 trabalhadores, sendo média de 15 participantes por encontro, observa-se que um ambiente dialógico, em
que há uma liberdade comunicativa de expressão, cria vínculos de apoio mútuo e nos relatos vivenciais coletivos os
participantes encontram alternativas não percebidas para situações vivenciais de seu cotidiano. Este processo
permite, também, ampliar a visão sobre contextos da própria vida e a Qualidade de Vida, com filtros críticos capazes
de desvendar a realidade descolando o sujeito de compreensões ingênuas e alienantes.

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Acompanhamento e Intervenção: uma experiência no atendimento a adolescentes nas medidas socioeducativas de
meio aberto
Autores: Pâmela Mara Benevides Felício, UFMG
E-mail dos autores: pamelambf@hotmail.com

Resumo: O trabalho em pauta refere-se à nossa experiência de trabalho na Política Pública de Assistência Social do
município de Belo Horizonte, como forma de intervenção engajada com adolescentes acompanhados pelo Serviço de
Proteção a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida e de Prestação de
Serviços à Comunidade. Importante destacar que, atender jovens em situação de vulnerabilidade social tem sido nosso
trabalho desde a conclusão da graduação em 2008. Inicialmente em um Programa de Prevenção à Criminalidade do
Estado de Minas Gerais, posteriormente em um Centro de Referência de Assistência Social e atualmente, há quatro
anos, como Psicóloga em um Centro Especializado de Assistência Social, onde são executadas as medidas de meio
aberto na cidade.
O atendimento a esses adolescentes extrapola as prescrições do serviço, como por exemplo, a condução do processo
de responsabilização do infrator e a articulação com a rede de políticas públicas a fim de inseri-lo, atendendo em suas
demandas e garantindo a efetivação de seus direitos.
Tal experiência nos faz refletir cotidianamente acerca do contexto social, econômico e político da atualidade, bem
como sobre a adesão de muitos jovens às atividades ilícitas como fruto de escolhas limitadas. A despeito dessa
realidade marcada pela desigualdade social e falta de acesso aos direitos mais básicos, prevalece um discurso
ideológico contraditório sobre a existência de condições iguais para todos.
Buscamos suporte nos referenciais da criminologia crítica e da psicologia do trabalho. A primeira nos ajuda a
compreender que o crime e o criminoso são construções sociais e nesse sentido os atos considerados infracionais
cometidos pelos jovens não podem ser considerados naturais ou restritos à subjetividade. A psicologia do trabalho
oferece-nos a concepção de trabalho como uma atividade que tem centralidade ontológica na vida do ser humano. O
diálogo entre essas duas perspectivas amplia nossa compreensão sobre os processos de criminalização da juventude
pobre e sobre os trabalhos marginais como o tráfico de drogas, onde está inserida grande parte dos jovens
acompanhados.
A escuta atenta a cada um deles, bem como de suas famílias nos ajuda na compreensão dessa atividade como uma
forma de trabalho, com algumas especificidades, como seu caráter informal e ilegal, mas que tem grande impacto
para a sobrevivência e organização das dinâmicas familiares.
Essa criticidade nos conduz a um compromisso ético com esses jovens e nesse sentido, faz com que nosso trabalho
seja orientado por um posicionamento engajado e responsável, buscando construir junto com cada sujeito uma
proposta de acompanhamento, que leve em conta suas potencialidades, mas que considere sua história e
especificidades de vida.
Partimos da compreensão do nosso fazer como uma forma de intervenção ancorada em uma escuta próxima e
interessada. Tal perspectiva está apoiada no entendimento de intervenção, trazido pela Psicossociologia, como uma
maneira de produzir transformação das relações sociais. Nesse caso, especificamente, a aposta é de que o
acompanhamento/intervenção possa auxiliar esses jovens a melhor compreenderem as situações vividas para que
eles consigam construir posicionamentos autônomos diante suas escolhas, tornando-se sujeitos da própria história.
Para isso, nosso esforço traduz uma posição implicada, que tenta conciliar, conforme nos aponta Enriquez, simpatia e
distanciamento buscando um equilíbrio entre as duas dimensões, entre o interesse pela vida de cada um desses
sujeitos e importância da reflexão sobre o fazer cotidiano.
Outro aspecto que se apresenta a partir de nossa prática de trabalho é a constatação de que a inserção no mercado
formal de trabalho não significa o rompimento com o tráfico de drogas. Muitos são os jovens que permanecem com o
duplo vínculo de trabalho mesmo após a inserção em uma atividade não criminalizada.

458
Esse aspecto desperta inúmeras inquietações e faz com que busquemos metodologicamente, os referenciais da
ergologia e da psicossociologia do trabalho para nos auxiliarem em nossas intervenções. Porém, como resultado desta
experiência profissional, o desejo de compreender melhor esse contexto, transformou-se em demanda própria e deu
origem a um projeto de mestrado, iniciado no ano corrente. Nossa proposta de pesquisa tem como objetivo analisar
os aspectos psicossociais presentes na dupla jornada de jovens que desempenham concomitantemente atividades no
tráfico varejista de drogas e no mercado legal de trabalho, procurando compreender como eles conciliam as duas
atividades. Para isso, o estudo perpassará o conhecimento das atividades desempenhadas, explorando as semelhanças
e distinções entre elas e buscará compreender os sentidos construídos pelos jovens a cada atividade de trabalho, a
partir das relações que estabelecem nesses espaços de sociabilidade.
Diante do exposto, a proposta desse trabalho insere-se no eixo temático Psicologia Social, processos de trabalho em
contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento e no GT 21, Intervenções no campo do trabalho formal e
informal, a partir da Psicologia Social. Interessa-nos especialmente suas vertentes relacionadas à inserção de
trabalhadores no campo da informalidade e ilegalidade e a repercussão dessa forma de sociabilidade na construção de
modos de subjetivação desses sujeitos.

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Análise do trabalho no tráfico de drogas: o Método de História de Vida como dispositivo de intervenção psicossocial
Autores: Naiara Cristiane da Silva,UFMG; Vanessa Andrade de Barros, UFMG
E-mail dos autores: naiarasilva2004@yahoo.com.br,vanessa.abarros@gmail.com

Resumo: O estudo posto em tela, propôs-se por meio do Método de História de Vida, compreender a atividade de
trabalho das mulheres no tráfico de drogas, os sentidos desse trabalho e os impactos psicossociais envolvidos na
adesão a essa atividade. Este estudo pautou-se na prerrogativa de que o tráfico de drogas se organiza e se estrutura
como atividade de trabalho passando a representar possibilidade de inserção laboral também para as mulheres ainda
que de maneira informal e ilegal. A pesquisa de campo foi realizada na Associação de Proteção e Assistência ao
Condenado (APAC) feminina localizada na cidade de Itaúna, Minas Gerais e além do recolhimento de história de vida
envolveu também observações do cotidiano prisional de mulheres presas em decorrência do tráfico de drogas. Este
método biográfico prevê um inserção em campo duradoura, para que o contato constante com os sujeitos abra
possibilidade de aprofundamento das narrativas. Para a realização da história de vida, a intimidade e a confiança são
imprescindíveis e necessárias para o aprofundamento dos laços , desse modo, trabalhamos uma imersão semanal na
APAC que durou um ano e dois meses, no intuito de aprofundar o contato com as mulheres e garantir que, de maneira
espontânea, q alguma dentre elas quisesse contar sua história. Cabe destacar que o método propõe a escuta
comprometida da história do sujeito, valorizando a sua narrativa e possibilitando dessa forma a compreensão da vida
social a partir de quem a vive, dando espaço para que o sujeito esteja no centro de sua história. A partir dessas
premissas metodológicas, a escolha pela protagonista da pesquisa se deu de maneira natural e espontânea. Nesse
processo interventivo a transferência se torna indispensável, ponte para a efetividade do método; a relação
transferencial engendra mecanismos inconscientes que facilitam o recolhimento das histórias de vida, por apresentar
repetições, fornecem uma condição muito favorável ao processo. No início do recolhimento da historia, era
perceptível que havia um enredo pronto e muitas vezes percebíamos a repetição do relato da mesma história sobre
sua vida de forma resumida e rápida e em outros momentos se demorava nos fatos atuais, nas arbitrariedades da
APAC e na dificuldade de vislumbrar o futuro. Diante de um novo cenário em que descortinava suas memórias
traumáticas de infância e adolescência pudemos perceber que a tentativa anterior era resistir aos pormenores de sua
história, foi necessária a superação da resistência com a definitiva instauração da transferência. Pudemos
compreender que enquanto o sujeito narra sua história, ele elabora reflexões, dessa forma, inferimos que as
narrativas proporcionam a realização de um exigente retorno sobre si, sem complacência, de modo mais aprofundado
possível adquirindo uma nova identidade. Assim o individuo torna-se progressivamente um sujeito com suas falhas,
ideologia, suas convicções, seus remorsos e sua maneira de ser. Nesse sentido esse método proporciona ao sujeito se
interrogar, evoluir e também contribuir para que tenha o desejo de ter um novo papel na sociedade de pertença.
Através das falas, pode-se perceber que enquanto o sujeito confronta essa sociedade, questiona e procura elaborar os
acontecimentos, pode se tornar mestre de seu destino e não mais objeto das determinações de poder e
socioeconômicas. Pudemos compreender que esse método é capaz de exprimir os aspectos psicossociais em que o
sujeito está inserido, facilitando um processo de reconstrução social, em que a história de vida também é história do
coletivo e nesse sentido, o método se destacou como importante ferramenta de intervenção psicossocial. Percebemos
através das narrativas elementos referentes aos impactos psicossociais acerca da vivência com as drogas consideradas
ilícitas, bem como os sentidos atribuídos ao trabalho no tráfico, como sentimento de pertença, reconhecimento social
e as possibilidades de acesso ao consumo. Destacamos nesse sentido, que, por meio da narrativa da história de vida o
sujeito pode ressignifica-la e apreender os derivados do sentido além de ter a possibilidade sempre eminente de
construção de sentidos. O método de história de vida pode ser compreendido como importante ferramenta de
intervenção psicossocial na meda em que possui uma dupla dimensão: a descrição dos fatos e a busca de sentido. Os
fatos fazem parte de uma experiência singular, inscrita num universo de relações sociais, de classe, de poder, que
reenvia às condições sociais da existência. A História de Vida estabelece-se dessa forma como método comprometido
com a dialética pesquisador-pesquisado, se atentando para a produção de sentido tanto de pesquisado quanto de
460
pesquisador. Por se destacar como método engajado e preocupado com a alteridade do sujeito, espera-se que a
postura do pesquisador reflita essas premissas, através do acolhimento e de uma escuta compreensiva, que se anule
de julgamentos morais.

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Do trabalho no tráfico de drogas ao ofício de florista: um estudo de psicologia do trabalho em situações marginais
Autores: Aiezha Flavia Pinto Martins Guabiraba, UFMG; Vanessa Andrade de Barros, UFMG
E-mail dos autores: aiezhaguabiraba@gmail.com,vanessa.abarros@gmail.com

Resumo: Diante do contexto social e histórico que tem na construção do jovem pobre e negro o inimigo social a ser
perseguido, as políticas públicas de um Estado penal são efetivadas através da punição e do castigo, em detrimento de
fortalecerem a proteção e a garantia de direitos humanos. A pesquisa intitulada ¨Do trabalho no tráfico de drogas ao
ofício de florista: um estudo de psicologia do trabalho em situações marginais¨, buscou elucidar como essa situação
tem trazido graves e danosas consequências sociais relacionadas ao fortalecimento ideológico punitivista, ao
extermínio da juventude pobre e às políticas repressivas e de encarceramento. Para tanto, partimos das discussões da
criminologia crítica como ferramenta analítica para compreendermos a criminalização do trabalhador do tráfico
varejista de drogas, em um diálogo com a Psicologia do Trabalho para compreendermos o mundo do trabalho precário
atual, em que o tráfico figura, com destaque, como uma atividade econômica que possibilita inclusão, ainda que
marginal. Para produção de dados no campo de pesquisa, utilizamos o método biográfico, cujas ferramentas foram as
entrevistas narrativas, que privilegiaram, em uma perspectiva psicossociológica, o acesso à trajetória de vida do
sujeito. Ao longo da pesquisa de campo, o jovem relatou seu percurso de trabalho, narrando de maneira aprofundada
sua atividade no tráfico de drogas e seu ofício como florista, passando pelo trabalho realizado durante o cumprimento
da medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade. Nesse sentido, refletimos sobre a pesquisa que
utiliza o método biográfico, que, embora não deva ser considerada meio para generalizações, não significa vãs ou
frágeis memórias, fragmentos de uma vida sem valor científico, mas sim um aprofundamento em um universo
existencial de um sujeito, que o torna um ator social mais do que um corpo sem nome na correnteza das trajetórias
históricas. As narrativas não são realidade factual, mas expressam um vivido social e, nesse sentido, devem focalizar
suas análises teóricas. A dimensão de intervenção nesse tipo de pesquisa reside em que, ao fazer o relato de vida, o
sujeito pode se apropriar de sua história para, então, fazer história – a sua história e a história da sociedade,
alcançando a dimensão da historicidade. Assim se deu nossa pesquisa/intervenção, ocasião em que o jovem refletiu
sobre o passado, reconstruindo-o ao longo das entrevistas, e projetava seu futuro. A experiência de trabalho no
tráfico, a sociabilidade e as subjetivações produzidas naquela relação, assim como as travessias que ele realizou – suas
novas escolhas e novos lugares no mundo social – trazem a noção de um movimento em que ele refaz, a todo
momento, sua vida. Nesse sentido, falamos de travessias psicossociais e identitárias em que, pelo relato de vida, o
narrador trabalha a própria vida. Nesse âmbito, fazer pesquisa em psicossociologia é inevitavelmente fazer
intervenção psicossociológica, pois contribui para que os sujeitos signifiquem as situações vividas. Refletimos também
sobre o processo de escrita de pesquisas que têm por base tal abordagem, que devem privilegiar as narrativas, o saber
investido de experiência dos sujeitos sociais, considerando-o tão importante quanto o saber teórico. Os resultados da
pesquisa evidenciaram que o trabalho, seja em atividades marginais, ilegais e informais ou naquelas circunscritas à
legalidade, formais e regulamentadas, é espaço de construção de identidade, reconhecimento e valor, podendo ter
valências múltiplas quanto à construção dos sujeitos, a depender das possibilidades concretas encontradas e dos
sentidos possíveis de serem produzidos, em um âmbito singular de cada experiência. Chegamos à compreensão de
que o tráfico varejista de drogas está fundamentalmente assentado sobre o trabalho de crianças e jovens
adolescentes, implicando em risco, violência e morte para essa população, de modo que essa exploração de mão de
obra se mostra como uma urgência a ser superada. Quando o trabalho é utilizado como forma de penalização e
punição, como a colocação, no cumprimento da medida de prestação de serviços à comunidade, dos jovens em
atividades pouco valorizadas, resta comprometida sua possibilidade de promover o trabalho enquanto
desenvolvimento humano, resultando em repercussões psicossociais relacionadas à vergonha e à humilhação,
demarcando que o lugar no mundo produtivo reservado a esses jovens é o trabalho invisível e desvalorizado,
reforçando seu caráter marginal. Concluímos que o trabalho formal, enquanto direito, pode possibilitar uma travessia
identitária e psicossocial, favorecendo a construção de uma identidade revestida de valor, mas que a via profissional
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não deve ser a única via de superação da situação da exploração da mão de obra de crianças e jovens adolescentes no
tráfico varejista de drogas, pois é fundamental o fortalecimento de uma outra via, a da garantia de acesso aos direitos
humanos de modo amplo.

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Educação de presos para a Economia Solidária: possibilidade de resistência social
Autores: Isabela Dantas da Silva, UNESP; Ana Júlia Faccio de Medeiros, UNESP; Andreza Cristina Ferreira, UNESP Assis;
Deivis Perez, UNESP; Mateus Augusto Felix Costa, UNESP Assis
E-mail dos autores: isabeladantas94@gmail.com, anajuliafdm@gmail.com, andrezaf.95@gmail.com,
mateuscosta10@yahoo.com.br, prof.deivisperez2@hotmail.com

Resumo: Este trabalho foi dedicado a formação de trabalhadores presos na Penitenciária de Assis-SP, os quais, sob a
mediação de psicólogas graduandas, dedicaram-se a análise e apropriação da história e dos fundamentos teórico-
práticos da Economia Solidária (ES) e das atividades cooperativistas a partir do socialismo utópico até a
contemporaneidade. Ainda, os presos ocuparam-se de examinar as articulações entre os princípios da ES e as práticas
educativas, realizadas pelas cooperativas e cooperados, voltadas para difundir valores, saberes e fazeres do
cooperativismo. Cumpre notar que a formação alcançou 25 presos, durando aproximadamente sessenta e quatro
horas ao longo do segundo semestre de 2016, como resultado de pareceria entre a coordenadora técnica da
Penitenciária de Assis, o Departamento de Psicologia Social e Educacional, o Programa de Educação Tutorial/PET
Psicologia da UNESP e o Núcleo Assis da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO).
O processo formativo emergiu em função da preocupação, por parte das profissionais, docentes, discentes e presos
envolvidos, com os direitos do cidadão e, com o (re)conhecimento de perspectivas de geração de rendas alternativas
ao trabalho capitalista para futuros egressos do sistema prisional. Nesse contexto, diante dos avanços do projeto
neoliberal e de um sistema produtivo orientado para o lucro, no qual o egresso do sistema prisional dificilmente pode
se inserir, a formação para a ES e o cooperativismo surgiram como alternativas para que trabalhadores pensem e
atuem em perspectiva alternativa à organização societal capitalista. Isto porque nas organizações da ES, idealmente,
não há distinção entre aqueles que possuem capital e os que trabalham.
Nesta formação os presos puderam (re)conhecer: o Socialismo utópico e a história da economia solidária; o
pensamento de Owen; Fourier e Gide; o cooperativismo como sistema de ideias, valores e forma de organização da
produção e da oferta de serviços e produtos, bem como, as estratégias de consumo individuais e coletivas; a
sociedade dos pioneiros de Rochdale e sua importância para o pensamento e práticas da ES; a experiência
cooperativista de Mondragón; a ES e cooperativismo contemporâneos, por intermédio do exame de casos,
enfatizando experiências da América Latina; as modalidades de cooperativas; a relevância da educação para a
disseminação das ideias da ES.
Vale destacar que a abordagem educacional norteadora desta atividade formativa foi a Histórico-Cultural, baseada na
Psicologia russa de Vigotski. Nesta abordagem a qualidade do trabalho pedagógico está associada ao estímulo da
construção solidária e colaborativa dos saberes pelos participantes, e à constante busca de referências significativas
entre o contexto social e as vivências dos alunos. Outro aspecto orientador da formação, inspirado na perspectiva
vigotskiana, refere-se ao modo como foi estruturado o processo de aprendizagem de cada participante e do grupo.
Isto porque, nesta formação foi desenvolvido um intenso processo de identificação prévia dos saberes que os
aprendizes-presos possuíam e das aprendizagens que deveriam construir acerca da ES, autogestão e cooperativismo.
O objetivo foi garantir uma mediação educacional capaz de incidir sobre a Zona de Desenvolvimento Próxima (ZDP) de
cada participante. Visto o fato de, segundo Vigotski, a qualidade do trabalho pedagógico estar associada à sua
capacidade de promoção de avanços no desenvolvimento discente.
Ademais, é imprescindível destacar o papel da Psicologia Social no fomento à práticas insurgentes no contexto laboral
capitalista, especialmente por meio da formação de sujeitos para as práticas da ES. Principalmente por tratar-se de
pessoas sistematicamente marginalizadas, inclusive pelas tradicionais práticas psi difundidas no sistema prisional.

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Logo, as psicólogas, comprometidas com a transformação social, devem promover a conscientização sobre outras
possibilidades de trabalhar, de ser, de existir e resistir.
Ao final desta experiência formativa os presos puderam se apropriar dos saberes fundamentais a ES como resistência
ao capitalismo. No tocante às psicólogas, foi possível sistematizar saberes teóricos e metodológicos associados a
mediação do desenvolvimento de pessoas no contexto extremo de uma prisão típica do penitenciarismo moderno.

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Intervenção em Saúde do Trabalhador no Serviço Público: uma experiência psicossocial
Autores: Danielle Teixeira Tavares Monteiro, PUC Minas
E-mail dos autores: dani.ttm@gmail.com

Resumo: A incorporação, pelo setor público, do modelo de gestão baseado no desempenho, na produtividade e na
excelência tem impactado diretamente na subjetividade dos servidores públicos. Um impacto importante refere-se
aos sintomas relacionados à saúde mental, que se expressam nos afastamentos do trabalho, em decorrência de
licença médica por Transtornos Mentais e Comportamentais (CID F). Numa organização do legislativo mineiro, por
exemplo, anualmente, em média 25% de todos os afastamentos do trabalho referem-se a essa CID, o que representa
3.500 dias de afastamento por ano, num universo de 1200 servidores.
Diante dessa realidade, os profissionais que atuam na saúde, nas organizações públicas, são convocados a repensar
seu fazer profissional com novas estratégias de atuação, a fim de superar o modelo funcionalista hegemônico que
adequa o trabalhador à tarefa. Tona-se um desafio, então, a construção de novos métodos de intervenção.
Nesta exposição, buscaremos apresentar os resultados preliminares de uma pesquisa de doutorado que investiga
uma prática profissional denominada Inventário Psicossocial, desenvolvida pelos setores de Psicologia e Serviço Social,
em uma organização pública de Minas Gerais. Essa prática surgiu da demanda de um grupo de servidores que buscou
atendimento no setor de saúde, na tentativa de minimizar os conflitos que vivenciava, em relação às condições e à
organização do trabalho. Inicialmente essa demanda não era explícita, pois se manifestava em termos de mal-estar e
sofrimento, o que foi constatado pela incidência de licenças médicas no setor.
Mediante essa demanda inicial, a Psicologia e o Serviço Social iniciaram um trabalho de intervenção interdisciplinar
que consistiu no acompanhamento desse grupo, na busca de sentido para suas práticas cotidianas, assim como para a
compreensão de suas relações interpessoais. Esse processo teve como base a pesquisa-intervenção, objetivando a
construção e a organização de espaços de participação coletivos. Foram realizadas entrevistas individuais
semiestruturadas e encontros em grupos com os servidores, sendo a metodologia da intervenção construída ao longo
do seu próprio processo. Com isso, o Inventário Psicossocial procurou ampliar o espaço de diálogo entre os servidores,
na tentativa de fortalecer sua ação coletiva. Em última instância, a intervenção visou a organização, propondo arranjos
na gestão de seu funcionamento e, com isso, possibilitando os processos de subjetivação no trabalho.
A análise dessa intervenção tem o caráter retrospectivo, pois ela ocorreu no período entre junho de 2011 a junho de
2017. A metodologia utilizada na pesquisa foi qualitativa, de natureza explicativa, nos moldes de uma investigação ex-
post facto. Num primeiro momento, analisamos o material coletado, através de documentos (cartas, e-mails, material
produzido pelo grupo, ofícios, entre outros) e de diário de campo. Num segundo momento, coletamos novos dados,
através de entrevistas individuais em profundidade, com roteiro semiestruturado. Para análise dos dados, foi utilizado
o método hermenêutico-dialético proposto por Mynaio (2001), no qual as falas são situadas dentro do contexto social
onde ocorrem, para serem melhor compreendidas.
A psicossociologia torna-se a linha teórica escolhida para a compreensão da organização na qual ocorreu a
intervenção, levando-se em conta sua complexidade, na ótica de uma interpretação interdisciplinar dos fenômenos
estudados. A psicossociologia busca analisar as instâncias de poder que perpassam as relações socais e,
consequentemente os grupos, colocando em evidência as contradições, tensões e conflitos entre o intrapsíquico, o
intrasubjetivo, o político e o social, sempre numa análise dialética e dinâmica desses processos (BARUS-MICHEL, 2004).
Como resultado preliminar, observamos que a intervenção em ambientes laborais, com foco na relação saúde-
trabalho, passa necessariamente pelo fortalecimento dos trabalhadores, no que se refere à constituição de espaços de
discussão (e de resistência), nos quais a fala e a escuta servem como mediadores da realidade. Entende-se que as
intervenções em ambientes laborais passam pelo âmbito de ressignificação do sofrimento dos servidores e pelo
fortalecimento da subjetividade, nos planos individual e coletivo. A efetividade da intervenção respalda-se na
construção do processo pelos próprios trabalhadores, na medida em que são eles os protagonistas que detêm o
conhecimento de sua realidade. Os trabalhadores da saúde, nesse caso, são apenas facilitadores do processo, que
466
exige uma escuta qualificada, que agrega as dimensões clínica e social. Como resultado, tem-se observado que os
próprios trabalhadores estão renormalizando seu trabalho e, a partir desse envolvimento coletivo, o ambiente laboral
e a organização das atividades estão se transformando.
Acreditamos que essa pesquisa pode auxiliar na discussão do GT Intervenções no campo do trabalho formal e
informal, a partir da Psicologia Social pois apresenta uma nova possibilidade de intervenção nas organizações de
trabalho, principalmente em organizações públicas, permitindo a constituição de um espaço democrático de discussão
e questionando os modelos gerenciais burocráticos e autoritários.

467
Intervenção em um Grupo de Trabalhadores: Reflexões sobre o Processo de Saúde-Doença Relacionado ao Trabalho
Autores: Mariana Pereira da Silva, PUC-Campinas; Márcia Hespanhol Bernardo, PUC-Campinas
E-mail dos autores: mariananox@gmail.com, marciahespanhol@hotmail.com

Resumo: Dados oficiais apontam que o aumento do número casos de transtornos mentais cujo nexo foi estabelecido
com o trabalho é uma realidade. Quadros depressivos, Síndrome de Burnout (ou esgotamento profissional), consumo
abusivo de álcool e substâncias psicoativas, Síndrome do Pânico, Transtornos de Ansiedade e Transtorno de Estresse
Pós-Traumático (TEPT) são alguns exemplos de patologias que acometem trabalhadores, bem como casos de suicídios
relacionados a questões laborais. Tais ocorrências estão presentes em diversas categorias e nos chamam a atenção
para refletir sobre a temática da saúde mental relacionada ao trabalho. Ao investigar as características do trabalho no
mundo atual, é possível verificar que os modelos de organização e gestão, guiados pela lógica da flexibilização e da
precarização do trabalho estimulam o individualismo, a competitividade, a fragilização dos vínculos empregatícios, a
terceirização, a injustiça social, a violência psicológica, e tudo isso, por sua vez, gera impactos significativos na
subjetividade do trabalhador, que passa a vivenciar intenso desgaste mental e sofrimento psíquico. Nesse sentido, o
presente trabalho faz parte de uma dissertação de mestrado em desenvolvimento e tem como objetivo analisar o
processo de saúde-adoecimento mental relacionado ao trabalho vivenciado por trabalhadores de uma indústria
automobilística, utilizando-se da perspectiva da Psicologia Social do Trabalho. Para tal, foi realizada uma pesquisa
intervenção, de cunho qualitativo, por meio de um grupo de reflexão com 14 trabalhadores de uma indústria
automobilística. O grupo foi realizado no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Campinas - SP ao
longo de seis meses. Foram realizados 11 encontros, a partir dos quais foram confeccionados diários de campo pela
pesquisadora que serviram-lhe como instrumento de registro das experiências grupais. Dentre as técnicas utilizadas
durante os encontros destacam-se rodas de conversa, filmes, textos e imagens disparadoras de discussão e dinâmicas
de grupo. Os temas discutidos eram escolhidos pelos próprios participantes ao longo dos encontros. Em relação aos
resultados, o grupo possibilitou o contato com 14 histórias de vida com muitas similaridades, dentre as quais estavam
presentes trajetórias de vida muito simples, que passaram a ser guiadas pelo sonho de se trabalhar em uma
montadora de automóveis. Após o ingresso, no entanto, os trabalhadores conheceram um trabalho com um ritmo de
produção intenso, que valorizava o individualismo e a competitividade. Os esforços físicos eram desgastantes, para
acompanhar o ritmo exigido para a produção. Todos os trabalhadores participantes do grupo tinham algum tipo de
lesão física, como LER/DORT e lesões em outras partes do corpo. A partir das lesões o sofrimento mental se instalou,
pois os lesionados eram também excluídos, humilhados e perseguidos, além da permanente intensificação do ritmo de
trabalho. Foi unânime o relato da vivência da violência psicológica enquanto forma de gestão. As intervenções, então,
foram realizadas a fim de promover a conscientização dos participantes a respeito de um problema que é social, e não
apenas individual. Tentou-se intervir para estimular o enfrentamento individual e coletivo, valorizando a união e a
solidariedade entre os trabalhadores. As reflexões geraram ricos debates a respeito do modelo toyotista de
organização do trabalho e de como a ideologia neoliberal promove valores que os fazem "vestir a camisa" da empresa,
independentemente das consequências que essa dedicação possa gerar. Foi discutido que, somente rompendo com
tais valores é que seria possível enfrentar a precarização social e do trabalho na atualidade, diminuindo o adoecimento
e favorecendo a saúde dos trabalhadores. Por fim, espera-se, com essa pesquisa, contribuir com uma atuação
contextualizada, crítica e reflexiva, que a psicologia pode ter com a saúde do trabalhador e com a saúde pública.

468
O trabalho do educador musicista
Autores: Jesus Alexandre Tavares Monteiro, UFMG
E-mail dos autores: jesus.alexandre@ymail.com

Resumo: O presente trabalho refere-se ao fazer do Educador Social musicista nas áreas de intervenção psicossocial,
destinadas pessoas em situação de vulnerabilidade, na cidade de Belo Horizonte. Trata-se, pois do profissional
executor de uma educação não formal que transcende a educação tradicional, simplificada nos limites dos muros
escolares, para uma construção do conhecimento reflexivo nos espaços presentificados da exclusão. No arcabouço
desta temática uma questão se faz norte nesta pesquisa: Como o trabalho do Educador social musicista contribui para
a superação da situação de vulnerabilidade participantes das políticas publicas de saúde ou assistência?
Investigar o fazer destes profissionais através da Metodologia de Historia de vida e embasados nos estudos da
Ergologia e da musica em confluência com a Psicologia sócio-historica. Um aprender para impulsionar e melhorar o
fazer tão utilizado e eficaz no cotidiano das praticas sociais. Dois caminhos teóricos, ou duas melodias do pensamento
cientifico, apresentam-se como direcionamentos plausíveis para uma construção teórica sobre a temática do trabalho
do Educador Social Musicista. A primeira refere-se a Psicologia Sócio -histórica é o desenvolver acadêmico sobre a
linguagem, a arte e a mediação do mundo. E conseguinte a leitura Ergológica sobre o trabalho, através dos estudos de
Scwhartz e teóricos afins.
A atividade na Ergologia é o que movimenta e tem suas origens nas diferenças do ato e do teórico, o exercício de
executar o que está entre o dito e o não dito, mais especificamente à distância inexequível entre o prescrito e o real,
portanto, conjunção de saberes de acontecimentos múltiplos. Cunha (2007, p. 51) descreve que a atividade se
engendra nessa porosidade do prescrito, em seus interstícios como micro-decisões . Gohn ( 2010) caracteriza o
educador Social por aquele profissional que cria um processo educativo baseado na busca intencional de autonomia
do pensar e do fazer do educando. Uma intervenção cuidadosa para produzir entre o prescrito e o real da atividade.
Uma ação baseada na imprevisibilidade do meio.
Para tal tarefa vislumbramos a metodologia de Historia de vida para abarcar o cotidiano, o chão de fabrica do fazer
destes profissional, o prescrito e o real que é composto nos encontros da exclusão. Usaremos , também uma densa
pesquisa bibliográfica.
Segundo Barros (2008), no artigo intitulado Cartografando estratégias de resistência construída por educadores no
cotidiano de trabalho : A imprevisibilidade deve ser gerida, não como uma execução, mas como um uso de si, o que
significa dizer que é necessário recorrer a habilidades, recursos e escolhas para gerir essa imprevisibilidade (Barros
2008, p. 29). O espaço, constituinte de um vazio de normas e de infidelidades constantes do meio, há de se configurar
como algo nocivo ao educador Social Musicista. Mas este espaço se apresenta, também, como representativo de
criação de possibilidades novas de re-normatização. Burlar o contínuo imprevisto é transformá-lo em criação.
A metodologia de História de Vida parte do pressuposto da proximidade ao usar a narração livre da história de vida
para uma compreensão mais pormenorizada da realidade social. Nesta perspectiva, o objeto-sujeito da pesquisa
torna-se ator dessa pesquisa, ou seja, considera-se uma relação dinâmica e intrínseca entre o mundo real e o teórico;
um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade, uma tentativa de unificação do saber por
intermédio da singularização coletiva e simplificação oral que não pode ser traduzida somente em números, hipóteses
assertivas ou razões absolutas.

469
Promoção de Direitos Humanos no Cárcere: uma Inviabilidade
Autores: Tainá Fernandes Vieira, UFMG
E-mail dos autores: tainafv@hotmail.com.br

Resumo: A pesquisa-intervenção em tela refere-se ao trabalho realizado pelo Grupo de Apoio ao Ministério Publico no
Sistema Prisional – GAMPSP em 2014/2015 com o objetivo de investigar o trabalho de agentes penitenciários e de
presos nas prisões metropolitanas de BH e realizar um diagnóstico sobre as condições de cumprimento de pena
privativa de liberdade nessas unidades, prevendo a criação de um núcleo de monitoramento. Trataremos aqui do
processo diagnóstico. Orientamo-nos por uma perspectiva de pesquisa-intervenção, comprometida com a
transformação das realidades pesquisadas, enfatizando as repercussões que o pesquisar pode trazer para suas
realidades concretas. Nosso propósito foi aproximarmo-nos do real dessas experiências de encarceramento para
confrontá-las com os discursos/prescrições governamentais sobre as prisões e a reintegração social, objetivando a
promoção e consolidação dos direitos humanos e da cidadania. Teoricamente apoiamo-nos na Criminologia Crítica e
sua perspectiva histórico-analítica sobre a questão criminal, compreendendo a criminalidade sob um panorama
macrossocial, perpassado por determinantes econômicos, históricos, políticos e culturais. Num contexto de disputa
pelo poder político-econômico, inatingível pelas parcelas marginalizadas da sociedade, consideramos os processos de
criminalização da pobreza como determinante principal do encarceramento no mundo contemporâneo. Por outro
lado, o campo conceitual da Psicossociologia do Trabalho, referente ao negativo psicossocial, nos oferece um conjunto
de recursos constituído pela articulação entre campo social, condutas humanas e vida psíquica, conferindo um lugar
central ao trabalho, às atividades do sujeito sobre o mundo e sobre si mesmo. Tais perspectivas estão em diálogo
permanente com a Ergologia, inspiração para nossa orientação metodológica. Nesse sentido, buscamos estar o mais
perto possível dos sujeitos que participam de nossa investigação e de suas realidades, ou seja, dentro das prisões, na
perspectiva de horizontalidade de saberes. Para tal, lançamos mão dos seguintes instrumentos metodológicos: visitas
regulares e sem aviso prévio de monitoramento às unidades prisionais; entrevistas individuais e coletivas com os
presos, presas e seus familiares para recolhimento de depoimentos e denúncias; aplicação de questionários sobre as
condições de cumprimento de pena; observações empíricas das atividades realizadas no interior das prisões;
fotografias; vídeos. O principal resultado é a constatação in situ de que a prisão é uma instituição total que impõe uma
cultura violenta aos sujeitos que a vivenciam, deteriorando as referências exteriores da vida em liberdade.
Arbitrariedade, controle e punição se entrelaçam nesse espaço de segregação, reclusão e opressão, configurando a
realidade prisional como estruturalmente violadora dos direitos humanos. Subjugados ao cárcere, a pessoa presa e
seus familiares são também submetidas às péssimas condições materiais e estruturais da prisão, mascadas pela
degradação, miséria, confinamento e abandono. A ausência se constitui como regra. Instalações violentas,
degradantes e totalmente insalubres, num estado de completa deterioração, chegando à inexistência de
abastecimento de água potável, energia elétrica e saneamento. É corriqueira a falta de colchões, de cobertas e lençóis,
de materiais de higiene, de medicamentos, de acesso à informação, à assistência social, à saúde. A superlotação é
generalizada, comportando três vezes a capacidade de vagas. A precarização da assistência jurídica interna e a
lentidão processual são agravantes, já que a maioria dos internos experimenta um atraso considerável na concessão
de seus benefícios processuais. A violência é estrutural: os procedimentos de disciplina interna são, por definição,
extremamente autoritários, fundamentando-se na existência de castigos individuais e coletivos. Inúmeros foram os
hematomas registrados por fotografia, demonstrando que as violências físicas, psicológicas e simbólicas são
cotidianas. Há uma aplicação desmedida de faltas disciplinares assim como o uso destas como medidas de exclusão,
coerção e ameaça. Nas celas nas quais se cumprem as sanções disciplinares, onde é ser confinado por simples
reivindicação de seus direitos, um sujeito permanece em isolamento por até trinta dias, culminando no alto registro de
suicídios nesses locais.
Conclusão: Nesse contexto, o acesso à prisão ao pesquisador tem sido constantemente dificultado. A presença de um
sujeito exterior à instituição traz um extremo incômodo uma vez que modifica a rotina tão severamente imposta além
470
de suscitar reflexões acerca da realidade carcerária. Durante o período de existência do núcleo de monitoramento foi
possível suspender a lógica de afastamento e fechamento desses estabelecimentos prisionais, funcionando como um
incipiente controle externo, o que se constituiu como medida minimizadora da violência. Entretanto, sustentamos a
violação de direitos como inerente às prisões, existindo uma incompatibilidade estrutural da pena privativa de
liberdade e os princípios dos direitos humanos. O cárcere se configura como um espaço de permanente perpetuação
de danos, dores, de vulnerabilizações e de adoecimento físico e psíquico, num significativo prejuízo subjetivo e social
aos sujeitos que o vivenciam. Nesse sentido, a pesquisa-intervenção possibilitou-nos conhecer a prisão de seu interior
e refletir sobre sua função de controle social de raça e classe, introduzindo o campo da criminologia crítica em nossa
formação. Levou-nos também a refletir sobre como integramos essa experiência e sobre o sentido que atribuímos à
pesquisa-intervenção no universo encarcerado.

471
TRABALHO, GÊNERO E ECONOMIA SOLIDÁRIA: subjetividades, (sobre)vivências e desigualdades de gênero e
raça/cor
Autores: Carlúcia Maria Silva, UEMG/UFMG
E-mail dos autores: carlucia.maria@gmail.com

Resumo: O presente trabalho analisa a participação de mulheres em empreendimentos de economia solidária na


Região Metropolitana de Belo Horizonte e como essas mulheres, a maioria delas, em situação de pobreza e
vulnerabilidade social vivenciam processos de inserção social. Analisa também, a partir do olhar dessas mulheres, que
contribuições os agentes mediadores tem proporcionado a essas iniciativas.
A Economia Solidária desponta enquanto experiências de trabalho e geração de renda em um contexto
socioeconômico complexo em um mercado de trabalho cada vez mais flexibilizado e precarizado. No caso brasileiro,
embora essas iniciativas se façam presentes de forma mais intensa na década de 1990, sua institucionalização ocorre
em 2003, com a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) ganhando assim status, de política
pública e sendo patrocinadas não somente pelo poder público (MT/SENAES), mas também por organizações não
governamentais, instituições religiosas e organizações sindicais.
O debate sobre a centralidade do trabalho na sociedade contemporânea e sua dialética, a partir de trabalhos de
Antunes (2006), Castel (1998), Dagnino (2002) e Dagnino (2004), Georges e Leite (2012), Maar (2006), Schwartz
(2000), servirão de ponto de partida nesta investigação, buscando compreender as transformações no mundo do
trabalho, a Economia Solidária e seus desafios e os dilemas. Ainda no campo teórico-epistemológico tem-se buscado
compreender o trabalho e sua perspectiva ergológica, a partir de estudos de Schwartz (2000), uma vez que o trabalho
envolve sempre uso de si , cuja justificação da palavra uso , segundo este Autor, é a forma indiscutível de
manifestação de um sujeito . (SCHWARTZ, 2000, p. 41).
Nesse sentido, o presente trabalho é parte de pesquisa/intervenção ainda em curso, realizada em estágio pós-
doutoral no Programa de Pós-graduação em Psicologia, na Universidade Federal de Minas Gerais. Além de avançar nos
estudos e debates acerca da trilogia Trabalho, Economia Solidária e Organizações da Sociedade Civil , agora no âmbito
da psicologia social, o estudo busca compreender a centralidade do trabalho numa perspectiva ergológica, tendo a
psicologia social como referência epistemológica, bem como as relações e sociabilidades construídas enquanto lócus
da formação humana e produção de saberes. Compreender a articulação em redes dos empreendimentos de
economia solidária e parcerias construídas são também objetivos perseguidos.
As reflexões aqui apresentadas resultam do acompanhamento nos locais de trabalho de dois empreendimentos de
economia solidária na Região Metropolitana de Belo Horizonte e as relações construídas em busca de ressignificar
vivências e experiências. A partir do olhar das mulheres nos empreendimentos Mulheres Criativas e da Cooperativa
dos Recicladores e Grupos Produtivos do Barreiro e Região (COOPERSOLI )o estudo tem buscado responder as
seguintes questões: (i) Que sociabilidades e reciprocidades tem sido construídas (interna e externamente) nos
empreendimentose e como isto tem sido apropriado pelos trabalhadores e trabalhadoras em suas lidas nos
empreendimentos econômicos solidários? (ii) A presença/participação de entidades de apoio e fomento nessas ações
e no movimento de economia solidária, tem contribuído para o avanço de conquistas sociopolíticas nos
empreendimentos solidários? Que impacto essas ações oferecem para movimento de economia solidária e o
fortalecimento de suas lutas?
Neste processo de observação direta e participante, notou-se também processos organizativos e políticos, por
trabalho, renda e cidadania. Os resultados apontam o protagonismo das mulheres nos empreendimentos de economia
solidária pesquisado. Entre essas mulheres, a maioria são negras, provenientes do interior do Estado, semianalfabetas
e vitima de violências em diversas esferas. Trazem no corpo as marcas da exclusão e no cotiano, a responsabilidade
com o cuidado da casa e dos filhos e/ou netos ainda pequenos. Mulheres historicamente excluídas do mercado formal
de trabalho, que garantem o sustento de si e de seus familiares em ocupações do setor serviços. Na informalidade
lutam pelo direito a ter direitos. Os resultados apontam também a forte dependência de aportes públicos e privados, a
472
necessidade de fortalecer a luta política pela consolidação da economia solidária e o fortalecimento de redes
enquanto uma nova forma de trabalho pautada na autogestão, cooperação, construção de relações de/no trabalho,
produção e consumo e participação sociopolítica.

473
GT 22 | Movimentos Sociais e luta de classes: em busca de uma práxis transformadora

Coordenadoras: Cinara Brito de Oliveira, Glaucia Tais Purin, PUC-SP | Lívia Gomes dos Santos, UFG

Neste GT nos propomos a dialogar sobre os Movimentos Sociais como uma possibilidade de construção de uma práxis
transformadora. Nessa direção buscamos pesquisas e reflexões epistemológicas, teóricas e metodológicas, bem como
pesquisas-ação e/ou relatos de práticas que se insiram na temática dos Movimentos Sociais. Buscamos fomentar
discussões que abordem as contribuições da Psicologia Social na compreensão e, mais do que isso, na possibilidade de
construção, organização e consolidação dos Movimentos Sociais. Isso porque pensamos que nosso aparato teórico
metodológico não deve servir apenas para a explicação, como se fossemos um olhar de fora que visa apenas analisar
tais processos; ao contrário, compreendemos que a Psicologia Social tem um caráter político e de práxis que não pode
ser perdido de vista.
Nessa direção, mostramo-nos partidários de uma compreensão da Psicologia Social que deve ter entre seus objetivos
principais uma prática emancipadora – e que, para que isso seja possível, é necessária uma relação com a teoria.
Nessa direção, seguimos os caminhos apontados por Silvia Lane (1984), quando afirma que não é possível uma prática
neutra e, além disso, toda pesquisa é por si só uma intervenção, visto que pressupõe a ação de um em relação ao
outro. Nessa sentido, a práxis é um importante instrumento de transformação. Como afirma Marx (1845/2012, p. 164,
grifos no original) em suas teses contra Feuerbach aà oi id iaàdoàatoàdeà uda àasà i u st iasà o àaàati idadeà
humana ou autotransformação pode ser compreendida e entendida de maneira racional apenas na condição de práxis
e olu io ia .àNestaàpe spe ti a,à“a aiaà ,àp.à à osàale taà ueà à o u o pesquisador buscando a filosofia da
práxis, acaba por falar da teoria como de um acessório ou servo da prática ou, ainda, negando-a radicalmente. Dessa
forma, o pesquisador, ao evitar a imposição de suas categorias de interpretação aos fenômenos analisados, comete
outro engano igualmente lamentável do ponto de vista epistemológico, considera a prática como o lugar da verdade,
esquecendo que muitas vezes o real é o que a própria teoria formula, pois o conhecimento produzido torna-se
elemento constitutivo da prática.
A ênfase, portanto, deve sempre recair na unidade resultante da relação que se forma entre teoria e prática, e não da
anulação de um no outro. Justamente por nosso GT buscar essa práxis acolheremos tanto discussões teóricas quanto
apresentação de práticas; pensamos que a síntese entre as diferentes experiências podem nos apontar direcionamos
para uma práxis efetivamente transformadora.
Outro importante aspecto que nos guiará nas discussões desse GT é a compreensão de que o humano é um ser que se
constitui nas relações que estabelece ao longo de sua história e por meio de sua atuação no mundo. Justamente por
isso é imprescindível considerar que ele está imerso em uma série de determinações histórico-sociais que irão mediar
a forma como ele se estabelece no mundo. Sendo assim, imprescindível que a Psicologia não se abstenha da discussão
deà lassesà so iais,à u aà ezà ue:à aà o pletaà o stituiç oà psí ui aà dosà i di íduosà podeà se à istaà o oà di eta e teà
dependente do desenvolvimento da técnica – o grau de desenvolvimento das forças produtivas – e da estrutura
da ueleà g upoà so ialà aoà ualà oà i di íduoà pe te e à VIGOT“KI,à / ,à p.à .à ássi ,à aà e ist iaà deà lassesà
sociais é um pressuposto fundamental que nos permite compreender que algumas das questões sociais que parecem
ser de ordem absolutamente individual são, na sua essência originadas nas relações estabelecidas entre os sujeitos, os
quais são atravessados pelas diferentes formas de vivência, na qual há dois pesos e duas medidas diferentes para a
mesma experiência, onde há, de um lado, a cotidiana vivencia da desigualdade, injustiça e falta de recursos, enquanto
por outro existem incontáveis possibilidades e recursos.
Destacamos a compreensão da dialética exclusão/inclusão social, como apontado por Sawaia (1999) sendo
fundamental para a análise desse processo vivenciado pela classe trabalhadora e marcado principalmente pela
desigualdade. Aqui a exclusão social é compreendida como um processo complexo e multifacetado, uma configuração
de dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas. É um processo sutil e dialético, pois só existe em relação à
inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, mas um processo que envolve o homem por
inteiro e suas relações com os outros. Justamente por considerar essa constante relação entre a exclusão e a inclusão,
Sawaia indica ainda que às vezes as práticas de inclusão não passam de falácias, de políticas que mascaram a realidade
e que permitem que os excluídos se sintam incluídos, estejam em alguns espaços, mas não tenham efetivamente uma
participação neles. Inclusão e exclusão configuram, assim, duas faces de uma mesma moeda, já que muitas vezes a
inclusão não passa de uma estratégia de adaptação à ordem social excludente. Neste bojo, a inclusão perversa é uma
forma falsa de inclusão; é maquiar os problemas, disfarçar os entraves e fazer de conta que está tudo bem, ignorando
as diferenças e com isso ignorando a própria realidade.
474
O conceito da dialética exclusão/inclusão é constituído por três dimensões, sendo: a dimensão objetiva/econômica: da
desigualdade social; a dimensão ética: da injustiça e discriminação social; e a dimensão subjetiva, do sofrimento
psicológico, denominando de ético-político. Administrar as desigualdades significa, portanto, incluir perversamente e
tratar apenas de seus efeitos superficiais, deixando de lado as causas mais profundas da exclusão, reproduzindo novas
formas de sofrimento.
Sawaia (1999) nos auxilia a entender este sofrimento como ético-político, o qualàseà o stituiàpelaà i iaà otidia aà
das questões sociais dominantes em cada época histórica, especialmente a dor que surge da situação social de ser
t atadoà o oà i fe io ,à su alte o,à se à alo ,à ap di eà i útilà daà so iedade .à p.à .à Esteà sof i e toà e elaà aà
tonalidade ética da vivência cotidiana da desigualdade social, da negação imposta socialmente às possibilidades da
maioria apropriar-se da produção material, cultural e social de sua época, de se movimentar no espaço público e de
expressar desejo e afeto. (Sawaia, 1999, p. 106).
Dessa maneira, a vivência do sofrimento ético-político não é de ordem individual, proveniente de desajustamentos e
desadaptações, mas sim um tipo de sofrimento determinado exclusivamente pela situação social da pessoa. É
importante destacar que embora o sofrimento se manifeste no indivíduo que o vivencia ele é resultado da forma
como as relações são estabelecidas, pelo contexto que produz esse sofrimento.
O sofrimento ético/político, gerado pela desigualdade social, nos permite analisar a experiência das forças excludentes
no processo de inclusão social, a pobreza na dialética singular/particular/universal, bem como na dialética
pensar/sentir/agir, portanto, exigindo o cruzamento entre teoria psicológica e sociológica.
Nestaà o epç oà te i a,à oà sof i e toà ti o/políti oà isaà le a à sà políti asà so iaisà ueà p e isa osà supe a à aà
concepção de que a preocupação do pobre é unicamente a sobrevivência e que não tem justificativa trabalhar a
e oç oà ua doàseàpassaàfo e à “áWáIá, 1999, p. 98).
Dessa maneira, se o Sofrimento é resultante de uma condição social e de um contexto no qual os sujeitos particulares
estão inseridos, é apenas por meio de atuações coletivas que ele pode ser superado. Neste panorama, os movimentos
sociais são uma importante estratégia de enfrentamento às mais diversas situações de opressão e inclusão perversa
que atinge à classe trabalhadora. Compreendemos movimentos sociais como uma ação social coletiva de natureza
sociopolítica, em torno da qual parte da população se organizar a fim de expressar e impor suas demandas. Trata-se
de diferentes formas de organização que visam um enfrentamento de questões que afligem a Classe Trabalhadoras e
que compreendem que o sofrimento e os problemas que os afetam não são exclusivamente de ordem individual e,
justamente por isso, é apenas a partir da atuação coletiva que podem ser superados. Nessa direção, não perdemos o
indivíduo dentro do coletivo; ao contrário, nesses espaços ele se potencializa e amplia as suas possibilidades de ação.
Destacamos que a presente proposta se articula com o tema do evento - De o a iaà Pa ti ipati a,à Estadoà eà
Lai idade:àPsi ologiaà“o ialàeàe f e ta e toàe àte posàdeàe eç o àe à àei os:
1. Uma democracia efetivamente participativa envolve a mobilização social em diferentes esferas, e os Movimentos
Sociais podem ser uma das estratégias para isso;
2. Os Movimentos Sociais são por excelência um espaço de enfrentamento coletivo, principalmente às determinações
arbitrárias do Estado
3. A compreensão da luta de classes nos permite melhor apreender a relação entre Democracia e Estado e,
principalmente, as possibilidades de atuação da Psicologia Social nesse espaço.
Portanto, visando as características que potencializam os Movimentos Sociais e o atual momento político que
evidencia os interesses antagônicos em nosso país, reforçamos a importância do tema político proposto neste grupo
de trabalho.
Entendemos que o golpe parlamentar-jurídico-midiático ocorrido em 2016 fere profundamente a frágil e jovem
democracia brasileira e ameaça uma série de direitos conquistados por meio de inúmeras lutas ao longo da história.
Esseà golpe,à asà pala asà deà I a aà Ji ki gsà à te à o oà o jeti oà á a a à o à oà pa toà esulta teà daà
democratização do Brasil há três décadas,à o su sta iadoà aà o stituiç oàdeà .àValeàle a à ueàessaàofe si aà
conservadora não tem exclusividade no Brasil, mas aparece de maneira global como reação à crise do capital iniciada
em 2008.
O Brasil seguia um ciclo virtuoso e pouco sofreu os efeitos dessa crise em seus anos iniciais, com a implementação de
uma agenda democrático-popular que tirou o país do mapa da fome e incluiu milhões de famílias nas relações
econômicas e sociais, fazendo com que as pessoas percebessem melhorias concretas nas suas condições de vida.
Como resultado temos o surgimento de uma nova classe trabalhadora, conforme sugere Marilena Chauí (2016), que
apresenta uma composição ainda pouco compreendida, com delineamentos bastante complexos e contraditórios.

475
Essa nova classe trabalhadora possui acesso a bens e serviços que historicamente pertenciam à classe média, contudo
o contexto social, econômico e político na qual está inserida, como por exemplo a fragilidade das relações de trabalho
que possuem, a mantém no lugar de classe trabalhadora, contudo ela não se reconhece nesse lugar, fazendo com que
ela passe a defender a ideologia da classe dominante, apoiando assim massivamente o golpe.
Na contra-mão, os movimentos sociais e partidos de esquerda historicamente constituídos, resistem, ao mesmo
tempo em que outros movimentos, outros coletivos vão surgindo buscando novas formas de reinventar a luta. Nesta
perspectiva, a psicologia social crítica entende que é pelo coletivo que se pode enfrentar as nuances sutis da realidade
brasileira permeada pela desigualdade, desqualificação, e impotência, pois defende que juntos se somam forças e
aumentam a qualidade da luta por direitos.

476
A dimensão psicossocial da saúde dos atingidos pela Barragem da Samarco (Vale/BHP Billiton)
Autores: Diana Jaqueira Fernandes
E-mail dos autores: dianajaqueira@hotmail.com

Resumo: A proposta da comunicação oral é apresentar a pesquisa em andamento intitulada Análise da dimensão
psicossocial da saúde dos atingidos pela Barragem da Samarco (Vale/BHP Billiton) – o caso de Barra Longa-MG. O
propósito desta pesquisa é colaborar com a ampliação dos direitos dos atingidos em casos de desastres,
especialmente no que se refere à interferência desses na saúde das pessoas.
O ponto de partida desta tese é o desastre ocorrido com o rompimento da barragem de Fundão da empresa Samarco
(Vale/BHP Billiton), situada no município de Mariana, estado de Minas Gerais, no dia 5 de novembro de 2015. Nesta
data o rejeito da mineração de ferro retido em uma das barragens do complexo de Germano desceu a calha em
direção ao povoado de Bento Rodrigues. Dezenove pessoas morreram e a cidade foi destruída. No percurso de 663 km
de rios, atingiu 39 municípios, povoados rurais e alterou de forma profunda o ecossistema de toda a área da várzea
dos rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce.
A inserção da pesquisadora nesse contexto se deu quatro meses após o rompimento, em abril de 2016, por meio do
contato com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), para conhecer a realidade atingida pela lama e
construir o pré-projeto de pesquisa. O segundo momento de inserção no campo se deu entre os meses de agosto e
dezembro de 2016, quando se realizou a primeira parte da pesquisa junto ao MAB. O MAB se autodenomina um
movimento popular, reivindicatório e político que atua para a garantia dos direitos das populações atingidas por
barragens de água e rejeitos de mineração e teve sua origem no final da década de 1970, quando os atingidos pelas
barragens de Tucuruí (PA), Itaipu (binacional com o Paraguai), Sobradinho (BA), Itaparica (BA/PE) lutavam por
indenizações justas.
Trabalhar a saúde na perspectiva ético-política nesse contexto demanda atuar na dialética entre as forças sociais
disponíveis no território e a potência de participação social de cada morador, superando dicotomias. Para pensar o
processo saúde/doença é preciso trazer a ideia de humanidade, considerando o indivíduo e o modo como este se
relaciona consigo mesmo e com o mundo social a que pertence, como um ser ético, afetivo – como um corpo que
além de biológico é simbólico (SAWAIA, 2003). A pesquisa de doutorado tem interesse em compreender as dimensões
psicossociais da questão social do desastre e refletir sobre a saúde/sofrimento ético-político, no caso, dos atingidos
pela barragem do Fundão do município de Barra Longa.
Até o momento, a Samarco (Vale/BHP Billiton) não considera os impactos à saúde no rol dos danos causados pelo
rompimento da barragem de Fundão. Na cidade de Barra Longa, tanto a empresa como o poder público, representado
pela Secretaria Municipal de Saúde, declaram que não há problemas significativos em saúde decorrentes do desastre
que apresentem demanda para ações ou políticas específicas de cuidado. Segundo Zhouri (2016), a definição de
atingido utilizada pela Samarco (Vale/BHP Billiton) advém de critérios estabelecidos pelo Banco Mundial, que
considera padrões técnicos para reconhecer, classificar e hierarquizar as demandas da população. Desse modo, vão se
estabelecendo padrões de inclusão e exclusão no processo de reparação dos danos causados pelo desastre.
Portanto, transformar a questão da saúde em pauta política e produção de conhecimento desde a perspectiva da
Psicologia Social é importante e necessário num contexto complexo em que os impactos à saúde não são
reconhecidos.

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A práxis da psicologia no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos
Autores: Aline Pacheco Silva, Instituto DH
E-mail dos autores: aline.pachecosilva@gmail.com
Resumo: A Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, em 1948, foi um marco na história da garantia dos
direitos humanos; porém, apesar de todos os avanços nesta pauta, o que vemos na atual realidade são as constantes
violações de direitos, contradições cotidianas e conflitos de interesses.
Diante deste cenário, várias lideranças fazem de sua vida, a luta cotidiana em prol dos Direitos Humanos e liberdades
fundamentais. Esta luta traz conseqüências como ameaças a vida, a integridade física, criminalização, difamação,
restrição da liberdade de ir e vir e de liberdade de expressão. Essas ameaças estão diretamente ligadas às violações de
direitos e falta de acesso sofridas pelas comunidades as quais os(as) defensores(as) de direitos humanos – DDH –
fazem parte.
Em razão de tamanhas violações contra os próprios DDH, foi promulgada em 1998 a Declaração sobre os Defensores
de Direitos Humanos, prevendo o suporte do Estado às atividades de DDH, bem como trazendo a idéia da garantia da
segurança física e psicológica de quem atua.
Em 2004 foi implementado no Brasil o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos – PPDDH – que
possui a finalidade de articular medidas de proteção para DDD que tenham seus direitos ameaçados em decorrência
de sua atuação. Entende-se, como defensores (as) de direitos humanos, pessoas que individualmente ou em grupos
atuam para garantir e proteger os direitos humanos e as liberdades fundamentais.
O principal ponto metodológico do PPDDH é a permanência do (a) defensor (a) no seu local de atuação, pois o
Programa busca garantir a continuidade de seu trabalho na luta pelos direitos humanos.
O PPDDH foi implementado, em Minas Gerais, no ano de 2010 e, atualmente conta com uma equipe mínima composta
por coordenadora, gestora financeira, assistente administrativa, motorista, advogado, técnica social, assistente social,
estagiária de serviço social e psicóloga para atender todos os 853 municípios do estado, onde houver demanda de
DDH ameaçados.
Diversas são as áreas de atuação dos DDH ameaçados no estado de Minas Gerais: conflitos pela terra, questões
trabalhista, luta pelo meio ambiente e contra grandes empreendimentos que impactam o mesmo, direito a
comunicação, educação, manutenção de povos indígenas, comunidades tradicionais quilombolas, pescadoras,
vazanteiras, geraizeiras.
A atividade no Programa de Proteção consiste em um atendimento inicial ao solicitante, visita ao local de atuação do
defensor para analise preliminar do caso e da ameaça. Após confecção de um relatório interdisciplinar sobre o caso
(definida a opinião da equipe pela inclusão ou não nos termos da Lei 21164/2014), a ser encaminhado a um Conselho
Deliberativo, o defensor recebe o comunicado sobre sua inclusão ou não no PPDDH-MG e, após inclusão,
encaminhamentos necessários e acompanhamento do caso.
Dentre os encaminhamentos que são mais demandados está articulação com outras políticas públicas e movimentos
sociais, como assistência social, saúde, assistência jurídica, sistema de justiça e segurança, inserção em outros
coletivos.
A práxis da psicologia nesta política pública traz consigo a construção de um fazer interdisciplinar, de um novo lugar
para a sua atuação. Compreende-seà p isà oàse tidoàat i uídoàpo àMa àeà t azidoàpo àBotto o eà o oà ati idadeà
livre, universal, criativa e auto-criativa, por meio da qual o homem cria (faz, produz), e transforma (conforma) seu
u doàhu a oàeàhist i oàeàaàsià es o .à Botto o e,
Porém, como deve ser a atuação da psicologia frente a uma ameaça (de morte) iminente? Não existe uma receita
pronta. As dificuldades encontradas no dia a dia de luta dos(as) DDH, perdas, medos e frustrações, geram efeitos
devastadores mas, apesar de tudo, continuam lutando. Existe o lugar demarcado da escuta diferenciada, no intuito de
conceder voz a luta, as conquistas e ao sofrimento.
Há uma complexidade na atuação com os (as) DDH, o contato com diferentes culturas, modos de viver e fazer, que
trazem um repensar continuo sobre a prática.
478
Nasà pala asà deà Ca alho,à p otege à à aisà doà ueà t a sfe i à o he i entos; é criar relações com o próprio
conhecimento e com as pessoas envolvidas no processo. (...) O labor do operador da proteção é mais do que saber
fazer ou agir, e também pensar sobre o vivido na perspectiva da pratica que se refaz com a teoria e vice e e sa. à
(Carvalho, 2014)
A práxis da psicologia no PPDDH traz uma proposta de mudança de paradigma cientifico- profissional pois abre mão da
suposta neutralidade por uma pratica na qual o afeto está envolvido, que tem em seu cerne elementos ético e
políticos. Existe uma espécie de fusão entre a atuação profissional e a militância do próprio psicólogo o que se
compreende como requisito fundamental para uma práxis baseada na transformação político-social.
Apesar de o trabalho exigir muito mais do que conhecimento acadêmico, como um campo novo para a psicologia
social, mesmo existindo o dialogo com diversas outras áreas de atuação, ainda faz-se necessário maior discussão
teórico-metodológica. Sua prática ainda está substanciada em conhecimentos empíricos, em como a realidade vai se
mostrando ao profissional.

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Arte das Periferias, territorialidades e transformação social: análise psicossocial dos afetos no Teatro Mutirão, do
Coletivo Dolores Boca Aberta
Autores: Roger Seiji Itokazu, SENAC
E-mail dos autores: roger.itokazu2@gmail.com
Resumo: Apenas 10% das cidades mundiais são consideradas Cidades Globais, capazes de acolher e fomentar o capital
financeiro mundial, dentre elas a Cidade de São Paulo.
Contudo, São Paulo se tornou o maior detentor no número de pessoas morando em aglomerados subnormais, como
favelas, ocupações e cortiços. Aliado a este processo, temos nas regiões pobres da cidade, a segregação material, o
controle político e cultural – expressos pelo estigma, pelo assistencialismo das Organizações Sociais Civis e pelas
chacinas dos jovens.
Por outro lado, nestes territórios periféricos há uma grande diversidade de grupos populares que encontram na arte
sua principal forma de denunciarem, e se contraporem ao modelo hegemônico (excludente).
Dentre as manifestações populares e artísticas destaca-se o Coletivo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes,
fundado há 15 anos, na zona leste de São Paulo – região extrema da Cidade de São Paulo, conhecida por acolher
grande contingente de trabalhadores de baixa renda.
EsteàColeti oà us aàafi a àoà ueàde o i aà o oà t a alhado à ueàfazàa te ,àouàsejaàaàp oduç oàsi li aàeàest ti aà
realizada na perspectiva da luta de classes. Uma arte comprometida e engajada socialmente, tendo como destaque o
ueàde o i a àdeà Teat oàMuti o .
Por essa razão, essa dissertação elaborou os objetivos conjuntamente a este Coletivo, por meio da Pesquisa Ação
Pa ti ipa te,à se doà estes:àa à siste atiza àeà a alisa àoà Teat oà Muti o àeà suaàOfi i a,à desta a doà seusà p essupostosà
teóricos e metodológicos; e b) realizar diálogo entre o Teatro Mutirão com o pensamento de VIGOTSKI e estudos
sobre BRECHT.
De t eàosà efe e iaisàte i osàdesta a osàVigotski,àpa ti ula e teàe àsuaào aà Psi ologiaàdaàá te .àNesta,àa alisouà
de forma unívoca a arte enquanto elemento que sintetiza o encontro entre a cultura, o artista e seu receptor. Ou seja,
aà a teà e ua toà sig o,à ueà o ilizaà asà e oç es,à po à estaà az oà de o i aà aà a teà e ua toà T i aà “o ialà dasà
E oç es .
Em relação à estética, temos como referência os estudos sobre Brecht pelo olhar do filósofo de Gerd Bornheim. Este
autor resgatou a estética enquanto técnica aliada à vida política, defendida pelo próprio Brecht, visando a
transformação social e mobilizadora de emoções que retiram o público da passividade frente à realidade.
Por fim, para aliançar o compromisso da psicologia materialista histórica dialética com a transformação social, faremos
uma ampla discussão com o pensamento de Bader Sawaia.
Desta forma, tivemos como resultado desta pesquisa ação participante a percepção de que a forma com que atua o
Coleti oàDolo es,àe àpa ti ula àat a sàdoà Teat oàMuti o ,àdesta a-se de diversas manifestações culturais devido a
sua aliança aos movimentos sociais, sua atuação direta nas contradições dos modos de produção – seja na produção
estética, na forma organizativa do próprio grupo, na auto-gestão da ocupação em que se encontram - e na
materialização dos sentimentos, dos pensamentos e da consciência popular em obra de arte. Ou seja, a concepção da
arte e ua toà T i aà“o ialàdasàE oç es .
Ademais, podemos considerá-losà e ua toà i tele tuaisà o g i os ,à peloà fatoà deà se e /esta e à ju to à aoà po o,à eà
captarem as contradições sociais, podendo organizá-las, através da arte, na luta de classes.
Por essas razões, temos como considerações finais que tal proposição estética e organizativa, de caráter popular e
u hoà e olu io io,à i di aà ele e tosà i po ta tesà pa aà aà o figu aç oà doà Co u ,à e à ueà aà igualdade,à aà
liberdade e a solidariedade são premissas vivenciadas cotidianamente para um novo porvir.

480
Comunicação sindical e condição de classe expressão da consciência e diálogo nas redes sociais do Sindicato dos
Comerciários do Rio de Janeiro
Autores: Luis Henrique Nascimento Gonçalves, Sindicato dos Comerciários
E-mail dos autores: luishng72@gmail.com
Resumo: A apresentação pretende compartilhar a experiência de dissertação de mestrado, que buscou observar as
dinâmicas de tomada de consciência entre os comerciários cariocas acerca de sua situação de classe. A pesquisa
analisou as interações destes trabalhadores com seu sindicato nas redes sociais durante sua primeira campanha
salarial depois de 50 anos, em 2016. A escolha da netnografia como caminho metodológico e da fanpage do Sindicato
dos Comerciários como lócus de pesquisa se deveu tanto ao fato de se tratar de uma das páginas sindicais mais
populares do Brasil, como por ter sido uma arena inédita e decisiva de expressão (e pressão) de milhares de
trabalhadores. Analisou-se cerca de 5.000 comentários em resposta às postagens do Sindicato durante a campanha.
Eles foram agrupados em categorias de estados e tendências diferenciais de consciência e analisadas a partir de uma
perspectiva crítica da psicologia social. O estudo ainda considerou o papel do comércio na acumulação e circulação do
capital, a história da categoria e o seu atual engajamento sindical.
Com gradações e singularidades, é possível genericamente dividir a categoria entre dois grandes perfis. Muitos estão
dispersos em lojas com poucos funcionários, com sua remuneração muito relacionada à produtividade (através de
comissões, metas etc.) e que estão cotidianamente imersos em valores-fetiche e utopias de mercado (Alves, 2010),
como a ambição por ser um vendedor bem sucedido, ou a ideia do consumo como meio de distinção social. Outro
segmento, mais proletarizado, concentra-se no varejo (principalmente) e no atacado de alimentos. Mais dependentes
das leis trabalhistas e das convenções coletivas de trabalho para sua remuneração e relações de trabalho, muitos
desses trabalhadores ainda ganham o piso do segmento (R$ 1.080,00), com jornadas por vezes tão longas quanto dos
colegas lojistas, através de abusivas horas-extras.
Esse contexto aponta para um quadro que aqui chamaremos de conflito de subjetividades. Neste tipo de
estranhamento próprio do comerciário, há a contraposição entre a sua condição proletária, muitas vezes como
suburbano ou favelado, mal remunerado e espoliado, com o seu papel na facilitação e consecução da venda
mercadoria. Dos repositores à açougueiros, de estoquistas a gerentes, todos são preparados para o bom e objetivo
atendimento, seja através do controle dos seus corpos (Antunes, 2015) ou do seu repertório, recheado de promessas
de bem estar através do consumo (Alves, 2008). Essa ambiguidade contribui para um trabalhador que nem sempre se
vê como tal, que permanece inorganizado, remoendo sua precariedade enquanto troca de empresa rápida e
frequentemente em busca de melhores condições de trabalho.
A primeira conclusão da pesquisa é a de que a comunicação (sindical) não tem poderes sócio-históricos por si só. Seu
papel mais significativo, neste estudo de caso, foi a de ser um dos canais da construção coletiva (sindicato e milhares
de trabalhadores) de uma "história do presente" e de futuros desejados que apontem para o desenvolvimento da
tomada de consciência de classe. E a comunicação não pode fazer isso baseada exclusivamente no exercício narrativo.
É necessário que ela tenha uma história real para ser contada. Por isso, por exemplo, as primeiras postagens (durante
a pré-campanha) geraram majoritariamente expressões de negação de classe. Afinal, na ausência da experiência real,
os trabalhadores reagiram às narrativas do Sindicato a partir das formações discursivas hegemônicas desencorajadoras
da ação coletiva e classista. Somente quando a entidade alicerça seu discurso de "indignação" em mobilizações
concretas é que as falas de "entusiasmo" e "engajamento" ganham musculatura.
A segunda e mais importante e intrigante conclusão neste caso específico refere-se ao papel do exercício da expressão
da consciência real como fator de sua dinamização. Ou seja, o que se verificou é que, na contramão das crenças
preditoras de consciência, é necessário que os trabalhadores possam se expressar, dialogar e debater entre si sobre
suas experiências e expectativas para que se favoreça o amadurecimento de uma objetivação crítica acerca da sua
exploração. A consciência de classe não seria algo que poderia ser ensinado ou imposto. Ao contrário – mas sem cair
numa visão inocente que abstraia o papel das vanguardas encarnadas por sindicatos e partidos – a tomada de
consciência exige que ela se externalize em sua expressão e prática, tal como ela se inicia e se apresenta: difusa,
481
corporativa e desarticulada. É o ciclo dialético de confronto, reflexão e expressão dessas experiências que pode criar
as condições para uma objetivação classista.
Por isso, a terceira conclusão aponta que as condições objetivas – diretoria pequena e inexperiente, ausência de
memória e métodos de luta e o próprio peso da dominação de classe – favoreceram poucas experiências reais de ação
sindical capazes de sedimentar um amadurecimento da consciência de classe na categoria. Ao se partir de um estágio
quase nulo de participação (contextualizado ao longo do artigo), o Sindicato implementou uma campanha baseada em
militância profissional, mais realizada para os comerciários do que com eles.

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Conhecimento e união: a política espinosana como norte
Autores: Lívia Gomes dos Santos, UFG
E-mail dos autores: liviagomess@hotmail.com

Resumo: Espinosa foi um filósofo que, contrapondo-se a Descartes, inseriu os afetos em sua centralidade ontológica.
Seu objetivo era compreender as ações do homem. A história das sociedades humanas não pode ser ridicularizada ou
desprezada, mas ajustadas ao nível da razão, pois isso permite que se depreendam os elementos que possibilitem
compreender a política, seus erros e acertos; nessa empreitada é necessário considerar também as emoções humanas
porque são tão naturais quanto quaisquer outros fenômenos. Desta forma, a sua teoria de Estado é profundamente
vinculada às ações e paixões humanas. Buscamos, nesse trabalho, identificar alguns dos elementos em sua teoria
política que nos auxilie a pensar e compreender os movimentos sociais. Compreendemos que os movimentos sociais
são um potencial instrumento de luta e transformação, mas é indispensável a análise deste fenômeno por meio da
relação que ele estabelece com a luta de classes; nesta direção, o GT que melhor se adequa à presente exposição é o
o i e tosàso iaisàeàlutaàdeà lasses:àe à us aàdeàu aàp isàt a sfo ado a .à
Pretendemos demonstrar que o Estado, nesta direção, é resultante do choque das paixões dos homens, não de sua
ação racional. Sem o Estado não é possível sobreviver, então os homens se juntam e trocam seus medos e esperanças
individuais por um medo e uma esperança conjunta. Silva (2009, p. 170) afirma que é principalmente o medo que
exige a existência do Estado. Nessa direção, a servidão é resultado, principalmente, do medo e da esperança.
Temendo grandes males e/ou esperando grandes recompensas, os homens optam por transferir ao outro a sua
potência; assim, os sujeitos vivem à mercê dos desejos do outro, reagindo e nunca agindo para perseverar no seu ser.
Mas para Espinosa (1987, p. 310),
se duas pessoas concordam entre si e unem as suas forças, terão mais poder conjuntamente e, consequentemente,
um direito superior sobre a Natureza que cada uma delas não possui sozinha e, quanto mais numerosos forem os
homens que tenham posto as suas forças em comum, mais direitos terão eles todos.
Aqui a junção dos sujeitos não se dá por medo ou por esperança, mas como resultado da razão: juntos somos mais
fortes. No coletivo estruturado dessa forma os indivíduos não abrem mão de sua potência, não tem seu conatus
diminuído e jamais transformam-se em servos: ao contrário, a razão permite que eu me junte ao outro como forma de
constituirmos uma totalidade que possa produzir e sofrer os mesmos efeitos e, com isso, ser mais fortes na busca da
satisfação dos desejos que são comuns. Todos terão suas potencialidades desenvolvidas porque eu cada um não
precisa subjugar o outro para fazê-lo. Assim, de inimigo o outro passa a ser o parceiro que possibilita o aumento e a
realização dos direitos individuais.
É tendo o outro como um parceiro, compreendendo que da mesma forma que estamos submetidos às mesmas
condições podemos (e devemos!) juntos modificá-las e apoiar-se no outro para o encontro dos nossos desejos. Repare
que não utilizei a palavra use: o outro nunca pode ser usado para a satisfação dos desejos porque senão estaremos
submetendo-o à servidão – o que culmina também na minha servidão. Afinal, se eu dependo do conatus do outro para
expandir também estou submetido à esperança de que sempre tenha essa servidão e ao medo de perdê-la. O outro
nunca pode ser usado, assim como eu não posso permitir sê-lo. A união de nossos conatus, ao contrário, permitirá
sempre esta união potencialize a todos em busca da superação das paixões tristes.
Penso que a Psicologia – particularmente a Psicologia Social tem que pensar formas concretas de traduzir as brilhantes
considerações de Espinosa em práticas que permitam a constituição de sujeitos ativos e criativos, que deixem de estar
submetidos ao reino das paixões e possam existir em sua potencialidade.

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Consciência de classe entre o passado, presente e o futuro: O que pensam jovens sobre o socialismo diante da
conjuntura atual?
Autores: Antonio Euzébios Filho, UNESP Bauru; Raquel S. L. Guzzo, PUC-Campinas
E-mail dos autores: aeuzebios@hotmail.com

Resumo: Este trabalho é fruto de uma pesquisa cujo objetivo foi compreender, a partir do materialismo histórico e
dialético, o que pensam jovens sobre o socialismo com base no que os participantes observam sobre o contexto
político atual. Vemos com a queda do muro de Berlim um desgaste das ideias socialistas somado a um enquadramento
de partidos considerados de esquerda à agenda neoliberal. Também assistimos, especialmente a partir da década de
1990, um processo de fragmentação sindical com a reestruturação produtiva, privatizações e terceirizações, entre
outros elementos que marcam a conjuntura na atualidade. Ainda assim, é notável que o capitalismo venha dando
sinais cotidianos de esgotamento (tanto econômico quanto ideológico), que pode ser observado não apenas com as
crises econômicas, mas com uma crise de representatividade política, que é observada, principalmente, na juventude.
No Brasil, as recentes manifestações impulsionadas pela jornada de junho de 2013 mostram, em certa medida, que há
uma insatisfação generalizada contra o capitalismo, ainda que isso geralmente não se coloque de maneira explicita
pelos manifestantes. Contudo, as vozes das ruas não vêm sendo capazes de transformar as indignações em respostas
articuladas do conjunto da classe. Pelo contrário: notamos em alguma medida a direita capitaneando reivindicações
populares contra a corrupção, por exemplo. Neste cenário, procuramos entender como estudantes de uma
universidade pública e de um cursinho popular (total de 26 participantes entre 18 e 22 anos), analisam a conjuntura,
possibilidades de resistência e mobilização e como veem o socialismo como alternativa (ou não) ao modelo de
sociabilidade posto pelo capital. Assim, nas salas de aula solicitamos que respondessem, por escrito, perguntas que
guardavam relações com os objetivos deste trabalho. As informações foram interpretadas e categorizadas
teoricamente. Os resultados indicam que os jovens, de uma maneira geral, consideram a atual conjuntura instável,
polarizada e caracterizada, em muitos casos, por uma onda conservadora. Por outro lado, enxergam possibilidades de
resistência, ainda que ela não passe pelas instituições, tampouco pela construção de organismos de classe ou
entidades mais amplas, como a UNE. Os estudantes vinculados a alguma organização política – apenas três dos onze
universitários – parecem apostar nos coletivos e nas ações localizadas. Refutam, em alguns casos, a polarização
esquerda x direita, porém, reconhecem a necessidade de se contrapor à onda conservadora. Por fim, as concepções
deàso ialis o,à oàge al,àafi a à is esà l ssi as:à o oàso iedadeà aisàjusta àouà o oà Estadoàfo te .àNesteàúlti oà
caso, convivem duas opiniões: a intervenção estatal como caminho para a igualdade social ou como caminho que
desemboca, necessariamente, numa sociedade mais autoritária. 55% dos entrevistados afirmaram ter alguma simpatia
com o socialismo. 10% afirmaram não ter simpatia e os demais (35%) simpatizam, mas com restrições e receios de que
este modelo de sociedade possa levar à burocratização do Estado ou ao autoritarismo. Pode-se concluir que este
quadro reflete uma conjuntura em que o socialismo não se apresenta como uma alternativa concreta, apesar da
maioria dos participantes terem demonstrado simpatia. Porém, as restrições demonstram uma insegurança em
substituir a atual democracia a um sistema político não tão bem conhecido ou que, historicamente, não cumpriu a
promessa de criar uma sociedade mais justa. Independente da simpatia ou não com socialismo, acreditamos que a
universidade deve criar um espaço de discussão e análise da conjuntura dentro da grade curricular. Isso poderia
propiciar uma formação política mais consistente entre jovens, necessária à sua inserção social e exercício profissional.

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Educação Popular e Economia Solidária: a experiência na UNIVENCE- Rancharia, interior de São Paulo
Autores: Gabriel Pavani Brandino, UNESP Assis
E-mail dos autores: gabrandino@gmail.com

Resumo: Introdução
Para tratarmos da relação da Educação Popular com a Economia Solidária, propomos um relato de experiência. Nossa
história conta sobre o processo de formalização de um grupo popular de catadores de materiais recicláveis, a
UNIVENCE (Cooperativa de Trabalho e Serviço dos Catadores de Materiais Recicláveis de Ranchariaà U idosà
Ve e e os .à
Pa ti osà doà p essupostoà ueà osà p o essosà edu ati osà s oà o di io adosà pelasà elaç esà e o i asà [...]à [e]à osà
p o essosà e o i os,à po à suaà ez,à s oà o di io adosà pelasà p ti asà edu ati as à C‘U);à GUE‘‘á,à ,à p.à .à
Portanto, o trabalho através de uma nova prática econômica, a Economia Solidária, traz consigo mudanças não só nas
relações de trabalho, mas propõe mudanças nos processos de educação e formação dos trabalhadores. Para tratarmos
desta alternativa educativa, partimos da ideia freireana que a educação é um movimento transformador, cujo sentido
sejaà a ifestoà oàdaà apa idadeàdosàho e sàeàdasà ulhe esàto a e -se sujeitos conscientes de sua própria história,
o oài di íduosàeà o oàpa teàdaàso iedade à C‘U);àGUE‘‘á,à ,àp. 91).
A UNIVENCE firmou sua primeira parceria com a Incubadora de Cooperativas Populares Unesp Assis (Incop Unesp) em
2012, ainda como associação informal de catadores de materiais recicláveis. Este empreendimento permaneceu na
categoria de associação até o ano de 2017, quando foi transformada em cooperativa, no mês de maio. Queremos
destacar neste trabalho o uso da Educação Popular e outras metodologias participativas no processo de formação dos
cooperados para o trabalho e para a transformação em cooperativa.

Objetivos
Temos como objetivo geral demonstrar como a Educação Popular pode ser uma ferramenta para o trabalho com
grupos populares orientados pela égide da Economia Solidária. Mais especificamente como a experiência na
UNIVENCE torna-se um exemplo do uso desta ferramenta

Justificativa
Seguindo o raciocínio da filosofia da práxis, traçamos este trabalho para, primeiramente, pensarmos as ferramentas
que usamos em campo, no trabalho com grupos populares incubados pela Incop.
Levando em consideração que vivemos inseridos numa sociedade capitalista neoliberal, marcada pela exclusão e
dominação, a Educação Popular mostra-se como uma ferramenta de luta. Desta forma, tomamos como fundamento
para pensar a pesquisa esta capacidade que a Educação Popular aprese ta,à o oà e pa s oàdoàsig ifi adoàdaàp isà
so ial,àpolíti a,à oleti a à BáTI“Tá,à ,àp.à
Po ta to,à e osà la a e teàaàa ti ulaç oàdesteàt a alhoà o àoàte aàp opostoàpeloàei oà Psi ologiaà“o ial,àp o essosà
de trabalho em contextos neoliberais e possi ilidadesàdeàe f e ta e to .

Metodologia
Trata-se de um relato de experiência, contado pela articulação de saberes da Economia Solidária e da Educação
Popular e, também, pelo relato do cotidiano de assessoria de um grupo popular.
Temos como referencial teórico os estudos da Economia Solidária, da Educação Popular e da Filosofia da Práxis,
propondo uma conversa desses campos de saberes com o traquejo do dia-a-dia.

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Resultados
O trabalho com o grupo da UNIVENCE para transformar a associação em cooperativa iniciou na segunda metade do
ano de 2016. Tínhamos como objetivo final um estreitamento com a COOPERCOP (cooperativa de segundo grau da
região Oeste e Centro-Oeste do interior de São Paulo) e o apoio municipal de Rancharia para manutenção e
contratação da cooperativa.
Para trabalharmos esta mudança e capacitarmos os trabalhadores no serviço cooperado, fizemos diferentes ações
tratando sobre a Lei de Cooperativas de Trabalho, Serviço e Produção, construímos um Estatuto e elegemos os
Conselhos Fiscal e Administrativo.
Através de rodas de conversas e a construção coletiva de materiais visuais, fomos semanalmente trocando saberes do
funcionamento legal e jurídico de uma cooperativa, seus cargos e funções e seus direitos e deveres enquanto
cooperados. Esta ação gerou a construção de um Estatuto Social da cooperativa.

Conclusões
Noà ossoà a poàte i o,à pa te-se do pressuposto de que a educação popular não transforma o mundo, mas tem um
papel central no desenvolvimento crítico das pessoas [...] Em outras palavras, a educação não transforma o mundo,
t a sfo aàasàpessoasàeàestasà t a sfo a àoà u do à BáTI“Tá,à ,àp.à .àPe sa os,àpo ta to,à o oà a i hoà
para uma prática que leve à transformação do sujeito, temos a educação popular, como método para a
autoconsciência da transformação.
No cerne de nossa prática, a educação popular constitui-seà o oàu à espaçoàdeài te e ç oàso ialà o oàu aàp isà
fundamentada na produção coletiva de valores sociais (o que inclui o conhecimento) marcados pela crítica de
quais ue à elaç esà deà e lus o à C‘U);à GUE‘‘á,à ,à p.à .à T a alha os,à po ta to,à at a sà daà etodologiaà daà
Educação Popular, para capacitar associadas e associados tanto a formar uma cooperativa, quanto trabalhar de forma
cooperada. E mais, trabalhar também nas bases da economia solidária.

Referências Bibliográficas
BATISTA, A. M. M. Práxis, Consciência de Práxis e Educação Popular: Algumas Reflexões sobre suas Conexões.
Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 21, n. 42, p. 169-192, 2007.
CRUZ, A.; GUERRA, J. S. Educação popular e economia solidária nas incubadoras universitárias de cooperativas
populares – práticas dialógicas mediadas pelo trabalho In: HERBERT, S. et al. Participação e práticas educativas - a
construção coletiva do conhecimento. São Leopoldo: Oikós, 2009. pp. 90-105.

486
Fortalecimento Da Identidade Militante Entre Jovens Do Movimento Sem Terra Do Agreste De Alagoas
Autores: Jadielma de Barros Alves, UFAL; José Barbosa Neto, Diocese de Penedo; Saulo Luders Fernandes, UFAL
E-mail dos autores: jadi_alves@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho relata a execução de um projeto de intervenção que aconteceu em um assentamento de
trabalhadores rurais militantes do Movimento Sem Terra (MST), na região rural de Girau do Ponciano, no estado de
Alagoas. O caminho percorrido no processo de realização deste projeto visou dar possibilidades de criação de
momentos que pudessem suprir a demanda identificada – falta de práticas culturais, lazer e fortalecimento de vínculos
entre os jovens – tendo como meta a criação de um espaço que favorecesse a interação esperada para o
fortalecimento dos vínculos necessários para a afirmação da identidade militante entre jovens do MST. O objetivo
principal da realização do projeto girou em torno da necessidade de criar espaços de encontros para promover a
interação e fortalecimento da identidade política dos jovens do MST. Diante da conjuntura atual e dos desmontes que
os movimentos vêm sofrendo, vale ressaltar que para o MST, a participação da juventude precisa ser ativa e
fortalecida, por meio do desenvolvimento de uma consciência política sobre a realidade vivida pelos jovens do campo,
na busca de espaço de reconhecimento da juventude como coletivo necessário a luta por direitos à população
campesina. Para que um movimento possa se tornar um agente de mudança e transformação social, se faz necessária
a adesão de seus integrantes às suas propostas políticas e às suas bandeiras. Para isso cabe problematizar as
contradições vividas na realidade de seus membros, como forma de buscar a identificação destas vivências de
opressão às propostas coletivas do movimento social, na formação de uma identidade política que questione a ordem
social. Para que seja possível pensar na concretização da identidade militante, faz-se necessário uma formação política
como elemento auxiliador para construção da militância. Esta formação política se dá através de espaços interativos
que constituem vínculos e formas de comunicação que possibilitam reflexões críticas sobre a realidade. A troca de
experiências e de percepções favorece a consciência crítica do grupo no fortalecimento de seus membros, bem como,
das bandeiras coletivas que a eles estão ligadas. O trabalho aconteceu através da realização de seis encontros com
experimentações de processos grupais, com durações de aproximadamente 50minutos, em que se buscou debater os
temas propostos de identificação e de conscientização política, na discussão de como as questões macro políticas
estão relacionadas diretamente as produções micropolíticas, ao dia-a-dia dos jovens assentados. A partir dos
encontros foi possível suscitar a autonomia para planejamento, promoção e execução dos encontros de base
sociopolíticos com um modelo pautado na confraternização, no fortalecimento dos vínculos entre a juventude local e
realidade vivida no assentamento. Além desses impactos obtidos, houve a criação de um espaço de convivência,
utilizando dos vários sentidos semânticos da palavra rede, através da elaboração de uma rede (de tecido) que foi
confeccionada pelos próprios jovens, tornando-se símbolo de incentivo à participação da juventude na continuidade
de momentos de lazer e reflexão política sobre a militância no movimento social. Os desdobramentos das atividades
desenvolvidas despertaram interesse em assentamentos circunvizinhos, estimulando o interesse e o convite para
execução do projeto da rede de relações em outros espaços. A participação ativa da juventude nos encontros
realizados faz acreditar que o esperado – a criação de um espaço de convivência que permita também o
fortalecimento de vínculos e identidade, tendo consciência da importância atuação política – está tomando formas e
sendo alcançado com êxito.

487
Fronteiras tênues: O Greenpeace Brasil, as ONGs e os Movimentos Sociais
Autores: Bruna Larissa Kluge, UFSC; Leandra Regina Goncalves Torres, UNICAMP; Marcela de Andrade Gomes,
CESUSC; Pedro Henrique Campello Torres, PUC-Rio
E-mail dos autores: brunalkluge@gmail.com

Resumo: O tema dos movimentos sociais e atuação das organizações do terceiro setor continuam presentes e com
força no debate acadêmico, sobretudo pelo caráter mutante e renovador que é da própria essência dessa esfera
política. Com o alardeamento cada vez mais intenso das problemáticas ambientais na contemporaneidade, surgem,
por outro lado, grupos organizados que buscam lutar contra essas mazelas.
Uma das principais organizações que se autoproclama em defesa do meio ambiente, surgida ainda na década de 1970,
no Brasil a partir da ECO-92, o Greenpeace é uma Organização Não Governamental que pode ter sua atuação
percebida como Movimento Social, de acordo com os atores ou a conjuntura envolvida.
O presente trabalho buscou, através da revisão bibliográfica clássica e contemporânea sobre ONGs e Movimento
Sociais, demonstrar a fina fronteira para se enquadrar o Greenpeace dentro destes marcos, complementando a parte
metodológica da pesquisa com atores chaves, integrantes e ex-integrantes da organização, para analisar como
percebem – e se percebem – a demarcação desta fronteira.
O objetivo do trabalho foi testar a hipótese de que o Greenpeace, diferente de outras grandes ONGs ambientais,
possui características distintas de uma organização do Terceiro Setor em sua definição teórica, se aproximando, e, de
forma dialética, confundindo e se fazendo confundir pelos atores e sujeitos coletivos com que interage, em relação ao
fato de ser uma ONG ou um Movimento Social. Ademais, partiu-se do pressuposto de que os movimentos
ambientalistas possuem caráter heterogêneo, sendo formado por grupos e interesses distintos, desde fundações e
organizações com viés mercadológico à grupos comunitários em defesa da preservação dos recursos naturais como
meio de subsistência.
Ao longo da pesquisa percebeu-se, para além das dificuldades de se enquadrar, do ponto de vista teórico e analisando
a práxis das organizações, quais as principais distinções e aproximações entre ONGs e Movimentos Sociais, que outras
Organizações do Terceiro Setor também possuem, como o IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas)
ou ISER (Instituto de Estudos da Religião) que no período da redemocratização – pós ditadura – tiveram importantes
papéis de articulação e convocação de manifestações de massa pelo país. Porém, parecem se tratar de casos de
exceção, e não de regra em relação às organizações do Terceiro Setor, cada vez mais dependente – ou cooptada – pelo
Estado, ou pelas empresas.
Através da realização de uma pesquisa com funcionários e ex-funcionários do Greenpeace Brasil, com o requisito de
possuírem ao menos 3 anos de casa, buscou-se entender como esses sujeitos, à frente da organização, compreendem
a interação da atuação do Greenpeace com as ONGs e os Movimentos Sociais. Há predileção na busca de parceiros
institucionais para determinadas campanhas e protestos? Dependendo de uma campanha é preferível uma articulação
com ONGs, dependendo do tema com Movimentos Sociais? Existem históricos de conflitos e tensões com esses
agentes a partir de episódios concretos?
A partir da aplicação de um questionário semiaberto, foi possível realizar uma análise qualitativa das respostas
recebidas, com objetivo de verificar e dar voz à opinião de cada um dos sujeitos pesquisados. Resultados preliminares
indicam que o material serviu de forma complementar à nossa abordagem teórica, validando e expondo percepções
que confirmam a nebulosa fronteira para localizar, socialmente e politicamente, o Greenpeace Brasil e sua atuação no
país.
O direcionamento deste trabalho vai de encontro com o Grupo de Trabalho proposto: Movimentos Sociais e luta de
classes: em busca de uma práxis transformadora, buscando trazer reflexões teóricas e metodológicas que contribuam
com a construção desta práxis e com o fortalecimento do compromisso ético e político da Psicologia Social. Na medida
em que politizam o universo natural, os movimentos ambientalistas redimensionam a noção de público e político,
dialetizando as relações entre a natureza e as questões macrossociais. Visto que é legitimado a distribuição desigual
488
dos impactos ambientais como uma contradição do sistema capitalista, os quais atingem majoritariamente as classes
subalternas. Diante disso, enquanto importantes espaços de produção de empoderamento da sociedade civil, os
movimentos sociais e as ONGs, tal como o Greenpeace, contribuem para o fortalecimento da democracia participativa,
fazendo resistência ao sistema neoliberal e suas inerentes desigualdades e injustiças sociais.

489
Memória política e memória militante: Estudo da participação política a partir do relato de uma mulher zapatista
Autores: Clara Cecilia Seguro da Silva, USP; Soraia Ansara, Estácio-SP
E-mail dos autores: claraceciliass@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho refere-se a uma pesquisa sobre a participação política das mulheres zapatistas e tem
como objetivo estabelecer uma relação entre a memória política e memória militante a partir do relato de uma
mulher zapatista.
O relato analisado foi obtido a partir de uma entrevista em profundidade com uma mulher indígena mexicana da etnia
Chol que participou do movimento zapatista e vivenciou o processo de mobilização das mulheres indígenas de sua
comunidade nos anos 1990. Tal entrevista foi realizada no estado de Chiapas, México, no período de julho de 2016 a
dezembro de 2017.
O movimento zapatista desde seu levante, em 1994, deu destaque a importância e participação da mulher nos
processos decisórios e de comando, desde de sua fase majoritariamente militar até seu desenrolar em estratégias
política, colocando mulheres para expor suas experiências tanto em seus comunicados quanto na participação efetiva
nos encontros promovidos pelo movimento. Tal participação tem levado à disputa de cargos de poder, sobretudo com
as ações mais recentes do movimento zapatista nos últimos anos.
A análise do relato de uma mulher que foi base de apoio do movimento traz características de seu processo de
mobilização e dos papéis destinados às mulheres, por vezes apoiando e outrora contrapondo a imagem pública que se
faz das mulheres dentro do movimento.
Para analisar o relato considerando a participação política, visão de mundo militante e a relação entre memória
política e memória militante, tomamos por referência as discussões sobre memória feitas por Maurice Halbwachs
(1968), Ecléa Bosi (2004), Michael Pollak (1989), no que se refere à participação política e movimentos sociais as
contribuições de Melucci (1983) e de Paredes (2010) e Piscitelli (2008) para a análise da participação das mulheres e a
inclusão das pautas de gênero na narrativa, segundo o feminismo comunitário e feminismo interseccional.
Percebemos que o relato traz características diferenciadas nas memórias que se referem a eventos políticos marcados
na história do movimento e do Estado do México que chamados de memória política e as memórias vivenciadas a
partir de seu trabalho com as mulheres no processo de mobilização e educação política. Destaca-se em sua memória o
entrelaçamento de sua história familiar com os eventos políticos do movimento e suas escolhas profissionais e
pessoais que são condicionadas às necessidades do próprio movimento.
Percebe-se ainda mudanças de comportamento em relação à tradição familiar e algumas quebras de paradigmas
como a possibilidade das mulheres irem à escola e uma maior liberdade destas em deixar sua comunidade e transitar
por outros espaços, como outras comunidades para o trabalho com as mulheres, a capacitação como defensora de
direitos humanos até ir morar na cidade para fazer a faculdade; Além disso, sua trajetória é marcada por resistências
relacionadas às tradições e costumes dentre os quais o fato de a família escolher o marido, ter filhos assim que casada
e o trabalho exclusivamente rural e da casa; Sua experiência e aprendizados revelam os desejos de um futuro melhor
para o filho e as mulheres de toda sociedade e trazem a reflexão sobre os impactos da participação política na
fo aç oàdeàide tidadesàeàasà o asà o epç esàdoà se à ulhe .
Entendemos que este trabalho se articula com o GT Movimentos Sociais e luta de classes: em busca de uma práxis
transformadora, por considerar a atuação e memória da mulher zapatista como foco de análise para compreensão da
participação política e seu papel como mobilizadora de um movimento quando socialmente representa a parcela mais
pobre da sociedade mexicana. Articula-se também com o GT Identidade por estar inserido na discussão da
constituição da identidade da narradora e como esta percorreu um caminho de emancipação, entre a ideologia
capitalista, as tradições de seu povo e os valores do movimento de que participa, e o GT Gênero, Feminismos e
490
Interseccionalidades: entre saberes e fazeres em tempos de retrocesso, perdas de direitos e exceção, pois promove a
discussão das pautas feministas em movimentos não exclusivamente de mulheres. Contempla também a discussão
dos eixos temáticos 2. Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência e 6. Estado,
Democracia e Movimentos Sociais face à mundialização e neoliberalismo a medida que discute a importância dos
movimentos sociais para a formação de uma democracia participativa atravessada pelas identidades de gênero, etnia
e classe e suas intersecções.

491
Relações entre o Movimento Feminista e o processo da Reforma Sanitária no Brasil – 1975 a 1988
Autores: Paloma Silveira, UFPE
E-mail dos autores: palomasilveira25@gmail.com

Resumo: A Reforma Sanitária Brasileira (RSB) é um movimento social recente, emergido em meados da década de
1970 do século XX, estando ainda em processo de construção no Brasil. A criação do Centro Brasileiro de Estudos de
Saúde (CEBES), 1976, foi um marco. Desde sua fundação, o CEBES apresentava alguns marcos da reforma como: a
unificação dos serviços de saúde, a participação social das/os cidadã/os e a ampliação do acesso a serviços de
qualidade (PAIM; ALMEIDA-FILHO, 2014). Outros debates problematizavam a própria concepção de saúde, propondo-
se um conceito ampliado em que saúde relaciona-se às condições sociais de vida e não a mera ausência de doença. Na
década de 1970, o Brasil estava sob regime militar. Diversos movimentos sociais no campo da saúde e também fora
deste lutaram contra a ditadura militar participando e organizando diferentes ações para a redemocratização do país,
e para democratização da vida social. Nesta época, não apenas o Movimento Sanitário debatia a saúde como
horizonte para reformas sociais. A denominada segunda onda do movimento feminista no Brasil, também apresentava
perspectiva semelhante. De acordo com Ávila (1993) o movimento feminista ao formular a noção de direitos
reprodutivos estaria projetando um novo modelo de sociedade que exige reformas sociais. Ao formular esta noção, o
feminismo alarga o campo da cidadania e da democracia. Apesar de proposições convergentes e do Movimento
Sanitário ter sido composto por diferentes movimentos sociais não foram encontradas pesquisas que analisem,
especificamente, a participação do Movimento Feminista no processo da Reforma Sanitária Brasileira. Alguns estudos
analisam a criação e, posterior, tentativa de implantação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
(PAISM). Assim, esta pesquisa documental, em fase inicial, ao ter como objetivo analisar as possíveis relações entre o
Movimento Feminista brasileiro e a MRSB no período de 1975 – 1988, pretende contribuir para a superação desta
lacuna do conhecimento, bem como possibilitar a construção de estratégias que deem conta da complexidade do
campo da saúde, e agreguem velhos e novos sujeitos na luta pelo direito à saúde, sobretudo, na conjuntura atual de
grandes riscos de retrocessos das conquistas sociais. Para a realização da pesquisa, utilizamos como fonte de dados
públicas os números da Revista Saúde em Debate, periódico publicado pelo Cebes, publicações da Associação
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), relatórios das Conferências Nacionais de Saúde, bem como textos publicados
por entidades feministas, que tenham relações com a área da saúde. O marco teórico ainda está em processo de
construção. Entretanto, cabe apresentar alguns conceitos considerados importantes, como o de Movimentos Sociais.
Partiu-se de uma definição proposta por Gohn (2013), que defini movimentos socais como ações sociopolíticas
construídas por atores coletivos de diferentes segmentos da sociedade, que se desenvolvem em uma conjuntura
específica de relações de força na sociedade civil. A partir desta acepção, a categoria poder emerge como fundamental
e Foucault (1979) aparece como potencial interlocutor. Foucault (1979) não considera o poder como uma realidade
que possua uma essência ou mesmo uma universalidade. O poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona,
que implica uma relação. Outro conceito que emerge como fundamental é o de interseccionalidade, que busca dar
conta da complexidade das relações sociais contemporâneas ao propor uma análise que considere os diferentes
marcadores sociais, gênero, raça, etnia, classe, geração, etc, interconectados, e relacionados ao contexto mais amplo.
Desse modo, as análises preliminares dos documentos acessados apontam para a existência de interlocuções entre os
sujeitos que militaram, ou militam, em ambos os movimentos sociais, entretanto não de maneira harmônica. Tensões
e disputas podem ser identificadas quando temas considerados importantes pelas feministas como, por exemplo,
planejamento reprodutivo, são tidos como de menor importância ou como desvio das questões maiores. Estas análises
já assinalam a insuficiência da pesquisa documental para a compreensão deste objeto de estudo, indicando a
necessidade de realização de entrevistas tanto com militantes do movimento sanitário quanto do movimento
feminista na sua interface com a saúde.

492
Representações Sociais de Gênero e o Movimento Feminista
Autores: Ines Caroline Gomes Arruda, UFMS; Cláudia Elizabete da Costa Moraes Mondin, UFMS
E-mail dos autores: inescaroline.ga@hotmail.com, claudia.mondini@ufms.br

Resumo: Este trabalho parte da perspectiva da Psicologia Sócio histórico cultural e da sua compreensão das relações
de gênero e os papeis sociais atribuídos aos mesmos. Tais papéis são constituídos através das representações sociais e
as mesmas são pautadas pelo contexto histórico e cultural. Conceituar gênero é um movimento muito delicado, pois, a
espécie humana estabelece signos linguagens e conceitos que se concretizam como representações sociais, sendo que
estasà s oà p oduzidasà esse ial e teà po à u aà lasseà do i a teà ueà pe sa à aà ealidadeà aà pa tir dos seus próprios
termos. Dessa forma a identidade social da mulher é constituída através da atribuição de papéis que a sociedade
espera ver representada pelo feminino. Assim, temos o mito da beleza, que impele as mulheres a se adequarem a um
padrão de beleza estabelecido por terceiros, mito da maternidade romântica, que a mulher só é plena a partir da
concepção de um filho. Se essa mulher está inserida no mercado de trabalho ao chegar em casa ela enfrenta uma
jornada dupla de trabalho, pois é obrigatoriamente, responsável pela manutenção da casa e educação dos filhos.
Torna-se claro a atribuição por parte da sociedade, do espaço doméstico à mulher e ocorre um processo de
naturalização desse papel. Dessa forma estabelece-se a prerrogativa de que é natural que a mulher seja responsável
pela casa e pelos filhos. Essas atribuições pertencem ao campo das representações sociais que estabelecem como a
mulher pode ou deve agir. Desde as suas primeiras produções o feminismo apresenta uma postura emancipatória e
visa contestar eixos de opressão presentes no cotidiano. O movimento feminista contemporâneo possui várias
ramificações e um discurso múltiplo, porém, tem radicais comuns como a denúncia de que a vivência masculina vem
sendo privilegiada no decorrer do tempo em detrimento do feminino. Dentre essas ramificações o feminismo classista,
aporte da qual fazemos uso nesse trabalho, considera três eixos centrais de opressão: raça, classe e gênero. Esse
trabalho tem por objetivo discutir os papéis sociais atribuídos ao feminino por meio dos estudos de gênero. Para
delimitar essa pesquisa estabelecemos como critério de inclusão obras acadêmicas que discutam relações de gênero a
partir da perspectiva feminista. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que se configura nos processos históricos,
discussões filosóficas e análises críticas a partir do referencial teórico feminista. O método utilizado nesta pesquisa é o
materialismo histórico e dialético, para o qual o critério de verdade é a prática social uma vez que para ele as verdades
científicas são graus de conhecimento delimitados pela história. Os dados coletados serão analisados a partir das
categorias do método materialista histórico e dialético que representam conceitos básicos que buscam compreender
o real, suas conexões e relações. Até o presente momento, a partir das publicações averiguadas, foi possível observar
o desenvolvimento de emancipação do gênero feminino e identificar alguns dos mecanismos de manutenção do
patriarcado em diferentes períodos históricos, todos os dados apontam que durante os períodos em que houve um
maior volume de publicações a militância feminista foi mais ativa, corroborando com a tese de que o conhecimento
histórico-crítico é um instrumento de luta e que a educação enquanto um processo político-social é essencial para o
movimento de emancipação proposto pelo feminismo.

493
Ocupação CDC Vento Leste
Autores: Elglaelcia Clementino de Carvalho, CDC Vento Leste
E-mail dos autores: roger.sitokazu@sp.senac.br

Resumo: A intervenção cultural que propusemos diz respeito às realidades enfrentadas por cada sujeito, configurado
numa rede de relações, afetos e encontros que o singulariza, mas que também o remete a uma história social maior
que atravessa todas essas relações. Essas histórias dizem respeito às manifestações singulares de uma particularidade
social: a divisão social do trabalho, do gênero, da propriedade que molda relações sociais e afetivas, modos de viver,
apreender e sentir a (manipulada) realidade. Buscamos assim, apoio no pensamento de Marx (1978), no qual afirma:
... às àpo à eioàdaà i uezaào jeti a e teàdese ol idaàdoàse àhu a oà à ueàe àpa teàseà ulti aàeàe àpa teàseà iaàaà
riqueza da sensibilidade subjetiva humana (o ouvido musical, o olho para a beleza das formas, em resumo os sentidos
capazes de satisfação humana e que se confirmam como capacidades humanas) ... A formação dos cinco sentidos é
obra de toda história mundial anterior.
Neste sentido buscamos fazer uma não-arte. Tratamos do trabalhador que faz arte (contrapondo-se à figura do artista
enquanto ser iluminado, e alheio às questões sociais do qual ele mesmo surge); dos espaços reinventados (em que a
"quarta parede" que cinde o público-atores é desmantelada); dos temas sociais em seu movimento (contrapondo-se
aoà d a alh o , à arte alienada de seu contexto histórico); do potencial de ação advindo da força popular (como
resistência frente a hegemonia do pensamento capitalista e pela busca de superação das relações sociais e estigmas a
que somos postos cotidianamente). Nesse sentido, nossa não-arte, torna-se um signo que pretende interferir nas
singularidades, de modo a propor novas formas de sentir, pensar e agir no mundo. Como afirma Vigotski (2004): "La
fusión de sentimientos fuera de nosotros la lleva a cabo la fuerza del sentimientos social, que es objetivizado,
materializado e proyectato fuera de nosotros y fijado entonces em objeto artístico externos que se han convertido em
herramientas de la sociedad".
Para tanto, nos baseamos no Teatro Épico, de Brecht, e na arte enquanto materialização das aspirações e sentimentos
populares, tal como defendiam Vigotski e Gramnsci. Nos valemos das experiências que nossos corpos e nossas
histórias (sociais) trazem, pois ao revertê-las em elementos cênicos, acreditamos que inserimos fortes elementos de
reconhecimento desta (dura) condição social a que a classe trabalhadora sobre(vive) cotidianamente, para com isso
buscar formas de superá-las coletivamente. Não raro, nos valemos da literatura marginal, da cultura popular e do
humor latino-americano para que configurem as contradições as quais queremos mostrar em cena, em busca de um
novo por vir.
Pode osà ai daà ita à B e ht:à ... à o oà o p ee s oà o p ee s o-não compreensão-compreensão), negação da
negação. O acúmulo das não compreensões se torna em compreensão. Há o momento dodesenvolvimento, em que
algumas emoções passam a contrapor-se a outras, fazendo coincidir a crítica e a empatia. Ressalta-se aí a
contraditoriedade, isto é a consideração do humano dentro das relações dadas; ...a unidade através da alteridade
(uma cena, aparentemente autônoma, justaposta a outras cenas, conduz à descoberta de sua participação em outro
sentido).
Cabe por fim ressaltar, que este coletivo (nós!) ocupa o CDC Vento Leste, na Zona Leste da Cidade de São Paulo -
egi esà o side adasà peloà pode à pú li oà e ua toà ai osà do it ios ,à lo aisà desti adosà pa aà oà t a alhado à
recuperar sua força de trabalho para no dia seguinte voltar se encerrar-se nele!
Este Coletivo, composto por 07 membros, ocupa um espaço através da autogestão, juntamente com outros 08
coletivos locais, que dinamizam a vida na região e na cidade, e sem apoio estatal (pelo contrário, sempre contamos
com o risco de despejo). Adiante na força coletiva e no fazer estético!

494
GT 23 | Mulheridades não hegemônicas: epistemologias negras, trans e gordas sobre o corpo da mulher

Coordenadoras: Dodi Leal, USP | Jaqueline Gomes de Jesus, IFRJ | Roberta Fernandes de Souza ASTRAL/GO

O objetivo deste Grupo de Trabalho é estabelecer um espaço de reflexão crítica sobre os saberes psicossociais que se
formam a respeito do corpo da mulher. A partir de perspectivas intersseccionais entre marcadores sociais de
desigualdade (especificamente aqui indicados de raça, transgeneridade e peso) pretende-se reunir tanto os trabalhos
que promovem este olhar marginal e dissidente sobre as mulheridades como aqueles trabalhos que problematizam as
visões essencialistas do feminismo. Assim, no quadro do eixo temático dos modos de subjetivação e políticas de
resistência de gênero, pretende-se interrogar especificamente: quais as contribuições de saberes de raça, de
transgeneridade e de peso corporal para pensar as mulheridades? Tem-se como parâmetro crítico deste Grupo de
Trabalho a necessidade de reconhecer o repertório de produção sobre as mulheridades que apresentem diversidades
para além de uma noção única que acaba por substancializar padrões e o imaginário sobre o feminino na cultura
ocidental.
Neste sentido, o tema do evento, a saber "Democracia Participativa, Estado e laicidade: Psicologia social e
enfrentamentos em tempos de exceção" nos leva a considerar diversos aspectos para tratar da problemática deste
Grupo de Trabalho. O olhar do Estado, por sua vez, para o corpo da mulher tende a apresentar em nossas sociedades
visões cristãs que corroboram linhas, formas e discursos de cisgeneridade, branquitude e magreza para o corpo
feminino. Ao apresentar as dimensões e saberes implicados em construção de corpos negros, trans e/ou gordos da
mulher compreendemos a necessidade de radicalizar, seja nas elaborações teóricas como nas intervenções
psicossociais, a consideração das possibilidades não hegemônicas sobre as mulheridades. Intenta-se aqui evidenciar
que não se trata de pensar quais os desafios e possibilidades do corpo da mulher em tempos de exceção política, mas
compreender que o corpo da mulher sempre foi uma exceção política.
Considerando que talvez a afirmação de binariedade de gênero nesta sociedade machista não faça tanto sentido,
podemos elaborar o construto de sociedade unária para melhor afirmar que o segundo gênero ainda está se
afirmando. Há muitos contextos que a desproporção, desigualdade, subalternidade e opressão do masculino sobre o
feminino nos leva a afirmar que em termos de legitimidade política nestes espaços talvez o feminino não exista. Se o
corpo da mulher sempre foi uma exceção política, o corpo da mulher negra, trans e/ou gorda o é ainda mais. A
necessidade de criarmos referências para o imaginário social das negritudes, transgeneridades e peso do corpo da
mulher caminha junto com a necessidade de reconhecermos as elaborações gestuais e discursivas, teóricas e práticas
sobre o corpo da mulher que considere saberes dos transfeminismos, dos feminismos negros e de mulheridades
gordas.
Neste sentido, considerando que as próprias noções de sexualidade subsistem em complexos processos psicossociais
que acabam por legitimar os corpos cis, brancos e/ou magros, as próprias noções, discursos, práticas e identidades de
sexualidade precisariam ser revistas com criticidade para considerar marcadores como transgeneridades, raça e peso.
Os trabalhos acolhidos neste Grupo de Trabalho serão aqueles que versarem ou considerarem discussões teóricas
e/ou práticas sobre os seguintes pontos: 1) processos de representação religiosa e cultural sobre o corpo da mulher; 2)
possibilidades marginais de expressão das mulheridades nas diversas formas de linguagem artísticas: a dança, a
música, as artes cênicas, as artes visuais, o cinema, o circo, etc. 3) discursos e práticas do feminino no quadro de
movimentos sociais (moradia, trabalho, estudantil, etc); 4) frentes de articulação ou de efetivação da mulher na
política institucional; 5) aspectos críticos e sociais da elaboração e implementação de políticas públicas de proteção à
mulher; 6) contastes regionais dos direitos e dos significados da mulher; 7) contraste urbano/rural da mulher trans,
mulher gorda e/ou mulher negra; 8) as noções de negritudes, transgeneridades e peso sobre o corpo da mulher na
América Latina, seja comparativamente entre países latino-americanos ou então destes com países de outras regiões;
9) crítica aos processos hegemônicos de substancialização da cisgeneridade, da branquitude e da magreza sobre o
corpo da mulher; 10) as diferentes acepções sobre o feminino na Psicologia Social: construcionismo social, psicanálise,
teoria de gênero, etc.; 11) a reconfiguração do campo da sexualidade tendo em vista os corpos gordos, os corpos trans
e o corpos negros; 13) olhares críticos sobre as imbricações dos processos coloniais para a formação dos
essencialismos sobre o corpo da mulher colonizada; 14) mulheridades e o ativismo de internet; 15) gordofobia,
transfobia e racismo nos movimentos feministas; 15) noções hegemônicas e não hegemônicas sobre as
transgeneridades femininas; 16) noções hegemônicas e não hegemônicas sobre o corpo da mulher negra; 17) noções
hegemônicas e não hegemônicas sobre o corpo da mulher gorda; 18) os silenciamentos interseccionais sobre o corpo
da mulher; 19) processos subjetivos e sociais de reconhecimento de privilégios sobre a branquitude, a cisgeneridade e
495
a magreza do corpo da mulher e 20) outros marcadores relevantes para pensar o corpo da mulher: a) territorial, b)
geracional, c) classe, etc.
Assim, as discussões que o Grupo de Trabalho pretende promover considera a necessidade de compreender como as
diversidades das mulheridades não apenas pode redimensionar todos os saberes e práticas da Psicologia Social na
contemporaneidade como se constituir como epistemologia para reinterpretar a noção histórica da mulher ocidental.
Não pretendendo findar o debate nos pontos levantados, as coordenadoras do Grupo de Trabalho se colocam, ainda,
abertas a considerar elementos relevantes ao debate sobre as mulheridades não hegemônicas que eventualmente
não tenham sido mencionados aqui. As contribuições deste Grupo de Trabalho versam, sobretudo para 1a) expandir
as noções sobre o feminicídio considerando diferenças estatísticas entre os corpos femininos (cis e trans; negro e
branco; gordo e magro); b) despatologizar os corpos transgêneros; c) avançar nas considerações e dinâmicas do
racismo na sociedade brasileira; d) desinvisibilizar o corpo gordo e as opressões ligadas à gordofobia. Em decorrência
dos elementos aqui propostos, colocamos, for fim as seguintes perguntas como provocação: como se dá a
representatividade das mulheres negras, trans e/ou gordas nos saberes de gênero que são produzidos na área da
Psicologia Social? O maior número de pesquisas que se faz no Brasil sobre os corpos trans continua sendo de pessoas
cis? O que tem as negritudes a ensinar para o feminismo e para a Psicologia Social em geral? Quais os lugares que
devem ocupar e que não devem ocupar os corpos gordos nesta sociedade magrocêntrica?

496
A construção social do peso a partir de repertórios de saúde de mulheres adolescentes: implicações de gênero,
controle dos corpos e estigmas
Autores: Juliana Meirelles de Lima, PUC-SP
E-mail dos autores: ju.meirelles.lima@gmail.com

Resumo: A pesquisa desenvolvida parte do pressuposto de que os sentidos de peso corporal emergem na interface
entre discursos biomédicos e discursos sobre padrões de beleza. Nosso objetivo é entender versões de sobrepeso para
adolescentes do sexo feminino: que repertórios utilizam para falar sobre esta questão e, em que medida,
consideram/vivenciam o sobrepeso como problema.
Consideramos o recorte de gênero, assumindo que a padronização de um tipo de corpo tem maior reverberação nas
pessoas que se identificam como do sexo feminino, assim, muitas mulheres acabam não reconhecendo seus corpos
como seus, mas, de domínio da sociedade.
Metodologicamente, enfocaremos as práticas discursivas como construtora de fatos sociais que produzem e negociam
sentidos no campo da saúde. Para Hacking (1999), o que tomamos como fatos poderia ter acontecido de outro modo,
caso as configurações constitutivas fossem outras. Pensar as vias pelas quais os objetos e os sentidos se constituem
requer que levemos em consideração os contextos nos quais eles tomam forma. Acreditamos que as produções
científicas produzem definições e classificações de pessoas que corroboram para a produção de estigmas.
Por exemplo, dada uma definição como o IMC(índice de massa corpórea), cada pessoa terá uma classificação;
contudo, essa categorização não é dada pela natureza mesma das coisas - ela não é neutra. Tais categorias se dispõe
de acordo com uma história, são permeadas por demandas de controle das populações por governantes e por modos
práticos de se exercer a medicina (FOUCAULT, 1995). Queremos, nessa direção, desconstruir o uso dessas categorias
como algo natural e definitivo, avaliar as consequências sociais de tais classificações e entender os mecanismos
possíveis de mudança para os quadros estigmatizadores.
Portanto, associar o sobrepeso à ideia de falta de saúde reforça preconceitos naturalizados associados a ideais magros
de beleza. E é por essa razão que uma política de saúde pública enfrenta os dissensos de, por um lado, promover o
que é considerado vida saudável e, por outro, contribuir para a estigmatização daqueles que estão acima do peso.
Individualizar estritamente o sobrepeso despreza as complexidades da dinâmica social, situando-o como uma escolha
desvinculada de determinações sociais.
Historicamente as mulheres são constantemente representadas em discursos sociais e midiáticos pela exposição de
seus corpos, vistos como um atributo feminino essencial: esses corpos são generificados, apresentados como os
lugares de uma identidade feminina associada a um padrão de beleza magra. De acordo com Fischler (1995) uma das
características de nossa época é a lipofobia, sua obsessão pela magreza, sua rejeição quase maníaca à obesidade. Sob
aà o alà daà oaà fo a ,à u à o poà uidado ,àse à a asà i desej eisà eà se à e essosà à oà ú i oà ue,à es oàse à
roupas, está decentemente vestido.
Este aspecto acentuou-se quando, já no século XX, a Organização Mundial da Saúde oficializou a classificação do
sobrepeso como condição de risco para o adoecimento. Assim, a questão do peso passa a ser enxergada como um
sinal tangível de falta de controle, enquanto que o corpo magro é um testemunho do poder da autodisciplina e por
conseguinte de saúde.
Porém, propomos discutir que, os corpos posicionados como femininos não são meros objetos sobre aos quais
direcionam-se normas de peso e conduta alimentar. Queremos entender como as adolescentes, no entanto,
interagem com esses padrões, apreendendo de diferentes maneiras as representações normativas de beleza e
fe i ilidade àeleitasàpa aàoàseuàte po,à e o he e do-se nelas ou não, assumindo-as ou não.
Assim, o suposto fracasso de um corpo que não se adequa a tais padronizações é posicionado como denúncia de uma
incapacidade individual. A moralização do corpo feminino nos leva a encarar a tríade beleza-magreza-saúde como se
fosse além de apenas uma escolha pessoal, a única escolha possível. Dessa maneira, todos os mecanismos de
497
regulação social transformam o corpo e o peso em uma prisão ou em um inimigo a ser constantemente domado
(BAUDRILLARD, 2008).
Nessa pesquisa queremos entender os mecanismos que legitimam o excesso de peso como desvio da conduta, em um
processo em que muitas adolescentes acabam não reconhecendo seus corpos como seus, mas de domínio da
sociedade. E, assim, a magreza se impõe não só como uma questão de estética pessoal, mas também como uma via de
inclusão e êxito na cultura. Nesse contexto, entendemos que as políticas de saúde não devem restringir suas atuações
em relação ao excesso de peso apenas como possível condição de risco para a saúde, mas, também, que desenvolva
práticas que também posicionem o peso como condição histórica e socialmente determinadas e que produzem efeitos
no cotidiano, levando em conta o recorte gênero implicado.

498
Descolonizar os afetos da branquitude no feminismo hoje
Autores: Élida Lima de Almeida, PUC-SP
E-mail dos autores: elida.elida@gmail.com

Resumo: Partimos de um território pouco explorado no Brasil, à revelia de sua potência histórica para tanto: a
branquitude. Tanto no campo acadêmico quanto no das lutas sociais, a noção ainda é pouco familiar ou bem-vinda.
Pretendemos combinar a exploração da teoria sobre branquitude no Brasil com a observação de práticas feministas
contemporâneas tendo uma certa filosofia de descolonização como norteadora para evidenciar como afetos e efeitos
teóricos e cotidianos da branquitude têm suscitado enfrentamentos e transformações no movimento de mulheres
brasileiras nos últimos anos, em especial na experiência feminista interseccional.
A proposta se relaciona preferencialmente com o GT 23 "Mulheridades não hegemônicas: epistemologias negras,
trans e gordas sobre o corpo da mulher", já que este busca "trabalhos que problematizam as visões essencialistas do
feminismo" e que produzam "olhares críticos sobre as imbricações dos processos coloniais para a formação dos
essencialismos sobre o corpo da mulher colonizada", assim como investiga "os silenciamentos interseccionais sobre o
corpo da mulher" e, sobretudo, os "processos subjetivos e sociais de reconhecimento de privilégios sobre a
branquitude".
A teoria feminista tem produzido sistematicamente uma crítica à masculinidade. Deseja-se salientar que é necessário
para o feminismo conectado ao cotidiano social alcançar uma crítica às normativas raciais de gênero. O presente
estudo deseja investigar a contrapelo as remanescências de um Brasil-colônia, assim como as atualizações de
conceitos e práticas no feminismo marcadas pela intensificação, na última década, dos protagonismos e pautas do
feminismo negro, que tem levado o feminismo interseccional a se deparar com sua branquitude.
A crítica do sujeito operada pelo feminismo começa a aparecer com destaque na obra de Judith Butler a partir de 1990
no livro "Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade", que chega ao Brasil em 2003 e fica conhecido
como "o livro que desconstruiu o conceito de gênero no qual está baseada toda a teoria feminista" (RODRIGUES,
2005). Reconhecida a ampla potência de desconstrução do conceito de gênero, a obra de Butler não chega a
evidenciar a necessidade da desconstrução do conceito de raça no feminismo, onde as brancas não são vistas como
ra ializadas.àáud eà Lo de,àsi ,à à osàfalaàdaà" esist iaàe àe f e ta àasàdisto ç esà ueà esulta àdeà ig o a àeà
alài te p eta àasà ossasàdife e ças".à
Edith Pompeu Piza e Maria Aparecida Silva Bento foram pioneiras em abordar branquitude no Brasil, culminando na
mais completa obra de referência: o compêndio "Psicologia Social do Racismo: Estudos sobre branquitude e
branqueamento no Brasil" (Bento, Carone, 2002), um dos poucos estudos sobre o tema que chegou à 6ª edição. Sobre
este iremos nos debruçar para evidenciar certas relações entre a perspectiva feminista interseccional e as perspectivas
dos estudos da branquitude com ênfase nos textos de Cida Bento, Edith Piza, e Iray Carone.
No campo dos estudos pós-coloniais, teremos atenção à Jota Mombaça (2016) em Rumo a uma redistribuição
desobediente de gênero e anticolonial da violência, que diz que "Nomear a norma é obrigar o normal a confrontar-se
consigo próprio, expor os regimes que o sustentam, bagunçar a lógica de seu privilégio, intensificar suas crises e
desmontar sua ontologia dominante e controladora".
Esta pesquisa propõe, um pouco à moda de Viveiros de Castro, uma contra-a t opologia.à Doàpo toàdeà istaàdeàu aà
contra-antropologia, trata-se de ler os filósofos à luz do pensamento selvagem e nãoàoà o t io à .àNoà ueàesteà
visa explicitar o olhar colonizador da própria antropologia, nós visamos explicitar perspectivas muitas vezes
colonizadoras e tácitas no próprio feminismo. Pesquisamos transformações nas subjetividades com auxílio do método
cartográfico, no qual, segundo Suely Rolnik (1989), "mundos se criam para expressar afetos contemporâneos, em
relação aos quais os universos vigentes tornaram-se obsoletos".
Percebe-se que a branquitude, ou identidade racial branca, pode ser a porta de entrada e os óculos para encarar
questões da interseccionalidade, que somente agora começam a ser melhor consideradas pelo feminismo nacional,
como problemas relacionais e não de guetos identitários. A porta e os óculos pois na identidade racial branca
499
brasileira se revelam questões capazes de desmontar o conjunto de valores que determina o modelo universal de
humanidade e de brasilidade, capazes de quebrar com a cegueira social que faz com que se naturalizem as
desigualdades.
O processo de discussão sobre relações raciais no feminismo pode ser uma genuína experiência de formação política,
como potente mobilizador de forças de emancipação e libertação. Trata-se da produção de ideias e de mundos
capazes de fazer um enfrentamento a todo pensamento colonizador das subjetividades. Sendo o feminismo uma
filosofia prática, é preciso intensificar a crise de seus conceitos e práticas ao ponto de gestar novos, mais atualizados
às nossas estratégias descoloniais.

500
Mulher negra e subjetividades: produzindo sentidos a partir da dança afro
Autores: Amanda Duarte Moura, UFF; Janaína Conceição Moraes Gonzaga, Rodoviária A. Matias; Suelen da Silva
Sampaio, UERJ
E-mail dos autores: amandadu.psico@gmail.com

Resumo: Introdução
"Na dança de hoje, nossos corpos se movimentaram com uma energia diferente. Para além das pessoas novas que
chegaram para a atividade, fomos tomadas por uma situação que aconteceu com uma das participantes. Joana (nome
fictício) chega agitada na sala. Nós estávamos sentadas em roda tentando também assentar corporalmente naquele
espaço físico e nos conectarmos ao momento presente para o início da aula quando a jovem, emocionada, conta um
episódio que acabara de vivenciar no trem. Joana compartilha que um homem desconhecido, na confusão e tumulto
de entrada e saída de pessoas do vagão, lhe dá um tapa nas costas. No momento em que ouço esse desabafo sinto
meu corpo silenciar, como se ele buscasse um certo entendimento, abrindo espaço para se aproximar às experiências
daquele outro corpo. Situações de violência, de uma forma geral, me impactam e paralisam. O grupo de mulheres
ouve e acolhe essa partilha. Pronunciamos palavras de conforto, creio que nem tanto para ela individualmente. As
falas pronunciadas atentava para o lugar do corpo da mulher negra em nossa so iedade.àFo osàpa aàpa teà o po al…à
ou já estávamos nela desde o início." (oficina de dança afro, abril de 2016)
Os corpos, no vai e vem cotidiano, no movimento trilhar dos vagões, nos afetos que nos atravessa marcou o corpo de
Joana, mas também reverbera a todas as participantes na referida aula de dança. Os movimentos trabalhados neste
dia tiveram uma energia diferente. Durante a oficina de dança algumas participantes realizavam os movimentos com
uma energia vibrante acompanhada de gritos em determinados momentos. Nossos corpos ficaram suados. No
momento da partilha, ao final da oficina, mais uma vez em roda, o espaço era para compartilhar as experiências deste
dia e, novamente se emocionar com a história de resistência daqueles corpos negros femininos que contavam suas
marcas e lutas.

Justificativa
áàsu jeti idadeà àesse ial e teàfa i adaàeà odeladaà oà egist oàso ial. p.à àafi a àGuatta iàeà‘ol ikà .à
Os autores lançam mão de uma série de exemplos de práticas cotidianas que mostram essa inter-relação entre
máquina-indivíduo-sociedade, como por exemplo, ao citar que uma pessoa ao volante não é algo individual mas faz
pa teà deà u à p o essoà deà a ti ulaç oà se o- e i aà o à oà a o .à áà i te ç o,à aoà dese ol e à esseà tipoà deà
pensamento é deslocar a ideia de que o processo de subjetivação acontece num âmbito individual. A própria noção de
i di íduoà à uestio adaà poisà i di íduosà s oà esultadosà daà p oduç oà deà assa .à Esseà pe sa e toà a uí i oà à
utilizado para expor uma perspectiva onde as máquinas, n oàso e teàasàt i as,à asàta àasà ui asàte i as,à
so iais,àest ti as,àet à ... àfu io a àpo àag egaç oàouàage ia e to. p.à ,àouàseja,àpa ti ipa àdeàu aàfo aàdeà
interação entre os processos que dinamizam e orientam nossa vida em sociedade.
Muitas vezes, essa inter-relação é atravessada e constituída por processos corporais. O corpo negro cativo e subjugado
aos interesses dos colonizadores, na época da escravidão brasileira, guarda marcas históricas que até os dias atuais
refletem no modo como osà o posà eg osàs oàt atadosàeàaà ueàpap isàso iaisàlheàs oàespe ados:à oà o poà eg oà ,àe à
parte, o corpo raptado em África, jogado em porões de navios negreiros, acorrentado em senzalas, obrigado a
trabalhos forçados; o corpo vestido de algodão cru ou de rendas, mas descalço porque escravizado, que se movia das
cozinhas para as ruas. (Ratts, 2007, pág.66)
A construção de um corpo obediente, como forma de se livrar dos castigos corporais, deixa um registro cativo nas
su jeti idadesàdasàpessoasà eg as.à á marca histórica que rasgou a carne e as subjetividades brasileiras, que chegou
uaseà aoà s uloà XX,à fazà suasà i at izesà dolo osasà ai daà lateja e à oà otidia o .à Lo o,à ,à p g.à .à á alisa doà
historicamente, é possível observar o quanto esse tipo de construção contribuiu para a visão inferiorizada em como o
corpo negro é visto nos dias de hoje. Essa inferiorização se mostra, por exemplo, quando eventualmente entramos em
501
contato com notícias nas mídias, mostrando a desvalorização de atributos corporais de pessoas que estão em
determinadas situações sociais.

Objetivo
Identificar como se dá a construção da subjetividade da mulher negra a partir da experimentação corporal na dança
afro.

Metodologia
Analise dos diários de campo construídos ao longo das aulas, eventos e reuniões de temática negra relacionando
nossas experiências corporais e de outras mulheres negras.

Discussão
Por entender que o corpo da mulher negra ocupa um outro lugar na sociedade notamos como a dança afro auxiliou as
participantes na construção de novas formas de estar no mundo. Se durante boa parte da construção de sua
socialização, o corpo negro feminino foi lócus de inferiorização, sinônimo de trabalho servil e objetivificado, na dança
ele tem a possibilidade de construir um outro lugar, resgatando sua condição humana, distanciando-se do status de
coisificação.

502
Sobre a enunciação de mulheres não brancas na ciência: uma análise da produção intelectual de Gloria Anzaldúa e
Bell Hooks
Autores: Tayane Rogeria Lino, UNA-Bom Despacho
E-mail dos autores: tayanelino@gmail.com

Resumo: O presente trabalho busca investigar a fala/silêncio de algumas mulheres na produção cientifica. Mulheres
negras, mestiças, lésbicas, trans, latino-americanas, de origem popular que só existem se vistas a partir de um olhar
fronteiriço. Estas que na modernidade são, rápida e repetidamente, nomeadas como subalternas, asujeitadas,
oprimidas e etc.. Mas e se as características supracitadas incluirmos mais algumas - acadêmicas, professoras
universitárias, pesquisadoras – continuamos enxergando-as como subalternas?. O que as tornam ou não subalternas?
Quem é subalterno? Quem nomeia quem de subalterno? Nestes termos o objetivo é estabelecer uma discussão em
torno do complexo debate acerca do lócus enunciativo do sujeito subalterno na vida social contemporânea,
principalmente, no campo científico. No caminho para algumas respostas e no desenvolvimento de novas perguntas,
fo a à a alisadosàosà te tosà I tele tuaisà Neg as à deà Bellà Hooksà eà Fala doà e à lí guas:à u aà a taà para as mulheres
es ito asà doà Te ei oà Mu do à deà Glo iaà á zaldúa.à Pa aà ta to,à to a osà o oà ho izo teà efle i oà asà o t i uiç esà
teóricas-e pli ati asà deà Ga at ià “pi akà e à Ca à theà su alte à speak? .à Co oà oà títuloà suge e,à aà diasp i aà i dia aà
Gayatri Chakravorty Spivak, trata da possibilidade de fala do subalterno, em outras palavras o que de fato interessa a
ela é a discussão quanto ao lócus enunciativo do subalterno no campo científico. Esse campo teórico apresentou-se
como uma importante contribuição tanto pa aàoà a poà ie tífi oà ua toàpa aàesteàt a alho,àpoisàt azàoà out o àpa aàaà
cena, o não falante, o silenciado, o que sempre ocupou o lugar de sujeito na ciência e, poucas vezes, o de sujeito da
ciência. Alguns/mas vão dizer que parece antiquado falar em subalternidade feminina na ciência aja vista o número de
mulheres que tem ocupado espaços como universidades, reitorias, prateleiras inteiras de grandes livrarias. Mas o que
estou tratando é da constatação das hierarquias científicas que tem originado a inferiorização de uns em detrimento a
valorização de outros. Esta constatação guiou o pensamento feminista a duras críticas ao modelo científico
hegemônico. As feministas questionam uma racionalidade machista a qual estava submetida à ciência e na denunciam
doà ethos à as uli istaà aà i ia.àássi ,àasà íti asàfe i istasà e sa àe àto oàdaà atu alizaç oàdaà i iaà o oàu à
lugar de homens, da suposta neutralidade científica, da presença da objetividade e universalidade atribuída ao saber
científico. Algumas perguntas insistem em desafiar práticas cientificas contra hegemônicas no campo feminista, são
elas: Como investigar/interagir com realidades invisibilizadas? Como enfrentar problemas que não são reconhecidos
como problemas? Diante dos desafios trazidos/produzidos com as críticas feministas, seria reducionista pensar
etodologiasà o oà si plesà p o edi e tosà t i os.à Oà desafioà à oà deà dialoga à o à sujeitos,à histo i a e te,à se à
oz /su alte osàeàdeàt aça à a i hosà etodol gi osà ueà osàpossi ilite àou i-las, deixar suas vozes ecoarem. Não
h à u à o se soà oà ueà seà efe eà aà p oposiç oà deà u à out o à todo,à oà ueà h à à aà pa ti à deà uaisà le tesà a osà
escolher os métodos, analisar os dados e realizar os procedimentos. O problema a se enfrentar é pensar como
permitirei que as intelectuais pesquisadas falem em meu trabalho. Quais procedimentos metodológicos permitiram
uma interação teórica onde se fale com e não se fala por. As análises apontaram que as teóricas estudadas buscam
novas estratégias epistemológicas, estabelecem um diálogo crítico com distintas correntes do pensamento, a fim de
explicitar as redes de poder que invisibilizam a aparente objetividade do conhecimento científico. Dessa forma, este
outro desenho demonstra que os subalternos só conseguem fazer suas falas ecoarem quando falam a partir da língua
do outro. As mulheres, que até agora haviam sido produzidas como objetos do saber, reclamam a produção de um
saber local, um saber sobre si mesmas, um saber que questione o saber hegemônico. Assim, elas transitam entre o
silêncio e a fala, entre a ausência de uma produção audível e a denúncia de uma história invisível numa ciência
imperialista.

503
Análise do Discurso da patologização da transsexualidade
Autores: Gabriel Braga Calegari, UFTM
E-mail dos autores: gabriel_calegari@hotmail.com

Resumo: Introdução: O tema da patologização da transexualidade tem sido muito discutido nos ambientes
acadêmicos e há diversos movimentos políticos contrários a tal, como, por exemplo, o Stop Trans Patholyzation, que
enfatiza o DSM nominalmente, já que é um dos mais importantes manuais de transtornos mentais do mundo, que
delimita o fenômeno como uma categoria nosográfica. Objetivos: Diante desse contexto o presente estudo visa fazer
uma crítica científica e epistemológica, com o referencial da Análise do Discurso de tradição francesa, cujo principal
referêncial é Michel Pêcheux, em relação ao texto do DSM-V que delimita a Disforia de Gênero. Além de desmistificar
a neutralidade científica, visa mostrar como esse discurso é legitimado, imbricado de ideologia e por uma memória
discursiva (interdiscurso). Métodos: Trata-se de uma pesquisa qualitativa e documental. Resultados: O manual
referido, o DSM-V, se enquadra – em relação ao texto que delimita a Disforia de gênero - como um discurso científico
e patologizante pertencente a uma formação discursiva biomédica. A instituição APA também busca legitimar seu
discurso de acordo com sua posição nas condições de produção de nossa formação social. O conceito de função-autor
que busca de e taàfo aà do estifi a àoàdis u soàe,à e et -lo a um sujeito específico, não se aplica uniformemente
ao discurso de DSM-V, já que quando nos referimos à ele (à patologização, em outras palavras), nos referimos à uma
i stituiç oà aà áPá à eà oà aà u à sujeito específico inscrito historicamente. O efeito de sentido (e de discurso) dessa
manobra discursiva é de uma blindagem institucional e por conseguinte a legitimação de "verdade". O discurso
também se classifica como autoritário, tipologia essa aplicável à maioria dos discursos científicos, já que a polissemia é
contida e o referente está apagado pela relação com a linguagem. Tomando uma das teses principais de Althusser - áà
Ideologiaà i te pelaà i di íduosà e à sujeitos à - acrescentando para : A Ideologia Interpela indivíduos em sujeitos
sexuados, já que a divisão social do trabalho também é uma divisão sexual do trabalho, a transsexualidade coloca em
cheque a produção de sujeitos pela ordem burguesa, pela ideologia dominante. Adicionando as contribuições de
Pêcheux à Althuesser, a transsexualidade coloca em cheque um discurso (que produz os sujeitos) da relação
unidirecional entre corpo-identidade de gênero-orientação sexual. Claro que muitas das vezes os sujeitos trans não se
subjetivam dessa forma (contestatória da ordem social), mas se subjetivam pelos os outros discursos que tentam
conter o transbordamento subjetivo e sexual, reinserindo os sujeitos nas relações sociais de produção: o discurso
patologizante do fenômeno (amparado pela medicina psiquiátrica). Porém, fenômeno da transsexualidade questiona
apenas indiretamente a ordem social ( a divisão sexual do trabalho em última instância), por conseguinte todo saber
(ideológico) que é a ela correspondente. Os sistemas diretos de sexo gênero, tomados como transparentes, diretos e
óbvios são também efeitos ideológicos com o mesmo tipo de funcionamento que Pêcheux propõe sobre o sujeito
(influenciado por Althusser) e sobre o signo – os chamados esquecimentos (Pêcheux, 1975). Parte do conhecimento da
psiquiatria e da psicanálise procuram não um tratamento em saúde, uma compreensão, mas a reinserção desses
indivíduos na divisão social e sexual do trabalho. Já tratada como psicose (justamente aqueles sujeitos em que a
castração não é inscrita!), alguns Lacanianos como Contardo Caligaris tratam da cirurgia transsexualizadora como uma
nova castração. Antes de ser uma solução em saúde para os sujeitos trans, a cirurgia os reinsere na divisão social (e
sexual) do trabalho (Marx). Essa compreensão de parte da psicanálise evidencia o que Deleuze e Guattari (1971)
pensavam do Édipo e do processo de castração: a produção de sujeitos inseridos na formação social burguesa.
‘eto e osàFou aultà :à Éà ueàoàsa e à oà àfeitoàpa aà o p ee de ,àeleà àfeitoàp aà o ta .àÉàjusta e te essa a
função do discurso presente no DSM-V: cortar o processo polissêmico em relação ao corpo/identidade/sexualidade
que os sujeitos trans geram e, ao fazer isso ele faz um recorte de normalidade que está amparado numa matriz
dimorfista e heterossexual.

504
Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual do CRP-04: construindo ações, expandindo fronteiras
Autores: Rodrigo Broilo, FUMEC; Dalcira Ferrão, CRP-MG; Erick Teixeira Gonçalves, CRP-MG; Lucas Henrique de
Carvalho, UFMG; Rodolfo Leal Silva, UFMG; Samuel Henrique da Silva, CRP-MG
E-mail dos autores: rodrigobroilo@hotmail.com

Resumo: As temáticas de gênero e diversidade sexual têm ganhado visibilidade em diversos âmbitos da sociedade,
seja nas tentativas de sensibilização da população e luta por direitos, seja por repressão e preconceito vindo do
conservadorismo. Tal debate, portanto, tornou-se essencial e presente em âmbitos acadêmicos e institucionais da
Psicologia. É neste contexto que surge a Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual do Conselho Regional de
Psicologia de Minas Gerais, subsede 4. Este trabalho, no modelo de relato de experiência, visa apresentar as propostas
de trabalho da comissão, assim como discutir seu caráter ético, político e de formação.
Discutir sobre gênero e diversidade sexual tem sido um grande desafio, dados os constantes ataques LGBTfóbicos e
machistas contra os direitos e conquistas do movimento LGBT+ e de mulheres no Brasil. A Psicologia, portanto, possui
um papel significativo frente essas discussões, tendo em vista que são comuns os relatos de práticas discriminatórias
vindas de profissionais da área. Isso demonstra a necessidade de repensar discursos e posicionamentos, para que o
despreparo da academia e da prática profissional em lidar com a temática seja superado.
A Psicologia, enquanto ciência e profissão, possui um tempo de existência relativamente pequeno. Surge em meio à
expansão da visão positivista, e atrelada a um saber psiquiátrico também novo, porém plenamente dotado de um
pode ioà o alizado àdis u si o,à o alàeàju ídi o.àEssesàsa e es,àpo ta to,à isa a ài i ial e teà à iaç oàde formas
de controle dos corpos que se insurgiam às imposições da teia social, numa manifestação do que Michel Foucault
posteriormente chamaria de biopoder. Assim, a Psicologia corroborou com as categorias nosológicas psiquiátricas
patologizantes das experiências humanas que fugiam à cisheteronormatividade.
Apesar do distanciamento posterior da psiquiatria, a ausência de um compromisso social e a permanência do
descompromisso com mudanças sociais agravaram a dívida histórica da Psicologia para com a população LGBT+ e as
ulhe es.à Nesseà a poà últiplo,à sa e esà di e sosà de t oà daà eaà Psi à o t i uí a à o à dis u sosà eà p ti asà
opressivas de justificativas cientificamente fundamentadas. A mudança paradigmática ocorrida no século XX, no
entanto, embasa o surgimento de propostas que não mais desvincularam a produção de conhecimento da ação na
realidade concreta. Na Psicologia Social latino-americana, esse movimento foi encabeçado por autoras(es) como Sílvia
Lane e Martin-Baró. Nesse sentido, pensar uma psicologia comprometida com o seu meio social é pensar em gênero e
sexualidade enquanto categorias analíticas orientadoras de uma práxis que combate os padrões cisheterossexistas e
cria suporte para a proteção e promoção da diversidade de identidades.
No âmbito institucional, um passo importante foi a Resolução CFP 01/99, que regulariza a prática profissional frente à
diversidade sexual de forma não discriminatória. A criação de Grupos de Trabalho e Comissões Permanentes voltadas
para esse tema também faz parte do mesmo processo. Há, no entanto, a necessidade de se ir além da criação de
dispositivos institucionais voltados para a categoria. Os diálogos das instituições e da comunidade
científica/profissional frequentemente esbarram-se na distância entre estas e a sociedade civil. Mostrou-se premente,
no trabalho aqui relatado, a necessidade de expandir o escopo das falas sobre gênero e diversidade sexual, colocando
o saber psicológico em contato com a sociedade e a serviço da cidadania, cuidado, respeito e garantia de direitos às
mulheres e a população LGBT+.
A comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual, neste contexto, desenvolveu várias estratégias para fomentar
a discussão proposta, tanto para estudantes e profissionais quanto para a sociedade. Antes como grupo de trabalho,
hoje como Comissão, já completou mais de 2 anos de existência e realiza reuniões abertas recorrentes para
planejamento de ações e projetos. Foram organizados vários eventos com temáticas de gênero e diversidade sexual,
além de um seminário e, atualmente, um congresso previsto para este ano. Parcerias com movimentos sociais e outras
instituições foram importantes para fortalecer o engajamento do Conselho Regional de Psicologia nessas pautas,
marcando presença em manifestações e audiências públicas. Com o intuito de alcançar a sociedade civil, ações em
505
locais públicos foram organizadas, como em praças públicas ou no cinema, num recente projeto que leva filmes
temáticos à população, seguidos de debates. Houve também produção de materiais informativos em linguagem
acessível para distribuição em eventos e manifestações. O grupo está sempre atento ao calendário anual de datas
importantes de luta e sempre compondo a agenda destas ocasiões em Belo Horizonte. Assim sendo, a Comissão está
ativa para construir uma Psicologia pautada nos Direitos Humanos, que luta pelas demandas políticas ligadas aos
direitos das mulheres e pessoas LGBT+, ainda que esteja sujeita a tensionamentos e repressão de grupos
conservadores. O compromisso ético respalda suas ações e fez a comissão tornar-se um importante ator social das
questões de gênero e diversidade sexual na interface com a psicologia em Minas Gerais.

506
Compromisso social da Psicologia e a evasão escolar da adolescente-mãe na educação básica no município de
Ladário-MS
Autores: Sandra Regina Rocha de Lima, UFMS-CPAN; Cláudia Elizabete da Costa Moraes Mondin, UFMS
E-mail dos autores: sandraregina.35@outlook.com

Resumo: Este projeto faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso da graduação de Psicologia-UFMS, no Campus do
Pantanal. A pesquisa e intervenção será realizada em uma escola do município de Ladário-MS que apresentar o maior
número de sujeitos da pesquisa: adolescentes gestantes e mães matriculadas no ensino regular fundamental I e II. A
escolha da instituição se dará a partir da realização de um levantamento do número das alunas gestantes e mães
matriculadas na educação básica das escolas municipais e estaduais de Ladário-MS. Objetiva-se promover, no público-
alvo, uma intervenção que proporcione empoderamento e elaboração de novos projetos de vida a partir de uma
o epç oàe a ipado aàdeàedu aç oàe ita do,àassi ,àaàe as oàes ola .àEstaàpes uisaàp ete deà des istifi a àe t eà
as adolescentes que a prevenção de uma gestação seja somente de responsabilidade do sexo feminino trazendo para
essa adolescente a construção do conceito do empoderamento. E ao empoderar-se, principalmente, na relação sexual
com o seu parceiro, previne-se de uma gestação indesejada e de doenças sexualmente transmissíveis. Diante do que
pode acarretar uma gestação não planejada nessa fase de transformações físicas, psicológicas e sociais, esta pesquisa
intervencionista visa combater a evasão escolar por parte da adolescente que está gestante ou é mãe, a partir do
conhecimento e apreensão dos seus direitos em relação à Educação. É direito da estudante adolescente gestante e
e,àoà egi eàdeàe eç o à ueà àa pa adoàpelaàLeiàFede alà . ,àdeà àdeàa ilàdeà ,à ueà o sisteàe à elaç oà
aos alunos que merecem um tratamento especial quando estão ausentes das salas de aula por algum motivo de
licença médica. A licença-maternidade pode ser solicitada no 8º mês de gestação seguidos de mais três meses. Por
meio dela a aluna pode compensar as faltas com exercícios em casa com o acompanhamento da própria escola. Para
nortear o início desta pesquisa, o primeiro procedimento foi de fazer o levantamento do número de adolescentes
gestantes e mães matriculadas na educação básica do município de Ladário-MS, para consequentemente, escolher a
instituição que tiver o maior número para continuar a pesquisa e fazer a intervenção. Para tal fim, foram feitas visitas
nas secretarias de educação. Em Ladário existem duas escolas estaduais. Primeiramente entramos em contato com a
Secretaria Estadual de Educação, com pólo em Corumbá-MS, enviamos uma carta de apresentação da UFMS
solicitando fazer este levantamento desta informação nas escolas. No município de Ladário o caminho percorrido
começou na Secretaria Municipal de Educação onde nos foi informado que para ter esse acesso deveríamos ir de
escola em escola com a carta de apresentação da UFMS em mãos para a direção solicitando essa informação. Todas as
escolas municipais de Ladário já foram visitadas, e até o presente momento aguardamos a resposta da Secretaria
Estadual de Educação liberando o início da pesquisa nas escolas estaduais para fazer o levantamento do número do
público-alvo deste trabalho. A metodologia empregada será do materialismo histórico e dialético pautado nos Direitos
Humanos, fazendo uso de análises qualitativas e quantitativas, sendo que o qualitativo se apresenta por meio de
levantamentos de dados, que serão coletados através de questionários, debates e observações. Os dados serão
analisados qualitativamente, investigando a ligação da subjetividade e particularidade do momento histórico no qual
as adolescentes gestantes e mães estão inseridas, para saber delas sobre o processo de construção da maternidade,
saber de suas vivências na família, na conjectura escolar e do que pretendem e almejam fazer a partir dessa nova
realidade, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Com isso, a partir das impressões das mesmas, nas
intervenções serão utilizados recursos audiovisuais, como a exibição de filmes, de clipes de músicas, poesias,
documentário, e também serão realizadas rodas de conversa para que haja os debates e esclarecimentos de todo o
conhecimento apreendido. Até onde levantamos tem-se a informação de uma adolescente gestante, com 13 anos,
matriculada no 2º ano do Ensino Fundamental e em outra unidade escolar que no início desse ano teve uma aluna de
507
12 anos que estava grávida, mas a suspeita é de que induziu o aborto. A Psicologia tem o compromisso social de estar
inserida neste contexto escolar propiciando que a práxis sejam de todos os envolvidos para garantir o acesso dessa
adolescentes gestantes e mães à Educação. Nós, enquanto psicólogas, temos que combater a possível negligência que
pode estar ocorrendo nos casos de evasão escolar das adolescentes gestantes e mães.

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O limite da norma - mulheres transexuais e travestis; estudos sobre exclusão social
Autores: Cássio Péres Fernandes (UFAM), Adriana Rosmaninho Caldeira de Oliveira (Universidade Federal do
Amazonas)
E-mail dos autores: cassioperesf@gmail.com

Resumo: Nosso trabalho busca contribuições a luz da Psicologia Social como processo de horizontalização política,
quais enfoques provocam outros ritmos de pensamento, outros lugares de fala na relação entre a exclusão social e
conceitos afins com a realidade de travestis e mulheres transexuais. Desta forma, objetivamos incluir o material no
grupo de trabalho de Psicologia, Travestilidades, Transexualidades e Intersexualidades; uma vez que conectamos
conceitos tão utilizados na psicologia social com a realidade de travestis e mulheres transexuais. Partindo de estudos
sobre exclusão social e pobreza, objetivamos mostrar que mulheres transexuais e travestis são alvos de movimentos
excludentes e, além da exclusão, sofrem com outras formas de separação da sociedade, como a desqualificação social,
estigmatização e estereotipificação, colocando-as em situação de vulnerabilidade. Imersos em uma sociedade binária
e normativa, somente homens e mulheres são reconhecidos como legítimos e, ainda assim, possuem dificuldades por
estarem situados numa estrutura engessante. A população de travestis, além de não ser priorizada por um sistema
binário, também sofre com outros agravantes que a impede de garantir seus direitos fundamentais. Não ser coerente
com o que é ditado pelas estruturas de poder contribui para que a normatização da sociedade continue em vigor e
quem não se enquadrar em identidades fixas é mais regulamentado por este sistema. Quanto à população transexual,
também sofrem com a exclusão social, assim como com suas relações, sejam parentais, afetivas ou sexuais ou por
serem desconsideradas como indivíduos. Esta cristalização de identidades colabora para a manutenção da exclusão
social de identidades como a das travestis e mulheres transexuais.
Logo, infere-se que além deste esgotamento do Estado em abarcar questões sociais, também existe uma vontade por
trás das estruturas de poder, que agem para que fatores como a exclusão e normatização passem despercebidos ou
pouco considerados por quem compõe esta estrutura. Este mecanismo nos leva a pensar sobre mais conceitos
semelhantes ao da exclusão social. As estruturas dominantes exercem poder diante de todo e qualquer desvio a uma
normalidade intocável; a sexualidade de todos é vítima da rigidez, observando-se a estruturação de uma sociedade
inflexível e reguladora dos corpos de outros. Faz-se necessário, desta forma, rever e buscar formas de se combater
estruturas que já se encontram consolidadas e que acabam por naturalizar e engessar determinadas identidades. Esse
engessamento de identidades acaba por colocar sujeitos em um lugar estigmatizado, à margem da sociedade.
Associada a outras formas de exclusão social e desqualificação, a estigmatização é capaz de inferiorizar o sujeito e
facilitar que mais processos separatistas o atinjam, facilitando para que o indivíduo em questão seja visto apenas de
forma superficial ou até mesmo, com um olhar negativo; a estereotipificação realiza uma manutenção deste olhar,
impulsionando o afastamento e exclui a pessoa do convívio dentro da norma. Observa-se, assim, uma anulação do
indivíduo, do seu discurso, de sua cultura, colocando-o em situação de vulnerabilidade. Dotada de componentes
individuais, sociais e programáticos, a vulnerabilidade englobaria diversos contextos dos indivíduos que passam a
visualizá-lo de uma forma mais adequada, agindo sobre seus ambientes e particularidades, sobre seu contexto de vida
e grupos do qual fazem parte. As travestis e transexuais vivenciam, também, situações de baixo aproveitamento na
escola, ambiente visto como componente de uma estrutura normativa, que acabam por exercer esta regulamentação
a identidades que são rechaçadas por serem consideradas desviantes do binarismo. Os estudos apresentados na
sessão servem praticamente como denúncias diante da realidade de travestis e transexuais, que são alvo de exclusão,
estigmas, estereótipos, desqualificação, se encontram em condição de vulnerabilidade e necessitam de políticas
públicas e ações que garantam seus direitos fundamentais, uma vez que marcam a constituição de seus processos
identitários, ocasionando prejuízos e obstáculos para seus desenvolvimentos.

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Violência Obstétrica: Precisamos avançar nas práticas de assistência humanizada ao parto para enfrentá-la
Autores: Laryssa Soares Leite, UFBA; Kueyla de Andrade Bitencourt, UFBA
E-mail dos autores: laryssaasoares245@gmail.com

Resumo: O momento gravídico-puerperal (gravidez, parto e pós-parto) é singular para cada mulher e envolvem
questões que vão desde mudanças físicas e de autopercepção ao apoio social que a gestante teve no decorrer da
gestação, treino de acompanhante, tipo de parto, violência obstétrica, aleitamento materno, e demais questões que
envolvem esse momento de profunda transição na vida familiar e que é extremamente influenciado por questões
sociais, culturais, políticas e econômicas. No entanto, o que tem se percebido cada vez mais é que esse momento tão
único na vida da mulher tem sido marcado por momentos de dores, constrangimentos e desrespeito por parte de
profissionais de instituições de saúde nos momentos de pré-natal, parto, aborto ou de puerpério, o que se caracteriza
por violência obstétrica. No Brasil, se constatou que uma em cada quatro brasileiras relata ter sofrido maus-tratos
durante trabalho de parto e parto. Além disso, há os alarmantes índices de que essa violência acontece principalmente
entre mulheres negras, com baixa escolaridade e níveis socioeconômicos mais baixos. Essa questão envolve os direitos
reprodutivos e sexuais no campo das políticas públicas de saúde das mulheres que são violados, e fazem com essas
percam autonomia e o poder de decisão sobre o que vai acontecer com o seu corpo, o que pode afetar no nascimento
sadio e harmonioso do bebê; e merece que cada vez mais saia da invisibilidade, visto que acontecem muito mais do
que se noticia. Partindo-se desse pressuposto, visou-se trabalhar essa temática dentro da perspectiva do eixo temático
de gênero e sexualidade promovendo um debate crítico sobre direitos sexuais e reprodutivos com partilha de
conhecimentos e desafios da problemática da violência obstétrica compartilhando a vivência em atuação mensal de
projeto de extensão universitária multidisciplinar que conta com a participação de médica obstétrica, estagiários da
psicologia e enfermagem, profissionais da unidade de saúde: enfermeiras, agentes comunitárias de saúde e população
em geral, em uma unidade básica de saúde em zona periférica do município de Vitória da Conquista-Bahia com grupos
de gestantes, onde a partir do método de Roda de Conversa Comunitária proposto pelo médico Mauro Elias
Mendonça em seu livro sobre a Abordagem Comunitária, onde o manejo de roda acontece de modo que a
comunicação se dê de modo horizontal e onde não há uma legitimidade apenas do saber técnico, mas uma relação
dialética com a comunidade e dividida em seis etapas: 1ª acolhimento, onde se recebe as pessoas, integra e prepara
para a participação em grupo; 2ª Levantamento de demandas, com as expectativas e questões que trouxeram a
pessoa ao grupo; 3ª Escolha de um tema para se trabalhar de acordo com a demanda maior do grupo; 4ª
Aprofundamento do tema com desafios e possibilidades; 5ª Proposição de soluções para as questões trabalhadas e 6ª
Finalização com o que cada pessoa aprendeu e achou relevante do encontro, são trabalhadas diversas questões
relacionadas à maternidade e possíveis situações em que a gestante pode se empoderar de seus direitos para evitar
que possíveis situações de violência aconteçam. A partir desse processo de partilha de informações, têm-se percebido
a riqueza de temáticas que são compartilhadas entre as gestantes, dentre as quais se pode destacar: ansiedade com
relação ao parto, medos que percorrem cada fase da gestação, dúvidas com relação à amamentação e sexualidade na
gestação e insegurança com relação à assistência ao parto oferecida no município; onde nessa troca, uma colabora
com as questões trazidas por outras através de suas próprias experiências e há um auxílio dos profissionais para que
essas mulheres conheçam práticas humanizadas de assistência ao parto e pontos da legislação que podem ampará-las
em seus direitos.

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GT 24 | Narrativa, experiência e verdade: encontros intempestivos entre experimentações poéticas e
psicologia social

Coordenadores: Beatriz Adura Martins, Universidade Santa Ursula | Gabriel Lacerda de Resende, Faculdades
Integradas Maria Thereza | Luis Artur Costa, UFRGS

O presente GT tem como principal objetivo proporcionar o encontro, debate e problematização entre trabalhos,
pesquisas, experimentações, práticas profissionais que se utilizem da poética como operação constituinte de modos
de resistência micropolítica na afirmação da diferença. Pretende-se visibilizar as interferências e deslocamentos
provocados pelos agenciamentos entre as artes e as ciências, em especial a psicologia social, ao se articularem às
tecnologias de subjetivação contemporâneas. A utilização contemporânea dos diários pessoais, da escrita ficcional, de
narrativas fotográficas, dramáticas, audiovisuais, entre outras, em práticas e pesquisas em Psicologia Social já não se
constituem como uma novidade. Ensaios, delírios, biografemas, escritas de si, antropologias especulativas, entre
muitas outras metodologias narrativas, exploram as brechas entre o dado e o virtual. Tal agenciamento das práticas da
Psicologia Social com políticas narrativas abertas às experimentações poéticas reterritorializam as concepções de
i iaàp p iasàdaà ode idadeà Des a tesà ;àBa o ,à àe àu à e pi is oàt a s e de tal à Deleuze,à .à
O objeto de tais práticas não é apenas o atual dado, aquilo que está ali delimitado como forma ou substância em si,
diante de um sujeito neutro: a atualidade dos eventos da realidade é tramada e complexificada pelo adensamento de
suas virtualidades (Bergson, 1999; Deleuze, 2006). Apelamos aqui para a concretude do real, sem reduzi-lo aos objetos
em si, concebidos como substâncias apreendidas pelas formas do nosso entendimento. A construção de narrativas
aqui, portanto, não opõe o verdadeiro ao falso, mas antes busca visibilizar e problematizar as condições de
possibilidade das afirmações da verdade ela mesma.
É o que escrevia Walter Benjamin (2011) a respeito da verdade: ela não coincide com o objeto do conhecimento, mas
com o sensível cambiante. Se "a verdade não é desvelamento que destrói o mistério, mas antes uma revelação que lhe
faz justiça" (Benjamin, 2011, p. 19), tal revelação não pode ser confundida com o desocultamento de uma essência
verdadeira. Trata-se antes de um lampejo, de uma aparição, de um feixe sensível que adquire uma consistência
através daquilo que contamos, narramos, experimentamos, desviamos. É nessa delicada empiria - transcendental,
poderíamos dizer? - que "o pensamento volta continuamente ao princípio, regressa com minúcia à própria coisa"
(Idem, ibidem, p. 16), sem jamais esgotá-la ou encerrá-la num sentido último. Daí nossa aposta nesses movimentos de
apresentação de uma verdade sensível e cambiante: performances, narrativas, imagens e tantos mais.
Não queremos julgar ninguém, não pretendemos aqui delatar a simplificação da ciência como falsidade ou a
impossibilidade de neutralidade como vergonha, antes, apenas, queremos mostrar que não existem heróis
transcendentes ou conquistas definitivas. Não buscamos também a verossimilhança. Não queremos encontrar os
pensamentos das pessoas com as quais relacionamos nossas narrativas, não pretendemos sufocar mais uma vez sua
voz com a nossa: especialista, expert, acadêmica. Pretendemos apenas brincar de ver que vida se vê ao nos
reinventarmos com o contágio sensível destes blocos de perceptos e afectos (Deleuze; Guattari, 1992): o que podemos
experienciar quando atravessados pelo plano de composições da poética (Deleuze; Guattari, 1992)? Que cidade
produzimos, que cotidianos testemunhamos, ao nos afundarmos nas hecceidades das vidas possíveis, ao ponto de
desviarmos daquela que seria nossa, própria? Seria tão forçado quanto pretensioso querer representar uma
experiência, nossa ou alheia; por isso pretendemos, como experimentadores pouco protocolares, misturar mundos
para experimentar as experiências que se inventam e o que elas nos permitem dizer, ver, pensar e sentir. Não
pretendemos transmitir uma mensagem que os sujeitos de pesquisa, usuários das políticas públicas, ou qualquer outro
parceiro nos teriam deixado. Não pretendemos nem ao menos reproduzir aqui os significados dados por eles às coisas
do mundo, suas representações coletivas ou individuais. Queremos apenas nos afetar por fragmentos de sua história e
produzirmos, então, uma máquina de afetações. Assim, como nos diz Artaud (1978), para provocar uma determinada
experiência não temos que reproduzi-la, mas sim carregar forte nos artifícios para afetar, deformar as formas para
afetar nosso espectador até suas entranhas e não apenas em sua consciência. Nos interessa mais produzir uma
afetação real do que representar um afeto verossímil. Aí estaria o regime de verdade que buscamos nas narrativas
poéticas: a afirmação de sentidos e não na correspondência de significados ou referentes (Deleuze, 1975).
E é deste modo que buscamos acontecimentalizar nossas vidas e seus sistemas de aceitabilidade (Foucault, 1978) com
narrativas de infames urbanos, heterotopias domésticas, performances queer, etc., afinal, por mais importante que
seja a construção do esquadro-casa, tão importante ou mais é o desenquadramento do território-casa para a cidade-

511
aos os,à eà ueà dissol aàaà ide tidadeà doà luga à aà a iaç oà daàte a... à DELEU)Eà &à GUáTTá‘I,à a,àP g. .à ásà
linhas simétricas que estriam nossos modos de existência (Deleuze e Guattari, 1997) em segmentaridades
concêntricas, binárias e hierárquicas (Deleuze e Guattari, 1996) podem ser, assim, embaralhadas pela mão livre da
pintura, da escrita, das fotos e performances, sempre em busca dos limites daquilo que podemos ver e dizer. Tal
exercício ético (Foucault, 2014) nos remete diretamenteàaoàte aàdoàENáB‘áP“Oàdeà :à de o a iaàpa ti ipati a,à
Estadoàeàlai idade:àpsi ologiaàso ialàe àte posàdeàe eç o ,àpostoà ueàesteàesfo çoàpo à o po à o àasàdife e çasà osà
permite radicalizar a democracia de nossas práticas em Psicologia Social. Democracia nunca foi a vontade da maioria
sobre as minorias, jamais se confundiu com a sobrecodificação das singularidades por formas gerais que se instituem
para todos, pois mais relevante que as maiorias são os devires minoritários e suas operações éticas de dissonância e
desvio, acontecimentalizando (Foucault, 1978) nosso Bom Senso e Senso Comum (Deleuze, 1975). Eis uma política no
sentido que a quer Rancière (1996): uma ruptura nas configurações do sensível que desloca o corpo e sua destinação
dos códigos previamente atribuídos. A poética e sua capacidade de articular-se com as singularidades da experiência
torna-se uma operação ética de grande relevância para a manutenção da democracia lá onde atuam e pesquisam os
Psicólogos Sociais; trata-se da exigência de abertura para o que não sabemos dizer, pensar, sentir, não para
capturarmos tais modos de existência outros em novas compreensões totais, mas para suportarmos o excessivo, a
destruição constante das formas em forças. Do planejamento de políticas públicas às operações de políticas do
comum, da clínica standard às práticas de cuidado anômalas, da pesquisa dura às experimentações de si na academia,
todas são práticas que demandam tal potência de articulação de singularidades incoerentes e variantes para darem
suporte à produção de um comum de fato (Hardt, Negri, 2004; Llansol, 2011). Po-ética como política, portanto.
O indescritível tornado narrativa em uma prática (pesquisa, política pública, clínica, etc.) não equivale a trazer às luzes
o que era obscuro, ou permitir elucidar o que estava confuso; trata-se, antes, de dar um corpo sensível ao obscuro e
ao confuso, permitindo sua experiência e contágio no campo de atuação em questão. No empirismo transcendental
tal obscuridade poética, difusa, volátil e confusa não equivale ao indescritível como não dito do empirismo estrito
(onde restaria como negação da presença do dado extenso), não é o invisível ou o imperceptível das hermenêuticas do
sujeito (verdade cifrada, segredo sutil, informação intangível, ilusão), mas sim o percebido de outro modo: não se
trata de um elemento a-sensível nem de algo secreto, mas de deslocamento nas tramas sutis que compõem nossas
experiências. O invisível visível faz parte da percepção do ínfimo e singular, onde pululam centelhas que conformam
atmosferas várias. Não se trata do subsensível (abaixo do limiar de consciência) nem do suprassensível
t a s e de te ,à asàdoài te si o:à ‘elaç oà o-consciente, de que a obra guarda uma inscrição indelével, na medida
em que se constitui precisame teà o oà u à ese at ioà i esgot elà deà fo ças à GIL,à ,à p. .à ássi ,à oà
"indescritível" recebe tal prefixo de negação em decorrência de jamais darmos conta das suas potências de variação e
singularidade em nossas narrativas, servindo como disparador constante de uma metaestabilidade da inscrição dos
eventos na pesquisa. É tal potência de metaestabilidade e articulação com a diferença que faz da poética e suas
operações heterotópicas (Foucault, 2001) uma prática de grande relevância para a promoção de uma Psicologia Social
democrática, participativa e pronta para resistir em tempos de exceção.
Indescritível, mas não inenarrável: a narrativa, em seu poder de acontecimento, posiciona-se diante da ficção e da
realidade naquilo que nelas se apresentam como limiares de uma composição. A produção de escritas que almejam
habitar limiares vai desconfiar da sucessão de momentos iguais, sob o véu da novidade (Gagnebin, 2010). O limiar não
atrai uma verdade relativa ou um modo relativo de falar das coisas, mas convida a abrir mão dos deslumbramentos da
soberania e de controle para apresentar uma coragem de encarar a partir de um relato seus inúmeros desvios. O
indescritível, portanto, pode ser narrado, pois o que dele se transmite é sempre sua incessante potência de variação,
seu inacabamento - jamais uma facticidade esgotável em uma informação ou relatório. Inimiga do era uma vez, a
política da narratividade é o gérmen do ainda não, tal como as "sementes de trigo que durante milhares de anos
ficaram fechadas hermeticamente nas câmaras das pirâmides e que conservam até hoje suas forças germinativas"
(Benjamin, 1985, p. 204).
Por isso inscrevemos a presente proposta de Grupo de Trabalho no eixo 4: Insurgências ético-estético-políticas: artes,
tecnologias e subjetivação. As políticas narrativas em seu agenciamento com as artes em uma poética experimental se
voltam à produção de heterotopias (Foucault, 2001), à constituição de um territórios estranhos, que nos permitem
afirmar insurgências ético-estético-políticas ao provocar um vislumbrar do absurdo que sustenta a obviedade, do
extraordinário que permeia o banal, da crueldade que banha as melhores intenções de salvação. Deste modo, os
muitos agenciamentos possíveis das artes e da psicologia social na produção poética de narrativas ensaísticas,
fotográficas, cinematográficas, dramatúrgicas, biografemáticas das vidas infames, desviantes ou simplesmente

512
singulares, nos levam a romper com os sistemas de aceitabilidade vigentes e intensificar nossa prática de reinvenção
de nós mesmos (Foucault, 1978).
Desteà odo,à oà GTà Na ati a,à e pe i iaà eà e dade:à e o t osà i te pesti osà e t eà e pe i e taç esà po ti asà eà
psi ologiaàso ial àp ete deà o stitui àu àespaçoàa e toàaàtodasàestasàfo asàdeàe pe i e taç oàdeàhi idis osàe t eà
práticas poéticas e a Psicologia Social: escrita, fotografias, teatro, música, performance, cinema, entre muitas outras
possibilidades de experimentação as quais objetivam a referida produção de insurgências ético-estética-políticas na
afirmação de uma radicalização da nossa concepção de democracia ao abrir-se às diferenças. Poderão se apresentar
aqui trabalhos acadêmicos, profissionais, militantes e artísticos, escolhendo as formas expressivas julgadas mais
adequadas pelos seus proponentes, sem necessidade de circunscreverem-se a uma apresentação verbal de suas
experimentações. Tal abertura do GT a outros modos de compartilhar se coaduna com a própria proposta de compor
pelas artes um campo de possibilidades de resistência. Deste modo, compreende-se que tal GT não se constitui de
uma série de apresentações isoladas, mas sim do compartilhar de experimentações em um cerzir do comum entre os
participantes. O grupo ali presente tentará operar um dispositivo grupal de criação coletiva, permitindo um
ultrapassamento do próprio GT em parcerias futuras. Para tanto, a composição sensível pelo agenciamento entre a
Psicologia Social e as Artes se faz da maior importância.
Deleuze e Guattari (1992), em sua obra O que é a filosofia?, nos ofertam uma útil análise e categorização das
diferentes modulações de nossa produção de saber no ocidente, a qual nos auxilia a pensar as potências dos
agenciamentos entre as artes e a Psicologia Social. Partindo de uma categorização que não se quer absoluta nem
unívoca, os autores discorrem sobre as singularidades presentes na elaboração do saber, a partir das ciências, das
filosofias e das artes. No plano da filosofia criamos conceitos, os quais, em uma dinâmica autopoética, perfazem
realidades e paisagens de mundo, ao dobrarem nossa experiência em seu modo de existência. No plano das ciências
(coordenadas), delimitamos objetos, causas, correlações e juízos em geral, sempre através da produção de
"prospectos" (Deleuze; Gattari, 1992, p.37), ou seja, constituição dos campos de possibilidade de proposições (as quais
servem como condição de possibilidade para o juízo) e a produção de "functivos" (Deleuze; Gattari, 1992, p.153), quer
dizer, constituição dos campos de possibilidades de funções, de proporções, de relações simétricas e constantes que
enquadram toda variação em uma escala passível de juízo (é ou não é, está ou não está, verdadeiro ou falso, bem ou
mal, normal ou patológico). No plano das artes (composições), experimentamos composições de experiências
possíveis, através de "afectos" (Deleuze; Gattari, 1992, p.213), campo de possibilidades de afetações, e de "perceptos"
(Deleuze; Gattari, 1992, p.213), campo de possibilidade de percepções.
Se o plano das coordenadas e seus tipos biopsicossociais são a garantia e o efeito da necessidade de coerências
unívocas, nossa última modulação da produção de saber não se atém às coerências pela exclusão daquilo que não é
adequado ao claro juízo. Enquanto o plano de coordenadas exige identidades (algo ser idêntico a si e diferente dos
demais), o plano das artes se dedica a composições entre diferenças heterogêneas e incoerentes entre si: para além
da coerência do tipo, interessam às artes as consistências complexas dos personagens dramáticos e seus campos de
experiências possíveis. Os personagens dramáticos compostos no plano das artes se constituem tal como os sujeitos:
pelo atravessamento e ressonância entre singularidades. Os blocos de perceptos e afectos são anteriores ao sujeito,
isto é, as condições de possibilidade da experiência são anteriores ao sujeito que experiencia. A constituição de
narrativas no plano de composições é prenhe de contradições, incoerências, conflitos, tensões e paradoxos, mas todos
tramados por uma complexa rede de relações que lhes provêm consistência. Se a existência do plano de coordenadas
e suas narrativas estritas dependem da constituição de um núcleo duro chamado essência (substância ou forma), o
plano de composições e suas narrativas poéticas constituem seu modo de existência pela densidade de tramas
relacionais que estabelece.
Ainda que a experiência nos coloque na presença de intensidades já desenvolvidas em extensos, já descobertas por
qualidades, devemos conceber precisamente como condição da experiência, intensidades puras envolvidas em uma
profundidade, num spatium intensivo que preexiste a toda qualidade assim como a todo extenso. (Deleuze, 2006,
p.132).
Jamais temos palavras ou coisas puras, mas sempre híbridos de palavras-coisas e coisas-palavras que garantem sua
correspondência através de uma série de transformações entre, por exemplo, uma acácia na mata e sua escrita em um
manual de botânica. É uma série de transformações que produz estas variações de palavra-coisa: palavra e estado de
coisas se relacionam por ações de transformações, pela diferença, e não por uma semelhança abstrata (Latour, 2001).
Desse modo, a produção de saber, no empirismo transcendental, não passa pela representação, ou seja, pela
elaboração de uma delimitação do mundo, isolada e abstraída de sua trama constituinte. Muito pelo contrário, é
exatamente o processo de percorrer essas tramas constituintes, dando corpo a toda a complexidade oriunda desses
513
encontros, que move essa escrita não representacional: uma escrita que se inscreve como translação (Latour, 2001) da
nossa experiência do mundo, ou como a tradução da linguagem das coisas, "[...] lá onde a esfera da falência da
linguagem explode com um poder que nenhuma palavra pode dizer, lá somente pode brotar, entre a palavra e o ato
dinamizador, a fagulha mágica, que é a unidade de um e de outro, um e outro igualmente efetivo" (Benjamin, 1989, p.
118 apud Muricy, 2009, p. 95).
Mas esses atos de referência estão tanto mais assegurados quanto confiam, não apenas na semelhança, mas em uma
série regulada de transformações, transmutações e translações. Uma coisa pode durar mais e ser levada mais longe,
com maior rapidez, se continuar a sofrer transformações a cada etapa desta longa cadeia (Latour, 2001, p. 74).
Partindo deste universo conceitual, vemos que enquanto o sentir cartesiano (a experiência sensível em Descartes) é o
eà pa e eà ue à eà pa e eà ueàouçoàu à uído,àpo àe e plo ,àe àWhiteheadàoàse ti à àoà àdaào tologiaàeà oà
mais mera aparência. O mundo é processo, processo é sentir, e entender é uma forma específica de sentir, que
também é ser (Whitehead, 1956, p. 213). Deste modo, constituir narrativas do mundo é transformar a ele e a nós
mesmos. Assim, constituímos nossos objetos e nós mesmos, tecendo uma rede de artifícios especulativos que tomam
ou não corpo em ressonâncias, preensões que adquirem a consistência de nexos, erigindo uma série de ocasiões
atuais a partir dos devires potenciais do mundo (virtual).
Assim vamos, gerando novas relações no mundo que novas relações são em nós. Complexificamos a trama de nós
mesmos e do mundo. Somos, de certo modo, a ficção do mundo que nos escreve em nós e conosco.
En la literatura imaginativa esta incitación [do juízo moralizante] resulta inhibida por el contexto general, y aún por la
forma y disposición del libro material. A veces hasta hay una forma de palabras designada para inhibir la formación de
u àse ti àdeàjui io,àtalà o oà e àot oàtie po à Whitehead,à ,àp.à .
Bibliografia.
ARTAUD, Antonín. El teatro y su doble. Barcelona: Edhasa, 1978.
Bacon, Francis. Novum Organum. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999.
Benjamin, Walter. Prólogo epistemológico-crítico. In: Origem do drama trágico alemão. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2011.
Benjamin, Walter. Correspondance. Tradução: G. Petitdemange. Paris: Aubier-Montaigne, 1989.
Benjamin, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política. São
Paulo: Brasiliense, 1985. v. 1. Coleção Obras Escolhidas.
Bergson, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Deleuze, Gilles & GUATTARI, Felix. Mil Platôs, vol. 3. Rio de Janeiro: Editora 34, 1996.
Deleuze, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil Platôs, vol. 5. Rio de Janeiro: Editora 34, 1980/1997.
Deleuze, Gilles & Guattari, Felix. O que e´ a filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992.
Deleuze, Gilles. Lógica do Sentido. São Paulo: Ed. Perspectiva S.A., 1975.
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Deleuze, Gilles. O método da dramatização. In: A ilha deserta e outros textos. São Paulo: Iluminuras, 2006.
Deleuze, Gilles. Empirismo e subjetividade: ensaio sobre a natureza humana segundo Hume. São Paulo: Editora 34,
2008.
Descartes, R. As meditações. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
Foucault, Michel. A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
Foucault, Michel. Qu'est-ce que la critique? Bulletin de la Société française de philosophie, 82 (2), p. 35-63, 1978.
Foucault, M. Outros espaços. Em: Mota, M. B. da (Org.), Ditos & escritos vol.III. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
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(Org.). Limiares e Passagens em Walter Benjamin. Belo Horizonte: EdUFMG.
Llansol, Maria Gabriela. Entrevistas. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
Latour, Bruno. A esperança de Pandora. Bauru: EDUSC, 2001.
Muricy, Katia. Alegorias da dialética: imagem e pensamento em Walter Benjamin. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2009.
Nietzsche, Friedrich. A Segunda Consideração Intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 1874/2003.
Rancière, J. O desentendimento. São Paulo: Editora 34, 1996.
Whitehead, Alfred North. Proceso y realidad. Buenos Aires: losada, 1956.

514
A arte como passagem e encontro na formação em psicologia
Autores: Zuleika Köhler Gonzales, UNISINOS; Brida Emanoele Spohn Cezar, UFRGS
E-mail dos autores: zuleika3012@yahoo.com.br,brida1992@hotmail.com

Resumo: O caminho que inaugura esta discussão inscreve-se no encontro com o cinema e a literatura em uma
atividade acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Trata-se de uma
atividade acadêmica Cinema e Literatura como Práticas Sociais ofertada no leque das disciplinas optativas para
estudantes que escolheram seguir pela ênfase das Práticas Sociais e Institucionais. Queremos com este relato,
apresentar uma prática acadêmica que se faz por uma certa errância nos núcleos curriculares vigentes na formação
em Psicologia, e também por uma abertura para aventurar-se pelas fronteiras do que está estabelecido como próprio
do lugar acadêmico. Em uma experimentação com câmeras fotográficas, bem como na participação em um cine-
debate e em uma oficina ofertada pela Universidade intitulada Letra e Música, vários tensionamentos e
deslocamentos engendram-se ao se ultrapassar as bordas da sala de aula. São práticas acadêmicas que devém
intervenção ao desestabilizar modos recorrentes na instituição, produzindo territórios sensíveis de conhecimento-
subjetividades. O plano de coordenadas, ora na métrica, ora na filmagem, ora na rima, ora na montagem, revela
ferramentas fortemente arraigadas na técnica e, portanto, pouco suscetíveis aos encontros. Já o plano de
artesanagem, que oferece vasão a vida e a contradição, utiliza-se da experiência para compor e decompor ritmos,
melodias e harmonias. Trata-se de pensar, através da arte, uma linguagem que se articula com um processo vital, que
nem mesmo diz respeito à linguagem, mas a um de-fora que é vida e saber. Um saber desconhecido que escapa ao
senso comum e às formas dadas. Trata-se de um saber na experiência que vai para além daquele que sente e vive a
experiência. Neste sentido, devasta as designações e as significações pessoais. Atinge a potência de dizer o que é
indizível, de uma impessoalidade que se transversaliza da arte para o formal acadêmico. Para a análise desta
experiência nos vinculamos ao pensamento da diferença em autores como Deleuze, Schöpke e outros. Na trajetória
desta atividade acadêmica, falamos de um posicionamento ético, estético e político que se constitui na afirmação e
legitimação de determinados campos de alteridade, dentro e fora da universidade. Debruçar-se sobre a formação,
entendendo que não só a reprodução, mas, sobretudo, a implicação para com os processos instaurados nos desvios do
conhecimento hegemônico, produz agenciamentos na formação acadêmica em múltiplas passagens, encontros e
aprendizagens. Por outro lado, abordar as nossas práticas numa perspectiva de diálogo e intersecção, seja com o
cinema, seja com a literatura, enquanto circunstância ou inspiração, ajuda-nos a vislumbrar outras tantas psicologias.
Será que temos, como diria Nietzsche, maneiras suficientemente artistas para além do saber e do poder? (DELEUZE,
2013, p.128). Será que nos parece ousado demais afirmar um psicólogo menos formatado pela ciência e mais
implicado com a arte? A dobra das forças no sentido da invenção e propagação de linhas não tão duras, tão
aprisionadoras e restritas. Processos de subjetivação interpelados pelos ventos do tempo, da experiência e do
pensamento, com seus abalos, rajadas e trovoadas. Movimentos de resistência, pautados na ética e na diferença.
Superfícies onde os corpos transitam deparando-se com a cidade, o ruído e o fortuito. Aspectos que sinalizam
costuras, partituras e descobertas, caminhos singulares, a serem experimentados através dos passos que se desenham
e se apagam. Não se trata de concluir a vida, obstruir os silêncios e patologizar as lacunas; o riso, o embaraço e a
desgraça é que animam o palhaço. É uma proposta de transformação [ou de intervenção] que abarca a angústia da
perda de margens seguras e a euforia de novos portos de chegada (DIEHL et al., 2006, p. 415). Como a arte acontece
por afecção, abre-se para encontros e passagens que disparam movimentos afectivos para as questões-problema
pulsantes no campo psi e que nos convocam intensamente nos tempos atuais. Do mesmo modo, nos impele à
problematização dos modos de formação e produção do conhecimento a partir da Psicologia.

515
A ética da memória nos trilhos da ferrovia: Narrativas poéticas de um processo de pesquisa
Autores: Brida Emanoele Spohn Cezar, UFRGS; Luis Artur Costa, UFRGS; Nelson Eduardo Estamado Rivero, UNISINOS
E-mail dos autores: brida1992@hotmail.com,larturcosta@gmail.com,rivero@unisinos.br

Resumo: O presente trabalho, desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), se propõe a abordar a relação ética, clínica e poética da
memória e do esquecimento com a ferrovia e com o fazer da própria pesquisa. A partir de uma intervenção realizada
pela pesquisadora com os antigos moradores de Salvador do Sul, durante a Graduação em Psicologia na Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), constitui-se um território que, ao ser interpelado pelas narrativas poéticas,
ultrapassa as margens anteriormente estabelecidas. O trem permite a articulação de paisagens distintas, tornando-se,
portanto, um dispositivo singular de confluência das viagens: trata-se da memória da ferrovia que viu nascer uma
cidade e depois a deixou em meio a uma névoa de lembranças e saudade; e, ao mesmo tempo, trata-se da memória
da pesquisa e da própria pesquisadora, perpassada pelas chegadas e partidas, encontros e despedidas de sua terra
natal e do grupo de senhores que veio a formar naquela comunidade. Quando o sino bateu pela última vez na estação
e o trem partiu sem perspectiva de retornar, aqueles que em torno dos trilhos cresceram, brincaram, trabalharam e
viveram por longos anos puseram-se a esperar, observando contrariados o cenário se reconstituir e se modificar. A
pesquisa surge justamente no momento em que os últimos lugares nos últimos vagões do trem da memória estão
sendo preenchidos, visto a perda progressiva das testemunhas desta época, ela em alguma medida é este trem, mas é
paralelamente um devir locomotiva, e por isto carece dos movimentos de configuração de um insurgente presente. A
possibilidade de introduzir variações em uma melodia, tateando linhas de fuga, divergência e deformação, é o que faz
do ritornelo um meio para a desterritorialização (DELEUZE; GUATTARI, 2012). Cartografa-se as desmesuras, os
deslizes, desmanches, estremecimentos e rupturas, considerando-se relevante não o um ou o mesmo, porém,
sobretudo, o alargamento ou abertura do atual para a proliferação das suas virtualidades (FONSECA et al., 2010). As
reviravoltas que desencantam e encantam moradas levam a pesquisadora a experimentar um fazer ciência no qual a
criação do artifício passa a ser também a criação de si (Silva; Baptista, 2014, p. 34). As superfícies indicam
transitoriedades e, para tanto, a conquista de um traçado que em seguida será abandonado, proporcionando um
processo de montagem e desmontagem: da pesquisa e da narrativa, do grupo e da cidade, da velhice e da
contemporaneidade. As dobras não param de cerzir enquanto que o andar não cessa, saltando entre universidades,
avançando da graduação em direção ao mestrado, regressando à terra natal desnatalizada, insistindo em construir
intersecções com a vida, que perece e devém num ritmo irregular. O plano de coordenadas da pesquisa-intervenção é
rearticulado em um plano de composições que lhe problematiza e diferencia, criando uma trama do eterno retorno da
pesquisa e da pesquisadora. A força plástica do homem abordada por Nietzsche (2009) refere-se justamente a uma
ação que está atrelada à transformação, neste sentido, vislumbra-se um processo de incorporação e digestão das
vivências, sem o qual não há a menor esperança de desprender-se do passado, seja ele habitado pelo trem ou pelo
trabalho que lhe deu passagem.

Referências:
BAPTISTA, Luis A.; SILVA, Rodrigo L. Primavera urbana: a ilha deserta interroga as multidões. Revista Psicologia e
Sociedade, vol. 26, p. 25-35, 2014.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, volume 4. 2ª Edição. São Paulo: Editora 34,
2012.
FONSECA, Tania M. G.; COSTA, Luis A.; MOEHLECKE, Vilene; NEVES, José M. O delírio como método: a poética
desmedida das singularidades. Revista Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ, RJ, ano 10, n° 01, p. 169-189, 2010.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

516
Abrindo caixas-pretas de nós: locuções do Eu na contemporaneidade
Autores: Moisés José de Melo Alves, UFRGS; Luis Artur Costa, UFRGS
E-mail dos autores: moser.018@gmail.com,larturcosta@gmail.com

Resumo: As nossas questões partem do Eu, Leitora. Desse ser que fala, escreve, lê, chora, grita, não entende, ri, faz
protesto com camisa da CBF, faz protesto no facebook, faz protesto queimando carro nesse último caso é protesto se
é europeu, aqui é arruaça (o eu, se torna vândalo, espécime que visibiliza a dura barbárie do dia a dia).
Durante a graduação dois campos de intensidades produziram muitos tensionamentos em nosso corpo: a extensão em
economia solidária e o estágio final na coordenadoria de Saúde Mental do município de Pelotas, mais precisamente
com a implementação da política de combate ao Crack com adolescentes. O caminhar por essas duas territorialidades
foi acompanhado por inúmeras questões. No primeiro deles, as dificuldades que encontrávamos geralmente se
relacionavam a passagem de um trabalho assalariado para um trabalho de modo cooperado. De modo que podemos
resumir as perguntas suscitadas em algo como: por que o capitalismo é tão forte em suas formas de sujeição? Como
se opera essa produção desejante envolvida pelo consumo e produção do capital? No trabalho com os jovens do
crack, a pergunta que nos batia, até mesmo pela semelhança de idade com os meninos, era: o que me dá condições
para ter um domínio de gestão sobre a vida deles?
Dessa forma, no mestrado estamos tentando dar conta do agenciamento entre essas questões: dar corpo, pela ficção
da figura estética, às tecnologias de si contemporâneas em suas práticas de governo e afirmação de políticas da
existência. Nesse sentido, nosso campo problemático, portanto, parte de um agenciamento entre as políticas de
construção do Eu; as práticas e produções da psicologia; e a política, no sentido do governamento das condutas.
Assim, nos perguntamos: Em meio à sociedade do controle (DELEUZE, 2013), quais as tecnologias e estratégias de
subjetivação utilizadas pela governamentalidade contemporânea, através dos aparatos psi, que atuam para inventar o
processo de dobragem desses Eus?
Essa grande questão se abre para o processo de subjetivação da nossa personagem, que brinca com os conceitos para
tentar produzir sons, cheiros, gostos, lembranças, vibrações naquele que lê. A nossa escrita tem tomado um corpo
textual em três planos que se movem através da narrativa de uma figura estética (DELEUZE E GUATTARI, 2013), o
Bento. Esses planos aparecem nas vozes que conversam com o leitor: a voz da personagem, a da narração e a dos
conceitos. Utilizamos, assim, o método ficcional (COSTA, 2014) como estratégia ética, estética e política para
problematizar as tecnologias de subjetivação, que entram em conflito e dão a matéria prima ao Si. O seu emprego nos
auxilia a dar corporeidade a tais conceitos, torná-los sensíveis na experiência cotidiana do sujeito em seus processos
de construção na atualidade.
Operamos com esse método para articular o plano de composições, através da narração, ao mais enrijecido, o plano
de coordenadas da academia. Com isso, Bento empresta seu corpo/voz para trabalharmos conceitos como os de
ritornelo (DELEUZE e GUATTARI, 2012), que nos permite as paisagens territoriais, como linhas que concedem um certo
chão em meio ao mundo que deveio caos, marcando os agenciamentos do território existencial; o processo da
dobragem, compondo a curvatura do lado de dentro do lado de fora, o barco como dobra da lagoa brincamos com a
afirmação de Deleuze (2010), Bento é de uma colônia de pescadores; a sociedade de segurança foucaultiana e suas
modulações no contemporâneo como as táticas empregadas a partir do Big Data, entre outros.
Bento, atravessado pelas inúmeras linhas fugidias de nosso contemporâneo, encontra-se em crise. Não só ele, Leitor.
Nesses tempos de aceleração do capital, a todo instante precisamos estar preparados para dar conta da próxima
quebra da bolsa. Tal como cita Hardt (2000), as modulações dos nossos modos de vida estão imersas no imperativo da
oni-crise do presente. Nos nossos tempos, a crise não é um evento isolado, localizado, de exceção, a crise é
constituinte da nossa modulação cotidiana: velocidade, fluidez e urgência exigindo sempre um novo movimento para
não sairmos do lugar.
Na esteira desse pensamento, como material para a dissertação, iremos analisar as variadas técnicas de que a
psicologia positiva se utiliza para ajudar na construção desse sujeito em crise da sociedade do controle. Utilizaremos
517
para tal investigação, manuais técnicos, práticas de coaching, e a literatura de autoajuda. Também pretendemos
observar de que forma elas se articulam com as próprias práticas políticas do contemporâneo. A partir disso, o campo
ficcional se apresenta como território empírico da experimentação destas tecnologias, constituindo composições
sensíveis que deem corpo e operem o bloco de perceptos e afectos que serve de condição de possibilidade desta
experiência da construção de si. A figura estética Bento nos abre caminho para o personagem conceitual sujeito em
crise (DELEUZE e GUATTARI, 2013). Com estes, percorreremos fragmentos das tramas que constituem algumas das
práticas da governamentalidade contemporânea.

518
Autodestruição e ficções de si como práticas formativas em atuação
Autores: Renan Dias Santos, USP
E-mail dos autores: renandias.1990@gmail.com

Resumo: Este trabalho, abrigado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo, sob orientação da Prof.ª Dra. Alice Kiyomi Yagyu, elabora a possibilidade de
conceber a formação em atuação no teatro como afirmação de processos criativos a partir de ficções de si. Aqui,
entende-se como ficção todo acontecimento que se inscreve com aquilo que, em uma realidade instituída, vibra de
modo invisível, incompleto, obscuro, impreciso, confuso, aberto. Em outras palavras, as ficções de si não se opõem a
um eu mais real, mas propõem modos de subjetivação que prescindam desta busca pelo sujeito verdadeiro e
imutável. Nesse sentido, uma alternativa possível seria lançar-se a processos de autodestruição, ou seja, deslocar-se
até tais zonas obscuras e perigosas do corpo (que já nem chegam a ser próprias) e fortalecê-las, articulá-las contra o
centro que legitima uma subjetividade enrijecida e isolada. Na tentativa de falar a partir dessa implosão dos
fundamentos que pode comprometer não apenas os limites do eu-ator, mas colocar em cheque a própria cena como
fundo da atividade teatral, talvez se consiga inaugurar processos artísticos coletivos que rompam com o poder do
artista, com a verticalidade do discurso, com a dependência das significações, com os domínios da interpretação.
É a partir da perspectiva da Cartografia, sugerida pela filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, que a pesquisa se
move. Deslocado de uma abordagem historicista, o olhar cartográfico não toma o processo de pesquisa como
representação de um objeto a ser compreendido, mas consegue colocar numa mesma paisagem dinâmica o
pesquisador e seu percurso. Interessa, neste trabalho, a dimensão do pesquisador que se vincula a conceitos e autores
porque reconhece aí os caminhos que apontam direções fora de si.
A escrita do trabalho num desenvolvimento em que a linguagem, assim como o corpo marcado pela autoimunidade,
se volta contra si mesma começou com a leitura de parte da bibliografia de Antonin Artaud, com atenção depositada
sobre o modo com que o autor, por meio de uma disputa urgente com a medicina pelo termo doença, produziu
deslocamentos de sentido sobre as noções de corpo e de ação. Entretanto, são as ficções de Artaud e os interesses
autodestrutivos do pesquisador que se cruzam e inauguram verdadeiros acampamentos ficcionais compartilhados e
abertos à criação.
Os autores que ajudam a criar essa paisagem ao longo do trabalho, além de Antonin Artaud e Gilles Deleuze, são,
entre outros, Friedrich Nietzsche, Michel Foucault e Jerzy Grotowski. Abordam-se as noções de corpo sem órgãos,
práticas de dessubjetivação, rizoma, sem-fundo, ressentimento, vigilância, cuidado de si, transe, a fim de dialogar com
palavras que performam nos textos escritos neste trabalho, como inferno, buraco, arrombamento, autodestruição e
festa. O próprio teatro passa a ser, aqui, uma palavra de significados provisórios.
Por fim, cabe dizer que este trabalho está atravessado pela parceria com a pesquisadora Karina Acosta, psicóloga que
desenvolve trabalhos junto ao Núcleo de Subjetividade da PUC/SP, com quem há três anos produzo reflexões sobre
práticas de comunidade, testemunho e criação.

519
Como escrever uma vida? Sobre produções escritas e de subjetividades
Autores: Raquel Rodrigues Bierhals, UFRGS
E-mail dos autores: rrbierhals@gmail.com

Resumo: Das tantas possibilidades de se relatar uma vida, um caso, um atendimento, elegemos uma. Quantas formas
de dizer, escrever, relatar uma vida, especialmente de vidas infames? Somos chamados a preencher registros os mais
variados, mas que palavras utilizar para dar conta da pluralidade da própria vida? Para além disso, que subjetividades
se delineiam a partir do texto escrito? Temos aqui uma questão ética-estética-política (Barros, 2007). O relato e a
escrita de histórias alheias são meu território de interesse, aqui apresentados enquanto fragmento de projeto para
dissertação de mestrado em Psicologia Social e Institucional.
Atualmente encontro-me inserida na Política da Assistência Social, em um CRAS no interior do estado do RS, em
contato com as mais diversas narrativas, em especial, de mulheres. São elas que, em geral, mais acessam esta rede de
serviços, o que já é um ponto a se problematizar.
Neste esboço busco traçar algumas questões que surgem no cotidiano do meu trabalho, a partir da escuta nos vários
dispositivos em que nos colocamos enquanto psicólogos, quando algumas histórias começaram a fazer eco, pedindo
uma escrita que as coloque em um lugar outro. A escrita dos prontuários? O que tais registros informam?
Foi ouvindo meninas, adolescentes e mulheres que comecei a pensar que há um desencontro entre as histórias vividas
e os registros nos serviços que as atendem. Não se trata de heroínas, vítimas ou culpadas, ou qualquer outra definição
que possa reduzir o sentido amplo e multifacetado da experiência de ser mulher, mas de trajetórias que saindo do
discurso falado nos espaços institucionais, ganham o contorno e a leitura de outra mulher, em palavras escritas. A
escrita das histórias de vida de mulheres faz pensar nos dispositivos que as produzem, assim como em processos
instituintes e formas instituídas de ser e tornar-se mulher. Formas que passam também pela escrita.
Tomando dois dispositivos em que os regimes de enunciação da mulher se fazem presentes: o próprio dispositivo
clínico e os dispositivos governamentais, como o Conselho Tutelar e o PAIF serviço de Proteção e Atendimento
Integral à Família, que acompanham, no primeiro caso, crianças e adolescentes, e no segundo, a família que tem
centralidade na mulher, executado pelo CRAS, podemos afirmar que discursos de verdade e relações de poder são
criados, produzindo também subjetividades e, por consequência, gênero, formas de ver e ser mulher. Nesse sentido,
que mulheres se produzem nesses espaços por meio das práticas narrativas?
Partindo da ideia de que as palavras produzem sentido, criam realidades e, às vezes, funcionam como potentes
mecanismos de subjetivação (BONDIA, 2002, p.20-21), busco modos de escritas outros que tomem como objeto a vida
das mulheres narradas em prontuários, relatórios, registros. E mais, parte-se também da assunção das percepções da
pesquisadora enquanto objeto de análise, uma vez que também o ser mulher comporta a visão particular de si no
mundo, nem por isso menos relevante às problematizações almejadas neste trabalho.
A fim de percorrer o caminho da escrita sobre o outro, e mais especificamente sobre as mulheres assistidas por
diversas Políticas Públicas, proponho a utilização da ideia-conceito de corpo-vibrátil (ROLNIK, 2014), com o qual
podemos apreender a alteridade em sua condição de campo de forças vivas que nos afetam e se fazem presentes em
nosso corpo sob a forma de sensações (p.12).
Nesse sentido, a cartografia se faz enquanto desenho de uma paisagem psicossocial (ROLNIK, 2014) utilizando-se da
escrita e dos registros das vidas de mulheres como pano de fundo deste cenário. Escrita inserida em uma lógica de
Estado, além de produtora de subjetividades e de territórios de identidade. Tal desenho que acompanha e se faz ao
mesmo tempo, compondo território sem impor uma forma, é de caráter político e tem a ver com o poder em sua
dimensão de técnicas de subjetivação - estratégias de produção de subjetividade - dimensão fundamental da
produção do regime em curso. (ROLNIK, 2014, p. 70)
Assim, a proposta aqui colocada passa pelos movimentos de uma escrita cartográfica, dando passagem às
intensidades que pedem expressão, tomando a linguagem como criação de mundos (ROLNIK, 2014). Para além disso,

520
na esteira da problematização das escritas, cabe a afirmação da diferença enquanto resistência aos modos engessados
de ser, ver e relatar a mulher.
Referências
BARROS, Regina Duarte Benevides de. Grupo: a afirmação de um simulacro. Porto Alegre: Sulina/Editora da UFRGS,
2007.
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, n. 19, p.
20-28, Apr. 2002 .
ROLNIK, Suely. Cartografia Sentimental: Transformações Contemporâneas do
Desejo. 2a Edição. Porto Alegre: Sulina; Editora da Ufrgs, 2014, p. 247.

521
Corpoterritorializações: cidade e subjetividade narradas a um só tempo
Autores: Alice Pereira Tavares, UFF
E-mail dos autores: tavaresalice@id.uff.br

Resumo: Comecemos por ora assim: experimente sustentar a importância de uma rua, ou coisa que o valha, sem
recorrer um instante sequer a qualquer referência de uma possível utilidade sua. Sem, por exemplo, dizer como serve
para ligar, fazer chegar, circular. Sem lançar, pois, mão de serventias que se possa querer atribuir à ela. Ou, então, algo
distinto: diga sem pestanejar demais sobre a importância da poesia. Assim também, não a diga a partir de préstimos
ao campo das artes, da cultura ou dos deleites pessoais. Mais ainda. Tente argumentar sobre a importância de uma
pesquisa. E, de modo algum, é claro, se deixe seduzir pelas rápidas respostas que acoplam realidades prévias que se
ratificam mutuamente, como abridor que se dirige a uma lata.
Do outro lado da rua, a capivara: dia terminando, ela sai do rio, puxa as crianças, sobe pra pista, dá sinal pro carro, o
motorista espera pacientemente a travessia de todas as capivarinhas. Ela agradece com a cabeça e segue. Passa por
mim sem responder ao meu riso. Ela quer chegar logo em casa.
Uma desutilidade! alerta o poeta matogrossense. Abridores de amanhecer, parafusos de veludo e alarmes para o
silêncio não apaziguavam, de fato, as ansiosas perguntas:Mas para que isto serve? Afinal, qual a sua utilidade? Ora
veja, o que seria mais patético do que indagar a respeito das serventias de um parafuso de veludo? Um parafuso de
veludo! Seria, antes, mais prudente indagar a estas desutilidades: o que podem? Como quem indaga sobre o inaudito.
Toda vez que alguma microcoisa que seja mexe, mexe tudo em volta. E tudo em Volta Redonda mexe visível ou
invisível, aqui perto, onde até o rio resolveu fazer curva. A conclusão é que não tem muito bem uma, porque estamos
sempre às voltas.
O que faz de um fragmento urbano, "urbano"? Que se reconheça nele a imagem de uma cidade que se faz tão
imediata às sensibilidades que o capturam? Ou então que ele tenha como palco as ruas, os dramas, os ritmos da urbe?
Ou ainda, que dele se extraia o elixir do sentido da "polis"?
A última conversa que tive num ponto de ônibus demorou uma hora... O ônibus da Vila, que é um dos centros de Volta
Redonda, pro meu bairro, que é bem uma mini cidade afastada de todo comércio, violência ou movimento (pelo
menos dos mais standard), bem um micromundo de cidadezinha de interior, demooora...
Falamos de três coisas que estalaram na cabeça... e que rodeiam esta cidade, como talvez também rodeiem as
outras... A ancestralidade, o paralelismo de universos e o destino.
Mas então perguntemos de outra forma: o que faz de um fragmento urbano, "fragmento"? Afinal, não nos parece que
ele represente coisa alguma da realidade e de sua suposta origem. Não conduz, portanto, à possíveis reconstituições.
Apenas montagens. Nada útil. Nem inútil.
O desútil opera num sentido marginal. Eis a importância dos supracitados fragmentos de pesquisa de fragmentos:
Se as imemoriais artes de narrar encontram-se em declínio e se, com isso, nossa capacidade de intercambiar
experiência, de fazê-la tecido que enlaça uma vida a outra, uma geração a outra, igualmente esfacela-se conforme
alerta-nos Benjamin (1996) podemos assumir que estamos diante de uma injunção ética que nos exige atenção aos
efeitos dessa fragmentação, ou melhor, exige-nos um posicionamento no que diz respeito aos usos que se podem
fazer desses cacos, desses restos de uma tradição no tempo de agora. Propomos neste trabalho fazer ver a
consistência e a urgência de tal injunção, por vias bastante distintas de uma proposição restaurativa, através do relato
das construções metodológicas que temos realizado em nossa pesquisa, cujo objeto de investigação consiste no
estatuto político da subjetividade. Este, sustentado através de experienciações corpóreo-territoriais com a palavra
cidade. Tais experienciações se inscrevem numa metodologia desenvolvida na forma de oficinas de montagem.
Nestas, o corpo o próprio corpo do pesquisador oferece-se como testemunha (Gagnebin, 2006), como território de
522
passagem de histórias balbuciadas, trôpegas, precárias. Passagem de histórias que não se ouvem porque,
cotidianamente, nem mesmo são reconhecidas como formas de narrar cidade. Este corpo-território-pesquisador
mostra-se como categoria fundamental na composição das territorialidades (Guattari, 1985) pelas quais dizemos no
modo oficina cidade e subjetividade a um só tempo. Compreendendo que por estas palavras não colocamos em jogo
conceitos que têm a tarefa de revelar realidades subjacentes, mas antes acionar tensões e disputas que suas
superfícies performam e nas quais não podemos estar senão implicados, enredados.

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Entre confissões e narrativas: exercícios de escrita em tempos de perigo
Autores: Luan Carpes Barros Cassal, UFF
E-mail dos autores: luancassal@gmail.com

Resumo: Estamos em perigo! Uma catástrofe única e incansável está estabelecida. Na capital mais meridional do
Brasil, uma importante rota de acesso foi rebatizada: a Rodovia Castelo Branco agora é Avenida da Legalidade e
Democracia. Na câmara legislativa, vereadoras e vereadores debatem se a mudança deve ser mantida ou revertida.
Em uma ou outra posição, reivindica-se a história. De um passado agora longínquo, durante a Segunda Guerra
Mundial, o escritor Walter Benjamin (2012) lançou seu aviso a história não é uma sucessão de fatos finalizados. Pode
parecer que o exercício de descrever uma história de forma linear, completa em si própria e apartada do nosso tempo
presente levaria à redenção e à paz. Mas é no tempo de agora que o passado se faz notar, através de marcas,
movimentos, ruínas de momentos idos.
Ao andar nas ruas da cidade, encontra-se com os restos dos processos produtivos que fazem parte de quem somos e
onde estamos. Ao escavar as ruas de uma grande avenida para construção de um moderno e silencioso bonde,
trabalhadores encontram parte do calçamento de tempos idos. Marcas dos sujeitos que por ali passaram e o que deles
restou. Ao cruzar a rua, encontra-se uma loja de brinquedos, colorida e inesperada, com uma mensagem que defende
o uso de itens artesanais, apesar dos impedimentos burocráticos. Um pirata de gesso com sorriso zombeteiro anuncia
que a catástrofe não para de se interromper aos seus pés. Lembra-nos que nem a morte é uma proteção, pois a
história segue em ameaça. Suba a ladeira e encontre uma grande casa. Na janela, um idoso cego tenta ler o jornal que
modifica tudo que sabe sobre si mesmo e o nome da família; ele precisa confessar.
As pistas que recuperamos falam menos de informação, como um acúmulo sistemático de dados e conteúdos, e mais
de uma experiência, enquanto modo de contar a história que produza incômodos e diferenças ao ampliar os contextos
possíveis (BENJAMIN, 2012). As duas maneiras indicam uma história que se constrói, mas com atitudes diferentes. Por
um lado, os buracos da experiência criam possibilidades de elaboração no próprio desenrolar da narrativa: exige um
posicionamento de narrador/a e ouvinte, porque a história não diz apenas de seu local de origem, mas convoca
aqueles que se reúnem a sua volta. São histórias inacabadas e, por isso, se repetem; por vezes, indefinidamente. A
informação, por outro lado, se apresenta na tentativa da completude. Ao ser consumida, espera-se um fim nela
própria. Apaziguamento da história que ali se anuncia: o vazio convida apenas a consumir mais, vorazmente, até que a
paz venha como exaustão.
Narrativa, experiência e verdade são questões para análise neste texto, e em conexão direta com o Grupo de Trabalho
homônimo. Trata-se, no fundo, de lutar contra o tempo e contra a morte através da escrita (GAGNEBIN, 2009, p.146).
As histórias, individuais e coletivas, servem para estranhar o mundo e o tempo presente. Enquanto a confissão está
centrada em informações que se pretendem absolutas, imutáveis e concecidas a uma suposta autoridade superior, as
narrativas exercitam a responsabilidade ética sobre o relato (e consequentemente encenação) de si mesmo e a
relação de interpelação com os outros que nos compõem (BUTLER, 2015).
O perigo está instalado nas vidas ameaçadas pelo estabelecimento de modos desiguais de sobrevivência,
potencializando a condição humana de precariedade, bem como nas vidas perdidas as quais não se garante o direito
ao pranto e ao luto porque ininteligíveis às normas estabelecidas (BUTLER, 2016). Mais ainda, vidas e mortes estão
ameaçadas pela disputa nos modos pelos quais são relatadas e transformadas em história (BENJAMIN, 2009; BUTLER,
2015). O desafio a ser enfrentado no presente trabalho será estabelecer narrativas possíveis que enfrentem a
exigência de confissão, a política de precariedade e a linearidade das histórias; temos, portanto, uma tafera ética em
relação aos perigos estabelecidos.

524
Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8ª edição revista
[Obras Escolhidas v.1]. São Paulo: Brasiliense, 2012a.
BUTLER, Judith. Corpos que ainda importam. In: COLLING, Leandro (ORG). Dissidências sexuais e de gênero. Salvador:
EDUFBA, 2016, p.19-42.
____. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2009.

525
Escrita de testemunho ou sobre as narrativas em carne-viva
Autores: Karina Acosta Camargo, PUC-SP
E-mail dos autores: karina.jyoti@gmail.com

Resumo: O trabalho proposto para o GT 24 | Narrativa, experiência e verdade: encontros intempestivos entre
experimentações poéticas e psicologia social é um recorte da pesquisa de mestrado concluída em 2016, vinculada ao
Núcleo de Estudos e Pesquisas da Subjetividade da PUC-SP. Esta pesquisa consistiu numa cartografia dos processos de
silenciamento que atravessam o abuso sexual infantil, através das fissuras deste próprio corpo-pesquisador, onde
expus através da escrita testemunhal dilaceramentos decorrentes de abusos sexuais vividos durante a infância,
entendendo que romper com a rede de silenciamento que atravessou meu próprio corpo consistia na possibilidade de
trazer novas reflexões para a temática do silenciamento em torno do abuso sexual infantil.
A escrita de testemunho surge como uma necessidade vital a partir da pergunta sobre como produzir uma pesquisa
em que a própria pesquisadora se misturava ao seu objeto. Cabe uma vida em uma pesquisa? Neste sentido, o
destaque em itálico para o artigo uma fez parte das questões que atravessaram desde o início a pesquisa. O que se
quer fazer ao narrar a própria história? Não se trata da autobiografia, mas se conectar a uma potência impessoal para
dizer de um acontecimento, de modo que uma suspensão do Eu possibilite acessar o impessoal.
Deleuze fala sobre uma vida como imanência, virtualidades que ainda não se atualizaram num sujeito ou em um
objeto. Estas singularidades pré-individuais não são anteriores à produção do indivíduo e sim o atravessam
continuamente. Assim, as vozes que me atravessavam ao romper o silenciamento e produzir a pesquisa diziam mais
que uma vida em particular. Não se tratava de minha vida, minha história, mas de uma vida que atravessa meu corpo,
lançando em direção a um imprevisível. O sujeito-de-um-corpo dá lugar a uma vida. Testemunhar um abuso sexual
infantil é apresentar-se como um espectador da própria história, que conta o que viu de uma perspectiva-outra, não
daquela que lhe foi colocada, de vítima.
Para refletir a complexa trama de silenciamento que se estabelece nos casos de abuso sexual infantil, principalmente
no âmbito familiar, esta pesquisa buscou ir além da dicotomia vítima-agressor, ressaltando as modalidades de
invenção vital a partir do insuportável, excessivo e cruel, e a arte como possibilidade de resistência e criação de novos
modos de existência. O testemunho consistiu na produção de um ato poético, a inauguração de caminhos no
desconhecido, onde a narrativa fraturava a linguagem e criava espaço para um sentido por vir através da narrativa do
impossível.
Para tanto, foi imprescindível para esta cartografia a aliança com os autores Deleuze, Guattari, Foucault, Nietzsche,
Benjamin, Agamben, Vilela, Primo Levi, assim como o filósofo e orientador Peter Pál Pelbart. Os resultados abrangem
os desafios da realização do testemunho como uma narrativa impossível ou inenarrável e a escuta do testemunho
como sendo necessário que os outros corpos se exponham em carne viva ao imprevisível do acontecimento, para que
realmente seja possível ir de encontro ao outro e mergulhar o insuportável da pele. Escuta de quem consegue assentir
a presença do insuportável; esta a potência do testemunho, tornar também o outro participante da experiência
daquele que atravessou o insuportável e sobreviveu para contar.

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Forjando gênero no sertão Norte-Mineiro sob os arquétipos do Circo e da Igreja
Autores: Taffarel Ramires Fernandes, Faculdade Pitágoras
E-mail dos autores: taffarelrf@yahoo.com.br

Resumo: FORJANDO GÊNERO NO SERTÃO NORTE-MINEIRO


SOB OS ARQUÉTIPOS DO CIRCO E DA IGREJA.
Taffarel Ramires Fernandes
Graduando em Psicologia
Faculdades Integradas Pitágoras Montes Claros
O presente trabalho aborda o tema Lenda Urbana como prática discursiva e produtora de sentido no cotidiano.
Encontra nisso o desafio de compreender como se dá o ciclo vital da Lenda na trama do espaço urbano, ou seja, para
além de uma simples história dramática e mítica, busca-se fazer criticamente a sua genealogia, colocando como
problema o seu surgimento, as bases sobre as quais se assenta, os mecanismos que a perpetuam no imaginário
popular, enquanto território coletivamente construído, e o que tem a dizer aos(dos) citadinos.
O eixo deste estudo, sucintamente aqui apresentado, é a Lenda Urbana na qual uma mãe prometeu construir uma
capela, caso sua filha, que havia fugido com o circo, voltasse para casa. Esta narrativa reúne arquétipos absolutamente
contrastantes como a Igreja, sólida e tradicional; e o Circo, itinerante e controverso; constituindo uma memória
continuamente (re)visitada e (re)apropriada pelos sujeitos do cotidiano da cidade.
Tendo isso como pressuposto, pretendeu-se dialogar com todas as fontes históricas postas como oficiais, mas
principalmente dar espaço às narrativas dos diversos indivíduos que compõem múltiplos setores da cidade. Estes,
mesmo marginalizados por não usarem a linguagem formal escrita, criam, sustentam e retransmitem, há mais de um
século, modos de se compreender as relações de gênero, religião, economia e política.
O presente trabalho acadêmico, ao apresentar uma Lenda Urbana enquanto produção discursiva e de sentido de uma
determinada comunidade, encontra relevância ao ultrapassar os dados históricos e de circunscrição territorial, para se
afetar pelas narrativas produzidas no espaço urbano pelos mais diversos sujeitos, privilegiando aquelas camadas
tradicionalmente deslegitimadas. Assim, a partir da psicologia social, analisa-se criticamente as reverberações
disparadas por esta expressão cultural, e o que este elemento do imaginário sugere enquanto modos dos indivíduos se
posicionarem no social.
O trabalho está norteado pelos conceitos Lenda Urbana, Prática Discursiva e Produção de Sentido, que em si trazem
reflexões a respeito das Relações de Poder e Memória. Para guiar teoricamente este percurso de análise se recorreu a
Walter Benjamin, Michel Foucault e Mary Jane Paris Spink.
A pesquisa de cunho qualitativo, buscou levantar toda documentação referente ao caso para posterior análise. Foi
acessado o jornal que noticiou toda o processo de construção da igreja, datado do ano de 1884, foram acessadas as
obras dos memorialistas regionais, documentação em cartório, além de visitas à igreja para escuta da comunidade.
Ressalta-se que muitos dados foram obtidos de modo informal, já que ao circular pelas repartições públicas, como
cartório, prefeitura, secretaria de cultura, Universidade Estadual de Montes Claros, e repartições da Igreja como Cúria
Arquidiocesana, Palácio Episcopal, Secretaria Paroquial e na própria Igreja, ao saberem da pesquisa, os diversos
sujeitos acrescentavam numerosos dados que corroboraram ao entendimento da profunda penetração da Lenda e
seus significantes no imaginário da população.
O percurso trilhado pela pesquisa chega ao entendimento das múltiplas forças presentes na produção e prática
discursiva de uma Lenda Urbana. Estes dados revelam mecanismos de Poder que constroem modos de geração de
sentido que naturalizam relações dissimétricas e hierarquizantes. A Lenda Urbana, como produto deste mecanismo de
Poder, encontra sua eficácia por ser constantemente revisitada e, por sua vez, constantemente reapropriada,
garantindo a manutenção desses mecanismos há mais de 130 anos.
Conclui-se que nas fontes ressoam vozes de diversos sujeitos que se interseccionaram no espaço urbano e produziram
discursos a respeito do gênero feminino, padrões de comportamento a ele aceitáveis ou não, produziram reflexões a
527
respeito da moral religiosa, entre outras que, para além da retransmissão enquanto conteúdo cultural reforçador de
estruturas naturalizantes e normatizadoras, estes discursos revelam também a necessidade de uma problematização
permanente das intencionalidades presentes na narrativa, a fim de reduzirem desigualdades historicamente
estabelecidas no imaginário dos sujeitos que a compartilham, e possibilitar um posicionamento crítico e consciente
dos novos narradores.

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Fotografia e pesquisa-intervenção: possibilidades metodológicas e estético-políticas
Autores: Larissa Bello Guedes, UFRGS; Luana Schmitz, UFRGS; Vanessa Maurente, UFRGS
E-mail dos autores: larissa.bello.guedes@hotmail.com,luanaxmt@gmail.com,vanessamaurente@yahoo.com.br

Resumo: A relação entre fotografia e ciência tem sido historicamente atravessada por um embate de discursos e
práticas. Dubois, em sua obra O ato fotográfico e outros ensaios afirma que, com o surgimento dos equipamentos
fotográficos, o discurso científico engajou-se em construir e reproduzir uma noção de credibilidade e testemunho em
relação à imagem. Nessa posição ontológica, é atribuída à fotografia um estatuto mimético: o ato de fotografar,
mediado por técnicas e procedimentos mecânicos, torna-se um ato de espelhamento do real. Desse modo, a
fotografia é negada enquanto expressão artística, pois é produzida uma diferenciação entre o documento fotográfico -
simples instrumento de representação da realidade - e a obra de arte, fruto da inventividade e genialidade do artista.
Na contemporaneidade, contudo, tem se observado um movimento contrário - em especial nas ciências humanas -
que busca resgatar a imagem e a fotografia enquanto dispositivos de experimentação metodológica, reafirmando-as
enquanto estratégias de pesquisa e de construção de conhecimento.
Partindo de uma experiência de pesquisa-intervenção realizada por um coletivo de professores, estudantes de
graduação e pós-graduação do Instituto de Psicologia da UFRGS, este trabalho busca refletir sobre as possibilidades
político-metodológicas da fotografia, apostando em sua potência poética e inventiva. A reflexão proposta tem como
disparador o Projeto de Pesquisa Fotografia e pesquisa-intervenção: construção de estratégias para a produção
inventiva na pós-graduação, cujo objetivo é analisar as relações entre produção de subjetividade e as atuais políticas
de avaliação da pós-graduação no Brasil.
Através de narrativas fotográficas, disparadoras de afetos e sensibilidades, o presente trabalho o qual constitui-se
como um recorte do Projeto anteriormente descrito busca resgatar a poética como resistência micropolítica atrelada
aos modos de experimentar-se nos jogos de verdade da produção acadêmica. Tomando uma participante desse
Projeto como elemento disparador de agenciamentos entre o fazer fotográfico e a pesquisa-intervenção, objetiva-se
provocar reflexões e produzir sentidos sobre a fotografia enquanto dispositivo capaz de trazer a experiência do
conhecimento para o interior dos regimes de verdade, produzindo torções em práticas e saberes instituídos.
A escolha pela articulação entre fotografia e pesquisa-intervenção diz de um movimento proposto por esse Projeto: a
passagem do registro verbal, hipervalorizado na academia, para o registro visual, tomado pela ciência como dimensão
ilustrativa e secundária na produção de conhecimento. O exercício do olhar e do discurso imagético passa a compor a
experiência dos participantes do Projeto, tornando-se um desafio frente às imposições metodológicas da academia.
Nesse sentido, a fotografia é tomada como um dispositivo de fazer ver e falar, tal como assinalado por Deleuze. Essa
proposição se alinha com a perspectiva da pesquisa-intervenção ao convocar os participantes a produzirem sentido
sobre suas práticas e compartilharem aquilo que produzem junto aos pesquisadores. Trata-se de um estudo em
processo, no qual pesquisadores, sujeitos, instituições e conhecimento se produzem em co-engendramentos.
Participaram desta pesquisa, até o momento, cinco pós-graduandos de universidades públicas e privadas, oriundos de
três diferentes áreas de conhecimento. Nos primeiros encontros, buscou-se compreender como os pós-graduandos se
reconheciam nos jogos de verdade da produção acadêmica: foram questionados sobre aspectos como autoria,
competitividade entre pares, exigências de produtividade dos PPGs e efeitos da produtividade na saúde mental dos
estudantes. Após esse primeiro momento de discussão, cartografado pelos pesquisadores em relatos de campo, foi
solicitado aos pós-graduandos que fotografassem aquilo que, de seu trabalho, não é reconhecido pelas atuais políticas
de avaliação. Após a análise do material fotográfico e dos diários de campo, houve um segundo momento de reflexão
junto aos participantes, dessa vez com a proposta de que compartilhassem as imagens e as experiências desse
percurso.
Neste trabalho, destaca-se a produção de uma pós-graduanda da Faculdade de Educação da UFRGS, a qual toma a si
mesma como objeto de estudo em sua tese. Produz uma espécie de meta-pesquisa, simultânea à pesquisa formal
legitimada pelo produtivismo. Junto às fotos enviadas para os pesquisadores, encaminhou também um conjunto de
529
narrativas que multiplicam os sentidos contidos nas imagens, compondo uma dimensão sensível de sua experiência
como pesquisadora. Nestas imagens e escritos, potencializam-se os anseios e singularidades presentes em seu
processo de construção da tese: a relação com a tecnologia e a desterritorialização do pensamento, as
experimentações metodológicas, os excessos mentais e físicos que compõem sua pesquisa, e as angústias
relacionadas à autoria e reconhecimento de seu trabalho.
A partir da exposição das imagens e narrativas produzidas por esta pós-graduanda, e lançando mão da contribuição de
teóricos que se debruçaram sobre o hibridismo entre imagem, fotografia e produção de conhecimento, este trabalho
visa tensionar o esvaziamento estético-político sustentado pela ciência em relação à fotografia, buscando produzir
outros discursos e olhares na incorporação desse dispositivo ao fazer do pesquisador. Afirma-se a aposta na poética e
na experimentação como ferramentas na produção de saber, constituindo-se como resistência e contraponto aos
paradigmas reducionistas e à imposição da neutralidade sustentados pelo discurso científico.

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Geladoteca: a experiência de uma biblioteca comunitária como fortalecedora de laços
Autores: Marina Menezes Ferreira, CESJF; Conrado Pável de Oliveira, ABRAPSO Juiz de Fora; Lara Brum de Calais, UFJF;
Marcos Vinícius Lucas da Silva, CES-JF; Rafael de Lima Oliveira, CES-JF
E-mail dos autores: marina_menezessd@hotmail.com, laracalais@hotmail.com, marcos15.lucas@gmail.com,
conradopavel@yahoo.com.br, rafaellimaol@outlook.com.br

Resumo: A Liga Acadêmica de Psicologia Social e Comunitária LAÇO do Centro de Ensino Superior CES/JF, em parceria
com a Escola Municipal Santa Cândida em Juiz de Fora-MG, realizou o lançamento de uma biblioteca comunitária
(Geladoteca) em maio de 2017, como parte da programação da Semana Literária da escola. O bairro Santa Cândida é
atravessado por questões de desigualdade social e marginalização, que produzem verdades sobre a comunidade,
interferindo nas subjetividades dos moradores e em sua implicação diante da sociedade. Diante da demanda exposta,
observou-se a necessidade de promover a valorização da comunidade e de atividades já realizadas por ela, como o
grafite, slams de poesia e o breakdance. Neste sentido, o trabalho teve como objetivo fomentar um espaço para o
incentivo à leitura e demais expressões artísticas teatro, música, contação de histórias, poesia, desenho, junto à
população para promoção da valorização da comunidade.
Assim, o resumo relaciona-se com o eixo 4 Insurgências ético-estético-políticas: artes, tecnologias e subjetivação, uma
vez que se trata de uma intervenção em Psicologia Social e Comunitária que buscou usar das diversas formas de
expressões artísticas como instrumentos de resistência política e, mais especificamente com o GT 24, Narrativa,
experiência e verdade: encontros intempestivos entre experimentações poéticas e psicologia social. Entendendo a
literatura e a arte como formas de resistência e transformação social, assim como capazes de promover
conscientização e autonomia, a inauguração contou com um espaço de trocas e experiências que permaneceu aberto
para que a própria comunidade se expressasse e participasse da ação. Segundo Trassi e Malvasi (2010) as diversas
expressões culturais se configuram em mecanismos de aglutinação de sociabilidades, de práticas coletivas e de
interesses comuns. Para Augusto Boal (2009), a arte e estética são poderosos instrumentos de libertação e
desenvolvimento criatividade e autonomia. É a partir do estímulo ao pensamento sensível que devemos travar as lutas
sociais e políticas: Arte não é adorno, palavra não é absoluta, som não é ruído, e as imagens falam, convencem e
dominam. A estes três poderes palavra, som e imagem não podemos renunciar, sob pena de renunciarmos à nossa
condição humana. Como metodologia, o primeiro passo para a construção da geladoteca foi a pesquisa sobre
experiências relacionadas a bibliotecas comunitárias. A partir disso, foi realizada uma articulação com a direção da
Escola Municipal Santa Cândida, bem como sensibilização e mobilização dos alunos e lideranças comunitárias para o
fortalecimento do vínculo e organização da proposta. A biblioteca comunitária foi montada em uma geladeira, devido
a visibilidade, por ser um objeto resistente e que poderia proteger os livros guardados em seu interior. Seu exterior foi
transformado com grafite, pelos próprios alunos da escola. Os livros usados foram arrecadados através de doações,
durante uma ação anterior realizada pela LAÇO, o Trote Social, junto os alunos calouros do curso de Psicologia do
CES/JF, viabilizando o vínculo academia-comunidade. A Geladoteca, montada em uma geladeira em desuso, reformada
pela própria comunidade, foi inaugurada através de uma ação artística realizada no bairro. Pretende-se que o método
de funcionamento da biblioteca comunitária seja por autogestão. Para a inauguração da Geladoteca, o pátio da Igreja
foi transformado em um espaço aconchegante. Um palco foi montado, com instrumentos musicais e caixas de som,
aberto para as pessoas cantarem, lerem poesias ou trechos de livros. Funcionando juntamente com o palco, também
foi organizado um espaço para pintura e desenhos, assim como espaços para escrever histórias, seja dos próprios
moradores, ou uma história fictícia. A transformação de um espaço marcado pela dureza urbana, em um espaço de
cores e acolhida por si só, já se configurou em uma intervenção. A ação ocorreu no período da manhã, e teve início
com aquecimento musical, dinâmicas, exercícios e jogos do Teatro do Oprimido, buscando promover trocas entre os
presentes, facilitando a abertura e participação no evento. Após o período inicial de aquecimento, os espaços,
intitulados Palco Aberto, Mural Interativo, e Cantinho Conte sua História foram abertos, promovendo assim a
participação da comunidade. A Geladoteca permaneceu aberta durante todo o evento, para que os moradores da
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comunidade escolhessem livros e os levassem para casa, favorecendo assim a circulação de bens culturais, as relações
de trocas, de contato e criação de laços. Construir a proposta em conjunto com as atividades da escola permitiu uma
articulação mais organizada dentro dos objetivos da Semana Literária. Como desafio, percebe-se a necessidade de um
maior acompanhamento das ações da comunidade para uma continuidade do trabalho realizado e adesão dos
moradores. É fundamental conhecer e apreender a realidade da comunidade Santa Cândida, seus processos históricos,
as mobilizações de protagonismo da juventude e suas potencialidades de ação política e cultural, para que a LAÇO
possa contribuir, de fato, no desenvolvimento de ações que promovam autonomia e emancipação.

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Memórias Inventadas: A Ficção e o Delírio Como Métodos na Pesquisa em Psicologia Social
Autores: Anete Regina da Cunha, UFRGS
E-mail dos autores: anetepsicologa@gmail.com

Resumo: Memórias Inventadas: A Ficção e o Delírio Como Métodos na Pesquisa em Psicologia Social
Anete Regina da Cunha, psicóloga mestranda em Psicologia Social e Institucional/UFRGS
anetepsicologa@gmail.com
A proposta deste trabalho, que é um recorte a partir dos estudos no Mestrado em Psicologia Social e Institucional na
UFRGS, teve seu desenrolar a partir das inquietações da profissional psicóloga, enquanto trabalhadora e gestora na
política pública de assistência social há mais de 20 anos na Prefeitura da cidade de Novo Hamburgo no Estado do RS.
Minha intenção foi pesquisar a política pública de assistência social, analisando e pensando a assistência por um outro
pensamento, hibridizada num rizoma com a psicologia, com a filosofia, com a história, com a sociologia, com as artes,
com o campo do sensível.
Neste contexto, procuro explorar de modo inventivo e ficcional a memória da minha experiência de trabalho na
Prefeitura de Novo Hamburgo/RS desde 1993, na Secretaria de Assistência Social, produzindo pequenos fragmentos
ficcionais, utilizando estas narrativas para me interrogar desde um outro lugar, desde uma mirada heterotópica sobre
minha memória, acerca do trabalho como gestora na execução dessa política, enquanto prática de governamento da
população.
Partindo desta escrita sensível, procurei explorar fragmentos ficcionais acerca das práticas de assistência, apontando
como o trabalho, a religião, a biopolítica e o endividamento estão engendrados nos processos contemporâneos de
subjetivação, através de estratégias biopolíticas e práticas de governamento.
Escrevo a partir de uma relação possível entre a ficção e a psicologia social, para produzir um campo de reflexão e de
outras práticas possíveis da assistência social no contemporâneo.
Trata-se aqui, então, da minha imersão em minhas memórias reinventando-as para que eu possa pensar novos
possíveis desde velhas lembranças, fazendo com que ambos não sejam mais aquilo que eram: nem eu, nem minhas
lembranças.
Ficcionar a experiência da assistência social, me permite escrever a própria história da assistência a partir de suas
outras possibilidades: não se trata de narrar o que houve, o acontecido, mas sim de tensionar o campo de
possibilidades do que poderia ser. A metodologia da ficção (Costa, 2014) busca articular-se com o plano intensivo das
condições de possibilidade da experiência e não com o campo extensivo das atualidades ocorridas.
O que acompanhamos nessa escrita não é o vivido, não se tratam das histórias e pessoas com as quais me encontrei,
mas sim o que sou capaz de pensar e produzir a partir das afetações que tais histórias e pessoas produziram em mim.
Se tratam de narrativas da infâmia (Fonseca; Costa; Cardoso Filho; Garavelo, 2015) sem referentes estabelecidos: não
falam de alguém atendido pela rede da assistência, mas sim de qualquer um que poderia ser por esta atendido.
A ciência moderna opera no plano de coordenadas (Deleuze e Guattari, 1992), na busca de generalizações e
replicações, de controle e previsão, onde o mundo se torna nítido, transparente, homogêneo. Ainda que seja
fundamental ao homem produzir um saber capaz de previsão e controle, este modo de relação não dá conta de todos
nossos problemas, de todas nossas questões e desafios existenciais. (Costa, 2016, p.9)
Contudo, há espaço no mundo também para um outro saber, que quer permitir novas maneiras de pensar, multiplicar
nossas maneiras de ser e de existir, de afetar e afetar-se na complexidade das existências.
A matéria da arte, da ficção, são nossos próprios blocos de perceptos e afectos (Deleuze, 1992), ou seja, o campo de
afetações e percepções possíveis que se constituíram no decorrer de nossas experiências. Não são nossas experiências
mesmas, os fatos vividos ou escutados, mas são as virtualidades contidas nestes, seus delírios possíveis, aquilo que
nunca aconteceu, mas poderia ter sido, mesmo que absurdo.
A história ficcional não é uma história vivida, mas as percepções e afetações que me constituem neste trabalho. São as
percepções e afetações que me constituem, mas que na ficção aparecem como outro espaço, uma heterotopia de
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mim, algo que não sou nem nunca fui, a não ser como possibilidade. Uma heterotopia que produz um afastamento e
um estranhamento, capaz de outros e novos efeitos nas práticas e discursos com os quais opero no campo, e que
podem produzir novas afetações.

Referências:
COSTA, Luis Artur. O corpo das nuvens: o uso da ficção na Psicologia Social. Fractal: Revista de Psicologia. v.26, 2014.
Deleuze, Gilles & Guattari, Felix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992.
Fonseca, Tania Mara Galli et al. Narrativas das infâmias: um pouco de possível para a subjetivação contemporânea.
Athenea Digital, 2015

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Silêncios que cortam
Autores: Elton Silva Ribeiro, UFF
E-mail dos autores: elton_rb@yahoo.com.br

Resumo: A presente proposta de comunicação oral pretende pensar certas modulações do silêncio. Tema que surge
como inquietação de pesquisa e desembocou em um projeto de doutorado em psicologia na Universidade Federal
Fluminense. Mas, silêncio não como ausência de fala, ou como aquele imposto às minorias em sistemas fascistas, ou
como o que resta após uma situação traumática. Mas então que silêncio?
Alguns pensadores têm alertado para a quantidade excessiva de falas em nosso contemporâneo. Estaríamos envoltos
por camadas espessas do dizer e do mostrar em todas as esferas da existência e rupturas a isso se colocariam cada vez
menos factíveis. O excesso de informações e imagens a nos bombardear dificulta, portanto, a constituição de uma
memória e de alguma experiência que possa deslocar. Diante dessa paisagem, tornam-se escassas as possibilidades de
interrupção dos sentidos pré-concebidos, de composição de histórias abertas, de produção de fissuras onde o
inusitado possa acontecer.
O escritor italiano Italo Calvino em uma de suas Seis propostas para o próximo milênio (1990) afirmou que a
humanidade parecia ter sido alvejada por uma epidemia pestilenta que atinge a faculdade mais característica desta: o
uso da palavra. Epidemia que na produção de excessos retira a força das palavras, embota seus pontos expressivos e
tende a extinguir toda centelha que crepite no encontro das palavras com novas circunstâncias. Muito antes, Walter
Benjamin (1994), em seu célebre ensaio sobre a figura do narrador, chamara a atenção para a dificuldade cada vez
mais acentuada da faculdade de intercambiar experiências frente ao crescente domínio da informação, à enxurrada de
fatos que já nos chegam acompanhados de explicações e não deixam espaço para a fabulação. Longe de querer traçar
um diagnóstico pessimista pretende-se aqui indagar acerca de possibilidades outras e, assim como Calvino, talvez
encontrar na literatura possibilidades de salvação frente a este flagelo linguístico.
Franz Kafka (2002) ao fabular sobre o encontro de Ulisses com as perigosas sereias na ilha de Capri diz que o herói
escapara de sucumbir às mesmas não por não ter ouvido o seu canto, mas por não ter ouvido o seu silêncio, este sim
uma arma ainda mais terrível. Curiosa afirmação. Arrisca-se assim, em diálogo com estes pensadores, apontar para a
possibilidade do uso do silêncio como um artefato político, silêncio que interrompe uma produção de sentidos que
não deixa espaço para criação. Inspirado em Calvino, arriscar-me-ia perguntar se o silêncio não poderia também ser
pensado como uma proposta a ser legada para o tempo presente.
É também Deleuze que nos dá pistas interessantes sobre modulações do silêncio. Para ele as sociedades atuais
funcionariam por controle contínuo e comunicação instantânea. Em entrevista a Toni Negri, o filósofo afirma que é
preciso criar um desvio da fala. Criar foi sempre coisa distinta de comunicar. O importante talvez venha a ser criar
vacúolos de não-comunicação, interruptores, para escapar ao controle. (DELEUZE,1992, p.221).
Estes, entre outros pensadores, como Foucault e Barthes que alertaram para os riscos de uma discursificação fascista
do cotidiano, incitam a formulação de outras questões: quais perigos certos silêncios poderiam propor a um
contemporâneo imerso em constantes falatórios e em uma profusão de eus; que salvação, não redentora, mas talvez
precária o silêncio poderia nos legar? Este trabalho, portanto, não traz conclusões, mas deseja amplificar as questões
até aqui colocadas. Bem como encontrar reverberações que possam contribuir para uma psicologia menos afeita a
produção de engessamentos identitários.

535
Vidas Infames e Narrativas Fantásticas
Autores: Fabrício Martins Pinto, Alana Araujo Corrêa Simões, UFES; Victoria Bragatto Rangel Pianca, UFES
E-mail dos autores: fabricio.martinspinto@gmail.com,alanaacsimoes@gmail.com,victoriabrp@gmail.com

Resumo: O presente trabalho parte de experiências que tivemos como integrantes do Laboratório de Imagens da
Subjetividade (LIS/CNPq) da Universidade Federal do Espírito Santo, no qual, a partir da perspectiva de uma clínica
urbana, estudamos os processos de subjetivação contemporâneos na cidade. Nesse trabalho objetivamos pensar as
contribuições da literatura fantástica como um modo de narrar as vidas infames que insurgem no espaço urbano.
Na trama da cidade, diferentes gestos e formas de vida emergem e confrontam as normatividades, as normalidades,
as verdades, os muros e as prescrições do cotidiano. No espaço e no tempo urbano, a insurgência dessas formas de
vida traz uma dimensão abismática, indescritível e inominável, que permite instantes de suspensão da ordem prevista
e hegemônica. Nesse sentido, deslocando alguns dos padrões e modelos de cidade, comparece o infame: as vidas
infames, as formas de existência e os gestos que dão passagem a uma força de estranhamento, desorganizam o
espaço estriado e propõem outras histórias e formas de existir. O infame, na medida em que opera essa
desorganização, apresenta-se como experiência limiar no cenário urbano e capitalístico, desafiando as estabilidades e
as políticas de subjetivação. O que se encontra no limiar provoca arrebatamento, liberando-se de limites, convidando
às passagens e deslocamentos, e, de certo modo, também compõe as narrativas fantásticas da existência. É porque
essas experiências de liminaridade transbordam os limites que se dispara uma questão: como narrar aquilo que dessas
experiências indescritíveis se aproxima? Ou seja: Como, nas práticas de escrita, fazer comparecer esse limiar que
habitam as vidas infames, fazendo falar e fazendo ver outras existências e cidades?
A partir dessas indagações, entendemos que a literatura fantástica é uma aliada para produzir narrativas com as vidas
infames que questionem os processos de subjetivações no espaço urbano. Tanto porque as vidas infames, pelo fato de
habitarem essa liminaridade, compõem-se como narrativas fantásticas; quanto porque o fantástico comparece como
um recurso narrativo que escapa aos dualismos e juízos, fugindo da romântica apologia ou do simples desprezo do
infame, por exemplo. O fantástico não se traduz no maravilhoso nem no estranho, mas convoca uma outra
narratividade, na qual o limiar pode comparecer. O fantástico opta por não fazer uma suspensão da realidade
plausível, e também não se entrega à verossimilhança, produzindo um território de indecidibilidade. Encontrando o
intempestivo no cotidiano naturalizado, o extraordinário no ordinário, diante da indecidibilidade fantástica que
escarnece e coloca em xeque o previsível, uma fissura na perspectiva habitual de cidade é possível, e o pensamento
inventivo há de comparecer.
Julio Cortázar, autor que nos acompanha ao adentrar o universo fantástico, afirma sua obra como, por um lado, uma
espécie de proposição política de combate a aspectos da cultura ocidental que nos fariam cada vez menos autênticos
e imaginativos e, por outro lado, também considera que sua escrita é consequência de uma série de experiências
fantásticas ou inusuais que aparecem em seu cotidiano, já que o efeito desse tipo de literatura não se restringe aos
livros, mas transborda as experiências da vida cotidiana. A partir das narrativas fantásticas, as vidas infames, nos
limiares da trama urbana, têm o potencial não a garantia de possibilitar o estranhamento do que é estável,
questionando os processos de subjetivação contemporâneos. Junto disso, as vidas infames também têm o potencial
da criação de outras formas de existência, talvez mais escorregadias à dominação.

536
Arquivo em Movimento: O Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro
Autores: Larissa Ko Freitag Neubarth, UFRGS; Vitória dos Santos Tadiello, UFRGS
E-mail dos autores: larissaneubarth@hotmail.com,vitoria.tadiello@gmail.com

Resumo: ARQUIVO EM MOVIMENTO: O ACERVO DA OFICINA DE CRIATIVIDADE DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO


PEDRO
Coordenadora: Tania Mara Galli Fonseca;
Autoras: Larissa Ko Freitag Neubarth; Vitória dos Santos Tadiello
'Olhos sujos no relógio da torre'
Desde 1990, a Oficina de Criatividade atua no Hospital Psiquiátrico São Pedro, oferecendo, inicialmente, uma
alternativa à visão patologizante dos diagnósticos fixos e institucionalizados, seguindo caminhos traçados pela reforma
psiquiátrica no Brasil. Através de propostas do fazer artístico para os internos e freqüentadores, mais de 300 mil
trabalhos foram produzidos e são catalogados pelos arquivistas do projeto Arquivo em Movimento, que buscam
ressignificações do espaço e do tempo de cada sujeito e da própria instituição.
Pelos corredores do antigo manicômio, envelopes de papel pardo e estantes de metal abrigam obras expressivas que
desacomodam perspectivas sobre a problemática da formação simbólica da loucura. Mofo, rachaduras, objetos de
memória que pesam, envelhecidos e sobreviventes à passagem do tempo, criam olhares instigados em quem se
permite à travessia dos muros.
Dentre nossos afetos e afecções, surge o sentimento de desejo, atração e repulsa: maravilhamento. Atração por
desvendar seus enigmas, encontrar significados e entendimentos que permeiam a aura de cada objeto e do lugar em
si. Repulsa como um desejo de fuga, de assombro em relação ao diferente, ao Insuportável, ao Fora, ao unheimlich,
estrangeiro em nós mesmos.
'Crimes da terra, como perdoá-los'
Onde o acaso do momento climático e o descaso na distribuição de verbas se encontram, a tempestade fura o
concreto e o vento invade o papel. A queda do forro do Acervo, que causou o recente deslocamento dos trabalhos
para outro prédio, trouxe uma maior exploração de nossos olhares em relação ao arquivo. Quantas imagens compõem
uma obra? É possível traduzir ou mesmo narrar - os traçados de tinta, as linhas de costura, os pontos de colagem e os
moldes de argila? O que se busca ao guardar um arquivo de tantas e tantas repetições mal-ditas?
'e soletram o mundo, sabendo que o perdem.'
Um dos objetos encontrados no processo de salvamento, um caderno escolar com suas linhas inteiramente
preenchidas por letras circulares sempre as mesmas, sempre diferentes - trouxe-nos à idéia de virmos a produzir um
trabalho de intervenção no âmbito do presente Encontro Nacional da ABRAPSO - uma produção audiovisual que não
se atenha apenas ao projeto desenvolvido no Hospital, mas que se amplie a uma discussão ético-político-estética.
Um martelo de parafina que tenta pregar o prego. A água que escorre da bolsa feita de pano. Os fios invisíveis que
atravessam os salões. A flor que fura o asfalto a relva que cresce nas rachaduras do prédio sufocado. O balão exposto
às mudanças do vento e as telhas que não protegem plenamente da chuva. Uma tentativa de narrar o inesgotável, o
irrecuperável, o inenarrável. O tédio, o nojo, o ódio. Um ensaio sobre a procura em si, sobre pesquisa, processo. Uma
experiência do incansável inalcançável.
Assim, a produção audiovisual consiste também em uma proposta de intervenção e investigação da potência dos
objetos que se agrupam e lotam as salas e os corredores do Hospital São Pedro, da sua memorabilia. Apresentar a
obrigatória mudança do local do Acervo, ocasionada pelo desabamento do forro localizado, anteriormente, no prédio
histórico do HPSP e colocar em questão a manutenção de muitos dos fios ali relacionados, não restritos a um espaço e
um tempo definidos. Jogar com o que ocupa o lugar, grupar, tocar, realocar, se colocar em estado de experiência e
fazer visível a exaustão de um lugar saturado de símbolos e registros de numerosas trajetórias. Explorar,
consequentemente, o vazio, o silêncio, o que cala, o que falta. Jogo de presenças e ausências. Busca-se, assim,

537
reflexões sobre um fazer que fura fronteiras entre psicologia e arte, loucura e conhecimento, construção e demolição,
o ato criativo, o guardar a arte e o pensar sobre.
Descritores: Arquivo; Memória; Imagem; Loucura.
Referências
ANDRADE, Carlos Drummond de. A Flor e a Náusea. in Antologia Poética 12a edição Rio de Janeiro: José Olympio,
1978, ps. 14,15 e 16.

538
GT 5à|à O upa àeà esisti :à odosàeàse tidosàdasà o ilizaç esàpolíti asàjuve isà o te po eas

Coordenadores: Alexandre Bárbara Soares, UFF | Marcos Ribeiro Mesquita, UFAL | Samir Perez Mortada, IFBA

As relações entre a juventude e a política sempre foram permeadas de distintos sentidos e práticas, apresentando um
campo polissêmico e múltiplo de modos e formas de ação. A própria produção social da noção de juventude demarca
claramente certas dinâmicas de participação e mobilização que se pretendem específicas e, de certa maneira,
i teg adasàaoà olàdeà o diç esàdeàe ist iaàdosàsujeitosà jo e s .àE t eta to,à estaàd ada,à àpossí elàide tifi a à oà
Brasil e no mundo um conjunto de movimentos, de contorno ainda pouco definidos, que produzem rupturas tanto nos
modos de produção da condição juvenil quanto na definição em torno dos sentidos de política para parte desta
população. O início da ultima década apresentou um contexto global de crise da representatividade que se acentuou
em diferentes momentos no país, mas que ganhou expressividade e visibilidade principalmente a partir das grandes
o ilizaç esàdeà uaàdeà ,à o he idasà o oà e oltaàdoà i ag e àouà a hasàdeàJu ho .
Na era da virtualidade, da comunicação instantânea e das redes sociais, os jovens têm sido protagonistas de um
conjunto de novas formas de intervenção no espaço urbano, atuando em coletivos e grupos culturais e em ações
coletivas nos meios urbanos. As formas como os jovens urbanos hoje se apropriam dos espaços das cidades podem
indicar não um, mas múltiplos sentidos em que cultura e política parecem tentar se articular.
Em contrapartida, as estratégias de participação relacionadas ao Estado e a sociedade civil parecem cada vez mais ser
percebidas como muito distantes da realidade cotidiana dos jovens, que parecem não se reconhecer (parcial ou
completamente) na participação em partidos políticos e sindicatos. Em contraponto a ação política institucionalizada,
os jovens urbanos contemporâneos investem em práticas políticas mais pulverizadas, atomizadas e transitórias,
caracterizadas pela performance, pela instantaneidade e a efemeridade que marcam suas ações coletivo-culturais.
Estabelecem-se processos de vinculação e trocas entre os sujeitos e os grupos que estimulam a partilha de modos de
ser, visões de mundo, estilos de vida e referenciais estéticos, comportamentais e políticos. Coletivos, redes e
ocupações surgem disputando sentidos sobre questões como representatividade, ação, mobilização e produção de
laços. Os jovens têm ativado dinâmicas de mobilização que não apresentam ainda um discurso pronto
institucionalizado que dê conta de sua existência, mas que se afirmam enquanto um modo de afirmar a diferença na
política, introduzindo problematizações e desloca e tosà oàse tidoàdaàp p iaàpala aà políti a àpa aàaàso iedadeàe à
ge al.à O upaç es,à es a hos ,à a hasà eà pe fo a esà ga ha a à p opo ç oà eà isi ilidade,à apo ta doà pa aà u à
conjunto de novas dinâmicas de participação política de parte dos jovens brasileiros.
Em especial, observamos um movimento, muitas vezes, intuitivo de provocar rupturas sem necessariamente propor
novos projetos de sociedade. Movimentos que reivindicam o protesto como processo de produção de sentidos em si.
O protesto é pedagógico, é afetivo e desloca olhares – a associação coletiva pode conduzir ao processo de tomada de
consciência, como afirma Martin Baró (2016). O protestar produz sentidos que se conectam ao desejo de um outro. O
projeto é um desejo racionalmente elaborado e discursivamente estruturado a priori. O processo constrói pautas e
não o contrário. E o que os novos movimentos juvenis parecem apontar e que nos interessa aprofundar é justamente
para o que está em produção – pautas, formas de organização, modos de subjetivação, sentidos de si e de coletivo.
Em especial, no atual momento político brasileiro, de ataques à direitos historicamente conquistados por
trabalhadoras e trabalhadores, mulheres, população afrodescendente e indígena, população LGBTT, e de afronta à
democracia através de um golpe jurídico-parlamentar, urge estabelecer modos de compreensão sobre a realidade,
que permitam identificar potencialidades de enfretamento e resistência, possibilitando à psicologia colaborar na
edificação de modos de vida e luta que afirmem a diferença e à vida.
Objetivos do GT
Geral:
Discutir as práticas contemporâneas de mobilização política de jovens no Brasil, buscando compreender seus
processos, sentidos e modos de subjetivação. Trata-se de estabelecer um espaço de troca, articulações e de reflexões
entre pesquisadores, profissionais e estudantes sobre o contexto político atual, as práticas de resistência, os processos
de afirmação identitária e as estratégias de enfrentamento às dinâmicas de opressão e subordinação atuais. Temas
comoà asà o upaç esà estuda tis,à osà o i e tosà ultu ais,à osà o i e tosà deà ulhe es,à LGBTT s,à a iais,à osà a a josà
culturais, a criminalização dos movimentos sociais, a produção de subjetividades conservadoras e autoritárias etc.
entre outros compatíveis com a proposta serão acolhidos neste GT.

539
Específicos:
I. Refletir sobre aspectos psicossociais relativos às dinâmicas juvenis contemporâneas.
II. Estabelecer reflexões sobre os impactos psicossociais das reformas da educação e do trabalho junto a parte da
população jovem do país.
III. Discutir e problematizar os efeitos dos ataques às políticas de direitos humanos no escopo da educação pública e
dos movimentos sociais organizados.
IV. Promover reflexões sobre conceitos como movimento, coletivo e ação dentro da política, a partir da psicologia
social.
V. Problematizar as dinâmicas de participação de jovens no campo político atual, estabelecendo inflexões que
permitam organizar modos e pressupostos de ação e organização.
VI. Refletir, à luz da psicologia social, sobre os novos movimentos de luta e resistência de jovens e estudantes.
VII. Incentivar a reflexão e a pesquisa sobre movimentos sociais, juventude e educação no âmbito da psicologia social.
VIII. Estabelecer uma rede de pesquisadores e psicólogos sociais envolvidos com o tema dos movimentos sociais e da
juventude, com vistas a articulações e futuras publicações;
Relação entre o GT e o tema do encontro e com o eixo temático escolhido.
As sociedades contemporâneas têm vivido a tensão entre modos de subjetivação individualizantes e liberais e as
demandas por processos coletivos de emancipação de parcelas significativas da população. Ao mesmo modo que se
evocam estratégias de ser e estar no mundo cada vez mais voltadas ao incremento das habilidades individuais e das
perspectivas meritocráticas e homogeneizadoras, produzem-se dinâmicas que instituem o laço, o afeto, a
horizontalidade e o apego à diferença como nortes comuns de articulação e ação.
No Brasil, a constituição de 1988 emerge como um momento de convergência de diferentes movimentos que,
articulados desde fim dos anos 1970, problematizam as matrizes de organização e estruturação social, promovendo
fo asà deà idaà eà deà e p ess oà ueà p i a à pelaà pa ti ipaç oà eà des e t alizaç o.à áà ha adaà o stituiç oà idad
marca a maturidade de um conjunto de movimentos democráticos que, nascidos em meio à brutal opressão da
Ditadura civil-militar, afirmam a vida e os princípios coletivos como norte ético-político de suas ações.
Entretanto, em meio a uma intensa polarização, as conquistas sociais obtidas desde 1988 começaram a ser ameaçadas
e ceifadas por grupos que reivindicam para si a hegemonia não apenas dos meios de produção e distribuição de renda,
mas dos modos de subjetivação hegemônicos, através do controle da informação e dos lugares institucionalizados da
política. Em meio a uma série de ataques de grupos organizados, percebemos a emergência de microresistências que
buscam reafirmar o campo de lutas a partir da diversidade e da coisa publica.
A articulação com o tema geral da Reunião da ABRAPSO de 2017 e, em especial, com o eixo 6 (Estado, democracia e
movimentos sociais face à mundialização e neoliberalismo) torna-se evidente, tendo em vista as novas práticas sociais
ensejadas pelos mais diversos grupos de atores políticos que têm reivindicado para si a condição de fala e participação
independente da representatividade. E colocado, em ato, suas questões quanto aos limites e conquistas da
democracia representativa. A psicologia pode e precisa acompanhar este processo de produção de formas sensíveis de
sentir e agir, buscando atualizar pressupostos epistemológicos e empíricos de ação e reflexão sobre o indivíduo e suas
dimensões. É de fundamental importância avançar na reflexão e na discussão desta temática, que tem mobilizado
importantes pesquisadores das demais ciências humanas.
Tipo de trabalho que será acolhido e quais as discussões que o GT pretende promover.
Este GT acolherá trabalhos que promovam leituras, discussões e análises psicossociais sobre temas dos movimentos
sociais, modos de organização e formas de resistência juvenil e estudantil, além da formação em psicologia nesse
contexto. Não haverá restrição quanto à abordagem teórica e as estratégias metodológicas empregadas pelos
pesquisadores, entendendo que a diversidade da psicologia social pode contribuir para as discussões e debates do
grupo.

540
São temas possíveis, entre outros, de participação no GT:
I. aspectos psicossociais concernentes ao novo contexto político da juventude brasileira;
II. impactos psicossociais das novas formas de organização política e cultural de jovens no Brasil de hoje;
III. sobre os novos movimentos de luta e resistência de estudantes e trabalhadores jovens;
IV. dinâmicas de ocupação de escolas por secundaristas e estudantes de nível superior;
V. as tensões e enfrentamentos concernentes aos lugares de fala contemporâneos.
VI. impactos psicossociais das reformas da educação e dos projetos políticos de matiz conservador no espaço escolar.
VII. sobre a formação em psicologia no novo contexto da educação superior brasileira.
Serão, enfim, acolhidos temas concernentes a aspectos psicossociais do novo contexto dos movimentos sociais
brasileiros, em especial aqueles vinculados a juventude. Espera-se, com tais discussões, contribuir para a reflexão
sobre a política e a produção de subjetivação no mundo de hoje, e em especial dos impactos psicossociais que a
ampliação de sentidos e a multiplicidade de práticas têm provocado em seus sujeitos.

541
OCUPSI: Psicologia e transformação social
Autores: Conrado Pável de Oliveira, ABRAPSO Juiz de Fora; Alline Aparecida Pereira, UFF; Beatriz Oliveira Araujo, UFJF;
Daniele Trindade Mesquita, UFJF; Kíssila Teixeira Mendes, UFJF; Lara Brum de Calais, UFJF; Mariana de Almeida Pinto,
UFJF; Pedro Henrique Antunes da Costa, UFJF
E-mail dos autores: conradopavel@yahoo.com.br, phantunes.costa@gmail.com, laracalais@hotmail.com,
dap.mariana@gmail.com, dani.t.mesquita@gmail.com, alline__pereira@hotmail.com, kissilamm@hotmail.com,
beatriz.oa.lk@gmail.com

Resumo: O grupo "OCUPsi: Psicologia e Transformação Social" foi constituído por profissionais, estudantes e docentes
de Psicologia no ano de 2016 em Juiz de Fora-MG, no contexto das lutas e mobilizações protagonizadas pelos
estudantes secundaristas e universitários em ocupações deflagradas em todo o Brasil. Se organizou como mais um
instrumento de luta, para atuar de forma conjunta e potencializando os já existentes movimentos de organização e
resistência dos estudantes e profissionais da educação contra os diversos retrocessos promovidos pelo governo
golpista de Michel Temer, mais especificamente a PEC 55 (anteriormente denominada PEC 241) que propôs o
congelamento dos investimentos públicos em políticas sociais por 20 anos, a medida provisória nª 746 que visa
reformar o Ensino Médio, bem como o projeto de lei 193 Escola sem Partido, conhecido como "Lei da Mordaça".O
objetivo do OCUPsi foi aglutinar os diferentes sujeitos individuais e coletivos - que se propuseram a contribuir e
acompanhar os movimentos de mobilização e ocupação conduzidos pelos estudantes na cidade de Juiz de Fora-MG, a
partir de autocríticas e provocações sobre a necessidade da Psicologia participar ativamente das lutas populares. O
presente trabalho relaciona-se diretamente com o GT Ocupar e resistir: modos e sentidos das mobilizações políticas
juvenis contemporâneas. A luta se faz necessária e se mostra como horizonte de mudança, num cenário de intenso
retrocesso em termos de direitos conquistados pelo suor e sangue de muitos. A proposta do grupo se baseia na
necessidade de contribuir para a desconstrução de uma postura tradicionalmente a-crítica e conservadora que se
constituiu no desenvolvimento da atuação e do papel desempenhado pela Psicologia no contexto brasileiro,
historicamente pautada pela suposta pretensão de neutralidade, distanciamento da realidade social e por uma lógica
universalizante e abstrata, implicando em processos de controle, ajustamento, patologização etc. Partindo do
pressuposto de que o compromisso ético-político da Psicologia deve ser com a transformação social de nossa
realidade injusta, que se fez e mantém por meio da exploração de grande parcela da população, pode-se afirmar que o
psicólogo é um ator político e que o conhecimento e atuação devem estar à disposição dessas maiorias populares. Em
suma, a práxis psicológica não se dá num vácuo sócio-histórico, se configurando como algo descolado da realidade e,
portanto, dos meios que dela resultam. Assim, suas ferramentas encontram-se localizadas nessa própria realidade,
seus sujeitos, grupos e comunidades. Pois se o psicólogo, por um lado, não é chamado a intervir nos mecanismos
socioeconômicos que articulam as estruturas de injustiça, por outro é chamado a intervir nos processos subjetivos que
sustentam e viabilizam essas estruturas injustas; se não lhe cabe conciliar as forças e interesses sociais em luta,
compete a ele ajudar a encontrar caminhos para substituir hábitos violentos por hábitos mais racionais; e ainda que a
definição de um projeto nacional autônomo não esteja em seu campo de competência, o psicólogo pode contribuir
para a formação de uma identidade, pessoal e coletiva, que responda às exigências mais autênticas dos povos.
(Martin-Baró). Inicialmente o grupo se constituiu a partir de uma ação espontânea e foi, ao longo de seu
desenvolvimento e mobilização, se organizando de maneira a qualificar as atividades propostas. A partir das
experiências da mobilização estudantil nas ocupações, o grupo OCUPsi foi organizado em comissões: Organização
interna; Grupos e Oficinas; Levantamento e Articulação com as ocupações; Comunicação. Foram realizadas atividades
em diversas ocupações estudantis em Juiz de Fora: na reitoria da UFJF, no Colégio de Aplicação João XXIII; na Escola
Estadual Almirante Barroso; IF Sudeste; Escola Estadual Duque de Caxias; no Instituto Estadual de Educação Escola
Normal, além de visita e articulação com a ocupação da reitoria da UFSJ por ocasião do XX Encontro Regional da
ABRAPSO Minas. As atividades realizadas expressam uma ampla possibilidade de intervenções e uma pluralidade de
542
abordagens, sendo possível destacar: rodas de conversa sobre participação social e democracia; emergência do sujeito
político; relações étnico-raciais; orientação profissional; manejo de ansiedade; violência contra a mulher e
relacionamentos abusivos; gênero; oficinas de teatro do oprimido; rodas de terapia comunitária; grupos de
relaxamento; atendimentos individuais para acolhimentos de demandas específicas; aulão de políticas sobre drogas e
seus impactos sociais, etc. A partir das atividades desenvolvidas foi possível contribuir tanto no fortalecimento dos
vínculos entre os ocupantes, na identidade grupal, na ressignificação das vivências cotidianas nas ocupações, quanto
marcar, a partir da Psicologia e de suas necessárias reinvenções enquanto ciência e profissão, uma posição crítica
frente a este momento histórico de crise política e social vivenciado na atualidade.

543
2016, o ano que não terminou: resistências e ocupações na Unifei
Autores: Rafael Augusto de Melo, UNIFEI; Lauren Colvara, UNIFEI
E-mail dos autores: meloarafael@gmail.com,laucolvara@unifei.edu.br

Resumo: Na esteira de novos modos de mobilizações sociais articuladas na última década, principalmente por meio
das tecnologias digitais de comunicação em rede, a juventude brasileira também se manifestou por diversas pautas
políticas ocupando espaços públicos e se reapropriando da possibilidade de constituir outros territórios subjetivos.
Esses movimentos, que no Brasil manifestaram características singulares em seu início em 2013, tiveram grande
ebulição, também, em 2016. Enquanto uma ampla articulação de estudantes secundaristas parou a rede pública do
ensino básico, os estudantes universitários mobilizaram um movimento nacional de ocupações das Instituições de
Ensino Superior durante o ano de 2016. Mas afinal, quais foram as subjetividades produzidas nessas articulações - suas
individualizações e singularizações, e as linhas de fuga de territórios estratificados? Diante da complexidade e
multiplicidade dessas mobilizações, este trabalho se propõe refletir sobre as mobilizações de estudantes e dos
coletivos de alunos da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em 2016. Uma sequência de eventos e acontecimentos
se encadearam e se entrelaçaram constituindo a realidade e as subjetividades nesse contexto. Desde a realização do
debate sobre a conjuntura política durante o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff: O tempo não
para, e o golpe; passando pelo movimento de ocupação do prédio da reitoria da Unifei, denominada de OCUPA Unifei;
pelo financiamento pelo Sindicato dos Docentes da Unifei de um ônibus para os interessados em participar das
manifestações em Brasília contra a PEC 241; culminando em uma assembleia de alunos para votar sobre a adesão à
greve. Assim, essa proposta estabelece um diálogo com o Grupo Temático Ocupar e resistir : modos e sentidos das
mobilizações políticas juvenis contemporâneas e o Eixo Temático Estado, democracia e movimentos sociais face à
mundialização e neoliberalismo, ao pensar em que medida essas expressões de resistência representaram rupturas
nas produções das subjetividades e da realidade dominantes - ou produções capitalistas neoliberais. Os caminhos para
entender essas produções, subjetivações e existencializações foram percorridos através da perspectiva cartográfica de
Gilles Deleuze e Felix Guattari, principalmente através da observação das interações que se propagaram pelas redes
de comunicação digitais e pelas redes sociais. Se por um lado, os alunos, os professores, os dois principais coletivos:
Coletivo das Minas e Movimento Estudantil Lampeia, e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) territorializavam
categorias ideológicas dominantes de sujeição diante da intensidade dos conflitos, também foi possível observar linhas
de fuga que permitiam a ocorrência de processos de singularização. A assembleia que encerrou a sequência aqui
analisada, coincidindo ser realizada poucos dias antes do fim do ano letivo, produziu um debate, que apesar de ainda
se manter sobre determinados territórios dominantes, também permitiu a expressão de ideias que engajaram os
alunos a se posicionarem de forma a se mobilizarem diante dos acontecimentos e instigaram um movimento de
autoposicionamento diante dos discursos existentes, que iam além da simples reprodução. Essas expressões, no
entanto, fazem parte de toda uma rede de agenciamentos que se deu ao longo do percurso aqui analisado. E que em
meio a uma intensificação do fluxo de informações e um fortalecimento de territórios estratificados, também abriu a
possibilidade do irromper de microrrevoluções.

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ATIVISMO JUVENIL E POLÍTICAS PÚBLICAS: o caso do Centro de Referência da Juventude de Belo Horizonte/MG
Autores: Bruno Vieira dos Santos, UFMG
E-mail dos autores: brunovieira.comunica@gmail.com

Resumo: A despeito de estudos e pesquisas que dicotomizam a participação política juvenil em dois polos opostos ora
participação plena e cidadã, ora apatia e alheamento , o que podemos enxergar além dessa polarização a respeito da
participação política juvenil? O contexto do reconhecimento da juventude como categoria social permitiu que se
criasse um contexto para empoderamento e valorização da identidade dentro dos movimentos sociais. Longe de ser
uma categoria autônoma, é necessário enxergá-la fora de um viés meramente dicotômico entre apatia e participação
plena. Deriva-se daí refletir a possibilidade do próprio jovem ser caracterizado como sujeito da ação política. E, dentro
dessa proposta de enxergar os jovens como esses sujeitos, perceber quais são as pautas que tem sido encabeçadas e
capitaneadas pelos movimentos juvenis. A experiência da participação representa, sem dúvidas, uma forma na qual os
jovens podem vivenciar a construção de pautas, agendas e ações coletivas.
Dentro dessa perspectiva não binária/não dicotômica de percepção do ativismo juvenil, relatamos o processo de
implementação do Centro de Referência da Juventude (CRJ) em Belo Horizonte, uma política pública cuja formulação
se inicia formalmente em 2006 e até este ano, 2017, (ainda) encontra-se em andamento. É dentro do contexto da 3ª
Conferência Municipal de Juventude, ocorrida no primeiro semestre de 2006, que advém a proposição do CRJ. O
processo de implementação posterior (iniciado em 2011) é marcado por tentativas de diálogo infrutíferas entre grupos
juvenis e Prefeitura de Belo Horizonte, responsável pela implantação do Centro junto com o Governo de Minas Gerais.
O prédio ficou pronto em 2015, mas com a possibilidade limitada de sua utilização. Como radicalização da discussão,
durante os meses de maio e junho de 2016 o CRJ foi ocupado por participantes de coletivos e também ativistas
autônomos, como jovens do skate, do hip hop e do funk, que reivindicavam a imediata abertura do Centro com uma
gestão colaborativa e compartilhada.
Pode-se perceber, a partir da pesquisa documental e de conversas e relatos com militantes da causa juvenil, que o
Centro possui três fases: a proposição (2006), a retomada do debate (2011) e a ocupação (2016). Em especial, este
último momento é percebido por nós como crucial para a ressignificação do espaço: foi a partir do #OcupaCRJ que
ocorreu um movimento mais amplo (e quiçá radical) para discussão do CRJ com a cidade como espaço de convivência
juvenil a partir da experiência e da subjetividade próprias dos jovens. Para tanto, no final de 2016 foi eleito um comitê
gestor com participação da sociedade civil e em 2017 temos a realização de seminários (Cola no CRJ, Desembola no
CRJ e Mostra CRJ) com o intuito de construir, coletiva e amplamente, o projeto de utilização do lugar.
Este trabalho dialoga com o eixo temático em questão por trazer para a discussão a (re)configuração da
implementação de uma política pública a partir das resistências de grupos juvenis de maneira que esta possa
contemplá-los em suas especificidades e demandas. Trata-se de uma luta por uma política pública juvenil que coloque
a juventude à frente da sua construção, de modo que sejam capazes, como diz Jorge Benedicto, de gerenciar seus
próprios projetos, de assumir responsabilidades pessoais e coletivas e de se inserirem ativamente nas comunidades a
que pertencem participando da arena pública.

545
Cartografia de um movimento estudantil: experiência, militância e produção de sentido
Autores: Talita Gonçalves Monteiro, UFPel; Édio Raniere, UFPel
E-mail dos autores: talitagmonteiro@gmail.com,edioraniere@gmail.com

Resumo: O trabalho busca cartografar indícios sobre as principais linhas de força presentes no movimento estudantil
contemporâneo, tomando como referência um movimento estudantil realizado na Universidade Federal de Pelotas
(UFPel). com intuito de rastrear os encontros e subjetividades no ativismo universitário, investigando as condições de
possibilidades para invenção da militância nesses locais. A cartografia como método nos permitirá a construção de
uma pesquisa sob a perspectiva de que essa é em si criação. Já que o cartógrafo pesquisador atua diretamente no
território a ser explorado sem uma imagem prévia do percurso, sendo esse construído no desejo, daquilo que pede
passagem em seu corpo, nas forças dos encontros que estabelece, a medida em que habita o campo e esse começa a
tomar forma. Assim como Manoel de Barros (2013) se refere ao poeta que faz o verbo delirar, a cartografia como
método muda o ofício da pesquisa - a faz delirar - sendo que a essência do objeto pesquisado está no próprio
processo, e cartografar esse território se torna voz de fazer nascimentos.
O conceito de força encontra fundamentação no pensamento de Friedrich Nietzsche, onde se busca uma articulação
teórica com a suas qualidades, a vontade e o ressentimento. A vontade não é singular, é múltipla, é a reação das
forças umas sobre/com as outras, o sentimento do estado de onde se que sair, do estado para onde se tende
(Deleuze, 2007, p.58), impulsionando o corpo maquinalmente ao querer, sendo que quando se quer, obedece, ao
acreditar que o querer é suficiente para a ação, como se esses caminhassem em um mesmo sentido (Deleuze, 1976;
2007).
O ressentimento é o fruto da experiência ressentida, ele acusa para fora, condena a potência alheia, mas a má
consciência acusa para dentro, sedimenta a culpa (YONEZAWA,2014, p.862). Esse duplo (ressentimento e má
consciência) torna a vida repetição de experiência pelo pensamento (memória), a paralisando pela culpa, voltando a
potência para si, de maneira que a mesma vire poder. Vale ressaltar que o poder é inerente a força, e o aqui
explanado é aquele da força reativa, onde volta-se para dentro se distanciando daquilo que pode (YONEZAWA,2014).
Para tal percurso, apresentamos, como dispositivo metodológico, um personagem conceitual (Deleuze et al, 2007);
cuja intenção é a de acompanhar e produzir sentido aos mapas que serão desenhados no transcurso realizado pela
pesquisa. Nosso personagem cujo nome é Firmezinha apresenta para o leitor um campo possível de articulação do
movimento estudantil da UFPel, campo esse que vivencia antes e no cartografar procurando articular o que fazemos
(enquanto resistência) com aquilo que estamos produzindo hoje no movimento universitário, tendo como referencial
teórico metodológicos os autores da filosofia e psicologia das diferenças como Gilles Deleuze e Félix Guattari.

Referências
BARROS, Manoel. O livro das ignorãnças. Biblioteca Manoel de Barros [coleção]. São Paulo. Leya. 2013
DELEUZE, Gilles. Nietzsche, ed. ut: Lisboa. Edições, v. 70, 2007.
______ . Nietzsche e a filosofia. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976.
______ ; GUATTARI, Félix; MUÑOZ, Alberto Alonso. que é a filosofia?, O. Editora 34, 2007.
YONEZAWA, Fernando Hiromi. Afirmar uma Psicologia fortalecedora da vida com Nietzsche e Deleuze. Fractal: Revista
de Psicologia, v. 26, n. 3, p. 853-876, 2014

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Desocupa já! Eu quero aula: aspectos psicossociais do movimento Desocupa
Autores: Karina Oliveira Martins, UFG
E-mail dos autores: kar1na.oliveira@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar os aspectos psicossociais que motivaram o Movimento Desocupa
no contexto de lutas contrárias à Proposta de Emenda Constitucional 241/55. Não se trata de um movimento
unificado, mas de diferentes grupos, independentes uns dos outros, formados em cada instituição de ensino que fora
ocupada pelos estudantes. Em sua maioria, não se posicionam sobre a PEC, mas defendiam o fim das ocupações e
imediato retorno às aulas. O Desocupa questiona a legitimidade das assembleias que decidiram pelas ocupações, a
presença de partidos, sindicatos e entidades estudantis que estariam por detrás das ocupações, a doutrinação de
professores e a manipulação dos alunos pelos mesmos. Também desacreditam na eficácia das ocupações como
estratégia de enfrentamento à PEC 241/55.
Esta pesquisa objetivou apreender os aspectos psicossociais que motivaram estudantes de todo o Brasil a se
mobilizarem para combater as ocupações de suas escolas e universidades. Esta pesquisa se relaciona o GT escolhido
na medida em que volta-se para uma organização específica da juventude que é característica deste novo modo de
organização. Ainda que tal organização vá na contramão de qualquer perspectiva emancipatória, compreende-la é
fundamental para compreender melhor as dinâmicas e conflitos dos movimentos de ocupação, entender as novas
dinâmicas e aspectos psicossociais relativos às dinâmicas juvenis atuais e todo processo de subjetivação envolvido
neste tipo de movimento. De tal modo, se enquadra na proposta do GT Ocupar e resistir: modos e sentidos das
mobilizações políticas juvenis contemporâneas.
Este trabalho se fundamenta nos estudos de Agnes Heller sobre a vida cotidiana e nos estudos Salvador Sandoval
sobre consciência política.
Agnes Heller parte de uma análise ontológica para os estudos do cotidiano. A autora entende que o ser social é ao
mesmo tempo genérico e particular e que ambos são insuperáveis. Contudo, dada às relações sociais alienantes
atuais, fundamentadas na divisão social do trabalho de uma sociedade divida em classes sociais antagônicas, o que
predomina é uma relação muda entre a particularidade e a genericidade. Deste modo, fica a maioria da humanidade
quase que restrita à própria particularidade, à própria vida cotidiana. Trabalha-se com esta relação entre
particularidade e genericidade expressa no Movimento Desocupa relacionando-as com a categoria de consciência
política. A consciência política é um aspecto constituinte da consciência. Ela é composta por dimensões sociais e
psíquicas entrelaçadas entre si, cuja relevância e o papel específico de cada dimensão só pode ser compreendidos
mediante a análise individual. As dimensões da consciência política são; identidade coletiva; crenças, valores e
expectativas societais; identificação de adversários e interesses antagônicos; eficácia política; vontade de agir
coletivamente e metas de ação coletiva. Todas estas dimensões contêm sentimentos afetivos que atribuem
significados e relevâncias para determinados aspectos destas dimensões, influenciando diretamente no
comportamento das pessoas. A relação destas dimensões atua determinando a disposição para atuar em ações
coletivas.
Como método de análise utilizou-se a análise documental, na qual por meio de documentos extrai-se informações
sobre a vida psicossocial do grupo analisado. Os documentos analisados foram 16 páginas e um grupo de facebook do
movimento desocupa e 15 vídeos de entrevistas e manifestações deste movimento.
Por meio da análise sistemáticas foi possível identificar uma ausência de projeto e de identidade coletiva, que ao
mesmo tempo em que inviabiliza uma coesão do grupo, possibilita sua pluralidade. Esta ausência se dá devido à sua
pauta restringir-se ao retorno da normalidade cotidiana e porque o movimento constitui-se principalmente pela
negação à ocupação, à esquerda e a valores atribuídos à ela, como vandalismo e vagabundagem, do que pela
afirmação de aspectos próprios. O movimento constitui-se então, principalmente pelo que diz não ser e não querer.
Nega-se também a eficácia do movimento das ocupações em conseguirem barrar a PEC, e nega-se a própria eficácia
política enquanto sujeito histórico, já que há predominantemente uma noção naturalizada da realidade. Esta negação
547
fomenta a vontade de participar do movimento desocupa, que diferentemente do movimento das ocupações aparece
como eficaz e coaduna com princípios individuais e orientados ao particular. Nada disto seria possível sem a presença
de sentimentos afetivos, responsáveis por possibilitar a implicação do sujeito neste processo. Sentimentos que não se
opõe a razão, pelo contrário, são base e constitutivos dela.
Conclui-se que em toda mobilização há uma multi determinação de fatores subjetivos e objetivos que não podem ser
reduzidos a uma determinação única. A negação a ocupação, não tem como centro a concordância ou não com a PEC
241, vincula-se a questões mais profundas que diz respeito ao funcionamento da própria sociedade e dos processos
psicossociais, em que estes devem ser estudados juntos.

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Entre o protagonismo juvenil e a tutela da juventude: possibilidades da participação e subjetivação política
Autores: Lara Brum de Calais, UFJF; Juliana Perucchi, UFJF
E-mail dos autores: laracalais@hotmail.com,jperucchi@gmail.com

Resumo: Este resumo é parte de uma pesquisa de doutorado em Psicologia e tem como objetivo problematizar as
possíveis formas de participação política de jovens, em meio às convocatórias para o protagonismo juvenil e os
consequentes processos de tutela que podem ser operados nesta relação. Nas últimas décadas a população jovem
está no rol das populações que são alvo de intervenções públicas e privadas. Indicadores apontam a população jovem
como um bônus demográfico e os movimentos de luta ressaltam os direitos de crianças e adolescentes. Os indicadores
estatísticos corroboram esta demanda apontando a faixa entre 15 a 24 anos como a mais problemática no/para o
contexto social. A apropriação política sobre a juventude passa também pela forma como Estado e sociedade
constroem tal posição, podendo assumir formas de intervenção, prevenção e controle. Há, portanto, lógicas que ora
colocam os jovens em uma posição de foco de atenção com atributos positivos de mudança social ora em uma
posição de problema social, com atributos de desvio e marginalidade. Assim, as políticas públicas também assumem
contornos ora participativos e democráticos, ora de tutela e controle da juventude. Considerando este contexto, assim
como a pluralidade de experiências das juventudes, a pesquisa em questão tem como público os jovens que vivem
com HIV/Aids que organizam seu movimento no cenário político de enfrentamento à epidemia. Neste sentido, o
presente trabalho como recorte de uma das problematizações da tese intenta trazer reflexões acerca da participação
social como possibilidade de subjetivação política, mais especificamente com relação a jovens organizados em rede
para pautar seus direitos e participação social. A relação com o GT 25 Ocupar e resistir: modos e sentidos das
mobilizações políticas juvenis contemporâneas se estabelece, assim, considerando a possibilidade de se discutir novos
modos de resistência através da participação da juventude, principalmente mediante o reconhecimento do potencial
político das mesmas. A investigação foi desenvolvida através da metodologia etnográfica, o que possibilitou o
acompanhamento da realidade de jovens que vivem com HIV/Aids. Desta forma, torna-se possível problematizar, em
que medida a participação dos jovens no cenário político da Aids é convocada, assumida ou tutelada. É relevante
atentar para o caminho que coloca a juventude como objeto das políticas, pois este revela os modos de compreender
a juventude, assim como a possibilidade de modulação da mesma a partir dos programas públicos. Muitas vezes, o
que se produz, são formas de controle e tutelamento da participação juvenil, onde o que pode ganhar roupagens de
protagonismo faz funcionar uma estratégia de regulação da participação que pode se modificar de acordo com os
interesses governamentais. A tutela dos jovens reproduz as hierarquias do modelo adultocêntrico e forja processos de
agenciamento da participação apoiados em uma lógica de aprendiz e de iniciação na política. No entanto, apropriar-se
da política escapa da dimensão única da capacitação, ou mesmo do incentivo à participação e aponta para o processo
de subjetivação política, que ultrapassa a lógica do protagonismo como emblema e promove afetações das
experiências no coletivo, nos conflitos cotidianos e no trato com a organização da sociedade. De acordo com Rancière
(1996), o processo de subjetivação política faz emergir uma fissura, instaurada a partir de um dissenso que possibilita a
ação política. Ação essa, que rompe com os regimes policiais de regulamentação e normalização. Assim, compreende-
se que a participação social da juventude pode se traduzir em processo de subjetivação, mas não sem considerar os
embarreiramentos e contingências que inviabilizam esta ação, instaurando processos de gestão do protagonismo e
legitimação da tutela da juventude. Por isso, torna-se necessário fomentar ações que questionem as possibilidades de
participação jovem na arena sócio-política, pautando estratégias para o reconhecimento das opressões históricas e a
emergência de novos modos de subjetivação política. Sendo assim, as redes de articulação de ações, tal como as
Redes de Jovens que vivem com HIV/Aids, têm relevante potencial no sentido de fomentar a participação política, pois
em meio às diferentes vivências e práticas das juventudes existentes, a identidade do grupo enquanto Rede,
impulsiona movimentos de atuação no âmbito político. Assim, espera-se romper com a reprodução de modelos
pautados na lógica adultocêntrica, com a ideia de um ativismo aprendido e um tutelamento autorizado, fortalecendo
as bases da ação política que se produz no cotidiano e que pode reinventar a política.
549
Juventude e participação política: interseções no enfrentamento à violência
Autores: João Henrique de Sousa Santos, FEAD-MG; Bianca Ferreira Rocha, UFMG; Eduardo Antônio Santos Machado,
FEAD-MG; Gabriela Mara Pinto Souza, FEAD-MG; Harrison Lucas Rocha de Freitas, Centro Universitário UNA; Isabel
Fernandes dos Santos, FEAD-MG; Jeanyce Gabriela Araujo, FEAD-MG; Kanuvia Alves Cordeiro, FEAD-MG; Pamella
Passos da Silva dos Santos, FEAD-MG
E-mail dos autores: jhsousasantos@gmail.com, jeanycearaujo@gmail.com, harrisonlrf@gmail.com,
gabigmps237@gmail.com, kanuviaalves@yahoo.com.br, pampsbh@hotmail.com, isabelpsi@outlook.com.br,
biancaroch@yahoo.com.br, ducambs@gmail.com

Resumo: Esse trabalho consolida um primeiro eixo dos estudos e discussões empreendidos a partir das atividades da
pesquisa intitulada Participação política e juventude de periferia: poder e autonomia no enfrentamento à violência.
Em um contexto de vulnerabilidade, violação de direitos e escassez de políticas públicas, fruto de uma dinâmica social,
política e econômica que promove desigualdades, a violência no Brasil se apresenta em um prisma que possui classe
social, cor e faixa etária, sendo uma marca de um contexto histórico com determinantes políticos e econômicos.
Entende-se que a participação política fomenta práticas de resistência, visando a produção de autonomia, o
empoderamento, e colocação dos jovens como protagonistas de suas vidas. Para esse trabalho, o objetivo consistiu
em apresentar as interseções entre juventude e participação política no enfrentamento à violência no contexto de
periferia, fruto de uma revisão integrativa. Para tal, foi utilizado os seguintes descritores: juventude, participação
política e violência. Foi realizada uma busca nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO) e no portal
de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC) acerca de artigos que apresentam discussões sobre o tema
investigado publicados em português de 2007 a 2016. Por meio da combinação dos descritores, foram selecionados 15
artigos. Os resultados indicam escassez de produção científica que trate, especificamente, da relação entre
participação política e juventude. Há uma produção maior quando se verifica a relação entre juventude e violência.
Não obstante, o crescimento da violência na sociedade brasileira está intimamente associado aos jovens de 15 a 24
anos de idade, sendo que os jovens, em especial os jovens negros e de periferias, são as principais vítimas e autores da
criminalidade violenta no Brasil. De acordo com dados do Atlas da Violência de 2017, mais de 318 mil jovens foram
vítimas de homicídio entre 2005 a 2015. No mesmo período mais da metade das vítimas tinham entre 15 e 29 anos.
Outro dado alarmante refere-se ao aumento da taxa de homicídios de negros em 18,2% enquanto a de não negros
diminuiu 12,2%. A juventude de periferia aparece em um cenário de violação de seus direitos humanos fundamentais.
Esse cenário de vulnerabilidade social faz com que os jovens se aproximem cada vez mais da violência seja como
vítima ou como agente. Nos artigos encontrados foi possível identificar, ainda, que o enfrentamento à violência por
parte do público jovem advém de propostas que se conectem com um projeto amplo de mudança social, que busque
os determinantes e não apenas as manifestações dos problemas, ou medidas paliativas de conformação com sua
condição atual, a fim de criar condições mais eficazes para que os jovens possam se tornar sujeitos políticos. Outro
ponto de destaque remete ao fato de que no contexto de periferia tem-se um cenário de escassez de políticas públicas
de modo geral (saúde, educação, assistência), não apenas no que diz respeito à segurança. Diante de um Estado
omisso, e ao mesmo tempo agente de uma governamentalidade que assujeita, a participação política emerge
enquanto uma estratégia de luta e resistência. No campo da biopolítica onde o Estado é ao mesmo tempo o que faz
viver e deixar morrer (vide o contraponto polícia versus política de prevenção à criminalidade e controle de
homicídio), cabe à juventude de periferia o embate, lançando mão de estratégias de exercício de poder possíveis
apenas na luta. Por fim, mas não menos importante, os estudo mostram que a inserção do jovem na discussão política
não encontra legitimidade por parte dos adultos devido, sobretudo, ao estigma de que os jovens ainda não tem
maturidade formada para a participação política. Com isso, há um sentimento na juventude de não ser escutada e,
550
consequentemente, um crescente desinteresse pela política. Ademais, entende-se que a participação da juventude de
periferia seja em movimentos sociais ou em organizações diversas é tomada como um processo de construção
coletiva, partindo, ao mesmo tempo, de experiências individuais e compartilhadas, a fim de construir uma leitura mais
crítica da realidade experimentada pelo atores sociais/políticos, buscando estratégias de enfrentamento e resistência
aos determinantes sociais, no intuito de fomentar a conquista de direitos e uma cultura de paz.

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O facebook e o espelho: atualizações do movimento de ocupação das escolas públicas
Autores: Laís Vargas Ramm, UFRGS; Cleci Maraschin, UFRGS
E-mail dos autores: laisramm@gmail.com, cleci.maraschin@ufrgs.br

Resumo: Fazemos da ocupação espelho da sociedade que queremos, afirmou uma estudante enquanto contava sobre
os usos que a ocupação fez da escola e sobre a relação com a comunidade que o movimento conseguiu estabelecer. A
frase tem produzido ressonâncias, ajudado a forjar implicações e apontado problemáticas. Este trabalho é um recorte
de uma dissertação que investiga os rastros dos movimentos de ocupação das escolas pelos secundaristas, tendo
como viés metodológico a cartografia. Temos como objetivo antropofagizar (ROLNIK, 2014) da literatura sentidos da
função espelho para pensar na potência da afirmação da estudante. Também apontamos para as redes sociais,
especialmente o facebook (SEGUNDO & SEVERO; COSTA & SANTOS), como um importante analisador do movimento,
mesmo após seu encerramento, já que segue participando de suas atualizações e virtualizações (LÉVY, 2003).
Como forma de pensar nas atualizações dos movimentos de ocupação, em sua relação com o facebook, tomamos as
postagens das páginas de três escolas gaúchas importantes para a construção desta cartografia: uma localizada no
município de Canguçu, uma em Pelotas e outra em Porto Alegre. As postagens consideradas foram aquelas feitas a
partir do encerramento das ocupações. Em Canguçu, no dia 17 de junho de 2016 a página anunciou o fim da ocupação
e convidou a comunidade para comemorar seus resultados. Depois dessa data, contabilizam-se 37 postagens, tendo
como temáticas principais: acontecimentos relativos a outras ocupações de escolas (13); crítica a ações dos governos
estadual e federal relativas à pauta da educação (11); convite e fotografias de atos de protesto na comunidade ou
informações sobre paralisações ou greves nacionais (10); recordações (incluindo principalmente fotos) do período de
ocupação da escola (2); crítica à abordagem midiática dos movimentos sociais (1). A última postagem feita na página
da ocupação foi no dia 14 de junho de 2017. Pelotas: No dia 08 de dezembro de 2016, o movimento anunciou a
desocupação da reitoria da escola devido à ordem judicial, comprometendo-se seguir na luta pela educação pública de
qualidade. Desde então, o movimento fez 93 postagens, tendo como temáticas principais: vestibular do instituto, volta
às aulas e eleições para reitoria (34); convite e fotografias de atos de protesto na comunidade ou informações sobre
paralisações ou greves nacionais e articulação com sindicatos e outros movimentos sociais (23); questões relativas ao
feminismo, gênero e sexualidade, incluindo eventos (11); convite e fotos de eventos culturais e outras mobilizações
promovidas pelo movimento ocupa (5); apresentação do movimento e lembranças do período de ocupação (3);
outros assuntos com postagens individuais (17). A última postagem foi feita no dia 05 de julho de 2017. A página da
escola de Porto Alegre teve apenas uma postagem após a finalização da ocupação sobre a passagem de um ano do
acontecimento.
Em relação ao espelho, tomamos três autores que escrevem sobre essa temática: Machado de Assis (1994), Guimarães
Rosa (1988) e Jorge Luís Borges (2007, 2000). O primeiro traz um conto que nos fala do espelho enquanto
reconhecimento de si, o segundo fala de aparecimentos e desaparecimentos frente ao espelho, percepções que se
transformam, enquanto o terceiro fala de deformações perante o espelho, trazendo para a narrativa elementos
mitológicos.Tomando emprestados os sentidos literários, a frase da secundarista pode ser pensada como aquilo que
garante aos estudantes a possibilidade de existência desta outra sociedade que desejam, uma vez que eles a vêem
como espelho nas ações da ocupação. A segunda analogia implicaria que a sociedade que queremos é também vista
pelos secundaristas na ocupação, mas essa visão se transforma com o tempo e na singularidade das experiências
perceptivas, podendo chegar a desaparecer e reaparecer. A terceira ideia de espelho tem a ver com deformação da
imagem, e propõe que o mesmo opere como um reflexo virtual que deturpa as estruturas da sociedade atual, um
espelho que mostra uma outra imagem.
As três formas de entender o espelho ajudam a compreender as postagens do facebook das ocupações, já que a rede
social é especular à medida em que produz imagens nas quais os estudantes se vêem, constroem suas percepções de
si e do movimento, na mesma medida em que escolhem o conteúdo imagético que será acessado pela comunidade
externa à ocupação. A função especular da rede social ao mesmo tempo confere uma dimensão de maior amplitude
552
ao movimento, de forma que diversos compartilhamentos se relacionam a outras ocupações, ou mesmo a outras
movimentos sociais, e multiplica os atores, como na função de duplicação do espelho.
Por fim, tanto a ideia de espelho da frase, como as páginas da ocupação no facebook, dizem respeito à produção de
imagens do movimento e participam do traçar de seus rastros, bem como de suas atualizações. Ambos são espelhos,
no sentido de que permitem, aos estudantes e à sociedade de forma mais ampla o enxergar-se em ações éticas que se
dão em um fazer prático (VARELA, 1992) e inauguram outras experiências sociais.

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Ocupação estudantil no interior de Goiás: Resistência em busca de Democracia Participativa
Autores: Deborah Cristina Barbosa Ferreira, UFG-RC; Carlos André Nunes Lopes, UFG
E-mail dos autores: deborah_3ranchos@hotmail.com,nunislopes@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho levanta discussão a cerca das resistências estudantis que emergiram no ano de 2016 no
Brasil, abrangendo, mais especificamente, resistências no interior de Goiás. Estas resistências ocorreram devido à
extensa retirada de direitos sociais por parte do Estado que vem se reduzindo ao mesmo tempo em que intensifica
suas relações com setores da economia e capital financeiro. Este cenário vem sendo construído desde o contexto da
conjuntura política de Golpe de Estado ou ruptura institucional pela qual a cidadania - que em uma democracia liberal
é representada principalmente pelo voto e eleições - é colocada em cheque ocorrendo, assim, a retirada do mínimo
que poderíamos considerar como democracia.
Em face da destruição da possibilidade de emancipação humana pelo capital, da negação de direitos básicos como
educação humanizada, saúde e também frente à negação de diversos outros direitos que surgiram, deste modo, as
reivindicações e ocupações dos/as estudantes da Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão e da escola
estadual Instituto de Educação Matilde Margon Vaz; ambas situadas no interior de Goiás, na cidade de Catalão-GO
através das quais representaram o principal movimento de resistência do sudeste goiano. Sendo a ocupação na escola
I.E.M.M.V. realizada no dia 31 de outubro de 2016, com duração de 10 horas e a ocupação na UFG-RC ocorrendo nos
dias 16 a 26 de novembro, portanto, nove dias de ocupação.
No ano de 2016 tivemos no Brasil mais de 200 universidades ocupadas e mais de 1.000 escolas secundaristas também
ocupadas. As principais reivindicações estudantis voltaram-sr contra a Medida Provisória 746 (MP 746) também
conhecida como Reforma do Ensino Médio- sendo também contrários a Proposta de Emenda à constituição 241/55
(PEC 241/55), também chamada de PEC do teto dos gastos que impede que o Estado gaste além dos gastos realizados
no ano de 2016. Ambas atualmente aprovadas pelo setor legislativo e sancionada pelo presidente ilegítimo Michel
Temer (PMDB) sem nenhum tipo de consulta ampla e aberta com a população ou com os estudantes que são os mais
afetados pelas consequências destas políticas educacionais impositivas. Na MP 746 aprovada considera que os
secundarista terão a obrigatoriedade de apenas duas disciplinas (matemática e português), os mais pobres serão
direcionados para o trabalho técnico e formação de mão-de-obra, e isto considerando apenas os secundaristas. Já
para os universitários observamos estagnação nas políticas de assistência estudantil entre outras problemáticas.
O presente trabalho teve por objetivo refletir sobre experiências e vivências de estudantes secundaristas e
universitários que vivenciaram ocupações escolares na cidade de Catalão-GO. Análises foram realizadas a partir de
relatos estudantis, abrangendo a resistência estudantil, seus modos de organização, suas estratégias, seus afetos e
objetivos das resistência. Contemplando, do mesmo modo, as estratégias e objetivos do Estado e suas forças frente às
ocupações.
Discutir sobre movimentos sociais, como o movimento estudantil de Catalão-GO, possibilita refletir a estrutura macro
social e configurações econômicas e políticas desta esfera que atua de forma decisiva no cotidiano. Desta forma,
acreditamos que a discussão que traçamos neste trabalho vai de encontro com o eixo temático Estado, Democracia e
Movimentos Sociais face a Mundialização e neoliberalismo, contribuindo para o debate sobre os próprios movimentos
sociais, sobre o tipo de democracia que temos e qual modelo democrático seria o mais igualitário e necessário para
emancipação humana.
Para travar esta discussão a cerca do Movimento Estudantil, Democracia e Neoliberalismo, lançamos mão de
discussões oriundas da Psicologia Política e de autores da própria Psicologia Social. Entre os conceitos utilizados fez-se
importante as concepções de Processo Grupal, Afetos, Relações de Poder e Democracia Participativa.
Os relatos dos estudantes foram colhidos via entrevista semi-estruturada de modo que o acesso aos estudantes se deu
em meio às mobilizações e ocupações.
O Estado que representou as forças repressivas no jogo de poder em questão, resguardando as vontades do capital
financeiro e democracia liberal tornou-se destrutivo no que tange os direitos sociais, a cidadania, retirando a
554
dignidade humana e ambiental realizando impedimentos de resistências ou de êxitos oriundos desta resistência. Há,
por um lado, a resistência que em si é emancipatória no sentido de partilhar lutas, de gerar intersubjetividade, porém,
há os fracassos subsidiados pelo Estado guiado pela economia.
A identidade grupal, o compartilhar de experiências foi a força motriz do movimento estudantil estudado, porém, falta
algo à nível estrutural e eles (movimento) denunciavam: mudança de paradigma de democracia e uma busca pela
qualidade de participação cidadã. Frente à este estudo nos questionamos sobre a necessidade de uma democracia
participativa, pois, o que observamos é uma forma impositiva do Estado que busca a efetivação de uma educação com
instrumentos ideológicos de mercado, na busca pela expansão do capital que vislumbra mão de obra barata; Estado
esse que também usa violência, causa desumanização a partir de inúmeras negações e que precisa ser questionado e
transformado.

555
Ocupar e reexistir: da insurgência das ocupações secundaristas à micropolítica da prática de psicólogos
Autores: Thays Carvalho Gonem, UCS; Raquel Rodrigues Bierhals, UFRGS
E-mail dos autores: thaysgonem@gmail.com,rrbierhals@gmail.com

Resumo: Thays Carvalho Gonem*


Raquel Rodrigues Bierhals**
No final do ano de 2015, o país viu emergir um movimento de insurgência de jovens estudantes da rede pública do
Ensino Médio, inicialmente localizado no Estado de São Paulo. As ocupações aos prédios escolares, que se deram
como protesto contra as reformas propostas pelo governador Geraldo Alckmin, já no início de 2016 se alastraram
pelos demais cantos do país, como resposta a diversas reivindicações no campo da Educação. Em um cenário de
desmonte do Estado democrático, de avolumamento das políticas neoliberais e de uma acentuada ofensiva à
educação pública, viu-se eclodir a resistência dos secundaristas como um potente campo de luta. Neste relato de
experiência, a partir da perspectiva teórica da esquizoanálise, buscamos traçar o percurso de uma intervenção
realizada por psicólogas em uma das escolas ocupadas da cidade de Caxias do Sul/RS. Na realidade da ocupação,
modos de produção de subjetividade se colocam em questão, e não apenas aqueles relacionados aos estudantes, mas
à própria psicologia enquanto prática.
Caxias do Sul tem uma marca identitária fortemente calcada no trabalho industrializado, contexto no qual o histórico
de lutas é dado sobretudo a partir dos sindicatos, movimentos de caráter predominantemente institucionalizado. Na
esteira dos movimentos das ocupações estudantis, o município viu emergir no ano de 2016, em quatro de suas
grandes escolas estaduais, outro modo de participação política, engendrado a partir de formas de comunicação e de
relações singulares. Apropriados do lema Ocupar e resistir, os alunos ocuparam os prédios escolares e colocaram em
questão o modo de viver a educação, tão pautado em relações verticais e muitas vezes em saberes que não dialogam
com suas realidades.
No contexto da escola cuja intervenção ocorreu, inflavam-se desde reivindicações pontuais ao território, até aquelas
relacionadas ao contexto nacional e estadual, de insustentabilidade das políticas educacionais. Nesse sentido, a
ocupação pautava-se na resistência a projetos de lei como o Escola sem Partido, à precarização das condições de
trabalho dos professores, à organização dos modos de ser estudante e vivenciar a escola, bem como às questões
emergentes no espaço específico daquele estabelecimento, como as más condições estruturais do prédio. As aulas
foram suspensas e, em um processo claramente autogestivo, os estudantes estabeleceram divisão de tarefas a fim de
pôr em prática o cronograma criado no coletivo, no qual estavam organizadas aulas, oficinas e atividades de
manutenção do ambiente.
Neste cenário, se colocava a pressão pela desocupação da escola, sustentada pela comunidade escolar (determinados
grupos de pais, alunos, professores), por uma parcela da comunidade local e pela mídia majoritariamente
conservadora, forças que buscavam inviabilizar o caráter espontâneo do movimento. Em contrapartida, um número
significativo de voluntários se colocava empático à luta que se desenhava, dentre os quais alguns que se dispunham a
compor atividades demandadas pelos estudantes, seja propondo aulas, oficinas, rodas de discussão ou auxiliando a
partir de doação de alimentos e outros itens de necessidades básicas. Assim, também afetadas pela força que a
ocupação demonstrava como movimento legítimo, nós, como os demais estrangeiros em circulação, passamos a
constituir rodas de conversa, que nas palavras dos estudantes vieram sob a demanda que nomeavam como terapia
coletiva.
Nesta roda de conversa eram postas em trânsito desde questões como a convivência entre os estudantes - que
passaram a ocupar relações de colaboração e afecção -, entre os demais atores do território, a ampla política, até os
movimentos mais singulares do existir, transversalizados pela escola e também para além dela. Nesse movimento,
atualizavam-se os traçados desses estudantes na escola, que se refaziam a partir da ocupação, ressignificando o
entendimento acerca do que é Educação e das possibilidades de se fazerem enquanto sujeitos de suas realidades.

556
Os movimentos gerados pelos secundaristas remetem ao que Gallo (GALLO, 2003), inspirado no conceito de literatura
menor (DELEUZE; GUATTARI, 2014), nomeia como prática de educação menor, no sentido do que foge à macropolítica,
aos planos e diretrizes, e se situa no campo dos afetos, militância e singularização, ou seja, aquilo que é da ordem da
micropolítica. Neste ensejo, se coloca em questão a própria intervenção/invenção das práticas do psicólogo, não só no
contexto escolar mas também nos movimentos de luta contemporâneos. A ideia de educação menor pode tensionar a
problematização do fazer da psicologia em práticas menores. Assim, a insurgência de uma psicologia menor pode se
ligar às experiências das minorias, enquanto prática e ato de resistência aos fluxos de poderes e saberes instituídos.
Trata-se de operar políticas do desejo no cotidiano, construindo mundos entre as minúcias da vida.

REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte: Autêntica. 2014.
GALLO, Sílvio. Deleuze & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica. 2008.
*Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul, Bolsista CAPES.
**Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.

557
Psicologia Social Comunitária: a criação de um Grêmio Estudantil na construção de sentidos de pertencimento no
contexto escolar
Autores: Ana Carolina Mauricio, Faculdade CESUSC; Gabriel Bueno Almeida, Faculdade CESUSC
E-mail dos autores: anacarolm95@gmail.com,gbapsi@gmail.com

Resumo: Este trabalho apresenta o relato de um projeto de intervenção realizado pelos alunos participantes do Grupo
de Pesquisa e Extensão em Psicologia Social-Comunitária da Faculdade CESUSC em parceria com a Escola Estadual
Paulo Fontes, situada no município de Florianópolis - SC. O projeto teve como objetivo geral problematizar e
desenvolver estratégias de intervenção que visassem potencializar as relações de pertencimento e autonomia
possíveis num espaço escolar vivenciado por alunos do 1º ao 3º ano do ensino médio no período noturno, com a
preocupação de possibilitar novas relações de sentido com a referida escola. A compreensão de pertencimento
adotada nesse projeto alinha-se à perspectiva de Castro, Costa e Viana (2013) que concebem o pertencimento como
uma instância essencial para legitimar identidades no espaço escolar, em que torna-se relevante nesse espaço, por
permitir o desenvolvimento de um vínculo escolar além de uma consequente relação de reconhecimento no contexto
em que se é pertencente. Ao tomar esse conceito como elemento norteador da intervenção, procurou-se suscitar um
senso crítico no que tange à necessária participação dos alunos para a melhoria da dinâmica escolar. Pautado nos
princípios éticos, estéticos e políticos da psicologia social-comunitária, e orientados pelas contribuições teóricas e
metodológicas de pensadores como Martin-Baró e Bader Sawaia, o grupo procurou desenvolver um espaço de escuta
que fosse propício para que as demandas presentes no cotidiano dos jovens surgissem e fossem legitimadas por eles
mesmos, buscando situá-los como sujeitos ativos e participantes da constituição do espaço escolar. Os jovens foram
convidados, em um primeiro momento, a refletir sobre as potencialidades da referida escola, e posteriormente a
pensar em estratégias para que se colocasse em prática o que fora proposto pelos alunos, colocando-os como sujeitos
da ação. O grupo de estudantes da psicologia propôs encontros semanais com debates, dinâmicas de grupo e
mediação de conflitos. Como tema central dos encontros, foram sugeridos inicialmente dois conteúdos norteadores: o
processo de término do período escolar e a passagem para o mundo do trabalho e para o ensino superior, as formas
de viabilizar as escolhas profissionais dos jovens localizando as possibilidades de estudo e de qualificação profissional
existentes na cidade, trazendo a importância da escola na vida dos jovens; e a criação de um grêmio estudantil para
que alunos pudessem exercer, já no espaço escolar, a atuação política sobre as questões que concernem a eles,
compreendendo o político como espaço de debate, negociação e reivindicação da garantia de direitos, bem como um
modo de mostrar aos jovens as suas possibilidades e potencialidades de ação enquanto pertencentes à comunidade
escolar. Por iniciativa dos próprios alunos, os encontros acabaram por se concentrar na criação do grêmio, visto a
necessidade de lidar com situações já presentes naquele contexto. As questões referentes ao mundo do trabalho
foram abarcadas dentro das propostas e atividades que serão realizadas pelo Grêmio Estudantil. O presente trabalho
se caracteriza como um relato de experiência ao analisar o processo de implementação de um Grêmio Estudantil e as
estratégias de mediação desse processo por parte dos alunos de psicologia. Ao todo foram quatro meses de
encontros semanais com a finalidade de verificar quais seriam as principais atividades do coletivo estudantil: redigir
um estatuto, convocar uma Assembléia Geral, organizar uma chapa e realizar as eleições. As análises presentes nesse
trabalho seguem desde a aproximação do grupo de psicologia social-comunitária à escola, as negociações com a
direção, os primeiros encontros com os estudantes, até a participação do Grêmio Estudantil em uma festa junina a fim
de arrecadar verbas para o coletivo. Concluímos que para o exercício pleno da cidadania, o espaço escolar deve
também se ater à formação política dos seus estudantes, a fim de conscientizá-los do papel que o corpo discente tem
na constituição da comunidade escolar da qual faz parte. O Grêmio trouxe a possibilidade de voz ativa e de
protagonismo aos estudantes, que puderam perceber a importância da participação para o desenvolvimento de
558
melhorias na dinâmica escolar no que tange às suas necessidades enquanto alunos. Ocupar um lugar de fala e a busca
pela participação na gestão da escola faz desses alunos sujeitos políticos e ativos, bem como preparados para as
exigências da sociedade. Acreditamos que a autonomia e reflexão política vivenciadas como experiência do cotidiano
escolar, podem se estender para outras esferas sociais, atuando em um processo de constituição dos alunos enquanto
sujeitos.

559
Que formas de resistências produzem os jovens estudantes universitários frente ao contexto brasileiro educacional
atual?
Autores: Conceição Firmina Seixas Silva, UERJ
E-mail dos autores: conceicaofseixas@gmail.com

Resumo: Este trabalho discute a ação coletiva de estudantes universitários e suas formas de organização na
universidade e na sociedade contemporânea, e examina como esses atores entram na cena pública atualmente e os
valores que anunciam. A reflexão em torno do tema da participação estudantil é feita levando em consideração o
contexto brasileiro atual de sucateamento no campo da educação de todos os níveis de ensino e, principalmente, o
superior. Esse sucateamento expressa-se, sobretudo, por meio da transformação dos direitos sociais em serviços, e
pelo encolhimento da coisa pública e alargamento do espaço privado. Em se tratando de serviços, de questão privada,
o modelo dado para o gerenciamento do bem público é o do mercado, cujo lema está circunscrito às palavras eficácia,
rendimento, lucro. Assim, me deparando com esse cenário, fui motivada pela inquietação de verificar se a luta
estudantil, as causas em torno da educação, e a universidade como um lugar de refúgio para a ação política do
estudante ainda fazem sentido para parcela da juventude, atualmente. A categoria de estudante ora se retira das
análises sociais como uma identidade de participação política forte (Mische, 1997), ora ressurge com o engajamento
de jovens de diversos países, incluindo o Brasil, que denunciam o contexto atual de degradação e sucateamento da
educação. As lutas dos estudantes vêm ganhando visibilidade ao denunciar a precarização dos sistemas de ensino,
com as tentativas recentes de transmissão da educação pública para a iniciativa privada, e projetos de lei que
ameaçam a laicidade e ferem o princípio democrático da educação. Neste trabalho, a discussão é encaminhada a
partir de uma revisão da literatura acerca do tema do engajamento estudantil, da participação política dos jovens na
contemporaneidade e do cenário educacional em nosso país. Além disso, contou-se com a análise dos resultados de
uma investigação empírica, que compreendeu entrevistas semiestruturadas com cerca de 150 estudantes das
principais universidades do estado do Rio de Janeiro engajados em diversas frentes de participação política. Dentro
dessa pesquisa, alguns questionamentos ganham destaque: O que é ser estudante hoje? Como a identidade de
estudante e a sociabilidade estudantil constituem elementos relevantes para engajamento político dos jovens
atualmente? Qual sentido os estudantes conferem a essa identidade? Quais caminhos se abrem, a partir dessa
identidade, e quais entraves se interpõem para a sua participação? Quais fios e desafios são traçados nessa construção
identitária? Que sentido os jovens dão ao legado educacional que recebem dos adultos? Que formas de resistências
constroem frente à situação de precariedade no campo da educação? A partir da abordagem teórica e empírica,
deparamos com uma diversidade de experiências, demandas, formas de ação e organização coletiva entre os
estudantes, o que nos leva a afirmar que as várias lutas estudantis não representam um tipo de militância homogêneo.
Mas, para além da diversidade, percebemos que o questionamento acerca da representatividade, do aparelhamento
partidário das entidades de representação discente e da hierarquização da organização coletiva é um aspecto crucial
no engajamento político de muitos estudantes hoje. Na tentativa de inventar outros caminhos, espaços e formas de
ação política, e afeitos à crítica da anti-institucionalidade, diversas manifestações estudantis se colocam distantes das
práticas de engajamento político tal como exercidas pelo movimento estudantil convencional há muito tempo. Além
disso, a demanda por melhores condições no campo da educação, contida nas reivindicações de muitos estudantes,
acena para uma questão importante a possibilidade de politizar a relação geracional (Castro, 2011). Os jovens
reivindicam a dívida simbólica que os mais velhos têm na transmissão do legado cultural, posicionando-se como
interlocutores políticos nas decisões daquilo que lhes dizem respeito. Nesse sentido, suas reivindicações que
assumem diversas formas de expressão não se restringem apenas ao direito à educação em si e a melhores condições
para suas universidades, mas se encaminham para a possibilidade de participar, junto com os adultos, daquilo que lhe
é transmitido e daquilo que lhes dizem respeito sua vida. Assim, em seus engajamentos, esses estudantes disputam
caminhos e espaços em relação aos instituídos politicamente, vislumbram outros códigos para a ação política, mas
também outras configurações subjetivas de sentir, pensar, viver, negociar de se subjetivar politicamente. Por
560
subjetivação política tomo o conjunto de ações, discursos e mobilizações que, ao ser desencadeado no processo
público, dá lugar a formas singulares de existir e agir, individual e coletivamente (Castro; Silva, 2013).

Referências bibliográficas
CASTRO, Lucia. Os jovens podem falar? Sobre as possibilidades políticas de ser jovem hoje. In: Dayrell, Juarez; Moreira,
Maria Ignez; Stengel, Márcia (Orgs.) Juventudes Contemporâneas: um mosaico de possibilidades, p. 299-345. Belo
Horizonte: Editora PUC Minas, 2011.
CASTRO, Lucia; SILVA, Conceição. L action politique des jeunes étudiants au Brésil aujourd hui: le présage de la fin
d une époque? Brésil(s): sciences humaines et sociales, n. 7, p. 39-58.
MISCHE, Ann. De estudantes a cidadãos: redes de jovens e participação política. Revista Brasileira de Educação, n. 5 e
6, p. 134-150, 1997.

561
Viu como deu errado? O desejo revolucionário e o futuro das mobilizações políticas na contemporaneidade
Autores: Mauro da Silva de Carvalho, UVA-RJ
E-mail dos autores: maurosilvacarvalho@gmail.com

Resumo: Viu como deu errado? É com essa afirmativa que G. Deleuze, em seu Abecedário, vai sintetizar a
diferenciação entre o futuro da história e o devir das pessoas, entre historiografia das revoluções e o devir
revolucionário. Fator fundamental para compreensão desta afirmativa, o conceito/noção de desejo, presente em
muitas de suas obras, nos fornece o fundamento último de sua análise ao defini-lo como revolucionário, indo na
contramão das concepções de falta e castração tão afeitos as tradições de pensamento associadas a psicanálise.
Ao analisarmos o que fora denominado Marchas de Junho, manifestações que ocuparam as ruas em 2013, uma das
questões que nos chama a atenção é, por um lado, a pulverização das pautas de reivindicações, somado, em grande
parte, ao descolamento dos discursos social e historicamente constituídos e organizados através dos partidos políticos,
sindicatos e organizações e, por outro, pela mobilização dos corpos à ação, promovendo novas maneiras de ocupar os
espaços em detrimento a formas de subjetivar o mundo que propagam o aturdimento e o individualismo.
Ponto central para compreender esse processo e, por conseguinte, a desmobilização, polarização e fragmentação das
lutas e discussões em torno de questões setorializadas (educação, gênero, contexto político, etc) cabe-nos perguntar:
como podemos nos (re) apropriarmos do conceito de desejo a partir de sua capacidade de articulação intensiva de
corpos e devires revolucionários? Como este conceito, em suas múltiplas definições, contextos e articulações
teóricas/históricas pode contribuir para potencializar nossas análises/intervenções e embates políticos da
contemporaneidade?
Deleuze em diálogo com Foucault certa vez o indagara porque não utilizava o conceito de desejo em suas análises.
Foucault, a seu turno e de forma provocativa, responde: por ser um conceito tão explorado, contaminado e por isso
mesmo passível de equívocos. Em consonância com o posicionamento foucaultiano, o conceito de desejo, devido a sua
amplitude e complexidade, tende a ser apresentado nos cursos de psicologia de forma ampla, ao mesmo tempo
superficial, interiorizado, descontextualizado de seu contexto histórico e filosófico, levando a abordagens centradas
em visões teóricas distintas, por vezes associadas a uma pretensa univocidade clínica e, em última instância, ao
processo de intimização da vida e do viver sem levar em conta vieses de pensamento que enfatizam seu caráter
político, inventivo e criativo.
Seguindo pela via da recusa da interpretação do desejo enquanto falta(psicanálise/Hegel) ou culpa (pela via cristã),
uma breve genealogia sobre este conceito nos leva, inicialmente, à definição do homem, proposta por Espinoza (sec.
XVII), como um ser desejante que busca, de forma constante e ininterrupta, manter e/ou aumentar sua capacidade de
pensar e agir a partir dos encontros de corpos na natureza, definindo o desejo como um apetite, um excesso, um
extravasamento voltado para o mundo na busca de perseverar no ser.
Seguindo por esta trilha, o desejo em Nietzsche (sec. XIX) assumirá um caráter mais radical, de Vontade de Potência,
que de forma sintética e resumida pode ser definido a partir de seu caráter criativo, inventor de novas, imprevistas e
improváveis formas de ser, onde a Vontade, enquanto força intensiva da própria vida e do viver, assume contornos
bélicos, extravasando concepções morais e transcendentes ao configurar-se enquanto processo, embate e luta por
afirmação no mundo.
Inspirado nesta inversão da visão tradicional do desejo, que o afirma enquanto excesso e não como falta, Deleuze, por
sua vez, delineará a noção de desejo a partir de seu caráter produtivo e revolucionário, contendo em si forças
dissonantes, disrruptivas e caóticas capazes de romper os limites do que se supõem eterno e imutável; um perpétuo
devir marcado pela recusa aos universais e determinações extrínsecas e ao mesmo tempo suscetíveis a capturas e
modulações pelas forças do seu tempo, sendo marca da atualidade as linhas de força voltadas a gestão da vida do
viver, de cunho capitalístico, presentes nas sociedades por ele denominada de Controle.
A historicidade das ideias que nos levam a formulação deleuziana do desejo como revolucionário, somada a sua crítica
sobre o futuro das revoluções, nos permite analisar a atuação política na atualidade e o discurso do esvaziamento e
562
polarização das manifestações e ocupações políticas- quando colocadas em perspectiva as multidões que ocuparam as
ruas nas Marchas de Junho- a partir de seu caráter processual e contingente, marcadas por fluxos e contra-fluxos
desejantes onde as capturas, astúcias e artimanhas capitalísticas se contrapõem ao movimento de ruptura e
resistências através da recusa, invenção e apropriação de tradicionais formas de luta e representação, dando-lhe
outros usos insuspeitados (caso das ocupações e resistências juvenis, tema do GT 25), através de ações políticas
potentes, criativas e singulares num cotidiano marcado pelo ressurgimento de uma agenda noeliberalizante, (em
consonância como eixo teórico 6 proposto no encontro).

563
GT 26 | O potencial político das microconvers(ações) cotidianas

Coordenadores: Laura Vilela e Souza, USP | Marcos Antonio dos Santos Reigota, UNISO | Murilo dos Santos Moscheta,
UEM

Nossa proposta é derivada da colaboração e da parceria entre os três proponentes que têm se solidificado nos últimos
anos na participação no GT Cotidiano e Práticas Sociais da Anpepp. Essa parceira (que para dois de nós remonta à
graduação, mestrado e doutorado em Psicologia na Universidade de São Paulo) tem sido marcada pela nossa
produção teórica, atividade docente e ativismo político relacionados com os temas e desafios do tempo presente e
que cuja urgência nos instiga a ampliar e criar redes de interlocuções no contexto da ABRAPSO. A proposta deste GT
parte da problematização das recentes mudanças políticas no cenário nacional e internacional que ameaçam às frágeis
conquistas democráticas e de defesa dos direitos humanos. A eleição, nos Estados Unidos, de um presidente-
empresário conhecido por suas declarações racistas, misóginas e homofóbicas, a saída da Inglaterra da União Europeia
e o acirramento dos discursos xenófobos e anti-imigração são apenas três exemplos do contexto internacional. As
recentes eleições presidenciais na França também refletem como temas caros à Democracia, aos Direitos Humanos e à
construção de sociedades de direito correm riscos pela acolhida e apoio da população às propostas totalitárias,
excludentes e anacrônicas dos candidatos que chegaram ao segundo turno. Esses acontecimentos internacionais nos
pe ite ào se a à ueàaàdefesaàdosàdi eitosà si osàeàaàoposiç oà uiloà ueàHa ahàá e dtà ha ouàdeà a alidadeà
doà al à seà esta ele e à o oà te s esà o sta tesà es oà e à paísesà o à t adiç oà deà u i e salizaç oà daà edu ação
escolar e de participação e influência dos grupos e movimentos sociais no controle e combate aos desvios totalitários
e autoritários do Estado.
Nesse sentido, a observação de Angela Davis de que a liberdade é uma luta constante e cotidiana nos parece de
grande pertinência e um desafio aos diversos campos do conhecimento e particularmente à psicologia social. No
Brasil, os últimos anos foram marcados por ataques diretos às conquistas democráticas, operacionalizados por
manobras jurídicas e por intensa mobilização social via disseminação estratégica de discursos conservadores uma vez
que acionavam o medo (da crise, do gay, do aborto), o desejo de uma justiça moralizante, e o classismo como garantia
de privilégios. Nos meses que seguiram ao golpe, as políticas públicas voltadas para a diminuição da desigualdade e
garantia de direitos foram as mais atacadas.
A despeito da baixíssima popularidade do presidente ilegítimo, as reformas (trabalhista, previdenciária, por exemplo)
seguem aceleradas e cortam o caminho democrático com a anuência do judiciário e com reformulações da
constituição. Para as eleições de 2018, espera-se um clima disseminado de descrença no sistema democrático, com
acirramento de discursos de ódio e fortalecimento daquilo que Murilo Cleto chamou de horror à política: a crença de
que a moralização da política se daria apenas pela ação daqueles que ainda não se sujaram de seu jogo. No cenário de
esfacelamento das instituições democráticas, o horror à política favorece a emergência de lideranças sem trajetória no
campo, que prometem uma nova visão de gestão, inspiradas em suas experiências como empresários ou personagens
de entretenimento, como ilustra a ascensão do atual presidente norte-americano e do prefeito de São Paulo.
Assim, os movimentos de lutas por direitos parecem ter que reinventar suas estratégias, uma vez que a cooptação
pós-golpe do sistema judiciário e das mídias hegemônicas, a criminalização crescente dos movimentos sociais e o
enfraquecimento de instâncias de controle e defesa, neutralizam, dificultam ou impossibilitam muitas ações de
resistência. Contudo se tomamos o campo político como um campo de disputa permanente no qual as tensões nunca
se desfazem no dinâmico jogo de poder e resistência com agenciando de uma pluralidade de pontos móveis de
confronto, podemos perguntar: quais as ações de resistência têm emergido? Na busca de ações de resistência a esse
cenário, o interesse desse GT está em abrir espaço para narrativas nas quais as práticas cotidianas, os pequenos e
fortuitos encontros, as sensíveis e imediatas experiências corriqueiras sejam tomados como campos possíveis de
invenção de resistências, retomando a noção de micropolítica, que tem a sua origem em Félix Guattari. Para ele a
micropolítica é o movimento que procura i te i àati a e teà o t aàtodasàasà ui asàdeàpode àdo i a te,à ue àseà
trate do poder do Estado burguês, do poder das burocracias de toda e qualquer espécie, do poder escolar, do poder
familial, do poder falocrático no casal, e até mesmo do poder repressi oàdoàsupe egoàso eàoài di iduo à ‘e oluç oà
Molecular: pulsações políticas do desejo, 1981, p.174).
Passadas duas décadas do final da ditadura civil-militar no Brasil e com a chegada ao poder de grupos de centro-
esquerda essa noção foi perdendo o seu impacto inicial e sendo substituída pela ênfase em políticas públicas
elaboradas no interior dos Aparelhos Ideológicos do Estado em parceria com grupos que se profissionalizaram para
atender e desenvolver essas políticas. O foco deste GT está em discutir como a noção de micropolítica possibilita
564
trazer ao espaço acadêmico análises sobre as lutas cotidianas do tempo presente, com interesse em trabalhos que
apresentem as ações políticas presentes nas microconvers(ações) cotidianas - nas práticas sociais, culturais e
pedag gi asà doà diaà aà dia.à á olhe e osà t a alhosà ueà apo te à aà des o e ta à doà políti oà o deà oà políti oà oà seà
anunciava como óbvio em um primeiro momento de modo a permitir que façamos uma discussão sobre como essas
ações podem responder às forças conservadoras autoritárias, totalitárias e neofascistas. É a aposta em uma sociedade
de direitos como a define Paul Ricoeur e no que estamos chamando, a partir das ideias de Paulo Freire, de pedagogia
dos (des)encontros" que enfatiza o aprendizado político, social e coletivo provocado pelos (des)encontros entre os
diferentes, que se estranham, se complementam, se amam e se odeiam na vida cotidiana.
Paulo Freire escreveu após o assassinato do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos por jovens de classe média num
po toàdeà i usàdeàB asíliaà oàfatoàe àsiàdeà aisàestaàt a sg ess oàdaà ti aà osàad e teàdeà o oàu geà ueàassu a osà
o dever de lutar pelos princípios éticos mais fundamentais como do respeito à vida dos seres humanos, à vida dos
outros animais, à vida dos p ssa os,à à idaàdosà iosàeàdasàflo estas à Pedagogiaàdaài dig aç o:àCa tasàpedag gi asàeà
outros escritos, 2000, p. 66-67). Na Pedagogia dos (des)encontros adquire protagonismo as narrativas dos "sujeitos da
história " (Paulo Freire), dos "solitários anônimos" (Débora Diniz) e do "cidadão comum" (Belchior), assim como as
narrativas dos desvalidos, dos insubmissos, dos descontentes, dos amantes, dos prisioneiros, dos fora-da-lei, dos
selvagens, dos depravados, dos canibais, dos apátridas, dos curumins, etc.

565
Construindo a clínica ampliada em conversas com famílias em saúde mental
Autores: Pedro Pablo Sampaio Martins, USP; Carla Guanaes Lorenzi, USP
E-mail dos autores: pedropablomartins@gmail.com,carlaguanaes@gmail.com

Resumo: A partir da Reforma Psiquiátrica, observamos uma valorização da participação da família no tratamento,
buscando por alternativas de atenção a esses familiares nos serviços. Acrescentando ao debate os desafios da
aproximação da clínica ao Sistema Único de Saúde, o conceito de clínica ampliada surge, associando a noção de
subjetividade à de cidadania e enfatizando a importância de lidar com a singularidade de cada situação concreta como
parte de contextos e relações sociais. Em consonância com essas preocupações, existe, em um Hospital-Dia de
Psiquiatria, um Programa de Assistência Familiar. Dentre diversas atividades oferecidas nesse programa, as Reuniões
Familiares são o contexto específico de estudo da pesquisa de Doutorado relatada nesta apresentação oral. Essas
reuniões são conduzidas a partir de contribuições da terapia familiar de uma orientação construcionista social, que
tem como foco os processos de construção e transformação de sentido. A pesquisa teve como objetivo analisar a
aproximação de uma prática com famílias (as reuniões familiares) à noção de clínica ampliada no cuidado em saúde
mental. Especificamente, visou: a) compreender o processo de produção de sentidos nessa prática, analisando a
construção de recursos conversacionais na interação, bem como seus efeitos para as transformações de sentidos de
problema e de si ao longo do processo; e b) descrever como esses recursos contribuem para a ampliação da prática
clínica com famílias. Para isso, trinta e três reuniões familiares (os atendimentos de três famílias) foram acompanhadas
na instituição. Essas sessões foram gravadas em áudio e transcritas integralmente, constituindo-se, assim, o corpus de
pesquisa. Uma compreensão construcionista social sobre a prática de pesquisa orienta metodologicamente este
trabalho. Todas as sessões foram submetidas a uma análise temático-sequencial do processo de produção de sentidos.
A partir disso, descrevemos a negociação e transformação de sentidos em torno de um problema considerado, pelo
paciente e pela família, como central em suas vidas. Para cada caso, o principal recurso conversacional construído no
processo terapêutico foi analisado, descrito e discutido. São eles: a) convidar o social para dentro do individual; b)
tecer o diálogo familiar; e c) conhecer a si em outras vozes. A análise de cada caso considerou: como algo foi
construído como um problema a ser trabalhado; como o uso do recurso se deu; e que efeitos esse uso produziu no
decorrer do caso. Oferecemos como tese uma leitura construcionista social para a clínica ampliada, chamando atenção
para como a ampliação da clínica se produz a partir dos efeitos de determinados modos de se relacionar no contexto
das práticas. É no momento interativo que profissionais e pacientes, ao conversarem sobre suas questões de saúde,
conjuntamente criam entendimentos sobre quem são, o quê são seus problemas e o que podem fazer com relação a
eles. Discutimos como o uso dos recursos se constrói nas interações e contribui para a prática da clínica ampliada.
Descrevemos essas práticas como politicamente implicadas, a partir de um entendimento da conversa terapêutica
como socialmente situada. Em última instância, a pesquisa descreve recursos práticos para profissionais interessados
em trabalhar em um enquadre crítico e transformador no cuidado em saúde mental.

566
Empeiro e Ousadia - costuras dialógicas para uma nova política de drogas
Autores: Dario Henrique Teófilo Schezzi, Câmara Ribeirão Preto; Danilo Sérgio De Souza, USP
E-mail dos autores: dtschezzi@gmail.com,danilosergioborges@gmail.com

Resumo: O presente trabalho foi provocado a partir do tema do Grupo de trabalho «o potencial políticos das micro-
convers(ações) cotidianas». Nossa intenção inicial é contar experiências de tentativas de rompimento de dualidades e
a tecelagem de novas costuras, como focar em estratégias vivenciadas como método de aproximação e busca de
pequenos consensos na discussão de um tema tão controverso, polêmico e dual como a política de drogas.
A prática de representação comunitária junto ao Conselho Municipal de Drogas da cidade de Ribeirão Preto nos
apresentou a rachadura discursiva entre os grupos que defendem uma política de drogas focada na rede substitutiva e
territorial e na política de redução de danos, inspirada no sucesso do programa brasileiro de aids, bem como a lei da
reforma psiquiátrica emancipatória de 2001 e os grupos que defendem a prática de abstinência de drogas e
sobriedade, oriundos de experiências concretas dos grupos de "alcóolicos anônimos" e seus derivados, alinhados com
representantes de comunidades terapêuticas, grupos religiosos que aproximam vivências de moralidade e
profissionais de saúde que praticam o discurso biomédico na produção de saúde. Esse embate na experiência do
conselho de drogas passou de um mero sussuro à denúncias e ameaças, e nos levou a problematizar se havia
possibilidade de diálogos e construção de pontes para projetos conjuntos.
- Aqui cabe contarmos uma experiência que consideramos um ponto de mutação em nossa jornada.
Em uma semana de palestras de drogas, observamos que nossa palestra embasada em política de redução de danos
estava completamente diversa de outras palestras focadas em propostas de sobriedade. Neste sentido convidamos
estes palestrantes para um desafio de palestras conjuntas e disso surgiram novas palestras "dialogadas" em que não
havia concordância, mas sim trocas de experiência e busca de compreensão do ponto de vista do outro.
Não empiricamente observamos que ambos pontos de vista foram-se modificando lentamente, tanto o nosso, como
dos convidados; Com o tempo abandonou-se a tentativa de convencimento e optou-se em demonstrar nas palestras
os diferentes pontos de vista. Atualmente a busca centra-se em ações conjuntas para reflexão sobre o momento em
que usuários tem alta de internações de comunidades terapêuticas, com a aposta que seja um momento que pode
desvelar novos pontos de consenso entre os atores que compõe a rede de cuidado na politica de drogas na cidade.
Esse trabalho também se propõe a ser um diálogo entre um psicólogo social e um advogado, entre a experiência
prática e a abstração teórica, objetivando a construção de um encontro que dê visibilidade para os momentos de
"empeiramento", do verbo empeirar, que significa por no tear para começar a tecetura.
- Para debatermos essa experiência consideraremos as diferentes posturas dialógicas debatidas por Richard Sennett
em «Juntos. Os prazeres, os rituais e a política de cooperação», bem como o lugar da linguagem nas estruturas de
poder e dominação em Roland Barthes. O trabalho, embora não pretenda esgotar o tema e seus desdobramentos,
abordará em quais termos tais convers(ações) criam circularidades positivas e negativas (Mark Anspach, 2012),
importando em consensos ou dissensos sociais e privados relevantes. Nossa busca de fixar a abstração dos problemas
na concretude de tragédias (no sentido grego de trama das ações e fados humanos) tão cotidianas, quanto ricas de
semântica e afeto. Por fim, pretende-se destacar o potencial transformador quântico e autêntico destas
convers(ações), posto que capazes de fundir cisões ideológicas, incompreensões etc ; ser a rosa que fura o asfalto e o
tédio da indiferença mútua entre os sujeitos.

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Espaço de conversas na Maré: dando voz ao cotidiano em contextos diversos da favela
Autores: Rosana Lazaro Rapizo, UERJ
E-mail dos autores: rosanarapizo@gmail.com

Resumo: A favela da Maré, na verdade, o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, contava no censo de 2010 com
quase 130.000 habitantes, vivendo em mais de 8 regiões, compostas por bairros, favelas, conjuntos habitacionais, etc.
Em novembro de 2015, fomos contatados pela equipe coordenadora da Escola Livre de Dança da Maré, um dos
projetos da Associação Redes da Maré, instituição da sociedade civil, atuante na Maré formalmente desde 2007. Na
escola, além de mais de 300 alunos de todas as idades, existe um Núcleo Profissionalizante em dança, composto por
10 jovens moradores ou ex-moradores da Maré. A preocupação da equipe era a dificuldade de manter esses jovens no
projeto. A proposta que fizemos foi alguns encontros com a equipe que trabalhava com os jovens para que
pudéssemos entender como poderíamos ser úteis. Assim iniciamos o trabalho que será apresentado e que deu origem
ao Projeto de Extensão Espaço de Conversas na Maré. Até o momento realizamos 6 (seis) encontros com os jovens.
Em 2017, o Espaço de Conversas recebeu um convite para criar um outro espaço na recém-inaugurada Casa das
Mulheres, também um projeto vinculado à Redes da Maré. Mais uma vez, reunimo-nos com a equipe que nos
convidava e acordamos iniciar o trabalho com mulheres conhecidas como tecedoras. São mulheres que trabalham na
Redes da Maré, em diversos projetos, com as mais diversas formações profissionais e que são as primeiras
colaboradoras e usuárias da Casa das Mulheres. Iniciamos os encontros com elas em abril deste ano. Embora
diferentes em conteúdo e no tipo de demanda, os dois Espaços têm um objetivo em comum que é a construção de
contextos de diálogo sobre as realidades cotidianas, pessoais, relacionais e profissionais dos participantes. O convite
para o trabalho na Casa das Mulheres, ocorreu pela repercussão do primeiro trabalho com os jovens. Buscamos as
referências para a construção do trabalho em vários autores que vêm refletindo sobre as articulações possíveis entre o
Construcionismo Social e o trabalho com grupos (Guanaes, 2006; Rasera & Japur, 2007; Rapizo, 2013), em termos dos
métodos possíveis a partir desta articulação, destacam-se a Facilitação de Processos Coletivos (Fuks. 2009) e os
trabalhos com processos reflexivos (Andersen, 1996). Os grupos têm sido considerados na Psicologia campos
privilegiados para a explicitação de discursos dominantes na cultura sobre os temas que nele circulam, assim como por
sua possibilidade de diversidade, produção, experimentação e construção de novos sentidos. Consideramos que
conversações, reflexões e trocas de experiências em grupo são fontes de transformação micro e macrossocial. Tal
experiência vem corroborar a importância dos espaços grupais como espaços relevantes para seus participantes entre
eles e com os contextos onde o grupo está inserido. A autora deste trabalho vem desde 1997, desenvolvendo
trabalhos com grupos desde essas perspectivas, especialmente com pessoas que passaram pelo divórcio em suas
famílias. A proposta de trabalho com os grupos na Maré, constituiu-se em uma oportunidade ímpar de ampliar a
prática com outras populações, com questões diversas e em um contexto social específico, onde a realidade cotidiana
é atravessada por fatores como a pobreza e a violência, interpessoal, intrafamiliar, da violência nas ruas e da crescente
violência policial, mortes de crianças e supressão de direitos básicos como ir e vir. Ao conversar sobre o cotidiano
destas pessoas, o Espaço de Conversas dá voz a realidades discriminatórias e opressoras assim como a movimentos
criativos e de resistência e solidariedade. Seguindo a ideia de construir o trabalho junto com os participantes, fomos
criando outros processos e métodos que têm nos permitido, por um lado, experimentar diferentes formas de trabalho
com cada grupo, por outro manter, nas diversas possibilidades de prática, alguns eixos comuns que a norteiam. Desta
forma, ainda que com o trabalho em andamento, já nos é possível perceber a ampliação da prática, a possibilidade de
caminhar juntamente com os participantes de cada grupo na criação de espaços únicos em que a conversa atenda em
conteúdo e forma às necessidades e desejos mais emergentes no momento do encontro.

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Cabe assinalar que, como projeto de Extensão Universitária, o Espaço de Conversas na Maré também contribui para a
formação de psicólogos já que nos grupos contamos com 5 (cinco) estagiários que acompanham todo o processo,
realizam equipes reflexivas e refletem também em grupo sobre teorias e práticas envolvidas no trabalho. Até o
momento de apresentação do trabalho, esperamos contar com as contribuições dos participantes dos grupos e dos
estagiários nas reflexões sobre o processo.

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Momentos críticos num processo de Educação Permanente junto a profissionais de saúde mental
Autores: Gabriela Martins Silva, USP; Carla Guanaes Lorenzi, USP
E-mail dos autores: gabrielampsico@gmail.com,carlaguanaes@gmail.com

Resumo:
A efetivação do cuidado psicossocial em saúde mental, atendendo aos preceitos da Reforma Psiquiátrica brasileira,
tem encontrado vários desafios, dentre eles a prática interdisciplinar e o cuidado às famílias dos usuários dos serviços
de saúde mental. Para lidar com esses desafios, a literatura aponta a Educação Permanente em Saúde (EPS) como um
recurso para o desenvolvimento deste cuidado.
Contudo, a EPS é também um desafio, considerando a sua proposta de estreita ligação com cada contexto no qual
ocorre, dificultando o estabelecimento de métodos para sua realização e análise. Visando contribuir com esses
desafios, este trabalho se baseia numa investigação que envolveu a realização e análise de um processo de educação
inspirado na política de EPS, com um grupo de profissionais de um serviço público de saúde mental.
O objetivo deste estudo foi entender quais processos conversacionais contribuem para o desenvolvimento da lógica
da EPS e para a formação profissional para o cuidado psicossocial em saúde mental.
O trabalho se baseou na realização de 7 encontros com o grupo de profissionais de um CAPS voltado ao atendimento
de crianças e adolescentes que faziam uso de álcool e/ou outras drogas. Os encontros tiveram duração média de 1
hora e trinta minutos e foram realizados com frequência mensal, na própria unidade de saúde.
O processo foi facilitado pela pesquisadora, que buscou promover reflexões e problematizações a partir de
intervenções dialógicas, fundamentadas no construcionismo social. Privilegiou-se as discussões e temáticas trazidas e
promovidas pelas próprias participantes, de modo a efetivar o caráter intrinsecamente conectado com a realidade
local, previsto pela política da EPS. Com isso, os encontros não tiveram uma programação prévia, se desenrolando de
acordo com a interação e interesse das participantes.
A única intervenção previamente proposta pela facilitadora foi a construção e leitura de Registros Reflexivos sobre
cada encontro. Esses registros consistiam em relatos nos quais os principais assuntos tratados pela equipe eram
sistematizados, de maneira a construir não só uma memória sobre os encontros, como promover a reflexão
problematizadora. Eles eram lidos no início de cada encontro, de maneira livre, sem o convite para que a equipe os
tomasse como foco de discussão.
Na análise do processo, a noção de momentos críticos se mostrou útil, por permitir a delimitação momentos cruciais
para produzirem mudanças de sentido e de relacionamento. Momentos críticos são como um momento de epifania –
ou a possiblidade de construção dessa epifania – a partir de algum engajamento coletivo na construção de algum
sentido. Na análise realizada neste trabalho, consideramos, além do momento crítico, a análise das interações que o
precederam, ao longo dos sete encontros, o que incluiu, por vezes, os Registros Reflexivos.
Assim, foram delimitados quatro momentos críticos:
O momento crítico O afeto é transformador revela o processo de construção da importância do trabalho realizado
pelas profissionais, a partir da consideração das limitações no trabalho e as dificuldades de percepção dos resultados
deste. Esse processo culminou numa interação bastante impactante, em que uma profissional, ao compartilhar sua
sensação de que seu trabalho não tinha serventia alguma, é acolhida pelas demais que, ressaltando o vínculo que ela
tinha com um paciente específico, a convida a entrar em contato com a capacidade transformadora do afeto.
O momento crítico Estamos prescrevendo corresponsabilidade apresenta o processo de discussão do que seriam as
práticas de cuidado às famílias e de problematização da ideia da não-adesão das famílias no tratamento. Esse processo
culminou numa interação em que as participantes, já tendo como consenso a importância da corresponsabilização
junto às famílias, se dão conta do paradoxo de estarem prescrevendo essa corresponsabilização pelo tratamento às
famílias.
Já o momento crítico Essa fala é minha! se refere ao processo de discussão com relação à prática interdisciplinar, em
equipe, a partir de experiências vividas por elas em momentos anteriores ao grupo. Esse processo culminou numa
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interação específica em que as profissionais puderam resolver conflitos existentes e construir possibilidades de lidar
com os desafios do trabalho interdisciplinar, por meio da ironização do que seriam as falas próprias de cada área.
Por fim, o momento crítico Mais poesia do que prosa diz respeito ao processo de construção da importância dos
encontros realizados, considerando o formato aberto das reuniões, os Registros Reflexivos como instrumentos
disparadores de reflexões e as temáticas abordadas. Esse processo culminou no último encontro, quando as
participantes nomearam o processo de mais poesia do que prosa , contrastando-o com outras propostas de
educação permanente mais teóricas e prescritivas.
Diante dessa análise, nos propomos a pensar sobre as potencialidades da conversa na construção de mudanças e
transformações que desafiavam as limitações político-institucionais colocadas ao trabalho em saúde mental. Além
disso, enfatizamos a metodologia utilizada, na medida em que ela nos sinaliza sobre a importância da atenção ao
processo grupal para o desenvolvimento de processos de EPS.
Apoio Fapesp - Processo n. 2014/09444-1

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Narrativas de resistências cotidianas dos que vivem às margens e nas margens dos manguezais capixabas
Autores: Soler Gonzalez, UFES; Andreia Teixeira Ramos, UNISO
E-mail dos autores: solergonzalez2011@gmail.com,andreiatramos.ea@gmail.com

Resumo: A gente não podia falar nossa língua tupiniquim.


A gente era proibida de falar, por isso que a gente não fala mais nossa língua.
Hoje estamos tentando revitalizar o tupiniquim nas escolas indígenas.
(Indígenas da etnia Tupinikim)
Este texto apresenta resistências cotidianas dos povos indígenas que vivem no litoral capixaba, e que lutam pela
garantia de seus direitos e de seus territórios de vida. Os territórios indígenas e as práticas culturais, artesanais e
religiosas, assim como o morar, pescar e cozinhar, resistem à discriminação étnica e às ameaças das multinacionais
locais, responsáveis por desastres e crimes ecológicos, narrados nos encontros, diálogos e (des) encontros, ecoando
ações de resistências e de conservação dos manguezais, córregos, matas, praias e rios.
Desse modo pensamos em problematizações inspiradas nos pensamento freireano (2009): a favor de quem estudo? A
favor de quem pesquiso? Contra o quê pesquiso? E, contra o quê estudo? Assim, nos questionamos: quais as
contribuições políticas, éticas (FREIRE, 2009) e pedagógicas das narrativas dos que veem das margens (REIGOTA,
2013), dos oprimidos e dos esfarrapados da Terra (FREIRE, 2014)?
O objetivo deste texto é apresentar as narrativas de resistências cotidianas tecidas com as práticas pedagógicas
dialógicas (FREIRE, 2014), políticas e éticas, de um projeto de ensino, pesquisa e extensão de uma universidade
federal, com povos indígenas que vivem às margens da sociedade capixaba, e que resistem aos interesses capitalistas
e à retirada de seus direitos de acesso aos bens naturais e à educação indígena.
Metodologicamente nos inspiramos do potencial político, ético e descolonizador das pesquisas narrativas (REIGOTA,
1999 e 2016; REIGOTA e PASSOS, 2005) com os sujeitos da história (FREIRE, 2014), e, assumimos a condição de
pesquisador conversador (SPINK, 2008) com essas comunidades indígenas, cujas narrativas de resistências cotidianas
acontecem nos pequenos momentos do fluxo diário, abertos às possibilidades da vida cotidiana; às vezes de
conversas, às vezes de acontecimentos, (SPINK, 2008, p. 71).
Lutamos muito anos para conseguirmos essa escola na comunidade.
Hoje temos uma escola de ensino fundamental, só não temos de ensino médio, mas estamos lutando com o
Ministério Público para conseguirmos.
Narrativas de resistências cotidianas frente às forças de poder, opressão e discriminação étnica que atravessam os
territórios indígenas capixabas, atingidos pela lama tóxica proveniente da tragédia/crime da Barragem de Fundão, em
Mariana (MG) com a contaminação do Rio Doce, e, ameaçados pelas multinacionais e a expansão das monoculturas de
eucalipto sobre a Mata Atlântica.
Acabou com o manguezal, que era lindo
e que a gente pescava todos os dias. O rio e os peixes estão contaminados.
Depois de um ano da chegada da lama...
Destacamos como ações de resistências cotidianas indígenas: revitalização das línguas indígenas Tupinikim e Guarani;
autodemarcações dos territórios; lutas contra as multinacionais locais; fortalecimento da educação indígena e a
construção de escolas indígenas de ensino médio; implementação de Licenciatura Indígena Intercultural; revitalização
das narrativas orais e mitos na vida cotidiana e escolar; usos das plantas medicinais e de expressões culturais, dentre
outras resistências cotidianas.
É costume nosso de levarmos nossos alunos para tomar banho no mar,
mas, quando levei minha turma e quando eles viram a praia daquele jeito,
tomada por aquela lama, tive que proibir o banho de mar
(professora indígena da etnia Tupiniquim)

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As narrativas de resistências cotidianas dos povos indígenas capixabas traduzem suas lutas contra as retiradas dos seus
direitos de existência, assim como, suas indignações às transgressões éticas (FREIRE, 2014) e ecológicas, dos direitos
dos rios, manguezais, animais e florestas, que atravessam os modos de vida Tupinikim e Guarani, que na atualidade
praticam ações de resistências às forças, interesses e poderes que ameaçam os territórios indígenas e suas modos de
existências indígenas.

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O brilho do fuzil refletiu o lado ruim do Brasil
Autores: André Luiz Chaves Yang, UNISO; Marcos Antonio dos Santos Reigota, Universidade de Sorocaba
E-mail dos autores: andrelcyang@hotmail.com,marcos.reigota@prof.uniso.br,andrelcyang@hotmail.com

Resumo: "Subi o morro/subi cansado/pobre de mim/pobre de nada" (Luiz Melodia).


O título e a epígrafe desse trabalho remetem a duas canções entre as muitas existentes sobre os morros, favelas e
conflitos sociais no Rio de Janeiro. Escolhemos a música do Rappa para o título, pois foi exatamente o que nos chegou
através do relato de um amigo nosso que esteve, sozinho, numa tarde de sexta-feira, em junho de 2017, num dos
Morros daquela cidade quando procurava conhecer, como forasteiro, um lugar que acreditava ser possível adentrar
sem risco algum para si, para seus familiares e anfitriões. A música do Luiz Melodia complementa esse movimento e
explícita o momento pessoal que nosso amigo, segundo ele próprio, se encontrava. O impacto do relato que ele nos
fez, com sentimentos mesclados de euforia, temor, espanto, receios e testemunho sobre o Brasil contemporâneo, nos
remeteu à possibilidade reelaborar a sua narrativa, utilizando do recurso metodológico e ético das narrativas ficcionais
( Reigota, 1998) e trazê-la ao espaço público e acadêmico que o grupo da ABRAPSO GT 26 | O potencial político das
microconvers(ações) cotidianas nos permite, assim como outros conceitos e argumentos já explorados,
principalmente no artigo " corpos no limite " (Reigota, 2008) e na atual perspectiva que estamos trabalhando que
denominamos " a aventura de desnudar(se)" (Yang, Barchi, Reigota, 2017). Está perspectiva conceitual e política
amplia e radicaliza a " aventura de contar -se" (Rago, 2013). A narrativa de nosso amigo, que reconstruímos de forma
ficcional, se apoia também em um dos conceitos-chave da pedagogia freireana que é " a leitura de mundo" ( Freire,
1996) e nos trabalhos sobre a produção de sentidos no cotidiano do grupo liderado por Mary Jane Paris Spink na PUC -
SP. Em resumo, a narrativa que apresentamos traz implícita situações vividas cotidianamente por uma parcela da
população e que nos atravessa, como cidadãos, professores, estudantes, pesquisadores envolvidos com a temática do
uso de drogas, das mais variadas formas através de discursos midiáticos, políticas públicas e dispositivos de controle,
assim como conversas cotidianas em espaços sociais diversos, incluindo nossa família, trabalho e ativismo. O nome
Mundo, escolhido para representar esse personagem foi inspirado no livro Cinzas do Norte de Milton Hatoum por
sua insatisfação com a complacência. Mundo se revela contra as violências que presencia. Queremos pegar
emprestado, para estetizar nosso trabalho, a crítica voraz que o personagem de Cinzas do Norte faz em sua história
pouco ficcional sobre o Brasil da ditadura civil-militar, a devastação da Amazônia e escancara a banalidade do mal.
Nossa narrativa aborda um cotidiano que se desenha no ambiente sonoro de Tribunal de rua do grupo O rappa
onde um fuzil, representando o poder e a violência, pode ser entendido como um ponto central de múltiplas relações
de sentidos sociais, existenciais, políticos, geográficos e históricos, locais e globais.
Acreditando estar andando por lugares conhecidos, Mundo se depara com situações imprevisíveis que desestabilizam
sua leitura de mundo habitual. Sua visão se foca em cores e seus pensamentos em sentidos que turvam a consciência
sedentária apresenta novas possbilidades.

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O trabalho social por vir: insurgências em meio às capturas do capital
Autores: Edlamar de Jesus França, UFRGS
E-mail dos autores: edlamarfranca@yahoo.com.br

Resumo: A pesquisa aqui tratada diz respeito a um percurso de experiências e estudos que problematizam o trabalho
social da psicologia no contexto neoliberal. Estão sendo analisadas questões concernentes à empresarização,
universitarização e evangelização (que chamamos neste estudo de capturas do capital) que agenciam modos de
trabalhar, sobretudo aqueles em que percebemos um engajamento político e compromisso ético com a diminuição
das desigualdades sociais. A pesquisa diz respeito ao "garimpo" dos meios de resistência como criação e potência no
trabalho social que fazem frente a essa ordem, afirma o poder de agir e a produção de comum. O contexto do trabalho
social tem se configurado cada vez mais precário, ainda mais com a intensificação do modus operandi do Capitalismo
Mundial Integrado, como diria Guattari (1987). Temos experimentado contratos de trabalho que duram pouco, pagam
pouco, cobram muito e esperam que se dê provas, em relatórios se possível quantitativos e imagens fotográficas, de
que este trabalho foi realizado. Experimentamos uma volatilidade nos contratos de trabalho em termos de garantias
trabalhistas em um contrato social de democracia representativa em decadência, ao passo em que presenciamos o
desmanche de políticas sociais. A psicologia social comunitária se desenvolveu num contexto de recessão e ditadura
militar, e engajada nas questões sociais promotoras de desigualdades se reinventou, se politizou, instituiu seu
compromisso ético-político e contribuiu com produções críticas e políticas na psicologia. Tributária do
pensamento marxista é uma referência de trabalho em psicologia social e, de um certo modo, na elaboração e
efetivação de políticas públicas. Por tanto, o (um) trabalho social o qual me refiro é aquele que se insere nas
discussões dessa psicologia, no campo das políticas e projetos sociais, sobretudo voltados para populações
marginalizadas, pobres e consideradas vulneráveis, bem como os deslocamentos e questões deste (um) trabalho.
Se temos afinidade com aspectos deste âmbito - os das políticas públicas e da luta por direitos através da efetivação
das políticas que consideramos democráticas e necessárias-, seguimos trabalhando dentro do possível e do impossível
para prestar nossos serviços no tempo que nos resta. Seguimos também preocupados em garantir nosso sustento,
autonomia e independência financeira. Aliás, garantir nosso sustento se transformou em uma maratona. O mercado
exige trabalhadores cada vez mais performáticos, altamente produtivos, qualificados e com currículos robustos. Uma
titulação pode fazer uma enorme diferença na corrida por trabalhos que no mínimo paguem razoavelmente bem, que
nos permita ao menos pagar as contas e fazer projetos. No trabalho, muitas vezes a sensação que temos é a de que
estamos pagando para trabalhar, em dívida. E é nesse contexto de trabalho que brotam os problemas. Como criar
estratégias de produção no trabalho social capaz de resistir às capturas capitalísticas? Quais os impactos ético-políticos
de um trabalho social que procede por resistência? A resistência ético-estético-política que se afirma aqui, pergunta
mais que responde, compõe com outros saberes, não tem pretensão de dar a última palavra, resiste às respostas
fáceis, às interpretações ligeiras, aos caminhos previamente delimitados que cegam para tantas outras possibilidades
(Zanella e Furtado, 2012). Nesse sentido esta pesquisa, que se encontra em andamento, tem como objetivos: tomar o
trabalho social como ponto de estranhamento prenhe de questões que se abrem no percurso analítico; analisar os
modos de captura desse trabalho pelo capitalismo garimpando as possibilidades de resistência que racham a captura
desse trabalho; analisar experiências vividas no trabalho social que sinalizam conexões com tais capturas. Nesta
pesquisa operaremos junto com profissionais da psicologia que trabalham com políticas públicas e em projetos
comunitários. A orientação da investigação se dá no próprio percurso do pesquisar, onde as variabilidades vão
apontando pistas que comporão o campo problemático da investigação, o que encontra ressonância em nossa
abordagem do trabalho enquanto atividade, pela qual trabalhar implica gerir uma distância entre Trabalho Prescrito e
Trabalho Real. Interessa-nos o Real do Trabalho Social, esse entendido como zona de forças que pedem passagem pela
criação. Busca-se então, como estratégia metodológica, acompanhar processos de trabalho no âmbito do trabalho em
Clínicas da Atividade, analisando coletivamente o que vem entre a prescrição e a criação no trabalho, entendo que
neste entre há uma infinidade de possibilidades do que pode vir a ser. E porque não dizer, vir-a-ser disruptivos e
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insurgentes? O que dá sustentação a este percurso e a esta estratégia metodológica é o método da cartografia em
diálogo com o conceito-ferramenta análise de implicação (Lourau, 1993 e Altoé, 2004). Este trabalho conecta-se aos
espaços de discussão que pretendem discutir e analisar os modos de subjetivação neoliberal, os movimentos de
invenção e insurgências no momento atual e a produção do comum em meio ao trabalho social. Nesse sentido,
dialoga com os Gt s: O potencial político das microconvers(ações) cotidianas ; Psicologia Social do Trabalho: olhares
críticos sobre o trabalho e os processos organizativos ; Trabalho e Precarização: Adoecimento e Resistências .

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Pesquisando comentários online a partir da psicologia social discursiva
Autores: Leandro de Campos Fonseca, ABRAPSO Sorocaba
E-mail dos autores: profms.leandrocfonseca@gmail.com

Resumo: A internet como desafio para a pesquisa crítica em psicologia social é um dos temas discutidos quando se
trata de inovação nas estratégias de estudo na atualidade (Braun, Clarke & Gray, 2017). Partindo desta perspectiva,
esta comunicação oral propõe a caracterização do campo de comentários online como um dos espaço de produção de
sentidos da chamada Web 2.0 (Hewson, 2014), que ancora práticas discursivas (Spink & Medrado, 2013) ainda pouco
investigadas pela psicologia social (Len-Ríos, Bhandari & Medvedeva, 2014) ou por abordagens fundamentadas em
concepções discursivas (Hughey & Daniels, 2013, Fonseca, 2014).
Apresento alguns fundamentos para investigações sobre práticas discursivas na internet. Discuto resultados de uma
pesquisa realizada na USP, envolvendo o estudo de posicionamentos construídos discursivamente em comentários
online (Fonseca, 2014). A partir destes resultados, sintetizo sugestões para este tipo de pesquisa.
Lune & Berg (2017:146) definem como discreta ou não-intrusiva a investigação em que a coleta de dados é
independente dos processos que deram origem às informações analisadas na pesquisa. Elas adquirem existência sem a
intromissão das intenções do pesquisador. Os rastros digitais (Bruno, 2012, p.3) das produções discursivas nos
comentários online vão se sedimentando e articulando às publicações que lhes deram origem. À maneira de um
rizoma (Deleuze & Guattari, 2009), o uso da linguagem têm possibilidades de desdobramento em várias direções, sem
necessariamente ter um centro. Comentários espontâneos em publicações online são aqui abordados enquanto
rastros dessa natureza (Lune & Berg, 2017, p.156).
Rastros digitais das práticas discursivas na esfera pública digital (Marques, 2006) podem ser analisados pela psicologia
social para responder perguntas as relações entre o uso da linguagem e as tensões que atravessam a vida social.
Fenômenos sociais têm no contexto dos comentários um campo performático distinto de produção de sentidos (Spink
& Medrado, 2013), próximo das caracterizações encontradas nos estudos conversacionais em situações tradicionais
(Liddicoat, 2007).
Durante o mestrado, pesquisei posicionamentos contrários ao sistema de reserva de cotas raciais nas universidades
públicas brasileiras em comentários na internet a partir da psicologia social discursiva (Fonseca, 2014). Analisei uma
publicação e 44 dos 250 comentários gerados por ela sobre a decisão unânime do Superior Tribunal Federal (STF) em
relação à legitimidade constitucional do sistema de cotas raciais, em 2012. Empreguei como ferramenta de análise o
conceito de repertórios interpretativos , definido como unidades de construção das práticas discursivas – o
conjunto de termos, descrições, lugares-comuns e figuras de linguagem – que dermacam o rol de possibilidades de
construções discrusivas, tendo por parâmetros o contexto em que essas práticas são produzidas e os estilos
gramaticais (Spink & Medrado, 2013, p.28).
Os resultados da pesquisa indicaram o uso de recursos discursivos que refletem valores conservadores, liberais e
individualistas, empregados em construções que justificando através destes recursos a manutenção do status quo
racista da sociedade brasileira. Grande parte destes comentários não menciona processos históricos que atualizam
cotidianamente o racismo brasileiro na construção de posições contrárias ao sistema de cotas raciais. Expressões
gritantes de preconceito racial corroboraram elementos do cenário apontado por Hughey & Daniels (2013) em seu
estudo sobre os dilemas metodológicos do estudo de comentários online a partir da perspectiva da análise do
discurso, pelo impacto que geram nestes contextos.
Naquela ocasião, sugeri a valorização da avaliações que as pessoas fazem dos comentários que lêem, e que também
ficam registradas junto com os comentários, embora nem todos websites possuam essa ferramenta. O caso que
analisei foi composto por uma notícia, os 250 comentários que ela gerou, e um total de 2164 avaliações distribuidas
entre eles. Ou seja, uma única notícia registrou mais de duas mil interações entre pessoas envolvidas na discussão
sobre o sistema de cotas raciais. Contudo, não pude desenvolver esta análise na dissertação de mestrado. Meu
interesse foi a descrição e análise da variabilidade, da fluidez e das formas de articulação dos recursos discursivos em
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posicionamentos fundamentados em versões da realidade onde o racismo é escamoteado, deslocado ou mitigado em
suas consequências funestas.
Ampliando as reflexões daquele estudo, acredito que a inclusão destas avaliações permite analisar a intesidade do
conflito existente entre posições e o nível de apoio que recebem, quando de uma contenda. Identifica construções
mais bem avaliadas e mais mal avaliadas, dá indícios da dinâmica que alimenta e é alimentada pelo apoio a
determinadas versões da realidade e seu papel na reprodução da exploração e da opressão em sociedades
multirraciais (Wetherell & Potter, 1992), bem como às resistências que ajuda a criar.
As possibilidades abertas pela análise integrada destes dados pode ressignificar o potencial de investigações sobre
conversas realizadas em contextos como os comentários online, principalmente em função de sua disseminação por
grande parte das plataformas das redes sociais e dos sites de notícias, campos que articulam possibilidades de
produção de sentidos colaborativa, mas também propícia a recriar e reverberar as tensões existentes nas relações de
poder que constituem a vida social.

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Reverberações em meio a tormenta
Autores: Murilo dos Santos Moscheta, UEM
E-mail dos autores: murilomoscheta@me.com

Resumo: O trabalho descreve a experiência de minha busca pela construção de uma prática profissional na docência
em psicologia comprometida com a transformação de um cenário de vida que considero precário. A experiência
relatada nasceu do encontro entre mim e Jean, um homem transexual que resultou na organização de um movimento
de militância por direitos de pessoas transexuais em Maringá-PR. O relato traz duas vozes, a minha e a de Jean, e dois
momentos, nosso primeiro encontro e nossa avaliação do que esse encontro fez conosco um ano depois. A discussão
das cenas busca refletir sobre os problemas herdados da tradição moderna, especificamente: o foco privilegiado no
indivíduo, o lugar de especialista comumente ocupado pelo terapeuta/investigador, as tradicionais divisões
disciplinares e o compromisso teórico como superior ao compromisso político e social. A análise do primeiro momento
destaca o conjunto discursivo que foi acionado para que o encontro entre mim e Jean viesse a acontecer, a saber: o
discurso da especialidade que me posicionava como o professor especialista em sexualidade e posicionava Jean como
um suposto paciente , o discurso de patologização da sexualidade que demarca a experiência transexual como um
desvio da norma sexual, e o discurso das ciências da saúde e suas políticas de cuidado que instituem o profissional da
psicologia como responsável pelo laudo psicológico que diz quem são aqueles que podem legitimamente serem
chamados de transexuais, determinando quando e como essas pessoas poderão implementar em suas vidas e corpos
as mudanças que desejam. Se tais discursos contribuíram para que o encontro acontecesse, participando da
construção do pedido de ajuda em Jean e em mim, da construção de uma certa noção de que eu seria capaz de
oferece-la, eles também produziam as condições para a reprodução de uma prática psicológica problemática,
conservadora e opressora. A análise aponta os desdobramentos deste primeiro momento destacando aquilo que se
configurou como brechas ou fissuras na reprodução desta modalidade de prática psicológica problemática. Deste
modo, Jean iniciou um grupo de apoio auto-gerido para homens transexuais que em pouco tempo organizou diversas
intervenções na cidade. Sua busca por ajuda foi transformada em um movimento coletivo de agenciamento de forças
para responder às necessidades dos homens transexuais da cidade. Ao mesmo tempo, em minha atuação profissional
consolidaram-se perpectivas de trabalho que alavancaram meu compromisso com as discussões de gênero e
sexualidade dentro da universidade, por meio de projetos de pesquisa e extensão e pela formalização do grupo de
pesquisa Deverso – sexualdiade, saúde e política. Assim, a análise do segundo momento traz o relato de Jean ao
enfatizar que não apenas melhorou com relação aquilo que o afligia inicialmente mas transformou por completo o
modo de se relacionar com uma narrativa problemática. Sua experiência como organizador de uma coletividade de
homens trans permitiu que problematizasse por exemplo a articulação entre o machismo latino e a misoginia bem
como a crítica ao papel da psicologia como guardiã do processo transexualizador. Para mim, o encontro com Jean foi a
possibilidade de construção de uma prática profissional menos entristecida mais potente e necessariamente inquieta.

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GT 27 | O que é trabalho no esporte?

Coordenadoras: Juliana Aparecida de Oliveira Camilo, PUC-SP | Katia Rubio, USP | Luciana Ferreira Angelo, Instituto
Sedes Sapientiae

Em tempos de exceção, estudar as relações de trabalho no contexto esportivo é um desafio, para não dizer um tabu. O
espo teà deà altoà e di e toà ouà p ofissio alà à o p ee dido,à p i ipal e teà pelaà ídiaà espo ti a,à o oà oà luga à
onde atletas e demais profissionais recebem remunerações diferenciadas, que promovem conforto material acima da
média da população e que, em sua prática, podem levar o indivíduo a tão almejada ascensão social, mesmo que essa
não seja a realidade da maioria das modalidades esportivas. Pouco ou quase nada é dito sobre as relações
precarizadas, limitadas e invisibilizadasàdoà a poàdoàt a alhoàespo ti o,àte doài po t iaàoàstatusàdeà ele idade ,à
osà asesà deà su essoà eà deà supe aç o à fo tale e doà assi ,à aà di e s oà espeta ulosaà ueà ge aà oà dista ia e toà doà
mundo real. É no campo do alto rendimento que se apresentam os desafios da formação da identidade atlética, que,
apesar de contar com uma lei nacional (9.615/98, conhecida como Lei Pelé), pouco auxiliou nas relações de formação
e de trabalho dos atletas profissionais. Este fato pode ser observado não só no Brasil, mas na história do Esporte, ao
considerarmos que a transição de esporte amador para esporte profissional decorreu da excessiva competitividade da
sociedade contemporânea levando a um abandono das atividades tidas como amadoras (as realizadas por coração!).
Aqui vale lembrar o incentivo à especialização, estrutura do Esporte Moderno que apresenta os mesmos valores da
sociedade capitalista, como a necessidade de mensuração dos resultados. A profissionalização no esporte alterou a
organização esportiva, sendo que a ideia de carreira profissional passa a ser, de fato, uma opção de vida. A competição
atlética ganhou visibilidade e complexidade ao se tornar espetáculo esportivo e produto da indústria cultural e o atleta
tem na sua força de trabalho corporal o reconhecimento de transformá-la em ganho financeiro; além disso, é mão de
obra qualificada de um sistema que vive as suas custas, mas que não o respeita e nem o protege.
Principalmente no Brasil, o esporte no século XX é considerado uma estratégia de mercado pelas grandes empresas
que entendiam a importância da visibilidade de suas marcas relacionadas ao resultado atlético: um produto a ser
consumido. É importante salientar que a modalidade futebol serviu e ainda serve para o mercado brasileiro, como
base para as discussões do mundo do trabalho do alto rendimento, isso porque, do ponto de vista político-financeiro,
é a modalidade que tem maior poder e representatividade nas instituições representativas nacionais. Tentativas
democráticas de discussão sobre o campo de trabalho esportivo foram realizadas entre 2014 e 2015, no calor dos
Megaeventos Esportivos, com a possibilidade da constituição de um Sistema Nacional Esportivo (SNE). O fato é que
discussões foram feitas, sugestões e teses organizadas, estudos de diferentes modelos mundiais foram apresentados e
quase nada se avançou. Ainda foram abortados itens propostos nos textos iniciais, sendo que atualmente, o
documento que vigora é o Plano Nacional do Desporto (PND), circunscrito na Comissão de Esportes da Câmara dos
Deputados.
Esta última versão do documento, não apresenta sequer um item mencionando as condições de trabalho do atleta de
alto rendimento e pouco ou quase nada descreve sobre a atual condição de trabalhos dos demais profissionais do
contexto esportivo. Sendo assim, este GT pretende questionar a participação democrática participativa na formulação
do PND, além de apontar a falta de cuidado e atenção com as condições dos trabalhadores profissionais que se
relacionam com o contexto esportivo. Vale recordar que o Brasil, somente na década de 90, realizou as primeiras
discussões sobre a transição do esporte como atividade amadora para uma atividade profissional atendendo,
principalmente, às demandas das instituições esportivas e mantendo o modelo de regras a partir de uma única
modalidade: o futebol. Ressaltamos também que as medidas provisórias que hoje são a estrutura de base da Lei Pelé,
foram constituídas em sua maioria por interesses empresariais. Os profissionais envolvidos com o contexto esportivo
têm queixas sobre o pouco espaço dado a eles nas discussões dos documentos oficiais.
Com isso posto, o GT pretende acolher trabalhos que possam discutir a formação atlética dos praticantes das
diferentes modalidades esportivas, entendendo que um indivíduo que assume uma ocupação desenvolve atitudes
profissionais que têm diferentes dimensões: técnica, política, emocional e estética. Estas dimensões existem dentro
dos limites gerais colocados pela cultura da sociedade o que não significa impedimentos, mas sim, discussões a
respeito da cultura esportiva preponderante e a necessidade de transformá-la. Para o desenvolvimento de uma
identidade profissional, pretende-se que sejam incorporadas definições pré-concebidas de quem é esse profissional,
ao mesmo tempo em que, um processo de idealização e descoberta da realidade ocorra através do enfrentamento de
desafios e limites à questão de quem o indivíduo está se tornando. Vale aqui integrar as instituições esportivas nesse
processo, tão importantes para as constituições da cultura vigente. Além disso, agregar soluções e idéias para a
580
elaboração dos contratos de trabalho e práticas profissionais do campo esportivo considerando as especificidades das
modalidades esportivas praticadas. Esse detalhamento é necessário para que sejam respeitadas as especificidades, o
que não o corre atualmente com a Lei Pelé em vigor. O GT incentiva as pesquisas que discutem e abordam as formas
de proteção às crianças e adolescentes praticantes de modalidades esportivas que possam estar expostas a exploração
do trabalho infantil, às situações de violência, à discriminação, entre outras, avaliando a necessidade de afastamento
das práticas esportivas de base que são imprescindíveis para o desenvolvimento da carreira esportiva de alto
rendimento.
O GT também pretende dar espaço para pesquisas que discutam a formação e a identidade profissional do Psicólogo
do Esporte, profissional que se forma na especialidade após ter concluído seu curso de graduação, pois nem sempre
teve contato com a matéria em sua grade curricular. O mercado promove o aumento de cursos expansão cultural, com
carga horária mínima, apresentando o tema aos alunos, mas não fornecendo os subsídios necessários para uma
prática profissional de qualidade. A formação do especialista em Psicologia do Esporte se dá oficialmente com a
qualificação em cursos de especialização reconhecidos pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e/ou pela
aprovação na prova de Concurso para Título de Especialista em Psicologia do Esporte.

581
A psicologia do esporte e o Futebol: Uma realidade social a ser discutida
Autores: Rodrigo de Vasconcellos Pieri, UNISUAM/USU; Jorge Luiz de Souza, UNISUAM; Rodrigo Lourenço Salomão,
USP Ribeirão Preto
E-mail dos autores: rodrigo.pieri@gmail.com,prjorge@globo.com,rodrigolsalomao@hotmail.com

Resumo: No futebol, considerado o esporte mais popular no Brasil, podemos observar uma representação social que
possibilita o senso da vitória, do reconhecimento e da identificação. Diante disso, muitos indivíduos depositam
empenho e anseio profissional nesta atividade. É possível identificar atletas profissionais, aspirantes a jogadores,
técnicos, torcedores, e também pais de futuros talentos completamente envolvidos e tocados por esse contexto
peculiar. A complexidade deste contexto pode ser exemplificada em períodos de peneira - quando clubes abrem suas
portas para treinos com candidatos às vagas no time nesse momento os atletas superam dificuldades baseados no
sonho de alcançarem, através do futebol, a tão desejada independência financeira. Mesmo sabendo que esta é a
realidade de poucos que vivem do esporte. Consequentemente, as circunstâncias inerentes a este contexto são
predatórias já que são capazes de decepcionar aqueles que não atingem seus objetivos dentro do futebol, e algumas
vezes decepcionam até os que conseguem atingir sua meta dentro da modalidade. Prova disso são os atletas que
buscam alcançar seus intentos trabalhando em clubes de menor investimento buscando uma ascensão profissional de
curto prazo, visto que a carreira de jogador profissional de alto nível não perdura por muito tempo - aproximadamente
dos 20 aos 36 anos. Isto posto, a presente pesquisa tem como objetivo apresentar o trabalho exercido por uma equipe
universitária de psicologia do esporte, desenvolvida há 03 anos, junto a um time de futebol na cidade do Rio de
Janeiro. Trata-se da oportunidade oferecida pelo Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) que se caracteriza por oferecer,
em sua grade curricular, estágios em diferentes atuações da psicologia. Sempre composta por um professor,
profissional da área, e acadêmicos que escolhem, a partir do quarto período, em qual área prefere estagiar. O trabalho
da equipe universitária de psicologia foi pautada sob observação de campo, elaboração de relatório, supervisão
semanal e intervenção semanais. De acordo como era percebido e decidido pela equipe no campo de atuação. Como
sujeito de observação encontra-se um clube que atualmente disputa a segunda divisão do campeonato estadual. Este,
assim como muitos de seus jogadores, já participou das principais competições do estado mas, atualmente, atravessa
uma enorme crise financeira que leva-o a beirar a invisibilidade. Desde o início do trabalho dificuldades vividas por
comissão técnica e jogadores foram observadas, tais como falta de alimentação adequada, dificuldade de acesso ao
local de treinamento por falta de recursos financeiros e pressões familiares. Com tudo, percebeu-se também, uma
motivação muito grande por parte dos jogadores e comissão técnica, além de enorme capacidade de resiliência e
enfrentamento de situações adversas. Diante do quadro, a psicologia do esporte procurou, como intervenção, acolher
os profissionais do clube oportunizando com que os fatores apresentados fossem ressignificados. Isto é, ofertando um
trabalho de compreensão dos fenômenos psicológicos envolvidos e propondo uma reflexão a respeito dos pontos
trabalhados de acordo com indicadores de qualidade de vida ponderada por eles mesmos. Durante estes três anos,
ainda que tenha ocorrido trocas de jogadores e comissão técnica, a equipe de psicologia do esporte pode observar
algumas características constantes. Dentre elas destaca-se o discurso unânime de afirmar que, apesar de toda a
dificuldade, o mais importante é sempre focar no objetivo do clube. Ou seja, levar a equipe ao título do campeonato.
Dirigentes, atletas e treinadores, ano a ano, afirmam que uma possível ascensão a elite do futebol carioca certamente
valorizaria a todos. Desta forma, resta a psicologia do esporte, representada pela equipe do SPA, atuar nesse cenário
acolhendo esses profissionais em meio as suas tensões, angústias, alegrias e decepções.

582
Condições de trabalho de Equipes de Saúde da Família do Pará
Autores: Eric Campos Alvarenga, UFPA
E-mail dos autores: ericsemk@gmail.com

Resumo: O objetivo desta pesquisa foi realizar uma análise das condições de trabalho das equipes de saúde da Família
do estado do Pará com base nos dados do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica. Desta
forma, serão apresentadas uma caracterização do perfil profissional das trabalhadoras e dos trabalhadores das
equipes, a quantidade de profissionais em cada equipe e de aspectos pontuais da estrutura das unidades de saúde em
que atuam. Esta é uma pesquisa quantitativa descritiva que fez uso de informações do banco de dados do Programa
Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ). Foram avaliadas 776 equipes do estado do Pará contidas
neste banco, 59% do número de equipes existentes no estado. Foram selecionados os registros que se referem às
condições de trabalho destas equipes, tais como: os agentes contratantes dos profissionais da equipe, tipo de vínculo,
a quantidade de cada profissional na unidade de saúde e a presença de determinados ambientes na unidade (banheiro
para funcionários e usuários, sala de espera e sala de recepção, sala de acolhimento, sala de vacina etc.).Depois de
selecionadas as informações, cada um destes registros foi transferido para o software IBM SPSS Statistics 20. Nele,
realizou-se uma Estatística Descritiva com o cálculo das frequências absolutas e relativas destes valores. Boa parte dos
profissionais das equipes de saúde da família analisadas estão há pouco tempo (2,2 anos) atuando neste modelo de
cuidado, sendo, portanto, trabalhadores com pouca experiência neste tipo de trabalho. A maioria dos contratos de
trabalho são temporários (65,4%) e a maior forma de seleção dos trabalhadores é por meio de indicação (36,7%). Há
uma quantidade suficiente de profissionais médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem exigida pela Política
Nacional de Atenção Básica nas equipes avaliadas por este estudo. Há também um número de quase nove agentes
comunitários de saúde para cada equipe, algo próximo do máximo estabelecido pela política. Ao olhar a composição
de diferentes profissionais na equipe ampliada deste recorte feito no estado do Pará, vemos que o médico especialista
(0,7) e o nutricionista (0,6) são os que estão em maior número. Apesar disso, não em número suficiente para termos
pelo menos um por equipe. Distintas profissões como psicólogos, farmacêuticos, terapeutas ocupacionais,
fonoaudiólogos, educadores físicos, assistentes sociais, fisioterapeutas e outros, aparecem em menor número. Isso
aponta uma possível necessidade de aumentar a oferta destes diferentes profissionais nas equipes ampliadas, a fim de
que possam contribuir com seus saberes na complexa tarefa que é o cuidado em saúde na Atenção Básica. Temos aqui
86,1% das equipes pesquisadas dizendo que recebem apoio de outros profissionais para auxiliar em casos complexos,
incluindo aí alguns pontos da rede como Vigilância em Saúde, Especialistas, Centro de Atenção Psicossocial e os
Núcleos de Apoio a Saúde da Família. As unidades de saúde aqui pesquisadas têm em sua quase totalidade sala de
recepção e espera (94,5%), sala de vacina (89,2%), sanitário para a população atendida (95,3%) e para os
trabalhadores (78,9%). No entanto, poucas unidades possuem veículos para atividades fora (32,8%), sala para
acolhimento multiprofissional (30,9%), banheiro mais acessível para pessoas com deficiência (26%), ao menos um
computador em situação de uso e com internet (45,9%), entre outras coisas. Para que o trabalho possa ocorrer com
mais qualidade, os equipamentos e materiais usados pelos profissionais devem estar disponíveis de acordo com o
trabalho que está sendo realizado na equipe, assim, firmando que os trabalhadores da saúde tenham ferramentas
suficientes para solucionar os problemas de saúde da população atendida. Por meio do presente estudo foi possível
identificar as condições que as equipes de saúde da família do estado do Pará têm para trabalhar. Esta pesquisa pode
contribuir para o aprimoramento da gestão do trabalho na atenção básica, na medida em que levanta pontos que
podem ser aprimorados pelos gestores. A melhoria das condições de trabalho das equipes é fundamental para
sustentar a saúde destes trabalhadores. Ela pode reduzir adoecimentos e acidentes no trabalho. Assim como
aumentar a resolutividade do cuidado oferecido pela equipe.

583
Entre a vigilância e o cuidado: a atividade de agentes de segurança penitenciários em um hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico de Minas Gerais
Autores: Rodrigo Padrini Monteiro, PUC Minas
E-mail dos autores: rodrigopadrini@gmail.com

Resumo: Os Estabelecimentos de Custódia e Tratamento Psiquiátrico - ECTP são instituições destinadas a acolher
pessoas que cometem crimes e que, por motivo de doença ou deficiência mental, são consideradas inimputáveis,
indivíduos isentos de pena, por não serem capazes de compreender o caráter ilícito do fato praticado. Neste contexto,
entre o sistema jurídico e a psiquiatria, entre o saber da lei e o saber médico/psicológico, Agentes de Segurança
Penitenciários ASP exercem seu ofício, ocupando as brechas operatórias entre a atividade prescrita e o real do
trabalho. Originalmente chamados de manicômios judiciários, os ECTP se enquadram no que Goffman considerou
como instituições totais e abrigam duas representações sociais que habitam o nosso imaginário: o criminoso e o
louco. A pesquisa-intervenção em desenvolvimento situa-se em uma das três unidades prisionais de Minas Gerais
caracterizadas como um ECTP e adota, como pressupostos teórico-metodológicos, as abordagens clínicas do trabalho,
que mantêm o seu foco de análise e intervenção na atividade e nos trabalhadores, e adotam uma perspectiva crítica e
compreensiva das relações entre trabalho, poder, organizações, subjetividade e saúde, em uma vertente social e
clínica. Tem-se como métodos utilizados a observação participante, grupos de discussão, entrevistas semiestruturadas
e análise documental. Como aponta nossa revisão bibliográfica, os sistemas carcerário e manicomial brasileiros neste
caso agregados e representados em um estabelecimento são institucionalmente frágeis, marcados tanto por
condições de trabalho precárias como por um conflito constante entre segurança e cuidado, reclusão e
ressocialização. Nossa investigação visa compreender a atividade dos ASP s nestes locais, explorando como a
organização do trabalho pode ser fonte de obstáculos ou facilitadores de sua autonomia, além de investigar as
estratégias individuais e coletivas, frente às dificuldades vivenciadas na situação de trabalho, em um cenário marcado
pela vulnerabilidade e pela invisibilidade. O presente estudo mantém relação com os eixos e grupos de trabalho
dedicados à discussão sobre precarização, intervenções e olhares críticos sobre os processos de trabalho. Como
resultados preliminares, observa-se que a atividade do ASP em uma prisão ou em um hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico não é única e se desenvolve em diversos locais, situações e modalidades. Pode-se dizer que
em toda atividade na qual o preso está envolvido, o ASP também está envolvido. Verificou-se preliminarmente a falta
de capacitação específica dos ASP para atuar com o preso inimputável ou em tratamento psiquiátrico e a inexistência
de normas padrão de procedimento que sirvam como orientação para esses trabalhadores. O cuidado e a relação
humana com os presos-pacientes surgem como elementos que diferenciam o trabalho do ASP neste local ao de uma
prisão convencional. A observação é algo fundamental na atividade do agente e o conhecimento adquirido no corpo se
mostra fundamental para abordar pacientes únicos, muito diferentes entre si. O diálogo é um dos principais
instrumentos de trabalho desse profissional. Quanto ao impacto do trabalho nos profissionais, uma frase de um
agente entrevistado demonstra como a relação estabelecida entre o preso e o trabalhador é fundamental para
compreender a sua atividade. Para esse ASP, a gente não aborda o paciente, a gente é abordado pelo paciente . A
assimilação dos modos de falar e de se comportar dos pacientes pelos agentes é algo presente na fala dos
trabalhadores, assim como a absorção do que é vivido por eles na rotina de trabalho. O enfrentamento de uma
realidade frequentemente triste, onde se convive corpo-a-corpo com dois sofrimentos vivenciados pelos pacientes a
privação de sua liberdade e o sofrimento mental é outro aspecto da atividade trazido pelos entrevistados. Conclui-se
que a situação de trabalho caracterizada pelo hibridismo prisão-hospital psiquiátrico, a relação diferenciada e
complexa com o seu objeto e sujeito de trabalho - o preso-paciente -, e as constantes adaptações às tarefas prescritas
ou mesmo a inexistência de prescrições, são elementos importantes de análise e intervenção em nossa pesquisa. Esses
são apenas resultados preliminares e pretendemos aprofundar nossa pesquisa-intervenção sobre a atividade dos
agentes em um estabelecimento que agrega elementos de uma prisão tradicional e de um hospital psiquiátrico.
584
Formação dos atletas de futebol: o que a psicologia tem a ver com isso?
Autores: Talita Machado Vieira, UNESP Assis; Deivis Perez, UNESP
E-mail dos autores: tmachadovieira@gmail.com,prof.deivisperez2@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho integra o conjunto mais amplo de uma pesquisa de mestrado, cujo escopo foi investigar
os processos de formação e subjetivação de atletas de futebol no contexto das categorias de base. Para operar tal
finalidade, a investigação, inicialmente, revisitou o percurso histórico de constituição da profissionalidade no futebol
brasileiro, focalizando as relações entre esse processo e as conjunturas sociais, econômicas e políticas no referido país.
Posteriormente, para a coleta e análise de dados, adotou-se o dispositivo da Autoconfrontação Simples, que compõe o
corpus teórico-metodológico da Clínica da Atividade. A referida teoria associa-se às Ciências do Trabalho, em
particular à Psicologia do Trabalho, e foi desenvolvida pelo francês Yves Clot com base nos preceitos da Psicologia
Histórico-Cultural, da Ergonomia Francófona, da Psicopatologia do Trabalho e do campo da Saúde do Trabalhador de
origem italiana. Para o trabalho de campo, que teve duração aproximada de sete meses, a pesquisa contou com a
participação de dois voluntários, com idades entre 14 e 16 anos, vinculados às categorias de base de um clube alocado
no Estado do Paraná. Nesta etapa, realizaram-se as seguintes atividades: análise documental de legislações nacionais
pertinentes ao futebol e à formação de atletas e regimentos internos do clube; observações do cotidiano dos jovens
no clube; entrevistas; filmagens de sequências de atividades escolhidas em parceria com os voluntários; sessão de
autoconfrontação dos voluntários com o vídeo produzido acerca de suas atividades; análise dos dados obtidos nas
etapas anteriores, tendo como diretriz alguns aspectos da ferramenta analítica denominada núcleos de significação;
discussão dos dados sob o prisma da literatura consultada para elaboração dos capítulos teóricos da dissertação e de
outras obras consideradas relevantes para complementar o arcabouço teórico obtido anteriormente. Para esta
comunicação, optou-se por enfatizar os achados referentes ao processo formativo dos jovens. De modo mais
específico, o recorte trazido para debate no evento priorizou as análises sobre a maneira que os preceitos difundidos e
promovidos na contemporaneidade interferem nas condições dos contextos formativos dos atletas de futebol. Por
meio do método empregado, descobriu-se que há uma estreita relação entre as práticas de ensino adotadas pelos
técnicos e a apropriação que os jovens fazem dos aspectos que integram a atividade profissional do futebolista. Assim,
o modo com os técnicos conduzem as atividades formativas pode ser considerado elemento crítico para o processo de
conscientização dos jovens acerca de sua experiência de formação profissional para o futebol. Ainda, cumpre destacar
que esse argumento é respaldado pelos postulados da Psicologia Histórico-Cultural, a qual considera como
fundamental a mediação simbólica, que caracteriza os processos de ensino, para a apropriação dos instrumentos e
signos da cultura em geral, incluindo-se aqui a atividade profissional do sujeito. A partir das considerações trazidas
pela discussão dos resultados é possível pensar em alternativas para o processo de ensino desta profissão e, assim,
favorecer o desenvolvimento dos jovens no tocante ao exercício profissional que aspiram. À vista dos apontamentos
feitos, consideramos que nossa proposta se relaciona ao eixo temático "Psicologia Social, processos de trabalho em
contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento", uma vez que abordou as condições formativas de jovens
atletas que buscam a profissionalização como jogadores de futebol e os modos como a psicologia pode contribuir para
o processo de desenvolvimento dos aspirantes à carreira esportiva profissional, inserida no contexto neoliberal do
trabalho. Sua pertinência revela-se, sobretudo, em relação ao GT "O que é trabalho no esporte?", pois buscou discutir
criticamente o quadro atual do futebol, em seu viés profissional e profissionalizante, priorizando esta dimensão e
associando os achados do estudo ao panorama da sociedade capitalista moderna, em particular, naquilo que se refere
à mensuração e valorização de resultados (metas).

585
P ojetoàdeàExte s oà Jove à oàFutu o:àCo àI se ç oàaoàMu doàP ofissio al àeàsuasà ola o aç es
Autores: Giovana Colombo Baroni, UNESC; Kathleen Adriane Forlin, UNESC; Zolnei Vargas E. de Córdova, UNESC
E-mail dos autores: ketty_forlin@hotmail.com,gihh_b@hotmail.com,zolneivargas@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho visa apresentar o projeto de extensão da Universidade do Extremo Sul Catarinense -
UNESC, localizada na cidade de Criciúma, cidade do extremo sul do Estado de Santa Catarina, sendo o referido projeto
denominado Jovem no Futuro: Com Inserção ao Mundo Profissional, que tem como objetivo trabalhar a orientação
profissional e carreira com jovens, na faixa etária de 14 a 19 anos, com o intuito principal de prepará-los para o
mercado de trabalho e auxiliá-los nas problemáticas e demandas de seu contexto social, visto que com a atual
situação do mercado de trabalho no momento atual de nosso país, se fazem necessários projetos e iniciativas que
possuam tal objetivo. Com isso, o foco do projeto propõe e se pauta na abertura do olhar do jovem acerca de suas
condições e de seu futuro, levando em conta que o público atingido reside em áreas de vulnerabilidade social, e que
muitas vezes não teriam condições financeiras de ter acesso a uma orientação profissional como esta oferecida. Os
encontros propostos ocorrem segundo a proposta e concepção de Paulo Freire e o que se tem percebido é que com a
realização desse projeto é visível o crescimento dos jovens participantes, bem como o seu empoderamento diante da
escolha profissional e da entrada no mundo profissional, no mundo do trabalho. Na perspectiva de Freire, entende-se
que as relações de troca são benéficas tanto para quem ensina, quanto para quem aprende, pois na verdade, segundo
essa concepção, ambos estão aprendendo na troca que acontece dentro da relação. Através disso, utiliza-se da
dialética e concepções metodológicas freiriana a fim de romper a hierarquia de dominante e submisso, empoderando
socialmente os jovens participantes desse projeto, buscando demonstrar as potencialidades e as possibilidades que
possuem mesmo diante da condição e situação em que se encontram. Dessa forma, para que o mencionado projeto
possa ser executado com êxito, são realizadas revisões bibliográficas como forma de atualização de conteúdos sobre
mercado de trabalho e orientação profissional e encontros semanais com os jovens participantes, em uma escola
estadual de área vulnerável da cidade de Criciúma, onde as acadêmicas da Universidade do Extremo Sul Catarinense
se deslocam para atuar ainda segundo a referida perspectiva, buscando levar aos participantes dinâmicas e técnicas
que possibilitem atingir os objetivos propostos pelo projeto em questão, sendo que atuação das acadêmicas acontece
com acompanhamento e supervisão de professores dos cursos de Psicologia e Educação Física da universidade. Sendo
assim, a atuação da Psicologia acontece em conjunto com a Educação Física propondo um olhar interdisciplinar que
colabora com os eixos temáticos do projeto que incluem além da orientação profissional, a cultura, a qualidade de
vida e a preparação para o mercado de trabalho. Dessa forma, as atividades oferecidas possuem o olhar
interdisciplinar, como já mencionado, ao trabalhar cultura, esporte e lazer e elaborando metodologias de trabalho na
linha das políticas públicas, com foco no encaminhamento ao mundo do trabalho, e um olhar social, auxiliando os
jovens a atingir as demandas vividas em suas imediações sociais. Diante disso, ressalta-se que os resultados obtidos
são bastante satisfatórios, tendo em vista que ao final da realização do projeto, os jovens tem saído com a profissão
que desejam seguir já escolhida, um curso encaminhado, e alguns ainda, já saem encaixados na área de atuação
profissional desejada. Portanto, identifica-se que o projeto muito contribui para o crescimento tanto pessoal quanto
profissional desses jovens e consequentemente contribui para o crescimento da comunidade e cidade em que estão
inseridos.

586
Transição de carreira no cenário esportivo: A vivência do encerramento da carreira de atletas profissionais
brasileiros
Autores: Adriana Pereira Barcelos, Instituto Sede Sapientiae
E-mail dos autores: adriana.psicologiaesportiva@gmail.com

Resumo: O estudo da transição de carreira vem despertando o interesse de pesquisadores nos últimos anos devido a
sua relevância diante do cenário esportivo mundial. O termo transição de carreira é utilizado para se referir
especificamente, à transição da fase de excelência para a fase da aposentadoria esportiva. A interrupção de uma
atividade praticada durante anos, o rompimento das relações de trabalho, a mudança da rotina com a troca dos
hábitos cotidianos são apenas alguns dos fatores que compõem a transição para uma vida pós-aposentadoria.
Considerando-se o esporte de alto rendimento como uma atividade laboral remunerada, este estudo tem como
objetivo investigar como ocorre o processo de transição de carreira em um contexto geral e no cenário esportivo, bem
como, compreender como é vivenciado o processo de encerramento da carreira esportiva por atletas profissionais
brasileiros de modalidades diversas, a partir de uma revisão da literatura brasileira.
Optou-se pela pesquisa bibliográfica enquanto procedimento metodológico. O levantamento bibliográfico limitou-se a
obras na língua portuguesa, em formatos de livros, teses, dissertações e artigos e, em virtude do recente despertar do
interesse dos pesquisadores pela temática, foram consideradas desde as primeiras obras descritas na literatura
brasileira até as mais recentes, compreendendo o período de 1991 a 2014 sem restrição de modalidades esportivas.
Após o levantamento bibliográfico foi realizada uma triagem das informações encontradas no material pesquisado,
por meio de uma leitura exploratória. As anotações foram dividas nas seguintes categorias que deram nome aos
capítulos deste trabalho: O trabalho e a transição de carreira, o atleta e a vivência da transição de carreira esportiva e
o ex- atleta e as consequências pós-aposentadoria.
Notou-se que a relação homem e trabalho é intermediada por vários significados. De acordo com a literatura, o
trabalho é mencionado como uma fonte de renda que proporciona a aquisição de bens necessários à sua
sobrevivência, como norteador na vida humana responsável pela construção social do homem e pela formação de
uma identidade profissional, entre outras.
Uma dinâmica de relações semelhantes é encontrada no cenário esportivo entre atleta e esporte, considerando-se a
prática esportiva de alto rendimento como uma modalidade de trabalho remunerado. Assim, pode-se dizer que o
esporte também desempenha essa função de norteador da vida do atleta, significando para o atleta o combustível que
move a sua vida e determinando o marco de sua identidade esportiva.
Identificou-se que a aposentadoria esportiva é um momento inevitável na vida de um atleta, resultante da
combinação de fatores individuais e influências sociais que diferem de um indivíduo para outro. Constatou-se que,
para a maioria dos atletas, esse momento é vivenciado de forma ambígua, sendo percebidos ao mesmo tempo,
sentimentos como tristeza, alegria, alívio, tensão, realização, depressão, ansiedade, medo e culpa. Sentimentos estes,
que também são descritos em comparação à transição nas demais profissões.
Nesse momento inevitável o atleta busca encontrar redes de apoio para ajudá-lo a enfrentar esse processo de
adaptação, sendo a família o principal ponto de apoio. O estudo apontou que são raros os casos de atletas que buscam
ajuda profissional para superar essa fase.
A realização de programas de destreinamento e de preparação para a aposentadoria mostra-se como fortes aliados no
que diz respeito à adaptação das várias esferas da vida a essa nova realidade, bem como de um novo recomeço
profissional. Contudo, o estudo revelou que grande parte dos atletas não se preocupa em se preparar para esse
momento, alegando o desejo de continuar jogando até quando for possível, decisão esta que pode ter um impacto
negativo, comprometendo uma vida nova e a própria vivência desse processo, podendo gerar consequências
irremediáveis. Por outro lado, os técnicos também se mostram distantes dessa prática preventiva, uma vez que a
maioria reconhece a importância desses programas, porém desconhecem suas práticas.

587
Concluindo, este estudo apontou a necessidade da compreensão da transição do ponto de vista da família, uma vez
que, ela é apontada como a principal rede de apoio buscada pelos atletas. Outra faceta importante a ser explorada diz
respeito a realidade dos atletas após a aposentadoria e ao uso de álcool e outras drogas ainda durante a carreira, já
que, o uso abusivo destas substâncias é citado como uma das consequências da aposentadoria.
*Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais Campus Poços de Caldas, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Psicologia.
Orientador: Prof. Dr. Ronny Francy Campos.

588
GT 28 | Poéticas Insurgentes: Hospitalidades entre Arte e Psicologia Social diante de uma
Democracia por Vir

Coordenadores: Alberto da Silva Amaral, CESUPA | Édio Raniere, UFPel | Luciano Bedin da Costa, UFRGS

Oà o ite:àte doà o oàei oà I su g iasà ti o-estético-políticas: artes, tecnologias e subjetivação', o presente grupo
de trabalho se coloca como espaço de hospitalidade às poéticas que insurgem no contemporâneo, acolhendo
pesquisas que problematizam ressonâncias entre arte, política e psicologia Social. Trata-se de um espaço híbrido, onde
intercessores do teatro, literatura, performance, dança, cinema, artes visuais, música (...) se vejam hospedados pela
psicologia social e, da mesma forma, questões da psicologia social possam ser hospedadas pelas artes em questão.
Serão muito bem vindos trabalhos que desterritorializem identidades tanto da psicologia social como das artes e que
fabulem condições de possibilidade para uma democracia por vir.
A provocação: tentemos resistir ao óbvio. Seria esperado que, diante do esquálido cenário de nossa política atual – e
por desta nos julgarmos supostamente à parte –, tomássemos a balda via de uma crítica assumida desde o olhar de
fora. Seria mais seguro se, diante da tonelada de fatos que nos chegam aos borbotões, nos colocássemos a friamente
analisá-los,à seà daà posiç oà deà a alistas à eà psicólogos sociais estudássemos sua conjuntura, as possíveis razões que
pudessem clarificar o que, apartado de nós, amontoa-se e monumentaliza-se a cada novo escândalo do que
irrefletidamente chamamos de política.
Em nome de uma ordem econômica ditada por indicadores probabilísticos tão volúveis quanto maciços, rezamos junto
ao genuflexório de uma perversa economia que atende pelo sagrado nome mercado. O ritornelo midiático (entoado
pelos supostos especialistas): o mercado quer isto; o mercado não irá reagir bem; o mercado conta com aquilo. Ao fio
desta ladainha derrubamos uma presidenta, rasgamos a constituição, destituímos direitos historicamente
conquistados, andamos em marcha-ré rumo a sabe-se lá onde.
Em um espaço social eminentemente clivado, o outro passa a ser signo de ameaça. Assoamos, então, nossos narizes
na tentativa de expulsar o que não nos parece pertencer, hostilizar o estranho hospedeiro que atende por uma
terceira pessoa do plural. Em nome de um eles lançamos nossas mais contundentes vociferações, lavrando a ata de
um imaculado e íntegro nós capaz de dizê-lo sem que sujemos nossas próprias mãos. Eles, os políticos. Elas, as
fascistas. Eles, os comunistas. Elas, as bichas. Eles, os negros. Elas, LGBTs. Eles, os infratores, os indígenas e toda uma
gama de variações identitárias. O outro torna-se, pois, o eco de um insaciável eles, imagem acústica de resíduos
distônicos e ao mesmo tempo gregários. Pelo fato de não sermos eles é que nos vemos no direito de enunciá-los.
Pintamos então a cara de verde-amarelo para limparmos o sangue do outro que habita nossa própria língua.
Colocamos nossas máscaras para atacar o que não nos agrada. De um modo ou de outro o jogo é sempre o mesmo:
Eleà à au,à logoà euà souà o .à Diag sti oà e t e a e teà p e isoà ap ese tado por Friedrich Nietzsche em sua
Genealogia da Moral sobre o funcionamento do corpo ressentido.
Resta-nos, caso seja de nosso interesse, experimentar modos outros de relação com os saberes, pensar pesquisas que
possam borrar fronteiras do corpo e da língua, que se instalem em limiares (po)ético-políticos capazes de provocar
encontros não pro/nominados com o outro (ou ao menos que não façam dos pronomes os pontos de partida ou de
chegada). Interessa-nos, destarte, a pesquisa enquanto ato performático de combate com e no mundo, hostil às
formas enrijecidas de objetificação do outro. Agrada-nos o fato de termos junto a esta comunidade pesquisas
militantes e ativistas de uma economia (não do mercado), mas dos afetos e das com/potências. Interessa-nos pensar a
escrita – de uma tese, de uma dissertação, de uma pesquisa, de uma performance, de um artigo – enquanto gesto de
hospitalidade, gesticulação (po)ética de abertura ao Outro sob permanente estado de transitividade, superfície
expressiva de passagem.
A escrita-pesquisa como gesto de hospitalidade a uma democracia por vir
Se a hospitalidade se refere ao movimento de acolher, em sua própria morada, o estranho e vulnerável, então o
g a deàdesafioà o sisteàe à e ifi a àaàsituaç oàdosàditosà ul e eis .à“e àhospitaleiro pressupõe, segundo Derrida, a
capacidade de recepção/acolhimento do Outro em sua radical alteridade, relação marcada por uma ignorância
primordial, dado que o que se ignora não são os pontos de singularidade daquele/daquilo que se coloca diante de nós,
mas, sim, os traços identitários de poder que colocam estes sujeitos e os grupos em estado de falta. A insurgência,
neste aspecto, não é a simples revolta diante da diferença relacional que marca uma relação de poder em relação ao
outro (a um revoltar-se com o que o outro supostamente não tem), mas o fato de haver, no encontro, feixes de
potência por vir capazes de serem acionados somente no acontecimento deste mesmo encontro. Assim, ao

589
compreendermos o pesquisar e o escrever enquanto possibilidade de encontro, compreendemos a potência
insurgente decorrente deste mesmo encontro, acionada quando nos colocamos em relação com o Outro,
hospedando-o e sendo hospedados pelo que se revela somente neste encontro.Trata-se de escrever-pesquisar como
quem se coloca à beirada da Noite, abertura insensata ao que nos abala, experiência do front em que o outro (ao invés
de mero objeto, grupo ou sujeito de uma pesquisa) passa a ser nosso cúmplice no abalamento do dia. O contrato ou
atestação deste encontro tem um nome: amizade.
Para Derrida, pensar a hospitalidade significa pensá-la sem condições, significa o acolhimento incondicional do outro
que nos chega sempre a um estranho e esquizo galope. Porém, o filósofo reconhece que a hospitalidade sempre foi, e
é, praticada so àalgu asà o diç es.àH àu aàa ti o iaài solú el,à o-dialetiz el ,àe t eàáàleiàdaàhospitalidade,àaàleià
de uma hospitalidade incondicional e ilimitada, de total abertura ao outro que chega; e as leis civis da hospitalidade, as
leis de direitos e deveres condicionais e condicionados por um Estado de Direito. A aporia reside justamente nesta
assimetria, nesta estranha hierarquia em que A lei incondicional da hospitalidade está acima das leis e é, portanto,
ilegal, fora da lei, anômica.
Em tempos sombrios onde o acolhimento do Outro se manifesta de forma cada vez mais burocrática (mediado por
valores legais e morais das mais diferentes ordens), o exercício da hospitalidade nos parece um desafio e tanto. As
manifestações de 2013 e as ocupações de 2016 nos revelaram a fissura do homem representado anunciado por
á to ioàNeg iàeàMi haelàHa dt.àÉà essaàpe spe ti aàdeà ueà i gu à osà ep ese ta à ueàDe idaàe o aàaà oç oàdeà
u aà de o a iaàpo à i à laàd o atieà à e i ,à oàseàt ata do,àpo ,àdeàu aàde o a ia futura, prestes a ser
efetivada. A democracia por vir ultrapassa os limites do cosmopolitismo, não se referindo a uma imagem-modelo aos
grupos e às cidades, a um novo regime, a uma nova organização de Estados-Nação (ainda que isto possa ser
desejável). Significa, antes de tudo, que esta democracia com a qual sonhamos está ligada conceitualmente a uma
promessa. A ideia de uma promessa está inscrita na própria ideia de democracia, através de valores que de forma
explícita ou tácita a sustentam: igualdade, liberdade de expressão, liberdade de imprensa, etc. Pensar uma democracia
por vir implica, para Derrida, uma operação em relação à própria democracia, um compromisso ético para com o que
está por vir e à contrapelo da própria promessa, exercício ativo de uma improrrogabilidade em relação às violências,
capturas e também às hospedagens a que estamos envolvidos.
Diante disto, este grupo de trabalho reforça o convite no acolhimento de escritas, pesquisas e ensaios que possam
performatizar a geografia do panorama supracitado, apostando no encontro entre arte, política e psicologia social. Em
tempos em que democracia e Estado de exceção se digladiam escancaradamente, colocamo-nos à escuta de vozes e
poéticas que se façam insurgentes, de pesquisas-escritas que possam nos ajudar, não a analisar friamente o que
supostamente está acontecendo, mas a nos aproximar do calor oriundo de potências por vir e de devires aberrantes.
Os interlocutores
COSTA, Luciano B. AMARAL, Alberto (org). O improrrogável: exercício de tateio. Dossier da Revista Polis e Psiquê, v. 7,
n.1 (2017). Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/PolisePsique>.
DERRIDA, Jacques. O monolinguismo do outro ou a prótese de origem. São Paulo: Campo das Letras, 1996.
_____. Cosmopolites de tous les pays, encore um effort! Paris: Galilée, 1997.
_____. Da hospitalidade. Trad. Antônio Romane. São Paulo: Escuta, 2003.
_____. Papel-máquina. Trad. Evando Nascimento. São Paulo: Estação da Liberdade, 2004.
_____,Parages, Paris: Éditions Galilée, 1998.
_____, De l´Hospitalité – F ag e ts‖,ài :àÉ a tsàd´Ide tit ,à / à ,à -8.
_____,àMa ifesteàpou àl hospitalit ,àPa is:àÉditio sàPa olesàd´áu e,à .
_____. Força de lei: o fundamento místico da autoridade. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
_____. Adeus a Emmanuel Lévinas. Trad. Fábio Landa. São Paulo: Perspectiva, 2008.
DUQUE-ESTRADA, Paulo Cesar (org.). Espectros de Derrida. Rio de Janeiro: NAU editora, 2008.
LEVINAS. Emmanuel. Totalité et Infini, essai sur l`extériorité, La Haye: Martinus Nijhoff, 1961.
_____, Humanisme de l`autre homme, Montpellier: Fata Morgana, 1972.
_____, Éthique et Infini, Paris: Librairie Arthième Fayard, 1982.
NEGRI, Antonio. HARDT, Michael. Declaração: Isto não é um manifesto. São Paulo: n-1 edições, 2014.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral: uma polêmica. Trad. Paulo Cesar de Souza. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.

590
A arte como dispositivo de (re)existência no fazer político
Autores: Gabriela Assis Da Silva Costa, CES-JF; Lara Brum de Calais
E-mail dos autores: gabriela_assisc@hotmail.com,laracalais@hotmail.com

Resumo: A cada dia que passa nos deparamos com o nosso poder público envolvido em escândalos. Surgem protestos,
deixando clara a insatisfação com a política. Enquanto o exercício da cidadania se atualiza de uma forma rápida, as
instituições não acompanham esse ritmo, evidenciando uma distância entre a sociedade e o poder público. Mas às
margens de tudo isso há algo potente emergindo. A despeito da fragilização da política institucional, florescem em
suas bordas novas possibilidade de atuação, de incidência e de transformação. Vemos um levante popular de rara
proporção nas principais cidades do Brasil, constituindo um fenômeno complexo, contraditório e heterogêneo que,
exatamente pela incapacidade de sua classificação, nos sugere estarmos frente a um processo de subjetivação política
singular da contemporaneidade. A arte aparece aqui como uma fabricação de sua época. É no seu poder estético, de
criação, de sensibilização, da junção entre poesia e sua capacidade de perceber as sensações, que compõe sua
resistência. A arte pode questionar o presente, a fim de inventar novas dobras, novos estilos de vida, novos modos de
existência, tornando-se uma forma de resistir ao intolerável do presente. Neste sentido, os questionamentos e a breve
discussão que compõem este resumo, fazem parte de um projeto de monografia em andamento, vinculado ao Centro
de Ensino Superior de Juiz de Fora, fundamentado por pensadores como Jacques Ranciére, Gilles Deleuze e Félix
Guattari. Pretende-se compreender a concepção política que atravessa os discursos da estética, de modo a entender
como as manifestações artísticas o e seus desdobramentos, adquirem um efeito político, trazendo assim como
problemática o seguinte questionamento: pode a arte agir como dispositivo de resistência e existência no fazer
político agindo como potência de transformação a partir do enlace entre o fazer estético e o político? Para Rancière
(1996), a política faz ver uma nova lógica de composição e de distribuição das ocupações, dos espaços e dos tempos,
ao romper com a antiga ordem policial subvertendo-a dando visibilidade aos excluídos, aos que não têm lugar. Ela
aconteceria não através do consenso, ou seja, daquilo que se possui em comum, mas da ordem do dissenso. É uma
forma de questionar o consensual, o tido como dado, o que é normal, e promove rupturas e transformações nos
modos usuais de aparência e circulação de palavras, corpos e imagens. Deleuze e Guattari (2004) pontuam que a arte
não é representativa. Ela é criação, composição de blocos de sensações, afectos e perceptos, que escapam ao
humano. Daí a possibilidade de pensar arte como resistência que afeta aos movimentos emergentes de tais relações
de forças. Pode-se pensar assim, na possibilidade de um real fundado pelas palavras, pelos sons, pelas imagens, pelos
gestos, que se acrescenta ao mundo pela sua presença e constitui, por isso mesmo, um próprio mundo. Nesse sentido,
a arte adquire uma potência de recriação das formas de (re)existência. O trabalho será conduzido segundo um modelo
exploratório/descritivo compreendendo a observação, registro, análise e correlação dos fatos ou fenômenos e
investigação do problema. Será feito um breve levantamento e análise de pesquisas, textos e publicações que centram
nas relações entre arte e política seu foco de interesse. O fenômeno do poder, seja por meio de instituições ou
espaços de existência, atravessa as configurações da sociedade, o exercício da cidadania e espaços com diversas
possibilidades de vivências. A própria vida é vista como lugar e objeto de constituição política. De forma ética, algumas
práticas podem abrir espaço para uma reflexão, possibilitando novas formas de resistência que perpassam a
participação política. A estética como prática que forja modos de ser, pensar, agir e sentir, pode atualizar um campo
de possibilidades existenciais. O trabalho se torna relevante, pois busca estudar a relação entre arte e política,
considerando a arte como um campo de posicionamento crítico, nos modos de resistência e existência, em relação às
políticas e ao sistema hegemônico. O que abre caminho para a participação da arte como operação constituinte na
configuração de novos e potentes territórios existenciais e de resistência micropolítica na afirmação da diferença,
visibilizando o enlace entre as artes e a psicologia social e política, ao se articularem às formas de subjetivação
contemporâneas.

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A Experiência-Limite da Escrita de Max Martins e Maurice Blanchot: Uma vida de imanência
Autores: Alberto da Silva Amaral, CESUPA
E-mail dos autores: albertoamaral@gmail.com

Resumo: A presente comunicação pretende realizar um diálogo em torno de dois poetas pensadores um francês e um
paraense, que o isolamento físico dos mesmos serviu de potência nas reverberações de suas palavras e em virtude
disso propusermos uma análise em torno da Experiência Limite da escrita apresentada pelo poeta paraense Max
Martins e o escritor francês Maurice Blanchot, uma vez que para esses poetas pensadores no seu modo de agir e
pensar a literatura aquele que escreve, escreve porque ouviu o inaudível, podemos pensar que aquele que escreve é
quem olhou o interminável. Esse raciocínio e indagação poderiam resumir o poder-ver, a disponibilidade do leitor para
acolher a palavra escorregadia de Blanchot e das poesias potentes de Max Martins, aonde apresenta essa experiência
de um impossível, de que o discurso, ao sentido barthesiano, é algo intransitivo, não diz nada a não ser ele mesmo.
Nesse jogo discursivo, o pensamento e os modos de escrita são vividas como um drama ontológico, cujo segredo todo
escritor, solitariamente, tenta decodificar. A afirmação da solidão essencial da obra é um código de seus discursos,
mas isso "não significa que ela seja incomunicável, que lhe falte o leitor. Mas quem lê entra nessa afirmação da solidão
da obra, tal como aquele que a escreve pertence ao risco da solidão", diz ele (BLANCHOT, 1987, p.12). Com isso,
percebe-se que poesia de Max permite um questionar em torno da experiência da escrita, uma invenção de Uma Vida,
maneira de dar passagem a múltiplas possibilidades dessa vida, numa relação inteiramente desapossada do Uno, na
qual o Experimento do ato Criativo extravasa uma potência Vivível ou Vital. Experiência de acesso ao que existe de
mais singular no pensamento da Arte/Literatura, fio condutor de intensivos deslocamentos, território por excelência
da Imanência de Uma Vida. O sentido de vida ganha, assim, a dimensão de uma experiência-limite que mantém acesa
a ideia de Blanchot (1986/2007), abordando a possibilidade permanente de o homem se colocar em questão. Desta
maneira, Blanchot, conversando com Bataille, coloca em evidência a ideia de que a experiência exige o acontecimento
de se colocar em questão, porque ela abre na existência acabada uma brecha para que isso que está definido deixe-se
repentinamente transbordar e escapar como uma possibilidade, num inacabamento disforme, estranho. "De onde
vem este movimento de exceder cuja medida não é dada pelo poder que tudo pode?" (Blanchot, 1986/2007, p. 190).
Blanchot e Max chama a atenção para uma vida que se coloca também sob outra forma quando a relaciona ao jogo do
interdito e da resistência, o que ultrapassa o limite do possível. "O interdito marca o ponto onde cessa o poder"
(Bataille, 1987 citado por Blanchot, 1986/2007, p. 190). Neste jogo, para Blanchot, é possível afirmar que a resistência
não é um ato de que, em certas condições, a força e o domínio de certos homens se mostrariam ainda capazes. Ela
designa aquilo que está radicalmente fora do alcance: um virtual que exige do homem se abrir quando o poder deixa
de ser nele a última dimensão.

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A política do Texto e seus combates no universo da pesquisa acadêmica
Autores: Luciano Bedin da Costa, UFRGS
E-mail dos autores: bedin.costa@gmail.com

Resumo: Esta comunicação pretende apresentar alguns movimentos operados na pesquisa Políticas do Texto: o
escrever no território da Pós-Graduação, desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e
Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Pensado a partir do campo problemático
emergente da Psicologia Social e Institucional, tem como zona de interesse a irrupção do escrever na formação dX
pesquisadXr. Embora parta do universo acadêmico onde está institucionalmente inserido (Stricto Sensu), compreende
a formação dX pesquisadXr como uma trajetória que inicia já na graduação, abrangendo, inclusive, espaços
formalmente não instituídos e que servem de escopo àquelX que se debruça em sua pesquisa e com ela se constitui.
Assume como campo empírico o universo de escritura junto a mestrandXs e doutorandXs, admitindo espaços outros,
conforme se faça necessário. Enquanto campo epistemológico faz uso do pensamento/obra de Roland Barthes,
Maurice Blanchot, Jean-Luc Nancy, dentre outros. Com auxílio destes, procura investigar e fomentar experiências de
escritura na trajetória de formação do pesquisador, através de Seminários de Pesquisa e Ateliers de Escritura.
Compreende o desenrolar de uma pesquisa enquanto aventura de escritura (aquilo que advém, ad/ventura),
entendendo pesquisar e escrever como movimentos intercambiantes e potencialmente disparadores de novos
processos de pensamento. Em seu tracejar metodológico faz uso de uma tática excursiva, a excursividade pensada
enquanto deriva da linguagem para além de seu curso comum (ex/cursus). O escrever excursivo, aqui entendido como
Texto, coloca-se como um gesto de resistência diante do serialismo imposto pelo discurso científico e sua exigência
por produtividade. No entanto, a excursividade enquanto tática investigativa comporta um zelo, um cuidado por
aquilo que se escreve, pelo seu próprio processo de escritura (com suas derivas e derivações). O escrever passa a ser
entendido não como o acesso ou expressão de um tema maior (a tese/conteúdo de uma Tese/Dissertação), mas como
inscrição de si junto a um território em-comum, fazendo com que se resgate a força etimológica de thésis, o
movimento de por algo no mundo. O sujeito da excursividade, aqui entendido como pesquisador-escriptor, é antes
esse sujeito ex-posto, mergulhado ao fora que o habita e às potências coletivas que o assediam. Como via de acesso a
estas potências, a pesquisa propõe uma relação estreita com as artes e literatura, estas entendidas não como
ilustração ou metáfora para saberes científicos tidos como primeiros, mas como um campo de variação estilística e de
errância/polifonia discursiva. Durante os dois anos da pesquisa tem-se explorado o universo do escrever junto a
pesquisadores em formação, convocando-os a práticas coletivas de escritura solicitadas no encontro com a literatura e
com autores que versam sobre o escrever. A evocação de um desejo de escritura neste universo e compreendo que
tal evocação se faz às sombras de uma resistência sempre por vir , se mostra como exercício de um permanente
combate, de uma géstica combativa diante da trama institucional que equaliza o escrever a uma simples contabilidade
produtiva. Nos primeiros dois anos da pesquisa foram produzidos alguns materiais interessantes referentes à política
do Texto, a saber: Ainda Escrever: 58 combates para uma política do Texto (livro publicado por Lumme Editor, 2017);
O improrrogável: exercícios de tateio (organização de Dossiê na Revista Pólis e Psiquê, 2017); Mitologias (organização
Dossiê na Revista Processo C3, 2017) e A escrita ocupada (curta-documentário, 2017).

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Ainda era confuso o estado das coisas percursos entre palavra e imagem
Autores: Lilian Hack, UFRGS
E-mail dos autores: lilianhack@gmail.com

Resumo:
Como abordar o processo de criação que disparou uma pesquisa teórica sobre arte? Questão que não para de fazer as
palavras gaguejarem. Questão que parte do seguinte percurso realizado: A modelagem de um objeto, uma pequena
peça cerâmica. A escavação do buraco, incisão que permite a essa peça não explodir durante sua queima. A palavra
buraco, encontrada no texto O Inominável, de Samuel Beckett. A carta que denuncia o buraco como crise,
endereçamento da palavra que grita diante da falha e fracasso da comunicação. O buraco tornado imagem: uma obra
ignorada. Estes dados de afeto e processo poético mais tarde colocam a questão de uma pesquisa de Mestrado em
Artes Visuais, mas em tal pesquisa em momento algum esse processo de criação foi posto em cena sob a pena de fazer
perder o giro que colocava a escrita em crise sob a forma da pergunta: o que pode a escrita diante da imagem? O
buraco era a fissura, fenda, incerteza que lançou à pesquisa, tomado como uma espécie de metodologia, uma
arqueologia da imagem: escavação nas camadas de visibilidades, escavação nos modos de produzir saber, lugar do
interstício, do limiar que encontramos ao escrever, ao colocar a palavra diante da imagem, sem reduzir uma à outra.
Mas nesta proposta que se deseja partilhar estas questões transvaloradas e vistas a partir dessa obra ignorada seriam
estas: como esse processo de criação poética produziu uma pesquisa teórica sobre as relações entre palavra e
imagem? Fundando um invisível presente naquela pesquisa, uma obra ignorada, uma imagem irrevelada, de alguma
forma essa imagem ausente era a própria possibilidade de dar a ver uma palavra contida no processo de criação, pois
suspeitava-se que dar a ver qualquer imagem interromperia o fluxo das palavras e a errância que as movimentava,
lançando a busca a um plano representacional. Por outro lado suspender a imagem também era interrogar-se sobre o
horror contemporâneo de um mundo cada vez mais dominado por imagens, onde estas parecem conceder a tudo uma
forma reconhecível, um domínio terrível no qual tudo pode tornar-se imagem a ser veiculada e acessada, domínio do
jogo representacional onde o sujeito é feito à sua imagem. Projeto identitário. Blanchot inverte essa fórmula: O
homem é desfeito à sua imagem. Como não ficarmos presos às imagens, a esse projeto de detalhar todos os aspectos
da vida cotidiana, de vigiar e ser vigiado, de ser obsedado e absorvido pelo desejo de consumir a que elas nos lançam?
Esse horror a um mundo feito à sua imagem e semelhança é o horror a um mundo onde a arte e seu regime de
dessemelhanças para pensar com Rancière, ou de semelhanças informes para pensar com Bataille e Didi-Huberman,
perde lugar. Talvez frear a produção e veiculação incessante fosse um modo de, enfim, atingir uma imagem. Se a
imagem é processo, como escreveu Deleuze, ela se confunde com o vir a ser, com o devir, com o que pode sempre
receber um olhar contemporâneo, tal qual Agamben o sugere. Desejar a vida como a uma imagem perfeita é um jogo
terrível, uma aniquilação do processo. Estas ideias envolveram um corpo que pesquisava farejando como um bicho, ou
escavando como um arqueólogo, sem saber exatamente o que encontrava, mas admirando-se com o achado.
É no desejo de expor esse processo de criação que inventamos uma intimidade com alguns textos e autores que
faremos perambular nesta busca: Roland Barthes em suas considerações sobre a imagem em A Câmara Clara (1984),
mas especialmente em sua experiência das pequenas solidões a lhe denunciar a ferida, Maurice Blanchot e seu
fascínio pela imagem, e ainda dois precursores literários: O Cavaleiro Inexistente de Ítalo Calvino, e A Obra Prima
Ignorada (2012), de Honoré de Balzac. Pensar com o pensamento da literatura, nos contaminar desse pensamento
para, através dessa palavra da literatura, encontrar a palavra da imagem. Isso porque essa palavra da imagem quer
enunciar um conceito de imagem que põe em movimento a escrita, precisamente a escrita que é tarefa daquele que
se coloca diante das imagens da arte: o pesquisador-artista, aquele que busca, e que se coloca em questão nessa
busca. Dessa forma essa escrita quer mostrar-se como ensaio de uma poética tal qual Didi-Huberman a explicita,
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concedendo uma confiança à capacidade criadora não apenas da imagem, mas também da palavra, ou seja, uma
confiança epistêmica concedida às imagens, tanto quanto uma confiança formal e criadora concedida à palavra. (1998,
p. 187) Se escrevemos sob o fascínio da imagem como afirma Blanchot, investigar a imagem através da palavra seria
um modo de se interrogar sobre o processo de criação de uma imagem, o que possibilitaria encontrar modos de
pensar a própria vida como obra de arte.

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BRTRANS: Análises sobre gênero, performatividade e abjeção
Autores: Andressa Carvalho Castelli, UFPE
E-mail dos autores: the.goncalves@hotmail.com

Resumo: Esse trabalho situa-se no campo de produções sobre os estudos de gênero, nos contornos do debate pós-
identitário, onde convergem teorias de diferentes abordagens que endossam a ideia geral de que, na
contemporaneidade, a identidade já não mais poderia ser compreendida em termos de um constructo indissociável,
linear e coerente. Interpretado por Silvero Pessoa, o espetáculo BRTRANS, objeto de análise desta pesquisa, põe em
cena as identidades em suas complexidades através de um monólogo que congrega referências artísticas clássicas e
contemporâneas. Nossa fundamentação teórica se baseia, por um lado, em uma leitura sobre o semiótico e o
simbólico, inspirada nas noções de intertextualidade de Kristeva e na abordagem de Jacques Rancière sobre estética e
política e, por outro, em reflexões sobre jogos performáticos de gênero e abjeção, especialmente a partir de diálogo
com Judidh Butler. O objetivo principal do trabalho foi o de investigar o conceito de Abjeção, dentro da dinâmica dos
jogos performáticos de gênero, através da análise da gravação da performance proposta no espetáculo teatral
BRTRANS produzida pelo coletivo As Travestidas. Analisar uma peça de teatro gravada em video é colocar-se o desafio
de pensar um gênero (audiovisual) híbrido, fluído, fronteiriço, que tem como suporte simultâneo a imanência do corpo
na iminência da rede. Considerando que o espetáculo constitui-se como um sequenciamento dessas enunciações, a
técnica de análise empreendida sobre o espetáculo se baseia na ideia de blocos narrativos (PASSARELLI, 1998). E, para
contrastar os efeitos de verdade produzidos pela unidade narrativa como um todo com os do bloco narrativo
selecionado, construimos linhas narrativas, na tentativa de reconfigurar redes de sentido que nos permitem uma
aproximação ao nosso objeto de estudo. A construção dos blocos e linhas narrativas se configura como mapeamento
de elemento disparador ou ponto de partida para nossas considerações. (SPINK E LIMA,2004) menina; 6) Gisberta e
Geni. Para fins desse estudo das manifestações estéticas da abjeção e dos estudos performáticos de gênero,
restringiremos nossas análises em relação aos blocos 1, 2 e 4, os quais trazem mais elementos pertinentes à pergunta
de pesquisa aqui formulada. O espetáculo BRTRANS é capaz de promover diversas experiências estéticas da abjeção
nos liames dos jogos performáticos de gênero, propiciando simultaneamente a experiência do dissenso e a
redistribuição do sensível (como propõe Rancière), ao nos provocar sobre a revolução da linguagem poética (como
proposta por Kristeva) BRTRANS permite ao espectador o questionamento de sua própria realidade, inclusive da sua
condição de espectador, a medida em que aquele que assiste passa, aos poucos, a também constituir a obra. O sujeito
é convidado a adentrar a condição de autoria ao passo em que se identifica com Silvero/Gisele numa dinâmica
antipredicativa do reconhecimento, baseada no afeto do desamparo provocado pelo estranho familiar que eclode
através de uma revolta íntima. Por fim, o espetáculo torna legível algo da ordem do Real, do excluído, passa a reiterar,
de modo performativo, alguns elementos da literatura clássica de Shakespeare e músicas Pop contemporâneas, de
fáceis inteligibilidades, para posteriormente adentrar ao campo das performances para propor o ininteligível,
tornando reconhecíveis e amáveis as ditas formas abjetas e miseráveis.

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Cinema documentário, ética e o campo psi: a produção da diferença entre imagens e representações
Autores: Pedro Felipe Moura de Araújo, UFF
E-mail dos autores: peehfe@gmail.com

Resumo: Enquanto palavra e domínio específico do cinema, o documentário começou a se estabelecer nos anos 1920,
trazendo as marcas de significação do campo das ciências humanas, para designar um conjunto de documentos com a
consistência de prova a respeito de uma época. A premissa documentária produz um olhar que se desenvolveu sob
forte conotação representacional; assim, tornou-se um método para fornecer o sentido verdadeiro de um tempo e
espaço dados. Ao ser produzido o enderaçamento entre discursos de verdade e imagens do mundo, o documentário
acaba por induzir certas ideias como únicas: sobre comunidades, pessoas ou determinada classe, produzindo e
ancorando-se em histórias com tons conclusivos. De outro lado, o campo da psicologia produziu impressões e
incursões teóricas sobre a experiência audiovisual, ao situar o problema das imagens como trabalho interno da mente
e instituir a cisão desta com o mundo exterior. Na produção do sujeito psicológico em abordagens hegemônicas da
ciência psi, a imagem seria uma palavra e um atributo da consciência, espécie de cópia mental do vivido, e não como
parte do exterior da realidade que o produz. Nesta perspectiva, as imagens cinematográficas foram visadas ora
enquanto boas ou más representações do mundo e de seus conceitos; ora valorizadas como espelhos da alma, onde o
entendimento e a identificação por estas funcionaria como um valor de troca. As representações se apoiam em
convenções socializadas para marcar seu lugar de existência, posto que se quer reconhecível e detectável. Todavia, se
nos voltarmos para o documentário convocando seu processo de urdimento da realidade - com menos atenção para o
que estas representam do que para as interrogações e evidências que emergem de suas relações de poder e variações
sensíveis - a consciência das imagens não estaria separada do mundo exterior, seria parte de sua configuração, seja na
perpetuação do mesmo ou na abertura para a diferença. No caso de histórias, personagens e narrativas que são
extraídas e retratadas como se já fossem mundo, o que implica problematizar os processos de subjetivação frente às
imagens documentárias? Como estas se inscrevem na escrita do mundo entre suas representações ancoradas e os
acontecimentos imprevistos de uma experiência fílmica? A presente comunicação oral faz parte de uma pesquisa de
doutorado em curso, que procura constituir um campo crítico a partir das relações entre as formas de pensar e
maneiras de agir do cinema documentário junto a produção da diferença e processos de subjetivação no
contemporâneo. Seguindo pistas de pesquisa pregressa no mestrado, que partiu de filmes do cineasta Eduardo
Coutinho para pesquisar sobre o documentário e as vinculações éticas de sua práxis fílmica, nos interessa interrogar:
que visibilidades e jogos de poder se apresentam numa experiência de realidade forjada por imagens? Na construção
de um filme documentário, a escolha de imagens exige tomada de posições, implica uma certa ética do mostrar o
outro e o mundo, expõe conexões entre ideias e aparências. Poderia um filme documentário operar como uma forma
que pensa, para além daquilo que parece representar? A montagem cinematográfica seria um primeiro gesto à
perturbar as conexões entre a imagem e o real. A operação de edição implica escolher, cortar e juntar um fazer
aparecer do mundo para os olhos. Como as imagens dão conta dos encontros e negociações do real, entre quem filma
e quem é filmado? Por hospedar uma potência de produzir e se abrir a narrativas que desconfiem de pré-concepções
sobre o mundo, o cinema documentário desautoriza os invólucros identitários como visagem única do saber sobre
outrem e se alia no fazimento de novas alianças do pensamento com imagens, na fabulação de um devir democrático
que possa suspender o escopo das representações. Tais proposições e indagações se aliam a estudos e pesquisas que
refletem sobre a particularidade do discurso produzido por imagens em movimento (Ismail Xavier, Jacques Ranciere,
Marie-José Mondzain); que investigam a ética do cinema documentário na sua forma de operar com imagens e contar
histórias, inscrever encontros no mundo (Anita Leandro, César Guimarães, Jean-louis Comolli); como também a aposta
na leitura de autores que pensam a produção de imagens na história em sua desconfiança do estabelecido, ao
percebê-las em seu ethos e seu pathos frente aos impasses do real (Walter Benjamin, George Didi-huberman, Gilles
Deleuze). Enquanto metodologia, credita-se ao cotejo da forma ensaística uma entrada possível no trato das palavras
na conexão entre conceitos e imagens, perscrutando um ethos na experiência da escrita anunciada na filosofia de
597
Walter Benjamin. O presente trabalho intentou objetivar uma experiência de pesquisa e de escrita que fez reverberar,
por fragmentos e histórias menores nos documentários brasileiros recentes, outras proposições sobre a experiência
do sujeito junto as imagens, desenhando aberturas éticas para interrogar os impasses do presente e desfiar as malhas
de narrativas historicamente silenciadas pelas produções do conhecimento.

598
Escuta e subjetividade na contemporaneidade: qual o som do silêncio?
Autores: Gessica Carneiro da Rosa, UFRGS
E-mail dos autores: gessica.psico@hotmail.com

Resumo: Quantos ruídos intermitentes ouvimos cotidianamente sem realmente os escutar? Seria possível entender
tudo que faz nossos tímpanos vibrar? E como compreendemos o que nos chega pela audição? (SCHAEFFER, 1966 apud
FERRAZ, 2005). Estas são algumas questões que movimentam esse trabalho, que traz como tema a escuta e a
produção subjetiva na contemporaneidade. Inicialmente, nos ocupamos do conceito de escuta através das
elaborações dos filósofos Jean-Luc Nancy e Roland Barthes. Barthes (2009, p.235) nos diz que ouvir é um fenômeno
fisiológico; escutar é um acto psicológico. Para Nancy (2014, p.19), escutar é dar ouvidos, é uma intensificação e um
cuidado, uma curiosidade ou uma inquietude. O pensador questiona qual pode ser o espaço comum ao sentido e ao
som?. Esse espaço comum seria a ressonância, uma vez que o sentido consiste num reenvio [...] de um signo a alguma
coisa, de um estado de coisas a um valor, de um sujeito a um outro sujeito ou a ele mesmo, tudo simultaneamente
(NANCY, 2014, p.20). Barthes (2009) afirma que a apropriação do espaço é também sonora. Daí um dos aspectos da
relação entre escuta e espaço: a escuta, de um ponto de vista antropológico, é o próprio sentido do espaço e do
tempo, pela captação dos graus de afastamento e dos regressos regulares da excitação sonora. (BARTHES, 2009,
p.236). Considerando a influência eurocêntrica nos modos de vida ocidentais, propomos uma análise das condições de
escuta (ou falta de) no presente, diante do que Friedrich Nietzsche (2017) denomina niilismo europeu. Com as noções
de nutrição e digestão, Nietzsche (2017, p.183) faz uma crítica à modernidade ao mencionar que o tempo (ou a
velocidade) de assimilação das coisas pela sensibilidade nesse período (e no presente, não?) ocorre de tal modo
prestíssimo (o que, em música, sugere o andamento rápido acima de 200 batimentos por minuto), sem que se possa
digerir aquilo que se capta. Essa dispepsia nos modos de vida seria a manifestação de uma crise no plano de
coordenadas da produção subjetiva? Nesses tempos em que todas as urgências ganham espaço, desde a resposta a
uma mensagem no WhatsApp às pautas dos movimentos sociais (nossas urgências não cabem nas urnas era o slogan
de um dos movimentos que tomou as ruas de Porto Alegre, em junho de 2013) e, até mesmo, a urgência de medidas
para sanar a crise política e econômica propagada pelos meios de comunicação brasileiros (reforma trabalhista,
previdenciária, do ensino médio, etc.), como digerir tamanho fluxo de informação e afeto? Ao tomarmos por
intercessores compositores musicais como Iannis Xenakis, Edgard Varèse, Pierre Schaeffer, Silvio Ferraz e Rodolfo
Caesar, compreendemos a criação artística como potência insurgente e catalisadora diante de um duplo aspecto do
silêncio: como ausência de resposta às demandas sociais de uma população e como condição imprescindível para a
escuta dos sons que nela ecoam. Assim, a questão que perpassa essa pesquisa de mestrado é: como ressoam os
sujeitos e coletivos nessa condição dispéptica da contemporaneidade? Para traçar planos de imanência e composição
(DELEUZE; GUATTARI, 2010), nos aventuramos pela invenção de um método otocartográfico, combinando dois gestos
metodológicos: a otobiografia, de Jacques Derrida, e a cartografia criada por Gilles Deleuze. Segundo Ribeiro e Borges
(2015), ao construir a noção de otobiografia, Jacques Derrida expõe todo um jogo entre o que houve e o que se ouve,
entre o que há e o que é dito, entre o que é dito e o que penetra ao ouvido, e entre o que é ouvido e o que é
simbolizado. (RIBEIRO; BORGES, 2015, p.132-133). A otobiografia é um método que incomoda as certezas da
metafísica da presença e se revela, também, puramente político. (RIBEIRO; BORGES, 2015, p.136). Por se tratar da
etapa inicial deste estudo, não dispomos de resultados ou (in)conclusões a apresentar. Portanto, o objetivo é lançar as
questões de pesquisa e suas bases teórico-metodológicas.

599
BARTHES, Roland. 2 O corpo da música. In: BARTHES, Roland. O óbvio e o obtuso. Lisboa: Edições 70, 2009. p.233-299.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2010.
FERRAZ, Silvio. Livro das sonoridades [notas dispersas sobre composição] um livro de música para não-músicos ou de
não-música para músicos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2005.
NANCY, Jean-Luc. À escuta. Belo Horizonte: Edições Chão de Feira, 2014.
NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de potência. Petrópolis: Vozes, 2017. (Vozes de Bolso).
RIBEIRO, Helano Jader. BORGES, Felipe Amaral. Otobiografia: qualquer ou uma não identidade. Cenários, Porto Alegre,
n.12, p.123-139, 2º sem.2015. Disponível em:
<http://seer.uniritter.edu.br/index.php/cenarios/article/view/1298/839>. Acesso em: 29 jun.2017.

600
Esgotar o Possível, Criar um possível: experiência ética em meio ao colapso de uma democracia
Autores: Édio Raniere, UFPel; Cleci Maraschin, UFRGS
E-mail dos autores: edioraniere@gmail.com,cleci.maraschin@ufrgs.br

Resumo: Vivemos no Brasil uma espécie de falência com relação a algumas das nossas experiências coletivas. A
promulgação da Constituição Cidadã em 1988 levou uma grande parcela da nossa população acreditar que havíamos
construído um patamar mínimo de institucionalidade, a partir do qual novas potências poderiam ser efetuadas.
Contudo em menos de trinta anos assistimos, atônitos, essa crença chegar ao fim. Agenciando o cenário nacional
parece estar em curso, em muitos países, um desmoronamento político. O qual vem colocando em xeque o próprio
regime democrático, muitas vezes naturalizado como garantia inconteste das nações. Nessa circunstância, uma
irremediável questão se impõe: a democracia estaria entrando em colapso? Para além da perplexidade, paralisia e
angústia muitas vezes experienciadas em momentos de crise alguns pensadores e cientistas afirmam que momentos
de breakdown, como o que estamos atravessando, se apresentam grávidos de virtuais. Não se trata de buscar pelo
possível da possibilidade o qual previamente se coloca à disposição como escolha mas se perguntar pelo possível da
potência. Pois o que nos sufoca vem justamente do excesso de realizações, o que nos sufoca é a opressão do já
estabelecido, de sermos arrastados a um permanente agenciamento com a manutenção do que já está posto. Em
nome dessa manutenção é que somos sufocados. Ou seja, o que nos sufoca é a realização das metas, a realização do
programa, a realização dos possíveis. Escolher entre esta ou aquela opção definida como se algo dentro de nós - alma,
sujeito, subjetividade - respondesse através de uma pureza transcendental ao mundo, é o que a lógica exclusiva nos
permite. Dessa forma, se nossas ações políticas estão acopladas à lógica exclusiva (ou isso, ou aquilo) inevitavelmente
seremos convidados a responder como realizar a manutenção do possível. A essa manutenção da lógica exclusiva
Bartleby diria I would prefer not to: preferiria não. O que nos permite recolocar a questão: Haveria na formula de
Bartleby uma ética do esgotamento? Um modo de agir desacoplado à lógica exclusiva, uma ação prática disponível
para esgotar a realização dos possíveis, matar deus, forçar a abertura de outros possíveis? Ao se aliar com a potência
do não estaria Bartleby impedindo a realização dos possíveis que somos permanentemente convocados a realizar?
Nesse sentido, em que medida as insurreições que estamos vivendo criam condições de possibilidade para que uma
ética do esgotamento? Para que a experiencia ética seja tomada em primeiro plano, e não mais a reboque do
projeto/modelo político a ser atingido, escolhido, selecionado? Numa tentativa de problematizar o cansaço político
que envolve os tradicionais modelos de apresentação em congressos científicos esta proposta de trabalho aposta
numa relação híbrida entre teatro e psicologia social. Onde a estrutura de exposição, agenciada por uma dramaturgia
em devir, será performatizada. Para tal utilizaremos como recurso a leitura dramática. Nossos principais intercessores
são Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Francisco Varela e Friedrich Nietzsche.

601
Referências
AGAMBEN, G. Uma biopolítica menor. Série Pandemia. n-1edições.org. 2016.\
DELEUZE, G. O Esgotado. Trad. Oenvídio de Abreu e Roberto Machado. In Gilles Deleuze: sobre o teatro. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2010.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O Anti Édipo: capitalismo e esquizofrenia. Trad. de Luiz B.L. Orlandi. São Paulo:
Ed.34: 2010.
FITZGERALD, F.S. O Colapso. In Fitzgerald: Crack Up. Trad. Rosaura Eichenberg. Porto Alegre: L&PM, 2007.
FOUCAULT, M. As Palavras e as Coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. de Salma Tannus Muchail. São
Paulo, Martins Fontes, 1995.
_____.Vigiar e Punir: nascimento da prisão.Trad de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Editora Vozes, 2007.
NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo: como alguém se torna o que é. (Trad. Paulo Cesar de Souza). São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
SPINOZA, Baruch. Ética. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2007. Tradução Tomaz Tadeu da Silva.
VARELA F. Ética y Acción. Santiago, Dolmen, 1996
VARELA, F. Sobre a competência ética. Lisboa: edições 70, 1992.
VARELA, F., THOMPSON, E.; ROSCH, E. A mente Incorporada: Ciências Cognitivas e Experiência Humana. Porto Alegre:
Artmed, 2003.
ZOURABICHVILI, François. Deleuze e o possível (sobre o involuntarismo na política). In: ALLIEZ, Eric. Gilles Deleuze:
uma vida filosófica. Trad. Ana Lúcia Oliveira. São Paulo: ed. 3, 2000, p 333- 355.

602
Gesto-espaço-imagem: resistências dos corpos na cidade
Autores: Maryana Pereira Jácome, UFMG; Carla Char Melo Sampaio, UFMG; Jardel Sander da Silva, UFMG; Mariana
Tornelli de Almeida Cunha, UFMG
E-mail dos autores: maryana.jacome22@gmail.com, carlacharmes@gmail.com, jardelsander@yahoo.com.br,
marianatornelli@gmail.com

Resumo: O que é um gesto? O que um gesto expressa? O que os corpos expressam no cotidiano da cidade? Como
capturar a fugacidade da expressão dos corpos na velocidade crescente do nosso cotidiano?
Perguntas como estas têm guiado nossa atenção à pesquisa sobre gestualidade e cotidiano, por meio das quais temos
traçado análises comparativas entre gestos cotidianos e gestos artísticos.
O que temos verificado em nosso trabalho é que a pesquisa gestual apresenta-se como um imenso desafio, na medida
em que a vida (o movimento dos corpos) no centro urbano é bastante variada. Somente a observação e a
experimentação do movimento não captam a diversidade desses corpos.
É neste sentido que percebemos que, aliado ao estar na rua, ao trabalho de campo propriamente dito, faz-se
necessário desenvolver formas de registro e modalidades de análise mais acuradas como coadjuvantes na produção
de conhecimento sobre a temática das corporeidades e gestualidades no cotidiano da cidade. Desta maneira, a
pesquisa é também pesquisa metodológica.
Um modo de compreender essa gestualidade, na forma de uma perspectiva de análise, é a discussão que reconhece
na performance (Schechner, 2003) os movimentos cotidianos como comportamentos restaurados. A performance,
neste caso, apresenta-se como borda, como situação inter-relacional, como lugar de negociação. (Silveira, 2014, p.64)
Estes elementos nos levam a questionar sobre a gestualidade cotidiana em seus próprios termos, na busca de
compreendê-la, no movimento dos corpos da cidade, em seus aspectos de repetição e singularidade. Isto é, quais
aspectos podemos perceber nos gestos cotidianos das pessoas no centro de Belo Horizonte que nos indiquem
elementos corpóreo-subjetivos que não só ressaltem as homogeneidades gestuais de nossa cultura (repetição) mas
também a dimensão inventiva e criativa (disruptiva) do corpo em movimento? Quais estratégias e elementos de
registro e análise de imagem podem nos fornecer tal aproximação? De um modo geral, estamos propondo analisar o
gestual cotidiano, a partir da captura e análise de imagens, presente na relação corpo-subjetividade das pessoas no
centro da cidade de Belo Horizonte. Além disso, também nos interessa colaborar no desenvolvimento de ferramentas
metodológicas que possam contribuir com o campo da psicologia social, no que se refere ao estudo do corpo e dos
processos de subjetivação por meio do trabalho e da análise de imagens.
É nesse sentido que é possível afirmar que nosso trabalho dialoga diretamente com o Eixo temático: 4, uma vez que se
caracteriza como uma ampliação do escopo de pesquisa da Psicologia Social, na busca por cartografar modalidades
cotidianas e extracotidianas de movimentos poéticos urbanos que arrancam as subjetivações de seus lugares comuns.
Como interlocutores teóricos temos recorrido a diversos autores que abordam conceitos centrais utilizados em nosso
trabalho. Acerca do gesto, recorremos à Mateo Bonfitto (2002) que, na distinção que faz entre gesto, ação e
movimento. Em relação a espaço público e cidade e, sobretudo às vivências nos mesmos, pautamo-nos em alguns
conceitos propostos por Paola Berenstein JACQUES (2011) e Henri-Pierre Jeudy (2006). Procuramos no trabalho de
Certeau (1998) noções acerca do cotidiano para contribuir com nossas reflexões e vivências. Para temática do corpo,
temos recorrido a autores como Michel Foucault (2005), José Gil (1997), Denise SantAnna (2001), e Jardel Sander
(2006) entre outros.
Para entender quais corporeidades se inserem na cidade recorremos a uma cartografia de corporeidades em espaços
públicos, através dos gestos coletados nas ruas, utilizando múltiplas e itinerantes perspectivas. Para Deleuze e Guattari
(1995) e Rolnik (2006) cartografia é aquilo que permite traçar itinerários e nomadismos, que se faz junto dos
movimentos de transformação da paisagem, objetivando a construção de formas que sirvam à expressão dos afetos
(ROLNIK, 2006).

603
De maneira complementar, para perdermo-nos nas ruas e percorrê-las com outros olhares e novas corporeidades,
recorremos à prática da deriva, como proposta pelos Situacionistas na década de 1960. Vivenciar a cidade para
descobrir de novo, testando novas velocidades, percursos inusitados e diferentes do programado. Assim, é possível
confeccionar novos mapas afetivos da cidade. Com esses mapas e por meio do caminhar registramos o cotidiano da
cidade e pretendemos intervir em imagens do centro da cidade, tentando assim jogar com memórias e afetos,
partindo da ideia de que ler essas imagens da cidade é também uma forma de narrativa.
A pesquisa ainda está sendo desenvolvida, e o que temos são fragmentos de nossas experiências. Entretanto, o que
percebemos até agora é que a cidade, a partir dos corpos que nela movem-se, é turbilhão de afetos, memórias e
histórias, é diversidade inexorável. A partir das derivas e da captação de imagens percebemos gestos diversos, que
acabam por percorrer a linha tênue entre performance e cotidiano. É possível dizer que o corpo que se move pela
cidade, também é por ela movido uma fusão de ritmos. Assim, caminhar em deriva pela cidade é perceber suas
errâncias, aguçar sentidos, ir ao encontro de inúmeras formas de construções subjetivas.

604
Hotel dos Viajantes: A Cidade Escrita e a Escrita em Imagens
Autores: Laura Barcellos Pujol de Souza, UFRGS
E-mail dos autores: barcelloslaura@gmail.com

Resumo: A trajetória de pesquisa que pretendemos narrar nesta apresentação iniciou-se em meados de 2014, quando
passamos a participar da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP). Nos espaços da Oficina de
Criatividade acontece o Ateliê de Escrita, que por sua vez se inscreve no grupo de Pesquisa Corpo, Arte e Clínica,
coordenado pela Profa. Tania Mara Galli Fonseca. Em pouco tempo fomos cativados por estes encontros no Ateliê,
que acontecem semanalmente nos espaços da Oficina de Criatividade. O espaço do HPSP, embora localizado na
cidade, parece operar em distanciamento desta. Desse modo, pedimos licença para chamar este local de Hotel dos
Viajantes (nome cunhado por uma participante do Ateliê de Escrita).
Percebendo a potência do ateliê como um espaço capaz de gerar encontros e afetos, logo nos vimos cativados e
mobilizados pela escrita que se pode fazer junto. A escrita, o encontro com a palavra, passou a se apresentar como
campo possível para uma prática clínica, reflexão que este projeto de pesquisa procura movimentar e pensar. Será que
se trataria somente da escrita e do escrever? Traçamos a partir desse ponto um plano de composição, em que
narrativas podem surgir a fim de contar as histórias (ou estórias) desta pesquisa. Quer dizer, quando percebemos já
estávamos envolvidos em começos (que iniciam onde algo termina/onde se fecham portas), e logo nos percebemos
enredados em outras tramas. No entanto, o que captura nosso olhar? Inicialmente estava interessada em pesquisar
estes movimentos de escreverCom propiciados pelo Ateliê. Depois a pesquisa passou a se experimentar por outras
margens, estendendo este interesse a uma busca pela palavra que se pode encontrar em construção na cidade. Isto se
deu a partir de caminhadas e deambulações feitas pela pesquisadora caminhadas que se podem dizer errantes, mas
guiadas por um desejo de encontro com palavras-imagem: cartazes anônimos colados nos muros, frases escritas no
concreto, e depois, curiosamente, pequenos fragmentos, bilhetes encontrados no chão, pedaços de cartas, listas de
supermercado rasgadas, até mesmo cadernos abandonados, provas de colégio, entre outros achados. Estas palavras
passaram a interpelar-nos, fazendo-nos parar para recolher do chão fragmentos e colocá-los no bolso, ou fotografar
com a câmera do celular. Esta pesquisa passou desde então a se fazer também com o chão. O chão da rua e o que se
pode encontrar quando se o percebe e que parece suscetível a diversos efeitos: aquilo que molha, castiga, seca,
destrói, modifica, reduz, rasura - chão que está submetido também aos apagamentos do giz. Mas o que a cidade quer
falar? Estes fragmentos e palavras parecem dialogar com os movimentos da escrita, atuando como gatilhos para
experimentação. Deixamos ver agora que buscamos operar uma espécie de escuta clínica da cidade, buscando
entendê-la como um ateliê. Procuramos delinear, narrar uma trajetória de pesquisa que parece ter-se derramado a
outras áreas de vivência, de escrevivências. Circulamos assim; como leitores, pesquisadores, caminhantes, e o que
encontramos poderá afetar-nos e ativar novos modos de ação e invenção, poiésis.Falamos dos percursos e trajetos
para logo falar da cidade, do ateliê de escrita, do EscreverJunto, da escrita e da palavra, tendo em vista um olhar que
busca debruçar-se, inclinar-se - um olhar clínico. O método cartográfico adotado até então produziu encontros
afetivos com lugares, escritores, palavras encontradas pelo caminho nestes trajetos. Foi assim, talvez por afinidade,
talvez por efeitos que já se fazem sentir e que parecem ter sido produzidos a partir de forças de irmanação que fazem
parte agora desta composição, que encontramos ligação com uma obra de Julio Cortázar intitulada O Jogo da
Amarelinha . Talvez por gostarmos da ideia de jogo, mas, com efeito, por acreditarmos na potência de uma
composição feita a partir de fragmentos possíveis de dialogar e de produzir narrativas.
O livro então fomenta um método para esta produção: Método-Livro. Buscamos a convergência de uma imagem
metodológica possível. Mas qual? Um método inventado/pensado por nós? A ideia do Método-Livro tem sido uma
fantasia metodológica experimentada em nosso grupo de pesquisa, uma tentativa de pensar o movimento formal de
uma pesquisa a partir dos movimentos operados pelos livros que amamos, e que acabam funcionando como imagens-
guia para as escritas que operamos.A ideia é estabelecermos uma ligação com o objeto-livro seja por fetiche, por
paixão, por afeto. Contagiados por estas percepções e afetos, buscamos, como aquele que procura caminhar com/a
605
partir de/ seu desejo, conhecer a maquinaria de produção do livro, e ao entender, traçar movimentos semelhantes de
parceria e amizade com ele. Apostamos em um uma espécie de inventário de fragmentos que possam ser combinados
de modo a formar composições a partir de temáticas: a palavra, a escrita, a clínica, a cidade, o escrever junto, onde
nosso corpo híbrido, vibrátil e atento busca escutar e tentar visibilizar enquanto processo, propondo uma clínica
itinerante da escrita.

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Intervenções estético-políticas em psicologia e a resistência da vida na universidade
Autores: Tânia Maia Barcelos, UFG Regional Catalão
E-mail dos autores: taniamaia.barcelos@gmail.com

Resumo: Os pontos de partida desse trabalho são duas intervenções estético-políticas realizadas no Curso de
Psicologia da UFG/Regional Catalão (UFG/RC), ou seja, o Sarau Psi (ação de extensão e cultura em parceria com os
estudantes) e a Roda de Cantoria no CAPS (atividade do estágio supervisionado específico em parceria com os usuários
do Centro de Atenção Psicossocial). As intervenções visam promover encontros musicais, buscando problematizar o
processo de formação e os modos de vida predominantes na universidade, atualmente, cada vez mais no limite da
exaustão, submetidas a uma precarização generalizada e à capitalização de suas esferas (PELBART, 2016). Para atingir
os objetivos propostos, utilizamos a perspectiva cartográfica, (baseada nas formulações de Deleuze e Guattari, 1995)
que propõe acompanhar e produzir movimentos decorrentes da tensão entre a dimensão das formas e a dimensão
das forças, procurando dar língua para os afetos que pedem passagem (ROLNIK, 1993). Por meio dessa concepção
metodológica, construída no percurso das intervenções propostas, sem regras definidas previamente, podemos captar
linhas de resistência às formas de vida majoritárias geradas pelas políticas produtivistas vigentes e, também, pela
temporalidade de aceleração permanente (MANCEBO; ROCHA, 2002), as quais provocam desconfortos e, muitas
vezes, adoecimentos inevitáveis. Nesse sentido, o Sarau Psi - ação desenvolvida com o intuito de acolher, de forma
lúdica, os estudantes ingressantes do Curso de Psicologia da UFG/RC - é percebido como espaço-tempo de
experimentação de outras maneiras de sentir, viver e estar juntos na universidade. Esse espaço pode ser vivido como
possibilidade de resistência à violenta política do tempo cronológico que tem orientado nossas vidas, nos últimos
anos. No Sarau psi, aberto à comunidade interna e externa, podemos experimentar pequenas invenções do viver
coletivo, dissonantes das perspectivas predominantes entre nós, focadas na competição e na corrida insana para a
obtenção de mais pontos no currículo Lattes. Nesse espaço de intervenções estético-políticas somos contagiados pela
alegria de tocar e ser tocado pelo outro, por meio da poesia, da canção, da fotografia, da pintura e do desenho feitos
por professores, estudantes ou técnicos administrativos. Podemos criar novos gestos de alteridade e suscitar
acontecimentos sutis em defesa de uma Educação menor (GALLO, 2003) forjada nas brechas das práticas
institucionalizadas. Na mesma perspectiva, a Roda de cantoria no CAPS (atividade de estágio supervisionado vinculada
à ênfase de Processos psicossociais, na interface com a ênfase de Processos Clínicos) tateia o aprendizado inventivo e
problematizador, atento aos processos, às experiências não re-cognitivas e ao devir (KASTRUP, 2005). O aprendizado
do canto coletivo, em uma instituição que realiza diversas práticas de atendimento a pessoas com sofrimento mental,
pode ser vivido como um empreendimento de saúde (DELEUZE, 1997), não somente para os usuários, mas também
para a equipe da rede de saúde mental, os estagiários e a professora/orientadora do estágio. Todos estão imersos em
um contexto no qual os modos de existência encontram-se extremamente vulneráveis aos jogos de captura da vida.
Dispositivos como esses, vitais para corpos esgotados e despotencializados, afirmam outras temporalidades e outros
territórios existenciais, embaralhando rótulos, lugares comuns e inventando linhas de insurgência no cotidiano insosso
das nossas instituições precarizadas e desvitalizadas, principalmente, em tempos turbulentos e de poucas alegrias.

607
O estado da arte da Arte e as formas de luta na psicologia social
Autores: Rodrigo Lages e Silva, UFRGS
E-mail dos autores: lagesesilva@gmail.com

Resumo: As reações classicistas no âmbito da Arte vêm reclamando um caráter edificante, uma inteligência da técnica
artística, a qual estaria em declínio na pós-modernidade, em função da emergência dos sentidos expressos pela
materialidade bruta, não mediada pela intervenção redentora do humano. Em um recente vídeo que se tornou
popular, o professor Robert Floreczak faz apologia da habilidade artística que estaria sendo perdida com a arte pós-
moderna, argumentando que passamos da exposição da representação pictórica da pedra, finamente adquirida
através do acúmulo de expertise ao longo de muitas gerações, para a pura apresentação da materialidade da pedra,
tomando como exemplo exposição de uma imensa rocha de 340 toneladas no Los Angeles County Museum of Art
(LACMA).
O presente trabalho pretende estabelecer uma reflexão crítica acerca da nostalgia de uma dimensão inteligente
associada à técnica artística e a irrupção da materialidade bruta no campo da arte, no intuito de prospectar suas
ressonâncias no âmbito da produção de subjetividades e nas lutas anticapitalistas.
Dialogamos com Walter Benjamin e sua noção de perda da aura dos objetos artísticos, quando o filósofo alemão
percebe, na emergência do capitalismo industrial, que a figura do artista enquanto ser divino, criador de obras primas,
sujeito típico do campo das belas artes, vai tornar-se secundário, dando espaço ao colecionador de reproduções em
série; sejam elas de discos, de selos, de postais, ou de outras obras reprodutíveis. A experiência artística deixa de ser a
epifania do encontro do sujeito com o tesouro da sua própria humanidade captado e lapidado pela antena sensível e
pelas mãos hábeis do artista, e a relação com a obra de arte vai ser cada vez mais de posse e menos de fruição, mais
de veneração e do que de contemplação.
O que vemos, emergir, portanto, é a inexorável constatação de que o gênio artístico não é uma entidade pura,
descolada de suas condições de produção. A crítica materialista-histórica situa os objetos artísticos na relação entre os
homens e suas condições de produção. Mas seria possível que o materialismo tivesse ainda mais a contribuir para a
crítica da nostalgia classicista no âmbito da arte?
Com o materialismo filosófico da antiguidade, vemos que a radicalidade da sua visão de mundo constitui-se na
impossibilidade de fixar a partir dele o domínio da matéria como reino da dureza e da previsibilidade, e o domínio do
humano como reino da liberdade e da invenção. No materialismo atomista de Lucrécio invenção e concreção não
constituem domínios apartados. A subjetividade é também material. Para Lucrécio, das coisas duras às sensíveis, tudo
é composto de átomos que clinamicamente produzem o mundo. Portanto, em tudo haveria uma encenação atômica,
uma composição em meio a um fluxo que é uma espécie de teatro, nunca a imposição de um modelo, nunca uma
relação forma-substância ou forma-função. O materialismo atomista antecipa alguns traços do pensamento pós-
estruturalista, como a percepção de que as variações e as diferenças precedem as formações identitárias e as
estruturas funcionais. A mão não nasceu para agarrar as coisas, mas é o ter nascido que a permite agarrar, dizia
Lucrécio.
Na psicologia social, reações similares ao desencanto do professor Floreczak por vezes parecem se erigir em torno de
uma desvitalização da luta política própria da dissolução das identidades típicas dos enfrentamentos anticapitalistas
do século XX. É cada vez mais frequente a destituição dos discurso ditos pós-estruturalistas ou pós-modernos, por
supostamente enfraquecerem as categorias clássicas da luta política, especialmente, a noção de classe.
A partir de algumas imagens fornecidas pelas artes visuais e pela literatura, buscamos nesse trabalho, em consonância
com a proposta do GT, realizar uma reflexão crítica sobre a inserção política da psicologia social no contemporâneo,
tendo como ponto de partida um debate teórico sobre a arte contemporânea que nos permita retomar a potência do
pensamento pós-identitário em sua capacidade de apresentar direções éticas nas quais uma inclassificável
materialidade interrompa ao mesmo tempo a voraz indexação à lógica capitalista e a ressentida nostalgia política do
materialismo histórico.
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Para além de um manual: notas nietzscheanas sobre os fluxos de um setor público
Autores: Larissa de Oliveira Pedra, UFPel; Andrea Basilio Dias, UFPel; Danise Mirapalheta Maciel, UFPel; Édio Raniere,
UFPel; Jéssica de Souza, UFPel
E-mail dos autores: larissadeoliveirapedra@gmail.com, edioraniere@gmail.com,anbadi@gmail.com,
Danisemirapalheta@hotmail.com, jessicahaetinger@hotmail.com

Resumo: A realidade dos setores públicos ligados à assistência social é complexa e desafiadora. Quando nos inserimos
em um serviço público municipal na posição de estagiários ainda nos agarrávamos às compreensões institucionais e
grupais representacionais, e de forma ingênua nos esforçávamos para fazer a realidade caber em nossas utopias
teóricas.
Neste cenário, fomos acolhendo as demandas advindas da equipe, entre elas a criação de grupos para atender os
usuários do serviço e a elaboração de um manual de fluxos do serviço, através de observações e escribagem de
conteúdos advindos da equipe. Assumindo a responsabilidade da escrita deste manual, a realidade se somou às nossas
insurgentes aventuras dentro do universo Nietzsche para nos reposicionar a respeito do alicerce teórico ao qual nos
remetíamos. Dessa forma, estruturamos o presente trabalho através de crônicas metacartográficas que se aproximam
de uma política da escrita, entendendo a escrita com um gesto de abertura/passagem, bem como o GT a quem
endereçamos nossa proposta: Poéticas Insurgentes: Hospitalidades entre Arte e Psicologia Social diante de uma
Democracia por Vir.
As tensões e insurgências do campo foram, de certa forma, trasbordando e nos despindo do fetiche representacional.
Dessa forma, começamos a cartografar o campo, a equipe e as forças que atravessam esses entes em constante
relação de produção e singularização. Assim sendo, passamos a compreender e equipe como um grupo-rizoma
(BARROS, 2009), os membros da equipe e os próprios usuários como heceidades (DELEUZE e GUATTARI, 1995), o
campo de estágio como um platô (idem) que acumula invenções de sentido possíveis para lidar com a realidade,
entendida como um complexo campo de batalha entre forças (DELEUZE, 1965), no qual muitas forças se dissipam e
tantas outras se produzem, sempre em relação, sempre produzindo encontros e possibilitando novos devires-
realidades.
Ainda dentro deste reposicionamento, conseguimos compreender que entre o escriba do manual (pesquisador) e o
campo cartografado (objeto) não existe uma relação dualista de domínio e representação, mas uma dobra (PAULON,
2005). Essa dobra campo-pesquisador configura-se como uma fonte extremamente potente para a percepção de
sutilezas (às vezes nem tão sutis) que apontam para as forças presentes neste campo de tensões. Além disso,
compreendendo o posicionamento do pesquisador dentro desta dobra, há uma relação de rigor e honestidade na
representação, pois não só compreendemos que nossa representação do campo é apenas uma das invenções
possíveis de compreensão do mesmo, como também que estamos inseparavelmente implicados em todo este campo
a ser representado.
Percebemos a possibilidade de criar um analogia entre metamorfoses de Nietzsche (Nietzsche, 2012) e a forma como
a equipe lida com seus processos de trabalho. É especificamente na imagem do camelo e de seu conformado tu deves
que encontramos o fazer da equipe. Aquém da vida e dos fluxos complexos que permeiam o serviço, a equipe cobra-se
insistentemente acerca de suas tarefas, não raras vezes são criadas ou supervalorizadas por eles mesmos. Consomem
suas forças na busca de realizar tais tarefas, de cumprir com o seu tu deves. Por trás disso, há a belíssima intenção de
buscar efetividade para o próprio trabalho e, em última instância, uma forma estereotipada de produzir sentido em
sua rotina. A própria demanda de construção de um manual é um excelente analisador para pensar esse ciclo
retroalimentado de tu deves.
Quanto ao posicionamento da equipe às questões morais que envolvem o serviço, a moral do escravo (Nietzsche,
2009) se delineia diante do nossos olhos, se revelando a partir de práticas sutis ou escancaradas. Compreendemos que
o ressentimento é o mecanismo que se desdobra em diversas situações moralistas, tais como a aceitação de apenas

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um modo de vida possível (aquilo que é considerado parte da curva normal), da polarização de ideias e modos de ver e
fazer e, por fim, da tão mascarada quanto feroz vontade de imputar.
Há ainda a insuportável e inevitável constatação da morte de Deus (NIETZSCHE, 2012). Deus está morto. A ideia de
Deus se esvaziou e a ideia de sujeito também. Contudo, intervenções individuais são incessantemente e
incansavelmente o foco de trabalho de diversas políticas públicas e cabe ao profissional lidar com a frustração de
esbarrar o tempo inteiro na enunciação das forças. Covardemente, todo o sistema se alimenta da capacidade de seus
membros da linha de frente em lidar com tais frustrações, na maioria das vezes sem ter as ferramentas e conceitos
para entender onde suas boas intenções estão esbarrando.

Referências:
Barros, R.B. (2009) Grupo: A Afirmação de um Simulacro. Porto Alegre: Sulina.
Deleuze, G. (1965) Nietzsche. Lisboa: Edições 70.
Deleuze, G. Guattari, (1995) F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia vol.1. São Paulo: Editora 34.
Nietzsche, F . W. (2012). Assim falou Zaratusta. São Paulo: Martin Claret.
Nietzsche, F. W. (2009). Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia de bolso.
Paulon, S. (2005). A análise de implicação com ferramenta na pesquisa-intervenção. In: Psicol. Soc. vol.17 no.3 Porto
Alegre Sept./Dec. 2005

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Performance, Corpo e Silêncio em La casa de la fuerza , de Angélica Liddell
Autores: Christine Gryschek, UFRGS
E-mail dos autores: christinegryschek@gmail.com

Resumo: La nina disse: No hay cerro, ni selva, ni desierto, que nos libre del dano que los otros preparan para nosotros.
(La casa de la fuerza, Angélica Liddell)
Angélica Liddell, importante dramaturga da cena espanhola contemporânea, escreve a peça La casa de la fuerza (2011)
tomada por uma espirituosa vontade de contestação e manifestação de sentimentalidades fundas observadas na
sociedade patriarcal e opressora. O texto é permeado de memórias fragmentárias e inconstantes, caracterizando-se
por uma complexa interação entre textos, ideologias e tradições. Liddell deixa nas palavras sua própria angustia
pessoal, de modo que reconstrói um horizonte histórico e político falando de si mesma. Faz, assim, considerações
sobre a educação emocional das mulheres, mapeia através de sua escrita confessional o vazio emocional, a pulsão
autodestrutiva, a sensação de vulnerabilidade e a resignação como pilar do movimento sentimental da mulher. A
autora questiona - como posso seguir sendo eu mesma depois de um trauma, da angústia, da dor? (tradução livre) - e
segue em repetição o estribilho, ao relatar e performar um sofrimento que acaba se apoiando em outro sofrimento,
criando um efeito de ação e reação. Esse maltrato é identificado como o amor tóxico experenciado pelas mulheres, e
ele todo aparece como signo do patriarcado, como ensinamento de um amor em que tantas e tantas vezes confundem
respeito com submissão (tradução livre). No enredo, sentimentos aparecem em forma de imagens eloquentes,
enquanto há uma autoanálise de práticas sexuais que são relacionadas a um déficit afetivo, a um sentimento de culpa
que a mulher sente ao perceber a indolência do homem.
Em relação à construção narrativa, as textualidades da autora são textualidades emprestadas, vozes e canções, sendo
a peça composta por exemplos de mulheres que amaram demais à maneira desejada e enaltecida pela sociedade,
escancarando o modo como é socialmente construído o papel da mulher e os sentimentos que a ela deveriam
pertencer. O lugar de submissão, o sentimento de fragilidade e a sensibilidade que vai sempre do pessoal ao político
são ecos e evocações que provocam e convocam uma reflexão política através da poética e da estética, são as
angústias privadas escancaradas em um cenário público que a autora jorra à plateia e aos leitores. Assim, o registro
contém palavras poéticas que atuam como colantes de ritos confessionais, intimidades, fatos históricos e
documentais, de uma linguagem oscilante entre o vulgar e o culto, entre o novo e o velho, que oferece resistência ao
mesmo tempo em que padece perante discursos totalizadores e autoritários. Também a dimensão do tempo está
descontruída: não há noção de passado e presente, nos é apresentado um novo estado de expressão e percepção,
através de uma proposta de encenação distante da estrutura tradicional de enredo. A peça apresenta a fragmentação
do sujeito contemporâneo, alcançada esteticamente com a utilização de recursos como, por exemplo, técnicas do
fluxo de consciência, narrativa não linear, intensidade dramática, escrita escatológica, exagero, desespero e repetição
de dor nas falas. Nesta dramaturgia, existem muitos espaços lacunares entre o jogo verborrágico e o de imagens
projetadas intensamente na mente e nos diálogos das personagens, evocando longos silêncios intercalados com
abruptas e escandalosas palavras, carregadas de dramaticidade e dor. Falamos então de uma estética que remete a
uma performance de si - através de um extenso monólogo interior que vai do início do enredo ao término: amar tanto
para morrer tão sós (tradução livre).
Pautada em uma Estética do Silêncio (Susan Sontag), nos vãos e na cisão da personagem, bem como na melancolia
(Susan Sontag), pensamos e fazemos algumas aproximações entre a proposta de teatro de Angélica Liddell e Artaud.
Há, em Angélica, assim como em Artaud, uma busca por um Corpo sem Órgãos (Deleuze e Guattari), por um Corpo-
Gênese (Kunnich Uno), que se apresenta em texto enquanto Performance e Pecepção (Paul Zumthor). E é sobre este
corpo o texto-fala que se apresentará.

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Sentidos e aspectos terapêuticos na intervenção de palhaços visitadores
Autores: Luiz Carlos Avelino da Silva, UFU; André Lemos de Souza, UFU; Matheus Santos Sousa, UFU
E-mail dos autores: luizavelino@yahoo.com.br,lemosandrepsi@gmail.com,s.matheus@live.com

Resumo: Figuras cômicas que permeiam o imaginário e a cultura com diferentes aspectos: tais como o ridículo, o
inusitado, o louco, o excêntrico e o chamativo, são formas que encontram suas expressões em todas as comunidades
em todos os momentos da história. Dentre essas representações cômicas há o Palhaço, uma figura transgressora e
ridícula, presente no oriente e no ocidente. Com recursos advindos das artes cênicas, do circo e também de outras
áreas profissionais, o palhaço entra no hospital se colocando neste ambiente como uma figura colorida, transgressora,
humana e provocadora, abrindo espaços para momentos de riso e transgressão.
Dentro dos hospitais e outros ambientes com pessoas momentaneamente em situações de vulnerabilidade social,
afetiva e de saúde, dentre outros recursos, a arte tem sido buscada como uma alternativa de intervenção nesses
espaços que são comumente marcados por representações alusivas a morte e ao sofrimento. Os palhaços são figuras
cada vez mais presentes nestes espaços e tem proporcionado à lógica hospitalar uma perspectiva alegre e brincante
que até pouco tempo era inimaginável. Esse espaço está sendo conquistado devido à sua sensibilidade própria,
artística e humana que provoca um encontro único com seu público com foco em uma troca diversificada, intensa e
que corrobora para que os afetos aconteçam, além de um amparo técnico e teórico que sustenta esse protagonismo.
Este trabalho, resultado parcial de um projeto de Iniciação Científica que partiu de reflexões a respeito das relações
construídas no espaço hospitalar presentes no encontro palhaço/paciente e sobre suas contribuições à saúde, teve o
objetivo identificar a partir da fala dos entrevistados, exemplos e situações da atuação dos mesmos em que podem ser
apontados afetamentos, provocações, encontros e movimentos direcionados a elementos que possam ser entendidos
como terapêuticos desencadeados pela relação estabelecida entre o palhaço e seus interlocutores.
Metodologicamente foram entrevistados quatro palhaços do sexo masculino, atuantes em grupos da cidade de
Uberlândia que realizam o trabalho de visitação em hospitais, asilos e outras instituições que oferecem cuidado à
saúde. As entrevistas, semi-estruturadas, guiaram-se pela seguinte questão geradora: você pode descrever a sua
experiência atuando como palhaço?; e a partir da narrativa, gravada em áudio, foi feita a transcrição e se buscou nela
elementos com os quais os entrevistados revelavam afetos e reflexões geradas por essa atuação, os impactos que
surgem e reverberam em outras atuações e os sentidos identificados no ato utilizando de exemplos e situações que,
de alguma maneira, marcaram os entrevistados.
Utilizando de um instrumento qualitativo e com uma perspectiva construcionista social, o conteúdo das entrevistas foi
submetido à análise de conteúdo que, a partir de inúmeras leituras apontaram para a construção de cinco categorias
que foram nomeadas como: O hospital como picadeiro; A máscara como um recurso; O jogo palhaço e público; O
lugar do riso; Trabalho voluntário.
Os resultados sugerem que a presença dos palhaços desempenha papel terapêutico ao passo que cria espaço para
relações que colaboram para o surgimento de afetações que provocam humor, instilam esperança, resignificando
afetos e possibilitando a construção de um novo jeito de estar nesses ambientes

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GT 29 | Políticas de Desobediência: Juventude, Direitos e Violências

Coordenadoras: Andréa Cristina C. Scisleski, UCDB | Neuza Maria de Fátima Guareschi, UFRGS | Oriana Holsbach
Hadler, UNILASALLE

A proposta deste GT é problematizar a relação entre juventude, violência, direitos humanos a partir da ideia de
desobediência. Frequentemente associada às situações de violências, seja como vítima, seja como perpetradora,
encontramos a população juvenil brasileira. Para esse público usualmente são criadas estratégias de ação que se
es oça à so à duasà a io alidades:à aà p i ei aà se doà de la adaà pelaà us aà aà u aà efi az à esoluti idadeà uanto aos
jovens considerados subversivos sobre os quais recaem práticas de controle e enclausuramento, seja os identificando
como desajustados sociais ou degenerescentes biológicos, os encarcerando em instituições de restrição de liberdade
(prisões, instituições do sistema socioeducativo, comunidades terapêuticas, hospitais de custódia); ou, sob uma
racionalidade cujas práticas voltadas para essa população os moldam em uma biografia criminal, atrelando uma índole
violenta a condições familiares, sociais e econômicas na dimensão individual. Nesse sentido, não somente a certeza da
relação entre juventude e criminalidade é postulada, como está clara a consolidação da figura do jovem como agente
e representante da violência. Além disso, com frequência percebemos aà atu alizaç oà daà ideiaà deà i pu idade à
voltada para essa população, enquanto que percebemos o oposto, em nossas atividades de pesquisa e militância,
at a sàdaà o stataç oàdeà a iadasàest at giasà ueà supe pu e 'àessaàju e tude,ài lusi eà o àaàsuaàp pria morte.
Diante desse cenário, é possível identificar a produção de narrativas categorizantes voltadas para a população juvenil
que compõe os espaços e as práticas de violência. Uma questão fundamental de ser problematizada, por exemplo, é a
lógica da internação, como estratégia tanto das práticas dos serviços de saúde como das instituições que atuam na
lógica prisional. Nesse aspecto, a ideia de internação – espaço produtor de violência e de violação de direitos – está
presente nos discursos que são argumentados em prol da saúde e da segurança, que atravessam lugares que são
desti adosà àju e tudeà deso edie te à – desobediência aqui entendida como subjetividade produtora de diferença
em relação à norma. Dessa forma, os espaços de restrição de liberdade são postos aqui em questão, pois muitas vezes
são utilizados como justificativa de estratégia de tratamento ou de ressocialização, mas que operam na violação de
direitos e na manutenção da segregação social.
A ideia de desobediência que enfatizamos nesta proposta se inspira nos trabalhos de Michel Foucault, Giorgio
Agamben, Walter Benjamin e Hannah Arendt. Do primeiro, a partir das suas reflexões acerca das relações
disciplinares, biopolíticas e de governamentalidade, entendemos a desobediência como o posicionamento dos sujeitos
contra à norma que busca assujeitá-los. Isto é, desobedecer, nesta perspectiva, é resistir e propor outras formas
diversas de viver. No caso de Agamben e de Benjamin, nos baseamos em suas concepções para pensarmos em
estratégias de combate à violação de direitos e de luta frente a um estado de exceção que se pretende e busca operar
de modo permanente através da imposição da violência a certas camadas da população, como é o caso da juventude,
especialmente da juventude que vive já em situação de marginalidade econômica e social. A questão ética que se
delineia a partir da contribuição desses dois autores, a nosso ver, consiste na desobediência a certas práticas de
governo que nos são impostas. Por fim, Hannah Arendt nos possibilita uma crítica à normalidade, uma vez que a
a alizaç oàdoà al à àf utoàdeàu aào edi iaà egaà sà o asàso iaisà – normalidade essa que justifica o fascismo
cotidiano com que nos deparamos. Em resumo, podemos afirmar que na perspectiva teórica desses autores
encontramos a possibilidade de pensar a diferença, a resistência e a legitimação de outros modos de viver através da
desobediência como dispositivo ético-político.
Nessa aposta propositiva de GT, cabe mencionar que, apesar de termos apresentado aqui brevemente algumas
especificidades dos autores que nos inspiram, não os trabalhamos de modo separado. Pelo contrário, entendemos que
o posicionamento político que defendemos se torna mais potente e forte pela articulação dos dispositivos de
pensamento desses autoresà ue,à ju tos,à osà pe ite à u à pou oà deà a à pa aà ueà sà es os,à eà ta à
conjuntamente a outros pesquisadores e militantes, consigamos modificar e perpetuar práticas de resistência e de
desobediência em nosso cotidiano.
É importante também problematizarmos, nesta proposta, como os Direitos Humanos têm sido abordados na
so iedadeà eà e à di e sosà a posà deà o he i e to.à álgu asà ezes,à a i atu adosà o oà defesaà pa aà a didos ,à
outras vezes, utilizados ainda que por profissionais bem-intencionados sob a égide da justificativa da segurança da
sociedade, os Direitos Humanos têm ganhado uma interpretação ampla que nem sempre permite visibilizar
estratégias que descambam na reificação da marginalização de determinadas categorias populacionais, como é o caso
da juventude pobre, por exemplo. Em outras palavras, temos percebido a banalização dos Direitos Humanos levantada
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como bandeira junto a práticas segregantes. Nesse sentido, nossa proposta é também colocar em questão essa vasta
relação que os Direitos Humanos vêm ganhando no campo social, no intuito de potencializar a afirmação desses
direitos, mas atentando para combater pensamentos ingênuos que os tomam como justificativas para as várias ações
que se fazem em seu nome.
Desse modo, tomando essa problemática, entendemos que a psicologia brasileira especialmente em sua histórica
proximidade junto ao âmbito jurídico, ao convocar-se como o saber legitimado a compreender os comportamentos
criminosos, principalmente quanto a uma certa jurisprudência em relação ao sujeito jovem em situação de
deso edi iaà à o a,àp oduzàoàjo e àe ua toào jetoàdeài esti e toàdeàp ti asà psi o-ju ídi as .àDeàtalàfo a,à
torna-se imprescindível a nós, como atuantes na psicologia social, questionarmos como esses discursos vêm sendo
perpetuados em nossas práticas e, além disso, provocarmos uma reflexão a respeito de que outras racionalidades
produzimos sobre esse grupo populacional.
A partir dessas colocações preliminares, convidamos os participantes do evento a submeterem trabalhos que
dialogue à o àestaàp opostaàdoàGTà Políti asàdeàdeso edi ia:àju e tude,àdi eitosàhu a osàeà iol ias .àOàde ateà
aqui é formulado tomando a desobediência como dispositivo de resistência, entendendo-a como uma estratégia de
operar e de analisar as questões da juventude em situação de marginalidade social. Dessa maneira, propomos a
p o le atizaç oàso eà oà ueàaàPsi ologiaàte àaà e à o àju e tude,àdi eitosàhu a osàeà iol ia? ,àdesdo a do-a
nas seguintes questões: a) quais são às práticas psi voltadas à juventude e aos movimentos que se dão em defesa dos
direitos humanos?; b) como estamos executando essas práticas?; c) quais os efeitos que essas práticas produzem? As
práticas da psicologia social são nosso foco de análise, no contexto daqueles que lidam cotidianamente com jovens em
situação de marginalidade – como é o caso dos jovens em situação de restrição de liberdade, tomados como
desviantes, como criminosos, como patológicos, como dependentes químicos, enfim, como problemas para a
sociedade.
Compreendemos que essa discussão possibilita questionar que estratégias de governo da vida recaem sobre os
sujeitos jovens, bem como problematizar como a produção de conhecimento em psicologia sustenta certos regimes de
verdade que constituem ações sobre a juventude em situação de marginalidade. Apostamos na potência da
desobediência junto às práticas psi inclusive como força transformadora que possam desafiar e criar condições de
possibilidades para o fortalecimento do fazer político frente às mudanças emergentes nesse âmbito de experiência
social com a juventude. Que, a partir dos encontros suscitados por este grupo, desobediências possam gerar
intersecções necessárias nesses tempos sombrios, que permitam respiros em épocas de sufoco e uma composição
singular para os enfrentamentos por vir.

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Das grades da cisheteronorma e suas articulações na privação de liberdade de adolescentes infratoras
Autores: Mariana Pozzi Junges, UFRGS; Paula Sandrine Machado, UFRGS
E-mail dos autores: maripjunges@hotmail.com,machadops@gmail.com

Resumo: As questões que serão analisadas nesse trabalho partem de dois registros distintos. O primeiro diz respeito
ao Socioeducação (En)Cena: Agenciamentos entre Psicologia Social e Teatro, projeto de extensão da Universidade
Federal de Pelotas, que tem como objetivo criar condições de possibilidade para a produção de territórios existenciais
a adolescentes em cumprimento de Medidas Socioeducativas, bem como a egressos do sistema socioeducativo
através da arte. Foi o primeiro contato da primeira autora com as Medidas Socioeducativas, ainda na graduação. O
segundo, das observações preliminares que vêm sendo realizadas no Centro de Atendimento Socioeducativo Feminino
do Rio Grande do Sul (CASEF-RS) para a pesquisa em curso, e ainda em fase bastante inicial, para o mestrado em
Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O objetivo da referida pesquisa é compreender como a cisheteronormatividade se (re)articula nos contextos de
privação de liberdade de adolescentes infratoras, e como, nesses espaços, ela é produzida e atravessada pelas
intersecções com outros marcadores como raça/etnia e classe. Das disparidades que são produzidas na vida e
atravessam as histórias, um dos dispositivos conceituais fundamentais da pesquisa é a noção de interseccionalidade
(BRAH, 2006). De modo amplo, a interseccionalidade supõe a análise de diversos marcadores sociais de diferença na
compreensão das trajetórias de vida dos sujeitos e as vulnerabilidades que atravessam diferencialmente suas
experiências, posicionando-os, também diferencialmente, como sujeitos. Utilizo como método a etnografia, na qual
estão incluídas observações participantes no CASEF, situado em Porto Alegre, bem como entrevistas com as
adolescentes tuteladas pela instituição e com profissionais que nela trabalham.
o trabalho abarca uma população jovem que transgride, se opõe à norma, e, não raramente, é categorizada como
corpos facilmente elimináveis, o que reafirma a precariedade dessas vidas (BUTLER, 2015). Em se tratando de meninas
infratoras, acontece uma dupla reprovação e culpabilização, já que há uma insatisfação decorrente da prática do ato
infracional e outra no sentido de não terem desempenhado seus papéis de mães, irmãs e filhas como se esperava. As
relações de poder são aqui compreendidas enquanto imanentes, circunstanciais e materializadas em práticas, técnicas
e disciplinas, as quais atuam nos processos de subjetivação a partir de uma circunscrição histórica e social (FOUCAULT,
1999). Dessa forma, os sujeitos - aqui, em especial, os sujeitos em conflito com a lei - são entendidos como efeitos
dessas relações, calcados pelas disciplinas. Nas tensões resultantes acerca dos direitos humanos de crianças e
adolescentes, essa produção de subjetividades respaldada pelas normas e pelas disciplinas é um importante campo
contingencial a ser considerado no que tange às instituições em que se cumprem medidas socioeducativas.
O presente trabalho apresentará alguns elementos relacionados à organização interna do CASEF, refletindo sobre o
modo como se articulam, em instituições como essas, voltadas a jovens e, mais especificamente, a jovens mulheres,
aspectos punitivos, elementos voltados à reabilitação das jovens e a relação com a norma da cisheterossexualidade.
A cisheterossexualidade pode ser entendida como um ideal regulatório que entende a cisgeneridade – identificação
com o gênero ao qual se é designada/o ao nascer - e a heterossexualidade a partir da norma e do universal,
distinguindo as pessoas desde um binarismo homem/mulher – categorias distintas e complementares -, aos quais são
atribuídos diferentes papéis sociais considerados como da sua natureza.
As observações realizadas e a experiência anterior em um CAS voltado para
jovens homens permitiram o mapeamento do funcionamento dessas instituições, diferencialmente construído a partir
da especificidade do público: para meninos ou para meninas em conflito com a lei. As adolescentes têm rotinas
estabelecidas que incluem, majoritariamente, atividades domésticas - lavanderia, culinária, limpeza, etc. Uma vez por
mês, é realizada uma festa na qual são convidados, também, alguns meninos que estão em cumprimento de medida
de internação, que possui regras próprias de conduta. Não é permitida a prática de esportes como o futebol, comum
nos centros masculinos. Há um setor exclusivo para mães e recém-nascidos, sendo que o tempo de permanência do
bebê junto à genitora é avaliado a partir das especificidades de cada caso, com o intuito de preservar os vínculos
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afetivos. Vale destacar que um setor como esse é exclusivo da casa das jovens e inexiste equivalente na instituição que
abriga meninos.
Seguindo algumas pistas preliminares das observações, a instituição parece reiterar os posicionamentos em que os
sujeitos são colocados a partir da cisheteronorma. Há uma regulação da sexualidade das adolescentes, além de
atividades que se direcionam à pedagogização das jovens no sentido de performatizarem um determinado modo de
ser menina, em corpos associados - enfaticamente - à sua periculosidade, a práticas marginais, de violência e de
ruptura com laços sociais.

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Desobedientes: a subversão como instrumento de luta contra a dissolução da identidade periférica nas escolas
Autores: Larissa Figueiredo Salmen Seixlack Bulhões, UFLA
E-mail dos autores: larissabulhoes6@gmail.com

Resumo: O trabalho em tela visa abordar as possibilidades de atuação da psicologia na construção de resistências
frente às sistemáticas violações dos direitos da juventude periférica engendradas pela lógica excludente do capital. A
tônica da referida discussão será norteada pelo relato de intervenção em um escola municipal localizada na periferia
de um município do interior do Estado de São Paulo, cuja problemática gravita em torno das relações entre juventude,
violência e identidade periférica.
A intervenção se deu a partir da solicitação de atendimento psicológico para uma turma de oitavo ano, cujos membros
carregavam o estigma de alunos/as desinteressados/as, indisciplinados/as e violento/as por não corresponderem ao
padrão idealizado de bom/boa estudante – o qual pressupõe a subserviência e a submissão às regras impostas pela
instituição de ensino.
A investigação dos determinantes da demanda apresentada pela escola redundou na constatação de que estes/as
adolescentes apontados/as pelo corpo docente e pela gestão como o foco principal da intervenção eram
estigmatizados/as por encaixarem-se na célebre tríade pseudo-explicativa do fracasso escolar - composta pelo
pertencimento à chamada família desestruturada; pela origem pobre e periférica; e pela trajetória escolar marcada
por diagnósticos irresponsáveis de supostos transtornos de conduta.
Este processo de culpabilização do indivíduo - fenômeno inerente à sociedade de classes - ignora os determinantes
histórico-sociais os quais alicerçam a tradição violenta, elitista e excludente das instituições de ensino, redundando na
patologização e criminalização de qualquer conduta que se afaste da postura subserviente reservada aos filhos e filhas
da classe trabalhadora – postura a qual a escola burguesa impõe à população periférica por meio da cotidiana
violência simbólica que permeia as relações interpessoais dentro e fora das salas de aula.
Delineada a problemática em tela, a intervenção consistiu em, primordialmente, frustrar a expectativa diagnóstica e
punitiva da instituição de ensino referente à atuação da psicologia no contexto escolar. Em contrapartida, delineou-se
como metas do processo interventivo: conhecer a realidade dos/das estudantes para além dos estereótipos
construídos pela instituição de ensino; valorizar a expressão da identidade periférica desses alunos e alunas;
desmascarar a arbitrariedade dos padrões elitistas veiculados pelo ambiente escolar; instrumentalizar a organização
estudantil coletiva para a conquista de espaços participativos e deliberativos na escola.
A concretização destes objetivos levou ao conhecimento da lógica violenta a que esses/as jovens eram continuamente
submetidos/as. A vulnerabilidade e violação dos direitos da juventude nas comunidades periféricas ilustrava-se nas
sistemáticas agressões policiais que marcavam seus corpos; na negligência estatal que lhes negava o acesso a moradia,
saúde e lazer; no apartheid social que os/as excluía econômica e geograficamente, cerceando a liberdade dos/as
moradores/as da comunidade e delimitando suas possibilidades de escolha; na hostilidade das práticas escolares
preconceituosas e excludentes as quais reproduziam esta mesma lógica intolerante dentro da instituição de ensino,
agravando a situação de desamparo desses meninos e meninas.
As reflexões sobre os determinantes históricos e culturais da brutalidade cotidiana da periferia redundou na
organização de oficinas de composição de músicas de rap, nas quais os/as participantes - que antes da intervenção
não estavam alfabetizados - apropriaram-se da escrita como instrumento social voltado para a expressão e a denúncia
das inúmeras faces da marginalização que sofriam. Este processo empoderou o grupo e superou os estereótipos que o
cerceavam, valorizando sua identidade e instrumentalizando a articulação coletiva por transformações objetivas
dentro e fora da escola. Destarte, como resultados, surgiram novas representações identitárias acompanhadas da luta
organizada por espaços democráticos de deliberação e participação real dos/as estudantes na escola – o que
redundou na organização de eventos sobre a temática da violência estatal na periferia e na formação de uma
comissão para a eleição do grêmio estudantil, o qual foi instituído no ano seguinte. Para além dos muros da escola, o

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grupo articulou a formação de uma Associação de Moradores para discutir e organizar as demandas coletivas
referentes à qualidade de vida na comunidade.
O relato apresentado relaciona-se com o Grupo de Trabalho Políticas de desobediência: juventude, direitos e
violência especialmente por corroborar a desobediência como resistência a processos de assujeitamento; ou seja,
entende-se que psicologia social deve atuar na defesa da subversão frente às arbitrariedades valorativas das
instituições capitalistas as quais desqualificam a identidade étnica e cultural da juventude periférica. Portanto, busca-
se colaborar com a delimitação de referências para atuações críticas as quais reconheçam e combatam as sistemáticas
tentativas de patologizar e criminalizar a resistência contra a marginalização e a violência implícitas nos padrões
normativos impostos pela elite econômica. Dos resultados do processo interventivo, conclui-se que a desobediência e
a indisciplina devem ser as referências de conduta no contexto escolar enquanto o conceito de estudante exemplar
implicar a conivência e a subserviência frente à barbárie.

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Fronteiras da Laicidade: políticas de normalização entre o político e o religioso
Autores: Rodrigo Kreher, UFRGS; Neuza Maria de Fátima Guareschi, UFRGS
E-mail dos autores: guigo.roots@gmail.com,nmguares@gmail.com

Resumo: Nesta comunicação oral discutimos como a laicidade, conceitualmente reconhecida como a separação entre
política e religião no âmbito do Estado, é movimentada pelo Direito, assumindo diferentes contornos e expressões na
medida em que diferentes discursos e instituições disputam o seu sentido. Partimos da intervenção estético-política
realizada pela atriz transexual Viviany Beleboni durante a 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo/SP em 2015.
Beleboni desfilou em um trio elétrico crucificada em uma cruz, assim como Jesus Cristo. Sua intervenção era um grito
de protesto. Manifestava-se contra as formas de violência que atingem a população LGBT. Em entrevista ao G1, portal
eletrônico de notícias, afirmou Usei as marcas de Jesus, que foi humilhado, agredido e morto. Justamente o que tem
acontecido com muita gente no meio GLS, (...) . Imediatamente, Beleboni passou a ser alvo de críticas tanto nas redes
sociais quanto em discursos políticos proferidos no Congresso Nacional e veiculados pelos meios de comunicação.
Imagens em que a atriz aparecia em cenas de sexo explícito foram manipuladas e circularam pela Internet, às imagens
anexavam-se comentários enunciando ódio. Alguns dias depois, deputados federais se manifestaram no plenário da
Câmara exigindo que atos públicos que atentem aos valores da família e a liberdade religiosa fossem transformados
em crime hediondo. Um dos parlamentares mostrou ao plenário tais imagens ampliadas. Destes eventos se
desenrolaram nove processos judiciais, os quais foram objeto de análise desta pesquisa, tendo como principais
documentos os despachos dos juízes. Desta forma, nosso trabalho objetivou dar visibilidade aos modos como o
discurso da laicidade passa a ser operado pelo Direito, porém negociado e modulado por outras instituições, tais como
a política e a religião. Um dos processos trata-se de uma queixa-crime encaminhada à Procuradoria Geral da
República, tendo um deputado como parte autora e Beleboni como ré. Neste processo, o político acusa a transexual
de crime de vilipêndio, escárnio e intolerância religiosa. Outro, movido por Viviany contra este mesmo deputado,
trata-se de ação judicial por danos morais. A atriz ajuizou ao todo oito processos, um deles demandando que a
empresa Facebook Inc. identificasse os usuários da rede social que a agrediram virtualmente. Os demais configuram
ação de indenização por danos morais contra os parlamentares envolvidos no caso, argumentando em seu favor a
liberdade de expressão em um contexto de laicidade de Estado. No processo ajuizado contra o deputado, um juiz do
Poder Judiciário do Estado de São Paulo, indeferiu ainda em primeira instância o pedido de Beleboni, compreendendo
que a intenção da atriz era chamar a atenção por meio de atitude controversa e chocante, praticando ato de
intolerância religiosa contra a fé cristã e desrespeito ao princípio da laicidade de Estado. A respeito das manifestações
públicas do deputado, o juiz entendeu que este não teve postura exacerbada em relação à atriz transexual, uma vez
que não se dirigiam a ela e sim ao ato praticado. Completou afirmando que as críticas feitas pelo parlamentar
possuem caráter político e social inerentes à função que exerce. Com esta problematização, é possível pensar a
laicidade menos enquanto um limite que efetivamente separara e impede que as questões de Estado sejam
atravessadas pelo discurso religioso e vice-versa, e mais como uma zona de fronteira onde, ao contrário de
compreensões fixas e pré-estabelecidas, o que se tem é antes um campo de negociações e lutas constantes e
variáveis, sejam em torno da liberdade de crença e do pluralismo religioso, das disputas pelos regimes de governo até
as expressões políticas mais cotidianas, quando o que está em questão são a legalidade e a legitimidade de como se
pode viver. A partir das contribuições teóricas e metodológicas de Michel Foucault e Giorgio Agamben sobre jogos de
verdade, políticas de normalização e profanação, apontamos como os usos da laicidade enquanto um campo aberto
de possibilidades e, ao mesmo tempo, jogos de força, também faz funcionar, em efeitos, processos de normatização
do político e normalização dos sujeitos. Diante o exposto, nossa comunicação oral se insere no grupo de trabalho
Políticas de Desobediência: juventude, direitos e violências, na medida em que o corpo (transexual, jovem, negro, etc.)
quando desobedece e joga com a norma introduz novos sujeitos e problemas em cena, mostra as intencionalidades,
instabilidades e paradoxos do normativo, exigindo que tanto o debate quanto a sua existência sejam tomados desde o
lugar da politização.
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Indisciplina e violência ou resistência? – Um estudo sobre processos de marginalização e criminalização da
juventude
Autores: Claudia Macedo Gonçalves, UFRJ; Hebe Signorini Gonçalves, UFRJ
E-mail dos autores: claumg48@gmail.com,hebe@globo.com

Resumo: O presente trabalho abrange aspectos iniciais da pesquisa de mestrado da autora, bem como reflexões sobre
sua inserção como psicóloga no âmbito da rede de educação do município do Rio de Janeiro. Movida por
questionamentos a respeito dos processos de marginalização e criminalização da juventude, a pesquisa visa por em
análise esses processos, bem como seus efeitos para a produção de subjetividade dos jovens por eles afetados. Diante
da nova organização econômica neoliberal, assistimos ao crescimento populacional nas cidades, acompanhado por um
considerável aumento nos índices de desemprego, pobreza e pauperização dos modos de vida. Tal contexto destina a
população pobre, principalmente os jovens, à impossibilidade de compartilhar do funcionamento político-econômico
vigente, tornando-os supérfluos no mercado vigente e por conseqüência vidas sem valor. A constatação do alto índice
de jovens pobres exterminados, presos ou abrigados, está diretamente relacionada a um projeto macropolítico que
determina cada vez mais a exclusão e a regulação social de segmentos desfavorecidos na cultura capitalista e sem
condições de participar do sistema de trocas mercadológicas. Assim, a criminalização da juventude, nos dias de hoje,
decorre de seu pertencimento a determinado perfil que a aproxima a papéis identificados como marginais e perigosos
à sociedade e ao bem comum, antecedendo a prática efetiva de qualquer ato infracional. Diante disso, propomos a
análise de experiências de vida de jovens que vem a ser criminalizadas por meio de práticas e discursos de
criminalização e marginalização, partindo da escuta dos próprios sujeitos envolvidos no processo. Ou seja, alunos
matriculados da rede de educação do município do Rio de Janeiro, pobres, moradores de comunidades, negros e que
protagonizam recorrentes episódios de violência e indisciplina no espaço escolar. A pesquisa utiliza a cartografia como
método e realiza encontros a partir de rodas de conversa com jovens de 13 a 17 anos matriculados em escolas
públicas do referido município. O objetivo é refletir sobre como estes alunos vivenciam o processo de marginalização
no qual estão diretamente implicados, como tais experiências aparecem em suas falas e como reverberam na
produção de suas subjetividades. Investiga-se como as recorrentes queixas a respeito da indisciplina e de seus
comportamentos violentos, que os culpabiliza individualmente e a suas famílias, se traduzem como estratégias de
resistência e oposição a forças que tendem a aniquilar seus corpos e suas existências em nome de um biopoder que
desqualifica determinados modos de existência em favor de outros. Desobedecer ou ser indisciplinado e violento,
nesta perspectiva, apontaria formas de resistência e criação de modos de vida distintos que venham a combater
relações de assujeitamento e estratégias de normalização. A partir da biopolítica, observa-se uma base ideológica que
identifica, exclui e deixa morrer em nome da melhoria de vida do corpo social. Jovens pobres passam a ser
identificados à condição do homo sacer e da vida nua, vidas absolutamente desqualificadas e matáveis, cujas mortes
não se configuram como barbárie, mas são legitimadas em nome de um bem maior, a vida em sociedade. Sob tal
pretexto são construídas práticas que autorizam e legitimam a exclusão e marginalização de certas camadas da
população estabelecendo regras e estratégias de governo. O tema proposto tem particular relevância para este GT no
que diz respeito a dar seguimento à reflexão e problematização das práticas de produção de sujeitos, de
marginalização e criminalização da juventude, bem como sobre seus efeitos para a realidade social destes atores. Tal
reflexão visa contribuir para a construção de possibilidades e novos agenciamentos que venham na contramão de
engrenagens hegemônicas que legitimam a percepção de jovens pobres como violentos, assim como de violência
contra esses mesmos jovens num contexto de exclusões cada vez mais intensas. Para o campo das práticas sociais, e
neste incluímos a psicologia e os direitos humanos, torna-se caro romper com o funcionamento que liga jovens pobres
à marginalidade possibilitando a produção de novos sentidos e favorecendo a irrupção de ações e de resistência a
práticas e discursos que tendem a criminalizar, apartar e controlar suas existências. Embora ainda em curso, o
trabalho no campo tem indicado um contraponto à fala inicial da escola de que tais alunos são violentos,
desinteressados, desajustados e indisciplinados, já que ensaia a construção de linhas de fuga ao lugar que previamente
620
lhes é destinado. Essas falas correspondem a um mecanismo de rotulação que associa estes jovens a lugares de
desqualificação não só dentro da escola, mas socialmente. Construindo novas possibilidades junto a esses jovens, dá-
se lugar a criações, invenções e a mecanismos de resistência às exclusões e devastações que vivenciam
cotidianamente, fortalecendo-os em seus movimentos para que encontrem saídas para sobreviver ao destino traçado
pela lógica do capital para além da indisciplina e da violência relatados pela escola.

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Interface entre saúde mental e justiça: percursos do cuidado para o adolescente autor de ato infracional
Autores: Juliane Macedo Manzini, PUC-SP
E-mail dos autores: jmmanzini@uol.com.br

Resumo: Partindo da interface entre o campo da saúde e justiça, a presente pesquisa busca problematizar as ações de
cuidado dos profissionais de saúde mental junto aos adolescentes autores de ato infracional que são encaminhados
para o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil – Caps i. Para tanto, o estudo volta-se para o tema/problema da
constituição da subjetividade, procurando analisar a partir das práticas de cuidado em saúde mental quais modos de
subjetivação são produzidos e os efeitos dessa lógica em relação aos adolescentes autores de ato infracional. Essa
problemática aparece como uma questão relevante, pois aponta para uma complexa relação no que diz respeito ao
cuidado do adolescente autor do ato infracional e os serviços de saúde. Frente à demanda em saúde mental, o Caps i
pode se tornar uma porta de entrada para o atendimento ao adolescente autor de ato infracional. Nota-se que um dos
destinos de cuidado em saúde mental dos adolescentes tem se dado por intermédio do sistema de justiça, a partir dos
programas que executam medidas socioeducativas, podendo resultar em um crescente processo de judicialização
marcado na maior parte das vezes por um acompanhamento de saúde de caráter involuntário. Considerando que o
Grupo de Trabalho Políticas de Desobediência: Juventude, Direitos e Violência pretende a partir da idéia de
desobediência enquanto dispositivo de resistência, analisar as práticas voltadas à juventude sobretudo em situação de
marginalidade social, a pesquisa contribui para o debate quando busca evidenciar os efeitos de subjetivação que
compõem as práticas de cuidado produzidas no Capsi em relação as adolescentes autores do ato infracional. As
hipóteses formuladas dizem respeito se tais práticas estão sendo produzidas na dimensão do tratamento da doença e
da prevenção de riscos com a reiteração de uma subjetividade tratável ou intratável , ou se as terapêuticas
produzidas permitem compreender o cuidado enquanto um campo afirmativo, no sentido de pensar modos de
subjetivação distintos em relação aos adolescentes.
A pesquisa articula-se também ao Grupo de Trabalho Políticas de Desobediência: Juventude, Direitos e Violência , pois
tem como fundamento teórico algumas contribuições pertinentes ao pensamento de Michel Foucault no que se
refere ao conceito de cuidado de si e a noção de biopolítica enquanto gestão da saúde e de risco da população jovem.
O estudo encontra-se em fase de desenvolvimento sendo realizado em um Capsi no interior do estado de São Paulo.
Para tanto, utilizamos como instrumento de coleta de dados a pesquisa documental dos prontuários referentes às
práticas dos profissionais que atendem os adolescentes autores do ato infracional. A análise de prontuários visa
investigar as práticas de cuidado, a partir das orientações, acompanhamentos, além de encaminhamentos
provenientes tanto dos profissionais que atuam no Capsi quanto dos serviços que atendem os jovens em cumprimento
de medidas socioeducativas. Até o momento foi pesquisado um total de 11 prontuários, sendo que apenas 3 casos
continuam em atendimento no Capsi. Ainda como parte da coleta de dados, utilizamos a metodologia do caso-
traçador e, no caso específico, análise do percurso percorrido pelo adolescente autor do ato infracional ao longo de
seu tratamento. Na pesquisa o acompanhamento in loco do caso-traçador permite analisar como ocorrem os
processos de cuidado em saúde mental, bem como, mapear os lugares, os equipamentos e as pessoas que o
adolescente acessa e como o faz. O critério de escolha do caso traçador se deu a partir da indicação da própria equipe,
como sendo um caso de alta complexidade para o serviço e de difícil adesão ao tratamento, bem como, o aceite do
adolescente e de sua família para participação na pesquisa. Como resultado prévio pode-se apontar que o uso de
drogas é a patologia juvenil que mais demanda atendimento no Caps infantojuvenil, articulado com uma conduta
agressiva e dificuldade de controle dos impulsos. Pode-se dizer que a identificação do uso de drogas ocorre da
seguinte forma: os adolescentes, ao praticarem um delito e ao ingressarem nos serviços de medidas socioeducativas,
quando reconhecidos pelo uso de drogas são encaminhados para o Capsi de forma involuntária, ocasionando uma
situação onde o tratamento e o cumprimento da medida, assumem a mesma lógica, pois ao encerrar a medida
socioeducativa abandonam o tratamento. Outra questão relevante é a freqüência de solicitações para consulta
psiquiátrica, principalmente pela unidade de internação, que acaba desconsiderando os procedimentos de recepção,
622
acolhida e contratualização do tratamento realizados no serviço de saúde mental. Por fim, o acompanhamento do
caso traçador tem permitido identificar os diferentes tipos de atuação da equipe, trazendo à cena uma tensão entre os
profissionais em relação às práticas de cuidado do adolescente, bem com, a análise da implicação do pesquisador no
próprio ato de pesquisar.

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Jovens na pegada do Besouro: movimentos de esquivas e enfrentamentos à criminalização e ao extermínio
Autores: Marcio Custódio de Oliveira, UNESP Rio Claro; Débora Cristina Fonseca, UNESP
E-mail dos autores: marcio7folhas@gmail.com, dcfon10@gmail.com

Resumo: Introdução
Chegando de vagar nessa roda. Queremos aqui, prosear sobre alguns movimentos de esquiva e enfrentamento à
criminalização e ao extermínio da população jovem negra e pobre, com referência na postura desobediente de
Manoel Henrique Pereira, o famoso Besouro Mangangá. Partimos do pressuposto que há um plano colonialista de
extermínio que tem sido responsável pelo aumento da mortalidade de homens-jovens-negros-pobres, conforme
vemos diariamente em nossas comunidades e que podemos verificar nos dados dos mapas da violência.

Objetivos
Nessa levada, pretendemos evidenciar que estes ataques sociais elitistas que vem desde a ação de empresários e
proprietários, a médicos, juristas e instituições cristãs conservadoras, que atendem diretamente as comunidades
pobres, não é recente. Pelo contrário, vêm do tempo da escravidão. E no gingado dessas ideias, refletir sobre
estratégias de esquiva e enfrentamento criadas por estes jovens no passado e no presente, tendo em vista que a(s)
pegada(s) do Besouro , são marcas ancestrais preservadas ao longo do tempo, ou por intermédio dos ensinamentos
culturais originários ou reinventados a partir da própria necessidade, nua e crua , de sobrevivência.

Relação com o GT
Entendemos que a sobrevivência é uma necessidade de qualquer ser vivo, viver bem um direito humano. Seguindo a
entoada, a desobediência é uma forma de resistir utilizada pela juventude-negra-pobre para sobreviver a violação de
direitos. Nesse jogo, podemos contribuir com reflexões sobre juventude, direitos humanos e violência a partir de um
conceito de desobediência epistêmica, para pensarmos juntos em uma opção descolonial nas elaborações de
conhecimento. E assim, provocar a reflexão sobre práticas de atendimento a juventude permeadas por visões
colonialistas.

Método
Para isso, visitaremos juntos uma narrativa ancestral presente na literatura afro-brasileira: o conto Pra matar Besouro
de Muniz Sodré, onde faremos um jogo entre as histórias de vida do lendário capoeira e a realidade de alguns jovens
da atualidade, numa roda dinâmica da história da população negra. Ao trazer as histórias deste antigo capoeira, para
um debate atual, falaremos sobre homens-jovens-negros-pobres que vivenciam a cultura negra através da Capoeira e
candomblé. Para assim, fazer emergir os conhecimentos ancestrais presentes nestas culturas para um debate sobre
criminalização, extermínio e movimentos de esquiva e enfrentamento, onde a desobediência é um conceito
fundamental para estas elaborações de resistência.

Orientação Teórica
Os conhecimentos ancestrais aos quais falamos tem sido sistematizado na academia por pensadores como Muniz
Sodré e Eduardo de Oliveira, entre outros, que trazem epistemologias sobre a cosmovisão africana no Brasil . Com
isto, nosso embasamento teórico busca enxergar sobre a lente desta cosmovisão, num movimento esquiva anti-
hegemônico intelectual, chamado por Walter Mignolo de desobediência epistêmica , numa tentativa de elaboração
conhecimento que não seja submetida às concepções eurocêntricas sempre colocadas como universais . Por isso,
defendemos a desobediência como a negação ao abuso de autoridade e a modelos sócio/culturais hegemônicos, um
entendimento a partir dos movimentos de resistência negra no Brasil, mas que sem dúvida pode dialogar com
conceitos elaborados por autores europeus. Do mesmo modo, embora tenhamos conhecimento da visão de juventude
como um conceito histórico-social, optamos por refletir sobre a categoria jovem como uma faixa etária de risco,
624
sobretudo quando falamos de homem-jovem-negro-pobre, porque são pessoas que muitas vezes têm suas vidas
ceifadas em muito pouco tempo de existência, sem ter a possibilidade de se dedicar aos seus verdadeiros anseios e
sonhos, sem poder desenvolver plenamente suas potencialidades, impedidos de construir seu legado.

Resultados
Essa reflexão tem caminhado no sentido de defender que a desobediência praticada por homens-jovens-negros-
pobres como estratégia de sobrevivência segue as pegadas do Besouro , ou seja, trazem marcas do conhecimento
ancestral presentes na Capoeira. Afinal, movimentos de esquiva e enfrentamento são próprios desta arte de luta, e se
manifestam simbolicamente nas relações sociais. Talvez a disposição de Besouro para o enfrentamento estivesse na
sua jovialidade, assim como a disposição dos secundaristas nos movimentos de ocupação de escolas. Besouro, o maior
ícone do universo capoeirístico, nos ensina a partir de sua postura desobediente a importância de se opor ao abuso de
autoridade e a hegemonia de modelos sócio/culturais para além de sobreviver, poder viver plenamente sua
humanidade. Ensina também a usar dos recursos disponíveis e necessários para resistir, mesmo quando não é possível
se emancipar.

Considerações
Talvez esta disposição tenha de fato levado Besouro a se tornar um dos maiores alvos daquela elite, de tal maneira
que foi assassinado com menos de 30 anos de idade. Ainda assim, na maioria das vezes, em suas ações havia a
sabedoria de velhos mestres experientes, que o ensinaram a ser estratégico, e usar prioritariamente os movimentos
de esquiva, mas também fazer bom uso dos movimentos de enfrentamento, sempre que necessário. Nesse balanço,
vale a pena pensarmos nas necessidades e possibilidades de esquiva, resistência e enfrentamento diante da notável
apatia social neste momento político brasileiro.

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Juventude e violência: regimes de verdade e a produção do jovem perigoso
Autores: Ana Lígia Saab Vitta, UCDB; Andréa Cristina C. Scisleski, UCDB; Giovana Barbieri Galeano, UCDB; Suyanne
Nayara dos Santos, UCDB
E-mail dos autores: anasvitta@outlook.com, giovanagaleano@hotmail.com, ascisleski@yahoo.com.br,
suy_11_@hotmail.com

Resumo: Este trabalho se origina de uma pesquisa desenvolvida em Campo Grande – MS, que tem como objetivo
problematizar os saberes do direito e dos discursos psi, que em sua articulação contribuem para a construção de
regimes de verdades acerca da população jovem. Problematizamos, também, a lógica do encarceramento presente
como punição considerada necessária a essa juventude. Essa concepção que é, de fato, emergente no atual contexto
político brasileiro, traz dissensos constantes com o aumento da popularidade do Projeto de Emenda Constitucional
(PEC) nº 171/1993, que altera o art. 228 da Constituição Brasileira e muda a imputabilidade penal de 18 para 16 anos.
Para tanto, é em uma perspectiva pós-estruturalista foucaultiana que essa pesquisa se orienta, propondo a
problematização das formas naturalizadas de produção de conhecimento da psicologia. Os procedimentos
metodológicos envolveram consultas a documentos em nível estadual e nacional, bem como pesquisa a estudos
referentes ao tema da juventude em conflito com a lei e sobre criminologia brasileira. Realizamos, também, visita a
estabelecimentos de políticas públicas direcionadas a população jovem que cumpre medida sócio educativa e em um
presídio masculino estadual, localizado em Campo Grande – MS.
A partir dos estudos de Michel Foucault, pensamos na articulação entre saber e discurso, enfatizando o
entrecruzamento entre relações de poder e formas de conhecimento que tem como efeitos práticas de marginalização
de certas populações sobre as quais esse saber é produzido e sobre o qual incide. De fato, a constituição de uma
ciência psicológica positivista introduz o pensamento linear, cronológico e empírico nas pesquisas psicológicas,
desenvolvendo uma marcante cisão entre o subjetivo e o social, o interno e o externo. Emergem teorias, técnicas,
sistemas de pensamento cujo fundamento estabelece que, para se tentar estudar um sujeito, devemos analisá-lo em
duas formas: a primeira, quanto a sua estrutura interna e os desdobramentos de seu desenvolvimento, e a segunda,
sobre a forma como esse sujeito absorve os estímulos externos. Em ambos os casos, o papel do psicólogo é ser
eminentemente neutro e despolitizado. Tal posicionamento determina uma forma de se fazer ciência que empreende
a cristalização como norteadora, construindo práticas tecnicistas, automáticas e vigilantes; a busca incessante pela
verdade do sujeito negligencia as potencialidades e introduz o forjado, instituído. Assim, é a partir do desenvolvimento
de técnicas disciplinares que se pode pensar em uma ciência que busca "evidenciar" o que há de anormal nos sujeitos,
de modo sempre binário: a saúde como ausência de doença e a bondade como ausência de maldade. A função
cristalizadora da lógica do encarceramento, nesse contexto, faz referência a reclusão como modelo de penalidade e se
centraliza, hoje, na instituição prisional como regulamentadora dos sujeitos anormais. Foucault enfatiza a emergência
de uma sociedade punitiva, que culminou na generalização não apenas da prisão como penalidade, como do efeito
penitenciário ao longo do século XIX e XX. Essa forma de se relacionar se origina em estratégias extra-judiciais de
controle social que, de fato, generalizaram-se. Exemplifiquemos, assim, a mídia, a Psicologia, a Psiquiatria, o Serviço
Social, dentre outras formas de saber que direcionam todo um conjunto de verdade acerca do jovem em conflito com
a lei. A justiça, de fato, se apropria desse jovem e institucionaliza-o, mas os discursos que os cerceiam atravessam esse
sujeito antes mesmo dele cometer o ato; são condições sociais, demográficas e econômicas que perpassam pela vida
desse jovem e delimitam suas possibilidades de vida. Nesse sentido, o encarceramento possui menos uma função
penal, e mais uma função vigilante, direcionando estratégias disciplinares a certas parcelas da população,
compreendida, ilusoriamente, como a vigilância do criminoso, que é potencialmente visto como inimigo social. Com
efeito, a atual popularidade da PEC 171 indica não apenas a reprodução desse papel de inimigo social (referente a
concepções maniqueístas que virtualmente enfatizam a dita tendência dos sujeitos criminosos) como também a
manutenção da delinquência, materializada nessa juventude em conflito com a lei que é alvo dessa lógica que penaliza
e individualiza a vulnerabilidade social.
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Isso, de fato, nos faz indagar sobre a reprodução constante de sistemas de exclusão na sociedade contemporânea. A
prisão, assim, se mantém como modelo de penalidade e é considerada funcional, apesar de seu caráter perverso e de
seus espaços degradantes. Desse modo, problematizamos a presença cada vez mais marcante desses discursos na
contemporaneidade, denotando uma lógica eminentemente penitenciária que se explana e toma corpo, cada vez
mais, não apenas nas mídias sociais ou no sistema jurídico, como também nas produções de conhecimento psi.
Concomitante a isso, pensamos, aqui, na (des)obediência enquanto forma de resistência nas práticas psi, operando na
contra-mão do movimento vigente da produção do conhecimento; ou, de fato, como uma força instituinte a lógica do
encarceramento e aos direitos humanos dessa população.

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Juventudes e Tráfico de Drogas: Modos de Subjetivação de Jovens que Vivem nas Margens Urbanas
Autores: Jéssica Silva Rodrigues, UFC; João Paulo Pereira Barros, UFC; Luis Fernando de Souza Benicio, UFC
E-mail dos autores: jessicarodriguesufc@hotmail.com, jppbarros@yahoo.com.br, luisf.benicio@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de mestrado em andamento, vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará e ao Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violências e
Produção de Subjetividades (VIESES - UFC). Têm-se como foco de problematização os modos de subjetivação de jovens
que vivem nas periferias de Fortaleza e que estão inseridos na dinâmica do tráfico em seus territórios. Para tanto,
ancoraremo-nos em ferramentas teórico-metodológicas da psicologia social em seus diálogos com estudos de
Foucault, Guattari e com autores de áreas afins que dialogam sobre violência, tráfico e suas relações com as
juventudes. Trata-se de uma reflexão teórica que ajudará nas leituras do processo de inserção no campo. Segundo o
Mapa da Violência (WAISELFISZ, 2016), Fortaleza obteve aumento vertiginoso no número de mortes por arma de fogo,
passando de 18,4 homicídios a cada 100 mil habitantes em 2004 para 81,5 em 2014. Apresentou, ainda, pela segunda
vez consecutiva, o maior índice de homicídios na adolescência (IHA), de acordo com levantamento do Programa de
Redução da Violência Letal - PRVL (Melo & Cano, 2017). Além disso, de acordo com os dados apresentados pelo
Comitê Cearense pela Prevenção ao Homicídio de Jovens, um terço dos homicídios de jovens ocorreram em uma área
que corresponde a 4% da Capital. Pode-se perceber o aumento expressivo das taxas de homicídios de jovens, assim
como a concentração destes nos bairros mais periférico da cidade. Esses índices surgem como reflexo de questões
sociais amplas e perpetuadas ao longo da história do nosso País, relacionadas à exclusão social, criminalização da
pobreza e extermínio de jovens negros que habitam as periferias das grandes cidades do Brasil. Estes extermínios são
legitimados por discursos que ressoam em determinadas camadas da sociedade ancorados na propagação de ideais
neoliberais em que prepondera a ordem do capital. Nesse processo, dá-se vazão à individualização de questões sociais
mais amplas, prevalecendo a lógica meritocrática que gera a culpabilização dos indivíduos pelas condições em que
vivem (BATISTA, 2012). Para Fraga (2004) o tráfico aparece como um dos elementos que corrobora com o aumento
dessas taxas de homicídios, dada a facilidade encontrada para recrutar jovens para atuar nas facções, tendo em vista o
cenário de exclusão e desigualdades sociais aos quais as juventudes periféricas estão expostas. No contexto de
Fortaleza, parte da violência nesses territórios é atribuída, frequentemente, ao envolvimento desses jovens no tráfico
de drogas o que é tido como elemento legitimador de seus homicídios. O tráfico atua nos espaços de ausência do
Estado, mediante a insuficiência na garantia de direitos básicos para essas juventudes, representando, dessa forma,
possibilidades de reconhecimento e respeito para determinados jovens. A partir dos anos 1990, tem-se aumentado
progressivamente a presença dessa atividade na referida Capital, fato que se relaciona com a intensificação de
disputas territoriais, produzindo dinâmicas das conflitualidades nos territórios de atuação das facções. A figura do
jovem traficante negro e pobre passa a ser compreendida na condição do inimigo público, tornando-se objeto de ódio,
numa sociedade em que se acredita que para manter-se vivo é preciso que o outro morra. Dessa forma, o direito de
punir justifica-se frente à discursos em defesa da sociedade . As punições, mortes e linchamentos passam a ser ditas
inevitáveis, operando assim uma lógica de guerra, na qual os inimigos aqui representados pelos jovens traficantes
devem ser exterminados. Temos então o que Batista (2012) denomina de adesão subjetiva à barbárie que seria a
intensificação de desejos coletivos de punição e castigo. Atrelado a essas questões, soma-se o fracasso da política de
guerra às drogas, que ancorada no proibicionismo e criminalização, funciona como dispositivo de biopolítica uma vez
que atua na gestão da vida e da morte dos sujeitos (RIBEIRO JUNIOR, A.C, 2016). Os jovens que trabalham no mercado
varejista de drogas constituem a ponta mais fragilizada do tráfico, visto que estes estão mais suscetível às práticas de
controle e repressão do Estado. Fefferman (2008) ressalta que esses jovens ao mesmo tempo que são compreendidos
como algozes da violência urbana, culpabilizados pelo aumento dos índices de violência, consistem nas maiores
vítimas desta. Tais elementos discutidos anteriormente vão de encontro com às reflexões de Cano (2009), em um
estudo sobre vivências subjetivas da violência, afirmando que os modos como os jovens experienciam a violência é um
elemento fundamental para se pensar seus modos de subjetivação, as percepções de suas subjetividades e os lugares
628
que ocupam no mundo. Guattari (1978) pensa a subjetividade como resultante de encontros com os outros, sendo,
portanto, um processo de produção do qual participam vários componentes cujas características são os movimentos e
mutações constantes que se dão na interação dentro de dado contexto social e histórico. Nesse sentido, este estudo
traçará caminhos que investiguem os processos de saber- poder-subjetivação juvenil a partir do ethos da cartografia
como método de pesquisa-intervenção.

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Oficina de Ideias: elaborando desobediências à vontade de imputar
Autores: Andrea Basilio Dias, UFPel; Danise Mirapalheta Maciel, UFPel; Édio Raniere, UFPel; Larissa de Oliveira Pedra,
UFPel
E-mail dos autores: anbadi@gmail.com, edioraniere@gmail.com, larissadeoliveirapedra@gmail.com,
Danisemirapalheta@hotmail.com

Resumo: Em um momento histórico brasileiro que sinaliza tentativas de retrocesso em vários segmentos sociais e
políticos, é necessário estar atento aos discursos de redução da maioridade penal que, sistematicamente, rondam o
Congresso Nacional e o imaginário social; permeiam esses discursos a culpabilização do adolescente infrator a partir
dos 16 anos, como se os índices cada vez mais alarmantes de violência pudessem ser reduzidos com a falida politica do
confinamento. Por sua vez, percebe-se no âmbito socioeducativo o discurso empreendedorista, no qual se pretende
moldar o adolescente de forma que o mesmo possa dar certo . Dar certo significa completar seus estudos, ingressar
no mercado de trabalho, se tornar produtivo. No entanto, quais as chances, na prática, de se concretizar essa utopia
correcional? Nietzsche(2009) traça o caminho da genealogia da moral no que se refere a questão da responsabilidade.
Em primeiro lugar para que se possa se responsabilizar por alguma coisa é preciso se comprometer com as ações
futuras. E isso exige que se tenha uma ilusão de controle do que possa ou não acontecer. Mas como se pode prometer
algo, dispor do Porvir? O homem foi obrigado a dar conta de um porvir que não lhe pertence; para o homem poder
dizer sim a si mesmo, ele precisou criar um tipo de memória criada através de sistemas dolorosos e cruéis; cada época,
cada cultura, encontra um meio de disciplinar os costumes (FOUCAULT, 2013). Portanto, imputar surge como uma
ação em uma sociedade que necessita de regulação dos atos, pois que o indivíduo não pode ser autônomo. No
entanto, a vontade de imputar está diretamente relacionada ao grau de evolução da sociedade: Ou seja, quanto mais
uma comunidade é evoluída, se constituindo de consciência supramoral, menos atribui importância aos desvios do
indivíduo, porque já se sabe forte o suficiente para não se abalar e os atos já não parecem ser tão perigosos e
subversivos. Isso inverte a lógica de quanto mais se pune menos crimes são cometidos. Pelo contrário: quanto mais
potente a sociedade menos necessidade de punição ela solicita. Diretamente proporcional ao grau de evolução da
comunidade está a proteção do indivíduo desviante, o qual é objeto de um esforço coletivo de proteção da cólera
direta do alvo das suas infrações ao código estabelecido de conduta. Aparece nestes casos um esforço de considerar
toda a infração resgatável de algum modo, e assim isolar, ao menos em certa medida, o criminoso de seu ato.
(NIETSZCHE, 2009,p.56). Esta conduta social, segundo o mesmo autor, marca cada vez mais a evolução do direito
penal. No mesmo sentido, pode-se pensar na questão da responsabilização do adolescente pelo ato infracional;
responsabilizar, atribuir vontade ao sujeito da ação, é negar o contexto no qual se insere, suas relações e os encontros
aos quais está exposto; é negar as forças que o constituem. É afirmar o identitário. Faz-se necessário entender o
sujeito de forma mais ampla, como resultado do conflito das tensões presentes, deslocado-o dos polos passivo x ativo.
Um olhar atento e crítico do que vem acontecendo no âmbito socioeducativo em meio aberto se faz necessário; um
devir do que é possível para que se produza rachaduras no paradigma carcerário, construído sob os alicerces da
vontade de imputar; da mesma forma, a atenção as praxis psi nesse contexto de atenção aos desviantes se mostram
cada dia mais pertinentes no sentido de desconstruir a lógica empreendedorista contida no ECA, as quais reforçam a
normatização do adolescente em conflito com a Lei (Raniére, 2014). O GT Políticas de Desobediência: Juventude,
Direitos e Violências nos parece um espaço potente e rigoroso para discutir, problematizar e construir juntos
constructos e fazeres para este campo. Dentro das práticas de estágio curricular, encontramos uma alternativa que
nos parece uma linha de fuga possível para trabalhar um dispositivo de execução das Medidas Socioeducativas em
Meio Aberto, com o intuito de possibilitar devires, espaço de escuta, discussão de ideias, criatividade e
acompanhamento aos adolescentes nesse contexto, no entanto, sem buscar a formatação desse adolescente às regras
630
de uma sociedade que não o acolhe. Esse espaço grupal, denominado oficina de ideias vem operando há dois
semestres, com reuniões semanais voltadas a atender cerca de cinco a dez adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa, coordenados por duas acadêmicas do curso de Psicologia da UFPEL. Percebeu-se que houve uma
transformação nas concepções das acadêmicas acerca do mundo nos quais vivem esses adolescentes; que respondem
a leis que certamente não são as mesmas leis as quais estão sujeitos os corpos das estudantes de psicologia; e que
qualquer intervenção nesse campo precisa levar em consideração as linhas de força que atravessam esses contextos.

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Redes de significados sobre o jovem nem nem brasileiro em pesquisas de juventude e nas experiências de jovens
pobres
Autores: Paulo Roberto da Silva Junior, UFMG
E-mail dos autores: paulosilva.junior@yahoo.com.br

Resumo: Encontra-se em curso um projeto de doutorado que busca compreender as redes de significados sobre o
jovem nem nem brasileiro nas pesquisas de juventude e nas experiências de jovens moradores de favelas/periferias da
Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG. A análise destes significados se realiza dentro de um contexto que
envolve um conjunto de pesquisas e informes que apontam o crescente número de jovens nem nem no Brasil e em
outros países do mundo; uma repercussão espetacularizada desses dados pela mídia; a constituição de um campo de
intervenção social, no qual diversos atores buscam intervir na violência em potencial desses jovens e nas suas
carências, compreendidas e explicadas de forma intensamente naturalizada, e identificadas como de diversas ordens:
cognitiva, moral, psicológica, intelectual e afetiva. Outro elemento marcante desse contexto é o desconhecimento das
experiências de vida e práticas sociais de jovens moradores de periferia, os quais muitas vezes são nomeados nem
nem, mas que constroem repertórios de vida que podem tanto desconstruir esta noção quanto afirmá-la, com
nuances muito diferentes do que aquelas veiculadas pelos discursos moralizantes. Com o objetivo de analisar as
compreensões veiculadas sobre esse jovem construído como nem nem nas pesquisas sobre juventude, foram
analisados trechos de 08 edições da publicação Tendências Mundiais do Emprego Juvenil e de 11 edições da
publicação Trabalho Decente e Juventude, todas da Organização Internacional do Trabalho/OIT. O tratamento dos
registros textuais selecionados foi realizado por meio de uma análise lexical (análise estatística de dados textuais) com
o auxílio do software ALCESTE (Análise Lexical por Contexto de um Conjunto de Segmentos de Texto). Como um dos
resultados do processo de análise lexical, o ALCESTE indicou 7 classes de palavras. Cada uma das classes mostra uma
intenção de sentido do sujeito enunciador, porém, o trabalho de elaboração de categorias de análise foi realizado pelo
pesquisador por meio da busca de sentidos para os resultados em sua noção de mundo e construções teóricas.
Encontra-se, também, em curso uma pesquisa de orientação etnográfica no bairro Alto Vera Cruz em Belo Horizonte,
colocando-se em diálogo algumas contribuições metodológicas da psicologia social e da etnografia. O objetivo é o de
abordar e compreender os fenômenos ou processos particulares, sem deixar de considerá-lo em sua totalidade. Foi
realizada observação participante no local pesquisado e entrevistas com jovens moradores do bairro, buscando um
equilíbrio entre homens e mulheres, com pertencimentos raciais e faixas de idades diferentes, no intuito de buscar
uma maior diversificação das experiências. A compreensão sobre a juventude pobre se dá a partir de três analisadores
teóricos: geração, lugar de origem e habitus de classe, visando um tratamento menos descritivo a esta categoria do
que aquele observado em outros estudos sobre o tema. Por fim, esta pesquisa visa analisar as relações existentes
entre a produção do jovem nem nem e a invenção dos jovens perigosos em outros contextos históricos no Brasil, e
quais os seus possíveis efeitos sobre as experiências juvenis. Tem nos interessado os discursos, as noções e as
representações produzidas sobre os jovens pobres, as propostas de controle e regulação produzidas por diferentes
atores da sociedade para estes, bem como os modos como eles tem se posicionado e construído suas experiências
dentro deste campo marcado por multideterminações. Não se trata apenas de compreender as técnicas, táticas e
procedimentos de governo da juventude pobre, mas, também, as resistências, recriações, saídas e renormatizações
que estes jovens engendram no cotidiano.

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Redução da maior idade Penal: o que dizem os adolescentes
Autores: Rita de Cássia Cardoso da Silva Mendes, UFU; João Luiz Leitão Paravidini, UFU; Michelle Ferreira Martins,
Tassiana Machado Quagliatto
E-mail dos autores: rita_silva_mendes@yahoo.com.br, michellefmartins@yahoo.com.br, tassi_q@hotmail.com,
jlparavidini@gmail.com

Resumo: Atualmente, vivenciamos, no âmbito nacional, uma discussão política sobre o tema da redução da
maioridade penal com proposta de Emenda à Constituição Federal (PEC 171/1993), que busca reduzir a maioridade
penal de dezoito anos para dezesseis anos. Na PEC nº 171 o Deputado Benedito Domingos justifica que é necessário
tornar penalmente inimputáveis os menores de dezesseis anos porque estes possuem condições de discernimento
sobre o caráter de licitude e ilicitude dos atos que praticam. Na Câmara dos Deputados a PEC foi discutida e colocada
em votação. Em primeiro de julho de 2015, a Câmara realiza uma primeira votação em que rejeita a PEC para crimes
graves, mas no dia seguinte a PEC foi posta em votação novamente e aprovada em primeiro turno. Esta manobra
política foi articulada pelo presidente da Câmara dos Deputados e seguiu para apreciação no Senado Federal. A
votação e manobra política geraram um debate, no âmbito social, de posições contrárias à aprovação da redução da
maioridade penal. Movimentos sociais, estudantis, Instituições como o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF), se manifestaram contrários à decisão da Câmara justificando que a redução da maioridade penal representa
um retrocesso na defesa, promoção e garantia dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. Percebemos que o
contexto acima exige que pesquisas e práticas em Psicologia Social e outras áreas de conhecimento discutam os
processos contemporâneos de construção dos direitos sociais, como propõe XIX Encontro Nacional da ABRAPSO em
seus diferentes grupos de trabalho. E foi o cenário de debate sobre os adolescentes, mas que os exclui, que nos
motivou a realizar um projeto de pesquisa cujo objetivo era o de fomentar uma discussão com adolescentes, sobre o
tema da redução da maioridade penal, possibilitando que os mesmos pudessem dizer o que pensavam sobre esta
questão. Os meios utilizados para coleta de dados foram a de rodas de conversa com adolescentes, de doze a
dezessete anos, de uma escola pública da cidade de Uberlândia-MG e entrevistas com adolescentes em cumprimento
de medidas sócio-educativas. A análise dos dados se deu a partir da discussão dos registros escritos das impressões,
tanto do coordenador/entrevistador quanto do observador, obtidas durante as rodas realizadas com os adolescentes
da escola e as entrevistas com os adolescentes sob medida sócio-educativas e que foram submetidos à escuta de um
terceiro na supervisão. Esse movimento foi importante para elaboração e interpretação dos dados colhidos e a criação
de um novo texto, que fundamentou a escrita de um artigo. Esta pesquisa se sustentou no denominado método
psicanalítico que inclui o sujeito e sua subjetividade como fundamentais. Vale lembrar que este método investigativo
abrange toda a escuta psíquica inclusive para pensar sobre os fenômenos sociais, pretendendo esclarecer uma parcela
de seus aspectos, a nosso ver fundamental, incidindo sobre a dimensão inconsciente presente nas praticas sociais.
Este projeto foi também de natureza bibliográfica e de campo. Os encontros com os adolescentes, durante a execução
da pesquisa, possibilitou a reflexão de alguns aspectos relevantes, não só da temática em questão, como de outros
temas abordados pelos adolescentes. Os espaços de escuta, criados pelos pesquisadores, favoreceram que os
adolescentes problematizassem sobre o tema da redução da maioridade penal demonstrando significativo interesse
pela temática e para além dela, perpassando pelas suas vivências. Observamos que o mote da temática foi apenas um
disparador para que os adolescentes falassem dos conflitos inerentes a condição da adolescência atualmente. Mais
que o posicionamento opinativo, ser contra ou a favor da redução da maioridade penal, participamos de um processo
em que os adolescentes colocaram-se como ativos na discussão e reflexão sobre questões que dizem respeito a sua
realidade. Consideramos importante que estes adolescentes tenham voz e que alguém os escute, abrindo um caminho
para que exerçam sua cidadania, sua capacidade reflexiva e sejam protagonistas em questões políticas que dizem a
respeito a eles. Sendo assim, acredita-se que a divulgação desses achados sejam enriquecedores nos Grupos de
Trabalhos, do XIX Encontro da ABRAPSO que acolhem diferentes propostas de experiências de trabalho ou de relatos
de pesquisa desenvolvidas no campo, que envolvam não só relações com produção de leis, políticas públicas, atuação
633
do psicólogo jurídico, ética profissional, violação de direitos, enfrentamento à violência, sempre que tenham interface
com o sistema de justiça ou com o Direito nos eixos da Infância/Juventude, Família e Penal/Criminal, como também
aos que buscam compreender e questionar como as estratégias de governo da vida recaem sobre os sujeitos jovens,
bem como problematizar como a produção de conhecimento em psicologia sustenta certos regimes de verdade que
constituem ações sobre a juventude em situação de marginalidade.

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Rolezinho como aposta metodológica para pensar o governo da juventude e a produção de conhecimento
Autores: Giovana Barbieri Galeano, UCDB; Ana Lígia Saab Vitta, UCD; Andréa Cristina C. Scisleski, UCDB; Suyanne
Nayara dos Santos, UCDB
E-mail dos autores: giovanagaleano@hotmail.com, anasvitta@outlook.com, ascisleski@yahoo.com.br,
suy_11_@hotmail.com

Resumo: Esta escrita emerge de uma pesquisa de mestrado que problematiza a infração como um dispositivo que
produz práticas na cidade, pensando a articulação entre as políticas públicas para a juventude e as políticas públicas de
segurança, no contexto de Campo Grande – Mato Grosso do Sul. Nossos objetivos para a presente discussão articulam
duas posições de desobediência: a da juventude frente às práticas violentas e marginalizadoras e as de uma aposta
epistemológica-ética e política na produção de conhecimento. Os procedimentos criados para a investigação se
compuseram de perambulações pelos espaços da cidade, tais como: ruas, praças, centros históricos, arquivos públicos
municipal e estadual, terminais de ônibus. Foram, também, selecionados materiais – políticas públicas, documentos
históricos, notícias veiculadas pela mídia regional e nacional – sobre violência, juventude, rolezinho, ações policiais e,
também, sobre a constituição da cidade de Campo Grande-MS que se relacionassem ao tema. Tem como objetivo
assumir um corpo-a-corpo com os acontecimentos cotidianos, ou seja, deslocar a produção sobre o cotidiano de
dentro dos muros da universidade, para o espaço no qual os mesmos se dão; a aposta epistemológica e metodológica
tomada como estratégia para a realização da pesquisa aproximou-se da perspectiva pós-estruturalista foucaultiana
para a problematização das práticas de governo e produção de saber sobre a juventude, assim como seus efeitos na
cidade e a proposta benjaminiana sobre a produção de uma experiência histórica enquanto aquela que possibilita a
denúncia de uma época. Por denúncia de uma época entendo o desassossego diante do modo como vivemos, mas não
em uma posição individual, mas sim, enquanto questionamento sobre o presente. Os rolezinhos, caracterizados pela
presença de adolescentes moradores das periferias urbanas que utilizavam os shoppings centers das cidades para
passear, fizeram com que os proprietários e demais frequentadores desse espaço solicitassem judicialmente o
impedimento da realização do evento, barrando, assim, o acesso desses jovens em especifico. Tomamos como
analisador dessas problemáticas entre juventude, verdade, governo e cidade, os eventos realizados por jovens nos
shopping centers, isto é, o rolezinho. Aqui uma ressalva: se o rolezinho não constitui infração à lei, como, então, toda
essa série de intervenções puderam ser orquestradas? Quais foram as articulações de lógicas que subsidiaram e
justificaram as ações direcionadas aos jovens? Pois bem, aos rolezinhos foram associadas queixas de roubos,
perturbação da ordem pública e uso de drogas. Assim, o evento foi transformado em problema para/por uma parcela
da população que frequenta o estabelecimento e para/pelos lojistas, fazendo com que as instituições da justiça e da
segurança fossem acionadas. A articulação entre as instituições da justiça e segurança pública colocam duas frentes de
ação em operacionalização: a vulnerabilidade/proteção dos jovens e a questão do crime. Diante das operações das
referidas instituições e acompanhando o modo como a juventude resiste, mesmo diante de tantas práticas violentas e
marginalizadoras, pude habitar espaços que me permitiram pensar uma política de pesquisa e problematizar a
produção de conhecimento na qual também eu, enquanto acadêmica, estou inserida. Também eu assumi o rolê como
uma estratégia metodológica para marcar uma posição de resistência tanto em relação ao espaço acadêmico, cujas
demandas, por vezes, tendem a homogeneizar os modos de produção de conhecimento; quanto com as práticas
direcionadas à Juventude, destacando-se a parcela já marginalizada e que recebe visibilidade apenas quando coloca
em questão os padrões de ordem estabelecidos pelas lógicas econômicas, sociais e de segurança. Para cumprir essa
tarefa é preciso fazer certas negociações com a academia, nos moldes em que ela se constitui, pois, a investigação
cientifica insiste em aprisionar o pensamento construindo muros entre as diversas formas e estratégias de produção
de conhecimento. Essa negociação com a academia se aproxima do exercício proposto pelo GT-29, no sentido de
pensar a desobediência a partir de uma posição de resistência.

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Um paralelo entre os liquidáveis de Agamben e o gozo público doutrinado pela mídia
Autores: Jéssica de Souza, UFPel; Andrea Basilio Dias, UFPel; Danise Mirapalheta Maciel, UFPel; Édio Raniere, UFPel;
Larissa de Oliveira Pedra, UFPel
E-mail dos autores: jessicahaetinger@hotmail.com, anbadi@gmail.com, larissadeoliveirapedra@gmail.com,
edioraniere@gmail.com, Danisemirapalheta@hotmail.com

Resumo: Na hiperativa e morosa rotina de um estabelecimento socioeducativo, a assistente social que chefia o serviço
joga um jornal em cima da mesa. Em um canto insignificante do papel lê-se a notícia de mais um assassinato ocorrido
na periferia da cidade. Características de execução. Após identificar a vítima com as iniciais, o jornal faz um adendo
que tira da notícia qualquer sentimento de compaixão, empatia ou demais pieguices possíveis: o adolescente possuía
envolvimento com o tráfico de drogas e uma extensa ficha de atos infracionais, com passagem pelo meio aberto e
fechado do atendimento socioeducativo. A informação, que em uma amostra ampla da população serviria como uma
vírgula na gravidade da notícia por se tratar de alguém visto como um matável (AGAMBEN, 1995) faz o oposto com
quem trabalha diretamente na orientação das medidas. Trêmula, começa a escanear em sua memória possíveis
meninos que já atendeu e que possuam aquelas iniciais. Tão logo pensa em um de seus atendidos e o motorista chega
com a informação mais precisa: queimaram o faísca . Algumas lamúrias depois, lembram-se do jeito que ele falava
com as pessoas que o atendiam, do jeito que ele planejava deixar a sua moto ilegal, lembram do brilho no olho do
menino ao falar do futuro com a filha recém nascida. Depois de lembrar tudo isso, se esforçam para esquecer e voltar
a rotina, atendendo meninos como o Faísca que podem ser, ou não, os protagonistas das próximas páginas policiais.
A informação que nos chega por intermédio das mídias impressas e digitais é um preceito, inegavelmente. Aquilo que
vemos, sentimos e experimentamos ao consumir notícias é atravessado por sentidos, posições no mundo, biopolíticas
e toda uma parafernalha de instrumentos de tratamento da informação. A ambiguidade de sentimentos entre o leitor
do grupo controle ilusório e a leitora da pequena crônica apresentada é um analisador a respeito daquilo que, por
meio da mídia, fabrica corpos para que se posicionem no mundo de uma determinada maneira.
O objetivo desse trabalho é problematizar o papel da mídia no processo de catequização da sociedade para um estado
regressivo em relação aos adolescentes em conflito com a lei, conduzindo como operadores de análise os conceitos de
Giorgio Agamben. As mídias digitais estão abastadas de homos-sacer, seres com vidas descartáveis que ilustram
nossos noticiários com homicídios justificáveis: adolescentes com antecedentes criminais, traficantes, membros de
facções, assaltantes, vagabundos e demais formas de identidarizar estes jovens, indivíduos ambivalentes que, ao
mesmo tempo em que são protegidos pelo ECA, têm vida irrelevante para o poder soberano.
A participação de adolescentes em crimes mais severos têm fomentado discussões acerca da redução da maioridade
penal e a criação de penas mais rígidas, bem como instaurado uma espécie de mobilização regida pela vingança – que
está incessantemente sendo instigada por programas televisivos e redes sociais; o estado de exceção vigente hoje,
onde uma guerra civil legal permite a eliminação física desses adolescentes (AGAMBEN, 2004, p. 13,), tira a liberdade e
a vida dos que possuem essa vida nua – mesmo que indiretamente, para assegurar que outra parcela se mantenha
segura. Esta vida nua dita por Agamben traduz a visão tida sobre as minorias de hoje: negros, pobres, mulheres e
homossexuais são protegidos pelo sistema jurídico e, concomitantemente, abandonados por ele, e esta discussão é
distendida pela mídia à medida que ela não consegue perceber que o poder de decisão acerca das vidas obsoletas
dessas minorias é do Estado, e não mais da sociedade.
É sabido que as referências midiáticas garantem, como sendo um dispositivo,
grande impacto na sociedade contemporânea. Nossa intenção é tensionar o debate e os conceitos trazidos pela mídia
televisiva e impressa, bem como entender de que forma as forças estabelecidas por representações sociais veiculadas
a ela incidem sobre as crenças da sociedade. Ainda, almejamos problematizar de que forma os conceitos de Agamben
são aplicados adentro dessa questão e, para isso, serão utilizados para análise trechos de edições digitais e impressas
de veículos de comunicação que tragam delitos cometidos por menores de idade e notícias de homicídios de jovens
com antecedentes criminais, promovendo uma linha de pensamento que justifique a aprovação social quanto ao
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encarceramento e ceifa em massa da juventude pobre, como fundamentação para que o estado de exceção continue
empoderado.
A principal faceta deste trabalho é estabelecer uma reflexão baseada nas relações sociais, sustentada por politicas
publicas protetoras e, simultaneamente, excludentes, problematizando os direitos adquiridos pelos adolescentes ao
longo da história, e tensionando a influência das mídias no processo de desvalorização do ser humano, em
consonância com as proposições dos GT s 29 e 55 e, simultaneamente, flertando com o GT 53, enquanto utiliza de
tecnologias para problematizar as concepções das politicas públicas.

Referências Bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer. O poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte , 2004.
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2004.

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Elesà oà ue e à adaà o àoà“iste aàdeàGa a tiaàdeàDi eitos :àso ioedu aç oàeàsaúdeà e tal
Autores: Nathalia Leardini Bendas Roberto, UFRJ; Hebe Signorini Gonçalves, UFRJ
E-mail dos autores: nathalialeardini@gmail.com,hebe@globo.com

Resumo: Desde o início do século XX, a partir da higiene mental e da eugenia, a articulação entre medicina e direito
têm importante papel nas engrenagens de práticas de controle da população pobre através da associação entre
criminalidade e males sociais aos comportamentos que se distanciavam do ideal burguês e europeu. No que diz
respeito à infância, a assimilação jurídica destes preceitos se realiza através da construção da Doutrina da Situação
Irregular, que orienta os Códigos de 1927 e de 1979, e cujo entendimento consiste em que os menores abandonados,
delinquentes, pervertidos, ou em perigo de o ser , deveriam ficar sob a tutela do Estado. Tais práticas apoiavam-se em
duas linhas de intervenção: de caráter preventivo, a partir da prerrogativa da incapacidade das famílias de educarem
seus filhos e de constituirem ambiente propício para os desvios morais; e de caráter curativo, na institucionalização
dos menores que cometiam crimes, considerando tais atos como expressão das anomalias individuais e tendo a
internação como solução.
Após a promulgação do ECA, em 1990, restitui-se às crianças e aos menores brasileiros a igualdade jurídica, mas o
esforço de superar o histórico de exclusão e segregação da infância pobre e consolidar uma perspectiva de proteção
integral continua a ser um desafio. Como parte deste esforço e em resposta às contradições existentes com a
promulgação do ECA, o SINASE é criado como forma de padronizar as ações voltadas para o adolescente autor de ato
infracional e a forma de aplicação das medidas socioeducativas com o intuito de garantir seus direitos - dentre eles o
da saúde. No campo da saúde mental, a Atenção Psicossocial da infância e adolescência (APIA) toma corpo a partir do
reconhecimento de uma dívida histórica do Estado brasileiro para com crianças e adolescentes com diferentes
necessidades em saúde mental, tendo, portanto, como finalidade principal a superação de uma lacuna assistencial
produzida pela ausência de diretrizes políticas e bases normativas, que acabou por delegar o cuidado desta população
a outros setores. Sendo assim, uma das suas frentes seria o enfrentamento das institucionalizações ocorridas não só
no campo da saúde, mas em outros setores, como o da justiça. Para atingir suas prioridades, a política de APIA traz
como proposta a criação de CAPSis e de uma rede intersetorial de cuidados. Recentemente, um conjunto de
normativas tem sido elaborado no sentido de direcionar a articulação entre a socioeducação e a saúde, o que prova a
necessidade desses documentos para fazer valer esse direito. Dentre elas, a principal é a PNAISARI, redefinida pela
Portaria 1.082, que tem dentre seus objetivos específicos: estimular ações intersetoriais para a responsabilização
conjunta das equipes de saúde e das equipes socioeducativas para o cuidado dos adolescentes em conflito com a lei e
garantir ações da atenção psicossocial para estes adolescentes.
A partir do entendimento dessas duas políticas como subsistemas do sistema de garantia de direitos (SGD) e da
intersetorialidade prevista em suas normativas, o presente trabalho busca analisar como se dá a articulação entre
ambas na operacionalização de suas ações. Para isso, estão sendo realizadas entrevistas semi-estruturadas com
profissionais e com adolescentes em cumprimento de medida sócio-educativa de liberdade assistida, em CREAS e
CAPSi de dois municípios do estado do Rio de Janeiro. Resultados preliminares indicam um significativo
distanciamento entre a teoria e a prática nestas instituições, traduzido pela fragilidade ou ausência de articulação nos
processos de cuidado, desconhecimento dos mandatos e diretrizes de cada política específica, e pela dificuldade de
inserção efetiva dos adolescentes em cumprimento de liberdade assistida no SGD, isto é, de superar as práticas
excludentes, historicamente destinadas a uma determinada infância e adolescência, e de ampliar suas redes de
proteção e autonomia.
O esforço aqui não se faz no sentido de alocar estes sujeitos a um lugar patologizante, e se beneficiar de uma política a
partir deste lugar, mas de reconhecer que há uma dívida histórica em relação à infância e adolescência pobre, cujos
engendramentos culminaram, em sua grande parte, em sua institucionalização e desassistência. Dessa forma,
entende-se que a Atenção Psicossocial compreende um mandato político cuja institucionalidade incluiria os
adolescentes em conflito com a lei no conjunto de suas ações e políticas. A partir do referencial teórico de Michel
638
Foucault, Giorgio Agamben, Walter Benjamin e Hannah Arendt, considera-se, neste trabalho, que estaria de acordo
com o mandato político da APIA – tendo em vista também o atual panorama de criminalização e patologização do
adolescente autor de ato infracional dentro de instituições de cumprimento de medida socioeducativa e da tendência
à internação como medida prioritária – sua apropriação destes adolescentes: a produção de um discurso e de práticas
dirigidas a eles de forma a pensar a diferença e a desobediência contida no ato infracional como forma de resistência
aos assujeitamentos históricos que lhes são direcionados, não como anormalidades individuais .

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Mi haà aio àvi ga çaà à o ti ua :à esist iaàeài su g iaàdeàjove sàdoà‘ioàdeàJa eiro em suas experiências nas
subculturas
Autores: Alexandre Bárbara Soares, UFF
E-mail dos autores: alexandrebarbara73@gmail.com

Resumo: Este trabalho analisou as diferentes dimensões da experiência de jovens do Rio de Janeiro no interior da
subcultura punk e suas ramificações. Nosso objetivo foi compreender como estes jovens vivenciam a experiência de
pertencimento a estes territórios culturais e como se veem no mundo e no cotidiano a partir dela, buscando
identificar como a participação nestes movimentos mobiliza nos jovens valores, afetos e discursos, atentos à
emergência de elementos de insurgência e às resistências culturais cotidianas e singulares que se constituem a partir
desta vivência. Esta análise é parte de pesquisa de doutorado defendida no Departamento de Pós-graduação em
Psicologia da UFRJ.
Quando abordamos os processos de subjetivação contemporâneo dos jovens por meio da análise das culturas e das
subculturas, entendemos que a participação dos jovens nestes espaços podem estabelecer formas de falar no espaço
publico, de se fazer ver e perceber no debate político contemporâneo, para estes indivíduos. Urteaga (2011) afirma
que as práticas culturais dos jovens articulam fronteiras entre suas perspectivas, valores e desejos com as do mundo
adulto e, também, entre outros jovens, tensionando uma essencialização da condição juvenil. Esferas que operam
como identificadores entre os iguais etários e diferenciadores frente aos outros, adultos. As formas como os jovens
urbanos hoje se apropriam dos espaços das cidades podem indicar não um, mas múltiplos sentidos em que cultura e
política parecem tentar se articular como modos de resistência ativa à distintas situações de opressão e subordinação.
Entendemos a perspectiva da resistência cultural presente neste estudo a partir de dois eixos; como um trampolim,
uma ferramenta, provendo a linguagem, práticas e os parceiros ou a comunidade, para facilitar o caminho até a
atividade política, permitindo, inclusive, pensar nela mesma como uma atividade política, uma ação da juventude sem
intermediários ou a necessidade de aprendizagem de códigos de acesso a participação, um campo de construção
cotidiana de relações entre os indivíduos e suas possibilidades de expressão, diálogo e negociação com a sociedade
ampliada. Ou, por outra via, uma fuga do mundo da política e dos problemas concretos e determinantes, um
fechamento em si mesmos demarcando fronteiras quase intransponíveis entre nós e eles . Este conflito se estabelece
sem, necessariamente, ser uniforme ou permanente – pode-se oscilar entre as diferentes perspectivas de acordo com
o momento, o contexto e as ações de cada coletivo.
Buscamos abordar a experiência dos jovens nas subculturas a partir do relato de moças e rapazes que circulam e
participam do circuito do rock underground no Rio de Janeiro. Para esta análise, realizamos entrevistas
semiestruturadas com dez jovens que participam das cenas subculturais no Rio, em especial dentro do punk e
hardcore. Buscamos contemplar uma diversidade etária, de gênero e de estilos. Entrevistamos quatro meninas e seis
meninos, sendo um deles, um jovem homem trans. As idades das pessoas entrevistadas variam entre 20 e 32 anos.
Entre as conclusões identificamos que a cena subcultural se organiza e unifica a partir da identificação de uma serie de
relações de recusa a um conjunto de situações e atores sociais e o que os jovens buscam nas subculturas é justamente
a tentativa de tensionar e disputar alguns sentidos hegemônicos, produzidos por certos dispositivos institucionais,
sobre sua própria condição juvenil. Como uma forma de transformação que se estabelece por esta experiência, é
possível identificar a ampliação do arsenal lingüístico e intelectual e o estabelecimento de um canal de interpretação
da realidade diverso dos que estão dados, fora dos canais tradicionais de transmissão cultural, como a família e a
escola. O que chamamos de "esfera pública" envolve uma reorganização discursiva do poder social, redesenhando as
fronteiras entre classes sociais e as divisões entre aqueles que se envolvem em argumentos racionais e aqueles que
não o fazem havendo, portanto, uma potência de reverberação nos discursos emitidos em musicas e textos pouco
afeitos às formalidades discursivas, emitidos por estes e estas jovens. Se na maior parte dos casos na vida política o
que está em jogo é a conquista de outro mundo, de outras formas de ser neste mundo que reconfigurem as relações
hegemônicas existentes (Scott, 1990), o ato de não conformidade com os padrões, mesmo que pontual, pode ser o
640
apontamento de uma direção, da possibilidade concreta de outras formas de viver em sociedade. Ainda que
permeado pelas contradições de um processo fragmentário de construção de uma direção de resistência,
equilibrando-se entre um processo ativo e um possível fechamento em torno de círculos próprios ensimesmados , há
no percurso e nos relatos apontados uma tentativa de afirmar uma potência de si frente às condições que procuram
des-subjetiva-los, mantendo-se vivos de uma maneira que provoca, causa estranheza e não segue scripts todo o
tempo. E, mais, estabelecem um trajeto de constituição de sí que provoca a eles mesmos e aos outros com quem
compartilham deste caminho a pensar na possibilidade de formulação de outras trajetórias sociais possíveis.

641
GT 30 | Políticas públicas de saúde para LGBT: experiências democráticas de participação,
provocações e desafios

Coordenadores: Adinete Sousa da Costa Mezzalira, UFAM | André Luiz Machado das Neves, UERJ | Fernanda Priscilla
Pereira da Silva, TJAM

A Psicologia Social do Gênero, assume o compromisso da desnaturalização das diferenças entre os gêneros ao
reconhecer essas diferenças, no contexto histórico da cultura e do grupo humano onde ocorrem as performances. É a
partir desse marco teórico que temas iniciados nos anos 1990, como masculinidades, homossexualidade e
transexualidade, são aprofundados, complementando o conteúdo dos estudos sobre gênero (Galinkin; Ismael, 2010;
De Jesus; Galinkin, 2015).
É nesse sentido, que este grupo de trabalho, busca reunir discussões sobre pesquisas e experiências acadêmicas,
profissionais e de movimentos sociais que se articulam com os diálogos e reflexões dos estudos sobre políticas
públicas de gênero e sexualidade no âmbito da saúde. Principalmente no que tange ao acesso, demanda e
permanência nos serviços públicos de saúde, bem como a organização política das pessoas LGBT nesse campo.
A construção de políticas de saúde para esse público é marcada por processos participativos dos movimentos sociais
LGBT, junto a esfera federal do governo no âmbito do Ministério da Saúde. Dentre as políticas públicas, a que mais
sobressaiu para as pessoas LGBT, foi a Política Nacional de Saúde Integral LGBT; bem como, o Processo
Transexualizador do SUS, essa última é uma reivindicação antiga das pessoas travestis, transexuais e transgêneros no
Brasil.
Nesse sentido, após toda a trajetória de mobilização e participação na construção de uma política LGBT junto as
esferas do governo, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Saúde Integral LGBT, em 2011 em resposta
aoàp og a aà B asilàse àho ofo ia àdeà .àEssaàPolíti aà o atizouàaào ie taç oàse ualàeàaàide tidadeàdeàg e oà
como determinantes sociais da saúde e visou à eliminação das iniquidades e desigualdades em saúde para LGBT.
A política se constituiu com o propósito promover o acesso à Saúde a partir do respeito à identidade de gênero, à
orientação sexual e às necessidades específicas de saúde dessas pessoas. Essa normativa seu deu por meio da Portaria
nº 2.836 de 1º de dezembro de 2011. Para Simpson (2015, p. 13-14), ainda há um longo caminho para um
atendimento em saúde ou um atendimento com qualidade que valorize os princípios de integralidade, universalidade
e os preceitos da equidade no SUS. Mello et al. (2011, p. 17) constaram, em pesquisa nacional realizada com gestorxs
go e a e taisàeàati istasàso eàpolíti asàdeàsaúdeàpa aàLGBTà oàB asil,à iosào st ulosà oàto a teà àefeti idadeà
das propostas do governo ,àe t eàosà uaisàoà aio àdesafioà à faze àa o te e ,àpoisàoà papelàa eitaàtudo .àOuàseja,à
existe uma série de documentos oficiais que regulamentam e direcionam políticas para LGBT, mas que não são
suficientemente executadas. Mello et al. (2011) apontaram múltiplos os fatores que dificultam colocar em ação o que
está escrito no papel; dentre estes a LGBTfobia institucional e entraves nas relações entre governos estaduais,
municipais e federal. Os mesmos autores, ainda afirmam que os problemas enfrentados pelas pessoas LGBT no que diz
respeito ao acesso a serviços de saúde são mais dramáticos no caso dxs travestis e transexuais. Esse grupo temático,
portanto, pretende reunir as discussões em torno das experiências e pesquisas tanto do âmbito da atenção
especializada quanto da atenção básica prestadas nos serviços públicos de saúde para as pessoas LGBT, com vistas a
pensar e compartilhar de que modo foram ou estão planejadas as experiências ou projetos de implantação e
organização de políticas de saúde para essas pessoas em tempos de exceção e de um discurso hipócrita conservador.
O grupo de trabalho relaciona-se com o eixo temático a Práxis da Psicologia Social na Saúde em contextos neoliberais,
considerando as intersecções dos diálogos sobre gênero, violência, formação profissional, participação política, dentre
outros pontos ativados pela aproximação com o campo da saúde e da psicologia social.
É importante ressaltar ainda, que considerando o eixo relacionado, esse grupo de trabalho se justifica, não só por suas
contribuições epistemológicas, mas também pelas contribuições da psicologia social na desconstrução de um serviço
público de saúde, que sustenta práticas binárias excludentes que inviabiliza a atenção integral à saúde das pessoas
LGBT.
Nesse grupo, serão acolhidos trabalhos que apresentem as peculiaridades da implantação de políticas de saúde.
Embora seja um direito e esteja documentada em formato de política nacional, alguns Estados possuem, outros
encontram-se em implantação e há Estados que desconhecem a política de saúde LGBT. Portanto, as discussões a
partir desse grupo podem fortalecer profissionais, pesquisadores e movimentos sociais, a compreender de que modo
foram feitas, que atores foram protagonistas e que medidas foram adotadas para ocorresse a implantação. Desse

642
modo, a discussão poderá ser circunscrita por um intercâmbio de experiências, conscientização e fortalecimento de
diversos grupos que visam atuar no âmbito das políticas públicas de saúde integral LGBT.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Ministério da Saúde. Brasil Sem Homofobia: Programa de
Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e Promoção da Cidadania Homossexual. Brasília, DF, Ministério da
Saúde, 2004. 32p
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.836 de 01 de dezembro de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política
Nacional de Saúde Integral LGBT). Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, Seção 1, n. 231, p. 37, 2011.
GALINKIN, A. L., ISMAEL, E. Gênero. In L. CAMINO, M. E. PEREIRA, M. E. O. LIMA, & A. R. R. TORRES (Orgs.), Psicologia
social: temas e teorias. Brasília: Technopolitik, 2011.
JESUS, J. G.; GALINKIN, A. L. Gênero e Psicologia Social no Brasil: entre silêncio e diálogo. Barbarói (UNISC. Impresso),
v. 43, p. 90-103, 2015
MELLO, L. et al. Políticas de saúde para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil: em busca de
universalidade, integralidade e equidade. Sex., Salud Soc. Rio de Janeiro, n. 9, p. 7-28, 2011. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-64872011000400002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:
10 janeiro 2017.
Simpson, K. Transexualidade e travestilidade na Saúde. In. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica
e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Transexualidade e travestilidade na saúde / Ministério
da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. – Brasília :
Ministério da Saúde, 2015.

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A construção da cultura escolar de prevenção e autocuidado: efeitos de intervenções curriculares
Autores: Ricardo Casco, USP
E-mail dos autores: cascoricardo@gmail.com

Resumo: Documento elaborado pela UNESCO (2010) aponta para a necessidade de iniciativas públicas que possam
auxiliar a preparação de crianças e jovens para a transição para a vida adulta, sobretudo tomando como centro de
interesse as relações sociais e a sexualidade humana. Tal enfoque se justifica tendo em vista a necessidade de tornar
as crianças e jovens conscientes da epidemia da AIDS e das formas de prevenção ao HIV e da gravidez não planejada.
Segundo informa a Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade, o Relatório Global do ONUSIDA
2008 sobre a Epidemia da AIDS, apresenta dados preocupantes. Conforme o Relatório, apenas 40% dos jovens em
escala global entre 15 e 24 anos possuíam conhecimentos satisfatórios sobre os modos de propagação do HIV e
formas de preveni-lo.
Em pesquisa recente (UNESCO, 2014) sobre o Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) realizada em sete capitais
brasileiras com jovens entre 15 a 24 anos, observou-se que 31,7% dos jovens iniciaram sua vida sexual antes dos 15
anos, desses jovens, 61,4% usaram preservativos na primeira relação sexual e apenas 29,3% utilizaram preservativos
em todas as relações sexuais. Do total da amostra investigada, apenas 1,6% haviam feito testagem para o HIV e 51,1%
dos jovens detinham conhecimentos corretos sobre as formas de transmissão do HIV. Da amostra analisada, 96,5%
dos jovens concordaram com a afirmação de que o uso do preservativo é a melhor maneira de evitar a infecção pelo
HIV e 99,1% concordaram que uma pessoa pode ser infectada nas relações sexuais sem o uso do preservativo. Vale
salientar que pesquisas têm indicado que o início da prática sexual permanece em torno dos 15 anos no Brasil e
segundo Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE, 2012), 28,7% dos jovens entre 13 e 15 anos de idade já
haviam tido relações sexuais. Os dados arrolados em diferentes pesquisas apontam para a necessidade do
fortalecimento das políticas públicas voltadas para o enfrentamento da epidemia de HIV entre jovens, especificamente
as voltadas para a escola pública.
Tomando como aporte teórico as contribuições do diálogo entre a Psicologia Social e os Direitos Humanos, a pesquisa
objetivou aferir os efeitos da implementação de um programa de educação em sexualidade, por meio de intervenções
curriculares, desenvolvido junto a 121 jovens escolares de ensino médio e técnico. Foram avaliados os efeitos do
programa em três dimensões analíticas: práticas sexuais dos jovens estudantes: idade de iniciação sexual; uso de
preservativos/adiamento da relação sexual/frequência de relações sexuais desprotegidas; conhecimentos que têm
acerca de formas de transmissão e prevenção das DST/HIV e gravidez não planejada; as opiniões que têm sobre
moralidade, normatividade de gênero e sexualidade. Os alunos responderam um mesmo questionário em duas
situações: antes do início das intervenções curriculares e após a intervenção. Comparando os dados das duas
aplicações do instrumento investigativo, foram observados efeitos significativos sobre as dimensões de interesse da
pesquisa: garotas relataram, após a realização do programa, terem menos medo de engravidar e da infecção pelo HIV;
jovens estudantes, garotos e garotas, que iniciaram a vida sexual durante e após o programa relataram terem utilizado
camisinha na primeira relação sexual em taxa superior aos que haviam iniciado a vida sexual anteriormente ao
programa; aumentou de modo significativo a tomada de decisão de usar a camisinha por ambos parceiros envolvidos
na relação sexual; aumentou de modo significativo o uso da camisinha na última relação; um número maior de jovens
passou a conhecer melhor como se utiliza a camisinha corretamente; um número significativamente maior de jovens
passou a reconhecer as instituições de saúde que oferecem testagem para o HIV; os jovens mostraram-se mais abertos
com relação à aprovação da ocorrência de relações homossexuais masculinas e femininas.

644
Andarilhos de estrada e as políticas públicas de assistência: exclusão social ou estratégias de gestão dos riscos
Autores: Eurípedes Costa do Nascimento, UNESP Assis
E-mail dos autores: nascimentoec@gmail.com

Resumo: Atualmente, a flexibilidade, a pluralidade, a contrição do espaço-tempo, a realidade virtual e as incertezas


sociais povoam sobejamente o cotidiano dos indivíduos. O ser humano parece viver hoje uma condição de
desenraizamento sem precedentes que o torna, também, um indivíduo circulante, em constante movimentação em
todos os planos de vida, seja no espaço sócio-geográfico ou no âmbito psicológico. As transformações ocorridas no
plano social, político e econômico nos últimos anos, a hegemonia do neoliberalismo, a flexibilização do trabalho, a
globalização, a substituição da sociedade industrial pela de serviços e o desemprego gradativo, têm mudado
profundamente as relações do indivíduo no mundo, criando, inclusive, essa necessidade de movimentação a vários
lugares em busca da estabilidade sócio-afetiva, rompendo limites e espaços estabilizados e geograficamente
circunscritos em certas culturas locais. A competitividade do mercado de trabalho, decorrente da sofisticação
tecnológica, selecionando os mais excelentes e qualificados a desempenhar determinadas funções no mundo do
trabalho, parece gerar um excedente humano que acaba sendo colocado numa situação de desqualificação,
vulnerabilidade e desfiliação social. A desfiliação social potencializa, ainda, o desenraizamento psicossocial,
enfraquecendo os vínculos, desestabilizando os assentamentos do indivíduo e potencializando para alguns a
deambulação constante como no caso extremo dos andarilhos de estrada. Trata-se de indivíduos que percorrem
longas distâncias a pé pelas rodovias do país com um saco às costas onde carregam todos os seus pertences, sem
destinos certos ou objetivos preliminarmente definidos. Nossas pesquisas anteriores sobre a errância dos andarilhos
procuraram investigar as razões que levam esses indivíduos a abandonarem os nichos de fixação social e partir para a
vida nas estradas, sem destino ou qualquer forma de permanência em determinado lugar. Nessas pesquisas, foi
possível constatar a existência de fatores sócio-econômicos (desemprego, ausência de moradia, migração e
desestrutura familiar) inter-relacionados com fatores sócio-afetivos (desilusão amorosa, morte dos pais, violência
familiar, isolamento, uso de álcool) e fatores culturais (desejo de aventura e liberdade) como um dos principais
motivos para a vida nas estradas. Nessas pesquisas, foi possível constatar, também, que as instituições e serviços
destinados a dar alguma assistência aos andarilhos acabam produzindo um efeito iatrogênico em relação a esses
sujeitos, estimulando ainda mais a perambulação constante e sem fim pelos acostamentos das rodovias. Nesse
contexto, albergues noturnos, casas de passagem e demais instituições assistenciais que acolhem esses indivíduos
parecem funcionar como pontos frágeis de acolhimento devido à política provisória de permanência institucional,
direcionando tais indivíduos para as rodovias e, consequentemente, impulsionando e perenizando a deambulação.
Visando aprofundar o conhecimento em torno dessa complexa questão social contemporânea, essa pesquisa teve por
finalidade analisar as políticas públicas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em relação aos andarilhos de
estrada. O método utilizado foi a abordagem qualitativa por meio de uma pesquisa documental das resoluções
publicadas entre os anos de 2005 a 2016 no website do Ministério de Desenvolvimento Social referentes ao SUAS
(http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/suas). Para a análise dos dados, foi utilizada a técnica da análise de
conteúdo. Os resultados indicaram que as políticas públicas do SUAS ao focalizarem apenas os moradores de rua e as
famílias em situação de risco e vulnerabilidade como populações-alvo a serem assistidas, ignoram outros indivíduos
em situação de miserabilidade extrema. Isso nos possibilitou concluir que as políticas públicas do SUAS atuam como
ferramentas estratégicas de gestão dos riscos, pois sob os efeitos da sanção normalizadora, associados aos dispositivos
biopolíticos de controle da população, distribuem objetivamente os andarilhos de estrada pelos acostamentos das
rodovias visando manter o equilíbrio nos campos de força do saber e do poder presentes nas redes de inteligibilidade
que permeiam o espaço social contemporâneo.

645
Contribuições da Psicologia sócio histórica para a Saúde no brasil: uma revisão narrativa
Autores: Laiana Gonçalves Sabioni, UFJF
E-mail dos autores: lgsabioni@gmail.com

Resumo: As definições conceituais e práticas sobre saúde sofrem constantes modificações tanto no contexto mundial
quanto nas peculiaridades regionais ao longo do tempo. No Brasil, houveram modificações que acompanharam o
movimento global pela ruptura de visões tradicionais de saúde, mais estritamente relacionadas a problemas sociais
existentes na América Latina. Em meados da década de 70 e 80, movimentos sociais aliados aos profissionais de
saúde, exigiram uma reformulação que acompanhasse essa transformação de modo a atender as demandas sociais do
país. Tal movimento culminou na promulgação da constituição de 1988, estabelecendo leis em saúde que não só
ampliaram a visão conceitual da mesma, como caminhou para uma maior universalização, integralização e ampliou a
compreensão de direitos básicos no campo. O Sistema Único de Saúde (SUS) surge através desta proposta, ao mesmo
tempo em que apresenta novos desafios. A Psicologia sócio histórica ganha destaque neste período, alinhando-se aos
novos pressupostos que buscavam a superação do antigo modelo higienista. É apresentada como possível ferramenta
de trabalho, considerando seu caráter enfático na visão do sujeito como um ser social ativo e em constante
elaboração de si e de seu meio, utilizando como base filosófica o materialismo dialético. A história da Psicologia no
Brasil, marcada tradicionalmente por perspectivas clínicas e psicanalíticas, apresenta então uma alternativa de ruptura
por meio da Psicologia Sócio histórica. A partir disso torna-se relevante avaliar como este cenário se desenvolveu e de
que maneira esta vertente contribui atualmente para a área da Saúde. O trabalho parte do período de
redemocratização brasileira como marco essencial para a eclosão de novos referenciais na Psicologia brasileira, com
maior vinculação à realidade social do país. A busca pela superação de modelos elitistas em saúde, tradicionalmente
desconectados da realidade social, motiva a realização da pesquisa e neste sentido dialoga com o grupo de trabalho A
Psicologia Social na Saúde: práxis, interfaces e perspectivas para a democracia . Assim, o presente estudo pretende
investigar as produções atuais da psicologia sócio histórica voltadas para saúde pública brasileira. Para tanto, utilizou-
se como método a revisão narrativa, método de pesquisa bibliográfica que se dispõe a percorrer as produções de uma
determinada área, a fim de construir um mosaico daquilo que se discute em um campo de estudo em um dado
período de tempo. Este modelo oferece alguma liberdade aos pesquisadores/as, podendo ser considerado uma forma
mais ampla de seleção, organização e análise dos dados quando comparada a outras categorias da revisão. Torna-se
útil para investigação iniciais mais abrangentes que ofereçam suportes a estudos específicos posteriores. Dessa forma,
as bases de dados de pesquisa utilizadas foram Pepsic, Scielo e Lilacs, por abrigarem periódicos cientificamente
reconhecidos na área da saúde. Os descritores utilizados para busca foram Psicologia Sócio Histórica, Psicologia Social
crítica, saúde brasileira e sistema único de saúde, selecionados de forma articulada para entender sobre o contexto do
uso da Psicologia Sócio Histórica no contexto de saúde no Brasil. O total de publicações que retornaram na busca
realizada foram de 22 trabalhos que após as exclusões por duplicidade e fuga ao tema resultaram em 13 trabalhos
para a análise dos dados. Em relação ao tipo de publicação apareceram 1 ensaio, 9 artigos, 2 teses e 1 dissertação. A
leitura dos resumos permitiu identificar os temas mais frequentes na articulação da saúde brasileira com as
perspectivas sócio histórica e social crítica. Estes temas foram organizados em seis tópicos, Adoecimento no trabalho e
impactos na saúde (3), Atenção primária (3), Intervenções em saúde (3) Formação em Saúde (2), Interfaces entre
Psicologia e SUS (1) e Urgência (1). Em relação à maneira como a perspectiva crítica foi abordada nos estudos
observam-se duas formas de análise, uma como ferramenta metodológica, direcionando as análises empreendidas e a
outra pelo uso da perspectiva crítica como pano de fundo a outras discussões. Os resultados apontam um baixo
número de publicações e uma variabilidade nos temas abordados em Saúde, não havendo predominância de um tipo
específico. A proposta de realizar uma revisão inicial do tema, que oferece suporte para estudos posteriores foi
646
atendida, no entanto, sugere-se que trabalhos posteriores englobem descritores mais específicos, no sentido de
restringir os termos de busca e sistematizar os dados em discussão. Os trabalhos na área contribuem para o avanço de
uma perspectiva transformadora em Saúde, superando modelos tradicionais dentro de abordagens individualistas.

647
Investigando possibilidades de intervenções clínicas com grupos marginalizados a partirdo plantão psicológico
Autores: Érico Douglas Vieira, UFG Regional Jataí
E-mail dos autores: ericopsi@yahoo.com.br

Resumo: A palavra plantão suscita significados relativos a um tipo de serviço prestado por um profissional que
permanece à espera e em prontidão em um período predeterminado e em um horário ininterrupto. O Plantão
Psicológico é uma modalidade de atendimento clínico flexível que pode ser ofertada em instituições, reconhecida pelo
Conselho Federal de Psicologia, diferenciada da psicoterapia pelo estabelecimento do foco na emergência psicológica.
A população brasileira encontra poucos serviços disponíveis de saúde mental. A psicoterapia exercida em consultório
particular não consegue alcançar muitos grupos sociais. Os psicólogos brasileiros são convocados a saírem de seus
consultórios particulares para conseguirem compreender a realidade social e as novas formas de subjetivação. Existe
um consenso crescente de que a Psicologia precisa se transformar e se tornar mais comprometida socialmente. Em
sintonia com estas mudanças, o presente trabalho é um relato de uma pesquisa que teve como objetivo a construção
do plantão psicológico direcionado para sujeitos em situação de vulnerabilidade social. Este público-alvo é constituído
por moradores de rua, trabalhadores precários (garis), trecheiros ou andarilhos (pessoas que percorrem várias cidades
sem residência fixa), desempregados ou excluídos do mercado de trabalho, pessoas com dependência química,
sujeitos com sofrimento mental (psicoses, depressões graves). Os atendimentos foram realizados numa instituição que
oferece apoio, alimentação e moradia na cidade de Jataí-GO. Pretendeu-se contribuir para a sistematização de formas
de intervenções clínicas com um grupo de pessoas marginalizadas, que apresentam algumas especificidades tais como
formas discursivas dispersas e poucos lineares, vivências de violência, humilhações e diversos desamparos.
Representam sujeitos com poucas referências sociais, existenciais e materiais e com vivências de grande exposição dos
seus corpos. Considera-se relevante a criação de formas de atendimentos clínicos do tipo plantão psicológico com tal
população, tendo em vista que na literatura pesquisada os atendimentos são direcionados para pessoas de camadas
médias da população, que estariam menos expostas à situações de humilhações e violências. O referencial teórico que
fundamentou as intervenções foi o Psicodrama. Trata-se de um método de inspiração existencialista, cujo foco é a
representação de conflitos, compreendendo as etapas de aquecimento, dramatização, compartilhamento e o uso de
instrumentos oriundos do teatro tais como diretor, protagonista, plateia e palco. É um método de pesquisa e
intervenção nas relações interpessoais e nos grupos criado por Jacob Levy Moreno (1889-1974). Os atendimentos
realizados pela equipe de plantonistas se inserem no Psicodrama adaptado para a situação bipessoal. Quanto ao
método, a Teoria Fundamentada, de natureza qualitativa, foi adotada neste estudo. Este método consiste em
diretrizes que permitem coletar e analisar dados, com o objetivo de construir teorias fundamentadas nos próprios
dados. Os dados foram analisados com o intuito de produzir análises teóricas desde o início da coleta de dados. Para o
processo de coletas de dados, dois instrumentos foram construídos a partir das intervenções. As anotações clínicas
representam os registros do material que emergiu no espaço clínico das sessões, contendo as falas dos clientes e
interações entre plantonista e cliente. Os diários de campo consistem em registro dos resultados das observações
clínicas, eventos não verbais e fatos ocorridos. As narrativas foram comparadas, buscando-se os eventos principais a
fim de identificar os padrões comuns. Como resultados, foram observados alguns aspectos específicos do que ocorre
na escuta clínica com pessoas excluídas. A escuta, o acolhimento e a ressignificação da experiência foram estratégias
clínicas válidas para as intervenções com este público. No entanto, novos tipos de intervenções precisaram ser criadas
para que o encontro clínico seja um espaço de promoção de saúde. Os plantonistas precisaram lidar com o sofrimento
ético-político que seria a dor de ser tratado como subalterno, sem valor e inferior. O sofrimento mais verbalizado era a
sensação de ser tratado como inferior, com descrédito e com desconfiança. Os plantonistas adotaram no espaço de
escuta o reconhecimento, o tratamento com dignidade e a presença diante da narração de sofrimentos intensos como
648
formas de intervenção e construção de vínculo. Outras formas de intervenção clínica são necessárias para lidar com
este tipo de sofrimento que é pouco trabalhado na literatura clínica. Nos estudos sobre psicoterapia e sobre o plantão
psicológico existem lacunas em relação ao mapeamento de um tipo de sofrimento que se origina de desigualdades
sociais e exclusão. Não se desenvolve a ideia de que o sofrimento pode ser uma expressão e uma denúncia das
injustiças sociais a que estão submetidos determinados grupos menos favorecidos.

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O que os usuários/as nos falam sobre o cuidado ofertado pelo Espaço de Acolhimento e Cuidado para Pessoas
Trans e Travestis
Autores: Giovana Meinberg Garcia, UFPE
E-mail dos autores: gi_meinberg@yahoo.com.br

Resumo: A população transexual e travesti (1) enfrenta, historicamente, inúmeras dificuldades para o acesso e
permanência nos serviços de saúde, decorrentes da exclusão, discriminação social e da problemática do diagnóstico
patologizante (ARÁN & MURTA, 2009; LIMA, 2014; NEVES, 2015; TENÓRIO & PRADO, 2016). Em decorrência disso, no
Brasil, embora a Atenção Básica seja compreendida como porta de entrada do processo Transexualizador, o
atendimento está restrito aos hospitais e ambulatórios que se tornam, na prática, o primeiro local de atendimento no
sistema público de saúde.
De acordo com Arán (2010), as políticas públicas voltadas para as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e
travestis (LGBTT) ainda permanecem atreladas a literatura médica, refletindo na obrigatoriedade do diagnóstico de
Disforia de Gênero, para o acesso ao Processo Transexualizador do SUS (APA, 2013).
Consideramos que tais debates trazem implicações para o cuidado das pessoas transexuais e travestis, afinal,
atendimentos que procuram comprovar a todo custo que há uma doença por trás da necessidade em saúde, podem
tornar-se processos iatrogênicos, isto é, podem produzir efeitos negativos a partir de uma ação pretensamente
benéfica.
Nesse sentido, este projeto tem como objetivo analisar o processo de cuidado ofertado pelo Espaço de Acolhimento e
Cuidado para Pessoas Trans e Travestis, do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Pernambuco, a partir da
escuta dos/das usuários/usuárias considerando o princípio da integralidade. O serviço possui dois anos de
funcionamento, e é a primeira vez que será cenário de um processo avaliativo. Compõe um projeto de pesquisa
guarda-chuva, denominado Processo de cuidado integral à saúde das pessoas trans no Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Pernambuco, sob responsabilidade da professora Luciana Vieira, em que irá trabalhar
diretamente com os profissionais e gestores do serviço.
Para tanto, buscaremos compreender os princípios de integralidade, de acesso e equidade do SUS; mapear o perfil
dos/das usuários/usuárias do Espaço Trans e analisar o projeto institucional, composição da equipe, financiamento,
organização das ações ofertadas, protocolos, fluxo de referência e contra-referência, bem como, os procedimentos
utilizados pelos/pelas usuários/usuárias do Espaço Trans.
No plano do desenho metodológico, utilizaremos a triangulação de métodos (MINAYO, 1992). Realizaremos pesquisa
documental (prontuários, projeto institucional), procurando abarcar aspectos do cuidado instituído aos/as usuários/as
(MERHY, 2014). Também serão feitas entrevistas semiestruturadas com usuárias/usuários, a partir da sua
autodeterminação de identidade de gênero (homens trans, mulheres trans, travestis), considerando os procedimentos
ofertados pelo serviço, e entendendo que há, em princípio, características diversas entre as demandas de saúde. A
escolha das pessoas deverá ser feita pela equipe do serviço em estudo pela proximidade do cuidado produzido no
cotidiano. A análise documental e as entrevistas serão analisadas sob a ótica da Análise do Discurso inspirada no
pensamento de Michel Foucault.
Entendemos que esse trabalho vem ao encontro da proposta do GT Políticas públicas de saúde para LGBT:
experiências democráticas de participação, provocações e desafios, pois tem como foco promover discussões acerca
da construção e implementação do serviço no município do Recife, bem como debater sobre dificuldades e potências
que podemos apontar desse percurso. Ademais, é o único que funciona como referência no SUS em nível
macrorregional (Norte/Nordeste) habilitado a realizar cirurgias de transgenitalização(2), e um dos únicos cinco locais
no país a realizar tais procedimentos. Entendemos como importante ressaltar que o caminho de construção desse
trabalho não é feito apenas por mim, o considero construído coletivamente, feito a partir de encontros com vários
interlocutores/as. Está aberto a trocas e aprendizados, vindos de outros lugares, outras experiências, e que também
desejam assim fazer.
650
Por me encontrar em atual momento de entrada no campo, os resultados que podemos apresentar estão mais ligados
ao próprio processo de construção do projeto e leituras, desde as reflexões a partir das experiências na Atenção Básica
no Brasil, anteriores ao projeto de pesquisa mas entendidas como fundamentais para tal construção, até o aproximar
do atendimento especializado ofertado no Recife. Desse modo, ao conhecer a história desse serviço, podemos apontar
que sua construção teve implicações diretas de pressões dos movimentos sociais. Também sabemos de algumas
dificuldades e potências no processo de implementação, como por exemplo, que o diagnóstico não funciona como
critério de entrada no serviço, procurando trabalhar sob um viés despatologizante (TENÓRIO et al, 2017, no prelo).
Esperamos que tal pesquisa possa contribuir com o debate da construção de políticas públicas voltadas para essa
população, servindo de instrumento para o controle social, assim como possa provocar a equipe do serviço ao
processo autoreflexivo e de Educação Permanente.

Notas
1. Assim como todo conceito que visa delimitar e fixar uma identidade, os termos transexual e travesti não são a-
históricos e dados a priori. Adotamos tais noções atreladas a vivências transgêneras, que abrangem todos/as/es que
transgridem as normas impostas de gênero com o nascimento.
2. Alteração cirúrgica do órgão genital para adequação à imagem que a pessoa trans deseja (JESUS, 2012).

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Política de Atenção à Saúde da Mulher e Processo Transexualizador: Questões de Gênero Possíveis
Autores: Fernanda Lyrio Heinzelmann, USP; Ianni Regia Scarcelli,USP; Mariana Fagundes de Almeida Rivera, USP
E-mail dos autores: fheinz@usp.br,mariana.fagundes.rivera@gmail.com,iannirs@usp.br

Resumo: A partir das conquistas dos movimentos sanitário, feministas e LGBT no Brasil nas últimas décadas, é possível
observar muitos avanços nas políticas públicas de saúde relacionadas à gênero. Desde os anos 2000, no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS), novas ações do Ministério da Saúde têm se voltado mais para questões de gênero. Em
2004, foi elaborada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) pelo Ministério da Saúde
(MS). Quase dez anos depois, em 2013, a Portaria n. 2.803 do MS redefine e amplia o Processo Transexualizador no
SUS. É preciso, no entanto, compreender como a categoria gênero está articulada nestas políticas públicas de saúde
específicas, uma vez que, como apontado por Joan Scott, gênero pode ser utilizado de diferentes formas a depender
da perspectiva adotada pelo autor. Uma das perspectivas possíveis é a de Judith Butler (2008) que diz que uma cultura
pautada em termos da lei, ou conjunto das leis, pode criar um gênero tão fixo e determinado quanto o pensado
biologicamente. Na confusão de conceitos, se corre o risco de perder de vista que gênero revela relações de poder
estabelecidas histórica e socialmente. Com a intenção de identificar aspectos que podem ser úteis na discriminação de
dimensões e âmbitos de problemas quando estes dizem respeito ao campo social, lança-se mão da proposta de análise
a partir de quatro âmbitos fundamentais, conforme Scarcelli (2017): político-jurídico como as diretrizes políticas e
seus aspectos legais; o âmbito técnico assistencial como as práticas que derivam de tais diretrizes e/ou que
desencadeiam processos de elaboração de novas leis e diretrizes; o âmbito teórico-conceitual como os fundamentos
de práticas e diretrizes; e o social-cultural como os grupos e sujeitos, suas necessidades, desejos e demandas que
deveriam ser consideradas na proposição das políticas públicas. Assim, baseando-se nesta perspectiva e no referencial
teórico da Psicologia Social proposta por Pichon-Rivière, buscou-se analisar o enfoque de gênero proposto na PNAISM
e Portaria n. 2.803. Aqui, então, focamos na análise do âmbito político-jurídico dos documentos escolhidos. Nesse
sentido, ainda que a PNAISM seja bastante progressista no que diz respeito à análise que faz da condição da mulher no
país das últimas décadas e que as diretrizes tragam uma diversidade interessante de ações possíveis, seus princípios se
mostram genéricos em termos de humanização e qualidade do atendimento e os objetivos não especificam questões
de opressão. Além disso, o documento não faz nenhuma menção às mulheres trans, apenas às mulheres lésbicas, o
que pode apontar para uma perspectiva de gênero ainda ligada aos substratos da biologia e não aberta para a
construção social do gênero de forma mais radical. Já a portaria que institui o Processo Transexualizador parece
reforçar tal perspectiva, uma vez que o acesso aos tratamentos e serviços previstos em seu texto estão diretamente
associados ao diagnóstico de Transtorno de Gênero, ou Disforia de Gênero. Ou seja, reforça uma noção patologizante
das identidades trans. Nossa análise propõe reflexões sobre outras maneiras possíveis de se abordar gênero em
políticas públicas, respeitando particularidades de maneira que possam efetivamente garantir melhorias na saúde e
nas vidas das pessoas as quais se destinam.

Referências
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2008.
PICHÓN-RIVIÈRE, Enrique. O Processo Grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
SCARCELLI, Ianni Regia. Psicologia Social e Políticas Públicas: Pontes e Interfaces no Campo da Saúde. São Paulo:
Zagodoni, 2017.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica In: Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 20, n. 2,
jul/dez, 1995, p. 71-99.

652
Protagonismos e embaraços de redes nas articulações de práticas emancipatórias na saúde das mulheres
Autores: Cíntia Maria Teixeira, PUC Minas
E-mail dos autores: cintiapsique@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho propõe apresentar a pesquisa de doutorado em Psicologia desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, entre 2013 a 2017, com período de seis
meses de estudos na Universidade Autônoma de Barcelona na Espanha com o intuito de aprimorar o marco teórico na
literatura relacionada ao problema de pesquisa além de melhorar o potencial científico. A pesquisa foi financiada pela
CAPES com duas bolsas de estudo, taxa de concessão e pelo Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE). A
investigação teve como objetivo analisar os protagonismos e embaraços de redes nas articulações de práticas
emancipatórias na atenção primária à saúde das mulheres. Para tal, localizei como as políticas públicas de saúde na
atenção primária propõem ações de enfrentamento à violência contra as mulheres. Os efeitos das práticas de
assistência desenvolvidas em um centro de saúde de Belo Horizonte caracterizaram o eixo analisador para
problematizar como profissionais e usuárias, bem como os diferentes níveis de gestão, tecem a rede na linha do
cuidado e da justiça social. Em termos epistemológicos, utilizei eixos teóricos da Psicologia Social e a Teoria
Tridimensional da Justiça proposta por Nancy Fraser. No caminho traçado para a realização desta pesquisa, realizei um
estudo de caso em uma unidade básica de saúde no Distrito Sanitário Nordeste, em Belo Horizonte, com ênfase na
construção narrativa da história do grupo de mulheres e a ficção, que funciona como dispositivo de promoção de
saúde. Os procedimentos metodológicos envolveram análises de documentos, entrevistas, observação participante,
diário de campo e rodas de conversas. A pesquisa indica que, apesar dos avanços nas políticas públicas de saúde para
as mulheres na assistência, as práticas de saúde mais prevalentes ainda são essencializadoras, biologizantes e
medicalizantes, isto decorre do predomínio do modelo biomédico, com o poder hegemônico do médico naturalista
organizado sob os moldes de um sistema hierarquizado e dominante na atenção primária que prioriza o cuidado com
o corpo biológico. No combate à violência contra as mulheres, o desafio recai no processo de desconstrução e
desnaturalização deste fenômeno com todas as pessoas envolvidas: gestores, profissionais e usuárias. Passados
quatorze anos da publicação da Lei 10.778, a notificação compulsória em casos de violência contra as mulheres nas
unidades básicas de saúde ainda apresenta números irrisórios, diferente dos casos de violência contra as mulheres no
Brasil registrados nos sistemas de segurança. Em Belo Horizonte, tem-se trabalhado com a legitimação de notificar a
violência nos serviços de urgências e hospitais especializados com a justificativa de que a rede de saúde na assistência
é frágil e temerosa. Assim, não se problematiza a questão na qual gestores/as e profissionais deixam de cumprir a lei.
Além disso, na política pública de saúde para as mulheres não há diretrizes que apontam para questões que
correlacione linha de cuidado integral, enfrentamento à violência e justiça social. Tal situação aponta para a
negligência do Estado em relação ao enfrentamento da violência na assistência. Uma das necessidades emergentes
está em garantir ações integradas por meio das redes intersetoriais no enfrentamento à violência contra as mulheres
que concilie a linha de cuidado integral associada ao modelo de justiça que problematize os efeitos da má-distribuição,
a hierarquia de status e a ausência ou falsa representatividade na saúde das mulheres. Destaco a importância de
apostar no protagonismo e embaraços das redes sociais, de serviços e intersetoriais e as práticas grupais para analisar
e intervir nas assimetrias de poder acerca das políticas públicas e as práticas de saúde para as mulheres brasileiras no
mundo globalizado.

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Representações sociais de masculinidades na campanha do Ministério da Saúde sobre Prevenção Combinada (2016)
Autores: André Luiz Machado das Neves, UEA
E-mail dos autores: andre_machadostm@hotmail.com

Resumo: Este trabalho teve o objetivo de identificar as representações sociais de masculinidades na campanha do
Ministério da Saúde (MS) sobre Prevenção Combinada (PC) do ano de 2016, a partir do curta-metragem Aids, escolha
sua forma de prevenção. A PC compreende três eixos de intervenções no âmbito da prevenção e do cuidado integral a
saúde no âmbito do HIV/Aids. A saber: os biomédicos, os comportamentais e os estruturais. No âmbito desses três
eixos, o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, do MS, lançou
em 2016, uma campanha específica, denominada de Aids, escolha sua forma de prevenção, sobre a abordagem da PC.
Porém, não foi a primeira vez que essa abordagem esteve transversalizada em outras campanhas de prevenção da
Aids. O MS elegeu para essa campanha, o público-alvo prioritário, os jovens, haja vista que são considerados como
uma das populações-chave para a infecção pelo HIV. As peças para realização da campanha eram constituídas por
meio de dois curtas-metragens, um de 90 segundos para as redes sociais e um de 30 segundos para os canais
televisivos abertos; spot de rádio; cartazes voltados para gestantes, casal homoafetivo, heterossexuais e mulheres
trans. Nessa pesquisa, elegeu-se apenas um curta-metragem (curta), que foi o de 90 segundos, denominado com o
mesmo nome da campanha oficial, além de que o outro filme de 30 segundos não foi disponibilizado para domínio
público. O interesse por esse curta justificou-se pelo fato do MS ter produzido para veicular nas redes sociais.
Considera-se, portanto, que as tecnologias de informação e comunicação não são apenas ferramentas para subsidiar
obtenção de informações e ampliar a comunicação, mas elas constituem mecanismos estruturantes de novas formas
de pensar, fazendo convergir linguagens e mídias que potencializam os processos de comunicação. As redes sociais,
não se restringem apenas à difusão incremental entre os usuários, mas também ao tipo de relações sociais que se
estruturam no seu interior e, sobretudo, na naturalização que se produz entre os membros de determinada rede
social. Portanto, realizou-se uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, realizada no Portal sobre Aids,
infecções sexualmente transmissíveis e hepatites virais, do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério
da Saúde. Para análise dos dados utilizou a técnica de análise categorial temática de conteúdo e os dados foram
discutidos à luz de Bourdieu e Connell. Como resultados, identificaram-se quatro categorias organizadoras das
representações sociais sobre masculinidade, as quais indicam as perspectivas hegemônica, cúmplice, subalterna e
marginalizada. As categorias temáticas foram: Trouxe a camisinha, né?–A sutileza na dominação masculina nas
relações de gênero; Estigma e masculinidade homossexual: transei sem camisinha; Masculinidade hegemônica e
responsabilização da mulher-grávida na infecção da Aids; Masculinidade subalterna e naturalização da AIDS?;
Masculinidade heterossexual como a norma social correta. Nesse aspecto, considera-se que as representações sociais
de masculinidades presentes no curta partem da reprodução de valores hegemônicos do papel social masculino.
Enquanto uma perspectiva que relaciona as questões de gênero, sexualidade e Aids lançou-se mão de como essas
representações podem influenciar no agir-cuidativo-educativo de profissionais da saúde, com destaque na saúde
pública no âmbito de práticas de prevenção ao HIV/Aids. Por sua vez, faz-se necessário estranhar e refletir sobre como
as políticas públicas de saúde podem naturalizar práticas de comportamentos e estruturas sociais, como as de gênero
e sexualidade, sendo que muitas vezes essas políticas chegam, por exemplo, na atenção básica como um pacote para
ser reproduzido nas práticas de prevenção na atenção e cuidado em saúde, pois muitas dessas tecnologias educativas
são usadas para práticas de prevenção

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Violência Sexual, questões de gênero e possíveis lacunas nas políticas públicas
Autores: Jorgelina Ines Brochier, UNESA; Lusanir de Sousa Carvalho, UNESA; Maria Heloisa de Oliveira Bevilaqua,
UNESA
E-mail dos autores: lusanir-carvalho@uol.com.br, jo.inesbrochier@gmail.com, heloisabevilaq@uol.com.br

Resumo: A Violência Sexual (VS) constitui um problema mundial que atinge todas as classes sociais com altas taxas de
ocorrência entre adolescentes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a VS é definida como qualquer ato
sexual ou tentativa do ato não desejado, ou atos para traficar a sexualidade de uma pessoa, utilizando repressão,
ameaças ou força física, praticadas por qualquer pessoa, independente de suas relações com a vítima, qualquer
cenário, incluindo, mas não limitado ao do lar ou do trabalho (WHO, 2002, p. 149).
Estudos têm apontado a faixa etária da adolescência como período de elevada vulnerabilidade à VS e predomínio
junto ao gênero feminino, o que não significa que não seja expressiva no gênero masculino (Oshitaka et al., 2011;
Hohendorff & Habigzang, 2012). É denominada epidemia escondida porque a VS é a mais subnotificada, não raro,
apresentando o pacto de silêncio nas relações familiares (De Antoni, et al., 2011). Tal silêncio está fundamentado no
tripé vergonha, medo e culpa e, especificamente entre os meninos, está entrelaçado com expectativas e temores
sobre a sua masculinidade, reduzindo a possibilidade de notificação e consequentes lacunas nas Políticas Públicas de
enfrentamento à VS direcionadas para o gênero masculino.
Durante a adolescência, de acordo com a psicanálise, a estabilidade alcançada na infância é rompida com as mudanças
operadas no corpo, pois o adolescente precisará ressignificar a imagem corporal perdida. A sexualidade é elemento
fundamental também na adolescência por sua contribuição para a estruturação da identidade. É então na
adolescência que se repete ou se reedita o conflito edípico (Freud, 1905, 1989). No que se refere à VS em
adolescentes, a chegada da puberdade e as mudanças incontroláveis do corpo tornam-se relevantes, constituindo
uma violação dos direitos ao seu corpo, à vida e ao respeito (Dos Santos, 2010).
Com base nessas considerações, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa com o objetivo de alertar para possíveis
lacunas existentes nas políticas públicas de enfrentamento à VS no que tange ao gênero masculino.
Participaram da pesquisa seis adolescentes do gênero feminino e um do gênero masculino na faixa etária entre 11 e
17 anos, todos encaminhados ao Centro de Atendimento a Mulheres Vítimas de VS, localizado em hospital geral na
Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Foi utilizada uma entrevista semiestruturada contendo um roteiro que abordou
dois aspectos: adolescência e violência. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da ENSP/FIOCRUZ
(06/10/2010).
Dos resultados obtidos, no que diz respeito às adolescentes, todas descreveram sentimentos de culpa, vergonha e
medo reafirmando que a VS envolve uma relação assimétrica e coloca a adolescente em uma posição de intimidação e
alvo de chantagem, ficando mais vulneráveis a outras formas de violência (Carvalho, 2012; Oshitaka et al., 2011).
Em relação ao adolescente, a tentativa de acolhimento resultou em fracasso pois, apesar de ter confirmado o episódio
de VS ao chegar à emergência, a situação de violência foi negada pelo mesmo durante a entrevista no Centro de
Atendimento a Mulheres Vítimas de VS. Consequentemente, cabe indagar sobre o impacto do encaminhamento e
atendimento deste adolescente a um centro para o atendimento de Mulheres, tanto na perspectiva do entrevistado e
familiares quanto na da equipe. Torna-se importante questionar se tais procedimentos, ao encobrirem lacunas nas
políticas públicas direcionadas às questões de gênero, implicam na cristalização de temores e expectativas
relacionados à sexualidade, no caso do adolescente. Problematiza-se também sobre a perplexidade de uma equipe
que está direcionada para trabalhar com o gênero feminino.
Tal cenário provoca cristalizações, impactos e desencontros: no imaginário dos meninos, familiares e pessoas do
entorno prevalece o sentido de que meninos ou homens não podem e não são abusados sexualmente. Nesse processo
de captura, é também cabível inferir que, no imaginário dos profissionais de saúde, podem estar presentes ideias
estereotipadas sobre o sentido da masculinidade, na medida em que, usualmente, constatam que o agressor é do sexo
masculino.
655
Nesses (des)encontros existem vozes silenciadas pelo medo, culpa ou ainda pela vergonha, e também temos vozes
silenciadas porque em função do desconhecimento, pouco ou nada têm o que dizer.
Frente a essas constatações, enfatizamos a importância da rede de proteção que inclua profissionais em uma
perspectiva multi e interdisciplinar que potencialize essas vozes, criando espaços para a compreensão da maneira
peculiar de cada adolescente vivenciar as situações de violência e das possibilidades de enfrentamentos e
ressignificações.
Ressaltamos a urgência na implementação de políticas públicas que constituam estratégias de cuidado com pessoas
em situação de VS, para além do gênero e da orientação sexual. Caso contrário, estaremos favorecendo pactos de
silêncios e, consequentemente, consolidando estatísticas permeadas pela subnotificação.

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GT 31 | Práticas Cotidianas e Saberes Locais na Construção de Espaços Democráticos

Coordenadores: George Moraes De Luiz, UNIVAG | Mário Henrique da Mata Martins, PUC-SP | Sandra Luzia Assis da
Silva, Núcleo Grande ABC da Abrapso

O objetivo deste Grupo de Trabalho (GT) é compartilhar resultados de pesquisas, intervenções e relatos de
experiências, concluídas ou em andamento, sobre práticas cotidianas e saberes locais que diferentes grupos e
comunidades produzem em seus respectivos territórios. Além disso, busca-se entender os modos pelos quais esses
mesmos grupos e comunidades participam dos espaços democráticos nos quais tais práticas e saberes podem se
difundir, intervindo desse modo em processos decisórios. Estas experiências, pesquisas e intervenções podem estar
vinculadas direta ou indiretamente ao contexto das Políticas Públicas, aqui compreendidas como um conjunto de
ações governamentais direcionadas à resolução de problemas sociais, comunitários e ambientais, nas quais o uso de
instrumentos de controle social que legitimam os discursos locais são prerrogativas para seu adequado funcionamento
e operacionalização. Consideram-se as experiências como aquelas desenvolvidas por profissionais no exercício
cotidiano da profissão ou lideranças comunitárias e de grupos locais que impactaram diretamente em seu cotidiano ou
no cotidiano das instituições às quais estejam vinculadas. As pesquisas, por sua vez, podem ser de caráter interventivo,
descritivo-analítico, exploratório ou experimental, contanto que atendam ao pré-requisito de promover articulações
entre os saberes locais e a construção de espaços democráticos. As intervenções, por fim, podem ser desenvolvidas
pontualmente por profissionais, professores e estudantes e ilustradas como exemplos de boas práticas nesse campo.
A temática abordada nesse GT visa contribuir com a discussão do XIX Encontro Nacional da ABRAPSO, tendo em vista
que há múltiplas singularidades nos modos de conhecer, fazer, conviver e ser de grupos e comunidades, que é de
fundamental importância conhecer essas singularidades e, para isso, é necessário garantir o direito à participação
dessas pessoas nos processos decisórios que fundamentam a democracia brasileira. Isso pode ocorrer seja por meio
dos dispositivos oficiais das políticas públicas ou dos mecanismos produzidos pelos movimentos sociais.
Desse modo, neste GT, pretende-se ir além da descrição das ações e conhecimentos locais como se estes fossem
ilustrações de versões alternativas de conhecimento a serem acessadas pela psicóloga e pelo psicólogo social: propõe-
se promover discussões nas quais se reflita sobre a criação de espaços participativos e democráticos nos quais os
fazeres e saberes sejam integrados, respeitados e possam expressar sua legitimidade, levando o conhecimento além
dos limites do território. Por esse motivo, essa proposta integra o eixo temático Territorialidades e modos de vida:
atuação e pesquisa em Psicologia Social na Cidade e no Campo, pois compreendermos que há uma relação intrínseca
entre a produção de saber/fazer, a produção do espaço e a produção da política. É no âmbito local que as ações
ocorrem e tomam forma, bem como são moldadas por suas limitações geográficas, por sua história e pela relação que
as pessoas estabelecem entre si, com o local e nesse local. A própria noção de pólis sintetiza essa dinâmica tríplice a
definir-se como o espaço no qual a política se efetiva por meio da expressão de múltiplas práticas e saberes situados.
Por assim dizer, do ponto de vista conceitual, este GT compreende o local, o território e as territorialidades, o espaço e
o ambiente de maneiras amplas, incluindo desde o ambiente construído ao meio natural, as ruralidades e as
urbanidades e as respectivas formas de viver e conviver nesses lugares. Os conceitos de território e territorialidade
implicam em amplas possibilidades de estudos e ações, configurando debates de ordem jurídico-política, definindo e
demarcando o campo geopolítico, de estado e propriedade. Deles desdobram outros conceitos, como o de espaço e
lugar. O primeiro amplia a discussão geográfica inserindo a dimensão humana, das relações de poder, das ações, a
partir das quais se definem as políticas públicas. O segundo remete às discussões de pertencimento, se interconecta
ao cotidiano, caracterizado no campo das ciências humanas e sociais, perpassado por relações sociais, identificações e
posicionamentos. Agrega-se à concepção de lugar também o sentido de posições de pessoa, que possibilita considerar
as relações estabelecidas com o seu ambiente físico. Ao ampliar esses conceitos possibilitamos discussões sobre a
interdisciplinaridade, a partir da inter-relação entre os conhecimentos da psicologia social, antropologia, geografia,
ciências sociais. Também concebemos política como uma forma de relação entre os seres humanos com vistas a
tomadas de decisão de diferentes níveis.
As práticas e saberes locais, por sua vez, advém de múltiplos grupos, como pequenas e grandes cidades, comunidades
rurais, dentre essas últimas as pantaneiras, pesqueiras, ribeirinhas, indígenas e quilombolas, e esses grupos são os
atores sociais relevantes para discutir seus problemas e soluções, seus posicionamentos e suas singularidades, sendo
necessário garantir-lhes seu lugar de fala. Sem procurar criar um manual de conduta humana, mas sinalizando de
maneira sutil que essa problemática passa pela relação entre as pessoas, a natureza, a sociedade e a política, este GT
instiga os participantes a pensarem em novos modos de relacionamentos sociais e comunitários, entendendo os
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grupos como sujeitos de direitos. Não cabe mais a sobreposição de um saber sobre outro, tampouco a distinção de
espaços e territórios ocupados por esses atores. Portanto, se fala em ligações, interações, conexões. Isso significa
assumir uma nova postura diante do mundo, em que a figura humana é compreendida como parte de uma rede
complexa, da qual também fazem parte a natureza, as comunidades, os grupos. Sinalizar esse cenário é necessário
para entender a ação dos atores de modo processual. Ou seja, à medida que um novo ator se insere ou expande a
relação entre eles, interligando a vida urbana à rural, por exemplo, a relação entre as pessoas, as comunidades, os
grupos e a natureza também muda. Com relação aos trabalhos de interesse para esse GT, salientamos que podem
pertencer a áreas e linhas teóricas variadas e não há restrição quanto aos métodos utilizados.
O que se busca enfocar é o saber-fazer cotidiano situado como um elemento analítico de interesse à abordagem
psicossocial, mostrar a importância das tradições, da memória, das ações, da identidade, das crenças e dos valores de
grupos e comunidades como parte integrante de sua relação com o espaço e explorar as condições de possibilidade
para sua participação ativa em processos de tomada de decisão que estão diretamente relacionadas a seus territórios
e modos de vida.
A proposta é acolher trabalhos que consideram o compromisso social das (os) psicólogas (os) com a construção de
uma ciência e prática psicológica comprometidas com a realidade do povo brasileiro, entendendo que o avanço
científico da Psicologia se dá nas fronteiras de seus conhecimentos, onde se situam o diálogo com as epistemologias
não hegemônicas lastreadas na laicidade da ciência, bem como no diálogo com conhecimentos tradicionais, práticas
cotidianas e saberes locais, tomando como princípio a necessidade de valorização das diferentes culturas e dos
saberes que delas resultam, assumindo uma Psicologia comprometida com o enfrentamento das desigualdades.
Por fim, espera-se que o resultado deste Grupo de Trabalho potencialize a construção de espaços democráticos e
emancipatórios para grupos e comunidades nos quais os saberes e fazeres expressam sua singularidade e mantém
vivas as relações locais.

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Construção de eventos: instaurando percursos intersetoriais no âmbito da Assistência Social
Autores: Cérise Alvarenga, UEMG
E-mail dos autores: cerisealvarenga@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho compartilha algumas experiências do Grupo de Trabalho (GT) Intersetorial na construção de
eventos realizados na cidade de Nova Lima e tece reflexões a partir delas. Tais reflexões articulam-se à ideia de
agentes sociais proposta pelo sociólogo Pierre Bourdieu e às contribuições da Psicologia Social propostas por Silvia T.
M. Lane na qual a análise do processo grupal implica a compreensão da dialética indivíduo-grupo na qual ambos são
membros indissociáveis de uma totalidade histórica e são potencialmente capazes de provocar a inauguração de
outras realidades. O GT em questão foi constituído por meio da atuação dos profissionais (psicólogos, assistentes
sociais) do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) da regional Noroeste em Nova Lima. Iniciou suas
atividades em 2014 e atualmente conta com a participação dos profissionais do CRAS e outros que atuam em
equipamentos públicos da Regional Noroeste em diferentes áreas, tais como: Assistência Social, Saúde, Educação e
Cultura. Os encontros do GT são mensais e apresentam duração de duas a três horas; conta com a participação de
representantes do CRAS, Conselho Tutelar, de ONGs (educação, arte) e das escolas públicas. Tomaremos em
consideração o processo de construção de três eventos neste GT. O primeira evento I Seminário Intersetorial Local:
compartilhando experiências e desafios ocorreu em 2015 e sua elaboração foi impulsionada pelo desconhecimento
dos participantes do GT sobre os projetos, programas e serviços existentes no território em que trabalham; objetivou
identificar e apresentar equipamentos públicos e ou do terceiro setor que atuam na promoção e garantia de direitos
da regional Noroeste da cidade de Nova Lima MG, visando uma melhor atuação junto aos cidadãos do bairro. O
segundo evento Passeata da visibilidade contra a violência e exploração sexual de crianças e adolescentes ocorreu em
maio de 2016 e foi desencadeado pela presença de profissionais e jovens do Projeto Proteger é Preciso da ONG
Oficina de Imagens (BH) no GT cuja ação no território identificou nos cidadãos e profissionais muitas dúvidas e até
mesmo um distanciamento da temática da violência e exploração sexual de crianças e adolescentes; o evento
objetivou visibilizar à temática mencionada agregando grupos de crianças, adolescentes e jovens na discussão e na
construção da passeata. Envolveu em sua elaboração profissionais do CRAS, do Conselho Tutelar, da escola estadual e
ONGs de arte, educação e assistência social. O terceiro evento Jovem e mundo do trabalho: caminhos possíveis surgiu
a partir da presença de jovens do bairro nas reuniões do primeiro semestre de 2016, no GT acima citado; eles
trouxeram os desafios cotidianos relacionados à a qualificação profissional e a inserção no mercado de trabalho. O
evento objetivou abrir diálogos sobre os enfrentamentos dos jovens e o mundo do trabalho; foram constituídas rodas
de conversa com jovens, pesquisadores, servidores públicos da Diretoria de Inclusão Produtiva da Prefeitura Municipal
de Nova Lima, do CRAS e profissionais de empresas que estão iniciando atuação no território com Jovens Aprendizes.
O GT, ao escutar as demandas e os impasses que se fizeram presentes pôde conceber coletivamente tais eventos
mencionados, tem assim, operado de forma dialógica e democrática construindo ações (eventos) que materializam a
ideia de intersetorialidade. Neste percurso é pertinente destacar que seus participantes concebem, planejam,
executam e avaliam tais eventos, articulando setores, saberes tendo seu ponto de partida as demandas do território
que se apresentam no cotidiano de atuação de seus participantes. A construção dos eventos derivou de periódicos e
intensos exercícios de diálogos e do dissenso entre seus participantes (adultos, jovens, profissionais do CRAS, do
Conselho Tutelar, das ONGs e das escolas públicas) que operaram como porta vozes das demandas do território. Esses
cidadãos e profissionais por meio de sua presença e posicionamento tem erigido sua atuação como agentes sociais no
campo de forças que está presente, apropriando-se do GT e fazendo-o operar como espaço de trocas de ideias que,
marcadas pela diferença, tem possibilitado o exercício não apenas multidisciplinar, mas interdisciplinar catalisando
outras aproximações e intervenções entre os diferentes profissionais da rede. Compreende-se que tais ações
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enunciam a potencialidade da atuação articulada do psicólogo e de outros profissionais, tornando-se estratégia de
enfrentamento aos processos de fragmentação de saberes e de precarização das condições de trabalho tanto de
servidores públicos e demais trabalhadores. Compreende-se também que tais ações podem contribuir com melhor
acompanhamento dos usuários-cidadãos que acessam tais equipamentos e serviços.

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Educação tutorial por uma práxis alternativa de formação de psicólogas
Autores: Ana Júlia Faccio de Medeiros, UNESP; Beatriz Moreli Taldivo, UNESP; Deivis Perez, UNESP; Gabriel Catto
Rezende, UNESP Assis; Mateus Augusto Felix Costa, UNESP Assis
E-mail dos autores: anajuliafdm@gmail.com, gahcatto@gmail.com, bmt.beatriz@hotmail.com,
mateuscosta10@yahoo.com.br, prof.deivisperez2@hotmail.com

Resumo: Este trabalho é dedicado ao relato de uma experiência formativa em Psicologia de graduandos da
Universidade Estadual Paulista (UNESP câmpus Assis), integrantes do Programa de Educação Tutorial (doravante, PET
Psicologia). Este grupo iniciou as suas atividades em 2011, constituindo-se no primeiro da área psi em universidade
pública paulista. Cumpre notar que o Programa de Educação Tutorial (PET) é um projeto que possui alcance nacional e
é composto por grupos de aprendizagem cujos integrantes são docentes e alunos(as), sendo realizado em regime de
parceria entre o Ministério da Educação (MEC) e universidades do país. No Brasil há 842 grupos PET consolidados,
sendo apenas nove no campo dos saberes psi. Particularmente o PET Psicologia da UNESP foi criado para incrementar
a formação de psicólogas por meio da realização de ações extracurriculares de ensino, pesquisa, extensão e cultura,
tencionando fomentar o desenvolvimento acadêmico, profissional e pessoal de discentes para a realização de
atividades laborais inovadoras e críticas, adotando práxis que considere a interdisciplinaridade dos fenômenos
psicológicos e a necessidade de superar o modelo tradicional de Psicologia, marcantemente elitista e orientado para
uma perspectiva individualista e individualizante das pessoas. Vale observar que esta percepção da formação de
psicólogas em nosso país está sintonizada com estudos do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que desde 1988
investiga o perfil formativo de psicólogas brasileiras. De acordo com o CFP as profissionais da área são capacitadas
para trabalhar em modelo liberal, no atendimento individual de clientes, devido a tendência dos cursos de graduação
de enfatizar os saberes relacionados às práticas clínicas em consultórios particulares. Em contraponto a este modelo
formativo, o PET Psicologia trabalha com a abordagem de múltiplas áreas da Psicologia em articulação com temáticas
transversais como cidadania, políticas públicas e participação democrática, economia, mídia, etc., adotando o
compromisso político, histórico, ético e estético de ensejar a transformação social com vistas ao enfrentamento e
quiçá, superação do modelo de organização societal capitalista. Neste sentido, o grupo adota os seguintes princípios
norteadores da construção do conhecimento: conflituosidade, criticidade, politicidade e dialogicidade. Ainda, o PET
prioriza a realização de ações voltadas para o trabalho, compreensão e investigação dos grupos sociais, saberes e
discursos historicamente marginalizados em relação ao centro dos interesses de uma sociedade capitalista. Na prática,
as integrantes do PET organizam e participam de grupos de estudos, realizam pesquisas acadêmico-científicas,
desenvolvem atividades de extensão, atuam na gestão de perfil do grupo em rede social e sitio eletrônico e organizam
atividades formativas voltadas para o reconhecimento e compreensão de saberes sociopolíticos, culturais e históricos.
É possível mencionar como exemplos das atividades do PET Psicologia: a) ciclos de estudo sobre 'análise da mídia
nacional ; 'comunidades quilombolas brasileiras'; 'política, psicologia e democracia'; 'cinema brasileiro e identidade
nacional ; psicologia e moda ; psicologia e esporte , "geopolítica e dominação dos povos latino-americanos e
africanos", dentre outros b) na dimensão da pesquisa, foram produzidas investigações sobre medicalização; trabalho
do psicólogo; dispositivos metodológicos de acesso indireto ao psiquismo humano; a vida de trecheiros, etc.; c) no
âmbito extensionista foram organizadas inúmeras palestras, eventos culturais, cursos e projetos, dentre os quais
podem ser destacados o curso "Justiça Restaurativa: Poder e Violência , o evento Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (PNPIC-SUS) , a oficina O Pós-Colonial na Psicologia .
Ainda, o grupo promoveu um grande evento com pensadores e profissionais da América Latina sobre a Psicologia no
subcontinente e, também, tem desenvolvido um projeto de caráter extensionista nomeado Diálogos , realizado com
os presos da Penitenciária de Assis. É importante salientar que as ações realizadas pelo PET Psicologia tem provocado
modificações no curso de graduação ao qual está vinculado, como a inclusão na grade curricular regular de estágio
específico obrigatório acerca da temática mediação do desenvolvimento humano de presos , além da criação de
disciplinas que abordam o trabalho no campo da Psicologia Social e Educacional nos Países da América Latina e a
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importância das tecnologias da informação e da mídia na construção da identidade e nos processos de subjetivação na
contemporaneidade. Considerando o exposto, espera-se que a difusão da experiência formativa representada por este
PET Psicologia possa ensejar a ulterior produção de outras capacitações de profissionais para a área capazes de apoiar
superação do modelo tradicional-clínico-individualizante que marca o campo psi em nosso país.

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Entre a laicidade e a democracia: contrapondo a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF N.
54/DF
Autores: Wagner Vinicius de Oliveira, UFU
E-mail dos autores: wagner.vinicius@sga.pucminas.br

Resumo: INTRODUÇÃO:
Este escrito dialoga frontalmente com a temática da democracia participativa, Estado e laicidade . Sobretudo nos
períodos de conturbada relação política, social, econômica, ética, jurídica etc., que sublinha a atuação do Judiciário na
regulagem das tensões democráticas. Para delimitar a questão, propõe-se articular estes elementos dentro de um
julgado do Supremo Tribunal Federal - STF.
Como se sabe, a laicidade possui assento na Constituição da República de 1988, art. 19, I, em linhas gerais, vedam-se
as relações de dependência ou aliança entre Estado e as igrejas.
Na obra A Constituição e o Supremo a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF n. 54/DF,
aparece como paradigma para definir laicidade e, no bojo das discussões sobre a antecipação terapêutica da gestação
de feto anencefálo, fixou-se o entendimento de que O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro
quanto às religiões. (BRASIL, 2016, p. 1.370). Contudo, contrapõe-se a metodologia de construção deste
posicionamento.
Diferentemente da decisão, a imprescindibilidade da participação popular nas instâncias decisórias, como forma de
realização democrática, é a premissa adotada neste escrito. Investiga-se, pois, qual seria o espaço adequado para a
laicidade no Estado Democrático de Direito?

OBJETIVOS:
No plano geral, analisa-se a compatibilidade entre as participações das instituições religiosas, como espécie da
participação popular, no controle concentrado de constitucionalidade dentro do paradigma democrático.
Especificamente, consiste em (i) examinar os significados sobre laicidade e democracia participativa; (ii) investigar a
aplicabilidade destes conceitos na ADPF n. 54/DF; (iii) averiguar as condições teóricas para contraposição do
entendimento firmado na situação analisada.

JUSTIFICATIVAS:
Para realização desta pesquisa, apresenta-se como justificativa a necessidade de análises heterogêneas
(policontextuais) sobre os temas constitucionais, ou seja, como condição de possibilidade para efetivação da
democracia participativa. Logo, dotado de inegável significação social. Em termos acadêmicos, a configuração dos
espaços democráticos é essencial para demarcar a ressignificação da tomada de decisão.
Além disso, ao refletir sobre Laicidade, Estado e fundamentalismos: enfrentamentos contra a restrição dos direitos
permite-se compreender a tensão existente entre política e religião. Afinal, Estado laico não deve ser compreendido
como forma de fundamentar a exclusão dos debates institucionais; assim, ao encontro do Grupo de Trabalho n. 31,
busca-se realizar acoplagens argumentativas para a construção de espaços democráticos .

MÉTODO:
Para realização da pesquisa elege-se o lógico dedutivo aplicado nas fases de levantamento bibliográfico e de
confrontação entre os dados, primários e secundários, coletados com o marco teórico adotado.

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ORIENTAÇÃO TEÓRICA:
Tendo em vista os objetivos traçados, para examinar o sentido e alcance da laicidade conta-se com a linha teórica de
Marcel Lefebvre (1991, p. 60), segundo o qual, igreja e Estado são distintos, [...] mas diversidade não significa
separação! Já por democracia participativa nos termos da teoria da sociedade aberta dos intérpretes da Constituição
de Peter Häberle (1997, p. 15), significa que: Todo aquele que vive no contexto regulado por uma norma e que vive
com este contexto é, indireta ou, até mesmo diretamente, um intérprete dessa norma.
Bem por isso, a diversidade de valores orientados pela fé representa constante tensão (própria do Estado Democrático
de Direito), entre a ausência de uma religião estatal e a não violação da liberdade política das instituições religiosas.
Suscita pensar num espaço aberto às divergências.
Dito isto, resta averiguar a (in)aplicabilidade destes conceitos teóricos no caso analisado. O lastro empírico de
testagem é fornecido pela ADPF n. 54/DF, a qual não faltaram requerimentos de diversas instituição, não apenas
religiosas, sendo todos indeferidos sob distintos argumentos, dentre eles a laicidade do Estado brasileiro.
Há que se ponderar, por fim, que nos Estados democráticos, a imparcialidade revela-se, também, pela participação da
sociedade civil e, com efeito, inclui as instituições religiosas. Ao contrário do verificado, democratizar significa
reconhecer a pluralidade de perspectivas, por isso, não se justifica a simples alegação de laicidade para suprimir os
direitos de participação.
Ressalta-se, no entanto, que participação política não é sinônimo de regresso à Constituição Imperial de 1824, ou que
argumentos religiosos devam direcionar as práticas estatais, mas, pelo exercício da liberdade religiosa, individual e
coletiva, exercitar a pluralidade na deliberação sobre assuntos coletivos. Nessa medida, através da participação
concretizar interesses que transcendam a conservação de privilégios ou interesses morais de determinados grupos
religiosos.

RESULTADOS:
Os resultados obtidos pela análise dos dados judicial e bibliográficos coletados apresentam como resultado uma
prática que se distancia, tanto da laicidade democrática, quanto da sociedade aberta dos intérpretes da Constituição.

CONCLUSÕES:
As reflexões geradas permitem, sem exageros, lançar como considerações finais a existência de uma sociedade de
expectadores e um círculo fechado de criadores do sentido constitucional. Destarte, não há como um órgão isolado
dizer o sentido constitucional, ainda mais, sob a alegação de laicidade.
De outra sorte, o paradigma democrático reclama ações capazes de integrar discursos das variadas visões de mundo,
fato que não permite a exclusão das instituições religiosas dos debates institucionais sob o argumento de laicidade.

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Entre telas e cenas da rua: a mediação audiovisual no encontro com vidas outras nas cidades
Autores: Allan Henrique Gomes, UNIVILLE; Orlando Afonso Camutue Gunlanda, ACE Joinville
E-mail dos autores: allanpsi@yahoo.com.br,aniorlando123@hotmail.com

Resumo: O presente resumo apresenta uma experiência de trabalho no contexto de um Centro de Referência
Especializada em Assistência Social para população de rua (Centro POP) em uma cidade de grande porte no estado de
Santa Catarina. A experiência que segue foi possível a partir da realização de um estágio obrigatório no 4º ano do
curso de Psicologia. Nesta modalidade de estágio (psicologia educacional e comunitária) os estudantes vivenciam as
possibilidades do fazer psicologia em alguma instituição e/ou serviço público, no decorrer de um ano letivo, com
frequência semanal de 07 horas de atividades. No caso deste projeto, as atividades práticas realizadas foram: oficinas
em grupo, hora lúdica e roda de conversa com os usuários do serviço. Ao longo do período de estágio, foram
realizadas duas oficinas intituladas Experiências de Vida e Memórias da Cidade . A primeira oficina aconteceu nos
meses de Junho e Julho, com um total de 08 encontros e a segunda oficina aconteceu no período de Agosto à Outubro
de 2016, tendo 12 encontros. O recorte desse relato de experiência diz respeito a oficina Memórias da Cidade . Estes
encontros foram pensados a partir do que (ZANELLA, 2007) vai denominar de Oficinas Estéticas, ou seja, encontros
com atividades que visam possibilitar ao sujeito desprender-se da realidade vivida e emergir em outra, mediada por
novas significações do próprio viver/emergir. Seguindo estes pressupostos, o primeiro encontro da oficina Memórias
da Cidade foi mediado por um recurso audiovisual. Tratava-se de um documentário com o seguinte Joinville do Alto ,
produzido pela RBS TV em comemoração aos 165 anos da cidade de Joinville. O documentário foi apresentado em
quatro episódios, gravados na cidade de Joinville e lançado no mês de Março de 2016. O episódio exibido na oficina foi
o segundo, que apresenta os principais pontos turísticos de Joinville, como a tradicional Rua das Palmeiras, o Moinho,
o Mercado Público, a Arena e o Centro Evento Cau Hansen. A partir do conceito de mediação audiovisual (GOMES,
2016), na primeira parte do encontro foi exibido o documentário e, logo a seguir, realizado um grupo de discussão
para falar de cenas e sentidos relativos ao material exibido. Foi assim que os usuários participantes da oficina puderam
falar como se sentiram na relação com as imagens e ainda, falar de como vivem/percebem estes espaços por outras
perspectivas, muito mais próximo de algo que pode ser definido como Joinville de baixo . Teoricamente convidou-se o
filósofo francês Jacques Rancière como interlocutor para pensar os conceitos de emancipação intelectual e o
espectador emancipado. Como considerações finais, os usuários sinalizaram que a cidade de Joinville apresentada pelo
documentário Joinville do Alto é resultado de uma experiência outra com a cidade. Uma cidade que continuamente
vem sendo reproduzida pelo espaço midiático associado aos interesses de manutenção de uma identidade da cidade
de Joinville. O documentário Joinville do Alto sinaliza a tentativa constante de cristalização dos discursos sobre a
cidade e das identidades construídas sobre ela. Apesar disso, os usuários atribuíram outros sentidos ao documentário
e relataram outra cidade que o documentário não apresentou. Assim, problematizam-se as relações entre recursos
audiovisuais no trabalho com grupos no campo das políticas públicas.

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Experiências de Resistências no Carnaval em Belo Horizonte
Autores: Mahibi Manuelle Fagundes Barbosa, FEAD; Cíntia Maria Teixeira, PUC Minas/FEAD; Jeanyce Gabriela Araujo,
FEAD MG
E-mail dos autores: mibmanufagundes@hotmail.com, cintiapsique@yahoo.com.br, jeanycearaujo@gmail.com

Resumo: Este trabalho propõe apresentar uma atividade realizada na graduação do curso de psicologia na disciplina
de Psicologia Social da Faculdade Fead/MG. A proposta do presente estudo é a de compartilhar a análise do desfile do
bloco Todo mundo cabe no mundo e dos festejos carnavalescos na cidade de Belo Horizonte (MG). Nos últimos
anos, o carnaval da capital mineira, tem passado por mudanças conjunturais e estruturais por meio de formas mais
participativas e tem se mostrado eficientes com o apoio de instituições públicas e privadas. O carnaval é uma das
festas de maior representatividade no país, sua relevância enquanto elemento pertencente à identidade brasileira é
inegável, um festejo nacional que reúne todos numa plena parodização da sociedade. Busca-se desse modo,
compreender como o carnaval de rua em Belo Horizonte tornou-se um espaço de manifestação folclórica e ao mesmo
tempo engajado socialmente na luta por direitos. A ideia de inclusão torna-se visível, devido às propostas trazidas
pelos blocos de rua e com a ampla participação da população local e de turistas.
O trabalho foi dividido em quatro partes: levantamento bibliográfico, observação participante e entrevista com o
idealizador do bloco Todo mundo cabe no mundo , análise da produção dos dados e apresentação dos resultados na
modalidade de aula aberta para a comunidade acadêmica da FEAD/MG. Neste estudo pretende-se desenvolver em
nível de excelência, atividades de ensino, pesquisa e extensão, geradores de programa interdisciplinar e
multidisciplinar em psicologia e áreas correlatas, com base em estudos, trabalhos e pesquisas envolvendo cientistas,
docentes, discentes e comunidade, compromissados com a cidadania e com a responsabilidade social. A perspectiva
Sócio-Histórica da Psicologia Social orientou as reflexões geradas para construção de uma análise psicossocial. A
metodologia de análise de conteúdo fundamenta as reflexões, privilegiando as formações discursivas constituídas
social e historicamente. A condução metodológica busca ser mais ampla a fim de vislumbrar o objeto por uma
perspectiva epistemológica, mas, sobretudo considerando as posições políticas que envolvem o contexto e os sujeitos
observados, como por exemplo, as relações de poder que neste trabalho, estão relacionados à resistência e a dialética
entre exclusão e inclusão na maior festa popular brasileira. As reflexões trazidas são suscitadas, tendo o Carnaval
como ponto central do estudo. Nesse tocante, apresentamos questões relacionadas à percepção da inclusão social das
pessoas com deficiências, durante este evento festivo, bem como, a realização de um estudo sobre a relevância da
mediação do lazer e da cultura no desenvolvimento sociocultural, focalizando os efeitos da inclusão e exclusão na
relação indivíduo-coletivo.
O bloco de rua, Todo mundo cabe no mundo desfila há dois anos e está aberto para todas as pessoas que pretendem
construir uma sociedade mais inclusiva, sem preconceito e sem limitações. O bloco configura uma experiência de
resistência e inclusão de pessoas com necessidades especiais, ao almejarem não só a mobilização para aquisição de
visibilidade política e defesa de seus direitos, mas também ao levantarem questões como identidade, preconceito,
discriminação, estigma, estereótipos e invisibilidade. Nessa luta, operam estratégias de resistência em prol de
mudanças nos paradigmas sociais, promovendo a autonomia, a autodeterminação e a independência em seus
integrantes. Nomeamos este acontecimento social como uma festa da inclusão , na qual participamos e presenciamos
como tal proposta pode ser uma herança comum para todos que lutam pela diversidade e diferenças a serem
respeitadas. Na mesma direção, emerge assim, uma cultura própria das pessoas com deficiência, calcada em
produções artísticas e musicais. O bloco reconhece as semelhanças e diferenças entre o próprio grupo, com a noção
de que, para mediar o abismo entre a consciência individual e a identidade coletiva, seja necessário atingir um número
maior de pessoas com realidades bem distintas. A partir das análises obtidas, problematiza-se o espaço carnavalesco
como um meio favorecedor e/ou limitador da inclusão social das pessoas com necessidades especiais. Destacamos
certa percepção em relação aos valores e atitudes que, objetivam construir e facilitar os mecanismos de inclusão ou
exclusão. Assim conclui-se que o carnaval enquanto elemento da cultura e do lazer trata-se de um espaço social com
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poder de mediação em vários aspectos. As reflexões obtidas referem-se às descrições dos elementos e das
características essenciais, que contribuem para as compreensões a respeito das experiências vividas pelos deficientes
e o modo particular como os mesmos constroem sua identidade. Compreender como as pessoas com deficiência
participam de um bloco de rua na luta por uma sociedade mais inclusiva e sem preconceito foi fundamental para
nossa formação profissional e para ampliarmos nossa visão sobre a atuação do Psicólogo Social na atualidade.

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Os sentidos da água como bem público para jovens da região de M'Boi Mirim e da Zona Oeste da cidade de São
Paulo
Autores: Jonas Eduardo Tavares de Souza, PUC-SP
E-mail dos autores: jesouzaic@gmail.com

Resumo: O objetivo dessa pesquisa é compreender os sentidos que são atribuídos à água por jovens da região da Zona
Oeste e da Zona sul de São Paulo, mais especificamente da região da M Boi Mirim, esse último uma área de manancial
da sub-bacia Cotia-Guarapiranga com muitas nascentes em Áreas de Proteção Permanente mas também com intensa
atividade de movimentos de ocupações que reivindicam por espaço para a construção de moradias. Nas últimas
décadas grandes concentrações humanas ao redor do mundo têm sofrido com um problema sócio-ambiental: a falta
de água. No Brasil, as capitais dos estados e principalmente as suas regiões metropolitanas, também tem passado por
esse tipo de problema. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), com mais de 20,5 milhões de habitantes, tem
apresentado sinais de insuficiência na sua qualidade e quantidade de água, causando sofrimento para os seus
usuários, principalmente os menos favorecidos economicamente e mais vulneráveis socialmente. A crise no
abastecimento de água de 2014 e 2015 na metrópole de São Paulo evidenciou essa situação. Os Bairros ocupados nas
periferias sem a presença do Estado sob a forma de politica publica de moradia nas ultimas décadas foram os que mais
sofreram no auge e mesmo após a crise, durante o processo de recuperação dos níveis normais dos reservatórios. Os
planos apresentados para a solução desse problema por parte da concessionária que presta serviço de distribuição e
saneamento de água e do Governo do Estado restringiram a participação da população à forma individualizada,
coadjuvante e despolitizada ou seja, apenas como consumidor desse bem que oscila em nossa legislação nacional
entre a lógica de mercadoria e de bem público. Essa discussão sobre as atribuições da água baseados no valor
econômico e o direito humano e até da natureza tem sido realizada em muitos países inclusive de forma conflitiva
como ocorreu na Bolívia, em Cochabamba, em 2000 na chamada Guerra de la agua quando a população se mobilizou
para se opor a privatização do fornecimento de água a preços considerados abusivos para a população.
Posteriormente a Bolívia, assim como o Equador, constituíram um conjunto de legislações que assegura o uso da água
para gerações futuras e para uso não apenas humanos, fazendo valer outras formas de compreensão do mundo para
além da concepção desenvolvimentista e progressista.
O quadro teórico utilizado para essa pesquisa são os estudos de Michel Foucault sobre biopolítica para
compreender os modos como os governos lidam com a liberdade e a segurança da população, os estudos de
Ulrich Beck acerca da sociedade global de risco na modernidade reflexiva e ainda a teoria ator rede de John Law e
Annemarie Mol para acompanharmos uma tentativa de implantação de um programa pedagógica por parte dos
líderes comunitários do Fundão do Jardim Ângela na cidade de São Paulo junto aos estudantes do fundamental 1 (um),
2 (dois) e ao ensino médio das escolas públicas da região para que fomente a sensibilização dos jovens, e
consequentemente suas formas de vidas, aos temas e questões políticos-sociais e ambientais relacionados à água na
sua região de uma maneira menos genérica e mais centrada territorialmente nas nascentes, nos córregos, nos rios,
nos reservatórios do manancial.
A abordagem teórico-metodológica utilizada é o construcionismo social para o estudo da produção de sentidos no
cotidiano (SPINK, 2013) e . Os procedimentos utilizados para a realização da pesquisa são: as rodas de conversas com
os jovens, a transcrição das conversas, a construção do mapa dialógico, análise dos repertórios e sentidos da água para
os jovens e o diário de campo.
Assim, creio que a minha pesquisa esteja alinhada com a proposta do eixo 12 (doze), Territoriedades e modos de vida:
atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo .

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Programa Territórios da Cidadania em Sergipe - subjetividades, poder, espaços democráticos & autonomia:
alinhando práticas e saberes
Autores: Neiza Cristina Santos Batista, EMBRAPA; Deise Maria de Oliveira Galvão, EMBRAPA; Marcos Aurélio Santos da
Silva, EMBRAPA; Sonise dos Santos Medeiros, EMBRAPA
E-mail dos autores: neizacristina@yahoo.com.br, marcos.santos-silva@embrapa.br, sonise.medeiros@embrapa.br,
dz.oliveira@hotmail.com

Resumo: O Programa Territórios da Cidadania foi implantado, em 2008, pelo governo federal como uma estratégia de
desenvolvimento regional sustentável e garantia de direitos sociais, voltada às regiões rurais do país com baixos níveis
de desenvolvimento social, econômico e institucional. Sergipe possui quatro Territórios da Cidadania: Alto Sertão,
Baixo São Francisco, Sertão Ocidental e Sul Sergipano. Estes englobam 52 municípios dos 75 que compõem todo o
Estado. Aproximadamente 47% de sua população é residente no meio rural e é formada, dentre outras categorias, por
agricultores familiares (17,71%), assentados da reforma agrária e outras, pescadores, quilombolas e indígenas. A
pesquisa aqui apresentada propõe-se a amplificar as várias vozes presentes em dois destes Territórios Baixo São
Francisco e Sul Sergipano e buscou analisar os sentidos ali presentes, não obstantes, permeados por relações de
poder, de identidade e de pertencimento; bem como, objetivamente, por modelos de sistemas de produção e de
mercado, produzindo conflitos de todas as ordens. Entendendo, como propõe Latour (2012), que poder e sociedade
constituem-se como resultado final de um processo e não um reservatório, esta proposta visa colaborar à discussão
sobre a construção da autonomia de um coletivo enquanto movimento primordial aos processos decisórios e de
concertação no que se refere à distribuição, alocação e gestão de recursos do Governo Federal nestes Territórios.
Neste cenário, destaca-se a percepção das singularidades de cada grupo ali contido afim de garantir o direito de
participação do conjunto de atores, fundamental ao espaço democrático. A busca pelo conhecimento sobre os modos
pelos quais esses atores participam destes espaços e produzem subjetividades, alinhando práticas e saberes que
contribuem para tomadas de decisões, dialoga com o Eixo Temático: Territorialidades e modos de vida: atuação e
pesquisa em Psicologia Social na Cidade e no Campo e, mais especificamente, ao Grupo de Trabalho Práticas
Cotidianas e Saberes Locais na Construção de Espaços Democráticos . Buscando promover articulações entre os
conhecimentos locais e o respeito à construção de espaços democráticos, foi utilizada uma abordagem transdisciplinar
e aproximações teórico-metodológicas entre a Psicologia Social, a Sociologia e a Ciência da Computação. Para tanto,
partimos dos pressupostos epistemológicos da Sociologia da Ação Coletiva Organizada e da Teoria Ator-Rede, o que
viabilizou a percepção de uma cotidianidade complexa permeada por uma gama diversa de recursos e sentidos e o
mapeamento das principais relações de interdependência que compõem esta rede. O primeiro passo à materialização
da proposta metodológica se deu por meio de uma Oficina que objetivou a elaboração das estratégias de pesquisa de
forma a compartilhar conhecimentos sobre as abordagens teóricas propostas e dados preliminares sobre os Territórios
que compõem o Campo-Tema. Na sequência, foram realizadas visitas às reuniões dos Colegiados dos Territórios e das
Câmaras Temáticas; entrevistas com assessores técnicos e representantes de grupos, comunidades, instituições e
empresas públicas participantes; visitas locais e a análise de Documentos Públicos. Os contatos foram registrados por
meio de diário de campo, gravações e registros pontuais de forma a possibilitar a modelagem social computacional e a
construção de mapas dialógicos. Por meio destes instrumentos de análise realizamos o entrecruzamento de
materialidades e sociabilidades, de forma a caracterizar uma cotidianidade densa e fluída no que se refere ao processo
de construção da autonomia do Território. Em um primeiro olhar, os Territórios podem ser vistos como um
mecanismo partidário , a partir do qual os espaços dos Colegiados e Câmaras Temáticas buscam apenas fortalecer
determinado discurso. No entanto, participando da dinâmica destes, observamos uma série de interações e
construções que nos permitem questionar este primeiro olhar. Um aspecto se refere às singularidades de cada um dos
Territórios, originadas de articulações históricas, políticas e econômicas específicas. Partindo desta perspectiva,
encontramos dinâmicas diversas a partir das quais tanto a composição quanto o nível de participação e pertencimento
dos atores varia significativamente, estabelecendo a cada Território, identidades diferentes. Outra consideração trata
669
do processo de apropriação do espaço do Território enquanto lugar mostrando, ao longo do período de existência
destes, o predomínio de ações voltadas à organização da dinâmica interna de funcionamento do Território. Estas se
mostraram importantes à estruturação do acesso a editais provenientes de Políticas Públicas e à apropriação deste
enquanto espaço democrático, o que possibilitou entre 2016 e 2017 a construção do Plano Territorial de
Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) de cada um dos Territórios. Este, que foi um passo significativo,
fundamenta o que deve ser o principal instrumento de apoio a gestão social com vistas à construção do modelo de
desenvolvimento sustentável, tendo sido construído de forma colegiada por um Conselho Territorial - composto tanto
pela esfera governamental quanto pela sociedade. No entanto, sua efetividade exige superar este primeiro caminhar,
buscando-se a autonomia por meio da negociação e conservação da diversidade de pensamentos, interesses, práticas
e sonhos existentes no território, de maneira que o acesso às políticas publicas seja qualificado e os diversos públicos
existentes no território sejam, de fato, incluídos.

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Psicologia e cotidiano escolar: saberes e intervenções na construção de um espaço político e democrático
Autores: Wagner Leite de Souza, UNIT-AL; Débora Cristina da Silva Alves, UNIT; Sandra Patricia Lamenha Peixoto, UNIT
E-mail dos autores: wagnersouzar@hotmail.com, deboracsalves@gmail.com, Sandra.lamenha@gmail.com

Resumo: O presente trabalho trata-se de um relato de experiência acerca da vivência no estágio supervisionado em
Psicologia Escolar ocorrido em uma escola pública da cidade de Maceió/AL, com início em Março/2017 e previsão de
término em Dezembro/2017. O estágio proporciona uma experiência teórica-prática as(os) estudantes sendo uma
oportunidade para conhecer a dinâmica profissional e pensar propostas de intervenção frente à realidade. Noutras
palavras, o estágio potencializa a formação e fomenta um amadurecimento da identidade profissional ao proporcionar
um exercício do compromisso social diante da realidade vigente das escolas públicas, além de servir para pôr em
prática um fazer transdisciplinar. Assim, torna-se importante que suas ações sejam construídas a partir da relação
entre estagiárias(os), coordenadoras, diretoras, mães/pais e demais familiares e membros da escola, sendo isso
imprescindível para a realização de práticas efetivas. Entende-se que diante de demandas complexas que se fazem
presentes no âmbito escolar e que atravessam seus muros, numa conexão de idas e vindas entre comunidade-casa-
escola , este fazer seja construído em coletividade. As problemáticas encontradas em campo, foram as mais diversas,
tais como: gravidez na adolescência, uso de drogas na escola, automutilação, estresse dos professores, a proposta da
escola em incluir os alunos LGBTs e ao mesmo tempo a falta de habilidade em lidar com e compreender a temática
gênero e sexualidade, a desativação do grêmio, etc. As experiências foram muitas, cada momento foi enriquecedor e
desafiador para nós enquanto profissionais em formação. A escola apresentou demandas onde acreditamos que o
fazer psicológico tem muito a contribuir no enfrentamento visando sua resolutividade. Das ações executadas por nós,
podemos apontar as seguintes: a) Formação das(os)Professoras(es) em Gênero e Diversidade : Realização de um
minicurso com as(os) professoras(es) sobre diversidade na escola, já que esta se mostrou uma problemática marcante,
de acordo com relatos das(os) próprias(os) docentes e coordenadoras. O objetivo foi instrumentaliza-las(os), ou seja,
proporcionar a elas(es) uma reflexão sobre a temática e a possibilidade de recriarem o modo como lidam com o
fenômeno da sexualidade e gênero; b) Mobilização do Grêmio Estudantil da Escola : Entendemos que o grêmio é uma
organização importante na luta por melhorias no ambiente escolar e para os processos educativos, além de ser um
mobilizador de estudantes, professores, coordenadoras(es) e diretoras(es) acerca das pautas da educação. Assim,
fomentamos sua reestruturação que se deu a partir de rodas de conversa sobre a importância do grêmio;
apresentação de propostas de articulação de acordo com a cartilha de grêmios da UBES; grupos de debate; palestras;
produção literária; oficinas e atividades vinculadas ao lazer; além de discussões sobre o papel político do sujeito-
estudante, etc.; c) Cine Freire : Exibição de filmes e discussões; após as exibições eram proporcionadas reflexões
acerca da diversidade e do respeito às diferenças, além de tratar das consequências das violências: LGBTfobia,
machismo, racismo, gordofobia, etc. Entendendo que a linguagem do cinema é elaborada de forma a nomear a
gramática do sofrimento social, construindo narrativas sobre os sintomas contemporâneos, o Cine Freire nasce do
desejo de articular o engajamento coletivo com as demandas da escola, ao proporcionar um espaço de reflexão e
debate. Assim, os filmes foram utilizados como dispositivos para refletirmos sobre a realidade escolar/social e o nosso
papel enquanto integrantes desse espaço. Com base nos filmes foram construídos grupos de debates sobre
autocuidado e empatia (cuidado do outro), e assim, as discussões se dividiram em três eixos temáticos: sexualidade na
adolescência , uso de álcool e outras drogas na adolescência ; bullying (LGBTfobia, machismo, racismo, gordofobia,
etc.) e suas consequências . Foram também realizadas oficinas de construções artísticas de representações do
autocuidado. Referente às discussões sobre o cuidado do outro, abordamos a importância de criar redes de
acolhimento, estando atento ao outro, sendo empático e prestativo. Os resultados do presente trabalho são parciais,
uma vez que não foi possível ainda finalizar todas as etapas. Acreditamos que uma das questões mais urgentes e
trabalhada na escola foi a temática de gênero e sexualidade, onde a falta de um trabalho efetivo tem desencadeado
uma série de problemas sintomáticos, sendo a automutilação uma deles. O trabalho da psicologia na escola vai além
de intervenções pontuais, onde pudemos intervir de maneira efetiva junto às problemáticas que iam surgindo,
671
descentralizando nossa prática. A psicologia no âmbito educacional enquanto ciência e profissão, frente ao seu
compromisso social propõe fazer do espaço escolar um agenciador de interações saudáveis e preparador para uma
vida cidadã comprometida com a democracia, engajado no enfrentamento das desigualdades e violências
segregadoras. Para isso, ela enquanto mediadora busca forças ao convidar toda comunidade escolar para esse fazer
político-pedagógico que fomente um projeto civilizatório democrático e equânime para essa sociedade dinâmica e
plural na qual vivemos.

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Psicologia social e escolar: o conhecer no cotidiano e práxis resistênciais de desterritorialização
Autores: Tiago Henrique Amorim de Andrade, Faculdade Pitágoras; Igor Moreira Santana, Faculdade Pitágoras
E-mail dos autores: tiagogedai@gmail.com, igormoreirapsi@hotmail.com

Resumo: O trabalho em questão emerge de relatos experienciais de estágio em psicologia escolar sob o viés
paradigmático materialista-histórico da psicologia social. Operacionalizou-se a criação de espaços de encontro
dialógico sob as demandas temporais do corpo discente, que se alternou em torno de 15 alunos do ensino médio de
uma escola da rede pública de ensino-aprendizagem. A transversalidade da propositiva se apresentou como práxis
instituinte de dialética no território educacional, possibilitando aos alunos desde temas simples, até os mais
complexos envolvidos em suas experiências do cotidiano e futuras aspirações. Percebe-se, pois, que tais encontros
serviram como primordial dispositivo para criação de novos modos de (re) pensar os diversos assuntos debatidos e
apresentados, dentre eles, a pertinência dos temas foi: depressão, sexo, sexualidade, gênero, religião, questões
existenciais, álcool e drogas, vida, arte, e coletivos organizados como o feminismo. Nota-se que, uma vez que as
demandas de um aluno, sobre o mesmo tema, se chocam, violentamente, com as demandas do Outro, em um
encontro de aprendizagem, torna-se possível produzir ainda mais conhecimento, pois os interesses políticos sociais e
econômicos que se processam na prática discursiva se torna cada vez mais evidente, e cada sim e não acabava
gerando outras problemáticas, outras perguntas, sobre como os discursos são construídos e quais os determinantes
ideológicos que atravessam os atos da fala. Possibilitou-se que nestes momentos em que aconteceram os encontros,
todas essas diferenças reunidas em uma roda de conversa, pudessem ser dialetizadas em vias de potencialização,
quando pensadas e construídas a partir do encontro com o discurso do Outro. A primordialidade dos temas abordados
deu-se pelo caráter misterioso vivenciado pelos alunos, de modo que, a cada encontro despertou-se focus de desejo
sobre o projeto, enquanto potente dispositivo de intempestividade para agradar e/ou desagradar a todos. A
implicação nesse processo, constatou-se na simplicidade despretensiosa com o qual circulavam todos os seus regimes
de valor em jogo, para serem, desfeitos e refeitos a cada signo, e (re) significado na construção de maneiras
pneumáticas de se movimentar pelo mundo, evidenciando ainda mais a pertinência de projetos como esse, enquanto
denunciante de diagramas de força que se revelam entre indivíduo e sociedade, em contraposição aos efeitos de
produção que se voltam sobre os corpos transferindo através de agenciamentos coletivos de enunciação, códigos,
formas prontas e dados tidos como uteis ao acontecimento, cerceando territórios de criação e reproduzindo alunos
que apenas reagem aos processos de aprendizagem, processos estes, movidos por discursos repletos de saber-poder
que cristalizam e naturalizam a prática discursiva. Consagra-se que toda produção é em si uma anti-produção, e esses
diagramas de força tanto produzem como aprisionam uma forma nos alunos. Como elemento de resistência a essa
anti-produção desejante, ou seja, essa parada na produção criativa, projetos como esse se apresentam como um
plano de imanência que propicia aos alunos os meios reflexivos de consciêntização social e potencialização ativa de si
mesmos, bem como, conhecer e criar, para que possam assim se movimentar no caos e garantir a sensibilidade
necessária para perceber a virtualidade do encontro no acontecer do aqui-agora.

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Psicologia Social e Políticas Públicas de Juventude: entre a atuação profissional e a militância social
Autores: Mailson Santos Pereira, OSJ/UFRB
E-mail dos autores: pereiramailson@msn.com

Resumo: O presente trabalho busca discutir a atuação profissional do psicólogo social no âmbito das políticas públicas
de juventude e a inserção militante nos espaços de participação social da pauta em questão (conferências e conselhos
de direito), indicando desafios para a efetivação dos direitos juvenis. A temática da juventude se insere na agenda
governamental brasileira a partir dos anos noventa, ainda que de forma incipiente, desarticulada e fragmentada no
plano federal, mas com algumas experiências significativas no âmbito municipal e estadual. A partir da primeira
década do século XXI, a agenda das políticas públicas de juventude ganham uma melhor estruturação no cenário
nacional, com a criação da Secretaria Nacional de Juventude SNJ, do Conselho Nacional de Juventude CONJUVE e do
lançamento do Programa Nacional de Inclusão de Jovens - PROJOVEM, em 2005, se efetivando, no Brasil, através de
legalidades (inserção do termo jovem na Constituição Federal, sanção do Estatuto da Juventude, criação de Planos
Estaduais de Juventude, entre outras) e institucionalidades (secretarias, coordenações, diretorias, assessorias de
juventude), seja no plano nacional, estaduais e municipais. O autor do presente trabalho, desde o início de sua
atuação profissional, tem estado envolvido com a execução e acompanhamento de plataformas de políticas públicas
que se configuram como políticas públicas de juventude: PROJOVEM Adolescente e Plano Juventude Viva; e em
espaços de participação social referente às políticas públicas de juventude na Bahia (conferências municipais,
territoriais, estadual e nacional como participante e/ou compondo a comissão organizadora desses espaços; e
conselhos municipal e estadual de juventude). Aponta-se como desafio para a prática da/o psicóloga/o social nas
políticas públicas de juventude as contribuições da psicologia social crítica latino americana e o compromisso social da
profissão na busca de compreender a juventude no cenário social maior, enquanto espelho retrovisor da sociedade,
ou seja, a singularidade desses sujeitos sociais vivenciarem de forma mais acentuada as potencialidades e as
contradições da estrutura social, - a depender da situação juvenil concreta na qual cada jovem se encontra inserida/o
e do cenário social vigente, - principalmente, por a juventude figurar no imaginário social, nas representações sociais,
majoritariamente, como um período de transição da infância e adolescência para a vida adulta, o que implicaria a
saída de uma fase de menor responsabilização e entrada no mundo adulto com todas as exigências sociais da adultez;
na tomada de referencial teórico e prático que entenda a juventude como uma categoria social construída na
modernidade, quer dizer, fruto de uma estrutura social de desenvolvimento do capitalismo, em meio a qual, há
disputas dos atores sociais quanto às concepções que nucleiam essa categoria e que, no contexto presente, faz-se
necessário ser considerada como sujeitos de direitos específicos, estabelecidos pelo Estatuto da Juventude, Lei
12.852/2013, sancionado pela presidenta Dilma Rousseff, no dia 04 de agosto de 2013, - legislação essa que,
recentemente, tem dado base para a emissão/concessão da Identidade Jovem e que tem embasado a elaboração de
algumas políticas específicas; e no desenvolvimento de práticas sociais que façam valer a especificidade da
participação das/os próprias/os jovens na construção de plataformas de políticas públicas a elas/es destinadas/os,
potencializando o protagonismo juvenil e a efetiva atuação e controle social das políticas públicas de juventude pelas
próprias juventudes que dela se beneficiaram, assim como, dos demais atores que compõem o campo das políticas
públicas de juventude no Brasil.

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GT 32 | Práticas e saberes da psicologia: olhares sobre gênero, interseccionalidade e resistência

Coordenadoras: Claudiene Santos, UFS | Franciele Jacqueline Gazola da Silva, Caixa Econômica Federal | Marcela
Montalvão Teti, Faculdade Maurício de Nessau

O presente grupo de trabalho pretende acolher pesquisas e experiências voltas à visibilização dos modos de
subjetivação a partir das relações de gênero e suas interseccionalidades (raça/etnia, geracionalidade, classe
econômica, religião, identidade sexual) e dos processos de subjetivação que podem advir a partir das relações de
resistência à subjetividade normatizada. Interessa-nos, em especial, as intervenções comunitárias, relacionadas aos
diferentes contextos de exclusão, a saber, violências perpetradas nas relações de intimidade, homo, lesbo e bissexual,
transfobias, pessoas em situação de risco em face à territorialidade urbana, além de formas de organização ou de
produção de coletivos que se coloquem como estratégia de enfrentamento à ordem das relações de poder
assimétricas, vigente.
A respeito do gênero, compreendemos o conceito, como elemento que produz relações sociais e psíquicas - na relação
do sujeito com o mundo e consigo mesmo - que podem ser assimétricas. A partir disso, propomo-nos a debater ações
e pesquisas que contribuam para uma sociedade mais igualitária, que acolha a diferença ao combater todas as formas
de opressão e violência contra as mulheres e contra a diversidade de expressões de identidade, sexualidade e
identidade sexual. A categoria gênero será utilizada a partir de uma epistemologia feminista, justamente por ser esta
uma teoria que apresenta o conceito de gênero como construído a partir das diferenças que demarcam os corpos de
homens e mulheres, sob determinadas condições sócio-históricas, culturais, discursivas e simbólicas, contribuindo
para a constituição de papeis sociais específicos.
Tomando como base o feminismo interseccional, o gênero como categoria de análise será abordado em sua relação
com outras esferas sociais. O termo interseccionalidade será utilizado tomando como referência as contribuições de
Limberlé Crenshaw (2002), que utiliza o termo com a preocupação de capturar as consequências estruturais e
dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos de subordinação. A autora forja o conceito sob o prisma do feminismo
negro, com a preocupação original de dar significado à luta e experiência de mulheres negras cujas especificidades não
encontravam espaço de discussão nem no debate feminista nem no debate anti-racista. Para Crenshaw (2002), gênero
e raça interagem com outras categorias de diferença e, deste modo, determinam as experiências vivida por mulheres
negras.
Entendemos que lançar mão do conceito de interseccionalidade é fundamental para fugir de interpretações
reducionistas e/ou essencialistas. Neste sentido, interseccionalidade fundamental para ativistas e teóricas feministas
comprometidas com análises que desvelem os processos de interação entre relações de poder e categorias como
classe, gênero e raça em contextos individuais, práticas coletivas e arranjos culturais/institucionais. No contexto
brasileiro, Luiza Bairros afirma que raça, gênero, classe social e identidade sexual configuram-se mutuamente
formando um mosaico que só pode ser entendido em sua multidimensionalidade.
No que concerne ao instrumental teórico conhecido por subjetividade, traremos duas formas de abordagem.
Subjetividade por ser entendida como processo, a partir das reflexões pautadas por Deleuze e Guattari em o Anti-
Édipo, mas mais especificamente em Mil Platôs. Mas não vamos esquecer do entendimento foucaultiano a respeito do
temo quando designas as diferentes formas de relação dos sujeitos como modos de subjetivação. Para Michel
Foucault, as formas de organização sociais são constituídas através de relações de saber, poder e modos de
subjetivação. Saber e poder se caracterizam por relações circulares e que produzem efeitos de subjetivação. Como
resultado dos jogos entre discursos e relações, nós temos a objetivação de indivíduos categorizados em uma
diversidade de identidades associadas a formas específicas de problematização na sociedade. O discurso da medicina,
associado à prática médica, produzem o indivíduo normal medicalizado.
Subjetivação para Michel Foucault é um exercício, um modo específico de prática, operacionalizado por dispositivos de
poder espalhados pela sociedade. A partir deste entendimento, podemos pensar as diferentes formas de colocar em
prática o conceito de gênero, amparadas por dispositivos de poder específicos. Conjuntos de saberes, práticas
discursivas, relações e jogos de poder, asseguram o que deve ser normatizado em nossa sociedade e,
consequentemente como os indivíduos não devem atuar nesta mesma sociedade, havendo a possibilidade de sofrer
uma série de sansões, jurídicas e sociais caso não sigam as prescrições em exercício. Os diversos modos de violência
perpetrados em nas diversas cidades, estados e países, na relação com o outro ou na relação consigo mesmo,
configuram uma das modalidades destas sansões difundidas nas diversas práticas sociais.

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Já Deleuze e Guattari pautam a subjetividade como processo. Para eles, o que nos constitui é proveniente de uma
multiplicidade das relações. Contra toda teoria totalizante, os autores defendem a perspectiva de trabalho desfocada
da ideia do Uno e propõem a subjetividade em forma de platôs. Diferente de imagens estáticas, ou do que se pode
pe e e àpo à eioàdeà et atos àouàes ue asàdaàso iedade,àoàplat à àp o essual.àEleàest ài se idoàe àu à o e toà
histórico e por isso mesmo é condicionado pelos vetores de força atuantes no espaço dos problemas analisados. Seu
desenvolvimento jamais é linear, ou determinado pela temporalidade que se sujeita às ideias de passado, presente e
futuro. No desenvolvimento dos platôs o que vigora é a ideia de atualidade. A subjetividade é atual, porque é
constituída por diversas linhas, diversas origens e seu desenrolar é a produção, é a combinação destas linhas que
desembocam em um espaço de possibilidades historicamente situadas. A partir desta ideia não podemos conceber o
gênero como um instrumental único, passível de aplicabilidade nos diversos setores da sociedade. O que coloca para
os pesquisadores desta problemática a necessidade de pensar as relações a partir do termo interseccionalidade.
Jamais as imposições em torno do sexo serão sentidas de forma semelhante por mulheres brancas, negras, transexuais
brancos, negros, brasileiros, europeus, latino-americanos, de classe baixa ou classe alta. O que coloca como premente
para este GT a importância de pensar o discurso em torno do gênero e as diversas práticas sociais a ele associadas,
como um jogo de relações múltiplas, como um mosaico.
Este mosaico é justamente o que nos interessa no GT: partimos da necessidade de dar expressão a diferentes formas
da experiência relacionadas às vivências de gênero. Assim, ao optarmos pela temática de gênero e
interseccionalidade, buscamos dar relevância a trabalhos voltados a compreender e analisar a forma pela qual
diferentes opressões - como o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe, identidade sexual e identidade de
gênero, além de outros sistemas discriminatórios – criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas
de mulheres, raças, etnias, classes e outras. E, de modo particular, buscamos apreender que intervenções
comunitárias relacionadas aos diferentes contextos de exclusão e de violências – tanto as perpetradas nas relações de
intimidade, como as violências vivenciadas no acesso aos serviços, espaços e território – tem sido gestadas, que
formas de organização e que estratégias de enfrentamento à ordem das relações tem sido gestada.
Da mesma forma, serão bem-vindos os trabalhos e investigações nos mais diversos métodos de investigação, dentre
elas, pesquisas de caráter intervencionista, pesquisas bibliográficas, hemerográficas, de cunho etnográfico,
arqueogenealógicas, cartográficas. A articulação do problema psicossocial aqui apontado com as diversas
metodologias de cunho qualitativo disponíveis para a prática, na Psicologia social e comunitária, são de fundamental
importância para a multiplicidade do pensamento que se produz desfocado da ideia de eu e das práticas que
aniquilam a diversidade de modos de existência possíveis.

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"Nós resistiremos": mulheres muçulmanas, sexualidade e islamofobia
Autores: Camila Motta Paiva, USP
E-mail dos autores: camilapaiva@usp.br

Resumo: Os estudos de gênero e sexualidade vêm se destacando nas pautas atuais de pesquisas realizadas também
em campo islâmico. Existe dentro da religião um incentivo aos prazeres que contraria a visão estereotipada da
opressão e repressão da mulher muçulmana, bem como a relação problemática entre feminismo e religião que muitas
acadêmicas muçulmanas vêm tentando combater. Por mais que exista uma tentativa de afastar a religião do debate
sobre a sexualidade, é fato que há um importante entrelaçamento entre essas duas categorias. O objetivo desta
comunicação é ressaltar os sentidos que as próprias mulheres muçulmanas atribuem à sexualidade: ser mulher e ser
muçulmana, como estes marcadores se articulam? Ser mulher e ser muçulmana é resistir cotidianamente, sobretudo
em tempos tão marcados pela islamofobia. Angela Davis, em seu mais recente discurso em Salvador, chama a atenção:
"aquelas tidas como as menos importantes são as pessoas negras, do sul global, muçulmanos e muçulmanas,
indígenas", mas "nós resistiremos ao preconceito contra o Islã". Talvez o maior símbolo da polêmica que recai sobre as
mulheres muçulmanas e sua sexualidade seja o hijab, o véu islâmico. Tomado no senso comum como opressor, ignora-
se que ele é frequentemente entendido como forma de resistência da mulher muçulmana, que pode fazer dele um
uso até mesmo político, identitário: ao usá-lo, além de estar cumprindo com um dever religioso, a mulher está se
afirmando enquanto mulher e enquanto muçulmana. Não faz muitos anos que presenciamos o debate da proibição da
vestimenta islâmica em determinadas escolas na Europa e Estados Unidos. Mais recentemente, assistimos à proibição
do traje de banho islâmico, o chamado burkini. No contexto brasileiro, diversos são os casos que vêm sendo relatados
de mulheres muçulmanas atacadas nos transportes públicos. Por outro lado, há poucos dias a página oficial do
DETRAN-SP no Facebook trouxe a seguinte postagem: "vai ter hijab pra CNH sim!", o que é fruto da luta das mulheres
muçulmanas pelo direito de usar sua vestimenta em todos os contextos, seja para a foto de seus documentos de
identidade, seja em provas de concursos públicos, por exemplo. Interessante notar que tal resistência se estende
também aos pesquisadores: o que significa ser pesquisadora de comunidades muçulmanas hoje, nesse ponto de
2017? Com a crescente islamofobia perante as mazelas que não tem origem "islâmica", como a grande mídia gosta de
colocar e que, por sinal, acometem e submetem ao sofrimento os próprios muçulmanos, ser pesquisador é também
assumir uma posição. Claro que não nos cabe endossar ou necessariamente concordar com as construções que
encontramos nos nossos temas de pesquisa, mas "certamente cabe a nós, antropólogas e pesquisadoras da sociedade
e da cultura, destacar e perceber como funcionam certas lógicas e construções culturais nas sociedades que
estudamos" (ALMEIDA, 2012, p.194). Afinal, a laicidade, um dos temas de destaque deste XIX Encontro, não afasta as
religiões dos debates, e sim garante a sua inclusão e o respeito à diversidade, também religiosa. Assim, a partir da
ponte entre a psicologia social e a antropologia, por meio de pesquisa de campo e do diálogo com mulheres
muçulmanas, serão tecidas algumas reflexões sobre exemplos recentes de perdas e de conquistas de direitos e seus
desdobramentos no campo da sexualidade - e da resistência - para estas mulheres.

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A mulher e sua tripla jornada de trabalho: uma discussão de gênero
Autores: Alcineia Parreiras de Azevedo, PUC Minas; Carolina Maria Mota Santos, PUC Minas
E-mail dos autores: cmmotasantos@gmail.com,alcineiaparreiras@gmail.com

Resumo: A partir dos movimentos feministas, vários aspectos da vida das mulheres foram alterados (Lopes, 1998). O
aumento da escolaridade e da qualificação, por exemplo, propiciou a entrada e a permanência no mercado de
trabalho (Bruschini, 2004). Entretanto, ao longo dos anos a mulher adquiriu mais tarefas a fazer, sem abandonar as
tarefas do lar. Se houve diálogo com o parceiro para ir para o mercado de trabalho nas décadas passadas, além das
várias transformações politicas, sociais e econômicas, no quesito responsabilidade com as tarefas da casa parece não
haver tanta negociação (Bruschini, 1987; Bruschini, 1998; Bruschini e Puppin, 2004; Mota-Santos, 2012). O
crescimento do trabalho feminino não modificou suas responsabilidades com o lar (Nogueira, 2010). A divisão sexual
do trabalho designa aos homens a esfera produtiva e as mulheres a reprodutiva (Hirata e Kergoat, 2007) e com isso,
mesmo com a ampliação da participação no mercado de trabalho por parte da mulher, as tarefas do lar ainda ficam
reservadas a ela (Nogueira, 2010). As mulheres que possuem rendimentos mais elevados tentam negociar uma divisão
mais igualitária, mas mesmo assim continuam em uma condição de desigualdade (Madalozzo, Martins e Shiraton,
2010; Wolff, 2010). Consequentemente um dos maiores motivos de angústia e preocupação das mulheres refere-se à
sensação de que o trabalho impede a dedicação à família e a necessária atenção à vida pessoal (Andrade, 2010;
Bertolini, 2002; Carvalho; Carvalho; Santos, 2002). O referencial teórico desse trabalho aborda uma discussão sobre
divisão sexual do trabalho, que separa atividades atribuídas a cada um dos sexos, além de uma demarcação do
masculino sobre o feminino a partir de Bourdieu (2014). O objetivo desse trabalho foi compreender como se dá a
divisão das tarefas dedicadas a casa e aos cuidados com os filhos de mulheres casadas, mães, estudantes e
profissionais, com os seus companheiros. A metodologia adotada para a realização da pesquisa foi de natureza
qualitativa, cujo método utilizado foi o estudo de caso. Foram realizadas 15 entrevistas semiestruturadas no período
de fevereiro a maio de 2017. Os dados obtidos foram submetidos à análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Os resultados
indicaram que na divisão das tarefas os homens se dedicam mais com as tarefas relacionadas aos cuidados com os
filhos do que com as tarefas da casa. As mulheres que dedicam as noites para a qualificação e que possuem filhos
pequenos tem uma participação maior dos maridos nas demandas do lar. Mesmo com uma participação mais
igualitária entre os casais, no discurso das entrevistadas o trabalho dos maridos é visto como uma ajuda. Frases do
tipo: Ele está fazendo além do papel dele foram comuns de ouvir. O sentimento de culpa é relatado por elas em
relação ao pouco tempo dedicado aos filhos. Enquanto questões como essas não forem discutidas, não poderemos
falar de uma possibilidade de crescimento profissional e qualidade de vida mais igualitária entre os casais, mantendo
assim as relações de poder no espaço público e privado.

Referências
ANDRADE, Silvana Rodrigues. Eu sou uma pessoa de tremendo sucesso!: trajetórias, identidades e representações de
mulheres executivas. In: X Encontro Nacional de História Oral, Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Anais...,
Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Recife, 2010.
BERTOLINI, Lucila Benatti Almeida. Relações entre o trabalho da mulher e a dinâmica familiar. São Paulo: Vetor, 2002.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
BRUSCHINI, Cristina. Trabalho da Mulher: igualdade ou proteção? Caderno de Pesquisa, n.61, p.58-67, 1987.
BRUSCHINI, Maria Cristina. Trabalho das mulheres e mudanças no período 1985-1995. São Paulo: FCC / DPE, 1998.
BRUSCHINI, Cristina; PUPPIN, Andrea Brandão.Trabalho de mulheres executivas no Brasil no final do século XX.
Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, p. 105-138, jan/abr, 2004.
CARVALHO, José Luis Felício dos Santos; CARVALHO, Maria da Penha Felício dos Santos; SANTOS, Lyla Collares. Novas
bonecas feitas de velhos retalhos: investigando medos, ansiedades e inquietações das mulheres nas organizações. In:

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ENANPAD 2002 – Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, 2002, Salvador Anais...
Salvador: XXVI Encontro da ANPAD 2002. CD-ROM.
HIRATA, Helena; KERGOAT, Daniele. Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Cadernos de Pesquisa, v.37,
n.132, p.595-609, set/dez, 2007.
LOPES, Maria Margaret. Aventureiras nas ciências: refletindo sobre gênero e história das ciências naturais no Brasil.
Cadernos Pagu (10) 1998, p. 345-368.
MADALOZZO, Regina; MARTINS, Sérgio Ricardo; SHIRATON, Ludmila. Participação no mercado de trabalho e no
trabalho doméstico: homens e mulheres tem condições iguais? Estudos Feministas, Florianópolis, 18 (2): maio-agosto,
p. 547-566, 2010.
MOTA-SANTOS, Carolina Maria. As mulheres brasileiras: do espaço privado da casa para as posições executivas nas
organizações brasileiras. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Administração, pontifícia Universidade
Católica de MG, 2012.
NOGUEIRA, Cláudia M. As relações sociais de gênero no trabalho e na reprodução. Aurora, ano IV, n.6, Agosto, 2010.
WOLFF, Cristina Scheibe. Profissões, trabalhos: coisas de mulheres. Estudos Feministas, Florianópolis, v.18, n.2, p.503-
506, maio-agosto, 2010.

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As Epistemes feministas e a política de escrita nas produções discursivas da Psicologia Social
Autores: Tatiane Pecoraro, UNESP/UNIPAR; Leonardo Lemos de Souza, UNESP
E-mail dos autores: tatianepecoraro@prof.unipar.br,leo.lemos.souza@gmail.com

Resumo: A proposta deste trabalho é utilizar-se de políticas de escrita com base nas abordagens narrativas em suas
conexões com as Epistemes feministas. Com isso, propomos criar contornos para uma pesquisa no campo dos
discursos e práticas da psicologia social sobre sexualidades e gêneros. Para Haraway(1995) os objetos não preexistem
em um lugar fora, mas antes de tudo são efeitos de práticas de mapeamento, fronteiras que se engendram
cotidianamente nas lutas, nas ruas, nas bancadas dos laboratórios e também na escrita. A objetividade é um projeto
político – epistemológico – de mapeamento de fronteiras, e o método seria a objetividade da ciência, na pretensão de
olhar de uma forma objetiva sobre os fenômenos, que é possível através da perspectiva parcial, aponta Haraway: A
visão é sempre uma questão do poder de ver – e talvez da violência implícita em nossas práticas de visualização. Com
o sangue de quem foram feitos os meus olhos? (HARAWAY, 1995, p. 25). Há que trazer à tona os efeitos desse olhar
sob perspectivas de quais experiências de vida foram privilegiadas pela Psicologia, e quais foram silenciadas neste
construir-se, e a narrativa como forma de homens e mulheres organizarem e exporem suas experiência e memórias do
mundo. Sobre esses argumentos se constrói esta proposta metodológica de pesquisar em Psicologia Social que em sua
política de escrita assume: conceitos da narrativa, a noção de experiência através da análise da prática de contar e
escrever na incursão benjaminiana para depois abordar a composição da memória coletiva na perspectiva de
Halbwachs (2003), e as Epistemes feministas e suas contribuições para a ciência e as Psicologias sociais. A arte de
narrar é agregar uma confluência da experiência individual com a experiência coletiva, e deste modo possibilitar uma
construção outra. Considerando que vivemos uma pluralidade de mundos e realidades criados por nossas próprias
formas de perceber, há tantas formas de existência como distinções construídas pelo observador. Escrever é interferir
em uma certa lógica do mundo, para se poder compreender certos modos de vida. A escrita é uma forma e um convite
para que os leitores também tenham uma sensibilidade para os modos como a sociedade e a cidade podem ser
violentas com formas outras de existência. Assumir uma política de escrita implicada é se aliar a uma política de
visibilidade das versões minoritárias do tempo histórico, da cidade, das existências. A arte de narrar para Benjamin
(1987) não está interessada em transmitir o puro do que está narrando como uma informação, mas mergulha a coisa
narrada na vida do narrador, que a marca, e enche com seus vestígios, seja na qualidade da coisa vivida, ou na
qualidade de quem relata. Essa é a verdadeira narrativa, que conserva suas forças e depois de muito tempo ainda é
capaz de se desenvolver, pois está marcada na história e na memória de quem ouviu, observou, experimentou. Ele nos
fala do valor da experiência, que na Psicologia e na pesquisa tem uma estreita ligação com a atribuição de
significados, pela forma e o processo que produzimos significações. A memória é um recurso em que essas
significações são encadeadas e conectadas para pensarmos a experiência. Halbwachs (2003) propõe que a memória
individual, existe, mas é enraizada em diferentes contextos que, ao se combinarem, podem produzir o que chamamos
de lembrança, que é fundante na lógica da narrativa como forma de fazer pesquisa em psicologia social e outras áreas,
mas também de criar resistências, porque nossas lembranças permanecem coletivas, e podem nos ser lembradas por
outros, mesmo que diga apenas de nós, pois sempre levamos conosco uma certa quantidade de pessoas que não se
confundem. Evidência como nossos aspectos mais subjetivos, das memórias e atribuições de significados, são
atravessados por discursos, que não são, mas estão contidos na narrativa, e na prática de escrita, que é poderosa no
campo de criar conexões e borrar fronteiras. Regressando às autoras feministas, como Haraway (1995), é possível
fazer uma crítica aos saberes que as feministas estão propondo, evocando a responsabilidade feminista para as
ressonâncias, não às dicotomias. Assumem que não é possível individualizar todas as narrativas femininas no campo
da opressão, mas que os saberes podem ser produzidos a partir de uma ética de convivência e conexões. Assim a
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objetividade como conceito que serve ao método, é sim um lugar político e produz uma ética que nega as dicotomias
e afirma os borramentos entre as ciências. Neste movimento para repensar a ciência, e também outras possibilidades
de Psicologias, fica evidente um projeto de ciência sucessora, com explicações mais adequadas, ricas e melhor do
mundo, e na relação crítica e reflexiva em relação as nossas próprias e as práticas de dominação de outros, nas partes
desiguais de privilégios e opressão que todos os posicionamentos (lugares sociais) contém. (HARAWAY, 1995).

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Gênero e câncer de próstata
Autores: Gisele Tiemi de Assis Sugawara, CEAE; Giselle Pereira Tourino, CEAE; Maria Camila Lima, CEAE; Mariana
Rafaela Campos, CEAE
E-mail dos autores: giseletiemi93@gmail.com, mariacamilalima@yahoo.com.br, gptourino@lavras.mg.gov.br,
camposmarianapsi@hotmail.com

Resumo: Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) o número estimado de casos novos de câncer de próstata
para o Brasil em 2016 era de 61.200, sendo considerado o segundo tipo de câncer que mais atinge a população
masculina adulta no país. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata são:
predisposição familiar e o envelhecimento.
Figueiredo (2004) traz questionamentos perante a importância de pesquisar estratégias especiais para o atendimento
da população masculina, se haveriam razões epidemiológicas para isso. O autor afirma que vários indicadores de
saúde demonstram que os homens, além de viverem menos que as mulheres, também morrem em maior quantidade.
Com isso, é possível percebermos que a situação de saúde dos homens precisa ser repensada. Os serviços de saúde
devem ampliar seu foco também para a população masculina, isto é, se debruçar sobre as necessidades de saúde
desse público. Entretanto, um dos maiores empecilhos para isso é justamente a carência dos homens nesse espaço,
por isso a importância de estudos epidemiológicos da população masculina. Além disso, é válido lembrar que nem
todas as necessidades de saúde surgem como problemas, ou seja, os serviços de saúde podem agir com ações
preventivas também.
O objetivo geral desse estudo foi identificar a quantidade de homens e mulheres que foram encaminhados para o
CEAE (Centro Estadual de Atendimento Especializado de Lavras – MG) e foram diagnosticados com adenocarcinoma ou
carcinoma, durante o período de março de 2013 a julho de 2017. Assim especificamente comparar a procura pelo
serviço entre os gêneros e contribuir para a criação de estratégias que incentivem a população masculina a frequentar
esses espaços.
A coleta de dados foi realizada em prontuários médicos do CEAE (Centro Estadual de Atendimento Especializado de
Lavras—MG). Foram examinados os cadernos de registro de retorno dos pacientes com suspeita de câncer de próstata
ou mama, no período de 2013 a 2017.
Foram consultados 646 prontuários, sendo 246 homens de 52 a 83 anos e 400
mulheres de 24 a 83 anos. Destes, 53 homens apresentaram adenocarcinoma e 88 mulheres apontaram carcinoma.
Foi verificado que a procura pelo serviço é maior na amostra feminina durante o período de tempo da pesquisa e que
as mulheres procuraram este serviço de saúde mais cedo.
Discussão e conclusão
A relação de gênero tem se mostrado muito importante dentro da Saúde Coletiva, em como a perspectiva de gênero
está relacionada com a procura pelos serviços de saúde. Com este artigo, pretendemos contribuir com o debate acerca
de estratégias para promoção de saúde da população masculina perante o câncer de próstata na Atenção Básica à
Saúde, de modo que seja estimulado um cuidado de si nos homens.
O modelo de masculinidade hegemônica traz consigo, muitas vezes, comportamentos pouco saudáveis ou de risco. Há
uma resistência dos homens em verbalizar suas necessidades de saúde: falar de seus problemas de saúde pode
significar uma possível demonstração de fraqueza, de feminilização perante os outros. Denota-se daí a ideia de
feminilização associada aos cuidados de saúde. Além disso, os homens costumam procurar os serviços de saúde
quando já estão acometidos por alguma doença, ou seja, não há preocupação com ações preventivas.
No caso de câncer de próstata, sabe-se que o exame de toque retal (ETR) é uma medida preventiva que possui baixo
custo. Entretanto, há uma relutância dos homens a passarem por esse exame, tendo em vista que esse procedimento
perturba o imaginário deles. As características identitárias masculinas passam a ser problematizadas: O medo da dor,
tanto física como simbólica, pode estar presente no imaginário masculino. O toque, que envolve penetração, pode ser
lido como violação e isso quase sempre se associam à dor. Ocorre uma disseminação do medo em fazer o exame, os
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homens passam a entendê-lo como algo de caráter invasivo demais, o que cria barreiras quanto ao seu tratamento,
gerando muitas dúvidas, algumas relacionadas a questão da impotência e da virilidade.
De modo geral, é essencial que ocorram atividades educativas constantes, juntamente de estratégias de prevenção,
detecção precoce e controle do câncer de próstata. A educação em saúde se mostra urgente, para que hajam
mudanças no comportamento do público masculino e também dos serviços prestados a eles. Os setores
governamentais precisam incorporar mais a comunidade na atenção a saúde, articulando ações em conjunto e
incentivando pesquisas dentro dessa temática, esta é uma maneira de buscar novos caminhos para se pensar a
masculinidade e a saúde e também o cuidado de si para os homens.

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Hipermasculinidade, juventude e violência na cidade de Fortaleza: uma leitura a partir das discussões de gênero
Autores: Kevin Samuel Alves Batista, UFC; Jéssica Silva Rodrigues, UFC; João Paulo Pereira Barros, UFC; Luis Fernando
de Souza Benicio, UFC
E-mail dos autores: kevin.sab@gmail.com, luisf.benicio@gmail.com, jessicarodriguesufc@hotmail.com,
jppbarros@yahoo.com.br

Resumo: Este estudo consiste na problematização da relação entre hipermasculinidade de jovens e violência urbana,
tomando como analisador os indicadores de homicídios de jovens na cidade de Fortaleza. Tal proposta se configura
como um desdobramento de uma pesquisa-intervenção sobre juventude e violência urbana, financiada pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), realizada no âmbito do Grupo de Pesquisas e
Intervenções sobre Violências e Produção de Subjetividades (VIESES), vinculado ao Departamento de Psicologia e ao
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Trata-se de uma reflexão teórica a
partir de dados públicos sobre a violência contra jovens na cidade de Fortaleza. Utilizar-se-á indicadores da Célula
Vigilância Epidemiológica e do relatório cada vida importa do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na
Adolescência (CCPHA), objetivando realizar uma discussão a partir da análise de alguns dados relacionados à violência
letal na capital do Ceará. A violência urbana, especificamente, os homicídios de jovens, constitui-se como um desafio
em âmbito nacional, demandando investigações acadêmicas e políticas públicas orientadas por perspectivas multi e
transdisciplinares. O Estado do Ceará apresentou, em 2014, o maior Índice de Homicídio na Adolescência (IHA) entre
os estados brasileiros (8,71/mil) (Melo & Cano, 2017). Dados relativos a esse fenômeno, considerando o perfil dos
jovens que são vítimas e autores desse tipo de violência, apontam que o perfil epidemiológico dos
jovens/adolescentes assassinados é, predominantemente, masculino (97%) com 15 a 19 anos (94%), tendo sido
mortos por arma de fogo (93%) (Fortaleza, 2016). Segundo uma pesquisa realizada pelo CCPHA, olhando para tal
problemática sob o prisma das famílias dos jovens assassinados, existe uma predominância da vitimização do gênero
masculino (98%), de raça parda e preta (69%). A mesma pesquisa demostram, ainda, que no eixo familiar e
comunitário: esses jovens tiveram amigos do sexo masculino assassinados (64%) e já haviam sido ameaçados
anteriormente (53%) sendo mortos no bairro onde residiam (73%). Vale destacar, por fim, que quase um terço dos
homicídios foi entre moradores de 52 comunidades de bairros que apresentam infraestrutura e serviços precários,
tornado a segregação um fator de exposição à violência letal (44% das mortes aconteceram em apenas 17 dos 119
bairros) (Roseno, 2017). À vista dos dados apresentados, considera-se a urgente discussão sobre as relações entre
violência urbana, juventudes e as produções de gênero nas grandes cidades. Segundo a socióloga Heleieth Saffioti
(1987/1994), o quadro de violência no Brasil é reflexo da ordem de gênero que o país reproduz. Os homens, segundo
ela, recebem autorização ou, pelo menos, tolerância para lançar mão da violência como mecanismo de dominação e
controle social. Neste contexto, desde a tenra idade, as pessoas são expostas a padrões de masculinidade que
privilegiam a agressão, virilidade e agressão para afirmação de si. Boris (2002), corroborando com essas análises,
afirma que a construção da masculinidade é atravessada por rituais eminentemente violentos. Segundo as análises do
sociólogo francês Pierre Bourdieu (2014), os homens não são apenas perpetradores da violência, mas também
prisioneiros e vítimas desta reprodução dominante. Para ele, no ser-homem está implicado um imperativo dever-ser,
um ethos esperado que não deve ser questionado, apenas reproduzido e mantido. Assim, o homem deve, sob toda e
qualquer circunstância, afirmar sua virilidade. Neste sentido, o preponderante envolvimento de jovens do sexo
masculino em situação de violência está relacionado, não só apenas com as questões de pobreza, desigualdades e
exclusão social, mas liga-se também a modos de socialização masculinas que exacerbam a violência e virilidade como
eixos de identificação e afirmação do gênero, estes processos vão ser nomeados de ethos da masculinidade (Zaluar,
2007), que consiste na supervalorização de marcas do que considera-se masculino, no corpo, comportamento e
expressões sociais. A forte relação entre as situações de violência e o uso de armas de fogo dizem do status prestígio
social que o seu uso oferece aos jovens. A violência, portanto, seria uma via de busca por reconhecimento social em
um contexto de invisibilidade e exclusão (SOUZA, 2013). Neste sentido, considera-se que o marcador gênero é crucial
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para a compreensão do fenômeno de violência entre jovens e na formação de estratégias de enfrentamento deste
agravante situação. O ativista de gênero e diretor da organização PROMUNDO Gary Baker (2011) considera que há
esperanças na luta contra as expressões de violência entre os homens jovens. Para ele, uma nova geração de jovens
está pondo em questão o modelo de masculinidade hegemônica, exercendo outras masculinidades possíveis. E, diante
de vários trabalhos com esses públicos, jovens podem exercer suas expressões de gênero por um viés de igualdade e
por caminhos de não-violência. Entretanto, para que este quadro torne-se expressivo mundialmente, o ativista
convoca um trabalho urgente com homens e meninos pela igualdade de gênero, em vários espaços públicos e
privados, nas comunidades e escolas, consistindo, portanto, em possíveis pistas interventivas para o enfrentamento da
problemática dos homicídios no cotidiano das periferias.

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Menina e menino, há diferença? Representações sociais de pais residentes do Rio de Janeiro
Autores: Tricia Vieira de Ataide, UNESA; Bruna Juliana Pinto, UNESA; Renata Vetere, UNESA
E-mail dos autores: triciaataide@yahoo.com.br, vetere.renata@gmail.com, brunajpinto@gmail.com

Resumo: No âmbito das ciências sociais e humanas, gênero refere-se à construção social do sexo anatômico. Gênero
significa então que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus
corpos. Ser homem e ser mulher se dá na relação entre indivíduo e sociedade, nessa intensa troca, sendo, portanto,
uma construção específica de cada cultura. O modo como homens e mulheres se comportam em sociedade
corresponde a um intenso aprendizado sociocultural. Há uma expectativa social em relação à maneira como devem
andar, falar, sentar, mostrar o corpo, brincar, dançar, namorar, amar, entre outros. Conforme o gênero, são delegados
modos específicos de trabalhar, ensinar, dirigir o carro, despender dinheiro, ingerir bebidas, dentre diversas outras
atividades. Se a socialização ocorre não a partir da categoria geral de crianças, mas por categorias específicas de
meninos ou meninas, quais diferenciações em termos de gênero são possíveis encontrar neste contexto? Para
responder à essa pergunta, foi realizada uma pesquisa de cunho descritivo e natureza qualitativa utilizando como
técnica de coleta de dados uma entrevista semi estruturada com aplicação de um breve questionário com dados sócio
demográficos com 10 responsáveis (mães e pais) de crianças entre 2 e 6 anos de uma escola particular da zona norte
na cidade do Rio de Janeiro, visando identificar as representações sociais deles acerca do que é ser menina e o que é
ser menino hoje em dia. O estudo atende a Resolução Nº 466/12 foi submetido via Plataforma Brasil ao Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) e obteve parecer favorável. A entrevista era iniciada com duas perguntas de associação livre
de palavras ante os termos indutores: menino e menina. As evocações de maior frequência relativas aos meninos
foram: bola, diversão, bagunceiro, carinhoso e companheiro. Já em relação às meninas foram: carinhosa, meiga,
manhosa, brincalhona, boneca, alegre. Outros termos usados, ainda que com frequência menor, mas ainda assim
consideráveis, foram: chilique, esperta, precoce, maternidade, espelho, assédio, limite e cor rosa para as meninas e
lento, malcriado, assédio, violência, pai e liberdade para os meninos. Os resultados dessa questão evidenciam a
tendência dos pais no uso de expressões clássicas estereotipadas na diferenciação de gênero, embora apresentem
também conteúdos similares para ambos os sexos. Quando perguntados se eles consideram haver diferença na
criação de meninas e meninos, quase a totalidade respondeu que sim, que criar menino é diferente de criar menina,
tendo apenas um responsável dito que não há diferença. Eles reconhecem que houve uma mudança muito grande da
criação deles para a criação dos seus filhos, mas que essas questões ainda são fortes e presentes atualmente. Essas
diferenças no modelo de criação seriam, segundo eles, nos estímulos e incentivos das brincadeiras, estando os
meninos mais voltados para vivacidade, força e proteção e as meninas à maternidade e aos afazeres do lar e nos
cuidados higiênicos e corporais, relatando que as meninas precisam de maior asseio que os meninos e maiores
cuidados com suas roupas íntimas. A maioria dos pais afirmou que meninos e meninas gostam e podem brincar das
mesmas coisas, entretanto, afirmou também que a brincadeira que eles executam são diferentes. Foi possível verificar
na pesquisa a existência de diferenciação praticada pela maioria dos pais em relação às escolhas dos brinquedos para
seus filhos, bem como indicação de brincadeiras diferentes para cada sexo. Para os meninos brincadeiras de bola,
carrinho, vídeo game, luta, pipa e para as meninas brincadeiras de boneca, panelinha, casinha e maquiagem. Muitos
pais atrelam essas diferenças às questões fisiológicas, dizendo que as brincadeiras são diferentes, pois os meninos são
mais agitados e energéticos do que as meninas. Os resultados apontam que embora os pais estejam menos presos aos
padrões estereotipados de gênero, reconhecem que ainda existem diferenças na criação de meninos e meninas sendo
nossa sociedade bastante preconceituosa – especialmente em relação aos meninos. Embora muitos pais tenham
afirmado não serem preconceituosos e nem praticarem essas diferenciações na criação de seus filhos, afirmavam que
o que se espera na nossa sociedade de um homem ainda é bem diferente daquilo que se espera de uma mulher.
Menino e menina podem fazer as mesmas coisas, mas suas preferências, escolhas e cuidados pessoais são diferentes.
Logo, criar, educar e formar indivíduos do sexo masculino é diferente de criar, educar e formar indivíduos do sexo
feminino. Assim, as diferenças de gênero ainda estão presentes na criação de meninos e meninas, definindo a
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construção do que é ser homem e o que é ser mulher ao longo de todo o desenvolvimento. Conclui-se que, essa
perpetuação de um modelo de criação diferente para meninos e meninas é guiada pelas pressões sociais e fortemente
influenciada pelos estereótipos e papéis sociais de gênero aprendidos através do processo de socialização.

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Mulheres aprisionadas: a potência de histórias de vida para a subversão da colonialidade
Autores: Suelen Lemons Clasen, UFPel; Míriam Cristiane Alves, UFPel
E-mail dos autores: suelenlemonsc@gmail.com, oba.olorioba@gmail.com

Resumo: Mulheres aprisionadas. Mulheres encarceradas. Mulheres silenciadas. O sistema prisional brasileiro silencia
e invisibiliza aquelas que nele estão aprisionadas. Vivenciamos uma sociedade patriarcal que silencia vozes,
existências, subjetividades de mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres brancas, mulheres heterossexuais,
mulheres homossexuais, mulheres bissexuais, mulheres trans, mulheres presas, mulheres subalternizadas. As
mulheres aprisionadas no sistema prisional são constantemente esquecidas e desconsideradas nessa sociedade
edificada pela hierárquica relação de gênero e étnico-racial produzida pela dominação e exploração
patriarcal/moderna/colonial. Mas afinal, que trajetórias e histórias de vida as mulheres aprisionadas têm para contar?
Que outros aprisionamentos foram vivenciados e subjetivados ao longo de suas vidas? Essas são algumas questões
que nos implicam, subjetivam e impulsionam a escutar as trajetórias e histórias de vida dessas mulheres e, ao mesmo
tempo, conta-las, visibiliza-las, partilha-las com a coletividade para que mais pessoas conheçam suas realidades. O
presente estudo integra uma das ações do Núcleo de Estudos e Pesquisas É LÉÉKO – Uma Psicologia Política
Decolonial, do curso da psicologia da Universidade Federal de Pelotas e tem como objetivos escutar, conhecer e
visibilizar as trajetórias e histórias de vida de mulheres aprisionadas; problematizar a interseccionalidade entre gênero,
sexualidade, raça e geopolítica no sistema prisional; e provocar a construção de estratégias de resistência e de
subversão aos modos de existência impostos pela lógica hegemônica patriarcal/moderna/colonial. O referencial
teórico-metodológico parte dos Estudos Decoloniais, do Feminismo Decolonial e do Abolicionismo Penal, cujas
principais categorias de análise são: diferença colonial, colonialidade do poder, colonialidade do ser, colonialidade do
gênero, descriminalização e despenalização. Como estratégia metodológica serão utilizadas a autoetnografia e o co-
labor, de modo que o estudo seja construído em conjunto com as mulheres aprisionadas. Ou seja, o estudo pressupõe
a participação e o protagonismo dessas mulheres na construção do conhecimento. A partir da revisão teórica,
pretende-se fazer uma imersão de campo, no presídio regional da cidade de Pelotas-RS, onde existe uma ala para
mulheres. No processo de imersão no presídio regional pretendemos realizar rodas de conversas com as mulheres
aprisionadas para dialogar sobre suas trajetórias e histórias de vida, construir um planejamento em co-labor para o
desenvolvimento do estudo e produzir estratégias que visibilize suas histórias. A potencialidade do estudo está na
possibilidade de visibilizar histórias, existências, subjetividades silenciadas; quebrar paradigmas relacionados aos
estereótipos de gênero, sexualidade e raça no contexto do sistema prisional, subvertendo a lógica hegemônica que
impõe modos de existência a essas mulheres; e provocar alguns desafios epistêmicos para a investigação em
psicologia social. O sistema prisional violenta as mulheres aprisionadas quando as invisibiliza e as torna números
dessubjetivados, quando não considera suas construções subjetivas e existenciais. Relacionar as colonialidades do
poder, do ser e do gênero com o abolicionismo penal, nos permite problematizar o processo contínuo de dominação e
exploração patriarcal/moderno/colonial presente no sistema prisional, bem como pensar possibilidades outras de
resistência dos silenciamentos dessas mulheres aprisionadas. É preciso questionar que sistema é esse que se diz tão
justo, porém só prende e serve para uma pequena parte da sociedade. Que mulheres são essas que estão
aprisionadas? É preciso pensar em práticas que subvertam e decolonializem o sistema prisional/patriarcal/colonial.

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O Cutting e a mulher: Análise de uma captura subjetiva
Autores: Sabrina Estefânia Silva Dettmer, UFGD
E-mail dos autores: sabrina.dettmer@hotmail.com

Resumo: O Cutting, assim como outras manifestações da violência, sempre esteve presente em nossa sociedade.
Porém, há ainda na comunidade científica um número incipiente de pesquisas. A questão sobre como o Cutting
acontece também é importante de ser observada, pois existem muitos modos e formas, e na maioria dos casos eles
são drásticos, gerando consequências como cicatrizes permanentes. Em muitos casos o desfecho é o suicídio, o que
leva muitos pesquisadores apontarem este fenômeno como urgente em questões de tratamento e prevenção. Cabe
pontuar que o Cutting é uma forma de linguagem não verbal cujo meio comunicacional é o corpo (CHAVES et al., 2013,
p. 05). Assim, fica claro que existe a necessidade de dar voz aos adolescentes, e fazer emergir um discurso que grita
através de corpos cortados. A atenção ao fenômeno Cutting apresenta diversas justificativas, mas se apresenta como
uma questão essencial ao debate sobre gênero e subjetividade. Pois, um fator relevante, e que aqui será debatido, é
que os estudos sobre a autolesão a apontam como sendo um fenômeno predominantemente feminino (ROSS &
HEATH, 2002; HAWTON et al., 2002; NOCK & PRINSTEIN, 2004; FAVAZZA, 2006; OTTO & SANTOS, 2015). Os sentidos
produzidos pela ciência atual, em parceria com as grandes mídias, colocam-nos o Cutting como um sintoma de
exclusividade feminina. O que isso pode significar? Não seria o Cutting mais um mecanismo de captura da
subjetividade da mulher? Mais uma forma de violação subjetiva e também ética? Porque a predominância é feminina?
E principalmente, porque a mulher estaria mais propensa a se automutilar? Baseando-nos nestas questões
norteadoras, temos como objetivo principal incitar a ideia do cutting, como predominante feminino, como um
dispositivo politico de captura subjetiva. O debate proposto não visa apresentar conclusões, e sim gerar novos olhares
e reflexões sobre o tema. Cabe dizer que este trabalho se faz importante junto ao GT escolhido, visto que busca em
seu debate promover reflexões sobre o gênero como um dispositivo de subjetivação, que tem levado mulheres a esta
situação de auto violência. O trabalho se torna importante, pois busca desconstruir através do debate tal processo
subjetivo, por meio do entendimento de que por trás de tais estatísticas existem ideologias incitando discursivamente
este comportamento, bem como atravessando os corpos de inúmeras jovens. Assim, fica clara a relação deste também
com o eixo temático Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência visto que a denuncia do
cutting enquanto captura subjetiva de mulheres é um ato de resistência politica. Para promover tal debate, nos
basearemos na teoria da interseccionalidade, bem como na literatura especifica sobre cutting. Quanto ao conceito
gênero, nos baseamos em seu caráter interseccional, assim, acreditamos que há diversas formas de opressão, e que
elas inter-relacionam-se criando um sistema de opressão que reflete a intersecção de múltiplas formas de
discriminação (Azzarito &Solomon, 2005; BROWE & MISRA, 2003; DeFranscisco & Palczewski, 2007; McCall, 2005;
Nash, 2008; Staunaes, 2005). Como método, optou-se por um debate teórico. Baseadas em um levantamento teórico
de pesquisas que associam o cutting somente à mulheres, iremos promover uma discussão deste dado que vem sem
tomado como verdade absoluta por muitos pesquisadores. Como resultados de nossas buscas, encontramos um
consenso na literatura especifica sobre cutting: A maioria dos casos é de mulheres. As mulheres estão sujeitas a
condições de opressão e perca de direitos em todo momento. A multidimensionalidade das experiências vividas pelas
mulheres enquanto sujeitos marginalizados devem ser compreendidos para entendermos o que leva a estas
estatísticas. Os casos que ocorrem com homens, são colocados como mais graves do que o das mulheres. A literatura
fala que o homem que pratica Cutting sofreu mais formas de violação, como sexual ou institucional. Muitos pontos são
destacados na literatura como essenciais sobre Cutting, mas a questão de gênero implícita a ele ainda não aparece
como algo relevante para o debate. Por estas e outras razões uma analise interseccional é valida e nos ajuda nesta
analise, pois ela captura diferentes níveis de diferença, revelando como certas discriminações e opressões
interseccionais podem promover oportunidades, benefícios sociais e materiais para aqueles/as que gozam de
estatutos normativos ou não marginalizados, sendo o exemplo típico o de homens brancos, heterossexuais ou de
classe alta (Steinbugles, Press, & dias, 2006). Finalizo destacando a necessidade de estudos interseccionais que
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analisem o cutting e a mulher, visando compreender as amarras e discriminações ideológicas que existem por trás
deste comportamento. Cabe pontuar que o poder não controla, o poder produz. Portanto essa violência autodirigida
não é fruto de uma repressão, mas sim fruto de uma produção subjetiva.

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Políticas públicas de enfrentamento às violências contra as mulheres: problematizações na atuação em rede
Autores: Maíra Freitas Barbosa, CRM Patrícia Esber
E-mail dos autores: mairapsi@gmail.com

Resumo: As políticas públicas de enfrentamento das violências contra as mulheres confrontam as profissionais da
psicologia social com novos desafios. Como macular as sacras fronteiras do privado que tanto impedem que as
agressões físicas, psicológicas, patrimoniais, sexuais, morais se tornem objeto da rede formada para elidir estas, sem
estabelecer novas violências pela tutela da especialista e/ou do Estado? Como promover a proteção e fortalecimento
destas mulheres se na maioria das vezes suas experiências são silenciadas e invisibilizadas pelos regimes de
subjetivação que naturalizam tais violações como parte de nossos costumes? Como exercitarmos uma escuta e
cuidado que atentem para a sensibilização às violências vividas, sem despotencializar o campo de ação destas
mulheres ao se descobrirem vítimas há anos ou até mesmo décadas. Este trabalho problematiza as práticas
micropolíticas da psicologia social no contexto da rede de enfrentamento das violências contra as mulheres, em
especial as que colocam em questão o regime do doméstico (que regula nossos cotidianos urbanos nas cidades
contemporâneas) e as que deslocam o regime de sensibilidades vigente permitindo a experiência da violência onde
antes jazia a naturalização dos costumes de opressão às mulheres. Serviços e projetos como, Centros de Referência
para Mulheres Vítimas de Violências, Mulheres da Paz, Patrulha Maria da Penha, entre outras ações, problematizam
em suas práticas as fronteiras que cindem as sociabilidades citadinas entre aspectos políticos-públicos e privados-
domésticos, operando a paradoxalização destas cisões especialmente através da constituição de redes formais e
informais que atravessam estes espaços e rompem com o usual esvaziamento político do doméstico. Do mesmo
modo, tais práticas problematizam nossas delimitações dos limites entre o aceitável e o inaceitável, entre violência e
padrões de costumes, ao colocar em questão rotinas opressoras costumeiramente vividas pelas mulheres em nossa
sociedade. Assim como as teorias feministas nos permitiram conceber que o privado é político e questionaram
costumes estabelecidos, visibilizando que as relações domésticas fazem parte dos sistemas de dominação modernos,
as políticas públicas acima referidas promovem práticas que acontecimentalizam nossos sistemas de aceitabilidade de
modo a percebermos o equívoco de máximas populares como "em briga de marido e mulher, não se mete a colher". A
prática cotidiana da psicóloga social nos serviços especializados de atenção às mulheres apresenta-se como exercício
na tentativa de possibilitar a visibilidade de violências e agressões muitas vezes consideradas atos de cuidado , amor
e ciúmes , ou ainda, com maior gravidade, tornar agredidas e sua rede de apoio sensíveis a casos de tentativa de
feminicídio tratados como meros lapsos passionais . Tal labor crítico exige um constante exercício ético por parte da
profissional, constantemente questionando-se sobre os efeitos de suas intervenções para a própria assistida, para seus
familiares, para rede ou a sociedade como um todo. Assim, torna-se desafiador para quem trabalha com mulheres
vítimas de violência que estas tenham o acesso e a garantia a direitos conquistados. Mostra-se igualmente um desafio
problematizar questões relacionadas a estes temas/vidas na rede de serviços de forma geral no intuito da superação
das rotas críticas no acesso aos serviços que insistem em naturalizar violências ou revitimizar usuárias agredidas que
buscam auxílio. Também poderemos perceber no presente trabalho, tanto a valorização, quanto a estigmatização dos
serviços especializados no combate à violência contra as mulheres por suas práticas e atuação na rede em defesa das
usuárias atendidas. Desta forma, este trabalho pretende problematizar tais questões inerentes ao exercício ético da
profissional da psicologia social inserida nesta rede de práticas a partir de fragmentos narrativos que visibilizam tais
questões nos cotidianos de diferentes serviços da rede de combate à violência contra as mulheres.

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Profissionais do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS e Relações de Gênero
Autores: Greice Graff, PUC-RS; Marlene Neves Strey, PUC-RS
E-mail dos autores: greicegraff@gmail.com,nevesstrey@gmail.com

Resumo: A implementação da Assistência Social enquanto política pública é recente no Brasil. Em pouco mais de 10
anos, 98,5% dos municípios brasileiros implantaram pelo menos um Centro de Referência de Assistência Social – CRAS
para compor sua rede de serviços. Este centro atende indivíduos, famílias e comunidades, e visa prevenir situações de
risco para pessoas em vulnerabilidade social. Os serviços são executados por uma equipe de referência, formada por
uma coordenação, profissionais de nível médio e de nível superior. Estes últimos devem ser, no mínimo, 1 Assistente
Social e 1 Psicólogo/a.
Dentre os princípios que regem a assistência social destaca-se o respeito à autonomia e dignidade do cidadão e seu
direito de acesso a benefícios e serviços de qualidade, sem qualquer discriminação. Está no cerne desta política
pública a luta contra as desigualdades sociais, inclusive aquelas decorrentes de gênero e diversidade sexual.
Desta forma, compreende-se que as práticas dos profissionais da assistência social também podem ser analisadas sob
a transversalidade do Gênero, conceituado como uma categoria de análise que se refere às relações de poder
existentes entre as pessoas, cuja expressão está relacionada ao gênero, identidade ou orientação sexual (Scott, 1995).
Pesquisas com este enfoque são mais frequentes no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos poucos
trabalhos abordando as relações de gênero na assistência social é a proposta de Detoni e Nardi (2012), em fase de
finalização, cujo escopo foi pesquisar a maneira como as práticas cotidianas performatizam a desigualdade de gênero
na política de assistência social.
Diante desta necessidade, este estudo objetiva identificar e compreender as concepções de gênero dos profissionais
de nível superior que atuam nas equipes de referência do CRAS no atendimento às pessoas usuárias do serviço.
Contemplará municípios de pequeno porte do interior do Rio Grande do Sul devido às fragilidades que costumam
caracterizá-los, como não ser comumente objeto de estudo de pesquisas e seu isolamento social (Rego & Pinzani,
2013), além da redução e a falta de qualificação dos recursos humanos (Raichelis, 2011).
Propõe-se um delineamento exploratório-descritivo e a realização de uma pesquisa qualitativa, que pretende explorar
diversas opiniões e representações em relação ao assunto em questão (Minayo, 1994). Os participantes serão
psicólogos e assistentes sociais que atuam no CRAS em 15 municípios de pequeno porte da região da Serra do Rio
Grande do Sul.
Pretende-se realizar a coleta de dados em uma reunião mensal promovida por uma associação de municípios, em que
os profissionais debatem sobre a assistência social. Será feito contato com a entidade, explicando sobre o projeto e
solicitando sua aprovação. O Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS) também avaliará esta pesquisa. Autorizado por ambas instituições, será feito o convite aos profissionais e
agendamento dos grupos. Após a ciência do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e de seus direitos enquanto
participante, será preenchido um questionário para levantamento de características sociodemográficas. O Grupo Focal
será filmado, com a autorização dos entrevistados, e terá até duas horas de duração. As gravações serão transcritas na
íntegra.
Para organização dos dados será utilizada a metodologia de Análise do Discurso, de Rosalind Gill (2002), por sua ênfase
na linguagem e no discurso como elementos cruciais na construção da vida social. O material será analisado a partir
das teorias dos Estudos de Gênero (Scott,1995; Butler, 2003). Este referencial teórico se organiza com o objetivo de
identificar e compreender como as relações sociais e de poder são estabelecidas e hierarquizadas sob a perspectiva do
gênero, identidade e orientação sexual dos sujeitos.
Referências
Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (2004) Política Nacional de Assistência Social - PNAS.
Brasília: Autor.

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Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (2006) Norma Operacional Básica de Recursos
Humanos do SUAS: NOB/RH SUAS. Brasília: Autor.
Butler, J. (2003) Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização brasileira.
Detoni, P.P. & Nardi, H. C. (2012) Proteção social básica e relações de gênero. Gênero, 13 (1), 61-73.
Gill, R. (2002) Análise do discurso. Em: Bauer, M. W. Gaskell, G. (Ed.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som:
um manual prático (P.A. Guareschi, Trad) (pp.64-89). Petrópolis: Vozes.
Minayo, M. C. S. (1999) Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. Em: M. C. S.Minayo (Org.) Pesquisa social:
teoria, método e criatividade. (p. 9-29) Petrópolis, RJ: Vozes.
Rego, W. D. L. & Pinzani, A. (2013). Liberdade, dinheiro e autonomia: o caso da bolsa família. Revista de Ciências
Sociais Política e Trabalho, 38, 21-42. Retomado em março 26, 2017, em
http://periodicos.ufpb.br/index.php/politicaetrabalho/article/view/15029.
Raichelis, R. (2011). O trabalho e os trabalhadores do SUAS: o enfrentamento necessário na assistência social In: Brasil.
Gestão do trabalho no âmbito do SUAS: uma contribuição necessária (pp. 41- 66). Brasília: DF.
Scott, J. (1995) Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e realidade, 20(2), 71-99.

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Rede de Atenção no Combate à Violência de Gênero: Reflexões a respeito da Participação da Psicologia Social na
Construção da Política de Atendimento a Agressor, no Estado de Sergipe
Autores: Marcela Montalvão Teti, Faculdade Maurício de Nassau
E-mail dos autores: marcelateti@gmail.com

Resumo: Mulheres em geral são persuadidas a crer que são inferiores aos homens, seja fisicamente, quando tratadas
como sexo frágil, seja intelectualmente, quando consideradas incompetentes para o exercício de diversos cargos de
chefia. Frequentemente, passam por situações humilhantes que as colocam em posição de inferioridade, fazendo com
que acreditem dever algo à sociedade só por serem mulher. Uma diferença biológica é tratada socialmente como
símbolo pejorativo no seio das relações sociais. No entanto, para além do machismo corriqueiro que enfrentam no seu
cotidiano, muitas mulheres passam por situações de agressão. Nas relações com familiares, com pais, irmãos, tios,
maridos, namorados, elas são espancadas. Com a ideia de que as mulheres próximas a eles são sua propriedade, muito
homens deferem golpes, que espancam e muitas vezes matam. No ano de 2015, a Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), realizou uma pesquisa a respeito da violência contra a mulher, e
constatou que de janeiro a outubro, houve 63.090 denúncias, o que significa em um relato de violência a cada 7
minutos no Brasil. O Ligue 180 registrou também, que 49,82% das denúncias tratavam de violência física, 30,40%, de
violência psicológica, 7,33%, violência moral, 4,86% de violência sexual e 1,76%, de cárcere privado. Os dados ainda
mostraram que 85,85% dos casos, eram casos de violência doméstica. De cada 7 feminicídios, 4 foram praticados por
pessoas que tiveram ou que tinham relações íntimas com a mulher morta. Tais dados colocam o Brasil, de acordo com
pesquisa comparativa, como o 5º pior país para uma mulher viver. Diante deste quadro, fica nítido que os mecanismos
e instâncias de apoio e acolhimento da mulher agredida, não são suficientes para desconstruir práticas e hábitos
seculares. No intuito, de reforçar a rede de atenção à mulher no estado de Sergipe, as entidades em defesa de seus
direitos se propuseram nos anos de 2016 e de 2017 a estruturar ações de cunho estadual, para pensar estratégias de
acolhimento ao homem agressor, de reeducação para um convívio social mais harmonioso, e de reforçamento da
Rede de atendimento à mulher violentada. Se a sociedade tem consciência de que a mulher abusada deve ser cuidada,
não problematiza ou se questiona a respeito do que deve acontecer com o agressor. Assim, no dia 14 de outubro de
2016, o Núcleo Sergipe da Abrapso em articulação com o Coletivo de Mulheres de Aracaju e com o INTERVENIRE,
associação de Psicólogos que trabalham com atendimento ao agressor em Brasília, realizamos em Aracaju o curso de
capacitação Grupos socioterapêuticos: atendimento terapêutico a homens autores de violência contra mulheres. O
curso apresentou o trabalho pioneiro realizado no Distrito Federal de acolhimento ao agressor e acompanhamento
socioterapêutico, de vertente psicodramática. O curso teve um dia de duração, mas serviu de mobilização para que
pensássemos o I Seminário Tecendo a Rede: Atenção a Homens Autores de Violência, realizado nos dias 30 e 31 de
março de 2017, resultado de uma articulação entre o Núcleo Sergipe, com a Frente em Defesa dos Direitos da Mulher,
da Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE) e a coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça. O seminário contou
com mesas redondas, preocupadas em trazer experiências pioneiras de atendimento fora do estado de Sergipe
(Brasília, Rio de Janeiro e Recife) e de tornar pública os focos de atendimento ao homem agressor nas cidades de
Aracaju e Lagarto. Nas duas cidades do trabalho é bem pontual. Num deles o atendimento ao agressor acontece
vinculado ao programa de estágio em Psicologia jurídica de uma das faculdades do estado e no outro observa-se uma
delegacia trabalhando isolada no acolhimento do homem agressor. A importância do Seminário foi de fazer uma
provocação à sociedade sergipana, machista e misógina, ligada aos valores católicos e burgueses, com um lugar de
passividade e submissão para a mulher bastante solidificado e poucas vezes questionado. E, apesar do caráter
incipiente, conseguimos a presença de 600 pessoas circulando pelo Ministério Público, ávidos por mais trabalhos com
o mesmo caráter. No decorrer do mês de junho, a mesma rede que conduziu a construção do Seminário, deu início aos
trabalhos com o intuito de construir um projeto de lei para o Atendimento do Homem autor de Violência. No
momento que este texto é escrito estudamos ações e iniciativas semelhantes existentes em outros estados que
venham fundamentar o debate e ajudar na escrita do projeto a ser defendido pela Frente Parlamentar em Defesa do
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Direito da Mulher. Para além disso, a Rede, se organiza para a realização do II Seminário Tecendo a Rede. Se no
primeiro problematizamos a cultura do machismo, levamos os participantes e autoridades governamentais a
questionarem o machismo arraigado nas práticas cotidianas, o segundo Seminário se propõe a apresentar os
aparelhos que compõe a Rede de Atenção à Mulher e o fluxo do atendimento.

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Resistir em grupos: as Oficinas em Dinâmica de Grupo no enfrentamento à violência de gênero
Autores: Luciana da Silva Oliveira, UFF
E-mail dos autores: oliveira.luu@gmail.com

Resumo: Este trabalho pretende discutir os grupos de mulheres, dispositivos utilizados desde o início dos movimentos
feministas para trabalhar questões de gênero, como um caminho para a construção e intensificação de estratégias de
resistência por parte de mulheres em situação de violência de gênero. O ponto de partida para a discussão é minha
atuação como psicóloga em uma política pública de enfrentamento à violência de gênero, onde facilitei grupos de
mulheres, e minha pesquisa de doutorado em andamento, em que investigo os usos e táticas desenvolvidos nos
processos grupais com mulheres em situação de violência de gênero, e como essas apropriações contribuem para a
produção de diferentes subjetividades e territórios.
Inspirando-se nas análises de Foucault sobre poder e resistência é possível pensar em uma apropriação dinâmica,
relacional e contextual da violência de gênero, sem tomá-la como resultado da dominação estática e polarizada de
homens sobre mulheres. Nessa perspectiva, sem desconsiderar os efeitos opressivos das relações de poder desiguais,
destaco as estratégias de resistência que surgem nas dinâmicas de poder que perpassam a violência de gênero, e que
possibilitam mudanças nas relações, já que as mulheres não assumem apenas posições de submissão, podendo
transitar para posições de protagonismo e empoderamento. Trata-se de abandonar uma perspectiva de violência de
gênero que limita as possibilidades de existência das mulheres ao demarcar e mantê-las na posição fechada de vítimas
de violência, e adotar uma perspectiva que traz a ideia de mulheres em situação de violência, destacando-se o
entendimento de que as mulheres podem alterar, romper com essas situações.
A aposta deste trabalho é que alguns desses modos de resistência à violência de gênero são produzidos e/ou
intensificados em processos grupais que possibilitam a elaboração, ressignificação, debate e trocas de experiências e
saberes entre mulheres em situação de violência, configurando-se como espaço de cuidado.
Assim, discuto a metodologia Oficinas em Dinâmica de Grupos (Afonso, 2000), destacando seus objetivos e
problematizando algumas práticas e processos presentes neste trabalho com mulheres que possibilitam que o grupo
se configure como dispositivo de resistência e enfrentamento à violência de gênero. Trata-se de uma metodologia
participativa, de um trabalho estruturado com grupos que, independentemente da quantidade de encontros, tem
como foco uma questão central que o grupo se propõe a refletir e elaborar, em um contexto social. Tal elaboração
almejada nas Oficinas não se reduz a uma reflexão racional, mas envolve os sujeitos de forma integral, modos de
pensar, agir e sentir. Permite assim que o grupo reflita, elabore e promova mudanças pessoais e sociais, se inserindo
numa perspectiva emancipatória que assegura aos indivíduos espaço de reflexão, logo de reconstrução de práticas e
hábitos.
Na política pública em que atuei, essa metodologia de intervenção psicossocial era utilizada com o objetivo de
promover estratégias de ruptura com a violência de gênero, possibilitando mudanças pessoais, empoderamento e a
construção da cidadania das mulheres, a partir de um espaço que possibilitava que seus desejos, dilemas e
perspectivas diferenciadas fossem manifestados e ressignificados, demonstrando a invenção de uma lógica social e
política capaz de potencializá-las frente às situações de violência de gênero vivenciadas. Assim, esse trabalho em
grupo permitia a criação de condições favoráveis à produção de novos entendimentos e práticas relacionadas às
composições de gênero e às relações de poder vivenciadas pelas mulheres em seus relacionamentos afetivos e na
sociedade como um todo, articulando subjetividade e política e possibilitando que acontecessem descristalizações de
lugares e papéis que as mulheres constroem em suas histórias.
Desse modo, o uso da metodologia de Oficinas junto à mulheres em situação de violência indica o quanto o grupo
pode se configurar em um potente dispositivo de resistência ao conduzir a modos de enfrentamento à violência de
gênero de expressiva relevância político-social e ao contribuir para o processo de emancipação, autonomia,
empoderamento e construção da cidadania das mulheres. Porém, para que os processos grupais de fato sejam
capazes de mobilizar forças e elementos que possibilitem o enfrentamento à violência de gênero é importante reiterar
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a necessidade de adotar uma apropriação relacional e contextualizada do fenômeno da violência e desnaturalizar
categorias/papéis de gênero binários e reducionistas que aprisionam tanto mulheres como homens. Nesse sentido, no
caso dos profissionais de psicologia que atuam no âmbito do atendimento e do enfrentamento à violência de gênero,
mais especificamente com o planejamento e facilitação de trabalhos em grupo com mulheres, independentemente da
metodologia utilizada é fundamental que busquem problematizar a todo o momento quais movimentos contribuem
para expansão da potência no grupo, quais práticas os grupos de mulheres têm posto em funcionamento, quais
efeitos políticos esses grupos têm produzido e, principalmente, que modos de existência esses grupos têm fomentado.

Referência:
AFONSO, Lúcia. Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. Belo Horizonte: Edições do
Campo Social, 2000.

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Universo feminino e Universo masculino: uma Análise do Discurso de pais de meninos e meninas
Autores: Maria Teresa de Assis Campos, UFTM; Rafael De Tilio, UFTM
E-mail dos autores: mtassiscampos@hotmail.com, rafaeldetilio.uftm@gmail.com

Resumo: A identidade humana é perpassada pelo cruzamento de uma série de marcadores sociais, dentre eles os de
sexualidade e gênero. A partir dessa concepção aponta-se a importância da socialização no desenvolvimento e na
formação da subjetividade dos sujeitos. Dentre as relações que se estabelecem ao longo da vida, é preciso destacar as
que se dão no contexto familiar, sendo essa a instituição responsável por transmitir regras e valores sociais, bem como
por assegurar a adequação de seus membros às normatizações, inclusive às de expressão de gênero. Os discursos
desempenham papel preponderante na concepção dos valores, transmissão das normas e controle dos corpos, nesse
sentido, este estudo teve como objetivo identificar quais são as principais Formações Discursivas presentes nos
discursos de pais de meninos e meninas sobre o feminino e o masculino. Para tal foram entrevistados cinco casais
heterossexuais, coabitando há no mínimo dez anos e que possuíam pelo menos um filho e uma filha. Dois roteiros de
entrevista semiestruturada foram utilizados, um para a aplicação individual e um para a aplicação com o casal. Foram
realizadas 15 entrevistas, as quais compuseram o corpus do estudo e foram organizadas e analisadas à luz da Análise
do Discurso de Pêcheux. Foi possível notar a constante diferenciação entre o masculino e o feminino que permeava os
discursos dos participantes, assim os resultados foram separados em dois momentos, sendo o primeiro denominado
universo masculino e o segundo universo feminino. Em ambos foram identificadas três Formações Discursivas que
diziam sobre (a) a maior adequação ou habilidade de cada um dos gêneros para determinadas atividades, (b) a adoção
de posturas diferentes com relação a educação dos filhos tomando como referência a diferenciação entre o masculino
e o feminino e (c) papéis e comportamentos apropriados para meninas e meninos em suas relações. Pela observação
das Formações Discursivas, é possível dizer que elas respondem a uma Formação Ideológica binária e
heteronormativa, exercendo controle sobre os corpos desde o momento em que os sujeitos são lançados em uma
rede discursiva que preexiste a eles e que determina quais comportamentos, traços de personalidade e modelos de
relacionamento lhes são adequados sob a premissa da normalidade. Esses apontamentos atentam para o processo de
naturalização ao qual os sentidos sobre sexualidade e gênero estão submetidos, travestindo os aspectos construídos
social e historicamente em um discurso de biologização. Compreende-se que a reiteração dos discursos tradicionais a
respeito dos estereótipos de gênero não acontece ao acaso, ela corresponde às demandas de uma Formação
Ideológica capitalista, que se sustenta no trabalho e na exploração, exigindo a ocupação pelos sujeitos de lugares
sociais que lhes foram designados, inclusive pela divisão sexual do trabalho. Por fim, a família constitui importante
contexto de intervenção de políticas públicas que busquem reconfigurar as alternativas discursivas sobre sexualidade
e gênero, pois se caracteriza como possível rede de apoio para os sujeitos que, de alguma maneira, são penalizados
pela Formação Ideológica vigente, sendo capaz de ampliar suas possibilidades de existência e atuação social,
produzindo sentidos que alterem as posições discursivas já cristalizadas para homens e mulheres.

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GT 33 | Psicologia, desigualdade social e dominação

Coordenadores: Ângela Fátima Soligo, UNICAMP | José Moura Gonçalves Filho, USP | Maria da Graça Marchina
Gonçalves, PUC-SP

O objetivo deste GT é reunir trabalhos que permitam discutir, da perspectiva da psicologia social, a desigualdade
social e as formas de dominação presentes em nossa sociedade. Trata-se, entretanto, de propor uma abordagem
desses temas que possibilite algum avanço em relação a produções já existentes. Entendemos que esse avanço deve
se dar em torno do aprofundamento do exercício crítico que tem marcado uma parte significativa da psicologia social
brasileira e latino-americana, mas que, a nosso ver, enfrenta, neste momento, a necessidade de superar algumas
questões teóricas e metodológicas que impedem, muitas vezes, que se dê consequência à perspectiva de uma
psicologia social comprometida com a transformação da sociedade. Trata-se, em primeiro lugar, de dificuldades
relativas à existência de um pensamento dicotômico na psicologia e na psicologia social.
Um pensamento que se funda em uma epistemologia que aparta sujeito do objeto, que exterioriza o objeto, tornando
o processo de produção de conhecimento algo ilusoriamente isento e objetivo (apenas objetivo) e que na verdade
deixa de apreender o movimento e a complexidade da realidade. A dicotomia sujeito-objeto estende-se, como forma
de organizar o pensamento para o conhecimento, a outras relações, dicotomizando razão e emoção, consciência e
ação, indivíduo e sociedade. Dicotomizar em duas partes, concebendo estas partes como exteriores, como
independentes uma da outra, termina por produzir uma fratura de uma realidade que é una. Desta forma fere-se a
integridade dos fenômenos. Além disso, a dicotomia é um esgarçamento entre a pessoa e o mundo, entre o agente e a
instituição. Ao contrário disso, defende-se como referência para o exercício crítico, o reconhecimento da relação
dialética entre sujeito e objeto; nesse sentido, a impossibilidade da exterioridade. O conhecimento se faz na relação
sujeito-objeto, a verdade está na relação.
Ao destacar a relação, é possível pensar a totalidade, unindo o que a dicotomia desuniu. Outro aspecto a ser
enfrentado é a negação da historicidade, a desconsideração da constituição processual, particular, delimitada por um
conjunto de mediações, dos fenômenos da realidade. A naturalização dos fenômenos é decorrente do pensamento
dicotômico, na medida em que este toma cada polo de uma relação em si mesmo. Isso leva a pensar cada ser dessa
forma, em si mesmo e seu processo de desenvolvimento como devido a determinações intrínsecas. Em vez disso,
pensar pela via da historicidade obriga a situar cada ser em um processo geral de movimento e transformação, dentro
de múltiplas relações e constituído em articulação dialética com a realidade histórica e seus determinantes.
A negação da historicidade dá espaço para leituras ideológicas e falseadoras da realidade social; para a universalização
de fenômenos que deveriam ser considerados em sua singularidade e particularidade; para a invisibilização de
situações que se contrapõem ao que está estabelecido. Por isso ainda é preciso denunciar a história contada pelos
vencedores, denunciar que a história dos vencidos é sistematicamente deletada, pois fala de realidades que se
contrapõem a interesses hegemônicos, fala do que escapa ao controle; por si só denuncia o falseamento do real. O
tema da negritude e da raça, por exemplo, é um tema dos vencidos, por isso é desconsiderado, secundarizado,
tornado invisível. Ou neutralizado por ideias como a de democracia racial. Ou banalizado . Por isso, a negação da
historicidade no Brasil significa também negar a história étnica.Um exercício crítico revisto e aprofundado requer a
desnaturalização dos fenômenos, requer a consideração da historicidade. "Esse deve ser o sentido da desnaturalização
que a produção de conhecimento deve promover, enfrentando as várias facetas da naturalização dos fenômenos.
Há naturalização quando se desconsidera o processo de constituição histórica; quando se universalizam conceitos e
explicações; quando se desconsideram os aspectos ideológicos; quando se desconsidera a possibilidade de ações de
transformação, ou quando elas são atribuídas apenas ao esforço individual ou a aspectos da subjetividade intrínseca
aos sujeitos; quando, enfim, se individualiza a compreensão dos fenômenos, desconsiderando determinações e
mediações sociais e históricas. Desnaturalizar significa, então: reconhecer as mediações sociais e históricas presentes
na constituição dos sujeitos e da realidade social; apontar as contradições que marcam as relações sociais e seus
aspectos ideológicos; e reconhecer o processo de constituição mútua na relação indivíduo e sociedade." (Gonçalves,
2015, p. 68)[1]. O exercício da crítica requer, então, o exercício da desnaturalização.
Por fim, quase como corolário desses dois aspectos, outra questão a ser superada é a colonização do pensamento. É
pensamento colonizado aquele que naturaliza, por isso aceita produções teóricas oriundas de tempos e contextos de
colonização; ou de contextos de poder e hierarquização, aos quais se submete; ou de contextos de etnocentrismo, que
não contesta. É pensamento colonizado aquele que dicotomiza, notadamente em questões políticas, advogando a
separação entre saber e poder, entre ciência e técnica e política, produzindo, dessa forma, uma neutralização de
699
posições que se oponham a isso que tem o poder, que domina a política. Articulados, esses aspectos terminam por
submeter o pensamento impedindo a crítica, entendida como a possibilidade de estranhar o que está posto,
questionar o que se afirma, enfrentar o poder, fazendo, assim, outra teoria, outra política. E outra epistemologia, que
entenda haver outras possibilidades para o conhecimento, para além de referendar o pensamento colonizador.
Com essas referências, o objetivo deste GT é, então, reunir trabalhos que tratem dos fenômenos da desigualdade e da
dominação, mas que permitam avançar na superação da dicotomia, da negação da historicidade e do pensamento
colonizado. No tema da desigualdade social a proposta é tratar desse que é fenômeno estruturante da sociedade
brasileira, mas reconhecendo sua intersecção com outras desigualdades, como a desigualdade racial e a desigualdade
de gênero. O fundamento para delimitar desigualdade social aqui adotado é o marxismo, o que impõe a consideração
da dominação de classe. Mas, essa determinação deve ser considerada junto a outras, historicamente relevantes, que
a ela se associam de maneira particular na sociedade capitalista. Ou seja, é preciso tratar as desigualdades e seus
atravessamentos, tendo como referência que a determinação de classes impõe formas particulares de expressão às
desigualdades de gênero e raça.
Dessa forma, o tema das desigualdades se associa ao tema da dominação. É isso que a desigualdade representa,
relações assimétricas, hierárquicas, de exploração e dominação. Compete à psicologia social produzir conhecimento
crítico sobre esses fenômenos sociais, abordando a constituição da subjetividade em contextos de desigualdade e
dominação. E analisando a dimensão subjetiva desses fenômenos sociais, que também os constitui. A categoria
dimensão subjetiva da realidade é uma categoria teórica que permite trabalhar com a dialética subjetividade-
objetividade que constitui os fenômenos sociais. Da mesma forma, a dimensão subjetiva dos fenômenos sociais
permite reconhecer a relação dialética entre indivíduo e sociedade, superando concepções individualizantes ou
sociológicas ("sociologizantes"). Na mesma direção, é importante reconhecer a gênese social de sentimentos que têm
constituição e expressão individual. Por exemplo, reconhecer a matriz coletiva que dá origem a sentimentos de
humilhação social, cuja gênese está na desigualdade e na dominação. Algo que não é do âmbito do indivíduo, que não
se forma por uma matriz individual e essencialista, mas que parte de uma matriz coletiva, historicamente produzida.
Reconhecer essa vivência que se molda e se mantém quando o sujeito é impedido do acesso à cidade, ao espaço
público, ao reconhecimento pelo outro, ao lugar, efetivamente, de sujeito.
Investigar os processos de constituição da humilhação social permite uma compreensão dos fenômenos sociais que
supera a dicotomia – são emoções e afetos vividos pelos indivíduos mas produzidas por uma matriz social; inclui a
historicidade – porque leva em conta os contextos concretos de desigualdade e dominação que os produz; e enfrenta
o pensamento colonizado, porque revela autonomia de pensamento e consideração à particular realidade desigual
que produz a humilhação.
Com os critérios propostos para o aprofundamento do exercício crítico serão aceitos trabalhos que apresentem essa
perspectiva e que tenham como foco os temas das desigualdades e da dominação. Entendemos que essa discussão
articula-se com o tema do XIX Encontro da Abrapso na medida em que propõe tratar, da perspectiva da psicologia
social, de alguns dos enfrentamentos em tempos de exceção. Ou seja, desigualdade social e dominação são
fenômenos que atravessam os espaços de participação social, acesso a direitos, mobilização e que devem contar com
contribuições da psicologia social, para sua compreensão e superação. Também a perspectiva democrática anunciada
no tema está na base da análise das desigualdades.
Além disso, entendemos que o GT está afinado com a proposição do Eixo 1, Políticas Públicas, direitos sociais e
práticas de emancipação em contextos neoliberais, uma vez que propõe considerar produções teóricas e práticas que
contribuam para o enfrentamento das situações de desigualdade social e dominação e suas implicações para o acesso
a direitos sociais.

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A dimensão subjetiva da desigualdade social – um estudo na cidade de São Paulo
Autores: Ana Mercês Bahia Bock, PUC-SP; Maria da Graça Marchina Gonçalves, PUC-SP
E-mail dos autores: anabbock@gmail.com,grajota@uol.com.br

Resumo: A desigualdade social pode ser considerada, por sua extensão e importância, a grande questão ou problema
brasileiro. Apesar de alterações, nos últimos anos, em diversos indicadores do fenômeno, ainda temos índices
bastante significativos. Nossos estudos, na PUCSP, têm buscado dar visibilidade à dimensão subjetiva da desigualdade
social, ou seja, evidenciar aspectos de natureza subjetiva que compõem este fenômeno social. O objetivo geral da
pesquisa é identificar os elementos subjetivos, de sentido, que caracterizam as vivências da desigualdade e são
constitutivos da dimensão subjetiva. O referencial teórico-metodológico é a perspectiva sócio-histórica em psicologia.
Escolhemos a cidade de São Paulo para realizar a pesquisa. Importante indicar que a pesquisa partiu e utilizou o Atlas
da Exclusão Social no Brasil (Campos e outros, 2003) para organizar e escolher sujeitos participantes. A pesquisa, em
suas três etapas referenciou-se na divisão dos distritos apresentada pelo Atlas (região de maior índice de exclusão –
região vermelha; região de menor índice de exclusão – região verde; e duas regiões de índices intermediários –
amarela e laranja). A pesquisa está composta, até o momento, de quatro etapas: em uma primeira, realizamos
conversações com grupos de homens e grupos de mulheres em três das regiões (vermelha, verde e laranja).
Consideramos importante reunir em grupos diferentes, homens e mulheres, pois a conversa sobre o cotidiano na
cidade apresenta conteúdos e tarefas distintas para os dois sexos. A conversa era desencadeada pela pergunta sobre a
vida na cidade de São Paulo, marcada pela desigualdade social. Apresentávamos para isto um mapa da cidade retirado
do Atlas, onde está visível a diferença entre os distritos. Os resultados dessa etapa mostraram, entre outras questões,
uma concepção naturalizada de desigualdade social, acrescida de uma percepção do fenômeno como igualado a
pobreza, ou seja, os participantes não consideravam tratar-se a desigualdade social de uma relação, mas de
características dos pobres. Na segunda etapa se buscou dados a partir de um questionário que considerou esse e
outros temas e aspectos indicados pela sistematização das falas da primeira etapa. O questionário foi aplicado em
uma amostra representativa de distritos e respectivos moradores. A análise dos resultados revelou algumas
semelhanças entre as diferentes regiões da cidade e, ao mesmo tempo, algumas diferenças sutis. Por exemplo, em
todas as regiões a educação é apontada como fator responsável pela desigualdade ( falta boa educação ) ou como
forma de enfrentar a desigualdade ( melhorar a educação ). Mas, a noção do que é uma boa escola em uma
sociedade desigual é diferente, revelando realidades e vivências desiguais em relação à educação. A terceira etapa
trabalhou com os resultados dos questionários de modo a produzir sínteses que pudessem representar a vivência da
desigualdade no mapa da cidade. As representações produzidas, por ora, são frases síntese em torno de quatro temas
tratados nos questionários (relação com a cidade; concepção de desigualdade; explicação para a desigualdade; noção
de direitos). E a quarta etapa voltou às entrevistas, agora individuais e buscando complementos dos dados
sistematizados a partir dos questionários, a fim de aprofundar a caracterização de alguns temas e ter mais elementos
para a produção de representações para o mapa da dimensão subjetivam da desigualdade social em São Paulo. As
entrevistas foram organizadas a partir de alguns temas que surgiram como importantes nas etapas anteriores e que
permitiram aprofundar a compreensão de algumas temáticas na sua relação com a desigualdade social, a saber:
concepções de educação e escola; de cidade; e de direitos e cidadania. Os resultados analisados permitem perceber
aspectos que, em sua aparência são comuns entre os sujeitos de diferentes regiões da cidade de São Paulo (regiões
com maior e com menor índice de exclusão); no entanto, o aprofundamento da análise, a partir de dados
complementares, tem permitido diferenciá-los. As pessoas sentem diferentemente a relação com a cidade: os sujeitos
da região verde sentem-se apropriados da cidade, enquanto para a região vermelha a cidade é, em muitas ocasiões e
situações, produtora de incômodos e situações de humilhação. A escola é importante para todos, mas não é a mesma
escola que todos freqüentam. Os sujeitos da região verde consideram-se e percebem-se como sujeitos de direito,
reivindicando o que consideram importante e necessário para uma boa vida; na região vermelha, muitos dos serviços
públicos são tomados como dádivas. Não se percebem como sujeitos de direitos. A intenção da pesquisa, em todas as
701
etapas, é contribuir com o Atlas da Exclusão, apresentando aspectos que são de natureza subjetiva, ou seja, são parte
da dimensão subjetiva da desigualdade social na cidade de São Paulo. Entendemos que a compreensão desta
dimensão é fundamental para o enfrentamento das situações de desigualdade. Nesta apresentação propomos trazer
os principais resultados da pesquisa e discutir formas de representa-los no mapa da cidade.

702
A Psicologia frente à violência contra mulheres: um compromisso ético-político?
Autores: Raquel S. L. Guzzo, PUC-Campinas; Tamiris da Silva Cantares, PUC-Campinas
E-mail dos autores: tamicantares@gmail.com, rslguzzo@gmail.com

Resumo: O fenômeno de violência contra as mulheres é um problema de ordem global e se manifesta na realidade
brasileira permeada, historicamente, por questões específicas como a desigualdade social, a pobreza e a exploração
de grande parte da população. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi investigar as diretrizes políticas construídas
nos Congressos Nacionais da Psicologia (CNP) no que se refere a temática de violência contra as mulheres, de modo a
possibilitar a compreensão da perspectiva ético-política adotada pela categoria profissional diante desse fenômeno
social. Compreendemos que o presente trabalho se articula com os objetivos de discussão propostos pelo GT
Psicologia, desigualdade social e dominação ao considerar uma abordagem crítica aos fundamentos colonizadores
hegemônicos presentes no desenvolvimento da Psicologia enquanto ciência e profissão no Brasil, que promoveram a
naturalização e individualização dos fenômenos sociais como a desigualdade social, a dominação e a violência por
meio de um subjetivismo que nega seus processos históricos. Desse modo, aproximamo-nos do eixo 1 intitulado
Políticas Públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais tendo em vista a proposição
de uma discussão que possibilite contribuições na desnaturalização e no enfrentamento de condições estruturais da
violência presentes na sociedade brasileira rumo ao horizonte de transformação social. Nossas concepções teórico-
metodológicas foram inspiradas pelo materialismo histórico-dialético e nas contribuições de autores como o psicólogo
salvadorenho Ignácio Martín Baró e a socióloga feminista marxista Heleith Saffioti sobre o fenômeno da violência, a
fim de nos fornecer subsídios para uma articulação teórica condizente com os procedimentos metodológicos
delineados. Metodologicamente, utilizamos como técnica a análise de conteúdo temática na investigação do conjunto
de diretrizes dos oito cadernos deliberativos, documentos que foram produzidos entre o período de 1994 a 2013 por
meio do debate promovido no processo de construção dos Congressos Nacionais da Psicologia (CNP). Essas diretrizes
servem ao Sistema Conselhos na orientação e fiscalização da atuação de psicólogas(os) em todo o território nacional e
expressam o compromisso ético-político da categoria profissional com determinadas demandas sociais e camadas
populares. Em suma, foi possível notar o alinhamento da Psicologia no campo das Políticas Públicas e dos Direitos
Humanos frente ao debate sobre a violência contra as mulheres como uma violação dos direitos humanos das
mulheres, como previsto na Política Nacional para Mulheres e nas demais políticas governamentais e legislações.
Notamos que a partir do sexto Congresso Nacional (2007), um ano após a implementação da Lei Maria da Penha (Lei
11.340/2006), houve um aumento na discussão da temática de acordo com o código de ética e a Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Entretanto, ainda consideramos a necessidade da ampliação desse debate dentro da Psicologia,
haja vista o crescente aumento do fenômeno na realidade brasileira e a coerência com o compromisso ético-político
da profissão em sua inserção nas Políticas Públicas anunciada pelo Compromisso Social da Psicologia. Por fim,
esperamos que este trabalho contribua e incentive novas ações no campo da Psicologia a partir do rompimento de
conhecimentos e práticas profissionais baseadas em modelos biologicistas e individualizantes que reproduzem os
interesses de uma ordem social que explora e oprime historicamente uma determinada classe social em detrimento
de outra por meio de violências e dominações baseadas em raça/etnia e gênero.

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Aceleração social, experiência e depressão: repercussões subjetivas na sociedade de consumo
Autores: Raimundo Edmilson Pereira Silva Junior, INCERE
E-mail dos autores: edmilsonjunior0@gmail.com

Resumo: O sujeito contemporâneo vê-se no mundo permeado por demandas, em várias esferas da vida, as quais são
fortemente marcadas pelos ideais de performance, autonomia e felicidade que, em última instância, encobrem
interesses sociais, econômicos e políticos de ordem neoliberal, passando, progressivamente, a depositar apenas no
próprio indivíduo a responsabilidade das condições propiciadoras de sua qualidade de vida. Entretanto, entre
indivíduo e sociedade habitam forças dialéticas que, se de um lado convergem, por outro, divergem em seus
interesses, fazendo surgir, quase sempre, tensionamentos importantes para se pensar fenômenos psicossociais
contemporâneos. É a partir de tal prerrogativa que Freud formula, no século passado, o conceito de mal-estar que,
sob a perspectiva da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt nos propicia avanços significativos no que tange à
compreensão das atuais formas de dominação e repressão; em particular, as determinações sócio-econômicas e
culturais, mas também, as psíquicas e simbólicas. Assim, historicamente, no decorrer dos últimos dois séculos, os
elevados níveis de desenvolvimento tecnocientífico globalizado fomentaram possibilidades para a concretização dos
ideais iluministas de emancipação humana, autonomia, liberdade, individualidade e felicidade, principalmente no que
concerne ao resultados propiciados tanto pelo progressivo domínio do homem sobre a natureza, isto é, considerando
as condições objetivas em termos do avanço da ciência e da técnica, quanto pela expectativa no avanço de uma
racionalidade e inteligibidade promotora de emancipação para todos. Todavia, a dinâmica social atual apresenta-se
marcada por paradoxos e contradições quanto à aplicação real de tais esperanças. Dentre os paradoxos encontrados,
este trabalho objetiva problematizar e analisar primeiramente o paradoxo entre o progressivo desenvolvimento
tecnocientífico e a crescente escassez de tempo no ritmo de vida do indivíduo contemporâneo, permeado por uma
exponencial aceleração social que dirige-se para todos os níveis. E, em segundo lugar, considerando o contexto da
atual sociedade tecnológica de consumo, em que o próprio desejo tende a subordinar-se à lógica do mercado em uma
evidente tendência à subjugar as atividades humanas a partir da lógica capitalista do lucro e da oferta-procura, um
outro paradoxo é apontado: entre uma progressiva intensificação do mal-estar contemporâneo e o caráter imperativo
dos ideais midiáticos que proclamam felicidade, performance e autonomia, demandados em todas as esferas da vida.
Estes, impregnam-se e pulverizam-se a partir dos desdobramentos formulados pela associação, cada vez mais forte,
entre a instância ocupada pela publicidade e pela presença onipresente da mídia, através dos aparatos tecnológicos de
comunicação, hoje, portáteis e miniaturizados. Como possível consequência dessas demandas, evidencia-se a
presença da figura proeminente do sofrimento depressivo. Torna-se, portanto, curioso observar que em uma
sociedade onde a busca pela felicidade, realização pessoal e sucesso superpovoa as telas midiáticas e virtualizadas, vê-
se surgir tantos índices epidemiológicos sobre a depressão, anunciados por instituições como a ONU, como também
uma queixa, em termos de senso comum, que povoa desde os programas televisivos à demandas dirigidas à clínica
psicológica propriamente dita. Desse modo, destaca-se que os processos de subjetivação se veem afetados por tais
imperativos, que travestidos de um ideário promotor de felicidade, finda por produzir seu inverso: sofrimento
psíquico, em especial, aqueles referentes aos estados depressivos. Ante o exposto, o presente trabalho visa refletir
sobre as relações entre a dinâmica social acelerada e performática, mediada pelas novas tecnologias, e os processos
de subjetivação propulsores das atuais formas de mal-estar. Para tal, convoca-se como como eixo teórico privilegiado
a Teoria Crítica e a Psicanálise.

704
ATO INFRACIONAL, FRACASSO ESCOLAR, CONTEXTO SOCIO-FAMILIAR: analisando o histórico de alunos em
processos judiciais
Autores: Caroline Polido, UNESP-Rio Claro; Débora Cristina Fonseca, UNESP; Juliana Cavicchioli de Souza, UNESP-Rio
Claro
E-mail dos autores: caroline_poli@hotmail.com,dcfon10@gmail.com,juliana.cavicchioli@uol.com.br

Resumo: A questão da delinquência juvenil no Brasil existe como temática constante nos dias de hoje. Os atos
violentos praticados por crianças e adolescentes são descritos em nosso país há tempos, e é possível observar a
problemática presente nos debates cotidianos no mundo acadêmico, nas práticas escolares, sociais e judiciais. Se é
crescente o envolvimento de jovens com atos de violência, parecendo ganhar novas dimensões, compreende-se que
as políticas públicas criadas para reduzir situações de violência entre os jovens, estão se constituindo como
ineficientes, uma vez que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) vigora há 27 anos. Neste contexto, foi
desenvolvida a pesquisa de iniciação científica, com bolsa CNPQ/PIBIC, que objetivou analisar a escolarização de
adolescentes que responderam a processos judiciais e que cumpriram (ou não) medida socioeducativa, buscando
evidenciar a interface do fracasso escolar com o contexto socio-familiar e o envolvimento com o ato infracional. A
análise dos dados seguiu a perspectiva de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2004) e como referencial teórico para
análise e discussão foi utilizada a teoria sócio-histórica. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, efetivada a partir de
análise documental, através da leitura dos relatórios (escolares e psicossociais) do Conselho Tutelar, da Fundação Casa
e do CREAS, constantes nos processos judiciais. O Poder Judiciário disponibilizou ao todo 60 (sessenta) processos
existentes na Vara da Infância e Juventude, que envolviam alunos de quatro escolas públicas de dois municípios que
integravam uma pesquisa maior intitulada Trajetórias de alunos protagonistas de violência , desenvolvida pelo Grupo
de Estudos e Pesquisas em Educação, Participação Democrática e Direitos Humanos – GEPEPDH, fruto de uma parceria
entre a Universidade Estadual Júlio de Mesquisa Filho – UNESP Campus Rio Claro e a Universidade Federal de São
Carlos – UFSCAR. Neste estudo a análise têm como foco 11 processos de duas escolas de um dos municípios do
interior paulista. Durante o processo de análise foi possível observar que o histórico escolar, o contexto social e
familiar desses adolescentes podem ser indicativos de como prevenir que os jovens adentrem ao mundo do crime,
visto que quanto mais afastados do ambiente escolar e de suas famílias, mais próximos ficavam do mundo do crime,
podendo infracionar. Através desse estudo, nota-se que a maioria dos jovens que se envolveram com atos infracionais
apresentavam defasagem escolar e/ou histórico de abandono. Portanto, o sistema protetivo que a escola possibilita
para estes jovens tornou-se extremamente reduzido. A relação estabelecida com a família também deve ser
ressaltada: tratam-se de histórias marcadas por dificuldades econômicas, vivências de violência e vínculos brutalmente
interrompidos. As famílias destes adolescentes estão subjetivadas pelas mesmas situações e sofrem também
consequências de relações sociais excludentes. Assim sendo, vale destacar o papel da escola na vida destes
adolescentes, podendo ser atuante e potencializadora de ações no sentido de promover e assegurar a proteção destes
jovens. Considerando as relações de dominação entre escola e família, com destaque à culpabilização da segunda,
demonstrada pela colonização do pensamento no que diz respeito à juventude pobre considerada perigosa e por
extensão, suas famílias, bem como a naturalização do ato infracional e do fracasso escolar enquanto fenômenos
individuais associados à subjetividadade, este trabalho propõe reflexões no sentido de pensar que tanto as práticas de
dominação quanto as questões referentes aos conflitos com a lei e processos de aprendizagem são produzidos e
transformados a partir do contexto sócio histórico.

705
Crítica, Descolonização e Africanização da Vida na prática da Capoeira Angola
Autores: Simone Gibran Nogueira, PUC-Campinas
E-mail dos autores: capoeira.psico@gmail.com

Resumo: Capoeira é uma cultura afro-brasileira informada pela ancestralidade africana. Ela foi criada por africanos
que foram trazidos à força ao Brasil durante os quatro séculos de tráfico de escravos, desde então ela segue sendo
praticada. No Brasil, a capoeira teve diferentes representações como: prática de escravos, crime, desporto nacional,
patrimônio cultural brasileiro e hoje ela é praticada por mais de 5 milhões de pessoas. Desde 1960, a capoeira também
se espalhou por todo o mundo, agora está nos 5 continentes, em mais de 160 países, e foi reconhecida pela UNESCO
como Patrimônio Cultural da Humanidade. Este trabalho visa apresentar resultados de pesquisa de doutorado que
revelam como a prática da capoeira angola impactou a vida de duas mulheres no Brasil: uma mestra negra de capoeira
que é doutora em educação e uma aprendiz branca de capoeira que é doutora de psicologia. Ambas tiveram uma
formação escolar formal até o doutorado, bem como uma formação cultural popular pela capoeira angola e outras
culturas. Para os fins desta pesquisa, foi bastante importante analisar como experiência vivida e refletida na prática da
capoeira propiciou mudanças de vida significativas para as duas participantes. Estas mudanças podem ser
caracterizadas como uma percepção crítica sobre o eurocentrismo, racismo e patriarcalismo que nos é imposto
socialmente pelo cotidiano, bem como pela adoção de posturas diante da vida e do mundo mais africanizadas e
informadas pela ancestralidade africana. Duas expressões que representam esta mudança são: para uma, entrar na
capoeira foi como renascer para um mundo novo , ela abandonou seu passado pardo e se assumiu como mulher
negra feminista . Para outra, a iniciação na capoeira angola propiciou dissolver a capa impermeabilizante da
branquitude e optar por estar junto na luta , com a consciência de ser uma pessoa branca aliada na defesa da
população e das culturas afro-brasileiras. A análise das experiências vividas pelas participantes na prática da capoeira
Angola demonstra que esta cultura tem o potencial de promover uma autorreflexão crítica da pessoa na sociedade a
partir da oportunidade de vivenciar e encarnar novas formas se ver, pensar, sentir e viver no mundo. Esta experiência
crítica criou condições para que as participantes empreendessem processos de autodeterminação pessoal e coletiva
na sociedade. Elas não só descolonizaram suas vidas como aprenderam a desenvolver uma práxis comunitária e
libertária nas suas relações pessoais e em seus trabalhos profissionais. Dentro do contexto das políticas de ações
afirmativas como a Lei 10.639/2003 e 11.645/2008, bem como no combate às desigualdades sociais de raça e gênero,
parece que a prática da capoeira angola tem contribuições a oferecer tanto para o ensino formal, quanto para a
formação em psicologia e para a sociedade como um todo. A pesquisa revela que os processos educativos informados
pela ancestralidade africana os quais estão presentes na prática social da capoeira angola contém aspectos que devem
ser melhor pesquisados e incorporados em análises e processos de intervenção psicossociais e críticos. Esta trabalho
está de acordo e fornece dados para reflexão sobre processos de descolonização do conhecimento e de práticas
profissionais que estejam fundamentados de conhecimentos milenares, como os africanos e ameríndios, que estão
sendo preservados em práticas culturais populares, mas que ainda estão marginalizadas da educação formal.

706
Desigualdade social: Organização Popular e Políticas Sociais
Autores: Beatriz Borges Brambilla, PUC-SP
E-mail dos autores: comafetividade@gmail.com

Resumo: A desigualdade social, expressão da questão social, configura-se como um fenômeno indissociável aos
modelos de sociabilidade da sociedade de classes, marcada por contradições e antagonismos históricos diversos. É
sabido que há inumeras compreensões sobre o fenômeno da desigualdade social, que historicamente foi objeto dos
estudos da economia, aportando um caráter exclusivamente econométrico associado com uma concepção
desenvolvimentista de sociedade. Outras disciplinas das ciências humanas e sociais também se dedicaram à estudos
sobre a desigualdade aportando concepções culturalistas, epidemiológicas, geográficas, ambientais, sociológicas,
psicológicas entre outras. Portanto, estudar a desigualdade na aparência mostra-se como algo pouco preciso, pois
pode ser interpretado como qualquer processo de hierarquização das diferenças. Para tanto, faz-se necessário a
explicitação da concepção de desigualdade social que adotamos referindo a hierarquização a partir das diferenças na
apropriação da riqueza produzida em um país e suas consequências sociais. Os fundamentos da desigualdade social
estão vinculados à dinâmica capitalista e sua contraditória relação entre pobreza e riqueza, acumulação,
compreendidos a partir do Modo de Produção Capitalista. Sob esta perspectiva é impossível conceber uma dissociação
entre pobreza, produção e acumulação de riqueza. No campo da Psicologia Social, especialmente da Psicologia Sócio-
Histórica, base teórica deste estudo, adotaremos a categoria dimensão subjetiva da realidade, como possibilidade de
apreensão das contradições expressas na leitura da desigualdade social. Diante da complexidade posta por esta
expressão da questão social e seus desdobramentos, especialmente subjetivos, expressos na humilhação social,
segregação, dominação e inferiorização da classe trabalhadora. O presente trabalho problematiza as possibilidades de
enfrentamento da desigualdade social, e pergunta: Qual o papel do Estado? Afirmando a necessidade de uma
intervenção estatal efetiva que ao menos diminua os efeitos da desigualdade e da pobreza, devendo impactar em
alguma medida na acumulação de riqueza e de capital, do contrário, trata-se de uma ação paliativa que mesmo que
amenize temporariamente as sequelas da pobreza, legitima e reproduz a própria pobreza e a acumulação de capital.
Vimos que no Brasil houve uma queda dos índices de desigualdade de renda, sendo o Ipea, entre 2001 e 2011, a renda
per capita dos 10% mais ricos teve um aumento acumulado de 16,6%, enquanto a dos mais pobres cresceu 91,2% no
período. Ou seja, a renda dos mais pobres cresceu 550% mais rápido que a dos 10% mais ricos. Tal conjuntura, se deu
majoritariamente pelo investimento em políticas sociais, segundo a Pnad há relação direta com as mudanças nas
relações de trabalho e na política de salário mínimo, previdência social, bolsa família e Benefício de Prestação
Continuada. A redução dos níveis das desigualdades e de pobreza extrema representam uma ampliação de
possibilidades reais de vida para grandes parcelas populacionais. Diante deste cenário, surge a incontestável
necessidade de compreender o processo de enfrentamento da desigualdade social sob o viés da dimensão subjetiva,
que se refere a um conjunto de experiências/vivências psicológicas do sujeito diante dos fenômenos sociais. As
expressões vividas, significadas e sentidas pelos sujeitos sobre seu novo lugar social, fruto do processo de garantia de
direitos fundamentais e sociais, compõe o que chamamos de dimensão subjetiva do enfrentamento à desigualdade
social. O presente trabalho pretende apresentar dados da pesquisa de doutoramento sobre a temática realizada em
um território denominado Vila São Pedro, localizado no município de São Bernardo do Campo que vivenciou nos
últimos anos uma série de investimentos sociais, sendo nele implantando uma política pública territorializada de
desenvolvimento social. Trata-se de pesquisa qualitativa, construída como estudo de caso, adotando como
procedimento para construção das informações entrevistas, documentos oficiais, indicadores sociais e diário de
campo. Identifica-se no território em questão sujeitos marcados pela experiência cotidiana de resistência ao estigma
da desigualdade geográfica, racial, de gênero e de renda, no entanto há uma significativa apropriação dos sujeitos de
707
suas histórias de vida pessoal e coletiva, internalizando novas formas de viver na cidade, reconhecendo alternativas
para seu futuro e de sua família. É na organização popular, centrada na luta por condições de vida digna que a
comunidade organizou-se reinvindicando do poder público intervenção radical no que tange educação, trabalho,
urbanização, habitação, política para mulheres, juventudes e cultura. Para tanto, considera-se a luta das moradoras e
moradores na construção de uma comunidade convivente, com menos violência e mais oportunidades fator decisivo
para a implantação das políticas sociais que vêm reduzindo a desigualdade social no território.

708
Dimensão Subjetiva da Desigualdade Social: Vivências, Afetos e Significações da Formação em Psicologia da
PROUNISTA da PUCSP
Autores: Marcos Martins do Amaral, PUC-SP
E-mail dos autores: amaral.m.marcos@gmail.com

Resumo: A desigualdade social é marca do modo de produção capitalista, isso se expressa no acesso ao Ensino
Superior. A entrada da população pobre à Universidade foi historicamente negada, mas medidas compensatórias e de
ações afirmativas, destaque do governo Lula, foram um avanço na medida em que abriram espaço para essa
população ocupar os bancos universitários. O objetivo do trabalho foi analisar e compreender os sentidos subjetivos
produzidos na trajetória universitária de graduandas pobres do curso de psicologia da PUCSP que obtiveram acesso ao
curso via política pública, a saber, ProUni; compreender a dimensão subjetiva do fenômeno da desigualdade social,
suas contradições e a forma como ele se expressou concretamente no encontro da pobre com a classe média e rica
cotidianamente num curso historicamente elitizado.
Destacamos a dimensão subjetiva do fenômeno, trazendo a realidade (objetividade) para a constituição da
subjetividade, numa tentativa de superar as teorias objetivistas e subjetivistas, apropriando-nos do materialismo
histórico dialético e da Psicologia Sócio-Histórica, compreendendo que toda a realidade é produzida por um sujeito
que é ativo e os fenômenos são concretizados num processo contraditório.
Foram realizadas conversações para a produção de dados com duas Prounistas que estão cursando o 5º ano do curso
de psicologia na PUCSP, Amora e Alice. As conversações foram compreendidas e analisadas a luz da desigualdade
social, inspiradas a partir da proposta de análise dos Núcleos de Significação, fizemos, portanto, um esforço para
apreender os sentidos subjetivos das graduandas que passasse da aparência das palavras para a sua dimensão
concreta, ou seja, dos significados para os sentidos. Após a análise chegamos aos seguintes núcleos: 1. (R)Existindo no
encontro desigual encontrando os iguais; 2. A marca da desigualdade é explícita; 3. A pobreza é exótica: Eles não
sabem o que é baile de favela; 4. Reinventando meu lugar: Nem tão periférica, nem tão Perdizes. Esses conjuntos
dizem respeito às duas conversações, permitindo uma análise mais ampla através do encontro das graduandas,
porque apesar de suas singularidades, o que se destacou em nossos encontros foram suas aproximações, seja por
singularidade, complementaridade ou contradição.
A pobreza coloca ricos e pobres em lugares diferentes, o que produz e determina comportamentos e apreensões de
mundo diferentes e, no encontro desigual, produz e explicita a humilhação social que precisa ser posta em evidencia
com vistas à superação da desigualdade. As políticas de acesso e permanência são novas, o futuro dirá o lugar que
esses novos atores que hoje estão na universidade ocuparão na sociedade, eles não têm referências desse modo de
existência, mas serão referências para os próximos jovens que terão vidas parecidas com as suas. A trajetória das
graduandas traz muitas marcas, o encontro desigual é dolorido e potente, produz efeitos cotidianos na dimensão
subjetiva e solicitam reposicionamentos de existência, resistências e geram transformações importantes.
Fizemos um esforço para olhar para este fenômeno social a partir de sua complexidade, para a realidade social e para
as pessoas que constroem e são construídas por essa realidade que é naturalizada. Acreditamos que precisamos
compreender a desigualdade além do plano econômico para que possamos enfrentá-la com vistas à sua superação.
Objetividade e subjetividade foram tomadas como unidade de contrários e em constante movimento de
transformação. Apreendo, portanto, a dimensão subjetiva da desigualdade social a partir da categoria contradição,
com o pensamento dialético e a noção de historicidade, com vistas a superar teorias objetivistas e subjetivistas,
utilizando da Psicologia com compromisso social ético-político e olhando para um determinado projeto de sociedade
que acredita que, para avançarmos, precisamos apontar a desigualdade de modo crítico e não naturalizado,
percebendo as contradições que a envolvem, sempre com vistas a sua superação.

709
Educação das elites, desigualdade social e práticas curriculares
Autores: Rita de Cássia Mitleg Kulnig, PUC-SP/FAACZ
E-mail dos autores: ritakulnig@gmail.com

Resumo: De acordo com o exposto no Art. 26, §1o, da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (Lei 9394/96), os
currículos dos diversos segmentos da educação básica devem abranger, obrigatoriamente, o conhecimento da
realidade social e política, especialmente do Brasil. Também deverão ser pautados nos princípios da liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tendo como uma de suas finalidades o preparo do educando para o exercício da
cidadania, conforme preconizado no Art. 2o. Dessa forma, a educação, na perspectiva proposta pela lei, não se
restringe a uma ferramenta de capacitação para o mercado. Ela traz em sua concepção uma dimensão política ao
determinar, como um de seus objetivos, a preparação para a cidadania pautada nos princípios da liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, pois é realizando-se na especifidade que lhe é própria, ou seja, na sua função de
socialização do conhecimento, que cumpre sua função política. Esta socialização de conhecimentos se materializa por
meio das práticas curriculares que devem, de acordo com a Lei, abranger o conhecimento da realidade brasileira, em
suas dimensões social e política. Considerando que a desigualdade social é uma questão central para a sociedade
brasileira, a escola deveria tratar desta temática em suas práticas curriculares. Partindo do pressuposto de que as
elites ocupam posições estratégicas, controlam recursos, têm papel central nas escolhas de políticas públicas e que o
estudo sobre a escolarização dessas camadas privilegiadas possibilita compreendermos como são formados os jovens
para quem estão reservadas essas posições estratégicas, como aprendem a administrar relações e como convertem
diferenças sociais em diferenças de estilo de vida, este estudo, ainda em andamento, tem como objetivo investigar as
significações da desigualdade social, como temática presente nas práticas curriculares, constituídas por alunos,
professores e gestores de uma escola de elite situada na região metropolitana da grande Vitória/ES. Como a temática
da desigualdade social é apresentada na proposta pedagógica da escola? Que conhecimentos sobre a desigualdade
social tem-se constituído ou sido transmitidos na e pela escola? Como os gestores, professores e alunos significam
esses conhecimentos, essas práticas? Estas são algumas das questões que nortearam esta pesquisa, que se apresenta
como um estudo de caso. Vale ressaltar, que as técnicas e instrumentos foram utilizados como um indutor de
informação, como uma via para estimular e enriquecer as oportunidades de expressão, de estimulação da produção
de sentidos dos sujeitos. Para isso, a conversação (formais e informais), com alunos, professores e gestores, foi
utilizada como técnica central e como técnicas complementares a observação de algumas práticas curriculares e a
documentação (Plano de Desenvolvimento Institucional, Proposta Pedagógica, entre outros documentos
institucionais). Para a análise e interpretação das práticas curriculares foram consideradas três questões centrais:
Como a temática da desigualdade se apresenta na prática observada ? Como o professor trabalha a temática? Como
os alunos se apropriam das atividades propostas pelo professor? Para a análise e interpretação das informações
produzidas por meio das conversações foi utilizada a proposta metodológica denominada Núcleos de Significação.
Apresentaremos, nesta comunicação, os resultados da análise interpretativa de duas das práticas curriculares
observadas. Os resultados apontam para uma aposta grande na experiência como uma estratégia de sensibilização
para a realidade social e uma visão romantizada das desigualdades sociais. Como consequência, o desigual é
significado como um sujeito destinatário de um olhar benevolente e assistencialista.

710
Intervenções junto à crianças abrigadas: a clínica ampliada e o processo de (des)institucionalização
Autores: Fiamma do Amaral Diaz, UFU; Ana Maria Saldanha Pereira, UFU; Tatiana Benevides Magalhães Braga, UFU
E-mail dos autores: fiammafrancis@gmail.com,tatibmb@gmail.com,airamasp@hotmail.com

Resumo: AUTORES: Tatiana Benevides Magalhães Braga¹, Fiamma do Amaral Diaz², Ana Maria Saldanha Pereira³.
¹Docente do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia - UFU.
²Graduada em Psicologia na Universidade Federal de Uberlândia - UFU.
³Discente do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia - UFU.
O processo de institucionalização de crianças e adolescentes no Brasil é historicamente marcado pela criminalização
da pobreza e pela desconsideração de seus direitos. Na atual perspectiva das políticas públicas originada no contexto
da redemocratização do país, diversas transformações procuram ressituar crianças e adolescentes como sujeitos de
direitos, transformando os dispositivos institucionais no intuito de direcioná-los para a dupla função de proteger esse
público de maus-tratos e negligência e, simultaneamente, manter sua singularidade e a proximidade de suas relações
afetivas. A proposta de substituição de grandes dispositivos institucionais por uma rede composta por centros de
assistência psicossocial, família estendida, família acolhedora e abrigos de pequeno porte, entre outros, consolida-se
com as discussões provenientes do Estatuto da criança e do adolescente – ECA. No entanto, o cuidado a situações de
violação de direitos abrange não apenas o campo específico da proteção habitacional, mas um complexo cenário
psicossocial, envolvendo dimensões institucionais, pedagógicas, socioeconômicas, de saúde mental, etc. Nesse
contexto, o presente trabalho investiga as práticas desenvolvidas por uma equipe de trabalho no sentido de
contemplar amplamente as diversas questões envolvidas no atendimento a crianças em situação de abrigamento,
evidenciando problematizações e inquietações geradas durante as intervenções. Tem como metodologia um estudo
de caso em perspectiva fenomenológico-existencial, atendido por estagiárias da graduação e docentes de Psicologia
em um projeto de extensão universitária voltado à clínica ampliada. Buscando articular o processo terapêutico ao
cenário de experiência concreta dos atendidos no campo das políticas públicas voltadas à violação de direitos de
crianças e adolescentes, a experiência apresentada contou com intervenções diversas, abrangendo atendimentos
psicoterápicos individuais e familiares, visitas para cartografia clínica às instituições envolvidas, visitas domiciliares,
atividades grupais com caráter pedagógico e lúdico em instituição de abrigamento, visita escolar, comparecimento em
audiências, discussões em equipe e articulação em rede junto aos diversos dispositivos de assistência dos sujeitos, tais
como escola, instituição jurídica, unidades de saúde, entre outros. Como resultados, observa-se a necessidade de um
reconhecimento dos diversos campos de intersecção das demandas trazidas ao psicólogo para um acompanhamento
efetivo. A despeito das transformações implementadas pelo ECA, a herança histórica de patologização e criminalização
de crianças socialmente vulneráveis manifestou-se em práticas institucionais que sustentam a concepção de
culpabilização da família e afastamento do convívio familiar como única solução. Ao considerar a problemática
complexa que envolve a vulnerabilidade psicossocial, cabe considerar que o afastamento do convívio familiar pode
tanto garantir direitos como educação, saúde e preservação pessoal quanto comprometer ou inviabilizar em grande
parte o cumprimento do direito à convivência familiar e interação comunitária, que constituiu um dos princípios do
ECA. Sendo assim, a proposta de elaboração de intervenções efetivas exige a discussão, junto aos diversos autores
institucionais envolvidos, do sentido das medidas tomadas junto às crianças, bem como sua convocação para
participar das medidas tomadas a seu respeito, visando garantir a promoção da dignidade e prevenir a instauração de
violências institucionais nos ambientes protetivos. Nesse sentido, a configuração da clínica ampliada foi fundamental
para possibilitar um conhecimento mais aprofundado do contexto relacional dos envolvidos, atuando em diversos
contextos e envolvendo a articulação com os serviços que compõem a rede pública de saúde, assistência e educação,
do mesmo modo que prezou-se por um trabalho multiprofissional e efetivo, através do diálogo com os demais
profissionais relacionados às crianças em atendimento.

711
O compromisso social da psicologia: um projeto crítico em movimento
Autores: Luane Neves Santos, PUC-SP; Ana Mercês Bahia Bock, PUC-SP
E-mail dos autores: luanepsi@yahoo.com.br,anabbock@gmail.com

Resumo: A desigualdade social é um problema basilar do Brasil. O enfrentamento à dominação que a mesma
engendra requer muitos esforços, sendo as categorias profissionais potenciais aliadas nesse processo pelos
conhecimentos e práticas que cada campo pode oferecer ao comprometer-se com a mudança social. Este resumo se
organiza a partir da tese de doutorado (em andamento) da primeira autora, orientada pela segunda, e investiga o
compromisso social da psicologia, compreendendo-o como um projeto profissional crítico que visa contribuir para
transformação da sociedade.
Os projetos profissionais são construídos pelo corpo profissional enquanto sujeito coletivo a partir de uma imagem
ideal da categoria sobre si mesma e do efeito que deseja produzir no mundo, estabelecendo parâmetros para relação
da profissão com a sociedade. Tais projetos expressam princípios dos projetos societários que numa sociedade
capitalista são fundamentalmente projetos de classe, ainda que também se constituam com determinações de
natureza cultural, gênero, étnicas, dentre outras.
O problema de pesquisa analisa o compromisso social sob a ótica do desenvolvimento deste projeto crítico,
recorrendo à história da psicologia para evidenciar como o mesmo se constituiu, considerando as disputas por
hegemonia no corpo profissional e o embate com outros projetos. A escrita historiográfica da psicologia neste
trabalho teve por base o materialismo histórico dialético como perspectiva para produção da leitura histórica,
sobretudo nas contribuições do pensador marxista italiano Antonio Gramsci. Deste autor recuperamos as categorias
dos intelectuais orgânicos, relação de forças e a compreensão do campo da cultura como alvo de disputas pela
hegemonia na sociedade, o que nos auxilia a refletir sobre as profissões também como espaços de embate entre
diferentes projetos societários.
O enfrentamento a uma psicologia historicamente comprometida com as elites gestou as condições para o
estabelecimento de outra qualidade de compromisso, designado de compromisso social , o qual irá apresentar
diferentes significações ao longo da história da psicologia, destacando-se inicialmente a preocupação com as
necessidades da maioria da população e foco na realidade que a envolve para então firmar-se de maneira mais
explícita o objetivo de contribuir para transformação social na direção de uma sociedade justa, igualitária, solidária e
democrática, o que implica numa perspectiva ética e posicionamento político por parte dos profissionais e suas
entidades: uma categoria atuando de forma organizada.
Como projeto profissional o compromisso social apresentou três campos de significação: é ao mesmo tempo a
condição do projeto por fornecer a base filosófica no sentido ético-político, evidenciando a direção da transformação e
o alinhamento a um projeto societário alternativo a ordem capitalista; um elemento do projeto, sua face pública,
quando se apresenta como forte discurso na categoria profissional, um lema subsidiado pelas entidades
representativas; e a designação ampla do projeto, agregadora de diferentes estratégias políticas para consolidação
dessa perspectiva, designado neste trabalho como campos de expressão do compromisso social. Cada dimensão
abarca contradições significativas que movem o desenvolvimento do projeto.
Os campos de expressão são representativos dos esforços para empreender este projeto, disputando a hegemonia
junto à categoria e à sociedade. Destacam-se: o movimento de desnaturalização da categoria subjetividade, a defesa
dos direitos humanos e da inserção qualificada das psicólogas nas políticas públicas, o incentivo à produção de
trabalho coletivo tanto pela participação em equipes multiprofissionais quanto pela construção interdisciplinar do
conhecimento, o fortalecimento das relações e instituições democráticas e o combate ao colonialismo cultural.
Enquanto projeto crítico apresenta como eixo central a reflexão sobre a qualidade da relação estabelecida pela
psicologia - incluindo ciência e profissão, seus atores institucionais e individuais - com a sociedade. Um movimento
que pretende transformar a sociedade, mas substancialmente transforma a Psicologia, por que isto é fundamento
para que a psicologia possa contribuir para transformação da sociedade.
712
O compromisso social indica a perspectiva crítica como postura transversal aos diferentes atores e momentos
históricos: inicialmente uma crítica ao tipo de população atendida e ao local de trabalho; posteriormente aos
instrumentos, modelos teóricos e métodos utilizados; e mais recentemente na discussão sobre a viabilidade e os riscos
colocados pela adoção do compromisso social como projeto nesta ciência e profissão.
A diversidade do compromisso social, qualificado por vezes como polêmico e polissêmico, é característica tanto da sua
complexidade enquanto projeto ético-político-profissional quanto das disputas internas na categoria pela hegemonia,
fruto do embate com outros projetos profissionais. Um mesmo significante – compromisso social – é atribuído a
diferentes dimensões deste projeto crítico (como condição, elemento e designação ampla); além de múltiplas
estratégias empreendidas na ação política (acrescidas das críticas que desdobram) também associarem-se ao campo
de significações desse objeto, incluindo diversos atores em variados momentos históricos.
A função social da psicologia tem estreita relação com as concepções sobre esta ciência e profissão, seu objeto, bases
teóricas e técnicas. A proposta é que com sua competência profissional, os psicólogos contribuam para as
necessidades de todos e todas, não apenas de alguns e que essa atuação considere a realidade social, buscando
transformá-la.

713
Participação Vazia: Formação, Traços e Resultados - Um Estudo sobre o Programa Minha Casa Minha Vida
Autores: Douglas Cardoso da Silva, USP
E-mail dos autores: douglas.c.silva@usp.br

Resumo: Introdução
O presente trabalho formou-se como uma investigação de Psicologia Social, desenvolvido no Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, no programa de pós-graduação. Debruçamo-nos sobre problemas relacionados com a
mudança para uma nova moradia no quadro do Programa Federal Minha Casa Minha Vida (PMCMV).
O PMCMV engloba um diversificado conjunto de iniciativas com lógicas e objetivos distintos. Dedicamo-nos ao estudo
da categoria do Programa direcionada ao atendimento das famílias mais vulneráveis, identificada como Faixa I, cuja
renda familiar mensal não deve ultrapassar R$ 1.800,00. Dentro desta categoria trabalhamos com a modalidade em
que o município deve indicar regiões e zonas prioritárias para implantação dos projetos e indicar os futuros
moradores.

Objetivo
Buscamos investigar dinâmicas estabelecidas pelo PMCMV, na tentativa de identificar e melhor compreender
determinadas relações entre os diferentes atores do Programa e suas implicações na apropriação da moradia.
A questão da participação permeia todos os temas tratados neste estudo. É o fio condutor, a ponte que relaciona os
diferentes assuntos abordados. Os conceitos de ação e liberdade de Hannah Arendt e os apontamentos de Simone
Weil a respeito do enraizamento foram as fontes que nortearam nossa concepção de participação. Também ganharam
especial relevância no desenvolvimento deste trabalho: o conceito de burocracia, sobretudo as considerações de
Weber e Merton, articuladas com a definição de reificação proposta por Honneth; os estudos de Bauman a respeito da
comunidade; as observações de La Boétie sobre a servidão; o conceito de humilhação social (ou política) de José
Moura Gonçalves Filho, assim como as sensíveis e prudentes observações de Ecléa Bosi sobre memória e o trabalho de
pesquisa.
O estudo possui estreita aderência com o tema do XIX do encontro da Abrapso, uma vez que procura discutir os
processos de participação popular no PMCMV. Assim como articulasse com o eixo temático Políticas públicas, direitos
sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais , na medida em que se forma como uma pesquisa que
busca analisar a dinâmica de implantação do Programa, o papel dos diferentes atores e as relações assimétricas que se
estabelecem entre eles, com destaque para a condição subserviente destinada ao morador. Neste contexto, o
trabalho também possui intima relação com a proposta do grupo de trabalho: Psicologia, desigualdade social e
dominação.

Método
A pesquisa foi desenvolvida a partir dos pressupostos da observação participante, pretendendo aproximar-nos da
perspectiva dos próprios moradores e daí retirando nossos temas de investigação. Entendemos a observação
participante como uma experiência de deslocamento do pesquisador para bem próximo daqueles que são atingidos
diretamente pelo fenômeno a ser estudado.
O trabalho em campo foi realizado por meio de visitas, ocorridas em média a cada quinze dias, durante
aproximadamente três anos e meio, a conjuntos habitacionais do PMCMV, localizados na cidade de São Paulo, grande
São Paulo e região. Posteriormente articulamos/confrontamos as vivências em campo com documentos oficiais que
definem as diretrizes do Programa, autores que poderiam contribuir para aprofundar nosso entendimento sobre os
fenômenos investigados e outras pesquisas sobre o Programa.

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Resultados
Julgamos que a mecânica assumida pela implantação do PMCMV restringe demais o campo para as iniciativas que
possibilitariam real participação daqueles que irão residir nos imóveis. Diversas tarefas que exigem escolhas
importantes ainda não incluem os futuros moradores, a incipiente participação deixa formais e muito superficiais as
relações: entre os moradores e os diferentes agentes responsáveis pela condução do Programa e também entre os
moradores mesmos.
São traços de burocratização de um programa habitacional que, se superados, poderiam preparar a posse da moradia
por conquistas prévias de enraizamento em grupos. Estas limitações, enquanto não sejam superadas por atenção que
toque e firmemente favoreça anseios humanos de troca e colaboração, alimentam dois resultados muito
problemáticos: de um lado, o caminho para a aquisição de moradia não fica livre de humilhação social e, de outro, o
imóvel adquirido pode ser sentido como moeda ou mercadoria mais do que como moradia. O esvaziamento
psicossocial do processo coletivo de conquista da casa própria empobrece o modo como os moradores percebem os
seus vizinhos e influi sobre o modo apartado ou desirmanado pelo qual se dará a apropriação da nova moradia.

Reflexões
A dinâmica do Programa não soube evitar problemas de desenraizamento dos moradores, ainda não foi capaz de
alcançar condições favoráveis para a consolidação de novas raízes e para a construção de uma comunidade de ação e
mútua proteção. O PMCMV é, até agora, um marco sem equivalentes no atendimento à população de baixa renda e
na história das políticas públicas de habitação no Brasil. Contudo, consideramos que, examinadas e vencidas suas
contradições, aí sim poderá mais decisivamente contribuir para o cancelamento de opressões a que historicamente as
classes pobres foram submetidas, negando-se-lhes o direito da ação e do livre discurso, da colaboração e da conversa.
A efetiva participação popular é decisivo antídoto contra a desigualdade política.

715
Psicólogas brancas e relações étnico-raciais: em busca de uma formação crítica sobre a branquitude
Autores: Jacqueline Meireles, PUC-Campinas; Mariana Feldmann, PUC-Campinas; Simone Gibran Nogueira, PUC-
Campinas
E-mail dos autores: jacmeireles@gmail.com,capoeira.psico@gmail.com,marianafeldmann2@gmail.com

Resumo: Este trabalho visa compartilhar reflexões sobre o papel da branquitude no contexto das Políticas de Ações
Afirmativas e da Educação das Relações Étnico-raciais realizadas no grupo de pesquisa "Avaliação e Intervenção
Psicossocial: Prevenção, Comunidade e Libertação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Campinas.
Este grupo desenvolve, desde 2014, um projeto de extensão no âmbito das escolas públicas da Região Noroeste de
Campinas com foco na prevenção às violências, denominado Projeto ECOAR (Espaço de Convivência, Ação e Reflexão).
Ao buscar compreender quais violências estão presentes no contexto destas escolas, Meireles (2015) e Pereira (2016)
identificam que a violência étnico-racial é um dos maiores desafios a ser enfrentados pelas psicólogas do referido
projeto. Diante deste desafio, percebemos uma substancial lacuna na formação em Psicologia no que se refere à
compreensão das problemáticas que perpassam as relações étnico-raciais. A partir daí organizamos estudos coletivos
e sistemáticos para refletir criticamente sobre a nossa condição de mulheres, brancas de classe média, atuando como
psicólogas em escolas públicas de periferia, a partir de uma universidade privada.
Por meio destes estudos, pudemos compreender alguns aspectos importantes para fundamentar as práticas do
psicólogo escolar: 1) As Políticas de Ações Afirmativas são resultantes da luta dos Movimentos Negros no Brasil, que se
articularam com foco na Educação principalmente a partir da década de 1970. Os estudos enfocaram a Lei
10.639/2003 e seu respectivo Parecer CNE/CP 003/2004, bem como a Lei 11.645/2008 que estabelecem e orientam
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Estudo da História e Cultura Afro-brasileira e Indígenas em todas
as escolas. Estes estudos nos mostraram o quanto os currículos formais são, desde a escola até as universidades,
eurocêntricos, brancocêntricos e racistas. Além disso, entramos em contato com propostas críticas sobre a sociedade
e os currículos que visam inclusão da diversidade multicultural e pluriétnica característica da população brasileira.
2) No que se refere ao estudo do processo histórico das relações étnico-raciais, foi fundamental compreender como se
deu a construção das Teorias Racistas nas Ciências Humanas, principalmente a partir do século XIX, e como estas
teorias até hoje influenciam boa parte do pensamento social e psicológico no Brasil. A invenção das teorias racistas
com base na ideologia da supremacia racial branca estabelece um único modelo de Ser Humano válido: homem,
branco, descendente de europeu, classe média, heterosexual. Todos os outros grupos sociais que não se encaixam
nessas características são passíveis de serem marginalizados, excluídos ou até mesmo exterminados. Este modelo de
Ser Humano foi (e ainda é) utilizado para justificar a dominação colonial europeia pela suposta inferioridade dos povos
colonizados. Importante destacar que este pensamento crítico sobre a branquitude foi iniciado na década de 40 e 50
por intelectuais negros de diversos países (Fanon, Memmi, DuBois, Senghor, entre outros).
3) Os estudos resultaram na compreensão da branquitude enquanto ideologia e patologia social. Trazemos este ponto
como um destaque no presente trabalho, pois o contato com uma reflexão crítica sobre o que significa ser branco
trouxe-nos grandes contribuições para a compreensão do problema que enfrentamos: como intervir em uma
realidade multicultural e pluriétnica a partir de um referencial eurocêntrico e uma visão de mundo construída a partir
de um lugar de privilégios? A posição do ser branco enquanto referencial de normalidade e os privilégios materiais e
imateriais aos quais nós, brancos temos acesso, nos são invisíveis até que entremos em contato com este tipo de
autocrítica. Neste sentido, apontamos que somente a partir destas autoreflexões podemos desenvolver um olhar e
sensibilidade mais atentos às questões que perpassam o cotidiano das crianças que são afetadas por práticas racistas
(brancas e não-brancas), ampliamos a compreensão sobre o que produz o sofrimento e podemos construir práticas
mais emancipatórias e não colonizadoras.

716
Psicologia Crítica e estágio em políticas públicas - um fazerresistente
Autores: Giulia Ribeiro Limongi, UFBA; Kueyla de Andrade Bitencourt, UFBA
E-mail dos autores: giulialimongi@gmail.com,kueyla@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho é um relato de experiência a partir de atividades teórico-práticas da disciplina Estágio
Profissionalizante II em Políticas Públicas da Assistência Social, ocorrida durante o segundo período letivo de 2017 do
Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia. As atividades vinculadas à disciplina
compreendem atividades teóricas (orientação) e práticas profissionalizantes, de ensino-extensão, com objetivo de
compreender as políticas públicas de assistência social, seus marcos lógicos e legais, a população em situação de
vulnerabilidade social que usufrui dessas políticas, avaliações de políticas púbicas e a atuação da psicologia nas
políticas de assistência social através da abordagem psicossocial. O local foi o CRAS – Centro de Referência da
Assistência Social e instrumentos que dialoguem com a prática do mesmo, como Conselhos. O método utilizado foi a
observação participante, atendimento psicossocial, acolhimento, dentre outras., com referencial teórico da psicologia
social, psicologia comunitária e políticas públicas e supervisões com a professora responsável pela disciplina. Tal
experiência possibilitou o contato com os bastidores dos instrumentos que discutem os processos de efetivação dos
direitos sociais, em específico a Pré-Conferência Municipal de Assistência Social (CMAS), em que, em um primeiro
momento, a equipe, os assistidos e outros profissionais do território em que se localizam os equipamentos de
assistência social, inclusive os CRAS são convidados à se reunirem e, posteriormente, a equipe de profissionais da Rede
de Assistência Social do munícipio, a fim de elencar propostas que passarão pelas três esferas de deliberação e
constituirão o Plano Nacional de Assistência Social. As Conferências de Assistência Social, em suas três esferas, são
importantes mecanismos de controle social, pois possibilitam a participação popular no processo de construção e sua
efetiva implantação. Contudo, na Pré-CMAS de determinado território foi reafirmado o desafio à participação dos
usuários, identificado a falta de compreensão do acesso à política como direito e da potência de enfrentamento que a
Conferência possibilita tanto pelos profissionais quanto pelos assistidos. Já na Pré-CMAS dos profissionais da rede, foi
identificado, a partir da análise do discurso dos debates e propostas, o desconhecimento dos objetivos da Conferência,
logo (também) o seu potencial enquanto espaço de reinvindicação, organização e luta. Os presentes não (re)avaliaram
as propostas anteriores e se estas foram efetivadas, trouxeram problemas de gestão local, como falha de comunicação
e articulação dentro da Rede de Assistência Social e com outras instâncias da Seguridade Social, pontos como estes
evidenciam a falta de implicação enquanto servidor público e cidadão. Uma vez que são as propostas produzidas
nessas Conferências que determinarão as intervenções no contexto da Assistência Social.
Com base nas Normas Operacionais Básicas (NOBs) aprovadas anteriormente e pelo teor da 10° Pré-CMAS de Vitória
da Conquista, foi possível identificar uma lógica de manutenção da desigualdade social e não de erradicação, pois as
propostas realizadas não abordam o problema em sua complexidade, não visam a saída de parte da população da
necessidade da assistência, apenas paliativos silenciadores. Ou seja, atua-se ainda numa perspectiva assistencialista, e
não de emancipação, até porque o mesmo não é interessante para o contexto neoliberal. Além desses fatores, as
NOBs e a PNAS estão servindo para reiterar pontos presentes em outras instâncias e que não deveriam necessitar de
deliberação legislativa, como compromisso ético profissional e capacitação – numa perspectiva de educação
continuada. O que tem se identificado é que a captura das lutas pelo discurso legislativo não efetiva o cumprimento da
mesma, mas silencia movimentos sociais e os afoga no sistema . A psicologia, enquanto ciência e profissão, precisa
se posicionar de maneira crítica nas políticas públicas. A realidade da atuação nas políticas públicas impõe o
posicionamento dos psi, profissionais e/ou estagiários, pois se está atuando em um campo político, sendo necessário
que a psicologia promova uma intervenção cultural na sociedade, a fim de superar a desigualdade e atuar em um
fazerresistente, desmascarando elementos de controle e ordem estabelecidos pelas elites dominantes. A formulação,
717
implementação e avaliação das políticas públicas só será possível no nível que é proposto pela Lei Orgânica de
Assistência Social quando os profissionais e assistidos estiverem minados de informações que possibilitem analisar e
intervir no contexto em que se encontram, é necessário que a formação dos profissionais e dos serviços da Rede
Socioassistencial incidam na politização do campo, pois só assim será possível enfrentar o quadro perverso da
desigualdade social.

718
Três cenas de Helena: memória, identidade e militância feminista no enfrentamentos da humilhação social
Autores: Mariana Luciano Afonso, USP; José Moura Gonçalves Filho, USP
E-mail dos autores: mariana.l.afonso@gmail.com,zecamgf@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de doutorado em Psicologia Social na Usp. Discute-se a
opressão política das mulheres - ou a desigualdade de gênero – enquanto um problema social e histórico de graves
consequências objetivas e subjetivas. É gerador de uma modalidade de sofrimento coletivamente compartilhado: a
humilhação social, um sofrimento ancestral e repetido. O objetivo da pesquisa de doutorado é analisar as estratégias
de enfrentamento da humilhação social, alcançadas e praticadas por mulheres que participam de um movimento
social feminista: a Marcha Mundial das Mulheres. A partir desta análise, pretende-se realizar a discussão
complementar de dois fenômenos: o contraste psicossocial entre o enfrentamento solitário e o enfrentamento
coletivo de humilhação social; e as metamorfoses nas identidades de mulheres desse movimento social. Nesta
exposição pretende-se apresentar um estudo de caso derivado desta pesquisa de doutorado, analisando estratégias
de enfrentamento da humilhação social, de uma das sujeitas da pesquisa: Helena. Tem-se como hipóteses que: 1) O
enfrentamento da humilhação social vivida por mulheres pode ganhar três formas: (1a) o enfrentamento solitário,
sentido como mais ou menos impotente; (1b) o recurso cotidiano a parceiras com quem dividir e interpretar angústias,
capaz de revigorar pessoas, mas não de alterar estruturas; (1c) o incurso em formas igualitárias de convivência,
colaboração e luta, verificado como capaz de conquistar direitos e alterar instituições. Esperamos encontrar o primeiro
e segundo tipos de enfrentamento nas trajetórias de mulheres antes de sua inserção na Marcha e o terceiro tipo
depois da inserção. 2) As mulheres que pretendemos ouvir terão alcançado identidade que contrasta com aquela
trazida antes de sua inserção na Marcha e, portanto, numa forma política de enfrentamento de humilhação social; a
nova identidade terá dependido da participação em lutas coletivas contra opressões de gênero e, em muitos casos,
contra opressões de raça e de classe. Esperamos aferir dois resultados que terão acompanhado a participação: (2a) as
mulheres ganharam ou firmaram consciência de que opressões de gênero pessoalmente sofridas são modalidades de
opressões coletivamente sofridas; (2b) uma consciência assim tornou-se consistente e viva, não automática e gregária,
quando a participação em lutas coletivas correspondeu a uma experiência pela qual a militante sabe responder de
modo muito pessoal. Os métodos utilizados orientam-se pelos pressupostos da pesquisa qualitativa em Psicologia
Social: foram realizadas observações participantes em núcleos e atividades da Marcha Mundial das Mulheres; estão
sendo analisados textos e documentos produzidos por este movimento social; e entrevistas de longa duração que
colhem as histórias de vida das depoentes através do trabalho da memória. Nas entrevistas combinam-se perguntas
exploratórias e livres relatos orais de história de vida, de modo a deixar as entrevistadas logo à vontade para
explorarem nossas questões como desejarem, de maneira aberta e orientadas pela memória mais do que por nós. Os
dados recolhidos dessas diferentes fontes são organizados e analisados de maneira independente e cruzada. Como
resultados do estudo de caso apresentado neste trabalho, observamos três momentos marcantes na trajetória de vida
de Helena, em que a depoente relata formas distintas de vivenciar e enfrentar a humilhação social. A análise do
estudo de caso caminha no sentido de confirmar as hipóteses apresentadas.

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Uma nova ciência para velhos condenados?Psicólogos e autores de crimes sexuais na República (1889-1984)
Autores: Tathiane Auxiliadora Ramos Cortez, UFG; Filipe Milagres Boechat, UFG
E-mail dos autores: tathianercortez@gmail.com,filipeboechat@gmail.com

Resumo: O presente trabalho investiga a relação entre psicólogos e autores de crimes sexuais no Brasil durante o
período entre 1889 e 1984. Resulta de pesquisa ainda em curso. Trata-se de um estudo teórico de abordagem
histórica que lança mão de referencial teórico-metodológico materialista histórico-dialético. Nossos marcos históricos
correspondem à proclamação da República em 1889 e a promulgação da Lei de Execução Penal nº 7210/84. Buscamos
compreender de que forma estabeleceu-se no Brasil a relação entre psicólogos e autores de crimes sexuais. Os marcos
estabelecidos devem-se ao fato de constituírem momentos em que a sociedade brasileira passava por transformações
substanciais, sobretudo no que se refere ao seu ordenamento jurídico. A proclamação da República marca uma
profunda transição da forma do Estado brasileiro. Além disso, como nos mostrou Antunes, trata-se do contexto no
qual a Psicologia consolidou-se como ciência autônoma. O estabelecimento da Lei de Execução Penal oficializou a
atuação de psicólogas e psicólogos nos estabelecimentos penais brasileiros. As penitenciárias passaram a ser o
principal destino daqueles que cometem delitos desde que foi estabelecido as penas de privação de liberdade, as
quais foram incorporadas a partir do Código Criminal do Império em 1830. Tais elementos também expressam a
inauguração de um outro modelo de organização da sociedade brasileira, já que o sistema escravista havia ruído. As
mudanças em curso foram palco para o desenvolvimento da psicologia brasileira, que, no período investigado,
consolida-se como disciplina autônoma nas universidades e conquista o estatuto de profissão regulamentada. No que
diz respeito à caracterização dos comportamentos sexuais considerados criminosos, utilizamos como fonte os
documentos jurídico-penais vigentes no Brasil durante o período estabelecido. Essas fontes consistem em: 1) Código
Penal de 1890; 2) Consolidação das Leis Penais de 1932 e 3) Código Penal de 1940. Este último encontra-se em vigor
até os dias atuais, embora em 2009 tenha sido alterado parcialmente pela Lei nº 12.015/2009. Além disso, para
identificar como nosso objeto se caracteriza, lançamos mão de seis critérios para guiar nossa investigação: a) quais
comportamentos são considerados crimes sexuais; b) quem são os autores de crimes sexuais; c) quais as penalidades
aplicadas nesses delitos; d) para onde os autores de crimes sexuais são destinados; e) quem era designado para
acompanhar os autores de crimes sexuais; f) quais sujeitos eram considerados vítimas dos crimes sexuais. Partimos do
pressuposto de que para compreender o desenvolvimento dos polos que constituem nosso objeto, é essencial
conhecer a história de sua formação, ou seja, como eles se constituem e quais são as determinações que os formam.
No caso da Psicologia, seja como ciência, disciplina ou profissão, cabe-nos também entender como estas se
relacionam. Isto se torna possível inserindo nosso objeto nos processos que movimentam e caracterizam a sociedade
brasileira. A partir disso, temos um quadro que demonstra o desenvolvimento do encarceramento e da pena de
privação. Estes foram elegidos como principal forma de punição do Estado para quem comete crimes. Podemos
também notar como é constituída a seletividade penal no Brasil. Por vez, fica evidente como raça e classe social estão
mutuamente imbricados na formação da sociedade brasileira. Além de nos permitir identificar se há vinculação da
psicologia brasileira à um determinado projeto de sociedade, e qual seria este.Caracterizando-o e apontando para qual
grupo/classe social o mesmo destina-se.
Assim, o panorama apresentado nesta investigação articula-se às propostas de GT S que demandam um conjunto de
produções teóricas e práticas para possibilitar a ampliação de discussões sobre desigualdade social, estrutura social e
dominação, violência, formação social brasileira em interface com a Psicologia. Em especial, trazendo contribuições
sobre a inserção do conhecimento psicológico voltado para o contexto prisional e a atuação junto às populações
carcerárias. Além disso, a configuração dessa pesquisa permite uma versatilidade na explanação das temáticas que a
constituem, como a sexualidade, a história dos negros no Brasil pós-abolição, estrutura social e punição.

720
GT 34 | Psicologia Comunitária: interlocuções entre Assistência Social, Sistema Prisional,
Relações Etnico-Raciais e Assessoria a Sindicatos

Coordenadores: Alessandro de Oliveira Campos, Centro Universitário São Camilo | Eric Calderoni, UNIP | Márcio Cesar
Ferraciolli, UFPR

Qual o objetivo deste GT?


O presente GT debaterá os avanços e as dificuldades da práxis da psicologia social comunitária no contexto brasileiro
contemporâneo, procurando caminhos para uma atuação que vise a democratização das políticas públicas, a
participação dos segmentos historicamente oprimidos nas decisões e a ampliação do acesso aos direitos políticos e
sociais, seja no contexto dos territórios, das instituições de Assistência Social, no Sistema Prisional, nos Sindicatos, ou
outros.
Qual a relação com o tema do Encontro?
A relação desse GT com o encontro deve ser entendida como uma urgência de construção de metodologias e práxis
para uma ciência mais comprometida com a sociedade, em um esforço de reparação de sua memória e
entendimentos atuais de ações que busquem relações humanas mais livres e potentes.
Qual a relação com o eixo temático?
O Brasil vive um contexto de avanço das políticas neoliberais, com ataques a direitos trabalhistas e previdenciários. A
cidade de São Paulo é palco de políticas higienistas. Há repressão às manifestações populares e aos movimentos
sociais. O controle social na Assistência Social nunca se efetivou plenamente, com a subversão do conceito de
vulnerabilidade em incapacidade, levando a práticas assistencialistas e tecnicistas que não favorecem a autonomia e a
participação, e é crescente a deslegitimação da Assistência Social pelo discurso meritocrático, sob o qual seria
desi e ti oà à us aà deà soluç esà i di iduais,à p e ia doà aà aga u dage ,à dei a doà asà lutasà aisà eati as,à pa aà
salvar o que temos, do que pro-ativas, para ampliar seu enfoque e abrangência. A política é despolitizada, com a
culpabilização de políticos individuais pela corrupção, eleita à condição de maior problema nacional, perdendo-se de
vista a luta de classes. A precarização e terceirização do trabalho nas políticas públicas e nas empresas, dificultam a
mobilização dos profissionais. A religião, embora em si não seja necessariamente nem reacionária nem libertária,
passa a ser problema quando crescem denominações fundamentalistas, com valores normatizantes e individualistas,
que discriminam outras religiões, como é o caso daquelas de matrizes africanas. As políticas de ações afirmativas
envolvendo etnia-raça tem encontrado novas fronteiras para sua expansão. O genocídio do povo pobre, preto e
periférico continua. Por outro lado, a resistência também se mostra, emergindo práticas libertadoras nos mais
variados contextos de atuação cotidiana. Buscamos pautar a relação entre as identidades políticas e as políticas de
identidade, nas quais as políticas de identidade tem como objetivo reconhecer e aplicar processos de inclusão e
aceitação de determinados grupos que historicamente foram ou são explorados ou discriminados. Estão diretamente
ligadas às lutas das identidades de seus membros. As identidades políticas conduzem a políticas de identidade.
Que tipo de trabalhos serão aceitos?
Serão aceitos trabalhos que divulguem práxis libertadoras e democráticas em interlocução com uma psicologia crítica,
que visem à autonomia, no contexto comunitário dos territórios, da assistência social, da saúde mental, do sistema
prisional, das relações etnico-raciais, dos sindicatos e das associações de trabalhadores, dentre outras, promovendo-se
discussões sobre formas de resistência ao neoliberalismo e o aumento da democratização na e da sociedade, bem
como o acesso a direitos, e seus aspectos metodológicos.
Qual o objetivo deste GT?
O presente GT debaterá os avanços e as dificuldades da práxis da psicologia social comunitária no contexto brasileiro
contemporâneo, procurando caminhos para uma atuação que vise a democratização das políticas públicas, a
participação dos segmentos historicamente oprimidos nas decisões e a ampliação do acesso aos direitos políticos e
sociais, seja no contexto dos territórios, das instituições de Assistência Social, no Sistema Prisional, nos Sindicatos, ou
outros.
Qual a relação com o tema do Encontro?
A relação desse GT com o encontro deve ser entendida como uma urgência de construção de metodologias e práxis
para uma ciência mais comprometida com a sociedade, em um esforço de reparação de sua memória e
entendimentos atuais de ações que busquem relações humanas mais livres e potentes.
Qual a relação com o eixo temático?

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O Brasil vive um contexto de avanço das políticas neoliberais, com ataques a direitos trabalhistas e previdenciários. A
cidade de São Paulo é palco de políticas higienistas. Há repressão às manifestações populares e aos movimentos
sociais. O controle social na Assistência Social nunca se efetivou plenamente, com a subversão do conceito de
vulnerabilidade em incapacidade, levando a práticas assistencialistas e tecnicistas que não favorecem a autonomia e a
participação, e é crescente a deslegitimação da Assistência Social pelo discurso meritocrático, sob o qual seria
desi e ti oà à us aà deà soluç esà i di iduais,à p e ia doà aà aga u dage ,à dei a doà asà lutasà aisà eati as,à pa aà
salvar o que temos, do que pro-ativas, para ampliar seu enfoque e abrangência. A política é despolitizada, com a
culpabilização de políticos individuais pela corrupção, eleita à condição de maior problema nacional, perdendo-se de
vista a luta de classes. A precarização e terceirização do trabalho nas políticas públicas e nas empresas, dificultam a
mobilização dos profissionais. A religião, embora em si não seja necessariamente nem reacionária nem libertária,
passa a ser problema quando crescem denominações fundamentalistas, com valores normatizantes e individualistas,
que discriminam outras religiões, como é o caso daquelas de matrizes africanas. As políticas de ações afirmativas
envolvendo etnia-raça tem encontrado novas fronteiras para sua expansão. O genocídio do povo pobre, preto e
periférico continua. Por outro lado, a resistência também se mostra, emergindo práticas libertadoras nos mais
variados contextos de atuação cotidiana. Buscamos pautar a relação entre as identidades políticas e as políticas de
identidade, nas quais as políticas de identidade tem como objetivo reconhecer e aplicar processos de inclusão e
aceitação de determinados grupos que historicamente foram ou são explorados ou discriminados. Estão diretamente
ligadas às lutas das identidades de seus membros. As identidades políticas conduzem a políticas de identidade.
Que tipo de trabalhos serão aceitos?
Serão aceitos trabalhos que divulguem práxis libertadoras e democráticas em interlocução com uma psicologia crítica,
que visem à autonomia, no contexto comunitário dos territórios, da assistência social, da saúde mental, do sistema
prisional, das relações etnico-raciais, dos sindicatos e das associações de trabalhadores, dentre outras, promovendo-se
discussões sobre formas de resistência ao neoliberalismo e o aumento da democratização na e da sociedade, bem
como o acesso a direitos, e seus aspectos metodológicos.

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A prática da psicologia nas políticas públicas de ressocialização em Pernambuco
Autores: Silvana Maria de Santana, UFPR
E-mail dos autores: silvanabarao@hotmail.com

Resumo: O Sistema Prisional do Brasil vem se tornando visível ultimamente muito mais pelo que ocorre em seu
cotidiano de violências e violações do que pela sua função jurídica de reinserção social das pessoas privadas de
liberdade. É um conjunto de maus investimentos de recursos públicos, aliado às péssimas condições de sobrevivência
nas instituições que mais se assemelham a depósitos de humanos indesejáveis ao convívio social do que espaços de
reeducação. É nesse cenário inóspito e insalubre que a psicologia se apresenta como uma das tantas disciplinas
científicas presentes na construção de estratégias de ressocialização das pessoas encarceradas, a saber: o Direito, a
Medicina, a Pedagogia, principalmente. Compreender a ação dos psicólogos nesse contexto foi o desafio desse estudo.
Pesquisar sobre o Sistema Prisional no Brasil requer, necessariamente, considerar as complexidades da sua
configuração, haja vista as implicações familiares, educacionais, sociais, econômicas, culturais, jurídicas, de gênero,
entre outras envolvidas nesse processo. Além disso, é relevante a análise das relações entre Estado, sociedade e
autores de delitos, procurando-se compreender como estas vêm sendo construídas e suas repercussões para a política
de ressocialização das pessoas em privação de liberdade. Afinal, nesse sistema em que se punem com a privação de
liberdade os comportamentos socialmente reprováveis, pode-se refletir como cada sociedade está estruturada e como
se posiciona na definição do crime, nas concepções do comportamento criminoso e, consequentemente, na aplicação
das penas, propositalmente excludentes e segregatórias. Este estudo apresenta a ação clínica psicológica no âmbito
das Políticas Públicas de ressocialização da população carcerária adulta. Para tanto, se caracteriza a instituição
carcerária e o processo de encarceramento, além da descrição das Políticas Públicas de ressocialização no Sistema
Prisional de Pernambuco. Este contexto serve de base para a compreensão das ações dos psicólogos, colhidas em suas
narrativas, procurando-se estabelecer um diálogo com as políticas vigentes. Conforme o Ministério do Trabalho e o
Conselho Federal de Psicologia, essa área de atuação é o da Psicologia Jurídica e não se resume à prática da avaliação
psicológica, embora ainda seja hegemônica em todo o país. Os psicólogos, nesse contexto, deparam-se com demandas
voltadas para a reintegração de homens e mulheres à sociedade, o que lhes exige engajamento e contribuições da
psicologia nas políticas do Estado para essa população. O trabalho de campo foi realizado em uma UP- Unidade
Prisional feminina e outra masculina; lançamos mão do método cartográfico, na medida em que este nos permite
acompanhar o processo das experiências vividas, narradas pelos profissionais participantes e a afetação da
pesquisadora nesses contatos. Os resultados foram analisados a partir da hermenêutica compreensivista e no diálogo
com a diversidade desse campo que é jurídico, é social e é clínico. Concluímos que as ações desenvolvidas pelos
psicólogos nessas UPs, quando possível, ocorrem em condições precárias, sem lugar digno tanto físico como subjetivo
para a ciência psicológica e são atravessadas pela precarização dos vínculos trabalhistas, as relações de poder
marcadas pelas hierarquias jurídicas, a impotência diante das violências e violações de direitos fundamentais dos seres
humanos. As contribuições exitosas são pontuais e se perdem na falta de um projeto integrado com outras áreas do
saber e denunciam a falta de um projeto de ressocialização que contemple não somente às necessidades, mas
sobretudo as expectativas dos apenados, da justiça e da sociedade. Este quadro mostra a premente necessidade de
Políticas Públicas que atendam, de fato, aos objetivos de ressocialização pretendidos.

723
Além do paradoxo socioeducativo: a construção de sentidps coletivos
Autores: Celso Takashi Yokomiso, UNIFESP
E-mail dos autores: celsoty@yahoo.com.br

Resumo: Introdução
Nos centros socioeducativas operam-se realidades diversas e heterogêneas, como a jurídica, política, social,
comunitária e psicológica. Estão submetidos a um conjunto de exigências estabelecidas pelas convenções de direitos;
e pressionados por demandas sociais que solicitam maior rigor no trato com os jovens infratores. Congregam, no
mesmo espaço, afetos e representações de adolescentes, famílias e profissionais mergulhados na violência.
Dentro deste panorama, o trabalho socioeducativo esbarra no paradoxo que se estabelece através do encontro destas
diversas realidades. Obediência e criatividade, violência e direitos, exclusão e inclusão, se vertem em processos
concomitantes nas medidas socioeducativas. Ao adolescente, inserido nesta realidade heterogênea, resta o desafio de
se constituir como cidadão, ora incentivado para a participação e a autonomia, ora para a obediência irrestrita aos
poderes estabelecidos nos muros institucionais.

Objetivo
A pesquisa teve como objetivo investigar a produção de violência em uma instituição socioeducativa de internação.
Dialoga com o GT Políticas de Desobediência: Juventude, Direitos e Violências , ao trazer a violência dos
adolescentes, dentre outros aspectos, como estratégia de preservação psíquica diante contextos de humilhação social
e opressão institucional.
Contempla também o eixo temático Ética, violências e justiça em tempos de retrocessos mundial e nacional dos
direitos humanos , na medida em que discute práticas repressivas no âmbito da infância e da adolescência,
atualmente ainda mais fortalecidas devido ao contexto político pouco favorável aos preceitos democráticos.
Método e orientação teórica
Foram realizados encontros grupais com profissionais da segurança, da equipe psicossocial, educadores e
adolescentes que cumpriam medida de internação. A análise de dados teve como apoio teórico a psicanálise de
grupos, sobretudo através das contribuições de René Kaës.

Resultados
Evidencia-se uma forte cisão entre os grupos que compõem a medida socioeducativa, cada qual atravessado por
organizadores psíquicos próprios que orientam condutas e representações.
Assim, no discurso dos agentes de apoio socioeducativo é ressaltada a impossibilidade do trabalho socioeducativo com
um grupo específico de internos: os irrecuperáveis . Estes jovens são depositários da destruição e do mal existente na
instituição, tornando-se categoria a ser excluída para que seja possível a rotina dos centros socioeducativos.
Já nas entrevistas com os educadores, surgem queixas sobre o controle da palavra exercido no trabalho. Os discursos
que questionem o funcionamento repressivo dos centros são sufocados, em função de uma fantasia de destruição. A
palavra permanece negada e a paralisia se torna testemunha não somente da ausência de um espaço para pensar,
mas também dos mecanismos para manter o pensamento fora de uso (KAES, 1996) .
Nos encontros com a equipe psicossocial, por sua vez, percebe-se tendência em atribuir aos agentes de apoio
socioeducativo o fracasso na aplicação da medida socioeducativa.
Na entrevista com os adolescentes, apesar da presença de conteúdos fortemente ligados ao universo delitivo,
despontam reclamações de que os meios de comunicação apenas apresentam a violência deles, omitindo êxitos nos
estudos e atividades. Atacam também os agentes de apoio, responsáveis pela rotina e segurança.
Dentro deste contexto, como estratégia de intervenção, as considerações teóricas de Kaës são valiosas. O psicanalista,
a partir de suas experiências clínicas e elaborações teóricas, propõe a criação 'de um dispositivo de trabalho e jogo
que restabeleça, numa área transicional e comum, a coexistência das conjunções e disjunções, da continuidade e das
724
rupturas, dos ajustamentos reguladores e das irrupções criativas, de um espaço suficientemente subjetivizado e
relativamente operatório" (Kaës, 1991, 39)
A construção desta área transicional deve ser incentivada através da formação de espaços nodais entre educadores,
equipe psicossocial, agentes de apoio socioeducativo e os adolescentes. Para tanto, o estabelecimento de encontros
grupais que permitam a circulação respeitosa da palavra; a identificação de dificuldades, rupturas e desafios; e a
elaboração de estratégias e de sentidos surge como instrumento de intervenção valioso.

Conclusões
Há na instituição um pacto denegativo selado em torno do não compartilhamento dos processos psíquicos entre
educadores, agentes de apoio socioeducativo, equipe psicossocial e adolescentes. A presença do pacto preserva as
representações e fantasmas que organizam a estrutura inconsciente de cada grupo, favorecendo o delineamento de
identidades.
Por outro lado, a descontinuidade psíquica, ao estabelecer fronteiras entre os grupos, dificulta a construção do projeto
socioeducativo, que requer um posicionamento coletivo. A construção das áreas transicionais compartilhadas surge
como estratégia para subverter este entrave, ao propor a tarefa comum e o alinhamento de propósitos.
Neste contexto, a desobediência dos internos pode indicar a necessidade de se reconstruir estas fronteiras
socioeducativas, que não lhes reserva a oportunidade da palavra e, portanto, nega-lhes a cidadania.
Os jovens devem ser convocados para a construção da medida socioeducativa, exigindo dos demais atores
(seguranças, educadores, entre outros) a acolhida e respeito pelos seus conteúdos psíquicos. Não se trata, portanto,
de apenas de seguir as regras, mas elaborá-las conjuntamente.

725
Análise da Política Nacional de Assistência Social pelos critérios da Psicologia Comunitária Latino-americana
Autores: Eric Calderoni, UNIP
E-mail dos autores: ecalderoni@uol.com.br

Resumo: A aprovação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) pela Resolução 145 de 15/10/2004 do Conselho
Nacional de Assistência Social (CNAS) representou o marco da implantação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) no Brasil.
Embora tanto o SUS como o SUAS tenham sido idealizados na Constituição Federal de 1988, o avanço do SUAS foi mais
lento do que o do SUS (implementado em 1990, em um contexto de comoção relacionado ao movimento pelo fim da
ditadura); por não ser visto como uma política universal, mas setorial apenas para os mais pobres; não-
democratizante, mas compensatória; e como estímulo à vadiagem (Oliveira, 2012).
Assim, diante de tantos óbices, a PNAS / o SUAS é uma importante conquista de direitos sociais para o povo brasileiro,
que merece a nossa defesa diante das ameaças de sucateamento em nome da austeridade; obstaculização da
implementação do controle social e ideologia meritocrática / liberal.
No entanto, devemos, por outro, manter um olhar crítico, em relação às diferenças entre as concepções da PNAS e a
visão mais radical da Psicologia Social Comunitária Crítica Latino-Americana.
A diretriz IV da PNAS (item 2.2) consiste [n]a centralidade da família para concepção e implementação dos benefícios,
serviços, programas e projetos e o terceiro de seus objetivos (item 2.3) enfatiza em assegurar que as ações no
âmbito da assistência social tenham centralidade na família; e que garantam a convivência familiar e comunitária .
Para a PNAS, portanto, a integração comunitária aparece como um objetivo, mas não como um método, como o locus
político principal e central de onde se origina a ação libertadora, tal como o é para a nossa Psicologia Comunitária
(Guareschi, 1996; Sawaia, 1996; Góis, 2005).
Tanto a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei 8.742/1993), Art. 5º II, como a PNAS (item 3.1.5), estabelecem o
controle social no SUAS. Porém, a ênfase da participação popular nas decisões é sobre as políticas (Conselhos e
Conferências) e nem tanto sobre a gestão dos equipamentos, vista como um desafio. Além disso, a gestão não seria
responsabilidade principal dos usuários, mas compartilhada com trabalhadores, poder público e O.S.s. Para a
Psicologia Comunitária, as decisões devem ser sempre tomadas pela comunidade, com os técnicos atuando como
meros assessores, no que Freitas (1998) chama de planejamento a posteriori pela comunidade.
Ao enfatizar que as decisões sobre cada caso devem ser tomadas pelas equipes interdisciplinares (que se diga de
passagem, são transdisciplinares) estas geralmente ocorrem sem a participação dos sujeitos cuja vida está sendo
decidida, pois, sob o jargão de vulneráveis , os assistidos acabam sendo tratados como se fossem incapazes
(Ximenes, de Paula & Barros, 2009).
Seria papel fundamental da Assistência Social oferecer benefícios e serviços (primeiro objetivo, item 2.3) e divulga-los
(item 2.1 V), para que a população possa reclamar por seus direitos, constituindo cidadãos de direito. Nessa visão, está
implícita a noção de direitos sociais, mas subenfatizados os direitos políticos, que implicariam na população lutar pela
ampliação dos direitos sociais, sua universalização e participação em seu delineamento e gestão. Com isso,
predominam os enfoques assistencialista e tecnicista, em detrimento de práticas libertadoras (Ximenes, Nepomuceno
& Moreira, 2007).
Para termos uma Assistência Social coerente com o que acredita a Psicologia Social Comunitária Crítica Latino-
Americana precisamos que a população defina e decida as políticas, a gestão do sistema e de cada equipamento e que
cada assistido e/ou sua família tome as decisões a respeito de seu próprio caso, construindo o seu projeto singular de
vida.

726
Da Invisibilidade ao Fortalecimento de Si e de Nós: Experiência em um CRAS de Itajaí/SC
Autores: Gabriela da Silva Rudolpho, Prefeitura Municipal de Itajaí
E-mail dos autores: gabyrudolpho@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho tem como proposta relatar uma experiência vivenciada pela autora em um projeto que
vem sendo desenvolvido no ano de 2017, em um Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, no Município de
Itajaí/SC. Tal trabalho, nomeado inicialmente como (Re) descobrindo talentos , teve como público participante
usuárias de famílias atendidas no Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF. A iniciativa e construção
da proposta se deu frente à necessidade de se buscar alternativas às problemáticas concretas que atravessam as
famílias em situação de vulnerabilidade, seja ela decorrente da pobreza, privação e ausência de renda, fragilização dos
vínculos familiares e comunitários, discriminações relacionadas à etnia, gênero, deficiência, problemáticas de saúde,
entre outras, que acabam por invisibilizar os sujeitos, excluí-los do sistema econômico capitalista e ter seus direitos
sociais, culturais e políticos constantemente negados. Os objetivos do trabalho consistiram em valorizar os saberes e
talentos locais, fortalecer as relações comunitárias, promover a inclusão em atividades produtivas de forma
participativa e solidária e principalmente fomentar ativos e potencialidades já existentes nos usuários e no território. A
abordagem e método que vem sendo utilizados para acompanhar e avaliar o percurso do trabalho é a qualitativa,
através da observação participante e de entrevistas norteadoras abertas. Tais métodos possibilitam conhecer e
compreender o ser humano na relação com o seu meio, sua história particular, seus conhecimentos, valores,
interesses, desejos, emoções, expectativas, bem como identificar estratégias que possam mediar processos de
transformação de uma dada situação social.
Através de oficinas grupais com ênfase na convivência, reflexão e ação, mediadas com atividades práticas de culinária,
com a participação de facilitadores residentes na própria comunidade, tendo como norteadores as normativas
orientadoras da prática no Sistema Único de Assistência Social-SUAS e na Política Pública de Assistência Social e o
trabalho que a Psicologia Social pode e deve desenvolver nestes espaços, o grupo ganhou tamanho fortalecimento e
empoderamento, que transcendeu os espaços do equipamento do CRAS, dando continuidade em um local na
comunidade. O fortalecimento e as necessidades do grupo, através de reflexões e decisões coletivas, direcionaram-se
para a criação de um empreendimento de produção de produtos culinários de forma coletiva, recíproca e não
exploratória, passando a envolver conceitos da economia solidária como a autogestão, a solidariedade, a cooperação e
a valorização, e construindo parcerias com instituições de ensino do município e setores privados do território. Os
resultados vêm sendo constatados através de relatos que destacam o resgate e o fortalecimento de suas capacidades,
a redescoberta de si como agente produto-produtor e transformador da realidade, o reconhecimento e valorização no
seu espaço comunitário, melhoria na qualidade de vida, geração de renda, o sentir-se capaz e produtivo, ampliação da
rede de apoio social, espaço de interação, inclusão e cooperação, dentre outros. O (Re) descobrindo talentos vêm
possibilitando a reflexão e novas possibilidades de ser e estar no mundo, entre elas uma forma de viver mais
libertadora, participativa, implicada e autônoma de relacionar-se consigo mesmo, com o outro, com sua família, sua
comunidade e com seu futuro.

727
Inserção social em Sindicatos e Sistema Prisional: Desafios metodológicos para a Psicologia Social Comunitária
Autores: Márcio Cesar Ferraciolli, UFPR
E-mail dos autores: marcio.ferraciolli@gmail.com

Resumo: As atuais transformações sociais decorrentes dos novos processos de globalização têm imposto à vida das
pessoas novas formas de convivência social e relações de trabalho. Essas recentes mudanças geram consequências
diversas em nosso cotidiano. Entre essas o aumento da violência e do desemprego frente às novas tecnologias e
formas de gestão do trabalho e, consequentemente, adoecimentos para a classe trabalhadora, seja formal e ou
informal. Quanto a violência, uma das instituições envolvidas é o Sistema Prisional, que, apesar de suas falhas, cumpre
– historicamente – seu dever de punição, estando ainda com dificuldades de ser aparelho de transformação e não só
de repressão e acolhimento de exclusão. A partir disso, desenvolvi uma proposta metodológica de intervenção social
nessas duas instituições, dentro dos aportes da Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski e a pesquisa participante. No
caso do sistema prisional, são realizadas ações de acolhimento à mulher sentenciada cumprindo o regime semi-aberto.
Justifica-se essa opção pelo fato de logo estarem voltando ao convívio da sociedade como egressas do sistema que as
marca com um estigma que impossibilita, muitas vezes, o acesso ao emprego e, com isso, o círculo da volta ao crime é
uma opção. Por isso, além de construirmos sua história de vida, propomos um projeto de vida para essas mulheres,
com o compromisso de acompanhá-las mesmo depois de cumprir sua pena e tornar-se egressa ao sistema. São
realizadas atividades em grupos e acolhimento individual, com o propósito de desconstruir a patologização e
naturalização do crime e de quem o comete. Quanto aos sindicatos (são realizadas ações em três sindicatos:
Petroleiros, Bancários e Agentes Prisionais), com o objetivo de compreender o processo da cadeia de produção do
adoecimento no trabalho, são realizadas ações em grupos e individuais. Nas atividades grupais, com a proposta de
ressignificação e produção de novos sentidos dentro da Zona de Desenvolvimento Proximal, são discutidos temas que
buscam a compreensão Da Zona Real, ou seja, o que é o trabalho, seu significado, o dia a dia e possíveis impactos na
vida dos trabalhadores. Aqui, o Psicólogo é o mediador que provoca, por meio das interações e diferenças de
experiências entre os trabalhadores, o espaço da potencialização e desenvolvimento da produção de novos sentidos.
No caso dos atendimentos individuais, seguindo o método dentro da perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural de
Vigotski, o psicólogo é que ocupa o espaço e a identidade de um potencializador para a produção de novos sentidos.
Inicialmente, a proposta era apenas para trabalhadores em situação de afastamento, mas esse critério foi abolido pela
demanda dos trabalhadores afastados e em atividade. Desenvolve-se, portanto, a Clínica do Trabalho com um jeito de
fazer psicoterapia na perspectiva da Psicologia Social com base em Vigotski. Os resultados, tanto individuais, como os
de ações em grupos, são transformados em subsídios para ações no próprio sindicato. Essa forma metodológica está
em acordo com a Psicologia Social Comunitária e a Psicologia do Trabalho. Ao fazer uma revisão de literatura, várias
são as propostas de Psicologia Social Comunitária em diferentes espaços sociais, porém, poucas são desenvolvidas em
instituições totais como as do sistema prisional e, além, disso, não foram encontradas práticas que produzem
metodologias para a Psicologia Social Comunitária no sistema prisional e poucas ações metodológicas para inserção
em Sindicatos, embora, também, muitos artigos relatem ações e resultados em instituições sindicais, mas não
encontrei discussão sobre desenvolvimento de métodos de intervenção em sindicatos, apenas relatos de ações
desenvolvidas. Os resultados das atividades realizadas até o momento, têm indicado, a necessidade de metodologias
que desenvolvam, para a prática profissional do psicólogo, novas tecnologias de intervenção e ação social em grupos
(vilas, bairros, ocupações, movimentos sociais) e instituições (Ongs, cooperativismo e Associativismo na perspectiva
da Economia Solidária, SUS, SUAS, etc.)

728
Mulheres Encarceradas: A Construção de um Projeto para a Vida de Futuras Egressas do Sistema Prisional em
Curitiba
Autores: Ana Paula Silveira Sasso, UFPR; Daniela Medeiros Depetri, UFPR; Fernanda Laverde Torres, Gabriela Carvalho
Teixeira, UFPR; Heloysa Siqueira Mauad, UFPR; Jórdan Luiz Maximiliano da Silva, UFPR; Luara Carolina Mendes e Silva,
UFPR; Margoth Mandes da Cruz, DEPEN; Nathalie Krepski, UFPR; Stefanie Leyser, UFPR; Stefhany Sinigaglia Lovato,
UFPR; Daiane da Silva Vasconselos, UFPR; Luana Lubke de Oliveira, UFPR; Márcio Cesar Ferraciolli, UFPR
E-mail dos autores: heloysa.mauad@gmail.com, VASCONSELOS.DAIANE@GMAIL.COM, marcio.ferraciolli@gmail.com,
jordanlmaximiliano@gmail.com, luanalubke@gmail.com, nathalie.krepski@gmail.com,luaracms@gmail.com,
f.laverdetorres@gmail.com, gabi.teixeira1995@gmail.com, leyser.stefanie@gmail.com, stefanylovato@gmail.com,
anapssasso@gmail.com, danielamdepetris@gmail.com, margothcz@gmail.com

Resumo: O projeto de Extensão surgiu a partir da inserção de acadêmicas do curso de Psicologia no antigo Centro de
Reabilitação Feminina de Curitiba (CRAF). A prática ocorreu no segundo semestre de 2014, dentro da Disciplina Sócio-
Histórica IV. Naquele período foram realizadas discussões semanais sobre o cotidiano de mulheres encarceradas que
estavam sob o regime Semiaberto. A partir disso, surgiu a demanda de continuar a atividade no ano de 2015 e 2016, o
que foi definida na modalidade de extensão universitária. Neste período a prática se resumiu na mediação de grupos
semanais semi-estruturados, os quais suas temáticas e demandas eram pensadas semana a semana a partir do
sugerido por elas. Assim, o grupo não tinha intenção de chegar com uma proposta pronta de forma paternalista, a
qual poderia ser descontextualizada de suas realidades, mas sim, se deu em construção conjunta com as participantes.
No entanto, em 2017, o CRAF deixa de existir e passa a ser constituído um Escritório Social do Sistema Penal no
Paraná. Nesse escritório, as detentas do semiaberto não mais estarão dormindo no local, mas estarão cumprindo
pena em outros locais onde moram na região de Curitiba, continuam trabalhando foram e são monitoradas por
tornozeleira eletrônica. Também, nesse grupo, tem mulheres que estão cumprindo o regime semiaberto em prisão
domiciliar, com tornozeleira. Com essa mudança do CRAF para o Escritório Social, o presente projeto sofreu alteração
do primeiro momento quando ainda ocorria dentro da Disciplina acima citada. Criou-se, portanto, nova forma de
exercer a atividade de extensão dentro do sistema prisional que objetiva possibilitar um espaço onde mulheres que
vivem em situação de aprisionamento, no regime Semiaberto em Curitiba-PR, possam ser acolhidas em suas
demandas psicossociais. Esse espaço é dividido em dois momentos: um atendimento individual semanal e um em
grupo (mensal), sendo que não são obrigadas a participar dos dois. Por meio da metodologia da Pesquisa-Participante
e com os aportes da Psicologia Social Comunitária, com base na perspectiva Histórico-Cultural de Vigotski, os
acadêmicos atuam como o elemento potencializador da relação com as detentas, possibilitando a construção da Zona
Proximal, por meio da ressignificação e produção de novos sentidos em suas vidas, tanto durante a situação de
aprisionamento como em seu processo de liberdade e reinserção na vida social exercendo a cidadania. Para isso, são
discutidas questões psicológicas e sociais e está em construção a história de vida dessas mulheres, abrangendo desde
sua infância até o aprisionamento, envolvendo a vida no cárcere e possíveis projetos para o futuro como egressas do
sistema. Participam, em média, 20 mulheres que estão cumprindo o Regime Semiaberto vinculado ao Escritório Social
do Sistema Prisional do Paraná (DEPEN-PR). Os resultados (em construção) servirão para ao processo de
implementação de uma Política Pública para egressas do Sistema Prisional no Paraná. Além disso, servirão, também,
como subsídio para ações de prevenção e promoção da saúde para a serem realizadas pelo Escritório Social que faz
parte do Projeto Cidadania dos Presídios, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), gerido pelo DEPEN-PR ligado à
Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária, sendo orientado pelo Tribunal de Justiça do Paraná.
Psicologia Social Comunitária; Sistema Prisional, Políticas Públicas

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O sujeito encarcerado e a reincidência penitenciária: uma relação entre condições institucionais e subjetividade
Autores: Anna Karollina Silva Alencar, UFG
E-mail dos autores: alencar.2311@gmail.com

Resumo: O presente trabalho tem como temática a ser estudada a reincidência penitenciária, visa-se realizar uma
investigação sobre o sujeito que possui diversas passagens por instituição prisional. Considera-se como sujeito
reincidente aquele que retorna para o sistema penitenciário, após ter sido liberado, devido à nova condenação
judicial, para cumprir nova pena ou nova medida de segurança (Julião, p.88, 2009). Para além de considerar a
reincidência no crime, pretende-se conhecer a reincidência no contexto prisional. O foco da investigação não se
assenta nas condições de miserabilidade material que possam influenciar na reincidência criminal, senão na relação do
sujeito com a instituição, observando de que forma as decorrências subjetivas do encarceramento podem influenciar
na reincidência. Busca-se compreender como as práticas e discursos produzidos na prisão contribuem ou mantêm
grande parte da população carcerária em situação de reincidência. Desta forma, pretende-se investigar as marcas
subjetivas que se cristalizam e impedem a revitalização e construção de novas possibilidades.Este estudo é fruto de
inquietações advindas do trabalho como psicóloga no sistema prisional, no atendimento a problemáticas relacionadas
ao uso de drogas. O principal ponto de tensão vivenciado eram as intensas contradições existentes na unidade
penitenciária, em que muitos sujeitos passavam por grave sofrimento psíquico e social, principalmente pelos longos
períodos de institucionalização, a privação de direitos e a falta de vinculo familiar, mas que ao mesmo tempo não
conseguiam romper ou questionar-se acerca do ciclo da criminalidade, desenvolvendo as chamadas carreiras
criminais .
As contradições também diziam respeito à lógica institucional que escapava aos papéis formalmente estabelecidos,
havia muitos laços não apreendidos, que levaram a alguns questionamentos: Quais são as dinâmicas informais de
convivência e sobrevivência institucional que não se tem acesso? Quais processos de operação institucional mantêm a
reincidência? Qual a relação entre reincidência penitenciária e modos de subjetivação? O que impede os sujeitos de
buscar outras possibilidades de vida? Esses questionamentos levaram a busca por ouvir os reincidentes penitenciários,
a fim de compreender o que seus discursos revelam da lógica institucional, bem como da reincidência e de suas
realidades subjetivas, o que até então não é apreendido pelo discurso oficial de individualização dos problemas e
criminalização da pobreza. Concomitante a isso, essa busca relaciona-se com as altas taxas de reincidência criminal, a
cultura da violência e os dados alarmantes da esfera penitenciária do Brasil.
Visando compreender a reincidência como foi apresentada acima, uma das hipóteses a ser desenvolvida neste
trabalho é a formação de um modo de subjetivação específico, constituído na institucionalização em prisões, que
decorreria na formação de uma subjetividade carcerária . A cristalização em tal subjetividade impediria o sujeito de
romper o vínculo com a instituição prisional e com a criminalidade, desta forma, obstaculizando a composição de
novos modos de vida.
O objetivo geral do trabalho é conhecer os discursos de reincidentes penitenciários para discutir a relação entre
institucionalização, subjetivação e reincidência. Tem-se como objetivos específicos mapear os fatores psicossociais
envolvidos na reincidência penitenciária, caracterizar o panorama atual da instituição prisional e conhecer as
decorrências subjetivas do encarceramento. Pretende-se alcançar tais objetivos com o desenvolvimento de pesquisa
qualitativa de caráter bibliográfico e de campo. O estudo bibliográfico contará com a realização de uma investigação
de material nas bases científicas de pesquisa (essencialmente Scielo, Pepsic e Portal de Periódicos da Capes), nos
bancos de dissertação e teses (principalmente através da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações - BDTD) e
nos cadernos de orientações dos conselhos fiscalizadores da profissão de psicóloga. O trabalho de campo será

730
desenvolvido por meio de entrevistas semi-estruturadas, a serem realizadas com reincidentes penitenciários no
Complexo Prisional da cidade de Aparecida de Goiânia.
O referencial teórico utilizado consiste em alguns conceitos trabalhados pelos autores M. Foucault, G. Deleuze e F.
Guattari, Pichon-Rivière e Rene Kaës, principalmente com relação às considerações sobre diagrama de forças,
processos de subjetivação e institucionalização.

731
O Trabalho como Pena Alternativa: Relato de uma pesquisa/intervenção
Autores: Onair Zorzal Correia Junior, Faculdade Pitágoras de Ipatinga; Vanessa Andrade de Barros, UFMG
E-mail dos autores: onairzorzal@gmail.com,vanessa.abarros@gmail.com

Resumo: A proposta em pauta apresenta uma pesquisa/intervenção realizada no âmbito de uma dissertação de
mestrado defendida no Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais em 2016.
Tomou-se como espaço de análise a utilização do trabalho no sistema penal, tendo como foco a Prestação de Serviço à
Comunidade (PSC) utilizada como pena alternativa de cumprimento em liberdade, modalidade substitutiva ao sistema
prisional. A PSC tem sido avaliada como modalidade penal mais expressiva no que tange às modalidades de
alternativas penais. Percebe-se, no entanto que, embora muito se discuta sobre o caráter integrador dessa
modalidade, pouco se reflete sobre a atividade executada pelos sujeitos em cumprimento de pena, assim como não se
considera suas percepções sobre o que lhes é oferecido como possibilidades de trabalho.
A pesquisa teve como objetivo compreender os sentidos e as repercussões cotidianas do cumprimento da pena de PSC
para os sujeitos apenados, em um processo de escuta e reflexão sobre a situação concreta de cumprimento de uma
pena alternativa.
Partindo da identificação do uso do trabalho como pena, considera-se que as modalidades penais que vieram como
possibilidades e questionamento ao cárcere, correspondem enquanto práticas de uma sociedade de controle, que se
utiliza de uma contenção em liberdade para a propagação do controle social. Frente a isso, a compreensão dessa
sanção penal guarda lógicas invisibilizadas que precisam ser desvendadas e ressignificadas.
Sendo uma análise baseada nos princípios da Psicologia do Trabalho, o referencial teórico utilizado foi o da Ergologia e
o da Psicossociologia do Trabalho, que demarcam que o processo metodológico inicia-se pela aproximação máxima
possível do trabalho real e dos trabalhadores compreendendo-os sob o ponto de vista da atividade. Debate de normas
e valores e implicação foram às noções principais que guiaram a pesquisa/intervenção. Também tomou-se como
referencial teórico as problematizações advindas da Criminologia Crítica, que se contrapõe aos modelos punitivistas,
questionando a utilização do sistema penal como forma de controle social assim como as práticas de seletividade
penal que criminalizam e destinam as prisões à população negra e pobre.
A pesquisa/intervenção foi realizada em uma instituição do terceiro setor do Vale do Aço na cidade de Santana do
Paraíso, onde se buscou a aproximação dos sujeitos por meio de duas ferramentas metodológicas: observação e
entrevistas em profundidade.
A observação aconteceu no período de nove meses, onde uma vez por semana o pesquisador se dirigia a instituição e
lá buscava realizar as mesmas atividades desenvolvidas pelos cumpridores de PSC, registrando esta experiência em um
diário de campo. As entrevistas foram iniciadas depois de 05 meses em campo, tendo conseguido realizar 04
entrevistas que foram gravadas e transcritas.
A construção teórica, assim como o processo de escrita, se deu de forma entrelaçada ao caminhar do campo
pesquisado e das experiências relatadas. Nesse sentido, não se almejou com essa pesquisa uma categorização
enrijecida que viesse elucidar uma determinada problemática, mas a construção de um saber pautado pela práxis
existente na atividade pesquisada. As análises foram garantidas em um processo de implicação que levou em
consideração o processo de ressonância advinda da relação existente entre pesquisador e sujeitos pesquisados.
A pesquisa, assim como a literatura, evidenciam que a adoção de um código penal centralizado no cárcere,
enfraquecem as penas alternativas no Brasil que ainda guardam um caráter marginal, sendo compreendidas enquanto
possibilidade de segundo plano de aplicabilidade. A seletividade do Estado Penal, a judicialização da vida e a
desmedida utilização da prisão provisória agravam ainda mais a desvalorização das penas alternativas como resposta
às questões tidas como criminais. Identificou-se também, a propensão à criminalização dos bairros periféricos e de
seus moradores, assim como a precarização e marginalização do trabalho no contexto vivido pelos participantes da
pesquisa.

732
Entende-se que ao mesmo tempo em que a atividade desempenhada é conjecturada como importante à medida que
possibilita a ressignificação e a construção de zonas de sentido, ela também guarda indícios que a vinculam ao cárcere.
A pesquisa/intervenção possibilitou aos cumpridores e aos coordenadores da instituição uma compreensão mais clara
sobre a potencial importância da PSC, vislumbrando-se a necessidade dos sujeitos serem co-participantes do processo
da atividade em prol da valorização do seu poder de agir para além da penalização como fim único.
Nesse estudo questionou-se a compreensão da penalização como prática eficaz frente a não reincidência criminal,
visto que as variáveis ligadas à criminalidade tem vínculo a lógicas sistêmicas. Aponta-se a necessidade de se ter
ressalvas frente ao discurso de valorização da PSC, mediante o risco de se reproduzir a superlotação vislumbrada no
sistema penitenciário.
Toda prática que massifica ignora o sujeito e seu poder de agir, sendo assim, torna-se importante a proposição crítica
de um maior incentivo a práticas libertadoras, que se orientem pela participação social e valorização subjetiva.

733
Os desafios do profissional da psicologia na unidade prisional de Catalão-Goiás
Autores: Angela Maria Pereira, UFG; Bruno Aires Simões, UFG-Regional Catalão; Daniela Germania Martins, UFG;
Fernando Cesar Paulino-Pereira, UFG; Flávia Ávila Moraes, UFG; Thais dos Passos Freitas, UFG
E-mail dos autores: angelamariavenda@hotmail.com, thais-freitas02@hotmail.com, bruno.aires.89@gmail.com,
flaviaavilamoraes@gmail.com, danielamartins25@hotmail.com, epifania.cps@gmail.com

Resumo: O presente trabalho propõe um olhar crítico sobre as possibilidades da atuação da psicologia dentro do
sistema prisional, visando promover uma reflexão que perpasse as teorias acadêmicas e agregue na construção de
uma identidade profissional, crítica e politizada, dos alunos envolvidos. A realidade do sistema prisional da cidade de
Catalão-Goiás nos revela que os detentos ali inseridos não possuíam atividades que pudessem reintegrá-los a
sociedade, deixando clara a importância do profissional da psicologia na instituição penal, uma vez que atuação do
profissional da Psicologia abre novas possibilidades para os detentos propiciando aos reeducandos atribuições outras
que não para a criminalidade. Os dados coletados para este estudo foram adquiridos por meio de pesquisa de campo
na Unidade Prisional do município, e analisados à luz da psicologia social comunitária e institucional, que surge como
uma subdivisão da psicologia social, introduzindo uma nova forma de análise das relações. O objetivo dessa atividade
foi compreender as bases teóricas assim como os fundamentos metodológicos que apoiam as intervenções do
psicólogo frente à comunidade e seus problemas; promover uma reflexão crítica sobre a ética na pesquisa e no
trabalho na comunidade; além de ressaltar a importância da atuação psicológica em um sistema prisional. Para a
realização do presente estudo, utilizou-se do método de pesquisa de abordagem qualitativa, considerando que o
fenômeno social deve ser entendido nas suas dimensões sociais (grupais) e individuais (MARTINS, H.T, 2004). Após os
levantamentos teóricos, foi realizada uma visita in lócus à instituição, na qual seria possível observar a não presença
de profissionais da psicologia e perceber as possibilidades e desafios por meio de entrevistas com o diretor do
presídio, assistente social e agentes prisionais. A partir dos dados coletados, observaram-se práticas excludentes e
segregadoras, pautadas em um discurso patologizante e cristalizador do perfil criminoso . Percebeu-se, também, a
deficiência no número de profissionais da área da saúde, da área da educação, de agentes penitenciários e
superlotação nas celas. Notou-se ainda a anulação de direitos individuais e a ausência de atividades reintegradoras, o
que corrobora com o pensamento de Foucault (1999), para a reincidência do reeducando visto que as prisões não
diminuem os índices da criminalidade. Neste ponto, o trabalho de um psicologia caracteriza-se como elemento
viabilizador de possibilidades que permitam a reintegração do cidadão, como estabelece o CREPOP (Centro de
Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas, 2007), no sentido da promoção de recursos visando uma saída
sustentável e satisfatória para o fortalecimento do laço social bem como no desenvolvimento de ações voltadas para a
manutenção da saúde mental e coletiva dos detentos, dos familiares e da equipe multiprofissional. O CREPOP (2007)
afirma que diante tal realidade as atividades do profissional de psicologia devem ser voltadas aos processos grupais,
tais como eventos reflexivos de preparação para a liberdade, atividades com novos integrantes do sistema prisional,
oficinas de arte como recurso terapêutico, o teatro e forma de expressão das emoções, ações preventivas no âmbito
da saúde mental e o trabalho em relação ao uso abusivo de drogas. Buscando contribuir para o tratamento dispensado
aos detentos, sugeriu-se que a atuação da psicologia visasse promover a reinserção do indivíduo na sociedade,
resgatar sua identidade durante o período de reclusão, através de práticas emancipatórias e oficinas terapêutico-
educativas. Ademais, é necessário estimular a mobilização social, principalmente dos familiares dos reeducandos, para
a formação de um conselho comunitário cujo objetivo seja resguardar aos reeducandos seus direitos constituídos por
lei. Como demonstra Freitas (1998), o encontro entre psicologia e comunidade pode ser produtivo, principalmente ao
considerar os aspectos individuais, sociais, políticos e econômicos bem como a história que os construiu. Buscando
auxiliar a instituição a otimizar e melhorar seu funcionamento, este trabalho visou reflexões acerca do
acompanhamento oferecido ao detento, de forma a enxergá-lo para além do estigma do criminoso que onera o
Estado , promovendo o resgate subjetivo e a preservação da identidade desses sujeitos, por fim, permitiu
compreender as dificuldades da prática do psicólogo social comunitário no sistema prisional da cidade de Catalão –
734
Goiás, contribuindo no levantamento de ações que podem vir a somar na concretização de relações emancipatórias e
autônomas destes sujeitos.

REFERÊNCIAS
CREPOP. Referências técnicas para a atuação das (os) psicólogas (os) no sistema prisional. Conselho Federal de
Psicologia. - Brasília: CFP, 2012. 65 p.
FREITAS, Maria de Fátima Quintal. Inserção na comunidade e análise de necessidades: reflexões sobrea prática do
psicólogo. In: Psicologia Reflexão e Crítica, ano/vol. 11, n. 001, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1998.
MARTINS, H.T, (2004), Metodologia qualitativa de pesquisa, Educação e Pesquisa, São Paulo, v30, n.2, p.289-300,
maio/ago.
PAULINO-PEREIRA, Fernando César. Ampliando a discussão sobre a teoria da identidade e emancipação humana. In:
Psicologia Social e Identidade Humana: a militância social como luta emancipatória, Jundiaí, Paco Editorial. 2014.

735
Programa de Distensionamento no Local de Trabalho
Autores: Elizabeth Cavalcanti Bezerra, Clínica Humanus
E-mail dos autores: bethcb@hotmail.com

Resumo: As instituições prisionais no Brasil apresentam-se como locais insalubres e adoecedoras tanto para a
população carcerária, como para os trabalhadores das diversas áreas de atuação, com destaque para os ASPs - agentes
de segurança penitenciária, os quais vivem a rotina tensa de violência, em algumas situações como vítimas, em outras
como autores.As ações de ressocialização nas instituições prisionais enfrentam desafios e impasses que surgem no
cotidiano das unidades prisionais. O trabalho de autoconsciência do indivíduo passa, também, por sua consciência
corporal. Nesse sentido, a Bioenergética contribui para a compreensão de si através da linguagem corporal expressa
em sintomas muitas vezes não reconhecidos pelo próprio indivíduo. As técnicas corporais de relaxamento, respiração
e contato com o próprio copro, visam contribuir para o autoconhecimento por esses caminhos, tendo como
consequência a melhora da autoestima e qualidade de vida.
Este trabalho foi realizado no âmbito da Penitenciaria Juiz Plácido de Souza na Cidade de Caruaru, Agreste de
Pernambuco. A princípio o trabalho foi realizado com os reeducandos daquela unidade. O Programa de
Distensionamento no Local de Trabalho foi idealizado a partir de uma demanda do Gestor de RH, que após presenciar
e o trabalho com os reeducandos, percebeu a necessidade da participação dos funcionários daquela unidade. O
objetivo do trabalho é possibilitar o autoconhecimento e a melhoria da saúde, qualidade de vida e das relações dentro
e fora da instituição. O método utilizado é técnica de respiração, exercícios de bioenergética, exposição dialogada,
dinâmicas de grupo, relaxamento e música instrumental. O grupo teve início em 13 de maio de 2011 e tem como
facilitadoras a equipe de psicologia. Foram formados 6 grupos em maio, atendendo a um total de 31 funcionários e em
junho 7 grupos, atendendo a 28 funcionários. Entre eles, ASP s – Agentes de Segurança Penitenciária, Assistentes
Sociais, Professores, Enfermeiros, Auxiliar de Odontologia, Nutricionista, Advogados e Gestores. A princípio houve
muita resistência dos funcionários em participar do grupo, principalmente os Agentes. Alguns diziam que não
precisavam, que não tinham tempo ou simplesmente que não queriam. Aqueles que se deram oportunidade de
vivenciar a experiência, ao termino relataram: Estar relaxados; integrados; bem; foi bom conhecer o colega; deveria
ter mais vezes; estava precisando; estou me sentindo mais leve; estou me sentindo livre, leve e solto; gostei; era bom
se não parasse por aqui; sempre que tiver, pode me chamar; consegui sair do clima tenso e relaxar; estou chegando
hoje na pjps e fui premiada com esse
momento; volto para o trabalho mais leve; deveria ser três vezes por dia. Após esses relatos, no nosso dia-a-dia de
trabalho, pudemos constatar uma mudança no comportamento destes funcionários que se mostraram mais gentis,
cordiais, solidários e companheiros, bem como um olhar diferenciado nas ações do profissional de psicologia dentro
da unidade prisional, no que se referem às atribuições do papel de facilitador, proporcionando-lhes alivio do cansaço e
desgaste emocional. Este foi um projeto Piloto que aconteceu nos meses de maio e junho e diante dos resultados
positivos, traçamos um cronograma para os próximos meses, que ocorrerão: As terças, quartas e quintas-feiras. Das
10h às 11h30m.

736
Psicologia Social e formação de presos para o exame crítico do trabalho sob o capitalismo
Autores: Gabriel Catto Rezende, UNESP Assis; Deivis Perez, UNESP; Giovana Domingos da Silva, UNESP Assis; Heloisa
Carli, UNESP; Hugo Gepe Dellasta, UNESP Assis
E-mail dos autores: gahcatto@gmail.com, giovana.domingoss@gmail.com, hugodellasta@hotmail.com,
helo_carli@hotmail.com, prof.deivisperez2@hotmail.com

Resumo: Introdução
O presente texto apresenta uma experiência de formação que mobilizou saberes e contribuições da Psicologia Social
para a mediação educacional de um grupo de trabalhadores presos que se dedicou ao exame crítico do mundo laboral
contemporâneo, ao estudo de alternativas para a geração de renda após o período de encarceramento e,
principalmente, à investigação de estratégias dedicadas à superação da perspectiva ocupacional capitalista dominante.
O processo formativo em questão foi realizado por meio de uma atividade extensionista, nomeada Trabalho em
transformação: fundamentos da Psicologia para o trabalhador", que foi elaborada a partir da parceria estabelecida
entre as discentes bolsistas e professor-tutor do Programa de Educação Tutorial (PET Psicologia), vinculado ao curso
de graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP campus Assis), e a coordenação técnica da
Penitenciária de Assis-SP.
O projeto surgiu da necessidade de ensejar ações no sentido da produção de experimentações no âmbito da Psicologia
Social, dedicadas à formação e desenvolvimento de presos para a leitura crítica da realidade, com ênfase para a
reflexão acerca do mundo do trabalho e as possibilidades de organização de trabalhadores visando a transmutação de
indivíduos e coletividades por intermédio da apropriação e transformação da própria laboralidade.
Os objetivos da ação foram garantir que, ao final do processo educativo, os participantes fossem capazes de:
a) examinar e compreender criticamente temáticas ligadas aos cenários sociocultural e do trabalho contemporâneos.
b) identificar as etapas da história do mundo do trabalho, bem como realizar a leitura das suas macrotendências e
dinâmicas ligadas à conjuntura político-econômica que o envolvem.
c) construir autoplanejamento e organizar estratégias de metamorfoses pessoais e da sua coletividade associadas à
laboralidade
d) elaborar crítica à forma capitalista de ordenamento laboral e de geração de renda, percebendo a Economia
Solidária como uma possibilidade de organização de trabalhadores para o trabalho autogestionado e para o
enfrentamento e produção de fissuras na lógica ocupacional associada ao capital.
Relação com eixo/GT
O trabalho desenvolvido possibilitou a construção de um espaço democrático, envolvendo estudantes de Psicologia e
trabalhadores presos, de produção e difusão de saberes a respeito do contexto trabalhista nacional. Ainda, foi possível
a graduandas de Psicologia adentrar numa instituição rica em elementos que possibilitam a análise da realidade social
e das relações de poder que compõem o sistema capitalista e os modos de punição e contenção dos segmentos
empobrecidos da população brasileira.

Abordagem teórica
A atividade extensionista ora relatada adotou como referencial teórico-metodológico, no trabalho com os presos, a
Psicologia Histórico-Cultural, inspirada em Vigotski e norteada pelo materialismo histórico-dialético de Marx. Em face
disso, buscou-se estimular a construção colaborativa de saberes entre os presos e análises sobre o mundo do trabalho
que tivessem como marco inicial o contexto social ampliado e seus nexos com a realidade vivida por cada participante
da atividade.
No tocante à metodologia, foram utilizadas estratégias de ensino e aprendizagem como dramatizações, recursos
audiovisuais, dinâmicas, atividades em grupos, exposição dialogada, debates e palestras, visando atender as diferentes
formas de aprender dos participantes. Também foi produzido, individualmente, um portfólio, instrumento facilitador

737
da organização do histórico de experiências de vida e de trabalho, o qual possibilitou aos presos identificar e registrar
conhecimentos, habilidades e competências relevantes para a vida laboral e/ou para a geração de renda.

Resultados
Participaram do curso vinte e sete presos. No tocante à contribuição para a compreensão das temáticas propostas, a
perspectiva teórica e a metodologia de mediação utilizadas proporcionaram colaboração entre os participantes e a
reflexão acerca das transformações históricas e dos recentes retrocessos no contexto neoliberal do mundo do
trabalho brasileiro, assim como as consequências dessas mudanças para os trabalhadores. A produção individual de
um portfólio favoreceu o reconhecimento e o resgate de habilidades e competências relevantes para o
desenvolvimento da vida laboral e para busca de alternativas de geração de renda como o trabalho autônomo e/ou o
trabalho por meio da Economia Solidária.

Conclusão
Conforme mencionado anteriormente, além de atender vinte e sete participantes, a realização desta atividade de
extensão universitária se orientou para criar zonas dedicadas à emancipação e alteridade dos presos, abordando
temas críticos sobre a história do mundo do trabalho de forma articulada às possibilidades de enfrentamento do
estigma que marca a vida do indivíduo que vivenciou experiência de encarceramento em nossa sociedade. Ainda,
pode-se destacar a pertinência deste trabalho para a formação das graduandas de Psicologia da UNESP, na medida em
que, por um lado, amplia o repertório formativo para a atuação de psicólogas no campo do desenvolvimento humano
em cenários complexos e, por outro lado, estimula a reflexão crítica sobre o penitenciarismo moderno e a necessidade
de superação deste modelo punitivo.

738
Psicologia social e sistema prisional: entre grades e possibilidades
Autores: Gabriel Marcelo Moresco, SUSEPE-RS; Letícia Dalla Costa, UFSM
E-mail dos autores: gabrielmoresco2@hotmail.com,leticiadallacosta2@gmail.com

Resumo: Tradicionalmente, a Psicologia se ocupa das populações em conflito com a lei através dos exames
criminológicos, avaliações, mensuração dos graus de periculosidade e prognose de reincidência dos sujeitos.
Entretanto, este trabalho tem como objetivo abordar as reflexões que a Psicologia Social poderá inferir acerca da
questão da criminalidade e do sistema prisional. Como estratégia de resistência, buscamos dar visibilidade e
problematizar as demandas das populações encarceradas e privadas de seus direitos na atualidade, aproximando com
as discussões propostas no eixo 9: Ética, violências e justiça em tempos de retrocessos mundial e nacional dos direitos
humanos. O método de pesquisa é a observação e inserção no sistema prisional do Rio Grande do Sul do autor, como
técnico superior penitenciário (psicólogo). A partir da ampliação do debate acerca da aproximação do psicólogo social
ao campo jurídico, aproxima-se da proposta do GT 39: Psicologia Social Jurídica: experiências, desafios, especificidades
éticas e políticas em interface com a Justiça, onde a inserção do psicólogo no sistema prisional irá fomentar
discussões acerca da judicialização das práticas psicológicas nas diferentes instituição que compõem o Sistema de
Justiça.
Teoricamente, começaremos situando o ato contra a lei a partir da noção da relação, de Guareschi. A partir disso,
pensamos em uma articulação das noções Foucaultianas sobre punição com o sociólogo Loic Wacquant, que estuda o
fenômeno do aprisionamento e suas origens a partir da sociologia marxista.
Para começar a pensar o fenômeno do aprisionamento de maneira responsável, é preciso olhar para a noção da
relação, a partir de Guareschi. O autor entende que a sociedade não é simplesmente a soma de indivíduos nem os
indivíduos simples produto da sociedade. Estamos em constante relação, e não há construção do sujeito e seus atos
sem o social e vice-versa. Logo, delitos que conferem o status de quebra com o contrato social são atos que dizem
de uma relação com a sociedade, e são porta-voz de uma coletividade. Prova disso é que as épocas conferem
diferentes formas de delitos para muitos comportamentos. Exemplo: em uma sociedade machista, há um número
significativo de casos de abuso e exploração sexual das mulheres.
Com isso, entendemos que seja necessário criar interrogações sobre as cadeias simbólicas que enredam a questão
prisional. Problematizar as relações que os sujeitos aprisionados estabelecem com o social, com a cultura, para além
de diagnósticos ou artigos penais. Isto é, entender que a prisão emerge na vida de muitas pessoas muito antes do
cárcere físico, dos muros de tijolos e grades de ferro. Em contextos neoliberais, as grades produzidas pelo
desemprego, pelo trabalho em condições de escravidão e as desigualdades sociais nos dão pistas para vislumbrar tais
aprisionamentos primários. O que prende as pessoas de baixa renda e, sobretudo, negras é uma lógica centenária de
exclusão social (Wacquant, 2009). Ilustra isso a situação dos escravos que foram a mão de obra no Brasil por mais de
300 anos. Estavam condenados a vida objetificada e violada desde seu nascimento. Seus descentes apesar das leis,
ainda são mantidos acorrentados perante as (im)possibilidades de ascensão social e garantia de seus direitos. Hoje,
53% da população é negra e 67% da população carcerária também.
A prisão que, primeiramente, é de sentidos, acessos e possibilidades tem, finalmente, seu resultado na prisão física
dos corpos e almas. Foucault (1975) diz que a prisão moderna não se contenta em somente aprisionar os corpos, mas
busca nas formas mais sutis e tecnológicas, aprisionar tudo que venha confrontar uma lógica social estabelecida. O
sistema prisional é duro, frio e caótico. As paredes cinzas e apagadas de sentidos buscam incessantemente
homogeneizar as demandas e uniformizar os lugares e anseios.
Como uma breve conclusão, entendemos que o psicólogo social inserido no sistema prisional precisa atuar como um
ator político, de modo a se defrontar com as lógicas sociais instituídas e necessitará operar questionamentos
constantes para que as grades não determinem e aprisionem saberes e práticas.
As micro-revoluções diárias devem ser o motor da Psicologia Social no sistema prisional, compreendendo que
paralelamente ao reconhecimento das condições sociais adversas, precisamos apostar na potência dos sujeitos. Diante
739
disso, realizar intervenções para além das grades. Isto é, vivências que superem modelos tradicionais de se relacionar
com esses sujeitos, promovendo suspiros e anseios de liberdade. Apostamos em uma Psicologia Social onde se possa
existir para além dos delitos cometidos, sendo escutados a partir de seus desejos e de suas histórias. Mas apenas
microrevoluções não bastam. Vislumbramos, a partir de Wacquant (2009), que longe de ser uma solução, o
encarceramento agrava os problemas que busca corrigir: além de atingir as camadas mais vulneráveis
socioeconomicamente, ele próprio é um fator de empobrecimento. Precisamos caminhar para o caminho do
fortalecimento e expansão os direitos sociais e econômicos.

740
Uma passagem pelas teorias criminológicas, suas relações com o estado e a criminalização da miséria
Autores: Fernanda Manicardi Correia, UFU; Vinicius de Almeida Carneiro Nunes, UFU
E-mail dos autores: vinyacn@gmail.com,nandamanicardi@gmail.com

Resumo: A presente proposta partiu de uma necessidade concreta de completa inquietude diante de questões que
vinham sendo relatadas sobre vivências dos usuário do CAPS ad (Centro de Assistência psicossocial -álcool e drogas) de
violência e repressão policial à populações marginalizadas, como aos próprios beneficiários do sistema de saúde
pública, sendo parte desses, moradores de rua. O que nos levou ao longo de estudos até uma perspectiva crítica ao
estado e seus dispositivos de coerção e repressão social completamente seletivo na hora da averiguação policial e
consequente lotação de um complexo carcerário composto maciçamente pela classe trabalhadora. Queremos
evidenciar aqui a ideia do desviante social, que será forjada ao longo da história da criminologia tradicional,
provenientes dos antagonismos de um modo de produção e reprodução da vida dentro de uma sociedade formada
por classes, com interesses completamente antagônicos e inconciliáveis, tendo sua manutenção na propriedade
privada dos meios de produção, na exploração da classe trabalhadora, na cada vez maior necessidade da precarização
do trabalho para manutenção das crises cíclicas do capital e no consequente exército de desempregados
mundialmente localizados. Intentamos com isso traçar críticas a essa perspectiva ideológica tradicional a partir da
criminologia radical. Na perspectiva da criminologia tradicional surgirão explicações para o que vai ser denominado
comportamento desviante através de uma visão biologicista e individualizante do sujeito rotulado como criminoso.
Essa perspectiva se utiliza de um discurso positivista da ciência que em sua sapiência e soberania selecionará a
clientela carcerária nas classes trabalhadoras, sem considerar que existe na coletividade do sistema capitalista
interesses incompatíveis, o que serve à criação e aplicação de leis no direito penal, orientadas ideologicamente aos
interesses da classe dominante em assegurar a manutenção de sua hegemonia. Em uma passagem pela criminologia
crítica observa-se a necessidade da destruição das bases ideológicas que sustentam essa prática seletiva de
criminalização da pobreza. Tecendo críticas a uma dimensão ideológica e superestrutural, fiando considerações a
respeito da necessidade da tomada de uma posição filosófica que almeje o questionamento das relações de poder,
que pensa a violência institucionalizada como característica da sociedade moderna. Propõe-se a demonstrar a
perversidade seletiva do sistema penal, bem como implementação de reformas no sistema judiciário, mas que bate no
limite de que pela prática estatal de assistencialismo a manutenção da ordem vigente não será superada, visto que, o
estado é produto da sociedade numa certa fase de seu desenvolvimento, que visa atenuar, no limite da manutenção
da ordem, antagonismos inconciliáveis, para que as classes não se entredevorem. Por mais que haja um cenário
erguido pela classe dominante de uma camuflagem do real e inversão entre o que efetivamente gera as contradições
de classe, através de ideias que naturalizam e universalizam crenças produzidas ao longo de um processo histórico,
por meio de uma ideologia; essa compreensão não chega à explicação concreta do nascimento desse conceito, que
não é meramente produto de um discurso de poder e nem de uma oclusão semiótica. Não basta aponta-lo é
necessário descobrir a estrutura que lhe dá sustentação, as relações reais que ele exprime. É nesse sentido que a
criminologia radical encontra com a interpretação teológica e a jurídica do conceito de poder de Estado e vê na
primeira um desdobramento ideológico da realidade e na segunda abstrações que exprimem aspectos dos sujeitos
mas nada dizem sobre a sociedade mercantil em que eles vivem e que ditam as relações sociais nas quais se inserem.
A criminologia radical tece considerações a respeito do controle social pelo estado penal fazendo a discussão de três
conceitos: Estado Penal, Estado Policial e Estado de Exceção. No primeiro faz-se a discussão de uma política estatal
que criminaliza a miséria por ele mesmo produzida e se retira da resolução dos problemas sociais gerados
implementando políticas compensatórias para gestão social das classes subalternas. Esse estado de direito no bojo da
sociedade capitalista coexiste com um Estado Policial, que ressalta pelo uso de seu aparelho repressivo, a soberania do
estado frente à sociedade civil. Colocando às vísceras nos momentos de repressão que o Estado Penal não pretende
garantir segurança. O Estado de exceção mostra o caráter soberano de poder do Estado que reconhece e legitima o
poder do ordenamento político, pois cabe a ele decidir sua validade e o cumprimento de suas leis quando se interessa
741
pelo velamento de seu senhorio, mas se coloca fora da jurisdição e a suspende se necessário for à manutenção da
hegemonia da burguesia. O vídeo produzido sintetiza em seu conteúdo essa passagem pelas diferentes perspectivas
teóricas da criminologia ao longo da história, bem como traz falas de quem vivencia na pele a repressão e punição
gerada no bojo das desigualdades sociais, da falta de acesso a bens básicos de sobrevivência, que têm suas
possibilidades de humanização tolhidas diariamente e recebem o rótulo de criminosos e desviantes sociais pelo estado
que reivindica-se cinicamente paternalista para todos.

742
GT 35 | Psicologia Social Comunitária: Práticas e Formação

Coordenadores: Marcos Vieira Silva, UFSJ | Maria de Fatima Quintal de Freitas, UFPR | Raquel S. L. Guzzo, PUC
Campinas

Qual o objetivo deste GT?


O GT proposto pretende reunir trabalhos que versem a respeito da Psicologia Social Comunitária e dos processos de
intervenção psicossocial na vida cotidiana, problematizando as relações com a formação em psicologia para atuar
nesses contextos e dinâmicas comunitárias.
Buscando-se apoio nos paradigmas da Psicologia Social Comunitária e da Libertação, na perspectiva brasileira e
latinoamericana (Freitas, 2005, 2008, 2010; Guzzo, 2005,2010; Martín-Baró, 1998; Montero, 1994, 2003; Vieira-Silva,
2008, 2015), serão realizadas discussões a respeito dos seguintes aspectos: a) os enfoques teóricos relacionados às
abordagens e metodologias de intervenção psicossocial na rede de relações comunitárias; b) às formas de avaliar e
analisar os impactos de intervenção nos processos de participação comunitária; c) as diferentes estratégias,
qualitativas e quantitativas, utilizadas na vida cotidiana para identificar os processos de participação e conscientização.
Dessa forma, o GT proposto visa analisar a contribuição das psicologia social comunitária e da libertação para a
compreensão desses processos psicossociais de participação e mobilização em redes e contextos coletivos, de tal
modo que possam ser identificados aspectos importantes a serem considerados para/para a formação para atuar
nessa área preservando os fundamentos epistemológicos desta área.
Qual a relação deste GT com o tema do encontro (Democracia participativa, Estado e Laicidade: psicologia social e
enfrentamentos em tempo de exceção) e com o eixo temático escolhido (Eixo 7)?
O Eixo temático, dentro do qual o presente GT proposto se enquadra, refere-seà aoà ei oà à sete :à Psi ologiaà so ialà
(comunitária): questões teóricas e metodológicas na pesquisa e produção de conhecimento e/ou intervenções". De
acordo com a organização do evento, este eixo tem como proposta "discutir trabalhos que buscam historiar e
problematizar a história da produção de conhecimento e/ou intervenções em Psicologia Social. Com a intenção de
reunir propostas que apresentem um estreito diálogo com as epistemologias, com a ética e com a política, visa
demarcar os acidentes, inversões e desvios que evidenciam não a unidade de uma história de um saber, mas as suas
fragmentações e heterogeneidades, apontando as descontinuidades na construção daquilo que se configura hoje
como seus métodos, seus objetos de estudo e de intervenções" (página do site Abrapso – Eixo temático 7).
Na direção de serem analisadas as práticas de intervenção psicossocial em comunidade, orientadas pelos aportes da
psicologia social comunitária e da libertação, este GT busca contribuir para uma sistematização de tais trabalhos de
intervenção psicossocial, buscando os liames teóricos e metodológicos coerentes a esta perspectiva.
A categoria democracia participativa, na sua face de democracia radical expressada na rede de relações da vida
cotidiana, pressupõe refletir sobre os aspectos relativos à territorialidade e aos agentes sociais implicados com os
processos de mudança, resistência e mesmo naturalização da vida cotidiana. Isto, por sua vez, leva a analisar as
dimensões da politização da vida cotidiana e dos processos de conscientização e participação que se refletem nas
diferentes relações e redes presentes nos contextos comunitários. Estas relações também mostram o tipo de
envolvimento e papel do Estado, tornados visíveis nas necessidades que são (ou não) contempladas dentro das
políticas públicas e também nas exigências e desafios colocados aos profissionais que buscam uma prática dirigida à
emancipação e transformação das condições de exploração e vulnerabilidade dos diferentes setores com os quais
trabalham.
Assim, pensar a psicologia social comunitária necessariamente - e em coerência à sua história de construção no Brasil
e na América Latina - significa pensá-la em relação e em resistência aos processos de exclusão, de exceção e de
enfrentamento aos processos de naturalização e legitimação das formas de injustiça que se manifestam na vida
cotidiana das pessoas em suas redes comunitárias ( Freitas, 2005, 2010; Guzzo, 2010; Vieira-Silva, 2015). Falar disto é
falar dos processos de politização da consciência, também, nas práticas desenvolvidas pelos profissionais, seja quando
realizam seus trabalhos de intervenção em comunidade, seja quando lidam com as políticas públicas ao propor ações
coletivas junto aos grupos comunitários e aos equipamentos sociais; seja quando desenvolvem dentro dos
movimentos sociais, programas comunitários para o fortalecimento das redes de solidariedade e participação cidadã.
Estas são dimensões importantes para a formação em psicologia social comunitária. Embora apontadas em alguns
paradigmas epistemológicos, não se constituem em matrizes dominantes na formação do profissional para atuar
nestes contextos e dinâmicas comunitárias, mesmo que as políticas públicas possam demandar tais práticas.

743
Pretende-se, ainda, aprofundar discussões em termos de sistematização das categorias conceituais presentes nos
diferentes modos de atuar no campo comunitário, podendo servir
de sugestões para os debates no âmbito das políticas públicas, da defesa e preservação dos direitos humanos, e,
consequentemente, para a formação do profissional comprometido com os processos de enfrentamento da exclusão e
da injustiça vivida no cotidiano.
Que tipo de trabalho será acolhido e quais as discussões que o GT pretende promover?
Serão acolhidos trabalhos de pesquisa e de intervenção, e também experiências de intervenção, que enfoquem três
eixos, considerados principais e que orientam este GT, a saber:
- Eixo relativo à intervenção psicossocial em comunidade: serão acolhidas as produções relativas à organização,
mobilização e participação comunitária, em seus diferentes aspectos.
A compreensão sobre Comunidade permite, aqui, um amplo espectro de sentidos, que reune os seguintes aspectos:
a) diferentes tipos de associação e agrupamento (diferentes movimentos associativos e de cidadania),
b) contextos e dinâmicas comunitárias com diferentes finalidades de agrupamento e/ou papel político (como
sindicatos, ONGs, OCIDIS, práticas e grupos do terceiro setor e empreendedorismo social, cooperativas, grupos de
mulheres, jovens e parcelas da população em situação de vulnerabilidade social, entre outros) ,
c) diferentes processos psicossociais presentes nas formas de organização e mobilização comunitária (como por
exemplo, redes de apoio comunitário, grupos ligados por sentimentos de pertença e/ou sentimento psicológico de
comunidade, processos de consciência e identidade dentro das formas variadas de participação, entre outros), e
d) outras formas de organização e mobilização coletiva .
- Eixo da politização no cotidiano: serão realizadas discussões que envolvam trabalhos que tratem da dinâmica de
relacionamento entre comunidades e esferas públicas, dirigidos e/ou comprometidos com a busca, defesa e
preservação dos seus direitos, materializados na rede de relações comunitárias .
- Eixo da prática e formação de profissionais no campo comunitário: serão realizadas discussões que envolvam
trabalhos dirigidos à intervenção psicossocial em comunidade, enfocando a análise dos processos psicossociais de
participação e conscientização no âmbito das comunidades e dos agentes comunitários (equipe de profissionais e
grupos de lideres e representantes nas comunidades e demais grupos). Também serão acolhidos trabalhos que
permitam uma discussão a respeito do processo de formação de profissionais para atuarem no campo das práticas e
intervenções comunitárias. Busca-se sistematizar um conhecimento que subsidie os processos formativos em
psicologia social comunitária implicados com as resistências às diferentes formas de exclusão social.
Referências
Freitas, Maria de Fatima Quintal de (2005) (In)Coerências entre práticas psicossociais em comunidade e projetos de
transformação social: aproximações entre as psicologias sociais da libertação e comunitária. PSICO, Porto Alegre,
PUCRS, v.36, n.1, pp. 47-54
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participação (23-42). In: DIMENSTEIN, M. (Org.). Psicologia Social Comunitária. Aportes teóricos e metodológicos.
Natal, RN : EDUFRN – Editora.
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participação comunitária. In F.lacerda Jr. & R.S.L.Guzzo (orgs), Psicologia & sociedade. Interfaces no debate sobre a
questão social (p.83-98). Campinas: Alínea
Guzzo, Raquel Souza Lobo (2005). Escola Amordaçada: compromisso do psicólogo com este contexto (17-29). In:
MARTÍNEZ, A. (org). Psicologia Escolar e Compromisso Social. Campinas, SP : Ed. Alínea.
_____ (2010) Da opressão à libertação: uma perspectiva urgente para a psicologia - a conclusão de um projeto, a
abertura de perspectivas. In F.lacerda Jr. & R.S.L.Guzzo (orgs), Psicologia & sociedade. Interfaces no debate sobre a
questão social (p.13-18). Campinas: Alínea.
Martín-Baró, Ignácio (1998). Psicología de la liberación. Madrid: editorial Trotta.
Montero, Maritza (1994). Un Paradigma para la Psicología Social. Reflexiones desde el quehacer en America Latina. In
M.Montero (org.) Construcción y Crítica de la Psicología Social. (pp.27-48). Barcelona: Editorial Anthropos..
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Vieira-Silva, M. (2008).Práticas em psicologia social comunitária: questionamentos e articulações com a extensão
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292-300). In Pesquisas e práticas psicossociais. Volume 10 nº 2. São João del-Rei, UFSJ.
744
As metodologias de rede como estratégias de ação coletiva no trabalho comunitário
Autores: Isabela Marinho Maciel, PUC Minas; Marcia Mansur Saadallah, CRP-MG
E-mail dos autores: isabelammaciel@gmail.com,marciamansurbh@gmail.com

Resumo: Uma leitura breve sobre metodologias de redes já nos permite apreender a pluralidade do caminho que
percorre. A articulação e integração que propõe intrinsecamente a sua estratégia de atuação percorre os campos da
complexidade e qualquer sugestão de enquadrá-la a uma produção linear seria reduzi-la em sua potencialidade. As
redes são muito diversas, bem como suas nomenclaturas. Há uma grande variedade de definições da ideia de redes
que, se não tomadas com a devida atenção, corre-se o risco de uma prática social empobrecida e limitada de seus
potenciais benefícios. Partindo de pressupostos da Psicologia Social Comunitária e do método cartográfico de
pesquisa-intervenção proposto por Deleuze e Guattari, nos aproximamos do conceito polissêmico de rede na tentativa
de dar um contorno a conjuntura de fios entrelaçados que são as metodologias de redes. Situamo-nos no contexto do
trabalho comunitário, envolvendo atores estatais e não estatais, que de maneira dinâmica e horizontal, se organizam
em rede apostando na possibilidade de provocar desenvolvimento na comunidade e em si mesmos. A experiência de
rede que nos servirá de base para o desafio desta precisão acontece nas comunidades Vila Cemig, Conjunto Esperança
e Alto das Antenas, localizadas na Regional Barreiro, Belo Horizonte, através do projeto de extensão Articulando
Redes, Fortalecendo Comunidades da PUC Minas. A região é conhecida por seu perfil de vulnerabilidade social, mas
também reconhecida em seu histórico de lutas políticas e o exercício do controle social. O projeto e sua equipe de
extensionistas se coloca como um agente facilitador e parceiro da rede, visando o fortalecimento do vínculo
comunitário nos territórios em que se insere. Não se trata, portanto, de um trabalho com o indivíduo, mas sim com o
coletivo e a construção cotidiana de trabalho em rede. Ao longo dos anos de trabalho nesta comunidade ainda nos
perguntávamos, como as metodologias de redes podem propor uma nova forma de organização de atores sociais e
como podem contribuir com o processo de transformação social e desenvolvimento comunitário. Fizemos desta uma
busca coletiva. Pesquisando, experimentando e intervindo junto à comunidade, começamos a considerar que o
próprio processo de planejamento e execução de uma rede é muito mobilizador, convidando atores a uma vivência
oposta a verticalização política habitual. Há uma série de valores e ideais que caracterizam a noção de redes, como
relações sociais e políticas mais horizontalizadas, respeito à diversidade cultural, corresponsabilidade nas ações e a
aposta na possibilidade de conectar o local com o global. Neste sentido, a articulação em rede surge como uma
possibilidade de superação da histórica fragmentação e verticalização das políticas públicas e outras práticas de
trabalho social comunitário, superando incompletudes institucionais. Acreditamos que esta estratégia viabiliza o
envolvimento dos atores sociais, possibilita a promoção de uma atenção integral e, cotidianamente, pode provocar
mudança social. No âmbito das políticas públicas, a noção de redes é incorporada como uma possibilidade de
descentralização e compartilhamento do poder, buscando a superação da histórica fragmentação sobre a qual se
edificou o saber e o fazer das políticas públicas no país. Movimenta-se a ideia de articulação e integração dos
programas, serviços públicos, iniciativas comunitárias, atores sociais e outros para que se constitua um sistema de
atenção que busque garantir os direitos sociais básicos da população. Isto é, trabalha-se com a noção de incompletude
institucional, já previstas em Normativas Internacionais, trazidas pela autora Silva Tejadas e outros. A estratégia de
atuação em rede aposta na maneira orgânica de construir uma estrutura democrática e horizontal, favorecendo o
protagonismo de cada indivíduo, grupo, instituição e outros que a compõem. A rede estimula o comprometimento
coletivo e os convida a uma vivência que vise a construção da autonomia e da criatividade. Isto é, a atuação em rede é
uma construção cotidiana que se forma com a participação efetiva de pessoas comprometidas com o desenvolvimento
social e comunitário, pelo exercício da cidadania e do controle social. As mobilizações sociais podem ser mais efetivas
quando todos trabalham pelo mesmo objetivo e bem comum, já que a rede se constitui antes de tudo como um
espaço comunicativo e de compartilhamento entre os envolvidos de seus saberes e práticas.

745
As práticas em Psicologia Comunitária: Os desafios da supervisão de estágio em comunidades carentes
Autores: Ligia Claudia Gomes de Souza, Universidade Veiga de Almeida
E-mail dos autores: claudiapsisocial@gmail.com

Resumo: Esse trabalho debate a questão do campo de estágio em Psicologia Comunitária, procurando responder a
questão: quais os principais desafios da supervisão das práticas de estágio no campo comunitário?
O objetivo desse trabalho foi levantar questões sobre a entrada em campo de estágio de alunos do curso de Psicologia
e os desafios à prática junto a populações tão diferenciadas dos grupos sociais, dos quais os próprios estudantes são
oriundos, objetivando de forma específica analisar a entrada em campo e o impacto nos estudantes, que trazem,
muitas vezes, expectativas sobre o alcance da possibilidade de mudar a realidade social vigente. O trabalho se
relaciona especificamente com o eixo "Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de
conhecimento e/ou intervenções" na medida em que se interessa pela produção de conhecimento em Psicologia
Social.
Essa análise reflexiva sobre as práticas de estágio se fundamenta em autores interessados na formação profissional do
psicólogo brasileiro, desde os estudos, que podemos considerar como: clássicos, tais como Andrade, 1997; Antunes,
1999; Bonfim, 2003; Coimbra, 1999 até os estudos mais atuais, exemplificados por Ornelas e Vargas-Moniz, 2014 e
Silva Neto e Oliveira, 2015, ou seja, todos trabalhos que se debruçaram sobre a formação dos psicólogos no Brasil e
analisaram algum aspecto de sua prática profissional e sua interrelação com a formação. Esse trabalho dialoga com os
teóricos da Psicologia Comunitária e seus preceitos teóricos e práticos, toda a intervenção discutida nesse trabalho se
fundamenta na psicologia social crítica e nos preceitos da Psicologia Social Comunitária Latino Americana na tradição
inaugurada por Baró e Lane.
O método utilizado nessa investigação foi o não experimental bibliográfico, mas articulado a elementos descritivos
oriundos das experiências nas práticas dos estágios que venho desenvolvendo há 15 anos no curso de graduação em
Psicologia. Esse estudo, dessa forma, se configura como um estudo reflexivo de casos atendidos no decorrer do
estágio, esses casos se configuram como as experiências de troca entre supervisora e estagiários.
Os resultados mostram que os estudantes iniciam as práticas de estágio com muitas expectativas no que se refere ao
campo, levam com eles seus conceitos, definições e percepções do que sejam as pessoas em condição de
vulnerabilidade social, uma realidade diferente de sua classe social, e por isso é necessário desconstruir essas
concepções e trabalhar junto a eles a questão da diversidade de modos humanos, possibilitando que esses alunos
cheguem perto da realidade do sofrimento psíquico que acomete esses sujeitos e tenham condição de realizar uma
escuta clínica do sujeito em particular, abstraindo e suspendendo todas as concepções prévios sobre os mesmos e,
com isso, podendo dar atenção às suas psiques. Entretanto para que cheguemos a isso, o principal trabalho é realizado
a cada encontro com os alunos, quando tratamos o outro como nada mais que humanos que vivem seus dramas
cotidianos, são atravessados pelo sofrimento real da pobreza, mas que lutam e sobrevivem como todos os outros.
Esses trabalho pode produzir reflexões sobre o lugar da supervisão na preparação de futuros psicólogos, refletir sobre
a chegada de estudantes em um campo social conflitivo. Conclui-se que é necessário que a chegada nesse campo seja
fundamentada em muitas reflexões sobre o compromisso social da Psicologia, sobre o alcance das práticas
profissionais do psicólogo e, principalmente, sobre o objetivo pessoal de cada estudante ao ingressar na área de
psicologia comunitária. Esse processo constante de reflexão produzirá o desenvolvimento do cuidado essencial ao
estar com um outro sujeito que possui uma realidade social diversa daquela que o estudante pertence, gerando nesse
futuro profissional o respeito à diferença de pontos de vista, de interesses e de condições de vida, com certeza nada
disso irá justificar sua ação no sentido da manutenção dessa diferença, mas do respeito à forma de visão de mundo do
outro, e finalmente esse estudante é sempre estimulado ao desenvolvimento das potencialidades psíquicas e sociais
do grupo com quem trabalha, entendendo que o empoderamento social e pessoal é o nosso principal objetivo ao
atuar com grupos comunitários.

746
O desafios principais estão relacionados à forma como estudantes oriundos de classes sociais mais elevadas são
impactados com a realidade social de crianças, jovens, adultos e idosos que trazem em suas histórias tantas durezas
que a vida lhes apresentam, as histórias de abandono, violência, conflitos familiares, relações fragilizadas pelo
contexto social de violência psicológica, ou seja, de todos os atravessamentos sociais que os assustam, o aluno poder
singularizar e suspender todo o seu juízo de valor, chagando ao humano. Afinal ser psicólogo exige de cada um de nós
um processo pessoal de suspensão de valores pessoais e a possibilidade de estar ao lado do outro tentando ver o
mundo tal como aquele outro o vê.

747
Atuação do psicólogo no terceiro setor: intervenções em uma ong que atende pessoas com deficiência
Autores: Raniele Epissara Nonato de Souza, UFRN
E-mail dos autores: ranielepsicologia@gmail.com

Resumo: Introdução: O terceiro setor vem desempenhando um papel significativo na nossa sociedade, através das
instituições de bem estar social é possível acolher à população menos favorecidas permitindo uma ampliação dos
serviços que antes eram ofertados apenas para a classe elitista, à saber a psicologia, que se distancia do compromisso
social da profissão, quando reproduz um modo de fazer tradicionalmente clínico. O crescimento desses serviços é
associado a dois processos interdependentes: a introdução sistemática do psicólogo no campo do bem-estar social,
sobretudo, mas não exclusivamente, no da saúde pública, num movimento contraditório, e a presença crescente do
psicólogo nas organizações do chamado terceiro setor voltados para a área do bem-estar social. Uma das grandes
preocupações atuais sobre os serviços prestados pelo psicólogo neste contexto são as modalidades convencionais de
atuação clínica, que acaba desqualificando o comprometimento da ação profissional. O que se pretende com a
ampliação dos serviços psicológicos no terceiro setor é oferecer um serviço diferencial que proporcione promoção e
prevenção por meios de atividades multi e interdisciplinares focadas nas condições de vida da comunidade. Objetivo:
Este trabalho visa apresentar um relato de experiência de estágio no âmbito do terceiro setor na cidade do Natal-Rio
Grande do Norte, enfatizando a atuação do psicólogo junto à pessoa com deficiência e seus familiares. Neste sentido o
estágio profissional no curso de Psicologia possibilitou aprimorar o aprendizado permitindo ampliar os conhecimentos
acerca da atuação do psicólogo, além de desenvolver a capacidade de observação, planejamento e diagnóstico das
necessidades existentes no campo. Relação com o GT e Eixo Temático: Dessa forma, foram desenvolvidas intervenções
psicossociais, concomitantemente à problematização de uma práxis formativa. Existe uma grande necessidade de
espaços de reflexão sobre essas atuações, além de formação continuada, para que assim surjam respostas mais
efetivas às demandas sociais. Orientação teórica: Para tanto serviu como aporte as premissas da psicologia social
comunitária baseada no trabalho grupal com as famílias atendidas, com a finalidade de identificar as relações
excludentes impretadas pela lógica assistencialista difundida neste âmbito. Método: A partir da imersão no contexto
do estágio no período de um semestre letivo, realizou-se duas visitas semanais cada uma com duração de 05 horas,
nas quais foram feitas observações, acolhimentos, escutas, rodas de conversa, grupos focais e dinâmicas. Resultados:
Percebeu-se que a atuação da Psicologia não se restringe às atividades de cunho terapêutico. As práticas realizadas
extrapolam os muros, os profissionais acompanham os usuários em passeios da instituição, contribuindo para a
inclusão da pessoa com deficiência na sociedade, orientando e estimulando a participação da família como co-
terapeutas. As narrativas construídas denotam o papel fundamental das Ong´s para a manutenção do bem estar social
das famílias atendidas, em contrapartida a desresponsabilização estatal no enfrentamento das questões sociais.
Conclusão: Sob este prisma, como se dá a atuação da Psicologia neste campo? Verificou-se uma tendência para
práticas psicológicas de caráter terapêutico em consonância com as demais especialidades ofertadas, reproduzindo
uma clínica tradicionalmente direcionada ao indivíduo alinhada à reabilitação, ocorrendo também atividades em
grupo. No entanto, volta-se para o compromisso social da Psicologia possibilitará aos atendidos reflexões sobre a
realidade social a qual as famílias estão inseridas, tornando-as protagonistas na construção e condução de seus
projetos de vida, ampliando a consciência e autonomia dos pares. Além disso as Ong´s amenizam as sequelas deixadas
pelo Estado no enfrentamento da questão social por sua função catalizadora de bem estar social.

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Desafios para um país que envelhece: reflexões sobre o atendimento ao idoso asilado provido pelo Estatuto do
Idoso
Autores: Júlia Cabral Mazini, UFSJ; Marcos Vieira Silva, UFSJ
E-mail dos autores: juliacmpsi@yahoo.com.br,mvsilva@ufsj.edu.br

Resumo: Em 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de idosos, sendo que 70% destes
utilizarão o Sistema Único de Saúde. Santos, Duarte e Marinho (2014) afirmam que compreender o processo de
envelhecimento não se restringe somente as transformações demográficas e epidemiológicas. Ao pensar nos desafios
trazidos pela velhice, tanto no âmbito individual como coletivo, Berzins e Borges (2012) apontam para três questões: o
envelhecimento é uma novidade para toda a sociedade; essa questão tem sido entendida mais como um ônus do que
como vantagem para as políticas públicas; e a abrangência desse fenômeno exige construção de políticas para pessoas
considerando a diversidade etária, gênero e condição social, que sejam verticais (ao longo do curso de vida) e
transversais (de caráter interdisciplinar, multisetoriais e inclusivas). Das políticas públicas elaboradas para atender a
faixa etária acima de 60 anos, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003) é a lei entendida para
tutelar os idosos brasileiros. Nesse novo cenário algumas discussões se tornam importante, entre elas as de moradia e
cuidado oferecidos aos idosos, destacando aqui as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI s). Essas são
destinadas ao atendimento de pessoas com idade superior a 60 anos, oferecendo a esse indivíduo sem vínculo familiar
ou condições de prover a própria existência, assistência em moradia, alimentação, saúde e convivência familiar. Diante
do novo perfil da população brasileira, torna-se importante repensar as Políticas Públicas para idosos
institucionalizados. É nesse contexto que surge a pesquisa realizada no Programa de Mestrado em Psicologia da
Universidade Federal de São João Del-Rei, em interlocução com os programas de pesquisa em psicologia e
envelhecimento humano e o projeto de extensão intitulado Intervenção em Instituições Asilares de Longa
Permanência para Idosos: Ludicidade, Identidade e Processo Grupal desenvolvidos no Laboratório de Pesquisa e
Intervenção Psicossocial da Universidade. Por meio da Análise Documental de três tipos de Diários de Campo
produzidos pela pesquisadora e narrativa de um caso, propõe-se repensar a inclusão no Estatuto do Idoso dos idosos
residentes de Instituições de Longa Permanência para Idosos. Trata-se de um estudo qualitativo, em que os
documentos tornam-se os materiais empíricos, considerados como memória e fonte valiosa de testemunha para a
análise. A compilação dos trechos dos Diários traz uma redação final de um caso para análise, discutindo-se questões
que aos olhos da pesquisadora se tornam valiosas para o entendimento da temática: moradia, inclusão social,
programas de assistência à saúde, interdisciplinaridade, psiquiatria geriátrica, entre outros. É justamente na
construção de uma nova ordem, lógica e retórica, respeitando a veracidade e cronologia dos fatos que se produz o
caso. Do Estatuto do Idoso são extraídos trechos que contribuem para as discussões que os seguem. Destacam-se
como temas de análise na Política Pública a instituição para o idoso morar, programas e redes de assistência à saúde,
relações familiares, formação em Geriatria e Gerontologia e o preconceito latente. Percebemos que importantes
passos ainda precisam ser dados para inclusão do idoso asilado, em sua fragilidade biológica e social, no Estatuto do
Idoso. Concluímos não é a necessidade de se mudar a política, mas a sua apropriação, trabalhando o preconceito que
a ILPI carrega e possibilitando que os seus residentes possam lutar e desfrutar das leis, normas e Políticas Públicas
oferecidas aos idosos brasileiros. O processo de institucionalização provocado pela entrada na instituição asilar
compete com a participação social, assim a institucionalização (esse papel instituído aos asilos) do qual participa a
sociedade precisa ser repensado, questionado e transformado.

749
Direitos dos idosos e concepção de envelhecimento: cotidiano e administração de Instituições de Longa
Permanência para idosos
Autores: Nathalia dos Santos Dutra, UFSJ; Marcos Vieira Silva, UFSJ
E-mail dos autores: nathsdutra@hotmail.com,mvsilva@ufsj.edu.br

Resumo: Esta pesquisa faz parte do Programa de Mestrado de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei.
Apresenta a tentativa de compreensão do gerenciamento dos direitos dos idosos, regulamentados pelo Estatuto do
Idoso e Política Nacional do Idoso em especial, nas Instituições de Longa Permanência para idosos (ILPIs). A pesquisa
relaciona-se com os Grupos de trabalho por problematizar questões que dizem respeito à psicologia social como
direitos à pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Optou-se por investigar a forma como as administrações das ILPIs interpretam as diretrizes do Estatuto do Idoso
(observando a portaria MPAS/SEAS e a resolução SEDH/CNDI nº. 12) em seus fazeres cotidianos uma vez que são os
gestores quem dão as diretrizes para o funcionamento da Instituição. A proposta de colocar em foco a visão dos
diferentes gestores sobre o funcionamento da instituição com relação à garantia ou proximidade com os direitos dos
idosos é relevante por colocar em evidência o olhar dessas pessoas sobre a maneira como se dá o cotidiano da
instituição e, por conseguinte, como é gerida a rotina, bem como de reflexões sobre as (im) possibilidades de oferecer
aos idosos os direitos garantidos pelo Estatuto do Idoso, dentro das ILPIs. Alguns estudos sobre o tema indicam a
distância entre a realidade e a efetividade de se cumprir tais direitos dos idosos dentro das instituições. Considerando
ainda os estudos de Goffman (1961) e aqueles que observam a proximidade do funcionamento das
ILPIs com os moldes de instituições totais, coloca-se a seguinte indagação: De que forma a Administração das ILPIs
interpretam em seu fazer cotidiano as diretrizes do Estatuto do Idoso, tendo como referência a Portaria MPAS/SEAS
n°. 73 e a resolução SEDH/CNDI nº. 12, de 11 de Abril de 2008? Será que eles consideram possível garantir tais direitos
dentro da instituição? Como ou quais estratégias são colocadas em prática na instituição para que haja uma
proximidade ou garantia desses direitos? Qual a forma de acolhimento possível dentro da ILPIs? Qual(is) a(s)
concepção(ões) de envelhecimento que orienta(m) as práticas das ILPIs?
Parte-se do pressuposto de que a visão que se tem do velho e do envelhecer orienta as práticas profissionais e as
regras que irão conduzir o dia a dia e a vida dos internos. Dessa maneira, refletir sobre as concepções de velhice no
ambiente institucional pode permitir ampliar as possibilidades de acolhimento dos sujeitos.
A fim de que tal entendimento fosse alcançado, foi feita a observação da concepção de envelhecimento carregada
pelos gestores dos locais de estudo, bem como a análise dos documentos internos das Instituições. Utilizou-se como
método de produção de dados a análise documental e entrevista semiestruturada com oito representantes da gestão
das quatro ILPIs participantes do estudo, sendo dois representantes de cada Instituição. Participaram da pesquisa
quatro ILPIs de cidades distintas: São João del Rei, Prados, Resende Costa e Conselheiro Lafaiete. A análise do discurso
inspirou a compreensão das entrevistas produzidas, valorizando as concepções ideológicas, sentimentos, sentidos e
significados. As categorias de análise surgiram com base nas políticas que regulamentam os direitos dos idosos, e os
materiais das entrevistas foram analisados de acordo com tais documentos. Os resultados indicam a complexidade de
se gerir uma ILPIs, apontando para a carência de parceria com os familiares, a relevância de equipe multiprofissional,
desafios financeiros, concepção negativa do envelhecimento e presença de constantes preconceitos da sociedade
quanto ao envelhecer em um local de abrigo. No entanto, e apesar de tantos desafios, ainda se percebe nas falas das
gestoras a presença de esperança, desejos e sonhos.

750
Estágio básico de psicologia em contextos comunitários: o CRAS como via de acesso à comunidade
Autores: Amailson Sandro de Barros, UFMT
E-mail dos autores: amailsonbarros@gmail.com

Resumo: O presente texto aborda a questão do estágio básico em contextos sociais comunitários, ofertado como
disciplina obrigatória no quarto semestre do curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
campus Cuiabá. Por ser um componente curricular, o referido estágio segue algumas especificidades como carga
horária de 60 horas, divididas em 30 horas de discussão teórica e supervisão acadêmica, instrumentalizadora da práxis
do futuro profissional e de sua inserção nos campos de estágios, e 30 horas de prática de observação-participante
(proposição que se aproxima da pesquisa participante) e realização de intervenções. O referencial teórico adotado
para a condução dessa disciplina é o da Psicologia Social Comunitária, dentro de uma perspectiva emancipatória e
libertária. É a partir desse referencial e da realização desse estágio que os estudantes têm o primeiro contato
sistematizado com o saber-fazer da psicologia (social) comunitária. Os campos de estágios dessa disciplina são vários,
porém nesse momento tem-se como foco as experiências vivenciadas nos Centros de Referência de Assistência Social
(CRAS). É via o CRAS que os estagiários também se aproximam das demandas concretas da comunidade e da atuação
da psicologia frente às necessidades reais das pessoas. Neste contexto, desafios e conquistas são vivenciadas pelos
estagiários, aproximando-os do caráter interventivo da profissão, potencializando sua formação do ponto de vista
teórico-metodológico, ético-político e investigativo. O objetivo central desse texto é identificar a centralidade deste
estágio no processo de formação profissional em psicologia, bem como apontar as conquistas e dificuldades postas a
essa formação e realização do estágio. Espera-se, assim, contribuir com reflexões que possam subsidiar e potencializar
discussões didático-pedagógicas sobre a formação de profissionais para atuarem no campo das práticas comunitárias a
partir da política pública de Assistência Social, especificamente no campo da proteção social básica realizada pelos
CRAS. Os dados foram coletados nos relatórios finais de estágio entregues ao professor responsável pela disciplina
entre os anos de 2015 e 2016. Foram analisados 30 relatórios. O material coletado foi submetido a uma análise
qualitativa de conteúdo e organizado nas seguintes categorias: I) estágio pensado e estágio real; II)
atividades/intervenções geradas e III) ganhos para a formação acadêmica. A categoria estágio pensado e estágio real
apresenta ideias centrais dos estagiários antes e depois da concretização da vivência do estágio. As informações
obtidas nessa categoria revelam que os estagiários criaram expectativas de contato com equipes de profissionais
comprometidos com o processo de transformação social e com comunidades participativas e receptivas as propostas
de intervenções psicossociais elaboradas tanto pelas equipes técnicas quanto pelos estagiários. Entretanto, o campo
de atuação revelou: a) dificuldades na interação interpessoal com algumas equipes de profissionais dos CRAS que nem
sempre estavam dispostas a receber os estagiários, b) fatalismo e conformismo dos profissionais frente às demandas
da população atendida, c) ausência de profissionais de psicologia na maioria dos campos de estágios, d) não efetivação
do trabalho interdisciplinar previsto pelo Sistema Único de Assistência Social, e) precariedade das condições físicas dos
CRAS, f) rotatividade de profissionais e g) dificuldade em relação ao que fazer e como intervir nas demandas
observadas.Na categoria atividades/intervenções realizadas, as propostas executadas pelos estagiários englobaram:
a) oficinas temáticas relacionadas à violência nas relações familiares e comunitárias, b) prevenção ao abuso sexual
infanto-juvenil, c) rodas de conversas com as equipes técnicas dos CRAS para refletir sobre o trabalho do CRAS, d)
rodas de conversas com idosos englobando atividades lúdicas, e) mapeamento e articulação da rede local de atenção
e proteção da área de abrangência dos CRAS e f) visitas domiciliares. A categoria ganhos para a formação acadêmica
indica: a) aproximação com conhecimentos teórico-metodológicos da psicologia social comunitária, b) papel ativo dos
estagiários no planejamento e execução das atividades de intervenções, c) aproximação dos estagiários com a vida
concreta das comunidades atendidas pelos CRAS e d) fortalecimento do campo de estágio para desenvolvimento e
751
incentivo de estágios específicos supervisionados realizados nos últimos semestres da graduação em psicologia.
Algumas conclusões possíveis de reflexão indicam que a realização do estágio básico em contextos sociais
comunitários via o CRAS possibilitou aos estagiários vivenciar algumas fases do trabalho comunitário, tais como:
processo de familiarização com o contexto do estágio, identificação e definição das necessidades, recursos para
satisfazê-las e trabalho com grupos. Além de contribuir para que os estagiários problematizassem e refletissem
criticamente da atuação da psicologia no campo comunitário e nas políticas públicas.

752
Formação de policiais militares: reflexões a partir da Psicologia Social Comunitária
Autores: Dênis Wellinton Viana, UFPR; Maria de Fatima Quintal de Freitas, UFPR/CNPq
E-mail dos autores: dwvdenis@gmail.com,fquintal@terra.com.br

Resumo: A formação e a prática cotidiana de policiais militares brasileiros, especialmente após o advento da
Constituição Federal de 1988, tem se voltado, ao menos do ponto de vista teórico, para aproximação com os setores
da população. Várias tem sido as estratégias institucionais adotadas e perspectivas teóricas defendidas, para capacitar
estes profissionais para a construção e implementação de interações que promovam não só uma aproximação, mas
uma parceria profícua de ambos os lados. Estas estratégias institucionais no campo da segurança pública têm sido
denominadas de Polícia Comunitária. Embora, possa haver uma intencionalidade positiva neste campo, inúmeros são
os questionamentos a respeito da responsabilidade social e do compromisso político destes profissionais junto aos
diferentes tipos de setores da população. Uma crítica recorrente ao processo de formação destes agentes de
segurança, em particular, à polícia, situa-se em como a formação destes profissionais, pode atender as populações nos
locais onde vivem e constroem suas vidas. Objetiva-se analisar em que aspectos as atividades formativas de policiais
militares apresentam relações com as proposições do campo da Psicologia Social Comunitária. O trabalho relaciona-se
ao GT Psicologia Social Comunitária: práticas e formação , especialmente com o eixo temático prática e formação de
profissionais no campo comunitário , ao analisar a realidade educativa e cotidiana de policiais militares em sua
interface com a comunidade. Do ponto de vista da PSC, a comunidade não é um grupo de convidados, espectadores
ou beneficiários, mas agentes com possibilidade de fala e decisão sobre as suas circunstâncias concretas, portanto,
considerada em suas capacidades e pontos favoráveis e não apenas nas necessidades e dificuldades, portanto, capaz
de fortalecimento e mudança das condições opressoras (FREITAS, 2012; MONTERO, 2004, 2014). A PSC propõem
trabalhos de caráter pedagógico, compartilhado entre a comunidade e os profissionais e sustentado pelo
compromisso político com as formas de resistência e superação das condições de exploração e alienação, sendo que
dos diferentes profissionais espera-se ainda o compromisso com um projeto de vida e sociedade mais justos (FREITAS,
2014, p. 74). Cabe aqui, questionar as circunstâncias que facilitam ou dificultam a formação de profissionais capazes
de se envolver com a realidade de seu país e de sua gente e que estejam orientados em suas ações cotidianas para um
compromisso ético e profissional (FREITAS, 2012, p. 173). Realizou-se uma análise de legislações e documentos
oficiais que embasam as práticas educativas de policiais militares, no que tange as relações comunitárias, buscando
relacioná-las com as propostas da PSC apontando as aproximações e os distanciamentos. Como aproximação aos
pressupostos da PSC, a formação e o trabalho cotidiano dos policiais militares poderia buscar o estreitamento das
relações com a comunidade atendida. Neste sentido, a formação e a prática policial em relação à atuação com a
comunidade necessita caminhar para superar ao menos três distanciamentos em relação aos pressupostos da PSC. O
primeiro distanciamento refere-se à concepção de política pública, que para a PSC é compreendida de modo integrado
às demandas populares, enquanto na concepção formativa e no cotidiano dos policiais militares é percebida enquanto
uma ação a ser desempenhada por suas corporações para servir à comunidade. Um segundo distanciamento a ser
superado, é que as ações formativas e cotidianas dos policiais militares possam compreender a comunidade como
parte do processo de construção de ações para sua própria segurança, deixando de julgá-la como mera receptora das
ações da polícia. Ainda, um terceiro distanciamento, está ligado à relação com o conhecimento nas práticas
formativas dos policiais, que transitam de uma concepção imposta para uma concepção dialógica. A lógica da
instrução e adestramento , alinhadas com a relação de conhecimento imposta, tendem a considerar o sujeito alvo
da prática pedagógica como uma peça a ser ajustada num sistema harmônico, um sujeito que recebe comandos e,
portanto, deve executá-los; contrapondo às concepções da PSC, que entende o sujeito em processo de construção
junto ao meio social e comunitário. A análise das legislações e documentos aponta contradições sobre o modo de
executar a educação policial militar que oscila entre modelos belicistas e modelos que visam à proximidade do policial
militar das demandas populares. Estas posições apesar de divergentes ainda coexistem no processo educacional de
policiais militares e afetam de forma direta o cotidiano formativo e prático destes profissionais. Necessita-se de
753
distinção por parte do policial militar sobre a realidade social em que realiza o seu trabalho, num contexto
diferenciado do combate ao inimigo interno , foco da ação das Forças Armadas e das Polícias durante o regime
militar. A atuação dos policiais militares nas ruas em contato direto com os dilemas sociais é diretamente influenciada
pelos processos de formação contraditórios. Atua-se numa realidade em que as demandas de segurança conectam-se
a questões sociais, econômicas e culturais, e é pela inserção nesses problemas em conjunto com a comunidade que as
ações de ordem pública podem ser discutidas e as responsabilidades entre Estado e sociedade possam ser
compartilhadas.

754
In(ter)venções: Práticas clínico-institucionais tecendo novas conexões no território
Autores: Laryssa Almeida Domingues, UNIABEU; Carla Silva Barbosa, UNIABEU
E-mail dos autores: domingueslaryssa@hotmail.com,carlabarbosa@gmail.com

Resumo: O presente projeto surgiu a partir de encontros de grupos de supervisão curricular do curso de Psicologia da
UNIABEU - Campus Belford Roxo, cidade localizada na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, coordenado pela
professora e psicóloga Carla Silva Barbosa. Neste espaço sempre apareceu reflexões sobre o campo da prática do
psicólogo social.
O trabalho foi se desenvolvendo a ponto de se transformar em um projeto de Pesquisa e Extensão, com financiamento
institucional da Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão, onde temos a configuração de7 integrantes, entre estagiários,
psicólogas voluntárias, e uma aluna bolsista do projeto.
A partir de questionamentos referentes aos casos endereçados ao espaço do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), esse
projeto começou a ganhar contorno. Estagiárias que se encontravam em campo em abrigos para crianças traziam para
o espaço da supervisão o incômodo do que localizamos enquanto empuxo individualizante dos problemas
institucionais, através de um pedido patologizante da clientela. Neste sentido, o questionamento dos endereçamentos
ao profissional psicólogo começaram a ganhar contorno e decidimos ver, então, como tal pedido chegava ao SPA.
Para tanto, em um primeiro momento, foi realizado um levantamento de dados sobre esses pedidos de atendimento
direcionado ao SPA. Foi feito então um banco de dados com as informações das fichas de todos as pessoas atendidas
pelo serviço. Quando finalizada essa etapa de coleta de dados, fizemos algumas reuniões para que estes pudessem
funcionar enquanto pistas… que pudessem nos guiar nos próximos passos… que pudessem enunciar um lugar que a
psicologia estava sendo tomada enquanto dispositivo de normatização. Nesse momento, pudemos perceber que uma
escola no mesmo bairro da faculdade tinha encaminhado um número expressivo de crianças circunscritas em
problemas de aprendizagem.
Estamos no momento de fazer contato com a referida instituição, que já sinalizou positivamente a nossa primeira
conversa. Objetivamos, a partir de agora, realizar um trabalho em conjunto com a escola, que coloque em questão as
produções institucionais. Ou em outras palavras: quais articulações de poder vem produzindo e sustentando as
crianças-problemas enquanto estratégia de manutenção de formas de funcionamento?
Tal pergunta assume uma função bússola na presente pesquisa, no sentido de orientar os deslocamentos na pesquisa,
já que esta não pode ser respondida na inversão da lógica, ou seja, tendo como resposta a forma professor-problema.
Ou seja, tomar o campo como um conceito metafórico tomado de empréstimo (Lourau, 2004b, p.218) através do
qual a AI vai definir suas práticas enquanto campo de intervenção e campo de análise (Barros e Passos, 2015, p.19).
Enfim, a presente pesquisa que aqui se apresenta, ainda em seu início, se configura como um ato de resistência as
engrenagens produtoras de indivíduos-problema através das instituições de ensino. Esta vem se produzindo e se
colocando enquanto pesquisa máquina de guerra (Deleuze e Guattarri, 2010) no sentido de produzir e contra-
discursos no plano da política da narratividade (Barros e Passos, 2015, p.150).
Pudemos perceber nesse início de trabalho uma mudança de endereçamentos ao SPA por parte dos pedidos, na
medida em que escolas estão procurando o serviço para pedir parcerias em trabalhos e não mais encaminhando
problemas embalados nos corpos de sua clientela.

755
O processo de constituição de um grupo de pesquisa e extensão em psicologia social-comunitária: teoria,
consolidação de redes, desafios e estratégias de intervenção
Autores: Gabriel Bueno Almeida, CESUSC; Letícia de Cisne Branco, CESUSC
E-mail dos autores: gbapsi@gmail.com,lecisnebranco@gmail.com

Resumo: O presente trabalho procura compartilhar as experiências, os processos e os desafios da criação de um grupo
de pesquisa e extensão em psicologia social-comunitária, apresentando desde as leituras que sustentam os
paradigmas, éticos, estéticos e políticos do grupo, quanto as etapas de constituição de redes com os serviços e
dispositivos presentes na comunidade onde se deu nossas intervenções. Intitulado Grupo de Pesquisa e Extensão em
Psicologia Social-Comunitária da Faculdade CESUSC, o grupo é parte das iniciativas de fomentar as atividades de
pesquisa em uma faculdade privada do Município de Florianópolis-SC. O grupo de pesquisa está cadastrado sob
mesmo nome no CNPq-DGP e é formado por um professor coordenador e 14 alunos de graduação. A Faculdade
CESUSC está localizada no distrito de St.Antônio de Lisboa, território de colonização açoriana e caracterizado como um
tradicional bairro da cidade, com fortes laços aos costumes tradicionais e à manutenção da cultura ilhéu. O distrito é
composto por três bairros adjacentes: St.Antonio de Lisboa, Cacupé e Sambaqui. Essa região passa por um processo de
crescimento populacional que acompanha o movimento das demais regiões da cidade, resultando em alguns conflitos
e modificações características dos grandes centros urbanos. Além de um processo de gentrificação, alta exploração
por parte da indústria do turismo e a concentração de uma zona periférica menos favorecida economicamente, o
bairro passou a conviver com mais frequência com a violência e o tráfico de drogas. O grupo de psicologia social-
comunitária foi criado após demanda que veio da própria comunidade, quando uma associação de moradores buscou
o curso de psicologia para solicitar uma parceria que viesse a realizar atividades voltadas para os jovens que
frequentavam a escola municipal e estadual do bairro. A partir dessa primeira demanda e da formalização institucional
do grupo, passou-se se realizar encontros periodicamente, com o intuito de instrumentalizarmos teoricamente e
definir estratégias de intervenção. O presente trabalho tem como foco apresentar o movimento de inserção do grupo
na comunidade e nossa participação na criação de redes entre os diversos serviços presentes no distrito de St.Antônio
de Lisboa e a população que mora, trabalha ou tem alguma outra atividade no local. Os principais parceiros e espaços
de intervenção foram duas escolas públicas - uma de gestão municipal e outra estadual - duas associações de
moradores, uma associação cultural e um núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina. Juntamente,
o trabalho debate as estratégias e atividades realizadas a partir das parcerias estabelecidas. Um dos maiores desafios
vivenciados pelo grupo foi manter-se fiel aos paradigmas teóricos da psicologia social-comunitária, sustentados por
autores como Martín-Baró (1985) e Maria de Fatima Quintal de Freitas (1998), ou seja, acolher as demandas que
provêm da própria comunidade, construindo planos de ação junto com os envolvidos e mediar que as questões
presentes no território sejam elaboradas e desenvolvidas pela própria comunidade, evitando ceder à ações
assistencialistas, o que muitas vezes nos foram solicitadas e se apresentavam como um caminho mais fácil de ação.
Mostrou-se importante criar espaços onde a própria comunidade possa se escutar, conscientizar-se das relações de
poder a qual está atrelada, compreender o processo histórico de transformação social pelo qual essa população está
passando e, de forma ética e inclusiva, criar estratégia para lidar com as questões que se fazem presentes. Assim
como, tornou-se fundamental identificar e problematizar a origem dos discursos circulantes na comunidade e seus
agentes, a quem interessa a criminalização dos jovens frequentadores das escolas públicas e a quem incomoda o
crescimento da comunidade com a chegada de moradores oriundos de outras localidades e, por vezes, mais pobres.
Um questionamento se mostrou fundamental para o exercício do nosso local de saber: a psicologia está a serviço de
quem?

756
Observação Participante em Instituição Assistencial para Pessoas que Vivem com HIV
Autores: Júlia Gomes de Araújo, UFU; Airton Pereira do Rêgo Barros, UFU; Bárbara de Aguiar Rezende, UFU; Elida
Francisca Leal Guimarães, UFU; Leonardo Almeida Moraes Zampieri, UFU
E-mail dos autores: juliaga@outlook.com,babiarezende@hotmail.com,leonardozampieri@hotmail.com,elida-
guima@hotmail.com,airtonpsocial@yahoo.com.br

Resumo: Este estudo foi desenvolvido a partir das atividades práticas vinculadas a disciplina de graduação Psicologia
Institucional Comunitária 2 e das reflexões construídas acerca das vivências em uma instituição que presta assistência
a pessoas que vivem com HIV. O HIV tornou-se conhecido no mundo nos anos 80, período de reforma social e políticas
no Brasil que culminaram com a constituição de 88 que previa acesso universal a saúde no país. Frente a essas novas
propostas de saúde em 1996 foi aprovada a lei que garantiu acesso universal e gratuito aos medicamentos
atirretrovirais (Giovanella, 2012). Para a pessoa com HIV, o diagnóstico, geralmente, gera comoção e produz reações
de natureza física, emocional e social. Porém, a maneira como a pessoa reage a essas mudanças, depende de fatores
diversos, entre eles, a cultura, sua personalidade e seu contexto social e familiar (Carvalho, Galvão & da Silva, 2010).
Nesse sentido, é fundamental a atuação de instituições que promovam o suporte social, tanto a nível afetivo-
emocional, como, operacional ou instrumental às pessoas que vivem com HIV (Brasil, 2008). Diante disso, o objetivo
geral deste estudo foi observar e analisar as ações realizadas por uma ONG que presta assistência a pessoas que vivem
com HIV. Os objetivos específicos foram: observar a dinâmica institucional, participar da rotina e das atividades da
instituição e conversar com as pessoas que vivem no local. O método utilizado foi a observação participante, baseada
nos princípios da Investigação Ação Participante (IAP) a partir da perspectiva da Psicologia Comunitária e da Sociologia
Crítica de matriz europeia. Teoricamente foram resgatados conceitos sobre HIV/AIDS, seu enfrentamento e os efeitos
psicológicos do diagnóstico no psiquismo dos sujeitos e da comunidade; políticas públicas de saúde ofertadas às
pessoas que vivem com HIV e reflexões sobre a instituição participante da pesquisa. Entende-se que este trabalho
apresenta um estudo que remete às propostas do GT – Psicologia Social Comunitária: Práticas e Formação que tem
como objetivo reunir trabalhos que versem a respeito da Psicologia Social Comunitária e dos processos de intervenção
psicossocial na vida cotidiana. Sendo assim, a estruturação desse estudo foi desenvolvida visando os mesmos objetivos
explicitados no GT no que tange à compreensão do contexto e das dinâmicas comunitárias presentes na instituição
visitada nesta pesquisa. O campo de intervenção para o estudo foi uma instituição que oferece espaço assistencial e
de moradia à comunidade de pessoas que vivem com HIV em extrema situação de vulnerabilidade social, promovendo
cidadania, acolhimento, suporte social e acompanhamento no processo de enfrentamento da doença. Além disso, a
instituição em questão promove auxílio social comunitário para que estes sujeitos preservem e lutem por direitos
políticos-sociais. Por fim, foi possível, por meio deste estudo refletir sobre as possibilidades de atuação do profissional
do psicólogo neste tipo de instituição, cumprindo papel de apoio psicológico e escuta às demandas grupais e
individuais e auxiliando no combate à exclusão social. As vivências foram descritas em diário de campo e estas,
posteriormente, constituíram a base de análise das práticas de suporte desenvolvidas pela instituição. A junção entre
prática e teoria permitiu que fossem realizadas algumas reflexões entre o que a Psicologia Social e Comunitária e as
políticas de saúde do SUS apresentam e o que a prática retratou. Foi possível também concluir sobre a importância de
falar sobre o HIV para aqueles que vivem com o vírus, promovendo escuta de suas histórias e sua integração a
comunidade geral, levando a uma reflexão sobre a relação entre preconceito e a ausência de informações. Além
disso, foi percebido grande potencial de auto-gestão na instituição participante, pois os moradores utilizam as
habilidades de cada um para o bem coletivo, promovendo a ajuda mútua de acordo com suas possibilidades e
necessidades, fato que vai ao encontro com o objetivo final da investigação ação participativa. Portanto, ressaltamos a
necessidade de continuação do processo de investigação ação participativa, visando o levantamento em conjunto das
demandas da instituição e de seus membros, como também, a construção de possíveis ações a serem realizadas para a
melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e recebem suporte da instituição investigada.

757
Oficinas Psicossociais como práticas Educativas na Prevenção do Abuso Sexual com Crianças e Adolescentes
Autores: Claudenilde Lopes dos Santos, UFMT; Amailson Sandro de Barros, UFMT; Gabriel William Lopes, UFMT
E-mail dos autores: claudenildelopes@gmail.com,gabrielwlopes0@gmail.com,amailsonbarros@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é resultado das intervenções realizadas no Estágio Básico em Contextos Sociais e
Comunitários, componente curricular do curso de Psicologia da Universidade Federal do Mato Grosso. O estágio foi
desenvolvido no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), localizado em um bairro do município de Cuiabá,
junto ao Projeto Municipal SIMININA e ao Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV). Para a
condução das atividades do estágio adotou-se a observação participante, tendo em vista que a convivência direta e o
estabelecimento de vínculos entre os estagiários e usuários do equipamento pode possibilitar condições favoráveis
para a condução do processo de observação, permitindo a compreensão privilegiada de vários conteúdos e narrativas
que de outra maneira não conseguiriam ser acessadas. O referencial teórico adotado partiu das concepções de sujeito
e comunidade explanadas pela Psicologia Social Comunitária, e teoria sócio-histórica, sendo esta última base para a
primeira, uma vez que compreende os sujeitos num processo de construção constante que parte da história e da
cultura. O projeto de intervenção fora estruturado com base na Política Nacional de Assistência Social - que estabelece
os parâmetros de atuação dos profissionais inseridos na unidade CRAS - no que diz respeito a prevenção das situações
de risco de famílias em situação de vulnerabilidade social, atuando na promoção do desenvolvimento humano e da
mudança social, colocando os membros da comunidade como protagonistas e sujeitos ativos no processo de
transformação. A metodologia utilizada baseou-se em oficinas psicossociais que se constituem em ações interventivas
que atuam na interação dos níveis psicológicos e sociais dos sujeitos, proporcionando a elaboração de conteúdos de
demandas previamente levantadas na relação com os membros dessa comunidade. Foram realizadas duas oficinas,
com crianças e adolescentes de 09 à 15 anos de idade com foco na prevenção ao abuso e exploração sexual infantil.
Essa demanda foi levantada nas observações junto aos usuários e funcionários do equipamento. Cada oficina teve
duração de duas horas, atendendo um número de 21 crianças e adolescentes do sexo feminino e cerca de 10 crianças
e adolescentes do sexo masculino. O trabalho realizado com as (os) adolescentes consistiu na realização de rodas de
conversa cujos conteúdos proporcionassem uma reflexão e conhecimento sobre discussões relacionadas ao abuso e
exploração sexual. As oficinas foram sistematizadas respeitando as seguintes etapas: I) Acolhimento; II) Atividades de
aquecimento/relaxamento coletivo; III) Atividade de apresentação pessoal; IV) Introdução ao tema através da leitura
de um poema e posterior discussão referente a apreensão do mesmo; V) Dinâmica dos papéis , no qual cada
adolescente, de forma anônima, escreveria qualquer informação conhecida por eles sobre o abuso e exploração sexual
infantil – seja uma dúvida, afirmação ou relato de algum caso; VI) Exposição de um documentário que abordava,
especificamente, o abuso sexual de meninas e meninos; VII) Reflexão e problematização dos conteúdo do
documentário e dos papéis, a partir do conhecimento das (os) participantes sobre o tema e suas vivências cotidianas;
VIII) Levantamento de estratégias protetivas e IX) Fechamento/encerramento do encontro. No decorrer das oficinas
notou-se a necessidade de aprofundar informações a partir de questionamentos como os que seguem: O que é o
abuso sexual? , O que é exploração sexual? , O que é relação sexual, me explica direito , não sei do que se trata o
assunto , Existe justiça para o abuso? Se uma pessoa for abusada, ela pode procurar a polícia ou um psicólogo ou o
conselho tutelar? Como se defender do abuso sexual . Os resultados parciais indicaram: a) Apreensão por parte dos
participantes sobre o que se configura abuso, exploração e assédio sexual; b) Ampliação na compreensão sobre o
direito de aceitar ou recusar toques por mais inocentes que sejam; c) Fortalecimento da autonomia sobre o próprio
corpo; d) Identificação de pessoas de confiança, entre elas, funcionárias (os) do CRAS, para que possam denunciar
situações de abuso sexual; e) Apreensão da ampla rede de atendimento para denúncia e cuidado com esses casos. Por
fim, notou-se a importância da continuidade do projeto, visto a necessidade de fortalecer as redes de atenção e
proteção na garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Verificou-se também a importância e o potencial das
oficinas como estratégia de educação psicossexual de crianças e adolescentes como estratégia de enfrentamento da
questão.
758
Projeto InterAções: Intervenção comunitária por meio de metodologia participativa
Autores: Rita de Cássia Andrade Martins, UFG/REJ
E-mail dos autores: rita.andrade.martins@gmail.com

Resumo: O InterAções: tecendo redes e saberes é um projeto de extensão e cultura, desenvolvido por equipe
interdisciplinar, composta por docentes do curso de psicologia e discentes de diferentes cursos de graduação da
UFG/Regional Jataí. O projeto atua por meio do Serviço de Psicologia Aplicada da UFG/Regional Jataí, através de
intervenções comunitárias com enfoque na saúde pública, tendo como eixo a saúde mental. As intervenções
comunitárias são organizadas em ciclos temáticos que culminam em eventos públicos com ações culturais e formação
acadêmica. Cada ciclo tem em média a duração de quatro meses, e o tema eleito atua como disparador de debates e
ações. A concepção, organização, realização, avaliação e monitoramento do projeto prevê participação das
comunidades interna e externa à universidade, visando o exercício de práticas coletivas e participativas, o
compromisso ético e social da Psicologia com a comunidade, o respeito e valorização dos saberes populares, a escuta
e o acolhimento da diversidade. Os ciclos temáticos envolvem os seguintes momentos: 1) Planejamento; 2)Construção
da programação; 3) revisão, estudo e teste de estratégias de metodologias participativas no que tange a formação e
participação política; 4) aprofundamento teórico e troca de saberes com a comunidade sobre o tema do ciclo; 5)
realização das atividades do ciclo; 6) avaliação; 7) desdobramentos do ciclo: produção de material acadêmico de
cunho científico, apoio à produção da comunidade (obras literárias e artísticas); atividades com a comunidade
envolvida no ciclo e/ou intervenções em parceria com a comunidade. Os eventos são registrados por meio de
fotografia e/ou filmagem e, ao final, é elaborado um relatório, considerando as avaliações. O Projeto também utiliza as
redes sociais para interação com a comunidade, visando à sensibilização para possíveis estudos e outros projetos,
compartilhamento de informações e divulgação de atividades. O projeto está em seu segundo ciclo temático. O
primeiro ciclo teve como tema processo de envelhecimento e perspectivas de cuidado e atenção à pessoa idosa . O
segundo ciclo teve como tema a Luta Antimanicomial. O próximo ciclo abordará o tema saúde da população negra. O
segundo ciclo do projeto teve início em dezembro de 2016 quando da primeira visita da coordenadora do projeto à
Associação Conviver (Associação de Usuários de Saúde Mental de Jataí). Após selada parceria com o projeto, a
Associação passou a participar do processo de construção da intervenção comunitária que culminou na realização da
Semana de Luta Antimanicomial (19 a 26.05.2017). O ciclo envolveu uma equipe interdisciplinar com professoras do
curso de psicologia, alunos dos cursos de direito, psicologia, educação física, 1 ex-aluna do curso de psicologia, 1
psicóloga que atua na rede de saúde mental, 21 associados da Conviver, 12 usuários do Caps de Jataí. A equipe utilizou
métodos e técnicas participativas para assessorar e apoiar os usuários na organização do evento e na efetivação de
projetos individuais e /ou coletivos surgidos durante o processo de trabalho. As intervenções contaram com o
referencial teórico e metodológico da Psicologia Comunitária - FREITAS (1998 e 2002); MONTEIRO (2000) e SAWAIA
(2002). Também utilizamos como referência teórica produção sobre reforma psiquiátrica e atenção psicossocial no
Brasil, em especial a produção intelectual brasileira no campo da saúde mental - PITTA (2001); TYCANORI(2001);
AMARANTE (2007). O conceito de contratualidade foi primordial para atuação junto aos usuários, para
problematização das relações encontradas em campo baseadas no reforço à tutela e dependência. Com vistas a
promover novas formas de relação entre os participantes, buscamos investir no potencial de autonomia, vínculos e
laços sociais que, no caso das pessoas com transtorno mental, sua atuação foi comprometida pelos processos de
institucionalização e pelas construções sociais acerca da noção de loucura. O ciclo apresentou os seguintes resultados:
a problematização de concepções acerca do sofrimento mental dentro do próprio grupo de extensionistas, formação
política dos participantes do projeto sobre direitos humanos e luta antimanicomial, protagonismo dos usuários na
construção do evento, apoio e concretização de projetos individuais que surgiram durante o trabalho coletivo
(produções artísticas), realização de exposições educativas com visitas guiadas a escolas das redes municipal e
estadual (equipes de monitoria formadas por usuários e alunos), atividades artísticas promovidas por membros da
comunidade local na UFG e na praça pública da cidade, exposição artística durante a semana de luta antimanicomial e
759
no museu de arte contemporânea da cidade, rodas de conversa, exibição de filmes, oficinas interativas e feira de
artesanato e quitutes caseiros organizada pelos usuários com apoio dos extensionistas. Os quatro meses de
intervenção culminaram num evento de uma semana que teve significativa visibilidade na cidade e trouxe a diferentes
meios de comunicação temas relativos à saúde mental, preconceito e luta antimanicomial, o que contribuiu para
ampliar o alcance dos debates emergentes ao longo do processo de intervenção comunitária.

760
Refugiados e Migrantes: a práxis da Psicologia em um projeto de extensão universitária
Autores: Franciéli katiúça Teixeira da Cruz Severo, Universidade FEEVALE; Carmem Regina Giongo, Universidade
FEEVALE; Vanessa Sarmento Travincas de Castro, UERJ
E-mail dos autores: francyktc@hotmail.com,ca.aiesec@gmail.com

Resumo: O projeto da Universidade Feevale O Mundo em NH: refugiados e migrantes, uma questão de Direitos
Humanos faz parte do programa de extensão, Educação e Cultura em Direitos Humanos . As atividades são
idealizadas e desenvolvidas pelos cursos de História, Psicologia, Letras e Direito. O principal objetivo é promover uma
cultura de paz e de tolerância, através de oficinas realizadas com grupos de refugiados e migrantes que residam no
município de Novo Hamburgo e cidades da região. Assim, o projeto visa promover principalmente a autonomia, a
inserção social e a garantia de direitos. Algumas das oficinas que ocorrem no projeto são: legislação trabalhista, língua
portuguesa, cultura e história do Brasil e psicologia. A oficina de psicologia atua no projeto com o intuito de levantar
demandas, possibilidades de intervenção, além de oferecer um espaço acolhedor e de escuta para os participantes. O
presente trabalho se propõe a apresentar um relato de experiência das oficinas de psicologia realizadas no projeto,
elas ocorrem quinzenalmente, iniciaram em março de 2017 e possuem em média 21 participantes, este número é
variável, uma vez que o grupo possui formato aberto. Além disso, as oficinas se encontram em andamento e até o
momento foram realizados 6 encontros. Desde o primeiro encontro percebeu-se que seria uma proposta muito
significativa, no entanto, muito desafiadora. Na primeira oficina questionou-se o conhecimento dos participantes em
relação a atuação da psicologia, ocorreu uma apresentação da proposta e identificou-se os assuntos que os
participantes gostariam de abordar nos próximos encontros. Nos primeiros contatos percebeu-se que o idioma seria
um grande desafio e de certa forma um limitador. Diante disso, no decorrer das oficinas se fez necessário solicitar que
os participantes que moram há mais tempo no Brasil atuem como mediadores, traduzindo as falas das bolsistas. Os
temas que os participantes do projeto abordaram para serem discutidos durante as oficinas de psicologia foram os
seguintes: estudo, trabalho e cultura. As temáticas foram dividas por encontros e ao abordar primeiro tema, os
participantes trouxeram suas expectativas, sonhos, dificuldades e possibilidades de realizar cursos no Brasil. No
encontro sobre trabalho os participantes esclareceram suas dúvidas sobre empregos no Brasil, sobre os locais e as
formas de recrutamento, sobre elaboração de currículos, bem como comentaram as suas situações de enfrentamento
de preconceitos, discriminações e violações dos direitos trabalhistas nos seus locais de trabalho. Durante o encontro
da temática cultura, os participantes sugeriram, junto às bolsistas, organizar uma feira cultural. A feira cultural ocorreu
na própria Universidade e teve a finalidade de dividir e aproximar a cultura do Haiti e Senegal com a comunidade local.
Além dos temas que foram abordados nas aulas, todos os encontros com os participantes do projeto, e mais
especificamente durante as oficinas de psicologia, tem sido um espaço de escuta, de dividir histórias pessoais,
dificuldades, angústias, medos, conquistas, sonhos e idealizações. Desta forma, fortalece os vínculos dos refugiados e
migrantes, auxilia no processo de inserção social e na garantia dos Direitos Humanos dos mesmos. Por fim, acredita-se
que as oficinas proporcionaram as bolsistas uma nova possibilidade de fazer a psicologia, especialmente diante da
temática dos Direitos Humanos.

761
Serviço de proteção e atendimento integral á família (PAIF) e pesquisa participativa: um relato de acompanhamento
familiar
Autores: Vanessa Sarmento Travincas de Castro, UERJ
E-mail dos autores: vanessa_travincas@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho tem como finalidade apresentar e discutir o conjunto de intervenções psicossociais
denominado de acompanhamento familiar na Proteção Social Básica (PSB) da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS) no âmbito do PAIF, objetivando ainda demonstrar a viabilidade do uso da pesquisa participativa nesse campo.
Para isso, realiza-se uma retomada teórica sobre as orientações técnicas que guiam a PSB, bem como a pesquisa ação
do tipo participativa, complementado de modo ilustrativo com um relato de acompanhamento familiar verídico
realizado por equipe volante de um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de uma cidade do interior do
Maranhão nos anos de 2013 e 2014 (a partir do olhar da autora enquanto psicóloga integrante dessa equipe). Nessa
descrição, observa-se a complexidade de situações que envolviam uma família de zona rural constituída por um casal e
cinco filhos em extrema vulnerabilidade socioeconômica, de maneira que se constituiu em um exemplo com ampla
amostra das possibilidades de atuação do psicólogo comunitário nos CRAS e a importância da intersetorialidade nas
políticas públicas. Ressalta-se que as normativas do PAIF indicam a possibilidade de utilização de qualquer abordagem
metodológica, inclusive várias delas, desde que coincidam entre si e que sejam compatíveis com as diretrizes que
norteiam a política de assistência social. Quanto a isso, avaliando as especificidades de nosso território de atuação,
dos nossos saberes profissionais, bem como de nossas condições estruturais enquanto instituição, na época da
realização do acompanhamento trazido nesse trabalho, adotou-se a pesquisa participativa. Neste caso, entendida
como um método qualitativo de investigação social que tem como objetivo a aprendizagem das pessoas implicadas
nesse processo a fim de gerar uma ação emancipatória, ou seja, visa à produção de conscientização sobre certas
questões com a finalidade de promover transformações úteis em determinadas realidades. No que se refere ao PAIF,
tem como impactos sociais almejados: a melhoria da qualidade de vida, superação das situações de fragilidade,
potencialização do protagonismo e autonomia familiar e comunitária, usufruto de direitos e estabelecimento de
espaços grupais de escuta e troca de experiências. Assim, não se adota uma postura unilateral, onde apenas o saber
profissional, dito formal, é válido. Entendemos que o saber popular é rico e muito útil à localidade em que é
produzido. Deste modo, tem-se como fases de referência a serem desenvolvidas em conjunto com todos os atores
envolvidos: a exploratória, de discussão de um plano de ação e de avaliação dos resultados. Quanto aos instrumentos
de pesquisa e intervenção utilizados escolheu-se entrevistas, observação participante, diários de campo, registros
fotográficos, palestras, orientações e escuta psicossociais, encaminhamentos e realização de atividades culturais. Esse
processo de trabalho é desenvolvido a partir da adoção de um enfoque interdisciplinar, de tal modo, no CRAS, todos
as(os) técnicas(os) de nível superior possuem as mesmas atribuições (independente da formação), e devem ser
guiados pelos seus Códigos de Ética Profissional a fim de cumprir suas responsabilidades. Sendo a atuação da(o)
psicóloga(o) no PAIF desvinculada de um caráter terapêutico, ela(e) deve trabalhar com a subjetividade, entendendo
seu entrelaçamento com a dimensão objetiva (ambas tidas como historicamente construídas), ou seja, seu olhar volta-
se a compreensão de como essas condições objetivas são interiorizadas e vividas como naturalmente integrantes da
própria constituição dos sujeitos. A partir disso, discute-se ainda no presente trabalho dificuldade de delimitação das
funções de cada profissional na prática (geralmente as equipes são compostas por psicólogos e assistentes sociais),
bem como aquelas advindas de questões estruturais, financeiras e de gestão das ações das secretarias municipais.

762
Transformando percursos na Psicologia através da inserção acadêmica em um Núcleo de Apoio à Saúde da Família
Autores: Katarina de Lima Fernandes, UFBA; Fernanda Rebouças Maia Costa, SMS Salvador
E-mail dos autores: fernandess.katarina@gmail.com,belareboucas10@gmail.com

Resumo: O presente trabalho objetiva relatar uma experiência de estágio curricular do curso de Psicologia da
Universidade Federal da Bahia, no Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF). As atividades consistiram em
acompanhamento, desenvolvimento e análise de ações junto à equipe NASF, às equipes de referência e à
comunidade, o que oportunizou a revisão de paradigmas e construções prévias acerca do lugar tradicionalmente
consolidado do saber psicológico individualizado e com ênfase na clínica clássica. Percebeu-se que as possibilidades
de intervenção com a comunidade e o apoio às equipes se alargam a partir da real abertura do profissional para
inúmeras demandas na Estratégia de Saúde da Família, o que exige um processo cotidiano de revisões e
reconfigurações do saber e do fazer na atuação ampliada. Com o amparo e a orientação através da Psicologia Social
Comunitária, os aspectos sócio-históricos, econômicos, raciais, de gênero, culturais, psicológicos, entre outros, passam
então a ser considerados enquanto questões centrais, integradas e produtoras/limitadoras da saúde e não como
pontos marginais e secundários ao cuidado e atenção oferecidos aos sujeitos e suas famílias. Com isso, foi possível
conceber e idealizar propostas visando o desprendimento deste lugar tradicional da psicologia ao trazer os benefícios
do acolhimento e escuta qualificada em formatos que não tenham apenas o foco ambulatorial, e que utilizem, a
exemplo, consultas compartilhadas com profissionais das equipes de saúde da família, visitas domiciliares e
Intensificação de Cuidados (IC) nos casos mais complexos e que exigem grande investimento de muitos profissionais.
Essas práticas demonstraram o desafio e a importância do diálogo e articulação contínua no trabalho interdisciplinar
com as equipes de referências, equipe do NASF, usuários e comunidade-território. Além disso, permitiram o exercício
da construção coletiva e multiprofissional, através da reflexão e ação criativa, orientada ética e politicamente no
trabalho direto com grupos, equipamentos sociais e articulação com a rede viva disponível de modo extenso e intenso.
Através do estreitamento das relações e construções conjuntas, percebeu-se a não-reprodução de uma lógica
emergencial, pontual e fragmentada do cuidado, previsto para ser preventivo e produtor de saúde, longitudinal e
contínuo como porta de entrada na Atenção Básica. Alargou-se, então, o envolvimento compreensivo não apenas
entre serviços e instituições, mas entre sujeitos-potências que atuam nestes respectivos espaços, pois também se
implicam para um cuidado diferenciado e desafiador diante das situações enfrentadas diariamente.
Desse modo, notou-se a importância da revisão crítica dos currículos dos cursos de Psicologia, que possibilitem
discussões e trocas de conhecimentos com valorização de uma atuação comprometida com a implementação efetiva,
qualificação e resolutividade da Atenção Básica e do Sistema Único de Saúde. Sendo assim, este momento da
graduação buscou intervir no lugar de conforto em que a Psicologia se constitui como ciência e profissão. Avalia-se
que o estágio contribuiu para que futuras(os) psicólogas(os) tenham a oportunidade de vivenciar espaços que
questionem, desde o início, a sua formação unilinear e, assim, busquem uma práxis a partir do saber dialogado,
multifacetado e engajado em um projeto ético-político coerente com a transformação social das estruturas vigentes,
adoecedoras e potencializadoras de diversos sofrimentos, desigualdades e injustiças, refletidas no modelo de
sociedade capitalista neoliberal no qual vivemos.

763
GT 36 | Psicologia Social do Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho e os processos organizativos

Coordenadores: Fábio de Oliveira, USP | Márcia Hespanhol Bernardo, PUC Campinas | Maria Chalfin Coutinho, UFSC

Vivemos no Brasil um momento de fortes ataques aos direitos sociais e à própria democracia, bem como às formas de
enfrentamento das políticas de cunho neoliberal implantadas de modo acelerado. Entre os muitos direitos
conquistados, principalmente a partir da Constituição de 1988, que estão ameaçados estão os direitos trabalhistas e
previdenciários, com implicações para a vida cotidiana de cada trabalhador e cada trabalhadora, assim como para as
futuras gerações e entendemos que a Psicologia não deve ficar alheia a esse contexto.
Assim, a proposta do presente GT se situa na interface entre os processos macrossociais em curso e a vida cotidiana
dos trabalhadores. Deste modo, o GT pretende abrir espaços de reflexão sobre os processos de subjetivação
engendrados pelos acontecimentos acima destacados e outros que envolvem o mundo do trabalho, em diálogo com
as contribuições da Psicologia Social do Trabalho (PST) e de disciplinas afins. Insere-se, portanto, nas temáticas
delimitadas no Eixo 5 e no tema geral do 19º Encontro Nacional da ABRAPSO.
Ao operar no campo das relações de trabalho e dos processos organizativos, a psicologia tradicionalmente adotou
enfoques gerencialistas ou funcionalistas, geralmente conhecidos como Psicologia Organizacional ou Psicologia
Organizacional e do Trabalho. Essa psicologia, ao tomar os trabalhadores como objeto, parte da concepção de que eles
seriam um recurso a ser gerido em proveito da produtividade. Tal perspectiva persiste ainda quando são adotados
discursos humanistas em favor da gestão de pessoas nas organizações, sem, contudo, analisar criticamente os
processos organizativos e as relações de trabalho.
Diferentemente dessa tradição, a proposta do presente GT filia-se à perspectiva da Psicologia Social do Trabalho (PST)
voltada para os problemas humanos no trabalho. A abordagem da PST se insere no âmbito das perspectivas críticas
em Psicologia Social, que sempre caracterizaram os aportes da ABRAPSO, e também no âmbito de estudos
interdisciplinares no campo da Saúde do Trabalhador. Desse modo, essa abordagem assume o compromisso ético com
a melhoria das condições de trabalho e com a ampliação das possibilidades de controle dos trabalhadores sobre suas
próprias atividades.
Ao focalizar as vivências cotidianas de trabalhadores – incluindo, além dos trabalhadores do mercado formal, também
aqueles inseridos em contextos precários ou informais e os desempregados – e os processos intersubjetivos que
atravessam o mundo do trabalho, a Psicologia Social do Trabalho abre espaço para o debate e a construção do
trabalho humano como objeto de pesquisa e de práticas alicerçadas na psicologia social em interface com disciplinas
afins. Essa produção tem como denominador comum, em muitos casos, a crítica ao atual contexto produtivo, a
sensibilidade para a dimensão política e de poder das relações de trabalho, bem como o interesse em fomentar a
reflexão teórica e a produção de práticas voltadas para superação das desigualdades históricas, a promoção da
cidadania e resistência às lógicas neoliberais.
Quando nos assentamos nas transformações em curso no regime de acumulação capitalista, consideramos importante
demarcar as sucessivas e recorrentes crises econômicas, cujos ciclos vêm se apresentando com intensidade e
amplitude crescentes e em intervalos cada vez mais curtos, como se verifica na história recente. Ao mesmo tempo,
essas mudanças e crises no capitalismo assumem contornos peculiares em cada região do planeta e, por isso,
interessa-nos dirigir o olhar para o contexto latino-americano. Novamente, identificamo-nos nesse aspecto com a
tradição que caracteriza a produção da ABRAPSO, preferencialmente dirigida às realidades locais em suas articulações
com problemas que afetam a sociedade contemporânea. Focalizar os problemas locais implica estar atentos às
heterogeneidades das culturas e das práticas locais, capazes de criar formas de sobrevivência, mesmo diante de
situações de miséria e desemprego, vislumbrando tanto os mecanismos de dominação como os de resistência.
Ao tratarmos dos processos de subjetivação engendrados no atual contexto produtivo, tomamos o trabalho como
categoria central, ainda que não única, para a compreensão do ser humano e concebemos os contextos laborais
cotidianos como espaços de: sociabilidade e interação; controle e resistência; construção de identidades e processos
de significação; promoção de saúde e sofrimento etc. Ao reiterarmos o caráter central do trabalho, tomamos esse
fenômeno psicossocial como complexo, heterogêneo e histórico e, portanto, não consideramos as relações de
trabalho como reduzidas aos conflitos interpessoais ou apenas como problemas a serem gerenciados, o que
caracterizaria a superficialidade de um olhar estritamente funcionalista e regido pela razão instrumental. Dado o
caráter contraditório do conflito capital-trabalho, cabe ao psicólogo social compreender a complexidade do mundo do
trabalho contemporâneo e dos processos de subjetivação em curso em seus diferentes contextos.

764
Assim, nosso propósito ao organizar o presente GT é convidar colegas identificados com o que tem sido chamado, em
diversos âmbitos, nacionais e internacionais, de Psicologia Social do Trabalho, campo também nomeado em alguns
fóruns como Psicologia Crítica do Trabalho, para darem visibilidade a suas contribuições e, desse modo, contribuirmos
juntos com a construção de uma psicologia articulada com propostas políticas de superação das desigualdades
econômicas e sociais, com práticas de resistência às lógicas neoliberais em curso, com o questionamento de práticas
assentadas em lógicas privatistas e individualizantes e com a promoção de políticas públicas voltadas para a população
trabalhadora em todas as suas diferentes faces. Nessa direção, o GT está aberto a reflexões teóricas oriundas de
diferentes matrizes, bem como a estudos empíricos ou de intervenção assentados em diferentes metodologias, desde
que tenham em comum uma postura dialógica (com as realidades locais e com os sujeitos participantes desses
estudos e práticas) e uma perspectiva crítica em relação às formas históricas de exploração dos trabalhadores.
Considerando o acima exposto, como proponentes deste GT, temos a expectativa de receber contribuições bastante
diversas que, desde uma perspectiva crítica, apresentem experiências e reflexões sobre o trabalho como um
fenômeno psicossocial em suas dimensões simbólica, intersubjetiva, política etc. Desde já elencamos algumas
temáticas para possíveis contribuições, sem excluir outras identificadas com o que foi aqui proposto:
- Processos de significação e construções identitárias no campo laboral;
- Modos de vida, práticas cotidianas e de sociabilidade no trabalho;
- Processos de exclusão e relações desiguais de gênero, raça/etnia, idade, entre outras, em suas articulações com as
relações de trabalho;
- Precarização do trabalho, flexibilização, terceirização, perda de direitos previdenciários e trabalhistas no contexto do
neoliberalismo;
- Violências no trabalho: humilhação social, violência psicológica, trabalho escravo;
- Estudos no campo da saúde do trabalhador e análises relacionadas ao sofrimento ou adoecimento dos trabalhadores
e aos limites e possibilidades da promoção da saúde;
- Práticas articuladas com a geração de trabalho e renda e as políticas públicas do setor;
- Diversidades nos modos de ser dos/as trabalhadores/as;
- Diferentes contextos e modalidades de trabalho: formal/informal; urbano/rural; regulado/não regulado;
material/imaterial; produtivo/improdutivo etc.
- Novos modos de organização e de alternativas ao modelo de desenvolvimento econômico vigente na atualidade,
incluindo as experiências de autogestão;
- Discursos e práticas utilizados como estratégias de gestão e de controle dos/as trabalhadores/as;
- Reflexões sobre o lugar do/a psicólogo/a como trabalhador;
- O lugar do trabalho na formação em psicologia;
- Questões éticas ligadas às práticas no campo do trabalho;
- Questões teóricas e metodológicas emergentes no fazer científico sobre trabalho e trabalhadores.

765
A política de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora na Sociedade dos Adoecimentos no Trabalho: um relato de
experiência de estágio num CEREST
Autores: Marcelo Henrique da Silva Oliveira, UFPB
E-mail dos autores: marcelohso@gmail.com

Resumo: A relação entre capital, trabalho e saúde é um tema que deve estar em constante reflexão e que necessita de
visibilidade, visto as suas implicações para os sujeitos e para a vida em sociedade. Dessa forma, este relato de
experiência de estágio curricular do curso de Psicologia em um Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
(CEREST) na cidade de João Pessoa, Paraíba, teve por objetivo refletir sobre a política pública de Saúde do Trabalhador
e da Trabalhadora (ST) e sua atuação no cuidado aos trabalhadores, considerando os limites para a promoção de
saúde do atual modelo de organização da sociedade que precariza o trabalho.
No relato foram expostas reflexões sobre a política de Saúde do Trabalhador partindo da experiência enquanto
estagiário de Psicologia, articulando com materiais bibliográficos de autores e autoras como Francisco Lacaz, Ricardo
Antunes, Luci Praun e outras. Através do acompanhamento de atendimentos aos trabalhadores no CEREST foi possível
entrar em contato com a realidade de trabalho e saúde dos usuários do serviço, bem como enxergar o mundo do
trabalho através das vivências destes, acessando algumas problemáticas enfrentadas pelo campo da ST.
Percebei que a busca dos trabalhadores ao serviço acontecia sempre quando já estavam em processo de adoecimento
e muitas vezes quando esse já estava num quadro avançado. Nesse sentido, pondera-se de que forma a política de
Saúde do Trabalhador está sendo eficiente no nível de prevenção de agravos em saúde no trabalho.
No cenário das mudanças advindas da nova divisão internacional do trabalho pode-se imaginar as dificuldades
enfrentadas para a realização de um real cuidado da saúde dos trabalhadores. Jornadas de trabalho extensas que se
confundem com a vida extra laboral, sobrecarga de trabalho e relações de trabalho são as causas mais perceptíveis de
adoecimento que pôde-se observar com os casos com os quais tive contato.
De acordo com os relatos dos trabalhadores identifica-se a banalização da saúde e da vida desses por parte das
empresas. Alguns deles, adoecidos ao chegar ao atendimento no CEREST, já haviam sido demitidos, sendo essa a
solução para o problema colocada em prática pelo capital, descartando o trabalhador quando esse não pode exercer
atividades que contribuam ao máximo com a produtividade da organização. (de Souza Lourenço, 2011)
A conjuntura política atual só agrava o cenário. Um desmonte das conquistas de proteção social se desenvolve numa
iminente reforma da legislação trabalhista do país. Nesse contexto de des-organização do trabalho é de se esperar o
aumento dos índices de acidentes e adoecimentos dos trabalhadores que atualmente já demonstram uma realidade
de grande vulnerabilidade para os trabalhadores.
Outra questão observada no estágio é a da previdência social no que tange os benefícios concedidos à trabalhadores
adoecidos. Nos atendimentos acompanhados, grande parte dos trabalhadores desejava a emissão da Comunicação de
Acidente de Trabalho (CAT) para a concessão ou renovação de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Através dos relatos dos usuários foi possível perceber um déficit do INSS no modo de avaliação do adoecimento dos
trabalhadores. Muitas vezes esses informaram não terem sido bem acolhidos e ouvidos suficientemente pelos
médicos peritos.
Dessa forma, como corroborado por Souza Lourenço (2011), parece que as respostas do Estado aos agravos à saúde
de trabalhadores se dão centralmente pelo afastamento remunerado do trabalho, através de benefícios da
previdência social. Isso é bastante problemático, já que além não abranger situações de adoecimentos de vários
trabalhadores que estão na informalidade, não toca no cerne da estrutura geradora de sofrimentos e adoecimentos.
Diante de tudo isso é possível perceber as dificuldades enfrentadas para a real efetivação de um cuidado integral a
saúde do trabalhador na sociedade dos adoecimentos no trabalho. Há uma falha no papel do Estado, pois nesse
momento histórico de políticas neoliberais esse não tem implicação no cumprimento das políticas sociais, nem na
regulação das relações de trabalho, sendo afastado dessas decisões pelas empresas com a cumplicidade de governos
de diversas matizes. (Vilela e Iguti, 1997 citados por Costa et al, 2013)
766
Necessita-se ampliar a visão de saúde, de trabalho e de sociedade, reconhecendo os limites que o modelo de
sociedade capitalista nos impõe para atentar-se para a necessidade de transformações e de atuações profissionais
críticas. É preciso ampliar ações de saúde para que essas possam atingir os diversos trabalhadores articulando também
ações intersetoriais, lidando com o adoecimento relacionado ao trabalho como uma questão social e não individual.
Para isso, é necessária a força da sociedade, dos trabalhadores, dos seus sindicatos e dos profissionais do campo da
ST, inclusos os profissionais da Psicologia, que devem reconhecer sua atuação como atores sociais implicados na luta
pela saúde e por uma organização do trabalho justa. Além disso, é importante também propor ações voltadas para o
fortalecimento de outras formas de organização e uma dessas formas é a autogestão do trabalho, desenhada pelo
movimento da Economia Solidária.

767
Avaliações Psicossociais no Trabalho: a Psicologia comprometida com quem e com o que afinal?
Autores: Ana Carolina Lemos Pereira, UNICAMP; Aparecida Mari Iguti, UNICAMP; Márcia Hespanhol Bernardo, PUC-
Campinas
E-mail dos autores: lemosacarolina@gmail.com,iguti@unicamp.br,marciahespanhol@hotmail.com

Resumo: Este resumo se refere a uma das reflexões desenvolvidas em uma Tese de Doutorado ainda em andamento,
e tem como objetivo promover uma breve reflexão a respeito da utilização ideológica do conceito Fatores
Psicossociais de Risco no Trabalho (FPRT), e de como as avaliações psicossociais tradicionalmente realizadas por
Psicólogos Organizacionais ou do Trabalho tem corroborado a atuação histórica de uma Psicologia comprometida com
os objetivos organizacionais em detrimento da saúde dos trabalhadores. Para isso, as problematizações serão feitas a
partir da literatura a respeito dos Fatores Psicossociais de Risco, bem como base documental constituinte da pesquisa
de doutorado. Os FPRT vem sendo amplamente discutidos em todo o mundo, em especial no âmbito da Organização
Mundial de Saúde (OMS) e Organização Internacional do Trabalho (OIT) com influência nas políticas de estado,
movimentos sociais de trabalhadores e práticas organizacionais de avaliação da saúde dos trabalhadores. Embora não
exista um consenso na conceituação dos FRPT na literatura, de uma maneira geral eles são considerados como fatores
que podem contribuir ou mesmo desencadear estresse, adoecimento físico e mental nos trabalhadores. A maioria dos
estudos considera a utilização de ferramentas quantitativas para o diagnóstico e gestão dos FPRT. Essas ferramentas
ou instrumentos são em sua maioria, questionários validados quanto às suas propriedades psicométricas e objetivam
identificar e mensurar os fatores presentes no ambiente de trabalho na percepção dos sujeitos, ou seja, tornar estas
percepções quantificáveis. No Brasil, as Normas Reguladoras do Trabalho (NRs) 33 e 35 que regulamentam o trabalho
em espaço confinado e trabalho em altura respectivamente, tratam da importância de considerar os FPRT nas
avaliações de saúde dos trabalhadores. Nesse sentido, as empresas têm contratado Psicólogos para a realização das
avaliações psicossociais em atendimento às estas NRs, ainda que não esteja claro nos respectivos textos das NRs a
obrigatoriedade destas avaliações ou ainda o formato em que devam ser realizadas, se de competência exclusiva da
Psicologia ou não. As avaliações psicossociais são compostas de uma maneira geral por uma bateria de testes
psicológicos, questionários e em alguns casos, entrevistas com trabalhadores. Os testes psicológicos frequentemente
utilizados nessas avaliações, não abordam questões das condições e organização do trabalho. Os questionários
utilizados são em geral, questionários de identificação de fatores estressores ou fatores que podem ocasionar
sofrimento mental; e em nossa analise, abordam de forma reducionista o processo saúde-doença no trabalho, e
referem-se a aspectos do trabalho que não modificam as condições concretas e históricas em que se inscreve a
atividade laboral. Estas avaliações podem identificar por exemplo, problemas de relacionamento interpessoal dentro
das equipes, mas não demonstram as contradições presentes nas relações de trabalho dentro do modo de produção
capitalista, desconsiderando ritmo, pressão e imposição de metas inatingíveis que degradam as relações e condições
de trabalho. Estas avaliações resultam em laudos que poderão indicar ou contra-indicar a realização do trabalho em
espaço confinado e altura, de forma a resguardar a empresa de que está considerando os riscos psicossociais na
atenção a saúde dos trabalhadores. No entanto, promovemos uma crítica a respeito dos conceitos de FPRT
encontrados na literatura e correntemente utilizados ideologicamente pelas organizações. Sua utilização remete a
visão hegemônica da saúde ocupacional de identificação e controle de riscos, reduz o complexo processo saúde-
doença a fatores quantificáveis que não demonstram as relações de poder e dominação presentes historicamente nas
relações de trabalho e sobretudo, ao tratar das capacidades individuais de resiliência ao estresse, acabam por
viabilizar a culpabilização dos trabalhadores, a partir de suas histórias pessoais e familiares. Consideramos que estas
avaliações psicossociais tem contribuído para a manutenção de condições degradantes de trabalho, enquanto
enfatizam aspectos superficiais em detrimento de mudanças nos modelos de gestão que podem de fato contribuir
para a preservação da saúde física e mental dos trabalhadores.

768
Cadernos de Psicologia Social do Trabalho: metassíntese da produção publicada em suas duas décadas de existência
Autores: Juliano Almeida Bastos, USP; Flávia Manuella Uchôa de Oliveira, USP
E-mail dos autores: juliusbastos@yahoo.com.br,flavia.muo@gmail.com

Resumo: A revista Cadernos de Psicologia Social do Trabalho completará em 2018 vinte anos de existência. Ao
considerarmos o cenário brasileiro das publicações científicas nas últimas décadas e, paralelamente, o
desenvolvimento da revista nesse período, pode-se afirmar que a Cadernos vem cumprindo um importante papel no
que se refere a produção científica que toma o trabalho como objeto de investigação psicológica. Mais que isso,
considera-se também que a revista vem contribuindo para consolidação e difusão de um modo peculiar no interior da
Psicologia de abordar o trabalho e os processos organizativos. Um enfoque que parte das leituras propostas pela
Psicologia Social produzida no Brasil e que busca compreender os problemas sobre os quais se debruça como
fenômenos psicossociais, tomando os trabalhadores como agentes protagonistas na produção do conhecimento.
Trata-se, na verdade, de uma Psicologia Social que toma o trabalho como objeto de estudo, por isso não se confunde e
nem se filia a outras perspectivas psicológicas que se voltam para o estudo do trabalho. Nessa direção, também não se
reduz e nem se restringe a um padrão teórico-metodológico de produção do conhecimento, caracterizando-se muito
mais pela diversidade e amplitude de suas abordagens do que pela uniformidade e limitação a uma linha ou eixo
específico. Considera-se, portanto, que a história da Cadernos também testemunha o desenvolvimento da própria
Psicologia Social do Trabalho no Brasil. Assim, neste estudo tem-se como objetivo apresentar um panorama descritivo
da produção publicada na revista e ao mesmo tempo analisar o estado atual da Psicologia Social do Trabalho. Para
tanto, utiliza-se o método da metassíntese, revisando-se os 19 volumes editados pela revista em suas duas décadas de
existência, perscrutando seus principais temas, a diversidade de referenciais teóricos e metodológicos, o segmento da
população trabalhadora estudada, dentre outros elementos. Foram realizadas as fases de Exploração, Descrição e
Análise. Na fase de Exploração, realizada entre os meses de abril de 2016 a janeiro de 2017, procedeu-se o acesso aos
19 volumes da revista, identificando-se 31 números entre o ano de lançamento, 1998, e o primeiro semestre de 2016.
A fase de Descrição constitui-se como um primeiro nível de apresentação dos resultados, nela apresenta-se uma
síntese descritiva a partir de categorias como: tipo de documento, eixo temático, referenciais metodológicos,
categoria de trabalhador ou profissão pesquisada e referenciais teóricos. A fase de Análise tem o objetivo de localizar
questões que ultrapassem o conteúdo de cada documento e se apresentem na intersecção entre estes. Nessa fase,
realizou-se primeiramente uma leitura flutuante sobre o conjunto das informações catalogadas nas fases anteriores e
em seguida procedeu-se o cruzamento destas com o momento histórico em que emergiram; o que permitiu alcançar o
objetivo do estudo. Com a realização desses procedimentos foram localizadas 269 documentos, em 06 tipos de
publicações diferentes (conferências, ensaios, entrevistas, pesquisa teórica, relato de pesquisa e relato de
experiência). Estes foram agrupados em categorias temáticas, dentre as quais destaca-se a Saúde do trabalhador
como a que mais aparece. São inúmeras as referências metodológicas identificadas assim como as técnicas citadas. Os
referenciais teóricos apresentados são também diversos. Foram 50 as categorias de trabalhadores ou profissões
catalogadas como foco de interesse dos autores, dentre as quais destacam-se os Trabalhadores da Saúde, os
Trabalhadores da Educação e os Cooperados. Os diferentes tipos de documentos publicados retratam a abertura que
caracteriza a política editorial da Cadernos. A diversidade de temas, métodos e técnicas de pesquisa, referenciais
teóricos e de categorias de trabalhadores ou profissões investigadas, confirmam a pluralidade de abordagens e
interesses que caracteriza a Psicologia social do trabalho. Ao realizar o cruzamento das categorias temáticas com o
período histórico, observou-se que as publicações apresentam uma correspondência com as questões sociais
características de cada momento histórico, o que parece indicar um compromisso da Psicologia social do trabalho com
os problemas sociais enfrentados pelos trabalhadores ao longo das duas últimas décadas no Brasil. Chama atenção a
questão da Saúde do trabalhador que apresenta uma frequência perene, estando presente em todos os volumes da
revista.

769
Clínica da Atividade: investigação das apropriações e usos da autoconfrontação no Brasil
Autores: Mônica Alves Verlings, UNESP Assis; Deivis Perez, UNESP
E-mail dos autores: monicaverlings@gmail.com,prof.deivisperez2@hotmail.com

Resumo: Esta pesquisa, que se encontra em andamento, tem como foco o exame das aplicações da autoconfrontação
em investigações realizadas no Brasil. Tal dispositivo se singulariza por ser uma ferramenta interventiva em processos
laborais e metodológico-científica utilizado por psicólogos e analistas do trabalho e desenvolvido para fazer emergir os
múltiplos discursos em torno de um ofício, integrando o estudioso do trabalho e um coletivo de trabalhadores. Deste
modo, a autoconfrontação pode favorecer a instalação de um processo de investigação e compreensão do
funcionamento de uma categoria ocupacional e, também, ensejar um movimento dialético de coanálise, produção e
apropriação de saberes sobre o labor pelos trabalhadores focalizando a sua transformação ou aperfeiçoamento tendo
como fundamento que as modificações mais significativas e perenes na laboralidade ocorrem por meio da
transmutação conduzida por aqueles que exercem um ofício. Este dispositivo tem sido desenvolvido no quadro teórico
e metodológico da Clínica da Atividade por pesquisadores vinculados à tradição francófona de estudo do trabalho,
além de ser uma ramificação da Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski. Este estudo representa a continuidade e a
ampliação do exame da autoconfrontação e dos esforços dedicados à sua contextualização para o Brasil, os quais tem
sido realizados pelo grupo de pesquisas Figuras e Modo de Subjetivação no Contemporâneo, vinculado ao Programa
de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus Assis, certificado
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Cientifico (CNPq). Esta investigação tem como objetivo
realizar o estado da arte dos usos da autoconfrontação em pesquisas que resultaram na produção dissertações e teses
concluídas em programas brasileiros de Pós-Graduação stricto sensu entre 1997 e 2015. De modo complementar,
pretende-se averiguar e discutir aproximações e diferenças no modo como a autoconfrontação é utilizada em
pesquisas brasileiras em diferentes áreas do saber acadêmico como a Saúde, Educação, Linguística, etc., e de distintas
universidades e Programas de Pós-Graduação. Por fim, espera-se apresentar dados sistematizados, discussões e
análises capazes de contribuir para metodizar a contextualização para o Brasil deste dispositivo. Nesta pesquisa foram
adotadas as estratégias de recolha e análise de dissertações e teses, considerando as indicações sobre elaboração de
estados do conhecimento de Romanowski e Ens (2006) e a referências de análise dos dados documentais de Bardin
(1977). A estratégia metodológica de Romanowski e Ens (2006), consiste em fazer a recolha de textos do gênero
acadêmico e analisá-los considerando as seguintes características: área do conhecimento em que cada produção
textual está inserida; contexto institucional em que foi concluído o estudo examinado; condições de produção do
trabalho investigativo. Já o método de Bardin (1977) ofereceu aportes para a análise do conteúdo dos textos que
compõem a nossa base de dados. Até o momento foram localizados resumos de teses e dissertações concluídas entre
2003 e 2015. A identificação das investigações foi feita por meio da busca no Banco de Teses da CAPES e na Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Foram encontradas 25 teses e dissertações que aplicaram a
autoconfrontação. Esses trabalhos estão concentrados nas áreas da Educação, Linguística e Saúde Pública, em
programas de Pós Graduação stricto sensu da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A partir dos estudos teóricos que realizamos acerca das raízes
epistemológicas da Clínica da Atividade e a metodização da aplicação da autoconfrontação realizada, conforme os
estudos de Clot (2010) e colaboradores, pode-se apontar, preliminarmente, que os estudiosos brasileiros modificam o
dispositivo, fazem adaptações e aplicam a autoconfrontação de forma parcial, fragmentada e apenas para a recolha de
dados das suas investigações, não alcançando a etapa final de transmutação coletiva do trabalho.

770
Desejo, resistência e produção em empreendimentos de economia solidária
Autores: Sanyo Drummond Pires, UFGD; Aline Pereira da Silva, UFGD
E-mail dos autores: sanyodrummond@yahoo.com.br,alinep.dasilva@hotmail.com

Resumo: O exercício da autogestão, presente nos empreendimentos de economia solidária (EES), abre espaço para
diversos questionamentos ligados à dinâmica psíquica possibilitada por esse modelo de organização produtiva, tanto
associada a novas possibilidades de construção de sociabilidades e de expressão de si por meio de trabalho, quanto à
necessidade de estruturação de novas formas defensivas frente às vivencias de exploração e sofrimento ocasionadas
pelo trabalho autogestionário. Uma das possibilidades que se destacam nesse processo é a expressão da dimensão do
desejo e das singularidades do sujeito na organização coletiva do trabalho, compreendidos a partir da noção de
Ressonância Simbólica, da psicodinâmica do trabalho, ou seja, uma articulação entre os conteúdos inconscientes dos
trabalhadores e os objetivos da organização produtiva. Para que essa ressonância simbólica possa acontecer, é
necessário que se criem espaços onde esses conteúdos inconscientes possam ser explicitados e articulados com a
definição dos objetivos da organização produtiva. Tal espaço, no entanto, não ocorre necessariamente nos EES,
principalmente em função de processos de idealização nesse tipo de empreendimento que remetem ao conceito de
imaginário enganador da psicossociologia, e da manutenção dos mecanismos defensivos frente ao trabalho
construídos na trajetória laboral dos trabalhadores, ou dos grupos culturais aos quais pertence. O presente trabalho
pretende descrever o processo de análise dos mecanismos defensivos frente à organização do trabalho bem como a
estruturação de um espaço coletivo para que os elementos inconscientes pudessem ser explicitados e articulados com
a organização do processo produtivo de um EES do ramo da cultura em um processo de incubação ligados à
Incubadora de Tecnologias Sociais e Solidárias da UFGD. O trabalho inicialmente foi realizado a partir de entrevistas
individuais com membros do empreendimento, discussões de grupo e observação das atividades cotidianas no
empreendimento. Neles procurou-se identificar, através da narrativa da atividade que cada trabalhador desenvolvia
no empreendimento, sua vinculação afetiva com o mesmo, buscando compreender as expectativas simbólicas e
imaginárias depositadas no empreendimento, e principalmente as mobilizações do sujeito frente à organização do
trabalho definida formalmente, tanto no sentido de se posicionar defensivamente frente à mesma, quanto de
estabelecer, novas metas e processos para nortear essa organização. Percebeu-se que, apesar de existir no discurso
dos trabalhadores uma expectativa de que o EES possibilite recursos para suas atividades pensadas de forma
individual, existe também uma mobilização em comum para a produção do que a equipe de incubação chamou de
Sociabilidades Criativas. Essa mobilização, no entanto, não era percebida pelos membros do EES, e não se figurava
como um dos produtos do empreendimento, embora sempre fosse buscada, inclusive em detrimento das outras
atividades. Essa hipótese foi comunicada para os membros do empreendimento, e foi corroborada pelos mesmos. A
partir de então, partiu-se para a realização de outras atividades do processo de incubação, que buscam principalmente
a regularização formal do empreendimento e a capacitação técnica em áreas específicas. Atualmente, busca-se
trabalhar os processos defensivos frente ao processo de formalização do empreendimento, a partir do que Dejours
chamou de Perlaboração Coletiva, buscando uma apropriação coletiva do sentido das práticas laborais desenvolvidas
no EES. Embora seja um trabalho ainda em andamento, podemos, como conclusão parcial, perceber a contribuição
que a psicologia social do trabalho pode fornecer para os processos de incubação de EESs, principalmente no que diz
respeito à sustentabilidade psíquica dos mesmos, e na consideração de elementos que ultrapassem um discurso
meramente gerencial ou economicista desses empreendimentos. A presente proposta se articula com o eixo temático
5 - Psicologia Social, processos de trabalho em contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento, em função de
buscar a construção de formas de intervenção da psicologia que possibilite a estruturação de novas práticas
produtivas emancipatórias, e com o grupo de trabalho Psicologia Social do Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho,
por procurar desenvolver conhecimentos sobre novos modos de organização sobre o trabalho, principalmente o
trabalho autogestionário.

771
El Trabajo Autogestionario Complejo en un Movimiento Urbano Popular
Autores: Ignacio Enrique Muñoz Cristi, Universidad Diego Portales
E-mail dos autores: imucri@gmail.com

Resumo: En los nuevos estudios psicosociales del trabajo en Latinoamérica (Soto, 2008; Stecher & Godoy, 2014) se ha
buscado ampliar el concepto de trabajo, expandiéndolo a diverso tipo de actividades productivas no asalariadas
(Antunes, 2001; De la Garza, 2010; Spink 2011), ya sean domésticas, informales, no clásicas. Entre ellas, el trabajo
autogestionario (Sato & Estévez, 2002; Lima, 2004; Rugieri, 2009), pero al respecto se ha puesto más el acento en el
quehacer de cooperativas, fabricas recuperadas o emprendimientos comunitarios, sin embargo, desde la perspectiva
del proceso de trabajo, poco se ha estudiado el quehacer autogestionario de los movimientos antisistémicos
(Wallerstein, 2014).
Al observar los procesos de lucha y construcción de diversos movimientos de pobladores (habitantes pobres de la
periferia urbana) en el Chile actual, es posible distinguir que realizan un tipo de trabajo autogestionario que difiere
respecto al de sus predecesores pobladores, y del de las mutuales, cooperativas y fábricas recuperadas, asemejándose
más al que durante el gobierno de la Unidad Popular, presidida por Salvador Allende, se realizaba en los cordones
industriales y los comandos comunales de pobladores en la década de 1970 (Gaudichaud, 2016), y al modo en que
trabajan e históricamente trabajaron diversos movimientos populares, desde la comuna de París hasta el movimiento
neozapatista (Nascimento, 1986; Arrighi, Hopkins & Wallerstein, 1999; Mészáros, 2002; Aguirre, 2012). A este tipo de
trabajo llamamos Trabajo Autogestionario Complejo (TAC), cuyo sello es su orientación explícita a la transformación
del modo de producción capitalista a través de la realización de proyectos sociopolíticos de movimientos
antisistémicos, actualmente, de cara a la crisis estructural del sistema mundial capitalista (Wallerstein, 2010; Antunes,
2009).
El TAC será el tema central de esta ponencia, la que se enfocará en el modo en que este se realiza actualmente en el
Movimiento de Pobladores en Lucha (MPL) (Muñoz, 2014; 2015; MPL y CESCC, 2008), haciendo énfasis en la
perspectiva de sus militantes, dando así cuenta no sólo de los elementos estructurales básicos, sino también de los
procesos subjetivos y semánticos que lo constituyen y realizan a lo largo de los itinerarios biográficos de quienes, de
hecho, lo conforman con su praxis y con los sentidos que cotidianamente le atribuyen.
El MPL es un joven movimiento urbano-popular de Chile, de cuño anticapitalista, constituido por pobladores y
orientado a la producción social del hábitat (SELVIP, 2011; Harvey, 2013) vía generación de poder popular.
Actualmente tiene 11 años de existencia en un proceso centrado en las luchas por el derecho a la vivienda y la ciudad
pero que busca ir más allá, involucrándose en las luchas y construcciones por la educación, el trabajo, la salud, etc.,
desde una estrategia que implica luchar, contra el Estado, sin el Estado y simultáneamente, desde el Estado, tanto en
la recuperación de recursos estatales como a través de la creación de un partido herramienta de los movimientos
populares: Igualdad, el cual ya les ha permitido ocupar, por tercer periodo consecutivo, un puesto en la concejalía del
Municipio de Peñalolen.
Esta presentación surge de mi investigación doctoral en curso, titulada: Sentidos y Procesos del Trabajo
Autogestionario Complejo en un Actual Movimiento Antisistémico Popular Chileno: Relatos de Vida de Trabajadores-
Militantes del MPL. Cuyo foco son los procesos de trabajo y procesos organizativos (Spink 1996) del TAC en el MPL,
desde una perspectiva psicosocial que atienda a los sentidos subjetivos e itinerarios biográfico-laborales a través de la
producción y análisis de relatos de vida (Bertaux, 1999; 2005) de los miembros del movimiento, tomando en
consideración su inserción en el sistema-mundo capitalista (Wallerstein, 2005; Arrighi 1999) en tanto movimiento
antisisémico, y retomando elementos teórico-metodológicos de la World-System Biography (Derlugian, 2005; 2015)
para dar cuenta del proceso histórico global del cual el MPL es parte.
De este modo, la investigación propuesta pretende estudiar los sentidos y procesos del TAC en el MPL desde la
perspectiva de los itinerarios biográficos laborales de los propios trabajadores-militantes, aportando al campo de los
estudios psicosociales del trabajo, a través de la comprensión de formas de trabajo más allá del mundo asalariado y
772
del trabajo autogestionario clásico, así como aportar a los debates sobre el concepto amplio de trabajo y sobre la
centralidad del trabajo respecto a la configuración de sentidos colectivos y proyectos emancipatorios en el mundo
contemporáneo. Asimismo, y en el campo de estudio de los movimientos antisistémicos, la investigación permitirá
analizar la relevancia del TAC, entendido como proceso organizacional y de trabajo, para los proyectos políticos de
movimientos antisistémicos en la actual fase del sistema-mundo capitalista.

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Família-empresa e acidente de trabalho na indústria automobilística: a história de João
Autores: Juliana Lopes da Silva, PUC-Campinas; Márcia Hespanhol Bernardo, PUC-Campinas
E-mail dos autores: ls.julianalopes@gmail.com,marciahespanhol@hotmail.com

Resumo: O mundo do trabalho contemporâneo, baseado no ideário de flexibilidade, é marcado pela ilusória
valorização do trabalhador como parte essencial da empresa. Tratado como colaborador, é incentivado por meio do
discurso empresarial a vestir a camisa da empresa, fazer parte da família-empresa e assumir como seus os valores e
objetivos empresariais. Impelido a atuar em jornadas extenuantes para atender as altas metas de produção e garantir
os lucros da empresa, por vezes trabalha a ponto de atingir sua integridade pessoal. Nesse contexto, o tema acidentes
de trabalho se mostra relevante, pois gera graves consequências na vida dos trabalhadores que os sofrem. Assim, o
presente trabalho apresenta a vivência de um trabalhador que sofreu acidente de trabalho em uma indústria
automobilística do interior do estado de São Paulo, visando demonstrar como a experiência do acidente traz
mudanças à vida do trabalhador acidentado. As informações apresentadas fazem parte de uma pesquisa de mestrado
em andamento. Para obtenção dessas informações, foi feita uma entrevista aberta com o trabalhador João (nome
fictício). Durante a entrevista, ele relatou que atuou por 5 anos na indústria em que sofreu o acidente de trabalho, a
qual mantinha metas altíssimas de produção, forte exigência em relação à qualidade dos veículos produzidos e
contínua pressão por resultados. Na época do acidente, João havia sido promovido e era responsável por substituir
trabalhadores ausentes no setor em que atuava, entre outras atividades. O acidente de trabalho ocorreu em um
horário de almoço no qual João e mais 5 trabalhadores tentavam atingir a meta de produção do período da manhã.
Esse processo deveria ser realizado por 12 pessoas e a prática de produzir em equipe reduzida durante o horário de
almoço era conhecida da empresa, que nunca agiu para evitá-la. Durante a produção, um automóvel travou no final da
linha de produção. João e um mecânico levantaram o veículo manualmente para que a linha destravasse, momento no
qual João sentiu um estalo na coluna. Por conta da urgência da produção, continuou trabalhando e tomou um
medicamento para aliviar a dor. A dor se intensificou no dia seguinte e, dois dias depois do acidente, João não
conseguia se mexer devido a dor intensa. Após tomar diversos medicamentos, conseguiu voltar a se locomover, mas
até hoje realiza tratamento devido a lesão na coluna e, segundo João, até os dias atuais sente dores quase
incapacitantes devido ao acidente. Apesar do evento ter ocorrido durante as atividades laborais, a empresa não abriu
a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), documento essencial para o reconhecimento do acidente de trabalho e
concessão do auxílio-acidente por parte do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), o que garantiria o acesso
aos direitos do trabalhador. Ainda que por lei João possa proceder tal abertura ele não conseguiu abrir a CAT até o
momento da entrevista. João relatou que tentou retornar ao trabalho e foi colocado pela empresa em trabalho
compatível, situação gerou a ele grande sofrimento, por conta das mudanças nas atividades que realizada, relatando
que chorou muito e sentiu-se quase em depressão. Solicitou afastamento pelo INSS, que concedeu a ele auxílio-
doença, ou seja, sem vínculo com o acidente. Depois de um ano afastado, retornou às atividades laborais ainda em
trabalho compatível, realizando atividades administrativas e na linha de produção. Nesse período, pediu para ser
mudado de turno por questões pessoais e, após ter seu pedido negado por estar em trabalho compatível, foi
dispensado sem justa causa. Sobre a dispensa, João relatou que seu passado de dedicação e busca pelos resultados foi
esquecido, já que foi considerado como não mais pertencente àquele grupo. Com o relato de João podemos perceber
que o trabalhador que sofre acidente de trabalho pode passar a ser tratado como desnecessário, sofre humilhações e
falta de reconhecimento profissional. Sua vivência demonstra o quanto é irreal o discurso empresarial de valorização
do trabalhador, já que ele foi considerado parte da família-empresa até o momento em que não tinha sequelas e, após
essas, passou a ser tratado como dispensável à empresa, não sendo mais responsabilidade dela suas condições de
vida. O mesmo trabalhador que se dedicou a jornadas intensas de trabalho, se preocupou com o atendimento das
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metas de qualidade e produção que, por vezes, abdicou dos poucos horários de descanso para atender as exigências
da empresa, foi deixado à mercê da própria sorte, em um mercado de trabalho competitivo e excludente para todos
os trabalhadores, inclusive para os que sofrem por consequências físicas ou mentais relacionadas ao trabalho. Como
se sabe, aqueles que sofrem acidentes de trabalho podem encontrar dificuldades de reinserção no mercado de
trabalho, o que ocorreu com João, que até o momento da entrevista encontrava-se desempregado. Ele relatou que
deseja ser reintegrado à empresa, pois considera que ela deve arcar com as consequências da lesão que produziu.

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Ideologia e significado do trabalho: o caso dos trabalhadores por conta própria
Autores: Fellipe Coelho Lima, UFRN
E-mail dos autores: fellipecoelholima@gmail.com

Resumo: A informalidade, concebida como o conjunto dos trabalhadores por conta próprio e dos assalariados sem
registro, vem ganhando atenção do Estado e da Academia com maior acento a partir da década de 1970, sendo o
resultado da reestruturação produtiva. Nesse período, se propagaram discursos incentivando o trabalho informal,
especificamente, o por conta própria. Isso ocorre pelo capitalismo atual demandar a criação de espaços de circulação
de mercadorias de baixa qualidade destinada aos trabalhadores empobrecidos e a ocupação da força de trabalho
desempregada evitando a elevação da pressão social. Esse discurso se configura como uma ideologia, nos termos de
Georgy Lukács, por ser um conjunto de ideias emanadas de uma determinada classe (capitalistas) que participa de um
conflito social (de uso da força de trabalho) com a função de orientar os indivíduos da outra classe em disputa (os
trabalhadores) a como agir perante esse conflito (orientando-os a criarem formas de autoemprego). Por outro lado,
essa forma de trabalho tem registrado condições precárias, já que o trabalhador tende a receber menos, trabalhar
mais horas semanais, terem menos folgas, bem como não acessarem os diretos trabalhistas. Assim levanta-se a
hipótese de que a ideologia presente entre os trabalhadores por conta própria não é reprodução daquela divulgada
pela classe capitalista, já que a sua vivência cotidiana contradiz o conteúdo dessa ideologia. Corrobora essa reflexão, a
consideração de que a ideologia, por se realizar na linguagem, é constituída de significados sociais e, segundo
Vygotsky, os mesmos são metabolizados pelos indivíduos de acordo com as suas vivências e problemas concretos do
seu cotidiano. Desse modo, essa pesquisa objetivou analisar as características da ideologia no trabalho informal a
partir dos significados atribuídos ao trabalho por trabalhadores por conta própria. Realizou-se 12 entrevistas
semiestruturadas com feirantes do Shopping de Pequenos Negócios do Alecrim (camelódromo), em Natal/RN, sendo o
número de participantes determinado por saturação teórica. Essa pesquisa alinha-se com a propota o GT Psicologia
Social do Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho e os processos organizativos ao buscar articular a categoria
ideologia (macrossocial) a vida cotidiana dos trabalhadores por conta própria, por meio de suas práticas e significados
produzidos. Analisou-se os significados do trabalho levantados com base no contexto biográfico dos participantes, a
sua relação com o contexto social e a função ideológica que desempenham. Identificou-se que os participantes, em
sua maioria, são oriundos de famílias pobres e numerosas, sendo comum entrarem no mundo do trabalho já durante a
infância ou adolescência, seja como forma de auxiliar na renda familiar, seja por buscar melhores condições de vida
individual. Esse percurso laboral é caracterizado pela rotatividade nos empregos, bem como serem trabalhos
precarizados. Essas mudanças de trabalho como a entrada no Camelódromo foram motivadas pela busca de melhores
rendimentos. Eles afirmam ter grande independência na delimitação dos preços, horário de funcionamento, retirada
de folgas e férias. Contraditoriamente, apresentam também que os horários, quando estabelecidos pelo feirante,
costumam ser fixos e são determinados pelo volume de clientes que circulam no Camelódromo, folgam apenas
quando o Camelódromo não está funcionando, e não tiram férias ou se afastam por motivos de doença. Eles
significam o trabalho, prioritariamente, como uma fonte de dinheiro e de sustento, e, secundariamente, como
ocupação do tempo. O trabalho assalariado, significam ele como um lugar de humilhação e degradação, vinculando
afetos negativos a ele. O trabalho informal, incluindo o atual, é visto como a resposta a suas demandas de renda
superior, liberdade de organização da atividade e ausência de gerência externa. As relações entre os feirantes são
contraditórias, havendo tanto momento de competição, quanto de colaboração entre eles. Onze participantes não
pretendem nunca parar de trabalhar, se dividindo entre os que pretendem ficar no Camelódromo indefinidamente e
os que pretendem abrir uma microempresa formalizada. Os significados encontrados concordam com as condições às
quais esses sujeitos foram submetidos e com o modo como o trabalho é concebido no capitalismo (trabalho como
fonte de renda e o centro das relações sociais). Eles desempenham três funções ideológicas: fixação dos trabalhadores
nessa condição de trabalho, na medida em que há uma hipervalorização dessa forma de trabalho; impedimento de
construção de uma consciência de classe, quando esses significados se relacionam mais a consideração dos demais
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feirantes como concorrentes, reduzindo os laços de solidariedade entre eles; e de crítica ao trabalho assalariado, ao
vislumbrarem esse, que é um dos pilares do capitalismo, como um trabalho que gera humilhação. Considera-se que é
necessário que a Psicologia Social do Trabalho e as demais disciplinas expanda as pesquisas sobre a ideologia
existentes entre as diversas formas de trabalho que configuração as relações produtivas da atual etapa do capitalismo;
fomente as já existentes ideologias do trabalho produzidas pelos próprios trabalhadores, que apontam formas
alternativas de relações produtivas e sociais; e estabeleça a crítica do trabalho informal como estratégia de integrar
esses trabalhadores na luta da classe que pertence.

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Narrativas de estudantes do IFBA sobre experiências de trabalho e formação
Autores: Samir Perez Mortada, IFBA
E-mail dos autores: spmortada@gmail.com

Resumo: INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como foco experiências de estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da
Bahia (IFBA). Pretende compreender suas experiências e expectativas no campo do trabalho e da formação
profissional.
Em termos gerais, nos interessa como o trabalho e a educação profissional comparecem na vida dos discentes: como
se revela em angústias, contradições, impasses, narrativas fragmentadas, obrigação; ou como serve de fonte para
realização social, satisfação, emancipação pessoal.
Pretende-se contribuir para a compreensão dos temas investigados, identificando e ressaltando a importância da
perspectiva estudantil. Como resultado, pretende-se também melhor compreender o atual contexto dos mundos do
trabalho e da educação profissional.

OBJETIVOS
Geral: Compreender a trajetória, o cotidiano e as expectativas dos estudantes do IFBA frente aos mundos do trabalho
e à formação profissional.
Específicos: 1 – Descrever experiências de discentes do IFBA sobre seus percursos, cotidiano e expectativas quanto ao
mundo do trabalho e à formação; 2 – Identificar e discutir como se relacionam percursos pessoais, contextos
institucionais e conjuntura social nas trajetórias dos estudantes do IFBA; 3 – Identificar e discutir dificuldades,
impasses, sofrimentos, adoecimentos e angustias pessoais concernentes às experiências no mundo do trabalho e na
Educação vividas pelos estudantes.

RELAÇÃO COM OS GTs


Esta pesquisa articula-se preferencialmente com o GT Psicologia Social do Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho e
os processos organizativos. A proposta do grupo envolve um olhar crítico e contextualizado da Psicologia Social do
Trabalho, que se comunica com aquilo que aqui se pretende.
Em caráter secundário, articula-se com o GT Ocupar e resistir: modos e sentidos das mobilizações políticas juvenis
contemporâneas, tendo em vista seu enfoque na práxis estudantil, também presente nas narrativas dos participantes
desta pesquisa. E com o GT Trabalho e Precarização: Adoecimento e Resistências.

ORIENTAÇÃO TEÓRICA
A articulação entre educação e trabalho é no IFBA característica constitutiva. Mas essa vocação encerra contradições.
Se a Escola aparece como lugar de pertença e qualidade reconhecidas, são notáveis também percepções de um lugar
tecnicista, voltado para atender demandas do capital.
Em campo contraditório e instável, é de se esperar que o jovem sofra. A Psicologia Social do Trabalho não é alheia a
essa questão. Os sujeitos desenvolvem estratégias, organizam-se, procuram se defender de situações de opressão e de
exploração, seja no plano individual ou coletivo (SATO, 2009).
O problema colocado orbita em torno de tema mais amplo: a centralidade do trabalho. De Masi (2000) deu
notoriedade à questão. Critica a fixação do ocidente no trabalho, a separação artificial deste das outras esferas da
vida. Propõe uma sociedade que equilibre suas atividades produtivas, de estudo e lazer, sintetizada na expressão ócio
criativo.
Essa perspectiva encontra ressonância na acepção aredtiana, para quem o trabalho remete à sobrevivência (ARENDT,
2005). Nesse caminho, o trabalho deve ser superado.

778
Em contraposição, é bem conhecida a acepção marxista. Ricardo Antunes (1999) retoma a reflexão de Lukács, sustenta
que o trabalho está no centro do processo de humanização, figurando como raiz e gênese das demais atividades
humanas.
MÉTODO
Esta pesquisa adere às modalidades semiestruturadas de entrevistas. Tem como referências metodológicas os
trabalhos de Bosi (1994, 2003) sobre Memória e Entrevistas e Psicologia Social. Cabe aqui também evocar os marcos e
inspirações inaugurais de Walter Benjamin (1994/1936) sobre experiência e narrativa.
Estão em andamento encontros com estudantes do IFBA pertencentes a diferentes modalidades de ensino: Ensino
Técnico Integrado, Ensino Técnico Integrado na modalidade PROEJA, Ensino Técnico Subsequente, Ensino Superior.

RESULTADOS
O que pretendemos apresentar enquanto resultados configuram primeiras impressões e interpretações. É possível
observar de início a tensão entre o caráter emancipador e opressor do trabalho, no cotidiano e nas perspectivas dos
estudantes. Nas entrevistas coletadas até o momento, há razoável heterogeneidade relativa a tal tensão,
correspondente à diversidade de origens sociais, da formação e de trajetórias pessoais. Em convergência, todos eles
procuram saídas mais ou menos subversivas, mais ou menos adaptadoras frente às pressões do capital. Nesse
caminho, notamos angústias, traumas e resistências, empoderamentos frente ao contexto de trabalho e de formação.

CONCLUSÕES
Esta pesquisa ainda está em suas fases preliminares, sendo arriscado indicar conclusões. Pode-se considerar, até o
momento, que para todos os estudantes do IFBA entrevistados o trabalho aparece como uma via emancipadora. No
entanto, tanto na experiência estudantil quanto frente às vivências e expectativas laborais, são notáveis as angústias e
pressões vividas para adaptação ao mercado e à conjuntura socioeconômica. Deve-se destacar também na pesquisa,
já em seu início, questões de gênero, o papel da família e da religião nas decisões sobre trabalho e formação.

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Narrativas de resistência no mundo do trabalho: um estudo em andamento sobre a Economia Solidária brasileira
Autores: Cris Fernández Andrada, USP
E-mail dos autores: cris.andrada@gmail.com

Resumo: A pesquisa, estudo pós-doutoral em andamento, desenvolve-se no campo da Economia Solidária brasileira.
Fruto das mazelas do mundo do trabalho, como a Crise do Emprego dos anos 90, o movimento viveu notável expansão
nos últimos anos, em dimensões, dilemas e complexidades. A necessidade de gerar trabalho e renda, por meio de um
paradigma econômico anti-hegemônico, exigiu desses/as trabalhadores/as a arquitetura de ações políticas e
econômicas complexas: novas formas de produzir e comercializar, de obter crédito, de gerir processos de trabalho, de
ocupar fóruns públicos ou reivindicar políticas públicas para o setor. O ânimo que imprimem nessas ações é de
resistência e as dificuldades são imensas. Em geral, tratam-se de experiências de trabalho e de vida social diversas,
que comungam de uma racionalidade comum, pautada não apenas por princípios econômicos, mas também por
valores e interesses humano-genéricos, de ordem política, ambiental e comunitária, como verificamos em pesquisas
anteriores. Em suma, a Economia Solidária brasileira atualmente configura-se como um movimento social de
resistência no mundo do trabalho, embora complexo, heterogêneo e de difícil apreensão.
O objetivo principal do estudo é compreender as origens da Economia Solidária brasileira a partir da perspectiva de
trabalhadores/as pioneiros/as. Como resultados, pretende produzir um conjunto de narrativas sobre a fundação do
movimento, de modo a contribuir para a compreensão das circunstâncias que orientaram os trabalhadores/as da
Economia Solidária a organizá-la, para o registro da memória social do movimento e deste momento histórico da
classe trabalhadora brasileira. Nesse tocante, é valiosa a contribuição da Psicologia Social crítica, uma vez que suas
práticas e saberes desenvolveram-se por meio da escuta larga, acurada e sistemática de pessoas em situação de
relativa invisibilidade social. Sabe-se também o quanto a área tem contribuído para o resgate da memória social de
populações historicamente pouco consideradas pela historiografia tradicional.
Neste sentido, entendemos que as articulações com o Eixo Temático e com a proposta do GT são claras,
especialmente porque o estudo parte de uma perspectiva, a Psicologia Social do Trabalho, que propõe uma leitura
crítica dos processos organizativos de trabalho na contemporaneidade, focalizando não apenas processos de
dominação e de saúde-adoecimento, mas também modalidades de organização e resistência de trabalhadores/as com
vistas ao enfrentamento das crescentes precarizações e à promoção de emancipação coletiva nesse contexto.
Como marco teórico geral da pesquisa, adotamos os estudos sociológicos e filosóficos da vida cotidiana (a partir da
Escola de Budapeste), especialmente as articulações que propõem sobre cotidiano, história e memória social. Esta
abordagem apoia-se numa concepção dialética de História, que não apenas considera a subjetividade e cotidianidade
como dimensões relevantes da vida social, como as situa no centro do processo histórico, junto das dimensões
materiais e objetivas da reprodução social. Como referencial teórico-metodológico recorremos aos estudos
psicossociais sobre memória social, como os de Ecléa Bosi, especialmente em suas leituras sobre a obra de Walter
Benjamin. A concepção de pesquisa no cotidiano como relação social também é uma premissa metodológica
relevante. Neste sentido, adotamos como referências os trabalhos psicossociais de Leny Sato e Peter Spink. Eles
recuperam a compreensão dos trabalhos de campo em pesquisas de Psicologia Social como uma prática de conversa e
de debate, a partir de uma inserção horizontal e eticamente responsável do pesquisador no cotidiano das situações de
pesquisa.
Em termos procedimentais, realizamos quatro viagens de campo e nove entrevistas prolongadas semiestruturadas,
com trabalhadores/as escolhidos/as segundo critérios qualitativos de representatividade, de modo a contemplar, ao
menos em parte, o desafio concernente à diversidade da Economia Solidária. Desta forma, entrevistamos
trabalhadoras/es de diferentes regiões geográficas do país e de distintos setores da economia, como agricultores
familiares, trabalhadores fabris, artesãs e prestadoras de serviços. Para tanto, retomamos contato com uma ampla
rede, que inclui diversos coletivos e organizações de representação dos trabalhadores/as, para obter indicações de
pessoas consideradas legítimas pelo e para o movimento.
780
Neste momento, com a etapa de campo concluída, nos dedicamos à fase final da edição das entrevistas. Por se tratar
de um estudo em desenvolvimento, não é possível ainda apresentar resultados finais e conclusões. Ainda assim,
poderemos discutir a proposta da pesquisa, os principais desafios de método nela vividos, parte de seus achados e
primeiras sínteses.

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Os sentidos atribuídos ao trabalho: relatos de pesquisas produzidas em um curso de Administração
Autores: Geruza Tavares Davila, UFRRJ
E-mail dos autores: geruzad@yahoo.com.br

Resumo: Os estudos sobre os sentidos atribuídos ao trabalho constituem-se, cada vez mais, fundamentais para
compreender o lugar do trabalho na sociedade nesse estágio do capitalismo. A recente aprovação da reforma
trabalhista no Senado brasileiro, por exemplo, indica um recuo quanto ao direito dos trabalhadores e trabalhadoras e,
consequentemente, uma maior precarização nas relações de trabalho. Além disso, as mudanças políticas em curso
sinalizam um aumento dos índices de desemprego no Brasil, a ampliação da terceirização, etc. Considerando tais
mudanças, apresento neste texto alguns resultados de monografias cujos objetivos foram a compreensão dos sentidos
atribuídos ao trabalho. Tive oportunidade de participar destas investigações na condição de orientadora ou avaliadora,
como docente no Curso de graduação em Administração da UFRRJ – campus Nova Iguaçu. Logo, partindo da Psicologia
Social do Trabalho, analiso seis monografias desenvolvidas entre 2013 e 2017 como Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC) e descrevo desde a fundamentação teórica, assim como o método e as análises empregadas nos trabalhos.
Quanto à fundamentação teórica todos os trabalhos adotaram autores/as oriundos/as da Sociologia do Trabalho,
assim como autores/as da Psicologia e da Administração. Chamou a atenção na presente análise que o referencial
teórico construído pelos/as pesquisadores/as apresentava uma lacuna teórica no que se refere à distinção entre
sentidos e significados do trabalho, muitas vezes sendo definidos como sinônimos. Além disso, todos os trabalhos
foram de natureza qualitativa e utilizaram a entrevista como ferramenta para o levantamento de informações no
campo de pesquisa. Coube à Análise de Conteúdo um lugar destacado como técnica analítica utilizada para relacionar
teoria e empiria. Os participantes das pesquisas foram trabalhadores/as de diferentes faixas etárias, incluindo, jovens,
adultos e aposentados, com diversos vínculos laborais, compreendendo estagiários, celetistas, servidores públicos,
trabalhadores/as informais e da Economia Solidária. As análises, notadamente descritivas, apontam para os sentidos
atribuídos ao trabalho em sua concepção mais instrumental, como valor de troca, mas também como valor de uso.
Aqui aparecem conotações voltadas para uma vinculação mais positivada do trabalho, assim como afirmações que
expressam a centralidade do trabalho na vida dos participantes, além da denúncia da vivência de situações laborais
muito precarizadas. Saliento como as pesquisas sobre os sentidos atribuídos ao trabalho começam a fazer parte das
temáticas estudadas neste curso e revelam que o cotidiano dos/as pesquisadores/as foi o ponto de partida para
pensar uma questão de pesquisa, problematizando a ideia de uma neutralidade científica. Além disso, as repercussões
destas investigações na vida dos/as pesquisadores/as e dos participantes das suas pesquisas podem contribuir para
uma reflexão sobre a categoria trabalho em sua articulação entre o social e o individual, desconstruindo uma visão de
homem a-histórico, e de mundo baseado nos ideários liberais, ainda tão presentes em vários cursos universitários, em
especial na área de Administração. Para o campus universitário, estes TCCs podem auxiliar a entender alguns aspectos
regionais, uma vez que todos os trabalhos foram realizados em seu entorno, podendo ter continuidade em futuras
pesquisas. Finalmente, entendo que entrevistar trabalhadores/as em diferentes contextos laborais é fundamental
para uma compreensão do trabalho a partir do ponto de vista dos/as trabalhadores/as, revelando especificidades e
atravessamentos de formação, de classe e/ou de gênero, além de evidenciar as contradições entre os interesses dos
sujeitos e os interesses das (grandes) organizações.

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Os sentidos do trabalho e da educação na percepção de jovens universitários: Desafios profissionais
Autores: Josiane Teresinha Ribeiro Souza, UNIVALI; Tânia Regina Raitz, UNIVALI
E-mail dos autores: josyribeiro4@gmail.com,raitztania@gmail.com

Resumo: Nos últimos anos ocorreram muitas transformações no mundo do trabalho, especialmente a partir da década
de 90, do século XX, os jovens foram os mais atingidos neste contexto. Alterações na organização do trabalho, avanços
da tecnologia e reestruturação produtiva provocaram velozes e rápidas mudanças no Brasil e diversos países da
América Latina. As incertezas e inseguranças no mundo do trabalho foram sentimentos que surgiram para diversos
profissionais quanto sua inserção profissional, bem como aqueles que lutam para se manter no heterogêneo mercado
de trabalho brasileiro. Nesse cenário, o trabalho ganha novas dimensões, para além da ética formal proliferam muitas
atividades informais e os jovens passam a atribuir diferentes sentidos à educação e ao trabalho a partir das diversas
situações vivenciadas na experiência com o emprego e o desemprego. O problema orientador do estudo foi o
seguinte: Quais os sentidos que os jovens universitários do curso de Psicologia, de uma universidade comunitária no
Sul do Brasil, atribuem ao trabalho e a educação? Desta forma se configurou o objetivo geral que foi investigar os
sentidos que os jovens universitários (as) do curso de Psicologia, de uma Universidade comunitária, atribuem ao
trabalho e a educação na atualidade. O tema está diretamente relacionado com as questões centrais que se discute no
Grupo temático: Psicologia Social do Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho e os processos organizativos, uma vez
que os jovens são os mais afetados quando se trata das novas exigências no perfil dos trabalhadores. Os jovens têm
buscado cada vez mais aumentar sua escolaridade e qualificação para se inserir e se manter no mercado de trabalho.
Neste contexto, o trabalho ganha novas dimensões e seus sentidos se reformulam em função das diversas situações
vivenciadas pelos jovens trabalhadores. Assim, como esse estudo está de acordo com o Eixo Psicologia Social,
processos de trabalho em contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento, pois trata-se de demonstrar que
no contexto das políticas neoliberais, das transformações do mundo do trabalho, para além de uma ética do trabalho
formal, os jovens se viram largamente atingidos na relação que se estabelece entre trabalho e educação. Conforme
Bendasoli (2007) A perplexidade se expressa mais exatamente pela perda de sentido e desvalorização do trabalho,
causando decepção nos sujeitos da sociedade contemporânea, pois o trabalho já não atende aos anseios dos sujeitos,
que dele esperam muito mais do aquilo que tem significado atualmente. Deste modo, se fazem visíveis as experiências
dos jovens discutidas a partir das configurações contemporâneas do mundo do trabalho no cenário capitalista
neoliberal. Ademais, promove discussões das formas de enfrentamento, estratégias e alternativas no mundo do
trabalho. De acordo com o levantamento da literatura, o mapeamento realizado por Carrano (2000), aponta em sua
conclusão a relevância de estudos que investigam o jovem na sua condição universitária com mais complexidade
trazendo como um dos exemplos os estudos que investigam o aluno jovem relacionado à condição de trabalhador.
Outras pesquisas mostram o cenário dos jovens universitários através de estudos como O Estado da Arte sobre
juventude na pós-graduação brasileira, que conforme o artigo Jovens Universitários: acesso, formação, experiências e
inserção profissional, de Carrano (2009), mostra a real situação dos jovens universitários e o mundo do trabalho.
Conceitualmente a categoria trabalho, conforme Antunes (2005), numa perspectiva ontológica partindo de Lukács
(1984) e Marx (2006), antes de qualquer coisa, significa meio para a sobrevivência, mas está relacionado a outros
sentidos associados aos prazeres que a vida pode oferecer, numa fruição que se utiliza da música, dos afetos,
sensibilidades, do aprendizado, etc, A natureza da pesquisa foi qualitativa, utilizou como coleta de dados entrevistas
semi-estruturadas, individuais com 8 (alunos jovens), do curso de Psicologia, que trabalham e estudam, uso de
gravador e diário de campo, a análise ocorreu por meio da análise de conteúdo (Franco, 2008). Os resultados mostram
através dos sentidos atribuídos pelos jovens para a educação e trabalho as dificuldades de inserção profissional,
experiências com o desemprego, trabalho precário, etc. Os jovens merecem maior visibilidade a partir de programas
783
que possam contribuir com medidas urgentes, com soluções que venham amenizar estes problemas. Portanto, faz-se
necessário que os gestores das políticas públicas coloquem em prática os programas governamentais que possam
possibilitar a juventude de nosso país e região alçar voos mais altos e concretos em seus sonhos e projetos e que
consigam satisfazer suas expectativas e superar os dilemas na relação educação e trabalho. Neste contexto, o trabalho
ganha novas dimensões e seus sentidos se reformulam em função das diversas situações vivenciadas pelos jovens
trabalhadores.

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Por novos Paradigmas de Gestão das Relações de Trabalho para Empresas Autogestionárias: Formação Integral e
Continuada
Autores: Maria das Graças de Lima, PUC-SP
E-mail dos autores: m.gracalima@uol.com.br

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar as reflexões resultantes de minha tese de doutorado, defendida
em abril de 2017, no Programa de Psicologia Social da PUC/SP, que versa sobre o tema da autogestão e uma gama de
questões que envolve a gestão das relações de trabalho em Empresas Recuperadas por Trabalhadores (ERTs). Nas
empresas tradicionais capitalistas, estas questões estão sob a responsabilidade do departamento de Gestão de
Pessoas ou Recursos Humanos (RH), que a partir de concepções fundamentadas nas teorias da administração e da
psicologia organizacional tem a responsabilidade de intermediar e resolver essas e outras questões referentes às
relações de trabalho que se estabelecem entre trabalhadores (as) e a política organizacional da empresa, porém
sempre com o intuito de adaptar os (as) trabalhadores (as) às condições impostas pela necessidade de ampliar a
produtividade e manter um bom clima organizacional.
Essas práticas estão fundamentadas pelas concepções da chamada administração científica e burocrática do sistema
Taylorista/Fordista, pela racionalidade do sistema Toyotista, e pela ideologia alienante da Escola das Relações
Humanas (TRAGTENBERG, 2005), que busca metodologias de manipulação dos (as) trabalhadores (as) ao ampliar sua
participação nos processos de operacionalização para garantir maior envolvimento afetivo e melhoria da
produtividade, mas o aliena de todos os processos decisórios da produção e distribuição dos lucros. Neste sentido a
perspectiva da gestão de pessoas é antagônica à proposta da autogestão. Termos como esse, utilizados pelas
empresas capitalistas revelam a ideologia da relação capital/trabalho: recursos humanos, gestão de pessoas, capital
humano. Os (as) trabalhadores (as) não são vistos (as) como pessoas, mas como recursos para o capital, e pessoas
comuns necessitam ser geridas por outras superiores. As ERTs de grande porte, e que estão melhor estruturadas,
possuem um departamento de gestão de pessoas ou recursos humanos para resolver questões de ordem burocrática.
Tais iniciativas visam responder às exigências do mercado, como as certificações ISO 9000, e nesse caso há no máximo
uma adaptação à algumas condições das cooperativas. Contudo não foi desenvolvido um modelo próprio e coerente
com os princípios da autogestão para lidar com estas questões.
Nas empresas brasileiras de autogestão não há, via de regra, política organizacional ou metodologia específica com
princípios autogestionários que dê conta de toda a problemática envolvendo processos organizacionais e relações de
trabalho dos EESs. Por isso, eles acabam mantendo a mesma estrutura organizacional e utilizando as mesmas práticas
utilizadas pelas empresas capitalistas.
Ao utilizar as técnicas, práticas e concepções das relações de trabalho, as ERTs colocam em risco o desenvolvimento da
autogestão.
Esta pesquisa caracterizada como um estudo de caso, teve como objeto de investigação, as relações de trabalho em
duas ERTs: UNIFORJA E CONES.
A investigação e análise, procurou compreender a dimensão subjetiva das relações de trabalho nas ERTs, e em que
medida, depois de quase 20 anos de existência, estas cooperativas, conseguiram se manter fiéis ou não ao sistema de
autogestão, buscando identificar em suas práticas cotidianas contradições, ambiguidades e possibilidades de
superação dessas contradições, já que estão inseridas no mercado capitalista, subjugadas à lógica de produção e
reprodução do capital. Porém a tese também uma dimensão militante, com a intenção de fazer uma pesquisa não só
analítica apontando as falhas e contradições destes empreendimentos solidários, mas principalmente teve como
objetivo apresentar propostas que possam contribuir para o desenvolvimento e fortalecimento não só das ERTs, mas
também de outros EESs, visando criar condições para superar desafios e contradições que estes empreendimentos
enfrentam por estarem inseridos numa economia capitalista. Sendo assim a tese apresenta uma proposta que possa
contribuir com elementos para o desenvolvimento de novos paradigmas para gestão das relações de trabalho nas

785
ERTs a partir dos princípios da autogestão e da economia Solidária em oposição ao modelo de Gestão de Pessoas
adotado pelas empresas capitalistas.
A perspectiva que orientou a pesquisa foi Psicologia Sócio-Histórica, que se fundamenta pelo materialismo histórico
dialético, e se pauta pelo compromisso de uma leitura crítica da realidade, para construção de seus pressupostos
epistemológicos, ontológicos e metodológicos. A Psicologia Sócio-Histórica, ancorada pela perspectiva dialética,
possibilita a superação das dicotomias entre indivíduo e sociedade, subjetividade e objetividade, para a compreensão
dos fenômenos humanos.
Compreendemos este movimento de surgimento de novas formas de organização do trabalho que não se encerra
somente nas ERTs, mas que se manifesta em várias outras formas de organização dos trabalhadores aglutinadas sob a
égide da economia solidária, bem como o movimento das fábricas ocupadas, como formas de resistência ao modelo
de produção capitalista e nesta medida acreditamos estar em plena consonância com o tema central deste encontro à
medida que apresenta reflexões sobre a autogestão e o centro da discussão se assenta no princípio da autogestão
como radicalidade na prática da democracia direta que busca o sentido de sua generalização na sociedade, como meio
e fim da luta dos trabalhadores contra o capitalismo.

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Saúde Mental em Moçambique: Percepção dos Professores do Ensino Fundamental da Rede Pública de Angoche
sobre os Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho Docente
Autores: Gildo Aliante, UFRGS; Jaqueline Tittoni, UFRGS
E-mail dos autores: aliantegildo@yahoo.com.br,jatittoni@gmail.com

Resumo:
O trabalho humano considera-se um fator fundamental para o ser humano, não só por ser um meio de subsistência,
de sobrevivência e de realização pessoal, e sim por contribuir para os processos de identidade e de subjetivação.
Enfim, o trabalho visto como uma das fontes de satisfação de diversas necessidades humanas, como auto-realização,
manutenção de relações interpessoais e sobrevivência. Todavia, na sociedade contemporânea o trabalho humano tem
sido afetado por diversas transformações políticas, sociais e econômicas tais como: flexibilização, desregulação,
precarização. Essas modificações geram diversas mudanças no âmbito do trabalho docente, consequentemente, os
professores passaram a conviver com um ambiente precarizado, regido pela lógica empresarial, levando-os à situações
de sobrecarga, de estresse e de competição, além de fragilizar as relações interpessoais e dificultar o uso adequado do
tempo livre, aspectos esses que comprometem a qualidade de vida dos mesmos. Neste sentido, este trabalho tratou
de saúde mental dos professores do ensino fundamental em Angoche, com objetivo de compreender os fatores
psicossociais de risco no trabalho docente. A realização da pesquisa justifica-se pelo fato de se perceber que a
docência constitui nos nossos tempos uma profissão de risco e muito estressante. Na realidade moçambicana verifica-
se a existência de diversos estressores psicossociais que podem contribuir negativamente a saúde mental dos
professores, surgimento uma necessidade de se desenvolver estudos em prol da temática. A pesquisa é do cunho
qualitativo-exploratório. Participaram da pesquisa cinquenta (50) professores. Para a coleta de dados foram realizados
4 grupos focais composto entre 10 a 15 professores, com a duração de 45 minutos cada. O tratamento dos dados e
informações coletadas recorreu-se a técnica de análise de conteúdo agrupadas em categorias (fatores de risco,
sintomatologias). O trabalho se enquadra no GT: Psicologia Social de Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho e os
processos organizativos e no Eixo Temático 5, visto que trata da temática Saúde de Trabalhador (Saúde Mental dos
Professores em Moçambique) e dá menção os fatores psicossociais de risco com intuito de gerar reflexões sobre os
processos de saúde-adoecimento, buscando contribuir para a melhoria de qualidade de vida dos professores. A
orientação teórico-metodológico e conceitual foi baseada na noção de que o trabalho é fator constitutivo de
adoecimento e de saúde mental e que a organização, o ambiente e as condições de trabalho são determinantes no
sofrimento mental dos trabalhadores que as próprias características biológicas e individuais. Para subsidiar a
compreensão do objeto de estudo, foram utilizados os pressupostos teóricos da ergonomia da atividade e
educacional, saúde mental e trabalho docente. Portanto, o termo psicossocial tem sido utilizado para referir uma
grande variedade de fatores psicológicos e sociais relacionados com o trabalho docente que podem comprometer a
saúde mental. Os resultados indicam que baixos salários, sobrecarga no trabalho, pressão de tempo, condições
inadequadas de trabalho, desmotivação de alunos, limitadas oportunidades no desenvolvimento na carreira e
transferências involuntárias fazem parte dos fatores de risco para a saúde mental dos professores. Assume-se que
caso estes aspectos perdurarem podem gerar agravos à saúde como o estresse, burnout, alcoolismo crônico e,
consequentemente, comprometer a qualidade de vida dos professores. Estas situações implicam um repensar sobre o
ensino em Moçambique, sugerindo-se que deve ser um trabalho ergonomicamente desenhado, o que pressupõe a
aplicação de teorias, modelos, leis e dos métodos da ergonomia no contexto educativo.

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Trabalho Intensificado: um estudo sobre as representações sociais de gerentes de logística
Autores: Ariane Serpeloni Tavares, UFSCar; Rosemeire Aparecida Scopinho, UFSCar
E-mail dos autores: ariserpeloni82@yahoo.com.br,scopinho@ufscar.br

Resumo: O presente trabalho traz resultados parciais de uma pesquisa de doutorado que tem como objetivo
compreender as representações sociais de trabalhadores ocupantes de cargos de gerência intermediária em empresas
do ramo de transporte de cargas sobre suas experiências de trabalho intensificado. O problema teórico e empírico que
motivou a pesquisa foi a constatação prévia de que o fenômeno da intensificação do trabalho, embora tenha sido mais
estudado no universo do trabalho material fabril executado por trabalhadores hierarquicamente posicionados em
cargos operacionais, não se restringe a este espaço e também atinge outros níveis hierárquicos e outros setores da
economia, em que predominam o trabalho imaterial, como é o caso de gestores do ramo de logística. Analisar as
representações sociais dos gestores traz contribuições para a compreensão do fenômeno estudado, visto que, além de
permitir entender a intensificação do trabalho imaterial, coloca em cena um sujeito que é, ao mesmo tempo, o
carrasco e a vítima do modelo de gestão que contribui para intensificar o trabalho. Esta pesquisa relaciona-se com o
GT Psicologia Social do Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho e os processos organizativos por utilizar o
referencial da Psicologia Social do Trabalho e adotar uma perspectiva crítica em relação à organização contemporânea
do trabalho, que tem levado a uma intensificação e precarização laboral cada vez maior. O trabalho intensificado é
decorrente da adoção de práticas de gestão que promovem maior produtividade para a empresa por meio do elevado
dispêndio das energias físicas, psíquicas e emocionais dos trabalhadores, tais como o prolongamento das jornadas, o
alto ritmo de trabalho, a gestão por resultados, a adoção de inovações tecnológicas, a exigência de polivalência,
disponibilidade 24 horas por dia, viagens em grande volume, dentre outras. A vivência de condições de trabalho
intensificadas pode gerar consequências nocivas para os trabalhadores, que são diferenciadas de acordo com a
organização do trabalho e o tipo de atividade realizada pelo trabalhador (DAL ROSSO, 2006; 2008). Em funções
imateriais, a literatura tem apontado para: problemas de saúde física e mental dos trabalhadores; interferência do
trabalho na vida privada; naturalização do trabalho intensificado; pressão pela redução da qualidade das atividades
realizadas pelos trabalhadores e os sentimentos de mal estar dela decorrentes; e a individualização dos trabalhadores.
Por outro lado, a alta remuneração, o reconhecimento e o medo do desemprego têm sido considerados fatores de
manutenção dos trabalhadores sob estas condições. Considera-se que os sujeitos expostos ao trabalho intensificado,
inseridos em um contexto cultural e social específico, constroem e partilham representações sociais sobre a realidade
vivenciada, a fim de compreendê-la e posicionar-se frente a ela, visto que as RS guiam o modo de nomear e definir os
diversos aspectos da realidade contemporânea, auxiliando na interpretação, tomada de decisão e posicionamento dos
indivíduos perante os acontecimentos (JODELET, 2005). Até o momento foram realizadas entrevistas
semiestruturadas, fora do ambiente de trabalho, com dois gerentes de áreas operacionais, ambos do sexo masculino,
expostos ao trabalho intensificado, de diferentes empresas privadas de grande porte do setor de transportes de
cargas. Os relatos dos participantes foram transcritos e as informações analisadas até o momento apontam para: a)
ocorrência de agravos à saúde (obesidade, pressão alta) e dificuldades de conciliação entre a vida privada e a vida
laboral em razão do trabalho intensificado; b) naturalização do trabalho na área de logística como intrinsecamente
intenso; c) culpabilização do sujeito por grande parte da intensidade do trabalho (inexperiência; necessidade excessiva
de ter controle sobre os eventos); d) responsabilidade da liderança pelo nível de intensidade do trabalho (exemplo,
relativa autonomia para modificar a organização do trabalho); e) influência de políticas meritocráticas (gestão por
resultados e concessão de bônus) sobre a intensidade do trabalho; f) remuneração e reconhecimento como fatores de
manutenção do trabalho intensificado. Apesar de ainda estar em curso, a presente pesquisa traz contribuições para a
compreensão do trabalho intensificado para gerentes de posições intermediárias. Os resultados levam-nos a verificar
que estes sujeitos estão em uma condição paradoxal em relação ao trabalho intensificado, pois ao mesmo tempo em
que apoiam as práticas de gestão intensificadoras, principalmente em relação à meritocracia, sofrem as consequências
destas na sua saúde e vida privada. Além disso, consideram-se responsáveis pela própria condição e não enxergam,
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dentro do seu ramo de atuação, alternativas de trabalho não intensificado. Outras entrevistas ainda serão realizadas
para que se possa compreender e analisar as representações sociais construídas e compartilhadas por gestores sobre
as condições de trabalho intensificado vivenciadas.
REFERÊNCIAS
DAL ROSSO, S. Intensidade e imaterialidade do trabalho e saúde. Trabalho Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1,
p. 65-92, mar. 2006.
DAL ROSSO, S. D. Mais trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo: Boitempo, 2008.
JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org.) Representações sociais. Rio de
Janeiro: EDUERJ, 2005, pp. 17-44.

789
GT 37 | Psicologia Social e Ruralidades

Coordenadores: Ana Cecília Oliveira Silva, UFTM | Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, UFAM | Rosa Cristina Monteiro,
UFRRJ

O objetivo deste GT é propiciar uma interlocução entre estudantes, pesquisadores e profissionais da Psicologia Social e
áreas afins que articulam questões psicossociais às rurais em seus temas de estudo ou campo de atuação. Nosso foco
central é agregar pessoas interessadas em conhecer, desenvolver e ampliar saberes e práticas envolvendo
perspectivas psicossociais e as ruralidades, promovendo o diálogo e favorecendo a consolidação de linhas de pesquisa
interdisciplinares e interinstitucionais. Aqui entendemos por ruralidades as relações humanas que ocorrem em função
das representações e vivências em contextos rurais, sejam estas imaginadas ou concretas, e que são
produtoras/produzidas pelo cruzamento entre aspectos ambientais, econômicos, políticos e sociais, configurando
universos simbólicos, identidades e práticas sociais. Ao pensarmos no rural (ou ruralidade) como uma configuração
dos espaços e dos modos pelos quais estes são apropriados e ressignificados pelas pessoas, fica clara a contribuição
que a Psicologia Social pode ter nessa temática, segundo diferentes perspectivas teórico-metodológicas.
O interesse da Psicologia Social (e Psicologia) pelos temas rurais remete a produções do primeiro quarto do século
passado, quando se configurou como um campo específico, especialmente em países de fala anglo-saxã. A partir das
três últimas décadas do século XX a temática das ruralidades emergiu como campo de interesse em todos os
continentes, como consequência da reorganização produtiva e geopolítica mundial, que gerou novas matrizes culturais
e novos desafios ao pensamento desenvolvimentista e territorial. No Brasil e na América Latina, esse interesse é mais
recente, ganhando destaque e visibilidade somente no século XXI, por meio de publicações e em espaços em eventos,
como os recentes Encontros Nacionais e Regionais da Abrapso e congressos de áreas afins (Psicologia Ambiental,
Psicologia Comunitária, Psicologia Política). Destacamos como momentos decisivos os dois congressos de Psicologia
Rural já ocorridos (Argentina, 2013 e Brasil,2016), onde se entendeu que esse campo é interdisciplinar. A chamada
feita pelos organizadores foi atendida por um número expressivo de pesquisadores da Psicologia Social e de campos
afins, com a representação de nove países latino-americanos. Em suma, o esforço brasileiro e latino-americano de
articular e sistematizar as discussões e práticas a respeito de temáticas psicossociais e rurais tem crescido aos poucos,
merecendo prosseguimento de nossa parte. Nesse sentido, a Abrapso tem propiciado um espaço privilegiado para
essas discussões, por já ter abrigado em seu XVIII Encontro Nacional (2015) um GT que agregou pessoas interessadas
nesse campo. Portanto, nosso objetivo é prosseguir articulando pessoas e desenvolvendo as temáticas psicossociais e
rurais dentro da Abrapso.
Propomos o GT Psicologia Social e Ruralidades com a intenção de fortalecer este campo interdisciplinar, tendo em
vista a consideração de que o rural no Brasil é um dos cernes do desenvolvimento social e econômico desiguais da
nossa sociedade e, portanto, campo de diversos enfrentamentos. A questão assim colocada apresentou-se ainda com
maior relevo no momento atual da política brasileira, quando as agendas e pautas construídas pelos movimentos
sociais, com a participação de atores coletivos, vêm sendo substituídas por medidas regressivas, com a adoção de
modelos de desenvolvimento econômico e social que desconsideram a dinâmica psicossocial e cultural das populações
locais. A ruralidade está na gênese da sociedade brasileira e é um elemento central que explica sua organização atual,
com uma pluralidade de ocupações e formas de vida (indígena, quilombola, ribeirinho, caiçara, sitiante, chacreiro,
assentado, etc.). No entanto, ela foi historicamente tomada pela academia e pela ideologia dominante em seu aspecto
produtivo, de geração de mercadorias, principalmente da produção de commodities, ficando negligenciados os
aspectos sociais e culturais de reprodução da vida nestes territórios. Por algum tempo, na história recente do Brasil,
houve uma revalorização e ressignificação das práticas e políticas que incidem no espaço rural, com medidas que
tendiam à equidade social e à sustentabilidade ambiental. Como parte destas medidas, algumas oportunidades de
trabalho no campo social e educacional nos espaços rurais promoveram também a emergência de novas objetivações
nas teorias e práticas. Contudo, as conquistas deste período estão ameaçadas no momento atual, com o desmonte do
Estado democrático de direito – em tempos de exceção – sinalizando transformações negativas, com o campo
passando por uma crescente onda de violência, de criminalização dos movimentos sociais e de precarização das
condições de vida dos trabalhadores. A produção do conhecimento e a atuação da Psicologia Social estão assim, ainda
mais comprometidas com os desafios que estão postos.
OàGTàte à elaç oà o àoàei oàte ti oà à Te ito ialidadesàeà odosàdeà ida:àátuaç oàeàPes uisaàe àPsi ologia Social
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perspectiva psicossocial. Ou seja, sob um ponto de vista que leva em consideração a articulação entre sujeito e
790
contexto social. Assim, buscamos agregar pessoas que têm desenvolvido conhecimentos e pensado em estratégias de
atuação do psicólogo no/do rural, integrando elementos da história particular do sujeito, daquela do grupo/sociedade
e da relação com o entorno físico-social. Serão acolhidos neste GT trabalhos resultantes de análises teóricas, relatos
de intervenções, estágios acadêmicos, projetos de extensão e pesquisas empíricas, que façam a explícita articulação
entre processos psicossociais e rurais – não restritos, portanto, ao campo ou à cidade. Apresentamos uma concepção
de ruralidade como uma categoria complexa e múltipla que pode ser entendida como meio, ambiente, espaço, zona
ou contexto que engendra modos de vida e organizações sociais particulares. Interessa-nos, portanto, discutir acerca
das concepções teóricas e práticas que a Psicologia Social vem construindo sobre os modos de vida e as dimensões dos
sujeitos no campo brasileiro em sua relação com as cidades, e vice-versa, trazendo importantes atravessadores para
esta análise, como: ambiente e sustentabilidade, ecologia, educação e saúde no/do campo, extensão rural, direitos
humanos, gênero e geração, movimentos sociais, territorialidade, etc.
Seguindo a tendência brasileira e latino-americana, pretendemos: promover um espaço de encontro e formação que
vincule problemáticas psicossociais às ruralidades; questionar a origem urbana dos saberes psi, propondo adaptações
críticas e desenvolvimento de novos conhecimentos psicossociais do mundo rural; refletir criticamente sobre a relação
rural-urbano, desideologizando o mundo rural como lugar atrasado e de paz, para situá-lo dentro de um contexto de
contradições e lutas políticas; pensar, criar e gerar bases para ações transformadores e críticas voltadas às populações
rurais e ao seu bem-estar.

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A Transversalidade do Currículo das Escolas da Zona Rural de Seropédica
Autores: Eliana Cristina R. de Oliveira, UFRRJ; Rosa Cristina Monteiro, UFRRJ
E-mail dos autores: lanacrio@oi.com.br,rosacristina.monteiro@gmail.com

Resumo: Este estudo objetiva investigar a relação da proposta curricular da rede municipal de Seropédica com a
realidade das escolas situadas na zona rural, considerando as suas especificidades e complexidades. A presente
pesquisa apresenta o aluno como o elemento central do espaço escolar com a intenção de situar sua realidade, a sua
vida e cultura, procurando compreender o contexto em que se dá a construção da aprendizagem. Para tanto, busca-
se aporte teórico em autores que são referências no assunto, entre eles Antônio Flávio Moreira, Vera Candau e Edgar
Morin . As questões norteadoras deste estudo o definem como uma pesquisa qualitativa na qual são utilizados como
instrumentos de coleta de dados questionários com linguagem simples e direta, estruturado com perguntas abertas e
fechadas e são aplicados presencialmente no universo de participantes da pesquisa. Os questionários têm por objetivo
verificar se o documento intitulado Diretrizes Curriculares para a Rede Municipal de Seropédica foi construído sob a
ótica da realidade social, cultural e geográfica das unidades escolares. Para a construção do cenário situacional e
perceptivo estão sendo realizadas observações sistemáticas do espaço sociocultural e geográfico do entorno da escola
com o objetivo de conhecer o espaço em que está se construindo o conhecimento. O lócus da investigação são três
escolas municipais situadas na zona rural do Município de Seropédica, a saber: E. M. Nossa Senhora de Nazareth,
situada na Rua Josefá Lemos, s/nº, bairro Nazareth, divisa com o município de Japerí. Essa unidade escolar possui
cerca de noventa alunos e um total de vinte e um funcionários. O alunado pertence a classe baixa predominando
famílias em que os pais ou responsáveis trabalham em residências, sítios e chácaras. Grande parte dos núcleos
familiares são desestruturados e compostos por pessoas com o ensino fundamental incompleto, analfabetos e estão
no mercado de trabalho informal.
E. M. Coletivo Santa Alice situada no Bairro Santa Alice. Essa unidade escolar conta com um total de cinqüenta e cinco
alunos e atende da educação infantil ao 6º ano de escolaridade. É uma escola de pequeno porte, composta por duas
salas de aula dividas com divisórias. Quanto o perfil dos alunos, eles pertencem a um nível sociocultural baixo e não
tem acesso á praças, parques, cinemas, piscinas e outras formas de lazer. E. M. Creuza de Paula Bastos que atende a
uma estimativa de 150 alunos com funcionamento em dois turnos - manhã e tarde. Oferta a educação infantil ao 6º
ano do Ensino Fundamental. Ao analisar o projeto da Escola pode-se inferir que a unidade escolar apresenta diversos
elementos que favorecem o homem do campo, uma vez que cita aspectos a serem estudados, ressaltando que o
conhecimento deve ser trabalhado de forma contextualizada, além de ter como um dos seus objetivos o incentivo à
agricultura, percebido claramente no Projeto Horta Escolar e Jardim. O estudo encontra-se em fase de elaboração
apresentando alguns fundamentos acerca de currículo, educação do campo e aprendizagem contextualizada. A
pesquisa é um convite a refletirmos a questão do ensino ofertado nas escolas situadas na zona rural de Seropédica, já
que não há como pensar na questão da qualidade do ensino, se não enfretarmos e compreendermos a questão do
Currículo escolar. Os resultados permitirão ampliar o debate sobre o tema relação rural/urbano e seus reflexos na
educação.

792
Contribuições da Psicologia Para a Pela Emancipação do Campo
Autores: Mariana Ribeiro Starling Diniz Freitas, UFF
E-mail dos autores: mariana.starlingdiniz@gmail.com

Resumo: Esse presente trabalho tem o propósito de fomentar o debate entre a psicologia e a questão rural através de
implicações a respeito do sofrimento ético-político de movimentos populares a favor da reforma agrária, assim como,
a pouca visibilidade que a subjetividade dessas populações têm na psicologia brasileira e na formação de
psicólogas(os). Faz-se essa interlocução através de pesquisa teórica, referenciada nos documentos do CFP: Referências
Técnicas para Atuação das(os) Psicólogas(os) em Questões Relativas a Terra e Seminário Subjetividade e a Questão da
Terra, também no texto "Barbárie e modernidade: as transformações no campo e o agronegócio no Brasil", de
Ariovaldo U. de Oliveira, assim como artigos sobre a temática e a influência de autores na minha graduação como Félix
Guatarri. Juntamente da aproximação à experiência do projeto de extensão Terra, saúde e direitos: extensão popular
junto a movimentos sociais e do grupo de estudos Emancipação do Campesinato. A luta pela terra no Brasil é um
processo histórico que marca a sua formação e constituição enquanto nação e assim as subjetividades dos brasileiros.
Ela se dá desde a chegada dos portugueses em 1500 que destituiu os povos originários de seus territórios e se
apropriaram de suas riquezas, dando início assim a uma longa disputa desigual que se atualiza a favor da manutenção
de privilégios e poderes de grupos hegemônicos e dominantes. Além do mais, a luta pela reforma agrária no país têm
como marco a barbárie. Ao longo dos séculos populações indígenas foram massacradas, ribeirinhos, quilombolas,
caiçaras, pescadores e outros povos tradicionais foram brutalmente despejados, tiveram suas terras destruídas para,
consolidar empreendimentos industriais, exploração de minerais e cultivo de monoculturas. As discussões e práticas
dos psicólogos se dedicam
majoritariamente ao meio urbano, porém ainda hoje há uma vasta população rural sendo que até meados da década
de 1970 grande parte da população habitava o campo brasileiro. Visto isso, o campo é algo que está marcado na
subjetividade dos brasileiros e os povos que ainda permanecem no meio rural são constantemente assujeitados,
sofrendo violações dos seus direitos a todo instante. Estas questões justifica as psicólogas(os) se debruçarem sobre as
subjetividades do e no campo, dado que, em seu código de ética profissional prevê que onde estiver seres humanos
tendo seus direitos violados e buscando novas maneiras de se viver, é aí que esse profissional deve se encontrar. O
projeto Terra, Saúde e Direitos: Extensão Popular Junto a Movimentos Sociais visa a formação política e cidadã no
Assentamento Osvaldo de Oliveira em Macaé no Rio de Janeiro assim como, dar assistência na área da saúde
comunitária, ajudar na consolidação do projeto de desenvolvimento sustentável do Assentamento e na produção,
circulação e consumo de alimentos saudáveis pautados pelos princípios da agroecologia. Assim como através da
educação popular contribuir para o empoderamento de jovens e mulheres discutindo a igualdade de gênero,
associativismo e produção agroecológica cooperativa. No que tange a vida no Assentamento as demandas e desafios
são numerosos, lidar com movimentos sociais é preciso entender que a lógica do tempo e a práxis real para a
efetividade das ações desejadas dependem deles. A minha inserção no programa é recente, todavia esperamos
contribuir para consolidar as práticas que vem sendo desenvolvidas com os jovens e mulheres afim de sua
emancipação enquanto sujeitos e coletivo. O trabalho apresentado se articula com o GT Psicologia e Ruralidades
baseado na afinidade de ambos em desejar o aumento do debate da psicologia e o meio rural, pensando as práticas,
modos de vida e singulares desse território. Apresentar esse trabalho no atual contexto político e econômico que
vivemos no Brasil se apresenta como uma forma de resistência às propostas pautados no atual cenário político que
regridem nos mínimos direitos conquistados pelos trabalhadores brasileiros e mantêm os privilégios de pequenos
setores dominantes, como o agronegócio. É uma oportunidade também de unir com outros pensadores e militantes
que se colocam essas questões em um ambiente acadêmico ainda pouco aberto para essas outras realidades e
subjetivações como campo fértil para as psicólogas(os).

793
Entre sonhos desejos e incertezas: cartografia de subjetividades de jovens rurais
Autores: Vanessa de Souza, UNOCHAPECÓ
E-mail dos autores: wa-nessasouza@unochapeco.edu.br

Resumo: graduação em Psicologia na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) e buscou analisar
a compreensão dos jovens rurais, filhos de agricultores familiares, residentes no Oeste Catarinense sobre a decisão e
as estratégias para permanecer no campo e/ou migrar para centros urbanos. Buscou também: verificar projetos e
perspectivas dos jovens para o futuro; examinar a relação entre trabalho, educação e permanência no campo;
identificar as compreensões dos jovens sobre as relações familiares e suas contribuições para a permanência ou não
no campo; relacionar os modos como às transformações no campo contribuem para a intensificação do êxodo rural
dos jovens, a partir do entendimento dos próprios jovens; identificar as relações estabelecidas pelos jovens entre
políticas públicas e permanência no campo. Para tanto, utilizou-se a cartografia como método de pesquisa-
intervenção e como técnicas e instrumentos para a produção das informações: entrevista, pesquisa documental,
levantamento de dados estatísticos, observação com registro em diário de campo e análise das implicações. Dessa
forma, participaram dessa pesquisa nove jovens, com idades entre 19 a 25 anos, filhos de agricultores familiares do
Oeste Catarinense, dentre os quais, quatro jovens do município de São Lourenço do Oeste (SC): dois que saíram do
campo e estão morando em centros urbanos e dois jovens que permanecem no campo. Os outros cinco jovens são do
município de Jupiá (SC): dois que saíram do campo e estão morando em centros urbanos e três que permanecem no
campo. Como resultados, de modo geral, pode-se perceber uma tendência dos jovens, sobretudo das moças, em
planejar seus projetos de vida no meio urbano, em contrapartida, os rapazes demostram maior interesse em
permanecer na atividade agrícola do que as mulheres, levando gradualmente ao predomínio masculino na agricultura
familiar no oeste catarinense. No decorrer da pesquisa, foi possível identificar que questões financeiras também
influenciam na saída ou permanência do jovem. Uma das principais queixas relatadas nas entrevistas foi o trabalho
pesado com pouco retorno financeiro, o que contribui para a busca pela independência financeira por meio do
trabalho remunerado nos centros urbanos. Tanto os projetos de vida dos jovens pesquisados, quanto às estratégias
familiares indicam a busca por melhores condições de vida fora da agricultura. A família contribui para a migração
desses jovens, incentivando-os para a educação e formação acadêmica, por outro lado, quando há o desejo de
permanecer no campo a família procura estimular os filhos, para mantê-los na atividade agrícola. Nesse sentido, as
políticas públicas mostraram-se como importantes dispositivos para manter os jovens em atividades rurais, mesmo
que grande parte dos entrevistados não tenham tido conhecimento das políticas públicas específicas para a juventude
rural. A pesquisa contribuiu com a reflexão sobre os dilemas da juventude rural, sua relação com o território, com a
comunidade onde vive e com as políticas públicas. A análise dos processos de subjetivação implicados na permanência
no campo ou migração para centros urbanos também configura uma contribuição da psicologia social neste espaço e
um modo de envolvimento com o contexto das ruralidades, abordada no GT Psicologia Social e Ruralidades com
ênfase no eixo temático territorialidades e modos de vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade e no
campo.

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Gênero e ruralidade: cartografando resistências
Autores: Rosemeri Volz Wille, UFPel; José Ricardo Kreutz, UFPel
E-mail dos autores: rosevwille@gmail.com,jrkreutz@gmail.com

Resumo: Ser mulher em uma sociedade patriarcal, estruturada a partir da desigualdade entre gêneros, diz respeito a
produção de subjetividades marcadas por violência física e simbólica, dominação e invisibilidade. Tais questões
encontram-se em debate na atualidade tanto em produções da Psicologia quanto feministas, porém ambas
concentradas nas questões urbanas, pouco acessando tais problemáticas no campo. De acordo com Paulilo (2009), as
pautas feministas dos movimentos de mulheres do campo ainda estão muito voltadas a direitos humanos universais,
que produzem benefícios para a família como um todo, não questionando as relações de subordinação entre homens
e mulheres. Diante disso, nos interessa o modo como operam as relações de gênero no contexto rural e as
possibilidades de resistência que as mulheres estão produzindo. Resistências entendidas a partir de Deleuze (1994)
não como contrárias ao poder, mas sim como característica do campo social, enquanto constituído por linhas de fuga,
de desterritorializar e produzir diferença. Assim, pensar resistências das mulheres do campo é pensar a criação de
modos de vida que promovam movimentos de desterritorialização às práticas instituídas e naturalizadas que
arregimentam as relações e perpetuam a desigualdade.
Para compreender as relações de gênero e as possíveis resistências das mulheres do campo, foi utilizada a história oral
como dispositivo de pesquisa. Na história oral o mais importante é a fala do expositor, por isso as falas das mulheres
foram gravadas a fim de que o material pudesse ser revisitado em sua riqueza. Portelli (1997) pontua que a história
oral é um método não objetivo, pois se trata de uma construção entre pesquisador e expositor. É apartir do
reconhecimento da impossibilidade de objetividade e neutralidade, que recorreremos à pesquisa-intervenção e à
cartografia para o fazer desta pesquisa. Na pesquisa-intervenção, conhecer e fazer, pesquisar e intervir são
considerados inseparáveis. Nessa perspectiva a pesquisa é um mergulho na experiência que agencia sujeito e objeto
num mesmo plano de produção (PASSOS & BARROS, 2015). Para o cartógrafo não importa explicar ou revelar, mas sim
as intensidades e desejos que buscam expressão (ROLNIK, 2007).
O encontro com as mulheres que compuseram a pesquisa se deu através da EMATER - Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural de Canguçu, a partir do acompanhamento das visitas dos técnicos extensionistas. A conversa se deu a
partir do convite para que contassem sua história de vida, sem perguntas preestabelecidas e com caráter menos
diretivo possível, a partir da concordância com Tedesco (2013) de que a entrevista aberta e flexível, com caráter de
conversa, possibilita a emergência dos afetos que são próprios das experiências, rompendo com a fala pautada
somente na representação, distanciada e desencarnada.
A pesquisa, que é o trabalho de conclusão de curso da primeira autora e tem por base as discussões realizadas no
grupo de pesquisa TELURICA - Territórios de Experimentação em Limiares Urbanos e Rurais: In(ter)venções em
Coexistências Autorais da Universidade Federal de Pelotas, encontra-se em andamento, mas alguns dados
preliminares podem ser apontados a partir das entrevistas já realizadas. É possível pontuar as dificuldades enfrentadas
pelas mulheres em relação a produção de autonomia, tanto financeira quanto relativa a gestão de sua vida, pois a
terra, os bens e os ganhos produzidos são considerados propriedade do homem, ao qual estão subordinadas. Tal
cenário é discutido por Paulilo (2009), que aponta que os filhos homens costumam herdar as terras, enquanto as
mulheres se tornam agricultoras por casamento: Elas são sempre consideradas filhas ou esposas de agricultor ,
termo que identifica tanto as que trabalham nos campos como as que não o fazem. Também quando a terra pertence
à mulher por herança, o marido é considerado o responsável. (pag. 183)
Como possibilidade de resistência, as práticas produtivas - especialmente daquelas consideradas femininas, realizadas
individualmente ou em grupos cooperativos –aparecem como maneira de produzir pequenos passos de autonomia
financeira e habitar espaços que não só o doméstico, possibilitando a constituição de relações com grupos,
movimentos, instituições e outras mulheres, que são disparadoras de outros processos de resistência.

795
Referencias
DELEUZE,G . Désir et plaisir. Magazine Littéraire. Paris, n. 325, oct, 1994.
TEDESCO, S. H; SADE, C. & CALIMAN, L. V. A entrevista na pesquisa cartográfica: a experiência do dizer. Fractal, Rev.
Psicol. vol.25 no.2 Rio de Janeiro May/Aug. 2013.
PORTELLI, A. O que faz a história oral diferente. Proj. História. Sao Paulo (14), 1997.
PAULILO, M. I. S. Movimentos das mulheres agricultoras e os muitos sentidos da igualdade de gênero . In: Lutas
camponesas contemporâneas: condições, dilemas e conquistas. V. II; orgs. FERNANDES, B. M, MEDEIROS, L. S &
PAULILO, M. I . S. Unesp, São Paulo, 2009.
PASSOS, E. & BARROS, R. B. A cartografia como método de pesquisa-intervenção. In: Pistas do método da cartografia:
Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015.
ROLNIK, S. Cartografia Sentimental: Transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina, 2007.

796
História de vida e violência vividas por jovens rurais: enfrentamentos e táticas de resiliência
Autores: Julyanna de Melo Ribeiro, UFAL; Saulo Luders Fernandes, UFAL
E-mail dos autores: julyaannaribeiro@gmail.com,saupsico@gmail.com

Resumo: A temática estabelecida para a pesquisa desencadeia-se do conteúdo oriundo de processos de resiliência de
jovens rurais vítimas de violência e a intersecção desse contexto com as propostas da Política Nacional da Assistência
Social.
A juventude é categoria social e essa diversidade se dá pela existência de diferentes formas de viver desses sujeitos,
que são influenciadas por questões de classe, diversidades culturais, étnicas e de gênero. Ao se tratar da juventude
rural, compreendendo a ruralidade pela noção de território que não corresponde a espaços limitados fisicamente, mas
representações sociais onde se encontra um grupo que tem um modo de vida que pode ser considerado singular, pois
possuem traços característicos.
Ocupando um lugar de subordinação no interior de uma hierarquia geracional, sofre uma violência que é efetivada
pelas relações de poder em que o jovem ocupa posições de inferioridades submetidas à figura do chefe de família.
Todavia, esses são construídos por valores que constroem meios e formas de ação e resiliência, ou seja, um processo
de reorganização, ressignificação, superação e transcendência perante vivência de contexto potencialmente
desintegrador. As políticas de Assistência Social devem ser espaço possível para os processos de resiliência, pois
constituem local de respeito a dignidade do cidadão, à sua autonomia e à convivência familiar e comunitária.
A problemática da pesquisa caminha justamente pela compreensão das Táticas utilizadas como processo
potencializador para a superação da violência sofrida por jovens rurais do município de Limoeiro de Anadia-AL,
mediante a existência de supostos espaços nas Políticas Públicas de Assistência Social para lidar com essas grandes
adversidades.
Objetivou compreender as táticas e os modos de resiliência produzidos por jovens rurais que passaram pelos
equipamentos da assistência social, diante das situações de violência vividas em seu cotidiano. Através do
conhecimento desses jovens, suas histórias e seus modos de vida no contexto da violência que foi vivida ou que se
vive, identificando a aproximação que os instrumentos da política de Assistência Social têm, analisando a violência
estrutural sofrida por esse usuário nas tentativas de acesso à política pública e compreendendo os modos de
resiliência, desses jovens vítimas de violência.
Tem relação com o Eixo Temático Territorialidades e modos de vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade
e no campo, pois a pesquisa buscou compreender o espaço de possibilidades que o jovem possui frente ao evento
desintegrador em seu território, vendo o meio rural como lugar que supera o trabalho no campo, mas possui valores e
modos de vida característicos. E, dessa forma, teve contato com as formas de resiliência desses sujeitos e suas
expressões singulares de reorganização e superação da violência em interface com as políticas públicas.
Ao se debruçar sobre a relação dos sujeitos jovens do campo e a situação de violência, refletimos, utilizando-se dos
escritos de Foucault (1974), quando trata sobre as relações de poder múltiplas que atravessam o corpo social e que
não podem funcionar sem uma circulação de discursos que falam sobre determinados objetos, grupos e sujeitos.
Quando foca-se em jovens do campo, percebe-se também que essas verdades guiadas pelo poder não são universais,
mas que cada sociedade torna verdadeiro um tipo de discurso.
Clélia Prestes (2013) conceitua resiliência como um processo de reorganização, e transcendência perante vivência de
contexto potencialmente desintegrador, resistir as armadilhas da opressão, sair fortalecidos e, nesse sentido, escolher
lutar e apoiar a resistência de outros, pois, como diz Foucault (1974), se é contra o poder que se luta então todos
aqueles sobre quem o poder se exerce como abusos podem começar a luta onde se encontram.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada na zona rural do município de Limoeiro de Anadia com quatro jovens
maiores de 18 anos que já sofreram violência e passaram pelo Centro de Referência Especializada de Assistência
Social. Utilizou-se da Técnica História de vida, através de entrevistas semiestruturadas. Com os dados coletados, houve
a análise utilizando-se do método de Análise de Conteúdo.
797
Os resultados dessa pesquisa mostram que o CRAS e o CREAS não aparecem com frequência como possibilidade de
superação da violência, mas que as situações que sejam relacionadas ao planejamento de vida, como a dedicação ao
estudo e ao trabalho, o casamento e a migração são locais de resiliência, além de grupos onde são unidos sujeitos da
mesma faixa etária ou que moram na mesma comunidade.
Analisar as formas de poder em suas extremidades, a violência ao jovem em sua situação mais camuflada nas relações
familiares e ouvir suas próprias formas de resiliência desencadeou na reflexão sobre os modos de vida singulares
desses sujeitos desses territórios. Nesses espaços são reais e efetivas as práticas de poder que caminham pelas
expressões que o segredo do mal desencadeia, mas também a luta pela resistência é de cada um, e eles sabem como
devem lutar e contra quem.

798
Infâncias do Campo-Educação e cuidado compartilhados em acampamentos e assentamentos rurais
Autores: Ana Cecília Oliveira Silva, UFTM; Ana Paula Soares da Silva, USP
E-mail dos autores: anacecilia1985@gmail.com,apsoares.silva@usp.br

Resumo: Os acampamentos e os assentamentos da reforma agrária são espaços/tempos de luta pela terra. As
famílias, nos acampamentos, residem em moradias instáveis (tanto no que se refere ao material quanto à
permanência no local), e geralmente próximas umas das outras; por sua vez, no assentamento, a posse dos lotes
permite a construção de moradias de alvenaria e que cada agrupamento familiar tenha uma área maior e dispersa.
Essas condições sócio-espaciais e, também, a dinâmica política que lhes dá a organização como movimento social,
influenciam diretamente o compartilhamento da vida cotidiana destes espaços. A presente investigação associa à
análise da organização espacial e sócio-política destes espaços-tempos, a perspectiva do cotidiano dos agrupamentos
familiares e, especificamente, dos arranjos para o cuidado e a educação das crianças pequenas. O objetivo, dentro
deste escopo, foi mapear práticas de compartilhamento do cuidado e da educação de crianças de 0-6 anos em um
acampamento e um assentamento da Reforma Agrária localizados na macrorregião de Ribeirão Preto (SP). Baseado na
perspectiva teórico-metodológica da Psicologia Cultural do Desenvolvimento Humano, o projeto partiu do princípio de
que as práticas de educação são sempre situadas e representam a inserção do sujeito na cultura de seu grupo. Com o
foco no cotidiano de 10 crianças (5 moradoras de um acampamento rural e 5 de um assentamento rural), seu entorno,
a família e a comunidade, a metodologia consistiu em observação participante com imersão por um período de seis
dias em média na realidade de cada criança. O principal instrumento de construção dos dados foi o diário de campo,
com o registro das atividades, parceiros e cenários do cotidiano de cada criança, complementado por uma entrevista
com o principal cuidador, realizada ao final das observações. Os resultados indicaram, dentre outros elemento, que:
há um intenso compartilhamento da educação da criança no grupo de vizinhança no acampamento - relacionado às
moradias mais próximas, e no grupo de família extensa no assentamento - relacionado ao reagrupamento familiar
possibilitado pela posse da terra; há uma presença muito frequente e importante do cuidado entre as crianças - com
maiores sendo responsáveis pelos menores especialmente em situações de brincadeira; existe um histórico de
migração das famílias - de regiões predominantemente rurais para estes rurais específicos - que pela quebra dos
vínculos antecessores e da rede de apoio os leva a uma maior busca pelo compartilhamento; e também o fator de que
a mulher aparece como a principal cuidadora, aspecto que é histórico e que, nestes casos, está intimamente
relacionado ao trabalho no âmbito da casa e da agricultura (hortas e quintais). Por fim, a pesquisa aponta para a
necessidade de desvestir o olhar acadêmico e social em geral direcionado a estes contextos rurais e de reforma
agrária, valorizando a diversidade de objetos e de relações que neles se estabelecem, sobretudo sua gama de
possibilidades de interação das crianças com a natureza. Também indica a carência de investimentos em espaços
públicos de educação, formais e informais, que compartilhem o cuidado e a educação das crianças pequenas com as
famílias, como direito social, respeitando suas características culturais. (Pesquisa realizada com apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP)

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Juventude rural do Brasil e da Espanha: projetos e possibilidades de realização na formação profissional
Autores: Jorge Luiz de Goes Pereira, UFRRJ; Fátima Regina Cruz, Universidad de Valladolid
E-mail dos autores: jolugope@uol.com.br,fcruz@psi.uva.es

Resumo: A juventude rural, seja no Brasil ou na Espanha, enfrenta os imponderáveis da vida ao elaborar seus projetos
de vida, pois essa juventude está inserida em contextos nos quais a vida no campo passa a disputar sua atenção com a
vida urbana na concretização de seu futuro. Nesse processo, a educação técnico-profissional aparece como forte
aliada para realização de seus projetos pessoais e familiares, apesar de ocorrer em um momento de intensa incerteza
uma vez que as tradicionais atividades agrícolas já não são vistas e sentidas como capazes de responderem aos seus
desejos de futuro de toda juventude rural, principalmente para a juventude brasileira em situação de vulnerabilidade
socioeconômica e mais especificamente para as moças que não desejam a formação técnica para atuarem no campo.
No caso da juventude rural espanhola, essa enfrenta um processo de envelhecimento e desagrarização, levando
moças e rapazes a caminhos diferentes, tendo as atividades urbano-industriais um forte apelo sobre seus interesses,
principalmente das moças que não desejam um futuro igual das mulheres das gerações passadas. Este artigo discute
os interesses pessoais fundamentais que ajudam a entender o sentido dos projetos de vida dos jovens rurais em
diferentes contextos socioculturais, bem como suas identidades, principalmente a de gênero, que se articula com suas
possibilidades de realização através da educação técnico-profissional. Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa,
exploratória-descritiva, realizada em duas regiões de vocação agrícola, uma no Brasil (Região norte) e outra na
Espanha (Região Autónoma de Castilla y León), onde foram selecionadas cinco instituições de ensino técnico-
profissional: três no Brasil e duas na Espanha. O instrumento utilizado foi um questionário com 36 questões entre
abertas e fechadas. Participaram da pesquisa 197 estudantes (142 brasileiros e 55 espanhóis), dentre eles, 67
residentes rurais. Partimos do pressuposto de que a juventude é uma construção social, que em cada contexto
sociocultural imprime aquilo que se define por juventude de diferentes formas, por diferentes ritos de passagem.
Assim, a escolha do recorte etário de 14 aos 24 anos na pesquisa se deu tão somente pelo fato de que, nessa faixa
etária, moças e rapazes estarem na formação técnica nas instituições brasileiras e espanholas. Além disso, é preciso
destacar que se trata de uma categoria relacional, e que, portanto, não essencialista, devendo ser compreendida à luz
das relações que estabelece com seu entorno, historicamente referendado. Assim, falar de juventude rural, representa
apenas um recorte analítico contextualizado, buscando-se entender suas especificidades diante dos imponderáveis da
vida, seu momento e movimento, suas falas, suas práticas e seus desejos. Podemos concluir que a juventude rural,
seja no Brasil ou na Espanha, está inserida num processo de diluição das fronteiras entre campo e cidade trazendo
novos significados para as identidades rurais, e as escolhas que ela fará, dependerão das oportunidades que lhe são
oferecidas pelo campo de possibilidades que se constroem em torno de cada uma delas, tendo a formação profissional
um papel fundamental para a decisão de sair ou permanecerem nas atividades agrícolas ou no lugar de origem. No
caso da juventude rural brasileira, as possibilidades de realização de seus desejos de futuro se limitam ao pouco
acesso que essa possui em relação aos recursos financeiros da família, à formação profissional e aos empregos na
localidade onde vivem, trazendo fortes consequências para sua manutenção no lugar de origem e na reprodução da
sua identidade rural. Para a juventude rural espanhola, a questão financeira e o acesso à educação profissional não se
apresentam como obstáculos a serem superados, mas inseridos num espaço de esvaziamento populacional, limitado
pelas oportunidades de emprego no campo, as atividades urbano-industriais ampliam seu campo de possibilidades de
realização pessoal, sendo essas as que mais aparecem no interesse das moças, pois os rapazes mais facilmente
herdarão a propriedade da família

800
Juventude rural e rural quilombola: uma pesquisa bibliográfica sobre a produção discente na pós-graduação
Autores: Ana Flávia de Sales Costa, PUC Minas
E-mail dos autores: anaflaviasalescosta@gmail.com

Resumo: A presente proposta decorre de resultados parciais de minha pesquisa de doutorado, em realização na PUC
Minas, sob orientação da professora Drª. Maria Ignez Costa Moreira, intitulada Uma pesquisa intervenção na
perspectiva da Psicologia Sócio-histórica com jovens rurais quilombolas sobre suas possibilidades de participação
política. O projeto de doutorado originou-se de minha atuação, desde 2006, na Política Pública de Assistência Social,
como psicóloga do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) em Jequitibá, cidade do interior de Minas Gerais
(MG). O referido município tem 23 comunidades rurais e a atuação em tais contextos me fez refletir sobre as
possibilidades de participação política da população rural, em especial dos jovens de uma comunidade quilombola,
denominada Doutor Campolina para construir o contexto social em que vivem e a si mesmos como sujeitos políticos.
Escolhi trabalhar com a categoria juventude por um posicionamento em favor de uma visão menos patologizada e
mais preocupada com a inserção dos jovens no seu contexto, numa perspectiva que possibilite um diálogo entre estes
e o mundo social e histórico que os rodeia, o que vai ao encontro da proposta da Psicologia Sócio-histórica. Léon
(2009) defende que se fale em diferentes juventudes, ressaltando as grandes variações dentro da própria categoria
que impossibilitam uma homogeneidade. A utilização do plural permite a quebra do paradigma de um ideal burguês,
herdado da modernidade, o qual adota como modelo o jovem urbano das camadas dominantes e exclui os jovens
pobres, os rurais, os quilombolas do acesso aos bens materiais e simbólicos e os toma como desviantes e marginais. A
Psicologia Sócio-histórica, proposta por Vygotsky, nos possibilita compreender a relação entre o sujeito e o seu
contexto histórico e social, num processo dialético de formação de si e do mundo em que vive. Há um entrelaçamento
entre as dimensões subjetiva, intersubjetiva e, também, política, na construção de uma historicidade que marca os
sujeitos e é marcada por eles, que, numa dialética, reflete o movimento de uma comunidade. No caso de jovens rurais
quilombolas nos interessam as suas singularidades, assim como a sua inserção social numa coletividade. Apresento
aqui os resultados da pesquisa bibliográfica realizada, que buscou mapear a produção acadêmica em teses e
dissertações das diversas áreas de conhecimento sobre a juventude rural e rural quilombola, nos últimos dez anos
(2006 a 2016). Foram seguidos os passos apresentados por Lima e Mioto (2007), que compreendem a pesquisa
bibliográfica como um conjunto ordenado de procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo, e
que, por isso, não pode ser aleatório (p.38). As palavras-chaves utilizadas foram juventude e/ou jovens rurais,
sertanejos, quilombolas e camponeses. A base de dados pesquisada foi o Banco de Teses e Dissertações da CAPES.
Objetivei compreender qual é o volume de produções encontradas por área e, em especial, pela Psicologia; quais as
principais temáticas abordadas e os discursos produzidos. Analisei também as metodologias de pesquisa e os
referenciais teóricos com os quais os pesquisadores guiaram os seus estudos. Busquei apreender como tal temática foi
apropriada pela ciência, em especial pela Psicologia, quais os sentidos construídos, as lacunas existentes e a lógica de
produção de conhecimento utilizada. Os resultados demonstraram o quão escassa é a produção discente na pós-
graduação sobre os jovens rurais e, mais ainda, sobre os jovens rurais quilombolas. As ciências humanas são as que
mais se dedicaram ao estudo da juventude rural, destacando-se a área da educação. Em dez anos, o tema despertou
pouco interesse dos pesquisadores e, em especial, da Psicologia que, assim como as outras áreas, tem uma pequena
incursão na temática. Tal indicativo mostra a necessidade de ampliação dos estudos que contemplem o meio rural e
também quilombola, já que é uma parcela da população pouco conhecida e pouco retratada nas ciências humanas e
sociais. Conclui-se que é preciso olhar para os jovens rurais e rurais quilombola, a partir de suas especificidades, tanto
na escuta das dores inerentes às desigualdades vividas no campo, quanto das suas tão ricas e diversas experiências,
valorizando a potência criativa presente em tal contexto, salientado, na maioria das vezes, apenas como o espaço da
falta. É necessário refletir sobre o acesso à Psicologia pelas pessoas que ali vivem, na necessidade de se compreender
suas práticas culturais, de resistência e seus contextos específicos, nos quais dialogam tradições históricas ligadas às
suas origens e demandas do mundo contemporâneo.
801
Memória Social em um contexto Rurbano: Análise da religião protestante em Paracambi
Autores: Maicon da Silva Moreira, UFRRJ; Ronald Clay dos Santos Ericeira, UFRRJ
E-mail dos autores: maicon-moreira@hotmail.com,ronaldericeira@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho se configura uma pesquisa em curso no Mestrado em Psicologia da UFRRJ e reconstrói a
memória social do campo religioso evangélico/protestante da população da cidade de Paracambi, município rurbano
do interior do Estado do Rio de Janeiro, a fim de compreender quais os fatores contribuíram para que a religião
protestante se tornasse hegemônica na cidade no decorrer do século XX, especificamente entre os anos de 1970 a
2000. Embora o percentual de protestantes na cidade acompanhe o avanço do indicador de protestantes a nível
nacional, o percentual do município é mais que o dobro do indicador do país, o que sugere a existência de outros
fatores locais que justifiquem a maioria evangélica acentuada na cidade. Apesar de Paracambi ter fatos históricos no
que tange à economia e à saúde mental, sua historiografia é bastante incipiente. As pesquisas exploram o contexto
fabril da cidade e deixam de compreender aspectos da formação social do lugar como o povoamento rural, demais
empreendimentos econômicos que têm ligação com este, além de religiões presentes no território, como é o caso do
protestantismo. Nossa pesquisa parte de uma perspectiva histórica para compreensão do presente a partir da análise
de memórias do campo religioso protestante sob o olhar da psicologia social. As produções historiográficas sobre a
cidade se concentram basicamente em dois aspectos: a) a importância de Paracambi no início da industrialização no
Brasil – com ênfase na criação da Fábrica de Tecidos Brasil Industrial em 1870, representada pelos autores (Keller,
1997; Ciavatta, 2007; Natal & Nata, 1987; Ramos, 2004); b) no caso da historiografia psi, seu lugar de destaque no
tratamento da doença mental, pois Paracambi abrigou a Casa de Saúde Dr. Eiras (1960), que chegou a ser o maior
hospital psiquiátrico privado da América Latina, representada pelos autores (Natal & Natal, 1987; Guljor, 2013). A
ênfase na análise da memória social da religião evangélica se justifica como tema no enfoque da memória da cidade
por uma questão de relevância contemporânea: o alto percentual de fieis evangélicos protestantes, que
correspondem à aproximadamente 50% da população cristã da cidade (segundo o último Censo do IBGE). Conforme a
historiografia, foi a partir da instalação da Fábrica Brasil Industrial, na segunda metade do século XIX, principal fator
que ocasionou a migração dos moradores do povoado rural São Pedro e São Paulo responsável pela gênese da cidade
e também marco para a prática católica da população, que houve concentração de pessoas no local onde hoje é tido
como centro da cidade. Em decorrência da fábrica, criou-se no lugar uma vila operária onde viviam os trabalhadores e
suas famílias e, consequentemente a imagem da cidade, aos poucos, foi sendo transformada, uma vez que o local
deixou de ter somente características rurais constituindo também regiões urbanas, formando o que compreendemos
ser um território rurbano. A característica rurbana da cidade se torna visível à medida que observamos seu cotidiano e
contexto, pois o lugar se caracteriza como tendo pouco movimento, pois quase não há atrações culturais, como, por
exemplo, boates, casas de shows, parques, shopping center e teatros, sendo a religião um importante papel cultural
para coesão do município. Na região central é comum encontrarmos carroceiros e também pessoas fazendo passeios a
cavalos, realizados por moradores que residem em determinados polos marcados pelo contexto rural. Os carroceiros,
especificamente, possuem vínculo de trabalho com empresas de materiais de construção, fazendo o transporte de
pequenas mercadorias compradas nestes estabelecimentos. Além disso, existe na cidade a cultura de eventos
caracteristicamente rural representado por cavalgadas e festas neste contexto. O protestantismo no Brasil se expandiu
no início do século XX, sobretudo, a partir do movimento chamado pentecostalismo, tomando características
específicas ao longo do tempo e representado pela denominação Assembleia de Deus, igreja protestante conhecida
contemporaneamente. O processo de expansão contribuiu para que a religião em questão se tornasse presente nas
periferias e também nos contextos rurais. A formação da cidade de Paracambi atravessa esse período de expansão,
uma vez que a igreja se adequou ao contexto rural através de suas características. Os principais grupos missionários
protestantes chegaram em Paracambi nas primeiras décadas do século XX, e antes disso existia apenas o catolicismo
professado desde o povoado rural São Pedro e São Paulo. Pautamos nosso trabalho na concepção de memória social
em Halbwachs, que compreende a mesma como não possuindo demarcação de tempo e de que se estende até
802
quando determinado grupo permanece vivo. Trata-se de uma compreensão de memória recente pesquisada pela
Psicologia que sempre priorizou o estudo da memória como constructo inerente a individualidade humana sem
considerar sua formação social. A análise de memória se faz necessária em virtude de não dispormos de referencial
teórico sobre o tema, por isso, utilizamos o método história de vida e análise documental, pois juntos podem
contribuir para melhor entendimento do objeto pesquisado.

803
Mulheres e ruralidade(s): nomeações e sentidos em Movimento
Autores: Lucas Luis de Faria, UFGD
E-mail dos autores: lucasluisf@outlook.com

Resumo: Este estudo se insere no âmbito da pesquisa Os Sentidos de 'Comunidade' e as Metodologias de Trabalho
Social do curso de Psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados, realizada no período de agosto de 2015 a
julho de 2016, período que estávamos inseridos no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC). A
comunidade escolhida para orientar as reflexões deste trabalho foi a de mulheres em contexto de ruralidades,
especificamente mulheres engajadas em movimentos de luta pela terra e/ou assentadas, caracterizando uma opção
de caráter político e comprometida socialmente. A pesquisa se alinha aos estudos da Psicologia Social Comunitária que
pressupõe que toda psicologia não é una e singular, mas produzem e são produzidas por distintas práticas
psicológicas. A pesquisa em questão parte da concepção da emergência de nova(s) ruralidade(s) nos contextos rurais,
reconhecendo a luta das mulheres na construção e participação de movimentos sociais para o estabelecimento de
novas relações e os desafios que perpassam esse processo. A partir da abordagem teórico metodológica do
construcionismo social, que compreende as relações e interações como produzidas e produtoras de sentidos por meio
da linguagem, objetivamos discutir as distintas nomeações em relação as mulheres em contexto(s) de ruralidade(s) e
como são articuladas as Práticas Discursivas e Produções de Sentidos nos processos de estruturação dessas inter-
relações. Para analisar as nomeações atribuídas e reivindicadas para e pelas mulheres rurais trazemos o debate sobre
as identidades políticas construídas pelos movimentos sociais do campo, por meio dos quais em diferentes contextos e
períodos as mulheres se organizam em luta para conquista e garantia de direitos. Para esse propósito recorremos as
contribuições e história de Movimentos Sociais protagonizados por mulheres com pautas relativas ao campo, tais
como: Movimento de Mulheres Agricultoras, Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais - Nordeste, Movimento
Mulheres Camponesas, e também as pesquisas com enfoque nas construções identitárias das mulheres em
contexto(s) de ruralidade(s). Como recurso metodológico e para auxiliar na construção desse texto de pesquisa
realizamos a Oficina de Sentidos com mulheres assentadas do assentamento Eldorado 2, no município de Sidrolândia,
o que nos possibilitou ampliar o conhecimento em relação ao cotidiano das mulheres em contexto(s) de ruralidade(s).
As reflexões produzidas pelo trabalho auxiliam no aprimoramento do olhar para o espaço das ruralidades, no qual está
em constante transformação e perpassado pela disputa de sentidos. Foi possível compreender a importância da
organização coletiva das mulheres, principalmente em Movimentos auto-organizados, para o avanço das suas
reivindicações e conquistas. A discussão das nomeações possibilitou a percepção de que a utilização de distintas
nomeações em diferentes períodos e contextos tem por objetivo a ressignificação da identidade política, rompimento
com as invisibilidades de seus fazeres e a produção de novos sentidos em relação as mulheres em contexto(s) de
ruralidade(s). Enquanto a utilização do recurso metodológico da Oficina de Sentidos com o Grupo de Mulheres União
das Amigas de Eldorado 2 nos possibilitou uma boa interação com o grupo, contribuindo também para identificar
aspectos importantes da vida cotidiana do assentamento, como a ineficiente atuação do Estado na prestação dos
serviços de saúde, educação e estrada (mobilidade), configurando uma violação a direitos essenciais. Por meio da
Oficina percebemos também a emergência de novas maneiras de vivenciar o espaço rural e de novas construções
identitárias através da identificação da maioria das mulheres do grupo enquanto artesãs, evidenciando a emergência
das novas ruralidades. Por fim, o trabalho nos oportunizou conhecer um pouco das especificidades da(s) ruralidade(s),
mostrando-nos o quanto precisamos avançar na compreensão e entendimento em relação ao reconhecimento de sua
diversidade. A análise das nomeações e a concepção de ruralidades emergentes nos permitiu perceber a
complexidade e a necessidade das organizações coletivas para forjar novos sujeitos no empreendimento de
construção de novos espaços com novas relações.

804
O Comportamento antissocial na escola:representações das violências entre o rural e o urbano
Autores: Wanderley da Silva, UFRRJ; Marina Fonseca de Souza, UFRRJ; Tarcilla Silva dos Passos, UFRRJ
E-mail dos autores: wanderleyws17@gmail.com,marina.fonseca500@gmail.com,tarcilla.bourguignon@gmail.com

Resumo: No Brasil, o problema da violência ligada ao número de homicídios é de domínio público. Centenas de
matérias jornalísticas e dados de diferentes órgãos do Estado e instituições da sociedade civil revelam índices cada vez
mais alarmantes, que demonstram que os jovens entre 15/29, sobretudo do sexo masculino e das periferias, são as
principais vítimas. Uma faixa significativa desse segmento da sociedade frequenta a escola pública de Educação Básica
e, além do risco da morte iminente, também sofre uma série de outras ameaças e agressões, seja pela sua condição
social ou pelo cenário pervasivo de violência física e criminalidade reinante. Para os meios e vias da composição deste
trabalho, não iremos nos ater preferencialmente ao problema da violência física (homicídio) para a nossa exposição
sobre o tema, iremos buscar as origens do que se convenciona ser chamado de violência na escola, ligada aos
comportamentos antissociais. Assim, o presente trabalho tem como seu principal objetivo ajudar no processo de
elucidação das questões relacionadas com o comportamento antissocial na escola, a partir do referencial teórico de
Winnicott. A motivação, que deu origem a presente proposta, se relaciona com a forma bastante comum e pouco
efetiva como parece ser tratada às relações entre os sujeitos da escola e a agressividade, entendida quase que
corriqueiramente como violência/agressão. As linguagens e demandas juvenis dos discentes, ao serem identificadas
como divergentes e/ou marginais, estética e linguisticamente pelos docentes geralmente causam constrangimento e,
muitas vezes, a desqualificação daqueles por estes, muitas vezes como reação às hostilidades presentes nessas
relações. Considerando o universo das escolas públicas das periferias, não seria incorreto supor que as regiões
metropolitanas dos grandes centros urbanos brasileiros possuem características bastante semelhantes em relação à
condição social da população e da precariedade dos serviços públicos essenciais, assim como da sofrível infraestrutura
destinada aos habitantes. Nesse ambiente, os estudantes, professores e toda a comunidade escolar sofrem violências,
dentro e fora da escola. A violação dos direitos humanos diante de comunidades que sofrem sistemáticos ataques seja
de criminosos e/ou das forças policiais, emolduram cenas cada vez mais brutais e recorrentes, que banalizam as
violências e constantemente culpam as vítimas. Sob esse aspecto, acreditamos que o nosso trabalho esteja em
consonância com as proposições contidas no eixo 9: Ética, violências e justiça em tempos de retrocessos mundial e
nacional dos direitos humanos , presente nesse Encontro. As pesquisas que dão subsídios ao trabalho aqui proposto
foram realizadas em escolas públicas em regiões limítrofes entre as características rurais e urbanas, na região
metropolitana do Rio de Janeiro, inclusive na Baixada Fluminense, e tem como sujeitos das pesquisas os jovens. Ao
tratar das representações dos jovens sobre as violências, a partir da escuta, em pesquisas qualitativas, usando
questionários e entrevistas como instrumentos, além das etnografias realizadas, percebemos que as características
rurais e urbanas na região parecem ser significativas para a compreensão do fenômeno dos comportamentos
antissociais na escola. Assim, o GT Psicologia Social e Ruralidades foi a nossa primeira opção para a submissão desta
proposta, que levanta questões referentes ao pertencimento dos sujeitos às suas regiões e seus possíveis limites e
possibilidades na construção do conhecimento escolar e produção cultural. As reflexões de Winnicott sobre os
conceitos de Agressão, Agressividade, Tendência antissocial e delinquência são fundamentais nesse trabalho, uma vez
que ao fim das pesquisas conseguimos nos aproximar de algumas sínteses e resultados que demonstram que: 1) existe
uma generalização nos discursos docentes sobre as manifestações juvenis, que confunde a agressividade criativa com
a agressão e destruição; 2) a importância ambiental na construção das representações dos sujeitos, entre o rural e o
urbano, intensifica a necessidade de aumentar a escuta e aproximar os docentes e discentes de uma prática
pedagógica mais dialógica, considerando os códigos de pertencimento social; 3) as representações sobre as violências
e os comportamentos antissociais dos jovens pesquisados não parecem revelar uma forte resistência aos abusos
805
contra os direitos humanos, e em alguns casos, apresentou uma recomposição desses abusos, pelos próprios jovens,
sobretudo em relação à questão de gênero, com uma forma diferente da usual na região. Não obstante, em forma de
conclusão precária, consideramos que o debate subsidiado pela teoria winnicottina na escola pode ser de extrema
relevância para a construção de um ambiente que respeite os direitos e proporcione espaço para criatividade e
identidade dos sujeitos, contribuindo para a diminuição das violências.

806
O que significa articular o passado e o presente na comida caipira?
Autores: Tânia Biazioli de Oliveira, USP
E-mail dos autores: tania_biazioli@yahoo.com.br

Resumo: Mais uma vez vemos agora surgir a lembrança da comida caipira, após um longo esquecimento do paulista
da roça.
A proposta deste trabalho é mostrar que o interesse pela cozinha caipira surgiu pela primeira vez na formação da
culinária nacional. Quando ocorreu a independência do Brasil em 1822, a unidade do país à mesa ainda permanecia
remota. A busca das nossas tradições de forno e fogão para formar a identidade nacional, de modo que o país pudesse
se construir enquanto uma nação, ainda estava por vir.
E era preciso buscar as origens do país no passado colonial para construir o futuro da nação brasileira. Tudo se passa
como se o colonizador português tivesse aderido aos costumes da terra ao consumir a mandioca e o milho, provando
sua capacidade superior de adaptação ao meio americano. No entanto, o português buscou se manter fiel à tríade
canônica do trigo, do vinho e do azeite nos primeiros tempos da colonização.
Foi preciso esperar pelo movimento regionalista e modernista, para que Gilberto Freyre e Câmara Cascudo pudessem
defender as nossas tradições culinárias. Isto tudo contra as ameaças do afrancesamento à mesa, da indústria norte-
americana de lata e conserva, da campanha nutricionista. É possível hoje reconhecer a cozinha brasileira a partir da
influência dos ameríndios, portugueses e africanos, como se a identidade nacional estivesse garantida pela
miscigenação racial à mesa. E assim as várias cozinhas regionais brasileiras teriam contribuído para desenhar o mapa
alimentar do país, de acordo com a predominância de uma ou outra influência étnica. Esta cozinha brasileira
miscigenada, contudo, preferiu esquecer a hierarquia que sempre existiu entre índios, brancos e negros no Brasil.
Convém, agora, definir quem é o caipira. Aqui, nos apoiamos no estudo de Antonio Candido, Os parceiros do Rio
Bonito. O caipira é o homem tradicional do campo. Não se trata de chamar de caipira, no sentido pejorativo, o homem
de cultura rústica, não civilizada. Tampouco se trata de defini-lo como um tipo racial, o mameluco, o mestiço do
branco e índio, pois o caipira é antes um tipo social. O caipira é o resultado do ajustamento do colonizador português
ao novo mundo, tanto pela manutenção dos traços de origem, quanto pela transformação no contato com os
indígenas. Existem muitas maneiras de designar o homem rural brasileiro. O sertanejo é o homem do interior
nordestino, o caipira o é das terras paulistas. O caipira formou-se, após a fixação do paulista ao solo, em seguida a
expansão dos bandeirantes pelas capitanias de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
É preciso agora compreender tanto as origens quanto a crise da comida caipira. Sérgio Buarque de Holanda nos
mostrou que a vocação da cozinha paulista no tempo dos bandeirantes estava no caminho que convida ao
movimento, dando margem à maior influência dos hábitos alimentares indígenas sobre os portugueses. Os sustentos
da viagem ao sertão eram os produtos da caça, pesca e coleta. Ao longo dos caminhos, os paulistas ainda plantavam as
roças de milho e feijão. Antonio Candido observou o empobrecimento da dieta caipira, diante do processo de
modernização do país. Assim, ocorreu a manutenção da dieta básica e a perda da dieta complementar devido às
transformações no mundo do caipira. O feijão com toucinho e a farinha de milho puderam se manter vivos na
memória do presente. O que caiu no esquecimento do passado foram os produtos da caça, pesca e coleta.
A hipótese do trabalho é que a moderna cozinha brasileira, na procura incessante do novo, busca inspiração na
cozinha tradicional brasileira, voltando-se para o passado colonial.
O resgate das origens da comida caipira não deverá ter um ar nostálgico. Mas deverá saber indicar as riquezas do
passado soterrado para que possa haver um compromisso do presente e do futuro em desenterrá-las. Não cair no
esquecimento é tornar o tempo do passado vivo.
Nas teses Sobre o conceito de história, Benjamin ensina que o passado não pode ser repetido tal como ele
propriamente foi, mas a verdadeira imagem do passado retorna fugaz no momento de seu reconhecimento no
presente. A questão da história é saber articular o passado e o presente para que ambos sejam transformados.

807
Não se trata de fazer um inventário da cozinha caipira, como quer os estudos de patrimônio, para a preservação de
um passado que corre o risco de desaparecer. Trata-se de reconstruir o passado da cozinha caipira, de modo que a
gastronomia possa criar algo novo no presente, preservando a memória do gosto.
A entrevista com os pequenos produtores rurais pretende recolher a riqueza das carnes de caça, pescados, mel de
abelhas nativas e frutas silvestres. Isto poderá contribuir para desenhar o mapa da cozinha caipira, reconstruindo a
ponte entre o passado e o futuro.
Portanto, este trabalho localiza-se no campo de estudos da alimentação, destacando os aspectos históricos e sociais
da comida caipira.

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Os desafios de manter o uso comum da terra: perspectivas dos/as jovens faxinalenses sobre as comunidades
Autores: Solange Struwka, UNESP
E-mail dos autores: sols.tr@hotmail.com

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar alguns dos desafios enfrentados cotidianamente por jovens
faxinalenses para a permanência do uso comum das terras e a sua própria permanência na comunidade, as estratégias
utilizadas por eles/as são indicativos do que acreditamos ser práticas possíveis de uma psicologia comprometida. Os
jovens entrevistados fazem parte de duas comunidades tradicionais situadas na região centro sul do Paraná e foram
ouvidos em entrevistas grupais e oficinas no decorrer do ano de 2014 e 2015.
As comunidades faxinalenses são reconhecidas pelo uso comum das terras e trabalhos coletivos realizados
tradicionalmente. O faxinal, a comunidade, são a minha vida! Aqui temos tudo o que precisamos, liberdade, respeito
entre as pessoas, amizades, troca de dias de serviço, comemos o que plantamos e também temos muita fé, só não
temos reconhecimento (Ana, Jovem faxinalense).
Além dos costumes alicerçados no uso coletivo da terra e trabalhos esse modo de vida carrega o peso da invisibilidade
e falta de reconhecimento histórico por parte do Estado e dos órgãos oficiais, já que desconsideram outras formas de
apropriação do território, diferente daquela que sustenta este sistema econômico, a propriedade privada. Nas últimas
décadas estas comunidades têm vivenciado um processo de pressão, perda de terras e desarticulação das
comunidades, pressões que operam de maneira complexa, de acordo com os/as jovens, envolvem diferentes
instâncias ligados ao Estado, especialmente por meio de políticas de financiamento que incentivam a monocultura; à
Igreja que desqualifica os saberes e crenças populares; à Agricultura Moderna com uso de agrotóxico, grilagem das
terras, transgênicos e desmatamentos e a educação; que reforça os estigmas ligados ao atraso dos/as camponese/as
faxianlenses.
Como estratégias de enfrentamento e resistência os jovens apontaram o Movimento Articulação Puxirão dos Povos
Faxinalense (APF) e as associações comunitárias como principais espaços de luta para defender e reivindicar seus
direitos ligados aos territórios, educação, renda e cultura. Notamos que a própria valorização do ser faxinalense foi
mediada pelo Movimento APF e associações comunitárias, por meio de processos de formação, retomada histórica
das comunidades, estudo das legislações e inserção dos/as faxinalenses na categoria de Povos Tradicionais, elementos
que tem feito a diferença nas comunidades. No decorrer das falas os jovens indicam a aproximação entre a APF e os
espaços de formação como processos significativos na construção de novos horizontes e novas relações comunitárias
capazes de forjar outras políticas públicas e programas alicerçados na produção agroecológica, organização e práticas
comunitárias.
Notamos que o movimento e as associações comunitárias são espaços que alimentam a comunidade, mobilizam a
tomada de consciência sobre a necessidade de se unirem, união que tem resultado em resistências e permanências
da/na comunidade. Porém esta permanência não é possível para todos/as, haja vista o ressentimento pela constante
perda de terra e consequentemente de companheiros/as que outrora viviam no território de uso comum. Sentimentos
alicerçados em uma profunda ligação de pertencimento e enraizamento que mantém com a terra e com aqueles/as
que dela vivem.
Percebemos que o fortalecimento da comunidade foi e é um processo complexo, que demanda tempo, não é
definitivo e requer contínua mobilização das possibilidades individuais e coletivas das pessoas e grupos que a compõe,
processo que ocorre na práxis do trabalho comunitário entre agentes internos e externos ao grupo e comunidade que
se organizam a partir de suas necessidades que exigem ações conjuntas para conseguir sobreviver, resistir. Aspecto
constantemente ressaltado pelos jovens se ainda continuamos tendo o faxinal é porque temos o movimento e as
associações para nos defender. Apresentamos a experiência das comunidades faxinalenses, por meio da perspectiva
809
dos/as jovens, porque acreditamos que é nestes espaços que a psicologia precisa se inserir e contribuir.
Compreendemos que a função social da psicologia, uma psicologia comprometida com as questões do mundo urbano
e rural, precisa constantemente se colocar sob crítica o caminho que historicamente seguiu tratando do sujeito
individualmente e urbanizado, só assim conseguirá superar as desigualdades na produção teórico-prática entre campo
e cidade e, a partir de uma atuação ética e comprometida poderá contribuir na construção de políticas públicas,
movimentos sociais e outros espaços coletivos que favoreçam as comunidades camponesas e urbanas.

810
Vivências do trabalho camponês: o cultivo do tabaco na região Sul
Autores: Marcela Pereira Rosa, USP
E-mail dos autores: marcela.pereirar@gmail.com

Resumo: A discussão que pretendo apresentar nesse trabalho é parte de minha pesquisa de mestrado, que tem como
objetivo investigar os sentidos atribuídos ao trabalho por camponeses que cultivam tabaco e diversificam sua
produção para o cultivo agroecológico. A proposta dessa pesquisa surgiu da necessidade de compreender de maneira
mais sistematizada a vivência do trabalho camponês na fumicultura e na agroecologia. Partindo do referencial da
Psicologia Histórico-Cultural, realizamos nossa investigação através da observação participante e da realização de
entrevistas com três famílias produtoras de tabaco no município de Rio Azul-PR. As famílias participam do Projeto de
Diversificação de Áreas Cultivadas com Tabaco, executado desde 2014 em onze municípios do Estado do Paraná com o
objetivo de desenvolver estratégias de diversificação produtiva em propriedades de agricultores familiares que
produzem fumo. A pesquisa está em andamento e a discussão aqui proposta consiste em um recorte dos dados
obtidos até o momento. Nosso intuito nesse trabalho é apresentar uma discussão a respeito da vivência do trabalho
camponês no cultivo do tabaco, compreendendo o conceito de vivência como unidade dinâmica da relação entre a
personalidade do sujeito e o meio no qual se encontra.
O Brasil é o maior exportador mundial do fumo em folha e ocupa o segundo lugar no ranking dos principais países
produtores, sendo que os três estados da região Sul são responsáveis por 97,5% do total da produção em nosso país.
No Paraná a produção concentra-se na região Centro-Sul, onde ocorre, em sua maior parte, em pequenas
propriedades que fazem uso do trabalho familiar e eventuais contratações no período da colheita.
A produção do fumo é desenvolvida pelo sistema de integração entre indústrias e fumicultores. Nele a indústria
garante aos fumicultores o fornecimento das sementes e dos fertilizantes, o financiamento para a construção das
estufas, assistência técnica e o transporte da produção desde a unidade de produção até à empresa. Em
contrapartida, os fumicultores garantem de forma integral e exclusiva a venda de sua produção à empresa
integradora, produzindo o volume de fumo contratado. Este sistema é formalizado através do contrato de compra e
venda do fumo em folha. Como pretendemos discutir, o sistema de integração é, na verdade, a estratégia encontrada
pelas empresas para garantirem o controle de toda a produção desde o início do cultivo do tabaco. Nesse sistema são
as empresas que definem antecipadamente a cada ano o preço a ser pago pelo fumo e que realizam a classificação
final da folha do tabaco. Assim, a classificação torna-se mais uma estratégia de controle da qualidade do fumo a ser
comprado e da definição do preço a ser pago aos agricultores.
Pesquisas sobre a produção de fumo no Brasil vêm demonstrando que, se por um lado, o fumo é um dos maiores
propulsores da economia dos municípios produtores, por outro, a cultura do fumo não tem se constituído como um
fator de seu desenvolvimento, já que a maioria desses importantes produtores situa-se na metade dos municípios com
menor índice de desenvolvimento de cada Estado. Além disso, o trabalho nas várias etapas que constituem o processo
de cultivo do tabaco envolve uma série de riscos à saúde dos trabalhadores, decorrentes de fatores como a intensa
exigência física, o uso intensivo de agrotóxicos e o manejo do próprio tabaco, que contém uma vasta quantidade de
componentes químicos prejudiciais à saúde.
Temos notado, a partir dos dados obtidos em nossa pesquisa, que a realidade do cultivo do tabaco tem levado os
camponeses fumicultores a uma vivência negativa da experiência de trabalho, que aparece como fator gerador
sofrimento, mas que precisa ser mantido devido à obtenção de renda que permite a sobrevivência da família. O
trabalho na fumicultura aparece como trabalho alienado e alienante, que deixa de ter por função o próprio
desenvolvimento humano e a produção de riquezas sociais e culturais e passa a constituir-se como mera possibilidade
de sobrevivência. Compreendemos que essa vivência do trabalho alienado tem implicações sobre as possibilidades de
desenvolvimento em cada sujeito das capacidades especificamente humanas produzidas no decurso da história da
humanidade. Pretendemos, ainda, trazer à discussão a compreensão da categoria vivência como unidade dialética
entre as determinações concretas da realidade e as particularidades da personalidade do sujeito. Compreendemos
811
que ao congregar tanto as particularidades do meio quanto do sujeito, a vivência serve de base à formação e
desenvolvimento do psiquismo humano.
Esse trabalho relaciona-se com o eixo temático Territorialidades e modos de vida: Atuação e Pesquisa em Psicologia
Social na cidade e no campo e o GT Psicologia Social e Ruralidades, pois tem por foco tratar de fenômenos inerentes
ao mundo rural a partir de uma perspectiva crítica em Psicologia. Além disso, buscamos contribuir com a construção
de conhecimentos acerca do campo e do campesinato a partir de uma Psicologia que se volte à compreensão e à
transformação da realidade das maiorias populares.

812
GT 38 | Psicologia Social e Saúde: os desafios das práticas profissionais na atenção à saúde de populações
em situação de vulnerabilidade social e na execução de políticas de saúde em contextos neoliberais

Coordenadores: Camila Claudiano Quina Pereira, UNIVÁS | Carlos Roberto Zamora Bugueño, PUC de Valparaíso |
Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento, UNIP

Este Grupo de Trabalho – GT– tem por objetivo propiciar um espaço de dialogia, discussões e problematizações sobre
as práticas profissionais na atenção básica à saúde de populações socialmente vulneráveis, frente aos desafios
cotidianos de execução das políticas de saúde em contextos neoliberais.
Desde o final do século passado, sob influência da Organização para o Crescimento e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), a gestão das políticas públicas na América Latina tem sido executada, principalmente, em uma perspectiva
neoliberal. Com foco na eficiência econômica, por vezes, a eficiência (alta cobertura e pouco gasto) é priorizada em
detrimento as necessidades e demandas da população, especialmente se está em alguma situação de vulnerabilidade.
Nessa linha, também têm sido promovidos os sistemas de avaliação de desempenho, em diversos níveis e formas, para
o controle e alcance de maior do desempenho econômico dos estados.
Na atualidade, os estados têm tido mudanças importantes em relação à gestão das políticas públicas, incluindo as
políticas de saúde; em alguns deles as políticas de gestão neoliberais foram fortalecidas. Assim, as mudanças nos
governos da América Latina têm tido um grande impacto nas prioridades e ações em saúde, acrescentando-se ainda os
sistemas e dispositivos de controle, o accountability, acarretando em maior distanciamento de ações que se voltem às
necessidades da comunidade, ainda que aqueles sistemas de saúde se proponham a incluir ações coletivas e
comunitárias de participação na gestão de saúde, geral e local.
Nesses contextos, o trabalho das/dos profissionais de saúde é ainda mais complexo, pois eles/elas têm que fazer
múltiplas tarefas ao mesmo tempo para cumprir com as exigências laborais, implementar as políticas, responder a
obrigações éticas e a necessidades das/os usuárias/os e comunidades destinatárias das políticas de saúde,
especialmente para pessoas, grupos e populações que vivem em situação de maior vulnerabilidade.
Entre as diversas disciplinas que trabalham nos sistemas de saúde, a Psicologia tem colaborado ativamente com os
processos democráticos de luta pela saúde, entendida como um direito de cada cidadão e cidadã. No Brasil,
psicólogos/as tiveram uma participação exemplar na criação e implementação do SUS e em diversos outros momentos
do processo de democratização do país. Assim como hoje, nas ações concretas das políticas de saúde coletiva,
especialmente no que se refere à participação da comunidade, ao planejamento e gestão de serviços, programas e
ações.
Com base na concepção ampliada de saúde, em que a saúde das populações está atrelada a determinantes sociais,
estilos de vida e à relação com o mundo em que vivemos, a Psicologia Social tem relevante responsabilidade na
contínua construção de ações: clínicas, terapêuticas, comunitárias, sociais e políticas, tanto no âmbito geral como local
e cotidiano. Em uma perspectiva teórica e metodológica, as práticas devem se voltar para ações que assegurem o
direito fundamental à saúde, tal como previsto no artigo 196 da Constituição Federal de 1988.
Portanto, faz-se necessário considerar as especificidades de cada população, tais como localização geográfica,
características culturais e econômicas, corroborando para efetivar os princípios da universalidade, equidade,
integralidade e participação social na saúde e para assegurar o direito de todos e de todas à saúde.
Partindo-se também do pressuposto de que algumas populações não têm o acesso à saúde, devido às distintas
vulnerabilidades as quais estão submetidas, ressalta-se a necessidade de considerar a diversidade da população
brasileira, reconhecendo os distintos segmentos, tais como as características étnico-raciais, gênero, condições de
moradia, segmentos geracionais, além das diferentes condições de saúde. Portanto, as práticas públicas de saúde
precisam considerar as especificidades de cada população: LGBT, em situações de rua, indígena, quilombolas, negra,
do campo, floresta e das águas, outras.
Entende-se ainda que a prática profissional, na perspectiva da Psicologia Social, tem como características: o
compromisso com os direitos sociais; uma ótica coletiva voltada para a compreensão dos processos de saúde e de
doença e de seus determinantes; um enfoque social e interdisciplinar, ações predominantemente na atenção básica e
que contemplem o contexto comunitário; a compreensão da saúde como um fenômeno coletivo sujeito às forças
ideológicas da sociedade. Associado a isto, salienta-se a participação destes profissionais nas esferas públicas de
saúde, tais como espaços de para criação, deliberação e controle das políticas de saúde (Conselhos, fóruns,
conferências, dentre outros).

813
Nesse cenário, entende-se que as ações de psicólogos e de psicólogas podem ser atravessadas por dificuldades na
gestão, no trabalho interdisciplinar e de rede, bem como na garantia dos cuidados éticos e de direitos da população
assistida. Desta maneira, dada as ameaças de perdas de direitos vividas atualmente em nossa sociedade, considera-se
fundamental a discussão sobre os trabalhos que possam protagonizar resistências a modelos de programas e ações
neoliberalistas que ameacem direitos da população assistida. Devem-se criar alternativas para efetivar e implementar
as políticas públicas de saúde, tais como aquelas relacionadas a gênero, raça, orientação sexual ou que tratam do
impacto da violência no contexto da saúde.
Nessa perspectiva, encontram-se as políticas de saúde e práticas sociais que têm como centro populações assistidas na
atenção básica, com práticas voltadas para prevenção e promoção da saúde. Como também, ações de profissionais da
saúde e, principalmente de psicólogos/as, a comunidade pode fazer parte ativa das políticas de saúde e resistir às
politicas de saúde neoliberalistas.
Para discussão das práticas profissionais, em congruência com as proposições do eixo Práxis da Psicologia Social na
Saúde em contextos neoliberais, considera-se relevante acolher trabalhos realizados em equipes multidisciplinares
desenvolvidos em sistemas de saúde na América Latina, que sejam dirigidos a populações consideradas socialmente
mais vulneráveis no que se refere aos cuidados cotidianos com a saúde, tanto na promoção, como na prevenção e
recuperação, e que estejam vinculadas a questões de raça, idade, gênero, estigma, preconceito, discriminação social,
violência, bem como à participação social na luta pelo direito à saúde. Bem como, pesquisas acadêmico-científicas que
explorem os efeitos das políticas de saúde neoliberais sobre os profissionais de saúde por meio de práticas e
ferramentas de controle da gestão e do trabalho.
Deste modo, o trabalho do grupo focará no relato e diálogo sobre experiências profissionais, estágios acadêmicos e
pesquisas científicas fundamentadas em posicionamentos e reflexões críticas sobre a atuação de psicólogos e de
psicólogas no contexto das políticas e sistema de saúde na América Latina.

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A Atuação do Psicólogo nos Programas de Redução de Danos - Internveções para a Cidadania
Autores: Daniela Fernanda Simioni Vieira, UNIP
E-mail dos autores: daani-vieira@hotmail.com

Resumo: A Atuação do Psicólogo nos Programas de Redução de Danos Intervenções para a Cidadania
Daniela Fernanda Simioni Vieira Universidade Paulista
A interface da Psicologia com o contexto da Saúde Pública trata-se da inserção do psicólogo no debate sobre modos
de intervenção para além do enquadres clássicos de uma clínica individual e privada. Refere-se a uma atuação que
tem como prioritária em suas ações o compromisso ético-político próprio da Psicologia, bem como a construção de
políticas públicas comprometidas com a produção de autonomia e emancipação social.
Diante das possibilidades de atuação do psicólogo na saúde pública, especialmente no que tange ao trabalho
interdisciplinar, caracterizado por um grau de adesão a um paradigma que pense o processo saúde, doença e
intervenção de modo mais complexo e dinâmico , ou seja, integração entre as disciplinas , surge a proposta da
Redução de Danos (RD), visando à promoção da saúde e prevenção de doenças.
Este programa caracteriza-se como uma abordagem ao fenômeno das drogas que visa minimizar danos sociais e à
saúde associados ao uso de substâncias psicoativas. A Psicologia enquanto ciência está diretamente ligada ao trabalho
de Redução de Danos, pois entende a importância de um indivíduo consciente e protagonista da sua história, dando
voz e escolhas para os usuários, devolvendo ao usuário seu lugar existencial e de fala.
Esta Investigação Científica teve por objetivos identificar as práticas psicológicas aplicadas aos Programas de Redução
de Danos, bem como as contribuições da Psicologia para a política de drogas e os desafios enfrentados pelos
psicólogos que atuam com RD. Objetivou-se ainda analisar de que modo as práticas dos psicólogos junto aos
Programas de Redução de Danos podem ser caracterizadas enquanto práticas que favorecem o exercício da cidadania
de seus usuários.
Através de uma metodologia qualitativa, foi realizada a coleta de dados por meio de entrevistas semidirigidas
aplicadas a cinco psicólogos que trabalham ou trabalharam com os Programas de Redução de Danos, contribuindo,
essencialmente, com a implantação e processo de consolidação da política e das práticas de RD.
Por meio da análise de dados por categoria, A Redução de Danos possui práticas psicológicas que visam não somente à
diminuição de riscos e à prevenção com o uso de drogas, como também visam a resgatar e promover a cidadania do
usuário, por meio da inclusão social, da asseguração de seus direitos e liberdade de escolha, e do respeito a sua
individualidade. Algumas das práticas que visam a questão da cidadania ao usuário de drogas são: a assistência aos
usuários, como também à sua família, levando à integração e à reinserção ao meio familiar, como a garantia de
assistência à saúde, orientação, educação e aconselhamento, e o mais conhecido, a disponibilização de instrumentos
de proteção.
Considerar todas as dimensões da Redução de Danos implica numa concretização da cidadania do usuário, contribui
para o resgate da sua autonomia e ressignificação do seu mundo, fortalecendo assim, suas relações sociais e o
tornando sujeito ativo, com potencial para lidar com o seu consumo e com as consequências do uso das substâncias
psicoativas.
Palavras-chave: Saúde Pública, Políticas de Drogas, Redução de Danos.

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As redes de atenção às crianças vítimas de violência intrafamiliar no município de Uberlândia
Autores: Emerson Piantino Dias, PUC Minas/UFU; Maria Ignez Costa Moreira, PUC Minas
E-mail dos autores: emersonpiantino@ufu.br,maigcomo@uol.com.br

Resumo: Este estudo busca conhecer como ocorre o processo do atendimento dos casos de violência intrafamiliar
contra crianças no município de Uberlândia, sob a ótica dos profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família
(ESF) como componentes da Rede de Atenção à Saúde (RAS), ou seja, buscamos compreender os atravessamentos
subjetivos vividos pelos profissionais da saúde envolvidos no atendimento de crianças que sofrem violência
intrafamiliar.
Quando falamos da violência intrafamiliar, devemos salientar que a dinâmica do trabalho em rede, através da
articulação de diferentes setores e distintas áreas do saber, busca uma interlocução que possibilite efetivar a
integração entre a assistência social, educação, saúde, esporte e lazer, defesa social e cultura, fortalecendo a proteção
social às crianças e adolescentes. O trabalho interdisciplinar reúne várias disciplinas diferentes e de diversos níveis,
trocando experiências de forma integrada e coordenada, com um objetivo comum.
As violências cometidas contra crianças e adolescentes parecem estar ligadas a uma questão cultural enraizada em
nossa sociedade, ela ocorre devido às relações de desigualdade de poder entre elas e os adultos que têm o poder de
usar a sua força para violentar. As formas de agressões são múltiplas, e podem acarretar sérios danos na vida dessas
crianças.
Neste sentido destacamos que por se tratar de um estudo dentro da Psicologia Social, faz ligação com o Eixo Temático
de número 10 intitulado de: Práxis da Psicologia Social na Saúde em contextos neoliberais , e com o GT intitulado:
Psicologia Social e Saúde: os desafios das práticas profissionais na atenção à saúde de populações em situação de
vulnerabilidade social e na execução de políticas de saúde em contextos neoliberais e que também pode se encaixar
com o GT A Psicologia social além das fronteiras disciplinares , que versão sobre essas questões.
O Objetivo geral desta pesquisa foi analisar a assistência em saúde prestada às crianças vítimas de violência
intrafamiliar, pelos profissionais que atuam na ESF, como componentes da RAS do município de Uberlândia.
Os objetivos específicos foram:
a) Analisar o atendimento prestado pelos profissionais de saúde que atuam na ESF, com relação aos casos de violência
intrafamiliar contra crianças;
b) Descrever a tipificação da violência contra as crianças e as metodologias de reconhecimento das marcas físicas e
psíquicas;
c) Conhecer as ações preventivas dos profissionais da ESF, em relação ao combate da violência infantil;
d) Identificar as dificuldades existentes para as intervenções nos casos identificados;
e) Levantar as metodologias de registro dos casos atendidos.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que foi realizada com profissionais da ESF, através de uma entrevista
semiestruturada, com a finalidade de conhecer as experiências cotidianas dos profissionais de saúde. As narrativas
foram gravadas, transcritas e submetidas à Análise de Conteúdo na modalidade Análise Temática, na busca de
compreender o discurso dos entrevistados.
A partir do material obtido a partir das narrativas, foi possível traçar um perfil dos profissionais entrevistados através
de um roteiro de entrevista, e posteriormente foi realizada a análise das narrativas em três etapas, sendo elas: 1-
Ordenação de dados com a transcrição das gravações, releitura do material e organização dos relatos; 2- Classificação
ou exploração dos dados para a elaboração das categorias temáticas; 3- Análise final ou tratamento dos resultados
obtidos, quando são estabelecidas as articulações entre os dados e as teorias.
A classificação para identificar as falas dos entrevistados neste trabalho foi feita da seguinte forma:
A1- para o primeiro entrevistado da equipe mais antiga, e R1 para o primeiro entrevistado da equipe mais recente; A2-
para o segundo entrevistado da equipe mais antiga, e R2 para o segundo entrevistado da equipe mais recente e assim
sucessivamente até A7 e R7, utilizando ainda a categoria profissional de cada um dos entrevistados.
816
Durante a exploração dos dados, foram elaboradas seis categorias e duas subcategorias, derivadas do conteúdo
extraído das entrevistas, que neste caso são categorias não definidas a priori, pois emergiram das falas, dos discursos,
e do conteúdo das respostas. São elas:
a) O comportamento;
b) Os tipos de violência;
c) O trabalho em rede;
d) A prevenção da violência;
e) As dificuldades;
f) O sucesso e o fracasso;
Subcategoria 1 : Sucesso
Subcategoria 2 : Fracasso
Ressalva: trata-se de uma tese de doutorado em andamento onde a análise do conteúdo das entrevistas já foram
realizadas, porém ainda não chegamos a uma conclusão.

817
Construindo sentidos: profissionais da saúde da família e o trabalho em equipe
Autores: Thais Silva Cintra, UNIFRAN; Carla Guanaes Lorenzi, USP
E-mail dos autores: thais_cintra@hotmail.com,carlaguanaes@gmail.com

Resumo: Nas últimas décadas, críticas ao modelo de saúde hegemônico marcado pela lógica biomédica emergiram,
impulsionando transformações na compreensão de saúde e em suas práticas. No Brasil, a Saúde da Família se destaca
como estratégia para reorganização do modelo assistencial na Atenção Básica, buscando a implementação de práticas
baseadas numa visão ampliada de saúde, sustentadas em uma compreensão biopsicossocial do processo saúde-
doença. Tendo a integralidade do cuidado como horizonte, compreende-se essencial que o trabalho em equipe ocorra
de forma interdisciplinar. Porém, para se construir um novo modelo de prática há que se construir também uma nova
lógica de relação, na qual a noção de co-responsabilidade faz-se central. Nesta apresentação, relataremos uma
pesquisa que teve como objetivo compreender s sentidos construídos por profissionais de saúde da família acerca do
trabalho em equipe, a partir de reflexões sobre o seu próprio processo de trabalho. A pesquisa foi realizada a partir da
análise de um banco de dados, que foi constituído através da gravação em áudio e transcrição integral de quinze
encontros de grupo de discussão com profissionais de três Unidades de Saúde da Família de uma cidade do interior de
São Paulo. A análise do material foi realizada com base em procedimentos qualitativos de análise temática, com base
nas contribuições do movimento construcionista social em Psicologia. Essa análise privilegiou a compreensão do
processo conversacional entre os participantes da pesquisa, por meio de uma análise temático sequencial, focalizando
tanto os sentidos produzidos (conteúdo), como o próprio processo de construção dos mesmos nas interações grupais.
Através dessa análise, destacou-se três modos particulares de organização do trabalho em equipe, sendo estes
nomeados através de metáforas. Na equipe A, a metáfora Equipe como construção conjunta sinaliza o envolvimento
conjunto dos profissionais para o desenvolvimento das atividades na unidade, sendo que para estes favorecem a
criação de espaços de diálogo para pensarem sua prática. Na equipe B, a metáfora Equipe como uma família ,
significa que a relação de afeto existente entre os profissionais de saúde é capaz de solucionar qualquer tipo de
problema ou conflito relacionado ao trabalho, como também favorecer a realização das atividades propostas. Na
equipe C, a metáfora Equipe como um time de futebol representa a idealização e busca dos profissionais para que a
atuação da equipe aconteça da mesma forma que a de um time de futebol, sendo destacada a importância da
solidariedade e da confiança para que o trabalho ocorra de forma eficiente. Esta equipe valoriza a conversa sobre as
dificuldades e conflitos para pensar uma prática mais integrada. Compreendemos que as metáforas produzidas
representam o modo como cada equipe realiza seu trabalho em equipe na saúde da família. A partir desses resultados,
problematizamos se essa compreensão da equipe sobre a organização de seu processo de trabalho é presente em
todos os contextos. Entendemos que, a possibilidade de se conversar sobre trabalho em equipe durante a pesquisa
favoreceu aos profissionais a construção de sentidos sobre como se relacionam e atuam. Houve um investimento na
relação e as equipes tiveram um espaço para pensar sobre si, para trocar suas diferentes compreensões sobre
trabalho em equipe. Sabemos que nem sempre a relação é algo destacada como parte central do processo de
trabalho, embora muito se afirme sobre a importância da interdisciplinaridade nas equipes de saúde. Dessa forma,
compreendemos que se na prática profissional não se legitimar o diálogo como parte do trabalho, dificilmente, as
equipes conseguirão se fortalecer como equipe interdisciplinar e atuar dentro desta premissa. (Apoio financeiro:
Capes).

818
Consultório na rua e efetivação de direitos: avanços e desafios na perspectiva de trabalhadores
Autores: Ana Luiza Rosa Lucas, UFTM; Rosimár Alves Querino, UFTM
E-mail dos autores: analulucas9@hotmail.com,rosimarquerino@hotmail.com

Resumo: Introdução: A expressão pessoa em situação de rua (PSR) visa caracterizar o espaço principal de
sobrevivência desses indivíduos e o princípio de transitoriedade, que pode existir sim nesse processo de exclusão
social. Estudo de abrangência nacional realizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, até
agora o único, identificou 31.922 adultos com 18 anos completos ou mais, no universo de 71 municípios brasileiros
com população superior a 300 mil habitantes, vivendo em situação de rua. Existe uma grande dificuldade no
cumprimento dos direitos dessa população que é atingida por diversas formas de vulnerabilidade, como condições
insalubres de moradia e alimentação, além de ações de repressão por parte das políticas de segurança pública.
Acolher e atender de modo integral e intersetorial as inúmeras demandas dessa população em situação de rua
expostas a tantos riscos e a uma intensa exclusão da estrutura da sociedade, torna-se um desafio para as políticas
públicas. Estudos apontam que essa população também apresenta alta prevalência de transtornos mentais, com as
situações adversas de sobrevivência podem provocar problemas mentais como abuso/dependência de álcool, déficit
cognitivo grave, esquizofrênica e depressão, tornando-se também um desafio para rede de atenção psicossocial. A
Política Nacional para a População em Situação de Rua (2009) visa a construção de mecanismos institucionais e sociais
que promovam programas e ações intersetoriais destinados à garantia de acesso aos bens públicos e efetivação da
cidadania. Neste contexto, destacam-se as ações desenvolvidas no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o
Sistema Único de Saúde (SUS). Objetivos: O presente estudo analisa a percepção de profissionais de equipe do
consultório na rua (CR) de uma cidade do Triângulo Mineiro sobre a população atendida, acesso ao SUS e desafios
enfrentados para a efetivação da atenção integral e concretização dos direitos humanos. Metodologia: O estudo de
caso descritivo e explicativo foi conduzido com metodologia qualitativa. Foram entrevistadas as duas profissionais do
CR: enfermeira e assistente social. A análise das entrevistas foi temática. O projeto foi aprovado por Comitê de Ética.
Resultados: O CR tem atuação ampla, focando nas diversas demandas da população em situação de rua e no acesso às
instituições. Tem como princípios o atendimento humanizado e a intersetorialidade. As profissionais demonstraram
amplo conhecimento do SUS, percepção apurada de direitos humanos e da população atendida. Dentre os desafios
enfrentados destacaram: dificuldades na composição da equipe, resistência dos profissionais para atender o público;
estigma e preconceito intenso; visão higienista; falta de conhecimento sobre o serviço; rompimento de vínculos com
famílias; inexistência de contra-referência; demora no atendimento. O serviço é ponte entre a população e o SUS.
Contribui de modo significativo para a efetivação do direito à saúde e o enfrentamento das condições de
vulnerabilidades. A construção de vínculos é elemento primordial para a consolidação do CR. Conclusão: A ampliação
das ações requer maior articulação da rede e divulgação dos serviços. Importante destacar que, no município
estudado, verificam-se diferentes posturas em relação à população, o que sinaliza para o papel de vanguarda da área
da saúde na defesa de direitos, característica oriunda da universalidade do acesso e da concepção do uso de
substâncias como uma questão de saúde e não de polícia. Romper o preconceito contra essa população, através do
conhecimento, é fundamental para o enfrentamento dos determinantes sociais da saúde dessa população.

819
Crianças e adolescentes em situação de violência sexual - identificação e notificação dos casos na ESF
Autores: Vera Lucia Mendes Trabbold, UNIMONTES
E-mail dos autores: veratrab@gmail.com

Resumo: O presente trabalho versa sobre a questão da violência sexual infantojuvenil, e tem como objetivo
apresentar uma pesquisa empírica sobre a identificação e notificação, pelas equipes da Estratégia Saúde da Família
(ESF), de casos de crianças e adolescentes em situação de violência sexual, uma vez que o Ministério da Saúde
(Portaria 737/GM, 16/05/01), tornou obrigatório para todos profissionais da saúde e educação, a notificação dos casos
de suspeita ou confirmação de violência em suas diversas formas. O mesmo Ministério busca implantar também no
SUS a atenção integral e humanizada às crianças, adolescentes e famílias em situação de violência, além do sistema de
proteção e garantia de direitos humanos existentes. A ESF então, por ser a porta de entrada do SUS, abre
possibilidades de cuidados mais concretos com relação à questão da violência, em especial aqui a violência sexual
envolvendo crianças e adolescentes, costumeiramente tratada apenas de forma judicial. Esse tipo de violência
constitui crime contra os direitos humanos de crianças e adolescentes previsto no Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei 8.069/1990) e no Código Penal, Título VI (Lei 12.015/2009), que prevê os chamados crimes contra
dignidade sexual .
A violência sexual implica uma relação de poder desigual entre o abusador e a vítima, produzindo graves efeitos na
vida das mesmas e de seus familiares, com altos custos econômicos e sociais, tornando-se uma questão de saúde
pública para a Organização Mundial de Saúde.
A pesquisa ora relatada, foi realizada em 2014 na Universidade Estadual de
Montes Claros (Unimontes). Tratou-se de um estudo empírico, transversal, quantitativo, aprovado pelo Comitê de
Ética da Unimontes (Parecer no 890.169 em 2014).
A amostra pesquisada foi constituída por 40 equipes da ESF de Montes Claros - MG, selecionadas por amostragem
aleatória simples, representando 51% das equipes existentes até então. Participaram da pesquisa um profissional por
categoria, sendo 36 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), 28 Auxiliares de Enfermagem (AE), 28 Enfermeiros (E), 27
Médicos (M) e 32 Cirurgiões-Dentistas (CD), perfazendo um total de 151 profissionais. A coleta dos dados se deu
através de um questionário estruturado autoaplicável. Os dados foram analisados utilizando-se o programa SPSS-
versão 21.
Quanto ao perfil socioeconômico, os resultados demonstraram que a maioria dos profissionais era jovem (entre 21 a
28 anos de idade), principalmente os médicos e enfermeiros, com predominância do sexo feminino no total dos
profissionais. Em relação ao tempo de serviço na ESF, considerando um total de 108 respondentes, 35% deles tinham
entre menos de um ano a 2 anos de serviço, 30% entre 3 a 6 anos e 35% com 7 anos ou mais. Verifica-se, assim, que
nas equipes da ESF existia, em 2014, um número expressivo de jovens profissionais devido à ampliação da Atenção
Básica em Saúde pelo Município.
Constatou-se que os profissionais pesquisados, em sua maioria, possuíam uma concepção atualizada do que vem a ser
um evento classificado como violência sexual, ao apontarem as situações que envolveriam tanto as situações
classificadas como abuso sexual, como a exploração sexual comercial. Os eventos envolvendo penetração, sexo oral,
toques e carícias foram as predominantes, dentre as identificadas pelos profissionais. Em menor proporção aparecem
outras práticas sexuais como o voyeurismo, exibicionismo, assédio por meio de material pornográfico e o
favorecimento à prostituição (exploração sexual comercial). Tal entendimento é crucial para a identificação dos casos,
uma vez que muitas formas de violência sexual não deixam vestígios, nem marcas corporais. Não foram abordados
pela pesquisa eventos de turismo sexual ou tráfico de pessoas para fins sexuais.
No entanto, 66% dos 151 profissionais pesquisados afirmaram nunca terem tido um caso de violência sexual
envolvendo crianças e adolescentes em seus territórios, e 38% relatou notificar sempre quando suspeitam ou
confirmam os casos. A maioria (cerca de 60%) de profissionais que não notifica apontou como razões para tal: o
repasse dos casos para outros Órgãos ou profissionais; não saber como fazer a notificação; só a fazem quando
820
confirmam os casos e outros receiam as consequências do ato. Entretanto, 60% dos profissionais afirmam que fariam
uma capacitação por não terem informações adequadas para esse tipo de atendimento.
Conclui-se que apesar dos profissionais reconhecerem as várias formas de violência sexual envolvendo crianças e
adolescentes, constata-se uma baixa identificação e notificação de casos, sendo necessário e urgente um respaldo
institucional através de capacitações aos profissionais sobre o tema, pois a maioria desses profissionais pesquisados
admite não ter informações adequadas para o manejo adequado desses casos.

821
Desafios da atuação de psicólogos/as na atenção a pessoas com ideações e tentativa de suicídio
Autores: Priscila Rocha de Moura, UNIP; Alessandra Joara da Silva Vianna, UNIP; Flávia Hauagge Sallum, UNIP; Maria
Lucia Pereira Orlandi, UNIP; Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento; UNIP
E-mail dos autores: prirocha.moura@gmail.com, joaravianna@yahoo.com.br, flasallum@hotmail.com,
malupereira11@gmail.com, vanda_nascimento@uol.com.br

Resumo: Priscila Rocha de Moura, Alessandra Vianna, Flávia H. Sallum, Maria Lúcia Pereira, Vanda Lúcia Vitoriano do
Nascimento.
A presente pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia teve como tema o suicídio com ênfase nas
práticas de psicólogos/as que atendem pessoas com ideações e/ou tentativas. O suicídio tem sido considerado um
grave problema de saúde pública, devido aos altos índices tanto de mortes como de tentativas, conforme registrado
pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A Organização Mundial da Saúde (OMS)
tem alertado para a necessidade de ações preventivas por parte dos governos, de profissionais da saúde e da
educação, como também pela sociedade civil. As proposições para a atenção a pessoas com ideações e/ou tentativas
de suicídio envolve a prevenção, na atenção primária/básica, a assistência emergencial e o tratamento, realizados por
profissionais e equipes de saúde mental, com base no princípio de integralidade e na humanização. A psicologia tem
relevante papel e responsabilidades na avaliação de riscos, definição de tratamento e orientações a familiares, seja na
clínica privada ou na rede de saúde pública. A literatura, entretanto, aponta as dificuldades enfrentadas por diversos
profissionais no atendimento a essa população e ressalta a necessidade de formação especializada e contínua. De tal
modo, buscamos conhecer as práticas de psicólogos/as no atendimento a pessoas com ideações e/ou tentativas de
suicídio; identificar as intervenções da psicologia no trabalho em equipe multidisciplinar e na clínica, bem como as
ações de prevenção e promoção da saúde; identificar a formação e a capacitação necessária de psicólogos/as para o
atendimento a pessoas com ideação e/ou tentativa de suicídio. Trata-se de pesquisa com método qualitativo, com
base no referencial teórico da psicologia sócio-histórica. Foi realizada entrevista semiestruturada com oito
psicólogos/as, na cidade de São Paulo, com no mínimo três anos de atuação, sendo quatro do setor privado e quatro
de Instituições públicas de saúde. Com a análise das entrevistas foram identificados os seguintes temas centrais: a)
demanda para a atenção psicológica; b) tipo de atendimento, intervenções e critérios utilizados; c) o trabalho
interdisciplinar; d) dificuldades, dilemas éticos e desafios da prática profissional; e) preparação, capacitação e
especialização; f) suicídio e políticas públicas. O suicídio é um tema de grande importância nas agendas das políticas de
saúde, mas mobiliza poucos e frágeis interesses em torno da perspectiva da prevenção. A formulação de uma política
pública abarca estágios a serem cumpridos de acordo com demandas sociais oriundas da própria sociedade. Há
necessidade de organizar a rede de atenção à saúde de pessoas mais vulneráveis, garantir cuidados integrais no
manejo dos casos de tentativa de suicídio e promover a educação permanente dos profissionais e equipes
multidisciplinares da saúde. Ressalta-se a importância da busca de conhecimentos teóricos e técnicos, de reflexões
acerca desse fenômeno social a fim de que possamos fomentar mudanças na constituição de intervenções psicológicas
e do preparo de profissionais e serviços para o atendimento a pessoas com ideação e/ou tentativa de suicídio. Assim,
estudar este fenômeno pode instigar e possibilitar reflexões e mudanças por parte de profissionais atuantes em um
campo que ainda é marcado por uma visão psicopatologizante, o que contribui para o reforço de ideologias
mecanicistas e impedem a análise do suicídio como um problema social.
O trabalho proposto está inserido na intersecção da Psicologia Social com a Saúde, portanto com o eixo 10 e, mais
especificamente, com o GT 38 Psicologia Social e Saúde que se propõe a discutir as práticas profissionais. Como
também com o GT 04 A Psicologia Social na Saúde (2ª opção).

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Educação Popular em Saúde no contexto das comunidades Quilombola e Indígena de Piripiri/PI
Autores: Filadelfia Carvalho de Sena, UFPI
E-mail dos autores: filadelfia.psi@hotmail.com

Resumo: O Curso de Educação Popular em Saúde no Contexto das Comunidades Quilombola e Indígena se inserem na
proposta de trabalho do GT 38 e Eixo Temático 10, é iniciativa de um conjunto de docentes e discentes da
Universidade Federal do Piauí através do Projeto Objuve-Casulo, cujo interesse se encontra nos modos de cuidado e
inclusão social da Universidade. Sua gênese se encontra no Curso Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde
realizado pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Osvaldo Cruz. O êxito das primeiras iniciativas nos
levou a estender essas ações na direção das comunidades Quilombolas e Indígenas, através de uma formação de
qualidade teórica e prática. Para os promotores do Curso de Aperfeiçoamento da EdPopSUS havia o interesse de que o
mesmo fosse multiplicado nas comunidades. Estudantes da Licenciatura em Educação do Campo - LEdoC oriundos e
residentes desses territórios e participantes do Curso de Aperfeiçoamento apresentaram suas demandas sociais e de
saúde, o que nos moveu a pensar e organizar coletivamente uma formação com o perfil dessas comunidades. Toda a
ação encontrou referência na problematização e nas experiências trazidas do campo e ao mesmo tempo, guiaram
nossos objetivos de modo a construir uma visão crítica sobre a realidade da saúde local. As vivências e os saberes da
educação popular em saúde tem oportunizado a troca experiências com os Agentes Comunitários de Saúde ACSs e a
juventude local, além de mobilizar trabalhadores e militantes de Movimentos Sociais em defesa do direito a saúde da
população Quilombola e Indígena da região. Ofereceu ainda a vantagem de atualizar a formação dos trabalhadores e
atores sociais em saúde na perspectiva da educação popular produzindo novos conhecimentos ao sistematizar saberes
a partir de perspectivas teóricas e metodológicas que consideram o cenário sociopolítico como condição primeira para
se pensar a realidade. O Curso tem carga horária de 160h teórico prática com reflexões a partir de 6 (seis) eixos com
fundamentação na perspectiva da educação popular. Uma atividade que se sustenta com o engajamento e
protagonismo das juventudes que abraçaram o compromisso como facilitadores e promotores do curso nos
territórios. Compondo esse quadro temos estudantes da LEdoC CCE/UFPI, estudantes do PPGD Mestrado e Doutorado
em Educação, docentes membros do Projeto OBJUVE-CASULO. As Comunidades participantes da primeira turma do
Curso em andamento são Oiticica II, Assentamento Residência e Sussuarana. A escolha destes territórios se deu devido
aos dados já acumulados sobre essas comunidades, quando foram identificadas demandas de ações no sentido de
promoção da saúde coletiva. Quanto às comunidades de Marinheiro, Vaquejador, Formosa, Sertão de Dentro, Lages
dos Fidelis, e Poço, situadas nestes territórios, o curso se encontra em negociação de datas e local para sua realização.
Sabemos que a Educação Popular possui uma importância histórica e estratégica para a construção do direito à saúde
e se mostra como prática contrária às formas de dominação, opressão, discriminação e violência que incidem sobre as
pessoas em geral e sobre a classe trabalhadora , como afirma Bornstein (2016 p. 13), inspirado na obra Política e
Educação (2001, p. 49), quando afirma que nossa luta é como um nadar contra a correnteza com uma dinâmica que
jamais separa do ensino dos conteúdos o desvelamento da realidade expressões que tocam o cerne do Curso em
andamento. Uma ação que enriquece o trabalho da UFPI junto às populações Quilombolas e Indígenas e promove a
valorização da vida, a participação popular e a organização da luta política pelo direito a saúde. A proposta
metodológica se insere na perspectiva da Educação Popular cujo princípio é o de que todo ser humano é detentor de
saberes que derivam de suas experiências de vida. Uma metodologia participativa na qual os temas são debatidos e
consolidados no decorrer do processo de formação e na construção mútua e dialógica da produção do conhecimento
e problematização da realidade vivenciada pelos participantes no contexto das políticas públicas de saúde e nas
experiências locais. Nesta perspectiva metodológica o Curso Educação Popular em Saúde se apresenta como uma
experiência que considera a saúde como o foco de atenção e planejamento das atividades das comunidades. O
resultado das nossas ações ao propor práticas educativas comprometidas com a transformação democrática da
realidade, e a capacitação das pessoas, é a de que essas mesmas pessoas passam a compreender o contexto social, a

823
problematizar a realidade, despertando o interesse em promover ações de transformação que trazem como
consequência a minimização das injustiças sociais e a melhoria da vida em comunidade.
Referências Bibliográficas:
FREIRE, P. Política e Educação: ensaios. São Paulo: Cortez, 2001.
BORNSTEIN, V. J. (Org.) Curso de aperfeiçoamento em educação popular em saúde: Texto de Apoio. Rio de Janeiro:
EPSJV, 2016.

824
Excelencia en la acogida: las fronteras de las emociones en el cuidado de quien cuida
Autores: Rachel Suelly Quintanilha de Castro Villar, Universidad J. F. KENNEDY/AR
E-mail dos autores: villar.rachel@gmail.com

Resumo: Este trabajo objetiva analizar desafíos puntuales en la excelencia de la acogida social de niños y adolescentes
en situación de vulnerabilidad. La acogida de niños y adolescentes en situaciones de amenaza o violación de sus
derechos es medida de protección aplicable cuando hay acción u omisión de la sociedad o estado, por abusos
cometidos por los padres o responsables, o cuando las conductas de los propios niños o adolescentes están en
desacuerdo con las leyes sociales. La decisión por la acogida o no se da por medio de autoridad judicial competente,
que determina la medida a partir del análisis técnico sobre estudio-diagnóstico realizado por equipo multidisciplinario
calificado.
Se alejan de la familia de origen y esperan definición sobre su custodia asignados en espacios definidos por "institución
de refugio". La coordinación de estos espacios es elaborada por un equipo técnico multidisciplinario, compuesto por
administradores de guarderías, psicólogos, asistentes sociales, pedagogos y psicopedagogos. Un equipo
multidisciplinario que actúa paralelamente, denominado equipo de apoyo, está compuesta por padres sociales,
cuidadores, auxiliares de servicios generales, conductores, jardineros y cocineros.
De acuerdo con la ley 12.010, de 29 de julio de 2009, art. 101, párrafo 1, "la acogida institucional y la acogida familiar
son medidas provisionales y excepcionales, utilizables como forma de transición para la reintegración familiar o, no
siendo posible, para colocación en familia sustituta". El papel de la institución no implica privación de libertad, sino en
amparar al niño y al adolescente en el cumplimiento de sus necesidades básicas y en cuidados para su reinserción
social. Es un servicio de protección integral, que incluye vivienda, alimentación, higiene, educación y ocio. Las
modalidades de las instituciones de acogida varían de acuerdo con las edades y necesidades particulares de cada niño
y adolescente en: casa-hogar, casa de paso, república, albergue y familia acogedora.
La gestión de las instituciones de acogida judicial actualmente es responsabilidad del estado, de la sociedad civil y de la
comunidad. Este modelo organizacional exige una actuación profesional multidisciplinaria dirigida a mejores prácticas
con visión sistémica y gestión globalizada.
Mucha bibliografía ahonda en el tema de la vida de las personas que por algún motivo ven coartada su libertad, en el
caso de la presente investigación, por el hecho de tratarse de instituciones de menores a cargo del estado. Sin
embargo, las investigaciones acerca de los profesionales que trabajan en estas instituciones es dejado de lado o sólo
interesa cuando desarrollan el síndrome de burnout. El Síndrome de Burnout es un padecimiento que a grandes rasgos
consistiría en la presencia de una respuesta prolongada de estrés en el organismo ante los factores estresantes
emocionales e interpersonales que se presentan en el trabajo, que incluye fatiga crónica, ineficacia y negación de lo
ocurrido. Este trabajo se centrará en las narrativas de los profesionales de la equipo técnico y la equipo básica que
incluye profesionales que actúan directamiente em las necessidades básicas junto a los menores, desarrollando sus
actividades en ese lugar.
Además del desempleo, la subdición de la vida, la baja remuneración, el embarazo infantil y el uso de drogas, uno de
los factores que desencadenan el proceso de alejamiento de los hogares de origen es la pobreza. Los problemas
generados por la falta de asistencia a las necesidades básicas como: abandono, desnutrición, agresión, abusos, falta de
higiene y otras, traen consecuencias desastrosas en cuanto a las condiciones psíquicas.
La reintegración a un hogar sustituto, su vinculación socio afectada y, en el futuro, su actuación en la sociedad exigirán
cuidados extremos para la resignificación de sus identidades. Este proceso exige vinculación entre educación y reglas
sociales para su identificación sociocultural. La población de estas acogidas tiene edades entre 0 y 18 años, con
prevalencia de edades entre 07 y 12 años. Al completar la mayoría de edad, el joven es entregado a la sociedad.
El perfecto aprovechamiento de los servicios ofrecidos a los niños y adolescentes en estas instituciones exige
cualificación que prepara el desarrollo personal y profesional de los equipos. La actual formación no atiende a la
totalidad de los profesionales empleados y muchos no poseen capacitación básica necesaria por falta de entidades
825
educativas que ofrezcan entrenamientos adecuados. Todos estos profesionales contratados para realizar trabajos en
contactos directos o indirectos con los menores en vulnerabilidad son personas comunes que poseen sueños, deseos,
frustraciones y emociones naturalmente comunes a todos los individuos.
Sus sentimientos provienen de vivencias y experiencias de vida personal y profesional, sean ellas positivas o negativas,
y que habitan su modelo mental, con forma de pensar y actuar entendidas ante sus necesidades individuales. Por lo
tanto, para tratar con menores en vulnerabilidad se hace necesaria una condición psicológica de acuerdo con las
necesidades afectivas de cada uno de estos menores. Es importante la orientación y el entrenamiento permanentes
para lograr este equilibrio.

826
Formar-se psicólogo em uma Residência Multiprofissional em Saúde da Família no Rio de Janeiro: um relato de
experiência
Autores: Maíra Andrade Scavazza, ENSP/FIOCRUZ; Beatriz Zocal da Silva, ENSP
E-mail dos autores: mairaascavazza@hotmail.com,biazocal@yahoo.com.br

Resumo: Para pensar o processo formativo de profissionais para o Sistema Único de Saúde (SUS) nos propomos a
dialogar com a formação em serviço na inserção do psicólogo em Residências Multiprofissionais em saúde em
contextos neoliberais de gestão de serviços do SUS. A Residência Multiprofissional em saúde é um curso que se
inscreve na modalidade de pós-graduação lato sensu e se caracterizada pela formação em serviço e nesse caso
estamos inseridas em equipes multiprofissionais em unidades de Saúde da Família. Nesse trabalho nos colocamos a
refletir, enquanto residentes, sobre o processo de formação em saúde em serviços inseridos em território de alta
vulnerabilidade populacional e territorial e que são gerenciados por Organizações Sociais de Saúde (OSS) no município
do Rio de Janeiro - RJ.
Para a construção desse relato de experiência utilizaremos os Diários Reflexivos, ferramenta pedagógica realizada
mensalmente enquanto atividade teórica, em uma perspectiva crítica. Desse material, nos propomos a discutir os
atravessamentos desse contexto sociopolítico na formação profissional do psicólogo a partir de dois eixos: o processo
formativo em um modelo de gestão neoliberal que compreende a saúde como qualquer outra mercadoria, o que é
contraditório aos princípios do SUS e nossa inserção nos serviços na perspectiva da Educação Permanente em Saúde.
O modelo de gestão nas unidades de saúde do Rio de Janeiro tem se colocado, enquanto instituições que operam na
construção da vida social, em um sentido de alienação, dominação e controle. O trabalho, enquanto relação, capilariza
o poder em todos os sujeitos ativos nesse processo: gerência, trabalhadores e usuário. Há uma captura de uma lógica
dominante que se institui em forma de opressão e precarização do trabalho que implica, consequentemente, no
cuidado do usuário. O papel do gerente das unidades de saúde se afasta do apoio técnico, há cada vez menos espaços
de co-gestão nas unidades e o vínculo, tão precioso à Política da Estratégia da Saúde da Família, tem servido para
fiscalizar os corpos dos usuários, como ferramenta do biopoder. Além da pouquíssima participação dos sujeitos em
seu processo de adoecimento e cuidado.
Ao discutir a gestão, Onocko (2003) propõe considerar os aspectos intersubjetivos que considere a experiência da
diferença, da grupalidade e, assim, que se coloque na gestão a perspectiva do suporte, que deixe circular os afetos e
ao mesmo tempo manejo responsável para assegurar a oferta que acolha os entraves do coletivo. Percebemos, em
nossa experiência, alguns espaços em que, em ato, operam a circulação do afeto e construção coletivo, no entanto,
percebemos o quanto é difícil para um grupo exercer co-governo quando não existe tradição para isso, sobretudo,
tratando-se de espaços hierarquizados das profissões.
Enquanto residentes, profissionais inseridos na rede mas não enquanto trabalhadores nessas unidades, somos núcleo
frágil na perspectiva de poder institucional dos processos do trabalho mas que, por isso, nos permite operar na
perspectiva da produção de desejo, na produção de vida com propostas de intervenção que não respondem a
burocratização de encaminhamentos ou de protocolos de cuidado, mas sim, na perspectiva de que o cuidado, citando
Mehry, é, antes de tudo, uma ética sobre a vida do outro.
A residência, que se configura enquanto Educação Permanente para o SUS, se propõe a repensar o serviço, orientada
por uma lógica reflexiva e dialógica, que coloca em questão a relação do trabalhador com seu processo de trabalho.
Nos inserimos nos serviços de saúde com a perspectiva de criar brechas, furos, linhas de fuga em práticas enrijecidas e
cristalizadas, construindo intervenções a partir do referencial da autonomia e da co-gestão.
Assim, o lugar de residente nos serviços de saúde pública é também um potente lugar de resistência, que possibilita
pensarmos maneiras outras de construir cuidado, que não está regulado a partir da perspectiva mercadológica da
produção de saúde. No cotidiano isso se dá quando olhamos para além dos sujeitos das linhas de cuidado, para
aqueles sujeitos que estão em processos de adoecimentos mas que são invisibilizados pelas metas estabelecidas pela
Secretaria Municipal de Saúde; quando ampliamos e construímos redes de cuidados para usuários que eram
827
entendidos pelas equipes como casos impossíveis ; em propostas de grupos que tenham a co-gestão como
orientação. Sobretudo, entendemos que a inserção da Residência Multiprofissional nas unidades de saúde por si só já
provoca um reposicionamento do serviço por colocar em questão o espaço enquanto formação, pensando que a
Educação Permanente é intrínseca a sua prática.
Por fim, ressaltamos que a formação do psicólogo em Residências Multiprofissionais nesses contextos se dá em um
espaço de contradição, pensando o modelo de gestão e a integralidade no cuidado. Assim, a problematização de nossa
experiência, bem como das relações de poder no trabalho, têm sido constantes na luta por uma saúde pública de
qualidade que se dá nas resistências e criação de espaços de produção de vida, nos serviços de saúde, acreditando
nisso, enquanto postura ética do psicólogo.

828
O desenvolvimento do poder de agir em profissionais do programa Consultório na rua: considerações preliminares
Autores: Daniel Rangel Curvo, UEPB; Francinaldo do Monte Pinto, UEPB
E-mail dos autores: danielcurvo@gmail.com,montejour@gmail.com

Resumo: O programa Consultório na rua (CnaR) é um serviço da Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS) que,
desde 2012, visa promover cuidado integral a um dos grupos populacionais mais estigmatizados da
contemporaneidade: as pessoas em situação de rua (PSR). Foi a partir das reivindicações das PSR, enquanto
movimento social, somadas aos princípios e diretrizes do SUS, como equidade e universalidade, que o programa foi
criado tendo função estratégica na superação dos estigmas e constrangimentos que afastam as PSR do SUS,
promovendo acesso. Composto por equipes multiprofissionais itinerantes, o programa propõe realizar busca-ativa de
PSR, ofertando cuidados de saúde in loco e mediação com outros serviços da rede SUS e intersetorial. A atividade de
trabalho é desenvolvida tanto em espaços institucionais, como em locais abandonados e insalubres da cidade,
distantes das normas instituídas pelo poder público. Constantemente esses profissionais são requisitados para
(re)inventar suas formas de ação, tendo que superar os mais diversos tipos de imprevistos. O caráter de
enfrentamento ético-político do programa é potencializado afetivamente pelas características próprias da Atenção
Básica que, entre outras, faz da vinculação uma importante ferramenta de cuidado e busca estabelecer cuidado
longitudinal e territorializado. Nesse contexto de enfrentamento, os profissionais são atravessados pela precarização
das políticas públicas de cunho neoliberal, que degradam as condições de trabalho bem como o vínculo empregatício,
gerando maiores dificuldades e insegurança profissional, assim como sofrimento e adoecimento no trabalho. O
fenômeno das PSR, vale dizer, constitui uma das mais radicais expressões dos desarranjos capitalistas, e é
consideravelmente agravado com a reestruturação produtiva neoliberal. Os pontos apresentados indicam a
complexidade e mobilização subjetiva que o trabalho no CnaR demanda e implica. Nessa comunicação pretendemos
expor os resultados parciais da nossa pesquisa de mestrado, realizada pelo programa de Psicologia da Saúde da
Universidade Estadual da Paraíba, sobre os impactos da atividade de trabalho na saúde dos profissionais do CnaR. Das
possibilidades de Grupos de Trabalho, a número 38, intitulada Psicologia Social e Saúde... , foi a que nos pareceu mais
apropriada. Tal GT propõe […] propiciar um espaço de dialogia, discussões e problematizações sobre as práticas
profissionais na atenção básica à saúde de populações socialmente vulneráveis, frente aos desafios cotidianos de
execução das políticas de saúde em contextos neoliberais . Coerentes à proposta crítica do GT, adotamos a orientação
teórica da Clínica da Atividade para pensar os impactos da atividade de trabalho na saúde dos profissionais do CnaR.
Essa perspectiva propõe uma psicologia do trabalho que seja também uma psicologia geral, pois entende a atividade
de trabalho como espaço do desenvolvimento humano. Um conceito chave é o conceito de Poder de agir. Conceito de
inspiração espinosista, é atrelado ao conceito de saúde enquanto normatividade vital, desenvolvimento por
Canguilhem. De forma rápida, podemos dizer que o conceito de poder de agir se refere à capacidade que o indivíduo
tem de perceber e interagir em seu ambiente de trabalho (ou não) de forma tal que ele sinta-se alegre e satisfeito com
seu agir. Orgulha-se de seu trabalho ao mesmo tempo que contribui na construção de um contexto de trabalho,
propício não apenas ao seu desenvolvimento individual, mas também do seu coletivo de trabalho. Um sujeito
apropriado de seu poder de agir é um sujeito saudável. Para investigar o desenvolvimento do poder de agir dos
profissionais do CnaR, optamos pelas seguintes técnicas de coleta de dados: 1) Diário de Campo; 2) Entrevista
individual tipo Instrução ao sósia; 3) Oficina de Fotos. A metodologia proposta pela Clínica da Atividade busca fazer
dos profissionais pesquisados, co-analistas e, com isso, proporcionar espaços em que esses profissionais possam
repensar suas atividades por ângulos diferentes, apropriando-se mais inteiramente de seu agir e sentir em situação de
trabalho. Na atual fase da pesquisa, já realizamos a maioria das entrevistas e oficinas. Dos resultados parciais
destacamos que situações de entrosamento entre a equipe, de conhecimento técnico para resolução de demandas, de
vinculação afetiva favorecem o desenvolvimento do poder de agir. Esse desenvolvimento extrapola a esfera
profissional, alterando valores morais e concepções não apenas sobre esse grupo estigmatizado, mas sobre a auto-
imagem profissional e pessoal. Por outro lado, podemos perceber que a fragilidade do vínculo empregatício, as baixas
829
condições de trabalho em ambientes de intrigas e distanciamento entre os membros das equipes (ou entre esses e
seus superiores) somadas às demandas de extrema complexidade das PSR, tendem gerar um alto grau de sofrimento,
levando os profissionais a adoecerem e trabalharem em esquemas estereotipados com baixa implicação ético-política
atrelada conscientemente à atividade de trabalho. Podemos concluir reafirmando o forte componente afetivo nessa
atividade de trabalho e a importância capital de um sentir-agir situado na imanência do encontro com o outro como
potência criadora de caminhos e práticas profissionais que fortaleçam os direitos humanos e uma sociabilidade menos
tecnificada e estigmatizada.

830
O que a atenção à saúde da população em situação de rua tem a ensinar à psicologia?
Autores: Anna Carolina Vidal Matos, FACEP; Isabel Maria Farias Fernandes de Oliveira, UFRN
E-mail dos autores: annacarolvidal@yahoo.com.br,fernandes.isa@gmail.com

Resumo: A população em situação de rua no Brasil apresenta-se num contexto paradoxal: por um lado, vem ganhando
corpo e densidade política como um movimento social (Movimento Nacional da População em Situação de rua -
MNPR) e ocupando espaços políticos importantes no controle social. Por outro lado, temos sua visibilização
majoritariamente por meio de práticas higienistas do Estado voltadas para este segmento. Tais práticas refletem sobre
as ações de saúde para com essa população. Um dos ganhos do MNPR foi a consolidação das equipes do Consultório
na Rua (CnaR) - equipes especializadas da Atenção Básica que trabalham com população em situação de rua (PSR) -
mas que ainda se mostram incipientes com o manejo e trabalho nesse campo. A psicologia é um das áreas que
compõem essas equipes. O objetivo deste trabalho é discutir como o contexto, as demandas e as práticas de atenção à
saúde da população em situação de rua levantam questões para a própria prática do profissional de psicologia. A PSR
traz como marca fundamental a negação do acesso a direitos básicos, como moradia, trabalho, educação, assistência
social e saúde, apresentando-se como expressão radical da questão social. Esses elementos são manifestações da
condição estrutural da desigualdade social nos marcos do capitalismo, o que faz dessa população um elemento
inerente à própria reprodução da ordem societária capitalista. Nesse sentido, há uma dupla direção no
questionamento do Estado na relação com a PSR. Em primeiro lugar, é fundamental a problematização e pressão para
o desenvolvimento de políticas sociais que atendam às demandas dessa população. Contudo, o próprio Estado é
elemento central na garantia da reprodução do modo de produção capitalista, o que impõe limites às suas ações no
sentido de uma real transformação da vida dessas pessoas. Nessa direção, para garantir acesso a condições mais
dignas de vida, às demandas do contexto da PSR trazem a necessidade da articulação entre diferentes setores do
Estado e sociedade civil. Este trabalho é um recorte de uma pesquisa de mestrado finalizada em 2016 em que foram
realizadas entrevistas com os profissionais das equipes de CnaR, além de observação participante junto a uma dessas
equipes, no município de Natal/RN. Eram três equipes distribuídas em duas regiões de saúde, sendo duas equipes com
sete profissionais e uma composta por cinco profissionais. Somando-se a esses profissionais, acrescenta-se um
coordenador para as três equipes, totalizando vinte profissionais. Desses profissionais, quatro eram psicólogos. A
análise teve como pressupostos teóricos a teoria social de tradição marxista, e foi feita uma análise de conteúdo das
entrevistas e diários de campo. A partir da análise dos dados é possível retirarmos reflexões acerca da atuação da
psicologia no campo das políticas sociais. Por um lado, ao lidar com as demandas e o contexto da PSR, o profissional
mostra um lado inventivo, que tenta desenvolver trabalhos fugindo ao modelo clínico tradicional, perseguindo formas
de intervenção que contemplem de forma mais integral os sujeitos e levem em conta seus contextos de vida. Essa
busca por práticas alternativas tem a ver com as demandas do público atendido, mas também com as dificuldades
geradas com relação ao entendimento de seu papel nas práticas desenvolvidas dentro das políticas públicas. Além
disso, os relatos apontam para a necessidade de se pensar uma prática que supere o olhar para as demandas mais
imediatas e individualizadas, e que leve em conta os aspectos políticos dessa realidade. A partir da atuação junto à PSR
mostra-se como fundamental para as práticas dos psicólogos nesse contexto uma atuação pensada a partir da práxis
interdisciplinar, crítica e politicamente implicada, uma vez que trata-se de tomar posição frente à realidade dessa
população. Por outro lado, essa atuação aponta desafios. Esse novo fazer da psicologia mostra uma permeabilidade
entre os mais diversos campos de conhecimento, causando assim o incômodo sobre o que seria a especificidade da
psicologia. Isso pode culminar no enrijecimento do fazer profissional, sem possibilitar a superação e criação de novas
formas de atuação. Outro desafio seria o limiar entre a garantia do acesso aos direitos básicos e o caráter
assistencialista das práticas destes profissionais para a PSR. Esse aspecto aparece como questionamento recorrente na
avaliação da própria atuação dos psicólogos. Por fim, podemos perceber o quanto é necessário para psicologia se
recriar e ocupar novos espaços para atuar junto à PSR. Assim, faz-se importante refletirmos que uma atuação crítica e
politicamente implicada deve considerar que papel vem cumprindo e quais as potencialidades para este profissional
831
no desenvolvimento de uma práxis voltada para a garantia de direitos e transformação social. Nesse cenário, a
interdisciplinaridade tensiona a prática psicológica, colocando o desafio e a possibilidade de dialogar com e incorporar
os saberes trazidos pelos outros profissionais, movimentos sociais e pessoas em situação de rua, reafirmando o olhar
complexo sobre o fenômeno da PSR, sem se apoiar nas barreiras estabelecidas pelas especialidades.

832
O trabalho no Dispositivo de Cuidado no atendimento a População em situação de Rua
Autores: Pâmela da Silva Braz, Grupo Hospitalar Conceição
E-mail dos autores: pamela_ds_brazz@hotmail.com

Resumo: Introdução: Vivemos períodos difíceis de grandes golpes e ilusões da dita "crise" do capital. Crise essa
seletiva que não atinge a todos, mas sim aqueles que dependem da sua própria força de trabalho para conseguir
sobreviver. Após grandes períodos de lutas e mobilizações sociais, pelo reconhecimento dos direitos sociais,
garantidos pelo marco da Constituição Federal de 1988, infelizmente valores conservadores vem sendo cadê vez mais
impostos pela hegemonia burguesa. A realidade nos mostra a dinamicidade da desapropriação cada vez mais
constante, principalmente com a exploração do capital sob a classe trabalhadora, também reverberados nas formas de
redistribuição de renda e programas sociais, assim encontramos seus reflexos com as perdas de direitos. A
expropriação das condições mínimas de subsistência contextualiza a crescente taxa de desemprego e nas mais
diversas formas de desigualdade social, impactados no aumento da população em situação de rua, com a visível
manifestação de destruição da vida, inseparável da sociedade. Manifestado em um conjunto de pioras no acesso a
direitos, como a Política de Assistência Social, educação, saúde, geração de renda. Tendo em vista disso, o Consultório
na rua (CnaR) é um dispositivo de cuidado instituído pela Política Nacional de Atenção Básica, em 2011, formado por
equipes multiprofissionais que desenvolvem ações integrais a população em situação de rua. O CnaR Pintando Saúde
do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), situado na Zona Norte da cidade de Porto Alegre, foi implantado no ano de
2010, com a portaria N° 1.190/GM de 4 de junho de 2009, com o Plano Emergencial de Ampliação de Acesso ao
Tratamento em Álcool e outras Drogas, sendo incluído no mesmo período no Plano Integrado Nacional de
Enfrentamento ao Crack. O CnaR GHC realiza busca ativa no território referente a Zona Norte e Eixo Baltazar de Porto
Alegre, e o cuidado aos usuários de álcool, crack e outras drogas, através de atividades in loco, de forma itinerante.
Objetivo: Discutir dos processos que perpassaram o primeiro campo da residência integrada em saúde mental, no
Consultório na Rua do Grupo Hospitalar Conceição. Assim, a relação com o Eixo dos desafios das práticas profissionais
na atenção à saúde de populações em situação de vulnerabilidade social e na execução de políticas de saúde em
contextos neoliberais. Com base na concepção ampliada de saúde, cabe a problematização sobre as práticas
profissionais na atenção básica à saúde. Método: Pesquisa bibliográfica e relato de experiência vivida do período de
março a julho de 2017 da atividade profissional desenvolvida no consultório na Rua do Consultório do GHC.
Conclusões: A partir da problematização do olhar interdisciplinar e do processo de desistintucionalização o CnaR do
GHC vem mostrando que é possível e desafiador um cuidado que influi na mediação entre os dispositivos de cuidados
da saúde mental e da Atenção Básica, a partir da intersetorialidade. Para, além disso, parte da premissa que é cada vez
mais necessário reforçar essas ações intersetoriais para que se possa ofertar o acesso a direitos sociais dessa
população que é excluída e estigmatizada na rede de serviços, em articulação permanente com a política da
Assistência Social, Educação, acesso à moradia, geração de renda. Para tanto o CnaR serve também com um
importante potencializador do olhar critico. A partir da dinamicidade existente no território, promove ações de
promoção, proteção da saúde, prevenção de agravos, tratamento, redução de danos. Tendo em vista isso, hoje em dia
mais do que nunca é preciso discutir sobre os processos de que perpassa a sociedade e as forma de cuidado da
população em situação de rua.

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Práticas de cuidado para mulheres parturientes: desafios da humanização em um hospital no Pará
Autores: Auzy Cleyce Costa Sousa, Secretaria de Saúde de Castanhal-PA
E-mail dos autores: cleycecosta@hotmail.com

Resumo: As várias modificações quanto à assistência à saúde da mulher que tem ocorrido no Brasil, em grande
medida, foi motivada pela intensa pressão dos movimentos feministas e pela grande taxa de morbimortalidade
materna, 69 mulheres para 100 mil nascidos vivos. A mortalidade materna é uma das mais graves violações dos
direitos humanos das mulheres, por ser uma tragédia evitável em 92% dos casos, e por ocorrer principalmente nos
países em desenvolvimento. Assim, a ampliação de dispositivos de assistência à saúde da mulher toma como objetivo
atendê-las em sua integralidade, em todas as fases da vida. Mesmo após todas as conquistas de modelos jurídicos de
gestão do cuidado, no que diz respeito à essa assistência, mudanças precisam acontecer. Percebe-se pelos noticiários
brasileiros cotidianos, por relatos de mulheres em vivências práticas e pesquisas sobre o tema, histórias de violências
no período de gravidez, parto ou puerpério. Essas situações que permeiam o cuidado ou a falta deste com as mulheres
durante o parto tornou-se objeto de investigação para a pesquisa que está em desenvolvimento no Mestrado, por
meio do Programa de Pós-Graduação em Psicologia na Universidade Federal do Pará.
Esta pesquisa pretende investigar, através das puérperas, como as mulheres estão sendo cuidadas durante o parto,
para tanto, objetivou-se analisar que dispositivos de humanização são identificados como práticas de cuidado para
puérperas em um hospital no interior do Pará e assim, pôr em evidência o que preconiza as políticas de humanização e
o modo como as mulheres vivenciam essas práticas. Esse trabalho dialoga com o GT escolhido na medida que
problematiza determinados dispositivos inventariados com o propósito de cuidar da saúde de mulheres. As políticas
públicas em nosso país funcionam como estratégias de governamentalidades, em que as populações acabam sendo
esquadrinhadas para melhorar a gestão das diferenças que as compõem. Relações de poder inserem-se nessas
governamentalidades a partir das vozes de diferentes atores: governo (Estado), movimentos sociais, órgãos de justiça
etc., nos fazendo questionar em que momento as reais necessidades dessas mulheres, público alvo das políticas
estudadas são tomadas como elementos importantes na construção desses dispositivos.
Nesse trabalho usamos como principais interlocutores: Emerson Elias Merhy para auxiliar nas reflexões sobre os
processos de trabalho e cuidados em saúde, bem como autores que têm ajudado com posicionamentos críticos em
relação às políticas assistenciais à saúde e sobretudo, ao parto como Verônica Ferreira, Ana Cristina Duarte, Simone
Diniz e outras.
A pesquisa foi realizada em um hospital maternidade localizado no nordeste paraense. A escolha das participantes se
deu de forma aleatória, não havendo nenhum contato delas com a pesquisadora antes da pesquisa e com a ajuda da
equipe de enfermagem, que indicavam as mulheres que haviam tido parto normal para a entrevista. Foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com quatorze mulheres que tinham entre 18 e 39 anos e estavam internadas no hospital
durante o puerpério de um parto não agendando.
As respostas foram organizadas em três eixos temáticos. O primeiro tratou da recepção da parturiente ao local de
parto (hospital, neste caso): acolhimento, avaliação, acompanhante e informações; O segundo foi tratado o momento
durante o trabalho de parto: informações e métodos não farmacológicos de alívio de dor; E no terceiro eixo tratamos
a ocasião do parto: posição, uso de ocitocina, episiotomia/Kristeller, contato pele a pele entre mãe e bebe.
Esse trabalho permitiu encontrar um hospital em plena mudança e adequação às novas políticas de assistência ao
parto. Isso ainda não quer dizer mudança de concepção, pois adequar-se é aceitar que existe uma política a ser
cumprida, porém, sem compreender ou aceitar o real porquê da mudança. Alguns profissionais, principalmente
enfermeiros encontram-se bem adeptos às novas práticas, compreendendo a necessidade de mudança de concepção
de um modelo padronizado e intervencionista, para outro mais respeitoso, incorporando a mulher e sua subjetividade
no processo. Porém, ainda encontram-se profissionais bem resistentes as propostas atuais. Os profissionais favoráveis
tentam fazer diferente, mas como não é consenso no hospital acabam trabalhando de forma isolada, e por isso, o

834
trabalho fica prejudicado em outros pontos, como exemplificado na fala das entrevistadas pelos vários elogios à
assistência ao parto na maternidade, e as críticas ao atendimento na recepção do hospital.
Entendemos como práticas de cuidado ações baseadas em tecnologias avançadas, combinando com uma organização
dos serviços, não só local, mas como redes de serviços, e uma ação que considere o encontro entre profissional e
usuária, em uma relação horizontal, de autonomia da usuária, respeito e confiança, e com bases em evidencias
científicas, centrando o cuidado nessa relação e nas necessidades da usuária. Embora haja um esforço do poder
público no sentido de garantir políticas que atendam as necessidades de atenção à saúde da mulher no processo de
gravidez, parto e puerpério, essas informações precisam de melhor divulgação para que as mesmas possam ser
protagonistas desse processo e exerçam de fato seus direitos.

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Uma leitura sobre as mulheres ribeirinhas no portal do ministério da saúde
Autores: Débora Melo da Silva Brito, UFPA; Jacqueline Isaac Machado Brigagão, USP
E-mail dos autores: deboramelopsi@hotmail.com,jac@usp.br

Resumo: Políticas públicas têm sido construídas nos últimos anos contemplando as comunidades tradicionais, como
forma de reconhecê-las, garantir direitos e assegurar que necessidades específicas sejam atendidas. No âmbito da
saúde pública não é diferente e pensar a saúde das mulheres é levar em consideração gênero, raça, classe social,
geração e território. Esta investigação surgiu como aproximação do campo-tema de uma pesquisa de mestrado e o
objetivo foi identificar no portal do Ministério da Saúde as publicações relativas às mulheres ribeirinhas e à população
das águas, afim de entender as ações específicas dirigidas a essa população, bem como os modos como as mulheres
ribeirinhas são conceituadas nesses documentos. A realização desta pesquisa tem importante relação com Grupo de
Trabalho intitulado Psicologia Social e Saúde: os desafios das práticas profissionais na atenção à saúde de populações
em situação de vulnerabilidade social e na execução de políticas de saúde em contextos neoliberais por ponderar que
as políticas de saúde devem considerar os território nos quais serão executadas, bem como as necessidades dos
usuários de determinados espaços e gêneros. Desse modo, as populações das águas possuem demandas específicas e
a constituição da mulher ribeirinha é atravessada por questões diferentes de outras mulheres em outros territórios.
Metodologia: Foram realizadas buscas sistemáticas no portal virtual do Ministério da Saúde, tanto no campo da
biblioteca virtual da saúde quanto na busca ampliada (Portal da Saúde), utilizando três descritores: mulheres
ribeirinhas, população das águas, mulheres das águas. Todos os artigos encontrados foram lidos e analisados.
Resultados: Para o descritor Mulheres das águas foram encontradas 20 publicações excluídas as repetidas ou que
não possuíam relação com a temática; com os descritor mulheres ribeirinhas foram encontradas 10 publicações
excluídos os itens repetidos. Para o descritor população das águas foram encontradas 3 publicações abordando a
saúde da população que vive na região das águas. Totalizando 33 publicações. Foi possível identificar que das 20
publicações que tem o descritor mulheres das águas: 13 informações veiculadas são notícias sobre investimento
financeiro ou fornecimento de insumos necessários para assistência da população das águas, divulgação de espaços de
discussões, deliberações de grupos de trabalho ou eventos (Conferência Nacional de saúde, Marcha das Margaridas e
seminário de avaliação de formação de lideranças da Política Nacional de Saúde integral das Populações dos Campos,
da Florestas e das Águas); 05 são referentes à divulgações de publicações, materiais, relatórios e vídeos relacionados à
população das águas e às mulheres e à função do Grupo Terra; e, 01 publicação sobre premiação de trabalhados em
educação popular em saúde. Quanto ao descritor mulheres ribeirinhas 09 são notícias e discorrem sobre os
seguintes temas: a avaliação do atendimento prestado no Sistema único de Saúde através de uma ouvidoria itinerante
fluvial, inauguração de Unidade Básica de Saúde Fluvial, realização do debate Política de Gestão do Trabalho no SUS:
Desafios na fixação de profissionais de saúde", queda da mortalidade infantil e ampliação de recursos e entrega de
barcos para atender a população ribeirinha; e um é o edital de seleção para trabalhos de atenção à saúde da mulher
em vários contextos para um seminário e elaboração de material técnico com as experiências selecionadas. Ao utilizar
o descritor População das águas 03 publicações foram encontradas, dessas 02 tratam da relação saúde ambiente das
populações das águas como um todo, sendo que um deles é a Política Nacional de saúde integral das populações do
campo, da floresta e das águas. E uma cartilha trata especificamente da saúde das mulheres do campo, da floresta e
das águas. Conclusão: A análise preliminar dos documentos demonstra que há em circulação dois modos de se referir
a essa população, tanto como ribeirinhas, quanto como população das águas. A partir da leitura de um dos
documentos, tomou-se como descritor também o termo mulheres das águas . Observou-se que a mulher ribeirinha as
vezes é tida como da floresta e em outros momentos como das águas . Não foi encontrada uma noção única acerca
da mulher ribeirinha. A maioria das ações desenvolvidas englobam as três noções: campo, floresta e água, e
mencionam que os riscos às vulnerabilidades que mulheres são expostas são decorrentes de vários fatores, entre eles
a desigualdade nas relações de gênero, raça e classe social referente aos determinantes sociais das condições da
saúde, como as doenças relacionadas ao trabalho, e a violência sexuais. Como ações específicas temos duas: a) criação
836
de Unidade Básica de Saúde Fluvial que tem como público alvo as populações ribeirinhas e destacam o foco na
assistência às mulheres as ações de planejamento familiar, prevenção e controle dos cânceres de mama e de colo do
útero, atendimento às gestantes. b) a ouvidoria que cria um canal de comunicação entre os agentes governamentais e
a população ribeirinha. O que nos permite concluir que há um esforço para implementação das ações de saúde
definidas nas políticas no cotidiano da população ribeirinha.

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VISIBILIDADE E CONTROLE: efeitos da noção de vulnerabilidade na atenção básica à saúde
Autores: Saulo Tavares da Mota, PUC-SP; Maria Cristina Gonçalves Vicentin, PUC-SP
E-mail dos autores: saulotmota@gmail.com,cristinavicentin@gmail.com

Resumo: INTRODUÇÃO
A noção de Vulnerabilidade foi adotada no Brasil pelo Ministério da Saúde como um dos objetos de intervenção
fundamentais da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) de 2006, produzindo mudanças profundas no modo
de definir, identificar, intervir e priorizar a população a ser atendida, e provocando efeitos diversos nas práticas dos
trabalhadores e dos usuários de serviços de Saúde Pública no país. A noção de vulnerabilidade ganhou consistência na
década de 1990 em resposta às necessidades de saúde colocadas pela AIDS, quando buscava-se discutir as dimensões
individuais, institucionais e sócio-políticas implicadas nos comportamentos ditos de risco. A PNPS reitera tais
dimensões e ressalta, dentre outros aspectos, o dever do cidadão de gerir sua saúde evitando riscos e reduzindo sua
vulnerabilidade.
Contudo, ao mesmo tempo em que a PNPS acentua a importância da autonomia e a corresponsabilização individual e
coletiva, se configura também como uma estratégia de regulação e controle da população, através da articulação
entre ações individuais e coletivas, construindo demandas de atendimento que, muitas vezes, produzem fragilidades,
vulnerabilidades e desresponsabilização, ainda que a política tenha como objetivo reduzi-las. Muito mais do que um
jogo de palavras, a construção e a classificação do sujeito como frágil produz efeitos reais, inclusive de produção de
vulnerabilidades e de sujeitos fragilizados.
Nesse sentido, uma aproximação ao modo como profissionais atuantes nos serviços de Saúde Pública produzem
estratégias de promoção da saúde e redução de vulnerabilidades nos parece fundamental para a reflexão e constante
construção de práticas de Promoção da Saúde no Brasil. O referencial que adotamos para esta análise são os aportes
de Michel Foucault relativos à biopolítica.

OBJETIVO
Analisar estratégias de promoção da saúde e redução de vulnerabilidades propostas na Atenção Primária à Saúde na
perspectiva dos profissionais.

MÉTODO
Foram entrevistados 14 profissionais de saúde entre os que atuam na atenção básica na zona norte da cidade de São
Paulo, à qual são atribuídos altos índices de vulnerabilidade e os que atuam no plano central da gestão, na
Coordenação de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. As entrevistas, semiestruturadas
individuais e grupais, tiveram como foco a noção de vulnerabilidade na PNPS e os modos de intervir na realidade
sanitária tendo em vista este problema. As mesmas foram realizadas com o consentimento dos profissionais
envolvidos, organizadas com base na construção de eixos temáticos. A genealogia foucaultiana orientou a escuta e a
análise.

RESULTADOS
A análise resultou na identificação de três eixos problemáticos: visibilização, estigmatização e territorialização. Nesse
trabalho, destacamos a dimensão da visibilidade. Destacou-se a importância da noção de vulnerabilidade para as
políticas de inclusão social, pois passaram a oferecer visibilidade a segmentos antes invisíveis dentro da sociedade.
Nessa perspectiva, há diferença em relação à longa história dos hábitos de esconder, por exemplo, os hansenianos, os
tuberculosos e as pessoas com sofrimento mental, presentes nas políticas implementadas nos séculos XIX e XX, como
as políticas higienistas, que buscavam retirar da vista aquilo que fere aos olhos , que cheira muito mal, que não é fácil
de conviver . Os apoiadores consideram importante assegurar a formação permanente dos agentes comunitários de
saúde (ACS) e enfermeiro(a)s para que tenham um olhar diferenciado , por exemplo, sobre as crianças. Quando os
838
ACS realizam visitas domiciliares devem olhar diversos aspectos e fazer perguntas significativas para família. O intuito
é capacitar os ACS s para que olhem as crianças e consigam analisar e trazer informações relevantes para sua equipe.
Quando você começa a ter esse olhar para esse segmento, a cada minuto você descobre uma necessidade. E a cada
minuto de uma ação, como tem várias relações, até chegar na capilaridade da execução... é difícil o que seria a
implantação dessas micropolíticas (entrevistado).
A despeito de toda ideologia que se possa, ou queira, atribuir a essas estratégias de atenção à saúde, é possível
verificar na extremidade das redes de atenção um poder sobre a vida, estabelecido por meio de estratégias de
visibilidade e de controle, que se aproximam dos procedimentos biopolíticos apontados por Foucault e se concentram
na produção de instrumentos efetivos de formação, de verificação e de acúmulo de saber, por meio de métodos de
observação, técnicas de registro, procedimentos de investigação e de pesquisa.

CONCLUSÃO
A noção de vulnerabilidade permite tornar visíveis processos precarização de determinados modos de existência,
inconformes às condutas e padrões de vida urbana capitalista. Porém, em muitos casos, essa visibilidade pode servir
exclusivamente à vigilância e ao controle das populações. Por isso, é importante que as estratégias de atenção à saúde
das pessoas sejam trabalhadas de modo a viabilizar a participação ativa da população na análise e no equacionamento
de problemas, assim como das necessidades de saúde. A noção de vulnerabilidade configurar-se-á como potencial
instrumento para a transformação das práticas de saúde se exercitar tal participação ativa da população, podendo
ainda interrogar permanentemente os efeitos de precarização destas mesmas práticas.

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GT 39 | Psicologia Social Jurídica: experiências, desafios, especificidades éticas e políticas
em interface com a Justiça

Coordenadores: Adriano Beiras, UFSC | Laura Cristina Eiras Coelho Soares, UFMG | Pedro Paulo Gastalho Bicalho, UFRJ

As demandas oriundas do sistema judiciário têm alcançado espaços de trabalho da psicologia em contextos que
pareciam distantes da prática em interface com a Justiça. A expansão do processo de judicialização das relações sociais
provoca pedidos de elaboração de documentos e gera impasses a respeito das implicações éticas e políticas dessa
produção. Cabe ressaltar que a compreensão sobre a atuação do psicólogo jurídico não se encontra limitada aos
profissionais lotados nos Tribunais, e ampliou-se abrangendo todos os psicólogos que se remetem ao Sistema de
Justiça. Desta forma, esse crescimento do entendimento a respeito do que caberia ao campo da psicologia jurídica
suscitou a interlocução com outras instituições - públicas, privadas e ONGs - que se relacionam com o Sistema de
Justiça, incluindo-se aquelas que contribuem ou integram o Sistema Único de Assistência Social ou o Sistema Único de
Saúde, que desenvolvem atividades relacionadas às políticas públicas ou que atuam na esfera da segurança pública,
tais como delegacias, penitenciárias e polícias (militar e civil).
Essa mudança denota a relevância da compreensão e aprofundamento sobre a psicologia jurídica a partir de um olhar
ético, técnico e político sobre as solicitações judiciais situadas no cenário social e histórico atual de retrocessos. Assim,
o espaço de atuação tem crescido nos últimos anos lançando diversos desafios para a psicologia, convocando os
profissionais a posicionarem-se diante das propostas legislativas, da implementação e formulação de políticas
públicas, dos pedidos de participação da psicologia em determinadas práticas judiciais, dentre outras mobilizações. A
atuação da psicologia social vem se destacando nestes contextos de criação de políticas e leis, assim como de
assessoramento a temas importantes de interface interdisciplinar, como por exemplo, gênero e interseccionalidades,
violências (sexual, física, psicológica, institucional, estatal contra diferentes grupos considerando seus
atravessamentos de gênero, de raça e de classe social), família, políticas públicas, assistência social, segurança pública,
entre outros. A fim de ilustrar algumas problemáticas atuais, podem ser mencionadas a Lei nº 13.431, aprovada em
abril de 2017 a respeito da escuta especializada e depoimento especial de crianças e adolescentes vítimas ou
testemunhas de violência; as inúmeras propostas de alterações legislativas a respeito da maioridade penal; restrições
na compreensão do conceito de família ganhando expressão na formulação e defesa do Estatuto da Família; projetos
que visam alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente buscando acelerar os procedimentos que envolvem adoção;
os efeitos do Novo Código de Processo Civil para os profissionais alocados nos Tribunais; tentativas de interferências
legislativas em resoluções do Conselho Federal de Psicologia; dentre outras mudanças legislativas e políticas que
afetam a psicologia jurídica e que demandam a construção de estratégias de enfrentamento e de resistência.
Um dos receios centrais que atinge a psicologia jurídica reside no movimento de retrocesso das atividades do
psicólogo jurídico ao que inicialmente foi sua contribuição, a saber, a elaboração de laudos em seu sentido mais
restrito sem uma postura de intervenção. Nesse cenário de retraimento das políticas sociais e do crescimento de
pautas punitivas, restritivas e judicializantes, alijar o psicólogo jurídico dessas discussões é posicioná-lo como mero
auxiliar do juiz por meio da produção de documentos que individualizam os problemas sociais e que localizam no
próprio sujeito as justificativas para sua condição, desconsiderando as implicações econômicas, políticas e sociais que
produzem as subjetividades. Em decorrência de sua trajetória histórica, a psicologia jurídica ainda permanece sendo
associada a uma visão determinista, essencializante e normatizante que, por vezes, auxiliou na manutenção das
desigualdades e violências ao somar-se ao aspecto repressor e controlador do Direito. No entanto, ao longo da
construção dessa área, diversos aportes teóricos foram integrando a psicologia jurídica, dentre eles, destaca-se a
vertente que encontra suporte na psicologia social, destacando um olhar crítico, político, ético e reflexivo.
Logo, o presente Grupo de Trabalho visa contribuir para o rompimento dessa perspectiva estigmatizante no que tange
ao uso do termo psicologia jurídica estabelecida em função da origem do campo, a fim de que profissionais e
pesquisadores que adotam o posicionamento crítico do âmbito da psicologia social e que desenvolvem atividades em
interface com a justiça possam se sentir contemplados na terminologia Psicologia Social Jurídica. Este Grupo de
Trabalho busca discutir as múltiplas possibilidades de atividades profissionais e de pesquisas da psicologia social em
interface com o direito, propondo uma psicologia social jurídica, marcada por um compromisso ético e político com os
direitos humanos, com as transformações sociais e com o posicionamento crítico direcionado para uma sociedade
mais justa e igualitária. O Grupo de Trabalho acolhe diferentes propostas de experiências de trabalho ou de relatos de
pesquisa desenvolvidas neste campo, que envolvam relações com produção de leis, políticas públicas, atuação do

840
psicólogo jurídico, ética profissional, violação de direitos, enfrentamento à violência, sempre que tenham interface
com o sistema de justiça ou com o Direito nos eixos da Infância/Juventude, Família e Penal/Criminal.
A partir dos debates e questionamentos levantados no Grupo de Trabalho pretende-se constituir uma articulação da
psicologia social jurídica diante das relações crescentes com o sistema de justiça integrando profissionais e suas
experiências nestes contextos, assim como ampliando o intercâmbio de pesquisadores em temáticas afins a este
campo. O Grupo de Trabalho se relacionada com o tema central do evento, na medida em que busca promover
reflexões críticas sobre ética, violências, democracia, laicidades e diversos enfrentamentos relacionados às
potencialidades da psicologia na intervenção e produção de conhecimentos em interface com as possibilidades de
atuação no campo jurídico. Busca consolidar nacionalmente o campo da psicologia social jurídica promovendo o
intercâmbio de diversas atuações no contexto nacional, a fim de marcar essa abordagem da Psicologia Jurídica que
dialoga com a Psicologia Social e que se encontra fundamentada na reflexão crítica e contextualizada sócio-
historicamente diante das desigualdades sociais, das dinâmicas institucionais e das relações de poder. Diante do
exposto, o presente Grupo de Trabalho intenta pensar a psicologia jurídica sob a perspectiva da Psicologia Social e
suas epistemologias, promovendo olhares críticos, éticos, sistêmicos e complexos sobre temáticas importantes em
interface com outras áreas de conhecimento, visando repensar práticas e pesquisas que possam promover outros
caminhos e romper paradigmas para o campo.

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A atuação das/os psicólogas/os no serviço PAEFI na região da grande Florianópolis (SC)
Autores: Laís Paganelli Chaud, UFSC; Bruna Larissa Kluge, UFSC; Marcela de Andrade Gomes, CESUSC
E-mail dos autores: la.chaud@hotmail.com,marceladeandradegomes@gmail.com,brunalkluge@gmail.com

Resumo: As múltiplas formas de violência são fenômenos que atravessam todo o histórico da construção da
humanidade, tornando-se difícil detectar um determinado momento espacial e temporal que esta prática tornou-se
presente nas relações sociais. Algumas perspectivas teóricas defendem que a violência é algo que demarca a condição
humana e, por isso mesmo, inevitável, a qual é fruto dos processos de sociabilidades que envolvem disputas,
negociações, relações de poder e aquisição de privilégios. Em diversos contextos culturais e históricos, a violência foi
sendo praticada, experienciada, inventada, significada e construída, revelando seu caráter eminentemente social,
político e subjetivo.
A violência contra crianças e adolescentes é um fenômeno que, em geral, gera enorme estarrecimento e repúdio por
parte das pessoas, tendo em vista que, atualmente, entendemos a infância e adolescência como momentos que
necessitam de proteção e cuidados específicos. A aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente foi um
importante marco para regulamentar as políticas e serviços destinados ao combate às múltiplas formas de violência
exercidas sobre estes grupos sociais. Em seguida, a aprovação da PNAS (Política Nacional de Assistência Social) em
2004 veio implantar o serviço PAEFI (Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos) –
vinculado à Proteção Especial de Média Complexidade (CREAS)- que se responsabiliza por receber as denúncias,
encaminhadas pelo Conselho Tutelar e sistema jurídico, e realizar o acompanhamento psicossocial das famílias que
estão sob suspeita de praticar algum tipo de violência contra a criança ou adolescente.
Dentro deste contexto, este trabalho visa apresentar os resultados oriundos da pesquisa cujo tema é a atuação das/os
psicólogas/os no serviço PAEFI na região da grande Florianópolis (SC). Por meio da realização de entrevistas
individuais e grupos focais com psicólogas que atuam neste serviço- no total, tivemos 10 participantes-, buscamos
escutar as significações, inquietações, reflexões, desafios e conquistas que estas profissionais experienciam no
cotidiano de seus trabalhos juntos às famílias em situações de violências.
A análise de conteúdo engendrou 6 principais categorias que sustentaram nossas reflexões: 1. a importância da
atuação da psicologia junto às famílias em situações de violência., 2. as estratégias e ferramentas de trabalho
utilizadas no PAEFI., 3. formação teórica e profissional., 4. a atuação profissional no interstício entre a Assistência
Social e a Justiça., 5. concepções sobre a família e violência., 6. desafios e conquistas do trabalho realizado no PAEFI.
Pensamos que a inserção desta comunicação oral neste Grupo de Trabalho se faz pertinente na medida em que o
PAEFI também se encontra no atual circuito institucional de campos de atuação da Psicologia, cuja a interface no
Sistema de Justiça. Mais ainda, apresentar os resultados desta pesquisa e poder dialogar com outr@s profissionais que
também estão reinventando seus saberes e fazeres para atuarem frente às múltiplas formas de violações de direitos
que chegam nos serviços públicos, será extremamente profícuo para ampliar e complexificar os debates teóricos e
metodológicos no campo da Psicologia Social Jurídica.
De forma geral, podemos destacar que as profissionais enunciam as inquietações oriundas da recém inserção da
psicologia na Assistência Social na qual se questionam sobre qual seria o papel desta prática profissional neste serviço,
principalmente, no que diz respeito ao chamado atendimento psicossocial. Apontam as dificuldades do trabalho
junto ao sistema Jurídico e do Serviço Social, destacando os impasses e avanços que esta atuação multiprofissional
pode impactar no trabalho junto aos/às usuários/as e, ainda, ressaltam a necessidade de reinvenção da prática da
psicologia diante de um contexto profissional marcado pela obrigatoriedade de aderência por parte das famílias, a
especificidade ética do sigilo, necessidade de cumprimento dos prazos jurídicos, falta de apoio da rede intersetorial e
precarizações das condições de trabalho.
842
Os resultados desta pesquisa nos auxiliam a refletir sobre os operadores teóricos e práticos que podem auxiliar na
construção de uma Psicologia Social Jurídica que esteja eticamente engajada na luta e garantia dos direitos humanos,
superando modelos intervencionistas que judicializam determinadas classes sociais. Na busca de resistir a um
determinado modelo de psicologia que reproduz as históricas formas de opressão e segregação, tentamos construir
conhecimentos e intervenções, nos contextos das políticas públicas, que sejam combativos às desigualdades sociais e
aos diferentes mecanismos de controle e sujeição produtores de múltiplos sofrimentos e violação de direitos.

843
A inobservância dos direitos dos reclusos no Sistema Penitenciário brasileiro: um projeto político?
Autores: Nathan Melo Costa; UFRJ
E-mail dos autores: nathanrecanto@gmail.com

Resumo: O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN 2014), o último construído pelo
Departamento Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça, é o retrato dos grandes desafios que as políticas
publicas prisionais brasileira e os gestores dos estabelecimentos prisionais enfrentam em relação ao cumprimento da
lei, principalmente, dos direitos dos reclusos.
Acredita-se, após perceber que os marcadores das ilegalidades no sistema penitenciário brasileiro é uma constante,
que os dados gerados pelo levantamento não é fruto só de uma dificuldade gestacional, mas próprio de uma lógica de
punição a serviço de uma específica governamentalidade, e a disciplinarização e exclusão dos tidos como agitadores
da harmonia da ordem social.
Essa governamentalidade constituída por processos de normatização produzindo sistemas legais, criando leis; também
é constituída pelos processos de normalização que cria dispositivos de segurança e racionalidade política. É esse o
ponto que nos interessa à medida que, risco e disciplina incidem sobre a constituição do sujeito, o processo de
individualização deste e, sendo assim, a produção de culpa em vista dessas escolhas tidas como individuais, a partir do
livre-arbítrio, segundo Foucault no Nascimento da Biopolítica.
É nesse processo individualização do sujeito, da noção de risco, de culpa e insegurança que se estrutura a produção de
subjetividade capitalística, fundamentando um jeito de ser, estar e se comportar na sociedade, imposto pela lógica
hegemônica, em nome de uma ordem social. Quem de alguma forma contradizia tal forma padronizada, ou não
correspondia a essa era tido como desviante ou marginal e precisava se submeter ao exército de especialistas e/ou ser
confinado. É por esse trabalho ter se preocupado com as produções subjetivas no contexto da lógica governamental
neoliberal e por analisar todo o processo de legitimação dos mecanismos de punição e supressão de direitos no
contexto das políticas do sistema penitenciário que ele é direcionado ao Grupo de trabalho: Psicologia Social Jurídica:
experiências, desafios, especificidades éticas e políticas em interface com a Justiça. Acreditando na postura crítica
deste campo do saber, Psicologia Social Jurídica, na construção e legitimação dos arcabouços punitivos que se
materializam nos sistemas de penalização, como as prisões e a lógica prisional.
Aqui, levando em conta os dados gerados pelo INFOPEN 2014 no que diz respeito a falta de respeito do Estado para
com os direitos dos detentos, inclusive assegurados por leis, confronta-se o objetivo a que se espera de um sistema
penitenciário, segundo a própria LEP, o de reintegração social, para uma finalidade punitiva daquele que não se
enquadrou nas formas impostas pelas grades econômicas produzidas pela governamentalidade neoliberal. É na
suspensão dos direitos daqueles que estão sobre a tutela do Estado no estabelecimentos prisionais que se defende
aqui que a noção de Inimigo para direito penal, segundo o jurista alemão, Günther Jakobs, está em vigor, retirando a
dignidade e direitos daqueles encarados como inimigos da sociedade.
Este trabalho se preocupou em entender o processo instaurado no Sistema Penitenciário brasileiro de não observação
dos direitos daqueles que estão sob o regime deste sistema e da leis que garantem tais direitos, a partir dos dados
gerados pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias ( IFOPEN 2014), que apontam inúmeros conflitos
legais relacionados, tanto a forma de tratamento dos presos, quanto os relacionados as gestões do sistema como um
todo e de cada estabelecimento que o compõe.
Tendo em vista o objetivo deste trabalho, foi analisado o INFOPEN 2014, bem como a Lei de Execução Penal, As Regras
Mínimas para o tratamento de presos (Regras de Mandela). A partir disso foi feito análise de alguns conceitos para o
embasamento teórico que levam em conta a noção de governamentalidade, produção de subjetividade, mecanismos
de punição, culpabilização, seletividade penal dentro de uma perspectiva foucaultiana. Recorreu-se, também, a
criminologia crítica de Alessandro Barata e Zaffaroni.
Percebeu-se, assim, que a própria inobservância dos direitos dos reclusos é parte de toda a produção de um projeto
sistêmico de uma lógica politica governamental neoliberal. Os marcadores que apontam mais da metade de uma
844
população carcerária negra, jovem e na sua grande maioria não escolarizada, não é uma retrato senão de uma forma
de ordenamento social, de construção de subjetividade seletiva, vertical e autoritária, de disciplinarização e de
punição a serviço dos interesses hegemônicos do mercado. O sistema penitenciário brasileiro, e a questão da
inobservância dos direitos daqueles que estão tutelados sob este sistema, fazem parte dos mecanismos de punição e
da política de exclusão daqueles não entendidos como parte da sociedade, a partir do padrão imposto pela lógica
hegemônica. Por serem entendidos como marginais e delinquentes, por estarem colocando em risco a segurança e o
bem-estar social são depostos da sua dignidade e direito de cidadãos e taxados como inimigos da sociedade.

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A invasividade jurídico-penal sobre as relações humanas na contemporaneidade
Autores: Analicia Martins de Sousa, UVA-RJ
E-mail dos autores: analiciams@gmail.com

Resumo: Nas sociedades ocidentais contemporâneas, desperta atenção o grande destaque que vem sendo conferido à
figura das vítimas. Nota-se que são cada vez mais frequentes enunciados sobre o sofrimento psíquico ou os danos e
traumas que seriam causados a elas por conta da violência que se dissemina pela sociedade. A comoção social gerada
em torno do padecimento destas últimas tem fomentado reivindicações por penas como forma de coibir e prevenir as
agressões sofridas por elas. Isso é particularmente percebido em alguns temas que vem sendo amplamente difundidos
no Brasil, desde a primeira década do século XXI, a alienação parental, o bullying e o assédio moral. Aludidos muitas
vezes como fenômenos incontestes e universais, eles estariam associados aos contextos da família, da escola e do
trabalho, respectivamente. Chama atenção o fato de que tais temas, associados a contextos distintos, são igualmente
referidos como formas de violência que atingiriam as relações humanas, por vezes de modo invisível ou camuflado.
Aliado a isso, por vezes, são destacados o crescimento do número de casos no país, a gravidade dos danos psíquicos
causados às vítimas, assim como a necessidade de punição dos ofensores. Como provável resultado disso, destaca-se o
número crescente de propostas leis no país que visam a prevenir, coibir e punir aquelas consideradas formas de
violência.
Diante disso, foi empreendido estudo com o objetivo de investigar um provável substrato comum, ou certo regime de
verdade em torno dos temas relacionados. A hipótese básica foi a de que a promoção de enunciados no campo social,
que combinam violência, danos psíquicos e vitimação, têm contribuído para a multiplicação de formas de controle e
punição que invadem as relações humana na atualidade.
Os aspectos relacionados podem ser inseridos em um debate mais amplo que hoje atinge as sociedades
contemporâneas, o incremento do Estado polícia, no qual proliferam mecanismos de segurança por todo o corpo
social em nome da segurança dos cidadãos de bem ou das vítimas virtuais. Nesse contexto, é indispensável se discutir
as práticas discursivas em torno das noções de violência e vitimação das quais também tomam parte a psicologia no
Brasil. Para ilustrar, pode-se mencionar as demandas endereçadas aos psicólogos que atuam no sistema de Justiça
para a identificação de casos relacionados aos temas alienação parental, bullying e assédio moral e o modo como
esses profissionais vêm respondendo a elas. Em outras palavras, em um momento sócio-histórico em que se verifica a
expansão do Estado polícia, é fundamental se perguntar por que a psicologia é cada vez mais convocada a tomar parte
em práticas que contribuem para a judicialização da vida. Ademais, diante do aparente consenso em torno de
discursos sobre proteção, prevenção e segurança, é imprescindível fomentar a reflexão crítica acerca das práticas
psicológicas de avaliação, as quais podem conduzir os indivíduos aos lugares de vítimas ou agressores, com todas as
conseqüências que isso pode ter para a sua subjetividade.
No presente estudo foi empreendida uma abordagem crítica acerca dos temas relacionados. Para tanto, foram
utilizados estudos acerca do alargamento do conceito de violência, da projeção e valorização das vítimas no campo
social, assim como da superestimação da subjetividade aliada à expansão do saber psiquiátrico na
contemporaneidade. Foram também adotados estudos no campo da criminologia crítica para se pensar sobre a
comoção social gerada em torno de situações envolvendo violência e a produção de demandas por penas e leis mais
rigorosas no país.
O material empírico foi composto por Projetos de Leis federais e pareceres emitidos pelas comissões da Câmara
Federal dos Deputados sobre eles. A abordagem teórico-metodológica de Michel Foucault foi empregada para a
análise dos documentos legislativos selecionados. O método arqueológico foi abordado em articulação com a
genealogia do poder, ou seja, o exame das condições políticas de possibilidade dos discursos.
Pôde-se constatar que a superestimação da subjetividade, com destaque para os padecimentos mentais e a figura do
cidadão vitimado, vem favorecendo certa produção discursiva em torno da ideia de violência nas relações pessoais. Ao
mesmo tempo, isso tem estimulado demandas por mais punição e controle, as quais têm resultado muitas vezes na
846
elaboração de proposições legislativas que, em sua maioria, visam a definir condutas que estariam ligadas à ideia de
violência e a criar medidas de repressão a elas. Nesse rumo, os temas alienação parental, assédio moral e bullying,
associados à noção expansiva de violência e a demandas por penas, se revelam dispositivos de segurança eficazes no
prolongamento dos tentáculos do Estado polícia sobre as relações humanas. Além disso, a constituição de certa
unidade discursiva em torno da ideia de violência em tais relações vem se mostrando altamente produtiva e
conveniente como estratégia de controle, pois sob o argumento de segurança e de proteção ao cidadão supostamente
fragilizado, ou ao cidadão-vítima, se promove o consenso e a adesão às políticas de governo na contemporaneidade.

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A reintegração social de egressos do Método Penal APAC: diálogo entre psicologia social e justiça
Autores: Luiz Felipe Viana Cardoso, UFSJ; Marcos Vieira Silva, UFSJ
E-mail dos autores: luizfelipevcardoso@gmail.com,mvsilva@ufsj.edu.br

Resumo: O Brasil é o quarto no ranking mundial de população carcerária com cerca de 600 mil presos. A taxa anual de
crescimento do número de presidiários é de 12% e o índice de reincidência é estimado em de 70%. Esse cenário
somado as péssimas condições de tratamento ao preso, colocam vários desafios para a execução penal no país, dentre
eles o desrespeito aos Direitos Humanos da pessoa presa e sua reintegração social. Conforme a Lei de Execução Penal,
a pena deve ter como objetivo para além da punição, a reintegração social do preso. É dever do Estado dar assistência
ao preso e orientá-lo para a convivência comunitária.
Visando ser uma alternativa ao sistema prisional convencional, surgiu, na década de 70, a Associação de Proteção e
Assistência aos Condenados (APAC), que por meio de seu método de valorização humana, busca a reintegração do
preso, que nela é chamado de recuperando. A APAC é um é órgão auxiliar da justiça, de terceiro setor, para a execução
penal. O recuperando participa de atividades de educação, trabalho e laborterapia. Não há agentes penitenciários e as
taxas de reincidência são estimadas até 15%.
O presente trabalho é desdobramento da pesquisa de mestrado que está em andamento, intitulada A reintegração
social de egressos do Método de Execução Penal APAC, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
UFSJ, tendo como objetivo investigar a percepção dos egressos que cumpriram pena em uma unidade da APAC em
Minas Gerais, a respeito do seu processo de reintegração social. Esse trabalho está inserido no diálogo entre a
Psicologia Social/Justiça, amparando-se principalmente nas contribuições da criminologia crítica. Optou-se pela
inclusão neste GT, por entendermos que a interface entre a Psicologia Social/Jurídica contribui para refletir, de forma
crítica, sobre a participação da psicologia nos espaços prisionais, contribuindo para a promoção dos Direitos Humanos
e cidadania dos presos/egressos.
Nos amparamos no conceito de reintegração social de autores da criminologia crítica, entre eles Alessandro Baratta e
Alvino de Sá, na qual a reintegração é vista como processo que envolve ampla participação da sociedade para com as
questões do cárcere, de forma a não centrar-se apenas na pessoa do preso/egresso, mas que haja mútua comunicação
entre a sociedade e a prisão, percebendo o preso/egresso como protagonista desse processo.
Trata-se de um estudo qualitativo, servindo como terreno para a crítica científica social, na qual há atenção pela
experiência de vida e importantes detalhes do cotidiano. Como procedimento de coleta de dados, entrevistas
semiestruturadas estão sendo realizadas com egressos que cumpriram pena em uma APAC de Minas Gerais. Sendo
uma pesquisa qualitativa, optou-se por uma amostra de conveniência. Junto a entrevista, um questionário
socioeconômico é aplicado a fim de coletar informações a respeito das condições sociais dos egressos participantes,
pois essas tem implicações para o processo de reintegração social. Todas as entrevistas estão sendo gravadas e
transcritas para posterior análise.
A análise dos dados será realizada a partir da Análise de Conteúdo, considerando suas três etapas: a pré-análise,
exploração do material e o tratamento dos resultados. Para essa etapa o software MAXQDA será utilizado como
auxílio. Ele permite avaliar e interpretar dados qualitativos de forma sistemática, além de inferir relações entre as
categorias, estabelecer gráficos de frequência e de correlação entre as categorias determinadas, comparando diversos
dados a fim de identificar quais categorias estão mais presentes, de que maneira e em quais circunstâncias.
Como a pesquisa ainda está em andamento, os resultados parciais tem permitido compreender que estar reintegrado
à sociedade é fazer parte dela, sobretudo na questão do trabalho. Participar de uma atividade econômica é algo que
confere pertencimento e traz dignidade aos egressos, os possibilitando reconstruir suas relações com a comunidade.
Outro aspecto importante é que embora a APAC ofereça condições melhores que o sistema comum, seus egressos a
percebem ainda assim como uma prisão. Sentem que há uma maior aproximação entre a comunidade e a APAC do
que com a prisão comum. Por fim, os entrevistados tem relatado que seus maiores projetos tem sido voltar a vida
normal, ou seja, serem percebidos como pessoas comuns e não com o estigma de egressos.
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Concluímos que refletir sobre a reintegração social é considerar o processo dialético entre a inclusão/exclusão, pois
como aponta Sawaia é mais correto falarmos em uma inclusão precarária, considerando a forma como estamos
incluídos no modelo socioeconomico vigente. Assim, só podemos falar em reintegração social se de fato há
sentimento de pertencimento do egresso com seu grupo. Estar reintegrado é ter sua sua cidadania e autonomia
respeitadas, assim como participar dos espaços sociais e dos bens culturais e economicos. A Psicologia Social Jurídica
tem um importante papel na construção de uma prática emancipadora que possa transformar o campo de intervenção
nas prisões. APOIO: CAPES/UFSJ.

849
Afinal, o que é "proteção" no método do Depoimento Especial?
Autores: Silvia Ignez Silva Ramos, UFRJ
E-mail dos autores: psilig@gmail.com

Resumo: O objetivo desta comunicação oral é problematizar as experiências, pontuadas por controvérsias, das
metodologias de inquirição/escuta de crianças em casos nos quais se indique uma suposta verdade sobre possível
violência sexual. Essas experiências são analisadas em minha tese de doutorado a partir de um recorte de atuação em
duas cidades brasileiras, envolvendo o tratamento do tema dentro das Universidades (onde se produz a ciência por
meio dos professores e pesquisadores) e do Sistema de Justiça (onde se aplica essa ciência por meio dos profissionais
e servidores). Parte-se da apresentação da experiência em Porto Alegre, com o Depoimento Sem Dano (DSD), em
2003, dando voz aos seus instituídos e suas instabilidades; passa-se à experiência tardia - não por acaso -, do Rio de
Janeiro, a partir de 2012, onde o DSD passa a chamar-se Depoimento Especial (DE). Como metodologia para ilustrar e
apreender as duas redes heterogêneas que constituem as diferentes experiências, utilizou-se a cartografia das
controvérsias que, unida a um dispositivo de videogravação, para produzir articulação com a videogravação utilizada
no DSD/DE, resultou num documentário inspirado no "método" do cineasta Eduardo Coutinho. A finalidade desta
tese-documentário não foi a de concluir alguma hipótese, mas pelo contrário, acessar as pistas presentes nos planos
de forças que atravessam os atores do campo psicossocial e jurídico, que são demandados para dar soluções para a
problemática que se inicia com as denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes e envolve profissionais
que fazem parte, no Brasil, do chamado Sistema de Garantias de Direitos (SGD). Compondo esta articulação-
multiversa-científica sobre violência sexual contra crianças, esta tese-documentário se propôs a dar escuta aos
profissionais-cientistas e também a descrever-escutar os cidadãos que foram atravessados pelo método do DSD/DE,
em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, com a proposta de hibridizar cientistas e seus "participantes" de estudo e, como
efeito, desdobrar a ciência, as controvérsias e os actantes (elemento estrutural da ação, humano e não-humano) que
fazem parte dessa temática, produzindo, como diria Bruno Latour, uma articulada "ciência em ação". Creio que este
GT 39 tem total correlação com este trabalho inclusive por trazer em seu resumo o desejo de discutir a Lei
13.431/2017 e de colocar em análise o que se passa de fato neste método do Depoimento Especial: escuta ou
inquirição? Por fim, a busca em promover neste GT os "olhares críticos, éticos e sistêmicos" tem total interface com o
que esta pesquisa quer debater, em especial quando busca promover o intercâmbio de diversas atuações no contexto
nacional baseando sua reflexão a partir de um contexto sócio-histórico. Muito importante também a busca de
interdisciplinaridade trazendo não apenas a psicologia para dialogar sobre este tema, mas o direito, a antropologia, a
sociologia, as políticas públicas e todos os entes do Sistema de Garantia de Direitos que atuam em prol de "proteger" a
criança e o adolescente, O que á afinal este vocábulo "proteção"? O que se quer de fato com a palavra da criança?
Cuidá-la como sujeito em desenvolvimento ou transformá-la em prova para o direito penal?

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Caleidoscópio da violência intrafamiliar: relato de intervenção grupal com pais e cuidador@s autor@s de violência
Autores: Morgana Martins de Medeiros, UFSC; Giselle Maestri, PAEFI; Marcela de Andrade Gomes, CESUSC
E-mail dos autores: morganamartinsmedeiros@gmail.com, marceladeandradegomes@gmail.com,
contato@gisellemaestri.com

Resumo: A prática da violência contra crianças e adolescentes em suas distintas formas de expressão, constitui uma
das formas de violação dos direitos humanos. Este trabalho, fruto de uma experiência de estágio, parte do
pressuposto de que a prática da violência afeta negativamente o desenvolvimento vital dos sujeitos envolvidos. Não
cabe, no entanto, estigmatizar o fenômeno da violência sob uma ótica dicotômica e maniqueísta existente no
imaginário social, a qual naturaliza e culpabiliza o/a autor/a dos atos de violência. O estudo parte do pensamento
sistêmico enquanto epistemologia, entendendo o fenômeno da violência intrafamiliar como condizente com seus
pressupostos fundamentais (complexidade, instabilidade e intersubjetividade).
Apesar da prática da violência ser produtora de múltiplas formas de sofrimento, este estudo afasta-se de concepções
punitivas e individualizantes, vislumbrando intervenções que abarquem este fenômeno de forma mais ampla,
envolvendo tanto os/as autores/as da violência quanto suas vítimas, de modo que o trabalho seja guiado a partir de
uma prospecção para o futuro, ao invés de uma culpabilização para com o passado, orientado pelo trabalho de
implicação e responsabilização de seus agentes envolvidos.
Considerando as diretrizes da Política Nacional de Assistência Social (2004), foi realizada uma intervenção, inspirada
nestes preceitos éticos e teóricos, no serviço PAEFI - Florianópolis, com o objetivo de inscrever um lugar de apoio e
reflexões junto a estes cuidadores. O serviço PAEFI está localizado na Proteção Especial de Média Complexidade,
inserido no Centro de Referência Especial em Assistência Social (CREAS), já que trata-se de um serviço que realiza o
acompanhamento psicossocial de famílias denunciadas por uma situação de violação de direitos.
Aposta-se em uma rica interlocução neste Grupo de Trabalho, tendo em vista que o PAEFI se situa na interface entre a
Psicologia, o Serviço Social e a Justiça, configurando-se como um campo de trabalho onde as práticas profissionais da
Psicologia precisam ser reinventadas de modo a superar o modelo hegemônico punitivo, restritivo e judicializador que
o sistema de Justiça, historicamente, interpelou às famílias e sujeitos de camadas subalternizadas pela sociedade. A
partir de um olhar ético e político inspirado nos aportes da Psicologia Social da América Latina, acredita-se que esta
proposta de intervenção seja uma possibilidade de pensar e construir a Psicologia Social Jurídica promotora da
cidadania e na luta pelos direitos humanos.
Com o intuito de qualificar a oferta de atividades oferecidas pelo PAEFI, elaborou-se uma estratégia de intervenção
grupal com base na teoria psicológica sistêmica a qual serviu de substrato teórico-metodológico para planejar,
organizar e manejar os grupos, quanto para refletir sobre seus resultados e impactos gerados. O grupo foi pensado e
elaborado de forma interdisciplinar, tendo sido utilizados conceitos e métodos referentes ao campo da Psicologia e do
Serviço Social.
As atividades foram realizadas em um período de três meses, ocorrendo quinzenalmente, contendo duração de duas
horas, sendo que, no total, foram realizadas seis intervenções grupais. Os encontros grupais foram observados de
forma sistemática, registrados com a autorização dos sujeitos e, posteriormente, organizados de modo a favorecer a
construção de análises sobre os dados. Após leitura do conteúdo, tendo por foco as temáticas predominantes que
emergiram, delineou-se duas categorias amplas de discussão: 1. Manifestações da violência intrafamiliar e 2. O
trabalho grupal com cuidadores autores de violência.
No que tange as manifestações da violência, observou-se em seus relatos vivências de sofrimento e violências com
seus cuidadores, além de revelarem sentimentos ambíguos com seus genitores. Estas narrativas revelaram o caráter
intergeracional da violência. Em consonância com o pensamento sistêmico, foi percebido que os padrões prevalentes
(caráter cíclico da violência) são propiciados por contextos socioculturais de abuso, como os sistemas de gênero e os
sistemas autoritários. Em relação aos tipos de violências praticadas, os cuidadores responsabilizaram-se
principalmente pelas violências físicas, tendo dificuldade de identificarem outras formas de violências, como a
851
negligência e a psicológica. Foram assimilados alguns possíveis efeitos da violência intrafamiliar no desenvolvimento
das crianças e adolescentes sob responsabilidade destes cuidadores, tais quais: sentimento de inferioridade, ideação
suicida e humor deprimido.
A abordagem grupal possibilitou que os cuidadores vislumbrassem novas abordagens de resolução de conflitos, por
meio da abertura de espaços conversacionais. Entendendo a violência familiar como um silêncio co-construído, foi
possível caracterizar o grupo como espaço em que os cuidadores autores de violência puderam ter voz e serem
ouvidos. Além disto, o grupo possibilitou que seus participantes obtivessem conhecimento sobre seus direitos e novos
significados frente à violência (praticada e recebida). Assim, a intervenção grupal se constituiu em um espaço de
reflexões e troca entre os próprios cuidadores, além de ter ampliado o contato dos usuári@s com a rede, estendendo
o acompanhamento individual para o âmbito grupal.

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CREAS/PAEFI e Sistema de Justiça: interfaces na rede de proteção à criança e ao adolescente
Autores: Danielle Mesquita Dhom Lemos de Almeida, UFMG; Ingrid Faria Gianordoli Nascimento, UFMG; Laura Cristina
Eiras Coelho Soares; UFMG
E-mail dos autores: daniellemlemos@gmail.com,ingridfgian@gmail.com,laurasoarespsi@yahoo.com.br

Resumo: A partir da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a notificação de
suspeita ou constatação de violação dos direitos da criança e do adolescente adquire obrigatoriedade e um sistema
integrado em rede é convocado a atuar em tais situações com vistas à garantia de direitos deste segmento. Estudos
nacionais e internacionais têm sido desenvolvidos a respeito do fenômeno da violação de direitos de crianças e
adolescentes, tendo em vista a magnitude de seus impactos e a complexidade das situações que se apresentam para a
rede de atendimento a este segmento. A Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS (1993) prevê a incorporação da
Política de Assistência Social neste sistema, que integrará a operacionalização da política de atendimento aos direitos
da criança e do adolescente por meio de seus serviços, programas e projetos. O Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS) é composto por serviços de caráter continuado que ofertam atendimento às famílias e
indivíduos em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos e oferta, obrigatoriamente, o Serviço de
Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). Este Serviço realiza apoio, orientação e
acompanhamento a famílias que apresentam um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de
direitos por ocorrência de violência, negligência, abandono, vivência de trabalho infantil, situação de rua, dentre
outras. O trabalho com as famílias neste Serviço é ancorado nas dimensões de acolhida, acompanhamento
especializado e trabalho em rede, que consiste nas articulações com os serviços socioassistenciais, as diversas políticas
públicas e os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos, com vistas à superação da situação de violação de
direitos. O presente trabalho tem como objetivo apresentar reflexões concernentes a atuação do profissional
psicólogo do CREAS junto a estas famílias. Este trabalho se relaciona ao eixo temático Ética, violências e justiça em
tempos de retrocessos mundial e nacional dos direitos humanos, na medida em que os recuos vividos na atualidade
brasileira reverberam na forma como as violações de direitos são lidas e tratadas por parte dos diversos atores do
Sistema de Garantia de Direitos e produzem práticas e discursos que reforçam mecanismos de exclusão e
criminalização de determinadas parcelas da população. Desta forma, a Psicologia Social Jurídica pode contribuir para a
reflexão acerca das ações de resistências possíveis, apresentando contribuições que favoreçam um olhar ético e
politico no trabalho junto a estas famílias e que embase a construção de praticas emancipatórias. A metodologia se
organizará a partir do relato de experiência profissional no PAEFI, no município de Belo Horizonte, entrelaçado com
levantamento bibliográfico a respeito da inserção da Psicologia no SUAS. Esta etapa compõe estudo desenvolvido no
Mestrado em Psicologia na UFMG que se encontra em curso. É possível destacar que a relação com o Sistema de
Justiça consiste em um dos principais embaraços apresentados pela atuação junto à rede de proteção à criança e ao
adolescente, aspecto que se relaciona diretamente à divulgação da Nota Técnica SNAS/MDS nº 02/2016 que trata da
relação entre o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o Sistema de Justiça. O documento versa sobre a natureza
das ações desenvolvidas pelos profissionais das equipes de referência no âmbito do SUAS, afirmando as competências
pertinentes e contribuindo para o aperfeiçoamento do diálogo no âmbito interinstitucional. Neste sentido, cabe
problematizar o jogo de forças que se materializa em razão do histórico posicionamento hierárquico do Sistema de
Justiça frente às políticas públicas e que imprime como tarefa primordial do profissional do SUAS as respostas às
demandas do judiciário, não obstante o escopo de funções apresentado pelas normativas que tratam das
especificidades deste profissional. Este e outros questionamentos apontam para a necessidade de delimitações e
pactuações que tratem das interfaces interinstitucionais. Quais demandas relacionadas à infância e juventude estão
sendo endereçadas ao CREAS e como elas estão sendo respondidas? Qual o destinatário do trabalho do profissional do
CREAS? Neste sentido, podem ser constatadas práticas de caráter estigmatizante e normatizador, que revitimizam
famílias que apresentam crianças e adolescentes em situação de violação de direitos. Estes aspectos evocam a
necessária problematização sobre as formas de compreensão e atuação do profissional psicólogo do CREAS diante das
853
condições apresentadas pelas famílias para o exercício de sua função protetiva em relação a suas crianças e
adolescentes e as concepções e práticas que são engendradas pelos diversos atores da rede de proteção a este
segmento, a fim de identificar elementos que revelem o compromisso com acesso a direitos, a construção de
subjetividades singularizadas e a transformação da realidade social. A elucidação destes aspectos se revela importante
investimento, a fim de qualificar as ações.

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Espaço de vivências em Socioeducação
Autores: Nathaly Marculino Morais, UFAM; Claudia Regina Brandão Sampaio, UFAM
E-mail dos autores: nathaly.mmorais@hotmail.com,claudiasampaioufam@hotmail.com

Resumo: O atendimento socioeducativo em meio aberto deve ser alvo de atenção prioritária por parte dos órgãos
envolvidos na justiça juvenil e o trabalho das equipes técnicas é primordial e determinante para o processo de
consolidação desta doutrina, que posiciona o adolescente autor de ato infracional como prioridade social e sujeito de
direitos que devem ser resguardados.
Atualmente funciona na cidade de Manaus uma vara da infância e juventude infracional, com atribuições de
conhecimento e execução das medidas socioeducativas. Um dos aspectos que contribui para as dificuldades na
execução das medidas socioeducativas é o isolamento técnico, expressão da cultura profissional hegemônica, mesmo
nas chamadas equipes multiprofissionais ou interdisciplinares. Este isolamento tem como uma de suas consequências
a implementação de projetos socioeducativos compartimentados, onde cada um desenvolve sua proposta
individualista, gerando situações que afastam as equipes e fragilizam as ações, ao invés de consolidá-las. A rotina do
trabalho também pode ser apontada como impeditiva para o desenvolvimento de propostas coletivas, entre vários
motivos, podemos apontar a elevada carga horária de trabalho, que contrasta com o quase inexistente momento de
planejamento coletivo. Uma consequência advinda destas características da organização do trabalho é a não-
satisfação do profissional ante as atividades que desenvolve, sobretudo quando identifica nestas mais dificuldades que
a possibilidade concreta de realizar sua função através de seu saber-fazer.
A proposta deste projeto pretende colaborar com a melhoria da prestação jurisdicional aos adolescentes em
cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto, bem como colaborar com a formação dos servidores que
trabalham na ponta do serviço, na execução dessas medidas promovendo encontros periódicos, com objetivo de
estabelecer acompanhamento das equipes com base no processo dialógico de construção coletiva e formação
colaborativa entre os pares, oferecendo suporte e acompanhamento às equipes técnicas, para que sejam construídas
práticas essencialmente educativas e ressocializadoras. Para tanto, é necessária a promoção de discussão e o
investimento em posturas que combatam as violações de direitos dos adolescentes e outras práticas que remontam a
doutrina que já deveria ter sido superada.
Para embasar a presente proposta, valemo-nos de teóricos que discorrem sobre a formação de professores, para
fazermos uma analogia com formação de técnicos socioeducativos. Assim, concordamos com a ideia de Machado
(2005), que argumenta que um programa de formação continuada deve ser visto como uma estratégia de longo prazo,
exigindo esforços sistemáticos e sustentáveis e a valorização da prática docente como um espaço privilegiado para a
formação e reflexão sobre os modos de aprender e de ensinar. Partindo dessa ideia, estabelecemos os pressupostos
teórico e metodológicos que norteiam esta proposta.
Esta ação encontra-se em construção através de parceria com equipe da faculdade de psicologia. Inclui a atuação de
professores e estudantes de psicologia na execução dos encontros das equipes técnicas (assistentes sociais, psicólogos
e advogados) dos CREAS e servidores da coordenadoria da infância e juventude.
O espaço de vivências profissionais em socioeducação vem sendo construído como projeto de extensão da
universidade federal do amazonas em que serão realizados encontros mensais com as equipes técnicas dos cinco
CREAS da cidade de Manaus, estudantes e professores da faculdade de psicologia, a fim de construir espaços
dialógicos, de construção colaborativa. As atividades serão facilitadas por estagiários de psicologia serão mediadas
com supervisões, filmes, leituras, dinâmicas de grupo e estudos de caso.
A partir da prática do grupo de estudo com psicólogas do CREAS centro-sul-universidade, pretende-se como
consequência da ação, que os encontros desencadeiem processos que valorizem a sistematização dos saberes
próprios, a capacidade para transformar a experiência em conhecimento e a formalização de um saber profissional de
referência.

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A proposta desses encontros considera a importância de um ambiente que propicie aos participantes expor suas
ideias, dúvidas, pontos de vista, amarguras e insatisfações com o modelo institucional vigente e/ou com a estrutura de
trabalho que não atende suas reais necessidades profissionais. Destaca-se também o entendimento posterior de que a
colaboração é um caminho possível e viável para as transformações que se fazem necessárias.

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Família acolhedora e Reintegração familiar: impasses e reflexões sobre a medida protetiva para
crianças/adolescentes
Autores: Ayla Bianca Silva Chaves, UFMG; Laura Cristina Eiras Coelho Soares; UFMG
E-mail dos autores: aylabsc@gmail.com,laurasoarespsi@yahoo.com.br

Resumo: A Família Acolhedora é um serviço que corresponde à medida protetiva de acolhimento familiar, instituída
no artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). As medidas de acolhimento têm caráter excepcional
porque elas devem ser aplicadas apenas quando a retirada do convívio familiar for a alternativa diante as violações em
tela. E provisório porque, uma vez que, os problemas forem sanados, intenta-se que a família de origem possa receber
a criança e/ou adolescente novamente. As Orientações Técnicas para serviços de acolhimento para crianças e
adolescentes, de 2009, estipulam que o período de acolhimento não deve ser superior a dois anos, entretanto esse
tempo é frequentemente extrapolado. Outra dificuldade encontrada no Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e
do Adolescente (SGD) é a manutenção da convivência familiar, em especial quando a criança/adolescente é inserida
no acolhimento institucional. A provisoriedade das medidas de acolhimento pressupõe uma manutenção do vínculo
familiar para que a criança/adolescente, que foi acolhido, possa retornar à família de origem. A partir do
questionamento se a institucionalização seria a melhor opção para o cuidado com crianças e adolescentes, já em
contexto de violação de direitos, SGD aliado ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS) estruturou o Serviço de
Família Acolhedora (SFA) na cidade aqui pesquisada. O objetivo dessa investigação é, então, discutir o modelo de
Família Acolhedora, buscando compreender o que torna este serviço uma família e seus impasses no que tange ao
trabalho de reintegração familiar. A metodologia aplicada foi a análise documental e levantamento bibliográfico,
considerando: textos legais acerca da Infância/Juventude, normas e orientações técnicas referentes ao Programa de
Acolhimento Familiar e à rede socioassistencial; publicações acadêmicas sobre a temática aqui apresentada. Esse
trabalho é guiado pelo referencial da Psicologia Social Jurídica, visando buscar caminhos para a compreensão sobre a
família acolhedora, mantendo um compromisso ético e político com os direitos humanos. Sua relação com o eixo 09
decorre do propósito de discutir as violações perpetradas em desfavor de crianças e adolescentes e da família de
origem em interconexão com as propostas de políticas públicas no campo da assistência social, especificamente, a
Família Acolhedora. Com relação ao GT, cabe destacar que a proposta, aqui apresentada, é de debater uma política
pública do SUAS e como esta afeta um grupo social e seus atravessamentos junto ao Sistema de Justiça. Em Belo
Horizonte, o programa se estrutura em duas modalidades, segundo Orientações do Serviço de 2016 e a Lei Municipal
nº10.871/2015. Na Modalidade I, só são encaminhados acolhidos cujos casos apresentam a possibilidade de
reintegração familiar, e as famílias participantes não podem solicitar a adoção. Já a Modalidade II, é direcionada às
crianças que não tem chance de reintegração familiar e as famílias acolhedoras podem ter a pretensão de adotar
desde que não existam postulantes à adoção cadastrados interessados. Nesse formato, as famílias acolhedoras não se
submeteriam ao processo de habilitação para adoção, sendo considerada uma adoção de fato pautada no vínculo
socioafetivo. Nesse sentido, alguns questionamentos são oportunos, a saber por que a Família Acolhedora é
denominada família? A convivência promovida pelo programa seria familiar ou comunitária? Qual convivência familiar
ele está favorecendo? A família de origem, ficaria teria o contato com a criança/adolescente mediado pelo SGD, pela
rede socioassistencial ou pela família acolhedora? Qual é a origem nacional e internacional desse Programa? Como
outras experiências podem auxiliar na implementação e reflexão sobre o programa em Belo Horizonte? Autores
apontam que a família acolhedora seria uma resposta para a manutenção do direito à convivência familiar, entretanto
cabe questionar quais desses pontos são de fato contemplados pelo Serviço e se isso alcança a família de origem.
Mesmo com os formatos do SFA, em modalidades e seus pré-requisitos, as famílias de origem podem não conseguir
acesso pleno às crianças e adolescentes, nem às políticas que possam auxilia-las a reverter ou sanar as demandas que
originaram o afastamento da prole. Apesar da medida ser estruturada no intuito de ser provisória, vínculos
estabelecidos com os acolhidos corroborados pelo argumento da socioafetividade apresentado ao Judiciário, têm
levado à acolhimentos de longa duração e até mesmo a adoção por parte das famílias acolhedoras. Assim, uma
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possibilidade que surge para dar suporte às famílias de origem é a guarda subsidiada. Compreende-se que o
investimento em políticas públicas deve incluir o apoio à família de origem, a fim de corroborar o prescrito na
legislação da infância/juventude a respeito da prioridade para a reintegração familiar.

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Honoris Causa: Gênero e sexualidade na jurisprudência dos Tribunais de Justiça do sudeste brasileiro
Autores: Gustavo Henrique Pereira Ribeiro, UFMG; Lisandra Espíndula Moreira, UFMG
E-mail dos autores: gustavohpribeiro@gmail.com,lisandra.ufmg@gmail.com

Resumo: O Código Penal Brasileiro dá à honra a máxima proteção jurídica, entendendo-na, na lição de Nelson Hungria
(1980, p. 39), quer como o sentimento de nossa dignidade própria [...], quer como o apreço e respeito de que somos
objeto ou nos tornamos merecedores perante os nossos concidadãos. Nucci (2017, p.238) assevera que Honra não
pode ser, pois, um conceito fechado, mas sempre dependente do caso concreto e do ângulo que se está adotando.
Assim, o Estado-Juiz, quando provocado, passa a ter o dever de manifestar-se sobre a própria honorabilidade de
alguém, definindo, em concreto, a própria honra e a lesividade de um enunciado a esse bem jurídico, penalizando
aqueles que logram contestar a reputação ou o sentimento de dignidade próprios de um indivíduo.
Nesse contexto, valendo-se dos procedimentos componentes da análise do discurso como propostos por Michel
Foucault (FOUCAULT, 1996), esse trabalho analisa os enunciados encontrados em acórdãos dos Tribunais de Justiça do
sudeste brasileiro sobre a honra individual, a partir das categorias do gênero e da sexualidade, buscando compreender
as relações entre esses discursos e a violência normativa nos processos de subjetivação (BUTLER. 1997). Para tanto,
foram analisados acórdãos dos Tribunais de Justiça do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo,
acumulados por meio de pesquisa aos acervos públicos disponíveis nos sítios eletrônicos das referidas instituições.
Para a composição do corpus da pesquisa, foram buscados acórdãos com descritores relacionados ao gênero e à
sexualidade (LGBT, homossexual, transexual, travesti, lésbica, sapatão, gay) cruzando com o descritor honra.
A estratégia metodológica de cruzar honra com descritores referentes à sexualidade foi construída a partir de
pesquisa anterior em outra região do Brasil em que essa questão aparecia tanto como argumentação/justificativa para
situações de violências tratadas em documentos penais, quanto em solicitações de reparação por danos morais. É de
se considerar que, no processo penal, as batalhas argumentativas travadas em juízo têm como objetivo a produção de
uma verdade essencialmente processual, cuja certeza é dada exclusivamente pela legalidade do processo no qual foi
produzida (PACELLI, 2017). Nesses termos as verdades proferidas pelos Tribunais de Justiça pátrios têm duplo efeito,
quando enunciadas: a influência na órbita de direitos de uma pessoa – privando-a de direitos no caso de condenação
ou libertando-a do processo se declarada sua inocência; e a enunciação de discursos os quais, uma vez tidos como
verdade, passam a influenciar não só o caso concreto em análise, mas todo o sistema jurídico nacional, considerando-
se a força normativa atribuída à jurisprudência pelo ordenamento pátrio. Para além do peso jurídico dessas decisões,
compreender as relações de poder aponta para formas de sujeição e regulação que produzem subjetividades. (1) o
poder regulador não age apenas sobre um sujeito pré-existente, mas também delimita e forma esse sujeito; além
disso, toda forma jurídica de poder possui efeito de produção; e (2) tornar-se sujeito de uma regulação equivale a ser
assujeitado por ela, ou seja, tornar-se sujeito precisamente porque foi regulado. (BUTLER, 2014, pg 251)
Considerado o silêncio legal brasileiro no tangente à cidadania e direitos da população LGBT, é na jurisprudência, no
embate judicial, que esses sujeitos surgem juridicamente e passam a ser reconhecidos a partir da verdade criada no
processo. Nesse ponto, a análise judicial da honra observada a partir dos marcadores de sexualidade passa a refletir
valorações dotadas do status de verdade jurídica da honorabilidade desses sujeitos, (re)criando noções e definições
acerca de quem são.

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Para além das grades e prisões: Por uma psicologia crítica frente ao encarceramento em massa
Autores: Lucas Gonzaga do Nascimento, Secretaria de Administração Penitenciária
E-mail dos autores: lucasgonzagapsi@gmail.com

Resumo: O presente trabalho visa problematizar a relação entre a psicologia, o sistema prisional e o fenômeno atual
do encarceramento em massa. Por meio de revisão bibliográfica, buscamos analisar esta relação e propor caminhos
possíveis para os impasses da área, a partir dos conhecimentos advindos da psicologia jurídica, da psicologia social
crítica e da criminologia crítica. O fenômeno do encarceramento em massa ocorre em diversos países ao redor do
mundo, evidenciando verdadeiras políticas de Estado que encontram no aprisionamento a solução para diversos
problemas sociais. O vertiginoso aumento da população carcerária brasileira é um fato já largamente noticiado, apesar
de o reconhecimento do problema não ser suficiente para gerar ações efetivas que visem à sua solução; o processo de
encarceramento em massa atualmente em curso não dá sinal de que deixará de se expandir. A população prisional
brasileira que era de 90 mil pessoas em 1990, chegou em 2014 à expressiva marca de 622 mil pessoas, colocando o
Brasil no quarto lugar do ranking de países que mais encarceram no mundo. É importante ressaltar que, do total de
pessoas encarceradas no Brasil, cerca de 40% não foram formalmente condenadas, cumprindo prisões provisórias.
Tendo em vista as condições insalubres e completamente inadequadas das prisões brasileiras, pode-se compreender
os altos índices de mortalidade no sistema prisional e a dificuldade de se implementar serviços de saúde que sejam
eficazes nesse contexto. Frente a esta realidade, extremamente complexa e multifacetada, são diversos os desafios
para a psicologia. No sistema prisional brasileiro, a psicologia é chamada a princípio não para prestar assistência à
saúde das pessoas privadas de liberdade, mas principalmente para desempenhar avaliações que serviriam de base
para a individualização das penas. Os psicólogos que trabalham no sistema prisional continuam majoritariamente
desempenhando este papel, apesar da luta da categoria pela superação desta lógica avaliativa inerente ao exame
criminológico. Apesar de já existir legislação que retire a necessidade dos exames criminológicos para a progressão de
regime e para a obtenção da liberdade condicional, diversos juízes continuam a solicitá-los para conceder direitos aos
presidiários. Uma das principais lutas da Psicologia nesse campo tem sido a de se afirmar enquanto ciência a serviço
da saúde e do bem estar das pessoas privadas de liberdade, ao contrário de realizar apenas avaliações. No entanto, no
contexto do encarceramento em massa, mesmo que a psicologia fosse completamente livre para ser exercida
conforme o desejo dos psicólogos, muitos desafios ainda restariam sem solução aparente. Isso evidencia discussões
que devem também ser tratadas pela psicologia e que, de certa forma, englobam e vão além da prática profissional
em si. Tais questões envolvem os fatores determinantes do encarceramento em massa e seus efeitos: o caráter
historicamente racista e classista das políticas de segurança pública, a atual política repressiva de guerra às drogas, a
desconstrução do senso comum punitivo que permeia a cultura e os meios de comunicação, a discussão acerca das
possibilidades de assistência à saúde no sistema prisional, dentre outras questões. Torna-se necessário desnaturalizar
a ideia do criminoso como um indivíduo apartado das regras sociais ou portador de algum transtorno, para o qual se
possa fazer um diagnóstico que seja útil às autoridades. São diversos os caminhos pelos quais uma pessoa pode chegar
a prisão, o que não necessariamente implica em comportamentos violentos, como é o caso das já largamente
documentadas prisões injustas de usuários de drogas ilícitas. Correspondendo a cerca de 30% das causas de
aprisionamento no Brasil, os crimes relacionados ao tráfico de drogas representam um dos principais desafios para as
atuais políticas de segurança pública. As Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP s) são um dos sinais mais visíveis do
fracasso da política de enfrentamento bélico ao tráfico de drogas, transformando as áreas mais empobrecidas em
verdadeiros campos de guerra por meio da gestão militarizada do cotidiano das comunidades, evidenciando políticas
de extermínio das populações periféricas criminalizadas. Cabe à psicologia indicar modelos de atenção ao uso
problemático de drogas que rompam com a lógica proibicionista da guerra às drogas. Com relação ao sistema
prisional, uma prática menos alienada é possível, buscando lidar com a subjetividade da pessoa privada de liberdade,
no lugar de seguir no famigerado intento de diagnosticar o criminoso e realizar algum prognóstico sobre seu
comportamento futuro. Além disso, cabe também à psicologia questionar os fatores estruturantes do fenômeno do
860
encarceramento em massa, fortalecendo não só práticas alternativas no sistema prisional, mas contribuindo para a
desconstrução do senso comum punitivo e dos efeitos que ele produz na subjetividade tanto dos presidiários quanto
dos funcionários do sistema prisional e da sociedade como um todo.

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P ti asà otidia asàdosà o selhosàtutela es:àp o le atiza doàoà u doàdasà faltas
Autores: Isabel Scrivano M. Santa Bárbara, UFRJ
E-mail dos autores: scrivano.isabel@bol.com.br

Resumo: O presente resumo é fruto de minha dissertação de mestrado, que problematiza a atuação dos conselheiros
tutelares, pensando os efeitos de suas práticas sobre as famílias atendidas. A pesquisa foi realizada a partir de
reportagens e notícias veiculadas na mídia impressa e em redes sociais e de debates com conselheiros e técnicos do
conselho tutelar de diversas regiões do país. Para tanto, utiliza-se algumas ferramentas da análise institucional de
origem francesa como proposta por Lapassade e Lourau e contribuições de Guatarri sobre a produção de
subjetividades, de Foucault sobre a sociedade disciplinar e Deleuze sobre as sociedades de controle. Para chegar ao
cotidiano dos conselhos tutelares é preciso entender que ao longo dos anos 1990, com a implantação da doutrina
neoliberal que reduziu investimentos na área social e instalou o chamado Estado mínimo no Brasil, vivemos um
importante paradoxo segundo o qual, de um lado, tínhamos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) propondo a
garantia de direitos por meio da participação democrática da sociedade civil em articulação com o governo e que
previa um órgão – conselho tutelar - que deveria reivindicar direitos e, de outro, a política neoliberal, com seus ideais
de desmobilização política, abandono das políticas sociais, privatização e individualização. As análises das práticas
cotidianas dos conselhos tutelares mostram como o órgão, proposto no ECA, para garantir e reivindicar direitos, foi
rapidamente distanciado das suas motivações políticas de mobilização da sociedade civil e transformado num balcão
de atendimento cuja principal função passou a ser o atendimento dos casos, ou seja, das demandas que ali surgem
diária e ininterruptamente. Percebe-se no contato com conselhos tutelares de municípios de diversas regiões do país
que uma participação institucionalizada e regulada acabou consolidando-se, onde participar deixou de ser um ato de
intervenção dos movimentos sociais para se transformar numa simples adesão a campanhas propostas pelo sistema
político. Sendo assim, um dos resultados encontrados na pesquisa foi que, despotencializado do movimento
reivindicativo, o que restou aos conselheiros foi o mundo das faltas (falta de estrutura do espaço físico, falta de rede
de atendimento, falta de participação na elaboração da proposta orçamentária, falta de política pública de qualidade,
falta remuneração adequada, etc.) e o funcionamento sob o tripé vigilância-enquadramento-punição. Nos campos
onde o discurso da falta se apresenta aparece também o discurso da culpa que, excluindo da análise as naturalizações
e institucionalizações presentes nos diferentes estabelecimentos da rede de atendimento, é repassada às famílias
atendidas num discurso individualizado e privatizado onde as mesmas são responsabilizadas por todas as mazelas
sociais. Sendo assim, o termo risco social ou vulnerabilidade social é a cada dia mais difundido por conselheiros
tutelares e especialistas da rede de atendimento que têm utilizado esse rótulo visando disciplinar e homogeneizar as
pessoas atendidas e suas relações familiares como forma de enquadramento social. Pelo fato do Conselho Tutelar
estar ligado ao sistema de garantia de direitos e em interface com a psicologia social e jurídica, acredita-se que o
trabalho tem estreita ligação com o GT Psicologia Social Jurídica: experiências, desafios, especificidades éticas e
políticas em interface com a Justiça do eixo Ética, violências e justiça em tempos de retrocessos mundial e nacional
dos direitos humanos.

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Proteção Integral à adolescência no estado do Rio de Janeiro: em análiseàasà p io idadesàa solutasà oà itoàdoà
Poder Judiciário
Autores: Tatiane Vieira Curi, UFRJ; Hebe Signorini Gonçalves, UFRJ
E-mail dos autores: tatianecuri@gmail.com,hebe@globo.com

Resumo: A análise histórica das políticas públicas voltadas para a juventude no Brasil nos dá conta de que o
tratamento diferenciado aos grupos de infância, separados por condições socioeconômicas, sempre esteve presente
desde seu surgimento. Durante todo o século XX, a expressão menor preencheu a necessidade de diferenciar os bem
nascidos dos potencialmente perigosos para a sociedade, introduzindo um traço diferencial entre crianças e menores
em situação irregular, a estes últimos creditando riscos sociais de ruptura da ordem. Em função dos riscos que
evidenciavam, os menores foram sistematicamente internados, afastados de suas famílias, enquanto que as crianças,
que no século XIX tinham sido enviadas para os grandes internatos, passaram a ser educadas junto aos seus núcleos
familiares de origem, após o disciplinamento das famílias da elite pelos apelos higienistas. (SANTOS, 2011)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8069/90) surge da necessidade de um reordenamento jurídico no Brasil e
propõe a garantia de direitos a todas as crianças e adolescentes, recusando, ao menos na letra da lei, a separação
entre grupos de infância e concedendo-lhes a condição de alvos prioritários das políticas públicas. Também definiu o
princípio da partilha de responsabilidade entre Estado, sociedade e família, na garantia dos direitos sociais e políticos
da infância.
Contudo, observamos facilmente a permanência da chamada perspectiva menorista no trato à infância e adolescência
no país. No estado do Rio de Janeiro, é possível verificá-la na própria estrutura no Sistema de Justiça, na medida em
que as Varas da Infância e Juventude se dividem entre aquelas que cuidam de medidas de proteção ao público em
questão, e as que atendem processos envolvendo ato infracional. Recentemente, estas últimas se dividiram ainda em
duas: Vara de Execução e Vara de Conhecimento, tornando-se cada vez mais semelhantes à estrutura do Sistema
Penal. Além disso, desde 2003 houve separação também na estrutura da Polícia Civil, sendo criada a Delegacia de
Atendimento à Criança e Adolescente Vítima (DECAV), com vistas a distinguir o atendimento oferecido à infância e
adolescência vítima de violência, do atendimento oferecido aos adolescentes autores de ato infracional.
Importante destacar que, apesar da dicotomização entre vítima/autor de violência indicada no tratamento oferecido
aos grupos de infância, grande parte dos adolescentes que se envolvem em ato infracional se encontram em situação
de risco e vulnerabilidade social e, portanto, demanda proteção especial do Estado. Ressalta-se ainda a previsão no
Estatuto da Criança e do Adolescente da possibilidade de composição conjunta das medidas socioeducativas
(aplicáveis ao adolescente autor de ato infracional como forma de responsabilização pelo ato) e medidas protetivas
(aplicáveis com vistas a resguardar o direito violado).
Assim, o presente trabalho propõe apresentar a pesquisa em desenvolvimento, do curso de doutorado da autora,
sobre a proteção à adolescência no âmbito do Sistema de Justiça do Rio de Janeiro, que tem como campo o estágio
realizado por graduandas (os) em psicologia da UFRJ na 2ª Vara da Infância, Juventude e do Idoso do Rio de Janeiro. O
referido estágio é coordenado pela autora e sua orientadora do curso de doutorado, a professora Hebe Signorini
Gonçalves. A pesquisa tem como um dos eixos de investigação, a aplicação pelo Poder Judiciário de medidas
socioeducativas em composição com as protetivas, aos adolescentes autores de ato infracional e em condição de risco
social. Assumindo uma compreensão Foucaultiana de exclusão/inclusão social como pertencentes a um mesmo
processo normativo de controle e gestão social, a inclusão como positividade da exclusão, observamos estarem
também os dispositivos voltados à proteção funcionado dialogicamente com os processos de vulnerabilização e
criminalização de certos grupos de adolescentes.

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Protege-RS: relações entre justiça, segurança e direitos humanos
Autores: Pâmela Nische Alves, UFRGS; Neuza Maria de Fátima Guareschi, UFRGS
E-mail dos autores: pamelanische@gmail.com,nmguares@gmail.com

Resumo: O PROTEGE-RS é um programa de Estado atualmente vinculado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos
do Rio Grande do Sul e tem seu marco regulatório através da lei federal 9.807 de 13 de julho de 1999, que estabelece
a criação do Programa Federal de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçada e prescreve a criação de programas
estaduais, atuando nos Estados onde não há programas de proteção em execução. A lei federal regulamenta também
o depoente especial, amparando as situações onde ocorra o rompimento de membros de organizações criminosas
afim de auxiliar processos investigativos. Sua parceria com os Estados se dá através de convênio de repasse de
recursos, bem como fiscalização da execução dos programas em cada Estado. No Rio Grande do Sul, o programa foi
instituído através da lei estadual 11.314, de 20 de janeiro de 1999, e regulamentado pelo Decreto 40.027, de 27 de
março de 2000. Uma das principais peculiaridades do PROTEGE-RS se dá na sua execução realizada pela própria
máquina estatal. Nos demais Estados federativos, inclusive o Programa Federal, a execução dos programas de
proteção é gerida por organizações não governamentais, sob a justificativa da necessidade de sigilo e proteção total
das vítimas e testemunhas que necessitam incluir nestes programas, uma vez que não é incomum a delação de
violações cometidas pelo próprio Estado, geralmente na figura de policiais corruptos e milicianos, agentes
penitenciários, delegados, juízes, dentre outros. Desta forma, destaca-se a ocorrência de violências de Estado no cerne
da criação destes programas de proteção, que são criados para dar conta de situações específicas, onde comumente a
justiça não consegue atuar através das legislações vigentes. O presente trabalho tem como objeto de discussão do
Programa Estadual de Proteção, Auxílio e Assistência a Testemunhas Ameaçadas do Rio Grande do Sul, aqui abordado
pela sigla PROTEGE-RS. Esta discussão decorre de uma experiência de trabalho neste campo, como membro da equipe
técnica interdisciplinar de apoio às testemunhas atendidas por esta política pública. No decorrer do trabalho
desenvolvido neste programa, alguns questionamentos ganharam corpo, no que tange o modo como esta política
publica passou a ser desenvolvida neste Estado. Uma das especificidades deste programa no Estado do Rio Grande do
Sul é a sua execução direta realizada pela Secretaria de Justiça e Segurança e o fato de destinar-se unicamente a
testemunhas arroladas à processos judiciais e depoentes especiais e não para possíveis vítimas de violência de modo
geral. Desta forma, nos colocamos a questão sobre o fato de um programa de proteção torna-se uma ferramenta de
uso processual e de como a segurança se articula com a proteção, bem como os efeitos disso na execução desta
política pública. A partir disso analisamos o reflexo desses modos de gestão à vida dos usuários que compõe tal
política, uma vez que passam a ser protegidos no momento em que se estabelece algo de valor a dar em troca, ou
seja, o seu testemunho, bem como quais dispositivos atuam nesta forma de proteção. Para este debate dialogamos
com os conceitos de biopolítica, governamentalidade e dispositivo de segurança, de Michel Foucault para pensarmos
os reflexos desta política pública nos sujeitos que compõe a política. Os apontamentos a partir de nossas
problematizações é de como a noção de proteção abordada pelo PROTEGE-RS se faz a partir de um apagamento da
história de vida destes sujeitos, dada a interferência direta e obrigatória por parte do Estado. Ainda, de como as
testemunhas tem seus direitos fundamentais colocados em suspensão, em nome da proteção e da segurança, onde
paradoxalmente ao mesmo tempo em que o Estado protege, ele também desprotege. Assim, acreditamos que o
diálogo com o grupo de trabalho acerca da psicologia social jurídica, fica respaldado na temática central do referido
trabalho pela atuação do psicólogo nesta área, que se encontra inserido numa intersecção entre direitos humanos,
segurança pública e o poder judiciário. Com isso podemos a abordar de maneira ético política as práticas que se
produzem nestes espaços, bem como os efeitos subjetivantes produzidos nos sujeitos desta política pública como
aponta a proposta do GT em questão.

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Relatos de experiência sobre a formação e a atuação do(a) psicólogo(a) social no Sistema Único de Assistência Social
em interface com a Justiça
Autores: Halanderson Raymisson da Silva Pereira, FIMCA
E-mail dos autores: halandersonpereira@gmail.com

Resumo: Este trabalho pretende problematizar e discutir, a partir das experiências como supervisor de estágio em
psicologia social de uma instituição privada e trabalhador do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, a formação e
a prática do psicólogo social no âmbito da política de assistência social. A atuação desse profissional demanda uma
articulação em equipes multiprofissionais, com políticas intersetoriais e com outras instituições. Entretanto, a
articulação interinstitucional, principalmente com o poder judiciário, traz desafios, suscitando um posicionamento
ético-político do profissional de psicologia, o qual não raramente é intimado e intimidado a prestar esclarecimentos
ou produzir pareceres como peça de um processo, envolvendo os sujeitos por ele atendidos nos equipamentos que
executam a política de assistência social, principalmente nos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS e nos
Centros de Referência Especializados de Assistência Social- CREAS. Nesse sentido, a produção de um relatório que
contemple a contextualização do acompanhamento da família ou de como ela é afetada pelas desigualdades sociais,
inclusive com relação a sua capacidade de proteção, pode ser compreendida pelo magistrado como uma inabilidade
do profissional em posicionar-se diante dos fatos. Fatos estes analisados por especialistas da política de assistência
social (psicólogos(a) e assistentes sociais) sobre as condições de existências das famílias, que em muitas situações não
participam ativamente da construção dessa análise, tornando-se meros espectadores e ou objetos de um estudo que
criminaliza a pobreza e culpabiliza o sujeito pelo seu insucesso como pai, mãe, trabalhador e agente produtivo da
sociedade. Para discutir a prática do psicólogo social é imprescindível pensar como ocorreu seu processo formativo,
considerando os aspectos teóricos e práticos presentes em sua trajetória acadêmica e em sua formação continuada, a
qual é uma das prerrogativas do SUAS. A experiência como supervisor de estágio em psicologia social há mais de cinco
anos, tem sinalizado a predominância de uma formação essencialista, acrítica, que naturaliza os fenômenos sociais. Ao
adentrarem nos campos de estágio, principalmente nos equipamentos do SUAS, o(a) estagiário(a) tem demonstrado a
necessidade de revisitarem criticamente sua formação, considerando que a tradição clinicista não responde, sozinha,
teórica e metodologicamente, a complexidade dos fenômenos presentes neste campo de trabalho. A atuação a partir
de uma perspectiva participativa, coletiva, que considera o sujeito atendido como protagonista da transformação
social, inicialmente são percebidas com estranhamento, uma espécie de confronto do saber da vida cotidiana com o
saber hegemonicamente constituído no espaço acadêmico. Os atendimentos e intervenções iniciais, são guiados
pelos(a) estagiários(a) por meio de uma escuta dos sofrimentos, patologias, desestruturas e faltas, porém o espaço das
supervisões e principalmente os espaços em que os(a) estagiários(a) se inscrevem como profissionais da psicologia,
tem se mostrado dispositivos importantes para desconstrução e produção de outros saberes. Contudo, ao serem
instigados a discutir como o saber se estabelece entre os demais especialistas que compõe a rede de atendimento, há
um maior tensionamento sobre a legitimidade de um saber em detrimento de outros. Há contundentes
questionamentos dos(a) próprios(a) estagiários(a) com relação a prática dos profissionais de psicologia que os
acompanham nos diversos campos de atuação, entre as quais destacam-se: a ausência ou fragilidade de marcadores
teórico-metodológicos que norteiam suas práticas profissionais, a predominância de concepções essencialistas e
naturalizantes dos fenômenos sociais e a dificuldades do exercício do trabalho em grupos, considerando as
territorialidades e as diversas formas de (re)existência dos sujeitos. A inter-relação da Teoria crítica e da psicanálise no
estágio em psicologia social tem alimentado o propósito de repensar como os processos de subjetivação e
(des)subjetivação se constituem e como o sujeito se estrutura, desloca e se reinventa nesses espaços tensionados
pelas relações de poder.

865
GT 40 | Psicologia Social, História e Poder: entre a reprodução e a ruptura

Coordenadores: Fernando Aparecido Figueira do Nascimento, UNIFESP | Gil Gonçalves Junior, FAPSS | Thiago Bloss de
Araújo, CREAS - Prefeitura de Santana de Parnaíba

Objetivo do Grupo de Trabalho


Considerando que analisar a constituição histórica de um campo, de um saber ou de uma ciência é elaborar a história
de seu presente (MANCEBO, 2004), esta proposta de GT tem por objetivo compreendero processo histórico de
constituição do discurso e das práticas psicológicas no Brasil, tendo em vista que a reflexão sobre estas atuais práticas
eàso eàasàteo iasà ueàaài fo a à[ ào]à ueà o eàaà us aàdasà aízesàhist i asàdessaà i ia à PáTTO,à ,àp. .
Do mesmo modo, a reflexão sobre o processo de constituição dos discursos psicológicos possibilita compreender a
construção de práticas que historicamente colaboraram com a psiquiatria e a medicina social na caracterização dos
indivíduos e para a construção de estratégias que tinham como objetivo a formação de um caráter, uma identidade
a io alàeàdeàu aàfo teà aç oà FáCHINETTI,à .Espe ifi a e te,àaàp e issaàpa aàaàfo aç oàdaà aç oà asilei a à
pressupunha a ideia de rege e aç oà daà açaà a io al ,à ouà seja,à aà u aà deà u à po oà suposta e teà doe teà
(SCHWARCZ, 2008), constituído em sua maioria de pretos e pobres.
Por outro lado, no campo de aproximação entre a Psicologia e a História, novas áreas de pesquisa emergem com uma
di e s oà ultidis ipli a ,àeà estaài te fa eà ... àdefi e -se também formas novas de colaboração entre Psicologia e
História e criam-se,à esteà do í io,à a o dage sà i ditasà pa aà aà leitu aà eà i te p etaç oà dosà do u e tos à Má““IMI,à
2010).
Prost (2008), no campo da historiografia francesa, ao escrever sobre os modos de inteligibilidade do homem, entre a
explicação e o controle das ciências naturais, e a compreensão das ciências sociais e humanas, define o objeto da
história como sendo o homem e sua ação na sociedade. Ao retomar as proposições de Febvre (1953), caracteriza o
objeto da história em três perspectivas: a história coletiva, a história da vida material, o objeto concreto. Este último
sig ifi aàdize à ueà ... àeleàest àsituadoà oàespaçoàeà oàte po,à ueàte àu aàdi e s oàdia i a à P‘O“T,à ,àp.à
136).
Deste modo, percebe-se com essas definições a aproximação da história com o campo da Psicologia Social
(KLAPPENBACH, 2006),sobretudo se retomarmos a definição de Gergen (1973) sobre a Psicologia Social como História:
o saber científico sobre o homem e suas interações não pode ser acumulativo no sentido usual da ciência, já que o
conhecimento não transcende suas fronteiras históricas. Torna-se assim importante para a Psicologia e a Psicologia
Social a compreensão dos aspectos sociais, políticos, geográficos, econômicos e ideológicos.
Na perspectiva da construção de uma história do presente que, portanto se relaciona com os processos grupais e
materiais, Hobsbawm (2013), relevando a relação do indivíduo com a história traz que:
Ser membro de uma comunidade humana é situar-se em relação ao seu passado (ou da comunidade), ainda que
apenas para rejeitá-lo. O passado é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um componente
inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade (p. 25).
Pois, em sua relação com o passado e a epistême que permite sua emergência, transversalizada por uma trama
discursiva, institucional, material e histórica, as ciências humanas, em especial a Psicologia, encontram-se ainda em
seu presente dispostas frente aos problemas sobre o normal, a produção do real e seu papel ético-político.
Nesse sentido, Mello e Patto (2012), ao escreverem sobre a formação em Psicologia,relevam o caso de dois irmãos
assassinados pelo pai e pela madrasta após serem entregues para a família, apesar de todo o histórico de violência
sofrida pelas crianças. Peça importante deste processo foi o parecer da psicóloga que afirmara, de maneira
i espo s el,à ueà asà ia çasà a ipula à aà ealidadeà pa aà o segui à a tage s .à Oà laudoà asà diag osti a aà o oà
mentirosas,desonestas e dissimuladas. Segundo as autoras, a reprodução de estereótipos e de preconceitos de classe
não é um fenômeno raro em laudos psicológicos (MELLO & PATTO, 2012, p. 18), sendo uma realidade presente na
própria constituição da Psicologia enquanto ciência (PATTO, 1999). Segundo Lima (2012), as teses dos movimentos
higienistas das primeiras décadas do século XX predominam com força no senso comum e, com alguma intensidade,
na formação e atuação em Psicologia.
A historiografia crítica da Psicologia tem revelado a vinculação desta ciência, desde sua fundação no século XIX, a
discursos de cunho racista, higienista e direcionados à explicação da desigualdade entre os seres humanos a partir de
questões meramente individuais e, muitas vezes, apoiadas no evolucionismo social de Spencer e no positivismo de
Comte. Sob este espectro, o discurso psicológico destinado à produção e ao entendimento de um sujeito enquanto
ada à u p iuàu àpapel político fundamental às classes dominantes ao conceber um indivíduo isolado, resignado
866
ao poder, disciplinado e alheio aos reais processos de subjetivação e objetivação que incidem em sua (re)produção.
Concomitantemente, este discurso psicológico colocava-se sob uma suposta posição de neutralidade e objetividade,
acreditando-se desvinculado de qualquer tipo de ideologia ou interesse de classe.
Ca e,àe t o,à efleti à ueàoàe e í ioàdeà histo ia àaàpsi ologiaàfazàe e gi àp o le asà ueàs oàfu da e taisàpara sua
historiografia: as relações entre as sucessões lineares, rupturas e continuidades, a causalidade e o método. Não é
possível encontrar, na perspectiva de uma análise arqueológica dos discursos, a partir da análise de campos
específicos tais como a loucura ou a medicina social, uma completa linearidade entre um período e outro (FOUCAULT,
2013). Em outras palavras, a história do presente nos faz compreender que a emergência de um saber, em toda sua
relação com os jogos de verdade e poder, encontram-se condicionados, situados em uma ordenação discursiva,
epistêmica e histórica. Por outro lado, sob outra perspectiva, é possível pensar o objeto da historiografia pelo jogo
dialético entre sincronia e diacronia, assim como uma síntese de rupturas e continuidades que, em suas contradições,
constituem a totalidade de determinado período histórico (LUKÁCS, 2003).
Portanto, o exercício de refletir sobre os discursos e práticas psicológicosno decorrer da História, através de diferentes
perspectivas historiográficas e epistemológicas radicais, pretende não apenas a realização de um debate
interdisciplinar, mas que revele diferentes posições críticas sobre um objeto, eventualmente, comum: as atuais
práticas psicológicas cotidianas. Sinteticamente, uma historiografia que se pretende crítica, deve pressupor que:
Ir à raiz de conceitos, sistemas de conhecimento e métodos da psicologia significa esquadrinhar (criticamente) as
teorias e práticas atuais dos psicólogos e alertá-los do aprisionamento da especialização; das determinações políticas
da racionalidade que preside seus pensares e fazeres; de sua dimensão histórica; da amnésia da gênese que os assola;
de suas concepções naturalizadas de homem e de sociedade; de sua ação feita de esquecimentos (...) tudo isso para
pensar os compromissos que a engendram, dos quais ela tem se mostrado insciente. Escrever a história da psicologia
é, assim, uma atitude política, é comprometer-seà o àaàdi e s oà ti aàdessaà i iaàeàp ofiss o à PáTTO,à
Qual a relação deste GT com o tema do encontro?
A temática proposta para o Grupo de trabalho relaciona-se com os vários elementos temáticos do encontro.
Primeiro, a presença de psicólogos sociais no campo das políticas públicas demandam a compreensão dos conceitos
fundamentais que direcionam suas práticas. Portanto, noções como Estado, sujeito e sociedade transversalizam sua
prática cotidiana e, entendendo ou não a dimensão e potência política de seufazer, o psicólogo social enfrenta ainda
os efeitos das diferentes vestimentas do discurso liberal, que naturaliza os processos históricos de exploração, de
controle e extermínio das populações.
Segundo, o processo de exclusão no Brasil evidencia a presença dediscursosque se legitimaram através da
manutenção de práticas segregacionistas, escravocratas e defensoras de privilégios de classe, historicamente
enraizadas desde a formação da sociedade brasileira.
Qual a relação com o eixo temático escolhido?
Nossa proposta aproxima-seà doà ei oà à so eà aà Psi ologiaà “o ial:à uest esà te i asà eà etodol gi as na pesquisa,
p oduç oà deà o he i e toà e/ouà i te e ç es .à Naà edidaà e à ueà p ete de osà ealiza à out asà histo iog afiasà eà
compreender a produção de conhecimento e das práticas em Psicologia Social, tais temáticas tornam-se importantes
por consolidar uma ruptura, sem nenhum tipo de continuidade, com uma ciência que, negando sua dimensão política,
contribui com a produção de novas formas de sofrimento ético-politico.
Assim, em pleno acordo com a ementa do eixo, temos o objetivo secundário de promover o debate entre diferentes
prismas críticos, tendo em vista a multiplicidade epistemológica em torno da historiografia crítica da Psicologia. Nesse
sentido, o entendimento da história enquanto síntese de continuidade e ruptura, revela possibilidades de
(des)encontro de leituras históricas ao mesmo tempo que abre caminho para um direcionamento ético-político
comum entre as diferentes proposições teórico-metodológicas críticas, quando entendidas como parte de uma
unidade que sintetiza diversidades.
Que tipo de trabalho será acolhido e quais as discussões que o GT pretende promover?
O Grupo de Trabalho tem a proposição de acolher trabalhos que adotem uma perspectiva histórica e crítica sobre a
constituição da Psicologia e da Psicologia Social no Brasil, além de trabalhos que desenvolvam reflexões teóricas e
metodológicas sobre a práxis do psicólogo social.

867
A análise de Dante Moreira Leite acerca do caráter nacional brasileiro
Autores: Maria Amélia, UNISEP
E-mail dos autores: ameliagullnitz@gmail.com

Resumo: Este trabalho relata a pesquisa de doutorado defendida no PEPG Educação: História, Política, Sociedade, da
PUC-SP, e visa discutir parte da obra de Dante Moreira Leite, intelectual que exerceu importante papel na história da
Psicologia brasileira por meio de sua atuação na regulamentação da profissão de psicólogo, da divulgação da ciência,
da tradução de 49 livros de Psicologia, Sociologia e Educação e como pesquisador de temas de Psicologia e Educação,
dentre os quais destacam-se o preconceito, a ideologia e o caráter nacional brasileiro. É importante resgatar sua obra,
pois, o pesquisador debate temas não superados, que permanecem em discussão, entretanto, sua contribuição é
pouco discutida atualmente. Em sua tese de doutoramento, intitulada Caráter nacional brasileiro: descrição das
características psicológicas através de ideologias e estereótipos, de 1954, o intelectual examina as teorias de ideólogos
do Brasil que descrevem características do povo brasileiro, analisando as relações entre caráter nacional,
etnocentrismo, nacionalismo, preconceito e ideologia. Conclui que não existe um caráter nacional e que esse conceito
é fundamentado em teorias racistas e empregado como ideologia para justificar diferenças sociais e não significa a
tomada de consciência da unidade de um povo, mas sim um obstáculo na formação de um povo livre. Mais de dez
anos depois, em 1969, o autor publica um livro, intitulado O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia, em
que relata a continuidade que deu a esse estudo, de forma mais detalhada e com a análise de um número maior de
autores e teorias. Chega às mesmas conclusões, com a diferença de que, dessa vez, analisa o pensamento de Caio
Prado Jr., que identifica como forma de superação da ideologia do caráter nacional. Esses estudos são relevantes
porque, realizados em diferentes momentos da trajetória do intelectual, revelam seu desenvolvimento como
pesquisador, conforme avança na compreensão dos temas de seu interesse e porque investigam a sociedade
brasileira, a forma como é retratada na literatura nacional e o pensamento que caracterizava o desenvolvimento
teórico da primeira metade do século XX. As citadas obras são representativas de sua contribuição para a o
conhecimento científico no campo da Psicologia e, por isso, foram escolhidas como fonte para análise desta pesquisa.
As perguntas de pesquisa são: como Dante Moreira Leite desenvolve seus estudos sobre o preconceito? Como o
intelectual relaciona esse estudo à crítica da sociedade: confirmando a realidade vigente e propondo ajustamentos a
ela ou negando-a e propondo mudanças? O objetivo é identificar como o pesquisador desenvolveu os conceitos de
preconceito e ideologia. O referencial teórico para a fundamentação da pesquisa e análise é a teoria crítica da
sociedade. Conclui-se que as pesquisas do autor são de grande relevância para a Psicologia Social brasileira, mas falta
à Psicologia uma teoria social que explique os problemas por ele levantados. O conceito de ideologia por ele utilizado
refere-se a um conjunto de teorias e ideias pretensamente científicas que, no entanto, não tem embasamento para
ser consideradas científicas. Não se trata do conceito marxista, de ocultamento da realidade, nem do conceito da
teoria crítica de mentira manifesta, mas sim de ideologia no sentido de justificação da sociedade e não explica
suficientemente os resultados por ele obtidos, nem nega a organização social vigente, propondo sua transformação.
Entretanto, a discussão que desenvolve e os resultados alcançados são importantes para a compreensão do
desenvolvimento científico da Psicologia brasileira, por isso tem relação com o GT 40: Psicologia Social, História e
Poder: entre a reprodução e a ruptura , pois, considera-se que sua pesquisa rompe com as teorias vigentes,
predominantemente racistas que explicavam a situação do Brasil, justificando a dominação de uma classe sobre a
outra.

868
A psicologia e o percurso brasileiro para as políticas de saúde mental infantil
Autores: | Clariana Morais Tinôco Cabral, UFRN; Rosângela Francischini, UFRN
E-mail dos autores: clariana.morais@gmail.com,rofrancischini@gmail.com

Resumo: O presente estudo assume a perspectiva de narrar a construção e a constituição ideológica das políticas em
saúde mental para a infância no Brasil, tendo por objetivo analisar o cenário histórico de construção dessas políticas
de saúde mental desde sua matriz até a criação do CAPSi, e como a psicologia enquanto ciência influiu nesse processo.
Assim, esse trabalho coaduna com a proposta do GT 40, Psicologia Social, História e Poder: entre a reprodução e a
ruptura , na medida em que percebe que compreender o processo de construção de uma determinada prática
científica em um determinado momento histórico traduz saberes e fazeres ideologicamente construídos. A psicologia
e a pedagogia tomaram destaque na elaboração das políticas em saúde mental para a criança no Brasil, e no
intencional controle sobre a infância. Família, Escola e Medicina cuidariam para que fosse preservado o que
classificaram como inocência e pureza das crianças, destacando a apropriação racionalista dos elementos sociais para
a afirmação de uma nova ordem, a criação proposital de um novo modo de operar sobre o humano. Não somente a
escola e a família, mas principalmente as ciências psiquiátrica e psicológica, deram suporte à construção da infância
moderna, bem como, em larga escala, para a generalização de governamentalidade (Foucault, 1979/2014) desse
grupo social. A estrutura de controle sobre a criança se estendeu das escolas para os asilos para alienados, utilizando-
se, ambas, dos métodos pedagógicos; o idiota ou o retardado mental não eram doentes, mas anormais , uma
categoria distinta de alienação (Foucault, 1973/2006). Capturada pela ciência psiquiátrica, a criança anormal asilada
serviu a dois senhores: à pedagogia e à psiquiatria; ao mestre e ao médico. Regida pelas noções abstratas de loucura,
psiquiatria e educação exerceriam o mesmo papel social a partir, não das similaridades, mas das oposições, sob o
olhar atento das políticas higienistas aplicadas na primeira metade do século XX no Brasil, que adotaram métodos de
intervenção originados, sobretudo, da França, aplicando as teorias de Pinel, Seguin e Bouneville. A fundação, no início
do século XX, dos pavilhões-escolas se configurou como marco que combinava práticas em saúde e práticas
pedagógicas como forma de tratamento para os pequenos anormais. Todas as ações e serviços criados até então não
faziam parte de um plano de gestão governamental em saúde mental, mas ações isoladas de um contexto social e
cultural mais amplo e complexo. Foi com a implantação das Conferências Nacionais de Saúde (CNS) que os agentes
políticos passaram a problematizar e a propor modelos de gestão mais organizados e sistematizados. Nesse sentido, os
objetivos específicos dessa pesquisa intencionaram: a) resgatar e analisar, pela perspectiva da saúde mental infantil,
os documentos produzidos a partir das (CNS) e de Conferências Nacionais de Saúde Mental (CNSM); b) analisar o
cenário histórico que perpassou a criação dos CAPSi no Brasil; c) identificar e analisar as práticas e os discursos
utilizados para legitimar a implementação da política de saúde mental no CAPSi, bem como o discurso da ciência Psi
nela inseridos. Para isso, submeteu-se à análise de discurso foucaultiana dados de pesquisa documental em relatórios
e documentos oficiais. Os relatórios das CNS evidenciaram estas como espaço de discussão sobre a criança,
primeiramente a criança deficiente e posteriormente a criança diagnosticada com transtornos neuróticos e psicóticos
graves, passando pela saúde da parturiente enquanto política de controle da saúde mental infantil. Já as CNSM se
inseriram no processo político de reforma do modelo psiquiátrico, abrindo espaço para o debate direto e efetivo do
projeto de implantação dos CAPSi s. As CNS registraram pequenos fragmentos da grande lacuna existente sobre as
políticas de saúde mental para a infância e abriram precedente para a realização das Conferências Nacionais de Saúde
Mental (CNSM), eventos politicamente mais consistentes e cujas propostas sugeriram a mudança do status quo,
apoiando e sustentando a efetivação dos Centros de Assistência para a Infância e Adolescência (CAPSi). Ao principiar o
levante, acabaram por fornecer um espaço, embora ainda estigmatizado, de mobilização por novas práticas
principalmente no campo da psicologia. Contudo, dominado pelo desinteresse coletivo do Estado em abordar o tema
869
pela perspectiva da saúde, o movimento de desestabilização e de criação de novos fazeres acabou por se ver preso no
labirinto de formas antigas de pensar a saúde mental infantil, correndo o risco de serem novamente capturados pelo
arcabouço ideológico Psi de padronização e normalização. Deste modo, os desafios se apresentaram contínuos e
incessantes.

870
Articulações entre psicologia e educação no início do século XX: Manoel Bomfim e Isaías Alves
Autores: Laylan Batista Lopes da Silva, UFRJ
E-mail dos autores: laylan.blopes@gmail.com

Resumo: A pesquisa analisa historicamente produções textuais em psicologia e educação buscando visibilizar a
circulação de conhecimento e a história da psicologia no Brasil do fim do século XIX e início do XX. Objetivando
conhecer os usos da psicologia na Educação, visamos entender a inserção das ideias psicológicas e sua articulação ao
projeto de progresso da nação, as reverberações da psicologia no campo educacional e o diálogo com as produções
estrangeiras, europeias e americanas. Analisamos América Latina: Males de origem, de Manoel Bomfim, que serviu de
disparador para reflexões contrárias às crenças hegemônicas da ciência positivista presente nas produções intelectuais
e psicológicas de então. Tal posicionamento emana do debate sobre o projeto político de educação e sociedade que
não fomentava as ideias deterministas e biológicas do atraso brasileiro condicionados à questão das raças. Neste
período as ideias eugenistas e, em consequência, o higienismo social e mental estavam em alta e influenciaram as
produções intelectuais evidenciando a centralidade da temática racial na análise das produções de psicologia no
período de introdução da psicologia científica no Brasil. Bomfim propunha que o meio social era um agente no modo
como o indivíduo se constituía e defendia a ideia de que a psicologia não poderia ser feita somente em laboratórios
controlados, por que estes não representariam a realidade, o autor era crítico do positivismo e sua pressuposição de
neutralidade científica. A partir da perspectiva de Bomfim e das referências de sua obra, buscamos autores que
embasados em conhecimento psicológico pensavam a educação no Brasil e percebemos o momento de importação da
produção francesa – teste de Binet-Simon – e das produções dos testes daí desencadeadas e disseminadas pelos EUA.
Selecionamos Isaías Alves - chefe do Serviço de Testes e Escalas da Direção de Instrução Pública do Distrito Federal -
em contraponto às concepções sociais da psicologia de Manoel Bomfim de modo que um dos objetivos é a
investigação da produção dos testes relacionada com o esforço de medição dos modelos positivistas (Castro, Castro,
Josephson, & Jacó-Vilela, 2015). Verificamos na leitura de Teste Individual de Inteligência e Testes de Inteligência nas
escolas de Isaías Alves o uso da psicologia como uma atitude científica no tratamento dos problemas escolares
(Teixeira, 1932, p. 6). Adaptados e aplicados aos alunos no Brasil com o intuito de homogeneizar as classes na medida
em que os media e classificava. Os testes se difundem a serviço do projeto estatal com base em um viés econômico de
reformulação da educação, reduzindo despesas e aumentando a eficiência da escola sob a justificativa de que eram
métodos de classificação com a menor influência subjetiva possível. Se por um lado os testes classificavam
objetivamente os alunos e garantiam uma apuração criteriosa dos rendimentos destes, propondo melhora no método
de ensino e a reorganização escolar como resposta à disseminação democrática do ensino público, por outro, faz
questionar o quanto essa produção exclui e patologiza partes do alunado, diante das mudanças sócio-urbano-
econômicas e da influência das ideias racistas nas produções tanto nativas quanto estrangeiras. Isaías afirmou que a
situação econômica e social é mais bem atendida se usarmos os resultados da psicologia. Pretende-se evidenciar os
argumentos por meio dos quais a psicologia no século XX se constituiu como instrumento para organização social,
neste caso, junto às práticas educacionais. Pretende-se investigar a participação da psicologia no processo de
expansão do ensino público de proposta inclusiva em contradição com os efeitos produzidos pelas práticas psi que
poderiam servir de ferramenta para exclusão do alunado não branco e pobre. Salientando, também, a relação da
educação com a medicina social e sanitarista, indagando quais os possíveis impactos psicossociais. Manoel Bomfim
elaborou um discurso social e psicológico contra hegemônico e durante certo tempo ficou fora no hall dos clássicos,
interessa pensar suas contribuições psicológicas em contrapartida com os teóricos dominantes e de influência
cientificista europeia e americana. Entendendo a continuidade histórica da psicologia brasileira, é importante
conhecer os percursos que tem potencial para explicar os embates das relações raciais na atualidade, violação de
direitos e sofrimento psíquico da população negra no Brasil. É intuito desta pesquisa participar do GT Psicologia Social,
História e Poder: entre a reprodução e a ruptura e eixo temático Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas
na pesquisa por admitir que a análise histórica da psicologia é necessária para o entendimento de práticas as quais
871
movimentam-se no sentido da concepção do rompimento mas que, na realidade acabam apontando para a
perpetuação lógicas de exclusão. Esta é uma tentativa de contribuir por meio da análise histórica para que a
psicologia, cuja neutralidade historicamente representa um grupo específico, esteja em constante autoanálise de suas
práticas.

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Infância e Consumismo na Contemporaneidade: Um diálogo entre teoria crítica e psicanálise
Autores: Camila Fernandes Troina, UFU
E-mail dos autores: camilatroina@uol.com.br

Resumo: A partir da teoria crítica da sociedade e da psicanálise, o objetivo deste trabalho teórico e conceitual é
problematizar aspectos sociais, culturais e psíquicos do consumismo exacerbado na infância. Para isso, questões
relacionadas à sociedade de consumo e ao alto desenvolvimento tecnológico no capitalismo tardio, que medeiam as
relações sociais atuais serão discutidas para entendermos seus impactos no cerne da dinâmica familiar
contemporânea, posto ser a família o lócus da formação do sujeito, da criança. Longe de tentar reduzir ou acentuar o
problema do consumismo na infância como uma questão meramente psíquica, este trabalho objetiva apontar as
transformações da família, na intenção de se compreender a crise das funções parentais que a literatura psicanalítica
atual vem discutindo (Kehl, 2001; Roudinesco, 2003), ao constatar os aspectos históricos da família contemporânea e
seus efeitos nas formas de subjetivação. A ideia inicial é a de que o consumo dos produtos da Indústria Cultural do
capitalismo avançado na formação das crianças também se vincula à crise da autoridade, esta por vezes devastada
pelos imperativos fornecidos pelas sociedades de massa. Assim, neste contexto, a transmissão da autoridade
encontra-se fragilizada na família contemporânea, cujos efeitos na criança podem incidir na maior possibilidade desta
ser capturada pelos ditames impostos pela publicidade (o Consuma! , o Compre! , o Goze! ) gerenciada pela
sociedade de consumo. Para efeitos deste trabalho discutiremos o conceito de Indústria Cultural, termo cunhado
pelos autores da teoria crítica – Marcuse, Adorno e Horkheimer – para analisarmos os impactos da sociedade de
consumo do capitalismo avançado na formação de crianças, bem como os mecanismos de controle da subjetividade
utilizados pelas sociedades de alto desenvolvimento tecnológico para perpetuação de interesses econômicos, fazendo
ainda, uma breve digressão, a partir de conceitos da psicanálise lacaniana, sobre a estruturação do sujeito. Também
adentraremos nos aspectos históricos das configurações de familias e suas dinâmicas internas, pensando o efeitos das
relações sociais proporcionadas pelo capitalismo tardio, assim ressaltando as noções de crise de autoridade e de
fragilização da transmissão simbólica discutidas por autores da psicanálise contemporânea, a fim de relacionarmos
aos aspectos subjetivos encontrados na relação da criança com o consumismo. Visto isso, problematizaremos, enfim,
os efeitos na infância dos aspectos discutidos acerca da indústria cultural e das modificações no âmbito familiar, com a
pretensão de compreender minimamente como o aparato da sociedade capitalista usufrui e se aproveita da
característica mais fundamental do sujeito humano: o desamparo e a angustia que o sucede. É neste ponto, na
necessidade de uma fantasia, onde o desejo se fixa como forma de defesa a esta angustia do desamparo que o
maquinário da indústria cultural se beneficia e, juntamente com o mass media, implementa um modo de comercio
que produz fantasias e imagens falsas acerca da realidade. A hipótese defendida aqui é então de que essas ilusões são
utilizadas para ludibriar os indivíduos a comprar a ideia de que através do consumismo poderão atingir o
tamponamento da falta, postergando ilusoriamente o encontro com seu desamparo. Apesar de todas essas reflexões
propostas, não queremos dizer com isso que estamos fadados a tal destino inóspito, mas que tais críticas são
desejáveis e necessárias para ampliar o olhar sobre a sociedade e a infância e buscar alternativas que façam frente a
isto, uma resistência que possa ir ao encontro com a promoção da autonomia e da emancipação dos sujeitos.

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Por aventuras mais estranhas: abolicionismo penal e desinstitucionalização dos manicômios judiciários
Autores: Catiuscia Munsberg Carneiro,
E-mail dos autores: catiusciamunsberg@gmail.com

Resumo: Hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico (manicômios judiciários) são locais onde hoje são presas
pessoas acusadas de cometerem algum ato normalmente tipificado como crime e que, numa perícia psiquiátrica,
forem consideradas incapazes de responder judicialmente por este ato em decorrência de algum transtorno psíquico
diagnosticado. Estas pessoas passam a ser chamadas inimputáveis e cumprem uma pena que não é mais chamada de
pena, mas de medida de segurança, que depende de um exame de cessação de periculosidade para ser extinta. Nos
últimos anos, tem se dado em alguns estados do Brasil a tentativa de implementar as políticas da reforma psiquiátrica
neste âmbito, assegurando a possibilidade de atendimento destas pessoas numa perspectiva de atenção psicossocial.
Acompanhamos no Rio de Janeiro reuniões que vêm ocorrendo para discutir estas questões no interior do manicômio
judiciário da cidade de Niterói. Nestes encontros participam estudantes e trabalhadores do próprio local, serviços e
dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial do município e região, Defensoria Pública, Ministério Público,
universidades e outras pessoas interessadas e/ou convidadas a discutir e formular proposições visando à
desinstitucionalização e extinção do manicômio judiciário. O objetivo principal deste trabalho foi trazer algumas
problematizações, embates e enfrentamentos pragmáticos que têm aparecido nestes encontros para discutir a
desinstitucionalização do manicômio judiciário articulada ao abolicionismo penal. Recorremos à investigação da
emergência de determinadas noções – muitas delas embasadas por práticas psis – que legitimaram a existência das
prisões e manicômios e, posteriormente, do manicômio judiciário para defender a importância de que a psicologia e
demais atores da saúde mental considerem não apenas suas implicações históricas no que diz respeito à noção de
loucura, mas também à de delinquência, considerando o quanto ambas são produtoras de formas e modos de
subjetivação. O trabalho tem relação com o GT ao considerar que qualquer poder repousa apenas sobre a
contingência e fragilidade de uma história (FOUCAULT, 2009) e esta história é trazida não para traçar uma evolução
linear de conhecimentos ou de técnicas, nem para recuperar algum estado perdido, mas para evidenciar que
determinadas práticas e jogos de verdade forjaram instituições hoje naturalizadas e pensar, nas problemáticas do
presente, formas de romper com estas práticas. A principal orientação teórica foi a da genealogia foucaultiana,
sobretudo no que diz respeito às suas análises da formulação da loucura enquanto doença mental pela psiquiatria que
emergia no século XIX, da produção da noção de delinquência na emergência das prisões e da própria concepção de
indivíduo subjetivado, normalizado e psicologizado, oriunda deste mesmo período de tecnologias disciplinares. A esta
articulamos o abolicionismo penal que nega uma ontologia do crime e defende outras proposições que não contem
com esta categoria nem com o sistema penal. Juntamente, utilizamos autores que abordam historicamente estas
instituições, a história da psicologia em sua relação com elas e novas possibilidades de orientação ética. O trabalho
articulou pesquisa bibliográfica ao acompanhamento das reuniões no manicômio judiciário de Niterói, ocorridas
mensalmente, na forma de observação participante que se deu do mês de outubro de 2015 a junho de 2017 e foi
registrada em diário de campo. Dentre os pontos que têm sido frequentemente debatidos, gerado impasses e algumas
experimentações, destacamos três: a perícia psiquiátrica (presente no início e exigida para findar a medida de
segurança) que vem sendo bastante criticada e novas tentativas multidisciplinares vêm sendo construídas; a questão
da periculosidade, conceito sem sustentação que ainda é válido para a Justiça num paradigma de defesa da sociedade;
e os chamados casos emblemáticos , casos de pessoas que são apresentados como mais graves e que colocam em
dúvida as condições concretas de prescindir do manicômio judiciário. Estes três pontos se atravessam e tomamos a
herança de procedimentos que tornam estes enunciados possíveis central para sua análise: o asilamento como
suposta condição para observação e diagnóstico psiquiátrico precisos; a investigação biográfica anamnésica para
explicar tanto a loucura quanto a delinquência e apontar uma virtualidade perigosa em determinados indivíduos e
grupos sociais e, por fim, a recorrência às várias formas de prisão e crença na sua eficácia e no dever profissional de
garantir quem tem condições de conviver em sociedade. No momento presente, em que estão sendo experimentadas
874
novas práticas e há disputas de sentido em jogo, afirmamos a necessidade de uma psicologia que rompa radicalmente
com os procedimentos que garantiram a existência e permanência dos espaços asilares e prisionais e que
constantemente oferecem ferramentas de reforma destas instituições para impedir seu fim. Neste processo, contestar
a necessidade da prisão afirmada por uma delinquência que habita o indivíduo e por uma lógica de contenção e
castigo como método são importantes para não fazer do discurso pelo fim dos manicômios judiciários mera questão
de patologização de uns e criminalização de outros. Afirmamos, ainda, a necessidade de ruptura com a função de
defensores da sociedade e da segurança, atuando numa orientação ética voltada às práticas de liberdade.

875
Reflexões sobre o trabalho dos psicólogos com famílias na política de assistência social
Autores: Angélica Cristina Betioli, Unisalesiano Araçatuba; Heloisa Gouvêa Lazari
E-mail dos autores: angelica.betioli@gmail.com,heloisalazari@hotmail.com

Resumo: Engels (1964) apoiado nos trabalhos de Morgan, afirma que a família monogâmica surgiu e foi determinada
pelo aparecimento da propriedade privada. De modo que, uma das principais finalidades do casamento monogâmico é
a garantia da transmissão da herança aos filhos legítimos do homem.
Reis (2004) apoiando-se na formulação materialista dialética sobre a gênese e as funções da família monogâmica,
elaborada por Engels, explica que nas famílias primeiro ocorreu à divisão sexual do trabalho e posteriormente a
divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, sobre o qual se funda o modo de produção capitalista. Desta
forma, a determinação histórica da estrutura da família coloca, necessariamente em discussão, as relações entre ela e
a sociedade.
É importante compreender que é na relação com o mundo material e social que as famílias produzem identidades e
subjetividades.
Nesta linha, as famílias não são compreendidas apenas como construções privadas, mas também públicas, cujas
estruturas são determinadas tanto pelo estágio de desenvolvimento das forças produtivas, quanto pelo processo de
divisão social do trabalho a que estão inseridas. (REIS, 2004; MIOTO, 2010).
Nas teorias sociais o conceito de famílias aparece e desaparece, ora enaltecida, ora demonizada. É acusada como
gênese de todos os males, especialmente da repressão e da servidão, ou exaltada como provedora do corpo e da
alma . (SAWAIA, 2002, p. 40).
Na década de 80, as políticas sociais, em geral, e dentre elas a de Assistência Social optaram pela operacionalização de
seus serviços por meio da centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços,
programas e projeto . (BRASIL, 2004, p.33).
Sposati (2009) e Couto (2009) chamam a atenção dos operadores da política de assistência social das consequências
quando as famílias não são colocadas, no solo histórico, como unidade de reprodução social.
Segundo elas, nestes casos, o agente institucional cai na armadilha de simplesmente transferir um viés individualista,
para um viés grupal, e usar o trabalho social com famílias de maneira moralista, voltada para regular seus
comportamentos, e não numa agenda política de construção de direitos sociais.
Nesta perspectiva Antunes reforça:
Ao trabalhar com a perspectiva da centralidade na família, é preciso recuperar sua condição de representação de
classe e associá-la à compreensão de que suas vulnerabilidades estão inscritas em um movimento do capitalismo na
direção da classe que vive do trabalho . (1995, apud COUTO, 2009, p. 208).
Em relação ao trabalho do psicólogo Gonçalves (2010) orienta que nas políticas públicas eles devem compreender e
intervir junto à dimensão subjetiva dos fenômenos sociais presentes no campo social. O que, segundo ela, significa
compreender a historicidade da subjetividade.
Desta forma, a atuação dos psicólogos acontece a partir de suas relações sociais, e, sua contribuição está em criar
condições para o desenvolvimento de compreensões críticas sobre suas relações, e, a necessidade de transformá-las.
Nas suas palavras: visões universais, naturalizadas e padronizadas sobre os indivíduos e suas subjetividades não
retratam os fenômenos da realidade com os quais se lida no campo das políticas públicas. (GONÇALVES, 2010, p.20).
Sawaia ao tratar de famílias (2002) a partir da concepção espinosana, a elege junto com a afetividade como estratégias
e espaços da práxis ético-política, desta forma:
defende o trabalho socioeducativo e militante, que adota as famílias como lócus do protagonismo social para usar o
feitiço contra o feiticeiro, ir na contracorrente do biopoder, usando o mesmo remédio para obter efeitos contrários:
em lugar da disciplinarização, a liberdade; em lugar do isolamento, abertura ao coletivo. (2002, p.43)
Assim, a direção da ação dos profissionais no trabalho com famílias deve contemplar regimes de sensibilidade, corpo,
emoção, na dimensão íntima (sexualidade, relações afetivas, subjetividade, desejo), e também o plano coletivo
876
(consumo, mídia, relações de produção) buscando tirá-las de um ensimesmamento. É ser um nós sem perder o
sentimento de ser único e, assim, poder dispor de si e do outro para ação coletiva . (SAWAIA, 2002b apud SAWAIA
2002, p.47).
Sawaia (2002) ainda alerta que o princípio é potencializar as pessoas para combater o que causa o sofrimento e não
ajudá-las a se sentirem um pouco melhor em sua pobreza, ou gastar energia para ocultar a dor, ou para manter a
família unida a qualquer custo.
Assim, a prática psicológica busca possibilitar ampliação da consciência de si e do outro como indivíduos históricos,
inseridos sócio-culturamente, cujas relações afetivas sejam menos preconceituosas, estereotipadas e ideológicas.
Também espera-se que os psicólogos, não patologizem expressões das questões sociais, ou seja, as expressão das
desigualdades e lutas sociais em suas múltiplas manifestações e que, juntamente com os outros profissionais,
compreendam que a participação das famílias, como estratégia de proteção social no atual contexto de regressão da
presença do Estado Social na provisão de bem-estar social pode fazer recair sobre elas, responsabilidades pela
assistência dos seus membros que extrapolam suas reais condições de provê-las.

877
Relato de experiência de trabalho articulado entre o Serviço de Acolhimento e CREAS em Manaus
Autores: Sinthia Constância mar da cunha, SEMMASDH; Cassandra Torres Lemos, SEMMASDH
E-mail dos autores: sinthia_mar@hotmail.com,cassandra_tl@hotmail.com

Resumo: O trabalho apresenta relato de experiência de equipes de referência de equipamentos da Alta e da Média
Complexidade, Proteção Social Especial, na cidade de Manaus/AM, frente ao acompanhamento de dois irmãos em
acolhimento, e em observância ao Pacto de Aprimoramento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para o
quadriênio 2014-2017 onde ficou determinado para a Proteção Social Especial acompanhar 60% das famílias com
crianças ou adolescentes nos serviços de acolhimento. O caso desses adolescentes é complexo e exigiu dos
profissionais propostas de intervenção flexíveis, no sentido de pensar ações inovadoras para a práxis local e com
possibilidades de ajustes constantes. Ter uma história de vida marcada, desde os primeiros anos, por violações de
direitos praticadas no seio da família foi determinante para que os adolescentes e um outro irmão mais velho (que
está em cumprimento de medida socioeducativa em meio fechado) precisassem do suporte da rede de proteção da
cidade. O foco deste trabalho está relacionado à intervenção articulada entre as equipes de referência do Serviço de
Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes sob Medida Protetiva (SAICA) e do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social – CREAS Centro-Sul, da Secretaria Municipal responsável pela execução da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS). Os adolescentes são assistidos pela Rede de Proteção Social há 03 (três) anos e
nesse período registraram-se inúmeras passagens por Serviços de Acolhimento, inclusive pelo Sistema de Medidas
Socioeducativas, tanto em meio fechado quanto em meio aberto. Por se tratar de um caso com muitas reincidências,
as equipes se viram desafiadas a desenvolver um Plano de Atendimento articulado e a partir de uma atuação crítica,
ética e reflexiva. Isso porque era evidente a reverberação de um olhar carregado por paradigmas e estereótipos sociais
que instituíram posicionamentos discriminatórios e estigmatizantes em toda a Rede de Proteção do município diante
da assistência aos irmãos. Vítimas de abandono materno e tortura, exposição ao tráfico e uso de entorpecentes,
violência física e psicológica, além de abuso sexual praticados pelo genitor, eles eram considerados como jovens
agressivos, perigosos, dissimulados, sedutores e manipuladores. Percebendo a reprodução desses discursos
preconceituosos, as equipes iniciaram um processo de ruptura que promovesse aos irmãos o reconhecimento de suas
subjetividades, de valorização de potencialidades e de construção de identidades, protagonismo e autonomia.
Destaca-se que a genitora reencontrou os filhos quando eles adentraram na Rede de Proteção em decorrência da
revelação das violações sofridas na convivência com o pai, e após sucessivas tentativas de reinserção na nova
composição familiar da mãe, a re-vitimização por negligência e violências físicas e psicológicas foram vivenciadas por
eles. Atualmente, as equipes desenvolvem o Plano de Atendimento construído junto com os jovens, que manifestaram
a vontade de não serem mais desacolhidos para a genitora (o genitor cumpre pena de privação de liberdade), o que foi
coadunado pelas avaliações dos profissionais envolvidos e sustentado pela Vara Cível do Juizado da Infância e
Juventude do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas. Nossa produção se respalda nas prerrogativas do Estatuto
da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), nos balizadores da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) -
especialmente as Orientações Técnicas para Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes e nas Orientações
Técnicas para Centro de Referência Especializado de Assistência Social, na compreensão de poder proposto por
Foucault, nos escritos de Cyrunilk, Bader Sawaya (org.) no que concerne aos processos de exclusão, nas análises da
atuação e da constituição da Psicologia engendradas por estereótipos e preconceitos analisadas por Mello e Patto,
bem como outros aportes teóricos importantes para o fazer de uma Psicologia Social crítica, política e ética.

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Subjetividade e subjetivação em Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault: contribuições à Psicologia
Autores: Kelly Dias Vieira, PUC Minas
E-mail dos autores: diasvieirakelly@gmail.com

Resumo: O estudo da subjetividade é uma questão cara à Psicologia, assim, este tema é amplamente abordado de
diferentes maneiras tanto no ensino da Psicologia, quanto em pesquisas realizadas na área, Dimenstein (2000),
Romagnoli (2010), sendo de fundamental importância a dedicação a estudos que contribuam para a compreensão das
implicações teóricas, filosóficas e práticas sobre o tema. O objetivo central deste trabalho é, ancorado na leitura das
obras de Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault, compreender com maior profundidade e clareza a noção de
subjetividade e processos de subjetivação proposta por estes autores e sua contribuição à formação de psicólogos.
Sabe-se que os autores em tela trazem em sua produção considerações importantes sobre a temática abordada,
apresentando um campo conceitual complexo, minucioso e fecundo que considera cuidadosamente implicações
contemporâneas e históricas que influenciam a construção da subjetividade, como o poder disciplinar conforme
aponta Foucault (2009), o Capitalismo Mundial Integrado (CMI) apresentado por Guattari (1991), os movimentos de
desterritorialização propostos por Deleuze (1980) ou ainda conceitos elementares propostos conjuntamente por
Deleuze e Guattari (1996), como as linhas, os fluxos, o rizoma.
A Psicologia e as Ciências Humanas contribuíram de forma significativa produzindo uma extensa gama de estudos
sobre a subjetividade, os modos de subjetivação e o sujeito, entretanto, postula-se que a formação em Psicologia no
Brasil, conforme aponta Bock (2009), Ferreira Neto (2004) e Yamammoto e Oliveira (2010), reproduz e privilegia
conceituações estruturalistas e hegemônicas amplamente difundidas por algumas correntes teóricas como a
Psicanálise, dentre outras, e pouco discute ou problematiza as temáticas aqui abordadas numa perspectiva pós-
estruturalista que considere a produção de subjetividade e os processos de subjetivação de forma mais crítica, política,
ética e estética e que envolva questões econômicas, sociais, culturais, que se relacionam com o corpo, com a
complexidade, com os afetos, a arte e diversos outros elementos que as afetam e contribuem para a sua construção.
A escolha por estes pensadores e o interesse em aprofundar o conhecimento destas temáticas a partir de sua obra
justifica-se pelo fato destes autores oferecerem um campo conceitual amplamente crítico e inovador que estabelece
de forma mais profícua o diálogo entre o saber da Psicologia e os diversos saberes que tratam do processo de
produção da subjetividade e subjetivação. Acredita-se que a possibilidade de melhor compreender esta temática, a
partir de estudos mais aprofundados oriundos da Filosofia, que é basilar para muitos dos pressupostos teóricos de
nossa área, possa contribuir substancialmente para a produção de conhecimento em Psicologia, inclusive no que tange
a formação, por proporcionar novas perspectivas para seu saber e fazer.
Este trabalho, parte de uma pesquisa de doutoramento em Psicologia que acaba de se iniciar e tem como objetivo
central compreender e discutir em que medida a concepção dos processos de produção de subjetividade e de
subjetivação proposta pelos autores supracitados podem contribuir para a reformulação da Psicologia e para a
formação dos psicólogos.
A proposta deste trabalho adequa-se ao GT - Psicologia Social, História e Poder: entre a reprodução e a ruptura e ao
eixo 7 Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou
intervenções principalmente por propor refletir e discutir a formação em Psicologia de forma crítica, considerando
que esta produz impactos significativos na prática profissional do psicólogo. Destarte, acredita-se que a discussão e
problematização sobre os modos de produção de subjetividade e subjetivação por uma óptica mais pós-estruturalista,
que se aproxime das discussões sobre a complexidade possa contribuir para a formação do psicólogo, que muitas
vezes se vê inseguro com o aparelhamento técnico que possui para lidar com determinados públicos e/ou situações.
O interesse de estudar no doutorado de maneira mais aprofundada esta perspectiva de compreensão da
subjetividade proposta pelos autores supracitados vem ao encontro de questionamentos que tenho feito em minha
prática de pesquisa desde o mestrado em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da
UFMG, defendido em 2015 em que foi discutida a intersetorialidade entre políticas públicas de Saúde Mental e
879
Assistência Social, mas, também de temas que perpassam a prática do psicólogo, principalmente diante do trabalho
com políticas públicas, que apresentam questões que extrapolam o conhecimento acadêmico por serem complexas,
heterogêneas, processuais das quais abordagens isoladas e especifistas não dão conta de abarcar.
Nosso interesse de estudo está na melhor compreensão dos conceitos de modos de produção de subjetividade e de
subjetivação a partir das obras desses três pensadores da Filosofia francesa: Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel
Foucault. Sabe-se que a obra destes autores é bastante ampla, sendo assim vamos nos ater às discussões encontradas
em algumas de suas obras, em que estes abordam mais especificamente as questões de nosso interesse. Pretende-se
utilizar como referencial metodológico a Cartografia, proposta por Deleuze e Guattari e como se trata de uma
pesquisa de doutorado em andamento, não é possível ainda fornecer resultados.

880
GT 41 | Psicologia social: história, subjetivação, insurgências

Coordenadores: Francisco Teixeira Portugal, UFRJ | Juliana Ferreira da Silva, UCB | Mariana Alves Gonçalves, Centro
Universitário Celso Lisboa

O objetivo proposto para este grupo de trabalho consiste em abrir um espaço de interlocução, em consonância com o
eixo temático 7 – Psicologia social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou
intervenções – em que sejam debatidas produções relacionadas a uma história social da psicologia. Por conseguinte,
são esperados trabalhos que apresentem uma argumentação sobre a construção do saber psi a partir de uma
problematização sobre suas condições de aparecimento, vinculações, efeitos discursivos e pragmáticos, dentre outras
produções com ênfase na reflexão histórica. O GT busca, assim, valorizar tanto as perspectivas histórico-críticas da
psicologia e, em especial, da psicologia social, quanto as problematizações que tenham inspiração histórica mas não
são categorizadas como tal, mormente as que trabalham com concepções histórico-sociais das subjetivações.
A ABRAPSO teve participação decisiva na apropriação e produção de conhecimento em psicologia social no Brasil nas
últimas décadas, tornando-se um importante espaço de interlocução entre pesquisadores e profissionais dedicados às
questões sociais e coletivas. Desde sua fundação em 1980, esteve presente uma preocupação histórica nas reflexões
propostas nos encontros da associação - fossem elas dirigidas para a produção de conhecimento ou envolvidas com a
formação subjetiva. Porém, tal viés histórico não se desdobra necessariamente em pesquisas históricas sobre a
ABRAPSO e a psicologia social no Brasil, ainda que existam trabalhos que tomem como material de análise a produção
na ABRAPSO, no periódico Psicologia & Sociedade ou de personagens que guardam um laço com a história e a
epistemologia da psicologia social. Assim, este grupo de trabalho propõe certa mudança de foco no que se refere ao
lugar que a reflexão histórica tem na produção em psicologia social, propondo integrar estudos voltados para a
construção de uma história social da psicologia.
Dessa forma, colocam-se duas possibilidades quanto à caracterização dos trabalhos propostos. Por um lado, estão os
trabalhos relacionados à produção e organização de um inventário das reflexões históricas da psicologia social, ou de
forma mais geral, das reflexões histórico-sociais da psicologia, relacionando a produção de saber com os investimentos
e proveniências sociais (algo ainda por ser feito de forma mais sistemática). Por outro, são também incluídos no
âmbito da reflexão do GT os esforços analíticos que provenham da investigação das intervenções produzidas pela
psicologia, tomando a história como ponto de inflexão ou método para evidenciar contrastes nos discursos e lógicas
de funcionamento. A nuance está na análise histórica proposta.
Inseridos na diversidade das investigações históricas, interessa-nos construir um espaço de interlocução com um
conjunto de pesquisadores que estejam focados na investigação tanto dos percursos, das teorias, das metodologias,
das intervenções da psicologia em suas proveniências e investimentos no cotidiano quanto, de forma mais ampla e
política, das subjetivações produzidas.
As histórias dos percursos, teorias, metodologias e intervenções são corriqueiras embora poucas valorizem – não o
contexto histórico – seus investimentos e proveniências sociais. A história das subjetivações é mais rarefeita. A própria
formação da ABRAPSO fomentou uma crítica da concepção de homem própria ao conjunto de trabalhos da psicologia
social então hegemônica. Seguindo esta vertente propomos tanto mapear as investigações históricas da psicologia
social quanto problematizar seus percursos pelos efeitos gerados atualmente. Concebendo as subjetivações como
processos que envolvem diferentes categorias – conceitos, acontecimentos, práticas profissionais, histórias,
instituições entre outras – e são produzidas, reproduzidas e modificadas continuamente incluímos neste grupo de
trabalho as investigações que visam visibilizar as subjetivações no contemporâneo. Assim, há subjetivações que
fortalecem o controle social, há as individualizantes, há também as insurgentes e revolucionárias. Descrevê-las e
mostrar seus modos de funcionamento tornam mais fortes as possibilidades de intervenção da psicologia social.
Os caminhos acima indicados evitam valorizar o caráter identidário de teorias, metodologias e subjetivações. O que se
pretende evitar é a caracterização de uma nova identidade para a psicologia que indicaria, por fim, o caminho de
libertação e saúde para todos. Tal artifício produziria, em lugar da reflexão sempre retomada das práticas psi, a
aplicação de um modelo estabelecido previamente.
Neste sentido a proposta do GT articula-se com o tema do encontro ao ampliar, pelo exercício histórico analítico de
investigação das subjetivações, possibilidades de enfrentamento dos modos de assujeitamento na atualidade.
Este Grupo de Trabalho recepcionará 1. trabalhos que elaboram histórias da psicologia, em especial da psicologia
social – métodos, objetos de estudo, segmentações, inversões – em suas proveniências e investimentos sociais,
políticos, econômicos, midiáticos etc. 2. estudos focados na análise histórica das intervenções psi em suas articulações
881
com outros saberes como aqueles voltados para a educação, o trabalho etc. quanto para os embates sociais das
minorias e 3. análises dos processos históricos de subjetivação indicando as articulações com os processos sociais,
políticos, econômicos, midiáticos etc.
Pretendemos, portanto, trabalhar na articulação do caráter interventivo e reflexivo da psicologia social produzida pela
ABRAPSO ao longo de sua trajetória com a análise histórica tanto de seu corpus teórico e metodológico como dos
processos de subjetivação. Com este procedimento visamos visibilizar e congregar produções que se voltam para uma
concepção social da história constituindo reflexões e análises que possam efetivamente contribuir para a formação e
atuação de psicólogos insurgentes.

882
A produção de subjetividades de adolescentes em Medida de Liberdade Assistida
Autores: Cristiane Dameda, Prefeitura Municipal de Chapecó; Irme Salete Bonamigo, UNOCHAPECÓ
E-mail dos autores: crisdameda@gmail.com,bonamigo@unochapeco.edu.br

Resumo: Introdução: Práticas pautadas na violência eram empregadas pelas políticas públicas e regulamentadas pelo
Estado visando à prevenção da marginalidade (ZAMORA, 2008). O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL,
1990) se torna um marco para uma possível transformação do modelo punitivo para uma prática mais humanitária e
educadora em relação ao autor de ato infracional, no entanto, há a possibilidade de redução da maioridade penal de
18 para 16 anos (PEC 171/1993) – estes movimentos constituem-se como avanços e retrocessos e implicam no
cotidiano do adolescente visto como perigoso e transgressor das leis. Compreender o cenário sócio-histórico,
econômico, político e cultural, suas diversidades e desigualdades é perceber a existência de uma rede de atores que
contribuem para a fabricação do adolescente que se envolve em ato infracional. Este trabalho consiste na
apresentação de uma pesquisa de mestrado intitulada Adolescência e Ato infracional: cartografia de processos de
subjetivação de adolescentes em Medida de Liberdade Assistida , vinculada ao Programa de Pós-Graduação stricto
sensu em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais da Unochapecó e realizada nos anos de 2015 e 2016 com apoio do
Programa de bolsas de Pós-Graduação UNIEDU/FUMDES. Objetivo: esta pesquisa teve como objetivo analisar
processos de subjetivação que se configuram no cumprimento de Medida de Liberdade Assistida (LA) por
adolescentes. Metodologia: para esse estudo utilizou-se a cartografia, método proposto por Deleuze e Guattari que
permite vivenciar e acompanhar processos (KASTRUP, PASSOS, 2013; ROMAGNOLI, 2009). Os participantes desta
pesquisa foram seis adolescentes em cumprimento de LA de dois Creas da Cidade X, bem como atores da rede onde
estão vinculados: familiares (cinco) e profissionais (cinco). Foram feitas observações participantes com registro em
diário de campo e entrevistas semiestruturadas; também houve a realização de pesquisa documental em normativas e
legislações referentes a esse público, bem como projetos e prontuários existentes. Resultados: a partir da Teoria-Ator-
Rede (TAR) proposta por Latour (2006, 2012) e da figura do rizoma (DELEUZE; GUATTARI, 1995) - fundamental para
compreender como ocorre a produção de mundos e de subjetividades - analisou-se que cada adolescente pesquisado
produz e é produzido pela rede em que se conecta, em um jogo de força que estabiliza e desestabiliza configurações e
situações e provoca movimentos. Verificou-se que essa rede é composta pela família, amigos, produtos toxicômanos,
tráfico, armas, dinheiro, território de pertencimento, música, mídia, estatísticas, leis, programas, estabelecimentos,
políticas públicas – principalmente a Assistência Social e Sistema de Justiça – e outros atores humanos e não-humanos
que os produzem enquanto sujeitos. Destaca-se que a LA tem um caráter socializador, educador e de
responsabilização do adolescente pelo ato, e para isso precisa considerar o momento de vida do adolescente
assegurando alguns direitos, o que demanda a implicação de outras políticas públicas como Educação, Saúde,
Trabalho, emprego e renda e, para além disso, mudanças na operacionalização das Medidas como a desburocratização
para uma qualidade do serviço voltada a esses sujeitos que têm suas vidas permeadas pela imprevisibilidade e
desobediência. Foi possível também compreender alguns modos de subjetivação daí decorrentes: vistos como
perigosos, advindos de uma família desestruturada e, portanto, necessitados de correções , os adolescentes
carregam sobre si olhares estigmatizantes e necessidades de se adequar a modos hegemônicos de ser (GUATTARI;
ROLNIK, 2013). Por outro lado, reconhecem-se como sujeitos de direito, como pertencentes a um lugar e a um grupo.
Considerações finais: Tal pesquisa abriu possibilidade para compreender modos de subjetivação de adolescentes
decorrentes da medida e as ambiguidades postas: a LA é percebida pelos adolescentes ora como uma estratégia de
controle e dominação, ora como uma possibilidade de ser ouvidos e de criar experiências heterogêneas que permitam
escapar de processos de serialização. Enfatiza-se que é no desenvolver de um trabalho interdisciplinar que
proporcione, por exemplo, projetos culturais e esportivos, que o processo criativo pode desabrochar e tornar-se um
potencial para ampliação das experiências e inserção de novos elementos que farão emergir novas tramas na rede de
produção de modos inventivos de ser adolescentes.

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Foucault, Marxismo e Psicanálise: uma análise histórica sobre os usos de Foucault na Psicologia Social no Brasil
Autores: Amanda Gabriella Borges Magalhães, UFPA; Emanuel Messias Aguiar de Castro, UFC
E-mail dos autores: amandagabriella_@hotmail.com,emanuel_messias.adc@hotmail.com

Resumo: Trata-se de uma investigação preliminar concernente à pesquisa de mestrado, que pretende analisar
historicamente a recepção e usos de Michel Foucault na Psicologia Social no Brasil. Toma-se como recorte histórico as
primeiras duas décadas desde a fundação da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), situando nossa
análise entre 1980 e 2000. Este período é marcado por rupturas da psicologia social com o modelo de produção
científico hegemônico, e pela busca de produzir saberes implicados com os problemas vivenciados no contexto
brasileiro. Os psicólogos sociais passaram, mais fortemente, nas décadas de 1970 e 1980, a acionar alianças com
autores de campos de saberes diversos, que possibilitassem pensar um novo fazer – dentre eles: Vigotski, Martin-Baró,
autores ligados à Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Marcuse, etc.), à teoria das Representações Sociais
(Moscovici, etc.) e às teorias das instituições (pensadores da Análise Institucional e Foucault). Concomitantemente,
essas novas pontes entre saberes possibilitaram adições de novas metodologias, tais como: observação participante,
história oral, história de vida, pesquisa-intervenção, entre outras. Dentre os vários pensadores e saberes acionados
por essa psicologia social brasileira, aproximações com Michel Foucault ofereceram a este campo uma série de
ferramentas capazes de incitar a reflexão sobre a produção das verdades e sua ligação com poderes, relação entre
psicologia e política, problematização dos especialismos do campo psi, a produção discursiva e não-discursiva das
subjetividades, o governamento dos corpos a partir de práticas de condução de condutas, e as novas possibilidades de
vida que se abrem a partir da historicização das instituições que nos atravessam e constituem enquanto sujeitos. Este
trabalho se propõe apresentar e refletir acerca dos usos deste autor na psicologia social brasileira, tomando como
recorte a revista Psicologia e Sociedade lançada pela ABRAPSO em 1986. Esta proposta coaduna com objetivo deste
Grupo de Trabalho pelo propósito de pensar a produção discursiva da psicologia social dentro de uma perspectiva
histórica, considerando a disciplina enquanto campo de disputa de saberes atravessados por poderes, e que, portanto,
inclui tensões, enfrentamentos, aproximações ou repulsões discursivas entre autores, apropriação e recriação de
conceitos, etc. O recorte temporal desta análise vai de 1986 até 2001, e compreende 17 dos 22 números publicados
neste período, em razão de não termos tido acesso a 5 números da revista, que não presentes no site da Associação.
Nestas edições, procurou-se menções e citações do filósofo Michel Foucault, e analisou-se a forma da aparição de
conceitos cunhados por ele, assim como a associação discursiva elaborada com outros autores e alguns temas. Dos 17
números a que tivemos acesso, encontramos Foucault em 23 artigos, que se dividem em 13 edições da revista. Ou
seja, em apenas 4 números ele não esteve presente. Percebeu-se associação frequente com temáticas relacionadas ao
feminismo, sexualidade, trabalho, movimentos sociais, e, sobretudo, com reflexões sobre a produção de
conhecimento em psicologia social. A análise preliminar indica aproximações entre a produção teórica de Foucault
com a psicanálise e o marxismo, sendo trazida como complemento a estas teorias. Quanto à psicanálise, dialogando a
partir da tese da não-repressão sexual presente em História da Sexualidade I, e quanto ao Marxismo, trazendo a noção
de poder micropolítico, exercido horizontalmente e disperso nas relações sociais. Não por acaso, entre os livros mais
citados encontram-se Microfísica do Poder, organizado por Roberto Machado e lançado em 1979, História da
Sexualidade I, de 1976. Conclui-se que as produções de Foucault vêm atravessando a produção da psicologia social no
Brasil desde a década de 1980, fazendo-se presente no processo de reinvenção deste campo de saber pós- crise da
década de 1970 . Faz-se necessário prosseguir a investigação mapeando a rede de dispersão dessas produções a partir
de outros documentos que venham somar aos já analisados. Investigar os pormenores deste encontro de Michel
Foucault com a psicologia social brasileira - como se deu e o que provocou – é de fundamental importância para
melhor compreender a consolidação deste campo de saber no país e o movimento recente da produção de
conhecimento ligado a ele. Toda pesquisa histórica traz também pistas para uma autocrítica sempre necessária de
como, a partir das nossas práticas, se conforma nosso campo de estudos e intervenções, e quais enunciados nele
veiculamos.
884
Gênero e saúde em 1990: uma análise da mídia impressa gaúcha
Autores: Heloísa Derkoski Dalla Nora, URI/FW; Ana Carolina Weselovski da Silva, URI/FW; Eliane Cadoná, URI/FW
E-mail dos autores: elianecadona@yahoo.com.br,cadonaeliane@gmail.com,eliane@uri.edu.br

Resumo: Pretendemos, por meio da pesquisa, intitulada Sentidos de Gênero e Saúde no Cenário de Publicação das
Leis nº 8.080 e nº 8.142: Uma Análise da Sessão Saúde do Zero Hora , compreender quais são os sentidos de saúde e
de gênero veiculados, no ano de 1990 – nessas fontes – e suas articulações com a Lei Orgânica da Saúde, publicada em
meio a esse cenário. Além disso, a pesquisa tem como objetivo problematizar as noções de sujeito e de mundo
transmitidas por esse jornal e entender como elas influenciaram na produção de subjetividade dessa época. Como
ferramentas teórico-metodológicas, que auxiliaram em nossas discussões, utilizamos o Construcionismo e os Estudos
de Gênero de abordagem pós-estruturalistas e, para a análise dos materiais, a Análise de Discurso proposta por Mary
Jane Spink. A partir dessas ferramentas, foram criadas duas tabelas para coleta dos dados, uma referente à capa dos
jornais e outra às sessões saúde. Elas nos auxiliam a identificar questões importantes para a análise do material, como
quais os discursos que estavam presentes em meio às reportagens e como eles se relacionavam com o cotidiano. Por
se tratar de um desdobramento de uma tese de doutorado, e porque a pesquisa ainda está em fase inicial de
desenvolvimento, até então, os materiais foram separados e analisadas até o segundo mês do ano de 1990.
Reforçamos que os resultados que trazemos aqui ainda são preliminares, e foram levantados e discutidos em grupos
de estudo, pois entendemos, fazendo uso da Análise de Implicação, que esses momentos são importantes, na medida
em que consideramos as percepções, sentimentos e vivências dos/as pesquisadores/as como imprescindíveis para o
desenvolvimento da pesquisa. Realizamos, primeiramente, um resgate histórico, para compreender um pouco mais
sobre o contexto em que eram veiculados esses conceitos. Entendemos o ano de 1990 como um ano de contradições.
A volta da democracia, através do primeiro presidente eleito após anos de ditadura, e as publicações de Leis de caráter
democrático, a exemplo da própria Constituição Federal, chamada de Constituição Cidad , destoam do rumo que o
país seguia com a adoção de políticas de Estado neoliberais, com a privatização de empresas estatais e demissões em
massa. Nesse cenário, até onde as análises foram, conseguimos visualizar uma ideia de saúde e de cuidado, em meio à
mídia em análise, bastante diferente do que preconiza o Sistema Único de Saúde, há pouco instituído. Muitas matérias
trazidas pelo jornal colocam os/as profissionais da saúde como especialistas, como experts que detém o saber e,
consequentemente, acabam sendo autorizados a prescrever modos de vida que são tidos como certos ou errados , e
que devem ou não ser seguidos. A própria ciência é tratada de forma elitizada, com linguagem complexa, seguindo e
usando como referência a lógica norte-americana de existência, que muitas vezes resulta em um uso
descontextualizado da pesquisa e do conhecimento científico no cenário em questão. Em relação às questões de
gênero, o que mais figura nas páginas e capas do jornal é o culto ao corpo perfeito da mulher, sendo que, na época, o
ideal de beleza era o bronzeado, que se constituiu em uma prática perigosa, na medida em que as mulheres passavam
horas no sol sem nenhuma proteção solar. Dessa forma, saúde e gênero aparecem entrelaçados, já que o jornal faz
uso do discurso científico para atingir esse público, usando falas dos especialistas da área da saúde para esclarecer os
malefícios e as formas mais seguras de atingir o bronzeado perfeito , sem deixar de lado os cuidados com a pele.
Outro conteúdo que merece destaque é a invisibilidade dos pais no cuidado para com as crianças. Até então, todos os
relatos que abordam experiências com políticas públicas atribuem a responsabilidade desse cuidado às mães.
Entretanto, algumas políticas, para diminuir os altos índices de mortalidade infantil, aparecem mostrando a eficácia do
trabalho com a família, incorporando os saberes da medicina ao cotidiano dos sujeitos e valorizando o conhecimento
popular. Nesse sentido, procuramos seguir com as análises, pensando sempre na influência que o contexto histórico
tem na produção de subjetividade, e entendendo que os sujeitos se constroem na relação consigo e com o mundo.
Entendemos que a Psicologia deve fazer esse movimento, no intuito de repensar suas práticas e procurar novos
885
modos de investir no cuidado, a fim de não cometer a injustiça de fazer uso descontextualizado da ciência.
Entendemos que a pesquisa documental, com enfoque histórico, é de extrema importância, na medida em que,
conhecendo o passado, é possível entender o presente, problematizá-lo e construir um futuro mais condizente com a
lógica de cidadania prevista na Constituição Federal.

886
Lourenço Filho: o diálogo entre psicologia e educação para um novo projeto nacional de sociedade
Autores: Diego Gomes da Costa, UFRJ
E-mail dos autores: gco.diego@gmail.com

Resumo: O objetivo do presente trabalho é realizar um estudo histórico social das contribuições de Lourenço Filho no
campo educacional por meio do levantamento e leitura de suas obras, no contexto de renovação escolar relacionado à
Escola Nova e ao movimento dos testes por que passava o Brasil no início do século XX. Além disso, busca-se estudar a
crescente importância da psicologia como uma ferramenta institucionalizada para orientação e fornecimento de novas
bases teóricas e técnicas para o projeto educacional. O trabalho encontra-se em andamento e está inserido no projeto
de pesquisa Circulação de conhecimento e história da psicologia no Brasil no início do século XX . A pesquisa pretende
realizar um estudo histórico sobre a construção do campo educacional frente às transformações sociais no país no
período descrito, assim como contribuir para uma reflexão acerca da produção e consolidação do saber psicológico no
Brasil, em diálogo com o conhecimento psicológico de autores estrangeiros. Este trabalho relaciona-se com o GT
Psicologia social: história, subjetivação, insurgências e com o eixo temático Psicologia Social: questões teóricas e
metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções pois visa traçar uma História da Psicologia
no Brasil a partir do estudo das condições institucionais do estabelecimento do saber psicológico no país em
consonância ou em confronto com a Psicologia de produção estrangeira, e, em específico, como um instrumento de
intervenção educacional. Já na segunda metade do século XIX, observa-se, na Europa, o desenvolvimento de uma
Psicologia de caráter objetivo que se tornou um campo científico e instrumento primordial para as necessidades de
produtividade das novas sociedades urbano-industriais capitalistas. Nesse sentido, foi possível observar o esforço de
diversos intelectuais brasileiros, nos primeiros decênios da República, para construir um projeto nacionalista inspirado
nos moldes científicos a fim de promover o desenvolvimento do país, com especial atenção à educação e à formação
de professores. A psicologia, então, nas primeiras décadas do século XX, especialmente na década de 1930, com a
gradual transição de uma sociedade agrária oligárquica para uma sociedade urbano-industrial, e com os intensos
movimentos políticos como a Revolução de Outubro de 1930, a Revolução Constitucional de 1932 e o estabelecimento
do Estado Novo em 1937, se tornou um importante campo de saber na medida em que se necessitou de uma
educação e especialização para o trabalho das massas e da adaptação à nova ordem social. A psicologia, portanto,
encontrou no campo educacional, um meio de se estabelecer reconhecidamente como um campo científico,
fornecendo conceitos e instrumentos científicos que passaram a ser amplamente utilizados nas escolas do país.
Notadamente, os testes tornaram-se um meio de se reconhecer as diferenças individuais entre alunos, para então,
posteriormente, mobilizar uma adaptação da forma e do conteúdo de ensino. Verifica-se, assim, na Escola Nova, a
tentativa de uma reorganização escolar com base em um conhecimento maior sobre os alunos, pelo emprego dos
testes, assim como uma fundamentação teórica e técnica para uma construção e reorganização social. Tendo sido um
dos líderes do movimento de renovação escolar e um dos autores que assinaram o Manifesto dos pioneiros da
Educação Nova , Lourenço Filho, propunha a integração de diversos conhecimentos, com destaque para a psicologia e
a estatística. Esta última forneceria aos professores dados sobre aspectos físicos, atitudes e capacidades dos alunos,
oferecendo um embasamento técnico para avaliá-los e classificá-los, tornando assim possível realizar prognósticos
sobre o trabalho educativo, enquanto a psicologia produziria conhecimento acerca dos alunos e serviria de
instrumento de análise das profissões. Vemos, assim, com este autor, alguns modos pelos quais psicologia e educação
se articularam para efetivação de um projeto de ordenação social. Tendo sido diplomado na Escola Normal da Praça e
tendo encontrado um cenário que respirava as ideias do então diretor Oscar Thompson, um dos defensores da
utilização de métodos da ciência na organização de um sistema público de ensino, e dos contemporâneos Clemente
Quaglio e Ugo Pizzoli, defensores de testes psicofísicos, Lourenço Filho se torna um interessante objeto de estudo na
887
medida em que critica a concepção de uma psicologia experimental restrita aos testes psicofísicos, e evidencia as
disputas existentes entre as diferentes escolas psicológicas , como aponta Monarcha (2001). Encontramos, portanto,
nas ideias e intervenções deste autor nos campos da educação e da psicologia, um ponto de reflexão sobre as práticas
psicológicas, na medida em que pensava a articulação destes campos de conhecimento como um instrumento de
transformação social.

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Missão Lapassade-1972: coincidências analisadoras
Autores: Marilia Novais da Mata Machado, UFMG; Heliana de Barros Conde Rodrigues, UERJ; Sonia Roedel, UFMG
E-mail dos autores: marilianmm@gmail.com,soniaroedel@hotmail.com,helianaconde@uol.com.br

Resumo: Entre a última semana de julho e a primeira de outubro de 1972, Georges Lapassade (1924-2008), intelectual
francês responsável pela primeira formulação, com René Lourau, da Análise Institucional (AI), esteve no Brasil em
missão cultural. Dois anos depois, publicou Os cavalos do diabo: uma deriva transversalista, em que relata a missão. A
viagem e o viajante são vistos neste texto como analisadores do Brasil de 1972, por exporem a situação política do País
então em regime ditatorial. A AI é o referencial teórico adotado. Duas instituições – o regime militar e a Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), promotora da missão – são analisadas. Acompanhando Lourau, para quem as
principais funções sociais são educação, controle e produção, argumenta-se que o regime militar, em 1972, voltava-se
basicamente para o controle e a UFMG, para a educação. Em tese, essas seriam suas funções universais, plenamente
aceitas e verdadeiras, desde que vistas de forma geral e abstrata. As particularidades de cada instituição, que negam
as funções gerais, seriam igualmente consideradas, assim como as suas formas singulares, concretas, funcionais, com
suas normas, códigos e substratos materiais que negam, por sua vez, as particularidades. Focalizando esses três
momentos (universal, particular e singular), a pesquisa realizada consistiu na análise do relato das atividades práticas e
teóricas do analista Lapassade em campo, correlacionadas a acontecimentos do período. Além do livro memória de
Lapassade, em que são relatados os trabalhos desenvolvidos na missão, outras fontes foram utilizadas: - o arquivo da
AESI/UFMG (Assessoria Especial de Segurança e Informação da Universidade Federal de Minas Gerais), órgão cuja
função era o controle das atividades de professores e funcionários e repasse ao SNI/MEC das informações julgadas de
caráter subversivo; - fontes secundárias como as informações sobre o regime recolhidas pela Arquidiocese de São
Paulo, pela Comissão de mortos e desaparecidos políticos e pelo IEVE – Instituto de Estudos sobre a Violência do
Estado; - escritos recentes de historiadores sobre aquele momento; - textos e documentos do Setor de Psicologia
Social que, na UFMG, foi o principal responsável pela missão cultural. Com esse material, foram buscadas
coincidências analisadoras , ou seja, momentos em que o registro pessoal de Lapassade e os registros históricos –
arquivos e outras fontes – se cruzam, um conjunto apoiando o outro ou o contradizendo. Entre as coincidências, foram
encontradas: (1) Separação entre o que o missionário sabia sobre a repressão política no Brasil e a repressão que
ocorria de fato; (2) A dificuldade de Lapassade para analisar a circulação do dinheiro que recebia pela missão e
transformá-lo em analisador social, bem como seu desconhecimento (ou eventual conhecimento) do controle dos
órgãos da repressão sobre acordos e convênios internacionais e locais firmados e auxílios financeiros recebidos; (3)
Sua percepção e aproximação dos órgãos de representação estudantil, que dele fizeram amigo próximo de Chico,
presidente do Centro de Estudos de Psicologia (CEP), e a morte de antecessor de Chico no CEP, Idalísio, assassinado
pela ditadura cerca de dez dias antes da chegada de Lapassade ao Brasil, e não mencionado no livro memória; (4) As
observações do missionário sobre a autorrepressão e a repressão na UFMG que o levam a vê-las nas salas de aula, no
movimento estudantil, entre colegas, assim como a identificar e analisar fantasias da repressão a legitimarem
resistências à mudança; (5) Seu encontro com a eventual contrainformação financiada pelo MEC, sem identificá-la
como tal; (6) Seu papel na cisão do Setor de Psicologia Social, colaborando para a formação do um contra-Setor, sem
que a cisão se desse de fato no campo político, como ele argumenta; (7) Sua análise da reforma universitária imposta
pelo regime ditatorial, à qual ele atribui caráter simultaneamente modernizador e conservador. A pesquisa chegou
também à informação inédita, obtida no arquivo AESI/UFMG, de que, em 1973, um ano após a missão, o missionário
foi objeto de investigação pela Divisão de Segurança e Informação do MEC. Concluiu-se que Lapassade foi analista e
analisador do regime: apontou limites imaginários a impossibilitar uma ação política mais ferrenha contra a ditadura
no Brasil de 1972; assinalou fantasias de repressão a bloquearem mudanças não desejadas; ressaltou a capilaridade da
violência na sociedade, sem reduzi-la às imposições da ditadura. Sua forma de agir, falar e viver fez dele igualmente
um analisador do regime, possibilitando que se enxergassem contradições na ditadura, concomitantemente
conservadora, reacionária e modernizadora. Como analista e analisador da UFMG, Lapassade detectou a
889
transversalidade, na universidade modernizada, das desigualdades e hierarquias da sociedade brasileira; sinalizou a
presença dos jovens burocratas a se equilibrarem entre o regime ditatorial, seus colegas e subordinados, e suas
próprias carreiras universitárias. Mas foi igualmente tomado por cegueiras: não viu contrainformação nem repressão
factual em curso, mas ordem e tranquilidade. Essas cegueiras são também analisadoras de regimes autoritários,
ordeiros e calmos apenas na exterioridade.

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O argumento da historicidade na Psicologia & Sociedade: da crise da psicologia social à crise do tempo
Autores: Valéria Vanessa Ferreira dos Santos, UFAL; Adélia Augusta Souto de Oliveira, UFAL
E-mail dos autores: valeria_wanessa@hotmail.com,adeliasouto@ip.ufal.br

Resumo: Compreendemos a historicidade como a possibilidade de uma experiência humana, social e subjetiva através
do tempo, ela permeia grande debate acerca da epistemologia do conhecimento, podendo ser tomada como objeto,
pela área da História, ou como argumento, em especial quando trazida ao debate por outras áreas do conhecimento.
Nos dois casos, falar de historicidade nos remete a questionar como uma forma de se pensar uma conformação
significativa do tempo é possível hoje, contextualizando o debate feito pela contemporaneidade que caracteriza o que
chamamos de crise do tempo , em que o projeto moderno - enquanto forma específica de apreender o real - é
localizado temporal e espacialmente de forma a ser criticado por diferentes perspectivas. O estudo desta categoria
nos remete a explicitar conformações significativas sustentadas por arranjos entre passado-presente-futuro que
podem resguardar perspectivas políticas determinadas. Falar de historicidade também parte e procede a questionar
como a conformação desta experiência – de historicidade- pôde ser expressa em sentidos diversos, em contextos
específicos e diferentes do debate contemporâneo. Desta forma, visitamos o contexto da chamada crise da Psicologia
Social para situar como a crítica a uma perspectiva de fazer científico traz a historicidade como argumento para
reivindicar e qualificar um conhecimento sócio-historicamente situado. O debate feito por esta pesquisa parte da
historicidade como argumento no contexto da psicologia social. Este trabalho tem como base a pesquisa de mestrado
empreendida pela autora, sob orientação da co-autora. Analisamos as ocorrências do descritor historicidade nas
publicações da revista Psicologia & Sociedade - importante periódico de umas das principais associações de Psicologia
Social da América Latina (ABRAPSO) - de 1986 (ano de sua fundação) até agora, com o objetivo de apresentar
descrições e interpretações dos sentidos desta em seus contextos significativos, à luz da teoria vigotskiana sobre a
palavra. As ocorrências do descritor historicidade foram pesquisadas no intervalo temporal escolhido e foram
encontradas em 13 artigos. Cada ocorrência foi analisada em seu contexto significativo de forma a apresentarmos uma
descrição do sentido utilizado e uma análise do lugar argumentativo que a palavra historicidade fora empregada.
Vimos que historicidade é um conceito trazido como argumento importante na fundamentação das abordagens
escolhidas nos artigos ou na caracterização dos temas abordados, em geral, seu uso, quando referenciado, faz alusão à
perspectiva marxista e/ou à psicologia social crítica. No entanto, o conceito é pouco definido de forma a entendermos
que uma perspectiva de historicidade acabou por ocupar um lugar histórico de generalização. Isso se dá na medida em
que se parte do pressuposto de que historicidade é um conceito conhecido previamente, positivado. Podemos
constatar isso nos diversos trabalhos em que, além de ser um conceito não definido claramente, ele dá vazão ao
fundamento de questões importantes dos trabalhos, como conceitos-síntese de nomeação de fenômenos pouco
explícitos. Concluímos que a historicidade é trazida como argumento nas publicações da psicologia social e cumpre
um papel político relativo ao debate da chamada crise da psicologia social em trazer um caráter de desnaturalização
ao que referencia. Seu uso pretende situar o lugar espaço-temporal e político da produção do conhecimento. No
entanto, se naturaliza como conceito não referenciado em profundidade, de forma a se positivar como argumento
vazio de sentido em seu uso indiscriminado e pouco definido. Este uso nos leva a questionar o emprego de um
conceito pelo conhecimento psicológico e psicossocial que não lhe é próprio, mas que, pela interface que lhe é
natural, foi significado de uma forma possível. De forma que, este trabalho se apresenta tanto como diagnóstico deste
uso, quanto como parâmetro para novos usos situados no debate contemporâneo a contribuir para que esta
psicologia continue em crise. O debate empreendido neste trabalho tem ligação intrínseca com o eixo temático 7 –
Psicologia social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções
tendo em vista sua preocupação em contribuir para uma avaliação da produção acadêmica da psicologia, em
891
particular, o lugar argumentativo e político dos conceitos em suas produções nos sistemas teóricos. Bem como se liga
ao GT escolhido - Psicologia social: história, subjetivação, insurgências – pela reivindicação de tomar a revista da
entidade como objeto a visibilizar reflexões sobre a história da psicologia social no país e trazer o elemento
historicidade como referente de investigação para analisar o funcionamento argumentativo e político dos discursos
produzidos pela/na psicologia.

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Os atravessamentos nas construções de grupos nos CRAS
Autores: Luiza Marson Morais, UFSC; Katia Maheirie, UFSC; Paulo Ricardo de Araújo Miranda, UFSC
E-mail dos autores: luizammorais_x@hotmail.com,maheirie@gmail.com,pramiranda95@gmail.com

Resumo: Este trabalho é parte da pesquisa Experiências coletivas em centros de referência em assistência social , que
objetiva analisar experiências coletivas enquanto suas potências, além de compreender como são desenvolvidas tais
atividades e quais são seus entraves. Nesta comunicação, procuramos investigar os impasses e possibilidades do
trabalho com grupos e movimentos coletivos nos CRAS, procurando evidenciar o quanto as práticas da equipe podem
estar atravessadas por uma racionalidade individualista através das falas dos profissionais das unidades, dialogando
com o avanço do projeto neoliberalista no Brasil. Além de produzir subjetividades, o neoliberalismo, como
racionalidade individualista, pode ser um impedimento pra construção de grupos a medida em que traz consigo um
desmonte dentre as políticas públicas, e é deste modo que ajudará a compreender essa dinâmica, que está tanto na
formação da psicologia quanto no senso comum.
Nas entrevistas, através de falas sobre a visão dos profissionais acerca do usuário e sobre o delinear do seu cotidiano,
identificou-se o quanto construir um movimento de caráter grupal pode ser um esforço de intensidade similar a sua
potência. A partir disto, buscou-se delinear no que consistem os desafios, tanto na equipe como na comunidade.
Localizou-se então a falta de adesão ou trocas de presença por benefício, o direcionamento a uma preparação para o
mercado de trabalho como objetivo, a meritocracia e a reprodução de relações de mercado, a situação de
desemprego atravessada por trabalhadores terceirizados e suas dificuldades como constituindo parte central dos
usuários, a falta de recursos humanos e estruturais, a busca por soluções imediatistas, de maneira que o indivíduo
acaba por tornar-se o modo de tomar parte no comum, produzindo formas de estar junto contrárias às lógicas
coletivas.
Objetiva-se também procurar nessas falas os potenciais de um grupo frente a racionalidade individualista,
compreendendo essas experiências como resistência, que apareceram como articulações de rede, por exemplo, que
enfrentam grande dificuldade em acontecer devido a falta de senso coletivo das próprias políticas, ou estes grupos
como potencializadores do direito do ser frente ao direito do ter , e também a despadronização de atividades.
Chamamos, a partir de Rancière, de subjetivação política a emergência ou produção de uma nova capacidade de
enunciação que transforma identidades definidas, dando início a um processo de desidentificação e negação da
relação que vincula um modo de existir a um lugar de enunciação e a um modo de participação no comum. Neste
sentido, entendemos que o trabalho com coletivos objetiva a produção de outros modos de subjetivação que
desloquem os sujeitos da posição de indivíduos, possibilitando uma nova forma de construção de conjuntos.
O trabalho busca um recorte específico sobre a questão do estar junto, pensando como e do que são constituídas as
interferências das práticas e da formação desses profissionais e como isso aparece nas dificuldades da realização de
grupos, e de que forma este, ao mesmo tempo, pode exemplificar grande resistência. Compreendendo a
responsabilidade da política na produção de sujeitos e possibilitando uma reflexão ao psicólogo social, assim como
delinear um novo campo de luta nas suas atuações que se relacione com a realidade contemporânea consiste o
diálogo com o Eixo Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais.
A pesquisa conta com entrevistas feitas com profissionais dos CRAS de Florianopolis-SC e Pinhais-PR, totalizando 13
unidades. Essas entrevistas, assim como questionários aplicados que também foram utilizados para análise, eram
semiestruturadas, com roteiro norteador mas com a possibilidade de abertura no decorrer do processo. Os
tratamentos dos dados foram realizados de modo qualitativo, após a transcrição das entrevistas gravadas e sua divisão
em categorias, sob análise de discurso, de maneira a confirmar os processos previstos pelo direcionamento teórico da
pesquisa.

893
Por uma Psicologia Social morena: contribuições do pensamento de Darcy Ribeiro
Autores: Pedro Henrique Antunes da Costa, UFJF; Fernando Santana de Paiva, UFJF
E-mail dos autores: phantunes.costa@gmail.com,fernandosantana.paiva@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho objetiva apresentar algumas contribuições do pensamento de Darcy Ribeiro para a
Psicologia Social brasileira. Almeja-se contribuir para processos de descolonização do pensamento na área,
rememorando a posição da própria Psicologia dentro das ciências sociais e a sua insuficiência enquanto campo
científico particular, numa perspectiva autocentrada, para a compreensão e explicação do sujeito brasileiro, mesmo
quando enfatizada sua dimensão subjetiva.
O trabalho encontra-se estruturado em quatro partes: (a) considerações sobre a Psicologia Social, sobretudo no
contexto latino-americano e, consequentemente, brasileiro; (b) uma breve apresentação do percurso acadêmico-
político de Darcy Ribeiro e alguns dos pilares de seu pensamento; (c) contribuições do pensamento darcyniano para a
Psicologia Social brasileira; e (d) conclusões extraídas deste diálogo.
Trata-se de um estudo teórico que, devido à amplitude e extensão quantitativa e qualitativa da produção darcyniana,
restringiu-se aa livro O Povo Brasileiro – A formação e o sentido do Brasil , sua obra seminal, que abrange e sintetiza
uma série de produções anteriores e que mais se aproxima do esforço ao qual se propôs de postular uma teoria geral
sobre o Brasil. Para traçar um pouco de seu percurso histórico e motivações político-acadêmicas, nos valemos também
de literatura secundária sobre o autor e seu pensamento, bem como textos do próprio Darcy, comentando sua vida e
obra. O diálogo foi estabelecido com autores da Psicologia social latino-americana, que se orientam por uma
perspectiva materialista-dialética e sociohistórica, identificando convergências e potencialidades advindas do
pensamento darcyniano para este campo.
De modo geral, consideramos que as contribuições do pensamento de Darcy Ribeiro para a Psicologia Social brasileira
são: (a) O resgate da dimensão histórica na análise da realidade brasileira e dos sujeitos que aqui se conformam; (b) O
caráter dialético dessa realidade; e (c) A transformação social como horizonte ético-político.
Consideramos que, a partir da obra de Darcy Ribeiro, a compreensão do pensamento social brasileiro, passa
primordialmente pela análise de nossa concretude histórica, dos processos objetivos de formação do ser brasileiro.
Assentados no materialismo histórico-dialético, é a partir da concretude do real e o seu caráter dinâmico, isto é, do
modo de produção da vida material, que se dá nossa formação identitária, ao passo que ao ser conformada por ela
também passa a transformá-la, fugindo de análises casuísticas e dicotômicas sobre o objetivo e subjetivo, o real e
abstrato, eu e o outro.
Dessa forma, não é possível compreender o brasileiro e sua subjetividade desconsiderando sua herança histórica
calcada em processos de rapinagem, exploração, dominação e opressão perpetrados, primeiramente, pelo invasor
europeu e, posteriormente, por uma classe dominante a serviço do mercado externo. Uma gestação étnica não
harmoniosa, a partir de uma ninguendade, que desindianizou o índio e desafricanizou o negro, e que conformou tipos
psicológicos numa relação constante, conflitiva e não dicotômica entre dominador e dominado. E um antagonismo de
classes e étnico-racial que conforma moinhos de gastar gente e reverbera nas formas como nos organizamos em
sociedade e, através disso, vemos o mundo, os outros, nos enxergamos, relacionamos e constituímo-nos como
sujeitos históricos.
Nesse sentido, foram observadas uma série de similaridades entre o pensamento darcyniano e de Martín-Baró,
oriundos de seus referenciais teóricos coadunados e da necessidade vista por ambos de uma implicação ético-política
ao conhecimento, com vistas às transformação substancial e emancipação latino-americana. Abrem-se portas, então,
para uma produção de saberes contextualizada, traçando diálogos profícuos com o acúmulo de conhecimento de
outras terras e tempos, mas que se desprenda de nossos resquícios de dependência/colonização e amarras de
subordinação intelectual. Uma produção que não se ocupe apenas com a leitura da realidade, mas que também se
comprometa com a sua transformação. Finalmente, uma produção que tome os daqui não apenas em posições

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coadjuvantes e/ou de meros leitores/observadores da realidade, mas como atores, roteiristas e diretores desta
história viva que, ao contrário do que nos fazem crer, lhes pertence; nos pertence.
Assim, pensar numa Psicologia Social brasileira, ou uma Psicologia Social morena , inspirados no socialismo moreno
de Darcy, implica na superação de sua própria ninguendade, por meio da aceitação de sua brasilidade. Uma Psicologia
Social brasileira que, assim como necessita o seu povo, volte-se cada vez mais para si, vivendo seu próprio projeto
intelectual/acadêmico e prático e rompa com a sua miséria, atrelada à nossa história de dependência colonial,
conformada desde a feitoria escravista que aqui se fez, e que nos tomou, desde já, como meras fontes de matéria-
prima e mão de obra. Ou seja, um proletariado externo , incapaz também de pensar por si mesmo. Que arrombemos
com alguns dos grilhões intelectuais e acadêmicos que ainda nos alijam e que a Psicologia Social brasileira e latino-
americana seja fortalecida ao se nutrir da razão iracunda de Darcy Ribeiro, dentre outros pensadores; que continue a
ser atravessada por uma inquietude, insubmissão/indolência e indignação ao não aceitar nossa condição desigual
como natural ou mero destino.

895
Psicologia Social nas tramas: Possibilidade de subversão social ou conformação com a ordem estabelecida?
Autores: Ana Terra Sudário Gonzaga, UFG; Fernando Lacerda Júnior, UFG
E-mail dos autores: anaterra.gonzaga123@gmail.com,fernando_lac@yahoo.com.br

Resumo: O presente artigo trata-se de um capítulo de minha dissertação, ainda em andamento, orientada por
Fernando Lacerda Jr. na Universidade Federal de Goiás. Nela busco entender como as manifestações das discussões
feministas e dos estudos de gênero têm se dado na Psicologia Social brasileira. Para tanto, consideramos importante
explorar o processo de constituição da Psicologia e, especialmente, da Psicologia Social.
Em nossa compreensão, o trabalho articula-se com o eixo Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na
pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções, a medida em que propõe refletir sobre a constituição da
Psicologia e da Psicologia Social na relação com o pensamento científico moderno e com processos sociais,
econômicos e políticos ao longo da história. Como aporte teórico, utilizaremos as contribuições da Psicologia Social
Crítica (PSC), principalmente aquelas que dialogam com os estudos feministas e marxistas. Salientamos que a PSC não
é um bloco monolítico e que está permeada por conflitos importantes. Nos procedimentos metodológicos para o
levantamento bibliográfico, prosseguimos da seguinte forma: levantamento de livros e artigos sobre Psicologia e
Psicologia Social; leitura e sistematização do material bibliográfico; análise e escrita do conteúdo.
Iniciaremos refletindo sobre alguns aspectos que se mostraram importantes na constituição da Psicologia.
Posteriormente, descreveremos o percurso histórico da Psicologia Social, partindo de uma narrativa mais geral,
destacando principalmente sua história europeia e americana, para, ao fim, pensar os cenários Latino-americano e o
brasileiro.
Em relação a constituição da sociedade moderna, alguns marcos históricos e políticos foram fundamentais: A gradativa
substituição da religião pelo Estado no século XV; A filosofia liberal, com a concepção de que a vida social deve estar
subordinada a uma lei geral da liberdade (Camino & Torres, 2011); O Iluminismo, durante o século XVIII, que, para
Mészaros (2006), suas conquistas logo foram liquidadas pois tudo devia enquadrar-se no modelo limitado e ambíguo
da racionalidade burguesa; e o Positivismo, por volta do século XIX, que encontra suas raízes nas obras de Condorcet e
Saint Simon, porém que com Augusto Comte assume um tom diferente (Madureira, 2005). É no cenário filosófico e
histórico retratado anteriormente que, por volta do século XIX, a Psicologia surge para responder questões colocadas
pela sociedade (Parker, 2011).
Após fundamentar o contexto de emergência da Psicologia, entraremos na história da Psicologia Social, utilizando
como referência a divisão de Martín-Baró (1983-2017), organizada em três momentos importantes. Para o autor, o
primeiro período é marcado pela hegemonia de propostas teóricas que trabalham com a seguinte pergunta O que
mantém as pessoas unidas em uma sociedade? . Trata-se de uma Psicologia Social que aparece na Europa em um
período de crise social desencadeada pela industrialização capitalista, por isso marcado pela dicotomia
integração/diferenciação.
Na literatura, pode-se identificar diferentes tentativas para explicar o segundo período. Para algumas (ns) (Camino &
Torres, 2011; Farr, 2002), houve um processo de americanização da Psicologia Social, que se deve, entre outros
fatores, ao desenvolvimento econômico e industrial dos Estados Unidos no século XIX, às conquistas territoriais e à
participação na vitória da I Guerra Mundial, posição que contribuiu para a América do Norte se tornar liderança no
Ocidente. Martín-Baró (1983-2017) concorda que houve um processo de americanização da Psicologia e de outras
Ciências Sociais, destacando o deslocamento dos grandes centros de produção de conhecimento psicológico da
Europa para os Estados Unidos. Somado aos debates teóricos realizados anteriormente, a pergunta que marca o
período é: Como adequar as pessoas à ordem social existente? .
Posteriormente, o descontentamento quanto às possibilidades e conquistas da Psicologia Social foi intensificado em
um contexto marcado por lutas sociais. Grande parte das críticas dirigia-se ao referencial teórico e metodológico
utilizado no segundo período. Para Lacerda Jr. (2010) esse período foi reconhecido por diversas (os) autoras (es) como
a Crise da Psicologia Social e se deu mais intensamente nos EUA e na Europa nos anos de 1960 e 1970, e na América
896
Latina, na segunda metade dos anos 1970. Nesse contexto, aparece a pergunta que marcou o terceiro período da
Psicologia Social: O que nos liberta da desordem estabelecida? (Martín-Baró, 1983-2017).
Sobre os caminhos que se deram depois da crise, Ibañez (1990) ressalta que seria um erro pensar que apareceu uma
alternativa clara e coerente. Acrescenta que muitos desses pressupostos e correntes não têm sido integrados como
partes constitutivas da Psicologia Social dominante. Ainda, Lacerda Jr. (2013) alerta que algumas dessas correntes
vinculam-se à uma hipervalorização da subjetividade e dos processos individuais, e que, ao colocar a subjetividade
como central geram uma concepção ingênua e voluntarista da transformação social.
Por fim, essa narrativa foi uma tentativa de colocar a Psicologia Social sob diferentes perspectivas. Nos preocupamos
em reconhecer as suas limitações decorrentes de elementos como a especificidade, o tecnicismo e o isolamento dos
conhecimentos. Ademais, também refletimos sobre como o capitalismo propicia estruturas de dominação em que as
disciplinas se estabelecem, na qual inclui-se a Psicologia Social.

897
Violência, juventude e medo: apontamentos sobre a política carioca de extermínio dos jovens pobres
Autores: José Rodrigues de Alvarenga Filho, UFSJ
E-mail dos autores: joserodrigues@ufsj.edu.br

Resumo: Nosso trabalho tem por alvo colocar em análise a produção do jovem pobre carioca, morador de favela,
enquanto vida descartável. Para tanto, levantamos questões sobre os processos de criminalização da pobreza e de
produção de subjetividades amedrontadas e submissas que ajudam a criar condições de possibilidade para a
naturalização do extermínio desta juventude. Investigar os processos de criminalização e repressão da juventude
pobre carioca é urgente. Pois, os jovens pobres são umas das principais vítimas de homicídios no Brasil. Trata-se de um
problema político, de saúde pública e grave violação de direitos humanos. Milhares de jovens tem suas vidas
abruptamente interrompidas e centenas de famílias convivem com o sofrimento diário de verem seus filhos e filhas
sendo exterminados. Segundo a pesquisa Global Study of Homicide , realizada pela Organização das Nações Unidas, o
Brasil tem 11 das 30 cidades mais violentas do mundo! É o país com a maior quantidade de cidades citadas na lista. A
pesquisa aponta que 80% das vítimas de homicídios na América Latina são homens, assim como 95% dos autores dos
crimes. Mais da metade das vítimas de homicídios têm menos de 30 anos de idade, com crianças menores de 15 anos
de idade representando pouco mais de 8% de todos os homicídios. A maior parte das mortes (66%) foram provocadas
por armas de fogo. Há uma grande incidência de homicídios provocados em áreas de pobreza, como as favelas. Em
Você matou meu filho – Homicídios cometidos pela polícia militar no Rio de Janeiro (2015), a Anistia Internacional
relata que das 1.275 vítimas de homicídio decorrente de intervenção policial entre 2010 e 2013 na cidade do Rio de
Janeiro, 99,5% eram homens, 79% eram negros e 75% tinham entre 15 e 29 anos de idade. O documento aponta que a
principal causa para a perpetuação dessa prática de abuso de poder e desproporcionalidade na letalidade é que o
sistema de justiça penal raramente investiga esses homicídios, pois são investigados por processo administrativo sob o
registro de ocorrência de Auto de resistência. Por outro lado, de acordo com Brum (2013, p. 203), assistimos no Brasil
um verdadeiro extermínio de jovens pobres. Para a autora, a morte de tais jovens produz um sofrimento inenarrável
na vida das famílias. Em 24 anos, de 1979 a 2003, a população brasileira cresceu 52% - e os homicídios por armas de
fogo 543%. O aumento foi causado pelo assassinato de adolescentes: das 550 mil mortes, quase a metade atingiu
brasileiros entre 15 e 24 anos. A violência matou mais no país do que a Guerra do Golfo e os conflitos entre Israel e
Palestina . Tais pesquisas apontam para um sinistro cenário de violência e morte que afeta anualmente uma parcela
significa da população jovem brasileira. Problema este que produz sofrimento em centenas de famílias e enseja, na
construção subjetiva de milhares de jovens, o medo e a insegurança. Por outro lado, autores como Malaguti (2003),
Batista (2014), Coimbra (2001), Bauman (1998, 1999, 2005), entre outros, denunciam que esta grande produção de
morte através de práticas de violência tem suas raízes na própria dinâmica de funcionamento da sociedade capitalista.
Neste contexto, ao mesmo tempo que se produz morte violenta em larga escala, também se produz medo e
insegurança como dispositivos de controle social. A questão que levantamos não é a de apontar possíveis culpados ou
inocentes, mas de colocarmos em análise o contexto no qual torna-se possível – e, infelizmente, até natural – que
parcela da população pobre brasileira seja exterminada à luz do dia e que o seu extermínio seja comemorado;
aplaudido. Do mesmo modo que o Estado do Rio de Janeiro possui hoje, vide Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016,
uma agenda esportiva, há, também, uma agenda de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais. Apesar da
produção constante do silenciamento, do medo, da insegurança, vozes dissonantes soam rebeldes pelos cantos da
cidade. Como afirmou Foucault certa vez, sociedade disciplinar não significa sociedade disciplinada . As relações de
poder que fabricam subjetividades capitalísticas podem, também, ser usadas para produzir processos de
singularizaçãoe práticas insurgentes. Diante deste cenário, como sinaliza Deleuze (1992, p. 220), não cabe temer ou
esperar, mas buscar novas armas. Nossas armas, nossa máquina de guerra. Colocar em análise a violência contra os
898
jovens moradores de favela está para além de pensar tão somente o contexto das políticas de segurança pública e
suas violências. Tomamos aqui este contexto como um acontecimento para colocarmos em análise a dinâmica de
funcionamento de nossa sociedade, assim como, os poderes que atravessam, cerceiam, controlam, vigiam e, inclusive,
aniquilam a vida.

899
GT 42 | Psicologia, desigualdade social e lutas para além do capital: análises desde o Marxismo

Coordenadores: Fernando Lacerda Júnior, UFG | Isabel Maria Farias Fernandes de Oliveira, UFRN | Tatiana Minchoni,
UFSC

Co side a doà asà te ti aà doà XIXà ENáB‘áP“Oà eà doà ei oà Estado,à De o a iaà eà Mo imentos Sociais face à
u dializaç oàeà eoli e alis o ,àoàp ese teàG upoàdeàT a alhoàp ete deà eu i àt a alhosà ueàap ese te àpes uisas,à
análises e relatos de experiência que, articulando Psicologia e Marxismo, abordem criticamente os diversos processos
vigentes no capitalismo brasileiro.
A conjuntura atual vem demonstrando a importância e a atualidade do Marxismo como referencial de análise crítica
dos diversos processos sociais que atravessam a sociedade brasileira, especialmente aqueles articulados com a agenda
neoliberal: inúmeros ataques aos direitos sociais (aprovação de contrarreformas que congelam investimentos sociais,
retiram direitos conquistados por diferentes categorias e grupos sociais ou incrementam a exploração da classe
trabalhadora); ofensiva ideológica e política de setores conservadores em diferentes esferas sociais (ataques à
laicidade do Estado, recrudescimento do Estado Penal, incremento da militância de movimentos de direita, projetos
deàleià ueàdefe de àaà es olaàse àpa tido àouà o ate àaà ideologiaàdeàg e o àet . ;àde o st aç oàdosàli itesàdaà
democracia burguesa no Brasil; e a intensificação de lutas sociais de movimentos sociais que se posicionam contra a
exploração e as diferentes formas de opressão.
Na Psicologia Social brasileira é possível identificar diversas ideias e práticas que, buscando estabelecer novos
horizontes para a ciência e para a profissão, elaboraram importantes análises sobre a relação entre Psicologia e
desigualdade social, assim como propostas que buscam politizar a ação da/o psicóloga/o, promover compromissos
ético-políticos com as maiorias populares, estudar e fortalecer os movimentos sociais e criticar ideias e práticas que
violem os direitos humanos, a democracia e fortaleçam o mercado e o neoliberalismo. No entanto, o presente Grupo
de Trabalho não quer se restringir à exploração de concepções de Psicologia Social que rejeitam referenciais teóricos
que, em última instância, contribuem para a naturalização, justificação e individualização de contradições sociais.
Queremos explorar as propostas que emanam da perspectiva da emancipação humana tal como proposta por Marx.
O pensamento marxiano é fundamentalmente uma análise sobre a gênese, o desenvolvimento, as crises e a superação
da sociedade burguesa. Entendemos que emancipação humana é a resolução da contradição, no caso, entre capital e
trabalho, que opõe a existência objetiva de condições sociais que possibilitam o livre e multilateral desenvolvimento
das capacidades humanas à permanência de relações sociais que bloqueiam a realização das possibilidades reais
criadas no interior da sociedade capitalista. Possivelmente, a manifestação mais importante dessa contradição é a
pe a iaàeàaài te sifi aç oàdaà uest oàso ial à oà apitalis o,àistoà ,àdoà o ju toàdeàproblemas políticos, sociais e
econômicos postos pela emergência da classe trabalhadora no capitalismo. Entendemos, contudo, que diante das
formas de organização, refuncionalização e reprodução do capital, a perspectiva da emancipação humana se coloca
como possibilidade só e somente só, com a superação dessa ordem.
A emancipação política, entretanto, pode ser caminho para uma nova forma societária e, sob essa perspectiva, a
radicalização dos direitos sociais pode ser um primeiro caminho nessa direção, embora não necessariamente condição
para tal. Desta forma, pretendemos abrir espaço para trabalhos que analisem as possibilidades da Psicologia a partir
da perspectiva da emancipação política e humana, isto é, a partir da preocupação em problematizar, combater,
reduzir ou aniquilar a contradição capital-trabalho – processo que demanda não apenas a crítica das raízes estruturais
ou das consequências psicossociais da desigualdade social, mas, também, a atividade de se criar um novo mundo por
meio de lutas sociais por direitos sociais e por um mundo novo. Trata-se de interpretar e transformar o mundo.
Neste sentido, o presente grupo de trabalho espera receber trabalhos que explorem como psicólogas e psicólogos
podem utilizar a Tradição Marxista para analisar criticamente diferentes faces da crise social. Queremos explorar as
múltiplas contribuições do Marxismo para se estudar, desde a Psicologia Social, o Estado, a Democracia e os
Movimentos Sociais. Entendemos que este foco é parte importante do processo de construção de perspectivas críticas
e revolucionárias em Psicologia e de qualquer balanço crítico da Psicologia Social no Brasil, especialmente as ideias e
práticas vigentes desde a fundação da ABRAPSO.
Considerando o eixo temático em que situamos este GT, receberemos trabalhos de estudantes, profissionais,
pesquisadoras/es e ativistas preocupadas/os em problematizar a crise social atual (em suas diferentes facetas) e
fortalecer as lutas por emancipação humana, tendo como perspectiva imediata a emancipação política. Para orientar a
elaboração de resumos para apresentação ao GT, indicamos algumas perguntas agrupadas em três temas gerais que
são de especial interesse:
900
(1) Psicologia Social, crítica e emancipação. Quais são as implicações teóricas e metodológicas de uma Psicologia Social
elaborada a partir da perspectiva imediata da emancipação política e tendo a emancipação humana como horizonte?
Que ideias, teorias, conceitos e pesquisas favorecem, promovem ou refletem a perspectiva da emancipação humana?
Que análises críticas da Psicologia e da sociedade podem ser feitas a partir da perspectiva da emancipação humana?
Que possíveis diálogos há entre a Psicologia e o Marxismo? Como a Psicologia Social brasileira abordou e enfrentou a
atual crise social, as múltiplas manifestações da desigualdade social e as ações de luta que buscam uma sociedade
para além do capital? Quais são as principais dificuldades da Psicologia e sua relação com a desigualdade social, os
movimentos sociais e o neoliberalismo? Quais são os limites e as possibilidades para a Psicologia, como ciência e
profissão, em sua articulação com a emancipação humana?
(2) Psicologia e movimentos sociais. Que diálogos a Psicologia estabeleceu com movimentos sociais que enfrentam a
desigualdade social e buscam emancipação? O que a Psicologia Social e o Marxismo podem dizer sobre os diversos
movimentos sociais de direita e de esquerda na atualidade? Qual tem sido a contribuição da Psicologia para estudar
movimentos sociais que lutam contra a retirada de direitos? Que avaliações podem ser feitas das experiências de
participação da Psicologia nos movimentos sociais? Como as discussões e a militância dos movimentos sociais
contribuíram para a Psicologia Social? Que instrumentais teórico-metodológicos têm sido usados nas práticas da
Psicologia junto aos diversos movimentos sociais? Como têm se desenvolvido os novos papeis e funções da Psicologia,
especialmente em sua articulação com os movimentos sociais? Qual a relação da crise social atual com a intensificação
da atividade de movimentos contra opressões enfrentadas por diversas minorias da sociedade?
(3) Psicologia, direitos sociais e conservadorismo. Como os recentes movimentos conservadores têm sido analisados
pelo Marxismo e pela Psicologia Social? Quais são as bases sociais, políticas e ideológicas do conservadorismo atual?
Que análises e pesquisas existem sobre as consequências psicossociais dos diversos e múltiplos retrocessos produzidos
pela agenda neoliberal? Que críticas podem ser feitas às bases teóricas e ideológicas do neoliberalismo e da agenda de
contrarreformas?
Em síntese, esse Grupo de Trabalho pretende incitar discussões que analisam criticamente as contribuições do
Marxismo para a Psicologia Social criticar processos societários vigentes em uma conjuntura pós-golpe que têm raízes
na inerente contradição entre capital e trabalho que atravessa todas as esferas da sociedade atual.

901
A ética neoliberal do poliamor e o mito da desconstrução do amor romântico
Autores: Graziele Campos, PUC SP
E-mail dos autores: grazielec@gmail.com

Resumo: O termo poliamor é a tradução livre do inglês polyamory, o prefixo poly, vem do grego, significa muito e o
sufixo amory, vem do latim, amor. Essa composição hibrida da palavra se traduz literalmente como muitos amores
(CARDOSO, 2010). Para viabilizar sua prática de modo ético, o movimento defende que a relação seja experimentada a
partir dos elementos: negociação, igualdade, liberdade, comunicação, amor e compromisso (CARDOSO, 2010; KLESSE,
2011).
Atualmente mais de 20 países discutem o tema poliamor pela plataforma de grupos virtuais do google incluindo o
Brasil. A internet tem sido o principal veículo de sua disseminação. No Brasil, no Facebook, esta pesquisa localizou 12
grupos que discutem o tema. Dentre estes, o polifidelidade chamou a atenção desta pesquisa, dado que este grupo
incluí na política de participação a categoria de gênero no debate das relações poliafetivas.
Nesse sentido, visando contribuir com o debate demandado pelas mulheres acerca da construção de relacionamentos
poliafetivos mais éticos, por meio de entrevistas abertas/semi-dirigidas realizadas com mulheres poliamoristas com
perfil ativo nas redes sociais, buscou-se nas suas narrativas, analisar se os ideais defendidos pelo poliamor rompem
com o amor romântico e as suas tensões e confluências frente a teoria feminista. É importante destacar que este
estudo se apoia na psicologia social crítica e na teoria feminista, ambas as teorias analisam as estruturas sociais de
poder e não as escolhas ou as preferências individuais.
Dado que as pessoas traem, @s poliamoristas colocam o questionamento: se ambos querem se relacionar com outras
pessoas, por que não? Por que, ao invés de mentir ou reprimir os instintos, não assumir e ser honesto um com @
outr@? Para se afirmar, o poliamor questiona não apenas a ética das relações monogâmicas como a ética das outras
modalidades de relacionamento aberto. O que o poliamor põe em jogo é um modo ético de se relacionar consigo e
com @ outr@ (KLESSE, 2011).
A partir dos questionamentos acerca da normatividade e da moralidade, o poliamor constrói sua face política
identitária, abrindo espaço também para o questionamento dos ideais que defende. Dado que a ética poliamorista se
coloca em alternativa à monogamia, essa pesquisa indaga: Qual o problema da monogamia? De que modo o poliamor
é compreendido como a melhor alternativa para solucionar os problemas do amor? Qual é o problema do amor
dentro da crítica feminista? Como os ideais poliamoristas e sua prática tem sido experienciado pelas mulheres?
Partindo do pressuposto que o amor é uma forma de reprodução do poder que atua em complementariedade com as
estruturas sociais, o amor é também uma experiência política (LAGARDE, 2001). As feministas, sufragistas, marxistas e
comunistas sempre teorizaram sobre o amor porque reconheceram que havia uma injustiça na relação (MIGUEL,
2015). As mulheres se dedicavam mais e não encontravam reciprocidade. De modo que a crítica feminista ao amor
romântico esta relacionada a centralidade que o amor ocupa no projeto de vida, sobretudo das mulheres, pois
enquanto as mulheres amam, - e o cuidar esta incluso no que se tem concebido como amor – os homens governam
(JÓNNASDÓTTIR, 1993; MIGUEL, 2015).
Nesse sentido, quando o poliamor diz ame mais!, esse efeito recai diferentemente entre homens e mulheres, por isso
compreendemos o poliamor como uma ética neoliberal. A ideologia poliamorista invisibiliza as diferenças de gênero
ao apostar que o formato de relação pode quitar com as injustiças no amor. Dentro do escopo deste estudo,
argumentamos que o poliamor não descontrói o amor romântico, a partir de duas hipóteses: 1ª) recoloca o amor no
centro do projeto de vida, sobretudo das mulheres; 2ª) não há igualdade nas relações.
Referências
CARDOSO, Daniel dos Santos. Amando vári@ s–Individualização, redes, ética e poliamor. 2010. Dissertação de
mestrado. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.
JÓNASDÓTTIR, Anna. EL poder del amor ¿Le importa el sexo a la democria? Madrid: Ediciones Cátedra, 1993.

902
KLESSE, Christian. Notions of love in polyamory: elements in a discourse on multiple loving. Laboratorium, 3, 4–25,
2011. Disponível em: http://www.soclabo.org/index.php/laboratorium/article/view/250/588. Acesso em: 13 Jul 2017
LAGARDE, Marcela. Memoria, claves feministas para la negociación del amor. Managua: Puntos de Encuentro, 2001.
MIGUEL, Ana de àlvarez. Neoliberalismo sexual: el mito de la libre elección. Madrid: Ediciones Cátedra, 2015.

903
Apropriações do Marxismo pela História da Psicologia
Autores: Lucas Matheus Pereira Cruvinel, UFG; Fernando Lacerda Júnior, UFG
E-mail dos autores: lucascruvinel9@gmail.com,fernando_lac@yahoo.com.br

Resumo: O Marxismo é teoria social crítica que sublinhou a historicidade do mundo social com a finalidade de
compreender e transformar o movimento de sociabilidades regidas pelo capital. Tal como a Psicologia se constituiu
como uma área marcada pela diversidade teórica, a História da Psicologia também é uma área marcada por diferentes
concepções ontológicas, epistemológicas e metodológicas. Desta maneira, a presença do Marxismo na História da
Psicologia possibilita importantes estudos que explicitem problemáticas sobre a Psicologia na história, isto é, suas
funções sociais, suas políticas, seus projetos societários e sua contribuição para a emancipação humana. Partindo do
pressuposto que a concepção de história presente na obra de Marx tem importantes contribuições para a História da
Psicologia, o presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa que buscou problematizar a presença do
Marxismo na História da Psicologia. Assim, foi realizado um estudo sobre a presença do Marxismo em um periódico
brasileiro de História da Psicologia, Mnemosine, com o fim de: (a) identificar as vertentes do Marxismo que são
utilizadas nos artigos obtidos; e (b) compreender como o Marxismo foi apropriado pela História da Psicologia. O
levantamento foi realizado em todos os números publicados até setembro de 2016 do periódico Mnemosine por meio
das palavras chave Marx, marxismo, marxista e materialismo. Foram obtidos 50 resultados, a partir dos quais foram
estabelecidos três critérios de exclusão: (1) trabalhos que não fossem artigos científicos, como livros e teses de
doutorado; (2) artigos que faziam referência a autores diferentes de Karl Marx; (3) artigos que mencionam um
materialismo diferente do materialismo histórico-dialético de Karl Marx. Com a aplicação dos três critérios de
exclusão, foram eliminados 7 trabalhos, restando 43 artigos a serem analisados. Esses artigos foram classificados em
duas categorias e analisados de diferentes formas: (1) 31 artigos que abordam o marxismo de maneira superficial, com
contribuições limitadas e restritas em passagens específicas do texto, sendo analisados por uma leitura flutuante; (2)
12 artigos que abordam o marxismo de forma ostensiva, analisados mais aprofundadamente por meio de sua leitura
integral. A partir da análise nota-se que o Marxismo, predominantemente, não foi utilizado como fundamento teórico-
metodológico para estudos de história da Psicologia. São predominantes análises sobre a presença de Marx na obra de
alguns autores da Psicologia, críticas às concepções marxistas ou o uso de Marx como um referencial complementar
para análises sobre certos processos sociais. A maioria das menções a Marx nos artigos classificados como leituras
superficiais são feitas sem citar textos de Marx ou autores marxistas. Quando há referência a algum autor, em geral
são comentadores que, em sua maioria, têm como objetivo crítica à tradição marxiana. Nos artigos que abordam o
marxismo de forma mais ampla, em geral, há maior apropriação de teses marxistas. Tais resultados reforçam as
conclusões de uma pesquisa com os mesmos objetivos realizada no periódico Mnemosine no ano anterior, sendo
possível perceber que a História da Psicologia utilizou de forma ínfima a concepção de história do Marxismo para
orientar investigações históricas. Assim, Marx aparece na história da Psicologia majoritariamente de forma indireta ou
complementar: são poucas as elaborações orientadas pelo instrumental marxiano. Dessa forma, apesar de existirem
muitos trabalhos que criticam o marxismo, existem poucos estudos que utilizam contribuições de Marx para a História
da Psicologia.

904
As teses marxistas sobre a relação indivíduo e sociedade na revista Psicologia & Sociedade
Autores: Karla Graciano Ribeiro, UFG; Fernando Lacerda Júnior, UFG
E-mail dos autores: karla.g.ribeiro89@gmail.com,fernando_lac@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho buscou contribuir para a investigação científica da história da Psicologia no Brasil
explorando como as teses marxistas apareceram nas publicações de Psicologia Social veiculadas pela ABRAPSO.
Objetivou-se: (1) apreender a apropriação, pelas teorias psicológicas, das teses da tradição marxista sobre a relação
entre indivíduo e sociedade; (2) identificar as temáticas predominantes e quais vertentes do pensamento marxista
foram adotadas nos textos que dialogaram com a tradição marxista; (3) explorar os possíveis impasses do diálogo
entre tradição marxista e psicologia.
Considera-se que o trabalho contribui para a história da psicologia por discutir criticamente a produção de
conhecimentos na história da psicologia social buscando também apreender e historicizar a influência do marxismo
nessa vertente através de estudos bibliográficos. Compreendendo o conhecimento teórico como prática social e a sua
relação intrínseca com a política, conclui-se que enfoques teóricos e metodológicos, bem como as concepções de
indivíduo e sociedade, implicam consequências relevantes na sociedade e na História. Aponta-se, neste sentido, a
relevância da apreensão crítica do conhecimento produzido no seio da Psicologia Social. Acredita-se que a
investigação da apropriação que psicólogos sociais realizaram, em determinado contexto histórico, da tradição
marxista contribui também para a compreensão crítica sobre as possibilidades, implicações e impasses da relação
entre Psicologia e Marxismo. Busca-se refletir, assim, em que medida essas apropriações afastam-se ou aproximam-se
da perspectiva de emancipação humana marxiana. Por fim, a escolha da tradição marxista na realização da pesquisa
não é aleatória mas parte da constatação da atualidade da obra de Marx que se explicita pelo acirramento do sistema
capitalista na contemporaneidade. Foram pesquisados os dez primeiros números, com exceção do oitavo, do periódico
Psicologia e Sociedade, selecionado por ser o principal periódico brasileiro de psicologia social crítica. O número 8 não
foi estudado pois está indisponível no acervo online da revista. Os números selecionados correspondem ao primeiro
momento da história do periódico, quando publicava, predominantemente, as comunicações apresentadas nos
encontros nacionais da ABRAPSO.
Considera-se que, mesmo de forma implícita, há sempre concepções de indivíduo e sociedade em qualquer trabalho
de pesquisa científica do campo psicológico. Contudo, considerando que a pesquisa busca investigar a apropriação das
teses marxistas pela Psicologia Social e a existência de um amplo acervo, decidiu-se pesquisar os textos publicados no
periódico selecionado, utilizando as seguintes palavras-chaves: Marx, materialismo, dialética. A partir do
levantamento e da leitura flutuante dos textos levantados, foram estabelecidos os seguintes critérios de exclusão:
ensaios de crítica literária, análises de experiências, relatos pessoais de participação em congressos e textos com
menos de 400 palavras. A partir da aplicação dos critérios supracitados, foram selecionados 18 textos. Estes foram
analisados por meio de leituras e análises, o que resultou na criação das seguintes categorias: marxismo como
contributo para o amadurecimento científico da psicologia; contribuições do diálogo entre psicanálise e marxismo;
usos gerais ou superficiais do marxismo.
Dentre os textos que tratam do marxismo como contributo para o amadurecimento científico da Psicologia
identificou-se propostas de elaboração de uma nova visão de indivíduo para a disciplina. A análise revela
preocupações em relacionar o indivíduo com a História, analisando-o como produto das determinações sociais
históricas bem como sujeito e autor histórico, que constrói sua própria realidade social. Conclui-se, neste sentido, que
a noção de individualidade social da obra marxiana foi um contributo fundamental. Alguns textos, além de ressaltar
essa nova visão sobre o ser humano, utilizam-se do marxismo como embasamento para críticas à psicologia
dominante por reproduzir processos ideológicos e alienantes. Dentre os textos que discutem possíveis diálogos entre
marxismo e psicanálise, notou-se os seguintes movimentos: (1) tratar das contribuições da psicanálise e do marxismo
separadamente, sem necessariamente relacionar os dois campos; (2) buscar campo comum possível entre as

905
contribuições psicanalíticas e marxistas; enfatizar a impossibilidade de um diálogo entre psicanálise e marxismo
apontando as divergências entre os dois campos do conhecimento.
Por fim, observou-se o resgate de formulações marxistas de formas mais geral ou superficial. Nesta categoria estão as
produções que retomam conceitos marxianos de formas mais pontual, sem dedicar maior atenção à obra do autor.
Esses conceitos são apropriados ou de forma crítica ou como contribuição possível para a discussão e argumentos do
texto. A análise demonstrou que a preocupação com a superação da sociedade capitalista, isto é, o horizonte
revolucionário inerente à teoria marxiana, não foi uma questão influente. Essa tendência de cisão entre teoria e
prática revolucionária, parece aproximar os estudos analisados neste trabalho como manifestações do chamado
Marxismo Ocidental. Aponta-se, também, essa cisão como possível impasse no diálogo entre marxismo e psicologia.

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Conscientização e Transformação Social: Impasses e exigências para a Psicologia Social Comunitária
Autores: Mariana de Almeida Pinto, UFJF; Fernando Santana de Paiva, UFJF
E-mail dos autores: dap.mariana@gmail.com,fernandosantana.paiva@yahoo.com.br

Resumo: A emergência da Psicologia Social Comunitária (PSC) cumpriu um papel fundamental para a ciência
psicológica ao contribuir para a incorporação da questão social ao campo psi, buscando contestar o caráter
psicologizante, ideológico e alienante hegemônico da cultura profissional. A partir do diálogo estabelecido, sobretudo,
com a tradição marxista, as concepções adotadas sobre importantes objetos de estudos da psicologia, como
consciência e sujeito, são ressignificadas e passaram a ser compreendidas através de sua relação histórica e dialética
com a realidade.
Dessa forma, a colaboração com a formação da consciência crítica dos sujeitos e com a busca pela emancipação
humana passam a compor o horizonte de muitos profissionais e pesquisadores comprometidos com a construção de
uma psicologia crítica ao contexto social latino-americano, marcado por profundas desigualdades econômicas e sociais
produzidas pelo capitalismo. Tais reflexões e os questionamentos levantados sobre o lugar ocupado pela PSC na luta
pela emancipação dos povos oprimidos e explorados suscitaram a importância da apropriação do processo de
conscientização, apontando novos desafios ao trabalho do psicólogo social comunitário, sobretudo, no que diz
respeito à implementação de práticas pautadas pelo horizonte ético da libertação.
Assim, considerando relevante aprofundar na temática, buscamos compreender o complexo arcabouço teórico-
metodológico que constitui as categorias conscientização e transformação social e os desafios que colocam para a
prática profissional do psicólogo social comunitário. Nesse sentido, este trabalho objetivou investigar como o processo
de conscientização pode ser incorporado, em termos teóricos e práticos, ao campo da Psicologia Social Comunitária,
tendo em vista a complexa tarefa de emancipação humana que preconiza. Trata-se, desse modo, de uma revisão
narrativa de literatura, que versa a respeito do tema, partindo de importantes referenciais teóricos do campo da
psicologia social crítica latino-americana, como Martin-Baró, Maritza Montero e outros pesquisadores
contemporâneos, bem como de trabalhos de outras áreas do saber que contribuem na fundamentação do objeto de
análise em questão, enfatizando o resgate e as contribuições da tradição marxista. Consideramos, assim, que nosso
trabalho se enquadra nos requisitos do Eixo Temático Estado, Democracia e Movimentos Sociais face à mundialização
e neoliberalismo e do GT Psicologia, desigualdade social e lutas para além do capital: análises desde o Marxismo, na
medida em que visa, pautado no materialismo histórico-dialético, analisar os limites e as possibilidades de uma
atuação emancipatória da Psicologia Social Comunitária frente à realidade, levando em consideração conceitos
fundamentais como conscientização e transformação social, bem como ressaltando elementos da conjuntura
brasileira atual.
Como resultado do nosso trabalho, portanto, sinalizamos um conjunto de direcionamentos que se configuram como
estratégias fundamentais para uma inserção e atuação ético-política e crítica do profissional, buscando efetivar uma
das tarefas primordiais da Psicologia Social Comunitária: contribuir no processo de conscientização com vistas à
transformação social e à emancipação humana. Dessa forma, acreditamos que a adoção de um projeto revolucionário,
pelo qual o processo de conscientização deve se pautar, passa a exigir da PSC, no âmbito da ordem atual vigente: 1)
delimitação clara de qual o projeto de sociedade construir; 2) não perder de vista a dimensão estrutural imposta pelo
capitalismo (exploração) como forma de impedir o processo de potencialização do homem e sua emancipação; 3)
apreensão de categorias ontológicas e epistemológicas que não descolem sujeito e realidade social; objetividade e
subjetividade etc.; 4) compreensão acerca dos constrangimentos do Estado democrático como espaço de
transformação da realidade; 5) potencialidades e limitações das políticas públicas e dos direitos humanos na
emancipação política e humana; 6) clareza do papel a ser desempenhado pelos diferentes atores e movimentos sociais
no processo de transformação da vida social; 7) fortalecer o trabalho em prol da real emancipação dos sujeitos e
movimentos sociais.

907
Ainda que o campo da PSC tenha conquistado importantes avanços para a modificação da cultura profissional acrítica
e a-histórica, o debate sobre a função social da psicologia incita cada vez mais provocações e está longe de perder sua
relevância para a ciência e para a sociedade. O dinamismo que caracteriza o desenvolvimento das relações e
estruturas sociais, pelo contrário, aponta a necessidade de uma constante reflexão e reformulação das teorias e
métodos utilizados para a análise e a intervenção críticas sobre a realidade.
Consideramos, portanto, que para apontar a conscientização e a perspectiva de transformação radical da sociedade,
na realidade brasileira e da América-Latina, torna-se fundamental: aprofundar a análise sobre os desafios impostos
pela conjuntura política mundial atual, marcada por uma ofensiva neoliberal, além de um abalo no débil Estado
democrático de direito em países como o Brasil, bem como pela crise da perspectiva socialista. Contudo, podemos
afirmar que a atuação crítica junto às diversas formas de lutas sociais progressivas e seus diferentes atores, que se
colocam como movimentos de resistência à implementação de retrocessos aos direitos históricos da classe
trabalhadora, configura-se enquanto um caminho indispensável para a práxis do psicólogo comprometida com o
ideário ético-político da Libertação.

908
Experiências: termos e sujeitos ausentados na apreensão dos conflitos da sociedade brasileira
Autores: Rafael Prosdocimi Bacelar, UNA/Pitagoras
E-mail dos autores: rafaelpros@gmail.com

Resumo: Nesta comunicação, discuto as implicações teóricas e políticas da apropriação do conceito de experiência, no
pensamento do historiados marxista Edward Thompson, para pensar a realidade brasileira. O conceito de experiência,
apresentado pelo autor citado em sua obra Miséria da Filosofia, mostra-se um recurso teórico interessante para
pensar as mediações subjetivas e objetivas advindas dos conflitos sócio-políticos em uma sociedade de desigualdade
estrutural e simbólica, como a sociedade brasileira contemporânea.
Inicio a comunicação localizando o contexto de produção da obra Miséria da Filosofia, calcado no embate teórico
entre o historiador inglês Edward Thompson e a teoria marxiana do filósofo francês Louis Althusser. Tal aporte se
mostra necessária na medida em que este embate lança luz sobre antinomias das reflexões no campo marxiano,
sobretudo aquelas relativas à relação entre teoria e prática e ao lugar da subjetividade na apreensão das contradições
do capitalismo. A crítica epistemológica e política à teoria estruturalista de Althusser, empreendida por Thompson
(1981), revela como aquela orientação filosófica desconsiderou a dimensão da experiência dos sujeitos para o
entendimento da dinâmica política e histórica. O privilégio explicativo centrado na estrutura simbólica reduz a
subjetividade a um fenômeno secundário, subtendida à força impessoal das ideologias e sua lógica objetiva de
determinação. Um dos capítulos da obra crítica de Thompson (1981) chama-se experiência: o termo ausente e se inicia
da seguinte maneira: "O que descobrimos (em minha opinião) está num termo que falta: 'experiência humana'. É esse,
exatamente, o termo que Althusser e seus seguidores desejam expulsar, sob injúrias, do clube do pensamento, com o
nome de 'empirismo'. Os homens e mulheres também retornam como sujeitos, dentro deste termo - não como
sujeitos autônomos, 'indivíduos livres', mas como pessoas que experimentam suas situações e relações produtivas
determinadas como necessidades e interesses e como antagonismos, e em seguida 'tratam' essa experiência em sua
consciência e sua cultura (as duas outras expressões excluías pela pratica teórica) das mais complexas maneiras (sim,
'relativamente autônomas') e em seguida (muitas vezes, mas nem sempre, através das estruturas de classe
resultantes) agem, por sua vez, sobre sua situação determinada (Thompson, 1981, p.182).
A partir da reflexão teórica proposta por Thompson (1981) utilizamos como exemplo uma pesquisa sobre conflitos
socioambientais. Nas últimas décadas, observamos a instalação de grandes empreendimentos de extração mineral,
produção agrícola e geração de energia no Brasil. Tais projetos objetivam, por meio da exploração mercantil da
natureza, gerar um ciclo virtuoso na economia do país, com aumento de arrecadação e ampliação de postos de
empregos no país. Entendemos que o modo pelo qual se explora um bem natural está articulado a uma estrutura
capitalista de relações sociais. A instalação de grandes projetos de exploração da natureza gera o deslocamento de
relações entre sujeitos, comunidades e territórios. Se há um debate político a respeito dos modelos de
desenvolvimento e das questões sociais e ambientais subjacentes a tais situações, poucos estudos analisam os
processos de subjetivação implicados em tal questão e as relações entre subjetividade e estruturas econômicas e
políticas. A partir do conceito de experiência, no viés esboçado por Thompson, teço considerações para a práxis da
Psicologia Social, enfatizando a luta entre camponeses de uma cidade do interior de Minas Gerais e uma companhia
de mineração envolvida no conflito na cidade de Conceição do Mato Dentro.
O conceito de experiência se mostra forte ao permitir uma compreensão não reducionista e não simplista dos
processos sociais, políticos e culturais envolvidos não apenas no contexto exemplificado aqui, mas também em outros
espaços marcados por conflitos sociais que atravessam o tecido social brasileiro. Tal investida teórica, acredito,
permite uma apreensão que abrange as articulações entre sujeitos e estruturas.

909
REFERÊNCIAS
THOMPSON. E.P. A miséria da teoria ou um planetário de erros – uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de
Janeiro: Zahar Ed. 1981.

910
Homofobia e desigualdade social: de que maneira o marxismo pode contribuir para ações psi?
Autores: José da Silva Oliveira Neto, UECE; Ruth Maria de Paula Gonçalves, UECE
E-mail dos autores: jn100995@gmail.com,ruthm@secrel.com.br

Resumo: A homofobia é um fenômeno histórico-cultural, isto é, se perfaz em momentos históricos e mediante o crivo
da cultura. Borillo (2015), em linhas, gerais define homofobia como a atitude de hostilidade contra as e os
homossexuais, portanto homens e mulheres; sendo assim, a homofobia é a rejeição da homossexualidade, a
hostilidade sistemática contra os homossexuais. O sujeito homofóbico é aquele que experimenta a aversão pelos
homossexuais, contudo o autor discute que essa concepção favorece uma abordagem subjetiva do fenômeno
homofóbica, o qual, na verdade, tem suas raízes fincadas em um solo mais profundo: a saber, social e histórico, que se
perfaz na luta de classes (Marx, 2008; Marx e Engels, 2009; 1988). A violência homofóbica desempenha uma função
muito específica: a de atuar como uma espécie de guardião social (Borillo, 2015), que se encontra à espreita a
observar qualquer tipo de comportamento, identificação ou maneira de ser que fuja minimamente daquilo que, por
meio de processos históricos manifestos em complexos como o machismo e o patriarcado (Engels, 2012; Saffioti,
2015), tão caros à sociabilidade do capital, estabeleceu-se como padrão social. Esse dispositivo de vigilância das
fronteiras de gênero é tão forte que age sem uma direção precisa, atingindo a todos os sujeitos humanos que se
nasceram dentro de sua lógica; tendo, portanto, suas formas de enxergar e vivenciar a vida fundadas na aversão e na
hostilidade em relação a homossexuais; estabelecendo, assim, situações de violência e desigualdade como também
sofrimento ideo-político (Sawaia, 2010), o que aprofunda a luta de classes e, por consequência, a desigualdade social.
O processo de subjetivação e construção da identidade acontece, portanto, mediante desigualdade social (Bogo,
2010), empobrecendo o psiquismo (Leontiev, 1978). O presente estudo é eminentemente teórico e teve como
suporte a literatura existente sobre homofobia e suas vicissitudes como também produções de tradição marxista,
tanto no que concerne a textos mais gerais em marxismo como produções voltadas para a psicologia marxista.
Consubstanciados na ontologia marxiano-lukacsiana, perguntamo-nos, assim, se é possível uma compreensão marxista
em psicologia e que auxilie no enfrentamento à violência homofóbica. Objetivamos por meio desta discussão perceber
de que maneira o marxismo em psicologia pode contribuir para uma prática emancipatória, isto é, que vise ao
desestabelecimento da desigualdade social proveniente das marcas deixadas pela violência homofóbica, seja ela física
ou simbólica. Com nossos passos aterrados por essa perspectiva (Lukács, 1978) e em uma tradição sócio histórica em
psicologia (Lane, 1984; Vygotsky, 1993), afirmamos que uma abordagem psicológica consubstanciada no marxismo
(Vygotsky, 1993) dá conta do fenômeno da homofobia e da produção de desigualdade que ele consubstancia de uma
maneira mais profunda e comprometida socialmente (Lane,1984), uma vez que considera as raízes dos fenômenos
sociais; construindo, assim, uma verdadeira práxis (Gonçalves e Yamamoto, 2015). Faz-se mister que retomemos a
materialidade e o trabalho (Lessa e Tonet, 2008) como pressupostos de nossa práxis. Percebemos que a temática do
presente estudo ecoa no GT Psicologia, desigualdade social e lutas para além do capital: análises desde o Marxismo,
tendo em vista que compreendemos a homofobia enquanto um processo sócio-histórico, o qual engendra relações de
opressão e violência, as quais se perfazem na luta de classes e que somente podem ser superadas através dela, rumo a
uma sociabilidade para além do capital e suas reverberações (Lacerda Júnior, 2010; Mészáros, 2011) .Dessa forma,
concluímos que os e as profissionais de psicologia se inserem em um contexto de violência ,o qual gera feridas na
maioria das vezes irreparáveis para o (a) sujeito (a) (Saffioti, 2015); feridas essas que geram uma perspectiva de si a
partir da figura e representação do opressor (Freire, 2016), empobrecendo a consciência histórica daquele que sofre
(Leontiev, 1978). Nesse sentido, uma abordagem psicológica cujas bases se assentem sobre uma concepção material-
dialética dos processos humanos permite uma ação comprometida com a desigualdade social, cujas bases estão na
alienação (Konder, 2009), contribuindo para que essa prática psi se afaste de epistemologias que coadunam com as
definições do capital (Lacerda Júnior, 2010).

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Ideologia, individualismo e Psicologia: modernização capitalista e experiência subjetiva
Autores: Amom Rodrigues de Morais, UFG
E-mail dos autores: amon_nh3@hotmail.com

Resumo: O presente texto visa abordar a emergência da noção de interioridade associada à mudança nas formas da
sensibilidade, afetadas pela reconfiguração social capitalista. Ao mesmo tempo, o trabalho argumenta que as
transformações capitalistas deram base para a construção de uma narrativa psicológica. Ou seja, a Psicologia também
é produto de um desenvolvimento social determinado. Assim, enfatiza o processo de reificação das relações sociais e
da consciência, abordando como esse fenômeno é apreendido sob a forma científica da Psicologia e suas implicações
ideológicas. Pretende-se enfatizar como as mudanças socioeconômicas no capitalismo introduziram transformações
na estrutura da sensibilidade humana, consolidando um novo tipo de subjetividade mediada pela forma da
propriedade privada. Houve o esforço de apresentar alguns conceitos que dessem conta do movimento de emergência
da experiência subjetiva na modernidade capitalista em dois planos: reestruturação da sensibilidade e reestruturação
da matriz do conhecimento. A hipótese de fundo defendida consiste na afirmação de que na sociabilidade do
capitalismo as categorias da absorção da experiência sensível sofrem transformações que, por sua vez, exigem
adequações do conhecimento científico. Se há, portanto, uma nova estética da subjetividade, há uma nova episteme
acompanhando o movimento da experiência. Resta saber se essa matriz epistêmica é suficiente para apreender a
concretude e totalidade do complexo da subjetividade. O texto se divide em duas partes. Na primeira, há
apresentação das características básicas do modo de produção capitalista, tendo em vista como as relações sociais se
modificaram, ao ponto de estabelecerem um novo tipo de experiência subjetiva marcada por características decisivas.
Uma dessas caraterísticas é o aparecimento da categoria indivíduo como unidade social atomizada, o que Ian Parker
(2014) denomina individualidade isolada. Assim como a centralidade que assume o indivíduo na sociedade capitalista
condiciona o que Macpherson (1964) conceitua de individualismo possessivo. A centralidade da individualidade
também marca profundamente os desdobramentos no campo do saber. Na filosofia se expressa, por exemplo, pela
substituição das preocupações ontológicas pela primazia da epistemologia. Em outras palavras, a subjetividade
associada ao idealismo epistemologista torna-se um dos atributos fundamentais para a consolidação da uma
psicologia científica. Isso só foi possível por meio de um conjunto de transformações na estrutura social, ao colocar
novas possibilidades e necessidades para as relações humanas com o advento do modo de produção capitalista. Na
segunda parte há a discussão sobre a relação da nova subjetividade, enquanto reconfiguração das formas da
sensibilidade dentro da formação social capitalista, e a necessidade da constituição de um saber científico
especializado sobre o sujeito. E como a Psicologia, em certo sentido, é uma resposta a essa exigência social de uma
ciência que verse e intervenha sobre a realidade subjetiva conforme as novas relações sociais. Dessa forma, é
abordado a ligação constitutiva entre a noção de interioridade e a Psicologia, e entre esta e o individualismo marcante
das relações mercantis. Em suma, esta discussão se serviu de uma revisão de literatura para enfatizar a emergência de
uma forma de individualidade histórica que implicou a reconfiguração dos modos de fazer ciência. Em particular, a
Psicologia representou a constituição de um complexo de saberes especializados, cuja pretensão foi oferecer uma
explicação ou descrição dos processos subjetivos dessa nova forma de individualidade. Contudo, essa explicação não
pareceu ser suficiente para apreender a totalidade de determinações da subjetividade, pois o desenvolvimento das
ideias psicológicas no século XVIII e XIX, culminando na consolidação de uma ciência independente e específica, foi
marcado pela fixação ou fetiche do senso interior ou, no limite, atenta a apenas a uma parte do processo. De tal sorte,
que converteu a aparência em essência, o particular em universal, tornando-o um objeto abstrato, desligado dos
processos reais da vida concreta. Dessa forma, as descrições positivas e empíricas dos processos mentais, e até mesmo
do comportamento humano derivam de uma ontologia fictícia criada pela necessidade de se conformar a uma
estrutura social particular, o capitalismo. Não seria então, a psicologia uma teoria alienada de uma subjetividade
também alienada? No mínimo, talvez possa se afirmar que o discurso teórico da psicologia cientifica se configura não
mais que um senso comum refinado e sofisticado sobre uma experiência cotidiana, complexa e demasiadamente
912
ampla que escapa a simples conceitos associados à vida interior. Assim, essa nova forma de vida do ser social tem, em
seus contornos, a marca do isolamento, que pode ser traduzida por certa atomização da sociedade. O nome dessa
unidade social básica indivisível é indivíduo. Sua substância é a subjetividade individualizada, a qual, uma vez inserida
na totalidade das relações de competição e de sobrevivência capitalista, passa a ser também individualismo. Portanto,
a fragmentação social, o isolamento, o individualismo e a posse/propriedade se imbricam e se engendram nessa nova
formação social da subjetividade e do gênero humano.

913
Psicologia Social Comunitária e questão social: algumas reflexões na ótica da emancipação humana
Autores: Gabriel Silveira Mendonça; Larissa Soares Baima, PUC Campinas; Raquel S. L. Guzzo, PUC Campinas
E-mail dos autores: baima.larissa@gmail.com,rslguzzo@gmail.com,mendoncags@gmail.com

Resumo: Quando nos dirigimos à prática e às reflexões em torno daquilo que se costuma identificar como Psicologia
Social Comunitária, vemos que o interesse em produzir mudança/transformação social é elemento central desse tipo
de trabalho. Ou seja, explícita ou implicitamente, o trabalho e as reflexões em torno da Psicologia Social Comunitária
manifestam interesse em alguma forma de mudança social e, de alguma maneira, expressam concepções de
emancipação. Ainda que não sejam problematizados os fundamentos sociais e estruturais dessas concepções, elas
comparecem, desde muito cedo, no desenvolvimento da Psicologia Comunitária brasileira. Quando falamos em
emancipação, na tradição marxistas, dois são os seus sentidos possíveis: emancipação política e emancipação humana.
A emancipação política refere-se a um processo que ocorre na transição do feudalismo para o capitalismo e que
reconfigura a relação entre política e economia. Nesse processo, a propriedade privada burguesa emancipa-se dos
obstáculos à sua plena regência sobre a reprodução social. O Estado político, como um produto desse processo, se
organiza para servir à nova lógica produtiva e tem, na propriedade privada, o seu pressuposto. As políticas sociais,
como parte das ações do Estado em resposta à luta entre capital e trabalho, inserem-se no âmbito da emancipação
política. A emancipação humana, por outro lado, tem como fundamento um tipo de trabalho livre, coletivo e
consciente, base possível para uma forma de sociabilidade radicalmente livre. Uma análise preliminar das concepções
de emancipação presentes em produções da psicologia comunitária indica um aparente processo de inflexão política
nessas concepções. Fazendo um apanhado das discussões em torno da questão da transformação/mudança social
nessas produções, observamos que parece haver um certo recuo nas concepções de emancipação presentes nas
propostas de Psicologia Comunitária no Brasil, ao longo do tempo. De uma ideia de transformação social mais
estrutural, construída em bases populares e fora do âmbito do Estado, tem-se, mais recentemente, como hegemônica,
uma ideia de transformação da sociedade por via de políticas sociais estatais, ou pela ampliação de canais de
participação institucional democrática. Trabalhamos com o pressuposto de que esse processo de inflexão política
guarda relações diretas com alguns fatores. O objetivo desta comunicação é o de explorar e refletir, na ótica do
pensamento de Marx, um pouco melhor sobre alguns aspectos de um desses fatores, quer seja: o das mudanças na
forma de se responder à questão social do final da década de 1970 até o início do século XXI. É a mudança na forma de
se responder à questão social, ocasionada pelas transformações econômicas e mudanças na divisão social do trabalho
em meados da década de 1970, no país, que possibilitou a emergência da Psicologia Social Comunitária. E é sempre
com alguma expressão da questão social que as práticas comunitárias em Psicologia irão atuar. Seu desenvolvimento,
portanto, está articulado com as mudanças no trato que se dirige à questão social ao longo do tempo. A análise das
mudanças do trato à questão social nos coloca a necessidade da reflexão em torno de alguns elementos. Tal análise
nos possibilita avaliar limites e perspectivas colocados para a intervenção comunitária em psicologia, na
particularidade da crise estrutural do capital e de suas expressões na realidade de nosso país. Na ótica da emancipação
humana, o principal elemento é o de que, nesse cenário, ter como projeto político a radicalização da emancipação
política, ou seja, a radicalização da cidadania, o fortalecimento do Estado político, ainda que aparente ser uma
alternativa à tendência neoliberal de desmonte das políticas e de ampliação da exploração, não leva à emancipação
humana. Ambas as tendências são formas históricas possíveis da realização da emancipação política, tendo como
pressuposto a garantia, e não a superação, da propriedade privada. Uma alternativa para além do capital, nesse
sentido, deve ser uma luta contra a sociedade burguesa, necessariamente fora e contra o Estado político. Pensar
trabalhos comunitários em Psicologia que resultem em mudanças sociais de caráter global, na particularidade de uma
formação social-econômica de desmonte de direitos sociais e de intensificação da exploração, não deve dispensar a
luta em defesa desses direitos. Trata-se, contudo, de que essa luta seja travada na perspectiva da superação da
propriedade privada e do Estado político, o que implica em lutas, necessariamente, fora do Estado e contra o capital.

914
Questão social, pobreza e o papel do psicólogo: reflexões a partir do estudo com a população em situação de rua
Autores: Kíssila Teixeira Mendes, UFJF; Fernando Santana de Paiva, UFJF
E-mail dos autores: kissilamm@hotmail.com,fernandosantana.paiva@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho surge como recorte do projeto de mestrado intitulado Estigma, pobreza e uso de
drogas: um estudo sobre trajetórias de sujeitos em situação de rua, vinculado ao Programa de Pós Graduação de
Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Trata-se de um estudo qualitativo, cujo campo foi realizado no
contexto da rua sob a mediação com instituições que trabalham com tal população na cidade. O período de campo foi
composto por cinco meses de observação participante e posterior realização de entrevistas com homens em situação
de rua a partir do método da história de vida, totalizando seis entrevistas. O objetivo desse recorte é analisar, a partir
das falas da população em situação de rua, os mais pobres entre os pobres, as trajetórias de pobreza e os cenários de
desigualdade aos quais estão expostos, os localizando historicamente e pensando sobre o papel da psicologia nesse
contexto.
No primeiro momento, serão apresentadas brevemente resultados preliminares da pesquisa, que apontam, entre
outras categorias, para a naturalização do trabalho precarizado; para o trabalho e o consumo enquanto valores
centrais; para os diferentes papéis do uso de drogas; para a reprodução dos discursos estigmatizantes; e para a
resignação e a revolta enquanto formas de ação dos sujeitos que, embora opostas conceitualmente, se apresentam de
formas complementares. Esses resultados fortaleceram o exercício de uma fundamentação teórica que parte da
leitura da Psicologia Social Crítica e da Psicologia da Libertação. Dessa forma, posteriormente à apresentação dos
resultados, serão trabalhadas teoricamente questões relativas à pobreza e à questão social e seus desdobramentos,
compreendendo a pobreza como expressão da questão social cuja gênese está na relação de produção capitalista e na
exploração do trabalho pelo capital. O trabalho parte ainda do pressuposto teórico de que a população em situação de
rua, dita como excluída, é parte integrante e necessária da sociedade capitalista. Assim, trata-se mais de uma inclusão
perversa onde as esferas do consumo fazem o indivíduo se sentir incluído subjetivamente, mesmo que seja excluído
em diversas outras categorias.
Aqui temos espaço para debater o papel da Psicologia que, historicamente, ocupou o local da neutralidade e
objetividade. Os profissionais que atuam em contextos de pobreza no capitalismo necessitam de uma nova
consciência sobre humanidade sendo a falta de uma leitura conjuntural o principal problema da atuação do psicólogo
nesses contextos. É necessário que seja parte da formação profissional a capacidade de análise histórica e de ações
voltadas ao fortalecimento, organização e consciência. É inquestionável, assim, a ideia de que há uma relação
intrínseca entre subjetividade e desigualdade. A Psicologia da Libertação, nesse sentido, apresenta-se como elemento
importante que busca, com o foco nas raízes da desigualdade, conduzir indivíduos e grupos à tomada de consciência
sobre a realidade (ou desideologização). É essencialmente voltada ao contexto latino americano (construção de
identidade) e contra a perspectiva hegemônica subjetivista da Psicologia, que possui suas raízes na ascensão do
liberalismo e do capitalismo, promovendo a naturalização de fenômenos históricos.
Dessa forma, podemos constatar previamente que os sujeitos em situação de rua vivenciam experiências de opressão
e encontram-se em condição desigual no tocante aos direitos humanos fundamentais, a partir de uma realidade
conformada em meio à pobreza e sua gestão contemporânea via a adoção de políticas governamentais perversas e/ou
punitivas. Ao tratar de relações históricas e políticas, o trabalho se torna relevante ao abordar a população em
situação de rua, questão social que não pode ser ignorada na sociedade contemporânea. Assim, visa desnaturalizar
questões arraigadas e aprofundar o estudo na área, desconstruindo narrativas que permeiam o cotidiano das cidades,
sobretudo por se tratar de um estudo baseado nas próprias falas das pessoas em situação de rua. Isso porque, a partir
das perspectivas dos frequentadores da rua é possível compreender as ações governamentais, partindo do princípio
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de que as estas são vividas e simbolizadas pelas pessoas as quais se destinam. Assim, o objetivo do trabalho é também
o de superar o lugar institucionalizado desses sujeitos. Além disso, pesquisas com perfil etnográfico nesses contextos
permitem uma etnografia do próprio Estado, pois falam a partir de lugares e linguagem que são vistas como à
margem, sendo essas margens necessárias, paradoxalmente, à manutenção do próprio Estado.

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GT 43 | Psicologia, Promoção de Saúde e Cuidado Integral

Coordenadoras: Cibele Cunha Lima da Motta, UFSC | Eliane Regina Pereira, UFU | Inea Giovana da Silva-Arioli,
CESCAGE

áàVIIIàCo fe iaàNa io alàdeà“aúdeàdefi eà ueà E àse tidoà aisàa a ge te,àaàsaúdeà à esultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e
posse da terra, acesso aos serviços de saúde. É assim antes de tudo, o resultado das formas de organização social da
p oduç o,àasà uaisàpode àge a àg a desàdesigualdadesàpo à í eisàdeà ida. à B asil,à .àP. .àDessaàfo a,àaàsaúdeà
ganha contornos de um bem socialmente produzido e tem como estratégias de promoção o estabelecimento de
políticas públicas saudáveis, a criação de ambientes favoráveis, o fortalecimento de ações comunitárias, a
reorientação dos serviços de saúde e o desenvolvimento de habilidades e capacidades individuais, de forma a
promover possibilidades de escolhas e oportunidades para perseguir a saúde e o desenvolvimento (Mercadante,
2002). Portanto, aponta-se a necessidade de ampliação de espaços de escuta para que os usuários contem suas
histórias, suas condições de vida e suas necessidades em saúde, deslocando a atenção da perspectiva estrita do seu
adoe i e toà eà dosà seusà si to as.à Oà usu ioà saià daà o diç oà deà pa ie te à eà te à suasà espe ifi idadesà eà suasà
potencialidades consideradas na construção de projetos e na organização do trabalho sanitário. (BRASIL, 2010).
Alinhado com o conceito de saúde que embasa o SUS, o moderno movimento de promoção da saúde, que surgiu no
Canadá em 1974, vem sendo elaborado no cenário internacional por diferentes atores e discursos ao longo dos
últimos 40 anos. O primeiro grande evento mundial desse movimento foi a I Conferência Internacional sobre
Promoção da Saúde (1986), no qual foi redigida a Carta de Ottawa, um dos documentos de referência nessa área, mas
inúmeros eventos internacionais, publicações e pesquisas têm contribuído para a discussão nesse âmbito. A Carta de
Ottawa (1986), enquanto marco desse movimento, afirma um conjunto de valores como saúde, democracia,
solidariedade, equidade, participação e ação conjunta, como resultado de diversas estratégias para a melhoria da
qualidade de vida. As inúmeras conferências subsequentes enfatizam a importância da articulação do setor saúde com
os diversos setores sociais e reafirmam a determinação social do processo saúde-doença. Já o Epp Report (1986),
outro documento importante, mantém estreita relação com a Carta de Ottawa, mas avança em relação à mesma, ao
indicar como estratégias o fortalecimento dos serviços comunitários e o favorecimento da participação popular (Buss,
2009; Heidmann et al., 2009). Promoção da saúde abarca um corpo de conhecimentos com conceitos fortes,
evidenciando ambiguidades, limitações e omissões, por este motivo a discussão de seus princípios tem contribuído
para a renovação do discurso sanitário, pela contraposição ao modelo biomédico e o resgate da determinação social
do processo saúde-doença (Campos, 2010). O conceito de promoção de saúde que pauta este GT parte da ampliação
do entendimento do processo saúde-doença e do debate acerca da relação negativa existente entre iniquidade social
e saúde, evidenciando que a forma como a sociedade se organiza tem relação direta com as condições de saúde de
sua população. Esse conceito abarca a articulação de conhecimentos científicos e populares para o enfrentamento das
demandas em saúde, reconhece a complexidade dos fatores micro e macrossociais e se pauta nas práticas que buscam
a transformação, a reflexão crítica, a equidade e o fortalecimento comunitário.
Os novos desafios sociopolíticos das últimas décadas aliados ao esgotamento do modelo biomédico, propiciam o
apa e i e toà desteà o oà pe sa à eà faze à sanitário: a promoção de saúde. Se por um lado a crise do projeto da
modernidade e do paradigma científico dominante é terreno fértil para a compreensão crítica e ampliada do conceito
de saúde, por outro descortina um acirramento da disputa de projetos de sociedade, que abarca diversidade
epistemológica, ideológica e prática, alimentando a pluralidade de reflexão. Essa disputa acontece no cerne do avanço
do neoliberalismo em escala mundial, com a retração das políticas sociais universalistas e redistributivas. Tal
conjuntura socioeconômica provoca a intensificação da distribuição desigual de bens e do acesso a serviços, o
aumento da pobreza, da violência e do desemprego, a precarização do trabalho e o aprofundamento das
desigualdades sociais (Carvalho, 2010; Lacerda, & Valla, 2007). A compreensão deste cenário é fundamental para
compreender o adoecimento da população e consequentemente o aumento por atenção em saúde.
A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) propõe a ênfase na ampliação do comprometimento e da
corresponsabilização entre os profissionais, a população e o território em que se localiza o serviço de saúde, buscando
alterar os modos de atenção e gestão. O Ministério da Saúde propõe a PNPS, definida não como aplicação de técnicas
e métodos estabelecidos à priori para a resolução de dificuldades e carências da comunidade, mas fundamentalmente
como ação transversal que visa potencializar sujeitos e coletivos. Promover saúde é construir práticas que se pautem
pela humanização e pelo cuidado integral, entendendo saúde como um movimento contínuo e incessante que
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atravessa diferentes dimensões da condição humana. Tal inversão de modelo afirma a produção de saúde como
indissociável da produção de subjetividades mais solidárias, ativas e críticas, evidenciando a promoção da saúde como
uma estratégia que confere visibilidade aos fatores intervenientes na saúde da população e as especificidades de cada
território.
A transformação dessa proposta em práticas e ações estão pautadas pela PNPS (Brasil, 2014), que propõe princípios e
diretrizes para a consolidação dessa política no SUS. Para tanto, temas centrais propostos por essa política norteiam o
desenvolvimento de estratégias de intervenção, a saber: I. Determinantes Sociais da Saúde (DSS), equidade e respeito
à diversidade; II. Desenvolvimento sustentável; III. Produção de saúde e cuidado; IV. Ambientes e territórios saudáveis;
V. Vida no trabalho; VI. Cultura da paz e direitos humanos (BRASIL, 2015).
A instrumentalização dessas ações é organizada por processos operacionais que engajam instituições de saúde e
participação pública dos usuários e outras organizações por meio de controle social e da articulação e cooperação
intrassetorial e intersetorial, entre outros. Nesse cenário, a criação de estratégias que viabilizem a promoção de saúde
como uma prática profissional tem como objeto principal o fortalecimento da vida comunitária e das redes e apoio
social na busca de promoção de qualidade de vida, autonomia e empoderamento (Brasil, 2010). O desenvolvimento de
ações para públicos segmentados atinge faixas populacionais específicas que se beneficiam com um olhar ampliado
diferenciado, como o trabalho com idosos ou adolescentes entre outros, promovendo, dessa forma, o cuidado
integral.
Colocar em prática tais pressupostos e diretrizes se impõe como desafio no cotidiano dos serviços, tanto para a
psicologia quanto para outras áreas, e requer um compromisso ético-político em que a produção de reflexão e a
construção de problemas sejam constantes, tal como aponta Dimenstein (2006). Assim, exige-se do psicólogo um
processo interminável de (re)construção de seu fazer, considerando as múltiplas possibilidades do encontro com o
outro, ora produzindo saberes ora como aprendiz. Nesse sentido, as ações em promoção de saúde exigem do
psicólogo a superação das demandas urgentes do trabalho cotidiano para a realização de atividades que possibilitem
que o olhar e o fazer se voltem para o cuidado integral e desenvolvimento de autonomia e potencialidades. A criação
de estratégias que viabilizem essa prática se constrói a partir de uma perspectiva interdisciplinar e intersetorial em
diálogo constante com a área assistencial que constituem o fazer da promoção de saúde em uma prática social
(Rabello, 2010). O exercício de tornar a promoção de saúde em ações concretas possibilita a consolidação do conceito
e o avanço da promoção da saúde como um construto teórico e com um instrumental próprio.
Oà G upoà deà T a alhoà Psi ologia,à P o oç oà deà “aúdeà eà Cuidadoà I teg al à te à o oà o jeti oà dis utir o lugar da
Psicologia no desenvolvimento de reflexões, ações e políticas de promoção de saúde e de cuidado integral em
contextos do SUS. Para tanto, esse GT pretende analisar os relatos de pesquisa, reflexões teóricas, relatos de
experiência na busca de um debate em torno da temática da promoção de saúde. Por sua vez, o GT está relacionado
ao tema do encontro ao propor discussões sobre as práticas do psicólogo na saúde pública, fundamentalmente
relacionadas às ações de promoção de saúde, e está mais espe ifi a e teà i uladoàaoàei oà ,à P isàdaàPsi ologiaà
“o ialà aà“aúdeàe à o te tosà eoli e ais ào deàp ete deàde ate ài lusi eàso eàosàdesafiosàdoàt a alhoàe àe uipeàeà
da complexidade da rede de serviços, além de se constituir um espaço de diálogo para provocações sobre como e
porque promover saúde em uma sociedade cada vez mais individualista e que busca soluções rápidas para seus
problemas.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Politicas de Saúde. (2002). As cartas da promoção da saúde. Brasil. Ministério
da Saúde.
Brasil. (2014). Portaria nº 2.446, de 11 de novembro de 2014. Redefine a Política Nacional de Promoção da Saúde
(PNPS). Diário Oficial da União.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde (2015). Política Nacional
de Promoção da Saúde: PNPS: revisão da Portaria MS/GM nº 687, de 30 de março de 2006 - Ministério da Saúde,
Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 36 p.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde (2010). Política Nacional de Promoção da Saúde (3ª
edição). Disponível em: http://bvsms.saude.gov. br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude_3ed.pdf
Buss, P. M. (2009). Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: Czeresnia, D. & Freitas, C. M. (orgs.).
Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz.
Campos, G. W. De S. (2010). Prefácio. Em: Carvalho, S. R.. Saúde Coletiva e Promoção da Saúde: sujeito e mudança. 3ª
Ed. São Paulo: Hucitec.
Carvalho, S. R. (2010). Saúde Coletiva e Promoção da Saúde: sujeito e mudança. 3ªEd. São Paulo: Hucitec.
918
Dimenstein, M. (2006). A prática dos psicólogos no Sistema Único de Saúde/SUS. In: Conselho Regional de Psicologia, I
Fórum Nacional de Psicologia e Saúde Pública: contribuições técnicas e políticas para avançar o SUS. Disponível em:
http://www.crprj.org.br/publicacoes/cartilhas/saude-publica.pdf
Heidmann, I. T. S., Almeida, M. C. P., Boebs, A. E., Wosny, A. M. & Monticelli, M. (2009). Promoção à saúde: trajetória
histórica de suas concepções. Texto Contexto Enfermagem, 15(2), 352-8.
Lacerda, A. & Valla, V. (2007). Homeopatia e Apoio Social: repensando as práticas de integralidade na atenção e no
cuidado a saúde. Em: Pinheiro, R. & Mattos, R. (org.) Construção da integralidade: cotidiano, saberes e práticas em
saúde. Rio de Janeiro: UERJ, IMS: ABRASCO.
Mercadante, O. A. (Coord.) et al. (2002). Evolução das políticas e do sistema de saúde no Brasil. In: Caminhos da saúde
pública no Brasil (pp.236-313). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. Disponível em:
http://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/7514
Rabello, L. S. (2010). Promoção da saúde: a construção social de um conceito em perspectiva comparada. Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz.

919
As oficinas de intervenção psicossocial como estratégia de educação permanente e produção de conhecimento
Autores: Luiz Carlos Castello Branco Rena, PUC Minas; Maria Lúcia Miranda Afonso, UNA
E-mail dos autores: lcastellobrancorena@gmail.com,luafonso@yahoo.com

Resumo: Este trabalho apresenta a experiência das Oficinas de intervenção psicossocial como instrumento de
investigação e intervenção educativa, no âmbito do projeto Atenção Psicossocial articulada à Atenção Primária à
Saúde: Matriciamento em Saúde Mental, priorizando o enfrentamento ao álcool, crack e outras drogas, entre
agosto/2015 e julho/2016, em Betim, Minas Gerais. Como parte dos projetos PET/Pró-saúde da PUC Minas, este
projeto de pesquisa-ação foi desenvolvido a partir da importância do/a Agente Comunitária de Saúde (ACS) na Rede
de Atenção Psicossocial mas baixo reconhecimento profissional no matriciamento da saúde mental. O projeto contou
com apoio financeiro da ProPPG/PUC Minas e apoio institucional da Secretaria Municipal de Saúde de Betim.
Objetivo - A questão de pesquisa foi: Como a metodologia de oficinas, associada ao estudo de caso, pode ser
incorporada como estratégia da Educação Permanente do/a ACS na atenção à saúde mental? A Lei 10216/01
redirecionou a assistência em Saúde Mental e definiu os direitos da pessoa com transtorno mental, que deve ser
tratado com humanidade e respeito, buscando inserção social, na família, no trabalho e na comunidade. Em 1991, o
Ministério da Saúde lançou o programa para ações básicas de saúde, incorporando o/a ACS, visando identificar fatores
determinantes do processo saúde-doença na comunidade, desencadear ações de promoção de saúde e prevenção de
doenças. O/a ACS reside em sua área de trabalho conhecendo a realidade local e integrando-se à equipe básica da
Unidade Básica de Saúde. Buscou-se descrever e analisar a atuação do/a ACS na saúde mental, visando à educação
permanente, em caráter interdisciplinar e consolidando uma pedagogia ativa que agregasse o estudo de caso. Relação
com GT - Este estudo se situa no campo da saúde coletiva em interface com a saúde mental e a educação em saúde,
podendo contribuir com a promoção da saúde e fortalecimento do SUS, no GT Psicologia, Promoção de Saúde e
Cuidado Integral. Orientação teórica – A pesquisa foi fundamentada nos estudos sobre saúde coletiva, educação em
saúde, metodologias participativas e processos grupais, com ênfase na Oficina de intervenção Psicossocial. Método – A
pesquisa foi quanti-qualitativa. Para o perfil sócio demográfico dos/as ACS, percursos formativos e representações do
sofrimento mental, foi aplicado um questionário semiaberto, pré-testado e autoaplicável junto a 338 ACS das oito
regiões do município. No estudo qualitativo, foram realizadas oficinas de intervenção psicossocial, com registros
escritos e fotográficos das estratégias pedagógicas e temáticas. Foram formados quatro grupos de até 24 ACS, um em
cada UBS onde havia o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde). Todos ACS foram convidados,
mas sua adesão foi facultativa. Um preceptor e dois estudantes assumiram a facilitação do processo grupal, com
preparação, condução, registro e sistematização das oficinas, sob supervisão semanal da coordenação da pesquisa, da
tutoria do PET-saúde e de uma consultora. Preceptores do CAPS-Ad (Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas)
e CERSAMI (Centro de Referência em Saúde Mental Infanto-Juvenil) ofereceram suporte ao trabalho. Foram realizados
oito encontros em cada oficina, com duração de até três horas, planejados de forma flexível, com frequência semanal.
Os temas-geradores foram extraídos de casos reais, atendidos pelos/as ACS na saúde mental, preservando-se a
identidades dos usuários. Os grupos discutiram as possibilidades de trabalho com cada caso, compreendendo
estratégias pedagógicas que incorporavam práticas e saberes dos ACS. Citam-se as temáticas: discussão da proposta
da oficina com o grupo; matriciamento na saúde mental; metodologia de Oficinas; reflexão dos ACS sobre sua
experiência na saúde e na saúde mental; identidade profissional dos ACS; representações de saúde e saúde mental;
estudos de caso; práticas e saberes dos ACS em saúde mental e demandas por qualificação; o sistema de saúde e
dispositivos para atendimento em saúde mental; serviços substitutivos; trabalho em rede no território. Resultados:
Descreve-se o perfil do/a ACS: maioria de mulheres, com ensino médio, renda familiar de até 3 salários mínimos e
representações difusas sobre saúde mental. As Oficinas se revelaram um método eficiente para a educação
permanente dos/as ACS, incluindo: acolhida, aceitação e adesão; reflexão sobre saberes e práticas; incorporação de
conhecimentos; análise de casos; demandas da população; compreensão do sistema de saúde/saúde mental;
discussão do trabalho do ACS; integração na equipe de saúde; dificuldades enfrentadas e formas de enfrentamento.
920
Conclusões - Reitera-se a relevância do/a ACS nas ações de saúde/saúde mental; necessidade de maior integração
do/a ACS à equipe de saúde, maior autonomia no trabalho e apoio dos demais profissionais; necessidade de educação
permanente para o/a ACS fundamentando a sua atuação; a educação permanente deve ser realizada por meio de
metodologias participativas, destacando-se a Oficina de intervenção psicossocial, abarcando aspectos psicossociais,
objetivos e subjetivos no trabalho do/a ACS. Confirma as oficinas de intervenção psicossocial como instrumento de
investigação e intervenção educativa. Esta investigação contou com apoio financeiro e institucional da PUC Minas
através da Proppg e do Pró-saúde/MS.

921
Benzedeiras no Triângulo Mineiro: a concretização da integralidade do cuidado nos territórios da saúde
Autores: Luiza Maria de Assunção, UFTM; Leiner Resende Rodrigues, UFTM
E-mail dos autores: luassunc@gmail.com,leiner.r.rodrigues@gmail.com

Resumo: Introdução: O diálogo entre saúde e religiosidade/espiritualidade tem sido tema de estudos e pesquisas dada
a sua relevância e atualidade. Busca-se, nessa direção, elucidar as aproximações da prática da benzedura com o
processo saúde/doença/cuidado, trazendo para o palco de debates as interconexões entre saúde, cultura e
religiosidade/espiritualidade mediante as percepções de trabalhadores, usuários e benzedeiras nas áreas atendidas
pela Estratégia Saúde da Família de município do Triângulo Mineiro. Movido pelo pressuposto de que a prática da
benzedura pode ser considerada uma alternativa capaz de conjuminar os diferentes elementos - o físico, o mental, o
social, o espiritual - propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), esse estudo intenta fazer reflexões em
torno da possibilidade da referida prática proporcionar a concretização de uma perspectiva totalizadora. Tomando
como base a teoria de Bourdieu sobre os conflitos entre campos de saber distintos, buscou-se olhar para as relações
entre religiosidade e saúde na perspectiva do conflito entre campos detentores de conhecimentos específicos e que,
muitas vezes, não se comunicam. Buscando enfatizar a sua necessária autonomia, a perspectiva Bourdieusiana
compreende a inevitável tensão entre os diferentes domínios. Na contramão desses estudos, interessou acentuar que
a relação entre os campos não é apenas de conflito, mas de diálogo, sendo muitas vezes possível, a depender da
disponibilidade ideológica dos sujeitos que deles fazem parte, colocá-los em comunicação. Método: Trata-se de
metodologia de natureza qualitativa bem como de estudo descritivo e explicativo. Os instrumentos para a coleta de
dados foram: questionários estruturados com profissionais da saúde (enfermeiros e ACS); entrevistas
semiestruturadas com os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, ACS), usuários e benzedeiras. Os questionários
foram aplicados para cada equipe saúde da família com o objetivo de verificar a existência de benzedeiras na área
coberta pela equipe. As entrevistas semiestruturadas tiveram intuito de alcançar as percepções dos diferentes sujeitos
em relação aos possíveis impactos dos aspectos religiosos/espirituais na saúde. O tratamento das informações obtidas
ocorreu com a utilização da análise temática, a qual permitiu extrair elementos importantes e recorrentes nas falas
dos sujeitos. Resultados e discussão: Aspectos emocionais e de saúde mental são contemplados pela prática da
benzedura. A análise das falas dos entrevistados mostrou, além da intermediação da benzedura na relação dos
sujeitos com o sagrado/transcendente, o seu impacto na saúde física e na saúde psíquica. Esta última
recorrentemente associada a questões espirituais, leva as benzedeiras a ocuparem posição equivalente aquela do
psicólogo vinculada a escuta. Somado a isso, a benzedura auxilia na desmedicalização social ao proporcionar o
tratamento com ervas. O papel desempenhado pelas benzedeiras, para além de sua importância cultural, muito nos
diz da defasagem do cuidado em saúde no contexto brasileiro, distanciado que se encontra de uma perspectiva
holística do ser humano. Conclusão: O ofício das benzedeiras se apresenta como alternativa para o tratamento de
questões físicas e psicológicas. Isso porque coloca em prática a integralidade do cuidado, para a qual o modelo
biomédico predominante não dispensou a devida atenção. A prática homogeneizadora do saber biomédico tem
atuado através da medicalização da vida de modo a proporcionar o arrefecimento do potencial cultural dos sujeitos
destituindo-os de autonomia para enfrentar situações que envolvam sofrimento, doenças e morte. Ao ser tomada
como recurso para lidar com o sofrimento psíquico, a benzedura, enquanto parte da diversificada cultura popular
brasileira, oferece alternativas singulares de acolhimento e cuidado que a medicina convencional não abarcou até os
dias atuais. Nessa direção, é possível compreender a participação das benzedeiras na saúde não como um empecilho
ao funcionamento das instituições de saúde, mas como um recurso a mais de doação de sentido na busca por
respostas e por tentativas de restauração da saúde física e psíquica. Tais reflexões apontam para a relevância da visão
biopsicossocioespiritual na assistência humanizada e no cuidado com os sujeitos bem como atualizam as reflexões
relativamente ao diálogo que tem ocorrido entre campo médico-científico e campo religioso, mostrando que, há
despeito de pequenos conflitos, estes campos colocam em prática a comunicação.

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Construindo intervenções de promoção à saúde com adolescentes: relato de experiência de uma UBS
Autores: Tulíola Almeida de Souza Lima, PUC Minas; Miria Francisca Martins, PBH
E-mail dos autores: tuliolaa@gmail.com,mipsimartins@hotmail.com

Resumo: A atenção primária à saúde (APS), como o próprio nome diz, se encarrega principalmente das ações de
promoção à saúde para aqueles que não se encontram com uma patologia instalada, e de prevenção de agravos
daqueles que estão com alguma patologia já instalada e precisam de cuidados e tratamentos para que essa doença
não se agrave. O público da APS compreende todos os ciclos de vida: do recém-nascido à criança, adolescente, adulto
e idoso. Na prática cotidiana o que se percebe é que os que menos acessam o serviço de saúde são os/as
adolescentes. Poucos são os casos acompanhados de perto pelos pais, que são os que podem garantir a presença
desse público nos serviço de saúdes com alguma frequência. O que se observa na prática diária é que os adolescentes
procuram muito pouco a unidade de saúde, e quando os casos chegam já se observa uma gravidade significativa nas
suas condições de saúde. Por se tratar de uma faixa etária em que ocorre o início de uma vida sexual / afetiva ativa, o
serviço tem lidado com casos de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), gravidez na adolescência, além de
questões de gênero que aparecem associadas a um sofrimento psíquico. Nestes casos, o próprio sofrimento psíquico
muitas vezes dificulta o tratamento ou até mesmo a adesão por parte do adolescente às ações propostas nas
unidades.
Este trabalho se relaciona com o eixo Psicologia, Promoção de saúde e cuidado integral, por se basear em uma
concepção ampliada sobre a produção da saúde, sem se basear em práticas centradas nos saberes médicos, e levando
em consideração o protagonismo do público-alvo envolvido na ação. Trata-se de um esforço de uma equipe
multidisciplinar, na qual se inclui profissional psicólogo (referência de saúde mental na UBS), para o desenvolvimento
de práticas instituintes, que rompem com o trabalho hegemônico desenvolvido na rede e buscam a superação de
impasses e dificuldades de acesso à rede. Tais profissionais pretendem demonstrar que a melhora da qualidade de
vida dessa população depende também da sua participação no planejamento e execução de ações específicas. Se
essas práticas podem refletir melhora da assistência, por outro lado envolvem também possibilidades de reflexão
crítica sobre o trabalho realizado, de modo que os/as trabalhadores envolvidos possam avaliar as condições de
adoecimento do público e dos processos de trabalho realizados. O papel da psicologia pode ser identificado como mais
um saber na construção de um cuidado integral realizado no nível da APS, favorecendo também a articulação com a
rede intersetorial, ao desmistificar a hegemonia desse saber sobre as condições de vida de uma população em
situação de vulnerabilidade, para o qual é convocado em um risco comum de psicologização dos sofrimentos
cotidianos. A perspectiva da análise institucional será desenvolvida ao longo do trabalho como ferramenta para
reflexão sobre as práticas atualmente operadas na UBS com o público de adolescentes da região. Pretendemos
contribuir também com a discussão sobre as práticas dos psicólogos na APS (Sistema Único de Saúde) diante dos
desafios atuais referentes à política pública de saúde.
Neste trabalho vamos relatar uma experiência em andamento em uma UBS específica na periferia de Belo Horizonte -
MG. Esta unidade básica de saúde se encontra em local com áreas de grande vulnerabilidade social, com uma
precariedade de serviços para além do setor saúde - que podemos chamar de serviços extensos da rede, que muito
contribuem para a atenção à saúde, principalmente para o público adolescente. As equipes técnicas têm discutido
sobre como trazer o público adolescente ao serviço de saúde, e percebendo tal dificuldade foi pensado conjuntamente
com o serviço social da UBS, com a equipe de Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF - incluindo as categorias de
serviço social, farmacêutico, educador físico e nutricionista) e a Equipe de Saúde da Família (ESF, com enfermeiros e
Agentes Comunitários de Saúde) a estratégia de ir às escolas municipais da região, inicialmente para escutar o que
esse público gostaria que fosse abordado pelos profissionais da UBS. Estes fizeram uma primeira proposta com o tema
da sexualidade. A faixa etária ficou estabelecida entre 13 e 14 anos. Os profissionais levaram então uma urna na
primeira escola para que os adolescentes pudessem depositar suas questões; após essa coleta os profissionais se
reuniram para então preparar a intervenção, que inclui um primeiro momento em que os adolescentes vão construir
923
um conceito sobre sexualidade; e posteriormente qual será a abordagem dos demais profissionais, sempre pensando
em escutar o que o público em questão tem a dizer para possibilitar uma construção conjunta, que possa favorecer
efeitos de promoção à saúde. É uma aposta na democratização do saber sobre a saúde do referido público, com o qual
pretende-se trabalhar para uma aproximação efetiva dele com a rede de atenção, na qual seja reconhecido como
cidadão e co-autor dos processos que o concernem.

924
Cuidado de si e promoção da saúde: a leitura literária no cotidiano de jovens na Cidade de São Paulo
Autores: Bruno Pessoa da Silva, Universidade Paulista; Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento, UNIP-SP
E-mail dos autores: BRUNNO.ONNURB.12345@GMAIL.COM,vanda_nascimento@uol.com.br

Resumo: Este estudo de Iniciação Científica abrangeu o tema da leitura literária entendendo o ato de ler como um
deslocar-se de si em que autor-texto-leitor se acolhem mutuamente, atravessando a constituição da subjetividade de
quem lê. Neste cenário, a pesquisa teve por objetivo geral compreender como a experiência da leitura literária pode
contribuir para a vida de pessoas jovens enquanto potencial de cuidado de si e promoção da saúde. A relevância
científica do estudo enquanto produção de conhecimento se inseriu no objetivo principal do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Políticas de Saúde e Práticas Sociais do CNPq, coordenado pela professora orientadora e do qual o
discente é membro efetivo, ou seja: estudar as práticas sociais voltadas para os cuidados em saúde e sua relação com
as políticas de saúde brasileiras [...] com ênfase nas estratégias de cuidado de si no cotidiano e as políticas de saúde. A
relevância social da pesquisa fez congruência com a Política Nacional de Promoção da Saúde (2010, p. 14) em que há
o desafio de organizar estudos e pesquisas para identificação, análise e avaliação de ações de promoção da saúde
que operem nas estratégias mais amplas; assim, a pesquisa almejou preencher esse hiato social ao analisar a leitura
literária como uma maneira inovadora no cuidado de si e promoção da saúde, de modo que identificou as estratégias
utilizadas por jovens no seu cotidiano. A promoção da saúde enquanto bem-estar global abrange a satisfação das
necessidades, aspirações pessoais e qualidade de vida. Foram realizadas observações com registro em diário de campo
e dez entrevistas semiestruturadas com cinco jovens do sexo masculino e cinco do sexo feminino, com idades entre 22
e 30 anos, presentes em ambiências literárias na Cidade de São Paulo. O referencial teórico-metodológico qualitativo
fundamentou-se na Psicologia Social Discursiva, com foco nas práticas discursivas e na noção foucaultiana do cuidado
de si. Na análise das práticas discursivas foram identificados os temas: a) leitura literária no cotidiano; b) inserção no
mundo da leitura literária; c) motivações para leitura literária; d) sociabilização da leitura literária; e) implicações da
leitura literária. Como resultados, o compilado de tudo permite afirmar que o objetivo geral foi plenamente alcançado
porque o coletivo de jovens participantes relatou o poder da leitura literária auxiliando nos determinantes sociais e
psicológicos da promoção da saúde, sendo Harry Potter o livro mais citado, e, o cuidado de si enquanto atos de
conhecimento implicando em benefícios na afetividade, corporeidade, linguagem, sociabilidade e cognição, posto que
ler literatura com regularidade previne os transtornos mentais como retardo mental, demência e amnésia ascendendo
a inteligência emocional, a empatia, o desenvolvimento psicossocial e o autoconhecimento. Sobre os objetivos
específicos, os (as) entrevistados (as) discorreram variadas práticas discursivas da leitura literária, as subjetividades
constituídas com a mediação da leitura literária propiciadora de reflexão ampla, e uma minoria desenvolveu
coletivação devido aos livros literários. Concluiu-se que a promoção da saúde poderia ser desdobrada com a leitura
literária espontânea, enquanto dispositivo de cuidado de si e uma alternativa socialmente inovadora para o bem-estar
e a qualidade de vida de jovens.

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Cultura de avaliação na atenção básica e processos de subjetivação
Autores: João Leite Ferreira Neto, PUC Minas; Kennya Rodrigues Nezio Azevedo, UNIPAC; Luiz Guilherme Mafle
Ferreira Duarte, PUC Minas
E-mail dos autores: jleite.bhe@terra.com.br,kennyapsique@gmail.com,lgmafle@yahoo.com.br

Resumo: Pesquisas recentes apontam que os psicólogos têm tido nas políticas públicas, especialmente na saúde, seu
principal espaço de trabalho. Por isso, torna-se importante também abordar o tema da saúde dentro da perspectiva
das políticas públicas. O foco desta pesquisa é o aspecto mais controverso do ciclo das políticas públicas: a avaliação.
Seu objetivo é investigar efeitos da cultura de avaliação na Atenção Básica à Saúde nos processos de subjetivação de
seus atores sociais, no contexto da emergência de uma sociedade de avaliação. Para tal visa compreender a ascensão
da cultura de auditoria nas sociedades contemporâneas, particularmente no setor público; conhecer posicionamento
dos gestores, nos níveis federal, municipal e local sobre a cultura de avaliação e sobre os atuais instrumentos
utilizados; identificar efeitos de subjetivação produzidos pelas avaliações nos trabalhadores, em diálogo também com
gestores e usuários na saúde; e analisar a tensão presente entre dimensões de assujeitamento e de autonomia,
promovida pela cultura de avaliação. Foram entrevistados 5 gestores, de diferentes níveis, do SUS e 17 trabalhadores
de EqSF, com prevalência de enfermeiras graduadas, do distrito sanitário Barreiro no município de Belo Horizonte. A
revisão de literatura aponta que os temas da avaliação e subjetividade têm suscitado na saúde pública e fora dela. A
literatura nacional do setor da saúde é mais receptiva do que a literatura internacional nas ciências humanas. A
interpretação mais corrente, em geral, é que a avaliação é um dos instrumentos de governo ou de gestão. A maior
crítica é que levaria os trabalhadores a se preocuparem apenas com o que está colocado pelos indicadores, abdicando
de uma interpretação mais ampliada da própria atividade. A discussão de Foucault sobre a governamentalidade
concorreram para a construção do problema e análise dos dados. Há uma compreensão comum de que as práticas
avaliativas têm por objetivo produzir mudanças subjetivas, mas também produzem efeitos subjetivos não previstos.
Quanto ao desenho desses efeitos de subjetivação, há um largo espectro de pontos de vista, que vão desde o fomento
a subjetivações comprometidas com a mudança permanente, ao constrangimento da subjetividade e à produção dos
eus calculáveis. Acompanhando o pensamento de Foucault, podemos reconhecer tanto efeitos de submetimento,
quanto efeitos de protagonismo no uso da avaliação. O segundo caso pode levar ao aperfeiçoamento autogerido dos
processos de trabalho ou à criação de espaços estratégicos nas relações de poder. A análise inicial das entrevistas
indica a forte receptividade de gestores e trabalhadores aos instrumentos de avaliação, alinhado ao reconhecimento
de seu caráter incipiente. Os instrumentos mais identificados nas entrevistas foram o Programa Nacional de Melhoria
do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica - PMAQ (MS), a avaliação funcional de desempenho (PBH) e o
monitoramento do estado de saúde da população de Belo Horizonte (PBH). Em consonância com as diretrizes da
PNAB, que, em sua segunda versão alçou a integralidade à condição de seu objetivo geral, tanto o instrumento do
Ministério da Saúde, quanto o da Secretaria Municipal de Belo Horizonte têm forte acento na atenção integral em
saúde. Os gestores têm uma perspectiva menos normativa e mais voltada para a melhoria da qualidade do serviço
decorrente das práticas de avaliação. Nas entrevistas a maior parte dos profissionais apontaram certa insatisfação com
a prevalência do foco no agudo na organização do trabalho nas UBS, à exceção de uma médica que, por atuar como
preceptora de residentes no serviço, conseguia manter apenas 40% de sua agenda para consultas por demanda
espontânea. Estamos no início da análise dos dados de campo, mas até novembro produziremos uma apresentação
mais coesa e aprofundada dos resultados.

926
De que Prevenção Estamos Falando? Sexualidade, marcadores sociais da diferença e 'políticas do medo' em um
Programa Municipal de combate ao HIV em uma cidade do interior de Minas Gerais
Autores: Leonel Cardoso dos Santos, UFMG
E-mail dos autores: leobrizo@gmail.com

Resumo: Esta comunicação objetiva refletir acerca das operacionalizações em torno da prevenção ao HIV, as quais
foram construídas em dois serviços do programa municipal de combate ao HIV/AIDS de um município do interior de
Minas Gerais: o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e Serviço de Assistência Especializada (SAE). O presente
trabalho busca contribuir com as discussões sobre as práticas de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis
(ISTs), compreendendo que tais práticas, desde sua formulação até sua execução, estão marcadas por dinâmicas
psicossociais que incorporam marcadores sociais de sexualidade, gênero, raça e classe social. Esta comunicação busca,
ainda, inserir-se nos debates do campo da saúde coletiva com base em perspectivas construcionistas e nos estudos
foucaultianos, ressaltando, assim, os elementos de controle social da população existentes nas políticas de saúde. Esta
proposta de trabalho nasce da coordenação de um estágio de graduação em psicologia, denominado Instituições,
Comunidades e Saúde Coletiva que, entre as atividades realizadas, estão a participação em reuniões nos referidos
serviços, participações em atividades de testagem e aconselhamentos, conversas em profundidade com os
profissionais do serviço, bem como, coleta de dados das atividades dos serviços em questão, além das orientações aos
discentes participantes do estágio. O projeto encontra-se em andamento, posicionando os resultados encontrados até
o momentos como parciais, porém fundamentais para o estabelecimento da discussão aqui proposta. Serão
apresentados os modos pelos quais a prevenção emergiu no discurso dos/as profissionais do serviço, bem como foram
articuladas noções relativas ao denominado 'comportamento de risco' e seus efeitos na relação entre os/as
usuários/as e o CTA. Minha principal preocupação é discutir como a sexualidade e os demais marcadores sociais já
citados são inseridos nas intervenções realizadas pelos/as profissionais e os desdobramentos destas concepções nas
estratégias construídas pelo serviço na prevenção ao HIV/AIDS. Para além disso, proponho uma análise que leve em
consideração o nível macro da formulação e execução de políticas públicas no combate do HIV/AIDS no Brasil e seus
possíveis efeitos no trabalho executado nos serviços mencionados. Como principais apontamentos, elenco: 1) a
manutenção de uma postura pedagógica na abordagem dos métodos de prevenção, tornando o debate acerca da
sexualidade e dos demais marcadores de diferença que se articulam em torno dessa, secundários. Nesse sentido, a
conscientização promovida pelos serviços junto a população atendida centrava-se basicamente em informações,
deixando de fora a centralidade dos processos afetivos e do desejo nas maneiras pelas quais os/as usuários/as dos
serviços aderem ou não ao uso do preservativo ou outras formas de prevenção. 2) Noções individualizantes como
principal explicação para novas infecções e contaminações por meio das práticas sexuais. Tal raciocínio enfraquece o
desenvolvimento de estratégias de prevenção, gerando dificuldades na abordagem da população atendida. 3) A
'política do medo' como um dos principais recursos utilizados nas conversas entre usuários/as e profissionais,
privilegiando uma prevenção centrada em um discurso educativo acerca do risco, minimizando, nesse caso, inovações
que poderiam surgir baseadas na potencialização do vínculo entre serviço de saúde e usuário. Os três elementos
encontram-se conjugados no cotidiano, gerando desafios não só ao trabalho pontual de realização de testagens,
acolhimentos e consultas; mas também à identificação e articulação de estratégias que permitam diversificar os
modos pelos quais a prevenção poderia realizada. Problematiza-se, então, as limitações dessa com intuito de gerar
formas alternativas a abordagem já realizada pelos serviços, de modo a potencializar o cuidado de saúde.

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Estudo sobre as implicações subjetivas e socioculturais para sujeitos com sequelas de queimaduras
Autores: Abílio Rezende Mecedo, Unesp
E-mail dos autores: abilio_rm@hotmail.com

Resumo: INTRODUÇÃO: As queimaduras são compreendidas como lesões de tecidos orgânicos provenientes de
trauma de fonte térmica resultante do contato ou exposição à superfícies e líquidos quentes, chamas, substâncias
químicas, radiação, eletricidade, fricção ou atrito (GOMES; SERRA; PELLON, 1995). Na Classificação Internacional de
Doenças (CID 10), a queimadura encontra-se na categoria de causas externas, englobando circunstâncias acidentais e
de violência (OMS, 2000). É concebida mundialmente como um dos mais sérios traumatismos que o ser humano pode
passar, estando em pauta como uma das principais questões de ordem da saúde pública, responsável por uma
estimativa de 265 mil mortes anuais e aumentando o número de pessoas com deficiência, especialmente em países de
média e baixa renda (WHO, 2014). No Brasil, encontram-se entre as principais causas externas de mortes registradas,
sendo ultrapassada apenas pelos acidentes de transporte e homicídios (VALE, 2005). Dentre os casos notificados no
país envolvendo queimaduras, a parte mais representativa ocorre na própria residência dos indivíduos, crianças e
mulheres são as maiores atingidas (ARRUDA, 2009). Em relação à queimadura, prevalece o foco nos determinantes
biológicos da lesão e pouco se fala sobre a dimensão sociocultural e subjetiva daqueles que passaram pela experiência
da queimadura e possuem sequelas. No modelo biomédico hegemônico, prevalece o enfoque na doença
desconsiderando-se o valor da experiência subjetiva do paciente. OBJETIVO: O objetivo do presente estudo é
compreender quais são as implicações subjetivas e socioculturais para sujeitos que possuem sequelas decorrentes de
queimaduras. MÉTODO: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, apoiada na abordagem teórica da Psicologia Social e na
contribuição de autores do campo da Saúde Coletiva. A pesquisa foi implementada em parceria com a Santa Casa de
Misericórdia de Guaratinguetá, onde foram realizados os contatos para o convite à participação na pesquisa. Para a
coleta dos dados foram utilizadas as técnicas de entrevista semiestruturada e observação direta. Participaram do
estudo dez adultos (maiores de 18 anos, independente do gênero) que passaram por tratamento na Unidade de
Queimaduras. Esses sujeitos foram submetidos à entrevista semi-estruturada de acordo com um roteiro de coleta e
registro de dados no referencial teórico fornecido pela psicologia social. RESULTADOS: O sujeito que possui sequelas
decorrentes de queimaduras, devido ao comprometimento estético e em alguns casos, funcionais do corpo, tem sua
imagem modificada e consequentemente, passa a ter que lidar com alterações no laço social. As sequelas de acidentes
térmicos acarretam sérios problemas relacionados a preconceitos, estigmatizações e discriminações, produzindo
sofrimentos psíquicos tão ou mais intensos, complexos e desafiadores do que as dores e lesões que acometem o corpo
físico. Relatos sobre vergonha de circular em determinados espaços públicos, ser alvo constante de comentários e
perguntas indiscretas com relação às sequelas de queimaduras, são alguns dos muitos exemplos de circunstâncias que
as pessoas com sequelas de queimaduras suportam todos os dias. Foi recorrente relatos de problemas relacionados à
vida profissional, seja pelo período de afastamento do trabalho ou pela dificuldade de recolocação profissional no
mercado de trabalho após o período de internação. CONCLUSÕES: Ao falarmos de queimaduras, estamos concebendo
uma problemática que vai além das dimensões físico-biológicas. A experiência da queimadura pode englobar sequelas
físicas e psicossociais que estão imbricadas ao contexto sociocultural. A importância de uma pesquisa na perspectiva
da psicologia social, é possibilitar um canal por onde as pessoas possam ter voz e falarem sobre suas necessidades em
saúde. A psicologia social, tendo como campo de conhecimento e prática a complexa relação entre a esfera individual
e a social, possibilita discussões no que concerne a Atenção em Saúde que recoloca o foco da saúde em relação à vida
dos sujeitos em suas múltiplas condições – sociais, econômicas, emocionais, ambientais e culturais. Assim,
corroborando para efetivar ações e políticas de promoção de saúde e de cuidado integral em contextos do Sistema
Único de Saúde (SUS).

928
IRDI (Indicadores de Risco ao Desenvolvimento Infantil) e o mercado da doença
Autores: Valéria da Silva Zorzi, Programa Mais Médico; Marcos Adegas de Azambuja, UFSM; Maria Luiza Diello, UFSM
E-mail dos autores: zorzi.71@hotmail.com,marialuizadiello@hotmail.com,m_adegas@yahoo.com.br

Resumo: Esta é uma abordagem relacionada às perspectivas apresentadas pelo GT 43 (Psicologia, promoção da saúde
e cuidado integral) que propõe constituir um espaço de diálogo para provocações sobre como e porque promover
saúde em uma sociedade cada vez mais individualista e que busca soluções rápidas para seus problemas.
Este escrito apresenta um delineamento de pesquisa para problematizar o uso dos 31 Indicadores de Risco para o
Desenvolvimento Infantil (IRDI) e sua utilização como instrumento principal em avaliações de crianças até 18 meses de
idade, a serem realizadas por médicos pediatras -obedecendo ao novo dispositivo legal que alterou o texto do
Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente (ECA), publicado no DOU – 26.04.2017-; a partir dessa determinação
legal, antevemos uma nova incidência em série, um novo incremento de patologias relacionadas ao desenvolvimento
infantil e ao tempo que é próprio da infância, assim como se deu com a questão da ansiedade e do chamado
transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, que patologizaram condições comuns na infância, as quais são
decorrentes de variantes nas inter-relações (humanas, sociais, psicológicas, culturais, escolares, emocionais, afetivas,
etc) produzidas pela e com a criança; também pela alimentação, agitada vida contemporânea, formas de lazer, etc.
Com essa perspectiva, se visualiza uma grave ampliação dos pseudo-adoecimentos infantis, os quais haverão de ser
tratados por novos medicamentos produzidos especialmente para essa captura da infância.
Nossa preocupação refere-se ao foco que é colocado sobre a questão do desenvolvimento infantil, e propomos
algumas questões fundamentais, sejam elas: Por que desta forma? Por que com esse enfoque? Por que com o
enquadramento teórico psicanalítico? Por que os profissionais da saúde e não (ou não também) os da educação? O
que se quer produzir com isso? O quê situações parecidas com essa acabaram gerando no campo da saúde? Porque
transformar em aparato jurídico/legal?, dentre muitas outras questões.
Soe dizer, ainda, que há uma preocupação crescente no campo da psicologia, que se refere à perspectiva da promoção
de saúde enquanto produção de vida, enquanto produção de novos processos de subjetivação, diversos daqueles
historicamente delineados pela voracidade consumista e capitalística; vê-se, assim, que a perspectiva da promoção da
saúde, seguramente, vai por uma via bastante distinta dessa que se alinha com as de espectro fúnebre-capitalístico.
Os indicadores de risco psíquico ou de risco para problemas de desenvolvimento infantil foram estabelecidos por um
Grupo Nacional de Pesquisa, através duma Pesquisa Multicêntrica cujo estudo utilizou um desenho de corte
transversal seguido por estudo longitudinal realizado entre 2000 e 2008.
A amostra foi composta por 727 crianças nas faixas etárias de 0 a 4 meses incompletos, 4 a 8 meses incompletos, 8 a
12 meses incompletos e 12 a 18 meses, randomicamente selecionada entre aquelas que procuraram as consultas
pediátricas de rotina em 11 serviços de saúde de nove cidades brasileiras. Pediatras, treinados para esse fim,
avaliaram as crianças que compareciam para atendimento e foram anotando indicadores clínicos presentes, ausentes
e não verificados. Para essa pesquisa, a presença de indicadores indica desenvolvimento, enquanto a ausência indica
risco para o desenvolvimento. Os objetivos apresentados para essa pesquisa apontam para a detecção precoce de
riscos e prevenção, e, aperfeiçoamento de pediatras e outros profissionais para essa atuação.
Segundo a abordagem do grupo de pesquisadores, são quatro eixos que a mãe ou responsáveis deve sustentar para
que ocorra a constituição da subjetividade do bebê, assim como um circuito de satisfação nas inter-relações com o
outro e que permitem a organização do desenvolvimento do bebê:
1. estabelecimento da demanda da criança: nesse eixo (ED), estão reunidas as primeiras reações involuntárias que o
bebê apresenta ao nascer, tais como o choro, e que serão reconhecidas pela mãe como um pedido que a criança a ela
dirige.
2. suposição de um sujeito: esse eixo (SS) supõe, por parte da mãe ou cuidador a antecipação da presença de um
sujeito psíquico no bebê, que ainda não se encontra, porém, constituído.

929
3. alternância presença-ausência da mãe: esse eixo (PA) se define pelas ações maternas que a tornam alternadamente
presente e ausente. A ausência materna é o que exige da criança a desenvolver um dispositivo subjetivo para a sua
ausência.
4. no eixo função paterna (FP), trata-se do registro que a criança tem progressivamente da presença de uma ordem
de coisas que não depende da mãe, embora essa ordem possa ser transmitida por ela.
A metodologia utilizada para este estudo consta de revisão bibliográfica e estudo de casos.
A problematização desses quatro eixos e dos IRDI, visa à tessitura duma analítica interpretativa com relação aos
elementos delineados nesse instrumento, às implicações do instituto legal que, sob a égide da proteção da infância, a
expõe à voracidade mercadológica e capitalística, e, com isso cria patologias, diagnósticos e prescrições, e na
seqüencia, ou vice-versa, cria medicamentos, capturando a vida e a infância como um bem capital e material.

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O cuidado em saúde mental: limites e possibilidades da rede de atenção psicossocial
Autores: Mariana Peres Trajano, UFSC; Magda do Canto Zurba, UFSC
E-mail dos autores: mariana.p.trajano@gmail.com,macanzu@gmail.com

Resumo: Na contemporaneidade, uma das questões que assombra o processo de implantação de um novo modelo de
cuidado em saúde mental é o impasse epistemológico das concepções sobre este cuidado. Concomitante às questões
epistemológicas – desdobram-se as questões pragmáticas dos profissionais no cuidado, ou seja: como efetivar o
cuidado em saúde mental de acordo com o novo modelo de atenção em saúde? O modelo psicossocial vem sendo
discutido e praticado no Brasil a partir da década de 90. Após 27 anos, ainda não obtivemos êxito na implantação dos
dispositivos que possibilitam este modelo de cuidado, sofrendo inclusive retrocessos significativos no campos das
políticas de atenção em saúde mental. É um caminho tortuoso, onde estamos aplicando, questionando, avaliando e
reformulando cuidados em saúde mental que deem conta de assegurar a saúde coletiva. O objetivo deste estudo foi
compreender as concepções sobre o cuidado em saúde mental da Atenção Básica, a partir dos discursos dos
profissionais e gestores da área da saúde, de um município do sul do Brasil. Debruça-se, aqui, no processo que a
reforma psiquiátrica trilhou, assim como o processo de desenvolvimento da ciência da saúde e das concepções sobre a
loucura e os diferentes modelos de cuidado. Foram entrevistados 14 sujeitos, dentre eles: 11 profissionais do Núcleo
de Apoio à Saúde da Família que atuavam no contexto da saúde mental, e 3 gestores de saúde. As entrevistas foram
analisadas a partir da perspectiva hermenêutica-dialética que, portanto, entende a compreensão a partir do diálogo,
onde a posição do pesquisador é de ouvir atentamente e respeitar as diferentes opiniões sobre um determinado
assunto e maneiras de ser no mundo. Como resultado, pode-se compreender que a rede de atenção psicossocial está
permeada de diferentes concepções sobre o cuidado em saúde mental. Mais do que as lacunas práticas do município,
os profissionais enfrentam dificuldades da rotina do trabalho. A experiência da entrevista como lugar de desabafo, de
compartilhar e de pedido de ajuda mobilizou no sentido de olhar estes cuidadores para além das críticas e auxiliou a
compreendê-los como, também, pessoas em sofrimento psíquico. O momento de construir a política e de pensar de
que forma será organizado o cuidado já foi concretizado. Precisa-se sim avaliar de que forma essas políticas estão
sendo postas. Não com o intuito de exterminá-las, mas como estratégia de diagnosticar as lacunas existentes e as
possíveis implementações concretas das práticas de cuidado, refletindo e promovendo o modelo psicossocial. As
concepções sobre o cuidado em saúde mental no país são um mosaico das concepções históricas sobre a loucura.
Ainda estão presentes na rede e na gestão concepções e práticas que estigmatizam, isolam, infantilizam e
pericularizam os sujeitos em sofrimento psíquico. O desenho da rede do município pesquisado corrobora com a
dificuldade de mudança da prática dos profissionais, pois fortalece e enrigece o modelo biologicista, medicocentrado e
com hospital psiquiátrico. Sugere-se a produção de novos estudos que permitam acessar o processo de educação
permanente dos profissionais que atuam no NASF, como também o matriciamento da ESF. Vislumbrar diferentes
práticas, discursos e concepções sobre a loucura e a experiência do sofrimento psíquico promove a transformação
social, tendo ênfase nos profissionais de saúde e na gestão que pensa as estratégias.

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O dominó como mediação semiótica no resgate da vida: relato de experiência de estagiários de psicologia no NASF
Autores: Thiago Costa, UNIVALI; Josiane Teresinha Ribeiro Souza, UNIVALI
E-mail dos autores: thiiagoc92@yahoo.com.br,josyribeiro4@gmail.com

Resumo: Introdução: O presente trabalho consiste no relato de experiência de dois estagiários do curso de psicologia
de uma universidade do litoral catarinense inseridos na atenção básica por meio do Núcleo de Apoio a Saúde da
Família (NASF), cuja prática perpassou os desafios da inserção do psicólogo na saúde pública e será aqui apresentada
por meio de um caso. A atuação se deu por meio da assistência a domicílio no caso de um usuário do sexo masculino
de 61 anos que atuava como pedreiro autônomo quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral e que no momento da
primeira visita estava sem renda pois não contribuía com o INSS. Este caso chegou para o NASF por meio da equipe da
ESF que levantou a suspeita de tentativa de suicídio. Será utilizado o codinome Sabiá para referir-se ao usuário. Ao
conhecer Sabiá os estagiários imergiram na realidade do masculino, que ao longo da história da sociedade foi-se
moldando através do trabalho, vinculando o homem a alguma atividade (por muito tempo exclusivamente braçal), e
ao papel de mantenedor da família. Braz (2005) aponta que o homem enfrenta diversos preconceitos que perpassam
vários âmbitos, nas formulações das políticas públicas e também pode ser sentido em relação aos profissionais de
saúde, chefes, patrões, colegas, ou seja, ainda há uma cultura de que o homem é mais forte a partir da dimensão
emocional e física o que implica outro que é do de não ser assistido e de não se cuidar. No caso de Sabiá não havia o
segundo papel uma vez que ele deixou esposa e filhos quando mais novo e no momento da assistência a domicílio
vivia próximo dos irmãos. Resgatar a vivência de Sabiá no trabalho e na vida em comunidade expandiu o horizonte de
práticas dos estagiários para perceber a ruptura de um existir, quer dizer, de uma potência de ser no mundo, e assim,
o trabalho realizado se deu com a finalidade de resgatar possibilidades de existência do masculino e sociabilidade do
território, que maiormente responde com o trabalho braçal ou o desempenho do papel de mantenedor da família.
Utilizou-se o jogo de dominó como mediador semiótico entre Sabiá, o território e as possibilidades de existir para além
do AVC. Objetivos: Refletir acerca da assistência a domicílio como linha de cuidado na atenção básica; Descrever o uso
do dominó como mediação semiótica e potencializador no resgate da vida no trabalho com um usuário do sexo
masculino acamado. Orientação teórica: Nos guiamos pela ótica de L. S Vygotsky, que compreende o sujeito como
constituído a partir das relações que estabelecem, ou seja, do homem enquanto socialmente constituído, que
transforma e é transformado pelo contexto em que está inserido, respeitando sua cultura e momento histórico (PINO,
1993). Método: A proposta de trabalho se desenhou como assistência a domicílio em nove encontros com Sabiá, por
meio dos quais os estagiários conheceram sua história de vida, fizeram o resgate da trajetória familiar e de inserção no
mundo do trabalho, assim como as atividades de lazer e esporte que já vivenciou. A partir deste arcabouço sobre
Sabiá, os encontros dialogavam sobre suas limitações e potências, resgatando um jogo mencionado por ele como
mediador semiótico no cuidado em saúde, no resgate do existir como homem e como cidadão, perpassando a
discussão acerca dos direitos que lhe estavam sendo violados. Resultados: O jogo de dominó serviu como ferramenta
de aproximação, considerando que toda atividade humana é mediada. Deste modo, tal mediação permitiu que os
estagiários pudessem compreender melhor os sentidos e significações de Sabiá, uma vez que para o usuário o domínio
representa parte da sua subjetividade. Na medida que as partidas aconteciam, questões trazidas por Sabia como
causadoras de sofrimento, eram ressignificadas. A discussão do caso com a equipe da ESF também auxiliou na
compreensão do processo saúde doença a partir da determinação social como possibilidade de atuação que
caracteriza o fazer da atenção básica e, de forma mais abrangente, a saúde coletiva. Conclusão: Entendemos ação
humana como síntese de práticas, significados pessoais e culturais, componentes emocionais e afetivos. Atos são
produtos de complexa interligação, entre o sentir, o pensar e o agir, neste sentido o dominó contribuiu para que
pudéssemos compreender os afetos de Sabiá.

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O Luto e a Função da Escuta Junto às Famílias que Perderam seus Filhos
Autores: Bárbara de Aguiar Rezende, UFU; Anamaria Silva Neves, UFU
E-mail dos autores: babiarezende@hotmail.com,anamaria.neves@ufu.br

Resumo: O presente estudo se refere ao recorte de uma pesquisa de iniciação científica financiada pelo Centro
Nacional de Pesquisa (CNPq) e buscou compreender o processo de enfrentamento do luto a partir de relatos de
famílias que perderam seus filhos. Como subsídio teórico básico foram resgatados conceitos psicanalíticos sobre
família e parentalidade; constituição do psiquismo e as relações contemporâneas; luto e melancolia; e as formas de
enfrentamento das vivências traumáticas. Para a Psicanálise, entende-se que as relações familiares são parte
importante do processo de constituição do sujeito e, portanto, a perda de um de seus membros pode simbolizar um
rompimento traumático. Frente a isso, a pesquisa buscou compreender, por meio da pergunta disparadora: como são
constituídas as suas relações familiares e os processos vivenciados pela perda?, as movimentações das famílias quanto
ao modo como experienciam o processo de perda. Metodologicamente o estudo foi realizado à luz dos preceitos
psicanalíticos e levou-se em consideração a escuta analítica, a atenção flutuante e a relação transferencial. Para fins
deste estudo apresentamos o caso de uma mãe que perdeu uma filha quando esta tinha 16 anos de idade e as suas
vivências de enfrentamento do luto juntamente com seus outros dois filhos. Aspectos importantes emergiram durante
as entrevistas e envolveram elementos como as vivências de desamparo intrafamiliar e extrafamiliar; o sofrimento do
luto que faz circular a ambivalência entre o desespero e a reinserção na vida social, medo e investimento afetivo,
saudade e angústia e, ainda, elementos melancólicos significativos foram evidenciados em algumas cenas. A conclusão
deste estudo aponta para a importância da organização dos serviços e a capacitação profissional voltados ao
desenvolvimento de medidas que auxiliem no desenvolvimento de espaços de escuta de famílias frente às perdas
como forma de auxílio para a subjetivação das memórias intrafamiliares. Assim, discutir sobre o luto consistiu e
fundamentou as reflexões sobre o desamparo grupal, as consequências da ausência de suporte social aos sujeitos e,
com isso, a efetiva produção de possibilidades de enfrentamentos de lutos familiares. É possível relacionar as
considerações deste estudo com a proposta do GT: Psicologia, Promoção de Saúde e Cuidado Integral, uma vez que,
ao fim deste estudo foi possível refletir sobre o quanto medidas de ampliação de atendimento para enlutados na rede
pública de saúde poderia beneficiar grupos de sujeitos que vivenciam a perda e que muitas vezes se veem
desamparados na sociedade. Além disso, foi possível discutir como grupos de apoio social e escuta podem cumprir um
papel de promoção de saúde tendo em vista que muitas dessas pessoas adoecem psiquicamente por não possuírem
espaços para ressignificarem as suas dores. Legitimar essa dor frente a perda é uma forma de auxílio psicológico a ser
oferecido a esses sujeitos visando o cuidado integral, levando em consideração que essa reflexão encontra com o que
o GT propõe em usa apresentação que aponta-se a necessidade de ampliação de espaços de escuta para que os
usuários contem suas histórias, suas condições de vida e suas necessidades em saúde, deslocando a atenção da
perspectiva estrita do seu adoecimento e dos seus sintomas. O usuário sai da condição de paciente e tem suas
especificidades e suas potencialidades consideradas na construção de projetos e na organização do trabalho sanitário.
(BRASIL, 2010, citado por ABRAPSO - GT: Psicologia, Promoção de Saúde e Cuidado Integral ).

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Produções artísticas no processo terapêutico em saúde mental: produtos e efeitos da subjetividade em movimento
Autores: Disete Devera, UNIMEP/UNESP; Adriellen Stefanie Ribeiro, UNIMEP
E-mail dos autores: disetedevera@gmail.com,adriellen_sr@hotmail.com

Resumo: As questões referentes à saúde mental sempre estiveram presentes na sociedade, mesmo que em alguns
contextos ou etapas não fossem enxergadas como tal. Um longo caminho foi percorrido e ainda está se
desenvolvendo para aprimorar-se e chegar ao conceito e utilização do método terapêutico que conhecemos hoje.
O presente trabalho, busca através de relatos de usuários de um centro de atenção psicossocial explorar o atual
contexto do Atendimento Psicossocial na esfera pública buscando tecer maior compreensão sobre os efeitos das
práticas terapêuticas no âmbito da produção artística.
O trabalho tem ainda como objetivo a compreensão do acolhimento por parte dos profissionais como parte do
processo terapêutico e o cotidiano da rotina do atendimento nos serviços de saúde mental.
Na entrevista realizada com os usuários do CAPS foi possível observar algo comum diante das falas apresentadas, onde
todos fazem menção ao prazer de participar das oficinas que são oferecidas pelo serviço, tais como pinturas em tela,
oficinas de artesanatos e outras direcionadas ao cuidado a saúde em geral.
Impera nestas falas o desejo em compor estes espaços e o gosto pela prática que possui grande significância
terapêutica, e que possibilita ao indivíduo envolver-se com a atividade afim de expressar seus sentimentos, reproduzir
seus medos e principalmente de utilizar tudo como meio de reprodução social e subjetiva.
Um exemplo desta reprodução pode ser analisada no caso da usuária M., que foi premiada, tendo sua obra publicada
em um livro, onde concorreu com mais três mil obras inscritas.
É um rosto com uma estrada, só que é difícil pra mim falar, porque eu perdi minha filha pra adoção e ai pus então
meu sentimento na tela.
No entanto, as oficinas e atividades oferecidas pela equipe possuem objetivos que vão para além de uma forma de
construção material, mas algo que se fundamenta principalmente como produto da subjetividade.
O serviço tem também como importante fundamento, o acolhimento do portador de sofrimento psíquico integrando-
o ao cotidiano do local, que oferece como prática terapêutica oficinas que trabalham com artesanato, possibilitando
dessa forma, além do cuidado terapêutico a oportunidade de incentivar a autonomia, fazendo com que tais
reproduções subjetivas possam tornar-se talvez meios de ganhos econômicos.
Vale destacar que além das oficinas, a equipe que é apresentada enquanto multidisciplinar, não deixa de lado a
preocupação quanto ao acompanhamento psíquico dos pacientes, propiciando sempre o dialogo individual, acolhendo
a demanda e as dores singulares de cada indivíduo, traçando intervenções para cada caso.
Referente a proposta do grupo de trabalho o artigo se relaciona amplamente com a temática no sentido de promover
visibilidade acerca de espaços de escuta do usuário, além de dar lugar a subjetividade dos sujeitos através de
processos terapêuticos que buscam colocar a doença entre parênteses e permitir dar lugar a um sujeito integro,
composto de singularidades, sonhos e desejos.
O artigo foi construído a partir de entrevistas semi-estruturadas realizadas com usuários de um Centro de Atenção
Psicossocial no interior de SP.
Foi utilizada a psicanálise para análise dos conteúdos evidenciados pelos entrevistados e bibliografias de Abílio Costa
Rosa, Paulo Amarante e Disete Devera.
Tendo em vista todo o processo de construção da Saúde Mental no Brasil, podemos dizer que sempre fora marcado
por muitos desafios até chegar à Reforma Psiquiátrica, a qual ainda pode ser vista como fator em processo de
consolidação, mas que paralelamente é pautada por alguns retrocessos em relação ao modelo manicomial que ainda
resiste.
Com a realização do trabalho, o qual possibilitou um contato frente a um Centro de Atenção Psicossocial que busca a
articulação na implicação subjetiva e sócio cultural, ou seja, o entendimento da existência do indivíduo enquanto ser
desejante, observamos práticas terapêuticas que priorizam o bem-estar e colocam o indivíduo no centro de seus
934
cuidados, havendo forte acolhimento sem privação de liberdade, acima das práticas secundárias que procuram a cura
dos sintomas induzida por medicamentos. Tal atenção é exposta através da fala dos próprios usuários, pois esta acaba
trazendo-lhes um novo olhar para aquilo que antes era tido como catástrofe e que agora pode servir como saída.
E desta forma, entendendo o sujeito como ser passível de direitos, singularidades, sonhos e desejos, e ainda
transparecendo este respeito, é possível descontruir a preocupação que antes baseava-se no resgate da razão como
condição para a sanidade.
De acordo com Paulo Amarante (1996), há que se fazer uma mudança para além da reforma psiquiátrica, entendendo
concretamente o sujeito, sua essência e deixando entre parênteses sua doença, de forma a olhar para aquilo que diz
sobre si, e então cuidando desta parte, transformando-o em protagonista de sua história. E foi essa a impressão
passada diante da realidade deste serviço de atenção psicossocial que, embora acometido por constantes desafios em
âmbito de políticas públicas, se faz fundamental e de extrema importância para a vida do portador de sofrimento
psíquico.

935
Promoção e Manutenção da Saúde em Idosos na Comunidade
Autores: Maria Paula Machado, UFG; Arielly Luíza Nunes Silva, UFG; Caliope Pilger, UFG; Daise Martins da Silva, UFG;
Emise Terezinha Naves, UFG; Lana Ferreira de Lima, UFG-Regional Catalão; Nunila Ferreira Oliveira, UFG; Priscila
Gomes Martins, UFG
E-mail dos autores: mariapaulamp07@hotmail.com, emilsenaves@yahoo.com.br,
daisemartins97@gmail.com,lanafl2002@gmail.com, nunilaferreira@gmail.com, caliopepilger@hotmail.com,
prigomesm1993@gmail.com, ariellynunesufg@gmail.com

Resumo: INTRODUÇÃO/ORIENTAÇÃO TEÓRICA: Esse trabalho tem como base o desenvolvimento de um projeto de
extensão por equipe interdisciplinar que envolve professores e estudantes dos Cursos de Psicologia, Enfermagem e
Educação Física, da Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão. O projeto, desenvolvido em uma Estratégia
Saúde da Família (ESF), da cidade de Catalão-GO é constituído por um Grupo de Convivência (GC) que visa à promoção
e manutenção da saúde de idosos na comunidade.
Justifica-se pela necessidade de realizar atividades junto aos usuários da ESF e Instituições sociais e de saúde presentes
na comunidade, considerando a integração ensino-serviços. Além disso, oferece possibilidade de auxiliar os
profissionais de saúde e gestores do município a implantar e a desenvolver ações preconizadas pela Política Nacional
do Idoso, Política do Envelhecimento Ativo e Política Nacional de Promoção da Saúde, para que os idosos sejam
atendidos de forma integral e assistidos em suas particularidades.
OBJETIVOS: As atividades realizadas têm como objetivos principais: Conduzir um processo cuidado em saúde, a fim de
que os participantes adquiram comportamentos mais saudáveis, além de promover a construção de laços sociais que
os levem a uma maior inclusão social; Contribuir para a formulação, implementação e acompanhamento de políticas
públicas prioritárias, como a Política de Promoção à Saúde; Propor atividades voltadas para promoção da saúde e
cuidado integral, estimulando a vida comunitária tal que possa refletir o papel da psicologia nesse contexto da saúde
pública.
MÉTODO: São realizados encontros semanais com os idosos, com duração de aproximadamente duas horas. Em cada
encontro é trabalhado um tema, de acordo com a demanda apresentada pelo grupo na atividade anterior. Para o
desenvolvimento de cada tema são realizadas: verificação dos sinais vitais, oficinas de artesanatos, alongamentos,
atividades lúdicas, rodas de conversa, técnicas de automassagem (DO-IN), ampliando assim os espaços de escuta a fim
de que eles narrem suas histórias e suas dificuldades.
As atividades propostas contemplam várias áreas do conhecimento, aproximando de uma abordagem integral à saúde
do idoso. Para definir os temas que serão tratados, são realizadas reuniões semanais pela equipe interdisciplinar para
planejar as atividades e organizar os encontros subsequentes.
RESULTADOS: Embora, o referido projeto atenda a várias áreas da saúde, neste trabalho propomos apresentar os
principais impactos dos resultados referentes a saúde psíquica dos referidos idosos. É possível perceber o quanto os
participantes se sentem beneficiam da participação no projeto, uma vez que este é executado de acordo com a
necessidades dos integrantes, além dos idosos possuírem voz, opondo-se às políticas de identidades sociais que lhes
são impostas, vistos como seres frágeis e dependentes de cuidados de um outro.
No grupo de convivência há uma integração, são construídos vínculos, ou seja, laços sociais, este espaço ainda propicia
o luto acerca do próprio envelhecimento, tudo isso contribui para a promoção de saúde aos idosos, contribuindo para
que estes tenham um envelhecimento ativo. O projeto tem-se mostrado eficaz, visto que a maioria dos participantes
apresenta um quadro de saúde estável e ressaltam a importância do grupo de convivência em suas vidas, o que fica
explícito também na adesão dos participantes à proposta do grupo de convivência.
Muitos membros do grupo de idosos, ao descreverem seu cotidiano, apontam problemas que podem comprometer
sua saúde, como o sedentarismo. Sabe-se que o sedentarismo ligado a outros fatores pode ter como consequência o
desenvolvimento de doenças crônicas e de transtornos psicológicos. A saúde pode ser compreendida como uma
adaptação positiva do indivíduo ao meio, e, apesar da existência de uma doença ou alguma limitação, é preciso
936
manter um estado de equilíbrio físico, mental, social e espiritual. Sendo assim, é necessária a compreensão e
assistência aos múltiplos fatores que interferem no processo de saúde-doença. As atividades desenvolvidas têm como
intuito a promoção, manutenção, reabilitação e a prevenção de doenças.
CONCLUSÕES: O grupo de convivência contribui para melhorar as condições de saúde dessa população e seu
atendimento pela equipe da ESF, e conta om a participação direta ou indireta dos profissionais: agentes comunitários,
técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, secretárias, entre outros, para que as atividades desenvolvidas sejam
multiplicadoras das ações de promoção de saúde, articulando conhecimentos científicos e populares.
Além disso, percebe-se um intercâmbio entre os saberes acadêmicos e o saber popular, ou seja, aquilo que é
aprendido no meio universitário, por professores e estudantes dos diferentes cursos é levado ao grupo, onde haverá
uma troca de saberes entre a equipe da UFG/RC, os profissionais da ESF e os idosos. Com a finalidade de enfrentar as
dificuldades encontradas na saúde daqueles que estão na terceira idade especificamente, reconhecendo os fatores
sociais que contribuem para estas dificuldades e contribuindo com uma estratégia de enfrentamento. Logo, nossas
práticas visam uma reflexão crítica sobre os problemas existentes, buscando a transformação orientada para a práxis e
o fortalecimento comunitário.

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Rodas de conversa com idosos: prática de um estágio básico em contexto comunitário
Autores: Iris Clemente de Oliveira Bellato, UFMT; Matheus Bassan Alvino Brombim Lopes, UFMT; Amailson Sandro de
Barros, UFMT
E-mail dos autores: irisbellato@gmail.com,matheus.brombim@gmail.com,amailsonbarros@gmail.com

Resumo: O presente trabalho diz respeito à prática realizada durante o Estágio Básico (EB) II - Contextos Sociais e
Comunitários, disciplina ofertada pelo curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Cuiabá,
com a carga horária total de 60 horas. O estágio foi realizado em um equipamento público da Assistência Social, na
proteção básica. Neste caso, em um Centro de Convivência de Idosos (CCI), localizado na área urbana do município de
Cuiabá – MT. O referido estágio foi realizado no segundo semestre letivo de 2016.
O estágio objetivou promover com os idosos do CCI um espaço de protagonismo no qual eles pudessem dizer de si,
tendo como pano de fundo o processo saúde-doença e suas significações na vida de cada um, bem como aproximar os
estagiários do contexto comunitário e do trabalho psicossocial e exercitar a atuação da psicologia em processos
grupais com idosos. A escolha pelo tema saúde-doença ocorreu a partir da observação das recorrentes falas dos
idosos sobre este processo.
Levando em consideração a relação deste trabalho com o eixo temático escolhido (eixo 10) e com o GT 43, o presente
trabalho relaciona-se com a proposta de ambos ao ser um relato sobre a importância dos espaços de fala e de escuta
em contextos sociais, e como isto pode operar de modo a promover a saúde e a autonomia dos sujeitos.
A prática do estágio teve suas bases teóricas na psicologia social comunitária em sua interface com a psicologia da
libertação, tendo Martin-Baró, Paulo Freire, Maria de Fátima Quintal de Freitas e Maritza Montero, como autores e
principais influências para a realização práxica do estágio. Fez-se importante, também, uma a leitura sobre as formas
de inserção do psicólogo na comunidade, o qual Freitas (1998) aponta que esta inserção deve ser baseada num
compromisso social de mudança na comunidade, possibilitando a autonomia dos sujeitos enquanto transformadores
da própria realidade. Tendo em vista o objetivo do estágio, fez-se necessário a operalização do conceito de saúde-
doença, traçando um a caminho sócio-histórico do pensar e fazer saúde nos contextos comunitários. Nesse sentido,
segundo Scliar (2007) o que pode ser entendido por saúde reflete necessariamente o contexto social, econômico,
político e cultural de determinado período histórico. Assim, ao se falar do processo saúde-doença deve-se levar em
consideração todas as problemáticas que envolvem o que se é dito, sendo que a conceitualização de tais fenômenos
perpassam a realidade concreta e subjetiva daqueles que a vivem e a conceitualizam.
O EB II baseou-se, em termos metodológicos, na observação participante, em que o observador não apenas observa a
dinâmica do contexto no qual esta inserido, mas também participa dela, gerando efeitos transformadores tanto nesse
contexto quanto também em si próprio. Segundo Spradley (apud CORREIA, 2009), a observação participante permite-
nos observar as actividades das pessoas, as características físicas da situação do ponto de vista social e o que nos faz
sentir o facto de fazermos parte integrante daquela realidade (p. 32). A partir disso, foi possível levantar as demandas,
que resultou em duas rodas de conversa com o objetivo de oferecer um espaço de fala no qual fosse possível aos
idosos significarem seus processos de saúde-doença. As rodas de conversa se deram em dois encontros, nos quais
algumas questões disparadoras acerca desses processos foram lançadas, convidando os participantes a partilharem e
significarem suas experiências. As rodas contaram com cerca de 20 idosos e tiveram duração média de uma hora e
meia.
Na realização das rodas de conversas, alguns aspectos perpassaram as falas de muitos dos idosos, tornando-se temas
centrais de discussão e reflexão, como: a) a fé em Deus e sua importância nos momentos difíceis; b) a importância que
o do CCI o na vida cotidiana dos idosos e espaço de convivência e promoção de saúde; c) a importância da roda de
conversa como espaço de fala e acolhimento. Foi possível observar que as rodas de conversas contribuíram também
para o processo de significação dos participantes sobre a velhice e suas dificuldades. Cada participante, com sua
especificidade e individualidade, trouxe falas carregas de sentidos que, muitas vezes, foram compartilhados e
reconhecidos pelo coletivo, sinalizando um processo de identificação de demandas psicossociais inerentes ao grupo de
938
idosos. Destacamos que, embora o trabalho realizado com os idosos tenha sido uma experiência pontual do estágio
básico em psicologia, a boa repercussão da atividade entre os participantes indica a potencialidade das rodas de
conversa como uma ação que a equipe do CCI poderia desenvolver na rotina de atendimentos aos idosos. As rodas
como instrumento de intervenção psicossocial podem inclusive oferecer oportunidades para a equipe identificar
determinadas demandas dos idosos que exigem um plano de intervenção mais aprofundado e intersetorial, por
exemplo.

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Saúde mental de estudantes universitários: do atendimento individual à proposta de ajuda colaborativa de pares
Autores: Gisele Curi de Barros, USP-Ribeirão Preto; Julia Aparecida Alves, USP; Marina Saavedra Azzem, USP; Rodrigo
Jair Morandi Metzner, USP
E-mail dos autores: gicuri2@hotmail.com,rodrigo-
jm@hotmail.com,julia_aa95@outlook.com,marina.azzem@gmail.com

Resumo: Serviços de apoio educacional e/ou psicológico existem em várias Instituições de Ensino Superior (IES) no
Brasil. A preocupação com a saúde mental de estudantes universitários tem crescido, e quando há a presença de
psicólogos nas equipes, as práticas nestes serviços são pautadas, sobretudo, pelo modelo da clínica individual.
Geralmente as equipes são reduzidas, levando profissionais a despenderem muito de seu tempo na assistência
individualizada, gerando a criação de listas de espera para atendimento, e um sub aproveitamento dos serviços em
ações de caráter institucional. Reflexões são feitas no sentido de repensar atribuições dos serviços de apoio nas IES,
que necessitariam transformar seu papel de efetor clínico para o de gestor do cuidado e atenção à saúde mental dos
estudantes, ampliando seu repertório de ações, focando em estratégias de promoção e prevenção de saúde.
Demandas trazidas pelos estudantes muitas vezes relacionam-se com questões do ambiente acadêmico, das
interações com colegas e docentes, com os projetos políticos pedagógicos dos cursos, com uma cultura construída
sobre a vida universitária. Ampliar a visão dos determinantes sociais do processo de adoecimento dos estudantes nos
parece colaborar para um posicionamento ético e político da Psicologia, que considera o processo saúde-doença como
historicamente situado e produzido nas micro e macrorrelações. Neste cenário, o Centro de Apoio Educacional e
Psicológico (CAEP) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP é um serviço que conta com uma equipe de
psicólogas e educadores, e suas atividades se pautam em uma visão abrangente e contextualizada das demandas
psicoeducacionais no ambiente universitário, tanto do corpo discente quanto docente e das coordenações dos cursos.
Compreendemos este trabalho articulado com o GT Psicologia, Promoção de Saúde e Cuidado Integral, no Eixo
Temático desse Encontro Nacional da ABRAPSO Práxis da Psicologia Social na Saúde em contextos neoliberais, à
medida que descreve os desafios de cuidar da saúde mental de estudantes universitários para além da clínica
individual, entendendo as queixas estudantis também como produtos do ambiente institucional. A atuação do
psicólogo na universidade deve priorizar modelos alternativos, relacionados à Psicologia Educacional e Social,
problematizando as relações de tensão nas quais estão inseridas as demandas dos estudantes. O CAEP oferece suporte
a sete cursos de graduação na área da saúde. Dentre eles, encontra-se o curso de Ciências Biomédicas, contando
atualmente com 88 alunos, e que tem duração de 4 anos. Representantes do Centro Acadêmico (CA) deste curso
buscaram uma parceria com profissionais do CAEP, solicitando instrumentalização para que pudessem ajudar outros
estudantes. Estando na coordenação do CA, ouviam queixas dos colegas, mas não sabiam como lidar com estas
demandas. Este trabalho objetiva relatar como se estabeleceu esta parceria; ao longo de doze encontros, uma
psicóloga do serviço desenvolveu com esses estudantes a elaboração conjunta de uma estratégia de intervenção
grupal. Esta consistiu em construir com os estudantes um entendimento compartilhado de como poderiam auxiliar os
colegas, através das próprias atividades que a psicóloga desenvolveu com eles na fase denominada Preparação da
Equipe. A demanda por cuidado em saúde mental não teria o caráter de atendimento clínico (grupoterapia), mas de
construção de um espaço de acolhimento e troca de experiências relacionadas ao cotidiano universitário, sendo
coordenado pelos próprios estudantes. A orientação teórica foi a perspectiva construcionista social, que concebe a
linguagem como prática social, uma forma de ação no mundo com poder de construir pessoas e relações. Deste
modo, a comunicação é um processo relacional e situado de produção de sentidos. A partir do pedido dos estudantes,
de se instrumentalizarem para auxiliar outros alunos, a psicóloga apresentou um modelo de intervenção grupal que
poderia ser utilizado para esta proposta, mas que precisou ser co-construído com os mesmos, convidando-os a se
sentirem protagonistas do processo. Ela colocou-se em uma postura de não saber mais do que eles próprios a respeito
das experiências cotidianas vivenciadas nas relações com os pares, das queixas ouvidas, e de como gostariam de
ajudar. Ao longo dos encontros, através de metodologias e procedimentos utilizados em contextos de facilitação de
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diálogos, como construção do contexto conversacional, valorização do diálogo em detrimento do debate, uso de
ferramentas conversacionais – escuta ativa, posturas apreciativa e reflexiva – a psicóloga apresentou um jeito de
conversar com os estudantes que eles mesmos, posteriormente, poderiam utilizar com os demais colegas. Isto
propiciou entendimentos de como poderiam ajudar, aproveitando o próprio jogo relacional de empoderamento
mútuo que acontecia no grupo. Foram feitas simulações de situações em que escutavam outros estudantes, e
puderam utilizar as ferramentas conversacionais apresentadas e vividas in loco. Concluímos que os estudantes se
sentiram valorizados em suas percepções e recursos, por conta de uma horizontalidade na relação com a psicóloga.
Isto possibilitou a adesão à proposta, e o sentimento de confiança de que têm algo a oferecer junto a outros
estudantes, em contexto de conversas colaborativas, com posicionamentos convidativos ao diálogo, à
corresponsabilização e co-construção de formas de cuidado e bem-estar.

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GT 44 | Psicologia, Travestilidades, Transexualidades e Intersexualidades

Coordenadores: Marco Antonio Torres, UFOP | Maria Juracy Filgueiras Toneli, UFSC | Paula Sandrine Machado, UFRS

O Grupo de Trabalho "Psicologia, Travestilidades e Transexualidades" ocorreu pela primeira vez no XVI Encontro da
áB‘áP“Oà deà ,à oà ei oà G e o,à “e ualidadesà eà I te se ç es ,à o po doà oà de ateà o à t a alhosà ueà
apresentaram abordagens teórico-metodológicas diversas focando na construção de discursos científicos psi e afins
nesse campo. O GT foi reeditado em 2015, no II Seminário Internacional Desfazendo Gênero, em Salvador, e no XVIII
Encontro Nacional da ABRAPSO, em Fortaleza. Ao reeditarmos o GT, agora respondendo à proposta do eixo 2 "Gênero
e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência", pretendemos dar seguimento às discussões já
empreendidas reunindo, mais especificamente, trabalhos que busquem analisar pesquisas, intervenções sociais,
políticas públicas e/ou experiências dos sujeitos no campo das travestilidades, das transexualidades e das
intersexualidades, as quais produzem práticas materiais, narrativas, corpos e experiências distintas, que se relacionam
de múltiplas formas com as heteronormas e as cisnormas.
Como pesquisadorxs envolvidxs com a temática e com sujeitos que se constituem no campo das disputas políticas pelo
reconhecimento das travestilidades, transexualidades e intersexualidades, experimentamos um crescimento das
pesquisas nessa área. Também temos dialogado com o crescimento de pesquisas realizadas por travestis, transexuais
e intersexuais que apontam para novas proposições e epistemologias possíveis nos debates sobre corpo sexuado,
expressões de gênero e sexualidade, que têm desafiado esse campo e deslocado as análises. . Destacamos que isso se
dá em um contexto de instabilidade na política que afeta diretamente políticas públicas direcionadas ao enfretamento
das normas relativas ao gênero e a sexualidade. Também sublinhamos o recrudescimento de discursos com fortes
marcadores religiosos e morais que têm conseguido excluir dos Planos de Educação (municipais, estaduais e nacional)
as articulações ao redor de termos como gênero, orientação sexual, identidade de gênero, etc.
Espera-se, portanto, propostas que problematizem a descrição/estigmatização das travestilidades, transexualidades e
intersexualidades nos diferentes territórios (im)possíveis para os sujeitos como a inserção profissional, as ciências
médicas, o direito, a educação e outros. Fomentar debates nesse cenário aponta para a complexificação da
experiência cotidiana com a constituição de sujeito da política e do político. No debate emergente acerca das
expressões do gênero e da sexualidade, é importante considerar nuances e dissensos do campo de pesquisa acerca
dos termos que buscam desconstruir ou identificar práticas e sujeitos a partir da noção de identidade de gênero; essa
situação não se refere apenas a uma polissemia dos termos, mas a orientações políticas também presentes entre
áreas tensionadas pela des/patologização de sujeitos e práticas sociais. A emergência do termo transfobia pode ser
também um analisador nesse sentido, quando se torna capaz de interpelar as práticas sociais produzidas inclusive
pelos direitos humanos. Problematizar a produção de discursos a partir dos sujeitos é uma importante estratégia de
pesquisa quando entendemos o reconhecimento do outro como sujeito e não apenas objeto de pesquisa.
Consideramos a importância dessa posição, na medida em que diz das teias de interdependências sociais em que os
sujeitos instituem significados às suas existências, articulam lutas e definem fronteiras identitárias que os constituem,
ainda que precariamente, como sujeitos políticos.
O discurso regulador institucional cada vez mais tem buscado re/definir, a partir de noções como identidade de
gênero, algumas formas de legitimação para a existência de corpos historicamente desqualificados em uma pseudo
gramática normativa em que sexo, gênero e desejo são alocados linearmente e de modo estanque, negando suas
descontinuidades e principalmente a função do desejo na constituição de si. Esta regulação da política, ao mesmo
tempo em que parece incluir, subalterniza aquelas experiências consideradas distantes dessa suposta linearidade. Os
sujeitos se apresentam e demandam por inscrições sociais e políticas em diferentes contextos, pautam o nome social
como possibilidade de reconhecimento, demandam por políticas públicas específicas, articulam novas possibilidades
de inteligibilidade nos interstícios não regulados da vida e vão produzindo rupturas e esfacelamentos das
heteronormas e das cisnormas no espaço dos discursos institucionais reguladores, o que promove a constituição de
territórios em que o conflito emerge. Um bom exemplo tem sido os conflitos que surgiram no Congresso Nacional ao
redor da Resolução No 12, de 16 de Janeiro de 2015, pelo Conselho Nacional de Combate à Discriminação e
Promoções dos Direitos de LGBT, ao propor condições e parâmetros para permanência de travestis e transexuais,
entre outros, em instituições de ensino. Em março de 2015, um grupo de deputados ligados à bancada religiosa entrou
com um Projeto de Decreto Legislativo para suspender a citada Resolução.
Ainda sem desfecho, essa movimentação específica indica, entre outros elementos, como temos a emergência de um
sujeito político que, ao demandar inscrição na inteligibilidade das políticas públicas, ao reivindicar seu direito de fala a
942
partir do registro daquilo que se considera humano, instaura o conflito, dá oportunidade de explicitação das
resistências e visibiliza as posições contrárias e os/as rivais na arena política. Neste contexto, consideramos de grande
importância pensar no campo das pesquisas sociais, mais especificamente, aqui, da Psicologia Social, as
problematizações acerca das travestilidades, transexualidades e intersexualidades para criarmos interlocuções entre
pesquisadorxs, militantes e travestis,transexuais e pessoas intersex em geral, que se constituem como colaboradorxs e
cada vez mais como companheirxs de pesquisa.
Espera-se, assim, nesse Grupo de Trabalho propostas que centrem suas análises na interface entre travestilidades,
transexualidades, intersexualidades e direitos humanos na perspectiva da Psicologia Social. Interessam-nos debates
tais como: patologização/despatologização da transexualidade e da intersexualidade; medicalização do corpo sexuado,
seus diferentes sentidos e também efeitos na vida das pessoas; debates interseccionais nesse campo; análises sobre
produção de estigma e preconceito e do cisexismo em contextos institucionais (escola e serviços de saúde, por
exemplo) e também no cotidiano das pessoas trans, travestis e intersex; regulações médico-jurídico-científicas das
transexualidades, travestilidades e intersexualidades; metodologias de divulgação e ação junto a coletivos; produção
de conhecimento e perspectiva descolonial na pesquisa sobre gênero, sexualidade e diversidade corporal, só para citar
algumas discussões que gostaríamos de contemplar.
Essa proposta tem seu alicerce em discussões que estão sendo produzidas no âmbito do GT da Associação Nacional de
Pes uisaà eà P sà G aduaç oà e à Psi ologiaà áNPEPP à i tituladoà Psi ologia,à políti aà eà se ualidades ,à ueà o grega
pesquisadores e pesquisadoras de diferentes instituições interessados/as na problematização dos sistemas
regulatórios de sexo/gênero e sua intersecção com as políticas públicas, sob a ótica dos direitos humanos. Assim,
seguimos, na presente proposta, com o intuito de fortalecer o debate no campo da Psicologia Social. É esse o marco
que se pretende manter no GT aqui proposto.

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A subjetivação da beleza a partir do concurso Miss T Brasil
Autores: Aureliano Lopes da Silva Junior, LIDIS/UERJ
E-mail dos autores: aurelianolopes@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é fruto das discussões da tese de doutorado Linda, doce, fera: a construção de
corporalidades políticas no concurso de beleza Miss T Brasil, defendida no PPGSC do IMS/UERJ (2016) e pretende
refletir sobre as implicações de um ideal de beleza feminina nos processos de subjetivação individuais e coletivos de
travestis e mulheres transexuais. Na tese de doutorado anteriormente mencionada, busquei refletir sobre o processo
de constituição de travestis e mulheres transexuais como sujeitos políticos e de direito através da análise dos discursos
e das práticas que envolviam o concurso de beleza Miss T Brasil, certame voltado exclusivamente para a população
trans e organizado entre os anos de 2012 a 2015 pela Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (ASTRA-
Rio), em parceria com a Superintendência de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos (SUPERDir) da Secretaria de
Assistência Social e Direitos Humanos do Governo do Estado do Rio de Janeiro (SEASDH/RJ). Foi realizado trabalho de
campo, segundo o método etnográfico, nas edições de 2012, 2013 e 2014 do concurso, como também nas edições de
2013 e 2014 do Miss International Queen, concurso mundial de beleza para travestis e mulheres transexuais, realizado
anualmente na Tailândia, do qual as vencedoras do Miss T Brasil participaram como candidatas. Analisei o Miss T Brasil
como um ritual de legitimação, consagração ou instituição que, de modo bastante literal, encarnava e projetava
socialmente determinada imagem ou representação da mulher trans. No discurso público e nas práticas levadas a
cabo por este certame, uma ideia de beleza feminina era então forjado, encarnado e utilizado como discurso político e
de inclusão de travestis e mulheres transexuais em um imaginário social de feminilidade através da noção nativa de
visibilidade positiva. Deste modo, a beleza trans era então produzida e politizada, afirmando-se como beleza feminina
brasileira nos mencionados âmbitos individual e coletivo: se, por um lado, o discurso público e político do Miss T Brasil
buscava inserir de forma estratégica e positivamente, através da beleza, a população trans feminina na população
feminina mais ampla, por outro, em um âmbito mais individual, este ideal de beleza feminina é o mesmo que paira
sobre todas aquelas assignadas como mulheres no nascimento, sendo muitas vezes visto como a própria noção de
feminilidade e, portanto, a construção social tida como a mais legítima de si que alguém que se encarne no gênero
feminino deveria construir. Assim, a beleza é naturalizada e se torna uma exigência tanto para mulheres cisgênero
como transgênero, ideal que precisamos desconstruir ao mesmo tempo em que penso ser pertinente buscarmos
refletir de forma não maniqueísta sobre as práticas cotidianas relacionadas à beleza, principalmente porque mesmo
que não sejam assim nomeadas (ou seja, identificadas como uma construção volitiva de algo visto como beleza), são
práticas correntes e de produção do gênero em nossa sociedade e aquelas que muitas vezes garantirão a
sobrevivência de travestis e mulheres transexuais nos mais diversos âmbitos de suas vidas. Falar de beleza me parece
falar tanto de um ideal normativo imposto socialmente como de nossas próprias constituições de si e quiçá de nossas
noções de humanidade que, independente de qual seja, será um tanto quanto normativa e que, neste caso de
travestis e mulheres transexuais, tem ainda como seu espelho a violência cotidiana que as cerca. Neste trabalho,
pretendo promover tal reflexão sobre o que identificamos como beleza (feminina) a partir do referido trabalho de
doutorado e as diversas formas que tal noção de beleza pode se implicar nas nossas constituições de si e na forma
como vemos e valoramos o outro.

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A testosterona pensada a partir das leituras neomaterialistas em relação às transmasculinidades
Autores: Flavia Luciana Magalhães Novais, UFRGS
E-mail dos autores: flanovais@gmail.com

Resumo: O seguinte trabalho trata-se de parte da discussão apresentada pela autora em uma dissertação de mestrado
em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pensa-se acerca da substância
testosterona como um artefato de vida nas trajetórias de homens trans e cis (respectivamente: sujeitos que não estão
de acordo com o gênero que foi assignado a ele desde o momento de seu nascimento e sujeitos que se identificam
com o gênero a eles designado). Encarar o hormônio testosterona como um Ator-Rede (LATOUR, 2012) a partir das
discussões trazidas por Bruno Latour sobre atores não humanos é antes de mais nada, trazer à luz a ultrapassagem das
fronteiras entre Natureza e Cultura, já que hormônios sexuais são substâncias tanto produzidas pelo próprio corpo
como produzidas artificialmente que são porém subjugados e recolocados em discurso a partir de um aparato
médico/jurídico/discursivo.
Uma das principais demandas de muitos homens trans é a adesão a hormonioterapia, com o intuito do resgate de um
corpo idealizado, de sua identidade, sendo a testosterona um dos muitos artifícios utilizados para que esses sujeitos
possam decodificar seu gênero (MARANHÃO; NERY, 2015). Inseridos em um processo tido como a construção
hormonal do conceito de corpo, estes sujeitos buscam a partir da utilização da testosterona a construção de si (NELLY
OUDSHOORN, 1994). A testosterona ainda é pensada como um hormônio essencialmente masculino. A construção de
diagnósticos médicos sobre a disfunção erétil masculina demonstra a criação de um mercado consumidor para tal
substância para a correção, por assim dizer, de uma condição patológica masculina, como trazido por Fabíola Rohden
(2011). Quando a testosterona é demandada por sujeitos que fogem à cisnorma, muitos questionamentos e
problemáticas que surgem estão direta ou indiretamente ligadas ao fato das transexualidades serem encaradas como
patologias.
A dificuldade em conseguir um acompanhamento médico adequado para a prescrição de tal substância é fator
determinante para que muitos desses sujeitos busquem a automedicação ou ao mercado ilegal colocando em risco
sua integridade física. Durante a pesquisa etnográfica para a construção da dissertação, sugiram falas recorrentes
sobre a dificuldade em adquirir tratamento hormonal junto a endocrinologistas por homens trans. Todos os
obstáculos encontrados por esses sujeitos giram em torno da percepção de que é preciso uma certificação de que se
tratam de pessoas comprovadamente transexuais (através de laudos psicológicos onde conste esse diagnóstico), com
a justificativa de que inúmeros malefícios poderiam ser causados pela utilização do hormônio. Porém, é perceptível
que a materialização destes corpos a partir das modificações que vão ocorrendo no decorrer do tempo é, na maioria
das vezes, celebrada como um passo dado no exercício autônomo de construção de si por esses sujeitos. Efeitos
colaterais e o fato de ser um tratamento irreversível não são encarados como obstáculos para a utilização da
testosterona contrariamente à visão de muitos profissionais, como médicos, psicólogos e psiquiatras.
A discussão no GT 44 - Psicologia, Travestilidades, Transexualidades e Intersexualidades justifica-se a partir do
compromisso com a despatologização de identidades trans, ao questionarmos as dificuldades muitas vezes
encontradas por esses sujeitos para a utilização da substância na construção autônoma de seus corpos, já que esta é
amplamente utilizada como artifício de produção de corpos sexuados, porém apenas é incentivada para a manutenção
da norma cisgênera, a partir da correção e reposição de níveis tidos como normais em determinados corpos.
A partir das obras de autoras inscritas na virada material (Alaimo e Hekmana, 2001) como Annemarrie Mol, Stacy
Alaimo, Susan Hekman Amade, dentre outras feministas neomaterialistas - onde o foco situa-se na materialidade, nos
corpos, nas práticas - penso a testosterona de maneira múltipla, e não como central ou como um ponto de partida
para diferentes interpretações e perspectivas. Segundo essa perspectiva teórico-metodológica, os objetos devem ser
entendidos como manipulados dentro das práticas, que são dinâmicas. Assim, não cabe a partir dessa perspectiva a
busca de uma verdade acerca dessa substância, mas sim, como ela é pensada, materializada, na(s) prática(s).

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Diferentes dosagens, ciclos de reutilização, e tipos disponíveis no mercado acabam assumindo performances
distintas em cada uma delas, já que estas são materializadas de maneiras bem diferentes umas das outras nos corpos
dos sujeitos. E, mais que isso, demonstram os múltiplos modos de existência (Mol, 1999) produzidos e performados
por essa substância juntamente com inúmeros outros aparatos, tais como uma dieta específica, exercícios,
anabolizantes, rotinas de sono, dentre outros. Ou seja, é possível compreender a realidade que envolve as práticas de
utilização da testosterona como manipulada, produzida, incorporada a partir de diversos instrumentos. Conclui-se
assim que a testosterona produz realidades diversas e que a sua utilização é performada em corpos por indivíduos
diferentes (MOL, 1999), que se inserem em múltiplas possibilidades de vivência das masculinidades.

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Análise de Discurso de gênero em Silicone Blues
Autores: Rafael De Tilio, UFTM; Izabella Lenza Crema, UFTM; Juliana Machado Ruiz, UFTM; Maria Teresa de Assis
Campos, UFTM
E-mail dos autores:
rafaeldetilio.uftm@gmail.com,mtassiscampos@hotmail.com,julianamruiz@hotmail.com,izabellalenza@gmail.com

Resumo: A sexualidade, para além das fantasias e relações pertinentes exclusivamente à esfera do sexo, caracteriza-se
como um mecanismo de controle dos corpos, classificando, por meio dos discursos, condutas e comportamentos sob
os parâmetros da normalidade e do patológico/desviante. Dentre os aspectos que compõem esses discursos encontra-
se o gênero, regulador das relações entre o masculino e o feminino. Nos moldes atuais, são enquadradas no polo da
normalidade condutas, expressões e comportamentos sexuais que correspondam a cisheteronormatividade, ficando
reservada aos sujeitos trans a exclusão, a discriminação ou a intervenção por serem considerados abjetos. Estima-se
que o Brasil seja o país mais transfóbico e transviolento do mundo, o que atribui à transfobia caráter de problema de
saúde pública. Considerando as mídias como ferramentas de transmissão e determinação de padrões de normalidade
no campo da sexualidade e gênero esta pesquisa teve o objetivo de compreender os efeitos de sentidos produzidos
sobre gênero em quatro tirinhas da série Silicone Blues da cartunista Laerte. A coleta e a análise dos dados seguiu o
seguinte percurso: a partir de uma materialidade linguística (corpus), neste caso as tirinhas selecionadas, são
consideradas as incidências do interdiscurso e do Esquecimento Número 2 na composição dos efeitos dos sentidos
(dessuperficialização do corpus ou transposição do material linguístico para objeto discursivo) e, após, são
consideradas as influências das Formações Discursivas, Formações Imaginárias e Formações Ideológicas e do
Esquecimento Número 1 (análise do processo discursivo) no contexto de produção do objeto discursivo. O corpus
desta pesquisa foi composto por quatro (do total de seis) tirinhas da cartunista Laerte sobre transgeneridades na série
Silicone Blues. A opção por não analisar todas as tirinhas daquela série se deu em razão de que duas não são sobre
relações de/entre gênero e transgeneridade. Os resultados apontam para a suposta simplicidade pela qual a
transgenerificação se dá, desconsiderando aspectos sociais, emocionais, psicológicos e físicos desse processo.
Também foi possível notar uma Formação Discursiva que diz da expectativa de que a estética do corpo e a expressão
do gênero e da sexualidade dos sujeitos seja coerente com as estipuladas pela heteronormatividade, dessa maneira
denota-se uma crítica de Laerte ao modo simplista pelo qual os sentidos sobre sexualidade e gênero são produzidos,
sendo escassos no Interdiscurso, inclusive, recursos linguísticos capazes de denominar sujeitos e fenômenos que
estejam para além dos permitidos pela Formação Ideológica vigente. O corpus também demonstra o peso atribuído
aos discursos biomédicos sobre sexualidade e gênero, que retiram dos sujeitos sua capacidade de dizer do próprio
corpo atribuindo-a a um especialista, detentor do saber e capacitado para produzir sentidos (supostamente) reais a
respeito dos corpos, suas formatações e expressões. Também ficam evidenciadas as diferenças que perpassam as
posições discursivas referentes ao masculino e ao feminino, fazendo menção à reificação a qual o corpo feminino é
submetido, indicando que os marcadores de gênero e o imaginário que os circunscreve são balizadores das relações
entre os sujeitos. A partir dos resultados encontrados, é possível dizer que uma frase que bem representa a obra da
Laerte é ridendo castigat mores (o humor corrige/castiga os costumes). E talvez essa seja a principal Formação
Imaginária de Silicone Blues: utilizar o sarcasmo e a ironia para evidenciar as opressões dos transgêneros. Por fim,
diante do material linguístico proposto para análise torna-se possível destacar os efeitos de sentidos que ora
possibilitam questionamentos à heteronorma que circunscreve os discursos e ora denunciam os obstáculos discursivos
para os mesmos. Considerando a linguagem enquanto mecanismo que nos situa e nos recoloca na Formação
Ideológica vigente (heteronormativa) e enquanto dispositivo de controle e de poder, Silicone Blues, por meio do
humor, propicia indagações a respeito da lógica (heteronormativa) que articula e indissocia sexo, gênero e orientação
sexual. No entanto, ao mesmo tempo em que o faz, denuncia as limitações da linguagem para reconhecer sujeitos que
fogem à (suposta) norma.

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Cisnormatividade e passabilidade: (re)posicionamentos epistêmicos frente as regulações de gênero nas experiências
trans
Autores: Júlia Clara de Pontes, UNIFESP; Cristiane Gonçalves da Silva, UNIFESP-Baixada Santista
E-mail dos autores: juliaclara.pontes@gmail.com,cristiane.goncalves.silva@gmail.com

Resumo: Introdução: Os resultados aqui apresentados constituem um recorte analítico feito em um percurso de
pesquisa realizado entre 2014 e 2016, como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)
na Universidade Federal de São Paulo. O trabalho de pesquisa realizado buscou explorar a relação entre as trajetórias
de pessoas transexuais a partir da dimensão online das redes sociais virtuais no Facebook. Para tanto, realizou
aproximação e contato com pessoas trans usuárias da rede, e posterior entrevista com 5 interlocutores (1 mulher e 4
homens trans). Como aporte teórico, tomamos as contribuições dos estudos queer, com ênfase em trabalhos
específicos sobre pessoas trans no Brasil (Berenice Bento e Jorge Leite Junior) e reflexões a partir da produção
acadêmica de pessoas trans, como Viviane Vergueiro e Beatriz Bagagli.
A partir da análise da matriz de gênero que opera pela pressuposição de continuidade entre sexo biológico e
identidade de gênero e que define categorias que conferem e regulam a inteligibilidade ou a condição de ser
reconhecido, distribuindo diferencialmente a precariedade, propomos uma reflexão que busca considerar o modo
como as normas recaem sobre as corporalidades/subjetividades trans (transexuais, travestis e transgêneros), tomando
as categorias de cisnormatividade e passabilidade como centrais para análise. Buscamos tecer reflexões questionando
os limites da compreensão do corpo como objeto fixo e pré-discursivo no paradigma sexo-gênero e, compreender
como se atualizam as regulações de gênero nas vivências de pessoas trans.
A proposta, na relação com o eixo temático do GT, busca contribuir com a ampliação do debate sobre as existências
trans, tecendo outras perspectivas de reflexão no campo da psicologia, com vistas a superar a patologização das
pessoas trans que também opera na atualização da vivência de gênero cis como legítima, saudável e natural (BAGAGLI,
2016). Trata-se de colocar em questão a estigmatizarão das vivências trans, que fixa a ação, o desejo e as demandas
em uma categoria fixa, individualizante, marcada pela restrição dos próprios termos ofertados ao sujeitos para que
elaborem suas narrativas. Elegemos como centrais os sujeitos trans e a potência analítica das categorias
cisnormatividade e passabilidade como reveladoras dos sistemas de saber/poder que atravessam e buscam capturar
as existências dissidentes, produzindo subalternidades.
Resultados e considerações: A investigação da transição, categoria êmica empregada pelos(as) interlocutores(as) para
referir aos processos de agenciamento dos traços, marcas e contornos corporais implicados no reconhecimento social
de gênero, derivou na compreensão de um conjunto de tecnologias, técnicas e saberes implicados na produção
cotidiana de um corpo (hormônios, exercícios físicos, pinça, binder, etc.), um investimento contrário à linearidade que
estabelece limites fixos para os corpos. Ao explorar os itinerários particulares de produção corporal, nos deparamos
com cenas e relações específicas nas quais era evidente uma regulação normativa sobre os corpos, marcadas pelo
termo passabilidade.
A narrativa dos(as) interlocutores(as) foi marcada pelo reconhecimento de uma exigência na trajetória de pessoas
trans que circunscreve a mudança corporal como objetivo final do processo de transição, ou seja, a possibilidade de
produzir apagamento dos traços lidos pela ambiguidade de gênero, possibilitando aos sujeitos não serem
reconhecidos como trans. Termos como perder-se na multidão foram utilizados para descrever a possibilidade de
empregar recursos diversos para construir um corpo passável ao regime de leitura social de gênero, em uma relação
que implica tanto uma esquiva frente as violências que identificam no corpo não-inteligível o alvo, especialmente no
espaço público, quanto uma valorização do corpo que atinge a qualidade da passabilidade. Os efeitos da
normatividade eram explícitos nas interações afetiva-sexuais, no trabalho e na rua.
A análise do material, em suma, possibilitou uma avaliação das regulações específicas sobre os corpos trans, que ao
definir como normal o modelo de linearidade sexo-gênero, delimita uma norma, que implica na produção de um ideal
sobre a transição e experiência de gênero de pessoas trans: a passabilidade. Com a discussão, buscamos também dar
948
corpo a categoria cisnormatividade como reveladora dessas relações, colocando em evidência como operam diversos
saberes, instituições, representações semióticas e interações sociais para reprodução de um ideal de gênero
(VERGUEIRO, 2015).
Referências:
BAGAGLI, Beatriz Pagliarini. A diferença trans no gênero para além da patologização. Revista Periódicus, v. 1, n. 5, p.
87-100, maio-out. 2016.
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2013.
BUTLER, Judith. Quadros de guerra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
VERGUEIRO, Viviane Simakawa. Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma análise
autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. 2015. 224fs. Dissertação (Mestrado Cultura e Sociedade) -
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.

949
Corpos Trans e Acesso às Redes de Saúde Pública em Divinópolis, MG
Autores: Arnaldo Mesquita Santos Júnior, Faculdade Pitágoras-Divinópolis; Leonel Cardoso dos Santos, UFMG
E-mail dos autores: arnaldojunior.luz@gmail.com,leobrizo@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é fruto de um projeto, em andamento, que discute acesso aos serviços de saúde por
mulheres transexuais e travestis habitantes da cidade de Divinópolis, MG. Este projeto é desenvolvido como estágio
na graduação em Psicologia da Faculdade Pitágoras de Divinópolis. Objetivamos; com base nos estudos de gênero, em
perspectivas Queer e feministas; entender os mecanismos e lógicas pelos quais essa população acessa serviços de
saúde, desde os básicos até ao mais especializados. As experiências subjetivas e sociais de travestis e transexuais estão
marcadas pela abjeção, violência e negação direitos no interior de vários discursos sociais, gerando um não
reconhecimento de seus corpos, bem como das transformações de gênero. Estabelecem-se, portanto, dificuldades
ou mesmo impedimentos na apropriação de serviços de saúde nas quais suas experiências são tidas como legítimas.
Judith Butler aponta que sujeitos posicionados socialmente fora da matriz inteligibilidade de gênero tèm suas
existências interpretadas como um erro cognitivo; algo que se verifica não só na transfobia presente em
atendimentos, mas especialmente no não reconhecimento de demandas de saúde ou cuidado integral trazidas pelas
travestis e mulheres trans. Buscamos, ainda, problematizar a disparidade existente entre as realidades observadas e as
garantias individuais preconizadas pelas leis que regulamentam acesso de pessoas transexuais ao Sistema Único de
Saúde no Brasil. Do ponto de vista metodológico o projeto lança mão da observação participante com uma inspiração
etnográfica. Além das entrevistas e encontros, são utilizados questionários com objetivo de obter informações
quantitativas acerca de suas experiências junto aos serviços de assistência à saúde, sejam em órgãos públicos ou
privados. Nos interessa especialmente o contexto dos processos de transformação corporal e como as demandas
advindas desse processo repercutem no acesso à saúde. Como primeiros apontamentos, podemos dizer que as ações
da rede pública de saúde do município têm compreendido limitadamente a população de mulheres trans e travestis
enquanto uma população vulnerável frente a abordagem das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Nesse caso,
as intervenções se resumem à distribuição precária de preservativos em unidades básicas de saúde e nos serviços do
programa municipal de combate ao HIV/AIDS, que além da disponibilização destes materiais faz acompanhamento e
aconselhamento aos portadores de ISTs e testes rápidos de HIV, Sífilis, hepatite B e C. Essas práticas realizadas no
interior dessas instituições, em sua grande maioria, não tem sido suficiente para entrar em contato com as demandas
de saúde das travestis e transexuais que estão não trabalho da prostituição. Em consequência as ações voltadas para o
público em questão conectam-se de modo escasso as especificidades das experiencias trans iniciadas ainda na
adolescência. É importante ressaltar a falta de articulação e representatividade das travestis e mulheres transexuais
junto aos movimentos sociais e políticos de luta e garantia de direitos, uma vez que mesmo quando elas conhecem a
legislação vigente, que lhes garante o (precário) acesso aos serviços de saúde, estes, lhe são negligenciados por
servidores e gestores que vão burocratizando, protelando, quando não negando, os atendimentos. Outra ressalva
importante que a pesquisa tem possibilitado realizar é a formação de redes de comunicação paralelas às
configurações já existentes de acesso à saúde, construindo redes alternativas de transmissão de conhecimento para
disseminar entre si os meios mais rápidos e acessíveis de obtenção de produtos e serviços que atendam às suas
necessidades. Esse conjunto de práticas tem sido utilizado como umas das principais opções frente às dificuldades no
acesso ao acompanhamento de saúde em serviços públicos, resultando na produção de riscos à sua saúde física e
psicológica. Chamou-nos, também, atenção os modos pelos quais os serviços médicos privados passam a integrar essa
rede de práticas, gerando um mercado, e um complexo de atividades paralelas e foracluídas das redes locais de saúde
pública. A guisa de conclusão, verificamos uma fragilização da saúde e dos meios de produção da mesma das travestis
e mulheres trans no município, uma vez que engendrados nas relações de poder, além de negar o acesso aos
mecanismos de produção de si e de seus corpos, tais relações negam a estas meninas a possibilidade a construir e
afirmar seus corpos, identidade de gênero.

950
Da patologização ao direito à saúde de travestis e transexuais em documentos nacionais e internacionais
Autores: Roberta Cristina Gobbi Baccarim, UTP; Grazielle Tagliamento, UTP
E-mail dos autores: roberta.gobbi@gmail.com,tgrazielle@hotmail.com

Resumo: Os processos de estigmatização e discriminação vivenciados pelas pessoas travestis e transexuais


proporcionam o afastamento dessa população dos serviços de saúde, repercutindo diretamente na sua saúde integral.
Publicações recentes apontam que esses processos aumentam a vulnerabilidade de travestis e transexuais ao
adoecimento, e são produtos e produtores de diagnósticos das áreas psi (psiquiatria e psicologia) patologizantes das
identidades de gênero que fogem da cisgeneridade. Nesse sentido, pergunta-se aqui quais práticas estão sendo
pensadas, nacional e internacionalmente, como importantes para a diminuição da estigmatização e da discriminação
de travestis e transexuais nas instituições de saúde? Considerando que o Brasil não conta com um documento
nacional que regule a prática das(os) profissionais de saúde no atendimento a travestis e transexuais, este artigo de
pesquisa documental buscou apresentar uma análise dos documentos nacionais e internacionais norteadores do
atendimento em saúde a travestis e transexuais. Para tanto, foi realizada uma pesquisa documental a partir da
investigação dos documentos públicos nacionais e internacionais. Foram delimitados os seguintes critérios de inclusão
para a seleção dos documentos: informações sobre a saúde de pessoas travestis e transexuais; e indicações sobre o
modo de atuação das(os) profissionais de saúde com esta população, totalizando 10 materiais para análise. A análise
do material possibilitou verificar que, apesar de 5 dos 10 documentos considerarem que as(os) profissionais devem
compreender a identidade de gênero deslocado de uma condição patológica, apenas um pautou-se integralmente na
perspectiva da despatologização das identidades e vivências de travestis e transexuais. Recomendações sobre a
importância de estabelecer um ambiente seguro e acolhedor são feitas em 6 dos 10 documentos, nos quais são
destacadas ações importantes, tais como: promoção de um ambiente representativo, sempre que possível;
treinamento da equipe para a utilização de termos neutros ou de acordo com a identidade de gênero da pessoa;
monitoramento de políticas institucionais que proíbam a discriminação; e o uso de formulários que possuam um
campo para preenchimento do nome social. É importante destacar que as políticas de saúde nacionais analisadas,
como a do processo transexualizador, reafirmam a produção de diagnósticos, naturalizando uma prática
patologizante. A maioria dos documentos (8) também apontam o controle e a participação social, assim como a
garantia da representatividade e da integralidade em saúde, como fatores importantes para a garantia do direito à
saúde de pessoas travestis e transexuais. As orientações para as(os) profissionais de saúde nessa perspectiva estão
voltadas para a facilitação do envolvimento dessa população na elaboração de políticas públicas; informar sobre redes
de apoio social para as pessoas travestis e transexuais e seus familiares; e estar disponível para assistência à família e
para facilitar a redução dos impactos da estigmatização e discriminação vivenciadas pelas pessoas travestis e
transexuais. Considerando os documentos avaliados e a importância da perspectiva da despatologização para a
diminuição dos processos de estigmatização e discriminação na vida das pessoas travestis e transexuais acredita-se ser
imprescindível a elaboração e ampla divulgação de um documento nacional voltado para a realidade social brasileira
que considere as atuais pesquisas nacionais sobre a vulnerabilidade das pessoas travestis e transexuais e que norteie a
prática das(os) profissionais da saúde. Além disso, a despatologização e o fortalecimento de redes comunitárias que
trabalhem junto aos serviços de saúde devem servir de base para a elaboração de políticas de saúde e documentos
nacionais orientadores das práticas em saúde, com o intuito de promover autonomia e garantir a cidadania dessas
pessoas.

951
Desafios éticos na pesquisa com travestis: reflexões de um filme documentário
Autores: Gilson Goulart Carrijo, UFU; Emerson Fernando Rasera, UFU; Flavia do Bonsucesso Teixeira, UFU
E-mail dos autores: gilsongoulart@yahoo.com,emersonrasera@gmail.com,flavia.teixeira@ufu.br

Resumo: A construção de um filme documentário, como estratégia de pesquisa, apresenta questões correlacionando
estética, ética e política que se entrelaçam e exigem reflexões específicas. Diferentemente de aspectos envolvidos na
construção de uma narrativa na qual se utiliza somente palavras sem desmerecer o impacto e a força discursiva de tal
recurso , a narrativa ancorada na produção de imagens demanda dos pesquisadores um fazer cuidadoso que
ultrapassa a simples solicitação da autorização do uso de imagem. Esta proposta tem por objetivo apresentar uma
experiência de pesquisa e registro visual que desloca a discussão sobre ética em pesquisa nas ciências humanas de um
conjunto de protocolos para uma prática cotidiana de construção de confiança, afetada pelo compromisso da
transformação de nossas práticas sociais. A proposta de produção do filme documentário Um Atentado ao Pudor foi
apresentada e desenvolvida como projeto de pós-doutorado que teve como objetivo e desafio colocar em evidência a
experiência social e política das travestis, a partir da história de vida de Keila Simpson, articulada aos processos de
construção do movimento nacional de travestis, entendido aqui como a Articulação Nacional de Travestis e
Transexuais (Antra). Muito embora reconheçamos a existência de vários coletivos e redes que se constituíram no
período de recorte deste estudo nossa escolha se justificou pela permanência ininterrupta, representatividade nos
espaços observados e interlocução direta com a história de vida de Keila Simpson. Isso exigiu balizar escolhas de
personagens, temas e cenários, para evitar a exotização de pessoas que foram historicamente posicionadas em zonas
consideradas marginais da existência social e política. O processo de produzir uma relação não violenta entre
realizadores do documentário e personagens demandava que a (re)apresentação do outro não fosse marcada por seu
oposto: a higienização e a purificação da imagem da travesti. Essa mediação considerou, também, que as imagens
portam, para os sujeitos da pesquisa, um estatuto de prova e verdade historicamente atrelado às imagens técnicas,
uma forma de (re)apresentação do eu que interpela subjetividades. Assim, estética e ética se entrelaçam no campo da
política e desafiaram os pesquisadores na interação com os sujeitos pesquisados.
Os temas aqui tratados não surgiram na pesquisa de modo linear. A expectativa inicial de Keila, de que o resultado
final fosse um produto bonito, pode ser resumida na expressão: Vamos abalar!. No entanto, o termo abalar aparecia
revestido por um sentido polifônico e com a potência que moveria todos os envolvidos no projeto, fraturando nossas
certezas e reposicionando os fios das narrativas a partir de uma ferramenta teórica que considera os atravessamentos
estéticos, éticos e políticos como constituintes desse processo.
Nossa participação sistemática nos Encontros Nacionais de Travestis e Transexuais na Luta contra a Aids (ENTLAIDS)
permitiu compreender que havia por parte do movimento social uma demanda para que se produzisse um registro de
sua história; ao mesmo tempo, documentários como Janaína Dutra: uma dama de ferro, de Vagner Almeida (2011), e
Katia, de Karla Holanda (2012), circulavam. Em outras ocasiões, havíamos proposto a Keila Simpson nosso interesse
em contar sua história e outras histórias do movimento, e ela, muito embora colaborativa e generosa, não parecia
tomar o projeto como possibilidade. A morte da ativista Marina Garlen (2016) e o ingresso do pesquisador principal no
programa de pós-doutorado foram disparadores para todos nós envolvidos nessa trama. O processo de negociação
para a realização do documentário, incluindo a construção compartilhada do roteiro e dos esboços de gravação, foram
sistematizados e discutidos em outra ocasião. Nossa preocupação, neste momento, é apresentar algumas reflexões
sobre o processo de edição do filme e as negociações decorrentes do mesmo.

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História de vida de uma estudante intersexual
Autores: Milene Soares Agreli, USP; Maria Alves de Toledo Bruns, USP-Ribeirão Preto
E-mail dos autores: milenesoares222@hotmail.com,toledobruns@uol.com.br

Resumo: A intersexualidade se refere a um conjunto amplo de variações dos corpos tidos como masculinos e
femininos, assim, sujeitos intersexuais tem seus mundo-vidas marcados por paradoxos identitários que se equilibram
entre a necessidade de ajustamento social e as normas de gênero que os excluem na tentativa de existir. O grupo
social composto por sujeitos intersexuais tem-se mobilizado cada vez mais, a nível mundial, para que a
intersexualidade não seja entendida como uma patologia, mas como uma variação, e para que não sejam submetidos,
após o parto, a cirurgias ditas reparadoras. Este trabalho tem por objetivo apresentar a história de vida de uma
estudante intersexual a partir de seu próprio relato, e construir um diálogo reflexivo acerca da inclusão educacional
das diversidades de gênero e sexuais, desde o ensino fundamental até o ensino superior. Este trabalho faz parte do
projeto de doutorado A inclusão das diversidades sexuais na Universidade: relatos de estudantes transgêneros e seus
docentes que está sendo realizado no Programa de Pós Graduação de Psicologia da Universidade de São
Paulo/Campus de Ribeirão Preto - SP com auxílio CAPES. Para compreensão do relato nos amparamos na teoria e
metodologia fenomenológica de Merleau-Ponty na interface com autores expoentes dos estudos de gênero na
contemporaneidade, como Judith Butler e Betriz P. Preciado, entre outros/as. Para preservar a identidade da
estudante intersexual a nomeamos de forma fictícia de Agnes. Assim, Agnes, que na ocasião da entrevista estava com
27 anos, foi indicada para conceder a entrevista por uma docente, que a identificou como transexual, no entanto, ao
primeiro contato ela se identifica como intersexual. Segundo Agnes, ela nasceu com estruturas dos sexos masculino e
feminino e foi submetida imediatamente a uma cirurgia para fechamento de um canal vaginal incompleto, sendo que
em seu corpo permaneceu a estrutura de um micropênis e filamentos de ovários. A família a nomeou e a educou
conforme as referências sociais designadas para o gênero masculino, gerando conflitos na adolescência que vão
culminar em sua tomada de decisão em assumir a identidade de gênero feminina. Em seu relato, Agnes fala de seu
ingresso no ensino fundamental, da formação técnica em Canto, de sua experiência cursando Biologia em uma
faculdade particular e a atual experiência de cursar Nutrição em uma Universidade Pública. Também enfatizou o
estigma da obesidade mórbida, e a vivência de uma cirurgia bariátrica há 3 anos. O relato de Agnes nos revela um
cotidiano de insultos, injúrias, desprezo, constrangimentos, afastamento e exclusão. A inclusão educacional de uma
estudante intersexual perpassa a transposição da aparência. A aproximação e as relações sociais apenas se
estabelecem a partir do conhecimento e da percepção que sujeitos intersexuais são mais complexos do que a vivência
da sexualidade. Muitos são os desafios a serem enfrentados para uma efetiva educação inclusiva para as diversidades
de gênero e sexuais, as transformações precisam atingir todas as instâncias do ensino, desde o ensino fundamental,
passando pelo ensino médio para enfim alcançar o ensino superior, e possibilitar a todas as pessoas o direito de
escolha quanto a profissão que irão se dedicar, e não se resignar a atividades pré-designadas ou marginalizadas como
única opção.

953
Inserção na política como estratégia de poder para travestis e transexuais: candidaturas nas eleições municipais de
2016
Autores: Lohana Morelli Tanure Santos, UFMG; Bárbara Gonçalves Mendes, UFMG; Marco Aurelio Máximo Prado,
UFMG
E-mail dos autores: lohana.m@live.com,baarbaragm@gmail.com,mamprado@gmail.com

Resumo: Autora: Lohana Morelli Tanure Santos (Graduanda em Psicologia pela UFMG)
Co autorxs: Bárbara Gonçalves Mendes (Doutoranda em Psicologia pela UFMG); Marco Aurélio Máximo Prado
(Professor do programa de Pós-Graduação em Psicologia pela UFMG)
Em um momento em que o cenário político brasileiro aponta para uma ameaça à democracia, repensar os processos
democráticos e como eles impactam na vida dos sujeitos se torna de suma importância. A desconfiança nos
representantes políticos e nas instituições públicas, confirmada nas eleições municipais de 2016, se manifestou pelo
grande número de votos nulos e brancos. A descrença, entretanto, na representatividade para alguns grupos sociais já
acontecia anteriormente na história do Brasil, ainda que se apresentasse de formas diferentes. Desde o surgimento
de organizações LGBT, nas décadas de 1970 e 1980, a participação de membros desses agrupamentos em partidos
políticos foi um ponto controverso. A principal questão circundava o acolhimento das demandas destes sujeitos, bem
como dos posicionamentos e interesses pautados pelos movimentos sociais e políticos. O não consenso sobre as
propostas partidárias resultou em filiações marcadas por direcionamentos pessoais dos sujeitos envolvidos nesse
processo. Entretanto, mesmo nessa situação, o mais comum era a adesão a partidos orientados à esquerda, fenômeno
que tem se modificado na atualidade, principalmente se observarmos as candidaturas de travestis e transexuais, que
tiveram um aumento significativo nas últimas eleições para os cargos legislativos e executivos municipais, em partidos
de posições ideológicas diversas. Mantendo essa situação em vista, o objetivo deste trabalho foi justamente refletir
sobre esse crescimento, tentando explorar suas motivações e possíveis consequências, bem como a trajetória política
percorrida por essa população nos últimos anos. Para tanto, foi realizado o acompanhamento destas candidaturas,
bem como as pautas apresentadas e a quais partidos políticos elas se ligavam e coligavam. Foram verificadas 94
candidaturas sendo destas duas para a prefeitura e as demais para vereança. Vale ressaltar que essas candidatas e
candidatos trans se localizavam em 22 Estados brasileiros. Os partidos aos quais estas pessoas se filiaram compõem
um quadro bastante variado em relação à orientação política, envolvendo majoritariamente partidos centristas, mas
também vinculados à esquerda e à direita. As pautas elencadas foram diversas e propuseram, principalmente, ações
direcionadas às minorias, não se restringindo à população LGBT. Foram contempladas nesse processo também
mulheres, jovens em situação de vulnerabilidade social e idosos, com propostas que giram em torno da capacitação de
profissionais da saúde para lidar com mulheres e pessoas LGBT, incluindo intersecções de raça, gênero e classe, bem
como com pessoas em situação de violência; abertura de ambulatórios para pessoas trans nas cidades, criação de
centros de referência LGBT e de delegacias da mulher; criminalização da homofobia; programas de capacitação e
empregabilidade de mulheres, pessoas travestis e transexuais; uso do nome social; segurança e legalidade do aborto
e; criação de campos para citar orientação sexual e identidade de gênero nos boletins de ocorrência. Outros pontos
levantados como demandas destas candidatas/os foram programas que auxiliem pessoas em situação de abuso ou
dependência química; criação de abrigos; democratização da cidade, com maior participação social na construção de
políticas públicas e propostas relacionadas à educação, vista como uma ferramenta de mudança social: inclusão do
ensino sobre gênero, diversidade sexual e religiosa e, também, o uso garantido do nome social nas instituições
escolares. Apesar de pautas extremamente significativas para grande parte da população brasileira, no país, o
Quoeficiente Eleitoral e o Quoeficiente Partidário interferem diretamente nas eleições, culminando em uma
valorização partidária e não das candidaturas em si. Dito de outra maneira, o número de votos que uma candidatura
recebe não necessariamente implica em sua eleição. Contudo, dos 22 Estados com candidaturas de travestis e
transexuais para os cargos de vereança em diferentes cidades no Brasil, 6 cidades tiveram eleitas nos seguinte
estados: Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rondônia e Rio Grande do Sul. Os partidos aos quais se
954
vinculavam foram PSDB, PR, PRB, PSD, PP e PMDB, portanto dois partidos de grande expressão e nenhum deles
classificado como de esquerda do ponto de vista ideológico, se aproximando, inclusive, muito mais de perspectivas
consideradas de direita. Nota-se, também, apesar desse incentivo à identificação partidária, que as candidatas eleitas
foram as que davam destaque em suas pautas políticas as temáticas LGBT. Isso aponta para a possibilidade de que a
sigla não seja tão significativa na afirmação das demandas apontadas, ainda que isso não garanta uma efetivação das
propostas. Por fim, esses dados revelam um interesse por parte dessa população na participação política institucional,
talvez pela carência em relação a garantia de direitos e o alto índice de violência que sofram. Deste modo, o número
alto de candidatas/os, pode ter um legado se pensarmos na visibilidade dada a essas pessoas e, porque não, de suas
pautas. Resta saber se essas candidaturas terão relação com uma representatividade real das pessoas LGBTs no
âmbito político.

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Intersecções entre Psicologia, Direitos Humanos e a despatologização das identidades travestis e trans: um diálogo
possível?
Autores: Dalcira Ferrão, CRP-MG; Erick Teixeira Gonçalves, CRPMG; Lucas Henrique de Carvalho, UFMG; Rodolfo Leal
Silva, UFMG; Rodrigo Broilo, FUMEC; Samuel Henrique da Silva, CRP MG
E-mail dos autores: dalcira_psicologa@yahoo.com.br, lucas.henrique.carvalho@gmail.com,
odolfolealsilva@gmail.com, rodrigobroilo@hotmail.com, samuell.dsilva@gmail.com, erickgoncalves13@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho busca apresentar a proximidade entre a Psicologia, Direitos Humanos e as discussões de
gênero e diversidade sexual. Em tempos de não reconhecimento de grupos minoritários, refletir sobre o papel da
Psicologia na construção de discursos frente às lógicas biomédicas, higienistas, patologizantes e cisheteronormativas
sobre os corpos travestis e trans mostra-se cada vez mais relevante. O não direito à autonomia dos corpos que se
constroem fora da lógica binária e biologicista fere à dignidade humana desta população.
O Brasil tem ocupado o topo do ranking como país mais transfóbico do mundo e, nesse sentido, entendemos a
população de travestis e trans em maior situação de vulnerabilidade social dentro da pauta LGBT, sendo esta, muitas
vezes, alvo de atos de extrema violência e crueldade. Isso sem falar nas micro violências e exclusões cotidianas que
esta população fica acometida, desde a exclusão do núcleo familiar como a evasão escolar precoce e a não-inserção no
mercado de trabalho formal acabam por sua vez, expondo este grupo às situações de marginalização e estigma social.
Pensar a pauta das demandas da população travesti e trans e a Psicologia é pensar sobre o tripé Psicologia Social,
Política e Direitos Humanos. A Psicologia Social vem para se aproximar ainda mais da realidade social e de pensar as
inter-relações sobre os sujeitos e suas coletividades. Ela busca construir uma práxis que comunica com a realidade
social, na medida em que aproxima do contexto que se propõe intervir, dando vez e voz para aqueles/aquelas que
estão à margem muitas vezes de espaços de poder e de escuta. Pensar a interface da Psicologia Social e os aspectos
sociológicos da humanidade é abordar a dimensão política dos grupos, e, claro, comprometer-se socialmente com tais
problemáticas.
Nesse sentido, a proposta da Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual do Conselho Regional de Psicologia
de Minas Gerais, composta por psicólogas(os) e estudantes de Psicologia, busca responder a esta demanda. Em 2015,
o CRP/04 institui as discussões da pauta LGBT de maneira sistemática, institucionalizando-o suas ações, apresentando
pauta contínua e articulada com demais Comissões temáticas existentes.
O objetivo da Comissão é realizar interlocução destas temáticas junto à categoria, movimentos sociais e, em especial,
com a sociedade em sentido amplo, por entender que este tem sido campo de constante disputa política. Entendemos
ainda que a Comissão constitui-se enquanto espaço político-formativo na vida acadêmica profissional de suas/seus
componentes.
Nossa proposta é apresentar os marcos normativos já existentes no que tange as discussões de gênero e diversidade
sexual, bem como problematizar a necessidade de se construir espaços institucionais que estabeleçam canais de
diálogo junto à categoria e à sociedade, para constituição de outros marcos regulatórios, mais atuais à nossa
realidade, seja na atuação profissional ou nas relações sociais, que garantam direitos para a população travesti e trans.
Esperamos ainda construir diálogo sobre conjunturas atuais no Brasil, a partir da intersecção do campo do gênero, da
Psicologia Social e dos Direitos Humanos e refletir sobre os impactos da cis-heteronormatividade e do controle sobre
os corpos que transgridem a lógica binária de constituição dos sujeitos.

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Movimentos trans e os homens trans: questões sobre (in)visibilidade e participação política
Autores: Gustavo de Aguiar Campos, UFG; Domenico Uhng Hur, UFG
E-mail dos autores: gustavodeaguiarcampos@hotmail.com,domenicohur@hotmail.com

Resumo: Este trabalho é fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica intitulada Transmasculinidades - experiências e
intervenções de (in)visibilidade e autonomia, realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG). O tema dessa pesquisa
é a participação política de pessoas transexuais e travestis, com especial foco na participação e consciência política
entre os homens transexuais (FtM, transhomem transexuais masculinos). Aqui relata-se resultados parciais da revisão
bibliográfica realizada acerca da participação política de pessoas trans no Brasil e no mundo. Apesar das experiências
trans serem presentes na sociedade há muitos anos, e ao final do século XX já começarem a ser estudadas pelas
ciências - principalmente médicas e psi - os movimentos sociais protagonizados por pessoas travestis e transexuais
datam de muito recentemente.
Ainda mais recentemente se situa a construção de organizações e movimentos sociais protagonizados por homens
trans no Brasil. Diante disso, o objetivo desta comunicação oral é trazer um panorama histórico sobre a participação
política de transexuais e travestis no Brasil, que possibilite uma problematização da invisibilidade dos homens trans
neste cenário. As pesquisas, na psicologia e em outras áreas, que discutem as transexualidades e travestilidades,
muitas vezes se focam nas experiências femininas, contribuindo para essa invisibilidade construída. É diante disso que
se faz necessário discutir acerca das experiências masculinas, além de fazer o recorte da participação política, muitas
vezes ignorada.
Esse trabalho se constitui a partir das bases teóricas e epistemológicas da Psicologia Social e da Psicologia Política, que
nos dá certa compreensão de gênero como uma construção social; e possibilita uma compreensão dos movimentos
sociais na dimensão do capitalismo. Para a realização deste, foi feita uma revisão da literatura sobre o tema nas bases
de dados Scielo, Pepsic e Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). Os resultados encontrados foram analisados a partir da análise de conteúdo, possibilitando uma
compreensão crítica dos dados.
A participação política de travestis e transexuais no Brasil está muito vinculada à epidemia de HIV/AIDS. Com o boom
de transmissão do vírus, o contato desse grupo com o sistema de saúde aumentou. O SUS, que ainda não tinha
políticas de atenção à saúde LGBT, era campo de diferentes formas de discriminação e transfobia. O que, de alguma
forma, possibilitou que se constituíssem organizações de transexuais e travestis que lutassem contra essas práticas.
Além do campo da saúde, a segurança pública também foi um contexto no qual emergiu organizações que se
contrapunham às práticas violentas da polícia em relação à prostituição. Com isso, em meados de 1992, se constitui a
primeira organização política de travestis no território brasileiro, a Associação das Travestis e Liberados (ASTRAL). Já
em 2000 se consolida a Articulação Nacional de Transgêneros (ANTRA).
Essas organizações giravam entorno do tratamento e prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs),
particularmente o HIV/AIDS; e de políticas de segurança e assistência à trabalhadoras/es sexuais. Questões essas que,
majoritariamente, diziam respeito às mulheres transexuais e travestis, devido a processos específicos de transfobia. É
diante disso que há um apagamento das questões referentes às transmasculinidades nessas organizações.
Mundialmente, é na década de 1990 o momento de crescimento do movimento de homens transexuais, em
decorrência da maior visibilização das pautas trans e de mudanças nas representações sobre masculinidade. As
organizações de homens trans no Brasil são mais tardias, e se encontram entre 2000 e 2010, período de tempo em
que há a criação do Núcleo de Apoio a Homens Trans, a Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT) e o Instituto
Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT). A partir desse cenário, algumas hipóteses podem ser levantadas em relação
à essa organização tardia. Dentre elas estão o falocentrismo da sociedade, a socialização anterior como mulher, o ser
homem mais aceito e a passabilidade. Diante disso tudo, os homens trans estavam invisibilizados socialmente e
politicamente, como se não existissem pautas e demandas desse grupo.

957
Para concluir, trazemos uma questão que nos aparece a partir dos resultados: os homens trans desejam comunidades
reais e grupos políticos ou redes (virtuais) de encontro de pares bastam? Acreditamos que deve-se levar em conta isso
antes que, de fora para dentro, valorize uma participação política. Entretanto, cabe-nos destacar que existem
processos de invisibilização nos espaços políticos atuais, e romper com estes se faz necessário para que haja uma real
articulação social que traga ganhos ao movimento de travestis, mulheres transexuais e homens transexuais.

958
Processo Transexualizador: Reinvenção e Regulação dos Corpos Trans
Autores: Júlia Arruda da Fonseca Palmiere, UCDB; Anita Guazzelli Bernardes, UCDB; Camilla Fernandes Marques,
UCDB/CRAS
E-mail dos autores: juliapalmiere@hotmail.com,anitabernardes1909@gmail.com,camilla.fmt@hotmail.com

Resumo: O presente estudo faz parte de uma pesquisa que tem por objetivo problematizar as condições de acesso às
possibilidades de vida pela análise do território existencial do Processo Transexualizador, implementado em 2008, via
Sistema Único de Saúde. Buscou-se analisar a produção de subjetividade a partir do contato da população trans com
práticas operacionalizadas ao longo do Processo, investigando de que modos essas práticas se tornam um
investimento biopolítico e produzem modalidades de existência. Como método para a investigação se utilizou da
cartografia, o que permitiu ter como material de análise as dobras produzidas nos encontros entre a população com as
políticas públicas. Se fez uso do rastreamento metodológico de materiais bibliográficos e documentais sobre a
temática do Processo Transexualizador, encontrados em portarias, leis e protocolos, focalizando o que esses materiais
propõem em termos de investimento na vida da população trans. O campo de análise também se aproximou de
materiais audiovisuais com entrevistas e depoimentos de pessoas trans, sobre as condições de acesso à Política
implementada.
A pesquisa adquiriu foco na dimensão de constituição de certas práticas, que performam as experiências de transição,
considerando as múltiplas dimensões da realidade. A transexualidade passou a ser naturalizada enquanto uma
patologia a partir do discurso psiquiátrico e os corpos transexuais foram tomados como alvo de intervenções da
biomedicina, sobretudo, a partir da década de 50. Utilizou-se das pistas metodológicas e da discussão sobre
dispositivo da sexualidade de Michel Foucault, para investigar as forças coletivas que atuaram na emergência da
transexualidade enquanto um fenômeno passível de administração por áreas de saber.
Condicionalidades como a necessidade de terapia compulsória pelo período de dois anos e de um laudo psicológico
baseado em critérios patologizantes, pautados em um modelo de transexual "verdadeiro", são impostas aos que
buscam acessar os serviços. Agenciamentos biopolíticos pautados em regimes de verdade sobre o sexo biológico e o
gênero tornam possível que as práticas disponibilizadas pela Saúde Pública adquiram caráter de medicalização e
regulação das vivências trans.
A mudança de nome e sexo no registro civil, enquanto aquisição fundamental para o bem-estar das pessoas trans,
somente é possível através do mecanismo de jurisprudência, que passou a decidir a favor das mudanças requeridas a
partir de 2009. De acordo com o site do Senado Federal, tal consenso se deu sob a lógica de que se a Saúde Pública
passou a tornar possível as transições de gênero, o Estado também deveria. Arranjos entre as práticas jurídicas e as
políticas de saúde administram as vivências trans, o que esboça a operacionalização de um dispositivo da
transexualidade, que permite a produção de corpos inteligíveis.
As biotecnologias adquirem posição central ao longo do Processo, por oferecer visibilidade às experiências de
transição nos termos em que as compreendemos hoje. Modos de experimentar o corpo, o gênero e a sexualidade
obtêm novas reinserções com o uso das biotecnologias enquanto possibilidade para construção dos corpos. A
manipulação da corporeidade pelas práticas operacionalizadas no interior do Processo, se dá pelo viés da
patologização, buscando construir corpos-homem ou corpos-mulher. O que permite que seu acesso esteja
condicionado aos modos inteligíveis de performar o gênero e se relacionar com o corpo, possibilitando que as
transformações em nível biológico se deem de modo binário e em parâmetros heteronormativos.
Apoiou-se em autores como Judith Butler, Gilles Deleuze e Félix Guattari, para pensar os investimentos discursivos
acerca da materialidade do corpo. A movimentação da plasticidade corporal é permitida desde que as transformações
se deem acompanhadas da possibilidade de reatualização dos regimes de verdade sobre a naturalidade do binarismo
de gênero. Ou seja, desde que em concordância com linhas de normalidade, traçadas por saberes médicos e
psicológicos, que inscreveram verdades sobre a materialidade biológica. As possibilidades de movimentação dos

959
corpos se entrecruzam com investimentos biopolíticos, o que implica considerar os jogos políticos de governo dos
corpos.
As discussões empreendidas permitem refletir acerca da submissão das identidades trans à patologização e aos modos
de performar o gênero,que excluem a diversidade das formas de experimentar o trânsito biológico, social e subjetivo
que se dá a partir da construção de novas modulações do corpo e novas modalidades de existência. O território
existencial do Processo Transexualizador é marcado pela gestão das vivências trans,visando a reatualização de regimes
de verdade sobre o sexo biológico e o gênero. Reflexões acerca das formas de subjetivação a partir das experiências
de transição de gênero fazem parte de um compromisso ético-político da Psicologia Social, ao engajar-se nas lutas do
campo pelas transformações sociais.

960
Psicologia e despatologização das transexualidades e travestilidades: a experiência das oficinas de orientação
realizadas pelo CRP-12 no estado de Santa Catarina
Autores: Daniel Kerry dos Santos, CRP-12 (SC)/UNISUL; Ematuir Teles de Sousa, CRP-12 (SC); Marília dos Santos
Amaral, CESUSC
E-mail dos autores: dakerry@gmail.com,mariliapsico@hotmail.com,ematuir.sousa@crpsc.org.br

Resumo: Nos últimos anos temos testemunhado no Brasil um aumento de pesquisas acadêmicas e de movimentos
sociais que vêm problematizando a questão das transexualidades e travestilidades. O campo dos estudos de gênero e
sexualidades, especialmente em suas correntes que dialogam com o transfeminismo, tem produzido contundentes
críticas aos discursos e práticas que patologizam as experiências trans. Diversos estudos apontam que a lógica
patologizante que recai sobre sujeitos que divergem das normas cisgêneras produz efeitos concretos de exclusão,
estigmatização, discriminação e violência. A patologização das experiências trans tem funcionado há décadas como
uma forma de gestão e tutela de sujeitos que desafiam padrões normativos de gênero e que instauram outras
modalidades discursivas e materiais de reconhecimento e inteligibilidade do corpo e daquilo que pode adquirir
estatuto de humano. Dentre as instituições que atualizam de maneira mais rígida as estruturas de poder que alocam
as experiências trans no campo da (psico)patologia, destacam-se aquelas ligadas ao judiciário, à biomedicina e à
saúde. Seja como empecilhos jurídicos para a retificação de registro civil (nome e sexo) ou como burocracias que
impedem e/ou dificultam que pessoas trans tenham acesso à saúde integral, a cis-hetero-norma que atravessa os
saberes e as práticas nessas esferas se constitui como um dos mecanismos efetivos para a manutenção de dispositivos
biopolíticos que precarizam algumas vidas. Diante desse quadro, algumas vertentes da psicologia crítica brasileira, em
consonância a um crescente movimento global constituído por diversos/as atores/atrizes sociais, têm afirmado um
posicionamento radical pela despatologização das experiências trans. Ainda que historicamente a psicologia tenha
sido conivente (e ainda seja, em alguns contextos) com discursos que patologizam pessoas trans, temos observado um
giro teórico e epistemológico no que tange à compreensão do gênero, especialmente em relação às experiências
trans. Ao se aproximar do vasto campo de conhecimento fundamentado por perspectivas críticas das teorias
(trans)feministas e dos estudos de gênero, a psicologia brasileira tem se reinventado. Tais parcerias teóricas tem
abalado o conjunto de enunciados de certas psicologias consideradas clássicas e rompido definitivamente com
concepções psicologizantes, essencialistas, patologizantes e individualizantes que pressupõem a existência de um
sujeito universal e a-histórico. Ao dimensionar o sujeito nas complexas tramas históricas e sociais que orientam os
modos pelos quais se pode (ou não) experienciar o gênero e a sexualidade, a psicologia tem podido pensar desde um
outro paradigma que resiste e não cede às lógicas da patologização das experiências trans. Alinhado a esses
posicionamentos éticos, estéticos e políticos, o Grupo de Trabalho (GT) Gênero e Sexualidade, vinculado à Comissão
de Direitos Humanos do CRP-12 (SC), realizou uma série de atividades que visaram à orientação de profissionais e
estudantes de psicologia e demais interessados/as nas questões relativas à despatologização das transexualidades e
travestilidades. O referido GT foi criado no segundo semestre de 2016 e vem desenvolvendo diversas ações, como
orientação junto à categoria profissional de psicólogos/as; organização de seminários; participação em eventos com
temáticas sobre gênero e sexualidade; atuação no controle social local, tendo uma cadeira no Conselho Municipal de
Direitos LGBT de Florianópolis; etc. Nessa comunicação, apresentaremos um relato da experiência do ciclo de debates
Visibilidades Trans: provocações necessárias à psicologia, evento realizado pelo GT Gênero e Sexualidade. Esse ciclo foi
composto por oficinas realizadas na sede do CRP-12, localizada em Florianópolis, e nas demais subsedes do CRP do
estado de Santa Catarina, localizadas nas cidades de Criciúma, Joinville e Chapecó. Em cada uma dessas cidades
realizamos duas oficinas, com duração de três horas cada e que tiveram como foco principal a problematização da
urgência de uma perspectiva despatologizante nas diversas práticas psicológicas. A primeira oficina, Implicações ético-
políticas da psicologia frente às questões trans, teve como objetivo promover um debate sobre o compromisso ético-
político da Psicologia diante da produção histórica de categorias patologizadoras e excludentes que marginalizam
pessoas trans. Já a segunda oficina, A produção de documentos psicológicos para pessoas trans, teve como objetivo
961
produzir uma reflexão sobre uma ética despatologizante na produção de documentos psicológicos para pessoas trans.
Além das oficinas, também realizamos em Florianópolis dois seminários que contou com a presença de importantes
pesquisadores/as e ativistas brasileiros/as. Consideramos que essas ações, além de disseminar as discussões sobre a
articulação da psicologia com as questões trans para o interior do estado região que, como constatamos, ainda é
carente desses tipos de debates, também funcionou como um dispositivo de análise e de implicação que aproximou
os/as participantes à temática apresentada.

962
Psicologia, poder e sexualidade: a figura contemporânea do intersex e novas práticas de subjetivação
Autores: Luiza Maria Silva de Freitas, UNIFOR; Jônatas Mota Leitão, UNIFOR; Paulo Germano Barrozo de Albuquerque,
UNI7
E-mail dos autores: luizafreitas@unifor.br,jonatas.leitaoo@gmail.com,paulogermano@fa7.edu.br

Resumo: Os movimentos sociais contemporâneos parecem estar cada vez mais alinhados a um campo médico e a um
campo jurídico, através da luta pelo reconhecimento de suas identidades, bem como pela conquista de direitos
individuais. Sua multiplicação tem criado condições para a formação de grupos representativos, com prioridades de
conquista de direitos específicos de cada grupo. Assim, observando essa aliança que as políticas de identidade
empreendem com o campo médico-jurídico no presente, e aproximando-se de uma metodologia histórico-filosófica,
pretende-se demonstrar, a partir de uma análise do curso Os anormais, de Michel Foucault (2001), como ocorreu a
passagem da figura do monstro humano para a figura do hermafrodita. Isso se dá a partir da junção entre o saber
médico e o saber jurídico como um continuum, isto é, na qual se desenvolve um exercício de poder particular, que
opera na produção de verdade, além de acompanhar o processo de medicalização/normalização do monstro humano.
Nessa passagem, evidenciar-se-ão a lei e a norma, buscando situar como Foucault trabalha com essas noções, ao
mesmo tempo em que será explicitada como se dá a formação dessa zona de indiscernibilidade entre o saber médico
e o saber jurídico, constituindo-se um continuum que serve de mecanismo para a produção da figura do hermafrodita.
Desse modo, pensa-se em que medida o continuum médico-jurídico ainda é um mecanismo de produção de
identidades, constituindo um problema junto à Psicologia, sendo essa uma peça que estabelece os processos de
identificação, trabalhando com o crivo das representações. Assim, da mesma forma que é possível mostrar como se dá
o processo de produção da figura do hermafrodita, lança-se a questão das condições de possibilidade para o
aparecimento de outras figuras, como a do intersex e seu amplo espectro. Quando se fala em outras figuras, fala-se de
outras produções do poder. Para Foucault (1988), as sociedades ocidentais sofreram uma profunda reoganização na
sua forma de exercício do poder: de um poder soberano que agia diminuindo as forças dos corpos para formas de
poder disciplinares e biopolíticas que fazem do corpo (individual e populacional) seu principal alvo, visando a
otimização de suas forças. É no seio dessas transformações que podemos entender o surgimento do dispositivo de
sexualidade e interrogar a figura contemporânea do intersex, pois este diz respeito a outras operações de poder,
diferentes das concernentes à produção da figura do hermafrodita. Esse modo de olhar a partir de uma figura já busca
a desnaturalização da questão da identidade, demonstrando a face dos mecanismos de saber-poder na produção de
subjetividade.
A Psicologia é convocada para a questão de como ela vai fundamentar seus pareceres, isto é, como se dará sua
participação nessas questões que envolvem verdade-direito-subjetividade. Interroga-se, com isso, como a Psicologia
buscará fundamentar os laudos e fornecer respostas, quando convocada pelo campo jurídico e pelo campo médico,
para falar sobre a identidade do intersex. Se ela, Psicologia, compartilhará com a noção naturalizante de sexualidade
da medicina e que se articula com o campo jurídico no estabelecimento de garantias de direitos humanos. Nos
interrogaremos sobre como a Psicologia, ainda com o crivo das representações e das identidades, também participa
da engrenagem dos processos de identificação na produção de verdade dentro das políticas de identidade e se é
possível o estabelecimento de novas práticas entre Psicologia, Direito e Subjetividade.

963
Sexualidade e poder: algumas considerações sobre o filme Dzi Croquettes e a Psicologia
Autores: Magno Cezar Carvalho Teófilo, Uni7; Luiza Maria Silva de Freitas, UNIFOR; Paulo Germano Barrozo de
Albuquerque, Uni7
E-mail dos autores: magnocezar@unifor.br,paulogermano@fa7.edu.br,luizafreitas@unifor.br

Resumo: Neste trabalho persigo as tramas do documentário brasileiro Dzi Croquettes com o objetivo de problematizar
processos de subjetivação a partir da produção de micropolíticas de corpo, gênero e sexualidade no contexto da
experiência teatral-contestatória desse filme. Para se compreender os vários sentidos possíveis do conceito de gênero
e sua relação com a experiência queer, é necessário contextualizar as formas dos discursos que foram também
construídos historicamente, em especial pelo movimento feminista, ao longo do tempo. Os anos 1960 compõem o
cenário que marca o uso do termo gênero associado ao termo sexo. Contudo, outras formas são correlacionadas ao
modo binário de diferenciação entre masculino e feminino, próprias de um período caracterizado pelo movimento
sociocultural da revolução sexual dessa época. Ao final dos anos 1960, o discurso da biologia é cada vez mais ampliado
em seu alcance e ganha maior ênfase nas sociedades industrializadas. O saber biológico enuncia a verdade e a produz
para ajustar à ordem social o que ainda não foi capturado pelo discurso disciplinar normativo (Foucault, 1999). A força
de trabalho masculina é empregada em atividades diferentes das que são destinadas à força feminina. E o que isso
quer dizer? Não só que ainda hoje lidamos com as diferenças de salário entre homens e mulheres numa sociedade
capitalista, mas que esses sujeitos ainda são valorados segundo o modo como o enunciado biológico os classifica: na
forma binária orientada pela heteronormatividade própria de uma sociedade falocêntrica (Butler, 2009). O discurso
normativo captura e classifica pelas diferenças e demarca territórios nítidos e bem delimitados, que dizem o que pode
o corpo masculino e que características o diferenciam dos atributos do corpo feminino, quer no que diz respeito ao
labor, quer no que tange ao divertimento ou à violência. São gostos e vontades diferentes a partir da norma derivada
do saber biológico e do que esse campo de conhecimento permite que seja desenvolvido e utilizado até o
esgotamento frente à demanda de consumo e produção da sociedade (Nicholson, 1999). As diferenças são marcadas
pela igualdade individual e os sujeitos reproduzem valores instituídos que mantêm a produção e são produzidos por
ela. O percurso utilizado pelo documentário leva o teatro e os valores normativos do corpo, do gênero e da
sexualidade para o cinema e transgride as arbitrariedades discursivas da biopolítica. Dessa forma, as imagens e sons
cinegrafados expõem algumas estratégias produzidas pelo grupo que arguiu as moralidades do regime militar
brasileiro nos anos 1970, bem como as relações sociais reguladas pelo modelo binário heterossexista e pela
hetero/homossexualidade compulsória, que repercutem até hoje. A imersão nesse documentário ancorou-se nos
aportes teóricos sobre o gênero nos estudos feministas de Judith Butler e nos estudos pós-estruturalistas
foucaultianos sobre a sexualidade. Utilizo a etnografia de tela como método de pesquisa para analisar a noção de
performatividade e o processo de (in)subordinação às hetero/normas exibidas em Dzi Croquettes. A análise encontra-
se espraiada pelo texto inteiro devido à organização do caderno de campo e ao estilo do elemento empírico da
pesquisa. Nela busco explicitar problematizações que apontam para uma proposta de escrita final deste trabalho.
Finalizo na afirmação de que a experiência queer também é vista como uma viela para a afirmação da potência da vida
- pela transformação, pela subversão e pelo que escapa aos territórios engessados sobre o corpo, o gênero e a
sexualidade na Psicologia - a partir da perspectiva político-pedagógica de contestação presente em Dzi Croquettes.

964
GT 45 | Reflexões sobre ações em saúde para pessoas que fazem uso problemático de substâncias
psicoativas

Coordenadoras: Cibele Alves Chapadeiro, UFTM | Marciana Gonçalves Farinha, USP | Maria Carolina Fregonezi
Gonçalves Barboza

Os indivíduos são serem complexos multidimensionais que necessitam de maior compreensão transdisciplinar assim
como da territorialidade de sua experiência. A territorialização da práxis implica, assim, a desterritorialização dos
saberes, tanto para ultrapassar as fronteiras disciplinares quanto para fazer circular os discursos em prol da
construção plural do conhecimento.
A presente proposta de Grupo de Trabalho (GT) busca refletir sobre a práxis das práticas em saúde com foco especial,
no uso e abuso de álcool e outras substâncias psicoativas (SPA) a partir de promoção de saúde, cidadania e das
políticas públicas. O GT aponta para um aspecto relevante do eixo temático, a práxis da Psicologia na Saúde com
intervenções em saúde, na Assistência Social, na Educação com usuários de substâncias psicoativas, tem por objetivos
reunir pesquisadores interessados nos seguintes temas, a) de álcool e substâncias Psicoativas; b) uso e abuso de álcool
e drogas ao longo do ciclo vital, bem como o impacto na saúde dos usuários (familiares e e pessoas que fazem uso
problemático de substâncias psicoativas); c) discutir as diferentes perspectivas teóricas e metodológicas de estudo que
versem sobre álcool e drogas na perspectiva das intervenções na rede de atenção psicossocial e níveis de prevenção;
d) levantar os impactos do consumo de substâncias psicoativas na vida do indivíduo, da família e da sociedade e as
dificuldades decorrentes desse uso em diferentes regiões e com diferentes metodologias; e) promover intercâmbio
entre pesquisadores e interessados na área construindo bases para desenvolver parcerias e colaborações. Esses temas
podem ser atravessados por aspectos da cidadania, promoção de políticas públicas. A busca por saúde passa pela
busca por direitos e apropriação do eu, em que o indivíduo possa ser sujeito nesse processo. Os espaços para buscar
saúde, seja física, psíquica ou social vão além da promoção de saúde, mas também pela promoção de direitos.
A busca pelo autocuidado estimula que o indivíduo se responsabilize pelo seu cuidado, pelos seus direitos e dos outros
e, é nessa perspectiva que a Psicologia se articula com outros saberes e amplamente com as políticas públicas em suas
múltiplas perspectivas de acesso aos direitos de cidadania, Saúde, Assistência Social e Educação. Nas últimas décadas
os padrões de mortalidade da população sofreram grandes transformações e a predominância de mortes por doenças
infectocontagiosas deram lugar a doenças crônicas degenerativas não transmissíveis relacionadas a estilos de vida.
Tais modos de adoecimento estão diretamente articulados às condições sociais e à cultura, trazendo para a discussão,
no campo da saúde, fatores psicossociais, ambientais, culturais e estruturais das sociedades em que emergem.
Entre as doenças relacionadas ao estilo de vida, englobam as decorrentes do uso de substâncias psicoativas, que tem
sido as mais significativas pelo aumento desse uso no Brasil e em diversos outros países, principalmente entre jovens e
adultos jovens. Aproximadamente dois bilhões de pessoas no mundo usam álcool e cerca de 170 a 250 milhões
consumiram alguma droga ilícita pelo menos uma vez no ano de 2007. Além disso, a Organização Mundial da Saúde
(OMS), estimou que cerca de 2,5 milhões de mortes por ano foram associadas ao uso de álcool, e, em torno de 10%
das pessoas que vivem em centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente substâncias psicoativas. As
relações familiares estabelecidas no ambiente em que um dos membros faz uso problemático de álcool, o pai, por
exemplo, têm sido descrito como um dos fatores de risco para o desenvolvimento de dependência química e de outros
transtornos psicológicos nos seus descendentes. A literatura descreve algumas caraterísticas destas famílias:
interações tensas, com altos níveis de conflito, falta de clareza em sua organização, isolamento interpessoal e a
comunicação em geral é prejudicada. Estas características familiares indicam que seus membros devem conviver com
vários problemas, como dificuldades financeiras, conflito conjugal, diferentes formas de violência, dentre outras.
Desta forma, observa-se que todos os familiares são prejudicados pelo abuso de substâncias psicoativas, por exemplo,
os filhos apresentam mais problemas de comportamento, dificuldades emocionais e maior vulnerabilidade social,
enquanto as mães/esposas tendem a desenvolver depressão, sofrerem violência doméstica entre outros problemas.
Por outro lado, quando se pensa na questão de gênero, não são só os homens que tem sido abusadores ou
dependentes de álcool e outras drogas. O número de mulheres que tem consumido bebidas alcoólicas e outros
substâncias psicoativas tem aumentado nos últimos anos. Os danos à saúde e ao bem-estar são grandes e o
relacionamento conjugal tende a não se sustentar, embora o parceiro é também uma pessoa com uso problemático
de alcool e outroas substâncias psicoativas, muitas vezes. A comunicação dos casais tende a ser ruim e o uso do álcool
parece aliviar a tensão dos problemas. A autoimagem das mulheres que abusam de álcool tende a ser negativa, o que

965
pode contribuir para a ocorrência de depressão. O convívio social e contato profissional tende a ficar prejudicado,
restringindo a vida para dentro do lar. As mulheres também apresentam agressividade quando sob efeito de
substâncias psicoativas. Quando os filhos começavam a perceber a dependência da mãe e/ou do pai, tendem a se
mostrar hostis e distantes. Também é bastante problemático quando o uso de SPA ocorre no período da gestação, os
recém nascido apresenta riscos potenciais ao longo do ciclo vital, como problemas neurodesenvolvimentais,
comportamentais e de aprendizagem. Esses bebês podem nascer com a síndrome alcoólica fetal.
Dados epidemiológicos apontam que cerca de 20% das gestantes fazem uso de álcool, muitas vezes, falta a essas
mulheres conhecimentos adequados sobre os prejuízos destas substâncias para sua saúde física e mental, como para o
desenvolvimento do bebê. Estes dados apontam a relevância da divulgação de resultados de pesquisas realizadas com
esta população para que possam auxiliar nas diretrizes de programas preventivos. Nesse contexto, elaborar políticas
voltados ao cuidado e ações interventivas efetivas implica a consideração de diversos aspectos, sociais, culturais e
familiares envolvidos no uso e abuso de substâncias psicoativas como: dados epidemiológicos, o conhecimento das
condições de vida e acesso à cultura, lazer e educação, cuidados em saúde, além de informações que fundamentem as
propostas interventivas pertinentes. Além disso, torna-se necessário considerar os prejuízos secundários e o impacto
social causado pelo abuso de SPAs, como a associação a situações de risco no trânsito, absenteísmo no trabalho,
situações de violência, maior risco de contrair Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), gravidez indesejada,
violência doméstica, abuso sexual, elevados custo nas internações, prisões e evasão escolar de adolescentes e
crianças. Para tanto, torna-se de crucial importância conhecer a complexidade do cenário em que o uso e abuso de
SPAs está ocorrendo, considerando as características da população usuária e de seus familiares, como idade,
escolaridade, emprego e renda, assim como discutir sobre a assistência na rede de atenção à saúde, questões
relacionadas ao uso de drogas e como essas tem sido divulgadas pela mídia e tratada pela indústria, temas que podem
ser discutidos neste GT.
Na perspectiva de considerar amplamente diferentes perspectivas para compreender o fenômeno do consumo de SPA
e suas repercussões a presente proposta do Grupo de Trabalho pretende promover uma discussão que problematize o
uso, abuso e dependência de álcool e/ou de outras drogas, seus potenciais impactos nas condições de saúde do
usuário, familiares e comunidade. Espera-se receber trabalhos desenvolvidos com diversas abordagens metodológicas
de pesquisa, bem como diferentes enfoques e problemáticas que abordem o tema álcool e/ou outras drogas e temas
transversais, programas de intervenções e de prevenção em saúde propostos dentro dos preceitos éticos, com
estratégias que gerem impactos na redução de danos do uso abusivo das SPA, todos vislumbrando a defesa da
cidadania, que leva os indivíduos a terem seus direitos à saúde contemplados, em busca de políticas públicas que
norteiem ações de enfrentamento dos problemas decorrentes de álcool e outras drogas.

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A gestão "das drogas" dos indesejáveis: fragmentos acerca da saúde mental no contexto do Estado do Pará
Autores: Valber Luiz Farias Sampaio, UFPA; Cyntia Santos Rolim, Centro de Referência de Assistência Social
E-mail dos autores: valbersampaio@hotmail.com,cyntiarolim@yahoo.com.br

Resumo: O sofrimento psíquico ainda se configura em um panorama controverso em nossa sociedade; de um lado a
presença de políticas opressoras e segregatórias que reeditam a história como processo de exclusão; de outro, a
resistência e a prática que enaltecem os cuidados em sua integralidade. Com o passar dos tempos os sujeitos
acometidos por sofrimentos psíquicos passaram por uma série de práticas que se afirmam enquanto tratamento que
confeccionam rótulos e estigmatizações, muitas vezes enquanto um possível risco social, consequentemente,
permeando a exclusão enquanto práticas de diversos saberes, no intuito de proteger a população desse arriscado
desconhecido, um higienismo social. Nesse sentido, mesmo com a lei de nº 10.216/01 que subsidia a Reforma
Psiquiátrica (e o novo modelo estratégico do desenvolvimento e execução de políticas públicas em saúde mental), o
avanço do modo de governamentalidade neoliberal no mundo, e sobretudo no Brasil com os diversos desmontes de
políticas na atualidade, atrelado ao processo de produção subjetivo do medo emancipam uma perspectiva punitiva
como saída para latências sociais. Frente a isso, em especifico, sujeitos que fazem uso de substâncias, consideradas,
ilícitas são fortemente atingidos por essa égide penal, elevando a necessidade de fomenta do diálogo acerca da
temática. Este estudo surge enquanto inquietudes presentes em uma pesquisa de finalização de pós-graduação
(especialização) em Gestão e Planejamento de Políticas Públicas em Serviço Social, assim como práticas que tivemos
como profissionais em um centro de atendimento particular para dependentes químicos no Estado do Pará; o que se
apresenta é apenas um recorte dos modos com o qual vem se traçando práticas institucionais de profissionais diante
desses sujeitos no âmbito da dependência química. Objetivando a problematização de práticas em saúde mental,
enquanto recorte, tendo como especificidade a questão das drogas, propõe-se o estudo dessa gestão dos indesejáveis
a partir de um panorama atual no território paraense em uma clínica particular. A metodologia adotada foi a
cartografia das vivências profissionais que tivemos neste centro, levando o conceito de Rolnik (2014) acerca da
cartografia enquanto processo de desnude das paisagens psicossociais; ou seja, foi a partir desse contato profissional
inserido nesta realidade institucional que se emancipou o interesse em dar vozes aos afetos e sentidos para a
temática, posteriormente ancorando-se em perspectivas teóricas críticas, tais como na utilização de autores como
Michel Foucault e demais autores contemporâneos. Assim, enquanto processo de analítico deste contexto, apresenta-
se enquanto problemática a formatação de atrelamento de saberes (como o jurídico e o da medicina) enquanto
fortalecimento dos discursos de periculosidade e riscos à sociedade, gerando o medo e possíveis soluções sob a égide
do encarceramento, contribuindo para o fortalecimento de políticas como a redução da maioridade penal e da
internação compulsória. Somados a este, na última formação oferecida pela Secretaria Estadual de Assistência Social e
Trabalho Emprego e Renda SEASTER fora apresentado como melhor caminho de enfrentamento à política de drogas
no estado a comunidade terapêuticas e centros com cunho disciplinadores, justificadas por conta da falência da
Política Nacional de Drogas ligadas aos Centros de Atenção Psicossociais, os CAPS. Nesse sentido, propomos o dialogo
acerca da temática como forma de fomentar o debate da temática diante do atual contexto de desmontes políticas
públicas, e, sobretudo da consequência destas na perspectiva da saúde mental aos sujeitos que fazem uso de
substâncias ilícitas.

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A Laicidade como direito no tratamento para usuários de álcool e outras drogas
Autores: Amanda Ely, Grupo Hospitalar Conceição; Alessandra Mendes Calixto, HCPA
E-mail dos autores: amandaelli@gmail.com,calixto.ale@gmail.com

Resumo: Introdução: No contexto da política pública de saúde no Brasil, há por parte de alguns setores uma forte
crítica ao tratamento religioso que algumas comunidades terapêuticas (CTs) co-financiadas pelo Estado, tem pautado
seus projetos terapêuticos de atendimento a usuários de álcool e outras drogas. Parte das críticas direcionadas a estas
modalidades de atendimento advém de ações direcionadas aos usuários dos serviços que ferem o princípio
constitucional da laicidade. Por outro lado, estudos apontam relevantes resultados clínicos na abordagem da
religiosidade/ espiritualidade (R/E) no tratamento das adições, tanto na prevenção, diminuição da gravidade do uso e
manutenção da abstinência. Em se tratando da aplicação desta abordagem em contextos públicos, entendemos que
há a necessidade dos profissionais desenvolverem competências no trabalho com tais dimensões, principalmente no
que se refere à laicidade enquanto princípio norteador das ações em saúde. Nesse sentido questionamos como se
abordar a dimensão R/E no tratamento para transtorno por uso de substâncias em instituições públicas regidas pelo
princípio da laicidade. Objetivos: O presente trabalho visa apresentar resultados de um estudo realizado na Unidade
de Adição do Hospital de Clínicas de Porto Alegre-RS, onde analisou-se como a R/E é abordada no tratamento das
adições em uma instituição laica. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, onde a coleta
de dados ocorreu em 2016, utilizando-se dados provenientes de múltiplas fontes como: observação participante,
consulta a documentos institucionais e entrevistas com pacientes e profissionais. Resultados: As entrevistas realizadas
com os pacientes (n=10) apontaram para um grupo predominantemente religioso com denominações religiosas
diversas, os quais consideravam a dimensão R/E como importante no tratamento, reconhecendo benefícios desta
abordagem na internação. Os profissionais entrevistados (n=4), por sua vez, ressaltaram a importância do cuidado
espiritual direcionado aos pacientes em tratamento. Nas atividades em grupo realizadas na unidade, as intervenções
puderam ser divididas em duas categorias: realizadas por profissionais da unidade (grupo de diálogos em
espiritualidade, grupo de meditação e estudo dos doze passos) e desenvolvidas por voluntários da comunidade
(grupos de manifestação religiosa e painéis de narcóticos anônimos (NA) e alcoólicos anônimos (AA)). Discussão:
Partindo do pressuposto teórico que relaciona o conceito de espiritualidade a questões mais amplas como busca
pessoal pelo sentido da vida e que religiosidade se relaciona mais com o contexto de religiões específicas, entendemos
que, as atividades oferecidas na unidade podem ser divididas entre estas duas vertentes. As atividades realizadas
pelos profissionais da unidade e por voluntários das irmandades NA e AA, estão mais ligadas à dimensão espiritual,
onde são abordados desenvolvimento de valores, autoconhecimento, experiências meditativas e contato com o Poder
Superior. Já as atividades realizadas por voluntários de grupos religiosos, no caso de uma igreja evangélica e centro
espírita em particular, tinham como objetivo a doutrinação religiosa, sendo por isso consideradas como não laicas,
além de não contemplarem a diversidade de religiões existentes no Brasil. Conclusões: A abordagem laica no
tratamento das adições implica no respeito aos direitos dos cidadãos que são usuários de serviços de saúde públicos
ou da rede conveniada e se embasa na proposição de atividades que contemplem reflexões sobre princípios espirituais
não ligados a nenhuma religião específica, mas que contribuam para que os sujeitos fortaleçam suas próprias crenças
e utilizem-nas como reforçador no tratamento.

968
A toxicomania como efeito paradoxal do Discurso Capitalista
Autores: Luma de Oliveira, UFU; João Luiz Leitão Paravidini, UFU
E-mail dos autores: lumadeoliveira.udi@gmail.com,jlparavidini@gmail.com

Resumo: A lei nº 11.343/2006, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), prescreve
medidas para prevenção de uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas. Ela
também estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico de drogas, assim como define
crimes e dá outras providências. Por esta lei, consideram-se como drogas as substâncias capazes de causar
dependência física ou psíquica, mas a essas substâncias são atribuídas várias outras nomenclaturas como substâncias
tóxicas , substâncias psicoativas (SPA) e tóxicos , causando dificuldade em designar os sujeitos que fazem consumo
problemático delas. Há na literatura diferentes termos para classificar esses sujeitos: adictos, toxicômanos,
dependentes químicos, farmacodepentes, entre outros. No entanto, esses termos parecem colocar o caráter
problemático exclusivamente na substância em questão, lembrando que o homem se relaciona com as drogas há mais
de mil anos. Defende-se aqui então que o tóxico não é a droga, mas sim o lugar que ela ocupa na relação de um
sujeito com seus outros semelhantes. Apesar de nenhum destes termos atender integralmente a complexidade que
envolve essa relação sujeito-substância-outros, optou-se por um comumente encontrado sob a perspectiva
psicanalítica, o da toxicomania, para facilitar a compreensão do trabalho. Esta dificuldade para encontrar um termo
que dê conta da complexa relação entre sujeito / droga /outros parece representar a dificuldade social de
compreensão desse fenômeno e de saber o que fazer com isso, a exemplo das recentes ações realizadas pela
prefeitura de São Paulo na Cracolândia . A adoção de medidas no intuito de erradicar relações de uso em um ponto
específico do território parece ter resultado efeitos opostos ao esperado, com criação de novos pontos de uso e
manifestações de oposição do judiciário e de serviços de saúde. Pensando nisto e em discussões realizadas em um
grupo de pesquisa composto por sete mestrandos e um docente orientador da linha Psicanálise e Cultura da Pós-
Graduação em Psicologia da UFU, levanta-se o questionamento do quanto o fenômeno da toxicomania é ao mesmo
tempo sintoma e efeito da atual política socioeconômica vigente no país, o neoliberalismo, ordenado pela lógica do
mercado capitalista. O grupo de pesquisa se reúne semanalmente com o intuito de discutir os temas de trabalho em
andamento pelos pesquisadores e novas indagações que surgem no transcorrer do trabalho, articulando teorias
psicanalíticas e relatos de vivências profissionais aos casos e fenômenos investigados. O objetivo deste trabalho é
então divulgar as discussões em andamento do grupo sobre a temática do consumo problemático de drogas na
sociedade atual e obter novas reflexões que possam contribuir com as práticas dos profissionais envolvidos. Pretende-
se fazer isso por meio da partilha com estudantes, profissionais de diferentes áreas e de diferentes abordagens
teóricas. Dessas discussões, têm-se concluído que o sujeito toxicômano parece atender as atuais demandas por um
consumo insaciável, de busca por independência e de liberdade dos laços sociais. Mas se esse sujeito é efeito do modo
de funcionamento capitalista, é ao mesmo tempo um efeito paradoxal, já que escancara as falhas dessa busca por
independência e do afastamento dos laços sociais, bem como coloca-se fora da lógica formal de produção proposta
pela estrutura econômica vigente. Para investigar melhor essas questões sob a perspectiva psicanalítica, o grupo tem
trabalhado com os conceitos dos quatro discursos apresentados por Lacan como formas de organização dos laços
sociais dos sujeitos (discurso do mestre, discurso da histérica, discurso universitário e discurso do analista), bem como
com propostas pós lacanianas de autoras como Soler e Brousse que falam sobre novas formas de organização dos
sujeitos modernos e pós-modernos, sinalizando para a importância da presença do discurso da ciência e o discurso
capitalista. Esses novos discursos se organizam pela lógica de produção e da globalização, e deles originam
mecanismos de segregação das diferenças e desaparecimento da singularidade, como se existisse uma forma de
obtenção de satisfação comum a todos que suprimisse as diferenças humanas mais radicais. Sobre a toxicomania, um
969
exemplo da vigência desses discursos encontra-se nas ações como as mencionadas da prefeitura de São Paulo, que
tentaram dar a todos uma única solução : um tratamento de desintoxicação que não leva em conta singularidades,
histórias e os direitos dos cidadãos. Diante das reflexões levantadas até o momento, o grupo tem problematizado os
impasses, os limites e as saídas que a Psicologia, e principalmente a Psicanálise, encontram diante dos fenômenos
sociais e das políticas atualmente vigentes, não buscando objetivamente normatizar os sujeitos.

970
Acompanhamento Terapêutico: prática interventiva em centro de atenção psicossocial para álcool e outras drogas
Autores: José Lucas Nunes de Assis, UFU, Marciana Gonçalves Farinha, UFU; Mayara Simoes Viana, UFU; Paula
Nohanna Macedo Guimarães, UFU; Ricardo Fabiano Puzzi, UFU; Tatiana Benevides Magalhães Braga, UFU; Washington
dos Santos Braga, UFU
E-mail dos autores:
joselucas_nunes@hotmail.com,rfpuzzi@gmail.com,marciana@ufu.br,washington2021@hotmail.com,tatibmb@gmail.
com,mayara.sviana@hotmail.com,paula.nohannamacedo@gmail.com

Resumo: Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial para álcool e outras drogas (CAPSad) consiste em um
importante dispositivo de atenção à saúde de pessoas em sofrimento existencial devido ao uso problemático de álcool
e outras substâncias psicoativas que busca articular o atendimento à população às dimensões de universalidade,
equidade, integralidade e promoção da autonomia, contextualizando-o no território do sujeito. Nessa perspectiva, a
prática do Acompanhamento Terapêutico (AT) se apresenta como dispositivo facilitador na construção de estratégias
de reinserção social. Objetivo: investigar os elementos interventivos utilizados na prática do AT, tanto na relação
institucional com o CAPSad quanto na criação de estratégias de cuidado, reinserção social e autonomia dos usuários e
familiares. Metodologia: Pesquisa interventiva a partir da hermenêutica fenomenológica, tendo como fontes de dados
diários de bordo que compõem um relato de experiência da equipe de estagiários de Psicologia com a prática do
Acompanhamento Terapêutico de seis casos encaminhados e atendidos em parceria com um CAPSad. Resultados: O
AT iniciou-se acompanhando os usuários dentro da rotina do serviço e nas atividades semanais propostas pelo
CAPSad, como por exemplo, os grupos terapêuticos, oficinas de artesanato, atividades externas, grupos informativos
etc. Em seguida, a partir das construções dos vínculos entre os estagiários-acompanhantes e usuários-acompanhados,
nossa atuação passa a ser também no território dos usuários, com visitas domiciliares, acompanhamento em unidades
de saúde, acompanhamento em pontos estratégicos na rotina do usuário, encontros com vizinhos e familiares. O
Acompanhamento Terapêutico mostrou-se importante recurso de reconhecimento do território, compreendendo os
elementos dificultadores de acesso dos usuários ao atendimento oferecido pela Rede de Atenção Psicossocial que não
atende em completude os usuários e suas necessidades. Constatou-se que a ausência de outros espaços de contato
social para além do CAPSad, bem como a sedimentação, no contexto relacional dos atendidos, de discursos e práticas
sociais que os ligavam unicamente ao uso de álcool e substâncias psicoativas criava um aprisionamento na
representação social da dependência. Buscando um contato ativo principalmente no cotidiano dos usuários e
familiares, o Acompanhamento Terapêutico revelou e ofereceu caminhos para a saúde antes despercebidos. Assim, a
construção de atividades conjuntas de interesse dos atendidos, a facilitação do acesso a dispositivos de saúde,
educação e cultura, a reorganização do espaço habitacional e da rotina e o resgate de laços sociais significativos ao
longo da história dos sujeitos mostraram-se importantes dispositivos de ruptura com o uso de álcool e drogas.
Conclusão: A criação de novos espaços sociais no território promoveu novos modos de autocuidado, responsabilização
e desvinculação de estigmas promotores de vulnerabilidade psicossocial. Nesse sentido, articula-se a prática do
Acompanhamento Terapêutico à mediação entre sujeito e território com vistas à promoção da cidadania e da
dignidade social. Esta prática de Acompanhamento Terapêutico no Centro de Atenção Psicossocial (CAPSad) tem
contribuído com o tratamento de usuários, o acolhendo em sua completude, bem como com a formação de futuros
profissionais em psicologia com consciência crítica reflexiva, identidade social e individual do sujeito, atento para o
desenvolvimento de novas estratégias a serem utilizadas na promoção de saúde dentro e fora de um dispositivo de
tratamento em saúde mental.

971
Dependência química e violência na percepção do usuário de substâncias psicoativas
Autores: Maria Carolina Fregonezi Gonçalves Barboza; Cibele Alves Chapadeiro, UFTM
E-mail dos autores: caru_fg@hotmail.com,cibele.ac@hotmail.com

Resumo: O uso abusivo e dependente de drogas lícitas e ilícitas é um dos principais problemas de saúde pública na
sociedade atual e sua relevância traz à tona diversas preocupações, considerando a pluralidade de problemas trazidos
não somente para os usuários, como também para seus familiares e à sociedade. A violência familiar e da sociedade
tem sido associada ao uso de drogas, que por sua vez, tem sido associada a atos de violência pelos dependentes
químicos. Mas, poucos estudos têm associado a violência sofrida pelo dependente químico como um dos fatores
predisponentes para os seus atos violentos. Esse estudo objetivou compreender e identificar as percepções de
usuários de drogas em tratamento, internos de uma comunidade terapêutica, sobre a relação entre família, sociedade,
o uso de álcool e outras drogas e a violência. Pesquisa qualitativa, realizada com doze internos de uma comunidade
terapêutica da cidade de Uberaba MG. Utilizou-se da entrevista semi-estruturada para coleta de dados e análise de
conteúdo de Bardin para compilação dos mesmos. A partir da análise, emergiram quatro categorias: convivendo com
alcoolismo e violência familiar na infância; a violência infligida pelo interno antes do uso de drogas; a violência infligida
pelo interno após o uso de álcool e drogas; a violência sofrida após o uso de álcool e drogas. Observou-se que as
famílias praticaram violência em relação aos internos na sua infância e/ou entre seus membros, além disso, onze dos
doze internos conviveram com pelo menos um dependente de álcool e/ou outras drogas dentro da família, sendo na
maioria dos relatos, o pai alcoolista. Os próprios internos também já realizavam atos agressivos, antes do uso de
drogas, porém alguns não os reconheciam como tal, pois descreveram o roubo como necessário para suprir as
privações da pobreza na infância. Após a ocorrência da dependência química, os internos praticaram violência
interpessoal direcionada aos pais, à esposa e filhos (agressões físicas e psicológicas), à comunidade (brigas, furtos e
roubos) e até se auto-agrediram (tentativas de suicídio). Os internos relataram a descriminação social e familiar que
sofreram devido o uso de álcool e outras drogas, além da violência sofrida das abordagens policiais e do tráfico de
drogas. Portanto, os sujeitos da pesquisa associaram o uso de álcool e outras drogas com atos violentos após a
dependência química, no entanto não identificaram a violência sofrida na infância relacionada com os atos agressivos
posteriori. São diversos fatores que determinam o uso/abuso de álcool e outas drogas e o comportamento agressivo,
em que ambos sofrem influência do contexto social e familiar para coexistirem. Nessa perspectiva, pode-se entender o
quão complexa é a relação do uso do álcool e drogas com a violência, e não há uma causa única que determine se o
uso intenso gera comportamento agressivo, se a agressividade desencadeia o consumo de álcool e drogas ou se
ambos sofrem influência do contexto familiar e social para coexistirem. Entretanto, pode-se afirmar que o uso de
álcool e outras drogas está associado às experiências de violência na sociedade e no ambiente intrafamiliar, o que
indica a necessidade de investimento e criação de políticas públicas, que envolvam os usuários em sua totalidade,
focando principalmente na segurança dessa população e no aperfeiçoamento dos profissionais que atuam nesse
contexto.

972
Gestação e Crack: Percepções de Profissionais do Consultório de Rua de Jundiaí
Autores: Thais Teixeira Borges, Associação Sítio Agar; Ingrid Matzembacher Stocker Taffarello, USP; Janaina Silva
Cavalcante, Centro Universitário Padre Anchieta
E-mail dos autores: thais.tb@hotmail.com,ingridstocker@gmail.com,janaina-cavalcante@outlook.com

Resumo: Este trabalho visa aprofundar os estudos a respeito do uso do crack no período gestacional e insere-se no GT
Reflexões sobre ações em saúde para pessoas que fazem uso problemático de substâncias psicoativas , eixo Práxis da
Psicologia Social na Saúde em contextos Neoliberais . O uso e abuso do crack estão associados a prejuízos e riscos
biopsicossociais, como isolamento social, marginalização, violência, degradação física e psicológica, rompimento de
laços afetivos, desesperança e doenças infectocontagiosas (SAYAGOS et al., 2013). No caso das mulheres, estes riscos
agravam-se por estarem vulneráveis a violências sexuais e também expostas, com a prática da prostituição sem as
proteções necessárias, ao contágio de doenças sexualmente transmissíveis, bem como a concepção de gestações de
risco e indesejada. (MEDEIROS et al., 2015) Conforme Sobota (2014), a utilização do crack no período gestacional pode
acarretar, tanto para mãe quanto para o bebê, graves consequências físicas e comportamentais, sendo tema de
discussões e preocupações no âmbito social e de saúde pública. Camargo e Martin (2014) afirmam que, grande parte
das mulheres gestantes usuárias de crack que vivem na rua já transitaram por algum serviço de saúde, mas que
passam a evitar a atenção/assistência médica durante o período gestacional. Desta forma, não tendo acesso a
assistência e a orientações adequadas, não realizam exames indicados na fase de pré-natal e chegam à maternidade
somente em trabalho de parto, quando não ocorrem na rua. Preconceitos e discriminações, assim como exclusão
social e marginalização são apontados como aspectos muito presentes na vida dessas mulheres. Tais fenômenos
interferem, inclusive, na relação estabelecida entre os profissionais da saúde e as gestantes, considerados como
fatores que impossibilitam a busca ou permanência delas nos tratamentos. Diante deste desafio, buscamos
compreender, respaldados pelos autores da psicologia social comunitária, as possíveis barreiras existentes na rede de
atendimento, que agravam ainda mais as situações de risco aos quais as mulheres, gestantes e usuárias de crack estão
submetidas. Dessa forma, buscamos analisar, a partir da percepção dos profissionais do consultório de rua do
Município de Jundiaí SP, quais são as estratégias utilizadas na implantação de ações que contribuam para a saúde
mental das gestantes. Tal proposta visa fortalecer e dignificar a cidadania destas mulheres, assegurando-lhes a
plenitude de seus direitos, considerando-as como protagonistas de sua própria história. (MONTERO, 2004) Para tanto,
foi realizada uma pesquisa exploratória, com enfoque qualitativo, por meio de entrevistas semiestruturadas, com dez
questões semiabertas que contou com a participação de quatro profissionais da equipe do consultório de rua: uma
médica, uma psicóloga, uma enfermeira e um agente de saúde redutor de danos. Em relação aos resultados,
utilizamos como ferramenta metodológica a Análise de Discurso, para a interpretação dos discursos coletados nas
entrevistas. Consideramos que tal concepção auxilia-nos na compreensão dos dilemas e tensões que se fazem
presentes nos discursos marcados pela ideologia que se reproduzem e se ressignificam nas práticas cotidianas.
(ORLANDI, 2000). Os resultados foram agrupados conforme os temas que emergiram das falas dos profissionais e
categorizados em três momentos: Preconceito, discriminação e desigualdade social ; A falácia do escudo protetor e
De onde vem a proteção? . Nesta perspectiva, observamos que os resultados revelaram a forte presença de
preconceitos, estereótipos e estigmas que são reproduzidos historicamente e que denunciam as situações de
desigualdade entre as classes e também entre os gêneros. Mulheres que vivem nas ruas são expostas ao preconceito
que legitimam um processo de exclusão social e consequentemente as tornam invisíveis e sujeitas a julgamentos.
Além disso, observa-se que as relações de poder entre os gêneros prevalecem nas ruas e as submetem a violência e
marginalização. O processo de exclusão e invisibilidade afeta essas mulheres de forma preocupante, uma vez que as
mesmas não são incluídas ou mencionadas em documentos emitidos pelo Ministério da Saúde, como exemplo, a
Caderneta da Gestante, que apenas alerta sobre o uso de álcool e outras drogas durante o período gestacional.
(BRASIL, 2015) Outro fator observado é a importância da capacitação profissional à equipe que trabalha neste
contexto, uma vez que também são cotidianamente convidados a desconstruírem os próprios preconceitos. E por fim,
973
identificamos a falta de políticas públicas específicas à esta população, a inexistência de apoio, estrutura para um
trabalho de reinserção social e a falta de instituições de acolhimento para que estas mulheres possam ser acolhidas
com os filhos, caso haja o desejo. Contudo, o que se observa nas práticas dos serviços de saúde, assistência social e
órgãos de justiça, é que opondo-se as diretrizes publicadas pelo Ministério Público, não se garante os direitos
reprodutivos, as escolhas das gestantes usuárias crack e não permite-se a convivência familiar assistida. Portanto,
identificamos nesse trabalho a necessidade em se viabilizar e fortalecer os direitos das mulheres que estão na rua,
ampliando o diálogo entre as Redes de Atenção Psicossocial, a Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres,
Fóruns de Justiça e os Gestores do Município.

974
Intervenções psicossociais na drogadição
Autores: Dirce Teresinha Tatsch, UPF
E-mail dos autores: dirceterezinha@gmail.com

Resumo: Este é um projeto de proteção social que visa atender famílias que necessitam de acompanhamento
terapêutico por causa da drogadição de um de seus membros. Os objetivos centrais são: proporcionar um trabalho
terapêutico para estas famílias; construir novas formas viáveis de intervenção terapêutica junto a famílias de
adolescentes abusadores de drogas; e colaborar na perspectiva da prevenção ao uso e abuso de drogas na infância e
na adolescência. Os atendimentos terapêuticos às famílias ocorrerem numa Clínica Escola da Universidade de Passo
Fundo. As bases teóricas deste projeto estão centradas na abordagem sistêmica compreendendo a drogadição como
um sintoma e não como uma doença, como uma mensagem à família e também à sociedade de que algo deve mudar.
Consideramos que o tratamento da drogadição bem como a prevenção destes problemas, encontra-se na família e
visto a importância da família na vida da criança e do adolescente, apostamos na terapia familiar como uma das
possíveis soluções para estes problemas emergentes. Trabalhamos na perspectiva da Legislação e Políticas Públicas
sobre Drogas de 2008, compilada pela SENAD. Como nos diz Luiz Inácio Lula da Silva, então Presidente da República:
Dedicar-se a essa temática é tarefa de inquestionável relevância. Exige responsabilidade e conhecimento.
Conhecimento científico atualizado e conhecimento da vida . Assim, seguimos os pressupostos da Política Nacional
Sobre Drogas: garantir o direito de receber tratamento adequado a toda pessoa com problemas decorrentes do uso
indevido de drogas . Nos orientamos ainda pela LEI Nº 11.343 de 2006, que institui o Sisnad; prescreve medidas para
prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. No seu Art
20 Constituem atividades de atenção ao usuário e dependentes de drogas e respectivos familiares para efeito desta
lei, aquelas que visem a melhoria da qualidade de vida e a redução dos riscos e dos danos associados ao uso de
drogas . No decorrer destes doze anos de vigência deste projeto, reiteramos que o tratamento da drogadição na
adolescência através da terapia familiar se mostra eficaz pela melhora dos sintomas e da qualidade dos vínculos
familiares. Acreditamos que a solução se encontra na família e visto a importância da família na vida do adolescente,
apostamos na terapia familiar como uma das possíveis soluções para o problema emergente do abuso de drogas na
adolescência. A família é vista como recurso, como um sistema que tem competências. Aqui aparece a importância do
papel do terapeuta ou equipe terapêutica, como ativadora deste processo. Outro aspecto importante que temos
constatado em nossos atendimentos e corrobora com a literatura estudada, é o aspecto da drogadição ser visto como
um sintoma e não como uma doença, como uma mensagem à família e também à sociedade de que algo deve mudar.
Percebemos nos atendimentos, que além da diminuição dos sintomas, abuso de drogas por parte do paciente
identificado, acontece à melhora dos relacionamentos familiares em geral e da qualidade de vida das famílias. Estamos
sendo desafiados cada vez mais, na contemporaneidade, a trabalhar com as realidades que nos são apresentadas
evitando a manutenção de visões tradicionais do que possa ser e da amplitude de possibilidades que é hoje o trabalho
dos psicólogos.

975
O dispositivo das drogas nas políticas públicas: um relato de experiência de estágio em CAPS-AD
Autores: Francisco Valberdan Pinheiro Montenegro, UFC
E-mail dos autores: tenegrodan@gmail.com

Resumo: O presente trabalho aborda a emergência do dispositivo das drogas em relação às políticas públicas em suas
facetas mais contemporâneas no governo da vida e produção de subjetividade. No início desta década o Brasil assistiu
a um significativo crescimento no papel do dispositivo das drogas nas políticas públicas e no próprio debate social.
Encaradas como problema social, ora de saúde pública, ora de segurança, as drogas têm sido acionadas sob a forma de
ameaça à vida e à sociedade, bem como operacionalizadas enquanto tecnologia de governo da vida. Datam de 2010 o
Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e as medidas de alcance nacional e regional que derivam dele, por
exemplo, o documento produzido pelo programa Pacto pela Vida Drogas, um caminho para um triste fim da
Assembleia Legislativa do Ceará (ALECE) e o programa Ceará Acolhe do Governo do Estado do Ceará analisados neste
trabalho. Iniciativas como essas evidenciam os agenciamentos mais atuais do dispositivo das drogas no âmbito das
políticas públicas e as subjetivações que constitui enquanto efeitos das relações de saber-poder que tomam por alvo
privilegiado o sujeito usuário de drogas. O trabalho enseja ainda uma reflexão sobre a produção de conhecimento de
uma psicologia social que objeta as redes que circunscrevem o dispositivo das drogas em sua interface com as políticas
públicas. Utilizando a metáfora da caixa de ferramentas para aludir ao pensamento de Michel Foucault, busca-se forjar
uma definição provisória e contingente do que seja o dispositivo das drogas e explorar sua potência no diagnóstico do
presente. A experiência do autor em um estágio no Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e outras Drogas (CAPS-AD)
registrada em diário de campo entra como disparador e objeto de análise. Empreendendo uma certa perspectiva de
trabalho sobre as drogas, objetando-as sob a forma de um dispositivo produtor de teias saber-poder subjetivação,
coloca-se como imperativo fazer também a sua genealogia. Nesse sentido, uma análise genealógica se ocupa de
interrogar como as práticas discursivas e não discursivas se alinham para formar enunciados de saber de modo a
sustentar relações de poder em uma relação circular atualizando funções de um regime de verdade que conforma e
constitui sujeitos (subjetivação); constituem redes de saber-poder-subjetividade. Neste trabalho, a genealogia resvala
numa análise do Ceará Acolhe, programa do Governo do Estado do Ceará que integra Comunidades Terapêuticas à
rede de Atenção Psicossocial que assiste os usuários de drogas. Uma vez conveniadas ao sistema de saúde, as
comunidades terminam, para dizer o mínimo, por desafiar a aplicação da política de Redução de Danos. Nesse
complexo cenário as Comunidades Terapêuticas entram pelas frestas abertas pelos discursos agenciados pela lógica da
abstinência como única solução possível, cooptando e até obliterando a política de saúde do SUS. Estruturadas,
sobretudo, em dois eixos aparentemente contraditórios, a saber, saúde e segurança, as políticas brasileiras sobre
drogas derivam de uma intrincada rede de relações de poder e práticas discursivas que trabalham para definir o que
são as drogas lícitas e ilícitas. Destarte, para compreender o atual cenário político que delineia o campo das políticas
públicas brasileiras sobre drogas e, mais especificamente no Ceará, parte-se da compreensão de que estas estão
inseridas no contexto ocidental e, talvez mundial, da política global de guerra às drogas. Feita esta genealogia passa-se
a um outro uso do dispositivo: a cartografia. É numa visada cartográfica que emergem as paisagens psicossocias
acompanhadas durante o estágio no CAPS-AD. Sendo assim, através do diário de campo pretendeu-se acompanhar os
movimentos do cotidiano institucional visando uma microfísica do poder durante o período de estágio e analisá-los em
interface com as alianças travadas entre o dispositivo das drogas e as políticas públicas em suas configurações mais
locais. Por fim, o trabalho ensaia uma reflexão crítica sobre as atuais formas de governo empreendidas por meio do
dispositivo das drogas no âmbito das políticas públicas, os agenciamentos biopolíticos atuais e as formas
governamentalidade que o atravessam. Apontamentos sobre as formas de disputa e resistência a partir dos jogos de
forças que atuam no interior do dispositivo das drogas em sua interface com as políticas de saúde também são feitos
976
com base na experiência de estágio no CAPS-AD. À guisa de conclusão, cabe dizer que o diário de campo desse estudo
mostra, todavia, que o campo de atenção ao usuário drogas não é um rio de águas tranquilas; está mais para um
campo de batalha. A recusa de um dos usuários ante a iminente internação atesta a potência de resistência. A
inquietação e inconformidade dos profissionais do CAPS-AD frente aos encaminhamentos para comunidades
clarificam a existência de um campo em disputa. Também estudos como esse que buscam interrogar o presente
atuam na invenção de linhas de fuga.

977
Percepção dos familiares sobre sua participação no desenvolvimento, tratamento e recuperação de dependentes
químicos
Autores: Suzel Alves Goulart, UFTM; Cibele Alves Chapadeiro, UFTM
E-mail dos autores: suzel_goulart@hotmail.com,cibele.ac@hotmail.com

Resumo:
A dependência química é considerada um sintoma do sistema familiar no qual o usuário faz parte. São nas relações
que se estabelecem entre o dependente químico e seus familiares, que se perpetuam padrões disfuncionais que
contribuem para o desencadeamento e permanência da pessoa na dependência. Dessa forma, não somente o usuário,
mas todo o sistema familiar é responsável e sofre as consequências do uso dependente de substâncias psicoativas.
Assim, é indispensável abordar os vínculos familiares no tratamento, para que o sistema familiar possa encontrar
alternativas mais saudáveis de interação, contribuindo assim para a recuperação do adicto. Uma comunidade
terapêutica do interior de Minas Gerais proporciona reuniões familiares com o intuito de acolher e ao mesmo tempo
trabalhar as mudanças necessárias para que toda a família possa ter relações mais saudáveis. Poucos estudos têm
retratado a percepção e participação da família no tratamento e recuperação do dependente. O presente estudo teve
como objetivo analisar a dinâmica familiar e a participação da família no tratamento em uma comunidade terapêutica,
assim como a expectativa de recuperação do dependente químico do ponto de vista dos familiares. Nesse sentido,
este trabalho se relaciona ao GT Reflexões sobre ações em saúde para pessoas que fazem uso problemático de
substâncias psicoativas, uma vez que promoverá discussões sobre ações em saúde também para os familiares de
pessoas dependentes químicas. Cada membro familiar deve se responsabilizar pelo seu próprio cuidado e também
pelos demais membros, a fim de conquistar o direito à saúde de todos. Trata-se de um estudo descritivo, de corte
transversal, de abordagem qualitativa e referencial teórico familiar sistêmico, aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (CEP/UFTM). A metodologia do estudo consistiu na realização
de entrevistas com familiares de indivíduos em tratamento para o uso de drogas lícitas e/ou ilícitas em uma
Comunidade Terapêutica, em uma cidade do interior de Minas Gerais. Foram realizadas entrevistas com oito
familiares, as quais foram áudio gravadas e transcritas na íntegra. A análise de conteúdo das entrevistas levou à
formação das seguintes categorias: 1) Estrutura e dinâmica familiar antes da drogadição; 2) Dinâmica familiar durante
a drogadição; 3) Participação da família no início e durante o tratamento; 4) Expectativas para a recuperação do
dependente químico. A dinâmica da família de origem, antes da drogadição, indicou que a dependência química era
um problema transgeracional e que as figuras parentais estiveram ausentes após a infância. Com a família atual, a
dinâmica familiar consistiu em um relacionamento codependente e com violência física. A mudança de
comportamento de esposas parece ter contribuído para o início do tratamento e seu apoio, para a continuidade do
mesmo. Todos os familiares entrevistados apoiaram o início do tratamento. Os familiares participaram do tratamento
através das visitas mensais, telefonemas semanais, na inserção que a comunidade terapêutica fazia através das
reuniões familiares, além de fazerem parte do NATA (Núcleo de Apoio a Toxicômanos e Alcoólatras). Conclui-se que a
família reconhece que sua dinâmica influencia de maneira significativa a vida do dependente e que sua participação
contribui na busca do mesmo pelo tratamento e para conduzir à recuperação; percebem que a drogadição muda o
comportamento do familiar usuário, repercutindo em todo sistema familiar.

978
Perfil dos moradores de rua e sua dinâmica familiar
Autores: Thais Borges Thomazin, Instituto Municipal Anti-Drogas; Cibele Alves Chapadeiro, UFTM
E-mail dos autores: thathomazin@gmail.com,cibele.ac@hotmail.com

Resumo: A população de rua é um grupo heterogêneo, composto por pessoas que revelam realidades distintas, mas
que geralmente têm em comum a condição de pobreza e a falta de pertencimento, tanto à família, sociedade,
mercado de trabalho, mostrando problemas como o abuso de álcool e outras drogas. Esses indivíduos já exerceram
atividades formais que foram importantes na construção de suas identidades, mas que por perda de emprego,
rompimento de laços afetivos ou incapacitação causada pela dependência química, perderam suas perspectivas de
projeto de vida e foram para a rua. No Brasil, a família se mostra importante enquanto rede e, por isso, acaba
desempenhando um papel na rede de proteção social. A população de rua geralmente tem vínculos frágeis, os quais
podem se fortalecer ou romper, dependendo das dificuldades apresentadas e das experiências desestruturantes da
vida. Para a teoria familiar sistêmica, a família é um sistema social e dentro dela seus membros se ligam por meio de
uma teia relacional e emocional. Minuchin conceitua a família como um sistema aberto e em constante
transformação, devido à troca de informações com os sistemas extrafamiliares. Os membros familiares relacionam-se
entre si e exercem papéis que vão de acordo com as necessidades individuais de proteção e autonomia, tendo em
vista as normas que são criadas na família, as quais podem ser implícitas e explícitas. Este estudo teve como objetivo
verificar como os indivíduos se tornaram pessoas em situação de rua, identificar o conceito/significado que o indivíduo
atribui a família, descrever a dinâmica familiar dos mesmos, a ocorrência de dependência química e analisar a relação
entre as situações descritas. O trabalho está relacionado ao GT - Reflexões sobre ações em saúde para pessoas que
fazem uso problemático de substâncias psicoativas, dentro do eixo Práxis de Psicologia Social na saúde em contextos
neoliberais, uma vez que a população estudada tem dificuldade em conquistar sua cidadania, seu direito à saúde e à
inclusão familiar e na sociedade. E um dos fatores importantes para sua exclusão social é a dependência química.
Trata-se de um estudo descritivo, baseado na abordagem qualitativa de pesquisa e no referencial teórico familiar
sistêmico, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (CEP/UFTM). Os
sete participantes foram contatados nas ruas de uma cidade do interior de Minas Gerais, como também no Centro de
Referência Especializado para a População em Situação de Rua Centro Pop e selecionados de acordo com os critérios
de inclusão: ser pessoa em situação de rua há pelo menos três meses, ter 18 anos ou mais, não possuir trabalho
regular e estar na rua há pelo menos 15 dias ininterruptos, sem contato familiar. Foi feita uma entrevista
semiestruturada com os participantes. Dos resultados foram extraídas três categorias: Razões para ir morar na rua;
Dinâmica familiar e Definição de família. Na primeira categoria, notou-se a influência que a dependência de
substâncias ilícitas exerce sobre a decisão de ir morar nas ruas, sendo o motivo mais citado pelos entrevistados. A
maioria vê o morar na rua como uma consequência do uso de droga, alegando que não teriam ido para a rua se não
fosse essa condição. É comum o discurso de que a dependência química é a grande vil de suas vidas, que sem ela
tudo estaria perfeito. Na segunda categoria percebeu-se os conflitos familiares com rompimentos afetivos, mortes e
uso de álcool e outras drogas por familiares. A dependência de substâncias parece ser um problema transgeracional,
afetando a família comportamental e emocionalmente. Na terceira categoria, percebeu-se a imagem positiva que
esses indivíduos têm de família. Apesar dos conflitos familiares e dos desajustes, essas pessoas em situação de rua
sonham em ter uma família, seja na reconstrução dos vínculos perdidos, seja na constituição de novos, vendo essa
vivência como uma possibilidade futura. Discute-se que apesar dos entrevistados não citarem os problemas familiares
como motivação para ir morar nas ruas, eles estão presentes e compõem a dinâmica familiar. O uso de substâncias
psicoativas foi considerado o principal fator para que os indivíduos fossem morar nas ruas. E o uso de álcool e outras
drogas pode ser uma consequência ou uma forma de mostrar o conflito familiar existente e ao mesmo tempo um
pedido de ajuda.

979
Perfil e Conjugalidade de Mulheres Dependentes Químicas em Tratmento no CAPS AD. Cibele Alves Chapadeiro -
Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Autores: Cibele Alves Chapadeiro, UFTM
E-mail dos autores: cibele.ac@hotmail.com

Resumo: O consumo dependente de álcool é um dos problemas mais devastadores tanto para a vida do casal, quanto
para os outros membros da família e sociedade. O conhecimento acerca da dependência de álcool masculino está
muito mais difundido do que o feminino, provavelmente porque a dependência química de mulheres é mais velada do
que a dos homens. As mulheres que abusam de álcool se recolhem em seus lares e se envergonham de assumir a
condição em que se encontram. Assim, procuram assistência tardiamente, o que contribui para que façam uso da
substância por mais tempo. O objetivo deste estudo foi investigar a percepção das mulheres sobre o seu abusivo ou
dependente de álcool, e como este uso se relaciona com sua conjugalidade e interação familiar. Este trabalho se
relaciona com o Grupo de Trabalho Reflexões sobre ações em saúde para pessoas que fazem uso problemático de
substâncias psicoativas, dentro do eixo Práxis de Psicologia Social na saúde em contextos neoliberais, porque se trata
de um estudo com mulheres dependentes químicas e que tendem a ser mais discriminadas que os homens,
dificultando seus direitos à saúde. Participaram do estudo seis mulheres usuárias de álcool, em tratamento no Centro
de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de cidade do interior de Minas Gerais. Elas tinham ou haviam tido um
relacionamento estável por um período igual ou superior a dois anos. A coleta de dados foi feita através de entrevistas
semiestruturadas. A análise qualitativa das entrevistas resultou em duas categorias abrangentes: 1) Uso de álcool e
relação familiar e 2) Uso de álcool e o relacionamento conjugal. Os dados indicaram que a busca pelo parceiro com os
mesmos hábitos, como o uso de álcool, une o casal por um tempo, porém os danos à saúde e ao bem-estar são
grandes e ao final o relacionamento não se sustenta. O relacionamento conjugal com o uso de álcool começava com
cumplicidade, mas terminou em divórcio para algumas. Em alguns casais, eram os parceiros que levavam bebida
alcoólica para casa e às vezes estabeleciam limites de consumo para a mulher, ao que elas reagiam. As mulheres
relataram melhor convívio conjugal quando não estavam utilizando o álcool. Mesmo assim, a comunicação dos casais
era pobre, os problemas se acumulavam e o álcool parecia ser o que aliviava a tensão. A autoimagem das mulheres
era muito negativa. Mostraram desistir de sua própria aparência, como se o hábito de ingerir álcool as deixasse
menos femininas, sentindo-se pouco atraentes. As mulheres se restringiram ou foram restringidas à vida dentro do lar.
O convívio social e o contato profissional foram sendo perdidos ao longo dos anos de dependência alcoólica. Todas as
mulheres apresentaram agressividade intensa e frequente quando estavam sob o efeito do álcool. Entretanto, os
parceiros quando alcoolizados ou não, também eram agressivos, geralmente quando suas companheiras estavam sob
o efeito de álcool. A agressividade e a condição financeira dificultada foram fatores importantes para as mulheres
perceberem a gravidade da situação na qual se encontravam e decidirem se tratar. Quando os filhos começavam a
perceber a dependência da mãe e/ou do pai, mostravam-se hostis e distantes. Observou-se que a dependência
alcoólica tem repercussões em diversos aspectos da vida da mulher e afeta todos seus relacionamentos. É importante
que se atente mais para a população feminina para identificação do abuso ou dependência de álcool e outras drogas
mais precocemente, através da rede de relacionamentos e suporte, como os serviços de saúde.

980
Prevalência de práticas manicomiais no funcionamento institucional do CAPSad
Autores: Marcelo Hayeck, UFU; Karla Helmer Soares, UFU; Marciana Gonçalves Farinha, UFU; Mayara Simoes Viana,
UFU; Paula Nohanna Macedo Guimarães, UFU; Ricardo Fabiano Puzzi, UFU; Tatiana Benevides Magalhães Braga, UFU;
Washington dos Santos Braga, UFU
E-mail dos autores: marcelo.hayeck@hotmail.com, tatibmb@gmail.com, paula.nohannamacedo@gmail.com,
mayara.sviana@hotmail.com, rfpuzzi@gmail.com, karlahelmer@gmail.com, washington2021@hotmail.com,
marciana@ufu.br

Resumo: O trabalho nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS s) é direcionado à reinserção do
sujeito na sociedade, ao mesmo tempo em que é disponibilizado um espaço de socialização, debate e auxilio médico-
farmacológico. Assim, os caps consistiriam num dispositivo de transição entre o momento agudo de sofrimento e crise
e a reintegração social plena. Entre as diretrizes para o funcionamento dos CAPS s, o trabalho é realizado em
integração com a rede de assistência pública, no fortalecimento dos vínculos entre sujeito e território e na promoção
do acesso à sociabilidade, via trabalho, cultura, educação e outros dispositivos potencializadores da autonomia e do
autocuidado. Embora os diversos profissionais da área se orientem por pressupostos teóricos e técnicos diferentes,
devem elaborar estratégias que dialoguem entre si que e com as expectativas e necessidades dos usuários do serviço.
Nesse panorama, o presente estudo buscou investigar como tal diálogo com os usuários do serviço se efetiva, em suas
potencialidades, lacunas e sistematizações. Metodologia: Foi realizada uma cartografia clínica do cotidiano
institucional de um CAPsad de uma cidade do interior de Minas Gerais. Foram utulizados como instrumentos de
pesquisa interventiva e fontes de dados visitas de observação participante e diálogos informais com os usuários,
registrados em diários de bordo dos pesquisadores. Tal método foi escolhido com intuito de ouvir os usuários em dois
momentos, percebendo aquilo que é dito e construído coletivamente e também aquilo que se manifesta apenas no
âmbito de uma conversa reservada. Os dados tiveram a perspectiva hermenêutica fenomenológica como eixo de
análise. Resultados: No cotidiano institucional, observa-se a reprodução de práticas silenciadoras, tais como discursos
infantilizadores sobre os pacientes, prevalência de práticas diretamente orientativas em detrimento de práticas de
promoção da autonomia, condicionamento do acesso a cuidados à participação em atividades previamente propostas,
sem o questionamento de seu sentido para os usuários, a reprodução de discursos moralizantes, pressão para a
exposição das experiências pessoais em contextos grupais, mesmo diante de resistências dos usuários, centralidade
nos aspectos adoecidos dos usuários e orientação da equipe para o isolamento social dos usuários como estratégia de
abstinência. Discussão: A desconstrução dsa herança manicomial se mostrou mais presente na construção de práticas
articuladas a outros espaços territoriais para além do próprio Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, tendo
como principais dificuldades as barreiras atitudinais direcionadas a um olhar epistemológico voltado à dimensão
biológica do sujeito, partindo de uma concepção psicopatológica que aproxime o sujeito das suas possibilidades de ser
e procure superar ou compreender aquilo que o aprisiona. Assim, a desconstrução de práticas contraditórias com o
que preconiza a reforma psiquiátrica em favor de uma efetiva promoção da autonomia implica a atuação não apenas
na experiência individual, mas no contexto relacional amplo dos usuários a fim de explorar o papel do CAPSad como
articulador entre sujeito e territórios sociais, abrangendo as condições concretas de vida, a construção de espaços de
cidadania e as próprias relações institucionais. Nesse último aspecto, a tendência a reprodução de lugares sociais
estabelecidos configurou-se como importante fator de reprodução das condições de morbidade.

981
Prevenção e promoção de saúde dos filhos de pessoas que fazem uso problemático de álcool
Autores: Marciana Gonçalves Farinha, UFU; Sandra Cristina Pillon, USP; Tatiana Benevides Magalhães Braga, UFU
E-mail dos autores: marciana@ufu.br,tatibmb@gmail.com,pillonsc@hotmail.com

Resumo: A presente proposta de Comunicação Oral se encaixa no eixo temático, a práxis da Psicologia na Saúde com
intervenções em saúde, na Assistência Social, na Educação com usuários de substâncias psicoativas e no Grupo de
trabalho: Reflexões sobre ações em saúde para pessoas que fazem uso problemático de substâncias psicoativas , já
que traz uma discussão sobre o impacto do uso de álcool para os filhos de pessoas que fazem esse tipo de consumo. O
uso problemático do álcool é considerado grave problema de saúde pública, com repercussões que afetam a vida do
indivíduo, seus familiares e a sociedade. A dependência do álcool e o uso problemático dessa substância estão entre
os 10 principais causas de incapacidade do indivíduo na atualidade. Neste estudo buscamos identificar e refletir sobre
as principais dificuldades enfrentadas por crianças e adolescentes filhos de alcoolistas, assim como discutir ações de
promoção e prevenção de saúde para essa população que são trazidas pela literatura científica.. Estudo teórico
reflexivo que teve como pano de fundo a pesquisa bibliográfica através do banco de dados da Biblioteca Virtual de
Saúde BVSPsi com unitermos: uso problemático de álcool, filhos de alcoolistas. Foram encontrados 25 artigos. O uso
problemático do álcool é considerado uma doença crônica que envolve a dependência patológica de álcool, e que
pode causar interferência no funcionamento normal do indivíduo no uso de sua vontade e no cumprimento de suas
obrigações cotidianas. Há múltiplos aspectos que influenciam a dinâmica familiar quando um dos pais faz uso
problemático do álcool, incluindo relações disfuncionais, negligência do papel parental e suas consequências
emocionais, ambientais e sociais. Os levantamentos realizados no cenário nacional e internacional apontam números
alarmantes. Estima-se que de 13 a 25% dos filhos de pessoas que fazem uso abusivo de álcool são suscetíveis a
fazerem também uso abusivo dessa substância em algum momento da vida. Filhos de alcoolistas são consideradas de
alto risco para desenvolverem problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e outras substâncias no futuro e,
quando comparadas a seus pares, têm maior probabilidade de fazer uso problemático de álcool devido à influência de
fatores genéticos e à vulnerabilidade decorrente do padrão desadaptativo induzido pelo ambiente desfavorável no
qual vivem, estando expostas a mais situações estressantes, comportamentos disfuncionais. Os adultos devem saber
acolher as crianças e adolescentes que vivem em situação de risco e criar um ambiente seguro, permissivo e afetivo
para que esses filhos possam expressar livremente seus sentimentos, sendo os mais comuns nesse contexto a raiva,
mágoa, medo, culpa e vergonha. Conhecer as vulnerabilidades e fortalezas da personalidade dos filhos expostos a essa
situação permite direcionar ações preventivas e políticas de saúde pública condizentes com suas necessidades
desenvolvimentais. Nesse sentido, o cuidado visa a atenuar os riscos da exposição aos eventos estressores
decorrentes do abuso de álcool e/ou outras drogas, com vistas a romper o ciclo de transmissão familiar dos
comportamentos desadaptativos. Olhar especificamente para essa população pode favorecer conhecê-la melhor em
suas fragilidades e fortalezas e, assim, direcionar ações preventivas e políticas de saúde pública melhor condizentes
com a realidade vivenciada. Nesse sentido, pensar o cuidado para crianças e adolescentes que convivem em famílias
que têm um adulto dependente se faz fundamental para diminuir os riscos de abuso de álcool e/ou outras drogas,
quebrando o ciclo de transmissão familiar dos comportamentos desadaptativos.

982
PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR: a importância da escuta ativa na construção dos cuidados em saúde
Autores: Vanessa Cristina Alvarenga, UNICERP; Márcia Cristina Martins
E-mail dos autores: vanessacalvarenga@hotmail.com,marcinhaptc@hotmail.com

Resumo: Substância Psicoativa é qualquer substância natural ou sintética que em contato com o organismo vivo pode
alterá-lo. Sua classificação se divide em lícita, ou seja, de comercialização permitida e ilícita de mercancia proibida. A
utilização de SPA em nossa cultura tem sido abordada por uma perspectiva predominantemente médica/psiquiátrica
ou jurídica, já o presente estudo optou por contextualizar seu uso através do binômio indivíduo/sociedade para a
partir desta perspectiva compreender os novos métodos de cuidados destinados ao público que tem por problemática
o uso abusivo de Substância Psicoativa. Desde a reforma psiquiátrica iniciada em meados de 1970 a saúde mental no
país passa por uma reestruturação a fim de produzir formas mais adequadas de atendimento e suas reformulações
apontam as necessidades de humanização nos cuidados e reinserção social. E alicerçados nesses preceitos surgem
novos dispositivos de atenção, dentre eles, os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS ad) que
está direcionado às pessoas que sofrem em detrimento ao uso prejudicial de Substância Psicoativa este dispositivo
apoia-se no Projeto Terapêutico Singular para construir os cuidados ofertados. O Projeto Terapêutico Singular é
edificado conjuntamente com paciente, profissional e quando possível com a família tendo como prioridade os
aspectos psicossociais do paciente respeitando, sobretudo seu processo na tomada de decisões sobre o próprio
tratamento. Fundamentado no exposto o presente estudo teve como objetivo geral compreender se os aspectos
psicossociais dos pacientes do CAPS ad lll da cidade de Patrocínio/MG são considerados em seu tratamento. E como
objetivos específicos, a partir da fala dos pacientes e dos profissionais, buscar compreender a edificação dos cuidados
e vislumbrar seus impactos no tratamento do paciente. Esta pesquisa de abordagem qualitativa obteve seus dados por
meio de entrevista semiestruturada, com cinco profissionais e cinco pacientes do CAPS ad lll da referida cidade. Para a
interpretação dos dados obtidos durante a investigação utilizou-se a análise de conteúdo e mediante o exame do
material emergiram as seguintes categorias: Perfil sociodemográfico dos profissionais; Percepção dos profissionais
sobre o uso de Substância Psicoativa; Atribuições dos profissionais para a adesão e a desistência do tratamento;
Projeto Terapêutico Singular: na visão dos profissionais; Motivações e desafios dos profissionais para a realização do
seu trabalho; Perfil sociodemográfico dos pacientes; Conhecendo um pouco da história de vida dos pacientes; Projeto
Terapêutico Singular: na visão dos pacientes. Os resultados indicaram que os pacientes são ouvidos e contribuem na
elaboração do seu Projeto Terapêutico Singular, revelando ainda que a autonomia do paciente, reabilitação
psicossocial e redução de danos são os principais fatores para a adesão ao tratamento. Dentre os fatores
desmotivadores citados pelos profissionais inclui a morosidade da proposta política para álcool e outras drogas se
instituir no cotidiano da rede e em contrapartida o fascínio pela realização do trabalho foi mencionado como fator
motivador. A participação ativa do paciente no Projeto Terapêutico Singular propicia maior satisfação e
empoderamento do mesmo, lhe viabiliza melhor qualidade de vida e consequentemente melhora a adesão ao
tratamento. Concluiu-se que as ferramentas identificadas nessa pesquisa para construção do Projeto Terapêutico
Singular foram à escuta ativa e a inclusão social, de posse desses instrumentos e de uma percepção clínica aguçada é
possível compreender a vontade e o sentimento do paciente e com isso propiciar um cuidado com qualidade,
potencializar sua cidadania e consequentemente viabilizar a adesão ao tratamento. Diante dessas reflexões pode-se
perceber que investir no capital humano pode ser a melhor forma de cuidado.

983
Substâncias psicoativas, vulnerabilidade social e laços familiares: um estudo de caso
Autores: Tatiana Benevides Magalhães Braga, UFU; Marciana Gonçalves Farinha, UFU
E-mail dos autores: tatibmb@gmail.com,marciana@ufu.br

Resumo: O consumo abusivo de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas pode impactar a vida das pessoas em diversos
âmbitos: físico, emocional, financeiro, social, vulnerabilidade à violência, etc. O uso recorrente dessas substâncias
encontra uma relação psicossocial dialética: está associado a maior risco de violências, transtorno de humor,
sofrimento existencial grave, comprometimento no desenvolvimento psicossocial e, simultaneamente, a maior
vulnerabilidade psicossocial e menor acesso a condições de autocuidado, dignidade social e cidadania consiste em
fator de risco para o uso nocivo de substâncias psicoativas. Nesse sentido, é preciso considerar o problema do uso de
álcool e drogas a partir de todo o campo de manifestação das relações que o envolvem, abrangendo o território, os
espaços relacionais na família e na rede de apoio psicossocial, os espaços de socialização, trabalho, educação, etc. Na
relação entre uso de drogas e contexto psicossocial, um dos campos implicados é a família, principalmente quando do
envolvimento de crianças e adolescentes, aumentando o risco de violação de direitos. Objetivo: Investigar a relação
entre, vulnerabilidade psicossocial, uso abusivo de substâncias psicoativas e violação de direitos no âmbito familiar,
com foco nas situações de exposição de crianças e adolescentes ao risco e nas estratégias de articulação psicossocial e
promoção da saúde e da cidadania passíveis de resgatar laços afetivos e dignidade psicossocial. Metodologia: Clínico
qualitativa, com atendimentos psicoterápicos a duas crianças do sexo feminino de 5 e 8 anos, entrevista e
acompanhamento terapêutico com os pais, visitas aos dispositivos institucionais que atendiam as crianças ou os
genitores, tais como: abrigo, rede de saúde mental e de assistência social e participações nos minifóruns de discussão
do caso, compostos por profissionais do sistema jurídico, da rede de saúde mental, das instituições de acolhimento, da
rede de assistência social. Resultados: Foram realizados 30 atendimentos psicoterápicos às crianças utilizando
instrumentos como ludoterapia, desenhos e histórias, recursos lúdicos e imagéticos, associações livres de palavras,
estratégias de expressão e representação afetiva e relacional, recursos de simbolização. Os atendimentos foram
realizados individualmente e algumas sessões foram realizadas com as duas irmãs em conjunto. Foram ainda
realizados 10 atendimentos iniciais com os pais, sendo posteriormente estruturado um Acompanhamento Terapêutico
para ambos. Discussão: A partir da história de vida das crianças levantada no atendimento psicológico percebeu-se
que o consumo abusivo de crack feito pelos genitores ocasionou dificuldades em cumprir funções parentais cotidianas,
como acompanhamento escolar e cuidados com alimentação e higiene. Por outro lado, as próprias condições de
precárias de trabalho, acesso à saúde, vulnerabilidade em saúde mental, exposição à violência, entre outras,
representaram fatores de desencadeamento do uso de drogas. Tais fatores reproduzem-se de maneira geracional,
naturalizando a exposição de mãe e uma das filhas a situação de violência sexual, além de acarretar situações diversas
de vulnerabilidade à família toda. Percebeu-se que as crianças, inicialmente não tinham compreensão do que estava
acontecendo quando tiveram que ficar no abrigo, longe dos pais e estes encaminhados para tratamento como
medidas protetivas às crianças em situações de risco. Os vínculos com os genitores foram preservados através de
visitas deles ao abrigo onde as crianças foram abrigadas. Percebeu-se que ações da equipe de psicólogos, que
acompanhou o caso, discutindo com os envolvidos com a criança a escola, o poder judiciário, os responsáveis pelo
abrigo, os pais, a clínica de internação que tratou dos pais. favorecendo pensar alternativas que minimizassem os
impactos da separação da família pelas crianças Considerações finais: Pensar o consumo de substâncias psicoativas e
vivência familiar ultrapassa os limites da saúde, faz-se imprescindível ações intersetoriais com os mais diversos
dispositivos, como educação, social, justiça com vistas a garantia de direitos e atenção integral aos usuários e seus
familiares.

984
GT 46 | Reflexões sobre atuação da psicologia com populações indígenas, quilombolas e povos
tradicionais – descolonização e encontro de saberes.

Coordenadores: Bruno Simões Gonçalves, CAPES-CNPq | Iclícia Viana, UFSC | Saulo Luders Fernandes, UFAL

O Grupo de Trabalho tem como objetivo apresentar e debater experiências de trabalho e pesquisa na área da
psicologia na interlocução com os saberes, valores e os modos de vida das populações indígenas, quilombolas e povos
tradicionais. A psicologia tem historicamente se voltado com pouca intensidade para o chamado mundo rural. Nesse
contexto, o trabalho com as diferentes populações que formam o heterogêneo mosaico do Brasil e da América Latina
tem sido pouco contempladas pelos estudos e práticas da psicologia. Esse cenário tem se transformado nos últimos
vinte anos devido a: ampliação das políticas públicas nestes territórios; processo de interiorização das universidades;
maior atuação dos psicólogos em município de pe ue oàeà dioàpo te;àeàu aàp eo upaç oà o àaà ha adaà age daà
a ie tal .à Taisà ele e tosà te à i te sifi adoà oà i te esseà daà psi ologiaà po à esseà a poà deà t a alho,à pes uisaà eà
intervenção. Um campo que apresenta-se marcado por uma psicologia social que delineia múltiplas práticas e
metodologias diante da diversidade de expressões que a realidade dos povos tradicionais trazem ao diálogo com os
saberes psicológicos.
Nessa emergente configuração, entre os saberes teóricos e práticos da psicologia e as realidades dos povos
tradicionais, produz-se a necessidade de compreender algumas questões que se vinculam ao tema proposto pelo
e e toàeàpeloàei oàte ti oà ,à te ito ialidadesàeà odosàdeà ida:àatuaç oàeàpes uisaàe àPsi ologiaà“o ialà aà idadeà
eà oà a po ,à oà ual o Grupo de Trabalho (GT) está inscrito, assim: quais os desafios e perspectivas comuns aos
psicólogos sociais que trabalham com os diversos modos de vida e expressão das populações indígenas, quilombolas e
povos tradicionais?; como a psicologia social atua de modo a auxiliar na produção de espaços democráticos e de luta
pela garantia de direitos aos povos tradicionais?; como as pesquisas atuais compreendem a inserção das políticas
públicas nos territórios deste povos?; Quais são as especificidades e as singularidades presentes em cada região, povo
e processo histórico destas comunidades e grupos? É no encontro com povos ribeirinhos, indígenas, quilombolas,
extrativistas e outras populações tradicionais que a psicologia social insere suas pesquisas, intervenções e de pesquisa.
Outra temática central na proposta deste GT é a visibilização e legitimação dos saberes construídos por essas
populações ao longo de sua história. Processo em constante transformação, nas quais as visões de mundo, concepções
ético-filosóficas e as epistemologias próprias dessas populações formam um imenso conhecimento que vem sendo
inferiorizado e invizibilizado por práticas de exclusão própria das sociedades coloniais. Nesse sentido, o GT tem como
uma de suas tarefas, discutir e aprofundar concepções de psicologia que almejam em sua práxis a descolonização de
suas teorias, métodos e práticas.
O GT será composto por três proponentes que estudam diferentes contextos das populações tradicionais. O trabalho
de pesquisa e atuação do Psicólogo Dr. Bruno Simões com diferentes populações indígenas da América tem se
vinculado diretamente à questão dos movimentos sociais, cosmovisão e saberes tradicionais dessas populações. Ao
encontro da perspectiva de estudo citado acima estão as pesquisas e intervenções que o Professor Dr. Saulo Luders
Fernandes vêm desenvolvendo no interior do estado de Alagoas nas Comunidades Quilombolas da região, realizando
discussões sobre luta por reconhecimento, identidade política, saúde pública e saberes populares e sua interface às
relações étnico/raciais presentes nestes territórios. Já a pesquisadora Ms. Iclícia Viana tem atuado na relação entre
Povos Indígenas e o meio acadêmico, e desde um campo da Psicologia Social, tem entrelaçado olhares e reflexões
sobre as dificuldades e potencialidades nesta relação, apontando possibilidades de encontros interculturais e
perspectivas descoloniais que levam a práxis da psicologia à constante reinvenção.
Apesar da diversidade de modos de vida presentes nas realidades do campo no Brasil, elas apresentam em comum
formas de organização comunitária e familiares que se estruturam em torno da relação com a natureza, com a terra e
seus territórios. De acordo com Diegues (2004), essas populações buscam a produção de seus saberes com base na
experiência vivida com seus pares. São homens e mulheres que nas práticas da vida cotidiana produzem seus modos
de ser e existir, que não estão apenas amparados por meio de suas experiências imediatas frente à realidade, mas são
produtos de conhecimentos historicamente transmitidos de geração a geração. Nestas comunidades a narrativa tende
a ganhar forma e conteúdo, que aliada às produções mnemônicas, atua como dispositivos que organizam e atualizam
os valores, conhecimentos e crenças imersas na vida destas populações. As atividades de trabalho, embora muitas
vezes articuladas com os centros urbanos, se resumem na pesca, agricultura, coleta e artesanato.

985
Estes modos de organização das comunidades tradicionais destoam da forma de organização social hegemônica
presente na sociedade capitalista, tais diferenciações abrem espaços as relações de proximidade e vínculo entre seus
membros e seus territórios, o que torna estes grupos potenciais protagonistas a lidarem com os antagonismos e
contradições presentes em suas realidades. Estes modos comunitários de organização social aproximam estas
comunidades aos serviços públicos presentes em seus territórios, como espaços políticos que agenciam ações à
mitigação das desigualdades vividas, na luta garantia de: moradia, saúde, educação, lazer, produção entre outros
direitos.
As políticas públicas são alternativas que possibilitam a permanência, convivência e fixação de homens e mulheres do
campo em seus territórios. As migrações, as precariedades, explorações e violências devem-se às formas de
dominação que têm no Brasil sua racionalidade operada, ao menos, sobre dois alicerces: a concentração de terras e a
ideologia racista que marginaliza negros, índios e populações tradicionais. A mitigação das desigualdades, bem como,
a estruturação de uma sociedade democrática passa necessariamente pela efetivação da política de reforma agrária e
pelo acesso aos direitos básicos sistematicamente negados a estas populações.
A democratização da terra e dos direitos são princípios às quebras das formas estruturais de dominação presente no
Brasil, porém, tais garantias não se apresentam como processo final, mas enquanto ponto de partida na luta pelos
direitos fundamentais. Assim, junto à terra devem vir: políticas que auxiliem na produção agrícola; que sejam voltadas
à saúde da população tradicional; políticas de educação do campo; programas que promovam o lazer; a cultura local,
entre outros. A posse da terra, sem a efetivação das variadas políticas públicas que possibilitem de forma equânime a
garantia de direitos, não traz resolubilidade à complexidade do fenômeno da marginalização dos povos tradicionais,
indígenas e quilombolas.
Mesmo com estas precariedade econômicas, políticas e materiais presentes no cotidiano as mulheres e os homens
estruturaram formas de enfrentamento e resistência que refletem nas variadas formas de trabalho e produção das
comunidades tradicionais. Um trabalho que não se restringe a mercadoria, mas a produção de modos de vida, valores,
conhecimentos e afetos cunhados entre pares. A riqueza destes modos de produção se espraiam às relações sociais e
aos modos de convivência presentes no mundo do campo, marcados: pelo fortalecimento dos vínculos comunitários;
pelas relações de vizinhança que permitem o cuidado à vida de seus membros; a presença da conversa, com os
ausos à eà asà a ati asà doà luga ,à osà uaisà p oduze à oà e o t oà e t eà iguaisà eà pe ite à aà ual ue à pa ti ipa teà
intervir e contar a sua versão dos acontecidos; as feiras livres que promovem o contato entre os diferentes, na
exigência do encontro entre as classes sociais e a diversidade de grupos que compõem a vida da região; e os variados
festejos, que ativam consigo as memórias populares, das lutas realizadas para se manterem nestes territórios. No caso
das populações indígenas, a memória histórica está assentada também em sua memória ancestral de povos originários
do continente americano. Memória histórica que está imbricada em uma memória larga (Rivera, 1986) que remete à
formação histórica dessas populações no espaço de grandes períodos e que muitas vezes se inscreve no campo do
mítico.
Apesar da psicologia apresentar estudos sobre esses modos de vida comunitária, sua tradição teórico-metodológica
consolida-se em pesquisas desenvolvidas nos centros urbanos, na produção de categorias analíticas voltadas a esta
realidade. Categorias estas, que por vezes, inscritas como universais, são deslocadas para a compreensão da
diversidade de modos de vida presentes nas realidades dessas populações. E uma leitura que enquadra suas
expressões aos moldes do mundo urbano, realizando interpretações enviesadas e normativas que não busca
apreender as especificidades e as pluralidades dos territórios rurais.
Este modo de produção dos saberes psicológicos criam uma ruptura que opera racionalidades que subjugam a
realidade dessas populações à vida urbana. Tais assimetrias e relações de poder não se restringem a ciência
psicológica, as produções do mundo rural apresentam-se nas ciências sociais como um campo dicotômico que cinde os
espaços do campo e da cidade como medidas distintas para avaliar e analisar cada local como territórios díspares.
Como afirmam Tassara e Ardans-Bonifácio (2008), o modelo de urbanidade se consolida como um projeto histórico
civilizatório que propaga um modo de produção econômica e cultural que arbitrariamente se apresenta como regra a
outras formas de existência, que faz do encontro com a alteridade do campo expressão da violência, em tentativas
constantes de perpetuação de um modelo hegemônico de civilidade atenta a colonização dos modos de vida do
campo.
Esta realidade dúbia, entre campo e cidade, vem ao encontro das compreensões de Gómez e Sánchez (2011) sobre a
formação do território dos povos latino-americanos, os quais são frutos do encontro do projeto civilizatório ocidental
e da multiplicidade de epistemologias e projetos de sociedade das variadas etnias e raças que se consolidaram na
América Latina. Este encontro forjam as práticas cotidianas das variadas comunidades e grupos étnico-raciais, que
986
mesmo não estando em conformidade com a produção branco ocidental, a elas são incorporadas por meio do
processo de dominação à qual são e foram submetidos.
Este processo de colonização não se finda com a emancipação das colônias, ele estende-se e ramifica-se às relações
sociais cotidianas, atuando como referência: estética do belo; ética do bem e epistemológica da verdade. Porém,
como afirmam Canclini (2013) e Certeau (2012), os processos de dominação nunca se totalizam por completo, os ditos
dominados, ou para melhor caracterizar esta definição, os submetidos às lógicas da dominação produzem suas táticas
de resistência que não respondem apenas aos mandos dos dominadores, mas às necessidades emergentes de suas
populações e realidades.
Assim, os povos latino-americanos, como aponta Canclini (2013), têm sua subjetividade cunhada no encontro destes
projetos, que apesar de contraditórios, fazem parte de um continuum que só pode ser descortinado e compreendido
quando inserido às relações de dominação, as quais geram esta duplicidade de vínculos à realidade, como tentativas
de responder às demandas hegemônicas presentes na sociedade. Mas ao mesmo tempo, sobre estas insígnias do
dominador buscam produzir táticas e signos capazes de significar sua realidade pelo olhar de dentro, na busca de
reconhecimento por meio de seus iguais.
Apesar dos avanços do projeto civilizatório urbano a realidade dos povos tradicionais não foram diluídas ou
desapareceram como a sociologia rural clássica acreditava, o que acontece hoje é a configuração de um território
diferenciado e emergente, não mais caracterizado somente pelo trabalho agrícola e o manuseio da terra, mas por
outras práticas, atividades, relações que desmitificam o território do campo como local distante e isolado, e o
compõem como espaço que se fortalece na formação complexa de elementos, atores sociais e equipamentos que
devem ser observados e analisados no cotidiano das vidas do campo presentes nos territórios tradicionais.
O território como conceito puro é uma herança abstrata da geografia moderna, é a forma de uso do território que
determina suas relações, atividades e significações. O território deve ser compreendido no modo como ele é
apropriado pelos sujeitos, como uma prática que traduz para seu espaço, sentidos e significados.
Esta nova composição dos modos de vida tradicionais exigem uma reflexão dos psicólogos que ali querem debruçar
seus estudos e práticas, que compreendam as comunidades tradicionais em suas diversidades de expressões e
produções, as quais adquirem consistência e forma em cada local, com as relações específicas com seu território e
processos históricos a ele implicados. Buscar nas expressões do mundo do campo uma unidade, que por derivações de
semelhança congreguem as suas produções ao modelo civilizatório urbano, é produzir um enquadre identitário que
engessa e impede a proliferação dos jogos de alteridade presentes nas realidades tradicionais.
As tentativas de supressão do modo de vida rural latino-americano pelo processo de urbanização não se efetiva de
forma plena. Ao contrário, o encontro entre estas duas realidades produzem na vida moderna formas híbridas, que
não apenas aglutinam as diferenças, mas em um jogo de tensões, ora incorporam, ora negam e subvertem as lógicas
coloniais às necessidades de sua realidade. Um híbrido que não deve ser confundido com fenômeno sincrético e
linear, mas enquanto processo que apresenta rupturas e encontros entre estas realidades que coabitam a vida do
homem e da mulher do campo (Canclini, 2013). Produzir saberes capazes de acompanhar este movimento de
rupturas, acordos e desencontros entre modernidade e tradição exige dos saberes científicos ações de que
possibilitem a descolonização dos conhecimentos.
De acordo com Mora-Osejo e Fals Borda (2006), a descolonizar os sabres científicos é promover a superação do
eurocentrismo acadêmico por meio de pesquisas que se debruçam sobre o local, fazem emergir nele suas
necessidades e com elas tecnologias e planos estratégicos para a superação dos conflitos e contradições existentes.
Tal proposta de ciência produz desdobramentos que levam a não importação de saberes, mas à diversidade de
conhecimentos cotidianos que se objetivam no hemisfério sul.
Nesta perspectiva de revolução epistemológica, Massola (2015) afirma que a psicologia social seria a área do
conhecimento capaz de integrar a ação humana, por ter como objeto as inter- elaç es,à osà espaçosà e t e à ueà seà
fazem nos fenômenos expressos na realidade, não os restringindo e segmentando a seus aspectos políticos, sociais,
econômicos, subjetivos, biológicos. Talvez, o desafio da psicologia social encontra-se em como chegar a este objeto
e t e àe àu aàso iedadeàest utu adaàpo à eioàdeàest at giasà ueàest atifi a àaàe pe i iaàhu a aàaàse içoàdaà
dominação.
Como afirma Martín-Baró (2009), cabe à psicologia descolonizar os saberes psicológicos e propor uma virada
epistemológica que almeja produzir estes saberes a partir das vivências, das compreensões e das cosmovisões dos
povos latino-a e i a os:à […]à e essita osà edefi i à ossaà agagem teórica e prática, mas redefini-la valendo-nos da
idaàdeà ossosàp p iosàpo os,àdeàseusàsof i e tos,àdeàsuasàaspi aç esàeàdeàsuasàlutas. à Ma tí -Baró, 2009, p.189-
190). Libertar a psicologia das amarras coloniais é imergir na realidade da população, na compreensão de suas táticas
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de resistência e em seus modos de viver. Tal tarefa torna-se norte político e epistemológico para desconstrução das
produções ideológicas que forjam a realidade latino-americana.
Assim, a proposta deste GT é acolher trabalhos que tenham como objetivo debater os desafios, dificuldades e rupturas
que tornem possíveis os estudos, práticas e intervenções da psicologia social nas comunidades indígenas , quilombolas
e tradicionais. Na compreensão de que a psicologia social deve tomar essas realidades para além do local ou tema no
qual a pesquisa se desenvolve, e sim como territórios vivos capazes de produzir categorias analíticas e conceituais que
contemplem as relações, processos e peculiaridades experienciadas no cotidiano. Na produção de saberes e de uma
epistemologia e de um pensamento ético que auxiliem em produções democráticas e participativas para a
transformação e a construção de autonomia políticas, cultural e epistemológica destes territórios.
Diante do cenário atual de luta pela garantia de direitos e dos desdobramentos das relações entre a esfera jurídica, as
políticas públicas e a vida cotidiana das comunidades quilombolas,tradicionais e indígenas, que o presente GT vai
nortear seu debate, na tentativa de pensar como a psicologia social pode desdobrar e refazer seus conhecimentos
sobre essas realidades e delas derivarem ações, práticas que causem crises e rupturas nas produções coloniais que
incidem sobre o modo de vida dessas populações , e deste lugar de contradições e tensões, afirmar os saberes, o
protagonismo político e os pontos vivos existentes nestes territórios.

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Aldeia urbana no sagrado afro-brasileiro: memória social e transformações identitárias de remanescentes indígenas,
ribeirinhos e quilombolas
Autores: Juliana Barros Brant Carvalho, USP
E-mail dos autores: JUBRANTCARVALHO@YAHOO.COM.BR

Resumo: Este trabalho etnopsicológico é composto de resultados obtidos em uma pesquisa desenvolvida de 2012 a
2016, discutida no mestrado. Situa-se no campo da memória social e dialoga com o Eixo Territorialidades e modos de
vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo, através da reflexão de categorias religiosas e
vivências na umbanda, as quais oferecem uma compreensão particular sobre populações étnicas em processo de
transformação. Uma vez que o coletivo é suporte para a identidade e a memória de grupos, parte-se do pensamento
de autores como Connerton (1989) e Ricoeur (2000) como subsídio para o trabalho, relativamente ao entendimento
da memória social expressa inconscientemente no corpo e nos elementos simbólicos encontrados principalmente nos
fazeres cotidianos. Tradições como a umbanda preservam nos seus rituais significados importantes ligados às
memórias brasileiras, e em contraste com um processo de embraquecimento hegemônico. Assim, através de um
estudo em uma comunidade religiosa no interior do Estado de São Paulo, região de Ribeirão Preto, a presente
proposta visa descrever em vivências de uma mãe-de-santo umbandista e descendente indígena como memórias do
velho mundo, o Brasil pré-colonial, se conservam e se reformulam no novo mundo, o contemporâneo, pela via do
ancestral espiritual. Com a finalidade de compreender concepções coletivas a partir da perspectiva de seus
protagonistas, foram utilizadas, pelo método da escuta participante (Bairrão, 2005), as técnicas etnográficas e as
ferramentas da psicanálise. Para tanto, participou-se dos rituais e do cotidiano, levando-se em conta as sensações e os
sentimentos despertados no pesquisador, que ocupou a posição de consulente. Obteve-se que os traços identitários
do ser indígena da mãe-de-santo são reformulados nas narrativas do sagrado afro-brasileiro, atrelados aos
significantes do ancestral caboclo. Em sua biografia, seus avós indígenas nasceram em Palmeira dos Índios, interior de
Alagoas. Sua avó refugiou-se na mata e seu avô, que morava na beira do rio, mudou-se acompanhando um grande
êxodo populacional provocado por sistemáticas perseguições, ao longo de todo o processo de colonização e pós-
colonização, de seus modos de vida tradicionais. Foi morar como empregado na lida da lavoura em uma grande
propriedade rural, levando consigo suas filhas. Uma delas é acometida por episódios de loucura nos quais fugia para o
meio da mata. Foi diagnosticada por uma experiente mãe-de-santo como médium, e incorpora um espírito caboclo. A
filha dessa médium aprende desde criança os saberes umbandistas, tornando-se atualmente a dirigente de sua
comunidade religiosa. Com isso, discute-se de acordo com a literatura que em virtude de fatos históricos como a
catequização de aldeias, proibições da língua, dos costumes e das vestimentas dessas populações, a saída de
descendentes indígenas de Palmeira dos Índios para o interior de São Paulo mostra a ressignificação desse
deslocamento pela via do sagrado afro-brasileiro. Na comunidade pesquisada, as marcas identitárias da avó refugiada
na mata e do avô transformam-se em significantes no caboclo espiritual. Sua manifestação resgata memórias de
outros descendentes indígenas igualmente distantes das suas terras de origem, muitos deles trabalhadores braçais
esquecidos e invisibilizados. A fuga de indígenas para o interior de fazendas, assim como a migração de ribeirinhos
para outras regiões e estados, reflete a perda de seus referenciais étnicos, tornando-os caboclos na sociedade
brasileira, sendo esta uma categoria que reaparece no panteão espiritual da umbanda. Estas memórias parecem
compor laços com populações africanas em situação semelhante. Na contingência histórica de comunidades
quilombolas e sua resistência à posse de terras entre a população branca e à exploração do trabalho negro, mesmo
que muitos de seus descendentes se encontrem nas cidades o retorno de sua memória aparece na umbanda na
categoria espiritual dos pretos-velhos, que cumprem o papel de lembrar de populações escravizadas e de sua
insurgência, intimamente ligada aos mistérios e recursos da mata. Desse modo, entidades como caboclos, marinheiros
e pretos-velhos, compreendidos e elaborados coletivamente, possibilitam uma implicação psíquica e histórica de
vivências como as de remanescentes indígenas, ribeirinhos e quilombolas desgarrados de suas raízes e em processo de
esquecimento étnico-cultural, miscigenados na sociedade brasileira, mas lembrados na umbanda como significantes
989
mais abrangentes do que a percepção do campo e da cidade per se como territórios separados. Conclui-se que, mais
profundamente do que termos genéricos como o imigrante ou o camponês, a umbanda guarda memórias que não se
delimitam por categorias datadas. Elas, pelo contrário, identificam e dignificam diferentes trajetórias, tanto urbanas
quanto rurais, fruto de um mesmo processo histórico excludente e violento. Bibliografia: Bairrão, J. F. M. H. (2005). A
escuta participante como procedimento de pesquisa do sagrado enunciante. Rio Grande do Norte: Estudos de
Psicologia, v. 10 (3), 441-446; Connerton, P. (1989). How societies remember. Cambridge University Press; Ricoeur, P.
(2000). A memória, a história e o esquecimento. (Trad. Françoise, A., 2007) Campinas: Ed. Unicamp.

990
Colonialidade e subjetivação política: problematizações quanto aos movimentos decoloniais
Autores: Felipe Augusto Leques Tonial, UFSC; Katia Maheirie, UFSC
E-mail dos autores: felipetonial@gmail.com,maheirie@gmail.com

Resumo: Esta proposta é recorte de uma pesquisa mais ampla que visa aproximar do pensamento decolonial a noção
de política enquanto estética, tomando especialmente o pensamento de Jacques Rancière como referência.
Metodologicamente, usamos da pesquisa bibliográfica, a partir da noção de leitura transversal. A leitura transversal
consiste em ler as diferentes obras em seus diferentes movimentos, operando cortes que atravessam as escritas,
buscando identificar as múltiplas aproximações que são feitas entre os diferentes conceitos, objetos e temas. Esses
cortes não representam fragmentação, pois pressupõe que o/a pesquisador/a identifique diferentes projetos dos/as
autores/as, diferentes perspectivas de cada conceito e tema, trazendo em sua argumentação a complexidade das
conjunções e disjunções operadas pelos/as autores/as. Assim, o objetivo específico desta apresentação é
problematizar os movimentos decoloniais a partir dos movimentos subjetivos, trazendo à reflexão o conceito de
subjetivação política de Rancière. Para isso, buscando compreender a dinâmica do vínculo social na forma que este
autor a entende, partimos da ideia de partilha do sensível, que a define como um sistemas de evidencias sensíveis
que determina, ao mesmo tempo, a existência de um comum que é partilhado por todos e a divisão das partes
exclusivas que compete a cada um/a, grupo ou pessoa. Esta divisão fixa lugares, funções, identidades e capacidades,
consensuando e naturalizando em sociedade o que é destinado a cada grupo e pessoa, bem como suas possibilidades
em sociedade. Em toda partilha sempre há uma hierarquia, sendo portanto desigual esta distribuição: apenas
alguns/as podem falar e pensar por todos/as, delimitando as experiências e os regimes de visibilidade e percepção. As
possíveis mudanças na distribuição do sensível acontecem por tensionamento no campo político, que é composto por
dois processos heterogêneos: o processo da política, que visa reconfigurar a distribuição, embaralhando as
identidades, funções e lugares na partilha, criando espaços inéditos de fala e existência, e o processo da permanência,
que visa manter a ordem vigente já consensuada e naturalizada. Sustentamos que a colonialidade faz parte dos
processos de permanência, sendo os elementos desta os responsáveis por estruturar a sociedade ocidental da forma
como a conhecemos hoje. A colonialidade é entendida como um padrão de relações de poder que opera por
naturalizações/classificações hierárquicas (culturais, raciais, de gênero, epistêmicas, de classe). A naturalização (e o
consenso) é o que possibilita a reprodução, a manutenção e o rearranjo das relações de dominação e exploração ao
longo do tempo. A consequência prática da colonialidade é o apagamento e a subalternização da heterogeneidade do
mundo, garantindo ao longo do tempo a exploração de uns seres humanos sobre outros e sobre a natureza. A
colonialidade estrutura as formas de relação possíveis no mundo ocidental/capitalista/moderno e determina as
possibilidades, os lugares, as funções, as identidades; preservando e sustentando a ordem vigente naturalizada como a
conhecemos e mantendo as relações de exploração e os lugares de poder e decisão na mão de alguns, apenas. Se a
colonialidade é da ordem dos processos que buscam manter a configuração societária atual, o decolonial é da ordem
dos processos políticos, que buscam reestruturar nossas formas de relações trabalhando as hierarquias presentes em
sociedade. Esse processo, tomando as reflexões de Jacques Rancière como articuladoras da análise, acontece por
processos de subjetivação política, contrapondo-se à forma como o comum está partilhado e buscando reconfigurar e
questionar a partilha. A subjetivação política acontece por movimento subjetivos que pressupõem atos de
desidentificação de uma terminada ideia de si mesmo e dessimbolização e desclassificação da ordem social
naturalizada, deslocando os sujeitos dos lugares identitários definidos e instaurando lugares inéditos nos modos de
partilhar o sensível. Os movimentos de desidentificação da subjetivação política partem também de uma identificação
impossível dos sujeitos com uma determinada ideia de si mesmo, um si mesmo que se vê ligado a uma fixidez
identitária. Rancière vê a política como movimentos ligados a processos de subjetivação, que identifica a hierarquia
presente na distribuição e promove novos recortes nos tempos e espaços em sociedade. A política opera por dissensos
em relação a ordem consensuada, que nunca é uma mera afirmação identitária ou da diferença de um povo. Ela indica
a existência e o desentendimento entre duas visões de mundo antagônicas, projetos de mundos distintos, duas formas
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diferentes de relações possíveis, entre os seres humanos e destes com a natureza e o mundo. Assim, sustentamos que
os movimentos decoloniais acontecem por processos de desidentificação dos sujeitos em relação a uma determinada
ideia de si mesmo em relação a ordem naturalizada, bem como por movimentos que desclassificam e dessimbolizam
as disposições de lugares, funções e identidades no comum que é partilhado, instaurando modos inéditos de viver e
partilhar o sensível.

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Dimensões da inserção de mulheres ribeirinhas na geração de renda comunitária
Autores: Bruna Jesus dos Santos, Universidade Mackenzie
E-mail dos autores: brunaagna@gmail.com

Resumo: Povos tradicionais são grupos culturalmente diferenciados, e que se reconhecem como tais, que possuem
formas próprias de organização social, econômica e cultural. As comunidades ribeirinhas são povos tradicionais que
vivem às margens dos rios, com base em uma produção extrativista voltada para a subsistência.
O trabalho, atividade humana essencial, está presente em todos os momentos e formas de história humana, vindo
assim a constituir como categoria essencial para a compreensão desse ser e de sua história. Na dimensão cotidiana a
palavra trabalho apresenta uma diversidade de significados, nesta comunicação oral será adotada a perspectiva do
trabalho enquanto categoria fundante do ser social.
Em particular nas comunidades ribeirinhas os modos de vida são pautados pelos ciclos da natureza, a sua produção e
geração de renda, estão intrinsecamente atrelados ao ciclo sazonal, estando o calendário de atividades econômicas
funcional ao tempo da natureza. De modo que no período da cheia os trabalhadores tendem a se ocupar dos produtos
florestais não madeireiros como açaí, castanha e andiroba, a pesca nesse período é voltada para o consumo próprio e
venda local, enquanto no período de vazante (seca) a pesca é voltada para venda fora da comunidade, nesse período
também os trabalhadores se detêm ao cuidado das roças próprias e da produção de mandioca, farinha, e outros
produtos.
Desse modo o trabalho permeia as relações cotidianas, possibilitando o acesso do sujeito a certas dimensões do
mundo e excluindo de outras, as relações de trabalho configuram possibilidades de existência ao mesmo tempo que
interdita outras. Nos interessa nessas relações a dimensão do trabalho da mulher nesses espaços, compreendendo as
relações de trabalho, enquanto relações sociais entre gêneros, configurando de formas heterogêneas a divisão sexual
do trabalho, tanto nas sociedades urbanas, quanto nas campesinas.
A articulação do modelo econômico capitalista com os valores neoliberais, promoveu uma forma particular de
opressão e marginalização das mulheres, sendo comum a vinculação do trabalho da mulher como força de trabalho
secundaria, além da desvalorização do trabalho doméstico e de cuidados – exercidos prioritariamente por mulheres –
desconsiderando as implicações desse trabalho nas dimensões econômicas, do espaço público e privado. É justamente
essa compreensão do trabalho da mulher como força secundária, que estrutura a divisão sexual do trabalho.
Lembrando que o trabalho com mulheres, sobre mulheres estará sempre atravessado pela pluralidade das existências
femininas e interseccionado com o contexto histórico, social, politico, de raça e classe. A mera suposição de que a
categoria mulheres abarca um todo coerente de interesses e desejos, que partilham das mesmas bases patriarcais ou
que as mulheres do terceiro mundo são as únicas vitimas do patriarcado, é um posicionamento não só ingênuo, mas
errôneo também, com tendências a diretrizes essencialistas, apelo as identidades coletivas e praticas colonizadoras.
Não há a priori um mal na categorias mulheres ribeirinhas ou indígenas , o problema reside no momento em que
qualquer uma dessas categorias se tornam homogêneas, seja na caracterização de suas forças ou fraquezas. Nesses
termos, se compreende que o falar sobre as mulheres ribeirinhas implica o reconhecimento destas enquanto sujeito
de sua própria vida e historia, não as vitimando com um olhar periférico e salvador.
Essa comunicação oral tem como proposito uma reflexão sobre as relações de trabalho na qual mulheres ribeirinhas
estão inseridas, e sua participação na geração de renda familiar e comunitária. A discussão será pautada a partir dos
dados e reflexões elaborados durante as idas a campo da pesquisa acadêmica com uso de diário de campo e
entrevistas semiestruturadas, bem como do acompanhamento do trabalho dessas mulheres nos processos de
produção e comercialização de castanha-do-Brasil, a pesquisa é realizada na região do baixo rio Madeira em Rondônia,
em particular na Reserva Extrativista Lago do Cuniã – RO.

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Encontros e agenciamentos na construção de estratégia de luta para retomada de área ancestral Mbya Guarani
Autores: João Maurício Assumpção Farias, UFRGS
E-mail dos autores: jmafarias@hotmail.com

Resumo: Em um cenário extremamente adverso para as garantias de direitos territoriais indígenas, com a assunção de
grupos políticos antindígenas no comando do Estado brasileiro, os estudos e processos de demarcação de terras
indígenas tornaram-se ainda mais dificultados. Porém, paradoxalmente, é neste período que um movimento de
retomada de área de 367 hectares de mata nativa, no bioma da Mata Atlântica, por indígenas Mbya Guarani vai
possibilitando a agregação de apoiadores não-indígenas para, juntos, garantirem a conquista, permanência e
consolidação de espaço sociocosmológico como Tekoa (em Guarani com o significado de locus e logus) deste povo.
Tal área estava de posse e propriedade da FEPAGRO – Fundação de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul,
instituição que teve sua extinção aprovada por legislação na Assembleia Legislativa – RS, no mês de novembro de
2016, por decisão do atual governo do estado. Assim, famílias indígenas entram na área de mata em janeiro de 2017.
Lideranças Mbya Guarani deste movimento, tem narrado aos visitantes, desde o principio de sua entrada na área, que
não se trata de invasão, nem de ocupação, mas de retomada de área ancestral.
Imediatamente ao início desta retomada foi deflagrada estratégia de busca de ampliação de apoios e apoiadores.
Algumas ONG indigenistas e ambientalistas, como técnicos (em desenvolvimento rural, antropólogos, advogados,
arqueólogos, historiadores e pesquisadores) passaram a se agregar rapidamente ao movimento destes indígenas. Na
primeira semana foi formado um grupo de comunicação instantânea, whatssap, coordenado por uma pesquisadora
denominado de Retomada no Yvyrupá (grande território ancestral Guarani). Tal grupo teve e tem a finalidade de
agilizar as articulações para o fortalecimento do movimento de retomada.
O governo do estado entrou com ação de reintegração de posse na justiça federal, primeira instância, no município de
Capão da Canoa. Houve audiência judicial e como a procuradoria estadual, representando interesses do atual governo,
fora inicialmente intransigente em admitir a mediação de negociações e a FUNAI não apresentara documentos e
informações que corroborassem o pleito indígena por esta área, o juiz acabou por dar ganho para a saída ou retirada
dos indígenas em prazo de 30 dias, a ser expirado no dia 04 de abril de 2017. Desde esta data até o mês de maio, o
movimento dos indígenas com seus apoiadores tem conseguido êxito em prorrogar os prazos para a reintegração,
como conseguiram abrir negociações com agentes do estado para possível permanência em definitivo.
Em paralelo os indígenas vão ampliando o apoio ao seu movimento, recebendo mais pessoas e técnicos na área da
Retomada. Produzem pequenos audiovisuais e colocam-se disponíveis para dar entrevistas para jornalistas contando
sobre as qualidades desta área em relação a sua ancestralidade e ao seu Mbya Rekó (modos de vida Mbya). Tais
vídeos e matérias jornalísticas passaram a ser divulgados em páginas no facebook e blogs na internet. Assim, é possível
constatar algumas ações por onde a estratégia de luta Mbya Guarani, através do convencimento pelas boas palavras
inspiradas em suas divindades Nhenderu Tenondé (grande pai) e Nhandesí (grande mãe), pela sedução, pela
sensibilização dos Juruá (não indígenas) vai sendo experimentadas: reuniões no centro as Tekoá com apoiadores,
procuradores, advogados, juízes e interessados; participações em eventos públicos em Porto Alegre; reuniões como no
centro Budista em Viamão; audiência pública na Comissão de Direitos Humanos na Assembleia Legislativa do RS; como
também no próprio grupo do Whatssap Retomada no Yvyrupá.
Para os Mbya Guarani alguns dos aliados na medida em que vão se aproximando e demonstrando laços intensos de
troca, passam a ser chamados de Xondaros e Xondárias (guerreiros e guerreiras) que lutam para a proteção das tekoá
e de seu mundo. Nas reuniões ou através do grupo de Whatsapp, os Mbya têm muitas vezes falado ou escrito
Aguyjevete (a busca da perfeição, da verdade verdadeira) como um tipo de exercício estratégico das práticas das boas
palavras.
Assim vou traçando meu caminho de pesquisador implicado como um dos apoiadores Xondaro, buscando inquirir-me:
como vão sendo construídas as estratégias de luta resultantes dos encontros entre os Mbya Guarani e seus
apoiadores? Como essa máquina de guerra Mbya Guarani e seus agenciamentos moleculares vão conseguindo
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explicitar suas linhas de força sobre linhas de força de um Estado em sua molaridade explicitada na
governamentalidade liberal, que pretendia extinguir a fundação de pesquisa agropecuária detentora da titulação
jurídica da área e provavelmente comercializa-la ou mesmo repassá-la para iniciativa privada a fim de instalar ali
algum empreendimento turístico?
Para traçar as linhas de forças em disputas, perceber os agenciamentos e percursos dos atores envolvidos, visualizar
mapas das conexões e interconexões no território/corpo vivo no exercício do Mbya Rekó parece-me que a cartografia
na Retomada no Yvyrupá pode contribuir como um método aberto que se faça ao andar, como os próprios Guarani
são caminhantes das boas palavras em busca do Aguyjevete.

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Grupo de identidade indígena com Crianças Xucuru-Kariri em Palmeira dos Índios Alagoas
Autores: Allyne Rwth de Albuquerque Barros, UFAL; Saulo Luders Fernandes, UFAL; Silvaneide Maria da Conceição
Freitas, UFAL; Tayana Ferreira de Oliveira, UFAL
E-mail dos autores:
allynerwth@gmail.com,saupsico@gmail.com,silvaneidefreitas29@hotmail.com,tayana.f.oliveira@gmail.com

Resumo: Diante da notória mistificação da figura indígena na sociedade brasileira, que geralmente reconhece
somente como tal o índio isolado no interior da floresta, procurou-se trabalhar a identidade indígena com crianças da
Aldeia Cafurna de Baixo, do povo Xucuru-Kariri, na região de Palmeira dos índios, Alagoas. De acordo com Vieira
(2015, p.63) Com a ação dos colonizadores e da evangelização, os territórios anteriormente ocupados pelos indígenas
foram tomados, provocando a sua espoliação, escravização e dispersão da maioria dos grupos. De tal modo a maioria
da população indígena se dispersou e passou a ocupar territórios e ter costumes diferentes. Tal processo histórico
ocorreu inicialmente por causa de uma concepção sobre o povo indígena como de pessoas selvagens , não admitindo
comportamentos diferentes dos da cultura dominante e por isso muitos costumes foram impostos, hoje a comunidade
indígena se manifesta não admitindo uma variação dessa concepção, que ficou cristalizada no imaginário popular.
Essa noção equivocada se perpetuou ao longo do tempo no senso comum, pela falta de acesso ao que
contemporaneamente é a cultura dos povos ancestrais do Brasil, atualmente pode ser origem de sofrimento e
preconceito direcionado aos povos que não se encaixam em tais condições idealizadas por boa parte da população,
projetando-se no entendimento limitante das identidades indígenas diante de suas possibilidades de ser e existir
como tal. Assim o trabalho teve como objetivos: a promoção da afirmação indígena; produzir em conjunto com os
participantes conhecimentos sobre a cultura indígena local no olhar das crianças; e por fim promover vínculos sociais
no grupo que fortalecessem seus membros na formação da identidade indígena. As práticas do grupo foram
desenvolvidas tendo como base a psicologia social crítica com a visão de Silvia Lane e Martín-Baró sobre o processo
grupal colocando o entendimento do social e do indivíduo dentro de uma relação histórica. O trabalho vem efetuando-
se através da pesquisa qualitativa e participante com a realização de grupos quinzenais que trabalham com práticas
lúdicas as temáticas ligadas ao fortalecimento e afirmação da identidade indígena. Como resultado da realização dos
encontros foi possível observar questões importantes referentes à identidade indígena daquelas crianças. Nos
desenhos e colagens produzidos por elas foi marcante a presença de produções que remetiam à representação
estereotipada dos Índios difundida pela sociedade branca, o índio paramentado, incomum no dia a dia daquele povo,
assim, não existiram representações de seu cotidiano que se aproximassem do cotidiano do não índio. No entanto
foram representados também aspectos característicos da cultura do povo Xucuru-Kariri, como a xanduca (cachimbo
utilizado por eles), as igaçabas (urnas funerárias) e o toré (dança ritual dos índios do nordeste), este último, forte
símbolo de identidade étnica, representado aos grupos de fora em sua dimensão folclórica, pois sua dimensão
religiosa é preservada, como segredo cultural, apenas aos olhos da aldeia. A partir da realização dos encontros com o
grupo de crianças da Aldeia Cafurna de Baixo, do povo Xucuru-Kariri, concluímos que, embora os povos indígenas
venham alcançando espaço perante a sociedade nas últimas décadas, ainda se tem muito a construir neste sentido e a
Psicologia Social, tem importância fundamental, para propiciar maior visibilidade desses povos bem como o
reconhecimento de suas diversidades e, consequentemente, o sentimento de pertencimento dessas crianças
enquanto indígenas, dentro de suas singularidades.

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Identidade Coletiva e Indígenas em Contexto Urbano: Uma revisão de literatura
Autores: Mayara dos Santos Ferreira, UFAM; Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, UFAM
E-mail dos autores: mayara.fsantos@live.com,mgacalegare@gmail.com

Resumo: Tem sido do interesse da psicologia social (e política) refletir a respeito das ações coletivas a partir de
compreensões das dinâmicas materiais, simbólicas, psicossociais, éticas e políticas. Estas são consideradas elementos
presentes na constituição das identidades coletivas, que se configura a partir do compartilhamento de valores e
crenças que determinam a cultura política de um grupo. Em outras palavras, a identidade coletiva é compreendida
como o entrelaçamento de três dimensões constituintes: aspetos cognitivos, interativos e emocionais, que perante as
relações sociais fazem emergir e constituir o sentimento de pertencimento, os antagonismos e convergências, e
sentimentos positivos ou não em relação ao grupo, assim estruturando a construção de um nós referente às ações
coletivas. Os grupos indígenas em contexto urbano, em prol da reivindicação de suas demandas, têm se organizado
em associações que formam círculos coletivos pluriétnicos, que incluem a presença de pessoas não indígenas.
Considerando as organizações tradicionais das sociedades indígenas, que já definem os sujeitos a partir de um grupo
(etnias), seguindo lógicas de funcionamento particulares, questiona-se como a identidade coletiva das comunidades
indígenas em contexto urbano tem sido compreendida atualmente, considerando principalmente a crescente
presença de pessoas indígenas residentes nas cidades. O objetivo deste trabalho é apresentar as produções teóricas
que integram identidades coletivas e indígenas no contexto urbano, a partir de revisão de literatura feita na base de
dados do Portal CAPES. Para alcançar uma amostra hábil de análise, para todos os descritores foram aplicados os
filtros de ano (2014-2017), idioma (português) e artigos revisados por pares. Utilizaram-se os seguintes descritores, e
após análise e consideração de critérios de inclusão (artigos com palavras chave iguais aos descritores, estudos
relacionados a temática proposta) e exclusão (artigos duplicados, não acessíveis, e fora do idioma estipulado),
encontraram-se os seguintes quantitativos: identidade coletiva (16); indígenas urbanos (7), indígenas na cidade
(3), e identidade coletiva + indígena (3). Pôde-se perceber que acerca do assunto de identidade coletiva, a maioria
dos estudos estão concentrados na área da sociologia, correspondendo a 57% dos artigos, sendo 44% destes
produzidos em 2014 e 37% em 2015, a maior parte de cunho qualitativo (68%). As pesquisas em torno de indígenas
urbanos têm a maior porcentagem dividida em Antropologia (43%) e Sociologia (29%), concentradas nos anos de
2014 e 2015, ambas correspondendo à 43% das pesquisas, sendo a maior parte de viés teórico (43%). Utilizando o
descritor de indígenas na cidade , pôde-se notar uma diferença de conteúdo, em relação à utilização do descritor
indígenas urbanos . Enquanto o segundo fornece discussões acerca da dinâmica relacional entre pessoas indígenas e
cidade, discussões estas realizadas prioritariamente pela antropologia, o primeiro apresenta pesquisa de estudo
demográfico e também da área do direito. Esta diferença de conteúdo pode ser explicada pela dificuldade de definição
de terminologias para se fazer referência às pessoas indígenas residentes em zonas urbanas, os quais ainda não se há
consenso. Correspondem aos anos de 2015 (33%) e 2016 (67%), estando divididos igualmente em pesquisas teóricas,
qualitativa e quali/quanti. As produções encontradas em torno da identidade coletiva associada a indígenas na cidade
foram escassas e corresponderam a duas áreas de estudo, sociologia e antropologia, divididas nos anos de 2014 (33%)
e 2015 (67%), sendo 67% estudos qualitativos, e 33% teórico. A dificuldade de encontrar artigos nesta temática pode
sugerir pouco interesse pela pesquisa nesta área. Como se pôde perceber, nenhuma pesquisa neste assunto está
associada a área da Psicologia Social (e Política), que cabe ressaltar, durante esta revisão de literatura, aparece
somente uma vez, citada durante as pesquisas de identidade coletiva especificamente. Pode-se concluir a partir destes
dados que o estudo de identidades coletivas, pensada para a realidade indígena presente em contexto urbano, tem
sido pouco pesquisada e, quando realizada, aparece de forma isolada nos textos, para definir de forma genérica ações
coletivas ou identidade de grupos, não atendendo integralmente a compreensão dos diversos fatores existentes que
tangem ao conceito de identidade coletiva. A partir disto, pode-se perceber a relevância do estudo das identidades
coletivas dos grupos indígenas em contextos urbanos, especialmente de Manaus/AM, de modo a compreender esta
dinâmica relacional distinta e pouco pesquisada. Assim, este trabalho se alinha com o GT de número 46, Reflexões
997
sobre atuação da psicologia com populações indígenas, quilombolas e povos tradicionais – descolonização e encontro
de saberes possibilitando expor o que tem sido produzido pela psicologia social (e política) acerca das teorias e
práticas que vem sendo desenvolvidas para compreensão da dinâmica de pessoas indígenas na cidade. E também
corresponde a proposta do eixo temático Territorialidades e modos de vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social
na cidade e no campo uma vez que promove reflexões sobre a produção de subjetividade relacionada a
territorialidade, na perspectiva de indígenas em contexto urbano.

998
Integralizando saberes populares e especializados em saúde: Promoção da saúde na atenção primária em uma
Comunidade Quilombola
Autores: Adelaide Pacheco Santos Costa, UFAL; Gustavo Barbosa Silva, UFAL; Laura Gabrielly Porto Dias, UFAL; Saulo
Luders Fernandes, UFAL
E-mail dos autores: adelaide11cat@gmail.com,saupsico@gmail.com,lauragabriellyp@gmail.com,gusbtavo@gmail.com

Resumo: A expansão de políticas públicas de saúde às comunidades tradicionais vem descortinando desafios e
questões a serem problematizados e enfrentados em diálogos com a territorialidade, onde urbano e o rural
configuram processos cotidianos de subjetivação na qual a produção de cuidado se encontra habitualmente em
relações dicotômicas e assimétricas de poder.
No que se refere às comunidades quilombolas, faz-se necessário reconhecer a interseccionalidade entre saúde e
questões étnico/raciais, considerando a subjugação de seus modos de vida ao homem branco ocidental. Arruti (2009)
salienta a necessidade de uma atenção diferenciada de políticas redistributivas a populações tradicionais, atentando
as singularidades destes grupos, bem como, os determinantes sociais em saúde que estão ligados as conjunturas
históricas e ao racismo ainda recorrente à população negra brasileira.
O presente trabalho é fruto de um projeto de extensão cujo objetivo consiste em estabelecer pontes dialógicas entre
saberes técnico-científicos e práticas de cuidado populares presentes nos territórios quilombolas. O trabalho
apresenta-se como um estudo de caso de caráter qualitativo, que encontra-se em andamento, tem como objetivo
compreender quais as relações existentes entre o serviço de saúde de uma comunidade quilombolas e as práticas
populares de saúde. A metodologia adotada foi a pesquisa intervenção, tendo como instrumento grupos focais
realizados a cada quinze dias com os agentes comunitários de saúde. Esta foi a primeira etapa da pesquisa,
desenvolvida no primeiro semestre de 2017, totalizando cerca de 12 ACS de uma unidade básica de saúde de uma
comunidade quilombola do agreste de Alagoas. No segundo semestre iremos realizar encontros entre as benzedeiras,
rezadores e raizeiros da comunidade e os profissionais de saúde para dialogarem as formas e práticas de cuidado.
As intervenções com ACS se justificam pela polifonia e hibridez que caracterizam o cotidiano desses profissionais, já
que representam porta de entrada aos serviços de atenção básica à saúde e concomitantemente posicionam-se em
uma relação imediata com as formas de cuidado presentes na comunidade onde residem, estabelecendo um elo ,
nesse campo de tensões, entre as demandas locais e a UBS.
Pretendeu-se com as oficinas viabilizar espaços de fala entre os profissionais a respeito de territorialidades e
promoção de equidade, mediante suas experiências cotidianas. Refletiu-se acerca de suas compreensões de cuidado
em relação com saberes tradicionais e os veiculados pela UBS, tendo em vista uma concepção integral de saúde. Isso
não implica em homogeneidade ou universalidade, mas reconhecimento de aspectos biológicos, psicológicos, sócio-
históricos e também espirituais em diálogo na constituição das formas de cuidado presentes no território quilombola.
Os pressupostos teóricos que guiam o desenvolvimento do estudo estão alicerçados na perspectiva da Psicologia
Social Latino-americana, baseada na obra de Ignacio Martín-Baró que entende que a psicologia posicionou-se por
muito tempo às margens das reais inquietudes dos povos latino-americanos, pouco atentando, por exemplo, às
possibilidades e obstáculos à realização efetiva dos direitos humanos, como a saúde.
Os povos latino-americanos se situam num ponto de encontro entre o mundo branco ocidental e o de diversos grupos
étnico/raciais, submetidos à lógica de dominação do primeiro. Assim, em luta contra a homogeneização, os fatalismos
e os psicologismos que perpetuam opressões, a perspectiva latino americana enfatiza a elaboração de estratégias de
resistência, o compromisso com a emancipação de camadas populares e a descolonização de saberes.
Neste sentido que o presente trabalho dialoga com o GT escolhido, já que propõem a interlocução entre a psicologia,
os saberes comunitários, os modos de vida e as formas de cuidado a saúde presentes em uma comunidade quilombola
do agreste alagoano.
Nas práticas de grupo com os profissionais constatou-se a insatisfação dos mesmos referente às circunstâncias de
ampliação das políticas públicas de saúde quanto ao acesso e qualidade do serviço prestado a comunidade, que se
999
encontra em uma relação ainda distante da realidade sócio-cultural do território. O pouco vínculo estabelecido na
comunidade se dá através do ACS, os quais relatam sobrecarga de trabalho, poucos recursos para resolução dos
problemas encontrados e vivência de relações verticalizadas na dificuldade de diálogo com os outros profissionais de
saúde.
Notou-se, ainda, limitações no cotidiano laboral do ACS, tensões na mediação dos estranhamentos entre os saberes
técnico-científicos representados pela UBS e as práticas de cuidado encontradas na comunidade quilombola. São dois
mundos a se estranhar e cuja relação se faz evidente no cotidiano desses profissionais que vivem imersos na vida
comunitária das comunidades nas quais trabalham.
Diante das condições identificadas, faz-se necessário a busca de estratégias para superar as relações de subjugação e
colonização de saberes, bem como, a fragmentação e instrumentalização dos atores envolvidos no cuidado à saúde no
quilombo, garantindo o acesso do direito a saúde à população quilombola como caminho possível à afirmação de seus
modos de vida, no fortalecimento do seu protagonismo político e no reconhecimento a diversidade de saberes
presentes nestes territórios.

1000
Memória, participação e o diálogo intergeracional numa comunidade quilombola
Autores: Beatriz Corsino Pérez, UFF; Alessandra da Silva Almeida, UFF; Juliana Mendonça Altino de Lima, UFF; Lurdes
Perez Oberg, UFF; Thamires Paranhos Marcelino, UFF
E-mail dos autores:
biacorsino@gmail.com,lurdes.oberg@gmail.com,juliana.mal230@gmail.com,alessandrasa@id.uff.br,marcelthami17@
gmail.com

Resumo: O processo de globalização e os retrocessos políticos que o país vem sofrendo têm produzido efeitos nas
comunidades tradicionais, como as quilombolas, indígenas e ribeirinhas. Neste estudo, buscamos refletir sobre os
modos de vida que resistem à lógica do capitalismo globalizado, especificamente, na comunidade quilombola de
Cafuringa, localizada no município de Campos dos Goytacazes/ RJ. A inserção deste projeto nesta comunidade se deu
a partir do diálogo com a Comissão Pastoral da Terra sobre a urgência de uma intervenção de psicologia comunitária,
buscando promover a valorização e o acesso às políticas públicas desta população, reconhecendo as especificidades de
gênero, de geração, de raça/cor, de etnia e de orientação sexual, conforme preconiza a Política Nacional de Saúde
Integral das Populações do Campo e da Floresta. No presente trabalho, focalizamos na relação entre adultos e
crianças, que vem sendo marcada no contemporâneo pela imprecisão dos lugares sociais. A distância entre as
gerações faz com que as memórias e as tradições já não façam parte da vida comum. A pobreza de experiência e a
perda da capacidade de narrar, na perspectiva de Walter Benjamin, criam uma nova forma de barbárie que se refere a
começar de novo e à captura pelo tempo presente. Hartog considera que o presentismo pode ser um horizonte
aberto ou fechado: aberto para quem pode desfrutar da aceleração e mobilidade, e fechado para quem sobrevive o
dia a dia num presente estagnado. Como metodologia, o projeto compreende duas etapas de realização. No primeiro
momento, faremos um estudo socioespacial e demográfico com a participação dos moradores na elaboração e na
aplicação dos questionários, estando prevista a construção de um mapa com os marcadores territoriais e de uma
árvore genealógica da comunidade. Dessa forma, a população local deixa de ser apenas objeto da pesquisa e passa a
ser também pesquisadora do lugar onde vive, produzindo um conhecimento que poderá ser usado na reivindicação
por direitos e políticas públicas. No segundo momento, utilizaremos algumas metodologias participativas para criar
espaços de fala e de ação com crianças e jovens, onde eles possam expressar suas opiniões sobre os problemas e as
dificuldades enfrentadas em seu cotidiano e construir propostas coletivamente para a comunidade de Cafuringa.
Consideramos, neste estudo, crianças e jovens como agentes ativos capazes de alterar a estrutura social através da
forma singular como agem e se apropriam do mundo que os cerca, fazendo diferença nas relações sociais e
produzindo cultura. Nas oficinas, serão produzidos mapas afetivos, desenhos, diários com registros das crianças e
jovens, entre outros recursos. Faremos também uso da fotografia como uma forma de trabalhar as memórias
individuais e coletivas sobre os lugares onde vivem, provocando uma reflexão sobre a sua história, os laços que os
vinculavam àqueles espaços e suas relações. Dessa forma, procuraremos produzir um diálogo intergeracional,
valorizando a memória e a história da comunidade quilombola de Cafuringa. Os resultados, até o presente, sinalizam
uma dificuldade de inserção do grupo de pesquisa na comunidade, a referência predominante dos valores urbanos na
vida dos moradores, a favelização, a evangelização do campo e a patologização das atividades culturais. Crianças e
jovens relataram sofrer discriminação por serem quilombolas e passar por dificuldades em relação ao uso do
transporte público, prejudicando inclusive o seu acesso à escola. Além de conflitos territoriais que dificultam a livre
circulação pela comunidade e geram acidentes. Neste cenário, notamos a urgência de práticas que reconheçam o
processo histórico das comunidades quilombolas e possam relacioná-lo à construção da subjetividade individual e
coletiva dos sujeitos.

1001
Memórias de um Povo Trajado de Rei: Arte e Recriação do Cotidiano
Autores: Hemile Dantas Coelho Rosário, UFAL; Saulo Luders Fernandes, UFAL
E-mail dos autores: hemiledantas@gmail.com,saupsico@gmail.com

Resumo: O objetivo deste artigo é compreender como se dão as relações entre a expressão artística do Reisado,
prática cultural tradicional, e o fortalecimento de vínculos comunitários. A partir de uma pesquisa-ação que vem
sendo realizada quinzenalmente no período de um ano, na comunidade quilombola Tabacaria, situada na cidade de
Palmeira dos Índios – Alagoas, através de conversas informais e entrevistas semi-estruturadas com os membros do
grupo de Reisado (jovens, adultos e idosos), é possível pensar fatores para além da festividade, objetivando questões
que são retratadas nas canções, como o que é a negritude, o quilombo e a religiosidade para esse grupo. Para a
realização deste trabalho, utiliza-se memória como conceito-chave, e a partir dessa abordagem conceitual,
identificaremos se, no referido município, existem políticas públicas voltadas para essas práticas culturais. Assim,
analisaremos a maneira como a não-aplicação de políticas públicas voltadas para a cultura é um fator atenuante para
o esquecimento e o desfalecimento dos vínculos comunitários. Nosso intuito é de promover ações que fortaleçam
esses vínculos, incentivando a apropriação da cultura local por seus membros. Percebemos, principalmente por parte
dos mais velhos, os mestres da cultura popular, a necessidade de retomar essas práticas, que tem como sustentação a
passagem geracional: à medida que cantiga é puxada pelo mais velho, o mais novo responde, em uníssono. A memória
é encarada, não como o tradicionalismo que conserva e enrijece o passado, mas como recriação constantemente que
dá movimento às temporalidades. Considerando que o descaso da prefeitura de Palmeira dos Índios com as políticas
públicas de incentivo à cultura afirma o esquecimento da memória social, lembrar torna-se um ato de resistência!
Propomos, então, olhar para o espaço rural como ambiente da criatividade e ação. Trataremos a Tabacaria não apenas
como o lugar do escasso, mas como plano de produção de vida, território de potencialidades, que é expresso através
da manifestação cultural do Reisado. Não deixaremos, no entanto, que tal expressão obscureça a realidade material
do local, mas seja espaço de denúncia, considerando que o local é muito precário (sem saneamento básico, muitas
pessoas ainda vivem em barracos de lona, além da dificuldade de acesso a água, energia e educação básica). Isto
posto, apresentaremos o Reisado dentro de seu contexto social, cultural, político e histórico, revelando sujeitos ativos
dentro do cotidiano. Para isso, utilizaremos de recursos lúdicos para que o Reisado seja visto, também como uma
brincadeira, para que essas crianças sejam inseridas no universo de suas mães e avós. Assim, coloca-se em evidência
as relações entre expressões artísticas e o fortalecimento de vínculos comunitários, através de noções de memória,
história e narrativa: o espaço da experiência e a formação de uma identidade compartilhada por intermédio da arte.
Esse momento de troca, diálogo e afetação deve ser destacado, por que é nesse cenário que vínculos afetivos se
estabelecem e são fortalecidos; e é através dessas dinâmicas da coletividade, permeadas pela diversidade dos
agentes, que se possibilita a constituição da noção de integralidade – muitas vozes a cantar um passado
compartilhado, um passado que os afeta, os une e os mobiliza em direção a um horizonte comum.

1002
Prisioneiras invisiveis: mulheres indígenas nos estabelecimentos prisionais de Mato Grosso do Sul
Autores: Bruna Amaral Dávalo, UNESP
E-mail dos autores: brunadavalo@gmail.com

Resumo: O número de pessoas declaradas indígenas em Mato Grosso do Sul correspondia a 77 mil em 2016, o
segundo mais representativo do Brasil, tendo crescido 42% em 10 anos. Os Guaranis Kaiowás, segunda maior
população de indígenas do Brasil, são também os mais representativos no estado (IBGE, 2016). No tocante a violência,
os dados são também representativos. Dos 87 casos de suicídio de indígenas registrados no país em 2015, 45 correram
em Mato Grosso do Sul a maior parte entre jovens (CIMI, 2015). No período de 2003 a 2014, ocorreram 390
homicídios no estado, totalizando 51% dos 754 assassinados de indígenas no país (CIMI, 2014). Cabe destacar que em
Mato Grosso do Sul, exemplos de violações de direitos humanos contra indígenas são recorrentes, estando
geralmente atreladas à luta pela terra, o Tekohá, contudo, as violações de direitos desdobram-se para outros
espaçoscomo o prisional.
Um estudo realizado pela Secretaria Nacional de Juventude (2012), entre 2005 e 2012, revelou que Mato Grosso do
Sul tem a segunda maior população carcerária do Centro-Oeste. Segundo relatório da Organização dos Advogados do
Brasil – OAB/MS (2014) existem cerca de 500 presos (as) para cada 100 mil habitantes do estado, enquanto a média
nacional é de 258 presos para cada 100 mil habitantes.
Este trabalho apresenta os primeiros rumos da pesquisa de doutorado desenvolvida pela presente autora, cujo
objeto de estudo são as narrativas de mulheres indígenas encarceradas em estabelecimentos prisionais no estado de
Mato Grosso do Sul. A pesquisa encontra-se em andamento desde o ano de 2017 e integra o Programa de Pós
Graduação em Psicologia e Sociedade da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Assis).
Entendendo que as pesquisas em Psicologia Social devem priorizar em suas investigações os contextos históricos,
sociais, econômicos e culturais dos sujeitos pesquisados (GUARESCHI, 2008) e em consonância com as proposições do
GT – 46: Reflexões sobre atuação da psicologia com populações indígenas, quilombolas e povos tradicionais –
descolonização e encontro de saberes, o objetivo central deste estudo é reconhecer , para além do conhecer
censitário, histórias de vida narradas por suas protagonistas. Tendo em vista a riqueza da temática e o leque de
inquietações possíveis, integram o hall de objetivos específicos: retomar o referencial bibliográfico produzido em
Psicologia sobre a temática, estabelecendo uma relação dialógica com os estudos decoloniais; fomentar debates e
pesquisas acerca das políticas públicas voltadas para população indígena, dentro e fora do sistema prisional; refletir
sobre atuação da Psicologia com populações indígenas e descolonização.
A percepção de que o sujeito vive uma espécie de relação dialética com o contexto social, ou seja, influencia e é
influenciado pelo mesmo, é uma das bases determinantes deste estudo. O processo de subjetivação vivenciado pelas
mulheres indígenas presas em instituições penais do estado de Mato Grosso do Sul é, portanto, o seleiro de
investigação aqui proposto. Tal investigação, na contramão de tendências conservadoras dentro da Psicologia,
fundamenta-se na representação que estas mulheres têm sobre sua história, identidade e sobre o próprio cárcere. É
iminente a importância das praticas discursivas das mulheres em questão. Elas são as protagonistas, as contadoras.
Deixam de ser personagens de uma história narrada por teorias colonizadoras e neocolonizadoras.
Embora as pesquisas sobre indígenas na Psicologia tenham aumentado significativamente a partir de 2000, tendo
quase triplicado na primeira década do século XXI em comparação com a última década do século XX (GRUBITS e
VITALES, 2009), as pesquisas sobre indígenas encarcerados (as) a partir da são ainda insubstanciais. Já nos primeiros
contatos com a bibliografia pré-existente e o pouco material disponibilizado – majoritariamente por agências
governamentais – ficou evidente a precarizada atenção e assistência voltada para população indígena em Mato Grosso
do Sul. São incomuns, especialmente sob o olhar da Psicologia, estudos sobre mulheres indígenas. Em 2010, por
exemplo, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo lançou o livro intitulado Psicologia e Povos Indígenas , no
qual nenhum dos cerca de dezenove artigos e ensaios destacou questões sobre as mulheres indígenas. Dentre os
estudos que embasam esta pesquisa, destaca-se a publicação de Becker e Marchetti (2013), Becker, Muller e Almeida
1003
(2014) e o livro Prisioneiras: Vida e violência atrás das grades (UZIEL, 2002). Outra contribuição importante no hall da
Psicologia Social brasileira, dado seu histórico de pesquisas relacionadas ao sistema prisional e encarceramento
feminino no Brasil, é Bicalho e Reishoffer (2013) e Bicalho e Rangel (2016). Destacam-se ainda os estudos decoloniais
de Ramón Grosfoguel e Boaventura de Sousa Santos.

1004
Saberes Populares no Cuidado à Saúde no Quilombo: Descolonização de Saberes
Autores: Gracys Kelly Monteiro de Moura, UFAL; Saulo Luders Fernandes, UFAL; Ysllanne Freire da Silva, UFAL
E-mail dos autores: gkmmoura@yahoo.com.br,saupsico@gmail.com,Lanyfreire1j@gmail.com

Resumo: O presente trabalho está sendo realizado em uma comunidade quilombola situada no agreste alagoano, e,
tem por objetivo, mapear e identificar os saberes populares no cuidado com a saúde. O primeiro contato com a
comunidade se deu através de um agente local que conduziu e promoveu o encontro com rezadeiras, benzedeiras e
raizeiras/garrafeiras. A Metodologia adotada para o desenvolvimento do trabalho foi a pesquisa participante, tendo
como instrumentos: reuniões comunitárias, o diário de campo e a entrevista semi-estruturada.
A modernidade estabelece uma cisão entre o tradicional e o novo. O iluminismo traz em si a promessa de tirar o
homem de seu obscurantismo teocêntrico e colocá-lo diante da luz da razão, da verdade científica. A partir desse
momento, surge um conjunto de saberes constituído através do modelo cartesiano que vai estruturar e delinear as
ciências, suas práticas e seus discursos. Essa episteme eurocêntrica atravessa mares e se enraíza na América do Sul
através do processo de colonização. O desembarque do colonizador, de seus saberes, de sua verdade absoluta e
eurocêntrica desloca sabres tradicionais para um lugar de quase invisibilidade e marginalidade. A invisibilidade desses
saberes é permeada por uma lógica que busca propagar uma subjetividade colonizada produzida a partir de
dispositivos disciplinares e de poder que almejam um sujeito eurocentrado. Por outro lado, no decorrer deste
processo surge uma corrente de pensadores latino americanos que questionam discurso eurocêntrico, sua visão de
mundo e de humano. Tais estudos procuram construir sua matriz epistemológica a partir de pensadores locais e
saberes produzidos pela cultura e população latino americana.
Os saberes populares atravessaram gerações e apesar de, aparentemente, terem sido solapados pelo saber
eurocêntrico, se mantiveram envoltos através de diferentes rituais e práticas cotidianas, dentre estes, as práticas de
cura voltadas para o cuidado com a saúde física e psíquica. O uso de rezas, chás e poções sempre se fizeram presentes
em diferentes momentos históricos e em diferentes gerações por inúmeras razões, sendo salientadas, neste trabalho,
suas potencialidades terapêuticas. Nesse sentido, os saberes populares fazem uso de técnicas e práticas das ciências
psicológicas como a escuta, o acolhimento, a formação de vínculos e da história de vida dos sujeitos que buscam nas
ervas a cura para seus males. Por isso, entender como a atuação desses saberes é compreendida no campo da
psicologia foi a principal inquietação e ponto de partida para realização desse trabalho.
A pesquisa iniciou-se há dez meses ao todo já foi mapeado cinco moradores da comunidade que manipulam ervas e
também fazem uso da reza como prática de cuidado com a saúde. Dentre estes, apenas um é do sexo masculino, o
que aponta que na comunidade o cuidado com a saúde e a manipulação de ervas é uma tarefa da mulher, ela é aquela
que zela e cuida pela saúde, neste caso, não só dos seus familiares, mas de todos que estão ao seu entorno e para
além dos que moram na comunidade. O contato inicial se deu com uma garrafeira muito conhecida na comunidade e
que faz uso de suas garrafadas não só para os moradores locais, mas também para pessoas de outras comunidades.
Católica, diz não sentir preconceitos e ser muito respeitada na comunidade. Atribui seu aprendizado na manipulação
das ervas a um dom . Conta que sua primeira experiência se deu devido a necessidade de curar a si mesma de uma
enfermidade logo após ser desenganada pelo médico. Ao sentir que nada mais lhe restava como alternativa de cura,
produzida pelo saber médico, decide recorrer a várias ervas que já conhecia o resultado farmacológico no uso de
outros males. Narra que ao fazer suas garrafadas, antes de sua produção, procura conhecer a história do adoecimento
e desenvolve uma poção para um conjunto de doenças que estão interligadas de forma integral à vida de quem a
procura. Não há uma erva apenas para determinada doença, ao contrário o adoecimento é fruto de uma
complexidade de elementos que permeiam a vida das pessoas. Sua prática não se restringe a um tratamento, ela
amplia-se como forma de cuidado a vida do outro. Seu fazer se desloca de uma visão reducionista dos processos
saúde/doença para uma compreensão integral das formas de cuidado.
De modo geral, a pesquisa aponta que nos cuidados com a saúde a comunidade faz usos concomitantes tanto de
práticas, produzidas pelo saber popular quanto de práticas produzidas pelo saber médico. Contudo, durante as
1005
entrevistas e as visitas foi possível perceber a diferença entre o olhar médico/especialista e o olhar popular/integral
quando se fala de atenção em saúde básica ou mental. Procura-se com este estudo produzir um elo entre saber
popular e saber científico, espera-se que a partir do seu desenvolvimento surjam diferentes eixos e temáticas para que
outros pesquisadores venham dar continuidade e aprofundamento as formas de cuidado a saúde e a vida da
população latino americana.

1006
Sobre modos de beber entre os kaiowá e guarani no Mato Grosso do Sul
Autores: Leandro Lucato Moretti, PUC SP
E-mail dos autores: le_moretti@hotmail.com

Resumo: O trabalho aqui apresentado é referente à pesquisa realizada pelo acadêmico durante o mestrado em
psicologia social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A temática dessa pesquisa, o consumo excessivo de
bebidas alcoólicas destiladas em áreas indígenas, é visto atualmente como um problema, associado a outros
problemas sociais existentes, como a violência interna entre parentes. Apesar da introdução destas bebidas em seus
cotidianos por meio do contato interetnico, é importante perceber que já existiam bebidas nas culturas ameríndias há
muito tempo, produzidas a partir da técnica de fermentação, utilizadas em diferentes contextos, se relacionando com
elementos cosmológicos e culturais destes povos. Posto isso, se torna relevante questionar quando a bebida se torna
um problema. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa que esse texto se refere, buscou conhecer, descrever e registrar
processos de alcoolização e os diferentes sentidos e significados elaborados internamente por grupos Kaiowá e
Guarani no Mato Grosso do Sul a respeito do consumo de bebidas. Para tal, o método utilizado, de inspiração
etnográfica, permitiu aproximação das percepções e perspectivas próprias desses grupos indígenas, necessário para
romper com fazeres tradicionais da psicologia, no qual concepções etnocêntricas e universalistas são recorrentes. A
partir das diferentes entradas em campo realizadas na pesquisa, foi possível perceber uma variedade de modos de
beber que podem assumir diversas potências construtivas nestes grupos. O kagwy, bebida tradicional feita de milho
branco, era utilizado cotidianamente pelos mais antigos, além do seu uso em rituais e outras festividades que
perpassam a sociabilidade dos Kaiowá e Guarani, indo ao sentido do bem viver e a divinização, viver como as
divindades ancestrais, buscada por esses grupos. O seu modo de produção, de responsabilidade das mulheres, vem
sendo dificultado pelo processo histórico de confinamento que os Kaiowá e Guarani vivenciam na atualidade, aonde
os recursos necessários vem se tornando cada vez mais escassos ou disponíveis de formas não condizentes com a
antiguidade. Além disso, o confinamento que se inicia com a exploração dos ervais que existiam na região no início do
século XX, buscou inserir as bebidas destiladas (caña) como uma forma de cooptar esses indígenas para o trabalho
exploratório por meio da criação de dívidas e outras formas de criar vínculos que prendiam estes nessa condição. No
contexto atual, é possível perceber a coexistência de bebidas e modos de beber que se relacionam com diversos
elementos como a sociabilidade, a circulação de saberes, a construção do corpo e a saúde, entre outros. Apesar de
transformações e mudanças geradas pelo contato com o modo de vida ocidental, ainda é possível perceber
permanências nos modos de beber, que podem se configurar como formas de resistência perante as violências
características desse contato interétnico. Portanto, a psicologia, por meio do campo da saúde indígena, deve buscar
afastar-se de práticas e concepções biomédicas que preconizam a abstinência como enfrentamento as questões
contemporâneas que envolvem o consumo excessivo, pois o uso de bebidas pode assumir diversas potências
construtivas, e deve-se, buscar fortalecer formas coletivas próprias dos Kaiowá e Guarani de cuidado e controle,
tomando assim, a autonomia decisória. Por fim, esse trabalho se relaciona com a temática do GT apontado, pois
busca construir diálogos entre os saberes kaiowá e guarani com a psicologia social.

1007
GT 47 | Relações de Gênero e Educação: desafios na promoção da equidade

Coordenadores: Cláudio Eduardo Resende Alves, Secretaria Municipal de Educação de BH | Igor Monteiro, UFMG |
Maria Ignez Costa Moreira, PUC Minas

Desde 2015, o à oà su gi e toà daà ha adaà ideologiaà deà g e o à ueà o ta i ouà asà dis uss esà oà a poà
educacional, estamos convivendo com um retrocesso político no cenário brasileiro. Em 2016, por força legal, foi
retirada do Plano Nacional de Educação e do Plano Municipal de Educação de Belo Horizonte as temáticas de gênero e
diversidade sexual como temas transversais nos níveis de ensino infantil, fundamental e médio. Esta medida
autoritária e grave é mais um acontecimento, entre vários outros que têm marcado a história recente do Brasil, após o
golpe dado na democracia brasileira travestido na forma do impeachment da presidenta eleita pelo voto popular.
Apesar da retirada da temática de gênero e diversidade sexual dos textos dos planos de educação e outras legislações
anteriores garantem o debate e a abordagem de gênero, corpo e sexualidade na educação, como a LDBEN (1996) - Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e os PCNs (1997) - Parâmetros Curriculares Nacionais no caderno dos
temas transversais. Amparados em tais princípios legais vários grupos ligados à educação e aos processos de
escolarização de crianças e adolescentes, têm buscado desenvolver atividades reflexivas em seus espaços de trabalho
com o objetivo de promover relações de gênero equitativas no interior das escolas, bem como, buscar formas
cidadãos sensíveis às questões relacionadas às diferenças de gênero.
áà p opostaà doà GTà ‘elaç esà deà G e oà eà Edu aç oà fazà e oà o à aà te ti aà e t alà doà E o t oà Oà De o a iaà
Participativa, Estado e Laicidade: Psi ologiaà“o ialàeàe f e ta e tosàe àte posàdeàe eç o ,àu aà ezà ueàaà eti adaà
da discussão das relações de gênero na escola é o resultado das ações, especialmente de grupos fundamentalistas
religiosos e conservadores, que afrontam a condição laica do Estado brasileiro, e provocam um enorme retrocesso ao
difu di e à aà ideologiaà deà g e o à e à a solutoà des o he i e toà eà deà s espeitoà à p oduç oà a ad i o-científico
interdisciplinar no campo da epistemologia feminista, bem como, dos direitos sociais e avanços conquistados por
diversos movimentos sociais em prol da equidade de gênero em nossa sociedade. Homens e mulheres são diferentes
entre si e sempre serão, no entanto, diferenças não são sinônimo de desigualdades, e neste sentido o campo de
estudos de gênero, enquanto uma área interdisciplinar, propõe o enfrentamento de práticas pedagógicas que acirram
as assimetrias nos processos de ensino e aprendizagem, bem como no acesso, na permanência e na conclusão dos
estudos com qualidade.
Pesquisas evidenciam que a escola produz diferenças entre meninos e meninas por meio: 1. Da literatura, que carrega
estereótipos de feminino e masculino; 2. Dos livros didáticos, que refletem uma cultura ma rcada pela perspectiva
patriarcal e heteronormativa; 3. Da representação e crenças que professores têm acerca de seus alunos como, por
exemplo, boas alunas têm bom desempenho por seus esforços e dedicação, enquanto bons alunos são bem-sucedidos
por causa de seu talento e potencial; 4. Das interações diferenciadas quantitativa e qualitativamente entre
professor/aluno e professor/aluna. Segundo dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos de 2010, entre
os 44 países participantes, o Brasil é o 3º pior país em relação à desigualdade de gênero nos resultados de linguagem e
matemática entre meninos e meninas. O Observatório Brasil da Igualdade de Gênero do ano de 2012 revela que a taxa
de alfabetização das mulheres no Brasil é melhor do que a dos homens, com maior discrepância para a região
nordeste, sendo 89,7% de mulheres e 83,7% de homens. Outro dado relevante mostra que 61,1% das mulheres que
ingressaram no ensino superior concluem seu curso contra apenas 38,9% dos homens. O Retrato da Leitura no Brasil,
resultante da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2012, evidencia que entre os estudantes considerados
leitores, na faixa etária situada entre 5 e 17 anos, 57% são mulheres.
A Declaração de Incheon de Metas para Educação até 2030, estipulou rumos em direção a uma educação de qualidade
inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para todos. A instituição escola é responsável pelo
desenvolvimento de um processo de ensino e aprendizagem que ofereça a homens e mulheres, cisgêneros ou
transgêneros, heterossexuais ou não heterossexuais, sexuados ou assexuados, as mesmas opo rtunidades para que,
cada vez mais, estudantes possam fazer suas escolhas e traçar metas de vida com mais autonomia e consciência A
escola, tomada uma instituição viva, tem um caráter dinâmico na produção do conhecimento sistematizado em
movimento, tornando-se uma ferramenta importante para sustentar uma reflexão crítica e cidadã do mundo. As
relações de gênero no cotidiano escolar impactam os processos de ensino e aprendizagem, bem como as relações
docentes e discentes. Diante do anseio de construção de uma sociedade mais justa do ponto de vista ético e humano é
fundamental identificar e enfrentar as dificuldades existentes na promoção da cidadania nos ambientes de
convivência escolar.
1008
A proposta do GT Relações de Gênero e Educação encontra ressonância no eixo temático 2 &l dquo;Gênero e
se ualidades:à odosà deà su jeti aç oà eà políti asà deà esist ia à poisà e te de osà ueà à fu da e talà aà i lus oà eà aà
discussão cotidiana das relações de gênero no universo escolar, como estratégia de formação de cidadãos e cidadãs
comprometidos e comprometidas com a superação de práticas normativas e patologizantes que excluem,
discriminam e impedem relações de respeito às diversidades e diferenças entre as pessoas. A retirada da temática
transversal das relações de gênero dos conteúdos formativos de crianças, adolescentes e jovens é parte da
suste taç oàdoàp ojetoàdaà es olaàse àpa tido ,àouàseja,àdaàes olaàse à íti aàeàse àespaçoàpa aàaàdi e sidadeàeàpa aà
a convivência democr&aac ute;tica. A retirada oficial da temática de gênero tem encontrado resistência entre
professores e professoras, pesquisadores e pesquisadores e membro de diversos movimentos sociais, o GT objetiva
reunir estas pessoas que dialogam a partir de suas diversas posições com as teorias de gênero e a Psicologia Social.
Buscamos um espaço para o compartilhamento de experiências relativas à temática de gênero como a comunidade
escolar formada por crianças, adolescentes, jovens e adultos (EJA) as suas famílias, os professores e professoras, o
pessoal administrativo e de apoio inseridos nas escolas, além de outros profissionais inseridos nos equipamentos
culturais, de saúde e assistência social que estabelecem parcerias com as instituições escolares.

1009
A escola como espaço para construção e desconstrução de gêneros: reflexões para a psicologia escolar
Autores: Anna Júlia Giurizatto Medeiros, IFAL
E-mail dos autores: annajuliagm@yahoo.com.br

Resumo: A escola, como instituição social voltada para formação dos sujeitos, tem importante função no processo de
constituição dos gêneros. Por meio das práticas escolares, os estudantes aprendem os valores e expectativas da
sociedade, bem como os papéis e identidades que irão assumindo ao longo da vida. Todo este processo expressa as
concepções arraigadas na sociedade, mas também é marcado por inconsistências e rupturas. Este trabalho se propõe
a refletir acerca das questões de gênero presentes no contexto escolar e dos desafios e contribuições que a psicologia
pode promover nestas relações. A psicologia escolar e educacional tem sua história marcada pela preocupação com a
questão da diferença, em perspectivas que buscaram nomear, classificar e culpabilizar os que não se enquadravam
nos parâmetros escolares. A construção das diferenças promovida pelas práticas escolares pouco foi problematizada
neste percurso, o que aponta o viés individualizante presente nestas concepções e práticas profissionais. Correia e
Rodrigues (2015) apontam que, contraditoriamente, a inserção da psicologia no espaço escolar foi inicialmente
motivada pela necessidade de subsidiar o processo de ensino-aprendizagem, focando essencialmente no processo
educacional como produtor das dificuldades enfrentadas pelas escolas. Os mesmos autores assinalam que, neste
percurso, a psicologia escolar e educacional foi redirecionando suas práticas e aportes teóricos, havendo nas ultimas
décadas uma tentativa de resgatar as perspectivas iniciais voltadas para o processo educacional. Neste caminho, a
busca pelo o que fazer e como fazer remete ao conhecimento das novas demandas presentes no cenário escolar que
interferem, limitam e possibilitam o desenvolvimento e a aprendizagem das/os estudantes, e que também refletem o
modelo de escola que está sendo construído. A função de reduzir as desigualdades atribuída às escolas é permeada
por práticas excludentes, que legitimam, reproduzem e produzem relações sociais voltadas a hierarquização dos
sujeitos. Neste papel controverso, as escolas instituem e nomeiam diferenças e desigualdades, silenciando ou
subalternizando os que não se adequam ao modelo hegemônico. As relações de gênero – como primeiro modo de dar
significado às relações de poder (SCOOT, 1995)- perpassam e dão sentido a todo o processo de escolarização e tem
importantes reflexos na construção das subjetividades, nos interesses, nos comportamentos e nos índices de
aprovação, retenção e evasão das/os estudantes. Nas escolas, meninos e meninas aprendem a circular nos espaços, a
se locomover, a se agruparem, a fazer escolhas, a expressar desejos e sexualidades de acordo com as relações de
gênero estabelecidas. Meninas aprendem a ocupar um espaço corporal muito limitado, enquanto os meninos
costumam invadir o espaço delas. Estes, no entanto, são mais vulneráveis à violência física. A valorização da atividade
física para os meninos em detrimento ao estímulo ao esporte para as meninas também evidencia a construção dos
gêneros realizada pelas escolas (LOURO, 2014). A produção das desigualdades de gênero ocorre por meio de uma
complexa articulação, na qual sexualidade, raça e classe social têm destaque nos arranjos produzidos pelas redes de
poder institucionalizadas. A psicologia escolar e educacional pode ter importante contribuição na compreensão de
como estas relações se configuram e na problematização deste modelo. Para tanto, é preciso reconhecer o caráter
histórico e político presentes nas práticas sociais e pedagógicas das escolas e construir propostas intervenção que
contribuam com a subversão das hierarquias instituídas e com a promoção de uma cultura escolar de valorização e
respeito às diferenças.

1010
Assimetrias na aprendizagem verificadas na avaliação do Pisa sob a ótica do gênero
Autores: Magner Miranda de Souza, PUC Minas
E-mail dos autores: Magnersouza@hotmail.com

Resumo: dos instrumentos atuais para medição da aprendizagem de estudantes do ensino básico são as avaliações
sistêmicas. Uma das mais amplas é o Pisa ((Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que mede o
rendimento de adolescentes de 15 anos dos países associados a OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico). Desses dados, relatórios têm sido produzidos sobre os impactos de fatores
interseccionais como situação socioeconômica, etnia, gênero, entre outros. A presente análise busca investigar como
categorias que, visam a simplificação e a generalização, produzem dados para aplicação em políticas públicas na área
da educação, visando a equidade de gênero, apesar da heterogeneidade do estado brasileiro em relação a esses
mesmos aspectos interseccionais. Dados do Pisa mostram que, no Brasil, meninas conseguem notas melhores em
leitura e meninos em matemática, estáveis, no entanto, em ciências. Os dados apontam para uma desigualdade na
aprendizagem, mas, ao mesmo tempo, desigualdade no ensino. Esta desigualdade possui bases ontológicas comuns
baseadas em representações de gênero muito estáveis ao longo do tempo e, provavelmente, não desvelados para o
processo pedagógico. Um dos instrumentos utilizados pelo programa é o questionário socioeconômico que pode
revelar distorções na análise dos resultados, principalmente porque realiza um recorte pontual que deduz os 15 anos
de educação como uma linha contínua de desenvolvimento e o processo de aprendizagem localizado
sistematicamente na instituição escolar. As sociedades estão sendo criadas por estatísticas; mas, em vez de usar este
conhecimento para moldar estatísticas e criar os tipos de sociedade que produziriam sociedades sensíveis e
igualitárias, parece que permitimos que as estatísticas ditem que tipos de políticas públicas elaboramos, muitas vezes
reproduzindo as desigualdades. Descrições finas e sua aparente objetividade podem difíceis de desafiar. A razão
reduzida a um algoritmo pode ser um obstáculo para o conhecimento . Não só os números ganham mais confiança,
mas mais números ganham mais confiança. Análises em larga escala, apesar de todas as limitações, são mais
valorizadas. dos instrumentos atuais para medição da aprendizagem de estudantes do ensino básico são as avaliações
sistêmicas. Uma das mais amplas é o Pisa ((Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que mede o
rendimento de adolescentes de 15 anos dos países associados a OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico). Desses dados, relatórios têm sido produzidos sobre os impactos de fatores
interseccionais como situação socioeconômica, etnia, gênero, entre outros. A presente análise busca investigar como
categorias que, visam a simplificação e a generalização, produzem dados para aplicação em políticas públicas na área
da educação, visando a equidade de gênero, apesar da heterogeneidade do estado brasileiro em relação a esses
mesmos aspectos interseccionais. Dados do Pisa mostram que, no Brasil, meninas conseguem notas melhores em
leitura e meninos em matemática, estáveis, no entanto, em ciências. Os dados apontam para uma desigualdade na
aprendizagem, mas, ao mesmo tempo, desigualdade no ensino. Esta desigualdade possui bases ontológicas comuns
baseadas em representações de gênero muito estáveis ao longo do tempo e, provavelmente, não desvelados para o
processo pedagógico. Um dos instrumentos utilizados pelo programa é o questionário socioeconômico que pode
revelar distorções na análise dos resultados, principalmente porque realiza um recorte pontual que deduz os 15 anos
de educação como uma linha contínua de desenvolvimento e o processo de aprendizagem localizado
sistematicamente na instituição escolar. As sociedades estão sendo criadas por estatísticas; mas, em vez de usar este
conhecimento para moldar estatísticas e criar os tipos de sociedade que produziriam sociedades sensíveis e
igualitárias, parece que permitimos que as estatísticas ditem que tipos de políticas públicas elaboramos, muitas vezes
reproduzindo as desigualdades. Descrições finas e sua aparente objetividade podem difíceis de desafiar. A razão
reduzida a um algoritmo pode ser um obstáculo para o conhecimento . Não só os números ganham mais confiança,
mas mais números ganham mais confiança. Análises em larga escala, apesar de todas as limitações, são mais
valorizadas.dos instrumentos atuais para medição da aprendizagem de estudantes do ensino básico são as avaliações
sistêmicas. Uma das mais amplas é o Pisa ((Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que mede o
1011
rendimento de adolescentes de 15 anos dos países associados a OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico). Desses dados, relatórios têm sido produzidos sobre os impactos de fatores
interseccionais como situação socioeconômica, etnia, gênero, entre outros. A presente análise busca investigar como
categorias que, visam a simplificação e a generalização, produzem dados para aplicação em políticas públicas na área
da educação, visando a equidade de gênero, apesar da heterogeneidade do estado brasileiro em relação a esses
mesmos aspectos interseccionais. Dados do Pisa mostram que, no Brasil, meninas conseguem notas melhores em
leitura e meninos em matemática, estáveis, no entanto, em ciências. Os dados apontam para uma desigualdade na
aprendizagem, mas, ao mesmo tempo, desigualdade no ensino. Esta desigualdade possui bases ontológicas comuns
baseadas em representações de gênero estáveis e, provavelmente, não desvelados para o processo pedagógico.

1012
Coletivos feministas, minorias ativas: estudantes em foco
Autores: Vanessa Soares de Castro, UFSM; Adriane Roso, UFSM
E-mail dos autores: vanessascastro90@gmail.com,adrianeroso@gmail.com

Resumo: Introdução: Este trabalho é parte de um projeto de mestrado em desenvolvimento no Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, e tem como ponto de partida e como
motivador, experiências profissionais vivenciadas pela primeira autora em uma instituição federal de educação. Neste
trabalho, temos, como tema principal, a atuação de um coletivo feminista formado por estudantes de uma instituição
federal do Rio Grande do Sul. A questão a ser investigada (problema) é relacionada à potência inovadora no contexto
em que o coletivo está inserido - ensino técnico integrado ao ensino médio. O que o coletivo traz de novidade a este
contexto? Que comportamentos potencializam a mobilização feminista? Objetivo: Vislumbrar a potencialidade do
coletivo das estudantes para provocar as mudanças e inovações no ambiente escolar que incorporem epistemologias
feministas. Eixo Temático: Por abordar diretamente questões de gênero e relações de poder, e as resistências
possíveis frente às opressões baseadas em gênero, este trabalho se relaciona com o eixo Gênero e sexualidades:
modos de subjetivação e políticas de resistência . Dentre os GT s, tem relação mais direta com o GT Relações de
Gênero e Educação: desafios na promoção da equidade . Orientação teórica: Compreendendo que no contexto
escolar as relações sociais são generificadas e que as relações de gênero, da forma como são produzidas em nossa
sociedade, provocam iniquidades entre as pessoas, sustentamos nossas análises em uma epistemologia feminista.
Recorremos também à Teoria das Minorias Ativas, a qual presta atenção em certos estilos de comportamento, tais
como esforço, a autonomia, a consistência, a rigidez e a equidade, para compreender as relações entre um grupo
majoritário e um minoritário e as possibilidades de inovação que podem ser engendradas a partir do segundo grupo.
Método: Sob a modalidade de pesquisa participativa, contamos com a inserção da primeira autora em um coletivo,
onde ocorrem rodas de conversa, participação em reuniões e ações do grupo, conversas informais, observações e
vivências no espaço escolar. Foram feitas notas em diário de campo, as quais foram analisadas de acordo com os
constructos do feminismo e da teoria de base. Resultados: Entendemos que, ao menos parcialmente, as estudantes do
coletivo em foco demonstram persistência, por manterem-se engajadas em suas lutas, mesmo quando esse
engajamento provoca dificuldades nos relacionamentos com colegas contrários às suas demandas, críticas constantes,
e manifestações de desaprovação de suas pautas. Vemos a busca dessa consistência no grupo, à medida em que as
estudantes procuram embasar suas ações por meio de elaborações do que seja feminismo, e de como entendem que
seus ideais devem ser postos em prática. Observamos que o coletivo escolhe suas pautas de forma autônoma, tendo
compromisso apenas com a equidade de gênero dentro da escola, porém contam em grande medida com o apoio de
servidores da instituição, buscando formas de legitimar institucionalmente suas práticas. Por último, os dois últimos
estilos de comportamento, a rigidez e a equidade, falam de como o grupo demonstra abertura e flexibilidade, ou
rigidez e inflexibilidade, nos seus discursos, ações e demandas, nos contatos intra e extra-grupais. Vemos que o
coletivo oscila entre comportamentos rígidos e equitativos. Conclusões: O grupo vem desenvolvendo-se enquanto
uma minoria ativa que têm proporcionado inovações em seu ambiente, conquistando espaço, alcançando alguns de
seus objetivos e dando visibilidade às questões de gênero na escola. Entretanto, o apoio externo é necessário, pois as
dificuldades enfrentadas no ambiente escolar ainda são muitas, sendo ainda longo o caminho a ser trilhado para se
alcançar a equidade de gênero neste ambiente.

1013
Educação e gênero: representações sociais de professores de uma escola particular do Rio de Janeiro
Autores: Bruna Juliana Pinto, UNESA; Renata Vetere, UNESA; Tricia Vieira de Ataide, UNESA
E-mail dos autores: brunajpinto@gmail.com,vetere.renata@gmail.com,triciaataide@yahoo.com.br

Resumo: As diferenças relacionadas aos gêneros estão presentes em praticamente todas as sociedades, nas quais é
sempre possível perceber exemplos de como diferem nas características físicas, nas formas de comportar-se, nos
aspectos relacionados a poder e a status dentro dos grupos, nos papéis, na divisão de tarefas e expectativas de
comportamento. O modo como homens e mulheres se comportam em sociedade corresponde a um intenso
aprendizado sociocultural que nos ensina a agir conforme as prescrições de cada gênero e segundo cada contexto
social. A escola mostra-se, portanto, um espaço privilegiado em que essas representações, enquanto formas de
classificação social, se constroem, se reproduzem, são aprendidas e ensinadas. Se a socialização ocorre não a partir da
categoria geral de crianças, mas por categorias específicas de meninos ou meninas, quais diferenciações em termos de
gênero são possíveis encontrar neste contexto? Para responder à essa pergunta, foi realizada uma pesquisa de cunho
descritivo e natureza qualitativa utilizando como técnica de coleta de dados uma entrevista semiestruturada
precedida por tarefas de evocações livres com quatro professores da educação infantil de uma escola particular na
zona norte do Rio de Janeiro, visando identificar as representações sociais deles acerca do que é ser menina e o que é
ser menino hoje em dia. O estudo atende a Resolução Nº 466/12 foi submetido via Plataforma Brasil ao Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) e obteve parecer favorável. A entrevista era iniciada com quatro perguntas de associação livre
de palavras ante os termos indutores: menino e menina; brincadeira de menino e brincadeira de menina. Os
resultados das evocações de menino indicam que os professores os representam como bagunceiros, agitados, alegres,
bravos, espertos, tendo evocado diversas palavras relativas a brincadeiras bastante energéticas, como correr, pátio e
futebol. Já os resultados das evocações de menina indicam que os professores disseram palavras como linda,
sorridente, autônoma, meiga, carinhosa e outras relativas a brincadeiras com bonecas, panelinhas, pintar e desenhar.
Os resultados das evocações das brincadeiras mostraram-se distintas de acordo com o gênero, para os meninos foram
evocados os termos: futebol, pula corda, pique pega, bonecos super-heróis, carrinho de corrida, bola, luta, correr,
barco, brincar de pirata bolinha de gude e pipa. Já para as meninas foram evocados os termos: casinha, boneca,
comidinha, vassoura, brincadeiras mais voltadas para a família, para a casa e pular. Para a pergunta Você acha que
tem diferença na criação de meninas e meninos? os resultados apontam que os professores acreditam existirem
diferença na criação de acordo com o gênero, não por uma questão biológica e sim cultural, devido às crenças e
imposições dos responsáveis. Apenas uma professora disse que essas diferenças também existem em função das
meninas serem mais maleáveis e os meninos mais resistentes, com temperamento mais forte. Todos os professores
consideram que meninos e meninas podem brincar das mesmas coisas, mas relatam perceberem preferências
distintas, os meninos gostam mais de bolas e heróis e as meninas bonecas e panelinhas. Embora eles digam não fazer
diferenciação entre meninas e meninos, que ambos podem brincar do que quiserem e que não deveria existir
diferença na criação deles, os professores parecem reproduzir estereótipos de gênero na medida em que dizem que os
meninos não conseguem se fixar em uma atividade, são brutos, agitados, imaturos, ao contrário das meninas que são
calmas, frágeis, carinhosas, delicadas e conseguem facilmente fixar a atenção. Há contradição no discurso, visto que
eles acabam também naturalizando essas diferenças sem perceber que se tratam de construções sociais e que eles
exercem um papel determinante na transmissão e reforço delas.

1014
Educação sexual e ensino superior: realidade contemporânea e avanços necessários
Autores: João Paulo Zerbinati, Unesp; Maria Alves de Toledo Bruns, USP-Ribeirão Preto; Milene Soares Agreli, USP
E-mail dos autores: joaopaulozerbinati@hotmail.com,milenesoares222@hotmail.com,toledobruns@uol.com.br

Resumo: A sexualidade, o desejo, o gênero e a expressão afetiva e sexual são construídos em âmbito sócio-histórico-
cultural, biopolítico e transgeracional. Ao falar acerca da sexualidade abrangemos um vasto universo de vivências em
que cada pessoa expressa seu modo de ser na interface com as matrizes de sentido existentes no mundo-vida
humano, tais como a escola e a universidade. O momento histórico atual é protagonizado pela transgressão dos
modelos patriarcais rígidos e intima que a sociedade contemporânea acompanhe a pluralidade afetiva e sexual que se
apresenta quando os modelos são trespassados. A educação sexual se constitui como corpo do conhecimento
científico multidisciplinar potente o bastante para problematizar e desconstruir posturas homofóbicas, sexistas,
machistas e naturalizantes da sexualidade e binarismo de gênero. Entretanto, será que a educação sexual está
conseguindo atingir as bases da formação profissional, isto é, será que a educação sexual se faz presente, direta ou
indiretamente, na universidade? Este trabalho tem por objetivo discutir a realidade contemporânea da educação
sexual enquanto disciplina no ensino superior através de um levantamento documental realizado a partir do currículo
das licenciaturas e bacharelados das dez melhores universidades brasileiras, segundo o Ranking Universitário Folha-
2016, em Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Pedagogia e Psicologia. A partir dos currículos investigados obtiveram-se
os seguintes resultados: 51% dos cursos analisados apresentam disciplinas que abordam a temática da sexualidade.
Entretanto, apenas 35% destas disciplinas contemplam as áreas biológicas, sociais e psicológicas concomitantemente,
de maneira a compreender a sexualidade em sua multidisciplinaridade; 17% contemplam apenas a perspectiva
biológica; e 48% revelam apenas o âmbito psicológico ou social (com destaque para visão psicanalítica). No que diz
respeito às disciplinas em educação sexual, de toda amostra curricular apenas 7% exibem disciplinas específicas em
educação sexual, presentes em 20% dos currículos de pedagogia, 10% dos currículos de psicologia e ausentes nos
currículos das demais áreas estudadas. Constata-se que, por um lado, há excelentes iniciativas, como a criação, em
2013, do primeiro Programa de Pós-Graduação em Educação Sexual do país, na Faculdade de Ciências e Letras da
UNESP/Araraquara-SP, assim como a criação de inúmeros grupos de pesquisas e projetos de educação sexual por todo
país que influenciam positivamente os currículos das graduações dessas universidades. Por outro lado, tais iniciativas
ainda são insuficientes, pois aparecem de modo localizado, contando com a motivação individualizada. O que se
percebe é que mesmo enquanto parte significativa da população humana enfrenta sofrimento por sua condição sexual
ou orientação afetiva, a universidade, de um modo geral, demora em se libertar do silêncio e pouco discute a
sexualidade humana de forma integral. Os dados colhidos apontam um distanciamento entre a demanda social e os
currículos universitários, que pouco dispõem disciplinas em educação sexual, sexualidade e diversidade sexual,
inclusive nos cursos cujas práticas profissionais estarão diretamente relacionadas à temática da diversidade afetiva e
sexual. Como novos horizontes, destacamos a necessidade de sérios e permanentes investimentos políticos para que a
educação sexual possa acontecer em todas as áreas do conhecimento e em todos os níveis do ensino, sobretudo no
ensino superior, para que se possa modificar a base discursiva binária e heteronormativa, ampliando e fortalecendo
práticas e vivências afetivas e sexuais emancipatórias, humanas e plurais. Destaca-se também a necessidade de
integrar a educação sexual ao discurso de toda sociedade, e fomentá-la junto às demais matrizes de significados do
viver humano, como a família, igreja e mídia, pois a escola e a universidade não caminham sozinhas. A educação
sexual, com ênfase na experiência do mundo vivido, é um caminho necessário para o rompimento de poderes
excludentes da diversidade afetiva e sexual nos espaços de convívio humano. A educação sexual, amparada por
políticas educacionais sérias e permanentes, clama por diálogos e reflexões pertinentes acerca da sexualidade na
universidade, na escola, na família, na igreja, e na mídia, de forma que se viabilize uma compreensão inclusiva e
emancipatória da sexualidade humana.

1015
Educação, Diversidade e Cultura: Estratégias de Intervenção
Autores: Humberto Mauro Gonçalves Mariano de Souza Castro, PUC Minas; Camila Gabriela Silva, PUC Minas
E-mail dos autores: humberto.mauro1@gmail.com,camilagabrielasilva@yahoo.com.br

Resumo: Desde 2016 a articulação entre os Programas de Pós-Gradução de Psicologia e Ciências Sociais e a Pró-
Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e o Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual da
Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte vem gerando um trabalho de cooperação entre a universidade e a
educação básica que visa a formação continuada de educadores sobre a temática das relações de gênero. A partir das
experiências anteriores, iniciadas em 2015, se elaborou, para o ano 2017, um conjunto de encontros com os docentes
e agentes culturais dos espaços museológicos de Belo Horizonte (MG), para discutir as teorias de gênero e suas
possíveis relações com a educação.
O projeto consiste em debater, a partir das teorias e dos fatos trazidos pelos docentes e agentes culturais, as relações
gênero na escola e em outros espaços educativos, discutindo, em quatro encontros sediados no Museu de Artes e
Ofícios (MAO), como essas relações permeiam o processo de aprendizagem e os espaços das escolas e dos museus.
Para elaborar as temáticas a serem tratadas, antes do inicio do curso, aplicou-se um questionário aberto, através da
ferramenta eletrônica do Google, visando perceber o conhecimento dos docentes e agentes culturais acerca da
temática, seus interesses e sua visão da realidade a partir das relações de gênero, além do perfil dos cursistas.
Compreendendo o questionário como uma ferramenta de levantamento de informações, se verifica, a partir das
respostas dos docentes e agentes culturais, linhas de intersecção entre a temática de gênero e o processo
educacional.
O ser humano se constitui nas relações sociais e constitui as relações socais. Tais relações são situadas temporalmente
e culturalmente. Os corpos são generificados e sexualizados no contexto onde estão situados, estabelecendo relações
antagônicas de reprodução/inovação; de resistência/submissão. A escola como espaço de reflexão pedagógica sobre o
saber e poder acerca do sexo nos diz sobre quais sentidos os corpos devem tomar, para que sejam adequados à norma
hegemônica. O modelo hegemônico é o individuo branco, masculino e heterossexual, sendo, todo desvio punido e
marginalizado. Analisar as relações sociais a partir da categoria de gênero é refletir sobre as desigualdades de poder
construídas a partir das diferenças anatômicas do sexo. Pensar os sujeitos no espaço escolar é atentar para o conjunto
de processos que afetam o corpo e como, a partir desses conjuntos de significações, pode se deslocar o foco do
essencial para espaços que propiciam a criação e a libertação.
O questionário respondido pelos docentes e agentes culturais nos mostra como eles se orientam a partir de uma
logica essencialista e cristalizada sustentada pelo binarismo. Pode-se perceber ainda uma confusão conceitual naquilo
que se concerne ao sexo, ao gênero, à identidade de gênero e à orientação sexual. As respostas mostram ainda, como
que os educadores desconhecem a temática e tendem a reproduzir padrões normativos das identidades dos sujeitos.
Desenvolver a temática de gênero com os profissionais dos espaços educacionais é propiciar a reflexão sobre a
diferença em sentido e o a equidade. Propiciando espaços reflexão e combate às violências que se estruturam a partir
de certas significações de gênero, corpo e orientação sexual. Lançar olhar sobre essa temática na atual conjuntura
brasileira é resistir a forças que flexionam a teoria em ideologia, retirando direitos de minorias e propagando logicas
fascistas e violentas.
O trabalho com os educadores objetiva a instrumentalização teórico-metodológica dos mesmos para tratar das
relações de gênero no cotidiano das relações de aprendizagem.

1016
Enfrentando a heterossexualidade compulsória: reconhecer as diferenças para reduzir desigualdades
Autores: Rodrigo Toledo, PUC SP
E-mail dos autores: TOLEDORDG@GMAIL.COM

Resumo: Neste trabalho pretende-se discutir como a hierarquização das sexualidades - determinada pela
heterossexualidade compulsória - tem contribuído para invisibilizar as discussões em torno da diversidade sexual no
contexto escolar, bem como tem sustentado o sofrimento de grande parcela da sociedade brasileira. A coexistência de
diferentes sujeitos e construções culturais no interior da escola nos faz pensar sobre os processos de interação que
ocorrem nesse campo de relações sociais. Num momento de grandes perdas dos direitos educativos, é preciso pensar
nos processos de exclusão que ocorrem dentro da escola e que produzem – um grande número de – trajetórias
desiguais. Entendemos que quando a política está em crise, as sociedades são despojadas de uma parte daquilo que
dá sentido ao viver coletivo. Com a crise, perdem-se as referências e a linguagem comum que ajudam as pessoas a
resolver seus conflitos e a ver esclarecidos os motivos que levam a permanecer juntas. Em boa medida, é o que
acontece hoje, é como se vivêssemos a esmo, sob pressão, desconfiados uns dos outros, num contexto de medos,
atritos e fraturas. Diferentes correntes vêm produzindo teorias e categorizações que nos possibilitam pensar relações
que envolvem igualdade, desigualdade e diferença. Encontram-se nesse âmbito discussões com origens históricas e
referenciais teóricos diferentes: as discussões sobre desigualdades raciais; o embate quanto à questão dos povos
indígenas, das pessoas com deficiência, das diferenças culturais e étnicas de toda ordem; as questões de gênero e
sexualidade; entre outras. Ao mesmo tempo em que convivemos cada dia mais com uma diversidade sexual mais rica
e menos rotulada, mantêm-se as atitudes preconceituosas, discriminatórias e violentas cometidas por diferentes
pessoas, grupos e instituições. Manifestações de preconceito ocorrem em toda a sociedade, em diferentes lugares e
momentos, nas famílias, nas comunidades, no trabalho e, também, na escola. Sendo assim, é necessário repensar a
construção das normatizações de gênero e sexualidade, e isso significa falar de processos que necessariamente afetam
a todas as pessoas. É preciso efetivar a discussão sobre sexualidade e gênero na escola, de modo que se problematize
todo o processo de heterossexualização compulsória e adequação às normas de gênero essa instituição cultiva,
cotidianamente. Isso requer a visibilidade da população LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais),
ainda que provoque incômodo aos heterossexuais que possam estar conformados à sua sexualidade e gênero,
naturalizados. Depende, ainda, de romper com a ideia de heteronormatividade como prática hegemônica bem como
de repensar gênero e a sexualidade na escola, não só no âmbito do reconhecimento de determinados grupos, mas
também de desenvolver processos educativos com a comunidade escolar, comprometer-se com a mudança das
práticas pedagógicas, e com a criação de espaços de discussão sobre os movimentos identitários de estudantes e
profissionais da educação. Para tanto, é preciso que cada um lance a si próprio o desafio de repensar os próprios
valores e conceitos. E para que esses novos jeitos de pensar e agir possam surgir como possibilidade e como
experiência, não basta adicionar as discussões sobre gênero e sexualidade aos velhos currículos, e sim construir novos
currículos e novas práticas, ancoradas no diálogo e no encontro entre diferentes grupos e sujeitos, sem ignorar a
tensão trazida pelos conflitos e, mais que isso, acolhendo os próprios conflitos e as diferenças humanas como
ferramentas de grande potencial pedagógico.

1017
Espaços de fala sobre gênero e sexualidade: O impacto na prevenção e revelação da Violência Sexual
Autores: Vanessa Fontana da Costa, UFSM; Ana Paula Floss Pedrotti, UFSM; Gabriela Godoi Baumhardt, UFSM; Luana
da Costa Izolan, UFSM; Samara Silva dos Santos, UFSM; Vanessa Cirolini Lucchese, UFSM
E-mail dos autores: vfc_vanessa@yahoo.com.br, silvadossantos.samara@gmail.com, apfpedrotti@gmail.com,
lu.izolan@hotmail.com, gabrielabaumhardt@hotmail.com, vanessa.lucchese4@gmail.com

Resumo: A violência sexual (VS) pode acarretar diversas consequências físicas e psicológicas para as vítimas, sendo
necessário suporte de pessoas próximas, bem como de profissionais qualificados (COELHO, SILVA e LINDNER, 2014).
Porém, grande parte das vítimas, não revela o abuso sofrido, devido ao impacto do mesmo que pode gerar
sentimentos de medo, vergonha, etc, ou a inexistência de um espaço seguro de fala. Objetiva-se, com este artigo,
refletir sobre a incidência de participantes que revelaram o abuso pela primeira vez ao responderem a pesquisa e a
utilização da mesma como um espaço de fala, demonstrando assim uma demanda por espaços seguros para que se
possa discutir sobre gênero, sexualidade e demais temáticas que venham auxiliar na prevenção da VS e acolhimento
das vítimas.
O presente trabalho consiste em uma análise de um recorte dos dados obtidos pela pesquisa intitulada Prevalência do
abuso sexual em universitários , realizada em estados das cinco regiões do Brasil, que consiste em uma pesquisa
quantitativa e de caráter exploratório. A coleta foi realizada por meio de um questionário, sendo este aplicado em
3666 estudantes universitários, de diversas áreas e ambos os sexos, em dezesseis universidades brasileiras. Deste total
32,8% (1202) assinalaram terem sofrido algum tipo de abuso sexual, físico, verbal ou expositivo, sendo que 55,3%
(664) dos estudantes que sofreram abuso revelaram o mesmo pela primeira vez por meio desta pesquisa, dentro deste
grupo 66,9% (444) são mulheres.
Quando se trata de VS é evidente a diferenciação de gênero, visto que a ocorrência demonstra-se sempre maior com
mulheres, isso pode ser atribuído aos papéis sociais de gênero que são aprendidos ao longo de toda a vida, nos
diferentes contextos que transitamos. Quando nos referimos a tais construções na infância, por exemplo, brincadeiras
e atividades escolares servem para elaboração dos papéis de gênero, influenciando diretamente no desenvolvimento
social, emocional e psicológico das mesmas (PEREIRA e OLIVEIRA, 2016). O ambiente escolar é de fundamental
importância quando falamos sobre gênero e sexualidade, pois deve ser um espaço seguro e de livre expressão para
as crianças e adolescentes. Tais espaços quando possibilitam um acolhimento, proporcionam maior segurança e
empoderamento, tanto para questões pessoais quanto sociais, podendo tanto prevenir, quanto servir como amparo
para as vítimas de violência, principalmente pela ocorrência da VS refletir em todos os contextos, como, na família, na
escola, na comunidade, etc. (ASSIS, PESCE, MINAYO, PIRES e OLIVEIRA, 2011).
Infelizmente não é o que ocorre na realidade de muitas instituições, afetadas por ideias conservadoras que acabam
por privar seus alunos da liberdade de se discutir as questões de gênero. Direitos como o ensino da sexualidade nas
escolas vêm sido veemente ameaçados por (des)governos que ignoram a importância do diálogo e da informação
diante de temas que foram tratados como tabu durante muitas décadas. Portanto a utilização da pesquisa como meio
de revelação surpreende, pois pode representar um espaço de fala e acolhimento que pode não ter sido obtido
anteriormente pelos participantes. Destacamos o ambiente escolar como um espaço potencializador para temas como
gênero e sexualidade, para que desde já esses assuntos sejam conhecidos e discutidos pelos jovens, podendo, dessa
forma, também auxiliar em casos de revelação de VS. Ao mesmo tempo enfatiza-se a importância de outros espaços
para debate e reflexão sobre gênero e sexualidade, bem como de acolhimento e orientação das vítimas.

1018
ASSIS, S. G. de; PESCE, R. P.; MINAYO, M. C. de S.; PIRES, T. de O.; OLIVEIRA, R. V. C. de O. Violência na Família, na
Escola e na Comunidade e Relações Afetivo-Sexuais. In: MINAYO, M. C. de S.; ASSIS, S. G. de; NJAINE, K. Amor e
violência: um paradoxo das relações de namoro e do ficar entre jovens brasileiros. Rio de Janeiro, Editora FIOCRUZ,
2011.
COELHO, E. B. S.; SILVA, A. C. L. G.; LINDNER, S. R. Violência: definições e tipologias. USFC, Florianópolis. 2014.
Disponível em: < file:///C:/Users/Vanessa/Downloads/Definicoes_Tipologias.pdf>. Acessado em: 03 de Out. 2016.
PEREIRA, A. S.; OLIVEIRA, E. M. B. de. Brincadeiras de meninos e meninas, cenas de gênero na educação infantil.
Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 24, n. 1, p. 273-288, Jan/Abr. 2016.

1019
Vale teàN oà àviole to :ài te ve ç esàso eàasàl gi as da violência de gênero na escola
Autores: Eliana Teresinha Quartiero, IFC
E-mail dos autores: elianaqu@gmail.com

Resumo: Neste trabalho apresentamos uma pesquisa, em andamento, que aborda o tema da violência de gênero no
campo da educação e propostas de políticas públicas que buscam mudanças para o cotidiano escolar. Para tanto,
pesquisamos a percepção de professores/as acerca da sua experiência na aplicação do material didático do projeto O
valente não é violento . Este instrumental foi desenvolvido e disponibilizado pela ONU Mulheres, uma entidade das
Nações Unidas que atua na garantia dos direitos das mulheres e na busca de equidade de gênero. Cada vez mais a
violência de gênero é vista como um sério problema de saúde pública, além de constituir violação dos direitos
humanos. A violência contra as mulheres ocorre em todo o mundo, em todas as classes sociais, em diferentes etnias e
independe do grau de escolaridade. Foi lançada, em 2013, a iniciativa O Valente não é Violento , coordenada pela
ONU Mulheres, que busca prevenir e eliminar a violência contra as mulheres e meninas em todo o mundo. Esta
iniciativa tem como alvo estimular a mudança de atitudes e comportamentos, repensar e transformar os estereótipos,
as lógicas naturalizadas acerca dos comportamentos denominados femininos ou masculinos e a normatização sobre o
que as mulheres e os homens devem ser ou fazer. Valores profundamente naturalizados em nossas culturas justificam
e legitimam a desigualdade de gênero, a discriminação das mulheres e, consequentemente, a violência exercida contra
elas. O projeto O valente não é violento surgiu a partir da observação do contexto escolar que, muitas vezes, não
apoia iniciativas de educadores/as que propõem discussões sobre sexualidade e gênero. Foram elaborados planos de
aulas, com a proposta de desenvolver o tema em sala de aula de maneira transversal, desconstruindo lógicas
estabelecidas. A versão dos planos de aulas foi distribuída gratuitamente, através de plataformas sociais, tendo como
meta ampliar sua utilização por docentes de todo o Brasil, estimulando professores/as a aderirem à sua utilização.
Para o desenvolvimento da pesquisa, os dados foram coletados através de entrevistas com professores/as que
utilizaram os planos de aulas propostos pela iniciativa da ONU Mulheres, levantando suas percepções da adequação
do material e possíveis impactos de sua aplicação no ambiente de sua escola. Os/as entrevistados/as atuam como
docentes na rede pública do estado de Santa Catarina, em cidades de pequeno porte, onde a discussão de temas
como: violência de gênero, cultura do estupro e equidade de gênero, são incipientes. O objetivo da pesquisa buscou
identificar a possível contribuição dos planos de aula disponíveis pelo projeto O valente não é violento para o
trabalho docente. Levantar de que forma estas ferramentas podem fortalecer os pressupostos da equidade de gênero;
como afetou, ou não, as relações no ambiente escolar e na comunidade onde a escola está inserida. A adesão destes
professoras/es à aplicação desta iniciativa mostrou-se complexa, pois necessitou de apoio das direções das instituições
onde atuam e deixar de lado um sentimento de insegurança acerca da sua competência em abordar estes temas.
Debates atuais sobre a necessidade e legitimidade de abordar a discussão de gênero na escola, muitos deles
vinculados aos argumentos de grupos defensores do fim da ideologia de gênero , tem causado uma abordagem mais
tímida destes temas, E contribuído para que os/as docentes vivenciem um sentimento de inadequação para
problematizar a heteronormatividade e masculinidades/feminilidades hegemônicas com a comunidade escolar.
Consideramos que a divulgação e tentativas de utilização deste instrumental pedagógico são necessários,
principalmente na atual disputa por constituir nas escolas espaços de discussão e expressão, pautados nos direitos
humanos. A necessidade de trabalhar estas temáticas foi disparada pela movimentação de alunos e alunas que
levantam questionamentos, desafiam normas e buscam espaços de expressão. Professores/as envolvidos na aplicação
do projeto percebem a necessidade de acolher as vivências dos jovens, com uma preocupação de cumprir um papel de
orientação, que associam ao fazer docente.

1020
GT 48 | Relações pessoa-ambiente: territorialidades e produção de espaços de resistência

Coordenadores: Monique Araújo de Medeiros Brito, UERJ | Nikolas Olekszechen, USP | Tadeu Mattos Farias, UFRN

A produção e transformação do espaço é um elemento trans-histórico para a reprodução das sociedades humanas e
ganhou contornos dramáticos a partir das problemáticas ambientais alardeadas pelos movimentos ambientalistas,
bem como da crescente visibilização das reivindicações em torno da apropriação do espaço urbano, especialmente nas
lutas pelo direito à cidade.
Entendemos, então, não ser possível pensar espaço sem humanidade. Nessa perspectiva, trazemos a definição de
território proposta por Milton Santos, geógrafo brasileiro que incentivou, direta e indiretamente, o diálogo da
geografia com outras disciplinas humanas, sociais e da saúde. Para ele, territórios são emaranhados de elementos
geográficos, naturais e sociais, habitados por vidas que os preenchem e animam, transformando-os em um território
usado e, portanto, vivo. Além disso, o que ele considera como sendo objeto de estudo e análise social é o uso que se
faz do território, e não o território em si mesmo (Santos, 1997).
Diversas disciplinas vêm se ocupando, há algum tempo, dessas questões que envolvem a relação do homem com o
espaço em que habita e, antes de tudo, é preciso dizer que o habitar humano se estende a todos os lugares onde o
humano se reconhece como tal e pode exercer a sua atividade e sua dimensão existencial. Carsalade (2007)
a gu e taà ueà ha ita àsig ifi aàaà a ei aà o oàoàho e àseà ela io a com o mundo, articulando-o segundo as suas
possibilidades e suas necessidades, significa dotar o mundo de coisas que respondem aos seus diversos níveis de
soli itaç o à p. ,àoà ueà aià uitoàal àdoà a te àfu io alàeàutilita istaàdoàespaço,àa plia do-se e englobando as
dimensões de sentido que lhe são atribuídas.
Nas sociedades capitalistas, as mesmas determinações que põem a problemática da ação humana deletéria sobre os
recursos naturais como questão ambiental nos conduzem ao crescimento e às transformações urbanas e seus
principais desdobramentos. As transformações da vida moderna estão intrinsecamente relacionadas às modificações
do território. As linhas migratórias - macro e microterritoriais -, bem como as diferentes ocupações do espaço
produzira àu aàs ieàdeàefeitos.àNasàúlti asàd adasàaà o t a efo aà eoli e alàa a çouàdest uti a e teà so eàasà
relações estruturais da força de trabalho, relações sociais, políticas de bem-estar social, arranjos tecnológicos, modos
de vida, pertencimento à terra,à h itosà afeti os,à odosà deà pe sa à eà out osà ais à Ha e ,à ,à p.à ,à i pli ouà
crescimento da acumulação financeira, a intensificação da privatização dos serviços públicos, a comoditização
indiscriminada da natureza, recrudescimento da apropriação dos recursos genéticos por parte da indústria
farmacêutica, além da comoditização de formas culturais, históricas e da produção intelectual (Harvey, 2007). Os
e u sosà atu aisàeàu a osàs o,àassi ,àele e tosà e t aisàpa aàaà dest uiç oà iati a à o oàfo aàde reorganização
socioeconômica dessa etapa do capitalismo (Mészáros, 2002).
O desemprego, a exploração e violência no campo, o esgotamento e poluição dos solos e águas, a invasão de terras
indígenas, a propagação do modo de vida urbano e destradicionalização das comunidades ribeirinhas, pesqueiras e
rurais, a favelização das cidades, a concentração da propriedade dos solos urbano e rural, a pauperização da
população urbana, a privatização e esvaziamento dos espaços públicos e da sociabilidade urbana, a segregação
urbana, a criminalização e militarização dos espaços de pobreza, a produção de espaços genéricos e espetacularizados,
o individualismo e a violência crescentes, além de vários outros aspectos, acabam por produzir uma modelização da
vida nos diversos espaços. Entre o urbano e o rural há certa fluidez nas fronteiras que ultrapassa a questão geográfica,
atravessando os próprios modos de produção do espaço, subjetivação e existência.
Esses fenômenos, sob a batuta da propriedade privada dos meios de produção, da necessidade expansiva do capital e
da produção capitalista dos espaços, configuram o objeto de estudo das relações pessoa-ambiente em seu caráter
social, econômico, ético, político e estético. Estudar tais relações, por conseguinte, implica atentar para as mediações
mais elementares que fazem dos territórios e da (re)produção do espaço, contextos tanto das manifestações das
desigualdades e opressões socioespaciais, como de resistências orientadas para a (re)apropriação e a reinvenção das
maneiras de existir e de produzir tais espaços.
Para Guattari (2008), aquilo que os espaços construídos provocam nos sujeitos vai bem além de suas estruturas
visíveis e funcionais, afetando-os por diferentes significações, sejam elas históricas, funcionais, afetivas, etc. Esses
espaçosàs oà ui asàdeàse tido,àdeàse saç o,à ui asàa st atasà ... à ueàpode àt a alha àta toà oàse tidoàdeàu à
es aga e toàu ifo izado à ua toà oàdeàu aà essi gula izaç oàli e ado aàdaàsu jeti idadeài di idualàeà oleti a à p.à
158). Ele usa o termo máquinas, mas não se esquece de ampliá-lo para além de seus aspectos técnicos, englobando
suas dimensões econômicas, ecológicas, abstratas e, inclusive, desejantes.
1021
Entendendo que os processo de mercantilização e espetacularização são inversamente proporcionais a participação
social efetiva, compreendemos que as formas de resistência se propõem a ocupar cotidiana, ordinária, política e
artisticamente os espaços, sob diferentes roupagens e propostas, mas atravessadas por uma dimensão ética, estética
e política. Jacques (2007) coloca a própria experiência corpóreo-sensorial como forma de resistência molecular ao
processo de espetacularização das cidades contemporâneas. Para ela, o simples fato de ocupar a cidade, de
experimentar e viver efetivamente o espaço urbano, faz com que ele saia da condição de mero cenário. Mesmo os
espaços projetados, planejados, eles o são apenas no plano virtual; são os indivíduos, que os experimentam no
cotidiano, os responsáveis pela sua atualização: uma praça, uma rua, um parque sem pessoas, são apenas cenários
vazios, sem vida.
Sob o ponto de vista da psicologia social, sinalizar para o ambiente como elemento constituinte dos processos de
subjetivação exige considerá-lo ligado por uma via de mão dupla aos fenômenos humanos. Com isso, coloca-se em
discussão o ponto em que o subjetivo e o ambiental confluem, tendo em vista também as dissonâncias produzidas
nesse campo, o que aponta para a subjetividade como um processo produtivo, e não de espelhamento. Assim, o
ambiente é antes um componente produtivo e intensivo do que pano de fundo sobre o qual figuram as pessoas. Desse
modo, entende-se que as cidades, os ambientes naturais ou construídos, são artifícios importantes na produção dos
modos de ser das pessoas, que se modificam reciprocamente durante a história.
Nesses termos, este Grupo de Trabalho (GT) irá congregar estudos, relatos de experiências, estudos de casos,
manifestações culturais, entre outras formas de comunicação dos processos que ligam as pessoas ao seu entorno e
possibilitam a ação-transformação desses contextos. O objetivo é promover a reflexão sobre fenômenos de natureza
so ioespa ialà ide tifi aç o,àp o essosàdeàsu jeti aç o,àap op iaç oàdoàespaço,ài te e ç es,à e oltasàso ioespa iais… à
articulados com contextos específicos (cidade, bairro, comunidades - rurais, quilombolas), a fim de analisar suas
reverberações para os coletivos envolvidos, as estratégias metodológicas utilizadas na investigação e intervenção
desses fenômenos e, por fim, lançar luz às formas de resistência nesses cenários atravessados por forças de
dominação referentes à dinâmica do capital.
A proposta então se articula diretamente com o tema do encontro, "Democracia Participativa, Estado e Laicidade:
Psicologia Social e enfrentamentos em tempos de exceção", considerando o enfoque dado às discussões sobre
enfrentamento e resistência em tempos de ameaças e perdas efetivas de direitos e avanço das iniciativas neoliberais.
Insere-seà oàei oàte ti oà Te ito ialidadesàeà odosàdeà ida:àatuaç oàeàpesquisa em Psicologia Social na cidade e no
a po ,à ujoàfo oà àaàp oduç oàdeàsu jeti idade,àasàpolíti asàpú li as,àasà uest esàpolíti o-sociais e ambientais, bem
como os desafios ético-epistêmicos e metodológicos relacionados com a territorialidade em suas diferentes
expressões. Busca problematizar a interface entre Psicologia Social e as diferentes modulações do espaço e das formas
de vida: pequenas e grandes cidades, comunidades rurais, pesqueiras, ribeirinhas, indígenas e quilombolas. Nesse
sentido, os trabalhos deverão situar-se na interface entre Psicologia Social, Psicologia Comunitária, Psicologia
Ambiental e Psicologia Política.
Referências
Carsalade, F. L. (2007). Desenho contextual: uma abordagem fenomenológico-existencial ao problema da intervenção
e restauro em lugares especiais feitos pelo homem. Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Arquitetura da
Universidade Federal da Bahia.
Guattari, F. (2008). Caosmose: um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: 34.
Harvey, D. (2007). Neoliberalismo como destruição criativa. InterfacEHS, 2(4), 1-30.
Jaques, P. B. (2007) Corpografias urbanas: o corpo enquanto resistência. Cadernos PPGAU/FAUFBA, v. esp, 93-104.
Mészáros, I. (2002). Para além do capital. São Paulo: Boitempo.
Santos, M. (1997). Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec.

1022
(In) visíveis e loucos pela cidade: encontros entre saúde mental e população em situação de rua
Autores: Ana Karenina de Melo Arraes Amorim, UFRN; Maria Teresa Lisboa Nobre Pereira, UFRN
E-mail dos autores: akarraes@gmail.com,teresa-nobre@uol.com.br

Resumo: Quando consideramos as condições de vida da população nas grandes cidades, o desemprego e a pobreza no
Brasil, podemos indicar reflexos do intenso processo de exclusão social no cotidiano de pessoas em vulnerabilidade
social. As pessoas em situação de rua e aquelas portadoras de transtornos mentais graves em condição de pobreza
constituem grupos sociais cuja visibilidade tem estado muito associada às violências, ao estatuto da periculosidade e
aos problemas relativos ao uso de álcool e outras drogas que configuram um circulo perverso de exclusão próprio dos
espaços urbanos. Assim, a produção da cidadania e, mais especificamente, do direito à cidade exigem ações de
fortalecimento desses grupos como atores políticos na cidade e de afirmação da diversidade cultural com consequente
ocupação dos espaços públicos. Em Natal (RN) há poucas iniciativas que articulem a organização política e o
fortalecimento destes grupos em ações voltadas para arte e cultura, dentro ou fora do escopo das políticas públicas.
Nesse sentido, propusemos um projeto de extensão e estágio em Psicologia, objetivando criar e ocupar espaços da
cidade em efetivos processos de formação e organização político-cultural e participação nos contextos políticos,
culturais e de controle social de pessoas com transtornos mentais e ou em situação de rua. Com base na educação
popular e na análise institucional como perspectivas teórico-metodológicas, o trabalho envolveu: Oficinas de teatro
onde as biografias dos envolvidos foram reinventadas, promovendo expressão e cuidado; Oficinas de comunicação
que promoveram discussão política de temas atuais sugeridos pelo participantes, com produção de textos e peças
visuais compondo zines (jornais artesanais) para distribuição na cidade; Acompanhamento semanal dos coletivos de
usuários, fomentando a organização política e participação no controle social e acompanhamento individual das
demandas das pessoas em suas relações com as políticas públicas. As ações foram continuamente analisadas e
registradas em diários de campo, fotografias e filmagens. Os espaços coletivos das oficinas promoveram vínculos entre
os integrantes dos movimentos sociais e envolveram expressão artística, formação política e pensamento crítico,
através da partilha de histórias de vida. Nas oficinas de teatro, com pesquisa cênica/performática, foi possível que as
biografias dos envolvidos fossem reinventadas a cada encontro e modificadas subjetivamente, promovendo espaço de
expressão e cuidado grupal. As oficinas de comunicação promoveram espaços de discussão política de temas atuais
sugeridos pelo participantes, motivando a produção de textos (poesias, narrativas, etc) e peças visuais (desenhos,
fotografias, pinturas) que compuseram zines (jornais artesanais). Os zines foram distribuídos pela cidade e assim
deram visibilidade as pautas dos coletivos e movimentos sociais, aos eventos e as expressões artísticas dos
participantes. Além disso, o acompanhamento dos coletivos organizados de usuários permitiu o incetivo a participação
em instâncias de controle social com a conquista de assentos nos Conselhos Municiais de Saúde e de Políticas sobre
Drogas (CMS e COMUD). Concluimos que a constituição de espaços coletivos de expressão cultural e política na
cidade, com pessoas em situação de rua e ou com transtornos mentais, familiares, trabalhadores e acadêmicos,
permitiu a análise dos determinantes das violências e relações de sujeição sofridas, das potenciais transformações da
realidade e dos destinos das políticas públicas, fortalecendo os direitos humanos. Além disso, através da expressão
cultural e participação social, temos a arte como intercessora na produção instituinte de vida e cidadania.

1023
A Comunidade local na pratica do licenciamento ambiental da mineração: Estudo de caso em Mariana
Autores: Helcia Maria da Silva Veriato Teixeira, FEAD BH
E-mail dos autores: helciaveriato@yahoo.com.br

Resumo: O estudo teve por objeto analisar a importância da participação da comunidade local nos processos de
licenciamento ambiental, com foco nas atividades minerarias, fazendo um estudo de caso da tragédia ocorrida com a
barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana, Minas Gerais.
Como marco referencial, foi analisado a evolução das políticas públicas, em especial as do meio ambiente, no Brasil, e
do sistema de licenciamento ambiental. Como tema central, foram analisadas as lacunas institucionais que existem no
sistema, cujo modelo negligencia o do direito da participação social nas etapas do licenciamento ambiental. O Estado
de Minas Gerais aprovou no final de novembro de 2015, um projeto de lei que altera as políticas públicas de
licenciamento ambiental, que enquadra a mineração, provocando indignação e grande ativismo da sociedade, por
meio de movimentos sociais contra ele. Esse projeto não contribui para sanar os vazios institucionais e não assegura o
fim do automonitoramento das empresas minerarias.
A importância da pesquisa residiu na oportunidade de explicitar e discutir o fato de que as lacunas institucionais no
sistema de gestão ambiental do Estado de Minas Gerais possibilitam a exclusão da participação da sociedade nos
processos de licenciamento ambiental da mineração, que é um direito assegurado por marco regulatório. Essa
exclusão fragiliza a relação das empresas mineradoras com a sociedade e a própria imagem da mineração,
principalmente em caso de rompimento da barragem de rejeito, pois compromete a percepção e a efetividade dos
projetos de responsabilidade social empresarial, além de enfraquecer os vínculos e a confiança dos impactados pelo
desastre, gerando ativismo social de enfrentamento do modelo vigente.
Os estudos confiram as teorias da institucionalização, segundo as quais os movimentos sociais e de grupos, por meio
da participação popular, podem afetar as organizações de diferentes maneiras; seja influenciando a percepção, seja na
compreensão de reivindicações legítimas, eles colaboram para moldar e desencadear mudanças.
A participação da comunidade local nos processos de licenciamento ambiental da mineração, por meio de atores
organizados, molda mudanças sociais e mudam a percepção da sociedade sobre o comportamento das empresas,
equacionando os impactos socioambientais que a extração de minério de ferro desencadeia.
A pesquisa evidenciou a falta de integração intergovernamental, como também a falta de um entrosamento com a
sociedade civil para a efetivação de uma política mineral no Estado e na União.
O licenciamento ambiental atual ainda é muito burocrático e,no que tange ao controle social, há uma forma
diferenciada de tratar os atingidos por mineradoras.
O rompimento da barragem de Fundão, acontecimento sem precedentes na história, evidencia a necessidade de
mudanças nos sistemas político, jurídico, social, econômico, ambiental e educacional, para combater os vazios
institucionais e para neutralizar o esgarçamento do tecido social diante dos impactos socioambientais da mineração. A
compreensão das políticas públicas ambientais necessita de novos paradigmas para abarcar suas complexidades e as
lacunas institucionais que permeiam o sistema ambiental. Após o licenciamento, o Estado enfrenta precariedade com
a realização da análise dos relatórios periódicos de acompanhamento das condicionantes e a inexistência de
fiscalização, o que leva a mineração a um automonitoramento. .
Portanto a participação da comunidade local nos processos de licenciamento ambiental da mineração, por meio de
atores organizados, molda mudanças sociais e mudam a percepção da sociedade sobre o comportamento das
empresas,equacionando os impactos socioambientais que a extração de minério de ferro desencadeia.
Os resultados obtidos evidenciaram a falta de integração intergovernamental, como também a falta de um
entrosamento com a sociedade civil para a efetivação de uma política mineral no Estado e na União.
O licenciamento ambiental atual ainda é muito burocrático e,no que tange ao controle social, há uma forma
diferenciada de tratar os atingidos por mineradoras.

1024
O rompimento da barragem de Fundão, acontecimento sem precedentes na história, evidencia a necessidade de
mudanças nos sistemas político, jurídico, social, econômico, ambiental e educacional, para combater os vazios
institucionais e para neutralizar o esgarçamento do tecido social diante dos impactos socioambientais da mineração.
As barragens de rejeitos não são seguras, elas são estruturas que estão seguras, portanto demandam um sistema de
controle e monitoramento excelente.
A compreensão das políticas públicas ambientais necessita de novos paradigmas para abarcar suas complexidades e as
lacunas institucionais que permeiam o sistema ambiental.
O Estado não tem uma atuação efetiva, enfrenta precariedade com a realização da análise dos relatórios periódicos de
acompanhamento das condicionantes e há inexistência de fiscalização, o que leva a mineração a um
automonitoramento, sem efetivo controle social.

1025
Arte e cultura como possibilidades de resistência e apropriação do território: a comunidade do Jardim Pedramar
Autores: Denise Batista Pereira Jorge, USP
E-mail dos autores: denisebatistajorge@hotmail.com

Resumo: Segundo Guattari e Rolnik (2007), território refere-se tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema
percebido por meio do qual uma pessoa se sente em casa , e, para eles, território é sinônimo de apropriação,
processo simbólico carregado das marcas do vivido e do valor de uso de um território (HAESBAERT, 2007). No Jardim
Pedramar, bairro localizado em Jacareí (SP), existe um espaço cultural, denominado Cultura no Morro, criado por um
casal de noivos, cujo objetivo é promover atividades que favoreçam a preservação do meio ambiente e a valorização
da cultura, do saber e do fazer das pessoas. Lá os moradores se apropriam do lugar através da arte e da cultura. Esta
pesquisa objetivou contar a história do Jardim Pedramar, mostrando a relação das pessoas entre si e com o território.
Ela foi realizada a partir de uma fenomenologia descritiva, o que possibilitou uma aproximação do fenômeno, Jardim
Pedramar, por meio de uma experiência estética, aquela que ocorre a partir de um engajamento com o ambiente e
que permite que as pessoas se sintam fortemente afetadas pela experiência vivida (BERLEANT, 1992). A metodologia
adotada foi a etnografia sensorial (PINK, 2015), que tem forte ligação com a fenomenologia e, segundo a qual o
pesquisador trabalha com seu corpo inteiro e adquire conhecimento através de todos os seus sentidos. As imagens
registradas por meio de fotografias ou vídeos, feitas pelo pesquisador e pelos participantes da pesquisa, inscrevem-se
no plano das ações políticas da vida cotidiana dos moradores do lugar, bem como dos processos sociais ali em
andamento. A dimensão política das imagens pode ser compreendida através de dois níveis conjugados: (1)
dimensão interna , nas imagens lançadas pela pessoa em suas ações políticas na vida cotidiana; (2) dimensão
externa , situada nos contextos das lutas políticas nas quais as imagens estabelecem mediação entre os processos
sociais (ANDRIOLO, 2014, p.105). A psicologia analítica de C. G. Jung (1991) e a psicologia arquetípica, cujo principal
representante é James Hillman (1991,1993) foram utilizadas para examinar as possibilidades de resistência e
apropriação do território através da arte e da cultura. Adotou-se o pressuposto de que lugares têm alma – a palavra
alma é usada aqui num sentido psicológico e está relacionada à capacidade que o ser humano tem de imaginar, que se
manifesta nos sonhos, nas fantasias e na arte – e uma maneira de olhar para o mundo que valoriza a imaginação e que
pressupõe uma base poética da mente (HILLMAN, 1991). Os moradores do Pedramar estão cultivando a alma do lugar,
na medida em que se envolvem com ele, prestam atenção às suas imagens e procuram dar sentido a elas. E dar
sentido é também imaginar. Há um saber presente naquele lugar, eles dançam Moçambique, compõem músicas e
formam bandas, grafitam os muros, cuidam do meio ambiente, e eles estão desenvolvendo um patrimônio cultural e
de resistência, e têm o cuidado de registrar e de compartilhar com outras comunidades. Esta proposta se articula com
o tema do encontro, "Democracia Participativa, Estado e Laicidade: Psicologia Social e enfrentamentos em tempos de
exceção", e insere-se no eixo temático do GT 48: Relações pessoa-ambiente: territorialidades e produção de espaços
de resistência, na medida em que aborda manifestações culturais como uma forma de promover apropriação do
território e construção de resistência.

1026
Referências:
ANDRIOLO, A. Entre a ruína e a obra de arte: psicossociologia da percepção da cidade histórica turística. Estudos de
Psicologia, v. 14, n. 2, maio/agosto 2009, pp. 159 -166. Acesso em 10 set. 2015. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/epsic/v14n2/a09v14n2.pdf.
BERLEANT, A. The Aesthetic Sense of Environment. In: The Aesthetic of Environment. Philadelphia: Temple University,
1992.
GUATTARI, F.;ROLNIK, S. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996.
HAESBAERT, R. Território e multiterritorialidade: um debate. GEOgraphia, ano IX, n.17, 2007. Acesso em 28 de
setembro de 2013. Disponível em: http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/vie/213/205
HILLMAN, J. Psicologia arquetípica: um breve relato. (Tradução Lúcia Rosenberg e Gustavo Barcellos). São Paulo:
Cultrix, 1991.
HILLMAN, J. Cidade & Alma. (Tradução Gustavo Barcellos e Lúcia Rosenberg). São Paulo: Studio Nobel, 1993.
JUNG, C. G. O espírito na arte e na ciência. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
PINK, S. Doing sensory ethnography. 2.ed. SAGE: Califórnia, 2015.

1027
As cidades dos (in)visíveis: uma etnografia sobre pessoas em situação de rua e sem abrigo
Autores: Maria Teresa Lisboa Nobre Pereira, UFRN; Irlys Alencar Firmo Barreira, UFC
E-mail dos autores: teresa-nobre@uol.com.br,irlys.firmo@gmail.com

Resumo: Introdução: Como pessoas em condições extremas inventam a vida de cada dia, fazendo da rua morada ou
território de sua existência? Frequentemente autonomeadas como invisíveis, no sentido de serem desconsideradas
pelo estado e pela sociedade, quanto a garantia de direitos humanos fundamentais, pessoas em situação de rua são
por outro lado, visibilizadas como objeto de discriminação e preconceito. Diante da complexidade desse problema que
assume dimensões planetárias nos interessamos em investigar o cotidiano dessas pessoas, num estudo comparado
entre Brasil e Portugal, tomando como campo empírico as cidades de Fortaleza e Lisboa. O cotidiano como categoria
central de análise toma as teorizações de Michel de Certeau (2004) e de Machado Pais (2006), em diálogo com as
noções de poder e resistência (Foucault, 2005) ao lado da discussão sobre a criação de territórios existenciais (Deleuze
& Guattari, 1997). A escolha por esse GT justifica-se na medida em que nos interessa discutir as relações entre modos
de vida e direito à cidade, como esfera dos direitos humanos, numa perspectiva interdisciplinar, com foco nas relações
entre as pessoas e os espaços por elas ocupados e ressignificados, sendo a rua palco dessas reinvenções cotidianas e
de produção de novos territórios. Objetivos: conhecer o cotidiano de pessoas em situação de rua/sem abrigo e seus
modos de reinventar a vida nas ruas das cidades onde habitam e novas sociabilidades que a rua produz. Método:
Pesquisa etnográfica, com observação participante e itinerante e registro em diário de campo, seguindo o método das
deambulações (Pais, 2015). Nessas caminhadas privilegiamos a escuta de conversas informais e imagens fotográficas
sobre modos de vida itinerante. A pesquisa em Fortaleza teve dois campos: a) Acompanhamento das ações
desenvolvidas em uma casa de apoio a pessoas em situação de rua, no Centro da cidade; b) Observação itinerante em
cinco praças utilizadas como locais de dormida e trabalho. Em Lisboa o trabalho de campo foi realizado através do
acompanhamento das ações de um grupo de voluntários que distribui alimentos aos sem-abrigo, todas as noites.
Mapeamos locais onde cerca de 200 pessoas dormiam, identificando alguns a serem entrevistados posteriormente.
Em Fortaleza construímos dezesseis narrativas sobre o cotidiano de pessoas em situação de rua e em Lisboa, sete: três
portugueses, duas romenas, um ucraniano e um moçambicano compuseram um mosaico de experiências muito
singulares que expressam a problemática dos Sem-Abrigo em Portugal: imigrantes sem abrigo; sem abrigo imigrantes
e portugueses sem abrigo. Resultados: O fenômeno dos homeless como categoria ampla que abrange as classificações
de sem abrigo, sem teto e pessoas em situação de rua, é um problema mundial agravado pelo avanço do capitalismo,
das guerras e da fome, do aumento do desemprego e do recrudescimento das intolerâncias religiosas. Entretanto,
transversalizando as relação entre a macro e a micropolítica as ruas são produtoras de novos territórios, materiais e
existenciais. Nelas, a vida é tocada de muitas maneiras, entre os locais provisórios para dormir ou as casas construídas
com os restos do lixo urbano, o trabalho precário, a mendicância, o amor e a amizade, a frágil conquista de direitos e a
noção de caridade, valores que oscilam entre público e privado, compaixão e preconceito. Nos modos de suprir
necessidades e desejos, se entrecruzam noções de lei, direitos, cidadania e justiça e as tênues fronteiras entre legal-
ilegal. Rupturas várias estão na base do processo de ida para as ruas e de permanência nelas, evidenciando diferenças
geracionais, raciais e de gênero, de escolaridade, nível socioeconômico, culturas e tradições, produzindo o choque da
desterritorialização e impondo a busca por outros caminhos, que não representam um resgate do foi perdido, mas a
construção de novos territórios, materiais e existenciais. A diversidade desses modos de viver extrapola a noção de
direito à cidade apenas como acesso ao espaço público e a nele transitar ou dele usufruir, apontando-o como o
próprio direito à vida (Lefebvre, 2001). Neste sentido, significativa no Brasil é a organização do Movimento Nacional da
População de Rua que se desenha como resistência política frente ao estado, que associada às resiliências individuais
aponta caminhos de mudança, enquanto em Portugal essa luta é encampada pelo trabalho do voluntariado, que
assume o protagonismo dessas conquistas. Conclusões: Sob marca da multiplicidade, da diversidade, da
heterogeneidade e da provisoriedade se fazem as vidas nas e das ruas, onde a impermanência é a norma desviante,
tanto entre os dois países, quanto no interior de ambos. As muitas maneiras de reinventar o cotidiano observadas
1028
neste estudo suscitam um outro olhar sobre essas pessoas e suas práticas de resistências e resiliências, que fazem das
ruas um lugar de possibilidades, de invenção de novos territórios materiais e existenciais. Isso implica a reinvenção do
mundo e de si, escapando à imagem da carência, da vitimização ou da culpabilização, polos sobre os quais se assentam
as representações sobre pessoas em situação de rua e sem abrigo, nas duas cidades.

1029
Enfrentamentos, resistências e sobrevivências nos raps do Grupo Realidade Negra do Quilombo do Campinho da
Independência
Autores: Renata Câmara Spinelli, FEUSP
E-mail dos autores: renata-spinelli@hotmail.com

Resumo: A presente comunicação refere-se a um relato de pesquisa de campo baseando-se na Dissertação de


Mestrado: Grupo Realidade Negra do Quilombo do Campinho da Independência: o rap na formação da juventude
negra , de 2016, na FEUSP. Tratou-se de um estudo de caso da banda entre 2012 e 2015, principalmente com os
autores das letras dos raps, resultando no método da análise textual discursiva de suas letras e suas falas sobre os
temas que abordaram. Tais canções, gravadas no CD É prus guerreiro a missão , de 2009, revelam suas lutas
cotidianas, seus modos de compreenderem-se como quilombolas e suas propostas de resistências. No presente texto
buscamos apresentar expressões e contextos de suas letras cuja territorialidade se compõe como eixo central para a
nova organização do quilombo. Assim como Arruti (2006), entendemos que o termo territorialidade implica-se com a
categoria identidade a partir de pessoas que buscam justificar a posse ou o acesso à terra a partir do estabelecido
pelas dimensões jurídica, administrativa, antropológica, sociológica - sendo que tais abordagens nem sempre
confluem em propósitos comuns. Arruti (2006) compreendeu o conceito de identidade a partir de sua pesquisa como
uma categoria de acesso . Sua reflexão acerca dos movimentos da população constarem de processos em formação
para o acesso à categoria identitária de remanescentes de quilombo trouxe, para a percepção de nossa pesquisa, a
importância de sua constatação como trajetórias, tais como observamos nos discursos dos rappers – tanto nas letras
das canções, como em seus relatos, como também nos discursos dos moradores da comunidade. Assim, de modo
similar, pudemos observar que os autores das letras dos raps eram crianças à época da titulação do Campinho e
participam, na verdade até o presente momento, quase aos 30 anos de idade, por meio de sua produção poética, da
composição do modo local de formação da identidade quilombola.
O presente artigo, assim, propõe-se a apresentar alguns extratos dos raps que lançam lampejos de compreensão sobre
o que revelam de enfrentamentos – afinal, pelo que e contra o que lutam? A que resistem? Autores de diferentes
campos iluminam nossa compreensão: da geografia humana sobre o território (Santos, 1997), da antropologia (Arruti,
2003, sobre observações de campo e revisão de conceitos antropológicos; Novaes (1993), quanto à autoimagem de
guerreiros do território e Silva, 2005, 2006, 2007, quanto às reflexões sobre religião), da psicanálise (Winnicott, 2000 e
outros, em suas considerações sobre o ambiente), da psicologia nos estudos sobre a memória (Bosi, 2003), da
educação (Freire, 1979), entre outros.
Para o fim deste artigo, que gerou reflexões sobre o que entendemos como considerações possíveis, recuperamos
alguns extratos de raps e discursos que pudessem expressar seus enfrentamentos e resistências – suas lutas contra
faces da violência - agrupados em dimensões, não necessariamente excludentes: observamos uma dimensão política
(que é também social) em seu enfrentamento ao apresentarem a imagem de um sistema ao que devem enfrentar –
tal dimensão envolve a ausência do Estado no seu espaço territorial ou próximo a ele, já que não lhes são oferecidas
instituições educacionais e de formação para além da 4ª. série; além disso, o pouco oferecimento, à época de suas
composições de letras, de acesso a cuidados da saúde; e, em terceiro, a luta territorial contra grileiros, grandes
capitais e posseiros que buscam desterritorializá-los de seu espaço, risco que correm mesmo após sua titulação.
Encontramos, ainda, uma dimensão social (que é também política), ao denunciarem a segregação vivida – em suas
marcas subjetivas e em sua vida prática - como resultado do racismo em primeiro lugar; em segundo, da alta
desempregabilidade enfrentada (devido à baixa oferta de empregos formais bem remunerados, por racismo e/ou
pouca escolaridade); ou, em terceiro, em função do destino traçado para o jovem negro como o uso e tráfico de
drogas, o que também envolve a importância que atribuem a uma educação dos jovens quilombolas para o consumo e
controle da ambição. Por fim, compreendem-se como guerreiros que se sustentam no cotidiano apesar das
dificuldades, denunciando, não aderindo ao sistema , valorizando o território, a família e o cotidiano, tomando o
espaço da igreja e sua religião protestante para fortalecê-los em sua caminhada e, ainda, utilizando-se de seus raps
1030
para formar as crianças e jovens de seu território. Tal formação se dá na busca de conscientizarem os novos guerreiros
– segundo o conceito de conscientização de Freire (1979). Destarte, entendemos que estamos lidando com uma
dimensão simbólica – do quilombo-território, da autoimagem de guerreiro, da ancestralidade que honram e da
coletividade que querem assegurar construir no (re-)forço de valores comunitários, familiares, morais e éticos para
ajudar a formar uma rede (barreira) de proteção contra o esgarçamento a que estão sujeitos – tanto no âmbito global
quanto local.

1031
Identidade psicossocial e práticas de resistência em um território quilombola no sul do Estado de São Paulo
Autores: Gustavo Martineli Massola, USP
E-mail dos autores: gustavomassola@usp.br

Resumo: Há uma frutífera discussão relacionando aspectos identitários e territoriais em populações quilombolas
brasileiras. Após a adoção por Palmares do modelo dos kilombos da região do Congo, este termo passou a designar
oficialmente toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham
ranchos levantados nem se achem pilões neles , definição que, ao entendê-los como fenômenos isolados, conquanto
frequentes, servia aos propósitos da coroa portuguesa de combater as práticas de resistência dos escravos.
Apresentavam muitas vezes, ao contrário, forte ligação econômica, social e cultural com setores marginais do restante
da população e constituíram, junto com as revoltas, as principais formas de resistência negra no Brasil colonial,
articulando luta identitária e territorial. Ficaram ignorados por um século após o fim da escravidão, sendo chamados
de bairros negros e seus habitantes, de camponeses ou caipiras negros. Viveram um ressurgimento com a Constituição
de 1988, quando demandas identitárias e étnico-raciais ganharam destaque, e passaram a ser chamados de
remanescentes de quilombos. Desta forma, sua identidade como quilombolas lhes apareceu como uma exigência
exterior após tantas décadas, nas quais sua forma de identificação principal se dava a partir de sua inserção em um
território rural. Isso se reflete em trabalhos que mostram maior aceitação da identidade quilombola por parte dos
jovens que por parte dos moradores mais velhos. Apesar da revalorização de sua condição identitária específica, a
evasão de jovens para grandes centros urbanos segue sendo um problema grave. Estudos em psicologia social e
ambiental podem ser úteis para a compreensão deste fenômeno, especialmente por meio das noções de apego e
identidade de lugar. No Estado de São Paulo, algumas comunidades criaram formas de reforçar vínculos identitários e
garantir sua sustentação econômica. Uma dessas formas é o turismo de base comunitária, no qual a comunidade
detém controle quase completo sobre as atividades turísticas, ficando com todo o lucro gerado. Este trabalho
investiga algumas relações entre essas práticas e o apego e a identidade com o lugar. Durante 3 anos, estudantes de
ensino médio da região participantes do programa de pré-iniciação científica da USP entrevistaram moradores e
aplicaram escalas e questionários em 2 comunidades. Participaram 56 moradores no total. Encontrou-se maiores
apego e identidade com o lugar em idosos e em participantes de atividades coletivas voltadas para problemas locais.
Moradores que declararam participar das atividades de turismo também relataram maior apego e identidade com o
lugar. Para uma das comunidades, tanto idosos quanto participantes do turismo relataram não desejar deixar a
comunidade exceto, no último grupo, para estudar e aprimorar seu trabalho no quilombo. Jovens não-participantes,
por outro lado, relataram forte desejo de migrar para grandes cidades, o que sugere um impacto positivo do turismo
sobre o enraizamento em suas comunidades. A identidade psicossocial urbana impõe-se hegemonicamente sobre a
identidade campesina, mesmo em comunidades quilombolas, gerando conflitos e perpetuando formas seculares de
dominação. Questões étnico-raciais emprestam especificidade ao contexto quilombola. Há alternativas valiosas,
porém, para lidar com tais processos, as quais merecem atenção e apoio da academia. A pré-iniciação científica, ao
articular ensino técnico, qualificação dos jovens locais, apoio às escolas e professores, pesquisa científica por
universidades e apoio financeiro aos projetos locais, pode sugerir características desejáveis para essas iniciativas.

1032
O resgate das ruralidades em contextos urbanos e o compromisso pró-ecológico
Autores: Raquel Farias Diniz, UFRN
E-mail dos autores: raquelfdiniz@gmail.com

Resumo: O compromisso pró-ecológico (CPE) se define pela relação estabelecida entre as pessoas e o meio ambiente,
marcada pelo interesse e cuidado com o mesmo. Sua formação se dá ao longo da história de vida, a partir de
experiências que, numa visão mais ampla, expressam processos de ruptura que envolvem afetos e resistências, assim
como a construção de uma identidade que contempla o meio ambiente e as relações socioambientais. Tais
experiências de vida são circunscritas por um macrocontexto de relações e de transformações sociopolíticas e
culturais, que englobam tanto tensões, contradições e antagonismos como a emergência de novas crenças, novos
espaços e novas posturas frente à questão ambiental. Compreende-se, então, que tal compromisso compõe modos de
vida que destoam, em alguns aspectos, dos modos de vida hegemônicos nos contextos urbano-capitalistas. Dentre
esses aspectos estão a busca pela efetivação de relações horizontais e democráticas, práticas individuais e/ou
coletivas e formais e/ou informais de cuidado ambiental, e a conectividade com a natureza. O estudo que embasa a
presente discussão teve como objetivo investigar as experiências de vida de pessoas que manifestam, de forma
socialmente percebida (apontada por pares), um CPE. Nesse sentido, 29 pessoas (17 homens) de diferentes regiões do
Brasil participaram de uma entrevista semiestruturada individual, na qual discorreram sobre sua história de vida,
tendo como foco as vivências que foram significativas para a definição do seu compromisso. A amplitude das idades
dessas pessoas possibilitou o acesso a dois perfis: 16 participantes com idades entre 23 e 33 anos, no último ano do
curso superior, recém-graduadas/os, ou estudantes de pós-graduação; e 13 participantes com idades entre 39 e 79
anos, com carreiras profissionais consolidadas ou em aposentadoria. Para a presente discussão, interessa destacar,
inicialmente, essa diferença entre os perfis a partir das narrativas analisadas. Entre o moleque da bagaceira , como se
autodenominou o participante mais velho (79 anos), e a criança de apartamento como se autodenominou uma das
participantes mais jovens (30 anos), observou-se uma diversidade de experiências de vida situadas e descritas a partir
da dicotomia campo-cidade, o que contribuiu para a conformação de distintos tipos de CPE. De maneira geral, os
relatos abordaram a importância do contato direto com a natureza e, vivendo em cidades, as pessoas destacaram
experiências de resgate das ruralidades em meio urbano como algo essencial em seu CPE. Nesse sentido, a discussão
proposta por Edgar Morin – em Cultura de Massas no Século XX – Necrose (1975/2006) – dá suporte para discutir esse
achado. Segundo o autor, foi a partir de meados do século XIX que a representação do meio urbano passou a
contemplar as ambiguidades da diversidade x repetições mecânicas, da autonomia x gregarismo imposto, do bem-
estar x fadiga, da individualização x solidão, da segurança x desordem, dos lazeres x perdas na variedade do trabalho.
Em face do que nomeia por ruína urbana, Morin sinalizou algo que emergiu nos relatos das pessoas participantes do
estudo: o retorno ao mundo natural (neonaturismo) como um contraponto à rotina exasperante da cidade, expresso
no resgate da natureza dentro do habitat urbano (praças, parques, jardins), na ocupação dos bairros antigos, nos
hábitos de consumo (gastronomia e produtos rústicos), na estética (culto ao corpo; decoração e cenários arcaicos),
assim como residências fora (mas perto) das cidades, ou à alternância/complementaridade entre o meio natural e o
meio urbano durante os fins de semana (típico entre as camadas burguesas) e/ou férias (comum às largas camadas
populares). Ainda segundo Morin, com a emergência do debate em torno da crise ecológica em fins dos anos de 1960,
a tendência neonaturista se aprofunda, tornando-se mais cultural e ecológica radical. Compreende-se, portanto, que o
CPE – como um fenômeno psicossocial – é uma resultante da emergência da consciência ecológica, que tanto põe em
causa o modelo de desenvolvimento, como a organização mesma da vida individual e coletiva; ao mesmo tempo em
que é marcado por características de uma face reformista, típica do neonaturismo. Considera-se, assim, que essa
coexistência se define pelas mudanças nas visões e pelas relações estabelecidas com o meio ambiente em paralelo ao
1033
recurso às benesses da tecnologia e dos artefatos típicos do estilo de vida urbano dentro do padrão ocidental. Com a
aquisição de novas crenças e transformações na visão de mundo, essas pessoas se tornam conscientes da necessidade
de estabelecer uma nova relação com o meio ambiente, o que as leva a assumir, em alguma medida, uma postura de
resistência aos modos de vida hegemônicos. No entanto, essas pessoas estão imersas e são impregnadas por essa
cultura, o que as coloca em face – não sem algum tipo de sofrimento – com a inevitabilidade dessa contradição.

1034
O uso da cidade por adolescentes em situação de rua no centro de São Paulo
Autores: Gabriela Milaré Camargo, USP
E-mail dos autores: gabrielamilarec@gmail.com

Resumo: Um dos conceitos trabalhados pela Psicologia Ambiental é o de identidade de lugar, como um processo
complexo que abarca o desenvolvimento de atitudes, significados e valores estabelecidos em relação aos espaços
físicos. Um espaço, ou território, ao passo que é histórico e relacional, fala da apropriação e significação, portanto da
subjetivação e do identitário.
A população infantil e adolescente, por seus usos e formas e socialização no espaço próprios, tem muito a contribuir
às formas de construção autônomas e à uma gestão mais democrática do espaço urbano, o que demanda também de
áreas de estudo como a Psicologia Ambiental que tenha em seu escopo as relações entre as crianças e adolescentes e
seus ambientes, e suas especificidades. Neste sentido, o contexto urbano traz como um de seus elementos a rua, tão
fortemente marcada por características geográficas, por aspectos simbólicos – tanto atribuídos pelo imaginário social
quanto pelo cotidiano dos habitantes, e por relações de poder dadas em diferentes níveis muito próprios.
Nessa esteira, é possível identificar na literatura esforços no sentido de compreender o uso do espaço urbano por
crianças, porém os achados ainda são pouco conclusivos. Quando se trata da população adolescente em situação de
rua, a lacuna é ainda maior. É preciso não perder de vista a invisibilidade que acomete o fenômeno da situação de rua
historicamente, e que se reproduz no meio acadêmico quando constatamos a baixa produção no tema, e mais
especificamente no que tange ao conceito de identidade de lugar trabalhado pela Psicologia Ambiental.
O presente trabalho busca articular os conceitos de identidade de lugar e às práticas de territorialidade com o uso da
cidade relatado por adolescentes em situação de rua. Apontamos observações feitas a partir de uma experiência de
um ano com a população do estudo, que frequentavam um Espaço de Convivência para Crianças e Adolescentes no
centro da cidade de São Paulo, enquanto a pesquisadora se encontrava como orientadora socioeducativa na
instituição, no ano de 2015. O lugar privilegiado de contato diário com estes adolescentes, em sua maioria do gênero
masculino e entre 12 e 20 anos, se deu por meio de uma prática que procurava oferecer atividades de lazer, educação
e cuidado, com o objetivo último de promover vínculos, autocuidado e novas oportunidades aos atendidos.
Os resultados aqui apontados, ainda que incipientes, são frutos de observações feitas ao longo de um ano de trabalho
em campo e de supervisões com a equipe de trabalho e outros profissionais atuantes e apontam para algumas
direções a serem exploradas no futuro. Presentes em maior concentração na região central (como Vale do
Anhangabaú, Praça Princesa Isabel, Avenida Paulista), seus circuitos de atividades vão de encontro com espaços
altamente assistidos por serviços públicos de diversos setores como da saúde, assistência social, e também da ação
policial. A disposição grupal dos adolescentes – se andavam em grupos grandes ou pequenos, se havia uma liderança
velada ou explícita, quais as faixas etárias que compunham o grupo, a distribuição por gênero, ou mesmo se andavam
sozinhos; o cuidado com a higiene própria e com a limpeza das roupas; a disponibilidade para atividades lúdicas ou
para a interação com os orientadores; a escolha pelo lugar onde dormir ou passar a noite, bem como o tipo de
estrutura montada para isso foram variáveis observadas através de como se comportavam dentro da instituição bem
como por meio dos relatos e correlacionadas com os lugares que mais frequentavam. Os trabalhadores identificavam
perfis diferentes conforme a região em que esses adolescentes e jovens se instalavam: os poucos meninos vindos da
Cracolândia se apresentam em geral mais quietos, raramente em grupos, sujos, e em condições de saúde mais
precárias que grupos vindos da Avenida Paulista, que em geral compareciam ao espaço mais frequentemente para
tratos de higiene, como banho e lavagem de roupas, e com discursos mais articulados e mais dispostos à interação
com os educadores.

1035
Frente estas observações iniciais, compreendemos que aprofundar o conhecimento acerca da relação pessoa-
ambiente na experiência de situação de rua vivida pelos adolescentes e os usos que fazem na/da cidade, faz-se
fundamental para trazer luz sobre maneiras de enfrentamento mais adequadas das violações de direitos a que são
submetidas, criando formas de resistir às forças higienistas que parecem ganhar mais força nos últimos tempos.
Dentre as muitas questões à flor do tecido urbano, as manifestações das desigualdades sociais, com recorte de gênero
e raça, expressas pela segregação espacial de algumas populações, condenadas pela criminalização da pobreza, devem
ser endereçadas com maiores esforços, e é neste sentido que este trabalho procura contribuir.

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Relação Idoso-Ambiente e Qualidade de Vida em Ambientes Residenciais
Autores: Denise Aparecida Rodrigues Amancio, UFAM; Dayse da Silva Albuquerque, UNB; Isolda de Araújo Günther,
UNB; Maria Inês Gasparetto Higuchi, INPA/UFAM
E-mail dos autores: deniseamancio2015@gmail.com, albuquerquepsi@hotmail.com, higuchi.mig@gmail.com,
isolda.gunther@gmail.com

Resumo: As relações pessoa-ambiente são fruto de vivências pessoais, coletivas e contextuais, de tal forma que cada
pessoa experiencia o mundo ao seu redor de modo individual e particular. Tais experiências trazem consigo valores,
atitudes e padrões socioculturais que são remodelados em ambientes específicos. Portanto, o ambiente carrega em si
os valores simbólicos nele impregnados pelas pessoas que o vivenciam. Nesse sentido, a psicologia ambiental
reconhece o caráter recíproco dessas relações. Considera assim o entorno como uma dimensão que engloba
elementos psicossociais, culturais e contextuais e que, por meio de seus elementos físicos, permite a construção de
distintas percepções, avaliações e ações humanas. O ciclo de vida é outro elemento que exerce impacto nas relações
pessoa-ambiente, tendo em vista que habilidades físicas e mentais se diferenciam na infância, juventude e velhice.
Além disso, crianças, jovens e idosos apresentam distintas demandas no que diz respeito aos recursos que o ambiente
é capaz de fornecer. Nessa relação entre habilidades e demandas, há a constante necessidade de adaptação, que pode
variar de acordo com a flexibilidade, manutenção e suporte oferecido pelo ambiente e a capacidade de atuação dos
indivíduos. No contexto urbano é cada vez mais comum a busca por ambientes mais amigáveis, que permitam a
construção de vínculos significativos e o acesso à serviços promotores de bem-estar e qualidade de vida. Dentre os
cenários urbanos, os ambientes residenciais, compostos pelo local de moradia e adjacências (vizinhança e bairro),
incluindo os principais serviços para realização das atividades diárias (comércio, lazer, educação, saúde, segurança),
apresentam relevância significativa nos processos de construção identitária e de saúde-doença. Com o aumento da
expectativa de vida e, consequentemente, da população de idosos a nível mundial, estudos desenvolvidos nos Estados
Unidos e na Europa a partir da década de 70 têm dirigido atenção para o impacto da institucionalização na saúde dos
idosos. Nesse contexto, a satisfação com o ambiente residencial é percebida como prioritária para a garantia de um
envelhecimento sadio. Estudos mais recentes enfatizam os benefícios da manutenção do idoso em sua residência, de
modo a promover ajustes entre as capacidades dos indivíduos e as demandas do ambiente que podem gerar pressão e
estresse ambientais. Assim, gera-se o crescimento da demanda por ambientes adequados para pessoas mais velhas.
Além da necessidade de redução de barreiras e da implantação de equipamento urbano para uso da população idosa
em seu ambiente residencial, o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2004) enfatiza que as condições da residência devem
garantir segurança, controle e salubridade. Esses pressupostos são ressaltados pela concepção de aging-in-place, na
qual se busca o fortalecimento dos laços comunitários e suporte ambiental no entorno da moradia com o objetivo de
permitir acessibilidade, independência, mobilidade e envolvimento. A concepção de aging-in-place dialoga com
abordagens mais recentes envolvendo a hipótese de docilidade ambiental proposta pelo gerontólogo Powell Lawton
na década de 60. Em seu modelo ecológico de envelhecimento, Lawton afirma que ambientes específicos, nos quais os
níveis de pressão são maiores, afetam de maneira mais significativa os indivíduos com baixa competência
comportamental, porém, quando o ambiente oferece uma gama de recursos para indivíduos de maior competência,
tal relação é representada pela hipótese de pró-atividade ambiental. Os estudos baseados no modelo pressão-
competência de Lawton enfatizavam inicialmente a relação de idosos com ambientes institucionais, porém estudos
posteriores ampliaram as discussões para o ambiente residencial devido à relevância atribuída por idosos a esses
ambientes, percebidos como geradores de bem-estar, suporte social, ambiental, equilíbrio e relaxamento. Nesse
ajuste entre demandas pessoais e ambientais se pauta a ideia de envelhecer no local de moradia (aging-in-place) para
propor intervenções nos espaços. Desse modo, a proposta de discussão embasa-se na relação idoso-ambiente para
apresentar relatos sobre estudos em desenvolvimento em diferentes cidades brasileiras com o propósito de suscitar
reflexões sobre fatores relevantes para a promoção de ambientes mais amigáveis para a população idosa. A proposta
articula-se com o eixo temático Territorialidades e modos de vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade
1037
e no campo e com o Grupo de Trabalho Relações Pessoa-Ambiente: territorialidades e produção de espaços de
resistência ao enfatizar a relação de grupos específicos em contextos ambientais próprios e que se apropriam,
transformam e produzem espaços de acordo com suas especificidades. Tendo como base teórica, o campo dos
estudos pessoa-ambiente, em interface com a Psicologia Social, buscar-se-á aprofundar aspectos que vão ao encontro
de diretrizes e subsídios para a melhoria de espaços para a população idosa, discorrendo sobre estudos já realizados e
acessados por meio de revisão de literatura e trazendo dados de pesquisas nacionais que agreguem à discussão
proposta.

1038
Sociabilidades e subjetividades juvenis periféricas em contexto de violência urbana: significados e enfrentamentos
Autores: Thais Fabiana Faria Machado, UNIFESP-Baixada Santista
E-mail dos autores: tfariamachado@gmail.com

Resumo: Introdução: A cidade de Santos-SP é considerada um dos polos econômicos mais importantes do país por
possuir o maior complexo portuário da América Latina e, mais recentemente, com a descoberta do pré-sal.
Concomitantemente, esta mesma cidade abriga uma das maiores favelas sobre palafitas do Brasil. As crianças e os
jovens desta região convivem com a atuação cotidiana do narcotráfico e com a presença ostensiva e abusiva da polícia
militar. O homicídio juvenil como um fato nesta região e como um problema de saúde pública nacional, mostra a
necessidade de um olhar atento para as perspectivas de vida dos jovens da periferia da Baixada Santista e uma escuta
para as formas de sobrevivência destes sujeitos já emudecidos pela exclusão (ROSA, 2002) em um contexto de
violência urbana. A presença de uma Organização Não-Governamental (ONG), o Instituto Arte no Dique, há pouco
mais de 15 anos no local, tem alterado a rotina dos seus moradores, pela oferta de oficinas socioculturais nas quais as
crianças e os jovens são seu público mais cativo, além de promover atrações musicais de grande porte. Distante da
orla do mar e do centro da cidade, o maior deslocamento da massa trabalhadora parte desta região periférica.
Subvertendo uma certa lógica proveniente da segurança privada, representada pela presença de condomínios
fechados e o consequente abandono do espaço público, e da associação entre periferia e bandidos, jovens músicos da
referida ONG, tem mostrado que uma outra subjetividade na favela é possível. Através da arte, estes assumiram não
só uma identidade profissional através da educação, mas possibilitou a estes um olhar distanciado sobre outros
jovens, assim como proporcionou deslocamentos para outras regiões da cidade, do Estado, do país e do mundo.
Bauman (2009), ao discorrer sobre os guetos involuntários (as favelas), é um espaço do qual não é permitido sair aos
condenados a nada ter . De forma contrária – e desobediente – o que estes jovens entrevistados neste trabalho
demonstraram é que um dos significados da violência é o descrédito que moradores de outras regiões da cidade
transmitem a eles e que a arte é uma importante estratégia de enfrentamento a esta, transformando a sua relação
com o território onde vivem e com a cidade da qual fazem parte.
Objetivo: Identificar quais os significados que os jovens da Zona Noroeste de Santos atribuem à violência urbana e
como lidam com ela, a partir de suas experiências,
privilegiando as produções artísticas e lúdicas.
Metodologia: Este estudo foi realizado através de pesquisa qualitativa, privilegiando-se o método etnográfico, com o
uso da entrevista em profundidade, com roteiro
semiestruturado, e observação participante como ferramentas.
Resultados: Investigou-se as relações entre as pessoas e os espaços por onde
transitam, ou seja, as teias de sociabilidade constituídas por um grupo de jovens a partir
de suas experiências em um território apartado da cidade de Santos, em contexto de
violência urbana, e as formas como lidam com situações de violência, privilegiando-se
as produções artísticas e lúdicas.
Conclusões: Espaços considerados seguros e inseguros dentro de um mesmo território, viver na iminência de diversos
riscos, ser um (a) garoto (a) de projeto, o espaço público reinventado nas práticas de lazer, uma certa ética territorial
da criminalidade, a bandidagem como uma questão de gênero, o estigma de serem considerados suspeitos e a arte
como um novo caminho mesmo que com condições precárias de sobrevivência, foram alguns pontos transversais
levantados pelos jovens entrevistados enredando teias de significados de suas experiências em contexto de violência
urbana.

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Uma Índia em Território Espírita
Autores: Juliana Dal Ponte Tiveron, FFCLRP; José Francisco Miguel Henriques Bairrão, FFCLRP
E-mail dos autores: jutiveron@yahoo.com.br,bairrao@usp.br

Resumo: A criação do Estado brasileiro se enraíza numa invisibilização dos povos indígenas. Várias foram as políticas
assimilacionistas orientadas a converter os ameríndios em trabalhadores ou apenas cidadãos brasileiros. Avanços
políticos, sobretudo advindos com a Constituição de 1988, visam garantir a preservação étnica e cultural desses povos,
bem como lhes assegurar os direitos reservados aos cidadãos brasileiros. Em relação a garantir a preservação étnica e
cultural, há que se mencionar que está assegurada nessa lei a existência de territórios indígenas. No entanto, durante
essa transformação de políticas assimilacionistas para políticas integracionais, pode-se acompanhar a utilização da
imagem do indígena pela sociedade brasileira. Símbolo da independência representado em bandeira ou hinos, bem
como personagem da literatura romântica, são alguns exemplos de contextos nos quais o indígena pode existir,
embora não condizentes com quem eles são. Há portanto representações indígenas produzidas pela sociedade
brasileira não correspondentes com os nativos no Brasil. Kaingang é um povo indígena pertencente à família lingüística
Jê que habita áreas dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esse trabalho tem o objetivo
de investigar um processo que tem acontecido entre os Kaingang do Território Indígena de Icatu (Estado de São Paulo)
e um centro espírita da cidade de Braúna, mediante a suposta a comunicação da Índia Maria Rosa (espírito) com uma
médium dessa instituição, descendente de colonizadores do Oeste Paulista. Para tanto, empregou-se o método
psicanalítico combinado a procedimentos etnográficos denominado escuta participante. Em relação a quem foi Maria
Rosa, escutou-se que, quando bebê, ela foi deixada embaixo de algumas ramagens ou folhas e, por isso, foi adotada
pelos Kaingang que a encontraram. Muitos consideram que, originalmente, ela era uma indígena Oti-Xavante. Em vida,
Maria Rosa andava pelas fazendas ao redor do Território Indígena em busca de realizar trocas com os moradores
daquelas áreas rurais. São alguns desses moradores que fundaram o Centro Espírita da cidade de Braúna no qual
mediiunicamente ela se comunicaria. A médium que recebe os recados oriundos da indígena, por exemplo, conviveu
com a mesma quando criança, já que seus familiares, em troca de palmito ou mel trazido por ela, lhe cediam farinha,
açúcar, dentre outros produtos. Hoje, em qualquer momento de dificuldade, situação de perigo, dúvidas sobre o
futuro ou como proceder em certa situação, é para Maria Rosa, sobretudo, que alguns indígenas rogam ajuda. Antes
de dormir, eles pedem para que ela apareça em sonhos ou que entregue a resposta de que eles precisam em seus
sonhos. Ainda, em situações em que é preciso comunicar algo para um grupo de pessoas, como uma palestra ou
evento, solicita-se que ela sempre fique por perto e auxilie naquilo que deve ser dito. Porém, enquanto Maria Rosa
entre os atuais indígenas se manifestaria em sonhos ou em momentos de afirmação étnica por via de conferências, no
espiritismo branco ela é uma das protetoras e facilitadoras do trabalho de caridade direcionado aos frequentadores do
Centro, o que inclui os próprios indígenas. Principalmente por meio da técnica espírita conhecida como psicografia,
Maria Rosa comunicar-se-ia e deixaria seus recados. Ademais, a médium que a recebe tem realizado intervenções
espirituais em indígenas que são considerados possuídos por espíritos obsessores. A partir desses resultados podem-
se realizar as seguintes reflexões: Maria Rosa, na condição de espírito, mantém a troca entre colonizadores e
indígenas; ela realiza curas espirituais e orienta não apenas os nativos, mas a sociedade em geral; por fim, há que se
averiguar se e em que medida a forma de comunicação e a sua interpretação entre os seus parentes Kaingang é
semelhante ou divergente da recepção e interpretação da sua suposta comunicação no Centro Espírita, assim como
ponderar se sua manifestação nesse contexto é condizente e respeitosa para com o povo indígena ou se a captura,
dominação e tutela colonial estão sendo mantidos e promovidos. Sinaliza-se, assim, o risco de, novamente, a
representação indígena apossada pela sociedade branca reduzir a enunciação de Maria Rosa à esfera colonial em
detrimento da esfera Kaingang. Este estudo visa igualmente ilustrar como a transformação da memória de mortos
indígenas em símbolos pode trazer luz a distintas perspectivas dos atores sociais envolvidos nessas negociações e
ressignificações, conforme estejam na posição de nativos ou de herdeiros dos colonizadores.

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GT 49 | Saberes e fazeres da Psicologia no campo da Justiça e dos Direitos

Coordenadoras: Cláudia Natividade, Faculdade de Ciências Médicas MG | Lisandra Espíndula Moreira, UFMG | Renata
Ghisleni de Oliveira, PUC-SP

Historicamente, a interface da Psicologia e, mais especificamente da psicologia social, com o campo da Justiça e dos
Direitos se fez de maneiras muito diversas, abarcando, inclusive, a diversidade de perspectivas teóricas da própria
Psicologia.
Atualmente, encontramos uma reflexão consistente sobre a prática profissional da psicologia social junto às
instituições do direito e sobre as mudanças que aí têm ocorrido, principalmente a partir da década de 1980, quando,
após longo período de regime militar, intensifica-se a discussão sobre a cidadania e os direitos humanos. Nesse
momento, identifica-se um processo de maiores inquietações e indagações sobre os fazeres psicológicos e de
ampliação dos campos profissionais. Estudiosos e militantes desse campo têm contribuído para imprimir uma
perspectiva crítica à chamada Psicologia Jurídica, problematizando sua hegemônica utilização a favor do controle
social, especialmente quando as(os) psicólogas(os) constituem-se em agentes acríticos de processos de discriminação
e exclusão social.
As mudanças que acompanhamos, especialmente, a partir dos anos 1990, de alterações nas legislações e de ampliação
das práticas da Psicologia para além dos tribunais – no Ministério Público, na Defensoria Pública, nas faculdades de
Direito, nos locais da rede de proteção e promoção de direitos da infância e juventude, no âmbito das questões de
gênero e de direitos da mulher -, têm suscitado nos profissionais uma série de questionamentos sobre sua atuação na
interface com a justiça. Tais perspectivas críticas têm possibilitado a emergência de novos arranjos e novos regimes de
saber-fazer entre Direito e Psicologia, embora nem sempre este processo caminhe para pactuações e consensos.
Compreendemos que essas articulações tensionam os saberes e fazeres da Psicologia na medida em que os
mecanismos jurídicos, na forma como se materializam, para além de delimitarem direitos e incidirem sobre os sujeitos
enquanto cidadãos, transbordam as práticas judiciárias e constroem saberes sobre a própria definição de sujeito.
Produzem, portanto, subjetividades possíveis no contemporâneo circunscrevendo definições de infância, juventude,
família, gênero, sexualidade, saúde, violência, danos, afetos, dentre outros.
As práticas jurídicas e psicológicas, compreendidas enquanto produtoras de subjetividades, se tornam objeto de
preocupação quando contribuem para a judicialização da vida, processo no qual estamos imersos de forma central.
Este modo de subjetividade contemporâneo têm como efeitos o assujeitamento dos conflitos cotidianos, muitas
vezes, às duras instâncias da justiça deslocando, portanto, o sujeito da condição de protagonista de sua própria
história. O resultado deste processo de judicialização das vidas costuma ser frustrante e nada aproximado a uma
sensação real de justiça.
Partindo das reflexões da Psicologia Social, objetivamos com esse Grupo de Trabalho problematizar as articulações
que se constroem na interface com o Direito e a Justiça. A proposta é analisar como algumas práticas profissionais e
de pesquisa em Psicologia se constroem na interface com o Direito lançando luz sobre o que se considera um dos
pilares do Estado Democrático. Cabe nessa problematização colocar em questão os jogos de poder que estruturam os
modos de funcionamento do Sistema de Justiça e como eles criam discursos sobre o que judicializar, quem é sujeito
reconhecido como demandante de pautas de direitos e, sobretudo, como as disputas devem ser tratadas nas
instâncias de justiça. O desafio que se evidencia a partir daí para a Psicologia Social é identificar este conjunto
discursivo e como ele cria espaços de inclusão ou exclusão de sujeitos, reconhecimento da legitimidade de pautas e
demandas diversas, bem como os sujeitos sociais têm construído estratégias de enfrentamento e resistência e este
cenário. Para além destes aspectos, é importante verificar como profissionais da psicologia têm lidado com as
diferentes demandas de judicialização e contribuído para que o saber psicológico problematize estes processos e
garanta um sistema de democracia participativa cultivado como ideal da prática social.
Considerando a interface entre Psicologia Social e Direito, e a necessidade de construção de estratégias de
democratização, é importante ter em vista os complexos movimentos entre direitos que se ampliam e se restringem,
tomando como base os paradoxos presentes nas práticas de pesquisa e atuação no campo profissional de
psicólogas(os). De um lado é possível salientar a ampliação dos objetos judicializáveis e as práticas de judicialização
das relações sociais na contemporaneidade, que buscam o sistema jurídico como palco primordial de resolução dos
conflitos. De outro lado, é possível colocar em questão a restrição do acesso a direitos considerados fundamentais,
com o encolhimento de políticas públicas e a consequente violação sistemática de direitos. Dessa forma, poderíamos
colocar em questão que interesses emanam dessas contradições e, mais precisamente, a ampliação dos poderes
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judiciários e restrição de direitos tomando como base as discussões críticas, ou seja, como estes movimentos se
relacionam com os jogos de saber-poder e ideologia presentes atualmente.
Nesteàse tido,àp opo osàesseàg upoàdeàT a alhoà i uladoàaoàEi oàte ti o:à Éti a,à iol iasàeàjustiçaàe àte posàdeà
et o essosà u dialà eà a io alà dosà di eitosà hu a os .à Co idamos a participar desse Grupo de trabalho
pesquisadoras(es), profissionais e estudantes que estejam engajados em campos ou reflexões que se situam na
interface Psicologia Social e Direito e que estejam instigados a problematizar as relações de poder e ideologia que
encontram nos seus fazeres e saberes e, com isso, contribuir para a construção de possibilidades de reposicionamento
dos sujeitos, resistências, outras práticas de justiça, outros saberes e fazeres entre Psicologia e Direito e outros modos
de sujetivação. Assim, compreendem questões de interesse para serem debatidas e ampliadas neste Grupo de
Trabalho: 1)- impasses da judicialização da vida cotidiana (internação compulsória, medidas sócio-educativas, Bullying,
violência contra as mulheres, jovens, negras(os), LGBTs e outras minorias), 2)- conflitos nas famílias (alienação
parental, abuso sexual, abandono afetivo, exercício da maternidade em contexto de uso de drogas, encarceramento e
situaç oà deà ua,à … ;à - questões criminais amplas (sistema penitenciário e seus impasses); 4)- sistemas não
judicializados e que clamam por direitos (LGBTfobia, união homoafetiva), 5)- composição de conflitos (mediação,
conciliação e métodos não adversariais) e 6)- formação e atuação profissional interdisciplinar.
Acreditamos que a análise crítica destas questões contribui para complexificar o debate e arguir os modos pelos quais
psicólogas(os) e operadoras(es) do direito que atuam no âmbito da justiça e dos direitos pensam e fazem sua
formação e exercício profissional.

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A bissexualidade na jurisprudência: as engrenagens do discurso monossexual
Autores: Marcela Maria dos Santos, UFMG; Lisandra Espíndula Moreira, UFMG; Mariana Moreira Silva, UFMG; Míriam
Ires Couto Marinho, Casa de Referência da Mulher Tina Martins
E-mail dos autores: santosmarcela897@gmail.com, miriamires@gmail.com, marimoreira7@yahoo.com,
lisandra.ufmg@gmail.com

Resumo: A bissexualidade na jurisprudência: as engrenagens do discurso monossexual


Esse trabalho inscreve-se numa pesquisa mais ampla¹, cujos objetivos são averiguar e tencionar os enunciados acerca
das orientações sexuais e identidades de gênero que permeiam o cenário jurídico , em especial, abordaremos nessa
escrita questões vinculadas à bissexualidade. Com base nos aportes teóricos, em especial as teorizações de Foucault e
Butler, e na análise desses materiais jurídicos, é possível evidenciar que o discurso jurídico não está livre de amarras
normativas. Pelo contrário, é muitas vezes a principal engrenagem que age na construção e manutenção de discursos
que legitimam posturas binárias, machistas e lgbtfóbicas. Interessa-nos nessa escrita compreender como se constroem
as noções de bissexualidade nos documentos jurídicos.
Nesse sentido, este trabalho alarga o debate entre psicologia e direito, problematizando os discursos presentes nas
jurisprudências que apresentam algum atravessamento sobre as diversas expressões da sexualidade, o qual pretende
dialogar com o GT 49 | Saberes e fazeres da Psicologia no campo da Justiça e dos Direitos. Entende-se que qualquer
expressão da sexualidade está inscrita num horizonte histórico no qual a possibilidade de existir do sujeito é colocada
a serviço de um conjunto discursivo que rege a materialidade dos corpos. O campo jurídico vem se mostrando um
campo de disputa entre as reivindicações de garantias de direitos da população LGBT e, também, um palco de
reproduções que aprisionam ou silenciam esses sujeitos. O objetivo dessa pesquisa é colocar em questão os jogos de
poder que estão sendo disparados em tal disputa.
A busca dos materiais foi realizada a partir de descritores para cada expressão da sexualidade e para cada TJ (TJMG,
TJSP, TJRJ e TJES). Dos materiais encontrados, selecionamos os 10 mais recentes de cada TJ para a análise. Nossas
análises apontam certa invisibilidade em relação à bissexualidade. Não que não tenhamos encontrados documentos
com a citação dessa palavra, mas pela quantidade menor em relação a outros descritores - nos tribunais do estado do
Espírito Santo e Rio de Janeiro a busca não completou 10 acórdãos – e pelas características da sua aparição nos
documentos.
Para uma primeira visão quantitativa, o banco de materiais da presente pesquisa consta com 31 acórdãos, nos quais o
termo bissexual aparece na ementa e/ou inteiro teor do acordão. O número reduzido de materiais e principalmente o
apagamento dessa sexualidade na análise dos materiais corroboram para um certo apagamento dos sujeitos
bissexuais. Dos 31 acórdãos, 11 apresentam o descritor bissexual apenas como nomeação por extenso da sigla LGBT,
sem discutir questões relativas à bissexualidade. Já quando o descritor bissexual se refere a uma das partes
envolvidas no processo, nem sempre há realmente uma discussão ou problematização sobre essa questão.
Percebe-se que as questões da bissexualidade se invisibiliza nos discursos das sexualidades hetero, lésbica, gay. Dessa
maneira, é possível questionar: como a bissexualidade atravessa as decisões jurídicas? A bissexualidade aparece nas
disputas jurídicas como um mero dado de uma das partes ou há um jogo discursivo sobre ela?
O presente trabalho investiga essas sobreposições de discursos, as nuances e os atravessamentos, numa perspectiva
interseccional. Entender o fenômeno da invisibilidade bissexual pode trazer reflexões acerca dos possíveis
desdobramentos que alguns enquadramentos como a compulsoriedade da norma monossexual.
Na análise dos discursos que compoem os acordãos, ficam evidentes alguns tensionamentos dos enquadramentos
normativos que a bissexualidade desequilibra. Notou-se uma invisibilidade dessa categoria a partir da forma pela qual
ela é convocada nos textos. A bissexualidade é questionada, ou seja, um sujeito bissexual que se relaciona com o sexo
oposto, naquele momento, é lido como heterossexual e sua sexualidade não é levantada, não precisa ser dita. No
entanto, esse apagamento ainda dá notícia não só de uma matriz heterossexual excludente, mas, também, de uma

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certa dificuldade em conceber a bissexualidade como a expressão de uma sexualidade autônoma, livre da necessidade
de estar relacionada a partir das práticas sexuais dicotômicas.
Notou-se também nos documentos que as sexualidades LGBT são colocadas em evidência como disparadores para
algumas argumentações jurídicas ou no próprio testemunho de uma das partes. Torna-se necessário entender melhor
quais engrenagens movem esses discursos no campo jurídico, quais discursos estão em jogo quando a sexualidade é
convocada e quais enunciados se fazem presentes para legitimar um enquadramento normativo em detrimento de
outro.
¹Tal pesquisa, cujo título Gênero e sexualidade na jurisprudência , está em andamento atualmente e tem como
objetivo principal analisar os enunciados a respeito de gênero e sexualidade em documentos jurídicos dos Tribunais de
Justiça dos estados da Região Sudeste do Brasil, problematizando as demandas feitas ao judiciário e os discursos que
sustentam esses enunciados.

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A experiência do estágio supervisionado em Psicologia Social e Jurídica: poderes, potências e provocações
Autores: Cássia Maria Rosato, UFPE/Devry Unifavip
E-mail dos autores: cassiarosato@yahoo.com.br

Resumo: Nesse trabalho, objetivamos apresentar a experiência de supervisão de estágio em Psicologia Social e
Jurídica do curso de Psicologia da Unifavip, em Caruaru/PE, iniciada em 2014 e que prossegue até os dias atuais. Na
área social, a ênfase tem sido privilegiar a atuação numa perspectiva comunitária, no campo das políticas de
assistência social: proteção básica e proteção especial. Significa dizer que as/os alunas/os realizam seus estágios nos
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social
(CREAS). Já na área jurídica, os desafios têm sido maiores. Inicialmente, vale mencionar a heterogeneidade do que se
compreende por Psicologia Jurídica e quais atividades/funções seriam desempenhadas por essa especialidade. Nesse
sentido, cabe mencionar que tratamos aqui de uma compreensão ampliada de Psicologia Jurídica, na perspectiva
proposta pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) que compreende essa atuação psi na interface com a Justiça.
Significa dizer que a Psicologia Jurídica pode estar presente em diferentes contextos, especialmente naqueles espaços
em que a Psicologia estabelece uma interface com o Direito. Desse modo, há que se considerar outras instituições,
especialmente do Poder Executivo e no âmbito de organizações na&#771;o-governamentais (ONGs) que possuem um
caráter interdisciplinar, combinando profissionais da Psicologia, do Direito e outras áreas do conhecimento.
Entendemos que não se trata de uma atuação da Psicologia Jurídica strictu sensu diretamente dentro no Poder
Judiciário, porém, acaba exigindo da/o psicóloga/o um conhecimento mínimo de direitos, tema de interesse do
presente trabalho. Nesse rol de instituições estão todas aquelas relacionadas à infância e juventude, seja em nível de
medidas protetivas, como medidas socioeducativas, podendo ser instituições governamentais como também ONG s.
De modo mais específico, existem os CREAS e as ONG s que executam as medidas socioeducativas em meio aberto, as
instituições da Fundação Nacional do Sistema Socioeducativo (FUNASE) responsáveis pelas medidas socioeducativas
em meio fechado. As unidades de acolhimento institucional de crianças e adolescentes sob medidas protetivas
também se configuram como espaços potenciais para atuação da Psicologia Jurídica. Ainda no Poder Executivo, a
despeito da precariedade que tem caracterizado o sistema prisional, em nível nacional, temos a penitenciária de
Caruaru que conta com profissionais da Psicologia em seus quadros funcionais e tem sido uma parceira importante na
realização do estágio. Feita essa descrição da heterogeneidade do campo de atuação da Psicologia Social e Jurídica,
cabe apresentar algumas reflexões relativas à formação em Psicologia e como tem se caracterizado o conhecimento e
a intervenção profissional nessa área. Em relação à formação em Psicologia, ainda nos dias de hoje, é possível
constatar a ausência de conhecimentos de legislação e ciência política nas grades curriculares. Isso é minimizado por
disciplinas que discutem sociologia, políticas públicas e a recente inserção de psicólogos/as no campo da Saúde e da
Assistência Social. Ainda assim, tem sido possível perceber um desconhecimento por parte de um quantitativo
significativo de alunas/os no que diz respeito à constituição do Estado, os poderes e suas instituições. Dessa forma,
adentrar em distintos espaços do Poder Público, seja Judiciário e/ou Executivo, exige uma bagagem de conhecimentos
conceituais que não costuma fazer parte da formação em Psicologia. Dentro desse contexto, pretendemos discutir a
experiência do estágio e da supervisão, a partir da tríade: poderes, potências e provocações. Pensar o poder com
Foucault (1979/2008) e as potências de ação com Espinoza (1988) e Sawaia (1999), para então produzir provocações
capazes de problematizar as vivências e as intervenções realizadas durante o estágio. Compreendemos que o estágio
supervisionado é extremamente importante para a formação acadêmica, pois se trata de um momento em que as/os
alunas/os se deparam com as contradições entre teorias, práticas e dilemas profissionais. O espaço da supervisão
configura-se como imprescindível para trabalhar os impactos vivenciados e a incompletude das disciplinas até então
cursadas. Esse cenário tem permitido reconhecer a existência de uma potência de ação e reflexão proporcionada pela
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vivência do estágio e da supervisão. Sendo assim, pretendemos aprofundar como tem se dado esse trabalho
envolvendo estudantes, psicólogas/os preceptoras/es, público atendido e a supervisão do estágio. Avaliamos que é
preciso problematizar as práticas instituídas, suas contradições e como tem se dado o atendimento à essas pessoas,
considerando que a maior parte do público atendido encontra-se em condição de vulnerabilidade.

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A socioeducação nas medidas socioeducativas: (re) produção da (des)igualdade social?
Autores: Vanessa Petermann Bonatto, UNESP-Rio Claro; Débora Cristina Fonseca, UNESP; Juliana Cavicchioli de Souza,
UNESP-Rio Claro
E-mail dos autores: vanessapbonatto@hotmail.com,juliana.cavicchioli@uol.com.br,dcfon10@gmail.com

Resumo: Este trabalho objetiva refletir a respeito da concepção de socioeducação nas medidas socioeducativas e sua
possível contribuição para a (re)produção da (des)igualdade social. Trata-se de uma discussão teórico conceitual, à luz
de Bourdieu, que contribuiu significativamente para pensar os espaços (físico e social) enquanto facilitadores dos
mecanismos de reprodução da desigualdade. Neste trabalho, a contribuição do autor destaca-se na problematização
das lógicas reprodutivistas no contexto das medidas socioeducativas. E, considerando a complexidade do conceito de
reprodução utilizada por Bourdieu partimos de produções teóricas e de práticas de atores e instituições que
encontram-se no campo das medidas socioeducativas. Neste contexto, é possível observar relações de reprodução,
legitimadas por ações excludentes e estritamente punitivas, que acabam contribuindo para arraigar desigualdades e
sustentar privilégios no acesso a direitos por parte dos adolescentes em conflito com a lei, questão que se aproxima da
proposta do GT 49 Saberes e Fazeres da Psicologia no campo da Justiça e dos Direitos . Para essa discussão, o
conceito socioeducação é entendido enquanto. Partindo do conceito de socioeducação enquanto conjunto articulado
de ações que se aproximam da educação por sua intencionalidade voltada ao desenvolvimento potencial dos jovens,
conforme Pinto e Silva (2014), observa-se relações entre a dimensão educativa da medida socioeducativa e os
mecanismos de reprodução da desigualdade social, uma vez observado que a definição de socioeducação nos
documentos ECA (1990), SINASE (2006) e outros é vaga e inconsistente, podendo contribuir para uma diversidade de
interpretações e práticas por parte dos atores envolvidos com esta temática (desde instituição e orientadores de
medida socioeducativa até e, em especial, o adolescente em conflito com a lei). Essa diversidade de práticas, tomada
acriticamente, contribui para a realização de ações que, conforme discutido por Zanella (2012), reproduzem nos
espaços socioeducativos onde são aplicadas as medidas socioeducativas, a tendência tradicional de culpabilização dos
adolescentes, eximindo a sociedade de sua responsabilidade sob os jovens, e firmando o discurso da necessidade de
ajustamento social dessas populações concebidas como marginalizadas. Percebemos que as propostas pedagógicas
nessa perspectiva trazem uma intencionalidade funcional de combater a desigualdade social por meio da disciplina e
do trabalho. O que se percebe a partir das leituras é que o sentido de trabalho está associado à reprodução das lógicas
de mercado, da precarização da mão de obra. Neste contexto, o trabalho enquanto instrumento importante no
processo de constituição da identidade, em especial da identidade do jovem, que caminha para tornar-se adulto
permanece negligenciado. Sob essa ótica, Jacques (2015) tem demonstrado que na execução das medidas
socioeducativas há prevalência de práticas coercitivas e de discursos moralizantes, contraditoriamente aos princípios
defendidos em lei. Essa questão aponta ainda para a presença marcante de práticas assistencialistas, que elegem os
adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas como marginalizados, legitimando as desigualdades ao
invés de promover condições de ascensão social e potencializar autonomia desses sujeitos. Com base nas questões
apresentadas, é possível repensar as condições em que se dão as práticas voltadas à socioeducação, os pressupostos
norteadores destas, bem como e os conceitos em que estão alicerçadas as ações dos serviços responsáveis pelo
atendimento aos jovens em conflito com a lei. Por conseguinte, notamos a possibilidade de desenvolver e aperfeiçoar
reflexões de modo a aprofundar estudos teóricos e práticas à respeito da materialização da socioeducação nas
medidas socioeducativas. Além disso, a problematização de tais questões apresentadas pode contribuir para o
desenvolvimento de pesquisas futuras sobre o tema no sentido de pensar a formação dos atores sociais envolvidos na
execução e cumprimento das medidas socioeducativas, de forma a promover e desenvolver ações mais afinadas com a
proposta de formação integral dos adolescentes em conflito com a lei.

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Referencias Bibliográficas
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.
JACQUES, Luciana Gomes de Lima. Medidas Socioeducativas em meio aberto em Guaíba: entre Pressupostos e
Significados. 2015. 198 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação em Serviço Social, Faculdade de Serviço
Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em:
<http://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/7194>. Acesso em: 14 jul. 2017.
PINTO, Patrícia da Silva; SILVA, Raquel Assunção Silveira. Socioeducação: que prática é essa? Em: PAIVA, Ilana Lemos
de. RODRIGUES, Daniela Bezerra . Justiça juvenil: teoria e prática no sistema socioeducativo Natal, RN:EDUFRN, 2014.
pp. 141-160.
ZANELLA, Maria Nilvane. As bases da socioeducação nas teorias não-críticas. Revista Diálogos: pesquisa em extensão
universitária, Brasília, v. 18, n. 1, p.137-146, dez. 2012. Disponível em:
<http://www.proceedings.scielo.br/pdf/cips/n4v2/09.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2017.

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Construções Discursivas de Transgeneridade e Travestilidade na Jurisprudência
Autores: Bruno Campos Pereira, UFMG; Antônio Augusto Lemos Rausch, UFMG; Lisandra Espíndula Moreira, UFMG
E-mail dos autores: brunopcampos.03@gmail.com,altoniolemos@gmail.com,lisandra.ufmg@gmail.com

Resumo: O presente trabalho compõe a pesquisa Gênero e Sexualidade na jurisprudência: mecanismos de


judicialização e processos de subjetivação que visa analisar os discursos construídos e atravessados por questões de
gênero e sexualidade nesse campo do Direito. A partir da análise de documentos da jurisprudência dos Tribunais de
Justiça dos estados do sudeste brasileiro, problematizamos as premissas atravessadas especificamente por questões
de transgeneridade presentes nos documentos analisados, principalmente devido à construção discursiva das
identidades transexual e travesti. Para tratar dessas construções, partimos de uma base teórica que coloca em
questão os mecanismos de funcionamento do poder na produção discursiva dos sujeitos e de suas precariedades,
tendo em vista a leitura de Foucault empreendida por Butler e a própria arguição teórica de ambos os autores, além
de uma perspectiva feminista interseccional para discussão das questões de gênero.
Os discursos formados nos materiais da jurisprudência produzem como efeitos a regulação, a delimitação e a
formação de sujeitos, uma vez que a argumentação ali produzida tem como objetivo determinar uma ação judicial
sobre o sujeito evocado e submetido, então, à norma geralmente implícita nos argumentos utilizados. Além disso,
evidencia-se o poder normatizador do qual é dotada a Jurisprudência, já que se trata de um poder jurídico reprodutor
e formador de discursos que reverberam em outras instâncias da vida social dos sujeitos que perpassam as redes de
argumentações. Assim, quando a travesti ou a transexual, sujeitos evocados nos materiais que compõem o corpus de
análise deste trabalho, é evocada no discurso jurídico expresso nos documentos, ocorre, com efeito, a regulação
dessas identidades e, consequentemente, a formação de sujeitos segundo enquadramentos elaborados e reforçados a
partir desses discursos.
Para a seleção dos materiais foram pesquisados acórdãos em cada um dos quatro Tribunais de Justiça da região
sudeste, utilizando os marcadores transexual , travesti , traveco e transgênero . Utilizamos os 10 acórdãos mais
recentes de cada TJ, totalizando, então, 40 documentos analisados. Na análise dos materiais, percebemos que os
documentos constroem de maneira diversa os marcadores transexual e travesti , chamando atenção consideráveis
diferenças para cada marcador. O primeiro - transexual - geralmente associado à processos cíveis, como documentos
de retificação de nome/sexo, onde percebe-se a predominância do discurso médico e patologizador sobre as
transexualidades sustentado pelas categorias diagnósticas da Classificação Internacional de Doenças - CIDs. Ainda
assim, a transexualidade aparece relacionada a garantia de direitos, enquanto os documentos que continham os
marcadores relacionados às travestis eram, em sua maioria, processos criminais, onde havia uma associação constante
da travestilidade à práticas ilícitas. A travestilidade nesses documentos é utilizada na construção de cenários, se
apropriando também de elementos da prostituição e do tráfico de drogas para a construção de um ambiente
criminoso , ou ainda na ênfase constante nesta identidade de gênero, atribuindo caráter de periculosidade à ela.
Além disso, partindo de uma perspectiva interseccional, também procuramos compreender como além das categorias
de gênero, outras categorias como estética, raça/etnia e classe social se articulam na distribuição da violência e
também na constituição da identidade social travesti apropriada pelo direito, e como este torna estes corpos abjetos
por não se enquadrarem em sua matriz.
Portanto, este trabalho compreende a partir do exame crítico desses discursos, como se dá a formação normativa das
identidades travesti e transexual na Jurisprudência que resulta em enquadramentos de vulnerabilidade e violência
desses sujeitos e seus corpos. Ademais, buscamos evidenciar como estes dois campos do saber, Psicologia e Direito, se
atravessam na constituição de subjetividades a partir das premissas expressas nos documentos e perpassadas pelas
relações de gênero e suas interseccionalidades.

1049
Encontros psi-jurídicos na Defensoria Pública paulista: o entreprofissional e seus efeitos na formação
Autores: Renata Ghisleni de Oliveira, PUC SP
E-mail dos autores: reghisleni@yahoo.com.br

Resumo: Esse trabalho é parte da pesquisa de Doutorado em Psicologia Social que analisou os encontros
entreprofissionais na Defensoria Pública do Estado de São Paulo, tomando a experiência dos Centros de Atendimento
Multidisciplinar (CAM), um dos lócus de atuação interdisciplinar entre psicólogos, assistentes sociais e defensores
públicos na organização. As indagações advindas da pesquisa se inserem num contexto mais amplo de
tensionamentos, disputas, alianças e coexistências que constituem o chamado campo psi-jurídico, fazendo deste um
importante espaço de análise dos saberes e das práticas psicossociais. A Defensoria Pública paulista foi escolhida por
acreditarmos que se trata de uma organização do sistema de justiça que pode dar visibilidade às problemáticas da
população pobre que, historicamente, teve e tem, muitas vezes, suas questões, menorizadas. Além disso, fez sua
entrada recente no cenário jurídico paulista (2006) e apresenta uma série de propostas consideradas inovadoras que
orientam suas ações. Uma dela nos interessou particularmente neste estudo diz respeito à potencialização de práticas
entre Psicologia, Serviço Social e Direito, com a criação dos CAMs, e aos modos como se dão, nas práticas aí
desenvolvidas, os encontros entre saberes e fazeres profissionais, bem como os itinerários de formação forjados neste
contexto. Considerando a história do campo psi-jurídico, inseparável das táticas de normalização e a ampliação da
presença psi e psicossocial nos contextos do sistema de justiça para além dos tribunais, em outros equipamentos
como a Defensoria Pública e o Ministério Público, nos perguntamos: a entrada de psicólogos e assistentes sociais
numa organização que visa à promoção, luta e garantia dos direitos de uma população historicamente marcada por
entraves no acesso à justiça poderia suscitar arranjos mais transversais e cogestionários no cenário jurídico? O que se
passa entre Psicologia, Serviço Social e Direito na Defensoria Pública? Como acontecem as práticas entre profissões
neste contexto? Poderiam estes encontros sinalizar a emergência de modos de fazer menos disciplinares ou até
mesmo desdisciplinares no âmbito da assistência jurídica e do acesso à Justiça? Para tanto, optamos por nos referir à
interface entre Psicologia, Serviço Social e Direito por encontros entredisciplinares e entreprofissionais com o
intuito de problematizar, sobretudo, as terminologias interdisciplinar e multidisciplinar que são frequentemente
usadas de modo indiscriminado e pouco crítico para nomear o arranjo entre diferentes disciplinas. Apresentaremos
algumas experiências formativas que mostram a potência da formação enquanto dispositivo, ao suscitar certa
abertura do coeficiente de transversalidade e a emergência das dimensões entre e coletiva das práticas.
Acreditamos que a análise crítica destes fazeres contribui para complexificar o debate e arguir os modos pelos quais –
psicólogos, assistentes sociais e operadores do direito que atuam nesse campo – pensam e engendram sua formação e
exercício profissional. A orientação teórica apoia-se nos estudos de Michel Foucault, especialmente, nos conceitos de
disciplina, relações de saber-poder e modos de subjetivação; na Análise Institucional Francesa e na Filosofia da
diferença, principalmente, nos conceitos de coeficiente de transversalidade, intercessor e na noção de encontro. A
estratégia metodológica utilizada foi a pesquisa-intervenção que contou com a elaboração de diários e de narrativas
sobre o acompanhamento das práticas profissionais na Defensoria Pública paulista. A pesquisa empreendida abre
caminhos para problematizar a noção de campo psi-jurídico, como uma unidade fechada e identitária, e para pensar
nas interferências entreprofissionais e entredisciplinas provocadas pelos dispositivos transversais forjados no processo
de trabalho e nos itinerários de formação que supõem o permanente exercício do entre posições e possibilitam o jogo
da diferenciação. Desse modo, acreditamos que este trabalho encontra-se em estreito diálogo com o eixo temático
Ética, violências e justiça em tempos de retrocessos mundial e nacional dos direitos humanos e contribuirá para a
realização de um profícuo debate no Grupo de Trabalho Saberes e fazeres da Psicologia no campo da Justiça e dos
Direitos .

1050
Judicialização de Maternidades Vulneráveis: caso Mães Órfãs em Belo Horizonte
Autores: Raíssa Gabriella de Matos Lopes, UFMG; Julia Dinardi Alves Pinto, UFMG; Lisandra Espíndula Moreira, UFMG
E-mail dos autores: raissalopespsi@gmail.com,juliadinardi@gmail.com,lisandra.ufmg@gmail.com

Resumo: A presente comunicação pretende expor e problematizar um cenário evidenciado em Belo Horizonte em que
mães puérperas de determinados contextos sociais tornam-se alvo de controle e avaliação, levando em muitos casos à
retirada e abrigamento dos bebês de maneira compulsória. Tal prática vem sendo estimulada pelo próprio sistema de
justiça, sobretudo pela Promotoria da Infância e da Juventude do Ministério Público de Minas Gerais, que publicou em
2014 recomendações determinando a comunicação à Vara da Infância e da Juventude dos casos de gestantes e mães
usuárias de substâncias entorpecentes para decisão acerca do abrigamento do recém nascido. Tal entendimento
ganhou ainda mais consistência após a publicação da Portaria nº 3/2016 da Vara Cível da Infância e da Juventude de
Belo Horizonte, a qual determina que profissionais da saúde e da assistência social das maternidades devem
comunicar em até 48h à Vara Cível da Infância e da Juventude sobre os casos em que forem verificadas situações de
grave risco, exemplificada como condição da gestante, parturiente ou puérpera de dependência química ou por
possuir trajetória de rua . O dispositivo oferece ainda uma sanção penal para os profissionais que não relatarem o
caso conforme determinação.
Nesse contexto, verificada-se o acolhimento generalizado dos bebês filhos de mães em situação de rua, de mães que
façam ou que já tenham feito uso de drogas, dentre outros casos de mães em situação de vulnerabilidade. Em grande
parte dos casos a família extensa não tem sido buscada, bem como e a justificação do abrigamento, da destituição do
poder familiar e da adoção concentram-se em argumentos referentes à condição socioeconômica. Além disso, foi
denunciado que muitos profissionais da saúde e da assistência social têm sido coagidos para cumprir tais diretrizes.
Diante desse quadro, algumas instituições têm se mobilizado na cidade, dentre elas a Clínica de Direitos Humanos da
UFMG, programa de extensão inserido na Divisão de Assistência Judiciária da universidade, tem estudado esses casos
e diretrizes, e agido amplamente, oferecendo assistência jurídica nos processos individuais, além de promover
também a articulação com comunidade acadêmica, sociedade civil e instituições. O projeto tem também o objetivo de
garantir a integridade do profissional de saúde e do assistente social no exercício de seu cargo sem o risco de violar o
sigilo profissional e a relação de confiança que deve haver nestes casos. Em uma parceria com o projeto Gênero e
Sexualidade: ações interdisciplinares, tem-se pretendido colaborar na formulação e difusão dos conhecimentos
produzidos nesta imersão, compreendendo a importância de um olhar também interdisciplinar sobre essas demandas,
tendo em vista suas implicações subjetivas.
A atenção à promoção e consolidação dos direitos humanos tem se construído por meio da atuação estratégica em
direitos humanos, meio pelo qual se busca mobilizar diferentes atores para uma atuação também coletiva frente a
esta conjuntura. . Entendemos que essa situação pode representar uma grave violação dos direitos de mulheres e
crianças em função da não observância de alguns parâmetros preconizados inclusive pelo ECA, sendo necessário
problematizar acerca dos cuidados no tratamento de mães e gestantes em situação de vulnerabilidade, discutindo
ainda a importância que os relatórios emitidos por estes profissionais têm tomado na condução dos casos e refletir
acerca dos valores e representações que estes dispositivos têm mobilizado são alguns dos pontos a serem discutidos
no presente trabalho.
A presente comunicação pretende expor e problematizar esse cenário, bem como os resultados e as dificuldades
encontradas nesse trabalho que vem sendo desenvolvido. O que se observa é um claro movimento de judicialização
da vida, em que o judiciário amplia seu domínio naquilo que tange à administração de condutas ocupando então
espaços antes habitados por outras áreas do saber, neste caso, a saúde e a assistência social. A lei se impõem e se
pretendem referência para a atuação destes profissionais, induzindo-os a violações de princípios éticos da profissão,
caros aos atuantes na área da saúde: a confiabilidade e o sigilo profissional, além de impedir um posicionamento
crítico perante a complexidade dos fenômenos sociais, que devem ser pensados enquanto construções,
contextualizadas ao território em determinado tempo histórico. Isto é, a técnica não deve ser dissociada da política. Os
1051
dispositivos supracitados atravessam o campo da saúde e das políticas públicas, que deveriam estar presentes na
lógica de proteção estipuladas pelo ECA. A partir de uma previsão que viola a convivência familiar e da judicialização
dos casos observamos a produção de um movimento de individualização e punição diante de problemas que emanam
do contexto social, expondo o jogo de poder em que estão inseridos: o tribunal é tido como o detentor da verdade,
além de ou em consequência de sua pretensa neutralidade e perspectiva apolítica. O que se observa é que a
judicialização é, para este público, o lugar da não escuta e da morte política, nascedouro do racismo de estado.

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Justiça Restaurativa: reflexões sobre intervenções alternativas com adolescentes envolvidos em conflitos
Autores: Luana Mundim de Lima, UFU; Anabela Almeida Costa e Santos Peretta, UFU
E-mail dos autores: luana_mun_dim@hotmail.com,anabelaacs@gmail.com

Resumo: A Justiça Restaurativa (JR) oferece um contraponto ao modelo punitivo da justiça retributiva e,
fundamentada em valores e princípios restauradores, objetiva propiciar a reparação dos danos ocasionados pelo
delito e/ou conflito, a restauração das relações rompidas, a ressignificação da situação e a reinserção social das partes
envolvidas – vítima, ofensor e suas comunidades –, sempre respeitando os seus direitos e se atentando para as suas
necessidades. Dessa forma, a JR consiste em um paradigma que propaga uma visão mais humanizada dos envolvidos,
bem como considera o meio social como parte integrante e constituinte da subjetividade dos indivíduos. Embora a
origem da JR seja relativamente recente – em 1989, na Nova Zelândia –, existem indícios das práticas restaurativas
anteriores à primeira era cristã. Além disso, os princípios da JR vêm sendo disseminados internacionalmente, existindo
o desenvolvimento de práticas restaurativas em diversos países, como: Nova Zelândia, Austrália, País de Gales,
Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Argentina, Colômbia e Brasil. No Brasil, encontramos relatos de
projetos que se embasam no modelo restaurativo em cidades como Porto Alegre, São Caetano do Sul-SP, Santo André-
SP, Brasília, Amazonas e Belo Horizonte. Pode-se afirmar que a JR também se estende a diversos meios, indo além do
âmbito jurídico, e sendo muito utilizada na resolução de conflitos no meio escolar e na comunidade como um todo.
Dessa forma, o presente estudo pretendeu conhecer, a partir da literatura, as práticas restaurativas que estão sendo
desenvolvidas, no contexto brasileiro, com adolescentes que se envolveram em conflitos; compreendendo assim se os
objetivos da JR estão sendo cumpridos ou não e a forma como a Psicologia contribui para as práticas. Tal pesquisa se
pautou numa perspectiva histórico-cultural, que compreende a adolescência de maneira contextualizada e não só
como uma fase de transformação ou maturação física; nessa concepção o modo como o adolescente se reconhece é
construído dialeticamente a partir do modelo de sociedade no qual está inserido. Além disso, consideramos que a
atuação do psicólogo compreende uma dimensão educativa e que deve se pautar na não estigmatização, na promoção
de escuta, de mediação de relações e reflexões e da participação e do protagonismo dos indivíduos. Assim, este
trabalho relaciona-se com o eixo temático Ética, violências e justiça em tempos de retrocessos mundial e nacional dos
direitos humanos , pois propomos a investigação de uma prática que se compromete com a promoção de equidade,
respeitando e defendendo a diversidade, as singularidades, os direitos e as necessidades humanas, visualizando-os
como essenciais para a ressignificação dos papéis dos sujeitos e das situações conflituosas e possibilitando a
construção de relações menos violentas, mais democráticas e dialógicas. A JR também se contrapõe ao sistema de
justiça violento e punitivo que está em vigor. No que se refere ao método da pesquisa, o primeiro procedimento
utilizado foi uma busca nos bancos de dados Bvsalud e Scielo, entre setembro e outubro de 2015, usando os
descritores Justiça Restaurativa, Psicologia e Adolescência combinados de maneira distinta, nos dando acesso a 35
artigos no total; posteriormente retiramos os textos repetidos, os que eram em outra língua (inglês e espanhol), os
anteriores a 2010 e os que não descreviam práticas brasileiras com adolescentes. Por fim, foram selecionadas quatro
publicações: dois artigos e duas dissertações. Em seguida foi realizada uma análise de conteúdo, por meio de leitura
flutuante dos textos, destacando as unidades de sentido que nos possibilitaram formular as seguintes categorias: 1)
Concepção de JR; 2) Preceitos básicos da JR; 3) Práticas Restaurativas; 4) Resultados das Práticas Restaurativas; e 5)
Contribuições da Psicologia. A partir disso, constatou-se que as iniciativas de JR descritas nos trabalhos selecionados –
três conflitos escolares e uma infração à lei – cumprem com os objetivos aos quais se propõem. Entretanto, pode-se
perceber que a JR, enquanto uma prática relativamente recente no Brasil possui limitações e enfrenta dificuldades
para ser implementada efetivamente. Destaca-se a importância da contribuição da psicologia e da preparação dos
profissionais envolvidos. Observou-se a potencialidade da JR para proporcionar mudanças significativas nas relações
interpessoais e no cenário social como um todo. Assim, podemos concluir que é necessário que a justiça em suas
diversas formas considere o contexto gerador de conflitos e delitos, visto que vivemos numa sociedade repleta de
discursos de ódio e práticas punitivas, na qual o Estado se exime de suas responsabilidades e aliena a população,
1053
propiciando a naturalização da violência e a idealização do adolescente como uma grave ameaça social. Além disso,
percebemos que os conflitos relacionais são, cada vez mais, intermediados pela lei ou por algum agente que a ela
responde. Ademais, a prática restaurativa oferece um contraponto à lógica individualizante e violenta do contexto
brasileiro atual, promovendo cidadania e incentivando a emancipação das relações e dos indivíduos. Por fim,
sugerimos que sejam realizados mais estudos, a fim de compreender melhor a temática da JR e de aprimorar as
práticas desenvolvidas.

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Juventudes e Violência Urbana: Histórias de Vida de jovens em cumprimento de medida socioeducativa na cidade
de Fortaleza (CE)
Autores: Jéssica Pascoalino Pinheiro, UFC; João Paulo Pereira Barros, UFC
E-mail dos autores: jessica.psscoalino1@gmail.com,jppbarros@yahoo.com.br

Resumo: O tema da violência urbana tem sido crescentemente invocado em diferentes contextos, como em meios de
comunicação de massa, campanhas eleitorais, plataformas de governo, debates entre juristas e especialistas da
segurança pública e no âmbito dos estudos de diferentes áreas acadêmicas, a exemplo da Psicologia e da Sociologia.
Nesse cenário, costumam se sobressair tematizações que destacam as infrações praticadas por segmentos
infantojuvenis, ao passo que nem sempre são abordadas as violências de que esses segmentos são vítimas, tampouco
seus pontos de vista acerca de suas relações com atos violentos. Na tentativa de contrapor tais silenciamentos, este
trabalho tem como foco de problematização os sentidos que jovens em cumprimento de medida socioeducativa de
meio aberto em Fortaleza produzem sobre as relações entre juventude e violência urbana, a partir de suas narrativas
de histórias de vida. Esse foco apresenta-se como um caminho possível para pôr em análise como a violência urbana
entrelaça-se às vidas de jovens a quem se atribui o cometimento de atos infracionais, tanto em termos das violências
por eles praticadas, quanto em termos das ações de violação de direitos que expressam a violência do Estado e da
sociedade direcionadas a esses segmentos populacionais. Pretende-se fazer uso das narrativas de história de vidas de
jovens reconhecidos como infratores para deslocar o debate sobre violência urbana do sujeito para os processos de
subjetivação engendrados por complexas tramas de saber-poder. Diversamente, aqui as narrativas de história de vida
de jovens em cumprimento de medida socioeducativa na cidade de Fortaleza - que costumam encarnar a figura do
sujeito infrator na contemporaneidade - serão tomadas como analisadoras das continuidades e descontinuidades
das conexões entre juventude, pobreza e violência urbana no Brasil. Partimos, portanto, de uma perspectiva de
desnaturalização das relações entre juventude e violência, assim como da tal figura identitária do sujeito infrator ,
objeto de saberes e práticas ressocializadoras , problematizando sua produção a partir de certas tecnologias de
saber-poder. Os objetivos específicos deste projeto podem ser assim enunciados: fomentar espaços de discussão com
jovens em cumprimento de medida socioeducativa de meio aberto sobre histórias de vida e modos de subjetivação
juvenis; analisar produções discursivas sobre violência urbana em narrativas de história de vida de jovens a quem se
atribui o cometimento de ato infracional; problematizar conexões entre juventudes pobres e periculosidade social a
partir de narrativas de jovens que praticaram atos infracionais sobre suas trajetórias institucionais e
sociocomunitárias. O trabalho buscará articulações com os estudos de Foucault, Deleuze e Guattari e autores do
campo da Psicologia e que seguem caminhos semelhantes, estabelecendo a cartografia como método de pesquisa-
intervenção. A pesquisa ocorrerá no Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) da Barra do Ceará. A
rede CUCA representa um dos principais dispositivos que compõem políticas públicas para a juventude na cidade de
Fortaleza(CE). Os participantes deste estudo são jovens de 15 a 17 anos em cumprimento de medida socioeducativa
de meio aberto (PSC) inseridos no CUCA da Barra do Ceará durante a operacionalização desta pesquisa, tendo
participado do grupo de discussão realizado em 2017.1 e que tenham disponibilidade para participar de, pelo menos,
um dos três procedimentos metodológicos previstos, a destacar: a) conversas no cotidiano; b) entrevista narrativa de
caráter individual; c) grupo de discussão sobre histórias juvenis a partir de temas ligados ao campo dos direitos
humanos escolhidos pelos jovens apresentando-se como eixos de análise e intervenção as relações entre juventude e
violência produzidas por estes jovens.

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E ATO INFRACIONAL: lançando luzes sobre a relação entre conflitos familiares e atos
infracionais por filhos adolescentes
Autores: Mariana Silveira de Castro, PUC Minas; Rubens Ferreira do Nascimento, PUC Minas
E-mail dos autores: mari.scastro@hotmail.com,rubensfn@uol.com.br

Resumo: O trabalho procura contemplar a relação entre conflitos familiares e atos infracionais praticados por filhos
adolescentes, sob a perspectiva da mediação de conflitos de orientação comunitária. As práticas e reflexões a serem
apresentadas vêm da execução de um projeto de extensão da PUC Minas, unidade São Gabriel, em Belo
Horizonte/MG. O Projeto MediAção Comunitária: Mediação de Conflitos e Educação Comunitária , está em realização
e tem como principal objetivo promover um processo de ensino-aprendizagem em mediação comunitária por meio da
efetivação de práticas de mediação de conflitos, articuladas com ações comunitárias e atividades de educação em
direitos humanos, no bairro São Gabriel e região metropolitana de Belo Horizonte. A opção por esse enfoque se
justifica ao passo em que o projeto tem ampliado seu raio de atuação com aproximação gradual da proposta de Justiça
Restaurativa e seus procedimentos, dentre eles a mediação vítima-ofensor com adolescentes envolvidos em atos
infracionais.
Pretende-se explorar o tema anunciado utilizando-se do relato de um dos casos atendidos. Trata-se de uma pretensão
de divórcio, na qual se destaca o desencontro entre pai e mãe no exercício de autoridade com os filhos. Observa-se
que a aproximação e envolvimento em atos infracionais pela filha adolescente parece guardar conexões com a
dinâmica familiar tal como se apresenta.
O Projeto MediAção Comunitária: Mediação de Conflitos e Educação Comunitária quer se movimentar da
interdisciplinaridade para a transdisciplinaridade e ser pautado pelo compromisso social com a cidadania e os direitos
humanos. Ele articula saberes da Psicologia e do Direito, ambas as disciplinas sendo vistas como ciências de mediação.
A área privilegiada é a mediação comunitária. Nesse sentido, os atendimentos, que já ocorrem, de controvérsias de
casais, famílias, vizinhos, dentre outros, bem como os que se pretende realizar, isto é, intervenções em conflitos
intergrupais e comunitários, tendem a ser trabalhados à luz das práticas comunitárias e da educação em direitos
humanos. Sob uma orientação metodológica de pesquisa/intervenção, a mediação de conflitos de caráter
transformativa constitui o principal método adotado; os círculos restaurativos e a mediação vítima-ofensor são
recursos metodológicos que serão agregados.
No caso trabalhado, a demandante foi a esposa, que agendou atendimento na recepção com uma funcionária da
Fundação Metodista de Ação Social e Cultural (campo de atuação do projeto). Ela foi acolhida e atendida pelos
mediadores acadêmicos, que identificaram a adequabilidade da demanda e deram início ao procedimento de
mediação de conflitos com a pré-mediação e o ciclo de mediação. Em um dos encontros, no qual se recorreu a uma
técnica da Justiça Restaurativa utilizada com grupos e famílias, houve a participação da filha adolescente.
No decorrer dos atendimentos, esteve em relevo a dificuldade relacional entre esposo e esposa, mas principalmente
entre pais e filhos, ante a evidente fragilidade de autoridade da figura paternal e as frequentes cobranças pela esposa,
notavelmente controladora, de um posicionamento mais rígido desse pai, na educação cotidiana dos filhos. Outro foco
foram as frequentes ações de incivilidade, indisciplina e violência, transgressões da ordem, protagonizadas, nas
condições de ofensora ou vítima, pela filha adolescente. São exemplos: se negar, por vezes, a executar as tarefas
domésticas; envolvimento em briga na escola; relacionamento com traficante de drogas; e ato infracional análogo ao
crime de furto. Mãe e pai têm interagido com equipamentos públicos tais como escola e conselho tutelar em busca de
soluções educativas para a filha adolescente. Nesses espaços, o conflito do casal ganha visibilidade. Na mediação de
conflitos, ocorreu o contrário: o conflito do casal colocou em foco as condutas transgressoras da filha adolescente.
A mediação está ocorrendo. Pode-se observar iniciativas de diálogo, ainda que tímidas, tomadas pelo pai. A mãe
apresenta dificuldades para se auto implicar, mas é a parte mais ativa no processo. A filha parece manifestar pequenas
mudanças na relação com seus genitores e em seu ambiente social externo à família.

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Uma vez que as ações e relacionamentos entre pai e mãe (ou figuras de alteridade com papéis semelhantes) são
referências, acredita-se que as intervenções no casal e na família também podem contribuir para a construção
processual da identidade da filha adolescente, e, consequentemente, para a resolução de problemas relacionados ao
que é ordinariamente chamado de desvios de condutas sociais e, inclusive, ao ato infracional.
Assim, conforme aponta a literatura, mesmo não sendo o único fator, há, inegavelmente, íntima relação entre a
dinâmica familiar e as ações de sociabilidade de filhos adolescentes. No caso, sob reflexão, pontua-se que a mediação
de conflitos pode ser um dispositivo a contribuir para mudanças na relação conflituosa e, consequentemente,
promover alterações emancipatórias também nas partes envolvidas direta e indiretamente. Neste sentido, a
intervenção no casal e na família também pode contribuir para a resolução de problemas relacionados ao ato
infracional.

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Notas sobre o proibicionismo de drogas e o racismo institucional: Efeitos para a Juventude Negra
Autores: Vivane Martins Cunha, UFMG; Lisandra Espíndula Moreira, UFMG
E-mail dos autores: vivane.cunha@yahoo.com.br,lisandra.ufmg@gmail.com

Resumo: Esse trabalho busca problematizar alguns aspectos da política proibicionista de drogas, especialmente na
articulação com alguns intensos efeitos produzidos no contexto da juventude negra, seja através do encarceramento
ou do genocídio dessa população. O tema das drogas ilícitas tem ganhado cada vez mais centralidade nos discursos
produzidos pelo Estado. A área da Segurança Pública permanece como o grande eixo das intervenções e produções de
significados em torno da temática droga, apresentando um viés estritamente repressor, endereçado, principalmente,
a determinados segmentos sociais e raciais. Nessa lógica, o Estado se retrai na promoção do bem-estar social, e
expande sua face repressora, na qual investe a maior parte de seus recursos. O punho de ferro com o qual trata os
vulneráveis, através dos órgãos e políticas de Segurança Pública, consolida a política do medo.
O Brasil, seguindo o modelo norte-americano, consolidou-se uma consistente política proibicionista de drogas. Para
sustentar tal escolha política uma série de mecanismos legais, morais, ideológicos, dentre outros, foram produzidos
para legitimar e naturalizar a criminalização de certas drogas, nomeadas, então, de ilícitas. A última alteração da
legislação nacional de drogas, a saber, a Lei Nº11.343 de agosto de 2006 que institui o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas - Sisnad7, representou inicialmente um certo avanço ao diminuir a repressão aos usuários de
drogas, dando maior atenção no que se refere ao tratamento de toxicômanos. No entanto, aumentou o rigor do
tratamento penal destinado as pessoas que comercializam drogas ilícitas. Ademais, nessa legislação não diferencia
objetivamente o usuário de drogas da pessoa que trafica, dando alto poder discricionário ao Juiz, permitindo, assim,
uma ampla leitura subjetiva, sendo essa fortemente atravessada por uma perspectiva racista.
Além disso, esses discursos de combate às drogas escamoteiam o complexo contexto socioeconômico e político-
cultural brasileiro ao localizar as drogas ilícitas como o eixo central na produção dos intensos e avassaladores
processos de desigualdade e segregação social, além da violência urbana, nas últimas décadas. Nesse sentido,
esvaziam-se as possibilidades de compreensão do significado histórico do proibicionismo de drogas e as suas
consequências na esfera social.
As bases ideológicas do proibicionismo qualificam os jovens com envolvimento com tráfico de drogas como perigosos
e os rotulam de inimigos sociais, justificando, dessa forma, a criminalização e a morte da juventude pobre e negra. O
processo de criminalização por tráfico de drogas tem impactado de modo violento a experiência juvenil, pois, são os
jovens negros e pobres os que mais morrem, os que são encarcerados em maior número e os que menos têm acesso à
atenção médica adequada, pagando com a moeda da vida as consequências da política proibicionista de drogas.
No entanto, paralelo aos discursos repressores hegemônicos, estão se constituindo outros espaços de disputas que
produzem novas narrativas sobre as drogas, problematizando, entre outros aspectos, a relação estabelecida entre a
política de combate as drogas e as ações do Estado de cunho higienista, racista e de extermínio de uma parcela da
população. Deste modo, abrem-se espaços para questionar os sentidos produzidos em torno das drogas ilícitas e a
fabricação de novos significantes/nomeações, tais como guerra, traficante, narcotráfico, e como esses embasam a
construção de políticas e dispositivos de gestão da vida. É com esse campo de resistência que dialogamos. Nesse
trabalho, apresentaremos reflexões da pesquisa de mestrado - que se encontra em andamento - cujo objetivo
principal é analisar as relações entre a Política Proibicionista de Drogas e a Criminalização da Juventude em Belo
Horizonte, a partir da aplicação de medida socioeducativa de internação a jovens com envolvimento com drogas
ilícitas (uso e/ou comercialização).
É fundamental questionar as Políticas Proibicionistas de Drogas de modo a indagar como essas apontam para uma
individualização de conflitos, em que a criminalização indica a escolha do Estado por uma política predominantemente
punitivista e, sobretudo, seletiva. Um dos apontamentos já identificados no decorrer da pesquisa, refere-se a
importância de compreender o processo de criminalização a partir da articulação de elementos tais como: repressão,
punição e violência racial.
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Compreender como operam as dinâmicas de criminalização na contemporaneidade, expressos, principalmente, nos
discursos e nas práticas institucionais, tal como da Segurança Pública, permite-nos ampliar as análises existentes dos
processos atuais de exclusão, desigualdades e controle social. E investigar a Juventude neste contexto é emblemático,
por esse público torna-se alvo privilegiado do controle social, marcando, cada vez mais cedo, uma gestão diferenciada
de possibilidades de viver.

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O duplo estigma: louco e infrator, reflexões sobre a Medida de Segurança no Brasil
Autores: Renata Osorio Azambuja, PUC RS
E-mail dos autores: renazamb@hotmail.com

Resumo: Tema: O tema deste trabalho está vinculado ao estudo da Medida de Segurança, enquanto resposta dada,
pela legislação brasileira, ao louco infrator.

Problema: A legislação Brasileira atual entende que o louco infrator não possui capacidade para compreender o
caráter ilícito de seus atos, portanto, inimputável, recaindo sobre o mesmo o instituto da Medida de Segurança (MS),
previsto no art. 26 do Código Penal (CP). A MS possui duas espécies, sendo elas: a internação em hospital de custódia
e tratamento psiquiátrico e o tratamento ambulatorial, previstos no art. 96 do CP, perfectibilizando, assim, o que seria
um híbrido de hospital-prisão. Ainda, estipula a legislação que tanto a internação como o tratamento ambulatorial
possuem prazo indeterminado, podendo persistir até a cessação da periculosidade do agente infrator, avaliada através
de perícia médica (art. 97, §1º, do CP).
Deste modo, baseado nessas constatações, formulamos algumas questões: A MS possui natureza hospitalar ou
prisional? A MS constitui-se uma prisão perpétua (inconstitucional do Brasil)? O que há por trás dos conceitos de
inimputabilidade e periculosidade presentes na legislação vigente? A MS é o instituto adequado para lidar com o louco
infrator? O que diz o movimento da luta antimanicomial sobre o tema?

Objetivo:
Objetivo Geral: Analisar a legislação brasileira no que diz respeito ao instituto da Medida de Segurança, em especial
sua modalidade internação compulsória, bem como analisar as expressivas mudanças legislativas ocorridas após a Lei
da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/01).
Objetivos específicos:
- Realizar um apanhado histórico da MS na legislação brasileira;
- Mapear os dispositivos jurídicos, atuais, que tratam da MS na legislação nacional;
- Analisar os conceitos de inimputabilidade e periculosidade;
- Analisar o movimento da luta antimanicomial e suas contribuições sobre o tema, em especial a Lei 10.216/01.
Relação clara com o GT e eixo temático escolhido: Nossa escolha se deu pelo GT 49, denominado Saberes e fazeres da
Psicologia no campo da Justiça e dos Direitos , tendo-se em vista que não há como se falar em Medida de Segurança
sem adentrar no campo da psicologia, em especial da psicanálise e da psicologia social. A MS é o resultado da união do
delito e da loucura, do direito e da psicologia, do tratamento e da punição, assim não há melhor lugar para tratar
sobre tema do que no GT que se propõe a trabalhar questões criminais amplas, como o sistema penitenciário e seus
impasses.

Orientação teórica: Esse trabalho possui como referencial teórico fundamentalmente as obras de Foucault, em
especial A história da loucura e Vigiar e Punir , seus conceitos de biopolítica, do anormal ( monstro infrator), da
institucionalização da loucura, da higiene social, dentre outros.
Método: O método utilizado nesse trabalho foi o da Revisão de literatura, pois compilamos os achados na legislação
nacional, nas políticas públicas, nos trabalhos acadêmicos e científicos e obras existentes sobre o tema.

Resultado: O trabalho desenvolvido encontrou, de forma reduzida, as seguintes resposta as questões levantadas no
item problema: A MS possui natureza hospitalar ou prisional? Possui natureza híbrida, pois dentro da instituição
misturam-se profissionais da saúde e da realidade prisional, persistindo a lógica de punição (preponderantemente) e
tratamento.

1060
A MS constitui-se uma prisão perpétua (inconstitucional do Brasil)? Sim, pois como a própria legislação afirma possui
prazo indeterminado, podendo perdurar até o fim da vida do sujeito, através da fictícia presunção da periculosidade.
O que há por trás dos conceitos de inimputabilidade e periculosidade presentes na legislação vigente? Tais conceitos
desumanizam o sujeito, tiram a responsabilidade por seus atos, legitimando assim diversas violências contra os
internos do manicômio, em clara violação aos Direitos Humanos. Reafirmam a figura do Monstro infrator (Foucault),
replicando a lógica institucional de higiene social, legitimando e naturalizando a internação manicomial.
O que diz o movimento da luta antimanicomial sobre o tema? Defende a atribuição de responsabilidade ao sujeito por
seus atos, luta por um tratamento diferenciado ao louco infrator, fugindo da lógica manicomial, buscando formas
substitutivas a mesma.
A MS é o instituto adequado para lidar com o louco infrator? Não!

Conclusões: Através da elaboração desse trabalho, vislumbramos que se faz necessária uma profunda mudança
legislativa, suprimindo-se alguns conceitos existentes, tais como: inimputabilidade e periculosidade, pois avigoram que
o perigo é inerente ao portador de sofrimento psíquico, e que os mesmos não possuem responsabilidade por seus
atos. Reforçando-se o duplo estigma de louco e delinquente. Além do mais, é necessário investir em medidas
substitutivas a internação manicomial. O movimento da luta antimanicomial, com sua consequente Reforma
Psiquiátrica e demais reflexos, já comprovou que é possível oferecer ao louco infrator tratamento diferenciado, com
mais eficiência, possibilitando a inserção social do sujeito.

1061
Problematizando as práticas da Psicologia na Vara da Infância e da Juventude em Belém-PA
Autores: Fernanda Teixeira de Barros Neta, UFPA; Kety Franciscatti, UFSJ; Rafaele Habib Souza Aquime, UFPA
E-mail dos autores: fernandatbn@gmail.com,rafaele.habib@gmail.com,kety.franciscatti@gmail.com

Resumo: O presente trabalho trata-se de um recorte da pesquisa de mestrado realizada pela autora, o qual visou
problematizar as práticas da psicologia nos relatórios da Vara da Infância e Juventude de 2007 a 2014. Na Vara da
Infância e da Juventude de Belém estão os processos referentes aos adolescentes em situação de conflito com a lei e
se subdivide em Segunda e Terceira Vara - apuração do ato infracional e execução de medidas, respectivamente, a
qual é composta por equipes técnicas formadas por psicólogos, pedagogos e assistentes sociais. A Psicologia Jurídica,
enquanto mais um especialismo, é uma área recente, data da década de noventa, momento no qual houve expansão
desta área de atuação, contudo, a aliança da Psicologia como um saber auxiliar à Justiça remonta uma história não tão
recente. É sabido que a prática da perícia na justiça tem sido o mote da psicologia e esta constitui uma verdade sob o
sujeito. Desta feita, coube a este trabalho indagar também quais foram as possibilidades de emergência desse saber,
como este campo se constituiu e a que ele se propõe foram perguntas-chave. Como se instituíram as lógicas de que os
adolescentes são perigosos? De que os discursos psi são detentores de verdade? As práticas dos psicólogos atuantes
na área infracional juvenil são peças importantes na composição da máquina de punir os pobres, por isso a
necessidade de questionar os efeitos desse saber sobre os corpos juvenis insurgentes. Foucault nos convidou a
interrogar a relação existente entre saber, poder e verdade, afirmando que não há exercício de poder que não esteja
atrelado a uma economia de discursos, e estes geram efeitos de poder e de verdade. É fundamental estar atento aos
perigos veiculados por discursos. De porte desse cuidado, as disciplinas tornam-se alvo de uma apreciação mais
detalhada e minuciosa. Foucault (1974-75) diz que as práticas jurídicas, a partir do século XIX, mais do que punir,
objetivavam a reforma psicológica e a correção moral dos indivíduos. A Vara da Infância e da Juventude de Belém é a
instituição responsável por realizar a avaliação e o acompanhamento das penalidades aplicadas aos adolescentes
autores de atos infracionais. Ela é a porta de entrada dos meninos na malha penal e, ainda que não seja atribuição do
psicólogo realizar o julgamento final, este pertencente ao juiz, nossos saberes, a partir de nossas práticas discursivas
objetivadas nos relatórios interferem na trama de jogo de forças, no caminho a ser percorrido por esses jovens
insidiosos. Para tanto, utilizou-se como metodologia de pesquisa a genealogia de Michel Foucault para analisar os
documentos, o uso de diário de campo, e lançou-se mão da ferramenta análise de implicação da Análise Institucional.
Foram analisados no total, sete pareceres psicológicos, dez estudos de casos e seis pareceres interdisciplinares. A
partir das análises dos relatórios foram criadas as séries discursivas teorias psicológicas e noções de família - notou-
se um forte entrelaçamento do saber de uma Psicanálise no tocante aos adolescentes em situação de conflito com a
lei ficou evidente o entrelaçamento entre o lugar de falta que estes têm devido à ausência da figura paterna e o
cometimento da infração; patologização e medicalização do jovem autor de ato infracional - patologização do
adolescente autor de ato infracional com a forte presença dos manuais de doença, CID 10 e DSM-IV enquanto
referências utilizadas pelas psicólogas; lcool e outras drogas – movimento pendular para referir-se aos
adolescentes, ora como drogados e toxifílicos, ora como traficantes; e testes psicológicos e a mensuração de falhas
psicológicas . A psicologia, enquanto um saber erigido sob o cânone da disciplina da norma seguiu, nesta pesquisa,
identificando, rotulando, proferindo os desadaptados da nova ordem social, bem como, a fragmentação do fenômeno
da violência juvenil articulada com os dispositivos de segurança. Neste sentido, o caráter político da profissão, ou
ainda dos discursos das ciências humanas, esvai-se. Esta pesquisa articula-se as questões de interesse do GT 49: –
Saberes e fazeres da Psicologia no campo da Justiça e dos Direitos, já que objetivou discutir sobre a atuação de
psicólogas (os) no âmbito jurídico, promovendo problematizações de tais práticas da psicologia pela ótica dos direitos
humanos. Ao traçar uma análise crítica dos relatórios produzidos por psicólogas (os), o trabalho apresenta a relevância
1062
em se debater a ampliação da atuação da psicologia jurídica na garantia dos direitos da infância e juventude, e em
outras temáticas emergentes, como o processo de judicialização da vida. Enquanto produtora de subjetividade, a
psicologia na interface com o direito, tem situado o sujeito em uma lógica judicializante, medicalizante, enquadrando-
o em uma perspectiva punitiva, que perde de vista os diferentes arranjos e modos de vida na contemporaneidade.

1063
Psicologia e direito: relações entre alienação parental, família e poder no ordenamento jurídico brasileiro
Autores: Paulo Germano Barrozo de Albuquerque, UNI7
E-mail dos autores: paulogermano@fa7.edu.br

Resumo: Nas relações que se estabelecem hoje entre o campo das práticas jurídicas e o campo das práticas
psicológicas, especial atenção tem-se dado às questões relativas à proteção da infância e às transformações nas
formas de organização da família. Assim, por um lado, dentre os vários problemas que afetam a infância e seu
desenvolvimento, temos a alienação parental como foco de preocupação de profissionais e pesquisadores do direito e
da psicologia. Por outro, será sobre a família que recairá os procedimentos de avaliação das condutas, implicando,
muitas vezes, uma judicialização dos conflitos familiares (SOUSA, 2010). Essa atenção à infância no Brasil deve-se,
principalmente, à Constituição Federal de 1988 e ao Estatuto da criança e do adolescente (ECA) que possibilitaram o
estabelecimento de uma outra visão sobre a infância e de sua relação com a sociedade brasileira: em vez de objeto do
desejo dos adultos, a criança deve passar a ser entendida como sujeito de direitos. A CF e o ECA são, dessa forma,
marcos jurídicos que expressam uma profunda alteração na forma de organização de nossa sociedade, que implica um
redesenho das estruturas familiares e do cuidado da infância. Em meio a essa mutação, os saberes e as práticas
psicológicas exercem um papel fundamental e estratégico. Os saberes Psi serão trazidos para possibilitar uma
sustentação para as ações do campo jurídico, exercendo o psicólogo o papel de expert e as psicologias atuarão menos
como teoria ou discurso e mais como tecnologia (ROSE, 2011). Para entendermos o papel das disciplinas Psi,
precisamos compreender que a infância não é um dado da natureza, não é um mero processo biológico, mas uma
invenção moderna (ARIES, 1981), um efeito das transformações pelas quais passaram as sociedades ocidentais ao
longo dos últimos quatro séculos, principalmente nas formas de organização e funcionamento do poder,
caracterizando o que Foucault chamou de biopolítica. Nas formas de organização de poder biopolíticas (FOUCAULT,
1988), a gestão da vida torna-se a questão central e o governo das crianças e o disciplinamento da família tornam-se
núcleos de atuação dos saberes psicológicos ao longo do século XX. O discurso psicológico, principalmente por meio
da noção de desenvolvimento e de seus virtuais atrasos e desvios, será o suporte para a tecitura de uma rede de
observação e controle da família em nome da proteção da criança (FOUCAULT, 2006). No que diz respeito à família, ela
será o elemento de articulação entre diversos sistemas disciplinares e biopolíticos de controle das condutas. Como
afirma Foucault (2006), a família um elemento de solidez do sistema disciplinar . Os saberes Psi fazem da família a
instância de controle de todos os dispositivos disciplinares, e fazem da infância, o sistema de controle das condutas
dos adultos. Ora, nos anos 80 do século passado, a emergência da temática da Síndrome da Alienação Parental nos
parece mais um elemento da organização dos sistemas de controle das condutas e o surgimento da lei 12.318 no
Brasil, que pune a conduta de pais e parentes alienadores, a demonstração das relações entre Direito e as práticas
disciplinares e de normalização. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é o de trazer considerações sobre a atuação
da psicologia, enquanto ciência e profissão, na garantia e expansão da rede de proteção infantil e de vigilância dos
adultos, principalmente por meio da problemática da alienação parental, questionando os riscos que os psicólogos
correm ao não se indagarem pelas relações entre suas práticas e as formas de organização de poder na sociedade —
principalmente quando o papel do psicólogo se restringe ao papel de perito —, entre os dispositivos e os mecanismos
de tutela que são cada vez mais sofisticados e menos perceptíveis e que levam o psicólogo a promover, contra seu
desejo de promoção da paz e da justiça social, a criminalização dos conflitos familiares e a normalização das condutas.

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Uma experiência em instituição socioeducativa: reflexões sobre os direitos da criança e do adolescente
Autores: Danúbia Martins Teixeira, UFU
E-mail dos autores: danubiadmt@hotmail.com

Resumo: Sabemos que existe uma necessidade urgente de pensarmos as políticas públicas voltadas para a juventude,
entre as quais está o tratamento dirigido jovens em conflito com a lei. Atualmente, uma importante questão relaciona-
se ao modo como as instituições socioeducativas realizam seu trabalho, cujo objetivo seria promover a inclusão social
e, no entanto, acabam reforçando práticas excludentes e marginalizantes.
Este estudo relata uma experiência em uma instituição socioeducativa de Minas Gerais. Ao longo da graduação,
estagiei em Psicologia Jurídica e percebi que o trabalho do psicólogo destinava-se à promoção de atendimentos
individuais e confecção de relatórios sobre o comportamento do jovem, além de a diretoria solicitar palestras de
cunho normativo, com temáticas relacionadas a cuidados pessoais, condutas adequadas e relações familiares.
Retornei posteriormente à instituição para investigar como abrir um espaço de escuta aos jovens e contribuir com a
inclusão social de maneira diferente da que presenciei, o que culminou em uma pesquisa de mestrado, descrita neste
trabalho.
Assim, este estudo intencionou refletir e analisar possibilidades de intervenção com adolescentes em uma instituição
socioeducativa, respaldando-se na Teoria Histórico-Cultural, de Lev Semenovich Vigotski, e na Psicologia Educacional e
Escolar crítica, tanto para a realização dos encontros quanto para análise das informações. Caracterizada como
pesquisa-intervenção, foram efetivados quinze encontros ao longo de quatro meses, com jovens internados em um
centro socioeducativo, utilizando-se como recurso mediador a Arte. Reuníamos uma ou duas vezes por semana e
compartilhávamos elementos como poemas, pinturas, filmes, fotografias, vídeos e músicas, os quais possibilitavam a
partilha de sentimentos, conhecimentos científicos e artísticos, memórias, expectativas, possibilidades de trabalho,
relações interpessoais, entre outros assuntos que fossem importantes para os garotos e que perpassavam pela
questão da inclusão social, no sentido de que eles precisavam analisar seu protagonismo em suas vidas, refletindo
sobre aspectos individuais e sociais. As temáticas mais recorrentes foram selecionadas para análise: história de vida,
condição socioeconômica, vivências escolares, exclusão escolar, práticas institucionais que remetiam à marginalização
e à violência e ações inclusivas que eram ineficazes. Também foi possível a reflexão acerca da importância da
Educação e da Arte para o desenvolvimento humano, além de se ponderar sobre o papel do psicólogo nesse contexto
de trabalho, seus desafios e contribuições.
Esta investigação resultou em muitas reflexões, como pensarmos a condição social concreta que vivenciam diversos
adolescentes em conflito com a lei, os processos de exclusão do jovem pobre, as ações ligadas à marginalização e
violência na instituição socioeducativa, as práticas inclusivas que possuem caráter de exclusão e ainda a maneira que
a Educação e a Arte podem contribuir com o trabalho do psicólogo no espaço socioeducativo. Estes fatores são
essenciais para pensarmos criticamente como as práticas socioeducativas estão acontecendo atualmente e de que
maneira poderíamos desenvolver um trabalho diferenciado, que leve em conta as necessidades dos adolescentes que
estão em conflito com a lei e respeite sua condição de desenvolvimento, a qual apresenta necessidades cruciais, como
a educação e a dignidade.
No presente trabalho, procuramos ressaltar a questão da própria instituição socioeducativa como um espaço de
exclusão, apesar de seu objetivo ser de inclusão social. Questões como o trato desrespeitoso dos agentes
socioeducativos em relação aos adolescentes, condições precárias de alojamento, ausência de serviço de limpeza, falta
de água e de materiais básicos de higiene, descrença de diversos profissionais em relação ao trabalho socioeducativo,
violências simbólicas e físicas, interferência de alguns agentes no desenvolvimento desta pesquisa-intervenção, enfim,
variados fatores sinalizam que a instituição seria um lugar residual, de imposição da ordem e da disciplina, e mesmo
de vingança da sociedade em relação aos jovens, em que o ódio é permitido e exercido. Então faz-se essencial
pensarmos em como ficam os direitos de educação, saúde, cidadania, lazer, etc., garantidos pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente, mas dificilmente respeitados no contexto socioeducativo. Sabemos que diante da ineficácia dessas
1065
práticas, propõe-se rapidamente medidas como a redução da maioridade penal ou penalidades mais rígidas, como
forma de combater a violência juvenil. Entretanto, as ações atuais socioeducativas possuem caráter
predominantemente punitivo e violento, e não de inclusão social, sendo ineficientes. Estas reflexões são essenciais
para aperfeiçoarmos este tipo de trabalho e não permitirmos retrocessos na garantia dos direitos humanos.
Percebemos o quanto a vida dos jovens é marcada pela exclusão e pela individualização da responsabilidade por
problemas que são de ordem social.
Assim, esta pesquisa-intervenção se propôs a realizar um projeto diferente no espaço socioeducativo, visando à escuta
dos jovens e priorizando a educação, o desenvolvimento e a dignidade. Sabemos que existe uma urgência em
pesquisas e ações voltadas para a inclusão do jovem que se encontra em conflito com a lei, de modo a garantirmos os
direitos da criança e do adolescente e promovermos uma sociedade mais justa e igualitária, aspectos fundamentais ao
pensarmos a atuação da Psicologia, em especial no campo da Justiça e dos Direitos.

1066
Quem decide é o juiz: o (des)empoderamento familiar frente as demandas do judiciário
Autores: Alyssa Magalhães Prado, UFU; Anamaria Silva Neves, UFU
E-mail dos autores: alymagalhaes@gmail.com,anamaria.neves@ufu.br

Resumo: O presente estudo tem como objetivo refletir sobre os atravessamentos do campo do judiciário na clínica de
família, com vistas ao resgate dos equipamentos sociais e de saúde envolvidos no processo. Este trabalho versa então
sobre a análise do caso clínico constituído a partir de um encaminhamento judiciário que se refere ao abuso sexual
perpetrado pelo pai biológico contra a filha e a consequente destituição do poder familiar deste pai. Os atendimentos
psicológicos referentes ao Estágio Profissionalizante do curso de Psicologia da universidade, na modalidade familiar e
desenvolvidos sob supervisão na Clínica Escola, envolveram a mãe, seu companheiro e o filho caçula, em atendimento
domiciliar ao longo de um ano. Esclarecemos que houve a composição de ações e manejos diante do encaminhamento
no campo da justiça e dos direitos humanos, relacionando o presente trabalho com o GT escolhido e eixo temático.
Para a compreensão e composição da análise do caso, o diálogo entre a teoria psicanalítica, a Psicologia Social e o
Direito foi essencial. Metodologicamente o caso esteve amparado na Psicanálise de famílias e seus pressupostos,
quais sejam, o método interpretativo, a transferência no grupo familiar, o vínculo e suas produções e a escuta das
construções discursivas familiares. O atendimento à família enfrentou dificuldades pois a mesma, assujeitada, se
limitava a cumprir (ainda que com desconfiança e resistência) às determinações judiciais. Inicialmente, a imagem dos
estagiários de Psicologia estava completamente associada ao campo jurídico, reconhecidos enquanto figuras
representativas da lei. Com a construção vinculativa, o atendimento psicológico se descola do judiciário e são
instauradas novas possibilidades de diálogo sobre os desejos, afetos e conflitos. É pertinente ressaltar que as falas que
caracterizam o atravessamento do judiciário nas questões desta família, como quem decide é o juiz ou tem que
pedir para o juiz , se estendiam para campos diversos da rotina familiar, projetando na figura do juiz a condição o
poder e culpa que circundavam as decisões do grupo. As audiências acompanhadas pelos estagiários e supervisora
também referendava a dificuldade gritante de compreensão da família quanto as orientações dirigidas à mãe, ficando
explícito os desencontros entre as imposições das normas jurídicas e os modos como se regiam os afetos familiares.
Assim, as estratégias de intervenção suplantaram o campo da Clínica tradicional, produzindo o que se denomina
Psicanálise extensa, com movimentações de articulação com outros atores da rede e outras instituições, investindo
nos recursos e repertório de zelo da família. Enquanto descobertas significativas do caso, reiterando o trabalho
conjunto com a Rede, emergem os serviços de saúde, o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), o Conselho
Tutelar e a Vara da Infância e Adolescência. Esteve em operação um fazer clínico em Psicanálise, com a escuta aberta e
acolhedora do sujeito psíquico, que independe de setting tradicional ora reconhecidos como fundamentais. Por fim, a
análise do presente caso elucida o fazer clínico como um poderoso campo de construção do saber, possibilitando a
ação da Psicanálise em diferentes territórios sociais, acentuando a comunicação com a Rede e pensando as políticas
públicas em cena.

1067
GT 50 | Saúde e processos participativos

Coordenadoras: Lucia Maria Ozório Barroso, EXPERICE/LIPIS | Luiza Helena Dalpiaz, UNOESC | Tereza Cristina Coury
Amin, FIOCRUZ

Este GT é proposto por nós, duas pesquisadoras / doutoras / professoras e uma mestre que se ocupam da
problemática da saúde levando em conta seus processos participativos. Temos interesse pelos modos como as
sociedades, populações, grupos, movimentos sociais, instituições inventam, produzem, reproduzem saúde levando em
conta as relações, sistemas, técnicas, manifestações ético-estéticas, memória e experiência neste processo. É de se
relevar o locus deste processo onde se articulam conflitos, tensões, concessões, mediações, tradições, mudanças. No
locus tudo ganha sentido(s). Consideramos a contingência e historicidade das práticas de saúde, suas bases socio-
político-desejantes, em geral sem visibilidade pelo sistema em vigor do nosso país. Compreendemos saúde como
produção histórica. Apostamos num tipo de imaginação política que permite problematizar relações entre libido social
e poder, relações entre o Estado e a sociedade, considerando que a implicação do psicólogo nestas relações pode vir a
contribuir para a construção de uma saúde mais justa e menos desigual.
Assim, compreendemos participação como processo que ao permitir habitar a democracia, favorece que se
compreenda a prática social partindo de experiências individuais e coletivas, de experiências comuns. Este processo
participativo ao buscar abolir a distância entre a sociedade civil e a sociedade política, busca fazer da sociedade civil
uma sociedade política. Ou melhor, marcamos nosso interesse pela abertura às potências constituintes do campo
social que fazem alianças com a saúde enfatizando nosso entusiasmo pelas experiências neste campo em que um
poder comum de agir trabalha por uma nova compreensão da saúde. Apostamos na centralidade das periferias, ou
melhor, pela compreensão de uma saúde sempre se fazendo, com novos modos de resistência, novas formas de
antagonismos, novos modos de apostar na experiência de vida que se afirma forjando novas subjetividades.
Interessamo-nos por subjetividades que intervêm nos biopoderes que insistem em isolar a saúde no binômio saúde-
doença, no qual a medicalização, a psiquiatrização, o hospitalocentrismo, a iatrogenização da vida são alguns dos
analisadores do autoritarismo que habita a saúde. Achamos que os movimentos de liberdade que constroem a saúde
não podem estar separados da construção e reconstrução que a cada dia esta opera sobre si mesma e de si mesma.
São muitas as forças que atravessam a saúde em devir. Há que se ter atenção e intervir nas forças da conformidade
que buscam a reprodução de uma saúde como privilégio de alguns, como reprodução das desigualdades sócio-
políticas, efeitos das coerções nas subjetividades produzidas pelo capital que quer capturar os desejos os mais
embrionários, que governar e gerir riquezas e misérias nos seus desmandos neoliberais.
No Relatório da VIII Conferência Nacional de Saúde, que serviu de subsídio à elaboração do SUS, e da Constituição de
1988, nossa Constituição chamada de Co stituiç oà idad àaà à...àsaúdeàdefi e-se no contexto histórico de determinada
so iedadeà … àde e doàse à o uistadaàpelaàpopulaç oàe àsuasàlutasà uotidia as.
Queremos despertar debates sobre a problemática da participação popular em saúde, favorecer com que a psicologia
se afirme cada vez mais como prática discursiva, aliada de uma saúde efeito de um trabalho vivo fruto de um poder
comum de agir voltado para inovação social e colaborativa versus novos cerceamentos e formas de apropriação. Como
processo se há contradições a analisar há fluxos em que se apostar.
Não perdemos de vista as discussões que possam enriquecer um debate sobre políticas públicas, que favoreça a
construção da saúde como direito de todos e dever do Estado, prevista na nossa Constituição de 1988. Nestes debates
estão presentes o princípio de descentralização, participação e contrôle social no Sistema Único de Saúde (SUS).
Pensamos que a institucionalização da política pública deva ser fruto de processo tenso, descontínuo, entre forças e
formas da sociedade e destas e o Estado, supondo possibilidades de conflito, resistências e reapropriações. A
composição desta matriz conflitual é como entendemos saúde, trabalho vivo que precisa intervir numa história da
saúde cheia de autoritarismos em que os profissionais de saúde, inclusive muitos psicólogos têm se arvorarado no
di eitoàdeàa ha à ueàpode ài di a à oà a i hoà o eto àpa aàaàs ude,àse àle a àe à o taàaài po t iaàdoàlo usà o à
seus atores que fazem parte deste processo. Enfatizamos assi àosà odosàdosàato esàso iaisà"àfaze e àsaúde ,àate tosà
para a construção de uma saúde não-fascista, quer dizer, atentos para a complexidade deste processo, com seus
muitos riscos. Vale aqui uma reflexão: Quantas vezes referendamos com nossa prática aquilo que criticamos. Vale
perguntar: Os que estão aquém ou além do próprio Estado e das condições que este estabelece para qualquer
movimento autorizam a dizer que qualquer processo constituinte, criador é definido ou redefinido pelo poder
instituído? Apostamos nas experiências no campo social, na saúde, suas demandas, seus movimentos imperceptíveis
que nela trabalham tensionando o processo de institucionalização?
1068
Sugerimos algumas temáticas, atentos à riqueza deste campo problemático. Apresentamos sugestões, Estamos
abertas à outras, a ver com que possam estimular que se traga experiências, reflexões a serem debatidas no GT. A
problemática da saúde em questão. A multi-inter-transdisciplinaridade na saúde. Os especialismos em questão. O
poder-saber. Modos de pesquisar e a psicologia na saúde. O poder comum de agir e a produção de novas
subjetivações. Novas Subjetivações e poder constituinte Saúde, participação e controle social. A educação popular em
saúde. Polifonias da saúde no campo social. Educação popular em saúde e as políticas públicas: interfaces e
contribuições. A participação e o controle social na produção das políticas públicas. Políticas públicas não fascistas.
Democracia radical: o Estado em questão. Democracia: Maioria e consenso em questão. Democracia e a potência dos
movimentos sociais. O devir minoritário na saúde. As instituições sociais em questão. A práxis transformadora. O que é
um dispositivo?

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Agente comunitário de saúde: a potência transformadora no território
Autores: Adriellen Stefanie Ribeiro, Unimep; Disete Devera, Unimep/Unesp
E-mail dos autores: adriellen_sr@hotmail.com,disetedevera@gmail.com

Resumo: O Agente Comunitário de Saúde, profissional estratégico inserido na Atenção primária à saúde, é peça
fundamental para a implementação das equipes de Estratégia Saúde da Família, bem como para o alcance de suas
ações no território.
É a partir deste profissional que o vínculo entre serviço e usuário acontece, e é através de seu olhar que se torna
possível as transformações no território com maior legitimidade, uma vez que o profissional está diretamente inserido
na realidade da comunidade, e sendo assim, possui maior propriedade acerca dos problemas e desafios que se
referem a vida local.
Entretanto, a potência inerente a este profissional em muitas situações que exigem diagnóstico de determinados
casos, acaba sendo substituída por condutas burocratizadas, pautadas em conceitos fundamentalmente teóricos,
cronificados e medicalocêntricos.
O estudou objetivou através de um relato de experiência descrever e analisar o papel do agente comunitário de saúde
para além do escopo pré-definido, compreendendo a importância dessa atuação enquanto práxis transformadora da
realidade.
A experiência acontece em uma Unidade Básica de Saúde da família, localizada na cidade de Limeira, interior de São
Paulo, e a narrativa se dá por uma graduanda de psicologia que atua como agente comunitário de saúde no referido
serviço.
O artigo possui ampla relação com a proposta do grupo de trabalho, no sentido de propiciar compreensão acerca da
importância do papel do agente comunitário enquanto protagonista do território de ação, capaz de incitar
transformações através da formação e empoderamento dos usuários para a participação política e social no processo
de democracia participativa. Possibilita também a percepção da figura deste profissional enquanto detentor de um
saber comunitário, que se desenvolve a partir da troca estabelecida entre a comunidade e o serviço de saúde, e que
aos poucos ganha potência no processo de escuta, de diálogo, de partilha, e da construção conjunta dos desejos
comuns para a vida na comunidade.
Experiências como a formação de um conselho local de saúde, a integração com a associação de moradores do bairro
da estratégia saúde da família, parcerias findadas com a comunidade para implementação das ações, o incentivo
continuo para participação social em conselhos e conferências municipais, entre outras, são algumas formas que a
UBSF encontrou para incluir os usuário no processo de construção da política pública de saúde e permitir dar voz, vez
e lugar a estes sujeitos, que são essenciais para o fortalecimento do sistema único de saúde numa proposta
estruturada de controle social de forma legitima.
Durante todo o processo o agente comunitário se fez presente, atuando na construção dialógica junto à comunidade,
no reconhecimento de pessoas chaves e de lideranças residentes do território, no abastecimento diário do vínculo
com os usuários, na estruturação do diagnóstico local, bem como na execução de formações e de ações importantes
para o território, participando ativamente de espaços de discussões e diagnóstico sobre as questões do território,
estabelecendo ponte com a rede do sistema único de assistência social e demais estancias inerentes ao território.
O artigo foi construído com base em fundamentações do Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria
e prática, de Gregorio F. Baremblitt (2002).
O método utilizado no artigo foi pautado em um relato de experiência, a partir da realidade de atuação da autora.
O trabalho possibilitou através de descrições de experiências práticas a compreensão e análise acerca do papel do
agente comunitário de saúde, numa proposta mais ampla, permitindo visualizar o movimento dessa atuação para
além do âmbito do serviço de saúde, inserida diretamente na comunidade, no cuidado integral a vida humana,
ultrapassando a lógica individual de saúde e abarcando as outras faces da vida, fomentando consciência para luta e
conquista por garantia de direitos.
1070
Torna-se perceptível que é a partir dessa apropriação e da bagagem que aos poucos vai sendo conquistada que o
agente comunitário se distancia do lugar de profissional para se aproximar do chão de atuação e assim se torna
protagonista do território, se autoriza a ser mais do que prescrito no escopo de sua função para ser agente de
transformação política e social.

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Análise psicológica da escolha pelo parto domiciliar
Autores: Annaiza de Souza Rozeno, UFU; Ruben de Oliveira Nascimento, UFU
E-mail dos autores: annaiza.udi@hotmail.com,rubenufu@gmail.com

Resumo: A institucionalização do parto surge após a Segunda Guerra Mundial, prevalecendo o parto no hospital com
base em medicamentos e procedimentos cirúrgicos, afastando-se as parteiras do processo. Mas, essa forma de
institucionalização precisava ser revista, humanizada, para um melhor acolhimento da parturiente, de modo que os
cuidados médicos e a atenção a todo o processo do parto estivessem orientados para o bem-estar da mulher,
modificando-se também as práticas de assistência profissional e de amparo na hora do parto. Contudo, mesmo com
esse processo de humanização, o parto hospitalar, convencional, pode ser uma experiência traumática para a mulher.
Nesse processo histórico surge a opção pelo parto domiciliar, realizado em casa, quando a gravidez não oferece riscos
e com apoio de equipe especializada nesse tipo de parto. Segundo Koettker (2010), muitas são as razões dessa opção,
dentre elas: a diminuição das intervenções obstétricas, uma assistência ao parto com menos medicalização, uma
assistência individualizada e o desejo de a mulher estar ativa no processo de nascimento. Segundo a literatura
especializada, o parto domiciliar esteve inicialmente relacionado com comunidades mais isoladas, por questões
econômicas ou falta de acesso a hospitais, mas que atualmente vem crescendo o interesse por essa prática em centros
urbanos, de forma consciente e planejada, como uma escolha pessoal da mulher. A opção das mulheres pelo parto em
casa nos centros urbanos é um tema importante devido ao crescente interesse de movimentos sociais, da Organização
Mundial da Saúde (OMS) e de campos organizados da sociedade a respeito dessa prática, que podem resultar em
políticas públicas para o assunto. De qualquer modo, todo parto é uma experiência física e psicológica intensa, e o
modo como todos os aspectos que envolvem os preparativos e o próprio parto são percebidos e significados pela
mulher, dão a dimensão do que essa experiência representa para ela. Com o objetivo de estudar aspectos psicológicos
da dimensão pessoal da experiência com o parto domiciliar, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa entrevistando 4
mães que passaram tanto pela experiência do parto hospitalar quanto pelo de parto domiciliar, desde a opção até o
parto, e que comparações elas fazem entre esses tipos de parto. Os dados foram coletados por meio de entrevista e
interpretados segundo análise de conteúdo (Bardin, 1977). A análise dos dados está em andamento e os resultados
ainda são parciais. Neste trabalho, destacaremos as análises de dados ligados à tomada de decisão pelo parto
domiciliar, em comparação com partos realizados no hospital. Os dados mostraram que as experiências com o
ambiente hospitalar foram traumáticas e não humanizadas, num lugar que não se permitia que a mulher recebesse
seu filho da forma como desejaria. Os dados indicaram também que as razões pela escolha do parto domiciliar vieram:
do desejo de se viver uma experiência transformadora, em que o processo do parto pudesse fluir naturalmente sem
intervenções desnecessárias; que pudessem estar presentes pessoas que a própria parturiente desejasse; e pela casa
representar um lugar em que elas poderiam se entregar ao momento da parição com conforto, tranquilidade e
segurança. Quanto aos medos e receios do parto relataram: ter medo da dor, dos maus tratos vindos da equipe
médica e receio de não poderem exercer sua vontade no momento do parto. As entrevistadas contaram que as
informações que receberam a respeito do parto domiciliar, e que as ajudaram a decidirem por esse parto, vieram dos
grupos de gestantes no qual participavam, de suas doulas e também das pesquisas em diversas fontes de acesso em
que as mesmas buscavam para se empoderar em suas escolhas. Com base nesses dados, concluímos que a escolha
pelo parto domiciliar não envolveu somente experiências anteriores com o parto em hospital, e nem somente
informações e orientações disponíveis sobre o parto domiciliar, mas especialmente a conscientização de que o
momento do parto, e todos os cuidados necessários, possuem uma dimensão psicológica que conecta ainda mais a
mulher a esse momento de suas vidas, e que o parto domiciliar pode proporcionar a esse momento uma experiência
mais natural, mais integra e mais humana, para a mulher e para a criança. A análise dos dados ainda está em
desenvolvimento, e novos resultados se somarão ampliando ou reajustando as análises já realizadas.

1072
Atividades interdisciplinares junto às adolescentes gestantes usuárias da UBS Dr. João Fernandes e suas mães, no
município de Ladário - MS, com foco na gravidez sucessiva
Autores: Kathleen dos Santos Silva, UFMS-Campus Pantanal; Ilidio Roda Neves, UFMS
E-mail dos autores: KATHLEENDOSSSILVA@GMAIL.COM,ilidiorneves@gmail.com

Resumo: Apresentamos aqui o resultado preliminar de um trabalho interdisciplinar junto à comunidade atendida pela
Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. João Fernandes do município de Ladário- MS, com adolescentes gestantes e suas
mães, com foco na gravidez sucessiva. A ação em construção surge da demanda apresentada pelo coordenador da
unidade, do cronograma de atendimento da UBS e da constatação de que não existem programas específicos voltados
às adolescentes grávidas, mas sim à prevenção da gravidez na adolescência (Programa do Adolescente e Programa
Saúde na Escola) e às mulheres grávidas (Programa Mamãe-Bebê), desta forma este projeto buscou construir uma
ação que atendesse as especificidades dessa população. Considerando a saúde como uma construção coletiva, são
desenvolvidas atividades interdisciplinares envolvendo diferentes núcleos do saber, como os dos profissionais da
Estratégia Saúde da Família (os agentes comunitários de saúde e os enfermeiros) e do Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (psicólogo e assistente social); os acadêmicos do Campus do Pantanal - UFMS (estudantes dos cursos de
psicologia e pedagogia); e as usuárias (adolescentes grávidas com idade entre 12 e 18 anos, e suas mães),
considerando assim o senso comum como um núcleo do saber e, por este motivo, relevante para a construção, além
de conscientizar a coletividade de que é seu direito e dever participar da gestão de políticas públicas como o Sistema
Único de Saúde (SUS). Com o intuito de despir-se de conceitos prévios, é criado um espaço, por meio da Roda de
Conversa, que possibilite a expressão dessas usuárias e o conhecimento da realidade das mesmas, do núcleo familiar
ao qual pertencem, do território e da unidade, culminando na construção conjunta de atividades que atendam às suas
demandas, pois as adolescentes devem ter autonomia para decidirem sobre seu futuro, como a opção de gravidezes
sucessivas, que quando ocorrem sem planejamento, podem gerar aumento nas desigualdades e consequentemente
interferir no processo de saúde e doença, afetando assim a qualidade de vida desta comunidade. Esse espaço também
conta com a participação das mães, cuja presença tem por finalidade o fortalecimento de vínculo e a emersão de
assuntos referentes ao cotidiano dessas adolescentes e às experiências que trazem consigo, contribuindo para a
formulação de atividades que visem à garantia de uma melhor qualidade de vida para suas filhas e futuros netos,
incluindo assim a família no cumprimento de seu dever como responsável pela garantia dos direitos à saúde e à vida
dessas adolescentes. Durante a realização das Rodas de Conversa busca-se romper com ideias prontas. A dialógica
permite a interação na relação entre os sujeitos, onde o conhecimento acontece no processo social compartilhado e
promove o desenvolvimento mediado por um outro. Na abordagem proposta, a dinâmica é constituída durante todo o
processo, ou seja, no pensar, no falar, no olhar, no sentir no fazer e no inventar pelo fato do grupo se manifestar nas
experiências vividas. Com esta ação interdisciplinar espera-se que as adolescentes grávidas conquistem autonomia
com relação à gravidez sucessiva, através de um olhar crítico sobre a própria realidade, as imposições da sociedade, os
seus direitos, as possibilidades de transformação, os serviços que lhes são ofertados, e que se percebam como pessoas
ativas no processo de construção de sua própria história, contando com a presença de suas mães nesta realização.

1073
Clínica das formas-de-vida no trabalho: tessituras do entre
Autores: Miguel de Sousa Lacerda Neto, UFRJ; Ana Chacel de Castro, UFRJ; Helena Werneck Brandão, UFRJ; João
Batista de Oliveira Ferreira, UFRJ; Natasha Iane Magalhães, UFRJ; Polyana Alves de Oliveira, UFRJ
E-mail dos autores: mlacerda.psi@gmail.com, anachacelpsi@gmail.com, helenawbrandao@gmail.com,
natasha.iane.m@gmail.com, ferreira.jb@gmail.com, polyana.ao@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é parte das ressonâncias de um projeto do Núcleo Trabalho Vivo - Arte, Trabalho e
Ações Coletivas e da demanda de estudantes do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), que possibilitaram a realização do estágio em "Clínica das formas-de-vida no trabalho" na Divisão de Psicologia
Aplicada (DPA) da instituição, com o intuito de experienciar uma clínica transdisciplinar no campo do trabalho. A DPA
atua como uma clínica - escola, oferecendo propostas de estágio diferenciadas aos estudantes que se dedicam ao
atendimento da demanda da comunidade adjacente por serviços de atenção à saúde psicológica. Este trabalho visa
apresentar e discutir as potencialidades, os desafios e as novas perguntas que foram se constituindo nesta clínica das
formas-de-vida (Ferreira, 2016) através do compartilhamento das ressonâncias que foram surgindo ao longo do
processo. Com o marco contingencial de um semestre, foi proposto à clínica o formato localizado não apenas no
universo do trabalho, mas também em um espaço temporal cronológico, mas que dá vida também àquilo que não é
breve e que não se encerra no ato - isto quer dizer: que começa antes do encontro clínico e perdura em suas
transformações, transcendendo o instante. Uma proposta que desde o início era não só cuidadosamente construída
em formação de parcerias e rede de apoio, como também fundamentada e constantemente autoanalisada. O breve
que adjetivava o percurso não só acrescenta uma gama de experiências neste formato clínico como acaba por revelar
um potencial que contribuiu para a qualidade dos encontros. O que nos leva a questionar quando os prescritos do
fazer clínico tornam-se soberanos ao trabalho possível. Despotencializando, assim, a clínica e suas possibilidades,
como por exemplo a acessibilidade. Partimos da premissa que o mundo do trabalho contemporâneo se organiza por
meio de um modelo gerencialista do capitalismo produtivista e financeiro, aportado na lógica neoliberal, assim como
percebemos que a vivência no trabalho abarca, muitas vezes, normatividades e práticas que mantêm situações de
dominação do trabalhador, podendo levá-lo a um sofrimento ético (Dejours, 2012) e psicossocial. Portanto, ao se
propor uma clínica das formas-de-vida no trabalho (Ferreira, 2016), nos juntamos à noção de vida enquanto bíos
proposta por Agamben (2007), para incluir no processo psicoterápico as possibilidades coletivo-ético-político-estéticas
do sujeito que se apresenta ao atendimento psicológico. Entender sua formação subjetiva enquanto um
atravessamento de múltiplos vetores (Guattari, 2010) é poder incluir e considerar, no atendimento psicológico, as
dimensões de sofrimento do mundo trabalho e os diversos outros vetores que acompanham tal sofrimento, como por
exemplo: a relação de dominação estabelecida a partir da cultura do machismo; as sexualidades e a
heteronormatividade que socialmente se apresenta como premissa; o racismo e o sofrimento cotidiano das minorias
frente às macropolíticas de aniquilamento social e fatores de exclusão, entre outras. Assim sendo, uma clínica das
formas-de-vida busca tais afetos de sofrimento em circulação e encontrar as possíveis linhas de fuga para a criação de
uma resistência e autonomia ética subjetiva (Dejours, 2012) e suas possibilidades de vida, partindo da relação entre
terapeuta e cliente na construção dos afetos coletivos que emergem no encontro, na tessitura do entre, e que, ao
sacudir em sua passagem as organizações normativas, permitem a invenção de uma forma-de-vida ética, política e
criativamente referenciadas .

1074
Família e paciente oncológico: considerações sobre o lugar do psicólogo na produção de cuidado
Autores: Katiúce Cristina Santos Borges, UFU; Anamaria Silva Neves, UFU; Beatriz Oliveira Menegi, UFU; Bruno
Gonçalves Fonseca, UFU; Evandro Ribeiro Gonçalves Neto, UFU; Ítalo Weiner Martins de Oliveira, UFU; Keila da
Conceição Almeida, UFU; Leticia Carolina Boffi, UFU
E-mail dos autores: katiucecsb@gmail.com, keila.almeida@outlook.com, beatrizmenegi@gmail.com,
italo_xc@hotmail.com, leticiaboffi@gmail.com, fonsecabg@gmail.com, anamaria.neves@ufu.br, evandro-
neto@hotmail.com

Resumo: O diagnóstico de câncer envolve abordar temática que tangencia uma das doenças mais estigmatizantes da
atualidade. O manejo do tratamento tem como recorte terapêutico o paciente; entretanto, toda a rede de
relacionamentos do paciente também é afetada significativamente. Diante de tal compreensão, esse relato de
experiência é fruto de um grupo de discussão realizado junto à uma disciplina de graduação do curso de Psicologia,
cujo objetivo central foi compreender as especificidades do contexto familiar na situação de um ente diagnosticado
com câncer, com vistas à investigação quanto à dinâmica familiar frente a algumas questões como a alteração da
rotina familiar, o cuidado com o mesmo, a relação entre paciente e o profissional da saúde, os cuidados paliativos, a
religiosidade e a saúde mental do paciente oncológico. Para a realização do trabalho foi realizada a pesquisa
bibliográfica sobre o tema e entrevistas semiestruturadas com o familiar do paciente, o próprio paciente e com um
psicólogo de um hospital escola. Além disso, integrantes do grupo participaram como observadores em um grupo
terapêutico que recebe os pacientes oncológicos e seus familiares, no mesmo hospital. Estudos apontam que a família
parece sofrer um adoecimento específico juntamente com a pessoa acometida pelo câncer. A saúde da família é de
suma importância pois pode oferecer suporte físico e emocional para o paciente enfermo. Contudo, a alteração da
rotina da família, o rearranjo dos papéis na dinâmica familiar, entre outras mobilizações provocadas pelos processos
de mudança que a doença produz, podem fortalecer os vínculos familiares ou acentuar a fragilidade dos mesmos. A
promoção de saúde e cuidado integral, a democratização de escuta e a informação para o paciente oncológico e sua
família, a promoção da autonomia do paciente diante das decisões médicas, a dimensão da
espiritualidade/religiosidade para enfrentar a situação são elementos que emergem como fundamentais. Finalmente,
cabe salientar que, quanto à atuação do psicólogo, as pesquisas apontam a relevância da construção de equipes
interdisciplinares que concebam a intervenção ampla, envolvendo a família e o paciente, desmistificando estigmas e
construindo estratégias de enfrentamento consistentes. Diante do exposto, o presente relato de experiência se
adequa ao GT 04 "A Psicologia Social na Saúde: práxis, interfaces e perspectivas para a democracia " no sentido de
desmistificar estigmas gerados no contexto do paciente diagnosticado com câncer, além de ir em direção das relações
interdisciplinares entre médicos, enfermeiros, assistente social e psicólogos. Como segunda opção, entendemos que
os achados relativos à experiência com a família do paciente oncológico refletem diretamente as questões propostas
no GT 43 Psicologia, Promoção de Saúde e Cuidado Integral , pois a visão de como o prognóstico de melhora
demanda de sua rede de relações (também afetadas pelo diagnostico), apresenta como desafio a reflexão sobre a
práxis da Psicologia e outras áreas envolvidas. Como terceira opção, este trabalho pode se relacionar também com o
GT 50 "Saúde e processos participativos", já que uma das funções do psicólogo no contexto de saúde é ouvir a
demanda apresentada pelo paciente e buscar compreender os sentidos que tal demanda representa no contexto de
inserção do sujeito.

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Mitos e Barreiras à psicoterapia: a percepção da prática do psicólogo e seus efeitos
Autores: Bianca Helena Fermiano, Market Analysis; Mariana Danezi Goulart, Market Analysis
E-mail dos autores: bianca@marketanalysis.com.br,mariana@marketanalysis.com.br

Resumo: Vive-se uma expansão no reconhecimento do campo de atuação do psicólogo que é visto hoje em diferentes
áreas e com maior divulgação nas mídias. O Brasil se transformou em um país com significante número de
profissionais, sendo 295 mil registrados no CFP. Recentemente completaram-se 10 anos de vigência da portaria que
institui a política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS, sendo que em 2008 eram 967
estabelecimentos de saúde pública ofertando alguma prática integrativa e 5.139 em 2015, um aumento de
aproximadamente 526% (SCNES). Apesar dessa maior movimentação da categoria e consolidação da profissão resultar
em um contato mais próximo da população geral com os profissionais da área, não se encontram dados sobre como
essas mudanças impactam na imagem destes profissionais, e quais os efeitos produzidos pela psicoterapia. Tampouco
se encontra dados sobre o que os terapeutas tem escutado a respeito da predisposição e interesse dos brasileiros em
relação a terapia e o quanto a comunidade considera procurar um psicoterapeuta e em quais situações. Este trabalho
propõe um olhar empírico que busca inferir como a população enxerga a prática do psicólogo e seus efeitos. A visão
do público e os mitos em relação à psicoterapia e ao trabalho do psicólogo podem ter consequências sociais de longo
alcance; as respostas à essas questões são capazes de delinear um quadro de percepções e predisposições sendo
capazes de permitir o reconhecimento de aspectos positivos e de debilidades para gerar subsídios norteadores para a
prática do psicólogo no contexto social. Sendo este GT voltado à dialogar com pesquisas que focam o modo como as
pessoas se organizam para encontrar respostas aos problemas do cotidiano e ao processo de enfrentamento das
questões sociais e políticas, acredita-se no poder de intervenção do psicoterapeuta e propõe-se guiar os profissionais
não só a fornecerem respostas, mas a intervir e fazer a diferença na democratização da prática do profissional de
psicologia, e nos desafios de ordem social e de cuidados com a saúde vivenciados no país. Para embasar tal reflexão,
este trabalho é analisado sob a perspectiva do pensamento sistêmico que busca o entendimento dos sistemas
enquanto um todo, de forma interdisciplinar, focando na complexidade, instabilidade e intersubjetividade como
condição da construção do conhecimento no mundo (Vasconcellos, 2005). Sob a luz da teoria dos sistemas entende-
se que a percepção da população em relação ao psicoterapeuta não é via de mão única, mas sim parte de um padrão
de comportamento que responde a uma estrutura inter-relacional mais complexa, cujos próprios psicoterapeutas e
sua prática também fazem parte. A partir da premissa de que pensar sistemicamente é, sobretudo, reconhecer o
sujeito no contexto em que está inserido, de que os fatos não são previsíveis e de que o terapeuta e o pesquisador
fazem parte do sistema no qual intervém/estudam torna-se possível ampliar o olhar, questionar a problemática
apresentada e trabalhar alternativas mais funcionais à rede estrutural que embora já consolidada, não é imutável
(Gomes, 2014). O estudo consistiu em visitar 501 domicílios no ano de 2002 e 906 domicílios em 2016 e perguntar a
população adulta a respeito de um conjunto de atitudes em relação ao processo de terapia, sendo possível traçar uma
análise temporal dos dados. Cotas cruzadas de idade, sexo e classe social foram estabelecidas para garantir a
representatividade dos grupos demográficos da amostra. Os resultados apontam para suposições e mitos populares
que circulam como barreiras à psicoterapia e à profissão. É fato que embora a ideia de fazer terapia não seja mais vista
como absolutamente distante, ainda parece ser a realidade de poucos. Apenas 2% da população faz terapia
atualmente, a mesma porcentagem encontrada em 2002; contudo, o potencial da psicoterapia como ferramenta para
tratar problemas pessoais é 15 vezes maior uma vez que 30% admitem alto interesse em fazer terapia. A pesquisa
obteve ainda importantes resultados sobre os significados que a profissão e a prática do psicoterapeuta possuem no
imaginário popular sendo necessário olhar para as barreiras que entravam a realização desse potencial. Constata-se
ainda a sensação de que o serviço não é para todos e que a terapia é voltada à elite ou ao estigma do paciente com
problemas muitos graves. Onze milhões de adultos com sintomas de depressão (IBGE, 2016), explosão de matérias
sobre a crescente ansiedade e consumo de psicofármacos na mídia. Se o contexto no qual vivemos sugere uma
oportunidade única para as psicoterapias contribuírem para melhorar a saúde pública e privada do Brasil, a realidade
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demonstra que a cura pela fala e o exercício do poder da escuta ainda não conseguem atingir totalmente a sua
promessa. Permanece a reflexão sobre os indivíduos estarem ou não deixando de realizar esta atividade pelo receio e
credibilidade adquirida desses mitos e qual seria o estímulo ou o fato que deflagraria uma psicologia mais atenta às
suas fragilidades e seu potencial.

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Na Escola, o mundo se movimenta. Trocas Interculturais entre Crianças do Brasil e da França através de seus
Desenhos
Autores: Elizabeth Galdino de Lira, Prefeitura do RJ
E-mail dos autores: galdino.elizabeth@gmail.com

Resumo: A educação além de ser um dever do Estado e da família com a finalidade de atingir o pleno desenvolvimento
do educando, cidadania e qualificação para o trabalho, pode estar relacionada com alguns princípios, como: pluralismo
de ideias, respeito à liberdade apreço a tolerância, valorização da experiência extra escolar e principalmente a
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura o pensamento, a arte e o saber. Como professora do
Município do Rio de Janeiro por mais de 30 anos não consigo deixar de me espantar e questionar os altos índices de
reprovações, indisciplinas e, consequentes exclusões de alunos das camadas mais pobres. Estes meus espantos me
fizeram lembrar Paulo Freire (1985) quando falava dos seus encontros com seus alunos de classes populares e que
considerava estes espantos como efeitos da luta de classe que atravessavam sua prática de professor.
Ao longo deste percurso, mais especificamente, quando cursei psicologia em busca de respostas às minhas
inquietações, encontro ecos aos meus anseios nas disciplinas de psicologia institucional e psicologia comunitária, além
da práxis em estágio supervisionado na área. Constato que o sistema educacional é atravessado pelo capitalismo cuja
sociedade confia ao pessoal da escola uma tarefa capital: a de adaptar a criança ao saber e valores da sociedade
dominante (Guattari, F Recherches, 1977 :54). E com estas inquietações, depois de tantos caminhos percorridos,
tomei contato com o Projeto Sonhar com a Interculturalidade através dos desenhos das crianças da França e do Brasil
que nasceu a partir de uma pesquisa realizada com crianças e jovens da comunidade da Mangueira na Cidade do Rio
de Janeiro, coordenada pela professora/pesquisadora Lúcia Ozório (Ozório, L. Revista Psicologia&Sociedade – São
Paulo: ABRAPSO, vol. 17, no. 3/2005. p. 33-41 2005). Nesta pesquisa as crianças e jovens de Mangueira se aliam às das
escolas públicas do Departamento da Educação Nacional de Limeil-Brévannes e de Valenton, Val-de Marne, França; e
às da RASED (Réseau d´aide spécialisé pour les enfants en difficultés – Rede de ajuda especializada aos alunos em
dificuldade), Créteil, França.
Termino me engajando nesta pesquisa a fim de uma práxis que instaurasse novos espaços-tempos para nossos sonhos
e práticas. Para esta pesquisa, nos inspiramos em Paulo Freire (Paz e Terra, 1983), Gilles Deleuze e Felix Guattari
(Minuit, 1979), René Lourau (Vozes, 1975), Stuart Hall (UFMG, 2003) Zygmund Bauman (Jorge Zahar, 2003) ; Sigmund
Freud ( Editora Nueva, 1973) ; Milton Santos(Publifolha, 2001) e Lúcia Ozório (ANRT, 2004) , discutindo conceitos tais
como multiculturalismo, comunidade, interculturalidade, devir e globalitarismo.
Podemos dizer que nos engajamos no sonho das crianças de Mangueira, precursoras do projeto da pesquisa, acima
citada. Começamos a trabalhar também com outras crianças, de 06 a 12 anos, já alfabetizadas e outras consideradas
produtos do fracasso escolar de algumas turmas de uma escola pública onde eu trabalhava, que atende a comunidade
do Jacarezinho, Rio de Janeiro. Na nossa metodologia, desenhos e cartas das crianças dos dois países foram nosso
dispositivo de trabalho. As crianças desenhavam seu quotidiano ou o que desejavam. Elas prolongavam, através dos
seus desenhos as equações oníricas da interculturalidade, buscando lhes dar movimentos e durações diversas. Como
os sonhos, os desenhos e suas cartas tiveram a capacidade de super-restituição da realidade, convidando-nos a
reativar as forças da imaginação. O desenho e a carta, embora diferentes, puderam fazer-nos experimentar um
excesso sobre eles mesmos. Daí, podermos dizer que como dispositivos, nos convidaram às mais diferentes
manifestações de interculturalidade no campo de pesquisa. As culturas da comunidade do Jacarezinho e da França, se
interconectavam, viajavam através dos desenhos das crianças. Neles apareciam seus modos de sentir, agir, viver. Os
desenhos ou as pequenas cartas das crianças francesas ao serem apresentados às crianças da escola do Jacarezinho,
despertavam curiosidade. Estas queriam saber mais sobre seus colegas franceses, sobre a França, sobre seus
significados. Também é de se relevar que muitos enquanto desenhavam, contavam suas histórias de vidas.
Esta pesquisa suscitou reflexões ao dar visibilidade à movimentos das crianças e dos adolescentes (que solicitaram
participação também) ... desejantes de compartilhar diversidades e semelhanças, formando alianças que na diferença
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constroem a comunidade. . Estas alianças, interculturais, contribuem para que se desconstrua um entendimento de
cultura desde uma concepção substancialista, identitária, antropocêntrica. Por outro lado, permitem que se detecte
um processo de comunidade na problemática intercultural, na medida em que assinala operações transdutivas de
colocar em relação culturas diferentes, e de construir um entre culturas com procedimentos de inclusão do excluído e
de colocar em comum o não comum (Ozório, Polêmica, 2007).
Relevamos também neste processo a necessária análise da nossa implicação. Apesar das críticas ao sistema opressor,
como educadora, vimo-nos em momentos, como opressora, obrigando muitas vezes a um enquadre da criança ou
adolescente, sem conseguir escutá-los. Pudemos também fazer uma análise da implicação de outros professores neste
processo, referendando a escola mais como prisão, como dizia René Lourau (idem).

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O Dispositivo Equipe e o Fazer Entre Profissões em um Centro de Saúde Mental
Autores: Sérgio Luiz Ribeiro, UNIP-Bauru; Maria Cristina Gonçalves Vicentin, PUC SP
E-mail dos autores: ribersergio@gmail.com,cristinavicentin@gmail.com

Resumo: Trata-se de um estudo que faz parte da Tese de Doutorado em Psicologia Social de um dos autores sobre o
dispositivo equipe e o trabalho entre profissões em um Centro de Saúde Mental de um pequeno município do interior
do Estado de São Paulo. Tomamos, neste trabalho, a equipe como dispositivo - uma construção institucional produzida
histórica e socialmente no qual diversos fluxos se cruzam, produzem e se atualizam. O entre profissões é entendido
como a constituição de saberes entre profissões e de um espaço social para o sofrimento psíquico, que levem em
conta sua complexidade e singularidade e produzam a superação da divisão e fragmentação dos processos de trabalho
e da assistência neste campo. Esta superação é um dos mecanismos fundamentais para o desenvolvimento da
Reforma Psiquiátrica na perspectiva da Atenção Psicossocial. Os principais objetivos deste estudo foram identificar e
analisar o funcionamento e as dimensões de grupalidade e entre profissões na equipe deste Centro de Saúde Mental.
Para tanto foi realizada uma pesquisa-intervenção na perspectiva da análise institucional francesa, ou seja, com a
finalidade de analisar e questionar a história, os objetivos, a estrutura, o funcionamento, os dispositivos e as práticas
da equipe deste serviço de saúde no contexto institucional em que estava inserida. A pesquisa consistiu no
acompanhamento das atividades (grupos e oficinas terapêuticas, discussões de casos e reuniões de equipe formais e
informais) e na realização de quatro encontros temáticos com a equipe sobre seu processo de trabalho. Os temas para
estes encontros surgiram a partir do dia a dia do acompanhamento das atividades e foram: Linha do Tempo da criação
do serviço, o Comum e o Específico no cotidiano do trabalho, as rotinas dos profissionais e o processo de discussões de
casos e a articulação com os outros setores do município. Como forma de registro foi utilizado o diário de campo para
as observações, impressões, reflexões e questionamentos do pesquisador sobre o campo de pesquisa. Como
metodologia para analisar as observações do cotidiano da equipe usamos os conceitos-ferramentas de dispositivo
equipe, Campo e Núcleo de Competência e Responsabilidade, entre-profissional em equipe e de Clínica Comum e as
estratégias de leitura de um coletivo em ação propostas por Ana Maria Fernández. Esta leitura de um coletivo
consistiu em distinguir e pontuar insistências - fazer um traçado que ressalte os elementos que insistiam nestas
produções, expressões, palavras, ações, práticas; fazer a indagação das práticas – do não dito, do naturalizado,
utilizado estes como analisadores deste coletivo e de suas visibilidades e invisibilidades. Com esta estratégia de análise
e estes conceitos-ferramentas pretendeu-se dar visibilidade do como operava a singularidade deste Centro de Saúde
Mental e de sua equipe. Pudemos observar que este funcionava como um híbrido, realizava ao mesmo tempo práticas
como Unidade Básica de Saúde, de Ambulatório de Saúde Mental e outras que se aproximavam do trabalho de um
Centro de Atenção Psicossocial. No seu processo de trabalho esta equipe operava as fronteiras profissionais e as
tensões na construção de um entre-comum, com o entendimento que a multiplicidade é um motor desta produção, e
ao mesmo tempo, que é fundamental o respeito às diferenças de opiniões e práticas no dia a dia. Os profissionais
deste serviço estavam sendo desafiados a exercer o protagonismo da construção de uma rede de cuidado em saúde
mental no município. Mas, ao mesmo tempo, enfrentavam dúvidas de assumir este protagonismo e as dificuldades da
pouca oferta de serviços, equipamentos e programas, o preconceito e uma visão medicalizante do sofrimento psíquico
presentes naquele território. Deste modo, evidenciou-se a importância que os serviços de saúde mental, além das
atividades organizativas e administrativas, criem possibilidades de atuações conjuntas e de encontro dos profissionais
que favoreçam a tessitura e reflexão do entre-profissional e o fazer do comum da equipe. Assim consideramos
necessária a discussão de outras possibilidades de financiamento e de tipos de serviços de saúde mental que possam
ser efetivadas nos pequenos municípios, a maioria dos existentes no país, de acordo com as necessidades,
possibilidades e singularidades que estes apresentam.

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Produção de Saúde e Participação com usuários de um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil
Autores: Alana Araujo Corrêa Simões, UFES; Anita Nogueira Fernandes, UFES; Janaína Mariano César, UFES; Luana
Gaigher Gonçalves, UFES; Luciana Vieira Caliman, UFES; Victoria Bragatto Rangel Pianca, UFES
E-mail dos autores: gaigherlu@hotmail.com, jhanainacesar@gmail.com, calimanluciana@gmail.com,
alanaacsimoes@gmail.com, victoriabrp@gmail.com, anitanogfernandes@gmail.com

Resumo: Esta pesquisa tem como campo de investigação o Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) de
Vitória/ES, a partir da implantação da Estratégia da Gestão Autônoma da Medicação (GAM). Tal estratégia é
desdobramento de uma experiência canadense marcada pela reivindicação de pacientes de saúde mental por maior
protagonismo em relação a seus projetos terapêuticos. No Brasil, a GAM tem sido experimentada e modificada a partir
do contexto singular das políticas públicas no campo da saúde mental. Um dos debates atuais aborda a crescente
medicalização e patologização da vida, que concede à racionalidade médica o protagonismo hierárquico tanto na
definição do que é compreendido por saúde e doença quanto na escolha das estratégias de intervenção. As
experiências vividas por aqueles que padecem da dor ou sofrimento, ou ainda por seus familiares e cuidadores, muitas
vezes, não são consideradas como parte do saber em relação ao tratamento. Essa hierarquização dos saberes tem
produzido pra&#769;ticas de cuidado fragmentadas, isoladas e fragilizadas, que na&#771;o abrem espaço para o
diálogo, compartilhamento das decisões e participação dos envolvidos. Especialmente no campo da saúde mental
infanto-juvenil brasileira, onde situamos esse trabalho, a questão torna-se ainda mais pungente, na medida em que a
criança é duplamente tutelada - por ser criança e por ser acometida de um transtorno mental. Nesse processo, o
infante ocupa um espaço de não saber e não poder. Como contraponto, nosso trabalho objetiva mapear estratégias de
cuidado a partir e com a criança, cultivando exercícios de cogestão do tratamento e cuidado, considerando as relações
de crianças, adolescentes e familiares com a saúde em seus processos mais amplos.
A Estratégia GAM tem como princípios basilares os conceitos de autonomia e cogestão. A autonomia, antes que
independência, aponta para a pluralidade de vínculos que se é capaz de estabelecer. A ampliação dos vínculos e redes
de relações construídas por uma pessoa tem como efeito uma experiência mais autônoma. Nesse sentido, a
centralidade do conceito de autonomia é não no indivíduo, mas na experiência coletiva, envolvendo partilha,
negociação e ultrapassagem de valores e pontos de vista. A cogestão, por sua vez, mostra-se como a própria estratégia
de autonomização na medida em que implica exercício de participação, inclusão e gestão conjunta do cuidado,
implicando o cultivo da experiência coletiva. Esta pesquisa, portanto, tem os princípios da GAM como direção do
trabalho investigativo e de intervenção, onde os usuários são convidados ao exercício de produção de conhecimento e
intervenção sobre si e seus processos de saúde, de negociação com o cotidiano dos serviços que frequentam e
interpelação sobre os modos como a política pública de saúde mental se efetiva. Mais que objetos de pesquisa, são
sujeitos participantes. Assim, o problema da participação mostra-se central na pesquisa com crianças e adolescentes e
seus familiares. É investimento em estratégias participativas que rompem com uma noção hegemônica de infância e
de criança como ser não competente o bastante para influir em seus processos de vida. Assim, o trabalho da pesquisa-
intervenção é o próprio exercício da participação destes como legítimos sujeitos.
No Capsi a pesquisa se desenvolve a partir de dois dispositivos: 1Oficina com crianças e adolescentes que fazem uso
de psicotrópicos e 2Grupo com familiares de usuários. A oficina, constituída há dois anos, funciona semanalmente com
um grupo de cerca de 7 crianças e adolescentes. O Oficinar, antes que ocupar o tempo , qualificar os sujeitos ou
educar as crianças , exercita a partir dos princípios da GAM experiências de participação, que envolvem movimentos:
de gestão coletiva das atividades e também de sua proposição, de acolhimento das questões, gestos e vontades dos
participantes, de sua negociação, de investimento na conversa, e de uma experimentação com materialidades
expressivas diversas - teatro, desenho, música, literatura, brincadeiras – em que o fazer com o outro vai sendo o
próprio desafio em jogo, incluindo e compondo com ritmos diferentes. O grupo com familiares, iniciado há mais de
três anos, também semanal, tem como ferramenta de trabalho o Guia da Gestão Autônoma da Medicação (Guia
GAM), construído meio à Estratégia, com perguntas que interpelam os sujeitos envolvidos e o grupo, reconhecendo a
1081
experiência singular dos usuários na relação com psicofármacos, e perspectivando maior negociação e produção de
conhecimento, ou seja, maior participação. Nessa pesquisa o Guia é apropriado pela experiência do familiar, que a
partir das questões e conversas é convidado a se aproximar do que possa ser a experiência da criança ou adolescente
e problematizar as práticas de cuidado geradas sobre si, geradas também por si sobre o outro e aquelas
experimentadas nas práticas de saúde. Nos dois dispositivos o pesquisar envolve cultivar coletivamente um espaço
singular de expressão e acolhimento dos processos que atravessam os vínculos e redes de relações (familiares, de
amizade, educacionais, de tratamento e acompanhamento). É no desafio cotidiano do pesquisar que afirmamos então
que saúde e participação são processos indissociáveis.

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Psicologia, processo terapêutico e produção de subjetividades
Autores: Maria de Fatima Luna
E-mail dos autores: fatimaluna80@yahoo.com.br

Resumo: No processo de produção da saúde, costumamos considerar o importante papel da produção de


subjetividades. E a Família, a Escola, o Trabalho, a Religião são instituições sociais que fazem parte desta produção.
Não podemos esquecer que estas instituições são transversalizadas por tensões, desequilíbrios, conflitos existentes na
sociedade e que portanto não deixam de atravessar a saúde dos grupos e indivíduos.
Neste processo relevamos os processos participativos na construção de uma proposta de saúde democrática, menos
desigual, em que o potencial instituinte de movimentos sociais, grupos, indivíduos é fundamental na construção de
políticas participativas de saúde, como diz Ozório (L´Harmattan, 2014). Nestas políticas, esta autora releva a
construção no quotidiano das diversas práticas de saúde, que intervêm nas subjetividades hegemônicas que buscam
construir uma saúde como privilégio de alguns.
O papel do psicólogo neste processo merece uma reflexão. Percebemos inúmeras ações relatadas já em inúmeros
trabalhos que mostram que o psicólogo tem apostado neste potencial instituinte na saúde, com a práxis de uma
psicologia interessada nas mutações sociais (Ozório, Lugar Comum, n. 49 www.uninomade.net ; Revista Pesquisa e
Práticas Psicossociais, V. 10 (2). www.uninomade.net; Org. Bock et al. Coleção Práticas sociais, políticas públicas e
direitos humanos.Vol. III coedição ABRAPSO - Bosque/UFSC, 2015). São práticas discursivas diversas que corroboram
na construção de uma sociedade mais justa e livre.
Particularizando mais esta reflexão, gostaríamos de focar a importância do trabalho terapêutico do psicólogo,
sabendo-se dos engendramentos e agenciamentos deste trabalho na produção de novas subjetividades (Guattari e
Rolnick, Vozes, 1986).
Pensamos neste trabalho terapêutico como trabalho vivo presente na clínica psicológica em que modos de ser, estar
no mundo são gestados buscando a invenção de novos espaços-tempos de liberdade. Neste processo tem-se a
experiência de propiciar novas cartografias aos desejos, de experienciar o difícil caminhar no mundo; de não desligar a
libido da produção social; de considerar uma relação estreita entre libido social e poder.
Relevamos que em todo trabalho terapêutico processos de codificação e descodificação do desejo precisam ser
considerados.
Se os conflitos e as tensões vividos neste processo evitam que se caia na mítica da boa terapêutica, pode-se dizer que
se trata de processo que se intensifica no quotidiano do trabalho de cujos fluxos temos ou não notícias. A
complexidade deste processo diz de um trabalho, sutil, indiscernível, imaterial, de afecções, afetos, do qual não
sabemos aonde se vai chegar.
Deleuze e Guattari, (Edições Minuit, 1980) dizem que o campo social é percorrido pelo desejo, ou seja, afirmam que o
desejo ativa as mais diferentes forças e pode estar atrelado aos biopoderes que querem aprisionar a vida; mas pode
também elevar a potência de existir que afirma resistências aos poderes instituídos da ordem capitalista. Pode então o
desejo num trabalho terapêutico descobrir potências, novas subjetividades difíceis de serem contidas nas malhas do
poder.
E o psicólogo como ator deste processo terapêutico, junto com o(s) usuário(s) deste, podem juntos fazer uma saúde
comprometida com a vida, que nos coloca em contato com um território insurrecional se construindo o tempo todo
com caminhos e movimentos múltiplos, com coeficientes de chance e perigo (OZÓRIO, 2007).
Neste território, um entre-lugar é experimentado o tempo todo. O entre intervém na dicotomia individuo-sociedade,
intervém nas relações de poder desta dicotomia. O entre .... Não é nem um nem dois, nem relação dos dois, mas

1083
entre-dois, fronteira ou linha de fuga .... (Deleuze e Guattari, idem:360). Movimentos de desterritorialização do
desejo são viabilizados neste trabalho.
A Psicologia se desconstrói do seu papel hegemônico, como dispositivo a serviço da reprodução social com modelos
normativos de ser e estar no mundo.
A psicologia se caracteriza como produção de subjetividades, como compromisso sócio-político.

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Relato de Experiência com Adolescentes do CAPS IA, Ênfase em Clínica Ampliada em Gestalt-Terapia
Autores: Lorena Vieira Gonçalves, UFBA
E-mail dos autores: lorena.vieiraa4@gmail.com

Resumo: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM ADOLESCENTES DO CAPS IA, ÊNFASE EM CLÍNICA AMPLIADA EM GESTALT-
TERAPIA.
NOME: LORENA VIEIRA GONÇALVES
INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA, CAMPUS ANÍSIO TEIXEIRA, IMS/CAT.
Resumo: O presente trabalho propõe discussões acerca de intervenções realizadas com grupos de adolescentes sob o
uso de substâncias psicoativas, que encontram-se em acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-
juvenil, (CAPS IA), da cidade de Vitória da Conquista- Bahia. A partir do processo de Reforma Psiquiátrica e das
discussões sobre Saúde Mental, os Centros de Atenção Psicossocial, surgem como modelos substitutivos que visam
através do trabalho multidisciplinar, possibilitar melhor qualidade de vida as pessoas em sofrimento psíquico. Dessa
forma, a experiência em Clínica Ampliada com o suporte teórico da Gestalt- Terapia teve como proposta terapêutica
fomentar aspectos do contexto social dos indivíduos, assim como, aspectos subjetivos que reforçam as suas
singularidades e implicações diante das experiências vivenciadas, além de compreender a forma de como as redes de
atenção psicossocial têm se articulado com os demais serviços de atenção a saúde, como forma de contribuir com a
equipe, estabelecer um vínculo positivo com usuários e familiares e formular estratégias de atuação que sejam
capazes de proporcionar melhor qualidade de vida aos usuários do serviço. Para tal, fizemos discussões com base no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ampliamos as discussões a respeito do funcionamento das redes de
atenção psicossocial e sua articulação com os demais serviços de atenção a saúde, estabelecendo relação com o
contexto da Clínica Ampliada e da Gestalt- Terapia, a qual, fundamenta-se no contato genuíno entre seres humanos,
trazendo a possibilidade de desenvolver um diálogo através de condições presentes no contexto de vida de cada
indivíduo, como forma de possibilitar maior autonomia e potencializar as relações de cuidado, proveniente de
recursos terapêuticos, que têm como ênfase a criatividade. As intervenções foram elaboradas de forma a possibilitar a
livre expressão do grupo, considerando os aspectos subjetivos que contribuíram para formação das singularidades,
com a finalidade de resgatar as suas vivências através de experiências de cunho artístico, como a arte terapia e
demandas espontâneas que partiam das experiências individuais e da implicação dos participantes durante o processo
terapêutico. O grau de adesão dos jovens, perante o contexto da Clínica Ampliada foi bastante satisfatório dentro do
contexto do CAPS IA, o que trouxe a possibilidade do grupo continuar, sendo mediado pelos profissionais do serviço
após o período de experiência. Permitir a participação do usuário como intermediador do processo terapêutico, foi
possibilitar novas formas de cuidado , frente ao processo de adoecimento, passando a considerar a sua dimensão
como todo, podendo identificar os aspectos sociais, motivacionais e as suas expectativas diante ao acompanhamento.
Contudo, é necessário um melhor planejamento, junto à equipe, para conseguir estabelecer o plano terapêutico
adequado à demanda apresentada. O contato com a família se fez necessário durante a realização dos grupos, de
forma a reforçar os vínculos e o seu papel durante o processo terapêutico . O papel da Clínica Ampliada, foi bastante
importante para uma melhor articulação das práticas de atenção a Saúde Mental, proveniente do diálogo entre
Psicologia Clínica e Psicologia Social, ultrapassando as práticas tradicionais as quais estiveram presentes durante o
percurso da Psicologia no campo da Saúde Mental.

1085
Saúde mental e inclusão social do estudante de graduação
Autores: Leandro Henrique Silva Fiuza, UFMG
E-mail dos autores: leandro-fiuza@outlook.com

Resumo: Esta pesquisa, ainda em andamento, aborda a temática da saúde mental e inclusão social no âmbito
universitário. A literatura internacional confirma que o problema da saúde mental dentro da universidade é
importante e generalizado, embora, seja subestimado. A pressão excessiva e a lógica produtivista são exemplos de
fatores que têm causado sérios danos aos membros da comunidade universitária. Desta tensão nasce espaço para o
adoecimento, que muitas vezes se torna solitário e incompreendido. Afinal, como um aluno que se esforçou tanto
para entrar na universidade agora se sente mal e não deseja mais conviver neste espaço?
A partir deste contexto, há interesse em refletir em que medida a universidade e seus membros têm tratado o tema
da saúde mental universitária e fomentado ações inclusivas. O objetivo deste estudo é conhecer as iniciativas voltadas
aos estudantes de graduação, que visem um ambiente sadio e inclusivo, desenvolvidas em uma universidade pública
federal.
Esta pesquisa se articula com os objetivos deste evento e grupo de trabalho ao refletir sobre práticas de
enfrentamento de uma situação de opressão no ambiente universitário, que também reflete o estado atual de nossa
sociedade. Pensar as relações entre sujeito e a universidade requer ir além, é pensar um sujeito em suas relações
humanas: sejam sociais, históricas e culturais. Para tanto, trata-se aqui de forma transdisciplinar como os sujeitos têm
padecido de uma vida solitária no meio acadêmico. As reflexões propostas estão transpassadas por diversos temas,
desde a precarização do sistema de ensino, a mercantilização dos saberes universitários, o afastamento da função
crítica e social das instituições educacionais até o adoecimento e solidão que têm acometido não só os estudantes,
mas também professores e técnicos administrativos.
Como reflexão teórica, traz-se o conceito de tecnologias leves em saúde, formulado por Emerson Merhy. Este conceito
abre um campo de visão para desvendar o ser humano como construtor em potencial. Aqui, estão os saberes e seus
encaminhamentos tanto materiais, quanto os que são imateriais (tecnologias leves), que se expressam em processos
produtivos singulares. As tecnologias leves estão pautadas nas relações entre sujeitos. A partir disso, esta reflexão se
volta para o campo universitário, sobre as tecnologias leves como iniciativas para um ambiente menos opressor e
excludente.
Enquanto referencial metodológico, esta pesquisa se envereda em uma etnografia pelo campus UFMG em Belo
Horizonte. Busca-se conhecer e participar das iniciativas realizadas tanto pela universidade do ponto de vista de
institucional, quanto por seus membros, relacionadas à temática da saúde mental e inclusão social para a comunidade
universitária. Para a obtenção de dados secundários, realizou-se a pesquisa bibliográfica pautada tanto na literatura
nacional quanto internacional. Também foi utilizada uma pesquisa documental, que buscou informações fornecidas
pela universidade sobre indicadores de trancamentos de alunos, atendimentos nos serviços da universidade e
iniciativas sobre o tema.
Sobre os resultados parciais é possível a formulação de ideias iniciais sobre como a universidade tem tratado o tema
da saúde mental. É importante destacar tanto as iniciativas realizadas pela instituição quanto às iniciativas
fomentadas pelos sujeitos e possuem um caráter mais autônomo . No caso da UFMG, muitas ações têm sido
desenvolvidas por estudantes que estão preocupados com a universidade. Eles têm promovido rodas de conversas,
grupos de estudos e pedido pauta nas ações institucionais. Este movimento é importante porque parte daqueles que
se sentem oprimidos pelo atual cenário. Ao mesmo tempo, a UFMG tem se esforçado em criar dispositivos que
caminhem para uma universidade que produza um espaço inclusivo e não adoecedor. Exemplo disso foi à criação da
CISME, Comissão Institucional de Saúde Mental em 2015. Esta comissão foi proposta para constituir uma agenda de
discussão e propor diretrizes para uma política institucional de saúde mental no âmbito da UFMG. Este é um passo
importante: uma universidade que não só pauta o tema da saúde mental em iniciativas, mas que as apoia e incentiva
tendo uma política institucional.
1086
Até este momento, percebe-se que há um movimento de resistência a um modus operandi que tem sido opressor e
excludente. A universidade e seus sujeitos precisam se movimentar para criar um novo espaço de produção do
conhecimento. É imprescindível ampliar o olhar, expandir sua escuta a toda comunidade universitária. A universidade
deve se mover na direção de um ambiente que seja inclusivo dentro e através do ensino, assim como nos momentos
de vida coletiva.

1087
Saúde Mental, Discurso Midiático e Representações Sociais: aproximações entre a Psicologia Social e a
Fenomenologia
Autores: Janaina Chnaider Miranda, UMC; Felipe Augusto Gonçalves Camanho Lopes, UMC
E-mail dos autores: jana_chnaider@hotmail.com,felipe-camanho@hotmail.com

Resumo: A Lei da Reforma Psiquiátrica, fruto de décadas de mobilização do movimento antimanicomial, estabeleceu
os direitos das pessoas acometidas por transtornos mentais e os incorporou à Política Nacional de Saúde Mental
(PNSM), redefiniu o modelo assistencial em saúde, preconizando um modelo de atenção à saúde mental aberto e que
garanta a convivência familiar e comunitária, o direito ao trabalho e a proteção contra qualquer tipo de exploração, ou
tratamento desumano. Ou seja, a Reforma rompeu com o modelo de atenção centrado na hospitalização, na
medicalização e no isolamento, e propondo o tratamento em ambientes terapêuticos e preferencialmente em serviços
comunitários de saúde mental, – organizados Rede de Atenção Psicossocial – em um modelo que devolve humanidade
ao incapacitado doente mental dando-lhes a condição de sujeitos de direitos e protagonistas de suas vidas, suas
histórias e suas existências. Para a Fenomenologia, o ser não é doente, mas está vivendo de modo adoecido, e uma
vez que a doença é a restrição das possibilidades constitutivas do ser, assim é fundamental que ele seja antes
compreendido como ser saudável, pois, ainda que adoecido e privado em suas possibilidades, este deve ser visto
como um ser integral. A compreensão do ser doente é fundamental em toda a comunidade, de forma que ao
direcionar o olhar para o indivíduo, ele não seja reduzido a uma patologia, mas possa ser considerando em todas as
suas possibilidades. Uma vez que é característica intrínseca ao Dasein pré-ocupar-se-com o outro, pois o Dasein é um
ser-em-si, mas também é um ser-com e relaciona-se com o mundo, o cuidado torna-se também parte constitutiva do
ser, afinal a existência é compartilhada. Tal compreensão deve considerar o sujeito em sua totalidade, assim como os
contextos em que está inserido. É necessário considerar as políticas de saúde dentro do atual momento histórico em
que há um novo avanço agressivo da agenda neoliberal, que desregulamenta direitos, precariza serviços, congela
investimentos sociais, impede a oferta de novos serviços e equipamentos, desresponsabiliza o Estado de garantir
condições de vida digna e desmonta as políticas sociais existentes, deixando o país ao sabor dos interesses do
mercado financeiro e do capital, aprofundando desigualdades e condenando parcela significativa da população à
pobreza e à miséria. Deve-se considerar também o papel desempenhado pelos mais diversos atores sociais, em
especial o da mídia, na medida em que esta cumpre o papel de construir discursos, reproduzir, difundir, defender e
massificar o ideário neoliberal. Neste sentido, este trabalho parte de uma reflexão sobre a doença mental, o doente e
a oferta de serviços de saúde, e teve como objetivo identificar as representações sociais sobre as políticas de
atendimento em saúde mental, sobre a doença mental e sobre o doente em textos jornalísticos publicados nas
edições ¬on-line dos jornais do Alto Tietê entre junho de 2016 e junho de 2017. Utilizou-se a análise de conteúdo
proposta por Bardin (1977), que se baseia em um conjunto de técnicas que possibilita a análise das comunicações por
meio de procedimentos sistemáticos e objetivos, permitem descrever o conteúdo das mensagens e a inferência dos
conhecimentos que envolvem as condições de produção e recepção das mensagens. Analisou-se as publicações dos
jornais G1, O Diário de Mogi, Portal News e Diário de Suzano, utilizando os descritores saúde mental , doença
mental , psiquiatria e alto tiet , foram encontradas o total de 32 reportagens. Verificou-se que as principais
temáticas encontradas foram a precariedade dos equipamentos de saúde mental em funcionamento, medicalização e
eventos realizados pelos serviços de saúde mental. Observou-se que embora a PNSM preconize a oferta de um
conjunto de serviços e equipamentos que primam pelo atendimento e tratamento humanizado às pessoas acometidas
de transtornos mentais, a imprensa difunde e defende modelos que visam adaptar o sujeito à sociedade, a fim de
torná-los normais e isolar os que não se adaptam, já que estes são vistos como um entrave, não se adequando as
convenções sociais. O estudo evidenciou também a ausência de serviços e equipamentos que atendam a demanda e a
falta de investimento do poder público em saúde mental. Conclui-se que, embora a PNSM recomende o tratamento
humanizado e integrativo e garanta sobre os direitos desta população, a mídia ainda representa os usuários do serviço
de saúde mental como um incômodo social, um peso, além de, subjetivamente, apoiar a medicalização, a
1088
hospitalização e o isolamento destes sujeitos, contrariando o proposto pela Reforma Psiquiátrica. Uma vez que o ser
considerado saudável está pleno em suas possibilidades e o cuidado é intrínseco ao Dasein sugere-se ações que
mobilizem a sociedade, os profissionais da saúde no intuito de exigir que os direitos antes conquistados sejam
cumpridos, amplie-se a oferta de serviços e que permitam que a saúde mental seja compreendida como um direito de
todos.

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Tenda Paula Freire
Autores: Lethicia Souza Moura, UEMG; Aline Aparecida Nunes Borges, UEMG; Fernanda Nogueira Campos Rizzi,
UEMG; William De Oliveira Gomes, UEMG
E-mail dos autores:
lethicia_leh_@outlook.com,william_o.oliveira@hotmail.com,anborgespsicologia@hotmail.com,fnocam@gmail.com

Resumo: O presente trabalho trata-se de um ensaio reflexivo de alunos de uma extensão universitária em educação
popular em saúde. Os autores são do curso de psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais e da docente
responsável por um projeto que alia pesquisa e extensão. Sabe-se que todo tipo saber é valido, já dizia Paulo Freire,
não há conhecimento mais relevante ou menos relevante, pois, todas as formas de saber possuem a mesma
importância e prestígio em sua essência que, no entanto, dependerá do contexto e condições a serem utilizadas para
um determinado fim. Ao contrário, do pensamento cético-científico, o senso comum traz uma imensidão de
compreensões acerca do mundo pela experiência vivida por cada individuo inserido em qualquer grupo, comunidade,
sociedade, povoado, que compartilham de uma memória coletiva. Estas memórias são formadas ao longo do tempo e
compartilhadas a cada geração pelos conhecedoras da vida caracterizando assim aquilo que é próprio e exclusivo de
um povo, a vastidão do Saber Popular. É este o saber do povo, sobre os modos de viver e sobreviver dia após dia, e
que nos acompanha desde o despertar até a hora do repouso. Neste imenso território Brasileiro, nos deparamos com
diversas culturas e costumes de diferentes regiões do país, que se distinguem por práticas religiosas, sotaques, pratos
culinários, vestimentas, saberes medicinais e nutricionais pelo uso de plantas e ervas, estilos musicais, danças, festas e
outras peculiaridades. Estamos imersos na diversidade cultural brasileira, e nossa identidade é múltipla devido a isso.
Pensando em teóricos da psicologia como Winnicott, o modo de ser e fazer humano existe de forma inseparável de
seu ambiente. A partir disso, nota-se a constante interação do homem com o mundo, da qual ele aprende e se adapta,
e logo, de acordo com a experiência de vida, está apto para ensinar. Surge assim, a necessidade de aproximar os
povos, compartilhar os saberes afim de libertar as pessoas da ignorância - pois são ignoradas e as vezes ignoram a
própria potência - e da exclusão social. A Educação Popular, visa valorizar o Ser Humano dentro de um princípio de
universalidade de direitos e de equidade dando-se mais direitos aos vulneráveis. No campo da saúde a educação
popular tem sua entrada triunfal na década de 80 sendo de aceita como política pública apenas em 2012 com a
Política nacional de educação Popular em Saúde. A educação popular em saúde vem ao encontro do cuidado em sua
integralidade, transversalizando todos os determinantes sociais do sofrimento humano e pensando-o de formas
múltiplas realizando aquilo que Paulo Freire nos ensinou, de identificar as situações-limite e assim compreender o que
pode ser superado, aprendido, potencializado. Nos encontros do projeto os participantes estudantes do curso de
psicologia podem suspender o conhecimento acadêmico e mergulharem na realidade concreta dos saberes disponíveis
em nossa cultura. Aprendemos conjuntamente a respeitar formas de se pensar e fazer e criamos uma ponte entre a
universidade e a comunidade capaz de gerar sentido e contexto àquilo que é estudado e aprendido durante o curso.
Os saberes universitários não são dados como mais válidos neste processos, mas os saberes populares são validados e
a fricção entre ambos provoca questionamentos e novas ideias. Nos tornamos mais ativos no processo de construir
conhecimento, e mais tolerantes também, visto que é entendido que a validade dos conhecimentos é interna a sua
construção. A participação de estudantes em extensões de educação popular, pode ser uma estratégia educacional
muito relevantes em tempos de colonialismo neo-liberal, de massacre de costumes, de mercantilização das diferenças
e da soberania produtivista intelectual. Concluímos que ainda há muito que conhecer para resistir às diversas
dominações em jogo na vida atual.

1090
Um estudo de campo sobre a exposição exacerbada de adolescentes nas redes sociais
Autores: Luana de Paula Pimentel, ILES/ULBRA; Sheila Maria Pereira Fernandes, ILES/ULBRA
E-mail dos autores: luhpimentel@hotmail.com,sheilailes@bol.com.br

Resumo: A era digital cresce de forma desenfreada e se integra cada vez mais ao cotidiano, uma vez que oferece
recursos e responde a maioria dos problemas da humanidade. As peculiaridades desse mundo virtual e a velocidade
em que os adolescentes pautam as relações têm sido grandes focos de estudo na contemporaneidade, e têm
ocasionado dúvidas e discussões entre pais e filhos, professores e alunos e todos aqueles que têm a responsabilidade
e participação na tarefa de orientar jovens atualmente. Há certa predominância da população jovem no que tange a
utilização da internet, o que tem acarretado pesquisas interessadas em compreender esta temática, pois embora a
tecnologia possibilite aos jovens o avanço, implica desafios e vulnerabilidades. Este trabalho tem como tema: A
exposição exacerbada de adolescentes nas redes sociais. Para orientar este estudo é apresentado o seguinte problema
de pesquisa: O que leva o adolescente a se expor nas redes sociais? Como objetivo geral pretende-se analisar os
aspectos que se relacionam à exposição do adolescente. Desta maneira formula-se a seguinte hipótese: A exposição
dos adolescentes nas redes sociais está atrelada a busca por pares bem como a necessidade de aceitação. É um estudo
qualitativo que tem por amostra vinte adolescentes, com idades entre 15 e 18 anos, matriculados em um colégio
estadual do interior de Goiás, e ainda três gestores da instituição em questão. Como técnica de interrogação foram
utilizados um roteiro de análise documental e duas entrevistas semiestruturadas, elaboradas a partir do construto
teórico deste estudo. Conclui-se com este trabalho que a exposição exacerbada nas redes sociais relaciona-se a busca
por pares, associada também a outros fatores que contribuem para tal fenômeno, como a percepção de que
indivíduos que postam fotos expondo o corpo atingem mais pares do que aqueles que não o fazem, ou seja, no ímpeto
de chamar atenção e de buscar aceitação, o jovem apela para a sexualidade. Elucidou-se ainda o impacto que o fato
de não atingir tais pares dentro das redes sociais traz a autoestima do sujeito. Ainda neste parâmetro coloca-se a
questão da família (ambiente) diante de tal contexto o que se remete a utilização dos próprios pais de forma excessiva
e, além disso, um nível de vigilância deficitário, e desta forma há um aporte para que tais adolescentes se exponham
ainda mais. Assim é possível explanar que a questão da exposição não acontece de forma isolada e sim englobando
vários fatores ocultos. Em relação à escola percebeu-se a necessidade de desenvolvimento de ações, uma vez que os
alunos estão desinformados sobre o assunto e assim banalizando o perigo, o que lhes coloca em situação de risco.
Salientando ainda que esta deve ser parceira da família, uma vez que é a primeira responsável pela condução ética dos
filhos. Desta forma cabe a escola a realização de programas que incentivem o bom uso das redes sociais enfocando
ainda nas consequências danosas oriundas do mau uso, sendo este um trabalho que deve estar frequentemente
inserido na escola. Faz-se interessante citar ainda que é de suma importância a preparação dos professores, para que
estes sejam capazes de adequar o espaço da sala de aula ao espaço virtual, preparando aulas e pesquisas que façam
um uso inteligente dos recursos, maximizando as capacidades cognitivas dos alunos e ainda para que estes possam ser
capazes de orientar seus alunos quanto às vulnerabilidades. A escola em questão poderia ainda organizar encontros
de pais e professores para reflexão sobre o tema. Certamente existe o interesse da grande maioria dos pais sobre a
questão. Existem muitas dúvidas que precisam ser respondidas e esses encontros podem ajudar a família a descobrir
melhores caminhos para lidar com eventuais problemas. Atingiram-se os objetivos previstos para esta pesquisa bem
como a hipótese foi confirmada. Deste modo vale ressaltar que esta pesquisa seguiu todos os critérios éticos e legais
para a realização da mesma sendo aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

1091
GT 51 | Sexualidades minoritárias, gêneros locais: questões aos processos de generalização,
universalização e homogeneização sobre as maneiras de desejar

Coordenadores: Anselmo Clemente, PUC-SP | Jésio Zamboni, UFES | Márcio Alessandro Neman do Nascimento, UFMT

A composição das temáticas sexualidades, gêneros, corporalidades e desejos, proposta para o desenvolvimento deste
Grupo de Trabalho (GT), acontece em diversos contextos sociais, históricos, políticos e culturais. Que configurações
assume essa composição em regimes democráticos e laicos? E em tempos de exceção? A resposta a essas questões
exige acompanhar os processos desejantes nas formações coletivas, produzindo relações de poder. As resistências
engendradas nessas relações produzem subjetividades consideradas abjetas. Tais modos de vida dissidentes suscitam
transformações no cenário cotidiano a partir de suas maneiras de ver, sentir, intervir, ou seja, a partir de seus
posicionamentos inventivos de estilísticas de existências singularizantes que promovem processos de fuga do
hegemônico. Produzir vida, nesse sentido, corresponde a afirmar o fluxo desviante dos desejos requerendo
posicionamentos revolucionários que escapam das políticas regulatórias e normalizadoras das práticas sociais. Os
gêneros se constroem como modos de vida articulados em função do desejo, considerando a sexualidade como eixo
principal. A diversidade sexual e de gênero abarca essas articulações sociais do desejo em sua multiplicidade, em suas
variações e transformações, que extrapolam as fronteiras do instituído. Produz-se, nesse campo, uma série de
processos identificatórios que possibilitam a formação de grupos definidos pela ideia de igualdade. Essa ideia permite
pensar que há maneiras de desejar que extravasam territórios particulares e se encontram disseminadas em diversos
contextos. Assim sendo, perguntamos: Como é possível estabelecer generalizações sobre as maneiras de desejar?
Quais os perigos epistemológicos, éticos e políticos implicados na produção de saberes que pretendem se estender do
local ao global? Em tempos de capitalismo mundial integrado, a formação de movimentos de diversidade sexual
espalhados em diversas regiões do mundo apresenta uma série de conexões, não podendo ser pensados
isoladamente. Essa rede, no entanto, defronta-se com o perigo da homogeneização a partir de estratégias políticas
identitárias, as quais implicam, em graus diversos, a dissolução das diferenciações.
Diante dessa problemática, propomos que esse Grupo de Trabalho (GT) agregue análises críticas das teorizações em
gênero e sexualidade a partir de experiências e narrativas locais. Objetivamos assim o desenvolvimento conceitual no
sentido de multiplicizar perspectivas analíticas. Desse modo, entendemos que os conceitos não permanecem os
mesmos quando utilizados em contextos específicos. Não se trata, então, da mera aplicação de conceitos importados
dos grandes centros mundiais, mas da produção de novas tecnologias analíticas pela transformação crítica desses
conceitos estrangeiros ao serem utilizados e transformados em contextos latino-americanos; mais especificamente,
em diversas localidades do território brasileiro. Como os conceitos de gênero e sexualidade modulam-se pelas
situações parciais em que se inserem nossas pesquisas? Em virtude desse processo de variação conceitual próprio às
pesquisas situadas, as análises assumem um caráter ensaístico, distante de demarcações pretensiosamente
conclusivas. A potência crítica deriva da tensão teórica-metodológica entre conceitos e experiências, permitindo
deslocamentos nas fronteiras de conhecimento que, muitas vezes, pretendem-se estáveis. Sobretudo, provoca-se,
com os deslocamentos, o desarranjo das representações culturais tanto mais estereotipadas quanto mais distantes do
fluxo variante das práticas concretas relativas aos sexos, aos gêneros e às corporalidades.
áà p opostaà doàGTà ap ese taà fe u daà esso iaà o àoà te aà doà XIXà E o t oà Na io alà daà áB‘áP“O,à De o a iaà
Participativa, Estado e Laicidade: Psicologia Social e enfrentamentos em tempos deàe eç o .àOàp o le aàdasàpolíti asà
identitárias, representativas e generalizadoras está diretamente relacionado ao investimento das lutas da diversidade
sexual nas políticas de Estado. Esse modo prevalecente de conformação das políticas de diversidade sexual como
identitárias é justificado, no mais das vezes, como exigência do Estado. Esse atrelamento ocorre em um contexto de
democratização estatal pelo desenvolvimento da laicidade e da participação social nos aparelhos de governo. É
preciso, em meio a esse processo, questionar a necessidade do recurso à via identitária e da política representacional.
Os tempos de exceção que estamos vivendo são um momento de crise política propício a (re)pensarmos as estratégias
e táticas políticas. Nesse sentido, propõe-se pensar as configurações do desejo no campo do prazer, em seu aspecto
ético-estético-político, considerando a multiplicidade que caracteriza as formações de gênero. Por essa via, investe-se
na importância fundamental do prazer como agenciamento contra-hegemônico à normalidade da heterossexualidade.
Propomos a reconsideração do status de abjeção conferido pelos dispositivos de controle das sexualidades às
configurações sexuais marginais.

1092
EsseàGTàseài se eà oàei oà G e oàeàse ualidades:à odosàdeàsu jeti aç oàeàpolíti asàdeà esist ia ,àpoisàseuàde ateà
encontra-se em relacionado com a discussão das relações de poder, da ideia de que ser heterossexual e cisgênero é o
normal por oposição à suposta anormalidade de outras formas de gênero e sexualidade (cisheteronormalidade), da
interseccionalidade enfocando o sistema sexo-gênero, da orientação sexual e dos territórios de existência. Além disso,
também pretende-se potencializar o debate acerca das estratégias de resistência e despatologização das identidades,
dos gêneros e dos desejos. Todas essas questões visam à atenção aos processos de singularização coletiva do desejo
no campo social. Pode-se tomar as relações de poder no campo das sexualidades e dos gêneros como processo de
colonização da dimensão erótica da vida, marcada pela cisheteronormatividade compulsória das populações. Contudo,
é possível mapear, neste mesmo campo, resistências a tal processo homogeneizante, tomadas aqui como novos
povoamentos. Trata-se também de movimentos aberrantes frente à normatização da vida sexual, por vezes difíceis de
explicar ou capturar, mas que, ao mesmo tempo, estão em diversas partes. Assumem lógica, natureza e modo de
funcionar próprios. Tais movimentos colocam em xeque, mesmo que temporária e localmente, toda domesticação do
prazer que, pouco a pouco ao longo dos séculos, decantou-se em identidades sexuais e de gênero mais ou menos
estáveis, acopladas num organismo investido de máquinas de captura vigilantes dos gêneros e dos sexos. Por vezes,
trata-se de povoamentos realizados por figuras eróticas impessoais, que perambulam o urbano e o rural, não sem
propósito, em busca de prazeres triviais. Podem apresentar gratuidade e ocupação de áreas públicas peculiares,
indicando justamente que é na borda do sistema regulatório da cisheteronormalização compulsória que sua
resistência se estabelece. Territórios marginais como esses interessam na medida em que são foco de produção local
de variações de gêneros e sexualidades. Há situações também em que essas sexualidades e gêneros minoritários
instauram zonas provisórias de prazer e, registradas pela cisheteronormalização como doentias e abjetas, ajudam a
problematizar seu entorno, dominado pelo modelo do homem branco, heterossexual, cisgênero, ocidental, racional,
colonializador, racista, machista. Ou seja, tais sexualidades minoritárias abrigam a invenção de perspectivas que
permitem escapar da visão binarizante das identidades sexuais. Em meio à existência corriqueira e ordinária do
contemporâneo, essas sexualidades abalam a normalidade cotidiana. Elas apresentam um pensamento tático, uma
linha erótica que atravessa os corpos em tempos-espaços particulares, produzindo um campo extrapessoal, permeado
por identidades provisórias, identidades sexuais contextuais repletas de gestos singulares e performances próprias,
contra-identidades ou mesmo pela ausência de identificações.
No que se refere aos modos de subjetivação das sexualidades em gêneros, considera-se que, nas sociedades
capitalistas contemporâneas, somos assujeitados numa dimensão subjetiva nunca vista, transformando todos nós
numa espécie de mônada. Sonhos, sentimentos, prazeres e outros elementos da experiência humana são, na
atualidade altamente capitalizáveis. Por esse motivo, modos de enfrentamento a cisheteronormalização correm o
risco de serem capturados e sobrecodificados como identidades sexuais replicáveis e universalizáveis pelo sistema.
Sabe-se que, do ponto de vista macroestrutural, há em muitas das grandes cidades ocidentalizadas, toda uma
ocupação das mais diversas comunidades sexuais identitárias, na medida em que se rendem a um projeto de aceitação
social rejeitando a contestação dos valores estabelecidos. O campo do prazer é, então, conformado por modos de vida
adaptados e compatíveis com a ordem capitalista. Nessa perspectiva, as identidades humanas de toda ordem,
inclusive as identidades sexuais LGBTTTQIA (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queers,
intersexuais, assexuados), são capturáveis e capitalizáveis, a fim de funcionarem como ponto de efetivação dessa
ordem. A personagem homossexual, por exemplo, nascida do investimento do poder disciplinar em torno do prazer e,
também, do biopoder aplicado ao sexo, corre o risco de ser formatada como uma mônada investida de controle,
tornando-se o gay respeitável em um modo de vida pensado em função do mercado. Mesmo com todo esse risco da
captura, as lutas mundo afora das populações LGBTTTQIA pelo direito de viver são fundamentais para sustentar outros
mundos possíveis. Essa abertura de possíveis se fortalece pelos processos de singularização territoriais em constante
tensionamento com as homogeneizações globalizantes. Assim, a proposta desse GT é se agregar discursos dessas
ocupações num plano mais micropolitico das sexualidades minoritárias, no qual importa muito mais as zonas
contextuais, contingenciais, locais e regionais, com suas formas, seus jeitos de ser e reivindicações próprias do que
seus aspectos universais. Ou seja, trata-se do debate acerca das ocupações libidinais dissidentes, que povoam
diferentemente o mundo e que enfrentam assim o cotidiano de zonas rurais e urbanas, os centros e as periferias.
Trata-se de sexualidades minoritárias, que desafiam as explicações criminais, sanitárias, psicológicas e sociológicas
insistindo, mesmo que oscilantes, em continuar frequentando este mundo. Contudo, há sempre um combate de vida e
de morte nestas ocupações, pois esses territórios de prazer instauram-se no centro de atenção das atualizações de
controle de gênero. O perigo dessas sexualidades minoritárias consiste em subverter a ordem privatista-consumista-
familiarista do sistema regulatório heteronormalizador. Assim, propõe-se uma série de questões relevantes para esse
1093
GT se debruçar acerca das sexualidades minoritárias e dos gêneros locais: que dores e prazeres esses povoamentos
carregam? Como lidam com as ameaças e os riscos para produzirem seu erotismo? Quais possibilidades de vida são
criadas a partir deste contexto libidinal? Que (micro e macro) políticas desenvolvem em torno de seus prazeres? Quais
agenciamentos e dispositivos inventam a fim de se expressarem, ou de se esquivarem ao olhar do poder?
A importância desse GT decorre do fortalecimento de redes de pesquisa que privilegiem os processos de
singularização do desejo em diversos âmbitos da vida coletiva, colocando em questão as narrativas hegemônicas sobre
as sexualidades e as diferenças de gênero que tendem a fazer as diferenciações desaparecerem diante de estruturas
generalizadas. A tensão entre generalização e singularização no âmbito dos estudos de sexualidade e gênero é tomada
assim como eixo de debates entre variadas contribuições possíveis, oscilando entre trabalhos de campo e
problematizações conceituais. Nossa proposta com esse GT é discutir as variações conceituais em gênero e
sexualidade em função de situações locais de pesquisa. Pretendemos acolher produções de saberes em trabalhos de
pesquisa e intervenção que operem problematizações de posicionamentos e perspectivas universalizantes, que
reiteram a subalternidade e as capilaridades macro e micropolíticas de domesticação e controle dos modos de vida
abjetos que insistem em resistir, desmontando as tramas do poder normalizador e inventando jeitos de existir
insubordinados.

1094
A produção de subjetividade de mulheres vítimas de violência intrafamiliar em Rondonópolis- MT
Autores: Claudia Cristina Isbrecht, UFMT; Camila Trugillo, UFMT; Márcio Alessandro Neman do Nascimento, UFMT
E-mail dos autores: claudia.isbrecht@hotmail.com,kamila_trugillo@hotmail.com,marcioneman@gmail.com

Resumo: Pesquisas recentes têm apontado um aumento considerável de ocorrências oriundas da violação dos direitos
de mulheres que são vitimadas por diversas práticas sociais violentas, entre elas, as violências descritas como violência
intrafamiliar, doméstica, conjugal ou de gênero (Conselho Municipal de Defesa da Mulher de Rondonópolis, 2014).
Assim sendo, esta pesquisa está vinculada a experiência de estágio específico do curso de psicologia da Universidade
Federal do Mato Grosso (UFMT/Campus Rondonópolis), que acontece no Fórum da Comarca de Rondonópolis-MT, na
Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, especificamente na equipe de atendimento
psicossocial e multidisciplinar. A referida equipe psicossocial é composta por psicólogas e assistentes sociais e objetiva
acompanhar os processos enquadrados na Lei Maria da Penha (Lei n.11.340). Essa Lei criou mecanismos que visa
prevenir e coibir atos de violência(s) contra a mulher que, de todo modo, causem sofrimento físico, sexual ou
psicológico e/ou cause dano moral ou patrimonial (Capítulo 1, Art. 5º), além de também atuar com medidas protetivas
e repressivas contra essas práticas violentas. A equipe psicossocial elabora pareceres que auxiliarão nas tomadas de
decisão judicial, realiza escuta e apoio psicológico às vítimas dessas violências. Neste contexto, o desenvolvimento do
estágio busca problematizar os processos de subjetivação de mulheres em situação de violência na cidade de
Rondonópolis do Estado de Mato Grosso por meio da escuta sensível em uma perspectiva da clínica ampliada. O
município recebe a classificação de médio porte e está localizado no sul do Mato Grosso. De acordo o censo do ano de
2016, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rondonópolis possui cerca de 218.899
habitantes, porém conta com 195.476 residentes dentre eles 98.197 homens e 97.279 mulheres. A economia local é
alicerçada no comércio de commodities e na agropecuária. Devido aos aspectos culturais enraizados na região, dentre
outras variáveis, os casos de violências contra a mulher são frequentes no município e obtiveram um aumento de
visibilidade significativo nos últimos anos. Segundo o Conselho Municipal de Defesa da Mulher de
Rondonópolis(CMDM), o ano de 2014 registrou um aumento de 4% nos casos em relação ao ano de 2013. Com
conhecimento estatísticos, tornou-se necessário então, a elaboração de outros meios e práticas para auxiliar na
prevenção, acolhimento e proteção das vítimas devido à grande demanda. O método da pesquisa se baseou em um
posicionamento esquizoanalista apoiada em autores(as) pós-estruturalistas e dos estudos de gênero/feministas, que
investem em uma análise cartográfica que mapeiam paisagens psicossocial, ou seja, analisam os processos de
subjetivação e produções de desejos possíveis no campo social. Consideramos que existem condições macropolíticas
(machismo, homofobia, racismo, misoginia, entre outros suportes das violências estruturais) que fazem
interseccionalidades com os modos de subjetivação dessas mulheres (raça/etnia, sexualidade, gênero, classe social e
econômica, cultura, entre outros). A pesquisa analisou que as produções de subjetividades fazem conexões diversas
com as verdades instituídas socialmente e que acarretam no empobrecimento e entristecimento da vida dessas
mulheres, ou seja, situações que convergem para a precarização de vidas. Em análise, entendemos que a
despotencialização da vida dessas mulheres as coloca em contextos e situações de vulnerabilidade
pessoal/social/institucional em relação as práticas sociais violentas, dificultando a saída de armadilhas de
assujeitamento aos poderes misóginos, machistas, lesbofóbicos, econômicos, culturais entre outros.

1095
Comendo mulher e dando pra homem: os desejos subvertendo a lógica identitária
Autores: Rogério Amador de Melo, UNESP; Fernando Silva Teixeira Filho, UNESP-Assis
E-mail dos autores: melo_rogers@yahoo.com.br,ferttilli@hotmail.com

Resumo: As subversões das identidades vêm acontecendo, podemos assim dizer, mediante elementos trazidos pelas
perspectivas Queers, que refutam as idéias, discursos e proposições de uma identidade fixa, centrada em lógicas
binárias e normatizadoras dos corpos, dos desejos e dos prazeres. Neste sentido, não nos comportamos de
determinada maneira devido a nossa identidade de gênero, pelo contrário, adquirimos nossa identidade pela
repetição contínua de atos corporais, movimentos particulares e gestos; gendrados por significados e significantes
socialmente estabelecidos na construção discursiva das identidades (SCOTT, 1989; BUTLER, 2003). Partindo de tais
proposições e adentrando os territórios cinematográficos, nos deparamos com o curta-metragem Rótulo que traz na
narrativa fílmica um embaralhamento das identidades, frente aos desejos que são polimorfos, e não pré-
determinados; onde através dos diálogos entre as personagens emergem pistas e narrativas discussões pertinentes ao
contexto social do momento, em que as questões relativas às sexualidades, gêneros e práticas sexuais têm sido
debatidas a partir de estudos, pesquisas, teorias e experimentações, que dentro e fora das academias vem
mobilizando posicionamentos em relação às identidades. Torna-se necessário dizer, que este trabalho é recorte da
dissertação de mestrado Imagens, sensações e afetos: as personagens gays nos curtas-metragens brasileiros exibidos
no Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade , onde através do método genealógico e da análise do discurso
foucaultiana (FOUCAULT, 2007/1996) em diálogo com as proposições pós-estruturalistas da produção de desejos e as
perspectivas queers, foram-se mapeados 61 curtas-metragens deste Festival, sendo este aqui especificamente
mencionado um dos curtas-metragens analisados na referida pesquisa; onde temos por objetivo aqui, problematizar
as identidades a partir da produção de desejos que são agenciados nas relações, frente aos regimes de verdade que os
atravessam. O curta-metragem tem aparentemente a proposta de desterritorializar as identidades e os desejos de
lugares pré-fixados, trazendo questionamentos que nos levam a pensar nas formas plurais de vida e expressões de
desejos dentro de perspectivas diversas, e não mais estanques e essencialistas. Portanto, as críticas implícitas nas
imagens, nos discursos e nos enunciados imagéticos do curta-metragem, forçam-nos a pensar nos afetos e afetações,
nas forças das paixões (SPINOZA, 2010) que atuam em ação intensa de um corpo sobre outro, provocando
intempestividades, devires, desejos. É através de desestabilizações das fronteiras entre ser isso ou aquilo, de comer ou
dar, de ficar com homem ou com mulher, ou de ficar com os dois, que o curta-metragem mostra que os desejos são
produção, forças que pedem passagem independente das suas estratificações. Claro que, a maneira e os modos que
lidamos com a produção dos desejos em nós, dependem da política/ética/estética de vida que queremos e nos
permitimos, porque a vida em sua potência sempre escapará a toda e qualquer representação, sendo os desejos
excessos, transbordamentos, conexões, invenções.

1096
REFERENCIAS:
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.
___________. Nietzsche, a genealogia e a história. In: FOUCAULT, M. Microfísica do
poder. (Trad. Org. Roberto Machado). 23ª. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2007.
MELO, R.A. Imagens, sensações e afetos: as personagens gays nos curtas-metragens brasileiros exibidos no Festival
Mix Brasil de Cultura da Diversidade (Dissertação de Mestrado). UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho , 2016. 152 f.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. (Trad. Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila). New
York, Columbia University Press, 1989.
SPINOZA, B. A origem e a natureza dos afetos. In: SPIZOZA, B. Ética. (Trad. e notas de
Tomaz Tadeu). 3ª ed., Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

1097
Gênero bicha? uma a[na(l)]rqueologia da diversidade sexual no Brasil
Autores: Jésio Zamboni, UFES
E-mail dos autores: jesiozamboni@gmail.com

Resumo: Como é possível pensar a bicha? Personagem psicossocial das paisagens político-culturais brasileiras, é
possível que seja também uma personagem conceitual, uma amizade para entesar o pensamento? Trata-se de uma
formação histórica singular ou de mera reprodução de estereótipos? Gênero e sexualidade na bicha funcionam como
sistema de reprodução da dominação ou agenciamento coletivo de territórios existenciais? Em torno dessas questões,
desenvolvem-se ensaios de um pensamento da diferença que acontece pela experiência bicha. Tradicionalmente, no
processo de institucionalização do campo da diversidade sexual no Brasil, a bicha tem sido anulada, preterida em
relação à personagem gay. Pretende-se, então, questionar os rumos desse desenvolvimento, no sentido de fazer a
bicha escapar à lógica identitária da representação, hegemônica nos movimentos de diversidade sexual. Abordando-a
fora desse esquema, outras imagens da bicha podem aparecer. A filosofia da diferença de Gilles Deleuze funciona
como um suporte para operar uma esquizoanálise da bicha, que é abordada como devir e como analisador que
possibilita pensar diferentemente. Apresenta-se o confronto da bicha com as personagens homossexual, gay e queer,
construídas coletivamente. Todas essas personagens em conflitos, alianças e disputas, são tomadas como
composições locais de gênero e sexualidade, situadas como formações singulares em uma perspectiva descontínua da
história, de modo a escapar das totalizações teóricas. Foca-se, nesse intento, o combate à bicha durante a emergência
da figura do gay no Brasil do final da década de 1970. Neste momento, o conflito se instaurou nos planos acadêmico-
científico, onde o conceito de bicha é desprezado em relação ao de homossexual ou gay, e político-cultural, de modo
que os primeiros grupos homossexuais organizados no Brasil começam o ataque à bicha como estereótipo e
preconceito. Essas batalhas foram perdidas pela bicha, mas a guerra continuou e continua em outros combates.
Sobretudo nos anos 1980, pode-se acompanhar uma proliferação de discursos da bicha, que parecem derivar dos
choques dessas primeiras batalhas. As obras de Peter Fry, Edward MacRae, Néstor Perlongher, Herbert Daniel,
Madame Satã e Waldo Motta captam e articulam teórica e/ou literariamente esses discursos, de maneira que se pode
traçar o prosseguimento das lutas da bicha. Por essa via, insiste-se na produção local de formações de gênero e
sexualidade resistindo às categorias identitárias internacionalizadas. Produz-se, também, interferências nos conceitos
de sexualidade e gênero. Propõe-se a produção da bicha por meio da interpelação como agenciamento de
desidentificação. A produção histórica da travesti brasileira como bicha prostituinte é discutida tendo como referência
a batalha nas ruas feita escola da vida, ou seja, territórios coletivos de trabalho sexual onde acontece a formação da
travesti pelo trabalho. Recusa-se, desse modo, a visão reducionista dos meios de existência e produção histórica da
travesti como lugares exclusivos de opressão pelo almejar da inclusão na sociedade tal qual estabelecida. A travesti é
retomada como bicha, da maneira como se pensa desde antes da identificação no movimento organizado
internacional. Abordam-se as tensões ou problemas constituintes da experiência travesti, recusando a perspectiva de
uma compreensão coerente e lógica. Correspondente a essa perspectiva, na contramão de definições estáticas,
afirmam-se anti-princípios que marcam o percurso da pesquisa.

1098
Igrejas inclusivas: territórios de resistência e luta pelo direito à fé e à diversidade sexual
Autores: Vilmar Pereira de Oliveira, UFMG
E-mail dos autores: psi.vilmar@gmail.com

Resumo: A presente comunicação apresenta o recorte de um estudo que discorre acerca das experiências de jovens
homossexuais do sexo masculino, adeptos de crenças cristãs e que frequentam instituições religiosas neopentecostais
que se autodenominam de igrejas inclusivas. Referidos estabelecimentos se caracterizam pela acolhida de fiéis LGBT
sem discriminá-los em relação à orientação sexual, colocando-se como alternativa para os sujeitos que procuram pela
participação sociorreligiosa, e não querem se submeter a discursos e práticas de desqualificação e condenação dos
modos de ser que não pertencem ao campo da cisheteronormalidade. Nas igrejas inclusivas, além de frequentar os
cultos sem represálias quanto à orientação sexual, os fiéis LGBT também podem envolver-se diretamente com as
atividades eclesiais, ocupando as funções de pastores, diáconos, obreiros e levitas, dentre outras. Possibilidades que
vão na contramão da tradição judaico-cristã, que hegemonicamente ainda considera as vivências e as identidades não-
heterossexuais e não-cisgêneras como pecado. Partindo desse pressuposto, o problema que orientou o estudo focou
as experiências dos jovens gays cristãos para então poder identificar as relações que estes sujeitos estabelecem
perante a própria sexualidade, o desejo e a religião/religiosidade, considerando que a participação neste âmbito é
parte constitutiva dos processos de identificação e da subjetividade dos sujeitos pesquisados. A qualidade dessa
participação e os modos como ela acontece – ou a sua impossibilidade – repercutem na percepção que estes sujeitos
possuem de si mesmos. Com isso, o objetivo da pesquisa foi registrar as histórias dos participantes sobre as suas
experiências acerca do ser gay e do ser cristão – desde a infância, até a chegada em uma igreja inclusiva, incluindo,
portanto, as experiências em estabelecimentos tradicionais não-inclusivos – para poder analisar a importância da
vivência religiosa para os mesmos, bem como avaliar as contribuições de um espaço acolhedor para a construção e
afirmação de uma identidade homossexual. Denota-se, dessa forma, a relação da comunicação com o eixo "gênero e
sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência", ao se compreender a emergência das igrejas inclusivas
como aspecto que denuncia os discursos que colocam sexualidades e corpos não-heterossexuais à margem das
religiões cristãs e da sociedade, alertando para a necessária legitimação das vidas e modos de ser que a normatividade
mantém abjetos. Aloca-se, deste modo, a proposta em um grupo de trabalho que se debruça sobre o
compartilhamento das experiências e narrativas locais que versam acerca das estratégias de resistência das
identidades consideradas abjetas e subalternas. O estudo que se apresenta parte de uma perspectiva psicossocial,
tendo como base os conceitos de experiência e identidade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com cunho
etnográfico, operacionalizada através de um método biográfico. A prática investigativa deu-se por meio de
observações em uma denominação inclusiva situada em Belo Horizonte, Minas Gerais, e da produção de narrativas de
cinco jovens que a frequentam. Os participantes falaram sobre temas como a inserção na vida religiosa e a iniciação
sexual-amorosa. Entre os resultados observou-se que a necessidade de manter a orientação sexual em segredo é uma
experiência comum aos jovens escutados, mediante o contexto das igrejas tradicionais não-inclusivas. Segundo os
entrevistados, o gerenciamento do segredo acerca da homossexualidade é central e desgastante, a ponto de
promover consequências emocionais como instabilidade psicológica, sensação de culpa, vergonha, frustração,
desamparo e depressão. Alguns desses jovens, ao sentirem-se inadequados aqueles espaços, ou ao perceberem uma
incompatibilidade entre os próprios desejos e os discursos ali reproduzidos, desligaram-se espontaneamente de
referidas instituições. Outros permaneceram até serem descobertos, e a partir disso relataram experiências de
perseguição e expulsão. Todos os informantes discorreram sobre a participação em procedimentos religiosos
(tratamentos espirituais) com o intuito de se tornarem heterossexuais. Contudo, afirmaram que esses processos
serviram apenas para acentuar o sofrimento psíquico. Constata-se assim que estar em uma igreja não-inclusiva é, para
esses jovens, estar em conflito com a própria sexualidade. Nas trajetórias narradas, observou-se que isso começa a
mudar no momento em que os participantes conhecem as igrejas com propostas inclusivas. Não obstante, a adesão à
igreja inclusiva não se deu instantaneamente em nenhum dos relatos. Mas à medida em que os jovens
1099
processualmente aceitavam a nova igreja, simultaneamente elaboravam outra compreensão acerca da sua orientação
sexual, culminando na sua afirmação. No espaço inclusivo, esses jovens encontraram pessoas com trajetórias
semelhantes às suas, dispondo, destarte, de um aparato e uma rede de apoio para os ajudar nas questões referentes à
experiência da fé, do desejo e da sexualidade, especialmente as que concernem às dificuldades oriundas do
preconceito/homofobia. Conclui-se que as igrejas inclusivas se apresentam para os cristãos LGBT como territórios de
resistência coletiva frente à opressão sofrida, atuando como organização e agência que auxilia estes sujeitos a
afirmarem para si as potencialidades e a diversidade dos modos de ser homossexual e cristão, impulsionando-os à
reivindicação do direito à prática da fé, mas também do direito à vivência do próprio desejo, à cidadania, à existência e
à vida.

1100
O armário entreaberto: experiência de ocultamento homossexual, uma revisão da literatura
Autores: Paulo Cesar Alves de Siqueira, UNIVERSO BH
E-mail dos autores: siqueiras.paulo@gmail.com

Resumo: Apesar das transformações sociais ligadas ao mercado de trabalho, a independência financeira de jovens
adultos que vivenciam sua individualidade distante da influência familiar e o aumento dos espaços de sociabilidade
homossexual tenha colaborado para as mais diversas formas de expressão da sexualidade, identidades ainda
permanecem veladas diante da influência heteronormativa, causando impactos psicológicos e produzindo
subjetividades normatizadas. A homossexualidade, resultante das relações de poder hegemônicas, tem sido
considerada o desvio de uma norma biológica e natural, tendo em vista que impossibilita a reprodução de modelos
patriarcais, tais como: a constituição da família heterossexual, monogâmica, hierarquizada pelo gênero e a prática
sexual não ligada diretamente a reprodução. O armário é um regime de controle da sexualidade culturalmente criado
e subjetivamente incorporado por meio do aprendizado social de quais relações são reconhecidas e visíveis no espaço
público e quais são punidas ou toleradas apenas quando restritas à invisibilidade e ao privado. O processo de sair do
armário é caracterizado como um processo político de reinvindicação da hegemonia da heterossexualidade. Diante
das transformações socioeconômicas e políticas ocorridas, o objetivo deste estudo encontra-se ancorado na tentativa
de compreender os mecanismos de ocultamento vivenciado por homossexuais sob o pano de fundo histórico cultural
que caracteriza as hierarquias de gênero e determina espaços de opressão as formas não-heterossexuais de
relacionamento. Além disso, a partir da metáfora do armário, discute-se as formas atuais de ocultamento ainda
utilizadas pelos homossexuais. A metodologia utilizada para responder os objetivos propostos é uma revisão
integrativa da literatura dos últimos dez anos. A partir dos artigos obtidos nas bases de dados: Scielo, Lilacs e Pepsic,
pode-se observar a escassez de publicações relacionadas as formas de ocultamento e a sociabilidade de homossexuais.
O artigo mais antigo é de 2006. Além disso, foi possível notar que os mecanismos de ocultamento evoluíram com as
mudanças socioeconômicas e as políticas de visibilidade homossexual ocorridas. A categorização utilizada baseou-se
nas modalidades de armários encontrados, desde o armário clássico ao armário de vidro. Dos mecanismos de
controle encontrados, destacam-se a família como principal reprodutora das normas heteronormativa, dada sua
influência patriarcal histórica e os vínculos afetivos e financeiros como meios opressores de dominação sobre a
sociabilidade homossexual. Por fim, é valido ressaltar o meio virtual como um espaço significativo de sociabilidade
homossexual e ao mesmo tempo de preservação dos padrões hegemônicos. Para alguns autores a internet é uma
ampliação do armário, ou melhor dizendo, um armário de vidro em que o corpo sem rosto é o principal representante
do sujeito. O estudo realizado permitiu compreender os mecanismos de ocultamento utilizados por homossexuais,
especialmente casados, suas características e os mecanismos de controle heteronormativos envolvidos,
principalmente ao que concerne as relações de poder e as hierarquias de gênero. Compreender esses espaços e seus
mecanismos de controle colabora para a conscientização de que a opressão homossexual ainda é uma realidade, além
de colaborar na criação de estratégias de enfrentamento e implementação de políticas públicas de redução ao
combate a homofobia e de proteção a comunidade LGBT a partir da problematização do sistema heteronormativo,
bem como das estruturas jurídicas e políticas influenciadas pela ideologia heterossexista.

1101
O Estado da Arte sobre juventude rural homossexual em pesquisas Psi no nordeste brasileiro
Autores: Antonio César de Holanda Santos, UFAL; Jaileila de Araújo Menezes, UFPE
E-mail dos autores: cesarholanda@gmail.com,jaileila.araujo@gmail.com

Resumo: Nosso objetivo foi construir um panorama da produção do conhecimento Psi no Nordeste sobre a juventude
rural homossexual no âmbito escolar nos últimos 10 anos (2006 a 2016) no Banco de Teses e Dissertações da Capes,
para evidenciar caminhos teóricos e metodológicos e possibilitar diálogos e análises a respeito dessas pesquisas. Esse
levantamento visa também subsidiar a pesquisa de doutorado do primeiro autor, que investiga as formas de
resistência da juventude rural homossexual no contexto escolar do semiárido alagoano, a partir de pressupostos
feministas e decoloniais.
Esse trabalho se relaciona com o eixo Gênero e Sexualidade: modos de subjetivação e políticas de resistência e com
o GT Sexualidades minoritárias, gêneros locais: questões aos processos de generalização, universalização e
homogeneização sobre as maneiras de desejar , por evidenciarmos pressupostos teóricos e metodológicos sobre
juventude rural homossexual como forma de avançar nesses campos específicos. Isso implica em configurarmos, na
academia e junto aos jovens rurais homossexuais, atos e políticas de resistência diante da necessidade de afirmação
de diversas juventudes e sexualidades.
Na pesquisa de levantamento utilizamos os seguintes descritores relacionados ao campo de estudo e ao objeto:
juventude , homossexualidade e rural . Porém, também utilizamos descritores semelhantes como forma de
considerar possíveis variações nas palavras-chaves na base de dados ou documentos. Realizamos a busca focando
publicações defendidas nos programas de pós-graduação em Psicologia no Nordeste brasileiro nos últimos 10 anos
(2006 a 2016), e encontramos 99 dissertações e teses relacionadas. Ao selecionar os documentos, utilizamos o
descritor escola para identificar as produções que trataram do contexto escolar, também para estabelecer possíveis
relações com a Psicologia Escolar e Educacional. O descritor escola foi priorizado no segundo momento, porque na
primeira busca a sua utilização gerou resultado amplo que acabou por não se relacionar com o objeto de pesquisa.
Após leitura de resumos, palavras-chave, capítulos sobre juventude e sexualidade e procedimentos metodológicos,
selecionamos 12 trabalhos (10 dissertações e 2 teses) que tratam sobre juventude, ruralidade e/ou homossexualidade.
Constatamos que: 8 trabalhos trataram sobre juventude rural, mas sem abordar a homossexualidade (embora alguns
tratem sobre sexualidade); 3 trabalhos trataram sobre juventude homossexual, mas sem considerar a juventude rural;
e 1 trabalho tratou sobre juventude e fez referências a ruralidade e homossexualidade (embora não tenha
aprofundado as categorias). Nesse sentido, é possível afirmar que nenhuma dissertação ou tese em Psicologia no
Nordeste brasileiro teve como objeto direto e específico a juventude rural homossexual.
Organizamos os documentos por ordem temporal decrescente em 3 tipos de quadros. No primeiro quadro, que tratou
dos dados de identificação da pesquisa, destacamos título, autoras ou autores, tipo de documento, local de
publicação, descritores, área de concentração na Psicologia, observações e ano de publicação. O quadro 2, dos dados
epistemológicos e metodológicos, constam referencial teórico, referencial epistemológico, natureza da pesquisa,
sujeitos, método e principais resultados. O quadro 3 tratou dos dados relativos a juventude rural homossexual e
escolarização com foco nas seguintes questões: o conceito de juventude; Se tratou sobre a juventude rural, como a
concebeu? Se tratou sobre a homossexualidade e/ou sexualidade, como a concebeu? Se tratou sobre a escolarização,
como isso ocorreu?
A maior parte das pesquisas se concentrou na Psicologia Social, com 8 publicações, e as outras áreas foram: Psicologia
Política, Desenvolvimento, Educação e Epistemologia, com 1 produção cada. Em termos epistemológicos e teóricos,
houve diversidade nas produções, com pequena predominância de trabalhos com pressupostos pós-estruturalistas,
principalmente entre os mais atuais, que foram os que mais se aproximaram do diálogo entre a juventude, ruralidade
e homossexualidade, e também com a sexualidade. Nas pesquisas psi entre 2007 e 2012 houve o predomínio dos
pressupostos estruturalistas psi fundamentados no materialismo histórico-dialético.

1102
Praticamente todas as pesquisas foram de caráter qualitativo e com pesquisa de campo. Houve pluralidade de
procedimentos na coleta de dados, com alguma predominância de entrevistas, observação e grupo. Houve também
uma leve predominância da utilização da análise de conteúdos, mas na análise também se destacou a pluralidade de
pressupostos.
Constatamos que a juventude rural homossexual tem sido invisibilizada na Psicologia nordestina, sobretudo diante da
ausência de trabalhos com esse foco na Psicologia Escolar, o que nos motiva a produzir conhecimento nesse campo
sobre gênero e sexualidade na educação.
Consideramos que prepondera a perspectiva universalizante na forma de conceber tanto a juventude quanto a
sexualidade, não havendo foco nas especificidades em torno da questão rural e da homossexualidade nesse contexto.
Ainda assim, ao observar o crescimento de pesquisas em Psicologia que tenham tratado da homossexualidade da
juventude na atualidade, e mesmo diante do contexto de golpe ameaçador à diversidade teórica, política, sexual,
territorial, cultural e humana, compreendemos que há resistências, e isso constitui um horizonte aguerrido que
precisa ser fortalecido.

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Pegação Masculina na Cidade: Politicas de extermínio de sexualidade minoritárias e práticas de resistência através
de territórios homoeróticos infames
Autores: Anselmo Clemente, PUC SP
E-mail dos autores: anselmo_clemente@hotmail.com

Resumo: É possível afirmar que a história da homossexualidade masculina se confunda com a própria história das
sociedades humanas. Presente em muitas culturas e de maneira inclusive bem distintas, sabe-se que sua construção
não foi linear ao longo do tempo. Na Grécia antiga, por exemplo, apesar de tais práticas sexuais entre os homens
serem corriqueiras não ocupava lugar destacado na cultura. Pelo menos não nos termos que conhecemos hoje. Seu
status de naturalidade também seria conferida com espanto pelos viajantes que aqui chegaram durante o período
colonial brasileiro e observavam horrorizados a sodomia entre os indígenas. Mesmo assim, seria muito difícil afirmar
que a maneira como as práticas sexuais entre os homens ou mesmo as identidades gays foram produzidas no
contemporâneo - seja para amaldiçoa-las, criminaliza-las, patologiza-las ou ao invés disso defende-las- foi recorrente
em outros períodos. Muito provavelmente, a despeito de todas as diferenças geográficas, culturais e sociais entre os
países, essa é uma história que pertence a nós, ao nosso tempo e não é tão antiga. Num olhar mais amplo foi possível
observar nessa pesquisa que a chamada pegação entre os homens nos espaços públicos da cidade guarda rastros
seculares, pelo menos no ocidente, como no estabelecimento do mundo colonial moderno e a expansão da
condenação religiosa da prática sexual de sodomia; posteriormente também na constituição das grandes cidades e
suas novas noções de público e privado, de higiene, de anonimato. E por fim, na paulatina passagem de um ato sexual
profano, condenável por deus, para um ato criminal previsto por leis, e mais tardiamente na instauração de um ser
patológico que pouco a pouco ganhou status de um sujeito complexo nos dias atuais, com interioridade, identidade,
modos de vida e direitos próprios. Atualmente o tema da homossexualidade, bem como suas práticas, identidades e
assimilação cultural é forte em muitas nações. Nesse campo, podemos afirmar que vivemos num mundo que se divide
entre duas tendências. Na primeira delas incluem-se os estados que persistem em tratar as população homossexuais
como criminosas ou doentias. Na segunda tendência incluem-se os países que mais ou menos tentam abandonar esta
visão através da garantia de direitos e status de normalidade destas mesmas populações, mesmo que a
heteronormatividade e por consequência a homofobia ainda sejam muito demarcadas. A descriminalização dos
homossexuais por parte dos estados modernos teve início em 1791 na França em pleno período de sua revolução.
Mesmo assim, a exemplo de muitos países que deixaram de considerar a sodomia em suas legislações, os homens
flagrados pela polícia em atividades públicas homoeróticas seriam categorizados em crimes que atentam a decência e
a moral públicas. Podemos dizer que essa noção subjetiva da moral e da decência nos acompanha até os dias atuais
quando se trata da expressão pública homoerótica. Em 2015, de acordo com o relatório anual sobre homofobia
divulgado pela International Lesbian, Gay, Bisexual, Trans and Intersex Association (ILGA), dos países membros da
ONU, 118 não possuem homofobia patrocinada pelo Estado (61%). Contudo, em 75 países (39%) ainda existem leis em
que práticas sexuais entre pessoas do mesmo sexo tipificam-se como crime. Somente 08 países (04%) membros da
ONU possuem proibição constitucional de discriminação com base na orientação sexual. Ainda, 35 (18%) países
possuem legalização relacionadas a crimes de ódio por orientação sexual e outros 31 países (16%) possuem proibições
relacionadas ao incitamento ao ódio com base na orientação sexual. Em relação a esses dados, o que mais surpreende
é que em pleno século XXI, infelizmente ainda em 08 países membros da Organização das Nações Unidas, a pena de
morte esta prevista para homossexuais, sendo implantada oficialmente em cinco estados: Irã, Mauritânia, Arábia
Saudita, Sudão e Iêmen. Particularmente em relação ao Iraque, parece haver uma limpeza sexual em curso, com ao
menos 500 homossexuais assassinados em 2009, em uma das maiores campanhas de extermínio gay da história
recente. Yanar Mohammad disse a Alarabiya.net que "as milícias iraquianas implantaram uma forma de tortura sem
precedentes contra os homossexuais usando uma cola muito forte que irá fechar o ânus ". Segundo ela, a nova
substância "é conhecida como Ameri gum, que é uma cola fabricada pelo Irã, que se aplicada na pele, se apega e só
pode ser removida por cirurgia. Depois de colar os anus de homossexuais, elas dão eles são uma bebida que causa
1104
diarréia. Uma vez que o ânus está fechado, a diarreia causa a morte. Infelizmente a pavorosa realidade dos
homossexuais no Iraque não é um caso isolado a chamar a atenção dos organismos internacionais de diretos
humanos. Em 2017 a Chechênia, ganhou manchetes internacionais ao ser acusada de prender ilegalmente, torturar e
assassinar homens supostamente gays. Mesmo assim, espaços públicos de pegação entre os homens resistem no fio
da navalha, alguns existem por séculos.

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Ma ifestoà po à u à o poà ual ue :à aà a liseà deà corporalidades em esquiva de normativas e produção de
singularidades a partir do método cartográfico
Autores: Márcio Alessandro Neman do Nascimento, UFMT
E-mail dos autores: marcioneman@gmail.com

Resumo: Os princípios insurgentes do pensamento esquizonalista se manifesta na crítica da verdade suprema em prol
da ênfase na multiplicidade de análises e de processos de construção de posicionamentos políticos, assim como na
crítica à essência do sujeito autocentrado, na ideia de representação e na continuidade e linearidade da história. Com
a derrocada do sujeito moderno racional e indiviso emergem mudanças contextuais, a partir da década de 1960,
que fazem acontecer teorias transitórias, outras leituras possíveis dos humanos e o desafio em enfrentar a
manutenção de sistemas de produção de conhecimento capitalístico e normatizador que empobrecem as vidas, a
partir de matrizes patologizantes que julga quem pode circular pelo mundo. Autores como Michel Foucault, Gilles
Deleuze, Félix Guattari, Suely Rolnik preocupam-se com construções de saberes compostos de perspectivas e
descentrados de métodos pautados em paradigmas rígidos e hegemônicos da ciência normal. Tais autores buscam
destituir as relações téoricas poder-saber-prazer e subverter as lógicas inteligíveis e normativas das existências, das
experiências, dos prazeres, das sensações, dos corpos. Assim, a proposta deste presente trabalho buscou se conectar
com posicionamentos teóricos livres de armadilhas identificatórias, e que permitiriam uma crítica interseccional entre
corporalidades e marcadores sociais, tangenciando as categorias de análises que insurgiram na constituição dos
humanos, como por exemplo, nas construções socioculturais das raças/etnias, classes sociais e econômicas, gerações,
orientações sexuais, gêneros, sexualidades, territorialidades e regionalidades, crenças/religiões, estéticas, graus de
instrução, processos políticos emancipatórios, inserções de bases tecnológicas, entre outros marcadores e categorias
para a análise de contextos, de situações e da feitura dos humanos. Para tanto, busquei juntamente com o campo
cartográfico, realizar uma entrevista cartográfica com um colaborador que vive a modificação corporal por meio de
práticas de body modification, body art e suspensões corporais. As (in)conclusões e problematizações trazidas para
este trabalho fazem parte da tese de doutorado intitulada: Corpos (con)sentidos: cartografando processos de
subjetivação de produto(re)s de corporalidades singulares e, os elementos de análise do campo cartográfico da
pesquisa indicaram que: a) as rupturas produzidas pela coexistência de acontecimentos na (trans)contemporaneidade
tornam cada vez mais complexas as conexões insurgentes entre corporalidades e estilos de vida, sendo esses pontos
múltiplos e estratégicos nos processos de subjetivação. b) a potência dos corpos estão para além da biologia e que as
experiências, desejos, sensações e sensibilidades aos prazeres, assim como as (trans)formações nos e pelos corpos
têm configurado amplos contextos de colisões no campo das construções éticas e estéticas. c) os embates urgem
entre modelos normatizados e normatizadores e outros projetos corporais apresentados sob a forma de estéticas
singulares, pois esses últimos buscam romper com o ordinário, o referenciado, o instituído e produzir outros modos de
estilísticas de existências consideradas, por eles, como mais prazerosas. d) nas produções da relação poder-saber-
prazer, as corporalidades extrapolam e borram seus limites definidores e identitários, produzindo desarranjos na
lógica da inteligibilidade que nos colocam diante de novas possibilidades de pensar epistemologias e métodos
potencializadores nos estudos sobre os humanos como sendo projetos de experimentações em intersecção com uma
multiplicidade de elementos heterogêneos dispostos no campo social. Por fim, analisei que os elementos
heterogêneos e rizomáticos e as produções desejantes do campo social a qual me impliquei e me atravessaram como
pesquisador (e também como apreciador das modificações corporais) indicaram que, embora existam linhas de
produção de subjetividades que se mantenham normatizadas, é possível observar que as modificações corporais
especificadas pelas técnicas do body modification podem produzir, além de corporalidades subversivas, resistências
aos modelos discursivos moralistas e possibilidades em construir configurações de vidas afirmativas que investem na
potência criativa de estilísticas de existências éticas e singulares.

1106
GT 52 | Subjetividade e Processos formativos: crítica da política, cultura e educação na América Latina

Coordenadores: Carlos Eduardo Ramos, UFRR | Maria Cristina Dancham Simões, UNIP | Vanessa Louise Batista, UFC

A educação, sendo obrigatória e indispensável para a inserção dos indivíduos em nosso modelo de sociedade, é
considerada direito de todos os cidadãos e, portanto, dever do Estado. O setor privado, por meio de concessão, tem
reconhecimento e autorização para oferecer serviços nesta esfera, mas este não deveria assumir as responsabilidades
do Estado, fazendo desaparecer o princípio fundamental de gratuidade da educação. Na disputa da construção do
Plano Nacional de Educação brasileiro, a gratuidade substituiu o termo público no tocante à obrigatoriedade, deixando
brechas para que a privatização do ensino tivesse seu fluxo continuado e a educação pública fosse posta em risco,
quando não defendida por um Estado efetivamente democrático. Ao lançar um olhar histórico sobre a relação
público/privado na educação, percebe-se que, de modo geral, a mão nem tão oculta do mercado atua com o claro
objetivo de enfraquecer a conquista social do direito à educação pública e gratuita para que possa reforçar o ensino
privado como alternativa de educação de qualidade. Sendo assi ,à se à e e à osàdi eitosàso iaisà o uistados,àoà
processo de precarização do ensino público por meio de reformas governamentais fortalecem o processo de
privatização da educação atendendo (coincidentemente ou não) ao planejamento estratégico desse segmento
conforme o constatado em sugestões de documentos como as diretrizes do Banco Mundial para a área educacional,
por exemplo. Sendo assim, este Grupo de Trabalho parte de uma perspectiva crítica para congregar pesquisas
científicas e/ou relatos de experiência que discutam a interseção entre Psicologia Social e Educação, problematizando
as políticas educacionais no Brasil e também em outros países da América Latina, uma vez que os retrocessos políticos,
econômicos e culturais têm atingido escalas continentais e mundiais.
O tema do XIX Encontro Nacional da Abrapso, pertinente para a atual conjuntura política, nos permite lançar um olhar
diferenciado para a questão das políticas públicas em educação. Principalmente, no contexto brasileiro, se
considerarmos as noções de Democracia e Estado Laico e os ataques sofridos nesta esfera, tendo em vista o teor da
Base Nacional Comum Curricular, o Movimento Escola sem Partido e os projetos de lei decorrentes dele, o recente
desmantelamento da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI-MEC), a
desestruturação da Secretaria de Educação e Formação Artística e Cultural (SEFAC-MinC), a precarização da
universidade pública, a mercantilização da educação e a reforma do ensino médio, apenas para citar alguns. Partindo
da perspectiva de Walter Benjamin, observamos que o movimento articulado de reformas e medidas governamentais
ate deà aà u à p ojetoà políti oà deà do i aç oà ueà ape asà e elaà ueà oà atualà te poà deà e eç o ,à aà e dade,à à aà
explicitação dos fundamentos sistêmicos de nosso tempo. Ao construir um conceito de história distinto e distante dos
historicistas e de uma concepção de história universal, Benjamin situa-se na tradição dos oprimidos e, desse ponto de
vista, o que chamamos de estado de exceção seria na verdade a regra geral (Benjamin, 2008), instituída desde os
primórdios da civilidade romana, cujo modelo normatizador da jurisprudência imperialista vigora até então. Os
ataques às políticas educacionais não tiveram início em 2016, mas de fato foram intensificados de tal modo que se
tornaram notórios mesmo para aqueles que anteriormente não sentiam de imediato seus efeitos.
A relação entre educação pública, privada e distribuição de renda no Brasil possui longa história e o sistema
educacional brasileiro, como mecanismo de perpetuação da desigualdade, não é nenhuma novidade; haja vista a
produção dos educadores e políticos brasileiros entre as décadas de 1940 e 1960 como Anísio Teixeira, Paulo Freire,
Darcy Ribeiro entre outros. Suas propostas educacionais foram revolucionárias e progressistas, mas sofreram
retaliações tais quais a que vivemos atualmente. Se tomarmos como objeto a educação básica, os estudos de Patto
(1984) sobre a produção do fracasso escolar, assim como os estudos subsequentes de diversas pesquisadoras e
pesquisadores da Psicologia Escolar Crítica, são exemplos que apontam o longo processo de abertura para o capital
privado, de interferência de agências internacionais (como a United States Agency for International Development,
USAID, na década de 1960) e da sistemática difamação da educação pública como ineficiente.
Se tomarmos o ensino superior, percebemos que desde 2000 o investimento público no setor privado se intensificou
em vez de desacelerar. Entre 1997 e 2007, a criação de instituições públicas aumentou 18%, ao passo que no setor
p i ado,àesseà es i e toà aisà ueàdo ouà Kal us,à .àáàpa ti àdeà àp ese ia osàu àde lí io,à ...à asà ueàseà
deve à prática de fusão ou compra de estabelecimentos menores por grandes empresas educacionais (inclusive de
apitalàest a gei o àdoà ueàaàu à ealàe olhi e toàdaà edeàp i ada à Kal us,à ,àp.à .àEsteàp o esso,à oàe ta to,à
não é um fenômeno atual. Desde a reforma de 68 percebemos o processo de ampliação da educação superior via
privatização. Se as propagandas veiculadas pelo ilegítimo governo atual sobre a reforma do ensino médio são uma
afronta à dignidade da população brasileira e dos trabalhadores da educação, já em 2012 o MEC veiculava
1107
propagandas em favor do financiamento público para inserção de alunos em instituições privadas, o que reforça a
tentativa do governo da época em promover a aceitação do inaceitável (Helene, 2013). Entretanto, a reação social, do
outro lado da história, trouxe como exemplos o forte movimento de ocupação das escolas da rede pública de todo o
país em 2016, e as duas mais longas greves das universidades federais da história do Brasil: uma em 2012 e outra
ainda maior em 2015.
Mes oà assi ,à o à aà la ezaà dosà te posà deà e eç o à eà o à oà o i e to de crítica em nossa sociedade,
observamos, concomitantemente, o discurso de legitimação do desmantelamento de políticas públicas e direitos
sociais como reformas necessárias para ajuste do Estado; de criminalização das lideranças políticas e dos movimentos
sociais como promotores da discórdia em tempos de crise; de escamoteamento das evidências da luta de classes pelo
discurso da solidariedade como caminho de construção de uma sociedade melhor. Dessa forma, no atual momento, é
imprescindível a problematização da Psicologia Social e Educação, para construção de um movimento de crítica radical
que nos permita, de um lado, revelar a produção da barbárie na nossa sociedade e, de outro, promover, por meio da
crítica e da criação, o movimento de construção concreta de uma visão de ser humano e de mundo centrada na
emancipação (Lane, 2007).
Neste Grupo de Trabalho, valorizamos a concepção de políticas educacionais que prezam por uma educação pública,
gratuita, democrática e de qualidade, na qual todas as pessoas possam se inserir e ser tratadas com igualdade. Isso
implica, por sua vez, a valorização de políticas que considerem a diversidade, questões de gênero, educação especial,
políticas de inclusão e de permanência, valorização da arte e outras esferas da vida humana.
Esperamos discussões que contemplem temáticas da formação de professores, práxis na educação formal,
enfrentamento da violência nas instituições educacionais, questões da diversidade e outras, desde que consideradas
por uma perspectiva crítica de compreensão da subjetividade humana. Esta proposta é norteada por uma perspectiva
crítica, que impõe a necessidade de retomar suas compreensões teórico-metodológicas e não limita as possibilidades
de trabalhos submetidos, mas antes delineia pontos de partida e convergência, no Brasil e América Latina.
Tais compreensões dizem respeito ao indivíduo forjado nesta sociedade e, para isso, recorre-se ao conceito de
formação que, para Adorno (2004) não prescinde da cultura, de referência burguesa e, portanto, inserida na
modernidade e imprimindo sua marca no processo civilizatório. O autor indica a possibilidade de consideração de dois
entendimentos, assumindo que a formação, como apropriação subjetiva da cultura, implica adaptação e resistência. A
pseudoformação, que vigora atualmente, encerra-se na adaptação e integração; como forma social da subjetividade
determinada nos termos do capital, é pautada pela adequação ao existente (Maar, 2001).
A concepção de educação para o autor não se restringe à mera adaptação, modelagem de pessoas e transmissão de
o teúdo,à asà ...àaàp oduç oàdeàu aà o s i iaà e dadei a à ádo o,à .àEsta,àpo ,à esig ou-se à capacitação
e instrumentação para exercícios de funções; os trabalhadores foram integrados à cultura por meio da adaptação dos
conteúdos educativos aos mecanismos do mercado, relegando aqueles que mantinham uma relação viva com sujeitos
vivos, que proporcionariam condições à experiência. Sobre esta última, Adorno e Benjamin apontam o soterramento
cotidiano do momento de espontaneidade possível ao indivíduo, o que impediria sua emergência, dando lugar à
praticidade e levando os indivíduos a, inclusive, desejarem ostentar sua pobreza interna e externa (Benjamin, 2008).
A mentalidade do indivíduo desta sociedade, ao separar cultura e práxis, assenta-se em uma racionalidade
comensurável, que permite a submissão a regras abstratas e, pela lógica da equivalência do diferente, dificultaria a
resistência. Tal mentalidade é valorizada no atual modelo de cultura, administrada e regulada até nas esferas mais
íntimas da subjetividade humana, o que expressa a própria realidade econômica e de poder da sociedade em que se
insere. Em contraponto, faz-se necessário refletir sobre as palavras de Paulo Freire (2011), quando aponta que educar
é um trabalho político através de uma Cultura popular viva e pulsante, na dimensão em que a Cultura se realiza como
Educação.
Os elementos apresentados nesta discussão permitem problematizar as possibilidades de formação dos indivíduos
nesta sociedade, de maneira que não restringimos as submissões de propostas a uma ou outra perspectiva teórica,
mas antes oferecermos abertura para congregar trabalhos, manifestações culturais ou relatos de experiências que
situem a constituição da subjetividade e dos indivíduos de maneira crítica e que, no atual momento, realize a defesa e
promova a educação como ação política e prática da liberdade (Freire, 2011).

1108
Referências
Adorno, T. W. (2004). Escritos sociológicos I. Madrid: Akal.
ádo o,àT.àW.à .àEdu aç oàeàe a ipaç o.à“ oàPaulo,à“P:àPazàeàTe a.
Be ja i ,àW. .àMagiaàeàt i a,àa teàeàpolíti a.à“ oàPaulo:àB asilie se.
F ei e,àP.à .àPedagogiaàdaàauto o ia:à“a e esà e ess iosàaàp ti aàedu ati a.à“ oàPaulo:àPazàeàTe a.
Helene, O. (2013). Um diagnóstico da educação brasileira e de seu financiamento. Campinas: Autores Associados.
Kalmus, J. (2010). Ilusão, resignação e resistência: marcas da inclusão marginal de estudantes das classes subalternas
na rede de ensino superior privada. Tese de doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo.
La e,à“.àT.,à&àCodo,àW.à .àPsi ologiaàso ial:àOàho e àe à o i e to.à“ oàPaulo:àB asilie se.
Maar, W.L. (2001) Da subjetividade deformada à semiformação como sujeito. Psicologia e Sociedade, Belo Horizonte,
vol. 13, n. 2, p. 92-141, jul 2001.
Patto,àM.àH.à .àPsi ologiaàeàideologia:à u aài t oduç oà iti aàaàpsi ologiaàes ola .à“ oàPaulo:àT.á.àQuei oz.

1109
A ideologia da qualificação como ente subjetivador dos jovens pobres contemporâneos: apontamentos iniciais de
pesquisa
Autores: Felipe Salvador Grisolia, UFRJ
E-mail dos autores: flpgrisolia@yahoo.com.br

Resumo: Durante os anos de 2013 a 2015, realizei meu mestrado pesquisando o processo de subjetivação dos jovens
trabalhadores de uma cadeia de restaurantes de fast-food. Observei que este tipo de trabalho está destinado a um
tipo específico de jovem, o de camada popular. Na fala destes jovens, era recorrente a queixa com as condições de
trabalho e o desejo por maior qualificação escolar, seja em cursos técnicos ou superiores, para a conquista de uma
ocupação melhor no mercado laboral. Assim, planejo investigar como essa ideologia da qualificação subjetiva os
jovens de camadas populares. Aqui, uso a reflexão de Althusser que coloca que a ideologia interpela os indivíduos e os
transforma em sujeitos, a ideologia normatiza determinadas formas de ser e estar no mundo, estabelece crenças,
práticas e condutas, desta forma, é vista como um ente formador de subjetividade. Assim, busca-se entender como,
em um mercado de trabalho flexível e competitivo, marcado pelo desemprego e pela precariedade, a busca
desenfreada por qualificações escolares subjetiva os jovens pobres. Este trabalho se vincula ao grupo de trabalho
Subjetividade e Processos formativos: crítica da política, cultura e educação na América Latina , na medida em que
visa estudar como a educação, em uma sociedade capitalista neoliberal, subjetiva os jovens. Considero a concepção de
juventude como categoria geracional estrutural da sociedade, que está posicionada em um lugar subordinado na
divisão geracional do trabalho. Parto das considerações de Bourdieu, Lucia Rabello de Castro, Claudia Mayorga e de
autores da sociologia da infância como Jens Qvortrup e Leena Alaneen para fundamentar este ponto, na medida em
que tais autores destacam como uma sociedade adultocêntrica relega a participação da criança e do jovem a segundo
plano. Assim, a contribuição das novas gerações é invisibilizada. O jovem é cristalizado na posição de estudante,
estagiário, aprendiz, inexperiente e irresponsável, o que justifica seus menores salários, seus maiores índices de
desemprego e presença na informalidade e sua busca por maiores qualificações. Já o conceito de trabalho é visto por
um viés marxista, atividade indispensável do ser humano, uma vez que é através do trabalho que o homem pode
satisfazer suas necessidades, e constituidora do mesmo, na medida em que a organização e divisão do trabalho, em
uma determinada época, forma a subjetividade do ser social que nela vive. Faço uso de autores como Castel, Harvey,
Boltanski e Chiapello para discutir as mudanças pelas quais o mercado laboral tem passado nos últimos 40 anos,
mudanças essas que, para o Norte, iniciam o desmonte do Estado de Bem-Estar e dos mecanismos de seguridade
social que lhe são próprios. A sociedade brasileira nunca alcançou tais niveis de seguridade, mas mesmo assim, tais
metamorfoses acentuam, principalmente para os jovens, a precariedade, a competição e a exploração de mão de obra
de nosso país, como destaca Ricardo Antunes. Por fim, uso estudos que abordam a que serve os diplomas de cunho
escolar em uma sociedade capitalista. Por mais que a escolarização tenha sido uma bandeira de luta das classes
populares, tendo a potencialidade de criar um novo sujeito histórico, agente no mundo, como colocado por Paulo
Freire, o que vemos hoje em dia, é uma escolarização voltada para as demandas e os interesses no mercado. No
âmbito da escola pública, a situação ainda é pior, na medida em que a mesma é destinada aos pobres e, em nivel
geral, serve mais ao seu controle social do que a sua formação. Assim, Bourdieu e Passeron colocam que a escola
tende à reprodução social. Qualquer mobilidade por ela promovida, consta mais como acidente do que como seu
objetivo. Dubet ajuda a pensar em como a escola, apesar das mudanças que sofreu, continua a produzir desigualdade
e a privilegiar uns em detrimento de outros. Com base nessas discussões, pretendo investigar como jovens cariocas de
camadas populares se subjetivam frente as demandas de escolarização e qualificação e a um mercado de trabalho
precário que não está apto a acolher todos os qualificados.

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A Psicologia na Educação Inclusiva na Rede Pública de Belo Horizonte/MG: a percepção dos professores
Autores: Bruna Cristina da Silva Hudson, UNA; Merie Bitar Moukachar, UNA
E-mail dos autores: brunacris_huds@hotmail.com,Merie.moukachar@gmail.com

Resumo: Atualmente existe a necessidade de se pensar educação inclusiva com o intuito de diminuir práticas
discriminatórias e exclusão de pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Desse modo, é preciso pensar em
práticas que envolvam vários profissionais para compor uma rede especializada de atenção e apoio à educação
inclusiva, que funcione de maneira multidisciplinar, envolvendo profissionais qualificados para atuar com a inclusão. O
objetivo geral deste trabalho acadêmico foi o de identificar possibilidades de atuação da Psicologia Escolar e
Educacional a partir da percepção de educadores que atuam na rede pública de atenção especializada em educação
inclusiva na cidade de Belo Horizonte/MG.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa, a fim de verificar como se dá o funcionamento em rede para
educação inclusiva em Belo Horizonte/MG na regional noroeste, além de um levantamento das práticas e das
dificuldades apresentadas no setor educacional. Como instrumento metodológico, foi utilizado um roteiro de
entrevista semiestruturada realizada com profissionais que compõem uma equipe de apoio a inclusão e com uma
profissional da educação inclusiva de uma das escolas da regional em questão. Após a coleta de dados, foi realizada
uma análise do discurso.
O referencial teórico do trabalho aborda aspectos tais como a legislação sobre os direitos e garantias da pessoa
deficiente; as ramificações na atuação do Psicólogo no contexto escolar e o Projeto de Lei 3.688, de 2000, que visa
garantir a prestação de serviços de Psicologia e de Assistência Social nas escolas, especialmente nas escolas públicas
de educação básica; e, ainda, aborda a função do professor e os desafios encontrados diante da prática inclusiva,
sendo que, nesse sentido, foram elaborados pela pesquisadora alguns gráficos para estudo e mensuração sobre a
participação e inserção de pessoas com deficiência no ensino básico em escolas públicas e privadas no Brasil, em
Minas Gerais e na cidade de Belo Horizonte. Nesta pesquisa, Vygotsky foi um referencial significativo no sentido de
subsidiar o trabalho do psicólogo na escola com contribuições importantes sobre o desenvolvimento intelectual de
crianças e a influência das interações sociais nesse processo. Ainda, foi salientado sobre o conceito de rede
multiprofissional de atuação e a importância de uma prática multidisciplinar na inclusão escolar.
Como resultados obtidos a partir desta revisão teórica e da análise da fala das professoras entrevistadas em campo,
essa pesquisa identificou importantes instrumentos que viabilizam a inclusão escolar de maneira efetiva a partir de
leis, serviços em rede multiprofissional e atendimento educacional especializado. Além disso, permitiu o levantamento
das falhas no sistema que prejudicam a inclusão e o reconhecimento sobre a falta do psicólogo no contexto
educacional considerando suas importantes contribuições. Considera-se também o reconhecimento de uma prática
multidisciplinar em uma rede multiprofissional de atuação, sendo essencial para o sucesso da inclusão e a necessidade
de um maior empenho e formação de professores na promoção de uma inclusão com qualidade e participação efetiva
do aluno no contexto escolar.
A temática do congresso confirma a necessidade de se discutir sobre as desigualdades sociais identificadas no atual
contexto social o que inclui debater sobre as práticas educacionais e, como proposto por esta pesquisa, sobre
educação inclusiva e a participação do psicólogo nesse processo.
Conforme o Eixo 1 Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais nota-se
que a pesquisa se aproxima da discussão sobre os processos de construção dos direitos sociais uma vez que ao
representar os posicionamentos subjetivos das entrevistadas com a análise do discurso elaborado pela pesquisadora é
possível identificar novas posturas governamentais e ações afirmativas para efetivar com qualidade a prática da
educação inclusiva na rede pública. No trabalho são expostas as dificuldades enfrentadas na atuação com o aluno
deficiente, a falta de recursos estatais, a necessidade de melhores formações, a comunicação com outros membros
prestadores de serviços de saúde e os avanços que insurgiram a partir da luta e das reivindicações sociais para uma

1111
participação igualitária da pessoa deficiente nos diversos setores sociais, com equidade e respeito aos Direitos
Humanos.
O GT que mais se aproxima desse debate é o 52 intitulado Subjetividade e Processos formativos: crítica da política,
cultura e educação na América Latina quando explana em sua justificativa sobre o direito a educação e a participação
dos indivíduos em todos os contextos como dever do Estado, independentemente de sua condição física, raça, gênero
ou etnia. É possível afirmar, conforme exigido como requisito para o GT, que existe na pesquisa a problematização da
prática da Psicologia escolar e as possíveis intervenções junto às escolas, junto à rede multidisciplinar na promoção da
educação inclusiva e junto ao aluno, visando uma educação pública, gratuita, democrática e de qualidade.

1112
Análise da construção da ITES-FIBE: um relato de experiência da Psicologia do UNIFAFIBE
Autores: Pauliana Tamires Papel; Claubia Regina Ramos Nogueira; Michael Luís de Alencar, UNIFAFIBE; Ramiz
Candeloro Pedroso de Moraes, ABRAPSO
E-mail dos autores:
pauliana.tpapel@hotmail.com,ramizcpm@hotmail.com,claubia_nogueira@hotmail.com,michelhp_@hotmail.com

Resumo: Introdução
A ITES-FIBE (Incubadora Tecnológica de Economia Solidária do UNIFAFIBE) nasceu de um projeto de extensão
comunitária localizado em um bairro na cidade de Bebedouro-SP, permeado por vulnerabilidades sociais, preconceitos
e estigmas. Após pesquisas e intervenções, além de mudanças significativas na participação dos discentes e docentes
do curso de Psicologia, originou-se o interesse pelo estudo e pela aplicação da Economia Solidária, pela sua potência
de transformação das relações subjetivas nos campos do trabalho e da comunidade.
Como base deste estudo, tem-se a Economia Solidária e seus princípios, sendo instrumentos valiosos para promover
mudanças e fortalecer a autonomia das pessoas que buscam através da decisão coletiva, efetivar os empreendimentos
e garantia de sustentabilidade para si e seus familiares (PAULA, et. al. 2011).

Objetivo
Os objetivos desta pesquisa foram: sistematizar os conhecimentos científicos construídos na relação entre Psicologia e
Economia Solidária e estudar o processo de construção da Incubadora de Economia Solidária do Centro Universitário
UNIFAFIBE (Bebedouro-SP), sob a base teórico-prática da Psicologia Social e do Trabalho, visando os sentidos sobre o
aprendizado compartilhado e construído entre docentes e discentes.

Relação com o eixo temático:


Eixo escolhido 5: Psicologia social, processos de trabalho em contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento
Esta pesquisa sobre um projeto de extensão comunitária, tem como pilar central a transformação das relações de
aprendizado e trabalho, por meio de duas forças teórico-práticas – a Psicologia Social e a Economia Solidária. Ambas
trazem consigo a possibilidade de enfrentamento à constituição de subjetividades engessadas pelo capitalismo e pelos
contextos neoliberais.

Orientação Teórica
O referencial teórico que embasa o trabalho é composto por duas vertentes:
a) A visão de mundo da Psicologia Sócio-Histórica, que tem em suas bases uma visão crítica de ser humano e
sociedade;
b) Estudos sobre a Psicologia do Trabalho e Economia Solidária, trazendo temas como autogestão, democracia e
autonomia para o primeiro plano.

Metodologia
Esta pesquisa foi fomentada pela FUNADESP durante todo o ano de 2016 e contou com duas etapas. Na primeira,
realizou-se uma revisão integrativa da literatura, tendo como critérios de inclusão artigos científicos nacionais, em
idioma Português, produzidos entre 2000 e 2015, que marcaram a relação prática entre Psicologia e Economia
Solidária no Brasil. Foram consultadas as bases de indexação de artigos científicos Scielo, Lilacs e PEPSiC, a partir do
cruzamento dos descritores: economia solidária ; autogestão ; Psicologia ; subjetividade ; saúde mental ;
incubadora .
Após a inserção e posterior aprovação do Comitê de Ética, via Plataforma Brasil (CAEE 55467216.2.0000.5387), iniciou-
se a segunda etapa, ou seja, a pesquisa participante qualitativa que consistiu em: a) acompanhar o grupo da
Incubadora ITES-FIBE por meio de observações participantes e produção de diários de campo nas reuniões quinzenais
1113
do grupo; b) formar e desenvolver o Grupo Gestor da pesquisa formado por pesquisadores e sujeitos; c) realizar
entrevistas semiestruturadas com os participantes. Ao final analisou-se o material pela Hermenêutica de Profundidade
de Thompson.

Resultados
Na revisão de literatura, encontrou-se 48 artigos científicos presentes nas bases de indexação que discutiam o tema
proposto. A partir da leitura, categorização e reflexões realizadas junto ao Grupo Gestor da pesquisa, chegou-se aos
seguintes temas finais de discussão: a) Trabalho e subjetividade; b) os valores dados à Economia Solidária e seus
princípios; c) autogestão: desafios e possibilidades; d) a importância do trabalho na economia solidária. A
sistematização desta literatura mostrou que a Psicologia vêm contribuindo cada vez mais para o tema da Economia
Solidária, tanto em aspectos práticos, quanto teóricos.
Em relação à sistematização da pesquisa participante, tanto dos diários de campo, quanto das entrevistas
semiestruturadas, obteve-se resultados favoráveis à implantação da Incubadora do UNIFAFIBE. Os temas de discussão
analisados foram: a) o ingresso na Psicologia e na ITES-FIBE como algo positivo para os discente, tanto no aspecto dos
estudos, quanto de ampliação de ideologias para a vida; b) o potencial da Incubadora como agente de mudança social,
tema que mostrou que os discentes enxergam possibilidades de transformação da sociedade pela incubadora; c) o
tripé ensino-pesquisa-extensão como favorável ao aprendizado em Psicologia; d) grupo, contradições e crescimentos
no convívio com os colegas de Incubadora; e) Psicologias e Economia Solidária, evidenciando que Psicologia da Saúde,
do Trabalho, Comunitária e Educação, também se relacionam com este tema.

Conclusão
Os princípios da Economia Solidária, em especial a sua aplicabilidade são motivadores para a equipe da incubadora.
Esta passou no ano de 2016 por um processo de criação e fortalecimento de grupo e, neste ano atual, já está
incubando um grupo de geração de renda do CAPS - Centro de Atenção Psicossocial. Muitos paradigmas foram
quebrados e muitos desafios estão sendo vividos, mas o que vêm dando sustento é uma base crítica da Psicologia
Social e com um compromisso ético-político que assumimos enquanto ciência e profissão.

Referências
PAULA, A.P.P. et al. A Economia Solidária e a questão do imaginário: em busca de novas perspectivas. Organ. Soc.,
Salvador, v.18, n.57, p.323-333, jun. 2011.

1114
Estudo sobre a vivência prática e idealizações do papel da professora na educação infantil
Autores: Aline Veiga Rosa, UNIP; Tuany Florentino Oliveira Lima, UNIP-Sorocaba; Maria Cristina Dancham Simões, PUC
SP
E-mail dos autores: tuanylima931@hotmail.com,alineveiga.av@gmail.com,mcris_simoes@hotmail.com

Resumo: Na educação infantil, constituída por maioria feminina, construíram-se socialmente tabus em relação à
atuação das professoras, particularmente aquele em que a mulher estaria propensa ao cuidado materno, tendo a
escola como extensão do espaço familiar. Diante desse ponto de partida, pesquisou-se quais as influências das
idealizações no âmbito escolar, nas crianças e na atuação das professoras. Tendo em vista que a escola é um dos
primeiros ambientes de socialização das crianças, é pertinente criar uma esfera de reflexão crítica acerca da
construção social do papel do professor. Este estudo é desdobramento das discussões realizadas em contexto de
estágio específico, na ênfase de Psicologia Escolar e da Educação, de uma universidade privada do interior paulista.
Tem como objetivo identificar e compreender as idealizações a respeito do papel da professora na Educação Infantil,
bem como suas motivações, a partir das experiências pessoais e seus significados, coletadas por meio de um
questionário projetivo.
Entende-se que o tema da pesquisa relaciona-se com o tema do encontro pois corrobora o debate sobre o papel social
do professor e da instituição escolar, discutindo estratégias de reflexão e atuação. Da mesma forma, insere-se no eixo
Políticas educacionais e lógicas privatistas: reflexões e enfrentamentos; no sentido de aprofundar as reflexões, o que
também colabora para as discussões propostas, ao problematizar a educação e as políticas destinadas a esse nível de
ensino. Para análise do material utilizou-se concepções teóricas advindas de uma perspectiva crítica, ancorada na
Psicologia Social, embasando-se nas reflexões de T. W. Adorno a respeito dos processos de educação e formação,
assim como nas discussões de Silvia Lane, sobre a concepção de homem e as representações sociais através da
linguagem. Tais autores forneceram subsídios para análise dos conteúdos coletados tanto por meio de observações
em ambiente escolar, como pela aplicação de questionário projetivo, que consistia em um enunciado suscitador de
conteúdos relacionados a práticas atuais e às expectativas passadas e futuras.
A partir da exploração do conteúdo apurado, foi possível organizar categorias referentes aos questionamentos
indicados no questionário. Identificou-se alguns eixos de análise relacionados às (pré) concepções com relação à
função docente, à experiência pessoal ao longo do processo formativo e às percepções de suas ações e motivações.
Em decorrência da análise dos dados foi possível chegar à problematização das concepções idealizadas a respeito do
papel docente, das projeções no aluno de experiências pessoais, da confusão de papéis e da perda do sentido da
prática tendo em vista a dificuldade que as professora tiveram para redigir de maneira autônoma suas respostas.
Foram identificados trechos reproduzidos de matérias e textos de blogs conhecidos na internet, o que pode refletir na
criatividade e autonomia das professoras. Por fim, as considerações finais levaram a problematizações tais como
questionar porque ainda existe a concepção da maternidade como aspecto positivo para atuação na educação
infantil? Por que a prática perdeu o sentido? Quais os aspectos que ainda sustentam idealizações na era da
modernidade? Por que a maior parte da categoria é feminina? O que levou as professoras a reproduzir textos
redigidos por outras pessoas em outros contexto?
Consideramos que nosso trabalho é apenas o início de um percurso investigativo e consideramos ser o GT um espaço
de interlocução possível, para além do cotidiano de nossa vivência.

1115
Funk, identidade e cultura: os diferentes modos de produção de si no cotidiano escolar
Autores: Bianca Iori de Oliveira, UNIP; Eliane Lopes dos Santos, UNIP; José Carlos Fernandes de Lima, UNIP; Olívia
Maria Ferreira Pinto, UNIP; Maria Cristina Dancham Simões, PUC-SP
E-mail dos autores:
bianca.iori1993@gmail.com,li.els@hotmail.com,olivia_mfp@hotmail.com,mcris_simoes@hotmail.com,schoriavio@g
mail.com

Resumo: Este trabalho propõe-se a discutir cultura e identidade social, a partir da problematização da inserção do
funk brasileiro na educação básica. Questiona-se como a cultura do funk integra a formação da identidade do
adolescente em idade escolar, e tem como objetivo compreender como o gênero musical funk está inserido no
cotidiano escolar. Em uma sociedade fundamentada em uma razão humanista, e que dicotomiza cultura e práxis, a
produção de si e do outro se orienta pelos termos do capital, adequando-se a uma realidade pronta e acabada. O
referencial teórico utilizado é caracterizado pelo materialismo histórico dialético, em que conceitos marxistas como
práxis e indústria cultural são centrais para nossas análises. O funk é um produto cultural contemporâneo e apresenta
muitos aspectos da crítica de Adorno e Horkheimer. De acordo com estes autores através do movimento de negar a
satisfação, a indústria cultural priva seus consumidores daquilo que ela mesma promete. O gênero musical funk tem
influência na formação da identidade dos adolescentes integrando a esfera social e familiar além de possivelmente ter
se tornado referência quanto à sexualidade dos jovens. O funk denominado ostentação é o que traz mais influências
pois remete a ilusão de poder e status quo que o adolescente acaba por tentar reproduzir nos grupos em que está
inserido, seja na escola ou na comunidade, aderindo ao seu vocabulário e as poses que este induz, numa necessidade
de se encaixar e se dar valor diante das coisas que possui. As gírias utilizadas pelas músicas também são reproduzidas
no ambiente escolar, principalmente para atribuir características a escola. A coleta de informações foi realizada
utilizando-se duas perguntas referentes a escola, as quais foram respondidas pelos alunos de forma coletiva, no
período do intervalo das aulas. Esse instrumento resultou em diferentes manifestações, que foram sistematizadas e
analisadas, buscando-se partir dos dados individuais articulando-os com a totalidade da escola. O funk aparece como
um elemento relevante no espaço escolar, fazendo parte da cultura dos alunos e sendo utilizado por meio de gírias ou
trechos de músicas para atribuir características à escola e às pessoas que convivem nesse espaço. Contrariando o que
provavelmente espera-se dentro de uma concepção formal de educação, os alunos expressam a relação que mantém
com as músicas, que apresentam conteúdos de cunho sexual e social, e como associam estes fatores ao ambiente
escolar. Tendo em vista os aspectos observados, o adolescente, em busca de autonomia e de liberdade, desenvolve a
sua identidade através de diversas influências culturais, constituindo-se nos meios sociais em que se relaciona.
Conforme a análise dos resultados obtidos, o gênero musical funk apresentou-se como um aspecto cultural relevante
na formação da identidade destes alunos, presente nas gírias utilizadas para atribuir significados a escola, aos
professores, e aos colegas. Neste sentido, é possível considerar que o funk também nos remete a outras esferas, como
a sexualidade, o poder e o status num grupo social. É importante não apenas estudar o funk, mas aquilo que subjaz a
toda manifestação cultural, a relação entre o sujeito que a produziu, dando-lhe um primeiro significado, e as
repercussões sobre a identidade do outro, através da criação de novos significados. Na idade escolar muitas
capacidades do organismo estão em desenvolvimento, e é o papel da escola contribuir para alcançá-las. A Psicologia
também tem uma contribuição relevante ao constituir um estudo psicológico do cotidiano escolar, estranhando o que
aparece rotineiramente, questionando-se sobre seu sentido no espaço de produção de ensino-aprendizagem. Por fim,
cabe dizer que este trabalho é um desdobramento das discussões realizadas no âmbito do estágio em Estratégias de
Intervenção Psicológica na Queixa Escolar.

1116
G adesà u i ula esàeàa a as:àáà i ade uaç oà u i ula àdosà u sosàdeàPsi ologiaàf e teà à uest oàso ial
Autores: Andréia Garcia dos Santos, UFSM; Caroline Rubin Rossato Pereira, UFSM; Dalila Carolina Moreira dos Santos,
UFSM; Jennifer Vanessa Avila dos Santos, UFSM
E-mail dos autores:
andreia.ggarcia@hotmail.com,carolinerrp@gmail.com,jeenniferavila@gmail.com,dalilacarolinna@hotmail.com

Resumo: Introdução: Os diversos autores que se debruçam sobre os processos formativos da profissão de psicólogo
no Brasil são unânimes em afirmar que a Psicologia passou por redefinições em seu corpo teórico e ampliou o seu
campo de atuação no decorrer dos 54 anos desde sua regulamentação (YAMOMOTO, 2007, 2012; YAMAMOTO &
OLIVEIRA 2010; MELLO, 1980; BOTOMÉ, 1998, 2010; COIMBRA, 1995). Contudo, não podemos deixar de referenciar
que o processo histórico da profissão foi marcado pela obscuridade/violência/coerção de um regime militar, sendo
esse um elemento fundamental para pensarmos as seqüelas formativas da Psicologia, que se desenvolveu nesse
cenário de amarras institucionais. É nesse contexto que a profissão foi relegada, por um tempo, a ser um braço
eficiente da ditadura, como ferramenta de fiscalização e enquadramento das condutas humanas que se afastassem do
estereótipo idealizado pela pretensa hegemonia do plano político e cultural do país na época (COIMBRA, 1995). Ou
seja, a natureza da atuação política das chamadas práticas psi revestiu-se de um cunho elitista, que, em muitos
casos, legitimou a desigualdade social, a pobreza e os preconceitos. Todavia, desde meados da década de 1980, a
Psicologia tem construído uma história junto à questão social e as seqüelas dela decorrentes, as quais estão
intrinsecamente associadas à agenda neoliberal brasileira. Yamamoto (2012) pontuou que 40% das/os psicólogas/os
são absorvidos pelo setor público, especialmente no setor da saúde e da assistência. No que tange aos processos
formativos, o estudo de Seixas et al. (2016) investigou, em nível nacional, o lugar das Políticas Sociais (P.S.) nos
Projetos Pedagógicos dos Curso (PPCs) de graduação em Psicologia no Brasil, e pode constar que as políticas de saúde
ganharam destaque nesses documentos, ao passo que as políticas de assistência social eram escassas ou ausentes. É
inquestionável, portanto, o estreitamento dos vínculos entre a Psicologia e as P.S., Com isso, parece-nos que a
composição da Grade Curricular (G.C.) dos cursos de graduação em Psicologia assume um lugar de destaque, já que é a
partir dela, que as/os graduandas/os têm acesso a uma base de conhecimentos e saberes que irão amparar, em certa
medida, o seu saber-fazer frente às questões de ordem social e subjetiva. Para tanto, permitimo-nos indagar e refletir
sobre os processos formativos da profissão do psicólogo em um município do interior do Rio Grande do Sul (RS) e suas
(in)adequações frente à questão social brasileira. Objetivo: A pesquisa visou investigar a presença de disciplinas que
abordassem a relação da Psicologia com as P.S. nas grades curriculares de cinco cursos existentes em uma cidade do
interior do RS. Cabe ressaltar que essa breve investigação foi amparada pelas pesquisas que tratam da Profissão da/o
psicóloga/o no Brasil e o lugar das P.S. nessa formação, as quais foram desenvolvidas pelo Profº. Drº. Oswaldo Hajime
Yamamoto, um dos coordenadores do grupo Marxismo e Educação (GPM&E). Método: 1° etapa (busca): listaram-se as
instituições de ensino superior (IES) que ofertam o curso de Psicologia no município pesquisado, totalizando cinco.
Esse grupo era composto por um Centro Universitário, uma instituição pública e três faculdades ligadas a iniciativa
privada. Após a identificação das IES, foram acessados os seus sites e a respectiva página do - curso de Psicologia – e
realizado downloads das G.C. Na 2° etapa (análise): através da leitura minuciosa das G.C., pode-se destacar e dispor
em uma tabela as disciplinas com potencial de relevância e interface com as P.S. Resultados: os cursos pesquisados
não têm em suas G.C. disciplinas obrigatórias que tratem especificamente das P.S. No entanto, encontramos a
referência da Psicologia no âmbito da saúde em todos os cursos, destacamos, ainda, que uma das IES concentra em
sua G.C. duas disciplinas que tratam da Saúde. No que se refere às ênfases dos estágios específicos, uma das IES
oferece estágio em Processos Clínicos e Organizacionais. As outras duas IES privadas oferecem Processos de Prevenção
e Promoção de Saúde. E, por último, o Centro Universitário e a instituição pública não apontam a ênfase que oferecem
aos graduandas/os, ficando inconclusiva qual perspectiva é priorizada nos estágios dessas IES, logo, se faz necessário
acessar o PPCs dos cursos supracitados. Conclusões: O retrato obtido com a pesquisa é semelhante à realidade
encontrada no estudo Seixas et al. (2016), especialmente no que concerne à predominância de disciplinas com ênfase
1117
em prevenção e promoção da saúde em detrimento daquelas que tratam das políticas de assistência social. A
existência de G.C. que não priorizam uma formação em consonância com a realidade social brasileira, a partir da
ausência de disciplinas voltadas às questões sociais, acaba por conferir legitimidade a uma formação escorada no
elitismo inaugural do tempo ditatorial, ainda que o processo formativo da profissão tenha sofrido melhorias
estruturais ao longo do tempo. Portanto, resgatamos a ideia de grades curriculares ainda como amarras ao avanço de
um projeto ético-político na formação de Psicólogos, que tenham em vista a superação do capital.

1118
O Horror sobrenatural na literatura: Reflexões sobre arte, educação, subjetividade e violência
Autores: Carlos Eduardo Ramos, UFRR; Caobe Lucas Rodrigues de Sousa, UFRR; Letycia Alves De Macêdo, UFRR
E-mail dos autores: carlostte@gmail.com,letyciaalves702@gmail.com,caobeee@hotmail.com

Resumo: A arte é uma esfera da vida humana que é por vezes desconsiderada na psicologia, ao menos por algumas
perspectivas. Edgar Allan Poe, no conto A carta roubada , tece uma crítica à limitação da ciência e do próprio
desenvolvimento do pensamento quando esta ignora o diálogo com a arte, ou a menospreza. Se a ciência ganha
notoriedade na preocupação com o universal, a arte resgata os particulares para garantir que se estabeleçam as mais
variadas relações, neste caso, especialmente entre sociedade e indivíduo. A formação da consciência e do
pensamento, indispensáveis para a constituição dos indivíduos, precisam ter a arte como aliada. Se admitirmos que a
educação é uma instituição de grande relevância para os processos formativos, há que se pensar quais os diálogos que
vêm sendo produzidos no sentido de aproximá-la desta esfera. As manifestações artísticas podem dirigir-se para as
experiências da vida, relações de trabalho e para a consciência de si e do outro. Desta forma, ela contribui para a
psicologia e para a educação na medida que permite conhecer de maneira mais aprofundada seus objetos de estudo.
A partir dessas considerações iniciais, esta pesquisa toma como base teórica o pensamento estético de Benjamin,
Adorno e Marcuse, bem como alguns elementos da psicanálise, para pensar especificamente a literatura como
componente fundamental na educação dos indivíduos. Para os frankfurtianos, a potencialidade da arte reside em sua
ambiguidade. Esta vincula-se com o passado, alça um olhar para possíveis futuros, ao passo que carrega todos os
aspectos culturais e sociais do momento histórico de quem a produziu. É um artefato que carrega o contexto do modo
de produção em que o artista está inserido enquanto agente social. É fundamental também compreender o caráter
autônomo da arte, que possui funções e capacidades que transcendem a realidade, ao mesmo tempo que conservam
seus elementos essenciais. Neste sentido, as obras que dão margem à reflexão e ao pensamento são revolucionárias e
podem ser percebidas como forma de resistência e de luta. O recorte estabelecido para esta pesquisa delimita os
contos de horror sobrenatural como objeto em questão. Esta escolha não é arbitrária. A literatura de horror pode
exercer a função de transcender as amarras da razão, justamente por estar envolta de sentimentos alheios à
racionalidade, de maneira que os contos expõem questões que causam confusão, desconforto e estranhamento. Este
tema já foi explorado por Freud em Das Unheimliche , e se mostrou especialmente interessante, principalmente se
aliarmos à sua discussão questões como o preconceito e a xenofobia. Temos como objetivo levantar e discutir
possíveis contribuições da literatura de horror para os estudos sobre a constituição da subjetividade e formação do
indivíduo na esfera educacional, considerando a compreensão dos aspectos históricos, da violência, e das
possibilidades de reflexão a partir da leitura de algumas obras selecionadas. Sobre o método, escolhemos o
delineamento bibliográfico em que levantamos tanto as obras necessárias para dar sustentação à análise, como textos
sobre arte e estética, quanto autores que exploraram a literatura fantástica de horror sobrenatural, e serão objeto de
nosso estudo, como Mary Shelley, H.P. Lovecraft, Álvares de Azevedo, Machado de Assis e Jorge Luís Borges. O
método de análise dos contos difere daquele que percebemos nas pesquisas situadas no campo das Letras. Nosso foco
reside na análise crítica a partir do conteúdo das obras articulado aos objetivos da pesquisa, levantando possíveis
elementos de violência presentes no campo da cultura que atuam no processo de constituição da subjetividade e se
expressam nas obras. A princípio já podemos destacar na análise os elementos de violência presentes na intolerância
frente às questões raciais, de gênero e classe; e possíveis críticas à noção de ciência, racionalidade e esclarecimento.
Estes elementos se relacionam na análise diretamente com o contexto político, econômico e cultural pertencentes ao
momento histórico de cada obra. Por se tratar de uma pesquisa ainda em andamento, os resultados parciais apontam
para a importância de ressaltar o papel da psicanálise e da Teoria Crítica da sociedade na análise dessas obras, ao
abordar a pulsão de morte como o cenário para uma metafísica do horror, e o papel dos afetos relacionados à
dimensão pulsional. A perda de sentido ou de realidade explorados na literatura de horror é um ponto de
convergência com os elementos do preconceito e xenofobia, comuns ao fascismo em nossa sociedade. Essas são
algumas considerações sobre a relação entre arte, estética e subjetividade pela qual este estudo se propõe analisar.
1119
Na medida em que avançam os ataques à educação, privilegia-se aspectos técnicos nos processos educativos,
deixando a arte como secundária ou desnecessária para legitimar uma educação para a adaptação e o conformismo.
Esperamos que esta reflexão seja um dos pontos de discussão que serão explorados neste GT, ressaltando sua
importância para a defesa de políticas e de propostas educacionais que valorizem as mais variadas formas de arte no
contexto escolar.

1120
O trote universitário na Universidade Federal de Roraima: reflexões sobre indivíduo, grupo e sociedade
Autores: Caobe Lucas Rodrigues de Sousa, UFRR; Carlos Eduardo Ramos, UFRR
E-mail dos autores: caobeee@hotmail.com,carlostte@gmail.com

Resumo: O ingresso no ensino superior, principalmente em instituições públicas, é comumente simbolizado pela
realização do trote universitário, que pode ser definido como uma espécie de rito de passagem e, como tal, funciona
como marco de uma transição do ensino médio para o superior. Configura-se como uma forma de iniciação de um
indivíduo em um determinado grupo. O trote, seguindo os padrões tradicionais, consiste na prática de atitudes
vexatórias de flagelo, destacando-se o corte de cabelos, indução à embriaguez e pintura do corpo com tintas, graxas,
etc. A violência implícita no trote pode ser extrapolada e resultar em acontecimentos graves como a morte em alguns
casos extremos, mas que não são tão raros no histórico do país. Considerando todas as questões emblemáticas e
problemáticas em torno do trote e do que ele pode significar, esta pesquisa teve como objetivo compreender como
ocorrem os trotes universitários feitos por alunos de alguns cursos da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e quais
são as significações objetivas e subjetivas atribuídas pelos calouros e veteranos. Esta pesquisa orientou-se pela
perspectiva da Teoria Crítica da Sociedade, e, por isso, considerou principalmente as definições teóricas dos autores
inaugurais da escola de Frankfurt como T. W. Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse e também autores
brasileiros como José Leon Crochik, Marcos Nobre e Antônio Zuin. Este referencial teórico permitiu que a pesquisa
fosse amparada em discussões acerca de questões como o fascismo, os processos de individuação em uma sociedade
capitalista e administrada, a fragilização do ego e o processo de instrumentalização da cultura, dentre outras. Outro
ponto que merece destaque é o diálogo que esta pesquisa fez com a psicanálise, versando conceitos como
sadomasoquismo, narcisismo, indivíduo e grupo. Para a realização da coleta do material empírico, foram realizadas
duas observações assistemáticas em trotes dos cursos de medicina e engenharia civil, e seis entrevistas abertas, sendo
três com calouros dos cursos de medicina, engenharia civil e psicologia e três com veteranos dos mesmos cursos. As
entrevistas pautaram três assuntos principais: 1) questões relativas ao contexto institucional; 2) questões direcionadas
à experiência do trote; 3) questões relativas à concepção de mundo e de ser humano dos entrevistados. A análise dos
dados foi realizada a partir da relação entre os conceitos e formulações teóricas e os dados coletados, buscando
pensar novos modelos críticos a partir das especificidades do objeto de estudo em questão. Os resultados da pesquisa
permitiram a produção de um enredamento entre pontos na vida universitária que analisados superficialmente
parecem não possuir ligações diretas, mas que não podem ser desconsideradas na relação com o trote. Dessa forma,
foi possível ensaiar uma reflexão sobre o trote e questões bem mais amplas que este, como a violência canalizada no
trote e a violência sentida pelos alunos em uma universidade que não lhes oferece recursos estruturais e não lhes gera
satisfação. Os sentidos atribuídos ao trote em todas as entrevistas aparecem vinculados à adesão ao grupo e a um
tradicionalismo que parece ter a necessidade de ser perpetuado. A dinâmica sadomasoquista esteve também bem
evidente nas falas dos entrevistados, onde se perpetua um ciclo de apanhar para depois bater e bater porque
apanhou bem como traços de narcisismo de grupo. A disparidade na relação entre professores e alunos também foi
observada, e possui relação com a hierarquia e autoritarismo reproduzidos entre veteranos e calouros. O âmbito
universitário não oferece subsídios para que as relações humanas dentro da instituição possam acontecer de maneira
ética, justa e igualitária, e isso se revela através da prática do trote, que pode ser lida como uma repetição esvaziada
de uma lógica hierárquica e violenta que tem como objetivo a produção de um sentimento de pertencimento e
estabelecimento de vínculos que são inexistentes, seja pela falta de identificação com o curso e contexto universitário
ou por questões referentes a região em questão, que é caracterizada por processos migratórios intensos ou pela
distância geográfica. A pesquisa se relaciona com este GT por apresentar, a partir de um fenômeno específico como o
trote, reflexões sobre uma violência que se estende por toda a Universidade e para além de seus muros, e como esta
1121
interfere no processo de formação dos indivíduos. O trote carrega em si a marca da hierarquização, da discriminação,
do triunfo da força física sobre o intelecto e reforça a relação entre narcisismo e sadomasoquismo no contexto
educacional. Apresentar o modo como este processo ocorre na Universidade pode contribuir para o esclarecimento e
para o enfrentamento da violência na relação entre os próprios alunos, entre professores e alunos e entre a instituição
e seus membros.

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Políticas de Acesso a Mães Universitárias na Universidade Federal de Roraima
Autores: Wellen Crystine Lima Peixoto, UFRR; Carlos Eduardo Ramos, UFRR
E-mail dos autores: wellencrystine73@gmail.com,carlostte@gmail.com

Resumo: As relações sociais que norteiam a diferenciação entre os gêneros e estabelecem funções pré-determinadas
às mulheres têm sido investigadas por diversos segmentos científicos da atualidade. Apesar de estudos recentes
apontarem para uma predominância da participação feminina na produção científica e de um aumento nas pesquisas
com temáticas voltadas para as mulheres, ainda se faz necessário intensificar esta produção e dar continuidade às
reflexões. Pois mesmo com a grande quantidade de pesquisas nas diversas áreas cientificas, há muito o que se discutir
no tocante as questões de gênero. Levando em conta tal aspecto e a importância de investigar questões relativas às
pressões experienciadas por mulheres em Roraima, em que estas, além de lidar com as pressões do ingresso na
Educação Superior experienciam, em alguns casos, também a maternidade. Esta pesquisa volta-se à compreensão de
como se estabelecem práticas de estudantes que experienciam a maternidade durante o processo de formação
superior, bem como às condições de permanência oferecidas pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), ao tratar
aspectos que permeiam o acesso ao ensino superior, inclusão dessas mulheres e as políticas públicas de permanência.
Para tanto, foram investigados os desafios e as possibilidades de conciliação entre atividades estudantis e o cuidado
com o(s) filho(s), bem como se observou os aspectos sociais e econômicos da localidade que influenciam a experiência
das universitárias. Também foram analisadas as estratégias cotidianas experienciadas por cada participante, e por fim,
foram investigadas quais as iniciativas da universidade para contribuir para a qualidade de formação e permanência
das estudantes. Com o propósito de responder tais objetivos, a fundamentação teórica foi elaborada a partir de uma
concepção crítica, considerando autores que discutem educação pública e políticas de acesso ao ensino superior.
Também foram consultados materiais produzidos pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino
Superior (ANDES-SN). Compreendemos o acesso ao ensino superior como o ingresso nesse nível de ensino, mas
apenas ingresso não garante a continuidade e conclusão do curso. Desse modo é necessário ter em vista a noção de
permanência como sinalizador de um percurso bem-sucedido. O Acesso deve ser ligado a uma noção que abrigue
todos os objetivos educacionais, dessa forma, a qualidade da formação remete-se a uma formação crítica de sujeitos
protagonistas do processo educacional. Portanto, para um alargamento na concepção de acesso é necessário a adoção
conjunta de ingresso, permanência e qualidade da formação. Nessa pesquisa foi utilizado o método qualitativo e
estudo de caso, o público alvo diz respeito a mães universitárias que estudam na UFRR. Sobre as participantes, a
primeira mãe experienciou a gravidez e maternidade durante a vida acadêmica, já a segunda e a terceira ingressaram
na universidade depois da gravidez. Todas experienciam a maternidade durante a academia. Inicialmente, foi realizado
um levantamento bibliográfico sobre a temática, para posterior elaboração do instrumento de coleta de dados, que se
trata de uma entrevista aberta. Foram levantadas questões sobre histórico da gravidez e ingresso no ensino superior,
dificuldades de gravidez e maternidade durante o curso e quais as contribuições da universidade para garantia da
permanência de mães acadêmicas. Foram criadas categorias de análise permeadas por questões de gênero e de
classe. Os resultados encontrados residem principalmente nas dificuldades que as mães encontram para conciliar o
tempo com o filho e as obrigações acadêmicas; na busca de apoio da família pela falta de vagas em creches; e nas
dificuldades de locomoção na cidade. Tais questões estão ligadas as políticas de acesso na UFRR, tendo em vista que,
apenas uma entrevistada participa de alguma política de permanência, o que é resultado da intensificação dos cortes
no orçamento e precarização das instituições federais. Portanto, as concepções e estratégias apresentadas apontam
para a necessidade urgente de ampliação das políticas, de divulgação das que já existem e de pensar outras
direcionadas especificamente para esta população, como a creche universitária, que já é realidade em algumas
universidades no Brasil. Isso beneficiaria tanto as mães universitárias quanto as professoras e acadêmicos por meio de
estágios nas creches. O grupo de trabalho Subjetividade e Processos formativos: crítica da política, cultura e educação
na América Latina, ressalta o desmantelo que acomete a educação pública no governo ilegítimo atual, o que implica o
aumento do investimento no setor privado em detrimento do repasse de verbas para as universidades públicas,
1123
refletindo na diminuição de políticas públicas de permanência. O Grupo de Trabalho também estima a visão de
políticas públicas educacionais pautadas na valorização da educação pública, democrática, gratuita e socialmente
referenciada. A pesquisa desenvolvida está alinhada a essa proposta na medida em que aponta aspectos relacionados
a violência sofrida por mães universitárias em consequência da falta de políticas de permanência. O direito de estudar
deve ser garantido também às mulheres trabalhadoras, mães e universitárias, e a creche universitária é um passo
necessário para garantir esse direito.

1124
Políticas Públicas de Acesso na Universidade Federal de Roraima: Permanência e Qualidade de formação
Autores: Ana Clara Costa dos Anjos, UFRR; Emília Gutierrez Delcarlos Mendonça, UFRR; Wellen Crystine Lima Peixoto,
UFRR
E-mail dos autores: anaclara2anjos10@gmail.com,wellencrystine73@gmail.com,emiliadelcarlos@gmail.com

Resumo: Considerando a expansão do Ensino Superior no Brasil e as questões de precarização que a acompanham, se
tornou de suma importância discutir as questões que envolvem o seu acesso pela população. No decorrer da história,
percebe-se o movimento do Estado no sentido de sustentar o setor privado e criar medidas que popularizam esse
acesso, ao passo que o Ensino Público passa por constantes cortes de gastos. Pode-se identificar nessa forma de
organização do Estado o discurso de inclusão sem propiciar mudanças consideráveis na base estrutural da sociedade, e
é nesse sentindo que observamos a grande contradição público/privado. De certo, o objetivo do Estado é a
manutenção do status quo, por isso, o discurso de inclusão precisa ser compreendido. A relação estabelecida entre
Estado moderno e políticas sociais é entendida como forma de minimizar os efeitos destrutivos do capital e para
favorecer parte da sociedade em relação ao modo de produção e a divisão social, diminuindo seus afeitos ineficazes. O
conceito de acesso visa, na Educação Superior, não apenas o ingresso dos estudantes, mas políticas que proporcionem
a permanência e a qualidade de formação. Com o corte de gastos feitos pelo atual ilegítimo governo, percebe-se que
não se valoriza uma educação pública, democrática e de qualidade, e sim uma educação mercantilizada, na qual se
observa o constante crescimento das faculdades e universidades privadas financiadas pelo Estado. O presente estudo
é direcionado para verificar quais são os impactos dos retrocessos das políticas de permanência na vida dos
estudantes e de que forma isso dificulta a estadia e as suas influências no processo de evasão, retraso no período
acadêmico e na qualidade que se experiencia essa formação. Para tanto, buscou-se descrever quais são as políticas de
permanência existentes na Universidade Federal de Roraima, bem como identificar se as políticas de permanência
existentes são suficientes para os acadêmicos efetivos. O alimento teórico que embasa este trabalho é pautado em
teorias críticas da educação, que proporcionam reflexões acerca da legitimidade e da importância das políticas de
permanência. Utilizam-se nesse trabalho, autores como Tragtenberg, Saviani, e Tereza Christina Veloso que discutem e
promovem reflexões sobre a superação da relação sociedade/capital, e como a mercantilização da educação se mostra
diretamente influenciada pelo atual cenário político brasileiro e as medidas de corte de gastos. Quanto a metodologia,
essa pesquisa se valeu do método qualitativo, e de análise documental. O levantamento de dados ocorreu junto aos
departamentos responsáveis pelas políticas de acesso na UFRR, que são responsáveis tanto pelo recebimento como
pela distribuição das verbas destinadas para os setores específicos da universidade. Inicialmente foi realizado um
levantamento bibliográfico, afim de que o tema fosse melhor compreendido e posteriormente comparado com a
situação de outras universidades da Região Norte. Em seguida, foram levantadas publicações e documentos oficiais da
universidade sobre as políticas de permanência, como editais, comunicados e convocações. Percebeu-se que a UFRR
apresenta uma característica peculiar, pois essa tem como atributo a recepção de muitos alunos provenientes de
outros estados e devido a essa demanda. Destina então parte das verbas para manutenção desses alunos através de
auxílios como: vale-moradia, vale-alimentação, bolsas de cultura e iniciação cientifica, dentre elas, que visam a
continuidade desses alunos na instituição. Essas bolsas são prioritariamente destinadas a alunos que vivem em
situação de vulnerabilidade socioeconômica. Porém, a partir 2016, após o golpe, medidas de redução de gastos foram
intensificadas afetando diretamente essas políticas que visam o acesso. Por sugestão do governo federal, a
universidade adotou medidas, como, a não abertura de novos editais de vale-moradia e vale-alimentação, redução do
número ou mesmo extinção de bolsas. Uma das medidas mais impactantes foi a submissão de edital para ter acesso a
alimentação no RU (Restaurante Universitário) em que o critério econômico delimita a quantidade de pessoas que
pagarão o valor mínimo da refeição, enquanto boa parte da população que acessa esse serviço paga valores mais
altos. É fato que isso gera impactos na vida dos alunos que muitas vezes não tem condições de arcar com mais uma
despesa, além do que, o RU é um dos carros-chefes que visam a permanência desses estudantes, especialmente
aqueles matriculados em cursos de período integral. Um serviço que deveria ser gratuito, como ocorre em outras
1125
universidades do país, passa a ser delimitado por renda, onde boa parte dos alunos são excluídos. Nesse sentindo, este
trabalho se alinha ao GT, pois traz a discussão sobre a valorização de políticas que tenha como prioridade a inclusão,
permanência e qualidade. Na medida em que os ataques se intensificam, temos prejuízos a curto e longo prazo para a
sociedade e percebemos os desdobramentos na vida e na saúde de cada universitário. É urgente que se faça a defesa
da gratuidade do ensino, da inclusão e da garantia de que a população possa, de fato, usufruir desse direito.

1126
Políticas públicas e intervenção no contexto escolar: desafios e práticas
Autores: Robéria Brenda Peixoto Vieira, UFRR
E-mail dos autores: ROBERIA_ABRENDINHA@HOTMAIL.COM

Resumo: Este trabalho é um relato de experiência de estágio em Psicologia Escolar na Universidade Federal de
Roraima, realizado durante o ano de 2017 em uma escola municipal de Boa Vista. Com base nos referenciais teóricos
da psicologia escolar crítica e pautando-se principalmente em textos de T.W. Adorno, pensamos os desafios teórico-
práticos que os profissionais de educação têm encontrado em suas práticas de intervenção psicossocial dentro e fora
da escola. São nas reflexões de Adorno que encontramos formulações fundamentais para o entendimento dos
indivíduos na sociedade. Utilizamos os conceitos de autonomia/heteronomia, ideologia, pseudoformação, bem como
contribuições de J.L. Crochík sobre o preconceito, passando pelas análises de como se constitui a predisposição do
indivíduo para o preconceito e de sua relação com a cultura e culminando com possíveis, desejáveis e inadiáveis ações
que devem ser adotadas para sua redução, diante de desafios escolares como o Bullying e indisciplina, conforme
relatados pela escola em que trabalhamos. Entre os grandes desafios presentes na atuação do psicólogo escolar estão
os limites das políticas e práticas educacionais propostas por todas as esferas do poder público, bem como as
dificuldades que os agentes internos/externos do contexto escolar encontram para desenvolver um trabalho que leve
ao fortalecimento da comunidade na escola assim como a falta de autonomia dos professores diante do método de
ensino imposto pela Secretaria de Educação e a própria ausência que se têm de referenciais teóricos e metodológicos
que fundamentem suas práticas. Considerando esses pontos, este trabalho encontra contemplado pela proposta deste
Grupo de Trabalho. Inicialmente foram realizadas observações na escola e entrevistas com os funcionários e a gestão.
Em seguida foi elaborada uma proposta de intervenção. O objetivo da intervenção teve por base a transformação das
relações entre alunos e outros membros da escola, tendo em vista valorizar a autonomia, a reflexão e fortalecer o
respeito mútuo. Enfatizamos as discussões sobre a relação entre Estado-Programas-Escolas, bem como as
contradições existentes entre uma prática educacional -comprometida com as classes mais pobres e excluídas - e as
exigências dos planos e programas - que fazem parte das políticas públicas municipais, estaduais ou federais, que em
sua maioria impõem sérios limites aos processos de fortalecimento e autonomia dos sujeitos. As temáticas como
violência de gênero (principalmente a violência dos meninos contra as meninas), a cooperatividade e o trabalho em
grupo, assim como respeito mútuo diante as relações interpessoais na escola foram temas abordados diante as
atividade propostas e pensadas para trabalhar durante os encontros com as três turmas consideradas pela escola
como mais problemáticas e diante das queixas de bullying, mal comportamentos dos alunos, falta de respeito mútuo
e questões de violência, nosso maior desafio foi a pequena disponibilidade de tempo para o desenvolvimento da
atividade prática, bem como a autonomia dos estagiários para atuar com os alunos. Porém, mesmo diante tal
contexto, tivemos um resultado positivo do trabalho desenvolvido. Isso permitiu uma profunda reflexão acerca das
práticas educacionais, assim como a necessidade do psicólogo inserido no contexto escolar, sobre a atuação dos
professores e coordenação pedagógica e as dificuldades existentes na relação interpessoais dentro do contexto
escolar, entre poder público e a escola; poder público e população. Além disso, ressaltamos a importante tarefa do
profissional de psicologia em participar das discussões e elaboração do Plano Político Pedagógico, bem como fazer
uma análise crítica do alcance das políticas públicas educacionais implementadas nos últimos anos. A nossa atuação na
escola propôs uma participação, cujo caráter político se mostra na função desalienante, mobilizadora da consciência
que pode ter a práxis educacional em que se realiza. Desalienar e conscientizar são processos que fazem parte da
reflexão que busca contrapor-se aos efeitos da violência, da adaptação e da heteronomia. Essa participação não busca
só remediar algum mal, cumprir algum desejo, mas sim gerar comportamentos que respondam a uma projeção ativa
do indivíduo em seu meio educacional, assim como uma concepção equilibrada desse meio e de seu lugar nele.
Propomos partir da realidade educacional concreta dos próprios participantes da escola, o que implica uma visão
histórica e contextual das particularidades de cada situação e lugar onde atuam. Outro elemento importante foi
compreender que a escola necessita de recursos materiais para levar adiante sua transformação. Além disso, o
1127
trabalho de intervenção ocorreu por meio de um processo de troca de saberes no qual se estabelece uma articulação
entre o conhecimento dos alunos e suas atuações diante das atividades propostas e o conhecimento prático dos
estagiários. A discussão desse trabalho contribuiu para fomentar o raciocínio moral e interpessoal mostrando aos
sujeitos outras maneiras de agir e pensar numa determinada situação ou comportamento.

1128
Reflexões sobre as noções de formação humana e desenvolvimento em Jean Piaget com base na teoria crítica
Autores: Nivaldo Alexandre de Freitas, UFMT
E-mail dos autores: nivafreitas@gmail.com

Resumo: Esta comunicação é sobre as concepções de formação humana e desenvolvimento que estão presentes em
algumas teorias de aprendizagem e desenvolvimento. Os elementos aqui apresentados são resultados parciais de uma
pesquisa ora em curso na UFMT. Especificamente, o objetivo é o estudo das referidas concepções na obra de Jean
Piaget. A concepção de formação humana advém da teoria crítica da sociedade, principalmente da obra de Theodor
Adorno, e inclui, entre seus vários aspectos, a autonomia da razão e a capacidade de viver experiências humanas e
culturais. As diversas concepções de sujeito elaboradas pelos diferentes autores da psicologia muitas vezes ocultam
ideologias de suas épocas de formulação, de modo que em muitos aspectos podem ser contrárias à ideia de formação.
Nesse sentido, elas contribuiriam de maneira indireta para o que Adorno (Teoria da Semicultura) denomina de
pseudoformação, aspecto problemático da cultura, já que a impossibilidade de formação de indivíduos autônomos
colocaria em risco o convívio social, dando margem a fenômenos como a violência, que já não encontraria limites na
esfera subjetiva. O estudante a ser formado é compreendido pelos professores a partir dos parâmetros de teorias de
desenvolvimento e de aprendizagem que lhe foram transmitidas em suas formações sem muitas vezes um
questionamento crítico sobre elas. Entender os aspectos ideológicos dessas teorias e seus elementos regressivos em
relação a um projeto histórico de emancipação é importante para a crítica necessária da formação que se objetiva
fornecer nos diversos âmbitos da formação, inclusive no da formação do psicólogo. Outro ponto importante é que a
psicologia escolar avançou muito no que se refere à compreensão da queixa escolar como um fenômeno determinado
por muitos fatores, internos e externos à escola, mas carece ainda de um questionamento crítico quanto às
concepções de sujeito com a qual pode levar à escola algumas contribuições decisivas da psicologia. É certo que Piaget
tem importante contribuição prestada à psicologia científica. Ele pode auxiliar a pensar, por exemplo, a questão do
preconceito no que se refere à incapacidade cognitiva do sujeito, que não lhe permite sair do egocentrismo
intelectual. Porém, Piaget não submete sua teoria às relações históricas e sociais nas quais seu objeto está inscrito.
Sua teoria não permite pensar que o sujeito que alcançou uma determinada fase do desenvolvimento possa recuar em
seus passos. Para Piaget, o progresso do sujeito é linear. O teórico que descreveu o sujeito numa Genebra que sequer
submeteu-se às guerras do século XX, não admite a ideia de regressão. Piaget enfatiza, mais do que as circunstâncias
do sujeito para seu desenvolvimento, a competência individual para tanto. Outra crítica interessante é feita por Susan
Buck-Morss (Piaget, Adorno, and dialectical operations), também com base em Adorno. Segundo a autora, o
formalismo abstrato descrito por Piaget está longe de ser uma questão invariável nos seres humanos, mas teve sua
emergência na cultura comercial urbana, que passou a exigir do indivíduo uma estrutura lógica que passou a ser
dominante. Com a consolidação ampla do trabalho assalariado tanto produção quanto sua troca passam a possuir
valores abstratos, se tornando a expressão das relações sociais de produção. As crianças da periferia do sistema não
apresentam os mesmos resultados nos testes que medem o raciocínio lógico, pois elas não foram preparadas para as
trocas de mercado. A teoria de Piaget, no seu esforço de pura objetividade, mostra como as operações formais
abstratas incorporam profundamente as estruturas sociais, incluindo as relações comerciais, embora Piaget
entendesse que estava descrevendo a criança universal, em suas experiências com o ambiente isoladas do mundo
objetivo. Piaget encontrou em Kant a possibilidade de pensar as estruturas da atividade espontânea do sujeito, as
categorias formais que irão acomodar as experiências empíricas. Ao entender que apenas a razão subjetiva explicaria a
gênese e o desenvolvimento da razão humana, Piaget se aproxima do idealismo. Adorno, por sua vez, entende que
Kant, em sua revolução copernicana, faz com que o sujeito não vá além de sua própria imagem, refletida no objeto.
Por isso, Adorno sugere outro giro axial sobre o próprio sujeito, de forma a negar a lógica da identidade e impedir que
a razão subjetiva encontre a si mesma num mundo que não é racional. Este trabalho se insere no eixo temático
Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções , já
que é neste eixo que se coloca a discussão da produção de conhecimento e da epistemologia com base em
1129
referenciais teóricos da psicologia social. O grupo de trabalho 52, Subjetividade e Processos formativos: crítica da
política, cultura e educação na América Latina poderia acolher esta pesquisa à medida que seu elemento central é
pensar a finalidade dos processos formativos e questionar os interesses adaptativos da educação que têm levado
apenas à reprodução da violência e da desigualdade social, no mundo todo, e na América Latina em particular.

1130
Reflexões sobre diversidade sexual e políticas públicas em educação
Autores: Naoma Gordon Melville; Carlos Eduardo Ramos, UFRR
E-mail dos autores: naomamelville_@hotmail.com,carlostte@gmail.com

Resumo: Esta reflexão é decorrente de uma pesquisa documental em que nos propusemos a discutir a temática da
diversidade sexual na esfera educacional. Durante muito tempo o trato de questões como gênero, identidade de
gênero, orientação sexual e diversidade sexual estiveram pouco presentes na educação. No entanto, nos últimos anos,
o termo diversidade sexual passou a ser utilizado com certa frequência em diversos campos como o das políticas
públicas, dos movimentos sociais e da educação para se referir as diversas sexualidades . Atenta-se principalmente
para o fato de que o surgimento da diversidade sexual nestas áreas muito se deve à pressão, mobilização e
reivindicações, como parte de uma educação para todos e não-sexista de diversos setores sociais, principalmente
grupos feministas e LGBT s. É preciso demarcar que o aporte teórico que sustentou esta pesquisa adveio da Teoria
Crítica da Sociedade, mais precisamente das reflexões apresentadas por Theodor Adorno no livro Educação e
Emancipação . O autor nos apresenta conceitos essenciais para a análise e compreensão dos reais objetivos da
educação e sua finalidade. Para o autor, a educação teria a função de estabelecer um alicerce para a construção de
uma sociedade livre da barbárie, uma educação para a emancipação dos indivíduos e para a resistência frente a
determinadas questões da cultura, porém sem desconsiderar questões como a adaptação e a transmissão de
conteúdo. Nesse sentido, para Adorno, a questão mais urgente da educação, seria a tentativa de desbarbarização.
Discutir temas como diversidade na educação, mais especificamente a diversidade sexual, torna-se uma questão
urgente uma vez que esse processo pode contribuir de forma significativa para a redução de preconceitos e da
discriminação, para uma educação inclusiva, e resultar em formas de enfrentamento da barbárie na cultura, ou ao
menos a produção de algum esclarecimento sobre o assunto. Também é preciso abordar e debater políticas públicas
educacionais que promovam o tema da diversidade sexual no espaço escolar e refletir se esta abordagem está sendo
realizada de maneira crítica ou se está apenas reproduzindo aspectos que contribuem ainda mais para a exclusão.
Conhecer os discursos inseridos e veiculados em programas oficiais que se propõem promover a discussão do tema da
diversidade sexual no espaço escolar apresenta-se como uma questão indispensável se considerarmos esta como uma
das prioridades para a desbarbarização da sociedade e contribuição para a construção de uma sociedade esclarecida.
No sentido de atender esta demanda, a pesquisa teve como objetivo compreender como o Ministério da Educação
(MEC) abordou esta temática em suas políticas educacionais por meio de um levantamento dos programas e planos
nacionais criados a partir do início do século XXI. Optou-se pelo delineamento documental para a coleta do material
empírico, e a análise foi orientada pela perspectiva da Teoria Crítica da Sociedade. Diversos documentos foram
analisados, mas para esta discussão vamos nos dedicar principalmente ao caderno 4 da Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade e Inclusão (SECADI), denominado Gênero e Diversidade Sexual na Escola:
reconhecer diferenças e superar preconceitos e ao Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB
e de Promoção da Cidadania Homossexual - Brasil Sem Homofobia . Procedeu-se a uma análise destes documentos
oficiais e uma investigação para verificar como estas políticas estariam em consonância com uma proposta de
educação para o esclarecimento. Constatamos que a inclusão de temáticas relacionadas a orientação sexual, gênero e
identidade de gênero no campo educacional ainda é considerada tímida e recente, mas esses programas apontaram
para um salto significativo na valorização, promoção de respeito e de reconhecimento da diversidade sexual. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais, embora já tivessem inserido a temática de orientação sexual em seus temas
transversais, ainda tratavam dessas questões limitando-se a um viés biológico quando traziam à discussão apenas
temas como gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis. A ausência de questões referentes aos
Direitos Humanos parece ter sido preenchida nos outros documentos, assim como ações de enfrentamento ao
sexismo e homofobia. A maneira como estas ações estavam sendo tratadas revela um esforço de caminhar no sentido
de uma educação emancipatória, visto que buscavam repensar a função social da escola, assim como reduzir a
desigualdade, opressão e exclusão que permeiam as relações na esfera educacional. Esta pesquisa se articula com este
1131
GT em dois pontos principais: o primeiro diz respeito a análise pautada nas reflexões de T.W. Adorno. O segundo tem
relação com os recentes ataques às políticas educacionais que afetaram diretamente secretarias como a SECADI e a
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. No cenário político atual, a pauta da diversidade tornou-se
ameaçada. Vemos as discussões de gênero e diversidade tolhidas, na medida em que temos uma educação na
contramão de uma proposta crítica, com o fortalecimento de práticas e concepções cada vez mais discriminatórias e
excludentes. Enfrentar esses ataques torna-se a questão mais urgente para garantir o retorno da pauta sobre
diversidade sexual na educação.

1132
Roda de conversa sobre evasão: a psicologia escolar no ensino superior
Autores: Ítalo Weiner Martins de Oliveira, UFU; Anabela Almeida Costa e Santos Peretta, UFU; Luana Mundim de Lima,
UFU
E-mail dos autores: italo_xc@hotmail.com,anabelaacs@gmail.com,luana_mun_dim@hotmail.com

Resumo: Este trabalho apresentará a roda de conversa realizada com quatro estudantes da Universidade Federal de
Uberlândia que se voluntariaram a compartilhar as angústias vivenciadas em relação à permanência nos cursos de
graduação em que estavam matriculados. Esta prática compôs a pesquisa de iniciação científica Permanecer ou
evadir: conhecendo o processo vivenciado por estudantes do ensino superior , desenvolvida em duas etapas –
entrevistas individuais e roda de conversa – e que objetivou conhecer os aspectos envolvidos no processo de evasão
universitária. A problemática da evasão está vinculada às vivências passadas do discente e a questões políticas,
históricas e sociais, bem como a fatores cotidianos intra e extra universitários. Tal fenômeno pode ocasionar perdas
sociais, acadêmicas e econômicas para todos os envolvidos no processo educacional. A roda de conversa pretendeu
realizar escuta e acolhimento aos seus participantes, ampliar a compreensão a respeito do fenômeno da evasão e dos
sentidos a ele atribuídos pelos discentes. Objetivou, ainda, auxiliar na discussão sobre essa temática tão complexa
que atravessa o espaço da universidade pública em tempos de perdas de direitos sociais, de ameaça ao caráter público
das universidades federais e de supressão de recursos para a manutenção das atividades de ensino, pesquisa,
extensão e assistência estudantil. A roda de conversa foi idealizada e realizada por dois estudantes de Psicologia,
orientados por uma professora do mesmo curso, que se fundamentaram teoricamente na perspectiva histórico-
cultural e nos estudos de Alain Coulon, Sônia Maria Sampaio e Fabrício Moura para compreender os aspectos que
emergem neste contexto. O encontro foi gravado em áudio, transcrito e analisado segundo o método de análise dos
núcleos de significação propostos por Wanda Aguiar e Sérgio Ozella, que possibilitou a construção de categorias que
auxiliam na compreensão do momento vivenciado pelos estudantes. Na roda de conversa, os discentes foram
estimulados a compartilhar sobre suas trajetórias escolares do ensino médio ao ensino superior, sobre suas principais
dificuldades e dúvidas na universidade e foram convidados a protagonizar uma discussão a respeito da sua atual
condição enquanto discentes insatisfeitos com a graduação, com as questões curriculares, com as matérias estudadas
e com as experiências em sala de aula. Ainda no espaço grupal cada um dos presentes foi convidado a ouvir seu colega
e sugerir, a partir do próprio ponto de vista, formas de pensar e enfrentar as situações do cotidiano, apontadas como
um problema pelos seus colegas. Assim, este momento de obtenção de informações constituiu-se também como um
espaço de escuta, cuidados e construção de conhecimento, que foi reconhecido positivamente e descrito pelos
participantes como uma experiência necessária e escassa no ambiente acadêmico. Os estudantes abordaram a
pressão que expectativas familiares e sociais exercem sobre as opções que realizaram e expressaram que as dúvidas
entre permanecer ou evadir eram perpassadas pelo sentimento de ter uma dívida simbólica a restituir aos amigos e
familiares. Manifestaram dificuldades de articular questões pessoais, trabalho e atividades acadêmicas. Além disso, os
participantes relataram que antes de ingressar, a universidade lhes era apresentada de modo idealizado, tiveram
informações insuficientes sobre o curso escolhido e ausência de uma orientação profissional satisfatória. No âmbito
universitário, destaca-se a relação professor-aluno como elemento que influencia positivamente ou negativamente a
evasão. Os discentes relataram a falta de profissionalismo e didática dos docentes como fator que contribui para que
desejem abandonar o curso; em contraponto, os estudantes também declararam que uma relação de proximidade
com os docentes ampliava o interesse em permanecer no curso. A perspectiva de atuação profissional aparece como
uma questão relevante, visto que muitas vezes não reconhecem valor ou função de mercado no conhecimento
adquirido na universidade. Além disso, os fatores extracurriculares foram evocados no discurso dos discentes,
ressaltando a importância de atividades culturais organizadas na ou pela universidade na promoção da permanência.
Junto a isso as políticas institucionais de auxílio estudantil surgem como elemento fundamental, porém ainda pouco
estruturado para atender as diversas demandas explicitadas. Com base na análise deste encontro, foi possível detectar
que as questões referentes ao ensino superior em nosso país são complexas e multidimensionais, dependem não
1133
somente do micro contexto, mas do macro contexto e das heranças que o sujeito carrega consigo para dentro do
espaço acadêmico. As ações de enfrentamento à evasão precisam, portanto, atuar nas diversas dimensões que
envolvem desde a preparação para a entrada na universidade até à garantia de condições de permanência. Assim,
salientamos a relevância da atuação do psicólogo escolar no ensino superior propondo ações voltadas para o
enfrentamento dos dilemas vivenciados pelos estudantes. A roda de conversa cumpriu o papel de romper com o
funcionamento cotidiano universitário ao oferecer um espaço dialógico de troca de experiências, reflexão,
ressignificação e de acolhimento frente às questões acadêmicas que cada vez mais vem seguindo uma lógica
produtivista, na qual as necessidades subjetivas são desconsideradas.

1134
Uma experiência de implantação de oficinas na EJA em uma escola municipal
Autores: Alessandra Daflon dos Santos, UFF; Alexsander Grem Ribeiro, UFF; Ana Flavia Souza Carvalho, UFF; Bruno
Ferreira Teixeira, UFF; Christiane Sheyla Magalhães de Mattos, UFF; Isabela Cristina Siqueira, UFF; Isabella dos Santos
Muniz, UFF; Jaqueline do Nascimento Ribeiro, UFF; Jorge Luiz Caetano da Silva, UFF; Lais Mendes, UFF-Rio das Ostras;
Lucas da Costa Brandão, UFF; Matheus Vinicius Silva Dreys, UFF; Pedro Henrique de Macedo, UFF-Rio das Ostras;
Pietro Giuseppe Puppo, UFF; Raja Khalil Gebara Novaes, UFF; Shanykka Queiroz Rojas, UFF; Sulla Rodolpho Pinto, UFF;
Willian Siqueira, UFF
E-mail dos autores: aledaflon68@gmail.com, bferreirateixeira@gmail.com, christianesheyla@yahoo.com.br,
scarvalho.flavia@gmail.com, isacristinasiqueira@gmail.com, isabella_muniz1@hotmail.com, jknyfe@gmail.com,
brandao_lcs@hotmail.com, lais.mendes.toledo@gmail.com, matheusdreys@hotmail

Resumo: Trata-se de relato de uma experiência extensionista, a partir da parceria entre a Universidade Federal
Fluminense/Campus Rio das Ostras (RJ) e a Escola Municipal Acerbal Pinto Malheiros, localizada no mesmo município,
cujo objetivo, em caráter experimental, é o desenvolvimento e a implementação de oficinas como estratégia de
ensino-aprendizagem na turma da Educação para Jovens e Adultos (EJA). As oficinas têm como público-alvo os
estudantes da EJA e serão organizadas a partir de temas geradores, que fazem parte da vida cotidiana, tais como:
globalização, emprego/trabalho, arte/cultura, qualidade de vida, consumo, diversidades (questões raciais, de gênero
etc.), educação solidária, meio ambiente/sustentabilidade, linguagens, tecnologias, movimentos sociais, entre outros.
Pretende-se que as oficinas sejam dispositivos para a constituição de novos olhares e experiências e espaço para o
compartilhamento de saberes e práticas. A relevância acadêmica e social do projeto assenta-se na aposta em uma
proposta de educação como ferramenta para a produção de sujeitos autônomos, críticos e capazes de afirmar novas
práticas no mundo. No que diz respeito aos processos formativos, sabe-se que escolas e professores permanecem
privilegiando apenas o conhecimento historicamente acumulado, dividido em disciplinas estanques, com diversos
obstáculos implicados nesse processo (sucateamento dos serviços públicos e de tudo que é coletivo, precarização
estrutural e do trabalho do professor, impedimentos do acesso às novas tecnologias etc.). É preciso, então, repensar
tais processos, em especial aqueles que se referem ao EJA. Apesar de preconizado nas Diretrizes Nacionais para a EJA
o desenvolvimento de ações culturais, respeito à diversidade, exercício da cidadania, integração da escola à cidade e
estímulo à afetividade nas relações, nem sempre essas ações se concretizam, prevalecendo os modelos clássicos de
educação, bancária e distante da vida cotidiana das pessoas. As oficinas, então, são entendidas como dispositivos para
configuração de novos territórios existenciais, espaço de afirmação das multiplicidades, onde possa circular toda
diferença, ao contrário das metodologias tradicionais de ensino-aprendizagem mais disciplinares, que reduzem tal
relação a uma distante transmissão de informação. Necessário, em tempos obscuros, afirmar a escola em sua potência
transformadora, cujos sujeitos ali implicados possam modificar sua realidade social e cultural. O desafio é pensar a
educação a partir da indissociabilidade entre experiência e autonomia. Parte-se, então, das contribuições do pensador
Jorge Larrosa Bondía quando afirma que na sociedade da informação o que prevalece é o conteúdo esvaziado de
sentido e distante das vidas dos sujeitos. A informação ocupou o lugar do pensamento e da criação; ela desimplica os
sujeitos da possibilidade da reflexão, pois seu conteúdo neutro e editado tornou-se verdade incontestável. Os
conteúdos ministrados na escola podem ser associados à informação, são tratados como verdades e necessários para
alcançar o diploma, transmitidos de forma mecânica e também reproduzidos mecanicamente. O sujeito informado é
aquele que opina, considerando, pretensamente, a opinião como própria e crítica, o que também anula nossa
possibilidade de experiência e, ambas, informação e opinião atualmente constituem o universo da aprendizagem.
Assim, o sujeito da experiência não é o sujeito da informação, não é o sujeito da opinião, mas território de
passagem . A experiência é aquilo que constitui o próprio corpo, que engendra um olhar sobre o mundo orientando
nossas ações. O sentido da educação, então, deve ser este de afirmar a experiência como potência criadora,
promovendo encontros que afirmem a vida em sua multiplicidade. A experiência é rara, singular e isto quer dizer que
implica uma necessária abertura ao outro, às diferenças, ao coletivo-em-nós. Este é o sentido de autonomia, que
1135
diferente dos processos de individualização contemporâneos que encerram os sujeitos em uma posição solipsista,
alienada e apartada do desejo, implica a possibilidade dos sujeitos criarem suas redes relacionais, entenderem-se
elemento delas e cada vez que as aciona, mas autônomo é. Gerindo suas próprias vidas, os sujeitos percebem seu
pertencimento em um coletivo, e isto só é possível a partir da experiência. Instaura-se, então, uma experiência ética,
por que coletiva, múltipla, heterogênea, polifônica, crítica, que faz problema sobre como vivemos nossas vidas e como
podemos vivê-la de outras maneiras. Portanto, entende-se que este trabalho articula-se com os objetivos que o GT 52
– Subjetividades e processos formativos: crítica da política, cultura e educação na América Latina propõe, ao
problematizar os diferentes processos de formação em nossa sociedade e de afirmação da educação como
instrumento transformador. Importante destacar que o projeto de extensão teve seu início este ano, está em
andamento, portanto, conclusões seriam precipitadas. No entanto, é possível afirmar a necessidade de promoção de
espaços de encontro, e que, nessa experiência, através das oficinas, percebemos o quanto se faz imperativo, nos dias
atuais, a configuração de redes, de conexões, de afetividades, como ação política de desintristecimento e afirmação
da alegria como estratégia de luta.

1136
GT 53 | Subjetividades, ciborgues, híbridos e redes sociotécnicas :pulsações intermitentes entre o
mecânico e o maquínico

Coordenadores: Carlos Antonio Cardoso Filho, UFRGS | Fabio Dal Molin, FURG | Renata Fischer da Silveira Kroeff,
UFRGS

Objetivos: Ampliar os estudos que tomem como objeto de pesquisa a análise da relação entre subjetividade, ciências e
tecnologia no campo da Psicologia Social; Criar problemas consistentes e contemporâneos a respeito das dicotomias
entre mecânico maquínico, subjetividade-objetividade ciências humanas-ciências exatas, natureza-sociedade-cultura,
biológico-social em uma perspectiva ontológica, e não epistemológica; Em uma perspectiva cartográfica e
sociotécnica, discutir o principal conceito da contemporaneidade que transversaliza tecnologias, políticas públicas,
ecologia e capitalismo mundial integrado: as redes, entendidas ora como possibilidade de conexão ora como aparelho
de captura; promover parcerias entre pesquisadores no campo da Psicologia Social que estudem e pesquisem os
possíveis acoplamentos e interfaces humano-máquina e suas implicações sociais e políticas.
A proposta do GT se relaciona com o tema do encontro ao tratar da subjetividade a às diversas formas de controle e
dominação nas quais encontra-se implicada e, especialmente, nos modos de resistência que são criados e produzidos
em seus enfrentamentos. Nos concerne especificamente como as tecnologias e as redes sociotécnicas produzem uma
sociedade baseada em algorítimos, ciências, técnicas e caixas-pretas sobre as quais temos um controle pequeno e
compreensão opaca e cada vez mais decidem aspectos importantes de nossa vida. A temática proposta pelo GT se
o p eà o àoàei oà I su g iasà ti o-estético-políticas: artes, tecnologias e subjetivaç o à aà edidaàe à ueàp op eà
uma abordagem interdisciplinar focada na problemática política da produção de subjetividades e meios a redes
sociotécnicas, o que atravessa desde campos científicos, a práticas sociais, artísticas e políticas.
O grupo de trabalho visa discutir os diversos modos pelos quais as subjetividades são produzidas em meio a redes
sociotécnicas, em cujos acoplamentos produzem-se efeitos de hibridização que escapam às distinções entre humanos
e máquinas. Deste modo propomos ampliar na Psicologia Social a discussão acerca de uma subjetivação através das
figuras do ciborgue, do híbrido e da noção da maquínico, concebendo o sujeito como um entrecruzamento em um
social composto por humanos e não-humanos, ao mesmo tempo natural, tecnológico, discursivo e social.
Quando lidamos com Políticas públicas e administração nosso ponto de vista tende a ser macropolítico, ou no linguajar
de Deleuze e Guattari: molar, das técnicas padronizadas, do trabalho repetitivo e monótono. Tais técnicas funcionam,
masà oà o oà i agi a os.à N oà à oà i stitu io alizado à ouà aà o de ,à aà u o a iaà ueà ati a à u aà ede.à Issoà à
atributo das máquinas não-hu a as,àtaisà o oàosà o s.Isaa àási o àapo taàpa aàoàfatoàdeà ueà o ota à àaàpala aà
tcheca para escravo Assim como nossa pala aà aisàusadaàpa aà t a alho à e àdeàu ài st u e toàdeàto tu a,à es oà
ha e doàout asà o oà la o àouà o a ,ào aàdeàa te,ào aàdeàauto .
Contudo, sob essa suposta servilidade ou passividade de não-humanos encontramos um domínio inesgotável de
atores, actantes, mediadores e intermediários. Em outras palavras, a criação, o inesperado, assim como o previsível e
o determinado dependem diretamente da ação desses atores. Agir no mundo de modo ativo não é um atributo
exclusivamente humano. Deste modo toda ação se dá no encontro de agentes ou atores, que apenas depois poderão
ser julgados como humanos ou não-humanos, naturais ou artificiais, verdadeiros ou falsos. As redes são produzidas
pelos encontros emergentes de atores ativos em sua heterogeneidade ontológica.
As redes produzem e criam, ao mesmo em que dominam e limitam, tanto pelas suas incongruências, impossibilidades
e contradições quanto pela lógica econômica do capitalismo. Redes podem ser para abrir fluxos ou para aprisionar, as
redes são atributos da sociedade de controle enquanto os hospícios, da sociedade disciplinar, já dizem Deleuze e
Fou ault,à asàissoà oàlhesà o fe eàjuízosàdeà alo à a i ueístas.àOà apitalis oà àu àp oduto àdeà pe spe ti as à ueà
direcionam os fluxos e os aprisionam em máquinas mecânicas.Antigamente ficávamos presos nos velhos manicômios
por anos a fio, hoje podemos circular indefinidamente de instituição em instituição, desta forma, a pergunta
pertinente é essa da pulsação entre o mecânico e o maquínico: como pensar filosófica e politicamente em rede se os
desejos materiais do capitalismo andam em direções paradoxais?
O filósofo Bruno Latour atenta para o fato uma rede ser transversalizada e depende de operadores humanos e não
humanos para funcionar, não basta apenas ser rede, é preciso ter telefones, computadores, papel, linguagem, canais
de comunicação e fluxos de economia entre sujeitos que pensem o conceito de rede e busquem conectar-se, assim
como para funcionar a internet são necessários hardwares, softwares, cabos, conexões, servidores.

1137
O rizoma pode ser mais ou menos concentrado, saturado, múltiplo. Assim como quem possui a escuta flutuante nunca
sabe do que um paciente vai falar em uma sessão (muito menos ele). Na multiplicidade de sujeitos, aparelhos,
tecnologias e instituições nós também não sabemos por onde este sujeito entra ou sai dos rizomas da cidade, dos
hospitais, postos de saúde, ônibus, escolas, universidades, prefeituras, CAPS, NASF. Rizoma é a trama da grama. Enfim,
quando regamos o gramado, por onde a água entra?
Este é o princípio da conexão: nada se conecta sozinho. No rizoma a abelha que poliniza a flor faz parte do sistema
reprodutor da planta, assim como a flor faz parte do sistema alimentar da abelha.
Temos aqui, finalmente, uma perspectiva filosófica de uma rede que produz uma nova perspectiva como diz a música
deàJo geàMaut e ,à ássi à ouà a i ha doàPo àestaà idaàássi àeuà ouàa da doàPo àestaài e saàa e idaàVi e doà oà
sei bem por quê Sempre numa grande expectativa ahh. E avenida em russo quer dizer perspectiva
Pois avenida em russo quer dizer perspectiva, assim como método, em grego quer dizer caminho. E que caminhos os
sujeitos percorrem neste rizoma institucional de conexões infinitas, temporalidades, disciplinas, ciências, aparelhos
políticas? E por outro lado, que métodos nós, trabalhadores da rede, utilizamos para assistí-los ?à Qualà à ossaà
perspectiva?
Pode osà faze à a alogiaà o à algu à a essa doà aà i te età deà u à s a tpho e.à Euà estouà a ui ,à asà aà pa ti à doà
o e toà ueàestouà o li e àaàp gi aàdoàgoogle branca e limpa guarda em si o potencial de acessar infinitos lugares e
sujeitos. O desenho da rede nunca é o mesmo, ele muda quando eu e bilhões de pessoas entramos e saímos. Somos
observadores e parte integrante de um sistema.

1138
A imersão em realidades simuladas como dispositivo de experimentação estética
Autores: Renata Fischer da Silveira Kroeff, UFRGS; Alana Soares Albuquerque, UFRGS; Angela Francisca Almeida De
Oliveira, UFRGS; Gabriel Medeiros Escobar, UFRGS
E-mail dos autores: kroeff.re@gmail.com, alana_albuquerque@hotmail.com, escobarmgabriel@gmail.com,
angelafrancisca@gmail.com

Resumo: As experiências com oculus de realidade virtual costumam ser promovidas comercialmente reforçando uma
expectativa de simulação na qual os usuários poderiam viver situações virtuais como se fossem reais. Este axioma
apresenta dois pressupostos relacionados à experiência imersiva proporcionada pela tecnologia. O primeiro consiste
numa busca por semelhanças, que entende a realidade virtual como possibilidade de produzir simulações fidedignas
na relação entre a experiência do usuário com a realidade virtual e com um referente externo (um real). O segundo
pressuposto se refere a designação da ficção a partir de sua oposição a uma realidade que é independente da
experiência do sujeito. Acreditamos que estes dois pressupostos se constituem a partir de uma Política de
representação, na qual impera o interesse pela mimesis. Segundo tal política de representação, a experiência imersiva
da realidade virtual privilegia a pergunta pela semelhança, pela ausência de discrepância em relação a uma realidade
compreendida como referente para a experiência com a imagem.
Nossa proposta, em contraponto, consiste em abordar a imersão em realidades virtuais como experiência estética,
compreendendo-a como potência para a experimentação de si, e assim, produção de deslocamentos e desvios na
produção de subjetividade, ou seja, como possibilidade de modulação dos modos de ser, de sentir e de agir. Tal
perspectiva se constitui a partir do que entendemos ser uma Política de experimentação, orientada pelo interesse na
diegese, ou seja, pela valoração de uma consistência interna da narrativa ficcional, que lhe garanta operar em sua
própria realidade, sem depender de um referente externo. Segundo uma política de experimentação, propomos que a
experiência imersiva propicia a produção de subjetividade em um contexto de abertura à diferença, ao estranhamento
e de provocação de desvios, de singularização, estimulando invenção e devires na relação entre sujeito e imagem.
Libertando a imagem de sua subordinação à semelhança, desejamos relacionar aqui a noção de simulação à potência
do falso contida no simulacro tal como é entendido por Deleuze (2015), não mais como uma cópia degradada da
realidade, uma representação distante de seu original (tal qual no sistema platônico), mas sim como pura diferença,
encerrando uma potência positiva que nega tanto o original como a cópia, tanto o modelo como a reprodução. Ao nos
remetermos às simulações digitais, abandonamos a noção ao referente pois entendemos aqui a simulação não como
uma tentativa de mimesis, como cópia da realidade, pois não acreditamos que tal simulação necessite garantir uma
sensação de real, mas sim abrir o corpo a sensações inéditas, que emergem somente no e pelo acoplamento do corpo
sensório-motor com o maquinário do dispositivo de realidade virtual (VR).
Com o termo política, buscamos demarcar que a relação entre os sujeitos e as imagens constitui um campo de disputa
entre perspectivas epistemológicas, uma vez que compreende múltiplas possibilidades de produção de sentidos da
experiência. Acreditamos que a possibilidade de deslocar a discussão da experiência imersiva do domínio da
representação para o domínio da produção de afetos, compreendendo a imersão na realidade virtual como potência
de experimentação de si, nos permite pensar a relação da experiência estética com a produção de subjetividade.
Quando nos referimos aqui à imersão em realidades virtuais como um tipo de experiência estética, nos remetemos à
sua capacidade de produzir blocos de afectos e de perceptos. Para Deleuze e Guattari (2010), a principal operação de
uma experiência estética é a possibilidade de fazer durar blocos de sensações - ou seja, compostos de perceptos e
afectos - e também, o que a define como obra de arte. É importante ressaltar, contudo, que a arte não produz o afeto
em si, mas as condições de possibilidade de se afetar e de perceber, pois é somente na relação com o espectador que
o afecto irá, no corpo do sujeito, se tornar afecção, e o percepto, percepção.
A fim de discutir a imersão em realidades simuladas como dispositivo de experimentação estética, consideramos como
campo empírico duas oficinas com um oculus de realidade virtual. Participaram das oficinas estudantes e professores
da graduação em Psicologia e da pós-graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio
1139
Grande do Sul. Ao final das oficinas, alguns participantes produziram relatos escritos e as experiências com a realidade
virtual foram discutidas em rodas de conversa.
A partir da experiência das oficinas, voltando-nos aos aspectos criativos e de experimentação, buscamos aproximar o
virtual, entendido comumente no campo da informática como sinônimo de digital, binário, pertencente ao mundo
cibernético, da noção que o termo comporta na filosofia: como potência criadora do novo, força ainda não domada,
pertencente a um plano de imanência responsável pela produção da diferença. Não se trata simplesmente de igualar o
virtual tecnológico ao virtual que habita as forças de um plano de imanência, mas de lançar pistas sobre os
dinamismos e movimentos do virtual, aproximando-nos, assim, do modo como o virtual opera na produção de
realidade.

1140
A Indústria Cultural na Era da Internet – Teoria Crítica, Consumo e Tecnocultura: Felicidade/Sofrimento
Autores: Danyelle Almeida Aragão, UFC
E-mail dos autores: danyellearagao@hotmail.com

Resumo: Na era contemporânea é corrente a concepção de que a Internet é produtora de subjetividades


diversificadas e plurais, promovendo novos estilos de vida, de felicidade e de modos de relacionamentos interativos.
Considerando-se que ela é parte integrante da Indústria Cultural - concebida pelos teóricos da Escola de Frankfurt
enquanto produto de uma sociedade administrada sob a égide da abundância e fator homogeneizante das
subjetividades – este trabalho objetivou promover uma atualização de tal conceito. Para tal, teve-se como plano de
investigação o universo tecnológico informacional atual e os ideais de felicidade difundidos, em prol de uma reflexão
sobre as novas formas de produção de subjetividades, suas submissões e resistências à lógica mercantil, a qual opera a
partir da lógica de desejos inconsciente visando à adesão dos sujeitos. Diante deste contexto, esta pesquisa, realizada
a partir do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da UFC (PIBIC-UFC), utilizou de um recorte a partir
da efervescente figura das Musas Fitness, em virtude de elas funcionarem como o veículo de mais alta performance
acerca da idealização da imagem corporal e dos imperativos de felicidade presentes na contemporaneidade. Enquanto
maiores representantes do alcance de tais ideais fetichizados do corpo do consumo, elas se mostram um significativo
núcleo de interesse para se pensar os reposicionamentos dos sujeitos diante das novas tecnologias, destarte, os
processos de subjetivação envoltos nas relações que os homens empreendem mediados pelas mídias, e pela
intensidade acelerada de estímulos que atravessa e caracteriza o período contemporâneo. Além disso, ao se pensar
que o alcance das imagens midiáticas se mostra hoje progressivamente mais transcendente, e as fronteiras entre o
individual e o social mais intercambiáveis, as Musas Fitness funcionam ainda como um veículo por meio do qual se
viabiliza a formação de reflexões sobre aquilo que aparece como dado, natural, sem um processo de produção, o que,
por sua vez, adquire de forma gradual um potencial de influência mais intenso. Diante disso, esta pesquisa se situa no
campo da Psicologia Social, cuja relação dialética entre indivíduo e sociedade se mantém tensionada, suspeitando-se
daquilo que é dado como imutável e tendo como horizonte o potencial transformador e emancipatório humano.
Assim, tendo por eixo teórico-metodológico a Teoria Crítica, elaborou-se uma pesquisa qualitativa e teórico-empírica,
cujo olhar na Internet se deu principalmente via rede social Instagram, em que foram analisadas informações a partir
dos perfis públicos de mulheres brasileiras, no perfil supracitado, com os maiores índices de seguidores, em virtude da
alta frequência de postagens e do retorno expressivo do público. A partir de uma análise teórico-crítica do material
coletado, 692 postagens, elencaram-se duas grandes categorias analíticas: Felicidade/Sofrimento e
Temporalidade/Tecnologia, concernentes às temáticas mais observadas nos perfis. A análise da primeira díade, objeto
deste trabalho, reiterou a crítica frankfurteana: a diversificação e os ideais de felicidade tão amplamente
propagandeados pelas vias online permanecem submetendo e neutralizando o potencial crítico dos homens à lógica
mercantil, pois, ao publicizar a felicidade enquanto objeto de consumo, a indústria cultural homogeneíza as
consciências e instrumentaliza o corpo, seja através de prescrições alimentares e de atividades físicas, da mecanização
do ócio, do ordenamento do lazer e do trabalho, e de muitos outros aspectos da vida, a partir da diversidade da oferta
de suas mercadorias. Isto evidencia que a Indústria Cultural hoje não revoga o imperativo básico da sociedade
administrada de Theodor Adorno (1903-1969), ao contrário, diversifica para melhor submeter.

1141
O coletivo Uerj nas suas múltiplas redes de (res)existência
Autores: Amanda Neves Rastrelli, UERJ/DEGENERA; Ana Carolina Areias Nicolau Siqueira, UERJ; Queila Furtado de
Souza, CLIMAR; Ulisses Heckmaier de Paula Cataldo, UERJ; Iaponira Oliveira dos Santos, UERJ
E-mail dos autores:
ulissescataldo@gmail.com,nira_ar@hotmail.com,queila_souza@id.uff.br,rastrelli.amanda@gmail.com,carolareias@ya
hoo.com.br

Resumo: A Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, alvo de sucessivos cortes nos seus recursos financeiros
nos últimos anos, vive um período de descaso: atrasos dos salários de professores e demais trabalhadores da
instituição, bem como do pagamento da bolsa permanência para estudantes cotistas, além de precariedades
estruturais que prejudicam suas bases materiais, gerando assim graves problemas no que se refere às atividades de
ensino, pesquisa e extensão, eixos fundamentais da educação superior. Contudo, a UERJ se mantêm viva, através de
ações organizadas por professores, alunos e trabalhadores, movimento este intitulado UERJ Resiste, abrangendo
intensas e diversificadas formas de luta nas redes sociais e em vários pontos da cidade do Rio de Janeiro, pela
recuperação e manutenção da UERJ - primeira instituição no país a implantar a entrada pelo sistema de cotas em seu
vestibular, atendendo assim a demandas históricas e sociais e acolhendo múltiplas resistências. A presente proposta
de trabalho pretende discutir o movimento UERJ Resiste, seus atravessamentos e efeitos, o compreendendo não como
um grupo isolado em uma identidade ou totalidade, mas sim, como expressão de uma composição múltipla e
heterogênea de atores humanos e não-humanos, sem limites definidos e com efeitos múltiplos e imprevisíveis. O
objetivo desta proposta é explicitar as condições de feitura de um diário de campo, através da exposição dos
atravessamentos, questionamentos e embates que construímos e observamos ao longo da elaboração da mesma;
Contribuir com o debate sobre novas propostas metodológicas para a psicologia social; Promover ações de luta e
resistência pela manutenção de direitos sociais e da manutenção do ensino superior público. Acreditamos que esta
proposta de trabalho coaduna-se com o eixo temático 4 (Insurgências ético-estético-políticas: artes, tecnologias e
subjetivação), no GT Subjetividades, ciborgues, híbridos e redes sociotécnicas: pulsações intermitentes entre o
mecânico e o maquínico por habitar o campo de propostas metodológicas que dialogam com a epistemologia política
na composição e problematização de novas versões de nós mesmos. Acreditamos fazer eco as propostas cartográficas
e sociotécncias, numa prática científica não-moderna que privilegia a diferença, entendendo a prática de pesquisa
como a descrição de redes heterogêneas de atores humanos e não-humanos. Consideramos ainda que a proposta
relaciona-se com o GT e eixo temático especificados, por destacar os percursos inventivos traçados em sua
elaboração, explicitando as condições de feitura, numa narrativa que expõe as trajetórias de afetação na elaboração
da cartografia do coletivo experienciado. Além disso, este trabalho busca engajar-se ética e politicamente com o
campo em questão, considerando que em nosso posicionamento o afetamos e por ele somos afetados, sendo o
campo parte ativa do movimento de nele intervir. Esta proposta traz como referencial teórico a Teoria Ator-Rede
(TAR), desenvolvida por Bruno Latour, John Law, entre outros pensadores, que consideramos apresentar uma versão
diferenciada para a produção científica pensando a mesma voltada para as práticas cotidianas. Para a TAR, o
conhecimento deve ser encarado como um efeito de redes, dessa forma, a ciência não deve ser dissociada da
tecnologia e da sociedade, mas sim, deve ser realizada onde estes domínios sejam coproduzidos e entrelaçados. Nesse
sentido, fazer ciência, ou ciência interessante, é compor cartografias de redes heterogêneas onde atores humanos e
não-humanos tenham seus efeitos registrados na composição múltipla do real. A luz das ferramentas teóricas da TAR,
realizamos uma pesquisa de campo na vivencia de uma aula pública no movimento UERJ Resiste como disparador para
a produção de um diário de campo. Para a produção do diário, norteamo-nos pelas questões ou controvérsias (porta
de entrada para a composição das redes sociotécnicas): Onde o campo de pesquisa se inicia, por onde trilha e onde
termina? Quem é o Uerj resiste? Posteriormente, transformamos a experiência de campo em um texto que expõe o
diário produzido, além de suas condições de feitura e nossas afetações trazidas para e também pelo processo de sua
elaboração. Na descrição das condições de feitura da experiência de campo, apresenta-se como resultado o
1142
movimento Uerj resiste, não como a manifestação de um grupo, com demandas específicas e contra um oponente
específico. Mas, a partir dos recursos metodológicos da TAR, uma nova versão se faz possível: este movimento como
uma rede múltipla e heterogênea de atores humanos e não-humanos que ultrapassa fronteiras preestabelecidas,
desloca e agrega um coletivo que deve ser levado em consideração no seu potencial de resistência. Perante a proposta
de ciência interessante que a TAR prega, buscamos a produção de um relato (de risco) da experiência de campo no
movimento UERJ resiste, intencionando participar do debate sobre novas contribuições metodológicas, para
instrumentalizar estratégias de resistência pela via da multiplicidade, onde os atores, em toda sua heterogeneidade,
possam dialogar e fazer a diferença na composição de novas versões em um mundo comum.

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O uso do Facebook como plataforma colaborativa no desastre ambiental da Região Serrana em 2011
Autores: Regina Carmela Emília Resende, UFRJ
E-mail dos autores: reginacarmela@gmail.com

Resumo: Em 2011, na Região Serrana do Rio de Janeiro a precipitação de uma chuva atípica deixou milhares de
desabrigados e centenas de mortos. Ainda hoje, centenas de famílias recebem o aluguel social, à espera da entrega de
suas moradias definitivas. O número de afetados e a precariedade dos sistemas de assistência, muitos deles também
atingidos, nos revelaram o desafio de alcançar em momentos coletivos emergenciais uma comunicação rápida e
eficiente. Desde então, iniciativas virtuais foram criadas para contribuir no processo de reestruturação pós-catástrofe.
Ainda hoje, algumas delas vigoram como instrumentos colaborativos no processo de reconstrução, outras atuaram
somente no período de emergência. Houve também aquelas que tiveram e/ou têm papel singular no processo de
reconstrução.

Objetivo
Mapear as iniciativas virtuais que colaboraram ou ainda colaboram com as questões socioambientais, pertinentes aos
afetados do desastre socioambiental na Região Serrana, a partir de 2011. Além do mapeamento, a pesquisa que vimos
desenvolvendo, desde 2015, busca compreender as dinâmicas e potenciais dessas redes virtuais colaborativas.
Relação clara com o GT
A relação com o se dá visto esta pesquisa ter mapeado práticas sociais alternativas aos modelos sociais vigentes, a
partir do uso da plataforma do Facebook, de modo a fortalecer pela rede ações pontuais para reestruturação social.

Orientação teórica
O surgimento de uma nova estrutura social para enfrentar os hiatos das condições socioambientais, em caso de
eventos extremos, aponta para a capacidade de criação de uma nova forma de interação, controle e transformação
social (CASTELLS, 1999, p. 54). É possível que essa capacidade emerja, resultante dos processos históricos, sociais e
econômicos de cada localidade atingida e de sua capacidade de organizar-se mediante a inaptidão das respostas
governamentais.
Por outro lado, é perceptível que a produção social da realidade não se faz dissociada da produção desejante dos
sujeitos (DELEUZE, 2004, p. 33). Ocorre aí um processo de ligações entre a introjeção e a projeção. Neste sentido, a
ação é também coletiva, seja nos desdobramentos dos grandes conjuntos ou das micro multiplicidades. Segundo o
autor, parece que tudo está associado num fluxo que define o espaço coexistente das suas presenças, (DELEUZE, 2004,
p. 358). Optamos assim, por rastrear as formas participativas, sob uma perspectiva qualitativa, pois, como Latour,
estamos interessados em atores que induzam outros a fazer coisas; nesse caso, ações colaborativas, de modo a
descobrir como os grupos reunidos podem renovar nosso senso de existência no mesmo coletivo (LATOUR, 2012, p.
355).

Método
A metodologia é exploratória de caráter qualitativo, com a utilização de elementos quantitativos. O percurso
metodológico foi dividido em quatro etapas: bibliográfica e documental; observação empírica da rede para seleção e
utilização do aplicativo Netvizz; a observação não participante dessas redes; sistematização dos resultados e análise
das informações. Optamos pelo uso do Netvizz, um aplicativo de acesso livre do Facebook, para rastrear e baixar
dados (crawler) na rede. Para visualizar os dados, foi necessária a aplicação do Gephi, um software livre e colaborativo,
utilizado como ferramenta para manipulação e visualização de redes.
Primeiramente, organizamos e tabulamos os dados coletados da observação da rede e do aplicativo Netvizz. Em
seguida, passamos à descrição das principais categorias a serem analisadas. O objetivo da organização e tabulação é
proceder ao tratamento dos dados estatísticos coletados, identificar e selecionar as formas de categorização.
1144
Resultados
O levantamento de dados apontou nove perfis (descritos e analisados em Quadros e Tabelas). A análise das tipologias
e categorias de cada um possibilitou uma visão da dinâmica do comportamento e interações das iniciativas,
permitindo assim, a percepção daquelas que estão agindo em rede e não apenas na rede. Todas elas estando na rede,
criam dinâmicas e conexões que podem alcançar os níveis máximos de interação que compõem uma rede, ou atingir
apenas alguns elementos dela, de modo que não completam plenamente sua dinâmica.

Conclusões
Percebemos a partir dos resultados, que nas redes sociais as iniciativas em que as interações se dão majoritariamente
por laços fortes, tendem a não se expandirem. O compartilhamento e voz na rede pode, inclusive, pode ser
interrompido ou diminuído, se o fluxo de postagens e engajamentos não se mantiver regular. Por outro lado, uma
rede social composta por laços fracos pode se expandir de tal maneira que o engajamento, ou seja, o conjunto de
interações faça com que a sua visibilidade e alcance ultrapassem em muito aquelas constituídas por laços fortes. Ainda
assim, ambas estão envoltas no mesmo fluxo midiático, capaz de aumentar sua reverberação, aprofundá-la ou levá-la
ao esvaziamento.
No contexto do desastre socioambiental de 2011 podemos vir a entrever a mobilização social das populações
atingidas, em busca de soluções e apoio, face aos problemas enfrentados, através das iniciativas virtuais. O panorama
da fragilidade a que a população foi exposta exige ações urgentes e imediatas. As redes analisadas refletem uma
pequena amostra desta nova lógica do fluxo contínuo de comunicação (DELEUZE, 1992).

1145
Participação Política na Era Informacional
Autores: Pedro Cardoso Alves, UNB
E-mail dos autores: pedro.cardoso1989@gmail.com

Resumo: Participação política é um conceito difícil de definir, embrenhado em uma história de constantes debates e
modificações que tentam acompanhar as contínuas mudanças culturais e nas demais dinâmicas sociais, seja de espaço
geográfico para espaço geográfico, ou de época para época. Com o advento da internet e da popularização das
tecnologias móveis, a definição do conceito torna-se ainda mais complicada dada a ampla gama de comportamentos
polítizados que são expressos através destas tecnologias, seja na organização das manifestções nas redes sociais, seja
na divulgação de textos, imagens e vídeos de teor político nos ciberespaços, ou seja, ainda, nos compotamentos
micropolíticos que atravessam as fronteiras entre físico e digital nos nossos diálogos diários. De fato, as próprias
fronteiras que diferenciam os espaços físicos e digitais se tornam cada vez mais diluídas com os avanços tecnológicos,
sendo nossa existência cada vez mais híbrida na medida em que se expressa em uma vivência simultaneamente física
e digital, onde vivênciamos simultaneamente diversos espaços sem as limitações anteriores na temporalidade de
nossas interações. São existências ciborgues, expandidas pelo potencial tecnológico, constituídas de diversas personas
e avatares que transitam em uma gama de espaços diferenciados, carregando nossos discursos e opiniões para além
de qualquer fronteira geográfica rígida. Esta realidade demanda não apenas uma nova cartografia dos espaços, mas,
também, uma nova concepção da presença política do sujeito, uma nova cultura espacial e política que é particular
dos ciberespaços, e, portanto, uma nova concepção do que é participar politicamente. Longe das interpretações
tradicionais que enfocam as participações institucionais, a participação política contemporânea é fluída e constante,
ocorre nas microconversações diárias, nos posts e tweets e demais publicações digitais. São os vomitaços, os atos de
defacing, o hackerativismo e os ataques DDOS, os boicotes e a estruturação de páginas e comunidades de discussão e
divulgação de conteúdos políticos e sociais em rede. Dentro deste panorama, esta comunicação oral visa trazer a tona
algumas das mais recentes reformulações de conceitos clássicos, como a concepção bidimensional de ideologia
(Feldman, 2013), eficácia política e contágio comportamental, assim como conceitos mais recentes como os hábitos
informacionais dos cidadãos (Kim & Yang, 2015) e a participação política online. Faz parte de um trabalho mais
extenso de reformulação do modelo de participação política que parte de noções mais brandas como as expostas por
Ekman & Amnå (2012) e Carneiro (2015), considerando as dinâmicas específicas do espaço digital como os efeitos de
filtro (Pariser, 2012) e câmaras de eco (Barberá e cols, 2015). Ainda que esta discussão se apresente, principalmente,
como uma revisão teórica sobre estes diversos fatores e seus papéis na construção de participações políticas
contemporâneas, também apresentamos algumas análises preliminares de nossa atual pesquisa, em formato de
Survey, ques está sendo aplicada e divulgada por meio de mídias sociais, que visam tanto avaliar o panorama político
atual do Brasil, quanto verificar a pertinência destes fatores na nossa reestruturação do modelo de participação
política. São discussões centrais no panorama político nacional e internacional, que passa por modificações estruturais
tanto em termos de representatividade, quanto em termos de dinâmicas de participação que se atualizam com
crescentes avanços tecnológicos e as apropriações discursivas e espaciais que deles decorrem. Fugimos do foco
institucional em nosso debate, centralizando as ações cotidianas e as práticas informacionais que sustentam esta
ações em termos de quais informações são apreendidas pelo cidadão em sua intereção diária, assim como de que
modo estas informações são apreendidas, ou seja, seus hábitos informacionais. É claro que este não é uma pesquisa
sem limitações, a exclusão digital é um problema real para a participação política efetiva da população, retirando da
nova ágora mais de metade da população mundial e quase metade da população brasileira. De certo modo, esta é
uma pesquisa e uma discussão que trata também dos rumos que devemos tomar, enquanto ciência, para a promoção
da participação política ampla e heterogênea, do próprio papel da internet neste processo em seu caráter
simultaneamente inclusivo e exclusivo. Ainda mais considerando o célere desenvolvimento de novas tecnologias, que
tende a expandir estes abismos informacionais que já se mostram entre os que tem acesso e os que não tem.

1146
Pedro e a Responsabilidade: notas para uma cartografia socioeducativa
Autores: Lorraine Clara dos Santos, UFPel; Édio Raniere, UFPel; Talita Gonçalves Monteiro, UFPel
E-mail dos autores: clara.loow@gmail.com,edioraniere@gmail.com,talitagmonteiro@gmail.com

Resumo: 1 - Prelúdio
A questão da responsabilidade atravessa boa parte das pesquisas e práticas que envolvem as Medidas Socioeducativas
(GARCÍA MENDEZ 1998, 2008; CILLERO BRUÑOL, 2013; COSTA 2006; RANIERE, 2014, 2016). Segundo o Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE – o primeiro objetivo das medidas socioeducativas seria
justamente (...) a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional. (BRASIL, 2012).
Diante deste quadro o presente trabalho se propõe a problematizar a relação entre o conceito de responsabilidade e
as Medidas Socioeducativas. Para tal, utiliza-se da ficção como linguagem e do ensaio enquanto estratégia
metodológica.
2 - Roteiro
O aprisionamento de Pedro reúne Clarinha - prima do adolescente - Dona Flor - tia - e Dona Teté - madrinha. Na
tentativa de dar sentido aos acontecimentos iniciam, entre uma xícara de café e outra um caloroso debate. Tais vozes
posicionam o leitor diante de diferentes narrativas sobre o problema da responsabilidade.
Essas três mulheres que viram o menino crescer, agora estão reunidas na cozinha da casa de Dona Teté, e se
questionam: o que vai acontecer com Pedro? Será jogado na cadeia? Não, cadeia não é o termo correto, Clara explica
à sua mãe e à madrinha. Ela nasceu e cresceu ali do ladinho, cresceram juntos. Mas a jovem saiu de seu estado para
cursar Psicologia no desconhecido. Na Academia, Clara teve os primeiros contatos com as Medidas Socioeducativas
através de um projeto de extensão, e mais tarde através de um projeto de pesquisa do qual tornou-se bolsista. Sua
principal tarefa: pesquisar o conceito de responsabilidade, em especial na obra de Friedrich Nietzsche, e suas
implicações nas Medidas Socioeducativas. Os autores aclamados que amparam um complexo debate acadêmico no
qual a estudante está imersa, de repente se chocam com a realidade do debate na mesa da cozinha. Os dois mundos
tão distantes aos poucos vão se aproximando e a questão explode bem à frente dos pasmos olhares das três mulheres:
Em que medida Pedro pode ser, individualmente, responsabilizado por seus atos?
Na sociedade zumbi petrificada e cuidadosamente esculpida sobre o melado da moral, o enfeite e upgrade de tudo
cada vez mais se faz presente e desejável, entretanto, encontram-se atrás de algumas portas que nem todas as
pessoas têm acesso. Nessa sociedade, o corte se faz justamente entre os que têm a chave das portas e os que são
encerrados pelas mesmas. O acesso às chaves é disponibilizado a partir de marcadores sociais - como raça, classe,
gênero, sexualidade, etc.- que constroem diferencialmente as condições de possibilidade dos sujeitos. Vez ou outra
consegue ter acesso quem está fora dos padrões aceitos, quando isso ocorre os holofotes da meritocracia acendem e
foguetórios anunciam que tudo depende exclusivamente do esforço pessoal. Entretanto, ainda que seja aceita a
existência de uma responsabilidade individual por esse acesso, em que medida é possível afirmar que esse sujeito agiu
livremente? O que nos permite generalizar e atribuir igual responsabilidade aos que herdam as chaves e aos que
nunca irão assenhorar-se delas? Possuir essas chaves posiciona um adolescente como marginal e um outro como um
menino gente boa que estava apenas se divertindo?
Na mesma cozinha, as mesmas mulheres discutem o caso de Paulo, filho dos patrões da mãe de Pedro. Ah, os acasos!
Paulo também foi pego vendendo o mesmo tipo de mercadoria. O coitado até foi expulso do colégio de elite! O que os
diferenciaria a não ser o acesso às tais chaves? À mesa, Clara questiona as duas figuras tensas, Se os dois meninos
agiram do mesmo modo, porque um deles está em internação provisória correndo o risco de cumprir medida
socioeducativa de internação enquanto o outro apenas corre o risco de ser expulso da escola?
O pobre do rico, o preto do branco, lápis ou faca na mão, no que diferimos? A faca que passam no orçamento da
educação e a faca na mão do moleque. Qual faca vem primeiro? Que tipos de vida podem cortar? Que tipos de vidas
são cortadas? Por quais conjuntos de normas seguimos enfileirados, manada obediente e servil? A ideia – ideal – de
liberdade que inventamos, a que custo nos mantemos aprisionados por ela? Para que se possa responsabilizar alguém,
1147
é preciso acreditar na liberdade de escolha. A fé no livre-arbítrio é a peça chave da responsabilidade. Numa palavra,
responsabilizar é afirmar o seguinte: você poderia ter agido de outro modo . Pedro, você poderia ter escolhido ser
lavador de carros, como seu pai, engraxate como seu avô, lixeiro como seu tio. Mas você escolheu o mundo do crime.
Por essa escolha que é sua, única e exclusivamente sua, você será individualmente responsabilizado.

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Performances e redes sociotécnicas e ecosofia : a cartografia do social e a posição da ciência em um laboratório de
resíduos contaminantes
Autores: Fabio Dal Molin, FURG
E-mail dos autores: dalmolinorama@gmail.com

Resumo: Este trabalho é o início de uma linha de pesquisa transdisciplinar entre química, sociologia, filosofia e
psicologia social transversalizado pela Teoria do Ator Rede de Bruno Latour e a Ecosofia de Félix Guattari.Ao integrar
conteúdos de filosofia da ciência, sociologia, antropologia, química estudo trata diretamente de uma linha de
investigação transdisciplinar, além de produzir uma análise da inserção social e política das atividades de pesquisa em
laboratório.Nossa problemática envolve as relações entre ciência, sociedade e a contaminação dos alimentos e nosso
campo de pesquisa serão as controvérsias politicas, científicas e econômicas e as práticas de laboratório in loco na
observação de campo do Laboratório de Resíduos Contaminantes (LARCO) situado no Campus de Santo Antônio da
Patrulha da FURG.
Latour e Woolgar (1997), em sua pioneira exploração de um laboratório de neuroendocrinologia nos EUA nos anos 70
criaram a base metodológica da antropologia simétrica na qual a única maneira de compreender a realidade dos
estudos científicos é acompanhar os cientistas em ação, já que a ciência está fundada sobre uma prática. Para isso, é
preciso prestar atenção aos detalhes da prática científica no lugar privilegiado de observação que é o laboratório pela
descrevendo essa prática tal como os antropólogos descrevem tribos selvagens. Anos mais tarde, Latour (2004, p. 397)
afirma que a Teoria Ator- Rede consiste em seguir as coisas através das redes em que elas se transportam, descrevê-
las em seus enredos . Aqui trabalharemos com a cartografia da rede sociotécnica de Latour (atores-rede humanos, não
humanos) na perspectiva Ecosofia de Guattari compreendida como a ecologia do ambiente, da subjetividade e do
social para cartografar as complexas redes que transversalizam a ciência, o mercado e a agroindústria e a indústria
de alimentos no contexto da produção de subjetividade no Capitalismo Mundial Integrado
Propomos como instrumentos da cartografia a análise da literatura produzida pelo laboratório, a observação das
práticas laboratoriais no campo e monitoramento das controvérsias publicadas na internet, em mídia impressa e
televisiva, além da revisão bibliográfica sobre a história da indústria alimentícia e das contaminação de alimentos
(políticas públicas, protocolos, métodos de análise e extração de substâncias, fatores econômicos, etc.)
Objetivos
Analisar como emergem as redes de atores, actantes e redes sociotécnicas nas controvérsias científicas e políticas no
campo dos resíduos contaminantes no processo de coleta de dados, análises laboratoriais e produção e divulgação
científicas tendo como base o Laboratório de Residuos Contaminantes da FURG.
- Ampliar os estudos que tomem como objeto de pesquisa a análise da relação entre subjetividade, ciências e
tecnologia no campo da Psicologia Social
-Criar problemas consistentes e contemporâneos a respeito das dicotomias entre mecânico maquínico, subjetividade-
objetividade ciências humanas-ciências exatas, natureza-sociedade-cultura, biológico-social em uma perspectiva
ontológica, e não epistemológica
- Em uma perspectiva cartográfica e sociotécnica, discutir o principal conceito da contemporaneidade que
transversaliza tecnologias, políticas públicas, ecologia e capitalismo mundial integrado: as redes, entendidas ora como
possibilidade de conexão ora como aparelho de captura
3.4 Metodologia: &#8194;&#8194;
Como foi dito anteriormente, o laboratório é o lugar priviliegiado de produção das controvérsias, onde circulam os
atores e actantes, as políticas públicas e regulações podem surgir do laboratório ou atravessá-lo. Seguindo o modelo
de Latour, pretendemos realizar uma incursão ao laboratório com observação do cotidiano do laboratório, das
atividades de coleta, análise e produção dos dados a respeito dos resíduos contaminantes. Registro fotográfico e
escrito na forma de diários de campo. Do laboratório partiremos a emergência de redes sociais entre substâncias,
cientistas, políticos, instituições e educadores.
1149
Latour e Woolgar em sua pioneira exploração de um laboratório de neuroendocrinologia nos EUA nos anos 70 criaram
a base metodológica da antropologia simétrica na qual a única maneira de compreender a realidade dos estudos
científicos é acompanhar os cientistas em ação, já que a ciência está fundada sobre uma prática. Para isso, é preciso
prestar atenção aos detalhes da prática científica no lugar privilegiado de observação que é o laboratório e a prática
científica, descrevendo essa prática tal como os antropólogos descrevem tribos selvagens. Anos mais tarde, Latour
(2011, p. 397) afirma que a Teoria Ator- Rede consiste em seguir as coisas através das redes em que elas se
transportam, descrevê-las em seus enredos. Dentro da perspectiva das redes sociotécnicas e na perspectiva da
ecosofia será feita uma análise da literatura produzida pelo laboratório e monitoramento das controvérsias publicadas
na internet, em mídia impressa e televisiva, e também ressaltamos o espírito cartográfico na pesquisa em Psicologia
Social.

1150
Processo de Extitucionalização: Outras Formas de Organizaçao Social
Autores: Deborah Karolina Perez, UNESP
E-mail dos autores: deborahkarolina@gmail.com

Resumo: Este texto objetiva discutir o conceito de Extituição a fim de fornecer pistas para pensar as instituições no
mundo digital. Isso, pois se considera que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) diluem as instituições
tradicionais (escolas, hospitais, universidade, etc.), criando novos espaços e novas formas de organização social. Logo,
espera-se com essa discussão ampliar a relação da Psicologia com as TICs e o mundo digital. Extituição é o nome dado
ao processo de transformações sofridas pelas instituições devido ao impacto das novas tecnologias de informação,
logo, esta forma uma terceira realidade, que supera a dicotomia entre o processo de institucionalização -
desinstitucionalização, por isso também chamado de processo de extitucionalização (Gómez, 2014). Isso se dá, pois se
considera que as instituições tradicionais estão sempre vinculadas à um lugar, um edifício, e as ações realizadas por
meio delas ocorre mediante a separação de dentro e fora. Além disso, há também um deslocamento das noções de
espaço, norma e corpo. As extituições se distribuem por todo espaço social, por meio de uma rede que integra
diferentes localizações, formada por agenciamentos de elementos variados que se conectam através de fluxos de
informações. Tirado e Domènech (2001) buscam discutir a Extituição a partir de uma revisão das noções de poder,
dividindo-as e em dois grupos. No primeiro, poder é compreendido como imposição da vontade sobre outrem, tem
um caráter material e se manifesta, ou é reconhecido, nos comportamentos. No segundo grupo, poder é
compreendido como meio de comunicação simbólico que estrutura a sociedade, assim, influencia o comportamento
de maneia mediata, configurando o mundo das pessoas e determinando os elementos constitutivos de seu
comportamento. No que tange a manutenção do poder, a materialidade na sociedade permite esclarecer a ação
concreta do exercício de poder e entender como se pode exercer uma ação com efeito duradouro na distância e
através do tempo. Por certo, retornamos à Foucault (1993), que demonstra como o poder se inscreve nos corpos, mas
isto se dá dentro desta racionalidade própria e considerando o caráter de seus elementos. O corpo constitui um
material moldável e muito bom para ser docilizado pelas inscrições institucionais (Tirado e Domènech, 2001).
Contudo, se consideramos a mudança das instituições para o mundo comunicacional, o que temos de elementos são
fluxos de informações, e se não pelo corpo, como estes se inscrevem e se mantem? Para responder tal
questionamento, Tirado e Domènech (2001, p. 198) buscam em Latour uma outra compreensão de poder e
materialidade, é a noção de móvel imutável presente na teoria Ator-rede que permite conceituar a instituição como
um efeito mais ou menos duradouro de um agenciamento de uma multiplicidade de materiais heterogêneos que
retiram as bordas de suas próprias paredes e saiam ao exterior, conectando-se a outras instituições ou formas
sociais.Assim, é uma materialidade que não se define pelo papel do corpo, mas por uma multiplicidade de materiais
que necessitam ser conectados para que uma instituição funcione. Porem, nem toda relação de poder mais ou menos
dura requer uma materialidade para manter-se no tempo e no espaço, pois já é possível estabelecer uma ação à
distancia sem perder sua eficácia. Logo, a Extituição volta-se à geração de sociabilidade, ou seja, a relação de contato,
a interação.Em resumo, Domènech e Tirado (2001, 2002) esclarecem que enquanto as instituições requerem uma
materialidade dura, as extituições estabelecem sua materialidade como branda e mesclada, ou seja, difusa (dura,
flexível e volátil). Além disso, as instituições se definem em um plano, possui rotinas duráveis de relações e trabalho,
bem como pertencimento de vínculo social, é fechada e está assentada numa realidade local e bem definida, e opera
por semelhança e limitação. Já a Extituiçao possui planos flutuantes e variáveis como suas relações e sua sociabilidade,
sua performance ocorre pelo movimento do vínculo social, é capaz de estreitar as limitações de distância e se dá de
maneira múltipla, descontínua e virtual, operando por meio de divergência e criação. Contudo, Gómez (2014) afirma
que não há Extituição, senão modos de extitucionalização. Portanto, a noção de extituição desenvolvida por Tirado e
Domènech representa uma tentativa de assinalar as diferenças operativas dos mecanismos de poder
contemporâneos, mas o conceito de extituição está ligado `a um processo e não uma entidade, é um processo

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presente nas organizações institucionais ou extitucionais, pois diz respeito ao processo de territorialização, onde um
espaço passa a ser habitado e desinstitucionalizado.
DOMÈNECH, M.; TIRADO, F.J. Lo virtual y lo social. Athenea Digital. Barcelona, nº1, 2002
GÓMEZ, D. L. No hay extitución sino modos de extitucionalización. Networks & Matters. 2014. Disponível em:
<https://network2matter.wordpress.com/2014/07/08/no-hay-extitucion-sino-modos-de-extitucionalizacion/> Acesso
em: Junho de 2017.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1993.
TIRADO, F.; DOMÈNECH, M. Extituiciones: del poder y sus anatomias. Política y Sociedade. Madrid, Nº 36, 2001, p.
191-204

1152
GT 54 | Territorialidades, subjetividades e Psicologia Social

Coordenadores: Carolina dos Reis, UFC | Marcos Adegas de Azambuja, UFSM | Simone Maria Hüning, UFAL

A proposta desse Grupo de Trabalho sustenta-se na compreensão da constituição simultânea de territórios e


subjetividades, implicando-se, portanto, com diferentes formas de investimento na vida e nos espaços, com o
desenvolvimento de políticas públicas e com a necessidade de uma reinvenção permanente da Psicologia Social que se
propõe a pesquisar e atuar na interface com essas questões.
Operando com concepções de subjetividade ancoradas nos pensamentos de Michel Foucault e Gilles Deleuze,
assumimos que as formas de organização dos territórios, produzem, para além de um mero planejamento espacial,
efeitos práticos na vida das pessoas, incluindo as formas de ocupar e circular nesses territórios, modos de existir e se
relacionar com os espaços, liberdades ou restrições no acesso àquilo que certos territórios oferecem, modos de se
constituir, conduzir e governar a vida, dentre outros.
No Brasil, conflitos sociais e políticos em torno de questões vinculadas a diferentes territórios, embora não sejam
recentes, têm ganhado ênfase na última década. Isso é particularmente visível no modo como a Psicologia Social tem
se aproximado e ocupado dessas questões nos últimos anos, com uma crescente produção que coloca em debate a
relação das subjetividades com a territorialidade. Contemporaneamente, tanto nas cidades, como no campo, as
tensões e conflitos emergentes de projetos urbanísticos e de desenvolvimento, da luta pelo acesso e garantia à terra e
ao trabalho, do direito à cidade e ao campo, têm mobilizado movimentos sociais e pesquisadores. De forma ampla,
podemos acompanhar em nosso cenário político-social atual, a exacerbação de discursos sobre outros (espaços e
pessoas) perigosos ou indesejáveis, produzidos como estratégia de governo e legitimação de projetos de
dese ol i e to :à a ol dias,àfa elas,ài aso esàdeàte as,à dalos,à o ado esàdeà ua…
A gestão dos territórios, articulada a esses discursos, tem operado delimitando espaços de visibilidade, segurança e
investimento. Ela seleciona aquilo que ganha existência e reconhecimento daquilo que é considerado como um atraso
a esse desenvolvimento, isto é, as zonas marginais e precarizadas das cidades e dos campos. O gerenciamento
territorial produz diferentes regimes de luminosidade que incidem também sobre as formas objetivas e subjetivas de
circulação e de vida das pessoas nos territórios em foco. As vidas que os habitam são, por vezes, organizadas por
dicotomias que separam aqueles moradores legítimos, cidadãos ilustres, que têm vez e voz, desses outros, sujeitos
marginalizados, ignorados, deixados na invisibilidade, produzindo-se uma cidadania de segunda ordem. Assim, pensar
os modos de organização e distribuição dos territórios significa colocar em análise a economia geral do poder, os jogos
de força e de interesse que atravessam o desenho urbano e rural e as lutas sociais presentes nesses espaços.
Para a análise das formas de governar os territórios encontramos grande contribuição no estudo genealógico de
Michel Foucault sobre as tecnologias disciplinares e procedimentos biopolíticos que incidem na população. Devido aos
processos de urbanização e industrialização, a necessidade de organização da cidade, a preocupação com a
distribuição e com a utilidade da população em seus espaços e tempos de vida para a economia e produção do Estado,
o olhar sobre aqueles que perdiam sua funcionalidade necessitavam de intervenção. Assim, a vida do louco, do ocioso,
do desempregado, do criminoso, do drogado, do delinquente, tornaram-se objeto das disciplinas de conhecimento e
do poder público. O argumento e análise sobre o conjunto de mecanismos pelos quais se estabelece as características
biológicas da espécie humana permite a intervenção, ou melhor, a gestão da vida da população. Por meio de um
aparato institucional como os hospitais, asilos, fábricas, escolas, exército, e por meio de uma tecnologia científica
como os instrumentos de levantamento de dados e seus resultados estatísticos, a vida da população ou do indivíduo
torna-se objeto de investimento político e econômico, merecendo ser gerida.
Com as contribuições de Gilles Deleuze, aos modos de governar sobrepõe-se outro estrato que permite que as
instituições não implantem primordialmente seu domínio em um meio fechado, mas, com as máquinas cibernéticas e
os computadores, prefigura-se o controle contínuo e a comunicação instantânea. A lógica panóptica continua viva,
prossegue com sua maquinaria dissociativa de quem vê e não é visto, daquele que é vigiado sem saber por quem, mas
não mais se constitui em um aparelho arquitetural: a transição da sociedade disciplinar para a sociedade de controle
ocorre quando o panoptismo passa a funcionar como máquina abstrata. Assim, as gestões territoriais estão desde o
uso de tecnologias de visualização dos cidadãos (vídeo câmeras, celulares, gravadores, drones, satélites, etc.) - o que
promove o controle do espaço - até a experiência subjetiva da impossibilidade de circulação livre por um território - já
que todo o espaço, de alguma maneira, é vigiado - o que produz o controle do tempo, isto é, a volatização e
imaterialidade do poder.

1153
No entanto, se os territórios são espaços de agenciamento de tecnologias de governo sobre a vida, eles são, da mesma
forma, solos potentes de profanação e criação de novas ontologies e epistemologias. Eles provocam encontros,
o f o tosà dasà dife e ças,à o he i e tosà eà e o he i e tosà e íp o osà dosà odosà deà i e ,à dosà pad es à ueà
coexistem em um mesmo espaço. Pensar as políticas de gestão dos territórios urbanos e rurais é pensar, portanto, não
somente em questões afetas à materialidade do espaço, como ao acesso à direitos, serviços, recursos da cidade e/ou
da terra, mas também às relações que estabelecemos entre nós.
Frente a isso, na proposição desse GT, de modo especial, nos interessa colocar em debate como as gestões territoriais
eà osà dis u sosà so eà osà out os à i ide à so eà osà espaçosà eà g uposà popula io ais,à olo adosà o oà estosà ouà
empecilhos do desenvolvimento. Delimitamos, assim, um foco, por um lado, na produção daquilo que Giorgio
ága e à ha ouàdeà idaà ua ,à asàp ti asàdeàe te í ioà ueà esulta àdeàu àestadoàdeàe eç o,àeàpo àout o,à asà
possibilidades de resistência articuladas pelos movimentos sociais e Psicologia Social, diante de tais políticas. Partindo
da relação território-subjetividade, afirmamos que ao nos interrogar sobre o nosso tempo presente, é importante
lançarmos um olhar que se volta para a compreensão não somente de como nos diferenciamos de nosso passado, mas
igualmente de como nos tornamos sujeitos de uma mudança irredutível em nosso presente.
A partir dessas questões, o objetivo do GT é discutir pesquisas e intervenções da Psicologia Social que tomam
diferentes territórios contemporâneos, marcados por práticas de extermínio e resistência, como campo-problema
constitutivo de subjetividades. Estabelece-se assim, relação direta com o tema do XIX Encontro Nacional da ABRAPSO,
De o a iaàpa ti ipati a,àEstadoàeàlai idade:àPsi ologiaà“o ialàeàe f e ta e tosàe àte posàdeàe eç o ,à aà edidaà
em que se colocam em questão as políticas de habitar, existir, pesquisar e intervir nesses diferentes territórios e
convoca estudantes, profissionais e pesquisadores a pensar na implicação de suas práticas profissionais junto aos
territórios em que atuam.
Inscrito no eixo temáti oà Te ito ialidadesàeà odosàdeà ida:àatuaç oàeàpes uisaàe àPsi ologiaà“o ialà aà idadeàeà oà
a po ,àoàGTàa olhe àt a alhosàdeàpes uisaàeàe pe i iasàdeài te e ç o,àdeàa ad i osàeà o i e tosàso iais,à ueà
abordam a interface da Psicologia Social com a produção de subjetividades e territorialidades. Incluem-se aqui
discussões sobre temas como as remoções e ocupações urbanas, turistificação, políticas para a população em situação
de rua, políticas públicas de assistência social, saúde e saúde mental voltadas para inserção social, bem como,
ocupação e intervenção nos espaços de vida dos usuários e, finalmente, intervenções da Psicologia Social em questões
relacionadas à territorialidade, populações indígenas e quilombolas, comunidades tradicionais, etc.
Para além das discussões temáticas, consideramos fundamental a reflexão sobre políticas e éticas de pesquisa nessas
interfaces, incluindo-se aqui aspectos epistemológicos, metodológicos e éticos da pesquisa e intervenção da Psicologia
Social nesses espaços: que outras epistemologias e metodologias nos são demandadas? O que temos inventado para
pesquisar e intervir nesses espaços outros? Como dialogar com esses outros em nossas pesquisas?
Na condução do GT será priorizada uma abordagem de problematização das práticas e saberes, buscando-se a
promoção do diálogo e troca de experiências entre seus participantes. Nesse sentido, é fundamental que os
proponentes de trabalho possuam disponibilidade para o acompanhamento do GT em todas as suas sessões e não
apenas para a apresentação de sua comunicação.

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A MÍDIA E AS MORTES DE JOVENS DA PERIFERIA: uma análise a partir do jornalismo impresso
Autores: Ruth Tainá Aparecida Piveta, Prefeitura Municiapal de Londrina
E-mail dos autores: ruthpiveta@yahoo.com.br

Resumo: Este trabalho apresenta uma pesquisa em curso que toma como objeto de análise a produção de enunciados
pela mídia impressa sobre as mortes de adolescentes e jovens da periferia brasileira, na tentativa de problematizar a
imbricada relação entre discurso midiático e a produção de verdades e sentenças sobre esta parcela da juventude,
bem como a quais interesses sociais, econômicos, científicos e históricos eles remetem. Parte-se do pressuposto de
que as imagens que vem se articulando historicamente em nossa sociedade em relação à juventude pobre, incidem na
produção de uma série de efeitos na vida desses jovens: atos de violência, preconceito, estigmatização e mortes,
perpetradas entre os próprios pares, a sociedade e o Estado. A mídia, neste contexto, funciona como um dos
dispositivos que conforma e dissemina a imagem dessa juventude enquanto suspeita e perigosa, muitas vezes
legitimando atos como fazer justiça com as próprias mãos ou, então, práticas de extermínio sob a lógica da proteção
do cidadão de bem e do patrimônio, amenizadas pela afirmativa tantas vezes ouvida nos diversos contextos, de que
bandido bom é bandido morto . Ressaltamos que a mortalidade violenta vem se configurando como uma das
principais causas de morte de jovens no Brasil, sendo que, de acordo com documentos estatísticos disponibilizados
recentemente (Atlas da Violência 2017, Mapa da Violência 2014; 2015;2016) tal prática de violência tem sido
endereçada, principalmente, à juventude pobre, negra e habitante de territórios considerados periféricos.
Experiências violentas são cotidiana na vida desses jovens, que se materializam na dificuldade de acesso a direitos,
nos preconceitos vinculados aos locais de moradia, nas práticas repressivas do Estado fortemente presentes nas
periferias, na convivência cotidiana com o tráfico de drogas, na inserção precoce no mundo do crime, entre outras
situações passíveis de serem elencadas. Neste sentido, há que se tomar a violência como pano de fundo para pensar
as relações sociais vivenciadas, cotidianamente, por essa parcela da juventude. Desse modo, pensar estas práticas
desde a perspectiva da juventude brasileira é, de alguma forma, pensar as formas de sociabilidade por meio das quais
nos constituímos como povo, desde aspectos culturais, valorativos, saberes e discursos que se constroem e se
perpetuam no tecido social. Não obstante, pensar a relação da mídia com as práticas de extermínio e violência dos
adolescentes e jovens é pensar como estas formações discursivas vêm legitimando práticas sociais em nossa
sociedade, tendo em vista que, em larga escala, o discurso midiático tem assumido este estatuto de verdade na
sociedade, e, especificamente em relação à temática aqui abordada, produzindo a ideia de periculosidade da
juventude e a sensação de insegurança disseminada. Neste sentido, ecoam questões que nos colocam em movimento
para pensar esta problemática: De que maneiras adolescentes e jovens da periferia são enunciados na mídia? Quais
enunciados circulam em torno das explicações de seus atos considerados criminosos? Como são noticiadas as mortes
de adolescentes e jovens das periferias? . Nessa pesquisa são analisadas notícias sobre assassinato de jovens de
quinze a 29 anos veiculadas por um jornal impresso de uma cidade do interior do Paraná, utilizando como recorte o
ano de 2012. A partir dessa análise, ainda em curso, problematizam-se as formas como tais enunciados veiculados
pela mídia a respeito dos jovens da periferia brasileira, legitimam práticas de exclusão e marginalização desse
segmento da população. Tais enunciados nos auxiliam a visualizar que existem em curso estratégias de extermínio e
genocídio que atingem algumas populações específicas, sob as quais o olhar do Estado parece incidir por meio de
outras regras, sendo estas vidas lembradas apenas como estatísticas, e, juridicamente, muitas vezes sem investigação
precisa. Para estes, parece que há a ideia de sobreviver em um estado de exceção contínuo, no qual as vidas são
destituídas de seu estatuto jurídico de cidadania, intimamente vinculado à ideia dos anormais, da periculosidade e da
comoção seletiva. Por comoção seletiva, dizemos da relação que parece se estabelecer entre esse estatuto de vida nua
e a forma como é sentida uma violência ou uma morte em determinado contexto social. Buscar compreender sob
quais estratégias o extermínio da juventude brasileira tem sido justificado e legitimado torna-se assunto de extrema
importância, tendo em vista que se trata de uma população que, ao menos no que está preconizado pelas legislações
nacionais e internacionais, deveria estar sendo protegida e incentivada ao crescimento pessoal. Contrariamente, o
1155
retrato posto nos mostra que esta proteção é seletiva e não se atualiza para todos como direito de fato. Devido à
temática relacionada ao extermínio de jovens e o discurso midiático este estudo se torna interessante para pensar as
questões do GT 29: Políticas de Desobediência: Juventude, Direitos e Violências, no sentido de problematizar os
efeitos das violações de direitos em relação à juventude.

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Biopolíticas da vida urbana: subjetivações, exclusões e violências
Autores: Simone Maria Hüning, UFAL; Alison Santos da Rocha, UFAL; Bárbara de Melo Lima, UFAL; Daisy Emanoelly
Araújo de Souza Silva, UFAL; Felipe Siqueira Loureiro Lanverly de Melo, UFAL
E-mail dos autores:
simone.huning@ip.ufal.br,daisy.araujoo@gmail.com,barbaramelolima@live.com,alisonrochapsicologia@outlook.com,
felipelanverly@gmail.com

Resumo: Neste trabalho apresentaremos os resultados da pesquisa que contou com o financiamento do CNPq
(Universal 2013) e da FAPEAL (Apoio a Pesquisas PPGs/HUMANIDADES/FAPEAL Nº 13/2016) e volta-se para a análise
dos discursos de violência e medo na capital do estado de Alagoas. Em uma perspectiva foucaultiana, discutimos como
a produção discursiva que toma como alvo determinados espaços e grupos populacionais engendra processos de
subjetivação e objetivação, conferindo aos mesmos diferentes formas de existência, socialmente legitimadas ou não.
Uma das importantes formas de produção e circulação de discursos é a mídia jornalística, que pelo seu caráter
jornalístico faz com que aquilo que enuncia seja facilmente tomado como sinônimo de real ou verdadeiro. Os
discursos jornalísticos são tomados aqui como registros históricos das formas de produção do espaço e das
subjetividades que materializam, dão vida e nome aos problemas sociais, engendrando modos de ser e viver que, em
espaços de grande desigualdade social e econômica, naturalizam a união entre pobreza e criminalidade (Coimbra,
2001). As formas de vida na cidade, as formas de relação entre as pessoas e das pessoas com a cidade, estão
enfaticamente marcadas pela insegurança gerados por esses discursos, objetivados em estatísticas de criminalidade e
políticas de governo.
O objetivo da pesquisa foi analisar a constituição simultânea dos espaços urbanos, dos modos de subjetivação, de
violências e exclusões sociais e territoriais. A pesquisa foi realizada a partir da análise de publicações de jornais locais
sobre um bairro da capital alagoana, a partir de 1980 até 2015. Foi escolhido o Bairro do Jaraguá, em Maceió, região
histórica da cidade recentemente foi palco de um longo processo de disputa territorial entre a prefeitura municipal e
uma comunidade tradicional de pescadores, resultando em junho de 2015, em expulsão da comunidade do local.
Submetendo o material encontrado à análise de discurso foucaultiana foi possível identificar elementos relacionados
aos modos como esse espaço é organizado e governado, e fazer uma análise histórica do seu processo de urbanização
e da relação entre tal processo, a produção da violência, do medo, dos modos de subjetivação e estratégias de
governo. Ao ampliar a noção de violência para além da noção de criminalidade, e passar a pensar a produção da
violência urbana também como resultante de processos de exclusão territorial, pudemos concluir que a ação do
Estado não se dava apenas como forma de enfrentamento, como ingenuamente sugerimos ao formular o projeto de
pesquisa. O que os resultados da pesquisa nos evidenciaram foi exatamente a produção da violência pelo Estado,
como forma de efetivar políticas desiguais de gestão da cidade. Poderíamos, assim, afirmar que a violência nem
sempre é um fenômeno indesejável, na medida em que ela serve como justificativa para o direcionamento de certas
formas de investimentos nos espaços urbanos. Vemos também que o tipo de violência que ganha destaque na mídia
local, convocando o Estado a um posicionamento é a que se vincula a diferentes formas de criminalidade ou
ilegalidade, atribuídas a cidadãos considerados de segunda classe. A violência institucional, por sua vez, do Estado
contra essas pessoas, não é assim nomeada e pouco repercute no tipo de imprensa analisada.
Pudemos acompanhar, pelos registros midiáticos analisados a produção daquele espaço nas três décadas da pesquisa
e os efeitos dessa produção na constituição do cenário atual, assimilado como um território violento e perigoso. Do
mesmo modo, rastreamos como o processo de criminalização do espaço foi perpassado por práticas violentas por
parte do Estado, como a negligência e a criminalização em relação a grupos populacionais específicos.
O tipo de atividade desenvolvida no bairro, os diferentes grupos sociais que nele circulavam em diferentes tempos,
configuraram objetividades e subjetividades. Se nos anos 80 o Jaraguá era cenário de festas da elite da capital, nos
anos 2000 ele passa a ser o espaço dos menos abastados. O projeto de revitalização já sinalizado no final da década de
80 ganhou força nos últimos anos evidenciando um processo de gentrificação em nome do desenvolvimento turístico
1157
e do setor imobiliário. A justificativa para a adoção de estratégias excludentes de ação do Estado sobre parte da
população que habitava o bairro, passaram pela atribuição de comportamento violento e criminalidade. Não se
questiona que trata-se de simples deslocamento de questões sociais mais complexas, como a desigualdade, o trabalho
precarizado, a dificuldade de mobilidade urbana, entre outras tantas questões agravadas pela ação do poder público
municipal, com a remoção da comunidade executada em junho de 2015.

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Cartografias político-afetivas em situação de rua no Norte do Brasil
Autores: Daiane Gasparetto da Silva, UFPA; Dolores Cristina Gomes Galindo, UFMT; Flávia Cristina Silveira Lemos,
UFPA
E-mail dos autores: dai_gasp@hotmail.com,flaviacslemos@gmail.com,dolorescristinagomesgalindo@gmail.com

Resumo: Na atualidade, o processo de constituição de vidas marginais nos centros urbanos mostra-se intensamente
atravessado por políticas de segurança, saúde, assistência social entre outras. Tal movimento diz respeito a inúmeras
iniciativas de gestão das cidades, que buscam controlar condutas, deslocamentos, alianças e desejos. Dentre as
estratégias estão algumas ações explicitamente marcadas por lógicas de segregação, uma vez que buscam afastar os
ditos indesejados por meio de violência, em nome da segurança social. Já outras propostas aparecem na roupagem de
programas governamentais, voltados ao atendimento de segmentos populacionais tidos como marginalizados, mas
que não se mostram desprovidos de tensões e paradoxos em seu funcionamento. Embora tenhamos variações na
forma de apresentação dessas ações, observamos que alguns de seus endereçamentos a pessoas estigmatizadas
socialmente dizem respeito, comumente, ao exercício de políticas que se ancoram em preceitos de uma justiça
seletiva. Diante desse cenário, problematizar as produções de resistência fomentadas por grupos minoritários nas
cidades torna-se uma via para o entendimento das lutas e sua dimensão político-afetiva, as quais visam à garantia de
direitos e afirmação de lugares de cidadania. Para pensar tais questões, torna-se necessário pôr em evidência o que se
tem criado em termos de promoção de vida para além das formalidades convencionadas por programas
governamentais. Trata-se de outra política que se ancora na dimensão estética, na invenção de possíveis no cotidiano
das cidades. Pelas vias informais, são encontrados meios de expressão que dizem respeito a mecanismos de
resistência, ou seja, ao que não se deixou capturar por forças dominantes. Considerando tais premissas, esta proposta,
apresentada ao Grupo de Trabalho Territorialidades, subjetividades e Psicologia Social , tem como objetivo discutir
esta temática a partir das trajetórias de pesquisa em andamento desde 2015, em nível de doutorado, no Programa de
Pós-graduação em Psicologia, da Universidade Federal do Pará, a fim de pensar os diversos aspectos relacionados à
produção de territórios existenciais de pessoas que estão em situação de rua na cidade de Belém, situada no estado
do Pará, região norte do Brasil. Desse modo, tal trabalho se articula à proposta do eixo temático Territorialidades e
modos de vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo , por discutir os caminhos de estudo
sobre formas de existência no espaço urbano. Tal investigação tem cartografado (com base na noção de cartografia
em Deleuze e Guattari) estratégias de resistência do povo em situação de rua na referida localidade (tais como o jornal
A verdade rua e crua , produzido pelo povo de rua de Belém), tendo como recorte temporal produções realizadas a
partir de 2005 (momento no qual foi formalizado o Movimento Nacional da População de Rua), a fim de correlacionar
as forças em movimento que contribuem para articulação deste segmento em suas lutas. No intuito de ancorar a
análise, a genealogia e arqueologia foucaultiana são utilizadas como operadores metodológicos, buscando possibilitar
uma perspectiva crítica e histórica sobre as práticas sociais que estão relacionadas a processos de subjetivação. Com
base nos resultados produzidos até o momento, observa-se uma intensa relação das pessoas em situação de rua com
serviços de atendimento a esse público (tais como Centro de Referência Especializado para População em Situação de
Rua/Centro Pop), que resulta em possibilidades de articulação de redes de resistência marcadas por forças
institucionais.

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Circulação, Cidade e Poder
Autores: Leandro José Carmelini, UFRJ
E-mail dos autores: lcarmelini@gmail.com

Resumo: Introdução
O problema da circulação é intrínseco à emergência e à transformação das grandes cidades modernas, seja na
morfologia ou na organização cotidiana de seus espaços. Entretanto, genealogicamente, essa questão não se relaciona
apenas às políticas de trânsito ou aos equipamentos de transporte, mas tem relação íntima com as noções de corpo,
saúde, economia e espaço. Isto é, a circulação é um elemento complexo da organização social, que produz e é
produzida de acordo com as forças a ela agenciadas. Se da descoberta do sistema sanguíneo por William Harvey (XVII),
passando pelo liberalismo de Adam Smith (XVIII), até as intervenções urbanas de Haussmann (XIX) e Le Corbusier (XX)
podemos apontar certa continuidade dentro dos anseios modernos, a partir dos 60, novas forças tecnológicas e
conceituais, vinculadas às rede e aos dispositivos online, começam a entrar na disputa, produzindo turbulências e
inflexões neste campo. Acompanhado Deleuze (2010), poderíamos talvez falar de uma política da circulação que está
passando dos moldes disciplinares para as modulações do controle. A partir daí, nos perguntamos: quais os vetores de
força em disputa na produção, na reprodução e na transformação da circulação urbana? Quais são as velhas forças
que permanecem ou se atualizam e quais as novas que se impõem?

Objetivo
Este trabalho pretende pensar os poderes, isto é, as relações de força, que organizam a circulação urbana no
contemporâneo; primeiro, para tentar traçar uma cartografia desta problemática, que aparentemente se encontra em
um espaço-tempo de tensão entre disciplina e controle; e, segundo, para especular as possíveis tendências que os
dispositivos online impõem a este campo. Trataremos desde a noção de circulação e sua transformação ao longo da
história, até a materialidade do desenho das ruas e alguns elementos estratégicos no contexto dos equipamentos de
transporte.

Relação com o GT e Eixo Temático


Esta pesquisa se relaciona ao GT.54 - Territorialidades, subjetividades e Psicologia Social e ao ET.12 - Territorialidades
e modos de vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo tanto pelas referências teórico-
conceituais, abordadas a seguir, como pela centralidade dos conceitos de cidade, território e poder. Propomos
justamente uma análise da transição disciplina/controle no terreno problemático da circulação urbana, ou seja, no
contexto da distribuição dos corpos no espaço das cidades. Assim como o GT e o Eixo, também estamos preocupados
com a função governamental e mercadológica dos dispositivos online, principalmente no tocante aos equipamentos
de transporte e aos deslocamentos cotidianos.

Orientação teórica
Para pensar a cidade, nos aproximamos de autores que a concebem menos como limite governamental que como um
tipo próprio de maquinação social. Braudel (2005), por um lado, ajuda quando diferencia historicamente a emergência
e o funcionamento dos modos cidade e estado. Mumford (1965), por outro, vai defender a cidade como um tipo de
força atrativa (a cidade como ímã) que colide diferenças produzindo um ambiente propício para a experiência da
alteridade. Por fim, junto com Deleuze e Guattari (2013), entendemos a cidade como uma mega-máquina
horizontalizante e heterogeneizante, cujo funcionamento tende a conjurar as forças estatais.
Em relação às questões da circulação e do território, nos orientamos com Foucault (2006), quando ele trata da
distribuição das populações no espaço urbano e da distribuição dos corpos nos espaços institucionais; e com Sennett
(2008), sobretudo em suas reflexões acerca da continuidade do conceito moderno de circulação nos campos da

1160
fisiologia, economia e urbanismo. Além das questões pontuais, escolhemos esses autores pela concepção de
inseparabilidade entre os elementos circulação, território e corpo.
Quanto ao conceito de poder, recorremos à Foucault (2004) para pensar a disciplina, e à Deleuze (2010 e 2014) e
Lazzarato (2004) para pensar o controle.

Método
Este trabalho está organizado em dois momentos: primeiro, uma breve passagem genealógica pelo conceito de
circulação, da modernidade ao contemporâneo, isto é, da disciplina ao controle. E, segundo, uma reflexão sobre suas
materializações nos equipamentos urbanos de circulação.

Resultados
Como resultado, apresentamos, primeiro, uma breve genealogia da noção de circulação, passando pela descoberta do
sistema sanguíneo até as questões dos transportes no contemporâneo; segundo, os argumentos que fazem encontrar
as reflexões de Deleuze e Lazzarato sobre a passagem disciplina/controle e o contexto dos transportes urbanos.
Enfatizamos que os resultados apresentados neste trabalho são parciais, visto que a discussão proposta é apenas um
fragmento de um trabalho mais amplo de doutoramento na ECO/UFRJ, ainda em processo inicial.

Conclusão
Pensamos a emergência e as transformações da noção de circulação nas sociedades disciplinares e de controle, bem
como a materialidade dos equipamentos de circulação e suas implicações na produção dos espaços e modos de vida.
No geral, ao longo de toda a reflexão nos interessou principalmente o modo como as tecnologias da circulação,
teoricamente pensadas para facilitar os deslocamentos dos corpos e das coisas no espaço, funcionam muitas vezes, ao
contrário, como meios de limitação e funcionalização da experiência circulatória.

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Corpos arruínados pela história: memórias vulneráveis
Autores: Wanderson Vilton Nunes da Silva, UFRGS; Neuza Maria de Fátima Guareschi, UFRGS; Simone Maria Hüning,
UFAL
E-mail dos autores: wandersonvilton@gmail.com,nmguares@gmail.com,simone.huning@ip.ufal.br

Resumo: Propomos nesse trabalho problematizar os modos pelos quais produzimos sobre determinados grupos
populacionais, em função de seus territórios de existência, relações de poder-saber que sustentam verdades e
discursos de forma a lhes manterem em uma relação de invisibilidade e esquecimento nas cidades. Compreendemos
que tais jogos discursivos articulam subjetividades a verdades que tornam possíveis marcações sociais e políticas
produzindo um jogo de visilibilidade e invisibilidade a tais populações. A visibilidade está associada a uma narrativa de
progresso e de desenvolvimento urbano que tem sustentado práticas de extermínio e um amontoado de ruínas, ora
relacionadas aos entulhos provocados pelas demolições de comunidades em situação de vulnerabilidade social, ou
mesmo, pela produção sistemática de um extermínio de modos de existência nos espaços urbanos, criando territórios
esquecidos pelas políticas de habitação dos municípios e estados brasileiros. Por tanto, procuramos pensar a forma
como a habitação urbana está associada a formas de construção de memória nas cidades: interessa-nos a maneira
pela qual a produção de territórios perpassa pela construção de políticas de memória e de esquecimento, constituindo
narrativas, verdades e modos de subjetivação que tomam tais territórios como perigosos, alternando sobre as vidas
que ali habitam ações contundentes do poder repressivo do Estado e dos agentes de garantias de direitos. Deste
modo, propomos pensar essas relações entre urbanização e construção de memórias nas cidades, bem como os
modos pelos quais construímos pesquisa nestes territórios urbanos, pensando pesquisa como dispositivo de
subjetivação e de memória política e social. Situando-nos no campo da Psicologia Social, dialogamos com Michel
Foucault, Walter Benjamin e Giorgio Agamben para articular os modos de subjetivação às formas como produzimos
narrativas e verdades sobre territórios e populações, formando uma memória social e política dos modos de circular,
habitar e construir cidades. Ao seu modo, os autores acima auxiliam-nos no trabalho de perscrutar o cotidiano e as
narrativas de comunidades e de pessoas em situação de vulnerabilidade social, marcados pela exclusão social e
econômica, atentando-nos para o estado de exceção em que vivem e a forma como, apesar disso, constroem relações
importantes de desarticulação das verdades às quais estão sujeitos, propondo outras narrativas para seus modos de
vida que ressignificam sua relação com os territórios em que vivem ou circulam, fazendo de territórios, marcados por
práticas de extermínio, espaços de resistência e de práticas de cuidado na cidade. Tratamos nesse trabalho de algumas
práticas de garantias de direitos em comunidades em situação de vulnerabilidade social, ruas e demais espaços
urbanos na cidade de Maceió, relacionadas a cuidados e promoção de saúde e acesso a direitos para jovens, crianças e
adultos. Acompanhamos equipes de um programa de saúde na cidade de Maceió relacionado à Atenção Básica, tendo
como foco o registro e a produção de narrativas e de memória nos espaços urbanos, logo, o que nos ocupamos não diz
respeito às práticas de trabalho das equipes de saúde que acompanhamos, mas às histórias, às memórias e aos modos
pelos quais as pessoas naqueles espaços urbanos produziam experiência com a cidade, ou seja, a forma com que
constituíam narrativas e memória a partir de determinados acontecimentos do cotidiano compartilhado. Neste
sentido, construímos e apresentaremos duas narrativas relacionadas às experiências junto a tais comunidades,
funcionando como modelos analíticos para pensarmos a produção de memória e esquecimento relacionada aos
processos de urbanização das cidades, bem como os modos pelo qual produzimos aproximação e experiência na
produção de pesquisas junto a tais comunidades. Compreendemos a produção de narrativas como um modo de incidir
sobre a memória urbana e os processos biopolíticos de governo de tais populações de modo a construir alternativas
para ver, atuar e conhecer com estas comunidades e pessoas, constituindo outras imagens diferentes daquelas dos
gráficos, tabelas e mapas territoriais. Apresentaremos duas narrativas: 1) Cidade dos mortos (o obituário esquecido); e
2) Cidade, o corpo e as ruínas. Tais narrativas apresentam aspectos do cotidiano de vidas em diferentes territórios
espalhados na cidade de Maceió. Na primeira narrativa nos remeteremos às memórias produzidas na comunidade
relacionadas às diversas práticas de extermínio que constituem modos de gestão da vida nesses territórios, ao mesmo
1162
tempo em que produzem, a partir da força, silenciamento e esquecimento como modo de lidar com as vidas comuns.
Na segunda narrativa, tomamos o corpo como depósito da história e descrevemos desnaturalizando os corpos, as
feridas e os machucados que, sem uma guerra civil, fazem marcas nas vidas de homens, mulheres e crianças,
produzindo-os como depositários de uma história de exceção e de invisibilidade social. A partir dessas narrativas
afirmamos a importância da constituição de uma memória social e política urbana em que haja lugar para a
construção de experiências com os espaços e territórios urbanos em que seja possível outras práticas de ver, intervir e
conhecer.

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Da Cultura de Paz ao Tecnobrega: reflexões sobre juventudes urbanas e práticas culturais
Autores: Rafaele Habib Souza Aquime, UFPA; Fernanda Cristine dos Santos Bengio, UFPA; Fernanda Teixeira de Barros
Neta, UFPA
E-mail dos autores: rafaele.habib@gmail.com,fernandabengio@ymail.com,fernandatbn@gmail.com

Resumo: Rafaele Habib Souza Aquime – Doutoranda em Psicologia Social Programa de Pós-Graduação em Psicologia
da Universidade Federal do Pará (UFPA)- autora
Fernanda Cristine dos Santos Bengio – Doutoranda em Psicologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA)- coautora
Fernanda Teixeira de Barros Neta – Doutoranda em Psicologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia
da Universidade Federal do Pará (UFPA) – coautora
RESUMO: Neste trabalho buscamos refletir sobre algumas experimentações acerca de práticas culturais, periferias e
juventudes. Trata-se da valoração de práticas culturais (consideradas populares ou tradicionais, erudita ou artes e, de
paz e práticas marginais) e como a atualização dessa segregação, associada à organização cultural da cidade tem
produzido diferentes modos de olhar as juventudes urbanas. São observações, nada neutras, de experimentações nas
cidades de Belém e Ananindeua-Pará, sobre o processo de desqualificação do tecnobrega/tecnomelody. Trata-se de
expressão musical dançante com variações de letras, com relativa facilidade de produção e ampla difusão. Práticas de
desqualificação das sociabilidades juvenis de periferias são atualizadas com as críticas descontextualizadas sobre o
tecnobrega/tecnomelody enquanto prática cultural não legítima, ao mesmo tempo em que são criados espaços de
consumo dele, voltados a segmentos juvenis mais abastados. Também pontuamos neste debate o programa social Pro
Paz nos Bairros destinado ao público infantojuvenil considerado em situação de vulnerabilidade social, pois ao
oferecer atividades de esporte, arte e lazer, busca disseminar uma cultura de paz nos territórios que ocupam, os
bairros da periferia, como forma de prevenir a violência, em uma perspectiva de normalização das condutas destes
jovens, uma vez que são classificados enquanto carentes emocionais e advindos de famílias as quais não possibilitam
uma educação considerada adequada e que promova um desenvolvimento biopsicossocial satisfatório. A tutela moral
dessas famílias e destes jovens neste programa social reforça a associação da pobreza a criminalidade, por meio do
mapeamento e controle daqueles enquadrados como potencialmente perigosos, sendo enquadrados enquanto
objetos disciplinares na gestão biopolítica dos corpos. Felix Guattari e Suely Rolnik, no livro Micropolítica: cartografias
do desejo ajudam a compreender outros meandros desse contexto relacionados aos estabelecimentos e organizações
governamentais e não governamentais, através do conceito de cultura capitalística como algo que borra os limites
entre supostos níveis diferentes de cultura, afirmando haver dois planos de produção subjetiva, um que opera por
meio da cultura e outro através do capital. Assim, o processo de comodificação cultural atualiza a condição reificada
da mesma, constituindo-se também como dispositivo de produção subjetiva. Estes aspectos nos fazem refletir sobre
os desdobramentos sociais de políticas com recorte cultural, como acesso a cidade e aos meios de produção e serviços
culturais e lazer que são disponibilizados. Ao considerar as juventudes urbanas no contexto das práticas culturais
almejamos criar condições de análise das conjunturas socais que marcam o espaço público, através de dispositivos
difusos socialmente. As políticas culturais, no amplo escopo por elas traçado, dão pistas de quais práticas de governo
da vida têm sido lançadas sobre as juventudes urbanas. Diante disto, este trabalho articula-se assim ao GT 54:
Territorialidades, subjetividades e Psicologia Social, uma vez que se ancora nas concepções de subjetividade Michel
Foucault e Gilles Deleuze no modo de ocupação de tais territórios ditos vulneráveis, localizados em espaços com
sociabilidades distanciadas do que se espera educar/normalizar, trazendo efeitos diversos nos modos de existir de tais
jovens. Além disto, este trabalho instrumentalizou enquanto percurso metodológico o estudo genealógico
foucaultiano na análise do entrecruzamento da política de assistência social (Pro Paz) com práticas de segregação
cultural no contexto urbano e gestão territorial, o qual reforçou a visão subalterna sobre as juventudes das periferias
de Belém, primeiro ao centralizar determinados equipamentos de cultura e segundo por garantir apenas uma forma
de expressão cultural sob o espectro de uma cultura nada rebelde. E isto contribui também para produção de
1164
dicotomias de quem ocupa diferentes organizações espaciais, ampliando a marginalização de alguns em descompasso
com o privilégio de outros. Contudo, a maneira como esse grupo faz uso do tecnobrega/tecnomelody pode ser
considerada como alternativa de interação social que tenta escapar ao processo de normalização e subalternidade de
que tem sido alvo, sendo, portanto, uma forma de resistência possível nas relações de poder impressas em ocupações
urbanas.

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Discursos de medo e insegurança como produtores de exclusão e segregação no espaço urbano
Autores: Carlysson Alexandre Rangel Gomes, UFAL; Simone Maria Hüning, UFAL
E-mail dos autores: carlysson_al@hotmail.com,simone.huning@ip.ufal.br

Resumo: Aos domingos, centenas de maceioenses e turistas frequentam a tradicional Rua Fechada na orla do bairro
da Ponta Verde, onde há cerca de 20 anos a prefeitura da cidade interrompe o fluxo de carros das 8 horas da manhã
até as 18 horas da tarde em um trecho de aproximadamente 1500 metros da Avenida Silvio Viana, transformando o
local interditado em um espaço de cultura e lazer para alguns moradores da cidade. Mas esse espaço público e
gratuito de lazer que que ocorre aos domingos vem sendo palco de diversas ações de exclusão e marginalização das
populações mais pobres tanto pelos moradores dessa região quanto pelos órgãos públicos da cidade e até mesmo da
iniciativa privada. A Rua Fechada está ficando literalmente fechada para certos grupos da população maceioense.
Esse trabalho se ancora em alguns pressupostos teóricos e metodológicos discutidos por esse GT e também possui
uma certa consonância em relação aos temas propostos para a discussão do mesmo. Para a construção desse trabalho
nós optamos por utilizar as ferramentas teórico-metodológicas de Michel Foucault, principalmente o conceito de
processos de subjetivação a partir deste autor, onde compreendemos que a subjetividade é uma emergência histórica
de processos, em conexão com os processos sociais, culturais e urbanos que participam de sua constituição e de seu
funcionamento.
Como objetivo geral da nossa pesquisa buscamos identificar e problematizar os processos de exclusão que a cidade de
Maceió vem produzindo em nome de uma sensação de segurança a partir de materiais midiáticos que estivessem
relacionados a Rua Fechada . Para a construção do corpus de análise dessa pesquisa nós reunimos materiais
midiáticos disponíveis online que traziam notícias sobre a Rua Fechada do bairro da Ponta Verde.
A busca dos materiais foi feita a partir das ferramentas de busca dos jornais que atuam no estado de alagoas, como
TNH1, Gazeta de Alagoas, G1 e etc. Também utilizamos a ferramenta de busca do Google para procurar matérias em
blogs ou outros veículos de informação. Os descritores utilizados na busca foram Rua Fechada , Rua Fechada
Maceió e Rua Fechada Ponta Verde . Não optamos por fazer um recorte temporal em relação as matérias, pois
também nos interessava as rupturas e continuidades dos discursos que são produzidos nesses jornais ao longo do
tempo.
A partir dos materiais levantados, nós construímos alguns eixos de análise, sendo que para essa apresentação, nós
escolhemos apenas o eixo intitulado Discursos de medo e segurança/insegurança como produtores de exclusão e
segregação para ser apresentado. Nesse eixo nós discutimos como o medo e a sensação de insegurança são utilizados
como uma estratégia de segregação social/espacial, pois com frequência os moradores desse bairro nobre da cidade
justificam os assaltos e consumo de drogas no local como justificativa para a retirada dos jovens da periferia dessa
região da orla da cidade.
Esse discurso do medo que vem ganhando força pelos moradores da região e também pela polícia, pois acaba
funcionando como uma justificativa para grandes operações policias na região, os jornais apontam várias dessas
operações que dizem ter o intuito de acabar com uso de drogas ou diminuir a suposta violência no local, mas essas
ações engendram uma forte máquina de repressão, já que os únicos sujeitos alvos dessas intervenções são os jovens
de periferia.
Então, se compreendermos que a cidade é um dispositivo de subjetivação, que tipo de subjetividade estamos
produzindo quando segregamos a circulação de determinados sujeitos no espaço público da cidade? Com isso
podemos nos perguntar quais os são processos de exclusão que a cidade de Maceió vem produzindo em nome de uma
suposta sensação de segurança.

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ONG Pós- Cris: reflexões sobre as forças normativas
Autores: Germana Garcia Tayt Sohn, FSMA
E-mail dos autores: germanagts@live.com

Resumo: Esta comunicação se apresenta a partir de reflexões derivadas de uma intervenção na ONG Pós Cris, em
dezembro de 2016, no bairro periférico Malvinas, em Macaé. Localizada em um território permeado pela violência,
com poucas ações de políticas públicas, e afastado geograficamente do centro da cidade de Macaé. A ONG que assiste
crianças e adolescentes, de 06 a 14 anos, no período do contra turno escolar, visa propor uma alternativa ao
envolvimento das crianças com tráfico de drogas.
São muitos os entraves nesse cenário, como, drogas, violência, erotização infantil e pobreza, por outro lado, percebe-
se também um envolvimento afetivo e ações de solidariedade entre os moradores. Portanto, consideramos que a ONG
teria como desafio uma resistência à lógica hegemônica, que engendra diversos atravessamentos no território em
questão.
Nessa perspectiva, foi colocado como objetivo observar quais intervenções são realizadas pela Pós Cris a fim de
suscitar linhas de fuga às normatividades, ou se há apenas a reprodução de valores vigentes
Dessa forma, abordamos as relações interpessoais do grupo, o território em que estão inseridos, e por meio das
atividades desenvolvidas, conjecturamos alternativas à captura da realidade pelas crianças.
Inicialmente definiu-se o grupo a ser trabalhado, composto por 15 crianças, com faixa etária de 6 a 9 anos. No
decorrer das atividades, considerou-se ser importante minimizar possíveis estranhezas quanto à visita de uma
estudante de Psicologia ao grupo. Por isso, utilizamos como metodologia desenhos que pudessem refletir a atuação
do psicólogo.
Destaca-se nessa fase a indagação de uma das crianças sobre o que ela poderia ter feito para que tal visita
acontecesse. É recorrente pensar o profissional da psicologia fundamentado no modelo clínico e individual, o que
muitas vezes dificulta o trabalho em grupo, podendo ameaçar a espontaneidade da atividade. Bem como aponta
MALUF e CRUCES (2008), sobre a trajetória da psicologia educacional no Brasil, que sofreu influência dos modelos
biológicos e da física, em que tais práticas foram permeadas por excessos de avaliações e no modelo individual.
A visão cientificista e individualizada dominante acabou por ocultar a presença dos graves problemas sociais que
atingiam a Educação, ou melhor, as atividades educacionais. Mudanças nessas atividades só foram possíveis em
função de rupturas com o paradigma dominante da ciência moderna. No dizer de Santos (2000), a emergência do
paradigma da pósmodernidade trouxe uma transição epistemológica, em que os novos modos de conhecer estão
relacionados às mudanças nos modos de organizar as sociedades. (MALUF, CRUCES, 2008:89)
No segundo momento da intervenção, as crianças foram convidadas a desenhar a imagem que faziam de si e de sua
família, essa prática baseou-se na perspectiva de que o sentido do que somos depende das histórias que contamos e
das que contamos a nós mesmos [...], em particular das construções narrativas nas quais cada um de nós é, ao mesmo
tempo, o autor, o narrador e o personagem principal (LARROSA 1994:48 apud TONELI, 2007:86).
Destacamos também, a resistência inicial em dividir os materiais usados, apesar de haver número suficiente para a
realização dos grafismos. Fez-se necessário pensar a coletividade nesse momento, em que foi sugerido que a criança
pedisse à outra a cor que gostaria de usar em sua composição. Logo em seguida, quando as primeiras crianças
solicitaram as cores, e direcionaram o pedido à outra, a maioria ficou solícita e participativa nos desenhos.
Sentados em círculo expuseram os desenhos e cada um apresentou da maneira que achou conveniente. Em
considerável parte, foi possível observar o quão numerosas são as famílias, vivendo em um pequeno espaço, e
compostas, em sua maioria, por mulheres.
Posteriormente, foi proposta uma oficina de cartazes com recortes de revistas previamente selecionados. A primeira
confecção de cartazes teve como intuito a representação atual das Malvinas. As crianças verbalizaram suas
insatisfações quanto ao bairro e, por isso, escolheram gravuras que retratavam pobreza, tristeza, violência, fome e
características da proletarização do trabalho.
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Na última etapa, o cartaz sugerido aventou a reflexão de como as crianças almejam a comunidade. Foram
representados mais tipos étnicos, todo o tipo de transporte, arranha-céus, indústrias, pessoas com diferentes
indumentárias, retratando uma pluralidade de existências.
A partir da intervenção considerou-se que a ONG tem atuação limitada na crítica à reprodução de valores
hegemônicos, propondo ações deslocadas das especificidades do território e dos sujeitos, mantendo uma prática
assistencialista e imediatista. Por outro lado, apesar das dificuldades encontradas na comunidade, com esse trabalho,
as crianças foram encorajadas a pensar possibilidades de transformação local, e a se reconhecerem como
protagonistas de sua própria história.
MALUF, M. e CRUCES, A. Psicologia educacional na contemporaneidade. Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano
XXVIII, nº 01/08: 87-99, 2008.
TONELI, M. Sexualidade, violência, drogas, trabalho e escola: aqui nós só podemos comer cachorro quente . In
ARANTES, E., NASCIMENTO, M. FONSECA, T. (orgs.) Práticas Psi inventando a vida. Niterói. EdUFF, 2007.

1168
Programa Minha Casa Minha Vida – Do sonho da casa própria ao governo das vidas
Autores: Camila Leite Escosteguy, UFRGS; Neuza Maria de Fátima Guareschi, UFRGS
E-mail dos autores: camiescosteguy@gmail.com,nmguares@gmail.com

Resumo: O campo das Políticas de Habitação, mais especificamente o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), foi
instituído no ano de 2009 e têm como objetivo garantir o acesso à moradia digna e a diminuição do déficit
habitacional nas cidades brasileiras. O PMCMV é hoje o maior programa de política habitacional em vigência no país,
atingindo um total de 6,8 milhões de famílias. O Programa foi criado em resposta à crise econômica mundial de 2008,
como forma de alavancar a economia, reaquecendo a indústria da construção civil e o mercado imobiliário. O Governo
Federal subsidia o valor das unidades habitacionais às famílias, de acordo com a sua faixa de renda, porém, o poder de
decisão sobre a localização e o desenho dos projetos fica a cargo dos agentes privados, tendo a rentabilidade como
principal critério. O que é possível observar, no que diz respeito as moradias construídas para a população de baixa
renda que acessa o Programa, é que as unidades habitacionais são construídas em terrenos localizados nas periferias
das grandes cidades brasileiras onde há pouca ou nenhuma estrutura urbana e sem acesso aos serviços básicos, como
transporte público, educação e saúde, mantendo o modelo de cidade dividido em centro-periferia e gerando novos
processos de exclusão e segregação socioespaciais para população empobrecida. Além disso, as moradias são
padronizadas, não adequadas as especificidades das famílias e apresentam baixa qualidade construtiva. Os
empreendimentos são majoritariamente em formato de condomínio vertical, murados e fechados, o que exige um
pagamento mensal obrigatório de taxa de condomínio. O Ministério das Cidades, a partir da Portaria nº 21, de 22 de
janeiro de 2014, aprovou o Manual de Instruções do Trabalho Social que é executado dentro de condomínios Minha
Casa Minha Vida para população de baixa renda, determinando como equipe técnica para sua efetivação psicólogos,
assistentes sociais, biólogos e sociólogos e têm como objetivos promover a participação social, a melhoria das
condições de vida, a efetivação dos direitos sociais dos beneficiários e a sustentabilidade da intervenção . Os Manuais
tem como direcionamento 4 eixos de trabalho, sendo eles: Eixo I – Mobilização organizacional e fortalecimento social;
Eixo II – Acompanhamento e gestão social da intervenção; Eixo III - Educação Ambiental e Patrimonial; Eixo IV –
Desenvolvimento Sócio Econômico. Esses 4 eixos são entendidos aqui como as estratégias utilizadas pelo PMCMV para
conduzir processos de assujeitamento da população empobrecida em um determinado território. Assim, o objetivo
deste trabalho é problematizar o trabalho destas equipes técnicas, discutindo a forma como são utilizados os saberes
destes campos profissionais como estratégias de ensino e normalização das formas de habitar e viver nesse novo
território designado pela Programa. Para isso, analisamos os Manuais de Instruções que conduzem o trabalho social de
campo destes profissionais das equipes técnicas em um condomínio do Minha Casa Minha Vida em uma cidade da
região metropolitana de Porto Alegre/RS. O Programa Minha Casa Minha Vida, bem como o trabalho destas equipes, é
aqui entendido como uma forma de investimento e governo da vida das populações empobrecidas, administrando e
gerindo suas condutas no interior de um marco político institucional e de instrumentos de Estado. Apontamos em
nossa discussão para o investimento na vida desta população, inserido em uma racionalidade neoliberal, que não é
apenas uma política econômica e que estrutura as ações dos governantes, mas que tem a concorrência e lógica
empresarial como norma de conduta e como processo de subjetivação, conduzindo processos de assujeitamento
dessa população em um determinado espaço habitacional. Assim, acreditamos que a partir do debate proposto, o
trabalho dialoga com o GT Territorialidades, Subjetividades e Psicologia Social, entendendo a territorialidade para
além da mera organização espacial, mas como geradora de efeitos nos modos de existir dos sujeitos. Desta forma,
colocamos em questão as políticas de habitar e existir que se propõem a trabalhar com as relações entre
territorialidades e subjetividade e que vem ao encontro das discussões das relações entre Política de habitação e
produção de subjetividade.

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Prostituição e territórios: Efeitos e transformações em Belo Horizonte
Autores: Karina Dias Gea, UFMG; Lisandra Espíndula Moreira, UFMG
E-mail dos autores: karinadiasgea@gmail.com,lisandra.ufmg@gmail.com

Resumo: Esse trabalho busca problematizar os efeitos de mudanças urbanas em belo horizonte na forma como as
prostitutas cis e trans se apropriam da cidade para o exercício de seu trabalho. Essa problematização é fruto da
participação em projetos de extensão e de pesquisa realizados desde 2011, realizando aproximações e construções
conjuntas em pontos de prostituição de mulheres cis, travestis e mulheres transexuais em belo horizonte. Nestes anos
foi possível observar que a prostituição de baixo meretrício constrói territórios de interação entre gênero, classe,
sexualidade e raça. Contudo, também revela que as experiências de mulheres cis, mulheres transexuais e travestis que
a exercem possuem nuances, pois as regulações de sexo e gênero operam de formas distintas em suas vivências.
A primeira nuance foram os territórios distintos, pois no exercício da mesma profissão, na mesma cidade ocorrem,
majoritariamente, em locais e horários diferentes. A maioria das prostitutas cis trabalham durante o dia na zona de
belo horizonte, localizada em hotéis no hipercentro da capital. Já as prostitutas transexuais e travestis trabalhavam
durante a noite até de madrugada e fazem pontos em ruas e avenidas de BH, como em pontos no bairro Santa Branca,
Av. Santos Dumont, Av. Pedro II.
Contudo, essas territorialidades sofreram, aos poucos, alterações, devido a realização de grandes obras viárias. As
argumentações em prol dessas transformações apontavam para a melhoria da urbanização, mas num contexto mais
amplo podemos relacionar essas modificações a interesses vinculados aos especuladores imobiliários e a órgãos e
instituições internacionais, que promovem megaeventos, como a copa do mundo da federação internacional de
futebol (FIFA) de 2014 e que direciona a lógica urbanística adotada por essa capital (Furiati, 2014). Mesmo com a
passagem desses eventos, as transformações permanecem e esse ano foi anunciado o plano de reabilitação do
hipercentro.
Durante o período de observação, foi possível observar várias estratégias, atos e organizações das/entre prostitutas
visando a permanência, visibilidade e resistência para continuarem a exercer seu trabalho e a busca por direitos. É
nesses processos de mobilizações que lutam contra a invizibilização, exclusão e subalternização destas experiências,
tendo como pano de fundo as intervenções urbanas higienistas adotadas pela cidade de belo horizonte na
administração, gestão e produção dos espaços na cidade que situamos esse trabalho.
Tendo como referencial teórico a perspectiva das epistemologias feministas, salientamos que esse conhecimento de
produz de maneira situada, um saber localizado e com uma perspectiva de construção coletiva com essas mulheres,
saberes compartilhados. Logo, é necessário desconstruir as perspectivas descorporificadas, neutras, objetivas e
universalizantes da ciência e defender o posicionamento, a reflexividade e a criticidade. As análises buscam em
conjunto estratégias de visibilidade e voz a perspectiva dos pontos de vista das silenciadas, pois possuem
potencialidades transformadoras (Haraway, 1995; Spivak, 2010).
Metodologicamente utilizaremos como materiais de análise os diários de campo produzidos desde 2011, revisitando
as questões referentes a construção dos territórios e os efeitos das transformações urbanas. As reflexões já feitas
revelam que entre as prostitutas travestis e transexuais as intervenções urbanas impactaram diretamente o cotidiano
de travestis e transexuais, principalmente no tocante ao exercício da prostituição (Paixão & Gea, 2014), até mesmo
para as prostitutas que trabalham nos hoteís. Percebemos que as intervenções urbanas eram realizadas e modificaram
alguns dos territórios tradicionais de prostituição da cidade, seja nas estruturas físicas, como construções de viadutos
e a instalação do brt-move, ou no tráfego de carros e pedestres, mudando as direções das ruas, mudando os locais dos
pontos de ônibus ou obstruindo a circulação de pedestres nos passeios com materiais de construção e isso dificultava
a procura dos clientes pelos seus trabalhos.

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Psicologia e Cidade: intervenções interdisciplinares para desnaturalização da cidade enquanto espaço de privilégios
Autores: Fhillipe Antônio Araújo Pereira, UFRJ; Lucas Gabriel de Matos Santos, UFRJ; Roberta Brasilino Barbosa, UFRJ
E-mail dos autores: fhillipeant@yahoo.com.br,robertabrasilino@gmail.com,lucasgabrieldematos@gmail.com

Resumo: O projeto Psicologia e Cidade é uma atividade de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro
estabelecida a partir de uma parceria entre os cursos de Psicologia e de Arquitetura e Urbanismo. Compõe o projeto
membros do Abricó - escritório modelo de Arquitetura e Urbanismo, norteado pelos princípios da Federação Nacional
de Estudantes de Arquitetura - e do NIAC - núcleo interdisciplinar de ações para a cidadania atuante há dez anos em
questões psicossociais e jurídicas que afetam populações vulnerabilizadas. Com início no ano de 2016, tem por
objetivo fomentar a participação e luta política de moradoras e moradores da Comunidade Indiana Tijuca no que diz
respeito às questões específicas do território, o qual sofreu recentemente remoção parcial de alguns moradores,
podendo os demais serem completamente retirados do local a qualquer momento. Também constitui objetivo da
atividade elucidar o papel ético-político que a Psicologia tem ao desnaturalizar os mecanismos de subjetivação
engendrados pelas cidades. O trabalho da equipe de Arquitetura e Urbanismo com a Comunidade Indiana Tijuca é
anterior ao projeto, tendo ocorrido no contexto olímpico da cidade do Rio de Janeiro, impulsionador de
transformações urbanísticas causadoras de grandes violações de direitos às populações mais pobres da cidade. No
desenvolvimento do trabalho, os arquitetos urbanistas em formação entenderam a importância da construção de um
plano de urbanização que servisse como um instrumento técnico para resistência dos moradores e que fosse
participativo, tendo então convidado a equipe de psicologia do NIAC e dando assim origem ao Projeto Psicologia e
Cidade. A equipe tem apostado na mobilização social como estratégia metodológica da intervenção, entendendo que
a articulação dos coletivos pode ser um instrumento promotor de autonomia, capaz de estimular uma participação
política, social e democrática, contribuindo para a resistência às transformações que o espaço urbano da Comunidade
Indiana Tijuca tem sofrido e que afetam as interações sociais das pessoas que ali habitam. Para tanto, entendemos a
importância da inserção na comunidade por meio de diálogo e parceria com instituições, coletivos e lideranças locais
que atuam no território, visando à construção coletiva de ações que correspondam às necessidades emergentes do
local, bem como contribuições para uma visão crítica do que é a cidade e o direito a ela. Uma das ações do projeto
consiste na execução de experiências de trânsito pelo Rio de Janeiro com crianças e jovens que habitam o território da
Indiana, seguidas de atividades lúdicas disparadoras de discussões sobre alguma temática inerente à cidade (como
saneamento básico, acesso ao lazer, saúde, segurança pública e educação) que possa ser vivenciada no local visitado.
Em cada encontro solicitamos ao grupo que fizesse articulações entre a temática em discussão e as demandas
específicas do território da Indiana, para que assim pudessem pensar e construir estratégias de ação coletiva acerca
das questões envolvendo o direito à cidade em relação direta com o local onde habitam. Entendendo a necessidade de
um embasamento teórico interdisciplinar para uma intervenção na questão urbana, utilizamos as contribuições de
autores que abordam o conceito do direito à cidade, principalmente Henri Lefebvre, David Harvey, Ermínia Maricato, e
Raquel Rolnik, dentre outros. Também partimos de trabalhos em psicologia que tratam do compromisso social dessa
ciência e profissão, notadamente as produções de Silvia Lane, Bader Sawaia, Maritza Montero, Ana Bock e Martín-
Baró. Destaca-se, a partir dessa intervenção, que é também papel dos saberes atuantes de forma interdisciplinar
contribuir com a desnaturalização da reprodução hegemônica (e neoliberal) de ideologias e de cidade enquanto
espaço de privilégios. Interessa-nos assim facilitar movimentos de produção singular de cidade, além de formas de
resistência e superação das desigualdades que marcam a realidade sócio-urbana brasileira. A desnaturalização, entre o
grupo, de concepções hegemônicas de cidade que resultam em apropriações desiguais do espaço urbano e a
investigação de como a dialética subjetividade-objetividade é atravessada pelo território (que, por sua vez, interfere
na dinâmica social, produzindo processos de criminalização e segregação espacial) constituem alguns dos frutos do
referido projeto.

1171
Saúde Mental e Atenção Básica: o fio da navalha entre autonomia e tutela
Autores: Carla Silva Barbosa, UNIABEU
E-mail dos autores: carlabarbosa@gmail.com

Resumo: Esta apresentação busca fazer emergir como a loucura vem se inscrevendo na cidade do Rio de Janeiro após
15 anos da Lei da Reforma Psiquiátrica – Lei 10216 de 2001. As reflexões concernentes a este trabalho foram
elaboradas a partir da experiência profissional concomitante em duas posições distintas: componente de equipe de
Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) e supervisora clínica-institucional de território em saúde mental. Cabe
ressaltar que ambas frentes de trabalho eram do mesmo município, contudo, em territórios sanitários distintos.
Apesar de ocuparem locais no organograma de trabalho diferentes, assim como o alcance das intervenções cotidianas,
existe uma diretriz comum: trabalhar as questões da loucura tanto intersetorialmente, quanto com os demais atores
de um território. Estes espaços são circunscritos para além de uma estrutura com um verniz tecnista referente aos
cuidados com a loucura, mas enquanto um espaço para fazer aparecer as potências, as resistências e as re-existências
da loucura na cidade.
O fim dos manicômios não se encerra com a demolição das paredes dos hospitais psiquiátricos da cidade, mas com a
desconstrução das lógicas que sustentam os discursos e as práticas de cuidado da loucura (BAREMBLIT, 2002). Então, o
manicômio se desloca do conjunto de tijolos, correntes e grades do estabelecimento, compondo o campo de
discursos-verdade e práticas tecnicistas apropriadas nos cotidianos da cidade - a instituição é lógica de funcionamento.
Nesse sentido, tomamos como campo de análise a inserção e a circulação da loucura na cidade. Esta, sem dúvidas,
localiza-se em um plano de cuidado, mas não de um cuidado técnico em saúde; e sim em um plano de cuidado com a
cidade.
Se cuidar da loucura é cuidar da cidade, deslocamos essa prática de um lugar da assepsia técnica para um projeto
político de cidade. E é nesse deslocamento que a premissa da Reforma Psiquiátrica de incluir a loucura na cidade se
amplia em um projeto político de cidade construído coletivamente. Os contornos dos jogos de encaixe infantil entram
em crise e não mais precisamos nos ocupar da urgência de uma adequação das formas preexistentes, mas são
modulados novos encaixes. Se dá, ainda, a desconstrução de uma identidade da loucura, onde certas características
são, por muitas vezes, tomadas enquanto agravantes de uma patologia circunscrita e sustentada pela assepsia
descritiva do campo da psicopatologia hegemônica. Colocando a loucura como a afirmação de um outro modo de
existência que sim, pode se agenciar com múltiplas identidades que sustentam e dão contorno a existência
contemporânea, mas não enquanto uma identidade de um grupo social.
Esse deslocamento é de fundamental importância, na medida em que vivemos em uma cidade onde o projeto político
hegemônico é segregacionista e os mais pobres vêm sendo sistematicamente aprisionados em suas vizinhanças –
distingo aqui de territórios, este conceito tão importante para pensarmos a cidade. E estas vizinhanças, quanto mais
entendidas como reas de risco , mais monotemática é a inscrição do Estado através das políticas de segurança
pública.
É nesse contexto que intervenções produzidas nesses espaços estigmatizados pelo projeto hegemônico de cidade,
possibilitam que outras formas de articulações e emergências de sentido se dêem e produzam essa vizinhança em
território. Território de luta, de afirmação enquanto sujeito, de resistência e re-existência.
Transmutar a experiência de trabalho em material para ser colocado em debate coletivo já se coloca como um ato de
resistência, no sentido em que ocupa espaço de fala afirmando e enunciando maneiras-resistências de atuação do
psicólogo, descoladas de um modus operandi hegemônico cuja pauta principal está comprometida com a classificação
para o controle.

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Táticas do cotidiano: Acompanhamento terapêutico, narrativas e construção de territórios
Autores: Thiago José de Franco da Silva, UFF
E-mail dos autores: sthiagofranco@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho decorre da minha dissertação de mestrado na qual articulo a construção de territórios,
produção de narrativas e acompanhamento terapêutico. Ancorado na leitura proposta por Foucault, podemos
acompanhar o processo de transformação do hospital em uma instituição médica. Dentre os diversos princípios
propostos pelo Alienismo, destaca-se o do isolamento. Este teria como função, a retirada do louco do meio social a fim
de evitar as interferências do mundo, pois estas poderiam prejudicar a precisão diagnóstica. Ademais, o tratamento
moral prescrevia a permanência no hospital, pois este seria um lugar onde a ordem e a disciplina teriam funções
curativas. Além das funções de produção de saber e recurso terapêutico, o isolamento estaria a serviço da proteção da
sociedade. Na ausência da faculdade da razão, o louco não seria considerado cidadão, restando a ele o lugar de
perigoso, infame.
Após a segunda guerra mundial, surgem diversos movimentos que buscam outras propostas de tratamento
psiquiátrico. Destaco o movimento da Psiquiatria Democrática, pois nesta, a partir do conceito de
desinstitucionalização, a instituição que é posta em xeque é a doença mental . Dado que a partir desta foi construído
todo um conjunto de saberes e práticas que fundamentariam o isolamento, a exclusão e a patologização da
experiência da loucura e da diferença.
Basaglia propõe como método a ideia da doença entre parênteses , que não se trata de negar a existência da
loucura, das experiências que produzem sofrimento, mas de apontar uma outra posição epistemológica, na qual
busca-se alcançar o sujeito neste sofrimento, sua complexidade. Denunciando assim o duplo da doença mental , ou
seja, os modos de ser e estar institucionalizado. Tendo como lema a liberdade é terapêutica , Basaglia nos ensina
que é possível outras respostas que não a exclusão. Demonstra que precisamos abrir as portas do hospital, para que o
louco possa sair, porém a cidade deverá se abrir para que a diferença possa entrar e se expressar em sua
potencialidade. Por se apresentar como um processo social complexo, o processo de desinstitucionalização não se
limitaria a desospitalização.
Neste movimento de inserção do louco no território, as propostas da Reforma Psiquiátrica Brasileira tal como
estabelecidas pela lei n. 10. 216. Determinam que a rede de cuidados de cada portador de transtorno mental deverá
ser construída considerando sua relação com o território. Assim, o indivíduo precisará ter o seu território enquadrado
em algum setor administrativo para que este possa ser inserido em algum serviço substitutivo ao hospital psiquiátrico.
A noção de território é importante nas políticas públicas, pois seria um dos elementos na distribuição da gestão das
ações das políticas sociais.
Limitarei o presente trabalho ao município do Rio de Janeiro. Local no qual exerço a função de acompanhante
terapêutico de um Serviço Residencial Terapêutico. Definida pela portaria GM 106/2000, estas moradias estão
inseridas na comunidade, ou seja, no território. Destinam-se ao cuidado de pessoas que por muitos anos se viu
excluída, sem direito a habitar a cidade. Tendo a cartografia como método, apresentarei narrativas que foram
confeccionadas durante a minha prática na inserção de duas residências num dos bairros da zona sul do município.
O acompanhamento terapêutico se apresenta como estratégia clínica na qual há lugar para a emergência de
acontecimentos menores, corriqueiros, do cotidiano. O caminhar pela cidade, o contato direto com o socius, poderá
auxiliar na produção de um território.
De modo a articular a inter-relação entre território e produção de subjetividade, acompanho a leitura de Felix
Guattari, na qual, a subjetividade será concebida como emergência de um território existencial. Utilizarei como
referência teórica as análises propostas por Walter Benjamin na sua leitura sobre a experiência urbana e os efeitos da
modernidade, articulado à teorização de Michel de Certeau acerca das práticas de espaço. As narrativas servirão como
pistas na busca por espaços de habitabilidade. Ou seja, produção e articulação de diversos vetores, velocidades,

1173
intensidades que permitiriam a invenção de novos modos de experienciar a cidade. Estes espaços se dão a partir das
táticas exercidas no cotidiano. Possibilitando certa resistência à instauração de modos de vida instituídos.
Concluo afirmando a pertinência da inclusão deste trabalho no eixo temático Territorialidades e modos de vida:
atuação e pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo por articular produção de subjetividade, políticas
públicas, questões político-sociais e de formação dos profissionais psis envolvidos no processo de
desinstitucionalização de pessoas que possuem longo período de internação em instituições totais.

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Territorialidade e Subjetividade: desafios para a população em situação de rua
Autores: Marta Pereira Ferreira, FAMETRO-Fortaleza; Ana Talita Vale Freitas, FAMETRO-Fortaleza; Antônia Luciene
Souza Sampaio, FAMETRO-Fortaleza; Antonio Fábio Coelho Paz, FAMETRO-Fortaleza; Cileny Pereira Paula, FAMETRO-
Fortaleza; Danielle Bezerra Rodrigues, FAMETRO-Fortaleza; Flàvia Naiane Lopes Fernandes, FAMETRO-Fortaleza;
Jessica Firmino de Oliveira, FAMETRO-Fortaleza
E-mail dos autores: martapfpsico@gmail.com,fajubal@hotmail.com,lu-
cienesampaio@hotmail.com,flavyynha_mc@hotmail.com,cilenyppaula@gmail.com,danielleb0511@hotmail.com,jessi
ca.luciannarangel@gmail.com,talitavalepsi@gmail.com

Resumo: Este trabalho é resultado da proposta de três disciplinas do 7º período da graduação em Psicologia da
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO), em Fortaleza-CE, a saber, Psicologia e saúde , Psicologia
jurídica e Psicologia, drogas e cultura . Fomos instigadas a elaborar uma instalação estética de fotografias de um
grupo estigmatizado e excluído em nossa cidade. Optamos pelas populações em situação de rua por ser um público
de grande relevância social e estar fortemente presente nos arredores da faculdade. As pessoas em situação de rua
estão em um contexto de vulnerabilidade social, em que seus direitos básicos estão violados e fragilizados, estes são
sujeitos que sofrem com processo de exclusão social e se reconhecem como invisíveis para o restante da sociedade.
Varanda e Adorno (2004) afirmam que a existência de pessoas em situação de rua é decorrente das transformações
econômicas, políticas e sociais que acometem as grandes metrópoles, em nível mundial. Ghirardi et al (2005) afirmam
que esta população sofre a marginalização provocada pelo capital, tornando-se inútil e excluída socialmente. A
vulnerabilidade quanto a ir para a rua é consequência de um conjunto de fatores sociais, individuais e contextuais, não
apenas de fatores pontuais. A subjetividade da população em situação de rua começa a ser moldada de maneira
discriminatória e reduzida quando a situação de pobreza no Brasil é compreendida, a partir da premissa de que os
indivíduos devem estar em condições de resolver suas próprias necessidades, com base no seu trabalho, no seu mérito
e na sua produtividade. No cenário das ruas, provocam-se rupturas com as formas sociais, viver na rua é romper com o
estilo de vida, de formas de garantia de sobrevivência. Tendo em vista que a subjetividade perpassa questões
individuais, e coletivas, o sujeito em situação de rua enfrenta preconceito e descaso, e principalmente enfrenta o
estigma, que o define, e que a partir disto cria-se uma identidade que este não produziu, mas se apropriou. A
instalação de fotografia objetivou analisar criticamente o processo de exclusão e subjetivação das populações em
situação de rua, problematizando o lugar político da psicologia diante dessa questão. As estratégias metodológicas
adotadas pelo GT priorizaram as provocações teóricas das disciplinas e as experiências vivenciadas pelas autoras na
construção do trabalho. A partir disso, foram montadas fotografias com atuação das próprias autoras, para tentar
instigar através da arte e da criatividade discussões acerca do caráter político da atuação do(a) psicólogo(a). Foi
montado um cenário urbano, onde foram inseridas 15 fotografias autorais, sendo cada uma articulada com outros
objetos, tais como: efeitos sonoros de cidade em movimento (carros, chuva, vento, barulho), frases provocativas que
dialogaram com as fotografias, papelões, banco, varal de roupas utilizado na distribuição das fotos, dentre outros.
Foram montadas duas tendas fechadas e no pátio central da faculdade, por constituir-se um local de fácil acesso para
os visitantes e com isso, dar visibilidade a esse público e sensibilizar os visitantes para o compromisso com essas
questões sociais. Tal ação proporcionou às autoras uma inserção nos territórios e nos modos de vida da população em
situação de rua, permitindo-nos que desenvolvêssemos um novo olhar sobre essa população, à medida que a
experiência de conhecer e visibilizar os povos da rua nos fez sentir os (des)lugares ocupados territorialmente e
subjetivamente por esse grupo. Percebemos que a elaboração de trabalhos como esse nos leva a repensar o lugar da
nossa atuação profissional, pois o sofrimento é algo complexo e se expressa de várias maneiras, nos desvenda
também outros caminhos para a formação profissional, nos quais nos envolvemos profundamente com as
necessidades da nossa realidade Observamos impactos também nos visitantes, abrindo espaço para relatos,
discussões e problematizações que ensejaram um deslocamento para além dos vários muros que demarcam espaços e
nos colocam muitas vezes, distante dessa realidade, além de provocar inquietações acerca do lugar político da
1175
psicologia. Os visitantes eram convidados a olhar as fotografias produzidas, sendo conduzidos a um processo de
reflexão que interferiam nas preconcepções e preconceitos que a sociedade carrega a respeito da pessoa em situação
de rua, de forma a compreender que a condição na qual se encontram não advém apenas de suas escolhas pessoais,
mas que em decorrência das condições sociais, econômicas e culturais encontram-se marginalizadas e excluídas da
sociedade. Assim, destacamos que a graduação pode ser um lugar de profundas transformações, que vão além dos
aspectos profissionais, pois a produção crítica de conhecimentos pode contribuir significativamente na construção de
uma formação comprometida com a transformação da sociedade. Foi uma experiência enriquecedora e nos
proporcionou grande aprendizado acerca da práxis política do psicólogo e compreensão da complexidade da
problemática das pessoas em situação de rua, uma realidade cotidiana que ao mesmo tempo parece tão distante aos
nossos olhos.

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Malu osàdeàEst ada :àp oduç oàdeàte it iosàdeàexist iaàe àte s oà o àosà odelosài stitu io aisàhege nicos
Autores: Andre Luiz Strappazzon, CESUSC; Katia Maheirie, UFSC
E-mail dos autores: andreluistra@gmail.com,maheirie@gmail.com

Resumo: Esta proposta de comunicação oral parte de uma pesquisa de doutorado sobre os modos de vida de artistas
de rua e artesão nômades, ou malucos de estrada , também conhecidos popularmente como hippies, terminologias
que fazem referência àquelas pessoas que levam como ponto central de sua vida o deslocamento estradeiro,
sustentam a viagem com alguma expressão artística e/ou artesanal e tecem críticas aos modelos comuns de vida em
sociedade. O objetivo desta discussão se estabelece em torno das possibilidades de construção de modos de vida na
direção da ruptura com modelos hegemônicos e que ocorrem, principalmente, mediante o deslocamento e a
ressignificação territorial. O ponto de partida reflexivo surgiu de duas inquietações propostas por Espinosa (2008;
2009): a primeira delas se refere ao fato de até hoje (nos tempos do autor, mas possivelmente também no nosso)
ninguém ter definido o que pode um corpo; a segunda inquietação pergunta pelo que faz com que as pessoas lutem
por sua servidão como se estivem lutando por sua liberdade. A primeira inquietação pode ser interpretada a partir do
ponto de vista que liga a definição do humano a seu sentido ontológico, devir tecido pelas relações de afecção com o
mundo. Ninguém sabe o que pode um corpo, como parte da totalidade da natureza. Ou seja, o corpo ainda não se
conhece como potência associativa. A segunda pode ser interpretada em um sentido político, que questiona os
determinantes que levam as pessoas a estabelecerem relações de domínio e aceitá-las como liberdade, tendo como
base a superstição, calcada em afetos de medo e esperança, impedindo ao humano ser causa de seus afetos, o que
produziria relações em direção à liberdade. A consequência desta segunda inquietação pode ter uma incidência sobre
a primeira: há modos de vida que se compõem em torno de uma organização política que impedem o conhecimento
do sujeito sobre aquilo que ele pode enquanto potência de existir. Por outro lado, a primeira indagação pode ter
consequência sobre a segunda: o ser humano, reconhecendo-se como um grau de potência que quer expandir,
tensiona com modos de organização políticas pré-estabelecidos.
O eixo da reflexão se refere a como os malucos de estrada constroem seus modos de vida em tensão com o que eles
chamam de sistema , e que designamos como modos de vida hegemônicos, entendidos como normais em nossa
sociedade, criando outras possibilidades de existência em suas dimensões éticas, estéticas e políticas, com implicações
nas formas de se produzir processos educativos, de trabalho, comércio, ocupação territorial de espaços públicos, entre
outras relações. Neste sentido, considera-se como território tanto as espacialidades como a distribuição de processos
de subjetivação que definem modos de existência. Esta proposta se relaciona com o GT e o eixo a que se insere no
sentido, talvez à contrapelo, de refletir sobre sujeitos que tecem seus modos de vida e subjetividades no abandono, na
migração de um território especial para outro, sem se fixar em pontos de referência, a não ser provisoriamente
àqueles que aglutinam os malucos de estrada em feiras, praças ou espaços públicos cuja função assume as
perspectivas de comércio de arte de rua, formação e sociabilidade. O percurso metodológico teve na cartografia o
horizonte de inspiração. As informações agenciadas para a pesquisa partiram de documentários, entrevistas e
reportagens produzidas pelos malucos de estrada ou sobre eles, além de algumas experiências de campo. O
referencial teórico tem como base a filosofia de Espinosa e seus interlocutores, além de contar com a colaboração de
alguns estudos de Deleuze, Guattari, Foucault, Negri e Hardt, dentre outros.
Com base nas informações produzidas para a pesquisa discute-se a constituição de modos de vida hegemônicos e os
processos de subjetivação decorrentes, no encalço dos conceitos de sociedade disciplinar, biopoder e sociedade de
controle, que preconizam noções de normalidade e modulações da subjetividade, calcadas em verdades morais
erigidas ao longo da história ocidental e respondendo às demandas da produção econômica próprias ao contexto
neoliberal. Na sequência, são trazidas as críticas que malucos de estrada endereçam ao sistema e os modelos
alternativos de vida que propõem na prática. Analisa-se alguns aspectos que possibilitaram aos malucos de estrada
romper com os modos de vida dentro do sistema em direção à criação de outros, situados na dimensão dos
encontros. Tomando a viagem dos malucos como experiência e o nômade como operador conceitual, propõe-se, a
1177
partir da análise de alguns relatos conjugados com os referenciais teóricos, chamar de experiência nômade a ação
de criar em processo condições dissidentes de existência.
Neste contexto, estes modos de vida compreendidos sob o crivo da experiência nômade , convidam para reflexões e
práticas que transbordam, por exemplo, as noções de normalidades construídas historicamente ao longo da
modernidade e, nesta direção, assumem um sentido próprio sobre o significado de ser maluco , colocando-se à
margem dos territórios de existência marcados por modelos identitários pré-estabelecidos.

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GT 55 | Territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações da Psicologia Social

Coordenadoras: Giovana Ilka Jacinto Salvaro, UNESC | Janaina Bechler, UFBA | Rita de Cássia Maciazeki Gomes,
Universidade do Porto

A proposta do GT Territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações da Psicologia Social emerge em


meio as questões suscitadas pelo panorama de profunda crise política, econômica e ética que atinge todo o país.
Posicionamo-nos contra os ataques cotidianos ao processo democrático, as tentativas constantes de retrocessos dos
direitos adquiridos, a naturalização da judicialização da vida e o avanço de uma política neoliberal. Resistimos em
aceitar, a explícita implementação das regras ditadas pelo mercado, ao (des)governo de um conjunto de grandes
empresas, que as medidas governamentais empenham-se em legitimar, fomentando a rentabilização de uma elite
patrimonialista, que monopoliza os direitos territoriais, tendo a posse da terra a qualquer custo, inclusive da própria
vida. Diante desse cenário, torna-se fundamental tensionar e visibilizar as diversas matizes silenciadas nesse processo.
A crise que se evidencia nas grandes linhas da política institucional, em estado de desabamento na atualidade, vem se
esboçando já há tempos, quiçá desde sempre, em torno das questões territoriais nos centros urbanos, campos e
florestas. Em torno dessas questões, também, são produzidas experiências de resistências e experimentações,
algumas densas e com estrutura rígida, outras efêmeras e acontecimentais. É, na perspectiva de abrir espaços para
compartilhar essas experiências que o GT se constitui.
Como proposta que busca ampliar os diálogos acadêmicos e potencializar as redes de enfrentamentos a diferentes
marcadores de desigualdade social (classe, gênero, geração, raça/etnia, entre outros) implicadas na produção de
subjetividades, o GT Territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações da Psicologia Social pretende
contribuir para o debate do XIX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social - ABRAPSO em torno da
te ti aà De o a iaàpa ti ipati a,àEstadoàeàLai idadeà- Psicologia Social e enfrentamentos em temposàdeàe eç o .à
Deàfo aàespe ífi a,àoàGTàseà o figu aàaàpa ti àdeàte asà ueài teg a àoàEi oà ,ài tituladoà Te ito ialidadesàeà odosà
de vida – atuaç oàeàpes uisaàe àPsi ologiaà“o ialà aà idadeàeà oà a po ,àosà uaisàpossi ilita àatualiza àeàt aze àpa aàoà
foco do debate enfrentamentos sociais históricos, envolvendo a produção de territórios e de modos de vida.
Em tal direção, o GT acolhe propostas que apresentem discussões relacionadas à territorialidade, em suas múltiplas
expressões e a produção de subjetividade. Parte do entendimento de território como agenciador de modos de vida,
atravessado por modulações espaciais ou existenciais. Pauta, a caracterização e problematização das relações sociais
estabelecidas em contornos geográficos específicos. Leva em conta, as peculiaridades territoriais impressas nos modos
de vida em grandes centros urbanos, cidades de pequeno e médio porte, comunidades rurais, pesqueiras, ribeirinhas,
indígenas, quilombolas, entre outras. Contempla cartografias de territórios efêmeros, de contornos multitudinais, que
tensionam o conceito de território. Pauta também, reflexões sobre os atravessamentos existenciais impressos pela
territorialidade que extrapolam uma dada geografia e levam consigo modos de se posicionar diante da vida que
rompem com contornos geográficos específicos. E, assim embaralham os ritmos, a composição da paisagem, os modos
deàt a alha àeàdeàseà ela io a àt adi io al e teà espe ados àpa aàdete i adosàespaços.
O eixo encadeador das discussões do GT passa por compreender os efeitos das territorialidades na produção de
modos de vida. Desta perspectiva, entre os objetivos do GT estão: compartilhar estudos e pesquisas que abordem
relações entre Psicologia Social, territorialidades e modos de vida; socializar estratégias metodológicas de
aproximação e estudo com diferentes territorialidades, suas especificidades e desafios; problematizar o
direcionamento das políticas públicas e das relações (não)governamentais com as diferentes territorialidades; tecer
discussões sobre territorialidades em intersecção com gênero, geração, trabalho, raça/etnia, classe, política, assim
como sobre a emergência de movimentos sociais em lutas por direitos; a partir de abordagens críticas em Psicologia
Social, refletir sobre as possíveis contribuições teóricas/metodológicas para o estudo das territorialidades e modos de
vida.
As reflexões propostas para o GT Territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações da Psicologia Social
estão articuladas em torno de questionamentos sobre: Quais as motivações para se contemplar o estudo das
territorialidades na Psicologia Social? Quais as aproximações possíveis entre territorialidades, modos de vida,
subjetividades e Psicologia Social? Quais os encadeamentos teórico-práticos entre Psicologia Social, territorialidades e
modos de vida? Esses questionamentos procuram instigar problematizações sobre: a) as práticas da Psicologia Social e
os atravessamentos com as territorialidades; b) como são contempladas as discussões territoriais pela Psicologia
Social? c) quais os efeitos que essas práticas produzem? Ao se questionar como estão sendo produzidas essas práticas,

1179
se abre espaço para o compartilhamento de estudos, pesquisas, experiências profissionais que contemplem essas
discussões.
As estratégias metodológicas adotadas pelo GT priorizam a troca de experiências entre as pessoas participantes, a
partir do diálogo sobre suas produções que contemplem discussões e problematizações sobre: 1) territorialidade
como agenciador de modos de vida, sendo entendida para além do pano de fundo, do cenário em que as práticas
acontecem; 2) os atravessamentos das práticas em Psicologia Social em diferentes territórios, e 3) os saberes que
sustentam a produção dessas práticas e os seus efeitos.
Destacamos a acolhida de estudos teóricos, pesquisas, relatos de experiências de estágios e práticas profissionais que
estabeleçam reflexões sobre território e modos de vida. Trabalhos que abordem reflexões sobre problemáticas ligadas
às relações sociais, familiares, de gênero, geração, de trabalho. As interfaces com políticas públicas como saúde,
educação, assistência social, moradia, entre outras. Estratégias de organização e reivindicação de grupos, coletivos e
movimentos sociais. Na expectativa de compor uma rede de troca de experiências, convidamos que as pessoas
interessadas ao inscreverem seus trabalhos possam contemplar o uso de diferentes ferramentas para sua exposição
como o uso de imagens, vídeos, músicas, documentos, entre outras estratégias que sejam pertinentes para suscitar a
discussão.
Assim, enfatizamos que as discussões do GT Territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações da
Psicologia Social se constituem em sintonia com a temática geral do encontro da ABRAPSO. Ao levar em conta, o
cenário atual de enfraquecimento da democracia participativa e do desmonte crescente de direitos já conquistados,
muitos são os desafios que se apresentam as diferentes áreas do conhecimento e que, por conseguinte, exigem o
fortalecimento de posicionamentos acadêmicos na construção de saberes situados e críticos. Tendo em vista esse
panorama, convocamos as pessoas participantes a refletirem sobre as (com)posições possíveis de uma Psicologia
Social que possa contemplar as pluralidades e as diversidades características as diferentes expressões da
territorialidade e as narrativas das experiências singulares e seus efeitos na produção de modos de vida. Como parte
de uma estratégia, de fazer frente a tempos de desvalorização do humano e da emergência de uma crise ético/política
e, por acreditar que a intensificação de diálogos, por meio de diferentes vozes, potencializa o coletivo na luta contra
lógicas que aprisionam e violam direitos.

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Adolescência em situação de precariedade social: das fronteiras no processo de constituição subjetiva e identitária
Autores: Elisangela Barboza Fernandes, UFGD
E-mail dos autores: elibf@usp.br

Resumo: O que dizer da relação entre processo de subjetivação e território na adolescência, quando o entorno – que
na infância era sentido e servia de marco referencial – passa, com a maior consciência alcançada pelo adolescente
sobre a organização social, a ser visto, pensado, questionado? Digamos que o sujeito passa de uma responsividade
mais passiva ao entorno para uma posição de potencial questionamento, na medida em que se torna capaz de ler o
território, no sentido das relações que se estabelecem em seu interior e com o exterior, e dos discursos produzidos
sobre ele. Pensamos na relação subjetividade-território para determinada adolescência, especificamente aquela de
sujeitos pertencentes a territórios de precariedade social. Historicamente, as cidades se construíram forjadas sobre
oposições espaciais, produzidas por práticas ideológicas, que justificam desigualdades e produzem espaços destinados
aos considerados dejetos não tratáveis (Fernandes, 2005), inúteis (Carreteiro, 2003), ou seja, à parte da população
deixada à margem. Ao mesmo tempo em que os processos de exclusão inerentes a essa lógica se institucionalizam e se
fortalecem, eles participam da construção da identidade social de indivíduos e grupos, atingindo-os numa perspectiva
atual e transgeracional. Essa discussão constitui um dos desdobramentos das reflexões realizadas em minha tese de
doutorado, A adolescência e a problemática da separação: do espaço familiar ao espaço social – defendida no
Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade de São Paulo e no Programa de Pós-graduação em
Psicologia da Universidade Paris Descartes – que explorou a relação de um grupo de adolescentes com os espaços
onde viviam, em especial com o território onde moravam, para pensar a problemática da separação psíquica
vivenciada nesse período da vida. Dentro da perspectiva do eixo temático Territorialidades e modos de vida: atuação
e pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo , este trabalho tem como objetivo discutir alguns aspectos da
relação dos adolescentes com seu território, olhando para a forma como o apreendem e aos discursos produzidos
sobre ele, refletindo sobre impactos dessa relação nos processos de constituição subjetiva e identitária. Apoiamo-nos
nos pressupostos sobre a adolescência fundamentados por autores da psicanálise que acentuam e sustentam a
dimensão intersubjetiva da constituição do sujeito psíquico. Nessa perspectiva, o sujeito é pensado e escutado
enquanto sujeito de grupo e do vínculo (Kaës, 1997), sendo concebido o papel determinante da dimensão vincular
social nos processos de subjetivação. Destacamos o pressuposto de que o adolescente constrói sua identidade
estabelecendo com os outros uma forma de dependência substitutiva à vivenciada com a família. Decorre disso, em
parte, a importância alcançada na adolescência pelos espaços exteriores àquele de convivência familiar. Respaldando-
nos no referencial teórico-técnico do grupo operativo, trabalhamos com os emergentes grupais, na medida em que
surgiram nas sessões – realizadas com um grupo de onze adolescentes (15-17 anos), moradores de território de
precariedade social, na cidade de São Sebastião/SP – de modo a construir uma análise orientada pela associatividade
grupal. Foram oito encontros, tendo como eixo principal o trabalho em torno da tarefa, no sentido pichoniano, a
saber: discutir a relação com os espaços onde viviam (casa, escola, comunidade) e as relações familiares. Os resultados
revelaram que parte dos emergentes, que surgiram para dar conta da tarefa grupal, relacionam-se às dualidades entre
interior e exterior da família, íntimo e estranho , comunidade e exterior . Quanto às fronteiras da família, os limites
concretos (espaço pequeno, proximidade entre as casas) foram evocados como determinantes nas relações
estabelecidas. A proximidade reflete na falta de limites com os vizinhos, em uma realidade forçosamente partilhada
com o exterior e uma intimidade familiar invadida ou que vaza . O espaço da comunidade surgiu entre os
adolescentes em oposição a um exterior e à figura de um outro , como representante do imaginário social de
subalternização de suas famílias, grupos e comunidade. O olhar do outro , externo às fronteiras da comunidade, foi
criticado pelo grupo por seu caráter totalizante, que desconsidera sua singularidade. Se o caminho percorrido nos
permitiu apreender o sofrimento relacionado às atribuições negativas, em termos de criminalização e subalternização
social, como marcante na experiência do adolescente, com implicações na construção de sua própria imagem, de
outra parte, esse caminho revelou um sujeito capaz de apropriar-se, com criatividade, da realidade vivida, em uma
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postura de resistência às atitudes e discursos que os destituem. Eles resistem a serem aprisionados em lugares sociais
considerados inúteis, de dejetos sociais, opondo-se à destituição do valor de sua comunidade, de sua forma de viver,
morar e socializar-se, os quais fornecem os marcos identificatórios que sustentam seus vínculos. Ao situarem sua
forma de viver na história, os adolescentes se opõem à falta de reconhecimento de determinações e mediações sociais
e históricas da forma de ser de seu território. Ressaltamos a importância do grupo como proposta de intervenção,
que, tornando pensáveis situações densas, permitiu que os adolescentes falassem de questões que lhes afligiam
coletivamente, reconhecendo seus questionamentos como plurais.

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Desafios, tensões e enfrentamentos vivenciados por profissionais nos Centros de Referência em Assistência Social
Autores: Marcelo Felipe Bruniere, UFSC; Bruna Corrêa, ABRAPSO-Núcleo Florianópolis; Felipe Augusto Leques Tonial,
UFSC; Katia Maheirie, UFSC
E-mail dos autores:
marcelo2x2@hotmail.com,maheirie@gmail.com,felipetonial@gmail.com,brunacorrea1991@gmail.com

Resumo: No ano de 2004, foi criado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), materializado por meio da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS). Assegurado na Constituição Federal de 1988, a PNAS preconiza, dentre outras
diretrizes, que as ações e intervenções nos serviços de Assistência Social dos municípios devem ser regidas pelo
trabalho com coletivos, tendo centralidade nas famílias e garantindo a convivência familiar e comunitária, sendo
realizadas por equipe multidisciplinar, incluindo nesta psicólogos/as e assistentes sociais, além de outros profissionais.
Desde então, esta política, nas suas diferentes complexidades de atendimento, tem sido um espaço privilegiado de
práticas, intervenções e produção de saberes no campo da psicologia social brasileira. Por um lado, os/as profissionais
de psicologia têm se inserido definitivamente nas políticas públicas, em especial da Política de Assistência Social, e têm
desenvolvidos trabalhos nesse contexto, contribuindo às práticas e formações de saberes pertinentes a estes
contextos. Por outro lado, vemos que a equipe que desenvolve atividades no contexto da Política de Assistência Social
tem encontrado muitas dificuldades na efetivação deste trabalho, seja por falta de recursos, de apoio da gestão e/ou
outros.
Sendo assim, propomos aqui uma problematização que é recorte de uma pesquisa mais ampla, desenvolvida nos
Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) de um município da região sul do Brasil. O objetivo deste trabalho
é problematizar algumas das dificuldades e impedimentos que os/as profissionais têm enfrentado na efetivação do
seu trabalho, focando especialmente nas infraestruturas e formas de organização das equipes, necessárias ao
contexto profissional. Por outro lado, propomos discutir as estratégias desenvolvidas para o enfrentamento dessas
dificuldades.
Como metodologia de coleta de informações, foram realizados questionários e entrevistas em grupo com a equipe
técnica do serviço. As entrevistas foram gravadas e transcritas, tendo sido categorizadas posteriormente. Nas
entrevistas, pudemos notar que os/as profissionais estão sempre sendo desafiados/as em seus fazeres, tendo que
lidar com muitos impedimentos que limitam as possibilidades do CRAS em seus territórios.
Percebemos que a efetivação das diretrizes, normas e ética profissional, próprias do trabalho nos CRAS, dependem
centralmente das estratégias utilizadas no cotidiano de trabalho, assim como dos recursos (materiais e formação
profissional) disposto para tal. Também podemos dizer que notamos, em diferentes momentos, os/as profissionais do
serviço precisarem estar afirmando para a comunidade na qual estão inseridos, e para a gestão municipal, a relevância
da Política de Assistência Social e dos serviços oferecidos na comunidade e na vida dos/as usuários/as. Não raramente,
ouvem falas e sofrem represálias que buscam deslegitimar seus trabalhos e a política, em especial por ser uma ação
voltado para população de baixa renda. Como já pontuado, foi possível identificar também como a precarização de
recursos se torna um impedimento para efetivação do trabalho. Muitas vezes é difícil fazer o acompanhamento
necessário às famílias por não dispor de um carro que possa levar os profissionais. Outras vezes, por grande parte da
população atendida trabalhar durante o dia e a gestão não concordar com trabalhos fora do expediente normal (como
a noite ou no final de semana), vemos a impossibilidade de efetuar trabalhos contundentes a estas populações, pois os
usuários não podem participar dos grupos dos CRAS no horário de trabalho. Estes são alguns exemplos que merecem
ser discutidos pelos/as profissionais de psicologia, na intenção de buscar estratégias para enfrentá-los, pois, mesmo
com tais dificuldades, esses mesmos profissionais resistem e criam estratégias de realizar seu trabalho com as

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comunidades e seus coletivos, que vem se mostrando cada vez mais como potentes ferramentas de transformação
social.
Por fim, os dados coletados através das entrevistas demonstram e nos fazem refletir sobre as tensões que estão sendo
vivenciadas pelos profissionais nesse momento delicado para as políticas públicas e sociais no Brasil como um todo,
com ações e medidas impopulares sendo realizadas por um governo sem legitimidade, que contribuem para o
desmonte das Políticas Públicas e Sociais de forma geral, no nosso caso especialmente o SUAS, e que fazem com que
as condições de trabalho venham sendo cada vez mais precarizadas por este levante neoliberal.

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Devir-cidade e o poder comum de agir: subjetividades – histórias de comunidade
Autores: Lucia Maria Ozório Barroso, Universidade Paris 13
E-mail dos autores: lozorio@gmail.com

Resumo: « Você não imagina o que é morar em Mangueira. Aqui nós temos nossas artes. » (D. Mena, moradora de
Mangueira. Papo de Roda, 2011; In: L. Ozório, L´Harmattan, 2016)
Este trabalho se inspira nas nossas pesquisas nas favelas do Rio de Janeiro, notadamente na favela de Mangueira,
também conhecida como comunidade ou morro de Mangueira. (Ozório, L´Harmattan, 2014; Ozório, L´Harmattan,
2016). Problematizamos o devir – cidade em que Mangueira, território insurrecional, com suas artes de viver como diz
D. Mena, moradora de Mangueira, tem um papel importante. Como espaço-tempo permanente de construção, des-
construção e re-construção, revela a potência de um poder comum de agir (A. Negri, Stock, 2006) sempre se fazendo.
Como diz Santos (Editora Hucitec, 1997), no local o mundo se movimenta.
Caminhamos por regiões fecundas entre história e história oral e história oral de vida, em comum e comunidade e
interculturalidade e cidade. Neste hibridismo, experimentamos modalidades narrativas, pessoais, em grupos - as
histórias orais de vida em comum - nas quais concepções do comum como reservatório de heterogênese (A. Negri,
idem) se ligam a entendimentos de uma comunidade de comunicação. A abordagem hermenêutica, perspectiva
problematizadora deste trabalho, releva o ato dialógico como condição fronteiriça da tradução cultural presente no
relato em comum das histórias orais de vida, estabelecendo relações com a memória, comum, que como dizem Ozório
(idem) e Certeau (Forense Universitária, 2002), se faz, ficção do presente, no ato da narração.
Uma composição singular toma por base acontecimentos significativos desta comunidade, das vidas de seus
moradores, e prolifera, rizoma. Diferentes modos-mundos de vida se convocam mutuamente, num jogo sútil de
ressonâncias e distâncias, problematizando a vida que se inventa nas histórias narradas em comum. Trata-se da
minoritária história, descontínua e em fragmentos, que se faz em lugares n&#259;o oficiais. Através de suas histórias a
comunidade tece na cidade uma rede de múltiplos fios que se disseminam, com seu poder comum de agir,
emaranhando vozes, práticas com significações diversas. Uma outra cultura se faz, optando por certas perspectivas
estético-culturais das riquezas das fontes da narratividade em comum sem pretensão à perfeições, à estabilidades, à
formalidades, ao reinado da razão. Explicitam-se alianças entre vidas precárias e uma certa estética da existência, a
estética do comum, que pode ser compreendida desde a problemática da biopotência, segundo Negri (idem). Ou seja,
nas histórias de vida em comum os moradores de Mangueira mostram que não sucumbem ao poder sobre a vida de
que falava Foucault, às vidas nuas de que fala Agamben, mas exercitam a biopotência como poder comum de agir,
como práxis de comunidade, expansiva, aberta às possibilidades. Ao invés do poder sobre a vida, priorizam o poder da
vida, o poder político que esta tem de (se) criticar, de construir, de transformar. Pélbart inspirando-se em Negri, nos
fornece mais dados para uma reflexão sobre a biopotência, como dispositivo ontológico posto que ...não é apenas
material, nem só imaterial, nem subjetivo, nem objetivo. nem apenas linguístico, nem apenas social. Por isso mesmo,
ele não é suscetível de nenhuma mensuração: é uma virtualidade desmedida, é um poder expansivo de construção
ontológica e de disseminação (PÉLBART: Festival de Alkantara/Lisboa, pg.88, 2006). A biopotência como trabalho da
vida nos autoriza a relevar neste poder comum de agir composições inusitadas aberta a uma ética das subjetividades e
do antagonismo, dando visibilidade a processos que não deixam que a subjetividade se liquefaça no contexto pós-
moderno. Vale aqui outra precisão : consideramos aqui o que Negri (DP&A editora, 2003) chama de vida, que não
deve ser confundida com interpretações afeitas a um vitalismo positivista ou materialista. A vida não porta um fora ,
mas como potência é vida que deve ser vivida desde dentro , desde os processos de subjetivação. Assim, modos de
vida, singulares modos de ser, estar no mundo trabalham, e uma cidade disseminada acontece, em constante devir.

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São debates para se pensar a comunidade pobre na cidade. Por que não no mundo? Buscamos nexos entre teorias e
práticas, propondo alternativas para demandas contemporâneas de comunidade e para paradigmas teóricos
inovadores neste campo. Consideramos importante uma reflexão sobre a ética na pesquisa com as periferias, e suas
conexões com a psicologia social comunitária como uma in-disciplina, atravessamento de práticas discursivas que se
aliem às urgências de um comum como reservatório de hererogênese. Como trabalhar/pesquisar com a problemática
periférica?

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Diálogos audiovisuais da Psicologia na relação pessoa-ambiente: sala de aula como espaço de criação
Autores: Adriana Barbosa Ribeiro, UFSC; Andréa Vieira Zanella, UFSC
E-mail dos autores: ianaribeiro@gmail.com,avzanella@gmail.com

Resumo: O objetivo do trabalho é apresentar uma experiência de criação e experimentação de registro social e
estético da cidade de graduandos em Psicologia, por meio da construção de curtas-metragens, na categoria
documentário.
Compreender a cidade também é buscar entender as múltiplas vozes que compõem sua polifonia, as formas de existir
de sua população e os modos de vida que ali se estabelecem. Nas palavras do sociólogo Robert Park (1967, p. 3), é a
tentativa mais bem-sucedida do homem de reconstruir o mundo em que vive o mais próximo do seu desejo. Mas, se a
cidade é o mundo que o homem criou, doravante ela é o mundo onde ele está condenado a viver. Assim,
indiretamente, e sem qualquer percepção clara da natureza da sua tarefa, ao construir a cidade o homem reconstruiu
a si mesmo. O que nos faz refletir, conjuntamente com Harvey (2012, p.74), que o tipo de cidade [que] queremos
não pode ser divorciado do tipo de laços sociais, relações com a natureza, estilos de vida, tecnologias e valores
estéticos [que] desejamos .
Contudo, também é necessário entender que nosso agir no mundo é posicionado na trama de ideias, forças e relações
diárias, ligadas à dinâmica política, econômica e cultural, que é marcado por um tenso e intenso debate entre várias
vozes sociais. (Bakhtin, 2008)
Articulado com as ideias anteriores, o projeto Inter-relação Pessoa-Ambiente: diálogos audiovisuais da Psicologia foi
desenvolvido pelos/com alunos de graduação de Psicologia de uma instituição de ensino privada de Macapá- AP, como
forma de apreender os aspectos teóricos da disciplina Psicologia Ambiental durante o segundo semestre de 2014 e o
primeiro semestre de 2015. Visava refletir com os discentes sobre o contexto socioespacial da cidade e o ambiente,
através do registro de imagens da realidade cotidiana na relação com o olhar contextualizado teoricamente. A partir
da discussão de temas como espaço e lugar, ambiente urbano e natural, apego e apropriação do lugar, identidade
social urbana e comunitária, os estudantes foram estimulados a criar um projeto de curta-metragem, na categoria
documentário, que trouxesse a inter-relação pessoa-ambiente como temática e possibilitasse o aprendizado na
relação com o processo criativo e reflexivo de planejamento, elaboração e execução de curtas-metragens.
Imaginar e criar algo novo é necessário, mas sempre desafiador para o ser humano. Pensar o processo de
aprendizagem associado à criação de uma produção audiovisual era preciso um norte, principalmente no contexto de
ensino/aprendizagem. Assim, formaram-se grupos de 5 a 6 pessoas que, durante o primeiro mês de aulas teóricas,
escolheriam temas para trabalhar. Na primeira atividade avaliativa, os grupos desenvolveram a construção do
projeto/roteiro para o curta metragem (introdução, objetivo, metodologia, cronograma e bibliografia, anexo roteiro)
e, após orientações em sala de aula, houve a execução do trabalho de produção. Para que os registros da imagens
ocorressem foram utilizados pelos alunos instrumentos como: câmeras de celulares e câmeras semiprofissionais, e
para que o áudio não perdesse qualidade alguns grupos usaram concomitantemente gravadores portáteis ou o
recurso no celular durante as entrevistas.
O resultado do projeto totalizou 15 curtas-metragens de aproximadamente 10 minutos cada e um trabalho com fotos.
Essas produções foram divididas em duas categorias, a primeira relacionada a questão ambiental e a segunda trata
lugares da cidade e espaços de convivência comunitária.
Sobre o resultado dos documentários é possível afirmar que as produções dos jovens acadêmicos pôde alcançar uma
estética da cidade que era pouco percebida cotidianamente pela maioria dos alunos. Principalmente quando a relação
com a cidade está cada vez mais baseada na funcionalidade, na ordem do prático-utilitário passando para a lógica do
consumo que é característica das sociedades capitalistas.
Assim, pôde-se refletir e buscar aproximação com Bahkitin em seu conceito de arquitetônica , pois como destaca
Machado (2010) este conceito volta-se para a compreensão das relações, entendendo que

1187
o mundo das relações arquitetônicas é o mundo do homem que fala, que se interroga sobre si, sobre seu entorno e,
ao fazê-lo, articula relações interativas capazes de enunciar respostas a partir das quais constrói conhecimentos.
(Machado, 2010, p. 204)
Por esta perspectiva percebe-se um espaço de construção, de movimento em que tudo se implica mutuamente e os
elementos em ação interferem uns sobre os outros. As produções audiovisuais permitem perceber a transformação
das relações entre pessoas, dos modos de habitar e conviver que segundo Zanella, Levitan, Almeida e Furtado ( 2012,
p. 249) vem sendo aceleradamente intensificada nas últimas décadas com a profusão das tecnologias da
comunicação e informação (TIC), das mídias e seus recursos constantemente renovados. Nesse movimento, como
destacam esses autores, também são reinventados, com as TIC, os modos de se fazer política.
Desse modo, os curtas-metragens são produtos de uma reflexão teórico, ética e estética dos discentes que permitem
perceber as relações dos corpos nos espaços, se apropriando, ocupando ou resistindo para ter o direito à cidade.

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Espaços de fazer viver e do deixar morrer da população masculina no município do Rio de Janeiro: uma análise da
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde dos Homens
Autores: Rita de Cássia Flores Muller, UNISUAM
E-mail dos autores: ritafloresmuller@gmail.com

Resumo: Acompanhando a proposta do grupo de trabalho Territorialidades, modos de vida e subjetividades:


aproximações da Psicologia Social este trabalho analisa a presença de homens jovens em espaços (de saúde/ via
saúde) como forma de resistência à gramática normativa do gênero. As reflexões apresentadas tem seu ponto de
ancoragem nos discursos sobre a medicalização da sexualidade masculina na contemporaneidade, sob o viés de
acontecimento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (Muller, 2012). Acontecimento este que
acentua a construção de uma política do corpo e para os corpos de homens jovens e adultos, visibilizada em sua
aparelhagem do Estado, seus objetivos gerais e específicos, princípios e diretrizes, seu plano de ação e matriz de
planejamento. Literalmente, espaços são construídos e habitados, mantidos ou subvertidos, mas também mortificados
em suas (im) possibilidades de existência. O presente resumo apresenta os resultados da pesquisa de pós-
doutoramento intitulada Memórias de um sujeito de direitos à saúde: a medicalização da sexualidade masculina no
Brasil nos arquivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem . No campo das políticas de saúde
para homens no Rio de Janeiro, quais espaços/presenças a cidade tem acolhido e evidenciado? Destacam-se como
conceitos centrais da pesquisa os de cidade-arquivo (no sentido do arquivo de Michel Foucault em Arqueologia do
saber e A ordem do discurso) e o de corpo-arquivo, conforme Jacques Derrida em Mal de Arquivo: uma impressão
freudiana para refletir sobre o corpo do homem como o lugar de impressão do poder que visibiliza inscrições
históricas também descontínuas acerca de seus próprios objetos. Em que se transforma o arquivo quando ele se
inscreve diretamente no próprio corpo? – questão balizadora do próprio autor para analisar a relação entre corpos e a
cidade. O corpo do homem é o próprio arquivo enquanto lugar de impressão, suporte na contemporaneidade ao
revisitar a historicidade dos males da sexualidade masculina e, portanto, atual na positivação destes. Real enquanto
materialidade do corpo e do que dele escapa à significação. Virtual enquanto o fantasmático da doença que abala a
estabilidade da saúde. No limite da biopolítica, como administrar um corpo que resiste ao toque da medicalização? A
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem é uma das linhas de uma teia macrossocial de investimentos
no homem como população. Os enunciados analisados na constituição da Política operam como códigos de
normalização sobre a medicalização da sexualidade masculina, sem esquecer que o processo de normalização é
inseparável do processo de abjeção social, numa referência direta à Judith Butler. Incidindo prioritariamente sobre
homens jovens e adultos, o racismo – "condição de aceitabilidade de tirar a vida numa sociedade de normalização",
conforme enunciado por Michel Foucault – imprime marcas segregadoras diferenciadas e que implicam restrições
específicas para homens (e mulheres) no acesso aos direitos sociais como cidadãos brasileiros, conforme a composição
dos indicadores em saúde permite entrever. O corpo de homens como realidade biopolítica é permanentemente
operado pelas estratégias de medicalização em alvos específicos do biopoder: sua normalização pelo direito à vida e a
contenção do excessivo de uma violência produzida em torno da noção de periculosidade social. No território analítico
da vida precária da filósofa estadunidense Judith Butler e sua proposta de vulnerabilidade discursiva não dissociada da
vulnerabilidade física, corporal e política, é o corpo em trânsito na cidade que se impõe como a arena de embates
biopolíticos. Corpo situacional, no agenciamento limítrofe de uma vida regrada de cuidados via acesso/não acesso a
serviços de saúde, como lugar público de exposição a riscos tangíveis ou intangíveis, em que os discursos de promoção
de saúde (se) oferecem como garantia. Nesta aparelhagem de produção de verdades, apoiada em diversas
instituições, redes de saber e atores sociais, a população jovem masculina está na ordem do dia – seja como alvo dos
olhares do biopoder (via fazer viver ou deixar morrer), seja como agente/território de resistências, obstaculizando a
1189
compulsão à repetição e produzindo movimentos diferenciais. Do autômaton ao tiquê, são espaços visíveis na cultura
e na cidade como aberturas à produção de testemunhos via agenciamento individuais e coletivos. Em outras palavras,
trata-se de ouvir a afirmação da vida em territórios que o poder a tem silenciado. Trata-se, efetivamente, da análise da
constituição de uma agenda de trabalho nas áreas de saúde e desenvolvimento social global voltada à população
jovem masculina que tem instaurado espaços de fala/escuta/intervenção no município do Rio de Janeiro.

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Famílias à margem: vivências em um processo judicial de remoção e reassentamento
Autores: Pablo Ferreira Bastos Ribeiro, UFMG; Laura Cristina Eiras Coelho Soares, UFMG
E-mail dos autores: pablitobhe@yahoo.com.br,laurasoarespsi@yahoo.com.br

Resumo: As reivindicações por moradia digna, especialmente no município de Belo Horizonte e Região Metropolitana,
têm ganhado destaque nos últimos anos. O que ocorre principalmente com o crescimento da incidência de ocupações
pela cidade e região metropolitana. Esse fenômeno pode ser, dentre outros fatores, reflexo da falta de habilidade
política do poder local para garantir o direito à moradia que é resguardado pelos artigos 182 e 183 da Constituição
Federal de 1988, regulamentado em 2001 pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01). Nesse contexto, a presente
pesquisa se propôs a estudar sobre famílias de camadas populares que vivenciam um processo de remoção e
reassentamento. As casas dessas famílias encontram-se na faixa de domínio de uma rodovia sob responsabilidade do
Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre - DNIT. Cabe ressaltar que, dado o contexto de ineficiência dos
órgãos públicos para lidar com a situação, a Justiça Federal criou um programa de conciliação, no intuito de assegurar
o direito à moradia digna para essas pessoas, ao passo que também se faça possível a execução das obras viárias.
Instala-se, assim, a judicialização de políticas públicas que deveriam ser conduzidas pelo poder executivo. Todavia,
nesse sentido, historiadores do urbanismo em Belo Horizonte pontuam que o poder executivo desde a origem do
município tem transferido para o mercado a atribuição de regular o acesso à cidade. Esta pesquisa teve como objetivo
principal compreender os impactos, as transformações e as expectativas produzidas nas famílias que vivenciam tal
processo. A relação com o GT selecionado se dá em face dos modos de vida e arranjos familiares dos que estão
envolvidos pelo processo de remoção, tendo como ênfase a apropriação dos espaços e territórios, bem como as suas
resistências, enquanto importantes componentes da subjetividade desses sujeitos. Também se articula ao problema
das práticas de gestão da cidade, as quais se revelam primordialmente regidas pelos interesses do mercado. Outro
aspecto que se articula refere-se à dissensão entre o tempo das famílias, sempre dinâmicas, em relação ao tempo da
justiça e das políticas públicas, levando-se em conta um imbróglio institucional que se dá pelo fato da justiça assumir
tarefa que deveria competir ao poder executivo, remetendo à problemática da judicialização da vida. Sendo assim, o
presente trabalho abrange tanto questões relacionadas à temática dos territórios, quanto do direito à cidade e à
moradia digna sob a perspectiva da Psicologia Social em interlocução com autores do campo do urbanismo e da
sociologia. Para se atingir o objetivo exposto, foi proposto o uso de três principais instrumentos metodológicos, a
saber, revisão bibliográfica, análise documental e entrevistas semiestruturadas com seis moradoras de uma das vilas a
ser removida. Com o levantamento bibliográfico buscou-se garantir o aprofundamento no marco teórico que norteou
a pesquisa. O estudo de documentos referentes ao processo de remoção e reassentamento intenta a contextualização
histórica e sociocultural do objeto de pesquisa. Já as entrevistas permitiram a coleta de dados que contempla a visão
sobre o processo e seus impactos para as famílias. Conforme registros, desde 1999 se alongam sucessivas tentativas
frustradas de realizar a remoção forçada dos residentes às margens do Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Ainda que
diversas famílias possam vislumbrar no processo de remoção e reassentamento a possibilidade de uma moradia mais
digna, pouco se avançou nesse sentido, criando-se uma extensa trajetória de expectativas frustradas nos moradores
das ocupações que se encontram às margens das vias e da sociedade. Nesse cenário de isolamento, o marco teórico
pesquisado leva a crer que a família pode ocupar lugar de destaque quando entendida como instituição de potência
dentro da comunidade. O problema pesquisado dá relevo à importância de lançar um olhar para a família, enquanto
instituição potente, instalada em um contexto no qual o poder público, costumeiramente ausente, se atenta para a
resolução de problemas de modo que, por vezes, se distancia daqueles que sofrem mais diretamente os impactos de
suas ações, como é caso das remoções em rodovias para a sua duplicação. Nesse sentido, compreende-se que os
vínculos familiares e os laços de solidariedade podem estabelecer redes que fortalecem a comunidade, num contexto
de resistência aos processos de desumanização e violação de direitos das camadas populares que vivenciam a
iminência da remoção e do reassentamento.

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Modos de viver e habitar de uma comunidade em situação de vulnerabilidade social no município de Santo Ângelo -
RS
Autores: Andrea Fricke Duarte, URI
E-mail dos autores: deafridu@hotmail.com

Resumo: Como vivem e habitam os moradores de um bairro em situação de vulnerabilidade social em Santo
Ângelo/RS? Quais suas principais demandas e potencialidades? Esta pesquisa se encontra em processo e se configura
como uma prática cartográfica ao se inserir em uma comunidade em situação de vulnerabilidade social na capital das
Missões – noroeste do Estado do RS. A cartografia se delineia como uma pesquisa-intervenção e se propõe a intervir
com a possibilidade de desenvolver dispositivos de protagonismo social e a realização de ações conjuntas com a
respectiva comunidade. Tem como objetivos principal cartografar a comunidade em situação de vulnerabilidade,
assim como agenciar o protagonismo social, através dos dispositivos de autoanálise e autogestão. E como objetivos
específicos: Identificar as principais demandas dessa comunidade e construir ações conjunta;Resgatar a história da
comunidade e as narrativas de vida desses moradores, entre outros. Essa comunidade é considerada perigosa e
violenta, marcada pelo tráfico de drogas e marcada por alguns assassinatos referenciados a esta atividade, de tal
maneira que a principal queixa da população é sobre a violência. Algumas das consequências diretas na vida dos
moradores é: não se consegue emprego quando anunciado o lugar onde vivem, e ao necessitar de fichas de
atendimento em postos de saúde especializados, não conseguem pois não entra nem taxi e nem moto-taxi no local no
horário em que necessitam, ficando desassistidos. Logo, a escolha pelo GT 55 – Territorialidades, modos de vida e
subjetividade: aproximações da psicologia social se justifica uma vez que ele propõe acolher propostas que
apresentem discussões relacionadas à territorialidade, em suas múltiplas expressões e a produção de subjetividade.
Parte do entendimento de território como agenciador de modos de vida, atravessado por modulações espaciais ou
existenciais. Pauta, a caracterização e problematização das relações sociais estabelecidas em contornos geográficos
específicos. . E o Eixo temático mais adequado seria o de número12. Territorialidades e modos de vida: atuação e
pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo, por pensar os processos de produção de subjetividade a partir
desse corte do território, embora também se realize análises da desigualdade social, investigações e intervenções em
contextos de exclusão, marginalização, vulnerabilidade e desfiliação social, bem como práticas de resistência (...).
(Eixo 1). A pesquisa então se configura como uma pesquisa-intervenção, pois, segundo (PASSOS, BARROS, 2015) A
intervenção sempre se realiza por um mergulho na experiência que agencia sujeito e objeto, teoria e prática, num
mesmo plano de produção ou de co-emergência – o que podemos designar como o plano da experiência (pp.17-18).
O trabalho se deu em diferentes momentos, o primeiro de caminhar pela cidade até definir o bairro, para num
momento posterior, acompanhar as agentes de saúde e conhecer a população e escutar suas principais demandas.
Depois se constitui um grupo de mulheres, que passou a se reunir no ginásio de esportes do bairro. Nessas etapas
houve um importante processo que está em pleno desenvolvimento. Fizemos a passagem de utilizar um território-
suporte em modelo de grupo – o clube-de-mães, instituído no município pela política de Assistência Social, para tentar
produzir outro formato a partir da auto-análise e auto-gestão (BAREMBLITT, 1998). Nesse percurso o grupo viveu uma
espécie de desterritorialização (ROLNIK, 1996) que operou certo desconforto, surgindo perguntas: mas o que vamos
aprender aqui? Quais oficinas serão ofertadas? denunciando uma lógica do modelo assistencial na qual a própria
constituição do grupo foi possível. Como é habitar um lugar onde os lugares são móveis e aberto para a constituição
de si e do outro numa relação que se dá a cada vez. Passado o momento de certa confusão e esvaziamento, parece
que agora um espaço mais aberto está podendo ser suportado no grupo e uma importante questão das mulheres se
delineia: a necessidade de complementação ou mesmo uma geração de renda. Iniciamos a produção de alguns objetos
utilizando o material disponibilizado pela assistência – com as linhas de crochê e o tecido de algodão algumas
confeccionaram panos de prato e outras fuxico sobre tampinhas de metal para fazer suporte para panelas. Outra
experimenta papel reciclado. O momento é de grande experimentação, seja nos materiais que conversam com a
proposta da reciclagem, como da abertura para inventar relações numa lógica não totalmente definida, mas que a
1192
cada encontro parece inventar novas medidas. Com referencial da esquizoanálise (DELEUZE, GUATTARRI, FOUCAULT,
entre outros tantos) e da Análise Institucional vamos compondo um modo de pensar e agir junto com essa
comunidade. Aqui apresentamos um recorte de um processo que se encontra em pleno movimento. Afinal, para
(KASTRUP, BARROS, 2015) o cartógrafo desenvolve práticas de acompanhamento de processos inventivos e de
produção de subjetividades, e requer na ida a campo, necessariamente, a habitação de um território, que em princípio
ele não habita, logo, o cartógrafo mantém-se em contato direto com as pessoas em seu território existencial (p.56). É
isso que temos feito, todas as quartas-feiras a tarde.

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O efeito do trabalho agente comunitário de saúde na pólis e o efeito da pólis nos modos como são produzidos o
cuidado em saúde
Autores: Raquel Ghizoni Argenta, UNIVALI
E-mail dos autores: raquelg.argenta@gmail.com

Resumo: Introdução: O presente trabalho parte da problemática de entender como o trabalho do ACS afeta a pólis e
como o modo de ser na pólis afeta também o seu trabalho No contexto do Sistema Único de Saúde e como figura do
trabalho em atenção primária, o agente comunitário de saúde (ACS) constitui-se em um trabalhador com aspectos
singulares que estabelece relações de confiança entre as pessoas do território e a equipe (SAKATA E MISHIMA, 2012),
propondo, deste modo, um novo entendimento acerca do processo saúde-doença. Silva e Dalmaso (2002) trazem duas
dimensões da proposta pelo trabalho do ACS: uma mais técnica, relacionado ao atendimento a comunidade, a
intervenção para prevenção de agravos ou para o monitoramento de grupos ou problemas específicos, e um outra
mais política, que não se limita apenas em solidariedade à população e da inserção da saúde no território, mas,
também, no sentido de organização e transformação da comunidade. Objetivo: Objetivou-se com esta pesquisa
entender o efeito do trabalho do agente comunitário de saúde na pólis e entender como a pólis afeta o trabalho do
agente comunitário de saúde. Deste modo, faz relação com o eixo Territorialidades e modos de vida: atuação e
pesquisa em Psicologia Social na cidade e no campo no sentido de aborda a produção de subjetividade no território,
compreendendo o ACS como um trabalhador que aproxima o território dos serviços de saúde, deste modo transforma
o contexto em que atua e está inserido. Orientação teórica: No que se refere ao trabalho, o entendemos como uma
ação humana que transforma os sujeitos ao mesmo tempo em que este transforma o mundo, deste modo o trabalho é
o meio de produção de vida que perpassa a esfera da apropriação de sentidos e constituição da subjetividade
(ANTUNES, 2008). A pólis é entendida aqui como ou seja a cidade-estado, ou seja, comunidade política (ANDRADE,
2015). Nesse sentido, ao construirmos cidades, construímos modos de ser a nossa cidade (BRASIL, 2005, p. 50),
assim, compreendemos que os sujeitos são constituídos e constituem uma cultura, a qual não é estática, está sempre
mudando. Desta forma, os modos como são produzidos os cuidados de saúde no território, são também coletivos e
culturais. Ou seja, o agente comunitário de saúde enquanto trabalhador da saúde, ao cuidar do outro é transformado,
ao mesmo tempo em que transforma o outro e o contexto. Método: Foi realizada uma pesquisa qualitativa, aprovada
pelo Comitê de Ética 121265/2016. O instrumento utilizado foi entrevista coletiva com nove agentes comunitários de
saúde das três equipes de estratégia saúde da família de uma unidade básica de saúde do município de Itajaí- SC. O
texto da entrevista foi analisado em sua integralidade e unidade, a partir da leitura exaustiva da transcrição, sem
cortes, da entrevista gravada. Assim, a análise foi realizada partir da identificação de núcleos de sentido nas falas dos
sujeitos participantes. Resultados: Os ACS relatam que houve uma burocratização do seu processo de trabalho, devido
a informatização das informações e a falta de insumos e de sistema. A partir disso, entende-se que a burocratização
afetou a interação com o território, pois eles abordam que antes da informatização eles conseguiam fazer grupos, o
que desafogava um pouco a demanda da unidade básica de saúde (UBS), pois aqueles usuários que frequentavam
os grupos, procuravam menos atendimentos clínicos. Além disso, eles contam que os usuários cobram as visitas deles
e essa expectativa do usuário sobre seu trabalho resulta nos sentimentos de frustração e insatisfação. Além disso, eles
contam que por residirem no mesmo bairro em que trabalham, há dificuldades de separar a vida pessoal, da
profissional, e levantam a necessidade de ser frio . Todas estas questões contribuem para o modo como o cuidado
em saúde é produzido no território. Considerações: Deste modo, entende-se o trabalho do ACS como transformador
do contexto em que atua, ao mesmo tempo em que há uma significação do território, ou seja, há uma apropriação
ativa e dos modos de ser e de viver na pólis que transformam o modo como o cuidado é produzido naquele território.

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Quem caça jeitos cata ventos: uma cartografia da Casa dos Cata-Ventos
Autores: Ricardo André Cecchin, UFRGS
E-mail dos autores: ricardocaxambo@yahoo.com.br

Resumo: Apresento neste trabalho o andamento de uma pesquisa cartográfica de construção de uma rede de cuidado
para crianças com a Casa dos Cata-Ventos. Esta Casa está sediada na Vila São Pedro, uma comunidade que ocupa um
território no espaço urbano da cidade de Porto Alegre há algumas décadas e tem como principais ofícios a coleta de
materiais recicláveis, serviços domiciliares e o comércio de substâncias ilícitas. Esta comunidade, até hoje, conta com o
desprezo da sua vizinhança de classe média e da prefeitura, que buscam invisibilizá-la sob o selo da exclusão social. A
Casa dos Cata-Ventos surge ali como experimentação e projeto de extensão universitária da UFRGS em parceira com a
Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Com declarada inspiração no trabalho da Casa da Árvore no Rio de Janeiro e a
estrutura Dolto, de Paris, propõe um espaço de escuta através do brincar e do conversar para crianças de até onze
anos. Este projeto aposta que o brincar é por si só terapêutico, pela sua potência de produzir efeitos estruturantes e
organizadores (GAGEIRO, TAVARES, ALMEIDA e TOROSSIAN, 2015). Diversificando sua atuação este projeto acolheu
um outro, de contação de histórias, uma vez por semana. Posteriormente, instituiu uma oficina de capoeira, atividades
voltadas ao letramento e outro para seus egressos adolescentes.
Com uma metodologia cartográfica esta pesquisa aposta na produção coletiva de conhecimento ao trabalhar com a
equipe da Casa dos Cata-Ventos. Como uma pesquisa-intervenção, produz ao mesmo tempo o conhecimento, seu
campo e o pesquisador. Sem uma meta a ser alcançada por um caminho pré-estabelecido, o pesquisador afeta e é
afetado em um território existencial compartilhado. Na cartografia ocorre uma reversão do sentido tradicional de
método - não mais a busca de respostas para questões fixadas anteriormente, mas encontrar questões no próprio
percurso da pesquisa. Implica em confiar, em apostar - que nessa mutualidade afetiva dos encontros, durante o
próprio percurso da pesquisa, possa fazer-saber algo novo (PASSOS, KASTRUP, ESCÓSSIA, 2010).
Cartografar é acompanhar processos, mas no trabalho feito pela equipe da Casa dos Cata-Ventos também parace
haver um movimento interessante de acompanhamento. Acompanha-se processos pessoais, grupais, educativos,
sociais, institucionais, culturais, clínicos, políticos, terapêuticos, etc, tanto pela pesquisa cartográfica como pela equipe
da Casa. E, para acompanha-los, são criados, em equipe, casos clínicos - singularidades coletivizadas e agenciadas num
plano de imanência (DELEUZE, 2016) . São discutidos em reuniões de equipe semanais, também, a partir das
discussões disparadas no grupo de e-mails, onde os plantões e oficinas são relatados e compartilhados. A ferramenta
da escrita dá consistência a essas construções teóricas na elaboração dos casos clínicos, fazendo operar conceitos e
narratividades na invenção de um plano comum.
As problematizações desta cartografia são processuais assim como suas análises e restituições. Surge uma questão
logo na primeira revisão bibliográfica ao identificar um dispositivo acoplado à vida das crianças, a infância
(ABRAMOWICZ, RODRIGUES, 2014). Problematiza-se, então: como a construção de casos clínicos com a equipe pode
provocar desvios e linhas de fuga para a produção de sujeitos-criança, singularidades, diferenças? Como produzir
casos clínicos de crianças deslocados do dispositivo infância?
No trabalho com a Casa surgiu uma demanda por Acompanhamento Terapêutico (AT) com uma menina de doze anos
que, para além do cuidado com ela, está promovendo a tessitura de uma rede com a Casa dos Cata-Ventos e um
mapeamento cartográfico do território. O AT opera um modo de acolher, de fazer-saber, uma clínica do
acontecimento implicada com uma ética da hospitalidade e da amizade (ARAÚJO, 2013). Experimenta-se, nas
itinerâncias com esse AT, encontros inusitados da mesma forma como quando se brinca com as crianças. Encontramos
em nosso flanar a escola, a creche comunitária, uma rinha de galo, os serviços de atenção à saúde, o sentimento
ambíguo da maternidade, o programa do Chapolin, o som do berimbau, um policial, outras redes e outros elementos
que se agenciam e se embolam na invenção de outros modos de (r)existir. Assim, a construção de uma rede de
cuidados a partir da Casa dos Cata-Ventos busca seguir um movimento acolhedor e brincante ao agenciar a Casa e a
comunidade com outros espaços potenciais de cuidado, sem metas fixas e planos totais.
1195
Referências:
- ABRAMOWICZ, A.; RODRIGUES, T.C. (2014) Descolonizando as pesquisas com crianças e três obstáculos. Educação e
Sociedade, Campinas, v. 35, n. 127, p. 461-474.
- ARAÚJO, F. (2005) Um passeio esquizo pelo acompanhamento terapêutico: dos especialismos clínicos à política da
amizade. Dissertação (Mestrado em Estudos da Subjetividade). Universidade Federal Fluminense. Niterói, RJ.
- DELEUZE, G. (2016) Imanência: uma vida… Revista Limiar. Vol. 2, n. 4. p.178-181.
- GAGEIRO, A. M.; TAVARES, E. S.; ALMEIDA , R. M. C.; TOROSSIAN, S. D. (2015) Texto disponível em:
http://www.appoa.com.br/correio/edicao/247/casa_dos_cata_ventos_uma_estrategia_clinica_e_politica_na_atencao
_a_infancia/226
- PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. (2010). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de
subjetividade. Porto Alegre: Sulina.

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Relato de experiência em psicologia no território de medidas socioeducativas
Autores: Danise Mirapalheta Maciel, UFPel; Andrea Basilio Dias, UFPel; Anne Santos Stone, UFPel; Édio Raniere, UFPel;
Fernanda Pinto Miranda, UFPel; Jéssica de Souza, UFPel; Larissa de Oliveira Pedra, UFPel
E-mail dos autores:
Danisemirapalheta@hotmail.com,anbadi@gmail.com,jessicahaetinger@hotmail.com,edioraniere@gmail.com,fpintom
iranda@hotmail.com,larissadeoliveirapedra@gmail.com,stoneanne@live.com

Resumo: O presente trabalho nasce como um estudo de caso sobre uma série de oficinas (música, escrita,
customização de bonés e camisetas e confecção de máscaras) realizadas no contexto de um estágio de Psicologia em
uma unidade territorial de internação do CASE (Centro de Atendimento Socioeducativo). Em uma primeira análise,
identificamos tais oficinas como uma forma possível para que, através de reflexões e experimentações, os
adolescentes encontrassem a si mesmos, tentando produzir subjetividades, em um processo de tornar-se pessoa
semelhante ao postulado por Rogers (2001).
A imagem buscada pelos adolescentes aproxima-se esteticamente da obra Excavation, de Willian Cobbing (2004).
Como se existisse uma espécie de transcendência que surge antes do sujeito, uma verdade que pode ser encontrada e
que já existe pronta em algum lugar. Para acessá-la, basta refletir e ressignificar. É como a ideia de demiurgo em
Platão ou o famigerado "conhece-te a ti mesmo" socrático.
Contudo, avançando em nossas pesquisas, passando pela crítica à sociedade disciplinar (FOUCAULT, 2014) e à
sociedade de controle (DELEUZE e GUATARI, 2011) e buscando o enfrentamento à desigualdade social. Chegando em
Nietzsche (2009), com a destruição da ideia de sujeito e da impossibilidade epistemológica em responsabilizar
individualmente estes adolescentes (como preconiza o SINASE e como se empreende forças em forças disciplinares e
controladoras, nas práticas socioeducativas), nosso método passou de estudo de caso para cartografia.
Nesta segunda paisagem de compreensão, passamos a pensar as experimentações das oficinas com os adolescentes
não como um processo de descoberta, mas como um processo de invenção, como um novo território que age como
agenciador de modo de vida, atravessado por modulações existenciais. Encontramos a referência estética desta
paisagem na obra Transfiguração (2001), de Olivier de Sagazan.
Rolnik (2007, p. 33) ao pensar o método cartográfico, enquanto apresenta sua própria cartografia através de
personagens conceituais, pensa o conceito de território, ou seja,
Uma série de agenciamentos de matérias de expressão forma, diante de você, uma espécie de cristalização existencial,
uma configuração mais ou menos estável, repertório de jeitos, gestos, procedimentos, figuras que se repetem, como
num ritual. Perplexo, você descobre o óbvio: é isso que faz com que essas personagens se sintam em casa (...)
Conforme trazido por essa autora, o conceito de paisagem relaciona-se com as criações que se dão a partir de um real
social, que, neste caso, é vivido pelos adolescentes nas oficinas desenvolvidas. A paisagem pode ser compreendida
também como esses múltiplos repertórios que compõem a relativa estabilidade do território. Transitando entre essas
duas paisagens, estamos elaborando nossos perceptos e afectos (DELEUZE, 1992) e buscando ações que sejam
rigorosas em relação à complexidade da realidade.
O trabalho realizado em conjunto com os adolescentes do CASE permitiu criar possibilidades para invenção de novos
territórios existenciais, em que os adolescentes foram ouvidos e desenvolveram um diálogo acerca de suas
experiências, permitindo assim, trocas, potências e afetamentos.
As intervenções realizadas através de oficinas afetaram os adolescentes, gerando, assim, territórios para que eles
pudessem problematizar a ideia de violência, cumprimento de medida socioeducativa e encarceramento, também
suscitaram reflexões acerca das sinalizações que refletem um enfrentamento a uma sociedade disciplinadora
(FOUCAULT, 2014) e controladora (DELEUZE e GUATARI, 2011), em que a vontade de imputar prevalece.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DELEUZE, G; GUATARI, F. Mil platôs – Capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2011.
______. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
COBBING, William. EXCAVATION. Youtube, 2004. Disponível em https://www.
youtube.com/watch?v=ZaMvB_Gs-rw. Acesso em 06/06/2017.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Nascimento da prisão. Trad. de Raquel Ramalhete. Petrópoles, RJ: Vozes, 2014.
Nietzsche, F. W. (2009). Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia de bolso.
ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. 5. ed São Paulo: Martins Fontes, 2001.
ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. 2º ed. Porto Alegre: Sulina,
editora da UFRGS, 2007
SAGAZAN, Olivier de. TRANSFIGURATION. Youtube, 2008. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=6gYBXRwsDjY. Acesso em 06/06/2017.
SINASE. In: SINASE: SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO. Secretaria especial dos direitos
humanos. Brasília: junho, 2006.

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Serviços públicos de atendimento psicológico para pessoas com deficiência e produção de subjetividade
Autores: Iaponira Oliveira dos Santos, UERJ; Laura Cristina de Toledo Quadros, UERJ
E-mail dos autores: nira_ar@hotmail.com,lauractq@gmail.com

Resumo: Pessoas com deficiências são aquelas que possuem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, que em interação com barreiras existentes nos mais diversos âmbitos da vida, geram o
comprometimento das condições para a plena participação dessas pessoas na dinâmica social. A elaboração de
ferramentas para o alcance da acessibilidade e a busca por desenvolvimento social, físico e psíquico das pessoas com
deficiências, inclui a definição de políticas públicas que busquem a valorização da cidadania e que preconizem o
respeito às particularidades destas pessoas, funcionando como formas de estabelecer resistência aos processos de
exclusão que acometem suas vidas e fazendo com que se evidenciem potencialidades na lida com os efeitos destes
processos. A existência e o funcionamento de serviços públicos de atendimento psicológico para pessoas com
deficiência, contribuem para redefinir o que é deficiência, sendo estes, espaços de acolhimento e de reflexão acerca
da mesma. A presente proposta de trabalho busca compreender de que modo ocorrem as relações entre a existência
e funcionamento destes serviços e a produção de subjetividade, O objetivo dessa proposta é promover diálogos acerca
da existência e funcionamento de serviços públicos de atendimento psicológico para pessoas com deficiência,
descrevendo os modos de produção de subjetividade e propor entrelaçamentos entre as discussões que ocorrem no
âmbito acadêmico e no âmbito do funcionamento de serviços públicos de atendimento a pessoas com deficiência,
para que teorias e práticas possam se convergir em zonas de interseção entre saberes e fazeres. Acredita-se que esta
proposta de trabalho coaduna-se com o GT Territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações da
psicologia social, no eixo temático 12: Territorialidades e modos de vida: atuação e pesquisa em Psicologia Social no
campo e na cidade. por buscar promover diálogos em prol do fortalecimento de redes de enfrentamento das
desigualdades sociais implicadas na produção de subjetividades, bem como por discutir a produção de subjetividade
relacionada à políticas públicas voltadas para a promoção de cidadania, propondo reflexões oriundas de investigação
e intervenção em contextos e territórios em que a vulnerabilidade social possui agenciamento sobre os modos de vida,
abordando as potências e controvérsias na execução das políticas públicas e em seus efeitos sobre tais contextos. Esta
proposta de trabalho considera como aporte teórico, os estudos de Gilles Deleuze e Felix Guattari, sobre produção de
subjetividade, que em uma primeira análise, trazem a concepção de subjetividade processual, que está em processo
de construção, transformando-se na fluidez das experiências, subjetividade que se produz em meio aos movimentos
da vida, sendo a sua produção, parte ativa do viver. A proposta também apresenta como referencial teórico, a Teoria
Ator-Rede (TAR), trazida nos trabalhos de Bruno Latour. John Law e outros pesquisadores, que permite levar em conta
a noção de deficiência que não se localiza somente no corpo, que não se restringe a limitações individuais, sendo
produzida como efeito social, na articulação entre o corpo e mecanismos sociais excludentes, que se evidenciam em
redes de vinculação entre diferentes atores, humanos e não-humanos. Não se fecha em um único ponto ou se refere a
um único ator e sim, pode ser compreendida como efeito de diversas conexões. Considera-se portanto, que os modos
pelos quais a deficiência é produzida e distribuída, através da articulação entre os mais diversos atores, são passiveis
de questionamentos e reordenamentos. Utilizamos os princípios e propriedades metodológicas da Teoria Ator-Rede
(TAR), bem como métodos etnográficos de pesquisa. Abordamos o atendimento psicológico em dispositivos públicos
para pessoas com deficiência e a produção de subjetividade, através do acesso a estes serviços, no Estado do Rio de
Janeiro, visando compreender suas rotinas e fluxos, em diferentes momentos: no primeiro, com profissionais de
psicologia atuantes nestes serviços, tendo em vista acompanhar seus diferentes modos de fazer e de refletir sobre o
fazer; no segundo, com os usuários dos serviços, buscando acessar suas experiências vividas na relação com os
mesmos. A relação desses campos que se entrecruzam nos apresentam as possibilidades e limites das políticas
públicas no âmbito da psicologia para pessoas com deficiência.

1199
“o eàapostaà aàdispo i ilizaç oàdeàes utaàpsi a alíti aàe àu aà ue ada à o otidia oàdifí il"
Autores: Rita de Cassia Mendes Alvares
E-mail dos autores: ritacalvares@gmail.com

Resumo: Nesse texto, abordaremos, a partir do Caso Maria, as implicações e os desdobramentos da sustentação de
um espaço de escuta psicanalítica para jovens, no contexto de uma (ONG), situada no Capão Redondo, zona sul de São
Paulo. Esse local abrigava, no período em que realizei minha pesquisa, durante um ano, o projeto Centro de
Juventude, ligado a área de assistência social da prefeitura desse município, que recebia jovens moradores das
proximidades.
A pesquisa parte do pressuposto de que a escuta psicanalítica pode ser oferecida em qualquer espaço, depende da
posição de escuta sustentada pela presença do analista, e do estabelecimento de uma relação transferencial que
possibilita a fala. Perspectiva de uma clínica que se amplia para fora dos muros, das paredes dos consultórios e pode
ser oferecida a pessoas de diferentes classes sociais, que em muitas situações não teriam acesso a essa escuta se não
fosse desse modo.
A referida comunicação oral nesse grupo de trabalho tem como objetivo compartilhar uma experiência de resistência
e experimentação, que representou a sustentação desse espaço de escuta.
Escuta esta que dialoga com perspectiva referida por Freud (1919/2010, p. 292) ao sublinhar que, se houvesse um
aumento da quantidade de psicanalistas, estes poderiam tornar acessível a psicanálise a um número maior de pessoas.
Ao finalizar seu texto, Freud aponta para a necessidade de as técnicas de trabalho se adaptarem a novas condições.
Para ele, o puro ouro da psicanálise teria que passar por modificações; mas os pressupostos deveriam continuar
sendo aqueles de uma psicanálise rigorosa e não tendenciosa. . De qualquer modo, os pressupostos éticos seriam
mantidos. Nessa mesma linha encontramos alguns artigos com experiências relevantes: S. Cottet (2005) Problemas
de formação no Centro Psicanalítico de Consultas e Tratamento ; J. Vilhena, A. Moreira, J. Novaes e M. Bittencourt
(2011) â la recherche d une écoute. La clinique psychanalytique dans la banlieue de la citoyennet ; J. Vilhena (2002)
Da cidade onde vivemos a uma clínica do território: lugar e produção de subjetividade . Lembremos, ainda, de um
número da revista da APPOA intitulado Psicanálise, invenção e intervenção com vários artigos — dentre eles: M. D.
Rosa (2013) Psicanálise implicada: vicissitudes das práticas clinicopolíticas .
Dessa forma, seria possível afirmar que uma maior abrangência da psicanálise pode oferecer subsídios para nos ajudar
a refletir sobre os modos de vida nas periferias das grandes cidades? E como a escuta psicanalítica nesse contexto
ampliado pode ajudar a refletir sobre a pesquisa e a atuação em psicologia social?
A escolha do eixo temático 12 e do GT 55 nos faz questionar quais os efeitos da escuta psicanalítica na produção de
novas territorialidades e novos modos de vida que não estavam presentes antes?
A escuta do Caso Maria, nos parece, apontar em muitos momentos para o território como agenciador de modos de
vida, atravessado por modulações espaciais ou existências. Maria conhece todas as quebradas por onde circula
produz laços de pertencimento a esse território, que mesmo sendo visto como tenebroso , passou a ser seu lugar
desde que veio parar ali .
Retomando as questões relacionadas ao caminho de pesquisa escolhido, ressalta-se, envolveu deslocamento para uma
região da cidade de São Paulo, até então desconhecida para mim, lugar onde era estrangeira. Não tinha vinculo
anterior com essa instituição. Ao fazer a proposição para os coordenadores, acertamos dia e horário que estaria
presente no local, disponível para entrevistar os jovens que se interessassem. As entrevistas eram não diretivas, a
continuidade do processo dependia de uma relação que poderia se estabelecer. Havia uma aposta de que a partir
deste dispositivo, pudesse se abrir a possibilidade, para algum dos jovens estabelecer uma relação que garantisse um
vínculo transferencial e a emergência de um falar sobre si.
A aposta de risco inicial, disponibilizar espaço de escuta, viabilizou falas de profissionais que trabalhavam na
instituição e de jovens. Dentre as inúmeras entrevistas com jovens, uma se estendeu durante todo o período em que

1200
esse espaço foi sustentado. Essa escuta inspirou a elaboração do Caso Maria, que está nas entrelinhas das reflexões
que se produziram sobre as implicações e os desdobramentos do estabelecimento de um espaço de escuta.
De algum modo, podemos afirmar, a partir do Caso Maria, que a disponibilização de escuta psicanalítica, pode
oferecer espaço para exercício do desejo, diferenciação de estagnações nas quais o sujeito se encontrava enredado. A
situação social, o cotidiano difícil (Referência a canção Na zona sul do Sabotagem), pode apontar para uma posição
na qual o sujeito tem sua identidade mais facilmente capturada pelo Outro social, figurado pelas instituições e pelos
princípios associados a uma moralidade social, que reforçam as posições de sacrifício impostas ao sujeito.
Assim, nesses tempos sombrios como os que vivemos atualmente, é relevante pensarmos a experiência levada a cabo,
como um modo de fazer resistência e dialogar, sobre a desvalorização da vida humana e a violação de direitos.

1201
Subjetivação Política e Máquina de Guerra: impedimentos e potencialidades dos CRAS em ações coletivas
Autores: Paulo Ricardo de Araújo Miranda, UFSC; Emilia Regina Franzosi, UFSC; Katia Maheirie, UFSC; Leandro Almir
Aragon, UFSC; Luiza Marson Morais, UFSC
E-mail dos autores:
pramiranda95@gmail.com,emilia.franzosi@gmail.com,leandrorgn@gmail.com,maheirie@gmail.com,luizammorais_x
@hotmail.com

Resumo: O cotidiano de trabalho das equipes dos CRAS é constantemente atravessado por múltiplas tensões entre o
instituído (diretrizes Estatais da PNAS e NOB/SUAS) e as variadas manifestações do instituinte (particularidades de
cada comunidade). É nesse dispositivo governamental de prevenção à violação de direitos que a/o psicóloga/o passa a
se inserir mais intensamente nos últimos anos, desafiando-as/os a se deslocar dos saberes tradicionais da psicologia e
circunscrevendo-as/os em um novo campo de atuação não-clínico e não-psicologizante com as/os usuárias/os dos
serviços. Dentre as estratégias de intervenção da equipe, as ações coletivas vêm se mostrando práticas fundamentais
por fomentar a coletivização e socialização de demandas e por potencializar o sentimento de pertença ao território.
Doravante, tais ações coletivas constituem-se majoritariamente por mobilizações pontuais, em um curto período de
tempo e com uma finalidade política dissensual. Contudo, em relação ao repasse de verbas, prevalece ainda a lógica
quantitativa dos planos de metas da Política de Assistência Social, altamente pautados no número de atendimentos e
na quantidade de acompanhamentos das/os usuárias/os prioritárias/os (BPC e Bolsa Família), o que, em muitos
contextos, vem dificultando práticas outras da equipe como, por exemplo, as ações coletivas.
Desta forma, o objetivo da presente pesquisa é investigar a produção de novos modos de enunciação e de visibilidade
das comunidades em situação de vulnerabilidade social através de ações coletivas. Procuramos entender estas ações a
partir dos conceitos de máquina de guerra e subjetivação política, pensadas enquanto possibilidades de superar as
normativas quantitativas enrijecidas e enrijecedoras que parte da Política de Assistência Social prevê às equipes dos
CRAS. O GT escolhido para comunicação oral foi 55 - territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações
da psicologia social , tendo em vista o aspecto territorializado que compõem as atividades dos CRAS, bem como, as
práticas diversas relativas aos modos de subjetivação, por meio das ações coletivas, que cada equipe pode promover
com as/os moradoras/es de acordo com as demandas específicas do território de abrangência do serviço.
Por conseguinte, a orientação teórica está fundamentada, primeiramente, no conceito de Subjetivação Política de
Jacques Rancière, na medida em que o autor conceitua a Polícia como a ordem oligárquica que distribui lugares e
funções, estabelece a agregação do consentimento das coletividades e organiza os sistemas de legitimação no campo
estético. Contrariamente, a denúncia do dano ocorre por meio da Política, a qual, em sua heterogeneidade, fratura a
configuração sensível que define as parcelas sociais, reconfigurando a distribuição dos lugares e reinventando os
modos de enunciação. A Política torna, por sua vez, inteligíveis e audíveis os discursos da parcela dos sem-parcela que
antes eram ouvidos apenas como ruídos, verificando em ato, portanto, o princípio da igualdade radical de todo ser
humano como sujeito falante. Por fim, do encontro dissensual entre a lógica policial e a lógica política irrompe o
Político, estando as equipes dos CRAS localizados em um paradoxo fluido entre essas duas lógicas.
Doravante, os antagonismos e contradições inerentes à atuação das equipes dos CRAS podem ser pensados também a
partir dos conceitos de Máquina de Guerra e Aparelho de Captura de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Tomada por
relações em devir, a Máquina de Guerra é fundamentalmente exterior ao Estado e sua organização está sempre
referida a um campo perpétuo de interação concorrente e contrário aos aparelhos identitários do Estado, desta forma,
as existências nômades se dão por um modelo turbilhonar em um espaço liso e aberto onde as coisas-fluxo se
distribuem heterogeneamente. Todavia, ao processo de instalação de uma Máquina de Guerra sob a forma do
negativo entre as duas cabeças do Estado (rei-mago e sacerdote-jurista) articula-se o conceito de Aparelho de Captura,
em que, através do agenciamento dos saberes nômades, regula-se, estratifica-se e distribui-se coisas lineares e sólidas
em um espaço fechado com canais e condutos altamente regulados. Portanto, pretende-se investigar também se as
ações coletivas realizadas com os CRAS estariam mais próximas às máquinas de guerra ou aos aparelhos de captura.
1202
Foram realizadas entrevistas coletivas com as/os profissionais de 9 CRAS em Florianópolis/SC e 4 em Pinhais/PR. As
entrevistas foram gravadas em áudio e vídeo e posteriormente transcritas. Os materiais foram categorizados e
atualmente os dados estão sendo estudados na perspectiva dialógica de análise de discurso. Por fim, as informações
coletadas apontam os CRAS enquanto um dispositivo potente no enfrentamento das violações de direitos e na
superação da exclusão e marginalização social, os quais, em seus novos agenciamentos coletivos comunitários,
possibilitam recriar e tensionar o espaço estriado dos consensos.

1203
Territórios e juventudes: sobre a construção de subjetividades
Autores: Matheus Henrique Silva, CESJF; Jéssica Fonseca de Souza, CESJF; Lara Brum de Calais, UFJF; Letícia Gonçalves
Oliveira, CESJF; Paloma de Almeida Albergaria Lanna, CESJF; Shaienie Daya da Costa Silva, CESJF
E-mail dos autores:
matheus_psi@outlook.com,shaienedaya@gmail.com,Jessica_fonsecajf@hotmail.com,palomalanna95@gmail.com,lara
calais@hotmail.com,letilgoncalves@gmail.com

Resumo: O presente trabalho se refere a uma pesquisa de cunho qualitativo que aborda como tema as articulações
entre território, subjetividade e juventude, tendo como objetivo compreender de que maneira o espaço/território se
torna um aspecto significativo na produção de subjetividades, principalmente de jovens que vivem em espaços que
forjam contextos de vulnerabilidade para o seu cotidiano. A pesquisa-intervenção foi realizada por estudantes de
Psicologia, junto à Escola Municipal Santa Cândida, que se situa no Bairro Santa Cândida na cidade de Juiz de Fora,
Minas Gerais. A juventude é uma categoria social atravessada pelo marcador social de geração que vem conquistando
espaço na sociedade e nas discussões cientificas. De acordo com Cassab (2011) o entendimento de juventude precisa
ir além da delimitação de uma faixa etária, buscando uma compreensão da representação simbólica e das situações
vividas em comum. Além de representar um fenômeno demográfico, a juventude representa também um fenômeno
social, político e cultural. Existe uma íntima relação entre juventude e território e, neste sentido, podemos dizer que o
território vai ser um forte marcador de experiências, principalmente como elemento que produz a maneira como
esses jovens entendem, circulam e ocupam os espaços da cidade. Outro aspecto ligado a juventude é a sua
vulnerabilidade em relação as violências, que são explicitadas nos Mapas da Violência publicados pela Unesco. Os
elementos do mapa da violência do ano de 2014, intitulado Os Jovens do Brasil , apresentam uma identidade para
esse jovem em risco que é: negro, do gênero masculino e mora na periferia. Os altos índices de mortalidade
preocupam, porque já configuram um problema de saúde pública (WAISELFISZ, 2014). Desta forma, o trabalho
encontra estreita relação com o GT 55 - Territorialidades, modos de vida e subjetividades: aproximações da Psicologia
Social, especialmente na reflexão sobre a interseccionalidade de marcadores na produção da realidade, assim como na
problematização de estratégias de enfrentamento às violações e negligências históricas perpetradas em nossa
sociedade. Considerando tal panorama e a relevância de se produzir conhecimento, assim como intervenções que se
dediquem a este contexto, para o levantamento de informações criou-se um grupo focal, constituído a partir de
critérios como: fazer parte do cursinho popular existente na escola; morar no Bairro Santa Cândida; ter entregue os
termos de consentimento e assentimento assinados pelos responsáveis. Sendo assim, o grupo foi composto por 7
pessoas, sendo, 1 menino e 6 meninas. Os grupos foram norteados por um roteiro com questões previamente
formuladas com base em observação anterior. Tendo em vista que a proposta da pesquisa visa compreender de que
forma o território e todos os seus atravessamentos constituem a subjetividade, como fundamentação teórica, partiu-
se da psicologia social crítica, em constante relação com a dimensão de território abordada pela geografia política.
Cada território, entendido aqui como político, econômico e cultural, é resultado da atuação e do trabalho dos atores
sobre um determinado espaço e, neste sentido, não se refere apenas a sua relação material e ou concreta, mas a rede
de relações sociais que acontecem neste espaço. O cidadão é o indivíduo num lugar e, portanto, seu tratamento não
pode ser alheio às realidades territoriais. O desenvolvimento das subjetividades nas cidades se dá de forma complexa
e é ainda mais considerável quando se trata das juventudes como analisa Mello (2014), porque a convivência em um
mesmo espaço físico e simbólico permeado por relações desiguais de classe, gera percepções precipitadas uns dos
outros. Cada espaço da cidade impõe para seus indivíduos uma ordenação à vida social que atinge os habitantes,
formando uma população altamente distinta. A forma geograficamente fragmentada acaba remetendo a uma
fragmentação das experiências e a formação de identidades. Neste sentido, podemos concluir, a partir da presente
pesquisa, que a violência está intrinsicamente ligada ao cotidiano desses jovens, atravessando suas práticas discursivas
e delimitando sua circulação, deixando sempre uma forte sensação de aprisionamento, seja no próprio bairro ou no
restante da cidade. As rixas entre bairros e o pouco acesso as opções de lazer para esta juventude marginalizada,
1204
formam as bases que promovem a manutenção e legitimam o não acesso, deixando em evidência que nem tudo é
para todos. Toda violência relatada pelos participantes já se configura como parte da realidade e não mais surpreende,
pois está naturalizada. Há também uma grande dificuldade para esses jovens construírem percepções positivas em
relação ao bairro em que moram, sempre comparando os pontos negativos com outros territórios, que também
possuem altos índices de violência. Obtemos como reflexão a importância do retorno dos pesquisadores sociais em
relação aos resultados alcançados, pois uma vez que se propõe intervir no campo, adquire-se uma responsabilidade
ético-social em relação ao mesmo. Tendo em vista que, a medida que atuamos no contexto social, mesmo que de
forma indireta, transformamos e somos transformados por ele.

1205
Lá e cá histórias e projetos de vida de sorveteiros ítalo-brasileiros na Alemanha
Autores: Diane Portugueis, PUC SP
E-mail dos autores: psicodi@hotmail.com

Resumo: Relato de pesquisa


Eixo 12- Territorialidades
Introdução/Objetivos: nossa proposta de pesquisa tem sua relevância baseada na busca por contribuições para o
maior entendimento da transmissão cultural no campo dos estudos migratórios no que tange influências mediadas
pela relação entre três países: Itália, Alemanha e Brasil e do Estado, quanto ao acesso ao duplo passaporte e políticas
de pertencimento. Nosso foco é a investigação e compreensão das crises implícitas aos movimentos e/imigratórios e o
alcance da transmissão cultural na formulação de projetos de vida de descendentes de imigrantes italianos nascidos
no Brasil, trabalhadores de sorveterias na Alemanha com idade entre 18 e 35 anos que vivem em contexto bi-local,
favorecido pela relação histórica existente entre sua cidade (Urussanga-SC) e Longarone na Itália. Relação com o eixo
temático: Questiona-se a produção de subjetividades e identidades frente ao jogo de poder vivenciado em contexto
bi-local e também sazonal; os sujeitos em questão trabalham por 8 meses em sorveterias na Alemanha retornando
anualmente para o Brasil e assim seguem por anos, sem perspectiva de fixação definitiva em um país. Os jovens
brasileiros são estimulados a adquirirem o passaporte italiano pela conexão existente entre sua cidade com a Itália,
que os recruta para o trabalho em gelaterias na Alemanha - trata-se, portanto, da imersão dos sujeitos em diversos
espaços- Brasil, Itália e Alemanha e as condições de vida propiciadas nestes, ocasionando um modo de vida entre
lugares e criação de uma realidade paralela, tanto para os sujeitos que migram como na cidade que produz políticas
para que tal imigração ocorra. Abarcam-se questionamentos acerca da relação construída com os territórios, inclusão/
exclusão, produção de subjetividades, opressão e identidades. Como os indivíduos lidam com este modo de vida,
como se dá a metamorfose de suas identidades neste contexto e como esta forma de vida modifica, além de si
mesmos, a dinâmica da cidade de onde partem (Urussanga) são as perguntas que se colocam em nossa proposta. A
metodologia escolhida é a etnografia Multi-situada de Georg Marcus e análise de narrativas de histórias de vida. Nossa
abordagem teórica contempla a psicologia sócio-histórica. Resultados preliminares/Conclusões: Passado e presente se
misturam ao cotidiano destes sujeitos constituindo um espaço entre lugares. É o objetivo de ascensão social no
Brasil com o fruto do trabalho na sorveteria que serve de motor para lidar com as dificuldades e desafios diários.
Questionam-se quais as perspectivas futuras destes indivíduos. Nossos entrevistados, um total de 15, colocam que
mesmo tendo conseguido poupar, não se sentem seguros em voltar ao Brasil pela falta de emprego, retornando
anualmente para a Alemanha. Alguns permanecem nesta atividade por 10 ou mais anos, já não sabendo onde querem
viver ou pertencer, muitos deixam filhos para trás, criados por tios, avós ou conhecidos, caracterizando um conjunto
conhecido como "órfãos de Urussanga". Além disto foram relatados muitos casos de depressão e transtorno do
pânico, tanto em jovens sorveteiros, como também em familiares que permanecem no Brasil. Formalmente, o plano
de retorno é ressaltado, entretanto, a vida entre lugares mantém-se escolha mais segura e a atuação como
personagens híbridos aparece como resposta à forma de inclusão perversa a qual estão e se mantém submetidos.

1206
GT 56 | Territórios que forjam sujeitos: poder, identidade, processos de subjetivação e políticas de
ocupação

Coordenadoras: Anna Karina Gonçalves Xavier, UFPE | Juliana Catarine Barbosa da Silva, Prefeitura Municipal de
Recife | Larissa Raposo Diniz, Faculdade Sete de Setembro

O presente grupo de trabalho situa-se no eixo temático 12 - Territorialidades e modos de vida: atuação e pesquisa em
Psicologia Social na cidade e no campo. Nele, buscaremos problematizar a relação entre territórios, poder, identidade,
processos de subjetivação e políticas de ocupação. Iniciaremos a apresentação de nossa proposta evidenciando
algumas ideias relevantes para o debate.
Para Lefebvre (2011) o território representa um espaço de mediação entre ordens próximas e distantes, no qual as
ordens próximas são representadas pelas relações entre os indivíduos e seus agrupamentos contíguos, como a família,
os vizinhos, entre outros; e as ordens distantes são exercidas pelas grandes instituições, das quais se destaca o Estado.
Tais ordens representam a produção dos lugares a partir de distintos agrupamentos que definem uma pluralidade de
agências em nível macro e micro. No contexto da relação entre as ordens, o território apresenta-se como uma
mediação que contém e mantém a ordem próxima e sustenta-se por meio de uma ordem distante. No interstício entre
as disputas pelo território, o direito ao mesmo é garantido pelo seu valor de uso e pela garantia do agir de seus
habitantes.
Observamos, contudo, que ocupar o espaço público pode assumir diversas significações, pois a todo momento o
território é evidenciado como local de disputas. Para Foucault (2008), o Estado, em seus múltiplos formatos ao longo
da história, teve no gerenciamento do território um potente instrumento para o controle das populações. O autor
chama a atenção, nesse sentido, para o processo de naturalização da espécie humana em contextos de urbanização,
que são artificiais. Para ele, esse meio histórico-natural se torna alvo da intervenção do poder e o Estado assume a
função de ordenador do espaço público.
É preciso compreender, no entanto, que, paralelamente a essas tentativas de controle, existem inúmeros movimentos
de resistência, sendo esta compreendida como práticas que não são exteriores às relações de poder, mas perpassam-
nas, sendo elementos que proporcionam multiplicidade a essas relações. O poder só pode existir, enquanto tal, a
partir de uma diversidade de pontos de resistência que permitem sua mobilidade e sua perspectiva relacional. Nesse
sentido, do mesmo modo que o poder atravessa diversas camadas do tecido social, os pontos de resistência também o
fazem, perpassando aparelhos e instituições (FOUCAULT, 2013).
As resistências atuam como irregularidades que se distribuem ao longo das relações de poder, podendo produzir
rupturas e desestabilizar os sistemas, sendo, ainda, transitórias e, em muitos casos, precárias. Nessa perspectiva, não
é possível estudar as engrenagens em que se estruturam as relações de poder sem apreender os processos de
resistência que delas fazem parte, que a elas se opõem e produzem tensionamentos. Visibilizar os movimentos de
oposição, de revolta, permite uma crítica aos "regimes de verdade", ao monopólio dos saberes, às respostas prontas
nas distintas instâncias do social. Os movimentos de resistência reivindicam o direito de construir processos
particulares de identificação e construção de subjetividades (ALVIM, 2012).
Foucault (2004) afirma que as relações de poder remetem a uma certa flexibilidade em que os jogos de verdade
permitem o exercício de resistência e, por conseguinte, os sujeitos nesse espaço poderiam mover-se, ocupando
posições de mais ou menos poder. No entanto, alguns modelos sociais são mais rígidos, não permitindo a mobilidade
dessas relações, configurando-se como instâncias de dominação. Nesse sentido, as resistências não são invenções
individuais, mas constituem esquemas que são encontrados, criados e reinventados pelas pessoas e "que lhe são
propostos, sugeridos, impostos por sua cultura, sua sociedade e seu grupo social" (FOUCAULT, op. cit., p. 276).
Desse modo, os movimentos de resistência gerados a partir das múltiplas formas de controle do território
apresentam-se de distintas formas no modelo de sociedade atual, seja a partir daqueles que denunciam o processo de
monetarização da moradia (ROLNIK, 2015) e a consequente acentuação da pobreza e da exclusão, seja a partir dos
movimentos populares e sociais que lutam pelo direito à habitação e ao território em suas múltiplas representações
culturais, sociais e históricas. Nessa espécie de guerra dos lugares (ROLNIK, 2015) temos, de um lado, o território visto
como vida, como apropriação e criação daqueles que resistem e o querem pelo seu valor de uso; no outro extremo, o
território visto como ação do capital, para aqueles que o pensam a partir de seu valor de troca.
Debater os movimentos de resistência e territorialidade nos possibilita, ainda, levantar reflexões acerca do processo
de constituição de identidades sociais e políticas. No que se refere à relação entre identidade, território e ação

1207
política, nos filiamos a uma concepção do político para além de suas fronteiras tradicionais institucionalizadas,
compreendendo-o como o espaço do antagonismo e, devido a isso, como constituinte da diferenciação identitária dos
sujeitos coletivos. Mouffe (1999) caracteriza a identidade política como aquela que se estabelece como um conjunto
temporário de significados que delimitam fronteiras na questão dos direitos sociais e que, por isso mesmo, é
experienciada como um Nós que está sendo impedido de realizar suas demandas sociais por um Eles, ou seja, por
aqueles com os quais estabelecem uma relação antagônica - os seus adversários. As identidades políticas, na
perspectiva que estamos defendendo aqui, não estão prontas, mas vão sendo construídas nas relações de conflito, no
combate a estruturas opressoras e nas ações de resistência contra práticas violadoras de direitos.
Dentre os processos que participam da construção da identidade social de indivíduos e grupos, o entorno físico e
simbólico, ou seja, o território, é um aspecto que se constitui como um marco referencial para a categorização e que,
consequentemente, influencia a determinação dessa identidade. Na compreensão de Valera e Pol (1994, p. 7-8),
la relación entre indivíduos y grupos con el entorno no se reduce solo a considerar este ultimo como el marco fisico
donde seàdesa ollaàlaà o du taàsi oà ueàseàt adu eàta i àe àu à e dade oà di logo àsi li oàe àelà ualàelàespa ioà
transmite a los individuos unos determinados significados socialmente elaborados y éstos interpretan y reelaboran
estos significados en un proceso de reconstrucción que enriquece ambas partes (grifo dos autores).
Assim, na perspectiva dos referidos autores, essa relação dialógica constituiria a base da identidade social associada ao
entorno, de maneira que a identidade social de um indivíduo pode também derivar-se do sentimento de pertença a
um espaço, juntamente com o significado valorativo e emocional associado a esse pertencimento. O entorno pode,
portanto, ultrapassar o aspecto físico, adquirindo uma dimensão simbólica e social e ser analisado, também, como
uma categoria social.
Nesse processo, os mecanismos de apropriação do território facilitam o diálogo entre o indivíduo e seu entorno e
possibilitam que seja estabelecida uma dinâmica na qual, por um lado, o indivíduo se apropria desse espaço,
transformando-o física e simbolicamente e, ao mesmo tempo, assimila determinadas representações, valores e afetos
que circulam em tal espaço e que cooperam para definição de sua identidade (VALERA, POL, 1994).
No entanto, mesmo havendo uma extensa produção teórica na Psicologia Social acerca do tema da identidade social,
não se observa a mesma atenção dos psicólogos sociais para os aspectos ambientais e o papel do entorno físico na
gênese, desenvolvimento e manutenção de processos de identificação. Nesse contexto, interessa-nos as identidades
políticas que se estruturam em contextos rurais e urbanos e que refletem a atual complexificação das questões
políticas, sociais e ambientais, que se estruturam nas disputas de poder cujos cenários são as diferentes modulações
dos espaços, nos múltiplos e diversos territórios existenciais.
Após a problematização inicial, caracterizaremos a seguir o perfil de nosso grupo de trabalho:
a) qual o objetivo deste GT?: Promover a problematização dos processos de constituição das identidades sociais e
políticas com foco nas múltiplas formas de resistência que circunscrevem as diversas formas de ocupar o território.
Especificamente seria; i) possibilitar um espaço de discussão sobre a relação entre ação política e territorialidade nas
práticas de pesquisa em Psicologia social e/ou relatos de experiências profissional; ii) discutir sobre as diferentes
formas de resistência que forjam a constituição de identidades sociais e políticas; iii) conhecer e dialogar sobre as
diversas práticas teórico-metodológicas empregadas nas pesquisas em Psicologia social. Com esses objetivos, entra
em pauta a relação entre territorialidade, resistência, identidades e ação política.
b) qual a relação deste GT com o tema do encontro? O GT indaga sobre produção de subjetividades, as políticas
públicas, as questões político-sociais e ambientais, bem como os desafios ético-epistêmicos e metodológicos
relacionados com a territorialidade em suas diferentes expressões. Sabemos que, dentre os processos que participam
da construção da identidade social de indivíduos e grupos, o entorno físico e simbólico, ou seja, o território, é um
aspecto que se constitui como um marco referencial para a categorização e que, consequentemente, influencia a
determinação dessas identidades. Por outro lado, a Psicologia Social não vem dando a devida atenção para os
aspectos ambientais e o papel do entorno físico na gênese, desenvolvimento e manutenção de produção de
subjetividades. Desse modo, a proposta se alinha inexoravelmente ao eixo temático geral do XIX Encontro Nacional da
ABRAPSO. Pensar os modos de produção de subjetividades e territorialidade em Psicologia social é por princípio, um
modo de colocar a função da Psicologia em relação com a democracia participativa e sua responsabilidade no
enfretamento das múltiplas formas de opressão.
c) qual a relação com o eixo temático escolhido? A relação com o eixo temático se alinha pelo incessante interesse em
tecer interlocuções em torno de questões epistemológicas e metodológicas nesse campo de relação entre a Psicologia
social e territorialidade. Com a tematização da territorialidade buscamos, ainda, levantar reflexões acerca do processo

1208
de constituição de identidades sociais e políticas, que se estruturam em espaços rurais e urbanos e que refletem a
atual complexificação das questões políticas, sociais e ambientais
d) que tipo de trabalho será acolhido e quais as discussões que o GT pretende promover? Privilegiaremos discussões
que abordem a territorialidade como viabilizando práticas cidadãs e de constituição de subjetividades e sujeitos
políticos, que produz e reproduz os territórios físicos e simbólicos que atuam como referências para identificação e
atuação política.
Acolheremos reflexões teórico-metodológicas e relatos de experiências que evidenciem a construção de
subjetividades através das relações que os sujeitos estabelecem com os diversos territórios existenciais
contemporâneos, e que usem essas relações como uma forma de enfrentamento contra os processos de exclusão que
são agravados em tempos de exceção. Desse modo, o GT convida pesquisadores(as), profissionais e representantes de
movimentos sociais que busquem contribuir com leituras epistemo-metodológicas e/ou analises das diversas formas
existentes de produção de subjetivação relacionadas as questões político-sociais e ambientais.
Referências:
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Ambiental. Anuario de Psicologia, n. 62, Facultat de Psicologia, Universitat de Barcelona, 1994.

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FotografAndando: uma experiência de apropriação da cidade com usuários da Saúde Mental
Autores: Raquel Ferreira Pacheco, PUC Minas; Elizabeth de Magalhães Fernandes, PUC Minas
E-mail dos autores: msgpraquel@gmail.com,elizabethdemagalhaesfernandes@gmail.com

Resumo: O presente trabalho surgiu a partir do interesse de duas psicólogas (Elizabeth de Magalhães Fernandes e
Raquel Ferreira Pacheco), pós-graduandas em Saúde Mental pelo Instituto de Educação Continuada da PUC Minas,
que buscaram, no Centro de Convivência São Paulo CCSP, um espaço para conhecerem um dispositivo da Rede de
serviços substitutivos da Saúde Mental de Belo Horizonte e suas práticas.
Dessa oportunidade, edificou-se a ideia de intervenção psicossocial com esses frequentadores do serviço, pessoas com
sofrimento mental. A intervenção se deu a partir de uma atividade que tinha como proposta deslocar-se pela cidade,
interagindo com seus habitantes e espaços diversos, transpondo fronteiras que marginalizam e segregam o louco,
possibilitando reflexões sobre o direito à cidade e relacionando cultura, loucura e cidadania.
As oficinas foram realizadas com os usuários do CCSP que, munidos por câmeras fotográficas, percorreram alguns
pontos da cidade, registrando aquilo que lhes chamasse a atenção, que os tocasse ou que lhes representasse um
sentido, cada qual com seu olhar singular. O período de realização das atividades de circulação pela cidade foi de
agosto de 2016 a abril de 2017.
O trajeto que foi nomeado pelos frequentadores do Centro de Convivência de FotografAndando, iniciou sua
caminhada no próprio território do CCSP e da comunidade em seu entorno. A partir das sugestões dos participantes,
ampliaram-se as jornadas para diversos lugares da cidade, visitando-se desde praças e parques pouco utilizados pela
comunidade a museus, shoppings e centros culturais de Belo Horizonte.
Durante esses percursos, pensando-se nos princípios da Reforma Psiquiátrica, que norteiam o trabalho de toda a rede
de serviços substitutivos da Saúde Mental em Belo Horizonte, buscou-se pensar e discutir temas como direitos
humanos, a inserção do louco como cidadão na sociedade e o uso e a apropriação da cidade pelos mesmos. Além
disso, nessa interação foi possível refletir sobre as reações das pessoas às diferenças, contemplando ainda, como se dá
a utilização dos espaços públicos e como os espaços se organizam de modo inclusivo ou segregador.
Desse modo, verificaram-se os impactos psicossociais desse circular pela cidade a partir dos registros fotográficos e
falas dos participantes da oficina.
Assim, floresceram olhares mais atentos sobre o que harmoniza, embeleza, deforma e distorce a cidade, considerando
sua natureza viva, seus contornos e formas arquitetônicas. E, baseando-se na perspectiva de cada participante da
oficina, captaram-se visões plurais de seus universos particulares. Ressalta-se que esse trabalho só foi possível através
da consideração primordial de ideias, falas e olhares ímpares dos usuários do CCSP.
A conclusão desse processo teve como fruto, processos de subjetivação dos envolvidos e produções audiovisuais. Os
olhares singulares dos participantes geraram as seguintes produções nas oficinas: um vídeo com depoimentos e
trechos de suas falas retratando o processo de construção desse trabalho; um painel com ilustrações produzidas por
um dos participantes que mostra alguns dos percursos trilhados; um foto-livro, cuja capa contempla a técnica de
colagem feita por outra participante, e diversas fotografias feitas durante as circulações pela cidade. Esses materiais
foram reunidos e têm sido exibidos na exposição fotográfica itinerante FotografAndando.
Assim, evidenciam-se como as percepções nos olhares das pessoas em sofrimento mental, que participaram desse
projeto, se modificaram a partir da circulação pela cidade, e, pela apropriação de seus espaços. Nesse sentido, os
participantes tiveram a oportunidade de resignificar a utilização do próprio espaço do CCSP e também dos demais
espaços urbanos, públicos e privados.
Enfim, a partir desse trabalho, espera-se que os participantes tenham ampliado suas possibilidades de apropriação da
cidade, a partir desse contato com a vida da cidade, que se dá fundamentalmente, para além de suas organizações e
instituições, em seu espaço extramuros na rua.

1210
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília, DF, 2001.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. 14. ed. Campinas (SP):
Papirus, 2011. 362 p. (Ofício de arte e forma).
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. 5. ed. São Paulo: Centauro, 2011. 143p.
SOARES, Marta. A Reforma Psiquiátrica e o Centro de Convivência: invenções
e outras práticas. In: LOBOSQUE, Ana M.; SILVA, Celso. (Org.). Saúde Mental
Marcos Conceituais e Campos de Prática. Belo Horizonte: CRP 04, 2013, p.
192-196.

1211
Meio ambiente, atuação política e constituição de identidade no movimento ambientalista do Norte e Nordeste do
Brasil
Autores: Larissa Raposo Diniz, FASETE
E-mail dos autores: larissardiniz@gmail.com

Resumo: Debater os movimentos de resistência e territorialidade nos possibilita tecer reflexões acerca do processo de
constituição de identidades sociais e políticas. Dentre os processos que participam da construção da identidade social
de indivíduos e grupos, o entorno físico e simbólico, ou seja, o território, é um aspecto que se constitui como um
marco referencial para a categorização e que, consequentemente, influencia a determinação dessa identidade. Na
compreensão de Valera e Pol (1994, p. 7-8), a relação entre indivíduos e grupos com o entorno se traduce también en
un verdadero diálogo simbólico en el cual el espacio transmite a los individuos unos determinados significados
socialmente elaborados y éstos interpretan y reelaboran estos significados en un proceso de reconstrucción que
enriquece ambas partes .
Assim, na perspectiva dos referidos autores, essa relação dialógica constituiria a base da identidade social associada ao
território, de maneira que a identidade social de um indivíduo pode também derivar-se do sentimento de pertença a
um espaço, juntamente com o significado valorativo e emocional associado a esse pertencimento. O entorno pode,
portanto, ultrapassar o aspecto físico, adquirindo uma dimensão simbólica e social e ser analisado, também, como
uma categoria social.
No entanto, mesmo havendo uma extensa produção teórica na Psicologia Social acerca do tema da identidade social,
não se observa a mesma atenção dos psicólogos sociais para os aspectos ambientais e o papel do entorno físico na
gênese, desenvolvimento e manutenção de processos de identificação. Por essa razão, na presente proposta nos
dispomos a identificar e analisar os sentidos de meio ambiente que são construídos em discursos de ativistas do
movimento ambientalista das regiões Norte e Nordeste do Brasil e, ainda, compreender como estes sentidos se
apresentam na sua atuação e como participam da constituição de suas identidades políticas.
No que se refere à relação entre identidade, território e ação política, nos filiamos a uma concepção do político para
além de suas fronteiras tradicionais institucionalizadas, compreendendo-o como o espaço do antagonismo e, devido a
isso, como constituinte da diferenciação identitária dos sujeitos coletivos. Mouffe (1999) caracteriza a identidade
política como aquela que se estabelece como um conjunto temporário de significados que delimitam fronteiras na
questão dos direitos sociais. As identidades políticas, na perspectiva que estamos defendendo aqui, não estão prontas,
mas vão sendo construídas nas relações de conflito, no combate a estruturas opressoras e nas ações de resistência
contra práticas violadoras de direitos.
Em pesquisa de doutorado realizada pelo PPG em Psicologia da UFPE (2017), entrevistamos 23 ambientalistas de
ambos os sexos que atuavam em organizações de iniciativa do poder público ou da sociedade civil, envolvidos na
defesa do meio ambiente nas suas mais diversas vertentes e que residiam e atuavam politicamente nas regiões do país
referidas anteriormente. Analisamos seus Relatos Orais de Vida utilizando a abordagem teórico-metodológica da
Psicologia Social Discursiva.
Em seus discursos pudemos identificar que o meio ambiente é significado sobretudo em seu aspecto natural. A
natureza é valorizada como um bem universal e que está em risco em consequência do uso insustentável que o
homem vem fazendo dos seus recursos. Os entrevistados lutam para que a natureza e o homem sobrevivam, pois, na
sua perspectiva, ele também faz parte da natureza. Por essa razão, alguns relatos evidenciam uma vertente do
ambientalismo que aproxima ecologia e desenvolvimento econômico e social, o socioambientalismo, no qual se busca
melhorar a vida das pessoas fundamentando-se no princípio de que a natureza é uma aliada nesse processo, de que é
possível usufruir do meio ambiente sem o inviabilizar para o futuro.
Nesse contexto, a sua atuação política foi direcionada para reivindicações não são apenas por uma mudança de estilo
de vida e na maneira como se relaciona com o meio ambiente, mas também por melhorias na distribuição de renda e
no projeto de desenvolvimento, alcançadas a partir de uma aproximação com a natureza, preservando assim a
1212
humanidade e o meio ambiente. Trata-se da atuação política e da constituição de identidades sociais possibilitadas
pelas práticas de enfrentamento e combate às injustiças socioambientais promovidas por um modelo de
desenvolvimento econômico que é tanto economicamente excludente como ambientalmente degradante.
Os ambientalistas evidenciam em seus discursos, portanto, a identidade social e política de um defensor do meio
ambiente, da vida, do planeta e do próprio ser humano. São identidades que se estruturaram e que refletem a atual
complexificação das questões políticas, sociais e ambientais, as disputas de poder cujos cenários são as diferentes
modulações dos espaços, nos múltiplos e diversos territórios existenciais.
MOUFFE, C. El retorno de lo politico. Comunidad, ciudadanía, pluralismo, democracia radical. Paidós, 1999.
VALERA, S.; POL, E. El concepto de identidad social urbana: uma aproximación entre la Psicologia
Social y la Psicologia Ambiental. Anuario de Psicologia, n. 62, Facultat de Psicologia, Universitat de
Barcelona, 1994.

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Meu corpo não te pertence: território de risco para mulheres adultas jovens
Autores: Anna Karina Gonçalves Xavier, Faculdade Boa Viagem
E-mail dos autores: akpsicologia@hotmail.com

Resumo: Este trabalho é parte de uma pesquisa de doutorado em andamento que busca debater a sexualidade entre
mulheres jovens e adultas jovens no distrito de Gaibu, situado no município do Cabo de Santo Agostinho, onde faz
parte da microrregião de Suape/PE, região que recebeu obras do PAC (Programa de aceleração e crescimento) do
Governo Federal. Essa microrregião ficou marcada por apresentar problemas estruturais devido ao recebimento de
milhares de trabalhadores temporários de várias regiões do país, principalmente dos estados da Bahia, Minas Gerais e
Rio de Janeiro. A partir da chegada desses trabalhadores, houve um destaque especial com relação a situação das
adolescentes e mulheres. Tal situação ganhou uma visibilidade maior devido a mídia ter apontado determinados
fenômenos ocorridos na microrregião, assim como o fato de pesquisas terem apontado que muitas delas foram
seduzidas pelos homens recém-chegados e logo abandonadas na gravidez. O que alarmou muitos setores do estado e
da sociedade civil para a emergência de procurar estratégias de atendimento e diminuição desses casos e de outros
problemas sociais que tinham aumentado, como a exploração sexual infantil, a prostituição e o abuso de drogas
(SCOTT et al, 2012). A região já era marcada por uma cultura machista, cuja base está em principalmente o modo
como se deu a produção econômica na região, a extração de cana-de-açúcar, essa forma de economia é
extremamente marcada por cultura escravocrata que resultou em desigualdades sociais e no modo de percepção
relativo à mulher na sociedade (MEDRADO et al, 2015). A partir da chegada desses trabalhadores, houve um
agravamento do fenômeno da violência contra à mulher neste território (Gaibu), praticada por homens
desconhecidos. Essa nova características do fenômeno, produziu nas mulheres adultas jovens a necessidade de criar
novas formas de transitar pela comunidade, produzindo alterações na circulação delas nos espaços públicos, forjando
novas subjetividades Este trabalho tem por objetivo apresentar como o território pesquisado tornou-se nocivo às
mulheres adultas jovens em função do aumento do fenômeno da violência contra a mulher e como elas criaram
estratégias para o enfrentamento desse tipo de violência no território. A metodologia utilizada foi a observação
participante, prática inaugurada pelas investigações antropológicas e etnográficas (THIOLLENT, 1999), tendo como
método o diário de campo e entrevistas em profundidade. Através da incursão no campo, observou-se grupos de
mulheres, que enfrentaram essa problemática da circulação pelo território, transitando apenas em grupo ou optaram
por não saírem de casa. Ainda não há análises conclusivas dos relatos de campo, por estar ainda estar em andamento.
O que há, são reflexões acerca das incursões no campo de pesquisa, que revelam práticas de terror sobre a vida das
mulheres, no qual as relações de dominação se desdobram num espaço-tempo. E as relações existentes no território
manifestaram-se através das ações políticas que são a forma imediata e visível da manifestação objetiva da
subjetividade (PINHEIRO, 2000). A relevância deste trabalho, centra-se no fato de demonstrar que; através de uma
promessa de desenvolvimento econômico, vulnerabilidades podem ser agravadas em um território, principalmente as
que são macro estruturantes, como a cultura machista presente em nossa sociedade, acabando por tornar as
mulheres carcereiras de si mesmas.

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Pelo olhar dos adolescentes: contribuições do 'photovoice' para a apreensão dos desafios e dos potenciais dos
territórios no empoderamento dos sujeitos
Autores: Ailton de Souza Aragão, UFTM; Leticia Felipe Domingues, UFTM; Rosimár Alves Querino, UFTM
E-mail dos autores: ailtonaragao74@gmail.com,rosimarquerino@hotmail.com,lehfdomingues@gmail.com

Resumo: Introdução. O Programa Nacional de Inclusão de Jovens, instituído em 2008, é conduzido nos Centros de
Referência em Assistência Social (CRAS) e atende adolescentes de 15 a 17 anos. Os CRAS, via de regra, inserem-se em
territórios de vulnerabilidade social, logo, buscam, paradoxalmente, enfrentar a vulnerabilidade programática. Nesses
cenários de limites estruturais para políticas públicas e de capital humano precarizado pelos processos de contenção
orçamentária para o desenvolvimento de ações, a Proteção Social Básica constitui-se, conforme a Política Nacional de
Assistência Social (PNAS), como espaço de acolhimento e trabalho socioeducativo conduzido por educadores sociais e
oficineiros destinados à comunidade em geral, e para os adolescentes em particular. Objetivo. Compreender as
contribuições do photovoice como forma de apreensão dos territórios pelos adolescentes de Coletivos ProJovem que
lhes permitam uma apreensão das vulnerabilidades que influem no processo saúde-doença e na apropriação dos
espaços de sociabilidade. Método e Metodologia. O estudo foi conduzido em 2014 e 2015; de caráter exploratório e
descritivo e foi conduzido por, dentre outros métodos, pelo photovoice . Este método constitui-se na entrega de
máquinas fotográficas digitais para os participantes, após breves orientações técnicas e dos objetivos da atividade os
mesmos, acompanhados ou não pelos pesquisadores, constroem uma documentação iconográfica sobre os territórios;
após, selecionam algumas imagens e narram suas impressões experiências nos cenários fotografados. As sessões de
discussão das imagens, foram audiogravadas, transcritas na íntegra e analisadas na modalidade de discurso temática.
O projeto foi aprovado pelo CEP-UFTM e a coleta de dados ocorreu após a assinatura do TCLE pelos pais e/ou
responsáveis e dos assentimentos dos/das adolescentes. Resultados. Participaram do estudo 74 adolescentes de 8
Coletivos ProJovem do município de Uberaba-MG. As imagens e as narrativas evidenciam, sobremaneira as violências,
as drogas e as vulnerabilidades. O estudo evidenciou uma abordagem ampliada das relações entre as vulnerabilidades
no território, expostas pelos adolescentes na identificação de deficiência, inexistência ou precariedade dos
equipamentos e serviços públicos e nos processos de estigmatização das comunidades em decorrência da violência,
das condições sociais ou do tráfico. Diversas faces da violência foram relatadas: doméstica e intrafamiliar, que
acometem em grande parte as mulheres dos núcleos familiares e as adolescentes, como tem exposto grande revisão
de literatura; ao mesmo tempo, a violência de gênero, que expressa outras formas de violência, como a psicológica e a
econômica; e ainda a geracional, que se impõe sobre os idosos, sob a forma de negligência. Foram demonstradas as
violências oriundas do tráfico de drogas, com a demarcação de espaços de circulação, da presença de jovens-adultos
que ameaçam a segurança dos adolescentes ou mesmo os cooptam para o tráfico de drogas. O tráfico de drogas
também foi exposto, contraditoriamente, como forma de proteção e manutenção da ordem na comunidade,
corroborando alguns estudos sobre a presença do tráfico de drogas e o pacto de silêncio nas comunidades.
Conclusões. O estudo revelou denso conhecimento dos adolescentes sobre a dinâmica do tráfico e das drogas nos
territórios e sua conexão com as violências sofridas nos espaços instituídos, como as famílias. Ao mesmo tempo,
revelam os limites dos discursos instituídos de dispositivos como escolas e os CRAS, para abordar o tema de modo
dialógico e participativo, logo, instituinte de novas potencialidades advindas dos olhares dos adolescentes. Assim,
demonstram-se a produção de subjetividades adolescentes assujeitadas, cujos dispositivos instituídos imersos em
processos limitantes funcionam mais como dispositivos de biopoder do que promotores de novos potenciais humanos.
Assim, promover o direito à saúde nesses territórios, por exemplo, exige a adoção de metodologias de interação que
contribuam para a superação dos discursos de controle dos corpos de adolescentes em territórios permeados pelas
violências, posto que os próprios serviços podem reproduzir discursos de assujeitamento. Assim, compreender as
percepções e experiências dos adolescentes é um primeiro passo para a avaliação do alcance dos programas e
iniciativas estatais e da sociedade civil e pode ensejar novos fazeres na seara da promoção da saúde, na produção de
identidades resistentes, especialmente se empregados métodos participativos que acolham e valorizem os sujeitos.
1215
Surdez com Recorte Racial: Estado da Arte no Brasil de 2002-2017
Autores: Viviane Marques Miranda, UNINOVE
E-mail dos autores: profaviviane@yahoo.com.br

Resumo: Este estudo constitui-se em um estado da arte das pesquisas educacionais acerca do recorte racial nos
estudos sobre surdez no Brasil, delimitando-se entre 2002 a 2017. Esta demarcação deve-se a que as ações coletivas
do movimento social surdo no Brasil do período de 1990-2000 estavam envolvidas, sobretudo, na campanha pela
oficialização da língua de sinais como demanda principal do movimento. Sendo assim, a promulgação da Lei nº 10.436
em 2002, que reconheceu a LIBRAS como meio legal de comunicação e expressão dos surdos brasileiros, garantiu a
possibilidade de a identidade coletiva surda organizar-se entorno de uma língua comum e da surdez como matriz de
experiência o que pode ter permitido que outras demandas identitárias (ou não) emergissem. Anterior a essa
demarcação não foram encontradas pesquisas com o enfoque racial na área da surdez. A principal plataforma de
pesquisa foi a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) que integra os sistemas de informação de teses e
dissertações existentes nas instituições de ensino e pesquisa brasileiras; além de periódicos eletrônicos da área da
educação e da surdez. A partir dos trabalhos localizados, suas referências bibliográficas foram utilizadas para
investigação de outras pesquisas que abordassem o tema. Além disso, a consulta ao Currículo Lattes dos orientadores
e dos autores das pesquisas foi realizada, rigorosamente, a fim de levantar outros trabalhos na área em que,
porventura, eles estivessem envolvidos. Este mapeamento é relevante por revelar a escassez de trabalhos que
explorem o entrecruzamento de surdez e raça; além disso, intenta divulgá-los e, com isso, possivelmente, despertar
interesse para uma área que pode ser promissora para exploração em pesquisas futuras. Os trabalhos mais relevantes
existentes e mapeados até o momento são de: Paixão (2005), Buzar (2012), Furtado (2012), Pereira e Pereira (2013) e
Vedoato (2015). Paixão denomina de mazela qualitativamente diferenciada a situação que o portador de
necessidades especiais negro enfrenta. Buzar usa o conceito de interseccionalidade para falar da situação do surdo
negro. Furtado chama de dupla diferença . Pereira e Pereira falam de duplicidade de estigmas , somatória de
estigmatizações interagindo de maneira sinérgica , dupla jornada de enfrentamento social . Vedoato nomeia de
marca concorrente ou de condição associada à surdez. A concepção de Paixão (2005) acerca da surdez compartilha a
perspectiva da deficiência. Vedoato (2012) fundamenta-se no entendimento de que a surdez é uma deficiência, com
dimensões biológicas, culturais e sociais. Buzar (2012), Furtado (2012) e Pereira e Pereira (2013) abordam a surdez sob
um enfoque socioantropológico, ou seja, como uma diferença linguística e cultural. Quanto à raça, todos os autores
trazem uma dimensão social e política para a compreensão do conceito e das desigualdades sociais a ele associadas.
As metodologias dos trabalhos variam: Paixão (2005) e Vedoato (2015) utilizam dados estatísticos; Buzar (2012),
Furtado (2012), Pereira e Pereira (2013) utilizam basicamente entrevistas semi-estruturadas. Buzar (2012) e Pereira e
Pereira (2013) entrevistam surdos brancos e negros, dentre homens e mulheres, Furtado (2012) entrevista somente
surdos negros, dentre homens e mulheres. Todos os autores colocam a surdez ou a deficiência como identidade
primária: Paixão (2005) fala do portador de necessidades especiais negro ; Buzar (2012), Furtado (2012) e Pereira e
Pereira (2013) falam do surdo negro ; e Vedoato (2015) fala da pessoa surda segundo cor/raça . Curiosamente, em
pesquisas sobre surdos indígenas observa-se a predominância da designação étnica, primeiro, e, por último, a
qualificação de surdo : indígena surdo , índio surdo , indígenas com deficiência , akw&#7868;-xerente surdos ,
embora haja ocorrências de surdo Kaingang , surdo indígena e surdo-índio , porém com menor frequência. A
discussão acerca das possíveis razões dessas diferenças de predominância de ocorrências relativas aos registros:
surdo negro e indígena surdo está além dos objetivos desta pesquisa. No entanto, sinalizamos para essa
possibilidade de investigação. Retomando as pesquisas que vínhamos discutindo: Paixão (2005) não aborda
especificamente o universo da surdez, ele fala das pessoas portadoras de deficiência em geral, no entanto, o
consideramos nesse levantamento pelo fato de seu trabalho ter sido publicado, inicialmente, em um periódico da área
da surdez. A intenção deste trabalho é realizar uma pesquisa bibliográfica com o desafio de mapear a produção
acadêmica da área até a data do levantamento, julho de 2017. Portanto serão apresentadas as pesquisas mais
1216
relevantes localizadas acerca do recorte racial nos estudos sobre surdez no Brasil. Antes, porém, devido a, de certa
forma, tangenciar nosso tema, cabe menção a uma pesquisa em nível de tese de doutorado na área da educação, cujo
título é Deficiência, raça e gênero: análise de indicadores educacionais brasileiros (2016) de Michelle Melina Gleica
Del Pino Nicolau Pereira pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A pesquisa trabalha com indicadores
educacionais referentes a alunos com deficiência visual, auditiva, física e intelectual segundo gênero e raça. O
orientador desse trabalho é José Geraldo Silveira Bueno, autor de um artigo precursor a respeito da surdez
estruturada a partir de outras identidades sociais, dentre elas a racial.

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Trajetórias no Risco: reflexões sobre questões de gênero no contexto das emergências e desastres
Autores: Juliana Catarine Barbosa da Silva, UFPE
E-mail dos autores: jucatarine@gmail.com

Resumo: Pensar políticas para um país de dimensões e necessidades continentais como o Brasil é sem dúvida um
desafio. Dentre as inúmeras problemáticas, as políticas que tratam da circulação de pessoas nos espaços públicos
chamam atenção pela forma como (re)definem a imagem da população enquanto coletividade. Nesse contexto, um
segmento específico da população tem sido afetado pelos inúmeros riscos que permeiam os territórios urbanos, as
mulheres. As mulheres tem sido recorrentemente vitimadas em cidades pouco preparadas para atender as demandas
mais básicas de seus habitantes. Destaca-se nesse contexto, as pessoas que residem nos territórios classificados pela
defesa civil como estando em risco, e que cotidianamente convivem com a possibilidade de perder seus lares, bens
materiais e em alguns casos, até mesmo a vida. O presente estudo faz parte de uma pesquisa maior desenvolvida no
contexto do programa de pós-graduação em psicologia da Universidade Federal de Pernambuco que teve como foco a
discussão dos múltiplos discursos sobre risco no contexto das Políticas Públicas de Proteção e Defesa Civil. Mesmo que
as questões de gênero não fossem a princípio o foco de nosso estudo, essa temática fez-se presente em vários
momentos de nossa inserção no campo/tema de pesquisa, trazendo a necessidade de que algumas reflexões fossem
desenvolvidas sobre o tema. Nesse contexto, a presente pesquisa possui como objetivo discutir a trajetória de
mulheres, usuárias de órgãos de defesa civil da Região Metropolitana do Recife, nos territórios em risco. O termo
risco, sob nosso referencial, extrapola a questão dos desastres naturais e é aqui problematizado a partir das várias
vivências trazidas por nossas entrevistadas e sua busca por moradias em contexto de segurança. Em nossa pesquisa
utilizamos metodologias qualitativas e, como referenciais epistêmico-metodológicos adotamos os estudos
foucaultianos sobre discurso e a Psicologia Discursiva de origem inglesa. A estratégia metodológica central de nosso
estudo foi a utilização de entrevistas semiestruturadas, que foram realizadas com onze mulheres residentes na Região
Metropolitana do Recife e que são usuárias das Políticas Públicas de Proteção e Defesa Civil. Nossas entrevistadas
descrevem trajetórias marcadas pela busca por habitações seguras, fora das áreas classificadas como estando em risco
pela defesa civil. Apontam ainda que os riscos de deslizamento de barreiras, enchentes e desabamentos não são os
únicos vivenciados por elas. O desemprego, a violência promovida pelo tráfico de drogas, o não compartilhamento do
cuidado com os filhos por parte dos companheiros são questões que influenciam diretamente na vida dessas mulheres
e mobilizam sua circulação pelos territórios em busca de segurança. Os discursos produzidos ao longo do presente
estudo passam pela compreensão de que as relações entre os gêneros e os desastres são socialmente construídas e
intensamente influenciadas por questões políticas, econômicas, culturais e sociais. Os dados encontrados em nossa
pesquisa são corroborados por estudos desenvolvidos em outros contextos e culturas que também apontam para a
forma como as mulheres são singularmente afetadas nas situações de emergências e desastres. Longe do contexto
romantizado dos filmes de ação, essas mulheres são deixadas para trás para cuidar das crianças, dos idosos e dos
doentes e têm maior dificuldade para restaurar suas vidas após grandes catástrofes. Tais fatores são acentuados pela
ausência de políticas que considerem as questões de gênero, corroborando para um processo de revitimização das
mulheres. Encontramos em nossa pesquisa mulheres que enfrentaram inúmeras dificuldades no acesso as políticas
públicas básicas, não apenas de no que se refere a defesa civil, como também no que compete ao acesso a saúde,
assistência social e educação. Trajetórias marcadas pela vida nos territórios em risco.

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UMA RUA, UM PRÉDIO, UMA PRAÇA: Decolonizando durações em Pelotas
Autores: Iago Marafina de Oliveira, UFPEL; José Ricardo Kreutz, UFPEL
E-mail dos autores: iagomarafinadeoliveira@gmail.com,jrkreutz@gmail.com

Resumo: Este trabalho compõe o grupo de pesquisa TELURICA (Territórios de Experimentação em Limiares Urbanos e
Rurais: In(ter)venções em Coexistências Autorais). O grupo produziu um projeto guarda-chuva intitulado
Problematizações Limiares Psicossociais no Ensino, Pesquisa e Extensão da Psicologia e áreas afins na UFPel ,
convergindo as inquietudes de graduandos em suas práticas de ensino e extensão ao propor investigações e
in(ter)venções em limiares urbanos e rurais. É então a partir da abertura deste espaço que as afetações pediram
passagem, rumando a construção de uma pesquisa sobre durações coloniais na cidade de Pelotas - RS desde a
perspectiva decolonial.
Na cidade existem muitos processos que foram e são visibilizados desde o período de colonização que, como este
estudo pretende enunciar, acabaram por invisibilizar processos-outros de resistência tanto ao colonialismo na
Modernidade como a colonialidade na contemporaneidade. A história colonial a qual aqui nos referimos é a história
hegemônica, dita e óbvia, enaltecida a partir das ideologias desenvolvimentistas eurocêntricas desde a Modernidade e
seu projeto de colonização do mundo, criando um sistema-mundo europeo/euro-norteamericano
capitalista/patriarcal moderno/colonial que não acabou com a descolonização da América Latina e que ainda
reverbera no contemporâneo através da colonialidade do poder, saber e ser. (Grosfoguel, 2005)
Neste sentido, a pesquisa se apoia em uma metodologia cartográfica pois, segundo Rolnik (1989), a cartografia de
paisagens psicossociais também possibilita a desconstrução de certos mundos e construção de outros mundos
possíveis. O primeiro achado de pesquisa pode ser um bom exemplo para nos atermos neste momento, enunciando
exatamente a presença deste pensamento colonial e hegemônico em Pelotas descrito a partir da Enciclopédia dos
Municípios Brasileiros pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1959, v.34). O texto é longo, porém
aqui nos cabe resumi-lo a uma breve contextualização. Em um primeiro momento espanhóis e portugueses são
colocados como guerreiros e conquistadores a partir de uma disputa por terras onde hoje se situa o Uruguai em 1736.
Desta ocasião, os portugueses acabaram por fortalecer o Rio Grande, aproveitando a região de amplo gado disponível
e favorecendo a agricultura, o que implicou diretamente em um grande crescimento econômico da região no
surgimento das primeiras estâncias. A partir de 1758 as terras onde hoje se situa Pelotas foram vendidas/doadas
inúmeras vezes a diferentes famílias até 1835, momento em que obtém a categoria de cidade, sendo seu nome
bastante significativo. Para o Vocabulário Sul-Riograndense (1898), outro achado de pesquisa, ele deriva de Pelota ,
pequenas embarcações de couro usadas para a travessia dos arroios originalmente pelos nativos da região. Elas eram
usadas, em geral, para acomodação de roupas, arreios e pessoas, rebocadas por um indivíduo a nado.
IBGE e Vocabulário Sul-Riograndense foram os dois resultados aqui utilizados do primeiro momento de investigação da
pesquisa pois contam uma história hegemônica da cidade na esfera do dito, do óbvio e, sobretudo, de colonialismo.
Textos desse caráter são relevantes na contextualização desta pesquisa pois evidenciam a presença de um
pensamento colonial que invisibiliza processos-outros e as forças de resistência que nele existiram como, por exemplo,
a citação do crescimento econômico da região nas charqueadas sem falar no trabalho do povo negro escravizado e da
Pelota para a travessia dos arroios sem falar na apropriação deste saber nativo e singular da área pelos
colonizadores. Documentos assim são pontos de partida do dito rumo ao não-dito e começam a produzir afetações,
questões, problemáticas e reflexões que nos ajudam a avançar na discussão e de forma alguma fazer um fechamento
ou conclusão.
Se faz necessário ainda discorrer brevemente sobre o conceito-chave de duração aqui utilizado. Em Bergson (1964), a
duração é o passado que se inclina sobre o presente, crescendo, se conservando e roendo o futuro incessantemente.
Ele, homem-branco-europeu, pode facilmente exercer o papel do colonizador, sendo este um dos motivos pelo qual é
uma das referências trabalhadas. É que o decolonialismo de forma alguma se fecha em si, pelo contrário, ele se

1219
propõe a estudar e pensar os processos já citados muitas vezes a partir de referências europeias, fazendo sua crítica.
Se a teoria decolonial fizesse o contrário, então estaria reproduzindo um projeto colonial no qual não compactua.
A cartografia proposta contará sobre as camadas de duração e colonialidade do poder, saber e ser que se inclinam
sobre o presente na cidade, especificamente no recorte de uma rua, um prédio e uma praça no Centro Histórico de
Pelotas. Passado este momento, será preciso investigar os movimentos de resistência que confrontan los legados y
las relaciones del colonialismo interno (WALSH, 2007, 49) a qual, com Rivera Cusicanqui (1993), retomamos o
conceito de duração com o que ele chama de grande duração do colonialismo . Há uma aposta que esta pesquisa
pode contribuir para muitas outras camadas de história emergirem, outras durações que hoje são minoradas e ainda
assim forjam as subjetivações das pessoas que vivem na cidade.

1220
Exposição fotográfica FotografAndando: uma experiência de apropriação da cidade com usuários da Saúde Mental
Autores: Elizabeth de Magalhães Fernandes, PUC Minas; Raquel Ferreira Pacheco, PUC Minas
E-mail dos autores: elizabethdemagalhaesfernandes@gmail.com,msgpraquel@gmail.com

Resumo:
O presente trabalho surgiu a partir do interesse de duas psicólogas (Elizabeth de Magalhães Fernandes e Raquel
Ferreira Pacheco), pós-graduandas em Saúde Mental pelo Instituto de Educação Continuada da PUC Minas, que
buscaram, no Centro de Convivência São Paulo CCSP, um espaço para conhecerem um dispositivo da Rede de serviços
substitutivos da Saúde Mental de Belo Horizonte e suas práticas.
Dessa oportunidade, edificou-se a ideia de intervenção psicossocial com esses frequentadores do serviço, pessoas com
sofrimento mental. A intervenção se deu a partir de uma atividade que tinha como proposta deslocar-se pela cidade,
interagindo com seus habitantes e espaços diversos, transpondo fronteiras que marginalizam e segregam o louco,
possibilitando reflexões sobre o direito à cidade e relacionando cultura, loucura e cidadania.
As oficinas foram realizadas com os usuários do CCSP que, munidos por câmeras fotográficas, percorreram alguns
pontos da cidade, registrando aquilo que lhes chamasse a atenção, que os tocasse ou que lhes representasse um
sentido, cada qual com seu olhar singular. O período de realização das atividades de circulação pela cidade foi de
agosto de 2016 a abril de 2017.
O trajeto que foi nomeado pelos frequentadores do Centro de Convivência de FotografAndando, iniciou sua
caminhada no próprio território do CCSP e da comunidade em seu entorno. A partir das sugestões dos participantes,
ampliaram-se as jornadas para diversos lugares da cidade, visitando-se desde praças e parques pouco utilizados pela
comunidade a museus, shoppings e centros culturais de Belo Horizonte.
Durante esses percursos, pensando-se nos princípios da Reforma Psiquiátrica, que norteiam o trabalho de toda a rede
de serviços substitutivos da Saúde Mental em Belo Horizonte, buscou-se pensar e discutir temas como direitos
humanos, a inserção do louco como cidadão na sociedade e o uso e a apropriação da cidade pelos mesmos. Além
disso, nessa interação foi possível refletir sobre as reações das pessoas às diferenças, contemplando ainda, como se dá
a utilização dos espaços públicos e como os espaços se organizam de modo inclusivo ou segregador.
Desse modo, verificaram-se os impactos psicossociais desse circular pela cidade a partir dos registros fotográficos e
falas dos participantes da oficina.
Assim, floresceram olhares mais atentos sobre o que harmoniza, embeleza, deforma e distorce a cidade, considerando
sua natureza viva, seus contornos e formas arquitetônicas. E, baseando-se na perspectiva de cada participante da
oficina, captaram-se visões plurais de seus universos particulares. Ressalta-se que esse trabalho só foi possível através
da consideração primordial de ideias, falas e olhares ímpares dos usuários do CCSP.
A conclusão desse processo teve como fruto, processos de subjetivação dos envolvidos e produções audiovisuais. Os
olhares singulares dos participantes geraram as seguintes produções nas oficinas: um vídeo com depoimentos e
trechos de suas falas retratando o processo de construção desse trabalho; um painel com ilustrações produzidas por
um dos participantes que mostra alguns dos percursos trilhados; um foto-livro, cuja capa contempla a técnica de
colagem feita por outra participante, e diversas fotografias feitas durante as circulações pela cidade. Esses materiais
foram reunidos e têm sido exibidos na exposição fotográfica itinerante FotografAndando.
Assim, evidenciam-se como as percepções nos olhares das pessoas em sofrimento mental, que participaram desse
projeto, se modificaram a partir da circulação pela cidade, e, pela apropriação de seus espaços. Nesse sentido, os
participantes tiveram a oportunidade de resignificar a utilização do próprio espaço do CCSP e também dos demais
espaços urbanos, públicos e privados.
Enfim, a partir desse trabalho, espera-se que os participantes tenham ampliado suas possibilidades de apropriação da
cidade, a partir desse contato com a vida da cidade, que se dá fundamentalmente, para além de suas organizações e
instituições, em seu espaço extramuros na rua.

1221
A intenção desta proposta, nesse sentido, é propiciar que a exposição itinerante FotografAndado aconteça enquanto
uma manifestação cultural durante todo o XIX Encontro Nacional da Abrapso, através da mostra fotográfica,
ilustrações do painel e exibição do vídeo produzido.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília, DF, 2001.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. 14. ed. Campinas (SP):
Papirus, 2011. 362 p. (Ofício de arte e forma).
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. 5. ed. São Paulo: Centauro, 2011. 143p.
SOARES, Marta. A Reforma Psiquiátrica e o Centro de Convivência: invenções
e outras práticas. In: LOBOSQUE, Ana M.; SILVA, Celso. (Org.). Saúde Mental
Marcos Conceituais e Campos de Prática. Belo Horizonte: CRP 04, 2013, p.
192-196.

1222
GT 57 | Trabalho e Precarização: Adoecimento e Resistências

Coordenadoras: Carolyne Reis Barros, UEMG | Fabiana Goulart de Oliveira, UFMG | Julia Nogueira Dorigo, UMA

O objetivo deste GT é propiciar o encontro entre as diferentes perspectivas teórico-metodológicas que abarquem
questões relativas ao trabalho e trabalhador em contextos de precarização, seus impactos subjetivos e resistência
apresentada a estes. Na última década a economia mundial entrou, novamente, em um período de recessão. A
mudança econômica iniciou-se na Europa e nos Estados Unidos e seus principais impactos começaram a ser sentidos
na América Latina nos últimos cinco anos. Momentos de crises econômicas são sempre usados como argumento para
o desmonte de garantias sociais adquiridas e pela intensificação da precarização das condições de trabalho,
asseverando o potencial de exploração da classe-que-vive-do-trabalho pela lógica capitalista de produção. Este grupo
de trabalho se propõe a discutir a precarização das condições de trabalho que se intensificam atualmente, seus
impactos na saúde dos trabalhadores e os movimentos de resistência que a estas se apresentam. A precarização das
condições de trabalho, a terceirização das atividades meio industriais como resultado do enxugamento das plantas
produtivas, na implementação da lógica toyotista de produção se apresentam como resultado da proposta de
reestruturação da lógica de exploração do capital a partir da década de 70. Este processo de terceirização e até
mesmo de quarteirização da produção precariza as condições de trabalho, em sua imensa maioria das vezes. O
trabalhador deixa de ter suas garantias oferecidas pela empresa sede, porém, segue atrelado as suas exigências
produtivas, cada vez maiores, disfarçadas sob o discurso de qualidade da produção. Tais exigências atreladas as piores
condições produtivas (uma vez que não são mais oferecidas pela empresa sede) culminam no aumento dos acidentes
de trabalho, dentre eles o adoecimento mental. No Brasil, oito em cada dez acidentes de trabalho são sofridos por
trabalhadores terceirizados, tal dado é um importante indicador que o movimento de terceirização é acompanhado
pelo aumento do risco aos trabalhadores. Outras formas de precarização das condições de trabalho que acontecem
com as mudanças no cenário econômico são a intensificação e densificação da hora de trabalho para os trabalhadores
que conseguem se manter dentro do mercado formal produtivo.
Pelo fato do mercado formal produtivo ainda ser um espaço com garantias de direitos trabalhistas conquistados,
muitos trabalhadores e trabalhadoras se esforçam para manter-se dentro deste, contudo, o discurso da terceirização
ou mesmo do enxugamento produtivo como formas de enfrentamento a uma crise econômica colocam estes
trabalhadores sob um argumento de que para se manter dentro do espaço formal faz-se necessário um esforço maior
doà e p egado,à o oà fo aà deà ajuda à aà o ga izaç oà fo alà aà supe a à oà o e toà deà eduç oà osà lu osà daà
produção. O que é colocado a estes trabalhadores que aí se mantém é que sua produtividade precisa ser aumentada
para que sua permanência possa ser mantida. Aos que restam dentro da formalidade cabe, portanto, compensar o
trabalho que era realizado pelos colegas desligados, para isso o caminho é a densificação da hora de trabalho assim
como a intensificação de esforços que, via de regra, culmina na extensão da jornada produtiva para o espaço privado e
horas de descanso do trabalho. Tais movimentos, mais uma vez, seguem tendo impacto negativo na saúde mental dos
trabalhadores e trabalhadoras. Outra dimensão do trabalho que se apresenta também precarizada é a informalidade.
Segundo dados do IPEA sobre o último trimestre de 2016 quase metade da população trabalhadora brasileira, 45%,
encontra-se na informalidade, muitos destes atuando nas terceirizações da produção. O trabalhador informal
precarizado não é contemplado, muitas vezes, pela seguridade social, não tem uma renda fixa e passa por condições
mais intensas de exploração. Se incorporarmos aos trabalhadores informais muitos microempreendedores individuais
(MEI) este número cresce ainda mais. Os MEI foram formalizados dentro do processo produtivo pela via do
recolhimento de impostos, contudo, suas condições laborais não foram transformadas por esta formalização
economicista, sendo ainda muito próximas as precarizações enfrentadas no mercado informal de trabalho. Todo este
panorama busca apontar a degradação das condições de trabalho na atualidade e seus impactos, contudo, temos,
também, movimentos de resistência a esta lógica exacerbada de exploração, como a economia solidária, por exemplo,
que busca superar a proposta de exploração da mão de obra exclusivamente para obtenção de lucro e acumulação de
capital criando um espaço de inclusão e transformação através dos laços de solidariedade humana construídos no
espaço produtivo. O fenômeno da economia solidária se apresenta numa perspectiva de busca de novas formas de
regulação da sociedade, a auto-organização social, envolvendo ações ao mesmo tempo econômicas e políticas. Ela
tem por vocação combinar uma dimensão comunitária, mais tradicional, com uma dimensão pública, mais moderna na
sua ação.

1223
No caso das cooperativas de produção e prestação de serviços, a dimensão pública se apresenta na medida em que a
organização se produz a partir de uma problemática de geração de trabalho e renda. Além da sua ação no mercado,
cujo benefício social, a princípio, restringe-se apenas ao grupo dos cooperados internos, o que por si só já difere da
lógica capitalista em razão da apropriação coletiva dos ganhos, a tendência do movimento é de valorização de uma
dimensão pública da sua ação mediante a ênfase nos impactos da organização na vida local.
O discurso que endossa a flexibilização das condições produtivas acima apresentadas é o discurso neoliberal, que
coloca o estado como um importante regulador da economia e garantidor da manutenção da lógica acirrada de
exploração pela sua negligência com seu papel de mantenedor de um estado de bem-estar social. O discurso
neoliberal propõe um estado mínimo para uma economia capitalista em toda sua potência que, fora das amarras
regulamentadoras do estado protecionista garantiriam uma pujança econômica tamanha que seus benefícios estariam
ao alcance de todos que estivessem dispostos a se dedicar a produção. O momento da crise econômica pelo qual
passamos está sendo usado pelo estado brasileiro como argumento para acelerar a implementação deste estado
neoliberal em nosso país, como saída para o crescimento das taxas de desemprego. O que não é colocado é que o
papel de um país de desenvolvimento tardio neste cenário seja o de se manter em um lugar de fornecedor de mão de
obra barata e matéria prima. Ainda assim, sob o discurso de salvação de uma pouca renda e algum tipo de trabalho
vem sendo articuladas propostas de reformas trabalhistas e da previdência que irão garantir que as condições de
precarização já apresentadas possam atingir uma parcela ainda maior da população, assim como suas consequências.
Este GT propõe criar um espaço para se pensar e discutir o momento atual que o mundo do trabalho passa, assim
como o impacto de suas consequências e possíveis caminhos de resistência a este. Serão aceitos trabalho que
discutam a informalidade do trabalho, empreendedorismo, trabalho formal, discussões relativas ao precariado, os
impactos da precarização das condições de trabalho na saúde mental do trabalhador e da trabalhadora ou, ainda,
trabalhos que tragam movimentos alternativo e ou de resistência à esta lógica produtiva apresentada. Pretendemos
promover um espaço para reflexão crítica sobre o momento atual e fomentar argumentos técnicos que sustentem a
resistência ao desmonte das garantias dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores promovido pelo governo
ilegítimo nacional.

1224
A terceirização na UFF: enfrentamentos em tempos de precarização do trabalho
Autores: Kevin Drumond Viana, UFF; Ana Carolina Reis, UFF; Catharina Marinho Meirelles, UFF
E-mail dos autores: vianadrumondkevin@hotmail.com,ana_reis@id.uff.br,catme@uol.com.br

Resumo: No panorama global do Mundo do Trabalho, o pós II Guerra Mundial foi marcado pela consolidação do
Fordismo, que se manteve intacto até meados da década de 1970 (HARVEY, 2012). A partir de tal período, sobretudo
com o fim do tratado de Bretton Woods (1971) e a crise do Petróleo (1973-74), houve uma reestruturação econômica
e um reajustamento social e político no mundo. O binômio fordismo-keynesianismo começou a se fragilizar, visto que
o Neoliberalismo emergente abalou as estruturas da concepção na qual o Estado é a primeira instância de garantia do
bem-estar social. Noutras palavras, cabia pouco ou nada mais à esfera estatal o poder de regular a economia, já que o
próprio mercado poderia administrar tal situação. Propondo o conceito de acumulação flexível, Harvey (2012)
argumenta que esta mudança foi marcada por alterações nos setores de produção, no fornecimento de serviços, na
introdução de novos mercados e na intensa inovação comercial, tecnológica e organizacional. No âmbito nacional, o
Mundo do Trabalho assistiu à efetivação de tais mudanças tardiamente, a partir da década de 1990, com a chegada de
Collor à presidência do Brasil (1990) e a posterior eleição de FHC ao mesmo cargo (1994). Essas governanças
representam uma abertura explícita e irrestrita do país à mercadorização e à financeirização, principalmente
internacionais. Alguns autores (ALVES, 2014; ANTUNES, 2005; BRAGA, 2010; DRUCK, 2007) consideram que o Brasil
tem sido permeado por relações de trabalho novas, seja na própria organização e cultura produtivas do processo de
trabalho, seja nas novas legislações e políticas de cunho liberal. O que se vê, portanto, é um conjunto de medidas
jurídico-políticas que dão mais poder aos capitais nacional e internacional. Na verdade, a questão do trabalho em
âmbito nacional sempre foi marcada pela precariedade, pela relação de sujeição do trabalhador ao empresariado e
pela intensificação do trabalho (DAL ROSSO, 2008). O exemplo mais recente disso é a terceirização, que tem ganhado
papel de destaque nas atuais relações de trabalho brasileiras, como a Lei 12.429/2017 ratifica. Se esta precarização já
é um fator de grande preocupação nas organizações privadas, ela assume um contorno mais preocupante quando se
apresenta nas instituições públicas, nomeadamente nas Instituições de Ensino Superior (IES). Quanto a estas, cabe
ressaltar que, ao serem submetidas ao paradigma neoliberal, seguindo as recomendações de organismos
supranacionais, acabam por ser reconfiguradas segundo o modelo gerencialista. Tal modelo tem se instalado nas IES
públicas substituindo o projeto político de administração acadêmica por uma gestão financeira, heterônoma e
hiperburocratizada (BITTAR; CHAVES; MANCEBO, 2012; DALE, 2001; LIMA, 2011; MAGALHÃES, 2011; MANCEBO, 2004;
REIS; SILVA JÚNIOR, 2012), caracterizada por cortes orçamentais que induzem ao empresariamento e privatismo em
suas decisões. Assim é que os princípios da Nova Gestão Pública acabam por justificar a adoção de metodologias
organizacionais (como a terceirização, por exemplo) que visam aumentar a eficiência da gestão, racionalizar e
promover o downsizing nestas instituições. Considerando a complexidade e as repercussões psicossociais oriundas
da precarização das relações de trabalho nas IES públicas, este trabalho tem como propósito relatar os principais
elementos da pesquisa, ora em andamento, que tem por objetivo central analisar o processo de terceirização dos
cargos Técnico-Administrativos em Educação (TAEs) na Universidade Federal Fluminense (UFF). A metodologia
utilizada na pesquisa foi estabelecida a partir de levantamento bibliográfico e documental do processo de
terceirização da UFF, estabelecendo descrições minuciosas de sua origem e evolução. Dos dados já levantados até o
momento, é possível constatar o significativo aumento do trabalho terceirizado na universidade (92% entre 2012 e
2017), além da progressiva adoção tanto da retórica quanto da prática privatistas na contratação deste tipo de
trabalho, sob o pretexto do déficit orçamentário e da ampliação da Universidade, como decorrência do REUNI
(Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), como tem sido possível constatar por meio da análise dos
relatórios de gestão e boletins de serviço. Observa-se ainda a diminuição de concursos públicos para os cargos de TAEs
em detrimento do aumento de serviços terceirizados, o que tem acarretado aumento significativo das despesas com
este tipo de serviço e enfraquecimento da consolidação da carreira dos TAEs, tendo em vista que muitos cargos já
foram extintos e outros o serão com a possibilidade de terceirização irrestrita recentemente sancionada (Lei 12.429/
1225
2017). Constata-se que os contratos celebrados entre a UFF e as empresas prestadoras de serviço, apresentam
irregularidades legais que acabam por precarizar, ainda mais, as condições de trabalho dos terceirizados e
vulnerabilizá-los nas relações organizacionais. Ainda que este processo de precarização se torne mais patente quando
salários e benefícios não são pagos, entende-se que as conseqüências psicossociológicas para os trabalhadores
terceirizados precisam ser evidenciadas e confrontadas. Conclui-se que tal conjunto de fatores, para além de colocar
em xeque o compromisso social da instituição ao consentir com o trabalho expropriado, precarizado e aviltante, deve
provocar a reflexão sobre as possibilidades de enfrentamento e resistência neste cenário.

1226
A vida do/a professor/a universitário/a: o produtivismo acadêmico como processo de precarização do trabalho
Autores: Ruth Vasconcelos Lopes Ferreira, UFAL; Juarez Ferreira do Nascimento Júnior, UFAL; Layane Emília Costa
Martins Prudencio, UFAL; Nataniele Tertuliano da Silva, UFAL
E-mail dos autores:
ruthvasconcelos@ics.ufal.br,nataniele1818@gmail.com,juarez.junior.ufal@gmail.com,layanecmp@outlook.com

Resumo: Trata-se de uma pesquisa realizada através do PIBIC, no âmbito da Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
no período de julho de 2015 a julho de 2017, que aborda a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) do professor
universitário, tomando como parâmetro a análise das condições de trabalho e das relações estabelecidas no ambiente
acadêmico e universitário. Problematiza a cultura organizacional baseada nos conceitos de excelência, sucesso,
desempenho, competência, eficiência e produtividade que imprimem ao mundo acadêmico uma lógica produtivista
equivalente à lógica de mercado (PINTO e SILVA, HELOANI, 2009). O estudo analisa o impacto que essas mudanças de
gestão institucional, pragmática e mercantil, produziram na vida do professor da UFAL, observando em que medida
essa cultura de produtivismo acadêmico (BARSOTTI, 2001, p. 588), que também instituiu uma lógica de avaliação
baseada em critérios quantitativos de produção (número de aulas, de orientações, de publicações, de participações
em banca etc), interfere na qualidade de vida do professor universitário, comprometendo o nível de realização e
satisfação desses educadores inseridos numa Instituição de Ensino Superior (IES). Diante desta realidade, o estudo
orientou-se por algumas perguntas norteadoras: em que medida os critérios quantitativos presentes tanto na
produção acadêmica, como na avaliação do desempenho docente, contribuem para a intensificação, aceleração e
sobrecarga do trabalho, constituindo-se em fatores de estresse, sofrimento e adoecimento (físico e psíquico) na vida
desses profissionais (BORSOI e PEREIRA, 2013)? Em que medida a qualidade de vida do professor universitário está
sendo afetada em função dos critérios de avaliação baseados na quantidade de produção, realidade que tem sido
traduzida numa expressão que se tornou muito recorrente entre os professores universitários: Publicar ou morrer?!
(BIANCHETTI, MACHADO, 2007). Em que medida essas exigências postas pela ideologia do produtivismo acadêmico
(BARSOTTI, 2011) têm gerado um clima de tensão e competitividade entre os professores, desvirtuando a razão de ser
da própria educação que consiste na formação, com qualidade, de sujeitos autônomos, livres e criativos (FREIRE, 1967)
que possam responder aos desafios sociais nas diversas formações profissionais? A metodologia adotada articulou
instrumentos qualitativos e quantitativos para coleta de dados, tendo uma amostragem de 320 professores, inseridos
nas três grandes áreas de conhecimento (Ciências Humanas, Ciências da Saúde e Ciências Exatas). Utilizou-se um
formulário online como instrumento na coleta de dados no campo quantitativo e, no campo qualitativo, foram
realizadas entrevistas semiestruturadas com professores que dispuseram a aprofundar discussão sobre o tema
presencialmente. Obtivemos uma amostragem representativa com participação de professores das três grandes áreas
de conhecimento (Ciências Humanas – 54,9%, Ciências Exatas – 24,8%, Ciências Biológicas e da Saúde – 20,3%). A
pesquisa revelou que as exigências de produtividade têm se refletido na dinâmica do trabalho docente através de
cobranças e pressões para que os profissionais aumentem a sua produção em termos de orientação, de hora/aula,
publicações, participação em eventos, realização de pesquisas etc. Um total de 85% desta amostra afirma reconhecer
que aumentaram as demandas de trabalho nos últimos anos. Há um reconhecimento por parte de 74,4% dos
participantes da pesquisa de que o trabalho acadêmico tem afetado sua qualidade de vida em função das exigências
de produtividade. A pesquisa alerta para uma precarização do trabalho dos professores universitários, favorecido pela
lógica gerencialista do trabalho, baseada numa visão economista do humano (GAULEJAC, 2007, p. 66), a qual
valoriza apenas o que é possível quantificar e mensurar, desconsiderando as dimensões como autorrealização,
reconhecimento e satisfação.

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Considerações acerca da organização de trabalho em um hospital público
Autores: Deany Yukari Komesu, UFRJ; Fernando Gastal de Castro, UFRJ; Tayane Cristina Campista Muniz, UFRJ
E-mail dos autores: deany.yukari@gmail.com,tayehmuniz@hotmail.com,fernandogastal@gmail.com

Resumo: Sabe-se que diversos fatores como a evolução tecnológica, a expansão do mercado financeiro e a
globalização propiciaram uma organização de trabalho em que a produção e o acúmulo de capital em menor espaço
de tempo são constantemente almejados. Podemos perceber a nova concepção do tempo, no imaginário social,
através da máxima de Benjamin Franklin Tempo é dinheiro! . Enquanto o trabalhador acaba virando um recurso para
a manutenção dessa estrutura, ele não encontra espaço para a manutenção de sua saúde. Todo esse contexto social e
do trabalho vem provocando consequências físicas e psíquicas aos trabalhadores contemporâneos. Segundo Castro
(2014), podemos falar do sofrimento no trabalho como um fenômeno social total, ou seja, que diz respeito à
sociedade capitalista em seu conjunto. Algumas destas consequências são perda de sentido no trabalho, o estresse, o
burnout, os distúrbios musculoesqueléticos, a depressão, o assédio moral e em sua máxima manifestação, o suicídio.
Temos como objetivo de nossa comunicação fazer uma análise da organização do trabalho de um hospital público e de
suas relações com as formas de mal-estar produzidas nos profissionais de enfermagem, além de identificar a
sobrecarga que esses profissionais sofrem, partindo, para isso, das atividades que realizamos em um grupo em 2016
em Clínica do Trabalho. Esse trabalho faz parte do Projeto de Extensão: Saúde e Vida no Trabalho, realizado pelo
Instituto de Psicologia da UFRJ em parceria com o Ambulatório de Saúde do Trabalhador da CESTEH-FIOCRUZ. Além
disso, refletimos mais especificamente sobre os efeitos possibilitados pela exploração fenomenológica sobre o
sofrimento dos trabalhadores, através de uma técnica denominada de Organidrama (Guerreiro & Castro, 2013). Sendo
esta desenvolvida por Vincent de Gaulejac e como método de exploração do vivido recorre-se à análise
fenomenológica de Jean-Paul Sartre. A técnica aplicada é inspirada no Psicodrama de Jacob Moreno, no Teatro do
Oprimido de Augusto Boal e na Sociologia Francesa.
O Organidrama é um dispositivo grupal em que os participantes dramatizam situações reais, conflituosas e
recorrentes, vivenciadas no ambiente de trabalho, visando evidenciar a lógica do funcionamento organizacional e
compreender as relações existentes entre o sofrimento psíquico individual e a lógica social do trabalho (ibid.). A
técnica é trabalhada a partir da escolha de uma situação trazida por algum dos participantes, em seguida executa-se a
sua dramatização. Após a realização da cena utilizamos a descrição fenomenológica para trazer como a dramatização
foi experienciada individualmente e prosseguimos fazendo uma análise coletiva, em que procura-se investigar a
relação entre o sofrimento do trabalhador e a organização de trabalho. Com a perspectiva da Clínica do Trabalho
procuramos romper com o paradigma da eficacidade produtiva usando como ponto de partida o vivido pelo sujeito
em situação, buscamos um sentido do trabalho tratando o indivíduo como ser universal-singular.
Durante a execução deste dispositivo grupal, notamos que os participantes sempre tinham muita dificuldade em
realizar a descrição das situações de sofrimento vividas. Eles geralmente mostravam resistência em mencionar o que
sentiram ao dramatizar, mas insistiam em racionalizar aquilo que era experienciado, buscando sempre interpretar a
situação. Notamos também que os membros do grupo não conseguiam perceber suas vivências corporais e
apresentavam muitas dificuldades ao falar do que e de como as sentiam. Mostrando um distanciamento de seu
próprio corpo. Pretendemos, portanto, relatar e refletir essas dificuldades e de como as buscamos superar através da
descrição fenomenológica (Castro, 2012).
Além disso, nas dramatizações colocadas em prática pela aplicação da técnica do Organidrama surgiram elementos
como a lógica de funcionamento da organização hospitalar pública no sistema capitalista na contemporaneidade, os
interesses políticos que atravessam diretamente o trabalho nestas instituições e das formas como eles se relacionam
aos diversos tipos de mal-estar vividos no trabalho.
Os participantes geralmente iniciam o trabalho grupal trazendo a sensação de fracasso, da falta de sentido, do assédio
moral no trabalho, juntamente com a crença de que seu sofrimento é individualizado. No entanto, durante os
encontros eles vão percebendo que esse sofrimento é produzido pela organização de trabalho e que os próprios
1228
também são responsáveis pela sua produção, na medida em que sustentam essa organização. O trabalho em grupo
possibilita que eles constatem que não estão sozinhos, percebam que o outro sofre de forma similar e por conseguinte
identifiquem e legitimem sua responsabilidade pelo seu sofrimento e do outro. A potência da técnica e do trabalho
grupal possibilita desvios e novas formas de enfrentamento, fazendo com que o sujeito saia dos pólos culpabilização-
vitimização. Esse trabalho possibilita para além disso, a formação de coletivos e um empoderamento do sujeito diante
às situações de sofrimento no trabalho.

1229
Doà t a alhoàsujo à à elaào a:àOà ueà àt ia à ate iaisà e i l veis?
Autores: Fabiana Goulart de Oliveira, UFMG; Vanessa Andrade de Barros, UFMG
E-mail dos autores: fabiana13maio@gmail.com,vanessa.abarros@gmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho foi compreender os processos psicossociais e de subjetivação no trabalho dos
catadores de materiais recicláveis, particularmente das triadoras que atuam em cooperativas de reciclagem. Buscamos
compreender o tornar-se catador , ou o que faz um catador, no sentido duplo do termo: o conteúdo da sua atividade
e como, ao fazê-la, ele se constitui como profissional. Colocamos em questão a afirmação de autores que defendem
que o discurso que expressa o orgulho profissional e a satisfação vivenciada pelos catadores no trabalho estariam
relacionados a mecanismos defensivos e ideológicos, que contribuem para a superexploração e alienação desses
trabalhadores. Interrogamos de que maneira o trabalho na catação, em particular a atividade de triar materiais
recicláveis, realizado em condições precárias, que envolvem diretamente o contato com objetos sujos, socialmente
desvalorizados e potencialmente contaminantes, poderia ser fonte de desenvolvimento desses sujeitos, permitindo
seu reconhecimento no próprio trabalho. Em que medida poderíamos afirmar que se trata de um trabalho sujo e/ou
de uma atividade socialmente relevante, com valores próprios de um ofício ? Indagamos também como o
desenvolvimento das políticas públicas contribui efetivamente para o desenvolvimento dos catadores e de suas
atividades no cotidiano. E, em sentido inverso, como a atividade dos catadores influencia a construção dessas
políticas. A pesquisa utilizou o método etnográfico, associado à estratégia de pesquisa-ação e na grounded theory.
Analisou o trabalho das triadoras, a partir da relação entre: o processo histórico e político de organização dos
catadores, a sua atividade concreta e seus processos subjetivos. Nossa análise desenvolveu-se em dois níveis: o micro
da atividade cotidiana nos galpões de triagem e o macro da política, procurando evidenciar relações em mão dupla.
Mostramos que o trabalho dos catadores criou condições para o desenvolvimento de sujeitos políticos propiciando
questionamentos acerca dos lugares e valores atribuídos socialmente a esses sujeitos. Organizados em associações e
cooperativas, os catadores passaram a reivindicar sua participação nos sistemas públicos de limpeza urbana,
questionar tecnologias de coleta e tratamento de resíduos bem como seus mecanismos de financiamentos.
Alcançaram avanços no que se refere à sua própria articulação política e construíram um movimento de representação
nacional da categoria. O Movimento Nacional de Catadores (MNCR) possibilitou a ampliação dos espaços de atuação
dos catadores e de interlocução com o Estado e com outros atores. Possibilitou a articulação de redes de cooperação e
comercialização, a realização de protestos e ações reivindicatórias relativas à participação desses trabalhadores na
cadeia da reciclagem, a melhoria das condições de trabalho, a luta por direitos e a participação em diversas leis, como
a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A participação e o engajamento dos trabalhadores nas atividades políticas do
MNCR estão articulados à atividade por meio dos sentidos e saberes produzidos cotidianamente no processo de
trabalho. A apropriação do ofício estimula o engajamento político e este influencia a forma de produção e organização
do trabalho, as transformações dos gestos e do corpo de cada trabalhador, bem como suas normas e valores. As
exigências estabelecidas no trabalho de triagem são evidenciadas por meio de conflitos entre triadoras novatas e
experientes. O desenvolvimento da competência dessas trabalhadoras requer a produção de uma história, na
cooperativa, junto à equipe de triagem e também com os resíduos. Ao assumirem tarefas como a gestão de uma
cooperativa, as tomadas de decisões relativas a planejamentos, vendas, frequentar espaços institucionais que eram
então pouco habituais, os catadores ampliaram a complexidade do seu trabalho. Construíram novos critérios para a
classificação e gerenciamento dos resíduos, estabeleceram outras formas de uso e funções dos materiais, criaram
valores acerca da qualidade do seu trabalho e do funcionamento da sociedade. O caráter dinâmico da catação se
reflete na nomeação dos seus profissionais. De catadores de lixo passaram a catadores de materiais recicláveis
que, longe de ser um mero eufemismo, carrega uma história transpessoal, uma história de resistência e de luta. A
aprendizagem desse ofício envolve o desenvolvimento de competências. Tais competências estão relacionadas com as
normas e os valores produzidos ao longo da história do ofício e que dão acesso à identidade de catador de materiais
recicláveis . Nesse processo é possível observar as transformações desses profissionais na sua relação com a sujeira,
1230
com o cheiro, com o nojo. Fazer do lixo seu objeto de trabalho é confrontar-se com a repulsão, com a sua própria e
aquela de outros, inclusive familiares, que não deixam de portar um olhar de desprezo sobre essas atividades. Dessa
forma, as prescrições afetivas da atividade – não pode ter nojo , não pode ser esnobe , não pode ter medo de se
sujar , ter orgulho do trabalho , vestir a camisa –, analisadas por alguns autores como positivação, eufemismo ou
defesa contra a angústia de um trabalho supostamente vazio de sentido, revelam um saber próprio do trabalhador,
construído por meio da experiência e que pode ser observado em seus hábeis gestos profissionais.

1231
Intervenções em saúde do trabalhador: reverberações nos sujeitos, instituições e na formação em Psicologia
Autores: Letícia Oliveira Rodrigues, UFU; Alyssa Magalhães Prado, UFU; Luana Mundim de Lima, UFU; Maristela de
Souza Pereira, UFU; Thayane Coimbra Sena, UFU
E-mail dos autores:
leticiaorodrigues3@gmail.com,luana_mun_dim@hotmail.com,maristela.ufu@gmail.com,alymagalhaes@gmail.com,th
ayanecsena@gmail.com

Resumo: O presente trabalho possui como objetivo apresentar e refletir a respeito das práticas e ações voltadas para
a saúde do trabalhador que vem sendo desenvolvidas no Instituto de Psicologia da Universidade Federal de
Uberlândia, as quais configuram intervenções que repercutem sobre sujeitos e instituições, além de incidir também
sobre a formação dos futuros psicólogos. Nessa proposta, entende-se o trabalho enquanto atividade central e na vida
das pessoas. Entretanto, em uma sociedade indiscutivelmente inserida na lógica capitalista e neoliberal, as diversas
modalidades de trabalho acabam por priorizar a produtividade ao invés do bem estar, o que tem acarretado muito
sofrimento e adoecimentos físicos e psíquicos. Nesse contexto, se destaca a necessidade de olhar para as questões
referentes à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, especialmente em áreas de atuação como a Psicologia, que se
dedicam à saúde humana. Dessa forma, pretende-se aqui relatar experiências realizadas nos últimos dois anos e seis
meses, que propõem articulações diversas para o cuidado dos trabalhadores/as. A partir da oferta de estágios
profissionalizantes; de ações em parceria com o setor de Reabilitação Profissional do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Nacional), com o CEREST (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) e com o HC (Hospital de Clínicas da
UFU); da oferta de disciplina em Saúde do Trabalhador para discentes de Psicologia; da realização de cursos de
extensão e palestras referentes a essa temática para a comunidade universitária e em geral, tem se configurado um
campo de práticas e reflexões, que inexistia até então nessa unidade acadêmica. No decorrer dessas experiências,
percebemos o quão fundamental é o estudo da Saúde do Trabalhador sob uma perspectiva crítica e social, e pudemos
tomar contato com diversas faces da problemática do adoecimento e sua relação com o trabalho. Pudemos ainda
notar que as próprias instituições destinadas a assegurar ações aos trabalhadores e trabalhadoras, através das
políticas públicas, também possuem limitações no seu espectro de atividades. Em experiência no CEREST, por
exemplo, percebemos uma reduzida atuação interdisciplinar dos profissionais, consequente da própria estruturação
da instituição, a qual acaba por priorizar as demandas que lhe são endereçadas, com menor possibilidade de criar
projetos próprios e atuar de maneira transversal e articulada com o SUS e com os demais serviços. Em parceria com a
Reabilitação Profissional do INSS, trabalhadoras/es afastados foram convidadas/os a participarem de grupos de escuta
e acolhimento, com o objetivo de ressignificar seu processo de adoecimento, como também estimular a autonomia e
participação ativa em sua nova condição. Apesar desses sujeitos iniciarem sua participação nos grupos com
sentimentos associados à culpa, revolta e passividade, no sentido de esperarem que o INSS resolva seus problemas
atuais, aos poucos as atividades grupais propiciam novos questionamentos sobre ações e estratégias antes nem
imaginadas pelos sujeitos, que trazem maior qualidade de vida e propiciam um viver criativo, apesar da presença da
doença/limitação. O grupo se configura então como uma ferramenta de intervenção tanto para os sujeitos, enquanto
espaço de reflexão que busca instrumentalizar os trabalhadores/as para pensarem em ações individuais e coletivas
que possibilitem a ampliação da capacidade de se posicionarem de forma ativa e desenvolverem um pensamento
crítico sobre a realidade social na qual estão inseridos; e também como uma possibilidade de redesenhar em nível
institucional as atividades voltadas para os sujeitos atendidos pelas instituições envolvidas no projeto, a saber: o Setor
de Reabilitação Profissional do INSS e a Clínica de Psicologia da UFU. Outra experiência importante tem sido realizada
junto ao HC/UFU, com trabalhadores de enfermagem de um setor específico. Nesse caso, uma intervenção
psicossocial, iniciada através de grupos, e que desdobrou-se para outras atividades, tem produzido ressonâncias e
ecos tanto junto à equipe, como em nível institucional. Com relação ao Curso de Extensão em Saúde do Trabalhador
(CEST), que está em sua quinta edição, tem propiciado que estudantes da graduação em Psicologia da UFU e das
demais instituições de ensino privadas de Uberlândia, bem como profissionais já graduados, possam travar um
1232
primeiro contato com o campo da Saúde do Trabalhador. Outros projetos de estágio, pesquisa e extensão, como
palestras e um grupo para trabalhadores adoecidos pelo trabalho têm levado informações e intervenções a segmentos
da população em geral, e produzido parcerias com o Ministério Público do Trabalho e com a Secretaria de Saúde,
ampliando o raio das ações e fortalecendo as mesmas. Por fim, todas essas atividades têm promovido a formação em
Saúde do Trabalhador para as/os discentes de Psicologia da UFU, colocando-os em contato com esse campo, o qual
era inédito para eles até então.

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O desgaste docente na educação pública superior brasileira: questões emergentes
Autores: Franciele Ariene Lopes Santana, UFMS; Ilidio Roda Neves, UFMS
E-mail dos autores: francinyh@hotmail.com,ilidiorneves@gmail.com

Resumo: Introdução: O trabalho docente na universidade é permeado por atribuições que não envolvem apenas as
atividades de sala de aula. Isso por si só não é preditor de doenças, desde que se tenha um ambiente que permita o
livre desenvolvimento das atividades laborais de modo seguro. Contudo, estudos apontam que aspectos deste
trabalho têm levado ao adoecimento, em decorrência das situações encontradas no seu cotidiano, interessados nessa
temática, desenvolvemos uma dissertação de mestrado discutindo questões acerca do adoecimento docente, aqui
apresentaremos um recorte do trabalho desenvolvido. Objetivos: Investigar e analisar a relação entre as situações de
trabalho e o desgaste docente nas Instituições Públicas Educação Superior (IPES) brasileiras, partindo de estudos que
versem sobre o adoecimento docente; Levantar os tipos mais frequentes de adoecimento em docentes de IPES que
têm sido descritos nas publicações que abordam a temática; Descrever e analisar nas publicações possíveis descrições
de cargas de trabalho docente; Levantar se algum tipo de iniciativa quanto à promoção de
saúde/prevenção/tratamento tem sido proposta pelas IPES e, em caso positivo, quais; Observar e descrever a
existência de aproximações ou distanciamentos da realidade do trabalho docente e suas consequências dos sistemas
Federal e Estadual de ensino superior brasileiro. Referencial Teórico: O desenvolvimento da pesquisa pautou-se no
conceito de trabalho na perspectiva Marxista; Compreensão da atividade de trabalho por meio dos pressupostos da
Ergologia de Yves Schwartz; Compreensão da função psicológica do trabalho, na Clínica da Atividade de Yves Clot;
Concepção ampliada do conceito de saúde; e, Noção de Desgaste biopsíquico de Laurell e Noriega. Caminho
Metodológico: Trata-se de um estudo teórico, configurado numa Revisão Integrativa de Literatura, com o foco nas
evidências acerca do adoecimento docente das IPES brasileiras, foi realizada em cinco etapas, por meio de buscas em
nove bases de dados, sendo incluídos artigos, dissertações e teses. Resultados: A soma bruta foi de 2.892 publicações
encontradas de acordo com o cruzamento de descritores eleitos. Desse total, apenas 76 textos estavam dentro dos
critérios de seleção e foram incluídos para as análises. Discussão: A leitura do material na integra possibilitou construir
tendências de análises para assuntos. Categorizamos as temáticas englobando Saúde e Trabalho em 4 subgrupos de
interesse: a) questões gerais de saúde, b) categoria trabalho, c) desgaste, estresse, transtornos mentais, e, d)
qualidade de vida. A partir da categorização foi possível constatar que a maior frequência de problemas tem relação
com o desgaste psíquico. Ao analisar e correlacionar as cargas de trabalho e o desgaste citado pelos estudos, foi
possível a realização da análise das situações de trabalho expressa nas experiências subjetivas relatadas frente às
condições, gestão, política econômico-social, em que a reestruturação da universidade, o produtivismo e a sobrecarga
exercem fator determinante no adoecimento e desgaste dos trabalhadores. Deste modo as publicações também
focaram em análises de Políticas Educacionais, Avaliação da educação superior, REUNI e Formação Docente, que
configurou um segundo núcleo de interesse. No qual, foi recorrente o aparecimento de fenômenos como
precarização, flexibilização, sobrecarga, intensificação e produtivismo acadêmico. Considerações: À luz de campos
como saúde do trabalhador, saúde coletiva, psicologia, marxismo, fomos levados a refletir que as situações de
trabalho da docência têm se modificado conforme as mudanças do setor produtivo, sendo que a natureza das
transformações gera consequências para a saúde dos docentes. Observamos acometimentos à saúde ligados às
condições físicas desgastantes, no entanto a maior proporção de adoecimento está ligada as questões da organização
que tem maior relação com o desgaste psíquico. O percurso da conformação é manejado pelos modelos de produção
que se articulam para naturalizar as condições impostas, para desmotivar as resistências ou, quando muito, remediar
as implicações na saúde. Todavia, o caminho das resistências também vem construindo bases para a luta pela saúde
docente. Neste sentido, novos estudos precisam ser realizados para amparar formas de enfrentamento destas
1234
realidades desgastantes. É preciso que políticas públicas em saúde do trabalhador sejam desenvolvidas no âmbito da
universidade pública brasileira, que mesmo sendo um espaço de desenvolvimento de ciência não está imune das
exigências impostas pelo mundo do trabalho.

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Reflexões acerca da organização de trabalho do setor bancário através do Organidrama
Autores: Tayane Cristina Campista Muniz, UFRJ; Deany Yukari Komesu, UFRJ; Fernando Gastal de Castro, UFRJ
E-mail dos autores: tayehmuniz@hotmail.com,deany.yukari@gmail.com,fernandogastal@gmail.com

Resumo: Sabe-se que diversos fatores como a evolução tecnológica, a expansão do mercado financeiro e a
globalização propiciaram uma organização de trabalho em que a produção e o acúmulo de capital em menor espaço
de tempo são constantemente almejados. Podemos perceber a nova concepção do tempo, no imaginário social,
através da máxima de Benjamin Franklin Tempo é dinheiro! . Todo esse novo contexto social e do trabalho vem
provocando consequências físicas e psíquicas aos trabalhadores contemporâneos. Segundo Castro (2014), podemos
falar do sofrimento no trabalho como um fenômeno social total, ou seja, que concerne à sociedade e a todos os
recantos do capitalismo globalizado. São diversas as manifestações de sofrimento experienciadas pelos sujeitos:
estresse, transtornos de ansiedade, depressão, síndromes orgânicas e diversas formas de esgotamento psíquico, como
o burnout, revelando o esvaziamento do sentido do trabalho e a crise gestionária e organizacional.
Temos como objetivo de nossa comunicação fazer uma análise da organização do trabalho na contemporaneidade e
de suas relações com as formas de mal estar produzidas partindo, para isso, das atividades que desenvolvemos em
Clínica do Trabalho, o Projeto de Extensão: Saúde e Vida no Trabalho, realizado pelo Instituto de Psicologia da UFRJ em
parceria com o Ambulatório de Saúde do Trabalhador da CESTEH-FIOCRUZ. A partir dos resultados obtidos durante a
realização de três grupos de trabalhadores bancários no período de 2014 à 2016, pretendemos refletir mais
especificamente sobre as possibilidades terapêuticas e da exploração fenomenológica do sofrimento vivido pelos
trabalhadores, proporcionado pela utilização de uma técnica denominada de Organidrama (Guerreiro & Castro, 2013).
Esta, sendo desenvolvida por Vincent de Gaulejac e como forma de exploração do vivido em cena recorre-se à análise
fenomenológica de Jean-Paul Sartre. A técnica aplicada é inspirada no Psicodrama de Jacob Moreno, no Teatro do
Oprimido de Augusto Boal e na Sociologia Francesa.
O Organidrama é um dispositivo grupal em que os participantes dramatizam situações reais, conflituosas e
recorrentes, vivenciadas no ambiente de trabalho, visando evidenciar a lógica do funcionamento organizacional e
compreender as relações existentes entre o sofrimento psíquico individual e a lógica social do trabalho (ibid.). A
técnica é trabalhada a partir da escolha de uma situação trazida por algum dos participantes, em seguida executa-se a
sua dramatização. Após a realização da cena utilizamos a descrição fenomenológica para trazer como a dramatização
foi experienciada individualmente e prosseguimos fazendo uma análise coletiva, em que procura-se investigar a
relação entre o sofrimento do trabalhador e a organização de trabalho. Com a perspectiva da Clínica do Trabalho
procuramos romper com o paradigma da eficacidade produtiva usando como ponto de partida o vivido pelo sujeito
em situação, buscamos um sentido do trabalho tratando o indivíduo como ser universal-singular.
A exploração fenomenológica da dramatização é feita de forma descritiva e procura evidenciar ao máximo o que foi
sentido de forma corporal e como foi vivenciado por cada um em seus papéis representados na cena. Durante a
execução do Organidrama, notamos que os participantes apresentavam dificuldades em descrever o que foi
experienciado, insistindo em interpretar a situação, racionalizando o vivido. Mostrando um distanciamento de seu
próprio corpo. Sendo essa dificuldade superada é possível trazer a experiência singular vivida por cada participante e
instigar a reflexão sobre os atravessamentos organizacionais observados na dramatização. Pretendemos, portanto,
relatar e refletir essas dificuldades e de como as buscamos superar através da descrição fenomenológica (Castro,
2012).
Além disso, nas dramatizações colocadas em prática pela aplicação da técnica do Organidrama surgiram questões
sobre a lógica capitalista da contemporaneidade e de que forma ela se reflete na organização do trabalho, como por
exemplo, a falta de preparo dos profissionais para cargos que ocupam, a falta de cuidado com o ser humano, a
serialização, a busca incessante pelo lucro, a despossessão de si mesmo, a perda de sentido no trabalho e o
adoecimento mental. A discussão sobre essa organização também auxilia o participante a se entender como produto e
produtor dessa lógica, a entender que o não agir também pode contribuir com esse funcionamento e que cada um
1236
possui a responsabilidade sobre o que fazemos daquilo que fizeram de nós, como dizia Sartre. Em geral, os
participantes do grupo de Clínica do Trabalho ficam mais fortalecidos e empoderados para resgatar a si mesmo, e
encontrar formas de resistência e de ação. Pretendemos concluir nossa apresentação mostrando como o assédio
moral, o burnout e as DORTs são, na verdade, expressão de uma lógica organizacional perversa e alienante (2015a).

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Saúde do trabalhador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: compreensões de assistentes sociais
Autores: Rodrigo Valadares, UFU; Rosimár Alves Querino, UFTM
E-mail dos autores: valerodrigo@bol.com.br,rosimarquerino@hotmail.com

Resumo: Esta pesquisa discute a saúde do trabalhador do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) e foi
desenvolvida no contexto do Mestrado Profissional em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador da Universidade
Federal de Uberlândia. A ênfase é a análise do modo como as assistentes sociais judiciais compreendem as relações
entre trabalho, vida e saúde. Os objetivos específicos consistiram em: analisar o processo de trabalho das assistentes
sociais judiciais do TJMG e as suas condições de trabalho; o modo como compreendem as relações entre as condições
de trabalho e o processo saúde-doença bem como a capacidade de enfrentamento das situações de desgaste ou dor
em seu cotidiano de trabalho e verificar como as assistentes sociais judiciais relacionam as licenças de saúde com o
seu processo de vida. De natureza qualitativa, a pesquisa deu-se a partir de uma inter-relação entre a pesquisa
bibliográfica e a de campo. A pesquisa bibliográfica embasou-se no referencial teórico da saúde do trabalhador. A
pesquisa de campo contou com a participação de vinte assistentes sociais judiciais. As entrevistas foram
audiogravadas, transcritas na íntegra e analisadas de modo temático. Emergiram quatro categorias temáticas: ser
assistente social no TJMG, condições de trabalho, organização do trabalho e processo saúde-doença dos assistentes
sociais judiciais. O estudo evidenciou os impactos das transformações do mundo do trabalho também no Tribunal da
Justiça e entre servidores públicos. Os resultados alcançados demonstram que as assistentes sociais judiciais
compreendem os impactos da organização e das condições de trabalho sobre suas condições de saúde e vida. O
volume elevado de processos, a pressão para cumprir metas e prazos em condições precárias, assédio moral e
dificuldades para a progressão na carreira constituem aspectos desgastantes do trabalho. Os aspectos gratificantes do
trabalho são vinculados ao atendimento das demandas sociais e reconhecimento dos cidadãos. Ao mesmo tempo em
que as assistentes sociais reconhecem que a organização do processo de trabalho produz adoecimento, em alguns
momentos dos depoimentos negam tais relações. Demonstram dificuldades de estabelecer nexo causal, sendo na
maioria das vezes, ignorados pelas trabalhadoras seus diagnósticos de afastamentos por motivo de transtorno mental
e do comportamento em decorrência do trabalho. Em contrapartida, as trabalhadoras evidenciaram que a saúde do
trabalhador do TJMG está circunscrita à função pericial. Portanto, a instituição que deveria assegurar direitos aos seus
trabalhadores e aos jurisdicionados nem sempre cumpre a sua missão de promover a justiça. Nesse sentido, o fazer
profissional das assistentes sociais judiciais fica sujeito a prejuízos que repercutem em sua qualidade de vida e saúde.
Não raras vezes, as trabalhadoras adoecem em decorrência da culpa e da responsabilização a eles imputadas por parte
da instituição. Fragilizadas algumas assistentes sociais assumem e legitimam esta situação. O processo de
adoecimento não pode ser individualizado e nem tampouco os trabalhadores podem ser culpabilizados pela
ocorrência do mesmo. A culpabilização do trabalhador pelo adoecimento afasta as possíveis identificações e
correlações de nexo causal entre o trabalho e a doença, o que impacta na realização das pesquisas bem como na
elaboração de estratégias de promoção da saúde do trabalhador. Nesse sentido, se faz necessário que a categoria dos
assistentes sociais judiciais se organize para propor ações efetivas em prol de melhores condições e organização do
trabalho, assistência, prevenção e da promoção da saúde dos trabalhadores.

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Saúde e Saúde do Trabalhador: compreensões de trabalhadores de Unidade de Referência do SIASS
Autores: Ilda Cristina da Silva Costantin, UFU; Rosimár Alves Querino, UFTM
E-mail dos autores: ildacostantin@yahoo.com.br,rosimarquerino@hotmail.com

Resumo: Introdução: Na década de 1980 constitui-se a Saúde do Trabalhador como campo interdisciplinar de
pesquisas e práticas. Nos últimos anos, graças ao desenvolvimento de políticas nacionais e estruturação dos Centros
de Referência em Saúde do Trabalhador e da Rede Nacional de Saúde do Trabalhador tem se intensificado os estudos
nesta seara, no que tange principalmente ao trabalhador celetista. Devido às especificidades dos trabalhadores
estatutários e a recente criação do Subsistema de Atenção à Saúde do Trabalhador (SIASS), há poucos estudos sobre
como as instituições federais tem efetivado a atenção à saúde aos servidores. O presente estudo versa sobre a
promoção da saúde do trabalhador público federal em instituição pública de ensino com ênfase na organização dos
serviços e no modo como são compreendidos pelos gestores e servidores. Nesta comunicação são apresentados
resultados preliminares. Objetivos: O objetivo geral é compreender as perspectivas dos trabalhadores sobre saúde e
saúde do trabalhador, temas centrais para a análise ampliada da estruturação dos serviços. Metodologia: Trata-se de
estudo descritivo e explicativo com metodologia qualitativa. A técnica utilizada para coleta de dados foi a entrevista
com roteiro semiestruturado. Os participantes do estudo são onze gestores e onze trabalhadores responsáveis pelos
projetos e programas. Nesta comunicação exploramos as narrativas referentes à concepção de saúde e de saúde do
trabalhador. Na análise temática das entrevistas emergiram três núcleos de sentido associados à concepção de saúde
e quatro núcleos concernentes à saúde do trabalhador. Resultados: A análise evidenciou que a saúde é compreendida
pelos gestores e trabalhadores com enfoque preventivista, de qualidade de vida ou relacionada às dimensões
humanas mais amplas. A prevenção foi relatada por 18,8% dos participantes que consideram que os programas da
unidade SIASS visam esforços para evitar o adoecimento, prevenindo os servidores da ação de agentes ambientais
adoecedores e reduzindo os afastamentos. O núcleo de sentido relacionado à qualidade de vida envolveu 18,8% que
destacaram a relação da saúde às questões subjetivas e de bem-estar. Esses participantes apresentam um avanço em
relação ao grupo anterior, pois trazem uma visão positiva da saúde, a qual está relaciona ao incremento (ou melhoria)
das condições de vida e prática de hábitos considerados saudáveis. Percebe-se, também, que a preocupação com a
saúde e a satisfação do trabalhador advém da necessidade de execução de suas tarefas como um requisito para bons
índices de produtividade. A maioria dos participantes deste estudo (45,45%) relata a saúde numa visão mais ampla,
relacionando-a a dimensões humanas. Este discurso apresenta tênues relações com os princípios da Saúde do
Trabalhador, da Política de Atenção à Saúde do Servidor (PASS), do Sistema Único de Saúde (SUS) e das cartas
internacionais de promoção da saúde. Para sua abrangência e consolidação demanda a consideração do trabalho
como determinante social da saúde e a compreensão de que as ações no campo da saúde do trabalhador exigem
mudanças das condições e organização do trabalho e participação ativa do trabalhador como sujeito de mudança.
Quanto à compreensão da saúde do trabalhador, o estudo revelou quatro unidades de sentido. A unidade de sentido
saúde geral engloba 22,7% dos participantes cujas narrativas não evidenciam as relações da saúde-adoecimento
com o trabalho. As demais unidades de sentido demonstram relações com a historicidade do campo Saúde do
Trabalhador (ST): 40,9% trouxeram sentidos atrelados ao modelo da Medicina do Trabalho (MT); 9,09% ligados à
Saúde Ocupacional (SO) e 18,8% se enquadram nos prenúncios da Saúde do Trabalhador . Na MT foram valorizadas
capacidade física, mental e laboral dos trabalhadores. Esses discursos apresentam a saúde do trabalhador como um
estado ou manutenção de bem-estar físico e mental dos servidores como requisito para exercer bem suas atividades
evidenciando traços do modelo ainda hegemônico da MT. As narrativas vinculadas à SO demonstram um olhar mais
alargado com relação aos aspectos físicos e mentais, relação ao ambiente e à organização do trabalho, porém num
discurso funcionalista posto que visam adaptar o ambiente de trabalho ao homem e vice-versa. A unidade prenúncios
da saúde do trabalhador engloba as narrativas que expressam as relações entre saúde e trabalho, os desdobramentos
do trabalho na condição de vida do trabalhador e de sua família e a necessidade de instituir dispositivos para efetivar a
vigilância em saúde do trabalhador. Conclusões: O estudo evidenciou uma tímida reflexão sobre a Saúde do
1239
Trabalhador como campo de estudo e aplicação de políticas públicas, em que o trabalhador é um sujeito político,
coletivo, detentor do saber e agente de transformação, tanto na produção como nos cuidados de saúde. A recente
implantação do SIASS demanda esforços no sentido de consolidação de novos olhares sobre a saúde do trabalhador
que ensejem a efetivação da integralidade da atenção à saúde e promovam o engajamento ético e político de todos os
sujeitos.

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Sofrimento No Trabalho: O Cuidado Com A Saúde Do Agente Penitenciário Do Sistema Prisional Do Estado De Minas
Gerais
Autores: Débora Calais Oliveira Corrêa, UK-Buenos Aires
E-mail dos autores: deboracalaisoliveira@gmail.com

Resumo: Identifica-se no Sistema Prisional um considerável índice de absenteísmo provocado por distintas condições
de trabalho. O estudo pretendeu desenvolver algumas reflexões, em caráter preliminar, sobre o campo da saúde do
trabalhador em uma instituição pública estadual, tendo como cenário a realidade de trabalho nos Sistemas Prisionais
do Estado de Minas Gerais e como mediador os sindicatos.
O principal objetivo deste trabalho foi colher os sentidos e significados atribuídos pelos trabalhadores aos eventos de
seu trabalho que causam ou causaram sofrimento e a interface destes com o trabalho que desempenham, utilizando
entrevistas semiestruturadas que foram aplicadas aos servidores que trabalham em Unidades Prisionais, porém,
vinculados ao SINDASP. Os servidores entrevistados foram escolhidos de forma aleatória conforme relatado no trato
metodológico.
Após a coleta de dados, foi produzida uma narrativa a partir das falas destes trabalhadores e as informações obtidas
permitiram conhecer mais de perto a realidade vivenciada por eles (destacando fenômenos como a prisionização,
contato entre corpos, assédio, relação de gênero). Assim, buscou-se reconhecer como os trabalhadores associam
sofrimento e trabalho, permitindo contextualizar as práticas presentes na Diretoria de Saúde do Servidor da Secretaria
de Defesa Social voltadas ao trabalhador bem como conhecer o trabalho desenvolvido nas Unidades Prisionais.
A pesquisa trouxe como hipótese inicial que o fator preponderante para o processo de adoecimento do Agente de
Segurança Prisional são as condições de trabalho oferecidas e não a natureza de sua atribuição. O adoecimento não é
algo pontual e mediato; ele vem sendo processado no decorrer do tempo e seu agravamento está diretamente
relacionado às condições de trabalho. O processo de construção definiu como estratégia ouvir os trabalhadores.
Almejou-se que ao propor dar voz aos trabalhadores um convite ao reposicionamento do campo da saúde do
trabalhador fique posto, através de um pensar e agir em consonância com as realidades de vida e trabalho dos
sujeitos.
Para a realização desta pesquisa foi definido que o método qualitativo. Vislumbrando as ponderações elencadas foi
realizada uma pesquisa bibliográfica, tendo como principais referências - Dejours, Codo, Moscovici e Falconi -
documental e de campo com o objetivo de conhecer a realidade vivenciada pelo trabalhador que atua dentro de
Unidades Prisionais do Estado de Minas Gerais. Nestes termos, foram considerados como sujeitos estratégicos os
agentes penitenciários de Minas Gerais filiados ao SINDASP. Como estratégia de coleta de dados foi utilizado o
exercício da fala e da escuta aos sujeitos da pesquisa através de roteiro de entrevista semi-estruturada.
Para análise dos dados foi adotado o método da Análise de Conteúdo Temático levando-se em conta as
"Representações Sociais" que os servidores da área de defesa social têm sobre o seu processo de adoecimento e
trabalho. A teoria das Representações Sociais trata da produção dos saberes sociais. Centra-se na análise da
construção e transformação do conhecimento social e tenta elucidar como a ação e o pensamento se interligam na
dinâmica social.
Na tentativa de construir uma base teórica acerca da temática, foi impreterível perpassar por temas pertinentes ao
Sistema Prisional, esta construção teórica se fez importante para uma reflexão social, econômica e política do que
afeta a qualidade de vida do trabalhador em seu conceito ampliado.Não foi uma construção simples e objetiva,
quando envolvemos uma perspectiva que é do outro, faz-se necessário uma sensibilidade para interpretar algo que é
do sujeito, distinguindo daquilo que se manifesta coletivamente.
Assim, foi possível construir uma análise destacando condições de trabalho que afetam diretamente a vida do
trabalhador penitenciário. As implicações do sofrimento subjetivo trazem consequências danosas no que se refere à
qualidade de vida, afeta o contexto familiar e social do indivíduo.

1241
Diante do exposto, identificou-se na maioria das entrevistas, que o sujeito nomeia categorias ao sofrimento que não
encontram respostas no serviço de saúde. Mas, dando-lhe voz, pode-se ampliar o espaço de discussão para a gestão
de pessoal e de infraestrutura. Compreender se o sofrimento está relacionado com as condições de trabalho, irá
prevenir um futuro adoecimento e ausência, rompendo assim um círculo de afastamentos.
No caso pretenso da pesquisa constatou-se que a natureza da profissão não sugere um adoecimento, pelo contrário,
os profissionais valorizam e se identificam com sua escolha. Contudo, o decorrer das condições de trabalho, sem
quaisquer cuidados para com as saúde dos Agentes Penitenciários é que denota o fator: adoecer. Ainda há percalços a
serem enfrentados, pois, trata-se de uma abordagem pouco discutida. Assim, tornam-se necessárias políticas públicas
de valorização e qualificação profissional voltadas para o agente penitenciário.
O trabalho será submetido ao GT Trabalho e Precarização: Adoecimento e Resistências considerando que a
discussão apresentada enquadra-se no tema de precarização das condições de trabalho claramente dominadas pelos
servidores como sofrimento e relacionado com o aumento do absenteísmo. O eixo Psicologia Social, processos de
trabalho em contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento aborda a precarização do mundo trabalho e as
relações mercadológicas do sujeito.

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Trabalho docente flexível: riscos à vulnerabilidade de professores
Autores: Ricardo Baratella, UNIUBE
E-mail dos autores: gestor.cienciasbiologicas@uniube.br

Resumo: As reformas educacionais principiadas nas duas últimas décadas no Brasil têm acarretado consequências
expressivas para os trabalhadores docentes. Elas se manifestam não só no âmbito da escola, como também no sistema
social, demarcando transformações intensas na natureza e no ritmo do trabalho docente de diferentes níveis e
modalidades. As alterações mais atuais na organização escolar se materializam em uma maior flexibilidade, tanto nas
estruturas curriculares, quanto nos processos de organização, jornadas, atribuições funcionais e avaliação do trabalho,
corroborando a existência de novos padrões de trabalho e exigência de um novo perfil de docente. O professor é
solicitado a exercer cada vez mais funções diferentes de sua formação de origem, capacidades, habilidades,
perspectivas e ambições e, por isso, corre o risco de sofrer e perder o interesse pelo que desempenha no universo
escolar e no contexto da educação em processo de novas demandas. A escola tradicional, transmissora de conteúdo,
autoritária, verticalizada, vem sendo questionada e exigida a mudar. Porém, isso não significa que estamos perante
uma escola democrática, pautada no trabalho coletivo, na participação plena de seus atores , atingindo uma
educação de qualidade. Reproduzindo uma lógica da sociedade capitalista, o padrão considerado convencional vem
reunindo aparentes insucessos em termos de resultados no campo das aprendizagens e do desempenho dos
professores. O trabalho pedagógico foi reestruturado e tais transformações, sem as acomodações econômicas e
administrativas necessárias, têm contribuído para a progressiva precarização do trabalho docente e aumento da
vulnerabilidade de professores. Esses problemas não são contemporâneos no Brasil, mas revelam-se incessantes e
crescentes diante a reestruturação produtiva em curso, principalmente nos dois últimos decênios. Nessa direção, esta
comunicação é parte de uma investigação cujo objetivo é compreender as relações que abarcam o trabalho docente,
em contextos de precarização, resistências e impactos subjetivos. O estudo incluiu pesquisa bibliográfica mediante
levantamento eletrônico de artigos na base de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e no portal de
periódicos da CAPES; e leitura de livros. Os estudos demonstraram que o trabalho docente abrange diversos aspectos
tais como: alienação, adoecimento, produtividade, intensificação e precarização do trabalho docente, falta de
disponibilidade, novas modalidades de ensino, baixa remuneração, representações sociais e subjetividade. Essas
discussões se basearam em autores como Briggs e Burke (2004), Castells (2007), Dardot e Laval (2016), Harvey (1993),
Jodelet (2001), Kenski (2013), Kerckhove (1997), Lévy (1999), Lipovetsky (2007), Marx (1971), Mill (2002), Moscovici
(2003), Peixoto (2015), Rosenfield (2011), Santaella (2003), Sennett (1999) e Sibilia (2012), entre outros. É possível
concluir que há uma reconfiguração no mundo do trabalho, em que a cultura do novo capitalismo acomete o caráter
pessoal e os caminhos da educação de maneira a intensificar e proletarizar o trabalho docente, fragmentar e fragilizar
a atuação profissional, reduzindo-a a uma perspectiva de encantamento e/ou sacerdócio, acriticidade e produtivismo.
O capitalismo contemporâneo incentiva um novo padrão de ser humano, em que a flexibilidade aparece como um
discurso comum em defesa da liberdade de uso do tempo e do espaço, mas que acoberta muitas exigências,
capacidades, habilidades, intensificação e proletarização do trabalho. O processo de globalização e de revolução
tecnológica têm provocado modificações no nosso arquétipo de sociabilidade, em razão das transformações
tecnológicas e econômicas. De maneira especial em relação ao mundo do trabalho, aconteceram mudanças que
levaram o ser humano à obrigação de reorganizar o seu estilo de vida, priorizando os fatores que integram o cenário
social e profissional. No mote desse novo panorama e considerando o crescimento vertiginoso da EaD, duas temáticas
são recursivas: a democratização do ensino superior e a necessidade de formadores nos cursos de professores. Além
dos elementos aqui demonstrados, há outros que também condicionam a oferta dessa modalidade de ensino. A
autonomia do aluno, a flexibilização dos horários de estudos, a maneira pela qual são organizadas as equipes
multiprofissionais e a polidocência, são indicadores que sublinham as particularidades da educação a distância, bem
como as funcionalidades a ela relacionadas. As condições objetivas de trabalho docente são compreendidas como
limitadoras, mas nem sempre de forma fulgente, tanto que, muitas vezes, as situações são traduzidas como
1243
decepcionantes, desanimadoras, causando muitas vezes, o adoecimento dos profissionais. Com uma renumeração
insatisfatória, com uma jornada de trabalho geralmente extensa, os docentes estão, muitas vezes, realizando um
trabalho alienante, que tende afetar a qualidade do ensino e a vida dos nele envolvidos. A expectativa é de que
conclusões deste estudo sejam objeto de discussões e reflexões que auxiliem docentes, a terem clareza de sua
finalidade no trabalho nas escolas, em que configurações complexas de alienação, entre as quais, as flexibilizações, os
rendimentos por produtividade e lucratividade, são elementos constituintes cada vez mais frequentes em nossa
sociedade.

1244
Trabalho e saúde de docentes universitários: um estudo de caso
Autores: Quezia Eloise França da Silva, UFMS; Cintia Dias Takayama, UFMS; Gabrielle de Moura Pacifico, UFMS; Ilidio
Roda Neves, UFMS; Jamylle Alves da Costa da Rosa, UFMS
E-mail dos autores:
eloisequezia@hotmail.com,gabmopac@gmail.com,cintiatakayama16@gmail.com,jamylle_acosta@hotmail.com,ilidior
neves@gmail.com

Resumo: O trabalho não é somente aquele que gera sustento, mas também qualquer atividade que o ser humano
executa sobre o meio externo e que faz sentido para ele, de modo que modificando a natureza, de forma dialética,
sofre modificações por parte dela. Destarte essa atividade diferencia-o dos demais animais, devido à capacidade de
programar e concretizar uma atividade com objetivos definidos a priori. Pode-se destacar então que é o trabalho que
organiza as formas de vida do ser humano, e que permite o desenvolvimento da linguagem e consequentemente da
consciência, que são formadas somente em sociedade. Com a alienação do trabalho no contexto do capitalismo,
muitas modificações aconteceram na sociedade. Dentre elas, a precarização das condições de trabalho para todos os
profissionais, incluindo aí os/as professores. O papel do docente na sociedade é o de ser mediador de conhecimentos,
sendo assim, esse trabalhador exerce inestimável e importante papel para o desenvolvimento da sociedade de forma
completa, abrangendo os âmbitos sociais, intelectuais, éticos e morais, proporcionando aos seus alunos
desenvolverem o pensamento crítico diante do corpo social e contribuir para o desenvolvimento da coletividade. As
mudanças no âmbito da educação estão imbricadas com a reorganização do processo produtivo no mundo do
trabalho e das emergentes inovações tecnológicas, provenientes da conjuntura capitalista. Essas mudanças não só
afetam a organização educacional como também influem na vida pessoal dos docentes, pois ampliam as funções
exercidas por eles, tornando sua atividade prolongada e intensificando a força de trabalho utilizada, causando
desgastes físicos, emocionais, que acarretam insatisfação profissional e implicações negativas em se auto-reconhecer,
considerando a atividade como integrante da identidade do sujeito na sociedade. Devido a esses fatores e tendo como
consideração central as condições de trabalho ao qual estão sujeitos, detemo-nos a compreender o processo
saúde/doença da atividade docente na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, investigando como as condições
atuais de trabalho dos mesmos, contribuem, ou não, para o adoecimento mental e físico. Este estudo, portanto,
aborda as condições construídas de trabalho acerca da conjuntura econômica, uma vez que o declínio da consideração
da profissão docente tem relação intrínseca com o desenvolvimento do capitalismo contemporâneo. Consideramos a
relevância desta análise para instigar a reflexão, e logo, cogitar modos de enfrentamento a situação de sucateamento
da profissão professor. Utilizamos como referência e abordagem teórica o materialismo histórico e dialético, tendo em
vista que toda relação humana na sociedade é construída de forma dialética e passada em gerações pela cultura,
levando em conta o desenvolvimento concomitantemente aos momentos que se vive. A relação que o indivíduo
estabelece com o trabalho, faz parte de uma construção pautada em exigências objetivas e subjetivas, individuais e
coletivas. Desenvolvemos uma pesquisa qualitativa empregando o estudo de caso como modalidade de delineamento,
entendendo que desta maneira podemos fazer uma análise em profundidade de relatos destes trabalhadores sobre o
seu ofício e os problemas que vivem, ao mesmo tempo que propicia aos entrevistados fazer uma reflexão sobre seu
ofício e a relação que este tem com sua saúde. Foram feitas entrevistas abertas, suas gravações transcritas e
posteriormente apresentadas aos entrevistados para que estes apontassem correções e complementos. Determinou-
se como sujeitos da pesquisa uma professora e um professor com contrato de trabalho em regime de dedicação
exclusiva com o campus. A escolha desses docentes foi feita de forma aleatória por meio do sorteio eletrônico, para
isso listamos aqueles/as professores/as que se encaixam no perfil e criamos assim duas lista de acordo com o gênero.
Para obtenção dos dados, elaboramos um protocolo, que estabeleceu a nossa conduta no levantamento de dados. Os
1245
resultados obtidos acompanham o cenário educacional que tem sido vivenciado nas últimas décadas, onde o
sucateamento das universidades públicas agrava as condições de trabalho, dificultando a promoção da saúde dos
docentes. A precarização das condições de trabalho dos professores da rede federal de ensino superior influem de
forma direita na subjetividade e bem estar dos mesmos. Em virtude do exposto é necessário a discussão da temática
como forma de desvelar as mazelas que cercam a atividade docente universitária.

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UM MAL SILENCIOSO OU SILENCIADO?: representações sociais para graduandos em Administração sobre o assédio
moral no trabalho
Autores: Thiago Casemiro Mendes, PUC Minas
E-mail dos autores: adm.thiagons@gmail.com

Resumo: Compreender o sentido do trabalho e seus significados na vida humana é instrumento essencial para a
construção de uma relação saudável entre o indivíduo e a organização. Ocupamo-nos de compreender essa categoria
por seu caráter ontológico na construção da vida social, assim como, e verificar que diante de um mercado cada vez
mais competitivo e da pretensão desenfreada por produtividade, algumas empresas trazem à cena novos formatos de
gestão. Com foco na produtividade os processos são alterados, mecanizados e otimizados, esquivando-se, por vezes,
do cuidado e valorização do seu maior bem: a vida humana. Com ambientes marcados por pressões, competições e
hostilidade, a violência surge como um vírus que tem em certas realidades, infectado e disseminado sofrimento no
mundo do trabalho.
Reconhecido como uma forma de violência contra o trabalhador, o assédio moral é caracterizado como uma das mais
impiedosas formas de abuso laboral. Expresso por meio de atitudes violentas, humilhantes e antiéticas, causa
insegurança, depressão, angústia e medo na vítima, fazendo com que se torne presa fácil para o assediador, o qual,
por sua vez, age sem condolência, no propósito de tirar do seu caminho qualquer um que apresente ameaça ao seu
poder a despeito de ele ser imaginário.
Este trabalho teve como objetivo (re) conhecer as representações sociais sobre o assédio moral para os graduandos do
curso de Administração de uma instituição de Ensino Superior do interior de Minas Gerais, partindo do pressuposto
que ao verificar as representações sociais sobre o assédio moral dentre esses sujeitos talvez seja possível identificar
elementos educativos e vivenciais que contribuem para o conhecimento e, sobretudo, a prevenção dos assédios nas
organizações.
Para tanto, seguindo a orientação teórico-metodológica da Teoria das Representações Sociais numa abordagem
processual-dimensional a partir da autora Denise Jodelet na perspectiva do movimento foram utilizadas duas
técnicas de coleta de dados: (a) desenhos direcionados, para todos os alunos do curso, num total de 102 participantes
aos quais foi pedido que se desenhasse o que o trabalho representa para voc e, destes foram selecionados 08
sujeitos para participar de (b) entrevistas narrativas. A seleção dos sujeitos tomou em conta o aparecimento de
elementos nos desenhos que ensejavam a precarização nas relações de trabalho, assim como o trabalho como fonte
de sofrimento e de assédios. Tanto os desenhos quanto as entrevistas narrativas tiveram como foco as relações de
trabalho e de gestão organizacional. Todo o material foi categorizado a partir da perspectiva da Análise de Conteúdo.
Ao categorizar o que foi expresso nos desenhos chegou-se ao seguinte resultado: na maioria apresentam-se
elementos que indicam o trabalho como recompensa, em outros casos o trabalho foi representado como uma
sobrecarga, além de desenhos com elementos que sugerem situações de estresse.
As representações evidenciam que o trabalho não representa concretamente um significado de vida ou fonte de
prazer e sim uma forma de sustentar o consumismo cada vez mais descontrolado, o que leva o sujeito em muitos
casos a submeter-se em condições de estresse e acúmulo de tarefas, não denunciando situações de assédio moral.
Diante disso foram selecionados 02 estudantes de cada período do curso, totalizando 08 participantes da entrevista
narrativa, processo no qual permitiu identificar que a visão dos alunos condiz com a teoria sobre o tema. Para alguns
dos entrevistados o assunto ainda era desconhecido e o contato com a temática dentro da sala de aula, promoveu um
movimento de transformação referente aos conceitos de tal violência dentro das organizações. Disciplinas como
Gestão Estratégia de Pessoas, Liderança e Psicologia aplicada a Administração foram citadas como fundamentais na
elaboração de uma representação mais clara do assédio moral. E mesmo para os que já conheciam o fenômeno,
houve também uma mudança no modo de pensar sobre o problema, confirmando que as experiências da vida
acadêmica contribuíram para isso.

1247
Por fim, este trabalho procurou oferecer uma contribuição acadêmica no sentido da melhor compreensão do
fenômeno assédio moral, especialmente para o profissional Administrador que, além de cumprir o seu papel como
agente gerador de resultados, necessita da capacidade de aliar a visão técnica à humanística, como também ser
inovador e desempenhar o seu papel social como principal contribuinte na prevenção e propagação da saúde e bem-
estar do trabalhador. Torna-se então essencial a existência de disciplinas da Psicologia Social das Organizações na
grade curricular dos cursos de Administração, fazendo a diferença na formação desses futuros administradores e
auxiliando na prevenção do assédio moral no trabalho.

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Violência relacionada ao trabalho e adoecimento psíquico
Autores: Bruna Coutinho Silva, PUC Minas; Carlos Eduardo Carrusca Vieira, PUC Minas
E-mail dos autores: bcoutinho.psi@gmail.com,carlos.carrusca@outlook.com

Resumo: O presente resumo reporta uma experiência de intervenção psicossocial vivida no âmbito de um estágio de
atendimento clínico a trabalhadores vítimas de violência relacionada ao trabalho, da PUC Minas São Gabriel, orientado
pelo professor Carlos Eduardo Carrusca Vieira. Em linhas gerais, o objetivo desse estágio era o de oferecer apoio
psicossocial a trabalhadores vinculados à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, ao ramo da vigilância privada
e/ou ao setor bancário. Os atendimentos se pautaram na abordagem dos Primeiros Auxílios Psicológicos (MUÑOZ,
AUSÍN & PÉREZ-SANTOS, 2007) e nas contribuições de Rogers (1997) sobre a relação de ajuda. Na análise do caso,
incorporamos reflexões advindas da Clínica da Atividade (CLOT, 2010; CLOT, 2011), da Ergologia (SCHWARTZ, 2011) e
da perspectiva da Psicopatologia do Trabalho presente nos estudos de Vieira (2014) sobre traumas no contexto de
trabalho. Ao todo, realizamos sete atendimentos psicológicos a um trabalhador da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos, com a duração média de cinquenta minutos. Em um desses atendimentos utilizamos o método
Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares (EMDR), para reprocessamento de
experiência traumática vivida pelo trabalhador. O cliente, P., tem 31 anos, é natural de uma cidade no interior de
Minas Gerais, graduado, e é atendente comercial. Apresentou como queixa inicial o fato de ter sido vítima de um
assalto à agência onde trabalha, em abril de 2016. Após a situação potencialmente traumática, apresentou sintomas
compatíveis com os diagnósticos de Reação Aguda de Estresse (CID F43.0) e de Transtorno de Estresse Agudo (DMS-
IV), que se desenvolvem a partir de evento traumático presenciado pelo sujeito com ameaças reais de integridade à
sua vida ou de outros, acompanhado de terror ou medo intenso; seguido de recordações da ocorrência estressora,
através de imagens, flashbacks, sonhos; esquiva de situações, pessoas e locais os quais remetem à tal ocorrência;
insônia ou dificuldade para dormir; irritabilidade; diminuição da atenção ou hipervigilância. P. vivenciou estes
sintomas que se desenvolveram a partir do assalto e permaneceram. Ao longo dos atendimentos, P. relatou,
outrossim, sentir-se muito incomodado com as condições de trabalho na empresa, envolvendo sobrecarga, falta de
segurança e cobranças excessivas para se atingir metas de vendas. Após o assalto, relatou não apresentar mais
motivação para retornar à agência, sentido-se impaciente e até indiferente diante das exigências de seu trabalho. P.
mostrou-se, durante todo o tratamento, interessado em transformar sua atividade, a despeito das condições de
trabalho desfavoráveis. Pode-se pensar que o episódio do assalto foi um acontecimento crucial na trajetória
profissional de P. Seu histórico de vida nos mostra que ele já tinha vivenciado duas situações de assalto em outra
agência da empresa para a qual trabalha, sem ter desenvolvido quadros psiquiátricos, segundo ele, por não serem
situações nas quais havia perigo iminente à sua vida ou a de outros, colegas ou clientes. Soma-se a essas experiências
o sentimento de impotência frente a situações recorrentes de brigas entre os pais, como relatou. Esses fatores
objetivos e subjetivos (VIEIRA, 2014) compõem o espectro da experiência vivenciada por ele, estando vinculados aos
sintomas que apresentou. Durante o atendimento em que se utilizou o método EMDR, P. conseguiu se recordar de ter
prestado apoio aos seus colegas e aos clientes, após a ocorrência do assalto, o que lhe auxiliou a construir uma crença
positiva sobre si mesmo frente ao evento vivido. O fato de P. ter ressignificado sua postura frente ao episódio do
assalto, pelo uso do método EMDR e ao longo dos atendimentos clínicos, contribuiu, a nosso ver, para a prevenção ao
desenvolvimento de TEPT. A realização de uma atividade dotada de sentido logo em seguida à situação do assalto,
repleta de fatores objetivos (assaltantes armados, colegas feridos) e subjetivos (medo, choque, tristeza, sentimento de
inutilidade), que também se relacionam às vivências passadas de P., constituiu-se em fator protetivo para a saúde
mental de nosso cliente. Como se relatou, o adoecimento de P. tem estreita relação com seu contexto de trabalho.
Vemos, por tudo o que foi narrado, que a segurança no trabalho não se reduz às causas aparentes dos acidentes ou
eventos de violência, devendo ser considerado todo o contexto da situação de trabalho, como a sobrecarga, a
diminuição da segurança/vigilância no trabalho, os conflitos organizacionais e interpessoais não resolvidos (LHUILIER,
2011). Além disso, constatamos que a atividade impedida, amparada em sentimento de fracasso, leva o sujeito à sua
1249
autorrecriminação e autodepreciação, incluindo sentimentos de culpa e de inutilidade (VIEIRA, 2014). No entanto,
vimos que quando são criadas condições para que se expressem as possibilidades ainda não vividas, bem como para
que o sujeito ressignifique o vivido, como aconteceu nos atendimentos a P., o poder de agir do sujeito sobre si mesmo
e sobre seu meio pode ser ampliado (CLOT, 2010).

1250
Façoà aisàdoà ueàdevoàeà e osàdoà ueàp e iso :àt a alhoàdo e teàeàsaúde
Autores: Larissa Isaura Gomes, UFU; Rosimár Alves Querino, UFTM
E-mail dos autores: psicologa.larissa.isaura@hotmail.com,rosimarquerino@hotmail.com

Resumo: Esta pesquisa trata das inter-relações entre o trabalho docente, a saúde e a vida de professores
coordenadores dos programas de pós-graduação (PPG) stricto sensu em uma instituição federal de ensino superior
(IFES). Parte-se das especificidades da docência em IFES para assim desvelar suas repercussões para o processo de vida
e saúde dos docentes. O estudo é desenvolvido no âmbito do mestrado profissional em Saúde Ambiental e Saúde do
Trabalhador e objetiva compreender a tríade de relações trabalho, vida e saúde de professores. Nesta comunicação
o objetivo é analisar as especificidades da docência em PPG com ênfase na identidade docente, organização e
condições de trabalho e seus desdobramentos na saúde dos professores. Trata-se de estudo de natureza qualitativa
desenvolvido com a coleta de entrevistas com roteiro semiestruturado a dezessete docentes coordenadores de PPG
em diferentes cursos (mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado) contemplando as oito áreas do
conhecimento definidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na análise
temática das entrevistas emergiram as seguintes categorias: identidade docente, organização do trabalho, condições
de trabalho, desafios para a docência. Os resultados apontam singularidades da docência em IFES no que tange à
diversidade de funções e atividades desempenhadas pelo professor, tais como: ensino, extensão, pesquisa e gestão.
Estas dimensões são descritas em profundidade pelos participantes do estudo que problematizam a intensificação e
extensificação do trabalho docente, especialmente em relação ao plano de carreiras, aos desafios para atingir as
metas de produção preconizados pelas agências de fomento e, sobretudo, para manter-se permanentemente
atualizados. Há questionamento sobre o tripé da universidade e as condições para que o docente consiga atuar em
todas as searas, especialmente em decorrência das cobranças características dos PPG, centrados na pesquisa. A
intensificação e extensificação anteriormente vivenciadas pelos docentes são potencializadas pela incorporação de
tecnologias digitais que diluem as tênues e frágeis fronteiras existentes entre a vida e o trabalho docente. Trabalha-se
a todo e qualquer tempo e espaço. O dia de trabalho parece não terminar, pois as demandas acompanham o
professor independente do lugar em que ele esteja. No entanto, apesar de permearem a vida e o trabalho dos
professores, os efeitos da intensificação do trabalho docente nem sempre são criticamente visualizados, o que faz
culminar em um trabalho, além de intensificado e extensificado , também alienado. A jornada de trabalho dos
professores parece não ter fim. A docência parece ser uma vida sem intervalo. A carga horária diária mostra-se
insuficiente para tantos afazeres e tantas demandas inadiáveis com prazos delimitados e/ou muitas das vezes até
mesmo expirados. Muitos professores levam o trabalho excedente para casa e essas horas extensificadas não são
remuneradas. As supostas autonomia e flexibilidade na organização do trabalho docente nas IFES – e o vínculo de
regime jurídico único - convertem-se em discurso para ocultar a sobrecarga de trabalho e os mecanismos empregados
para ampliar cada vez mais a carga de trabalho e produtividade docentes. Esse trabalho não quantificado existe e
imprime marcas na constituição da saúde mental de docentes de instituições federais que atuam em PPG. Imersos em
uma plataforma da vida digital os professores ficam 24 horas conectados na docência. Ao professor compete o
desafio de fortalecer-se como trabalhador e sujeito coletivo que cotidianamente constrói relações que potencializam a
vida. Neste sentido, embora o trabalho docente seja descrito como fonte de desgaste em saúde é visto, também,
como fonte de prazer, valorização e reconhecimento. Demonstração potente de que o trabalho pode ser fonte de
realização. No contexto contemporâneo de franco retrocesso de direitos, cabe aos docentes contribuírem para a
reflexão crítica sobre a sociedade, elemento fundamental para que a docência e a pós-graduação cumpram o
compromisso de produção de um conhecimento socialmente referenciado.

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GT 58 | Trocas interdisciplinares em percursos metodológicos inventivos: pesquisa narrativa e escrita
acadêmica

Coordenadoras: Dilma Mello, UFU | Luciana Kind, PUC Minas | Rosineide de Lourdes Meira Cordeiro, UFPE

Compreendemos que a Psicologia Social é um campo interdisciplinar por definição. Em sua proposta crítica aos modos
tradicionais de se fazer ciência, tem dialogado com variados campos de conhecimento desde os anos 1960. Nesta
edição do Encontro Nacional da Abrapso, o encontro proposto pelas coordenadoras – oriundas da Psicologia Social e
da Linguística Aplicada – convida pesquisadores e pesquisadoras a forjarem contornos teórico-metodológicos
inventivos em pesquisa narrativa. A proposta retoma e aprofunda pontos trabalhado na edição do Encontro Nacional
da ABRAPSO ocorrida em Fortaleza, em 2015, reforçando, na presente proposta, os encontros interdisciplinares na
pesquisa com narrativas e seus efeitos na escrita acadêmica. Nas áreas em que cada uma de nós atua e em outras
fronteiras interdisciplinares pelas quais transitamos, temos notado que pesquisadores e pesquisadoras, cada vez mais
têm se interessado por novas formas de se posicionar na produção da pesquisa, mas nem sempre esses percursos
inventivos são explicitados nos relatórios finais, artigos, dissertações e teses derivados do trabalho. Nos suportes
convencionais de escrita acadêmica é frequente que as múltiplas linhas de negociação para se compor as estratégias
do trabalho sejam subjugadas por estruturas textuais previamente fixadas, que normatizam as narrativas científicas.

Além disso, a proposição de engajamento ético-político nos campos em que situam suas investigações, marcam-se as
relações sui generis entre pesquisadorxs e pesquisadxs. Diferentes perspectivas epistemológicas apoiam trabalhos em
ueà aà efle i idadeà ouà fo asà deà pes uisa à aà pes uisa ,à o oà p op eà )a ellaà ,à s oà parte constitutiva de
narrativas científicas que questionam a relação de pesquisadorxs com as pessoas e os campos para os quais se voltam.
Em discussões internacionais sobre pesquisa qualitativa, como posto em Ely, Vinz, Anzul e Downing (1997), por
exemplo, observamos a crescente proliferação de variadas experiências na escrita de relatos de pesquisa,
desenhando-se cenários estimulantes como crítica radical ao establishment acadêmico. Podemos acompanhar
narrativas em primeira pessoa (pesquisas narrativas, autoetnografias, duoetnografias e escrita colaborativa), que
radicalizam a crítica do posicionamento dos pesquisadores diante da própria pesquisa (Denzin, 2014; Norris, Sawyer,
Lund, 2012; Chang, Ngunjiri & Hernandez, 2013). Encontramos também apostas que alinham as narrativas científicas a
gêneros textuais das artes, que nos apresentam pesquisas em forma de poesia, peças de teatro, coletânea de contos e
romances (Faulkner, 2014; Leavy, 2013; Norris, 2009; Ely, Vinz, Anzul e Downing, 1997, 2001).
Como pesquisadoras atentas às variações textuais no âmbito acadêmico e interlocução constante com as artes, temos
observado tentativas de transgressão narrativa, frente à marcada homogeneização que as normas de escrita
acadêmica impõem, considerando a narrativa dominante, como discute Clandinin e Connelly (2000, 2011, 2015). Seja
na posição de orientadoras de trabalhos de iniciação científica, dissertações e teses ou na de avaliadoras de textos
acadêmicos, testemunhamos o desejo de pesquisadores e pesquisadoras, iniciantes ou experientes, em criar novas
expressividades para seus relatos de pesquisa. No trabalho com narrativas, especialmente, temos acompanhado
processos de coprodução entre pesquisadorxs e participantes na "coleta de dados" (ou na produção de textos de
campo, conforme assinalam Clandinin e Connelly [2011]), na análise e nos diferentes formatos dos textos de pesquisa.
Também nos envolvemos com propostas que reinventam espaços convencionais como livros e artigos, mas estamos
atentas ao crescimento de outras formas de compartilhamento de informações de pesquisa, tais como videos, blog,
sites, performances, dentre outros modos de comunicação.
Diante desses apontamentos, o objetivo geral deste GT é problematizar os modos de construção e compartilhamento
de pesquisas que intensificam a dimensão inter e transdisciplinar da Psicologia Social e Linguística Aplicada, campos de
atuação das propoentes. Como objetivos específicos, propomos: a) promover o compartilhamento de relatos de
práticas de pesquisa inventivas e/ou de relatos inventivos de práticas de pesquisa com métodos narrativos e discutir a
relação entre as práticas e seus relatos; b) analisar (im)possibilidades criativas na escrita científica; c) conhecer as
tendências nas narrativas científicas em Psicologia Social, Linguística Aplicada e em áreas afins; d) discutir sobre a
agenda de trabalho nesses campos e sobre o alcance das narrativas científicas a públicos acadêmicos e não
acadêmicos.
Com esses objetivos, colocamos em pauta a relação entre práticas de pesquisa e seus relatos, entre desenhos
metodológicos e as narrativas que eles convocam, entre narrativas científicas e os caminhos teórico-metodológicos
que elas incitam. Na pesquisa narrativa, perspectiva com a qual esta proposta dialoga, conforme Clandinin e Connelly

1252
(2000, 2011, 2015), a narrativa é ao mesmo tempo método e fenômeno estudado. incorporado. Uma série de
questões poderão ser abordadas em torno da relação entre método e narrativas científicas, tais como: Pode uma
pesquisa ter um método tradicional e um relato inventivo? Pode uma pesquisa ter um método inventivo e uma
a ati aàt adi io al?àE à ueà edidaàu àdadoà todoà pede àu aàdadaàes ita?àE à ueà edidaàu aàdadaàes itaà
possibilita um dado método e impossibilita outros. As decisões metodológicas não são também narrativas? Escrever
não é (em si mesmo) um método? Que modalidades de escrita podem ser produzidas com xs interlocutorxs
participantes da pesquisa? Elxs são também autorxs dos textos científicos?
Tomamos por empréstimo a consideração de Millsà / àdaàpes uisaà o oà a tesa atoài tele tual àouà o oàaà
p ti aà deà u à ofí io .à Pa aà se à u à o à a tes o ,à e o e daà Mills,à à p e isoà e ita à o ju tosà ígidosà deà
procedimentos e o fetichismo de método e técnica. A apresentação detalhada de como se procede no próprio ofício,
nessa perspectiva, é o ponto de partida para estabelecer a conversa entre pesquisadorxs interessadxs neste GT.
O GT indaga sobre a atualidade das escolhas teórico-metodológicas em Psicologia Social, Linguística Aplicada e áreas
afins, entendidas como um dos principais desafios ético-políticos de pesquisadorxs em espaços acadêmicos, mas
também na interface com interlocutorxs não acadêmicos. Desse modo, a proposta se alinha inexoravelmente ao eixo
temático 7. Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou
intervenções, do XIX Encontro Nacional da ABRAPSO. O alinhamento desta proposta com o Eixo 7 implica no diálogo
em torno de questões epistemológicas e metodológicas no âmbito da Psicologia Social, mas também na expansão para
espaços de fronteira com outros campos de conhecimento.
Estimulamos a participação de pesquisas que se alinham com os eixos Narrativas, Gênero e Política, que teçam críticas
às perspectivas que naturalizam as desigualdades de gênero, raça/etnia, classe e geração. Também estimamos o
investimento e estimulo à coprodução de narrativas de grupos, movimentos, sujeitos e instituições que apostem na
superação de assimetrias, hierarquias e opressões. Nesse sentido, estamos interessadas em articular o pensamento
que se comprometa com o tema geral do evento: Democracia Participativa, Estado e Laicidade.
Pensar os modos de construção e compartilhamento das narrativas científicas é, por princípio, uma maneira de colocar
em movimento os desafios éticos-políticos que se apresentam para a Psicologia Social brasileira na atualidade.
O GT convida pesquisadores s interessados em relatar reflexivamente suas pesquisas, suas contribuições para leituras
epistemológicas e metodológicas e/ou sua análise dos modos convencionais de produção acadêmica em Psicologia
Social, Linguística Aplicada e áreas afins. Também serão bem-vindas modos de apresentação de relato de pesquisa
inventivos (como, por exemplo, as performances), assumindo que o diálogo com as artes pode ativar narrativas
científicas inventivas.
Apostamos na potencialidade disruptiva de propostas metodológicas pouco usuais, ou ainda, no estranhamento das
conformações metodológicas automatizadas. Igualmente transformadora, pode ser a tarefa de desafiar os modos
convencionais de comunicação científica.
Becker (1986/2015) deflagrou as oficinas que reporta em Truques da escrita, indagando estudantes e colegas
p ese tes:à o oà o à es e e? à Nossoà i te esseà dife eà u à pou oà doà p ojetoà narrado por Becker, que tece
o side aç esà so eà o oà es e e à p ofissio al e te .à P ete de osà p o o a à to ç esà eà te s esà aà es itaà
p ofissio al àdeàa tigos,à apítulosàeàli os,àdisse taç esàeàteses,à elat iosàdeàpes uisaàe àPsi ologiaà“o ial,àLi guística
Aplicada e áreas afins. Perguntamos: se estes são suportes mais comuns das narrativas científicas, as prescrições
normativas, processos de avaliação da produção bibliográfica e canais de circulação que são a eles atrelados poderiam
abrir espaço para out asà fo asà deà e p ess o?à Nesseà se tido,à pode osà e olo a à aà uest o:à o oà es e e à
p ofissio al e teà so eà p ti asà deà pes uisaà i e ti as? à Co à essasà uest esà e à pe spe ti a,à esteà GTà p ete deà
produzir amplas reflexões sobre as narrativas científicas em Psicologia Social, preocupadas com a produção de novas
experiências ético-estéticas. Acompanhamos com interesse os movimentos propostos por Fonseca, Zucolotto e
Ha t a à ,àp. à ueà osài spi a à o àsuasàpala as:à E p essa àpelaàes ita,àsejaàai daàpelas fabulações, traz as
possi ilidadesàdeàe eda àasàli hasàdeàt a sfo aç es.

1253
Referências:
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Zanella, A. V. (2013). Perguntar, registrar, escrever: inquietações metodológicas. Porto Alegre: Sulina.

1254
As narrativas autobiográficas de Vanete Almeida: as marcas de gênero, raça e classe
Autores: Rosineide de Lourdes Meira Cordeiro,UFPE; Delaine Cavalcanti Santana de Melo, UFPE
E-mail dos autores: rocordeirope@gmail.com,delainemelo@uol.com.br

Resumo:
Este trabalho aborda a trajetória de Vanete Almeida, ativista política das lutas das mulheres rurais nas esferas local,
regional e transnacional. Pretende responder a seguinte pergunta: como as narrativas autobiográficas de Vanete
Almeida articulam as lutas por igualdade de gênero, raça e classe em diferentes contextos rurais?. Metodologia: a
abordagem teórico-metodológica adotada analisa as narrativas autobiográficas numa perspectiva interdisciplinar.
Compreende-se por abordagem biográfica como um recurso que não se restringe à mera reconstituição da trajetória
de vida de Vanete, pois, como defende Born (2001, p.245), A biografia trata da interpretação subjetiva da trajetória da
própria vida de uma pessoa. Não apenas inclui o local dos acontecimentos, mas também a sua opinião, os motivos,
planos para o futuro, assim como a percepção/interpretação do passado. É por meio da interpretação da trajetória de
Vanete Almeida que construiremos a abordagem biográfica, mediante a qual pretendemos conhecer mais sobre uma
história desconhecida. Concordamos com Kofes (1994), ao afirmar que as narrativas autobiográficas são
interpretações individuais de experiências sociais (KOFES, 1994, p. 118). Para esse trabalho priorizamos dois relatos da
ativista: seu primeiro livro, Ser mulher no mundo dos homens em coautoria com Cornélia Parisiu , escrito aos 52 anos
de idade e que teve duas edições . O segundo livro, Lutando e Lutando, escrito em 2011 e 2012 , teve como objetivo
relatar para as trabalhadoras rurais sua experiência com câncer. Foi publicado em 2013 após sua morte. Resultados: A
ativista apresentou em sua trajetória de vida e de lutas as marcas advindas das intersecções de gênero, classe, raça
(BRAH, 2006; CRENSHAW, 2002; PISCITELLI, 2008). Ela nasceu no Estado de Pernambuco, cuja história tem raízes
profundas na escravização de populações negras, perpetrada por mais de trezentos anos no Brasil. Esse território se
configurou, no período colonial, em uma Capitania que gerou lucros aviltantes para a metrópole portuguesa,
sobretudo, em virtude dos engenhos produtores de cana-de-açúcar, que utilizaram mão de obra escrava e negra.
Tendo atuado por meio da intersecção entre gênero, raça, classe e pertencimento territorial, Vanete traz para o
movimento de mulheres trabalhadoras rurais uma reflexão imprescindível que, naquele contexto, estava iniciando
mais fortemente sua entrada nos movimentos feministas no Brasil: o reconhecimento da pluralidade das mulheres,
dado, em grande parte, por meio do fortalecimento do papel das feministas negras que deram visibilidade a outras
formas de discriminação, tal como o racismo. Nascida na área rural de Custódia, Sertão de Pernambuco, desde muito
jovem se envolveu com trabalhos sociais em Serra Talhada. A sua atuação política iniciou-se na década de setenta na
Equipe de Educação Política da Diocese de Afogados da Ingazeira – PE, que naquela época desenvolvia projeto com
agricultores/as. Logo após, foi convidada para trabalhar na Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco-
FETAPE e atuou nos principais conflitos agrários na região. A questão das secas, da fome e da inexistência de políticas
públicas para o semiárido tornou-se um dos principais temas da militância de Vanete a partir dos anos de 1980. Outra
área de mobilização, em que a da ativista alcançou maior reconhecimento, foi a organização política das trabalhadoras
rurais. Foi uma das fundadoras do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central, do Movimento de
Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR-NE) e da Rede de Mulheres Rurais da América Latina e do Caribe
(REDELAC). Considerações finais: Tomamos emprestado de Jurema Werneck (2016) a ideia de Ialodê para entender a
constituição de Vanete Almeida no espaço público. Werneck afirma que o uso atual do termo Ialodê está diretamente
vinculado aos movimentos de mulheres negras brasileiros para nomear organizações e atributos de liderança e
representação (157). Consideramos que é um termo apropriado para falar da capacidade de liderança e articulação de
Vanete Almeida. Que espécie de Ialodê Vanete foi no Sertão? Uma Ialodê que transpôs para sua prática política as
lutas contra as opressões sofridas por ela e por tantas outras mulheres do semiárido brasileiro: ser mulher, negra,
trabalhadora em um contexto territorial e cultural patriarcal, racista e centrado nos grandes latifúndios dos quais eram
detentoras as elites brancas.

1255
Cartagrafar: possibilidades entre escrever e cuidar, acolher e pesquisar
Autores: Bruna Moraes Battistelli, UFRGS; Lilian Rodrigues da Cruz, UFRGS
E-mail dos autores: brunambattistelli@gmail.com,liliancruz2@terra.com.br

Resumo: Como contar uma pesquisa? Como dobrar rituais acadêmicos? Formas que formam formas de contar, de
pesquisar e de escrever. Subverter? O risco é o da captura… Assim, emerge a pergunta: como dar forma a um
pesquisar ético? Viver e pesquisar. Cuidar e acolher. Cuidar e pesquisar. Entre cartas, conversas e memórias uma
pesquisa vai se desenhando. Um caminho perguntoso constitui uma cartografia com/do cuidado. Problematizar o
cuidado em serviço de Acolhimento Institucional para crianças e adolescentes. Como? Cartas… Cartas tomadas
enquanto fragmentos… Fragmentos de uma coleção (BENJAMIN, 1897). O ato de colecionar é mais importante que as
peças que juntas formam a coleção, afirma o autor. A montagem aponta o caráter de obra aberta, onde leitor é
coautor texto. Assim, uma dissertação ganha outros contornos: dissertação-sacola-do-carteiro… O capítulo vira carta,
vira conto, vira narrativa… Crianças viram deuses e o trabalhador escreve junto. Escrever sobre... Transforma-se em
escrever para... Escrever COM. Como cada narrativa foi sendo construída? "Escrevi para você"… A potência do
escrever tomada na radicalidade do encontro, do endereçamento. Um povo por vir (DELEUZE, 2013)... Um povo menor
que ganha espaço em uma batalha pelo conhecimento: porque o teu é mais válido do que o meu? O sujeito pergunta
para a pesquisadora. A cartógrafa se embrenha no território, mistura-se, in-mundasse (GOMES; MERHY, 2014). Como
dar passagem aos afetos que passam pelo corpo? Uma língua menor vai tomando a pesquisa. São crianças,
adolescentes, trabalhadores que escrevem e querem espaço. Cuidar é no ato, em relação, pleno acontecimento
(MERHY, 2002; 2006). Cuidado, objeto de pesquisa que abre rasgos pelas narrativas, ganhando corpo na escrita do
outro. Escrever a pesquisa assim vai se tornando narrativa… Abertas, sem submissão à bússola da verdade, uma
pesquisa-narrativa de produções de vida em Acolhimento Institucional. Narrativas encorpadas pela experiência de
sujeitos que de uma forma ou outra viveram o abrigo. Não cabem mais as normas acadêmicas de escrita, as citações
aparecem em momentos que invocam o pensamento. Walter Benjamin, Deleuze e Guattari compõem um conjunto de
interlocutores. Não menos importantes são as psicólogas, os educadores, os meninos e as mães que escrevem sobre
cuidar, cuidado e acolhimento. Uma máquina delicada que convoca ao escrever: carta-grafias de pesquisa. A ética é da
delicadeza. Uma maquinaria de pesquisa construída na experiência do estar no campo. Mesclas do formal e do
inventivo vão compondo metodologia. A observação participante ganha outros contornos com a fabricação de cartas.
Histórias de cuidar e cuidado vão ganhando corpo. Personagens se corporificam a partir do afetar da pesquisadora.
Quem disse que a escrita acadêmica precisa ser pálida, insossa, sem vida? Como escrever com a vida como parceira?
Como não apagar o vivido da pesquisa? Em tempos de exceção e situações limite o pesquisador enquanto testemunha
vai construindo pequenas possibilidades de resistência: é preciso acreditar no mundo (DELEUZE, 2013). A implicação é
com a vida, em suas diferentes formas. Como a pesquisa se constitui enquanto resistência em tempos de situação-
limite? Na impossibilidade de contar o cotidiano, é preciso produzir frestas. Em uma pesquisa sobre Acolhimento
Institucional de crianças e adolescentes, os furos foram sendo escavados em forma de cartas. Cartas que ganham o
abrigo, o cotidiano, a vida e a academia. Transbordando em uma escrita implicada no pesquisarCOM, onde as
narrativas são obras de arte e a pesquisadora-colecionadora-cartógrafa pode artistar outras formas de escrever.

1256
Referências:
BENJAMIN, W. Obras Escolhidas II -Rua de Mão Única. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
DELEUZE, G. Conversações. São Paulo: Editora 34, 2013.
GOMES, M. P. C.; MERHY, E. E. Pesquisadores IN-MUNDO: um estudo da produção do acesso e barreira em saúde
mental. Porto Alegre: Rede UNIDA; 2014.
MEHRY, E. E. Saúde- a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec, 2002.
MERHY. E. E. O cuidado é um acontecimento, e não um ato. In: Fórum Nacional de Psicologia e Saúde Pública:
Contribuições Técnicas e Políticas para avançar o SUS. Brasília, 20, 21, 22 de outubro de 2006. Conselho Federal de
Psicologia, 2006, p.69-78.

1257
Ciência do Rastreio: Territorialização no campo da Assistência Social
Autores: Camilla Fernandes Marques, UCDB/CRAS; Anita Guazzelli Bernardes, UCDB; Júlia Arruda da Fonseca Palmiere,
UCDB
E-mail dos autores: camilla.fmt@hotmail.com,anitabernardes1909@gmail.com,juliapalmiere@hotmail.com

Resumo: O texto que se apresenta tem por função traçar um investimento na escrita que passa por um nível de
afecção. Compreendendo que só mediante a algo que nos afeta é que se torna possível o pensamento, a afetação se
dá no encontro de dois corpos, neste sentido, o pensamento passa pelo corpo, pois se encontra em condições de ser
afetado. Para isto é preciso abdicar do imaginário cientifico tradicional que se tem como modelo, lançar-se
taticamente em uma relação com o espaço, como uma máquina de guerra, permitir ao pensamento funcionar de
outro modo, libertando-se de regiões de evidências, tomando a prática em pesquisa, os acontecimentos da ordem do
cotidiano, os saberes produzidos a partir de um plano de imanência e não de forma hierárquica. Este texto é produto
de uma pesquisa de doutorado que se orienta a partir da ciência do rastreio, de como a pesquisadora, através do
caminhar nos espaços do cotidiano, produz outro modo de fazer ciência. Durante esse caminhar, jogamos com o
espaço que se compõe conforme nos deslocamos, isto é, a pesquisa vai se construindo conforme as estratégias são
demandadas: a cada passo, a cada percurso, propiciando trajetórias que falam, espaços que se alteram e compõem
intensidades de múltiplas histórias. Fragmentos que compõem um espaço, a pesquisa, e perpassa algo que faz com
que se constelem, forjando uma singularidade, uma narrativa de pesquisa. É por essas razões que entendemos a
relação das discussões aqui presentes, com o GT 58. O trajeto assumido na pesquisa se dá por meio de materialidades,
arquivos, documentos públicos que dão visibilidade a um discurso sobre a política de assistência social e observações,
intervenções, ações sociais, enunciações que emergem como indícios para problematizar a vida das pessoas investidas
pela política da assistência social. É por meio de um fragmento de memória que a problematização se constituirá, um
acontecimento que será narrado a partir de experiência, compreendendo-a como algo que se torna enunciável em um
espaço com a necessidade de comunicar, e não simplesmente informar, a partir de uma individualidade ou
particularidade. A narrativa se dará por meio de um fragmento de vida: certo senhor que aqui será nomeado de Sr.
Fulano residia em um barraco, este descrito de acordo com um saber legitimado como sendo um espaço sem condição
de habitação, devido ao lixo e entulhos acumulados. Em razão da situação de vulnerabilidade identificada por parte do
saber legitimado, realizava-se um atendimento de acompanhamento familiar, conforme requisita a política de
assistência social básica, desenvolve-se um Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF, como modo
de estratégia de intervenção mediante o planejamento familiar. Criou-se, por meio do plano uma tática junto à
comunidade, emergindo outro fragmento de memória que é a figura do Sr. Sicrano, cuja pessoa se faz proprietário no
respectivo momento de uma loja de materiais de construção. De forma, coletiva, envolvendo o saber legitimado e o
saber local, montou-se uma estratégia direcionada a reformulação da habitação do Sr. Fulano. Por saber legitimado,
entende-se certos conjuntos de discursividades científicas, um empenho teórico uno que pretende filtrar, hierarquizar,
ordenar em razão de um conhecimento verdadeiro. Saber local, diz respeito a um saber das pessoas, não
compreendam como um senso comum, mas sim, como um saber diferencial, particular, não legitimado, que quebra
com regimes hegemônicos. Após reconstrução da casa do Sr. Fulano, notou-se que o mesmo não habitava a
residência, por mais que agora ela estivesse limpa devido a intervenção, reorganizada no que tange as categorias de
normatividade. A intervenção fez com que se produzisse um rearranjo do território para o Sr. Fulano, ou seja, uma
reterritorialização, passando a habitar debaixo de uma árvore em uma das avenidas principais de um bairro de
periferia da cidade de Campo Grande - MS, onde já era de costume passar uma parte do dia. Habitar esse espaço
constituiu uma desterritorialização, criou-se um novo domínio de realidade, de território no que diz respeito ao modo
de vida, tornando-o morador de rua. Tendo, assim, uma aproximação com o GT 54 e GT 55. Por mais que os conjuntos
1258
de práticas dessa intervenção tivessem como objetivo proporcionar uma nova casa, adequada aos padrões de
salubridade para o Sr. Fulano, o efeito em seu modo de vida, desconsidera a forma como este se forjava enquanto
sujeito singular na relação com o espaço que habitava. Nesses termos, possibilita-nos pensar diante um
posicionamento ético/político como uma violação de direitos desse sujeito.

1259
Elucidando processos investigativos em formatos de pesquisa-ação colaborativa
Autores: Domitila Shizue Kawakami Gonzaga, USP; Carla Guanaes Lorenzi, USP
E-mail dos autores: domitila.gonzaga@gmail.com,carlaguanaes@gmail.com

Resumo: Considerando que o construcionismo social adota uma prática crítica e reflexiva sobre como nossas
produções de sentido influenciam nossas ações sociais e nos modos de agir no mundo, é permitida relação íntima
entre o conhecimento e a ação, a teoria e a prática. Partindo deste pressuposto, elucidam-se os modos de fazer
pesquisa, com ênfase nas potencialidades da pesquisa como promotora de reflexão crítica, ampliando as
possibilidades para diferentes relações com as pessoas. Com base nas contribuições de Kenneth Gergen, podemos
compreender que a pesquisa construcionista está preocupada em dar visibilidade aos processos a partir dos quais as
pessoas chegam a construir determinadas explicações para o mundo e para si mesmas. Ao definir a pesquisa como
descritora das relações, incluindo a pesquisadora/pesquisador, criam-se também práticas sociais, nas quais o
pesquisador assume postura de agente de mudança social, capaz de promover, na articulação com os pesquisados,
mudanças nos contextos aonde a pesquisa se desenvolve. Desta maneira, a psicologia que antes se atinha à percepção
de uma ciência neutra, se transforma em uma psicologia visionária, isto é, preocupada com a invenção criativa do
futuro, ao incorporar vozes de psicólogos feministas, gays e lésbicas, africanos, hispânicos e asiáticos para questionar
os valores da pesquisa tradicional e práticas de saúde mental, voltando-se, então, para os potenciais de transformação
futura. Desta maneira o construcionismo social entende a pesquisa como uma forma de prática social e pode ser
motivada a partir do questionamento Que tipo de mundo podemos construir?. Esta pergunta pode favorecer que haja
um direcionamento para mudanças em determinadas realidades contextuais, fomentando possibilidades de ação.
Entendemos que as contribuições do discurso construcionista social potencializa um viés colaborativo para a pesquisa-
ação, que originalmente envolve o participante de maneira participativa para a resolução de problemas, adicionando
suas contribuições no que diz respeito à compreensão de construção de sentido nas relações e no entendimento da
formatação rica que há nas pessoas em linguagem para a produção de sentido. Este movimento possibilita, então, que
todo o processo de desenvolvimento da pesquisa seja negociado entre as pessoas.
O objetivo deste trabalho é debater formatos de desenvolvimento de pesquisas a partir dos pressupostos do
movimento construcionista social em formatos colaborativos, mais especificamente a pesquisa-ação colaborativa, nos
quais os envolvidos se engajam conjuntamente e trabalham para a problematização de questões elencadas, no
planejamento e execução de ações que visam transformar a realidade vivida. Trata-se de um estudo teórico sobre a
literatura sobre pesquisa ação colaborativa, articulando as propostas de diferentes autores para a construção de
formatos inventivos de investigação, na prática e no cotidiano.
Como resultado de nosso estudo teórico, apontamos que dentre os fundamentos da pesquisa-ação está a união entre
elementos do fazer pesquisa: ação e reflexão, teoria e prática e saberes do pesquisador e do pesquisado. À medida
que estas uniões são favorecidas, é potencializada a criação de conhecimento que nasce no contexto da prática e
requer que os pesquisadores trabalhem com os pesquisados.
Desta maneira, reforçam-se, como afirma Bradbury-Huang as características e propostas da pesquisa-ação, que
entende que é apenas pela ação que se torna legítima a compreensão, fortalecendo a premissa que teoria sem a
prática é especulação e não criação de conhecimento e ainda que ao se juntar aos participantes da pesquisa para a
criação de conhecimento, são também ultrapassados os limites do mundo acadêmico para o desenvolvimento do
conhecimento.
As pesquisadas/pesquisados assumem posição de co-pesquisadores, pois atuam e são protagonistas nos diversos
momentos da pesquisa, que objetiva emancipar as/os participantes quando envolvidos em contextos de opressão
social.
É esperado que sejam investigações significativas para os envolvidos, bem como que seus resultados tenham impactos
em diversos e diferentes níveis na sociedade. E por fim, que a pesquisadora/pesquisador deixe a postura de
neutralidade e se coloque presente tanto no processo investigativo, quanto na construção do texto acadêmico.
1260
Concluímos, a partir de nosso estudo, que o cenário pós-colonial incitou pesquisas com vieses sociais que
conseguissem abarcar as influências do colonialismo para as relações entre as pessoas. Desta maneira, foi também
estimulada que a escrita acadêmica fosse capaz de reconhecer diferentes vozes na produção de textos, rompendo
barreiras outrora rígidas, como a demarcação dos momentos de coleta e análise dados, pois compreende que a
relação das pesquisadoras/pesquisadores com pesquisadas/pesquisados corresponde ao processo de pesquisa.
O posicionamento das pesquisadoras e pesquisadores no fazer pesquisa, na relação com as pesquisadas/pesquisados e
com o campo são incorporados ao texto como forma de posicionamento parcial e político. Assim, sexo, gênero, raça,
cultura, classe, território e outras denúncias de relação de poder e privilégios aparecem em narrativas acadêmicas, a
partir das impressões das pesquisadoras/pesquisadores.
Esta proposta se relaciona com o Grupo de Trabalho Trocas interdisciplinares em percursos metodológicos inventivos:
pesquisa narrativa e escrita acadêmica visto as possibilidades de produção dos debates acerca da temática da escrita
inventiva, em formatos artesanais de relatos frutos das investigações colaborativas.

1261
Fotografia e Pesquisa: a produção de narrativas e dados visuais em Psicologia Social
Autores: Vanessa Souza Eletherio de Oliveira, UFPE; Rosineide de Lourdes Meira Cordeiro, UFPE
E-mail dos autores: vanessaeletherio@gmail.com,rocordeirope@gmail.com

Resumo: Este trabalho discute o uso das fotografias como produção de dados visuais e como disparadoras de
narrativas no âmbito da pesquisa em Psicologia Social. Nesse sentido, as imagens podem apontar para certa
inventividade, uma vez que o discurso falado e escrito parecem ser hegemônicos na pesquisa social por referirem-se
às palavras como única fonte de comunicação. Efeito disso é refletir como as demais formas de comunicação, como
gestos, movimentos do corpo, sons e imagens tem sido negligenciados pela ciência como fonte de dados legítimos.
Assim, este trabalho foi produzido no contexto de minhas reflexões de doutoramento sobre a construção do objeto de
estudo que versa sobre a intersecção entre saudade e memória. A pesquisa narrativa foi escolhida por priorizar o
acesso à experiência dos participantes sobre saudade e permitir uma flexão temporal sobre as saudades de outro
tempo, ou seja, acesso às suas lembranças, no contexto do Sertão de Pernambuco. Enfatizo, então os tensionamentos
sobre o processo de pesquisa, de produções de narrativas e dados visuais em um contexto no qual os participantes
foram convidados, inicialmente, a participarem de entrevistas narrativas, a fotografarem os objetos de sua saudade
e, por fim, a contar as histórias que as fotografias comunicam para cada um/a. A ideia é pensar como as fotografias
podem também ilustrar histórias, ao serem considerados pelo menos três aspectos: a história da produção da
imagem, a imagem propriamente dita e como ela pode ser lida ou compreendida (RIESSMAN, 2008, p. 148).
Participaram da pesquisa seis mulheres e um homem, variando de 30 a 70 anos, escolhidos pelo critério de "bola de
neve". Desse modo, a pesquisa seguiu as seguintes etapas: 1) pré-entrevista ou (re)familiarização com o campo; 2)
entrevistas narrativas; 3) produção de seis fotografias que retratassem a saudade de cada um dos participantes; 4)
entrevistas disparadas pelas fotografias e entrega das imagens impressas a cada participante; 5) transcrição das
entrevistas (pré-análise); e 6) análise narrativa performativa e analise visual das fotografias. Dito isso, é possível
analisar limites e possibilidades do uso de imagens em pesquisas sociais. Para que as fotografias fossem produzidas,
cada participante recebeu uma câmera digital ou ainda ficou aberta a alternativa de registro fotográfico por qualquer
outro equipamento, como o telefone celular, por exemplo. No mais, um limite importante parece ter sido a
dificuldade de manuseio das câmeras pelos/as participantes mais velhos. Essa dificuldade implicou uma assistência da
pesquisadora às/aos participantes sobre seu registro, de modo que apenas uma participante realizou o registro
fotográfico sozinha pelo seu telefone celular, enquanto todas/os os outros participantes tiveram seus registros
fotográficos realizados em parceria com a pesquisadora. As/os participantes expressavam o que gostariam de
fotografar, como e onde queriam fazer o registro fotográfico e a pesquisadora operacionalizava esse registro. Essa
dificuldade exigiu também uma mudança de postura da pesquisadora que passou a ser participante do processo de
produção de dados visuais, uma pesquisadora-fotógrafa. Ainda sobre essa dificuldade, é possível levantar que a
presença da pesquisadora pode ter influenciado na montagem da foto, autorrepresentação ou ter limitado o conteúdo
a ser registrado pelo controle da pesquisadora sobre a imagem final, como aponta Flick (2009). Já sobre as
possibilidades do uso de dados visuais, importa dizer que o registro de imagens permitiu uma porta de entrada à
dimensão icônica da experiência, na qual a reconstrução de memórias ou até mesmo o encorajamento de elaboração
de insights sobre lugares-memória, pessoas-memória e tempos-memória da saudade foi facilitado. Além disso, a
fotografia permite um recurso que pode ser reanalisado como dado primário, preservando sua característica de
subversão temporal de registro que é, ao mesmo tempo, simbólico e empírico. Por fim, faz-se necessário salientar que
a produção de dados visuais em pesquisa não se refere a retomar representações de fatos sociais ou objetos,
outrossim, de reinventar memória. No caso mais específico da pesquisa em questão, reinventar o que há de
articulação entre a saudade e a memória.

1262
Mapeamento sobre saudade: um objeto de pesquisa que exige novas estratégias metodológicas
Autores: Julia Gabriela Santos Bertoldo Nascimento, Faculdade dos Guararapes; Vanessa Souza Eletherio de Oliveira,
UFPE
E-mail dos autores: juliagabriela.psi@gmail.com,vanessaeletherio@gmail.com

Resumo: O presente artigo consiste em um mapeamento das produções cientificas sobre saudade, com a finalidade de
tornar o campo inteligível e assim como sugerir novos métodos de pesquisa. Está inserido num projeto maior de
doutoramento no campo da Psicologia Social, denominado de A invenção da saudade frente à morte: um novo
horizonte em Psicologia Social, da referida orientadora deste artigo. Tem como objetivo principal identificar o que é
discutido acadêmicamente sobre saudade e ressaltar a importância desse debate diante da Psicologia Social. O
questionamento motivador para tal pesquisa surgiu a partir de uma breve pesquisa bibliográfica, em que constatou-se
uma lacuna de produções científicas sobre saudade. A fonte de pesquisa selecionada foi a plataforma online
Periódicos Capes devido a abrangência do alcance de suas publicações. A pesquisa se deu com o descritor saudade.
Foram selecionados trabalhos com idioma de língua portuguesa, e sem predeterminação temporal da data das
publicações, a partir da sistematização os textos foram organizados de acordo com a fonte de pesquisa, o tipo de
recurso utilizado, o título, o ano, a autoria, a instituição de formação, a área de conhecimento e o local de publicação.
Através da leitura dos resumos foi possível sintetizar quais eram os objetivos, os conceitos e as teorias e o método
utilizado de cada trabalho. Vale ressaltar que em muitos dos trabalhos encontrados, não se tinha relação direta com o
a discussão do significado da palavra, cujo única relação com o termo saudade se dava pelo nome, exemplo Programa
Renda Mínima na Aldeia Indígena Morro da Saudade em São Paulo, entre 2003 e 2004: análise de uma experiência ou
Estudo de anofelinos antropofílicos peridomiciliares da Praia da Saudade na Ilha de Cotijuba: uma área endêmica de
malária em Belém. Desta forma, foi realizado um filtro, sendo selecionadas apenas 56 publicações como relevantes,
cuja periodicidade de publicações foi entre 1986 a 2016. Em relação ao tipo de recurso utilizado, a predominância foi
de artigos, no total de 35 trabalhos. Foram encontradas onze dissertações de mestrado, nove teses de doutorado e um
livro. Os trabalhos foram relacionados a diferentes campos de conhecimento, a saudade é discutida no campo da
linguística, antropologia, sociologia, filosofia, enfermagem, emigração, entretanto pouco se fala sobre saudade na
psicologia. A psicologia enquanto ciência tem considerado a saudade como um tema de pouca relevância em
pesquisas, como afirma Nascimento e Menandro (2005). Há uma lacuna de produções cientificas sobre a saudade
tornando o debate com um alcance pequeno diante de sua complexidade e profundidade. Também e principalmente
enquanto sentimento coletivo, que faz parte do cotidiano das pessoas sendo passada de geração em geração. Este
objeto de pesquisa exige novos campos de discussão, e métodos para produção de questionamentos, sugestivamente
métodos que correlacionem o acesso a memória, através de registros que despertam o sentimento saudoso, como por
exemplo, a fotografia. Concluímos que a quantidade de produções cientificas sobre a saudade não contempla a analise
deste fenômeno diante de sua complexidade e profundidade. Desta forma, intensifica a importância da produção
acadêmica, pois a psicologia social tem muito a investigar sobre a saudade diante de sua dimensão psicossocial.
NASCIMENTO, A. R. A ; MENANDRO, P. R. M. Memória social e saudade: especificidades e possibilidades de articulação
na análise psicossocial de recordações. Memorandum, 8, 2005.

1263
Não morri assim como você, mas minha vida desde este dia ficou congelada: um estudo de narrativa sobre os
efeitos da violência obstétrica na vida de uma mulher violada no parto
Autores: Maria Verônica Araújo de Santa Cruz Oliveira, UFPE
E-mail dos autores: mveronicaoliveira@yahoo.com.br

Resumo: A violência obstétrica (V.O) é uma violência de gênero que se traduz numa violação aos direitos humanos,
sexuais e reprodutivos. Está presente em vários países do mundo e no Brasil se constitui como um problema de saúde
coletiva de grande magnitude. As mulheres de menor poder aquisitivo e menor escolaridade, principalmente, negras,
adolescentes, mães solteiras e em situação de abortamento são vítimas de violência por maus tratos, intervenções
desnecessárias ou sem evidência científica e expostas às fragilidades institucionais como a peregrinação pelas
maternidades, infraestruturas deficientes, falta de pessoal, de medicamentos e processos de trabalhos inadequados. O
OBJETIVO deste trabalho é refletir efeitos da V.O na vida das mulheres. Para tanto, tem como METODOLOGIA a análise
de uma carta endereçada para uma filha natimorta e publicada recentemente em redes socais. A mãe narra a história
deste parto ocorrido em Caruaru, na década de 80. Um pequeno recorte desta sua narrativa já se pode perceber o seu
conteúdo com cenas de tortura em virtude de desrespeito a dignidade humana, maus tratos e negligência Tudo me
constrangia os gritos da outra mulher e a falta de amor e respeito por ela e a minha própria dor (...)quando pedi um
pouco de paciência para me recompor e ele [o médico] disse batendo em minhas pernas: BORA MULHER ABRE LOGO
ISTO, PENSA QUE TENHO O DIA TODO ? (...) Chegando no leito em que estava se refere a mim como a nervosinha e
por ser chefe do plantão ninguém medicava ou falava comigo e que ele iria para uma Palhoça dançar forró dançar e
tirar a visão de tanta mulher com a B... (genitália) arreganhada para ele. (...) E no final você saiu aos pedaços de dentro
de mim e eu fiquei aos pedaços para sempre. Não morri assim como você, mas minha vida desde este dia ficou
congelada. Por mais de duas décadas os sofrimentos desta vivência atravessaram a vida desta mulher. Seu estado de
vulnerabilidade, sua impotência diante do abandono e das violações sofridas são potencializados pela impossibilidade
de reagir e de enterrar sua filha, dando lugar a um luto de difícil resolução. Os danos a vida afetiva que podem ser
causados pela V.O podem marcar a existência das mulheres violadas por um longo período de tempo e ainda pode
estar associada a morbimortalidade materna e infantil com repercussões na saúde mental, na vida sexual e
reprodutiva. Este é um fenômeno relacionado a transição do parto domiciliar para as instituições hospitalares. O parto
que na sua maior parte, é fisiológico e era vivido em casa ao lado de outras mulheres, passou a ser uma vivência
solitária e dependente da tecnologia. Janaina Aguiar e colaboradoras referem-se a V.O como uma crise de poder e
legitimação da medicina que leva a uma erosão ética. Há grande dependência técnico-científica em contraponto ao
enfraquecimento do caráter moral da prática médica. Várixs autorxs associam a institucionalização do parto a um
processo de masculinização profissional que resulta na impregnação da cultura patriarcal que marca as práticas destes
profissionais e acentuam a assimetria nas relações com suas pacientes. Deste modo, a compreensão deste fenômeno
nos coloca diante da necessidade de aportes teóricos de poder e gênero. A V.O e seus efeitos se exprimem na
experiência singular de cada mulher que é impactada, concreta e simbolicamente pelo fato de ser mulher, dentro de
uma estrutura desigual de poder e de acesso às políticas de cuidado. No final da carta, sua autora consegue nomear
seu sofrimento: Hoje sei que toda esta violência tem nome VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA. Dar nome a este sofrimento a
levou a se engajar na criação da Câmara Técnica de Enfrentamento à Violência Obstétrica que tem apoiado mulheres
violadas no parto e encampou a luta pela Lei de iniciativa popular que versa sobre a humanização do parto e
criminalização desta violência. Deste modo, transmuta e redireciona a força da sua dor e sofrimento. Clarissa Pinkola
Estes fala das histórias orais como um recurso ancestral para curar as feridas da alma. Contar a sua própria história
também se apresentou nesta carta como um potente bálsamo para um luto irresoluto. Contar as histórias das
violências obstétricas sofridas em espaços coletivos foi percebido pela antropóloga Rosamaria Gatti Carneiro como um
caminho em que mulheres violadas ao realizarem uma narrativa de si em grupos e redes socais, colocando-se como
vítimas da V.O, circularam a suas dores e sofrimentos, criando laços de sociabilidades, movimentos de
reconhecimento e pertencimento, levando-as a se reposicionarem no mundo, como pessoa e como grupo. A reflexão
1264
trazida neste trabalho reafirma a importância de conhecer como as mulheres narram sua experiência após sofrem V.O
descortinando os seus efeitos ou caminhos de superação. Também evidencia a potência da narrativa nas pesquisas
engajadas com a vida e me coloca diante do desafio de buscar seu aprofundamento epistêmico e metodológico.

1265
Narrativas audiovisuais para uma abordagem história da luta contra a aids em Belo Horizonte
Autores: Luciana Kind, PUC Minas; Aline Ketley Cirino de Mello, PUC Minas; Emilene Araujo de Souza, PUC Minas;
Luana Carola dos Santos, PUC Minas; Lucas Anselmo Polido Lopes, PUC Minas; Misael Avelino da Silva, PUC Minas;
Stephanie da Silva Cendrethe, PUC Minas
E-mail dos autores:
lukind@gmail.com,lupsicologiapucminas@gmail.com,emilenedesouza@gmail.com,Lucas.apl19@gmail.com,stephanie
_cendrethe@hotmail.com,alineketley@gmail.com,misael.e7@gmail.com

Resumo: Nesta comunicação, apresentamos o projeto Narrativas Institucionais, que tem o objetivo geral de promover
uma leitura histórica sobre a relação entre sociedade civil, Estado e universidade no enfrentamento à epidemia da aids
em Belo Horizonte. O projeto se vincula ao Programa Interagentes: Prevenção e Promoção da Saúde no
enfrentamento à epidemia de HIV/aids, programa de extensão que conta com o apoio da PROEX/PUC Minas. A
dimensão interdisciplinar é uma das marcas do Programa Interagentes, que é desenvolvido por docentes e discentes
dos cursos de graduação em Psicologia, Enfermagem e Cinema e Audiovisual, além de mestrandas e doutorandas do
Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas, todos vinculados ao grupo de pesquisa Narrativas, Gênero e
Saúde (NaGeS). A proposta de trabalho foi construída em diálogo com a Comissão Municipal de IST/aids e Hepatites
Virais de Belo Horizonte, composta por representantes de organizações da sociedade civil, movimentos sociais,
serviços de saúde e instituições formadoras. Observamos que os registros históricos das políticas intersetoriais
desenvolvidas com participação da sociedade civil, Estado e universidades no município são poucos, dispersos e
diversificados. O projeto combina estratégias teórico-metodológicas da pesquisa narrativa e da história oral, tendo
como participantes pessoas que se destacam historicamente por seu envolvimento com as políticas de saúde voltadas
para a luta contra aids no município. Trabalhamos com entrevistas narrativas registradas em vídeo, situando um
diálogo intencional com o contexto do cinema, mais especificamente com a produção de documentários de entrevista.
Com inspiração particular na obra cinematográfica de Eduardo Coutinho, buscamos a "escuta do sensível", apostando
no caráter transformador da memória narrada, seja para quem conta sua história, seja para seus interlocutores
imediatos (a equipe) ou para os futuros espectadores. Dez pessoas foram convidadas a participar, sendo 5 (cinco)
delas representantes de organizações da sociedade civil, 2 (duas) de movimentos sociais, 2 (duas) de serviços de saúde
e 1 (uma) da universidade. Por princípio, nossa intenção era ter representantes da sociedade civil, do Estado e da
universidade contando a história das políticas de modo situado. Contudo, quatro participantes têm vinculações
híbridas. Duas pessoas, além de sua participação em organização da sociedade civil e movimento social, são hoje
trabalhadoras da saúde, atuando em serviços especializados no atendimento à saúde sexual. Um participante, além da
trajetória como docente, ocupou cargo de destaque do Departamento de DST/aids do Ministério da Saúde. Outro, é
militante de um movimento social, mas tem uma função como colaborador em projetos de uma universidade que são
voltados ao enfrentamento do HIV/aids. Foram realizadas sessões de filmagem guiadas por uma questão inicial que
pode ser assim enunciada: conte-nos como foi sua participação na construção das políticas de enfrentamento ao
HIV/aids em Belo Horizonte. Sem roteiros prévios, com cada pessoa entrevistada, prosseguimos com que nos
acostumamos a chamar de conversa filmada. As filmagens foram feitas em estúdios dos laboratórios de audiovisual da
PUC Minas. Na pós-produção, cada entrevista foi editada, recortando-se fragmentos narrativos com temas
independentes como o início da epidemia, o viver com HIV/aids, desafios atuais das políticas de saúde sexual, para
mencionar alguns. Os fragmentos narrativos foram editados como episódios para uma web série documental, tendo
entre 3 e 5 minutos cada, constituindo-se como produto técnico do projeto Narrativas Institucionais. A web série
estará plenamente publicada entre agosto e novembro de 2017, no canal do NaGeS no YouTube. A opção por
recompor as entrevistas como episódios breves, em forma de uma web série, com acesso público cumpre princípios
éticos, estéticos e políticos da nossa proposta. Deliberadamente, nos guiamos pela intenção de tornar pública a
história (plural) da construção das políticas de saúde, como narrada pelos principais agentes nela envolvidos:
sociedade civil, Estado e universidade. Também foi intencional o recorte em fragmentos curtos, compreendendo que
1266
esta é uma linguagem audiovisual de maior alcance, por ser de fácil divulgação em diferentes meios digitais, além de
dialogar com públicos variados, mas de modo particular com jovens, população com quem nos interessa ampliar
nossas intervenções. No desenvolvimento da web série, as trocas interdisciplinares e interinstitucionais foram seu
fundamento, sendo compostas como modos de pesquisar e intervir no âmbito da luta contra a aids. Vemos o produto
final como uma experiência colaborativa, que extrapola o que cada campo disciplinar e cada agente de políticas
públicas poderia produzir de modo isolado.

1267
Narrativas da rede intersetorial de saúde sobre atendimento psicossocial e mortes em vida no caso do desastre
tecnológico de Mariana/MG
Autores: Luana Carola dos Santos, PUC Minas; Luciana Kind, PUC Minas
E-mail dos autores: lupsicologiapucminas@gmail.com,lukind@gmail.com

Resumo: A presente pesquisa trata-se estudo de pós- doutorado que tem por objetivo investigar quais são as
diretrizes de atendimento psicossocial que fundamentam o acolhimento da rede intersetorial de saúde para os casos
de morte em vida associados ao desastre tecnológico ocorrido no Município de Mariana, com o rompimento das
barragens de Santarém e Fundão da Mineradora Samarco/Vale S, no dia 05 de novembro de 2015, considerado como
o maior desastre socioambiental ocorrido no Brasil e um dos maiores relacionados à mineração do mundo. (HELLER,
MODENA, 2016)
O conceito de morte em vida abrange um conjunto de experiências que nos fazem pensar na morte, que embora não
tenha ocorrido de forma concreta, mas remetem a muitos adjetivos associados a ela, como dor, ruptura,
desconhecimento, interrupção e tristeza. (KÓVASCS, 2011). E no caso do desastre tecnológico de Mariana é
extremamente importante pensar estudos e pesquisas que façam um mergulho profundo nas dimensões, concretas e
simbólicas das mortes produzidas em vida. E também estudos dialógicos que pensem em como a rede de saúde do
Município tem se organizado para trabalhar com o tema, já que os danos reparatórios da empresa Samarco/ Vale S.A
não prevê esse tipo de ação e está focada em reparações materiais. Temos aqui então um problema complexo e
importante: o trabalho da rede intersetorial de saúde com o tema da morte em vida, em um contexto de ênfase em
perdas apenas econômicas e materiais.
No âmbito do desastre tecnológico ocorrido em Mariana foram mapeados pelo poder judiciário, cerca de dezenove
mortes concretas que foram indenizadas financeiramente. Todavia, e a dor da perda dos familiares? E aquelas famílias
atingidas que não perderam nenhum parente concretamente, mas que perderam seus territórios tiveram seus laços
comunitários afetados, que lutam para resiginificar suas histórias? E as perdas simbólicas? Há possibilidades de
trabalhá-las no acolhimento em saúde? É sobre o estudo dessas mortes em vida que essa pesquisa está interessada,
principalmente, em investigar as diretrizes de atendimento psicossocial que balizam as ações da rede intersetorial de
saúde para o acolhimento desse tema e famílias atingidas.
Notamos ao longo dos trabalhos realizados no Município de Mariana que a morte em vida tem sido um tema pouco
tratado no desastre. Esse é um primeiro ponto que justifica essa pesquisa. Localizamos também uma forte angústia
presente nos profissionais da rede intersetorial de saúde que tem buscado o apoio do Ministério Público e da
universidade por não saber como lidar com os casos de morte em vida. Primeiro, conforme narrativas dos
profissionais, por ser um tema tratado de forma secundária, e segundo por ser uma tônica recorrente nas pautas do
atendimento em saúde. As inspirações para presente pesquisa surgiram a partir da atuação da pesquisadora no
Ministério Público de Minas Gerais no Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos (CAO/DH) no qual teve a
possibilidade de trabalhar por meio de ações como: atendimentos às famílias atingidas, realização de formações com a
rede intersetorial de saúde, reuniões frequentes com a mesma, realização de pesquisa sobre atendimento psicossocial
no caso de desastres, estudos interdisciplinares sobre saúde coletiva nos casos de desastres, juntamente com a
FIOCRUZ, acompanhamento das audiências públicas realizadas pelo Ministério Público sobre danos reparatórios do
desastre junto a famílias atingidas e com equipamentos públicos da região, dentre outras ações, que evidenciaram a
necessidade de pesquisar sobre o acontecimento do desastre tecnológico de Mariana no âmbito dos processos de
subjetivação associados às questões do cuidado em saúde, morte em vida, das famílias atingidas.Durante o trabalho
acima realizado e da inserção permanente da pesquisadora na cidade de Mariana , observou-se alguns conflitos
relacionados ao modus operandi do atendimento psicossocial para casos de desastre tecnológicos presentes na rede
intersetorial de saúde e algumas questões fizeram presentes: existem diretrizes de atendimento psicossocial que
balizam o trabalho da rede intersetorial de saúde no caso de desastres tecnológicos?Quais são? É possível um
trabalho integrado da rede de saúde no caso dos desastres?Como pensar sobre as questões éticas, cuidados paliativos,
1268
qualidade de vida no caso de famílias atingidas pelo desastre? E os relatos da morte em vida? Tem pauta no plano de
atendimento psicossocial? São essas questões que justificam a presente pesquisa, visto que os dilemas sobre o
atendimento psicossocial na área da saúde, no caso do desastre tecnológico de Mariana, tem se apresentado como
um tema complexo no campo de estudos sobre saúde coletiva no desastre.Vale destacar que a compreensão
científica em relação á temática dos desastres é relativamente recente e se deu no inicio do século XX, por meio da
realização do grande incêndio no Canadá e a saúde é apenas um dos componentes e, por vezes, não o mais
importante (LECHAT, 1976). E nosso objetivo com os estudos do pós-doutorado é trazer o tema da saúde como uma
dimensão importante e essencial no caso dos desastres tecnológicos.

1269
Narrativas de estudantes universitários, habitus familiar e competência discursiva
Autores: Daniel Cardoso de Souza, PUC Minas; Maria dos Anjos Lara e Lanna, PUC Minas; Raquel Campi Ricardo
Mattar, PUC Minas
E-mail dos autores:
DanielCardoso.psi@gmail.com,DanielCardoso.psi@gmail.com,raquelcampi.psi@gmail.com,zanjalara@gmail.com

Resumo: Pretende-se apresentar uma pesquisa de iniciação científica fundamentada pela discussão bourdieusiana
sobre o habitus e pela abordagem construcionista que defende a importância da narrativa na constituição da
subjetividade. A partir desse foco, a presente pesquisa discute o modo pelo qual o habitus familiar se relaciona com a
ação de estudantes universitários no que diz respeito à competência discursiva e ao domínio da linguagem formal.
O referencial teórico da pesquisa fundamentou-se na teoria de Bourdieu sobre as trocas simbólicas, particularmente
com os conceitos de habitus, e capital econômico e cultural; trabalhados de forma análoga ao sistema financeiro pelo
autor (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2009). Outro pilar desta pesquisa foi abordagem sistêmica das narrativas, orientada,
principalmente, pelo Construcionismo Social. Foram utilizadas as ideias de Grandesso acerca da narrativa e da
construção social de sentido (GRANDESSO, 2011). Por fim, trabalhou-se com a ideia construcionista de competência
discursiva, como um conjunto de habilidades ou capacidades desenvolvidas para gerir os processos postos em jogo
numa atividade de linguagem (LANNA, SILVA E COUTO, 2011 p. 6).
Para a obtenção dos resultados, foram realizadas entrevistas face a face com dois estudantes universitários da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – São Gabriel e alguns de seus ascendentes. Essas entrevistas foram
gravadas em áudio sob a autorização prévia dos participantes. A posteriori, todas as entrevistas foram transcritas e, a
partir das narrativas, foram construídos quadros interpretativos para a realização da análise do discurso, a fim de
compreender a articulação entre os sentidos construídos pelas narrativas e o conjunto de disposições para a ação
associadas à competência discursiva e ao domínio da linguagem formal no contexto acadêmico. Assim, fez-se
necessário identificar as narrativas dos participantes, apontar as atitudes e ações dos estudantes incorporadas como
bagagem compartilhada com a família relativamente ao domínio da linguagem formal e explicitar a articulação de
sentido estabelecida entre as narrativas e os componentes do habitus familiar incorporados na subjetividade dos
estudantes.
Como resultado, a pesquisa mostrou como os estudantes organizam suas ações a partir da apropriação da narrativa
familiar, sob a influência do acúmulo do capital cultural como valor constituído. A pesquisa elucidou, também,
algumas diferenças e semelhanças dos estudantes frente aos estudos, o que corroborou com a ideia proposta. No
entanto, apesar de diferenças significativas quanto ao capital cultural e financeiro das famílias dos estudantes, ambos
se apropriam da narrativa familiar quanto ao valor atribuídos aos estudos.
Foi possível identificar que, mesmo a partir de narrativas distintas entre si, as duas famílias apontam uma associação
causal entre o estudo e o sucesso. Nesse sentido, salienta-se a importância da narrativa familiar nos processos de
subjetivação e construção de sentido acerca dos estudos. A partir do sentido construído sobre o estudo, como um
meio, um instrumento, os estudantes orientam suas ações em busca de alcançar o ponto final significativo; o sucesso.
Apesar do pequeno número de voluntários que atenderam aos critérios da pesquisa, foi possível identificar a
importância da família relativamente à competência discursiva e ao domínio da linguagem formal.

1270
Principais Referências:
GRANDESSO, M. Narrativa e significado. In: GRANDESSO, M. Sobre a reconstrução do significado: uma análise
epistemológica e hermenêutica da prática clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. p. 197-230.
LANNA, M. A. L.; SILVA, M. L.; COUTO, D. P. Discurso Familiar, Discurso Escolar, e Desenvolvimento da Competência
Argumentativa. In: Associação Brasileira de Psicologia Social - ABRAPSO, Anais do XVI Encontro Nacional da ABRAPSO,
2011, Recife, PE.
NOGUEIRA, M.A., NOGUEIRA, C.M. Bourdieu & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. (Pensadores & educação).
126 p.

1271
Narrativas ficcionais coconstruídas com jovens vivendo com HIV/aids
Autores: Emilene Araujo de Souza, PUC Minas; Luciana Kind, PUC Minas
E-mail dos autores: emilenedesouza@gmail.com,lukind@gmail.com

Resumo: No ano de 2016 os Estados-membro da Organização das Nações Unida (ONU) pactuaram o compromisso de
erradicar a epidemia de aids até o ano de 2030, no entanto, a curva ascendente de novas infecções pelo vírus HIV
entre a população jovem é uma preocupação para as estratégias de enfrentamento da epidemia de HIV/aids no Brasil
e no mundo. Neste contexto, o presente trabalho apresenta os resultados parciais de uma pesquisa de cunho
qualitativo, que se desenvolve em articulação com as práticas de extensão desenvolvidas no Programa Interagentes na
prevenção e promoção da Saúde: articulações entre a Universidade, Sociedade Civil e o Estado no combate à epidemia
de HIV/aids no município de Belo Horizonte. A pesquisa visa compreender modos de narrar o viver com HIV/aids na
coconstrução de narrativas ficcionais com jovens soropositivos. A ideia de performatividades do self, de Catherine
Riessman, indica que uma "narrativa de si" é produzida como performance, o que denota múltiplas possibilidades de
se configurar uma apresentação pessoal. Este olhar acentua elementos intersubjetivos nos modos de narrar e desta
forma, possibilita uma abordagem abrangente da realidade social. Com base nesta orientação, a pesquisa indaga: que
narrativas de si os/as jovens soropositivos/as constroem sobre o viver com HIV? Que selves preferenciais estes jovens
escolhem retratar em suas narrativas? Como o viver com HIV/aids compõe as narrativas de jovens soropositivos sobre
sua experiência de vida? O estudo tem como objetivo geral a compreensão dos modos de narrar o viver com HIV/aids
na coconstrução de narrativas ficcionais com jovens soropositivos. E como objetivos específicos, compreender
momentos marcantes nas trajetórias de vida dos jovens, tais como a descoberta do diagnóstico de HIV/aids e a adesão
ao tratamento; investigar os desafios cotidianos de pessoas jovens que vivem com HIV/aids, as implicações nas
relações com pares e com familiares e delimitar diferentes experiências de jovens que se descobriram soropositivos/as
e construir narrativas ficcionais sobre o viver com o HIV/aids conjuntamente com os/as participantes do estudo. O
estudo situa-se como pesquisa narrativa e a estratégia metodológica compõe-se de entrevistas narrativas com jovens
soropositivos com idades entre 15 e 29 anos, para constituir o corpus que servirá como suporte para a construção de
narrativas ficcionais, conforme proposto por Marcos Reigota (1999). Esta estratégia consiste em embaralhar os
fragmentos das narrativas e criar colagens, que são baseadas em fatos reais, porém lidas/vistas como ficção. O uso das
narrativas ficcionais nesta pesquisa tem o propósito ético, estético e político de compartilhar experiências sobre o
viver com HIV/aids e produzir reflexões autônomas sobre a prevenção do HIV/aids e promoção da saúde entre jovens.
Os produtos finais desta pesquisa serão o material textual em forma de dissertação e vídeos de animação que serão
desenvolvidos com base nas narrativas ficcionais e publicados no canal do Programa Interagentes no YouTube. As
versões finais dos personagens que irão figurar nos vídeos de animação, serão construídas em diálogo com os
participantes da pesquisa, que poderão opinar a respeito das subtramas elaboradas com base em trechos de suas
entrevistas. Este produto técnico surge, também, como recurso de exploração de linguagens de comunicação que
permitam amplo alcance de público, além de buscar um alinhamento com as formas de comunicação do público
jovem, alvo prioritário desta pesquisa. Os resultados parciais demonstram interesse e disponibilidade dos
participantes para a construção conjunta das animações. As narrativas apresentam uma ampla variedade de temas
como: saúde sexual e reprodutiva, relação médico-paciente, autoestima e autocuidado, traduzindo a complexidade de
fatores associados ao viver com HIV/aids. Sobre a disseminação de informação e prevenção ao HIV/aids, nota-se que o
diálogo deve ir além das questões biomédicas relacionadas à infecção, que a revisão do discurso imperativo do uso do
preservativo nas relações sexuais é necessária e que a exploração de novas formas de comunicação é essencial.

1272
Processos de subjetivação em vivencias do pós-operatório tardio da cirurgia bariátrica
Autores: Luciana Gaudio Martins Frontzek, PUC Minas; Giovana Maria Moreira dos Santos, UNIVERSO-BH; Guilherme
Couto Ramos, UNIVERSO-BH; Paulo Cesar Alves de Siqueira, UNIVERSO-BH
E-mail dos autores:
lucianagaudio@yahoo.com.br,guilhermecoouto@yahoo.com.br,siqueiras.paulo@gmail.com,giovanasantos1973@live.
com

Resumo: A literatura aponta um aumento crescente da cirurgia bariátrica, no entanto, são poucos os estudos
qualitativos sobre a sustentabilidade do método em longo prazo. Trata-se de uma questão complexa, de saúde pública
e que requer intervenções mais contextualizadas com esta complexidade que leve em conta a trama social envolvida.
pretende-se ouvir 20 pessoas que fizeram a cirurgia há mais de 05 anos para através das suas narrativas compreender
melhor os processos de subjetivação existentes.
Serão realizadas entrevistas narrativas com 20 (vinte) pessoas que tenham se submetido a cirurgia bariátrica há mais
de 5 anos. O período de tempo foi considerado como uma margem aproximada em que se pressupõe que a adaptação
esperada a operação já tenha ocorrido. Serão convidadas a participar homens e mulheres entre 18 e 60 anos. O
convite será realizado em um plano de saúde que possui grupo de acompanhamento às pessoas que irão se submeter
à cirurgia bariátrica.
As entrevistas serão gravadas, transcritas e analisadas com o auxílio do software ATLAS.ti, versão 8. O software será
apenas apoio, como assinala Friese (2014). Como estratégias para o trabalho com o material empírico, serão utilizadas
ferramentas da análise dialógica performática proposta por Riessman que, segundo Zaccarelli (2013) usa elementos da
análise temática e estrutural, mas vai além delas, levando em conta o ambiente dialógico no qual a narrativa é
coproduzida pelos par¬ticipantes, em toda sua complexidade (p.29). Nesta perspectiva, o pesquisador é ativo no texto
e a análise procura responder para quem as expressões verbais são dirigidas, quando, porque e com que propósito ou
intenção. O realce no desempenho indica que as identidades dos participantes são situadas e dramatizadas
(performatizadas) tendo em mente uma plateia. (Zaccarelli, 2013)
Em um segundo momento da pesquisa, como forma de preparar o material para a devolução dos resultados aos
participantes, pretende-se realizar a versificação das narrativas ou de fragmentos delas, convertendo-as em poesias.
Patai (2010) traz a poesia como possibilidade metodológica na pesquisa ao mostrar que palavras faladas e escritas
podem ser organizadas de forma a chamar atenção desde que sejam considerados os cuidados éticos com a pesquisa.
Ela afirma ainda que existe uma distância instransponível entre a palavra falada e a palavra escrita já que a palavra
falada tem sotaque, regionalismos, entonações, entre outros marcadores de oralidade. Ao reproduzirmos pesquisas
narrativas condensamos todos estes elementos em um texto organizado formalmente no papel. Diante destas
considerações, a versificação pode ser uma forma de se chamar atenção para o dito e de se aproximar dos elementos
afetivos presentes. Patai (2010) ilustra esta possibilidade ao dizer que as repetições normalmente eliminadas do texto
cabem em outros formatos, como a poesia, e nos fornece pistas importantes de significados afetivos.
Posteriormente, será realizada a apresentação das narrativas versificadas aos participantes através de postagens das
mesmas em blog privado. O link para o acesso ao blog será compartilhado com os participantes para que possam
comentar e participar do refinamento das produções construídas mantendo assim a privacidade de todos. As poesias
poderão ser retiradas na etapa de visualização e comentários. O blog será aberto para o público em geral apenas após
todos os participantes o visitarem, para decidirem se mantém, modificam ou retiram as poesias que se baseia nas suas
narrativas. Esta metodologia pressupõe a coautoria do material produzido e o dever ético desta devolução.

1273
Teoria Ator-Rede e o Trabalho de Campo: condições de fazer e ser o movimento #UERJRESISTE
Autores: Monique Araújo de Medeiros Brito, UERJ; Debora Emanuelle Nascimento Lomba, UERJ; Jackeline Sibelle
Freires Aires, UERJ; Jonas de Figueiredo Silva Junior, UERJ; Keyth de Oliveira Vianna da Silva, UERJ; Wallace Araujo de
Oliveira, UERJ
E-mail dos autores:
monique_brito@yahoo.com.br,debora_lomba@yahoo.com.br,wallacearaujo1982@hotmail.com,keythvianna@hotmai
l.com,figjunior@hotmail.com,jackelinesfa@gmail.com

Resumo: O presente trabalho narra a experiência de construção de conhecimento dos alunos da disciplina Teoria Ator-
Rede (TAR) e o trabalho de campo do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ). O campo interdisciplinar da Psicologia Social convoca pesquisas que possam ir além da relação
sujeito-objeto e a TAR, enquanto aporte teórico-metodológico, propõe seguir os atores - sejam eles humanos ou não
humanos - provocando uma oportunidade de interrogação acerca das relações entre corpo e testemunho na
pesquisa. A disciplina nos conduziu a um pesquisarCOM (MORAES, et al, 2014), sob novas condições de feitura e
modos de intervenção, dada a necessidade de argumentar acerca dos elementos que compõem o coletivo,
rastreando-os. O pesquisarCOM nos propiciou ainda uma reflexão em torno do ato de pesquisar e da postura do
pesquisador. Nesta perspectiva, pesquisar é o ato de compor COM os atores do campo os caminhos a seguir, na
formulação de questões que interessam aos envolvidos, favorecendo uma relação com o outro e uma descrição
adequada do coletivo (LATOUR, 2001; DESPRET,1999).
Tendo base o pensamento de Latour (2007), a metodologia da disciplina mencionada convidou seus educandos da
desatenção para a atenção, da semiconsciência para a apreciação consciente, convocando-os a serem afetados, num
engajamento ético-político, daí o objetivo de compartilhamento dessa pesquisa narrativa e interdisciplinar. Com a
proposta de experimentar o campo, a docente da disciplina convidou os corpos desejantes para viver uma aula pública
do movimento #UERJRESISTE. Como é de conhecimento amplo, a UERJ está vivenciando uma grande crise, sem
precedentes em sua história, estando a instituição sem repasse de verbas do Estado por meses sucessivos, gerando o
não pagamento dos salários de professores e servidores que lutam, resistem e militam no enfrentamento político da
situação.
Dessa forma, movimentos de pensar sobre onde e quando começa o campo, que elementos o compõem, como ele é
afetado por tudo que o rodeia, fazem parte de uma produção de conhecimento não colonizado (nem o conhecimento
e nem sua produção) pelos afetos biopolíticos que subjugam a vida a uma forma instituída de saber-poder. Essa
proposição nos fez questionar acerca da postura do pesquisador no campo e seus efeitos: compreendemos que a
nossa atuação interfere e reorganiza um campo, isto é, fabrica realidades. Tais proposições se mostram muito
interessantes para o trabalho de um pesquisador que, ao refletir sobre sua prática, se situa nessa dimensão da
responsabilidade por uma criação, por suas heranças e articulações com o mundo (VIEGAS & TSALLIS, 2011, p. 301).
Como recurso, utilizamos Diários de Campo e testes de torção do texto, construídos a várias mãos em meio às
interlocuções, os discentes tiveram a oportunidade de compor o movimento de luta e resistência. A experiência de
aula-laboratório e escrita-laboratório nos possibilitaram fazer um giro epistemológico a ponto de produzir
conhecimento e pesquisa dentro da Teoria Ator-Rede. Na nossa prática de escrita, o diário de campo possibilitou o
relato de diferentes versões (DESPRET, 2012) dos fatos vividos, performando as múltiplas realidades e multiplicando as
possibilidades de ver aos olhos de quem fosse ler nossos diários. Baseados na TAR, como atores humanos que
compõem o campo, nos despojamos da roupagem academicista e cientificista para produzir também com atores não-
humanos, uma escrita capaz de levar as águas ao transbordamento, com o máximo de rigor às nossas descrições.
Sabíamos que nossa escrita como laboratório não marcava um lugar neutro de pesquisadores, mas ao contrário, nos
possibilitava dizer de onde falávamos e qual posição política tomávamos nas questões sérias que a UERJ tem
vivenciado nos últimos meses.

1274
Em todo tempo de nossa escrita estivemos colados ao campo para, eticamente, sermos rigorosos na sua descrição. A
possibilidade de chegar no campo com as perguntas já prontas sobre os problemas vivenciados por nós na UERJ era o
mais provável, mas a partir da nossa proposta, do que chamamos aqui de saber-potência, fomos sendo conduzidos
pelos agenciamentos dos actantes no campo, abertos a aprender e cientes das linhas de força existente ali. Como
aponta Latour O texto, em nossa disciplina, não é uma história, não é uma bela história, ele é o equivalente funcional
de um laboratório. Ele é um local para tentativas, experimentos e simulações (LATOUR, 2012, p.216). Assim, dados os
questionamentos das proponentes do GT Trocas interdisciplinares em percursos metodológicos inventivos: pesquisa
narrativa e escrita acadêmica sobre os modos de pesquisar e narrar, sobre métodos de pesquisa e de escrita, a
experiência da disciplina mencionada tem em si particular contribuição. A professora-condutora dessa imersão nos
falava que ali produziríamos ciência lentamente e que a escrita narrativa é o nosso laboratório, trata-se do lugar onde
as coisas acontecem, onde os encontros inventivos são produzidos nas relações entre elementos humanos e não-
humanos. - todos atores nessa composição. Vivenciamos isso na prática e queremos compartilhar neste GT.

1275
Transferência textual: A produção teórica na psicologia
Autores: Arthur Brandolin de Souza Lemes, USP
E-mail dos autores: arthur.brandolin@gmail.com

Resumo: Quando desenvolvemos um trabalho teórico nos focamos em entender os autores e suas teorias e como
utilizá-los para nossa produção acadêmica. A intenção é fazer um esforço de leitura e compreensão para que, dessa
forma, possamos melhorar, discutir e ampliar a arcabouço teórico de determinada área.
Nesse contexto o presente trabalho pretende contribuir para que as questões de produção teórico-metodológicas
percebam outros elementos que circundam esse universo, e notando que o processo de leitura e escrita perpassa por
uma gama enorme de elementos que poderia ser melhor trabalhados.
Alguns autores como Fernando Gil (1985), Gananath Obeyesekere (1990), Leandro Anselmo Todesqui Tavares &
Francisco Hashimoto (2013), Isac Nikos Iribarry (2003), Alduísio de Souza (1998) discutem exatamente algumas dessas
questões que envolvem o processo de escrita de um texto, a maior parte deles mais especificamente no campo da
psicologia e na psicanálise.
Segundo Souza, Iribarry, Tavares & Hashimoto há um elemento em especial que deve ser sempre observado, a
questão da Transferência, conceito psicanalítico apresentado por Freud e posteriormente também bem explorado por
Lacan, segundo os autores primeiramente citados e alguns trabalhos no campo da etnopsicologia (Macedo 2015 e
Godoy 2015), a transferência não ocorreria somente na clínica psicanalítica como o próprio Freud apontou, ela
também ocorre em trabalhos de campo. Quando se inicia um trabalho de campo seja onde for você é visto,
reconhecido e alocado em algum lugar que pertence a esse local (como pesquisador, como amigo ou conhecido de
participantes, como desenvolvedor de um trabalho outro que aconteça nesse campo) por consequência o pesquisador
também coloca seus participantes em lugares específicos e esse conjunto transferencial modifica intimamente a
pesquisa, pois cada lugar receberá um tipo ou outro de informação.
Obeyesekere ainda vai mais longe e abarca a etnografia, mostrando que a uma grande transferência entre o trabalho
etnográfico e a visão do etnógrafo sobre seu próprio contexto social.
Contudo nosso foco são os textos, e para esse autores a transferência também ocorre nele, em dois momentos, o
primeiro quando se escreve um texto, o autor deixa sua transferência transbordar em palavras, o segundo quando o
leitor lê e interpreta aquele texto há a transferência entre texto e leitor, que modifica como as informações chegam
até ele e como são interpretadas.
Fernando Gil, grande estudioso das controvérsias acadêmicas, pontua que sem essa leitura interpretativa atenta core-
se o risco de se esgotar uma teoria ou uma controvérsia, o que segundo o autor é um erro, o que se esgota não são as
teorias, mas a capacidade criativa e interpretativa dos leitores.
A proposta deste trabalho é contribuir no processo de produção teórica nos campos da psicologia e da psicanálise
através das teorias dos autores citados. Desde o processo de leitura das teorias e da escrita dos textos há a
importância para se atentar que o texto também é um forma de campo de trabalho os textos nos dizem coisas
diferentes de acordo com o lugar transferencial estamos, bem como nós também vivemos esse lugar transferencial
quando escrevemos um texto.
Esses cuidados podem ajudar a englobar outros olhares e contribuir para produção teóricas mais inteligíveis e
inclusivas, não se fechando para leitores seletos de pequenas parcelas acadêmicas.

1276
Uma pesquisadora narrativa vivendo possibilidades criativas na escrita acadêmica
Autores: Viviane Cabral Bengezen, UFV
E-mail dos autores: vbengezen@gmail.com

Resumo: Este trabalho é parte da minha pesquisa de doutorado, cuja tese defendi em abril de 2017. Seguindo o
caminho teórico-metodológico da pesquisa narrativa conforme Clandinin e Connelly (2000, 2011, 2015), compus os
textos de campo em uma escola pública de Uberlândia, durante o ano letivo de 2014. Eu, pesquisadora e professora
de Inglês, e meus alunos do sexto ano – Everton, Kamilly Vitória, Manoela e Lowise – fomos os participantes de
pesquisa. Meu foco eram as histórias de autoria que vivemos naquela paisagem da escola. Meu objetivo, com esta
apresentação, é compartilhar e discutir o caminho de escrita que percorri como pesquisadora, em busca da minha
autoria, considerando múltiplas possibilidades de composição de sentidos. Na pesquisa narrativa, a narrativa é o
método e o fenômeno, portanto um dos desafios que enfrentei foi compreender a diferença entre análise narrativa e
análise de narrativas, e escrever minha tese narrativamente. Minha escrita buscava o pro&#769;prio processo da
composic&#807;a&#771;o de sentidos, ja&#769; que e&#769; pela narrativa que a ana&#769;lise dos meus textos de
campo se desdobrava. A forma da escrita esta&#769; intrinsecamente ligada a&#768;s possibilidades de
construc&#807;a&#771;o de sentidos, procurando envolver o leitor nas experie&#770;ncias vividas e narradas,
considerando que na&#771;o existe apenas uma forma u&#769;nica de conhecimento e, portanto, na&#771;o existe
apenas um modo de expressar esse conhecimento (ELY; VINZ; ANZUL; DOWNING, 2005). Outro desafio foi
compreender os compromissos epistemológicos e ontológicos que eu fazia enquanto pesquisadora. Na pesquisa
narrativa, o compromisso ontológico é fundamental ao trabalharmos de modo relacional com os participantes de
pesquisa. Como explicam Clandinin e Murphy (2009), a ontologia de Dewey, que e&#769; transacional, traz
implicac&#807;o&#771;es epistemolo&#769;gicas e difere a pesquisa narrativa de outras formas de pesquisa
qualitativa. Afirmar que o compromisso do pesquisador narrativo e&#769; ontolo&#769;gico esta&#769; relacionado
ao conceito de experie&#770;ncia de Dewey: a relac&#807;a&#771;o intri&#769;nseca entre o ser humano e o
ambiente. Nesse sentido, a pesquisa narrativa e&#769; uma relac&#807;a&#771;o entre o pesquisador e o
participante, que vivem, contam, recontam e revivem histo&#769;rias u&#769;nicas de suas vidas particulares.
Algumas indagações que me ajudam a analisar meu processo de escrita são: como foi o processo de produção dos
textos de campo e dos textos de pesquisa? Quais possibilidades de escrita criativa na divulgação do texto científico
foram encontradas? Teria sido possível desenvolver uma pesquisa narrativa e compor o texto de pesquisa sem buscar
diferentes formas de me expressar?
Como resultados de pesquisa, compus histórias de coprodução entre os participantes, incluindo eu, a pesquisadora, e
histórias de tentativas de autoria. Na transição dos textos de campo aos textos intermediários e aos textos de
pesquisa, o trabalho relacional entre os participantes permeou todo o processo, possibilitando destacar as
experiências vividas por nós, compondo sentidos em conjunto, considerando as perspectivas do outro e revendo meu
modo de estar no mundo. Em um mundo que valida certas práticas de autoria e que geralmente desvaloriza as vozes
das minorias, minha tese buscou desafiar os modos tradicionais de escrita, validando as histórias de autoria vividas por
alunos do sexto ano da escola pública, brasileiros, sendo autores em língua inglesa.

1277
GT 59 | Violação de direitos na área de gênero e raça: analisando e diagnosticando o presente

Coordenadoras: Cássia Maria Rosato, UFPE | Diogivânia Maria da Silva, Estácio de Sá | Maria Conceição Costa, UCP

O presente Grupo de Trabalho situa-se no eixo temático 9 e pretende problematizar a relação entre ética, violências e
(in)justiça dando ênfase, especificamente, às violações de gênero e raça, no campo dos direitos humanos.
Podemos compreender os direitos humanos como o conjunto de conquistas resultante de uma luta coletiva de
diversos atores sociais por uma cultura de respeito aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, no
mundo ocidental. Entende-se aqui, que os principais fundamentos dos direitos humanos dizem respeito a&#768;
igualdade e a&#768; dignidade humana, a partir de uma perspectiva sociohistórica, na&#771;o naturalista e enquanto
uma construção em determinado período da história mundial, na&#771;o sendo atributos naturais e inerentes ao ser
humano (ROSATO, 2011). Nesse sentido, os direitos humanos se constituem como um leque de direitos extremamente
amplo e diversificado, não sendo possível, portanto, abrangê-los em sua totalidade, nesse GT. Diante dessa realidade,
propomos discutir, especialmente, as violências e as violações de gênero e raça.
Pensando sobre o lugar dos direitos humanos na contemporaneidade, tomamos como referência uma reflexão de
Mo dai ià àaoàafi a à ue,àapesa àdosàa a ços,à ig o a-se o fato de que o único instrumento capaz de medir o
nível de civilidade alcançado por uma sociedade – e seu progressivo distanciamento da barbárie – localiza-se
exatamente na capacidade que esta tem de fazer com que os seus concidadãos sejam protegidos pelo generoso
guarda- hu aàdosàdi eitosàhu a o à p.à .
Significa dizer que, independente do país ou do contexto sociohistórico vivido, podemos perceber que os direitos
humanos funcionam como termômetro ou bússola norteadora que indica o grau de civilidade de uma sociedade. Isso
na&#771;o se refere apenas ao respeito formal, pois importantes textos foram assinados pelo Brasil, sendo referências
no assunto. Trata-se da construção de uma cultura que respeite os direitos humanos efetivamente para todas as
pessoas.
Assim, além dos direitos humanos representarem uma referência em relação ao progresso histórico de determinada
sociedade, também se faz necessário situar que o campo dos direitos é necessariamente uma arena política como bem
si alizaàBo ioà :à Oàp o le aàfu da e talàe à elaç oàaosàdi eitosàdosàho e s,àhoje,à oà àta toàoàdeàjustifi -
los, mas o de protegê-los. Trata-se deàu àp o le aà oàfilos fi o,à asàpolíti o à p.à .
A partir dessa perspectiva ancorada nos direitos humanos, pretendemos adensar as discussões epistêmicas e da práxis
à respeito das violências e violações de gênero e raça, na atual conjuntura brasileira. Considerando um esforço
pragmático de interseccionalizar as dimensões entre direitos humanos, gênero e raça, refletindo-os, não como
arcabouços que se pense separadamente, mas ao contrário, propondo a construção de conexão entre eles.
De tal modo tensionamos, no campo dos direitos humanos, as categorias políticas de raça e gênero como centrais a
essa discussão. Caldwell (2000) argumenta a favor de que as pesquisas e reflexões realizadas no Brasil sobre mulheres
quase nunca referenciaram a questão da raça até a década de 1970. E seguindo esse raciocínio, a autora aponta ainda,
que a articulação entre gênero e raça não esteve presente nos estudos dentro ou fora da academia.
Se formos associar a isso, as condições da violência e violações a que estão submetidas aquelas alçadas na categoria
gênero no termo mulher (sejam cis, trans, intersex, etc, como categorias abordadas hoje), podemos encontrar ainda
que a violência contra as mulheres combinaria outros marcadores sociais, além das desigualdades relacionadas aos
papéis atribuídos ao gênero masculino e feminino. Isto, considerando os dados alarmantes de uma violência que
cresce, ao menos no campo das denúncias.
Porém, não se pode esquecer que quando agregamos as condições de raça, etnia e classe como elementos
importantes também à compreensão do fenômeno da violência contra a mulher, tais indicadores ou marcadores
sociais, apontando a perspectiva da mulher negra, encontraremos um contexto de desigualdades em que essas
estarão mais sujeitas às violências e às violações, comparando-as às mulheres brancas. Pensando ainda que tais
desigualdades produzem violências físicas e simbólicas de várias ordens, consideramos as assimetrias sociais no
mercado de trabalho, nos níveis salariais, na escolaridade, na representação social da figura como sujeito ou
objetificada na coisificação, na hipersexualização, destruição da autoimagem, negação da identidade. A isso, Bairro
(socióloga e ex-ministra da Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial-Seppir (2015) trará, além de uma
questão binária de raça e gênero, a ampliação para as relações sociais e de poder, as quais podemos resumir aqui
o oà elaç esàdeà lasse.àPa aàisso,àdi ,àpo ta to,à ueà aà uest oàdeà lasseà u aàfoià uestio adaà o oàu àp oduto à
de hierarquia no B asil,àoà ueà à uestio adoà àaà apa idadeàdeà a is oàeàse is oàest utu a e àaàso iedadeà asilei a à
(p. 03).
1278
Como as violências que acometem as mulheres são produtos de combinações de vários marcadores sociais, ficando
para além das desigualdades associadas aos papéis atribuídos ao gênero masculino e feminino, apontamos que as
pesquisas de Psicologia Social precisam se ater também aos estudos que busquem a interseccionalidade para tais
marcadores (CRENSHAW, 2002).
Conforme López (2013, p. 44) a interseccionalidade resulta num complexo entrelaçamento entre diferentes
est utu as,àu aà ezà ueà e ela:à oà ueà oàseà à ua doà atego iasà o oàg e oàeà açaàs oà o eituadasàdeà a ei aà
separada. Como perspectiva analítica, a interseccionalidade permite uma conceituação dos problemas sociais,
capturando as consequências estruturais e dinâmicas das intersecções complexas entre dois ou mais eixos de
su o di aç o,à ueàseàe t e uza àeàseàpote ializa à LÓPE),à ,àp.à .
Concordamos ainda que pode ocorrer um perigo de, no encontro e reconhecimento das múltiplas opressões, cair-se
no erro das universalizações e generalizações que condensam e cristalizam narrativas e modos de ser-no-mundo
singulares, mesmo que se compartilhe de elementos semelhantes. Assim a interseccionalidade se ocupa de refletir
criticamente sobre os níveis complexos de funcionamento, desenvolvimento e subjetivação que incide sobre a vida
das mulheres.
Não se pode portanto desagregar e separar elementos constitutivos das violações cometidas. Assim, entendemos que
estudar o tema das violações para o enfrentamento da violência contra a mulher no campo das desigualdades requer
que enfrentemos o tema, no Brasil, relacionando gênero e raça como elementos fundamentais para a compreensão e
o enfrentamento do processo de violação dos direitos humanos das mulheres, tanto no âmbito doméstico como
sociais, como apontam estudos do mapa da violência realizado pela Onu Mulher (WAISELFISZ, 2015) sobre a situação
no Brasil. Tais estudos apontaram um crescimento de 54% nos homicídios contras as mulheres negras, com uma
queda em torno de 10% nas mortes para as mulheres brancas, se compararmos o período de 10 anos ( 2003 a 2013).
Sendo assim Propomos uma discussão que articule violações de direitos na área de gênero e raça, compreendendo-as
como categorias de análise relevantes no contexto atual de retrocessos no campo dos direitos humanos. De modo
mais específico, pretendemos possibilitar um espaço de debate a respeito de diferentes trabalhos e pesquisas que
problematizem violações de direitos, acesso à justiça e questões éticas, envolvendo gênero e raça. Também
almejamos identificar diferentes formas de resistência e enfrentamento dessa problemática, tanto do ponto de vista
teórico-metodológico, como no que diz respeito à ação profissional da Psicologia Social nas suas diversas
possi ilidadesàdeài te e ç o:àe e uç oàdeàpolíti asàpú li as,àONG s,à o i e tosàso iais,àf u s,à edes,àet à.
Co side a doàoàte aàdoàe o t oà De o a iaàpa ti ipati a,àEstadoàeàLai idade:àPsi ologia Social e enfrentamentos
e à te posà deà e eç o ,à oà p ese teà GTà e te deà ueà p o le atiza à iol iasà eà iolaç esà deà di eitosà aà eaà deà
gênero e raça é uma ferramenta de potência no enfrentamento dos retrocessos que têm ocorrido no campo dos
direitos humanos. Nesse sentido, avaliamos que essa proposta se alinha ao tema do encontro, na medida em que é
preciso retomar processos mais democráticos para combater a desconstrução que tem havido em relação aos direitos
já conquistados. Ao mesmo tempo, identificamos como o Estado e a questão da laicidade são elementos fundamentais
nesse debate, seja o Estado como um dos principais violadores de direitos, seja a falta de laicidade como fator
presente em inúmeras violações de gênero e raça. Sendo assim, concluímos que o GT guarda profunda relação com o
tema do encontro.
áà elaç oà o àoàei oàte ti oà :à Éti a,à iol iasàeàjustiçaàe àte posàdeà et o essoà u dialàeà a io alàdosàdi eitosà
hu a os à àdi eta,àte doàe à istaà ueàoàGTàseàp op eàaàdis uti àosà et o essosào o idos na área de gênero e raça,
assim como identificar estratégias de resistências e linhas de fuga diante do desmonte de diversas políticas públicas e
direitos já conquistados. Um exemplo recente que pode ilustrar essa relação é o avanço da PEC 29/2015, no Senado,
ueà isaà alte a à aà Co stituiç oà Fede al,à a es e ta doà oà a t.à º,à aà e pli itaç oà i e uí o aà daà i iola ilidadeà doà
di eitoà à ida,à desdeà aà o epç o .à E à te osà p ti os,à issoà sig ifi aà p oi i à oà a o toà e à asosà j à p e istosà
legalmente, evidenciando uma situação de grave retrocesso no campo dos direitos reprodutivos das mulheres
brasileiras.
Para finalizar a proposta, iremos acolher trabalhos e pesquisas que discutam violências e violações de gênero e raça,
assim como produções que apresentem estratégias de resistência e problematizem questões nessa seara específica.
Também convidamos e incentivamos propostas de trabalhos, reflexões teórico-metodológicas e relatos de
experiências da Psicologia Social que dialoguem com os aspectos éticos e de acesso à (in)justiça que estão na base
dessas violações. Avaliamos que esse espaço de discussão irá possibilitar a identificação de práticas inovadoras e
iniciativas potentes, contribuindo diretamente para a ação política e profissional das pessoas envolvidas.

1279
Referências:
BAIRRO, Luiza. Dossiê Violência contra as Mulheres Negras - Violência e Racismo. Organização Agência (Instituto)
Patrícia Galvão, São Paulo/SP: 205.
Dossiê Violências /Violência e Racismo, 2015.
http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/violencia-e-racismo/
Acesso: 25/05/2017
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
CALDWELL, Kia Lilly. Fronteiras da diferença: raça e mulher no Brasil. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v.8,
n.2, p. 91-108, 2000.
CRENSHAW, Kimberle. A intersecionalidade da discriminação de raça e gênero. 2002. Disponível em:
http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf. Acesso em
15&#8725;05&#8725;2017
DOSSIÊ MULHERES NEGRAS: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil. Organizadoras: Mariana
Mazzini Marcondes et al. Brasília: Ipea,2013.
ÍNDICE GLOBAL DE DESIGUALDADE DE GÊNERO/Fórum Econômico Mundial, Genebra: Suíça, 2016.
LÓPEZ, Cecilia, L. A mobilização política das mulheres negras no Uruguai. Considerações sobre interseccionalidade de
raça, gênero e sexualidade. Revista Latinoamericana. n. 14, p. 40-65, Agosto, 2013.
MONDAINI, Marco. Direitos Humanos. São Paulo: Contexto, 2006.
ROSATO, Cássia Maria. Direitos Humanos para quem? Uma análise de discursos jornalísticos em Pernambuco e São
Paulo (1987 e 1997). Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Psicologia). Recife: Universidade
Federal de Pernambuco, 2011.
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil. Faculdade Latino-Americana de
Ciências Sociais/ Flacso (OPAS-OMS, ONU Mulheres, SPM/2015) Rio de Janeiro/(RJ: 2015. Disponível em
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf Acesso: 13 de maio de 2017.

1280
"QUERO LANÇAR UM GRITO DESUMANO": Vivências de travestis e transexuais encarceradas em Caruaru-PE
Autores: José Wellington de Oliveira, UNIFAVIP/DEVRY
E-mail dos autores: wellingtonpsi83@gmail.com

Resumo: O Brasil ocupa o primeiro lugar dentre os países que mais mata travestis e transexuais no mundo, somado a
isso o índice de mortalidade desta população pela ingestão de hormônios e/ou silicone industrial, consequência da
ineficiência das políticas de saúde direcionadas as mesmas, é gritante, o que culmina numa expectativa de vida de
apenas 35 anos. Quando realizamos recortes a partir de outras óticas, agregando a estas os estigmas do cárcere,
percebemos que a anulação da subjetividade, assim como a violação dos direitos se ampliam. Travestis e/ou mulheres
transexuais sentenciadas ou a espera de julgamento em regime fechado, são direcionadas as penitenciárias
masculinas, havendo a completa anulação de sua identidade. Este trabalho tem como objetivo proporcionar reflexões
acerca da vivência de travestis e/ou mulheres transexuais no contexto de cárcere, partindo de um recorte
populacional da cidade de Caruaru-PE. Diz respeito a uma pesquisa em andamento e vislumbra a identificação das
negligências, violências e violações, vivenciadas por estas pessoas encarceradas em instituições que não
correspondem a sua identidade de gênero. A construção teórica apresentada neste trabalho, tem como finalidade a
discussão da identidade travesti e/ou transexual, no contexto do cárcere. Levando-se em conta a interferência das
construções sociais acerca do gênero e de todas as nuances decorrentes de suas variações; assim como realizando
análise do sistema penitenciário brasileiro, que apresenta defasagens em diversos contextos, sendo possível
vislumbrar a necessidade de um olhar diferenciado para a parcela de travestis e mulheres transexuais aprisionadas e
invisibilisadas pelas políticas criminais brasileiras. Esta construção traz também, questionamentos acerca do papel da
psicologia no acesso e manutenção da qualidade de vida de tal grupo. O arcabouço teórico da psicologia no que
concerne as identidades de gênero, diferentes da cisgênera, ainda é bastante limitado, em intersecção com o cárcere
observamos lacunas ainda mais emergentes, isso deve-se a forma como a psicologia se fundou, em muitos momentos
distante das demandas sociais, e ao conservadorismo social que acarretou e acarreta na invisibilidade de pessoas com
características divergentes das ditas normais. Tomando pois, o construto científico e social sobre a ideia de gênero,
assim como o crescente espaço conquistado pelo movimento LGBT brasileiro, nascido na década de 60 ;tendo como
demandas iniciais aquelas voltadas aos homens gays, mas ganhando amplitude e atingindo as diversas representações,
no campo da sexualidade, assim como das identidades; vemos na última década, a expansão da luta pela
representatividade identitária de travestis e mulheres transexuais, fato esse que chega as academias e exige delas
direcionamentos e apontamentos efetivos. Num país onde a expectativa de vida de uma população é de apenas 35
anos, onde não há acesso à educação, saúde e segurança de qualidade e onde o espaço científico não arrisca se
enveredar, algo precisa ser mudado. É preciso olhar e enxergar as pessoas transexuais e travestis a partir de óticas,
que não aquelas nas quais estão constituídos os saberes científicos do mundo ocidental. É preciso localizar os saberes
em campos outrora negados e subjugados, é preciso (trans)formar a realidade de centenas de travestis e mulheres
transexuais que vivem no cárcere a maximização das violações sofridas fora dele.

1281
A Terceira Margem do Rio: os Direitos Humanos das Pessoas Trans
Autores: Rubens Gonzaga Modesto, UFOP; Marco Antonio Torres, UFOP
E-mail dos autores: rubensmodesto2006@yahoo.com.br,torresgerais@gmail.com

Resumo: Partindo da definição de direitos humanos, facilmente podemos enxergar que travestis e transexuais
sujeitos que se reconhecem pertencentes a um gênero discordante do sexo biológico com o qual nasceram têm seus
direitos constantemente violados. A sociedade, ao conceber essas categorias identitárias como não naturais, reafirma
um processo de discriminação e exclusão, que leva à negação de direitos individuais, incluindo nesse rol, os direitos
fundamentais estabelecidos no texto da Carta Magna vigente. Nesse escopo, emergem a supressão e negação dos
direitos de transexuais e travestis, dada a ausência de políticas públicas direcionadas a esses sujeitos. No Brasil, as
pessoas trans sofrem diversas formas de preconceito, como por exemplo a dificuldade de acesso à direitos básicos
como educação e acompanhamento médico. Frequentemente, a mídia tem reportado notícias que envolvam algum
tipo de preconceito contra travestis e transexuais. São veiculadas matérias de agressões verbais, físicas e homicídios
contra esses sujeitos nos mais diversos espaços sociais. Esses sujeitos acabam por aceitar e internalizar esse estigma
por estarem sujeitas a um aparato simbólico opressivo que legitima tais desigualdades, o que eleva os índices de
violência sofridas devido à identidade de gênero e o baixo índice de providências que, de fato, são tomadas com
relação a esses atos. As pessoas trans estão últimas até na luta pelos seus direitos. Diferentemente de gays e lésbicas,
que tem conseguido, nos últimos tempos, começar a vencer preconceitos, ganhar empatia de boa parte da população
e conquistar direitos que antes lhes eram negados, elas são discriminadas inclusive na própria comunidade da
diversidade sexual e suas demandas mais básicas são ignoradas pela maioria dos políticos e dos movimentos sociais.
Esse preconceito contra travestis e transexuais o qual denominamos transfobia pode ser compreendido como um
conjunto de fatores que agrega violação de direitos humanos e fundamentais (a proibição do uso do nome social e da
possibilidade de mudança no registro), exclusão estrutural (acesso à educação, ao mercado de trabalho qualificado e
ao uso do banheiro correspondente ao gênero). Nesse escopo, as bandeiras de luta das pessoas trans orbitam,
principalmente, o combate à transfobia, o direito do uso do nome social e mudança dos registro, o direito à mudança
de seus corpos e talvez, de forma secundária, o acesso à educação e de ocupação de espaços no mercado formal.
Assim, o presente artigo busca articular a discussão dos direitos humanos das pessoas trans com os textos Para uma
concepção intercultural dos Direitos Humanos , de autoria de Boaventura de Sousa Santos e, Vida Precária , de
Judith Butler, por meio de revisão bibliográfica. Enquanto o texto de Boaventura propõe uma nova perspectiva de
direitos humanos, posicionando-se de forma contrária à perspectiva dominante contemporânea: uma perspectiva de
direitos humanos universais, marcados pelo liberalismo, o texto de Butler evoca a concepção de rosto de Emmanuel
Levinas, onde o rosto é visto como potência de contato com a alteridade, em uma dimensão ética que requer a escuta
da voz e da fala do outro. Lévinas afirma que o rosto não é visto. No entanto, ele fala. Assim, ele pode nos colocar
diante de um outro que nos interpela, que sofre, que deseja e que nos convida a nos afastarmos de nós mesmos e a
percorrer os espaços vazios que, ao mesmo tempo, nos aproximam e nos distanciam da alteridade. A articulação de
ambos os textos, associados a dados da transfobia no Brasil divulgados pela RedeTrans Brasil permitiu inferir que, na
sociedade brasileira, pessoas trans são vítimas da transfobia, de uma sociedade desigual e preconceituosa, e da
omissão do poder público. Que os/as transformou em rostos que não foram ouvidos, onde não se reconheceu um ser
humano. Homens e mulheres transexuais, e travestis, que não foram entendidos para além dos estereótipos, cujas
histórias e ideias não foram ouvidas e que foram impedidos de participar plenamente, como seres humanos com suas
particularidades, da vida social brasileira.

1282
AGRESSORES: relato de experiência sobre o acompanhamento de um grupo de homens envolvidos em situações de
violência doméstica
Autores: Diego Solci Toloy, UNIFACS/UNIME
E-mail dos autores: ditoloy@hotmail.com

Resumo:
O presente trabalho consiste em um relato de experiência de atividades desenvolvidas em uma Extensão Universitária
voltada para o combate à violência de gênero, particularmente, o atendimento a grupo de homens envolvidos em
situação de violência doméstica.
Ao todo, foram oferecidos dez encontros semanais de uma hora e trinta minutos entre os dias 26 de abril e 28 de
junho, contando com cinco participantes encaminhados pela Primeira Vara de Violência Doméstica de Salvador, um
extensionista e o professor responsável.
Levando em consideração que em uma atividade como esta não é possível desconsiderar o caráter terapêutico e que,
segundo o que se convenciona pensar filosoficamente e eticamente em Psicologia, todo encontro terapêutico deve ser
baseado no desejo do sujeito de se submeter ao processo em questão (no caso os participantes foram encaminhados
judicialmente), optou-se pela adoção metodológica do conceito de grupo-sujeito de Felix Guattari, o que implica que
os participantes devem dispor de liberdade para gerir o grupo e produzir, eles mesmos, os temas e sentidos
norteadores dos encontros. Uma outra preocupação na concepção do grupo foi a premissa de não patologizar a
conduta dos sujeitos, evitando, assim, justificativas biologizantes para o comportamento agressivos dos envolvidos.
Para tanto, nos valemos de uma concepção de sujeito despossuído de uma natureza ou essência, mas sim constituído
através de linhas de força ligadas a processos históricos (discursos, leis, práticas, disciplinas, arquiteturas) que o
atravessam e constituem os processos pelos quais subjetivam o mundo. No caso em questão, nos interessava como a
constituição de gênero oriunda de discursos pedagógicos, médicos, legais, psicológicos, desenvolvimentistas, dentre
outros, se ligavam a sua história pessoal e, de certa forma, se encontravam imbrincados nos atos de violência
praticados por eles.
Sendo assim, se o grupo sujeito foi o recurso metodológico que possibilitou o agenciamento dos participantes,
permitindo a produção de uma enunciação coletiva e processos de singularização, a utilização da cartografia nos
possibilitou compreender as linhas que atravessavam os sujeitos na constituição de si e de seus modos de
subjetivação, bem como acompanhar, no desenlace das micropolíticas estabelecidas, como linhas de fuga puderam
ser traçadas, como investimentos em outras formas de pensar a si, aos outros ou as experiências vivenciadas se
processaram abrindo possibilidades para devires outros.
Através dos encontros grupais, os participantes puderam compartilhar suas histórias e os motivos que os levaram a se
envolver em atos de violência e correlativa responsabilização judicial. Apesar de inicialmente resistentes, uma vez
convidados a expor o momento em que estavam vivendo, logo uma cadeia de eventos irrompia em narrativas que, ao
circular o espaço grupal, afetava a todos os participantes.
Observou-se que, nos primeiros encontros, os participantes se reconheciam no lugar de vítimas de mulheres
oportunistas ou desrespeitosas, de uma justiça falha e de uma lei que apenas servia para privilegiar a mulher.
Entretanto, na medida em que as narrativas ganhavam profundidade e as intervenções do grupo maior complexidade,
expressões oriundas de construções de gênero baseadas em uma cultura patriarcal e marcada pela assimetria de
poder na composição familiar puderam ser reconhecidas e problematizadas, momento em que o grupo deixou de se
reconhecer apenas como vítima, mas também responsáveis pelos acontecimentos.
Ao longo dos encontros, passou-se a trabalhar ativamente as relações familiares conflituosas, refletindo, sobretudo,
sobre a própria ideia de família e papeis historicamente e socialmente atribuídos aos cônjuges, momento em que
pudemos perceber e trabalhar como as histórias de violência apresentadas pelos homens guardavam grandes
semelhanças com suas próprias histórias em suas famílias de origem (como seus pais tratavam suas mães),

1283
possibilitando que o grupo se dedicasse a elaboração de tais conflitos e se implicasse na construção de novas formas
de se pensar em uma relação conjugal.
A partir do percurso traçado pelo grupo, por fim, pode-se refletir nos últimos encontros: a responsabilização dos
mesmos nos eventos vivenciados com vistas a vislumbrar modos alternativos de resolução de conflitos que não o uso
da violência; igualdade de gênero; a importância da Lei Maria da Penha, violência doméstica e feminicídio (com
apresentação de dados do mapa da violência 2016).
Apesar de não dispormos de instrumentos capazes de determinar se houve ou não a superação de concepções
machistas nos participantes do grupo ou determinar se os mesmos voltarão ou não a se envolver em eventos ligados a
violência de gênero ou doméstica (principalmente por se tratar de um grupo de apoio com características
terapêuticas), pôde-se verificar o engajamento dos mesmos nos encontros, a participação ativa nas narrativas que
circularam o espaço grupal e a implicação de todos na problematização da violência de gênero, na compreensão das
transformações do espaço familiar, do empoderamento legítimo e necessário da mulher em sociedade e da
responsabilidade de todos no combate à violência e ao feminicídio.

1284
Atendimento Psicológico no CREAS aos Meninos Vítimas de Violência Sexual
Autores: Adriane Andrade Costa, UFAM; Adriana Rosmaninho Caldeira de Oliveira, UFAM
E-mail dos autores: adrianepsi.costa@gmail.com,arcaldeirao@gmail.com

Resumo: A violência sexual é considerada na atualidade um problema de saúde pública. A violência sexual contra
crianças e adolescentes pode ser definida como toda ação cujo agressor esteja em estágio de desenvolvimento
psicossocial mais adiantado que a vítima, onde a criança e o adolescente são usados pelo agressor a fim de obter
satisfação sexual. Apesar do grande volume de publicações sobre esta temática, poucas relatam a violência sexual
praticada contra meninos, seus possíveis desdobramentos e consequências psicológicas, sociais, culturais e familiares.
Dados do Disque Direitos Humanos, do primeiro semestre de 2015 informam que das denúncias recebidas sobre
violência sexual contra crianças e adolescentes, 45% das vitímas eram do sexo feminino, 39% do sexo masculino e 16%
das denúncias não tiveram o sexo da vítima informado. Estimativas indicam que uma a cada quatro meninas e um a
cada seis meninos experimentaram alguma forma de violência sexual na infância ou na adolescência (Hohendorff apud
Sanderson, 2005).
A concretização da denúncia é algo complexo que deve ser entendido numa compreenção histórico-cultural, em que a
maioria dos casos, principalmente de violência contra meninos, ou não são denunciados ou são sub-notificados. Uma
leitura sobre a naturalização da violência em nossa sociedade ao observar o fenômeno do abuso e exploração sexual é
feito por Faleiros & Campos (2000) e que permanecem presentes na cultura, no imaginário, nas normas e no processo
civilizatório como concepções cristilizadas. Para Freire e Alberto (2013) a concretização ou não da denúncia permeia
conceitos naturalizados na sociedade brasileira diante da complexidade da violência sexual. Essas concepções
cristalizadas ou a falta de orientação da população sobre o enfrentamento à violência sexual através das políticas
públicas é que muitas vezes levam a não efetivação da denúncia ou sua sub-notificação.
Um fator importante que diferencia as consequências entre os casos de violência sexual entre meninos e meninas é a
preocupação quanto à identidade sexual. A violência pode levar os meninos a sentirem-se confusos quanto a sua
sexualidade e muitas vezes temem a homossexualidae tendo em vista a ocorrência do episódio (na maioria das vezes)
comumente acontecer numa relação homossexual (entre um homem e um menino). Esse conflito sobre a orientação
sexual pode ser exarcebado pelas reações familiares ao levantar suposições ou insinuações quanto ao comportamento
da vítima, principalmente quando ocorre demora em revelar a violência.
O ECA (BRASIL, 1990) em seu artigo 88 ao falar sobre as diretrizes da política de atendimento preconiza que crianças e
adolescentes vítimas de violência sexual recebam atendimento especializado. Este atendimento especializado é
ofertado nos Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS). O CREAS é definido como um serviço
que atende indivíduos e suas famílias em risco ou violações de direitos, ofertando atendimento e atuando no
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes visando à proteção e à garantia integral de direitos
da população infanto-juvenil (BRASIL, 2011).
Com o intuito de conhecer as publicações referentes ao atendimento de meninos no Centro de Referência
Especializado de Assistência Social - CREAS vítimas de violência sexual foi escolhida a metodologia de revisão de
literatura, onde três descritores orientaram as buscas nas bases de dados; estas foram escolhidas pela relevância que
possuem na área da psicologia e pelo volume de publicações que dispõem. A busca nos periódicos teve como
limitadores publicações em língua portuguesa a partir de 2001, que foi o ano de criação do Programa Sentinela que
originou o CREAS. Foi realizado um enfoque específico à atuação do psicólogo frente a esta demanda, destacando as
políticas de atendimento e acompanhamento para este tipo de violência dentro do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS).
Diante da escassez de estudos nacionais sobre a violência sexual contra meninos, a atuação profissional torna-se um
grande desafio uma vez que o referencial teórico-prático é quase inexistente. Isso, associado ao fato de que o
atendimento preconizado no Sistema Único de Assistência Social - SUAS e especificamente no CREAS não privilegiam
abordagens diferenciadas para meninos e meninas vítimas de violência sexual
1285
Freire e Alberto (2013) fazem uma reflexão importante ao apontar a falta de capacitação especializada dos
profissionais de psicologia que atuam no CREAS e a prevalência do modelo clínico para a atuação do profissional
nestes espaços. Ocorre que este modelo clínico não prepara o psicólogo para trabalhar nas políticas públicas, não
fornece o exercício de uma reflexão para uma atuação política e ativa na comunidade e em relação aos marcos lógicos
e legais. Não o instrumentaliza para compreender o contexto sócio-cultural no qual a vítima e sua família estão
inseridas e qual a leitura dessa família sobre a violência e a importância de um acompanhamento ante esta violência .

1286
Desconstruindo relacionamentos abusivos: um olhar crítico acerca da sociedade patriarcal
Autores: Flávia Ávila Moraes, UFG; Daniela Germania Martins, UFG; Fabiana Jordão Martinez, UFG; Fernando Cesar
Paulino-Pereira, UFG
E-mail dos autores:
flaviaavilamoraes@gmail.com,danielamartins25@hotmail.com,fabiana_jordao@yahoo.com.br,epifania.cps@gmail.co
m

Resumo: Na contemporaneidade a questão dos relacionamentos abusivos, intrinsecamente associada às questões de


gênero, vem ganhando centralidade nas discussões, uma vez que grande parte dos feminicídios decorrem de
relacionamentos desta natureza (WHO, 2013 apud IPEA, 2013, p.1). A incidência de violências voltada às mulheres nas
relações heteroafetivas e o alto índice dessas agressões nos despertam o questionamento acerca da perpetuação
dessa cultura violenta, assim como a indagação de como a psicologia poderia contribuir com medidas para corroborar
com a diminuição desses números.
Pretende-se através deste resumo compreender os fenômenos que favorecem a manutenção de padrões abusivos,
visando à desconstrução dos estereótipos de gênero, de forma que as vítimas consigam identificar os abusos como
algo não naturalizado, e elaborarem possibilidades futuras.
O presente resumo que diz sobre as diferentes violências que acometem as mulheres se relaciona ao grupo de
trabalho Violação de direitos na área de gênero e raça: analisando e diagnosticando o presente, uma vez que essas
agressões representam uma violação aos direitos previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Artigo I: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem
agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade (ONU, 1948, s/p).
Apesar deste documento ter sido criado em 1948, percebemos que as atitudes que violam suas prerrogativas ainda se
fazem presentes, como comprova a pesquisa realizada pelo IPEA (2013), a qual estima que entre 2009 e 2011 o Brasil
registrou 16,9 mil feminicídios. Tentando compreender o porquê da subordinação feminina, Mackinnon (2013) aponta
que no pensamento político ocidental a supremacia masculina interfere nas reproduções de papéis de gênero,
cristalizando-os. Nesta ótica, o homem assume a posição de conhecedor que transcende a realidade e a mulher é
transformada em objeto, como algo a ser conhecido, ou seja, esta é anulada como sujeito.
Segundo as autoras Santos e Izumino (2005), quando utilizamos o patriarcado como única explicação para a violência
contra as mulheres, isso as coloca em uma posição de não movimento:
O discurso vitimista não só limita a análise da dinâmica desse tipo de violência como também não oferece uma
alternativa para a mulher (SANTOS et al., 2005, p.8).
Em consonância à não rigidez de papéis, Ciampa (1987) propõe o estudo da identidade de acordo com a dialética
destes papéis, caracterizando a identidade como processo de constante metamorfose. Nesta perspectiva, Heller
(1985) afirma que as formas da vida cotidiana não devem se cristalizar, devendo proporcionar ao indivíduo uma
margem de movimento.
A reflexão acerca das práticas abusivas permite verificar que estas estão interligadas a ideologias de gênero nas quais
os indivíduos tendem a repetir seus papéis. Neste sentido, Paulino-Pereira (2014) elucida que estes papéis são
desempenhados pelo indivíduo segundo uma normatização social prévia, que visa assegurar a conservação das
relações sociais que são fundamentais para a continuidade das relações de produção. Nota-se que a ideologia de
dominação-subordinação é reproduzida de forma alienada, contudo, através da reflexão acerca dos papéis os
indivíduos podem alcançar a emancipação e constituir, segundo Ciampa (2002), uma identidade política, de forma a
questionar a ordem sistêmica e impedir que esta colonize o mundo da vida.
Para a realização deste estudo foi utilizado o método de pesquisa qualitativa através da leitura de teóricas feministas,
assim como pesquisadores da Psicologia social e Ciências sociais. Visando ir além, explorou-se estatísticas acerca da
violência contra a mulher, bem como resoluções que visam resguardar seus direitos.

1287
Obtivemos como resultado que a temática Relacionamentos Abusivos está também ligada a conceitos da ideologia
patriarcal a qual anuncia a concepção de dominação e submissão, bem como aos processos dinâmicos de socialização
humana.
Consideramos que o relacionamento abusivo interfere frontalmente nos modos de convivência dos sujeitos e na
degradação das subjetividades, principalmente das vítimas, por não conseguirem classificar o relacionamento como
um abuso por envolver fatores emocionais e por confrontar a própria idealização que tem do parceiro.
Conclusivamente, constatamos que há poucos espaços e discussões que visem à reelaboração acerca das concepções
de relações de gênero. Cabe a nós, indivíduos em busca da emancipação, lutar pela democracia de direitos,
vislumbrando e criando espaços que proporcionem processos de reflexão, para que assim possamos transcender a
categoria do conformismo social, pensando em ações que possibilitem uma sociedade que propague e efetive a
universalidade de direitos.
É necessário que a sociedade se mobilize frente aos estudos que estão sendo feitos, de forma a propagar os direitos
previstos em lei. Concomitantemente, mostra-se urgente que a coletividade se configure como um espaço de conforto
às vítimas, não culpabilizando-as por estarem diante de um relacionamento que, mesmo abusivo, não conseguem sair.
Somente desta maneira, conseguiremos empoderar estas mulheres e diminuir os alarmantes dados que nos são
apresentados.

1288
Entre saúde e segurança pública: homens marcados pela violência nos serviços de emergências de saúde
Autores: Helen Barbosa dos Santos, UFRGS; Henrique Caetano Nardi, UFRGS
E-mail dos autores: helenpsi@yahoo.com.br,hcnardi@gmail.com

Resumo: O presente trabalho é parte integrante de pesquisa doutoral que tem como questão central: Considerando a
interface entre a atenção à saúde e a segurança pública, como opera o fazer viver e deixar morrer aos homens
marcados pela violência nos serviços de emergência de saúde? Entende-se o fazer viver e deixar morrer a outras
formas de gestão da população, as quais Michel Foucault (2008) designa como própria do biopoder, operador
conceitual que guiará a análise da problemática social. Exploraremos também as configurações do poder soberano de
fazer morrer e deixar viver , como ainda concomitantemente operacionalizadas com outras lógicas de poder, tendo
em vista que as causas externas são as principais responsáveis pelo adoecimento e pela morte na população masculina
brasileira jovem pobre e negra, o que nos leva em direção a analisar o caráter interseccional que o conceito de
masculinidades nos provoca. Ao compreender o diagrama de forças implicado na produção de masculinidades
criminalizadas, buscamos entender que saúde é possível para os homens que chegam aos espaços das emergências de
saúde por causas associadas à violência urbana. A construção desta pesquisa parte de ferramentas teóricas e
metodológicas de autores/as da Psicologia Social na interface com outros campos do saber, desnaturalizando
preceitos atrelados por noções reducionistas do que seria sujeito e social . Vidas precárias, vidas nuas, homens que
como amálgamas são usados para justificar a pobreza do Estado social à grandeza do Estado penal. Além de Michel
Foucault remetemo-nos aqui principalmente a autores(a) como Judith Butler (especialmente aos livros Quadros de
Guerra e Vida Precária), Giorgio Agambem (o Estado de Exceção e Homo Sacer ) , Loic Wacquant (com foco na
produção da insegurança social e a criminalização no contexto do estado neoliberal) bem como Didier Fassin
(conceitos de políticas das vidas e economia moral, que explicita como a hierarquização das vidas informam práticas
em saúde). Estes são autora(e)s com distintos modos de situar a violência do Estado a determinados sujeitos, sem,
contudo, estarem dissociados entre eles, do enlace epistemológico que possibilita analisar dispositivos de poder
impossíveis de numerar nas técnicas que dominam e gerenciam os corpos sociais.
Neste interím, tomamos o estudo das masculinidades como construídas socialmente e como frutos de um
determinado contexto caracterizado por relações de saber-poder no âmbito das prerrogativas de sexualidade e
gênero, além de outros intercessores. Sustenta-se a análise das masculinidades na perspectiva pós-estruturalista com
base na analítica queer; tal operador nos auxilia a pensar como as relações de gênero atravessam a forma como nos
constituímos como sujeitos generificados (JUDITH BUTLER, 2013). Entretanto determinados discursos que tomam as
masculinidades como foco ainda reproduzem o jugo moral que vitimizam-culpabilizam e esquadrinham o corpo social
masculino, dirigido principalmente aos homens negros pobres e jovens que sofrem processos de criminalização, ao
invés de propor aberturas conceituais que potencializem a inclusão do campo das masculinidades nos estudos e
debates de gênero feministas.Através da perspectiva etnográfica enquanto metodologia do estudo doutoral,
constatamos previamente, em um dos serviços de emergência referência em traumatologia no município de Porto
Alegre, que a produção de masculinidades consideradas ilegítimas, desprovidas de acesso à saúde como direitos à
vida, são efeitos de uma longa história de medicalização e criminalização do corpo social masculino. No conflituoso
espaço da emergência de saúde, entre algemas, sangue e suor a segurança pública circula de modo intenso, vigiando
os corpos e lhes dando um lugar de deixar viver. As práticas de cuidado entre profissionais de saúde e segurança
pública revelam-se assim, na nossa atualidade na indissociabilidade entre tratamento penal e tratamento médico.
Tirar do esquecimento aqueles escondidos sob o jugo da infâmia que os marca como réus , antes mesmo de cometer
o ato e, por isso mesmo, suscetíveis a morte é o que buscamos com esta pesquisa de doutorado. Além de ética e
politicamente necessário para nossa atualidade, consideramos que ao buscar correspondências entre o campo de
saúde e da segurança pública com foco nas masculinidades, irá oferecer novos prismas acerca das lógicas que operam
a exclusão e marginalização aos sujeitos no basilar direito fundamental de uma sociedade dita democrática: o direito à
vida.
1289
Homicídios de adolescentes em Fortaleza: uma discussão a partir das variáveis raça e pobreza
Autores: Luis Fernando de Souza Benicio, UFC; Damião Soares de Almeida Segundo, UFC; João Paulo Pereira Barros,
UFC
E-mail dos autores: luisf.benicio@gmail.com,jppbarros@yahoo.com.br,damiao_soares@hotmail.com

Resumo: Este estudo consiste em uma análise da problemática de homicídios de adolescentes na cidade de Fortaleza
a partir de variáveis raça e pobreza. Para tal discussão, analisaremos o perfil de adolescentes vítimas de homicídios
ocorridos na capital cearense e, depois, problematizaremos os atravessamentos de variáveis como raça e pobreza na
dinâmica desses homicídios. Para atender ao objetivo do estudo, utilizamo-nos dos dados produzidos pela pesquisa
do CCPHA junto às famílias de adolescentes assassinados em 2015. Tal proposta se configura como um
desdobramento da pesquisa intitulada Juventude e Violência Urbana: Cartografia de processos de subjetivação na
cidade de Fortaleza, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, vinculada
ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, que enfoca a relação da questão da violência
urbana envolvendo jovens e os modos de subjetivação na contemporaneidade, tendo como um de seus objetivos
específicos a análise de dados relacionados à violência letal na capital do Ceará, produzidos pela pesquisa qualitativo-
descritiva do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, finalizada em 2016. Tal proposta se
justifica porque o homicídio de adolescentes alcançou proporções epidêmicas nas últimas décadas no Brasil, com
graves consequências sociais e econômicas. o Estado do Ceará apresentou, em 2014, o maior Índice de Homicídio na
Adolescência (IHA) entre os estados brasileiros (8,71/mil) (Melo & Cano, 2017). Sua capital, Fortaleza, consolidou-se
como uma das cidades do Brasil e do mundo em que mais são vitimizadas crianças e adolescentes por homicídio. Em
uma década (2003-2013), tornou-se a capital com a maior taxa de homicídios nesse segmento (81,3/100 mil), com
aumento de 755% (Waiselfisz, 2015). Em 2014, apresentou o maior IHA entre as capitais brasileiras, com o valor de
10,94/mil, ou seja, 11 em cada mil adolescentes que completam 12 anos morrem de homicídio antes de chegar aos 19
(Melo & Cano, 2017). No ano seguinte, 2015, foram contabilizadas 387 mortes em Fortaleza referentes a essa faixa
etária (Roseno, 2017). Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar a problemática dos homicídios
de adolescentes na capital cearense e os atravessamentos da raça e da pobreza na produção desse tipo de violência.
Para tanto, contou-se com uma amostra de 146 famílias de jovens, de 11 a 19 anos, vítimas de homicídio em Fortaleza,
em 2015. Foi realizado um levantamento com questões relacionadas à raça, exposição midiática do jovem em
programas polícias e diferentes dimensões da pobreza multidimensional. Realizaram-se análises descritivas e
comparativas. O mapeamento do perfil das vítimas apontou que predomina a vitimização da juventude negra e
multidimensionalmente pobre. A discussão levantada ao longo do texto problematiza a ocorrência dos homicídios em
uma complexa produção simbólica em torno de jovens/adolescentes pobres, negros e residentes das periferias
urbanas. A problemática do genocídio na cidade de Fortaleza, diante do aumento preocupante da violência contra
esse segmento em comparação com outras capitais, é tomada nesse estudo como pista para a análise sobre a
produção de iniquidades na realidade brasileira, que, cotidianamente, constituem adolescências desiguais, pela
acentuação de processos de sujeição, criminalização e racismo em complexa rede de saber-poder-subjetivação.

1290
Inclusão perversa e violação de direitos de LGBT's negros sob a perspectiva da Psicologia Social
Autores: Victor Hugo Brandão Meireles, UNOPAR
E-mail dos autores: meireles0001@gmail.com

Resumo: Nos tempos atuais as desigualdades raciais e a homofobia ganham maior visibilidade enquanto discussões no
combate ao preconceito e violação dos direitos humanos. A relação entre a discriminação de raça, gênero e orientação
sexual ganha força quando a sociedade ignora o conceito de sujeitos de direitos. O movimento LGBT tem seu histórico
conturbado e hoje conta com atos políticos, como a Parada do Orgulho LGBT, dentre outros, para que aja visibilidade e
inclusão na sociedade na busca pela garantia de direitos. Já o movimento da população negra luta contra a
discriminação racial o que engloba a democracia racial, violência policial e a luta antirracista. Os dois movimentos, que
acabam sendo de resistência, hoje com maior flexibilidade, se integram para que possam ser discutidas novas
estratégias dentro da perspectiva psicossocial com combate a homofobia e o racismo. O objetivo deste trabalho é
trazer reflexões, com a contribuição da Psicologia Social, para pensarmos nesses sujeitos de direitos na busca de uma
sociedade mais igualitária e inclusiva e de que forma a sociedade, aqui compreendida como políticas sociais, produz
modos de subjetivação distintos para a população LGBT negra. A relação com o eixo e o GT irão abordar o sujeito com
gênero e raça, duas questões que são importantes para dialogar e problematizar as violações sistemáticas de direitos
humanos na atualidade que vem acontecendo no Brasil. É importante abordamos o sujeito e em como a Psicologia
Social o conceitua. O sujeito é marcado pela sua singularidade e sua relação com a sociedade, sobretudo na relação
dialética da subjetividade e identidade. Para entendermos melhor, Guareschi (2014) explica que o sujeito é mais que a
parte de um todo, pois ele possui uma singularidade própria. Mas se, por um lado, ele é singular, por outro, seu ser,
sua subjetividade é constituída pelos outros, é resultado dos milhões de relações que estabelecem em sua vida. No
livro Psicologia Social: o homem em movimento, Ciampa (2009) diz que a primeira noção de identidade é a diferença e
igualdade, ou seja, conforme o tempo vai passando vamos nos diferenciando e nos igualando à vários grupos sociais
de que fazemos parte. Então o conhecimento de si é dado pelo reconhecimento recíproco dos indivíduos identificados
através de um determinado grupo social. Esses grupos surgem através de relações que os indivíduos estabelecem
entre si no meio em que vivem, com suas práticas, seus modos de agir e com isso podemos compreender melhor a
ideia de identidade como constituída por esses grupos. É interessante abordar a relação dos sujeitos LGBT s negros
com a cidade, aqui compreendida num recorte enquanto dispositivos sociais que ainda se manifestam enquanto um
espaço de inclusão perversa (BADER, 2012). A cidade irá excluir para poder incluir, o que irá ocasionar a condição da
ordem social desigual, implicando a ilusão da inclusão, mesmo que todas as pessoas estejam inseridas de alguma
forma, nem sempre será de uma maneira decente e digna. Essa lógica também implica sob o conceito de inclusão
perversa com os sujeitos LGBT s negros aqui ressaltados, pois a cidade, partindo do pressuposto de que se ela exclui
logo ela inclui, acaba violando os direitos dessa população ocasionando a exclusão social que esses sujeitos sofrem
diariamente. Algumas orientações voltadas em questões culturais e históricas compreendem os processos que geram
e mantém a interação entre os indivíduos e os grupos sociais. Assim, podemos recorrer às metodologias que permitam
um contato direto com processos que se iniciam e operam num contexto histórico específico. Flick (2001) argumenta
que tanto a subjetividade do pesquisador e daqueles que são estudados fazem parte do processo de pesquisa,
buscando compreender o fenômeno no seu interior. Para entendemos melhor partimos para abordagem qualitativa,
pois ela desenvolve métodos que buscam justiça à complexidade das questões na atualidade. Os resultados aqui
podemos compreender como uma análise junto com os autores Costa e Nardi (2015) como tese de mestrado. Os
autores argumentam que a Psicologia Social vem para tentar explicar as várias formas de preconceitos que existem na
atualidade, e que é necessária uma abordagem interdisciplinar, o que irá permitir melhor compreensão sobre a
construção de nossa cultura, linguagem e intuições na criação do preconceito. Algumas soluções e análises já foram
1291
aplicadas nas questões raciais e de gênero e com isso a discussão sobre esse tema pretende contribuir para que esse
processo da diversidade sexual-racial possa abrir várias formas de inclusão para uma sociedade mais igualitária. Por
fim precisamos combater a homofobia e o racismo para que nossa sociedade seja livre de opressões que ferem esses
sujeitos. Combater a homofobia é também combater o racismo, que são lutas indissociáveis. Ser negro impõe barreira,
ser negro LGBT é o fim, é uma condenação. Homofobia e racismo através da óptica da psicologia social: a inclusão
perversa de LGBT's negros nas cidades e violação de direitos humanos.

1292
Incursões no universo da violência de gênero: experiência com oficinas temáticas
Autores: Anna Claudia Eutropio Batista d'Andrea, PUC Minas; Aparecida Maria Stela Nunes Ferreira, PUC Minas; Bruna
Coutinho Silva, PUC Minas; Cynthia Caroline Souza Dias, PUC MInas; Débora Nascentes Martins, PUC Minas; Luisa Leite
Coelho, SEDESE; Patrícia Pimentel Ribeiro, PUC Minas; Samantha Fernandes Silva, PUC Minas; Thais Brito do
Nascimento, PUC Minas
E-mail dos autores:
annaclaudiab@gmail.com,patricia.pimentel@sga.pucminas.br,debora.nascentes@gmail.com,cidastelinha@gmail.com,
cynthiadiaspsico@gmail.com,thaisbritonascimento@gmail.com,bcoutinho.psi@gmail.com,f.samantha.s@hotmail.com
,luisaleitecoelho@gmail.com

Resumo: Este trabalho diz respeito à experiência de estágio do Curso de Psicologia realizada na Casa Tina Martins,
coordenada por mulheres do Movimento de Mulheres Olga Benário em Belo Horizonte-MG, no primeiro semestre de
2017. A Casa Tina Martins realiza abrigamento de mulheres em situação de violência e ações variadas de formação
feminista. As mulheres acolhidas, bem como outras que passavam pela Casa, obtinham tanto assistência psicológica
como jurídica. Acordamos um cronograma de oficinas temáticas nas quais acolheríamos tanto as abrigadas quanto ao
público em geral. A violência contra a mulher em razão de seu sexo se expressa de diversos modos, no meio privado
ou público, por meios físicos, psicológicos, morais, sexuais, financeiros, cuja finalidade se expressa em humilhar, punir,
ferir e intimidar a subjetividade e a integridade da mulher (ALEMANY, 2009). Esse tipo de violência acontece em
sociedades marcadas por diferentes sociabilidades para homens e mulheres: para os primeiros, há certa proibição ou
evitação máxima do campo afetivo entre os mesmos, enquanto é forjada uma sociabilidade violenta generalizada;
para as segundas, há todo um aparato de sociabilidade submissa, sobretudo, às figuras de autoridade e masculinas
(LOURO, 2001). No entanto, esses processos não são inexoráveis e se encontram em mudança, transformação.
Inclusive, a partir da década de 1990, passou-se a pensar a violência de gênero como uma questão relacional,
rompendo com as dualidades vítima - passiva/agressor - ativo , considerando que a mulher pode também ser
produtora de violência, embora isto não as tornem autônomas (SMIGAY, 2002). Nesse sentido, a acepção de violência
de gênero se aproxima da noção de desigualdade de poder, sendo que [...] mulheres, homens não-viris, homens e
mulheres que optam por práticas homoeróticas; são estes os objetos privilegiados desta violência homofóbica/sexista
(SMIGAY, 2002, p. 37). Tal violência é também composta por valores culturais centrados no masculino, na dominação,
na competitividade, como imperativos da força humana; como se não houvesse força no afeto, na delicadeza; como se
não pudesse haver homem sem virilidade, ou mulher sem romantismo. É preciso pensar que a dominação, enquanto
relações de sujeição, limitação e servidão de uns em privilégio de outros, se expressa nas práticas sociais, na
consciência, nas estratégias de identidade (APFELBAUM, 2009). Essas construções são históricas e profundamente
arraigadas no imaginário social, pautando condutas, pensamentos, modos de existir. Mesmo assim, há que se pensar
na coexistência das práticas cotidianas de resistência a esse ideal de homogeinização dos gêneros; práticas estas que
encontramos na solidariedade entre mulheres, nas vivências de relações afetivas e sexuais diversas, nos movimentos
sociais e políticos que se voltam para a garantia de direitos de mulheres, de transsexuais, de travestis, entre outras. A
partir dessas reflexões teóricas, utilizamos as oficinas temáticas como recurso metodológico para conversamos sobre
os temas que elencamos. Nossa inspiração foram as metodologias participativas, como as rodas de conversa
(AGONSO, ABADE, 2008; MÉLLO et al., 2007) e a Oficina Psicossocial (AFONSO, 2006). A partir das discussões teóricas
realizadas em supervisão, definimos temas recorrentes no nosso cotidiano e nas discussões teóricas, a saber: 1)
ampliação do conceito de violência; 2) romantização da violência; 3) normas de gênero; e 4) sororidade. As oficinas
tinham as seguintes etapas organizativas/metodológicas: a) integração: momento de apresentações pessoais, para
que todas as participantes pudessem se conhecer, para propiciar a criação de vínculo grupal e sensibilização ao tema
proposto; b) vivência principal: este momento é dedicado ao eixo afetivo, pois favorece o envolvimento das
participantes por convocá-las a relatarem experiências pessoais, sendo acolhidas com empatia, sem julgamento; c)
metacognição: diz respeito ao momento para se problematizar as experiências e reflexões propostas, de modo a
1293
ajudar na construção de novos posicionamentos; e d) fechamento e avaliação da oficina. As mulheres relataram
experiências pautadas nos ideais aos quais tinham que responder na condição de mulheres, ou seja, todos os relatos
que escutamos evidenciam o quanto as vivências são marcadas por normas de gênero. Afetos foram mobilizados, com
pessoas se lembrando de suas relações afetivas, de longa data, muitas vezes, as quais custaram (e custam) a romper,
por diversas razões, relativas a fatores emocionais; a condições financeiras; de emancipação e autonomia; à ausência
de apoio familiar ou externo à relação conjugal. Situações cotidianas também foram muito pautadas, como a violência
moral e o assédio sexual nas relações pessoais, como nos relacionamentos e na família, e com estranhos nas ruas, em
espaços formativos (universidade) e de trabalho. Percebemos o quão interessante e plural é a Casa Tina Martins, uma
vez que havia tanto mulheres acolhidas quanto pessoas que passaram na rua e se interessaram, entrando para
conhecer o movimento e o local; colaboradorxs que contribuem com serviços, atendimentos, ensino de processos
para geração de renda. Esse é um espaço coerente com o cenário plural no qual vivemos, e que somente o Estado não
dá conta de responder.

1294
Promoção de igualdades no âmbito da Universidade: mapeando os perfis étnico-raciais, de gênero e diversidade
sexual
Autores: Klênio Antônio Sousa, UFU; Jhonatan Soares Andrade, UFU; Kaique Aparecido Gonçalves e Silva, UFU
E-mail dos autores: klenio.antonio@gmail.com,jhonatamsoares@yahoo.com.br,kaique555666@gmail.com

Resumo: Este trabalho pretende divulgar e discutir duas ações promovidas pela Divisão de Promoção de Igualdades e
Apoio Educacional da Universidade Federal de Uberlândia DIPAE/UFU. A Divisão de Promoção de Igualdades e Apoio
Educacional (DIPAE) é um órgão subordinado à Diretoria de Inclusão, Promoção e Assistência Estudantil (DIRES) que
tem como foco implementar programas, projetos e ações que atendam a comunidade discente em suas dificuldades
educacionais e seus reflexos na vida pessoal e acadêmica por meio de ações preventivas e de apoio pedagógico e de
atendimento em psicologia educacional que contribuam para o desenvolvimento das potencialidades do estudante, e
promover ações afirmativas de igualdade de gênero, étnico-racial e de diversidade sexual, desenvolvendo atividades
de acolhimento e afiliação à vida universitária e combate sistemático a toda forma de racismo, violência contra a
mulher e homofobia, dentre outras, promovendo a permanência material e simbólica no ensino superior.Pensando
nas ações de promoção de igualdade, uma das questões é conhecer de fato quais são os grupos diversos e
minoritários que compõem o universo dos estudantes, suas demandas, circulação e ações. Este microuniverso que
representa a diversidade dentro da universidade é parte importante do contingente de estudantes. Dado isto,
sentimos a necessidade de mapear tais grupos. A primeira ação refere-se ao mapeamento do público LGBT e negros
dentro da Universidade. Para isto, foi utilizado um questionário direcionado a todos os alunos, independente da
orientação, garantindo o sigilo das informações. O intuito é gerar um banco de dados que possa direcionar ações
efetivas e afirmativas. O que ora aqui se apresenta é uma prévia dos primeiros resultados compilados pela Divisão.
Com um público majoritariamente entre 23 e 27 anos que respondeu o questionário, maioria com ingresso pelo SISU
Sistema de Seleção Unificada, estudando no turno da manhã, já iniciamos a traçar os perfis deste público. A relação
com o GT se apresenta na questão de violação de direitos. É histórico este fato e não podemos, enquanto
universidade, nos furtar a esta responsabilidade de dar voz e vez a este grupo. O método será o levantamento
estatístico dos números, bem como a categorização dos dados qualitativos, visto que os questionários apresentam
questões abertas. Esta categorização seguirá os teóricos de gênero, diversidade, desigualdade e identidade como
Ciampa, Spink, Sawaia, Guareschi, dentre outros. A segunda frente de trabalho refere-se ao encontro feito
mensalmente com os coletivos da universidade. Os coletivos são organizações eminentemente estudantis que se
agremiam em torno de uma causa comum sempre em busca da promoção de igualdades dentro do ambiente
universitário. Dialogar com os coletivos é trazer para o cenário da universidade a visibilidade de suas demandas, suas
lutas e seus percursos. Neste processo dialético, os estudos de Psicologia Social e Cultural de Guareschi e Bruschi
muito contribuirão para que se postulem diretrizes de trabalhos e ações afirmativas eficientes e efetivas na busca por
promover a igualdade destes grupos minoritários. Para as duas frentes de trabalho citadas, o que já se tem são o
registro de violações de seus direitos, as dificuldades em suas trajetórias, bem como o desafio de incluir de fato os
estudantes com estes perfis no bojo das discussões, políticas, resoluções e ações diversas promovidas pela
universidade. A metodologia utilizada tem sido os grupos focais e a pesquisa-ação. Conclui-se que o caminho será
longo, as demandas apresentadas a cada dia são dinâmicas, o sistema orgânico do preconceito enraizado se interpõe e
é preciso a luta diária para que se faça valer a igualdade de direitos.

1295
Relatos de vivências: estudo de caso de travestis negras em situação de rua na cidade de Uberaba/MG
Autores: Homero Pereira de Oliveira Junior, UFTM
E-mail dos autores: homerojrr@hotmail.com

Resumo: De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2012, há no Brasil
cerca de 1,8 milhão de pessoas em situação de rua em todo o território brasileiro, o que representa algo em torno de
1% da população do país - sendo que a maior parte é composta por homens, que majoritariamente são negros; a
escolaridade varia de Ensino Fundamental incompleto a Ensino Médio incompleto, existindo uma considerável
quantidade de analfabetos. Define-se a população de rua ou pessoa em situação de risco social, segundo decreto
7053/2009, que regulamenta a Política Nacional de População em Situação de Rua, como o grupo heterogêneo em
condições de extrema pobreza, com seus vínculos familiares fragilizados e interrompidos, sem moradia convencional
regular, do qual utiliza logradouros e áreas públicas degradadas como espaço de instalação e moradia, de forma
temporária ou permanente, bem como unidades de acolhimento para pernoite temporário ou moradia provisória
(Brasil, 2009). Não há registros oficiais sobre a população trans em situação de rua no Brasil. As travestis constituem
uma população estigmatizada e marginalizada, sobretudo por romperem com os padrões de heteronormatividade
impostos na sociedade em que vivemos. Nesse sentido, as travestis negras em situação de rua compõem o extremo
político das minorias sociais numa dimensão que engloba racismo e transfobia como grandes violências sobre suas
existências. Dessa forma, este trabalho tem por objetivo contribuir com a análise a respeito das vivências e condições
de vida de travestis negras em situação de rua na cidade de Uberaba-MG, sobretudo a partir dos relatos de vivências
das participantes. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, e que foi realizado por meio de entrevistas abertas e
audiogravadas, organizadas pela análise de conteúdo temático. Tais entrevistas foram realizadas individualmente, com
o intuito de conhecer suas histórias e condições de vida, os espaços públicos por elas ocupados e utilizados e os modos
como se percebiam e sentiam em tais espaços. As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas.
Os critérios de inclusão das participantes da pesquisa foram: ser maior de 18 anos, ser travesti, ser negra, verificado
por meio do relato das próprias participantes, ter cadastro no Centro de Referência para População em Situação de
Rua (Centro POP-Uberaba), verificado nos registros do serviço em questão, estar atualmente em situação de rua,
verificado por meio do relato das próprias participantes. A análise de conteúdo e a discussão dos resultados foram
orientadas a partir da psicologia social, como Michel Foucault e Judith Butler, bem como da filósofa Angela Davis. Os
relatos das participantes demonstram a complexa relação entre a escolaridade sabotada, a falta de oportunidade de
trabalho formal, o uso de determinadas drogas como forma de sustentação psicológica diante a prostituição - que
desponta como forma de obtenção de dinheiro, de forma a expor uma condição estrutural de exclusão política social.
As duas participantes da pesquisa têm idades diferentes 19 e 31 anos de idade; suas apreensões trazem aproximações
e disparidades vinculadas ao tempo de vida e de rua(s), bem como seus relatos reforçam a necessidade de real
aproximação e aplicação da universidade pública em relação às suas demandas, como a importância dos estágios em
Centros de Referência para População em situação de rua por parte de estudantes de graduação do curso de
Psicologia, e/ou projetos de pesquisa e extensão que atendam às demandas elencadas.

1296
Categoria Pôster

1297
Eixo 01. Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais

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A atuação dos profissionais em procedimentos de apuração de ato infracional de jovens estudantes
Autor:
Elisiane Spencer Goethel (Unesp)
Coautor:
Débora Fonseca (UNESP)

O aumento da violência e o processo de culpabilização da juventude têm trazido à tona discussões em torno
da maioridade penal. Com o discurso de reduzir a criminalidade, movimentos requerem leis mais severas e
repressoras. Por outro lado, no contexto escolar ouve-se que os direitos das crianças e adolescentes são
sempre garantidos pela justiça. O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) trouxe consigo a Doutrina da
Proteção Integral, revogando a Doutrina da Situação Irregular, o que provocou transformações sobre as
concepções de infância e juventude, o surgimento de novos atores, política e contornos. Passados 27 anos, o
ECA ainda é estigmatizadocomo promovedor da impunidade. Esse senso comum pode perpassar também aos
atores sociais que atuam diretamente na área do direito infanto-juvenil, gerando interpretações que destoam
da proposta filosófica e metodológica da Doutrina da Proteção Integral. Neste cenário, foi desenvolvida a
pesquisa de mestrado, que teve como objetivo identificar e analisar as ações dos atores jurídico-sociais
(promotores, juízes, psicólogos, assistentes sociais e outros) em processos judiciais de estudantes do ensino
fundamental II, buscando entender os aspectos punitivos e educativos destas ações, as possíveis discordâncias
entre as leis e as práticas aplicadas, além de compreender os papéis dos diferentes profissionais dentro do
processo. Utilizamo-nos da teoria materialista histórico-dialética para tentar compreender o adolescente e
suas singularidades e, também, para entender a construção das legislações. Tratou-se de uma pesquisa
qualitativa, de análise documental, através da leitura dos processos judiciais de alunos de quatro escolas de
duas cidades do interior paulista, que tiveram início por iniciativa da escola. Foram analisados, segundo o
Método de Análise de Conteúdo, 8 Procedimentos de Apuração de Ato Infracional, instaurados nos anos de
2012 e 2013, envolvendo 11 adolescentes diferentes (10 meninos e uma menina). A maioria dos casos versa
sobre o crime de ameaça. Dentro dos processos não há notícia de que a escola tenha tomado alguma atitude
na busca de resolver os conflitos internamente. Em 6 ocasiões os adolescentes foram conduzidos até a
delegacia e todos em horário de aula. Este encaminhamento pode estar servindo como exemplo de punição
para os demais alunos e um ato de punição para os conduzidos, já que existe a ausência das vítimas no
decorrer das etapas processuais. A maioria dos casos foi arquivada após ser concedida a remissão do
processo. Na Fase Policial, as versões dos adolescentes colhidas pela polícia ainda na escola foram suprimidas
no boletim de ocorrência que foi informatizado, prevalecendo as versões das vítimas, o que não corrobora
para a elucidação dos fatos. Além disso, nenhum dos processos continha o relatório da autoridade policial,
onde deveria haver pelo menos a descrição das atitudes tomadas pela polícia para a investigação dos fatos.
Mesmo diante de versões unilaterais e declarações contraditórias das partes envolvidas não houve
demonstração de interesse da polícia em investigar os ocorridos. Na Fase Ministerial destacam-se os Termos
de Oitiva Informal e Remissão, documentos sucintos e construídos em cima de breves declarações dos jovens
e de seus pais, com concessões e requisições fundamentadas de forma genérica e pouco aprofundadas. Em
alguns casos a remissão foi ofertada em conjunto com uma medida socioeducativa, uma afronta os princípios
constitucionais de ampla defesa e do contraditório, pois não oferece ao adolescente a possibilidade dele ter
um processo justo com o verdadeiro esclarecimento dos fatos. Já na Fase Judicial o que chama a atenção é a
concordância unânime e sem questionamentos do juiz com os requerimentos do Ministério Público, além
disso, as sentenças não fundamentam o porquê da sua concordância utilizando-se da simples repetição do
texto apresentado pelo Promotor. Não há a presença de defensor particular em nenhum dos processos. A
ausência do Defensor Público durante as fases dos procedimentos também chama bastante atenção. Na fase
da execução da medida socioeducativa os relatórios encaminhados pela equipe técnica do CREAS não foram
1299
questionados pelos demais atores do processo, que em nada contribuíram para a construção do Plano
Individual de Atendimento. Os relatórios não foram usados como subsídio para a fundamentação das decisões
do magistrado. Nesta pesquisa nos deparamos com processos esvaziados, onde os profissionais preocuparam-
se apenas em mantê-los minimamente em conformidade com o ECA e as demais legislações pertinentes.
Podemos afirmar que encontramos muitas questões jurídicas sendo negligenciadas e esquecidas. Depois de
percorremos a totalidade dos processos, podemos conhecer algumas possíveis discordâncias entre a prática e
os preceitos do ECA e apontar que muitos ainda são os resquícios dos aspectos punitivos deixados pela
Doutrina da Situação Irregular. Este trabalho se vincula ao grupo de trabalho ao propiciar a discussão sobre o
desrespeito à dignidade humana de jovens alunos, tanto pela escola como pelo Poder Judiciário,
desconsiderando a diversidade. Permite refletir sobre a necessidade de maior conhecimento sobre esta
realidade como forma de defesa dos direitos humanos e sociais dos jovens.

Palavras-chave:
Judicialização; Ato Infracional; Escola

1300
A prática da psicologia social em um trailer itinerante Projeto Circolando (Instituto Padre Haroldo, Campinas/SP)
Autor:
Anayê Chinelatto (PUC Campinas)

Introdução
O presente trabalho parte da minha atuação como psicóloga em um projeto social itinerante, que oferta atividades
em praças públicas, em dois bairros periféricos localizados nas regiões sul e sudoeste do município de Campinas/SP. A
psicologia parte então para os aspectos subjetivos que são constituídos no processo social e, ao mesmo tempo,
compõe os fenômenos sociais, trabalhando junto a população que circula pelas praças. Pela característica lúdica do
projeto, em geral crianças e adolescentes se identificam facilmente com o serviço, sendo que a partir destes contatos
busco compreender/conhecer os potenciais pessoais, grupais e comunitários, acompanhar os seus movimentos de
construção subjetiva, os arranjos familiares, os espaços de interação.
É nesse contexto que iniciamos nossa reflexão sobre a possibilidade de atuação da psicologia social, considerando
essa realidade dentro de uma perspectiva histórica, na qual, segundo Gonçalves, as situações de exclusão, desfiliação
e precariedade da vida, não são naturais, são produzidas e, dessa forma, podem ser alteradas. (2015, p. 63)

Objetivo
O objetivo deste trabalho é analisar a atuação do psicólogo no âmbito de um projeto social itinerante, que atua em
praças públicas em dois bairros periféricos de Campinas.

Relação com o eixo temático


Este trabalho se relaciona com o eixo temático "Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em
contextos neoliberais" por se tratar de um serviço itinerante de atendimento a crianças, adolescentes, adultos e
famílias que atua na rede de Proteção Social Básica, no município de Campinas/SP. Aborda a temática da
desigualdade social e suas repercussões na subjetividade, na tentativa de apresentar/reconhecer a condição/lugar
social a que estão expostos os sujeitos, ou seja, as implicações da organização da produção industrial impostas pelo
neoliberalismo na vida/experiências de um sujeito ativo e social. Como apontam Gonçalves e Bock (2009, p. 142) "o
sujeito é ativo, atividade decorrente de sua ação, de seu pensamento, de sua capacidade de registrar cognitiva e
afetivamente todas as suas experiências, da sua capacidade de vivenciar". É importante que o psicólogo social do
projeto Circolando considere a interação mútua dos planos subjetivo e objetivo envolvendo sujeitos em permanente
construção de sua própria vida e da sua sociedade.

Orientação Teórica
A partir desta reflexão, é necessário articular conceitos da psicologia Sócio-Histórica, a qual reconhece as limitações
impostas pela ordem social e possibilita uma reflexividade diferente da consciência individual, da alienação que marca
o capitalismo, para avançar na elaboração de uma visão da relação indivíduo-sociedade. É interessante trabalhar
questões do psiquismo a partir de pressupostos da dialética subjetividade-objetividade, buscando a presença do
sujeito histórico, ativo da transformação social.

Metodologia
A metodologia de trabalho desenvolvida compreende: oferta de espaços de escuta e acolhimento, a partir de
atendimentos psicossociais, rodas de conversa, grupo com adolescentes; visitas domiciliares; articulação com a rede
socioassistencial e de Garantia de Direitos e passeios com crianças, adolescentes e/ou famílias.
Resultados
Minha participação neste projeto é recente e os objetivos estão sendo construídos no decorrer do processo de
trabalho . Os primeiros resultados observáveis, envolvem o estabelecimento de vínculos com crianças e adolescentes
que frequentam as praças e com outros membros de suas famílias; reconhecimento das relações latentes e
manifestas destes grupos familiares e sua relação com o lugar em que moram e conhecimento histórico das
comunidades atendidas, compreendendo os processos de sofrimento instalados nos territórios (lugar onde as famílias
estabelecem seus laços mais significativos). Pretendo propiciar novos espaços de trabalhos em grupo, considerando a
demanda dos atendidos, possibilitando a construção de novos significados para sua vida, família e comunidade.

1301
Conclusões
Minha reflexão enquanto psicóloga social remete à análise da atividade do psiquismo decorrente do modo de vida da
comunidade, e seu empoderamento, considerando a "divisão da sociedade em classes, que acarreta lugares e
experiências distintas para os diferentes grupos sociais". (Gonçalves, Bock, 2009, p. 139)
Segundo Campos (2012, p.11), "o psicólogo social atua mais como um analista-facilitador, que como um profissional
que toma as iniciativas de solucionar problemas. São centrais, portanto, nesta área de estudos, os conceitos que
contribuem na análise da constituição do sujeito social, produto e produtor da cultura, e as metodologias de
desenvolvimento da consciência".
Desse modo, considero que o olhar do psicólogo para o 'mundo interno' e 'externo' dos sujeitos, para as suas
potencialidades pessoais, grupais e comunitárias podem favorecer o estabelecimento de relações de confiança e estas
possibilitam uma nova significação dos processos de sofrimento humano.

Referências
BOCK, A.M.B.; GONÇALVES, M.G.M.; Et al. A dimensão subjetiva da realidade: uma leitura sócio-histórica. São Paulo:
Cortez, 2009.
CAMPOS, R.H.F.; Et al. Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia. 17ª ed. Rio de Janeiro: Vozes,
2012.
GONÇALVES, M.G.M. Psicologia, subjetividade e políticas públicas. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 2015.

Palavras-chave:
projeto itinerante, subjetividade, transformação social

1302
A representação social da reforma do ensino médio para os estudantes
Autor:
Anne Meller (Universidade Estácio de Sá)
Coautor:
Guilherme Carvalhido (UVA)
Antonia De La Cruz (UNIVERSIDADE ESTACIO DE SÁ)

Este trabalho pretende apresentar pesquisa realizada com estudantes que estão ingressando no ensino médio sobre a
reforma proposta e sancionada pelo atual presidente Michel Temer em fevereiro deste ano. A Reforma apresenta que
as disciplinas obrigatórias serão português, matemática e uma língua estrangeira, preferencialmente inglês. Além
destas disciplinas, o aluno poderá escolher entre os eixos temáticos como: Linguagens, Matemática, Ciências da
Natureza, Ciências Humanas e Formação Técnica e Profissional. A proposta governamental ainda prevê uma Base
Nacional Curricular Comum (BNCC) ainda em discussão. As dúvidas permanecem grandes entre a população, políticos
e educadores, que não sabem explicar, com certeza, como esta mudança estrutural ocorrerá e se o impacto será
positivo, melhorando os resultados dos indicadores educacionais e evitando a evasão de alunos da escola. Entretanto,
as mídias mostram dados de pesquisa realizada pelo IBOPE que apresenta 72% da população como aprovando a
reforma do ensino médio. Por outro lado, a discussão, mesmo sem grande evidência, sobre as desigualdades sociais
que podem ser reforçadas com a reforma ainda continua sem respostas. Por exemplo, como as escolas oferecerão os
eixos temáticos; se todos os eixos temáticos serão oferecidos em todas as regiões do Brasil para viabilizar uma
formação adequada de forma abrangente para todos os jovens, ou se esta oferta estará restrita as regiões com maior
desenvolvimento, como sul e sudeste. A questão que chama à reflexão é a implantação do novo modelo sem uma
ampla discussão com aqueles que serão afetados diretamente, os estudantes e suas famílias. Como as escolas
estabelecerão um programa educacional que deverá ser escolhido pelo aluno sem escutar o que o estudante tem a
dizer? Com a falta de infraestrutura básica da educação pública na maior parte do país, como implantar este novo
modelo? Neste sentido, este trabalho pretende apresentar o que os jovens, ou a população que será afetada pela
reforma, pensam sobre ela, visto que o protagonismo do aluno é apontado como fator primordial para efetivar este
modelo e possíveis consequências positivas. Para tanto, foram aplicados questionários abordando as seguintes
temáticas: se o estudante conhece a reforma; se ele possui interesse em saber sobre a reforma; se ele acha que a
reforma é positiva ou negativa; se houve debate ou apresentação sobre a reforma na sua escola; como a reforma vai
afetar a educação; como a reforma pode afetar o ingresso no mercado de trabalho. Para acessar a representação
so ialàdosàestuda tesàso eàaà efo aàfoiàutilizadaàaàa o dage àdoàNú leoàCe t al,à o àoàele e toài duto à ‘eforma
doàe si oà dio .àáàpopulaç oàa o dadaà o te plouàestuda tesàdoà ºàeà ºàa oàdoàe si oàfu da e talàdeàes olasà
públicas e privadas das regiões centrais dos Municípios de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro. A análise dos dados
foi realizada através de análise de conteúdo das perguntas abertas e estatística descritiva. O desejo de identificar a
representação social dos estudantes afetados pela nova proposta educacional deve-se ao entendimento de que as
representações sociais, ou seja, os pensamentos, opiniões, valores construídos sobre determinado fenômeno social,
guiam as práticas da população afetada e, portanto, servem para o entendimento e/ou a possibilidade de intervenção
junto à população.

Palavras-chave:
Representação Social; Reforma ensino médio

1303
Acolhimento institucional para adolescentes com trajetória de vida nas ruas: Vivências de um estágio curricular
Autor:
Raíssa
Coautor:
Thays Costa (UFMG)
Laura Soares (UFMG)

A atuação do psicólogo nas instituições de acolhimento, presente no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é o
foco do Estágio Curricular em Processos Psicossociais/Psicologia Jurídica. Trata-se de uma experiência teórico-prática
desenvolvida no contexto de uma Unidade de Acolhimento Institucional, com o objetivo de compreender os impactos
e atravessamentos psicossociais da institucionalização de adolescentes com trajetória de vida nas ruas. A
apresentação está direta e teà ela io adaà o à oà ei oà te ti oà Políti asà pú li as,à di eitosà so iaisà eà p ti asà deà
e a ipaç oàe à o te tosà eoli e ais ,à istoà ueàoàa olhi e toàdessesàadoles e tesà e eteàaàes assezàdeàpolíti asà
públicas direcionadas tanto ao acolhido, quanto a sua família, acarretando em perdas e restrições de direitos. Os
estudos realizados no estágio têm como aporte teórico a Psicologia Social Jurídica e buscam promover aos alunos as
vivências da psicologia na equipe técnica de uma Instituição de Acolhimento, além da elaboração de um projeto de
intervenção psicossocial baseado na observação participante realizada por meio da vivência no campo. No primeiro
semestre do ano de 2017 ocorreu a inserção de uma Unidade de Acolhimento Institucional com o perfil de
adolescentes do sexo masculino com trajetórias de vidas nas ruas e este se tornou um desafio frente aos referenciais
teóricos e legais. Os adolescentes acolhidos pela unidade possuíam uma gama de intersecções relativas à raça, classe
e gênero, por vezes, sendo estigmatizados pela política de acolhimento como não convencionais pelo envolvimento
com a criminalidade e uso abusivo de drogas. A metodologia se baseou na presença semanal, no mínimo por um
turno de quatro horas por estagiária, em uma Unidade de Acolhimento Institucional para adolescentes do sexo
masculino com trajetória de vida nas ruas, que são encaminhados, na maioria das vezes, em caráter de urgência. As
estagiárias também participaram de reuniões semanais de supervisão na Universidade com duração de três
horas/aula. Durante a prática de estágio buscou-se por meio de acompanhamento de atendimentos psicossociais,
elaborações preliminares de documentos e relatórios, contatos com a rede de proteção, dentre outras atividades,
registradas em relatórios semanais entregues à supervisora. Em um segundo momento do estágio foi elaborado
projeto de intervenção psicossocial que objetivou auxiliar o trabalho dos cuidadores em relação aos adolescentes
acolhidos. A metodologia envolveu a utilização de oficinas em grupo previamente estruturadas com temas que
perpassam pelo cotidiano da Instituição de Acolhimento, como o ECA e a legislação sobre acolhimento institucional;
manejo de conflitos; saúde mental; uso abusivo de drogas; trajetória de vida nas ruas; envolvimento com
criminalidade; questões da adolescência relativas a sexualidade, autocuidado e autoestima. Existe um lugar de
exclusão delimitado pelos fatores sociais e raciais reservado ao jovem negro e pobre, público dessa Instituição de
Acolhimento. O acolhimento que deveria ter uma função de proteção, corrobora para a marginalização e na
manutenção desse lugar, na medida em que, a própria instituição sofre os efeitos dessa discriminação no que tange
ao trabalho em rede. Os adolescentes acolhidos possuem trajetória de vida nas ruas, assim como envolvimento com a
criminalidade, que os limitam de serem acolhidos nas instituições ditas convencionais. Assim, carregam em si o
estigma das populações marginalizadas, excluídas e estruturalmente abandonadas. A medida protetiva de
acolhimento institucional gera repercussões e impactos psicossociais significativos nas vidas dos acolhidos e seus
familiares, sendo a atuação do psicólogo essencial nestes locais. Nas últimas décadas, o trabalho do psicólogo na
Assistência Social vem se ampliando, o que demanda uma modificação na formação, capacitação e atuação do
profissional. Desde 2004, com o fortalecimento do SUAS a psicologia é convocada para diversas atividades, tais como
o auxílio no fortalecimento de vínculos familiares, no desenvolvimento da autonomia das famílias e dos indivíduos
atendidos pelo sistema, bem como na interação com a rede de proteção e na consolidação das políticas públicas.
Diante desse cenário, identificou-se que atravessamentos como tráfico, uso abusivo de substâncias psicoativas e
identificação com as ruas fazem da vivência de uma Instituição de Acolhimento com Trajetória de Vida nas Ruas ainda
mais desafiadora, principalmente se for considerada a rede de Políticas Públicas que deveria servir de apoio,
composta pelos Conselhos Tutelares, pelo SUS e pelo SUAS, que muitas vezes não consegue atingir tal parcela
atendida pela Instituição. O despreparo dos integrantes da rede, a ausência de possibilidades de encaminhamentos

1304
das demandas, remetem esses adolescentes às situações de violências e violações de direitos que tem implicações
subjetivas, econômicas, políticas, sociais e culturais para a construção de uma sociedade justa e igualitária.

Palavras-chave:
Psicologiajurídica Intervençãopsicossocial Acolhimentoinstitucional Direitosinfanto-juvenis Estágio

1305
Adoção de crianças maiores, adolescentes e construção de vínculos familiares: uma revisão da literatura científica
Autor:
Mariana de Paiva Pelet Vieira (UFTM)
Coautor:
Fabio Scorsolini Comin (UFTM)
Cristine Daher Sallum da Cunha (UFTM)

Ao longo dos anos vêm sendo construídas novas concepções de família, com destaque para casos de adoção de
crianças maiores (acima de dois anos) e/ou adolescentes. Diante da realidade atual, modificações legais foram feitas
para atender às necessidades de crianças e adolescentes em processo de adoção, reduzindo possíveis danos. É
possível perceber tais mudanças at a sàdaàela o aç oàdoàá tigoà àdaàLeià ºà . ,à o he idaà o oàaà o aàleiàdaà
adoç o .
áàes olhaàdoàei oàte ti oà à Políti asàpú li as,àdi eitosàso iaisàeàp ti asàdeàe a ipaç oàe à o te tosà eoli e ais à
se deu a partir de seu direcionamento em relação à realidade de vulnerabilidade social, tipos de desfiliação social e
busca por direitos humanos que vai ao encontro da proposta da revisão, tendo em vista a adoção de crianças maiores
e adolescentes e suas repercussões nos processos de adaptação aos novos contextos. O objetivo deste estudo foi
apresentar uma revisão integrativa acerca da adoção de crianças maiores e adolescentes e suas repercussões no
processo de adaptação ao novo núcleo familiar.
Para realizar a revisão da literatura científica foram consultadas as bases de dados LILACS, SciELO e PePSIC,
recuperando apenas artigos publicados entre janeiro de 2006 e dezembro de 2016. A partir da aplicação dos critérios
de inclusão e de exclusão e tendo como norte o objetivo da revisão, foram recuperados, ao final do processo, dez
artigos indexados.
A revisão contou com certa heterogeneidade de assuntos relacionados à adoção de crianças maiores e adolescentes,
de modo que conseguiu abranger diversos aspectos psicológicos e de construção de vínculo da família substituta com
aquele indivíduo, incluindo a maturidade que este tipo de adoção exige, levando-se em consideração as influências da
institucionalização. Os artigos recuperados são em sua maioria estudos de caso envolvendo famílias e relatos de
experiência.
Tanto nos resultados como nas conclusões dos artigos, em sua maioria, retrata-se certa dificuldade das crianças e da
família na adaptação, apesar do desejo dos adotantes de serem pais, muitas vezes pela insegurança que a criança traz
como carga desua história de abandono. Essa realidade exige que os pais por adoção saibam lidar com essa questão
para que haja um sucesso na adaptação da família como um todo. Vale ressaltar, no entanto, que existem dificuldades
na questão social, como o preconceito, além das questões psicológicas vivenciadas pelos adotados e pelos adotantes
que devem ser acompanhadas por profissionais. Entretanto, evidenciam o sucesso em diversos casos, deixando claro
em alguns dos artigos que o acompanhamento psicológico antes e depois do processo de adoção pode contribuir para
a adaptação e criação de vínculo ao novo círculo familiar.
Tratar da problemática da adoção faz-se essencial para a adequação social às novas formas de constituição familiar
que vêm se apresentando ao longo dos anos, contrapondo-se à concepção tradicional de família que vigora
atualmente em que ocorre a supervalorização de laços sanguíneos em detrimento dos laços afetivos. Estes, no
entanto, acabam se mostrando como mais sólidos no processo de convivência intrafamiliar, superando estereótipos
relacionados à precedência da criança adotada, que na maioria das vezes são carentes de recursos socioeconômicos e
afetivos básicos. Desse modo, o mito que circunda o imaginário da maioria dos casais pretendentes à adoção de
crianças maiores e/ou adolescentes é que por serem mais ativos e conscientes no processo de adaptação ao novo
núcleo familiar, os filhos por adoção podem apresentar atitudes rebeldes perante os pais, o que, no entanto, muitas
vezes se contradiz, uma vez que geralmente exibem capacidade cognitiva e emocional de terem consciência da
ruptura de suas famílias biológicas.
Destarte, verifica-se então, que a capacidade dos pais adotivos de utilizarem recursos para otimizar o processo de
adaptação e inserção da criança no convívio familiar faz-se imprescindível. Outro fator importante para a construção
de vínculos é a constante estimulação da criação de laços através de atividades intrafamiliares variadas e também que
envolvam o círculo social no qual sua nova família se insere. Dessa forma, percebe-se também que o processo de
adoção de crianças maiores e/ou adolescentes, apesar de complexo, constitui-se muitas vezes como uma forma mais
fácil de se desenvolver a parentalidade na perspectiva de muitos casais, aqueles que se apresentam mais maduros

1306
(em alguns casos separados ou viúvos), estáveis emocional e economicamente, muitas vezes com filhos biológicos e
até com intenções meramente altruístas.
Conclui-se com o convite para que novos estudos ampliem a caracterização de aspectos adaptativos vivenciados neste
formato de adoção, uma vez que a sociedade ainda se encontra imersa em preconceitos que impedem a
popularização dessa prática e sua maior expressão no contexto nacional.

Palavras-chave:
Adoção, crianças maiores, adolescentes, família.

1307
Análise das práticas de cuidado com usuários de álcool e outras drogas na Atenção Básica
Autor:
Gizelly de Castro
Coautor:
ANA KALLINY DE SOUSA SEVERO (UFRN)

Este trabalho consiste na análise de uma experiência na Unidade Básica de Saúde – UBS, na cidade de Parnaíba - Piauí,
que traz como objetivo analisar a relação dos profissionais de saúde com os usuários de álcool e outras drogas. Para
contemplar o objetivo proposto, teve como objetivos específicos analisar a interface das práticas de saúde mental
com as produções criativas do território, compreender a percepção dos usuários na relação com o mundo, com outro
e consigo mesmo e possibilitar uma reflexão das práticas de redução de danos e superação do modelo proibicionista.
Esse estudo está relacionado com a temática políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em
contextos neoliberais, uma vez que, considera o conceito e a prática em saúde mental e as articulações das ações com
as produções artísticas existentes no território, para promover o vínculo com usuários de álcool e outra drogas e a
efetivação da atenção, prevenção e cuidado em saúde, pensando em diminuir os casos de vulnerabilidade em saúde e
social, ampliando a autonomia, a cidadania e a inserção social. Por meio da promoção de espaço de discussão e
reflexão sobre as práticas vigentes, o significado do modelo psicossocial e a possibilidade de aproximar as práticas de
saúde com o território dos usuários de álcool e outras drogas, que muitas vezes não tem acesso a saúde devido o
muro construído socialmente entre os drogados e os não drogados. A pesquisa tem caráter qualitativo de cunho
interventivo institucional, que busca compreender a micropolítica da instituição e conscientização dos profissionais de
saúde e usuários do processo de trabalho que estabilizam o sujeito. Pensando em erguer movimento instituinte,
capaz de construir novas formas de atuação. Usou-se como instrumentos de intervenção oficinas – Árvore do
Território, Caixa de Ferramentas e Roda de Conversas. Contribuindo para autoanálise e autogestão dos seus autores e
trazendo uma reflexão sobre os conceitos e os métodos instituídos que determinam e estabilizam as práticas em
saúde mental. A oficina Árvore do Território foi aplicada com os profissionais da saúde e usuários de álcool e outras
drogas e a Caixa de Ferramentas e Rodas de Conversa apenas com os profissionais. Essas ações eram registradas no
diário de campo, onde possibilitou anotar a percepção sobre esses agentes sociais e as implicações quanto
pesquisadora e profissional da saúde. Percebe-se que o medo, preconceito e estigma delimitam o espaço geográfico
entre instituição de saúde e os usuários de álcool e outras drogas, contribuindo para aumento da exclusão e dos
problemas de saúde e o julgamento da sociedade sobre os usuários de drogas. As ações de saúde da atenção primária
por sua vez, não conseguem produzir práticas coniventes com o território existencial, reproduzindo modelo de
controle e repressão e desconsiderando distintas formas de representação artística e cultural. Além do mais, alguns
profissionais da saúde não conseguem ir ao encontro dessas pessoas, aliados a associação do uso de droga à
criminalização. Utilizou-se para análise embasamento teórico da Análise Institucional, para compreender os
movimentos instituídos, que reforçam práticas tradicionais, bem como as forças instituintes que atravessam a clínica,
capaz de contrapor e transformar a instituição.

Palavras-chave:
Atenção Básica Análise Institucional

1308
Análise sobre a implantação da Rede de Atenção Psicossocial na em Fortaleza
Autor:
Cristofthe Jonath Fernandes (Cristofthe Fernandes)
Coautor:
Aluísio Lima (Universidade Federal do Ceará)
Pedro Santos

A lei 10.216, marco legal da Reforma Psiquiátrica brasileira, do ano de 2001, redireciona a atenção à saúde mental do
hospital psiquiátrico aos serviços comunitários, a partir de então diversos serviços são regulamentados, como os
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as Residências Terapêuticas, os Consultórios na Rua, os Hospitais Dia e os
Leitos em Hospitais Gerais. Tratam-se, portanto, de serviços substitutivos ao manicômio, que ao atuarem
conjuntamente e de forma interligada criaram a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Entendemos que assim, a
reforma psiquiátrica brasileira busca a construção de estruturas externas que sejam totalmente substitutivas da
internação no manicômio, aspecto do conceito de desinstitucionalização proposto por Rotelli, Leonardis e Mauri
(1990). Esse trabalho teve como objetivo, então, analisar a constituição da RAPS na cidade de Fortaleza. Para isso,
realizamos um estudo documental tendo como material a produções legislativas dos serviços substitutivos, e como,
ainda, dados estatísticos oficiais de todos os serviços substitutivos ofertados na cidade de Fortaleza, no período do
ano de 2007 a 2015. Foram utilizadas as bases de dados secundárias, de acesso público, Portal da Transparência do
Ministério da Saúde, CNESnet e Tabnet, esses dois últimos, sistemas de informática, gerenciados pelo Departamento
de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). A pesquisa buscou abranger a totalidade das informações
disponibilizas pelos bancos de dados no momento da consulta, realizada em outubro do ano de 2016. As informações
disponibilizadas pelo sistema Tabnet são apresentadas no formato de tabela, enquanto o CNESnet em formato de
ficha de cadastro. Assim, as informações com origem no CNESnet tornaram necessária a consulta do cadastro de cada
estabelecimento, muitas vezes, mês à mês, ou do mês fixo de setembro ao decorrer dos anos, para posteriormente
realizar-se a compilação dessas informações em tabelas, com intervalo de ano. Os dois sistemas permitem o acesso a
um conjunto variado de informações, sendo que o CNESnet detém informações a partir do ano de 2007, enquanto o
Tabnet os tem em períodos anteriores. Assim, os dados foram compilados em tabelas com periodicidade anual,
apresentando principalmente número de vagas ofertadas pelo serviço, período de atuação e número de profissionais
existentes. O conjunto dos dados levantados, legislativo e quantitativos, forma analisados a partir de uma perspectiva
da teoria crítica, realizando articulações com teóricos como Marcuse, Adorno, Horkheimer e Agamben para uma
compreensão mais complexa da realidade da assistência à saúde mental, atual. Assim, aspectos da história da atenção
à saúde mental no Brasil e na cidade de Fortaleza foram consideramos no intuito de entendermos a construção e
dinâmica da atenção manicomial existente anteriormente à reforma possibilitando uma análise mais consistente da
constituição da RAPS. A pesquisa evidenciou que concomitante à construção da RAPS na cidade de Fortaleza, ocorreu
um remodelamento do internamento psiquiátrico, seja devido a permissividade da legislação da reforma, ao tornar
ainda possível a existência do manicômio, ou mesmo ainda quando, se verificou, através do levantamento dos dados
quantitativos, a ocorrência de serviços substitutivos serem ofertados por hospitais psiquiátricos. Considerou-se,
portanto, que o atual cenário da atenção à saúde mental é alarmante.

Palavras-chave:
SaúdeMental, Desinstitucionalização, Serviços de SaúdeComunitária.

1309
As "manicomializações" em ILPI's e a urgente discussão das internações sob novas roupagens
Autor:
Ana Carolina Martins (Ministério Público SP)

A partir da prática de meu trabalho, tenho entrado em diversas instituições em municípios no entorno de São Paulo
com intuito de assessorar promotores de justiça do estado no tocante a políticas públicas. Nesse contexto de atuação
tenho me deparado com diversas roupagens de internações em instituições das mais diversas tipificações, ou nem
tipificadas, sejam da política de Saúde ou de Assistência Social, todavia sempre sob justificativa de saúde, e muitas
vezes partindo de pedidos do próprio sistema de justiça. Tem-se verificado, portanto, o próprio sistema promovendo
a violação de direitos, ênfase em direitos humanos.
Dentre instituições diversas,como comunidades terapêuticas, instituições asilares, ainda, para pessoas com
deficiência, clínicas psiquiátricas privadas - sobre as quais devemos nos debruçar e fazer discussões fundamentais
acerca das múltiplas violações verificadas nesses espaços espalhados pelo estado - destaco neste trabalho a crescente
prática de internações psiquiátricas em Instituições de Longa Permanência para Idosos, sendo este um equipamento
previsto na política de Assistência Social sem qualquer premissa de foco em atendimento em saúde, inclusive saúde
mental.
Meu primeiro objetivo é discutir sobre a recorrente internação de pessoas com menos de 60 anos nestes espaços
institucionais, o que rompe com qualquer previsão de perfil básico para ingresso nos mesmos; tem se tornado prática
comum a colocação de pessoas em ILPI com justificativa única de transtorno mental sem qualquer necessidade de
outro manejo argumentativo, o que expõe o perigo da naturalização da quebra de garantia de direitos e a
manutenção de internações sem fim.
Também pretendo discutir sobre a banalização da institucionalização de idosos com transtorno mental em ILPI's, pois
não tem havido sequer questionamento seja de qualquer órgão representativo ou fiscalizatório da legitimidade da
manutenção das pessoas com transtornos mentais que possuem mais de 60 anos nessas instituições.
Num município da Grande São Paulo que possuía 3 ILPI'S com uma média 20 pessoas cada uma, havia 3 casos de
institucionalização por justificativa de transtorno mental com o pedido de aceite das instituições do próprio sistema
de justiça, inclusive o próprio Ministério Público. As pessoas na maior parte dos casos estavam ja há alguns anos nessa
situação de isolamento e silêncio por parte de diferentes atores.
Este é um exemplo, entre tantos, para falar da necessidade de continuarmos a discutir sobre os avanços e barreiras
do movimento da reforma psiquiátrica enfrentando as novas configurações que tem se apresentado como
possibilidades, que o próprio estado legitima, no movimento de isolar, esconder, conter, retirar aqueles que sofrem
com transtornos mentais.
É urgente que discutamos as novas formas de "manicomializar" para que assim possamos enfrentar, não como formas
desconhecidas, mas velhas formas sob outras roupas que muitas vezes fazem com que não as vejamos. Com este
trabalho dentro do Ministério Público, entendo a necessidade de transformar por dentro, mas também sinto no corpo
a urgência de informar para fora para que juntos construamos pensar e agir.
É preciso identificar quais são os instrumentos de cerceamento; assim escolhi discutir sobre as ILPI'S porque entendo
que é o local que vejo menos discussões a respeito e achei com isso que nesse momento fosse o caso de dar luz a este
espaço.
Expor, pensar e continuar a transformar.

Palavras-chave:
Saúde mental ILPI manicômio

1310
As medidas socioeducativas em adolescentes e sua efetividade: uma revisão integrativa da literatura científica
Autor:
Manuela Carvalho Dantas (UFTM)
Coautor:
Fabio Scorsolini Comin (UFTM)
Julie Hernandes (UFTM)

Entendendo a adolescência como um período de mudanças que perpassam o âmbito físico e afetam a personalidade
e a atuação dos adolescentes na sociedade, pode-se pensar em diversos fatores relacionados ao cometimento do ato
infracional. Desta forma, as medidas socioeducativas surgem como uma forma de tratar o autor de tal ato,
focalizando principalmente no caráter educativo. É importante avaliar essas medidas, num âmbito social, para que as
leis do ECA sejam verificadas se funcionam de uma forma que despertem o sentimento de ressignificação da vida dos
adolescentes que cometem ato infracional, já que os mesmos muitas vezes vêm de contextos sem muita instrução
educacional ou suporte emocional. Assim, o presente estudo reunirá perspectivas de socioeducadores, jovens em
cumprimento de medidas socioeducativas, familiares dos jovens e demais profissionais que contribuem com esse
sistema.
Este estudo objetiva apresentar uma revisão integrativa da literatura científica nacional acerca da efetividade das
medidas socioeducativas em adolescentes. Tal investigação se torna relevante para avaliar em que medida os
aspectos legalmente previstos estão sendo corporificados na prática, pensando também em possíveis lacunas de
produção e intervenção, além do delineamento das investigações correntes e seus principais resultados, em direta
elaç oà o àoàei oàdeà Políti asàpú li as,àdi eitosàso iaisàeàp ti asàdeàe a ipaç oàe à o te tosà eoli e ais .
Tratando-se de uma revisão integrativa da literatura brasileira, a proposta é sintetizar artigos que discorram a questão
das medidas socioeducativas e sua efetividade. A partir da delimitação do tema, do objetivo e da pergunta
norteadora, foi realizada a pesquisa nas bases de dados Scielo, PePSIC e LILACS. Os critérios de inclusão consistiam em
artigos em português, indexados nessas bases de dados citadas, publicados entre janeiro de 2011 e setembro de
2016, pertinentes ao tema e que aprese tasse àele e tosàpa aà espo de àaà uest oà o teado aà Deàa o doà o àaà
lite atu aà ie tífi a,à o oà à aà efi iaà dasà edidasà so ioedu ati asà e à adoles e tes? .à Fo a à e luídosà uais ue à
textos que não fossem artigos, como teses, dissertações, livros, capítulos de livros e resumos, bem como artigos de
revisão e estudos que se distanciassem do tema ou que não contribuíssem para responder à questão norteadora
delimitada. A partir disso, a coleta se deu por meio do procedimento de dois juízes independentes que empregaram
os mesmos descritores, nas mesmas bases, aplicando os critérios de inclusão e exclusão definidos. Ao todo foram
encontrados 192 artigos e em seguida mediante a análise dos títulos e resumos, 41 foram selecionados. Após uma
discussão dos que realmente seriam pertinentes, foram recuperados 18 estudos que compuseram o corpus analítico.
O referencial teórico foi construído com base na articulação teórica dos estudos encontrados.
Diante dos artigos recuperados pode-se constatar que prevaleceram artigos qualitativos e exploratórios. O ano de
maior recorrência das publicações foi o de 2013. Os autores mais mencionados nessas produções foram Skileksi,
Galeano, Santos e Silva. As instituições de origem dos autores que mais publicaram sobre essa temática foram UCDB e
UNB, com destaque para o periódico Psicologia & Sociedade. Tratando-se dos objetivos apresentados pelos artigos,
todos tem um ponto comum: interpretar como as medidas socioeducativas têm sido cumpridas e instrumentalizadas;
e de que forma as pessoas que, em alguma instância participam de tal sistema avaliam as medidas e as significam.
Aqui se encaixam profissionais socioeducadores, psicólogos, a família e o adolescente. Verificou-se que as avaliações
negativas se dão em maior quantidade. As medidas de privação de liberdade são criticadas pelo seu caráter punitivo,
muitas vezes restringente à liberdade e expressão de subjetividade dos jovens, podendo gerar até transtornos
comportamentais. No entanto, é considerada a única medida capaz de geral algum sentimento nos jovens, seja bom
ou ruim. A medida de liberdade assistida não parece gerar nenhuma mudança. E para as famílias, a internação está
relacionada ainda com proteção dos jovens, mesmo não sendo realmente positivas.
Por fim, a principal conclusão apresentada pelos artigos trata-se da importância da criação de projetos sociais e
políticas públicas que atendam a questões como projetos de vida, reincidência ao ato infracional, ressignificação do
ato e reinserção social. A respeito das medidas em si, fica claro que não são totalmente eficazes e não satisfazem
totalmente as previsões do ECA.
Basicamente todos os artigos concordam que alguns pontos das medidas socioeducativas são passíveis de crítica.
Questões como a dificuldade de reinserção na sociedade, representações sociais do ato infracional e da medida, a
1311
falta de ações que impeçam a reincidência, a falta da promoção de elaboração de projetos de vida para os
adolescentes que atuassem de uma forma ativa nesses processos se evidenciam. Desta forma, conclui-se a
necessidade da criação de políticas públicas neste âmbito para a melhor efetividade do sistema socioeducativo e da
promoção de qualidade de vida para os jovens em conflito com a lei, bem como investimento para atender outros
critérios que preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Palavras-chave:
Medidas socioeducativas; Adolescentes; Infrator

1312
Atendimento a indivíduos em cumprimento de medida socioeducativa por uso indevido de drogas: uma postura de
atuação
Autor:
André Luiz Vieira (Unilavras)
Coautor:
André Luiz Vieira (Unilavras)

Esteà t a alhoà à efe e teà aoà P ojetoà deà E te s oà i tituladoà po à Ta oà Ju to – Intervenção breve a pessoas com
p o le asà de o e tesà doà usoà deà su st iasà psi oati as .à Esteà p ojetoà a o te eà desdeà oà i í ioà deà à e à u aà
parceria do Centro Universitário de Lavras – Unilavras com o Juizado Especial – Comarca de Lavras, MG em trabalho
conjunto de alunos da graduação do curso de psicologia e dos Juízes da região. O tratamento do usuário de droga e a
visão que se tem da droga na maioria das instituições (estatais ou privadas) possuem uma visão proibicionista e é
necessário destacar a construção e conservação de cunho moral voltadas a padrões socialmente enraizados. A nível
sócio histórico destaca-se a proibição e o estereótipo nas pessoas que são usuárias ou que já fizeram o uso, gerando
com isso, a marginalização dos mesmos. Juridicamente, a droga possui duas designações: ilícitas - quando a produção,
comercialização e uso não são permitidos por lei - e lícitas - quando estão disponíveis e podem ser vendidas segundo a
constituição brasileira, como o tabaco e o álcool. O objetivo da parceria com o judiciário é fornecer aos que cumprem
medida socioeducativa por uso indevido de drogas, a opção de receber atendimento específico acerca do uso
problemático de drogas de modo a refletir sobre esse e seus possíveis fatores associados, como danos a saúde,
incentivando a redução de danos, e fatores legislativos, para que se evite uma nova ocorrência legal. O objetivo deste
projeto de extensão é o de implementar e desenvolver estratégias de assistência a usuários de álcool e outras drogas
em cumprime toà deà edidaà edu ati aà deà o pa e i e toà aà p og a aà ouà u soà edu ati o à e à de o iaà deà
abordagem por porte de substâncias ilícitas, a partir da metodologia de intervenção breve, para que a pessoa possa
ser escutada. Gigliotti (2010) aponta outras duas características importantes da Intervenção Breve na atuação
psicossocial: a simplicidade e o baixo custo. Diante do baixo custo e evidente atuação psicossocial no tratamento de
prejuízos gerados pelo uso de substâncias, Silva e Miguel (2011) destacam a realização e desenvolvimento de triagem
e intervenção centrada no cliente em curto espaço de tempo, objetivando motivar os usuários em relação a
mudanças de comportamentos acompanhados do abuso da substância e auxiliá-los na identificação de possíveis
problemas futuros decorrentes do uso, reduzindo os danos do mesmo com a sociedade e saúde. Além disso, vale
ressaltar que essa técnica não faz diagnóstico de dependência de álcool e outras drogas, e sim aponta problemas que
podem ser avaliados com cautela e, possivelmente direcionar o atendimento (Silva & Miguel, 2011). As evidências
indicam que é mais eficaz o uso de IB em situações de uso abusivo e não para dependência. Os estagiários,
graduandos de psicologia, têm por finalidade atender usuários de álcool e outras drogas, utilizando-se da metodologia
de intervenção breve, que se destaca como sendo uma das estratégias possíveis para prevenção ao consumo de risco
eàp o le asàde o e tesàdoàusoàdeàd ogas.àNoà Ta oàJu to àeleà àfeitoà o àt sàsess esàp -estruturadas de 1h de
duração cada uma, que antecede a possível psicoterapia discutindo com o indivíduo as opções de mudança para
prevenir problemas, se for o desejo do atendido, que é oferecida no conseguinte ao terceiro encontro da IB. Os
indivíduos em cumprimento de pena são submetidos a atendimentos individuais realizadas em uma sala
disponibilizada no Juizado Especial Criminal. O projeto de extensão descrito já foi apresentado no Encontro Regional
da ABRAPSO e em outros eventos acadêmicos. Espera-se que após participação nas sessões de intervenção breve, o
sujeito possa desenvolver a capacidade de identificar e relacionar seus problemas ao uso de álcool e/ou outras drogas
e motive-se à modificação de seu estilo de vida visando prevenir novas reincidências em delitos decorrentes do
consumo de substâncias psicoativas bem como outros problemas clínicos, familiares e sociais.

Palavras-chave:
Intervenção_breve; políticas_públicas; psicologia_social; juizado_especial; substâncias_psicoativas.

1313
Bolsa-família e a possibilidade de uma vida mais vivível
Autor:
Emilia (UFSC)
Coautor:
Paulo Miranda (UFSC), Kátia Maheirie (UFSC), Ana Hining (UFSC)

O trabalho originou-se a partir de uma pesquisa realizada nos Centros de Referência Social da cidade de Florianópolis-
Cras, que integram o Serviço Único de Assistência Social – SUAS- implantado em 2004 em todo Brasil. A partir das
entrevistas com os trabalhadores do serviço, constatou-se que as equipes do Cras são majoritariamente compostas
por mulheres. Da mesma forma, os usuários que acessam o serviços são majoritariamente mulheres. Além disso, a
Política de Assistência Social toma as mulheres como protagonistas, principalmente quando regulamenta que estas
são as preferenciais beneficiárias, tornando-as o principal sujeito na relação com o Cras. A partir deste cenário, o
presente trabalho tem como objetivo pensar as relações entre mulheres usuárias e Cras, investigando se é possível
considerar que o serviço produz o reconhecimento destas, na medida em que são tomadas enquanto sujeitos ativos e
protagônicos diante da família, da comunidade e do estado e, consequentemente, se é possível inferir uma redução
da precariedade desse grupo, em situação de vulnerabilidade pela condição de pobreza e por questões de gênero.
áà elaç oà o àoàei oà àPolíti asàpú li as,àdi eitosàso iaisàeàp ti asàdeàe a ipaç oàe à o te tosà eoli e ais àseàfazà
na medida que o trabalho propõe pensar as políticas públicas e seus efeitos na produção de sujeitos e mudança nas
relações comunitárias, tratando de investigar se o Bolsa-Família tem produzido uma mudança na ordem das relações
de gênero, promovendo a redução da precariedade e o reconhecimento das mulheres pobres que acessam o serviço.
Est à ali hadoà aoà GTà C íti aà “o ial,à Di eitosà Hu a osà eà Psi ologiaà “o ial à po ueà est à pe sa doà u à e ioà
tipicamente brasileiro, na medida que trata do Serviço de Assistência Social brasileiro e relaciona-se com dificuldades
próprias dessa população, alinhado a uma perspectiva de transformação social e de afirmação da vida. Além disso,
insere-se no debate das teorias do reconhecimento a partir de Judith Butler, que vem pensar as normas sociais que
tornam certos sujeitos reconhecíveis e outros mais difíceis de reconhecer.
Nesse sentido, o trabalho está fundamentado principalmente nos escritos da teórica Judith Butler, pensando
principalmente os conceitos de reconhecimento, precariedade e norma. A precariedade para a autora é tratada como
uma condição ontológica e está ligada com viver socialmente, de modo que a vida humana, sendo por condição
precária, está sempre de alguma forma ligada às mãos de outros. A norma trata dos discursos tidos como naturais que
constituem os sujeitos e dão a eles esse status – de sujeito – ou não. Da mesma forma, o reconhecimento está
relacionado à ser reconhecido enquanto sujeito, de modo que uma vida tem que ser lida como uma vida e se
conformar a certas concepções do que é a vida para ser então reconhecível.
A metodologia utilizada foi de base qualitativa, de modo que foram realizadas entrevistas coletivas com os
trabalhadores dos diversos Cras de Florianópolis, criando categorias a partir das informações produzidas no campo.
Para pensar as entrevistas usamos o método institucional do discurso, tomando-o enquanto uma analítica da
subjetividade que considera o papel do método na produção de verdades que formula.
A partir das análises das entrevistas e de bibliografias sobre o tema percebeu-se que o Cras e a entrega do Bolsa-
família preferencialmente às mulheres tem reconfigurado as relações de gênero e produzindo relações de
reconhecimento. Diminui a precariedade da condição de pobreza por estabelecer a transferência de renda e das
relações de gênero quando a articulação do serviço com a família se dá através da mulher, que tem o serviço
enquanto parceiro para sustentar esse lugar. Além disso, ainda que relacione mulher à família, produz-se um
movimento de saída do espaço privado e ocupação dos espaços públicos a partir da participação dos grupos e
atividades coletivas propostas pelos Cras nos diversos espaços do território. É possível afirmar, portanto, que a
precarização do Suas a partir da falta de investimentos nos serviços públicos tem como consequência o aumento da
precariedade das vidas que acessam o serviço, digam-se, as camadas mais vulnerabilidades.

Palavras-chave:
Políticas Públicas, Bolsa-Família, Mulheres, Butler

1314
Contextualizando a personalização do menor infrator no Brasil: uma revisão narrativa
Autor:
Camila Araujo Braga (UFU)

Introdução: O tema das medidas ligadas a atos infracionais praticado por crianças e adolescentes no Brasil necessita
problematizar diversas dimensões da criminalidade entre os jovens. Concepções sobre a responsabilidade criminal e
sobre a infância, presentes em culturas e momentos históricos diversos, consideram de diferentes modos o grau de
responsabilização passível de ser atribuído à criança. Nesse panorama, o presente trabalho teve como objetivo
compreender a construção histórica dos direitos de proteção e das medidas de punição/responsabilização de ato
infracional envolvendo crianças e adolescentes no Brasil. Método: Estudo teórico, englobando revisão de literatura
por meio de pesquisa em bases de dados e análise documental do Código de Menores. Resultados: Historicamente,
representações sociais associadas ao ato infracional no Brasil enfatizam a personalidade do autor, obliterando o papel
das condições sociais, das instituições ligadas à repressão e punição e da categorização social da noção de
criminalidade. As concepções sobre a infância visaram o controle estatal sobre populações pobres em detrimento da
garantia de direitos, não havendo, durante décadas, distinção entre ato infracional e simples abandono. Até a década
deà ,àoàC digoàdeàMe o esàe glo a aàasàduasà o diç esà aà atego iaà situaç oài egula ,àdete i a doàaàa asà
privação de li e dadeà aà es aài stituiç o,àeàdefi iaà o oà e postas ,àpassí eisàdeài stitu io alizaç o,à ia çasàe à
condições como estar nas ruas sem ocupação e sem receber instrução, não estar acompanhado de responsável ou se
ela io a à o à pessoasài p p ias .àE bora inaugurasse algumas medidas protetivas para crianças e adolescentes,
o Código de Menores ainda não os consideravam cidadãos de direitos, não havendo dispositivos sociais ou políticos
garantidores de escolarização universal e tutoria de adultos. Ao receberem menores em condições de vulnerabilidade,
abandono ou infração da lei, as instituições atuavam com propósito disciplinar e punitivo. Mesmo com a criação de
instituições exclusivas para responsabilização de crianças e adolescentes autores de ato infracional, a partir da década
de 1940, permanecia o caráter punitivo e a presença de maus tratos. Somente a promulgação do Estatuto da Criança
e Adolescente (1990) institui os mesmos direitos do cidadão adulto, proteção especial dada a condição peculiar de
desenvolvimento da infância e regulamentação de medidas socioeducativas para autores de ato infracional.
Discussão: O tratamento à infância no Brasil demonstra o julgamento moral da pobreza e da manifestação infantil,
simultaneamente promovendo a exclusão social de espaços de inserção garantidores de cidadania em longo prazo e a
desconstrução do senso de identidade civil nos processos de privação de liberdade voltados à infância. Embora a
instituição de novos dispositivos jurídicos, institucionais e políticos tenha transformado grande parte das práticas
encontradas, a tradição autoritária e marcada pela desigualdade social historicamente preponderante influencia
políticas públicas voltadas à ressocialização do jovem em conflito com a lei. Tais concepções individualizantes e
objetificadoras do sujeito, comumente presentes em diagnósticos e laudos de periculosidade, transformam noções
como transtorno opositor, transtorno de personalidade antissocial e psicopatia em categorias legitimadoras de
processos de estigmatização, patologização e exclusão social. Desconsiderando a condição de exclusão
socioeconômica e cultural envolvidos no conflito com a lei, restringem caminhos para apoio e oportunidades efetivos.

Palavras-chave:
ato infracional adolescência direitos

1315
Da marginalidade à inclusão: Perspectivas do egresso do sistema prisional que participa do Programa de Inclusão
Social de Egressos do Sistema Prisional (PrEsp)
Autor:
Patricia Brassalotto (UFTM)
Coautor:
Cristiane Paulin (UFTM)

A situação das penitenciárias atualmente no Brasil é precária, vinculando-se às forças sociais, questões de soberania,
uso da força, privação da liberdade e coerção às normas. As condições de sobrevivência e segregação afetam a
constituição íntegra do sujeito institucionalizado, e de toda a sociedade, não contribuindo efetivamente na
preparação para a vida fora da instituição e nem para a transformação dos sujeitos, cidadãos de direito, que ali se
encontram. Além do estigma, a trajetória pessoal e ocupacional anterior dos egressos, marcada pela má distribuição
de renda, pouca escolaridade e qualificação profissional, contribuem para a permanente situação de vulnerabilidade
social desses sujeitos, favorecendo a condição de marginalidade. Dessa maneira, é importante a aplicação de políticas
públicas e programas que efetivamente promovam o remanejamento do detento no convívio social, a fim de evitar a
possibilidade de reincidência e desprestígio das normas legais referidas. Este trabalho teve como objetivo
compreender as perspectivas de egressos do sistema prisional, participantes do Programa de Inclusão Social de
Egressos do Sistema Prisional (PrEsp), com relação a sua condição enquanto egresso e as repercussões do
encarceramento na sua subjetividade. Trata-se de um estudo de corte transversal, descritivo e exploratório, de
análise qualitativa dos dados. Uma entrevista inicial, com roteiro semi-estruturado, foi realizada com uma das
gestoras do PrEsp, a fim de colher informações descritivas da instituição e de seu funcionamento. Identificou-se que o
público-alvo do PrEsp abarca pessoas em regime aberto, prisão domiciliar, livramento condicional, liberdade definitiva
e seus respectivos familiares. A maioria é homem, adulto, pardo ou negro, com ensino fundamental incompleto e que
não possuem contrato de trabalho. São moradores de áreas urbanas, condenados por crimes relacionados ao tráfico
de substâncias entorpecentes ilícitas, crimes contra patrimônios, furtos, roubos, latrocínio e homicídio. As principais
demandas são: vaga de emprego no mercado formal de trabalho, baixa renda, acesso à justiça e recebimento de
pecúlio. O segundo passo da pesquisa foi a realização de um grupo focal com aproximadamente dez egressos que
frequentam o PrEsp, discutindo questões sobre trajetória prisional, percepções sobre o trabalho, educação e saúde,
projeto de vida, relações familiares e reinserção social. A sessão foi gravada e depois transcrita para análise de
conteúdo temática. Foi possível identificar que uma situação mais vulnerável, anterior ao aprisionamento, pode se
fazer presente no envolvimento dos egressos em seus respectivos delitos, e que ela se mantem durante sua vivência
prisional e também posteriormente, marcando suas vivências e influenciando em futuros projetos de vida. A baixa
visibilidade, oportunidade e espaço numa sociedade excludente demonstram a urgência em se desmistificar a
estigmatização dessas pessoas, a fim de estimular debates acerca do grave problema de assistência ao preso e ao
egresso, sem perder de vista a necessidade de justiça e respeito a cidadania. Os recursos materiais e humanos são
escassos, quando não ausentes, nesse processo, agravando ainda mais as condições de sobrevivência, com falta de
cuidado médico, psicológico, social e odontológico. É notório como a falta de suporte dentro da penitenciária, até em
aspectos básicos de sobrevivência, juntamente com a falta de investimento e preparação para a saída, podem levar à
reincidência, tornando o sistema prisional um ciclo disfuncional ao não oferecer alternativas efetivas. A reintegração
proposta pelo PrEsp, incluindo diversos públicos-alvo, assume caráter mediativo, problematizando as formas de
subjetivar produzidas nesse e por esse contexto da privação de liberdade, além da importância de se ter Programas e
Políticas públicas com ações mais eficazes que visem a real reintegração do sujeito institucionalizado.

Palavras-chave:
egressos prisionais; reinserção social; subjetividade

1316
Democracia, Garantia De Direitos e Juventude: Demandas E Embaraços
Autor:
Gabriel William Lopes (UFMT)
Coautor:
CLAUDENILDE LOPEZ (UFMT)

Vale dizer que com o alargamento da convivência social, o psiquismo se enriquece, ampliando, assim, as
possibilidades de novas identificações. Em termos políticos, no cenário brasileiro atual existem poucos parlamentares
e autoridades que sirvam de modelos identificatórios positivos a ser associados intersubjetivamente. O fenômeno é
danoso para a juventude, maioria populacional excluída da vida econômica sociocultural, carente de políticas para
reversão desse quadro. Desse modo o presente trabalhoà àoà esultadoàdoàp ojetoàdeàe te s oà Jo e sàeàDe o a ia ,à
realizado no decorrer do ano de 2016, na Universidade Federal do Mato Grosso. Este, por sua vez, objetivou fomentar
a inserção de jovens estudantes no debate político e colaborar para sua formação política. Criou espaços sociais para
que debatesse com jovens lideranças a articulação entre juventude, processos democráticos e políticos e a garantia
de direitos à categoria. Organizou-se quatorze eventos quinzenais, que ocorreram no Auditório da Associação dos
Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – ADUFMAT. O conteúdo dos encontros quinzenais
consistiu em perguntar à duas jovens lideranças de movimentos sociais, movimentos estudantis, membros de
coletivos internos e externos da respectiva instituição de ensino e representantes de centros acadêmicos o significado
das noções de jovem, política e democracia. A dinâmica dos eventos estruturou-se em três momentos. No primeiro
momento as duas lideranças apresentaram seus pontos de vista acerca dessas três noções. No segundo momento as
lideranças debateram seus pontos de vista com o público inscrito. No terceiro, os participantes avaliaram,
coletivamente, os encontros e por fim o evento de um modo geral. Os relatórios, produzidos a cada evento, mostram
que o projeto criou um espaço social de exercício da prática democrática, na convivência civilizada e consciente da
cidadania como expressão da política. O referencial teórico adotado perpassou pela psicologia histórico-cultural, uma
vez que compreende os sujeitos num processo de construção constante que parte da relação dialética entre fatores
históricos e culturais no processo constitutivo dos mesmos. A primeira categoria de análise proposta pelo projeto
consistiu em averiguar o sentido político dos discursos identificatórios: quando mostram posições políticas
democráticas e quando mostram posições conservadora. Entretanto, na medida em que os encontros ocorreram foi
possível adotar uma nova unidade de análise, que consiste em compreender como a inserção em processos políticos e
democráticos é vivenciada diferentemente por cada liderança expositora e pelo publico presente que dialogava
durante os espaços. Tendo em vista que ao longo do projeto houveram representantes do movimento feminista,
coletivos negros, LGBT e outras organizações de minorias ativas que expuseram cativantes discussões e vivências,
demonstrando o quanto cada uma dessas categorias é decisiva no modo pelo qual tais sujeitos são pensados em um
plano político e como se dá (quandoàe iste àaàsuaài se ç oà oàatualà egi eà de o ti o .àásài te e ç esàp opostasà
estavam relacionadas com o processo de formação política e consciente dos envolvidos (através das discussões e
embates ocorridos durante cada encontro), visando também a promoção da autonomia de pensamento e
empoderamento sociopolítico dos participantes. Ademais, concluiu-se que esses espaços são urgentes: é sobre jovens
que recai o maior prejuízo de decisões governamentais excludentes. O projeto atingiu seus objetivos. Promoveu a
convivência franca e democrática na formação crítica de jovens inseridos em processos de cidadania.

Palavras-chave:
Juventude, Democracia, Política, Direitos.

1317
Desafios e possibilidades para o trabalho das (os) psicólogas (os) do CRAS em tempo de crise
Autor:
Raquel Barreto (IFNMG/UFMG)
Coautor:
Michele Castro (Puc MG)
Ana Flávia Sales (PUC MINAS)

Este trabalho tem como objetivo problematizar os desafios contemporâneos para a atuação da (o) psicóloga (o) no
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), em um contexto sócio-histórico de crises políticas, econômicas e de
perdas de direitos. A promulgação da Constituição Federal em 1988 alterou significativamente a organização político-
administrativa do Brasil, uma vez que nela foram introduzidos princípios que preconizam a descentralização e a
participação da sociedade civil organizada nas instâncias de elaboração e definição de políticas públicas. Interessa
especialmente neste trabalho o processo de reorganização da Política Pública de Assistência Social, que se traduziu
em 1993 na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e, mais recentemente, na criação do Sistema Único da
Assistência Social (SUAS), em 2005. Todo esse aparato legal e as práticas advindas possibilitaram que a assistência
social passasse a integrar a Política de Seguridade Social juntamente com a saúde e a previdência social, fazendo com
que a rede de proteção social alterasse seu enfoque estritamente assistencialista para uma conotação ampliada de
direito e cidadania, na busca de práticas formais para a diminuição da pobreza e de desigualdade social. A partir do
SUAS, a área da assistência social se estrutura com a implantação dos CRAS e de outros equipamentos de proteção
social nos municípios. Desde então, importantes reformulações normativas têm acontecido, as quais têm alterado
não só o padrão de funcionamento de tal política pública, mas da mesma forma o papel e as competências dos atores
nela envolvidos. A inserção do psicólogo neste cenário implica em mudanças nos processos de trabalho e
intervenções sociais, e no desenvolvimento de novas competências e saberes. Todavia, tem-se observado que o
contexto atual é marcado por uma crise econômica e política que consiste na perda dos postos de trabalho formal, na
diminuição do orçamento destinado à rede de proteção social e em ameaças à sustentabilidade dos avanços
alcançados no que diz respeito à redução da pobreza e da desigualdade. Nesse sentido, quais os impactos percebidos
sobre a atuação da (o) psicóloga (o) mediante a esse cenário? Configura-se um panorama desafiador para a
consolidação dos princípios e diretrizes do SUAS e para a manutenção das conquistadas sociais já alcançadas no Brasil.
Com o objetivo de garantirmos o fomento à construção de uma Psicologia Social comprometida com as questões
atuais e os problemas gerados pela desigualdade social em nossa sociedade, propõe-se nesse ensaio pensar a atuação
da (o) psicóloga (o) no CRAS. Tendo a psicologia sócio-histórica como referencial teórico para uma atuação
comprometida com a transformação social, buscamos conduzir a discussão a partir da categoria de sofrimento ético-
político proposta por Sawaia (2009, 2015), compreendendo que o trabalho no campo da política pública de assistência
social tem peculiaridades inerentes ao viver numa condição de desigualdade social. Para tanto, faz-se necessário
fundamentar e debater os processos, as concepções políticas que regem tais equipamentos, bem como o contexto
social, econômico e histórico em que estão inseridos. É importante destacar que a leitura desse contexto compreende
uma visão tanto macro quanto micro social, considerando as situações de pobreza, privações e exclusão a que são
submetidas parcelas da população brasileira. Discute-se, nesse sentido, que o sofrimento causado pela desigualdade
tornou-se, mais do que nunca, o foco do fazer da psicologia no CRAS.

Palavras-chave:
CRAS Atuaçãoprofissional Psicologia Transformaçãosocial.

1318
Desafios na atenção psicossocial de crianças e adolescentes usuários de álcool e drogas.
Autor:
Michelle Martins
Coautor:
João Luiz Paravidini (UFU)

A recente implantação de política públicas em Saúde Mental voltadas para crianças e adolescentes usuários de álcool
e drogas e consequentemente a inserção dessa clientela nos serviços de atenção psicossocial tem gerado impacto e
desafios na assistência. Esta pesquisa almejou compreender como o cuidado em Saúde Mental para crianças e
adolescentes usuárias de álcool e drogas foi sendo montado através da história, política e história institucional de um
CAPSI, bem como os impactos e desafios que perpassam a assistência psicossocial infanto-juvenil. A Psicanálise como
teoria e método nos guiou nesta trajetória. E percorremos o caminho pela história com enfoque para concepção de
infância e adolescência, a legislação em saúde mental infanto-juvenil, história institucional de um Centro de Atenção
Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSI) e através do acompanhamento de um caso de um adolescente atendido neste
serviço. Esta pesquisa psicanalítica também teve um caráter de intervenção propiciado pelo acompanhamento do
caso M. e do cotidiano do CAPSI. Utilizamos como recurso metodológico um diário metapsicológico de campo que se
baseou em três eixos: a pesquisa etnológica, observação participante, e o diário clínico. A leitura dirigida pela escuta
psicanalítica e a transferência instrumentalizada nos possibilitou realizar análise dos dados e construir um ensaio
metapsicológico e a construção do caso clínico. Neste processo percebemos que parecia haver uma trama que
envolvia relações de poderes tanto na política quanto na história institucional e que influenciava diretamente as
práticas do cuidado na atenção psicossocial para crianças e adolescentes usuários de álcool e drogas. Observamos um
movimento de uma inclusão da clientela de usuários de álcool e drogas no CAPSI, provocada pela implantação da
legislação para usuários de álcool e drogas e por pressão política para a responsabilização da assistência ao público
infanto-juvenil que vivencia sofrimento psíquico e faz uso de álcool e drogas. Esta inclusão forçada impactou no
serviço gerando uma crise institucional e por sua vez gerou práticas de exclusão, baseadas no controle e na vigilância
a este público dentro do próprio serviço.àEsteàpú li oàfoià ha adoàdeà pa ie tesàads àeàe a à o side adosàdeàdifí ilà
manejo, pois apresentavam uma maneira muito dinâmica de se relacionar com o lugar que estavam. Percebemos que
estes meninos possuíam questões para além do consumo de drogas, como o diagnóstico de outros transtornos
mentais, falta de suporte familiar e social e representavam um grupo de marginalizados socialmente. Em relação a
essa trama paradoxal de inclusão e exclusão, notamos que havia um movimento que estava se repetindo, pois
aconteceu de forma semelhante em outros momentos. Sendo primeiro com a inclusão de crianças e adolescentes
psicóticas e autistas e posteriormente com a inclusão da clientela de crianças e adolescentes com transtornos de
déficit de atenção e hiperatividade e as diagnosticadas com transtorno de conduta. Com o final do nosso
acompanhamento percebemos que uma nova clientela vem se apresentando no cotidiano da instituição e que tem
gerando tensão no serviço: a de crianças e adolescentes com tentativas de autoextermínio. Acreditamos que
entendendo esse movimento pode nos ajudar a repensar as práticas cuidados e nos mobilizar para a construção de
uma clínica possível no cotidiano dos serviços de atenção psicossocial infanto-juvenil. Propomos também através da
clínica peripatética uma possibilidade de construção de práticas de cuidado que valorize as especificidades da infância
e da adolescência e a singularidade de cada sujeito.
Dessa forma, almejamos que esta pesquisa possa contribuir para ampliação da discussão de políticas públicas voltadas
para infância e adolescência e para a construção de uma clínica nos serviços de Saúde Mental.

Palavras-chave:
Infância,Adolescência, Saúde Mental, Psicanálise.

1319
Dia Mundial de luta contra a aids: importância da prevenção e do combate ao preconceito
Autor:
Patrícia Paiva Carvalho (UFTM)

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, aids, caracteriza-se como uma manifestação clínica avançada da infecção
pelo Vírus da Imunideficência Humana (HIV), que gera uma imunodeficiência grave, aumenta a chance do surgimento
de infecções e neoplasias associadas, podendo levar a morte. É um fenômeno de largas proporções e por seu caráter
pandêmico e gravidade, representa um problema mundial de saúde pública. Durante as últimas décadas, a
disponibilidade da Terapia Antirretroviral levou a uma diminuição relevante da morbidade e da mortalidade
relacionadas ao HIV/aids, assim como aumento da qualidade e expectativa de vida de pessoas vivendo com HIV/aids
(PVHA). Desse modo, a infecção passou a ser entendida como uma condição crônica. Nota-se que a infecção por HIV/
aids, desde seu início, trouxe publicamente a discussão acerca da sexualidade e vida privada das pessoas, estigmas e
preconceitos foram criados e outros reforçados. Problematizar a construção social da AIDS, bem como o
planejamento de políticas públicas que busquem desconstruir estigmas e superar a discriminação, talvez seja o
caminho mais efetivo de combate à infecção e de promoção de uma melhor qualidade de vida PVHA. Assim o dia 1°
de dezembro, o Dia Mundial de Luta contra a aids, torna-se um momento de se combater os estigmas e preconceitos
que perpassam a vida de PVHA, reforçar a prevenção do HIV/aids e reafirmar o apoio a esta luta. A partir dessas
considerações, surgiu o interesse e a iniciativa da equipe multiprofissional da Clínica de Doenças Infecciosas e
Parasitárias do Hospital de Clínicas (HC) da UFTM/Filial Ebserh de promover uma intervenção no dia 1° de dezembro
em vários espaços dessa instituição, com foco na prevenção do HIV, combate ao preconceito e fortalecimento de
PVHA como cidadãos de direito. Este trabalho teve como objetivo apresentar um relato de experiência dessa
intervenção, que foi realizada no dia 1° de dezembro de 2016, na entrada principal, na sala de espera dos
ambulatórios e nas enfermarias do HC- UFTM. A intervenção foi conduzida por Assistentes Sociais, Psicólogos e
Terapeutas Ocupacionais, destinado aos trabalhadores, usuários e visitantes/acompanhantes dos usuários do HC-
UFTM. Foram confeccionados e fixados cartazes e faixas, além de distribuição de panfletos e preservativos, e
realização de rodas de conversa nos espaços descritos acima. As rodas de conversa tiveram como temas:
apresentação da infecção por HIV/AIDS, das profilaxias existentes, da importância da prevenção e testagem para HIV,
apresentação do tratamento antirretroviral e sua importância, dos direitos sociais de PVHA e da importância do
combate ao preconceito e estigma relacionados a infecção. Houve uma participação ativa do público- alvo, que
relatou ter se sentido ouvido, acolhido e melhor orientado. Essa intervenção se apresentou como um espaço de
escuta e de diálogo aberto junto à sociedade e de se retificar a importância da prevenção do HIV, do diagnóstico
precoce, do tratamento antirretroviral e dos direitos de PVHA. Ainda é necessário aperfeiçoar esse tipo de
intervenção e espera-se contribuir cada vez mais para a desconstrução de estigmas, superação da discriminação e
promoção de modos de enfrentamento da doença, fortalecendo PVHA enquanto cidadãos de direito.

Palavras-chave:
HIV; Aids; prevenção; cidania; direitos

1320
Discurso e ideologia: a violação do direito à vida em três momentos políticos do Brasil
Autor:
Ana Clotilde Coutinho (UFPB)

A pena de morte tem sido foco de diversos estudos há décadas, e, continua sendo um assunto bastante polêmico e
atual, que levanta posicionamentos e argumentos em todo o mundo. Neste sentido, o presente trabalho teve como
objetivo principal analisar os diversos discursos utilizados pelos dois jornais mais importantes de São Paulo (o Estado e
a Folha) ao abordarem o tema da pena de morte em cada um dos três períodos políticos dos últimos cinquenta anos
da história brasileira: Ditadura (1968 a 1974), período de transição da ditadura para a democracia (1987 a 1995) e
período democrático relativamente recente (2005 a 2011). Para isso, foi utilizado como material de coleta, os artigos
dosà jo aisà oà Estadoà deà “ oà Paulo à eà áà Folhaà deà “ oà Paulo à ueà ap ese ta a à oà títuloà aà e p ess oà pe aà deà
o te .àOà ate ialàfoiàa alisadoà àluzàdaàT nica de Análise de Conteúdo, com o propósito de encontrar os principais
temas citados sobre a pena de morte pelos jornais estudados. Para a realização do tratamento dos dados, foi
realizado um recorte temporal, em que foram contemplados os anos representativos sobre a ditadura (1969, 1970,
1971, 1972), anos após a instauração da ditadura no Brasil marcado pelo governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-
1974) profundamente marcado pela tortura com a finalidade de obter informações, por meio do DOI-Codi (DOI-
Destacamentos de Operações Internas; Codi-Comandante de Operações de Defesa Interna) e pela repressão. E os
anos representativos da transição da ditadura para a democracia (1987, 1988, 1992, 1993) em que foram
contemplados os anos da elaboração da Constituição Federal Brasileira de 1988, bem como os dois anos logo após
vigorar Constituição. E, por fim, foram selecionados os anos nos quais a democracia já se encontrava consolidada
(2008, 2009, 2010, 2011). A justificativa do recorte do material se fundamenta aà p p iaà t i aà daà á liseà deà
Co teúdo à ueà podeà se à ealizadaà o à u à ate ialà aisà eduzido.à Co oà esultadosà destaà a lise,à e e gi a à osà
segui tesà a gu e tosà a e aà daà pe aà deà o te:à áà Pe aà deà Mo teà à Efi ie te à e susà áà Pe aà deà Mo teà à
Ineficiente ,à áà Pe aà deà Mo teà à Justa ,à áà pe aà deà Mo teà à I justa ,à áà fa o ,à “e à á gu e tos à eà Co t a,à “e à
á gu e tos .à Po à fi ,à foià o te pladaà aà a liseà doà dis u soà o oà u aà fe a e taà ueà pe itiuà u à di logoà deà
forma fluida com os resultados encontrados. De fato, existem diversas estratégias teóricas e metodológicas entre os
diferentes tipos de Análise do Discurso; neste estudo, foi contemplada a perspectiva da psicologia discursiva que
contempla a análise crítica do discurso como uma ferramenta que permitiu um diálogo com os resultados
encontrados, visando compreender como o discurso midiático, o poder e a ideologia encontram-se implicados nos
repertórios discursivos sobre a pena de morte dos jornais impressos, ora, aqui investigados. De fato, o debate sobre a
pena de morte no Brasil foi reintroduzido de forma pública no final dos anos 80, e, esse debate tem se estendido até
os dias atuais e em todos os recursos midiáticos. Verifica-se que, muitos dos argumentos sobre a pena de morte tem
se repetido em estudos anteriores, acredita-se que a manutenção desses estilos discursivos tem sido retroalimentada
por meio de práticas discursivas antigas, de instituições, que mantêm tais ideias e que acabam por controlar a
veiculação da informação.

Palavras-chave:
Pena de morte, discurso, jornais

1321
Expectativa dos profissionais da ESF em relação a atuação do psicólogo na RAPS
Autor:
Ingrid Battisti (FFCLRP USP)
A Rede de Atenção à Saúde (RAS), foi proposta como estratégia para superação da fragmentação tanto das ações
assistenciais quanto da gestão de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS); propõe que o cuidado, promoção e
prevenção em saúde devem ser processos de responsabilidade compartilhada entre diferentes serviços do Sistema e
também com seus usuários (Brasil, 2010). A RAS é ordenada pela Atenção Primária à Saúde (APS), cujos serviços
usualmente são o primeiro contato da população com a saúde pública, estando orientados pela valorização do
vínculo, escuta, comunicação e co-responsabilização do cuidado entre profissionais e usuários, buscando construir
ativamente o cuidado integral e a clínica ampliada (Brasil, 2010). Neste contexto, vale destacar a Estratégia Saúde da
Família (ESF), modelo de atuação prioritária e organizativa da APS, bem como suas Unidades, compostas por equipes
multiprofissionais inseridas em território específico e atuantes como pontos de atenção vinculados a Rede de Atenção
à Saúde (Brasil, 2011). A RAS é integrada por Redes prioritárias de Atenção à Saúde, dentre elas a Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS), cujo objetivo é promover vinculação das pessoas com sofrimento mental e necessidades
decorrentes do uso de álcool e outras drogas e suas famílias a pontos de atenção como as Unidades de ESF,
proporcionando cuidado qualificado e integral (Brasil, 2011). O modelo de atuação proposto pela RAPS depende da
criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde (incluindo serviços que não atuam tradicionalmente na
atenção a demandas de saúde mental, como as Unidades de ESF) de forma a garantir acesso à atenção psicossocial
para a população em geral (Brasil, 2011). Embora as Redes de Atenção à Saúde tenham sido propostas para facilitar a
promoção de uma atenção e assistência mais afinadas aos princípios do SUS, sua implantação e implementação,
incluindo a da RAPS, acontece de forma gradual e também enfrenta desafios. A análise dos processos associados à
implementação de políticas públicas como esta pode permitir reconhecer potencialidades e limites para a atuação do
psicólogo neste contexto, uma vez que a demanda para implementação da RAPS prevê maior interação entre estes
profissionais e equipes da ESF. Considerando estas questões, este projeto pretende investigar expectativas de
profissionais da ESF em relação à atuação do psicólogo, orientado pela RAPS, em serviços de APS. O projeto foi
desenvolvido junto a equipes de ESF em um município do interior do Estado de São Paulo. Participaram 50
profissionais, entre médicos generalistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde e
pessoal administrativo e de apoio, lotados nas referidas unidades de saúde. Como procedimento de coleta de dados
foram realizados dois processos complementares: leitura e análise dos documentos municipais de gestão em saúde,
com foco na identificação das propostas referentes à implantação e implementação da RAPS no município; reuniões
de grupo focal, junto às equipes multiprofissionais das unidades de ESF para levantamento das expectativas
referentes ao trabalho do psicólogo, considerando sua inserção na equipe de trabalho em atenção às proposições da
RAPS. A análise dos dados, orientada pela análise de conteúdo temática, apontou que nos documentos locais de
gestão em saúde as ações referentes à implementação da RAPS estavam restritas ao planejamento de
construção/adequação da estrutura física de prédio público para instalação de um Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), além da contratação de profissionais (psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais) para
composição da equipe que atuará no referido serviço. Os grupos focais apontaram expectativas de atuação do
psicólogo ainda associadas ao seu modelo tradicional de inserção na saúde, realizando atendimentos
psicoterapêuticos individuais. Perspectivas de integração da atuação do psicólogo com o trabalho desenvolvido pelo
restante da equipe da ESF não foram considerados pelos participantes do estudo, o que pode sugerir dificuldade de
reconhecer as potencialidades e avanços propostos pela RAPS, dificultando a implementação da Rede e a produção de
um cuidado efetivamente integral para os indivíduos em sofrimento mental ou com problemas decorrentes do uso de
álcool e outras drogas. Investigações complementares a esta podem se constituir como ferramenta de auxílio para a
implementação da RAPS, ajudando psicólogos a reorientar suas práticas no sentido de produzir efeitos diretos sobre a
sociedade, notadamente a partir da participação na construção de um projeto de trabalho articulado aos princípios da
RAS e do SUS, e sensível às demandas locais de saúde.

Palavras-chave:
ESF RAPS Psicologia Integralidade

1322
Família e adoção: perspectivas para o trabalho em rede
Autor:
Laura Reis de Almeida Freitas (UFU)
Coautor:
Giovana Soares Campos (UFU)
Brenda Garcia (UFU)
Rafael Simões De Sousa Godói (UFU)
Francielle Marques (UFU)
Érika Pires Reis (UFU)
Gabriela de Castro da silva (UFU)
Marina Diniz Botelho (UFU)

Este resumo é derivado de um trabalho desenvolvido na disciplina Dinâmica da Família do Instituto de Psicologia da
Universidade Federal de Uberlândia e teve como objetivo compreender as relações familiares no cenário da adoção e
o trabalho da rede nessa empreitada. Interessou conhecer as diferentes demandas e alternativas possíveis na
condução das intervenções e cuidado, com foco no papel do psicólogo. O trabalho está vinculado ao GT Crítica Social,
Direitos Humanos e Psicologia Social, já que o processo de adoção envolve crianças e adolescentes em situações de
vulnerabilidade social, com precarização dos direitos básicos, ferindo a dignidade e igualdade. Metodologicamente o
trabalho foi composto por uma revisão de literatura que abarcou o viés interdisciplinar, perpassando a Psicanálise, a
dimensão histórico cultural e o Direito. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dois psicólogos, uma
assistente social, uma advogada, a diretora de uma instituição de acolhimento de crianças e adolescentes, uma mãe
por adoção e duas pessoas que foram adotados. Em um dos encontros com a profissional de Psicologia, também foi
realizada uma visita guiada à uma Organização Não Governamental que, dentre as atividades oferecidas, consta o
curso para postulantes à adoção e acompanhamentos para a família no período pós-adoção. O intuito das múltiplas
entrevistas foi compreender as diferentes perspectivas da problemática da adoção abarcada em diferentes âmbitos.
Inicialmente, emergiram questões relativas às situações de algumas famílias biológicas que frente às condições de
violência (em geral negligência, violência física, sexual ou psicológica) têm seus filhos institucionalizados. A família
acolhedora, modalidade que visa substituir o modelo institucionalizado-padrão, tem a função de acolher a criança ou
o adolescente até que a adoção seja efetivada, permitindo que a criança ou o adolescente possa se sentir pertencente
a um lar. A família acolhedora não tem a função formal da família por adoção, pois tem caráter provisório. Sobre a
família adotiva, ficou evidente que as motivações e desejos que levam uma pessoa a adotar são diversificados,
conscientes e inconscientes, e perpassam a infertilidade, o desejo de praticar a caridade, resolver questões conjugais,
substituir um filho morto, entre tantos outros. Deste modo, é fundamental que o processo do sujeito ou casal
postulante à adoção seja bem trabalhado e acompanhado de forma singular. Cabe ressaltar que as atividades
realizadas foram supervisionadas, analisadas e apresentadas em grupo de discussão que contou com a interação e
debate de estudantes do curso de Psicologia, gerando reflexões importantes sobre o tema. O trabalho explicitou
ainda as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da rede que expuseram sobre os obstáculos que interferem na
integração das múltiplas instituições e setores que deveriam atuar conjuntamente e articulados no processo de
adoção. É notória a necessidade de intensificar a capacitação ou formação continuada de todos os profissionais
envolvidos nesse processo através da educação permanente. Por fim, é imprescindível pontuar sobre a relevância de
se abordar tal temática no meio acadêmico com vistas a investir na formação crítica dos futuros profissionais. As
vivências possibilitaram compreender que o psicólogo tem um papel ativo em todo o processo da adoção, contudo, o
trabalho interdisciplinar da rede é decisivo no processo que antecede e, também, posteriormente à configuração da
adoção.

Palavras-chave:
Adoção Família Instituição Acolhimento

1323
Família, gênero e políticas de assistência: uma perspectiva da teoria crítica.
Autor:
Ingrid (USP)

Esta pesquisa pretende analisar quais são as concepções de família produzidas ao longo da história e como estas se
inscrevem nas políticas públicas direcionadas a uma população em vulnerabilidade. Tal reflexão buscará articular os
conceitos da Teoria Crítica e os estudos sobre gênero, a fim de fundamentar uma discussão sobre a utilização da
família como forma de dominação do gênero feminino na Assistência Social. Para tanto, compreende-se que este
t a alhoàseài se eà oàGTà C íti aà“o ial,àDi eitosàHu a osàe Psi ologiaà“o ial ,àei oà Políti asàPú li as,àDi eitosà“o iaisà
eà E a ipaç o ,à u aà ezà ueà p o le atizaà osà desdo a e tosà dasà políti asà pú li as,à p e o izadasà o oà
emancipatórias, no cotidiano das famílias. Vale ressaltar que trata-se de uma pesquisa em andamento, que pretende-
se qualitativa e conta com observação participante, conversas orientadas por um roteiro semiestruturado com os
profissionais dos CRAS e grupo focal com as mulheres atendidas. Considerando a família como lócus privilegiado de
intervenção, as políticas de Assistência Social elegem a matriciliadade sociofamiliar como um espaço resolutivo de
conflitos e tensões. (NERY, 2009) Dessa forma, ao superar a culpabilização do indivíduo, produzido historicamente no
campo social, responsabiliza-se a família pelas situações de vulnerabilidade as quais está submetida. Tal estratégia
transpõem aos aspectos públicos, resoluções no âmbito privado, ou seja, cabe a família criar condições de
supe aç o à eà fo tale i e to à pa aà o pe à o à aà po eza.à Valeà essaltar que, embora a família esteja bastante
presente no campo da assistência social, ainda é compreendida de forma abstrata ao ignorar que o gênero estrutura
as relações familiares. Para Mariano (2008), as questões de gênero fundamentam os estudos sobre família e
atravessam os processos de cidadania e inclusão das mulheres pobres e negras. (MARIANO, 2008) Ao refletir sobre as
políticas sociais brasileiras, que preconizam fortalecer e viabilizar a garantia de direitos da população em
vulnerabilidade, observa-se que pouco exploram as interseccionalidades , apesar de fundamentais para a
compreensão das diferenças e desigualdade social. (BRAH, 2006) Neste sentido, corroboramos Sposati (2007) que
afirma que as ações programáticas que configuram o campo da assistência social não se propõem sanar as
desigualdades sociais, ao contrário mantém-se a custos políticos a fim de reduzir os conflitos sociais. Identifica-se que
tais estratégias não alteram a questão social, apenas estacionam em programas de reformas que preservam, antes de
tudo a propriedade privada e os meios de produção. (NETTO, 2010) Desta forma, direcionar os olhares a família e
o e t a àasàfo çasàdoàEstadoà estaà lulaàdaàso iedade ,à o oà à o u e teà o he ida,àape asà a t àoàstatusà
quo, isso porque a própria concepção de família fundamenta-se em um ideal burguês. Longe de ser universal, natural
e espontânea, a família está socialmente mediatizada, ou seja, não só depende da realidade social mas também se
concretiza ao longo do processo histórico. (ADORNO, 1956) Assim, pensar a família como a concebemos hoje, é
pensa-la a partir de uma perspectiva construída após a revolução industrial, com os movimentos de urbanização,
implantação e fortalecimento do sistema de produção capitalista. Trata-se de uma concepção ideologizada que atribui
aàfigu aàdaà ulhe ,à e,à sà políti asàdeàgest oàaà ida .à Má‘IáNO,à àádo oà àap ese touàe àseusàestudosà
uest esà elati asà aà iseà ouà t a sfo aç esà daà fa íliaà ode a.à E t eta to,à eleà uestio aà seà estaà ise está
relacionada estritamente a instituição familiar, ou se é expressão de uma dinâmica mais ampla, já que apresenta um
a te àdupla e teàso ial.à“eàpo àu àlado,àaàfa íliaà o t i uiàpa aàoàap e dizadoàdeàu àp o essoàdeà so ia ilizaç o à
eà i teg aç o à deà todas as relações humanas, comprimi e nega os elementos irracionais. Por outro, a família
configura-se como um espaço de refúgio produzido por um desequilíbrio das forças totalitárias da sociedade em
relação ao indivíduo. (ADORNO, 1956) Neste sentido, a família torna-se uma possibilidade, mesmo que temporária, de
oferecer novo apoio ao sujeito coagido. Além disso, é na intimidade das famílias que a lógica de controle dos meios de
produção se reproduzem e se naturalizam, nela está presente a autoridade do patrão e a ética do trabalho, expressas
por meio das relações de dominação e poder interiorizados. (ADORNO, 1956) No Brasil, a família foi largamente
utilizada como estratégia de controle do Estado no século XIX, com a importação das políticas higienistas europeias,
que promoviam as intervenções médico-disciplinares junto as mesmas. (COSTA, 1983) Atualmente, ao analisarmos as
ações psicossociais no âmbito da assistência, observamos que a realização de palestras e orientações que visam
ensinar as famílias em como devem planejar e cuidar de seus filhos, cuidar de seus idosos, ou em como devem
administrar seu dinheiro, não passam de ferramentas de controle e fiscalização de mentes e de corpos femininos
1324
pautadas em modelos hegemônicos. Neste sentido, o acompanhamento das famílias legitimam olhares
individualizantes e psicologizantes, que desconsideram o conhecimento e as necessidades levantadas pelas mulheres
marcadas pelas diferenças de gênero.

Palavras-chave:
Família; Gênero; Políticas de Assistência

1325
Formação acadêmica tecnicista e discursos especialistas: Engrenagens (re)produtoras de exclusão social?
Autor:
Juliane da Silva Amorim

O presente trabalho tem como objetivo refletir acerca da formação acadêmica tecnicista e as relações de poder que
perpassam o campo de atuação dos saberes especializados, com foco no discurso psi, bem como questionar se a
formação acadêmica tal como nos é oferecida na contemporaneidade, nos leva à uma atuação em campo capaz de
(re) produzir exclusão social. Para tanto, procuramos articular a experiência de estágio em campo, que foi realizado
numa Casa de Acolhimento para meninos de 6 a 14 anos de idade, localizada na Baixada Fluminense, no Rio de
Janeiro com os referenciais teóricos à temática escolhida, cuja problemática gira em torno de a quê/quem serve os
saberes especializados atualmente. O tema da pesquisa foi escolhido a partir das inquietações que emergiram no
campo de estágio citado anteriormente e trouxemos a questão dos documentos produzidos pelos especialistas que
trabalham em rede com a Casa de Acolhimento através de outras instituições como Conselhos Tutelares, CRAS
(Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), Escolas,
etc. Trata-se de laudos, pareceres, relatórios, atas de audiência, encaminhamentos e assim por diante. Com tantos
profissionais cercando-os com seus saberes, poderíamos presumir que nada lhes falta. Ledo engano. O que vemos no
Abrigo são crianças invisíveis, sem voz, somente uma pasta com seus nomes e toda sua vida contada pelos
especialistas que os cercam, ignorando suas demandas, seus desejos, suas subjetividades. Tomamos um desses
documentos como objeto para discussão das relações de poder que se estabelecem entre o profissional, a Instituição,
as famílias e as crianças. Luis Antonio Baptista (1999, 2000) nos ajuda a problematizar o especialismo e o tecnicismo
praticado no ensino da Academia e nos faz indagar se as práticas e técnicas psicológicas, sua leitura e interpretação
refletem uma "época" e que cabe a nós questionar se elas contribuem para novas formas de subjetividade ou para a
cristalização de pensamentos, práticas e saberes. Michel Foucault (2008, 2011) e Giorgio Agamben (2007) nos trazem
reflexões acerca das relações de poder e seus mecanismos para esvaziar o potencial político do homem. A noção de
"vida nua" apresentada por Agamben pode ser articulada com os meninos do Abrigo, visto que estão somente na
condição de vida biológica, natural, longe de atingir seu potencial de transcender essa condição para uma vida
qualificada. Recorremos a Irma e Irene Rizzini (2004) para a construção do percurso histórico dos movimentos e
disputas ocorridos para que chegássemos às políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes como as que
temos na atualidade. Na obra PIVETES: a produção de infâncias desiguais (2002) organizada por Maria Lívia do
Nascimento, buscamos importantes considerações sobre questões referentes aos saberes especialistas e sua função,
aos laudos psicológicos, os direitos das crianças e adolescentes e os modelos de família. Para discutirmos a dialética
inclusão/exclusão social, recorremos ao livro As artimanhas da Exclusão: Análise psicossocial e ética da desigualdade
social (2011). Nesta obra encontramos diversos panoramas para pensar o fenômeno da inclusão/exclusão social, pois
ela não busca o estreitamento do conceito de exclusão, tornando-o mais objetivo, mas visa abarcar a pluralidade de
questões que tornam possível esse fenômeno no nosso país. Utilizamos o método da cartografia para realização de
nossa pesquisa, que como Coimbra e Neves (2002) nos diz, "não há neutralidade, nem objetividade" em qualquer
pesquisa, não há verdade a ser revelada, mas há o processo, ocorrem "encontros no campo de forças em luta". Não
chegamos a resultados como produto final de um trabalho, mas propomos pensar a formação acadêmica tal como
nos é oferecida atualmente, como engrenagens (re)produtoras de exclusão social. Suscitamos reflexões sobre como
desenvolver uma prática profissional crítica, capaz de promover rupturas nessa lógica hegemônica de saber-poder-
especialista. Enfatizando que, romper com essa lógica não significa abandonar o rigor analítico e nem a ausência de
critérios na prática profissional. Mas, trabalhar numa perspectiva transdiciplinar, onde os saberes se permitem pensar
u à o oà a poàdeà oe ia ,à o oà osà àp opostoàpelaàá liseàI stitu io al.àNossaài te ç oàestá longe de propor
modelos de formação ou de prática, mas de suscitar reflexões constantes, provocar rupturas no que está instituído e
naturalizado. Lembrando que o viés apresentado em nossa pesquisa é apenas um dentre as inúmeras possibilidades
de pensar nossa prática profissional.

Palavras-chave:
Exclusão-social; Formação acadêmica; Políticas públicas;

1326
Internação involuntária, família e o abuso de substâncias psicoativa: revisão sistemática da produção científica
nacional.
Autor:
Frederico Guerreiro

Introdução: Presenciamos a grande status que o uso e abuso de substâncias psicoativas adquiriu na sociedade atual.
Profissionais da saúde, do direito e da educação são, diariamente, convocados pela mídia para tratarem deste tema,
considerado, hoje, um desafio para as políticas públicas de saúde mental e segurança pública. Os poderes públicos nas
diversas esferas vêm enfrentando esta situação destinando maciços investimentos e elaborando politicas específicas
de prevenção, atenção e reinserção social dos usuários e dependentes. Apesar da Política de Saúde Mental atual,
pautada nos princípios da Reforma Psiquiátrica que prioriza os serviços ambulatoriais, continua crescente o número
de investimentos pelos governos e solicitação de famílias pelas internações. Uma das facetas da complexidade que
envolve a drogadicção é o papel da família. Apesar das transformações em suas configurações, a família continua
sendo considerada fonte de socialização primária e influência na constituição da identidade dos sujeitos.

Objetivo: Diante de tal cenário, este artigo se propõe apresentar uma revisão sistemática da literatura sobre
internações decorrentes do abuso de substâncias psicoativas, que correlaciona os aspectos familiares. Vemos que
realiza uma revisão de literatura sobre estes descritores se configura como possibilidade de verificação o que estas
politicas públicas de saúde, que sustentam as práticas de internação, provocam nas famílias, que apesar das
transformações em suas configurações, ainda hoje continua sendo considerada importante fonte de socialização.

Método: Esta revisão, que abrange o período de 2005 a 2016, foi feita em duas bases de dados, a BIREME e o SciELO e
destaca os seguintes temas: (a) o lugar da internação involuntária entre os diversos tratamentos para a dependência
química; (b) os impactos das internações decorrentes do abuso de substâncias psicoativas nas famílias; (c) como a
internação e a família se correlacionam.

Resultados: Foram encontrados 19 artigos de periódicos, além de três dissertações de mestrado que tratavam sobre o
assunto. A grande contribuição resultante da discussão desses diversos estudos é a comprovação da importância da
inclusão da família no processo de internação para o bom êxito da intervenção. A grande parte dos trabalhos traz a
necessidade de se tratar o sistema familiar para a transformação da dependência em produção de saúde, já que é
para ela que os usuários retornam após o tratamento. A análise das publicações possibilitou apontar as consequências
da internação decorrente do abuso de substâncias psicoativas na família, verificar como a internação se configura
entre os diversos tratamentos para dependência química, como são estruturadas estas famílias, e como a família
busca por este tipo de tratamento e a vivência em seus diferentes momentos. De forma geral, encontramos a maioria
das publicações relacionadas ao pensamento sistêmico, e apresentam a ideia do tratamento interligado entre família
e dependente químico, que a mudança efetiva só acontece quando se trabalha em conjunto. Os resultados dessa
pesquisa podem contribuir para se pensar as politicas públicas no campo das substâncias psicoativas, que atualmente
não contemplam estratégias de cuidado específico as famílias, que como vimos necessitam de proteção e de melhor
qualidade de vida e saúde. Essas famílias, marcadas profundamente pelas diversas formas de exposição, necessitam
serem acolhidas e incluídas nas politicas públicas.

Palavras-chave:
Internação; Substancias Psicoativas; Família.

1327
Levantamento e análise dos programas sociais governamentais para juventude no Brasil
Autor:
Karen Corrêa Alves (UFPR)
Roberta Kafrouni (UFPR)

Este estudo tomou por objetivo fazer uma atualização do panorama dos programas sociais governamentais para
juventude no Brasil em 2016, considerando que Barreiro e Malfitano (2014) e Kafrouni (2009) foram os últimos
estudos similares publicados. Atrelada a esta atualização crítica, se encontra a produção de conhecimentos que
podem viabilizar a elaboração de futuros de programas. Uma vez que o estudo do impacto social planejado destas
políticas públicas para os jovens a partir de uma análise do levantamento dos objetivos propostos dos programas e
descrições de seus sujeitos alvo, também tem potencial de contribuição para a otimização, modificação e possível
ampliação numérica das mesmas. Sendo assim, este estudo se enquadra no Eixo temático 1 "Políticas públicas,
direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais" por se tratar de uma pesquisa em psicologia
social que discute a produção de políticas públicas, mais especificamente visando análise da formulação de seus
objetivos e público alvo a fim de articular e promover uma discussão sobre a descrição de tais elementos num
contexto socioeconômico neoliberal. Portanto, esta pesquisa de orientação teórica da psicologia histórico-cultural,
idealizando contribuir à análise das políticas públicas para a juventude, visou efetuar o levantamento e a análise dos
programas sociais governamentais do governo federal brasileiro para juventude no período de 2009 a 2016, e a
comparação com estudos similares (tese de doutorado de Roberta Sant`Anna Kafrouni (2009) e literatura produzida
sobre a temática a partir de 2009), a fim de fornecer uma atualização crítica do panorama destes programas. O
levantamento foi realizado por meio dos endereços eletrônicos do CONJUVE (Conselho Nacional de Juventude) e dos
vinte e quatro ministérios do governo federal. A literatura para a comparação proposta foi encontrada nas bases de
dados CAPES, LILACS e SCIELO. As informações coletadas foram organizadas em tabelas nas seguintes categorias:
ministério administrador do programa, objetivo do programa e público alvo. Os conteúdos destas categorias foram os
critérios de comparação entre esta pesquisa e os estudos anteriores. Esta comparação possibilitou a verificação de
que 70% dos ministérios aumentaram a quantidade de programas para a juventude, entretanto, a maioria dos
programas concentram-se na área de educação. O aumento total na quantidade de programas foi de 8,36%.
Pretendeu-se apreender a compreensão de juventude nestes programas e em quais áreas as ações governamentais
vem concentrando seus esforços em relação a eles. Observou-se também, pelas descrições de público alvo e objetivos
dos programas, uma associação entre juventude e vulnerabilidade social. Portanto, pode-se concluir que foi mantida a
concepção de jovem enquanto sujeito vulnerável e potencial a ser desenvolvido e inserido no mercado de trabalho.
Logo, a maior parte dos programas competem ao Ministério da Educação, os quais intentam elevar o nível de
escolaridade destes jovens e qualificá-los profissionalmente. Sendo assim, uma análise preliminar aponta para uma
limitação do potencial que essas políticas possuem de desenvolver estes jovens em sua integralidade como sujeitos. A
subjetividade dos jovens no cotidiano destes programas acaba sendo reduzida ao desenvolvimento de habilidades
individuais demandadas pelo mercado de trabalho, possibilitando uma maior suscetibilidade à culpabilização do
sujeito caso o jovem não seja bem sucedido em sua inserção laboral."

Palavras-chave:
Políticas-Públicas,
Juventude,
Programas sociais governamentais.

1328
Mapeamento da produção científica latino-americana de Psicologia sobre política social
Autor:
Diane (Srta.)
Coautor:
Cecília Tavares Guimarães (UFRN)
Luiza (FACISA-UFRN)
PABLO SEIXAS (UFRN-FACISA)
Ana Ludmila

A Psicologia vem contribuindo para o aumento de pesquisas neste campo, orientando assim a sua atuação com um
conhecimento crítico sobre a sua prática profissional. O fortalecimento de relações de intercâmbio de conhecimento
entre os países deste continente é de extrema importância para criação de redes de pesquisa de apoio horizontal e
não mais voltado à verticalização existente sul-norte. Majoritariamente, a busca por conhecimento científico de
excelência é voltado para o hemisfério Norte, onde os Estados Unidos da América e grande parte do continente
Europeu compõem grandes centros de tecnologia e ciência. O debate sobre a internacionalização está voltado para
mercantilização do conhecimento cientifico e a centralidade na relação vertical com estes países corrobora com a
ampliação da acumulação do Capital. A América Latina historicamente sofreu com as explorações por parte do
hemisfério Norte desde o período colonial, causando consequências politicas, econômicas e sociais que perduraram
por muitos anos. Hoje, essas relações encontram-se amenizadas em muitos locais por conta das políticas sociais. Com
base nas desigualdades e na pauperização de todo o continente, existem temas em pesquisa que são comuns devido
a realidade socioeconômica similar, principalmente relacionado a políticas públicas e políticas sociais. O objetivo deste
trabalho é identificar a literatura científica sobre política social na América Latina, indexados na base de dados
Redalyc, sendo produzido por pesquisadores psicólogos com vinculação institucional no continente. Observa-se na
caracterização de como se encontra a produção de artigos na América Latina acerca de políticas sociais, uma vez que
todo continente enfrenta a mesma luta contra as politicas de estado mínimo implantadas por governos neoliberais.
No método foi utilizada a base de dados Red de Revistas Cientificas de América Latina, el Caribe, Espana y Portugal -
‘edal à pa aà aà oletaà deà a tigos,à osà des ito esà utilizadosà fo a :à Psi ología à eà Politi aà “o ial ,à se doà oà ope ado à
oolea oà Y .àFoiàdefi idoà ueàosàa tigosà oletadosàde e ia àte àpeloà enos um autor formado em Psicologia e que
ele deveria dispor de vínculo institucional na América Latina. Como recorte de material foi definido que apenas
ensaios teóricos, relatos de experiência e relatos de pesquisa seriam coletados para este trabalho e finalmente, o
artigo deveria dispor como tema central o debate sobre política social, seja falando de modo geral, ou especificando
por um campo da política. A pesquisa na base de dados ocorreu durante o período de Novembro de 2016 a Março de
2017 e foram coletados artigos das primeiras 53 páginas de resultados da busca, tendo a coleta se encerrado por
saturação. 636 artigos foram avaliados, dos quais 92 artigos foram selecionados para compor este estudo, por meio
de análise de juízes composta por 2 pesquisadores doutores com experiência na temática de psicologia e política
social. Para uma primeira apreciação dos dados, foi considerada a distribuição dos artigos por ano de publicação. Os
artigos coletados datam de 1993 a 2016, havendo uma concentração maior de publicações a partir de 2006. Em
relação ao idioma, tem-se 61 artigos em Espanhol, 30 em Português e 1 artigo em Inglês. É importante observar que o
idioma Português é encontrado em apenas um país na América Latina e consegue compor quase 1/3 de todo o
material coletado. Como primeiros autores neste material foram identificados ao todo 68 autores, dos quais apenas
10 autores escreveram mais de uma vez sobre o tema, com isso podemos observar que o tema não é muito difundido
em bases de pesquisa de forma sólida. Os países de vinculação destes autores que mais aparecem são Brasil,
Argentina, Chile e Colômbia. Em relação aos periódicos que mais apareceram na coleta apenas 6 compõem o grupo de
maior participação, estes correspondendo a um número de publicação a partir de 4 artigos. Os artigos foram
caracterizados em áreas gerais da Psicologia correlacionando aos campos de atuação das políticas. Obteve-se como
resultado 27 artigos que se caracterizam na área da Psicologia Comunitária/Social, 18 na Saúde, 16 na área de
desenvolvimento, 5 artigos em Escolar e Educação, 24 artigos não se detém a nenhuma área especifica e as áreas da
Psicologia Jurídica, juntamente com a área Organizacional e do Trabalho dotando apenas de 2 artigos. Buscou-se
identificar também com qual formato de trabalho os temas são abordados. Verifica-se que há uma predominância em
relatos de pesquisa com 49 artigos, seguido por trabalhos teóricos sobre o tema com 40 artigos e apenas 3 artigos
compondo relatos de experiência. É importante ressaltar que este estudo é introdutório, e é preciso avançar em

1329
pesquisas desta natureza para que exista um panorama palpável do que é produzido e de quem está trabalhando com
estas temáticas para que haja uma vinculação maior entre autores e bases de pesquisa, promovendo uma rede latina
americana de trabalhos relevantes sobre o tema.

Palavras-chave:
Internacionalização Políticas Sociais Latino-americana

1330
Matriciamento em saúde mental: articulação entre atenção primária e Centros de Atenção Psicossocial
Autor:
Rafael Camilo Gonçalves (UFU)
Coautor:
Rodrigo Sanches Peres (UFU)

O matriciamento em saúde mental pode ser compreendido como uma prática colaborativa que fomenta uma nova
forma de se produzir saúde a partir da troca de conhecimentos e da integração dialógica entre as equipes de
referência da atenção primária e os profissionais de saúde matriciadores, que geralmente são oriundos de Centros de
Atenção Psicossocial (CAPSs). O presente estudo teve como objetivo, por meio do empreendimento de uma revisão
integrativa da literatura, estabelecer um panorama da produção científica sobre o matriciamento em saúde mental,
com foco na articulação entre a atenção primária e os CAPSs. Mais especificamente, buscou-se responder à seguinte
questão norteadora: Quais são as principais tendências apresentadas pelas publicações veiculadas no formato de
artigos e dedicadas ao assunto em termos: (1) do tipo de estudo, (2) da abordagem metodológica, (3) do objetivo
principal, (4) dos instrumentos, (5) dos participantes e (6) dos achados principais? O presente estudo se relaciona com
oàei oàte ti oà P isàdaàPsi ologiaà“o ialà aà“aúdeàe à o te tosà eoli e ais ,à aà edida em que o matriciamento,
enquanto ferramenta baseada em processos participativos, tem sido apontado como essencial para a superação de
um dos maiores desafios no campo da saúde no país: a efetiva implementação dos princípios éticos preconizados pela
Reforma Psiquiátrica Brasileira. O presente estudo foi orientado pelas diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento
de revisões integrativas da literatura, as quais estabelecem procedimentos metodológicos para a localização, a
seleção e a avaliação das referências que integrarão o corpus. Para subsidiar a localização das referências, foram
consultadas as bases de dados PePSIC e SciELO-Brasil. As consultas foram concluídas no dia 12 de fevereiro de 2017,
sendo que, para viabilizar um levantamento bibliográfico completo, não foram utilizados quaisquer limites – em
relação à data de publicação ou idioma, por exemplo – oferecidos pelas bases de dados. As referências localizadas
foram selecionadas em função da pertinência quanto ao foco do presente estudo. As referências selecionadas foram,
então, avaliadas independentemente de acordo com um conjunto de dimensões alinhadas à questão norteadora do
presente estudo. O corpus de análise foi constituído por 16 referências. Observou-se a predominância de estudos
empíricos, com abordagem qualitativa, voltados à implementação ou ao funcionamento do matriciamento. Verificou-
se que, na maioria das referências, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas como instrumentos, sendo que os
participantes foram, basicamente, profissionais de saúde oriundos de CAPSs e/ou vinculados às equipes de referência
da atenção primária. De acordo com a análise dos achados das referências, é possível constatar que o matriciamento
pode contribuir de diferentes maneiras para a qualificação da assistência em saúde mental, mas ainda há uma série
de obstáculos para tanto. Alguns obstáculos são mais evidentes, como a hierarquia e a burocracia ainda presentes no
funcionamento da rede de saúde. Outros obstáculos são mais velados, como o preconceito de alguns profissionais de
saúde em relação às pessoas em sofrimento psíquico. A despeito disso, parte das referências selecionadas aponta
alguns importantes caminhos a serem trilhados em prol da difusão do matriciamento, dentre os quais o
estabelecimento de parcerias com equipamentos intersetoriais no território. O presente estudo, portanto, fornece
elementos potencialmente proveitosos para o trabalho dos diferentes profissionais de saúde que podem se ocupar do
matriciamento, bem como para os pesquisadores interessados em explorar o assunto.

Palavras-chave:
Saúde mental, Matriciamento, CAPS,

1331
O imaginário social relativo à adoção de crianças maiores e a construção dos vínculos familiares
Autor:
Fabiana (UFTM)
Coautor:
Anamaria Silva Neves (UFU)
A adoção é um processo de reconstrução do vínculo familiar. Essa vinculação é presumível ao se considerar que o
desenvolvimento da relação entre pais e filhos não se restringe à concepção biológica do vínculo, mas percorre uma
via simbólica, tornando possível a inscrição de uma criança no desejo dos pais e permitindo também que uma família
que não se constituiu biologicamente possa desenvolver relações de parentalidade e filiação. Especificamente a
adoção de crianças maiores é um dispositivo importantíssimo para que crianças de mais idade e adolescentes possam
desfrutar do direito de se desenvolverem em uma família, porém esta é uma realidade perpassada por muitos mitos e
preconceitos. Assim, este trabalho é um recorte de uma pesquisa de mestrado e tem como objetivo discutir aspectos
do imaginário social e sua relação com a construção do vínculo nos casos de adoção de crianças maiores, percorrendo
os âmbitos legais, acadêmicos, sociais e culturais, além de examinar questões relacionadas às dificuldades no
estabelecimento do vínculo e os percalços na constituição da parentalidade. Para tanto, alguns aspectos da
construção de um caso clínico foram evidenciados e discutidos à luz do referencial psicanalítico. As primeiras
tentativas para legalizar a adoção eram constituídas de leis que deixavam claro o valor superior atribuído aos laços
consanguíneos e os privilégios dos filhos consanguíneos em detrimento daqueles que foram adotados. Somente com
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, essa discriminação entre filhos por adoção e consanguíneos foi
atenuada no âmbito legal, com a equiparação de direitos. Constata-se, porém, que nem as políticas públicas, nem os
direitos são por si suficientes para alcançar a superação da desigualdade e do desrespeito relativos à adoção. Para
além dos aspectos legais, uma das vertentes mais relevantes na dinâmica do preconceito diz respeito aos valores
culturais e ao imaginário social relativo à filiação por adoção. No campo acadêmico, os estudos iniciais sobre adoção
tinham como ênfase principalmente a questão da pobreza e o mito do abandono. Em diversas pesquisas o tema
adoção foi frequentemente abordado sob a ótica individualista e intimista do sujeito, concentrando-se nos danos
consequentes do abandono e da institucionalização. No campo da literatura a desvalorização das relações
constituídas por adoção pode ser percebida frequentemente nas histórias infantis mais comuns na cultura ocidental
que utilizam a figura da madrasta e do padrasto para simbolizar figuras negativas que maltratam, exploram e
violentam seus filhos. Isso expressa e dissemina a ideia de que as relações estabelecidas por adoção, por laços não
consanguíneos, são permeadas por conflitos caóticos e insuperáveis, já que a tragédia dos conflitos nas histórias
infantis quase sempre resulta na ruptura do vínculo. A fim de trazer novos contornos à pesquisa teórica, o caso clínico
emerge e traz a trama de uma família que vivencia uma adoção clandestina, em que duas irmãs se mantém entre a
família por adoção e a consanguínea, porem com pertencimento e o lugar simbólico dissolvidos nos conflitos e na
falta de respaldo legal. A família por adoção des-empoderada, por não possuir nenhuma documentação que assegure
o vínculo, porém figurando-se como a família que cuida e sustenta de forma parcialmente suficiente, tantos aspectos
físicos quanto emocionais das crianças. E a família consanguínea, legitimamente detentora do poder familiar, porém
apontada como insuficiente, negligente e violenta. Há a inversão da concepção social dominante sobre os vínculos
consanguíneos e por adoção na dinâmica desse caso. Diferentemente de alguns estudos neste campo, a análise do
caso é conduzida ampliando o enfoque dos sujeitos para os vínculos dentro do grupo familiar e também no macro-
contexto. O temor da família por adoção em relação à legalização apresenta-se como reflexo do medo de expor a
situação de clandestinidade e das consequências legais e sociais que tal especificidade da constituição familiar do caso
apresentado poderia trazer. Por fim, as discussões oriundas do presente estudo podem acessar pessoas que estão
direta ou indiretamente envolvidas com a adoção, problematizando e refletindo sobre os processos abrangidos na
construção dos vínculos familiares, além de embasar transformações no campo das políticas públicas e colaborar com
aà efeti aç oà dosà di eitosà so iais.à Issoà to aà esteà t a alhoà o g ue teà o à oà GTà C íti aà “o ial,à Direitos Humanos e
Psi ologiaà “o ial ,à poisà a o daà aà te ti aà daà adoç oà uestio a doà aà suaà supostaà igualdadeà e à elaç oà à filiaç oà
consanguínea, mas que em realidade apresenta-se contornada por um imaginário social estigmatizante e excludente.
Palavras-chave:
Adoção; Imaginário Social; Preconceito; Vínculo.

1332
O PAIF como estratégia para politização de crianças de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família
Autor:
Leila Cipriani (CRAS)
Coautor:
Vanessa Munique Fava

Este trabalho relata uma intervenção por meio de oficinas com crianças beneficiárias do Programa Bolsa Família no
Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) do município de Ascurra/SC. O PAIF consiste no trabalho
social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva da família, prevenir a
ruptura de seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de
vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e proativo. O PAIF integra o nível de proteção social
básica do SUAS e é executado pelo Centro de Referência de Assistência Social – CRAS.

Objetivo
Iniciar um processo de politização das crianças em acompanhamento pelo PAIF por meio de um sistema lúdico de
oficinas como um instrumento de transformação social e de luta de classe a partir do conceito de consciência crítica
em Paulo Freire.

Relação com o eixo temático


Trata-se da discussão sobre uma intervenção com objetivo de promoção de consciência política e de cidadania por
meio da política pública de assistência social como estratégia para estimular o pensamento crítico e de
problematização do senso comum com crianças num processo de educação com perspectiva emancipatória e de
autonomia, respeitando os diferentes pontos de vista construídos por suas redes familiares e comunitárias, tecendo
novos elementos para o pensamento e reflexão crítica da participação popular frente ao contexto social de opressão.

Orientação teórica
A conscientização é uma categoria freireana que evidencia o processo de formação de uma consciência crítica em
relação aos fenômenos da realidade objetiva. Nesse sentido a transformação social passa necessariamente pelo
desenvolvimento coletivo de uma consciência crítica sobre o real. É importante que neste processo de
conscientização os sujeitos se reconheçam no mundo e com o mundo, havendo a possibilidade de que, na
transformação do mundo, transformem a si mesmos. Num sentido político, o conceito de conscientização da qual fala
Freire abrange a consciência de classe, como o processo pelo qual as classes desfavorecidas se reconhecem enquanto
classe e também reconhecem na realidade as relações que as oprimem e as exploram, impedindo-as, conforme termo
deà F ei e,à aà pe a e teà us aà deà se à ais .à áà fo aç oà deà u aà o s i iaà rítica coletiva é a condição
fundamental para a transformação, ou seja, a base de sustentação para a produção de uma nova organização social
onde não se negue aos seres humanos a sua razão de existir: a busca constante do vir-a-ser, ou o ser-mais.

Método resultados e conclusões


O grupo foi formado por crianças entre 06 e 12 anos, de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. A oficina se
desenvolveu num total de quatro horas acontecendo tanto no período matutino quanto vespertino. Por meio da
produção de fantoches, foi construído com as crianças a história geográfica, cultural e política do município. As
crianças puderam conversar sobre a função dos nossos representantes políticos e dialogar sobre a força e a
importância da participação popular nas questões políticas. Esta foi a primeira oficina de um projeto de mais oficinas
que devem acontecer bimestralmente até dezembro de 2017. Cada oficina possuirá o eixo politização e consciência
crítica e terá diferentes estratégias de trabalho de intervenção; todos de forma lúdica, com manifestações culturais e
artísticas para o envolvimento das crianças. A importância de conhecer o sistema administrativo municipal é
fundamental para que as crianças não cresçam com concepções equivocadas sobre o sistema de governo bem como
oà ep oduza àfalasàdeàse soà o u à ueà o aliza ,àpo àe e plo,àoàsiste aàdeà o p asàdeà otosàeàosà fa o es à
políticos. As crianças puderam expor suas concepções e desconstruir padrões de pensamentos individualizados com
relação as suas demandas para com o governo municipal. Primeiramente explicitaram solicitações individuais e
materiais, como materiais de construção, material escolar e asfalto. A medida que conseguimos evoluir o diálogo e o
1333
funcionamento público nos três poderes, as crianças começaram a compreender o que seriam políticas públicas e
conseguiram refletir de maneira a priorizar o interesse coletivo, principalmente ligados a classe desfavorecida.
Surgiram pensamentos como saneamento do bairro, em vez da rua onde reside, ou em frente a sua casa; aumento de
equipes de saúde para atendimento à população, ampliação de serviços da assistência social, política pública de
habitação, transporte público de qualidade, entre outros.

BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais.
Brasília, DF. 2009.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3.ed.
São Paulo: Cortez & Moraes, 1980.
LUKÁCS, Georg. História e Consciência de Classe. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Palavras-chave:
Consciência crítica, Assistência Social, PAIF.

1334
O Programa Saúde na Escola: possibilidades e limites na perspectiva da Residência Multiprofissional em Saúde
Autor:
Luana Tosta (UFTM)
Coautor:
Beatriz Cardoso Lobato
Danielle Ferreira Mazetto (UFTM-MG)
Renata Gonçalves
Aline Guarato da Cunha Bragato
Fabiana Silva Alves Corrêa (Uftm)

A proposta do Programa Saúde na Escola (PSE) representou um avanço nas políticas públicas de cunho intersetorial,
abarcando os setores da educação e saúde. O PSE é dividido em três componentes, sendo o primeiro direcionado ao
trabalho clínico e de avaliação em saúde, o segundo abarca o trabalho de prevenção e promoção em saúde e aborda
temáticas da infância e adolescência, incentivando a autonomia e a participação dos alunos e, o terceiro componente
objetiva a promoção da cultura de paz e a educação permanente dos profissionais da educação para o trabalho em
saúde, na construção de ações intersetoriais. As ações do PSE visam abarcar a realidade do território onde se inserem
as escolas, que configuram espaços de práticas socioculturais e permitem a inserção de ações de promoção da saúde,
cujo papel é fundamental na formação dos estudantes para construção da cidadania e acesso às políticas públicas. O
objetivo deste trabalho é refletir sobre as possibilidades e limites do PSE a partir da experiência da residente de
psicologia da Residência Integrada e Multiprofissional em Saúde (RIMS), no eixo de concentração da criança e do
adolescente da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em escola situada no território de abrangência de
uma Unidade Básica de Saúde (UBS), cenário de práticas da residência, da cidade de Uberaba/MG. A RIMS integrou o
PSE desde 2012, intervindo em duas escolas regulares. A equipe de residentes era composta, em média, por cinco
profissionais da área da saúde, como psicólogo, terapeuta ocupacional, nutricionista, fisioterapeuta, educador físico e
assistente social, que atuaram no território por um período de doze meses, supervisionados pela professora da
Terapia Ocupacional (UFTM), tutora da residência. A equipe da RIMS era responsável pelos componentes II e III do
PSE, os quais eram abordados com as duas turmas de cada escola, por meio de encontros semanais, com duração de
50 minutos. Os encontros foram realizados no período de aula e acompanhados pela professora da disciplina. As
temáticas dos encontros eram construídas com os estudantes, pautadas pela relação dialógica que parte da realidade
dos educandos e de seu conhecimento cultural, a fim de desenvolver uma consciência crítica e transformadora. Os
temas abarcaram problemáticas como violência, bullying, adolescência, sexualidade e perspectivas para o futuro. Esta
experiência foi orientada pela teoria foucaultiana, no que se refere à problematização das relações institucionais e da
domesticação dos corpos, muitas vezes percebidas na imposição da escola sobre os jovens, inibindo seus potenciais
criativos para a construção de uma educação para a autonomia e pela saúde. As ações desenvolvidas no decorrer de
cinco anos de experiência da RIMS junto ao PSE possibilitaram a integração do trabalho em saúde com a educação,
permitindo um espaço de diálogo, construção de conhecimento e conscientização sobre as possibilidades de vida. A
aproximação dos adolescentes, população pouco frequente na UBS, evidenciou a dificuldade dos profissionais de
saúde de trabalharem com esta população, expressando estigmas e preconceitos sociais que dificultam a promoção
de saúde para este público. Além disso, a inserção nas escolas permitiu identificar situações de violência tanto no
contexto escolar e familiar, o que resultou em iniciativas de mobilizar os diferentes setores da sociedade para o
enfretamento destas situações. Esta ação permitiu observar que a própria escola não reconhece práticas de violência
reproduzidas em seu contexto, expressas por meio de medidas coercitivas que inibem a criatividade e a autonomia
dos jovens, suprimidas pelo excesso de limites e necessidade de controle frequentes. Embora o PSE tenha avançado
na escuta e identificação das demandas dos educandos, esbarrou na dificuldade de envolvimento da equipe de saúde
na construção de ações intersetoriais. A atuação dos profissionais de saúde da UBS se restringia, mesmo antes da
inserção da equipe da RIMS, à avaliação da saúde, referentes ao componente I do PSE. Esta dificuldade de
envolvimento dos profissionais se justifica pela sobrecarga de funções e falta de profissionais na equipe. Porém,
destaca-se que não se percebe o envolvimento de outros profissionais de saúde em tais atividades, como os
psicólogos da UBS, que se limitam ao exercício de uma prática individualista, pautada nos atendimentos clínicos
tradicionais, o que se mostra incoerente com o que é estabelecido na Política Nacional de Atenção Básica, cujo
requisito principal é o de uma prática comunitária e coletiva. Conclui-se que a experiência da RIMS no PSE possibilitou

1335
identificar que o programa apresenta potencial para formação do cidadão crítico, estimulando a autonomia, o
exercício de direitos e deveres, porém esbarra no desempenho dos profissionais de saúde e de educação, que não
assumem a atitude de empoderamento dos educandos, muitas vezes, como consequência da falta de capacitação
profissional. Desta forma, destaca-se a importância desta experiência na formação da residente de psicologia com o
PSE, oportunizando uma prática orientada pelo conceito ampliado de saúde e para o trabalho coletivo e social, imerso
na comunidade.

Palavras-chave:
Políticas Públicas; Saúde; Educação; Psicologia

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O psicólogo na Assistência Social interlocuções entre teoria e prática
Autor:
Natália Barbosa Oliveira (UFG)
Coautor:
Tiago Corrêa (UFG)
Vanessa Pires (UFG)
Karina Pereira da Silva (UFG)

O presente trabalho foi desenvolvido durante a disciplina Psicologia Institucional Comunitária, discorrerá sobre a
história, constituição, funcionamento e desafios dos Centros de Referência em Assistência Social – CRAS, em especial
o CRAS de Catalão – Theodora Maria de Jesus (Dona Dolica) e, por conseguinte, as relações dessa instituição com o
Estado, o envolvimento com a comunidade e possíveis intervenções psicossociais da instituição segundo diretrizes de
CREPOP. Discutiremos também sobre políticas públicas, além de tratar das atividades realizadas na instituição e
também das necessidades que essa vivencia. Os objetivos são efetivar uma verificação sobre a origem do CRAS,
entender o modo de funcionamento desta instituição, o papel do psicólogo frente a comunidade, e como o serviço
prestado por este atravessa e interfere na vida da população, ressaltando o que é preconizado pelas diretrizes. O
método de pesquisa empregado neste trabalho foi o método qualitativo. Utilizamos observações, entrevistas (formais
e informais), análise documental, revisão e análise de literatura, e o uso do diário de campo. Em psicologia social
crítica, a pesquisa é por excelência a pesquisa-ação. Nesta, o profissional não é neutro. Ele se insere de forma
concreta na comunidade e na vida dos indivíduos para assim compreende-los, acompanha-los e auxiliá-los.
Substituindo a frieza estatística, a pesquisa-ação apresenta-se compromissada com o sujeito compreendendo-o
dialética e historicamente. Diante da inserção no contexto comunitário, o profissional deve prevenir que sua atuação
não espelhe uma prática assistencialista, visto que essa inviabiliza sua real tarefa, pois o psicólogo nos cenários
comunitários deve atuar de modo a promover o incentivo a emancipação política e econômica. Estar informado sobre
as políticas públicas possibilita que desenvolva com êxito a prática em seu campo de atuação, ultrapassando a ideia já
cristalizada no senso comum de que o serviço prestado pelas Instituições ocorre de bom grado, e expondo que
receber algum tipo de atenção básica, é dever do Estado para com a população, pois o contribuinte já realiza o
pagamento das mesmas por meio dos impostos. Desta forma, fica evidente a relevância de conhecer o papel dos
conselhos de controle social, pois este órgão tem como função regulamentar e possibilitar o acesso do indivíduo aos
seus direitos, assim,faz-se necessário, para que se alcançe os objetivos propostos, a participação efetiva da categoria
nos Conselhos de Controle Social. Na luta e no esforço de construção das políticas públicas, os Conselhos de Controle
Social configuram-se como espaços importantes para a concretização delas. Assim, o envolvimento e participação do
psicólogo, como cidadão e como profissional que possui conhecimentos e instrumentos técnicos, é de suma
relevância. (PAULINO-PEREIRA, 2011) Nesse sentido o CREPOP ressalta que a práxis do psicólogo visa a mudança
social dos que estão marginalizados, operando sobre a singularidade de cada um, objetivando a promoção da
autonomia e cidadania e tendo em mente o contexto onde estas se manifestam, para que desta forma haja uma
adequação da elaboração e execução das políticas públicas. Contudo, o trabalho do psicólogo tem como objetivo
empoderar e esclarecer os sujeitos sobre seus direitos por meio das políticas públicas. O grupo realizou entrevistas
informais com a psicóloga responsável pelo CRAS, e com um morador da região. A profissional nos informa que o
público prioritário do CRAS é proveniente da demanda do Conselho Tutelar, Ministério Público, INSS, situações de
abandono de incapaz e questões escolares, que ocorrem por meio de encaminhamentos de ofícios direcionados para
o local. Este tipo de serviço configura-se como atenção especial, o que vai contra o que está escrito nas diretrizes que
regulamentam a ação. Assim, o trabalho desenvolvido deve ser um trabalho terapêutico-educativo, que capacite e
promova a inserção no mercado de trabalho, e também a inclusão produtiva para os beneficiários de programas
sociais. Uma das formas de desenvolvimento deste trabalho é por meio da realização de oficinas, sendo essas de
diversas categorias, e são efetuadas pelos oficineiros. Desta maneira, atendem somente ao critério sociopedagógico
educativo, deixando a margem a questão terapêutica. Isso foi observado na fala da psicóloga, ao longo de sua
descrição sobre a dinâmica destas atividades, onde nos ressaltou que as mesmas não são diariamente acompanhadas
por ela. Assim, a função da profissional está se limitando ao gerenciamento e supervisão das atividades, e não uma
participação ativa no processo. Enxergamos as deficiências no funcionamento da instituição e os desafios que a
perpassam para principalmente se estabelecer um laço com a comunidade (SCISLESKI, 2016) e assim exercer seu

1337
papel para com esta, não infligindo às diretrizes estabelecidas pelo Conselho Federal de Psicologia, através do
CREPOP. Observamos as falhas nos seguintes quesitos: escassez de grupos de convivência que objetive fortalecer os
vínculos, uma maior abrangência das oficinas e que estas contem com a presença dos profissionais da Psicologia e da
Assistência Social com o objetivo de intensificar o caráter terapêutico destas e a ampliação de ações comunitárias
visando compreender questões de caráter coletivo.

Palavras-chave:
Psicologia-Social, Políticas-Públicas, CRAS, CREPOP, Psicólogo-Comunitário

1338
Os sujeitos egressos prisionais: o retorno à liberdade e a (re) inserção social
Autor:
Thalita Mara

O presente trabalho trata-se da apresentação da dissertação de mestrado da autora, com conclusão e obtenção do
título no ano de 2014. Aborda temas sobre os egressos prisionais e o processo de reinserção social desses sujeitos.
Entre os assuntos abordados encontram-se discussões a respeito do cenário legal e institucional sobre os egressos
p isio ais,à o à desta ueà pa aà aà te ti aàso eà aà i i alizaç oà daà po ezaà eàaà seleti idade à doà siste aà p isio alà
brasileiro. Também são tratados no trabalho assuntos relativos a vida na prisão e o processo de transição para a
liberdade dos egressos prisionais, onde coloca-seàe à ogaàaàe ist iaàdoà sujeito àa tesàdoàp esidi ioàouàdoàeg essoà
prisional. Para empreender tais reflexões são utilizados o conceito de sujeito no âmbito psicanalítico, além de
pensamentos sobre a condição dos egressos prisionais e o desamparo, conforme Freud. O objetivo geral do trabalho
consistiu em compreender o que significa ser um sujeito egresso do sistema prisional na concepção dos próprios
entrevistados. Já os objetivos específicos foram: a) investigar, sob a perspectiva dos egressos, se há um processo de
reinserção social; b) descrever o processo de reinserção social dos egressos prisionais e; c) investigar as expectativas
dos egressos do sistema prisional da cidade de Uberlândia com relação à vida em liberdade após o aprisionamento.
Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, na qual foram recolhidos depoimentos de sete colaboradores, por meio de
entrevista semiestrutura, com gravação de áudio. Os colaboradores convidados a participar são egressos do sistema
prisional que estavam em cumprimento do regime aberto ou do livramento condicional e estavam inscritos no PrEsp
(Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional) da cidade de Uberlândia, na ocasião da pesquisa.
Dentro da proposta deste estudo, foram recolhidos depoimentos de egressos do sistema prisional que saíram
recentemente da prisão e estavam até um ano em liberdade. Os convidados a participar abarcaram colaboradores há
um mês, dois meses, três meses, seis meses, nove meses e um ano em liberdade, com o intuito de contemplar
diferentes momentos desse processo e as mudanças que podem acontecer com o decorrer do tempo fora da prisão.
Sendo assim, a escolha dos sujeitos foi norteada pela tentativa de dar conta do processo vivenciado entre a libertação
e o momento em que são considerados egressos do sistema prisional. Para interpretação das entrevistas foi utilizado
o método psicanalítico, o qual opera como produtor de sentidos, agindo no singular de cada circunstância. Durante as
entrevistas os sujeitos discorrem sobre aquilo que eles querem que o entrevistador saiba, desse modo, é o processo
i te p etati oà ueà possi ilitaà aàes utaà doà e t e àp ese teà aà elaç oàa alítica entrevistado e entrevistador. Tendo
em vista o histórico das pessoas que passaram pelo sistema prisional, ou seja, a fase pré-penal (que antecede a
entrada no sistema prisional), o período de estadia nas prisões e o retorno para a liberdade, o significado de ser
egresso prisional para os entrevistados na pesquisa perpassa a necessidade de lidar com uma realidade concreta e
objetiva dificilmente transformada, juntamente com os aspectos vivenciados durante a prisão e todas as
reacomodações subjetivas que a transição liberdade - prisão - liberdade impõe aos sujeitos, a qual engloba adaptar-se
e desadaptar-se ao mundo dentro e fora das grades. A condição do duplo desamparo dos egressos prisionais remete
ao desamparo fundamental ao lado das exigências de lidar com a falta de garantias de uma realidade melhor e mais
positiva, como também com expectativas - pouco otimistas e amarradas a um passado sombrio - de romper com vida
na criminalidade.

Palavras-chave:
Egressos prisionais; Reinserção social; Desamparo

1339
Política Pública de Segurança, Juventude, Prevenção à Criminalidade e atuação da Psicologia
Autor:
Wanessa
O Fica Vivo! diz respeito a um programa de controle de homicídios criado pela Política Estadual de Prevenção Social à
Criminalidade da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais (SESP) gerenciada por uma organização
da sociedade civil de interesse público que realiza intervenções em territórios marginalizados e vulneráveis. O Fica
Vivo! atende jovens e adolescentes de 12 a 24 anos da periferia de Belo Horizonte, Região Metropolitana e Interior de
Minas Gerais, como as regiões leste e oeste do município de Uberlândia, por meio de atendimentos individuais e
oficinas – futebol, grafite, parkour, karatê, entre outros – espalhadas por esses territórios. As oficinas do Fica Vivo!
extrapolam a dimensão do ofício, porque a partir da realização das atividades esportivas, culturais e artísticas
estabelecem vínculo entre os adolescentes e jovens e o programa; abrem espaços para a expressão das diferenças e
singularidades sem julgamentos morais e preconceituosos; criam espaços de reflexão sobre formas de prevenção e
redução de conflitos e rivalidades violentas; promovem a circulação pela região de moradia bem como favorecem a
integração entre eles. O programa tende a buscar pessoas que já são moradoras da região e lideranças comunitárias
para exercer a atividade de oficineiro.
O Fica Vivo! também foi criado partindo do pressuposto que a relação entre a violência e a juventude se dá de modo
mais complexo e amplo do que metodologias e ações focadas no âmbito individual, que patologizam os sujeitos e que
priorizam a lógica da internação e encarceramento. O intuito é acessar principalmente os jovens envolvidos na
criminalidade – aqueles que mais matam e morrem – e assim garantir o direito à vida e demais direitos fundamentais
e sociais, como educação, saúde e o acesso à cidade sem realizar um trabalho com embasamentos morais ou na
te tati aà deà esgata à oà jo e à doà i eà eà dasà d ogas,à po à e e plo,à asà oltadoà pa aà aà idada ia.à Oà fatoà doà
programa ser uma política pública que se propõe a atender esse público com o foco na garantia dos direitos e na
construção de ações com a juventude já legitima a relação com o eixo temático escolhido.
O Fica Vivo realiza análises da dinâmica criminal do território verificando fatores como o histórico sobre a formação
do município e do território atendido; redes de serviços públicos, privados e comunitários existentes; qualidade do
atendimento prestado à população pela rede de serviços; existência ou não de violência institucional; mobilidade da
população; rivalidade entre indivíduos e grupos; cultura do silêncio; regras locais de convivência; tipos de violências e
crimes mais comuns; localidades e horários onde os crimes ocorrem; faixa etária das vítimas e dos agressores;
aumento da circulação de pessoas armadas, dentre outros. Além disso, o programa busca prevenir e reduzir conflitos
e rivalidades violentas envolvendo adolescentes e jovens; ampliar a sensação de segurança nas áreas de abrangência
do Programa e ampliar e fortalecer a rede de proteção sóciocomunitária dos adolescentes e jovens atendidos.
O objetivo do trabalho é relatar a experiência do profissional de Psicologia inserida na temática da política pública de
segurança realizando um trabalho com jovens em vulnerabilidade e envolvimento com a criminalidade. Além da
metodologia própria do programa que trabalha a partir de uma concepção de território que extrapola a dimensão
física, considerando o pertencimento e as relações construídas entre as pessoas que nele vivem, a atuação também
esteve embasada pela Psicologia Histórico-Cultural. Essa abordagem compreende o sujeito inserido em um
determinado contexto histórico, político, econômico e social e fundamenta-se no materialismo histórico-dialético. Por
meio da Psicologia Histórico-Cultural foi possível trabalhar levando em consideração conceitos como o da constituição
de sujeito, a noção de grupos, a alteridade e os determinantes histórico, políticos e sociais, que auxiliaram na
compreensão das análises da dinâmica criminal proposta pela metodologia do Fica Vivo! Ademais, por meio da
abordagem foi possível compreender a importância dos oficineiros que diariamente em contato com os jovens faziam
parte da comunidade, mas realizavam um trabalho que os diferenciavam e possibilitavam a construção de outro lugar
nessa relação eu-outro. A orientação teórica, portanto, tornou-se indispensável para a atuação na referida política
pública. Destacou-se ao longo do trabalho a importância de se ter uma equipe interdisciplinar; do planejamento e
construção de ações no território e com a comunidade/jovens bem como a necessidade da realização das articulações
de rede e parcerias, principalmente com as redes locais. Importante pontuar também as dificuldades diante da prática
e enquanto uma política pública de segurança o maior desafio era o contato com o policiamento preventivo
especializado devido a posicionamentos, interesses e ações distintos.
Palavras-chave:
Juventude Território Cidadania Psicologia Histórico-Cultural

1340
Práticas discursivas de educadores sociais junto a adolescentes em situação de vulnerabilidade social
Autor:
Andreia Aparecida (UTP-PR)
Coautor:
Ana Claudia Wanderbroocke (UTP)

O educador social pode ser compreendido como um profissional que permeia os espaços entre a equipe técnica e os
adolescentes que cumprem medida socioeducativa e/ou que estão em situação de vulnerabilidade social. No Brasil,
em 2006, o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) aprovou a Resolução nº 119, que
deu início ao Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) que visa delinear o sistema de promoção de
ações efetivas no atendimento ao adolescente em vulnerabilidade social e/ou considerado infrator, sejam aquelas em
meio aberto, sejam as restritivas de liberdade. A partir desses marcos legais, a atenção aos adolescentes ganhou um
caráter de um sistema nacional, o qual pode ser visto como uma política pública articulada e com suas peculiaridades
para que se interrompa o ciclo de ato infracional cometido pelo adolescente e se promova o acesso aos direitos
fundamentais. O SINASE orienta para o detalhamento das atribuições e responsabilidades dos membros da equipe
técnica e dos demais educadores que farão parte da equipe interdisciplinar de socioeducação. Mas, no que diz
respeito ao educador social, não descreve o número de componentes esperados nas equipes, suas funções individuais
e qualificação necessária para exercer o trabalho. Considera-se que o documento também deixa uma lacuna no que
diz respeito à capacitação continuada da equipe que atende o adolescente de forma que garanta a formação
articulada dos profissionais com as práticas sociais propostas e resultados almejados pelo sistema. Atualmente, existe
um número crescente de atendimentos a adolescentes em situação de vulnerabilidade e/ou infratores pelos
programas de medidas socioeducativas no Brasil. Portanto, ter educadores sociais qualificados e que exerçam práticas
articuladas aos princípios e diretrizes da proposta de socioeducação é de suma importância para o futuro desses
jovens. Tendo em vista o exposto, a presente pesquisa pretendeu compreender as práticas discursivas de educadores
sociais junto a adolescentes em situação de vulnerabilidade social e/ou em cumprimento de medidas socioeducativas.
áà pes uisaà seà ali haà aoà ei oà te ti oà Políti asà pú li as,à di eitosà so iaisà eà p ti asà deà e a ipaç oà e à o te tosà
eoli e ais ,àu aà ezà ueà isaàdis uti àaài ple e taç oàdeàpolíti asàpú li asàe à o te toàdeàe lus o,à a gi alizaç oà
e vulnerabilidade. Tem ainda como finalidade, discutir vias de promoção de cidadania e justiça social. Participaram da
pesquisa cinco educadores sociais de ambos os sexos que atuavam com adolescentes em uma instituição localizada
na região metropolitana de Curitiba e que participaram de entrevista semiestruturada. Para a análise dos dados foi
utilizada a perspectiva das práticas discursivas e do Construcionismo Social. Os resultados mostraram que o educador
social buscou a profissão pela estabilidade proporcionada por um emprego público, pelo interesse em atuar como
professor, por se considerar identificado com o trabalho com adolescentes e ter familiaridade com o tema.
Apresentaram significados estereotipados de adolescência e do adolescente, mas o contato com os jovens
proporcionou revisão nesta postura para alguns profissionais. O educador não tinha clareza quanto ao seu papel e
apresentou pouco ou nenhum conhecimento sobre o SINASE e as Medidas Socioeducativas. Os dados reforçaram a
importância da figura do educador como alguém capaz de mediar as relações do adolescente e da sociedade e da
necessidade de espaços de discussão e capacitação entre os educadores, para que esses aspectos possam ser
discutidos e alinhados à perspectiva da socioeducação.

Palavras-chave:
Educador social, adolescente, vulnerabilidade, socioeducação.

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Processos de empoderamento de pessoas portadoras de doenças estigmatizadas negligenciadas: análise crítica da
literatura nacional
Autor:
Zoica BS Pereira (UFSM)
Coautor:
Adriane Roso (UFSM)

Introdução: Este trabalho, a ser apresentado na forma de pôster, no âmbito do eixo teórico Políticas públicas, direitos
sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais, é parte de um projeto de pós-doutorado em
desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Nele
se busca selecionar intervenções empiricamente sustentadas descritas na literatura e avaliadas como potencialmente
emancipatórias e empoderadoras para enfrentamento dos processos excludentes e estigmatizantes experienciados
pelos usuários atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento de doenças estigmatizadas e
negligenciadas (NTDs). Esse projeto vai ao encontro da Declaração de Bangkok de 2013 sobre a hanseníase em que se
inclui a dimensão da saúde mental, pela via da redução do estigma tanto institucional como no plano das relações
interpessoais e familiares, na politicas públicas de saúde coletiva para essa NTD. Para se chegar à seleção dos
procedimentos empiricamente sustentados foi necessária análise crítica inicial em que se discutiu o estigma e a
exclusão social em relação à saúde de portadores de NTDs mediante orientação teórica da Teoria das Representações
Sociais e de aportes da sociologia bourdieusiana (capitais simbólicos, campos) e da sociologia de Goffman
(manipulação das informações do self em contextos de interação face-a-face). Tal análise objetivou fornecer
elementos para situar os artigos em relação aos níveis de intervenção/problematização quanto à realidade social (seja
das interações face-a-face, das práticas institucionais, das representações). Essa análise, por fim, forneceu elementos
para a construção do projeto mais amplo supracitado. Método: foram buscados artigos no Portal Regional da
Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e BVS Psicologia Brasil mediante conjunto de descritores de assuntos em saúde
(DeCS/MeSH) e palavras que incluíam combinações de um descritor de uma doença negligenciada (NTD, hanseníase,
leishmaniose, tracoma, etc.) e um descritor de uma condição de saúde mental (saúde mental, depressão, estigma,
representação social, etc.). Foram excluídos periódicos não revisados por pares, artigos não pertinentes ao tema,
artigos sem resumo disponível em português ou inglês ou espanhol. Os artigos foram lançados em planilha para
organizar as informações e lançar as frequências de publicações obtidas por conjunto de descritores. Mediante leitura
dos resumos foram selecionados para análise do texto completo os artigos que apresentavam descrição de práticas
que objetivavam promover o empoderamento, resiliência, qualidade de vida, participação/inclusão social, redução do
estigma e preconceito e práticas cujo objetivo fosse reduzir os agravos em saúde mental dos pacientes. A razão de
acolher tantas alternativas se deu pelo fato de haverem poucos relatos de pesquisa que incluíam uma NTD e um
aspecto de saúde mental e ou questão social como a exclusão, estigma ou preconceito. Resultados: foram
encontradas publicações sobre doenças negligenciadas (NTD, tracoma, leishmaniose, chagas, zika, filariose e
hanseníase) e saúde mental, de autoria brasileira e latino-americana (menos de 20 artigos) e na literatura
internacional, anglo fônica, cerca de 30 artigos. A hanseníase e a leishmaniose foram as mais frequentes. O agravo
mais frequente de saúde mental foi depressão para ambas (acima de 60% dos pacientes). O estigma é tido como o
determinante social mais comum. Houve poucos relatos (quatro) de intervenções para reduzir o estigma e ou
melhorar a participação social, qualidade de vida de pessoas com hanseníase dentre as publicações nacionais. Sendo
tais atividades promovidas por serviços de reabilitação física como terapia ocupacional, fisioterapia e enfermagem.
Observou-se ausência completa da atenção em saúde mental quer pela psicologia ou psiquiatria. Conclusões: o campo
de atenção à saúde no caso das NTDs, como a nomenclatura indica, é subfinanciado e possui baixo reconhecimento
social. Apesar de a depressão ser uma morbidade que mobiliza a indústria e os serviços em saúde mental tais serviços
não atingem esses pacientes. Uma análise bourdieusiana sobre o campo da hanseníase, por exemplo, apontou para o
domínio da classe profissional da dermatologia sobre o capital simbólico, politico e econômico que circula nesse setor
o que explica parcialmente a miopia para a dimensão da saúde mental. Ademais, apesar de os serviços serem
exclusividade do SUS e este contar com a participação do usuário em sua gestão, tal requer lideranças de grupos
organizados. No entanto, entre as populações atingidas por NTDs essa participação se inviabiliza visto não acederem
ao poder político /participativo em suas comunidades que requer capital linguístico e social bem como exposição de
sua situação de saúde que muitos desejam ocultar. O empoderamento do usuário do SUS portador de NTD tanto para
demandar serviços em saúde mental, como para o exercício de cidadania é fundamental para que o sistema seja
1342
inclusivo. A literatura não apresentou esse tipo de intervenção limidando-se a ações de reabilitação física ou
prevenção de incapacidades. Faz-se necessário a partir daqui buscar experiências sustentadas por evidências que
promovam empoderamento de outros grupos sujeitos a processos de exclusão e estigmatização que possam ser
transferidas para a atenção às NTDs.

Palavras-chave:
estigma hanseniase empoderamento revisão práticas

1343
Projeto Dignidade: Garantindo Direitos no Centro de Ressocialização de Cuiabá
Autor:
Pedroso (UFMT)
Coautor:
Vanessa C. Furtado
Mauro (SEJUDH)

Este trabalho é fruto da experiência do Estágio Básico IV - Contextos Clínicos e de saúde, do curso de psicologia da
UFMT, realizado no Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC). Nesse período, acompanhou-se as reuniões do Projeto
Degnidade, que tem como objetivo geral: Garantir a integridade física, moral psicológica e ideológica da população
LGBT que cumpre pena de privação de liberdade no Sistema Penitenciário de Mato Grosso (FALCA,2011). O objetivo
do presente trabalho é mostrar a importância desse projeto na garantia de direitos da população LGBT no sistema
penitenciário. Estando ainda vinculado ao Eixo 1: Políticas Públicas, Direitos Sociais e Práticas de Emancipação em
Contextos Neoliberais. Pois trata-se de ações que visam a implantação de uma política pública para esta população
específica, uma vez que, a partir da vivência deste projeto em um centro de ressocialização do estado de MT,
observou-se que, atualmente, tem-se articulado a criação de uma portaria a qual se estenderá para todos os outros
centros de ressocialização do estado. Utilizando a metodologia de observação-participante, pode-se familiarizar com
o trabalho do psicólogo numa instituição pública e acompanhar os projetos desenvolvidos pelos mesmos, bem como,
a importância da atuação nesta profissão que está sendo fundamental para a criação da portaria estadual referida
acima. A partir dos relatos das ressocializandas da "Ala arco-íris", constatou-se algumas mudanças após a
implementação do Projeto Dignidade, pois as travestis, principalmente, ganharam o direito de se vestirem e se
expressarem de acordo com o gênero que se identificam, não sendo mais obrigadas, por exemplo a cortarem os
cabelos e deixarem de usar maquiagem. Na "Ala Arco-Íris" as travestis e os outros conviventes (Gays e Bissexuais)
vivem em harmonia, com música e cores nas celas. A reunião do projeto acontece uma vez por semana, onde são
discutidos assuntos diversos. Temas relacionados a saúde são recorrentes. Também são feitos os atendimentos
individuais. Uma grande conquista do Projeto foi a realização de um casamento dentro do CRC, tendo uma grande
repercussão no estado. Durante o estágio notou-se também a importância dos projetos sociais atuantes lá, ligados,
principalmente, à educação e trabalho. A partir desses projetos eles podem estudar, e trabalhar nas oficinas. Existem
também os trabalhos extras muros, destinados à aqueles que já possuem tornozeleiras eletrônicas. Contribuindo
assim, para a reintegração desses apenados no mercado de trabalho. Dessa forma, apoiando-se na Psicologia sócio-
histórica, compreendem-se que, ainda que no sistema neoliberal a emancipação humana se torne uma tarefa
praticamente impossível, ou apenas de forma parcial, ações como esta garantem o mínimo respeito às pessoas para
se expressarem de acordo com aquilo que são, sem a necessidade de serem formatadas às aparências de seu sexo
biológico. Isto, no caso da população específica observada, foi fator suficiente para que pudessem se sentir
respeitadas, promovendo uma melhor ressocialização, dentro do limites da instituição. Portanto projeto como o
Dignidade nos chama a atenção para as especificidades dessa população no sistema penitenciário e devem ser
implementados, pois garantem os direitos e trazem oportunidade e dignidade a essas pessoas contribuindo para o
seu retorno a sociedade.

Palavras-chave:
População LGBT, Políticas Públicas, Psicologia

1344
Psicologia e EJA: Uma Construção De Saber Escolar, Social e Político.
Autor:
Daniela de Sousa Borges (UFG)
Coautor:
Raiane Alves de Matos (UFG - Regional Catalão)
1- Introdução
Este trabalho é fruto das experiências realizadas, em 2017, no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(PIBID) do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão (UFG/RC). Tais experiências foram
desenvolvidas em parceria com o Colégio Maria das Dores Campos, localizado no Bairro Ipanema, da cidade de
Catalão/Goiás, do sudeste goiano, com mais de 90.000 habitantes.

2. Objetivos:
A proposta do PIBID de Psicologia da UFG/RC é estabelecer a inserção do aluno na escola de forma que, este, possa
conhecer a realidade da escola pública, pensar e refletir temas que vão de encontro à transversalidade do saber.
Neste trabalho, foi apontada a necessidade de promover discussões acerca da importância da escola na vida dos
alunos, e, também, realizar encontros destinados a um movimento de informação dentro do espaço escolar, incluindo
como atividade, ações informativas, buscando debater com os alunos questões políticas e sociais que emergiam no
momento.

3- Relação com o eixo temático: Políticas públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos
neoliberais.
Com essas atividades, pudemos conhecer a realidade da EJA e compreender os variados motivos que levaram os
alunos a interromper/descontinuar o processo de escolarização, compreendendo os desafios e impasses desses
motivos. E ainda identificar o nível de informação e compreensão acerca da realidade social e política do nosso país, e
de que forma as mudanças estabelecidas afetam a vida dos alunos, através de discussões a cerca das políticas públicas
vigentes em nosso país, as quais estão marcadas por retrocessos.

4- Orientação Teórica:
As reflexões propostas nas rodas de conversa pretendem promover a emancipação dos estudantes, seguindo a forma
de trabalho educacional proposto por Paulo Freire em 1962, o autor criou os círculos de cultura que visa à
alfabetização de adultos a partir de uma prática libertadora. Sobre essa prática temos que:à Oà ho e à oà podeà
participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade, se não é auxiliado a tomar consciência
daà ealidade,àaà p o u ia àoà u do àeàaàpe e e àsuaàp p iaà apa idadeàpa aàt a sfo -lo .à Pi e telà .àp.à
55)
ál àdeàle a àe à o side aç oàaàfo çaàdeà ei i di aç oàdeàu àg upo,àtalà o oàp opostoàpo àLa eà“.à :à [...]àtodaà
aç oàt a sfo ado aàdaàso iedadeàs àpodeào o e à ua doài di íduosàseàag upa .à OàP o essoàG upal.àp.à .

5- Metodologia
Nas supervisões realizadas, ficou decidido que as atividades seriam coordenadas por duplas, as quais promovem um
encontro por semana com os estudantes do EJA com a duração de 40 minutos, os encontros têm como objetivo
promover reflexões e intervenções grupais no âmbito terapêutico-educativo, tendo como categorias de análise três
dimensões: Campo Afetivo, Valorativo e Operativo. Além do trabalho realizado na escola o programa prevê reuniões
semanais, em que participa a equipe executora, composta por seis alunos, um professor orientador e uma professora
supervisora. As reuniões possuem o objetivo de fazer leitura e discussões de textos da Psicologia Social e Políticas
Educacionais, supervisões de prática de intervenção realizada na Escola e elaboração de diário de campo.

6- Resultados
A partir de algumas falas dos estudantes durante as rodas de conversa promovidas, foi possível identificar que há uma
tentativa de culpabilização, eles se julgam culpados por não terem concluído os estudos, é comum atribuírem que é
falta de esforço sem conseguir levar em conta o contexto social em que estão inseridos. Uma estudante diz que faltou
esforço de sua parte, porém quando pedimos mais detalhes de como era a sua realidade social na fase de estudo, fica
visível que ela foi prejudicada por ser uma estudante de baixa renda e que além de trabalhar e estudar, sua escola era
1345
distante de sua casa.
Outra estudante expressa em uma discussão que não acha certo ter que repor aula aos sábados devido a greve dos
professores em função da não aprovação da PEC 55 que visa o congelamento dos gastos da educação e saúde
proposto pelo atual governo. Se posicionar contra a greve que é uma forma de adquirir ou manter direitos que irá lhe
beneficiar, nos faz pensar que a estudante está reproduzindo o discurso que a mídia está oferecendo, nosso papel
com esses alunos é justamente promover uma visão mais critica e despertar o desejo pelo questionamento.

7- Conclusão
A atuação do PIBID tem um grande impacto para promoção da educação e libertação da classe oprimida. A
Universidade deve promover uma constante comunicação com a sociedade, a fim de evitar a manipulação que a
mídia faz com as classes trabalhadoras, mediante rodas de conversa é possível estimular o pensamento critico dos
estudantes a fim de criar em conjunto maneiras de enfrentamento as políticas de opressão que estão surgindo.

Palavras-chave:
educação, politica,libertação

1346
Relato de experiência de estágio em um Centro de Recepção ao Adolescente Infrator
Autor:
Cristielly Borges Araújo (ILES/ULBRA)
Coautor:
SHEILA FERNANDES (ILES/ULBRA)
Priscila Santos e Silva (Iles/Ulbra)

De acordo com Pratta e Santos (2007), o período da adolescência se constitui como uma fase de transição do
indivíduo, da infância para a idade adulta, evoluindo de um estado de intensa dependência para uma condição de
autonomia pessoal. Nessa etapa do desenvolvimento, o indivíduo passa por momentos de desequilíbrios e
instabilidades extremas, sentindo-se muitas vezes inseguro, confuso, angustiado, injustiçado, incompreendido por
pais e professores, o que pode acarretar problemas para os relacionamentos do adolescente com as pessoas mais
próximas do seu convívio social. Os adolescentes, usualmente denominados delinquentes ou infratores, ou, ainda,
autores de ato infracional, são aqueles que cometeram atos infracionais. Segundo Adorno, Bordini e Lima (1999), a
associação entre adolescência e criminalidade não é uma questão exclusivamente própria de sociedades que
apresentam desigualdades sociais e em que as políticas sociais governamentais não conseguem assegurar direitos
sociais fundamentais para grandes parcelas da população, como sugerem vários estudos. Silva (2002) explica que a
delinquência juvenil tem sido estudada por inúmeras áreas do conhecimento como a psiquiatria, a psicologia, a
sociologia, a antropologia, o direito, sendo que cada uma destas disciplinas enfatiza e busca esclarecer alguns
aspectos deste fenômeno tão complexo, através de diferentes métodos de investigação. O presente trabalho é fruto
da experiência prática da disciplina de Estágio Básico III com foco na Psicologia Comunitária, do curso de graduação
em Psicologia. O mesmo foi desenvolvido dentro de um Centro de Recepção ao Adolescente Infrator (CRAI), localizado
no município de Itumbiara/GO, que recebe adolescentes infratores que praticaram algum crime dentro do município
de Itumbiara e região, e desenvolve programas de ressocialização através de internação provisória ou definitiva. As
atividades do estágio tinham como objetivo trabalhar junto ao menor infrator questões relacionadas à autoestima,
culpa, autoimagem, limites e respeito ao outro, bem como instigá-los a sonhar e projetar o futuro de suas vidas,
através de oficinas educativas. Foi selecionado pela psicóloga e pedagoga da Instituição um grupo de 04 (quatro)
adolescentes, entre 16 e 17 anos para participar das oficinas. As oficinas foram realizadas uma vez na semana, com
duração de aproximadamente 4 horas cada. Inicialmente foi realizada uma apresentação das estagiárias aos
adolescentes para explicar a proposta e saber de seu interesse em participar das intervenções. O trabalho foi
desenvolvido em nove encontros, nos quais foram realizadas oficinas de cinema, de música, de profissões, de valores,
reflexão e planejamento de vida. A partir das observações e intervenções realizadas na instituição, foi possível
observar que o principal objetivo da instituição, reestruturar e ressocializar o jovem, não está sendo seguido, ao
contrário disso, é esquecido e substituído por práticas contrárias a esse objetivo. Existe uma desorganização,
desrespeito e falta de ética nas relações entre os funcionários e entre os funcionários e adolescentes, dessa forma,
não existe uma equipe unida em busca de um único objetivo e este talvez seja o maior problema a ser enfrentado
atualmente. Os adolescentes escolhidos para as intervenções se mostraram bastante participativos, Observamos que
eles possuem grandes potenciais, os quais algumas vezes estão encobertos, necessitando assim de um espaço dentro
de suas famílias e na sociedade que os façam mostrar diversas características e assim poderem modificar suas vidas.
Sendo assim, é necessário que a instituição reflita quais são seus objetivos e qual seu papel na sociedade, para que
possam realmente auxiliar o jovem a alcançar uma mudança positiva em sua vida.

Palavras-chave:
Adolescência, jovem infrator, ato infracional.

1347
‘elatoàdeàExpe i iaà oàC‘á“:àOàG upoà ásàVioletas .
Autor:
Ana Cristina Ferreira da Rocha (UFAL)
Coautor:
Saulo Luders Fernandes (UFAL)

De acordo com Pratta e Santos (2007), o período da adolescência se constitui como uma fase de transição do
indivíduo, da infância para a idade adulta, evoluindo de um estado de intensa dependência para uma condição de
autonomia pessoal. Nessa etapa do desenvolvimento, o indivíduo passa por momentos de desequilíbrios e
instabilidades extremas, sentindo-se muitas vezes inseguro, confuso, angustiado, injustiçado, incompreendido por
pais e professores, o que pode acarretar problemas para os relacionamentos do adolescente com as pessoas mais
próximas do seu convívio social. Os adolescentes, usualmente denominados delinquentes ou infratores, ou, ainda,
autores de ato infracional, são aqueles que cometeram atos infracionais. Segundo Adorno, Bordini e Lima (1999), a
associação entre adolescência e criminalidade não é uma questão exclusivamente própria de sociedades que
apresentam desigualdades sociais e em que as políticas sociais governamentais não conseguem assegurar direitos
sociais fundamentais para grandes parcelas da população, como sugerem vários estudos. Silva (2002) explica que a
delinquência juvenil tem sido estudada por inúmeras áreas do conhecimento como a psiquiatria, a psicologia, a
sociologia, a antropologia, o direito, sendo que cada uma destas disciplinas enfatiza e busca esclarecer alguns
aspectos deste fenômeno tão complexo, através de diferentes métodos de investigação. O presente trabalho é fruto
da experiência prática da disciplina de Estágio Básico III com foco na Psicologia Comunitária, do curso de graduação
em Psicologia. O mesmo foi desenvolvido dentro de um Centro de Recepção ao Adolescente Infrator (CRAI), localizado
no município de Itumbiara/GO, que recebe adolescentes infratores que praticaram algum crime dentro do município
de Itumbiara e região, e desenvolve programas de ressocialização através de internação provisória ou definitiva. As
atividades do estágio tinham como objetivo trabalhar junto ao menor infrator questões relacionadas à autoestima,
culpa, autoimagem, limites e respeito ao outro, bem como instigá-los a sonhar e projetar o futuro de suas vidas,
através de oficinas educativas. Foi selecionado pela psicóloga e pedagoga da Instituição um grupo de 04 (quatro)
adolescentes, entre 16 e 17 anos para participar das oficinas. As oficinas foram realizadas uma vez na semana, com
duração de aproximadamente 4 horas cada. Inicialmente foi realizada uma apresentação das estagiárias aos
adolescentes para explicar a proposta e saber de seu interesse em participar das intervenções. O trabalho foi
desenvolvido em nove encontros, nos quais foram realizadas oficinas de cinema, de música, de profissões, de valores,
reflexão e planejamento de vida. A partir das observações e intervenções realizadas na instituição, foi possível
observar que o principal objetivo da instituição, reestruturar e ressocializar o jovem, não está sendo seguido, ao
contrário disso, é esquecido e substituído por práticas contrárias a esse objetivo. Existe uma desorganização,
desrespeito e falta de ética nas relações entre os funcionários e entre os funcionários e adolescentes, dessa forma,
não existe uma equipe unida em busca de um único objetivo e este talvez seja o maior problema a ser enfrentado
atualmente. Os adolescentes escolhidos para as intervenções se mostraram bastante participativos, Observamos que
eles possuem grandes potenciais, os quais algumas vezes estão encobertos, necessitando assim de um espaço dentro
de suas famílias e na sociedade que os façam mostrar diversas características e assim poderem modificar suas vidas.
Sendo assim, é necessário que a instituição reflita quais são seus objetivos e qual seu papel na sociedade, para que
possam realmente auxiliar o jovem a alcançar uma mudança positiva em sua vida.

Palavras-chave:
Adolescência, jovem infrator, ato infracional.

1348
Sentidos construídos com equipes de saúde mental sobre o cotidiano da internação psiquiátrica compulsória
Autor:
Maria Lúcia fatureto
Coautor:
Carla Guanaes-Lorenzi (USP)

E àde o iaàdaàe pa s oàdasà a ola dias à oàB asilàeàaào upaç oàdosà e t osàu a osàpo àusu iosàdeàd ogas,àaà
problemática das internações psiquiátricas compulsórias, isto é, aquelas determinadas por medida judicial, tem sido
amplamente discutida, dando visibilidade a algumas tensões que atravessam esse campo. Entre outros aspectos,
debates têm sido desenvolvidos sobre temas como liberdade, autonomia e direito, e, numa esfera mais específica,
sobre a própria legitimidade e efetividade dos atendimentos nesses casos. Estas tensões trazem importantes desafios
aos profissionais de saúde mental, os quais precisam, cotidianamente manejar e equacionar o adequado cuidado das
pessoas que chegam aos serviços psiquiátricos via processos de internação compulsória. Em revisão da literatura nos
deparamos com alguns estudos que discutem os tratamentos compulsórios na perspectiva dos usuários, mas
percebemos uma lacuna em relação à perspectiva dos profissionais nesse mesmo contexto.
O trabalho aqui apresentado teve como objetivo compreender como as equipes de saúde mental significam o
trabalho no cotidiano das internações psiquiátricas compulsórias, bem como compreender como esse trabalho se
desenvolve, explorando tanto os desafios como os recursos usados pelas equipes profissionais para o
desenvolvimento do cuidado nesse contexto.
Especificamente o corpus de análise foi constituído a partir de entrevistas semiestruturadas no formato de grupos
focais com 36 participantes, que integram equipes de saúde mental de três setores de um hospital psiquiátrico em
uma cidade de médio porte na região sudeste do Brasil. Neste hospital são realizados atendimentos para pacientes
em crise psiquiátrica decorrente de doença mental, com ou sem uso ou abuso de substanciais psicoativas do sexo
masculino e feminino. Foram realizados seis grupos focais que foram transcritos integralmente para análise posterior.
A análise do material foi qualitativa e baseada teoricamente nas contribuições do movimento construcionista social
em Psicologia. A análise dos resultados apresenta os seguintes eixos temáticos: A internação psiquiátrica como
tratamento; e os sentidos e implicações do seu uso na rede de atenção psicossocial.
As conclusões apontam para a indiferenciação da internação psiquiátrica compulsória em relação as demais
internações disponíveis mas o uso, pratica e efeito no usuário apresentam respostas distintas.
O uso das internações psiquiátricas compulsórias é apresentado como uma alternativa para suprir a ausência de
medidas politicas e sociais capazes de dar conta da parcela populacional refratária, tem como consequência a
banalização desse tipo de internação, que contribui de certa forma para que esse tipo de internação funcione como
foma de controle social- como consequência a internação compulsória muitas vezes é usada como uma forma de
abrigar a população refrataria nos hospitais- como uma forma de moradia, usada quando não há espaço adequado
para a população doente e sem vínculos sociais nos espaços urbanos, além disso, ela também passa a ser usada como
as medidas de segurança. Todos esses sentidos obviamente contribuem para que a rede de atenção psicossocial não
se estabeleça pelo território, que medidas terapêuticas de base comunitária sejam cada vez mais desinvestidas e a
prática terapêutica baseada em internação e privação de liberdade seja tida como regra,e o espaço de diálogo entre
justiça e saúde fique cada vez mais como uma exceção.

Palavras-chave:
internação compulsória, profissional de Saúde

1349
Sujeito adolescente e ato infracional: leituras sobre o desamparo e a posição do campo jurídico
Autor:
Giovana Leão (UFU)
Coautor:
Bruno Castro Ribeiro
Anamaria Silva Neves (UFU)

As leituras psicanalíticas sobre a adolescência apontam para a importância da distinção entre os fenômenos da
puberdade (vinculados às teorizações desenvolvimentistas embasadas por faixas-etárias) e o sujeito adolescente, o
qual não é incitado como indivíduo de um estágio de desenvolvimento – ainda que este seja importante – mas sim,
como sujeito do inconsciente e do desejo. Essa diferenciação se faz pertinente na medida em que o sujeito não passa
a ser apenas um reflexo de seu estágio biológico. Tal registro deverá ser relativizado e contextualizado, já que este se
inscreve e se relaciona nas séries institucionais e sociológicas. O presente trabalho teórico, que se organiza
metodologicamente a partir da teoria psicanalítica em diálogo com constructos sociológicos, tem como objetivo
analisar a transgressão infracional para além de sua conotação negativa do ponto da moralidade, uma experiência
que exigiria do sujeito a perda momentânea das certezas firmadas pelo poder normativo. Para tanto, far-se-á uma
análise sobre como o poder judiciário e suas ações coercitivas têm sido convocados a responder pelo desamparo na
contemporaneidade. Assim, ainda o sujeito adolescente convoque o Outro da lei por meio da passagem ao ato
infracional, haverá que se considerar o seu desejo e a dimensão da falta simbólica que o extrapola, além de sua
inserção no contexto social, econômico e cultural de nossa contemporaneidade. O Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) considera como sendo ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. As
medidas aplicadas ao adolescente que cometeu um ato infracional deverão ser tomadas de acordo com a gravidade
do ato cometido, configurando-se a internação em instituição de privação de liberdade a medida de maior
complexidade e sendo, a princípio, aplicada apenas em casos considerados de maior gravidade pelo poder judiciário.
Pesquisas apontam a tendência em se buscar na ordem jurídica um suporte para se fazer uma contraposição à
fragilização do campo político – como se a primeira pudesse ser o contraponto seguro para o evidente
desinvestimento do segundo. Assim, o aprisionamento dos corpos cresce à medida que a ordem penal é disseminada
como via preferencial, assumida por uma sociedade pós-moderna, para lidar com os denominados desviantes sociais
– e, aqui, incluímos os sujeitos adolescentes autores de atos infracionais. Com a crescente imposição de diagnósticos
psiquiátricos – como o Transtorno de Personalidade Antissocial – aos adolescentes autores de atos infracionais,
alarga-se o impedimento de leituras dos fenômenos sociais de vulnerabilidade e de exclusão que por muitas vezes
dão tom à infração cometida. A psiquiatrização culmina em um alargamento da redução das subjetividades, inseridas
no contexto social, ao registro puramente somático. Esses adolescentes são enviados aos centros de internação com
vistas ao controle e silêncio. Ainda que as instituições de internação para tais adolescentes sejam caracterizadas pelo
ECA como lugares em que se efetiva medidas protetivas, muito ainda há que se pensar sobre as formas como essas
são aplicadas. Por fim, é premente que se considere sobre o tipo de proteção que se aborda nesse contexto, pois uma
convocação do poder judiciário à assunção de uma instância que suporte o desamparo parece eclodir numa falência
sig ifi ati a.à Esteà t a alhoà est à lo alizadoà oà ei oà te ti oà Políti asà pú li as,à di eitosà so iaisà eà p ti asà deà
e a ipaç oà e à o te tosà eoli e ais ,à eà e o t aà suaà pe ti iaà justifi adaà pelaà importância de se colocar em
questão as nuances presentes nos discursos jurídicos de proteção acerca da internação de adolescentes autores de
atos infracionais. Nesse sentido, propõe-se uma análise sobre que tipo de emancipação socioeducativa dos jovens se
pretende alcançar com tal medida, ao se constatar uma crescente convocação do poder judiciário para solução de
conflitos também decorrentes do desamparo político em um contexto neoliberal.

Palavras-chave:
adolescência, ato infracional, desamparo, psicanálise

1350
Trabalho e Justiça Social no Brasil da Constituição Cidadã: discurso jurídico sobre política urbana e assistência social
Autor:
Adriano (UFRGS)
Coautor:
Jussara Maria Rosa Mendes (UFRGS)

Introdução: O tema faz referência às relações entre política econômica e política social. O enfoque passa pela
Constituição Federal de 1988, seja porque embasa o ordenamento jurídico vigente, seja porque representa a
transição da ditadura para a democracia formal, com forte participação popular e notório avanço na conquista de
direitos. O objeto corresponde aos sentidos atribuídos ao trabalho e à justiça social no ambiente acadêmico de
formação jurídica. É relevante porque trabalho e justiça social são os únicos termos repetidos na definição
constitucional dos princípios e fins das ordens econômica e social, segundo artigos 170 e 193, junto às quais se fixam a
política urbana e a assistência social, conforme artigos 182-183 e 203-204, cabendo ao operador de direito interpretá-
los em litígios judiciais, proposições legislativas e decisões administrativas. Formula-se o problema de verificar até que
ponto os sentidos do trabalho e da justiça social convergem ou divergem na composição de um campo discursivo
próprio ao mundo jurídico sobre as necessárias relações entre economia e sociedade.

Objetivo: Mapear o campo discursivo predominante nos últimos dez anos entre estudiosos do direito brasileiro
através de publicações destinadas à reprodução do conhecimento jurídico.

GT e eixo temático: O estudo se enquadra no eixo temático 1. Políticas públicas, direitos sociais e práticas de
emancipação em contextos neoliberais, pois interroga o trabalho e a justiça social enquanto determinantes das
ordens econômica e social que fixam políticas públicas de enfrentamento das desigualdades. Corresponde ao GT 10.
Psicologia Crítica e Políticas Públicas: desafios teórico-práticos em tempos de golpe, pois interroga o fundamento
histórico dos direitos sociais que servem de matriz jurídica à política urbana e à assistência social sob as diretrizes das
ordens econômica e social.

Orientação teórica: A abordagem é tributária das concepções de Foucault sobre o discurso quanto às regras que
estabelecem seu objeto, às posições de sujeito que legitimam seu uso, ao poder que serve-se dele como arma ou
alvo, ao controle da verdade que o coloca na mira de investimentos políticos e econômicos, permitindo problematizar
o domínio da norma pelo saber jurídico, o confronto entre preceitos constitucionais e regulamentações
infraconstitucionais, a ressignificação dos valores republicanos pela ideologia neoliberal.

Método: Pesquisa documental de publicações acadêmicas do meio jurídico a título de teses, dissertações, artigos e
livros didáticos através da ferramenta do Google Acadêmico com base em palavras-chave extraídas da constituição:
justiçaàso ial ,à alo izaç oàdoàt a alho ,à p i adoàdoàt a alho ,à o de àso ial ,à o de àe o i a ,à assist cia
so ial ,à políti aàu a a .

Resultados: Alguns autores destacam a presença do trabalho e da justiça social nos fundamentos da República e nos
direitos individuais, coletivos e sociais como prescrições programáticas que disciplinam a conduta do poder público.
Na ordem econômica, o trabalho se associa à livre iniciativa na clássica integração de capital e trabalho, na
consolidação dos direitos trabalhistas e na definição da função social da propriedade. A justiça social exerce impacto
sobre a ordem econômica à medida que responde pela distribuição equitativa e solidária de recursos e bens, servindo
como guia de orientação ao trabalho decente. Na ordem social, a justiça social se vincula à dignidade e ao bem-estar
no amparo a hipossuficientes e vulneráveis, na oferta de políticas compensatórias e na discriminação positiva. O
trabalho exerce impacto sobre a ordem social à medida que responde pela própria produção das condições
necessárias à autonomia, servindo como sustentáculo da dignidade humana. Tais sentidos refletem um discurso
hegemônico sim, mas nada absoluto. A crítica reside no descompasso entre a força programática da norma e a
fraqueza de seus efeitos práticos perante a globalização e o neoliberalismo, bem como no frágil compromisso da
economia do século XXI com ideais de trabalho e justiça social fixados no século XX por influência da doutrina social
católica e da resistência operária à revolução industrial durante o século XIX.
1351
Conclusões: O campo discursivo estudado revela-se mais convergente quanto às correlações entre trabalho e justiça
social como princípios e fins norteadores das políticas públicas, mas menos convergente quanto às avaliações da
efetividade constitucional perante imperativos econômicos que sobrepujam demandas sociais, levando muitos a
empunhar bandeiras contrárias, seja pela desregulamentação do trabalho para incentivar a produção, seja pelo
compromisso com a justiça social para radicalizar a democracia. Tais achados resultam de um estudo exploratório de
apoio a uma investigação maior que parte do seguinte problema: até que ponto o excesso de referências ao trabalho
(quase cem) e a escassez de referências à justiça social (apenas duas) dentro da Constituição Cidadã contribuem
igualmente para desfigurar suas funções enquanto princípio e fim da política urbana junto à ordem econômica e da
assistência social junto à ordem social? Objetiva-se a análise das relações entre governamentalidade e subjetividade
no campo das ocupações urbanas para fins de moradia, regulando-se os sentidos do trabalho e da justiça social como
operadores das práticas e indicadores dos impactos da política urbana e da assistência social.

Palavras-chave:
trabalho justiça social constituição federal

1352
Um relato de experiência em instituição de acolhimento para crianças e adolescentes
Autor:
Beatriz Oliveira Menegi (UFU)
Coautor:
Katiúce (UFU)
O presente trabalho foi realizado a partir da disciplina de Estágio Básico supervisionado com ênfase em Psicologia
Social na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em que a proposta foi conhecer a atuação do psicólogo em
instituições de acolhimento para crianças e adolescentes em situação de destituição do poder familiar por motivos de
violência (física, psicológica, sexual) ou negligência. A prática foi realizada em uma instituição da cidade, que é
financiada por uma ONG. A partir das bases e orientações teóricas fornecidas previamente, das visitas à instituição e
das supervisões foi possível elaborar um relato crítico da experiência do estágio, com apontamentos sobre o
funcionamento institucional da casa de acolhimento, assim como uma análise da mesma.
Esse trabalho traz discussões acerca dos direitos sociais, assim como uma investigação do lugar marginalizado e de
vulnerabilidade ocupado pelas crianças e jovens que sofreram institucionalização devido a um conjunto de relações
históricas e sociais que determinaram seu contexto atual. E por meio desse relato, buscou-se encontrar saídas que
promovam o exercício dos direitos estabelecidos pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), e que visam o bem-
estar de todo o núcleo familiar em que essa criança e/ou adolescente está inserido, promovendo um contexto
saudável e de desenvolvimento para ambos. Desse modo, tal trabalho vincula-se ao eixo temático de Políticas
públicas, direitos sociais e práticas de emancipação em contextos neoliberais. Ao criticar o atual modelo de
institucionalização brasileira da infância e propor maneiras mais humanas e eficientes que se adequam aos direitos da
criança e do adolescente, assim como da família responsável, esse relato discute o contexto desses sujeitos colocados
em situação de vulnerabilidade e discriminação, determinada pelo modelo de produção e reprodução da vida.
Para o referencial teórico foi utilizada a abordagem histórico-cultural, que embasou as discussões teóricas em sala e
as supervisões, assim como orientou as práticas realizadas na instituição. Considerou-se as premissas de Vigotski
acerca do desenvolvimento humano para realizar a análise do espaço de desenvolvimento que a casa de acolhimento
fornecia para as crianças.
Foi realizada uma preparação teórica em sala antes da realização das atividades práticas propostas no estágio, a fim
de um melhor embasamento e apropriação das questões características do ambiente de acolhimento e a situação de
fragilidade das crianças e adolescentes que sofrem a destituição familiar. Nas práticas ocorridas dentro da instituição,
houve uma visita voltada à coordenação com o intuito de realizar uma entrevista semiestruturada, a fim de conhecer
a história e o funcionamento da casa de acolhimento em questão. Já as demais visitas foram em contato com as
crianças, observando sua rotina e as tarefas que a psicóloga desempenha, além de causar uma intervenção sobre a
mesma, na medida em que a presença de estagiários causavam estranhamento e curiosidade, alterando a realidade
cotidiana. A partir dessas vivências foram escritos relatos, tanto das experiências teóricas como práticas. Através
dessas notas foi possível escrever um relato crítico sobre a vivência do estágio, considerando a instituição visitada,
suas deficiências e seus avanços, utilizando o aporte teórico como norteador das análises críticas, assim como a base
para as propostas de melhoria da casa de acolhimento.
Constatou-se então, na experiência de Estágio Básico, a dualidade institucional. Na medida em que casa de
acolhimento possibilitava atividades promotoras do desenvolvimento, como aulas e cursos extras, de possuir um
amplo espaço físico para a utilização, e a preocupação com o espaço individual de cada um. A instituição também
tinha ações demasiadamente protetivas, como a vigilância por meio de câmeras, a burocracia para saída de
adolescentes da instituição, não promovendo sociabilidade para esses jovens, e a dificuldade do contato entre a
família e essa criança ou adolescente institucionalizado. Apesar de caracterizar apenas o funcionamento dessa casa de
acolhimento em específico, é necessário refletir sobre as práticas de destituição das crianças e adolescentes de suas
famílias, avaliando melhor as causas que culminaram na retirada da criança do lar. Nos casos em que a
institucionalização é realmente necessária, é preciso repensar o papel do psicólogo nesse contexto, como promotor
de desenvolvimento, e como agente para tal, nessas instituições que se propõem a acolher crianças em
vulnerabilidade por violência ou negligência.
Palavras-chave:
acolhimento crianças adolescentes violência negligência

1353
Violência doméstica: Experiência com grupo reflexivo
Autor:
Flávia Barros (UniCeub)
Coautor:
Lucas Camapum Rosa

A violência contra a mulher faz 53,5 vítimas a cada 100 mil habitantes anualmente (Filho, Mincato & Grassi, 2012).
Esse problema se alicerça na estrutura machista e patriarcal da sociedade brasileira, que objetifica a mulher. Isso,
consequentemente, acarreta em diversas formas de violência como física, sexual, moral, psicológica e material –
assim tipificadas na Lei Maria da Penha. Assim, se faz necessário pensar maneiras de combate à violência doméstica,
bem como acolhimento das mulheres que experienciaram ou experienciam situação de vulnerabilidade. Com esse
intuito, criou-se o grupo reflexivo de mulheres, que trabalha empoderamento e técnicas de enfrentamento com as
participantes. Assim, o objetivo geral do trabalho foi a promoção de espaço que possibilitasse empoderamento em
um grupo reflexivo de mulheres vítimas de violência doméstica. Para tanto, facilitaram-se dinâmicas de grupo que
gerassem reflexões acerca das condições de ser mulher na atualidade e do autoconceito, bem como promoveu-se
acolhimento das demandas relacionadas a situações de violência. A intervenção relatada relaciona-se com o eixo
temático 1, uma vez que as participantes do grupo estão ou estiveram em situação de vulnerabilidade social. Então,
são trabalhadas formas de estimular a discussão acerca do contexto vivido e sobre formas de enfrentamento da
situação de vulnerabilidade, pensando em redes de apoio e estratégias de solução de problemas, bem como
promoção de reflexão a respeito do autoconceito. Para o desenvolvimento de um grupo reflexivo, se fazem
necessários aspectos como: acolhimento, medidas de proteção à vítima e a elaboração de uma rede de apoio (Beiras,
2008). Além disso, os direitos da vítima devem ser reconhecidos, assim como a responsabilidade da violência, quando
trabalhando com o autor. O trabalho também deve almejar a prevenção de novos atos de violência e a escuta
individual de cada participante e sua situação problema. Foram utilizados quatro eixos teóricos: primeiro a
perspectiva sistêmica - que tira o foco do indivíduo e abrange para as inter-relações. Coloca em foco as relações e a
forma como elas se constroem e se mantêm, bem como são geradoras de mudanças. O pensamento sistêmico
possibilita uma nova compreensão tanto de fenômenos sociais e psicológicos como na utilização de recursos e
técnicas psicoterapêuticas e socioeducativas. Em segundo, utilizou se o ponto de vista do construitivismo e
construcionismo social - que busca uma realidade construída com o grupo em vez de partir de uma perspectiva pré-
determinada. Nesse contexto, o terapeuta torna-se participante e co-criador junto com os integrantes do grupo. Essa
visão propõe ações reflexivas que desencadeiem transformações criativas e compreende o diálogo como forma de
transformação e ressignificação, tendo o participante como especialista. Dessa forma, a terapia é um espaço
promotor de relação no qual essas trocas podem acontecer e a partir da conversação pode-se gerar a organização de
histórias e sentido às experiências. Em terceiro, utilizou-se o referencial de redes sociais – que ressalta a capacidade
de reflexão gerada a partir da interação com o grupo, no qual há o sentimento de pertencimento dos participantes.
Assim, o grupo percebe a importância da cooperação, que gera solidariedade, parceria e mudança. Tudo a partir do
vínculo que se forma entre os participantes. Por fim, a perspectiva de intervenção socioeducativa ou socioterapêutica
- prática envolvida com o empoderamento dos participantes do grupo a partir do reconhecimento de elementos
identitários e a experiência do processo de reflexão, que ocorrem a partir do processo de aprendizagem
proporcionado pela vivência em grupo. As soluções para o grupo são encontradas no próprio contexto do grupo
(Fleury, Marra & Knoble, 2009). Os encontros aconteceram uma vez por semana, durante três meses em uma clínica-
escola no Distrito Federal, como estágio do curso de graduação de Psicologia. As participantes eram mulheres que
estiveram ou que estão em situação de violência doméstica e foram encaminhadas pela rede. O grupo foi facilitado
por dois alunos de graduação orientados por dois professores. O grupo reflexivo possibilitou vínculo, acolhimento e
sentimento de pertencimento. Também percebeu-se o contato com sentimentos - que antes eram evitados, o
empoderamento e a emancipação - além do desenvolvimento de técnicas de enfrentamento a novas situações de
violência. O grupo contribuiu para as participantes nos quesitos empoderamento e criação de rede de apoio, além de
ter sido ambiente acolhedor para demandas trazidas. Recomenda-se a continuação do grupo, visto que participantes
e novas demandas estão sempre chegando. É importante ressaltar que o resultado do grupo sobre a vivência de
algumas participantes não pode ser construído devido às faltas ou o abandono voluntário do processo por parte das
1354
mulheres, que geralmente estavam ligados a choques de horário com o trabalho ou dificuldades de locomoção. Dessa
forma, entende-se a necessidade de início de mais grupos reflexivos em horários diferentes e em outros locais para
promover maior adesão das participantes.

Palavras-chave:
violência doméstica; mulheres; grupo reflexivo

1355
Vivência prática: atuação da Psicologia na atenção terciária
Autor:
Daniele Vilela (UFU)
Coautor:
Anabela Peretta (UFU)
Camila Araujo Braga (UFU)
JOSÉ LUCAS NUNES DE ASSIS (Uni. Federal de Uberlândia)

Introdução: Este resumo refere-se a experiência desenvolvida na disciplina Estágio Básico Supervisionado em
Psicologia Escolar e Educacional, oferecida no 7º período de um Curso de Psicologia . O Programa de Reintegração
Social dos Egressos do Sistema Prisional (PRESP) consiste em um importante dispositivo de atuação terciária, ou seja,
um programa voltado especificamente para os sujeitos que sofreram processos de criminalização e cerceamento de
liberdade. Fundado em 2003 a partir do decreto 43.295 em consonância com a Lei de Execução Penal (art.25), o
PRESP inicia oficialmente suas atividades no ano seguinte, em 2004, primeiramente em 3 municípios mineiros, hoje o
programa está inserido em 11 localidades no estado de Minas Gerais. Nessa perspectiva, através da vivência prática,
pudemos enquanto estagiários da Psicologia, acompanhar o dia-a-dia da instituição em todas as atividades propostas
pelo programa. Objetivo: Proporcionar ao discente um conjunto de informações teórico-práticas que subsidiem a
compreensão do contexto atual da Psicologia no campo da educação, possibilidades de atuação e desafios em
diferentes campos de atuação profissional. Metodologia: o trabalho em questão trata de um relato de experiência a
partir da vivência prática de 3 estagiários de Psicologia no PRESP de um município mineiro de médio porte, em
parceria com um curso de psicologia. A realização do estágio iniciou-se em abril de 2017, inicialmente foram marcadas
3 visitas, uma vez por semana para cada estagiário, em dias distintos, com a intenção de entrarmos em contato com
diferentes momentos, para a possibilidade de trocas de experiências. A equipe de profissionais do PRESP é composta
por uma profissional do direito, 2 psicólogos, 2 assistentes sociais e 2 secretárias. Sendo que todos os profissionais são
contratados como Técnicos- Sociais, esta nomenclatura é utilizada para nivelar todos os profissionais nas mesmas
atividades propostas pela instituição que são: acolhimentos, atendimentos individuais, auxilio informativo,
recolhimento de assinaturas, busca ativa, fornecimento de cesta básicas, etc. Resultados: Pudemos observar na
vivência prática os resultados do Programa por meio do contato direto com os egressos do sistema prisional. Tivemos
a oportunidade de conhecer pessoas que buscaram auxilio e encontram profissionais dispostos e capacitados para
irem além da determinação legal. Foi percebida a forma como muitos dos atendidos chegam ao PRESP, com muitas
dúvidas, medos e sentimento de desamparo. Muitas vezes não têm com quem contar e encontram na equipe o apoio
que necessitam, espaço de confiança, informação, escuta e acolhimento. Mas, também observamos a instabilidade
que existe no PRESP, por se tratar de um serviço público terceirizado, sujeito a interrupções e descontinuidades.
Conclusão: Ao tomarmos conhecimento da política do PRESP, identificamos outra dificuldade, relativa ao apoio dado
ao serviço pelas esferas competentes. Pudemos perceber que apesar da alta demanda pelo serviço e dos resultados
alcançados, falta apoio político para fortalecimento do serviço e das redes de apoio institucionais, nas quais PRESP
pode encontrar parcerias para efetivação do seu serviço, consequentemente maior apoio ao egresso do sistema
prisional. Mas, destacamos que apesar de todos os processos que independem da equipe de profissionais, o serviço se
mantém e viabiliza o acesso dos egressos aos seus diretos sociais na busca de potencializar as condições de cidadania,
contribuindo no fortalecimento dos aspectos subjetivos dos egressos com vista a diminuir os efeitos do
aprisionamento. Conhecer o PRESP nos possibilitou enquanto estudantes de Psicologia, uma ampla visão, acerca das
políticas públicas e para, além disso, compreender através da vivencia- prática diferentes campos de se pensar a
educação. Trata-se de conhecer na singularidade o que somente a convivência e entrega a essa experiência nos
possibilita: crescimento pessoal e profissional.

Palavras-chave:
PRESP, politicas públicas, atuação psicólogo.

1356
Eixo 02. Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência

1357
"O que os adolescentes querem saber sobre sexualidade"
Autor:
Emanoela Toledo (FMRP/USP)

Introdução:A adolescência é caracterizada por acentuadas mudanças corporais e psíquicas devidas a crescente
produção hormonal que influencia o desenvolvimento físico, emocional e o comportamento sexual. A idade da
primeira relação sexual tem implicações importantes para a saúde da adolescente. Existe relação consistente entre a
experiência sexual precoce e danos à saúde, devido a subsequente comportamento sexual de risco. A sexualidade é a
energia que motiva a busca do amor, o contato e a intimidade, e se expressa na forma de sentir, e na maneira com
que as pessoas interagem com os outro. Pode-se dizer que a sexualidade saudável é o produto de experiências
negativas e positivas contrabalançadas em um saldo positivo. Existem duvidas de adolescentes sobre a sua
sexualidade que nem sempre são expostas ao profissional de saúde. A iniciação sexual muito precoce transcorre em
pa aleloà o àoàta uàdoàassu toà se o àe àfa íliaàj à ueàoàdespe ta àpa aàa vivência da sexualidade transcorre sem a
devida orientação dos pais e da escola. Em contrapartida, a criança e o adolescente estão em contato com assunto
sexo e aconselhamento sobre sexo seguro no carnaval pela televisão. A maioria das informações a população sobre o
tema sexualidade são restritas a prevenção da gravidez e das DSTs e versam sobre o direito do adolescente de ter
relações sexuais (Saúde, 2006). As ações integradas da saúde e educação possibilitam o preparo dos pais e a formação
de professores e profissionais responsáveis pela edificação da sexualidade da pessoa um elemento indispensável no
combate aos agravos resultantes das práticas sexuais inadequadas.
Objetivos: Identificar quais as informações os adolescentes gostariam de receber sobre sexualidade.
Métodos: Alunos de uma escola do ensino médio da rede publica com idades entre 13 e 17 anos foram convidados a
responder 3 perguntas sendo duas com respostas de múltipla escolha: Quem você gostaria que lhe orientasse sobre a
função sexual/sexualidade? Como você gostaria de receber estas informações? e uma pergunta aberta: Quais duvidas
você gostaria de esclarecer sobre sua sexualidade?
Resultados: Dos 312 alunos respondentes, 50,5% gostaria ser informado sobre sexualidade pelos pais, 39% pela
escola, e 10,4% pelos amigos, 47.9% gostaria de receber informação através de palestras; 24. 6% por folder, 20.4%
por aulas na escola, e 7.1% pela mídia. As duvidas indicadas: esclarecimento sobre ciclo menstrual, anticoncepção,
DSTs, violência sexual, aborto, gestação, sexo durante gestação, orientação sexual, identidade de gênero.
Conclusão: A adolescência é uma janela de oportunidade para os profissionais de inúmeras áreas oferecerem
informações preventivas e educativas sobre a vivencia da sexualidade. Conhecer as demandas dos adolescentes
permite criar estratégias mais coerentes com a realidade e, com isso, pode tornar os programas de prevenção dos
agravos relacionados com a vivencia da sexualidade mais eficazes. Houve inúmeras dúvidas sobre o tema que
evidencia a importância da educação sexual nas escolas em parceria com o apoio dos pais para transmitir
informações, conhecimento, valores ajudando os alunos a superarem suas dúvidas, ansiedades e angustias. É
necessário que a escola seja um espaço de educação étnico-racial e sexual sistemática, não só pelo olhar biológico
tradicional, mas o sujeito visto como um todo na sua singularidade com todas as dimensões que o constituem como
biológicas, históricas, psicológicas, sociais, econômicas, culturais, entre outras.

Palavras-chave:
Escola, sexualidade, adolescente, prevenção

1358
A família homoafetiva e a contemporaneidade: desafios e conquistas
Autor:
Carol Goulart (UFU)
Tatiane (IPUFU)
THAIS RIBEIRO (UFU)
Coautor:
Anamaria Silva Neves (UFU)
Marcelo Hayeck (UFU)

No final dos anos de 1970 surgem no Brasil os movimentos de militância homossexual, pautados na revisão social da
sexualidade e do gênero e se configurando como um ato de resistência à tirania do período da ditadura militar. Em
1984, a luta é marcada por ações de combate ao surto do vírus da imunodeficiência humana (HIV). Ademais, houve
um enfoque em mobilizações visando eliminar práticas discriminatórias e, entre algumas conquistas, pode-se
o side a à aà e oç oà doà te oà ho osse ualis o à daà atego iaà deà doe çasà oà I stitutoà Na io alà deà ássist iaà
Médica da Previdência Social (INAMPS), que ancora a compreensão de que o significado de orientação sexual não se
apoia em uma opção ou condição. A partir de 1990 ocorre o fortalecimento e a expansão dos movimentos por todo o
país, e também tem início as primeiras organizações de travestis e transexuais e, por sua vez, a Associação Brasileira
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ALGBT) é fundada em 1995. No ano de 1996 emergem os
primeiros grupos lésbicos e as paradas LGBT ganham destaque social; junto a isso, as políticas de direitos humanos
dão maior visibilidade à causa homossexual, o que viabilizou a ocupação de um espaço social de destaque na cena
contemporânea. No dia 05 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) admitiu a união homoafetiva como
uma entidade familiar. Tal decisão permitiu às famílias homossexuais o acesso a direitos antes restritos às famílias
heterossexuais, entre eles: amparo legal em caso de divórcio, apoio estatal em caso de falecimento, possibilidade de
inclusão em planos de contemplação familiar, direito à adoção de crianças, entre outros. As discussões acerca da
união homoafetiva e da adoção de crianças por esses casais têm sido recorrentes no cenário político atual.
Considerando este contexto, se faz necessária uma reflexão crítica dos discursos e ações intolerantes, baseados em
estigmas e preconceitos. Portanto, este trabalho tem como objetivo apresentar um estudo sobre a família
homoafetiva na contemporaneidade, captando as suas singularidades e as diversas questões sociais que a
atravessam. Ao abordar a família homoafetiva contemporânea é imprescindível percebê-la como uma instituição de
resistência e transformação, além de se mostrar como uma nova forma possível de vinculação familiar. O processo de
adoção de uma criança pelas famílias homoafetivas não escapa da avalanche de preconceitos sociais direcionados a
este grupo. Para fins do desenvolvimento deste trabalho, que se caracteriza como um relato de experiência, foi
realizada vasta pesquisa bibliográfica sobre o tema, com viés teórico da Psicologia Social, e ainda, foram feitas três
entrevistas semiestruturadas. A primeira delas foi realizada com uma psicóloga da Vara da Infância e Juventude, a
segunda com uma psicóloga responsável pela certificação de casais adotantes de uma ONG, e a terceira com um casal
homoafetivo homoparental. Observou-se que os estudos não apontam uma diferenciação no processo de adoção
entre casais hetero ou homoafetivos, os desafios são similares para todos pretendentes à adoção. A preparação,
adaptação e o desejo de ser família auxiliam na constituição da parentalidade e podem permitir a criação de vínculos
em qualquer formato de família. Por fim, o desenvolvimento deste trabalho possibilitou a construção de um espaço
de discussão sobre os aspectos históricos, desafios e a novas possibilidades de constituição da família, com a
des istifi aç oà doà idealà deà fa íliaà hete o o ati a.à ássi ,à aà ossaà p opostaà est à i uladaà aoà GTà G e oà eà
se ualidades:à odosàdeàsu jeti aç oàeàpolíti asàdeà esist ia ,àto a doà o oàpa et oàaàdis uss oàso eàdi eitosà
e lutas sociais que o tema bordeja.

Palavras-chave:
homoafetividade, família, contemporaneidade, adoção, casamento

1359
A Influência da Visão Social, Histórica e Psicanalítica sob a Mulher e a Subjetivação do Corpo Feminino
Autor:
Bianca Alves (unifran)
Coautor:
Liliana Scatena

Introdução: Este trabalho surgiu do interesse de uma aluna quinto anista que realizou estágio curricular
supervisionado na abordagem psicanalítica de um curso de formação de psicólogo, na área específica de Transtornos
Alimentares e Obesidade. De acordo com Dumas (2011), a anorexia nervosa (AN) caracteriza-se por uma recusa
categórica de manter um peso corporal normal e por medidas extremas e intencionais visando a perder ou a não
ganhar peso no período de crescimento. A bulimia caracteriza-se por crises regulares de hiperfagia, seguidas de
comportamentos compensatórios para evitar ganhar peso, como os vômitos provocados e o uso abusivo de laxantes,
enquanto as pessoas com anorexia ficam muito magras ou mesmo raquíticas. A anorexia e a bulimia afetam
principalmente as adolescentes e as jovens adultas, devido serem doenças com raízes psicológicas são de difícil
tratamento. As mídias produzem modelos e ditam padrões para o corpo, que constituem representações sociais da
beleza e da saúde, tais padrões podem gerar insatisfações frente à própria imagem e abalar a autoestima,
incentivando uma busca insensata pelo ideal corporal. Para compreender o quanto o corpo feminino foi castigado no
decorrer da história, faz-se necessário um estudo sobre história social, psicanálise freudiana e o simbólico a respeito
do feminino. Para tal, utilizou-se da discussão teórica de Maria Rita Kehl (2016) para compreender as relações entre
mulher, feminilidade e posição feminina, para desta forma ampliar as possibilidades de tratamento na clínica
psicanalítica, a partir da qual seja permitido a essas mulheres com transtornos alimentares constituir uma narrativa
pessoal, um estilo próprio de vida, e ampliar o entendimento dos profissionais psis, para que estas mulheres
encontrem de fato um lugar possível de escuta, tanto no campo subjetivo, no setting analítico, quanto no coletivo, na
sociedade.

Objetivos: A intenção deste estudo foi apresentar elementos para a problematização da naturalização da constituição
do gênero feminino e do corpo feminino e trazer os elementos históricos e culturais presentes nessas determinações.
Do mesmo modo, situar e apontar rupturas nas construções cristalizadas a respeito da figura da mulher na sociedade
para possibilitar o diálogo e desta forma, para a pluralização da feminilidade.
Relação com o eixo temático escolhido: Não há um padrão específico de feminilidade, pois diferentes culturas e
pe íodosàhist i osà oà o st ui àdife e tesàfo asàdeàe p ess esàdeà se à ulhe .àápesa àdisso,àh àu à odeloàaàse à
seguido de passividade, delicadeza, resignação, maternagem inerente, compaixão, cuidado, amorosidade,
sensibilidade que nutrem a ideia de que seria natural para a mulher o matrimônio e a vida familiar como mãe, o que a
condiciona a um série de condutas e referências que devem ser seguidas. Esses padrões específicos de conduta vão
te e doà eà a a te iza doà asà ulhe esà o à u à jeitoà p p ioà fe i i o à p o idoà deà at i utos,à alo es,à fu ç esà eà
condutas específicas esperadas que elas possuam. E uma aparência a ser seguida com o corpo belo, esguio e atraente.
O padrão de beleza feminina enrijece o modo como esse corpo se manifesta psiquicamente e fisicamente,
modificando-se conforme a influências econômicas, politicas, midiáticas e históricas.

‘efe e ialà Te i o:à Estudoà daà psi a liseà f eudia a,à aisà espe ifi a e teà Estudosà so eà aà histe ia à -1895)
documento histórico sobre as origens da Psicanálise. E também sobre a desconstrução do que foi teorizado a respeito
da figura da mulher, através de uma autora contemporânea, Maria Rita Kehl (2016). Nesta investigação da identidade
feminina, a autora propõe o conceito de deslocamento, que permite acompanhar as mudanças nos conceitos de
feminino e feminilidade.

Métodos: Estudo bibliográfico a partir do referencial psicanalítico a respeito do feminino e da concepção deste corpo
representado pela sociedade, relacionando-se a pesquisa com material advindo de vinhetas de casos clínicos
discutidos em supervisão coletiva em uma clínica-escola de Psicologia. A reflexão teórica somada à singularidade de
cada caso clínico trouxe ampliação do conhecimento a respeito do estudo da personalidade, do inconsciente e
expansão do conhecimento psicanalítico, analisando também o aspecto social e cultural de cada caso. Os casos
discutidos em supervisão coletiva constituíram-se de cinco pacientes mulheres, com idades entre 20 e 40 anos, com
queixas de bulimia, compulsão alimentar, anorexia e depressão.

1360
Resultados: A análise dos conteúdos das sessões e o estudo bibliográfico demonstraram a influência de determinantes
so iaisà eà si li osà pa aà aà o stituiç oà daà ep ese taç oà so ialà deà se à ulhe à eà te à u à o po fe i i o .à Eà oà
quanto isso pode afetar a auto imagem da mulher ao ponto de desenvolver sofrimento psíquico tais como auto
depreciação, sentimento de culpa, não realização de objetivos pessoais e profissionais.

Conclusões: A partir da contextualização da teoria psicanalítica a respeito da contemporaneidade da identidade


feminina e a interlocução da teoria com as vinhetas de casos clínicos percebeu-se que as influências sociais trazem
aspetos singulares às mulheres sobre a determinação de como é o feminino. O artigo traz então a possibilidade de
dis uti à o asàfo asàdeà se à ulhe à aàso iedadeà o te po ea,àdi i ui doà sà azelasàpsí ui asàad i dasàdosà
padrões estéticos, culturais, econômicos e midiáticos.

Palavras-chave:
Palavras-chave: feminino, feminilidade, corpo feminino.

1361
A maternidade enquanto escolha da mulher
Autor:
Aline dos Anjos (UNIPAR)
Coautor:
Kamylla Maia (Universidade Paranaense Unipar)
Andressa Frasson (Unipar)
Bárbara (UNIPAR)

Introdução: Pesquisadores, estudiosos e militantes do feminismo debatem o quanto o corpo tem se constituído não
apenas como lugar do primitivo, do instintivo, do animal,ao mesmo tempo, tem sido desqualificado por inúmeros
investimentos e dispositivos das práticas sociais.Dessa forma ressaltamos que, embora o movimento feminista venha
produzido inúmeras discussões sobre a situação da mulher, o gênero ainda é constantemente relembrado para
explicar e justificar as desigualdades entre homens e mulheres, neste nosso trabalho, a imposição histórica do corpo
feminino para a maternidade.

Objetivo:Analisar a importância de novos diálogos para o processo de reflexão da mulher sobre seu desejo de ser mãe
e suas condições para o exercício da maternagem. Enquanto revisão bibliográfica, pretende possibilitar outras escutas
de corpos do não desejo materno e possibilitar olhares atentos sobre as formas de violência de gênero ainda tão
atuantes em nossa sociedade.
Desenvolvimento: Nota-se que, ainda na contemporaneidade, tentativas de diálogos mais amplos sobre mulheres e a
forma desigual como são tratadas sendo consideradas por muitas instancias histórico culturais como o gênero
subalterno, repetindo o paradigma da mulher reprodutora uma visão de categorização do corpo feminino conforme
Perrot (2003).A importância de rever as relações de poder entre homens e mulheres e a relevância de uma
abordagem mais ampla das instituições e práticas que são atravessadas e constituídas por representações de gênero,
implicam na produção de subjetividades, e suas representações.O paradigma imposto social e biologicamente
noticiado ao gênero feminino desde o nascimento, como aquele normalizado de que mulher nasceu para ser mãe e
que se perpetua quando adentra as outras instituições como escola e religião, fortalecem a ideia de Meyer(2012)
ua doàes e eàso eàosàpe igosà o alizado esàdestesàdis u sos: [...]àse p eàope a doàaàpa ti àdeàu aàide tidadeà
que é a norma, que é aceita e legitima e que se torna [...] quase inevitável (MEYER, 2012, p. 24), sendo assim, o corpo
do feminino é controlado pela sociedade capitalista, patriarcal e falocêntrica por qualquer célula da sociedade através
de tecnologias políticas do corpo (FOUCAULT, 1987), corpos a serem controlados com maior facilidade, docilizados
pelos dispositivos sociais de disciplinamento.Existe uma exigência criada culturalmente de que esse corpo fêmeo
deverá viver a maternidade, portanto,quando da escolha do ser mãe,a atitude e decisão se fazem diferentes do
imaginário social esperado pelo contexto social/cristão. Assim, concordamos que a maternidade como escolha será
dadaà at a sà deà u à desejoà [...]po ta to,à oà e e í ioà daà ate age à oà podeà se à pe sadoà u i a e teà pelaà
necessidade que umaà ia çaàte àdeàse à uidada à “TELLINàetàal,à ,àp.à ,ouàseja,àaà ate age à aiàal àdasà
necessidades físicas e psíquicas da criança, mas também do desejo de uma mulher que se faz mãe e deseja cuidar
uma criança de acordo com as suas necessidades que a mesma exige.O movimento feminista apresenta-se para
questionar estes papeis instituídos à mulher e para inserir no contexto social novas discussões sobre gênero e
direitos. O lugar que é atribuído socialmente a cada um, dependerá a forma como se terá acesso à própria
sobrevivência como sexo, classe e raça, sendo que esta relação com a realidade comporta uma visão particular da
es a;à o à áze doà dizà [...]à h à pou aà o o d iaà so eà oà ueà o stituià aà atego iaà ulhe ,à se doà p e isoà
continuar perguntandoàso eàaà at izàhete osse ualà ueàp o u aàda àesta ilidadeàeà oe iaàaàela à á)E‘ÊDO,à ,à
p. 03).
Conclusão: Diante do exposto se faz possível perceber a importância do feminismo no empoderamento feminino com
o objetivo de quebra este conceito estigmatizado da mulher em relação a não maternagem sendo um corpo do não
desejo desta localização social historicamente e culturalmente construída.

1362
Referências
AZERÊDO, S.Relações de gênero-raça entre mulheres: pode a subalterna falar?. Belo Horizonte, MG, 2011.
MEYER, D. E. Gênero e educação: teoria e política. In: LOURO, G. L. Corpo, gênero e sexualidade: um debate
contemporâneo na educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
PERROT, M; Os silêncios do corpo da mulher. In: MATOS, M. I. S; SOIHET, R. O corpo feminino em debate. São Paulo:
Ed. da UNESP, 2003.
STELLIN, R. M. R.; MONTEIRO, C. F. A.; ALBUQUERQUE, R. A.; MARQUES, C. M. X. C. Processo de construção de
maternagem. Feminilidade e maternagem: recursos psíquicos para o exercício da maternagem em suas
singularidades. Estilos da Clínica. São Paulo, 16(1), p. 170-185, mar 2011.

Palavras-chave:
Maternidade; estudos feministas.

1363
As repercussões da revelação da homossexualidade na família: revisão integrativa da literatura científica
Autor:
Geysa Nascimento (UFTM)
Coautor:
Fabio Scorsolini Comin (UFTM)

A revelação da homossexualidade no contexto familiar é um tema ainda pouco investigado. Para os jovens que
decidem pelo coming out – revelação da orientação sexual -, a frustração pode ser grande diante do impacto causado
aos familiares que, em muitos casos, não conseguem promover um ambiente acolhedor. O presente estudo teve por
objetivo apresentar uma revisão integrativa da literatura científica nacional e internacional, a fim de compreender
quais as repercussões da revelação da orientação sexual nas relações familiares de jovens adultos homossexuais. O
eixo selecionado, Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência, vai de encontro com a
proposta do presente estudo, uma vez que permite um retrato das pesquisas realizadas acerca das repercussões e
perspectivas ao processo da revelação da orientação sexual, possibilitando que novos estudos sejam realizados a
partir das lacunas encontradas nesta revisão. Foram consultadas as bases indexadoras LILACS, MEDLINE, PePSIC,
PsycINFO e SciELO, de janeiro de 2006 a maio de 2016, e recuperados 38 artigos, sendo a maioria qualitativos. Foram
elaboradas duas categorias a fim de que, em cada uma delas, fossem discutidos os artigos com temática semelhante,
sendo estas: 1) Homossexualidade e família: outness e o processo de coming out e 2) A família diante do processo de
coming out do(a) filho(a). Predominam estudos que tratam da revelação da orientação sexual na visão dos próprios
homossexuais, tanto com gays quanto com lésbicas, e outros que ressaltam o papel da família diante do coming out, o
que permite conhecer e identificar questões ligadas ao processo de revelação ou ocultação da homossexualidade.
Estudos também avaliam a participação e os sentimentos que acarretam a revelação nas famílias, sendo observado
tanto contextos em que os conflitos prevaleceram como outros em que houve acolhimento por parte dos entes.
Temos que cada família aceita – ou não - de um modo e a seu tempo a revelação da orientação sexual do(a) filho(a),
sendo que, de modo geral, as famílias têm dificuldades na aceitação e quando esta acontece de modo espontâneo e
no momento da revelação, evita-se uma gama de conflitos que causam sentimentos negativos em toda a família. Em
núcleos familiares considerados mais receptivos a revelação é mais tranquila, enquanto que em família não receptivas
a revelação não costuma ser bem aceita. Também foram observados casos em que jovens buscaram a rede social
como uma referência de apoio no processo de coming out. Nota-se que grande parte dos estudos analisa o processo
de coming out por meio da fala do jovem que revelou a orientação sexual à família, de modo que poucos os estudos
revisados deram espaço para a escuta dos pais, mães e irmãos, a fim de conhecer também o ponto de vista deles
diante do processo. Sugere-se que estudos empíricos sejam realizados com a temática, a fim de dar voz a essas
famílias e aos homossexuais, para que possam se sentir acolhidos e contribuírem para ajudar outras famílias que
também passam/passarão por processo semelhante ao deles, além de ampliarem a visibilidade do processo e
subsidiar práticas psicológicas nesse campo.

Palavras-chave:
coming out sexualidade família homossexuais

1364
Construção do objeto a partir das categorias gênero e raça: Notas introdutórias de uma pesquisa
Autor:
Tamires Giorgetti Costa (Universidade Sagrado Coração)
Coautor:
Bete Figueroa

Sabe-se que a adolescência é um processo resultante da interação biológica, cultural e psicoemocional, relacionada
também às circunstâncias socioeconômicas, dentro de uma cultura em específico; A sexualidade humana se
desenvolve sobremaneira, colocando algumas questões e especificidades à vivências adolescentes. Ao acrescer-se à
adolescência situações de gravidez, é cabível questionar as expectativas e representações colocadas para a mulher e
perante a mesma. A sexualidade e a reprodução nesse contexto são compreendidas como sinônimos, em que o
e e í ioà dessasà fu ç es à s oà a í eisà à ulhe ,à ueà aisà u aà ezà ade t aà e à u à a po predestinado por
finalidades socioculturais restritas: Ser esposa e ser mãe. Muitas vezes, a gravidez é colocada como um fator de risco,
dependendo do histórico de vulnerabilidade da adolescente. Entretanto, é ainda plausível abordar o significado dessa
ocorrência, que pode tornar-se variável conforme as circunstâncias em que acontece. O exercício solo da maternidade
oà seà efe eà aà u à si i oà deà eà soltei a ,à apesa à deà se à aisà asso iadaà aà ulhe esà ueà e e e à suasà
maternidades sem contar com a divisão de tarefas e responsabilidades com parceiro (s), mas que também pode ser
exercida por mulheres que possuem parceiros, porém vivenciam um fenômeno de responsabilização (quase) total por
todas as questões que remetam aos cuidados dos filhos - isto, porque a sociedade patriarcal estabelece um modelo
nuclear de família, difundindo títulos e atribuindo tarefas. Diante disso, esse trabalho trata-se de uma reflexão teórica
feita a partir de uma revisão bibliográfica, que integra uma pesquisa de Iniciação Científica em andamento, cujo
objetivo geral é Identificar as repercussões subjetivas, que são desencadeadas ou estariam mais fortemente ligadas à
maternidade solo em adolescentes negras. Partimos do entendimento de que o objeto desta pesquisa se insere num
contexto amplo, que abrange questões socioeconômicas, raciais e de gênero apresentadas também por
empreendimentos históricos de produção de vulnerabilidades. Logo, entrelaça-se ao eixo temático proposto, sendo
um tema relevante para a Psicologia Social, debatendo asserções prementes como a interseccionalidade entre gênero
e as configurações de raça. O estudo em questão propõe-se compreender o objeto - sujeito por meio da Teoria das
Representações Sociais, suas inscrições de gênero e raça, suas perspectivas amorosos e sexuais. Nessa medida, ao
relacionarmos a situação de maternidade solo à questão étnico-racial, tomando como referência adolescentes negras,
verificamos a escassez de estudos presentes na literatura que tenham se debruçado sobre tais recortes, o que salienta
a necessidade de inserirmos a categoria raça no debate sobre maternidade solo e gravidez na adolescência. As
mulheres negras no Brasil sofrem constante discriminação devida à interseccionalidade entre gênero, raça e demais
fatores que se relacionam com tais condições. Raça é uma categoria capaz de tornar pessoas mais vulneráveis a
determinadas situações, como menor escolaridade, ocupações informais e menos remuneradas, menor acesso a
serviços de saúde etc. Todos esses índices, isto é, a própria condição de vulnerabilidade, contribuem para a ocorrência
da gravidez. É importante salientar quão expressivo é o número de mulheres negras sem parceiros, expostas à solidão
e sendo tratadas como seres a quem a afetividade não cabe, pois as mesmas são representadas como objetos
sexuados e não afetivos. Tal realidade pode culminar no estabelecimento do quadro de maternidade solo e,
consequentemente, trazer impactos subjetivos para a adolescente. Diante disso, procura-se interligar os aspectos
sociais e subjetivos trazidos pela adolescência, relativos ao estabelecimento de gravidezes e maternidades, com a
inscrição racial e a invisibilização da mulher negra a antimusa, como parceira afetiva. Pretende-se indagar sobre tais
relações em um contexto em que tais vulnerabilidades expressam-se para adolescentes, qual seja a escola pública.

Palavras-chave:
Adolescente negra. Maternidade solo. Subjetividade.

1365
Corpos dissidentes: experiências de pessoas transexuais da infância à vida adulta
Autor:
Raul Gomes de Almeida

Nos últimos anos tem aumentado o interesse pela ampliação do conhecimento sobre a transexualidade para
domínios que vão além do discurso biomédico, que por décadas se manteve hegemônico. Para a pessoa transexual, a
descoberta do corpo sexuado e a experiência de ter um pênis ou vagina e não conseguir se performar de acordo com
o gênero concebido socialmente, configuram descobertas que repercutirão ao longo de toda a vida. São raros os
estudos que abordam a relação da pessoa transexual com seu corpo, e mais escassos ainda os que investigam essa
questão na perspectiva das mulheres e homens transexuais. Partindo desses pressupostos, o presente estudo tem
como objetivo investigar as percepções que homens e mulheres transexuais têm de seus corpos, focalizando a relação
estabelecida da infância à vida adulta, bem como analisar as convergências e divergências na apropriação subjetiva da
corporalidade e do processo transexualizador em homens e mulheres transexuais. Trata-se de um estudo de
abordagem qualitativa, descritivo e exploratório, de corte transversal. Como referencial teórico adotou-se a Teoria
Queer, que proporciona uma possibilidade de leitura original sobre a condição transexual, principalmente ao
contestar a matriz heterossexual que postula a binaridade do sexo e do gênero, e também a suposta
concordância/alinhamento entre anatomia, gênero, desejos e práticas sexuais. Participaram do estudo três homens e
três mulheres transexuais. Os dados foram coletados por meio de um formulário de dados sociodemográficos, diário
de campo e roteiro de entrevista semiestruturada com questões relativas à trajetória de vida e à vivência dos
processos de transformação corporal. As entrevistas foram realizadas individualmente, em situação face a face, ao
longo de um ou dois encontros de 95 minutos em média e audiogravadas mediante autorização da/do participante.
Após a coleta de dados, o conteúdo registrado foi transcrito literalmente e na íntegra. Esses dados foram submetidos
à análise de conteúdo temática, que permitiu delinear eixos temáticos de acordo com os diferentes períodos da vida.
Os resultados mostraram que desde a infância já existe nas/nos participantes a percepção de uma necessidade que se
impõe de assumir papéis do gênero oposto ao que lhes foram atribuídos e/ou negar os papéis sociais que lhes são
conferidos. Esse achado é consistente com o que é descrito pela literatura. Na adolescência, o conflito identitário
intensificou-se devido ao surgimento dos caracteres sexuais secundários e a maior rigidez das regras sociais que
recaem sobre a expressão de gênero. O corpo, antes da transição de gênero, é visto como estranho e a pessoa
também se sente desconfortável em relação a si mesma e ao seu mundo vivencial, prevalecendo relações
conturbadas que provocam sofrimento e baixa autoestima. Após o início do processo transexualizador, as(os)
entrevistadas(os) relatam melhora substancial na autoestima e no bem-estar com o próprio corpo. Submeter-se aos
procedimentos do processo transexualizador é uma tentativa de superar o profundo desconforto vivenciado ao
habitar um corpo a que se sentem aprisionadas(os). Tanto a escolha quanto a passagem por esse processo constituem
experiências singulares, que precisam ser apreendidas na singela de cada pessoa e no sentido que isso faz em sua
vida. Há marcadas diferenças no modo como homens e mulheres trans vivenciam essa travessia.

Palavras-chave:
Corpo TeoriaQueer Transexualidade ProcessoTransexualizador

1366
Criação do conhecimiento em contexto de luta: O caso do Nucleo juvenil de pesquisas comunitaria.
Autor:
Ignacio Gabriel (USP-Universidade de São Paulo)

A siguiente proposta para participar na comunicação oral para o XIX Encontro Nacional ABRAPSO é dar conta da
produção de conhecimiento como processos de resistência na elaboraçao de pesquisas academicas no Nucleo juvenil
de Pesquisas Comunitaria. Para tanto, utilizarei como estudo de caso o Centro de Direitos Humanos e Educação
Popular do Campo Limpo (CDHEP), no qual acompanho um grupo de mulheres jovens e negras que investigam
questões sobre memória, liderança, violência, mobilidade urbana no bairro e saúde comunitária.
Com base na proposta acima explicitada, é fundamental compreender que todas essas pesquisas têm como norte
abarcar o lugar que se desenvolvem, para isso é preciso entender a relação entre território e vivência, já que seguindo
o pensamento de Souza (2003), o uso do espaço físico desenvolve um aspecto não apenas material, mas também
aponta para uma carga que se projeta nas relações sociais. Capão Redondo, segundo seus próprios habitantes, é
classificado como periferia e essa compreensão social encontra respaldo no contexto histórico da própria região, que
nasce em meados 1940 até 1980 e é construída a parti do binômio centro-periferia. Tal binômio remete a uma
realidade, na qual, grupos sociais são separados por grandes distâncias, em que ricos ficam nos bairros centrais com
boa infraestrutura e a periferia fica delegada aos pobres (Caldeira, 2000).

Neste contexto alem das condiciones do territorio existe uma pouca incorporacion das mulheres na ciencia (Blazquez,
2008) tornando se a educaçao um campo de dificil acceso, mas só desde um ponto de vista oficial já que participaçao
no espaço publico permitio reformas em politicas publicas que desarrollan alternativas para um direito sociais que
historicamente se foi construindo entorno na exclusão das mulheres negras (Henriquez, 2017).

A centralidade do reconhecimento como articulador dessa experiência torna-se fundamental ao entender este grupo
de trabalho como comunidade que luta. Parafraseando Galeão e Svartman (2016), posso ver o ideal articulador deste
grupo na transformação social, possibilitando uma experiência de educação popular crítica, que busca a compreensão
do contexto e que é levado a entender o funcionamento da totalidade social. É importante destacar que este
conhecimento é produzido entre os membros da própria comunidade como um movimento recíproco que direciona a
g atid oà te à e o he i e toà pa aà ost a à e o he i e to à ‘i oeu ,à .à Pa aà ueà u aà so iedadeà sejaà
democrática, deve haver o re o he i e toàdessasàe pe i iasàpa aàassi à ia àu aà o u idadeà o à alo esà aisà
solid ios à Ho eth,à .àEsteàt a alhoàespe aàse àu àapo teàpa aàesseà a i ho.

Objetivo:
O objetivo desta proposta é dar conta do proceso das pesquisas feitas por o Nucleo de pesquisa comunitaria,
aportando desde um olhar participativa ao conhecimiento feito por a comunidade no territorio.

Metodo
A metodologia que vou a utilizar é a Investigaçao accão participativa, já que reconoce a riqueza socio-historica da
nossa realidade aportando ao investigador um compromiso da transformacion sociai em seu trabalho (Fals, 2009),
promoviendo um dialogo de respeito entre pesquisador e no encontro com um outro o cual nunca se busca prever ou
controlar o resultado (Arendt, 2010).

Resultados esperados:
Contribuir no conhecimiento dos direitos humanos na comunidad, utilizando ferramentas da educaçao critica em
contexto de Capão Redondo, promoviendo espaço de participaçao ciudadana e produccão escrita para o territorio.

1367
Referências Bibliográficas:
ARENDT, H.(2010). A condição humana. Tradução: Roberto Raposo, 11ed. Rio de Janeiro: Forense universitária
Blazquez, G. (2008). El retorno de las brujas : incorporación, aportaciones y críticas de las mujeres a la ciencia / Norma
Blazquez Graf. – México : UNAM, Centro de Investigaciones Interdisciplinarias en Ciencias y Humanidades,
Caldeira, Teresa Pires do Rio. (2000).Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo:
Edusp/Editora 34,.
FALS ,B. (2009). Antología. Una Sociología sentipensante para América Latina. Bogotá: CLACSO COEDICIONES. Siglo del
Hombre Editores.
Henriques, C. (2017). Do trabalho doméstico à educação superior: a luta das mulheres trabalhadoras negras pelo
direito à educação superior. Social em Questão - Ano XX - nº 37
Honneth, A. (2003). Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflictos sociais. São Paulo: Editora Singular,
ESfera Publica, 2007.
Ricoeur, P. (2006 ). Intrdução in Ricoeur P. Percurso do Reconhecimento. São Paulo. Ediçoes Loyola.
Souza, M. (2003). O que faz de uma cidade uma cidade? ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil.
Svartman, B. P. & Galeão-Silva, L. G. (2016). Comunidade e resistência à humilhação social: desafios para a psicologia
social comunitária. Revista Colombiana de Psicología, 25(2), xx-xx. doi: 10.15446/rcp.v25n2.51980

Palavras-chave:
Pesquisa comunitaria, mulheres, educaçao, territorio.

1368
Despatologização da Transexualidade, uma revisão integrativa da literatura nacional
Autor:
Jéssica Pereira Lombardi

A transexualidade se apresenta quando há uma suposta discordância entre as categorias sexo (concepção biológica-
anatomica) e gênero (reflexão sociológica sobre a identidade sexual), condição considerada psicopatológica e
estigmatizante. A ideia de que sexo biológico determinaria a identidade de gênero e até mesmo a orientação sexual,
como se existisse no corpo físico um caráter essencialista da feminilidade ou da masculinidade, sustenta a
cisnormatividade e a heterossexualidade compulsória que funcionam enquanto dispositivos de controle social. Essas
concepções reducionistas que buscam adequação entre sexo-gênero-sexualidade faz com que se perpetuem
preconceitos e discriminação, o que exclui a categoria trans, que têm sua dignidade e direitos violados, além de altos
índices de mortalidade por suicídio e assassinato. Este estudo teve por objetivo apresentar uma revisão integrativa da
literatura científica nacional sobre patologização da transexualidade. Visando demonstrar estudos que colocam a
condição trans em foco da saúde valorizando a despatologização desses sujeitos como estratégia de
desestigmatização propondo um caráter utilitário de saberes hegemônicos e seus efeitos normativos, viabilizando
principalmente a humanização do atendimento em saúde para tal categoria e estudos que colocam a condição trans
em modo relacional com a sociedade, propondo a despatologização geral do gênero e da sexualidade por meio do
combate aos paradigmas de cisnormatividade, heteronormatividade e sexistas em geral. As buscas foram realizadas
nas bases LILACS, SciELO, PePSIC com análise da produção científica relativa ao período de 2006 a Junho de 2016.
Foram utilizados os seguintes descritores: Transexualidade, Transexualismo, Travestilidade, Pessoas Transgênero,
Transtorno de Identidade de Gênero e Teoria Queer. Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos no idioma
português, relacionados ao diagnóstico de TIG e suas repercussões sociais, bem como ao atendimento em saúde
humanizado para a categoria; enquanto foram excluídos da seleção estudos no formato de teses, dissertações,
monografias, cartas, notas técnicas e resenhas, bem como artigos que apresentavam restrições à: área das ciências
biológicas, abordagem psicanalítica e psicopatologizante da condição trans, ao âmbito educacional e jurídico. No total
foram encontrados 76 artigos, sendo selecionados 27 a partir de palavras do resumo; sendo apenas 11 recuperados
pa aà aà e is o.à áà a ost aà fi alà à o postaà pelosà segui tesà a tigos:à I.à áà lí i aà e à o i e toà aà saúdeà deà TTT“:à
caminho para materialização doà“U“àe t eàt a estis,àt a sse uaisàeàt a sg e os. àdeàF ei eàE.àC.,àá aújoàF.àC.,à“ouzaà
á.àá.,àMa uesàD.à ;àII.à ápoioàeàsupo teàso ialà aàide tidadeàdeàt a estis,àt a se uaisàeàt a sg e os. àdeà“il a,à
B. B., & Cerqueira-“a tos,àE.à ;àIII.à átenção integral a saúde e diversidade sexual no Processo Transexualizador
dosà“U“:àa a ços,ài passes,àdesafios. àdeàLio çoàT.à ;àIV.à Desdiag osti a doàoàg e o. àdeàButle àJ.;àt aduç o:à
ã a àM.à ;àV.à Dissid iasàe iste iaisàdeàG e o:à esist iasàeàe f e ta e tosàaoà iopode . àdeàPe esàW.à“.à&à
Toledoà L.à G.à ;à VI.à Multid esà uee :à otasà pa aà u aà políti aà dosà a o ais. à deà P e iadoà B.;à t aduzidoà po à
Mü ho àC.à).à&à“il ei aàV.àT.à ;àVII.à Oà o po:àe t eàoàsof i e toàeàaà iati idade. àdeàPo hatàP.à ;àVIII.à
Políti asàpú li asàeà íti aà uee :àalgu asà uest esàso eàide tidadeàLGBT. àdeà“a paio,àJ.àV.à&àGe a o,àI.àM.àP.à
;àIX.à “o eàosào st ulosàdis u si osàpa aàaàate ç oài teg alàeàhu a izadaà àsaúdeàdeàpessoasàt a se uais. àdeà
Bo aà‘.à ;àX.à Teo iaàQuee àeàaà“o iologia:àoàdesafioàdeàu aàa alíti aàdaà o alizaç o. àdeàMiskol ià‘.à ;à
XI.à T a se ualidadeà eà saúdeà pú li aà oà B asil. à Deà ã a à M.,à Mu taà D.à &à Lio çoà T.à .à áà a liseà essaltaà aà
predominância de estudos qualitativos, exploratórios, teóricos e descritivos que questionam o conceito relativo de
normalidade nas diferentes áreas de saberes hegemônicos e incentivam o acolhimento de travestis, transexuais e
transgêneros por meio do atendimento humanizado nos serviços básicos de saúde, enquanto estudos de campo são
minoria, o que revela pouco investimento em práticas inclusivas até então. Entre os resultados houve predominância
de estudos que incentivam a despatologização geral desses sujeitos, do gênero e da sexualidade, enquanto uma das
estratégias de desestigmatização propondo, dessa forma, um caráter utilitário dos saberes hegemônicos e seus
efeitos normativos e estimulando o combate aos paradigmas de cisnormatividade e heteronormatividade através de
políticas públicas de inclusão. A maioria dos estudos aponta para a importância da análise ampla e conjunta de
aspectos históricos, sociais, políticos, culturais e psicológicos que influenciam na compreensão e no acolhimento da
pessoa trans não só nos serviços de saúde e educação, mas também nos mais diversos espaços da sociedade como
um todo. Considera-se que a despatologização da transexualidade enquanto peça desestigmatizante funcionaria de
maneira mais eficaz com o desenvolvimento contínuo de políticas públicas transversais de inclusão, buscando elucidar
as diferenças e dialogar com os variados estratos da sociedade sobre as concepções de sexo biológico, identidade de
gênero, expressão de gênero e orientação sexual. Na prática, se propõe a criticidade e o combate diário de

1369
paradigmas cissexistas essencialistas, bem como da cis-heteronormatividade que ainda fundamentam a atual
sexopolítica trans excludente.

Palavras-chave:
Despatologização, Gênero, Transexualidade, Teoria Queer

1370
Diversidade sexual: Preconceito e discriminação na universidade.
Autor:
Welligton Magno da Silva (UFRRJ)

A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, localizada no município de Seropédica (RJ), abriga um grande
contingente de pessoas, deste modo, as relações estabelecidas neste espaço têm relação direta com os aspectos
adaptativos de seus alunos. Abordar a diversidade sexual no ambiente educacional é mais uma forma de reconhecer e
legitimar diferentes possibilidades de expressão da sexualidade. No entanto, compreendendo o conceito de
dispositivo, inferimos que são elaborados diversos discursos visando produzir verdades que fazem que nos
comportemos segundo uma normativa que é produzida. Desta forma, nossos olhares em relação à sexualidade
humana vêm sendo construídos a partir de uma lógica heteronormativa que enquadra os sujeitos a partir do padrão
que se tem de masculino e feminino, reduzindo a orientação sexual como sendo, unicamente, a possibilidade de
expressão da sexualidade. Em relação à garantia de direitos desta população, a Constituição Federal, ainda, não
contempla a orientação sexual entre as formas de discriminação, o que se pode observar são legislações estaduais e
municipais que proíbem a discriminação pela orientação sexual e/ou identidade de gênero. Levando em consideração
nosso atual cenário político e o retrocesso que o país vem sofrendo em relação à garantia dos direitos humanos,
grupos/movimentos/coletivos que abordem a diversidade sexual dentro do ambiente universitário têm participação
importante sobre a garantia e construção de direitos da população de gays, lésbicas, travestis e transexuais no âmbito
educacional. A população LGBT vivencia, diariamente, situações de vulnerabilidade e insegurança. O presente estudo
teve como objetivo investigar o que pensam discentes pertencentes à população LGBT, da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, em relação ao preconceito e à discriminação contra a diversidade sexual nos diversos âmbitos da
universidade, verificando junto a esses participantes, se há atitudes, comportamentos e/ou posicionamentos
LGBTfóbicos dos próprios discentes, docentes e técnicos administrativos. Esta pesquisa encontra-se no eixo temático
de gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência. Compreendendo o fenômeno do
preconceito como psicológico, de atitudes e comportamentos hostis, sexistas, segregacionista e direcionado a
determinados grupos sociais e, no presente estudo, aos discentes LGBT da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, procurou-se investigar, portanto, o que dizem os discentes LGBT sobre as violências sofridas e os aspectos
psicológicos enfrentados na realidade acadêmica. Considerando os três tipos de homofobia (individual, cultural e
institucional), as violências físicas, verbais ou psicológicas são evidenciadas no contexto universitário através do
bullying homofóbico, posicionamentos homofóbicos, banalização de expressões do dia a dia etc. Nesta perspectiva,
encontram-se indivíduos sofrendo sem saber pelo que estão sofrendo, brigando, insultando-se, machucando,
adoecendo e morrendo vítimas de uma ordem que necessite do preconceito para se perpetuar, estando sujeitos a
convenções que se fixam e se legitimam, também pela via do preconceito. O método desta pesquisa é qualitativo e
exploratório, pois buscou-se apreender a subjetividade dos participantes do estudo em relação aos objetivos
propostos. Participaram deste estudo 20 discentes, de ambos os sexos, de idade entre 18 e 27 anos, regularmente
matriculados em um curso de graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autodeclarados
pertencentes à população de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Como instrumento, foi elaborado um
questionário misto, composto de 12 (doze), de acordo com os objetivos da pesquisa. Os participantes foram
informados sobre os objetivos da pesquisa, foram assegurados sigilo e anonimato e foram resguardados todos os
princípios éticos de pesquisa com seres humanos. Os dados foram analisados a partir da análise de conteúdo proposta
por Bardin. Os resultados mostraram que 30,00% dos participantes assinalaram ter sofrido discriminação no campus;
entretanto, 100% responderam ter conhecimento de algum caso de discriminação pela orientação sexual e/ou
identidade de gênero provenientes de docentes, discentes e técnicos administrativos. Em relação à discriminação em
sala de aula, 70,00% dos participantes assinalaram que esta ocorre através de falas dos docentes com conteúdo
machistas, sexistas e homofóbicos; por outro lado, 64,28% das respostas apontaram que a discriminação também
ocorre de forma velada. Cabe ressaltar que 35,50% dos discentes participantes revelaram que sofreram discriminação
por terem tido manifestação públicas de afeto dentro da universidade. Ao serem perguntados se a universidade, por
meio de seus órgãos representativos, se omite frente aos casos de discriminação e preconceito em relação à
diversidade sexual, 100% dos participantes responderam que há omissão. E, para que a universidade combata a
dis i i aç oàeàoàp e o eito,àosàpa ti ipa tesàaposta à ueàaà isi ilidadeàdasà uest esàLGBT sà oà a pusàseàda iaà
por meio da promoção de palestras; seminários; campanhas de conscientização; punições mais efetivas de discentes,
docentes e técnicos; auxilio jurídicos; prestações de assistência social e implementação de núcleos de acolhimento
psicológico especifico para a comunidade LGBT da universidade.
1371
Welligton Magno da Silva, graduando da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro & Sílvia Maria Melo Gonçalves,
Doutora, Profª da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Palavras-chave:
Diversidade Sexual, Preconceito, Universidade.

1372
Experiências do "sair do armário" e relações de poder: processos de constituição da subjetividade e identidade de
jovens lésbicas e gays
Autor:
Viviane Mendonça
Coautor:
Laura Alves de Oliveira (UFSCar Sorocaba)
Victoria Barreto Cardoso (UFSCar Sorocaba)
RAISA (UFSCar Sorocaba)

áàe pe i iaàdeà sai àdoàa io àdeàjo e sàga sàeàl s i asàte àsidoàpou oàestudadaà osà o te tosà asilei os.àDeà
acordo co à“edg i kà àeàMiskol ià ,àoà a io à àu aàe p ess oà ueài di aàu aàepiste ologia,àouàseja,à
uma regulação do anúncio público da orientação sexual ou identidade de género de alguém ou de si próprio/a,
pautada na vergonha e no medo. A epistemologia do armário é fundamentada por um conjunto de práticas, relações
de poder, classificações, construções de saberes, construído pelas normas de gênero de matriz heterossexual. Quando
se trata de jovens LGBT, sabe-se, de acordo com estudos e pesquisas, que diversas situações de discriminação,
exclusão e violência tem sido vivenciadas e descritas nas escolas, nos ambientes religiosos e na família, de modo
significativo, demandando, consequentemente, ações preventivas, educativas e de políticas púbicas cada vez mais
urgentes. Estas situações constituem um modelo entendido como uma pedagogia do armário nos estudos de
Junqueira (2012), e que é resultante, portanto, do heterossexismo e homo/transfobia que instaram um regime de
controle e vigilância não apenas da sexualidade, mas também das expressões e das identidades de gênero. Diante
deste contexto, esta pesquisa teve como objetivo investigar e descrever as experiências do "sair do armário" de
jovens gays e lésbicas de escolas públicas da região metropolitana de Sorocaba. Buscou-se analisar os processos de
constituição da subjetividade e da identidade, bem como as relações de poder implicadas na "saída do armário".
Participaram da pesquisa 10 jovens entre 18 e 20 anos: 06 mulheres que se identificaram como lésbicas e 01 como
bissexual, e 03 homens que se identificaram como gays. Todas/os estavam cursando o ensino médio no momento do
depoi e to.àáàpa ti ipaç oà o sistiuàe àela o a àdepoi e tosàa i osàe àu à logàso eàaà E pe i iaàdeà“ai àdoà
á io à iadoà eà divulgado em uma escola pública durante a realização da pesquisa. Ressalta-se que não havia
qualquer possibilidade de identificação das pessoas depoentes, todas maiores de 18 anos, que registraram aceite de
termo de consentimento livre e esclarecido. Os depoimentos foram analisados qualitativamente do seguinte modo: 1)
leituras repetidas de todos os depoimentos, anotando-se as impressões iniciais; 2) identificação de unidades de
significado, que eram momentos dos depoimentos que expressavam uma experiência específica, transformadas
posteriormente em categorias de análise; 3) descrição das experiências vividas com asserções articuladas do discurso;
e 4) análise das experiências com base nos estudos e teorias sobre o tema. Os resultados apontaram para que as
expe i iasà deà sai à doà a io à destas/esà jo e sà l s i asà eà ga sà fo a à a adasà po à u à pe íodoà deà dú idasà doà
processo e de sua própria identidade e desejos, e que foram seguidas por momento de descoberta, o de se assumir
para si mesmo/a como homossexuais. A descoberta da homossexualidade foi permeada de vivências de medo, que
produziu a necessidade de estar sempre alerta para sinais que denunciem publicamente sua intimidade e desejos;
e/ou, paradoxalmente, resultou em tendências de negação da própria homossexualidade, estabelecendo, muitas
vezes, relações heterossexuais como modo de se submeter a heteronormatividade. Sobre o momento da decisão de
sai àdoàa io ,àosàdepoi e tosà elata a àasàsuasà o se u ias,àassi à o oàaà eaç oàdosàout asàpessoas.àáà aio
parte descreveu vivências de agressões verbal e/ou física por parte de familiares, principalmente pais e mães. Estas
vivências foram mais ressaltadas que as vivências de discriminação entre amigos e nas escolas. Esta reação de
familiares foi identificada como o que mais influenciava na decisão de tentar se encaixar na sociedade
heteronormativa e a de esconder novamente a homossexualidade. Por outro lado, quando havia aceitação dos pais,
no momento ou posteriormente à experiência de se assumir ou ter sido descoberto/a como gays e lésbicas, todos/as
relataram uma vivência mais afirmativa de sua sexualidade em outros espaços, como na escola, amigos e igreja, o que
apo taàpa aàaà e t alidadeàdaàfa íliaà oàp o essoàdeà sai àdoàa io àdestes/asàjo e s.àásàe pe i iasàdeà sai àdoà
a io à fo a à elatadasà o oà aà deà u à desejoà deà o pa tilha à se ti e tosà i idosà e à seg edosà o à pessoasà
significativas, como família e amigos; e de buscar se livrar de um fardo e reconhecer seus afetos e sexualidade, um
momento de felicidade e alívio. Concluiu-se que ações, políticas e estudos que aprofundem a relação entre família,
jovens e homossexualidade são necessários para a superação do heterosexismo e homotransfobia institucionalizadas,
considerando as diferenças de gênero, de classe e étnico-raciais; bem como também é necessária a construção de

1373
espaços comunitários de diálogo e fortalecimento que permitam que jovens LGBT possam expressar e viver
livremente a sua sexualidade, desejos e afetos. Assim, pode-se potencializar um rede de saber que crie estratégias de
resistência no que diz respeito à (re)invenção de si, a despatologização das identidades, dos gêneros e dos desejos, tal
o oàdes itaà oàei oàte ti oà G e oàeà se ualidades:à odosàdeà su jeti aç oàeà políti asà deà esist ia ,àaoà ualà
está vinculado este trabalho.

Palavras-chave:
Homossexualidades lésbicas gays juventudes poder

1374
Gênero e prisão: os impactos do sistema prisional sobre a desigualdade social e invisibilidade da mulher
encarcerada no estado de Alagoas.
Autor:
Bruna Araújo (UNIT AL)
Coautor:
Ialy Baia (UNIT AL)

Este trabalho estuda o sistema prisional de uma maneira histórica, compreendendo a mulher como vítima da
violência e da desigualdade de gênero dentro desse espaço, visto que a prisão muitas vezes culminando no processo
de invisibilidade do indivíduo, acaba potencializando essa invisibilidade na mulher, uma vez que esta já vivencia essa
realidade socialmente. O corpo social e a justiça penal legitimam práticas e saberes que estigmatizam e oprimem as
mulheres. Sendo assim, a hipótese que mobiliza a elaboração deste trabalho é a seguinte: que a opressão que essa
mulher sofre no seu contexto social pode ser expandida para outras esferas, como o espaço da prisão, e essa prisão
pode ainda potencializar tal situação vivenciada por essas individuas. Visto isso, faz-se necessária uma escuta do
discurso destas para que assim possa despertar a importância da valorização da mulher que necessita de atenção para
buscar a satisfação na realização de sonhos muitas vezes calados. O projeto tem foco no contexto carcerário feminino
de Alagoas e sua metodologia se baseia em uma fundamentação teórica realizada através de uma revisão histórica e
bibliográfica por meio de artigos, bases de dados e livros da biblioteca local. Para compreender como a prisão
contribui para a invisibilidade da mulher encarcerada e para a reprodução da desigualdade social será utilizado como
instrumento metodológico entrevistas semiestruturadas de cunho qualitativo, descritivo e exploratório que será
realizada no Complexo Penitenciário Feminino Santa Luzia, na cidade de Maceió-AL. O estudo faz uma análise de
conteúdo baseada na teoria de Laurence Bardin, na qual observa a influência da construção social e subjetiva da
mulher para com violação da dignidade da mesma no ambiente prisional. Os relatos orais das mulheres encarceradas,
colhidos por meio da entrevista, são importantes para as bases da reconstrução de suas histórias mediadas pela
percepção da vivência destas antes da prisão e durante o cumprimento da pena. História de vida e roteiro de
entrevista são coisas distintas, mas podem se complementar, visto que é possível buscar a junção de fatos
relacionados às histórias de vida através da entrevista semiestruturada. A finalidade da pesquisa se baseia na
investigação da visão dessas mulheres sobre a instituição, buscando promover assim o cuidado acerca do direito
destas nesse espaço. De acordo com os resultados obtidos pela pesquisa serão elaborados artigos científicos com o
intuito de disseminar o conhecimento acerca do tema, contribuindo assim para a formação de profissionais de
psicologia e de áreas afins, além de cooperar para pesquisas futuras que colaborem com o campo científico.
Considera-se que o momento da pesquisa será enriquecedor para todos os envolvidos, tendo em vista que as
entrevistas proporcionará um diálogo relacionando as experiências expostas, as trajetórias de vida e construção de
uma nova perspectiva das mulheres que estão em privação de liberdade. Dessa forma, a escuta, a análise e o discurso
da psicologia no contexto prisional vêm despertar a importância da valorização da mulher, que necessita de atenção
para o mundo, buscando a satisfação na realização de sonhos que muitas vezes estão ofuscados pela opressão social.
Espera-se também que a pesquisa possa lançar um novo olhar à sociedade sobre como a desigualdade de gênero
pode afetar diversos campos e como isso acomete diretamente a mulher estigmatizada na esfera prisional.

Palavras-chave:
Prisão; Gênero; Exclusão

1375
Gênero, subjetividade e psicologia: a importância do debate emergente na contemporaneidade
Autor:
Sarah Thayne (Universidade Federal de Goiás)

O presente trabalho mostra uma discussão sobre a socialização do sujeito e a importância dos valores transmitidos
pela socialização primária e secundária para a o st uç oàdoàsujeito,àt aze doà o oàe e ploàdoàfil eà Oàso isoàdeà
Mo alisa à o àoàe asa e toàte i oàdaàpsi ologiaàso ial,àt aze doàauto esà o oàHelle àeàCia pa.àFala-se sobre os
impactos da reprodução dos papeis de gênero pré-determinadas aos indivíduos antes mesmo de nascerem, as
expectativas que recaem sobre a vida do sujeito, o peso de todos esses conflitos, caracterizados de doenças
psicológicas; e o que a psicologia pode contribuir no que concerne ao acolhimento dessas pessoas e na promoção de
debates de discussões para promover reflexão e toma de consciência. Constantemente, os indivíduos que vivem em
sociedade exercem vários papeis sociais. É na vivência do cotidiano que os papeis são internalizados e externalizados
em forma de atividade, assim, defendemos que ao longo de sua socialização o indivíduo assumirá o papel social de
homem ou mulher, cristalizado pelas normas sociais, sendo esperado que corresponda expectativas dependendo do
sexo. A concepção de gênero perpassa todas as esferas da sociedade, estruturam, constituem e organizam a forma
o oà ho e sà eà ulhe esà seà ela io a à e t eà sià eà seà i se e à aà es a.à Noà e ta to,à oà fil eà Oà “o isoà deà
Mo alisa ,à ost aà aà ealidadeà deà t sà oçasà ueà s oà edu adasà e à u à ol gioà pa aà e i as,à pa aà ate de à asà
expectativas sociais de toda moça, casa-se e ter filhos; mas com o empoderamento da professora de artes, estas
compreendem que o papel que uma mulher pode desenvolver socialmente vai muito além de obrigações domésticas
e das expectativas de seus pais e da escola. Ademais, a encenação desses papeis trazem muitos sofrimentos aos
indivíduos. É necessário que este faça reflexões ou esteja em espaços que propiciem a tomada de consciência, sendo
assim, a Psicologia Social tem como ferramentas teóricas e metodológicas a implicação, a escuta e a autoria, no qual o
sujeito se cria e se reconhece em redes de conexões afetivas, cognitivas e sociais. A Psicologia trabalha afim de
empoderar o sujeito, promover a reflexão e autonomia, para que o mesmo perceba que é possível outra forma de ser
no mundo, para que o sujeito alcance as amarras históricas-culturais em que está implicado, pois, cabe a Psicologia o
papel de provedora de discussões de temas transversais a fim de conscientizar o sujeito promover a emancipação e
assim fugir da reprodução da mesmice. Ademais, o sujeito que recebemos na clínica ou em tantos outros lugares em
que a psicologia se faz necessária, estão adoecidos, pois se encontram presos nessas amarras culturais. É necessário
um espaço com pessoas capacitadas, possibilitando discussões em que não são abordadas com facilidade, com temas
difíceis e que trazem muito sofrimento à subjetividade humana; para que assim promova um espaço para a reflexão
sobre a reprodução dos papeis sociais e de gênero, e por fim, se reinventar no mundo. Destarte, este trabalho reflete
a importância de se discutir gênero em diferentes espaços, a função da psicologia, os temas transversais e os
impactos positivos que terá na subjetividade humana.

Palavras-chave:
subjetividade, gênero, empoderamento, psicologia social.

1376
Homossexualidade e família de origem: a perspectiva de homossexuais masculinos
Autor:
Fabio Scorsolini Comin (UFTM)
Coautor:
Geysa Nascimento (UFTM)

As questões relacionadas à homossexualidade têm sido compreendidas de maneira diferenciada do modo vivido há
décadas, na qual foram vistas como desvio ou transtorno sexual, além de serem caracterizadas também como pecado
e crime. O objetivo do presente estudo é analisar a relação entre os homossexuais e sua família de origem, visando
compreender os possíveis impactos na vida da família e do homossexual, após a revelação da orientação sexual. O
eixo selecionado, Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência, vai de encontro com a
proposta do presente estudo, uma vez que permite conhecer as repercussões e perspectivas ao processo da revelação
da orientação sexual na visão do próprio homossexual, possibilitando que novos estudos sejam realizados a partir das
lacunas encontradas nesta pesquisa. Trata-se de um estudo descritivo, exploratório e de corte transversal, embasado
na abordagem qualitativa de pesquisa. Foram entrevistados 17 homens homossexuais, com idade média de 25,5 anos.
Utilizou-se a Técnica da História de vida e uma entrevista semiestruturada para a coleta dos dados. As entrevistas
foram analisadas com base na Análise de Conteúdo. Nota-se que a família é de suma importância diante da revelação
da orientação sexual, tanto no início quanto nos desdobramentos da homossexualidade. Quando falado acerca da
família de origem – pai, mãe e irmão(ã) -, os relatos dos homossexuais apontam que as relações são variadas, desde
muito próximos à muito distantes, o que configurou em diversas reações perante a revelação da orientação sexual. A
homossexualidade pode causar conflitos internos, uma vez que o indivíduo não corresponderá à uma sociedade
racionalizadora e que bane as possíveis ameaças dos grupos minoritários, incluindo a proteção ao padrão da família
patriarcal, além de conflitos externos, como, por exemplo, a homossexualidade ser um segredo familiar. Uma das
limitações encontradas no estudo foi o fato de que foram entrevistados apenas os homossexuais, podendo ser de
grande valia também conhecer o ponto de vista de sua família de origem, como o pai, mãe e irmãos, sendo este um
possível estudo a ser realizado. Conclui-se que a revelação da orientação sexual pode variar de acordo com cada
família e que o apoio mútuo colabora para que o processo seja menos doloroso para todo o núcleo familiar. De um
modo geral, pode-se conhecer acerca do processo de aceitação já realizada ou que ainda está em processo, bem
como compreender o modo como os homossexuais entrevistados entendem a reação da família diante da orientação
sexual. Também foi possível identificar uma série de sentimentos envolvidos, desde amor, carinho e apoio, até
ameaças de agressões físicas e de morte. São situações delicadas, cada uma a seu modo, e que devem ser analisadas
de acordo com a vivência de cada entrevistado, valorizando cada história relatada e respeitando as limitações de cada
indivíduo. Em suma, sugere-se novas pesquisas que permitam ouvir a família dos homossexuais, a fim de conhecer a
visão deles acerca do assunto, além de poder, por meio da fala deles, sugerir novos estudos e pesquisas para auxiliar
os homossexuais e suas famílias diante da revelação da orientação sexual.

Palavras-chave:
homossexualidade coming out orientação sexual

1377
Impactos causados pelo grupo de atendimento a homens autores de violência de gênero contra mulher
Autor:
Wemerson Cardoso Batista
Coautor:
Simone Francisca de Oliveira (Centro Universitário UNA)
nicolas assumpção
Thereza Nakashima (Centro Universitário UNA)

INTRODUÇÃO: Por meio do convênio firmado com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais com o Centro Universitário-
UNA, através do Curso de Psicologia, realiza-se o atendimento individual e em grupo operativo de homens autores de
violência contra a mulher encaminhados via TJMG, bem como a relevância social que assume, uma vez que permite
ao homem autor da violência um espaço de reflexão sobre a temática. A partir deste convênio foi elaborado um
p ojetoàdeàe te s oà ha adoà Ju t@s:à ulhe esàeàho e sà o t aàaà iol iaàdeàg e o ,àe àagostoàdeà .àCie teà
da importância da constituição familiar na construção da subjetividade e da socialização dos sujeitos, o presente
t a alhoàseàp op eàaàide tifi a àosài pa tosàdoàg upoàdeàate di e toà JUNT@“ à aà idaàdosàho e sàate didosàeàdeà
seus familiares. Como principal benefício, poder-se-á aprimorar o atendimento aos homens através do conhecimento
de seus contextos familiares potencializando o processo de elaboração de estratégias preventivas e de enfrentamento
a violência de gênero contra a mulher.

OBJETIVO:à I estiga à seà eà o oà osà ate di e tosà psi ol gi osà ofe e idosà peloà p ojetoà deà e te s oà JUNT@S:
Mulhe esàeàHo e sàCo t aàaàViol iaàdeàG e o ,àatua àpa aàoà uestio a e toàdaà at izàhege i aàdeàg e oàeà
para a transformação das relações de gênero na vida dos atendidos e de seus familiares. E também analisar os
impactos/resultados do atendimento no grupo para os homens autores de violência de gênero contra mulher a partir
da perspectiva dos mesmos e de suas famílias.

RELAÇÃO COM O EIXO TEMÁTICO ESCOLHIDO: Para Bandeira (2014), a perspectiva de gênero é fundamental para
entender a violência contra as mulheres. Esse tipo de violência não surge de pensamentos ou atitudes de destruição
contra o outro que é igual, concorrente ou visto nas mesmas condições de existência do sujeito que violenta, mas,
como fundamentalmente distinto. A motivação de tal violência é a expressão da desigualdade entre os gêneros, em
que as relações se constituem em uma base hierárquica sendo o universo familiar o primeiro protótipo de tal
expressão.
Esta relação de gênero é aprendida ainda na infância onde o sistema ideológico do machismo apresenta à criança
modelos de identidade, no qual o homem é o polo dominador e a mulher dominada por ele. Este sistema ideológico
utiliza representações de dominação produzindo papeis masculinos e femininos a serem seguidos justificando-se na
hierarquização dos sexos para esse fim (DRUMONT, 1980. p. 82). Assim, ao abordar a violência de gênero, de acordo
com Puthin e Ghiringhelli (2011), compreende-se que as ações violentas são produzidas em espaços de relações
interpessoais, com contextos sociais, etários, históricos e econômicos variados.

ORIENTAÇÃO TEÓRICA: Os atendimentos em grupo são realizados à luz da teoria Feminista, da defesa dos Direitos
Humanos das mulheres, da teoria e da técnica de Grupos Operativos (PICHON-RIVIÈRE, 1994) e da Lei Maria da Penha
- Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. As intervenções psicossociais/clínicas se guiam pela troca de conhecimento,
experiências e vivências, oportunizando a aprendizagem de novas pautas comportamentais e a (res)significação de
discursos. A análise do discurso, o tom das intervenções/interpretações realizadas são guiadas invariavelmente pelas
teorias feministas se pela defesa dos Direitos Humanos.

METODOLOGIA: Neste projeto, utilizaremos de uma metodologia qualitativa visto que a finalidade não é a
representatividade numérica. Os dados obtidos serão analisados com foco na compreensão e explicação da dinâmica
das relações sociais não se reduzindo à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2001, p. 14, apud, UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 32). Como método principal será utilizada a pesquisa ação pois esta é
configurada e realizada em estreita associação com uma ação ou resolução de um problema comunitário (THIOLLENT,
1988, apud, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 40). Esse formato consiste em um trabalho
conjunto de pesquisa, com a participação efetiva do nosso público-alvo, os homens autores de violência de gênero
contra as mulheres e suas famílias.
1378
RESULTADOS: Até a presente data foram realizadas 4 entrevistas. Através da extensão foi possível vincular a dimensão
clínica à dimensão de produção científica sobre a temática do enfrentamento à violência de gênero.

CONCLUSÕES: Foram efetivos os atendimentos aos homens já indiciados pela Lei Maria da Penha e em cumprimentos
de medida protetiva. O impacto do grupo de atendimento aos homens foi positivo.

Palavras-chave:
Impactos Grupo de atendimento Gênero

1379
Investigações sobre o envelhecimento LGBT
Autor:
Lorena Oliveira Rigolon (UFMT)

Discutir o tema e os conceitos dessa pesquisa há um século seria algo impensável, uma vez que a velhice nessa época
era caracterizada principalmente como um período marcado por doenças. Além disso, a expectativa de vida não
passava dos 50 anos, ou seja, para a grande maioria isso significava não envelhecer e, quando ocorria, era um período
curto e incapacitante (Neri, 2013). Porém, com a expressiva melhoria das condições de vida, os avanços tecnológicos e
médicos, a globalização e a urbanização, o Brasil experimentou nas últimas décadas um envelhecimento da
população, em que as taxas de fecundidade e mortalidade são baixas e as de longevidade altas (Carvalho & Wong,
2006).
Sendo ainda um fenômeno presente e em crescimento, isso suscita diversos questionamentos éticos e políticos e
também acerca de como o envelhecimento tem sido significado e como ele é encarado por quem envelhece, se há
mudanças na forma de se relacionar e de enxergar o mundo, já que, para Foucault (1987), citado por Saldanha e Silva
(2012), o discurso descreve e contribui para a produção de realidade e do sujeito enquanto agente social.
Nas produções escritas sobre velhice, o que mais possui notoriedade sobre o tema é o seu viés heteronormativo;
inclusive, até mesmo a descrição da fisiologia sexual e dinâmicas conjugais estão somente de acordo com a realidade
heterossexual (Brigueiro & Debert, 2012). Percebe-se que, no geral, os estudos da gerontologia possuem uma
tendência a invisibilizar ou apagar vivências que escapem da lógica heterossexual ou cisgênero (Henning & Debert,
2015), uma vez que não se vê menção alguma à outra identidade sexual e/ou de gênero. Produções que vão contra
esse panorama são recentes e dão oportunidade para investigar uma experiência geracional na qual pouco se tem
conhecimento na América do Sul.
Nesse cenário, devido à urgência de se pesquisar sobre a velhice atrelada a questão LGBT ser atual, as pesquisas
demandam de visibilidade, de modo a investigar fatores que impactam nesse processo de desenvolvimento humano.
Logo, além do estudo aqui proposto visar a elaboração de conhecimentos que possam somar às produções existentes,
este também permitirá refletir acerca daquilo que já foi produzido em relação a problemática do envelhecimento
LGBT, a partir de uma revisão bibliográfica.
Sobre esses idosos, vale lembrar que é uma geração que viveu e ainda vive uma realidade cercada pelo preconceito,
sendo posteriormente duplamente mais difícil enfrentar a realidade e se assumir, ao se atingir a velhice; muitos
acabam temendo por sua integridade física e moral, optando, assim, por esconder sua sexualidade e/ou identidade de
gênero (Leal & Mendes, 2017). Os sujeitos que vivem sua sexualidade e identidade explicitamente correm o risco de
serem marginalizados, sendo a velhice um potencializador da discriminação, já que essa fase da vida é comumente
ligada a pureza e assexualidade (Fernandes et al, 2015). Essas fragilidades ainda se somam ao fato da militância LGBT
brasileira não dar a visibilidade necessária para esses indivíduos, pois as propostas do movimento não levam em
conta, em sua grande maioria, os sujeitos idosos (Leal & Mendes, 2017).
Por fim, entende-se que investigar sobre a velhice e ainda sob uma ótica LGBT poderá contribuir para a construção de
novos recursos e maneiras de significar e compreender o envelhecimento, dando novos olhares e possibilidades e
desconstruindo saberes que não mais se encaixam na atual realidade.

Palavras-chave:
LGBT envelhecimento idosos

1380
Junt@s: Elaboração de estratégias acerca das experiências de conjugalidade de homens autores de violência
Autor:
Thereza Nakashima (Centro Universitário UNA)
Coautor:
Mateus Campos (Centro Universitário UNA)
EDLON SILVA (EDLON SILVA)
Simone Francisca de Oliveira (Centro Universitário UNA)
nicolas assumpção
Wemerson Cardoso Batista

INTRODUÇÃO: Por meio do convênio firmado com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais com o Centro Universitário-
UNA, através do Curso de Psicologia, foi oferecido atendimento psicológico em grupo a homens autores de violência
contra mulheres que receberam como resultado da transação penal a obrigatoriedade de participação em grupos
efle i os.à áà pa ti à desteà o ioà foià ela o adoà u à p ojetoà deà e te s oà ha adoà Ju t@s:à ulhe esà e homens
o t aà aà iol iaà deà g e o ,à e à agostoà deà .à áà pa ti à desteà p ojetoà foià possí elà a alisa à aà efeti idadeà deà
intervenções psicossociais com o público alvo do projeto acerca da vivência da conjugalidade em casais em situação
de violência a partir dos sentidos (re) construídos em grupo sobre a violência, os Direitos Humanos das mulheres e a
responsabilização sobre os atos violentos praticados. A interlocução entre o ambiente acadêmico e a sociedade
através de projetos de extensão guiados pelo discurso feminista e pela teorização da Psicologia Social\ Dinâmica de
Grupo é a aposta desta intervenção para atender à demanda social de ressignificação dos discursos biologicistas,
naturalizantes e banalizadores da violência de gênero.

OBJETIVO: possibilitar um espaço de discussão/reflexão a respeito dos discursos machistas/heteronormativos, das


relações de gênero, da vivência da conjugalidade perpassada pela violência e sobre como os padrões discursivos se
constituem socialmente. Pretendemos, através deste atendimento, (re)significar as relações de gênero através da
aprendizagem de novas pautas comportamentais e discursivas construídas coletivamente em grupo.
METODOLOGIA: Os atendimentos foram realizados uma vez por semana, com duração de 1h30min, com 06 a 10
participantes por sessão. São utilizados, eventualmente, vídeos, músicas, notícias de jornais populares, peças
publicitárias para auxiliar na discussão da temática grupal.

RELAÇÃO COM EIXO TEMÁTICO: A conjugalidade segundo Sousa (2006), citado por Pires (2008) refere-se a união,
matrimonial de um casal, bem como a formação do núcleo familiar. A constituição familiar desenvolve-se quando dois
indivíduos se propõem a terem uma relação estável e duradoura onde um pode desempenhar um papel empático
pelo outro, de modo que, a partir disso se constitui o modo de funcionamento de cada casal e de toda sua família. Os
atendimentos em grupo possibilitam, a partir das trocas comunicacionais, aos homens autores de violência um espaço
de reflexão sobre a vivência da conjugalidade perpassada pela violência permitindo-os modificar a percepção de suas
experiências de conjugalidade através de relações não violentas.

ORIENTAÇÃO TEÓRICA: Os atendimentos em grupo são realizados à luz da teoria Feminista, da defesa dos Direitos
Humanos das mulheres, da teoria e da técnica de Grupos Operativos (PICHON-RIVIÈRE, 1994) e da Lei Maria da Penha
- Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. As intervenções psicossociais/clínicas se guiam pela troca de conhecimento,
experiências e vivências, oportunizando a aprendizagem de novas pautas comportamentais e a (res)significação de
discursos. A análise do discurso, o tom das intervenções/interpretações realizadas são guiadas invariavelmente pelas
teorias feministas se pela defesa dos Direitos Humanos.

RESULTADOS: Até a presente data foram atendidos 110 homens, em 130 sessões realizadas proporcionando reflexão
e mudança de posicionamento sobre as relações de gênero através da elaboração de novas estratégias frente às
variadas situações conflituosas nas relações de conjugalidade dos atendidos. Para além foram capacitados 50 alunos
de Psicologia em atendimento em grupos operativos e nas temáticas de enfrentamento à violência e teorias
feministas. Por fim, também foram apresentados os resultados deste trabalho em congressos e seminários nacionais e
internacionais.

CONCLUSÕES: Considera-se de extrema importância o atendimento aos homens já indiciados pela Lei Maria da Penha
1381
e em cumprimentos de medida protetiva, através de um projeto de extensão que vincula a dimensão clínica à
dimensão de produção científica sobre a temática do enfrentamento à violência de gênero. Ressalta-se também a
importância acadêmica que o projeto representa para a formação dos estudantes de graduação e, por outro lado, a
importância de investir em disciplinas/intervenções de formação em gênero e teorizações feministas.

Palavras-chave:
Junt@s Estratégias Conjugalidade Violência

1382
Labirintos da violência de gênero: Conhecendo a agressão Psicológica e moral contra as mulheres.
Autor:
Ingryd Karen (Unicatólica)
Coautor:
André de Carvalho-Barreto (UFC/Unicatólica)
Alana Caetano (Unicatólica)
Igor Torres Ferro (unicatólica)
Andrêza almeida

Em 2016 no Brasil, foram notificados 161.274 casos de violência doméstica, violência sexual e outros tipos de
violência atentados contra mulheres e homens. Mulheres eram as vítimas em quase 66% dos registros computados
pelo Sistema Nacional de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). De acordo com RASEAM em 2013, a Central
registrou 497.339 atendimentos, dos quais 65.503 referiam-se especificamente a relatos de violência. O tipo de
violência sofrida pelas mulheres no ano de 2013, foram de 54,2% a violência física; 30,3% a violência psicológica;
10,4%violência moral; 1,9% violência patrimonial; 1,7% violência sexual; 0,9% cárcere privado; e 0,5% tráfico de
pessoas. Em geral a violência contra a mulher vem crescendo a cada dia e pode ainda evoluir, ocasionando a morte
das vítimas. Algumas mulheres vítimas de violência de gênero apresentam consequências severas no resultado do seu
desenvolvimento humano. Isto tem tornado este tema central para diversos pesquisadores desta área. A violência de
gênero envolve ações ou circunstancias que submetem unidirecionalmente, física e/ou emocionalmente, visível e/ou
invisivelmente as pessoas em função de seu sexo, sendo o principal tipo de violência de gênero, a violência doméstica.
Dutton e Golant identificam três tipos de agressores contra as mulheres. O primeiro é o agressor psicopata, que não
usa da violência somente com as mulheres, mas também com outras pessoas. O segundo tipo, o agressor
hipercontrolado. Este é o tipo de perpetrador que controla sua companheira. O terceiro tipo é o agressor cíclico ou
emocionalmente instável. Este tipo de perpetrador é caracterizado como se mudasse de humor de forma notória,
como se constantemente alterasse de um estado de humor para outro. O presente estudo objetiva conhecer a
história de vida e relações familiares de um agressor psicológico e moral de mulheres do sertão central cearense. Para
atingir este objetivo, adotou-se o método qualitativo, com estudo de caso único. Participou dessa investigação um
agressor psicológico e moral de mulheres que foi denunciado na Delegacia de Defesa da Mulher pela ex-companheira
que se sentiu ameaçada pelo mesmo, sendo definido por esta delegacia como uma violência psicológica. Esta
investigação adotou dois instrumentos. O primeiro foi o Teste do Desenho da Família. Este instrumento projetivo
avalia as relações familiares do aplicando, sendo o conteúdo analisado pelo roteiro de análise de Corman. O segundo
instrumento foi uma entrevista aberta seguindo o modelo de Historia de Vida. A entrevista aberta foi analisada pelo
odeloàdeàa aliseàdeà o teúdoàdeàBa di .àásà atego iasàe e ge tesàdasàa lisesàfo a :à ásà uda çasà ausadasàpelaà
iol iaà asà elaç esàfa ilia es àeà áàpe epç oà ueà te àdeà sià es o,àdaà ausaàdaà iol iaàpsicológica e de sua
iti a .àEstasà atego iasàju ta e teà o àosà esultadosàdoàtesteàp ojeti oàfo a àdis utidos,àse doàide tifi adoà ueàoà
agressor procura costumeiramente atribuir a culpa de sua agressão na companheira, retirando de si a
responsabilidade sobre seu ato violento. Considera-se que os resultados desta investigação possam contribuir para
ampliar os conhecimentos empíricos sobre agressores psicológicos e morais de mulheres, fortalecendo políticas
públicas para mulheres vítimas de violência e incentivar políticas para agressores como medida preventiva.

Palavras-chave:
Violência Psicológica. Violência Moral. Agressor.

1383
Mulheres e o enfrentamento da violência: perspectivas históricas e a afirmação de políticas públicas
Autor:
Gabriela Rios (Fafijan)

O presente trabalho busca versar sobre a violência contra as mulheres e os serviços que visam a defesa e acolhimento
para este público, apresentando brevemente acerca das inúmeras formas de agressões que englobam o fenômeno da
violência incitada pela distinção entre gêneros. A partir desta perspectiva buscou-se compreender a implementação
de políticas públicas concernentes ao tema no âmbito brasileiro, voltadas ao enfrentamento e auxílio de situações
aversivas vivenciadas cotidianamente por mulheres.
A abordagem utilizada pautou-se no acesso a dados estatísticos referentes ao número de mulheres que
sofreram/sofrem violência de gênero, dispostos no Mapa da Violência de 2015, juntamente a um estudo exploratório
bibliográfico por meio de livros, revistas, artigos, e sítios eletrônicos científicos. A partir de uma perspectiva crítica em
Psicologia Social, as discussões sobre tema têm muito a contribuir para os debates que enlaçam as perspectivas de
gênero e sexualidade, modos de subjetivação e políticas de resistência, edificando o compromisso da Psicologia.
Segundo Waiselfisz (2015) a violência contra a mulher é um fato tão antigo quanto a humanidade, mas é preciso
compreender que isso é determinado historicamente, e não tido como algo natural/espontâneo. O fenômeno da
violência se apresenta de muitas formas, como agressões físicas, psicológicas, verbais e sexuais. Segundo Blay (2003)
em seu trabalho sobre Violência Contra a Mulher e Políticas Públicas, estas violações ocorrem no decorrer do tempo
na maioria dos países considerados civilizados, independente dos seus sistemas econômicos e políticos.
A visão de subordinação feminina é um fato ocorrido pelo sistema estrutural de relações sociais que legitimam
inúmeros aspectos desta subordinação – elemento estruturador da sociedade Brasileira - o patriarcalismo. Sobre isso,
Heise, Ellsberg e Gottemoeller (1999), citados por Marinheiro, Viera, Souza (2 ,àp.à àapo ta à ueà aàdesigualdadeà
deàpode àe t eàg e osàesta iaà aàg eseàdeàsituaç esàdeàdisputaàeàdeào o iaàdeà iol ia .
Talà iol ia,à f utoà doà siste aà pat ia alà pe du adoà histo i a e te,à à u à fe e oà o ple oà ueà e igeà políti asà
capazes de aprender com as experiências desenvolvidas e redirecioná-las de acordo com as possibilidades
go e a e taisàeàasàde a dasàad i dasàdaàes utaàdasàusu iasàdaàPolíti a à áMO‘IM,à ,àp. .à“affiotià ,à aà
obra O Poder do Macho, discorre como se desenvolve esse sistema desigual, o poder socialmente atribuído ao
homem e a violência por ele praticada, elucidando que há a naturalização de situações aversivas, especialmente
aquelas vivenciadas no matrimônio.
Segundo levantamento feito pela Fundação Perseu Abramo/SESC (2010), via pesquisa de opinião pública, expôs que a
cada dois minutos cinco mulheres são agredidas no Brasil; averiguou-se ainda que mais de 80% dos agressores eram
namorado ou marido das vítimas. Estas estatísticas refletem a necessidade das elaborações de programas e iniciativas
de prevenção e responsabilização.
Algumas políticas públicas foram desenvolvidas visando reduzir casos de violência contra as mulheres e oferecer
amparo e tratamento às vítimas. As delegacias especializadas (DEAMs) foram criadas em 1985 pretendendo atender
mulheres em situação de violência, promover atividades preventivas, executar práticas de apuração, investigação e
enquadramento legal e ainda expedir medidas protetivas. Em 2002 houve a criação dos Centros de Referência e
Casas-Abrigo com serviços voltados ao atendimento psicológico, social, orientação jurídica, e moradia segura com
atendimento integral. Já em 2003 foi criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres ,com a expansão de iniciativas,
além da inserção de novas ações preventivas, garantidoras de direitos e combate às agressões (BRASIL, 2011).
Outro marco destas conquistas foi a elaboração da Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República em 2003, edificando um espaço deàes utaà defesaàeà alo izaç oàdosàseusàdi eitos à s/p .àE à
2005 cria-se a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, proposta gratuita para mulheres que buscam esclarecer
dúvidas sobre direitos e serviços que atendam suas queixas e diligências, podendo ser encaminhadas à rede de
atendimento mais acessível, este programa foi reformulado em 2014, tornando-se disque-denúncia, enviando as
denúncias para a Segurança Pública, possibilitando ao atendimento mais rapidez, organização de dados e divulgação.
A Lei Maria da Penha nº 11.340/2006 de 2006 tenciona a coibição da violência doméstica e familiar contra a mulher,
pretendendo prevenir, punir e erradicar todo tipo de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou
moral.Em2015 outro marco constitucional se deu pela Lei 13.104/2015que altera o Código Penal
Brasileiro,delimitando o termo femínicídio como uma das formas qualificadas de homicídio.
A violação dos direitos das mulheres está historicamente firmada nas vivências humanas e constantemente
naturalizada em uma cultura patriarcal. É urgente a necessidade de enfrentar esta realidade, possibilitando mudanças
através da denúncia, prevenção, empoderamento e disseminação de conhecimento acerca do assunto. A Psicologia
1384
atua de maneira direta nos contextos de violações, e enquanto ciência e profissão dispõem de diversas ferramentas
para enfrentamento destas demandas. Uma postura profissional comprometida com a realidade pode desempenhar
papel de agente promotora de acolhimento, confiança, autoconhecimento e resgate das condições de sujeito perante
a sociedade.
Palavras-chave:
Gênero violência patriarcado políticas públicas

1385
O MERCADO DE TRABALHO: A percepção de um grupo de homossexuais de Uberlândia-MG
Autor:
André Luiz Félix (UNITRI)
José Vitor

Este estudo transversal, de base empírica, aplicado em campo, com objetivo explicativo e abordagem quali-
quantitativa, foi realizado com (30) homossexuais de ambos os sexos, com idade média de 19 a 49 anos, moradores
da cidade de Uberlândia-MG.
Este tema se fez importante pesquisar, devido ao fato de que, nos últimos anos, um maior número de homossexuais
está assumindo sua orientação sexual e se inserindo no mercado de trabalho, o que não pode ser percebido por eles,
como mais um problema. Para tanto, é necessário uma mudança social e cultural, pois muito tem-se falado sobre
inclusão, direitos humanos, a questão da igualdade social de raça e gênero. Com base nisso, ao estudar as relações
dos homossexuais no mercado de trabalho, verificar se sofrem ou sofreram algum tipo de discriminação ou
preconceito, se encontraram e quais foram suas facilidades e/ou dificuldades, quais as experiências adquiridas e quais
as expectativas frente ao mercado de trabalho e sua vida profissional, é que será possível identificar como as relações
estão se constituindo no âmbito organizacional.
As relações entre o trabalho e o social são marcantes na vida do indivíduo, uma vez que o estado social está ligado ao
papel desempenhado pelo sujeito no seu trabalho e a representação social que essa função traz para esse indivíduo.
Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo discorrer sobre a percepção dos homossexuais acerca da sua
inserção e permanência no mercado de trabalho. Os objetivos específicos, por sua vez, se subdividiram em: levantar o
perfil sócio familiar e econômico dos participantes da pesquisa; identificar a formação acadêmica e experiência
profissional; verificar se foram vítimas de preconceito ou discriminação dentro e fora do ambiente organizacional e se
consideram que são tratados de forma igualitária pela organização em que atuam.
O objeto de pesquisa foi problematizado com a seguinte questão: Qual é a percepção dos homossexuais frente a sua
inserção e permanência nas empresas? A hipótese norteadora da pesquisa é de que os homossexuais enfrentam nas
organizações alguma forma de preconceito em função da sua orientação sexual, preconceito esse que se manifesta de
forma explícita ou de maneira mais velada.
Esta pesquisa mostra-se relevante, pois ao investigar qual é a percepção que os homossexuais têm acerca de sua
orientação sexual frente às organizações em que atuam e ao mercado de trabalho, poderá fundamentar intervenções
para a promoção de um ambiente de trabalho saudável e com uma maior equidade entre todos os indivíduos que
nele atuam. Para a sociedade, possibilitará maiores informações sobre o tema abordado e para os que participam da
entrevista poder dar a eles a voz, para que assim possam ser ouvidas as suas perspectivas em relação a sua
sexualidade nas empresas em que trabalham e quais são as dificuldades de se inserir e permanecer no mundo
empreendedor.
Para os pesquisadores, esta pesquisa proporcionou uma ampliação dos conhecimentos sobre o tema trabalhado,
além de desenvolver o espírito investigativo e aprendizagem das etapas da investigação científica. O tema foi
proposto a partir de interesses em comum dos pesquisadores em relação a Psicologia Organizacional em
conformidade com a busca em aprofundar conhecimentos a respeito de temas da atualidade, uma vez que dotado de
tais informações podemos pensar em práticas para intervir e modificar a realidade enquanto profissionais.
Para realização deste estudo, optou-se por utilizar dois instrumentos: questionário sociodemográfico e entrevista
estruturada. Os resultados indicaram que maioria dos participantes afirmou não enfrentar dificuldade para se inserir
ou se manter no mercado de trabalho e que não vivenciam preconceito nas organizações em função da sua
orientação sexual, refutando assim a hipótese da pesquisa. Além disso, os participantes da pesquisa afirmaram não
perceber nenhum olhar discriminatório para com eles, embora acreditam que o preconceito exista. Verificamos
portanto um certo avanço na forma com que as organizações têm tratado seus trabalhadores, respeitando a
diversidade e procurando assegurar a igualdade de oportunidades para todos, de forma que sejam atendidos e
obedecidos todos os direitos de acordo com o princípio da universalidade.

Palavras-chave:
Homossexualidade, Mercado de Trabalho, Preconceito.

1386
O Ninho Vazio: Análise da vivência de um grupo de pais de Uberlândia no momento da saída do último filho de
casa.
Autor:
Walter H. B. Resende

O ninho vazio é um processo que se dá pela percepção dos pais em relação a um fenômeno cultural e familiar que
ocorre após a saída dos filhos de casa. No seu sentido vital, o ninho vazio é uma precondição natural das relações
grupo-familiar, mas a forma como cada pai, mãe ou casal encara essa etapa depende de múltiplos fatores, sejam eles
fatores afetivos, econômicos ou condicionais. O ninho vazio por vezes é assimilado como um período de transição e
transformações na vida de um casal, a condição pela qual um filho deixa de morar com seus pais é um importante
contribuinte, assim como o papel que este filho exerce, ou deixara de exercer, na estrutura e na dinâmica familiar.
Com o intuito de conhecer mais a respeito de como alguns pais se sentem com a saída do último filho de casa foi
pesquisado na cidade de Uberlândia-MG uma amostra de 30 participantes, sendo eles casados entre si
proporcionalmente entre o sexo feminino (50%) e o sexo masculino (50%), cujo o último filho não residia mais com os
mesmos. Essa pesquisa teve como objetivo investigar as mudanças decorrentes da saída do último filho de casa e
relacionar os sintomas mais presentes neste momento. Tratou-se de um estudo transversal, quali-quantitativo, no
qual se optou por utilizar como instrumentos um questionário sóciodemográfico e uma entrevista estruturada
contendo doze questões de elaboração própria dos pesquisadores, sendo dez questões abertas investigando o motivo
pelo qual o filho saiu da casa, quais as mudanças ocorreram naquele período, quais os sentimentos surgiram, se ainda
mantem contato com os filhos e como era o relacionamento com o filho que saiu de casa. Já as duas questões
fechadas, de múltipla escolha, foram utilizadas para fazer um levantamento ao modo como os participantes se
sentiram com a saída do último filho de casa e assinalar os sintomas que, dentro do quadro da síndrome depressiva,
esteve presente durante essa etapa de ninho vazio para cada participante. Os resultados apontaram que não houve
diferenças significativas entre os sexos masculino e feminino com relação à sintomatologia, ou seja, não houve uma
diferença significativa entre o numero de respostas do homem em relação a da mulher nas questões fechadas mais
assinaladas durante a entrevista e ao fato do casal iniciarem novas atividades após a saída do último filho de casa. Os
participantes descreveram que vivenciaram o ninho vazio como um processo natural da vida, doze casais
responderam que o motivo pelo qual o seu último filho saiu de casa foi o casamento e mais da metade dos
participantes relataram que mantêm um contato frequente (diário ou semanal) com seus filhos. Os resultados
trouxeram que houve uma adaptação tranquila para a grande maioria dos participante da pesquisa, sendo que os
casais lidaram com harmonia a ausência dos filhos e não realizaram grandes transformações no seu cotidiano.
Segundo os participantes da pesquisa, embora tenham sentido falta dos filhos, as mudanças, quando ocorreram,
foram positivas, como maior aproximação entre o casal ou maior frequência de passeios.

Palavras-chave:
Ninho Vazio; Casal; Sintomas; Família

1387
O que a mulher fez de errado para apanhar? Uma análise crítica dos trabalhos brasileiros
Autor:
Claubia Nogueira
Coautor:
Michael L de Alencar (Unifafibe)
Ramiz Candeloro (ABRAPSO)

Introdução
Depois dos 10 anos da Lei Maria da Penha, ainda é preciso pensar na situação da violência contra a mulher,
considerada problema de saúde pública (ACOSTA et al., 2015). Mesmo com a existência de todas as medidas de
natureza legislativa – como a lei supracitada, a do Feminicídio e a existência de uma Delegacia da Mulher – a violência
doméstica continua sendo realidade para muitas mulheres. Embora seja importante realizar pesquisas voltadas para
as mulheres, os principais mantenedores dessa situação acabam ficando em segundo plano. Apesar da escassez de
material na área, alguns pesquisadores obtiveram sucesso em contatar esses homens, sendo possível traçar seus
perfis e compreender as agressões.
O problema é que há mais dados sobre as mulheres. E isso significa muita coisa, pois os dados obtidos em relação às
ulhe esà a ega à oà pesoà deà oti os à pa aà sof e e à aà ag ess o.à Eà aà pe gu taà ueà fi aà :à ual é o papel que a
mulher representa na agressão sofrida para a ciência brasileira?

Objetivo
Apresentar uma visão crítica da forma que os estudos sobre a violência contra as mulheres e/ou de gênero
apresentam as mulheres, vítimas da violência, como sendo as agentes motivadoras da agressão.
Relação com o eixo temático

Eixo escolhido: Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência


O trabalho relaciona-se com a Psicologia Social por levantar questões críticas referentes a supremacia e o poder do
homem cishétero perante a sociedade, majoritariamente machista. Além disso, promove um debate sobre o atual
momento do tema, que abrange uma parcela da minoria incluída no Eixo.

Orientação teórica
O referencial teórico que embasa o trabalho é composto por duas vertentes:
a) A visão de mundo da Psicologia Sócio-histórica, que tem em suas bases uma visão crítica de ser humano e
sociedade.
b) Estudos feministas usados para a compreensão do tema.

Método
Esta pesquisa, fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso, traz uma revisão bibliográfica que analisou artigos
científicos nacionais e livros sobre o tema. As bases indexadoras consultadas foram: SciELO e Periódicos CAPES. Os
des ito esàutilizadosàpa aàaà us aàfo a :à iol iaà o t aàaà ulhe ,à iol iaàdeàg e o àeà ho e sàeà iol iaà
o t aàaà ulhe .àáde ais,àfoiàfeitaàu aàpes uisaàdo u e talàdeà epo tage sàe o t adasà oàGoogleàutiliza do-se o
des ito à ulhe à àassassi adaàpo ,à oà ualào jeti ou-se analisar as primeiras 50 reportagens de 2015 a 2017 para
fazer um levantamento dos motivos dos assassinatos de mulheres.

Resultados
Embora os autores relatem o que os homens dizem, ou o que as mulheres percebem dos comportamentos violentos
dosà ho e s,à fala à e à oti osà pa aà aà ag ess o à oà à aà fo aà o etaà deà o s ie tiza à u aà so iedadeà so eà aà
violência sofrida pelas mulheres. Muitos textos diziam que: as mulheres provocam/iniciam o conflito; a violência é
desencadeada por problemas com os filhos; a culpa é o trabalho da mulher; a mulher é autoritária; a culpa é do ciúme
ouà daà suspeitaà deà t aiç o.à E o aà seja à oti os à dadosà po à pe pet ado es,à à u à desse içoà sà ulhe esà
brasileiras.
Os motivos que existem são originados dentro dos homens, e não na relação com as mulheres. A violência, que difere
da agressividade, pois ela é fruto da racionalidade e não da natureza humana, impõe assimetria na relação, pois o
relacionamento baseia-se na dualidade: poder e subjugação (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Isso foi percebido na
1388
pesquisa documental ao consultar as notícias, pois entre 2015 e 2017, os homens assassinaram suas (ex)parceiras por
ciúmes, suspeita de traição, não aceitação do fim do relacionamento ou após discussões. Classifica-se como uma
relação de poder, porque eles acharam que tinham controle sobre as mulheres e, por isso, mataram-nas. Perguntar
aos homens o motivo do crime e aceitar quando eles dizem que a culpa é da mulher é errado, e não faz a sociedade
andar para frente, apenas a faz oscilar de um extremo ao outro, como um pêndulo de um relógio.

Conclusões
Apesar de ser relatado o déficit existente na literatura brasileira sobre pesquisas realizadas com homens
perpetradores/mantenedores da situação – pois são os autores da violência – cada vez mais pesquisas são feitas
abordando as mulheres, vítimas. Isso deixa implícito que até a área da pesquisa falha quando tenta investigar o
assunto, pois a maioria dos artigos consultados sofreram influência do machismo, que procura entender o que a
mulher fez para apanhar, ao invés de procurar entender quem é o autor do crime e o que aconteceu com ele, durante
sua vida, para ele usar a agressão na relação com uma mulher.

Referências
ACOSTA, D. F. et al. Violência contra a mulher por parceiro íntimo: (in)visibilidade do problema. Texto & Contexto -
Enfermagem, Florianópolis, v. 24, n. 1, p. 121-127, mar. 2015.
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 14. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008. cap. 22: As faces da violência, p. 330-338.

Palavras-chave:
Ciência Violência Mulheres Machismo Sociedade

1389
Os Sentidos do Ser/Estar Trans
Autor:
Cristina Sommer Murara (Universidade do Vale do Itajaí)
Coautor:
Sue Ellen Berger
Marina Corbetta Benedet

Os processos constitutivos de identidade ocorrem a partir de práticas de alteridade, em que trocas constantes entre
diferença e igualdade, entre o eu e o outro, estão entrelaçadas nas relações interpessoais que se originam mediante
sua era. Nesse caminho, compreende-se que os sentidos de ser/estar se relacionam aos modos como os sujeitos se
compreendem (cristalizam suas ideias de si e do mundo) e o modo como objetivam essas compreensões em seus
corpos e nos espaços que habitam. Os sentidos experienciados e explorados internamente pelos seres humanos
apresentam signos ideológicos, ou seja, materiais da realidade subjetiva de cada sujeito, os quais, os levam à
necessidade de compartilhar os próprios repertórios (BAKHTIN, 2006, p. 34). O sujeito reflete e refrata no seu existir
seu projeto de ser e as identidades de gênero e as práticas sexuais surgem em torno de discursos metamórficos de
uma determinada época em um determinado contexto territorial e, diante da infinita gama de possibilidades
ide tifi at ias,à aàutilizaç oàdoà o poà o oàsiste aàdeàe p ess oà oàte àli ites à ‘OD‘IGUE“,à ,àp. .àPo ,à
tem-se que atualmente, mesmo após décadas de embates ideológicos, tais significados assumem papéis normativos
em que as práticas identitárias sofrem influências e pressões constantes do sistema de mercado capitalista, pois o
alavanco da industrialização e a consequente urbanização atingiram diretamente as possibilidades de existência e de
significação da vida sexual. Foucault (1988) nos elucida que no período adjunto ao surgimento da industrialização os
governos tiveram que lidar com novos fenômenos, relacionados à natalidade, morbidade, esperança de vida,
fecundidade, estado de saúde, incidência das doenças, forma de alimentação e de habitat, estando o sexo no cerne
deste problema econômico e político da população frente a pluralidade humana. Diante disso, eis que surge uma
forte onda de repressão sexual a ser institucionalizada, com o sexo a ser controlado e objetificado, acarretando, por
conseguinte, no domínio dos corpos dos sujeitos, ficando estes submetidos às supremacias do discurso (FOUCAULT,
1988, p. 43), o que promove a necessidade de um olhar crítico para com a sua infinita prática expressiva. Objetivou-se
com este trabalho compreender os processos constitutivos da identidade trans; levantar os impactos da construção
da identidade trans para a vida dos sujeitos; identificar as compreensões sobre as transformações da identidade e os
discursos que a sustentam e levantar as dificuldades cotidianas encontradas pelos sujeitos com identidade trans. Para
isso realizou-se entrevistas com 04 transgêneros, entrevistas estas que foram gravadas e posteriormente transcritas,
sendo analisadas através da análise de discurso. As análises apresentaram que as entrevistadas sofrem
estranhamentos e rejeições sociais decorrentes de processos normatizadores e patologizantes, mostrando-se o ser e
estar trans como uma prática de resistência. Tais rupturas fazem emergir um dinamismo diferenciado do
convencional à cultura brasileira, fortemente transpassada por ideais religiosos e capitalistas que, no decorrer da
história, atuam como ditadores dos sujeitos e de seus corpos diante às suas necessidades e desejos, já que operam
por decidir por estes a sua própria experiência de identidade. Assim, pôde-se perceber como na fala das entrevistadas
revisitou-se aquilo que jornais, revistas e cotidianamente ouve-se falar sobre as dificuldades encontradas pelas
pessoas trans, em relação à omissão e negação de seus direitos mais básicos. Cabe salientar todas as discussões que
assistem-se, ainda carregadas de sentidos morais, no que diz respeito, por exemplo, ao Estatuto da Família e às
dificuldades que pessoas trans e homo encontram em serem reconhecidas em seus direitos mínimos, a partir de
princípios morais (pautados com compreensões religiosas) de alguns representantes políticos. As implicações sociais
vividas por estes sujeitos, muitas vezes, inviabilizam situações cotidianas, gerando dificuldades em lidar com conflitos
esperados da existência humana. Os conflitos adaptativos no curso da vida auxiliam no processo de
autotransformação, no entanto, os enfrentamentos vivenciados pelas entrevistadas, evidenciam o caos da tumultuosa
luta de ser/estar trans, distanciando-lhes do convívio com o outro, colocando-as em constantes exclusões e
comprometendo-lhes a qualidade de vida muitas vezes. Sabemos que, como seres humanos costumamos evitar o
caos a qualquer custo, tendo em vista a naturalização da ordem que nos é dada como premissa para viver consigo e
em sociedade. Porém, foi possível observar que para as entrevistadas, tal processo se dá de forma inversa, ou seja, o
caos está significado em ter que ser e estar dentro de tais ordens pré-postas. Para elas, a norma é poder transitar
nestes mundos masculinos e femininos, ou seja, é transitar, sem se cristalizar em um gênero determinado. Contudo,
diante dessa escolha, desse projeto de ser no mundo, estabelece-se, então, uma constante luta entre adentrar-se no
mercado de trabalho, nos estudos e nos núcleos familiares, pois há, do outro lado, o preconceito dos que lutam na
1390
tentativa de manter as suas ideologias e evitar o que para eles seria o caos, algo desesperador, acarretando em falta
de oferta de empregos e de vagas no âmbito educacional, gerando a exclusão social.

Palavras-chave:
Gênero; Identidades; Normatização; Transgêneros; Transexuais.

1391
Quando a batalha acabar: uma análise do direito ao nome social dos não-humanos
Autor:
Bruna Rocha Amaral (UFBA)
Coautor:
Caren (UFBA)

O presente trabalho buscará fazer uma interseção entre a utilização do nome social e os direitos humanos para com
os não-humanos, não-humanos aqui apontados como os transgêneros, população que vive à margem da utopia dos
direitos universais. Desde 28 de Abril de 2016, por meio do decreto de Nº 8.727, é permitido o uso do nome social nos
órgãos do Serviço Público Federal, mas são inúmeras as burocracias para que esse direito mínimo seja efetivado. Para
reconhecimento do nome social no registro civil, a burocracia é ainda maior e mais constrangedora: é necessário um
laudo médico, psicológico, recorrer à justiça e possivelmente passar por uma perícia. Apesar disso, o Cadastro Único
para Programas Sociais (CadÚnico), um mecanismo do governo utilizado para conhecer a realidade socioeconômica
daà populaç oà asilei aà deà ai aà e da,à ti haà e à seuà fo ul ioà deà egist oà u à a poà i tituladoà ápelido ,à ueà
desdeà oà a oà deà à foià alte adoà pa aà ápelido/No eà “o ial ,à deà fo aà aà al a ça à eà espeita à a uelesà fosse à e à
busca do serviço. Além do Serviço Público Federal, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e algumas instituições
de ensino superior no país admitem o uso do nome social, mas ainda é ínfima sua existência diante das humilhações e
constrangimentos que são gerados todos os dias por questões que perpassam a identidade do sujeito. Intervenções
corporais normalmente são utilizadas como externação de um significado para aquelas identidades que são
construídas e reconstruídas no cotidiano, sendo o nome também um dos caminhos de reafirmação dessa identidade.
Foi usado como ilustração de tal discussão um episódio da série da plataforma Amazon.com, intitulada Transparent,
um jogo de palavras que mistura a transgeneralidade com parentalidade. O drama gira em torno da aceitação do
mundo intra e extra-familiar da personagem Maura, que inicialmente era conhecida por ser o pai da família
Pfefferman e que, em uma idade já considerada avançada, expõe o desejo de ter sua feminilidade reconhecida e
também referida não só com o título de Mãe no âmbito familiar, mas como Senhora Maura Pfefferman no contexto
so ialàeàpolíti o.àNoàepis dioàe à uest o,ài tituladoà Qua doàaà atalhaàa a a ,àaàpe so age àMau aài o oda-se
ao ter seu gênero definido como masculino e exposto no quadro de pacientes em um hospital do serviço público
norte-americano. O contexto em que esta situação ocorre pode facilmente ser pensado à luz do cenário nacional, ao
se considerar a pesquisa realizada entre os anos de 2008 e 2014 pela Transgender Europe (TGEU), uma rede conjunta
de organizações de transgêneros, transexuais e outros grupos dessa inclinação, em que os dados recolhidos apontam
o Brasil como o país que mais mata transexuais e travestis, sendo que o Disque Direitos Humanos (Disque 100)
recebeu, apenas no ano de 2015, quase duas mil denúncias que indicavam a violação de direitos da comunidade
LGBT. Assim, além do sofrimento psíquico, esses sujeitos precisam enfrentar uma luta diária na tentativa de afirmar
sua identidade para uma sociedade que constantemente nega sua existência e a viola física e psicologicamente, nega
seus direitos mais básicos como saúde e educação, de forma geral, uma sociedade que legitima a invisibilidade desses
sujeitos.

Palavras-chave:
Gênero, sexualidade, direitos humanos.

1392
Repetição da g avidez na adoles ia e o contexto familiar
Autor:
Ana Luiza Rodrigues Inácio
Coautor:
Emerson Rasera (UFU)

Introdução: Alguns levantamentos epidemiológicos, bem como certas análises teóricas das repercussões de uma
g a idezà aàadoles ia àeàsuaà epetiç oà o t i ue àpa aàaàsuaà o st uç oà o oàu à p o le aàso ial ,àpautadaà
em um discurso vitimizador, homogeneizador e alarmista da questão. Além disso, reconhecemos a necessidade de se
questionar condutas idealizadas e generalizadas. Pensando nisso, torna-se fundamental a compreensão dos sentidos
p oduzidosàpo àa uelesà ueà i e ia àaàe pe i iaàdeàu aà g a idezà aàadoles ia àeàsuaà epetiç o, ou seja, os
jovens e seus familiares. Objetivos: Compreender os sentidos produzidos nas relações familiares frente à repetição da
g a idezà aà adoles ia .à Espe ifi a e te,à us a os:à ide tifi a à osà se tidosà daà g a idezà eà suaà epetiç oà e t eà
jovens; analisar as redes de apoio construídas a partir da gravidez e sua repetição; e compreender as diferentes
pe spe ti asàdosà e osàdaàfa íliaàe à elaç oà à g a idezà aàadoles ia àeàsuaà epetiç o.àM todo:àFize a àpa teà
do estudo três núcleos familiares, sendo essas famílias cadastradas e que recebiam atendimento em uma UAPSF do
município de Uberlândia (MG). Foram realizadas seis entrevistas individuais semi-estruturadas, referente às três
famílias. As entrevistas foram realizadas na residência dos participantes de acordo com a disponibilidade de cada um
e após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. As entrevistas foram registradas em áudio e
posteriormente transcritas na íntegra. A análise baseou-se numa perspectiva qualitativa, de cunho construcionista
social, e foi organizada a partir de três categorias: a) Maternidade/paternidade entre jovens: revendo o lugar da
juventude; b) Família e redes de apoio; c) Repetição da gravidez e planejamento familiar. Resultados: Os entrevistados
signifi a a à aà g a idezà aà adoles ia ,à e à o oà suaà epetiç o,à o oà e pe i iasà atu alizadas,à asà uaisà
constituem forma típica de constituição do grupo familiar, sendo a gravidez associada à oportunidade de
amadurecimento e à realização de um projeto de vida. A maternidade, neste caso, envolve dimensões complexas,
podendo remeter tanto à mudança de status, quanto à reafirmação de projetos de mobilidade social, ou seja, a idéia
daà o uistaàdeàfu ç esàso ial e teà e o he idas,à o oàaàdeà e .àEssesàse tidos estão atrelados às formas como
as relações familiares se apresentam, pela história de vida compartilhada, pelos valores repassados, como também às
normas de gênero que sustentam a realidade cultural e histórica dos entrevistados. Assim, comportamento, valores e
dinâmicas familiares sofrem reflexo das mudanças socioculturais, econômicas e tecnológicas ocorridas na sociedade.
Ou seja, os processos de socialização e construção social da realidade produzem a forma como os indivíduos
internalizam valores e normas sociais e os externalizam no mundo. Além disso, a família ganha papel de destaque
como principal instituição de auxílio e integrante das redes de apoio formuladas diante dessas experiências. Com a
conquista dos papéis maternos e paternos, alguns compromissos passam a fazer parte da rotina dos jovens.
Responsabilidade e participação ativa do jovem pai são posturas que ganharam destaque nas entrevistas. Esses
se tidosà so eà aà g a idezà aà adoles ia à eà suaà epetiç oà o ida à à e is oà so eà oà luga à doà planejamento
familiar, à medida que a reflexão por parte dos jovens acerca da adesão aos métodos contraceptivos e à prática
abortiva demonstra uma conscientização a respeito da gravidez. Desta, forma, o fato da experiência da maternidade
por jovens compreender-se como algo naturalizado ou mesmo desejado associa-se a valores e projetos de vida que
s oàdife e iadosàe àest atosàso io ultu aisàdisti tos.àQua doàseàto aà o oà efe iaàp ojetosàeàe e tosà o u s à
de determinado tempo e espaço como algo que pode ser generalizado para a sociedade, desqualificam-se outras
possi ilidadesàle a tadasàpo àa uelesà ueà oàd oàaàesseà o u àoà es oàse tidoàdadoàpo àa uelesà ueàoàdize à
assim. Por outro lado, devemos questionar por que outros contextos não são apontados também como condições
para a conquista de papéis socialmente reconhecidos. Conclusão: Faz-se necessário ampliar o olhar, o qual permita a
contextualização de determinados exercícios no campo da sexualidade, uma vez que, para os diferentes contextos há
diferentes significações, e aí cabe se perguntar de que lugar estamos falando, quais as condições culturais,
e o i asàeàdeàg e oà ueàgo e a à ossaà ealidadeàeà ueàle a àaàp oduç oàdosàse tidosàa e aàdaà g a idezà aà
adoles ia àeàsuaà epetiç o.àássu i àessa postura significa identificar as condições sócio-históricas que levaram a
g a idezà aàadoles ia àaàse à e o he idaà o oàu àp o le a,àosàato esà ueà seà o iliza àe àto oàdeleà eàsuaà
significação na atualidade.

Palavras-chave:
Repetição gravidez na adolescência; Família;
1393
1394
Representações Sociais sobre a velhice em lideranças LGBT
Autor:
Flávio Alves (UMC - Educatie)

Frequentemente, ser LGBT significa enfrentar desafios sociais como bullying, rejeição familiar e outras formas de
violência. Isso também pode significar ambivalência quanto ao valor pessoal devido a mensagens sociais relacionadas
à identidade e à aceitação. Pode significar defrontar-se com barreiras para o sucesso, tais como discriminações,
agressões ou assédio, apenas por ser quem ou como se é no mundo.
Envelhecer, sendo LGBT, traz contornos próprios para um grupo já marcado por inúmeros estigmas e preconceitos, e
que apenas nos últimos anos começou a ter mais atenção da ciência. Hoje se sabe, por exemplo, que gays idosos são
mais propensos a sofrer de depressão: 24% das lésbicas e 30%, no caso dos gays, contra 13,5% de heterossexuais
(MILHORANCE e TINOCO, 2014). Solidão e maus tratos, que acometem a população idosa em geral, são ainda mais
preocupantes nesta população.
Para Mota (2014) o fenômeno da idade possui diferentes representações nas mais variadas sociedades, desta forma,
o processo de crescimento e envelhecimento possui aspectos culturais, sociais e históricos, e são descritos a partir de
parâmetros simbólicos construídos socialmente. Desta forma, a velhice assinala um processo de ganhos e perdas, em
um contexto e mundo de significados em que as perdas acabam por se sobressair aos ganhos, ao somar a identidade
gay e este contexto, o sujeito velho tem a percepção de duplo estigma, sem autonomia e independência para seguir a
sua própria vida.
Para Arruda (2012) o processo de envelhecimento da população brasileira acarretará a necessidade de que haja, nas
próximas décadas, uma grande mudança em nossa cultura, inovando na maneira como a sociedade tem encarado a
velhice, e desencadeará uma renovação de conceitos e ações. Conceitos estes que, aqui denominamos de
representações sociais.
Neste sentido, este estudo teve por objetivo Identificar as representações sociais sobre a velhice e o processo de
envelhecimento junto às lideranças dos movimentos sociais de defesa dos direitos da população LGBT, as principais
situações vivenciadas pelas LGBT em função do envelhecimento do corpo; os riscos sociais e pessoais a que a
população LGBT Idosa está sujeita; assim como identificar como os movimentos sociais de defesa dos direitos LGBT
pautam a questão do envelhecimento da população LGBT e verificar a existência de políticas públicas voltadas para
este segmento da população. Partindo do pressuposto de que não há dados exatos que quantifiquem a população
LGBT e que lhes garanta visibilidade estatística, que o envelhecimento desta população é tema de interesse
acadêmico recente e que em função disso, ainda existem poucos estudos sobre o assunto, optou-se pela realização de
pesquisa de abordagem qualitativa e do tipo exploratória, utilizando-se a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo
(LEFEVRE e LEFEVRE, 2000). Foram entrevistados 30 representantes/ativistas de entidades e movimentos sociais de
defesa dos direitos LGBT Os discursos foram analisados à luz da Psicologia Social e da Teoria das Representações
Sociais proposta por Moscovici (2015). Osà esultadosà apo ta à ueà asà pessoasà LGBT sà idosasà s oà dupla e teà
estigmatizadas e lidam com dificuldades maiores que a população envelhecente não-LGBT, uma vez que estão
vulneráveis aos problemas advindos do próprio envelhecimento, bem como estão suscetíveis às limitações sociais,
institucionais, jurídicas, entre outras – como o preconceito, a discriminação, a negação de direitos, a ausência de
políticas públicas especificas para este segmento populacional - , que são impostas às pessoas lésbicas, gays,
bissexuais e transgêneros, assim como estão sujeitos aos entraves existentes dentro da própria população LGBT que
também discrimina os que envelhecem e, culturalmente, reverenciam a juventude. Evidenciou-se ainda, que a velhice
e as questões relacionadas a ela não estão no centro das preocupações da população LGBT, inclusive dentro dos
movimentos sociais que pautam, militam e lutam pelos direitos das LGBT. Tal situação se justifica, em parte, pelo
preconceito, assim como pela velhice ser um tema novo dentro de um movimento que ainda luta pelo direito de se
assumir, se afirmar e viver seus afetos livremente.
O envelhecimento da população brasileira, e o consequente envelhecimento da população LGBT, é um fato e um
fenômeno inegável e, mais do que nunca, deveria estar no centro das preocupações dos gestores, da sociedade e
daqueles que atuam nos espaços de participação, controle social e de formulação de políticas públicas, assim como
também deve ser objeto de estudo e merecer a devida atenção dos profissionais de Psicologia, independentemente
de seu campo de atuação ou abordagem.

ARRUDA, A. Envelhecer: uma novidade? In: TURA, L.F.R. & SILVA, A.O. Envelhecimento e representações sociais. Rio
de Janeiro: Quartet: Faperj, 2012.
1395
LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C; O discurso do sujeito coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa
qualitativa. Caxias do Sul: EDUCS, 2000
MILHORANCE, F.; TINOCO, D. Gays idosos no país são mais propensos a sofrer de depressão. O Globo: Rio de janeiro,
02/05/2014.
MOSCOVICI, S. Representações Sociais. Petrópolis: Vozes, 2015.
MOTA, M.P. Ao sair do armário entrei na velhice. 1ª. Ed. Rio de Janeiro: Mobile, 2014.

Palavras-chave:
Envelhecimento; LGBT, Representações Sociais, Homossexualidade

1396
Sexualidade e preconceito na universidade: a vivência de estudantes LGBTs
Autor:
Lívia Focchi (UFU)
Coautor:
Emerson Rasera (UFU)

O crescente número de estudos relacionados às questões de gênero e diversidade sexual nas últimas décadas
evidenciam o aumento do interesse da academia com a temática. Um dos temas de destaque deste universo de
pesquisa é a homofobia, termo empregado para fazer referência a emoções e atitudes negativas em relação a
indivíduos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). A universidade é instituição social que, como
qualquer outro segmento de uma sociedade heteronormativa, também reflete e reproduz o preconceito LGBT. Assim,
o estudo teve como objetivo compreender a vivência dos alunos LGBT de uma universidade de Minas Gerais,
especificamente no curso de Psicologia. Buscou-se analisar as narrativas dos alunos sobre a vivência LGBT na
universidade, investigar como esses descrevem a recepção e acolhimento pela universidade e identificar situações de
preconceito relacionadas à diversidade sexual. Metodologicamente, a pesquisa adotou uma postura qualitativa, que
enfatiza os estudos das práticas e interações de sujeitos inseridos em seus cotidianos. Nesse sentido, estudou-se a
literatura da área, bem como o contexto de universitários LGBTs por meio da realização e análise de entrevistas.
Foram feitas entrevistas semi-estruturadas com 10 estudantes do curso de Psicologia de uma universidade pública de
Minas Gerais que se auto-identificam como LGBTs, sendo eles 3 homossexuais do sexo feminino, 3 homossexuais do
sexo masculino, 3 bissexuais, e 1 mulher transexual. O roteiro de entrevista contemplou os seguintes tópicos: 1)
Histórico pessoal da vivência LGBT; 2) Vivência LGBT na universidade; 3) Preconceito e enfrentamento. A análise das
entrevistas foi orientada pela perspectiva construcionista e consistiu de: a) a transcrição do material; b) a leitura
curiosa do material construído e do caderno de campo; c) análise temática, buscando criar categorias que
aglutinassem por semelhança os vários relatos trazidos pelos entrevistados. Foram analisadas três principais
categorias com base nas entrevistas realizadas: a) universidade e experiência LGBT, b) o curso de Psicologia e a
se ualidadeà LGBT,à eà à u i e sidade,à p e o eitoà eà e f e ta e to.à Noà ueà seà efe eà à atego iaà U i e sidadeà eà
e pe i iaà LGBT ,à i osà ueà oà pe íodoà daà g aduaç o,à pa aà uitos,à fu io aà o oà u à a alà de aproximação à
sexualidade LGBT. Isso porque o ambiente universitário pode oferecer maior encontro com pessoas de gêneros e
orientações sexuais diversas, seja por meio de festas e confraternizações universitárias, ou até mesmo pelo contato
com grupos coletivos LGBT organizados na universidade. Ademais, a universidade pode também propiciar maior
liberdade para vivenciar a própria sexualidade LGBT, seja pela abertura institucional em relação a essas questões, ou,
para alguns alunos, pelo distanciamento de suasà idadesà atais.àJ à aà atego ia,à Oà u soàdeàPsi ologiaàeàaàse ualidadeà
LGBT ,àfoiàide tifi adoà o oàosàe t e istadosàapo ta à ueàaàPsi ologiaà ola o aà o àaà essig ifi aç oàdaà i iaàdaà
sexualidade de estudantes LGBTs por meio de estudos teóricos e discussões em sala de aula, bem como a partir de
u à li aà deà a eitaç oà eà apoioà f e teà sà uest esà deà g e oà eà di e sidadeà se ual.à Eà aà atego iaà U i e sidade,à
p e o eitoà eà e f e ta e to ,à te osà osà elatosà dosà dis e tesà LGBTà so eà aà ho ofo iaà oà o te toà acadêmico, e
suas propostas para o enfrentamento do fenômeno em questão. Segundo os entrevistados, o preconceito contra
LGBTs na universidade aparece no cotidiano acadêmico de diferentes maneiras e apoiado em diferentes justificativas:
nos espaços de sociabilidade e entretenimento; na invisibilidade LGBT; na homofobia institucional; e no curso de
Psicologia. Tendo como um dos objetivos do estudo identificar os modos dos discentes enfrentarem a homofobia,
buscou-se através das entrevistas compreender como a universidade auxilia seus estudantes a lidar com situações de
preconceito LGBT, como em: estudos promovidos nas disciplinas e nos movimentos estudantis; vivências nos espaços
universitários; apoio de amigos feitos na universidade; e apoio institucional. Concluindo, a análise dos relatos dos
entrevistados possibilitou compreender como os alunos percebem o clima institucional referente às questões LGBTs.
Notou-se que a universidade possibilita contextos privilegiados de contato com as questões de sexualidade LGBT:
estudos, amizades construídas no período da graduação, festas e grupos LGBTs organizados. Trata-se de elementos
que possibilitam o conhecimento, a aproximação e a vivência da sexualidade LGBT no ambiente acadêmico.
Entretanto, ainda é possível perceber a presença de lógicas heteronormativas nos diversos contextos universitários,
apontando para a falta de políticas LGBTs nesse espaço. Nesse sentido, salienta-se a necessidade de fortalecer a
vivência LGBT na universidade, seja através de estudos, debates, grupos de apoio, eventos, e políticas de
monitoramento e intervenção contra a homofobia.
Palavras-chave:
Sexualidade, LGBT, preconceito, universidade.
1397
Travestis e Mulheres Trans no Sistema Prisional Brasileiro: uma análise do discurso acadêmico no Brasil
Autor:
Miss. Isabelle Waltrick (Faculdade CESUSC/SC)
Coautor:
Marília Amaral
Thiago Landerdahl Ramos

São inúmeros os casos de violação de direitos cometidos no Brasil contra as pessoas lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais (LGBT), sendo o país que mais comete violências letais, principalmente contra as travestis e
transexuais, segundo dados emitidos por organizações não governamentais e grupos de monitoramento no Brasil e no
exterior. Esta realidade se torna ainda mais grave para as pessoas LGBT em situações de privação de liberdade, pois
além de sofrerem violências físicas e sexuais são vítimas das violências institucionais que invisibilizam e apagam suas
especificidades no que se refere à identidade de gênero e orientação sexual. Mostra disso é que não há dados oficiais
sobre as pessoas LGBT no sistema prisional, tampouco o reconhecimento da necessidade de políticas públicas para
esta população. Neste contexto de amplas problematizações em torno do sistema carcerário brasileiro, o objetivo
desta pesquisa é analisar como as publicações científicas brasileiras têm abordado e discutido as relações entre
identidade de gênero e sistema prisional, no que diz respeito à privação de liberdade das travestis e mulheres trans. A
partir de uma revisão de literatura integrativa foram mapeados artigos, teses, dissertações e monografias publicados
em bases de dados virtuais, tais como Scielo, Banco de Teses e Dissertações da Capes e repositórios das universidades
asilei as,à utiliza doà o oà des ito esà osà te os:à t a esti ,à ulhe à t a s à eà seusà plu ais,à sepa ada e teà eà
o i adosà o à asà pala asà p is o ,à siste aà p isio al ,à siste aà a e io à eà p i aç oà deà li e dade .à Fo a à
encontrados dezessete trabalhos publicados, todos realizados entre os anos 2014-2016. A pesquisa situa-se no campo
da Psicologia Social Crítica e dos Direitos Humanos, orientado pela perspectiva dos Estudos de Gênero por
contribuírem para uma análise que problematize o modo como as pesquisas científicas têm apresentado a realidade
das travestis e mulheres trans no contexto do sistema prisional, e por possibilitarem uma discussão crítica sobre como
o sistema prisional brasileiro têm reconhecido direitos humanos desta população. Os dados apontam que a maior
parte das penitenciárias brasileiras se estruturam a partir de um rígido binarismo de gênero pautado na diferença
sexual biológica, não estando preparados para receber pessoas que subvertem a suposta coerência entre sexo e
gênero, e, não atendendo assim as premissas da Resolução Conjunta nº 1 de 15 de abril de 2014 do Conselho
Nacional de Combate à Discriminação – CNCD e do Conselho Nacional de PolíticaCriminal e Penitenciária – CNPCP que
estabelece parâmetros de acolhimento à população LGBT em privação de liberdade. Os trabalhos pesquisados
demonstram que a maior parte dos presídios reconhece a vulnerabilidade das travestis e mulheres trans no sistema
carcerário, entretanto estes não as consideram como pertencentes ao gênero feminino, e com isso, apenas as
separam dos demais detentos, colocando-asàju toàaài te osà ueà oàs oàa eitosà oà o í io ,àe àfu ç oàdeàseusà
delitos. Na prática, apenas quatro estados brasileiros – Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul e Mato Grosso –
estabeleceram uma política de alas específicas para a população LGBT. Porém, mesmo as unidades prisionais que
possuem espaços específicos de vivência para a população LGBT nem sempre asseguram os direitos das travestis e
mulheres trans ao proibirem o uso de roupas femininas nos dias de visita, privarem-nas do direito ao banho de sol e
do acesso à hormonioterapia. Observa-se que mesmo com tantas dificuldades, a situação das pessoas LGBT nas
unidades prisionais que não possuem alas específicas,é ainda mais crítica. Dentre as violações às travestis e mulheres
transnarradas pelos estudos realizados sobre estas penitenciárias estão: a raspagem do cabelo, a obrigatoriedade do
uso de roupas masculinas, interrupção do tratamento hormonal e o desrespeito ao uso nome social. Embora muitas
não tenham relatado nas entrevistas realizadas pelas(os) pesquisadoras(es) terem sofrido violência e discriminação
por parte das(os) agentes prisionais e dos demais detentos, é possível sugerir que isto se deve à naturalização e
negação das violências sofridas neste espaço, visto que na realidade observa-se uma série de desrespeitos a suas
identidades de gênero bem como, violações aos seus direitos. Os estudos indicam que o sistema prisional converge
com os preconceitos existentes na sociedade e expõem as vulnerabilidades existentes dos sujeitos que não se
encaixam no modelo cisheteronormativo, como no caso das travestis e transexuais. Deste modo, a prisão pode se
tornar para elas mais do que um local de punição e cumprimento de pena privativa de liberdade, passa a ser também
um local de violência normatizada a sua identidade de gênero. Para combater essa situação alguns estados brasileiros
1398
estão adotando políticas públicas pautadas na garantia desses direitos fundamentais, tais como a identidade de
gênero. Para que estas políticas sejam de fato implementadas é necessário romper e desconstruir o sistema
cisheteronormativo que controla, viola e exclui existências, antes mesmo delas serem reconhecidas como sujeitos de
direitos.

Palavras-chave:
travestis mulheres trans sistema prisional

1399
Po detrás das o ti as : relato de experiência com mulheres profissionais do sexo
Autor:
Janaína Pereira (Ufu)
Coautor:
Ana Rosa Elias (UFU)
Isabel Cristiane de Noronha (UFU)
Marcelle Ap. Barros Junqueira (UFU)

2. Gênero e sexualidades: modos de subjetivação e políticas de resistência


Po àdet sàdasà o ti as :à elatoàdeàe pe i iaà o à ulhe esàp ofissio aisàdoàse o
Introdução: Trata-se de um relato de experiência, sobre as vivências de enfermeiras e uma estudante de enfermagem
dos Programas de pós Graduação e graduação da Universidade Federal de Uberlândia-Minas Gerais (MG), no campo
de trabalho de mulheres profissionais do sexo da cidade de Uberlândia-MG, como parte integrante de projeto de
pesquisa no contexto do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador da
Universidade Federal de Uberlândia. Objetivo: Relatar as vivências durante a participação em pesquisa de campo de
um projeto de análise da saúde mental, vulnerabilidade individual e do ambiente de trabalho no cotidiano de
mulheres profissionais do sexo. Relação com o eixo temático escolhido: As vivências obtidas através do contato com
mulheres profissionais do sexo possibilitaram refletir sobre os territórios e espacialidades de desigualdades de
gênero, bem como proporcionar reflexões a cerca de propostas femininas para uma vida livre de violências e o
o te toà o te po eoàdeàlutas.àO ie taç oàte i a:àáàpala aà p ostituiç o à àdefi idaà o oàaàp ti aàdeàe t ega -
se a relações sexuais por dinheiro. O termo prostituição tem origem do latim prosto, que tem em todo o sentido estar
à vista, a espera de quem chegar ou estar exposto ao público. Vale ressaltar que é indiferente do sexo das pessoas
envolvidas, classificando-se como o ato de uma pessoa que faz sexo de forma impessoal, por uma determinada
quantia de dinheiro ou troca-o por qualquer outro bem (DECS, 2014; DE FRANÇA, 2012; GASPAR, 1988 apud
OLTRAMARI; CAMARGO, 2004). Falar de sexualidade mesmo que seja nos dias atuais é polêmico e de difícil
abordagem, pois, de maneira mais ou menos intensa, a prostituição sofre restrições sendo colocada a margem da
sociedade, uma vez que contraria as regras sociais, desrespeita os limites impostos por uma sociedade conservadora
que, ao mesmo tempo em que a condena, mantem tal comportamento (GOUVEIA et al., 2010; BASSERMANN, 1968
apud SCHREINER et al., 2004; NICOLAU; AQUINO; PINHEIRO, 2008). A prática da prostituição por si só, no Brasil, não é
considerada crime. A exploração, a intermediação e indução de pessoas à prostituição é que são consideradas crimes
perante o Código Penal Brasileiro (CPB). Conforme os artigos 227 e 231 do CPB, no que diz respeito aos crimes contra
os costumes, crime é o lenocínio e o tráfico de mulheres, ou seja, a exploração da prostituição alheia. Aqui podem ser
enquadrados cafetões, rufiões e donos de casa e hotéis. Não é considerada crime quando é por vontade própria. Mas,
é considerada crime se a pessoa for induzida, convencida ou atraída por alguém a praticar ato sexual com outros;
impedir que alguém saia da prostituição, ser sustentado ou ter lucro com a prostituição de outrem ou manter casa de
prostituição são indícios de crimes. Nestes casos a pena prevista é de reclusão de 1 a 10 anos e multa (SILVA et al.,
1998 apud DUARTE; VANZ, 2008; ASSIS, 1982 apud SCHREINER et al., 2004; GOUVEIA et al., 2010; ANDRADE, 2001).
Método: Tratou-se de um relato de experiência, desenvolvido com a realização de entrevistas de campo, no ambiente
de trabalho de mulheres profissionais do sexo, de janeiro a março de 2017 na cidade de Uberlândia-MG. As
entrevistas subsidiaram a coleta de dados referentes à vulnerabilidade ao vírus HIV, perfil sociodemográfico e
econômico, qualidade e satisfação com a vida, transtorno mental comum, uso de drogas, ocorrência de violência no
contexto de trabalho e traumas na infância. Resultados: Dentre as situações vivenciadas, destaque se dá às
invisibilidades e ambiguidades referentes à prática sexual das quais são protagonistas. Para além desta constatação
percebeu-se nos discursos a percepção de vulnerabilidade do ambiente de trabalho, que por sua vez fomenta práticas
e cenários que as colocam frente a situações de violência e uso de drogas, inferindo diretamente sobre sua qualidade
de vida. A partir das vivências, constatou-se ainda a necessidade de um cuidado que possa ir além de aspectos
relacionados à vulnerabilidade ao vírus HIV. Percebeu-se ainda, que os instrumentos utilizados na pesquisa
demandaram processo de escuta, numa perspectiva de valorização da subjetividade das mulheres profissionais do
sexo, permitindo assim o diálogo sobre as inúmeras dimensões da realidade que vivenciam em seu ambiente de
trabalho. Conclusões: Conclui-se que a possibilidade de vivenciar e conhecer os cenários que o ambiente de trabalho
1400
das profissionais do sexo produz, foi capaz de proporcionar uma formação que contemple uma ampliação da
concepção sobre o reconhecimento do trabalho de profissionais do sexo, e uma vez consideradas como sujeitos da
pesquisa, pôde propiciar o rompimento de inúmeros estigmas e preconceitos ainda presentes em nossa sociedade.

Palavras-chave:
Vulnerabilidade Social. Profissional do Sexo.

1401
Eixo 03. Psicologia Social, Comunicação e Mídias: hegemonias e resistências táticas

1402
A vulnerabilidade das crianças e adolescentes no uso das redes sociais e a mediação parental
Autor:
Emanuela Araujo
Coautor:
Pedro Figueiredo (Faculdade Esuda)

Com a rápida disseminação das tecnologias da informação e comunicação, as redes sociais ocupam um papel
fundamental na vida dos jovens, mudando as formas de comunicação e interação e este vem sendo o principal motivo
de acesso à internet entre eles. É grande o número de crianças e adolescentes que possuem perfil nessas redes,
conforme apresentados por pesquisas recentes (CGI.br, 2012, 2013, 2014, 2015). Dos últimos dados apresentados
(CGI.br, 2015), conclui-se que 87% dos entrevistados com idades entre 9 e 17 anos possuem perfil em redes sociais.
Os dados demonstrados também destacam situações de risco vivenciados pelos jovens, tais como: racismo;
cyberbullying; acesso a conteúdos sexuais; atividades em grupos que incitam suicídio; homofobia; anorexia; e outras
formas de violência que violam direitos de crianças e adolescentes. Nesse cenário, a estruturação das famílias têm
passado por um processo de transformação, que estão entrelaçadas às TICs, porém também são decorrentes do
contexto atual em que vivenciamos. Spink (2004) afirma que na Modernidade Tardia a autonomia conquistada através
de movimentos sociais proporcionaram às mulheres e mães, um diferente papel na sociedade. As crianças e
adolescentes também mudaram seus lugares ao serem legitimados como sujeitos de direito. Se por um lado essa é
uma característica que proporcionou conquistas, por outro lado vivemos no contexto em que a individualização e o
isolamento estão cada vez mais presentes. Uma das dificuldades diz respeito aos cuidadores em mediar o uso dessas
tecnologias, havendo a necessidade de apropriação dessas vivências para auxiliarem seus/as filhos/as sobre
benefícios e riscos no uso das mesmas. Desta maneira, tivemos por objetivo analisar quais estratégias mães e pais
vêm utilizando para apoiar o uso dessa ferramenta por parte de seus/as filhos/as, considerando que esses dispositivos
são importantes mecanismos na produção de subjetividade na contemporaneidade. Buscando assim auxiliar os/as
jovens no momento que acontece uma exacerbação de violação de direitos, intensificada em discursos de ódio e
preconceito nas redes sociais, acreditamos que a reflexão e o apoderamento da temática, possibilita a efetivação da
autonomia desses jovens, para melhor utilização das redes sociais, em que acreditamos ser um importante espaço de
participação e emancipação. Para tal, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com seis mães e seis pais de
crianças e adolescentes residentes no Grande Recife. Este trabalho foi analisado com base na Psicologia Social
Discursiva. Trata-se de um arcabouço teórico-metodológico que, de acordo com Potter (1998), os conceitos e
discursos utilizados pelas pessoas para dar sentido ao seu mundo social não estão isoladas do contexto na qual estão
inseridas. Ao realizar análise de discursos devemos considerar conceitos como indicialidade e reflexividade, em que o
significado da palavra depende do contexto em que ela é utilizada. Os discursos produzidos nas entrevistas realizadas
com as mães e pais sobre o uso das redes sociais por seus/as filhos/as podem variar para elas ou outros cuidadores,
ao vivenciarem outras experiências, e/ou contextos sociais. Após as entrevistas demos continuidade ao processo de
transcrições das falas, seguindo da leitura minuciosa do material transcrito, e a análise propriamente dita,
categorizando alguns temas levantados pelas mães e pais. Desta maneira, dividimos a análise nas seguintes
atego ias:à Co u i aç oàeà i fo aç o ,à ueà dizà espeitoà aosà se tidosà ueà esà eà paisà at i ue à pa aà pe itirem
ueà seus/asà filhos/asà utilize à edesà so iais,à is os à ueà desta aà osà dis u sosà so eà possí eisà pe igosà i e iadosà
pelasà ia çasà eà adoles e tesà essesà a ie tesà o li e,à eà fo asà deà supe is o à ueà si alizaà asà a ati asà dasà
maneiras de supervisões realizadas por mães e pais no uso das redes sociais por seus/as filhos/as. Concluímos que
para os participantes as redes sociais são importantes mecanismos nos processos de interação social, porém ainda
relatam dificuldades do que elas consideram arriscado ou não para seus/as filhos/as e as estratégias de mediação
ocorrem de maneiras diversas e sem seguir uma orientação específica. Após nossas discussões acreditamos que esse
trabalho possa auxiliar a compreensão dos processos de interação sociais mediados pelas redes sociais e que as
reflexões sobre a temática relatadas pelas mães e pais na busca da compreensão das dificuldades que os cuidadores
enfrentam possam gerar subsídios para posteriores campanhas educativas que tenham por foco os benefícios em se
utilizar tais redes.

Palavras-chave:
redes sociais, risco, mediação parental.

1403
Gênero e espaço midiático. Como desenhos infantis são analisados na identificação e discussão de gênero.
Autor:
Isabela Masini Espíndola
Coautor:
Thaís Cardoso Beggo (UFU)

A mídia na atualidade é o principal veículo de comunicação e que perpassa por todas as esferas sociais, globalizando
conceitos e unificando valores culturais, sendo assim um objeto de estudo plurifacetado. Pensar sobre a sociedade
contemporânea sem avaliar a influência midiática, não nos dá instrumentos para compreender a constituição do
sujeito de uma maneira íntegra e é nesse âmbito que surge a possibilidade de questionar se questões subjetivas como
o gênero, transmitido via uma linguagem simbólica pela mídia, sejam de suma importância no desenvolvimento
cultural. Levantando estes questionamentos, foi abarcado a comunicação midiática como mecanismo de atuação na
compreensão do empoderamento feminino para o público infantojuvenil, delimitando como foco de análise duas
a i aç esà ueàat a essa àestasà e te tes,àse doàelasà ásàMe i asà“upe pode osas àeà á ata :àáàLe daàdeàKo a ,à
escolhidos em decorrência da facilidade de acesso pelos telespectadores por estarem na programação nas grandes
mídias da tv aberta e fechada, com influência por quase todos os países globalizados. O método de pesquisa foi uma
análise dos conteúdos tratados nas animações concomitante à uma revisão bibliográfica nas literaturas clássicas sobre
gênero em que temas como dominação simbólica, educação e sexualidade estão imersos, principalmente,
relacionando questões como o feminismo reproduzido na força e independência das personagens mulheres dos
desenhos apresentados e na quebra de padrões sociais como a composição familiar não hierárquica, vilões
travestidos, igualdade de gênero e composições homoafetivas. Cenas que marcaram a escolha dessas animações
foram os episódios que tratavam de questões críticas de gênero, como a retratação da história de Susan B. Anthony
(1820-1906) que lutou pelos direitos iguais e fim da escravidão, a força das mulheres e sua capacidade de defenderem
o mundo e a sociedade sem que dessa forma ocorra uma negligência em relação ao papel dos homens, a composição
familiar de pai solteiro como responsável principal na criação das filhas e vilões que representam pessoas injustiçadas
socialmente. Na busca de entender como se dá a aquisição da criança e do adolescente das apreensões sociais, infere-
se que a mídia exerce um papel de construção de tendências e desenvolve caráteres identificatórios que instigam
impactos na formação da personalidade dos telespectadores, considerando a força que um personagem
representativo tem na vida de uma criança e como é importante a fantasia durante essa etapa de construção
identitária, como imaginar possuir super poderes e capacidades mágicas, possibilitando recursos como a criatividade
e o raciocínio. As reflexões envolvidas decorrem da importância de reconhecer o processo de conhecimento e
identificação de gênero dos jovens telespectadores e da pedagogia cultural imersa nesse meio de comunicação
presente diariamente no desenvolvimento infantil moderno e que nos permite observar como há uma questão
explícita sobre a subjetividade de gênero no universo cinematográfico capaz de comunicar, desconstruir e organizar
estereótipos sexuais que implicam no preconceito ou reconhecimento, e que podem trazer à tona aspectos sociais
sérios a serem trabalhados com os jovens, permitindo uma discussão sobre a necessidade de um referencial durante o
desenvolvimento e o quanto desse é obtido nas manifestações culturais que perpassam à educação formal
reconhecida convencionalmente.

Palavras-chave:
Gênero; Mídia; Influencia; Infantojuvenil

1404
Representações Sociais do Nordeste e do nordestino
Autor:
Gabriela da Costa Oliveira (Gabriela)
Coautor:
Pedro Cardoso Alves (UnB)

A imagem do nordestino e da região do Nordeste é construída por estereótipos refletidos em discursos rotineiros. A
internet envolve um cenário de liberdade e anonimato tornando-se uma ferramenta para expor comentários
xenofóbicos e preconceituosos. A inclusão do ciberespaço na modernidade impacta e transforma a existência e as
formas de relação humanas, além de modificar a configuração de espaço e tempo existente. Nesse contexto, a relação
com a internet resulta em uma cibercultura transformando o cenário social a partir da interação com a tecnologia.
Propicia, também, novas formas de significação simbólicas, estimulação criativa e novos meios de comunicação, por
exemplo os memes, relações complexas de espaço virtual-real e a velocidade em que as informações são divulgadas.
Cooperação, compartilhamento e exclusão social são questões que aparecem dentro do online de diferentes formas,
o que inclui a internet como uma pauta a ser discutida sobre o direito do ser humano. Outra problemática são os
conflitos políticos e sociais, que surgem como novas formas de significar a política manifestada no ciberespaço. Esses
modelam as representações sociais das pessoas, como o Nordeste e o nordestino. As Representações sociais do
nordestino e do Nordeste englobam o conhecimento da realidade social desse contexto pelo imaginário comum
reproduzido pelos indivíduos na internet. Os estereótipos observados dessa região e do seu povo tem origens
históricas, sociais e culturais que demandam compreensões acerca da problemática resultante, possibilitando formas
de intervenção dessa complexidade. Para investigação, os meios midiáticos utilizados são: comentários, vídeos e
postagens no youtube, facebook e blogs. A imagem vulgarizada é do nordestino pobre, ignorante e sertanejo inserido
em uma região posta como inferior diante as outras regiões em relação ao desenvolvimento do país. Essas
representações sociais podem ser ancoradas ao fato da região ser marcada pela negligência do governo frente suas
demandas econômicas e sociais, levando em conta que em um contexto sócio histórico e político, o desenvolvimento
do Nordeste foi marcado pelo colonialismo e oligarquias. A mídia e a literatura também contribuem para
generalização da imagem do nordestino e sua região. Com a construção da mitologia nordestina, a literatura e a mídia
enfatizam a seca, alienação, fome e a ingenuidade de um povo. Outro estigma que a região carrega é vinculado aos
discursos construídos acerca dos resultados das eleições presidenciais de 2014, em que o Partido dos Trabalhadores
ganhou a maioria de votos do Nordeste. Tal resultado motivou comentários que generalizaram e enquadraram os
o desti osà o oàeleito esà petistas .àOut oàdis u soàpe e idoà oà o te toà i e ti oà àaàf e ue teàasso iaç oàdo
Partido dos Trabalhadores com a filiação ideológica de esquerda. O posicionamento político no país é transparecido
em terminologias direita e esquerda, em que termos repletos de valores sociais e estigmas perpassam a realidade
brasileira. Existe nos campos ideológicos outras formas de classificação que regem os comportamentos políticos. A
forma dicotômica que os polos direita e esquerda se apresentam são formas generalizadas que aparecem no discurso
cotidiano do brasileiro. A repercussão dessa divisão de posicionamento pode criar uma confusão na compreensão dos
ideais referente às pessoas que estão imersas no meio político. Essas circunstâncias dão brecha para comportamentos
anti políticos e manipulação por meios midiáticos. Isso causa um movimento cíclico de diminuição de perspectiva,
desinteresse frente a assuntos políticos e continuação dos comportamentos corruptos, fazendo com que a desordem
seja naturalizada. A relação de poder e política é o que configura esse cenário, em que o comportamento político é
voltado para interesses sociais específicos da minoria dominante. Tal choque de interesse impulsiona o conflito da
luta de classes entre opressor e oprimido, que permeia toda a complexidade em que esse tema se encontra. É
necessário que esse contexto cibernético aborde essas novas complexidades entre as relações políticas e sociais e o
ambiente online.

Palavras-chave:
RepresentaçãoSocial, Nordeste, Nordestino, Internet, Preconceito

1405
Sexualidade, Violência e Etnia na mídia: o que pensam os adolescentes de Coletivos ProJovens?
Autor:
Ana Angelina (UFTM)
Coautor:
Ailton Aragão (UFTM)
Rosimár Alves Querino (UFTM)
Ana Carolina Oliveira (UFTM)
Maria laura cantore ferro (UFTM)

Introdução. A adolescência, compreendida como uma construção social moderna, representa uma possibilidade de
emergência da subjetividade com novas referências e padrões identitários. É de se reconhecer que, para os
adolescentes, os meios de comunicação contribuem para um aprendizado sobre o estar-no-mundo, como comportar-
se e os modos de constituir-se a si mesmos. Para esse fim, a indústria cultural, enquanto tática do modo de produção
capitalista, influi na formatação da subjetividade humana com seus produtos culturais, limitando, portanto, o
desenvolvimento da crítica ao enquadrar os indivíduos nos comportamentos, valores, ideologias pré-estabelecidos
socialmente. Sob essa perspectiva, a influência midiática evidencia seu potencial de fazer produzir e favorecer a
circulação de representações sociais relativas sobre quem ou o que nós somos; o que devemos fazer com os nossos
corpos, entre outros. Também, sinaliza o poder da mídia como um dos mais importantes equipamentos sociais, no
sentido de produzir esquemas dominantes de significação e interpretação do mundo. Logo, a televisão, em especial,
participa diretamente na co-formação do adolescente, sugerindo, estimulando e delineando determinadas formas de
existência coletiva ou da relação consigo mesmo e com o outro. Contudo, o discurso maciço excluiu a possibilidade da
expressão das vozes das minorias, cria estereótipos e re-produz discursos discriminatórios e excludentes, como no
asoàdaàutilizaç oàdoàte oà deà e o ,à a ol dia ,à fa ela àde t eàout os,à e o e tesà aàg a deà ídiaà asilei a.à
Tendendo a criar estratégias de enfrentamento à massificação instituída, o ProJovem Adolescente, do Governo
Federal, gerido pelo MDS, que integra o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) busca promover a proteção social
básica, alocada nos CRAS, ao receber adolescentes de 12 a 17 anos para realização de atividades de convivência e de
fortalecimento de vínculos com a comunidade com vistas à efetivação dos direitos sociais. Objetivo. Analisar a
compreensão dos adolescentes dos Coletivos ProJovem em situação de vulnerabilidade acerca das influências dos
discursos midiáticos sobre sexualidade, etnia, violências. Buscamos assim, conforme preconiza a ementa do GT e do
Eixo Temático, estabelecer um debate das estratégias midiáticas de conservação da ordem sócio-política, no tocante
ao/à adolescente, uma vez que no interior dos equipamentos públicos de promoção de direitos, como os CRASs, esse
debate é rarefeito, posto que atinge sobremaneira a conformação de subjetividades assujeitadas. Metodologia. Trata-
se de relato de experiência proveniente das atividades de extensão universitária de discentes dos cursos de
Psicologia, Terapia Ocupacional e Educação Física, da UFTM, realizadas de 2015 a 2017 nos 8 CRAS da cidade de
Uberaba, MG. Os encontros são mediados pela apreensão das demandas dos Coletivos e, posteriormente, os temas
emergentes são trabalhados sob a forma de dinâmicas de grupo; construção de cartazes e teatros; leituras de
pequenos textos; material em multimídia, como vídeos; rodas de conversa; jogos lúdicos dentre outros. O processo de
preparação e realização das interações são documentados em caderno de campo e de documentação iconográfica, os
quais são analisados à luz da literatura estudada nos momentos de reunião com a equipe de extensão. Dentre os
temas suscitados estão: sexualidade, autoestima, violência, bullying, trabalho, família, direitos, escola, etc.
Resultados. A violência sexual sofrida pelas adolescentes transitou entre a compaixão silenciosa pelas colegas que
relataram casos de abuso, assédio ou tentativa de estupro à defesa da pena de morte do abusador; a gravidez
precoce foi expressa como um descuido das meninas, aliada à invisibilidade e precariedade dos serviços de saúde;
violências, como furtos, roubos ou entrada no tráfico de drogas, surgem como alternativa à pobreza ou para satisfazer
as necessidades de consumo de alguns/mas deles/as; a escola aparece, para muitos, como lugar de sociabilidade e
não de construção de conhecimento e prospecção do futuro; direitos são para alguns adolescentes: brancos, que
moram no centro da cidade e de escola privada, logo, fora dos CRAS; ser negro/negra é um fator restritivo para
algumas oportunidades, como o concluir os estudos ou arrumar determinados empregos. Conclusões. Ao longo das
interações com os/as adolescentes, evidenciam-se a influência da indústria cultural e da mídia nos modos de
expressar opiniões e se posicionar sob os temas do adolescer: da passividade ou mesmo concordância ao desejo de
justiça ante as ameaças; da identificação coletiva ao esforço individual para superação dos dilemas da idade, do
contexto social. Constata-se que as fontes de informações e os significados atribuídos atendem à lógica do poder
instituído, do biopoder e da biopolítica, logo, da continuidade das estruturas sociais de dominação. Por outro lado, os
1406
CRAS e sua equipe técnica enfrentam limitações estruturantes, no tocante à apreensão dos temas emergentes
dos/das adolescentes em vulnerabilidade e o debate crítico quanto ao conteúdo dos discursos midiáticos e o impacto
na alienação que dificultam a apropriação dos direitos sociais, os quais o próprio CRAS deve promover. Ressalta-se a
importância da experiência extensionista na avaliação crítica das políticas públicas mediada por conteúdos
acadêmicos, destes, a Psicologia Social, a qual favorece um olhar desafiador aos cenários instituídos e hegemônicos.

Palavras-chave:
Adolescentes Mídia Políticas públicas Psicologia

1407
Uma nova mulher (?): gênero feminino na filmografia contemporânea da Disney
Autor:
Juliana Machado Ruiz (UFTM)
Coautor:
Rafael De Tilio (UFTM)

A mídia e suas repercussões adquiriram papel fundamental na sociedade contemporânea, atuando como um sistema
de significação, intercedendo nas relações entre sociedade e sujeito através de seus discursos, sendo apontada como
aparato para discutir questões sociais, dentre elas o gênero. Sendo assim, a indústria cultural providencia inúmeras
descrições, tanto textuais como visuais, do que seria conveniente ser assumido no que tange, inclusive, à sexualidade.
Nesse sentido, gênero seria tanto um produto dessas diferentes tecnologias sociais, bem como um resultado de
práticas institucionalizadas e cotidianas, não sendo propriedade inerente aos corpos, mas sim efeito produzido nestes
e nas relações sociais dos indivíduos. A partir desse contexto, as produções cinematográficas configuram-se como um
possível dispositivo tecnológico produtor e legitimador de identidades sociais e de gênero. Nos filmes de animação
esse espaço de constituição de gênero pode ser observado nas narrativas que frequentemente atribuem as diferenças
físicas, comportamentais e psicológicas ao sexo biológico das personagens. Em consequência, constitui-se um ciclo
(re)produtor de práticas sociais que sustentam padrões considerados ideais de identificações de gênero. Diante disso,
O objetivo dessa pesquisa foi compreender os discursos (efeitos de sentidos) ligados ao gênero feminino e à
heteronormatividade (representações e práticas que organizam a sociedade pela naturalização da heterossexualidade
das relações de gênero) concernentes à filmografia contemporânea da Disney. Foram utilizados para a análise três
filmes, Valente, Frozen e Malévola, que compuseram o corpus de análise. Deste corpus foram constituídas três
categorias (Feminilidade Hegemônica, Ato Heroico, Amor Romântico) analisadas a partir da Análise do Discurso de
linha francesa. Dentre as temáticas frequentemente abordadas pelos contos de fadas evidencia-se uma constante
preocupação com o modo pelo qual as princesas são representadas. Nos filmes há discursos que tangenciam os
padrões de feminilidade constituídos historicamente. Sobre a feminilidade, observa-se uma perpetuação de
características como docilidade, submissão, compaixão e a constante vontade de atingir um ideal de beleza. Dessa
forma, as princesas, que fazem parte do imaginário de uma sociedade, representam uma forma estereotipada do que
é ser mulher. Embora em certos momentos os filmes apontaem para a recusa dos sentidos cristalizados e
heteronormativos referente ao gênero feminino, percebe-se, pelas filiações de sentidos construídos, marcas
ideológicas e de relações de poder que constituem e são constituintes dos sujeitos a despeito de suas vontades e
escolhas. Convém notar também que nos filmes o ato de heroísmo é o que possibilita o enlace final das histórias,
assim como nos contos de fada em geral. No entanto, em nenhum deles esse ato é realizado por personagens do
gênero masculino. Pode-se supor que esse inovador posicionamento das produções da Disney sugere um
questionamento de paradigmas. Ao representar (dizer) o ato heróico como pertencente ao universo feminino é
possível perfilhar um possível empoderamento do feminino. Isso permite problematizar os efeitos da
heteronormatividade, questionando a complementaridade entre os gêneros. Outro ponto enfatizado pelas animações
da Disney é a ideação do amor romântico. As concepções sobre o amor são importantes para a organização cultural e
social, pois definem o que é apropriado e desejável para e entre os indivíduos, bem como sugerem atitudes definidas
para cada um dos sexos. É possível observar nos filmes situações que problematizam o ideal de amor romântico,
questionando-se o ato de amor verdadeiro como sendo restrito entre o masculino e feminino, permitindo diferentes
interpretações e formas de amor verdadeiro como, por exemplo, o entre mulheres. Ao considerar que essas
produções partem de uma corporação que se situa em um lugar (de dizer) de destaque no processo de
mercantilização da cultura, entende-se que a extensão do seu poder institucional e ideológico atinge consideráveis
contingentes populacionais. Diante disso, ao problematizar questões e sentidos referentes às representações da
feminilidade, do ato heróico e da busca pelo ideal de amor romântico, essas produções atuam de forma a familiarizar
o público com determinados tipos de identificações que em alguns momentos questionam à lógica heteronormativa
que visa regular e normatizar instituições e subjetividades generificadas. Observa-se também que ao possibilitar o
questionamento sobre a constituição da feminilidade, certas imagens/sentidos cedem espaços a outras, corroborando
com a possível representação de uma nova mulher que se afasta das definições convencionais de feminilidade
hegemônica rigidamente circunscrita a casa, à família e à busca de completude através do amor romântico.
Considerando o momento histórico em que estão sendo produzidos, esses filmes tecem discursos que sugerem
fissuras nas matrizes hegemônicas do feminino, possibilitando questionamentos acerca da naturalização da
heterormatividade enquanto forma prioritária de configuração das relações entre e intragêneros. Todavia, ainda é
1408
evidente nestas produções a presença de efeitos de sentidos e instituições tradicionais de gênero, como o casamento,
a maternidade, o sexismo e o modelo de família patriarcal e/ou nuclear burguês. Pode-se, em suma, considerar essas
produções cinematográficas como espaços (discursivos) de tensão e contradição entre aspectos tradicionais e
inovadores do gênero e da feminilidade na contemporaneidade.

Palavras-chave:
Gênero, Cinema, Análise do Discurso

1409
Eixo 04. Insurgências ético-estético-políticas: artes, tecnologias e subjetivação

1410
Andanças do pensamento, delírios e outros modos de pesquisar
Autor:
Erica Franceschini (UFRGS)

Forjamos de Deleuze a questão que acompanha este trabalho e que Peter Pál Pelbart apresenta no livro Vertigem por
um fio: políticas da subjetividade contemporânea. A questão que trazemos diz respeito à loucura e ao pensamento, à
medida em que vem questionar se seria possível, no fundo, pensar sem enlouquecer. Perguntamo-nos também: seria
possível? Seria possível produzir uma pesquisa científica e acadêmica na qual o pensamento, de fato, esteja
engendrado? Diante desta tessitura de incertezas, nosso salto em direção ao campo acadêmico busca atrelar a
questão de Deleuze à outra que interroga, no tocante, se seria possível simplesmente ou, complexamente, pensar,
pois para este filósofo, o pensamento não é algo inato, natural e pré-existente no sujeito, mas sim uma ação até
es oà pe igosa,à deà odoà ueà ad ite-se facilmente que há perigo nos exercícios físicos extremos, mas o
pensamento também é um exercício extremo e rarefeito. Desde que se pensa, se enfrenta necessariamente uma linha
onde estão em jogo a vida e a morte, a razão e a loucura, e essa linha nos arrasta à DELEU)E,à ,àp.à .
No campo da pesquisa em Psicologia Social e Institucional, de onde falamos, poderíamos supor que nos colocamos
constantemente sob esta linha, cara a cara com este perigo, à medida em que incorporamos aos nossos estudos o
delírio. É, portanto, justamente quando o delírio adentra o campo da pesquisa, que não o tomamos mais como um
mero objeto de estudo, passivo e passível de ser descrito, mas sim como um modo de pesquisar e de ser pesquisador
– pesquisador-delirante – vindo a assumir uma postura que suplanta a noção de patologia que, nas correntes
tradicionais o revestem como pejorativo e excessivo aos padrões considerados normais. Em nosso caso, quando o
acolhemos como elemento associado ao pensamento e ao seu Fora, podemos ainda associá-lo à capacidade inventiva,
imaginativa e disruptora das figurações cotidianas que habitam nossos modelos de olhar os próprios mundos e para o
mundo. Delírio aqui, mistura-se à ficcionalização, aparece como um recurso de preenchimento dos vazios que a razão
não consegue apreender em sua linha reta, torna-se uma espécie de atravessador que traz mercadorias clandestinas
ao habitual de nossa existência, possibilita alçar voo, sem desprender os pés do chão e situa-nos entre o interstício,
onde passamos a afirmar que há uma força criadora porvir, considerando que entre a razão dita pura e a loucura, há
um corpo aberto e sensível, cindido por um bisturi prudente e menor, capaz de captar os ruídos e escrevê-los com sua
ponta afiada na superfície, levando os mais ínfimos pensares, que outrora tomavam a forma de invisíveis fantasmas,
para o outro lado.
Perguntamo-nos, pois, se ainda hoje é possível ultrapassar uma pesquisa estritamente ligada à representação e à
descrição dos resultados para compor um plano de consistência que afirme o delírio como uma fresta ou estilística
presente na composição de uma escrita científica-acadêmica. Nos arriscamos, por conseguinte, a dizer que, assim
o oà oà G upoà deà T a alhoà Na ati a,à e pe i iaà eà e dade:à e o t osà i te pestivos entre experimentações
po ti asàeàpsi ologiaàso ial àa e-se às diferentes expressões e manifestações culturais, nossa pesquisa no campo da
psicologia social, abre-se e acolhe os movimentos delirantes e suas manifestações, como uma manifestação de
infestamento ao ato de pesquisar, ou seja, o modo-delírio invade a academia. Neste contexto, utilizamos como
i te esso esà aoà t a alho,à asà o asà deà Mi helà Fou ault,à Gillesà Deleuze,à F li à Guatta ià eà oà li oà deà Ku ii hià U oà áà
g eseàdeàu à o poàdes o he ido ,àaàfim de deslocar o termo delírio, usando-o mais como uma imagem corporal que
permitiria explorar um outro lugar de enunciação à loucura para proferir enunciados inéditos que criticam a
normatividade da linguagem e da escrita de uma pesquisa em Psicologia. Viemos, deste modo, problematizar os
modos dominantes de enunciação ligados ao campo acadêmico-científico para contestar a pluralidade e a difusão dos
elementos delirantes, descolando tais elementos de uma sintomatologia patológica, enunciada ao longo da História
da Loucura, principalmente na Idade Clássica, para experimentar uma escrita que reserva em seus delírios
proliferantes, um sintoma. Percebemos e concluímos que, ao darmos este pulo metodológico, nos deparamos com
uma outra superfície de visibilidade, ao modo de reentrâncias daquilo que ainda não fora visto e que se apresenta
se p eà o oàu aà o aàdeà pe da à DIDI-HUBERMAN, 2010). Portanto, é por uma espera que o pesquisador passa
para encontrar-se com os vazios que o coloca a pensar. Passamos, então, neste trabalho, a catar vazios que pensam
um outro modo de tecer uma escrita, fazer pesquisa e de fazê-la delirar.

Palavras-chave:
pensamento; enunciação; pesquisa; delírio

1411
As Representações Subjetivas através das Tatuagens no Contexto Prisional
Autor:
Wesley Júnior da Silva (IFASC)

Entende-se a tatuagem por inserção de pigmentos de tinta, profissional ou não, de forma duradoura ou temporária,
utilizando tanto máquinas profissionais quanto amadoras, apenas agulhas comuns de costura ou objetos pontiagudos
e perfurantes capazes de deixar marcas de tintas na derme que podem expressar sentimentos, emoções ou apenas
modificar de forma estética o corpo do indivíduo. A pintura corporal independente de sua qualidade estética ganhou
importância ao longo da humanidade por definir em alguns povos um rito de passagem entre infância e idade adulta.
A forma dos traços, cores e como eram desenhados iam muito além de expressões artísticas e determinavam se o
indivíduo era uma criança, jovem ou se já era um homem ou mulher. A tatuagem é uma arte milenar, que tem
invadido as penitenciárias de todo o mundo, chamando a atenção de pesquisadores, que buscam analisar estas
imagens reproduzidas pelos presos em seus corpos. Este estudo tem como problema: Existe relação entre a tatuagem
e o comportamento criminoso? Viabilizou-se devido aos baixos custos de sua execução, no interesse do pesquisador
em ampliar os conhecimentos, principalmente no que diz respeito à forma que os reeducandos costumam se
expressar através de uma linguagem simbólica, desenhada em seus corpos. Como objetivo geral busca-se
compreender a relação existente entre as tatuagens e o comportamento criminoso dos reeducandos de um Presídio
do interior de Goiás. Específicos: investigar o contexto em que ocorreu a tatuagem se dentro ou fora do presídio; se
houve relação desta tatuagem com vivencias do mundo crime; analisar o significado das imagens tatuadas; o nível de
satisfação com a tatuagem, possíveis problemas ou benefícios por tê-la; analisar as repercussões das tatuagens nas
relações interpessoais dentro do presídio. O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa empírica, de campo,
na abordagem qualitativa e quantitativa, detalhando a representação da tatuagem no contexto prisional. A amostra
composta por 32% dos reeducandos tatuados apenados em regime fechado em um presídio do interior do estado de
Goiás, de ambos os sexos, entre 18 e 60 anos, escolhida intencionalmente, necessitando ser reeducando, possuir
tatuagens e interessar em participar da pesquisa. (19,5%) eram mulheres e (80,5%) homens. Utilizou-se uma
entrevista semi-estruturada elaborada pelos próprios pesquisadores, máquina fotográfica digital não profissional. Os
dados foram coletados dentro do presídio com anuência dos profissionais da instituição e dos participantes,
posteriormente analisados quantitativamente e qualitativamente relacionando-os a partir da entrevista. Visando
facilitar o entendimento do estudo, os reeducandos foram classificados de acordo com o número de tatuagens
apresentadas em ordem crescente. Observou-se que existe uma organização informal dentro dos presídios, gerida
pelos próprios presidiários. O próprio crime pode servir de motivos para a confecção destas marcas eternizadas ao
longo dos anos através das tatuagens. Compreende-se que existe relação entre a tatuagem e o comportamento
criminoso dos reeducandos. Elas podem possuir signos associados às suas vivencias criminais. Tatuam-se por impulso,
ociosidade, curiosidade, lembrar de datas importantes, crimes cometidos, nome de familiares, demonstração de
amor, força e poder. Quando não é possível ter material profissional, improvisam máquinas de tatuar, agulhas e
tintas. Atualmente, os reducandos tem conseguido acesso com facilidade aos materiais profissionais, bem como a
tatuadores, o que tem ampliado o número de tatuados nos presídios e dificultado a identificação das chamadas
tatuage sàdeà adeia àde idoà sàsuasà u as rústicas e mal desenhadas. As repercussões das imagens tatuadas não
interferem nas relações interpessoais dentro do presídio.

Palavras-chave:
Tatuagem. Representação corporal. Reeducandos.

1412
BRECHÓ-BRECHA: produção de subjetividade pela roupa e pela moda em grupo de escambo
Autor:
HELENA SOARES (UFRGS)
Coautor:
Ines Hennigen (UFRGS)
Jaqueline Tittoni (UFRGS)

O sistema da moda vem expandindo-se para espaços nunca antes pensados. Quando materializado no objeto-roupa, a
moda está nas vitrines, suportes midiáticos de revistas, blogues e novelas, mas também avança em modos
instantâneos de visibilidade, como na presença de araras em lojas que não são de roupas, eventos que não são de
moda. No que tange às práticas de consumo a roupa também segue em expansão; a crise da economia brasileira dos
últimos anos parece não ter afetado a aceleração dos modos como a moda presentifica-se na vida da população, pois
vem inventando-se em novos modos de consumo, como a expansão do mercado de brechós, a reinvenção de modos
de aquisição de roupas através de escambos de peças entre conhecidos e desconhecidos (com o apoio de redes
sociais da internet), e a manutenção de campanhas do agasalho para população supostamente desassistida deste
sistema.
Sob a perspectiva da psicologia social de abordagem ético-estética, o parágrafo acima situa um encontro de uma
pesquisadora com suas interrogações. O que, na existência deste sistema, produz efeitos de verdade expressos em
modos de subjetivação? Que modos de subjetivação são estes? O quanto tais efeitos diluem tentativas singulares,
mas coletivas, de produção de subjetividade? As afirmações acerca dos modos como o sistema da moda vêm
transformando-se e produzindo modos de subjetivação são frágeis, abrindo espaço para produção de narrativas que
costurem experiências de práticas do vestir.
Traçando o cenário contemporâneo do campo da moda, de quais processos históricos se implicam na produção de
modos de operar o sujeito e o desejo de acessar o consumo de roupas no chamado fast fashion, apresentamos as
condições para formulação de um grupo de escambo de roupas. O encontro do grupo, inventado e produzido por uma
das autoras, ocorre periodicamente desde janeiro de 2009 e passa a ser, em formato de relato-guia de memórias, e
em conjunto com outras ferramentas de pesquisa, o campo de investigação. Na pesquisa, interessamo-nos saber
como o projeto Brechó de Troca possibilitou experiências de produção de subjetividade pelas práticas do vestir.
Também pretendemos traçar a sua perspectiva ética e política, tecendo as possibilidades de resistência do Projeto ao
modo efêmero e desimplicado da relação sujeitos e suas roupas. Valemos-nos dos recursos citados para cartografar,
em movimento de marcha ré, as memórias; foram pinçadas quatro localizações, algumas divididas em outras tantas,
que se prestaram à discussão e abertura de conceitos. Nas duas primeiras localizações, foram levantadas questões
que apontam para a posição resistente do Projeto ao modo acelerado da moda, enquanto nas outras duas discutimos
que o espaço-tempo para a produção de subjetividade é possível inventar no Projeto, bem como a retomada da
noção de troca.
O presente artigo apresenta resultados de pesquisa de mestrado em Psicologia Social pensando que os objetos desta
disciplina inventam-se no mundo, na cultura, em expressões diversas dos sujeitos e seus coletivos. Dados produzem-
se incessantemente, mas pouco a Psicologia Social olha para: pesquisas nesse campo justificam-se neste hiato, nesta
brecha. No que tange ao recorte dos efeitos da aceleração do consumo nas práticas do vestir faltam análises críticas
que as analisem. O que parece possível é que, a partir de projetos como o do Brechó de Troca, de circulação de
roupas, possa-se situar o que na moda há de potente na contribuição para pensá-la como um vetor para produção
brechas a um ser mais singular.

Palavras-chave:
brechó subjetividade roupa prática troca

1413
Entre sentir e transformar: a potência da experiência estética na academia
Autor:
Larissa Batista da Silva (CES/JF)
Coautor:
Ana Marendino (Ces JF)
Bruna Damaceno Furtado
Lara Calais

O presente resumo traz um relato das experiências decorridas das ações da Liga Acadêmica de Psicologia Social e
Comunitária (LAÇO), do Centro de Ensino Superior de Juiz de fora - CES/JF e que tiveram como objetivo potencializar
práticas estético-políticas no contexto acadêmico. O corpo da LAÇO é constituído de eixos temáticos que se articulam
pa aàela o aç oàeàp oduç oàdasàideias,àse doàeles:àei oà g e oàeàse ualidade , elaç esà a iaisàeàdi eitosàhu a os ,à
espo teàeàte it io àeà a teàeà ultu a .àTe doà o oàp i ípioàaà efle oàeàatuaç oàf e teà sàsituaç esàdeàop ess oàeà
invisibilidade perpetradas em nossa sociedade, o presente coletivo formado por estudantes, tem como referencial a
Psicologia Sócio Histórica e pauta-se no compromisso ético e político para suas intervenções. Neste sentido, foram
realizadas ações no contexto da instituição de ensino superior, problematizando temáticas relacionadas à dimensão
de Direitos Humanos e, mais especificamente, sobre os processos que constituem situações de invisibilidade das
populações LGBTTTQI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Transgêrenos, Travestis, Queer e Intersexuais). Tais
ações foram caracterizadas pela elaboraç oà deà u à tú elà se so ialà o à te aà Todaà fo aà deà a o à ale à eà aà
construção de um mural informativo sobre o Dia Internacional da Visibilidade Trans. Ademais, visaram propor o
exercício da ampliação da sensibilidade das pessoas para a problematização e compreensão das diversas
possi ilidadesàdeàe isti à o oàsujeito,àu à uestio a e toàdoà ha adoà iste a àeàdasàho ofo ias,à o fo eà itaà
VE‘GUEI‘Oà .à ássi ,à oà p ese teà esu oà seà ela io aà o à oà Ei oà à eà seà lo alizaà oà GTà à E ologiasà Out as:à
traçados poéti os,àest ti osàeàpolíti os ,àjusta e teàpo àaposta àe à o osà odosàdeàsu jeti aç oàdaà idaàat a sàdasà
experiências estéticas. Para o desenvolvimento da atividade, reiterando a capacidade estética das ações, optou-se
pela construção através de imagens que possibilitassem clareza no que tange a distinção entre sexo, gênero,
orientação sexual, e expressão de gênero. A elaboração do mural contribui para trazer à tona reflexões sobre a
despatologização e visibilidade de tais populações, principalmente no que se refere ao âmbito acadêmico. A outra
atividade elaborada teve como objetivo explorar as experiências estéticas através da disposição de fotos, notícias e
frases cotidianas relatadas por pessoas que foram vítimas de alguma forma de preconceito, tendo durante todo o seu
percurso fitas coloridas penduradas com frases que faziam alusão às práticas sociais de discriminação e violência
simbólica. A intenção do primeiro momento do túnel era, através do impacto da visibilidade, possibilitar a reflexão de
violências cotidianas e despertar para a negligência histórica a que algumas populações são submetidas. Em sua
sequência, foi criado um espaço para que fossem registradas, por meio de materiais artísticos, a pluralidade de
fatores que exercessem potência em seus sentires, portanto, que afetassem os participantes, independente da
dimensão sensorial. Para finalizar, foi criado um espaço com fotos e cartazes que ensejavam ideais esperançosos, de
respeito, amor e empatia. Nesta etapa, a intenção se baseava no afeto e na reciprocidade como formas de
transformação da dura realidade vivenciada, ensejando assim, a criação de possíveis estratégias de enfrentamento às
violências. O percurso teve como estímulo auditivo músicas que guiavam os visitantes e auxiliavam a problematização
das cenas e, dessa forma, possibilitando uma experiência sensório motora que os imergia em um plural de percepções
e sensações. Como produto do túnel, as pessoas foram sensibilizadas e tocadas pelas reflexões que permeiam as
desigualdades e violências produzidas e vivenciadas, co-responsabilizando-se por tais discursos. Durante ambas as
experiências fora possível questionar a elaboração da violência de gênero no contexto atual, assim como iniciar a
desconstrução de tais vulnerabilidades no contexto acadêmico. Desta forma, foi possível estabelecer a relação entre
as experiências estéticas e suas contribuições para promoção da cidadania e humanização, considerando a aposta de
Rancière (2009), de que a arte gera uma fissura no sensível e faz surgir a possibilidade da ação política. Destarte, as
contribuições estéticas interferem, no nosso modo de conceber uma realidade, uma ferramenta para a
problematização que pode vir a acarretar em obras. Neste sentido, considera-se que as ações contribuíram com a
abertura de um espaço no âmbito acadêmico, espaço esse que tem potencial transformador e político de romper com
hierarquias e invisibilidades já legitimadas dêem nossa sociedade.

Palavras-chave:
Psicologia; Estética; Transformação; Arte
1414
O significado de fé para adolescentes em conflito com a lei
Autor:
Elaine Vilioni (EERP - USP)
Coautor:
Ana M P Carvalho (EERP/USP)

A espiritualidade/ religiosidade de adolescentes autores de atos infracionais tem sido abordada sob duas principais
perspectivas: como fator protetivo para o envolvimento ao crime e como fator protetivo para a saúde mental. Assim,
para compreender esta dimensão da vida sob a ótica dos próprios atores sociais, o estudo visou investigar os
significados de fé para adolescentes em conflito com a lei, norteado pelos conceitos de Mauro Amatuzzi. Trata-se de
uma pesquisa qualitativa exploratória, realizada com seis adolescentes, com idades entre 15 e 17 anos, em
cumprimento de Medida Socioeducativa, Liberdade Assistida, em uma cidade do interior do estado de São Paulo. O
estudo utilizou como método a fotografia. Inicialmente foi realizada uma oficina de fotografia, conduzida pela
pes uisado aà eà t sà ola o ado esà fot g afos,à o deà foià a o dadoà oà olha à fotog fi o à eà passadasà o ie taç esà
técnicas sobre como fotografar. Após a oficina, os adolescentes fotografaram, com o seu próprio aparelho celular,
imagens do seu cotidiano que representavam a sua Fé. Por fim, foi realizada uma entrevista individual a fim de
conhecer a história do participante, explorar suas expressões de fé e conversar sobre as imagens capturadas e os seus
respectivos significados. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo das entrevistas individuais, que
serviram de apoio para a compreensão do material fotográfico. Após repetidas leituras, a pesquisadora retirou de
cada entrevista palavras e frases, construindo categorias temáticas relacionadas ao significado de fé, nomeadas:
Proteção, Motivação, Deus onipresente, Identificação, Sentido de ligação afetiva, Referências e Símbolos, Ações e
ituais.à áà atego iaà P oteç o à seà efe eà aà o fia çaà eà segu a çaà dosà adoles e tesà e à u à se tidoà últi o ,à
principalmente relacionado a ajuda, apoio e livramento em situações que envolvem risco e vulnerabilidade. A
atego iaà Moti aç o àsuge eàasàfi alidadesàdeàseàte àf àpa aàosàadoles e tes,àouàseja,àoà ueà oti aàoàadoles e teàaà
professar fé? As motivações são ilustradas por ações e pensamentos relacionados principalmente ao projeto de vida,
aoà e f e ta e toà dasà ad e sidades,à esili iaà eà supe aç o.à áà atego iaà Deusà C iado /à O ip ese te à efe e-se a
figura paternalista de Deus, em que exerce função provedora, criadora, protetora e de vigilância e controle. A
atego iaà Ide tifi aç o àsuge eàaàide tidadeàdosàadoles e tesà o àfigu asà eligiosas,à et atadasà uitasà ezesà o oà
figu asà ueà seà asse elha à o sigoà oà seuà jeitoà deà se à eà aà suaà hist iaà deà ida.à áà atego iaà Sentido de ligação
afeti a à ep ese taà oà a seioà dosà adoles e tesà pelaà e pe i iaà deà elaç esà i te pessoais,à aseadasà e à o fia ça,à
uidadoàeàpe te i e to.àDife e teàdaà atego iaà P oteç o ,àe à ueàaàsegu a çaàest àe àu à í uloàt a s e de tal,à
nesta catego iaà aà segu a çaà à us adaà asà elaç esà o etasà otidia as.à áà Catego iaà ‘efe iasà eà “í olos à seà
refere aos personagens e objetos usados ou mencionados pelos adolescentes como expressão de fé, como o colar de
proteção chamado guia, os guias espirituais,àte ço,à í lia,ài age sàdeà sa to.àáà atego iaà áç es/àp ti asàeà ituais à
resulta de vivências e experiências de adolescentes no campo religioso, de caráter individual ou coletivo, motivadas
por suas crenças e práticas coletivas, como a leitura da bíblia, a oração de salmos ou a oração para santos e imagens
representativas, oferendas frequentemente a entidades espirituais, expondo vela, café, cigarro e pinga, participação
e à ituaisà pa aà e e e à asà e tidades à oà p p ioà o po,à e t eà out os,à ueà suge e à pedido de proteção,
desenvolvimento pessoal ou elevação do grau de pertencimento no grupo. E possível afirmar que este grupo de
adolescentes em conflito com a lei apresenta diferentes experiências e significados de fé, no entanto, todos revelam
associação primordial a projeto de vida, principalmente relacionado a conquistas de bens materiais. Dessa forma,
pode-se dizer que a fé dos adolescentes gira em torno de suas motivações pela vida e delas surgem outras
necessidades, especialmente de apoio e segurança. Para a realização de seus projetos de vida é necessário relações
interpessoais seguras/ vínculo afetivo, proteção e até onipresença divina, muitas vezes invocadas por meio de ações e
rituais ou uso de objetos e símbolos religiosos. Esse movimento do adolescente em conflito com a lei afirma a
autonomia característica dessa fase, podendo ser definida aqui como a criação de estratégias, coerente com a sua
vida, para saciar suas necessidades imediatas e realizar os seus sonhos e projetos futuros. Assim, é possível afirmar
que os resultados deste estudo vêm ao encontro da perspectiva da espiritualidade/ religiosidade como fator protetivo
da saúde mental e não relacionada a proteção para o envolvimento ao crime. A partir dos resultados, percebemos
que o instrumento fotográfico facilitou a participação dos adolescentes na pesquisa e possibilitou aos mesmos o
1415
encontro com a própria experiência, evidenciando-se como um recurso efetivo para a compreensão do significado e
mediação da narrativa.

Palavras-chave:
Adolescência fé saúde mental fotografia

1416
Os Velhos e a poesia: Cartografia de um asilo.
Autor:
Bárbara Alves Pereira (UFRJ)
Coautor:
João Batista (UFRJ)

Vive-se em um período de aumento da perspectiva de vida, aumento do envelhecimento populacional. Mesmo com a
ampliação dos idosos, o preconceito permanece latente na sociedade brasileira sendo a velhice relacionada a vários
marcadores de e lus o.àáàp opaladaà aio àe pe tati aàdeà idaàfazà o à ueàaà elhi eàsu jaà o oàu à p o le aàdeà
saúdeàpú li a .àOà ueàfaze à o àosà elhos?àCo oàpe sa àu aàso iedadeà ueàau e taàoà ú e oàdeàidososàaà adaà
dia? E no que tange os objetivos mais específicos dessa pesquisa: Como a poesia pode reconfigurar (afetar) a vida dos
velhos que moram dentro de uma instituição que, se pensarmos nas definições de Erving Goffman (2005) para asilo,
atuariam na mortificação do eu? Esta pesquisa, no entanto, não objetiva um estudo externo que trata o velho como
p o le aàaàse à esol ido ,à asàp o u aàpe sa àe à o oàosà elhosà essignificam suas próprias velhices.
A pesquisa está acompanhando as oficinas de escrita e leitura em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos
(ILPI) na Zona Norte do Rio de Janeiro. As oficinas chamam-seà o e toàes ito àeà lu eàdaàleitu a àeà adaàu aà à
o postaàpo àu aà diaàdeà àpa ti ipa tes.àOà o e toàdoàes ito àa o te eàpo à oltaàdeàu aà ezà aàse a a.à
Nesse espaço, o gerontólogo escuta as histórias de vida, eventuais problemas e pede para que os idosos escrevam
so e.à Oà lu eà daà leitu a à o o eà ta à u aà ezà aà se a a.à “ oà lidosà li osà deà es olhaà oleti a:à osà idososà
precisam chegar a um acordo de qual livro ler e discutir. Muitas vezes passam por cima da vontade individual para
chegar a um acordo que agrade ao coletivo. Nesse momento, além de socialização há uma integração com os
participantes. Em cada encontro a quantidade de leitura depende da disposição e envolvimento de todos com a
oficina. Ambas as oficinas caminham de acordo com o desejo dos idosos. Não há nada obrigatório, as atividades
lúdicas têm como objetivo alegrar e preencher a vida dos idosos dentro da instituição
O objetivo desta pesquisa é de analisar a experiência dos idosos nas oficinas literárias na instituição e interrogar se os
p o essosàdeà iaç oà o figu adosà esteà espaçoàs oà t a alhoà i o à Dejou s,à .àáàte tati aà à deà i e gi à essaà
experiência para pensar, com os inteloctore(a)s, nos múltiplos afetos e afecções que compõem ou decompõem os
sujeitos, aumentando ou diminuindo sua potência, bem como, pensar nos efeitos das oficinas literárias no processo
de subjetivação destes idosos.
Te doà e à istaà asà uest esà ap ese tadas,à oà ei oà te ti oà ela io adoà se iaà I surgências ético-estético-políticas:
a tes,à te ologiasà eà su jeti aç o ,à poisà po à eioà desseà t a alhoà o à lite atu aà o à idososà dialogoà o à apo tesà
teórico-metodológicos da Psicologia Social. Assim sendo, no contexto das oficinas, proponho pensar na arte e
literatura como formas importantes de expressão e resistência, podendo reconfigurar espaços possivelmente
mortificantes.
Utilizo como método a cartografia. O método cartográfico possibilita uma interação mais próxima com meus
interlocutores e coloca-me no centro de subjetividades, desejos, projetos, eventos. Entendo como cartografia, nos
termos propostos por Gilles Deleuze (2001), o acompanhamento de processos inventivos e de produção de
subjetividade. Tal método orienta o pesquisador e não o coloca com definições e verdades pré-estabelecidas. A
cartografia exige do pesquisador sair de encapsulamentos e das definições previamente estabelecidas.
Para a fundamentação teórica deste trabalho, utilizo autores os/as Simone de Beauvoir, Guita Debert e Daniel
Groinsman para pensar na velhice e suas filosóficas. E conto com o respaldo da Análise Institucional Francesa com
Gilles Deleuze, Félix Guatarri, Regina Benevides, Michel Foucault e Giorgio Agamben.
Essa pesquisa está vinculada ao mestrado da Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ . A pesquisa está em andamento e
apresentarei os resultados parciais. E, assim, pela pesquisa que comecei nesta ILPI, pode-se notar que ali, naquela
confabulação de desejos, o trabalho não se configura unicamente como processo de fazer coisas: é, também, viver
junto. As oficinas são momentos de encontro com o outro. Os resultados parciais apontam que a literatura e a escrita
estão possibilitando momentos de troca intersubjetiva marcadas por ressonâncias mútuas. A literatura e a arte se
apresentam como importantes nesses momentos de oficina pois possibilitam outras formas, outras experiências e
possibilidades e não somente aquelas do ser que sabe (que pode ser o psiquiatra, o psicólogo ou médico) e que atua

1417
sobre o Outro praticamente destituído de saber. A literatura e a arte trazem o inesperado nessas oficinas, apresentam
a experiência e o saber daqueles que normalmente são destituídos do saber como os idosos que estão nessa ILPI.

Palavras-chave:
Envelhecimento; asilo; poesia; cartografia

1418
Poder e tecnologia nos modos de subjetividade: uma perspectiva histórico-cultural.
Autor:
Wanderson Diego Bramé (UNIFAFIBE)
Coautor:
Ramiz Candeloro (ABRAPSO)

Discorrer sobre os modos de subjetividade humana é uma tarefa um tanto quanto complicada uma vez que são
inúmeros fatores que influenciam nessa produção. É um tema que possui variáveis incontáveis, afinal estamos falando
da diversidade humana e tudo que a envolve como tempo, cultura, sociedade, relações, emoções etc.
No entanto, pode-se dizer que no mundo ocidental, colonizado e ainda pautado no modelo euro-central, dois fatores
transcendem e sintetizam a contemporaneidade. Um deles é a tecnologia. Altamente disseminada na rotina das
pessoas, desde a mais complexa corporação multinacional, até o bolso do mais simples cidadão. Outro fator presente,
é o poder, ou melhor, as relações de poder. Foucault (2001) demonstra que o poder está intrínseco em todas as
relações humanas desde o princípio dos tempos, contudo na contemporaneidade seu exercício possui algumas
especificidades. O mundo pós moderno trouxe diversas mudanças culturais, sociais e de vida, o burguês que antes era
visto como um sujeito robusto preocupado com questões interiores, deu lugar a um indivíduo competitivo, narcísico e
concentrado nos padrões segundo a lógica capitalista de consumismo, em que tudo fica obsoleto e descartável
(MOUSNIER, 1957). Bauman (2000) leva essas discussões para o campo da sociologia, defendendo a ideia de que na
sociedade atual as relações se tornaram liquidas, incapazes de manter uma forma sólida e consolidada.
Nesse sentido, faz-se necessário que a psicóloga volte seus olhos para como os modos de subjetividade estão sendo
produzidos diante dessa realidade liquida e competitiva, em que as mudanças ocorrem antes mesmo de serem
consolidadas.
A presente pesquisa trata-se de um trabalho de conclusão de curso do curso de psicologia do Centro Universitário
Unifafibe de Bebedouro-SP e objetiva discutir e contribuir como os fatores contemporâneos, representados aqui na
discussão das relações de poder e na tecnologia, influenciam nos modos de subjetividade humana.
No que se trata ao eixo temático do evento, entende-se que o trabalho se encaixa em Insurgências ético-estético-
políticas: artes, tecnologias e subjetivação. Afinal busca relacionar a tecnologia e as relações de poder com os modos
de produção de subjetividade.
É importante ressaltar que utilizou o suporte teórico da Psicologia Histórico-Cultural, principalmente com Lev Vigotski
(1896-1934), que, em suma, compreende o ser humano como construto das mediações geradas em relações sociais
ao longo da vida em um determinado contexto histórico-social, dando, assim importância à cultura do indivíduo e às
suas relações na formação de suas funções psicológicas superiores. Ademais, buscou-se conectar com as
compreensões da Sociologia de Pierry Lévi (1956-) sobre a tecnologia e a era da informática, além de utilizar a
Filosofia de Michael Foucault (1926-1984) e seus estudos sobre as relações de poder.
A proposta é de uma pesquisa básica estratégica, visando compreender e ampliar conhecimentos voltados à relação
da tecnologia, poder e subjetividade, e ainda se preocupa com a possível aplicabilidade em problemas sociais
relacionados a influência negativa dessa relação. Além disso, será uma pesquisa exploratória, procurando ganhar
familiaridade com a relação entre o uso da tecnologia e o poder na produção de sentido e subjetividade humana. Essa
também é uma pesquisa com natureza de dados qualitativos e foi dividida em duas etapas: pesquisa bibliográfica e
análise dos dados obtidos.
A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dado online Lilacs, Scielo e BDTD, assim como em livros.
Por se tratar de um estudo ainda em andamento, a segundo etapa não foi finalizada, no entanto formulou-se algumas
hipóteses que o trabalho espera encontrar como resultados.
As Tecnologias compõe um campo bastante extenso, por isso seria impossível imaginar respostas finais sobre sua
influência na produção de subjetividade. No que diz respeito ao uso das redes sociais, área que abarca grande parte
dos usuários de tecnologia, espera-se concluir que este contribui para subjetividades cada vez mais padronizadas e
menos. Por outro lado, pode-se dizer que o meio digital dispôs um grande campo de informações, democratizando o
acesso ao conhecimento, o que possibilita a potencialização de subjetividades mais críticas, principalmente em
públicos antes inacessíveis aos conteúdos mais aprofundados. Por tanto, a tecnologia também serve como ferramenta
de libertação das desigualdades sociais.
Ao se tratar das relações de poder, levantou-se a hipótese de que a sujeição ao poder disciplinar criaria subjetividades
caladas, sem voz própria e sem representatividade em seu meio de vivência. Porém, é no exercício do poder que se
faz a resistência, por isso as relações de poder seriam uma maneira de lutar em busca da liberdade.
1419
Por fim, espera-se concluir que, diante dessa modernidade liquida e competitiva, os resultados demonstrem dados
dialéticos, percebendo consequenciais pouco saudáveis para a subjetividade humana, porém também importantes
para a resistência.

Referências Bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade liquida. Rio de Janeiro: J Z E. 2000.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal.
2001.
MOUSNIER, Roland. História geral das civilizações. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1957.

Palavras-chave:
Poder; Tecnologia; Subjetividade.

1420
Poeticagens no cotidiano de uma sala de aula: experiência Estético-Político-Ético.
Autor:
Rosana Maria Faustino (UNISO)

Este texto tem o intuito de refletir acerca do tema da minha pesquisa de Mestrado ainda em andamento. A mesma é
permeada por questões que circundam o cotidiano escolar, em específico nas minhas aulas de Língua Portuguesa no
Ensino Fundamental, em uma escola pública. Muitas inquietações surgiram a partir do uso da literatura em sala de
aula; como ela pode ser usada diariamente e quais são suas possibilidades provocadoras para discussões e
construções de novos olhares.
Quando se trata de trabalhar a poética no cotidiano escolar, pensa-se a princípio que esse é um trabalho impossível
de ser realizado, pois existem inúmeros fatores que estão presentes neste ambiente que sufocam qualquer desejo de
ir além das possibilidades impostas pelo sistema educacional, dentre eles, estão: o currículo, indisciplina, avaliações,
metas, índices, etc. Mas o que fazer ante essas imposições que engessam as práticas educativas não permitindo ir
além? Romaguera (2011, p. 138) diz que é preciso ver com olhar outro a palavra educação, dando outros significados,
retirando os excessos dos sentidos, como:
uma composição de singularidades de imagens e palavras com a educação. uma aposta na busca de sentidos que se
querem experimentações da arte, na arte, na criação de infinitos mundos, que se fazem múltiplos pelas possibilidades
de singularizar. desejo de explodir palavras. [...]
Pensando nos encontros que poderiam ser possibilitados com uma prática que fugisse da anestesia imposta pelo
sistema, de modo que, esta refletisse movimentos produtores de significados, no contexto das aulas de Língua
Portuguesa, que tem início esta pesquisa, com o objetivo de aproximar dos estudantes do 9º ano, as produções
poéticas de Emmanuel Marinho, proporcionando por meio delas, a sensibilização para a leitura e escrita, possíveis (re)
leituras de aspectos culturais presentes nos textos e também na sociedade que vivem, numa perspectiva ecologista da
edu aç o,à poisà deà a o doà o à ‘eigotaà ,à p.à :à áà edu aç oà a ie tal deve ser entendida como educação
política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e
pla et ia,àautogest oàeà ti aà asà elaç esàso iaisàeà o àaà atu eza .
O estudo tem enfoque qualitativo e está sendo desenvolvido pelo método pesquisa-e si o,à poisà efe e-se a um
princípio epistemológico condutor dos procedimentos em observação, qual seja, o conhecimento sobre o ensino se
p oduzàaàpa ti àdeàsituaç esàdeàe si o à “Oá‘E“,àáLMEIDá,à ,àp.à . Este método, tem se tornado eficiente no
desenvolvimento de pesquisas em ambientes escolares, nos quais procura observar e identificar na ação educativa, o
papel comunicativo e produtor de conhecimento. Para essa identificação precisa, contextualizar, pois, a educação
escolarizada passa por: abrir o leque das linguagens oral e escrita; acolher os múltiplos textos por elas configurados,
como os televisuais, musicais, dramáticos, fotográficos, cinematográficos, corporais; escutar as singularidades das
expressões no conjunto das multifacetadas vozes. (PENTEADO, 1997, p. 89).
A pesquisa parte das inúmeras situações de ensino possibilitadas na sala de aula. A conexão entre literatura, o
poético, político e estético se dará por meio das provocações nos textos de Emmanuel Marinho, poeta sul-mato-
grossense, que com sua poesia discute política, meio ambiente, índio, preconceito e racismo; e partindo delas,
surgiram inspirações para o cotidiano de modo a compreender melhor as possibilidades éticas, estéticas e políticas
que permeiam o ambiente escolar.
Essas provocações aconteceram por meio de intervenções em oficinas, leituras dramáticas, teatro, música, dentre
outras que possibilitem o diálogo, a criação e a escrita poética no cotidiano escolar, como forma de extrair
significados e forças em um espaço de criação coletiva proporcionado pelas oficinas no cotidiano escolar. Com elas é
possível:
Problematizar pensamentos no interstício do ver e do falar, no limite do encontro e da separação; pensamentos
fazendo problema ao tomar imagens e palavras na disjunção do ver e do falar. [...] Provocar devires-educação na/pela
criação, abrindo brechas para uma educação-invenção esvaziada de certezas [...] (ROMAGUERA & WUNDER, 2016, p.
126)

Pretende-se, portanto, com a realização desta pesquisa, proporcionar novas construções de sentidos partindo da
leitura das obras poéticas de Emmanuel Marinho, sensibilizando os estudantes e dando a eles a oportunidade de ler e
entender a sociedade da qual fazem parte, tornando-se efetivamente, cidadãos críticos e atuantes.

1421
REFERÊNCIAS
MARINHO, Emmanuel. Caixa de poemas. Dourados: Manuscrito, 2001.
PENTEADO, Heloisa Dupas. Pedagogia da Comunicação. São Paulo: Cortez, 1997.
REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. Brasiliense, São Paulo: Brasiliense, 1994.
ROMAGUERA, Alda. .e? e escrita e(m) educação. In: AMORIM, Antonio Carlos; MARQUES, Davina; DIAS, Susana
Oliveira; (Orgs). Conexões: Deleuze e Vida e Fabulação e... Petrópolis, RJ: De Petrus; Brasília, DF: CNPq/MCT;
Campinas ALB, 2011. 192p.
ROMAGUERA, Alda R. T.; WUNDER, Alik. Políticas e Poéticas do Acontecimento: do silêncio a um risco de voz. Rev.
Bras. Estud. Presença, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 124-146, jan./abr. 2016.
SOARES, Ismar de Oliveira; ALMEIDA, Benedita. Pesquisa-ensino: a comunicação escolar na formação do professor.
Revista eca, n. XVII, ano 2012.

Palavras-chave:
COTIDIANO ESCOLAR, POÉTICA, COTIDIANO ESCOLAR

1422
Poéticas em conflito com a lei: a arte como dispositivo de resistência e criação no contexto das medidas
socioeducativas
Autor:
Anne Stone (UFPel)
Coautor:
Larissa Pedra (UFPel)
Andrea Dias (UFPEL)
Fernanda Pinto Miranda (UFPEL)
Jéssica de Souza (UFPEL)
Danise Maciel (UFPel)
Édio Raniere (UFPel)

O projeto foi realizado em conjunto com um pequeno grupo de adolescentes que cumprem medida socioeducativa de
internação em um Centro de Atendimento Socioeducativo - CASE no Sul do Brasil. O trabalho foi dividido em oficinas
de máscaras, de camisetas e de escrita, propostas pelos adolescentes no primeiro encontro, ou seja, os dispositivos
utilizados foram desenvolvidos e pensados no decorrer das oficinas juntamente com os adolescentes. Trata-se de um
método, ainda em desenvolvimento, que provisoriamente temos nominado Oficina de Idéias e que consiste,
basicamente na elaboração compartilhada dos temas e disparadores a serem utilizados no processo grupal, com
alte iaàe t eàasàp opostasàdoàg upoàeàasàp opostasàdoà oo de ado .
As oficinas foram permeadas por músicas que permitiram a maior integração entre todos, o que acabou se tornando
um elemento importante para o desenvolvimento das atividades propostas. As musicas que estiveram presentes nos
momentos de descontração das oficinas também serviram no momento de luto pela perda de um dos integrantes do
grupo, morto durante uma atividade externa. Nos impactou profundamente ouvir nas vozes destes adolescentes
estes versos em uma espécie de ritornelo (DELEUZE, 1 :à Qua tasà oitesà se à do i à fi ueià efleti doà te ta doà
enxergar na vida algum sentido? Dormi sem ter vontade de acordar. Queria morrer, mas sem sentir dor, vi que não
dá. A vida passa como o vento. Perdemos a noção do tempo em vários momentos. E esquecemos de abraçar quem
ta toàa a os,à asà àt oà o à e e e àu àa açoà ua doàta toàp e isa os. à Le a çasà- Godinez).
Durante os momentos das oficinas ficaram evidentes muitas das angústias dos adolescentes diante da condição de
internação em que se encontram, das normas disciplinares a serem cumpridas e da constante avaliação de seus
comportamentos por parte da instituição, sob a promessa de que o bom comportamento leva à redução da pena.
Dessa forma, delineia-se diante dos nossos olhos uma paisagem muito semelhante àquela chamada por Foucault de
Sociedade Disciplinar (FOUCAULT, 2014), evidenciando-seà aoà pe sa osà aà fa i aç o à deà o posà d eisà ueà l à
ocorre.
áà i stituiç oà foià pla ejada,à segu doà aà psi logaà ueà t a alhaà oà se iço,à aà pa ti à daà pedagogiaà daà p ese ça ,à asà
que, segundo aquilo que conseguimos perceber neste campo de tensões, poderia ser também interpretada como
mais um olhar panóptico social. Recorremos novamente a Foucault para pensarmos este local que é
arquitetonicamente e através das práticas cotidianas construído como uma espécie de versão contemporânea do
Panóptico de Benthan (FOUCAULT, 2014). O constante olhar ao comportamento muitas vezes pareceu ofuscar as
necessidades pessoais e individuais dos adolescentes. Foram constantes os relatos de mortes de amigos próximos
devido ao envolvimento no mundo do crime, de medo pelo próprio futuro e de insegurança acerca do rótulo de
delinquentes que recebem socialmente a partir do momento em que são privados de liberdade. A falta de espaços de
escuta e acolhimento de tais demandas nos leva a pensar que as angústias dos adolescentes não parecem
devidamente respeitadas pela instituição.
Percebemos então que as forças disciplinares daquela instituição encontram-se mais fortes e severas no
contemporâneo, quando somadas aos mecanismos de controle enunciados por Deleuze (DELEUZE, 1992) como
Sociedade de Controle. Assim sendo, esses adolescentes podem ser compreendidos como um objeto de intervenção
para os quais as forças disciplinadoras e controladoras deverão tentar forjar em seus corpos o respeito às normas, a
adesão à vida socialmente aceita, a colocação forçada desses indivíduos dentro daquilo que é considerado uma vida
normal. É criticando esta lógica de intervenção e buscando novas formas de ação dentro da socioeducação que
desenvolvemos as oficinas supracitadas. Tal experiência nos parece fornecer uma paisagem ética e esteticamente
mais coerente com as demandas e a realidade que lidamos no paradigma pós-representacional.

1423
Acreditamos que nossa experiência possui agenciamentos entre a psicologia social, a arte e os processos de
subjetivação e, neste sentido, nos parece adequada a submissão da proposta ao eixo 4: Insurgências ético-estético-
políticas: artes, tecnologias e subjetivação.

Referências:
DELEUZE, G; GUATARI, F. Mil platôs – Capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2011.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Nascimento da prisão. Trad. de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2014.
DELEUZE, G. Conversações. Rio de Janeiro: Ed 34, 1992

Palavras-chave:
CASE Medidas socioeducativas Subjetivação

1424
Potências transformadoras para além do óbvio: A arte como intervenção psicossocial no contexto da saúde mental
Autor:
Rubens Espejo (Rubens Espejo)
Coautor:
Vanda Nascimento (UNIP-SP)
Meire Lis Lueders Azeredo
Rosemary Clélia Dias Santos Sk

Este trabalho se propõe a discutir a arte como dispositivo no cuidado de pessoas com transtornos mentais, no
contexto da Política Nacional de Saúde Mental. A arte contempla modalidades artísticas apresentadas como meio de
expressão das subjetividades das pessoas. Nesse contexto, a arte é entendida como uma estratégia de cuidado do
sofrimento psíquico, por meio da expressão de suas angústias, da percepção de si mesmo e do outro. A presente
pesquisa, no curso de Psicologia, teve por objetivo conhecer como a prática da arte se constitui como intervenção
psicossocial no tratamento de pessoas com transtornos mentais. Para tal foram entrevistadas quatro profissionais,
uma psicopedagoga e três oficineiras, atuantes no campo da saúde mental, em Centros de Atenção Psicossocial
Infantil (CAPSi), na cidade de São Paulo. Foi realizada análise das práticas discursivas, com foco no discurso sobre as
práticas profissionais no tratamento de pessoas com transtorno mental, com base no referencial teórico-
metodológico do construcionismo social. A arte apresentou-se como possibilidade estratégica de intervenção
proporcionadora de melhoras significativas na vida dos pacientes com sofrimento mental. Foi assuntível a presença
dos saberes positivistas da medicina e da administração como potentes forças de interferências negativas na interface
entre arte e saúde mental. Queixas de falta de sinergia entre os dispositivos internos, falta de legitimação do trabalho
dasà ofi i ei as.à Tal ezà he a çaà deà u à odoà deà t ata ,à poisà pade e à deà sof i e toà psí ui o,à te à algu à des io à
comportamental e ser diagnosticado como louco era um terrível destino. No Brasil, antes da reforma psiquiátrica e
das conquistas da Luta Antimanicomial ser louco era uma sentença de morte ou de exílio da humanidade. A
desesperança, os óbitos e uma série de violações dos direitos humanos ocorriam às vistas dos jalecos brancos. O
jaleco branco era uma capa protetora, de densa malha, robusta e quase impermeável que separava a razão da
loucura. Porém, a densa malha que encobria um fazer científico cruel começou a se esgarçar. Seria necessário um
novo tecido, uma nova roupa para lidar com a loucura do louco e a razão dos médicos. Adentrar no mundo da arte e
saúde mental possibilitou observar novas formas de comunicação. Nós que estamos acostumados à ditadura do
sentido, da razão e, principalmente, do significado estrito que as palavras têm, obtivemos a possibilidade de ver que o
significado se relaciona com as palavras, mas não está dentro delas. Entendemos que as diversas modalidades
artísticas - musicoterapia, artes cênicas e plásticas podem ser usadas conforme as necessidades das pessoas com
sofrimento mental e podem ser complementares e, o melhor, não há contra indicações, tampouco há reações
iatrogênicas. A arte não é solução mágica para cura; é uma das intervenções possíveis que, aliada aos medicamentos,
mitiga os sintomas dos transtornos de pacientes com sofrimento mental.
Consideramos que este trabalho vem em tempo certo; vivenciamos um grave atravessamento de forças atávicas que
ressurgem em nossa República, não desejamos retrocessos. Falar em forças é trazer o poder em pauta, sustentar,
divulgar e ampliar a arte como parte constitutiva nas políticas públicas foi com o que este trabalho tentou contribuir,
ou seja, dar-lhe mais visibilidade. Esperamos facilitar o visto de permanência da arte como real possibilitadora de vida
social, de ruptura com a lógica manicomial de exclusão. Nosso posicionamento é político, é antimanicomial, é por uma
sociedade sem manicômios.
Entendemos que este trabalho vai ao encontro desta hospitalidade artística proposta para este GT, aceitamos de
antemão o convite de vivenciar a arte como potência acolhedora e transformadora da vida e das relações. A pesquisa
est ài i adaà o àt sàg a desàei os,àaàsa e :àpolíti asàpú li as,àa teàeà uidadoà o oàosà Out os ,àpo àu àluga àdeà
cuidado para além do óbvio.

Palavras-chave:
Arte; Saúde Mental; Políticas Públicas.

1425
Eixo 05. Psicologia Social, processos de trabalho em contextos neoliberais e possibilidades de
enfrentamento

1426
A Individualidade Humana na Sociabilidade Capitalista: uma analise centrada em O Capital de Karl Marx
Autor:
Luana da Silva Dias (UNIV. Estadual Vale do Acaraú)
Coautor:
Betania Moreira de Moraes (UNIV. Estadual Vale do Acaraú)

Na presente pesquisa, empreendemos sistemática análise em torno da obra última de Karl Marx, O Capital, nos três
livros que o compõe, tendo por objetivo determinar, a partir do texto do pensador alemão, os fundamentos onto-
históricos e o processo de individuação na sociabilidade capitalista. A discussão justifica o eixo temático escolhido,
haja vista que toma por fundamento teórico-prático que as formas de sociabilidade e individualidade se originam e
são determinadas pelo trabalho, categoria fundante do ser social, fazendo com que os indivíduos e suas relações
humanas se efetivem em decorrência deste e se modifiquem em conformidade a ele na busca do devir humano. A
pesquisa, ancorada no materialismo histórico-dialético, de caráter teórico-bibliográfico, investigou os livros Primeiro,
tomos I e II; livro Segundo; e livro Terceiro, tomos I e II de O Capital, rastreando em cada um deles suas
especificidades e vieses ao tratar da individualidade humana. No Livro I, sobre o processo de produção do capital,
destaca-se a relação entre aparência e essência no modo de produção capitalista que Marx elucida, demonstrando os
verdadeiros mecanismos do sistema que maquinam o esbulho social, o qual nega, ao mesmo tempo, ao capitalista e
ao trabalhador sua essência humano-genérica. Também trata do complexo categorial da individualidade em seus
lineamentos gerais, bem como, discute o traçado analítico dos nódulos categoriais elencados, os quais expressam de
forma mais desenvolvida o estatuto onto-histórico conferido por Marx à individualidade, bem como o processo de
individuação sob o capital. No Livro II, o qual discute o processo de circulação do capital, extraímos ao analisar as
relações existentes entre trabalhador e capitalista, vendedor e consumidor de força de trabalho, como ocorre a
negação dessa individualidade pelo e no mercado de força de trabalho, transformando fundamentalmente o
trabalhador em mero elemento do capital circulante, numa existência desprovida das prerrogativas essenciais à sua
constituição como pessoa humana ao mesmo tempo singular e universal. Por fim, na leitura imanente do Livro III, o
qual trata do processo global de produção capitalista, marcando, na obra, o término dos apontamentos e perspectivas
históricas delineados por Marx, depreende-se tanto literalmente quanto na sutileza das entrelinhas que as condições
e contradições aviltantes típicas de outras fases do modo de produção capitalista se fazem imperativas no
metabolismo de reprodução global do capital. Reafirma a condição do indivíduo que é diminuído nas suas
potencialidades/particularidades humanas e elevado a simples personificações econômicas, na figura do capitalista e
do trabalhador, em benefício do fluxo do capital global, entretanto, elucida que este mesmo indivíduo/trabalhador,
vitima do fluxo de (re)produção destrutiva do sistema, é sujeito criador das condições emancipatórias necessárias à
efetivação do reino da liberdade. Nesse sentido, ao contrário das alegativas de seus críticos, advoga-se que Marx
revoluciona o modo de pensar a questão do indivíduo. Em virtude do que foi dissertado, conclui-se que Marx, na
inteireza do Capital, trata nas linhas e entrelinhas do texto de seus três livros, sobre a individualidade humana e de
como ela é negada, bem como das razões que a negam e de como delas podem os indivíduos se tornarem livres e
universais, construindo no decorrer do escrito as bases para uma teoria da individualidade que coube a este estudo,
(des)pretensiosamente, interpretar e compilar.

Palavras-chave:
Individualidade Humana. Marx. O Capital.

1427
A velhice em meio à sociedade de produção: de qual modo ser?
Autor:
Lidiane Gonçalves

Envelhecer é só mais um marco que alguns atingem após o decorrer dos anos. O corpo que estava em constante
metamorfose parece atingir uma ruptura, deixando algumas evidentes limitações físicas. A velhice tem um sentido no
nosso tempo e sua pré-compreensão vem cerrada de vários conceitos muitas vezes tida como lógica. Assim, a
experiência deste relato ocorreu numa instituição asilar com o objetivo de compreender como a velhice é vivenciada
na fundação conhecida como asilo e de qual modo esta (velhice) se articula no nosso tempo da produção. Como a
experiência aconteceu numa instituição, logo de forma mais restrita e nítida as regras, a análise nesse ambiente é
essencial para o debate, pois buscará compreender de que maneira as normas acontecem, uma vez que os cuidados
se dão por uma equipe técnica e assistencial, tendo também uma forte presença religiosa. O referencial teórico foi
guiado pela fenomenologia existencial do filósofo alemão Martin Heidegger que trata em sua obra justamente a
uest oàdoà “e àeàTe po .àáàe pe i iaàdaà elhi e,àseàto aàe ide teàat a sàdasà a asà oà o po,àoà o i e to,àaà
força, os conceitos, as limitações, que aos poucos, aparecem assumir outro lugar, que por um longo período foi
mantido como inválido. A idade avançada parece sinalizar o prejuízo de uma grande fábrica que a qualquer momento
pode vir à falência. Esta visão de produção não é nova e tem sido naturalizada há décadas. O trabalho ao tornar o
humano digno, também o coisifica . É produzindo algo que o humano se caracteriza de valor e utilidade. Este modo de
ser nunca se fez tão gritante no nosso tempo e não é por mero acaso que os idosos eram vistos também como nulos.
Todos aqueles que por alguma limitação não pudessem contribuir com a produção, sejam pessoas idosas, em
sofrimento existencial, andarilhos,... eram qualificados como incapaz. Este termo mutilou e continua ferindo de forma
adi alà a uelesà ueà oà ate de à deà algu aà fo aà aà de a daà daà efi i ia.à E à ú e osà asos,à osà i lidos à
tornam-se objetos de estudos das ciências que buscam em muitos momentos pelo discurso patológico compreender
estas pessoas não-produtivas. Problematizando hora o psiquismo, fatores externos, infância, cultura e/ou política.
Estas pesquisas não estão ne à aàt ueàdoà e toàouàe ado,à asà osà ost a à o oàaàp oduç oàai daà à pa oàdeà
fu do ,àai daà ueàdespe e ido.àO a,à ualà àoà ealàp o le aàdeàesta à essaà ti aàdeàp oduç o?àOusa iaàdeài ediatoà
arriscar: a generalização. Ou como próprio Heidegger expõe: a impessoalidade. Quando se coloca todo o modo de se
o po ta à o oàu à fi àpa a àeàpad o iza doàosà odosàdeàagi ,à a a te iza doàtodosà o oàpassí eisàdeàp e is oàeà
objetivando qualquer ação, nada mais é feito do que enfatizar o impessoal, a generalização. Ou seja, se discute o
comportamento humano como se todos tivessem a priori um modo previsível de atuação. Por exemplo, a própria
elaç oàafeti a.àOàdis u soà iol gi oàdizà ueàat àdete i adaàidadeàeàa alia doàaspe tosà so iais ,àoà o poà oàte à
mais o mesmo desempenho e/ou não tem mais condições de praticar algumas atividades. Como por exemplo, o tabu
que cerca a questão da relação sexual em todas as fases humanas. Mas, ao mesmo tempo, o sexo é visto como via
pa aà ep oduç oà daà esp ieà eà a eit el à aoà afi mar-se como uma questão de saúde (produção do bem estar), se
mantida dentro dos padrões. Entre outros discursos que alimentam a produção, seja na relação afetiva, na estética,
oà eto oàasà pe ue asàati idadesàla o ais àeàet ,àaà elhi eàe o t aàai daàu a ruptura na vida como trabalhadores,
aceitando ou não a aposentadoria, rejeitando a ausência das tarefas que eram comuns, lidando muitas vezes com os
novos desafios e cuidados com o corpo. As regras na instituição desta experiência implicam questões comuns de
autonomia, pois ainda que o idoso esteja lúcido, a ideia de ir e vir, a administração da própria aposentadoria e a
religiosidade é posta como algo a seguir sem questionamento. Neste caso, a produção não se limite apenas aos
discursos mundanos de fornece à saúde ,à e àesta àeà se àútilàpa a ,à àta àu à ueàsedi e toàdoàte poàdeà
pe a iaàdoàidosoà aà asa.àPoisàoàp p ioàidosoà àoàali e eàdaài stituiç o,à e à es oà oà elho à pode àpa a àdeà
realizar. Mas uma produção que atenda os pré-conceitos. Assim, a instituição pode contribuir reforçando estes
discursos convenientes e comuns da impessoalidade, assegurando que uma rotina seja estabelecida a partir dessa
visão de cuidado. Contudo, se for possível concluir, esta experiência nos mostra a necessidade de se pensar na
autonomia das pessoas que vivenciam a velhice numa instituição asilar, os cuidados possíveis e a superação dos
dis u sosà ueà dita à deà u aà fo aà ouà out a,à o oà i e ia à aà elhi e,à eutiliza doà oà elho à eà su atea doà oà seuà
cotidiano, seus afetos e o modo de se relacionar consigo como artefato.

Palavras-chave:
Produção; Velhice; Instituição; Autonomia; Sociedade

1428
A vulnerabilidade do estresse no trabalho em um grupo de bombeiros na cidade de Uberlândia-MG
Autor:
Andressa Rodrigues Junqueira (Unitri)
Anna Flávia Alves Faria (UNITRI)
Coautor:
jessica carvalho costa (Unitri)
Naiara Aparecida Oliveira (UNITRI)
Graziele silva Dutra (Unitri)

A particularidade desse estudo incorpora como elemento de discussão uma profissão que por si só já carrega
elementos estressantes em seu cotidiano, além de uma hierarquia militar que não deixa de exercer uma pressão
significativa em seu pelotão: os bombeiros. Tais características, próprias das relações de trabalho do bombeiro militar
o duziuà aoà i te esseà peloà te aà eà pelaà es olhaà doà ei oà Psi ologia,à so iaisà p o essosà deà t a alhoà e à o te tosà
eoli e aisàeàpossi ilidadesàdeàe f e ta e to
Essa pesquisa transversal, descritiva e quantitativa objetivou avaliar a vulnerabilidade de estresse no trabalho em um
grupo de bombeiros de Uberlândia, Minas Gerais. Neste sentido, investigou-se o quanto as circunstâncias do
cotidiano do trabalho influenciam a conduta das pessoas, a ponto de caracterizar certa fragilidade, uma vez que o
estresse ocupacional é compreendido como uma relação que se estabelece entre a pessoa, seu ambiente e as
circunstâncias às quais está submetido, o que, contextualmente, promove vulnerabilidade, definida como condição ou
processo resultante de fatores físicos, sociais, econômicos e ambientais.
O estudo tem o propósito de contribuir para o conhecimento das possíveis causas geradoras de fatores estressores
que venham a prejudicar o desempenho e os relacionamentos interpessoais dos Bombeiros emergenciais; poderá
também fundamentar programas de qualidade de vida e promoção à saúde ao proporcionar ao indivíduo maior
resistência ao estresse, maior estabilidade emocional, maior motivação, maior eficiência no trabalho, melhor
autoestima e relacionamentos interpessoais saudáveis.
Foram utilizados neste estudo dois instrumentos: Questionário sociodemográfico e a Escala de Vulnerabilidade ao
Estresse no Trabalho-EVENT. Os participantes da pesquisa foram trinta bombeiros combatentes, dos quais 26 são
homens e quatro mulheres, com idade média de 31, 9 anos e com o tempo de experiência na corporação de 9,2 anos.
A maioria dos participantes afirmou que o número de ocorrências por dia é de 20 a 30 e que vivenciaram riscos no
trabalho mais de uma vez.
Com relação à vulnerabilidade de estresse no trabalho os resultados indicaram que, com relação ao estresse geral, os
bombeiros combatentes apresentam média superior, uma vez que convivem cotidianamente com risco, acidentes e
mortes. O EVENT é composto por três categorias de fatores, sendo o Fator 1, denominado de Clima e Funcionamento
Organizacional, Fator 2, denominado de Pressão no Trabalho; Fator 3, denominado de Infraestrutura e Rotina.
Os fatores de estresse correlacionaram-se mutuamente de modo significativo, entretanto, somente foi significativo a
correlação entre idade e o indicativo de estresse do fator 3- de Infraestrutura e Rotina, o que indica que bombeiros
mais jovens tendem a apresentar maior estresse. Os níveis de estresse diferiram entre casados e solteiros em todos os
fatores de estresse, sendo, em todos os casos, significativamente maiores em bombeiros casados. Além disto, os
níveis de estresse do fator 1- Clima e Funcionamento Organizacional foram significativamente maiores em
entrevistados que realizam trabalhos domésticos quando comparados àqueles que não realizam este tipo de
atividade em horários livres.
Os resultados encontrados na pesquisa, levam-nos a considerar que a vulnerabilidade, que poderá acarretar estresse
ocupacional agrava-se quando há, por parte do indivíduo, a percepção de se ter responsabilidades e, ao mesmo
tempo, ter poucas possibilidades de autonomia e controle. Pesquisas que envolvem o tema estresse são recentes,
considerando que é uma problemática atual que vem se agravando a cada ano, conforme ocorrem mudanças sociais,
como a evolução da tecnologia.

Resultados:
Tabela 01 - Média Percentil e Classificação para o Clima e Funcionamento Organizacional
Tabela Resultado Fator 1 – Grupo Profissional 4
Núm. Participantes Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
30 0 20 13,13 4,329
Classificação Geral: Médio Inferior
1429
Fonte: Aline Batista, Anna Flávia Alves, Andressa Rodrigues, Daniele Cristina, Graziele Dutra, Larissa Freitas, Jessica
Carvalho, Naiara Domingos.

Tabela 02 - Média, percentil e classificação para a Pressão no Trabalho


Tabela Resultado Fator 2 – Grupo Profissional 4
Nº de Participantes Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
30 5 26 15,6 4,854
Classificação Geral: Médio
Fonte: Aline Batista, Anna Flávia Alves, Andressa Rodrigues, Daniele Cristina, Graziele Dutra, Larissa Freitas, Jessica
Carvalho, Naiara Domingos.

Tabela 03 - Média, percentil e classificação para a Infraestrutura e Rotina.


Tabela Resultado Fator 3 – Grupo Profissional 4
Nº de Participantes Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
30 2 15 9,76 2,812
Classificação Geral: Superior
Fonte: Aline Batista, Anna Flávia Alves, Andressa Rodrigues, Daniele Cristina, Graziele Dutra, Larissa Freitas, Jessica
Carvalho, Naiara Domingos.

Tabela 04 - Estresse Geral.


Tabela Resultado Geral – Grupo Profissional 4
Nº de Participantes Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
30 11 55 38,16 9,781
Classificação Geral: Médio Superior
Fonte: Aline Batista, Anna Flávia Alves, Andressa Rodrigues, Daniele Cristina, Graziele Dutra, Larissa Freitas, Jessica
Carvalho, Naiara Domingos.

Conclusões:
Na busca constante da excelência no trabalho, consideramos a necessidade de outras pesquisas sobre a temática, que
possibilitem criar novas formas de avaliação e propostas de intervenção voltadas para que o profissional consiga
minimizar ou controlar o estresse laboral.

Palavras-chave:
Estresse, Psicologia Organizacional, EVENT, Bombeiros.

1430
Adoeci no trabalho: identidade do trabalhador contemporâneo
Autor:
Bárbarah Victória Gomides (Universidade Federal de Goiás)

O presente resumo é resultado final de pesquisas e levantamentos bibliográficos realizados na disciplina de Psicologia
do Trabalho, ministrada pelo Professor Dr. Maurício Campos, para alunos do curso de Psicologia da Universidade
Federal de Goiás – Regional Catalão. O objetivo desse trabalho é de ponderar articulações teóricas possíveis entre os
conceitos trabalho e identidade, considerando o panorama social contemporâneo. Buscando compreender o
adoecimento do sujeito perante a correria e exigência do mercado que recai sob o trabalhador da atualidade. Os
métodos utilizados foram levantamentos bibliográficos de textos, filmes e depoimentos à cerca do tema, autores
como Coutinho, Krawulski e Soares (2007), Antunes e Alves (2004), Ciampa (1987/2005) e Paulino-Pereira (2014)
esti e a à asàdis uss es,àju ta e teà o àoàfil eà DoisàDias,àU aàNoite àdosàdi eto esàJea àPie eàeàLu àDa de eàeà
po àúlti o,àoà o toà OàEspelho àdoàes ito àMa hadoàdeàássis.à“a e-se que o trabalho desempenha um importante
papel na constituição subjetiva das pessoas, por meio dele ocorre à inserção social e ainda a determinação das
relações com o outro. Segundo ANTUNES e ALVES, a classe trabalhadora se compõe por todos que vivem da venda de
sua força de trabalho, este se institui como o lugar onde se constrói afetos. É no trabalho que nos identificamos, ao se
identificar, o sujeito cria uma forma de relação com outro e com o mundo. O trabalho é um agente fundamental na
própria construção do sujeito, e nos, atribuímos a identidade às pessoas a partir do trabalho que elas exercem. A
articulação entre identidade e trabalho vem de um histórico que atribui ao papel social grande importância na
composição da identidade, logo, a noção de identidade estática, individual e permanente vem sendo questionada por
teóricos contemporâneos, que defendem a identidade como um processo dinâmico, fruto de acontecimentos sociais
e de interiorização das relações e experiências com o outro e com a sociedade. A identidade de um sujeito é
construída tanto de características individuais quanto sociais, as mudanças sociais acarretam mudanças identitária, a
identidade também é fruto da percepção que os outros têm de nós. Porém, muita das vezes nossa identidade é
deixada de lado para considerar apenas o aspecto profissional, como apontam as autoras Coutinho, Krawulski e
Soares (2007), se focalizarmos primordialmente no aspecto ocupacional do sujeito tem-se uma identidade definida
ape asàpelaà apa idadeàdeàt a alhoàdoàsujeito,àga a ti doàe t oà ue,à ...àse à o àt a alhado àsig ifi aàta àse à
o àpai,à o à a ido,à o àfilho...àe fi ,àu à o àho e ... à Costa, 1989, apud Coutinho, M.C.; Krawulski, E. Soares,
2007). Visão que foi ultrapassada, pois a identidade é metamorfose, é a história de vida do sujeito. As relações com o
trabalho, muita das vezes, podem agravar ou contribuir para instalação de quadros psicopatológicos, em especial no
mundo contemporâneo, no qual as relações estão cada vez mais voltadas para o capital, visando o lucro, esquecendo-
se do humano que ali se encontra, robotizando os trabalhadores para que assim possam produzir cada vez mais. O
Capital atual exige tanto do sujeito a ponto dele ser apenas o que produz, capturando sua subjetividade, ou seja,
ocasionando a anulação do sujeito. O alienado, neste sentido, é aquele que se cala, outrora aquele que luta por seus
direitos e busca por formas mais justas e dignas de trabalho é o que talvez não adoeça e por mais difícil que seja é o
que consegue melhores condições. A fragmentação da classe trabalhadora dificulta a organização do trabalhador em
movimentos sociais, que são muito importantes, pois, são movimentos sociais que ampliam o espaço de decisões da
sociedade civil e lutam pelo interesse público. O trabalho faz parte da identidade das pessoas, sendo assim, os seus
afetos também estão envolvidos neste contexto, pois ele constrói relações e quando isto é prejudicado, o sujeito
também pode estar propenso a adoecer. Não deve culpabilizar o indivíduo pelo seu adoecimento, pois enquadrá-lo
em um quadro psicopatológico acaba não considerando os contextos sociais e históricos envolvidos, dessa forma,
cabe ao profissional de psicologia buscar um posicionamento ético na solução do problema, considerando que
existem amplos motivos pelos quais levam o sujeito a adoecer.

Palavras-chave:
Trabalho, identidade, adoecimento, contemporâneo, capitalismo.

1431
Aspectos do processo de trabalho em saúde mental com trabalhadores de CAPS
Autor:
Celeide Barcelos (UFU)
Coautor:
Lucianne Menezes (UFU)

INTRODUÇÃO: Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são estabelecimentos de saúde que assumiram uma posição
central na reorganização dos serviços de atenção em saúde mental no bojo da Reforma Psiquiátrica. O cotidiano de
trabalho nestes serviços envolve atividades com pessoas em sofrimento psíquico moderado a grave, usuários de
álcool e outras drogas, moradores de rua e o cuidado com famílias envolvidas. Em sua maioria, os usuários expressam
reações imprevisíveis que exigem dos profissionais ações imediatas, constante vigilância e atenção redobrada,
devendo evitar agressões físicas entre eles, ou aos trabalhadores e a si mesmo. Trabalhar com pessoas em sofrimento
mental, com vínculos sociais frágeis e com histórias de vida complexas despertam no trabalhador de saúde mental
sentimentos de medo, apreensão, impotência e angústia. Este contexto expõe os trabalhadores e trabalhadoras ao
enfrentamento de novos desafios para os quais nem sempre estão capacitados, podendo ocasionar adoecimento,
diminuição do ritmo de trabalho, comprometimento nas relações interpessoais com a equipe (colegas e chefia) e com
os usuários do serviço. A complexidade deste quadro gerou interesses de investigação.
O presente trabalho traz os resultados parciais da pesquisa em desenvolvimento, no Mestrado Profissional em Saúde
Ambiental e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Uberlândia-MG, desde 2016. Nossa hipótese é que a
dinâmica do trabalho no CAPS, associada às novas relações entre trabalhadores e usuários, influenciaria no processo
saúde-doença destes trabalhadores, podendo gerar sofrimento patogênico. Este trabalho busca embasamento teórico
na interface da saúde do trabalhador com a Psicodinâmica do Trabalho, de Christophe Dejours. No âmbito da saúde
do trabalhador, o trabalho é compreendido como um componente do processo saúde-doença, sendo um fenômeno
coletivo e social. Tal compreensão alinha-se a Psicodinâmica do Trabalho, pois estuda tanto a influência da
organização, do ambiente e do processo de trabalho sobre a saúde do trabalhador, quanto os sistemas defensivos
desenvolvidos coletivamente para a proteção da saúde mental. Nesse sentido, este trabalho se insere no Eixo:
Psi ologiaà“o ial,àp o essosàdeàt a alhoàe à o te tosà eoli e aisàeàpossi ilidadesàdeàe f e ta e to ,àassi à o o
oàGT:à Psi ologiaà“o ialàdoàT a alho:àolha esà íti osàso eàoàt a alhoàeàosàp o essosào ga izati os ,àte doàe à istaàaà
discussão das configurações atuais do mundo do trabalho no neoliberalismo mundializado e as consequências do
modelo contemporâneio de produção sobre os modos de subjetivação e o processo saúde-doença.
OBJETIVO: Objetivo Geral: estudar o processo de trabalho em saúde mental em um CAPS de Uberlândia-MG.
Objetivos específicos: 1) Delinear o ambiente e as condições de trabalho no CAPS; 2) Analisar a organização do
processo produtivo dos trabalhadores do CAPS; 3) Investigar possíveis aspectos que influenciam o processo saúde-
doença dos trabalhadores do CAPS.
METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa exploratória de base qualitativa, em que o material selecionado para o
estudo será submetido à análise de conteúdo temática de Laurence Bardin e adaptada por Maria Cecília de Souza
Minayo. Posteriormente os dados serão remetidos a categoria teórica de sofrimento psíquico de Christophe Dejours.
A pesquisa será realizada com trabalhadores de um CAPS. Os procedimentos de trabalho se dividem em quatro
etapas: atualização do material bibliográfico referente ao tema, observações-participativas no ambiente de trabalho,
entrevistas individuais semiestruturadas e análise dos dados.
RESULTADOS PARCIAIS: Até o momento foi realizada uma atualização do material bibliográfico referente ao tema,
assim como as observações-participativas, análise de teses, dissertações, livros e artigos, o que possibilitou selecionar
parte do material a ser analisado como: 1) reflexões sobre a conceituação de trabalho, seu desenvolvimento ao longo
da história e da saúde do trabalhador, procurando discutir sobre a saúde do trabalhador que atua no campo da saúde
mental. 2) problematizar a percepção entre o normal e o patológico, passando pela construção da loucura como fator
de exclusão social e na configuração da atenção a essa população por meio dos manicômios até a reforma psiquiátrica
e seus desdobramentos sobre a configuração atual dos serviços de atenção em saúde mental, para recortar o objeto
de nossa pesquisa. 3) Trazer alguns conceitos da Psicodinâmica do Trabalho para as articulações da pesquisa como o
seu desenvolvimento, as noções de sofrimento e prazer no trabalho e a influência da organização do trabalho sobre a
saúde do trabalhador. As demais etapas não foram concluídas em função da espera da aprovação pelo comitê de
ética.
CONCLUSÕES: Como a pesquisa está em desenvolvimento, ainda não temos conclusões, porém espera-se
compreender a organização do processo produtivo dos trabalhadores dos CAPS e os possíveis aspectos que possam
1432
influenciar a saúde deles. Com o apoio do referencial teórico, espera-se discutir as diferenças entre o trabalho
prescrito no âmbito da reforma psiquiátrica e o trabalho real praticado pelos trabalhadores do CAPS. Partindo dessa
diferença, espera-se compreender de que forma o trabalhador reage a essa conjuntura, se pelo sofrimento patológico
ou criativo.

Palavras-chave:
Saúde do Trabalhador; Saúde Mental

1433
Assédio moral acidentário: a dupla perversidade do mal como causa e consequência de adoecimento no trabalho
Autor:
Otávio Barros (UNESP)
Coautor:
Dionísia (UNESP Botucatu)

O assédio moral pode ser reconhecido apenas pelas condutas abusivas e vexatórias reiteradamente praticadas no
trabalho. As consequências para a saúde do trabalhador não são consideradas características necessárias para o
reconhecimento do fenômeno.
A compreensão de que o assédio moral no trabalho não decorre de relações interpessoais, mas está relacionado à
forma de organização produtiva trata-se de uma evolução necessária da temática. Afasta-se a vitimização e supera-se
a tese de que o simples afastamento do agressor daquela relação seria suficiente para resolver o conflito.
Ocorre que o assédio moral tem se intensificado e ocasionado graves impactos na saúde do trabalhador. É preciso,
portanto, para uma melhor compreensão e fortalecimento do debate, enfatizar as sérias consequências que essa
violência moral causa à saúde do trabalhador.
Demonstrar que o adoecimento decorre de condutas abusivas e vexatórias sofridas no trabalho é fundamental para a
comprovação de que o tema merece nova e específica abordagem, para abrir alerta à sociedade sobre os malefícios
gerados e evitar percepções equivocadas e indesejáveis do fenômeno como a banalização e a vitimização.
O assédio moral, portanto, deve ser analisado como um problema de saúde pública.
A partir da problemática contemporânea da precarização das novas relações de trabalho, este estudo tem como
objetivo compreender o significado de assédio moral e analisar sua relação com a saúde a partir do ponto de vista dos
trabalhadores e do Poder Judiciário Trabalhista. Utiliza-se a metodologia de estudo de caso, numa abordagem
qualitativa. A investigação é realizada através de pesquisa documental, com dados públicos provenientes de decisões
do Tribunal Superior do Trabalho. As informações obtidas nas sentenças judiciais são analisadas de acordo com o
método hermenêutico-dialético, a partir do referencial teórico materialista-histórico-dialético. Os resultados
apontaram que o assédio é compreendido, na perspectiva dos trabalhadores, como uma prática reiterada e
sistemática de atitudes ofensivas, humilhantes, vexatórias e constrangedoras, além de cobranças injustas, críticas
veladas e tratamentos intimidatórios. A limitação ao uso de sanitários, restringindo e regulando até mesmo o tempo
em que o trabalhador se dedica para realizar suas atividades fisiológicas, também surge no resultado dos estudos. Na
visão do Judiciário Trabalhista, essas condutas também são reconhecidas como ilícitas e configuram a ocorrência de
assédio moral no trabalho, implicando ao empregador o dever de reparação civil pelas ofensas praticadas. Constatou-
se que o assédio moral está diretamente relacionado ao adoecimento de trabalhadores, seja como sua causa, seja
como sua consequência. O adoecimento torna-se motivo para a prática de condutas abusivas. Assim, trabalhadores
suportam assédio no moral antes e após apresentarem incapacidade para o trabalho. Resistem em apresentar
atestados médicos e afastarem-se com receios de perder o emprego. Deste modo suportam condutas abusivas e
sofrem com a violência moral por não produzirem como os demais, mantendo-se no trabalho até o ponto em que a
incapacidade total se instala definitivamente. Os principais adoecimentos relatados foram episódios depressivos e
lesões por esforços repetitivos/doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho – LER/DORT. Entre as funções
desempenhadas, bancários, operadores de teleatendimento e vendedores figuram entre os trabalhadores que mais
sofrem de violência no trabalho, havendo uma maior prática de assédio contra mulheres. Para uma melhor
compreensão da relação assédio–adoecimento, propõe-se uma nova terminologia classificatória para o fenômeno,
qual seja, assédio moral acidentário.

Palavras-chave:
assédio moral; violência; incapacidade;

1434
Da ideia da empresa capitalista à regulação de uma norma geral de vida por meio do trabalho: do que fala o
trabalhador informal?
Autor:
Flávia Uchôa (USP)

As primeiras questões elaboradas para esta pesquisa estavam ligadas diretamente à experiência de trabalho da
autora em indústrias e empresas. Por meio dessas experiências, foi possível observar como a gestão do trabalho feita
nas empresas era exercida também na vida social daqueles que trabalhavam nelas. O que o trabalhador deve
o su i à eà o oà de eà pe fo a à pa aà esta à ali hadoà aosà alo esà eà à iss oà daà e p esaà fo a à aspe tosà
observados e pesquisados. Neste sentido, desenvolvemos pressupostos sobre como estas regras empresariais
adentravam nossas vidas e fomos a campo buscar confirmações e contradições. Por exemplo, tentar compreender
o oà sà osà ad i ist a os àeà i estía os àe à sà es osàpa aàse osà e p eg eis .àáoàlo goàdaài u s oà
em campo, em contato com profissionais autônomos e com microempreendedores individuais, outras questões
tornaram-seà i po ta tes,àaà e :à o oàpode osàfala àdeà u à e p esa ia e toàdaà ida à o àpessoasà ueà oàs oà
e p eg eis à poisà u aà ti e a à ouà oà te à í uloà empregatício formal)? O discurso da empresa consegue
adentrar as relações sociais em espaços de pouca ou nenhuma estrutura formal de emprego? E se consegue, como o
faz? No neoliberalismo, a relação de precariedade dos vínculos de trabalho que se alarga desde a década de 1980,
pa e eà seà utiliza à deà o ulosà ueà dete i a à u à pe fil à e p ee dedo à eà ultita efa ,à ueà islu aà
opo tu idadeà aà ise ;àu à pe fil à ueàpo àesfo çoàeà ito àse à e o pe sadoàseàfo à eal e teà o p o etidoà
o à u à p op sito . Em um continente em que não há pleno emprego e em que a sobrevivência parece ser o
p op sito à doà t a alhoà deà etadeà daà populaç oà e o o i a e teà ati a,à pode osà e o he e à aà i po t iaà dasà
ideias e práticas empresariais na determinação da vida política e social de forma estrutural. No entanto, caberia
questionar também se tais ideias e práticas empresariais estão em espaços distantes da empresa. Neste sentido,
temos por objetivo apresentar o desenvolvimento do campo desta pesquisa de doutorado. Em nosso campo,
buscamos ter, por meio dos trabalhadores informais, um elemento de compreensão sobre os vínculos de trabalho
para além do espaço-tempo da empresa. Para atingirmos este objetivo, faremos entrevistas com trabalhadores
informais da comunidade do Jardim São Remo e acompanhamento de atividades realizadas pelo programa Aproxima-
Ação da Universidade de São Paulo. Iniciaremos esta fase do campo participando de visitas à comunidade com o
suporte e orientação da Diretoria do programa. Após estas visitas iniciais, convidaremos e agendaremos conversas
individuais com os trabalhadores. Tais conversas terão como principal objetivo entender as trajetórias de trabalho em
relação a biografia dos entrevistados. Faremos o esclarecimento dos objetivos da pesquisa e pediremos o
consentimento (registrado no Termo e Consentimento Livre e Esclarecido) dos entrevistados. Posterior a etapa de
entrevistas, faremos as transcrições de cada encontro retornando o material transcrito aos entrevistados juntamente
com o agradecimento formal pela participação na pesquisa. Por fim, ressaltamos que este projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (CEPH-
IPSUP), bem como sob a apreciação da Comissão Nacional de Éti aà e à Pes uisaà CONEP à ‒à iadaà at a sà daà
Resolução 196/96 para regulamentação de pesquisas com seres humanos de acordo com a Resolução Nº 466, de 12
deàDeze oàdeà à‒àso àoà ú e oàCááE:à . . . .

Palavras-chave:
Trabalho; Informalidade; Empresa; Neoliberalismo; Subjetividade

1435
Fatores Facilitadores e Limitantes da Inserção no Mercado de Trabalho com um Grupo de Universitários de
Uberlândia/MG
Autor:
Jackeline França Rezende (UNITRI)
MARKLENE AMORIM DOS SANTOS (Unitri)
Sara Maria Martins (UNITRI)
Sheyene Figueiredo (UNITRI)
Coautor:
Maria Tereza de Oliveira Ramos

O jovem universitário espera que ao final da graduação possa adentrar ao mercado de trabalho e colocar em prática
os conhecimentos que adquiriu nos bancos escolares. Contudo, ele se depara com outra realidade: a dificuldade de
inserção profissional, o desemprego de inserção. Em função disso, essa pesquisa quali-quantitativa objetivou
investigar os fatores facilitadores e limitantes da inserção no mercado de trabalho de estudantes universitários em
fase de conclusão de curso, na cidade de Uberlândia, Minas Gerais. O estudo justifica-se pela importância que o
trabalho assume no mundo contemporâneo, uma vez que passa a fazer parte de um plano de vida, levando o
indivíduo a definir seus objetivos, a estabelecer prioridades e a escolher um curso para seguir. A escolha pelo eixo
Psi ologiaà “o ial,à p o essosà deà t a alhoà e à o te tosà eoli e aisà eà possi ilidadesà deà e f e ta e to à seà deuà e à
função da pesquisa abordar a inserção de universitário nos últimos períodos de sua formação no mercado de
trabalho, para colocar em prática os conhecimentos que adquiriu nos bancos escolares, conquistar sua sonhada
liberdade financeira, sentir-se útil e produtivo, mas que se depara com uma série de dificuldades que o impossibilitam
de se sentir sujeito participante de sua própria inserção. Uma vez que a atual crise econômica do país pode ser um
empecilho para o universitário que precisará lidar com a sua ansiedade e expectativas sobre como o mercado irá
recebo. Podendo causar adoecimento pelos sentimentos que podem ser despertados nele de depressão, ansiedade,
baixa estima, angústia, desânimo, medo diante do futuro, vergonha, culpa, incompetência e inutilidade. Nessa
perspectiva a importância deste trabalho se dá para verificar quais são os reais sentimentos dos acadêmicos que se
encontram nessa posição e quais têm sido os esforços da universidade para fortalecer seus alunos nesse momento de
transição. O ingressante precisa se adaptar às mudanças no mercado, os acadêmicos precisam se reorganizar para
adaptar às novas exigências do mercado, além dos novos dilemas que tem a diante no seu futuro profissional. Foram
utilizados dois instrumentos: questionário sociodemográfico e acadêmico e uma entrevista estruturada. Houveram
encontros das pesquisadoras com os estudantes nas salas de atendimento do Núcleo de Psicologia Aplicada – NUPA
para a aplicação dos instrumentos. Participaram da pesquisa 30 estudantes de ambos os sexos, com idade acima de
18 anos, que estavam cursando os dois últimos períodos de Psicologia de uma instituição privada de Uberlândia, MG.
Os dados foram submetidos às técnicas de análise a partir do programa estatístico Systat (versão 10.2) e do teste Qui-
quadrado, realizado por meio de Tabelas de Contingência. Os resultados indicaram que os participantes da pesquisa
consideram o conhecimento e a especialização como fatores facilitadores da inserção no mercado de trabalho. A
maioria dos praticantes se sente satisfeito e realizado com a escolha profissional e pretende seguir carreira como
psicólogo. Já os fatores limitantes apontados foram pequena quantidade de vagas oferecidas, insegurança e a
concorrência, falta de experiência e falta de conhecimento. A pesquisa partiu da hipótese de que o grande número de
profissionais que se formam na contemporaneidade na área da Psicologia é um fator limitador, tanto para a inserção
quanto para a permanência no mercado de trabalho, tal hipótese foi confirmada. Os resultados obtidos na pesquisa
estão condizentes a outros estudos que revelaram que grande parte dos alunos pouco satisfeitos ou insatisfeitos com
a escolha profissional apresentam justificativas referentes a questões de mercado, dificuldades encontradas como
poucas oportunidades de emprego, baixa remuneração, grande concorrência, observando a condição do mercado de
trabalho atual e a crise econômica em que o país se encontra no momento. Os resultados encontrados apontam para
a necessidade de as faculdades organizarem cursos preparatórios para inserção dos universitários no mercado do
trabalho, colocando-os em contato com a realidade prática, enfatizado a necessidade de intervenção específica na
área vocacional para o público universitário focalizando a transição universidade e trabalho. Esta insegurança do
aluno em final de curso frente ao início da atividade profissional faz com os alunos despertem a necessidade de auxílio

1436
à inserção no mercado de trabalho, especificamente em ferramentas instrumentalizadas, como estratégias de busca
de emprego, oficinas de currículo entre outros.

Palavras-chave:
mercado trabalho universitários inserção profissional

1437
Fatores relacionados á exclusão social: uma revisão sistemática
Autor:
Lislley (FASB)
Coautor:
Fabiana (FASB)
Bruna Pereira da Silva (FASB)
Kalline Matos (CRAS)

somente como fenômenos que abrangem os países pobres, como também populações que são excluídas pelas
mudanças advindas do trabalho e das estruturas econômicas que acabam gerando desigualdades absurdas no bem-
estar dos indivíduos. Dessa maneira, por não conseguirem trabalho na cidade grande, as famílias excluídas tinham que
residir nas favelas, nos cortiços e nas ruas. Eram excluídas pelo fator econômico, social, cultural e dentre outros
determinantes que influenciavam a exclusão social. O objetivo do artigo foi analisar os estudos que tratam dos fatores
relacionados à exclusão social no Brasil nos últimos 10 anos (01/2006 a 09/2017). Trata-se de uma revisão sistemática
de literatura realizada através de 10 artigos científicos selecionados entre 39 estudos encontrados por meios de busca
na base de dados: Lilacs (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline (Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online) e Scielo (Scientific Electronic Library Online), incluindo os seguintes descritores
e lus oàso ial àaliadaà o à fato es .àásà o sultasà sà asesàdeàdadosàfo a àefetuadasà oàpe íodoàdeàa ilàaà aioàdeà
2017 e se limitou a amostra publicada em formato de artigo. Os critérios de inclusão foram: estar publicado nas bases
de dados selecionadas em formato de artigos; artigos publicados no período de 2006 a 2016. Os critérios de exclusão
foram: estudos não disponíveis na íntegra; artigos que fogem da temática do estudo; artigos repetidos nas bases de
dados selecionadas e artigos não empíricos. Os resultados comprovam que em um período menor de 2011 até 2013,
houve uma quantidade reduzidas de publicações 03 artigos, 5% da produção. Os últimos anos foram responsáveis por
57% das publicações, o que suscita uma aceleração na produção de artigos em relação há anos anteriores que discutia
sobre essa temática. Quanto a regiões do Brasil com maior produção científica em relação à exclusão social foi à
região Sudeste, responsável por 30% dos 10 artigos encontrados, seguido pelo Nordeste com 20%, Sul com 5% e norte
com 3%, 57% somando juntas das produções selecionadas. Os principais temas abordados nesse artigo foram:
exclusão social no contexto da saúde e da doença. De uma maneira geral, a insuficiência de renda foi apontada como
fator importante para a exclusão, ressaltando a dificuldade de acesso à alimentação, tendo impacto direto na saúde.
Fato que ocorre por muitas pessoas não conseguirem ser inseridas de maneira igualitária aos direitos assegurados a
população. Outro ponto levantado é sobre como as pessoas com algum tipo de diagnostico são excluídas do convívio
social e a percepção que as mesmas têm sobre o processo de saúde e doença, ressaltando também as dificuldades
que enfrentam diariamente para lutar contra o preconceito da sociedade e os paradigmas formados em torno desse
diagnóstico A conclusão pontua a necessidade de inserir mais políticas públicas voltadas para a população em
situação de vulnerabilidade, consideradas excluídas e a criação de grupos com o intuito de estabelecer vínculos que
muitas vezes são quebrados entre os membros da família, de modo que venha a conscientizar a sociedade para
respeitar as pessoas que possuem diagnóstico de alguma doença. A literatura expôs os fatores da exclusão social e as
interferências que estes têm no cotidiano das pessoas que sofrem com essa exclusão, pontuando a necessidade de
fazer com que os direitos da população sejam cumpridos e respeitados. Os fatores relacionados à exclusão social
comportam diferentes concepções das quais predomina a ausência de recursos, indivíduos que não estão adaptados
aos padrões das sociedades além das injustiças e exploração que estes/as são submetidos/as.

Palavras-chave:
Exclusão social; Fatores; Saúde; Doença.

1438
História de vida de pacientes psiquiátricos em período de internação
Autor:
Luana Rodrigues Bernardes (UNIVERSO/BH)
Coautor:
Silvana da Silva Souza (Universo BH)
Luciana Gaudio Frontzek (Puc Minas)

O objetivo deste trabalho é apresentar algumas considerações acerca da experiência de escuta da História de Vida
(HV) de pacientes internados em um hospital psiquiátrico de Belo Horizonte/MG. A proposta teve início na disciplina
de estágio em saúde mental e foi realizada pelos alunos do 6º período de psicologia. A proposta consistia em
compreender, conhecer e acolher as vivencias dos pacientes que estavam no processo de hospitalização a partir da
escuta de suaàHist iaàdeàVida.àáàpe gu taà o teado aàe aà o te- eàsuaàhist ia .àáp sàaàt a s iç oàdaà a ati aàosà
alunos confeccionavam um livro que era reapresentado ao paciente para sua aprovação ou correção se fosse o caso.
Oà li o àe t oàe aàfi alizadoàe àcores e ilustrações para ser devolvido ao autor. A pesquisa em história de vida pode
ser considerada como produção de um determinado conhecimento a partir do discurso do sujeito diante de uma
situação concreta de vida. É solicitado ao mesmo que conte sua história como lhe for agradável, do seu ponto de vista
e, através da história colhida é possível compreender o universo do qual o sujeito faz parte. O narrador ocupa um
lugar central no momento de recolher uma história. Afinal, ele fornecerá o material a ser trabalhado. O método da
história de vida apresenta-se como uma ferramenta de historicidade porque torna possível uma ressignificação do
conteúdo exposto pelo narrador. Ao falar sobre sua vida o sujeito é capaz de trabalhá-la e reconstruir o que foi vivido,
tornando possível uma mudança em relação a sua história. Ou seja, esse método ajudar o indivíduo na apreensão e
interpretação de sua própria história. Afinal, o sujeito é capaz de refletir enquanto conta a sua vida (BARROS, SILVA,
2002). Os encontros foram embasados pela abordagem centrada na pessoa de Carl Rogers. Esta abordagem acredita
na capacidade de atualização do indivíduo desde que exista condições favoráveis para isto. Diante de um ambiente
acolhedor e empático o cliente tenderá a criar um vínculo onde, provavelmente se sentirá mais livre para contar-se. E
ao contar-se o sujeito tem a oportunidade de refletir sobre sua vida e atualizar-se (ROGERS, 1975). Eram realizados
em média de 3 a 6 encontros a fim de criar vínculo com o paciente e ouvi-lo. Ao ouvir o paciente foi possível perceber
o quanto eles se sentiram considerados pelo convite e oportunidade de contarem suas histórias de vida. Muitos
demonstravam estar vivenciando a oportunidade de, após tantos anos, ser ouvido por alguém. Para ilustrar cita-se a
transcrição de uma narrativa que foi realizada com base na poesia, na qual conseguiu visualizar, que em meio tanta
do à eà sof i e toà su giuà u aà li daà hist ia.à U aà hist iaà ueà pode iaà oà te à te i adoà o à u à fi alà feliz ,à asà
ainda assim, durante sua leitura era possível se orgulhar e ter emoção, pois era a sua vida, sua história e isso a tornava
única. Através das narrativas e histórias ouvidas foi possível compreender um pouco mais sobre a vivência do paciente
psiquiátrico em período de internação. A experiência tornou possível o contato com suas dores, medos, construções,
idealizações e processos de subjetivação. Concluímos que o método é frutífero para compreensão dos significados
que o paciente atribui à sua vida e proporciona ao paciente possibilidades de ressignificação e atualização, se
conseguirmos caminhar ao seu lado e lhe proporcionar um ambiente favorável para isto.

Palavras-chave:
psicologia; história de vida; narrativas;

1439
Impacto de curso de capacitação na ressignificação de compreensões e experiências relacionadas à Economia
Solidária
Autor:
Renan Gabriel (Ufgd)
Coautor:
Sanyo Drummond Pires (UFGD)

Os processos de geração de trabalho e renda por meio da economia solidária, geralmente encontram duas grandes
dificuldades. A primeira é a manutenção de mecanismos defensivos (tanto institucionais quanto psicossociais)
adaptados à situação de heterogestão para o contexto do trabalho autogestionário, o que, além de não defender dos
elementos agressivos ao trabalhador nessa nova forma de estruturação produtiva, cria novos problemas. O segundo é
a utilização de conceitos e chaves interpretativas também relacionadas à dinâmica heterogestionárias para tentar
compreender as dinâmicas e os processos vivenciados nessas experiências autogestionárias, que também não
possibilitam um entendimento efetivo das atividades em análise e acabam por levar à reprodução de situações de
dominação e injustiça que se tenta superar, o que Chauí denominou Consciência Social Trágica. Para superar esse
segundo tipo de dificuldades, foi estruturado o projeto de extensão, ligado à Incubadora de Tecnologias Sociais da
UFGD – ITESS/UFGD, Capacitação Avançada em Economia Solidária, um curso de cento e oitenta horas voltado para
estudantes e pessoas ligadas ao poder público, com o intuito de capacitar tanto os profissionais do poder público para
o desenvolvimento de projetos na área de economia solidária em suas respectivas áreas de atuação, com vistas ao
estabelecimento de parcerias com a ITESS/UFGD, quanto estudantes tanto da UFGD quanto das outras universidades
na região da Grande Dourados, de forma a qualificar estes estudantes para a participação como bolsistas nos futuros
projetos de extensão. O curso é formado por módulos com temas variados, que se dividem em três grupos: módulos
teóricos, onde são abordados aspectos conceituais gerais e repassados as experiências históricas de reflexão sobre a
economia solidária e seus processos de institucionalização; módulos aplicados, onde a economia solidária é pensada
em paralelo a outras questões sociais, como gênero, saúde mental, ecologia, entre outros, e os módulos práticos,
onde são abordados aspectos práticos de estruturação e gestão de empreendimentos e projetos em economia
solidária. Paralelo à atividade das aulas o curso tem também um processo de autoavaliação para verificar o
desenvolvimento das concepções acerca da economia solidária e como o curso se estrutura como instrumento de
mediação, compreendida a partir da perspectiva Sócio-Histórica, para a ressignificação que essas novas concepções
proporcionam. Esta atividade é feita por meio de avaliações ao final de cada módulo, realizada individualmente no
tempo entre os módulos (geralmente um mês), por meio de um texto redigido pelos alunos onde só é questionado
sua compreensão sobre os temas abordados nos módulos e sobre a forma como o módulo foi conduzido, e o
desenvolvimento em relação à compreensão apresentada antes do curso, que foi avaliada no ato de inscrição. Foi
percebido um baixo nível inicial de conhecimento de conceitos subjacentes à economia solidária, embora já houvesse
um contato de maior parte dos participantes com empreendimentos de economia solidária ou pessoas que já
participaram desses empreendimentos. Além disso, foi percebido também um desenvolvimento significativo da
compreensão dos conceitos trabalhados, bem como uma ressignificação das concepções e vivências anteriores já
vivenciadas em relação à economia solidária. Para essa ressignificação foi dada grande importância para a discussão
entre os participantes do curso, devido à diversidade de formação e de experiências profissionais e em relação à
economia solidária de cada um deles. . A presente proposta se articula com o eixo temático 5 - Psicologia Social,
processos de trabalho em contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento, em função de buscar a construção
de formas de intervenção que possibilite a estruturação de novas práticas produtivas emancipatórias.

Palavras-chave:
economia solidaria, capacitação avançada, ressignificação

1440
Impacto do trabalho em três turnos na saúde mental em professores do ensino médio.
Autor:
Aline Pereira (UFGD)
Arthur Cazon Vincoleto (UFGD)
Coautor:
Sanyo Drummond Pires (UFGD)

O impacto do trabalho na saúde mental dos professores é um elemento a ser considerado de forma ampla, em função
dos múltiplos aspectos que interferem desde a configuração da organização a valorização social e construção
identitária da docência. Com o presente trabalho buscamos analisar um desses aspectos que impactam na saúde
mental do professor que é a sobrecarga de trabalho, mais especificamente, o trabalho em três turnos. Para isso,
foram realizadas observações em uma instituição de ensino da rede pública de um município do interior do Mato
Grosso do Sul, com oito professores do nível médio, para verificar a diferença no impacto na saúde psíquica em
função do número de horas trabalhadas. Para coleta dos dados foram feitas observação de campo, onde as atividades
dos professores eram observadas em sala de aula e nas outras dependências da escola, buscando apreender sua
relação com alunos e demais profissionais. Foram feitas também entrevistas semiabertas com os professores, onde
estes eram convidados a falar sobre sua rotina de trabalho e do impacto delas em sua saúde, abordando sete temas
principais: à carga horária total de trabalho, planejamento de prova e aula, horário de descanso, lazer e atividade
física, metodologia de ensino, saúde física, saúde psíquica, satisfação com a profissão e percepção de futuro para a
profissão. As entrevistas foram realizadas em duas rodadas, uma primeira, onde a fala era mais livre. Estas entrevistas
foram então analisadas de forma a buscar a emergência de categorias interpretativas que os professores
apresentavam sobre estes temas. Em um segundo momento, após analisadas a ocorrência dessas categorias, as que
eram compartilhadas entre os professores eram estruturadas como perguntas mais detalhadas, em uma entrevista
semiestruturada que eram novamente realizadas, em uma segunda rodada. Estas entrevistas foram analisadas a
partir da abordagem qualitativa análise de conteúdo e os dados obtidos foram interpretados a partir da psicodinâmica
do trabalho, para ter uma referência conceitual das interpretações construídas pelos trabalhadores. A amostra foi
dividida em dois grupos, o primeiro com cinco membros, eram compostos de professores com até 30 horas semanais,
distribuídas em um ou dois turnos. O segundo grupo, composto por três professores, trabalhavam mais de 30 horas
semanais, distribuídas em três turnos. Os resultados indicaram que, para ambos os grupos, os tipos de impactos eram
semelhantes, no primeiro, com menos de 30 horas, as principais queixas foram referentes ao desgaste físico como
dores na perna e na garganta, enquanto no segundo grupo as principais queixas foram ao desgaste mental, estresse,
como também o desgaste físico. O que chamou atenção, no entanto, foi que, embora as questões que acometeram os
dois grupos fossem semelhantes, a intensidade da sua ocorrência, bem como a sensação de desgaste causada era
maior no grupo com mais de 30 horas e que trabalhava nos três turnos. A interpretação era de que, apesar do nível
maior de trabalho, a diminuição do tempo para descanso, ou para investimento em outras atividades ocasionadas
pelo trabalho em um terceiro turno tem um impacto maior que o próprio aumento da carga de trabalho. Embora
apresente dados muito específicos de uma única escola e com uma amostra reduzida, o presente trabalho apresenta
uma contribuição que indica a necessidade de investigações mais detalhadas sobre os impactos do trabalho em três
tu osàe àp ofesso es;àOàp ese teàt a alhoàest àasso iadoàaoàei oàte ti oà Psi ologiaà“o ial,àp o essosàdeàt a alhoà
e à o te tosà eoli e aisà eà possi ilidadesà deà e f e ta e to ,à e função de que se trata de uma análise das
consequências do sofrimento no trabalho, causado pelo modelo de produção de conhecimento na atuação do
docente na escola pública e da má organização dos requisitos básicos da prática do professor.

Palavras-chave:
docência; saúde-mental; professor; ensino-médio; trabalho.

1441
IMPáT‘IáÇÃOàEà MáI“àMÉDICO“ :àt ajet iasàeài pli aç esà osàp o essosàdeàsu jetivação de médicos cubanos
Autor:
Sany C. Alves (PUC Minas e IFNMG)

Esta proposta de comunicação visa apresentar a trajetória de investigação, resultados preliminares e reflexões
desenvolvidas até este momento em minha pesquisa de doutorado, cujo objetivo é analisar e compreender a
trajetória e experiência de médicos cubanos impatriados em atuação no Programa Mais Médicos para o Brasil, nas
mesorregiões Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha e do Mucuri. Entre os objetivos secundários, destacam-se a
análise crítica do Programa Mais Médicos e a situação de trabalho a que os médicos cubanos estão sujeitos; a
caracterização do perfil sociodemográfico desses profissionais em termos de origens, trajetórias, experiências de
trabalho anterior, expectativas profissionais e existenciais; forma como se deu o processo de impatriação e
significados atribuídos a essa experiência; efeitos da experiência da atividade de trabalho nos processos de
subjetivação dos investigados. Importa-nos tentar entender como o médico cubano vivencia o prazer e o sofrimento
no trabalho, que não se originam na realidade que o circunda, mas nas relações que esse trabalhador estabelece com
tal realidade, a depender do atendimento ou não da satisfação dos seus desejos inconscientes pelas condições
externas a que está submetido. A compreensão dos mecanismos de construção e das contradições dessa trajetória
pode ser um caminho possível para o entendimento da própria subjetividade e identidade individual e social desses
trabalhadores. Por outro lado, coloca-se ainda o problema de se compreender os caminhos percorridos pelos médicos
cubanos e as demandas psicossociais no traçado do envolvimento com seu trabalho e com o processo de impatriação
– fenômeno intercultural complexo (DAME, 2011; FREITAS, 2000; FREITAS, 2010; GONZÁLEZ, 2011a; GONZÁLEZ,
2011b; MACHADO; HERNANDES, 2004) que requer um olhar multidisciplinar –, ao procurar atender tanto às
exigências formais de adesão ao Programa Mais Médicos quanto às suas necessidades de sobrevivência e manutenção
aqui no Brasil. Nesse caso, interessam os aportes teórico-metodológicos das clínicas do trabalho (BARUS-MICHEL,
2004; BENDASSOLI; SOBOLL, 2011; CLOT, 2009; CLOT, 2009; LEVY, 2001; LHUILIER, 2006, LHUILIER, 2014), cujo objeto
de estudo são os processos de subjetivação relacionados à atividade e seu papel nas transformações das situações de
trabalho, atentando para o mal-estar, fruto das exigências e demandas colocadas pela organização do trabalho e da
redução dos recursos pessoais e coletivos para seu enfrentamento, os quais enfraquecem o poder de agir do
trabalhador, a capacidade de enfrentamento e de significação de sua própria experiência. Quanto à metodologia, a
pesquisa de campo tem sido delineada a partir de estudo documental preliminar em sítios oficiais da Secretaria de
Estado de Saúde de Minas Gerais (SESMG), Secretarias de Saúde dos municípios abrangidos, Ministério da Educação e
do Ministério da Saúde, a exemplo do Sistema de Gestão do Programa Mais Médicos, da Lei 12.871, de 22 de outubro
de 2013, e da legislação que rege a Atenção Primária à Saúde. Para os fins qualitativos do estudo, estão sendo
aplicadas entrevistas individuais aprofundadas baseadas em roteiro semiestruturado, as quais estão sendo gravadas,
transcritas e submetidas à técnica da análise de conteúdo (BARDIN, 2016), observando-se questões éticas vigentes
para pesquisa que envolve seres humanos. Adotaram-se ainda como técnicas de coleta a observação e o diário de
campo, as quais têm possibilitado anotações de elementos ditos e percebidos durante as entrevistas, impressões e
dúvidas e proporcionado uma melhor familiarização, apreensão e registro do processo de trabalho cotidiano dos
investigados. No que concerne ao aporte teórico adotado, para além das contribuições das clínicas do trabalho,
especialmente da psicossociologia, bem como de teorias psicanalíticas, filosóficas e sociológicas às quais se filia, e de
estudos organizacionais interculturais de vertente francófona, emergiram das investigações até agora alguns insigths,
os quais revelaram a necessidade de consulta a autores que possam contribuir para uma visão mais abrangente sobre
a questão do intercultural (tendo em vista o processo de impatriação/expatriação, suas fases e a dinâmica psicossocial
envolvida), a exemplo de teóricos da chamada sociologia do estrangeiro, como Georg Simmel, para o qual o
estrangeiro é simultaneamente familiar e estranho, e Alfred Schutz, cuja teoria remonta à fenomenologia de Edmund
Husserl e à sociologia compreensiva de Max Weber. No que diz respeito à vinculação dessa proposta de comunicação
ao GT 36 – Psicologia Social do Trabalho: olhares críticos sobre o trabalho e os processos organizativos –, esta se
justifica pelo enfoque adotado na pesquisa em questão, qual seja a análise e compreensão de um contexto laboral em
que a organização do trabalho – entendida aqui como o aspecto das instituições sociais (empresariais ou não) que
comporta a divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa, o sistema hierárquico, as relações de poder, as modalidades de
comando, as questões de responsabilidade (DEJOURS, 1992; 1996; 2002; 2004; 2017; DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET,
1442
1994) –, revela risco de emergência de um sofrimento advindo do choque entre a história individual do trabalhador,
os projetos dos quais são portadores, suas esperanças e desejos em contraposição a uma organização do trabalho
que, de certa forma, os ignora.

Palavras-chave:
Processos subjetivação, impatriação; Mais Médicos.

1443
Jovem trabalhadora em situação de trabalho informal e uma experiência traumática
Autor:
Juliana Cunha (UNESP)
Coautor:
Dionísia (UNESP Botucatu)

Introdução:
O trabalho é a atividade principal de todas as pessoas na vida adulta. Para atingir esta etapa foi necessário que o ser
humano passasse por transformações possibilitadas pela ação com a natureza, assim como, transformações psíquicas
superiores tendo cada qual a sua função, porém atuando por vezes mutuamente, sempre ligadas e não atomizadas e
ao mudar a natureza o homem muda a si mesmo, em um ciclo constante. Quando falamos em trabalho, é uma
necessidade para a sobrevivência de todo ser humano e atraente quando proporciona a possibilidade de aquisição de
bens de consumo para a satisfação a alguma necessidade imposta pelo sistema mercadológico. Os adolescentes
começam a trabalhar para contribuir financeiramente na renda familiar ou para ampliar sua possibilidade de
consumo, porém nem sempre as condições de trabalho condizem com a capacidade de seu desenvolvimento e suas
habilidades ainda em construção. O trabalho do jovem compete com a atividade principal, que na fase de transição
seria o estudo, e esta situação pode prejudicar o desenvolvimento integral, momento em que a atividade criadora
está no auge neste período do desenvolvimento o que possibilita as novas transformações psíquicas superiores. O
trabalho do jovem, em nossa sociedade capitalista, é geralmente repetitivo, maçante e monótono, o que não condiz
com o pleno desenvolvimento para que seja atingido o desenvolvimento pleno do psiquismo, como ensina Vigotski.
Os adolescentes não possuem experiência e o mercado se apropria desta condição para criar oportunidades precárias
com salários baixos proporcionando condições de trabalho com risco à saúde física e mental. O acidente de trabalho
pode interferir no projeto de vida dos adolescentes.

Objetivo:
Compreender a vivência de acidente de trabalho para jovem com inserção informal no trabalho.

Método: Estudo de caso de abordagem qualitativa no referencial da Psicologia histórico-cultural. Será apresentada a
análise de uma entrevista individual realizada com jovem vítima de acidente de trabalho. Este trabalho faz parte de
uma dissertação de mestrado
Resultados: A experiência traumática de trabalho na vida da jovem Amanda começou antes da ocorrência do
acidente. Seu trabalho, sem contrato formal, é de monitora recreativa em uma empresa de festas infantis. Ao
participar de treinamento de uma nova recreação proposta pela empresa, sua opinião não foi levada em
consideração, quando disse considerar a tarefa perigosa. O acidente de trabalho foi no momento em que aprendia a
andar de patins para realizar a nova brincadeira que seria inserida pela empresa. Além de ter fraturado um membro
do corpo e ter passado por duas cirurgias, algo muito invasivo, houve um prejuízo temporário em outras atividades de
sua vida, como o estudo, que deveria ser sua atividade principal como preparação para melhores condições em sua
vida adulta. O acidente de trabalho deixou uma cicatriz que ficará para sempre em seu corpo, agora com placa e pinos
introduzidos no local afetado, e um certo incomodo ao querer adquirir um calçado, por ter uma pequena diferença
causada pela cirurgia de um tornozelo em relação ao outro lado. Pelo prejuízo em sua mobilidade, algumas atividades
deverão ser adaptadas, como a dança, na qual ela não consegue mais fazer alguns movimentos. Também fica a
preocupação do surgimento de ocorrência de dores futuras, o que dependendo da situação poderá prejudicar
futuramente o desempenho de alguma atividade.
O suporte prestado pela empresa e o fato de ainda hoje ela trabalhar no local em que sofreu o acidente de trabalho
pode estar relacionado com o receio da empresa em sofrer consequências judiciais. Segundo a entrevistada, este foi o
único acidente ocorrido nesta empresa e gerou alteração positiva na rotina de trabalho com a intenção de evitar
novos acidentes.

1444
Considerações finais:
O acidente de trabalho é uma violência que deixa marcas físicas e psicológicas para toda a vida, que poderão ser mais
profundas e prejudiciais no caso da ocorrência com uma pessoa que está em formação. Como evento previsível e
prevenível, fruto de múltiplas causas, pode ser entendido como resultante de relações de trabalho precárias e de
extrema exploração, características do sistema econômico e social, o qual inverte as prioridades humanas em prol de
acumulação material que favorece apenas a minoria.

Palavras-chave:
Jovem Acidente de trabalho Informalidade

1445
Jovens Universitários em Situação de Desemprego: As implicações de voltar a depender financeiramente dos pais
Autor:
Dayane (UFU)
Coautor:
Thaís Cardoso Beggo (UFU)
Thainá Ribeiro Carvalho
Maria Carolina (UFU)
Washington (UFU)
Heila Veiga (UFU)

O desemprego é visto como um fenômeno preocupante que vem crescendo em ritmo cada vez mais acelerado, o
índice de desemprego entre a população de jovens com idade entre 18 e 24 anos, chegou a 25,7% no último semestre
de 2016, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016), sendo que esse número é mais
que o dobro da taxa média de desemprego no Brasil, que foi de 11,8% no mesmo período. A ruptura com o trabalho
configura-se na perda de referências e de certo status social, e por isso é vivenciada pelos sujeitos com muito
sofrimento. Para o adulto jovem, o trabalho possibilita que ele desenvolva a sua identidade adulta, assim sendo, a
situação de estar desempregado faz com ele se torne dependente novamente de sua família. Quando estes se
encontram mais uma vez em face da dependência financeira, seja dos pais ou de outros familiares, o fenômeno do
desemprego assume outras configurações e podem levar ao desenvolvimento de sentimentos que influenciam o
modo como o indivíduo se relaciona consigo mesmo (baixa autoestima, se sentir um peso para a família, entre
outros). Considerando a relevância da temática, o presente trabalho teve como objetivo identificar as vivências de
estudantes universitários em situação de desemprego e a repercussão desse fenômeno na vida da pessoa. Para o
alcance do objetivo proposto foi selecionada uma amostra por conveniência composta por quatro participantes,
sendo três homens e uma mulher, com idade média de 23 anos e o tempo médio de desemprego de oito meses. As
ocupações dos participantes do estudo antes da situação de desemprego eram: vendedora em uma distribuidora de
bebidas, vendedor em uma loja de jogos eletrônicos, vendedor em uma loja de RPG (Role-Playing Game) e TCG
(Trading Card Game) e auxiliar administrativo. Para o alcance do objetivo proposto foram redigidas entrevistas com
roteiro semiestruturado com questões norteadoras, tais como (a) como tem sido a experiência de estar
desempregado, (b) de que modo o desemprego afetou na sua vida, (c) que estratégias você tem adotado para gerar
renda e/ou buscar novas oportunidades de trabalho. Para analisar as entrevistas foi realizada a análise de conteúdo
categorial segundo Bardin (2009). A referida análise resultou na elaboração de cinco categorias, a saber: Isolamento
social, apoio dos amigos, sentimentos negativos, perda da autonomia e dependência financeira. As vivências
experienciadas por adultos jovens, mais especificamente estudantes universitários, trazem implicações relevantes,
tais como a configuração de um universo qualitativo específico, onde o desemprego apesar de ser gerador de grandes
conflitos, permite que o jovem ainda mantenha o seu status de estudante e pode contar com o apoio dos seus
familiares. A maior preocupação dos entrevistados parece estar relacionada ao sentimento de incapacidade ao
voltarem a depender financeiramente dos seus pais e perderem a autonomia sobre as suas vidas, já que o processo
de tornar-se dependente de alguém coloca o sujeito na condição de realizar suas atividades ou escolhas com
restrições. Este trabalho contribui com a literatura, uma vez que, há poucos trabalhos publicados que contribuem com
as reflexões sobre o desemprego na vida desses jovens, mas cabe ressaltar que o tema não se esgota, sendo
necessária a realização de outras investigações na área a fim de se compreender as especificidades dos fenômenos do
desemprego na vida dos estudantes universitários.

Palavras-chave:
desemprego; estudantes universitários; dependência fincanceira

1446
O controle do tempo do trabalho docente e o uso do ponto eletrônico: lutas e resistência no IFBA – Campus Vitória
da Conquista
Autor:
Eliana Barretto (UFBA)

No ano de 2015, os servidores do Instituto Federal da Bahia (IFBA) paralisaram as suas atividades, na quase totalidade
dos campi que o compõe, como forma de resistência à implantação do ponto eletrônico como instrumento de
controle de frequência tanto para os técnico-administrativos como para os docentes, obrigatoriedade esta imposta
por meio de portaria e que não contou com debates prévios com a comunidade – e muito menos com a sua
concordância. A greve, construída gradativamente em termos temporais e espaciais durante aquele ano, teve uma
duração de quase três meses. Nesse embate, os servidores saíram derrotados e a gestão vitoriosa.
As lutas entre os distintos níveis da gestão e os servidores culminaram na efetivação da implantação do ponto
eletrônico na totalidade da instituição em momentos diversos, conforme cada unidade. No campus de Vitória da
Conquista, o segundo maior do IFBA, atrás apenas do Campus de Salvador, a direção efetivou as diretrizes da reitoria
em abril do ano de 2017. Os servidores fizeram o cadastramento e aderiram à determinação imposta verticalmente,
desta vez, sem resistências explícitas. Em que pese um conjunto de medidas autoritárias adotadas pelos
representantes da administração, em outros âmbitos, o foco da análise está no modo pelo qual a situação criada pelo
registro eletrônico de frequência, por meio do ponto eletrônico, instrumento associado tradicionalmente ao controle
opressivo da força de trabalho, vem sendo vivenciada pelos trabalhadores da educação, especificamente pela
categoria docente.
Karl Marx, analisando a centralidade da mercadoria no modo de produção capitalista, observou que é a partir da
abstração de suas qualidades concretas que pode ocorrer a equivalência entre quantidades que apresentam tipos de
mercadorias com qualidades. Isto porque possuem um valor de uso – sua utilidade - e, também, um valor de troca ou
valor, medido pelo tempo de trabalho incorporado. O fetichismo da mercadoria implicaria, portanto, em considerar as
coisas como dotadas de qualidades humanas, onde as relações entre as pessoas se dariam como pautadas por
possuidores de mercadorias e os seres humanos como coisificados no processo da produção. O trabalho docente, de
cunho imaterial, nem por isso se tornou menos mercantilizado e mercantilizável, ou seja, não escapou à lógica da
mercadoria. Nas últimas décadas do século XX, à medida que a lógica neoliberal se expandiu, perpassando ao mesmo
tempo em que estruturando todas as relações sociais, o trabalho docente pôde ser transformado e coisificado em um
processo contínuo que se dá também no âmbito da gestão estatal, já que a racionalidade da eficiência e da eficácia
sobrepõe-se e eventualmente elimina as características que envolvem as atividades cotidianas no professor. As
conversas com os alunos, os debates entre os professores que se dão no cotidiano da instituição, o tempo utilizado
para a leitura e preparação de aulas, diluído e mesclado com o tempo do não trabalho, passa a ser mediado pela
máquina – o ponto eletrônico – implicando na coisificação/desumanização do professor.
A essa lógica imbrica-seàa uelaàa alisadaàpo àDu ke à àaoào se a àoàala ga e toàdoà a poàdaà diag sti a ,à
isto é, atos eàest at giasà ueàefeti a àosàpa et osàpo à eioàdosà uaisàoà diag sti o à àefeti ado.àNesseàse tido,à
de acordo com o autor, em termos estruturais, nas sociedades neoliberais e administradas, pode-se constatar o
ap ofu da e toàdeàu aà a io alidadeàdiag sti a à ueàa ti ulaà al-estar, sofrimento e sintoma e que se apropria
do patológico como metáfora. Aqui, ao invés de se questionar as condições que estruturam o trabalho docente, os
bloqueios administrativos, as dificuldades cotidianas que se estabelecem desde as mínimas ações, inserindo-se no
o te toà aisà a ploà dasà elaç esà deà t a alho,à à aà at i uiç oà deà u à diag sti o à ueà p essup eà oà do e teà o oà
doe te ,à ap op iadoà pelaà patologiaà daà p eguiçaà ujoà t ata e toà de eà se à oà o t oleà ígidoà doà seuà te poà de
trabalho, do seu tempo de vida, e a negação das especificidades das atividades docentes que prevalece.
Não se trata, portanto, de considerar tão somente o conjunto dos trabalhadores, mas de possibilitar que a cada um
seja atribuída a responsabilidade e a prerrogativa de se diferenciar a partir da comprovação de sua produtividade
através do controle do tempo, das ações, do pensamento, enfim, da lógica administrada de uma sociedade do
controle que se apropria da subjetividade forjando um novo sujeito no contexto do neoliberalismo.
A hipótese que norteia a análise das entrevistas – atualmente em processo de realização, concretizadas a partir de
uma perspectiva qualitativa e que partem de roteiros semiestruturados - revelam que tanto o estigma, ou seja, a
caracte izaç oà deà p ofesso -p o le a à pode à se à i st u e tosà utilizadosà pa aà seg ega à osà ueà seà op e à aoà
1447
controle disciplinar – e evitar esse controle. Por outro lado, a aparente resignação vislumbrada quando do
cadastramento biométrico e posteriores registros cotidianos não significam ausência efetiva de resistência, como
observado por Dejours (2015), o que possibilita analisar a situação a partir de um campo de disputas onde a luta se
manifesta de forma multidimensional.

Palavras-chave:
docentes, neoliberalismo, IFBA, controle biométrico

1448
O trabalho contemporâneo e suas consequências na subjetividade do trabalhador
Autor:
leidiane diniz
Coautor:
Maurício Campos (UFG)
Elzilaine Domingues Mendes (Universidade Federal de Goiás)
Jerline Rocha (UFG)

O trabalho contemporâneo é caracterizado pelas distintas transformações, advindas da globalização econômica, da


emergência do capitalismo, das crises econômicas, políticas, sociais, resultando na terceirização, na robotização do
trabalho, no aumento do desemprego maciço e no retrocesso dos direitos trabalhistas; conquistados ao longo da
História. Neste contexto, faz-se necessário abrir um parêntese acerca da terceirização, pois, atualmente, estamos
presenciando nos noticiários da televisão e no discurso cotidiano, o desejo do Grande Outro-Organização e do
governo de implementar a terceirização irrestrita, que significa terceirizar qualquer serviço, tanto público quanto
privado. Esta proposta de trabalho continua sendo a extensão do modelo fordista-tayolista, caracterizado pelo
trabalho, repetitivo, individual, em que o trabalhador deve apenas realizar os protocolos postos pelas organizações
(Antunes, 2009). Diante destas características do trabalho contemporâneo, as histórias pessoal, familiar e de luta do
trabalhador, bem como suas preocupações, inquietações, desejos, ou seja, sua subjetividade é desconsiderada. A
partir da apresentação de alguns aspectos do trabalho contemporâneo, surgem os seguintes questionamentos: Quais
as consequências desse modelo de trabalho proposto pela sociedade contemporânea na subjetividade do
trabalhador? No trabalho contemporâneo, há lugar para o sujeito freudiano, sujeito do desejo? O objetivo deste
trabalho foi discorrer sobre alguns aspectos do trabalho contemporâneo, e problematizar os efeitos dos aspectos do
trabalho contemporâneo na subjetividade do trabalhador. Para salientar sobre o trabalho contemporâneo,
recorremos aos autores: Antunes (2009), Alves (2011), que destacam que este trabalho é determinado pela
emergência do capitalismo e do avanço tecnológico, que trouxeram como consequência o aumento do trabalho
precarizado. Para Dufour (2005) e Souza (2013) o trabalho contemporâneo está entrelaçado ao discurso da sociedade
capitalista que enfatiza que o trabalhador, deve ser produtivo, eficiente. Souza (2013), salienta ainda que o
trabalhador deve submeter-se ao desejo do Grande Outro-organização. Deste modo, ele acaba abrindo mão do seu
desejo, e, se torna, uma peça útil para organização. Para abordar a subjetividade, recorremos a Bernadinho (2006) e
Flesler (2012) que salientam que, a princípio o sujeito em constituição (criança) se aliena ao discurso e ao gozo de
quem desempenha a função materna, para se inserir no mundo simbólico. Mas, para o sujeito ter existência singular,
ser autor de seu desejo, da sua história, ele precisa desalienar-se da figura materna, por meio da interdição simbólica
realizada por quem desempenha a função paterna. Com relação a metodologia, este trabalho consiste em um estudo
qualitativo, em que realizamos um estudo bibliográfico e uma pesquisa de campo, em uma empresa de Recursos
Humanos, situada em Catalão-Go. Foram entrevistados três trabalhadores que estavam procurando emprego, por
meio da entrevista semi-estruturada. As informações prestadas pelos entrevistados foram analisadas e interpretadas
a partir da análise de discurso. A partir dos autores salientados e em conjunto com a análise das narrativas dos
entrevistados percebemos que o trabalho contemporâneo é caracterizado pelo retrocesso dos direitos trabalhistas.
Este cenário foi abordado pelos participantes da entrevista. Por exemplo, o participante 1 relatou que trabalhou em
u aàe p esa,à aà ualà e e iaà u àsala i ho,à oàti haàho aàe t a .àE,à ua doàpediuàde iss o,àaàe p esaà oà ue iaà
pagar seus direitos trabalhistas. Outro aspecto do trabalho contemporâneo, que pudemos perceber no discurso dos
participantes é a submissão ao trabalho temporário. Outro ponto presente nos relatos é a demissão do trabalhador,
decorrente de crise econômica, questão manifestada no discurso do entrevistado 2 que, foi despedido de dois
empregos. Outra característica do trabalho contemporâneo, é o assujeitamento às condições de trabalho precário.
Para ilustrar, o participante 3 narrou que trabalhou em uma construção civil e sofreu um acidente de trabalho, pois,
havia pregos jogados na obra. Consideramos, mediante os discursos dos entrevistados que estes eram tratados como
um corpo útil a serviço dos desejos da empresa, uma vez que, quando esta não precisa mais do seu trabalho, o
descarta, como se estivesse lidando com um objeto, o que é ilustrado, como vimos, no trabalho temporário que
ambos participantes se submeteram. Além disto, a instabilidade deste trabalho, produz sentimentos de medo,
insatisfação, insegurança o que foi constatado nas narrativas dos entrevistados. Podemos pontuar, também, que o
trabalhador ao sujeitar-se aos imperativos e desejos do Grande Outro-trabalho, torna-se apenas um objeto a serviço
do Outro. Assim, podemos inferir que o trabalho, quando precarizado, pode colaborar para produzir sujeitos acríticos,
fragilizados e anestesiados nos seus processos criativos. No mundo do trabalho, não há espaço para o sujeito contar
1449
suas histórias, trocar experiências, para colocar seus pensamentos, sentimentos. Porque, o sujeito deve apenas
executar as tarefas determinadas pela organização. Deste modo, não há lugar para o sujeito freudiano no mundo do
trabalho ao tratá-lo como objeto. Vale destacar que, o sujeito, ao abandonar a posição de objeto de gozo materno,
pela interdição simbólica, passa a ser sujeito autor de seu discurso e desejo, ainda nos primórdios de sua constituição
subjetiva. Mas, quando ingressa no mundo do trabalho, é convidado a retornar à condição de objeto.

Palavras-chave:
Trabalho contemporâneo; subjetividade; trabalhador; objeto.

1450
O trabalho da mulher agente de segurança penitenciária e seus impactos psicossociais.
Autor:
Xádia (UFMG)

Considerando o trabalho como ontológico, buscamos compreender os impactos psicossociais relacionados com o
trabalho da agente de segurança penitenciaria do sexo feminino. Partimos da perspectiva de que o trabalho exerce
uma função central na so ia ilidadeàhu a a,à e à ossaàso iedade,à àoàt a alhoà ueàt azàaàsegu a ça,àaàauto o iaàeà
asà asesà e ess iasàpa aàe isti àso ial e te à Gauleja ,à ,àp.à .
O trabalho é fonte de transformações, de sociabilidades e de criação, mas também pode ser fonte de adoecimento,
opressão e privação de sociabilidades diversas. O trabalho do agente penitenciário traz algumas especificidades e
exigências, é um trabalho estressante, estigmatizado, que apresenta inúmeros casos de adoecimento físico e psíquico.
Para compreender melhor o trabalho das agentes penitenciarias e seus efeitos psicossociais realizamos visitas a dois
presídios e realizamos observação do trabalho das agentes e posteriormente realizamos 3 entrevistas com agentes
que trabalho em uma penitenciaria mista.

Impactos Psicossociais
Realizar uma pesquisa sobre os impactos psicossociais do trabalho da agente de segurança penitenciaria feminina é
uma tentativa de contribuir para visibilidade e criticas sobre o trabalho nas prisões, de compreender as
especificidades dos efeitos desse trabalho nas mulheres que guardam diferenças pela divisão sexual do trabalho
dentro e fora da prisão.
As diferenças dentro dos presídios masculinos são evidentes na divisão de trabalho que não é orientada apenas pela
LEP (Lei de Execuções Penais), mas por preconceitos e percepções orientadas pelo gênero das características e
capacidades das mulheres.
Nas entrevistas os relatos mais frequentes foram sobre as relações de trabalho entre os agentes e demais
funcionários da prisão, apontados como os motivos de maior adoecimento.
Também relatam como o trabalho por sua característica suja e estigmatizante trás também o isolamento familiar,
al à deà u aà p eo upaç oà o à aà segu a ça,à oà elatoà daà faltaà deà o p ee s o à po à a uelesà ue não conhecem
prisões dificulta a relação interpessoal, as agentes não contam sobre o seu dia, e não há uma compreensão por parte
da família e amigos das dificuldades enfrentadas pelas agentes.
Os relatos sobre adoecimento são os mais impactantes, não compreendem uma relação direta com o trabalho em
alguns momentos, mas em outros observam que o trabalho foi o causador do sofrimento, do adoecimento,
acompanhado do afastamento do trabalho, depressão, e dificuldades nas relações familiares.
A analise interseccional de raça e gênero é fundamental. O que amplia a discussão para além do assédio psicossocial,
que não localiza os problemas relativos ao trabalho no individuo, mas o vê como um problema na organização do
trabalho.
No caso das agentes a organização do trabalho é permeada pelas relações de gênero na divisão das tarefas e na
cobrança sofrida no trabalho. Também encontramos situações de racismo mais explícitas, perseguições e tentativas
de prejudicar uma agente por esta ser negra, tendo ela que trabalhar fora dos postos de trabalho mais visíveis do
presidio. Outro relato foi de assedio sexual, seguido de punição, o que teve efeito determinante na saúde mental e na
relação intra familiar da agente.
Assim, a análise dos impactos psicossociais do trabalho das agentes é relevante, é relevante discutirmos o trabalho
nas prisões, as relações de gênero e o adoecimento relacionado ao trabalho.

Palavras-chave:
Psicologia do Trabalho, Prisão, Agente.

1451
O trabalho na prisão: o campo da precarização
Autor:
TIAGO ANTÔNIO DE PÁDUA

Considerando o trabalho como ontológico, buscamos compreender os impactos psicossociais relacionados com o
trabalho da agente de segurança penitenciaria do sexo feminino. Partimos da perspectiva de que o trabalho exerce
u aàfu ç oà e t alà aàso ia ilidadeàhu a a,à e à ossaàso iedade,à àoàt a alhoà ueàt azàaàsegu a ça,àaàauto o iaàeà
asà asesà e ess iasàpa aàe isti àso ial e te à Gaulejac, 2007, p. 237).
O trabalho é fonte de transformações, de sociabilidades e de criação, mas também pode ser fonte de adoecimento,
opressão e privação de sociabilidades diversas. O trabalho do agente penitenciário traz algumas especificidades e
exigências, é um trabalho estressante, estigmatizado, que apresenta inúmeros casos de adoecimento físico e psíquico.
Para compreender melhor o trabalho das agentes penitenciarias e seus efeitos psicossociais realizamos visitas a dois
presídios e realizamos observação do trabalho das agentes e posteriormente realizamos 3 entrevistas com agentes
que trabalho em uma penitenciaria mista.

Impactos Psicossociais
Realizar uma pesquisa sobre os impactos psicossociais do trabalho da agente de segurança penitenciaria feminina é
uma tentativa de contribuir para visibilidade e criticas sobre o trabalho nas prisões, de compreender as
especificidades dos efeitos desse trabalho nas mulheres que guardam diferenças pela divisão sexual do trabalho
dentro e fora da prisão.
As diferenças dentro dos presídios masculinos são evidentes na divisão de trabalho que não é orientada apenas pela
LEP (Lei de Execuções Penais), mas por preconceitos e percepções orientadas pelo gênero das características e
capacidades das mulheres.
Nas entrevistas os relatos mais frequentes foram sobre as relações de trabalho entre os agentes e demais
funcionários da prisão, apontados como os motivos de maior adoecimento.
Também relatam como o trabalho por sua característica suja e estigmatizante trás também o isolamento familiar,
al à deà u aà p eo upaç oà o à aà segu a ça,à oà elatoà daà faltaà deà o p ee s o à po à a uelesà ueà oà o he e à
prisões dificulta a relação interpessoal, as agentes não contam sobre o seu dia, e não há uma compreensão por parte
da família e amigos das dificuldades enfrentadas pelas agentes.
Os relatos sobre adoecimento são os mais impactantes, não compreendem uma relação direta com o trabalho em
alguns momentos, mas em outros observam que o trabalho foi o causador do sofrimento, do adoecimento,
acompanhado do afastamento do trabalho, depressão, e dificuldades nas relações familiares.
A analise interseccional de raça e gênero é fundamental. O que amplia a discussão para além do assédio psicossocial,
que não localiza os problemas relativos ao trabalho no individuo, mas o vê como um problema na organização do
trabalho.
No caso das agentes a organização do trabalho é permeada pelas relações de gênero na divisão das tarefas e na
cobrança sofrida no trabalho. Também encontramos situações de racismo mais explícitas, perseguições e tentativas
de prejudicar uma agente por esta ser negra, tendo ela que trabalhar fora dos postos de trabalho mais visíveis do
presidio. Outro relato foi de assedio sexual, seguido de punição, o que teve efeito determinante na saúde mental e na
relação intra familiar da agente.
Assim, a análise dos impactos psicossociais do trabalho das agentes é relevante, é relevante discutirmos o trabalho
nas prisões, as relações de gênero e o adoecimento relacionado ao trabalho.

Palavras-chave:
Psicologia do Trabalho, Prisão, Agente.

1452
Organização do trabalho de psicólogos da atenção básica
Autor:
Elisa Rodrigues da Silva
Coautor:
Lucianne Menezes (UFU)

INTRODUÇÃO: O presente trabalho é resultado da pesquisa em desenvolvimento desde fevereiro de 2017, no


Mestrado em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, da Universidade Federal de Uberlândia-MG, que está sendo
construído no campo da Saúde do Trabalhador em diálogo com a Psicodinâmica do Trabalho e com a Saúde Pública. A
saúde do trabalhador se refere a um campo em construção no espaço da saúde pública, cujo objeto é o processo
saúde-doença dos grupos humanos e sua relação com o trabalho, em que os trabalhadores assumem o papel ativo na
busca do controle sobre as condições e os ambientes laborais, para torná-los mais saudáveis. Tal perspectiva é
compartilhada por Christophe Dejours, que foca a atenção nas relações sofrimento e prazer no trabalho e as defesas
utilizadas neste enfrentamento.
A partir da experiência de atuação, de uma das autoras, na Atenção Básica (AB) e de diálogos estabelecidos com
psicólogos companheiros de trabalho, sobretudo em reuniões semanais de equipe, quando é possível observar a
expressão e o compartilhamento de sentimentos referentes às condições de trabalho e aos desafios no desempenho
de suas atividades, apresenta-se uma reflexão sobre o processo de trabalho do psicólogo na AB e os possíveis
aspectos que possam influenciar o processo saúde-doença destes profissionais.
Peloàe posto,àestaàpes uisaàseài luià asàdis uss esàdoàEi o:à Psi ologiaà“o ial,àp o essosàdeàt a alhoàe à o te tosà
eoli e aisà eà possi ilidadesà deà e f e ta e to ,à eà seà i se eà oà GT:à Psi ologiaà “o ialà doà T a alho:à olha esà íti osà
so eà oà t a alhoà eà osà p o essosà o ga izati os ,à te doà e à istaà aà dis uss oà dasà o figu aç esà atuaisà doà u doà doà
trabalho no neoliberalismo mundializado e as consequências do atual modelo de produção sobre os modos de
subjetivação e o processo saúde-doença.

OBJETIVO: O objetivo geral deste estudo é investigar o processo de trabalho do psicólogo que atua na Atenção Básica
do município de Uberlândia-MG. Os objetivos específicos são: 1) caracterizar as condições e organização do trabalho
do psicólogo; 2) analisar o sofrimento do psicólogo; 3) recortar aspectos que podem influenciar o processo saúde-
doença desta categoria.

METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa exploratória de base qualitativa no campo da Saúde do Trabalhador, em
que o material selecionado para o estudo será submetido à análise de conteúdo temática de Laurence Bardin e
adaptada por Maria Cecília de Souza Minayo, e remetida à categoria teórica de sofrimento psíquico de Christophe
Dejours. Como instrumentos, serão utilizados observação participante e grupos focais com psicólogos e psicólogas
que atuam em serviços de Atenção Básica da saúde pública de Uberlândia. Os resultados serão remetidos aos
objetivos da pesquisa, visando às considerações finais.

RESULTADOS PARCIAIS: Até o momento foi efetuada uma atualização do material bibliográfico referente ao tema, nos
periódicos já utilizados no primeiro contato com esse objeto de investigação, assim como na literatura científica
pertinente, nas seguintes bases de dados: PePSIC, SciELO, LILACS, Medline, Portal CAPES, portal USP, por meio de
combinações do descritor psicólogo com atenção básica, atenção primária, saúde pública, saúde do trabalhador,
psicodinâmica do trabalho, sofrimento psíquico, organização do trabalho.
Os estudos nas áreas de Saúde do trabalhador e da Psicodinâmica do trabalho assinalam que as novas formas de
organização e de produção na relação homem e trabalho têm gerado o aumento do sofrimento psíquico no
trabalhador. No que diz respeito aos processos de trabalho na AB, com toda sua dimensão e os inúmeros desafios
encontrados em seu cotidiano, percebe-se que a maioria dos resultados de pesquisas aponta que a organização do
trabalho pode afetar diretamente a saúde dos trabalhadores. Os psicólogos, como parte da equipe de saúde, também
estão suscetíveis ao desenvolvimento de sofrimento psíquico, com consequente prejuízo na qualidade do
atendimento prestado à população.

1453
CONCLUSÕES: Espera-se que com essa pesquisa seja possível criar subsídios para o planejamento de ações que
promovam melhorias nas condições, ambiente e organização do trabalho na atenção básica a fim de promover a
saúde dos trabalhadores psicólogos.

Palavras-chave:
Psicólogo; saúde trabalhador; sofrimento psíquico.

1454
Popularização da ciência entre professores: elaboração de cartilha sobre saúde/adoecimento mental dos docentes
do RS
Autor:
Anelise Schaurich dos Santos (Unisinos)
Coautor:
Luciana Gisele Brun
AMANDA TUNDIS (UFAM)

Sabe-se que o trabalho docente é permeado por atividades complexas, de grande exigência cognitiva, com ritmo
intenso e executadas sob pressão em relação a prazos. Somado a isso, muitos professores possuem salários
insatisfatórios se comparados aos investimentos necessários na carreira e vivenciam situações de perda de autonomia
em sala de aula, baixa participação nas decisões administrativas da escola, falta de acompanhamento técnico e
pedagógico, políticas de educação insuficientes, não reconhecimento social do trabalho, bem como indisciplina,
violência e desinteresse por parte de alguns alunos. Diante dessa realidade, muitos docentes sofrem danos físicos,
(dores no corpo e distúrbios fisiológicos), psicológicos (sentimentos negativos em relação a si mesmo e a vida) e
sociais (isolamento e dificuldades nas relações familiares e sociais). Isso confere a categoria docente a segunda
posição dentre as classes profissionais mais acometidas por doenças ocupacionais físicas e psíquicas em nível mundial,
sendo que a prevalência das psicopatologias está em crescimento nos professores em diversos países. Entretanto,
muitos docentes não conseguem reconhecer o adoecimento mental próprio ou de colegas e, quando percebem, não
sabem de que forma lidar com o mesmo. Além disso, por ser uma atividade profissional desgastante, a maioria dos
estudos com esse público foca aspectos negativos do trabalho e não apresenta as possibilidades de se manter
saudável. Ao pensar sobre isso, o Laboratório de Clínica, Saúde e Adoecimento Mental no Trabalho (LaborClínica), em
parceria com o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (SINPRO/RS), elaborou a cartilha
“aúde/ádoe i e toàMe talàdosàP ofesso esàdaà‘edeàP i adaàdeàE si oàdoà‘ioàG a deàdoà“ul:à o oàa alia àeà uida .à
O objetivo deste resumo é relatar o processo de criação dessa cartilha e divulgá-la. O material mencionado foi
desenvolvido a fim de auxiliar os professores na identificação do adoecimento mental e também na promoção de
saúde mental relacionada ao trabalho. Ele pode ser acessado por meio do site do SINPRO/RS. O mesmo é um produto
daàpes uisaài tituladaà áàsaúdeà e talàdosàp ofesso esàdaà edeàdeàe si oàp i adaàdoà‘ioàG a deàdoà“ulà ‘“ ,à ueàfoià
pensada em vista do índice expressivo de afastamentos por motivo de adoecimento mental relacionado ao trabalho
do professor no ensino privado, já que em 2013, 17% do número total de afastamentos do trabalho entre os docentes
do ensino privado da região Sul do Brasil foi motivado por adoecimento mental. A pesquisa foi executada por um
grupo composto por professor, doutorandos, mestrandos e bolsistas de Iniciação Científica de uma universidade
particular do RS. Essa foi realizada no período entre outubro de 2015 e maio de 2016 por meio de um estudo
quantitativo, que contou com a participação de 740 professores do estado de todos os níveis de ensino, e um estudo
qualitativo, no qual foram entrevistados 16 professores com e sem sintomas de adoecimento mental. O produto foi
elaborado principalmente a partir do que os pesquisadores escutaram dos professores nas entrevistas em relação à
rotina vivenciada por eles, aspectos positivos ou de prazer no trabalho e as dificuldades encontradas, incluindo os
danos à saúde mental, sendo que o mesmo é ilustrado por excertos das falas dos participantes. Na cartilha são
abordados os seguintes tópicos: (1) o trabalho do professor e saúde/adoecimento mental, (2) adoecimento mental do
professor, incluindo Depressão, Ansiedade e Síndrome de Burnout, (3) diferenças entre os profissionais da saúde
mental: psicólogo, psiquiatra, psicanalista, e quando procurar cada um (4) saúde mental do professor, abarcando
explicações sobre saúde mental e como se manter saudável no trabalho e (5) orientações e encaminhamentos para os
professores do ensino privado do RS. O último tópico foi escrito com base em uma entrevista com a Comissão de
Saúde do sindicato, no qual os pesquisadores buscaram entender ações que já são realizadas em prol da saúde mental
do público-alvo da pesquisa. Ressalta-se que a cartilha é uma forma de agradecer aos participantes pelo tempo
disponibilizado para participação na pesquisa, além de fazer com que o conhecimento científico acesse a população
em geral. Entende-se que é parte do processo de popularização da ciência não apenas transformar o conhecimento
científico em uma linguagem acessível a todos os públicos, mas fazer com que a população tenha acesso a tais
materiais. Portanto, os representantes do LaborClínica seguidamente ministram palestras sobre a temática, além de
estarem planejando uma intervenção para promoção da saúde mental do público estudado. Por fim, acredita-se que a
1455
cartilha pode ser usada como material de promoção da saúde mental de docentes de outros estados do Brasil, uma
vez que os estudos apontam que as realidades dos professores são semelhantes.

Palavras-chave:
trabalho-docente
adoecimento-menta
saúde-mental
promoção-da-saúde

1456
Psicologia no Sistema Único de Assistência Social: Reflexões sobre o lugar do estagiário no Serviço de Proteção e
Atendimento Especializada as Famílias e Indivíduos (PAEFI)
Autor:
Jonas (UFSC)
Coautor:
Marcela Gomes (CESUSC)
Francieli Sufredini
Laís Paganelli Chaud (UFSC)
Sabrina Rosete Homem (CREAS/PAEFI)

A partir da experiência de estágio realizado no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e


Indivíduos (PAEFI), no município de Florianópolis. Este trabalho visa problematizar o lugar atribuído ao estagiário de
psicologia neste contexto sob a perspectiva dos profissionais e estagiários de psicologia que compõem esta
organização. O Serviço PAEFI está localizado na Proteção Especial de Média Complexidade, ou seja, tratam-se de casos
em que suspeita-se de que haja uma violação de direitos sem, contudo, ter rompido os laços familiares e
comunitários. Em geral, são denúncias que chegam através do Conselho Tutelar e do Sistema de Justiça, referentes às
múltiplas formas de violência perpetradas contra crianças e adolescentes (negligência, física, sexual e psicológica), ou
ainda por demanda espontânea no caso de adultos vítimas de violências de gênero, étnico-raciais e outras formas de
violação de direitos. O objetivo do PAEFI é realizar um acompanhamento psicossocial de modo a, junto com estas
famílias, construir estratégias de reparação e enfrentamento para as relações abusivas e violentas que compõem
aquela dinâmica familiar. Evidentemente, é imprescindível uma análise das condições sociais e econômicas dessas
famílias, especialmente porque são sujeitos que podem se encontrar, em sua maioria, em situações de múltiplas
violações de direitos (moradia, alimentação, saúde, educação, trabalho, transporte, etc.). Sendo assim, o trabalho
psicossocial desenvolvido pelo PAEFI possui um caráter subjetivo e político, na medida em que há um trabalho de
escuta qualificada sobre os dinamismos familiares e, também, ações voltadas para a garantia de direitos.
Considerando os diferentes saberes e perspectivas que compõem a prática e a intervenção psicossocial desenvolvida
neste contexto, buscou-se investigar de que forma os profissionais concebem o lugar, a função e o papel do estagiário
na dinâmica organizacional deste serviço. Muitas vezes, o estagiário pode viabilizar espaços de intercâmbio na
comunicação e troca de conhecimentos entre o meio acadêmico e os serviços públicos. Diante desta constatação,
pensa-se ser pertinente investigar de que forma o estagiário de psicologia é representado por esta equipe
profissional. Por meio da aplicação de um questionário aberto disponibilizado para toda equipe profissional,
composta por 31 profissionais, sendo 17 psicólogas(os) e 14 assistentes sociais, buscou-se investigar, sob a ótica
dessas(es) trabalhadoras(es), quais potencialidades, desafios e contribuições o estagiário de psicologia pode agregar a
este serviço. Além disso, de modo similar, apresentado também questionário aberto aos estagiários(as) de psicologia
do serviço, de modo a compreender também desta perspectiva. A partir da análise de conteúdo temática, elaborou-se
alguns eixos de análises que permitem compreender de que forma o estagiário de psicologia tem sido significado
neste contexto. A partir da análise dos resultados desta pesquisa, busca-se construir um olhar mais amplo e
transdisciplinar sobre a atuação junto às famílias em situações de violência, de modo a refletir sobre o trabalho
desempenhado neste serviço, especialmente em tempos de desmontes do Estado de Bem Estar Social, resultado do
avanço de políticas neoliberais. Por meio desta pesquisa, visa-se escutar e perceber as potencialidades para a
colaboração e construção de novos modos de saber e fazer do trabalhador do SUAS, possibilitando reinventar práticas
desenvolvidas pela psicologia, na universidade e nos serviços públicos, em especial, no que tange ao trabalho
desenvolvido junto às famílias em situação de violação de direitos. Aposta-se que o relato desta pesquisa venha ao
encontro dos objetivos propostos por este Grupo de Trabalho na medida em que possui o trabalho humano como
objeto de reflexão crítica orientada, sobretudo, pelo compromisso ético e político da psicologia social. Ao nos
aproximarmos da dimensão simbólica e intersubjetiva do serviço PAEFI, almeja-se trazer contribuições para a
compreensão da complexidade que interpela o mundo do trabalho contemporâneo, especialmente, no que diz
respeito a atuação da psicologia nas políticas públicas. Parte-se do pressuposto da extrema importância de refletirmos
sobre a atuação nestes contextos de forma a adensar conceitos teóricos e metodológicos que venham subsidiar
intervenções que façam resistência às lógicas neoliberais, colocando a psicologia como instrumento de luta e combate
face às desigualdades sociais, atuando na promoção da cidadania e na proteção dos Direitos Humanos.
Palavras-chave:
papel estagiário psicologia PAEFI SUAS
1457
Sofrimento Físico e Mental das Professoras da Educação Infantil
Autor:
Raianne Stephane Gonçalves (UNICERP)
Coautor:
Natália Pimenta (PMU)

O cotidiano escolar e as condições de trabalho docente são, comumente, apontadas como uma forma de
intensificação e precarização da atuação do professor e, consequentemente, como um fator de adoecimento do
mesmo. O presente estudo buscou investigar se, além das condições de trabalho, as relações sociais e as questões
político-educacionais contribuem para o adoecimento físico e mental dos professores da educação infantil do
município de Patrocínio. A pesquisa pode ser caracterizada como de base qualitativa, descritiva e de campo. Foi
aplicada entrevista semiestruturada em 10 professoras que trabalham na rede pública de ensino infantil do município
de Patrocínio (Minas Gerais). A amostragem realizada foi por conveniência. Os dados quantitativos, referentes à
caracterização das participantes do estudo (idade, sexo, média salarial, etc), foram analisados de acordo com a
estatística descritiva. Os dados qualitativos foram avaliados, conforme a análise de conteúdo proposta por Minayo. Os
sujeitos desta pesquisa foram 100% de mulheres, o que denota a feminilização da docência que pode ser observada,
no final do século XIX. Sobre a faixa etária das entrevistadas: 40% delas relataram possuir entre 25 e 35 anos e 60% de
35 e 45 anos. Em relação ao salário, observa-se que uma das entrevistadas informou receber média de um salário
mínimo, três pessoas afirmaram receber dois salários mínimos e as outras seis, de dois salários mínimos e meio a
quatro, devido a possuírem mais de um vinculo empregatício. O salário dos professores da educação infantil é
considerado o menor na classe profissional, atribuindo uma maior desvalorização para essa classe, além de levar, cada
dia mais, os profissionais a aumentarem sua jornada de trabalho, visando melhorias salariais, precarizando as
condições de trabalho e, em decorrência disso, surgem sofrimentos físicos e psíquicos. Em relação ao cotidiano
escolar, a estrutura física inadequada e a falta de materiais/recursos foram apontados por todas as entrevistadas
como geradoras de preocupações e insatisfação quanto as (im)possibilidades de exercer os métodos de ensino
exigidos. Quanto aos aspectos político-educacionais, as entrevistadas afirmaram que esse é o maior fator gerador de
sofrimento. As exigências pedagógicas e, consideravelmente, a falta de autonomia no dia-a-dia, na elaboração dos
planos de ensino, métodos e leis educacionais que são impostos e que também não refletem a realidade escolar. No
que se diz respeito às relações sociais, no ambiente escolar, foram citadas algumas dificuldades em relação aos pais e
alunos. As professoras apontaram que o distanciamento dos pais do espaço escolar e da vida escolar de seus filhos
apresenta-se como um fator de sofrimento para os docentes, devido à dificuldade de se trabalhar com as demandas
que extrapolam o ambiente escolar. Já em relação aos alunos, foi mencionado que as questões de aprendizagem e
indisciplina mostram-se como aspectos que dificultam o trabalho e geram adoecimentos emocionais. Sobre os
sofrimentos e adoecimentos físicos e mentais vivenciados pelas professoras, foi relatado, além do cansaço físico e
mental, dores pelo corpo, dor de cabeça, varizes, problemas relacionados à voz, esgotamento mental, estresse,
questões de ordem somática, aumento da pressão arterial, dores musculares, infecções urinarias que foram
observadas, de forma recorrente, associadas ao contexto escolar. Além disso, as entrevistadas relataram que o
professor da educação infantil é, constantemente, mais desvalorizado que os outros segmentos da docência e que
isso causa extrema insatisfação. Os resultados discutidos denunciam uma série de falhas sobre as condições de
trabalho, as relações interpessoais e as políticas educacionais vividas por esses professores da educação infantil. Por
isso, ressaltamos aqui a necessidade do fortalecimento da equipe pedagógica e da inserção do psicólogo no contexto
escolar com vistas a incentivar o maior empoderamento e protagonismo das ações dos professores. Para, além disso,
urgem-se políticas educacionais construídas, longitudinalmente, às classes escolares: alunos, pais, professores e
outros atores do contexto escolar. Por fim, percebe-se que a precarização, a desvalorização e as políticas educacionais
geram um processo de desresponsabilização frente ao contexto e gestão educacional, em detrimento da
culpabilização do professor, que acaba por ter que enfrentar, reinventar-se e adequar-se para suprir as faltas e os
déficits gerados pelo sistema.

Palavras-chave:
EDUCAÇÃO PROFESSOR SOFRIMENTO FISÍCO MENTAL

1458
Subjetividade, representações sociais e o trabalho na economia solidária: uma revisão teórica
Autor:
Letícia (UFSCar)
Coautor:
Rosemeire Scopinho (UFSCar)

Este trabalho é resultado parcial de uma pesquisa de doutorado na qual são estudadas as cooperativas de catadores
de materiais recicláveis no âmbito da economia solidária (ES) e que tem como objeto de estudo as relações e os
espaços de interação estabelecidos entre catadores cooperados e apoiadores.
A ES desenvolveu-se em contextos similares em países da América Latina e no Brasil onde, inspirada nos movimentos
operários europeus em épocas da Primeira Revolução Industrial, caracterizou-se como uma forma de enfrentamento
dos processos de exclusão e precarização do trabalho acarretados pela crise advinda da reestruturação produtiva
capitalista contemporânea, agravada em torno dos anos de 1980 e 1990. O desenvolvimento de organizações
econômico-solidárias (OES) no Brasil apresenta contradições que destacam-se em estudos realizados no campo da
psicologia social e que referem-se às transformações de sentidos e identidades dos sujeitos inseridos nessas
organizações pela interiorização de valores econômico-solidários, ao mesmo tempo em que elas possuem organização
e relações internas influenciadas pela estrutura hegemônica de ideologia capitalista.
Neste contexto, os catadores de materiais recicláveis cresceram em número e importância no cenário organizativo da
ES. A possibilidade de organizar seu trabalho com base em princípios autogestionários passou a ser estimulada por
apoiadores oriundos de igrejas, sindicatos, governos e incubadoras tecnológicas de cooperativas populares, dentre
outras instituições, que passaram a organizar os catadores em OES, majoritariamente, de forma exógena.
A interação com os apoiadores tem sido apontada como uma potencial contribuição para que esses novos valores e
princípios circulem no ambiente da organização através de espaços de comunicação e como explicação para justificar
as apropriações sobre eles pelos trabalhadores. Em cooperativas de catadores, essas situações também são
destacadas e agravadas pelas condições materiais e simbólicas precárias de trabalho e vida que eles possuem,
decorrentes dos processos de exclusão, que resultam em sentimentos de sofrimento, culpa e vergonha e dificultam a
significação das novas relações propostas.
O mote principal das potencialidades da ES, refere-se ao ganho de autonomia dos sujeitos, que possibilita o
desencadeamento de processos de autogestão, o que é criticado no âmbito de pesquisas que consideram que as
organizações dessa natureza reproduzem as relações de exploração capitalistas por terem sido incluídas
perversamente na competitividade do mercado econômico, indicando a existência de disputas teóricas que só podem
ser desveladas pela compreensão do que ocorre na prática. Empiricamente, observa-se que o engajamento dos
catadores às OES exógenas parte de uma perspectiva econômica e nem sempre ideológica, o que compromete as
potencialidades de desenvolvimento da ES como uma proposta de transformação produtiva e social.
A Teoria das Representações Sociais (TRS), contribuindo para a compreensão de mudanças identitárias e de sentidos
que ocorrem pelas negociações desencadeadas em processos dialógicos, abarcando capacidades cognitivas e
contexto de todos os envolvidos, bem como para a elucidação de questões conflituosas e motivos de tensão na esfera
pública, pode auxiliar pela sua aplicação nos estudos sobre ES e subjetividade para elucidar as contradições existentes
nesse campo em disputa.
Assim, o objetivo desse trabalho é sistematizar a literatura existente sobre ES e representações sociais e, pelo
contexto do mundo do trabalho apresentado, no qual destaca-se os processos de subjetivação oriundos das OES,
justifica-se a inserção deste trabalho no eixo temático 5 (Psicologia Social, processos de trabalho em contextos
neoliberais e possibilidades de enfrentamento).
Foi realizada uma revisão bibliográfica ao final de 2014, visando analisar publicações nos últimos cinco anos que
atendessem às seguintes palavras-chave combinadas: e o o iaàsolid ia ,à ep ese taç esàso iais ,à autogest o àeà
auto o ia .à Fo a à o sultadasà asesà deà dadosà deà u i e sidadesà asilei as,à e à o oà oàPo talà deà Pe i di osà daà
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que permite acesso às bases de dados
nacionais e internacionais. Neste Portal, realizou-se buscas em português, espanhol e inglês. Encontrou-se um total de
102 trabalhos, sendo a maioria brasileira. Apesar do resultado obtido na busca, nenhum trabalho tinha a TRS como
embasamento teórico.
Após leitura preliminar, foram selecionados nove trabalhos que abordaram de alguma forma a subjetividade no
trabalho econômico-solidário para análise. As contradições empíricas relacionadas às OES foram abordadas por
perspectivas estruturais, ideológicas, de identidade, de sentidos do trabalho e de representações (sob outro viés
1459
teórico). Sete trabalhos concordam, de alguma forma, que as OES têm potenciais para desenvolver princípios
econômico-solidários, já que a existência de múltiplas representações e sentidos podem se disseminar pela influência
mútua. Ela ocorreria pela criação de mecanismos para que as trocas subjetivas sejam um instrumento de mudança,
nos quais os apoiadores têm importância fundamental. Os outros dois trabalhos consideram que a ES é somente um
meio paliativo de subsistência.
Essa revisão contribuiu com a literatura por reforçar a defesa da necessidade de compreender a autogestão e a
autonomia na ES a partir da representação social dos diversos atores para desvelar seus posicionamentos e as
contradições vivenciadas.

Palavras-chave:
Economia Solidária Trabalho Subjetividade

1460
Trabalho (do) menor: o Sentido do Trabalho Protegido para jovens aprendizes
Autor:
Vanessa Carolina N. dos Santos

Este trabalho refere-se a uma pesquisa de mestrado em andamento, iniciada em 2017, no Programa de Pós-
graduação em Psicologia da PUC/MG. Seu objetivo é compreender o sentido do Trabalho Protegido para jovens
aprendizes. Apesar dos avanços na Política Pública sobre a temática do trabalho infanto-juvenil, observados na
legislação brasileira, muitos adolescentes e jovens ainda têm seus direitos violados, através do trabalho infantil,
escravo e ilegal. Compreender os sentidos que o Trabalho Protegido tem, na perspectiva legal, contrapondo-os à
opinião dos jovens aprendizes, beneficiários dessa política, evidenciará os possíveis embates conceituais que
permeiam a lenta mudança dessa problemática. Em médio prazo, esses jovens ocuparão grande parte do mercado de
trabalho, dos serviços ofertados à população. Sabemos que a qualidade do trabalho oferecido sofre vários
atravessamentos e um deles é a satisfação do trabalhador com a atividade. Nesta pesquisa, faremos uma análise das
concepções de trabalho presentes nas legislações balizadoras do trabalho protegido, a saber: a Constituição Federal
de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, a Lei da Aprendizagem de 2000 e o Estatuto da Juventude
de 2013. Relacionaremos a análise desse recorte legal com a prática de aprendizes do Centro de Integração Empresa
Escola, uma das instituições autorizadas pelo Ministério do Trabalho para acompanhamento do jovem, durante o
contrato de aprendizagem, para resguardar seus direitos e deveres prescritos. Realizaremos com os aprendizes dessa
instituição grupos focais, por área de atuação, a saber, Administrativo, Bancário e Varejo. Além disso, faremos
observações participantes, junto a alguns aprendizes: estes serão acompanhados, individualmente, durante um dia da
sua rotina, desde o momento que saem de casa até o seu retorno. Por fim, analisaremos os sentidos que esses
aprendizes atribuem ao Trabalho Protegido, através dos dados colhidos nos grupos focais e nas observações
participantes. Utilizaremos a Análise do Discurso, em diálogo com a revisão bibliográfica fundada principalmente na
Clínica da Atividade. Partimos aqui de uma perspectiva crítica, em Psicologia do Trabalho, entendendo que o trabalho
não é apenas um meio de sobrevivência econômica, mas é também uma forma de estar em sociedade. Ele transforma
não só o mundo externo, mas também o sujeito dessa transformação. Ele tem também uma dimensão psicossocial.
Ele gera mudanças sociais, sendo também construtor da identidade do trabalhador, ou seja, a relação entre homem e
trabalho gera mudanças no âmbito pessoal e social, de forma indissociável. O Trabalho Protegido se refere às normas
que regulamentam a inserção do adolescente e do jovem no mercado de trabalho, como uma estratégia de
emancipação econômica e social caracterizada, acima de tudo, pelo aprendizado. O Estatuto da Criança e do
Adolescente fala do direito à profissionalização e à proteção no trabalho. A Lei da Aprendizagem estabelece formato e
critérios para o Trabalho Protegido de jovens e o Estatuto da Juventude contribui principalmente pela
responsabilização do Poder Público, na garantia do direito desses adolescentes e jovens à profissionalização, trabalho
e renda. Conceituar juventude corresponde a pensar a complexa relação entre questões culturais, atravessadas por
determinantes históricos. Uma das questões culturais que marcam a juventude brasileira é o processo de transição da
infância para a vida adulta, caracterizada principalmente pela independência financeira e simbólica dos pais. Um traço
dessa transição é a inserção no mercado de trabalho. Trabalharemos nessa pesquisa com a concepção etária da lei da
aprendizagem, em que jovens têm entre 14 e 24 anos de idade.
Essa p opostaà deà ap ese taç oà o alà te à o oà p i ei aà opç oà oà g upoà deà t a alhoà Psi ologiaà “o ialà doà T a alho:à
olha esà íti osà so eà oà t a alhoà eà osà p o essosà o ga izati os .à Julga osà ueà eleà o te plaà aà i te fa eà e t eà osà
acontecimentos macrossociais e seus impactos psicossociais, ao permitir uma análise das convergências e
divergências entre a concepção de trabalho ditada em lei e aquela dos aprendizes, cujas vivências contribuem para a
construção de outros sentidos do trabalho. Tais confrontações poderão apontar para a efetividade ou não dessa
Políti aà Pú li a.à áà segu daà opç oà à I te e ç esà oà a poà doà t a alhoà fo alà eà i fo al,à aà pa ti à daà Psi ologiaà
“o ial .àNesseàg upoàpode e osàdis uti àasàleisà asesàdoàT a alhoàP otegidoà ueàt àe àseuà e eàaàasso iação de
atividade prática com a formação profissional. Assim, fazer Analise do Discurso dessas leis, para compreender sua
concepção de trabalho, evidenciará os interesses político e econômico presentes em sua elaboração, além dos
impactos de sua implantação, como Política Pública, na subjetividade dos jovens beneficiários. Por fim, o GT
Psi ologia,àdesigualdadeàso ialàeàdo i aç o ,à ueà o te plaàaàhisto i idadeà osàp o essosàdeàsu jeti aç o,àat a sà
da leitura crítica de um recorte legal sobre Trabalho Protegido que tem, no Brasil, quase 30 anos. Esse GT permite
1461
também discutir o quanto o público jovem permanece como alvo das políticas públicas e em que medida essas
formulações legais corroboram ou não os processos de dominação.

Palavras-chave:
Trabalho Protegido Aprendizagem Jovens Sentido

1462
Trajetória e Atuação do Psicólogo Organizacional: Impasses e Dificuldades
Autor:
Camila Antunes (UFU)
Coautor:
Thainá Ribeiro Carvalho
Thaís Cardoso Beggo (UFU)
Bruna Alves Schievano
Maria Carolina (UFU)
Dayane (UFU)
Washington (UFU)
Luna (UFU)
Heila Veiga (UFU)

Os cursos de Psicologia, no Brasil, têm historicamente, priorizado as práticas clínicas, todavia as possibilidades de
atuação do profissional dessa área cada vez mais ampliam. Entre as diversas probabilidades de atuação uma que tem
recebido um grande número de profissionais, especialmente os recém-formados, é a área de Psicologia
Organizacional e do Trabalho. Uma das críticas que se faz à atuação nessa área é que o profissional pode acabar
fortalecendo as configurações contemporâneas do mundo do trabalho e a lógica capitalista de exploração do
trabalhador e se distanciando da essência do que é ser psicólogo. Assim, para compreender tal realidade o objetivo
geral do presente estudo é analisar a trajetória de psicólogas que atuam em Psicologia Organizacional e do Trabalho e
discutir sua atuação, impasses e dificuldades. Para tanto, foi selecionada por conveniência uma amostra de três
psicólogas da região do Triangulo Mineiro, Minas Gerais, com idade entre 21 e 51 anos. As participantes do estudo
trabalham na área de gestão de pessoas há pelo menos cinco anos. Com vistas a alcançar o objetivo proposto foi
elaborado um roteiro de entrevista semiestruturada com questões norteadoras, tais como: (a) a graduação a
capacitou a atuar na área de gestão de pessoas, (b) você enfrentou dificuldades em conseguir uma colocação
profissional na área de Psicologia Organizacional e do Trabalho, (c) quais são os principais desafios de sua atuação
profissional, (d) como você consegue compatibilizar os interesses da organização e do trabalhador, (e) fale sobre os
dilemas éticos na sua atuação profissional, entre outros. Para analisar as entrevistas foi realizada a análise de
conteúdo categorial. As categorias criadas foram: valorização da área por gestores e pares, realização e
reconhecimento profissional, dificuldade de compreensão do alcance da área pelos trabalhadores operacionais. Os
achados mostram que as profissionais entrevistadas têm uma atuação estratégica, e que em seu cotidiano lidam com
conflitos e impasses advindos da burocratização dos processos de trabalho, visão distorcida, por parte dos outros
trabalhadores, de suas responsabilidades e alcance de decisões. A despeito dessa dificuldade de compreensão de sua
esfera de atuação pelos trabalhadores operacionais da organização na qual atuam, elas relataram a valorização da
área da Psicologia pelos demais profissionais da empresa que estão no mesmo nível hierárquico e também pela
direção da organização. Além disso, duas delas relataram que são convidadas a participar das reuniões de diretoria
com vistas a discutir o planejamento estratégico da organização. Mostram também que muito da atuação das
entrevistadas vem de atividades desenvolvidas no seu período de formação e especialização. Elas apontaram a
necessidade pela busca constante de novos conhecimentos e cursos porque a área se modifica muito rapidamente.
Ao analisar suas falas pode-se afirmar que elas têm conseguido atuar de maneira crítica e ética, de modo que os
conhecimentos oriundos da Psicologia tem possibilitado que novas reflexões sejam feitas e que melhores condições
para o trabalhador sejam buscadas. Vale destacar que um aspecto que precisa ser aprimorado é o alcance da atuação
do psicólogo, no caso em questão a diretoria e cargos gerenciais identificam e reconhecem o papel desse profissional,
no entanto, os trabalhadores operacionais percebem que ele está distante. Desse modo, é preciso pensar numa
atuação ainda mais crítica e que alcance todos os trabalhadores da organização. À guisa de conclusão, é possível
entender que a atuação desse profissional seja relevante, temas como esse devem estar em debate, assim como o
compromisso ético e social, envolvidos nesse trabalho.

Palavras-chave:
Trajetória Profissional, Atuação Psicólogo Organizacional

1463
Transtorno de Ansiedade: um estudo sobre a identificação de sinais de ansiedade nos estudantes da Faculdade
Salesiana Maria Auxiliadora de Macaé na busca por uma colocação no mercado de trabalho
Autor:
FABÍOLLA ALVES BORGES DE MATOS (FSMA)
Coautor:
Jaqueline Mateus de Moura (FSMA)

A inserção no trabalho está mais difícil devido à situação econômica atual, fazendo pessoas buscarem uma graduação
que melhor o qualifique e o destaque. Isso suscita ao estudante uma esperança em terminar todo esse processo e de
algum modo entrar nesse mercado de trabalho que, por consequência da crise mundial, se torna mais competitivo.
Muitos iniciam a carreira profissional através de estágios, que também servem como uma porta de entrada para esse
novo mundo que o espera.
Deste modo, esta pesquisa pretende responder à seguinte problemática: será que os alunos da Faculdade Salesiana
Maria Auxiliadora de Macaé sofrem de ansiedade durante um processo de recrutamento e seleção? Sendo entendido
que o objetivo geral desta pesquisa é identificar sinais de ansiedade nos estudantes da FSMA na busca por uma
colocação de emprego e/ou estágio e a relação dessa ansiedade no desempenho de processo de seleção.
Sob essa ótica, a escolha do tema é justamente pelo interesse em investigar se a ansiedade dificulta o candidato no
processo de seleção e recrutamento. A atuação do profissional da área da psicologia é capaz de apoiar e intervir de
forma positiva em todos esses contextos, além de suscitar assistência através da Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC) que favoreça o desenvolvimento das habilidades sociais e oferecer os recursos ou as estratégias que essa
psicologia permite.
Os autores Almir e Zilda Del Prette (2003) reforçam que os indivíduos necessitam de apoio e suporte emocional e
social nas nossas vidas em todos os contextos sendo assim, procuramos interações para formar vínculos interpessoais.
A capacidade de desenvolver essas relações está ligada diretamente às habilidades sociais.
Ca alloà ,àp. à ha aàdeàHa ilidadesà“o iaisà […]àum conjunto de comportamentos emitidos por um indivíduo em
um contexto interpessoal que expressa sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos desse indivíduo de modo
ade uadoà àsituaç oà[...] .
Pa aàD´ELà‘a àeàPa i ià ,àp.à ,à aàfaltaàdeàha ilidade social (HS) pode levar o indivíduo a evitar situações sociais
onde ela (habilidade) possa ser essencial para um comportamento adequado e efetivo, como uma entrevista de
e p ego .
Nessa perspectiva, é possível perceber a correlação do assunto com o eixo Psicologia Social, processos de trabalho em
contextos neoliberais e possibilidades de enfrentamento. O pesquisador ressalta a importância que existem nas
estratégias comportamentais, cognitiva e aperfeiçoamento ao desenvolver HS que são demandas aprendidas no
decorrer do curso de graduação em psicologia. Outro ponto que se torna saliente na pesquisa é em relação às
universidades, no que diz respeito aos estudantes que estão no fim do curso. A partir desse momento torna se
importante contribuir, oferecendo mesmo em grupo, um suporte psicológico com programas educacionais que
desenvolvam repertório socialmente habilidoso, sempre almejando tornar a vida desse estudante mais confortável
possível no intuito de contribuir para que os sintomas do Transtorno de Ansiedade (TA) não se agravem interferindo
em recrutamento e entrevistas de seleção (ROCHA et al., 2012).
A pesquisa também apresenta conteúdo teórico relacionado à importância do trabalho para o indivíduo, a estrutura
de uma área de Recursos Humanos e a importância do Psicólogo no processo de recrutamento e seleção de uma
organização.
Esta é classificada como uma pesquisa aplicada e tem como característica o interesse prático, de modo que os
resultados sejam aplicados ou utilizados na realidade dos alunos da FSMA. Foi enviado um questionário estruturado
com cerca de 20 questões para um universo de 1.038 (mil e trinta e oito) e-mails ativos de alunos matriculados nos
cursos da IES, sendo que apenas se obteve apenas 188 respostas. A tabulação gerou gráficos que foram analisados e
ao final após a aplicação de uma entrevista guiada junto à uma psicóloga que atua na área de recrutamento e seleção
para averiguar o que se espera em termos de comportamento social do indivíduo que participa de um processo
seletivo.
Assim, evidencia-se a dificuldade encontrada pelos estudantes em se expor em determinadas situações, todavia nem
todas exercem o mesmo efeito nos indivíduos, ou seja, alguns vão ser mais suscetíveis a comportamentos induzidos
pela ansiedade e consequentemente poderão responder de modo inadequado. Não é congruente pontuar
determinado comportamento ou reação derivada da ansiedade como uma patologia, mas sim como esse age e reage.
1464
Os resultados aqui apresentados e analisados apontam que a atuação do psicólogo no setor de RH além de possui
preparação e capacitação em técnicas de entrevista, testes psicológicos tem a sensibilização como diferencial em sua
práxis. No que se refere ao comportamento ideal, é visto que existe interferência da ansiedade que influenciam
negativamente em um processo de recrutamento e seleção por se tratar de uma ocasião onde o comportamento é
relevante.
Por fim, percebe-se que ao avaliar o indivíduo em um contexto ansioso, deve se expandir o olhar, o que não significa
encobrir determinados sintomas caso o candidato venha apresentá-lo.

Palavras-chave:
Ansiedade; habilidade social; estudante; seleção

1465
Uma visão sobre a organização do processo de trabalho da equipe da CIHDOTT
Autor:
Ana Rita Barreto (UFU)
Coautor:
Lucianne Menezes (UFU)

Trabalho é o fundamento da vida humana e instrumento pelo qual o homem constrói a si próprio, sua identidade, um
lugar social. É atividade consciente orientada para um fim, e desse modo pode tanto promover saúde, como pode
também promover adoecimento. A saúde do trabalhador busca, por meio do estudo dos processos de trabalho,
compreender o adoecer e o morrer dos trabalhadores. O processo de trabalho resulta na produção de valores de uso,
de bens, processo técnico, social e econômico; é o meio para o processo de valorização, da produção da mais-valia, do
lucro e, sendo assim, é a materialização do processo de valorização e divisão do trabalho.
A análise da organização e do processo de trabalho é de extrema importância para identificar quais tipos de
alterações são necessárias para melhoria das condições de trabalho e para prevenção dos riscos e agravos à saúde do
trabalhador. Surge então, a necessidade de se estudar o processo de trabalho em diferentes âmbitos. Por isso o
presente estudo procura focar o processo produtivo dos trabalhadores nas equipes envolvidas na área de doação e
transplantes de órgãos e tecidos (CIHDOTT). O processo de doação de órgãos e tecidos para transplantes é
extremamente complexo e compõe-se de uma sequência de ações que possibilitam transformar um potencial doador
em um doador efetivo de órgãos e/ou tecidos, tendo por finalidade o transplante. Esta investigação surgiu da
preocupação com a saúde dos trabalhadores envolvidos neste processo, e com os potenciais riscos e agravos. Nossa
hipótese é que o cotidiano conflituoso, presente no processo de trabalho da equipe (CIHDOTT), ao longo do tempo
interferiria no desgaste destes trabalhadores.
A pesquisa está sendo desenvolvida desde 2016, no Mestrado em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador da
Universidade Federal de Uberlândia-MG, no Hospital de Clínicas de Uberlândia (HCU).
As determinações de ordem sociopolítica e econômica atuam nas relações entre o processo de trabalho e processo
saúde-doença. Considerando o trabalho dominado, situações em que o corpo e os potenciais psíquicos do trabalhador
são consumidos pelo processo de trabalho e por constrangimentos a ele vinculados, configura-se o chamado
desgaste. Seria possível, então, recortar e identificar sobrecargas psíquicas a que estão expostos os trabalhadores de
doação de órgãos e tecidos para transplantes? Nesse sentido, poderíamos delinear algum padrão de desgaste destes
trabalhadores, com base no referencial de Edith Seligmann-Silva?
áàpa ti àdoà uad oàe posto,à ossaàpes uisaàseài se eà oàEi o:à Psi ologiaà“o ial,àp o essosàdeàt a alhoàe à o te tosà
eoli e aisà eà possi ilidadesà deà e f e ta e to ,à assi à o oà oà GT:à Psi ologia Social do Trabalho: olhares críticos
so eà oà t a alhoà eà osà p o essosà o ga izati os ,à te doà e à istaà aà dis uss oà dasà o figu aç esà atuaisà doà u doà doà
trabalho no neoliberalismo mundializado e as consequências do atual modelo de produção sobre os modos de
subjetivação e o processo saúde-doença.

OBJETIVOS
Objetivo geral: examinar a organização do processo de trabalho da equipe da CIHDOTT – Comissão Intra Hospitalar de
Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, do HCU. Objetivos específicos: 1) identificar possíveis sobrecargas
psíquicas que podem afetar a saúde destes trabalhadores; 2) investigar se há desgaste mental e quais suas expressões
e descrever o perfil sócio demográfico e ocupacional da equipe, a fim de caracterizar a mão de obra envolvida neste
processo.

METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa exploratória de base qualitativa no campo da Saúde do Trabalhador, em que o material
selecionado para o estudo está sendo submetido à análise de conteúdo temática, e remetido à categoria teórica de
desgaste mental relacionado ao trabalho. O procedimento de trabalho se dividiu em quatro etapas para obtenção do
material a ser examinado: atualização do material bibliográfico referente ao tema, observações participantes no
ambiente de trabalho, entrevista individual semi-estruturada e aplicação de questionário sócio-demográfico. O
material obtido nas etapas anteriores foi remetido às questões iniciais da pesquisa, visando resultados e as
considerações finais.

1466
RESULTADOS PARCIAIS
A pesquisa encontra-se em fase de análise dos dados. Os resultados estão sendo colocados em interlocução com
autores do campo da saúde do trabalhador, da psicologia social e do trabalho e da sociologia que tratam da temática
das relações entre trabalho, subjetividade e saúde, em especial, cargas psíquicas, sofrimento mental e desgaste do
trabalhador, de modo que em seu conjunto este repertório obtido será remetido aos objetivos da pesquisa e
hipótese, visando às considerações finais.

CONCLUSÕES
Nas interseções entre processo de trabalho e processo saúde-doença há determinantes sócio-políticos e econômicos
que geram constrangimentos que se configuram como desgaste. A partir da identificação de possíveis sobrecargas
psíquicas envolvidas e seus efeitos sobre tais trabalhadores, pretende-se propor estratégias para melhoria das
condições de trabalho e replanejamento do processo de trabalho.

Palavras-chave:
Saúde do Trabalhador; Desgaste Mental

1467
Vivências do Desemprego entre Mulheres: Adoecimento Psíquico e Social
Autor:
Thainá Ribeiro Carvalho
Coautor:
Bruna Alves Schievano
Camila Antunes (UFU)
Luna (UFU)
Heila Veiga (UFU)

O desemprego é um fenômeno atinge mais de 13 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística – IBGE (2017), fazendo sua discussão importante e necessária, sendo além de uma
competência do Estado, também uma demanda social. Esse fenômeno está para além do trabalhador individual e se
relaciona com fatores macrossociais, históricos, e estruturais, todavia isso é pouco enfatizado, fazendo com que o
sofrimento com o desemprego esteja muitas vezes associado à responsabilização do indivíduo, refletindo na vida e na
saúde mental dos trabalhadores. Considerando que o trabalhador em situação de desemprego pode vivenciar
diversos sofrimentos e que isso pode repercutir nas inúmeras esferas da vida da pessoa é fundamental compreender
e investigar o fenômeno do desemprego. Assim sendo, o objetivo geral do presente estudo foi investigar as vivências
psíquicas e sociais de trabalhadores desempregados e seus imbricamentos na vida da pessoa. Para realização do
estudo foi selecionada por conveniência uma amostra composta por três mulheres desempregadas, em média há dois
anos, com idade média de 45 anos, sendo duas com nível superior e uma com ensino médio completo. Para o alcance
do objetivo proposto foi realizada uma entrevista individual semiestruturada com questões que versavam sobre (a) as
principais mudanças ocorridas em decorrência do desemprego; (b) o modo como a situação de desemprego afetou no
relacionamento com familiares e amigos; (c) estratégias adotadas para a geração de renda durante a situação de
desemprego; (d) as ações para encontrar um novo trabalho, entre outras. A entrevista foi realizada em lugar
reservado de modo a garantir a privacidade da participante. Para a análise de dados foi feita a análise de conteúdo
categorial. Os resultados apontam que as vivências decorrentes do desemprego podem ser agrupadas em duas
categorias: sofrimento psíquico e social. Na primeira categoria apareceram aspectos como sentimentos de baixa
autoestima, estado de ânimo e humor reduzidos, sentimento de dependência. Por sua vez, no que concerne ao
sofrimento social foram incluídas categorias que tratam do afastamento dos amigos, redução dos vínculos afetivos e
menor participação nos eventos familiares. Todas as participantes destacaram que o marido sempre foi o arrimo de
família, assim a situação de desemprego não afetou tanto a família, mas sim, os gastos pessoais das participantes, que
tiveram que ser reduzidos drasticamente em função do desemprego. Desse modo, as entrevistadas afirmam que o
principal impacto do desemprego foi à necessidade de reduzir cortes no orçamento destinado a si mesmas. As
participantes pontuaram que tem buscado sua rede de contatos para identificar novas oportunidades e apenas
retornarão ao mercado de trabalho formal se encontrar algo que recompense financeiramente, enquanto isso busca
estratégias alternativas para geração de renda. Desse modo, o presente estudo aponta que mesmo para quem não é
o principal provedor da renda familiar, a situação de estar desempregada acarreta sofrimento psíquico e social e no
caso específico das participantes aumenta a sua dependência financeira em relação ao companheiro. Assim,
considerando que o trabalho é uma questão central em nossa sociedade, sendo condição para a sobrevivência, um
dever, abrangendo dimensões significativas do sujeito que constituem sua identidade, realização pessoal, seu inserir
na sociedade e sociabilidade é fundamental o desenvolvimento de políticas públicas que facilitem a reinserção de
profissionais no mercado de trabalho, pois quanto mais aumenta o tempo do desemprego menor as chances de
obtenção de uma nova colocação profissional; desta feita, o Estado tem um dever fundamental no fornecimento de
cursos, fortalecimento da economia entre outros aspectos a fim de que todos possam trabalhar se assim o desejarem.

Palavras-chave:
Desemprego; Adoecimento Psíquico; Adoecimento Social

1468
Eixo 06. Estado, Democracia e Movimentos Sociais face à mundialização e neoliberalismo

1469
Mídia burguesa e comunicação mediada: a invenção da verdade, identidade e subjetivação
Autor:
Andreza Ferreira (FCL Unesp Assis)
Coautor:
Heloisa Carli (Unesp)
Giovana Domingos da Silva (Unesp Assis)
Deivis Perez (UNESP)
Catto (FCL - UNESP Assis)

Nas sociedades contemporâneas os veículos capitalistas de comunicação mediada têm sido responsáveis pela
produção e difusão de discursos e formas simbólicas com grande fugacidade em diversas escalas. Neste quadro, nota-
se preocupação de inúmeros segmentos sociais com a influência que os grupos de mídia têm sobre o fluxo
informacional, o que garante aos seus proprietários centralidade na difusão e direcionamento do entendimento dos
eventos políticos, econômicos e socioculturais pela população. Preocupadas com essa questão, as integrantes do
Programa de Educação Tutorial (PET Psicologia) da UNESP desenvolveram ações integradas de ensino e extensão -
ciclos de estudos, eventos acadêmicos e cursos - que ofereceram a graduandos(as), pós-graduandos(as) e
profissionais a oportunidade de desenredar e compreender os sentidos das formas simbólicas e dos efeitos de
verdade produzidos pelos veículos de comunicação.

Objetivos
As atividades tiveram como objetivos que, ao final do processo educativo, os participantes fossem capazes de:
a) Identificar a invenção e história da comunicação mediada capitalista desde os anos 1500, com destaque para o caso
brasileiro.
b) Compreender as relações entre tecnologia, transformação da mídia e ascensão da comercialização de informações.
d) Identificar as formas de poder (político, econômico, coercitivo e simbólico).
e) Reconhecer as teses retóricas de produção da verdade e seus usos pela mídia brasileira.
f) Avaliar os impactos das ações da mídia na construção da identidade e dos processos de subjetivação de pessoas.

Relação com eixo e GT


Este trabalho vincula-seàaoàEi oàTe ti oà Psi ologiaà“o ial,àCo u i aç oàeàMídias:àhege o iasàeà esist iasàt ti as à
na medida em que dedica-se ao entendimento da mídia enquanto um poder mediador das informações e formas
simbólicas em direção aos interesses da burguesia, que cria condições de construção de identidades e subjetividades
d eisà aosà i te essesà dosà g uposà e i ue idos.à ái da,à oà t a alhoà te à si to iaà o à oà GTà Psi ologia,à desigualdadeà
so ialà eà do i aç o à aà edidaà e à ueà p op eà oà e a eà daà e pe i iaà ediadaà pelosà eí ulosà deà o u i aç oà
enquanto dimensão fundamental para compreender as movimentações políticas, econômicas e socioculturais no
sentido da adesão de grandes contingentes populacionais a pautas autoritárias, perspectivas privatistas e neoliberais
em harmonia com as históricas estratégias de docilização e dominação dos trabalhadores pela burguesia.

Abordagem teórica
No trabalho ora apresentado foram adotados aportes da Filosofia, Psicologia e Ciências Sociais dedicados ao exame
da mercancia de notícias e circulação de discursos; atividade linguageira e comunicação mediada; construção da
subjetividade e identidade pelas pessoas em contextos impregnados pelos efeitos de verdade produzidos por ação da
mídia oligopolista burguesa. Especificamente foram estudados: os distintos modos que assume o poder, com
destaque o poder simbólico conforme John Thompson; as teses retóricas das elites políticas e econômicas, de acordo
com Albert Hirschmann; a liberdade de imprensa na abordagem marxiana; além de saberes sintonizados com a
filosofia da práxis sobre cultura e mídia; experiência mediada, luta de classes e mídia burguesa.

1470
Método
As atividades ocorreram por meio de três movimentos educativos. No primeiro, as integrantes do PET Psicologia
realizaram dois ciclos de estudos, nos quais foram utilizadas múltiplas técnicas educativas, como: leitura de textos,
recursos audiovisuais, exposição dialogada, dinâmicas, análises e debates de conceitos em grupo. No segundo
movimento, foi realizado um evento (conferência e palestras), que contou com a participação de profissionais da
mídia, que contribuíram para o aprofundamento das discussões feitas na primeira etapa de estudos. Posteriormente,
foram realizados três cursos abertos ao público.

Resultados
O conjunto de atividades realizado promoveu a apropriação, pelos participantes, de saberes acerca das principais
fases de desenvolvimento da comunicação mediada a partir da modernidade, com ênfase para as estratégias
adotadas pelos grupos sociais dominantes para o desenvolvimento de tecnologias e veículos de armazenamento e
difusão de informações. No tocante a dimensão quantitativa, foram atendidas 150 pessoas ao final das atividades de
ensino e extensão realizadas.

Conclusão
Os estudos e ações do grupo PET Psicologia sobre mídia e veículos de comunicação mediada apoiaram a universidade
no cumprimento da sua função de oferecer a população interessada na temática abordada a possibilidade de
participação em debates nos quais foram exercitados um conjunto de recursos teóricos e metodológicos da
abordagem psicossocial, sobretudo aquela dedicada a perspectiva histórico-social e ao exame político dos cenários
contemporâneos que envolvem os grandes veículos de mídia.

Palavras-chave:
Mídia, comunicação mediada, subjetivação, verdade

1471
Ocupação estudantil: As representações sociais de estudantes de uma universidade federal
Autor:
Michelle Morelo (UNIVERSO)
Coautor:
JULIA CACIANO DA SILVA (UNIVERSO)
Victor Milet (UFF)
Jessica Chagas (UFF)
Iuri Pizetta Moschen

Esse estudo foi realizado durante o período de novembro de 2016, quando a Universidade Federal Fluminense, assim
como várias outras instituições educacionais do país, vivenciavam um processo de ocupação estudantil. A ocupação
estudantil pode ser definida como uma reivindicação do seu direito à escola/universidade e de estruturação de uma
nova proposta pedagógica. Tal movimento contestava o direcionamento político da época e as relações hierárquicas
estabelecidas na Academia. Desse modo, os estudantes protestaram contra os projetos de lei da PEC 241 (PEC do teto
de gastos), da PL 193 (Escola sem Partido) e da medida provisória da reforma do Ensino Médio. O objetivo deste
estudo foi, portanto, identificar as representações sociais de estudantes universitários em relação ao movimento de
ocupação estudantil. As representações sociais são uma forma de conhecer o mundo e estabelecer relações, desse
modo, constituem os pensamentos e as práticas de um grupo frente a determinado objeto. Participaram da pesquisa
estudantes de alguns cursos cujos institutos apoiaram a ocupação (Antropologia, Arquitetura, Ciências Sociais,
Filosofia, História, Letras, Psicologia e Sociologia) e de alguns cursos não-ocupados, que mantiveram normalmente
suas atividades (Economia, Engenharias, Estatística, Farmácia, Química Industrial e Relações Internacionais). A
amostra total foi composta por 112 estudantes, sendo 59 referentes aos cursos ocupados (Grupo 1) e 53 aos não-
ocupados (Grupo 2), com idade média de 22,15 anos (DP = 4,29) e a maioria do sexo feminino (62,8%). Foram
realizadas análises de teste de evocação livre de palavras – que se caracteriza pelo uso de palavras-estímulo em
relação ao objeto de pesquisa, apresentando-se alguns termos e solicitando que o pesquisado produza expressões ou
palavras à medida que estes lhe venham à cabeça – tendo como base nesse estudo a palavra-estí uloà o upaç oà
estuda til .à Co à au ílioà deà u à soft a eà deà a liseà le i og fi a,à oà I a ute ,à oà o pusà passouà po à u aà a liseà
prototípica, que caracteriza a estrutura da representação, incluindo cálculo de frequência, índices de associação de
palavras e classificação hierárquica descendente. Os resultados indicaram 173 evocações com 102 palavras diferentes
para os alunos do Grupo 1 e 140 evocações com 111 palavras diferentes para os alunos de cursos do Grupo 2. Os
elementos mais evocados para os alunos que do Grupo 1 foram: luta (12,64%), resistência (6,32%), estudantes
(2,87%) e revolução (2,87%); e para os estudantes do Grupo 2 foram: luta (6,0%), ineficaz (3,33%), direito (3,33%),
apoio (2,76%). Os resultados, tendo por foco a importância atribuída pelos estudantes que estavam em ocupação aos
te osà ueà e o ouà pe ite à o stata à ueà osà te os:à luta ,à esist ia à eà e oluç o à pe a e em como
elementos do possível núcleo central (1º quadrante). Enquanto que para os alunos que não estavam em ocupação
fo a :à luta ,à políti a àeà g e e .à‘essalta-se que o núcleo central de ambos os grupos apresentam uma relação com
contexto político, entretanto, o núcleo periférico de ambos denotam oposição. Para os estudantes que estavam em
o upaç oàasàe o aç esàesta a à i uladasàaoà o te toàpositi oàdaà o ilizaç oà po àe e plo,à uda ça àeà u i o ,à
por outro lado, os estudantes que não estavam em ocupação apresentaram um contexto negativo e depreciativo com
elaç oàaoà o i e toàdeào upaç oà po àe e plo,à i efi az àeà deso ga izaç o .àáàa liseàdosàdadosà essaltaà ueàdeà
um modo geral a ideia de luta vinculada às ocupações estudantis apresentam-se mais fortemente para ambos os
grupos. Em relação às diferenças, os resultados apontam para a influência de crenças e significantes socialmente
construídos nas representações elaboradas pelos alunos dos diferentes cursos e na própria vivência deste recorte
temporal. Desse modo, ressalta-se a importância de estudos que incluam aspectos ligados às manifestações sociais e
seus desdobramentos, face a atual conjuntura política nacional.

Palavras-chave:
Ocupaçãoestudantil RepresentaçõesSociais MovimentosSociais

1472
Eixo 07. Psicologia Social: questões teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento
e/ou intervenções

1473
A Construção do Conceito de Self na Obra de Kenneth Gergen
Autor:
Jéssica Borges Pereira (UFU)
Coautor:
Emerson Rasera (UFU)

O Construcionismo Social se refere a uma corrente teórica que embasa o processo de produção do conhecimento a
partir de uma perspectiva social e tem como principal autor o psicólogo Kenneth Gergen, que em suas obras escreve
sobre a importância das relações sociais em vários âmbitos da vida. Gergen aponta que o que se considera como real
é fruto de uma construção social situada em contextos e culturas específicas, tal como a ideia de amor, a forma de se
comportar em determinado local ou como se vestir. Portanto, o sentido do mundo e de si é construído a partir da
relação entre as pessoas. O self, assim, também seria fruto de tal construção, e o autor o problematiza ao longo de
seus escritos e o analisa como um discurso, se atentando a dois aspectos: situando as condições sócio históricas
concretas do surgimento de um novo vocabulário sobre o self e as maneiras que as narrativas ofertadas socialmente
sobre o self são utilizadas na sustentação dos relacionamentos. O self não é entendido como sendo imutável, único e
nuclear, mas produto de uma construção social e histórica. Com isso, este estudo possui o objetivo de rastrear as
transformações do conceito de self na obra de Kenneth Gergen, tendo em vista a complexidade de seu pensamento, a
escassez de análises sobre esse aspecto de sua obra e, ainda, a importância deste conceito na Psicologia. Para tanto
foi realizado a análise de seus principais livros que abordam a temática, enfatizando a forma como o autor discorre
a e aàdoà o eito,àse doàeles:à OàCo eitoàdeà“elf à Ge ge ,à ,à ,à Oà“elfà“atu ado:àdile asàdaàide tidadeà aà idaà
o te po ea à Ge ge ,à ,à ‘e o figu a doàoà“elfà eà aàPsi ologia à Ge ge ,à ,à eà “e à ‘ela io al,à al à doà
selfà eà o u idade à Ge ge ,à .à áà pa ti à daà leitu aà eà a liseà deà taisà li os,à foià possí elà ide tifi a à à ei osà
norteadores para compreender como o conceito de self é discutido pelo autor, sejam eles: a linguagem, a história e o
outro. Em todas as suas obras, Gergen aponta a linguagem como portadora de conceitos inseridos em um contexto
cultural e histórico determinado, que ajudam na construção do self e em como as pessoas lidam consigo mesmas e
com o outro. É com a linguagem que nomeamos, classificamos e entendemos o self e todo o mundo. Ela já está
presente quando chegamos ao mundo, mas é em nossas relações que sua utilidade é dada, seja em relação ao self ou
qualquer outra coisa. Assim sendo, pode-se pensar em um self linguístico, o qual é construído na e por meio da
linguagem. A história exerce seu papel na construção do self de forma a fornecer subsídios para que as pessoas
possam estruturar a visão de tal conceito. Isto é, através da história, eventos e acontecimentos do passado deixam
vestígios na visão de self e influenciam na construção deste no presente. A história não sendo apenas vista de forma
geral, mas com as singularidades de cada pessoa, ou seja, a história enquanto macro e micro estão presentes na
construção do self. Cada contexto histórico é recheado de visões que permeiam a vida social e incidem na história
pessoal de cada ser. Assim, o self sofre variações de entendimento ao longo da história, pois ele não está fora desta e,
na verdade, se faz nela. Tal conceito, então, possui uma história longa e é construído por ela. No que se refere ao
outro, foi possível observar que em todas as suas obras, Gergen potencializa esse papel do outro na construção do
self. Tudo se dá pela relação. Primeiramente, o autor coloca esta relação como uma relação com alguém imediato,
mas depois complementa trazendo a forma como as tecnologias e o mundo atual permitem um contato maior com
possibilidades de ser diferentes. Esta multiplicidade amplia os subsídios para a construção do self e, assim, propicia
que sejamos seres-múltiplos. Dessa forma, tendo em vista a análise realizada, é possível observar que no decorrer dos
principais livros de Gergen, o self se amplia de forma condizente com a proposta que o Construcionismo faz em
relação à construção da realidade. Ainda, o autor coloca que não há apenas uma forma de ver o self e o mundo de
forma geral. Seja na construção do self ou na produção de conhecimento, pelo fato das relações serem inúmeras, a
forma como estes se dão também se amplia. A Psicologia, sendo assim, transcende os aspectos que a limitam, bem
como, o seu objeto de estudo, tornando-se mais complexa, no sentido em que abrange e considera as inúmeras
relações e as produções delas provenientes. Com isso, tal trabalho vai ao encontro de questões teóricas e de
produção de conhecimento e/ou intervenções.
Financiamento: CNPQ/FAPEMIG
Palavras-chave:
Self, Construcionismo Social, Psicologia Social

1474
A dinâmica familiar na prostituição e as interfaces com o contexto social
Autor:
Lara Coelho (UFU)
Coautor:
Maria Eduarda (UFU)
Luiza Sanchez Ferreira (UFU)
Anamaria Silva Neves (UFU)
Amanda Fernandes Silva (UFU)
Giovana Vansolini Soldado (UFU)
Luiza Dornelas Pereira (UFU)
Paula Carvalho Barbosa (UFU)
Caio Rodrigues Silveira (UFU)
Marília dos Santos Aires

Historicamente a prostituição vem sendo apreendida de diferentes formas, com variações de significados, impactos
de estigma social, estereótipos e versões banalizadas e até segregacionistas. Nesse sentido, o presente trabalho tem
como objetivo refletir sobre os laços afetivos e familiares que sustentam as relações no contexto da prostituição.
Trata-seàdeàu à elatoàdeàe pe i iaàp oduzidoàaàpa ti àdeàu àg upoàdeàdis uss oài se idoà aàdis ipli aà Di i aàdaà
fa ília ,à oà u soà deà Psi ologiaà daà U i e sidadeà Fede alà deà U e l dia.à Foià ealizadaà u aà e isão bibliográfica de
caráter interdisciplinar perpassando pelas áreas do conhecimento da Psicologia, Antropologia, Direito e História, com
ênfase para os subtemas: a dicotomia mãe-prostituta, as diferentes formas de inserção do homem nesta esfera
(marido, namorado, cliente, e/ou relações exploratórias), além das políticas públicas relacionadas à atenção e ao
cuidado à saúde, a exploração sexual de crianças e adolescentes em interface com as relações familiares. Interessou
ainda abordar a regulamentação da prostituição enquanto profissão. Metodologicamente, complementar à discussão
teórica foram realizadas atividades práticas mediante carta de apresentação formal, que envolveram entrevistas com
mulheres prostitutas e a dona de um local que oferece quartos para serem alugados para este fim. Além disso, foi
realizada uma entrevista com um profissional da psicologia que durante um período de sua atuação promoveu
intervenções junto a prostitutas. É importante enfatizar que o presente trabalho envolveu discussões e supervisões
que, gradualmente, foram desconstruindo versões cristalizadas sobre a prostituição e as configurações familiares.
Nota-se então que o estigma em relação à profissão se consolidou por meio de um processo histórico. Nesse
contexto, observa-se que a partir do século XX eclode um movimento de empoderamento do universo feminino,
refletindo em produção políticas públicas de atenção à mulher implantadas no país, com ênfase nos métodos para
prevenção e cuidado da saúde, busca de redução da vulnerabilidade às doenças e um processo de autonomia sobre o
próprio corpo. Especificamente sobre a mulher, mãe e prostituta, há uma concepção equivocada que centraliza a
prostituição na vida da profissional, negligenciando a possibilidade de sua inserção nos âmbitos familiares e sociais
mais amplos. As famílias das prostitutas em geral apresentam modelos cuja pluralidade aponta a diversidade dos
arranjos familiares e, em muitos casos, a mulher é a provedora da família. No seio dessas discussões, o homem é
colocado em diferentes papeis e funções para essas mulheres, ocupando lugares de referência emocional, mas
também podendo estabelecer relações de dominação. Outro aspecto salientado envolve a discussão a respeito do
projeto de lei que visa a regulamentação da prostituição, contando com manifestações favoráveis, que acreditam na
garantia de melhorias trabalhistas e da qualidade de vida, e também argumentos contrários, que afirmam que essa
ação seria uma manutenção dos processos de dominação. Conceder espaço de interlocução e colocar as mulheres
prostitutas como protagonistas de suas histórias revelou um movimento fundamental para se pensar estratégias de
cuidado e atenção. Finalmente, é relevante frisar que a prostituição ainda faz presente como tema tabu cujas
resistências estão expressas nos diferentes contextos, seja acadêmico ou na comunidade em geral. Assim, cabe à
academia abordar a temática e mobilizar discussões teóricas que ensejam o debate crítico, responsável e ancorado
teoricamente. Desta maneira, este trabalho se relaciona com o GT, pois, busca entender esses sujeitos em suas
relações e também inseridos em um contexto que é composto social e historicamente, sendo que tal composição, por
vezes, reflete em práticas de discriminação e exclusão. Visa também como a afetividade presente nas relações
humanas pode ser potenciacializadora, gerando autonomia e comprometimento social, constituindo a ética e
mobilizando as práxis psicossociais. Dessa forma, a relação dos indivíduos inseridos no âmbito da prostituição e suas
famílias apresenta um vértice que anseia acesso à respeitabilidade e reconhecimento social. Quanto ao eixo, a relação
acontece uma vez que o trabalho propõe um debate sobre a emancipação e a luta pelos Direitos Humanos, além de
1475
contribuir para uma melhor compreensão dos aspectos teóricos que tratam a relação família-prostituição, dando
amparo para entender os processos psicossociais que procedem da mesma e que nos possibilita discutir o
distanciamento social ao qual esses sujeitos são submetidos.

Palavras-chave:
prostituição família desigualdade exclusão ética

1476
A experiência de um grupo reflexivo - PAEFI - de mulheres no município de Brejinho/RN
Autor:
samia jorge
Coautor:
Anna Cely de Carvalho Bezerra

A assistência social foi definida pela Constituição Federal de 1988 como política pública não contributiva, oferecida a
quem dela necessitar; um de seus objetivos é a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice. Neste sentido, a proteção social se fundamenta na expansão de um padrão societário de civilidade que
afiança um padrão básico de vida e respostas dignas a determinadas necessidades sociais (SPOSATI, 2004, p. 43). A
convivência social, o protagonismo e a autonomia são capacidades que devem ser trabalhadas, em conjunto a outras
políticas públicas, para garantir seguranças socioassistenciais aos usuários. A Proteção Social Especial – PSE – organiza
oferta de serviços especializados que contribuem para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários,
fortalecimento de potencialidades e proteção para o enfrentamento de situações de risco por violação de direitos
(BRASILIA, 2011), nesta política está inserido o Centro de Referencia Especializado em Assistência Social – CREAS. O
CREAS é uma unidade pública estatal de abrangência municipal ou regional, tem como competências ofertar e
referenciar serviços especializados de caráter continuado para famílias e indivíduos em situação de violação de
direitos (MDS, 2013). Este órgão oferece, entre outros, o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias
e Indivíduos – PAEFI, que orienta e acompanha famílias em situação de risco e busca o fortalecimento da função
protetiva da família, potencialização de recursos, construção de possibilidades de mudança e as questões chave para
a construção do grupo reflexivo do qual trata este trabalho: o empoderamento e autonomia e o exercício do
protagonismo e participação so ial.à ássi ,à oà g upoà deà ulhe esà Flo es e à foià pe sadoà deà a o doà o à asà
necessidades emergentes das usuárias que procuraram o CREAS, mulheres em geral já vítimas de vários tipos de
violências, tanto intrapessoais e interpessoais quanto institucionais. Ressalta-se que Brejinho, município localizado na
microrregião do Agreste Potiguar, é uma localidade com cerca de 12.600 habitantes, de economia
predominantemente agrícola, com boa parte de sua população residente em sítios na área rural. É nesta realidade
que a equipe técnica do CREAS, com o apoio da secretaria de assistência social, lançou a proposta de realizar
encontros quinzenais para tratar temas relacionados à violência doméstica, alienação parental, trabalho infantil,
autoestima e pensão alimentícia, assuntos recorrentes na busca por atendimentos psicossociais e jurídicos no órgão.
Em geral, as mulheres queixavam-se de sofrimentos relacionados a relacionamentos conturbados com seus
companheiros atuais ou anteriores, dificuldades na criação dos filhos, que muitas vezes fica na responsabilidade
exclusivamente da mãe e sua família, relatos de abusos e sofrimento psíquico. Outra questão era a negação, por parte
da delegacia, em realizar boletins de ocorrência, sendo que o profissional responsável, um escrivão, solicitava provas
ou testemunhas para o registro do BO, o que dificultava por exemplo a solicitação de medida protetiva de urgência
pe a teàoàJuizado.àE aà o u à osàusu iosàoàdis u soàdeà ueà aàde ú iaà u aàd àe à ada à “IC ,àoà ueàe f a ue iaà
o protagonismo social e a busca por seus direitos e responsabilização do violador. Em aproximadamente cinco meses
de atuação, nos atendimentos individualizados e grupais e especialmente no grupo reflexivo para mulheres, intitulado
Florescer, foi-se oferecendo informações sobre as legislações que protegem a população mais vulnerável, como o ECA
e Lei Maria da Penha, estratégias de enfrentamento, a possibilidade de busca e provocação do Ministério Público. Os
encontros do grupo são realizados em forma de roda de conversa, com apresentação da temática e amplo diálogo
com esclarecimento de dúvidas e encaminhamentos de denúncias aos órgãos competentes, ressaltando que o CREAS
não realiza investigações e nem ocupa lacunas deixadas pelos sistemas de justiça e garantia de direitos, mas realiza a
conscientização, busca da autonomia e acompanhamento familiar através de atendimentos, visitas e grupos
reflexivos. Atualmente, nota-se que ainda há muitos desafios relacionados a preconceitos e machismos que aviltam a
liberdade e demais direitos da mulher e das crianças, no entanto, percebe-se mudanças relacionadas ao aumento na
intensidade na busca pelos órgãos de justiça e qualificação do discurso do usuário e atitudes dos usuários.

Palavras-chave:
SUAS, grupo reflexivo,protagonismo

1477
A identidade PROVAR: o discurso do não-lugar dentro de uma universidade pública.
Autor:
Michelle Jacques (UFPR)
Coautor:
Patricia Moreira Ribeiro (Universidade Federal do Paraná)
Jonas Lomba (UFPR)
Miriam Pan (UFPR)

A cultura, a política, as questões sociais e econômicas influem diretamente sobre os modos de produção da
subjetividade de um grupo social em um determinado período histórico, o que não permite mais se pensar em
identidade de modo estático e unitário, mas sim, em sua multiplicidade, e em processo de constante transformação.
O medo do desconhecido gera a necessidade da criação de identidades polarizadas, pois através da criação de
posições estáticas, tanto aquele lugar excludente, como um lugar considerado privilegiado, por aqueles que ocupam
uma posição privilegiada de direitos e possibilidades, parece permanecer assegurado. Um olhar dialético é necessário
ao referir-se à identidade e ao contexto em que esta se constitui. (políticas, processo de formação de subjetividade,
objetivação/apropriação). É através da manutenção da tensão entre os dois sentidos da identidade, o de permanência
e o de transformação – se identificar com um grupo, mas ao mesmo tempo se (trans)formar conforme os sentidos
criados no decorrer das suas vivencias. O objetivo desse trabalho foi analisar os discursos de identidade de um grupo
de estudantes ingressantes pelo programa de mobilidade acadêmica denominada Processo de Ocupação de Vagas
Remanescentes (PROVAR) na Universidade Federal do Paraná (UFPR), na modalidade de transferência externa e o
modo como respondem a ele. Para isso criou-se, por meio de Rodas de Conversas, sob orientação bakhtiniana, um
espaço de circulação da palavra, onde foi possível compartilhar experiências construindo estratégias de apoio coletivo
a esse grupo de estudantes. Buscou-se também refletir sobre as configurações subjetivas dos estudantes ingressantes
no ensino superior público, por meio de políticas inclusivas diferenciadas. As Rodas de Conversas promoveram a troca
de experiências e o diálogo sobre as dificuldades encontradas ao longo da trajetória universitária, bem como o
compartilhamento de estratégias de enfrentamento das contradições encontradas nas políticas institucionais de
inclusão, em seus efeitos subjetivos, refletidos e vivenciados em relação às práticas acadêmicas cotidianas. Cinco
estudantes do curso de Psicologia, ingressantes à UFPR pelo PROVAR participaram dessa pesquisa. Duas Rodas de
Conversas, com aproximadamente uma hora de duração foram realizadas para esse trabalho. Ambas foram gravadas
e transcritas, com a prévia autorização das participantes. Os resultados constataram que a entrada ao ensino superior
público através do PROVAR mostrou ser uma experiência difícil, frustrante e solitária, reafirmando sentimentos de
exclusão na inclusão. Constatou-se o preconceito institucional e a atribuição de sentimentos de desqualificação, falta
de mérito pela forma de entrada à universidade como sendo pelas portas do fundo, remetendo ao sentimento de não
merecedor da suposta grife Federal. Os sentidos de desamparo, solidão e desvalorização de conhecimentos
previamente adquiridos foram constantes nos relatos. A experiência relatada pelos participantes leva a discussão do
preconceito em relação ao posicionamento que ocupam na universidade, ao relatarem que a única fonte de apoio
recebida é por meio dos colegas também oriundos do PROVAR, percebe-se uma identidade marcada, como já
discutido na literatura, os processos seletivos de ingresso categorizam os alunos em castas, geram estigmas e o
fenômeno da getorização, aqueles que ingressaram pelo vestibular tradicional pertencem grife federal, os que
entraram pela porta dos fundos não. A separação por castas é reforçada pelo fenômeno da geografia da exclusão,
quando informações importantes para a vida acadêmica são fornecidas de forma oficial para os ingressantes pelo
vestibular tradicional já os estudantes PROVAR precisam se orientar sem mapa, sem bússola, dependendo da vontade
alheia de oferecer informação. É evidente no discurso dos participantes o sofrimento em relação a esse não-lugar, ao
mesmo tempo que o PROVAR faz parte de uma política inclusiva os estudantes relatam constante sentimento de
exclusão. Constatou-se na dialética exclusão/inclusão narrada pelos estudantes a categoria do sofrimento ético-
político. A causa do sofrimento dos estudantes está presente nas relações institucionais e o sofrimento é fenômeno
subjetivo e objetivo. O sofrimento ético-político é resultado das injustiças sociais, claramente vivenciadas pelos
participantes da pesquisa, principalmente pelo sentimento de não-lugar, do não pertencimento a grife federal. As
Rodas de Conversas configuram uma potencia de ação que possibilitaram a construção de estratégias para o
enfrentamento das contradições encontradas nas políticas institucionais inclusivas e em seus efeitos subjetivos,
fortalecendo um coletivo de apoio aos ingressantes pelo PROVAR, o que favoreceu a ressignificação dos sentidos da
identidade do estudante de pertencimento à instituição. As relações sociais de inclusão/exclusão estão
historicamente presentes na universidade, configurando um campo social de atuação do psicólogo. Neste campo a
1478
psicologia social oferece reflexões teórica e práticas que favorece formas de enfrentamento desses fenômenos, por
meio da compreensão das relações institucionais como produtoras de subjetividade, que marcam o lugar e o não-
lugar dos estudantes, assim como a compreensão de que por meio da coletividade pode-se produzir estratégias de
superação das formas históricas de exclusão, bem como pode promover o enfrentamento das condições geradas
pelas injustiças sociais, assim como o protagonismo estudantil, nessa esfera do ensino superior público.

Palavras-chave:
PROVAR Identidade UniversidadePública Universitários

1479
A Produção Científica Sobre Políticas Sociais: Uma Análise Da Autoria Latino-Americana
Autor:
Luiza (FACISA-UFRN)
Coautor:
Jéssica Lorena de Araújo Silva
Lucas Silva (Lucas Silva)
JOYCE PEREIRA DA COSTA (UFRN)

As políticas sociais vêm sendo objeto de estudo em diversas áreas e países, em especial no Brasil. A produção
relacionada ao tema é de grande relevância não só para o Brasil, mas também para os demais países latino-
americanos, uma vez que compartilham características políticas, históricas, sociais e econômicas. No caso da
Psicologia, apesar do crescimento da produção sobre Políticas Sociais, ainda há uma carência de análises que tenham
como propósito acompanhar o desenvolvimento das publicações científicas sobre o tema. Uma forma de entender tal
processo é dado pelo estudo de autoria, que de modo geral permite vislumbrar as condições em que se dá a
construção do conhecimento, bem como seus possíveis avanços e lacunas. Partindo dessa consideração, esta pesquisa
objetivou investigar as características dos autores latino-americanos que discorrem sobre o tema políticas sociais.
Para tanto, tomou-se por base artigos científicos que versassem sobre políticas sociais, com pelo menos um autor
vinculado a uma instituição latino-americana e com formação em Psicologia. Tais artigos foram coletados na Red de
Revistas Cientificas de America Latina y el Caribe, España y Portugal (REDALyC). Para obter informações sobre os
autores (focalizou-se nos primeiros autores), recorreu-se ao próprio artigo, a Plataforma Lattes, sites institucionais,
aacademia.org e a rede social Research Gate, além de páginas eletrônicas pessoais, priorizando, porém, as duas
primeiras opções citadas. Os principais resultados revelaram que, dos 78 autores identificados nos artigos coletados,
68% são doutores(as) e 20,5% são mestres(a), o que sugere qualidade e consistência do conhecimento desenvolvido,
em virtude da maior experiência em pesquisa por parte da maioria desses autores. Além disso, verificou-se que 34,6%
dos autores possuem vinculação com o Brasil, sendo acompanhado pelo Chile (19,23%) e Argentina (17,95%), dentre
outros. Percebe-se então que no Brasil há uma maior concentração desses autores, em parte, explicada pelo maior
desenvolvimento científico do país – sobretudo, resultado de investimentos do país na educação superior nas últimas
décadas. Ademais, as políticas sociais são alvo de atenção especial não apenas dos últimos governos brasileiros, mas
dos demais países latino-americanos, tais como os que se seguiram no resultado acima. Ainda, constatou-se que os
autores estão vinculados a 56 instituições diversas, com grande predomínio daquelas ligadas ao ensino superior, com
destaque para a Universidade de Buenos Aires (7,59 %), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (6,32%) e
Universidade de Valparaíso (5,06%). Focalizando o Brasil, uma vez que concentra a maioria dos autores, observa-se
que o Nordeste apresenta uma maior representatividade no que concerne as instituições de vinculação autoral (52%),
um dado que foge a regra, uma vez que historicamente, é a região Sudeste que se destaca na ciência brasileira. Assim,
o destaque do Nordeste pode estar relacionado, dentre outras condições, aos investimentos direcionados ao
desenvolvimento científico na região nos últimos anos. Dos 92 artigos coletados, 57,6% possuem autoria coletiva e
42,3% autoria individual, mostrando que, ao mesmo tempo em que o tema está sendo debatido e construído em
coletividade – uma tendência geral da ciência –, também há uma quantidade considerável de estudos que parecem
partir de reflexões pessoais dos pesquisadores. Dentre as autorias coletivas, identificou-se que apenas dois trabalhos
apresentavam colaboração internacional, insinuando, portanto, que a parceria entre os países (e os incentivos para
tal) encontra-se enfraquecida. À guisa deà o lus o,àoà uad oàdeà auto iaàpe itiuàide tifi a à ueà políti asàso iais à
são um tema que contam com estudos consistentes e de interesse de diversos países, uma vez que têm sido
estudadas por pesquisadores experientes, que o fazem preferencialmente em coletivo, e estão localizados em
diversas instituições da América Latina. Apesar do tema está difundido entre diversos autores, há relativa
concentração em alguns países da região, que apresentam pouca colaboração entre si. Diante disso, aponta-se a
necessidade de se pensar em estratégias que favoreçam a maior articulação entre os pesquisadores da América
Latina, dada as contribuições que o compartilhamento de conhecimentos poderia gerar para os países da região.

Palavras-chave:
produção científica psicologia autoria

1480
A produção de A. N. Leontiev em relação à ciência soviética entre 1940 e 1959
Autor:
Ana Paula Kunzler (UFG)
Coautor:
Gisele Toassa (UFG)

Oàp ese teàt a alhoàfoiàe e utadoàdu a teàoàpe íodoàdeài i iaç oà ie tífi aà i uladaàaoàp ojetoà Oà a poà o eitualà
da síntese psíquica: análise teórica e gênese histórica na psicologia histórico- ultu al ,à oà do í ioà daà hist iaà daà
ciência psicológica. Pretende-se apresentar uma breve análise das concepções de A. N. Leontiev (1903-1979) em
relação à síntese psíquica, compreendida como o conjunto das funções psíquicas superiores, essencialmente
humanas, concebidas a partir das relações históricas e sociais do indivíduo, perpassadas pelos signos, que
estabelecem a mediação entre a realidade externa e interna. Toma-se como referência uma visão geral da ciência
desenvolvida na União Soviética pós-revolução, considerando as possibilidades e limitações políticas, econômicas e
culturais às quais os pesquisadores tiveram de se submeter, no decorrer da construção do sistema soviético de
produção científica (como explicitado por N. Krementsov). Tal contexto possibilitou a emergência de diferentes
concepções teórico-práticas sobre o socialismo, na conjuntura da disputa entre Trótski e Stálin para ocupar a posição
de Lênin, falecido em 1924. A ascensão de Stálin conferiu novos rumos à ciência soviética em geral e, em especial, à
psicologia, configurando uma rígida vigilância do partido, além de uma ideologia marxista-leninista a ser seguida. Por
conseguinte, é possível compreender a mudança de postura de determinados autores em relação aos seus contatos
acadêmicos/profissionais e, muitas vezes, às suas próprias proposições. Neste contexto é que se contempla a
necessidade de verificar as influências do contexto histórico e político corrente na União Soviética na produção
científica do mesmo período. Leontiev foi um pesquisador russo colaborador de L. S. Vigotski, cuja obra, em sua
maioria desenvolvida depois da morte do último, é explorada principalmente no campo da educação. Iniciou sua
carreira profissional no ano anterior ao estabelecimento oficial da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (1922),
o que revela muito sobre sua produção. Neste sentido, o trabalho se encaixa no eixo temático que trata de questões
teóricas e metodológicas na pesquisa, produção de conhecimento e/ou intervenções, pelo fato de pensar a ciência
inserida em um contexto específico, não podendo ser levada em consideração separada de sua história. Destarte,
propõe-se compreender e sistematizar os conceitos basilares da psicologia de Leontiev, no que se refere ao campo
conceitual da síntese psíquica nas circunstâncias postas. Para tanto, faz se necessária a compreensão da apropriação
da obra do autor pelos estudos histórico-culturais no Brasil, da influência das relações de Leontiev com o Círculo de
Vigotski e o seu posicionamento frente ao contexto soviético. O método empreendido para sua realização foi um
estudo bibliográfico do material produzido por Leontiev disponível nas línguas portuguesa e inglesa. Além disso,
realizou-se revisão bibliográfica nas bases de dados BVS-Psià eà BDTDà dasà efe iasà i iaà so i ti a ,à psi ologiaà
histórico- ultu al à eà o s i ia .à Osà esultadosà o tidosà aà pa ti à doà estudoà de o st a à u à afasta e toà
considerável de Leontiev em relação aos pressupostos vigotskianos, principalmente no que tange à concepção de
consciência. A considerar a influência do conceito de reflexo, a Teoria da Atividade de Leontiev expressa uma
predominância do mundo externo sobre o mundo interno, elaborando uma cisão entre consciência e matéria que
quebra a ideia de materialidade da consciência para Vigotski. Ademais, chama a atenção os problemas de tradução
e à Oàdese ol i e toàdoàPsi uis o ,à oà ual,àdi e sasà ezes,àosà o eitosàse tidoàeàsig ifi adoàseàalte a àta toà
para a palavra smisl quanto para znatchenie, podendo indicar também uma possível diferenciação conceitual da
relação entre sentido e significado para Vigotski e Leontiev. Importante achado da pesquisa se refere à exclusão de
citações feitas à Stálin na terceira edição do livro supracitado em russo em relação à primeira edição na mesma língua.
O livro na língua portuguesa, edição de 1978, também não traz tais citações.

Palavras-chave:
ciência-soviética Leontiev consciência

1481
A psicologia no campo da Atenção Básica: uma revisão sistemática
Autor:
Bruna Abbud
Coautor:
Juliana Kuster De Lima Maliska (UFSM)
Cândida Prates Dantas
Murilo Domingues Alves

A inserção da psicologia nas políticas públicas e na saúde coletiva é recente. Alguns eventos foram imprescindíveis
para que essa entrada ocorresse, destacando-se a Constituição de 1988, que possuía uma sessão específica que previa
o Sistema Único de Saúde e o movimento da reforma psiquiátrica (Zurba, 2011). Esta propõe uma relação de cuidado
entre usuário de saúde mental, família, serviço e comunidade, aproximando-se dos princípios básicos do SUS em que
a atenção básica se faz presente como porta de entrada universal. A psicologia ainda enfrenta muitos desafios nesse
campo de atuação, uma vez que passou por grandes mudanças epistemológicas, bem como por não estar totalmente
inserida em todos os serviços públicos de saúde.
A área da saúde tem sido um espaço de inserção do profissional da psicologia e outra alternativa para além dos
consultórios (Sebastiani, 2000). Segundo Spink (2013), essa inserção do psicólogo nos serviços públicos torna-se difícil,
visto que a falta de recursos materiais e financeiros, a inexistência de um modelo de atuação que guie a sua prática
profissional nesse campo, que não está pautada no modelo clínico, e demais dificuldades externas influenciam
diretamente na sua atuação. Moré, Azevedo e Storti (2011) apontam para o crescimento rápido da demanda do
profissional de psicologia neste novo cenário e o não acompanhamento da formação destes profissionais,
desfa o e e doà assi à aà elaç oà daà p ti aà psià eà oà a poà daà saúde.à Baseadoà oà t a alhoà Psi ologiaà daà “aúdeà eà
p oduç oà ie tífi a à Witte ,à ,à ueà ealizouàu aà us aàdeàa tigosàso eàaàpsi ologiaàeàoà a poàdaàsaúdeàat àoà
ano de 2008, o objetivo do presente trabalho foi fazer um mapeamento sistemático de produções que envolvem a
atuação do profissional da psicologia na atenção básica, e assim compreender como essas produções estão sendo
construídas neste contexto. Dessa forma, o presente trabalho aproxima-seà doà ei oà te ti oà Psi ologiaà “o ial:à
uest esà te i asà eà etodol gi asà aà pes uisa,à p oduç oà deà o he i e toà e/ouà i te e ç es à po à ealiza à u à
diálogo das produções científicas e suas convergências/divergências acerca das práticas de psicólogos no campo da
Psicologia Social da Saúde na atenção básica.
Norteamos o trabalho com o viés da pesquisa qualitativa, tendo duas propostas: revisão sistemática (Zoltowski et al.,
2014) de artigos publicados em plataformas, que possuem qualis em psicologia e análise temática (Minayo, 2008) dos
artigos encontrados. Para este trabalho serão apresentados os resultados da revisão sistemática, que foi realizada
uma pesquisa nas plataformas Scielo, Pepsic e BVSPSI, com os seguintes descritores procurados separadamente:
Psicólogo, Psicologia da Saúde, Psicologia comunitária, NASF, Atenção primária e Atenção básica.
As produções datadas de 2008 até 2016, passaram pelos seguintes critérios de inclusão: ser uma produção empírica e
ter a atuação do profissional de psicologia na atenção primária. Posteriormente, os artigos passaram pelos critérios de
exclusão: produção em forma de tese ou dissertação e produção no campo da atenção secundária ou terciária. Para
plataforma BVSPSI teve outro critério de exclusão que seriam artigos das plataformas Scielo e/ou Pepsic, pois
compreende-se que estes foram contemplados na busca destas plataformas. Após foi tabelado o número de artigos
por descritores, plataforma, aqueles que passaram por ambos critérios, os que não passaram pelo critério de inclusão
e os que passaram pelo de exclusão.
Foram encontrados 3.534 artigos com os 06 descritores, entre as 03 plataformas. Foram 60 artigos selecionados pelos
critérios de inclusão e exclusão, necessitando ainda retirar 04 que não foram encontrados meio eletrônico para leitura
integral e 03 que repetiram em mais de um descritor, chegando a um total de 53 artigos para análise. Para o descritor
psicologia da saúde foram encontrados 05 artigos que tivessem relação com atuação do psicólogo na atenção
primária, já para o descritor psicologia comunitária foram encontrados 08 e o descritor psicólogo 31. Nos descritores
Atenção primária e Atenção básica foram encontrados respectivamente 03 e 06 artigos que tivessem relação com a
psicologia e sua atuação neste campo. Para o descritor NASF foram encontrados 6. Observou-se que a maior parte dos
artigos tiveram publicações nos anos 2009 (12 artigos), 2015 (10 artigos) e 2012 (09 artigos). Das metodologias
realizadas predomina a qualitativa (15 artigos) através de entrevistas (12 artigos) ou relatos de experiências (20
artigos), método de análise que predominou foi a análise de conteúdo (05 artigos). A respeito das regiões que os
trabalhos foram realizados a região sul (11 artigos) e sudeste (26 artigos) compreendem a maior parte dos trabalhos.

1482
Concluímos desta forma que em relação a produção de conhecimento na área da psicologia da saúde, mais
especificamente o campo da atenção básica é pouca em relação ao número de produção que foi encontrada nesta
revisão sistemática, compreendendo que foram encontrados 3534 artigos e apenas 53 são deste campo de atuação. É
necessário ainda finalizar a pesquisa a fim de analisar as produções que vem sendo realizadas neste campo e o espaço
que o psicólogo vem ocupando, bem como o seu fazer.

Palavras-chave:
PsicologiadaSaúde Atuaçãodo(a)Psicólogo(a) AtençãoPrimária RevisãoSistemática

1483
Atuação do/a Psicólogo/a na Proteção Especial nos Órgãos da Assistência Social
Autor:
Fabiana (FASB)
Coautor:
Sandra (FASB)
Ariane Gonçalves de Araújo
Kalline Matos (CRAS)

De acordo com o crescente número de profissionais de psicologia no âmbito da assistência social, existe uma
preocupação quanto à capacitação necessária do/a psicólogo/a para desenvolver o trabalho esperado no Sistema
Único da Assistência Social (SUAS) e seus respectivos órgãos, isso porque observa-se ainda uma deficiência na
formação acadêmica desses profissionais para atuar nessa área, devido à falta de disciplinas na grade curricular que
abordem sobre as políticas públicas de assistência social A presente revisão sistemática teve como objetivo analisar os
estudos no campo das políticas públicas da assistência social na área da psicologia no Brasil, dando ênfase da atuação
do/a psicólogo/a na proteção especial nos órgãos de assistência social. A pesquisa realizou-se nos meses entre Maio e
Junho de 2017, o percurso metodológico utilizado foi consulta às bases de dados eletrônicas da Lilacs (Literatura
Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System
Online) e Scielo (Scientific Electronic Library Online) no período de 2007 a 2016. Usou-se como descritores: Atuação
do Psicólogo, Assistência Social e Proteção Social Especial, sendo selecionados 6 artigos dos 28 encontrados para
produção desta revisão seguindo os seguintes critérios: publicações nacionais e em formato de artigo, publicados
entre os anos 2007 e 2016. Foram descartados 22 artigos a partir dos critérios de exclusão, que foram: artigos
repetidos, artigos não empíricos e que não estivessem de acordo com o objetivo da pesquisa. Vale ressaltar que,
muitos artigos abordaram a temática a partir do CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), tratando da
proteção social básica. Quanto aos resultados foi possível observar a predominância de três perspectivas relacionadas
à atuação do/a psicólogo/a enquanto componente técnico numa equipe que tem contato direto com pessoas que
sofreram algum tipo de violação de direito, e dessa maneira precisa ser retirada desse contexto e protegida legal,
física e psicologicamente. A primeira é atuação do/a psicólogo/a junto à crianças e adolescentes, que abrange
questões voltadas para a violação de direitos, dinâmica da família das crianças e dos adolescentes e atuação dos/as
profissionais de psicologia. A segunda é o relato da vivência desses profissionais tratando sobre a importância e as
dificuldades ou desafios de atuação dos mesmos nesse nicho especifico da assistência social, destacando que o/a
psicólogo/a deve ser reconhecido pelo papel social e a diferença que se faz nesse ambiente tendo esse profissional
atuando no âmbito do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), pois, o mesmo tem toda a
preparação em lidar com as mais diversificadas situações que o indivíduo está exposto, exigindo dele um
posicionamento político como um agente transformador social. A terceira, é o trabalho do/a psicólogo/a diante da
violência doméstica sofrida por mulheres, sendo possível verificar que as políticas públicas de enfrentamento a
violência contra a mulher mostra-se frágil e não devidamente implementadas. Portanto, os profissionais encontram
dificuldades para exercer seu trabalho e ainda tem a escassez da literatura à respeito dessa temática que norteiem a
atuação dos/as psicólogos/as nesse campo. A assistência social passou por transformações históricas e políticas,
fazendo esse campo de atuação profissional passar por uma redefinição e re (construção), da qual muitas vezes as
pesquisas científicas não conseguem acompanhar e a formação acadêmica oferece poucos subsídios e embasamento
para atuar na assistência social. Dessa maneira, os/as profissionais que integram equipes em dispositivos dessa área,
entre eles/as os/as psicólogos/as, buscam agregar ao repertório profissional as referências técnicas legais que
norteiam a atuação no SUAS, adequando-as a realidade vivenciada cotidianamente. Também é preciso considerar as
precariedades associadas as condições de trabalho encontradas frequentemente no âmbito da assistência social,
como a rotatividade dos profissionais nos serviços devido à grande quantidade de contratos frágeis nessa área, o
número reduzido no quadro dos profissionais, demonstrado por dispositivos que funcionam sem as equipes
devidamente completas e por falhas nos recursos instrumentais ou estruturais (infraestrutura) que inviabilizam ou
dificultam o trabalho do/a psicólogo/a e dos demais profissionais envolvidos nesse processo. Com base nisso, pode-se
concluir, de um modo generalista, que apesar das dificuldades e desafios encontradas/os na inserção e atuação
dos/as profissionais de psicologia na assistência social, no que se refere a proteção social especial, é visível o quanto é
1484
necessário o olhar desse profissional na busca de tentar compreender o sujeito que tem a suspeita ou confirmação de
algum direito violado que necessita de um aparato interventivo eficiente, eficiência essa que é atingida quando o/a
psicólogo/a (e toda equipe) é preparada e capacitada para atuar diante desse contexto que como a própria
nomenclatura do serviço sugere, exige um olhar e uma atuação especial e especializada dos profissionais envolvidos.

Palavras-chave:
Assistência; atuação; proteção social especial.

1485
Compreendendo o papel da educação escolar em práticas psicológicas na saúde: por uma formação crítica
Autor:
Jéssica (UNESP - FCL Assis/SP)

O seguinte trabalho apresenta os resultados parciais de uma pesquisa de mestrado em curso, cuja análise central
reside no modo como os psicólogos que atuam nos serviços de saúde, em especial na saúde mental, compreendem a
função da educação escolar no recebimento de queixas escolares.
A referida investigadora (sob orientação de GOMES, C.A.V.), realizou um primeiro estudo (pesquisa FAPESP processo
2014/14193-8), a fim de resgatar elementos históricos que permitissem compreender como se deu, em âmbito
nacional, o fluxo de encaminhamentos de escolares à saúde.
De maneira geral, este levantamento indicou um panorama em que os encaminhamentos de demandas escolares aos
serviços de saúde, realizados desde meados da década de 1920, ampliam-se a outros serviços como as escolas
públicas de educação especial na década de 1970, voltando-se de maneira exacerbada aos serviços públicos de saúde
e suas novas organizações no final da década de 1990 e início do século XXI, como conseqüência dos procedimentos
institucionais medicalizantes cada vez mais freqüentes. Uma das conclusões observadas foi a de que a criação dos
saberes técnicos pareceu pré-existir em relação às demandas. Além disso, notou-se que a escola desde o início do
século XX, instruída por um discurso político médico e pedagógico, assume a função de articular os primeiros
encaminhamentos de crianças e adolescentes que vivenciavam dificuldades no meio escolar aos serviços de saúde,
majoritariamente da área médica. Ainda na atualidade, Beltrame e Boarini (2013) indicam que a instituição escolar
continua sendo a principal responsável pela maior parcela de encaminhamentos de crianças e adolescentes realizados
aos serviços de saúde mental no Brasil.
Isto posto, localiza-se um paradoxo entre o principal propósito da escola, a maneira como lida com as dificuldades
vivenciadas em seu espaço e as implicações que determinadas condutas podem gerar. Portanto, cabe também ao
psicólogo atuante no campo da saúde pontuar e avaliar elementos relacionados à esfera escolar, bem como de seus
entraves e superações, de forma a superar condutas individualizantes e devolver à escola a autonomia para avaliar
suas próprias fragilidades, competências, e voltar ao seu público uma atenção que considere o que é singular e não
somente o individual.
Este estudo intenta discutir aspectos como a formação e prática profissional, bem como a desconstrução e
desnaturalização das desigualdades sociais e do caráter histórico da produção de conhecimento em psicologia social,
no que tange suas principais influências e interferências.
Quanto ao método, propõe-se a análise documental de fontes primárias, amparada por referenciais teórico-críticos
pertencentes ao campo da Educação, Psicologia Social, Psicologia Histórico-Cultural e da Psicologia Escolar. Para
tanto, inicialmente, realizou-se a identificação de prontuários (projeto apresentado e autorizado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa - protocolo número 55258416.9.0000.5401), pertencentes a atendimentos psicológicos infanto-juvenis –
sujeitos compreendidos na faixa etária de 4 a 17 anos – efetivados por encaminhamento escolar/médico/procura
espontânea durante os anos de 2014 e 2015, referentes à demanda escolar de modo geral.
As instituições de atendimento escolhidas foram dois serviços de atendimento em saúde pública, localizados em um
município de pequeno porte do interior do estado de São Paulo. No intuito de complementar tais dados, foram
efetuadas entrevistas com os profissionais que realizaram as avaliações e acompanhamentos psicológicos.
Os dados básicos quantitativos levantados indicam um total de 43 prontuários analisados, em que cerca de 70% dos
atendimentos foram destinados a meninos e 30% voltado a meninas; com destaque às idades de 7 anos (23%), 8 anos
(14%) e 9 anos (11%). Desta amostra, 79% dos sujeitos estudavam em escolas públicas e 14% em escolas privadas.
Tais encaminhamentos foram solicitados por diversas instâncias, como unidades básicas de saúde (25%), escolas
(23%) e outros serviços como conselho tutelar, escola de educação especial e médicos (18%).
No que se refere aos modos de intervenção, evidenciam-se atendimentos psicológicos individuais, na maior parte dos
casos acrescidos de acompanhamento psiquiátrico; psicoterapia em grupo; devolutivas de orientação aos pais e
contatos telefônicos ou indiretos com as escolas a fim de repassar relatórios e afins. Por fim, cerca de 44% da
demanda atendida fazia uso de medicações.
Dentre as principais conclusões obtidas, destaca-se o fato de inúmeras vezes o psicólogo limitar sua prática
profissional ao exercício clínico. Também autores como Machado (2006, p. 121), pontuam o desafio a ser enfrentado
1486
pelo profissional da psicologia, sobretudo o psicólogo escolar em conseguir identificar as práticas e saberes que se
encontram para além dos encaminhamentos e enfraquecem as ações de cunho coletivo. Por vezes, isso implica em
deixar o próprio território e ampliar tanto o fazer como o alcance de complexificações e indagações, de modo manter
uma postura crítica durante o processo de análise da realidade em seus múltiplos aspectos (cultural, político,
econômico), e um olhar atento às historicidades que esta última contém.

Palavras-chave:
Psicologia Histórico Cultural; Educação; Saúde.

1487
Concepções de mães de usuários de drogas sobre a própria maternidade
Autor:
Raphael Moroz (Universidade Positivo)
Coautor:
Marina Pires Alves Machado (Marina Machado)

Além de envolver questões sociais e de saúde, a drogadição tem implicações na família do usuário. Com o
agravamento do consumo de drogas, é comum que ele passe a não dar conta de suas tarefas e compromissos, o que
leva os demais membros do sistema familiar a se reposicionarem para evitar que o mundo externo perceba as
deficiências do indivíduo em questão. À medida que a família passa a se organizar em torno das necessidades do
dependente químico e começa a tentar controlar seus comportamentos com o intuito de manter o equilíbrio familiar,
ocorre um esgarçamento das hierarquias e fronteiras do sistema. Diante da proximidade excessiva com o
dependente, as mães costumam desenvolver codependência, uma condição emocional, psicológica e
comportamental marcada por uma série de comportamentos mal adaptativos e compulsivos. Além disso, ela envolve
características como necessidade de ajudar acompanhada de sofrimento, preocupação constante com o dependente,
descuido das próprias necessidades e senso de vitimização. Considerando as implicações da codependência, este
trabalho pretendeu identificar, por meio de uma pesquisa descritiva, concepções que mães de usuários de drogas têm
sobre a própria maternidade. Os objetivos específicos foram verificar o significado que essas mulheres atribuem às
emoções, às atitudes e aos sentimentos relacionados ao fato de serem mães de usuários de drogas e averiguar se
existe padrão de funcionamento codependente entre elas. A produção deste trabalho se justificou pelo fato de
existirem poucos estudos brasileiros que se propõem a estudar o sofrimento de mães no contexto da drogadição.
Nesse sentido, acredita-se que dar voz a esse público – por meio da identificação de suas concepções sobre a própria
maternidade – é uma ação necessária para a construção de conhecimentos psicológicos e científicos que orientem
melhor o trabalho com mães de usuários de drogas tanto no contexto clínico quanto no comunitário (em grupos de
apoio, por exemplo). Participaram deste estudo cinco mães de usuários de drogas que frequentavam um grupo Amor-
Exigente de uma igreja evangélica de Curitiba (PR). Os dados foram coletados mediante a realização de uma entrevista
semiaberta e a aplicação da Escala de Autoestima de Rosenberg e, posteriormente, foram examinados através da
Análise de Conteúdo. A idade das participantes varia entre 44 e 66 anos, sendo que apenas uma delas se enquadra na
chamada terceira idade. Apenas uma das mães possuía ensino superior completo e nenhuma delas realizava
tratamento psiquiátrico e psicológico na época em que a entrevista ocorreu. Todas as participantes possuíam
histórico de consumo de drogas na família de origem, sendo que três delas relataram que seus pais eram alcoólatras.
Os resultados demonstraram que as concepções das participantes estão imbricadas, em sua maioria, por emoções e
sentimentos negativos, tais como culpa, tristeza, medo e pena. Também foi possível verificar que elas, de maneira
geral, costumavam superproteger e monitorar os filhos dependentes, além de terem sacrificado a própria vida para se
dedicarem a eles. Concluiu-se que, apesar de as mães possuírem um padrão de funcionamento codependente, a
participação em grupos de apoio teve papel fundamental na mudança de atitudes por parte delas.

Palavras-chave:
maternidade; codependência; concepções; família; drogadição.

1488
Educação inclusiva: transformação (in)clusiva ou (ex)clusiva?
Autor:
Laura De Aro Galera (Universidade de Sorocaba)

A educação inclusiva é um movimento social que se relaciona com a luta pelos direitos civis. A inclusão reconhece a
diversidade humana nas salas de aula sejam elas de rendimento cognitivo, gênero, classe social e étnico. Os alunos
que compõe a Educação Inclusiva são os grupos específicos que pertencem ao circo, povos nômades, pessoas em
situação de vulnerabilidade social e que estão ou estiveram em conflito com a lei, os alunos de culturas diferentes,
alunos com deficiência, crianças e jovens que vivem nas ruas, ciganos, indígenas e, em alguns países, negros e
mulheres. O estudo busca contribuir com a possibilidade de ampliar a discussão dos segmentos que compõe os alunos
alvo da Educação Inclusiva, descritos nos artigos científicos, pois, há a possibilidade de se privilegiar um grupo
especifico, a saber: aquele composto por alunos com deficiência. Desta forma, o problema proposto pelo estudo é
verificar se a tendência observada no levantamento prévio se observa nos artigos científicos a partir de 2000 (quando
da promulgação da lei 10.098) até 2015. Pretende-se contribuir para ampliar a discussão sobre a educação inclusiva,
destacando o perfil dos alunos alvo da inclusão. O objetivo da pesquisa é identificar e listar os alunos-alvo da
Educação Inclusiva descritos nos artigos científicos. O estudo é classificado como bibliométrico e descritivo, e utiliza-
se o banco de dados do Scielo com as palavras chaves: Educação Inclusiva, Educação para Todos e Inclusão
Educacional. A seleção das publicações foi feita a partir do critério de inclusão e exclusão referentes à Lei N° 10.098,
de 19 de dezembro de 2000. Os periódicos serão considerados pelo uso de língua portuguesa, no período de 2000 a
2015 e analisados conforme os dados bibliométricos relativos ao: título, objetivo, método, considerações finais, ano
de publicação, revista, área da revista, local da publicação e público-alvo. Os resultados da pesquisa foram divididos
e à atego ias,àaà atego iaàdeà Pessoaà o àDefi i ia ,àaoàde o e àdosàa os,àasàp oduç esà o te po easàdoàte aà
tenderam a aumentar. Esse fato evidencia a influência devido a Lei nº. 10.098 que estabelece os direitos e critérios
para a p o oç oà deà a essi ilidadeà dasà pessoasà o à defi i ia.à áà atego iaà deà Todosà osà álu os à de o st aà u à
decréscimo em relações às produções contemporâneas do tema. Esses achados mostram que há uma predominância
em produzir artigos científicos de pessoa com deficiência em relação a todos os alunos. Esse dado apresenta que
dentre os grupos específicos que se destaca são os de pessoa com deficiência. Nota-se a contribuição da Psicologia ao
propor discutir a respeito da Educação Inclusiva, pois, ao utilizar a bibliometria como metodologia para a obtenção de
indicadores de avaliação da produção cientifica. O estudo busca identificar os alunos alvos da Educação Inclusiva,
descritos nos artigos científicos, com a possibilidade de ampliar a discussão sobre o tema.

Palavras Chaves: Educação inclusiva. Educação para Todos. Inclusão Social.

Palavras-chave:
Educação inclusiva
Educação para Todos

1489
Epidemiologia da Violência Auto Infligida/Suicídio e Políticas Públicas do SUS
Autor:
Hugo Marques Correia (UFT)

Objetivos a partir de notificação recentes concretizando um aumento significativo no número de suicídios no estado
do Tocantins, totalizando neste semestre quantitativo acima do somatório dos últimos 3 anos, utilizar de
levantamento epidemiológico de notificações oficiais de violências auto infligidas registradas no sistema de
informação sobre mortalidade (sim) do ministério da saúde para subsidiar o acolhimento municipal de saúde na
aplicação da política nacional de redução de morbimortalidades por acidentes e violências (portaria n°737 ms/gm,
2001), em seus norteadores a saber: 1.Promoção e adoção de comportamentos e de ambientes saudáveis;
2.Monitorização da ocorrência de acidentes e de violências; 3.Sistematização, ampliação e consolidação do
atendimento pré-hospitalar; 4.Assistência interdisciplinar e intersetorial às vítimas de acidentes e violências;
5.Estruturação e consolidação do atendimento voltado à recuperação e à reabilitação; 6.Capacitação de recursos
humanos; 7. Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas. Também o sistematizar o fluxo de notificações
municipais acerca do suicídio, articular atores envolvidos no processo de acolhimento das vítimas, promover a
sensibilização de gestores para a promoção de uma linha de continuidade no cuidado com as vítimas de tentativa de
suicídio. Outros objetivos são promover multiplicadores inseridos no sistema municipal de saúde aptos e competentes
para pesquisa, levantamento, manipulação e descrição de dados epidemiológicos disponíveis nas bases de pesquisa
disponibilizadas pelo Ministério da Saúde; elaboração de uma cartilha municipal de distribuição de responsabilidades
e que contenha as políticas públicas de combate ao suicídio e documentos da Organização Mundial de Saúde para
redução de suicídios que posse a servir de referência aos profissionais de saúde do município; Promover encontros de
educação continuada para elaboração e pactuação de procedimentos entre representantes de instituições municipais
de saúde. Métodos pesquisa minudenciada no datasus/sim, feito levantamento do perfil epidemiológico das
ocorrências de violências auto infligidas (cid 10 x60 a x84) em frequências absolutas e relativas das notificações totais,
por sexo, faixa etária, raça e por local de ocorrência do ato, sendo balizado o período de 2005-2015 e restringido ao
estado do Tocantins Resultados incidência de violência auto infligida em relação a óbitos por causas externas é da
proporção de 7,7% enquanto a referente ao total de óbitos é de 1,4%, a razão entre sexos é de 4,7 homens para cada
óbito feminino, as notificações aferem mortalidades nas prevalências de raça parda (82,4%), faixa etária de 35 a 54
anos (46%), e de local de ocorrência do agravo aparece a residência (64,7%).Conclusões: O fenômeno da violência em
forma de tentativa de suicídio é multifacetado e consequentemente deve ser combatido de forma plural e
continuada, e também, confirma-se a existência de documentação e orientações técnicas e públicas voltadas para
redução desta forma de violências, havendo então uma necessidade de conscientização e otimização da rotina da
saúde municipal de forma a considerar e perceber essa violência como algo a ser combatido. Notou-se através dos
dados oficiais do Ministério da Saúde uma gradativa, continua e crescente aproximação entre as faixas etárias, onde
se via uma notória predominância de incidência do suicídio entre idosos recentemente tem-se aumentado as
notificações entre adolescentes/jovens. Ressalta-se a questão das sub-notificações, onde os registros em órgãos da
saúde são alterados para acidentes regulares no momento de se gerar o registro oficiais. Através de observação
sistemática e ativa de dados epidemiológicos é possível nortear gestores municipais com indicações técnicas para
direcionamentos e execuções de ações de acolhimento em saúde, sendo tais indicadores importante instrumento
para o planejamento, organização e operacionalização dos serviços de saúde.

Palavras-chave: SUICÍDIO, POLÍTICAS PÚBLICAS, SUS, PESQUISA

1490
Experiência de atuação em CREAS de um município de pequeno porte no RN
Autor:
Anna Cely de Carvalho Bezerra
Coautor:
samia Jorge

A assistência social foi definida pela Constituição Federal de 1988 como política pública não contributiva, oferecida a
quem dela necessitar; um de seus objetivos é a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice. Neste sentido, a convivência social, o protagonismo e a autonomia são capacidades que devem ser
trabalhadas, em conjunto a outras políticas públicas, para garantir seguranças socioassistenciais aos usuários. A
Proteção Social Especial – PSE – organiza oferta de serviços especializados que contribuem para a reconstrução de
vínculos familiares e comunitários, fortalecimento de potencialidades e proteção para o enfrentamento de situações
de risco por violação de direitos (BRASILIA, 2011), nesta política está inserido o Centro de Referencia Especializado em
Assistência Social – CREAS. O CREAS é uma unidade pública estatal de abrangência municipal ou regional, tem como
competências ofertar e referenciar serviços especializados de caráter continuado para famílias e indivíduos em
situação de violação de direitos (MDS, 2013). O Centro de Referência objeto deste estudo é municipal, localiza-se em
Brejinho/RN, pertencente à microrregião do Agreste Potiguar, com cerca de 12.600 habitantes, de economia
predominantemente agrícola, com boa parte de sua população residente em sítios na área rural. Dos serviços
socioassistenciais citados como pertencentes à PSE, no CREAS objeto deste estudo são executados o Serviço de
Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos – PAEFI e o Serviço de Proteção Social a Adolescentes
em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade,
atualmente ofertado a um adolescente, em função de determinação judicial. Em ambos, reconhece-se a centralidade
da família nas intervenções, orientações e acompanhamentos, buscando o fortalecimento da função protetiva,
potencialização de recursos, construção de possibilidades de mudança; a busca da autonomia e exercício do
protagonismo foram questões chave para a construção do grupo reflexivo de mulheres usuárias do CREAS, Grupo
Florescer. A rentabilidade econômica não é critério para atendimento aos que procuram atendimento no CREAS,
como apregoa a Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (1993), uma vez que as situações de vulnerabilidade social
não estão estritamente associadas à vulnerabilidade social, por isso são atendidos usuários das mais diversas
condições econômicas, apesar de os serviços ainda serem mais procurados pelas famílias em situação de carência
material. Em relação ao desenvolvimento do trabalho social, verifica-se as três dimensões citadas no referido manual:
Acolhida, com a identificação das demandas emergentes da família ou indivíduo; o acompanhamento especializado,
composto por atendimentos psicossociais e jurídicos, individuais e em grupo, além de visitas domiciliares, e a
articulação em rede, com desenvolvimento de atividades em parceria, referenciamento e contrareferenciamento e
realização de estudo de caso com o conselho tutelar, CRAS e NASF. O fato de pertencer a um município de pequeno
porte facilitou a integração com as equipes dos demais equipamentos municipais. Um desafio é a não regionalização
de equipamentos de alta complexidade, como abrigos e casas de passagem. A relação com os órgão de defesa de
direitos, envolve complexidades consideradas opostas: considera-se particularmente importante a relação do CREAS
com o Conselho Tutelar, Ministério Público, Poder Judiciário, Defensoria Pública e Delegacias especializadas (MDS,
2011), pois o público do serviço são famílias/indivíduos com direitos violados. Entretanto, é clara a posição do Manual
deà O ie taç esà ua doà ale taà ueà aoà C‘Eá“à oà a eà o upa à la u asà destesà g os,à assu i à at i uiç oà deà
investigação para a responsabilização dos auto esà deà iol ia .à “o eà isso,à à f e ue teà oà e e i e toà deà ofí iosà
o iu dosà dosà g osà deà defesaà ueà soli ita à a e iguaç o à eà oiti a à ueà s oà o jetosà doà t a alhoà pe itoà e/ouà
poli ial àeà psi ote apia à à íti asà ueàde eàse à ealizadoàpo àpsi logos clínicos) e estudos sociais sobre pedidos de
guarda e adoção (sendo que estes devem ser realizados pelas equipes técnicas das varas de infância). Outra questão
relacionada à judicialização é que o município não dispõe de assessoria jurídica gratuita ou Defensoria Pública,
estando esta, além da Promotoria e Juizado, ligadas à Comarca de Monte Alegre. Assim, o advogado e assessor
jurídico do CREAS executam, além do trabalho de orientação sócio jurídica, a principal atribuição destes técnicos, a
execução de ações relacionadas ao direito da família e violência domestica: é frequente a busca por resolução de
problemas relacionados à pensão alimentícia, separações, intermediação para emissão de segunda via de certidões de
nascimento e conciliações familiares quando há uso indevido de proventos da aposentadoria do idoso, por exemplo.
Noàe ta to,àosàp ofissio aisàdaà eaàju ídi aàesta ele e àli itesàdeàate di e toà ueà lassifi a à o oà ate di e toà
ju ídi oà àfa ília à “IC ,à oà e e e doà asos à ela io adosàaoàdi eito penal como homicídios. Assim, verifica-se que
é constante a busca pelo cumprimento das normativas constantes nos manuais de orientações técnicas e de uma
1491
atuação comprometida com a efetivação de direitos, mas há muitos desafios Municipais, Estaduais e Federais a serem
superados para a execução da política socioassistencial em sua totalidade.

Palavras-chave:
SUAS, desafios, atuação, CREAS

1492
Infância(s) e Psicologia(s) Socia(is): multiplicidade, performatividade e efeitos.
Autor:
Priscilla Menescal (UFG)
Coautor:
Lenise Santana Borges

A concepção de infância mais próxima de como a entendemos hoje – com uma tendência a separar o mundo das
crianças do mundo dos adultos – surge no fim do século XIX e, no Brasil, herda grande influência do catolicismo. No
processo histórico de constituição da(s) infância(s) brasileira(s) há diferentes noções que a(s) perpassam, como
i f iaà o oàfutu oàdaà aç o ,à i f iaàa a do ada ,à i f iaài isí el ,à i f iaàdis ipli ada .àáàpsi ologia,àpo à
sua vez, tem proposto ao longo de sua história uma gama de conhecimentos especializados a respeito da(s) infância(s)
apresentando, assim, discursos que performam diferentes versões de infância, nesse sentido a psicologia evolutiva ou
psi ologiaà doà dese ol i e toà ap ese touà algu asà oç esà p i ipais,à taisà o oà i f iaà iol gi a ;à i f iaà
so ial ;à i f iaà o oàluga àdeàfo aç oàdaàpessoa .àOàestudoào jeti ouài estigar noções e sentidos atribuídos à
infância na produção acadêmica brasileira da psicologia social. A escolha da psicologia social como campo de
pesquisa, se deu com base na perspectiva de Mariana Prioli Cordeiro (2012), que afirma que a psicologia social no
Brasil possui diferentes conceituações, objetos de estudo e enfoques teóricos, que são elementos que fazem
psicologias sociais diferentes, embora relacionadas entre si. Esta investigação se fundamenta no referencial teórico
socioconstrucionista, no qual a produção de sentido é entendida como um fenômeno sociolinguístico, que contempla
tanto as práticas discursivas que atravessam o cotidiano, como os repertórios utilizados nessas produções discursivas
(Spink, 2013) que, por sua vez, são constituídos também por discursos científicos. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, orientada pela Psicologia Social de base Socioconstrucionista, e pela metodologia das práticas discursivas,
tomando como fontes artigos, dissertações e teses nos portais Capes e Scielo, entre 2004 e 2015, com os descritores:
I f ia à +à Psi ologiaà “o ial .à áà a liseà dasà p ti asà dis u si as,à po à suaà ez,à fo alizaà t sà te ti as:à aà fu ç o,à aà
construção e a variação. O foco deste trabalho está na construção, ou seja, nos repertórios interpretativos, no uso dos
recursos linguísticos preexistentes, o que implica seleção e escolha (Spink, 2013; 2014). Medrado (1998) apresenta a
definição de repertórios interpretativos por Potter e Wetherell (1987) como sistemas de uso recorrente, ou seja,
termos constituídos por construções estilísticas e gramaticais particulares, utilizados para caracterizar e avaliar ações,
eventos e outros fenômenos. A escolha dos documentos científicos como corpus de pesquisa está intimamente
relacionada à compreensão da ciência como linguagem social, que tem formas peculiares de apresentação e
circulação de discursos (Spink, 2013), e aos sistemas presentes nas práticas discursivas que instauram os enunciados
como acontecimentos (Foucault, 2008). Os repertórios interpretativos encontrados foram relacionados ao referencial
teórico adotado pelas autorias enquanto categoria de análise. Os resultados apontam noções de infância que se
aproximam de noções propostas por vertentes teóricas da psicologia do desenvolvimento e, alguns sentidos
relacionados à construção histórica da(s) infância(s) no Brasil. Noto também um processo de obscurecimento em
elaç oà à o ple idadeàdoà o eitoàdeài f ia,à ueà àde o i adoàpeloàfil sofoàB u oàLatou à à o oà ai a-
p eta .à“egu doàoàauto ,à ua do um fato é estabelecido, basta-nos enfatizar sua alimentação e produção, deixando
de lado sua complexidade, omitindo suas controvérsias, problematizações e condições de produção, através de
posicionamentos universalistas.

Palavras-chave:
infância psicologia-social práticas-discursivas repertórios.

1493
Medicalização do fracasso escolar
Autor:
Valéria Barros Costa

A preocupação com o tema aprendizagem é quase tão antiga quanto é a existência humana e ocupou espaço nas
discussões filosóficas desde a era clássica até o surgimento da Psicologia enquanto ciência. Sob a perspectiva da
Psicologia tradicional, a aprendizagem é vista tanto como um processo de causa e efeito, quanto como o resultado da
ação de um complexo processamento de informação, sendo o sistema nervoso o gerenciador desse mecanismo. O
cotidiano escolar vem sendo ocupado por um discurso que denuncia a crença da comunidade escolar acerca da
conexão íntima entre problema de aprendizagem e transtorno neurobiológico e psiquiátrico. Tal cenário corrobora a
trajetória de construção, na sociedade ocidental, dos chamados Transtornos do Neurodesenvolvimento e da
Personalidade (DSM-V, 2013), evidenciando assim, o processo de medicalização, inicialmente mencionado por Ivan
Illich (1975), e, posteriormente discutido por Foucault (2004), processo este que ressalta a hegemonia histórica da
Medicina como reguladora dos padrões de normalidade os quais estão, em geral, comprometidos com a manutenção
deàu à odeloàdeàate di e toà ueàseà o e teà aà edi alizaç oàdaà idaà otidia a àeàest àe de eçadoà àl gi aàdoà
individualismo e da produção privada. O panorama traçado pelo Censo Escolar (2014) realizado pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) retrata uma realidade educacional que se mantém
inalterada e perpetuada pela história da Educação no Brasil a partir da qual se pode reconhecer o percurso percorrido
pelas camadas mais populares da população brasileira em seu processo de escolarização cuja marca tem sido o
fracasso escolar. Nessa linha de raciocínio, pensar o fracasso escolar requer uma problematização mais contundente
sobre sua raiz histórica a fim de construir um posicionamento crítico acerca dos seus determinantes ético-políticos.
Psicólogos que atuam na Educação têm-se deparado com questões relativas ao campo de conhecimento específico da
psicologia capaz de esclarecer sobre os fenômenos e processos escolares que são essencialmente sociais
contrariando, assim, uma corrente do pensamento vigente que tenta reduzir o fracasso escolar a uma disfunção
neurobiológica na tentativa de isentar as instituições sociais da responsabilidade de resolver problemas por elas
criados. Os conhecimentos produzidos pela psicologia são capazes de superar essa contradição? Esta pesquisa
justifica-se pela relevância do assunto que, por seu caráter polêmico, fomenta reflexões acerca da prática do
psicólogo considerando sua formação enquanto reprodutor ou agente de transformação social, comprometido ética e
politicamente com o processo educativo que se estabelece desde o dia em que o homem nasce. Pensar essa prática
sob um paradigma ajustado ao materialismo-histórico-dialético permite compreender a existência de uma relação
recíproca, complexa e dinâmica entre aprendizagem e desenvolvimento que se estabelece muito precocemente.
Existe uma vasta literatura que discute a possível articulação entre Educação e Psicologia como uma saída ao fracasso
escolar, através da atuação do psicólogo escolar que, sob um viés crítico e sustentado pela Teoria Histórico-Cultural,
possa interferir de forma efetiva na realidade da escola de modo a promover uma reflexão sobre ela e sobre sua
participação nesse fenômeno. O presente trabalho pretende apresentar uma experiência em estágio supervisionado
em Psicologia Escolar cujo foco foi conhecer como a equipe pedagógica concebe a atuação do psicólogo escolar. Para
tanto, após quatro semanas de observação sistemática nas escolas foram realizadas entrevistas semi-estruturadas em
diretores, coordenadores e professores de 40 escolas, públicas e privadas, em diferentes regiões da cidade de
Goiânia. Os resultados demonstraram uma hegemonia do modelo clínico destinado ao atendimento individualizado
dos problemas de aprendizagem reforçando assim, a naturalização do fracasso escolar e o fenômeno de
medicalização da educação.

Palavras-chave:
Psicologia Histórico-Cultural; Medicalização; Psicologia Escolar

1494
Modulações da verdade e processos de subjetivação com Foucault.
Autor:
Carolina Armani (UFF)
Danichi Hausen Mizoguchi (UFF)
JULIANA LIBANIO (UFF)
Marcelle da Silva Freitas (UFF)
Mario Santos Morel (UFF)
Roberto Andrade (UFF)
Vinicius Soares Aniceto (UFF)
Coautor:
Eduardo Sousa de Castro (UFF)
Caio de Castilho (UFF)

O presente projeto de pesquisa pretende investigar as modulações do conceito de verdade nos últimos quatro cursos
ministrados por Michel Foucault na cátedra de História dos sistemas de pensamento no Collège de France. Assim,
tomar-se-ão como referências explícitas de pesquisa as aulas lecionadas pelo pesquisador entre 1980 e 1984 – ou
seja, tomar-se-á como matéria empírica os cursos intitulados Subjetividade e verdade, A hermenêutica do sujeito, O
governo de si e dos outros e A coragem da verdade. A noção de verdade – e os correlatos que em torno dela se
alocam, como saber, conhecimento e veridicção – é problematizada por Foucault em praticamente toda sua trajetória
intelectual. Não à toa, a palavra verdade aparece e adquire distintas conceituações e implicações ético-políticas à
medida em que os objetos e métodos de pesquisa forjados pelo intelectual francês também se modificam. Em todas
as três fases pelas quais passou a obra de Foucault – a fase do saber, a fase do poder e a fase do cuidado, tal qual a
divide uma série de comentadores como Gilles Deleuze, Edgardo Castro, Paul Rabinow e Hubert Dreyfus – a verdade
aparece com importância estratégica, mas jamais de modo repetido.
A partir de tal constatação, a intenção primordial da pesquisa é compreender minuciosamente a íntima implicação
entre a verdade e a ética que o pensamento de Foucault estabelece em seu último movimento – em uma estranha e
inaudita relação para a qual colabora uma miríade de pensadores tão díspares como Friedrich Nietzsche, Sócrates e
Diógenes Laércio. Por fim, é importante ressaltar que a pesquisa não pretende se dar sob os moldes e metas de uma
erudição de gabinete – apartada do mundo e das batalhas do presente. Ao contrário, tem como intenção que – a
partir da análise e problematização do conceito de verdade no último movimento intelectual público feito pelo
professor Foucault – possa-se forjar ferramentas para se imiscuir com consistência no campo de força dos
acontecimentos urgentes dos espaços e tempos aos quais chamamos nossos.
Nas primeiras palavras da introdução ao segundo volume de História da Sexualidade – O uso dos prazeres, Michel
Fou aultà e u ia:à Estaà s ieà deà pes uisasà su geà aisà ta deà doà ueà euà p e i aà eà deà u aà fo aà i tei a e teà
dife e te à Fou ault,à ,à p.à .à Qua doà daà pu li aç oà doà p i ei oà olu eà daà s ieà – subintitulado A vontade de
saber, em 1976 (Foucault, 1988) –, Foucault prometera aos editores e ao público uma série de seis volumes
sequenciais. Todavia, a publicação do primeiro e dos dois últimos volumes – os quais, lançados em conjunto no ano de
1984, encerraram a série – deu-se com um intervalo de oito anos e com uma direção conceitual bastante distinta
daquilo que o primeiro volume apresentava. O próprio Foucault faz a defesa pública de uma mudança de perspectiva,
ai daà aàsup a itadaài t oduç oàaoàsegu doà olu e,àaoàseàpe gu ta :à deà ueà aleria a obstinação do saber se ele
assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho
da ueleà ueà o he e?à à Fou ault,à ,àp.à .àOitoàa osàdepois,àu aàout aàe to aç o,àu àout oàestilo,àu aàoutra
conceituação, uma outra história da sexualidade.
Não à toa, Gilles Deleuze, no livro publicado em 1986 em homenagem ao amigo recentemente falecido – obra a qual
intitulou tão somente Foucault –, pergunta-se:à Oà ueàa o te euàdu a teàoàsil ioà asta te longo que se seguiu a A
o tadeàdeàsa e ?à à Deleuze,à ,àp.à .àDesdeàoà o eçoàdaàd adaàdeà ,àFou aultàja aisàha iaàfi adoàta toà
tempo sem publicar – o que faz da questão deleuzeana plena de pertinência. Afinal, qual seria o descaminho daquele
que conhece que fez valer a obstinação do saber a qual criou condições de possibilidade para a consecução dos livros
que findaram a série até então interrompida de A história da sexualidade?
A aposta que aqui se faz é de que os cursos ministrados anualmente por Foucault no Collège de France – ao menos
em certa medida – explicam tanto o intervalo quanto as alterações as quais serão apresentadas ao grande público
com o lançamento dos dois derradeiros livros. Mais do que isso – e é, por fim, o que acabará ganhando proeminência
na presente pesquisa –, a aposta é que em tais alterações as modulações do conceito de verdade merecem ocupar
1495
um certo lugar de centralidade. Se a hipótese inicial de trabalho for correta, faz-se necessária uma apreensão mais
densa, consistente e complexa das montagens da verdade que nessas lições se concretizaram. Assim, a pergunta que
conduzirá a presente pesquisa não poderia ser outra: quais modulações o conceito de verdade adquire nas
enunciações dos quatro últimos cursos ministrados por Michel Foucault na cátedra de História dos sistemas de
pensamento no Collège de France?

Palavras-chave:
ética cuidado subjetividade verdade

1496
O projeto epistemológico moderno em face das histórias das mulheres: problematizando práticas jurídicas e
psicológicas.
Autor:
Cadidja Caldas (UNIFOR)
Coautor:
LUIZA FREITAS (UNIFOR)

O presente trabalho apresenta a noção de história dos estudos de Michel Foucault, que trata de analisar como as
estruturas sociais foram instituídas culturalmente em relação ao próprio social, à posição dos sujeitos, ao poder e às
formas de produção do conhecimento (Rago, 1995). Fazer essa análise é dar conta das relações históricas, de práticas
concretas que estão vigentes nos próprios discursos, discursos produzidos em função de relações de poder, e que tais
práticas produzem saberes (Fischer, 2012). Na investigação dessas relações de poder os discursos jurídicos e
psicológicos encontram-se atravessados pelas concepções naturalistas e universais de sujeito. Foucault (2010) nega a
concepção de universalidade, concebendo-a como uma cilada ou ilusão. Renuncia uma racionalidade essencial de
uma verdade, o que se deve valer como racionalidade é o enredamento dos jogos de forças e estratégias; tais enredos
acontecem no sentido de tornar visível e dizível as formas dos acontecimentos, das descontinuidades. Em
contrapartida, a história tradicional narrada de modo linear e progressista, mostrar que, primeiramente, as condições
das mulheres eram de exclusão aos direitos e de qualquer concepção de dignidade, condição legitimada pelo
ordenamento jurídico. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) versava que a dignidade da pessoa
não consistia por de fato ser uma pessoa, mas por ter vontade racional. A afirmação de Kant (2007) ao valor absoluto
do homem, transformou os fundamentos da ética, atribuindo a liberdade como seu fundamento e,
consequentemente, como fundamento das normas. A história tradicional ensina que o reconhecimento da pessoa
como fundamento da ética foi alcançado progressivamente, e que a tradução jurídica jamais será concluída, devido às
evoluções da pessoa, que a cada grande surto de violação, nascem, na consciência, novas exigências de dignidade
para todos (Comparato, 2015). O contexto de exclusão dos direitos, inicialmente das mulheres e, posteriormente, sua
inclusão, contada por uma história linear e bem-sucedida, possibilita problematizar os modos de fazer história, já que
não se encontram nela os excluídos, os invisíveis e os acontecimentos que provocaram mudanças. A noção de
mudança e acontecimento apontam para um modo outro de fazer história, eles suscitam uma pluralização das
descontinuidades históricas, que se encontram em múltiplas temporalidades (Dosse, 2013). As mudanças históricas
provocaram as caracterizações da Modernidade, nela o homem se descobre como senhor de direito de todas as
coisas e se reconhece como causa de suas ilusões e desatinos, portanto, a necessidade da autodisciplina. Esse modelo
exige um método que busca como incumbência expurgar do sujeito tudo aquilo que não é confiável, de forma a
constituir uma subjetividade pura e elevada ao exercício da razão e da experiência em sua universalidade (Figueiredo,
2015). O resultado dos fracassos desse projeto, possibilitaram a constituição do espaço psicológico, que caracteriza-se
pelo propósito de desvendar exatamente o avesso do sujeito epistemológico. O excluído, o expurgável pelo método
constituía os sintomas e o mal-estar do sujeito moderno, sendo tais características o território de eleição de todas as
psicologias. A Psicologia nasce em um projeto histórico-social moderno que direciona o seu objeto de estudo aos
apelos do método. A ética assume uma posição central na validação e universalização dos pressupostos dos saberes.
O código de ética da Psicologia foi construído com base nos princípios fundamentais, como grandes eixos que devem
orientar a relação do psicólogo com a sociedade, com a profissão e a ciência. Os princípios fundamentais concernem
ao respeito e a promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos
valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos (Resolução CFP 010/05). Inspiradas na
investigação dessas relações entre o Direito e a Psicologia, e na investigação das questões que buscam naturalizar as
condições políticas das mulheres em uma história convencional, que se caracteriza em narrar por uma via sucessiva
contínua, a pesquisa indaga como problema: o discurso psicológico, baseado nos direitos fundamentais, subsidia
condições ao Direito para regulamentar o campo de gênero, por uma condição substancial e universal? Tal pesquisa
te à o oà o jeti oà a alisa à aà elaç oà e t eà aà o epç oà psi ol gi a à o à aà o epç oà atu alista à eà
su sta ializada à doà Di eitoà Mode oà o oà o jetosà ueà seà e t e uza à eà p oduze à efeitosà aà hist iaà dasà
mulheres. Para tanto, como metodologia foi realizada uma análise sobre os diferentes discursos que abordam os
feminismos, a partir da análise documental, do Código de Ética, em relação a Constituição Federal de 1988 e a
1497
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa análise leva em conta o entrecruzamento dos discursos jurídicos e
psicológicos no que concerne à regulação das práticas psi na questão de gênero. Embora haja diferentes abordagens
psicológicas, elas se apresentam como dispositivos aptos a propiciar, configurar, formar e constituir tanto os homens
como seu mundo, são dispositivos de instalações do humano (Figueiredo, 2015). Conhecer as implicações entre o
ethos dos discursos psicológicos e os dispositivos jurídicos que a regulamentam, possibilitam uma avaliação ética das
práticas psicológicas.

Palavras-chave:
História; Psicologia; Direito; Foucault; Feminismos

1498
Os efeitos da convivência em famílias acolhedoras no desenvolvimento de bebês
Autor:
Natália Capristo Navarro (UNIMEP)
Coautor:
Anderson dos Santos (UNIMEP)
Karina Garcia Mollo (UNIMEP)
Fábio Henrique Ramos

A questão do avanço das políticas públicas às crianças e adolescentes em situação de violação de direitos com
acolhimento familiar tem ganhado espaço recentemente. Assim, faz-se importante investigar os efeitos da
experiência no desenvolvimento psíquico dos acolhidos. O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SAFA) está
organizado na políti

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